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Psicanálise

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FADIMAN FRAGER Personalidade e crescimento pessoal 5ed FLORESMENDOZA COLOM COLS Introdução à psicologia das diferenças individuais HALL LINDZEY CAMPBELL Teorias da personalidade 4ed MCWILLIAMS N Diagnóstico psicanalítico entendendo a estrutura da personalidade no processo clínico 2ed PERVIN JOHN Personalidade teoria e pesquisa 8ed Em acesse a página do wwwgrupoacombr livro por meio do campo de busca e clique em Conteúdo Online para baixar material complementar em inglês exclusivo deste livro Em acesse a página do wwwgrupoacombr livro por meio do campo de busca e clique em Material para o Professor para baixar material em inglês exclusivo deste livro O professor deverá se cadastrar para ter acesso A 8 edição desta fonte consagrada centrase na premissa de que as teorias da a personalidade são um reflexo da bagagem cultural das experiências familiares da personalidade e da formação profissional de seus criadores O livro provê aos estudantes fundamentos sólidos para a compreensão da natureza dessas teorias bem como de suas contribuições para a ciência A apresentação das teorias engloba dados biográficos de cada teórico pesquisas relacionadas e aplicações à vida real DESTAQUES DA EDIÇÃO Cobertura abrangente das principais teorias da personalidade com forte ênfase na personalidade normal Informações biográficas para que os leitores tenham a oportunidade de conhecer tanto a teoria quanto o teórico Nova seção sobre teorias biológicasevolucionistas Um novo capítulo sobre David Buss e sua Teoria Evolucionista da Personalidade Catalogação na publicação Poliana Sanchez de Araujo CRB 102094 F311t Feist Jess Teorias da personalidade recurso eletrônico Jess Feist Gregory J Feist TomiAnn Roberts tradução Sandra Maria Mallmann da Rosa revisão técnica Maria Cecília de Vilhena Moraes Odette de Godoy Pinheiro 8 ed Porto Alegre AMGH 2015 Editado também como livro impresso em 2015 ISBN 9788580554601 1 Psicologia da personalidade Teoria I Feist Gregory J II Roberts TomiAnn III Título CDU 159923 Feistiniciaiseletronicaindd ii Feistiniciaiseletronicaindd ii 281114 0920 281114 0920 Tradução Sandra Maria Mallmann da Rosa Revisão técnica Maria Cecília de Vilhena Moraes Docente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUCSP Odette de Godoy Pinheiro Docente aposentada da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUCSP Jess Feist McNeese State University Gregory J Feist San Jose State University TomiAnn Roberts Colorado College 2015 Versão impressa desta obra 2015 Feistiniciaiseletronicaindd iii Feistiniciaiseletronicaindd iii 281114 0920 281114 0920 Reservados todos os direitos de publicação em língua portuguesa à AMGH EDITORA LTDA uma parceria entre GRUPO A EDUCAÇÃO SA e McGRAWHILL EDUCATION Av Jerônimo de Ornelas 670 Santana 90040340 Porto Alegre RS Fone 51 30277000 Fax 51 30277070 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume no todo ou em parte sob quaisquer formas ou por quaisquer meios eletrônico mecânico gravação fotocópia distribuição na Web e outros sem permissão expressa da Editora Unidade São Paulo Av Embaixador Macedo Soares 10735 Pavilhão 5 Cond Espace Center Vila Anastácio 05095035 São Paulo SP Fone 11 36651100 Fax 11 36671333 SAC 0800 7033444 wwwgrupoacombr IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Obra originalmente publicada sob o título Theories of Personality 8th Edition ISBN 0073532193 9780073532196 Original edition copyright 2013 The McGrawHill Companies Inc New York New York 10020 All rights reserved Portuguese language translation copyright 2015 AMGH Editora Ltda a Grupo A Educação SA company All rights reserved Gerente editorial Letícia Bispo Colaboraram nesta edição Coordenadora editorial Cláudia Bittencourt Capa sobre arte original Márcio Monticelli Preparação de originais Lisandra Cássia Pedruzzi Picon Leitura final Alessandra Bittencourt Flach Editoração Techbooks Feistiniciaisindd iv Feistiniciaisindd iv 291014 0943 291014 0943 Autores Jess Feist é professor emérito do Departamento de Psico logia da McNeese State University Lake Charles Louisiana Além de ser coautor de Teorias da personalidade oitava edi ção foi coautor com Linda Brannon de Health Psychology a Introduction to Behavior and Health Psicologia da saúde uma introdução ao comportamento e à saúde quinta edição Ele se graduou em St Mary of the Plains e fez pósgraduação na Wichita State University na University of Kansas Seu in teresse de pesquisa é em lembranças precoces da infância Gregory J Feist é professor associado de psicologia no Departamento de Psicologia na San Jose State University Também lecionou em College of William Mary e Uni versity of California Davis Concluiu seu doutorado em psicologia da personalidade em 1991 pela University of California at Berkeley e se graduou em 1985 na Universi ty of MassachusettsAmherst Ele tem muitas publicações em psicologia da criatividade psicologia da ciência e de senvolvimento do talento científico Seu livro recente The Psychology of Science and the Origins of the Scientific Mind A psicologia da ciência e as origens da mente científica recebeu o prêmio William James Book da American Psychological Association APA Ele é presidente fundador da Interna tional Society for the Psychology of Science Techonology e editorchefe fundador do Journal of Psychology of Science Technology Sua pesquisa em criatividade foi reconhecida com um prêmio Early Career da Divisão para Psicologia da Estética Criatividade e Artes Divisão 10 da APA e ele é expresidente da Divisão 10 Feistiniciaisindd v Feistiniciaisindd v 291014 0943 291014 0943 vi AUTORES TomiAnn Roberts é professora Winkler Herman de psi cologia no College Colorado Ela concluiu seu doutorado em psicologia social e da personalidade em 1990 na Stan ford University e seu bacharelado em psicologia no Smith College em 1985 Suas publicações nas áreas da psicologia do gênero personalidade e emoção incluem a Teoria da Objetificação uma teoria original que gerou um grande número de pesquisas sobre as causas e consequências da objetificação sexual de meninas e mulheres O primeiro trabalho em que foi coautora sobre esse tema é o artigo mais citado na história de 35 anos do periódico Psychology of Women Quarterly Ela trabalhou na Forçatarefa sobre a Sexualização das Meninas da American Psychological As sociation é coautora de Sexualization of Girls and Girlhood Causes Consequences and Resistence Sexualização das meni nas e meninice causas consequências e resistência de 2012 e continua a trabalhar em pesquisa empírica consultoria aplicada e esforços de mídia nessa área Além de lecionar psicologia e estudos do gênero no College Colorado atual mente faz parte do comitê executivo da Divisão 35 da APA preside a Forçatarefa em Educação Mediante a Pesquisa Feminista e é líder em Ioga do Riso certificada Feistiniciaisindd vi Feistiniciaisindd vi 291014 0943 291014 0943 Agradecimentos Desejamos expressar nossa gratidão às muitas pessoas que contribuíram para a conclusão deste livro Antes de tudo somos gratos pela ajuda valiosa dada por aquelas pessoas que revisaram as edições anteriores de Teorias da personali dade Suas avaliações e sugestões ajudaram enormemente na preparação desta nova edição Esses revisores incluem Robert J Drummond University of North Florida Lena K Eriksen Western Washington University Charles S Johnson William Rainey Harper College Alan Lipman George Washington University John Phelan Eric Rettin ger Elizabeth Rellinger Evert Community College Linda Sayers Richard Stockton College of New Jersey Mark E Sibicky Marietta College Connie Veldink Illinois College Dennis Wanamaker Kevin Simpson Concordia University Lisa Lockhart Texas AM UniversityKingsville Natalie Denburg University of Iowa Hospitals and Clinics Kristine Anthis Southern Connecticut State University Eros De Souza Illinois State University Yozan D Mosig University of NebraskaKearney Angie Fournier Virginia Wesleyan College Atara Mcnamara Boise State University Randi Smith Metro State College of Denver e Myra Spindel Flo rida International University Miami Nosso agradecimento também às alunas do College Colorado Jenny Wool e Emma Agnew por sua ajuda com as seções atualizadas de pesquisa relacionada sobre os teóricos humanistas Além disso também somos gratos aos seguintes re visores cujo feedback ajudou a moldar esta nova edição Carrie Hall Miami University of Ohio Kenneth Walters State University of New York em Oneonta e Melissa Wright Northwest Vista College Agradecemos o forte apoio que tivemos de nosso edi tor Gostaríamos de expressar nosso agradecimento espe cial a Nancy Welcher gerente de marca Mike Sugarman diretor Lisa Pinto diretora executiva de desenvolvimento Penina Braffman editora executiva e Adina Lonn coorde nadora editorial Também estamos em dívida com Albert Bandura por seus comentários úteis no capítulo que aborda a teoria social cognitiva Também desejamos agradecer a outros teóricos da personalidade por dedicarem um tempo para discutir as seções apropriadas das edições anteriores deste livro Albert Bandura Hans J Eysenck falecido Robert McCrae Paul T Costa Jr Carl Rogers falecido Julian B Rotter e B F Skinner falecido Por fim JJF e GJF agradecem a Mary Jo Feist fale cida Linda Brannon e Erika Rosenberg e TAR agradece a Annika e Mia Davis por seu apoio emocional e outras contribuições importantes Como sempre os comentários dos leitores são muito bemvindos pois nos ajudam a continuar a melhorar o li vro Teorias da personalidade Jess Feist Lake Charles LA Gregory J Feist Oakland CA TomiAnn Roberts Colorado Springs CO Feistiniciaisindd vii Feistiniciaisindd vii 291014 0943 291014 0943 Feistiniciaisindd viii Feistiniciaisindd viii 291014 0943 291014 0943 Esta página foi deixada em branco intencionalmente O que faz as pessoas se comportarem como se compor tam As pessoas costumam estar conscientes do que estão fazendo ou seu comportamento é resultado de motivos ocultos inconscientes Algumas pessoas são na turalmente boas e outras basicamente más Ou todas as pessoas têm potencial para serem boas ou más A condu ta humana é em grande parte produto da natureza ou ela é moldada principalmente pelas influências ambientais As pessoas podem escolher livremente como moldar sua personalidade ou suas vidas são determinadas por forças que estão além de seu controle As pessoas são mais bem descritas por suas semelhanças ou a singularidade é a ca racterística dominante dos humanos O que faz algumas pessoas desenvolverem personalidades disfuncionais en quanto outras parecem se desenvolver na direção da saú de psicológica Essas perguntas têm sido feitas e debatidas por filó sofos estudiosos e pensadores religiosos por milhares de anos porém a maioria de tais discussões foi baseada em opiniões pessoais influenciadas por considerações políti cas econômicas religiosas e sociais Então quase no final do século XIX foi feito algum progresso na capacidade da humanidade de organizar explicar e predizer suas próprias ações A emergência da psicologia como estudo científico do comportamento humano marcou o princípio de uma abordagem mais sistemática para a análise da personalida de humana Os primeiros teóricos da personalidade como Sig mund Freud Alfred Adler e Carl Jung basearamse princi palmente em observações clínicas para construir modelos do comportamento humano Ainda que seus dados fossem mais sistemáticos e confiáveis do que os dos primeiros observadores esses teóricos continuaram a se basear na própria maneira individualizada de olhar para as coisas e assim chegaram a diferentes concepções da natureza da humanidade Os teóricos posteriores da personalidade tenderam a usar estudos mais empíricos para aprender acerca do com portamento humano Esses teóricos desenvolveram mode los provisórios testaram hipóteses e então reformularam seus modelos Em outras palavras aplicaram as ferramen tas da investigação científica e da teoria científica à área da personalidade humana A ciência é claro não está di vorciada da especulação da imaginação e da criatividade todas as quais são necessárias para formular teorias Cada um dos teóricos da personalidade discutidos neste livro de senvolveu uma teoria com base em observações empíricas e na especulação imaginativa Além do mais cada teoria é um reflexo da personalidade de seu criador Assim as diferentes teorias discutidas nas páginas deste livro são um reflexo de origem cultural única expe riências familiares e treinamento profissional daqueles que lhes deram origem A utilidade de cada teoria no entanto não é avaliada segundo a personalidade de seu autor mas quanto a sua capacidade de 1 gerar pesquisa 2 prestar se a refutação 3 integrar o conhecimento empírico exis tente e 4 sugerir respostas práticas para problemas do dia a dia Portanto avaliamos cada uma das teorias discutidas neste livro com base nesses quatro critérios e também segundo 5 sua coerência interna e 6 sua simplicidade Além disso algumas teorias da personalidade fertilizaram outros campos como a sociologia a educação a psicotera pia a propaganda a administração a mitologia o aconse lhamento a arte a literatura e a religião A 8 a EDIÇÃO A 8 a edição de Teorias da personalidade continua a enfatizar as características fortes e únicas das edições anteriores ou seja o panorama no começo de cada capítulo um estilo de escrita vívido os conceitos de humanidade que produzem reflexão conforme vistos por cada teórico e as avaliações estruturadas de cada teoria As leituras sugeridas estão disponíveis online no website em inglês da edição nor teamericana do livro em wwwmhhecomfeist8e para facilitar a pesquisa Assim como nas edições anteriores a oitava edição está baseada nas fontes originais e na formu lação mais recente de cada teoria Os primeiros conceitos e modelos são incluídos somente se mantiveram sua impor tância na teoria posterior ou se forneceram uma base vital para a compreensão da teoria final Para capítulos selecionados desenvolvemos uma ca racterística reforçada na web intitulada Além da biografia que está diretamente vinculada a informações adicionais no website em inglês do livro em wwwmhhecomfeist8e A 8 a edição de Teorias da personalidade utiliza uma linguagem clara concisa e abrangente além de um estilo de escrita informal O livro é concebido para estudantes Prefácio Feistiniciaisindd ix Feistiniciaisindd ix 291014 0943 291014 0943 x PREFÁCIO de graduação e deve ser compreendido por aqueles com um background mínimo em psicologia Entretanto tenta mos não supersimplificar ou violar o que originalmente o teórico desejava expressar Fizemos comparações amplas entre os teóricos quando apropriado e incluímos muitos exemplos para ilustrar como as diferentes teorias podem ser aplicadas a situações comuns do dia a dia Um glossá rio no final do livro contém definições dos termos técni cos Os mesmos termos também aparecem em negrito ao longo do texto A presente edição continua a oferecer uma cobertura abrangente dos teóricos da personalidade mais influen tes Ela enfatiza a personalidade normal embora também tenhamos incluído discussões breves sobre anormalida de além de métodos de psicoterapia quando apropriado Como cada teoria é uma expressão da visão única de mun do e de humanidade de seu construtor incluímos informa ções biográficas com detalhes de cada teórico para que os leitores tenham a oportunidade de conhecer tanto a teoria quando o teórico O que há de novo Pela primeira vez desde a 1 a edição de Teorias da personali dade acrescentamos um novo capítulo e uma nova seção Acompanhando a teoria da personalidade corrente adicio namos uma nova seção sobre teorias biológicas e um novo capítulo sobre a teoria evolucionista da personalidade Da vid Buss Além disso passamos Eysenck para a seção das teorias biológicas considerando sua ênfase primária nos fundamentos biológicos da personalidade Para criar espa ço para este novo capítulo retiramos um dos sete capítulos psicanalíticos Harry Stack Sullivan do livro e o colocamos na web como conteúdo complementar A ordem das seções e dos capítulos continua a seguir principalmente a natureza histórica e conceitual das teo rias Após o Capítulo 1 introdutório apresentamos as teo rias psicodinâmicas de Sigmund Freud Alfred Adler Carl Jung Melanie Klein Karen Horney Erich Fromm e Erik Erikson Essas teorias são seguidas pelas teorias humanis tasexistenciais de Abraham Maslow Carl Rogers e Rollo May A seguir estão as teorias disposicionais de Gordon Allport e de Robert McCrae e Paul Costa Jr seguidas pelas teorias biológicasevolucionistas de Hans Eysenck e Da vid Buss O grupo final de capítulos inclui as teorias com portamentais e de aprendizagem social de B F Skinner Albert Bandura Julian Rotter Walter Mischel e George Kelly embora a teoria de Kelly quase desafie a classifica ção Essa nova organização dá ao leitor uma visão melhor da cronologia geral e do desenvolvimento das teorias da personalidade Como ocorre com cada nova edição também atualiza mos as seções referentes a pesquisas recentes de cada uma das teorias Por exemplo um estudo explorava se o concei to humanista de Carl Rogers de valorização organísmica estava em funcionamento entre sobreviventes de câncer O estudo demonstrou um crescimento pessoal significativo entre esses sobreviventes que foi além da mera ilusão os pacientes relataram transições reais de uma maior valori zação de objetivos materialistas para uma valorização de objetivos pessoais mais profundos e mais satisfatórios ao longo do curso de tratamento do câncer No capítulo so bre Albert Bandura discutimos novas aplicações de sua teoria da personalidade social cognitiva a problemas glo bais como o crescimento populacional Ele e colaboradores juntaramse a companhias de produção de mídia para rea lizar dramas em seriados que construíssem um sentimen to de eficácia pessoal entre os espectadores nas arenas do planejamento familiar e empoderamento feminino e tais esforços revelaramse notavelmente efetivos para ocasio nar uma verdadeira mudança comportamental que pode ajudar a salvar nosso planeta MATERIAL COMPLEMENTAR EM INGLÊS Para professores Manual e banco de testes do professor O Manual do professor em inglês que complementa este livro inclui objetivos de aprendizagem sugestões para uma aula expositiva sugestões de ensino Os objetivos de aprendizagem são concebidos para oferecer aos professo res conceitos importantes para os alunos A aula expositiva pretende ajudar os professores ocupados a organizar notas de aula e captar as principais ideias de cada capítulo Com alguma familiaridade com uma teoria particular os profes sores podem ministrar a aula diretamente a partir do resu mo As sugestões de ensino refletem atividades de classe e tópicos de trabalhos que os autores usaram com sucesso com seus alunos Para baixar o Manual do professor acesse em wwwgru poacombr a página do livro por meio do campo de busca e clique em Material do Professor o professor deverá se cadastrar para ter acesso a esse material Feistiniciaisindd x Feistiniciaisindd x 051114 1529 051114 1529 PREFÁCIO xi Para professores e estudantes Centro de aprendizagem online wwwmhhecomfeist8e Esse extenso website em inglês concebido especificamen te para acompanhar Teorias da personalidade de Feist Feist e Roberts 8 a edição oferece um leque de recursos para professores e estudantes Para os estudantes o Centro de Aprendizagem Online OLC contém questões de múltipla escolha dissertativas e de verdadeiro ou falso para cada capítulo além da biografia que explora mais a história de muitos teóricos apresentados no texto leituras sugeridas para cada capítulo e muitas outras ferramentas úteis O OLC também inclui um guia para estudo Para estudantes Guia para estudo Por Jess Feist Os estudantes que desejam organizar seus métodos de es tudo e melhorar suas chances de atingir boas notas nos tes tes em aula podem acessar gratuitamente o guia para estu do da 8 a edição de Teorias da personalidade em inglês em wwwgrupoacombr Esse guia inclui objetivos de aprendi zagem e resumos dos capítulos Além disso contém uma variedade de itens para teste incluindo questões de preen chimento de lacunas verdadeiro ou falso múltipla escolha e resposta curta Feistiniciaisindd xi Feistiniciaisindd xi 051114 1530 051114 1530 Feistiniciaisindd viii Feistiniciaisindd viii 291014 0943 291014 0943 Esta página foi deixada em branco intencionalmente PARTE UM INTRODUÇÃO 1 CAPÍTULO 1 Introdução à Teoria da Personalidade 2 O que é personalidade 3 O que é uma teoria 4 Definição de teoria 4 A teoria e suas relações 4 Filosofia 5 Especulação 5 Hipótese 5 Taxonomia 5 Por que diferentes teorias 5 As personalidades dos teóricos e suas teorias da personalidade 6 O que torna uma teoria útil 6 Gera pesquisa 6 É refutável 7 Organiza os dados 7 Orienta a ação 7 É internamente coerente 8 É parcimoniosa 8 Pesquisa em teoria da personalidade 8 Dimensões para um conceito de humanidade 9 PARTE DOIS TEORIAS PSICODINÂMICAS 11 CAPÍTULO 2 Freud Psicanálise 12 Panorama da teoria psicanalítica 13 Biografia de Sigmund Freud 13 Níveis da vida mental 17 Inconsciente 17 Préconsciente 18 Consciente 18 Instâncias da mente 20 O id 20 O ego 21 O superego 21 Dinâmica da personalidade 22 Impulsos 22 Sexo 23 Agressividade 23 Ansiedade 24 Mecanismos de defesa 24 Repressão 25 Formação reativa 25 Deslocamento 25 Fixação 25 Regressão 26 Projeção 26 Introjeção 26 Sublimação 26 Estágios do desenvolvimento 27 Período infantil 27 Fase oral 27 Fase anal 28 Fase fálica 28 Complexo de Édipo masculino 29 Complexo de Édipo feminino 29 Período de latência 31 Período genital 32 Maturidade 32 Aplicações da teoria psicanalítica 32 A técnica terapêutica inicial de Freud 32 A técnica terapêutica posterior de Freud 33 Análise dos sonhos 34 Sumário Feistiniciaisindd xiii Feistiniciaisindd xiii 291014 0943 291014 0943 xiv SUMÁRIO Atos falhos 36 Pesquisa relacionada 36 Processamento mental inconsciente 37 Prazer e id inibição e ego 37 Repressão inibição e mecanismos de defesa 38 Pesquisa sobre os sonhos 39 Críticas a Freud 40 Freud entendia as mulheres o gênero e a sexualidade 40 Freud era um cientista 41 Conceito de humanidade 43 CAPÍTULO 3 Adler Psicologia Individual 45 Panorama da psicologia individual 46 Biografia de Alfred Adler 46 Introdução à teoria adleriana 48 Luta pelo sucesso ou pela superioridade 49 O objetivo final 49 A força do empenho como compensação 50 A luta pela superioridade pessoal 50 A luta pelo sucesso 50 Percepções subjetivas 51 Ficcionalismo 51 Inferioridades físicas 51 Unidade e autocoerência da personalidade 52 Dialeto do órgão 52 Consciente e inconsciente 52 Interesse social 52 Origens do interesse social 53 Importância do interesse social 54 Estilo de vida 54 Força criativa 55 Desenvolvimento anormal 55 Descrição geral 55 Fatores externos no desajustamento 56 Deficiências físicas graves 56 Estilo de vida mimado 56 Estilo de vida negligenciado 56 Tendências à salvaguarda 56 Desculpas 57 Agressividade 57 Retraimento 57 Protesto viril 58 Origens do protesto viril 58 Adler Freud e o protesto viril 59 Aplicações da psicologia individual 59 Constelação familiar 59 Lembranças precoces 61 Sonhos 61 Psicoterapia 62 Pesquisa relacionada 62 Efeitos da ordem de nascimento 62 Lembranças precoces e escolha da carreira 63 Primeira infância e questões relacionadas à saúde 63 Críticas a Adler 65 Conceito de humanidade 66 CAPÍTULO 4 Jung Psicologia Analítica 68 Panorama da psicologia analítica 69 Biografia de Carl Jung 69 Níveis da psique 72 Consciente 72 Inconsciente pessoal 73 Inconsciente coletivo 73 Arquétipos 73 Persona 74 Sombra 75 Anima 75 Animus 76 Grande mãe 76 Velho sábio 77 Herói 77 Self 77 Dinâmica da personalidade 79 Causalidade e teleologia 79 Progressão e regressão 79 Tipos psicológicos 80 Atitudes 80 Introversão 80 Extroversão 80 Feistiniciaisindd xiv Feistiniciaisindd xiv 291014 0943 291014 0943 SUMÁRIO xv Funções 81 Pensamento 81 Sentimento 81 Sensação 82 Intuição 82 Desenvolvimento da personalidade 83 Estágios do desenvolvimento 83 Infância 83 Juventude 83 Meiaidade 84 Velhice 84 Autorrealização 84 Métodos de investigação de Jung 85 Teste de associação de palavras 85 Análise dos sonhos 86 Imaginação ativa 87 Psicoterapia 87 Pesquisa relacionada 89 Tipo de personalidade e investimentos financeiros 89 Tipo de personalidade e liderança 89 Críticas a Jung 90 Conceito de humanidade 91 CAPÍTULO 5 Klein Teoria das Relações Objetais 93 Panorama da teoria das relações objetais 94 Biografia de Melanie Klein 94 Introdução à teoria das relações objetais 96 A vida psíquica do bebê 96 Fantasias 96 Objetos 97 Posições 97 Posição esquizoparanoide 97 Posição depressiva 98 Mecanismos de defesa psíquicos 98 Introjeção 98 Projeção 99 Dissociação 99 Identificação projetiva 99 Internalizações 99 Ego 99 Superego 100 Complexo de Édipo 100 Desenvolvimento edípico feminino 101 Desenvolvimento edípico masculino 101 Visões posteriores das relações objetais 101 A visão de Margaret Mahler 102 A visão de Heinz Kohut 103 A teoria do apego de John Bowlby 104 Mary Ainsworth e a situação estranha 105 Psicoterapia 106 Pesquisa relacionada 106 Trauma infantil e relações objetais adultas 106 Teoria do apego e as relações adultas 107 Críticas à teoria das relações objetais 108 Conceito de humanidade 109 CAPÍTULO 6 Horney Teoria Social Psicanalítica 111 Panorama da teoria social psicanalítica 112 Biografia de Karen Horney 112 Introdução à teoria social psicanalítica 113 Comparação entre Horney e Freud 114 O impacto da cultura 114 A importância das experiências da infância 114 Hostilidade básica e ansiedade básica 115 Impulsos compulsivos 116 Necessidades neuróticas 116 Tendências neuróticas 117 Movimento em direção às pessoas 118 Movimento contra as pessoas 118 Movimento para longe das pessoas 118 Conflitos intrapsíquicos 120 Autoimagem idealizada 120 Busca neurótica pela glória 120 Reivindicações neuróticas 121 Orgulho neurótico 121 Autoódio 121 Feistiniciaisindd xv Feistiniciaisindd xv 291014 0943 291014 0943 xvi SUMÁRIO Psicologia feminina 122 Psicoterapia 123 Pesquisa relacionada 124 Desenvolvimento e validação de uma nova medida das tendências neuróticas de Horney 124 O neuroticismo pode vir a ser algo bom 125 Críticas a Horney 125 Conceito de humanidade 126 CAPÍTULO 7 Fromm Psicanálise Humanista 128 Panorama da psicanálise humanista 129 Biografia de Erich Fromm 129 Pressupostos básicos de Fromm 131 Necessidades humanas 132 Ligação 132 Transcendência 132 Enraizamento 133 Sentimento de identidade 133 Estrutura de orientação 133 Resumo das necessidades humanas 134 O fardo da liberdade 134 Mecanismos de fuga 135 Autoritarismo 135 Destrutividade 135 Conformidade 135 Liberdade positiva 135 Orientações do caráter 136 Orientações não produtivas 136 Receptiva 136 Exploradora 136 Acumulativa 136 Mercantil 136 Orientação produtiva 137 Transtornos da personalidade 137 Necrofilia 137 Narcisismo maligno 137 Simbiose incestuosa 138 Psicoterapia 139 Métodos de investigação de Fromm 139 O caráter social em uma vila mexicana 139 Um estudo psicohistórico de Hitler 140 Pesquisa relacionada 141 Estranhamento da cultura e bemestar 141 Autoritarismo e medo 142 Críticas a Fromm 143 Conceito de humanidade 143 CAPÍTULO 8 Erikson Teoria Pósfreudiana 145 Panorama da teoria pósfreudiana 146 Biografia de Erik Erikson 146 O ego na teoria pósfreudiana 148 Influência da sociedade 148 Princípio epigenético 149 Estágios do desenvolvimento psicossocial 150 Lactância 151 Modo oralsensorial 151 Confiança básica versus desconfiança básica 151 Esperança a força básica da lactância 152 Infância precoce 152 Modo analuretralmuscular 152 Autonomia versus vergonha e dúvida 152 Vontade a força básica da infância precoce 153 Idade do jogo 153 Modo genitallocomotor 153 Iniciativa versus culpa 153 Propósito a força básica da idade do jogo 154 Idade escolar 154 Latência 154 Diligência versus inferioridade 154 Competência a força básica da idade escolar 154 Adolescência 155 Puberdade 155 Identidade versus confusão de identidade 155 Fidelidade a força básica da adolescência 156 Início da idade adulta 156 Genitalidade 156 Intimidade versus isolamento 157 Amor a força básica do início da idade adulta 157 Feistiniciaisindd xvi Feistiniciaisindd xvi 291014 0943 291014 0943 SUMÁRIO xvii Idade adulta 157 Procriatividade 157 Generatividade versus estagnação 157 Cuidado a força básica da idade adulta 158 Velhice 158 Sensualidade generalizada 159 Integridade versus desespero 159 Sabedoria a força básica da velhice 159 Resumo do ciclo de vida 159 Métodos de investigação de Erikson 160 Estudos antropológicos 160 Psicohistória 160 Pesquisa relacionada 162 A identidade precede a intimidade 162 Generatividade versus estagnação 163 Críticas a Erikson 163 Conceito de humanidade 164 PARTE TRÊS TEORIAS HUMANISTAS EXISTENCIAIS 167 CAPÍTULO 9 Maslow Teoria HolísticoDinâmica 168 Panorama da teoria holísticodinâmica 169 Biografia de Abraham H Maslow 169 A visão de Maslow sobre a motivação 172 Hierarquia de necessidades 172 Necessidades fisiológicas 173 Necessidades de segurança 173 Necessidades de amor e pertencimento 173 Necessidades de estima 174 Necessidades de autorrealização 174 Necessidades estéticas 175 Necessidades cognitivas 175 Necessidades neuróticas 175 Discussão geral das necessidades 175 Ordem invertida das necessidades 175 Comportamento imotivado 176 Comportamento expressivo e de enfrentamento 176 Privação de necessidades 176 Natureza instintiva das necessidades 176 Comparação entre necessidades mais altas e mais baixas 177 Autorrealização 177 A busca de Maslow pela pessoa autorrealizada 177 Critérios para a autorrealização 178 Valores das pessoas autorrealizadas 178 Características das pessoas autorrealizadas 179 Percepção mais eficiente da realidade 179 Aceitação de si dos outros e da natureza 179 Espontaneidade simplicidade e naturalidade 179 Centradas nos problemas 179 A necessidade de privacidade 180 Autonomia 180 Apreciação constante do novo 180 A experiência culminante 180 Gemeinschaftsgefühl 181 Relações interpessoais profundas 181 A estrutura do caráter democrático 181 Discriminação entre meios e fins 181 Senso de humor filosófico 181 Criatividade 182 Resistência à enculturação 182 Amor sexo e autorrealização 182 Filosofia da ciência 182 Medindo a autorrealização 183 O complexo de Jonas 184 Psicoterapia 185 Pesquisa relacionada 185 Necessidades de suprir uma deficiência valores B e autoestima 185 Psicologia positiva 187 Críticas a Maslow 187 Conceito de humanidade 188 CAPÍTULO 10 Rogers Teoria Centrada na Pessoa 191 Panorama da teoria centrada na pessoa 192 Biografia de Carl Rogers 192 Teoria centrada na pessoa 194 Pressupostos básicos 194 Tendência formativa 194 Tendência atualizante 195 Feistiniciaisindd xvii Feistiniciaisindd xvii 291014 0943 291014 0943 xviii SUMÁRIO O self e a autoatualização 195 O autoconceito 196 O self ideal 196 Consciência awareness 196 Níveis de consciência awareness 196 Negação das experiências positivas 197 Tornarse pessoa 197 Obstáculos à saúde psicológica 197 Condições de valor 197 Incongruência 198 Defesas 198 Desorganização 199 Psicoterapia 199 Condições 200 Congruência do terapeuta 200 Consideração positiva incondicional 201 Escuta empática 201 Processo 202 Estágios da mudança terapêutica 202 Explicação teórica para a mudança terapêutica 203 Resultados 203 A pessoa do futuro 204 Filosofia da ciência 205 Os estudos de Chicago 205 Hipóteses 205 Método 205 Achados 206 Resumo dos resultados 207 Pesquisa relacionada 207 Teoria da autodiscrepância 207 Motivação e busca dos próprios objetivos 208 Críticas a Rogers 209 Conceito de humanidade 210 CAPÍTULO 11 May Psicologia Existencial 213 Panorama da psicologia existencial 214 Biografia de Rollo May 214 Antecedentes do existencialismo 216 O que é existencialismo 217 Conceitos básicos 217 Sernomundo 217 Nãoser 218 O caso de Philip 219 Ansiedade 219 Ansiedade normal 220 Ansiedade neurótica 220 Culpa 220 Intencionalidade 221 Cuidado amor e vontade 221 União entre amor e vontade 222 Formas de amor 222 Sexo 222 Eros 222 Filia 222 Ágape 223 Liberdade e destino 223 Definição de liberdade 223 Formas de liberdade 223 Liberdade existencial 223 Liberdade essencial 223 O que é destino 223 O destino de Philip 224 O poder do mito 224 Psicopatologia 225 Psicoterapia 225 Pesquisa relacionada 227 Evidência da mortalidade e negação de nossa natureza animal 227 Forma física como uma defesa contra a consciência da mortalidade 228 Existe alguma vantagem na consciência da mortalidade 229 Críticas a May 230 Conceito de humanidade 230 PARTE QUATRO TEORIAS DISPOSICIONAIS 233 CAPÍTULO 12 Allport Psicologia do Indivíduo 234 Panorama da psicologia do indivíduo de Allport 235 Feistiniciaisindd xviii Feistiniciaisindd xviii 291014 0943 291014 0943 SUMÁRIO xix Biografia de Gordon Allport 235 Abordagem de Allport da teoria da personalidade 236 O que é personalidade 237 Qual é o papel da motivação consciente 237 Quais são as características da pessoa sadia 237 Estrutura da personalidade 238 Disposições pessoais 239 Níveis de disposições pessoais 239 Disposições motivacionais e estilísticas 240 Proprium 240 Motivação 240 Uma teoria da motivação 240 Autonomia funcional 241 Autonomia funcional perseverativa 242 Autonomia funcional do proprium 242 Critério para a autonomia funcional 243 Processos que não são funcionalmente autônomos 243 O estudo do indivíduo 243 Ciência morfogênica 244 Os diários de Marion Taylor 244 As cartas de Jenny 244 Pesquisa relacionada 246 Orientação religiosa intrínseca versus extrínseca 246 Como reduzir o preconceito contato ideal 247 Críticas a Allport 248 Conceito de humanidade 249 CAPÍTULO 13 Teoria dos Cinco Fatores de McCrae e Costa 252 Panorama das teorias dos traços e fatores 253 O trabalho pioneiro de Raymond B Cattell 253 Princípios básicos da análise fatorial 254 Os cinco grandes fatores taxonomia ou teoria 255 Biografias de Robert R McCrae e Paul T Costa Jr 255 À procura dos cinco grandes fatores 256 Cinco fatores encontrados 257 Descrição dos cinco fatores 257 Evolução da teoria dos Cinco Fatores 258 Unidades da teoria dos cinco fatores 259 Componentes centrais da personalidade 259 Componentes periféricos 261 Postulados básicos 261 Postulados para as tendências básicas 261 Postulados para as adaptações características 262 Pesquisa relacionada 262 Traços e desempenho acadêmico 263 Traços uso da Internet e bemestar 263 Traços e emoção 264 Críticas às teorias dos traços e fatores 265 Conceito de humanidade 266 PARTE CINCO TEORIAS BIOLÓGICAS EVOLUCIONISTAS 269 CAPÍTULO 14 Teoria dos Fatores de Base Biológica de Eysenck 270 Panorama da teoria dos traços de base biológica 271 Biografia de Hans J Eysenck 272 Teoria dos fatores de Eysenck 274 Critérios para a identificação dos fatores 274 Hierarquia da organização do comportamento 274 Dimensões da personalidade 274 Extroversão 275 Neuroticismo 277 Psicoticismo 277 Medindo a personalidade 278 Bases biológicas da personalidade 278 Personalidade como um preditor 279 Personalidade e comportamento 279 Personalidade e doença 280 Feistiniciaisindd xix Feistiniciaisindd xix 291014 0943 291014 0943 xx SUMÁRIO Pesquisa relacionada 281 A biologia dos traços de personalidade 281 Críticas à teoria de base biológica de Eysenck 282 Conceito de humanidade 283 CAPÍTULO 15 Buss Teoria Evolucionista da Personalidade 284 Panorama da teoria evolucionista 285 Biografia de David Buss 286 Princípios da psicologia evolucionista 287 Teoria evolucionista da personalidade 288 Natureza e criação da personalidade 288 Problemas adaptativos e suas soluções mecanismos 289 Mecanismos evoluídos 290 Motivação e emoção como mecanismos evoluídos 290 Traços de personalidade como mecanismos evoluídos 291 Origens das diferenças individuais 292 Fontes ambientais 292 Fontes herdáveisgenéticas 293 Fontes não adaptativas 293 Fontes maladaptativas 293 Teorias evolucionistas da personalidade neobussianas 293 Malentendidos comuns na teoria evolucionista 294 Evolução implica determinismo genético comportamento imutável e livre de influências do ambiente 295 A execução de adaptações requer mecanismos conscientes 295 Os mecanismos visam a um ideal 295 Pesquisa relacionada 295 Temperamento e ambiente pré e pósnatal 295 Genética e personalidade 296 Personalidade animal 297 Críticas à teoria evolucionista da personalidade 298 Conceito de humanidade 299 PARTE SEIS TEORIAS COGNITIVISTAS E DA APRENDIZAGEM 303 CAPÍTULO 16 Skinner Análise do Comportamento 304 Panorama da análise do comportamento 305 Biografia de B F Skinner 305 Precursores do behaviorismo científico de Skinner 308 Behaviorismo científico 308 Filosofia da ciência 309 Características da ciência 309 Condicionamento 310 Condicionamento clássico 310 Condicionamento operante 310 Modelagem 311 Reforço 312 Punição 313 Reforçadores condicionados e generalizados 313 Esquema de reforço 314 Extinção 315 O organismo humano 315 Seleção natural 315 Evolução cultural 316 Estados internos 316 Autoconsciência 316 Impulsos 317 Emoções 317 Propósito e intenção 317 Comportamento complexo 317 Processos mentais superiores 318 Criatividade 318 Comportamento inconsciente 318 Sonhos 319 Comportamento social 319 Controle do comportamento humano 319 Controle social 319 Autocontrole 320 A personalidade desadaptada 320 Estratégias de combate 320 Comportamentos inapropriados 321 Feistiniciaisindd xx Feistiniciaisindd xx 291014 0943 291014 0943 SUMÁRIO xxi Psicoterapia 321 Pesquisa relacionada 321 Como o condicionamento afeta a personalidade 322 Como a personalidade afeta o condicionamento 322 O reforço e o cérebro 324 Críticas a Skinner 325 Conceito de humanidade 325 CAPÍTULO 17 Bandura Teoria Social Cognitiva 328 Panorama da teoria social cognitiva 329 Biografia de Albert Bandura 329 Aprendizagem 330 Aprendizagem por observação 330 Modelagem 331 Processos que governam a aprendizagem por observação 331 Aprendizagem enativa 332 Causação recíproca triádica 332 Um exemplo de causação recíproca triádica 333 Encontros casuais e eventos fortuitos 333 Agência humana 334 Características fundamentais da agência humana 334 Autoeficácia 335 O que é autoeficácia 335 O que contribui para a autoeficácia 336 Agência por procuração 337 Eficácia coletiva 337 Autorregulação 338 Fatores externos na autorregulação 339 Fatores internos na autorregulação 339 Autoobservação 339 Processo de julgamento 339 Autorreação 340 Autorregulação por meio da agência moral 340 Redefinir o comportamento 340 Desconsiderar ou distorcer as consequências do comportamento 341 Desumanizar ou culpar as vítimas 341 Deslocar ou diluir a responsabilidade 342 Comportamento desadaptado 342 Depressão 342 Fobias 342 Agressividade 342 Terapia 343 Pesquisa relacionada 344 Autoeficácia e terrorismo 344 Autoeficácia e diabetes 345 A teoria social cognitiva se torna global 346 Críticas a Bandura 346 Conceito de humanidade 347 CAPÍTULO 18 Rotter e Mischel Teoria da Aprendizagem Social Cognitiva 349 Panorama da teoria da aprendizagem social cognitiva 350 Biografia de Julian Rotter 350 Introdução à teoria da aprendizagem social de Rotter 351 Predição de comportamentos específicos 352 Potencial do comportamento 352 Expectativa 352 Valor do reforço 353 Situação psicológica 353 Fórmula de predição básica 354 Predição de comportamentos gerais 354 Expectativas generalizadas 354 Necessidades 354 Categorias das necessidades 355 Componentes das necessidades 355 Fórmula de predição geral 356 Controle interno e externo do reforço 356 Escala de Confiança Interpessoal 358 Comportamento desadaptado 359 Psicoterapia 360 Mudando objetivos 360 Eliminando expectativas baixas 360 Feistiniciaisindd xxi Feistiniciaisindd xxi 291014 0943 291014 0943 xxii SUMÁRIO Introdução à teoria da personalidade de Mischel 361 Biografia de Walter Mischel 362 Antecedentes do sistema de personalidade cognitivoafetivo 363 Paradoxo da consistência 363 Interação pessoasituação 363 Sistema de personalidade cognitivoafetivo 364 Predição do comportamento 365 Variáveis da situação 365 Unidades cognitivoafetivas 366 Estratégias de codificação 366 Competências e estratégias autorregulatórias 366 Expectativas e crenças 367 Objetivos e valores 368 Respostas afetivas 368 Pesquisa relacionada 369 Locus de controle e heróis do holocausto 369 Interação pessoasituação 370 Autorregulação ao longo da vida 370 Críticas à teoria da aprendizagem social cognitiva 371 Conceito de humanidade 372 CAPÍTULO 19 Kelly Teoria dos Construtos Pessoais 374 Panorama da teoria dos construtos pessoais 375 Biografia de George Kelly 375 Posição filosófica de Kelly 376 A pessoa como cientista 377 O cientista como pessoa 377 Alternativismo construtivo 377 Construtos pessoais 378 Postulado básico 378 Corolários de apoio 379 Semelhanças entre os eventos 379 Diferenças entre as pessoas 379 Relações entre os construtos 379 Dicotomia dos construtos 380 Escolha entre dicotomias 381 Âmbito de conveniência 381 Experiência e aprendizagem 381 Adaptação à experiência 382 Construtos incompatíveis 382 Semelhanças entre as pessoas 382 Processos sociais 383 Aplicações da teoria dos construtos pessoais 383 Desenvolvimento anormal 383 Ameaça 384 Medo 384 Ansiedade 384 Culpa 385 Psicoterapia 385 O Teste Rep 385 Pesquisa relacionada 387 O gênero como um construto pessoal 387 Compreendendo o preconceito internalizado pela teoria dos construtos pessoais 388 Construtos pessoais e os Big Five 389 Críticas a Kelly 389 Conceito de humanidade 390 Glossário 393 Referências 407 Créditos 423 Índice Onomástico 425 Índice 429 Feistiniciaisindd xxii Feistiniciaisindd xxii 291014 0943 291014 0943 PARTE UM Introdução CAPÍTULO 1 Introdução à Teoria da Personalidade 2 Feist01indd 1 Feist01indd 1 271014 1516 271014 1516 CAPÍTULO 1 Introdução à Teoria da Personalidade O que é personalidade O que é uma teoria Definição de teoria A teoria e suas relações Por que diferentes teorias As personalidades dos teóricos e suas teorias da personalidade O que torna uma teoria útil Pesquisa em teoria da personalidade Dimensões para um conceito de humanidade Termoschave e conceitos Feist01indd 2 Feist01indd 2 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 3 P or que as pessoas agem da forma como agem Elas têm alguma escolha ao moldarem a própria persona lidade O que justifica as semelhanças e diferenças entre as pessoas O que as faz agirem de maneiras previsí veis Por que elas são imprevisíveis Forças ocultas incons cientes controlam o comportamento das pessoas O que causa os transtornos mentais O comportamento humano é moldado mais pela hereditariedade ou pelo ambiente Durante séculos filósofos teólogos e outros pensado res fizeram essas indagações enquanto ponderavam sobre a essência da natureza humana ou até mesmo se pergun tavam se os humanos possuem uma natureza básica Até tempos relativamente recentes os grandes pensadores fizeram pouco progresso em obter respostas satisfatórias para tais questões Mais de cem anos atrás Sigmund Freud começou a combinar especulações filosóficas com um mé todo científico primitivo Como neurologista treinado em ciências Freud passou a ouvir os pacientes para descobrir que conflitos se encontravam por trás dos variados sinto mas deles Ouvir se tornou para Freud mais do que uma arte transformouse em um método um caminho privile giado para o conhecimento que seus pacientes mapeavam para ele Gay 1988 p 70 Freud de fato foi o primeiro a desenvolver uma teo ria verdadeiramente moderna da personalidade com base principalmente em suas observações clínicas Ele formu lou a Grande Teoria ou seja uma teoria que tentou expli car a personalidade para todas as pessoas Como veremos ao longo deste livro muitos outros teóricos com diferentes pontos de vista desenvolveram grandes teorias alternati vas A tendência geral durante o curso do século XX foi ba sear as teorias cada vez mais em observações científicas do que em observações clínicas Ambas as fontes no entanto são fundamentos válidos para as teorias da personalidade O QUE É PERSONALIDADE Os humanos não estão sozinhos em sua singularidade e va riabilidade entre os indivíduos das espécies Os indivíduos que pertencem a cada espécie viva exibem diferenças ou va riabilidade De fato animais como polvos pássaros porcos cavalos gatos e cachorros possuem diferenças individuais consistentes no comportamento conhecidas de outra for ma como personalidade dentro de sua própria espécie Din gemanse Both Drent Van Oers Van Noordwijk 2002 Gosling John 1999 Weinstein Capitanio Gosling 2008 Porém o grau em que os humanos variam entre si tanto física quanto psicologicamente é espantoso e singu lar entre as espécies Alguns de nós somos quietos e intro vertidos outros anseiam por contato e estimulação social alguns de nós somos calmos e equilibrados enquanto ou tros mostramse excitados e persistentemente ansiosos Neste livro exploramos as explicações e ideias que vários homens e mulheres tiveram referentes a como acontecem essas diferenças na personalidade humana Os psicólogos diferem entre si quanto ao significado da personalidade A maioria concorda que a palavra per sonalidade se originou do latim persona que se referia a Não existem duas pessoas nem mesmo gêmeos idênticos que tenham exatamente a mesma personalidade Feist01indd 3 Feist01indd 3 271014 1516 271014 1516 4 FEIST FEIST ROBERTS uma máscara teatral usada pelos atores romanos nos dra mas gregos Esses atores romanos antigos usavam uma máscara persona para projetar um papel ou uma falsa apa rência Tal visão superficial da personalidade é claro não é uma definição aceitável Quando os psicólogos usam o termo personalidade eles estão se referindo a algo que vai além do papel que as pessoas desempenham No entanto os teóricos não entraram em consenso quanto a uma definição única de personalidade Na verda de eles desenvolveram teorias singulares e vitais porque não havia concordância quanto à natureza da humanidade e porque cada um via a personalidade de um ponto de refe rência individual Os teóricos da personalidade discutidos neste livro são de muitas procedências Alguns nasceram na Europa e viveram toda a sua vida lá outros nasceram na Europa mas migaram para outras partes do mundo espe cialmente os Estados Unidos há aqueles ainda que nasce ram na América do Norte e permaneceram por lá Muitos foram influenciados por experiências religiosas anteriores outros não A maioria foi treinada em psiquiatria ou psi cologia Muitos utilizaram a sua experiência como psico terapeutas outros se basearam mais na pesquisa empírica para reunir dados sobre a personalidade humana Mesmo que todos eles tenham lidado de alguma forma com o que chamamos de personalidade cada um abordou esse con ceito global a partir de uma perspectiva diferente Alguns tentaram construir uma teoria abrangente outros foram menos ambiciosos e lidaram apenas com alguns aspectos da personalidade Poucos teóricos definiram formalmente a personalidade mas todos apresentaram sua própria visão sobre ela Apesar de não haver uma definição única que seja acei ta por todos os teóricos da personalidade podemos dizer que personalidade é um padrão de traços relativamente permanentes e características únicas que dão consistên cia e individualidade ao comportamento de uma pessoa Roberts Mroczek 2008 Os traços contribuem para as diferenças individuais no comportamento a consistên cia do comportamento ao longo do tempo e a estabilidade do comportamento nas diversas situações Os traços po dem ser únicos comuns a algum grupo ou compartilhados pela espécie inteira porém seu padrão é diferente em cada indivíduo Assim cada pessoa embora seja como as ou tras em alguns aspectos possui uma personalidade única Características são qualidades peculiares de um indiví duo que incluem atributos como temperamento psique e inteligência O QUE É UMA TEORIA A palavra teoria possui a distinção dúbia de ser um dos termos mais usados indevidamente e mais pouco com preendido da língua inglesa Algumas pessoas contrastam teoria com verdade ou fato mas essa antítese demonstra uma ausência fundamental de compreensão de todos os três termos Na ciência as teorias são ferramentas usadas para gerar pesquisa e organizar observações porém nem verdade nem fato possuem um lugar em uma termino logia científica Definição de teoria Uma teoria científica é um conjunto de pressupostos rela cionados que permite que os cientistas usem o raciocínio lógico dedutivo para formular hipóteses verificáveis Essa definição precisa de maior explicação Em primeiro lugar uma teo ria é um conjunto de pressupostos Um único pressuposto nunca pode atender a todas as exigências de uma teoria adequada Um único pressuposto por exemplo não pode servir para integrar várias observações algo que uma teo ria útil deve fazer Em segundo lugar uma teoria é um conjunto de pres supostos relacionados Pressupostos isolados não podem gerar hipóteses significativas nem possuem consistência interna dois critérios de uma teoria útil Em terceiro uma palavrachave na definição é pressu postos Os componentes de uma teoria não são fatos com provados no sentido de que sua validade tenha sido absolu tamente estabelecida Eles são no entanto aceitos como se fossem verdade Este é um passo prático dado de forma que os cientistas possam conduzir pesquisa úteis cujos resulta dos continuam a construir e a reformular a teoria original Em quarto lugar o raciocínio lógico dedutivo é usado pelo pesquisador para formular hipóteses Os princípios de uma teoria devem ser especificados com uma precisão suficiente e com uma consistência lógica que permitam aos cientistas deduzir hipóteses claramente propostas As hi póteses não são componentes da teoria mas derivam dela O trabalho de um cientista imaginativo é começar com a teoria geral e por meio do raciocínio dedutivo chegar a uma hipótese particular que pode ser verificada Se as pro posições teóricas gerais forem ilógicas elas permanecem estéreis e incapazes de gerar hipóteses Além do mais se um pesquisador usa uma lógica falha na dedução de hipó teses a pesquisa resultante não apresentará significado e não contribuirá para o processo contínuo de construção da teoria A parte final da definição inclui o qualificador verifi cável A menos que uma hipótese possa ser verificada de alguma maneira ela será inútil A hipótese não precisa ser verificada imediatamente mas deve sugerir a possibilidade de os cientistas no futuro desenvolverem os meios neces sários para tanto A teoria e suas relações As pessoas às vezes confundem teoria com filosofia ou especulação ou hipótese ou taxonomia Ainda que a teoria Feist01indd 4 Feist01indd 4 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 5 esteja relacionada a cada um desses conceitos ela não é o mesmo que qualquer um deles Filosofia Primeiramente a teoria está relacionada à filosofia po rém é um termo muito mais delimitado Filosofia significa amor à sabedoria e os filósofos são pessoas que buscam a sabedoria por meio do pensamento e do raciocínio Os filósofos não são cientistas eles normalmente não con duzem estudos controlados em sua busca pela sabedoria A filosofia abrange várias ramificações uma das quais é a epistemologia ou a natureza do conhecimento A teoria se relaciona mais intimamente a esse ramo da filosofia porque ela é uma ferramenta usada pelos cientistas em sua busca pelo conhecimento As teorias não lidam com o deve ser ou o deveria ser Portanto um conjunto de princípios sobre como se deve viver a vida não pode ser uma teoria Tais princípios envolvem valores e são o próprio campo da filosofia Ape sar de as teorias não serem livres de valores elas são cons truídas sobre evidências científicas obtidas de uma forma relativamente imparcial Assim não existem teorias sobre por que a sociedade deve ajudar os desabrigados ou sobre o que constitui uma grande arte A filosofia lida com o que tem que ser ou deveria ser a teoria não A teoria lida com conjuntos amplos de afirma ções seentão porém o aspecto bom ou ruim dos resulta dos dessas afirmações está além do domínio da teoria Por exemplo uma teoria pode nos dizer que se as crianças são criadas em isolamento completamente separadas do con tato humano então elas não desenvolverão linguagem hu mana não exibirão comportamento parental e assim por diante No entanto essa afirmação não diz nada a respeito da moralidade de tal método de criação de uma criança Especulação Em segundo lugar as teorias se baseiam na especulação po rém elas são muito mais do que mera pressuposição de gabi nete Elas não se originam da mente de um grande pensador isolado das observações empíricas Elas estão intimamente ligadas a dados reunidos de modo empírico e à ciência Qual é a relação entre teoria e ciência Ciência é o ramo de estudo interessado na observação e classificação dos dados e na verificação das leis gerais por meio do teste das hipóteses As teorias são ferramentas úteis emprega das pelos cientistas para fornecer significado e organização para as observações Além disso as teorias proporcionam um terreno fértil para a produção de hipóteses verificá veis Sem algum tipo de teoria para reunir as observações e apontar para direções de possíveis pesquisas a ciência es taria muito prejudicada As teorias não são fantasias inúteis fabricadas por estudiosos pouco práticos que temem sujar suas mãos na maquinaria da investigação científica Na verdade as teo rias são bastante práticas e são essenciais para o avanço de qualquer ciência Especulação e observação empírica são os dois pilares da construção da teoria porém a es peculação não deve correr muito à frente da observação controlada Hipótese Ainda que teoria seja um conceito mais delimitado do que filosofia é um termo mais amplo do que hipótese Uma boa teoria é capaz de gerar muitas hipóteses Uma hipó tese é uma suposição ou palpite fundamentado suficien temente específico para que sua validade seja verificada por meio do método científico Uma teoria é muito geral para se prestar à verificação direta mas uma única teoria abrangente é capaz de gerar milhares de hipóteses As hi póteses então são mais específicas do que as teorias que as concebem Entretanto a prole não deve ser confundida com o genitor Obviamente existe uma relação íntima entre uma teo ria e uma hipótese Usando o raciocínio dedutivo partindo do geral para o específico um pesquisador pode obter hi póteses verificáveis a partir de uma teoria útil e então ve rificar essas hipóteses Os resultados desses testes confir mam ou contradizem as hipóteses realimentam a teoria Empregando o raciocínio indutivo partindo do específico para o geral o pesquisador então altera a teoria conside rando esses resultados À medida que a teoria se amplia e se modifica outras hipóteses podem ser extraídas dela e quando verificadas reformulam a teoria Taxonomia Uma taxonomia é uma classificação das coisas de acordo com suas relações naturais As taxonomias são essenciais para o desenvolvimento de uma ciência porque sem a classificação dos dados a ciência não poderia progredir A mera classificação no entanto não constitui uma teoria Contudo as taxonomias podem evoluir para teorias quan do começam a gerar hipóteses verificáveis e a explicar os achados de pesquisa Por exemplo Robert McCrae e Paul Costa começaram sua pesquisa classificando as pessoas em cinco traços de personalidade estáveis Por fim essa pes quisa sobre a taxonomia Big Five levou a mais do que uma mera classificação ela se transformou em uma teoria capaz de sugerir hipóteses e oferecer explicações para os resultados de pesquisa Por que diferentes teorias Se as teorias da personalidade são verdadeiramente cien tíficas por que há tantas teorias diferentes Existem teo rias alternativas porque a própria natureza de uma teoria permite que o teórico faça especulações a partir de um ponto de vista particular O teórico deve ser o mais ob Feist01indd 5 Feist01indd 5 271014 1516 271014 1516 6 FEIST FEIST ROBERTS jetivo possível quando reúne os dados mas suas decisões quanto a quais dados são coletados e como esses dados são interpretados são pessoais As teorias não são leis imutáveis elas são construídas não sobre fatos provados mas sobre pressupostos que estão sujeitos à interpretação individual Todas as teorias são um reflexo da origem pessoal dos autores de suas experiências infantis de sua filosofia de vida de suas relações interpessoais e de sua maneira única de ver o mundo Como as observações são influenciadas pela estrutura de referência do observador pode haver muitas teorias diferentes Entretanto teorias divergentes podem ser úteis A utilidade de uma teoria não depende de seu valor prático ou de sua concordância com outras teorias ela depende da capacidade de gerar pesquisa e de explicar os dados obtidos e outras observações As personalidades dos teóricos e suas teorias da personalidade Como as teorias da personalidade se desenvolvem a partir das próprias personalidades dos teóricos um estudo des sas personalidades é apropriado Em anos recentes uma subdisciplina da psicologia chamada psicologia da ciência começou a examinar os traços pessoais dos cientistas isto é ela investiga o impacto dos processos psicológicos e das características pessoais de um cientista no desenvolvimen to de suas teorias e pesquisa Feist 1993 1994 2006 Feist Gorman 1998 Gholson Shadish Neimeyer Houts 1989 Em outras palavras a psicologia da ciência examina como as personalidades dos cientistas seus processos cog nitivos histórias desenvolvimentais e experiência social afetam o tipo de ciência que eles desenvolvem e as teorias que eles criam Na verdade inúmeras investigações Hart 1982 Johnson Germer Efran Overton 1988 Simon ton 2000 Zachar Leong 1992 demonstraram que as diferenças da personalidade influenciam a orientação teó rica de um indivíduo bem como sua inclinação a se voltar para o lado duro ou leve de uma disciplina Uma compreensão das teorias da personalidade se apoia nas informações referentes ao mundo histórico so cial e psicológico de cada teórico no momento de sua for mulação teórica Como acreditamos que as teorias da per sonalidade refletem a personalidade do teórico incluímos uma quantidade substancial de informações biográficas sobre cada teórico importante Na verdade as diferenças de personalidade entre os teóricos explicam as discor dâncias fundamentais entre aqueles que se voltam para o lado quantitativo da psicologia behavioristas teóricos da aprendizagem social e teóricos dos traços e aqueles que se voltam para o lado clínico e qualitativo da psicologia psica nalistas humanistas e existencialistas Ainda que a personalidade de um teórico molde par cialmente sua teoria ela não deve ser a única determinante daquela teoria Da mesma forma sua aceitação de uma ou outra teoria não deve se apoiar em valores e predileções pessoais Ao avaliar e escolher uma teoria devese reco nhecer o impacto da história pessoal do teórico sobre a teoria mas em última análise é preciso examinála com base nos critérios científicos que são independentes da quela história pessoal Alguns observadores Feist 2006 Feist Gorman 1998 distinguiram entre ciência como processo e ciência como produto O processo científico pode ser influenciado pelas características pessoais do cientista porém a utilidade final do produto científico é e deve ser avaliada independentemente do processo Assim a avalia ção de cada uma das teorias apresentadas neste livro deve se apoiar mais nos critérios objetivos do que em predile ções e empatias O que torna uma teoria útil Uma teoria útil possui uma interação mútua e dinâmica com os dados da pesquisa Em primeiro lugar uma teoria gera inúmeras hipóteses que podem ser investigadas por meio da pesquisa produzindo assim dados de pesqui sa Tais dados retornam para a teoria e a reestruturam A partir dessa teoria recémdelineada os cientistas podem extrair outras hipóteses levando a mais pesquisa e dados o que por sua vez reestrutura e aumenta a teoria ainda mais Tal relação cíclica continua enquanto a teoria se mos trar útil Em segundo lugar uma teoria útil organiza os dados de pesquisa em uma estrutura significativa e fornece uma explicação para os resultados da pesquisa científica Essa relação entre teoria e dados de pesquisa é apresentada na Figura 11 Quando uma teoria não é mais capaz de gerar pesquisa adicional ou de explicar dados de pesquisa relacio nados ela perde sua utilidade e é deixada de lado em favor de uma que seja mais útil Além de promover a pesquisa e explicar os dados de pesquisa uma teoria útil deve se prestar à confirmação ou à negação proporcionar ao praticante um guia de ação ser coerente com ela mesma e ser o mais simples possível Por tanto avaliamos cada uma das teorias apresentadas neste livro com base em seis critérios uma teoria útil 1 gera pesquisa 2 é refutável 3 organiza os dados 4 orienta a ação 5 é internamente coerente e 6 é parcimoniosa Gera pesquisa O critério mais importante de uma teoria útil é a capaci dade de estimular e orientar mais pesquisa Sem uma teo ria adequada para apontar o caminho muitos dos achados empíricos presentes da ciência teriam permanecido desco nhecidos Na astronomia por exemplo o planeta Netuno foi descoberto porque a teoria do movimento gerou a hi pótese de que a irregularidade do caminho de Urano fosse causada pela presença de outro planeta A teoria útil forne Feist01indd 6 Feist01indd 6 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 7 ceu aos astrônomos um roteiro que guiou sua pesquisa e a descoberta do novo planeta Uma teoria útil gera dois tipos diferentes de pesquisa pesquisa descritiva e teste da hipótese A pesquisa descri tiva que pode ampliar uma teoria existente preocupase com a medida a catalogação e a classificação das unidades empregadas na construção da teoria A pesquisa descritiva tem um relacionamento simbiótico com a teoria Por um lado ela fornece os fundamentos para a teoria por outro ela recebe seu impulso da teoria dinâmica em expansão Quanto mais útil a teoria mais pesquisa é gerada por ela quanto maior a quantidade de pesquisa descritiva a teoria tornase mais completa O segundo tipo de pesquisa gerada por uma teoria útil o teste da hipótese conduz a uma verificação indireta da utilidade da teoria Como já observamos uma teoria útil gera muitas hipóteses que quando verificadas somamse a uma base de dados que pode reestruturar e ampliar a teo ria Ver Fig 11 É refutável Uma teoria também deve ser avaliada segundo sua capa cidade de ser confirmada ou negada ou seja ela deve ser refutável Para tanto uma teoria deve mostarse suficien temente precisa para sugerir pesquisas que possam apoiar ou não seus princípios principais Se uma teoria for tão vaga e nebulosa que tanto os resultados positivos quanto os negativos da pesquisa podem ser interpretados como apoio então essa teoria não será refutável e deixará de ser útil Refutação no entanto não é o mesmo que falsidade isto simplesmente significa que os resultados de pesquisa negativos refutam a teoria e forçam o teórico a descartála ou modificála Uma teoria refutável é responsável pelos resultados experimentais A Figura 11 descreve uma conexão circu lar e mutuamente reforçadora entre teoria e pesquisa cada uma forma uma base para a outra A ciência é distinguida da não ciência por sua capacidade de rejeitar ideias que não são apoiadas empiricamente mesmo que pareçam lógicas e racionais Por exemplo Aristóteles usou a lógica para ar gumentar que corpos mais leves caem em velocidades mais lentas do que corpos mais pesados Ainda que seu argu mento possa ter concordado com o bom senso ele tinha um problema estava empiricamente errado As teorias que se baseiam profundamente em transfor mações não observáveis no inconsciente são muito difíceis de verificar ou refutar Por exemplo a teoria de Freud sugere que muitos de nossos comportamentos e emoções são mo tivados por tendências inconscientes que são diretamente opostas às que expressamos Por exemplo o ódio incons ciente pode ser expresso como amor consciente ou o medo inconsciente dos próprios sentimentos homossexuais pode assumir a forma de hostilidade exagerada em relação a indi víduos homossexuais Como a teoria de Freud leva em con sideração tais transformações no inconsciente ela é quase impossível de verificar ou refutar Uma teoria que consegue explicar tudo não explica nada Organiza os dados Uma teoria útil também deve ser capaz de organizar os da dos da pesquisa que são compatíveis entre si Sem alguma organização ou classificação os achados da pesquisa per manecem isolados e sem significado A menos que os da dos sejam organizados em alguma estrutura inteligível os cientistas ficam sem uma direção clara a seguir na busca de maior conhecimento Eles não podem fazer perguntas inteligentes sem uma estrutura teórica que organize suas informações Sem perguntas inteligentes a pesquisa adi cional é restringida Uma teoria útil da personalidade deve ser capaz de integrar o que é sabido atualmente a respeito do compor tamento humano e do desenvolvimento da personalidade Ela deve ser capaz de moldar tantos fragmentos de infor mação quanto seja possível dentro de um arranjo que faça sentido Se uma teoria da personalidade não oferecer uma explicação razoável de pelo menos alguns tipos de com portamento ela deixa de ser útil Orienta a ação O quarto critério de uma teoria útil é sua capacidade de orientar as pessoas no árduo caminho dos problemas do dia a dia Por exemplo pais professores administradores e psicoterapeutas são confrontados continuamente com uma avalanche de perguntas para as quais eles tentam encontrar respostas viáveis A boa teoria oferece uma es trutura para que se encontrem muitas dessas respostas A teoria fornece significado aos dados Teoria Hipótese Pesquisa Dados da pesquisa O s da do s re fo r m ul a m a t eo ri a FIGURA 11 Interação entre teoria hipóteses pesquisa e dados da pesquisa Feist01indd 7 Feist01indd 7 271014 1516 271014 1516 8 FEIST FEIST ROBERTS Sem uma teoria útil as pessoas tropeçam na escuridão das técnicas de tentativa e erro com uma orientação teórica sólida elas podem discernir um curso de ação adequado Para o psicanalista freudiano e o conselheiro rogeria no as respostas à mesma pergunta são muito diferentes Para a pergunta Como posso tratar melhor este pacien te o terapeuta psicanalítico responde nestes termos Se as psiconeuroses são causadas por conflitos sexuais in fantis que se tornaram inconscientes então posso ajudar melhor esse paciente examinando tais repressões e permi tindo que o paciente reviva as experiências na ausência de conflito Para essa mesma pergunta o terapeuta rogeriano responde Se para crescer psicologicamente as pessoas precisam de empatia consideração positiva incondicional e uma relação com um terapeuta congruente então posso ajudar mais esse paciente proporcionando uma atmosfera de aceitação não ameaçadora Observese que ambos os terapeutas construíram suas respostas dentro de uma es trutura seentão muito embora as duas respostas requerem cursos de ação bastante diferentes Também incluído nesse critério está até que ponto a teoria estimula pensamento e ação em outras disciplinas como arte literatura incluindo filmes e novelas direi to sociologia filosofia religião educação administração empresarial e psicoterapia A maioria das teorias discuti das neste livro teve alguma influência em áreas além da psicologia Por exemplo a teoria de Freud promoveu pes quisas sobre lembranças recuperadas um tópico muito importante para os profissionais do direito Também a teoria de Jung é de grande interesse para muitos teólogos e capturou a imaginação de escritores populares como Joseph Campbell Igualmente as ideias de Alfred Adler Erik Erikson B F Skinner Abraham Maslow Carl Ro gers Rollo May e outros teóricos da personalidade pro duziram interesse e ação em uma ampla gama de campos acadêmicos É internamente coerente Uma teoria útil não precisa ser coerente com outras teo rias mas precisa ser coerente consigo mesma Uma teoria internamente coerente é aquela cujos componentes são compatíveis de modo lógico As limitações de âmbito são cuidadosamente definidas e a teoria não oferece explica ções que vão além desse âmbito Além disso uma teoria internamente coerente usa a linguagem de uma forma também coerente isto é ela não emprega o mesmo termo para significar duas coisas diferentes nem aplica dois ter mos distintos para se referir ao mesmo conceito Uma boa teoria usa conceitos e termos definidos de forma clara e operacional Uma definição operacional é aquela que define unidades em termos de eventos ou com portamentos observáveis que podem ser mensurados Por exemplo um indivíduo extrovertido pode ser operacional mente definido como uma pessoa que atinge determinado escore em um inventário de personalidade específico É parcimoniosa Quando duas teorias são iguais em sua capacidade de gerar pesquisa ser refutável dar significado aos dados orientar o praticante e ser autocoerentes a mais simples é a prefe rida Esta é a lei da parcimônia Na verdade é claro duas teorias nunca são exatamente iguais nessas outras com petências mas em geral as teorias simples são mais úteis do que aquelas que ficam atoladas sob o peso de conceitos complicados e linguagem esotérica Ao construir uma teoria da personalidade os psi cólogos devem começar em uma escala limitada e evitar fazer rápidas generalizações que expliquem todo o com portamento humano Esse curso de ação foi seguido pela maioria dos teóricos discutidos neste livro Por exemplo Freud começou com uma teoria baseada em grande par te nas neuroses histéricas e durante um período de anos gradualmente amplioua para incluir cada vez mais da per sonalidade total PESQUISA EM TEORIA DA PERSONALIDADE Conforme apontamos anteriormente o critério primário para uma teoria útil é a capacidade de gerar pesquisa Tam bém observamos que as teorias e os dados de pesquisa têm uma relação cíclica a teoria dá significado aos dados e os dados resultam da pesquisa experimental concebida para verificar as hipóteses geradas pela teoria Nem todos os dados no entanto provêm da pesquisa experimental Boa parte deles é oriunda de observações que cada um de nós faz todos os dias Observar significa simplesmente notar algo prestar atenção Você vem observando personalidades humanas durante o mesmo tempo em que está vivo Você observa que algumas pessoas são falantes e descontraídas outras são quietas e reservadas Você pode até mesmo ter rotulado tais pessoas como extrovertidas ou introvertidas Estes são rótulos precisos Uma pessoa extrovertida é igual a outra Um extrovertido sempre é falante e descontraído Todas as pessoas podem ser classificadas como introverti das ou extrovertidas Ao fazer observações e indagações você está reali zando as mesmas coisas que os psicólogos isto é observar comportamentos humanos e tentar dar um sentido a essas observações Contudo os psicólogos assim como outros cientistas tentam ser sistemáticos de modo que suas predi ções sejam coerentes e precisas Para melhorar sua capacidade de predizer os psicólogos da personalidade desenvolveram inúmeras técnicas de ava liação incluindo inventários de personalidade Boa parte das pesquisas relatadas nos demais capítulos deste livro se baseou em vários instrumentos de avaliação os quais pre Feist01indd 8 Feist01indd 8 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 9 tendem medir diferentes dimensões da personalidade Para que esses instrumentos sejam úteis eles devem ser confiá veis e válidos A fidedignidade de um instrumento de me dida nos diz até que ponto ele produz resultados coerentes Os inventários de personalidade podem ser confiáveis e no entanto carecerem de validade ou precisão Validade é o grau em que um instrumento mede o que ele deve me dir Os psicólogos da personalidade interessamse princi palmente por dois tipos de validade validade do construto e validade preditiva Validade do construto é o quanto um instrumento mede algum construto hipotético Constru tos como extroversão agressividade inteligência e estabi lidade emocional não possuem existência física eles são construtos hipotéticos que devem se relacionar ao com portamento observável Três tipos importantes de validade de construto são validade convergente validade divergente e validade discriminante Um instrumento de medida tem validade de construto divergente quando os escores desse instrumento são altamente correlacionados convergem com escores em uma variedade de medidas desse mesmo construto Por exemplo um inventário de personalidade que tenta medir a extroversão deve se correlacionar com outras medidas de extroversão ou outros fatores como so ciabilidade e assertividade que sabidamente acompanham DIMENSÕES PARA UM CONCEITO DE HUMANIDADE As teorias da personalidade diferem em questões básicas refe rentes à natureza da humanidade Cada teoria da personali dade reflete os pressupostos de seu autor sobre humanidade Tais pressupostos se apoiam em dimensões amplas que sepa ram os vários teóricos da personalidade Usamos seis dessas dimensões como estrutura para examinar o conceito de hu manidade de cada teórico A primeira dimensão é determinismo versus livrearbítrio O comportamento das pessoas é determinado por forças sobre as quais elas não têm controle ou as pessoas podem escolher ser o que desejam ser O comportamento pode ser parcial mente livre e parcialmente determinado ao mesmo tempo Ainda que a dimensão do determinismo versus livrearbítrio seja mais filosófica do que científica a posição que os teóricos assumem sobre essa questão molda sua forma de encarar as pessoas e influencia seu conceito de humanidade A segunda questão é pessimismo versus otimismo As pes soas estão condenadas a viver vidas miseráveis conflituosas e problemáticas ou elas podem mudar e crescer tornandose seres humanos psicologicamente saudáveis felizes e funcio nando de modo integral Em geral os teóricos da personali dade que acreditam no determinismo tendem a ser pessimis tas Skinner foi uma exceção notável enquanto aqueles que acreditam no livrearbítrio em geral são otimistas A terceira dimensão para examinar o conceito de huma nidade de um teórico é causalidade versus teleologia Breve mente a causalidade sustenta que o comportamento é uma função de experiências passadas enquanto a teleologia é uma explicação do comportamento em termos de objetivos e propósitos futuros As pessoas agem como agem por causa do que aconteceu a elas no passado ou porque têm certas expec tativas do que acontecerá no futuro A quarta consideração que divide os teóricos da perso nalidade é sua atitude em relação aos determinantes cons cientes versus inconscientes do comportamento As pessoas normalmente estão conscientes do que fazem e de por que fazem aquilo ou forças inconscientes interferem e as levam a agir sem consciência dessas forças subjacentes A quinta questão é a das influências biológicas versus sociais na personalidade As pessoas são sobretudo criaturas da biologia ou suas personalidades são moldadas em grande parte por suas relações sociais Um elemento mais específico dessa questão é a hereditariedade versus o ambiente ou seja as características pessoas são mais o resultado da hereditarie dade ou elas são determinadas pelo ambiente A sexta questão é a singularidade versus semelhanças A ca racterística relevante das pessoas é sua individualidade ou são suas características comuns O estudo da personalidade deve se concentrar naqueles traços que tornam as pessoas parecidas ou deve se voltar para os traços que as tornam diferentes Essas e outras questões básicas que separam os teóricos da personalidade resultaram em teorias da personalidade verdadeiramente diferentes não apenas diferenças na ter minologia Não conseguiríamos apagar as diferenças entre as teorias da personalidade adotando uma linguagem comum As diferenças são filosóficas e profundas Cada teoria da per sonalidade reflete a personalidade individual de seu criador e cada criador tem uma orientação filosófica única moldada em parte pelas experiências precoces infantis pela ordem de nascimento pelo gênero pelo treinamento pela educa ção e pelo padrão de relações interpessoais Essas diferenças ajudam a definir se um teórico será determinista ou adepto do livrearbítrio será pessimista ou otimista adotará uma ex plicação causal ou teleológica Elas também ajudam a deter minar se o teórico enfatiza a consciência ou a inconsciência os fatores biológicos ou sociais as singularidades ou as seme lhanças das pessoas No entanto essas diferenças não negam a possibilidade de que dois teóricos com visões opostas de hu manidade possam ser igualmente científicos em sua reunião dos dados e construção da teoria Feist01indd 9 Feist01indd 9 271014 1516 271014 1516 10 FEIST FEIST ROBERTS a extroversão Um inventário possui validade de construto divergente se ele tem correlações baixas ou insignificantes com outros inventários que não medem esse construto Por exemplo um inventário que se propõe a medir a extrover são não deve estar altamente correlacionado a conveniên cia social estabilidade emocional honestidade ou autoes tima Por fim um inventário tem validade discriminante se ele distinguir dois grupos de pessoas que são diferentes Por exemplo um inventário de personalidade que mede a extroversão deve produzir escores mais altos para pessoas reconhecidas como extrovertidas do que para aquelas vis tas como introvertidas A segunda dimensão da validade é a validade preditiva ou até que ponto um teste prediz algum comportamento futuro Por exemplo um teste de extroversão possui vali dade preditiva se ele se correlacionar com comportamen tos futuros como fumar cigarros ter bom desempenho em provas acadêmicas correr riscos ou algum outro critério independente O valor final de um instrumento de medida é o grau em que ele consegue predizer algum comporta mento ou alguma condição futura A maioria dos primeiros teóricos da personalidade não usou inventários de avaliação padronizados Ainda que Freud Adler e Jung tenham desenvolvido uma forma de instrumento projetivo nenhum deles usou a técnica com precisão suficiente para estabelecer sua fidedignidade e validade No entanto suas teorias geraram inúmeros in ventários de personalidade padronizados na medida em que pesquisadores e clínicos procuraram medir unidades de personalidade propostas por esses teóricos Os teóricos da personalidade posteriores especialmente Julian Rot ter Hans Eysenk e os Teóricos dos Cinco Fatores desen volveram e usaram inúmeras medidas da personalidade e se basearam fortemente nelas para a construção de seus modelos teóricos Termoschave e conceitos O termo personalidade vem do latim persona ou a máscara que as pessoas apresentam ao mundo ex terno mas os psicólogos entendem a personalidade como muito mais do que as aparências exteriores Personalidade inclui todos aqueles traços ou caracte rísticas relativamente permanentes que dão alguma consistência ao comportamento de uma pessoa Uma teoria é um conjunto de pressupostos relacio nados que permite aos cientistas formularem hipó teses verificáveis Teoria não deve ser confundida com filosofia especu lação hipótese ou taxonomia embora esteja relaciona da a cada um desses termos Seis critérios determinam a utilidade de uma teoria científica 1 A teoria gera pesquisa 2 Ela é refutá vel 3 Ela organiza e explica o conhecimento 4 Ela sugere soluções práticas para problemas do dia a dia 5 Ela é internamente coerente e 6 Ela é simples ou parcimoniosa Cada teórico da personalidade possui um conceito de humanidade implícito ou explícito Os conceitos de natureza humana podem ser discu tidos a partir de seis perspectivas 1 determinismo versus livrearbítrio 2 pessimismo versus otimismo 3 causalidade versus teleologia 4 consciente versus inconsciente 5 fatores biológicos versus sociais e 6 singularidade versus semelhanças entre as pessoas Feist01indd 10 Feist01indd 10 271014 1516 271014 1516 PARTE DOIS Teorias Psicodinâmicas CAPÍTULO 2 Freud Psicanálise 12 CAPÍTULO 3 Adler Psicologia Individual 45 CAPÍTULO 4 Jung Psicologia Analítica 68 CAPÍTULO 5 Klein Teoria das Relações Objetais 93 CAPÍTULO 6 Horney Teoria Social Psicanalítica 111 CAPÍTULO 7 Fromm Psicanálise Humanista 128 CAPÍTULO 8 Erikson Teoria Pósfreudiana 145 Feist02indd 11 Feist02indd 11 271014 1516 271014 1516 CAPÍTULO 2 Freud Psicanálise Panorama da teoria psicanalítica Biografia de Sigmund Freud Níveis da vida mental Inconsciente Préconsciente Consciente Instâncias da mente O id O ego O superego Dinâmica da personalidade Impulsos Sexo Agressividade Ansiedade Mecanismos de defesa Repressão Formação reativa Deslocamento Fixação Regressão Projeção Introjeção Sublimação Estágios do desenvolvimento Período infantil Fase oral Fase anal Fase fálica Complexo de Édipo masculino Complexo de Édipo feminino Período de latência Período genital Maturidade Aplicações da teoria psicanalítica A técnica terapêutica inicial de Freud A técnica terapêutica posterior de Freud Análise dos sonhos Atos falhos Pesquisa relacionada Processamento mental inconsciente Prazer e id inibição e ego Repressão inibição e mecanismos de defesa Pesquisa sobre os sonhos Críticas a Freud Freud entendia as mulheres o gênero e a sexualidade Freud era um cientista Conceito de humanidade Termoschave e conceitos Freud Feist02indd 12 Feist02indd 12 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 13 D esde a história antiga até os tempos atuais as pessoas têm procurado por alguma panaceia ou po ção mágica para aliviar a dor ou melhorar o desem penho Uma dessas buscas foi realizada por um médico jovem e ambicioso que passou a acreditar que havia desco berto uma droga que possuía todos os tipos de propriedades maravilhosas Ao ficar sabendo que a droga tinha sido usa da com sucesso para energizar os soldados que padeciam de exaustão o médico decidiu experimentála em pacientes colegas e amigos Se a droga funcionasse tão bem quanto esperava ele poderia ganhar a fama a que tanto aspirava Após tomar conhecimento do uso bemsucedido da droga em doenças cardíacas esgotamento nervoso de pendência de álcool e morfina e vários outros problemas psicológicos e fisiológicos o médico decidiu experimentar a substância em si mesmo Ele ficou muito satisfeito com os resultados Para ele a droga tinha um aroma agradável e um efeito incomum nos lábios e na boca Mais importante no entanto era o efeito terapêutico dela sobre sua depres são grave Em uma carta a sua noiva a quem não viu por um ano relatou que durante sua última depressão grave ele havia tomado pequenas quantidades da droga com re sultados maravilhosos Ele escreveu que da próxima vez que a visse estaria como um selvagem sentindo os efeitos da droga Ele também disse a sua noiva que lhe daria pe quenas quantidades da droga aparentemente para tornála mais forte e ajudála a ganhar peso O jovem médico escreveu um panfleto exaltando os benefícios da droga mas ele ainda não tinha concluído os experimentos necessários sobre o valor dela como analgé sico Impaciente para estar perto de sua noiva adiou a con clusão de seus experimentos e foi a seu encontro Durante essa visita um colega e não ele concluiu os experimen tos publicou os resultados e obteve o reconhecimento que o jovem médico desejava para si Esses eventos ocorreram em 1884 e a droga era cocaí na o jovem médico era Sigmund Freud PANORAMA DA TEORIA PSICANALÍTICA Freud é claro teve sorte por seu nome não ter ficado inde levelmente ligado à cocaína Em vez disso seu nome ficou associado à psicanálise a mais famosa de todas as teorias da personalidade O que torna a teoria de Freud tão interessante Em primeiro lugar os dois pilares da psicanálise sexo e agres são são temas de popularidade constante Em segundo lugar a teoria foi disseminada para além de suas origens vienenses por um ardente e dedicado grupo de seguido res muitos dos quais romantizaram Freud quase como um herói mitológico e solitário Em terceiro lugar o domínio brilhante que Freud tinha da linguagem lhe possibilitou apresentar suas teorias de maneira estimulante e excitante A compreensão de Freud da personalidade humana foi baseada em suas experiências com pacientes em sua análise dos próprios sonhos e em sua vasta leitura de várias ciências e humanidades Essas experiências anga riaram os dados básicos para a evolução de suas teorias Para ele a teoria seguia a observação e seu conceito de personalidade passou por constantes revisões durante os últimos 50 anos de sua vida Apesar de suas ideias inova doras Freud insistia que a psicanálise não podia se sujei tar ao ecletismo e os discípulos que se desviaram de suas ideias básicas logo se viram pessoal e profissionalmente colocados no ostracismo por Freud Ainda que Freud se considerasse antes de tudo um cientista sua definição de ciência seria um pouco diferen te da sustentada pela maioria dos psicólogos hoje Freud se baseou mais no raciocínio dedutivo do que em métodos de pesquisa rigorosos e fez observações de modo subjetivo e em uma amostra relativamente pequena de pacientes a maioria dos quais provinha da classe média alta ou alta Ele não quantificou seus dados nem fez observações sob con dições controladas Ele utilizou como abordagem quase ex clusivamente o estudo de caso em geral formulando hipó teses depois que os fatos relativos ao caso eram conhecidos BIOGRAFIA DE SIGMUND FREUD Sigismund Sigmund Freud nasceu em 6 de março ou 6 de maio de 1856 em Freiberg Morávia que agora faz parte da República Tcheca Os estudiosos discordam so bre sua data de nascimento a primeira data foi apenas oito meses após o casamento de seus pais Freud foi o filho primogênito de Jacob e Amalie Nathanson Freud embora seu pai tivesse dois filhos crescidos Emanuel e Philipp de um casamento anterior Jacob e Amalie Freud tiveram mais sete filhos no espaço de 10 anos mas Sig mund permaneceu sendo o favorito de sua jovem e in dulgente mãe o que pode ter contribuído em parte para sua autoconfiança por toda a vida E Jones 1953 Um jovem acadêmico sério Freud não teve amizade próxima com qualquer um de seus irmãos mais moços No entan to desfrutou de uma relação calorosa e indulgente com sua mãe levandoo em anos posteriores a observar que a relação entre mãe e filho era a mais perfeita a mais li vre de ambivalência de todas as relações humanas Freud 19331964 Quando Sigmund tinha 3 anos as duas famílias Freud saíram de Freiberg A família de Emanuel e Philipp se mudou para a Inglaterra e a família de Jacob Freud primeiro para Leipzig e depois para Viena A capital aus tríaca continuou a ser o lar de Sigmund Freud por quase 80 anos até 1938 quando a invasão nazista o forçou a emigrar para Londres onde morreu em 23 de setembro de 1939 Feist02indd 13 Feist02indd 13 271014 1516 271014 1516 14 FEIST FEIST ROBERTS Quando Freud tinha quase 1 ano e meio de vida sua mãe deu à luz o segundo filho Julius um evento que teve um impacto significativo no desenvolvimento psíquico de Freud Sigmund tinha muita hostilidade em relação a seu irmão mais moço e possuía um desejo inconsciente por sua morte Quando Julius morreu aos 6 meses de idade Sig mund entregouse a sentimentos de culpa por ter causado a morte do irmão Quando Freud atingiu a meiaidade co meçou a entender que seu desejo na verdade não causou a morte do irmão e que as crianças frequentemente têm um desejo de morte em relação a um irmão mais moço Essa descoberta purgou Freud da culpa que ele carregou até a idade adulta e a autoanálise contribuiu para o seu desen volvimento psíquico posterior Freud 19001953 Freud foi atraído pela medicina não porque amava a prática médica mas porque era intensamente curioso sobre a natureza humana Ellenberger 1970 Ele ingres sou na Escola Médica da Universidade de Viena sem a intenção de praticar medicina Em vez disso preferiu ensinar e fazer pesquisas em fisiologia o que continuou mesmo depois de formado no Instituto de Fisiologia da universidade Freud poderia ter continuado esse trabalho indefini damente não fosse por dois fatores Primeiro ele acre ditava provavelmente com alguma justificativa que como judeu suas oportunidades de avanço acadêmico seriam limitadas Segundo seu pai que ajudou a finan ciar suas despesas na escola médica passou a ter menos condições de prover auxílio financeiro Com relutância Freud passou do laboratório para a prática da medicina Ele trabalhou por três anos no Hospital Geral de Viena familiarizandose com a prática de vários ramos da me dicina incluindo psiquiatria e doenças nervosas Freud 19251959 Em 1885 recebeu uma bolsa da Universidade de Vie na e decidiu estudar em Paris com o famoso neurologista francês JeanMartin Charcot Passou quatro meses com Charcot com quem aprendeu a técnica da hipnose para tra tamento da histeria um transtorno geralmente caracteri zado por paralisia ou funcionamento inadequado de certas partes do corpo Pela hipnose Freud ficou convencido de uma origem psicogênica e sexual dos sintomas histéricos Enquanto ainda era estudante de medicina Freud de senvolveu uma associação profissional muito próxima e uma amizade pessoal com Josef Breuer um renomado mé dico vienense 14 anos mais velho e um homem de reputa ção científica considerável Ferris 1997 Breuer ensinou a Freud sobre catarse o processo de remoção dos sintomas histéricos por meio de um processo de botálos para fora Enquanto usava a catarse Freud descobriu de forma gradual e laboriosa a técnica da associação livre a qual logo substituiu a hipnose como seu método terapêutico principal Desde a adolescência Freud literalmente sonhava fa zer uma descoberta monumental e atingir a fama Newton 1995 Em diversas ocasiões durante as décadas de 1880 e 1890 ele acreditou que estivesse no limiar dessa descober ta Sua primeira oportunidade de obter reconhecimento surgiu de 1884 a 1885 e envolveu os experimentos com cocaína que discutimos na vinheta de abertura A segunda oportunidade de Freud para alcançar al guma dose de fama veio em 1886 depois que voltou de Paris onde havia aprendido sobre histeria masculina com Charcot Ele presumia que tal domínio lhe daria o respeito e o reconhecimento da Sociedade Imperial de Médicos de Viena a qual ele acreditava erroneamente que ficaria im pressionada com o conhecimento da histeria masculina do jovem doutor Freud Os primeiros médicos acredita vam que a histeria fosse um transtorno estritamente fe Sigmund Freud com sua filha Anna que era psicanalista por mérito próprio Feist02indd 14 Feist02indd 14 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 15 minino porque a própria palavra tinha as mesmas origens de útero e era o resultado de um útero ambulante ou seja o útero vagando pelo corpo das mulheres e causando o mau funcionamento de várias partes No entanto em 1886 quando Freud apresentou um trabalho sobre a his teria masculina à Sociedade Imperial de Médicos de Vie na a maioria dos médicos presentes já estava familiariza da com a doença e sabia que ela também poderia ser um transtorno masculino Como o esperado era originalidade e como o trabalho de Freud consistia de uma versão do que já era sabido os médicos vienenses não responderam bem à apresentação Além disso os constantes elogios de Freud a Charcot um francês endureceram os médicos vienenses em relação a sua palestra Infelizmente em seu estudo autobiográfico Freud 19251959 contou uma história muito diferente alegando que sua palestra não tinha sido bem recebida porque os membros da socieda de científica não conseguiram compreender o conceito de histeria masculina O relato de Freud sobre esse inciden te que agora se sabe estar incorreto foi no entanto per petuado por anos e como Sulloway 1992 argumentou esta nada mais é do que uma das muitas ficções criadas por Freud e seus seguidores para mitificar a psicanálise e fazer de seu fundador um herói solitário Decepcionado com suas tentativas de ganhar fama e afligido por sentimentos justificados e não justificados de oposição profissional devido a sua defesa da cocaína e a sua crença nas origens sexuais das neuroses Freud sentiu a necessidade de se unir a um colega mais respeitado Ele se voltou para Breuer com quem havia trabalhado enquan to ainda era estudante de medicina e com quem desfruta va de uma relação pessoal e profissional contínua Breuer havia discutido em detalhes com Freud o caso de Anna O uma mulher jovem que Freud nunca conheceu mas com quem Breuer havia passado muitas horas tratandoa da histeria vários anos antes Devido a sua rejeição pela So ciedade Imperial de Médicos e seu desejo de estabelecer uma reputação para si mesmo Freud estimulou Breuer a colaborar com ele na publicação de um relato sobre Anna O e vários outros casos de histeria Breuer contudo não es tava tão ávido quanto o mais jovem e mais revolucionário Freud por publicar um tratado completo sobre histeria com base somente em alguns estudos de caso Ele também não conseguia aceitar a noção de Freud de que as experiências sexuais infantis eram a origem da histeria adulta Final mente e com alguma relutância Breuer concordou em pu blicar com Freud Estudos sobre a histeria Breuer Freud 19851955 Nesse livro Freud introduziu o termo análi se psíquica e durante o ano seguinte começou a chamar tal abordagem de psicoanálise Na época em que Estudos sobre a histeria foi publica do Freud e Breuer tiveram uma divergência profissional e afastaramse pessoalmente Freud então voltouse para seu amigo Wilhelm Fliess um médico de Berlim que serviu como uma caixa de ressonância para as ideias em recen te desenvolvimento de Freud As cartas de Freud a Fliess Freud 1985 constituem um relato em primeira mão do começo da psicanálise e revelam o estágio embrionário da teoria freudiana Freud e Fliess se tornaram amigos em 1887 mas seu relacionamento ficou mais íntimo depois do rompimento de Freud com Breuer Durante o final da década de 1890 Freud sofreu crises de isolamento profissional e pessoal Ele havia começado a analisar os próprios sonhos e após a morte do seu pai em 1896 iniciou a prática diária da autoanálise Apesar de sua autoanálise ter sido um trabalho de toda a vida ela foi especialmente difícil para ele no final da década de 1890 Durante esse período Freud se considerava o seu melhor paciente Em agosto de 1897 escreveu a Fliess O princi pal paciente com quem estou preocupado sou eu mesmo A análise é mais difícil do que qualquer outra Ela é de fato o que paralisa a minha força psíquica Freud 1985 p 261 Uma segunda crise pessoal foi quando se deu conta de que estava na meiaidade e ainda não tinha alcançado a fama que desejava ardentemente Durante essa época ele sofreu ainda outra decepção em sua tentativa de fazer uma contribuição científica importante Mais uma vez pensou que estava em vias de um importante avanço com sua des coberta de que as neuroses têm etiologia na sedução de uma criança por um dos pais Freud comparou tal achado à descoberta da nascente do Nilo Entretanto em 1897 ele abandonou a teoria da sedução e mais uma vez teve que adiar a descoberta que o impulsionaria para a grandeza Por que Freud abandonou sua teoria da sedução ante riormente tão apreciada Em uma carta de 21 de setembro de 1897 a Wilhelm Fliess ele deu quatro razões pelas quais não podia mais acreditar em sua teoria da sedução Primei ro disse ele a teoria da sedução não possibilitou o sucesso no tratamento de nenhum paciente Segundo um grande número de pais incluindo o dele teria que ser acusado de perversão sexual porque a histeria era muito comum até mesmo entre os irmãos de Freud Terceiro Freud acredi tava que a mente inconsciente provavelmente não poderia distinguir a realidade da ficção uma crença que a posterio ri se desenvolveu até o complexo de Édipo E quarto ele descobriu que as lembranças inconscientes de pacientes psicóticos avançados quase nunca revelavam experiências sexuais infantis precoces Freud 1985 Após abandonar sua teoria da sedução e sem o complexo de Édipo para substituíla Freud afundou ainda mais em sua crise de meiaidade O biógrafo oficial de Freud Ernest Jones 1953 1955 1957 acreditava que Sigmund sofria de uma psiconeuro se grave durante o final da década de 1890 embora Max Schur 1972 médico pessoal de Freud durante a década final de sua vida argumentasse que a doença dele era de vida a uma lesão cardíaca agravada pela adição a nicotina Peter Gay 1988 sugeriu que durante o tempo imediata Feist02indd 15 Feist02indd 15 271014 1516 271014 1516 16 FEIST FEIST ROBERTS mente após a morte de seu pai Freud reviveu seus con flitos edípicos com peculiar ferocidade p 141 Porém Henri Ellenberger 1970 descreveu esse período na vida de Freud como uma época de doença criativa uma con dição caracterizada por depressão neurose patologias psicossomáticas e uma preocupação intensa com alguma forma de atividade criativa De qualquer forma na meia idade Freud estava padecendo de dúvidas sobre si mes mo depressão e obsessão pela própria morte Apesar dessas dificuldades Freud concluiu seu maior trabalho Interpretação dos sonhos 19001953 durante tal período Essa obra concluída em 1899 foi fruto de sua autoanálise boa parte da qual ele havia revelado a seu amigo Wilhelm Fliess O livro continha muitos dos próprios sonhos de Freud alguns disfarçados por meio de nomes fictícios Quase imediatamente após a publicação de Interpre tação dos sonhos sua amizade com Fliess começou a es friar acabando por se romper em 1903 Esse rompimento foi parecido com o anterior afastamento de Breuer que ocorreu logo depois que eles publicaram Estudos sobre a histeria Esse também foi um prenúncio de seu rompi mento com Alfred Adler Carl Jung e vários outros as sociados próximos Por que Freud teve dificuldades com tantos amigos O próprio Freud respondeu a essa pergun ta dizendo que Não são as diferenças científicas que são tão importantes É geralmente algum outro tipo de ani mosidade ciúmes ou vingança que dá o impulso para a inimizade As diferenças científicas vêm depois Wortis 1954 p 163 Mesmo que a Interpretação dos sonhos não tenha criado a comoção internacional instantânea que Freud esperava ela por fim trouxe para ele a fama e o reconhecimento que vinha procurando No período de cinco anos após sua pu blicação Freud agora repleto de autoconfiança escreveu vários trabalhos importantes que ajudaram a solidificar os fundamentos da psicanálise incluindo Sobre os sonhos 19011953 escrito porque Interpretação dos sonhos não atraiu muito interesse Psicopatologia da vida cotidiana 19011960 que apresentou ao mundo os atos falhos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade 19051953b que estabeleceu o sexo como o pilar da psicanálise e Os chistes e a sua relação com o inconsciente 19051960 no qual pro pôs que os chistes assim como os sonhos e os atos falhos possuem um significado inconsciente Essas publicações ajudaram Freud a atingir alguma proeminência local nos círculos científicos e médicos Em 1902 Freud convidou um pequeno grupo de médicos vienenses mais jovens para se reunirem em sua casa e discutirem temas psicológicos Então no outono daquele ano esses cinco homens Freud Alfred Adler Wilhelm Stekel Max Kahane e Rudolf Reitler forma ram a Sociedade Psicológica das Quartasfeiras com Freud como o líder da discussão Em 1908 tal organiza ção adotou um nome mais formal Sociedade Psicanalí tica de Viena Em 1910 Freud e seus seguidores fundaram a Asso ciação Psicanalítica Internacional com Carl Jung de Zu rique como presidente Freud foi atraído por Jung devido a seu ávido intelecto e também porque ele não era judeu nem vienense Entre 1902 e 1906 todos os 17 discípulos de Freud eram judeus Kurzweil 1989 e Freud estava in teressado em dar à psicanálise um toque mais cosmopolita Ainda que Jung tenha sido uma contribuição bemvinda ao círculo freudiano e tenha sido designado como prínci pe herdeiro e o homem do futuro ele assim como Adler e Stekel acabaram tendo uma disputa feroz com Freud e abandonaram o movimento psicanalítico As sementes da discórdia entre Jung e Freud foram provavelmente semeadas quando os dois homens com Sandor Ferenczi viajaram para os Estados Unidos em 1909 para fazer uma série de conferências na Universidade Clark perto de Bos ton Para passar o tempo durante suas viagens Freud e Jung interpretavam os sonhos um do outro uma prática potencialmente explosiva que acabou por dar fim à relação dos dois em 1913 McGuire 1974 Os anos da I Guerra Mundial foram difíceis para Freud Sua comunicação com seus fiéis seguidores foi sus pensa sua prática psicanalítica diminuída sua casa às ve zes não tinha aquecimento e ele e sua família possuíam pouca comida Depois da guerra apesar da idade avançada e da dor que sofria devido a 33 operações por causa de um câncer na boca ele fez revisões importantes em sua teoria As mais significativas delas foram a elevação da agressivi dade a um nível igual ao do impulso sexual a inclusão da repressão como uma das defesas do ego e sua tentativa de clarificar o complexo de Édipo feminino o que ele nunca conseguiu fazer completamente Quais qualidades pessoais Freud possuía Um pano rama mais completo de sua personalidade pode ser encon trado em Breger 2000 Clark 1980 Ellenberger 1970 Ferris 1997 Gay 1988 Handlbauer 1998 Isbister 1985 E Jones 1953 1955 1957 Newton 1995 Noland 1999 Roazen 1993 1995 2001 Silverstein 2003 Solloway 1992 Vitz 1988 e dúzias de outros li vros sobre a vida de Freud Acima de tudo Freud era uma pessoa sensível e apaixonada que tinha capacidade para amizades íntimas quase sigilosas A maioria desses rela cionamentos profundamente emocionais teve um final in feliz e Freud se sentia perseguido por seus examigos e os considerava como inimigos Ele parecia precisar de ambos os tipos de relacionamento Em Interpretação dos sonhos Freud explicou e previu tal sucessão de rupturas interpes soais A minha vida emocional sempre insistiu em que eu deveria ter um amigo íntimo e um inimigo odiado Eu sem pre consegui me proporcionar ambos Freud 19001953 p 483 Até depois dos 50 anos todos esses relacionamen tos eram com homens É interessante observar que Freud Feist02indd 16 Feist02indd 16 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 17 o homem que parecia pensar constantemente em sexo ti nha uma vida sexual muito pouco frequente Depois que Anna sua filha mais moça nasceu em 1895 Freud que ainda não tinha completado 40 anos não teve relações sexuais por muitos anos Muito de sua vida sexual espar sa provinha de sua crença de que o uso de preservativo o coito interrompido e a masturbação eram práticas sexuais insalubres Como Freud não queria mais filhos depois que Anna nasceu a abstinência sexual foi sua única alternativa Breger 2000 Freud 1985 Além de equilibrar sua vida emocional entre um amigo íntimo e um inimigo odiado Freud possuía um talento ex cepcional como escritor um dom que o ajudou a se tornar alguém que prestou uma importante contribuição para o pensamento do século XX Ele era um mestre da língua ale mã e conhecia várias outras línguas Apesar de nunca ter recebido o cobiçado prêmio Nobel de ciências ele ganhou o prêmio Goethe de literatura em 1930 Freud também possuía intensa curiosidade intelectual coragem moral incomum demonstrada por sua autoaná lise diária sentimentos extremamente ambivalentes em relação a seu pai e a outras figuras paternas uma tendência a guardar rancor desproporcional a suposta ofensa uma ambição ardente sobretudo durante seus primeiros anos fortes sentimentos de isolamento mesmo quando rodeado por muitos seguidores e uma intensa e um tanto irracional antipatia pela América do Norte e pelos americanos uma atitude que se tornou mais intensa depois de sua viagem aos Estados Unidos em 1909 Por que Freud tinha esse desdém pelos americanos Talvez a razão mais importante seja que ele achava cor retamente que os americanos iriam banalizar a psicaná lise ao tentarem tornála popular Além disso teve várias experiências durante sua viagem aos Estados Unidos que eram estranhas para um cavalheiro burguês vienense Mesmo antes de embarcar no navio George Washington ele viu seu nome escrito de modo errado como Freund na lista de passageiros Ferris 1997 Muitos outros even tos alguns dos quais quase humorísticos tornaram a visita de Freud mais desagradável do que poderia ter sido Primeiramente Freud teve indigestão e diarreia crônica durante toda a sua visita provavelmente porque não se adaptou à água potável Além disso ele achou peculiar e problemático que as cidades americanas não tivessem ba nheiros públicos nas esquinas das ruas e com sua indiges tão crônica ele estava frequentemente em busca de um lavatório público Além disso vários americanos se diri giam a ele como Doc ou Sigmund enquanto o desafiavam a defender suas teorias e uma pessoa tentou sem suces so é claro impedilo de fumar um charuto em uma área para não fumantes Além do mais quando Freud Ferenczi e Jung foram a um acampamento particular em Massa chusetts foram saudados por um grande número de ban deiras da Alemanha Imperial apesar do fato de nenhum deles ser alemão e cada um ter razões para não gostar da Alemanha Também no acampamento Freud junto aos outros sentouse no chão enquanto o anfitrião grelhava bifes sobre o carvão um costume que Freud considerou selvagem e primitivo Roazen 1993 NÍVEIS DA VIDA MENTAL As maiores contribuições de Freud para a teoria da perso nalidade são a exploração do inconsciente e a insistência de que as pessoas são motivadas primariamente por im pulsos dos quais elas têm pouca ou nenhuma consciência Para Freud a vida mental está dividida em dois níveis o inconsciente e o consciente O inconsciente por sua vez tem dois níveis distintos o inconsciente propriamente dito e o préconsciente Na psicologia freudiana os três níveis da vida mental são usados para designar tanto um processo quanto uma localização A existência como uma localização específica obviamente é apenas hipotética e não possui existência real dentro do corpo No entanto Freud falava do inconsciente bem como de processos inconscientes Inconsciente O inconsciente contém todos os impulsos desejos ou instintos que estão além da consciência mas que no en tanto motivam a maioria de nossos sentimentos ações e palavras Ainda que possamos estar conscientes de nossos comportamentos explícitos muitas vezes não estamos conscientes dos processos mentais que estão por trás de les Por exemplo um homem pode saber que está atraído por uma mulher mas pode não compreender inteiramente todas as razões para a atração algumas das quais podem até mesmo ser irracionais Já que o inconsciente não está disponível para a men te consciente como sabemos se ele de fato existe Freud defendia que a existência do inconsciente podia ser com provada apenas indiretamente Para ele o inconsciente é a explicação para o significado subjacente de sonhos lapsos de linguagem e certos tipos de esquecimento chamados de repressão Os sonhos servem como uma fonte particular mente rica de material inconsciente Por exemplo Freud acreditava que as experiências infantis podem aparecer nos sonhos adultos mesmo sem o sonhador ter uma lembrança consciente dessas experiências Os processos inconscientes com frequência entram na consciência mas somente depois de serem suficiente mente disfarçados ou distorcidos para escapar da censura Freud 19171963 usou a analogia de um guardião ou censor bloqueando a passagem entre o inconsciente e o préconsciente e impedindo que lembranças indesejáveis que produzem ansiedade entrem na consciência Para en trar no nível consciente da mente essas imagens incons cientes primeiro devem ser suficientemente disfarçadas Feist02indd 17 Feist02indd 17 271014 1516 271014 1516 18 FEIST FEIST ROBERTS para escapar do censor primário e então fugir de um censor final que vigia a passagem entre o préconsciente e o cons ciente Quando essas lembranças entram em nossa mente consciente já não mais as reconhecemos pelo que elas são em vez disso são vistas como experiências relativamente agradáveis não ameaçadoras Na maioria dos casos tais imagens possuem fortes temas sexuais ou agressivos porque os comportamentos sexuais e agressivos infantis costumam ser punidos ou suprimidos A punição e a su pressão frequentemente criam sentimentos de ansiedade a qual por sua vez estimula a repressão ou seja forçar as experiências indesejadas e carregadas de ansiedade para o inconsciente é uma defesa do sofrimento proveniente des sa ansiedade No entanto nem todos os processos inconscientes provêm da repressão de eventos da infância Freud acre ditava que uma parte do nosso inconsciente se origina das experiências de nossos ancestrais que nos foram transmi tidas por meio de repetição em centenas de gerações Ele denominava essas imagens inconscientes herdadas de nos sa herança filogenética Freud 19171963 19331964 A noção de Freud de herança filogenética é bastante se melhante à ideia de Carl Jung de um inconsciente coletivo ver Cap 4 Entretanto existe uma diferença importante entre os dois conceitos Enquanto Jung colocava ênfase no inconsciente coletivo Freud se baseava na noção de disposições herdadas somente como último recurso Isto é quando as explicações construídas sobre as experiências individuais não eram adequadas Freud se voltava para a ideia de experiências coletivamente herdadas para preen cher as lacunas deixadas pelas experiências individuais Posteriormente Freud usou a herança filogenética para explicar vários conceitos importantes como o complexo de Édipo e a ansiedade de castração Os impulsos inconscientes podem aparecer na cons ciência mas somente depois de passarem por certas trans formações Uma pessoa pode expressar impulsos eróticos ou hostis por exemplo provocando ou brincando com outra pessoa O impulso original sexo ou agressividade é assim disfarçado e ocultado das mentes conscientes das duas pessoas O inconsciente da primeira pessoa no en tanto influenciou diretamente o inconsciente da segunda As duas pessoas obtêm alguma satisfação dos impulsos se xuais ou agressivos porém nenhuma delas está consciente do motivo subjacente da provocação ou da brincadeira As sim a mente inconsciente de uma pessoa pode se comuni car com o inconsciente de outra sem que nenhuma delas esteja consciente do processo Inconsciente é claro não significa inativo ou adorme cido As forças no inconsciente lutam constantemente para se tornar conscientes e muitas delas têm sucesso embora possam não aparecer mais em sua forma original As ideias inconscientes têm potencial para motivar as pessoas e isso de fato ocorre Por exemplo a hostilidade de um filho em relação a seu pai pode se mascarar na forma de afeição os tensiva Em uma forma não disfarçada a hostilidade criaria excessiva ansiedade para o filho Sua mente inconsciente portanto motivao a expressar hostilidade indiretamente por meio da demonstração exagerada de amor e adulação Como o disfarce deve ter sucesso em ludibriar a pessoa com frequência ele assume uma forma oposta dos senti mentos originais porém ela é quase sempre exagerada e ostensiva Esse mecanismo chamado de formação reativa é discutido posteriormente na seção intitulada Mecanis mos de defesa Préconsciente O nível préconsciente da mente contém todos aqueles elementos que não são conscientes mas podem se tor nar conscientes prontamente ou com alguma dificuldade Freud 19331964 O conteúdo do nível préconsciente provém de duas fontes a primeira das quais é a percepção consciente O que uma pessoa percebe é consciente por apenas um período transitório isso rapidamente passa para o préconsciente quando o foco da atenção muda para outra ideia Essas ideias que se alternam facilmente entre ser conscientes e préconscientes estão em grande parte livres de ansiedade e na realidade são muito mais parecidas com as imagens conscientes do que com os impulsos inconscientes A segunda fonte de imagens préconscientes é o in consciente Freud acreditava que as ideias podem escapar do censor vigilante e entrar no préconsciente de uma for ma disfarçada Algumas dessas imagens nunca se tornam conscientes porque se as reconhecêssemos como derivati vos do inconsciente experimentaríamos níveis crescentes de ansiedade o que ativaria o censor final para reprimir tais imagens carregadas de ansiedade forçandoas a voltar para o inconsciente Outras imagens do inconsciente são admitidas na consciência mas somente porque sua verda deira natureza é sabiamente disfarçada pelo processo dos sonhos por um lapso de linguagem ou por uma medida defensiva elaborada Consciente O consciente que desempenha um papel relativamen te menor na teoria psicanalítica pode ser definido como aqueles elementos mentais na consciência em determi nado ponto no tempo Ele é o único nível da vida men tal que está diretamente disponível para nós As ideias podem chegar à consciência por duas direções diferentes A primeira é a partir do sistema consciente perceptivo o qual está voltado para o mundo exterior e age como um meio para a percepção dos estímulos externos Em outras palavras o que percebemos por meio de nossos órgãos do sentido se não for muito ameaçador entra no consciente Freud 19331964 Feist02indd 18 Feist02indd 18 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 19 A segunda fonte de elementos conscientes provém da estrutura mental e inclui ideias não ameaçadoras do pré consciente além de imagens ameaçadoras porém bem disfarçadas do inconsciente Como vimos essas últimas imagens migraram para o préconsciente se disfarçando como elementos inofensivos e escapando do censor pri mário Uma vez no préconsciente elas evitam um censor final e passam para a consciência No momento em que chegam ao sistema consciente essas imagens são em boa parte distorcidas e camufladas com frequência assumin do a forma de comportamentos defensivos ou elementos oníricos Em suma Freud 19171963 p 295296 comparou o inconsciente a um grande hall de entrada em que mui tas pessoas diferentes agitadas e de má reputação estão perambulando em grande número e tentando incessante mente escapar para uma sala de recepção menor adjacente No entanto um vigilante protege o limite entre o grande hall de entrada e a pequena sala de recepção Esse guarda tem dois métodos para impedir que os indesejáveis esca pem do hall de entrada fazêlos voltar para a porta ou re jeitar aqueles que anteriormente haviam entrado de modo clandestino na sala de recepção O efeito em cada um dos casos é o mesmo as pessoas ameaçadoras e desordeiras são impedidas de se mostrar para um convidado impor tante que está sentado ao fundo da sala de recepção atrás de uma tela O significado da analogia é óbvio As pessoas no hall de entrada representam as imagens inconscientes A pequena sala de recepção é o préconsciente e seus ha bitantes representam as ideias préconscientes As pessoas na sala de recepção préconsciente podem ou não se mos trar para o convidado importante que é claro represen ta o olhar da consciência O guardião que protege o limite entre as duas salas é o censor primário que impede que as imagens inconscientes se tornem préconscientes e torna as imagens préconscientes em inconscientes ao empurrá las de volta A tela que guarda o convidado importante é o censor final e ela impede que muitos elementos précons cientes cheguem à consciência A analogia é apresentada graficamente na Figura 21 Rei Sala de recepção Hall de entrada Tela Olhar da consciência Censor final Préconsciente Censor Inconsciente Guardião FIGURA 21 Níveis da vida mental Feist02indd 19 Feist02indd 19 271014 1516 271014 1516 20 FEIST FEIST ROBERTS INSTÂNCIAS DA MENTE Por quase duas décadas o único modelo de Freud da men te foi o topográfico que acabamos de descrever e sua úni ca representação do embate psíquico era o conflito entre as forças conscientes e inconscientes Então durante a década de 1920 Freud 19231961a introduziu um mo delo estrutural de três partes Essa divisão da mente em três instâncias não suplantou o modelo topográfico mas ajudou Freud a explicar as imagens mentais de acordo com suas funções ou propósitos Para Freud a parte mais primitiva da mente era das Es ou o it em inglês que quase sempre é traduzido como id uma segunda divisão era das Ich ou o eu traduzido como ego e uma instância final era das UberIch ou o supereu que é traduzido como superego Essas instâncias ou re giões não têm uma existência territorial é claro pois são meramente construtos hipotéticos Elas interagem com os três níveis da vida mental de forma que o ego transi ta pelos vários níveis topográficos e possui componentes conscientes préconscientes e inconscientes enquanto o superego é préconsciente e inconsciente e o id completa mente inconsciente A Figura 22 mostra a relação entre as instâncias da mente e os níveis da vida mental O id Na essência da personalidade e totalmente inconsciente encontrase a região psíquica chamada de id um termo derivado do pronome impessoal significando the it em inglês ou o componente ainda não conhecido da perso nalidade O id não tem contato com a realidade embora se esforce constantemente para reduzir a tensão satisfa zendo desejos básicos Como sua única função é procurar o prazer dizemos que o id serve ao princípio do prazer Um recémnascido é a personificação de um id livre de restrições do ego e do superego O bebê procura a gra tificação das necessidades sem consideração pelo que é possível i e as demandas do ego ou o que é apropria do i e as restrições do superego Em vez disso ele suga quando o mamilo está presente ou ausente e obtém pra zer nas duas situações Apesar de o bebê receber alimento para a manutenção da vida somente pela sucção de um mamilo alimentador ele continua a sugar porque seu id Olhar da consciência Censor final Préconsciente Censor Inconsciente Id Ego Superego Aberto a influências somáticas FIGURA 22 Níveis da vida mental e instâncias da mente Feist02indd 20 Feist02indd 20 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 21 não está em contato com a realidade O bebê não conse gue perceber que o comportamento de sugar o dedo não o alimenta Como o id não possui contato direto com a realidade ele não é alterado pela passagem do tempo ou pelas experiências da pessoa Os impulsos de desejos da infância permanecem imutáveis no id durante décadas Freud 19331964 Além de ser irrealista e buscar o prazer o id é ilógico e pode simultaneamente possuir ideias incompatíveis Por exemplo uma mulher pode demonstrar amor conscien te por sua mãe enquanto de modo inconsciente deseja destruíla Esses desejos opostos são possíveis porque o id não possui moralidade ou seja ele não consegue fazer jul gamentos de valor ou distinguir entre o bem e o mal No entanto o id não é imoral é meramente amoral Toda a energia do id é dispendida para um propósito procurar o prazer sem considerar o que é apropriado ou justo Freud 19231961a 19331964 Revisando o id é primitivo caótico inacessível à cons ciência imutável amoral ilógico desorganizado e cheio de energia recebida dos impulsos básicos e descarregada para a satisfação do princípio do prazer Como a região que abriga os impulsos básicos motiva ções primárias o id opera pelo processo primário Como ele busca cegamente satisfazer o princípio do prazer sua so brevivência depende do desenvolvimento de um processo secundário para colocálo em contato com o mundo exter no Esse processo secundário funciona por meio do ego O ego O ego ou eu é a única região da mente em contato com a realidade Ele se desenvolve a partir do id durante a in fância e se transforma na única fonte de comunicação da pessoa com o mundo externo Ele é governado pelo prin cípio da realidade o qual tenta substituir o princípio do prazer do id Como a única região da mente em contato com o mundo externo o ego se torna o ramo executivo da personalidade ou o que toma as decisões Entretanto como ele é parte consciente parte préconsciente e parte inconsciente o ego pode tomar decisões em cada um des ses três níveis Por exemplo o ego de uma mulher pode conscientemente motivála a escolher roupas muito limpas e sob medida porque se sente confortável quando está bemvestida Ao mesmo tempo ela pode ser apenas vaga mente i e préconscientemente consciente de experiên cias prévias de ser recompensada por escolher roupas boas Além disso ela pode ser inconscientemente motivada a ser asseada e organizada em demasia devido à experiência do treinamento esfincteriano no início da infância Assim sua decisão de vestir roupas limpas pode ocorrer em todos os três níveis da vida mental Ao desempenhar suas funções cognitivas e intelec tuais o ego deve levar em consideração as demandas in compatíveis mas igualmente irrealistas do id e do supe rego Além desses dois tiranos o ego deve servir a um terceiro mestre o mundo externo Assim o ego cons tantemente tenta reconciliar as reivindicações cegas e ir racionais do id e do superego com as demandas realistas do mundo externo Encontrandose rodeado por três lados por forças hostis e divergentes o ego reage de maneira pre visível tornase ansioso Ele então usa a repressão e ou tros mecanismos de defesa para se defender de tal ansiedade Freud 19261959a De acordo com Freud 19331964 o ego se diferen cia do id quando os bebês aprendem a se distinguirem do mundo exterior Enquanto o id permanece inalterado o ego continua a desenvolver estratégias para lidar com as demandas irrealistas e implacáveis do id por prazer Há vezes em que o ego consegue controlar o poderoso id que busca o prazer mas outras vezes ele perde o controle Ao comparar o ego com o id Freud usou a analogia de uma pessoa sobre o lombo de um cavalo O cavaleiro controla e inibe a força maior do cavalo mas está em última análise à mercê do animal Da mesma maneira o ego deve controlar e inibir os impulsos do id porém ele está de modo mais ou menos constante à mercê do id mais forte porém pouco organizado O ego não tem sua própria força mas toma emprestada a energia do id Apesar de sua dependência do id o ego às vezes chega perto de obter o controle comple to por exemplo durante a plenitude da vida de uma pes soa psicologicamente madura À medida que as crianças começam a experimentar as recompensas e punições parentais elas aprendem o que fazer para obter prazer e evitar dor Nessa idade precoce prazer e dor são funções do ego porque as crianças ainda não desenvolveram uma consciência de um ideal de ego ou seja um superego Quando as crianças atingem a idade de 5 ou 6 anos elas se identificam com seus pais e começam a aprender o que devem e não devem fazer Essa é a origem do superego O superego Na psicologia freudiana o superego ou acima do eu re presenta os aspectos morais e ideais da personalidade e é guiado por princípios moralistas e idealistas em con traste com o princípio do prazer do id e o princípio da rea lidade do ego O superego se desenvolve a partir do ego não possui energia própria No entanto difere do ego em um aspecto importante o superego não tem contato com o mundo externo e portanto é irrealista em suas demandas por perfeição Freud 19231961a O superego possui dois subsistemas a consciência e o ideal de ego Freud não distinguiu claramente essas duas funções mas em geral a consciência resulta de experiên cias com punições por comportamento impróprio e diz o que não devemos fazer enquanto o ideal de ego se desenvol Feist02indd 21 Feist02indd 21 271014 1516 271014 1516 22 FEIST FEIST ROBERTS ve a partir de experiências com recompensas por compor tamento adequado e dita o que devemos fazer Uma cons ciência primitiva surge quando uma criança se adapta aos padrões parentais por medo de perda do amor ou para obter aprovação Posteriormente durante a fase edípica do desen volvimento esses ideais são internalizados pela identifica ção com a mãe e o pai Discutimos o complexo de Édipo em seção posterior intitulada Estágios do desenvolvimento Um superego bemdesenvolvido atua para controlar os impulsos sexuais e agressivos pelo processo de repres são Ele não pode produzir repressões por si só mas pode ordenar que o ego faça isso O superego vigia de perto o ego julgando suas ações e intenções A culpa é o resultado da atuação ou mesmo da pretensa atuação que contraria os padrões morais do superego Surgem sentimentos de inferioridade quando o ego é incapaz de corresponder aos padrões de perfeição do superego A culpa então é uma função da consciência enquanto os sentimentos de infe rioridade provêm do ideal de ego Freud 19331964 O superego não está preocupado com a felicidade do ego Ele se empenha cega e irrealisticamente pela perfeição Ele é irrealista na medida em que não leva em consideração as dificuldades ou impossibilidades enfrentadas pelo ego na execução de suas ordens Nem todas as demandas do superego são impossíveis de serem atingidas bem como as dos pais ou outras figuras de autoridade O superego no en tanto é como o id uma vez que é completamente ignorante e despreocupado com a praticabilidade de suas exigências Freud 19331964 assinalou que as divisões entre as diferentes regiões da mente não são nítidas e bemdefini das O desenvolvimento das três divisões varia de forma ampla em indivíduos diferentes Para algumas pessoas o superego não se desenvolve após a infância para outras pode dominar a personalidade a custo da culpa e de sen timentos de inferioridade Há aquelas em que o ego e o superego podem se alternar controlando a personalidade o que resulta em flutuações extremas de humor e ciclos alternantes de autoconfiança e autodepreciação No indi víduo saudável o id e o superego estão integrados em um ego de funcionamento tranquilo e operam em harmonia e com um mínimo de conflito A Figura 23 mostra as re lações entre id ego e superego em três pessoas hipotéti cas Para a primeira delas o id domina um ego fraco e um superego frágil impedindo que o ego compense as inces santes demandas do id e deixando a pessoa quase todo o tempo ambicionando o prazer independentemente do que é possível ou apropriado A segunda pessoa com fortes sentimentos de culpa ou inferioridade e um ego fraco ex perimenta muitos conflitos porque o ego não consegue ar bitrar as demandas fortes porém contrárias do superego e do id A terceira pessoa com um ego forte que incorporou muitas das demandas do id e do superego é psicologica mente saudável e está no controle do princípio do prazer e do princípio moralista DINÂMICA DA PERSONALIDADE Os níveis da vida mental e as instâncias da mente referemse à estrutura ou composição da personalidade mas as perso nalidades também fazem alguma coisa Assim sendo Freud postulou uma dinâmica ou um princípio motivacional para explicar a força motora por trás das ações das pessoas Para Freud as pessoas são motivadas a procurar o prazer e re duzir a tensão e a ansiedade Essa motivação é derivada da energia psíquica e física que brota de seus impulsos básicos Impulsos Freud usou a palavra alemã Trieb para se referir a um im pulso ou estímulo dentro da pessoa Os tradutores oficiais de Freud apresentaram esse termo como instinto drive em inglês porém a tradução mais precisa da palavra é ímpe to ou impulso Os impulsos operam como uma força mo tivacional constante Como um estímulo interno diferem dos estímulos externos na medida em que não podem ser evitados pela fuga De acordo com Freud 19331964 os vários impul sos podem ser agrupados sob dois títulos sexo ou Eros e agressividade destruição ou Tanatos Tais impulsos se ori ginam no id mas ficam sob o controle do ego Cada impul so tem sua própria forma de energia psíquica Freud usou a palavra libido para o impulso sexual porém a energia do impulso agressivo permanece sem nome Cada impulso básico é caracterizado por um ímpeto uma fonte uma finalidade e um objeto O ímpeto de um N de RT Autores e estudiosos da psicanálise usam o termo pulsão para traduzir Trieb do alemão Mantivemos o termo impulso que consta no original americano Uma pessoa que busca o prazer dominada pelo id Uma pessoa carregada de culpa ou com sentimento de inferioridade dominada pelo superego Uma pessoa psicologicamente saudável dominada pelo ego Id Ego Superego FIGURA 23 Relações entre id ego e superego em três pessoas hipo téticas Feist02indd 22 Feist02indd 22 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 23 impulso é a quantidade de força que ele exerce a sua fonte é a região do corpo em estado de excitação ou tensão a sua finalidade é buscar o prazer removendo essa excitação ou reduzindo a tensão e seu objeto é a pessoa ou coisa que serve como meio pelo qual a finalidade é satisfeita Freud 19151957a Sexo A finalidade do impulso sexual é o prazer mas esse pra zer não está limitado à satisfação genital Freud acreditava que todo o corpo é investido de libido Além dos genitais a boca e o ânus são especialmente capazes de produzir prazer sexual e são chamados de zonas erógenas O objetivo final do impulso sexual redução da tensão sexual não pode ser mudado mas o caminho pelo qual a finalidade é alcançada pode variar Ele pode assumir uma forma ativa ou passi va ou pode ser temporária ou permanentemente inibi do Freud 19151957a Como esse caminho é flexível e como o prazer sexual provém de outros órgãos além dos ge nitais muitos comportamentos originalmente motivados por Eros são difíceis de reconhecer como comportamento sexual Para Freud no entanto toda atividade prazerosa é rastreável até o impulso sexual A flexibilidade do objeto sexual ou da pessoa pode causar maior disfarce de Eros O objeto erótico pode facil mente ser transformado ou deslocado A libido pode ser retirada de uma pessoa e colocada em um estado flutuante de tensão ou pode ser investida em outra pessoa inclusive na própria pessoa Por exemplo um bebê forçado prema turamente a abandonar o mamilo como um objeto sexual pode substituílo pelo dedo polegar como um objeto de prazer oral O sexo pode assumir muitas formas incluindo nar cisismo amor sadismo e masoquismo Os dois últimos também possuem componentes generosos do impulso agressivo Os bebês são primariamente autocentrados com a sua libido investida quase que de modo exclusivo em seu pró prio ego Essa condição que é universal é conhecida como narcisismo primário À medida que o ego se desenvolve as crianças tendem a abandonar boa parte de seu narcisis mo primário e expressam um interesse maior por outras pessoas Na linguagem de Freud a libido narcisista é en tão transformada em libido objetal Durante a puberdade no entanto os adolescentes frequentemente redirecionam sua libido para o ego e se tornam preocupados com a apa rência pessoal e outros interesses próprios Esse narcisis mo secundário pronunciado não é universal porém um grau moderado de amor próprio é comum a quase todos Freud 19141957 Uma segunda manifestação de Eros é o amor que se desenvolve quando as pessoas investem sua libido em um objeto ou uma pessoa que não elas mesmas O primeiro interesse sexual das crianças é pela pessoa que cuida delas em geral a mãe Durante a primeira infância as crianças de ambos os sexos experimentam amor sexual pela mãe Entretanto o amor sexual declarado por membros da pró pria família costuma ser reprimido o que traz à tona um segundo tipo de amor Freud chamou esse segundo tipo de amor com finalidade inibida porque a finalidade original de reduzir a tensão sexual é inibida ou reprimida O tipo de amor que as pessoas sentem por seus irmãos ou pais é geralmente com finalidade inibida Obviamente amor e narcisismo estão interrelacio nados de modo íntimo Narcisismo envolve o amor por si mesmo enquanto o amor é com frequência acompanhado por tendências narcisistas como quando as pessoas amam alguém que serve como um ideal ou modelo de como elas gostariam de ser Dois outros impulsos que também estão entrelaçados são o sadismo e o masoquismo Sadismo é a necessidade de prazer sexual por meio do ato de infligir dor ou humi lhação a outra pessoa Levado ao extremo ele é considera do uma perversão sexual mas em grau moderado é uma necessidade comum e existe até certo ponto em todos os relacionamentos sexuais Ele é pervertido quando a finali dade sexual do prazer erótico se torna secundária ao pro pósito destrutivo Freud 19331964 O masoquismo assim como o sadismo é uma ne cessidade comum mas se transforma em uma perversão quando Eros se torna subserviente ao impulso destrutivo Os masoquistas experimentam prazer sexual ao sofrerem dor e humilhação infligida por eles mesmos ou por outros Como os masoquistas podem proporcionar dor autoinfli gida eles não dependem de outra pessoa para a satisfação das necessidades masoquistas Em contraste os sádicos precisam encontrar outra pessoa em quem infligir dor ou humilhação Nesse aspecto eles são mais dependentes de outras pessoas do que os masoquistas Agressividade Em parte como resultado de suas experiências infeli zes durante a I Guerra Mundial e em parte como con sequência da morte de sua amada irmã Sophie Freud 19201955a escreveu Além do princípio do prazer um livro que elevou a agressividade ao nível do impulso sexual Como fez com muitos de seus outros conceitos Freud apresentou suas ideias provisoriamente e com al guma cautela Com o tempo no entanto a agressividade assim como outros conceitos propostos de forma provi sória tornouse um dogma A finalidade do impulso destrutivo de acordo com Freud é retornar o organismo a um estado inorgânico Como a condição inorgânica final é a morte o objetivo final do impulso agressivo é a autodestruição Como ocorre com o impulso sexual a agressividade é flexível Feist02indd 23 Feist02indd 23 271014 1516 271014 1516 24 FEIST FEIST ROBERTS e pode assumir inúmeras formas como provocação fo foca sarcasmo humilhação humor e satisfação com o sofrimento de outras pessoas A tendência agressiva está presente em todos e é a explicação de guerras atrocida des e perseguições religiosas O impulso agressivo também explica a necessidade das barreiras que as pessoas erigiram para controlar a agressividade Por exemplo mandamentos como Ama o teu próximo como a ti mesmo são necessários acreditava Freud para inibir o forte embora geralmente inconsciente impulso de infligir danos aos outros Esses preceitos são na verdade formações reativas Eles envolvem a repressão de fortes impulsos hostis e a expressão aberta e óbvia da tendência oposta Ao longo de nossa vida os impulsos de vida e morte lutam constantemente um contra o outro pela ascendên cia mas ao mesmo tempo ambos precisam se curvar ao princípio da realidade que representa as reivindicações do mundo externo Essas demandas do mundo real impedem o cumprimento sem oposição do sexo ou da agressividade Eles muitas vezes criam ansiedade que relega muitos de sejos sexuais e agressivos ao domínio do inconsciente Ansiedade Sexo e agressividade compartilham o centro da teoria di nâmica freudiana com o conceito de ansiedade Ao definir a ansiedade Freud 19331964 enfatizou que ela é um estado afetivo desagradável acompanhado por uma sensa ção física que alerta a pessoa contra um perigo iminente A qualidade desagradável costuma ser vaga e difícil de iden tificar mas a própria ansiedade é sempre sentida Somente o ego pode produzir ou sentir ansiedade mas o id o superego e o mundo externo estão envolvidos em um dos três tipos de ansiedade neurótica moral e realista A dependência que o ego tem do id resulta em ansiedade neurótica sua dependência do superego produz ansiedade moral e sua dependência do mundo externo conduz à an siedade realista Ansiedade neurótica é definida como apreensão ante um perigo desconhecido O sentimento existe no ego mas se origina nos impulsos do id As pessoas po dem experimentar ansiedade neurótica na presença de um professor empregador ou outra figura de autoridade porque elas anteriormente experienciaram sentimentos inconscientes de destruição contra um ou ambos os pais Durante a infância esses sentimentos de hostilidade são com frequência acompanhados pelo medo de punição e tal medo se torna generalizado na ansiedade neurótica inconsciente Um segundo tipo de ansiedade a ansiedade moral provém do conflito entre o ego e o superego Depois que as crianças estabelecem um superego geralmente aos 5 ou 6 anos elas podem experimentar ansiedade como consequência do conflito entre as necessidades realistas e os ditames de seu superego A ansiedade moral por exem plo resulta das tentações sexuais se uma criança acredita que ceder à tentação seria moralmente errado Ela também pode resultar da falha em se comportar de modo coerente com o que considera como certo no âmbito moral por exemplo não cuidando de pais idosos Uma terceira categoria de ansiedade a ansiedade rea lista está intimamente relacionada ao medo Ela é defini da como um sentimento desagradável não específico que envolve um possível perigo Por exemplo podemos experi mentar ansiedade realista enquanto dirigimos em um trá fego pesado e agitado em uma cidade desconhecida uma situação carregada de perigo real e objetivo No entanto a ansiedade realista é diferente do medo uma vez que ela não envolve um objeto de temor específico Experiencia ríamos medo por exemplo se nosso veículo subitamente começasse a deslizar e ficasse fora de controle em uma es trada com gelo Esses três tipos de ansiedade raramente são nítidos ou separáveis Eles tendem a existir em combinação como quando o medo de água um temor real tornase despro porcional à situação e assim precipita ansiedade neuróti ca além de ansiedade realista Essa situação indica que um perigo desconhecido está conectado a algo externo A ansiedade serve como um mecanismo de preser vação do ego porque ela sinaliza que algum perigo está rondando Freud 19331964 Por exemplo um sonho de ansiedade sinaliza nosso censor de um perigo iminente o que nos permite disfarçar melhor as imagens do sonho A ansiedade possibilita que o ego constantemente vigilante esteja alerta para os sinais de ameaça e perigo O sinal de perigo iminente estimula a nos mobilizarmos para fuga ou defesa A ansiedade também é autorreguladora pois preci pita a repressão o que por sua vez reduz a dor da an siedade Freud 19331964 Se o ego não tivesse recurso para o comportamento defensivo a ansiedade se tornaria intolerável Os comportamentos defensivos portanto servem a uma função útil protegendo o ego contra a dor da ansiedade MECANISMOS DE DEFESA Freud elaborou inicialmente a ideia dos mecanismos de defesa em 1926 Freud 19261959a e sua filha Anna refinou e organizou o conceito A Freud 1946 Mesmo que os mecanismos de defesa sejam normais e usados uni versalmente quando levados ao extremo culminam em comportamento compulsivo repetitivo e neurótico Como precisamos dispender energia psíquica para estabelecer e manter os mecanismos de defesa quanto mais defensivos somos menos energia psíquica nos sobra para satisfazer Feist02indd 24 Feist02indd 24 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 25 os impulsos do id Este é claro constitui precisamente o propósito do ego ao estabelecer os mecanismos de defesa evitar lidar diretamente com impulsos sexuais e agressivos e se defender contra a ansiedade que os acompanha Freud 19261959a Os principais mecanismos de defesa identificados por Freud incluem repressão formação reativa deslocamento fixação regressão projeção introjeção e sublimação Repressão O mecanismo de defesa mais básico porque está envol vido em cada um dos outros é a repressão Sempre que o ego é ameaçado por impulsos indesejáveis do id ele se protege reprimindo esses impulsos isto é ele força os sentimentos ameaçadores para o inconsciente Freud 19261959a Em muitos casos a repressão é então per petuada por toda a vida Por exemplo uma moça pode re primir permanentemente sua hostilidade por uma irmã mais nova porque seus sentimentos de ódio criam muita ansiedade Nenhuma sociedade permite a expressão completa e desinibida de sexo e agressividade Quando as crianças têm seus comportamentos hostis ou sexuais punidos ou supri midos elas aprendem a ficar ansiosas sempre que experi mentam tais impulsos Ainda que essa ansiedade raramente leve a uma repressão completa dos impulsos agressivos e se xuais ela com frequência resulta em sua repressão parcial O que acontece a esses impulsos depois que eles se tornam inconscientes Freud 19331964 acreditava que existem várias possibilidades Primeiro os impulsos po dem permanecer imutáveis no inconsciente Segundo eles podem forçar o caminho até a consciência de uma forma inalterada nesse caso criariam mais ansiedade do que a pessoa poderia manejar sendo então dominada pela an siedade Um terceiro destino e mais comum dos impulsos reprimidos é serem expressos de formas deslocadas ou dis farçadas O disfarce é claro deve ser hábil o suficiente para enganar o ego Os impulsos reprimidos podem se disfarçar como sintomas físicos por exemplo impotência sexual em um homem perturbado por culpa sexual A impotência im pede o homem de ter que lidar com a culpa e a ansiedade que resultariam da atividade sexual normal prazerosa Os impulsos reprimidos também podem encontrar uma saída nos sonhos nos lapsos de linguagem ou em um dos outros mecanismos de defesa Formação reativa Uma das formas pelas quais um impulso reprimido pode se tornar consciente é a adoção de um disfarce que é di retamente oposto a sua forma original Esse mecanismo de defesa é chamado de formação reativa O compor tamento reativo pode ser identificado por seu caráter exagerado e sua forma obsessiva e compulsiva Freud 19261959a Um exemplo de formação reativa pode ser visto em uma jovem mulher que se ressente profunda mente e odeia sua mãe Como ela sabe que a sociedade espera afeição pelos pais esse ódio consciente por sua mãe produz ansiedade excessiva Para evitar a ansieda de dolorosa a jovem mulher se concentra no impulso oposto amor O seu amor pela mãe no entanto não é genuíno Ele é chamativo exagerado e excessivo Ou tras pessoas podem ver facilmente a verdadeira natureza desse amor mas a mulher precisa enganar a si mesma e se apegar a sua formação reativa o que ajuda a ocultar a verdade que desperta ansiedade de que ela inconscien temente odeia sua mãe Deslocamento Freud 19261959a acreditava que as formações reativas estavam limitadas a um único objeto por exemplo as pes soas com amor reativo dedicam amor somente à pessoa em relação a quem sentem ódio inconsciente No deslo camento no entanto as pessoas podem redirecionar seus impulsos inaceitáveis a uma variedade de indivíduos ou objetos de forma que o impulso original é disfarçado ou oculto Por exemplo uma mulher que está irritada com sua colega de quarto pode deslocar a raiva para seus em pregados seu gato ou um bicho de pelúcia Ela permanece amistosa com sua colega de quarto mas diferentemente do funcionamento da formação reativa ela não exagera em sua atitude amistosa Em seus escritos Freud usou o termo deslocamen to de diversas maneiras Na discussão do impulso sexual por exemplo vimos que o objeto sexual pode ser desloca do ou transformado em uma variedade de outros objetos incluindo o próprio indivíduo Freud 19261959a tam bém usou deslocamento para se referir à substituição de um sintoma neurótico por outro por exemplo o impulso compulsivo de se masturbar pode ser substituído por la var as mãos compulsivamente O deslocamento também está envolvido na formação dos sonhos como quando os impulsos destrutivos do indivíduo em relação a um dos pais são depositados em um cão ou lobo Nesse caso um sonho com um cão sendo atropelado por um carro pode refletir o desejo inconsciente do indivíduo de ver o genitor destruído Discutimos a formação dos sonhos mais com pletamente na seção sobre a análise dos sonhos Fixação O crescimento físico em geral avança de uma maneira re lativamente contínua pelos vários estágios do desenvolvi mento O processo de crescimento psicológico no entanto não ocorre sem momentos estressantes e ansiosos Quan do a perspectiva de dar o passo seguinte produz ansiedade excessiva o ego pode recorrer à estratégia de se manter no estágio psicológico presente mais confortável Tal defesa é Feist02indd 25 Feist02indd 25 271014 1516 271014 1516 26 FEIST FEIST ROBERTS chamada de fixação Tecnicamente fixação é a vinculação permanente da libido a um estágio do desenvolvimento anterior e mais primitivo Freud 19171963 Assim como outros mecanismos de defesa a fixação é universal As pes soas que continuamente obtêm prazer ao comer fumar ou falar podem ter uma fixação oral enquanto aquelas que são obcecadas por limpeza e ordem podem possuir uma fixa ção anal Regressão Depois que a libido passou por um estágio do desenvolvi mento ela pode durante momentos de estresse e ansieda de regredir ao estágio anterior Tal reversão é conhecida como regressão Freud 19171963 As regressões são muito comuns e facilmente perceptíveis em crianças Por exemplo uma criança completamente desmamada pode regredir pedindo uma mamadeira ou o seio quando nasce um irmãozinho A atenção dada ao novo bebê representa uma ameaça à criança mais velha As regressões também são frequentes em crianças mais velhas e em adultos Uma forma comum de os adultos reagirem a situações que pro duzem ansiedade é regredir para padrões anteriores mais seguros de comportamento e investir sua libido em obje tos mais primitivos e familiares Diante de um estresse ex tremo um adulto pode adotar a posição fetal outro pode voltar para a casa da mãe e há aquele que pode reagir per manecendo o dia inteiro na cama protegido do mundo frio e ameaçador O comportamento regressivo é semelhante ao comportamento fixado já que ele é rígido e infantil As regressões contudo costumam ser temporárias enquanto as fixações demandam um gasto mais ou menos perma nente de energia psíquica Projeção Quando um impulso interno produz ansiedade excessiva o ego pode reduzir essa ansiedade atribuindo o impulso inde sejado a um objeto externo geralmente outra pessoa Esse é o mecanismo de defesa de projeção o qual pode ser defi nido como enxergar nos outros sentimentos ou tendências inaceitáveis que na verdade residem no próprio incons ciente Freud 19151957b Por exemplo um homem pode interpretar consistentemente as ações de mulheres mais velhas como tentativa de sedução De modo consciente o pensamento de relação sexual com mulheres mais velhas pode ser muito repugnante para ele porém escondida em seu inconsciente encontrase uma forte atração erótica por elas Nesse exemplo o jovem se ilude acreditando que não tem sentimentos sexuais por mulheres mais velhas Ainda que essa projeção suprima a maior parte de sua ansiedade e culpa permite que ele mantenha um interesse sexual pelas mulheres que o fazem lembrar sua mãe Um tipo extremo de projeção é a paranoia um trans torno mental caracterizado por fortes delírios de ciúmes e perseguição A paranoia não é uma consequência inevi tável da projeção apenas uma variedade mais grave dela De acordo com Freud 19221955 uma distinção crucial entre projeção e paranoia é que esta última é sempre ca racterizada por sentimentos homossexuais reprimidos em relação ao perseguidor Freud acreditava que o perseguidor é inevitavelmente um antigo amigo do mesmo sexo em bora às vezes as pessoas possam transferir seus delírios para uma pessoa do sexo oposto Quando os impulsos homossexuais se tornam muito poderosos os paranoicos perseguidos se defendem invertendo esses sentimentos e então projetandoos em seu objeto original Para os ho mens a transformação procede da seguinte forma Em vez de dizer Eu o amo a pessoa paranoide diz Eu o odeio Como isso também produz muita ansiedade ele diz Ele me odeia Nesse ponto a pessoa abre mão de toda respon sabilidade e pode dizer Eu gosto muito dele mas ele se sente assim em relação a mim O mecanismo central em toda a paranoia é a projeção acompanhada de delírios de ciúmes e perseguição Introjeção Enquanto a projeção envolve depositar um impulso indese jado em um objeto externo a introjeção é um mecanismo de defesa em que as pessoas incorporam qualidades posi tivas de outro indivíduo em seu próprio ego Por exemplo um adolescente pode introjetar ou adotar os maneirismos os valores ou o estilo de vida de um artista de cinema Essa introjeção dá ao adolescente uma sensação expandida de autoestima e minimiza os sentimentos de inferioridade As pessoas introjetam características que elas veem como valiosas e que lhes permitem se sentirem melhor consigo mesmas Freud 19261959a viu a resolução do complexo de Édipo como o protótipo da introjeção Durante o período edípico a criança introjeta a autoridade e os valores de um ou de ambos os pais uma introjeção que dá início à for mação do superego Quando as crianças introjetam o que elas percebem como os valores de seus pais elas são alivia das do trabalho de avaliar e escolher suas próprias crenças e seus padrões de conduta À medida que avançam até o período da latência aproximadamente de 6 a 12 anos seu superego se torna mais personalizado isto é ele se afasta de uma identificação rígida com os pais No entanto pessoas de qualquer idade podem reduzir a ansiedade associada aos sentimentos de inadequação adotando ou introjetando va lores crenças e maneirismos de outros indivíduos Sublimação Cada um desses mecanismos de defesa serve ao indiví duo protegendo o ego da ansiedade mas cada um deles é de valor duvidoso segundo o ponto de vista da socie dade De acordo com Freud 19171963 um mecanis Feist02indd 26 Feist02indd 26 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 27 mo a sublimação ajuda tanto o indivíduo quanto o grupo social Sublimação é a repressão do alvo genital de Eros que é substituído por um propósito cultural ou social A finalidade sublimada é expressa mais obviamen te em realizações culturais criativas como arte música e literatura porém de modo mais sutil ela faz parte de todas as relações humanas e de todos os objetivos sociais Freud 19141953 acreditava que a arte de Michelan gelo que encontrou uma saída indireta para sua libido na pintura e na escultura era um excelente exemplo de sublimação Na maioria das pessoas as sublimações se combinam com a expressão direta de Eros e resultam em um tipo de equilíbrio entre as realizações sociais e os pra zeres pessoais A maioria das pessoas é capaz de sublimar uma parte da libido a serviço de valores culturais mais elevados enquanto ao mesmo tempo retém quantidade suficiente de impulso sexual para perseguir o prazer eró tico individual Em resumo todos os mecanismos de defesa prote gem o ego contra a ansiedade Eles são universais uma vez que até certo ponto todos os indivíduos se engajam em comportamento defensivo Cada mecanismo de defesa se associa a repressão e cada um pode ser desenvolvido até o ponto da psicopatologia Normalmente no entanto os mecanismos de defesa são benéficos para o indivíduo e inofensivos para a sociedade Além disso um mecanismo de defesa a sublimação tende a beneficiar tanto o indi víduo quanto a sociedade ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO Apesar de Freud ter pouca experiência direta com crianças incluindo as dele sua teoria do desenvolvimento é quase exclusivamente uma discussão da primeira infância Para Freud os primeiros quatro ou cinco anos de vida ou o período infantil são os mais cruciais para a formação da personalidade Esse estágio é seguido por seis ou sete anos de um período de latência durante o qual ocorre pouco ou nenhum crescimento sexual Então na puberdade há um renascimento da vida sexual e o período genital é in troduzido O desenvolvimento psicossexual por fim cul mina na maturidade Período infantil Um dos pressupostos mais importantes de Freud 19051953b 19231961b é que os bebês possuem uma vida sexual e atravessam um período de desenvolvimento sexual prégenital durante os primeiros quatro ou cinco anos após o nascimento Na época em que Freud original mente escreveu acerca da sexualidade infantil o conceito embora não fosse novo foi recebido com alguma resistên cia Hoje contudo quase todos os observadores atentos aceitam a ideia de que as crianças apresentam interesse pelos genitais deleite no prazer sexual e manifestam ex citação sexual A sexualidade infantil difere da sexualidade adulta já que a primeira não tem capacidade reprodutiva e é exclusivamente autoerótica Contudo tanto com crianças quanto com adultos os impulsos sexuais podem ser satis feitos por meio de outros órgãos além dos genitais A boca e o ânus são particularmente sensíveis à estimulação eró gena Freud 19331964 Freud 19171963 dividiu o período infantil em três fases de acordo com qual das três zonas erógenas primá rias cujo desenvolvimento é o mais relevante A fase oral começa primeiro e é seguida em ordem pela fase anal e pela fase fálica Os três períodos infantis se sobrepõem uns aos outros e cada um continua após o início dos estágios posteriores Fase oral Como a boca é o primeiro órgão a proporcionar prazer a um bebê o primeiro estágio do desenvolvimento infantil de Freud é a fase oral Os bebês obtêm nutrição para manu tenção da vida pela cavidade oral mas além disso também vêm a ter prazer pelo ato de sugar A finalidade sexual da atividade oral precoce é incor porar ou receber dentro do próprio corpo o objeto de escolha ou seja o seio Durante essa fase oralreceptiva os bebês não sentem ambivalência quanto ao objeto pra zeroso e as suas necessidades tendem a ser satisfeitas com um mínimo de frustração e ansiedade À medida que eles vão crescendo no entanto é mais provável que ex perimentem sentimentos de frustração e ansiedade em consequência da alimentação com horários do aumento do intervalo de tempo entre as mamadas e por fim do desmame Essas ansiedades em geral são acompanhadas por sentimentos de ambivalência em relação a seu objeto de amor a mãe e pela crescente capacidade de seu ego florescente de se defender do ambiente e da ansiedade Freud 19331964 A defesa do bebê contra o ambiente é em gran de parte auxiliada pela emergência dos dentes Nesse ponto passa para uma segunda fase oral a qual Freud 19331964 chamou de período oralsádico Durante essa fase os bebês respondem aos outros mordendo arrulhan do fechando a boca sorrindo e chorando A sua primei ra experiência autoerótica é sugar o polegar uma defesa contra a ansiedade que satisfaz suas necessidades sexuais mas não nutricionais Enquanto as crianças crescem a boca continua a ser uma zona erógena e na época em que se tornam adultas elas são capazes de satisfazer suas necessidades orais de inúmeras maneiras incluindo chupar uma bala mascar chicletes morder um lápis comer excessivamente fumar cigarros cachimbos e charutos e fazer comentários morda zes e sarcásticos Feist02indd 27 Feist02indd 27 271014 1516 271014 1516 28 FEIST FEIST ROBERTS Fase anal O impulso agressivo que durante o primeiro ano de vida assume a forma de sadismo oral atinge seu desenvolvi mento integral quando o ânus emerge como uma zona sexualmente prazerosa Como esse período é caracteriza do pela satisfação obtida pelo comportamento agressivo e pela função excretória Freud 19331964 a denominou fase analsádica ou mais resumidamente fase anal do de senvolvimento Essa fase está dividida em duas subfases anal inicial e anal final Durante o período anal inicial as crianças encontram satisfação destruindo ou perdendo objetos Nessa época a natureza destrutiva do impulso sádico é mais forte do que a erótica e as crianças com frequência se comportam agressivamente em relação a seus pais por frustrálas com o treinamento esfincteriano Então quando entram no período anal final elas por vezes assumem um interesse amistoso em relação a suas fezes um interesse que provém do prazer erótico de defe car Com frequência apresentam suas fezes aos pais como um presente valioso Freud 19331964 Se seu compor tamento for aceito e elogiado pelos pais então as crianças provavelmente crescerão e se transformarão em adultos generosos e magnânimos Entretanto se seu presente for rejeitado de maneira punitiva as crianças podem ado tar outro método para a obtenção de prazer anal retendo as fezes até que a pressão se torne dolorosa e eroticamente estimulante Esse modo de prazer narcisista e masoquista estabelece as bases para o caráter anal pessoas que con tinuam a receber satisfação erótica mantendo e possuin do objetos e organizandoos de maneira excessivamente limpa e ordenada Freud 19331964 levantou a hipótese de que as pessoas que desenvolvem um caráter anal apre sentaram quando crianças resistência excessiva ao trei namento esfincteriano frequentemente retendo as fezes e prolongando o tempo de treinamento além do necessário Tal erotismo anal se transforma na tríade anal de organi zação mesquinhez e obstinação que tipifica o caráter anal adulto Freud 19331964 acreditava que para as meninas o erotismo anal era transferido para a inveja do pênis du rante o estágio fálico e podia por fim ser expresso ao dar à luz um bebê Ele também acreditava que no inconsciente os conceitos de pênis e bebê porque os dois são referidos como o pequeno significam a mesma coisa Além disso as fezes devido a sua forma alongada e porque foram re movidas do corpo são indistinguíveis de um bebê e todos os três conceitos pênis bebê e fezes são representados pelos mesmos símbolos nos sonhos Durante os estágios oral e anal não existe uma distin ção básica entre o crescimento psicossexual masculino e o feminino As crianças de cada gênero podem desenvolver uma orientação ativa ou passiva A atitude ativa costuma ser caracterizada pelo que Freud 19331964 considerou como qualidades masculinas de dominância e sadismo enquanto a orientação passiva é em geral marcada pelas qualidades femininas de voyeurismo e masoquismo Entre tanto cada uma das orientações ou uma combinação das duas pode se desenvolver tanto em meninas quanto em meninos Fase fálica Em torno dos 3 ou 4 anos de idade as crianças começam um terceiro estágio do desenvolvimento infantil a fase fá lica uma época em que a área genital se torna a principal zona erógena Esse estágio é marcado pela dicotomia entre o desenvolvimento masculino e feminino uma distinção que Freud 19251961 acreditava ser devida às diferen ças anatômicas entre os sexos Freud 19241961 p 178 tomou a citação de Napoleão de que história é destino e a transformou em anatomia é destino Essa máxima está subjacente à crença de Freud de que as diferenças físicas entre homens e mulheres justificam muitas distinções psi cológicas importantes A masturbação que se originou durante o estágio oral agora ingressa em uma segunda fase mais crucial Duran te o estágio fálico a masturbação é quase universal mas como os pais geralmente suprimem essas atividades as crianças tendem a reprimir seu desejo consciente de se masturbarem na época em que seu período fálico chega ao fim Como as experiências precoces das crianças com o des mame e o treinamento dos esfincteres ajudaram a moldar os fundamentos de seu desenvolvimento psicossexual o mesmo ocorre com a experiência de supressão da masturba Os bebês satisfazem suas necessidades orais de um jeito ou de outro Feist02indd 28 Feist02indd 28 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 29 ção Freud 19331964 Entretanto a experiência com o complexo de Édipo desempenha um papel ainda mais cru cial no desenvolvimento da personalidade Complexo de Édipo masculino Freud 19251961 acre ditava que antes do estágio fálico o menino desenvolve uma identificação com seu pai isto é ele deseja ser seu pai Posteriormente ele desenvolve um desejo sexual por sua mãe isto é ele deseja ter sua mãe Esses dois desejos não parecem mutuamente contraditórios para o ego subdesen volvido portanto eles podem existir lado a lado durante algum tempo Quando o menino finalmente reconhece a inconsistência de tais desejos ele abandona a identifi cação com seu pai e mantém o sentimento mais forte o desejo de ter sua mãe O menino agora vê seu pai como um rival pelo amor da mãe Ele deseja afastar seu pai e possuir sua mãe em uma relação sexual Essa condição de rivalidade com o pai e sentimentos incestuosos pela mãe é conhecida como complexo de Édipo masculino simples O termo é retirado da tragédia grega de Sófocles na qual Édipo rei de Tebas é levado pelo destino a matar seu pai e a se casar com sua mãe Freud 19231961a acreditava que a natureza bisse xual da criança de ambos os gêneros complica esse qua dro Antes que um menino ingresse no estágio edípico ele desenvolve certa tendência feminina Durante o período edípico portanto sua natureza feminina pode leválo a exibir afeição por seu pai e expressar hostilidade por sua mãe enquanto ao mesmo tempo sua tendência masculina o dispõe para a hostilidade pelo pai e cobiça pela mãe Du rante essa condição ambivalente conhecida como complexo de Édipo completo afeição e hostilidade coexistem porque um ou ambos os sentimentos podem ser inconscientes De acordo com Freud esses sentimentos de ambivalência em um menino desempenham um papel na evolução do com plexo de castração que assume a forma de ansiedade de castração ou medo de perder o pênis Para Freud 19051953b 19171963 19231961b o complexo de castração começa depois que o menino que assumiu que todas as outras pessoas incluindo as meni nas têm genitais como os dele toma conhecimento da ausência de um pênis nas meninas Essa consciência se transforma no maior choque emocional de sua vida Após um período de esforço mental e tentativas de negação o menino é forçado a concluir que a menina teve seu pênis cortado Tal crença pode ser reforçada pelas ameaças pa rentais de punir o menino por seus comportamentos se xuais O menino passa então a acreditar que a menina foi punida com a remoção de seu pênis porque se masturbava ou seduziu a mãe Para o menino a ameaça de castração agora se torna uma possibilidade temida Como essa ansie dade de castração não pode ser tolerada por muito tempo o menino reprime seus impulsos para a atividade sexual incluindo suas fantasias de seduzir a mãe Antes da breve experiência de ansiedade de castração o menino pode ter visto a área genital de meninas ou de sua mãe porém tal visão não instiga automaticamente o complexo de castração O complexo de castração é desenca deado apenas quando o ego do menino é suficientemente maduro para compreender a conexão entre os desejos se xuais e a remoção do pênis Freud acreditava que a ansiedade de castração estava presente em todos os meninos mesmo naqueles que não eram pessoalmente ameaçados com a remoção do pê nis ou com déficit no crescimento De acordo com Freud 19331964 um menino não precisa receber uma ameaça clara de castração Qualquer menção a lesão ou a castração em conexão com o pênis é suficiente para ativar a dotação filogenética da criança A dotação filogenética é capaz de pre encher as lacunas de nossas experiências individuais com as experiências herdadas de nossos ancestrais O temor de castração do homem ancestral apoia as experiências indi viduais da criança e resulta na ansiedade de castração uni versal Freud disse Não é uma questão de se a castração é realmente realizada o que é decisivo é que o perigo externo ameaça e a criança acredita nele Ele continua Indícios de punição precisam encontrar regularmen te um reforço filogenético nela É nossa suspeita que durante o período primordial da família humana a cas tração era na verdade realizada por um pai enciumado e cruel com seus meninos em crescimento e que a cir cuncisão que de modo tão frequente desempenha um papel nos ritos da puberdade entre os povos primitivos é um vestígio claramente reconhecível dela p 8687 Depois que seu complexo de Édipo é dissolvido ou reprimido o menino se rende a seus desejos incestuosos transformaos em sentimentos de amor terno e começa a desenvolver um superego primitivo Ele pode se identifi car com o pai ou com a mãe dependendo da força de sua disposição feminina Normalmente a identificação é com o pai mas não é o mesmo que a identificação préedípica O menino não deseja mais ser seu pai em vez disso ele usa o pai como um modelo para a determinação do com portamento certo e errado Ele introjeta ou incorpora a autoridade de seu pai ao próprio ego cultivando assim as sementes de um superego maduro O superego que está brotando assume as proibições de seu pai contra o inces to e assegura a continuidade da repressão do complexo de Édipo Freud 19331964 Complexo de Édipo feminino A fase fálica toma um ca minho mais complicado para as meninas do que para os meninos e essas diferenças se devem às distinções anatô micas entre os sexos Freud 19251961 Assim como os meninos as meninas préedípicas assumem que todas as outras crianças possuem genitais semelhantes aos seus Logo elas descobrem que os meninos não só possuem ge nital diferente como também têm algo extra As meninas Feist02indd 29 Feist02indd 29 271014 1516 271014 1516 30 FEIST FEIST ROBERTS então passam a ter inveja desse apêndice sentemse lu dibriadas e desejam possuir um pênis Tal experiência de inveja do pênis é uma força poderosa na formação da per sonalidade das meninas Diferente da ansiedade de castra ção nos meninos a qual é rapidamente reprimida a inveja do pênis pode durar anos em uma forma ou outra Freud 19331964 acreditava que a inveja do pênis é frequen temente expressa como um desejo de ser um menino ou de ter um homem Quase universalmente ela é transferida para o desejo de ter um bebê e às vezes pode encontrar ex pressão no ato de dar à luz especialmente a um menino Antes do complexo de castração a menina estabele ce uma identificação com sua mãe similar à desenvolvida por um menino ou seja ela fantasia ser seduzida por sua mãe Esses sentimentos incestuosos de acordo com Freud 19331964 são posteriormente transformados em hos tilidade quando atribui a sua mãe a responsabilidade por trazêla ao mundo sem um pênis Sua libido então volta se para o pai que pode satisfazer seu desejo por um pê nis dandolhe um bebê um objeto que para ela se tornou um substituto para o falo O desejo de ter relação sexual com o pai e os sentimentos concomitantes de hostilidade pela mãe são conhecidos como complexo de Édipo feminino simples A propósito Freud 19201955b 19311961 fez objeção ao termo complexo de Electra por vezes usado por alguns quando se referem ao complexo de Édipo feminino porque ele sugere um paralelo direto entre o desenvolvi mento masculino e o feminino durante o estágio fálico Freud acreditava não haver tal paralelo e que as diferenças na anatomia determinam cursos diferentes no desenvolvi mento sexual masculino e feminino após o estágio fálico Nem todas as meninas entretanto transferem seu in teresse sexual para o pai e desenvolvem hostilidade em re lação à mãe Freud 19311961 19331964 sugeriu que quando as meninas préedípicas tomam conhecimento de sua castração e reconhecem sua inferioridade em relação aos meninos elas se rebelam de três maneiras Primeiro podem abandonar a sua sexualidade tanto as disposi ções femininas quanto masculinas e desenvolver uma intensa hostilidade em relação a sua mãe segundo elas podem agarrarse desafiadoramente a sua masculinidade esperando por um pênis e fantasiando ser um homem e terceiro podem se desenvolver normalmente isto é elas podem tomar seu pai como uma escolha sexual e passar pelo complexo de Édipo simples A escolha de uma menina é influenciada em parte por sua bissexualidade inerente e pelo grau de masculinidade que ela desenvolveu durante o período préedípico O complexo de Édipo feminino simples é resolvido quando a menina desiste da atividade masturbatória re nuncia a seu desejo sexual por seu pai e se identifica mais uma vez com a mãe No entanto o complexo de Édipo fe minino é em geral dissolvido de modo mais lento e menos completo do que o masculino Como o superego é formado a partir dos vestígios do complexo de Édipo abalado Freud 19241961 19331964 acreditava que o superego da menina era mais fraco mais flexível e menos severo do que o do menino A razão do superego da menina não ser tão rígido quanto o do menino relacionase à diferença entre os sexos durante suas histórias edípicas Para os meninos a ansiedade de castração se segue ao complexo de Édipo dissolvese quase completamente e torna desnecessário o gasto de energia psíquica em seus remanescentes Depois que o complexo de Édipo é abalado a energia usada para mantêlo fica livre para estabelecer um superego Para as meninas no entanto o complexo de Édipo vem depois do complexo de castração inveja do pênis e como as meni nas não experimentam uma ameaça de castração elas não sofrem um choque traumático repentino O complexo de Édipo feminino é resolvido apenas de forma incompleta pela percepção gradual da menina de que ela pode perder o amor de sua mãe e que a relação sexual com seu pai não está prestes a acontecer Assim sendo a sua libido perma nece parcialmente empregada para manter o complexo de castração e seus vestígios bloqueando desse modo parte da energia psíquica que poderia ser usada de outra maneira para construir um superego forte Freud 19311961 Em resumo os estágios fálicos masculino e feminino tomam caminhos bem diferentes Primeiro o complexo de castração para as meninas assume a forma de inveja do pê nis não ansiedade de castração Segundo a inveja do pê nis precede o complexo de Édipo feminino enquanto para os meninos o oposto é verdadeiro isto é a ansiedade de castração se segue ao complexo de Édipo masculino Ter ceiro como a inveja do pênis ocorre antes do complexo de Édipo feminino as meninas não experimentam um evento traumático comparável à ansiedade de castração nos me ninos Quarto como as meninas não experimentam esse evento traumático o complexo de Édipo feminino é dissol vido mais lentamente e de modo menos completo do que o complexo de Édipo masculino Os complexos de Édipo masculino e feminino simples estão resumidos na Tabela 21 A visão apresentada por Freud sobre o complexo de Édipo feminino era mais provisória do que as ideias refe rentes ao estágio fálico masculino Apesar de ter estrutura do essas visões sobre a feminilidade de maneira provisória logo começou a defendêlas com vigor Quando alguns de seus seguidores discordaram de sua visão rígida das mulhe res Freud se tornou ainda mais inflexível em sua posição e insistiu em que as diferenças psicológicas entre homens e mulheres não podiam ser apagadas pela cultura porque eram consequências inevitáveis das diferenças anatômicas entre os sexos Freud 19251961 Tal postura pública rígida sobre o desenvolvimento feminino levou alguns es critores Brannon 2005 Breger 2000 Chodorow 1989 1991 1994 Irigaray 1986 Krausz 1994 a criticálo como sexista e pouco elogioso com as mulheres Feist02indd 30 Feist02indd 30 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 31 Apesar de sua posição pública firme Freud privada mente não estava certo de que suas visões sobre as mulhe res representassem uma resposta final Um ano depois de sua declaração de que anatomia é destino ele expressou algumas dúvidas admitindo que sua compreensão acerca das meninas e das mulheres era incompleta Sabemos me nos sobre a vida sexual das meninas do que sobre a dos meninos Mas não precisamos ter vergonha dessa distin ção no final das contas a vida sexual das mulheres adul tas é um continente obscuro para a psicologia Freud 19261959b p 212 Durante sua carreira Freud muitas vezes propôs teorias sem muitas evidências clínicas ou experimentais para apoiálas Depois passou a ver a maioria dessas teo rias como fatos estabelecidos mesmo que não possuís se evidências substanciais Enquanto viveu no entanto permaneceu em dúvida sobre a validade absoluta de suas teorias a respeito das mulheres Freud certa vez admi tiu a sua amiga Marie Bonaparte que ele não entendia as mulheres A grande pergunta que nunca foi respondida e que ainda não consegui responder apesar de meus 30 anos de pesquisa da alma feminina é O que quer uma mulher E Jones 1955 p 421 Essa pergunta feita após muitos anos de teorização sugere que Freud consi derava as mulheres não só muito diferentes dos homens mas como enigmas não compreensíveis para o gênero masculino WWW ALÉM DA BIOGRAFIA EM INGLÊS Freud interpretou mal as mulheres Para informações sobre o esforço de Freud por toda a vida para entender as mulheres acesse wwwmhhecomfeist8e Período de latência Freud acreditava que do quarto ou quinto ano até a puber dade meninos e meninas geralmente atravessavam um pe ríodo de desenvolvimento sexual adormecido Esse período de latência é ocasionado em parte pelas tentativas dos pais de punir ou desencorajar a atividade sexual em seus filhos pequenos Se a supressão parental for bemsucedida as crianças irão reprimir seu impulso sexual e direcionarão a energia psíquica para a escola as amizades os hobbies e ou tras atividades não sexuais Entretanto o período de latência também pode ter raízes em nossa dotação filogenética Freud 19131953 19261951b sugeriu que o complexo de Édipo e o pos terior período de latência podem ser explicados pela se guinte hipótese No início do desenvolvimento humano as pessoas viviam em famílias chefiadas por um pai pode roso que reservava todos os relacionamentos sexuais para si e que matava ou mandava embora seus filhos homens a quem ele via como uma ameaça à sua autoridade En tão certo dia os filhos se reuniram dominaram mataram e devoraram comeram seu pai No entanto os irmãos eram individualmente muito fracos para assumir a heran ça do pai logo reuniramse em bando em um clã ou totem e estabeleceram proibições contra o que tinham acabado de fazer ou seja eles proibiram matar o próprio pai e ter relações sexuais com membros femininos da própria fa mília Posteriormente quando se tornavam pais eles su primiam a atividade sexual em seus filhos sempre que se tornava perceptível provavelmente em torno dos 3 ou 4 anos de idade Quando a supressão se completava era su cedida por um período de latência sexual Depois que essa experiência foi repetida por um período de muitas gera ções ela se tornou uma força ativa embora inconsciente no desenvolvimento psicossexual de um indivíduo Assim a proibição da atividade sexual é parte de nossa dotação fi logenética e não precisa de experiências pessoais de puni ção das atividades sexuais para reprimir o impulso sexual Freud 19261951b apenas sugeriu essa hipótese como uma explicação possível para o período de latência e foi cuidadoso em assinalar que isso não estava apoiado por dados antropológicos A continuação da latência é reforçada pela supressão constante da parte de pais e professores e da parte de sen timentos internos de vergonha culpa e moralidade O im pulso sexual é claro ainda existe durante a latência mas seu alvo foi inibido A libido sublimada agora se apresenta em realizações sociais e culturais Durante esse tempo as crianças formam grupos ou turmas uma impossibilidade TABELA 21 Caminhos paralelos das fases fálicas masculina e feminina simples Fase fálica masculina 1 Complexo de Édipo desejos sexuais pela mãehostilidade pelo pai 2 Complexo de castração na forma de ansiedade de castração abala o complexo de Édipo 3 Identificação com o pai 4 O superego forte substitui o complexo de Édipo completamente dissolvido Fase fálica feminina 1 Complexo de castração na forma de inveja do pênis 2 O complexo de Édipo se desenvolve como uma tentativa de obter um pênis desejos sexuais pelo pai hostilidade pela mãe 3 Percepção gradual de que os desejos edípicos são autodestrutivos 4 Identificação com a mãe 5 O superego fraco substitui o complexo de Édipo parcialmente dissolvido Feist02indd 31 Feist02indd 31 271014 1516 271014 1516 32 FEIST FEIST ROBERTS durante o período infantil quando o impulso sexual era completamente autoerótico Período genital A puberdade sinaliza o redespertar do alvo sexual e o início do período genital Durante a puberdade a vida se xual difásica de uma pessoa entra em um segundo está gio o qual tem diferenças básicas em relação ao período infantil Freud 19231961b Primeiro os adolescentes abandonam o autoerotismo e direcionam sua energia sexual para outra pessoa Segundo a reprodução agora é possível Terceiro embora a inveja do pênis possa per durar nas meninas a vagina finalmente obtém o mesmo status para elas do que o pênis tinha durante a infância Paralelamente a isso os meninos agora veem o órgão fe minino como um objeto desejado em vez de uma fon te de trauma Quarto todo impulso sexual assume uma organização mais completa e os impulsos componentes que haviam operado de forma um tanto independente durante o início do período infantil ganham um tipo de síntese durante a adolescência assim a boca o ânus e outras áreas produtoras de prazer assumem uma posi ção auxiliar dos genitais que agora possuem supremacia como zona erógena Essa síntese de Eros o status elevado da vagina a capacidade reprodutiva do impulso sexual e a capacidade das pessoas de direcionar sua libido para o exterior em vez de para o self representam as principais distinções entre a sexualidade infantil e a adulta Em vários outros aspectos no entanto Eros permanece imutável Ele pode continuar a ser reprimido sublimado ou expresso na masturbação ou em outros atos sexuais As zonas eró genas subordinadas também continuam como veículos de prazer erótico A boca por exemplo retém muitas de suas atividades infantis uma pessoa pode deixar de sugar o polegar mas pode acrescentar o tabagismo ou o beijo prolongado Maturidade O período genital começa na puberdade e continua por toda a vida do indivíduo Esse é um estágio atingido por todos que alcançam a maturidade física Além do período genital Freud fez alusão mas nunca conceitualizou com pletamente a um período de maturidade psicológica um estágio alcançado depois que a pessoa passou pelos perío dos evolutivos anteriores de maneira ideal Infelizmente a maturidade psicológica raras vezes acontece porque as pessoas têm muitas oportunidades de desenvolver psico patologias ou predisposições neuróticas Mesmo que Freud nunca tenha conceitualizado por completo a noção de maturidade psicológica podemos fazer um esboço dos indivíduos psicanaliticamente madu ros Tais pessoas teriam um equilíbrio entre as estruturas da mente com o ego controlando o id e o superego mas ao mesmo tempo permitindo desejos e demandas razoá veis ver Fig 23 Portanto os impulsos do id seriam ex pressos de modo honesto e consciente sem vestígios de vergonha ou culpa e seu superego avançaria para além da identificação e do controle parental sem remanescentes de antagonismo ou incesto O ideal de ego seria realista e con gruente com o ego da pessoa e de fato a fronteira entre seu superego e seu ego se tonaria quase imperceptível A consciência desempenharia um papel mais impor tante no comportamento das pessoas maduras que teriam apenas uma necessidade mínima de reprimir os impulsos sexuais e agressivos De fato a maior parte das repressões de indivíduos psicologicamente saudáveis emerge na for ma de sublimações em vez de sintomas neuróticos Como o complexo de Édipo de pessoas maduras está por comple to ou quase por completo dissolvido a sua libido que ante riormente era direcionada para os pais seria liberada para procurar o amor terno e sensual Em resumo as pessoas psicologicamente maduras passariam pelas experiências da infância e da adolescência no controle de sua energia psí quica e com seu ego funcionando no centro de um mundo consciente em constante expansão APLICAÇÕES DA TEORIA PSICANALÍTICA Freud foi um inovador atento provavelmente mais preocupado em construir a teoria do que tratar pessoas doentes Ele passou boa parte de seu tempo realizando terapia não somente para ajudar os pacientes mas para obter uma compreensão da personalidade humana ne cessária para explicar a teoria psicanalítica Esta seção examina a técnica terapêutica inicial de Freud sua técni ca posterior e sua visão sobre os sonhos e os atos falhos inconscientes A técnica terapêutica inicial de Freud Antes do uso mais passivo da técnica psicoterápica de associação livre Freud se apoiou em uma abordagem mui to mais ativa Em Estudos sobre a histeria Breuer Freud 19851955 Freud descreveu sua técnica de extração das lembranças infantis reprimidas Eu colocava a minha mão na testa do paciente ou pega va sua cabeça entre as minhas mãos e dizia Você vai pensar nisso sob a pressão da minha mão No momento em que eu relaxar a pressão você vai ver algo à sua fren te ou alguma coisa virá à sua mente Apeguese a isso Isso será o que estamos procurando Bem o que você viu ou o que aconteceu com você Nas primeiras ocasiões em que fiz uso deste proce dimento eu mesmo fiquei surpreso em descobrir que ele produzia os resultados precisos de que eu necessi tasse p 110111 Feist02indd 32 Feist02indd 32 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 33 Na verdade um procedimento altamente sugestivo como esse muito provavelmente produziria os resultados exatos que Freud precisava ou seja a confissão de uma sedução infantil Além do mais enquanto usava a interpretação dos sonhos e a hipnose Freud dizia a seus pacientes que esperassem que cenas de experiências sexuais da infância aparecessem Freud 18961962 Em sua autobiografia escrita quase 30 anos depois que abandonou a teoria da sedução Freud 19251959 afirmou que com a técnica da pressão a maioria de seus pacientes reproduzia cenas da infância nas quais eram seduzidos sexualmente por algum adulto Quando foi obrigado a reconhecer que essas cenas de sedução nunca haviam acontecido e eram apenas fantasias que meus pa cientes tinham construído ou que talvez eu mesmo as tenha forçado grifo nosso fiquei por algum tempo completa mente perdido p 34 Entretanto ele ficou perdido por um período muito curto de tempo Poucos dias depois de sua carta a Fliess de 21 de setembro de 1897 ele concluiu que os sintomas neuróticos não estavam relacionados diretamente a eventos reais mas a fantasias Eu tinha de fato tropeçado pela primeira vez no complexo de Édipo Freud 19251959 p 34 Com o tempo Freud percebeu que sua tática altamen te sugestiva e até mesmo coercitiva tinha estimulado lem branças de sedução em seus pacientes e que ele não possuía evidências claras de que essas lembranças fossem reais Freud foi cada vez mais convencendose de que os sinto mas neuróticos estavam relacionados a fantasias infantis e não à realidade material assim de forma gradual adotou uma técnica psicoterápica mais passiva A técnica terapêutica posterior de Freud O objetivo primário da terapia psicanalítica posterior de Freud era trazer à tona lembranças reprimidas por meio da associação livre e da análise dos sonhos Nossa terapia funciona transformando o que é inconsciente em cons ciente e ela funciona somente quando estiver em uma po sição de efetuar essa transformação Freud 19171963 p 280 De forma mais específica o propósito da psica nálise é fortalecer o ego tornálo mais independente do superego ampliar seu ângulo de percepção e aumentar sua organização de forma que ele possa se apropriar de porções novas do id Onde havia id haverá ego Freud 19331964 p 80 Na associação livre solicitase que os pacientes verba lizem cada pensamento que vier a sua mente independente mente do quanto possa parecer irrelevante ou repugnante O propósito da associação livre é chegar até o inconsciente iniciando com uma ideia consciente presente e seguindoa ao longo de uma cadeia de associações até onde ela levar O processo não é fácil e alguns pacientes nunca conseguem dominálo Por essa razão a análise dos sonhos permaneceu a técnica terapêutica favorita para Freud Discutiremos a análise dos sonhos na próxima seção Para que o tratamento analítico tenha sucesso a libido anteriormente gasta no sintoma neurótico precisa ser libe rada para trabalhar a serviço do ego Isso acontece em um procedimento de duas fases Na primeira toda a libido se desliga dos sintomas para se fixar e se concentrar na trans ferência na segunda desenvolvese o combate ao redor do novo objeto do qual se procura desligar a libido Freud 19171963 p 455 Consultório de Freud Feist02indd 33 Feist02indd 33 271014 1516 271014 1516 34 FEIST FEIST ROBERTS A situação da transferência é vital para a psicanálise Transferência se refere aos fortes sentimentos sexuais ou agressivos que os pacientes desenvolvem em relação a seu analista durante o curso do tratamento Os sentimentos de transferência são imerecidos pelo terapeuta e meramente transferidos para ele a partir das experiências anteriores dos pacientes geralmente com seus pais Em outras pa lavras os pacientes se sentem em relação ao analista da mesma maneira como se sentiram anteriormente em re lação a um ou a ambos os pais Enquanto esses sentimen tos se manifestam com interesse ou amor a transferência não interfere no processo de tratamento mas é um aliado poderoso para o progresso terapêutico A transferência positiva permite que os pacientes revivam em maior ou menor grau experiências da infância dentro do clima não ameaçador do tratamento analítico No entanto a trans ferência negativa na forma de hostilidade deve ser reco nhecida pelo terapeuta e explicada ao paciente de maneira que ele possa superar qualquer resistência ao tratamento Freud 19051953a 19171963 A resistência que se re fere a uma variedade de respostas inconscientes usadas pe los pacientes para bloquear o próprio progresso na terapia pode ser um sinal positivo porque ela indica que a terapia avançou para além do conteúdo superficial Freud 19331964 observou várias limitações do tra tamento psicanalítico Primeiro nem todas as lembranças antigas podem ou devem ser trazidas à consciência Se gundo o tratamento não é tão efetivo com psicoses ou com doenças constitucionais como é com fobias histerias e obsessões Uma terceira limitação que não é peculiar à psicanálise é que um paciente depois de curado pode posteriormente desenvolver outro transtorno psíquico Reconhecendo essas limitações Freud acreditava que a psicanálise poderia ser usada em conjunto com outras tera pias Entretanto ele insistia que ela não podia ser encurta da ou modificada em qualquer aspecto essencial De maneira ideal quando o tratamento analítico tem sucesso os pacientes não sofrem mais com sintomas de bilitantes eles usam sua energia psíquica para executar as funções do ego e têm um ego expandido que inclui expe riências anteriormente reprimidas Eles não experimen tam uma alteração maior da personalidade mas se tornam o que poderiam ser dentro de condições mais favoráveis Análise dos sonhos Freud usou a análise dos sonhos para transformar o con teúdo onírico manifesto em um conteúdo latente mais im portante O conteúdo manifesto do sonho é o significado superficial ou a descrição consciente dada pelo indivíduo que sonhou enquanto o conteúdo latente se refere a seu material inconsciente O pressuposto básico de Freud em relação à análise dos sonhos é que quase todos os sonhos são realizações de desejos Alguns desejos são óbvios e expressos por meio do conteúdo manifesto como quando a pessoa vai dormir com fome e sonha estar comendo uma grande quantidade de alimentos deliciosos A maioria das realizações de dese jos no entanto é expressa no conteúdo latente e somente a interpretação do sonho pode trazer à tona aquele desejo Uma exceção à regra de que os sonhos são realizações de desejos é encontrada em pacientes que sofrem uma expe riência traumática Os sonhos dessas pessoas seguem o princípio da compulsão à repetição em vez de realização de desejo Esses sonhos são comuns entre indivíduos com transtorno de estresse póstraumático que sonham repetidamente com experiências amedrontadoras ou trau máticas Freud 19201955a 19331964 Freud acreditava que os sonhos eram formados no in consciente mas tentavam encontrar o caminho até o cons ciente Para se tornarem conscientes os sonhos devem es capar dos censores primários e finais consultar Fig 21 Mesmo durante o sono esses guardiões mantêm a vigília forçando o material psíquico inconsciente a adotar uma forma disfarçada O disfarce pode operar de duas maneiras básicas condensação e deslocamento Condensação se refere ao fato de que o conteúdo ma nifesto do sonho não é tão extenso quanto o nível laten te indicando que o material inconsciente foi abreviado ou condensado antes de aparecer no nível manifesto Desloca mento significa que a imagem do sonho é substituída por alguma outra ideia apenas remotamente relacionada a ela Freud 19001953 A condensação e o deslocamento do conteúdo ocorrem pelo uso de símbolos Certas imagens são quase universalmente representadas por figuras inó cuas Por exemplo o falo pode ser simbolizado por objetos alongados como varas cobras ou facas a vagina frequente mente aparece como uma caixa pequena um cofre ou um forno os pais aparecem na forma de um presidente um professor ou o chefe do indivíduo que está sonhando e a ansiedade de castração pode ser expressa nos sonhos de fi car careca perder os dentes ou algum ato de corte Freud 19001953 19011953 19171963 Os sonhos também podem enganar o sonhador inibin do ou invertendo o afeto em relação a ele Por exemplo um homem com sentimentos homicidas por seu pai pode sonhar que o pai morreu mas no conteúdo manifesto do sonho ele não sente alegria nem tristeza ou seja seu afeto é inibido Sentimentos desagradáveis também podem ser invertidos no nível manifesto do sonho Por exemplo uma mulher que inconscientemente odeia sua mãe e receberia bem a extinção dela pode sonhar com a morte da mãe porém a alegria e o ódio inconsciente que ela sente são expressos como triste za e amor durante o nível manifesto do sonho Assim ela é enganada a acreditar que ódio é amor e que alegria é tristeza Freud 19001953 19011953 19151957a Depois que o conteúdo latente inconsciente do so nho foi distorcido e seu afeto inibido ou invertido ele Feist02indd 34 Feist02indd 34 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 35 aparece em uma forma manifesta que pode ser lembrada pelo sonhador O conteúdo manifesto que quase sempre se relaciona à experiência consciente ou préconsciente do dia anterior possui pouco ou nenhum significado so mente o conteúdo latente apresenta significado Freud 19001953 Ao interpretar os sonhos Freud 19171963 comu mente seguia um de dois métodos O primeiro era pedir aos pacientes que relatassem seu sonho e todas as suas associações com ele independentemente do quanto es sas associações pareciam não relacionadas ou ilógicas Freud acreditava que essas associações revelavam o dese jo inconsciente por trás do sonho Caso o sonhador não conseguisse relatar material associativo Freud usava um segundo método os símbolos do sonho para descobrir os elementos inconscientes subjacentes ao conteúdo ma nifesto O propósito de ambos os métodos associações e símbolos era rastrear a formação do sonho até que o con teúdo latente fosse alcançado Freud 19001953 p 608 acreditava que a interpretação dos sonhos era a abordagem mais confiável para o estudo dos processos inconscientes e se referia a ela como a estrada real para o conhecimento do inconsciente Os sonhos de ansiedade não contradizem a regra de que os sonhos são realizações de desejos A explicação é que a ansiedade pertence ao sistema préconsciente en quanto o desejo ao inconsciente Freud 19001953 rela tou três sonhos de ansiedade típicos o embaraçoso sonho de nudez sonhos com a morte de uma pessoa amada e so nhos de ser reprovado em um exame No sonho embaraçoso de nudez o sonhador sente vergonha ou embaraço por estar nu ou vestido inade quadamente na presença de estranhos Os espectadores geralmente parecem indiferentes embora o sonhador esteja muito embaraçado A origem desse sonho é a ex periência infantil precoce de estar nu na presença de adultos Na experiência original a criança não sente em baraço mas os adultos com frequência registram desa provação Freud acreditava que a realização dos desejos se dava de duas maneiras por meio desse sonho Primeiro a indiferença dos espectadores satisfaz o desejo infantil de que os adultos presentes não repreendam Segundo o fato de que a nudez satisfaz o desejo de se exibir um desejo geralmente reprimido em adultos mas presente nas crianças pequenas Os sonhos de morte de uma pessoa amada também se originam na infância e são realizações de desejo Se um indivíduo sonha com a morte de uma pessoa mais jovem o inconsciente pode estar expressando o desejo de destrui ção de um irmão ou uma irmã mais jovem que foi um rival odiado durante o período infantil Quando o morto é uma pessoa mais velha o sonhador está satisfazendo o dese jo edípico de morte de um dos pais Se o sonhador sente ansiedade e tristeza durante o sonho é porque o afeto foi invertido Sonhos de morte de um dos pais são típicos em adultos mas eles não significam que o sonhador tem um desejo atual de morte daquele genitor Esses sonhos foram interpretados por Freud como significando que quando criança o sonhador desejava a morte do genitor mas o de sejo era muito ameaçador para encontrar seu caminho de entrada na consciência Mesmo durante a idade adulta o desejo de morte normalmente não aparece em sonhos a menos que o sentimento tenha sido mudado para tristeza Um terceiro sonho de ansiedade típico é ser repro vado em um exame na escola De acordo com Freud 19001953 o sonhador sempre sonha em ser reprovado em um exame no qual o indivíduo já teve sucesso nunca em um no qual ele falhou Esses sonhos costumam ocor rer quando o sonhador está prevendo uma tarefa difícil Ao sonhar em ser reprovado em um exame no qual ele já pas sou o ego pode raciocinar Passei no teste anterior com o qual eu estava preocupado Agora estou preocupado com outra tarefa mas também vou passar Portanto não preci so ficar ansioso em relação ao teste de amanhã O desejo de se livrar da preocupação com uma tarefa difícil é assim realizado Em cada um desses três sonhos típicos Freud teve que procurar o desejo escondido por trás do nível manifes to do sonho Encontrar a necessária realização do desejo requereu grande criatividade Por exemplo uma mulher inteligente contou a Freud que tinha sonhado que sua sogra estava vindo para uma visita Quando acordada ela desprezava a sogra e tinha pavor de passar qualquer quantidade de tempo com ela Para desafiar a noção de Freud de que os sonhos são realizações de desejos ela lhe perguntou Onde está o desejo A explicação de Freud 19001953 foi que essa mulher tinha conhecimento da crença dele de que se encontra desejo por trás de todo so nho não traumático Assim sonhando em passar um tem po com a sogra odiada a mulher realizava seu desejo de implicar com Freud e refutar sua hipótese da satisfação do desejo Em suma Freud acreditava que os sonhos são moti vados pela realização de desejos O conteúdo latente dos sonhos é formado no inconsciente e em geral remonta às experiências da infância enquanto o conteúdo manifesto com frequência provém de experiências do dia anterior A interpretação dos sonhos serve como a estrada real para conhecer o inconsciente porém os sonhos não devem ser interpretados sem as associações do sonhador com o sonho O material latente é transformado em conteúdo manifesto por meio do trabalho onírico O trabalho onírico atinge seu objetivo mediante os processos de condensação deslocamento e inibição do afeto O sonho manifesto pode ter pouca semelhança com o material latente mas Freud acreditava que uma interpretação cuidadosa revelaria a co nexão oculta rastreando o trabalho onírico retroativamen te até as imagens inconscientes serem expostas Feist02indd 35 Feist02indd 35 271014 1516 271014 1516 36 FEIST FEIST ROBERTS Atos falhos Freud acreditava que muitos lapsos de linguagem ou de es crita do dia a dia leitura errada audição incorreta perder ob jetos e temporariamente esquecer nomes ou intenções não são acidentes ao acaso mas revelam as intenções inconscien tes de uma pessoa Ao escrever sobre esses atos equivocados Freud 19011960 usou a palavra do alemão Fehlleistung ou função defeituosa mas James Strachey um dos tradutores de Freud inventou o termo parapraxias para se referir ao que muitas pessoas agora simplesmente chamam ato falho As parapraxias ou lapsos inconscientes são tão co muns que geralmente prestamos pouca atenção a eles e negamos que tenham algum significado subjacente Freud no entanto insistia que esses atos defeituosos têm um sig nificado eles revelam a intenção inconsciente da pessoa Eles não são eventos casuais mas atos mentais sérios eles têm um sentido eles surgem das ações simultâneas ou talvez em vez disso da ação contrária de duas intenções diferentes Freud 19171963 p 44 Uma ação contrária emana do inconsciente a outra do préconsciente Os lap sos inconscientes portanto são semelhantes aos sonhos uma vez que eles são produto do inconsciente e do pré consciente com a intenção inconsciente sendo dominan te afetando e substituindo a préconsciente O fato de que a maioria das pessoas nega enfaticamen te qualquer significado por trás de suas parapraxias foi visto por Freud como evidência de que o lapso de fato tinha re levância para imagens inconscientes que precisam perma necer escondidas da consciência Um homem jovem certa vez entrou em uma loja de conveniência sentiuse imedia tamente atraído pela jovem vendedora e pediu um sexpack of beer em vez de sixpack of beer Quando a vendedora o acusou de comportamento impróprio o jovem veemente mente alegou inocência Exemplos como esse podem ser es tendidos quase indefinidamente Freud apresentou muitos em seu livro Psicopatologia da vida cotidiana 19011960 e muitos deles envolviam seus próprios atos falhos Um dia depois de se preocupar com questões financeiras Freud foi até a loja de tabaco que visitava todos os dias Nesse dia em particular ele pegou seu suprimento típico de charutos e saiu da loja sem pagar por eles Freud atribuiu tal descuido a pensamentos anteriores sobre questões orçamentárias Em todos os atos falhos as intenções do inconsciente su plantam as intenções mais fracas do préconsciente reve lando assim o verdadeiro propósito de uma pessoa PESQUISA RELACIONADA O status científico é uma das questões mais calorosamen te contestadas e discutidas em toda a teoria freudiana Ela N de T Sixpack of beer fardo de cerveja O homem do exemplo troca six em referência à quantidade de seis cervejas do fardo por sex sexo era ciência ou uma mera especulação de gabinete Freud propôs hipóteses testáveis Suas ideias são experimental mente verificáveis testáveis ou refutáveis Karl Popper o filósofo da ciência que propôs o critério de refutabilidades contrastou a teoria de Freud com a de Einstein e concluiu que a primeira não era refutável e por tanto não era ciência Seria justo dizer que durante boa parte do século XX a maioria dos psicólogos acadêmicos rejeitou as ideias freudianas entendendoas como especu lações fantasiosas que podem conter insights sobre a natu reza humana mas que não eram ciência Durante os últimos 5 a 10 anos o status científico da teoria freudiana começou a mudar pelo menos entre certos círculos científicos de psicólogos cognitivos e neu rocientistas A neurociência está atualmente experimen tando um crescimento explosivo por meio de suas inves tigações da atividade cerebral durante uma variedade de tarefas cognitivas e emocionais Muito desse crescimento se deveu à tecnologia de imagem cerebral garantida pelo exame de imagem por ressonância magnética funcional IRMf que mapeia regiões do cérebro que estão ativas du rante tarefas particulares Quase ao mesmo tempo certos grupos de psicólogos cognitivos começaram a pesquisar sobre a importância do processamento não consciente da informação e da memória ou o que eles chamaram de cog nição implícita John Bargh um dos líderes no campo da psicologia sociocognitiva revisou a literatura sobre a au tomaticidade do ser e concluiu que quase 95 de nossos comportamentos são determinados inconscientemente Bargh Chartrand 1999 Essa conclusão é coerente com a metáfora de Freud de que a consciência é meramente a ponta do iceberg No final da década de 1990 as descobertas da neuro ciência e da psicologia cognitiva começaram a convergir em processos cognitivos e afetivos muito consistentes com a teoria freudiana Esses aspectos em comum se transforma ram na base para um movimento iniciado por alguns psicó logos cognitivos neurocientistas e psiquiatras convencidos de que a teoria de Freud é uma das teorias integrativas mais convincentes e que poderia explicar muitas descobertas Em 1999 um grupo de cientistas deu início a uma socie dade chamada de Neuropsicanálise e a um jornal científico com o mesmo nome Pela primeira vez alguns psicólogos cognitivos e de neurociência eminentes como o ganhador do prêmio Nobel de fisiologia Eric Kandel com Joseph LeDoux Antonio Damasio Daniel Schacter e Vilayanur Ramachandran declararam publicamente o valor da teoria de Freud argumentando que a psicanálise ainda é a visão mais coerente e intelectualmente satisfatória da mente conforme citado em Solms 2004 p 84 O neurocientista Antonio Damasio escreveu Acredito que podemos dizer que os insights de Freud sobre a natureza da consciência estão em consonância com as mais avançadas visões da neurociência contemporânea conforme citado em Solms Feist02indd 36 Feist02indd 36 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 37 Turnbull 2002 p 93 Vinte anos atrás tais pronuncia mentos de neurocientistas teriam sido quase impensáveis Mark Solms é provavelmente a pessoa mais ativa en volvida na integração da teoria psicanalítica e da pesqui sa neurocientífica Solms 2000 2004 Solms Turnbull 2002 Ele argumentou por exemplo que os seguintes conceitos freudianos possuem apoio da neurociência mo derna motivação inconsciente repressão princípio do prazer impulsos primitivos e sonhos Solms 2004 Do mesmo modo Kandel 1999 defendeu que a psicanálise e a neurociência juntas podem dar contribuições úteis em oito domínios a saber a natureza dos processos mentais inconscientes a natureza da causalidade psicológica a cau salidade psicológica e a psicopatologia a experiência pre coce e a predisposição à doença mental o préconsciente o inconsciente e o córtex préfrontal a orientação sexual a psicoterapia e as mudanças estruturais no cérebro e a psi cofarmacologia como procedimento adjunto à psicanálise Mesmo havendo algumas lacunas nas evidências Hobson 2004 a sobreposição entre a teoria de Freud e a neurociência é suficiente para pelo menos justificar de forma sugestiva se não convincente sua integração Examinamos algumas das evidências empíricas para o processamento mental inconsciente o id e o princípio do prazer e o ego e o princípio da realidade a repressão e os mecanismos de defesa e os sonhos Processamento mental inconsciente Muitos cientistas e filósofos reconheceram duas formas diferentes de consciência A primeira é o estado de não es tar consciente ou acordado e a segunda o estado de estar desperto O primeiro estado é referido como consciência básica enquanto o último como consciência ampliada O tronco cerebral e o sistema de ativação ascendente em particular é a parte do cérebro mais diretamente associada à consciência básica ou inconsciente no sentido de não es tar acordado Por exemplo o coma provém de dano a essa região do tronco cerebral e deixa uma pessoa inconsciente Em contraste estar consciente e capaz de refletir sobre o próprio conhecimento e o self é mais uma função de ativi dade no córtex préfrontal o córtex frontal dorsal Solms 2004 Solms Turnbull 2002 Além do mais um tema importante da psicologia cognitiva durante os anos mais recentes tem sido o fe nômeno do processamento mental não consciente ou o que é chamado de pensamento e memória implícitos não conscientes ou automáticos Bargh Chartrand 1999 Schacter 1987 Com isso os psicólogos cognitivos estão se referindo aos processos mentais que não estão na consciência nem sob o controle emocional e desse modo aproximamse da definição de inconsciente de Freud Ob viamente o conceito de Freud de inconsciente era mais dinâmico repressivo e inibidor mas como veremos a se guir a neurociência cognitiva está encontrando um tipo similar de inconsciente Prazer e id inibição e ego As descobertas de muitos programas de pesquisa neuro científica diferentes estabeleceram que os impulsos que bus cam o prazer possuem suas origens neurológicas em duas estruturas cerebrais o tronco cerebral e o sistema límbico Solms 2004 Solms Turnbull 2002 Outrossim o neu rotransmissor dopamina está mais centralmente envolvido na maioria dos comportamentos que buscam o prazer Na linguagem de Freud esses são os impulsos e instintos do id Pesquisas mais recentes estão emprestando uma nuance fascinante ao conhecimento de como o cérebro ex perimenta os impulsos e instintos do id O neurocientista Jaak Panksepp 2004 e o psicólogo Kent Berridge 2009 passaram décadas explorando os sistemas de recompensa em nossos cérebros Esse trabalho destacou dois neuro transmissores importantes que estão envolvidos na bus ca permanente de prazer do id a dopamina e os opioides como as endorfinas O sistema dopaminérgico está asso ciado às tendências de busca ou aos desejos do id me dê enquanto o sistema opioide está envolvido no prazer que experimentamos quando o id está satisfeito ahhh Os dois sistemas funcionam em paralelo O sistema de bus ca não somente nos coloca de pé pela manhã e nos incita a ir procurar por comida e amigos mas também nos atrai para nosso computador para procurar no Google várias e infindáveis curiosidades ou ao smartphone para verificar se nossa atualização no Facebook recebeu algum comentário O sistema de ligação nos permite experimentar satisfação quando encontramos o que procurávamos Porém mesmo que eles funcionem em paralelo Berridge argumenta que são sistemas desequilibrados Nosso cérebro é mais sovina quando se trata de prazer do que de desejo o que faz com que evolua Se o id fosse satisfeito facilmente todos nós es taríamos largados por aí felizes e desmotivados mas pro vavelmente mortos em seguida É por isso que Panksepp afirma que procurar é o motivador principal confirmando a noção de Freud da força primitiva do id levandonos a con tinuar procurando depois de uma pequena dose de prazer Em 1923 quando Freud modificou seu entendimen to a respeito de como a mente funciona e propôs a visão estrutural de id ego e superego o ego se tornou uma es trutura que era sobretudo inconsciente mas cuja função principal era inibir os impulsos Se a parte do cérebro que funciona para inibir os impulsos é lesionada deveríamos ver um aumento nos impulsos que buscam prazer fun damentados no id Isto é precisamente o que acontece quando o sistema límbico frontal é lesionado Muitos es tudos de caso e pesquisas mais sistemáticas por imagem cerebral demonstram a conexão entre o sistema límbico frontal e a regulação dos impulsos Chow Cummings Feist02indd 37 Feist02indd 37 271014 1516 271014 1516 38 FEIST FEIST ROBERTS 1999 Pincus 2001 Raine Buchsbaum LaCasse 1997 O primeiro desses casos relatado e muito conhecido foi o do trabalhador ferroviário Phineas Gage Enquanto traba lhava na estrada de ferro uma explosão fez com que uma haste de metal saltasse e lhe atravessasse a parte inferior da mandíbula indo até o alto de sua testa lesionando os lobos frontais Surpreendentemente talvez porque a velo cidade da haste tenha cauterizado o tecido cerebral Gage nunca perdeu a consciência e sobreviveu Fisicamente ex ceto pela perda de tecido cerebral ele ficou relativamente bem mas sua personalidade mudou Segundo consta esse trabalhador de maneiras suaves responsável e confiável se tornou nas palavras de seu médico inconstante irreve rente usando grosserias o que anteriormente não era seu costume manifestando falta de respeito por seus compa nheiros impaciente com restrições ou alertas quando em conflito com seus desejos por vezes perseverantemente obstinado e ainda caprichoso e vacilante conforme cita do em Solms Turnbull 2002 p 3 Em outras palavras ele se tornou hostil impulsivo e absolutamente despreo cupado com normas sociais e condutas apropriadas No jargão freudiano seu ego não conseguia mais inibir os im pulsos e instintos básicos e ele se tornou movido pelo id De acordo com Solms o tema subjacente nos pacientes com lesão no lobo frontal é sua incapacidade de se mante rem ligados à realidade ego e sua propensão a interpretar os eventos muito mais por meio dos desejos id ou seja eles criam a realidade que querem ou desejam Tudo isso de acordo com Solms apoia as ideias de Freud referentes ao princípio do prazer do id e ao princípio da realidade do ego Repressão inibição e mecanismos de defesa Outro componente central da teoria de Freud envolve os mecanismos de defesa em especial a repressão O incons ciente mantém ativamente dinamicamente as ideias os sentimentos e os impulsos desagradáveis ou ameaçadores fora da consciência A área dos mecanismos de defesa per manece sendo uma zona ativa de estudo para os pesquisa dores da personalidade Parte dessa pesquisa focou o uso da projeção e da identificação na infância e na adolescência Cramer 2007 enquanto outro trabalho investigou quem é mais provável de ser alvo de projeção Govorun Fuegen Payne 2006 Segundo a perspectiva neuropsicológica Solms 2004 relata casos que exploram as áreas do cérebro que podem estar implicadas no uso e na perseverança dos mecanismos de defesa De forma mais específica Solms 2004 descreve casos demonstrando a repressão de informações desagra dáveis quando ocorre lesão no hemisfério direito e se essa região lesionada for estimulada de modo artificial a repres são se vai isto é a consciência retorna Além disso esses pacientes muitas vezes racionalizam fatos indesejáveis fa bricando histórias Em outras palavras eles empregam me canismos de defesa freudianos de realização do desejo Por exemplo um paciente quando perguntado sobre a cicatriz em seu rosto confabulou uma história sobre ela ser resulta do de uma cirurgia dentária ou uma cirurgia cardíaca ambas as quais haviam acontecido anos antes Além do mais quan do o médico perguntou a esse paciente quem ele era ele ora respondeu que o médico era um colega ora um parceiro de bebedeiras ora um colega de time da universidade Todas essas interpretações eram mais desejo do que realidade Um estudo feito por Howard Shevrin e colaboradores Shevrin Ghannam Libet 2002 examinou as bases da repressão Eles observaram que as pessoas com persona lidade repressiva na verdade requerem estímulos mais prolongados para que um estímulo breve seja percebido conscientemente Pesquisas anteriores estabeleceram que as pessoas em geral variam de 200 a 800 ms no tempo de duração que um estímulo precisa estar presente antes de ser percebido conscientemente O estudo de Shevrin e co laboradores incluiu seis participantes clínicos entre 51 e 70 anos de idade todos os quais anos antes haviam se subme tido a tratamento cirúrgico para problemas motores prin cipalmente parkinsonismo Durante essas cirurgias foi realizado um procedimento em que eletrodos estimularam partes do córtex motor e foi registrada a duração de tempo necessária para que o estímulo fosse percebido consciente mente Os resultados desse procedimento mostraram que os seis participantes também variaram de 200 a 800ms no tempo que levaram para perceber conscientemente o estí mulo Para tanto quatro testes psicológicos foram admi nistrados nas casas dos pacientes e então pontuados se gundo o grau de tendências repressivas Esses testes foram o Teste de Rorschach o Teste de Lembranças Precoces o Teste de Vocabulário do WAIS um teste de QI e o HOQ HysteroidObsessoid Questionnaire Os três primeiros tes tes foram avaliados por três juízes cegos quanto ao grau de repressão e o quarto teste foi avaliado objetivamente em relação ao grau de repressão Os resultados mostraram que as pontuações combina das dos três juízes estavam associadas de forma significa tiva e positiva ao tempo que levou para que um estímulo fosse percebido conscientemente Além do mais o Ques tionário Histeroideobsessoide pontuado de modo objetivo confirmou o resultado Em outras palavras quanto mais estilo repressivo as pessoas tiverem mais tempo levarão para perceber conscientemente um estímulo Nem a idade nem o QI estão relacionados ao tempo que leva para que o estímulo seja percebido Como os autores reconhecem esse é apenas o passo inicial na demonstração de como a repressão pode operar para manter conteúdos fora da cons ciência porém esse é o primeiro estudo a relatar as bases neurofisiológicas da repressão N de RT Teste não validado no Brasil Feist02indd 38 Feist02indd 38 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 39 Pesquisa sobre os sonhos Na década de 1950 quando o fenômeno do sono com mo vimento rápido dos olhos REM foi inicialmente descober to e associado de modo substancial ao sonho muitos cien tistas começaram a desconsiderar a teoria dos sonhos de Freud a qual estava baseada na ideia de que eles têm sig nificado e são tentativas de realizar desejos inconscientes Além do mais a pesquisa REM demonstrou que somente regiões do tronco cerebral e não regiões corticais superio res estavam envolvidas nos estados de REM Se essas es truturas corticais não se encontravam envolvidas no sono REM e ainda elas estavam onde ocorria o pensamento de nível superior então os sonhos consistem em simplesmen te atividade mental aleatória e não poderiam ter significa do inerente Segundo a perspectiva da chamada teoria de ativaçãosíntese o significado é o que a mente acordada dá a essas atividades cerebrais mais ou menos aleatórias mas o significado não é inerente ao sonho A principal área de pesquisa de Solms são os sonhos e com base nas investigações atuais sobre os sonhos in cluindo a dele mesmo ele contesta cada um dos pressupos tos da teoria dos sonhos de ativaçãosíntese Solms 2000 2004 O que é mais importante Solms argumentou que sonhar e REM não são uma única coisa Primeiro cerca de 5 a 30 dos pacientes despertados durante o sono REM não relataram sonhos e aproximadamente 5 a 10 dos pa cientes não REM que foram acordados referiram sonhar Portanto não existe uma correspondência 11 entre REM e sonho Segundo as lesões decorrentes de danos ou ci rurgia no tronco cerebral não eliminam completamente o sonho enquanto lesões nas regiões do prosencéfalo nos lobos frontais e na junção parietaltemporaloccipital eli minam o sono e ainda preservam o sono REM Além disso os sonhos parecem não ser aleatórios em conteúdo Daniel Wegner e colaboradores 2004 testaram um aspecto da teoria dos sonhos de Freud Conforme Freud escreveu na Interpretação dos sonhos os desejos suprimidos durante o dia se impõem nos sonhos 19001953 p 590 Wegner e colaboradores examinaram se isso era assim em um grupo de mais de 300 universitários Primeiramente os participantes eram instruídos logo antes de irem para a cama eles abriam as instruções apenas imediatamen te antes de irem dormir a pensar em duas pessoas uma das quais por quem eles haviam tido uma queda e uma de quem gostavam mas não tinham uma queda A seguir os participantes foram designados para uma das três condições supressão expressão e menção Na condição da supressão os estudantes foram instruídos a não pensar sobre a pessoaalvo tanto a pessoa por quem tinham a queda quanto a de quem gostavam durante 5 minutos na condição da expressão participantes diferen tes foram instruídos a pensar na pessoaalvo durante esse período de 5 minutos e na condição da menção outros pa cientes foram instruídos a pensar em qualquer coisa depois de observarem mencionarem as iniciais da pessoaalvo Além do mais durante o período de 5 minutos em que es tavam pensando ou não na pessoaalvo eles escreviam um relato de fluxo da consciência e faziam uma marca ao lado do relato a cada vez que pensavam na pessoaalvo Essa era uma verificação de validade para estabelecer se a técnica de manipulação da supressão funcionava Ela funcionava Quando acordavam na manhã seguinte os participantes relatavam se tinham sonhado e em caso positivo o quanto sonharam e o quanto sonharam com a pessoaalvo e com outras pessoas sonho autoclassificado Por fim eles es creviam uma descrição do sonho relato do sonho Os rela tos do fluxo da consciência e dos sonhos eram codificados por um avaliador cego para condições sobre frequência do aparecimento do alvo e do não alvo Os resultados mostraram que os estudantes sonha ram mais com os alvos suprimidos do que com os não suprimidos eles também sonharam mais com os alvos suprimidos do que com os não alvos suprimidos Em ou tras palavras os estudantes tinham mais probabilidade de sonhar com pessoas em quem eles passavam mais tem po pensando alvo mas especialmente aqueles alvos em quem eles tentaram de modo ativo não pensar supres são Os pensamentos suprimidos concluíram os autores têm probabilidade de se recuperar e aparecer nos so nhos Esse achado é coerente com a teoria de Freud e não coerente com a teoria da ativaçãosíntese de que o sono REM proporciona ativação aleatória da atividade cerebral que é desprovida de significado Nas palavras de Wegner e colaboradores 2004 embora ainda permaneça muito a ser aprendido sobre como são formados os sonhos o achado de que os pensamentos suprimidos se recuperam nos sonhos oferece uma ponte entre um insight inicial da psicanálise com as descobertas da neurociência cognitiva p 236 Contudo as tendências atuais em pesquisa neuropsica nalítica não confirmam e nem mesmo mencionam a teoria dos estágios psicossexuais de Freud especialmente seus ele mentos mais controversos dos conflitos edípicos ansiedade de castração e inveja do pênis Em vez disso a pesquisa neu ropsicanalítica focou aquelas partes da teoria de Freud que parecem estar empiricamente resistindo ao teste do tempo O descaso com a teoria dos estágios psicossexuais de Freud é de certa forma coerente com boa parte da teorização pós freudiana e neofreudiana que minimizou ou abandonou a teoria de Freud Portanto embora muitas das ideias prin cipais de Freud inconsciente busca do prazer repressão id ego sonhos estejam merecendo apoio científico nem todas estão e ainda outras precisam de modificação Uma área que recentemente recebeu atenção é o tra balho do censor dos sonhos Boag 2006 O censor dos sonhos de acordo com Freud 19171963 é o mecanismo que converte o conteúdo latente dos sonhos em conteúdo Feist02indd 39 Feist02indd 39 271014 1516 271014 1516 40 FEIST FEIST ROBERTS manifesto mais aceitável e menos assustador Boag 2006 propõe que se conceitualize o censor do sonho como um mecanismo que envolve repressão eou inibição Tal con ceitualização é útil se estivermos interessados em testar de modo empírico as noções de Freud referentes aos sonhos porque existe uma grande quantidade de pesquisa em neu rociência sobre a inibição Aron Poldrack 2005 Praams tra Seiss 2005 De forma mais específica Boag 2006 propõe que os gânglios basais e a amígdala podem ser as estruturas cerebrais principais responsáveis pelos sonhos incluindo a conversão do conteúdo latente em conteúdo manifesto Argumentos como o de Boag 2006 e de ou tros estudiosos no campo da neuropsicanálise tornam cada vez mais difícil descartar sem hesitação as ideias de Freud a partir de uma perspectiva científica na medida em que se acumulam descobertas da psicologia cognitiva e da neu rociência que apoiam os pressupostos básicos freudianos CRÍTICAS A FREUD Ao criticarmos Freud precisamos primeiro fazer duas per guntas 1 Freud entendia as mulheres o gênero e a sexua lidade 2 Freud era um cientista Freud entendia as mulheres o gênero e a sexualidade Uma crítica frequente a Freud é que ele não entendia as mulheres e que sua teoria da personalidade era fortemente orientada para os homens Existe uma boa parcela de ver dade nessa crítica e Freud reconhecia que lhe faltava uma compreensão completa da psique feminina Por que Freud não tinha um conhecimento mais apurado da psique feminina Uma resposta é que ele era produto de seu tempo e a sociedade era dominada pelos homens naquela época Na Áustria do século XIX as mu lheres eram cidadãs de segunda classe com poucos direi tos e privilégios Elas tinham poucas oportunidades para ingressar em uma profissão ou serem membros de uma organização profissional como a Sociedade Psicológica das Quartasfeiras Assim durante o primeiro quarto de século da psica nálise o movimento foi um clube só para homens Após a I Guerra Mundial as mulheres de forma gradual foram sendo atraídas para a psicanálise e algumas dessas mulhe res como Marie Bonaparte Ruth Mack Brunswick Hele ne Deutsch Melanie Klein Lou AndreasSalomé e Anna Freud conseguiram exercer certa influência sobre Freud No entanto nunca conseguiram convencêlo de que as se melhanças entre os gêneros superavam as diferenças O próprio Freud era um burguês vienense cujas atitu des sexuais foram moldadas durante uma época em que o esperado era que as mulheres cuidassem de seus maridos administrassem a casa atendessem filhos e ficassem de fora dos negócios ou da profissão do esposo A esposa de Freud Martha não era exceção a essa regra Gay 1988 Freud como filho mais velho e favorecido governava suas irmãs aconselhando sobre livros a serem lidos e en sinando sobre o mundo em geral Um incidente com um piano revela mais sobre a posição privilegiada de Freud dentro de sua família As irmãs de Freud gostavam de mú sica e tinham prazer em tocar piano Quando a música do piano incomodou Freud ele reclamou para os pais que não conseguia se concentrar nos livros Os pais imediatamente removeram o piano da casa deixando Freud com o enten dimento de que os desejos das cinco moças não se iguala vam às preferências dele Assim como muitos homens de seu tempo Freud con siderava as mulheres o sexo frágil adequado para cuidar dos afazeres domésticos e dos filhos mas não igual aos homens em assuntos científicos e eruditos Suas cartas de amor à futura esposa Martha Bernays são cheias de re ferências a ela como minha garotinha minha pequena mulher ou minha princesa Freud 1960 Freud sem dúvida teria se surpreendido em saber que 130 anos de pois esses termos carinhosos são vistos por muitos como depreciativos para as mulheres Freud continuamente se esforçava para tentar entender as mulheres e sua visão sobre a feminilidade se modificou diversas vezes durante sua vida Quando jovem estudan te ele exclamava para um amigo Como são sábios nossos educadores que importunam tão pouco o belo sexo com co nhecimento científico citado em Gay 1988 p 522 Durante os anos iniciais de sua carreira Freud via o crescimento psicossexual masculino e feminino como ima gens em espelho entre si com linhas diferentes mas parale las de desenvolvimento Contudo posteriormente propôs que as meninas são meninos fracassados e que as mulheres adultas são comparáveis a homens castrados Freud a prín cipio propôs essas ideias de modo provisório mas com o passar do tempo ele inflexivelmente as defendeu e se recu sou a comprometer sua visão Quando as pessoas critica vam sua noção de feminilidade Freud respondia adotando uma postura cada vez mais rígida Na década de 1920 ele insistia que as diferenças psicológicas entre homens e mu lheres decorriam de distinções anatômicas e não podiam ser explicadas por experiências de socialização diferentes Freud 19241961 Entretanto ele sempre reconheceu que não compreendia as mulheres tanto quanto os ho mens Ele as chamava de continente obscuro da psicologia Freud 19261959b p 212 Nessa declaração final sobre o assunto Freud 19331964 sugeriu que se você quiser sa ber mais a respeito da feminilidade questionese a partir de suas próprias experiências de vida ou então voltese para os poetas p 135 A profundidade e natureza inconscien te do seu sexismo é revelada nessa declaração Você se refere é claro não a qualquer pessoa mas a um homem Considerando que Freud baseava quase toda a sua teoriza Feist02indd 40 Feist02indd 40 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 41 ção em estudos de caso de mulheres é surpreendente que ele nunca tenha pensado em perguntar a elas diretamente sobre suas experiências Ainda que alguns dos colaboradores próximos de Freud tenham habitado o continente obscuro da condição feminina seus amigos mais íntimos eram homens Além disso mulheres como Marie Bonaparte Lou Andreas Salomé e Minna Bernays sua cunhada as quais exerce ram alguma influência sobre Freud não tinham o mesmo padrão das demais Ernest Jones 1955 se referiu a elas como mulheres intelectuais com uma característica mas culina p 421 Essas mulheres se distanciavam muito da mãe e da esposa de Freud ambas as quais eram autênticas mães e esposas vienenses cuja preocupação primária era o marido e os filhos As colegas e discípulas de Freud eram escolhidas por sua inteligência força emocional e lealdade as mesmas qualidades que Freud considerava atrativas nos homens Porém nenhuma dessas mulheres conseguiu substituir um amigo íntimo do sexo masculino Em agos to de 1901 Freud 1985 escreveu a seu amigo Wilhelm Fliess Na minha vida como você sabe a mulher nunca substituiu o camarada o amigo p 447 Por que Freud foi incapaz de entender as mulheres Considerando sua criação durante a metade do século XIX a aceitação parental de sua dominação sobre as irmãs uma tendência a exagerar as diferenças entre mulheres e ho mens e a crença de que as mulheres habitavam o continen te obscuro da humanidade parece improvável que Freud possuísse as experiências necessárias para entender as mu lheres Próximo ao final de sua vida ele ainda questionava O que quer uma mulher E Jones p 421 A própria pergunta revela o preconceito de gênero porque ela presu me que todas as mulheres desejam as mesmas coisas e que suas vontades são diferentes das dos homens As teóricas feministas como Judith Butler 1995 cri ticaram a normatividade depois que o complexo de Édipo é resolvido os meninos se tornam homens masculinos e as meninas se tornam mulheres femininas e o heteros sexismo da teorização de Freud Em dois dos trabalhos de Freud Luto e melancolia 1917 e O ego e o id 1923 ele dis cutiu que parte do processo de formação do caráter o ego é primeiramente o luto e depois a substituição dos objetos de amor perdidos por outros objetos Ou seja o menino precisa fazer o luto pela perda de sua mãe como objeto de amor e substituílo pelo amor erótico por uma mulher Inversamente a menina precisa fazer o luto pela perda de seu pai e por fim substituir esse amor por um parceiro romântico do sexo masculino Em seu ensaio Melancolia de gênero identificação recu sada 1995 Butler toma as ideias originais de Freud e as inverte fazendo a pergunta O que o ego faz com o vínculo perdido com o mesmo sexo Obviamente quando crianças pequenas também formamos fortes vínculos com nosso genitor do mesmo sexo Ela argumenta que no entanto o superego não permite facilmente que o ego forme vínculos compensatórios para substituir os objetos perdidos do mes mo sexo Por que não A ideia de Freud é que esses objetos perdidos são investidos com libido A sociedade desaprova o vínculo libidinal com o mesmo sexo e portanto o ego é incapaz de ou se esforça em produzir substitutos apropria dos e satisfatórios para os objetos perdidos do mesmo sexo que poderiam ajudar o id a se sentir melhor Nesse caso o id fica aprisionado na melancolia O id nunca consegue resolver completamente o luto Se na teoria de gênero normativaheterossexual de Freud meninas e meninos precisam reprimir seu desejo pelo genitor do sexo oposto na configuração de Butler a ação psíquica é ainda mais árdua As crianças precisam re pudiar os sentimentos de amor pelo mesmo sexo De fato argumenta ela as proibições culturais contra a homosse xualidade operam como um fundamento para o gênero e a heterossexualidade Isso é especialmente verdadeiro para meninos e homens A identidade de gênero heterossexual masculina conforme ela argumenta é um tipo de me lancolia refletindo o repúdio absoluto de sua atração por outros homens e o assunto inacabado de elaborar o luto pela perda do genitor do mesmo sexo Dessa forma Butler propõe um envolvimento crítico fascinante da teoria freu diana para entender gênero e sexualidade Freud era um cientista Uma segunda área de crítica a Freud se concentra em torno de seu status como cientista Ainda que ele várias vezes insistisse que era sobretudo um cientista e que a psicanáli se era uma ciência a definição de Freud de ciência precisa de explicação Quando se referia à psicanálise como ciência estava tentando separála de uma filosofia ou de uma ideo logia Ele não estava alegando que ela fosse uma ciência natural A língua e a cultura alemãs de Freud fizeram uma distinção entre uma ciência natural Naturwissenschaften e uma ciência humana Geisteswissenschaften Infelizmen te as traduções de James Strachey na Edição standard fez Freud parecer um cientista natural No entanto outros estudiosos Federn 1988 Holder 1988 acreditavam que Freud claramente se via como um cientista humanista ou seja um humanista ou estudioso e não um cientista natu ral Para tornar os trabalhos de Freud mais precisos e mais humanistas um grupo de estudiosos da língua está atual mente produzindo uma tradução atualizada de Freud ver por exemplo Freud 19052002 Bruno Bettelheim 1982 1983 também foi crítico das traduções de Strachey Ele argumentou que a Edição standard usou conceitos médicos precisos e empregou er roneamente termos em grego e latim em vez das palavras alemãs comuns com frequência ambíguas que Freud ha via escolhido Tal precisão tendia a tornar Freud mais cien tífico e menos humanista do que ele parece para o leitor Feist02indd 41 Feist02indd 41 271014 1516 271014 1516 42 FEIST FEIST ROBERTS alemão Por exemplo Bettleheim cuja introdução a Freud foi em alemão acreditava que o médico vienense via a tera pia psicanalítica como uma jornada espiritual às profunde zas da alma traduzida por Strachey como mente e não uma análise mecanicista do aparelho psíquico Em consequência da visão alemã da ciência do século XIX de Freud muitos escritores contemporâneos conside ram os métodos freudianos de construção da teoria como insustentáveis e não científicos Breger 2000 Crews 1995 1996 Sulloway 1992 Webster 1995 As teorias de Freud não foram baseadas na investigação experimental mas em observações subjetivas que ele fez de si mesmo e de seus pacientes clínicos Esses pacientes não eram repre sentativos das pessoas em geral mas provinham prepon derantemente das classes média e alta Além do amplo interesse popular e profissional a questão permanece Freud era científico A descrição de ciência do próprio Freud 19151957a dá muito espaço para interpretações subjetivas e definições vagas Ouvimos com frequência a afirmação de que as ciências devem ser desenvolvidas com base em conceitos elemen tares claros e bemdefinidos Na verdade nenhuma ciên cia nem mesmo a mais exata começa com tais definições O verdadeiro começo da atividade científica consiste em vez disso na descrição dos fenômenos para depois então agrupálos classificálos e correlacionálos Mesmo no estágio da descrição não é possível evitar a aplicação de certas ideias abstratas ao material em questão ideias deri vadas de um lugar ou outro mas com certeza não a partir das novas observações unicamente p 117 Talvez o próprio Freud tenha nos deixado com a me lhor descrição de como ele desenvolveu suas teorias Em 1900 logo depois da publicação da Interpretação dos so nhos ele escreveu a seu amigo Fliess confessando que eu na verdade não sou absolutamente um homem da ciên cia não um observador não um experimentador não um pensador Sou por temperamento nada mais do que um conquistador um aventureiro com toda a curiosidade ousadia e tenacidade características de um homem desse tipo Freud 1985 p 398 Mesmo que Freud por vezes possa ter se visto como um conquistador ele também acreditava que estava construindo uma teoria científica O quanto essa teoria satisfaz os seis cri térios para uma teoria útil que identificamos no Capítulo 1 Apesar das dificuldades substanciais em testar os pres supostos de Freud os pesquisadores conduziram estudos que se relacionam direta ou indiretamente à teoria psicana lítica Assim classificamos a teoria de Freud como modera da em sua capacidade de gerar pesquisa Em segundo lugar uma teoria útil deve ser refutável Como boa parte das evidências de pesquisa compatíveis com as ideias de Freud também pode ser explicada por ou tros modelos a teoria freudiana é quase impossível de ser verificada Um bom exemplo dessa dificuldade é a histó ria da mulher que sonhou que sua sogra estava vindo para uma visita O conteúdo de seu sonho não podia ser uma realização de desejo porque a mulher odiava sua sogra e não desejava uma visita dela Freud escapou desse enigma explicando que a mulher teve o sonho meramente para implicar com ele e provar que nem todos os sonhos são realizações de desejos Esse tipo de raciocínio claramente dá à teoria freudiana uma classificação muito baixa em sua capacidade de gerar hipóteses verificáveis Um terceiro critério de uma teoria útil é a capacidade de organizar o conhecimento dentro de uma estrutura signi ficativa Infelizmente a estrutura da teoria da personali dade de Freud com sua ênfase no inconsciente é tão solta e flexível que dados aparentemente incoerentes podem co existir dentro de suas fronteiras Comparada a outras teo rias da personalidade a psicanálise arrisca mais respostas às perguntas referentes a por que as pessoas se compor tam da forma como se comportam Mas apenas algumas dessas respostas provêm de investigações científicas a maioria é simplesmente extensão lógica dos pressupos tos básicos de Freud Assim sendo julgamos a psicanálise como tendo apenas uma capacidade moderada de organi zar o conhecimento Em quarto lugar uma teoria útil deve servir como um guia para a solução de problemas práticos Como a teoria freu diana é incomumente abrangente muitos praticantes treina dos no âmbito psicanalítico se baseiam nela para encontrar soluções para problemas práticos do dia a dia Entretanto a psicanálise já não domina mais o campo da psicoterapia e a maioria dos terapeutas atuais usa outras orientações teóricas em sua prática Assim a psicanálise como guia para o profis sional tem uma classificação baixa O quinto critério de uma teoria útil trata da coerência interna incluindo termos definidos de modo operacio nal A psicanálise é uma teoria internamente coerente se lembrarmos que Freud escreveu por mais de 40 anos e alterou de modo gradual o significado de alguns conceitos durante esse tempo No entanto em qualquer ponto no tempo a teoria em geral possuía coerência interna embo ra alguns termos específicos fossem usados com menos rigor científico A psicanálise possui um conjunto de termos defini dos operacionalmente Aqui a teoria definitivamente fica aquém Termos como id ego superego consciente pré consciente inconsciente estágio oral estágio sádico anal estágio fálico complexo de Édipo nível latente dos sonhos e muitos outros não são definidos operacionalmente isto é eles não são expressos em termos de operações ou compor tamentos específicos Os pesquisadores precisam criar sua própria definição da maioria dos termos psicanalíticos Em sexto lugar a psicanálise não é uma teoria simples ou parcimoniosa mas considerando sua abrangência e a complexidade da personalidade humana ela não é desne cessariamente complexa Feist02indd 42 Feist02indd 42 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 43 CONCEITO DE HUMANIDADE No Capítulo 1 descrevemos várias dimensões para um con ceito de humanidade Onde se enquadra a teoria de Freud nessas várias dimensões A primeira delas é determinismo versus livrearbítrio Se gundo essa dimensão a visão de Freud da natureza humana recairia facilmente no determinismo Freud acreditava que a maior parte de nosso comportamento é determinada por eventos passados em vez de moldada por objetivos presentes Os humanos possuem pouco controle sobre suas ações pre sentes porque muitos de seus comportamentos estão enrai zados nos esforços inconscientes que se encontram subjacen tes à consciência presente Mesmo que as pessoas em geral acreditem que estão no controle das próprias vidas Freud insistia em que tais crenças eram ilusões A personalidade adulta é em grande parte determinada pelas experiências da infância especialmente o complexo de Édipo que deixaram seus resíduos na mente inconsciente Freud 19171955a sustentava que a humanidade ao longo de sua história sofreu três grandes golpes em seu ego narcisista O primeiro foi a redescoberta por Copérnico de que a Terra não é o centro do universo o segundo foi a descoberta de Darwin de que os humanos são muito semelhantes a outros animais o ter ceiro golpe e com maiores danos foi a descoberta de Freud de que não estamos no controle de nossas próprias ações ou como ele dizia o ego não é o mestre de sua própria casa p 143 Uma segunda questão relacionada é pessimismo versus otimismo De acordo com Freud ingressamos no mundo em um estado básico de conflito com as forças de vida e morte operando em nós de lados opostos O desejo inato de morte incessantemente nos impulsiona para a autodestruição ou a agressão enquanto o impulso sexual nos faz buscar de modo cego o prazer O ego experimenta um estado mais ou menos permanente de conflito tentando equilibrar as demandas contraditórias do id e do superego enquanto ao mesmo tempo faz concessões ao mundo externo Sob o fino verniz da civilização somos bestas selvagens com a tendência natu ral a explorar os outros para a satisfação sexual e destrutiva O comportamento antissocial se encontra logo abaixo da su perfície mesmo da pessoa mais pacífica acreditava Freud Pior ainda não estamos normalmente conscientes das ra zões para nosso comportamento nem estamos conscientes do ódio que sentimos por nossos amigos família e aman tes Por essas razões a teoria psicanalítica é essencialmente pessimista Uma terceira abordagem para referir a humanidade é a dimensão causalidade versus teleologia Freud acreditava que o comportamento presente é sobretudo moldado por causas passadas em vez de pelos objetivos para o futuro As pessoas não avançam em direção a um objetivo autodeter minado em vez disso elas estão de forma indefesa presas na luta entre Eros e Tanatos Esses dois impulsos poderosos forçam as pessoas a repetirem compulsivamente padrões primitivos de comportamento Quando adultas seu compor tamento é uma longa série de reações As pessoas tentam constantemente reduzir a tensão aliviar as ansiedades re primir experiências desagradáveis regressar a estágios do desenvolvimento anteriores mais seguros e repetir de modo compulsivo comportamentos que são familiares e seguros Portanto classificamos a teoria de Freud como muito alta em causalidade Na dimensão consciente versus inconsciente a teoria psi canalítica é óbvio tende fortemente na direção da motivação inconsciente Freud acreditava que tudo desde os lapsos de linguagem até as experiências religiosas é resultado de um desejo profundamente enraizado de satisfazer os impulsos sexuais ou agressivos Esses motivos nos tornam escravos do nosso inconsciente Ainda que tenhamos consciência de nos sas ações Freud acreditava que as motivações subjacentes a essas ações estavam profundamente incorporadas em nosso inconsciente sendo com frequência muito diferentes do que acreditamos que sejam Uma quinta dimensão são as influências sociais versus biológicas Como médico o treinamento de Freud o predispôs a ver a personalidade humana a partir de um ponto de vista biológico No entanto Freud 19131953 1985 frequente mente especulava acerca das consequências das unidades so ciais préhistóricas e sobre as consequências das experiências sociais precoces de um indivíduo Como Freud acreditava que muitas fantasias e ansiedades infantis estavam enraizadas na biologia nós o classificamos como baixo em influências sociais A sexta é a questão da singularidade versus semelhanças Nessa dimensão a teoria psicanalítica assume uma posição intermediária O passado evolutivo da humanidade dá origem a muitas semelhanças entre as pessoas No entanto as expe riências individuais em especial aquelas do início da infância moldam as pessoas de uma maneira única e explicam muitas das diferenças entre as personalidades Feist02indd 43 Feist02indd 43 271014 1516 271014 1516 44 FEIST FEIST ROBERTS Termoschave e conceitos Freud identificou três níveis de vida mental incons ciente préconsciente e consciente As experiências infantis precoces que criam altos ní veis de ansiedade são reprimidas no inconsciente de onde elas podem influenciar o comportamento as emoções e as atitudes durante anos Eventos que não estão associados à ansiedade mas são meramente esquecidos fazem parte do con teúdo do préconsciente As imagens conscientes são aquelas percebidas em qualquer momento determinado Freud reconheceu três instâncias da mente id ego e superego O id é inconsciente caótico fora do contato com a realidade e está a serviço do princípio do prazer O ego é o executivo da personalidade em contato com o mundo real e está a serviço do princípio da rea lidade O superego serve aos princípios morais e idealistas e começa a se formar depois que é resolvido o comple xo de Édipo Toda motivação pode ser reportada a impulsos se xuais e agressivos Os comportamentos na infância relacionados a sexo e agressividade costumam ser pu nidos o que leva a repressão ou ansiedade Para se proteger contra a ansiedade o ego dá início a vários mecanismos de defesa o mais básico deles é a repressão Freud descreveu três estágios principais do desenvol vimento período infantil período de latência e pe ríodo genital Porém dedicou mais atenção ao está gio infantil O período infantil é dividido em três fases oral anal e fálica a última das quais é acompanhada pelo com plexo de Édipo Durante o estágio edípico simples uma criança dese ja a união sexual com um dos genitores enquanto abriga hostilidade pelo outro Freud acreditava que os sonhos e os atos falhos eram formas disfarçadas de expressar impulsos incons cientes Feist02indd 44 Feist02indd 44 271014 1516 271014 1516 CAPÍTULO 3 Adler Psicologia Individual Panorama da psicologia individual Biografia de Alfred Adler Introdução à teoria adleriana Luta pelo sucesso ou pela superioridade O objetivo final A força do empenho como compensação A luta pela superioridade pessoal A luta pelo sucesso Percepções subjetivas Ficcionalismo Inferioridades físicas Unidade e autocoerência da personalidade Dialeto do órgão Consciente e inconsciente Interesse social Origens do interesse social Importância do interesse social Estilo de vida Força criativa Desenvolvimento anormal Descrição geral Fatores externos no desajustamento Deficiências físicas graves Estilo de vida mimado Estilo de vida negligenciado Tendências à salvaguarda Desculpas Agressividade Retraimento Protesto viril Origens do protesto viril Adler Freud e o protesto viril Aplicações da psicologia individual Constelação familiar Lembranças precoces Sonhos Psicoterapia Pesquisa relacionada Efeitos da ordem de nascimento Lembranças precoces e escolha da carreira Primeira infância e questões relacionadas à saúde Críticas a Adler Conceito de humanidade Termoschave e conceitos Adler Feist03indd 45 Feist03indd 45 271014 1516 271014 1516 46 FEIST FEIST ROBERTS E m 1937 o jovem Abraham Maslow estava jantando em um restaurante de Nova York com um colega um pouco mais velho O homem mais velho era ampla mente conhecido por sua associação anterior com Sigmund Freud e muitas pessoas incluindo Maslow o considera vam um discípulo de Freud Quando Maslow casualmente perguntou ao homem mais velho a respeito de ser seguidor de Freud o homem ficou muito brabo e de acordo com Maslow ele quase gritou que Isto era uma mentira e um embuste pelo qual ele cul pava Freud inteiramente a quem ele então se referiu como embusteiro dissimulado maquinador Ele disse que nunca fora aluno de Freud discípulo ou seguidor Ele deixou claro desde o início que não concordava com Freud e que tinha suas próprias opiniões Maslow 1962 p 125 Maslow que conhecia aquele homem mais velho como uma pessoa equilibrada e agradável ficou chocado com sua explosão O homem mais velho é claro era Alfred Adler que ba talhou durante toda a sua vida profissional para dissipar a noção de que em algum momento havia sido seguidor de Freud Sempre que repórteres e outras pessoas o inqui riam acerca de sua relação anterior com Freud Adler exibia o velho cartão postal desbotado com o convite para Adler se juntar a Freud e três outros médicos em uma reunião na casa do vienense na noite da quintafeira seguinte Freud encerrava o convite dizendo Com os cumprimentos ca lorosos de seu colega citado em Hoffman 1994 p 42 Essa observação amigável dava a Adler evidências tangíveis de que Freud o considerava como seu igual No entanto a associação cordial entre Adler e Freud chegou a um fim amargo com os dois homens lançando comentários cáusticos um em direção ao outro Por exem plo depois da I Guerra Mundial quando Freud elevou a agressividade a um impulso humano básico Adler que há muito tempo tinha abandonado o conceito comentou sar casticamente Enriqueci a psicanálise por meio do impulso agressivo Eu com prazer façolhes um presente dela ci tado em Bottome 1939 p 64 Após o rompimento entre os dois homens Freud acu sou Adler de ter delírios paranoides e de usar táticas terro ristas Ele disse a um de seus amigos que a revolta de Adler era a de um indivíduo anormal enlouquecido pela ambi ção citado em Gay 1988 p 223 PANORAMA DA PSICOLOGIA INDIVIDUAL Alfred Adler não era nem um terrorista nem uma pessoa enlouquecida pela ambição Na verdade sua psicologia individual apresenta uma visão otimista das pessoas en quanto se baseia fortemente na noção de interesse social isto é um sentimento de unidade com toda a humanida de Além do olhar mais otimista de Adler para as pessoas várias outras diferenças tornaram a relação entre Freud e Adler muito tênue Em primeiro lugar Freud reduziu toda motivação a sexo e agressividade enquanto Adler via as pessoas mo tivadas sobretudo por influências sociais e por sua luta pela superioridade ou sucesso em segundo lugar Freud assumia que as pessoas têm pouca ou nenhuma escolha na formação de sua personalidade enquanto Adler acreditava que elas são em grande parte responsáveis por quem são em terceiro lugar o pressuposto de Freud de que o compor tamento presente é causado por experiências passadas era diretamente oposto à noção de Adler de que o comporta mento presente é moldado pela visão de futuro da pessoa e em quarto lugar em contraste com Freud que colocava ênfase muito acentuada nos componentes inconscientes do comportamento Adler entendia que as pessoas psico logicamente saudáveis tendem a ser conscientes do que estão fazendo e de por que estão fazendo Conforme vimos Adler era um membro original do pequeno grupo de médicos que se encontrava na casa de Freud nas noites de quartafeira para discutir temas psi cológicos No entanto quando surgiram as diferenças teó ricas e pessoais entre Adler e Freud Adler abandonou o círculo de Freud e estabeleceu uma teoria oposta a qual se tornou conhecida como psicologia individual BIOGRAFIA DE ALFRED ADLER Alfred Adler nasceu em 7 de fevereiro de 1870 em Rudolfsheim um povoado próximo a Viena Sua mãe Pau line era uma dona de casa trabalhadora que se mantinha ocupada com seus sete filhos Seu pai Leopold era um co merciante de grãos judeu de classe média proveniente da Hungria Quando menino Adler era fraco e doente e aos 5 anos de idade quase morreu de pneumonia Ele tinha ido patinar no gelo com um menino mais velho que abando nou o jovem Adler Com frio e tremendo Adler conseguiu encontrar o caminho de casa ao chegar imediatamente caiu no sono no sofá da sala Quando Adler aos poucos recobrava a consciência ouviu um médico dizer a seus pais Não tenham mais trabalho O menino está perdido Hoffman 1994 p 8 Essa experiência bem como a morte de um irmão mais moço motivou Adler a se tornar médico A saúde fraca de Adler estava em grande contraste com a excelente saúde de seu irmão mais velho Sigmund Várias das lembranças mais precoces de Adler referiamse à infeliz competição entre a boa saúde de seu irmão e sua própria doença Sigmund Adler o rival da infância a quem Adler tentava superar continuou sendo um oponente digno e anos depois tornouse muito bemsucedido nos negócios e até mesmo ajudou Adler financeiramente Segundo quase todos os padrões no entanto Alfred Adler era muito mais Feist03indd 46 Feist03indd 46 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 47 famoso do que Sigmund Adler Entretanto como muitos dos segundos filhos Alfred manteve a rivalidade com seu irmão mais velho até a meiaidade Uma vez ele disse a um de seus biógrafos Phyllis Bottome 1939 p 18 Meu ir mão mais velho é um homem diligente ele sempre esteve à minha frente e ainda está à minha frente As vidas de Freud e Adler possuem vários paralelos in teressantes Ainda que ambos tenham como origem pais judeus vienenses de classe média ou média baixa nenhum dos dois era um religioso devoto Entretanto Freud era muito mais consciente de sua condição de judeu do que Adler e com frequência acreditava que era perseguido de vido a sua origem judaica Todavia Adler nunca alegou ter sido maltratado e em 1904 enquanto ainda era membro do círculo restrito de Freud converteuse ao protestantis mo Apesar dessa conversão ele não mantinha convicções religiosas profundas e na verdade um de seus biógrafos Rattner 1983 o considerava agnóstico Assim como Freud Adler teve um irmão mais moço que morreu na infância Essa experiência precoce afetou profundamente os dois homens porém de formas muito diferentes Freud segundo seu próprio relato havia dese jado inconscientemente a morte de seu rival e quando o bebê Julius morreu de fato Freud ficou cheio de culpa e au torreprovação condições que continuaram na idade adulta Em contraste Adler pareceu ter uma razão mais for te para ficar traumatizado pela morte de seu irmão mais moço Rudolf Aos 4 anos Adler acordou uma manhã e encontrou Rudolf morto na cama ao lado da sua Em vez de ficar aterrorizado ou se sentindo culpado Adler tomou essa experiência junto a sua quase morte por pneumo nia como um desafio para superar a morte Assim aos 5 anos decidiu que seu objetivo na vida seria vencer a mor te Como a medicina oferecia uma oportunidade de evitar a morte Adler desde uma idade muito precoce optou por tornarse médico Hoffman 1994 Mesmo que Freud fosse rodeado por uma grande família incluindo sete irmãos e irmãs mais moços dois meioirmãos adultos e um sobrinho e uma sobrinha qua se de sua idade ele se sentia mais ligado emocionalmente a seus pais sobretudo sua mãe Em contraste Adler era mais interessado nas relações sociais e seus irmãos e pares desempenharam um papel essencial em seu desen volvimento durante a infância As diferenças de persona lidade entre Freud e Adler continuaram durante a idade adulta com Freud preferindo relações um a um intensas e Adler se sentindo mais confortável em situações de grupo Essas diferenças de personalidade também se re fletiram em suas organizações profissionais A Sociedade Psicanalítica de Viena e a Associação Psicanalítica Inter nacional de Freud eram altamente estruturadas em forma de pirâmide com um círculo restrito de seis dos amigos confiáveis de Freud formando um tipo de oligarquia no topo Adler em comparação era mais democrático mui tas vezes se reunindo com colegas e amigos nos cafés de Viena onde tocavam piano e cantavam canções A Socie dade de Psicologia Individual de Adler de fato possuía uma organização frouxa e Adler tinha uma atitude relaxa da em relação a detalhes de negócios que não reforçassem seu movimento Ellenberger 1970 Adler frequentou a escola elementar sem dificuldades nem distinção No entanto quando ingressou no ginásio em preparação para a escola médica ele se saiu tão mal que seu pai ameaçou retirálo da escola e colocálo como apren diz de sapateiro Grey 1998 Como estudante de medici na mais uma vez ele concluiu o trabalho sem honras espe ciais provavelmente porque seu interesse nos cuidados ao paciente entrava em conflito com o interesse dos professo res em diagnósticos precisos Hoffman 1994 Quando se formou em medicina no final de 1895 ele havia realizado seu objetivo de infância de se tornar um médico Como seu pai nascera na Hungria Adler era cidadão húngaro e assim foi obrigado a prestar serviço militar no exército húngaro Ele cumpriu essa obrigação logo depois de receber seu diploma médico e em seguida voltou a Vie na para estudos de pósgraduação Adler se tornou cida dão austríaco em 1911 Começou a prática privada como especialista em olhos porém abandonou essa especializa ção e se voltou para a psiquiatria e a medicina geral Os estudiosos discordam sobre o primeiro encontro entre Adler e Freud Bottome 1939 Ellenberger 1970 Fiebert 1997 Handlbauer 1998 mas todos concordam que no fim do outono de 1902 Freud convidou Adler e três outros médicos vienenses a sua casa para participarem de uma reunião para discutir psicologia e neuropatologia Esse grupo era conhecido como Sociedade Psicológica das Quartasfeiras até 1908 quando se transformou na Socie dade Psicanalítica de Viena Apesar de Freud liderar esses grupos de discussão Adler nunca considerou Freud seu mentor e acreditava um pouco ingenuamente que ele e os outros podiam fazer contribuições à psicanálise contri buições que seriam aceitáveis para Freud Mesmo Adler sendo um dos membros originais do círculo restrito de Freud os dois homens nunca tiveram uma relação pessoal calorosa Nenhum dos dois reconheceu facilmente as dife renças teóricas mesmo depois da publicação de Adler de 1907 do Estudo sobre a inferioridade orgânica e sua compen sação em que assumia que as deficiências físicas não o sexo formavam as bases para a motivação humana Durante os anos seguintes Adler foi se convencendo de modo mais intenso de que a psicanálise deveria ser muito mais ampla do que a visão de Freud da sexualidade infantil Em 1911 Adler que era presidente da Sociedade Psicana lítica de Viena apresentou sua visão perante o grupo ex pressando oposição às fortes inclinações sexuais da psica nálise e insistindo que o impulso pela superioridade era um motivo mais básico do que a sexualidade Tanto ele quanto Freud finalmente reconheceram que suas diferenças eram Feist03indd 47 Feist03indd 47 271014 1516 271014 1516 48 FEIST FEIST ROBERTS irreconciliáveis e em outubro de 1911 Adler renunciou à presidência e à filiação à Sociedade Psicanalítica Com ou tros nove membros do círculo freudiano ele formou a So ciedade para o Estudo Psicanalítico Livre um nome que irri tou Freud com a implicação de que a psicanálise freudiana se opunha a uma livre expressão de ideias Adler contudo logo mudou o nome de sua organização para Sociedade de Psicologia Individual uma determinação que claramente indicava que ele havia abandonado a psicanálise Assim como Freud Adler foi afetado por eventos re lativos à I Guerra Mundial Os dois homens tiveram difi culdades financeiras e ambos relutantemente tomaram dinheiro emprestado com parentes Freud de seu cunha do Edward Bernays e Adler de seu irmão Sigmund Cada um também fez importantes modificações em sua teoria Freud elevou a agressividade ao nível do sexo depois de en carar os horrores da guerra e Adler sugeriu que o interesse social e a compaixão podiam ser os pilares da motivação humana Os anos da guerra também trouxeram uma gran de decepção para Adler quando sua candidatura para um cargo como palestrante não remunerado na Universidade de Viena foi recusado Adler desejava essa posição para ob ter outro fórum para disseminar sua visão mas também almejava desesperadamente avançar para a mesma posição de prestígio que Freud manteve por mais de 12 anos Adler nunca alcançou essa posição porém depois da guerra ele conseguiu promover suas teorias por meio de palestras fundando clínicas de orientação infantil e treinamento de professores Durante os últimos anos de sua vida Adler visitou com frequência os Estados Unidos onde ensinava psico logia individual na Universidade de Columbia e na Nova Escola para Pesquisa Social Em 1932 ele era residente per manente nos Estados Unidos e tinha a posição de professor visitante de Psicologia Médica na Faculdade de Medicina de Long Island agora Downstate Medical School Univer sidade Estadual de Nova York Ao contrário de Freud que não gostava dos americanos e de seu conhecimento super ficial da psicanálise Adler se impressionava com os ame ricanos e admirava seu otimismo e sua mente aberta Sua popularidade como palestrante nos Estados Unidos duran te a metade da década de 1930 tinha poucos rivais e ele direcionou seus últimos livros para um mercado americano receptivo Hoffman 1994 Adler se casou com uma mulher russa bastante inde pendente Raissa Epstein em dezembro de 1897 Raissa era uma feminista de vanguarda e muito mais política de que seu marido Em anos posteriores enquanto Adler mo rava em Nova York ela permaneceu principalmente em Viena e trabalhou para promover as visões marxistasle ninistas que eram muito diferentes da noção de Adler de liberdade e responsabilidade individual Depois de vários anos de pedidos de seu marido Raissa finalmente foi para Nova York alguns meses antes da morte de Adler Ironi camente Raissa que não compartilhava do amor de seu marido pela América continuou a viver em Nova York até sua morte quase um quarto de século depois da morte de Adler Hoffman 1994 Raissa e Adler tiveram quatro filhos Alexandra e Kurt que se tornaram psiquiatras e continuaram o trabalho do pai Valentine Vali que morreu como prisioneira política da União Soviética em torno de 1942 e Cornelia Nelly que almejava ser atriz O passatempo favorito de Adler era a música mas ele também mantinha interesse ativo por arte e literatu ra Em seu trabalho com frequência tomava emprestados exemplos dos contos de fadas da Bíblia de Shakespeare de Goethe e de inúmeras outras obras literárias Ele identi ficavase intimamente com a pessoa comum e sua atitude e aparência eram coerentes com essa identificação Seus pacientes incluíam uma alta porcentagem de pessoas das classes baixa e média uma raridade entre os psiquiatras de sua época Suas qualidades pessoais envolviam uma atitu de otimista em relação à condição humana uma intensa competitividade associada a uma simpatia amistosa e a uma forte crença na igualdade básica entre os gêneros que combinavam com uma disposição para defender energica mente os direitos das mulheres Desde a metade da infância até seu 67 o aniversário Adler desfrutava de uma boa saúde Então nos primeiros meses de 1937 enquanto estava preocupado com o para deiro de sua filha Vali que havia desaparecido em algum lugar de Moscou Adler sentiu dores no peito durante um circuito de palestras na Holanda Ignorando os conselhos médicos de repouso ele prosseguiu indo até Aberdeen Escócia onde em 28 de maio de 1937 morreu de um ata que cardíaco Freud que era 14 anos mais velho que Adler tinha sobrevivido a seu adversário de longa data Ao saber da morte de Adler Freud conforme citado em E Jones 1957 sarcasticamente comentou Para um menino judeu saído de um subúrbio vienense uma morte em Aberdeen é uma carreira inédita em si e uma prova do quanto ele tinha ido longe O mundo de fato recompensouo ricamente por seu serviço de ter contrariado a psicanálise p 208 INTRODUÇÃO À TEORIA ADLERIANA Ainda que Alfred Adler tenha causado um efeito profundo em teóricos posteriores como Harry Satck Sullivan Karen Horney Julian Rotter Abraham H Maslow Carl Rogers Albert Ellis Rollo May e outros Mosak Maniacci 1999 seu nome é menos conhecido do que o de Freud ou de Carl Jung Pelo menos três motivos explicam isso Primeiro Adler não estabeleceu uma organização dirigida firme mente para perpetuar suas teorias Segundo ele não era um escritor particularmente notável e a maioria dos seus livros foi compilada por uma série de editores que usaram Feist03indd 48 Feist03indd 48 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 49 palestras dispersas de Adler Terceiro muitas de suas vi sões foram incorporadas ao trabalho de teóricos posterio res como Maslow Rogers e Ellis e assim não foram mais associadas ao nome de Adler Ainda que seus escritos revelassem uma grande per cepção da profundidade e da complexidade da personali dade humana Adler desenvolveu uma teoria basicamen te simples e parcimoniosa Para Adler as pessoas nascem com corpos fracos e inferiores uma condição que conduz a sentimentos de inferioridade e a uma consequente depen dência de outras pessoas Assim um sentimento de uni dade com os outros interesse social é inerente às pessoas e o padrão final para a saúde psicológica De forma mais específica os princípios fundamentais da teoria adleriana podem ser especificados em forma de tópicos O que apre sentamos a seguir é adaptado de uma lista que representa o balanço final da psicologia individual Adler 1964 1 A única força dinâmica por trás do comportamen to das pessoas é a luta pelo sucesso ou pela superio ridade 2 As percepções subjetivas das pessoas moldam seu comportamento e sua personalidade 3 A personalidade é unificada e autocoerente 4 O valor de toda a atividade humana deve ser visto segundo o ponto de vista do interesse social 5 A estrutura da personalidade autocoerente se de senvolve em direção ao estilo de vida de uma pessoa 6 O estilo de vida é moldado pela força criativa das pessoas LUTA PELO SUCESSO OU PELA SUPERIORIDADE O primeiro fundamento da teoria adleriana é A única força dinâmica por trás do comportamento das pessoas é a luta pelo sucesso ou pela superioridade Adler reduziu toda motivação a um único impulso a luta pelo sucesso ou pela superioridade A própria infância de Adler foi marcada por deficiências físicas e fortes sen timentos de competitividade com seu irmão mais velho A psicologia individual sustenta que todos iniciam a vida com deficiências físicas que ativam sentimentos de inferio ridade sentimentos que motivam uma pessoa a lutar pela superioridade ou pelo sucesso Indivíduos que não são psi cologicamente saudáveis lutam pela superioridade pessoal enquanto aqueles psicologicamente saudáveis procuram o sucesso para toda a humanidade No início de sua carreira Adler acreditava que a agres sividade era a força dinâmica por trás de toda motivação mas logo ficou insatisfeito com essa premissa Depois de rejeitar a agressividade como uma força motivacional úni ca Adler usou a expressão protesto viril que implicava o desejo de poder ou dominação dos outros No entanto ele logo abandonou o protesto viril como um impulso univer sal mas continuou a dar a ele um papel limitado em sua teoria do desenvolvimento anormal Em seguida Adler chamou a força dinâmica única de luta pela superioridade Em sua teoria final no entanto limi tou a luta pela superioridade àquelas pessoas que buscam superioridade pessoal sobre os outros e introduziu o termo luta pelo sucesso para descrever as ações de indivíduos que são motivados pelo interesse social altamente desenvolvi do Adler 1956 Independentemente da motivação para a luta cada indivíduo é guiado por um objetivo final O objetivo final De acordo com Adler 1956 as pessoas lutam em direção a um objetivo final de superioridade pessoal ou de suces so para toda a humanidade Em cada um dos casos o ob jetivo final é fictício e não possui existência objetiva No entanto o objetivo final tem grande significância porque ele unifica a personalidade e torna todo comportamento compreensível Cada pessoa tem o poder de criar um objetivo de ficção personalizado construído a partir de materiais brutos for necidos pela hereditariedade e pelo ambiente Entretanto o objetivo não é determinado pela genética nem pelo am biente Em vez disso ele é o produto da força criativa ou seja a capacidade da pessoa de moldar livremente seu com portamento e construir a própria personalidade Quando as crianças chegam aos 4 ou 5 anos de idade sua força criativa se desenvolveu até o ponto em que elas podem es tabelecer seu objetivo final Mesmo os bebês possuem um impulso inato em direção ao crescimento à completude ou ao sucesso Como os bebês são pequenos incompletos e fracos eles se sentem inferiores e impotentes Para com pensar essa deficiência eles estabelecem um objetivo de ficção de serem grandes completos e fortes Assim o obje tivo final de uma pessoa reduz a dor dos sentimentos de in ferioridade e a direciona para a superioridade ou o sucesso Se as crianças se sentem negligenciadas ou mimadas seu objetivo permanece em grande parte inconsciente Adler 1964 levantou a hipótese de que as crianças irão compensar os sentimentos de inferioridade de formas in diretas que não têm relação aparente com seu objetivo de ficção O objetivo de superioridade para uma menina mi mada por exemplo pode ser tornar permanente sua rela ção parasitária com a mãe Quando adulta ela pode parecer dependente e autodepreciativa e tal comportamento pode mostrarse incoerente com um objetivo de superioridade Entretanto ele é bastante coerente com seu objetivo in consciente e malcompreendido de ser um parasita estabe lecido aos 4 ou 5 anos de idade uma época em que sua mãe parecia grande e poderosa e o vínculo com ela se tornou um meio natural de alcançar a superioridade Feist03indd 49 Feist03indd 49 271014 1516 271014 1516 50 FEIST FEIST ROBERTS De modo inverso se as crianças experimentam amor e segurança elas estabelecem um objetivo que é em grande parte consciente e compreendido de modo claro As crian ças seguras psicologicamente lutam pela superioridade de finida em termos de sucesso e interesse social Ainda que seu objetivo nunca se torne completamente consciente esses indivíduos saudáveis o compreendem e o perseguem com um alto nível de consciência Na luta por seu objetivo final as pessoas criam e per seguem muitas metas preliminares Esses subobjetivos costumam ser conscientes mas a conexão entre eles e o objetivo final em geral permanece desconhecida Além do mais a relação entre os objetivos preliminares raramente é percebida Do ponto de vista do objetivo final no entan to eles se combinam em um padrão autocoerente Adler 1956 usou a analogia do dramaturgo que monta as ca racterísticas e as subtramas da peça de acordo com o obje tivo final do drama Quando a cena final é conhecida todo diálogo e cada subtrama adquirem novo significado Quan do o objetivo final de um indivíduo é conhecido todas as ações fazem sentido e cada objetivo secundário assume um novo significado A força do empenho como compensação As pessoas lutam pela superioridade ou pelo sucesso como um meio de compensação pelos sentimentos de inferio ridade ou fraqueza Adler 1930 acreditava que todos os humanos são abençoados no nascimento com corpos pe quenos frágeis e inferiores Essas deficiências físicas acen dem sentimentos de inferioridade apenas porque as pes soas por sua natureza possuem uma tendência inata para a completude e a totalidade As pessoas são continuamente impulsionadas pela necessidade de superar os sentimentos de inferioridade e atraídas pelo desejo de completude As situações negativas e positivas existem de forma simultâ nea e não podem ser separadas porque são duas dimen sões de uma única força A própria força do empenho é inata mas sua nature za e direção se devem aos sentimentos de inferioridade e ao objetivo de superioridade Sem o movimento inato em direção à perfeição as crianças nunca se sentiriam inferio res mas sem os sentimentos de inferioridade elas jamais estabeleceriam um objetivo de superioridade ou sucesso O objetivo então é estabelecido como uma compensação para o sentimento de déficit mas o sentimento de déficit não existiria a menos que a criança primeiro possuísse uma tendência básica para a completude Adler 1956 Ainda que a luta pelo sucesso seja inata ela precisa ser desenvolvida No nascimento ela existe como potencia lidade não realidade cada pessoa precisa aproveitar esse potencial da sua própria maneira Em torno dos 4 ou 5 anos as crianças começam tal processo estabelecendo uma direção para a força do empenho e definindo um objetivo de superioridade pessoal ou de sucesso social O objetivo fornece diretrizes para a motivação moldando o desenvol vimento psicológico e dando a ele um propósito Como uma criação do indivíduo o objetivo pode as sumir qualquer forma Ele não é necessariamente uma imagem em espelho da deficiência muito embora seja uma compensação dela Por exemplo uma pessoa com um corpo frágil não será necessariamente um atleta robusto mas pode se tornar um artista um ator ou um escritor O sucesso é um conceito individualizado e todas as pessoas formulam sua própria definição dele Mesmo que a força criativa seja influenciada pelas forças da hereditariedade e pelo ambiente ela é em última análise responsável pela personalidade das pessoas A hereditariedade estabelece a potencialidade enquanto o ambiente contribui para o de senvolvimento do interesse social e a coragem As forças da natureza e a educação nunca podem privar uma pessoa de poder estabelecer um objetivo único ou escolher um estilo próprio de atingir o objetivo Adler 1956 Em sua teoria final Adler identificou dois caminhos principais de luta O primeiro é a tentativa socialmente não produtiva de obter superioridade pessoal a segunda envolve interesse social e visa ao sucesso ou à perfeição para todos A luta pela superioridade pessoal Algumas pessoas lutam pela superioridade com pouca ou nenhuma preocupação pelos outros seus objetivos são pessoais e seus esforços são motivados em grande parte pelos sentimentos exagerados de inferioridade pessoal ou pela presença de um complexo de inferioridade Assas sinos ladrões e vigaristas são exemplos óbvios de pessoas que lutam pelo ganho pessoal Algumas pessoas criam dis farces inteligentes para sua luta pessoal e podem de for ma consciente ou inconsciente esconder sua postura au tocentrada por trás do manto da preocupação social Um professor universitário por exemplo pode parecer ter um grande interesse por seus alunos porque ele estabelece uma relação pessoal com muitos deles Ao exibir manifestamen te muita simpatia e preocupação ele encoraja os alunos vulneráveis a falarem com ele acerca de seus problemas pessoais Esse professor possui uma inteligência particular que lhe permite acreditar que ele é o docente mais acessí vel e dedicado da faculdade Para um observador casual ele pode parecer motivado para o interesse social porém suas ações são em grande parte interesseiras e motivadas pela supercompensação de seus sentimentos exagerados de su perioridade pessoal A luta pelo sucesso Em contraste com as pessoas que lutam pelo ganho pes soal há aqueles indivíduos psicologicamente saudáveis que são motivados pelo interesse social e pelo sucesso de toda Feist03indd 50 Feist03indd 50 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 51 a humanidade Esses indivíduos saudáveis estão preocupa dos com objetivos que vão além de si mesmos são capazes de ajudar os outros sem exigir ou esperar uma recompensa pessoal e têm a capacidade de ver os outros não como opo nentes mas como pessoas com quem podem cooperar para o benefício social O próprio sucesso não é obtido à custa dos outros mas é uma tendência natural a se mover em direção à completude e à perfeição As pessoas que lutam pelo sucesso em vez da supe rioridade pessoal mantêm uma noção de si é claro mas elas veem os problemas diários do ponto de vista do desen volvimento da sociedade em detrimento de uma visão de vantagem estritamente pessoal Sua noção de valor pessoal está vinculada a suas contribuições à sociedade humana O progresso social é mais importante para elas do que o crédito pessoal Adler 1956 PERCEPÇÕES SUBJETIVAS O segundo princípio fundamental de Adler é As percepções subjetivas das pessoas moldam seu comportamento e sua per sonalidade As pessoas lutam pela superioridade ou pelo sucesso para compensar sentimentos de inferioridade porém a maneira como elas lutam não é moldada pela realidade mas por suas percepções subjetivas da realidade isto é por suas ficções ou expectativas do futuro Ficcionalismo Nossa ficção mais importante é o objetivo de superioridade ou sucesso uma meta que criamos no início da vida e po demos não entender claramente Esse objetivo final subje tivo fictício orienta nosso estilo de vida confere unidade a nossa personalidade As ideias de Adler sobre ficcionalis mo se originaram com o livro de Hans Vaihinger A filoso fia do como se 19111925 Vaihinger acreditava que as ficções são ideias que não possuem existência real embora influenciem as pessoas como se elas realmente existissem Um exemplo de uma ficção pode ser Os homens são su periores às mulheres Ainda que essa noção seja uma fic ção muitas pessoas tanto homens quanto mulheres agem como se isso fosse uma realidade Um segundo exemplo pode ser Os humanos possuem um livrearbítrio que lhes possibilita fazerem escolhas Mais uma vez muitas pes soas agem como se elas e os outros tivessem livrearbítrio e fossem assim responsáveis por suas escolhas Ninguém pode provar que existe o livrearbítrio embora essa ficção guie a vida da maioria das pessoas As pessoas são moti vadas não pelo que é verdadeiro mas por suas percepções subjetivas do que é verdadeiro Um terceiro exemplo de uma ficção pode ser a crença em um Deus onipotente que recompensa o bem e pune o mal Tal crença guia a vida diá ria de milhões de pessoas e ajuda a moldar muitas de suas ações Sejam elas verdadeiras ou falsas as ficções possuem uma influência poderosa na vida das pessoas A ênfase de Adler nas ficções é coerente com sua visão teleológica da motivação fortemente sustentada Teleolo gia é uma explicação do comportamento em termos de seu propósito ou objetivo final Ela é oposta à causalidade que considera o comportamento como originário de uma causa específica A teleologia em geral se preocupa com objetivos ou fins futuros enquanto a causalidade normalmente lida com experiências passadas que produzem algum efeito pre sente A visão de Freud da motivação era basicamente cau sal ele acreditava que as pessoas eram impulsionadas pelos eventos passados que ativam o comportamento presente Em contraste Adler adotou uma visão teleológica em que as pessoas são motivadas por percepções presentes do fu turo Como ficções essas percepções não precisam ser cons cientes ou compreendidas No entanto elas conferem uma finalidade a todas as ações das pessoas e são responsáveis por um padrão coerente perpetuado ao longo de toda a vida WWW ALÉM DA BIOGRAFIA EM INGLÊS Por que Adler realmente rompeu com Freud Para saber os motivos por trás do rompimento de Adler e Freud acesse wwwmhhecomfeist8e Inferioridades físicas Como as pessoas iniciam a vida pequenas frágeis e inferio res elas desenvolvem uma ficção ou um sistema de crenças acerca de como superar essas deficiências físicas e se tor narem grandes fortes e superiores Porém mesmo depois que atingem tamanho força e superioridade elas podem agir como se ainda fossem pequenas frágeis e inferiores Adler 19291969 insistia que toda a raça humana é abençoada com inferioridades orgânicas Essas desvanta gens físicas possuem pouca ou nenhuma importância em si mesmas mas se tornam significativas quando estimu lam sentimentos subjetivos de inferioridade o que serve como um impulso em direção à perfeição e à completude Algumas pessoas compensam os sentimentos de inferio ridade avançando em direção à saúde psicológica e a um estilo de vida útil enquanto outras supercompensam e são motivadas a subjugar ou a se afastar dos outros A história fornece muitos exemplos de pessoas como Demóstenes ou Beethoven que superaram uma deficiência e deram contribuições importantes à sociedade O próprio Adler era frágil e doente quando criança e sua doença o moveu a vencer a morte tornandose médico e competindo com seu irmão mais velho e Freud Adler 19291969 enfatizou que as deficiências físi cas isoladamente não causam um estilo de vida particular elas apenas fornecem a motivação presente para alcançar objetivos futuros Tal motivação como todos os aspectos da personalidade é unificada e autocoerente Feist03indd 51 Feist03indd 51 271014 1516 271014 1516 52 FEIST FEIST ROBERTS UNIDADE E AUTOCOERÊNCIA DA PERSONALIDADE O terceiro princípio fundamental da teoria adleriana é A personalidade é unificada e autocoerente Ao escolher o termo psicologia individual Adler de sejava enfatizar sua crença de que cada pessoa é única e indivisível Assim a psicologia individual insiste na unidade fundamental da personalidade e na noção de que não existe comportamento incoerente Pensamen tos sentimentos e ações estão todos direcionados para um único objetivo e servem somente a um propósito Quando as pessoas comportamse de forma errática ou imprevisível seu comportamento força outras pessoas a ficarem na defensiva a ficarem atentas para não se rem confundidas por ações caprichosas Ainda que os comportamentos possam parecer incoerentes quando eles são abordados segundo a perspectiva de um objeti vo final aparecem como tentativas inteligentes porém provavelmente inconscientes de confundir e subjugar outros indivíduos Esse comportamento confuso e apa rentemente incoerente dá à pessoa errática vantagem em uma relação interpessoal Mesmo que esta seja com frequência bemsucedida em sua tentativa de obter superioridade sobre os outros em geral permanece in consciente de seu motivo subjacente e pode rejeitar de modo obstinado qualquer sugestão de que deseja a supe rioridade sobre os outros Adler 1956 reconheceu várias maneiras pelas quais a pessoa opera integralmente com unidade e autocoerência A primeira delas é denominada jargão do órgão ou dialeto do órgão Dialeto do órgão De acordo com Adler 1956 a pessoa integral luta de ma neira autocoerente em direção a um objetivo único e todas as ações e funções separadas podem ser entendidas so mente como partes desse objetivo A perturbação de uma parte do corpo não pode ser encarada de modo isolado ela afeta a pessoa de maneira integral Na verdade o órgão de ficiente expressa a direção do objetivo do indivíduo uma condição conhecida como dialeto do órgão Pelo dialeto do órgão os órgãos do corpo falam uma linguagem que é em geral mais expressiva e expõe a opinião do indivíduo mais claramente do que as palavras são capazes de fazer Adler 1956 p 223 Um exemplo de dialeto do órgão poderia ser um ho mem sofrendo de artrite reumatoide nas mãos Suas ar ticulações rígidas e deformadas expressam seu estilo de vida É como se elas gritassem Vejam a minha deformida de Você não pode esperar que eu faça trabalhos manuais Sem um som audível suas mãos falam de seu desejo pela simpatia dos outros Adler 1956 apresentou outro exemplo de dialeto do órgão o caso de um menino muito obediente que molhou a cama à noite transmitindo uma mensagem de que ele não quer obedecer aos desejos parentais Seu comportamento é realmente uma expressão criativa pois a criança está fa lando com sua bexiga em vez da boca p 223 Consciente e inconsciente Um segundo exemplo de uma personalidade unificada é a harmonia entre ações conscientes e inconscientes Adler 1956 definiu o inconsciente como parte do objetivo que não é claramente formulado nem entendido por completo pelo indivíduo Com essa definição Adler evitou uma dico tomia entre o inconsciente e o consciente que ele via como duas partes cooperativas em um mesmo sistema unifica do Os pensamentos conscientes são aqueles entendidos e considerados pelo indivíduo como úteis na luta pelo su cesso enquanto os pensamentos inconscientes são aqueles que não são úteis Não podemos opor consciência a inconsciência como se elas fossem metades antagônicas de uma existência individual A vida consciente se torna inconsciente quando não conseguimos compreendêla e quando compreendemos uma tendência inconsciente ela já se tornou consciente Adler 19291964 p 163 Se os comportamentos das pessoas levam a um estilo de vida saudável ou não vai depender do grau de interesse social que elas desenvolveram durante seus anos da infância INTERESSE SOCIAL O quarto princípio básico de Adler é O valor de toda ativida de humana deve ser visto segundo o ponto de vista do interesse social Interesse social é uma tradução de Adler um tanto en ganosa de seu termo original em alemão Gemeinschaftsge fühl Uma tradução melhor poderia ser sentimento social ou sentimento comunitário mas Gemeinschaftsgefühl na verdade tem um significado que não está expresso integral mente em qualquer palavra ou expressão de outra língua De forma aproximada significa um sentimento de unidade com toda a humanidade implica a afiliação na comunida de social de todas as pessoas Uma pessoa com Gemeins chaftsgefühl luta não pela superioridade pessoal mas pela perfeição para todas as pessoas em uma comunidade ideal Interesse social pode ser definido como uma atitude de as sociação à humanidade em geral bem como uma empatia em relação a cada membro da comunidade humana Ele se manifesta como cooperação com os outros para o avanço social em vez de para o ganho pessoal Adler 1964 Interesse social é a condição natural da espécie humana e a liga que a conecta à sociedade Adler 1927 A inferiori Feist03indd 52 Feist03indd 52 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 53 dade natural dos indivíduos necessita de sua união para for mar uma sociedade Sem a proteção e a nutrição de um pai ou uma mãe um bebê pereceria Sem a proteção da famí lia ou do clã nossos ancestrais teriam sido destruídos por animais que eram mais fortes mais ferozes ou dotados de sentidos mais aguçados O interesse social portanto é uma necessidade para a perpetuação da espécie humana Origens do interesse social O interesse social está enraizado como potencialidade em todos os indivíduos mas precisa ser desenvolvido antes que possa contribuir para um estilo de vida útil Ele se ori gina da relação mãefilho durante os primeiros meses da infância Toda pessoa que sobreviveu à infância foi man tida viva por um cuidador que possuía algum interesse so cial Assim cada pessoa dispõe das sementes do interesse social semeadas durante esses primeiros meses Adler acreditava que o casamento e a paternidade são tarefa para dois No entanto os dois pais podem influen ciar o interesse social de uma criança de forma um pouco diferente O trabalho da mãe é desenvolver uma ligação que encoraje o interesse social maduro da criança e estimule uma noção de cooperação De modo ideal ela deve ter um amor genuíno e profundamente enraizado por seu filho um amor que está centrado no bemestar do filho não nas necessidades ou nos desejos dela Essa relação amorosa saudável se desenvolve a partir de um cuidado verdadeiro com seu filho com seu marido e com outras pessoas Se a mãe aprendeu a dar e receber amor dos outros ela terá pouca dificuldade em ampliar o interesse social de seu fi lho No entanto se ela favorece o filho em detrimento do pai seu filho pode se tornar mimado ou paparicado Inver samente se ela favorece seu marido ou a sociedade o filho se sentirá negligenciado e não amado O pai é a segunda pessoa importante no ambiente so cial de uma criança Ele precisa demonstrar uma atitude de cuidado em relação a sua esposa e também a outras pes soas O pai ideal coopera em pé de igualdade com a mãe nos cuidados prestados ao filho e trata o filho como um ser humano De acordo com os padrões de Adler 1956 um pai bemsucedido evita os erros duplos do distancia mento emocional e do autoritarismo paterno Esses erros podem representar duas atitudes mas elas costumam ser encontradas no mesmo pai Ambas impedem o crescimen to e o desenvolvimento do interesse social em uma criança O afastamento emocional do pai pode influenciar o filho a desenvolver uma noção deformada de interesse social um sentimento de descaso e possivelmente um vínculo para sitário com a mãe Uma criança que experimenta afasta mento paterno cria um objetivo de superioridade pessoal em vez de um fundamentado no interesse social O segun do erro o autoritarismo paterno também pode levar a um estilo de vida doentio Uma criança que vê o pai como um tirano aprende a lutar pelo poder e pela superioridade pessoal Adler 1956 acreditava que os efeitos do ambiente so cial precoce são extremamente importantes A relação que uma criança tem com a mãe e o pai é tão poderosa que ela suaviza os efeitos da hereditariedade Adler acreditava que após a idade de 5 anos os efeitos da hereditariedade eram suavizados pela influência poderosa do ambiente social da criança Nessa época as forças ambientais já modificaram ou moldaram quase todos os aspectos da personalidade da criança Tanto a mãe quanto o pai podem contribuir para o desenvolvimento do interesse social de seus filhos Feist03indd 53 Feist03indd 53 271014 1516 271014 1516 54 FEIST FEIST ROBERTS Importância do interesse social O interesse social foi o critério de comparação de Adler para medir a saúde psicológica e assim é o único critério dos valores humanos Adler 1927 p 167 Para Adler o interesse social é a única escala a ser usada no julgamento do valor de uma pessoa Como barômetro da normalidade ele é o padrão a ser usado na determinação da utilidade de uma vida De acordo com o grau em que as pessoas pos suem interesse social elas são psicologicamente maduras As pessoas imaturas carecem de Gemeinschaftsgefühl são autocentradas e lutam pelo poder social e pela superiorida de sobre os outros Os indivíduos saudáveis são genuina mente preocupados com as pessoas e possuem um objetivo de sucesso que abrange o bemestar de todos Interesse social não é sinônimo de caridade e al truísmo Atos de filantropia e gentileza podem ou não ser motivados por Gemeinschaftsgefühl Uma mulher saudável pode doar regularmente grandes somas de dinheiro para os pobres e necessitados não porque ela sinta uma sintonia com eles mas bem ao contrário porque ela deseja manter uma separação deles A doação implica Vocês são inferio res eu sou superior e essa caridade é a prova de minha superioridade Adler acreditava que o valor de tais atos sociais só pode ser julgado de acordo com o critério do in teresse social Em resumo as pessoas iniciam a vida com uma força de empenho básico que é ativada por deficiências físicas sempre presentes Essas fraquezas orgânicas levam inevi tavelmente a sentimentos de inferioridade Assim todas as pessoas possuem sentimentos de inferioridade e todas estabelecem um objetivo final por volta dos 4 ou 5 anos de idade No entanto indivíduos que não são psicologica mente saudáveis desenvolvem sentimentos exagerados de inferioridade e tentam compensálos estabelecendo um objetivo de superioridade pessoal Eles são motivados pelo ganho pessoal e não pelo interesse social enquanto as pes soas saudáveis são motivadas por sentimentos normais de incompletude e altos níveis de interesse social Elas lutam pelo objetivo do sucesso definido em termos de perfeição e completude para todos A Figura 31 ilustra como a força de empenho inata se combina com as deficiências físicas inevitáveis para produzir sentimentos universais de infe rioridade que podem ser exagerados ou normais Os senti mentos exagerados de inferioridade conduzem a um estilo de vida neurótico enquanto os sentimentos normais de incompletude resultam em um estilo de vida saudável Se a pessoa forma um estilo de vida inútil ou socialmente útil dependerá de como ela aborda tais sentimentos de inferio ridade inevitáveis ESTILO DE VIDA O quinto princípio básico de Adler é A estrutura da perso nalidade autocoerente se desenvolve transformandose no estilo de vida de uma pessoa Estilo de vida é o termo que Adler usou para se referir ao gênero da vida de uma pessoa Ele inclui o objetivo de uma pessoa seu autoconceito os sentimentos pelos outros e a atitude em relação ao mundo Tal estilo é produto da in teração da hereditariedade do ambiente e da força criativa de uma pessoa Adler 1956 usou uma analogia musical para elucidar o estilo de vida As notas separadas de uma composição não possuem significado sem a melodia intei ra porém a melodia assume um significado adicional quan do reconhecemos o estilo ou a maneira única de expressão do compositor O estilo de vida de uma pessoa já está razoavelmente estabelecido em torno dos 4 ou 5 anos de idade Depois Superioridade pessoal Ganho pessoal Sentimentos exagerados Sucesso Interesse social Sentimentos normais de incompletude Sentimentos de inferioridade Deficiências físicas Força de empenho inata Objetivo final vagamente percebido Objetivo final claramente percebido FIGURA 31 Dois métodos básicos de luta pelo objeto final Feist03indd 54 Feist03indd 54 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 55 dessa época todas as nossas ações giram em torno do nosso estilo de vida unificado Ainda que o objetivo final seja singular o estilo de vida não precisa ser delimitado ou rígido Os indivíduos que não são psicologicamente saudáveis com frequência levam vidas bastante inflexí veis que são marcadas por uma incapacidade de escolher novas formas de reagir ao ambiente Em contraste as pessoas psicologicamente saudáveis se comportam de formas diversas e flexíveis com estilos de vida que são complexos enriquecidos e em mudança As pessoas sau dáveis veem muitas formas de lutar pelo sucesso e con tinuamente procuram criar novas opções em qualquer ponto da vida As pessoas com um estilo de vida saudável e social mente útil expressam seu interesse social por meio da ação Elas se esforçam ativamente para resolver o que Adler considerava os três problemas principais da vida amor ao próximo amor sexual e ocupação e fazem isso mediante cooperação coragem pessoal e disposição para prestar uma contribuição ao bemestar do outro Para Adler 1956 as pessoas com um estilo de vida socialmente útil represen tam a forma mais elevada de humanidade no processo evo lucionário e provavelmente povoarão o mundo do futuro FORÇA CRIATIVA O princípio básico final é O estilo de vida é moldado pela for ça criativa da pessoa A cada pessoa acreditava Adler é delegada a liberdade de criar seu próprio estilo de vida Em última análise to das as pessoas são responsáveis por quem elas são e como se comportam Sua força criativa coloca a pessoa no controle de sua própria vida é responsável por seu obje tivo final determina seu método de empenho por aquele objetivo e contribui para o desenvolvimento do interesse social Em resumo a força criativa torna cada pessoa um indivíduo livre A força criativa é um conceito dinâmico que implica movimento e esse movimento é a caracterís tica mais relevante da vida Toda a vida psíquica envolve movimento em direção a um objetivo movimento com uma direção Adler 1964 Adler 1956 reconhecia a importância da hereditarie dade e do ambiente na formação da personalidade Com exceção dos gêmeos idênticos cada pessoa nasce com uma constituição genética única e logo passa a ter experiências sociais diferentes das de qualquer outro ser humano As pessoas no entanto são muito mais do que um produto da hereditariedade e do ambiente Elas são seres criativos que não somente reagem a seu ambiente mas também atuam sobre ele e fazem com que ele reaja a elas Cada pessoa usa a hereditariedade e o ambiente como os tijolos e o cimento para construir a personalidade mas o projeto arquitetônico reflete o estilo próprio daquela pessoa O que é de importância primária não é o que se recebe mas como esses materiais são colocados em uso Os materiais para a construção da personalidade são se cundários Somos nossos próprios arquitetos e podemos construir um estilo de vida útil ou inútil Podemos esco lher construir uma fachada chamativa ou expor a essência da estrutura Não somos obrigados a crescer na direção do interesse social já que não temos uma natureza inter na que nos force a ser bons Entretanto não temos uma natureza inerentemente má da qual precisamos fugir So mos quem somos devido ao uso que fazemos de nossos tijolos e cimento Adler 19291964 usou uma analogia interessante a qual chamou de a lei da entrada baixa Se você está ten tando passar por uma entrada de 120 m tem duas esco lhas básicas Primeira você pode usar a sua força criativa e se abaixar quando se aproximar da entrada resolvendo assim o problema Essa é a maneira como o indivíduo psi cologicamente saudável resolve a maioria dos problemas da vida Mas se bater a cabeça e recuar você ainda terá que resolver o problema corretamente ou continuar batendo a cabeça Os neuróticos com frequência escolhem bater a cabeça nas realidades da vida Quando se aproxima da en trada baixa você não é obrigado a se abaixar nem a bater a cabeça você tem uma força criativa que lhe permite seguir um dos cursos DESENVOLVIMENTO ANORMAL Adler acreditava que as pessoas são o que elas fazem de si mesmas A força criativa dota os humanos dentro de cer tos limites com a liberdade de serem sadios ou não sadios psicologicamente e de seguirem um estilo de vida útil ou inútil Descrição geral De acordo com Adler 1956 o único fator subjacente a todos os tipos de ajustamentos defeituosos é o interes se social subdesenvolvido Além de carecerem de interesse social os neuróticos tendem a 1 estabelecer objetivos muito altos 2 viver em seu mundo particular e 3 ter um estilo de vida rígido e dogmático Essas três carac terísticas ocorrem inevitavelmente devido a uma falta de interesse social Em resumo as pessoas se tornam um fracasso na vida porque têm preocupação em exces so consigo mesmas como uma supercompensação pelos sentimentos exagerados de inferioridade Esses objeti vos elevados conduzem ao comportamento dogmático quanto mais alto o objetivo mais rígida é a luta Para compensar sentimentos profundamente enraizados de inadequação e insegurança básica esses indivíduos res tringem sua perspectiva e lutam de forma compulsiva e rígida por objetivos irrealistas Feist03indd 55 Feist03indd 55 271014 1516 271014 1516 56 FEIST FEIST ROBERTS A natureza exagerada e irrealista dos objetivos neu róticos os afasta do convívio com as outras pessoas Eles abordam os problemas de amizade sexo e ocupação a par tir de um ângulo pessoal que exclui soluções de sucesso Sua visão do mundo não está de acordo com a dos outros indivíduos e eles possuem o que Adler 1956 chamou de significado particular p 156 Essas pessoas consideram que a vida diária é um trabalho árduo que requer grande esforço Adler 19291964 usou uma analogia para des crever como esses indivíduos passam pela vida Em uma certa sala de apresentações o homem forte chega e ergue um enorme peso com cuidado e intensa dificuldade Depois durante o aplauso caloroso do pú blico uma criança se aproxima e revela a fraude carre gando o peso fictício com uma das mãos Existe uma grande quantidade de neuróticos que nos enganam com tais pesos e que são adeptos de parecerem sobrecarre gados Eles na realidade poderiam dançar com a carga sob a qual cambaleiam p 91 Fatores externos no desajustamento Por que algumas pessoas apresentam desajustamentos Adler 1964 reconheceu três fatores contribuintes cada um dos quais é suficiente para cooperar com a anormali dade 1 deficiências físicas graves 2 um estilo de vida mimado e 3 um estilo de vida negligenciado Deficiências físicas graves As deficiências físicas graves sejam elas congênitas ou o resultado de lesão ou doença não são suficientes para levar ao desajustamento Elas devem ser acompanhadas por sen timentos acentuados de inferioridade Esses sentimentos subjetivos podem ser bastante encorajados por um corpo defeituoso mas eles são resultantes da força criativa Cada pessoa ingressa no mundo abençoada com de ficiências físicas e tais deficiências levam a sentimentos de inferioridade As pessoas com deficiências físicas graves às vezes desenvolvem sentimentos superestimados de infe rioridade porque supercompensam sua inadequação Elas tendem a ser excessivamente preocupadas consigo mes mas e não têm consideração com os outros Elas sentem como se estivessem vivendo em campo inimigo temem a derrota mais do que desejam o sucesso e estão convencidas de que os principais problemas da vida podem ser resolvi dos somente de maneira egoísta Adler 1927 Estilo de vida mimado Um estilo de vida mimado está no centro da maioria das neuroses As pessoas mimadas possuem um interesse so cial fraco mas um forte desejo de perpetuar a relação mi mada e parasitária que tiveram originalmente com um ou ambos os pais Elas esperam que os outros cuidem delas as superprotejam e satisfaçam suas necessidades Elas são caracterizadas por extremo desânimo indecisão supersen sibilidade impaciência e emoção exagerada em especial ansiedade Elas veem o mundo com uma visão particular e acreditam que têm o direito a ser as primeiras em tudo Adler 1927 1964 As crianças mimadas não receberam amor em excesso ao contrário elas se sentiram não amadas Seus pais de monstraram a falta de amor ao fazerem demais por elas e tratandoas como se fossem incapazes de resolver os pró prios problemas Como essas crianças se sentem mimadas e paparicadas elas desenvolvem um estilo de vida mimado As crianças mimadas também podem se sentir negligen ciadas Tendo sido protegidas por um genitor coruja elas têm medo quando separadas daquele genitor Sempre que precisam se defender sozinhas elas se sentem deixadas de lado maltratadas e negligenciadas Tais experiências se so mam ao estoque de sentimentos de inferioridade da crian ça mimada Estilo de vida negligenciado O terceiro fator externo que contribui para o desajusta mento é a negligência As crianças que se sentem não ama das e indesejadas provavelmente se servirão de modo in tenso desses sentimentos na criação de um estilo de vida negligenciado Negligência é um conceito relativo Nin guém se sente totalmente negligenciado ou indesejado O fato de uma criança ter sobrevivido à infância é prova de que alguém cuidou dela e que a semente do interesse social foi plantada Adler 1927 As crianças abusadas ou maltratadas desenvolvem pouco interesse social e tendem a criar um estilo de vida negligenciado Elas têm pouca confiança em si mesmas e tendem a superestimar as dificuldades vinculadas aos problemas importantes da vida Elas são desconfiadas das outras pessoas e incapazes de cooperar para o bemestar comum Elas veem a sociedade como um terreno inimigo sentemse alienadas de todas as outras pessoas e experi mentam um forte sentimento de inveja pelo sucesso dos outros As crianças negligenciadas possuem muitas das ca racterísticas das mimadas mas em geral são mais descon fiadas e têm maior probabilidade de serem perigosas para os outros Adler 1927 Tendências à salvaguarda Adler acreditava que as pessoas criam padrões de compor tamento para se protegerem de seu senso exagerado de autoestima contra a vergonha pública Esses mecanismos protetores denominados tendências à salvaguarda pos sibilitam que as pessoas ocultem sua autoimagem inflada e mantenham seu estilo de vida atual O conceito de Adler de tendências à salvaguarda pode ser comparado ao conceito de Freud de mecanismos de defesa O básico para ambos é a ideia de que os sintomas Feist03indd 56 Feist03indd 56 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 57 são formados como uma proteção contra a ansiedade En tretanto existem diferenças importantes entre os dois conceitos Os mecanismos de defesa freudianos operam inconscientemente para proteger o ego contra a ansiedade enquanto as tendências à salvaguarda adlerianas são em grande parte conscientes e protegem a autoestima frágil de uma pessoa da vergonha pública Além disso os meca nismos de defesa de Freud são comuns a todos porém Ad ler 1956 discutia as tendências à salvaguarda apenas com referência à formação de sintomas neuróticos Desculpas agressividade e retraimento são as três tendências comuns à salvaguarda cada uma concebida para proteger o estilo de vida presente de uma pessoa e manter um sentimento fictício elevado de autoimportância Adler 1964 Desculpas As mais comuns das tendências à salvaguarda são as des culpas em geral expressas no formato Sim mas ou Se ao menos Na desculpa Sim mas as pessoas primeiro declaram o que gostariam de fazer algo que soe bem para os outros e depois seguem com uma desculpa Uma mu lher pode dizer Sim eu gostaria de ir para a universida de mas meus filhos exigem demais a minha atenção Um executivo explica Sim concordo com sua proposta mas a política da empresa não irá permitir A declaração Se ao menos é a mesma desculpa ex pressa de uma forma diferente Se ao menos o meu marido me desse mais apoio eu teria avançado mais rápido em mi nha profissão Se ao menos eu não tivesse essa deficiência física poderia competir com sucesso por um emprego Tais desculpas protegem um senso de autoestima fraca mas artificialmente inflada e iludem as pessoas a acre ditarem que elas são mais superiores do que de fato são Adler 1956 Agressividade Outra tendência comum à salvaguarda é a agressivi dade Adler 1956 sustentava que algumas pessoas usam a agressividade para salvaguardar seu complexo de superioridade exagerado Ou seja para proteger sua autoestima frágil A salvaguarda por meio da agressivi dade pode assumir a forma de depreciação acusação ou autoacusação Depreciação é a tendência a subestimar as conquis tas de outras pessoas e a supervalorizar as próprias Essa tendência à salvaguarda fica evidente nos comportamen tos agressivos como crítica e fofoca A única razão por que Kenneth conseguiu o emprego a que eu me candidatei é porque ele é afroamericano Se você olhar atentamente vai perceber que Jill se esforça muito para evitar o traba lho A intenção por trás de cada ato de depreciação é dimi nuir o outro de forma que a pessoa por comparação seja colocada em uma posição favorável Acusação a segunda forma de um mecanismo de sal vaguarda agressiva é a tendência a acusar os outros pelas próprias falhas e a buscar vingança salvaguardando as sim uma autoestima tênue Eu queria ser um artista mas meus pais me forçaram a ir para a escola médica Agora te nho um trabalho que me faz infeliz Adler 1956 acredita va existir um elemento de acusação agressiva em todos os estilos de vida doentios Os indivíduos doentios invaria velmente agem para fazer as pessoas à sua volta sofrerem mais do que eles A terceira forma de agressão neurótica a autoacusa ção é marcada por autotortura e culpa Alguns indivíduos usam a autotortura incluindo masoquismo depressão e suicídio como um meio de atingir as pessoas que estão próximas a eles A culpa costuma ser um comportamento agressivo e autoacusatório Sintome angustiado porque não fui mais gentil com minha avó enquanto ela ainda era viva Agora é tarde demais A autoacusação é o inverso da depreciação embora ambas visem a obter superioridade pessoal Com a depre ciação as pessoas que se sentem inferiores desvalorizam os outros para que elas pareçam boas Com a autoacusa ção as pessoas desvalorizam a si mesmas para infligir so frimento aos outros ao mesmo tempo em que protegem seus próprios sentimentos aumentados de autoestima Adler 1956 Retraimento O desenvolvimento da personalidade pode ser interrompi do quando as pessoas fogem das dificuldades Adler se re feriu a essa tendência como retraimento ou salvaguarda por meio da distância Algumas pessoas escapam incons cientemente dos problemas da vida estabelecendo uma distância entre elas e esses problemas Adler 1956 reconheceu quatro modos de salvaguarda por meio do retraimento 1 retroceder 2 ficar parado 3 hesitação e 4 construção de obstáculos Retroceder é a tendência a salvaguardar o próprio objetivo de ficção de superioridade regredindo psicologica mente para um período de vida mais seguro O retrocesso é similar ao conceito de Freud de regressão uma vez que ambos envolvem tentativas de retornar a fases da vida anteriores e mais confortáveis Enquanto a agressividade ocorre de forma inconsciente e protege as pessoas contra experiências carregadas de ansiedade o retrocesso pode às vezes ser consciente e direcionado para a manutenção de um objetivo inflado de superioridade O retrocesso é con cebido para obter simpatia a atitude prejudicial oferecida tão generosamente para as crianças mimadas A distância psicológica também pode ser criada ao fi car parado Tal tendência ao retraimento é semelhante a retroceder mas em geral ela não é tão séria As pessoas com essa tendência simplesmente não se movem em qual Feist03indd 57 Feist03indd 57 271014 1516 271014 1516 58 FEIST FEIST ROBERTS quer direção assim elas evitam toda responsabilidade ga rantindose contra qualquer ameaça de fracasso Elas salva guardam suas aspirações fictícias porque nunca fazem algo para provar que não podem alcançar seus objetivos Uma pessoa que nunca se candidata à pósgraduação nunca po derá ter sua entrada negada uma criança que se afasta das outras não será rejeitada por elas Ao não fazer nada as pessoas salvaguardam sua autoestima e se protegem con tra o fracasso Intimamente relacionada a ficar parado está a hesi tação Algumas pessoas hesitam ou vacilam quando se defrontam com problemas difíceis Sua procrastinação acaba lhes dando a desculpa Agora é tarde demais Adler acreditava que a maioria dos comportamentos compulsi vos é uma tentativa de perder tempo O comportamento compulsivo de lavar as mãos refazer os próprios passos comportarse de maneira obsessivamente ordenada aban donar uma tarefa já iniciada e destruir um trabalho são exemplos de hesitação Ainda que a hesitação possa parecer para as outras pessoas contraproducente ela permite que os indivíduos neuróticos preservem seu senso inflado de autoestima A menos grave das tendências à salvaguarda com re traimento é a construção de obstáculos Algumas pes soas constroem uma casa de palha para mostrar que conse guem derrubála Ao superarem o obstáculo elas protegem sua autoestima e seu prestígio Se fracassam em construir a barreira elas sempre podem recorrer a uma desculpa Em resumo as tendências à salvaguarda são encon tradas em quase todas as pessoas mas quando se tornam excessivamente rígidas levam a comportamentos contra producentes As pessoas excessivamente sensíveis criam tendências à salvaguarda para minimizar seu medo de vergonha para eliminar seus sentimentos de inferioridade exagerados e para obter autoestima Entretanto as ten dências à salvaguarda são contraproducentes porque seus objetivos inerentes de autointeresse e superioridade pes soal na verdade não garantem sentimentos autênticos de autoestima Muitas pessoas não conseguem perceber que sua autoestima seria mais bem salvaguardada se elas aban donassem seu autointeresse e desenvolvessem um cuidado genuíno por outras pessoas A ideia de Adler de tendências à salvaguarda e a noção de Freud de mecanismos de defesa são comparadas na Tabela 31 Protesto viril Em contraste com Freud Adler 1930 1956 acreditava que a vida psíquica das mulheres é essencialmente a mes ma que a dos homens e que uma sociedade dominada pelos homens não é natural mas um produto artificial do desen volvimento histórico De acordo com Adler as práticas cul turais e sociais não a anatomia influenciam muitos ho mens e mulheres a enfatizar excessivamente a importância de ser másculo uma condição que ele chamou de protesto viril Origens do protesto viril Em muitas sociedades tanto homens quanto mulheres atribuem um valor inferior a ser mulher Os meninos são com frequência ensinados cedo de que ser masculino signi fica ser corajoso forte e dominante O protótipo do suces so para os meninos é vencer ser poderoso estar no topo Em contraste as meninas com frequência aprendem a ser passivas e a aceitar uma posição inferior na sociedade Algumas mulheres lutam contra seus papéis femini nos desenvolvendo uma orientação masculina e se tornan do assertivas e competitivas outras se revoltam adotando TABELA 31 Comparação entre as tendências à salvaguarda e os mecanismos de defesa Tendências à salvaguarda de Adler 1 Limitadas principalmente à construção de um estilo de vida neurótico 2 Protegem a autoestima frágil da pessoa da vergonha pública 3 Podem ser parcialmente conscientes 4 Os tipos comuns incluem A Desculpas B Agressividade 1 Depreciação 2 Acusação 3 Autoacusação C Retraimento 1 Retroceder 2 Ficar parado 3 Hesitação 4 Construção de obstáculos Mecanismos de defesa de Freud 1 Encontrados em todas as pessoas 2 Protegem o ego da dor da ansiedade 3 Operam somente no nível inconsciente 4 Os tipos comuns incluem A Repressão B Formação reativa C Deslocamento D Fixação E Regressão F Projeção G Introjeção H Sublimação Feist03indd 58 Feist03indd 58 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 59 um papel passivo tornandose excessivamente desampa radas e obedientes outras ainda mostramse resignadas à crença de que são seres humanos inferiores reconhecendo a posição privilegiada dos homens transferindo as respon sabilidades para eles Cada um desses modos de adaptação resulta de influências culturais e sociais e não da diferença psíquica inerente entre os dois gêneros Adler Freud e o protesto viril No capítulo anterior vimos que Freud 19241961 acre ditava que anatomia é destino p 178 e que ele conside rava as mulheres continente obscuro para a psicologia Freud 19261959b p 212 Além do mais próximo ao final de sua vida ele ainda estava perguntando O que quer uma mulher E Jones 1955 p 421 De acordo com Adler essas atitudes em relação às mulheres seriam evidência de uma pessoa com um forte protesto viril Em contraste com a visão de Freud Adler assumia que as mu lheres porque elas têm as mesmas necessidades fisiológi cas e psicológicas que os homens querem mais ou menos as mesmas coisas que os homens querem Tais visões opostas sobre a feminilidade eram amplia das ou acentuadas nas mulheres que Freud e Adler esco lheram para se casar Martha Bernays Freud era uma dona de casa subserviente e dedicada aos filhos e ao marido e não tinha qualquer interesse na vida profissional de seu es poso Em contraste Raissa Epstein Adler era uma mulher muito independente que abominava o papel doméstico tradicional preferindo uma carreira ativa politicamente Durante os primeiros anos de seu casamento Raissa e Alfred Adler tinham visões políticas bastante compatíveis mas com o tempo essas visões divergiram Alfred se tor nou mais um capitalista defendendo a responsabilidade pessoal enquanto Raissa se envolveu na perigosa política comunista de sua Rússia nativa Tal independência agrada va a Adler que era tão feminista quanto sua determinada esposa APLICAÇÕES DA PSICOLOGIA INDIVIDUAL Dividimos as aplicações práticas da psicologia individual em quatro áreas 1 constelação familiar 2 lembranças precoces 3 sonhos e 4 psicoterapia Constelação familiar Na terapia Adler quase sempre indagava seus pacientes sobre sua constelação familiar ou seja sua ordem de nasci mento o gênero de seus irmãos e a diferença de idade entre eles Ainda que a percepção das pessoas da situação em que nasceram seja mais importante do que a ordem numérica Adler formulou algumas hipóteses gerais acerca da ordem de nascimento O primogênito de acordo com Adler 1931 tem pro babilidade de ter sentimentos intensificados de poder e superioridade alta ansiedade e tendências superproteto ras Lembrese de que Freud era o primeiro filho de sua mãe O primogênito ocupa uma posição única sendo filho único por algum tempo e então tendo a vivência de ser destronado quando nasce um irmão Esse evento modifica dramaticamente a situação e a visão que a criança tem do mundo Os irmãos podem se sentir superiores ou inferiores e adotar atitudes diferentes em relação ao mundo dependendo em parte da ordem de nascimento Feist03indd 59 Feist03indd 59 271014 1516 271014 1516 60 FEIST FEIST ROBERTS Se o primogênito tem 3 anos ou mais quando nasce um irmão ou uma irmã ele incorpora o destronamento a um estilo de vida previamente estabelecido Se já desenvol veu um estilo de vida autocentrado ele provavelmente sen tirá hostilidade e ressentimento em relação ao novo bebê mas se formou um estilo cooperativo ele acabará adotan do essa mesma atitude em relação ao novo irmão Se o pri mogênito tiver menos de 3 anos de idade sua hostilidade e ressentimento serão em grande parte inconscientes o que torna essas atitudes mais resistentes à mudança na vida posterior De acordo com Adler o segundo filho como ele pró prio começa a vida em melhor situação para desenvolver cooperação e interesse social Até certo ponto a persona lidade do segundo filho é moldada por sua percepção da atitude do filho mais velho em relação a ele Se essa atitude for de extrema hostilidade e vingança o segundo filho pode se tornar altamente competitivo ou muito desencorajado O segundo filho típico no entanto não se desenvolve em qualquer dessas direções Em vez disso amadurece em dire ção à competitividade moderada tendo um desejo saudável de ultrapassar o rival mais velho Se for alcançado algum sucesso é provável que a criança desenvolva uma atitude revolucionária e sinta que qualquer autoridade pode ser desafiada Mais uma vez a interpretação da criança é mais importante do que sua posição cronológica Os filhos mais moços acreditava Adler são com fre quência os mais mimados e por conseguinte correm um alto risco de serem criançasproblema Eles têm probabi lidade de apresentar fortes sentimentos de inferiorida de e carecer de um senso de independência No entanto possuem muitas vantagens Eles costumam ser altamente motivados para ultrapassar os irmãos mais velhos e se tor narem o melhor corredor o melhor músico o atleta mais hábil ou o aluno mais ambicioso Os filhos únicos estão em uma posição peculiar de competição não competindo com irmãos ou irmãs mas com pai e mãe Vivendo em um mundo adulto é comum desenvolverem um senso exagerado de superioridade e um autoconceito inflado Adler 1931 afirmou que os filhos únicos podem carecer de sentimentos bemdesenvolvidos de cooperação e interesse social possuem uma atitude pa rasitária e esperam que as outras pessoas os mimem e os protejam Os traços típicos positivos e negativos de filhos mais velhos segundos filhos filhos mais moços e filhos únicos são apresentados na Tabela 32 TABELA 32 Visão de Adler de alguns possíveis traços segundo a ordem de nascimento Traços positivos Traços negativos Filho mais velho Acolhedor e protetor com os outros Bom organizador Alta ansiedade Sentimentos exagerados de poder Hostilidade inconsciente Luta pela aceitação Deve estar sempre certo enquanto os outros estão sempre errados Altamente crítico com os outros Não cooperativo Segundo filho Altamente motivado Cooperativo Moderadamente competitivo Altamente competitivo Facilmente desencorajado Filho mais moço Realisticamente ambicioso Estilo de vida mimado Dependente dos outros Deseja se sobressair em tudo Irrealisticamente ambicioso Filho único Socialmente maduro Sentimentos exagerados de superioridade Fracos sentimentos de cooperação Senso de self inflado Estilo de vida mimado Feist03indd 60 Feist03indd 60 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 61 Lembranças precoces Para compreender a personalidade dos pacientes Adler pedia que revelassem suas lembranças precoces LPs Mesmo que acreditasse que as lembranças evocadas pro duzem indicações para a compreensão do estilo de vida dos pacientes ele não considerava que essas lembranças tivessem um efeito causal Não importa se as experiências relembradas correspondem à realidade objetiva ou se são completas fantasias As pessoas reconstroem os eventos para tornálos coerentes com um tema ou padrão que ocor re ao longo de toda a vida Adler 19291969 1931 insistia que as LPs sempre são coerentes com o estilo de vida atual das pessoas e que o relato subjetivo dessas experiências produz indicações para a compreensão de seu objetivo final e de seu estilo de vida atual Uma das primeiras lembranças de Adler era do grande contraste entre a boa saúde de seu irmão Sigmund e sua pró pria condição de doente Quando adulto Adler relatou que Uma de minhas lembranças mais precoces é a de estar sentado em um banco enfaixado por conta do raqui tismo com meu irmão mais velho mais sadio sentado à minha frente Ele podia correr pular e se movimentar sem esforço enquanto para mim o movimento de qual quer tipo era um esforço Todos se esforçavam muito para me ajudar Bottome 1957 p 30 Se o pressuposto de Adler de que as LPs são um indi cador válido do estilo de vida de uma pessoa então essa lembrança deveria produzir indicações acerca do estilo de vida adulto de Adler Primeiramente esse relato indica que ele deve ter se visto como desfavorecido competindo co rajosamente contra um adversário poderoso No entanto tal LP também indica que ele acreditava que tinha a ajuda dos outros Receber o auxílio de outras pessoas teria dado a Adler a confiança para competir contra um rival pode roso Tal confiança associada a uma atitude competitiva provavelmente foi transferida para sua relação com Freud tornando essa associação frágil desde o início Adler 19291964 apresentou outro exemplo da rela ção entre as LPs e o estilo de vida Durante a terapia um homem de aparência bemsucedida que desconfiava mui to das mulheres relatou a seguinte LP Eu estava indo ao supermercado com a minha mãe e meu irmão pequeno De repente começou a chover e minha mãe me pegou no colo e então lembrando que eu era o mais velho ela me colocou no chão e pegou meu irmão p 123 Adler via que essa lembrança relacionavase diretamente com a atual desconfiança do homem em relação às mulheres Tendo inicialmente obtido uma posição de favorito com sua mãe ele acabou perdendoa para seu irmão mais moço Embora os outros possam alegar que o amam eles em seguida irão retirar seu amor Observese que Adler não acreditava que as experiências precoces da infância causassem a descon fiança atual que o homem tinha das mulheres mas que seu estilo de vida desconfiado atual molda e influencia suas lembranças precoces Adler acreditava que pacientes altamente ansiosos com frequência projetam seu estilo de vida atual em sua lem brança de experiências infantis recordando eventos temí veis e que produzem ansiedade como ter sofrido um aci dente de automóvel perder os pais de forma temporária ou permanente ou ser provocado por outras crianças Em con traste as pessoas autoconfiantes tendem a evocar lembran ças que incluem relações agradáveis com outras pessoas Em qualquer um dos casos a experiência precoce não de termina o estilo de vida Adler acreditava que o oposto era verdadeiro ou seja as lembranças de experiências precoces são simplesmente moldadas pelo estilo de vida presente Sonhos Ainda que os sonhos não possam prever o futuro eles po dem fornecer indicações para a solução de problemas futu ros No entanto o sonhador com frequência não deseja resolver o problema de maneira produtiva Adler 1956 relatou o sonho de um homem de 35 anos que estava considerando se casar No sonho o homem atravessava a fronteira entre a Áustria e a Hungria e eles queriam me prender p 361 Adler interpretou que esse sonho signifi cava que o sonhador queria permanecer parado porque ele seria vencido se avançasse Em outras palavras o homem desejava limitar o alcance de sua atividade e não possuía um desejo profundo de mudar seu estado civil Ele não queria ser aprisionado pelo casamento Qualquer inter pretação desse ou de qualquer sonho deve ser provisória e aberta a reinterpretação Adler 1956 aplicou a regra de ouro da psicologia individual ao trabalho onírico isto é tudo pode ser diferente p 363 Se uma interpretação não parece correta experimente outra Imediatamente antes da primeira viagem de Adler aos Estados Unidos em 1926 ele teve um sonho vívido e ansioso que se relacionava de modo direto a seu desejo de difundir sua psicologia individual para um novo mundo e libertarse das restrições de Freud e de Viena Na noite anterior a sua partida para a América Adler sonhou que estava a bordo do navio quando De repente ele virou e afundou Tudo o que possuía no mundo estava nele e foi destruído pelas ondas violen tas Arremessado ao oceano Adler foi forçado a nadar na luta pela vida Sozinho ele se debatia e lutava na água agitada Mas pela força de vontade e determi nação ele finalmente alcançou a terra em segurança Hoffman 1994 p 151 Adler interpretou que esse sonho significava a necessidade de se armar de coragem para se aventurar em um novo mundo e romper com suas posses antigas Feist03indd 61 Feist03indd 61 271014 1516 271014 1516 62 FEIST FEIST ROBERTS Apesar de Adler acreditar que podia interpretar fa cilmente esse sonho ele argumentava que a maioria dos sonhos é um autoengano e não é compreendida com faci lidade pelo sonhador Os sonhos são disfarçados para en ganar o sonhador dificultando a autointerpretação Quan to mais o objetivo de um indivíduo é incompatível com a realidade mais provavelmente seus sonhos serão usados para autoengano Por exemplo um homem pode ter o ob jetivo de atingir o topo ficar por cima ou se tornar uma importante figura militar Se ele possui um estilo de vida dependente seu objetivo ambicioso pode ser expresso em sonhos de ser colocado sobre os ombros de outra pessoa ou ser morto com o tiro de um canhão O sonho revela o estilo de vida mas ele engana o sonhador se apresentando com uma noção irrealista e exagerada de poder e realização Em contraste uma pessoa mais corajosa e independente com ambições elevadas semelhantes pode sonhar que está voando sem auxílio ou que alcança um objetivo sem ajuda assim como Adler fez quando sonhou que escapava de um navio afundando Psicoterapia A teoria adleriana postula que a psicopatologia resulta da falta de coragem de sentimentos exagerados de inferiori dade e do interesse social subdesenvolvido Assim a finali dade principal da psicoterapia adleriana é aumentar a cora gem reduzir os sentimentos de inferioridade e encorajar o interesse social Essa tarefa no entanto não é fácil porque os pacientes lutam para manter a visão confortável de si mesmos Para superar essa resistência à mudança Adler por vezes perguntava aos pacientes O que você faria se eu lhe curasse imediatamente Essa pergunta geralmente forçava os pacientes a examinarem seus objetivos e verem que a responsabilidade por seu sofrimento atual é deles Adler com frequência usava o lema Todos podem alcançar tudo Exceto por certas limitações impostas pela hereditariedade ele acreditava firmemente nessa máxima e enfatizava de modo reiterado que o que as pessoas fazem com o que elas têm é mais importante do que o que elas possuem Adler 19251968 1956 Por meio do uso do humor e da cordialidade Adler procurava aumentar a cora gem a autoestima e o interesse social do paciente Ele acre ditava que uma atitude cordial e estimuladora por parte do terapeuta encoraja os pacientes a expandirem seu interesse social em cada um dos três problemas da vida amor sexual amizade e ocupação Adler inovou com um método peculiar de terapia com crianças problemáticas tratandoas na frente de uma audiência de pais professores e profissionais da saúde Quando as crianças recebem terapia em público elas enten dem com maior prontidão que suas dificuldades são pro blemas da comunidade Adler 1964 acreditava que esse procedimento aumentaria o interesse social das crianças possibilitando que elas sentissem que pertencem a uma co munidade de adultos interessados Adler tinha o cuidado de não acusar os pais pelo mau comportamento do filho Em vez disso ele trabalhava para ganhar a confiança dos pais e persuadilos a mudar suas atitudes em relação à criança Ainda que Adler fosse muito ativo no estabelecimento do objetivo e da direção da psicoterapia ele mantinha uma atitude amistosa e permissiva em relação ao paciente Ele se posicionava como um parceiro acolhedor abstinhase da pregação moralista e atribuía um grande valor ao rela cionamento humano Cooperando com seus terapeutas os pacientes estabelecem contato com outra pessoa A rela ção terapêutica desperta o interesse social do paciente da mesma maneira que as crianças adquirem interesse social com seus pais Depois de despertado o interesse social dos pacientes deve se propagar para a família os amigos e as pessoas fora da relação terapêutica Adler 1956 PESQUISA RELACIONADA A teoria adleriana continua a gerar uma quantidade mode rada de pesquisa sobre temas como os efeitos da ordem de nascimento a escolha da carreira os transtornos alimen tares e o beber compulsivo Cada um desses temas pode servir como fonte potencialmente rica para a compreensão de vários conceitos adlerianos Efeitos da ordem de nascimento A fascinante teorização de Adler sobre a ordem de nasci mento deu origem a uma quantidade impressionante de pesquisas No entanto estudos controlados dos efeitos da ordem de nascimento não são apenas difíceis de condu zir como com frequência não resultam em efeito algum Imaginemse as muitas variáveis que devem ser contabili zadas o número geral o gênero e o espaço de tempo entre os irmãos e os eventos e o momento desses eventos que ocorrem nas famílias mudanças divórcio morte incapaci dade para citar apenas alguns Poucos estudos conseguem incluir números suficientemente altos de participantes e controlar essas variáveis de forma que leve a resultados sig nificativos Os críticos argumentaram que por todas essas razões a pesquisa não pode confirmar nem negar as pre dições de Adler acerca do impacto da posição na ordem de nascimento sobre os indivíduos Em 1996 Frank Sulloway publicou Born to rebel birth order family dinamics and creative lives Nascido para se re belar ordem de nascimento dinâmica familiar e vidas cria tivas no qual ele apresentava um argumento evolutivo para os efeitos da ordem de nascimento na personalidade Os irmãos escreveu ele competem por um recurso im portante e frequentemente escasso a afeição e a atenção parental O sucesso dos filhos nessa competição reflete estratégias que impactam suas personalidades e a posição Feist03indd 62 Feist03indd 62 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 63 na ordem de nascimento prediz esses traços de persona lidade estratégicos Dando apoio à teoria de Adler Sullo way propôs que os primogênitos têm mais probabilidade de serem orientados para a realização ansiosos e confor mistas enquanto os nascidos posteriormente tendem a ser mais aventureiros abertos à experiência inovadores e rejeitam o status quo No final das contas eles precisam encontrar uma forma de ganhar o amor de seus pais que seja diferente da de seu irmão mais velho Assim Olhe isto mãe é provável de ser o grito de guerra de quem nas ceu depois De fato a análise histórica de Sulloway cons tatou que os cientistas não primogênitos tinham muito mais probabilidade de aceitar novas teorias radicais quan do propostas do que os cientistas primogênitos Os pri mogênitos tinham maior probabilidade de aderir a teorias convencionais e já estabelecidas Ainda que Sulloway tenha sido criticado por sua me todologia ele coletava dados biográficos sobre indivíduos históricos Nascido para se rebelar trouxe vida nova para a pesquisa sobre a ordem de nascimento e desde sua publi cação muitos e melhores estudos foram conduzidos para testar as predições de Adler Em geral os modelos de pes quisa entre famílias indivíduos de famílias diferentes são comparados tendem a não confirmar a teoria de Adler talvez devido à dificuldade nesses tipos de modelos de con trolar as muitas variáveis que distinguem as famílias Os modelos intrafamília pedem que os respondentes se com parem com os próprios irmãos e esses estudos tendem a confirmar a teoria de Adler Por exemplo Paulhus Trapnell e Chen 1999 conduziram um estudo intrafamília com mais de mil famílias e constataram que os primogênitos eram indicados como os de realização mais elevada e mais conscienciosos enquanto os que nasceram depois eram vistos como mais rebeldes liberais e agradáveis Em uma revisão muito recente de mais de 200 estudos da ordem de nascimento que apresentaram diferenças significativas entre os irmãos Eckstein e colaboradores 2010 encontra ram apoio para Adler e Sulloway os primogênitos e filhos únicos são vistos como os de realização mais elevada e os nascidos posteriormente como mais rebeldes e interessa dos no âmbito social Lembranças precoces e escolha da carreira As LPs predizem a escolha da carreira entre os jovens es tudantes Adler acreditava que a escolha da carreira re fletia a personalidade de uma pessoa Se sou chamado para orientação vocacional sempre pergunto ao indivíduo em que ele era interessado durante seus primeiros anos de vida Suas lembranças desse período mostram conclu sivamente em que ele se treinou de modo mais contínuo Adler 1958 conforme citado em Kasler Nevo 2005 p 221 Os pesquisadores inspirados por Adler portanto previram que o tipo de carreira que o indivíduo escolhe quando adulto com frequência está refletido em suas lem branças mais precoces Para testar essa hipótese Jon Kasler e Ofra Nevo 2005 coletaram as lembranças mais precoces de 130 participantes Essas lembranças foram então codificadas por dois juízes sobre o tipo de carreira que a lembrança refletia As lembranças foram classificadas com o uso dos tipos de interesse vocacional de Holland 1973 a saber realista investigativo artístico social empreendedor e convencional ver Tab 33 para a descrição desses tipos de interesse Por exemplo uma LP que reflete um inte resse pela carreira social mais tarde na vida foi Fui para o jardim de infância pela primeira vez com 4 ou 5 anos Não me lembro de meus sentimentos naquele dia mas fui com a minha mãe e no momento em que cheguei conheci meu primeiro amigo um menino com o nome de P Tenho uma imagem clara de P brincando nas grades e de alguma forma eu me juntei a ele Eu me diverti o dia todo Kasler Nevo 2005 p 226 Essa LP está centrada em torno da interação social e dos relacionamentos Um exemplo de uma LP que reflete um interesse pela carreira realista foi Quando era pequeno eu gostava de desmontar as coisas especialmente aparelhos elétricos Um dia quis descobrir o que havia dentro da televisão então decidi pegar uma faca e abrila Como era muito pequeno eu não tinha força e de qualquer forma meu pai me pegou e gritou comigo Kasler Nevo 2005 p 225 O interesse pela carreira dos participantes foi avaliado por uma medida de autorrelato o questionário SelfDirec ted Search SDS Holland 1973 O SDS mede os interesses vocacionais os quais foram categorizados de forma inde pendente dentro dos mesmos seis tipos de Holland em que as LPs foram incluídas Os pesquisadores assim tinham as LPs e os interesses adultos pela carreira ambos classifica dos em seis tipos de carreiras e eles queriam verificar se as LPs se correlacionavam com o interesse pela carreira Kasler e Nevo 2005 constataram que as LPs na in fância combinavam com o tipo de carreira quando adultos pelo menos para os três tipos de carreira que estavam bem representados em sua amostra realista artístico e social A direção geral do caminho da carreira de um participan te podia ser identificada a partir de temas vistos nas LPs Essas vinhetas estão coerentes com a visão de Adler das LPs e demonstram como o estilo de vida pode se relacionar com a escolha ocupacional Primeira infância e questões relacionadas à saúde Os psicólogos têm estudado questões relacionadas à saúde durante muitos anos mas apenas recentemente esses temas se tornaram de interesse para os psicólogos adlerianos Como constatamos a teoria de Adler da in ferioridade da superioridade e do interesse social pode Feist03indd 63 Feist03indd 63 271014 1516 271014 1516 64 FEIST FEIST ROBERTS ser aplicada para explicar comportamentos relacionados à saúde como os transtornos alimentares e o beber com pulsivo De acordo com Susan Belangee 2006 as dietas a compulsão alimentar e a bulimia podem ser encaradas como formas comuns de expressar sentimentos de infe rioridade Belangee cita um relato de Lowes e Tiggeman 2003 que examinaram a satisfação com o corpo em 135 crianças de 5 a 8 anos e constataram que 59 delas que riam ser mais magras Outra pesquisa demonstrou que 35 dos jovens que faziam dieta progrediam para a dieta patológica Os psicólogos adlerianos reconheceram essa progressão e a viram como um meio de compensar a infe rioridade ou um sentimento de desvalorização Em outras palavras os transtornos alimentares e seu esforço pela su perioridade são formas não sadias de compensar a inferio ridade Além do mais os transtornos alimentares sugerem que o Gemeinschaftsgefühl ou interesse social está em de sequilíbrio Em vez de estarem focadas em ajudar os outros e sentirem compaixão pelos outros as pessoas com esses transtornos estão muito mais centradas em suas próprias vidas e dificuldades Belangee 2007 A teoria adleriana também pode lançar luz sobre outro comportamento relacionado à saúde o beber compulsivo Ainda que beber excessivamente entre universitários tenha uma história longa e destrutiva esse padrão de consumo de álcool aumentou em anos recentes com estudantes do sexo masculino tendo mais probabilidade do que estu dantes do sexo feminino de beberem em excesso por um período relativamente curto Brannon Feist 2007 Homens e mulheres universitários entre 18 e 30 anos pos suem o risco mais elevado de consumir álcool excessiva mente No entanto as taxas de ingestão de bebida entre esses estudantes não foram analisadas de acordo com a or dem de nascimento o gênero dos irmãos a etnia e outros tópicos adlerianos TABELA 33 Qualidades dos seis tipos de carreira de Holland realista investigativo artístico social empreendedor e convencional Realista Gosta de trabalhar com animais ferramentas ou máquinas em geral evita atividades sociais como ensinar curar e informar os outros Possui boas habilidades no trabalho com ferramentas em desenhos mecânicos ou elétricos em máquinas ou plantas e animais Valoriza coisas práticas que se pode ver tocar e usar como plantas e animais ferramentas equipamento ou máquinas Vêse como prático mecânico e realista Investigativo Gosta de estudar e resolver problemas de matemática ou ciências em geral evita liderar vender ou persuadir as pessoas É bom em compreender e resolver problemas de ciências e matemática Valoriza as ciências Vêse como preciso científico e intelectual Artístico Gosta de realizar atividades criativas como arte teatro artesanato dança música ou literatura em geral evita atividades altamente ordenadas e repetitivas Possui boas habilidades artísticas em literatura teatro artesanato música ou arte Valoriza as artes criativas como teatro música arte ou obras literárias Vêse como expressivo original e independente Social Gosta de fazer coisas para ajudar as pessoas tais como ensinar cuidar ou prestar primeiros socorros transmitir informações em geral evita o uso de máquinas ferramentas ou animais para atingir um objetivo É bom em ensinar aconselhar cuidar ou transmitir informações Valoriza ajudar as pessoas e resolver problemas sociais Vêse como prestativo amigável e confiável Empreendedor Gosta de liderar e persuadir as pessoas e de vender objetos e ideias em geral evita atividades que requerem observação cuidadosa e pensamento científico e analítico É bom em liderar pessoas e vender objetos ou ideias Valoriza o sucesso na política na liderança ou nos negócios Vêse como dinâmico ambicioso e sociável Convencional Gosta de trabalhar com números registros ou máquinas de maneira determinada e ordenada em geral evita atividades ambíguas não estruturadas É bom no trabalho com registros escritos e números de forma sistemática e ordenada Valoriza o sucesso nos negócios Vêse como organizado e bom em seguir um plano estabelecido Feist03indd 64 Feist03indd 64 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 65 Recentemente no entanto Teresa Laird e Andrea Shelton 2006 examinaram a questão do beber compul sivo e a ordem de nascimento entre homens e mulheres que frequentam a universidade As pesquisadoras encon traram diferenças significativas entre os estudantes em relação à dinâmica familiar ao consumo de álcool e aos padrões de ingestão alcoólica Isto é os filhos mais mo ços em uma família tinham maior probabilidade de beber compulsivamente enquanto os outros filhos demons traram mais restrições à ingestão As autoras explicaram essa associação usando a teoria adleriana os filhos mais moços são mais dependentes dos outros e quando as pessoas que são dependentes estão estressadas elas têm maior probabilidade de lidar com isso por meio do beber em excesso CRÍTICAS A ADLER A teoria de Adler como a de Freud produziu muitos con ceitos que não se prestam facilmente à verificação ou à comprovação Por exemplo embora a pesquisa tenha mos trado de forma consistente uma relação entre as lembran ças da primeira infância e o estilo de vida atual de uma pes soa Clark 2002 esses resultados não verificam a noção de Adler de que o estilo presente molda as LPs do indiví duo Uma explicação causal alternativa também é possível isto é as experiências precoces podem causar o estilo de vida atual Assim um dos conceitos mais importantes de Adler o pressuposto de que o estilo de vida presente de termina as LPs em vez do contrário é difícil de verificar ou refutar Outra função de uma teoria útil é gerar pesquisa e se gundo esse critério classificamos a teoria de Adler como acima da média Boa parte da pesquisa sugerida pela psi cologia individual investigou as LPs o interesse social e o estilo de vida Arthur J Clark 2002 por exemplo cita evidências que mostram que as LPs se relacionam a uma miríade de fatores de personalidade incluindo dimensões de transtornos da personalidade escolha profissional es tilo explanatório e processos e resultados da psicoterapia Além disso a teoria de Adler encorajou os pesquisadores a construírem várias escalas de interesse social por exemplo a Escala de Interesse Social Crandall 1975 1981 o Índice de Interesse Social Greever Tseng Friedland 1973 e a Escala de Interesse Social de Sulliman Sulliman 1973 A atividade de pesquisa sobre essas escalas e a ordem de nascimento as LPs e o estilo de vida conferem à teoria ad leriana uma classificação como moderada a alta quanto a sua capacidade de gerar pesquisa Como a teoria adleriana organiza o conhecimento den tro de uma estrutura significativa Em geral a psicologia individual é ampla o suficiente para abranger possíveis explicações para muito do que é conhecido sobre o com portamento e o desenvolvimento humano Mesmo os comportamentos autoderrotistas e incoerentes podem ser enquadrados na estrutura da luta pela superioridade A visão prática de Adler dos problemas vitais nos permite classificar sua teoria como alta na capacidade de extrair um sentido do que conhecemos sobre o comportamento humano Também classificamos a teoria adleriana como alta em sua capacidade de orientar a ação A teoria serve ao psicote rapeuta ao professor e aos pais como diretriz para a solu ção de problemas práticos em uma variedade de contextos Os praticantes adlerianos reúnem informações por meio de relatos sobre a ordem de nascimento os sonhos as LPs as dificuldades na infância e as deficiências físicas Eles en tão usam essas informações para compreender o estilo de vida de uma pessoa e aplicar técnicas específicas que irão aumentar a responsabilidade individual do paciente e am pliar sua liberdade de escolha A psicologia individual é internamente coerente Ela inclui um conjunto de expressões definidas operacional mente Mesmo que a teoria adleriana seja um modelo para autocoerência ela sofre de uma falta de definições operacionais precisas Expressões como objetivo de superio ridade e força criativa não possuem definição científica Em nenhum dos trabalhos de Adler elas são definidas de forma operacional e o pesquisador irá procurar em vão por definições precisas que se prestem ao estudo rigoroso A expressão força criativa é especialmente ilusória O que é essa força mágica que toma os materiais brutos da heredi tariedade e do ambiente e molda uma personalidade úni ca Como a força criativa se transforma em ações ou ope rações específicas que o cientista precisa para desenvolver uma investigação Infelizmente a psicologia individual é um tanto filosófica até mesmo moralista e não oferece respostas a tais perguntas O conceito de força criativa é muito atraente Prova velmente a maioria das pessoas prefere acreditar que elas são compostas de algo mais do que as interações da he reditariedade e do ambiente Muitas pessoas sentem in tuitivamente que possuem algum agente alma ego self força criativa dentro delas que lhes permite fazer escolhas e criar seu estilo de vida No entanto mesmo sendo tão convidativo o conceito de força criativa é simplesmente uma ficção e não pode ser estudado no âmbito científico Devido à falta de definições operacionais portanto clas sificamos a psicologia individual como baixa em coerência interna O critério final de uma teoria útil é a simplicidade ou parcimônia Segundo esse padrão classificamos a psicologia individual como estando em torno da média Ainda que os escritos desajeitados e desorganizados de Adler se desviem da classificação da teoria em relação à parcimônia o traba lho de Ansbacher e Ansbacher Adler 1956 1964 tornou a psicologia individual mais parcimoniosa Feist03indd 65 Feist03indd 65 271014 1516 271014 1516 66 FEIST FEIST ROBERTS Termoschave e conceitos As pessoas iniciam a vida com uma força de luta ina ta e deficiências físicas as quais se combinam para produzir sentimentos de inferioridade Esses sentimentos estimulam as pessoas a estabele cer um objetivo para a superação de sua inferioridade As pessoas que se veem como tendo mais do que sua parcela de deficiências físicas ou que experimentam um estilo de vida mimado ou negligenciado super compensam essas deficiências e têm probabilidade de apresentarem sentimentos exagerados de inferiori dade de lutarem pelo ganho pessoal e de estabelece rem objetivos irrealisticamente altos As pessoas com sentimentos normais de inferiorida de compensam tais sentimentos por meio da coope ração com os outros e desenvolvendo um alto nível de interesse social Interesse social ou uma profunda preocupação pelo bemestar dos outros é o único critério pelo qual as ações humanas devem ser julgadas Os três problemas principais da vida amor pelo pró ximo trabalho e amor sexual só podem ser resolvi dos por meio do interesse social CONCEITO DE HUMANIDADE Adler acreditava que as pessoas são basicamente autode terminadas e que elas moldam suas personalidades a partir do significado que dão a suas experiências O material cons tituinte da personalidade é fornecido pela hereditariedade e pelo ambiente porém a força criativa molda esse material e o coloca em uso Adler com frequência enfatizava que o uso que as pessoas fazem de suas habilidades é mais importante do que a qualidade destas A hereditariedade dota as pessoas com certas habilidades e o ambiente lhes dá a oportunidade de melhorálas mas somos em última análise responsáveis pelo emprego que damos a essas habilidades Adler também acreditava que as interpretações feitas acerca das próprias experiências são mais importantes do que as experiências em si Nem o passado nem o futuro determi nam o comportamento presente Em vez disso as pessoas são motivadas por suas percepções atuais do passado e suas expectativas presentes sobre o futuro Essas percepções não correspondem necessariamente à realidade e como Adler 1956 afirmou os significados não são determinados pelas situações mas nos determinamos por meio dos significados que damos às situações p 208 As pessoas se movem para a frente motivadas por obje tivos futuros em vez de por instintos inatos ou forças causais Esses objetivos futuros costumam ser rígidos e irrealistas mas a liberdade pessoal dos indivíduos lhes permite refor mular seus objetivos e assim mudar suas vidas As pessoas criam suas personalidades e são capazes de alterálas apren dendo novas atitudes Tais atitudes incluem uma compreen são de que a mudança pode ocorrer que nenhuma outra pessoa ou circunstância é responsável pelo que o indivíduo é e que os objetivos pessoais devem estar subordinados ao interesse social Ainda que nosso objetivo final seja relativamente fixo durante a primeira infância permanecemos livres para mu dar nosso estilo de vida a qualquer momento Como o objeti vo é fictício e inconsciente podemos estabelecer e perseguir metas temporárias Tais metas momentâneas não estão ri gidamente circunscritas pelo objetivo final mas são criadas por nós apenas como soluções parciais Adler 1927 expres sou essa ideia da seguinte forma Precisamos entender que as reações da alma humana não são finais e absolutas Cada resposta é apenas parcial temporariamente válida mas de forma alguma deve ser considerada uma solução final de um problema p 24 Em outras palavras mesmo que nosso objetivo final seja estabelecido durante a infância somos ca pazes de mudar em qualquer ponto da vida Contudo Adler defendia que nem todas as nossas escolhas são conscientes e que o estilo de vida é criado por meio de escolhas conscien tes e inconscientes Adler acreditava que em última análise as pessoas são responsáveis pela própria personalidade A força criativa das pessoas é capaz de transformar sentimentos de inadequação em interesse social ou no objetivo autocentrado da supe rioridade pessoal Essa capacidade significa que as pessoas permanecem livres para escolher entre a saúde psicológica e a neurose Adler considerava a postura autocentrada como patológica e estabeleceu o interesse social como o padrão de maturidade psicológica As pessoas sadias possuem um alto nível de interesse social mas durante suas vidas elas per manecem livres para aceitar ou rejeitar a normalidade e se tornarem o que desejam Segundo as seis dimensões de um conceito de humani dade listadas no Capítulo 1 classificamos Adler como muito alto em livre escolha e otimismo muito baixo em causalida de moderado em influências inconscientes e alto em fatores sociais e na singularidade dos indivíduos Em suma Adler sustentava que as pessoas são criaturas sociais autodeter minadas que se movem para a frente e são motivadas por ficções presentes para lutar pela perfeição para si mesmas e para a sociedade Feist03indd 66 Feist03indd 66 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 67 Todos os comportamentos mesmo aqueles que pa recem incompatíveis são coerentes com o objetivo fi nal de uma pessoa O comportamento humano não é moldado nem pe los eventos passados nem pela realidade objetiva mas pela percepção subjetiva que as pessoas têm de uma situação A hereditariedade e o ambiente fornecem o material de construção da personalidade mas a força criativa das pessoas é responsável por seu estilo de vida Todas as pessoas mas especialmente as neuróticas fazem uso de várias tendências à salvaguarda tais como desculpas agressividade e retraimento como tentativas conscientes ou inconscientes de proteger os sentimentos inflados de superioridade contra a vergonha pública O protesto viril a crença de que os homens são supe riores às mulheres é uma ficção que reside na raiz de muitas neuroses tanto para os homens quanto para as mulheres A terapia adleriana usa a ordem de nascimento as lembranças precoces e os sonhos para estimular a cora gem a autoestima e o interesse social Feist03indd 67 Feist03indd 67 271014 1516 271014 1516 CAPÍTULO 4 Jung Psicologia Analítica Panorama da psicologia analítica Biografia de Carl Jung Níveis da psique Consciente Inconsciente pessoal Inconsciente coletivo Arquétipos Persona Sombra Anima Animus Grande mãe Velho sábio Herói Self Dinâmica da personalidade Causalidade e teleologia Progressão e regressão Tipos psicológicos Atitudes Introversão Extroversão Funções Pensamento Sentimento Sensação Intuição Desenvolvimento da personalidade Estágios do desenvolvimento Infância Juventude Meiaidade Velhice Autorrealização Métodos de investigação de Jung Teste de associação de palavras Análise dos sonhos Imaginação ativa Psicoterapia Pesquisa relacionada Tipo de personalidade e investimentos financeiros Tipo de personalidade e liderança Críticas a Jung Conceito de humanidade Termoschave e conceitos Jung Feist04indd 68 Feist04indd 68 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 69 O médico de meiaidade estava sentado em frente a sua escrivaninha em profunda contemplação e preocupação Um relacionamento de seis anos com um amigo mais velho e mentor havia terminado re centemente com animosidade e o médico se sentia frus trado e inseguro quanto a seu futuro Ele já não tinha mais confiança em seu modo de tratar os pacientes e começou a simplesmente deixálos falar não oferecendo qualquer conselho específico ou tratamento Durante alguns meses o médico vinha apresentando sonhos bizarros e inexplicáveis e tendo visões estranhas e misteriosas Nada disso parecia fazer sentido para ele Ele se sentia perdido e desorientado não tendo certeza se o trabalho para o qual havia sido treinado era ou não ciência de fato Um artista um tanto talentoso ele começou a ilustrar seus sonhos e visões com pouca ou nenhuma compreen são do que o produto final poderia significar Ele também anotou suas fantasias sem realmente tentar entendêlas Nesse dia em particular ele começou a ponderar O que estou fazendo Ele duvidava que seu trabalho fosse ciência mas não estava certo sobre o que ele era De repente para seu espanto ouviu uma voz feminina cla ra e distinta que vinha de dentro dele dizer Isso é arte Ele reconheceu a voz como a de uma paciente talentosa que tinha fortes sentimentos positivos por ele Ele protestou dizendo à voz que seu trabalho não era arte mas não obte ve resposta imediata Então voltando a escrever ele ouviu novamente a voz dizer Isso é arte Quando tentou argu mentar com a voz não houve resposta Ele pensou que a mulher interna não possuía um centro de fala portanto sugeriu que ela usasse dele Ela fez isso e em seguida hou ve uma prolongada conversa O médico de meiaidade que conversava com a mu lher interna era Carl Gustav Jung e a época era o inverno de 1913 a 1914 Jung antes disso tinha sido admirador e amigo de Sigmund Freud mas quando surgiram as dife renças teóricas o relacionamento pessoal entre os dois se rompeu deixando Jung com sentimentos amargos e um profundo sentimento de perda Essa história é apenas uma das muitas ocorrências estranhas e bizarras experimentadas por Jung durante sua confrontação com o inconsciente na metade de sua vida Um interessante relato de sua jornada incomum até os recessos de sua psique é encontrado na autobiografia de Jung Memórias sonhos reflexões Jung 1961 PANORAMA DA PSICOLOGIA ANALÍTICA Antes colega de Freud Carl Gustav Jung rompeu com a psicanálise ortodoxa para estabelecer uma teoria da perso nalidade distinta denominada psicologia analítica que se baseia no pressuposto de que fenômenos ocultos podem influenciar e de fato realmente influenciam as vidas de todos Jung acreditava que cada um de nós é motivado não somente por experiências reprimidas mas também por certas experiências de tom emocional herdadas de nossos ancestrais Essas imagens herdadas compõem o que Jung chamou de inconsciente coletivo O inconsciente coletivo inclui aqueles elementos que nunca experimentamos de modo individual mas que chegaram até nós provenientes de nossos ancestrais Alguns elementos do inconsciente coletivo tornaram se altamente desenvolvidos e são chamados de arquétipos O arquétipo mais inclusivo é a noção de autorrealização que pode ser alcançada apenas pela obtenção de um equi líbrio entre as várias forças opostas da personalidade Assim a teoria de Jung é um compêndio de opostos As pessoas são introvertidas e extrovertidas racionais e irra cionais masculinas e femininas conscientes e inconscien tes e impelidas por eventos passados ao mesmo tempo em que são atraídas por expectativas futuras Este capítulo examina com alguns detalhes a longa e colorida vida de Carl Jung e usa fragmentos de sua história de vida para ilustrar seus conceitos e teorias A noção de Jung de um inconsciente coletivo torna sua teoria uma das mais intrigantes de todas as concepções da personalidade BIOGRAFIA DE CARL JUNG Carl Gustav Jung nasceu em 26 de julho de 1875 em Kesswil uma vila em Lake Constance na Suíça Seu avô paterno o velho Carl Gustav Jung era um médico proemi nente em Basileia e um dos homens mais conhecidos da quela cidade Um boato local sugeria que o velho Carl Jung era filho ilegítimo do grande poeta alemão Goethe Ainda que o velho Jung nunca tenha reconhecido o que dizia o boato o jovem Jung pelo menos às vezes acreditava que fosse bisneto de Goethe Ellenberger 1970 Os pais de Jung eram os mais moços de 13 filhos uma situação que pode ter contribuído para algumas das dificuldades que eles tiveram em seu casamento O pai de Jung Johann Paul Jung era ministro da Igreja Suíça Reformada e sua mãe Emilie Preiswerk Jung era filha de um teólogo Na verdade oito dos tios maternos de Jung e dois de seus tios paternos eram pastores por tanto religião e medicina foram prevalentes em sua fa mília A família da mãe de Jung tinha uma tradição de espiritualismo e misticismo e seu avô materno Samuel Preiswerk acreditava no oculto e com frequência con versava com os mortos Ele mantinha uma cadeira vazia para o fantasma de sua primeira esposa e tinha conver sas constantes e íntimas com ela Compreensivelmente essas práticas incomodavam sobremaneira a sua segun da esposa Feist04indd 69 Feist04indd 69 271014 1516 271014 1516 70 FEIST FEIST ROBERTS Os pais de Jung tiveram três filhos um nascido antes de Carl mas que viveu somente três dias e uma filha nove anos mais moça do que Carl Assim o começo da vida de Jung foi de filho único Jung 1961 descrevia seu pai como um idealista senti mental com fortes dúvidas quanto a sua fé religiosa Ele via sua mãe como tendo duas disposições separadas Por um lado ela era realista prática e afetiva mas por outro era instável mística clarividente arcaica e implacável Uma criança emocional e sensível Jung se identificava mais com o segundo lado de sua mãe o qual ele chamava de personalidade nº 2 ou personalidade noturna Alexander 1990 Aos 3 anos de idade Jung foi separado de sua mãe que teve que ser hospitalizada por vários meses e essa se paração abalou profundamente o jovem Carl Por muito tempo depois disso ele se sentia desconfiado sempre que a palavra amor era mencionada Anos depois ele ainda associava mulher a inconfiabilidade enquanto a palavra pai significava confiável mas impotente Jung 1961 Antes do quarto aniversário de Jung sua família se mudou para um subúrbio de Basileia É desse período que provém seu sonho mais precoce Tal sonho que viria a ter um efeito profundo posteriormente em sua vida e em seu conceito de um inconsciente coletivo será descrito adiante Durante seus anos escolares Jung de forma gradual tomou conhecimento de dois aspectos separados de seu self os quais ele denominou personalidades nº 1 e nº 2 Incialmente ele via as duas personalidades como partes de seu próprio mundo pessoal mas durante a adolescência tomou conhecimento da personalidade nº 2 como um re flexo de outra coisa que não era ele um velho já morto Naquela época Jung não compreendia de todo essas for ças separadas mas em anos posteriores reconheceu que a personalidade nº 2 tinha estado em contato com sentimen tos e intuições que a personalidade nº 1 não percebia Em Memórias sonhos e reflexões Jung 1961 escreveu sobre sua personalidade nº 2 Eu vivenciava ele e sua influência de uma maneira curiosamente irrefletida quando ele estava presente a personalidade nº 1 empalidecia até o ponto da não existência e quando o ego que foi se tornando cada vez mais idêntico à personalidade nº 1 dominou a cena o velho se bem me lembro parecia um sonho remoto e irreal p 68 Entre os 16 e os 19 anos a personalidade nº 1 de Jung emergiu como mais dominante e aos poucos reprimiu o mundo das premonições intuitivas Jung 1961 p 68 Quando sua personalidade consciente do dia a dia preva leceu ele pôde se concentrar na escola e na carreira Na teoria de Jung sobre atitudes a sua personalidade nº 1 era extrovertida e em consonância com o mundo objetivo en quanto a personalidade nº 2 era introvertida e direcionada internamente para seu mundo subjetivo Assim durante seus primeiros anos escolares Jung era principalmente introvertido mas quando chegou a época de se preparar para uma profissão e cumprir outras responsabilidades ob jetivas ele se tornou mais extrovertido uma atitude que prevaleceu até que ele passou por uma crise na metade da vida e entrou em um período de extrema introversão A primeira opção profissional de Jung era arqueologia contudo ele também era interessado em filologia histó ria filosofia e ciências naturais Apesar de uma origem um tanto aristocrática Jung possuía recursos financeiros limitados Noll 1994 Forçado pela falta de dinheiro a frequentar uma escola próxima de casa ele se matriculou na Universidade de Basileia onde não havia professor de arqueologia Tendo que escolher outro campo de estudo Jung optou pelas ciências naturais porque por duas ve zes ele havia sonhado ter feito descobertas importantes no mundo natural Jung 1961 Sua escolha por uma carreira acabou se afunilando para a medicina Tal esco lha tornouse ainda mais delimitada quando ele ficou sa bendo que a psiquiatria lidava com fenômenos subjetivos Singer 1994 Enquanto Jung estava em seu primeiro ano da esco la médica seu pai faleceu deixandoo com os cuidados de sua mãe e irmã Também enquanto ainda estava na escola médica começou a participar de uma série de sessões com parentes da família Preiswerk incluindo sua prima Helene a qual alegava que podia se comunicar com pessoas mor tas Jung participou dessas sessões principalmente como um membro da família mas depois quando escreveu sua dissertação médica sobre fenômenos ocultos relatou que tais sessões tinham sido experimentos controlados McLynn 1996 Após completar sua formação médica na Universidade de Basileia em 1900 Jung se tornou psiquiatra assistente de Eugene Bleuler no Hospital Psiquiátrico de Burghöltzli em Zurique possivelmente o mais prestigioso hospital escola psiquiátrico do mundo na época De 1902 a 1903 Jung estudou por seis meses em Paris com Pierre Janet sucessor de Charcot Quando voltou para a Suíça em 1903 casouse com Emma Rauschenbach uma jovem mulher so fisticada de uma família suíça rica Dois anos depois en quanto continuava com suas funções no hospital começou a ensinar na Universidade de Zurique e a atender pacientes em seu consultório particular Jung leu a Interpretação dos sonhos de Freud Freud 19001953 logo em seguida que ela foi publicada mas não ficou muito interessado nisso Singer 1994 Quando releu o livro alguns anos depois teve maior entendimento das ideias de Freud e foi movido a começar a interpretar os pró prios sonhos Em 1906 Jung e Freud deram início a uma correspondência constante ver McGuire McGlashan 1994 No ano seguinte Freud convidou Carl e Emma Jung para irem a Viena Imediatamente Freud e Jung de senvolveram forte respeito e afeição mútua conversando Feist04indd 70 Feist04indd 70 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 71 em seu primeiro encontro durante 13 horas seguidas indo até as primeiras horas da madrugada Nessa maratona de conversas Martha Freud e Emma Jung se ocuparam com um colóquio cortês Ferris 1997 Freud achava que Jung era a pessoa ideal para ser seu sucessor Ao contrário de outros homens do círculo de amigos e seguidores de Freud Jung não era judeu nem vienense Além disso Freud tinha sentimentos pessoais de afeto por Jung e o considerava um homem de grande inteligência Essas qualificações motivaram Freud a esco lhêlo como o primeiro presidente da Associação Psicana lítica Internacional Em 1909 G Stanley Hall presidente da Universidade Clark e um dos primeiros psicólogos dos Estados Unidos convidou Jung e Freud para fazerem uma série de confe rências na Universidade Clark em Worcesser Massachu setts Com Sándor Ferenczi outro psicanalista os dois ho mens viajaram para os Estados Unidos a primeira de nove visitas de Jung ao país Bair 2003 Durante sua viagem de sete semanas e enquanto estavam em contato diário uma tensão subjacente entre Jung e Freud começou a se desenvolver lentamente Essa tensão pessoal não diminuiu quando os dois então famosos psicanalistas começaram a interpretar os sonhos um do outro um passatempo que provavelmente criaria tensão em qualquer relacionamento Em Memórias sonhos e reflexões Jung 1961 alegou que Freud não estava disposto a revelar detalhes sobre sua vida pessoal detalhes que Jung precisava para interpretar um dos sonhos de Freud De acordo com o relato de Jung quando indagado sobre detalhes íntimos Freud protestou Mas não posso arriscar minha autoridade Jung 1961 p 158 Naquele momento Jung concluiu que Freud na verdade havia perdido sua autoridade aquela frase ardeu em minha memória e nela o final de nosso relacionamento já estava pressagiado p 158 Jung também afirmou que durante a viagem para os Estados Unidos Freud não conseguiu interpretar os sonhos dele em especial um que parecia conter um ma terial rico do seu inconsciente coletivo Posteriormente discutiremos esse sonho em mais detalhes mas aqui apenas apresentamos os aspectos do sonho que podem se relacionar a alguns dos problemas que Jung teve du rante toda a vida com as mulheres Nesse sonho Jung e sua família estavam morando no segundo andar de sua casa quando ele decidiu explorar os níveis até então des conhecidos da residência No nível inferior de sua mora dia ele deparou com uma caverna onde encontrou dois crânios humanos muito velhos e parcialmente desinte grados p 159 Depois que Jung descreveu o sonho Freud ficou in teressado nos dois crânios mas não como material do in consciente coletivo Em vez disso insistiu para que Jung associasse os crânios a algum desejo A quem Jung deseja va a morte Ainda não confiando completamente em seu próprio julgamento e sabendo o que Freud esperava Jung respondeu Minha esposa e minha cunhada afinal de contas eu tinha que nomear alguém cuja morte valesse o desejo Eu era recémcasado na época e sabia perfeitamente bem que nada havia dentro de mim que apontasse para tais desejos Jung 1961 p 159160 Ainda que a interpretação de Jung de seu sonho possa ser bem mais precisa do que a de Freud é bem possível que Jung de fato desejasse a morte de sua esposa Naquela época Jung não era recémcasado mas estava casado há quase sete anos e durante os cinco anos anteriores ele es teve envolvido em um relacionamento íntimo com uma ex paciente chamada Sabina Spielrein Frank McLynn 1996 alegou que o complexo materno de Jung tinha feito com que ele abrigasse animosidade em relação a sua esposa po rém uma explicação mais provável é que Jung precisava de mais do que uma mulher para satisfazer os dois aspectos de sua personalidade Entretanto as duas mulheres que compartilharam a vida de Jung por quase 40 anos foram sua esposa e outra expaciente chamada Antonia Toni Wolff Bair 2003 Emma Jung parecia se relacionar melhor com a perso nalidade nº 1 de Jung enquanto Toni Wolff estava mais em contato com a personalidade nº 2 O relacionamento de três vias nem sempre era amigável mas Emma Jung percebia que Toni Wolff podia fazer mais por Carl do que ela ou qualquer outra pessoa e se manteve grata a Wolff Dunne 2000 Ainda que Jung e Wolff não tenham feito tentativas de esconder seu relacionamento o nome de Toni Wolff não aparece na autobiografia de Jung publicada postumamen te Memórias sonhos e reflexões Alan Elms 1994 desco briu que Jung havia escrito um capítulo inteiro sobre Toni mas ele nunca foi publicado É provável que a ausência do nome de Wolff se deve aos ressentimentos que os filhos dele tinham em relação a ela Eles lembravam quando ela teve um caso abertamente com seu pai e como adultos com algum poder de veto sobre o que aparecia na autobio grafia de Jung eles não estavam dispostos a perpetuar o conhecimento do caso De qualquer forma existe pouca dúvida de que Jung necessitava de outras mulheres além de sua esposa Em uma carta a Freud datada de 30 de janeiro de 1910 Jung escreveu O prérequisito para um bom casamento o que me parece é a autorização para ser infiel McGuire 1974 p 289 Quase imediatamente depois que Freud e Jung retor naram de sua viagem aos Estados Unidos as diferenças pessoais e teóricas se tornaram mais intensas ao mesmo tempo em que a amizade esfriava Em 1913 eles inter romperam sua correspondência pessoal e no ano seguinte Jung se demitiu da presidência e logo depois retirou sua filiação da Associação Psicanalítica Internacional Feist04indd 71 Feist04indd 71 271014 1516 271014 1516 72 FEIST FEIST ROBERTS O rompimento de Jung com Freud pode estar relacio nado a eventos não discutidos em Memórias sonhos e refle xões Jung 1961 Em 1907 Jung escreveu a Freud sobre sua admiração ilimitada por ele e confessou que sua ve neração tem algo do caráter de uma inclinação religiosa e que possuía um inegável meiotom erótico McGuire 1974 p 95 Jung continuou sua confissão dizendo Esse sentimento abominável provém do fato de que quando menino fui vítima de agressão sexual por um homem que eu cultuava p 95 Jung na verdade tinha 18 anos na época da agressão sexual e via o homem mais velho como um amigo paternal a quem ele podia confiar quase tudo Alan Elms 1994 discutiu que os sentimentos eróticos de Jung por Freud associados a sua experiência de agressão sexual por um homem mais velho antes cultuado pode ter sido uma das principais razões pelas quais Jung acabou rompendo com Freud Elms ainda sugeriu que a rejeição de Jung das teorias sexuais de Freud podem ter se originado de seus sentimentos ambivalentes em relação ao médico vienense Os anos imediatamente seguintes ao rompimento com Freud foram preenchidos com solidão e autoanálise para Jung De dezembro de 1913 até 1917 ele passou pela experiência mais profunda e perigosa de sua vida uma jor nada pelos subterrâneos de sua psique inconsciente Mar vin Goldwert 1992 se referiu a essa época na vida de Jung como um período de doença criativa um termo que Hen ri Ellenberger 1970 havia usado para descrever Freud nos anos que logo se sucederam à morte de seu pai O período de Jung de doença criativa foi semelhante à autoanálise de Freud Ambos começaram sua busca pelo self enquan to estavam por volta dos 30 anos ou início dos 40 Freud como uma reação à morte de seu pai Jung em consequên cia de sua separação de seu pai espiritual Freud Os dois passaram por um período de solidão e isolamento e foram profundamente modificados pela experiência Mesmo que a jornada de Jung ao inconsciente se mostrasse perigosa e dolorosa ela também foi necessária e fecunda Usando a interpretação dos sonhos e a ima ginação ativa para se obrigar a essa viagem aos subterrâ neos Jung por fim conseguiu criar sua teoria singular da personalidade Durante esse período ele anotou seus sonhos fez desenhos deles contou histórias para si mesmo e depois seguiu essas histórias sempre que elas avançavam Por meio desses procedimentos ele tomou conhecimento de seu inconsciente pessoal ver Jung 1979 e Dunne 2000 para uma coleção de muitas de suas pinturas durante esse período Prolongando o método e se aprofundando mais ele deparou com os conteúdos do inconsciente coletivo os arquétipos Ouviu sua anima falar com ele como uma clara voz feminina descobriu sua sombra o lado mau da sua personalidade falou com os arquétipos do sábio e da grande mãe e por fim quase no término da sua jornada atingiu um tipo de renascimento psicológico chamado de individuação Jung 1961 Apesar de Jung ter viajado muito em seu estudo da personalidade ele continuou sendo um cidadão suíço re sidindo em Küsnacht perto de Zurique Ele e sua esposa que também era analista tiveram cinco filhos quatro me ninas e um menino Jung era cristão mas não frequen tava a igreja Seus hobbies incluíam entalhe em madeira escultura e navegar no lago Constance Ele também man tinha um interesse ativo em alquimia arqueologia gnos ticismo filosofias orientais história religião mitologia e etnologia Em 1944 tornouse professor de psicologia médica na Universidade de Basileia mas a saúde debilitada o forçou a renunciar a esse cargo no ano seguinte Depois que sua esposa morreu em 1955 ele foi principalmente um soli tário o velho sábio de Küsnacht Morreu em 6 de junho de 1961 em Zurique a poucas semanas do seu 86º ani versário Na época de sua morte a reputação de Jung era mundial estendendose além da psicologia para incluir a filosofia a religião e a cultura popular Brome 1978 NÍVEIS DA PSIQUE Jung assim como Freud baseou sua teoria da persona lidade no pressuposto de que a mente ou psique possui um nível consciente e um inconsciente Diferentemente de Freud no entanto Jung afirmava de modo veemente que a porção mais importante do inconsciente originase não das experiências pessoais do indivíduo mas do passado distan te da existência humana um conceito que Jung denomina va inconsciente coletivo De menor importância para a teoria junguiana são o consciente e o inconsciente pessoal Consciente De acordo com Jung as imagens conscientes são aquelas percebidas pelo ego enquanto os elementos inconscientes não possuem relação com o ego A noção de Jung do ego é mais restritiva do que a de Freud Jung entendia o ego como o centro da consciência mas não o centro da perso nalidade O ego não é toda a personalidade mas precisa ser completado pelo self mais abrangente o centro da per sonalidade que é em grande parte inconsciente Em uma pessoa psicologicamente saudável o ego assume uma po sição secundária ao self inconsciente Jung 19511959a Assim a consciência desempenha um papel relativamente menor na psicologia analítica e uma ênfase excessiva na expansão da psique consciente pode levar ao desequilíbrio psicológico Os indivíduos saudáveis estão em contato com seu mundo consciente porém também se permitem ex perimentar seu self inconsciente e assim obtêm a indivi duação um conceito que discutiremos na seção intitulada Autorrealização Feist04indd 72 Feist04indd 72 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 73 Inconsciente pessoal O inconsciente pessoal abrange todas as experiências reprimidas esquecidas ou subliminarmente percebidas de um indivíduo Ele contém memórias e impulsos infantis re primidos eventos esquecidos e experiências originalmente percebidas abaixo do limiar da consciência O inconsciente pessoal é formado por experiências individuais e portanto é único para cada um Algumas imagens no inconsciente pessoal podem ser lembradas com facilidade outras são recordadas com dificuldade e há aquelas que estão além do alcance da consciência O conceito de Jung do inconsciente pessoal difere pouco da visão de Freud do inconsciente e préconsciente combinados Jung 19311960b Os conteúdos do inconsciente pessoal são denomi nados complexos Um complexo é um conglomerado de ideias associadas carregadas de emoção Por exemplo as experiências de uma pessoa com a mãe podem ser agru padas em torno de um centro emocional de forma que a mãe da pessoa ou mesmo a palavra mãe desencadeie uma resposta emocional que bloqueia o fluxo tranquilo do pensamento Em nosso exemplo o complexo materno não provém somente da relação pessoal com a mãe mas também das experiências da espécie inteira com a mãe Além disso o complexo materno é formado em parte por uma imagem consciente que a pessoa tem da mãe Assim os complexos podem ser parcialmente conscien tes e se originar do inconsciente pessoal e coletivo Jung 19281960 Inconsciente coletivo Em contraste com o inconsciente pessoal que resulta das experiências individuais o inconsciente coletivo possui raízes no passado ancestral de toda a espécie Ele repre senta o conceito mais controverso de Jung e talvez o mais característico Os conteúdos físicos do inconsciente co letivo são herdados e transmitidos de uma geração para a seguinte como potencial psíquico As experiências dos ancestrais distantes com conceitos universais como Deus mãe água terra entre outros foram transmitidos ao longo das gerações de modo que as pessoas em todos os climas e tempos foram influenciadas por experiências de seus ancestrais primitivos Jung 19371959 Portanto os conteúdos do inconsciente coletivo são mais ou menos os mesmos para as pessoas em todas as culturas Jung 19341959 Os conteúdos do inconsciente coletivo não estão ador mecidos mas são ativos e influenciam os pensamentos as emoções e as ações de uma pessoa O inconsciente coleti vo é responsável pelos mitos pelas lendas e pelas crenças religiosas Ele também produz grandes sonhos isto é sonhos com significados que vão além do sonhador indi vidual e que são cheios de significados para as pessoas de todos os tempos e lugares Jung 19481960b O inconsciente coletivo não se refere a ideias herda das mas à tendência inata dos humanos a reagir de uma maneira particular sempre que suas experiências estimu lam uma tendência de resposta herdada biologicamente Por exemplo uma jovem mãe pode reagir de modo inespe rado com amor e ternura a seu bebê recémnascido mesmo que antes ela tivesse sentimentos neutros ou negativos em relação ao feto A tendência a responder faz parte do po tencial inato da mulher ou do modelo herdado porém esse potencial inato requer uma experiência individual antes que ele seja ativado Os humanos assim como outros ani mais ingressam no mundo com predisposições herdadas a agir ou reagir de determinadas maneiras se suas experiên cias presentes tiverem contato com essas predisposições biologicamente determinadas Por exemplo um homem que se apaixona à primeira vista pode ficar muito surpreso e perplexo com as próprias reações Sua amada pode não corresponder a seu ideal consciente de uma mulher embo ra algo dentro dele o leve a ser atraído por ela Jung sugeria que o inconsciente coletivo do homem continha impres sões de mulher biologicamente determinadas e que essas impressões foram ativadas quando o homem viu pela pri meira vez sua amada Quantas predisposições biologicamente determina das os humanos possuem Jung afirmou que as pessoas possuem tantas dessas tendências herdadas quantas são as situações típicas que elas têm na vida Repetições incon táveis dessas situações típicas fizeram com que se tornas sem parte da constituição biológica humana A princípio elas são formas sem conteúdo representando meramente a possibilidade de certo tipo de percepção e ação Jung 19371959 p 48 Com mais repetição essas formas co meçam a desenvolver algum conteúdo e emergem como arquétipos relativamente autônomos Arquétipos Arquétipos são imagens antigas ou arcaicas que derivam do inconsciente coletivo Eles são similares aos complexos uma vez que são coleções de imagens associadas carregadas de emoção Mas enquanto os complexos são componentes individualizados do inconsciente pessoal os arquétipos são generalizados e derivam dos conteúdos do inconscien te coletivo Os arquétipos também devem ser distinguidos dos instintos Jung 19481960a definiu instinto como um impulso físico inconsciente direcionado para a ação e con siderava o arquétipo como a contrapartida psíquica de um instinto Ao comparar os arquétipos com os instintos Jung 1975 escreveu Assim como os animais do mesmo tipo apresentam os mesmos fenômenos instintivos no mundo inteiro o homem também apresenta as mesmas formas arquetí picas independentemente de onde vive Assim como os Feist04indd 73 Feist04indd 73 271014 1516 271014 1516 74 FEIST FEIST ROBERTS animais não têm necessidade de aprender suas ativida des instintivas também o homem possui seus padrões físicos primordiais e os repete de modo espontâneo seja qual for o tipo de instrução Considerando que o homem é consciente e capaz de introspecção é bem possível que ele possa perceber seus padrões instintivos na forma de representações arquetípicas p 152 Em resumo tanto os arquétipos quanto os instintos são determinados de modo inconsciente e ambos podem aju dar a moldar a personalidade Os arquétipos têm uma base biológica mas se origi nam por meio das experiências repetidas dos primeiros an cestrais humanos O potencial para incontáveis números de arquétipos existe dentro de cada pessoa e quando uma experiência pessoal corresponde à imagem primordial la tente o arquétipo é ativado O arquétipo em si não pode ser representado direta mente mas quando ativado ele se expressa de vários mo dos em especial por meio de sonhos fantasias e ilusões Durante seu encontro na meiaidade com seu inconscien te Jung teve muitos sonhos e fantasias arquetípicos Com frequência iniciava as fantasias imaginando que estava descendo em um profundo abismo cósmico Ele conseguia entender muito pouco suas visões e seus sonhos naquela época mas a posteriori quando começou a compreender que as imagens oníricas e as figuras das fantasias eram na verdade arquétipos essas experiências assumiram um sig nificado completamente novo Jung 1961 Os sonhos são a principal fonte de material arquetí pico e certos sonhos oferecem o que Jung considerava a prova da existência do arquétipo Tais sonhos produzem temas que poderiam não ser conhecidos do sonhador pela experiência pessoal Os temas muitas vezes coincidem com aqueles conhecidos dos povos antigos ou dos nativos de tribos aborígenes contemporâneas Jung acreditava que as alucinações dos pacientes psi cóticos também ofereciam evidências de arquétipos uni versais Bair 2003 Enquanto trabalhava como psiquiatra assistente em Burghöltzli Jung observou um paciente esquizofrênico paranoide olhando o sol através da janela O paciente implorou ao jovem psiquiatra para que também observasse Ele disse que eu devia olhar para o sol com os olhos en treabertos e então conseguiria ver o falo do sol Se eu movesse minha cabeça de um lado para o outro o falo do sol se moveria também aquela era a origem do ven to Jung 19311960b p 150 Quatro anos depois Jung deparou com um livro do filó logo alemão Albrecht Dieterich que tinha sido publicado em 1903 vários anos depois que o paciente foi internado O livro escrito em grego tratava de uma liturgia derivada do chamado papiro mágico de Paris o qual descrevia um antigo rito dos adoradores de Mithras o deus persa da luz Nessa liturgia o iniciado devia olhar para o sol até que conseguisse ver um tubo pendendo dele O tubo balançan do de leste para oeste era a origem do vento O relato de Dieterich do falo do sol do culto mitraico era praticamente idêntico à alucinação do paciente psiquiátrico que certa mente não tinha conhecimento pessoal do antigo rito de iniciação Jung 19311960b apresentou muitos exem plos parecidos como prova da existência de arquétipos e do inconsciente coletivo Conforme observado no Capítulo 2 Freud também acreditava que as pessoas herdavam coletivamente predis posições para a ação Seu conceito de dotação filogenética no entanto difere um pouco da formulação de Jung Uma diferença foi que Freud olhava primeiro para o inconscien te pessoal e recorria à dotação filogenética somente quan do as explicações individuais falhavam como ele por vezes fez quando explicou o complexo de Édipo Freud 19331964 Em contraste Jung colocava ênfase no in consciente coletivo e empregava as experiências pessoais para completar a personalidade total A principal distinção entre os dois porém foi a dife renciação que Jung fez do inconsciente coletivo em forças autônomas chamadas de arquétipos cada uma com uma vida e uma personalidade própria Ainda que exista um grande número de arquétipos como imagens vagas apenas alguns se desenvolveram até o ponto em que puderam ser conceitualizados Os mais notáveis deles incluem a persona a sombra a anima o animus a grande mãe o sábio o herói e o self Persona O lado da personalidade que as pessoas apresentam ao mundo é designado como persona O termo é bem esco lhido porque se refere à máscara usada pelos atores no teatro antigo O conceito de Jung de persona pode ter se originado de experiências com sua personalidade nº 1 a qual teve que fazer acomodações ao mundo externo Para Jung cada indivíduo deve projetar um papel particular o que a sociedade dita como a postura mais adequada para determinados contextos sociais Esperase que um médico adote uma atitude à beira do leito característica que um político mostre para a sociedade um rosto que consiga con quistar a confiança e os votos do povo que um ator exiba o estilo de vida demandado pelo público Jung 19501959 Mesmo que a persona seja um aspecto necessário de nossa personalidade não devemos confundir nossa face pública com nosso self completo Se nos identificamos muito proximamente com nossa persona permanecemos inconscientes de nossa individualidade e ficamos bloquea dos para alcançar a autorrealização É verdade que precisa mos reconhecer a sociedade mas se nos identificamos em demasia com nossa persona perdemos contato com nosso self interior e permanecemos dependentes das expectati Feist04indd 74 Feist04indd 74 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 75 vas que a sociedade tem de nós Para nos tornarmos sau dáveis no âmbito psicológico acreditava Jung precisamos estabelecer um equilíbrio entre as demandas da sociedade e o que de fato somos Esquecer a própria persona é su bestimar a importância da sociedade mas não estar cons ciente de nossa individualidade profunda é se tornar uma marionete da sociedade Jung 19501959 Durante o quase rompimento de Jung com a realidade de 1913 a 1917 ele lutou de forma árdua para permane cer em contato com sua persona Ele sabia que precisava manter uma vida normal e seu trabalho e sua família pro porcionavam esse contato Ele era forçado muitas vezes a dizer a si mesmo Tenho um diploma médico de uma universidade suíça preciso ajudar meus pacientes tenho uma esposa e cinco filhos moro na rua Seestrasse 228 em Küsnacht Jung 1961 p 189 Esse diálogo interno man tinha os pés de Jung presos ao chão e o reassegurava de que a realidade existia Sombra A sombra o arquétipo da escuridão e da repressão repre senta aquelas qualidades que não desejamos reconhecer e tentamos esconder de nós mesmos e dos outros A sombra consiste em tendências moralmente censuráveis além de inúmeras qualidades construtivas e criativas que no en tanto somos relutantes em enfrentar Jung 19511959a Jung argumentava que para sermos completos preci samos nos esforçar de modo contínuo para conhecer nossa sombra e que essa busca é o nosso primeiro teste de coragem É mais fácil projetar o lado negro de nossa personalidade nos outros para ver neles a feiura e o mal que recusamos ver em nós mesmos Lidar com a escuridão dentro de nós mesmos é alcançar a conscientização da sombra Infeliz mente a maioria de nós nunca se conscientiza da sombra e se identifica somente com o lado positivo de nossa per sonalidade As pessoas que nunca se conscientizam de sua sombra podem no entanto ficar submetidas a seu poder e levar vidas trágicas constantemente deparando com a má sorte e colhendo para si os frutos da derrota e do desenco rajamento Jung 19541959a Em Memórias sonhos e reflexões Jung 1961 relatou um sonho que ocorreu na época de seu rompimento com Freud Nesse sonho sua sombra um selvagem de pele escura matava o herói um homem chamado Siegfried que representava o povo alemão Jung interpretou que o sonho significava que ele não precisava mais de Sig Freud Siegfried assim sua sombra realizou a tarefa construtiva de erradicar seu antigo herói Anima Assim como Freud Jung acreditava que todos os humanos são psicologicamente bissexuais e possuem um lado mas culino e um lado feminino O lado feminino dos homens se origina no inconsciente coletivo como um arquétipo e permanece muito resistente à consciência Poucos homens tomam conhecimento de sua anima porque essa tarefa re quer grande coragem e é ainda mais difícil do que tomar co nhecimento de sua sombra Para dominar as projeções da anima os homens precisam superar barreiras intelectuais analisar os recônditos distantes de seu inconsciente e per ceber o lado feminino de sua personalidade Conforme relatamos na vinheta de abertura deste capítulo Jung encontrou sua anima pela primeira vez du rante a jornada por sua psique inconsciente logo depois de seu rompimento com Freud O processo de tomar conheci mento de sua anima foi o segundo teste de coragem de Jung Como todos os homens Jung só pôde reconhecer sua ani ma depois que aprendeu a se sentir confortável com sua sombra Jung 19541959a 19541959b Em Memórias sonhos e reflexões descreveu vividamen te essa experiência Intrigado com sua mulher interna Jung 1961 concluiu que Ela deve ser a alma no sentido primitivo e comecei a especular sobre as razões por que o nome anima era dado à alma Por que se pensava nela como feminina Posteriormente percebi que essa figura feminina inte rior desempenha um papel típico ou arquetípico no inconsciente de um homem e a denominei anima A figura correspondente no inconsciente da mulher de nominei animus p 186 Jung acreditava que a anima se originava das experiên cias precoces dos homens com as mulheres mães irmãs e amantes que se combinavam para formar uma imagem generalizada de mulher Com o tempo esse conceito global foi incluído no inconsciente coletivo de todos os homens como o arquétipo anima Desde os tempos préhistóricos cada homem veio ao mundo com um conceito predetermi nado de mulher que modela e molda todas as suas relações com as mulheres Um homem é especialmente inclinado a projetar sua anima em sua esposa ou amante e a vêla não como ela realmente é mas como seu inconsciente pes soal e coletivo a determinou Essa anima pode ser a fon te de muito malentendido nas relações homemmulher mas também pode ser responsável pela mulher sedutora mística que existe na psique dos homens Hayman 2001 Hillman 1985 Um homem pode sonhar com uma mulher sem uma imagem definida e sem identidade particular A mulher não representa alguém de sua experiência pessoal mas entra em seu sonho proveniente das profundezas de seu inconsciente coletivo A anima não precisa aparecer nos sonhos como uma mulher mas pode ser representada por um sentimento ou humor Jung 19451953 Assim ela influencia o lado do sentimento no homem e é a explicação para certos humores e sentimentos irracionais Durante es ses humores um homem quase nunca admite que seu lado Feist04indd 75 Feist04indd 75 271014 1516 271014 1516 76 FEIST FEIST ROBERTS feminino esteja lançando seu feitiço em vez disso ou igno ra a irracionalidade dos sentimentos ou tenta explicálos de uma maneira masculina muito racional Em qualquer um dos casos ele nega que um arquétipo autônomo a anima seja responsável por esse humor As qualidades enganosas da anima foram elucidadas por Jung 1961 em sua descrição da mulher interior que falou com ele durante sua jornada até o inconscien te e enquanto ele estava ponderando se seu trabalho era ciência O que a anima disse me pareceu repleto de uma astúcia profunda Se eu estivesse considerando essas fantasias do inconsciente como arte elas não teriam trasmitido mais convicção do que percepções visuais como se eu estivesse assistindo a um filme Eu não teria sentido nenhuma obrigação moral em relação a elas A anima poderia então facilmente terme feito acreditar que eu era um artista incompreendido e que a minha assim chamada natureza artística me dava o direito de esque cer a realidade Se eu tivesse seguido sua voz ela muito provavelmente teria me dito um dia Você imagina que o absurdo em que você está engajado é realmente arte Nem um pouco Assim as insinuações da anima a por tavoz do inconsciente podem destruir complemente um homem p 187 Animus O arquétipo masculino nas mulheres é chamado de ani mus Enquanto a anima representa os humores e os sen timentos irracionais o animus é simbólico do pensamento e do raciocínio Ele é capaz de influenciar o pensamento de uma mulher embora na verdade não pertença a ela Ele pertence ao inconsciente coletivo e se origina dos en contros das mulheres préhistóricas com os homens Em todo relacionamento homemmulher a mulher corre o ris co de projetar as experiências de seus ancestrais distantes com pais irmãos amantes e filhos no homem desavisado Além disso é claro suas experiências pessoais com os ho mens sepultadas em seu inconsciente pessoal entram em suas relações com os homens Juntando essas experiências com projeções da anima do homem e com imagens de seu inconsciente pessoal teremos os ingredientes básicos de qualquer relacionamento homemmulher Jung acreditava que o animus é responsável pelo pen samento e pela opinião nas mulheres assim como a ani ma produz sentimentos e humores nos homens O animus também é a explicação para o pensamento irracional e as opiniões ilógicas com frequência atribuídas às mulheres Muitas opiniões mantidas pelas mulheres são objetiva mente válidas porém de acordo com Jung a análise deta lhada revela que essas opiniões não foram pensadas mas já existiam prontas Se uma mulher é dominada por seu animus nenhum apelo lógico ou emocional pode abalála de suas crenças préfabricadas Jung 19511959a Assim como a anima o animus aparece em sonhos visões e fanta sias sob uma forma personificada Grande mãe Dois outros arquétipos a grande mãe e o velho sábio são derivativos da anima e do animus Todos homens ou mulheres possuem um arquétipo da grande mãe Esse conceito preexistente de mãe está sempre associado a sentimentos positivos e negativos Jung 19541959c por exemplo falou da mãe amorosa e terrível p 82 A grande mãe portanto representa duas forças opostas fertilidade e nutrição por um lado e força e destruição por outro Ela é capaz de produzir e manter a vida fer tilidade e nutrição mas também pode devorar ou ne gligenciar sua prole destruição Lembrese de que Jung viu sua própria mãe como tendo duas personalidades uma amorosa e alimentadora e outra misteriosa arcaica e implacável Jung 19541959c acreditava que nossa visão de uma mãe amorosa e terrível é em grande parte superesti mada Todas aquelas influências que a literatura descre ve como exercidas sobre as crianças não provêm propria mente da mãe mas do arquétipo projetado nela o que lhe dá um background mitológico p 83 Em outras palavras a forte fascinação que a mãe tem para homens e mulhe res muitas vezes na ausência de uma relação pessoal ínti ma foi tomada por Jung como evidência do arquétipo da grande mãe A dimensão da fertilidade e da nutrição do arquétipo da grande mãe é simbolizada por uma árvore um jardim um campo arado o mar o paraíso uma casa um país uma igreja e objetos ocos como fornos e utensílios de cozinha Como a grande mãe também representa força e destruição ela é por vezes simbolizada como uma madrinha a Mãe de Deus a Mãe Natureza a Mãe Terra uma madrasta ou uma bruxa Um exemplo das forças opostas de fertilidade e destruição é o conto de fadas Cinderela cuja fada madrinha é capaz de criar para ela um mundo de cavalos carruagens bailes à fantasia e um príncipe encantado Entretanto a madrinha poderosa também pode destruir aquele mundo com as badaladas da meianoite Lendas mitos crenças re ligiosas arte e obras literárias estão repletos de outros sím bolos da grande mãe uma pessoa que é tanto alimentadora quanto destruidora Fertilidade e força se combinam para formar o concei to de renascimento o qual pode ser um arquétipo separado porém sua relação com a grande mãe é óbvia O renasci mento é representado por processos como a reencarnação o batismo a ressurreição e a individuação ou a autorre alização As pessoas por todo o mundo são movidas por um desejo de renascer ou seja de atingir a autorrealiza ção o nirvana o paraíso ou a perfeição Jung 19521956 19541959c Feist04indd 76 Feist04indd 76 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 77 Velho sábio O velho sábio arquétipo da sabedoria e do significado simboliza o conhecimento preexistente dos humanos em relação aos mistérios da vida Esse significado arquetípi co no entanto é inconsciente e não pode ser diretamente experimentado por um único indivíduo Políticos e outros que falam de modo autoritário mas não de modo autên tico com frequência soam sensíveis e sábios para outros que estão dispostos a ser enganados por seus próprios ar quétipos do velho sábio Da mesma maneira o mago no Mágico de Oz de L Frank Baum era um orador impressio nante e cativante cujas palavras no entanto soavam fal sas Um homem ou uma mulher dominada pelo arquétipo do velho sábio pode reunir um grande séquito de discípu los usando um discurso que soe profundo mas que na realidade faz pouco sentido porque o inconsciente cole tivo não pode transmitir diretamente sua sabedoria para um indivíduo Profetas políticos religiosos e sociais que apelam para a razão e também para a emoção os arquéti pos são sempre matizados emocionalmente são guiados por esse arquétipo inconsciente O perigo para a sociedade surge quando as pessoas são influenciadas pelo pseudoco nhecimento de um profeta poderoso e confundem um dis parate com uma verdadeira sabedoria Lembrese de que Jung via as pregações do próprio pai um pastor como pontificações vazias não apoiadas por alguma convicção religiosa forte O arquétipo do velho sábio é personificado nos sonhos como pai avô professor filósofo guru médico ou padre Ele aparece nos contos de fada como o rei o sábio ou o mágico que vem em auxílio do protagonista em dificulda de e por meio da sabedoria superior ajuda o protagonista a escapar de uma miríade de desventuras O velho sábio também é simbolizado pela própria vida A literatura está repleta de histórias de jovens deixando sua casa aventu randose no mundo experimentando as provações e os sofrimentos da vida e no final adquirindo uma dose de sabedoria Jung 19541959a Herói O arquétipo do herói é representado na mitologia e nas lendas como uma pessoa poderosa às vezes semideus que luta contra grandes adversidades para conquistar ou derro tar o mal na forma de dragões monstros serpentes ou de mônios No final entretanto o herói costuma ser anulado por alguma pessoa ou evento aparentemente insignificante Jung 19511959b Por exemplo Aquiles o corajoso he rói da guerra de Troia foi morto por uma flecha em seu único ponto vulnerável o calcanhar Igualmente Macbeth foi uma figura heroica com uma única falha trágica a ambi ção Essa ambição também foi a fonte de sua grandeza mas contribuiu para seu destino e sua derrocada Os feitos he roicos podem ser realizados somente por alguém que é vul nerável como Aquiles ou o personagem dos quadrinhos Superhomem cuja única fraqueza era o elemento químico criptonita Uma pessoa imortal sem fraqueza não pode ser um herói A imagem do herói toca em um arquétipo dentro de nós conforme demonstrado por nossa fascinação pelos heróis dos filmes dos romanus das peças e dos programas de televisão Quando o herói derrota o vilão ele nos liberta de sentimentos de impotência e miséria ao mesmo tempo servindo como modelo para a personalidade ideal Jung 19341954a A origem do tema do herói remonta ao início da his tória humana o alvorecer da consciência Ao derrotar o vilão o herói está simbolicamente dominando as trevas da inconsciência préhumana A conquista da consciência foi uma das maiores realizações de nossos ancestrais e a ima gem do herói conquistador arquetípico representa a vitória sobre as forças das trevas Jung 19511959b Self Jung acreditava que cada pessoa possui uma tendência herdada para avançar em direção ao crescimento à perfei ção e à completude e ele denominou essa disposição inata de self O mais abrangente de todos os arquétipos o self é o arquétipo dos arquétipos porque reúne os outros arquéti pos e os une no processo de autorrealização Assim como os demais arquétipos ele possui componentes conscientes e inconscientes pessoais porém é formado com mais fre quência por imagens inconscientes coletivas Como arquétipo o self é simbolizado pelas ideias de perfeição completude e plenitude de uma pessoa mas seu símbolo final é a mandala a qual é descrita como um cír culo dentro de um quadrado um quadrado dentro de um círculo ou qualquer outra figura concêntrica Ela represen ta os esforços do inconsciente coletivo pela unidade pelo equilíbrio e pela plenitude O self inclui imagens do inconsciente pessoal e coleti vo e portanto não deve ser confundido com o ego que re presenta apenas a consciência Na Figura 41 a consciência ego é representada pelo círculo externo e é apenas uma pequena parte da personalidade total o inconsciente pes soal é representado pelo semicírculo o inconsciente coleti vo pelo círculo interno e a totalidade dos três círculos sim boliza o self Apenas quatro arquétipos persona sombra animus e anima foram desenhados nessa mandala e cada um foi idealmente representado com o mesmo tamanho Para a maioria das pessoas a persona é mais consciente do que a sombra e a sombra pode ser mais acessível à cons ciência do que a anima e o animus Conforme apresentado na Figura 41 cada arquétipo é em parte consciente em parte inconsciente pessoal e em parte inconsciente coletivo O equilíbrio mostrado na Figura 41 entre consciência e o self total também é um tanto idealista Muitas pessoas Feist04indd 77 Feist04indd 77 271014 1516 271014 1516 78 FEIST FEIST ROBERTS têm excesso de consciência e assim carecem da centelha da alma da personalidade ou seja elas não conseguem perceber a riqueza e a vitalidade de seu inconsciente pes soal e especialmente de seu inconsciente coletivo Toda via as pessoas que são dominadas por seu inconsciente tendem a ser patológicas com personalidades unilaterais Jung 19511959a Ainda que o self quase nunca seja perfeitamente equi librado cada pessoa tem no inconsciente coletivo um conceito do self perfeito unificado A mandala represen ta o self perfeito o arquétipo da ordem da unidade e da totalidade Como a autorrealização envolve integridade e totalidade ela é representada pelo mesmo símbolo de per feição a mandala que por vezes significa divindade No inconsciente coletivo o self aparece como uma persona lidade ideal às vezes assumindo a forma de Jesus Cristo Buda Krishna ou outras figuras deificadas Jung encontrou evidências para o arquétipo do self nos símbolos da mandala que aparecem em sonhos e fantasias de pessoas contemporâneas que nunca tiveram conhecimento de seu significado Historicamente as pes soas produziram incontáveis mandalas sem parecer que tenham compreendido seu significado integral Segundo Jung 19511959a os pacientes psicóticos experimentam um número crescente de temas da mandala em seus so nhos no momento exato em que eles estão passando por um período grave de transtorno psíquico e essa experiência é mais uma prova de que as pessoas lutam pela ordem e pelo equilíbrio É como se o símbolo inconsciente da ordem contrabalançasse a manifestação do transtorno Em resumo o self inclui a mente consciente e incons ciente e une os elementos opostos da psique masculino e feminino bem e mal luz e trevas Tais elementos opos tos muitas vezes são representados por yang e yin ver Fig 42 enquanto o self em geral é simbolizado pela manda la Este último tema representa unidade totalidade e or dem ou seja autorrealização A autorrealização completa é raramente atingida mas como um ideal ela existe dentro do inconsciente coletivo de todos Para atualizar ou expe rimentar integralmente o self as pessoas precisam superar seu medo do inconsciente impedir que sua persona domine sua personalidade reconhecer o lado escuro de si mesmas sua sombra e então reunir coragem ainda maior para enfrentar sua anima ou animus Em uma ocasião durante sua crise da meiaidade Jung teve uma visão na qual se defrontou com um homem velho de barba que estava vivendo com uma bela jovem cega e uma grande cobra negra O velho explicou que ele era Elias e que a jovem era Salomé ambos figuras bíblicas Elias tinha uma inteligência aguçada embora Jung não o tenha entendido com clareza Salomé despertou em Jung um sentimento de desconfiança enquanto a serpente demonstrou uma afeição notável por Jung Na época em que teve essa visão Jung não conseguiu compreender seu Inconsciente pessoal Anima Anima feminilidade feminilidade Animus Animus masculinidade masculinidade Inconsciente pessoal Inconsciente Inconsciente coletivo coletivo Consciente ego Consciente ego Consciente ego Consciente ego Sombra Persona Inconsciente coletivo Anima feminilidade Animus masculinidade FIGURA 41 Concepção de Jung sobre a personalidade Feist04indd 78 Feist04indd 78 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 79 significado porém muitos anos depois acabou vendo as três figuras como arquétipos Elias representava o velho sábio aparentemente inteligente mas não fazendo mui to sentido a Salomé cega era uma figura da anima linda e sedutora mas incapaz de ver o significado das coisas e a cobra era a contrapartida do herói demonstrando uma afinidade por Jung o herói da visão Jung 1961 acredita va que ele tinha de identificar essas imagens inconscientes para que pudesse manter sua própria identidade e não se perder para as forças poderosas do inconsciente coletivo Posteriormente escreveu A coisa essencial é se diferenciar desses conteúdos in conscientes personificandoos e ao mesmo tempo trazêlos para a relação com a consciência Essa é a téc nica para reduzir ou anular sua força Não é muito difícil personificálos já que eles sempre possuem um grau de autonomia uma identidade própria Sua autonomia é algo muito desconfortável com que se reconciliar e no entanto o próprio fato de que o inconsciente se apre senta dessa forma nos dá os melhores meios de lidar com ela p 187 DINÂMICA DA PERSONALIDADE Nesta seção examinamos as ideias de Jung sobre causali dade e teleologia bem como sobre a progressão e regressão Causalidade e teleologia A motivação se origina de causas passadas ou de objetivos teleológicos Jung insistia que ela provém de ambos Cau salidade significa que os eventos presentes têm origem em experiências prévias Freud baseavase fortemente em um ponto de vista causal em suas explicações do comporta mento adulto em termos das experiências infantis preco ces ver Cap 2 Jung criticava Freud por ser parcial em sua ênfase sobre a causalidade e insistia que uma visão causal não poderia explicar toda a motivação Em contrapartida teleologia significa que os eventos atuais são motivados por objetivos e aspirações para o futuro que direcionam o destino de uma pessoa Adler mantinha essa posição in sistindo em que as pessoas são motivadas por percepções conscientes e inconsciente de objetivos finais fictícios ver Cap 3 Jung era menos crítico de Adler do que de Freud mas defendia que o comportamento humano é moldado por ambas tanto as forças causais quanto as teleológicas e que as explicações causais devem ser equilibradas com as teleológicas A insistência de Jung sobre o equilíbrio é vista em sua concepção dos sonhos Ele concordava com Freud no sen tido de que muitos sonhos se originam de eventos passa dos ou seja eles são causados por experiências precoces Todavia Jung alegava que alguns sonhos podiam ajudar a pessoa a tomar decisões sobre o futuro assim como os sonhos de fazer importantes descobertas em ciências natu rais acabaram levandoo à sua própria escolha da carreira Progressão e regressão Para atingir a autorrealização as pessoas precisam adap tarse não apenas a seu ambiente externo mas também a seu mundo interno A adaptação ao mundo externo envol ve o avanço do fluxo da energia psíquica e é chamada de progressão enquanto a adaptação ao mundo interno se baseia em um fluxo retroativo da energia psíquica e é cha mada de regressão Tanto a progressão quanto a regressão são essenciais se as pessoas querem atingir o crescimento individual ou a autorrealização A progressão inclina uma pessoa a reagir de modo coerente a determinado conjunto de condições ambien tais enquanto a regressão é um retrocesso necessário para o sucesso na obtenção de um objetivo A regressão ativa a psique inconsciente um auxílio essencial na solução da maioria dos problemas Isoladamente nem a progressão nem a regressão levam ao desenvolvimento Cada uma pode ocasionar parcialidade excessiva e falha na adaptação porém as duas trabalhando em conjunto podem ativar o processo de desenvolvimento sadio da personalidade Jung 19281960 A regressão é exemplificada na crise de meiaidade de Jung durante a qual sua vida psíquica voltouse in ternamente para o inconsciente e afastouse de qualquer realização externa significativa Ele gastou a maior par te de sua energia conhecendo sua psique inconsciente e fez muito pouco no que se refere à escrita ou às confe rências A regressão dominou sua vida enquanto a pro gressão quase cessou Na sequência ele emergiu desse Introversão Extroversão FIGURA 42 O yang e o yin Feist04indd 79 Feist04indd 79 271014 1516 271014 1516 80 FEIST FEIST ROBERTS período com maior equilíbrio da psique e mais uma vez interessouse pelo mundo extrovertido Entretanto suas experiências regressivas com o mundo introvertido o mu daram de forma permanente e profunda Jung 1961 acreditava que o passo regressivo é necessário para criar uma personalidade equilibrada e para crescer em direção à autorrealização TIPOS PSICOLÓGICOS Além dos níveis da psique e da dinâmica da personalidade Jung reconheceu vários tipos psicológicos que se desenvol vem a partir de uma união de duas atitudes básicas intro versão e extroversão e quatro funções separadas pensa mento sentimento sensação e intuição Atitudes Jung 19211971 definiu a atitude como uma predispo sição a agir ou reagir em determinada direção Ele insistia que cada pessoa possuía uma atitude introvertida e extro vertida embora uma possa ser consciente enquanto a ou tra é inconsciente Assim como outras forças opostas em psicologia analítica a introversão e a extroversão servem uma à outra em uma relação compensatória e podem ser ilustradas pelo tema do yang e do yin ver a Fig 42 Introversão De acordo com Jung introversão é quando a energia psíquica se volta para o interior com uma orientação em direção ao subjetivo Os introvertidos estão afinados com seu mundo interno com todas as suas inclinações fanta sias sonhos e percepções individualizadas Essas pessoas percebem o mundo interno é claro mas fazem isso de maneira seletiva e com sua própria visão subjetiva Jung 19211971 A história da vida de Jung apresenta dois episódios em que a introversão foi claramente a atitude dominante O primeiro ocorreu o durante o início da adolescência quando ele tomou conhecimento de uma personalidade nº 2 que ia além do conhecimento de sua personalidade extrovertida O segundo episódio ocorreu durante a con frontação na meiaidade com seu inconsciente quando ele manteve conversas com sua anima teve sonhos bizar ros e induziu estranhas visões que eram a essência da psi cose Jung 1961 p 188 Durante sua crise de meiaida de quase completamente introvertida suas fantasias eram individualizadas e subjetivas Outras pessoas incluindo até mesmo sua esposa não conseguiam compreender com precisão o que ele estava experimentando Somente Toni Wolff parecia capaz de ajudálo a emergir de sua confron tação com o inconsciente Durante essa confrontação in trovertida Jung suspendeu ou interrompeu boa parte de sua atitude extrovertida ou objetiva Ele parou de tratar seus pacientes abdicou de sua posição como palestrante na Universidade de Zürich cessou sua escrita teórica e por três anos percebeuse totalmente incapaz de ler um livro científico p 193 Ele estava no processo de descoberta do polo introvertido de sua existência Entretanto a viagem de descoberta de Jung não foi totalmente introvertida Ele sabia que a menos que man tivesse algum domínio de seu mundo extrovertido teria o risco de ficar absolutamente possuído por seu mundo in terno Com medo de que pudesse tornarse psicótico ele se forçou para continuar uma vida o mais normal possível com sua família e sua profissão Por meio desta técnica Jung emergia de sua jornada interna e estabelecia um equi líbrio entre introversão e extroversão Extroversão Em contraste com a introversão a extroversão é a atitude na qual a energia psíquica se volta para o exterior de modo que a pessoa é orientada em direção ao objetivo e se afas ta do subjetivo Os extrovertidos são mais influenciados pelo entorno do que por seu mundo interno Eles tendem a focar a atitude objetiva enquanto suprimem a subjetiva Assim como a personalidade nº 1 da infância de Jung os extrovertidos são pragmáticos e bemenraizados nas reali dades da vida diária Ao mesmo tempo são excessivamen te desconfiados da atitude subjetiva seja a própria atitude seja a de outra pessoa Em resumo as pessoas não são completamente intro vertidas nem completamente extrovertidas As pessoas introvertidas são como uma gangorra desequilibrada com um grande peso de um lado e um peso muito leve do outro ver Fig 43A Em contrapartida as extrovertidas são de sequilibradas na outra direção com uma atitude extrover tida pesada e uma introvertida muito leve ver Fig 43B No entanto as psicologicamente saudáveis atingem um equilíbrio entre as duas atitudes sentindose confortáveis tanto com seu mundo interno quanto com o externo ver Fig 43C No Capítulo 3 afirmamos que Adler desenvolveu uma teoria da personalidade que era o oposto da de Freud Onde Jung colocou essas duas teorias no polo da extrover sãointroversão Jung 19211971 declarou que A visão de Freud é essencialmente extrovertida a de Adler é in trovertida p 62 Nossos esboços biográficos de Freud e Adler revelaram que o oposto parece ser verdadeiro Freud era pessoalmente um tanto introvertido em sintonia com seus sonhos e sua vida de fantasia enquanto Adler era pes soalmente extrovertido sentindose mais confortável em situações de grupo cantando canções e tocando piano nas cafeterias de Viena No entanto Jung sustentava que a teo ria de Freud era extrovertida porque ele reduzia as expe riências ao mundo externo do sexo e da agressão Além dis Feist04indd 80 Feist04indd 80 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 81 so acreditava que a teoria de Adler era introvertida porque enfatizava ficções e percepções subjetivas Jung é claro via a própria teoria como equilibrada capaz de aceitar tanto o objetivo quanto o subjetivo Funções Tanto a introversão quanto a extroversão podem se com binar com uma ou mais das quatro funções formando oito orientações possíveis ou tipos As quatro funções sen sação pensamento sentimento e intuição podem ser brevemente resumidas da seguinte forma a sensação diz às pessoas que algo existe o pensamento lhes possibilita reconhecer seu significado o sentimento lhes diz seu valor e a intuição lhes permite saberem a seu respeito sem saber como Pensamento A atividade intelectual lógica que produz uma cadeia de ideias é denominada pensamento O tipo de pensamento pode ser extrovertido ou introvertido dependendo da ati tude básica de uma pessoa As pessoas com pensamento extrovertido contam com pensamentos concretos mas elas também podem usar ideias abstratas se estas foram transmitidas de fora por exemplo por pais ou professores Matemáticos e engenhei ros fazem uso frequente do pensamento extrovertido em seu trabalho Os contadores também apresentam tipos de pensamento extrovertido porque eles precisam ser objeti vos e não subjetivos em sua abordagem dos números En tretanto nem todo pensamento objetivo é produtivo Sem pelo menos alguma interpretação individual as ideias são apenas fatos previamente conhecidos sem originalidade ou criatividade Jung 19211971 As pessoas com pensamento introvertido reagem aos es tímulos externos porém sua interpretação de um evento é mais colorida pelo significado interno que trazem consigo do que pelos fatos objetivos em si Inventores e filósofos são com frequência pensadores introvertidos porque rea gem ao mundo externo de um modo altamente subjetivo e criativo interpretando dados antigos de novas maneiras Quando levado ao extremo o pensamento introvertido re sulta em pensamentos místicos improdutivos os quais são tão individualizados que acabam sendo inúteis para qual quer outra pessoa Jung 19211971 Sentimento Jung usou o termo sentimento para descrever o processo de avaliação de uma ideia ou de um evento Talvez uma pa lavra mais precisa fosse apreciação um termo com menor probabilidade de ser confundido com sensação ou intuição Por exemplo quando as pessoas dizem Esta superfície é macia elas estão usando sua função de sensação e quando Introvertido Extrovertido A B C FIGURA 43 O equilíbrio entre introversão e extroversão Feist04indd 81 Feist04indd 81 271014 1516 271014 1516 82 FEIST FEIST ROBERTS elas dizem Tenho a sensação de que este vai ser meu dia de sorte elas estão intuindo não sentindo A função do sentimento deve ser distinguida da emo ção Sentimento é a avaliação de cada atividade conscien te mesmo aquelas avaliadas como indiferentes A maioria dessas avaliações não possui conteúdo emocional mas elas são capazes de se tornar emoções se sua intensidade aumentar até o ponto de promover alterações fisiológicas na pessoa As emoções no entanto não estão limitadas a sentimentos qualquer uma das quatro funções pode levar à emoção quando sua força for aumentada As pessoas com sentimento extrovertido usam dados objetivos para fazer avaliações Elas não são tão guiadas por sua opinião subjetiva mas pelos valores externos e por padrões de julgamento amplamente aceitos É provável que fiquem à vontade em situações sociais sabendo sob o impulso do momento o que e como dizer As pessoas em geral gostam delas devido a sua sociabilidade mas em sua busca de se adequarem aos padrões sociais elas po dem parecer artificiais superficiais e não confiáveis Seus julgamentos de valor têm um toque falso que é detectável com facilidade As pessoas com sentimento extrovertido com frequência tornamse homens de negócios ou políti cos porque essas profissões demandam e recompensam julgamentos de valor com base em informações objetivas Jung 19211971 As pessoas com sentimento introvertido baseiam seus julgamentos de valor principalmente em percepções sub jetivas em vez de em fatos objetivos Os críticos de várias formas de arte fazem muito uso do sentimento introverti do produzindo julgamentos de valor com base em dados subjetivos Essas pessoas possuem uma consciência indivi dualizada uma atitude taciturna e uma psique insondável Elas ignoram opiniões e crenças tradicionais e sua indife rença quase completa pelo mundo objetivo incluindo as pessoas muitas vezes faz os indivíduos à sua volta se sen tirem desconfortáveis e esfriarem sua atitude em relação a elas Jung 19211971 Sensação A função que recebe estímulos físicos e os transmite para a consciência perceptiva é denominada sensação A sensa ção não é idêntica ao estímulo físico mas é simplesmente a percepção do indivíduo acerca dos impulsos sensoriais Essas percepções não dependem do pensamento lógico ou do sentimento mas existem como fatos elementares abso lutos dentro de cada pessoa As pessoas com sensação extrovertida percebem os es tímulos externos de modo objetivo de uma forma mui to parecida como esses estímulos existem na realidade Suas sensações não são tão influenciadas por suas atitu des subjetivas Essa conveniência é essencial em ocupa ções como revisor pintor de casas degustador de vinhos ou qualquer outro trabalho que demande discriminações sensoriais congruentes com as da maioria das pessoas Jung 19211971 As pessoas com sensação introvertida são em grande parte influenciadas por suas sensações subjetivas de visão audição olfato tato Elas são guiadas por sua interpreta ção dos estímulos sensoriais não pelos estímulos em si Artistas retratistas em especial aqueles cujas pinturas são extremamente personalizadas baseiamse em uma atitude de sensação introvertida Eles dão uma interpretação sub jetiva a fenômenos objetivos e ainda são capazes de comu nicar significado aos outros No entanto quando a atitude de sensação subjetiva é levada a seu extremo pode resultar em alucinações ou discurso esotérico e incompreensível Jung 19211971 Intuição Intuição envolve a percepção além do trabalho da cons ciência Assim como a sensação baseiase na percepção de fatos elementares absolutos que fornecem o material bru to para o pensamento e o sentimento Intuição difere de sensação uma vez que ela é mais criativa em geral acres centando ou subtraindo elementos da sensação consciente As pessoas intuitivas extrovertidas são orientadas para os fatos no mundo externo No entanto em vez de senti los integralmente elas apenas os percebem de modo su bliminar Como fortes estímulos sensoriais interferem na intuição as pessoas intuitivas suprimem muitas de suas sensações e são guiadas por pressentimentos e suposições contrários aos dados sensoriais Um exemplo de um tipo intuitivo extrovertido pode ser os inventores que precisam inibir dados sensoriais que distraem e se concentrar nas so luções inconscientes para problemas objetivos Eles podem criar coisas que atendem a uma necessidade que apenas poucas pessoas perceberam que existia As pessoas intuitivas introvertidas são guiadas pela percepção inconsciente de fatos que são basicamente sub jetivos e têm pouca ou nenhuma semelhança com a rea lidade externa Suas percepções intuitivas subjetivas são com frequência extraordinariamente fortes e capazes de motivar decisões de magnitude monumental Pessoas in tuitivas introvertidas como místicos profetas artistas surrealistas ou fanáticos religiosos muitas vezes parecem peculiares para indivíduos de outros tipos que possuem pouca compreensão de suas motivações Na verdade Jung 19211971 acreditava que as pessoas intuitivas introver tidas talvez não compreendessem com clareza as próprias motivações embora fossem profundamente movidas por elas Ver Tab 41 para os oito tipos junguianos com exem plos possíveis de cada um As quatro funções em geral aparecem em uma hierar quia com uma ocupando uma posição superior outra uma posição secundária e as outras duas posições inferiores Feist04indd 82 Feist04indd 82 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 83 A maioria das pessoas cultiva apenas uma função por tanto de forma característica abordam uma situação se baseando na função dominante ou superior Algumas pes soas desenvolvem duas funções e alguns indivíduos muito maduros cultivam três Uma pessoa que em teoria atingiu a autorrealização ou a individuação teria todas as quatro funções bastante desenvolvidas DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE Jung acreditava que a personalidade se desenvolve por meio de uma série de estágios que culminam na indivi duação ou autorrealização Em contraste com Freud ele enfatizou a segunda metade da vida o período após os 35 ou 40 anos quando a pessoa tem a oportunidade de reu nir os vários aspectos da personalidade e atingir a autor realização No entanto a oportunidade para degeneração ou reações rígidas também está presente nesse momento A saúde psicológica das pessoas de meiaidade está rela cionada a sua capacidade de atingir o equilíbrio entre os polos dos vários processos opostos Tal capacidade é pro porcional ao sucesso alcançado na jornada pelos estágios anteriores da vida Estágios do desenvolvimento Jung agrupou os estágios da vida em quatro períodos ge rais infância juventude meiaidade e velhice Ele comparou a viagem pela vida à jornada do sol no céu com seu brilho representando a consciência O sol do começo da manhã é a infância cheio de potencial mas ainda carecendo de brilho consciência o sol da manhã é jovem escalando em direção ao zênite mas sem consciência do declínio iminen te o sol do início da tarde é a metade da vida brilhante como o sol do final da manhã mas obviamente indo em direção ao pôr do sol o sol do fim da tarde é a velhice sua consciência que já foi brilhante é agora acentuadamente diminuída ver Fig 44 Jung 19311960a argumentou que os valores os ideais e os modos de comportamento adequados para a manhã da vida são inapropriados para a segunda metade e que a maioria das pessoas precisa aprender a encontrar um novo significado em seus anos de declínio da vida Infância Jung dividiu a infância em três subestágios 1 anárquico 2 monárquico e 3 dualista A fase anárquica é caracteri zada pela consciência caótica e esporádica Podem existir ilhas de consciência mas há pouca ou nenhuma conexão entre essas ilhas As experiências da fase anárquica por ve zes entram na consciência como imagens primitivas inca pazes de serem verbalizadas com precisão A fase monárquica da infância é caracterizada pelo de senvolvimento do ego e pelo começo do pensamento lógico e verbal Durante esse tempo as crianças veemse objetiva mente e com frequência referemse a si mesmas na tercei ra pessoa As ilhas de consciência se tornam maiores mais numerosas e habitadas por um ego primitivo Ainda que o ego seja compreendido como um objeto ele ainda não está consciente de si como capaz de perceber O ego com capacidade de percepção surge durante a fase dualista da infância quando ele é dividido em objetivo e subjetivo As crianças agora se referem a si mesmas na primeira pessoa e estão conscientes de sua existência como indivíduos separados Durante o período dualista as ilhas de consciência se transformam em uma terra contínua habitada por um complexo de ego que se reconhece tanto como objeto quanto como sujeito Jung 19311960a Juventude O período da puberdade até a metade da vida é chamado de juventude Os jovens se esforçam para obter indepen dência psíquica e física de seus pais encontrar um parceiro TABELA 41 Exemplos dos oito tipos junguianos Funções Atitudes Introversão Extroversão Pensamento Filósofos cientistas teóricos alguns inventores Cientistas pesquisadores contadores matemáticos Sentimento Críticos de cinema subjetivos avaliadores de arte Avaliadores imobiliários críticos de cinema objetivos Sensação Artistas músicos clássicos Degustadores de vinho revisores músicos populares pintores de casas Intuição Profetas místicos fanáticos religiosos Alguns inventores reformadores religiosos Infância Juventude Meiaidade Velhice FIGURA 44 Jung compara os estágios da vida à jornada do sol pelo céu com o brilho do sol representando a consciência Feist04indd 83 Feist04indd 83 271014 1516 271014 1516 84 FEIST FEIST ROBERTS criar uma família e ter um lugar no mundo De acordo com Jung 19311960a a juventude é ou deveria ser um pe ríodo de aumento de atividade maturação da sexualidade crescimento da consciência e reconhecimento de que a era livre de problemas da infância se foi para sempre A prin cipal dificuldade enfrentada na juventude é superar a ten dência natural encontrada também na metade da vida e em anos posteriores a se apegar à consciência limitada da infância evitando assim problemas pertinentes ao tempo presente da vida Esse desejo de viver no passado é chama do de princípio da conservação Uma pessoa de meiaidade ou idosa que tenta se ape gar a valores juvenis enfrenta uma segunda metade da vida incapacitada limitada na capacidade de atingir a autor realização e prejudicada na capacidade de estabelecer no vos objetivos e buscar novo significado para a vida Jung 19311960a Meiaidade Jung acreditava que a meiaidade começava aproximada mente aos 35 ou 40 anos época na qual o sol passou de seu zênite e começa sua descida Ainda que esse declínio possa apresentar às pessoas de meiaidade ansiedades cres centes a metade da vida também é um período de grande potencial Se as pessoas de meiaidade retêm os valores sociais e morais do início de sua vida elas se tornam rígidas e fanáticas ao tentarem se apegar a sua atratividade e agi lidade física Vendo seus ideais mudarem elas podem lu tar desesperadamente para manter sua aparência e seu estilo de vida juvenil A maioria de nós escreveu Jung 19311960a está despreparada para dar o passo em di reção ao entardecer da vida pior ainda damos esse passo com o falso pressuposto de que nossas verdades e nossos ideais nos servirão como sempre Não podemos viver na tarde da vida de acordo com o programa da manhã da vida pois o que era grande pela manhã será pouco ao anoitecer e o que era verdadeiro pela manhã à noite terá se transfor mado em uma mentira p 399 Como a meiaidade pode ser vivida plenamente As pessoas que não viveram a juventude e a meiaidade com valores infantis estão bempreparadas para avançar até a metade da vida e a viver plenamente durante esse estágio Elas são capazes de abandonar os objetivos extrovertidos da juventude e se moverem na direção introvertida da cons ciência expandida Sua saúde psicológica não é realçada pelo sucesso nos negócios pelo prestígio na sociedade ou pela satisfação com a vida familiar Elas devem encarar o futu ro com esperança e antecipação renunciar ao estilo de vida da juventude e descobrir novos significados na meiaidade Esse passo muitas vezes mas nem sempre envolve uma orientação religiosa madura em especial uma crença em al gum tipo de vida após a morte Jung 19311960a Velhice Quando o anoitecer da vida se aproxima as pessoas expe rimentam uma redução da consciência assim como a luz e o calor do sol diminuem ao entardecer Se as pessoas têm medo da vida durante os primeiros anos então quase cer tamente temerão a morte durante os últimos O medo da morte costuma ser considerado normal mas Jung acredi tava que a morte é o objetivo da vida e que a vida será ple na apenas quando a morte for vista sob esse prisma Em 1934 durante o seu 60º ano Jung escreveu Comumente nos apegamos a nosso passado e ficamos emperrados na ilusão da juventude Ser velho é alta mente impopular Ninguém parece considerar que não ser capaz de envelhecer é tão absurdo quanto não ser capaz de ultrapassar os sapatos de tamanho infantil Um homem ainda infantil de 30 anos é certamente de plorável mas um septuagenário jovial isso não é en cantador E no entanto ambas são monstruosidades psicológicas perversas e carentes de estilo Um jovem que não luta e conquista perdeu a melhor parte de sua juventude e um velho que não sabe ouvir os segredos das águas enquanto elas rolam desde os picos dos va les não faz qualquer sentido ele é uma múmia espiri tual que é nada além de uma relíquia rígida do passado Jung 19341960 p 407 Os pacientes de Jung em sua maioria eram de meia idade ou mais velhos e muitos deles sofriam de uma orientação regressiva apegandose desesperadamente aos objetivos e aos estilos de vida do passado e atravessando os movimentos da vida sem rumo Jung tratava essas pessoas ajudandoas a estabelecerem novos objetivos e a encontra rem significado em viver descobrindo primeiro um signi ficado na morte Ele realizava esse tratamento por meio da interpretação de sonhos porque os sonhos das pessoas idosas tendem a ser repletos de símbolos de renascimen to tais como longas jornadas ou mudanças de localização Jung usava esses e outros símbolos para determinar as atitudes inconscientes dos pacientes em relação à morte e para ajudálos a descobrirem uma filosofia de vida signifi cativa Jung 19341960 Autorrealização O renascimento psicológico também chamado de autorrea lização ou individuação é o processo de se tornar um indi víduo ou pessoa completa Jung 19391959 19451953 A psicologia analítica é essencialmente uma psicologia de opostos e a autorrealização é o processo de integração dos polos opostos em um único indivíduo homogêneo Esse processo de chegar à individualidade significa que uma pessoa possui todos os componentes psicológicos funcionando em unidade sem qualquer processo psicóti co atrofiando As pessoas que passaram por tal processo atingiram a realização do self minimizaram sua persona Feist04indd 84 Feist04indd 84 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 85 reconheceram sua anima ou seu animus e adquiriram um equilíbrio viável entre introversão e extroversão Além dis so os indivíduos autorrealizados elevaram todas as quatro funções a uma posição superior um feito extremamente difícil A autorrealizaçao é bastante rara sendo atingida ape nas por aqueles que são capazes de assimilar seu incons ciente a sua personalidade total Aceitar o inconsciente é um processo difícil que demanda coragem para enfrentar a natureza má da própria sombra e coragem ainda maior para aceitar seu lado feminino ou masculino Tal proces so quase nunca é conquistado antes da metade da vida e somente por homens e mulheres que conseguem remover o ego como preocupação dominante da personalidade e substituílo pelo self A pessoa autorrealizada precisa per mitir que o self inconsciente se torne o centro da perso nalidade Apenas expandir a consciência é inflar o ego e produzir uma pessoa unilateral que carece da fagulha da alma da personalidade A pessoa autorrealizada não é do minada pelos processos inconscientes nem pelo ego cons ciente mas atinge um equilíbrio entre todos os aspectos da personalidade As pessoas autorrealizadas conseguem lidar com seu mundo interno e externo Ao contrário dos indivíduos prejudicados psicologicamente elas vivem no mundo real e fazem as concessões necessárias a ele No entanto ao contrário da média das pessoas elas estão conscientes do processo regressivo que leva à autodescoberta Vendo as imagens inconscientes como material potencial para a nova vida psíquica as pessoas autorrealizadas acolhem es sas imagens quando aparecem em sonhos e reflexões in trospectivas Jung 19391959 19451953 MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO DE JUNG Jung olhava além da psicologia em sua busca por dados para construir sua concepção de humanidade Ele não fez apologias para suas empreitadas nos campos da sociolo gia da história da antropologia da biologia da física da filologia da religião da mitologia e da filosofia Ele acre ditava firmemente que o estudo da personalidade não era prerrogativa de uma única disciplina e que a pessoa como um todo podia ser entendida somente com a busca do co nhecimento onde quer que ele exista Assim como Freud Jung defendia com persistência o fato de ser um investi gador científico fugindo dos rótulos de místico e filósofo Em uma carta a Calvin Hall datada de 6 de outubro de 1954 Jung argumentou Se você me chama de ocultista porque estou investigando seriamente fantasias religiosas mitológicas folclóricas e filosóficas nos indivíduos moder nos e em textos antigos então você é obrigado a diagnos ticar Freud como um pervertido sexual uma vez que ele está agindo da mesma forma com as fantasias sexuais Jung 1975 p 186 No entanto Jung afirmava que a psique não podia ser entendida somente pelo intelecto mas que devia ser compreendida pela pessoa em sua totalidade Na mesma linha de pensamento ele disse certa vez Nem tudo o que crio é escrito pela minha cabeça mas boa parte também provém do coração Jung 19431953 p 116 Jung reuniu dados para suas teorias de extensas leitu ras em muitas disciplinas mas também agregou informa ções a partir do uso do teste de associação de palavras da análise dos sonhos da imaginação ativa e da psicoterapia Essas informações foram então combinadas com leitu ras sobre alquimia medieval fenômenos ocultos e outros assuntos em um esforço para confirmar as hipóteses da psicologia analítica Teste de associação de palavras Jung não foi o primeiro a usar o teste de associação de palavras mas pode receber os créditos por ajudar a de senvolvêlo e refinálo Originalmente usou a técnica em 1903 quando era um jovem assistente psiquiátrico em Burghöltzli e realizou palestras sobre o teste de associação de palavras durante sua viagem aos Estados Unidos em 1909 Contudo ele poucas vezes o empregou mais tarde em sua carreira Apesar disso o teste continua a ser inti mamente vinculado ao nome de Jung Sua finalidade principal ao usar o teste de associação de palavras era demonstrar a validade da hipótese de Freud de que o inconsciente opera como um processo autônomo No entanto a finalidade básica do teste na psicologia jun guiana de hoje é trazer à tona complexos com matizes de sentimentos Conforme observado na seção dos níveis da psique um complexo é um conglomerado de imagens in dividualizadas e com um matiz emocional agrupadas em torno de um núcleo essencial O teste de associação de pa lavras está fundamentado no princípio de que os comple xos criam respostas emocionais mensuráveis Ao administrar o teste Jung em geral usava uma lista de cem palavrasestímulo escolhidas e organizadas para despertar uma reação emocional Ele instruía a pes soa a responder a cada palavraestímulo com a primeira palavra que lhe viesse à mente Jung registrava cada res posta verbal o tempo levado para dar a resposta o ritmo respiratório e a resposta galvânica cutânea Muitas vezes ele repetia o experimento para determinar a coerência do testereteste Certos tipos de reações indicam que a palavraestímulo tocou em um complexo As respostas críticas incluem res piração restrita alterações na condutividade elétrica da pele reações retardadas respostas múltiplas desprezo das instruções incapacidade de pronunciar uma palavra comum não conseguir responder e incoerência no teste reteste Outras respostas significativas incluem ruborizar gaguejar rir tossir suspirar limpar a garganta chorar mo Feist04indd 85 Feist04indd 85 271014 1516 271014 1516 86 FEIST FEIST ROBERTS vimentar o corpo de modo excessivo e repetir a palavra estímulo Qualquer uma ou a combinação dessas respos tas podem indicar que um complexo foi alcançado Jung 19351968 Jung Riklin 19041973 Análise dos sonhos Jung concordava com Freud em relação ao fato de que os sonhos têm significado e devem ser levados a sério Ele também concordava com Freud no sentido de que os so nhos se originam das profundezas do inconsciente e seu significado latente é expresso na forma simbólica No en tanto contestava a noção de Freud de que quase todos os sonhos são realização de desejos e que a maioria dos símbolos dos sonhos representa impulsos sexuais Jung 1964 acreditava que as pessoas usavam os símbolos para representar uma variedade de conceitos não meramente os sexuais a fim de tentar compreender as coisas inu meráveis por trás da amplitude da compreensão humana p 21 Os sonhos são nosso inconsciente e uma tentativa espontânea de conhecer o desconhecido compreender a realidade que só pode ser expressa simbolicamente O propósito da interpretação dos sonhos junguiana é trazer à tona elementos do inconsciente pessoal e coletivo e integrálos à consciência para facilitar o processo de autor realização O terapeuta junguiano precisa reconhecer que os sonhos são com frequência compensatórios isto é os sentimentos e as atitudes não expressos durante a vida em vigília encontrarão uma saída por meio do processo dos so nhos Jung acreditava que a condição natural dos humanos é avançar em direção à completude ou à autorrealização Assim se a vida consciente de uma pessoa é incompleta em uma área então o self inconsciente daquela pessoa irá se esforçar para completar aquela condição mediante o pro cesso dos sonhos Por exemplo se a anima em um homem não recebe desenvolvimento consciente ela se expressará por meio de sonhos repletos de temas de autorrealização equilibrando assim o lado masculino do homem e sua dis posição feminina Jung 19161960 Jung defendia que certos sonhos davam provas da existência do inconsciente coletivo Estes incluíam grandes sonhos que têm significado especial para todas as pessoas sonhos típicos os quais são comuns à maioria das pessoas e os sonhos mais precoces lembrados Em Memórias sonhos e reflexões Jung 1961 escre veu sobre um grande sonho que ele teve enquanto viajava aos Estados Unidos com Freud em 1909 Em seu sonho rapidamente mencionado em nosso esboço biográfico de Jung estava morando no andar superior de uma casa de dois andares Esse andar tinha uma atmosfera habitada embora sua mobília fosse um tanto antiga No sonho Jung se deu conta de que ele não sabia como era o andar de bai xo então decidiu explorálo Depois de descer as escadas notou que toda a mobília era medieval e datada do século XV ou XVI Enquanto explorava esse andar descobriu uma escadaria de pedra que levava até um porão Descendo novamente encontreime em uma sala linda em abóbada que parecia extremamente antiga Assim que vi isso sou be que as paredes datavam do tempo dos romanos Jung 1961 p 159 Enquanto explorava o porão Jung notou um anel sobre uma das lajes de pedra Quando o pegou ele viu outra escada estreita levando a uma caverna antiga Lá ele viu cerâmica quebrada ossos de animais espalhados e dois crânios humanos muito antigos Em suas próprias pa lavras ele havia descoberto o mundo do homem primitivo dentro de mim mesmo um mundo que raramente pode ser alcançado ou iluminado pela consciência Jung 1961 p 160 Jung posteriormente aceitou esse sonho como evi dência de níveis diferentes da psique O andar superior tinha uma atmosfera deserta inabitada e representava a consciência a camada superior da psique O andar tér reo era a primeira camada do inconsciente antiga mas não tão estranha ou velha quanto os artefatos romanos no porão que simbolizavam uma camada mais profunda do inconsciente pessoal Na caverna Jung descobriu dois crânios humanos aqueles pelos quais Freud insistiu que Jung possuía desejos de morte Jung no entanto viu esses crânios humanos antigos como representando as profun dezas de seu inconsciente coletivo WWW ALÉM DA BIOGRAFIA EM INGLÊS Jung desejava a morte de sua esposa Para compreender a relação de Jung com as mulheres e para ver como um de seus grandes sonhos pode ter refletido um desejo de morte de sua esposa acesse wwwmhhecomfeist8e O segundo tipo de sonhos coletivos são os sonhos típi cos aqueles que são comuns à maioria das pessoas Esses sonhos incluem figuras arquetípicas como mãe pai Deus demônio ou o velho sábio Eles também podem se referir a eventos arquetípicos como nascimento morte separação dos pais batismo casamento voar ou explorar uma caver na Além disso podem incluir objetos arquetípicos como sol água peixes cobras ou animais predadores A terceira categoria inclui os sonhos mais precoces lembrados Estes podem ser rastreados até cerca de 3 ou 4 anos de idade e contêm imagens mitológicas e simbó licas e temas que racionalmente não poderiam ter sido experimentados pela criança Os sonhos precoces da infância com frequência contêm temas arquetípicos e símbolos como o herói o velho sábio a árvore os pei xes e a mandala Jung 19481960 escreveu sobre essas imagens e temas O aparecimento frequente no material de casos individuais assim como a distribuição univer sal provam que a psique humana é única e subjetiva ou pessoal somente em parte quanto ao resto é coletiva e objetiva p 291 Feist04indd 86 Feist04indd 86 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 87 Jung 1961 apresentou uma ilustração vívida de um de seus primeiros sonhos o qual ocorreu antes do seu quarto aniversário Ele sonhou que estava em um campo quando de repente viu um buraco escuro retangular no chão Temeroso desceu um lance de escada e na base en controu uma entrada com um arco redondo coberto por uma pesada cortina verde Por trás da cortina havia um quarto pouco iluminado com um tapete vermelho que se estendia da entrada até uma plataforma baixa Sobre a plataforma havia um trono e nele um objeto alongado que pareceu a Jung ser um grande tronco de árvore Era uma coisa enorme chegando quase até o teto Mas era de uma composição curiosa era feita de pele e carne nua e no alto havia algo como uma cabeça redonda sem rosto e sem cabelo Bem no alto da cabeça havia apenas um olho olhando imóvel para cima p 12 Tomado pelo terror o menino ouviu sua mãe dizer Sim apenas olhe para mim Este é o canibal Esse comentário o assustou ainda mais e o despertou do sono Jung pensava com frequência no sonho mas 30 anos se passariam antes que a obviedade do falo ficasse aparente para ele Mais alguns anos foram necessários antes que ele conseguisse aceitar o sonho como uma expressão de seu inconsciente coletivo em vez de ser produto de um traço de memória pessoal Segundo sua própria interpretação do sonho o buraco retangular representava a morte a cortina verde simbolizava o mistério da Terra com sua vegetação verde o tapete vermelho significava sangue e a árvore descansando de modo majestoso sobre um trono era o pê nis ereto anatomicamente preciso em cada detalhe Depois de interpretar o sonho Jung foi forçado a concluir que ne nhum menino de 3 anos e meio conseguiria produzir esse material universalmente simbólico a partir das próprias experiências Um inconsciente coletivo comum à espécie foi sua explicação Jung 1961 Imaginação ativa Uma técnica que Jung usou durante sua autoanálise e tam bém com muitos de seus pacientes foi a imaginação ativa Esse método requer que uma pessoa comece com qualquer impressão uma imagem do sonho uma visão um qua dro ou uma fantasia e se concentre até que a impressão comece a se mover A pessoa deve seguir essas imagens aonde quer que elas levem e então enfrentálas com cora gem e se comunicar de modo livre com elas A finalidade da imaginação ativa é revelar imagens arquetípicas que emergem do inconsciente Essa pode ser uma técnica útil para as pessoas que desejam ter maior co nhecimento de seu inconsciente pessoal e coletivo e que es tão dispostas a superar a resistência que costuma bloquear a comunicação aberta com o inconsciente Jung acredita va que a imaginação ativa possuía uma vantagem sobre a análise dos sonhos já que suas imagens são produzidas durante um estado consciente da mente dessa forma dei xandoas mais claras e reproduzíveis O tom do sentimento também é muito específico e normalmente a pessoa tem pouca dificuldade em reproduzir a visão ou se lembrar do humor Jung 19371959 Como uma variação para a imaginação ativa Jung às vezes pedia aos pacientes que tinham inclinação para o desenho que pintassem ou expressassem de alguma outra maneira não verbal a progressão de suas fantasias Jung se baseou nessa técnica durante sua autoanálise e muitas dessas reproduções ricas em simbolismo universal e fre quentemente exibindo a mandala estão espalhadas em seus livros O homem e seus símbolos 1964 Palavra e ima gem 1979 Psicologia e alquimia 19521968 e a biografia ilustrada de Jung por Claire Dunne 2000 Carl Jung cura dor ferido de almas são fontes especialmente prolíficas para esses desenhos e fotografias Em 1961 Jung escreveu sobre suas experiências com a imaginação ativa durante sua confrontação com o incons ciente na metade da vida Hoje quando olho para trás para tudo isso e considero o que aconteceu comigo durante o período de meu traba lho sobre as fantasias é como se uma mensagem tivesse vindo até mim com uma força esmagadora Havia coisas nas imagens que diziam respeito não somente a mim mas também a muitos outros Foi então que deixei de pertencer a mim unicamente parei de ter o direito de fazer isso Dali em diante a minha vida pertencia à ge neralidade Foi então que me dediquei a servir a psi que eu a amava e a odiava mas ela era a minha maior riqueza A minha entrega a ela como foi era a única maneira pela qual eu podia enfrentar a minha existência e vivêla o mais plenamente possível p 192 Psicoterapia Jung 19311954b identificou quatro abordagens básicas de terapia representando quatro estágios do desenvolvi mento na história da psicoterapia O primeiro é a confissão de um segredo patogênico Esse é o método catártico pra ticado por Joseph Breuer e sua paciente Anna O Para os pacientes que apenas têm a necessidade de compartilhar seus segredos a catarse é efetiva O segundo estágio envol ve interpretação explicação e elucidação Tal abordagem usada por Freud dá aos pacientes a compreensão das cau sas de suas neuroses mas ainda pode deixálos incapazes de resolver problemas sociais O terceiro estágio portanto é a abordagem adotada por Adler e inclui a educação dos pacientes como seres sociais Infelizmente diz Jung essa abordagem com frequência deixa os pacientes apenas bem adaptados no âmbito social Para ir além dessas três abordagens Jung sugeriu um quarto estágio transformação Por transformação ele queria dizer que o terapeuta primeiro precisava ser trans formado em um ser humano saudável de preferência se Feist04indd 87 Feist04indd 87 271014 1516 271014 1516 88 FEIST FEIST ROBERTS submetendo a psicoterapia Somente depois da trans formação e de uma filosofia de vida estabelecida é que o terapeuta seria capaz de ajudar os pacientes a avançarem na direção da individuação da totalidade ou da autorreali zação Esse quarto estágio é especialmente empregado em pacientes que estão na segunda metade da vida e que se en contram preocupados com a percepção do self interno com problemas morais e religiosos e em encontrar uma filosofia de vida unificadora Jung 19311954b Jung era muito eclético em sua teoria e na prática da psicoterapia Seu tratamento variava de acordo com a ida de o estágio do desenvolvimento e o problema particular do paciente Cerca de dois terços dos seus pacientes esta vam na segunda metade da vida e muitos deles sofriam de perda de significado falta de perspectiva geral e medo da morte Jung tentava ajudálos a encontrar sua própria orientação filosófica O objetivo final da terapia junguiana é ajudar os pa cientes neuróticos a se tornarem saudáveis e encorajar pessoas saudáveis a trabalharem de forma independente em direção à autorrealização Jung procurava atingir tal objetivo usando técnicas como a análise dos sonhos e a imaginação ativa para ajudar os pacientes a descobrirem material inconsciente pessoal e coletivo e a equilibrar essas imagens inconscientes com sua atitude consciente Jung 19311954a Ainda que Jung encorajasse os pacientes a serem in dependentes ele admitia a importância da transferência particularmente durante os três primeiros estágios da te rapia Ele considerava tanto a transferência positiva quan to a negativa como um processo natural para a revelação de informações altamente pessoais Ele considerava cor reto que inúmeros pacientes homens se referissem a ele como mãe Jung e bastante compreensível que outros o vissem como Deus ou salvador Jung também reconheceu o processo da contratransferência um termo usado para descrever os sentimentos do terapeuta em relação ao pa ciente Assim como a transferência a contratransferência pode ser uma ajuda ou um obstáculo ao tratamento de pendendo de se ela leva a uma melhor relação entre mé dico e paciente algo que Jung considerava indispensável para o sucesso da psicoterapia Como a psicoterapia junguiana possui muitos objeti vos menores e uma variedade de técnicas não é possível uma descrição universal de uma pessoa que concluiu com sucesso o tratamento analítico Para a pessoa madura o objetivo pode ser encontrar significado na vida e lutar para atingir equilíbrio e totalidade A pessoa autorrealizada é ca paz de assimilar muito do self inconsciente à consciência mas ao mesmo tempo permanece ciente dos perigos po tenciais ocultos no distante recesso da psique inconsciente Jung alertou certa vez contra se aprofundar muito em um Carl Jung o velho sábio de Küsnacht Feist04indd 88 Feist04indd 88 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 89 campo que não foi pesquisado de forma apropriada com parando essa prática a uma pessoa cavando um poço arte siano e correndo o risco de ativar um vulcão PESQUISA RELACIONADA A abordagem de Jung da personalidade foi muito influente no início do desenvolvimento da psicologia da personalida de Nos dias atuais porém sua influência diminuiu muito embora ainda haja algumas instituições pelo mundo dedi cadas à psicologia analítica Hoje a maior parte das pes quisas relacionadas a Jung foca suas descrições dos tipos de personalidade O Indicador Tipológico MyersBriggs MyersBriggs Type Indicator MBTI Myers 1962 é a medida usada com mais frequência baseada nos tipos de personalidade de Jung O MBTI acrescenta uma quinta e uma sexta funções julgamento e percepção à tipologia original de Jung criando um total de 16 tipos de persona lidade possíveis Esse instrumento é usado com frequência por orientadores educacionais para direcionar os alunos para caminhos de estudo mais gratificantes Por exemplo pesquisas constataram que pessoas com altos índices nas dimensões de intuição e sentimento têm mais probabili dade de considerar o ensino gratificante Willing Guest Morford 2001 Mais recentemente pesquisadores am pliaram o trabalho sobre a utilidade dos tipos de personali dade de Jung explorando o papel dos tipos na forma como as pessoas administram suas finanças pessoais e seu estilo de liderança Tipo de personalidade e investimentos financeiros As pesquisas sobre personalidade não são conduzidas uni camente por psicólogos da personalidade Como a perso nalidade é o estudo da singularidade de cada pessoa ele é relevante para qualquer indivíduo e qualquer lugar Por exemplo embora as pesquisas sobre psicologia e finanças em geral não cruzem seus caminhos a personalidade pode ser um fator comum em ambas as áreas porque os aspec tos únicos dos indivíduos são importantes nas duas áreas Recentemente pesquisadores em finanças empresariais se interessaram por estudar como a personalidade afeta a forma de as pessoas investirem seu dinheiro Filbeck Hatfield Horvath 2005 De forma mais específica Filbeck e colaboradores 2005 queriam entender melhor o nível de risco que os indivíduos estão dispostos a tole rar quando se trata de investir dinheiro Os investimen tos tendem a ser muito voláteis É verdade que só se pode ganhar muito dinheiro investindo no mercado de ações mas também podese perder tudo Algumas pessoas têm uma tolerância natural às amplas oscilações em seus in vestimentos enquanto outras não Que tipos de pessoas estão dispostos a correr tais riscos Filbeck e colaboradores 2005 usaram o MBTI para determinar quais dos tipos de personalidade de Jung ti nham maior probabilidade de tolerar o risco quando inves tiam dinheiro O MBTI é uma medida de autorrelato com itens que avaliam cada um dos oito tipos de personalidade junguianos descritos na Tabela 41 Para medir a tolerância ao risco ao investir dinheiro os pesquisadores usaram um questionário no qual eram apresentadas às pessoas várias situações hipotéticas de aumento ou decréscimo de sua for tuna Com base nas respostas a essas situações hipotéticas os pesquisadores puderam determinar em que ponto i e qual a porcentagem de ganhoperda as pessoas achavam que seus investimentos eram muito voláteis e arriscados Os pesquisadores recrutaram uma amostra de estudantes e adultos para preencher o MBTI e o questionário de tole rância ao risco e então testaram a hipótese de que alguns tipos de personalidade tolerariam mais risco do que outros Seus achados revelaram que o MBTI é um bom prog nosticador de quem está disposto a tolerar e quem não está Especificamente os pesquisadores verificaram que aqueles que são do tipo pensamento possuem uma alta tolerância ao risco enquanto aqueles do tipo sentimento apresentam uma tolerância relativamente baixa para o mesmo nível de risco De modo surpreendente a dimensão da extroversão introversão não foi um bom prognosticador da tolerância ao risco portanto é difícil predizer que tipo específico de pensadores e sentimentais p ex extrovertidos ou intro vertidos são mais tolerantes ou intolerantes ao risco Por exemplo o tipo de personalidade de pensamento contanto que não seja do tipo extremamente extrovertido ou extre mamente introvertido é aquele que dá mais importância à atividade intelectual lógica Considerando de forma lógica os mercados de ações sobem e descem e portanto é sen sato tolerar o risco mesmo quando os investimentos estão baixos porque provavelmente eles se elevarão outra vez eventualmente quando a economia se fortalecer O tipo de personalidade de sentimento descreve a forma como as pessoas avaliam as informações e essa avaliação não está necessariamente circunscrita pelas regras da lógica e da ra zão Portanto o tipo sentimento tem mais probabilidade de basear sua tolerância ao risco na própria avaliação pes soal da situação a qual pode ou não estar de acordo com as tendências lógicas do mercado de ações Apesar de nem todos os tipos de personalidade junguianos estarem relacio nados à tolerância ao risco nesse estudo os pesquisadores concluíram que a personalidade dos investidores é um fator importante para os conselheiros financeiros considerarem ao criar uma carteira de investimentos que melhor atenda às necessidades e aos valores pessoais do investidor Tipo de personalidade e liderança O MBTI foi bastante usado em pesquisas de comporta mento organizacional sobretudo relacionadas aos com Feist04indd 89 Feist04indd 89 271014 1516 271014 1516 90 FEIST FEIST ROBERTS portamentos de liderança e gerenciais É interessante no tar que alguns desses trabalhos sugerem que a preferência pelo pensamento sobre o sentimento e pelo julgamento sobre a percepção p ex Gardner Martinko 1990 é característica de administradores eficazes que costumam ser orientados a focar a conquista de resultados por meio da análise rápida de problemas e da implementação con fiante de decisões De fato as pessoas que exibem os tipos de comportamentos associados às funções de pensamento e julgamento tendem a ser consideradas material de lide rança Kirby 1997 porque tais funções quase se torna ram características definidoras do que significa liderar Uma pesquisa recente de estudantes de administração e administradores finlandeses Jarlstrom Valkealahti 2010 usou o MBTI para examinar o que é conhecido como adequação pessoatrabalho a qual é definida como a combinação entre o conhecimento as capacidades e as ha bilidades de uma pessoa e as demandas do trabalho Como em trabalhos anteriores os estudantes de administração e os administradores compartilhavam preferências pelo pen samento e pelo julgamento em detrimento de sentimento e percepção Entretanto quando as amostras foram com paradas entre si surgiu uma tendência interessante que é contrária às pesquisas anteriores Os tipos de sentimento eram excessivamente representados entre os estudantes de administração em comparação aos administradores Os autores argumentam que seus resultados sugerem que um novo perfil de tipos está emergindo no mundo dos negó cios hoje caracterizado por qualidades associadas à função de Jung do sentimento encorajamento da participação e da construção do consenso e colocarse no lugar do ou tro de forma compassiva durante os processos de tomada de decisão Talvez argumentam Jarlstrom e Valkealahti 2010 o trabalho gerencial esteja se tornando mais carac terizado pela coordenação dos recursos humanos do que por determinação eficiência e implantação Se for assim então novos locais de trabalho podem cada vez mais de mandar e recompensar os líderes de quem se espera que motivem as equipes de empregados assim como um trei nador faz um estilo de liderar muito adequado à função do sentimento As pesquisas futuras com o seguimento das carreiras reais dos estudantes de administração irão nos dizer CRÍTICAS A JUNG Os escritos de Carl Jung continuam a fascinar os estudan tes de humanidades Apesar de sua qualidade subjetiva e filosófica a psicologia junguiana atraiu um grande público tanto de profissionais quanto de leigos Seu estudo sobre a religião e mitologia pode repercutir bem para alguns leito res mas repelir outros Jung contudo consideravase um cientista e insistia que seu estudo científico da religião da mitologia do folclore e das fantasias filosóficas não fazia dele um místico mais do que o estudo de Freud sobre sexo o tornava um pervertido sexual Jung 1975 No entanto a psicologia analítica assim como qual quer teoria deve ser avaliada em relação aos seis critérios de uma teoria útil estabelecidos no Capítulo 1 Primeira mente uma teoria útil deve gerar hipóteses verificáveis e pesquisa descritiva segundo ela deve ter a capacidade de verificação ou refutação Infelizmente a teoria de Jung assim como a de Freud é quase impossível de verificar ou refutar O inconsciente coletivo a essência da teoria de Jung permanece sendo um conceito difícil de testar empiricamente Boa parte das evidências para os conceitos de arquéti po e inconsciente coletivo surgiu a partir das próprias expe riências de Jung as quais ele reconhecidamente encontrou dificuldade para comunicar aos outros de forma que a acei tação desses conceitos se apoia mais na fé do que em evi dências empíricas Jung 1961 alegava que as afirmações arquetípicas estão baseadas nas precondições instintivas e nada têm a ver com a razão elas não são fundamentadas racionalmente nem podem ser banidas pelo argumento racional p 353 Tal afirmação pode ser aceitável para o artista ou o teólogo mas é provável que não tenha adesões entre os pesquisadores científicos que se defrontam com os problemas de planejar estudos e formular hipóteses Todavia a parte da teoria de Jung relacionada a clas sificação e tipologia isto é as funções e atitudes pode ser estudada e testada e gerou uma quantidade moderada de pes quisa Como o MBTI produziu um grande número de inves tigações damos à teoria de Jung uma classificação como moderada em sua capacidade de gerar pesquisa Em terceiro lugar uma teoria útil deve organizar as ob servações em uma estrutura significativa A psicologia ana lítica é única porque ela acrescenta uma nova dimensão à teoria da personalidade nomeadamente o inconsciente coletivo Aqueles aspectos da personalidade humana que lidam com o oculto o misterioso e o parapsicológico não são abordados pela maioria das outras teorias da persona lidade Mesmo que o inconsciente coletivo não seja a única explicação possível para esses fenômenos e outros concei tos possam ser postulados para explicálos Jung é o único teórico da personalidade moderno a fazer uma tentativa séria de incluir um âmbito tão abrangente da atividade humana em uma estrutura teórica única Por essas razões demos à teoria de Jung uma classificação como moderada em sua capacidade de organizar o conhecimento Um quarto critério de uma teoria útil é a praticida de A teoria auxilia terapeutas professores pais e outros na solução dos problemas do dia a dia A teoria dos tipos psicológicos ou atitudes e o MBTI são usados por muitos clínicos mas a utilidade da maior parte da teoria analítica está limitada àqueles terapeutas que adotam os princípios básicos junguianos O conceito de um inconsciente coleti Feist04indd 90 Feist04indd 90 271014 1516 271014 1516 TEORIAS DA PERSONALIDADE 91 vo não se presta facilmente à pesquisa empírica mas pode ter alguma utilidade ao ajudar as pessoas a compreende rem mitos culturais e se adaptarem aos traumas da vida De modo geral no entanto podemos dar à teoria de Jung somente uma classificação baixa em praticidade A teoria da personalidade de Jung é internamente coe rente Ela possui um conjunto de termos definidos ope racionalmente A primeira pergunta recebe uma resposta afirmativa qualificada a segunda uma negativa definida Jung em geral usava os mesmos termos coerentemente mas ele empregava com frequência vários termos para des crever o mesmo conceito As palavras regressão e introver tido estão relacionadas tão intimamente que se pode dizer que descrevem o mesmo processo Isto também é verdadei ro para progressão e extrovertido e a lista pode ser ampliada para incluir vários outros termos como individuação e au torrealização os quais não são diferenciados com clareza A linguagem de Jung costuma ser figurada e muitos de seus termos não são definidos de modo adequado Quanto às definições operacionais Jung assim como outros teóri cos iniciais da personalidade não definiu termos de modo operacional Portanto classificamos sua teoria como baixa em coerência interna O critério final de uma teoria útil é a parcimônia A psi cologia de Jung não é simples mas a personalidade huma na também não é No entanto como ela é mais complicada do que o necessário podemos lhe dar apenas uma baixa classificação em parcimônia A inclinação de Jung para pro curar dados de uma variedade de disciplinas e sua disposi ção para explorar o próprio inconsciente mesmo abaixo do nível pessoal contribuem para as grandes complexidades e a imensa abrangência de sua teoria A lei da parcimônia diz Quando duas teorias são igualmente úteis a mais simples é a preferida Na verdade é claro não existem duas teorias iguais mas a teoria de Jung embora acrescentando uma dimensão à personalidade humana que não é muito abor dada por outros é provavelmente mais complexa do que o necessário CONCEITO DE HUMANIDADE Jung via os seres humanos com muitos polos opostos Sua vi são da humanidade não era pessimista ou otimista nem deter minista ou propositiva Para ele as pessoas são motivadas em parte pelos pensamentos conscientes em parte por imagens de seu inconsciente pessoal e em parte pelos traços de memó ria latentes herdados de seu passado ancestral Sua motivação provém de fatores causais e teleológicos A constituição complexa dos humanos invalida qual quer descrição simples ou unilateral De acordo com Jung cada pessoa é uma composição de forças opostas Ninguém é completamente introvertido ou extrovertido masculino ou feminino uma pessoa em que predomina o pensamento o sentimento a sensação ou a intuição e ninguém avança de modo invariável na direção da progressão ou da regressão A persona não é mais do que uma fração de um indiví duo O que se deseja mostrar aos outros é em geral apenas o lado socialmente aceitável da personalidade Cada pessoa possui um lado sombrio uma sombra e a maioria tenta ocultálo tanto da sociedade quanto de si mesma Além disso cada homem possui uma anima e cada mulher um animus Os vários complexos e arquétipos lançam seu feitiço so bre as pessoas e são responsáveis por muitas de suas palavras e ações e pela maior parte de seus sonhos e fantasias Ainda que as pessoas não sejam mestres de suas próprias casas elas também não são completamente dominadas por forças além de seu controle Possuem uma capacidade limitada de deter minar sua vida Por meio da força de vontade e com grande coragem elas podem explorar os recessos escondidos de sua psique Elas podem reconhecer a sombra desses recessos como delas tornarse parcialmente conscientes de seu lado femini no ou masculino e cultivar mais de uma única função Esse processo que Jung denominava individuação ou autorrealiza ção não é fácil e demanda maior coragem do que a maioria das pessoas consegue reunir Em geral uma pessoa que atin giu a autorrealização já chegou à metade da vida e atravessou com sucesso os estágios da infância e da juventude Durante a meiaidade elas devem estar dispostas a deixar de lado os ob jetivos e os comportamentos da juventude e adotar um novo estilo apropriado a seu estágio do desenvolvimento psíquico Mesmo depois que as pessoas alcançaram a individua ção tomaram conhecimento de seu mundo interno e criaram um equilíbrio entre as várias forças opostas elas permane cem sob influência de um inconsciente coletivo impessoal que controla muitos de seus preconceitos interesses medos sonhos e atividades criativas Na dimensão dos aspectos biológicos versus sociais da personalidade a teoria de Jung inclinase fortemente na di reção da biologia O inconsciente coletivo que é responsável por tantas ações faz parte de nossa herança biológica Exceto pelo potencial terapêutico da relação médicopaciente Jung tinha pouco a dizer acerca dos efeitos diferenciais de práticas sociais específicas De fato em seus estudos de várias culturas ele encontrou diferenças superficiais e semelhanças profun das Assim a psicologia analítica também pode ser classifica da como alta em semelhanças entre as pessoas e baixa nas diferenças individuais Feist04indd 91 Feist04indd 91 271014 1516 271014 1516 92 FEIST FEIST ROBERTS Termoschave e conceitos O inconsciente pessoal é formado pelas experiências reprimidas de um indivíduo em particular e é o re servatório dos complexos Os humanos herdam um inconsciente coletivo que ajuda a moldar muitas de suas atitudes seus com portamentos e seus sonhos Arquétipos são conteúdos do inconsciente coletivo Os arquétipos típicos incluem persona sombra ani ma animus grande mãe velho sábio herói e self A persona representa o lado da personalidade que as pessoas mostram para o resto do mundo Aquelas psi cologicamente sadias reconhecem sua persona mas não a confundem com a totalidade da personalidade A anima é o lado feminino dos homens e é respon sável por muitos de seus humores e sentimentos irracionais O animus o lado masculino das mulheres é respon sável pelo pensamento irracional e pelas opiniões ilógicas nas mulheres A grande mãe é o arquétipo de fertilidade e destruição O arquétipo do velho sábio é a voz inteligente mas enganadora da experiência acumulada O herói é a imagem inconsciente de uma pessoa que derrota um inimigo mas que também possui uma fragilidade trágica O self é o arquétipo da integridade da totalidade e da perfeição As atitudes de introversão e extroversão podem se combinar com uma ou mais das quatro funções pensamento sentimento sensação e intuição para produzir oito tipos básicos Uma meiaidade e uma velhice saudáveis dependem de soluções apropriadas para os problemas da infân cia e da juventude Os terapeutas junguianos usam a análise dos sonhos e a imaginação ativa para descobrir os conteúdos do inconsciente coletivo dos pacientes Feist04indd 92 Feist04indd 92 271014 1516 271014 1516 CAPÍTULO 5 Klein Teoria das Relações Objetais Panorama da teoria das relações objetais Biografia de Melanie Klein Introdução à teoria das relações objetais A vida psíquica do bebê Fantasias Objetos Posições Posição esquizoparanoide Posição depressiva Mecanismos de defesa psíquicos Introjeção Projeção Dissociação Identificação projetiva Internalizações Ego Superego Complexo de Édipo Desenvolvimento edípico feminino Desenvolvimento edípico masculino Visões posteriores das relações objetais A visão de Margaret Mahler A visão de Heinz Kohut A teoria do apego de John Bowlby Mary Ainsworth e a situação estranha Psicoterapia Pesquisa relacionada Trauma infantil e relações objetais adultas Teoria do apego e as relações adultas Críticas à teoria das relações objetais Conceito de humanidade Termoschave e conceitos Klein Feist05indd 93 Feist05indd 93 271014 1515 271014 1515 94 FEIST FEIST ROBERTS M elanie Klein a mulher que desenvolveu uma teo ria que enfatizava a relação de nutrição e amoro sa entre pais e filhos não teve uma relação nem de nutrição nem amorosa com sua própria filha Melitta O distanciamento entre mãe e filha começou cedo Melitta era a mais velha de três filhos nascidos de pais que não gostavam particularmente um do outro Quando Melitta tinha 15 anos seus pais se separaram e ela culpava a mãe pela separação e pelo divórcio que se seguiu Quando Me litta amadureceu sua relação com a mãe se tornou mais áspera Depois que Melitta se formou em medicina passou por uma análise pessoal e apresentou trabalhos acadêmicos na Sociedade Psicanalítica Britânica tornouse membro oficial daquela sociedade profissionalmente igual a sua mãe Seu analista Edward Glover era um feroz rival de Melanie Klein Glover que encorajava a independência de Melitta foi pelo menos de forma indireta responsável pe los ataques violentos de Melitta a sua mãe A animosida de entre mãe e filha tornouse ainda mais intensa quando Melitta se casou com Walter Schmideberg outro analista que se opunha fortemente a Klein e que apoiava de modo aberto Anna Freud a rival mais impetuosa de Klein Apesar de ser membro titular da Sociedade Psicanalíti ca Britânica Melitta Schmideberg acreditava que sua mãe a via como um apêndice não como colega Em uma carta com palavras fortes endereçada à mãe no verão de 1934 Melitta escreveu Espero que você também me permita lhe dar um con selho Sou muito diferente de você Eu já lhe disse anos atrás que nada me causa uma reação pior do que tentar forçar sentimentos em mim essa é a maneira mais segu ra de matar todos os sentimentos Agora estou crescida e preciso ser independente Tenho minha própria vida o meu marido Citado em Grosskurth 1986 p 199 Melitta seguiu dizendo que não mais se relacionaria com sua mãe da maneira neurótica dos anos em que era mais jovem Ela agora tinha uma profissão compartilhada com sua mãe e insistia que fosse tratada como uma igual A história de Melanie Klein e sua filha assume uma nova perspectiva à luz da ênfase que a teoria das relações objetais coloca na importância da relação entre mãe e filho PANORAMA DA TEORIA DAS RELAÇÕES OBJETAIS A teoria das relações objetais de Melanie Klein foi cons truída a partir de observações de crianças pequenas Em contraste com Freud que destacava os primeiros 4 a 6 anos de vida Klein enfatizava a importância dos primeiros 4 a 6 meses após o nascimento Ela insistia em que os impulsos do bebê fome sexo etc são direcionados para um objeto o seio o pênis a vagina De acordo com Klein a relação da criança com o seio é fundamental e serve como um pro tótipo para relações posteriores com objetos totais como a mãe e o pai A tendência muito precoce dos bebês a se relacionarem com objetos parciais empresta a suas expe riências uma qualidade irrealista ou semelhante a uma fan tasia que afeta todas as relações interpessoais posteriores Assim as ideias de Klein tendem a mudar o foco da teoria psicanalítica de estágios do desenvolvimento com base or gânica para o papel da fantasia precoce na formação das relações interpessoais Além de Klein outros teóricos especularam sobre a importância das experiências precoces do bebê com a mãe Margaret Mahler acreditava que a noção de identidade das crianças se apoiava sobre uma relação de três passos com sua mãe Primeiro os bebês têm suas necessidades bási cas atendidas pela mãe a seguir desenvolvem uma relação simbiótica segura com uma mãe todapoderosa e final mente emergem do círculo protetor da mãe e estabelecem sua individualidade separada Heinz Kohut teorizou que as crianças desenvolvem uma noção de self durante a pri meira infância quando os pais e outras pessoas as tratam como se elas tivessem uma noção de identidade individua lizada John Bowlby investigou o vínculo dos bebês com a mãe além das consequências negativas de serem separa dos dela Mary Ainsworth e colaboradores desenvolveram uma técnica para medir o tipo de vínculo que um bebê esta belece com sua cuidadora BIOGRAFIA DE MELANIE KLEIN Melanie Reizes Klein nasceu em 30 de março de 1882 em Viena Áustria A mais moça de quatro filhos nascidos do doutor Moriz Reizes e sua segunda esposa Libussa Deutsch Reizes Klein acreditava que seu nascimento não tinha sido planejado uma crença que a levou a senti mentos de ser rejeitada por seus pais Ela se sentia espe cialmente distante do pai o qual favorecia sua irmã mais velha Emilie Sayers 1991 Na época em que Melanie nasceu seu pai há algum tempo tinha se rebelado contra seu treinamento anterior como judeu ortodoxo e havia pa rado de praticar qualquer religião Em consequência Klein cresceu em uma família que não era próreligiosa nem an tirreligiosa Durante a infância Klein observou os pais trabalhan do em atividades que eles não gostavam Seu pai era um médico que lutava para ganhar a vida na medicina e even tualmente se via obrigado a trabalhar como auxiliar de dentista Sua mãe administrava uma loja que vendia plan tas e répteis um trabalho difícil humilhante e assustador para alguém que tinha aversão por cobras H Segal 1979 Apesar da renda escassa de seu pai como médico Klein de sejava seguir essa profissão Feist05indd 94 Feist05indd 94 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 95 As relações precoces de Klein foram insalubres ou ter minaram em tragédia Ela se sentia negligenciada pelo pai idoso a quem ela via como frio e distante e embora amas se e idolatrasse sua mãe sentiase sufocada por ela Klein tinha uma afeição especial por sua irmã Sidonie que era quatro anos mais velha e que ensinava aritmética e leitura a Melanie Infelizmente quando Melanie tinha 4 anos de idade Sidonie morreu Anos depois Klein confessou que nunca superou o luto por Sidonie H Segal 1992 Após a morte da irmã Klein vinculouse profundamente a seu único irmão Emmanuel que era quase cinco anos mais ve lho e que se tornou seu confidente íntimo Ela idolatrava seu irmão e esse fascínio pode ter contribuído para suas dificuldades posteriores em se relacionar com homens Assim como Sidonie anteriormente Emmanuel ensinava Melanie e suas excelentes instruções a ajudaram a passar nos exames de ingresso para uma escola preparatória res peitável Petot 1990 Quando Klein tinha 18 anos seu pai morreu mas uma tragédia maior ocorreu dois anos depois quando seu ama do irmão Emmanuel faleceu A morte de Emmanuel dei xou Klein devastada Enquanto ainda lamentava a morte do irmão ela se casou com Arthur Klein um engenheiro que tinha sido um amigo muito próximo de Emmanuel Mela nie acreditava que seu casamento aos 21 anos impediu que ela se tornasse médica e pelo resto de sua vida lamentou não ter alcançado esse objetivo Grosskurth 1986 Klein não teve um casamento feliz ela temia o sexo e tinha aversão à gravidez Grosskurth 1986 No entanto em seu casamento com Arthur gerou três filhos Melitta nascida em 1904 Hans nascido em 1907 e Erich nasci do em 1914 Em 1909 os Klein se mudaram para Buda peste para onde Arthur havia sido transferido Lá Klein conheceu Sandor Ferenczi um membro do círculo restrito de Freud e a pessoa que a apresentou ao mundo da psi canálise Quando sua mãe morreu em 1914 Klein ficou deprimida e iniciou análise com Ferenczi uma experiência que representou um momento decisivo em sua vida No mesmo ano ela leu Sobre os sonhos de Freud 19011953 e percebi imediatamente que aquilo era o que eu estava buscando pelo menos durante aqueles anos em que eu estava ávida por encontrar o que me satisfaria intelectual e emocionalmente citado em Grosskurth 1986 p 69 Mais ou menos na mesma época em que descobriu Freud nasceu seu filho mais moço Erich Klein estava bastan te tomada pela psicanálise e treinou seu filho de acordo com os princípios freudianos Como parte desse treina mento ela começou a analisar Erich desde quando ele era muito pequeno Além disso ela tentou analisar Melitta e Hans ambos os quais posteriormente foram para outros analistas Melitta que se tornou psicanalista foi ana lisada por Karen Horney ver Cap 6 e também por ou tros Grosskurth 1986 Um paralelo interessante entre Horney e Klein é que Klein posteriormente analisou as duas filhas mais moças de Horney quando elas tinham 12 e 9 anos de idade a filha mais velha de Horney tinha 14 anos e se recusou a ser analisada Ao contrário da aná lise voluntária de Melitta com Horney as duas filhas de Horney foram forçadas a frequentar as sessões analíticas não para tratamento de algum transtorno neurótico mas como medida preventiva Quinn 1987 Klein se separou do marido em 1919 mas não obte ve o divórcio durante muitos anos Após a separação ela estabeleceu uma prática psicanalítica em Berlim e fez suas primeiras contribuições para a literatura psicanalítica com um trabalho que abordava sua análise com Erich que não foi identificado como seu filho até muito depois de ela morrer Grosskurth 1998 Não completamente satisfeita com a própria análise com Ferenczi ela acabou a relação e começou uma análise com Karl Abraham outro mem bro do círculo restrito de Freud Depois de apenas 14 me ses no entanto Klein passou por outra tragédia quando Abraham morreu Nesse ponto de sua vida Klein decidiu começar uma autoanálise a qual continuou pelo resto da vida Antes de 1919 os psicanalistas incluindo Freud ba seavam suas teorias do desenvolvimento infantil em seu trabalho terapêutico com adultos O único estudo de caso de Freud com uma criança foi o Pequeno Hans um me nino que ele viu como paciente apenas uma vez Melanie Klein mudou essa situação analisando diretamente crian ças Seu trabalho com crianças muito pequenas incluindo o próprio filho convenceua de que as crianças internali zam sentimentos positivos e negativos em relação à mãe e que desenvolvem um superego muito antes do que Freud acreditava Sua pequena divergência da teoria psicanalíti ca convencional causou muitas críticas por parte de seus colegas em Berlim fazendo com que ela se sentisse cada vez mais desconfortável naquela cidade Então em 1926 Ernest Jones a convidou para ir a Londres analisar seus filhos e fazer uma série de conferências sobre análise in fantil Essas conferências tempos depois resultaram em seu primeiro livro A psicanálise de crianças Klein 1932 Em 1927 ela fixou residência na Inglaterra permanecen do lá até sua morte em 22 de setembro de 1960 No dia de sua cerimônia fúnebre sua filha Melitta fez um insulto póstumo ao realizar um discurso profissional usando botas vermelho flamboyant o que escandalizou muitos dos pre sentes Grosskurth 1986 Os anos de Klein em Londres foram marcados por di visão e controvérsia Ainda que ela continuasse a se con siderar como freudiana nem Freud nem sua filha Anna aceitavam sua ênfase na importância da infância muito precoce ou sua técnica analítica com crianças Suas diferen ças com Anna Freud começaram enquanto os Freud ainda estavam morando em Viena mas seu clímax ocorreu quan do Anna se mudou com o pai e a mãe para Londres em 1938 Antes da chegada de Anna Freud a escola inglesa de psicanálise estava se estabilizando como escola kleiniana Feist05indd 95 Feist05indd 95 271014 1515 271014 1515 96 FEIST FEIST ROBERTS e as batalhas de Klein estavam limitadas principalmente àquelas com sua filha Melitta e essas batalhas eram fero zes e pessoais Em 1934 o filho mais velho de Klein Hans morreu em uma queda Melitta que havia se mudado recente mente para Londres com seu marido psicanalista Walter Schmideberg sustentou que seu irmão havia cometido suicídio e acusou sua mãe pela morte dele Durante aque le mesmo ano Melitta começou uma análise com Edward Glover um dos rivais de Klein na Sociedade Psicanalítica Britânica Klein e sua filha então tornaramse ainda mais afastadas no âmbito pessoal e antagonistas profissional mente e Melitta manteve sua animosidade mesmo depois da morte da mãe Mesmo que Melitta Schmideberg não fosse uma apoia dora de Anna Freud seu antagonismo persistente em rela ção a Klein aumentou as dificuldades da batalha de Klein com Anna Freud a qual nunca reconheceu a possibilidade de analisar crianças pequenas King Steiner 1991 Mi tchell Black 1995 O atrito entre Klein e Anna Freud jamais cedeu com cada lado alegando ser mais freudiano do que o outro Hughes 1989 Por fim em 1946 a So ciedade Psicanalítica Britânica aceitou três procedimentos de treinamento o tradicional de Melanie Klein o defen dido por Anna Freud e o de um grupo intermediário que não aceitava qualquer escola de treinamento mas era mais eclético em sua abordagem Com essa divisão a Sociedade Psicanalítica Britânica permaneceu intacta embora com uma aliança desconfortável INTRODUÇÃO À TEORIA DAS RELAÇÕES OBJETAIS A teoria das relações objetais é fruto da teoria dos instintos de Freud porém difere de sua antecedente em pelo menos três aspectos gerais Primeiro a teoria das relações objetais coloca menos ênfase nos impulsos fundamentados biologi camente e mais importância nos padrões consistentes das relações interpessoais Segundo contrariamente à teoria paternalista de Freud que enfatiza o poder e o controle do pai a teoria das relações objetais tende a ser mais materna destacando a intimidade e a criação da mãe Terceiro os teóricos das relações objetais veem em geral o contato e as relações humanas não o prazer sexual como o motivo primordial do comportamento humano De forma mais específica no entanto o conceito de relações objetais possui muitos significados assim como existem muitos teóricos das relações objetais Este capítulo concentrase principalmente no trabalho de Melanie Klein mas também discute de modo breve as teorias de Margaret S Mahler Heinz Kohut John Bowlby e Mary Ainsworth Em geral o trabalho de Mahler se preocupou com o esforço do bebê para obter autonomia e uma noção de self Kohut com a formação do self Bowlby com os estágios da ansiedade de separação e Ainsworth com os estilos de apego Se Klein é a mãe da teoria das relações objetais então Freud é o pai Lembrese do Capítulo 2 que diz que Freud 19151957a acreditava que os instintos ou impulsos têm um ímpeto uma origem uma finalidade e um objeto com es ses dois últimos tendo maior significado psicológico Ainda que impulsos diferentes possam parecer ter finalidades se paradas o propósito subjacente é sempre o mesmo reduzir a tensão isto é alcançar o prazer Em termos freudianos o objeto do impulso é uma pessoa parte de uma pessoa ou coisa por meio da qual a finalidade é satisfeita Klein e ou tros teóricos das relações objetais começam com esse pres suposto básico de Freud e então especulam sobre como as relações precoces reais ou fantasiadas do bebê com a mãe ou o seio se tornam um modelo para todas as relações interpessoais posteriores As relações adultas portanto nem sempre são o que parecem Uma parte importante de qualquer relação são as representações psíquicas internas de objetos precoces significativos como o seio da mãe ou o pênis do pai que foram introjetadas ou assimiladas à estru tura psíquica do bebê e então projetadas em seu parceiro Essas imagens internas não são representações precisas da outra pessoa mas remanescentes das experiências preco ces de cada indivíduo Apesar de Klein continuar se considerando freudia na ela estendeu a teoria psicanalítica além das fronteiras definidas por Freud Por sua vez Freud optou por ignorar Klein Quando pressionado a opinar sobre o trabalho dela tinha pouco a dizer Por exemplo em 1925 quando Ernest Jones escreveu a ele elogiando o trabalho valioso de Klein com a análise infantil e a ludoterapia Freud simplesmente respondeu que o trabalho de Melanie Klein suscitou dúvi das e controvérsias consideráveis aqui em Viena Steiner 1985 p 30 A VIDA PSÍQUICA DO BEBÊ Enquanto Freud enfatizava os primeiros anos de vida Klein destacava a importância dos primeiros 4 a 6 meses Para ela os bebês não começam a vida com uma tela em branco mas com uma predisposição herdada de reduzir a ansiedade que experimentam em consequência do conflito produzido pelas forças do instinto de vida e do instinto de morte A prontidão inata do bebê para agir ou reagir pres supõe a existência de dotação filogenética um conceito que Freud também aceitava Fantasias Um dos pressupostos básicos de Klein é que o bebê mes mo no nascimento possui uma vida de fantasia ativa Es sas fantasias são representações psíquicas dos instintos inconscientes do id portanto não devem ser confundidas Feist05indd 96 Feist05indd 96 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 97 com as fantasias conscientes das crianças mais velhas e dos adultos De fato Klein de modo intencional escrevia phantasy para tornála distinta Quando Klein 1932 es creveu sobre a dinâmica vida de fantasia dos bebês ela não sugeriu que os recémnascidos conseguissem colocar os pensamentos em palavras Ela simplesmente queria dizer que eles possuem imagens inconscientes de bom e mau Por exemplo um estômago cheio é bom um vazio é mau Assim Klein dizia que os bebês que adormecem enquanto sugam os dedos estão fantasiando ter o seio bom da mãe dentro deles Da mesma forma os bebês com fome que choram e esperneiam estão fantasiando chutar ou destruir o seio mau À medida que o bebê amadurece as fantasias incons cientes conectadas com o seio continuam a exercer um impacto na vida psíquica mas também surgem novas fan tasias Essas fantasias inconscientes posteriores são mol dadas pela realidade e pelas predisposições herdadas Uma dessas fantasias envolve o complexo de Édipo ou o desejo da criança de destruir um dos pais e possuir sexualmente o outro A noção de Klein do complexo de Édipo é discutida com mais detalhes na seção Internalizações Como essas fantasias são inconscientes elas podem ser contraditórias Por exemplo um menino pode fantasiar que está batendo em sua mãe e tendo bebês com ela Essas fantasias se ori ginam em parte das experiências do menino com a mãe e em parte das predisposições universais de destruir o seio mau e incorporar o bom Objetos Klein concordava com Freud que os humanos possuem im pulsos ou instintos inatos incluindo um instinto de morte Os impulsos é claro precisam ter algum objeto Assim o impulso da fome tem o seio bom como seu objeto o impul so sexual tem um órgão sexual como seu objeto e assim por diante Klein 1948 acreditava que desde o início da infância as crianças se relacionam com esses objetos ex ternos tanto em fantasia quanto na realidade As primei ras relações objetais são com o seio da mãe mas logo em seguida se desenvolve interesse pelo rosto e pelas mãos os quais atendem a suas necessidades e as gratificam Klein 1991 p 757 Em sua fantasia ativa os bebês introjetam ou assimilam a sua estrutura psíquica esses objetos externos incluindo o pênis do pai as mãos e o rosto da mãe e outras partes do corpo Os objetos introjetados são mais do que pensamentos internos acerca dos objetos externos eles são fantasias de internalizar o objeto em termos concre tos e físicos Por exemplo as crianças que introjetaram sua mãe acreditam que ela está constantemente dentro do cor po delas A noção de Klein de objetos internos sugere que esses objetos têm força própria comparável ao conceito de Freud de superego que supõe que a consciência do pai ou da mãe é carregada dentro da criança POSIÇÕES Klein 1946 via os bebês como constantemente se enga jando em um conflito básico entre o instinto de vida e o instinto de morte ou seja entre bom e mau amor e ódio criatividade e destruição À medida que o ego avança em direção à integração e se afasta da desintegração os bebês naturalmente preferem sensações gratificantes em relação às frustrantes Na tentativa de lidar com essa dicotomia de bons e maus sentimentos os bebês organizam suas experiências em posições ou formas de lidar com os objetos internos e externos Klein escolheu o termo posição em vez de es tágio do desenvolvimento para indicar que as posições se alternam para a frente e para trás elas não são períodos de tempo ou fases do desenvolvimento pelos quais uma pessoa passa Apesar de ter usado rótulos psiquiátricos ou patológicos Klein tinha em mente que essas posições representavam o crescimento e o desenvolvimento social normal As duas posições básicas são a posição esquizopara noide e a posição depressiva Posição esquizoparanoide Durante os primeiros meses de vida o bebê entra em con tato com o seio bom e o seio mau Essas experiências al ternantes de gratificação e frustração ameaçam a própria existência de seu ego vulnerável O bebê deseja controlar o seio devorandoo e abrigandoo Ao mesmo tempo os impulsos destrutivos inatos do bebê criam fantasias de dano ao seio mordendoo rasgandoo aniquilandoo Para tolerar tais sentimentos em relação ao mesmo objeto ao mesmo tempo o ego se divide retendo parte de seus ins tintos de vida e de morte enquanto desvia partes dos dois instintos para o seio Agora em vez de temer o próprio instinto de morte o bebê teme o seio persecutório Mas o bebê também tem uma relação com o seio ideal que dá amor conforto e gratificação O bebê deseja manter o seio ideal dentro dele como uma proteção contra a aniquilação pelos perseguidores Para controlar o seio bom e combater seus perseguidores o bebê adota o que Klein 1946 deno minou posição esquizoparanoide uma forma de organi zar as experiências que inclui os sentimentos paranoides de ser perseguido e uma divisão dos objetos internos e ex ternos em bons e maus De acordo com Klein os bebês desenvolvem a posi ção esquizoparanoide durante os primeiros 3 a 4 meses de vida durante os quais a percepção que o ego tem do mundo externo é subjetiva e fantástica em vez de objetiva e real Assim os sentimentos persecutórios são considerados pa ranoides ou seja eles não estão fundamentados em algum perigo real ou imediato do mundo externo A criança preci sa manter o seio bom e o seio mau separados porque con fundilos seria arriscar a aniquilação do seio bom e perdêlo Feist05indd 97 Feist05indd 97 271014 1515 271014 1515 98 FEIST FEIST ROBERTS como porto seguro No mundo esquizoide do bebê a ira e os sentimentos destrutivos são direcionados para o seio mau enquanto os sentimentos de amor e conforto estão associados ao seio bom Os bebês é claro não usam a linguagem para identifi car o seio bom e o mau Em vez disso eles possuem uma predisposição biológica a vincularem um valor positivo à nutrição e ao instinto de vida e a atribuírem um valor negativo à fome e ao instinto de morte Essa dissociação préverbal do mundo em bom e mau serve como protótipo para o posterior desenvolvimento de sentimentos ambiva lentes em relação a uma única pessoa Por exemplo Klein 1946 comparou a posição esquizoparanoide infantil com os sentimentos de transferência que os pacientes em te rapia muitas vezes desenvolvem em relação ao terapeuta Sob pressão da ambivalência do conflito e da culpa o paciente com frequência dissocia a figura do analista e assim o analista pode em certos momentos ser ama do em outros momentos odiado Ou o analista pode ser dissociado de uma forma que ele permaneça sendo a figura boa ou má enquanto outra pessoa se torna a figura oposta p 19 Os sentimentos ambivalentes não estão limitados às situações terapêuticas A maioria das pessoas tem senti mentos positivos e negativos em relação aos entes queri dos A ambivalência consciente no entanto não captura a essência da posição esquizoparanoide Quando os adultos adotam tal posição fazem isso de maneira primitiva e in consciente Conforme assinalado por Ogden 1990 eles podem se ver como um objeto passivo em vez de um su jeito ativo Provavelmente eles diriam Ele é perigoso em vez de dizer Estou consciente de que ele é perigoso para mim Outras pessoas podem projetar seus sentimentos paranoides inconscientes nos outros como um meio de evitar sua própria destruição pelo seio malévolo Outros ainda podem projetar seus sentimentos positivos incons cientes em outra pessoa e ver essa pessoa como perfeita enquanto veem a si mesmos como vazios ou sem valor Posição depressiva Em torno dos 5 ou 6 meses um bebê começa a ver os ob jetos externos como um todo e a entender que o bom e o mau podem existir na mesma pessoa Nessa época de senvolve uma imagem mais realista da mãe e reconhece que ela é uma pessoa independente que pode tanto ser boa quanto má Além disso o ego está começando a amadure cer até o ponto em que consegue tolerar alguns dos pró prios sentimentos destrutivos em vez de projetálos No entanto o bebê também percebe que a mãe pode ir embora e ser perdida para sempre Temendo essa possível perda o bebê deseja proteger a mãe e mantêla afastada dos perigos de suas próprias forças destrutivas aqueles impulsos cani balísticos que anteriormente tinham sido projetados nela Todavia o ego do bebê é maduro o suficiente para perceber que ele não tem capacidade de proteger a mãe e assim o bebê experimenta culpa por seus impulsos destrutivos anteriores em relação à mãe Os sentimentos de ansiedade quanto à perda de um objeto amado associados a um sen timento de culpa por querer destruir aquele objeto consti tuem o que Klein denominou posição depressiva As crianças na posição depressiva reconhecem que o objeto amado e o objeto odiado são agora um único ob jeto Elas se censuram pelos impulsos destrutivos ante riores em relação à mãe e desejam fazer a reparação desses ataques Como as crianças veem sua mãe como um todo e também como ameaçadas elas são capazes de sentir empa tia por ela uma qualidade que será benéfica em suas rela ções interpessoais futuras A posição depressiva é resolvida quando as crianças fantasiam que fizeram a reparação por suas transgressões anteriores e quando reconhecem que a mãe não irá embora permanentemente mas retornará depois de cada partida Quando a posição depressiva é resolvida as crianças encer ram a dissociação entre a mãe boa e a mãe má Elas são ca pazes não só de experimentar o amor da mãe mas também de expressar seu amor por ela Contudo uma resolução in completa da posição depressiva pode resultar em falta de confiança luto patológico pela perda de uma pessoa amada e uma variedade de outros transtornos psíquicos MECANISMOS DE DEFESA PSÍQUICOS Klein 1955 sugeriu que desde o início da infância as crianças adotam vários mecanismos de defesa psíquicos para proteger seu ego contra a ansiedade despertada por suas fantasias destrutivas Esses sentimentos destrutivos intensos surgem com as ansiedades oralsádicas referentes ao seio o seio temido e destrutivo por um lado e o seio gratificante e prestativo por outro Para controlar tais an siedades os bebês usam vários mecanismos de defesa psí quicos como introjeção projeção dissociação e identificação projetiva Introjeção Por introjeção Klein simplesmente queria dizer que os bebês fantasiam incorporar a seu corpo aquelas percepções e experiências que tiveram com o objeto externo origi nalmente o seio da mãe A introjeção começa com a pri meira alimentação do bebê quando existe uma tentativa de incorporar o seio da mãe ao corpo dele Normalmente o bebê tenta introjetar objetos bons incorporálos dentro de si como uma proteção contra a ansiedade Contudo às vezes um bebê introjeta objetos maus como o seio mau ou o pênis mau para obter controle sobre eles Quando os objetos perigosos são introjetados eles se transformam em perseguidores internos capazes de aterrorizar o bebê e dei Feist05indd 98 Feist05indd 98 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 99 xar resíduos assustadores que podem ser expressos em so nhos ou em um interesse por contos de fadas como O lobo mau ou Branca de Neve e os sete anões Os objetos introjetados não são representações preci sas dos objetos reais mas influenciados pelas fantasias das crianças Por exemplo os bebês fantasiam que a mãe está constantemente presente ou seja eles sentem que a mãe está sempre dentro de seu corpo A mãe real é claro não está presente de forma perceptiva mas os bebês a devo ram em fantasia para que ela se torne um objeto interno constante Projeção Assim como os bebês usam a introjeção para incoporar ob jetos bons e maus eles empregam a projeção para se livrar deles Projeção é a fantasia de que sentimentos e impulsos próprios na verdade residem em outra pessoa e não den tro de nosso corpo Ao projetarem impulsos destrutivos in controláveis nos objetos externos os bebês aliviam a ansie dade insuportável de serem destruídos por forças internas perigosas Klein 1935 As crianças projetam imagens boas e más nos objetos externos em especial nos pais Por exemplo um menino que deseja castrar o pai pode em vez disso projetar essas fantasias de castração no pai dessa forma invertendo os desejos de castração e acusando o pai de querer castrálo Do mesmo modo uma menina pode fantasiar que devora a mãe mas projeta essa fantasia na mãe a qual ela teme que vá retaliar perseguindoa As pessoas também podem projetar impulsos bons Por exemplo os bebês que se sentem bem acerca do seio nutriz da mãe atribuem seus próprios sentimentos de bondade ao seio e imaginam que o seio é bom Os adultos por vezes projetam os próprios sentimentos de amor em outra pessoa e se convencem de que os outros os amam A projeção permite assim que as pessoas acreditem que suas opiniões subjetivas são verdadeiras Dissociação Os bebês só conseguem manejar os aspectos bons e maus deles mesmos e dos objetos externos por meio da dissociação ou seja separando os impulsos incompatí veis Para separar objetos bons e maus o ego precisa ele próprio ser dividido Assim os bebês desenvolvem uma imagem de eu bom e eu mau que lhes possibilita lidar com os impulsos prazerosos e destrutivos em relação aos objetos externos A dissociação pode ter um efeito positivo ou negati vo na criança Se não for extrema e rígida pode ser um mecanismo positivo e útil não só para os bebês mas tam bém para os adultos Ela possibilita que as pessoas vejam os aspectos positivos e negativos de si mesmas avaliem seu comportamento como bom ou mau e diferenciem en tre os conhecidos admirados e os desagradáveis Todavia a dissociação excessiva e inflexível pode levar à repressão patológica Por exemplo se o ego das crianças for rígido demais para ser dissociado em eu bom e eu mau elas não conseguirão introjetar as experiências más no ego bom Quando as crianças não conseguem aceitar o próprio com portamento mau precisam lidar com impulsos destru tivos e aterrorizantes da única maneira que conseguem reprimindoos Identificação projetiva Um quarto meio de reduzir a ansiedade é a identificação projetiva um mecanismo de defesa psíquico no qual os bebês dissociam partes inaceitáveis de si mesmos as proje tam em outro objeto e finalmente as introjetam de volta de forma alterada ou distorcida Ao incorporarem o objeto de volta os bebês acreditam que se tornaram como aquele objeto isto é eles se identificam com aquele objeto Por exemplo os bebês em geral dissociam partes de seu im pulso destrutivo e as projetam no seio mau e frustrante A seguir eles se identificam com o seio introjetandoo um processo que permite obter controle sobre o seio temido e maravilhoso A identificação projetiva exerce uma influência pode rosa nas relações interpessoais adultas Ao contrário da projeção simples que pode existir completamente em fan tasia a identificação projetiva existe somente no mundo das relações interpessoais reais Por exemplo um marido com tendências fortes mas indesejadas de dominar os outros projeta esses sentimentos na esposa a quem ele então vê como dominadora O homem sutilmente tenta tornar a esposa dominadora Ele se comporta com submis são excessiva na tentativa de forçar a esposa a exibir as próprias tendências que ele depositou nela INTERNALIZAÇÕES Quando os teóricos das relações objetais referemse à in ternalização eles querem dizer que a pessoa incorpora introjeta aspectos do mundo externo e então organiza essas introjeções em uma estrutura psicologicamente sig nificativa Na teoria kleiniana as três internalizações im portantes são o ego o superego e o complexo de Édipo Ego Klein 1930 1946 acreditava que o ego ou a noção de self atinge a maturidade em um estágio muito anterior ao considerado por Freud Mesmo que Freud considerasse a hipótese de que o ego existe no nascimento não lhe atri buía funções psíquicas complexas até aproximadamente o terceiro ou quarto ano de vida Para ele a criança pequena é dominada pelo id Klein no entanto ignorou em grande Feist05indd 99 Feist05indd 99 271014 1515 271014 1515 100 FEIST FEIST ROBERTS parte o id e baseou sua teoria na capacidade precoce do ego de perceber as forças destrutivas e amorosas e manejálas por meio da dissociação da projeção e da introjeção Klein 1959 acreditava que no nascimento o ego é antes de mais nada desorganizado No entanto é suficien temente forte para sentir ansiedade usar mecanismos de defesa e formar relações objetais precoces tanto em fan tasia quanto na realidade O ego começa a se desenvolver já na primeira experiência do bebê com a amamentação quando o seio bom o preenche não só com leite mas com amor e segurança Porém o bebê também experimenta o seio mau aquele que não está presente e não dá lei te amor ou segurança O bebê introjeta o seio bom e o seio mau e essas imagens fornecem um ponto focal para a maior expansão do ego Todas as experiências mesmo aquelas não vinculadas à alimentação são avaliadas pelo ego em termos de como elas se relacionam com o seio bom e com o seio mau Por exemplo quando o ego experimen ta o seio bom ele espera experiências boas similares com outros objetos como com os próprios dedos uma chupeta ou o pai Assim a primeira relação objetal do bebê o seio se transforma no protótipo não só para o desenvolvimento futuro do ego mas também para as relações interpessoais posteriores do indivíduo Entretanto antes que possa emergir um ego unificado ele deve primeiro dividirse Klein partia do princípio de que os bebês lutam de forma inata pela integração mas ao mesmo tempo são forçados a lidar com as forças opostas de vida e morte como reflexo de sua experiência com o seio bom e o seio mau Para evitar a desintegração o ego recémemergente deve se dissociar em eu bom e eu mau O eu bom existe quando os bebês estão sendo supridos com leite e amor o eu mau é experimentado quando eles não recebem leite e amor Essa imagem dual do self permi te aos bebês manejar os aspectos bons e maus dos objetos externos À medida que os bebês amadurecem suas per cepções se tornam mais realistas eles já não mais veem o mundo em termos de objetos parciais e seu ego se torna mais integrado Superego A imagem de Klein do superego difere da de Freud em pelo menos três aspectos importantes Primeiro ele surge mui to mais cedo na vida segundo ele não é fruto do complexo de Édipo e terceiro ele é muito mais severo e cruel Klein 1933 chegou a essas diferenças por meio da análise de crianças pequenas uma experiência que Freud não teve Não deve haver dúvida de que um superego estava em total operação por algum tempo em meus pequenos pacientes entre 2 anos e 9 meses e 4 anos de idade en quanto de acordo com a visão aceita freudiana o su perego não começa a ser ativado até que o complexo de Édipo tenha diminuído isto é até aproximadamente 5 anos de idade Além do mais meus dados mostraram que esse superego precoce era imensuravelmente mais severo e mais cruel do que aquele da criança maior ou do adulto e que ele de modo literal arrasava o ego frá gil da criança pequena p 267 Lembrese de que Freud conceitualizou o superego como consistindo de dois subsistemas um ego ideal que produz sentimentos de inferioridade e uma consciência que resulta em sentimentos de culpa Klein concordava que o superego maduro produz sentimentos de inferioridade e culpa mas sua análise de crianças pequenas a levou a acre ditar que o superego precoce produz não culpa mas terror Para Klein as crianças pequenas temem ser devoradas e rasgadas em pedaços temores que são em grande par te desproporcionais aos perigos reais Por que o superego das crianças está tão drasticamente afastado de qualquer ameaça real da parte de seus pais Klein 1933 sugeriu que a resposta reside no próprio instinto destrutivo do bebê que é experimentado como ansiedade Para manejar essa ansiedade o ego da criança mobiliza a libido instinto de vida contra o instinto de morte No entanto ambos os instintos não podem ser separados completamente por tanto o ego é forçado a se defender contra suas próprias ações Tal defesa precoce do ego estabelece as bases para o desenvolvimento do superego cuja violência extrema é uma reação à autodefesa agressiva do ego contra as pró prias tendências destrutivas Klein acreditava que esse su perego severo e cruel era responsável por muitas tendên cias antissociais e criminais em adultos Klein descreveu o superego de uma criança de 5 anos de forma muito parecida a Freud Por volta do 5º ou 6º ano o superego desperta pouca ansiedade mas uma gran de dose de culpa Ele já perdeu boa parte de sua severida de enquanto de forma gradual vai sendo transformado em uma consciência realista Entretanto Klein rejeitava a noção de Freud de que o superego é uma consequência do complexo de Édipo Em vez disso ela insistia que o superego se desenvolve com o complexo de Édipo e por fim emerge como culpa realista depois que o complexo de Édipo é resolvido Complexo de Édipo Ainda que Klein acreditasse que sua visão do complexo de Édipo fosse meramente uma extensão e não uma refuta ção das ideias de Freud sua concepção se afastou da freu diana em vários aspectos Primeiro Klein 1946 1948 1952 sustentava que o complexo de Édipo começava em idade muito mais precoce do que Freud sugeriu Este de fendia que o complexo de Édipo ocorria durante a fase fá lica quando as crianças têm cerca de 4 ou 5 anos e depois que passaram pelas fases oral e anal Ao contrário Klein afirmava que o complexo de Édipo iniciava durante os pri meiros meses de vida sobrepondose às fases oral e anal e Feist05indd 100 Feist05indd 100 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 101 atingindo seu clímax durante a fase genital em torno dos 3 ou 4 anos de idade Klein preferia a expressão fase ge nital em vez de fálica porque este último termo sugere uma psicologia masculina Segundo Klein acreditava que uma parte significativa do complexo de Édipo é o medo da criança de retaliação pelo genitor devido a sua fantasia de esvaziar o corpo dele Terceiro ela enfatizava a importân cia de as crianças conservarem sentimentos positivos em relação a ambos os pais durante os anos edípicos Quarto ela levantou a hipótese de que durante as fases iniciais o complexo de Édipo serve à mesma necessidade para am bos os gêneros isto é estabelecer uma atitude positiva com o objeto bom e gratificante seio ou pênis e evitar o objeto mau e aterrorizador seio ou pênis Nesta posição as crianças de cada um dos gêneros podem direcionar seu amor de forma alternada ou simultânea para cada um dos pais Assim as crianças são capazes de relações homos sexuais e heterossexuais com ambos os pais Do mesmo modo que Freud Klein assumiu que meninas e meninos acabam experimentando o complexo de Édipo de formas diferentes Desenvolvimento edípico feminino No começo do desenvolvimento edípico feminino duran te os primeiros meses de vida a menina vê o seio da mãe como bom e mau Então por volta dos 6 meses de idade ela começa a ver o seio como mais positivo do que negati vo Mais tarde ela vê a mãe inteira como cheia de coisas boas e essa atitude a leva a imaginar como são feitos os bebês Ela fantasia que o pênis do pai alimenta a mãe com coisas valiosas incluindo bebês Como a menina vê o pênis do pai como doador de crianças ela desenvolve uma rela ção positiva com ele e fantasia que seu pai irá encher seu corpo com bebês Se o estágio edípico feminino prossegue com tranquilidade a menina adota uma posição feminina e tem uma relação positiva com ambos os pais No entanto em circunstâncias menos ideais a meni na verá sua mãe como uma rival e irá fantasiar roubar da mãe o pênis do pai e os bebês O desejo da menina de rou bar a mãe produz um temor paranoide de que a mãe faça uma retaliação causandolhe danos ou levando seus bebês A ansiedade principal da menina provém de um temor de que o interior de seu corpo tenha sido danificado pela mãe uma ansiedade que poderá ser aliviada somente quando ela mais tarde der à luz um bebê saudável De acordo com Klein 1945 a inveja do pênis se origina do desejo da me nina de internalizar o pênis do pai e receber um bebê dele Essa fantasia precede qualquer desejo por um pênis exter no Contrária à visão de Freud Klein não conseguiu encon trar evidências de que a menina culpe a mãe por trazêla ao mundo sem um pênis Em vez disso argumentava que a menina mantém uma forte ligação com a mãe durante o período edípico Desenvolvimento edípico masculino Assim como a menina o menino vê o seio da mãe como bom e mau Klein 1945 Então durante os primeiros me ses do desenvolvimento edípico transfere alguns de seus desejos orais do seio da mãe para o pênis do pai Nessa épo ca o menino está em sua posição feminina ou seja ele adota uma atitude homossexual passiva em relação ao pai A se guir ele avança para uma relação heterossexual com a mãe mas devido a seu sentimento homossexual anterior pelo pai não tem medo de que o pai o castre Klein acreditava que essa posição homossexual passiva é um prérequisito para o desenvolvimento no menino de uma relação hete rossexual saudável com a mãe Mais simplesmente o me nino precisa ter um bom sentimento acerca do pênis do pai antes que possa valorizar o próprio pênis Conforme o menino amadurece no entanto desen volve impulsos orais sádicos em relação ao pai e deseja ar rancar seu pênis e matálo Esses sentimentos despertam a ansiedade de castração e o temor de que o pai o retalie arrancando seu pênis Esse temor convence o menino de que a relação sexual com a mãe seria extremamente peri gosa para ele O complexo de Édipo do menino é resolvido apenas parcialmente por sua ansiedade de castração Um fator mais importante é sua capacidade de estabelecer relações positivas com ambos os pais ao mesmo tempo Nesse pon to o menino vê seus pais como objetos totais uma condi ção que lhe possibilita elaborar sua posição depressiva Tanto para as meninas quanto para os meninos uma resolução saudável do complexo de Édipo depende de sua capacidade de permitir que a mãe e o pai fiquem juntos e tenham relações sexuais um com o outro Não permane ce qualquer remanescente de rivalidade Os sentimentos positivos das crianças em relação aos pais posteriormente servem para reforçar suas relações sexuais adultas Em resumo Klein acreditava que as pessoas nascem com dois fortes impulsos o instinto de vida e o instinto de morte Os bebês desenvolvem um apego apaixonado pelo seio bom e um ódio intenso pelo seio mau deixando a pessoa em uma luta por toda a vida para conciliar essas imagens psíquicas inconscientes de bom e mau prazer e dor O estágio mais crucial da vida são os primeiros meses época na qual as relações com a mãe e outros objetos signi ficativos formam um modelo para as relações interpessoais posteriores A capacidade adulta de uma pessoa de amar ou odiar surge com essas relações objetais precoces VISÕES POSTERIORES DAS RELAÇÕES OBJETAIS Desde as descrições audaciosas e perspicazes de Melanie Klein inúmeros outros teóricos ampliaram e modificaram Feist05indd 101 Feist05indd 101 271014 1515 271014 1515 102 FEIST FEIST ROBERTS a teoria das relações objetais Entre os mais proeminentes desses teóricos posteriores se encontram Margaret Mahler Heinz Kohut John Bowlby e Mary Ainsworth A visão de Margaret Mahler Margaret Schoenberger Mahler 18971985 nasceu em Sopron Hungria e se formou em medicina na Universi dade de Viena em 1923 Em 1938 mudouse para Nova York onde foi consultora do Serviço Infantil do Instituto Psiquiátrico do Estado de Nova York Posteriormente es tabeleceu seus estudos observacionais no Centro Infantil Masters em Nova York De 1955 a 1974 foi professora de psiquiatria clínica na Faculdade de Medicina Albert Einstein Mahler era especialmente preocupada com o nasci mento psicológico do indivíduo que ocorre durante os primeiros três anos de vida época na qual a criança de for ma gradual renuncia à segurança em favor da autonomia Originalmente as ideias de Mahler partiram da observação dos comportamentos de crianças perturbadas interagindo com as mães Depois ela observou bebês normais em sua ligação com as mães durante os primeiros 36 meses de vida Mahler 1952 Para Mahler o nascimento psicológico de um indiví duo começa durante as primeiras semanas de vida pósna tal e continua pelos três anos seguintes ou mais Usando a expressão nascimento psicológico Mahler referiase à ca pacidade da criança de tornarse um indivíduo separado de seu cuidador primário uma conquista que leva em última análise a uma noção de identidade Para atingir o nascimento psicológico e a individuação a criança passa por três estágios evolutivos principais e quatro subestágios Mahler 1967 1972 Mahler Pine Bergman 1975 O primeiro estágio evolutivo é o autismo normal cujo período se estende desde o nascimento até 3 ou 4 semanas de idade Para descrever o estágio do autis mo normal Mahler 1967 tomou emprestada a analogia de Freud 19111958 que comparava o nascimento psico lógico a um ovo de pássaro que ainda não eclodiu O pássa ro é capaz de satisfazer suas necessidades nutricionais de forma autística com relação à realidade externa porque seu suprimento alimentar está incluso na casca Do mesmo modo um bebê recémnascido satisfaz várias necessidades dentro da órbita protetora todapoderosa dos cuidados da mãe Os recémnascidos possuem um senso de onipotên cia porque assim como os pássaros não eclodidos suas ne cessidades são atendidas automaticamente e sem que eles tenham que fazer qualquer esforço Ao contrário de Klein que conceitualizava um bebê recémnascido como aterrori zado Mahler apontava para períodos relativamente longos de sono e ausência geral de tensão nele Ela acreditava que esse estágio era um período de narcisismo primário abso luto no qual o bebê não tem consciência de qualquer outra pessoa Assim ela se referia ao autismo normal como um estágio sem objeto época em que o bebê naturalmente procura pelo seio da mãe Ela discordava da noção de Klein de que os bebês incorporam o seio bom e outros objetos a seu ego À medida que os bebês vão percebendo que não conse guem satisfazer suas próprias necessidades eles começam a reconhecer sua cuidadora primária e a buscar uma relação simbiótica com ela condição que leva à simbiose normal o segundo estágio evolutivo da teoria de Mahler A sim biose normal começa em torno da 4 a ou 5 a semana de ida de mas atinge seu auge durante o 4º ou 5º mês Ao longo desse período o bebê se comporta e funciona como se ele e sua mãe fossem um sistema onipotente uma unidade dual dentro de uma fronteira comum Mahler 1967 p 741 Na analogia do ovo de pássaro a casca agora está começando a se partir mas uma membrana psicológica na forma de uma relação simbiótica ainda protege o recém nascido Mahler reconheceu que essa relação não é uma simbiose verdadeira porque embora a vida do bebê de penda da mãe a mãe não precisa absolutamente do bebê A simbiose é caracterizada por uma troca de sinais entre o bebê e a mãe O bebê envia para a mãe sinais de fome dor prazer e a mãe responde com seus próprios sinais como alimentação colo ou sorriso Nessa idade o bebê conse gue reconhecer o rosto da mãe e pode perceber seu prazer ou sofrimento Entretanto as relações objetais ainda não começaram a mãe e os outros ainda são préobjetos Crianças maiores e até mesmo adultos às vezes regridem para esse estágio procurando a força e a segurança dos cui dados da mãe O terceiro estágio evolutivo separaçãoindividua ção estendese desde cerca do 4 o ou 5 o mês de idade até aproximadamente o 30 o a 36 o mês Durante esse período as crianças tornamse psicologicamente separadas de suas mães alcançam um senso de individuação e começam a desenvolver sentimentos de identidade pessoal Como já Margaret Mahler Feist05indd 102 Feist05indd 102 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 103 não experimentam mais uma unidade dual com a mãe elas precisam renunciar à ilusão de onipotência e enfrentar sua vulnerabilidade às ameaças externas Assim as crianças pequenas no estágio de separaçãoindividuação experi mentam o mundo externo como mais perigoso do que ele era durante os primeiros dois estágios Mahler dividiu o estágio de separaçãoindividuação em quatro subestágios que se sobrepõem O primeiro é a dife renciação que dura desde cerca do 5º mês até o 7º ou 10º mês de idade e é marcado por um rompimento corporal da órbita simbiótica mãebebê Por essa razão o subestágio de diferenciação é análogo à eclosão de um ovo Nessa etapa observou Mahler os bebês sorriem em resposta à mãe in dicando uma ligação com outra pessoa específica Os be bês psicologicamente saudáveis que expandem seu mundo para além da mãe são curiosos acerca de estranhos e os exa minam os bebês não saudáveis temem os estranhos e se distanciam deles Quando os bebês começam a se afastar das mães enga tinhando e caminhando entram no subestágio do treina mento da separaçãoindividuação um período desde cerca do 7º ao 10º mês de idade até aproximadamente o 15º ou 16º mês Durante essa subfase as crianças distinguem fa cilmente seu corpo do corpo da mãe estabelecem um vín culo específico com ela e começam a desenvolver um ego autônomo No entanto ao longo dos primeiros estágios desse período os bebês não gostam de perder a mãe de vis ta eles a seguem com os olhos e demonstram sofrimento quando ela se afasta Posteriormente começam a cami nhar e a assimilar o mundo externo o qual experimentam como fascinante e excitante Desde cerca de 16 a 25 meses de idade as crianças experimentam uma reaproximação com a mãe isto é elas desejam reunirse outra vez com a mãe tanto física quanto psicologicamente Mahler observou que as crianças dessa idade querem compartilhar com a mãe cada nova aquisi ção de habilidade e cada experiência nova Agora que con seguem caminhar com facilidade estão mais separadas fisicamente da mãe mas de modo paradoxal têm maior probabilidade de apresentarem ansiedade de separação durante o estágio de reaproximação do que durante o pe ríodo anterior Suas habilidades cognitivas aumentadas as tornam mais conscientes da separação fazendoas experi mentar vários estratagemas para recuperar a unidade dual que uma vez tiveram com a mãe Como essas tentativas nunca são completamente bemsucedidas as crianças des sa idade com frequência lutam de modo dramático com a mãe condição chamada de crise de reaproximação A subfase final do processo de separaçãoindividuação é a constância do objeto libidinal que se evidencia em torno do 3º ano de vida Durante essa época as crianças preci sam desenvolver uma representação interna constante da mãe de modo que consigam tolerar a separação física Se essa constância do objeto libidinal não for desenvolvida as crianças continuarão a depender da presença física da mãe para sua própria segurança Além de alcançar algum grau de constância objetal as crianças precisam consolidar sua individualidade ou seja elas devem aprender a funcionar sem a mãe e a desenvolver outras relações de objeto Mah ler et al 1975 O ponto forte da teoria de Mahler é sua descrição so fisticada do nascimento psicológico com base em obser vações empíricas que ela e seus colaboradores fizeram de interações entre a criança e a mãe Ainda que muitos de seus princípios se baseiem em inferências provenientes das reações de bebês préverbais suas ideias podem ser facil mente estendidas para os adultos Os eventuais erros co metidos durante os primeiros três anos de idade a época do nascimento psicológico podem resultar em regressões posteriores a um estágio em que o indivíduo ainda não ti nha atingido a separação da mãe e portanto uma noção de identidade pessoal A visão de Heinz Kohut Heinz Kohut 19131981 nasceu em Viena filho de pais judeus educados e talentosos Strozier 2001 Às véspe ras da II Guerra Mundial emigrou para a Inglaterra e um ano depois mudouse para os Estados Unidos onde passou a maior parte de sua vida profissional Ele foi um conferencista profissional no Departamento de Psiquia tria da Universidade de Chicago membro do corpo do cente no Instituto de Chicago para Psicanálise e professor visitante de psicanálise na Universidade de Cincinnati Neurologista e psicanalista Kohut incomodou muitos psicanalistas em 1971 com a publicação de Análise do self que substituía o ego pelo conceito de self Além des se livro aspectos da psicologia do self são encontrados em A restauração do self 1977 e Seminário de Kohut The Kohut Seminars 1987 editados por Miriam Elson e pu blicados após a morte de Kohut Heinz Kohut Feist05indd 103 Feist05indd 103 271014 1515 271014 1515 104 FEIST FEIST ROBERTS Mais do que os outros teóricos das relações objetais Kohut enfatizou o processo pelo qual o self evolui de uma imagem vaga e indiferenciada para um senso de identida de individual claro e preciso Assim como outros teóricos das relações objetais ele focou a relação precoce mãefilho como a chave para a compreensão do desenvolvimento posterior Kohut acreditava que os relacionamentos huma nos e não os impulsos instintivos inatos estão no cerne da personalidade humana De acordo com Kohut os bebês precisam dos cui dadores adultos não somente para gratificarem necessi dades físicas mas também para satisfazerem necessida des psicológicas básicas Ao cuidarem das necessidades físicas e psicológicas os adultos ou selfobjetos tratam os bebês como se eles tivessem uma noção de self Por exemplo os pais agirão com afeto frieza ou indiferença dependendo em parte do comportamento de seu bebê Pelo processo de interação empática o bebê assimila as respostas dos selfobjetos como orgulho culpa vergonha ou inveja todas atitudes que acabam formando os com ponentes fundamentais do self Kohut 1977 definiu o self como o centro do universo psicológico do indivíduo p 311 O self dá unidade e consistência às experiên cias permanece relativamente estável ao longo do tempo e é o centro da iniciativa e um receptor de impressões p 99 O self também é o foco das relações interpessoais da criança moldando como ela se relaciona com os pais e outros selfobjetos Kohut 1971 1977 acreditava que os bebês são na turalmente narcisistas Eles são autocentrados procu rando exclusivamente seu próprio bemestar e desejando ser admirados por quem eles são e pelo que fazem O self precoce fica cristalizado em torno de duas necessidades narcisistas básicas 1 de exibir o self grandioso e 2 de adquirir uma imagem idealizada de um ou de ambos os pais O self grandiosoexibicionista é estabelecido quando o bebê se relaciona com um selfobjeto espelhado que re flete a aprovação de seu comportamento O bebê assim forma uma autoimagem rudimentar a partir de mensa gens como Se os outros me veem como perfeito então sou perfeito A imagem parental idealizada é oposta ao self grandioso porque implica que mais alguém é perfeito No entanto isso também satisfaz uma necessidade narcisis ta porque o bebê adota a atitude Você é perfeito mas sou parte de você Ambas as imagens narcisistas são necessárias para o desenvolvimento da personalidade As duas no entanto devem modificarse conforme a criança vai crescendo Se elas permanecem inalteradas resultam em uma persona lidade adulta patologicamente narcisista A grandiosidade precisa mudar para uma visão realista do self e a imagem parental idealizada precisa se desenvolver para um quadro realista dos pais As duas autoimagens não devem desa parecer de todo o adulto saudável continua a ter atitudes positivas em relação ao self e a ver boas qualidades nos pais ou nos substitutos dos pais Entretanto um adulto narci sista não transcende essas necessidades infantis e continua a ser autocentrado e a ver o resto do mundo como uma pla teia que o admira Freud acreditava que a pessoa narcisista não seria um bom candidato à psicanálise porém Kohut sustentava que a psicoterapia podia ser efetiva com esses pacientes A teoria do apego de John Bowlby John Bowlby 19071990 nasceu em Londres onde seu pai era um cirurgião renomado Desde idade precoce Bowlby era interessado em ciências naturais medicina e psicologia temas que ele estudou na Universidade de Cambridge Após se graduar em medicina começou a prá tica em psiquiatria e psicanálise em 1933 Mais ou menos na mesma época iniciou o treinamento em psiquiatria infantil com Melanie Klein Durante a II Guerra Mundial Bowlby serviu como psiquiatra do exército e em 1946 foi nomeado diretor do Departamento para Crianças e Pais da Clínica Tavistock Durante o final da década de 1950 Bowlby passou algum tempo no Centro Stanford para o Es tudo Avançado em Ciências Comportamentais mas retor nou a Londres onde permaneceu até sua morte em 1990 van Dijken 1998 Na década de 1950 Bowlby ficou insatisfeito com a perspectiva das relações objetais principalmente por sua teoria inadequada da motivação e sua falta de empirismo Com seu conhecimento de etologia e teoria evolucionista em especial a ideia de Konrad Lorenz do vínculo preco ce com uma figura materna ele percebeu que a teoria das relações objetais poderia ser integrada a uma perspectiva evolucionista Formando essa integração acreditou poder corrigir as deficiências empíricas da teoria e a estendeu a uma nova direção A teoria do apego de Bowlby também par tiu do pensamento psicanalítico tomando a infância como John Bowlby Feist05indd 104 Feist05indd 104 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 105 ponto de partida e então extrapolando para a idade adulta Bowlby 19691982 1988 Bowlby acreditava firmemen te que os vínculos formados durante a infância tinham um impacto importante na idade adulta Como os vínculos da infância são cruciais para o desenvolvimento posterior Bo wlby argumentou que os investigadores deveriam estudar a infância diretamente e não se basear em relatos retros pectivos distorcidos dos adultos As origens da teoria do apego provêm das observa ções de Bowlby de que tanto os bebês humanos quanto os primatas passam por uma sequência clara de reações quando separados de seus cuidadores primários Bowlby observou três estágios dessa ansiedade de separação Inicialmente quando o cuidador estiver longe da vista os bebês vão chorar resistir ao ser confortados por ou tra pessoa e procurar pelo cuidador Tratase do estágio do protesto Quando a separação continua os bebês ficam quietos tristes passivos indiferentes e apáticos Esse se gundo estágio é chamado de desespero O último estágio o único peculiar aos humanos é o desapego Durante sua manifestação os bebes tornamse emocionalmente desapegados das outras pessoas incluindo seu cuidador Se seu cuidador a mãe retorna os bebês vão ignorálo e evitálo As crianças que se desapegam não ficam mais perturbadas quando sua mãe as deixa Conforme vão fi cando mais velhas brincam e interagem com os outros com pouca emoção mas parecem sociáveis Entretanto suas relações interpessoais são superficiais e carecem de afetividade A partir dessas observações Bowlby desenvolveu sua teoria do apego a qual publicou em uma trilogia intitu lada Apego e perda 19691982 1973 1980 A teoria de Bowlby se baseia em dois pontos fundamentais primeiro um cuidado responsivo e acessível geralmente a mãe deve criar uma base segura para a criança O bebê precisa saber que o cuidador é acessível e confiável Se essa confiabilida de estiver presente a criança é mais capaz de desenvolver confiança e segurança na exploração do mundo A relação de vínculo serve à função essencial de conectar o cuidador ao bebê tornando assim mais provável a sobrevivência do bebê e em última análise da espécie O segundo ponto da teoria do apego é que uma relação de vínculo ou a falta dela é internalizada e serve como um modelo de trabalho mental no qual as futuras relações de amizade e amor serão construídas A primeira ligação de apego é portanto a mais crítica de todas as relações No entanto para que ocorra o vínculo um bebê precisa ser mais do que um mero receptor passivo do comportamento do cuidador mesmo que esse comportamento irradie aces sibilidade e confiabilidade O estilo de apego é uma relação entre duas pessoas e não um traço dado ao bebê pelo cuida dor É uma via de duas mãos o bebê e o cuidador devem ser responsivos um ao outro e cada um deve influenciar o comportamento do outro Mary Ainsworth e a situação estranha Mary Dinsmore Ainsworth 19191999 nasceu em Glen dale Ohio filha do presidente de uma empresa de merca dorias em alumínio Ela fez graduação mestrado e douto rado na Universidade de Toronto onde também trabalhou como instrutora e docente Durante sua longa carreira ensinou e conduziu pesquisas em várias universidades e institutos no Canadá nos Estados Unidos no Reino Unido e em Uganda Influenciada pela teoria de Bowlby Ainsworth e co laboradores Ainsworth Blehar Waters Wall 1978 desenvolveram uma técnica para medir o tipo de estilo de vínculo que existe entre o cuidador e o bebê conheci da como situação estranha Esse procedimento consiste em uma sessão de laboratório de 20 minutos em que uma mãe e seu bebê estão inicialmente sozinhos em uma sala de jo gos Então um estranho entra na sala e depois de alguns minutos começa uma breve interação com o bebê A mãe então sai por dois períodos separados de 2 minutos Du rante o primeiro período o bebê é deixado sozinho com o estranho durante o segundo período o bebê é deixado completamente sozinho O comportamento crítico é como o bebê reage quando a mãe volta esse comportamento é a base da classificação do estilo de vínculo Ainsworth e co laboradores encontraram três classificações para o estilo de vínculo seguro ansiosoresistente e ansiosoesquivo Em um vínculo seguro quando a mãe retorna os be bês ficam felizes e entusiasmados e iniciam o contato por exemplo eles se dirigem até a mãe querendo ser pegos no colo Todos os bebês seguramente vinculados são confian tes na acessibilidade e na responsividade do cuidador e essa segurança e confiabilidade proporcionam a base para o jogo e a exploração Em um vínculo ansiosoresistente os bebês são ambi valentes Quando a mãe deixa a sala eles ficam excepcio nalmente perturbados e quando a mãe retorna buscam Mary Ainsworth Feist05indd 105 Feist05indd 105 271014 1515 271014 1515 106 FEIST FEIST ROBERTS contato com ela mas rejeitam as tentativas de serem acalmados Com o estilo de vínculo ansiosoresistente os bebês transmitem mensagens muito conflitantes Por um lado procuram contato com a mãe enquanto por outro lado esperneiam para serem colocados no chão e podem atirar longe os brinquedos que a mãe ofereceu O terceiro estilo de vínculo é o ansiosoesquivo Nesse estilo os bebês ficam calmos quando a mãe sai eles acei tam o estranho e quando a mãe retorna eles a ignoram e a evitam Nos dois tipos de vínculo inseguro ansioso resistente e ansiosoesquivo os bebês não possuem a capacidade de se engajarem em jogo efetivo e exploração PSICOTERAPIA Klein Mahler Kohut e Bowlby eram todos psicanalistas treinados em práticas freudianas ortodoxas No entanto cada um modificou o tratamento psicanalítico para ade quálo a sua própria orientação teórica Como esses teó ricos variavam entre si nos procedimentos terapêuticos limitaremos nossa discussão da terapia à abordagem usada por Melanie Klein O uso pioneiro de Klein da psicanálise com crianças não foi bem aceito por outros analistas durante as décadas de 1920 e 1930 Anna Freud era especialmente resistente à noção de psicanálise infantil discutindo que as crianças pequenas que ainda estavam vinculadas a seus pais não po diam desenvolver uma transferência com o terapeuta por que elas não tinham fantasias ou imagens inconscientes Portanto argumentava ela as crianças pequenas não po deriam se beneficiar da terapia psicanalítica Em contraste Klein acreditava que tanto as crianças perturbadas quanto as sadias deviam ser analisadas as crianças perturbadas re ceberiam o benefício do tratamento psicanalítico enquan to as sadias teriam proveito com uma análise profilática Coerente com essa crença ela insistiu para que seus pró prios filhos fossem analisados Ela também defendia que a transferência negativa era um passo essencial em direção ao sucesso do tratamento uma visão não compartilhada por Anna Freud e muitos outros psicanalistas Para estimular a transferência negativa e as fantasias agressivas Klein dava a cada criança uma variedade de brin quedos pequenos lápis e papel tinta giz de cera entre ou tros Acreditando que as crianças pequenas expressam seus desejos conscientes e inconscientes por meio da ludoterapia ela substituiu a análise dos sonhos e a livre associação freu dianas por esse método Além de expressarem sentimentos de transferência negativa por meio do jogo os jovens pa cientes de Klein com frequência a atacavam verbalmente o que lhe deu a oportunidade de interpretar as motivações inconscientes por trás desses ataques Klein 1943 A finalidade da terapia kleiniana é reduzir as ansie dades depressivas e os temores persecutórios e mitigar a gravidade dos objetos internalizados Para atingir esse ob jetivo Klein encorajava seus pacientes a reexperimentarem emoções e fantasias precoces mas desta vez com o tera peuta apontando as diferenças entre realidade e fantasia entre consciente e inconsciente Ela também permitia que os pacientes expressassem transferência positiva e negati va situação que é essencial para a compreensão deles de como a fantasias inconscientes se conectam com as situa ções presentes do dia a dia Depois de feita essa conexão os pacientes se sentem menos perseguidos pelos objetos in ternalizados experimentam redução na ansiedade depres siva e são capazes de projetar no mundo externo os objetos internos anteriormente assustadores PESQUISA RELACIONADA Tanto a teoria das relações objetais quanto a teoria do apego continuam a desencadear pesquisa sobre as formas como o trauma precoce pode afetar as relações adultas e so bre a extensão da teoria do apego para as relações adultas Trauma infantil e relações objetais adultas A teoria das relações objetais presume que a qualidade das relações das crianças pequenas com seus cuidadores é in ternalizada como um modelo para relações interpessoais posteriores Muitas pesquisas exploraram o impacto do trauma e do abuso infantil no funcionamento relacional objetal adulto e se essas experiências predizem resultados patológicos na vida posterior Um exemplo muito recente desse tipo de trabalho é o estudo de Bedi Muller e Thorn back 2012 na Universidade York Sessenta adultos identificados como tendo histó rias de abuso físico eou sexual infantil se submeteram ao Teste da Apercepção Temática TAT Murray 1943 Tratase de um teste conhecido no campo como um teste projetivo operando de forma muito parecida com o ins trumento mais conhecido das manchas de Rorschach no qual os indivíduos simplesmente descrevem o que veem em imagens ambíguas O pressuposto dos testes proje tivos é que aqueles que se submetem ao procedimento irão projetar desejos fantasias e ideias inconscientes em suas histórias e interpretações das manchas de tinta Os testes projetivos são formas alternativas de descobrir aspectos inconscientes da personalidade O TAT apre senta aos participantes uma série de cenas representan do pessoas sozinhas ou em interações sociais que são de natureza ambígua Os participantes são instruídos a olharem para as imagens e a criarem uma história sobre o que poderia estar acontecendo na figura o que os perso nagens podem estar pensando e sentindo e qual pode ser o resultado Como o TAT representa pessoas se relacio nando ele é particularmente adequado para o exame das relações objetais do indivíduo Feist05indd 106 Feist05indd 106 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 107 As vítimas de abuso nesse estudo completaram o TAT e suas histórias foram classificadas de acordo com quatro temas de relações objetais a o grau em que as relações interpessoais são vistas como ameaçadoras versus segu ras b o nível de comprometimento e compartilhamento emocional nas relações c a capacidade de ver o self como distinto dos outros e d a precisão das atribuições quanto às causas dos comportamentos dos pensamentos e dos sentimentos das pessoas Os participantes também com pletaram uma variedade de medidas de saúde mental in cluindo autoestima e sintomas do transtorno de estresse póstraumático TEPT Os resultados mostraram tal como as relações objetais prognosticariam que ter uma tendência a ver as pessoas e as relações como mais malévolas além de investir me nos emocionalmente nas relações estava correlacionado a mais sintomas de TEPT e autoestima mais baixa nessas vítimas de abuso Isso sugere que pessoas com infâncias traumáticas veem os outros como perigosos e rejeitadores e isso pode resultar no desenvolvimento de um sentimento de vergonha e desvalorização Tratar tais indivíduos com eficiência provavelmente requer a consciência de que mes mo a relação terapêutica pode ser impactada por relações objetais prejudicadas Como escrevem os pesquisadores As vítimas de trauma tiveram as relações pessoais como uma causa de sua dor Assim é essencial que os clínicos trabalhem com as vítimas de abuso visando aos sintomas presentes de psicopatologia por meio de uma perspectiva relacional Bedi Muller Thornback 2012 p 6 Capa citar as vítimas de trauma a perceberem que os outros po dem responder a elas de forma positiva referem esses pes quisadores pode modificar suas representações objetais de forma saudável Teoria do apego e as relações adultas A teoria do apego conforme originalmente conceitualiza da por John Bowlby enfatizava a relação entre pai e filho Desde a década de 1980 no entanto os pesquisadores co meçaram a examinar de forma sistemática as relações de apego em adultos em especial nas relações amorosas Um estudo clássico do apego adulto foi conduzido por Cindy Hazan e Phil Shaver 1987 que previram que os di ferentes tipos de estilos de apego precoce distinguiriam o tipo a duração e a estabilidade das relações amorosas adul tas De modo mais específico esses investigadores espera vam que as pessoas que tiveram vínculos precoces seguros com seus cuidadores experimentassem mais confiança intimidade e emoções positivas em suas relações amoro sas adultas do que os indivíduos em cada um dos grupos inseguros Além disso previram que os adultos esquivos temeriam a intimidade e não teriam confiança enquanto os adultos ansiososambivalentes seriam preocupados e obcecados por suas relações Estudando universitários e outros adultos Hazan e Shaver encontraram apoio para cada uma dessas previsões Os adultos com apego seguro experimentavam mais con fiança e intimidade em suas relações amorosas do que os esquivos ou ansiososambivalentes Além do mais os pes quisadores constataram que os adultos com apego seguro tinham maior probabilidade do que os adultos inseguros de acreditar que o amor romântico pode ser duradouro Além disso os adultos com apego seguro eram menos cínicos em relação ao amor em geral tinham relações mais duradouras e apresentavam menor probabilidade de se divorciarem do que os adultos esquivos ou ansiososambivalentes Outros pesquisadores estenderam a pesquisa sobre apego e relações românticas adultas Steven Rholes e cola boradores por exemplo testaram a ideia de que o estilo de apego está relacionado ao tipo de informações que as pes soas procuram ou evitam referentes a seu relacionamento e ao parceiro amoroso Rholes Simpson Tran Martin Friedman 2007 Os pesquisadores previram que os indi víduos esquivos não procurariam informações adicionais acerca dos sentimentos e dos sonhos íntimos do parceiro enquanto os indivíduos ansiosos expressariam um forte desejo de obter mais informações acerca do parceiro ro mântico Os indivíduos esquivos em geral se esforçam para manter independência emocional e portanto não querem qualquer informação que possa aumentar a intimi dade A intimidade subverte seu objetivo de independên cia Entretanto os indivíduos ansiosos tendem a ser croni camente preocupados com o estado de seu relacionamento e querem fortalecer os vínculos emocionais procurando o máximo de informação possível em relação aos sentimen tos mais íntimos do parceiro Para testar suas previsões Rholes e colaboradores recrutaram casais que estavam se encontrando há algum tempo e os levaram a um laboratório de psicologia para responderem a testes que mediam apego e busca de infor mação O estilo de apego foi medido usando um questio náriopadrão contendo itens de autorrelato sobre o quão ansiosa ou esquiva a pessoa se sente dentro de sua relação romântica A busca de informação foi medida por meio de uma tarefa computadorizada inteligente e fictícia na qual cada participante respondia de forma independente a vários itens sobre sua relação incluindo os sentimentos íntimos e objetivos para o futuro de cada parceiro Foi dito aos participantes que o computador então geraria um perfil de sua relação o qual ambos os parceiros poderiam ver no final do estudo Os pesquisadores então consegui ram medir o quanto das informações fornecidas pelo perfil da relação cada parceiro lia a respeito do outro De acordo com suas previsões e com a teoria geral do apego os indi víduos esquivos mostraram menos interesse na leitura de informações sobre o parceiro contidas no perfil da relação enquanto os indivíduos ansiosos procuraram mais infor Feist05indd 107 Feist05indd 107 271014 1515 271014 1515 108 FEIST FEIST ROBERTS mações sobre questões relativas a intimidade e objetivos para o futuro do parceiro O estilo de apego não está só relacionado aos pais e aos parceiros românticos Pesquisas recentes exploraram o papel do estilo de apego nas relações entre os líderes e seus seguidores p ex oficiais militares e seus soldados Davidovitz Mikulincer Shaver Izsak Popper 2007 Popper Mayseless 2003 A teoria é de que o estilo de apego é relevante nas relações líderseguidor porque os líderes ou figuras de autoridade podem ocupar o papel de cuidador e ser uma fonte de segurança semelhante ao apoio oferecido por pais e parceiros românticos Os pesquisadores previram que os líderes com um estilo de apego seguro nem ansiosos nem esquivos são mais efi cazes do que os líderes com apego inseguro ansiosos ou esquivos Para explorar o papel do apego na liderança Rivka Davidovitz e colaboradores 2007 estudaram um grupo de oficiais militares e os soldados sob seu comando Os oficiais responderam à mesma medida de apego usada no estudo discutido anteriormente sobre apego e busca de in formação Rholes et al 2007 mas em vez de relatarem sobre seu apego dentro de uma relação romântica eles des creveram suas relações íntimas em geral Os soldados en tão responderam testes que mediam a eficácia da liderança de seu oficial a coesão de sua unidade militar e medidas de bemestar psicológico Os resultados forneceram mais apoio à generalidade e à importância do estilo de apego em múltiplos tipos de relações As unidades dos oficiais que tinham um estilo de apego esquivo eram menos coesas e os soldados ex pressaram bemestar psicológico mais baixo comparados aos membros de outras unidades Mais provavelmente esses efeitos do estilo de apego esquivo dos líderes se de vem ao desejo dos oficiais de se eximirem de dar infor mações sobre o bemestar social e emocional de sua uni dade Os oficiais com apego ansioso conduziam unidades que foram classificadas como baixas no funcionamento instrumental o grau em que os soldados levam seu tra balho a sério No entanto essas mesmas unidades foram classificadas como altas no funcionamento socioemocio nal o grau em que os soldados se sentem livres para ex pressar pensamentos e sentimentos Este último achado relativo ao funcionamento socioemocional foi surpreen dente para os pesquisadores mas faz sentido quando se consideram os achados de Rholes e colaboradores discu tidos previamente Rholes et al 2007 os oficiais com apego ansioso eram provavelmente mais interessados na busca de informação sobre como seus soldados es tavam se sentindo e como eles estavam se relacionando uns com os outros Apego é um construto em psicologia da personalida de que continua a gerar uma quantidade substancial de pesquisas Mesmo que o trabalho sobre a teoria do apego tenha começado como uma forma de compreender as dife renças nas relações paisfilhos pesquisas recentes mostra ram que essas mesmas dinâmicas estilos de apego seguro esquivo e ansioso são importantes para a compreensão de uma ampla gama de relações adultas desde parceiros amorosos até líderes militares e soldados CRÍTICAS À TEORIA DAS RELAÇÕES OBJETAIS Nos dias atuais a teoria das relações objetais continua a ser mais popular no Reino Unido do que nos Estados Uni dos A Escola Britânica que incluía não só Melanie Klein mas também WRD Fairbairn e DW Winnicott exerceu forte influência sobre psicanalistas e psiquiatras no Reino Unido Nos Estados Unidos no entanto a influência dos teóricos das relações objetais embora crescente foi menos direta Como a teoria das relações objetais é classificada na geração de pesquisa Em 1986 Morris Bell e colabora dores publicaram o Inventário Bell das Relações Objetais BORI um questionário de autorrelato que identifica os quatro aspectos principais das relações objetais aliena ção apego egocentrismo e inabilidade Até o momento apenas alguns estudos usaram o BORI para investigar de forma empírica as relações objetais No entanto a teo ria do apego atualmente está gerando muitas pesquisas Assim classificamos a teoria das relações objetais como baixa em sua capacidade de gerar pesquisa mas a julga mos como moderada a alta segundo tal critério para uma teoria útil Como a teria das relações objetais se desenvolveu a partir da teoria psicanalítica ortodoxa ela sofre de alguns dos mesmos problemas com refutação que enfrenta a teoria de Freud A maior parte de seus princípios baseiase no que está acontecendo dentro da psique do bebê e assim esses pressupostos não podem ser verificados A teoria não se presta a refutações porque gera poucas hipóteses verificá veis A teoria do apego todavia obtém uma classificação um pouco melhor em refutação Talvez a característica mais útil da teoria das relações objetais seja sua capacidade de organizar informações acer ca do comportamento dos bebês Mais do que a maioria dos teóricos da personalidade os teóricos das relações objetais especularam sobre como os humanos adquirem gradualmente um senso de identidade Klein em espe cial Mahler Bowlby e Ainsworth construíram suas teo rias com base em observações cuidadosas da relação mãe filho Eles observaram as interações entre o bebê e a mãe e fizeram inferências com base no que viram Entretanto além dos primeiros anos da infância a teoria das relações objetais carece de utilidade como um organizador de co nhecimentos Feist05indd 108 Feist05indd 108 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 109 Como um guia para o profissional a teoria se classi fica um pouco melhor do que na organização de dados ou sugerindo hipóteses verificáveis Os pais de crianças pequenas podem aprender sobre a importância de um cuidador afetivo receptivo e estimulante O psicotera peuta pode considerar a teoria das relações objetais útil não só para a compreensão do desenvolvimento precoce de seus pacientes mas também para o entendimento e o trabalho com a relação de transferência que os pacientes formam com o terapeuta a quem eles veem como um substituto dos pais Quanto ao critério de coerência cada uma das teorias discutidas neste capítulo possui alto nível de coerência in terna porém os diferentes teóricos discordam entre si em relação a inúmeros pontos Muito embora todos eles atri buam uma importância fundamental às relações humanas as diferenças entre eles excedem as semelhanças Além disso classificamos a teoria das relações objetais como baixa quanto ao critério da parcimônia Klein em es pecial usava de modo desnecessário expressões e concei tos complexos para descrever sua teoria Termoschave e conceitos As teorias das relações objetais assumem que a re lação mãefilho durante os primeiros 4 ou 5 meses de vida é o momento mais crítico para o desenvolvi mento da personalidade Klein acreditava que uma parte importante de qual quer relacionamento são as representações psíquicas internas de objetos precoces significativos como o seio da mãe e o pênis do pai Os bebês introjetam essas representações psíquicas em sua própria estrutura psíquica e então projetam tais representações no objeto externo isto é outra pessoa Tais imagens internas não constituem re presentações precisas da outra pessoa mas são re manescentes das experiências interpessoais iniciais O ego que existe ao nascimento consegue perceber as forças destrutivas e amorosas ou seja um seio que nutre e um seio frustrante Para lidar com o seio que nutre e o seio frustrante os bebês dissociam esses objetos em bons e maus CONCEITO DE HUMANIDADE Os teóricos das relações objetais em geral consideram a personalidade humana como produto da relação precoce entre mãe e filho A interação entre a mãe e o bebê forma a base para o desenvolvimento futuro da personalidade por que essa experiência interpessoal precoce serve como um protótipo para as relações interpessoais posteriores Klein via a psique humana como ansiedades psicóticas instáveis fluidas e constantemente impeditivas Mitchell Black 1995 p 87 Além do mais cada um de nós luta contra o profundo terror da aniquilação e o abandono total p 88 Como eles enfatizam a relação mãefilho e consideram essa experiência como crucial para o desenvolvimento poste rior os teóricos das relações objetais obtêm classificação alta em determinismo e baixa em livrearbítrio Pela mesma razão esses teóricos podem ser pessimistas ou otimistas dependendo da qualidade da relação precoce mãebebê Se essa relação é saudável então a criança se de senvolve como um adulto psicologicamente sadio se não é saudável a criança adquire uma personalidade patológica voltada para si Na dimensão da causalidade versus teleologia a teoria das relações objetais tende a ser mais causal As experiências precoces são as formadoras primárias da personalidade As expectativas do futuro desempenham um papel menor na teoria das relações objetais Classificamos a teoria das relações objetais como alta quanto aos determinantes inconscientes do comportamen to porque a maioria dos teóricos rastreia os determinantes principais do comportamento até os primeiros meses de vida antes do desenvolvimento da linguagem verbal Assim as pes soas adquirem muitos traços pessoais e atitudes em nível pré verbal e permanecem desconhecendo a natureza completa desses traços e atitudes Além disso a aceitação de Klein de uma dotação filogenética adquirida de forma inata coloca sua teoria ainda mais próxima dos determinantes inconscientes A ênfase que Klein colocou no instinto de morte e na do tação filogenética parece sugerir que ela via a biologia como mais importante do que o ambiente para moldar a persona lidade No entanto ela mudou a ênfase dos estágios infan tis com base biológica de Freud para um foco interpessoal Como a intimidade e os cuidados que os bebês recebem da mãe são experiências ambientais Klein e outros teóricos das relações objetais tendem mais para os determinantes sociais da personalidade Na dimensão da singularidade versus semelhanças os teóricos das relações objetais tendem mais na direção das semelhanças Como clínicos que lidavam sobretudo com pa cientes perturbados Klein Mahler Kohut e Bowlby limitaram suas discussões à distinção entre personalidades sadias e pa tológicas e eram menos preocupados com as diferenças entres as personalidades psicologicamente sadias Feist05indd 109 Feist05indd 109 271014 1515 271014 1515 110 FEIST FEIST ROBERTS enquanto também dissociam o próprio ego dando a eles uma imagem dual do self Klein acreditava que o superego começa a existir mui to mais cedo do que Freud especulou e que ele se de senvolve com o processo edípico em vez de ser um produto deste Durante o complexo de Édipo feminino precoce a menina adota uma posição feminina em relação a am bos os pais Ela tem um sentimento positivo tanto pelo seio da mãe quanto pelo pênis do pai os quais ela acredita que a alimentarão com bebês Às vezes a menina desenvolve hostilidade em rela ção à mãe a quem ela teme que irá retaliála e roubar seus bebês Para a maioria das meninas no entanto o complexo de Édipo feminino é resolvido sem qualquer antago nismo ou ciúme em relação à mãe O menino também adota uma posição feminina durante os anos edípicos precoces Nessa época ele não tem medo de ser castrado como punição por seus desejos sexuais em relação à mãe Posteriormente o menino projeta seu impulso des trutivo no pai temendo que este irá mordêlo ou castrálo O complexo de Édipo masculino é resolvido quan do o menino estabelece boas relações com ambos os pais e se sente confortável quanto à relação sexual de seus pais Feist05indd 110 Feist05indd 110 271014 1515 271014 1515 CAPÍTULO 6 Horney Teoria Social Psicanalítica Panorama da teoria social psicanalítica Biografia de Karen Horney Introdução à teoria social psicanalítica Comparação entre Horney e Freud O impacto da cultura A importância das experiências da infância Hostilidade básica e ansiedade básica Impulsos compulsivos Necessidades neuróticas Tendências neuróticas Movimento em direção às pessoas Movimento contras as pessoas Movimento para longe das pessoas Conflitos intrapsíquicos Autoimagem idealizada Busca neurótica pela glória Reivindicações neuróticas Orgulho neurótico Autoódio Psicologia feminina Psicoterapia Pesquisa relacionada Desenvolvimento e validação de uma nova medida das tendências neuróticas de Horney O neuroticismo pode vir a ser algo bom Críticas a Horney Conceito de humanidade Termoschave e conceitos Horney Feist06indd 111 Feist06indd 111 271014 1515 271014 1515 112 FEIST FEIST ROBERTS Por favor marque verdadeiro ou falso conforme se aplica a você 1 V F É muito importante para mim agradar as outras pessoas 2 V F Quando me sinto angustiado procuro uma pessoa emocionalmente forte para contar meus problemas 3 V F Prefiro a rotina mais do que as mudanças 4 V F Gosto de estar em uma posição poderosa de lide rança 5 V F Acredito e sigo o conselho Faço para os outros antes que eles façam para mim 6 V F Gosto de ser a vida da festa 7 V F É muito importante para mim ser reconhecido pelas minhas realizações 8 V F Gosto de ver as realizações dos meus amigos 9 V F Em geral termino as relações quando elas come çam a ficar muito íntimas 10 V F É muito difícil para mim ignorar meus erros e falhas pessoais Essas questões representam 10 necessidades importantes propostas por Karen Horney Discutiremos esses itens na seção sobre necessidades neuróticas Mas saiba que marcar um item na direção das necessidades neuróticas não indica que você é emocionalmente instável ou guiado por necessidades neuróticas PANORAMA DA TEORIA SOCIAL PSICANALÍTICA A teoria social psicanalítica de Karen Horney foi cons truída sobre o pressuposto de que as condições sociais e culturais em especial as experiências da infância são em grande parte responsáveis pela formação da personalida de As pessoas que não têm satisfeitas suas necessidades de amor e afeição durante a infância desenvolvem hostilidade básica em relação a seus pais e em consequência sofrem de ansiedade básica Horney teorizou que as pessoas comba tem a ansiedade básica adotando um dos três estilos fun damentais de se relacionar com os outros 1 movimento em direção às pessoas 2 movimento contra as pessoas ou 3 movimento para longe das pessoas Os indivíduos normais podem usar qualquer um desses modos de se re lacionar com os outros mas os neuróticos são impelidos a depender rigidamente apenas de um deles O comporta mento compulsivo gera um conflito intrapsíquico básico que pode assumir a forma de uma autoimagem idealizada ou autoódio A autoimagem idealizada é expressa como 1 busca neurótica pela glória 2 reivindicações neuróticas ou 3 orgulho neurótico O autoódio é expresso como au todesprezo ou alienação do self Ainda que os escritos de Horney preocupemse prin cipalmente com a personalidade neurótica muitas de suas ideias também podem ser aplicadas a indivíduos nor mais Este capítulo examina a teoria básica da neurose de Horney compara suas ideias com as de Freud aborda sua visão sobre a psicologia feminina e discute brevemente suas ideias sobre psicoterapia Assim como com outros teóricos a visão de Horney sobre a personalidade é um reflexo de suas experiências de vida Bernard Paris 1994 escreveu que os insights de Horney foram derivados de seus esforços para aliviar a própria dor como também a de seus pacientes Se seu so frimento tivesse sido menos intenso seus insights teriam sido menos profundos p xxv Agora voltamos a atenção para a vida frequentemente conturbada dessa mulher BIOGRAFIA DE KAREN HORNEY A biografia de Karen Horney tem vários paralelos com a vida de Melanie Klein ver Cap 5 As duas nasceram duran te a década de 1880 e eram a filha mais nova de um pai de 50 anos e sua segunda esposa Ambas tinham irmãos mais velhos que eram favorecidos pelos pais e se sentiam indese jadas e não amadas Além disso ambas desejavam se tornar médicas mas somente Horney cumpriu essa ambição Fi nalmente elas se engajaram em uma extensa autoanálise a de Horney começando com seus diários desde os 13 aos 26 anos continuando com sua análise com Karl Abraham e culminando em seu livro Autoanálise Quinn 1987 Karen Danielsen Horney nasceu em Eilbek uma cida de pequena perto de Hamburgo Alemanha em 15 de se tembro de 1885 Ela era a única filha de Berndt Wackels Danielsen um capitão de navio e Clothilda van Ronzelen Danielsen uma mulher quase 18 anos mais moça do que o marido O outro filho desse casamento foi um menino cerca de quatro anos mais velho do que Karen No entanto o velho capitão do mar tinha sido casado anteriormente e tivera outros quatro filhos a maioria deles era adulta na época em que Horney nasceu A família Danielsen era infe liz em parte porque os meiosirmãos mais velhos de Karen colocaram seu pai contra a segunda esposa Karen sentia grande hostilidade em relação ao pai severo e devotamente religioso e o considerava um hipócrita Entretanto idola trava a mãe que a apoiava e a protegia contra a severida de do velho capitão do mar Contudo Karen não era uma criança feliz Ela se ressentia do tratamento favorecido dado ao irmão mais velho e além disso preocupavase com a aspereza e a discórdia entre seus pais Quando tinha 13 anos Horney decidiu se tornar mé dica mas naquela ocasião nenhuma universidade na Ale manha aceitava mulheres Na época em que tinha 16 anos essa situação mudou Portanto Horney com as objeções do pai que queria que ela ficasse em casa e cuidasse dos afazeres domésticos ingressou no ginásio uma escola que a conduziria até a universidade e depois para a escola Feist06indd 112 Feist06indd 112 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 113 médica Sozinha pela primeira vez Karen iria permane cer independente pelo resto de sua vida De acordo com Paris 1994 no entanto a independência de Horney era sobretudo superficial Em um nível mais profundo ela mantinha uma necessidade compulsiva de se unir a um grande homem Essa dependência mórbida que em ge ral incluía idealização e medo de incitar rejeição raivosa assombraram Horney durante seus relacionamentos com vários homens Em 1906 ela ingressou na Universidade de Freiburg tornandose uma das primeiras mulheres na Alemanha a estudar medicina Lá conheceu Oskar Horney um estu dante de ciências políticas Eles iniciaram uma amizade que acabou se tornando um relacionamento amoroso Após seu casamento em 1909 eles se estabeleceram em Berlim onde Oskar agora um PhD trabalhava para uma companhia carbonífera e Karen ainda sem titulação espe cializouse em psiquiatria Nessa época a psicanálise freudiana estava se firman do e Karen Horney foi se familiarizando com os escritos de Freud No início de 1910 ela começou a análise com Karl Abraham um dos associados próximos de Freud e que posteriormente analisou Melanie Klein Depois que a análise de Horney foi encerrada ela assistiu a vários se minários de Abraham nos quais conheceu outros psica nalistas Em 1917 escreveu seu primeiro trabalho sobre psicanálise A técnica da terapia psicanalítica Horney 19171968 o qual refletia a visão freudiana ortodoxa e dava algumas indicações do pensamento independente posterior de Horney Os primeiros anos de seu casamento foram repletos de muitas experiências pessoais notáveis Seu pai e sua mãe que agora estavam separados morreram no espaço de me nos de um ano entre um e outro ela deu à luz três filhas em cinco anos recebeu o doutorado em 1915 após cinco anos de psicanálise e em sua busca pelo homem certo teve vá rios casos amorosos Paris 1994 Quinn 1987 Após a I Guerra Mundial os Horney viveram um es tilo de vida suburbano e próspero com vários emprega dos e um motorista Oskar se saía bem financeiramente enquanto Karen desfrutava de uma prática psicanalítica próspera Essa cena idílica no entanto logo teve seu fim A inflação e a perturbação econômica de 1923 custaram a Oskar seu emprego e a família foi forçada a se mudar de volta para um apartamento em Berlim Em 1926 Karen e Oskar se separaram mas não se divorciaram oficialmente até 1938 Paris 1994 Os primeiros anos após a separação de Oskar foram os mais produtivos da vida de Horney Além de ter seus pacientes e cuidar de suas três filhas ela se envolveu mais com a escrita o ensino as viagens e as conferências Seus trabalhos agora mostravam diferenças importantes em relação à teoria de Freud Ela acreditava que a cultura não a anatomia era responsável pelas diferenças psíquicas entre homens e mulheres Quando Freud reagiu negativamente à posição de Horney ela se tornou ainda mais explícita em seu ponto de vista Em 1932 Horney deixou a Alemanha para assumir um cargo como diretora associada do recémfundado Insti tuto Psicanalítico de Chicago Vários fatores contribuíram para sua decisão de imigrar um clima político antissemita na Alemanha embora Horney não fosse judia a oposição crescente a suas visões não ortodoxas e uma oportunidade de ampliar sua influência para além de Berlim Durante os dois anos que passou em Chicago ela conheceu Margaret Mead e John Dollard Além disso retomou o contato com Erich Fromm e sua esposa Frieda FrommReichmann os quais tinha conhecido em Berlim Durante os 10 anos se guintes Horney e Fromm foram amigos íntimos influen ciando enormemente um ao outro e por fim tornandose amantes Hornstein 2000 Após os dois anos em Chicago Horney se mudou para Nova York onde ensinou na Nova Escola para Pes quisas Sociais Em Nova York ela se tornou membro do grupo Zodíaco que incluía Fromm FrommReichmann e outros Ainda que Horney fosse integrante do Instituto Psicanalítico de Nova York ela raramente concordava com os membros estabelecidos Além do mais seu livro Novos rumos na psicanálise 1939 fez dela a líder de um grupo de oposição Nesse livro Horney reivindicava o abandono da teoria dos instintos e uma maior ênfase no ego e nas influências sociais Em 1941 ela se demitiu do instituto devido a questões de dogma e ortodoxia e ajudou a for mar uma organização rival a Associação para o Avanço da Psicanálise AAP Association for the Advancement of Psychoanalysis Esse novo grupo no entanto logo sofreu conflitos internos Em 1943 Fromm cuja relação íntima com Horney havia acabado recentemente e vários outros renunciaram à AAP deixando a organização sem seus membros mais fortes Apesar desse rompimento a asso ciação continuou mas com o nome Instituto Psicanalítico Karen Horney Em 1952 Horney fundou a Clínica Karen Horney Em 1950 Horney publicou seu trabalho mais im portante Neurose e crescimento humano Esse livro apre senta teorias que já não eram mais uma reação a Freud mas uma expressão do próprio pensamento criativo e independente de Horney Depois de um curto período de doença Horney morreu de câncer em 4 de dezembro de 1952 INTRODUÇÃO À TEORIA SOCIAL PSICANALÍTICA Os primeiros escritos de Karen Horney bem como os de Adler Jung e Klein têm um toque freudiano próprio Assim como Adler e Jung ela também se desencantou Feist06indd 113 Feist06indd 113 271014 1515 271014 1515 114 FEIST FEIST ROBERTS com a psicanálise ortodoxa e construiu uma teoria revi sionista que refletia suas experiências pessoais clínicas e outras Apesar de Horney ter escrito quase que exclusivamen te sobre neuroses e personalidades neuróticas seu traba lho sugere muito do que é apropriado ao desenvolvimen to normal e sadio A cultura em especial as experiências precoces da infância desempenha um papel essencial na formação da personalidade humana seja ela neurótica ou sadia Horney então concordava com Freud que os trau mas no início da infância são importantes mas discordava dele ao insistir que as forças sociais em vez das biológicas são primordiais no desenvolvimento da personalidade Comparação entre Horney e Freud Horney criticava as teorias de Freud em vários aspectos Primeiro ela alertava que a adesão rígida à psicanálise or todoxa levaria à estagnação tanto do pensamento teórico quanto da prática terapêutica Horney 1937 Segundo Horney 1937 1939 contestava as ideias de Freud sobre a psicologia feminina um assunto ao qual retornaremos adiante Terceiro ela salientava a visão de que a psicanálise deveria ir além da teoria dos instintos e enfatizar a impor tância das influências culturais na formação da personali dade O homem é governado não pelo princípio do prazer isolado mas por dois princípios orientadores segurança e satisfação Horney 1939 p 73 Outrossim ela alegava que as neuroses não são resultado dos instintos mas da tentativa da pessoa de encontrar caminhos ao longo de um deserto cheio de perigos desconhecidos p 10 Esse deserto é criado pela sociedade e não pelos instintos ou pela anatomia Apesar de se tornar cada vez mais crítica a Freud Horney continuava a reconhecer seus insights perceptivos Sua discussão principal com Freud não era tanto sobre a precisão de suas observações mas sobre a validade dessas interpretações Em termos gerais ela sustentava que as ex plicações de Freud resultavam em um conceito pessimista de humanidade com base nos instintos inatos e na estag nação da personalidade Ao contrário sua visão da huma nidade é otimista e está centrada em forças culturais que são receptivas à mudança Horney 1950 O impacto da cultura Mesmo que Horney não tenha ignorado a importância dos fatores genéticos ela repetidas vezes enfatizou as in fluências culturais como as bases primárias para o desen volvimento da personalidade neurótica e normal A cultura moderna argumentava ela está baseada na competição en tre os indivíduos Cada um de nós compete de forma real ou potencial com todas as outras pessoas Horney 1937 p 284 A competitividade e a hostilidade básica que a cultu ra gera resultam em sentimentos de isolamento Esses sen timentos de estar sozinho em um mundo potencialmente hostil levam a necessidades de afeto intensificadas as quais por sua vez fazem as pessoas supervalorizarem o amor Como consequência muitas pessoas veem o amor e o afei to como a solução para todos os seus problemas O amor genuíno é claro pode ser uma experiência saudável que produz crescimento porém a necessidade desespera da por amor como a demonstrada pela própria Horney proporciona um terreno fértil para o desenvolvimento de neuroses Em vez de se beneficiarem com a necessidade de amor os neuróticos se esforçam de modo patológico para encontrálo Suas tentativas autodestrutivas resultam em baixa autoestima hostilidade aumentada ansiedade bási ca mais competitividade e uma necessidade excessiva con tínua de amor e afeição De acordo com Horney a sociedade ocidental con tribui para esse círculo vicioso em vários aspectos Pri meiro as pessoas dessa sociedade estão imbuídas de ensinamentos culturais de parentesco e humildade Tais ensinamentos no entanto desenvolvemse contraria mente a outra atitude predominante a saber a agres sividade e o impulso de vencer e ser superior Segundo as demandas da sociedade por sucesso e realizações são quase infindáveis portanto mesmo quando as pessoas alcançam suas ambições materiais objetivos adicionais estão continuamente sendo colocados diante delas Ter ceiro a sociedade ocidental diz às pessoas que são livres que elas podem conseguir qualquer coisa por meio do trabalho árduo e da perseverança Na realidade porém a liberdade da maioria das pessoas é restringida de for ma considerável pela genética pela posição social e pela competitividade Tais contradições todas provenientes de influências culturais em vez de biológicas produzem conflitos in trapsíquicos que ameaçam a saúde psicológica das pessoas normais e apresentam obstáculos quase insuperáveis para os neuróticos A importância das experiências da infância Horney acreditava que o conflito neurótico pode se origi nar em qualquer estágio do desenvolvimento mas a infân cia é a época a partir da qual emerge a maioria dos proble mas Uma variedade de eventos traumáticos como abuso sexual espancamento rejeição aberta ou negligência pode deixar suas impressões no desenvolvimento futuro de uma criança Contudo Horney 1937 insistia que essas expe riências debilitantes podem quase invariavelmente ser relacionadas à falta de carinho e afeição genuínos A falta de amor do pai e sua relação próxima com a mãe devem ter exercido um efeito poderoso no desenvolvimento pessoal de Horney e também em suas ideias teóricas Horney 1939 levantou a hipótese de que uma infân cia difícil é a principal responsável pelas necessidades neu Feist06indd 114 Feist06indd 114 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 115 róticas Essas necessidades se tornam poderosas porque elas são o único meio que a criança tem de obter sentimen tos de segurança No entanto uma única experiência preco ce não é responsável pela personalidade posterior Horney advertia que a soma das experiências da infância acarreta certa estrutura de caráter ou melhor inicia seu desenvolvi mento p 152 Em outras palavras a totalidade das rela ções precoces molda o desenvolvimento da personalidade As atitudes posteriores com os outros então não são re petições das infantis mas emanam da estrutura de caráter cuja base é assentada na infância p 87 Ainda que as experiências posteriores possam ter um efeito importante sobretudo em indivíduos normais as experiências da infância são as principais responsáveis pelo desenvolvimento da personalidade As pessoas que ri gidamente repetem padrões de comportamento fazem isso porque interpretam as novas experiências de uma maneira coerente com aqueles padrões estabelecidos HOSTILIDADE BÁSICA E ANSIEDADE BÁSICA Horney 1950 acreditava que cada indivíduo começa a vida com um potencial para o desenvolvimento saudável mas assim como outros organismos vivos as pessoas pre cisam de condições favoráveis para o crescimento Essas condições devem incluir um ambiente afetivo e amoroso mas que não seja excessivamente permissivo As crianças precisam experimentar o amor genuíno e uma disciplina saudável Tais condições proporcionam sentimentos de segurança e satisfação e permitem à criança crescer em con formidade com seu self real Infelizmente muitas influências adversas podem in terferir nessas condições favoráveis A principal delas é a incapacidade ou a indisponibilidade dos pais para amar o filho Devido a suas necessidades neuróticas os pais com frequência dominam negligenciam superprotegem re jeitam ou mimam em excesso Se eles não satisfazem as necessidades do filho de segurança e satisfação a criança desenvolve sentimentos de hostilidade básica em relação aos pais No entanto raras vezes as crianças expressam abertamente essa hostilidade como raiva em vez disso elas reprimem sua hostilidade em relação aos pais e não têm consciência de tal circunstância A hostilidade reprimi da leva então a profundos sentimentos de insegurança e a uma sensação vaga de apreensão Essa condição é deno minada ansiedade básica a qual Horney 1950 definiu como um sentimento de estar isolado e desamparado em um mundo concebido como potencialmente hostil p 18 Antes disso ela já havia feito uma descrição mais detalha da chamando de ansiedade básica um sentimento de ser pequeno insignificante desamparado abandonado amea çado em um mundo que está determinado a abusar enga nar atacar humilhar trair invejar Horney 1937 p 92 Horney 1937 p 75 acreditava que a hostilidade bási ca e a ansiedade básica estão inextricavelmente interliga das Os impulsos hostis são a principal fonte de ansiedade básica mas esta também pode contribuir para sentimentos de hostilidade Para exemplificar como a hostilidade básica pode levar à ansiedade Horney 1937 escreveu sobre um jovem com hostilidade reprimida que foi fazer uma cami nhada nas montanhas com uma jovem por quem ele estava muito apaixonado No entanto sua hostilidade reprimida também o levou a ter ciúmes da moça Enquanto atraves savam uma passagem perigosa o jovem de repente teve um grave ataque de ansiedade na forma de taquicardia e respiração ofegante A ansiedade resultou de um impulso aparentemente inapropriado mas consciente de empurrar a jovem da beirada da montanha Nesse caso a hostilidade básica levou à ansiedade grave mas ansiedade e medo também podem levar a for tes sentimentos de hostilidade Crianças que se sentem ameaçadas por seus pais desenvolvem uma hostilidade reativa em defesa a essa ameaça A hostilidade reativa por sua vez pode criar ansiedade adicional completando as sim o ciclo interativo entre hostilidade e ansiedade Hor ney 1937 discutia que não importa se a ansiedade ou a hostilidade foi o fator primário p 74 O ponto impor tante é que sua influência recíproca pode intensificar uma neurose sem que a pessoa experimente qualquer conflito externo adicional A ansiedade básica em si não é uma neurose mas ela é o solo fértil a partir do qual uma neurose definida pode se desenvolver a qualquer momento Horney 1937 p 89 A ansiedade básica é constante e implacável não precisan do de um estímulo particular como fazer um teste na es cola ou realizar um discurso Ela permeia todas as relações com os outros e leva a formas insalubres de tentar lidar com as pessoas Apesar de mais tarde ter retificado sua lista de defe sas contra a ansiedade básica Horney 1937 originalmen te identificou quatro formas gerais com as quais as pessoas se protegem contra o sentimento de estarem sozinhas em um mundo potencialmente hostil A primeira é a afeição uma estratégia que nem sempre leva a amor autêntico Em sua busca por afeição algumas pessoas podem tentar com prar amor com complacência e autoanulação bens mate riais ou favores sexuais O segundo mecanismo protetor é a submissão Os neu róticos podem se submeter a pessoas ou a instituições tais como uma organização ou uma religião Os neuróticos que se submetem a outra pessoa com frequência fazem isso para ganhar afeição Os neuróticos também podem tentar se proteger lu tando por poder prestígio ou posses O poder é uma defesa contra a hostilidade real ou imaginada dos outros e assume a forma de uma tendência a dominar os demais o prestí gio é uma proteção contra a humilhação e é expresso como Feist06indd 115 Feist06indd 115 271014 1515 271014 1515 116 FEIST FEIST ROBERTS uma tendência a humilhar os outros a posse atua como um amortecedor contra a destituição e a pobreza e se manifes ta como uma tendência a privar os outros de algo O quarto mecanismo protetor é o afastamento Os neuróticos muitas vezes se protegem contra a ansiedade básica desenvolvendo uma independência dos outros ou tornandose emocionalmente desligados deles Ao afasta remse psicologicamente os neuróticos sentem que não podem ser machucados por outras pessoas Esses mecanismos protetores não indicavam necessa riamente uma neurose e Horney acreditava que todas as pessoas os utilizam até certo ponto Elas deixam de ser sa dias quando se sentem compelidas a contar com eles e as sim são incapazes de empregar uma variedade de estratégias interpessoais A compulsão então é a característica proemi nente de todos os impulsos neuróticos IMPULSOS COMPULSIVOS Os indivíduos neuróticos têm os mesmos problemas que afetam as pessoas normais mas estes são experimentados em um grau maior Todos utilizam os vários mecanismos protetores para se defenderem da rejeição da hostilidade e da competitividade dos outros Todavia enquanto os indivíduos normais são capazes de usar uma variedade de manobras defensivas de uma forma útil os neuróticos re petem de modo compulsivo a mesma estratégia de forma essencialmente improdutiva Horney 1942 insistia que os neuróticos não gostam da dor e do sofrimento Eles não conseguem mudar seu comportamento espontaneamente mas precisam se pro teger de forma contínua e compulsiva contra a ansiedade básica Essa estratégia defensiva os prende dentro de um círculo vicioso em que suas necessidades compulsivas de reduzir a ansiedade básica conduzem a comportamentos que perpetuam a baixa autoestima a hostilidade generali zada a luta inadequada pelo poder os sentimentos infla dos de superioridade e a apreensão persistente todos os quais resultam em mais ansiedade básica Necessidades neuróticas No início deste capítulo pedimos que você escolhesse verdadeiro ou falso para cada um dos 10 itens que po dem sugerir uma necessidade neurótica Para cada item exceto o número 8 a resposta verdadeiro está de acordo com as necessidades neuróticas de Horney Para o núme ro 8 uma resposta falso está de acordo com as necessi dades egocêntricas Lembrese de que o endossamento da maioria ou mesmo de todas essas afirmações na direção neurótica não é indicação de instabilidade emocional mas esses itens podem oferecer um melhor entendimento do que Horney queria dizer quando se referia a necessida des neuróticas Horney identificou provisoriamente 10 categorias de necessidades neuróticas que caracterizam os neuró ticos em suas tentativas de combater a ansiedade básica Essas necessidades eram mais específicas do que os quatro mecanismos protetores discutidos antes mas elas descre vem as mesmas estratégias defensivas básicas As 10 cate gorias de necessidades neuróticas se sobrepõem umas às outras e uma única pessoa pode empregar mais de uma Cada uma delas se relaciona de uma maneira ou outra às demais pessoas 1 Necessidade neurótica de afeto e aprovação Em sua busca por afeto e aprovação os neuróticos ten tam indiscriminadamente agradar os outros Eles tentam estar à altura das expectativas dos outros tendem a temer a autoafimação e ficam muito desconfortáveis com a hostilidade de ter ceiros assim como com os sentimentos hostis dentro de si mesmos 2 Necessidade neurótica de um parceiro poderoso Carecendo de autoconfiança os neuróticos ten tam se vincular a um parceiro poderoso Essa necessidade inclui uma superavaliação do amor e um temor de ficar sozinho ou ser abandonado A própria história de vida de Horney revela uma forte necessidade de se relacionar com um gran de homem e ela teve uma série de relações desse tipo durante sua vida adulta 3 Necessidade neurótica de restringir a própria vida dentro de limites estreitos Os neuróticos com frequência se esforçam para permanecer imper ceptíveis assumem o segundo lugar e temem fazer exigências aos outros 4 Necessidade neurótica de poder Poder e afeto são talvez as duas maiores necessidades neuróti cas A necessidade de poder geralmente acom panha as necessidades de prestígio e posse e se manifesta como a necessidade de controlar os outros e evitar sentimentos de fraqueza ou ig norância 5 Necessidade neurótica de explorar os outros Os neu róticos muitas vezes avaliam os outros com base em como podem ser usados ou explorados mas ao mesmo tempo temem ser explorados pelos outros 6 Necessidade neurótica de reconhecimento ou prestígio social Algumas pessoas combatem a ansiedade básica tentando ser as primeiras ser importantes ou atrair a atenção para si 7 Necessidade neurótica de admiração pessoal Os neu róticos têm uma necessidade de ser admirados pelo que são em vez de pelo que possuem Sua au toestima inflada deve ser constantemente alimen tada pela admiração e pela aprovação dos outros Feist06indd 116 Feist06indd 116 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 117 8 Necessidade neurótica de ambição e realização pes soal É comum os neuróticos possuírem um forte impulso de serem os melhores o melhor ven dedor o melhor arremessador o melhor amante Eles precisam derrotar outras pessoas para con firmarem sua superioridade 9 Necessidade neurótica de autossuficiência e indepen dência Muitos neuróticos possuem uma forte necessidade de se afastar das pessoas provan do assim que eles conseguem ficar bem sem os outros O playboy que não pode ter compromisso com qualquer mulher exemplifica essa necessida de neurótica 10 A necessidade neurótica de perfeição e invulnerabilida de Esforçandose incansavelmente pela perfeição os neuróticos recebem a prova de sua autoestima e superioridade pessoal Eles temem cometer er ros e ter falhas pessoais e tentam desesperada mente esconder suas fraquezas dos outros Tendências neuróticas Conforme sua teoria evoluiu Horney começou a ver que a lista das 10 necessidades neuróticas podia ser agrupada em três categorias gerais cada uma se relacionando a uma ati tude básica da pessoa em relação a si e aos outros Em 1945 ela identificou as três atitudes básicas ou tendências neu róticas como 1 movimento em direção às pessoas 2 movi mento contra as pessoas e 3 movimento para longe das pessoas Ainda que essas tendências neuróticas constituam a teoria da neurose de Horney elas também se aplicam aos indivíduos normais Existem é claro diferenças importan tes entre as atitudes normais e as neuróticas Enquanto as pessoas normais são preponderante ou completamente conscientes de suas estratégias em relação às outras pes soas as neuróticas não são conscientes da sua atitude bási ca enquanto os indivíduos normais são livres para escolher suas ações os neuróticos são forçados a agir enquanto os normais experimentam um conflito leve os neuróticos experienciam conflito intenso e insolúvel e enquanto os normais podem escolher entre uma variedade de estraté gias os neuróticos estão limitados a uma única tendência A Figura 61 mostra a concepção de Horney sobre a influên cia mútua da hostilidade básica e da ansiedade básica bem como as defesas normais e neuróticas contra a ansiedade As pessoas podem usar cada uma das tendências neu róticas para resolver o conflito básico mas infelizmente Defesas contra a ansiedade Basic anxiety Results from parental threats or from a defense against hostility Hostilidade básica Resulta de sentimentos da infância de rejeição ou negligência por parte dos pais ou de uma defesa contra a ansiedade básica Ansiedade básica Resulta de ameaças parentais ou de uma defesa contra a hostilidade Defesas normais Movimento espontâneo Em direção às pessoas personalidade amigável terna Contra as pessoas um sobrevivente em uma sociedade competitiva Para longe das pessoas personalidade autônoma serena Defesas neuróticas Movimento compulsivo Em direção às pessoas personalidade complacente Contra as pessoas personalidade agressiva Para longe das pessoas personalidade isolada FIGURA 61 A interação da hostilidade básica e da ansiedade básica com as defesas contra a ansiedade Feist06indd 117 Feist06indd 117 271014 1515 271014 1515 118 FEIST FEIST ROBERTS essas soluções são em essência não produtivas e neuróti cas Horney 1950 usou a nomenclatura conflito básico porque crianças muito pequenas são conduzidas em todas as três vias em direção contra e para longe das pessoas Em crianças saudáveis esses três impulsos não são ne cessariamente incompatíveis Entretanto os sentimentos de isolamento e desamparo que Horney descreveu como ansiedade básica levam algumas crianças a agir de forma compulsiva limitando assim seu repertório a uma única tendência neurótica Experimentando atitudes basicamen te contraditórias em relação aos outros essas crianças ten tam resolver tal conflito básico tornando dominante uma dessas três tendências neuróticas de modo consistente Al gumas crianças se movem em direção às pessoas compor tandose de maneira complacente como uma proteção con tra os sentimentos de desamparo outras se movem contra as pessoas com atos de agressão para driblar a hostilidade dos outros e ainda há aquelas que se movem para longe das pessoas adotando uma maneira independente alivian do assim os sentimentos de isolamento Horney 1945 Movimento em direção às pessoas O conceito de Horney de movimento em direção às pessoas não significa movimento em direção a elas no espí rito do amor genuíno Em vez disso referese à necessidade neurótica de se proteger contra sentimentos de desamparo Em suas tentativas de se protegerem contra os sen timentos de desamparo as pessoas submissas empregam uma ou ambas das primeiras duas necessidades neuróti cas isto é elas lutam desesperadamente pela afeição e pela aprovação dos outros ou procuram um parceiro poderoso que assumirá a responsabilidade por suas vidas Horney 1937 se referiu a essas necessidades como dependência mórbida conceito que antecipou o termo codependência A tendência neurótica de se movimentar em direção às pessoas envolve um complexo de estratégias É toda uma maneira de pensar sentir e agir todo um estilo de vida Horney 1945 p 55 Horney também a denominou filo sofia de vida Os neuróticos que adotam essa filosofia pro vavelmente se veem como amorosos generosos altruístas humildes e sensíveis aos sentimentos dos outros Eles são inclinados a se subordinarem aos outros a verem os outros como mais inteligentes ou atraentes e a se classificarem de acordo com o que os outros pensam deles Movimento contra as pessoas Assim como as pessoas submissas assumem que todos são bons as pessoas agressivas tomam como certo que todos são hostis Em consequência adotam a estratégia de movi mento contra as pessoas Os indivíduos neuroticamen te agressivos são tão compulsivos quanto os submissos e seu comportamento é da mesma forma impulsionado pela ansiedade básica Em vez de se moverem em direção às pessoas em uma postura de submissão e dependência os indivíduos agressivos se movem contra os outros pare cendo duros ou implacáveis Eles são motivados por uma forte necessidade de explorar os outros e usálos para seu próprio benefício Raras vezes admitem seus erros e são compulsivamente levados a parecerem perfeitos podero sos e superiores Cinco das 10 necessidades neuróticas estão incorpo radas à tendência neurótica de se movimentar contra as pessoas Elas incluem a necessidade de ser poderoso de explorar os outros de obter reconhecimento e prestígio de ser admirado e ter sucesso Tais indivíduos podem parecer que se esforçam e são engenhosos no trabalho mas des frutam de pouco prazer no trabalho em si Sua motivação básica é por poder prestígio e ambição pessoal Nos Estados Unidos a busca por esses objetivos cos tuma ser encarada com admiração As pessoas compul sivamente agressivas de fato com frequência chegam ao topo em muitos empreendimentos valorizados pela sociedade Elas podem adquirir parceiros sexuais desejá veis empregos com altos salários e a admiração pessoal de muitas pessoas Horney 1945 afirmou que não é mérito da sociedade que tais características sejam recompensa das enquanto o amor a afeição e a capacidade para uma amizade verdadeira justamente as qualidades que as pessoas agressivas não possuem não o sejam de forma tão intensa O movimento em direção aos outros e o movimento contra os outros são em muitos aspectos polos opostos A pessoa submissa é impelida a receber afeição de todos enquanto o indivíduo agressivo vê a todos como um ini migo potencial Para ambos os tipos no entanto o centro de gravidade se encontra fora da pessoa Horney 1945 p 65 Ambos precisam das outras pessoas As pessoas sub missas precisam dos outros para satisfazer seus sentimen tos de desamparo os indivíduos agressivos usam os outros como uma proteção contra a hostilidade real ou imaginada Com a terceira tendência neurótica ao contrário as outras pessoas são de menor importância Movimento para longe das pessoas Para resolver o conflito básico do isolamento alguns se comportam de uma maneira desprendida e adotam uma tendência neurótica de movimento para longe das pes soas Essa estratégia é uma expressão das necessidades que podem levar a comportamentos positivos com algu mas pessoas satisfazendo essas necessidades de forma saudável No entanto tais necessidades tornamse neuró ticas quando as pessoas tentam satisfazêlas ao colocarem compulsivamente uma distância emocional entre elas e os outros Muitos neuróticos consideram a associação com ou tros um esforço intolerável Em consequência eles são Feist06indd 118 Feist06indd 118 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 119 compulsivamente levados a se mover para longe das pessoas a obterem autonomia e individualidade É co mum construírem um mundo próprio e se recusarem a permitir que qualquer um se aproxime deles Eles valo rizam a liberdade e a autossuficiência e com frequência parecem indiferentes e inacessíveis Se casados mantêm o distanciamento mesmo do cônjuge Eles evitam com promissos sociais mas seu maior medo é precisar de ou tras pessoas Todos os neuróticos possuem uma necessidade de se sentirem superiores porém as pessoas distantes têm uma necessidade intensificada de serem fortes e poderosas Seus sentimentos básicos de isolamento podem ser tole rados somente pela crença autoenganadora de que são per feitas e portanto além da crítica Elas têm medo da com petição temendo um abalo em seus sentimentos ilusórios de superioridade Em vez disso preferem que sua grandeza oculta seja reconhecida sem qualquer esforço de sua parte Horney 1945 Em resumo cada uma das três tendências neuróticas possui um conjunto análogo de características que des crevem os indivíduos normais Além disso cada uma das 10 necessidades neuróticas pode ser facilmente encaixada dentro das três tendências neuróticas A Tabela 61 resu me as três tendências neuróticas os conflitos básicos que dão origem a elas as características principais de cada uma as 10 necessidades neuróticas que as compõem e os três traços análogos que caracterizam as pessoas normais O movimento para longe das pessoas é uma tendência neurótica que muitos indivíduos usam na tentativa de resolver o conflito básico de isolamento TABELA 61 Resumo das tendências neuróticas de Horney Tendências neuróticas Em direção às pessoas Personalidade submissa Contra as pessoas Personalidade agressiva Para longe das pessoas Personalidade distante Conflito básico ou fonte da tendência neurótica Sentimentos de desamparo Proteção contra a hostilidade dos outros Sentimentos de isolamento Necessidades neuróticas 1 Afeto e aprovação 2 Parceiro poderoso 3 Limites estreitos na vida 4 Poder 5 Exploração 6 Reconhecimento e invulnerabilidade 7 Admiração pessoal 8 Conquistas pessoais 9 Autossuficiência e independência 10 Perfeição e prestígio Análogo normal Amistoso carinhoso Capacidade de sobreviver em uma sociedade competitiva Autônomo e sereno Feist06indd 119 Feist06indd 119 271014 1515 271014 1515 120 FEIST FEIST ROBERTS CONFLITOS INTRAPSÍQUICOS As tendências neuróticas se originam da ansiedade básica a qual por sua vez provém das relações de uma criança com as outras pessoas Até esse ponto nossa ênfase foi na cultura e no conflito interpessoal No entanto Horney não negligenciou o impacto dos fatores intrapsíquicos no desenvolvimento da personalidade Conforme sua teoria evoluiu ela passou a enfatizar os conflitos internos que tanto os indivíduos normais quanto os neuróticos expe rimentam Os processos intrapsíquicos se originam das experiências interpessoais mas à medida que se tornam parte de um sistema de crenças da pessoa eles adquirem vida própria uma existência separada dos conflitos inter pessoais que lhes deram vida Esta seção examina dois conflitos intrapsíquicos importantes a autoimagem idealizada e o autoódio Em síntese a autoimagem idealizada é uma tentativa de re solver os conflitos pintando um quadro endeusado de si mesmo O autoódio é uma tendência interrelacionada embora igualmente irracional e poderosa a menosprezar o próprio self real Conforme as pessoas constroem uma imagem idealizada do self o self real vai ficando cada vez mais para trás Essa lacuna cria uma alienação crescente entre o self real e o self idealizado e leva os neuróticos a odiar e a menosprezar seu self real porque ele fica mui to aquém na comparação com a autoimagem glorificada Horney 1950 Autoimagem idealizada Horney acreditava que os seres humanos se lhes for dado um ambiente de disciplina e afeto desenvolverão senti mentos de segurança e autoconfiança e uma tendência a se movimentar em direção à autorrealização Infelizmente influências negativas precoces com frequência impedem a tendência natural das pessoas na direção da autorrea lização uma situação que as deixa com sentimentos de isolamento e inferioridade Somado a essa falha está um crescente senso de alienação de si mesmas Sentindose alienadas de si mesmas as pessoas pre cisam desesperadamente adquirir um senso de identidade estável Esse dilema só pode ser resolvido com a criação de uma autoimagem idealizada uma visão extravagante mente positiva de si mesmas que existe somente em seu sistema de crenças pessoais Essas pessoas concedem a si mesmas poderes infinitos e capacidades ilimitadas elas se veem como um herói um gênio um amante supremo um santo um deus Horney 1950 p 22 A autoimagem idealizada não é uma construção global Os neuróticos glo rificam e veneram a si mesmos de formas diferentes As pessoas submissas se veem como boas e santas as pessoas agressivas constroem uma imagem idealizada de si mes mas como fortes heroicas e onipotentes e os neuróticos distantes pintam seu autorretrato como sábios autossufi cientes e independentes Quando a autoimagem idealizada se solidifica os neu róticos começam a acreditar na realidade daquela imagem Eles perdem contato com seu self real e usam o self ideali zado como padrão para autoavaliação Em vez de se desen volverem para a autorrealização eles se movimentam na direção da realização do self idealizado Horney 1950 reconheceu três aspectos da imagem idealizada 1 busca neurótica pela glória 2 reivindica ções neuróticas e 3 orgulho neurótico Busca neurótica pela glória Quando os neuróticos passam a acreditar na realidade da imagem idealizada começam a incorporála em todos os aspectos de sua vida seus objetivos seu autoconceito e suas relações com os outros Horney 1950 se referiu a esse impulso abrangente em direção à realização do self ideal como a busca neurótica pela glória Além da autoidealização a busca neurótica pela glória inclui três outros elementos a necessidade de perfeição a ambição neurótica e o impulso em direção a um triunfo vingativo A necessidade de perfeição se refere ao impulso de mol dar toda a personalidade em um self idealizado Os neu róticos não se contentam em meramente fazer algumas alterações nada menos do que a perfeição completa é aceitável Eles tentam alcançar a perfeição montando um conjunto complexo de deveria e não deveria Horney 1950 se referiu a esse impulso como a tirania do dever Esforçandose por um quadro imaginário de perfeição os neuróticos de modo inconsciente dizem a si mesmos Esqueça a criatura vergonhosa que você realmente é isto é como você deveria ser p 64 Um segundo elementochave na busca neurótica pela glória é a ambição neurótica ou seja o impulso compulsi vo em direção à superioridade Ainda que os neuróticos tenham uma necessidade exagerada de se sobressair em tudo eles comumente canalizam suas energias para aque las atividades que são mais prováveis de trazer sucesso Esse impulso por conseguinte pode assumir diversas formas durante a vida Horney 1950 Por exemplo en quanto ainda na escola uma menina pode direcionar sua ambição neurótica para ser a melhor aluna da classe Mais tarde ela pode ser impulsionada a se sobressair nos negó cios ou a criar os melhores cães de exposição A ambição neurótica também pode assumir uma forma menos mate rialista como ser a pessoa mais santa e mais caridosa da comunidade O terceiro aspecto da busca neurótica pela glória é o impulso na direção de um triunfo vingativo o elemento mais destrutivo de todos A necessidade de um triunfo vingativo pode ser disfarçada como um impulso por rea Feist06indd 120 Feist06indd 120 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 121 lizações ou sucesso mas sua finalidade principal é levar os outros à vergonha ou derrotálos por meio do próprio sucesso ou alcançar o poder para infligir sofrimento a eles sobretudo de um tipo humilhante Horney 1950 p 27 É interessante observar que nos relacionamentos pessoais de Horney com os homens ela parecia ter pra zer em fazêlos se sentirem envergonhados e humilhados Hornstein 2000 O impulso por um triunfo vingativo se desenvolve a partir do desejo de infância de se vingar por humilhações reais ou imaginadas Não importa o quão bemsucedido um neurótico seja ao triunfar vingativamente sobre os outros ele nunca perde o impulso vingativo em vez disso ele aumenta a cada vitória Cada sucesso eleva seu medo de derrota e aumenta seus sentimentos de grande za solidificando assim a necessidade de mais triunfos vingativos Reivindicações neuróticas Um segundo aspecto da imagem idealizada são as reivin dicações neuróticas Na busca pela glória os neuróticos constroem um mundo de fantasia que não está em sin cronia com o mundo real Acreditando que algo está errado com o mundo externo eles proclamam que são especiais e portanto têm o direito de serem tratados de acordo com a visão idealizada que possuem de si mesmos Como es sas demandas estão muito de acordo com sua autoimagem idealizada eles não conseguem perceber que suas reivindi cações de privilégios especiais são absurdas As reivindicações neuróticas se originam das neces sidades e dos desejos normais porém elas são muito di ferentes Quando os desejos normais não são atendidos as pessoas ficam frustradas mas quando as reivindicações neuróticas não são atendidas os neuróticos ficam in dignados confusos e incapazes de compreender por que os outros não foram ao encontro de suas reivindicações A diferença entre desejos normais e reivindicações neuró ticas é ilustrada por uma situação em que muitas pessoas estão esperando na fila para comprar ingressos no cinema A maioria das pessoas próximas ao fim da fila gostaria de estar na frente e algumas delas podem até tentar algum estratagema para conseguir uma posição melhor No en tanto essas pessoas sabem que na verdade elas não me recem passar na frente dos outros As pessoas neuróticas por sua vez acreditam verdadeiramente que têm o direito de ficar no início da fila e não sentem culpa ou remorso em desrespeitar a ordem na fila Orgulho neurótico O terceiro aspecto de uma imagem idealizada é o orgulho neurótico um falso orgulho fundamentado não em uma visão realista do verdadeiro self mas em uma imagem es púria do self idealizado O orgulho neurótico é qualitati vamente diferente do orgulho saudável ou da autoestima realista A autoestima genuína está baseada em atributos e realizações realistas e em geral é expressa com dignidade silenciosa O orgulho neurótico por sua vez está apoiado em uma imagem idealizada do self e costuma ser procla mado em altos brados para proteger e sustentar uma visão glorificada do próprio self Horney 1950 Os neuróticos se imaginam como gloriosos mara vilhosos e perfeitos portanto quando os outros não os tratam com consideração especial seu orgulho neurótico é ferido Para impedir a ofensa eles evitam as pessoas que se recusam a ceder a suas reivindicações neuróticas e em vez disso tentam se associar a instituições e a aquisições socialmente proeminentes e prestigiosas Autoódio As pessoas com uma busca neurótica pela glória nunca es tão felizes consigo mesmas porque quando percebem que seu self real não combina com as demandas insaciáveis do self idealizado elas começam a odiar e a menosprezar a si mesmas O self glorificado se torna não apenas um fantasma a ser perseguido ele também se transforma em uma régua para medir seu ser real E seu ser real é uma visão muito embaraçosa quando vista a partir da perspectiva de uma perfeição divina que ele nada pode fazer senão despre zar Horney 1950 p 110 O autoódio é por vezes expresso pelo abuso de álcool Feist06indd 121 Feist06indd 121 271014 1515 271014 1515 122 FEIST FEIST ROBERTS Horney 1950 reconhecia seis formas principais pe las quais as pessoas expressam autoódio Primeiro o autoódio pode resultar em demandas incessantes ao self as quais são exemplificadas pela tirania do dever Por exem plo algumas pessoas fazem demandas a si mesmas que não terminam nem mesmo quando elas atingem uma me dida de sucesso Essas pessoas continuam a se pressionar em direção à perfeição porque acreditam que devem ser perfeitas O segundo modo de expressão do autoódio é a auto acusação impiedosa Os neuróticos criticamse constante mente Se as pessoas me conhecessem elas perceberiam que estou fingindo que sou beminformado competente e sincero Na realidade sou uma fraude mas ninguém sabe disso além de mim A autoacusação pode assumir uma variedade de formas desde expressões obviamente gran diosas como assumir a responsabilidade por desastres na turais até questionar de modo escrupuloso o mérito de suas motivações Terceiro o autoódio pode assumir a forma de auto desprezo o qual pode ser expresso como desvalorização depreciação dúvida descrédito e ridicularização de si mes mo O autodesprezo impede que as pessoas se esforcem pela melhora ou por realizações Um jovem pode dizer a si mesmo Seu idiota convencido O que faz você achar que pode ter um encontro com a mulher mais bonita da cidade Uma mulher pode atribuir sua carreira de sucesso à sorte Ainda que essas pessoas tenham consciência de seu comportamento elas não possuem percepção do auto ódio que o motiva Uma quarta expressão do autoódio é a autofrustração Horney 1950 distinguiu entre autodisciplina saudável e autofrustração neurótica A primeira envolve adiar ou abrir mão de atividades prazerosas para alcançar objetivos razoá veis A autofrustração provém do autoódio e é concebida para tornar real uma autoimagem inflada Os neuróticos costumam ser imobilizados por tabus contra o prazer Não mereço um carro novo Não preciso usar roupas bonitas porque muitas pessoas no mundo usam trapos Não pre ciso batalhar por um emprego melhor porque não sou bom o suficiente para ele Quinto o autoódio pode se manifestar como auto tormento ou autotortura Apesar de o autotormento po der existir em cada uma das outras formas de autoódio ele se torna uma categoria separada quando a intenção principal das pessoas é infligir dano ou sofrimento a elas mesmas Alguns indivíduos obtêm uma satisfação maso quista se angustiando com uma decisão exagerando a dor de uma enxaqueca cortandose com uma faca iniciando uma luta que com certeza irão perder ou convidando ao abuso físico A sexta forma de autoódio são as ações e os impulsos autodestrutivos os quais podem ser físicos ou psicológicos conscientes ou inconscientes agudos ou crônicos executa dos na ação ou encenados apenas na imaginação O comer excessivo o abuso de álcool e outras drogas trabalhar de mais dirigir com imprudência e cometer suicídio são ex pressões comuns de autodestruição física Os neuróticos também podem atacar a si mesmos psicologicamente por exemplo abandonando um emprego justamente quando ele começa a ser gratificante romper um relacionamento saudável em favor de um neurótico ou envolverse em ati vidades sexuais promíscuas Horney 1950 resumiu a busca neurótica pela glória e o concomitante autoódio com a seguinte descrição Pesquisando o autoódio e sua força devastadora não conseguimos evitar vêlo como uma grande tragédia talvez a maior tragédia da mente humana O homem que está se aproximando do infinito e absoluto também começa a destruir a si mesmo Quando ele faz um pacto com o diabo que lhe promete glória ele tem que ir até o inferno até o inferno dentro si mesmo p 154 PSICOLOGIA FEMININA Como uma mulher treinada na psicologia prómasculina de Freud Horney de forma gradual percebeu que a visão psicanalítica tradicional das mulheres era distorcida En tão ela apresentou sua própria teoria que rejeitava várias ideias básicas de Freud Para Horney as diferenças psíquicas entre homens e mulheres não são resultado da anatomia mas de expec tativas culturais e sociais Os homens que subjugam e governam as mulheres e as mulheres que se degradam ou invejam os homens fazem isso devido à competitividade neurótica que é excessiva em muitas sociedades Horney 1937 insistia que a ansiedade básica está na essência da necessidade dos homens de subjugar as mulheres e no de sejo das mulheres de humilhar os homens Mesmo que Horney 1939 tenha reconhecido a exis tência do complexo de Édipo ela insistia que ele era devido a certas condições ambientais e não à biologia Se ele fosse resultado da anatomia como Freud defendia então seria universal como Freud realmente acreditava Entretanto Horney 1967 não via evidências de um complexo de Édi po universal Em vez disso ela sustentava que ele é encon trado somente em algumas pessoas e é uma expressão da necessidade neurótica de amor A necessidade neurótica de afeto e a necessidade neurótica de agressão em geral se ini ciam na infância e são duas das três tendências neuróticas básicas Uma criança pode se agarrar apaixonadamente a um dos pais e expressar ciúmes em relação ao outro mas esses comportamentos são meios de aliviar a ansiedade bá sica e não manifestações de um complexo de Édipo com base anatômica Mesmo quando existe um aspecto sexual nesses comportamentos o objetivo principal da criança é a segurança não a relação sexual Feist06indd 122 Feist06indd 122 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 123 Horney 1939 considerava o conceito de inveja do pê nis ainda menos sustentável Ela defendia que não existe mais razão anatômica para as meninas terem inveja do pênis do que para os meninos desejarem um seio ou um útero De fato os meninos por vezes expressam o desejo de ter um bebê mas esse desejo não é resultado de uma inveja do útero masculina universal Horney concordava com Adler que muitas mulheres possuem um protesto viril ou seja elas têm uma crença patológica de que os homens são superiores às mulheres Essa percepção leva facilmente ao desejo neurótico de ser um homem O desejo no entanto não é uma expressão da inveja do pênis mas um desejo por todas aquelas qualida des ou todos aqueles privilégios que em nossa cultura são considerados masculinos Horney 1939 p 108 Essa vi são é quase idêntica à expressa por Erikson Em 1994 Bernard J Paris publicou uma palestra que Horney havia feito em 1935 para um clube de mulheres profissionais e de negócios em que ela resumia suas ideias sobre a psicologia feminina Naquela época Horney era menos interessada nas diferenças entre homens e mulhe res do que em uma psicologia geral para ambos os gêne ros Como a cultura e a sociedade são responsáveis pelas diferenças psicológicas entre homens e mulheres Horney acreditava que não era tão importante tentar encontrar uma resposta para a pergunta acerca das diferenças quanto compreender e analisar o real significado desse interesse intenso pela natureza feminina Horney 1994 p 233 Horney concluiu sua palestra dizendo que De uma vez por todas devemos parar de nos impor tar com o que é feminino e o que não é Tais preocu pações apenas minam nossas energias Os padrões de masculinidade e feminilidade são artificiais Tudo o que definitivamente sabemos hoje acerca das diferenças se xuais é que não conhecemos quais são elas Certamente existem diferenças científicas entre os dois sexos mas nunca conseguiremos descobrir quais são elas até que primeiro desenvolvamos nossas potencialidades como seres humanos Pode parecer paradoxal mas descobri remos a respeito dessas diferenças somente se as esque cermos p 238 PSICOTERAPIA Horney acreditava que as neuroses se desenvolvem a par tir do conflito básico que costuma se iniciar na infância Quando as pessoas tentam resolver esse conflito elas pro vavelmente adotarão uma das três tendências neuróticas são elas em direção contra ou para longe das pessoas Cada uma dessas táticas pode produzir alívio temporário mas acaba por afastar mais a pessoa da realização do self real e a leva mais fundo em uma espiral neurótica Horney 1950 O objetivo geral da terapia horniana é ajudar os pacien tes a crescerem de modo gradual em direção à autorrealiza ção De forma mais específica o objetivo é fazer os pacien tes abandonarem sua autoimagem idealizada renunciarem a sua busca neurótica pela glória e trocarem o autoódio por uma aceitação do self real Infelizmente os pacientes em geral estão convencidos de que suas soluções neuró ticas são corretas portanto relutam em renunciar a suas tendências neuróticas Muito embora os pacientes tenham um forte investimento na manutenção do status quo eles não desejam permanecer doentes Eles encontram pouco prazer em seu sofrimento e gostariam de se livrar dele Todavia eles tendem a resistir à mudança e se apegam àqueles comportamentos que perpetuam sua doença As três tendências neuróticas podem ser definidas em termos favoráveis como amor domínio ou liberdade Como os pacientes costumam ver seus comportamentos nesses termos positivos suas ações parecem sadias certas e dese jáveis Horney 1942 1950 A tarefa do terapeuta é convencer os pacientes de que suas soluções atuais perpetuam em vez de aliviarem a neurose central uma tarefa que leva muito tempo e tra balho árduo Os pacientes podem procurar curas ou solu ções rápidas mas somente o processo longo e laborioso do autoentendimento pode efetuar mudanças positivas O autoentendimento deve ir além da informação ele deve ser acompanhado de uma experiência emocional Os pa cientes precisam compreender seu modo orgulhoso de ser sua imagem idealizada sua busca neurótica pela glória seu autoódio seus deveria sua alienação do self e seus con flitos Além do mais eles precisam ver como todos esses aspectos estão interrelacionados e operam para preservar sua neurose básica Mesmo que o terapeuta possa ajudar os pacientes encorajandoos na direção do autoentendimento o suces so da terapia em suma é construído sobre a autoanálise Horney 1942 1950 Os pacientes devem compreender a diferença entre sua autoimagem idealizada e seu self real Felizmente as pessoas possuem uma força curativa ineren te que permite a elas se moverem de modo inevitável na direção da autorrealização depois que o autoentendimento e a autoanálise são alcançados Quanto às técnicas os terapeutas hornianos usam muitas das mesmas empregadas pelos terapeutas freudia nos em especial a interpretação dos sonhos e a associação livre Horney via os sonhos como tentativas de resolver os conflitos mas as soluções podem ser neuróticas ou sadias Quando os terapeutas fazem uma interpretação correta os pacientes são ajudados a ir na direção de uma melhor compreensão do self real A partir dos sonhos o pacien te pode vislumbrar mesmo na fase inicial da análise um mundo que opera dentro dele que é peculiarmente seu e que é mais válido para seus sentimentos do que o mundo de suas ilusões Horney 1950 p 349 Com a segunda técnica principal a associação livre solicitase que os pacientes digam tudo o que lhes vem Feist06indd 123 Feist06indd 123 271014 1515 271014 1515 124 FEIST FEIST ROBERTS à mente independentemente do quanto possa parecer trivial ou embaraçoso Horney 1987 Eles também são encorajados a expressarem os sentimentos que surgem das associações Como ocorre com a interpretação dos sonhos a associação livre revela por fim a autoimagem idealizada do paciente e as tentativas persistentes mas infrutíferas de atingila Quando a terapia é bemsucedida os pacientes aos poucos vão desenvolvendo confiança em sua capacidade de assumir a responsabilidade por seu desenvolvimento psico lógico Eles se movimentam em direção à autorrealização e a todos aqueles processos que a acompanham eles têm uma compreensão mais profunda e mais clara de seus senti mentos crenças e desejos eles se relacionam com os outros com sentimentos genuínos em vez de usarem as pessoas para resolver conflitos básicos no âmbito profissional assumem um interesse maior pelo trabalho em si em vez de o encararem como um meio de perpetuar uma busca neurótica pela glória PESQUISA RELACIONADA A teoria social psicanalítica de Horney não inspirou direta mente uma grande quantidade de pesquisa na psicologia da personalidade moderna Suas reflexões ou tendências neuróticas no entanto são muito relevantes para boa par te da pesquisa que está sendo conduzida atualmente sobre neuroticismo Frederick Coolidge e colaboradores passa ram alguns anos desenvolvendo e validando um instru mento projetado para classificar os indivíduos quanto às tendências neuróticas Desenvolvimento e validação de uma nova medida das tendências neuróticas de Horney Frederick Coolidge e colaboradores trabalharam em anos recentes para operacionalizar as três tendências neuróticas de Karen Horney desenvolvendo e testando as proprieda des psicométricas de um instrumento denominado Inven tário Tridimensional HorneyCoolidge ou HCTI Horney Coolidge Tridimensional Inventory Coolidge Moor Yamazaki Stewart Segal 2001 Coolidge Segal Benight Danielian 2004 Coolidge Segal Estey Neuzil 2011 O HCTI mede as dimensões da personalidade de Horney em estrita conformidade com sua teoria identificando submis são em direção agressão contra e distanciamento para longe como as dimensões primárias e três facetas para cada uma dessas dimensões Coolidge et al 2001 Para a escala de submissão as três facetas são altruísmo desejo de ajudar os outros necessidade de relacionamentos for te necessidadedesejo de estar em um relacionamento e autorrebaixamento subjugação das próprias necessidades às dos outros Para a escala de agressão as três facetas são malevolência visão malevolente das motivações dos ou tros poder desejo de estar no comando e força bravura tenacidade E por fim para a escala de distanciamento as três facetas são necessidade de solidão preferência por es tar sozinho esquiva resistência às interações pessoais e autossuficiência gostar de ser independente da família e de amigos Cada uma dessas subescalas possui fidedignidade interna aceitável ou seja as questões estão adequadamen te correlacionadas umas com as outras Em um estudo da validade do construto do HCTI Coolidge e colaboradores 2004 encontraram evidências da utilidade da teoria de Horney na compreensão dos transtornos da personalidade O Manual diagnóstico e es tatístico de transtornos mentais quarta edição DSMIV American Psychiatric Association 1994 contém grupos de transtornos da personalidade Os transtornos da per sonalidade do grupo A são conhecidos como os estranhos ou excêntricos e incluem os tipos paranoide esquizoide e esquizotípico Os do grupo B apresentam característi cas dramática emocional ou instável e incluem os tipos antissocial borderline histriônica e narcisista O grupo C com características de ansiedade e medo inclui os tipos esquiva independente e obsessivocompulsiva O estudo de Coolidge e colaboradores mostrou que os transtornos do grupo A estavam negativamente correlacionados com as características do tipo submisso de Horney confirmando que as pessoas com tais psicopatologias não exibem com portamentos de simpatia ou altruísmo e possuem baixa necessidade de relacionamento Em contraste o grupo C relacionavase positivamente com a submissão Para o gru po B a agressão era o fator prognóstico mais forte suge rindo que as pessoas com esses transtornos comportamse de modo instável e com frequência apresentam intenção nociva em relação aos outros e a si mesmas Em outro estudo Coolidge e colaboradores 2011 es tabeleceram as propriedades psicométricas de uma versão infantil e adolescente do HCTI Os autores queriam testar a validade da alegação de Horney de que a experiência cul tural familiar e infantil moldam as três tendências Eles presumiram que se esse fosse o caso as tendências de veriam manifestarse relativamente cedo na vida Os pais de mais de 300 crianças entre 5 e 17 anos preencheram o instrumento revisado e de fato foi encontrada fidedig nidade interna e de testereteste bem como validade de construto Em suma o trabalho de Coolidge e colaboradores com o HCTI sugere fortemente que a teoria de Horney oferece uma maneira parcimoniosa de compreender três facetas importantes da personalidade normal e da perturbada tanto para adultos quanto para crianças Mais pesquisas sobre o valor preditivo desse instrumento em contextos clínicos e não clínicos são justificadas mas por enquan to parece claro que a perspectiva de Horney se mantém na pesquisa psicométrica operacionalizando as três tendên cias neuróticas Feist06indd 124 Feist06indd 124 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 125 O neuroticismo pode vir a ser algo bom A teoria de Horney assim como a maior parte do trabalho em psicologia da personalidade pinta o neuroticismo de forma negativa Com base nas pesquisas revisadas na se ção anterior sobre neuroticismo e objetivos de esquiva e os resultados negativos associados a perspectiva negativa em relação ao neuroticismo é compreensível Algumas pes quisas recentes começaram a investigar as condições sob as quais o neuroticismo poderia não ser totalmente negativo e de modo irônico na realidade ter alguns benefícios Michael Robinson e colaboradores Robinson Ode Wilkowski Amodio 2007 fizeram a pergunta Como alguém pode ser um neurótico de sucesso Com certe za é difícil ser um neurótico de sucesso As pessoas com neuroticismo alto são constantemente atraídas para ob jetivos de esquiva e lidam com a ansiedade básica usan do todas as defesas neuróticas prejudiciais descritas por Horney Mas pode haver alguns casos em que o neuroti cismo é bom especificamente na detecção de ameaças Os neuróticos são predispostos a evitar ameaças e qualquer resultado negativo Portanto Robinson e colaboradores projetaram um estudo para investigar a relação entre o neuroticismo o reconhecimento de ameaças e o humor Eles previram que para aqueles com neuroticismo alto a capacidade de reconhecer com precisão ameaças no am biente estaria relacionada a humor negativo reduzido Em outras palavras a sensibilidade neurótica serve para ajudar as pessoas a reconhecer problemas e consequente mente evitálos do mesmo modo que a esquiva faz com que se sintam melhor Para testar essa hipótese Robinson e colaboradores 2007 levaram 181 estudantes para o laboratório pediram que preenchessem um teste de autorrelato de neuroticis mo e então cumprissem uma tarefa no computador que mensurava a capacidade de detectar ameaças com precisão Depois esses autores avaliaram o que os estudantes fize ram ao cometer um erro na detecção de uma ameaça Se uma pessoa comete um erro a atitude adaptativa seria ir mais devagar e avaliar a situação com mais cuidado Mas nem todos fazem isso e a tarefa de computador usada por Robinson e colaboradores media se as pessoas exibiam a resposta apropriada ao cometerem um erro A tarefa con sistia em uma palavra aparecendo na tela do computador então o participante o mais rápido possível tinha que de terminar se a palavra representava uma ameaça Por exem plo a palavra fedor não representa uma ameaça mas a palavra faca sim O computador acompanhava quanto tempo os participantes levavam para decidir se a palavra era ou não uma ameaça e se o participante havia ou não identificado corretamente a ameaça Além disso quando o participante cometia um erro o computador também registrava quanto tempo o participante levava para deter minar se a palavra seguinte a aparecer na tela representava ou não uma ameaça Depois que os pesquisadores tinham o escore de neuroticismo de cada participante e uma boa medida de como eles detectaram as ameaças e reagiram aos erros solicitavam aos participantes que registrassem seu humor durante os sete dias seguintes É interessante observar que Robinson e colaborado res constataram que existe na verdade uma forma de ser um neurótico de sucesso De forma mais específica eles descobriram que para aqueles que são predispostos a ser neuróticos a capacidade de reagir de modo adaptativo aos erros i e ir mais devagar e pensar com cautela enquanto avaliam a ameaça estava relacionada a experimentar me nos mau humor na vida diária Robinson et al 2007 De modo geral pode não ser algo positivo ser neuró tico e constantemente obcecado em evitar resultados ne gativos mas são limitadas as coisas sobre as quais nossa personalidade está no controle As pessoas neuróticas não podem simplesmente acordar um dia e deixar de serem neuróticas As tendências neuróticas e as defesas relaciona das descritas por Horney são aspectos estáveis e duráveis das personalidades dos indivíduos que provavelmente não irão mudar de repente Portanto é importante perceber que embora muitas pesquisas mostrem o lado sombrio do neuroticismo nem tudo é ruim Inúmeras pessoas neuróti cas são muito habilidosas em evitar resultados negativos e a esquiva desses resultados na verdade as faz se sentirem melhor no dia a dia CRÍTICAS A HORNEY A teoria psicanalítica social de Horney oferece perspecti vas interessantes sobre a natureza da humanidade porém carece de pesquisas atuais que possam apoiar suas supo sições O ponto forte da teoria de Horney é o retrato lú cido da personalidade neurótica Nenhum outro teórico da personalidade escreveu tão bem ou tanto a respeito das neuroses Suas descrições abrangentes das personali dades neuróticas fornecem uma excelente estrutura para a compreensão das pessoas que não são sadias Contudo a preocupação quase que exclusiva com os neuróticos é uma limitação séria de sua teoria Suas referências à personali dade normal ou sadia são gerais e não bem explicadas Ela acreditava que as pessoas por sua própria natureza esfor çamse em direção à autorrealização mas ela não sugeriu um quadro claro do que seria a autorrealização A teoria de Horney é insuficiente em seu poder de gerar pesquisa e de se submeter ao critério de refutação Especulações da teoria não produzem facilmente hipóte ses verificáveis e portanto carecem de verificabilidade e refutação A teoria de Horney foi baseada em grande par te nas experiências clínicas que a colocaram em contato preponderantemente com indivíduos neuróticos Para seu mérito ela relutou em fazer afirmações específicas sobre Feist06indd 125 Feist06indd 125 271014 1515 271014 1515 126 FEIST FEIST ROBERTS indivíduos sadios no âmbito psicológico Como sua teoria lida principalmente com neuróticos ela é classificada como alta na capacidade de organizar o conhecimento dos neuróti cos mas muito baixa para explicar o que é sabido sobre as pessoas em geral Como um guia para a ação a teoria de Horney se classi fica um pouco melhor Professores terapeutas e especifica mente os pais podem usar seus pressupostos referentes ao desenvolvimento de tendências neuróticas para proporcio nar um ambiente afetivo seguro e de aceitação para seus alunos pacientes ou filhos Além dessas condições no en tanto a teoria não é específica o suficiente para dar ao pra ticante um curso de ação claro e detalhado Nesse critério a teoria recebe uma classificação baixa A teoria de Horney é internamente coerente com termos definidos de modo claro e usados de maneira uniforme No livro de Horney Neurose e crescimento humano 1950 seus conceitos e formulações são precisos coerentes e ine quívocos Entretanto quando todos os seus trabalhos são examinados surge um quadro diferente Ao longo dos anos ela usou expressões como necessidades neuróticas e ten dências neuróticas ora separadamente ora de modo inter cambiável Além disso as expressões ansiedade básica e conflito básico nem sempre foram diferenciadas de modo claro Essas inconsistências tornam o todo de seu traba lho um tanto incoerente mas novamente sua teoria final 1950 é um modelo de lucidez e coerência Outro critério de uma teoria útil é a parcimônia e a teoria final de Horney conforme expressa no último capí tulo de Neurose e crescimento humano Horney 1950 Cap 15 recebe uma pontuação alta nesse item Esse capítulo em particular que fornece uma introdução útil e concisa à teoria do desenvolvimento neurótico de Horney é relativa mente simples direto e escrito de forma clara CONCEITO DE HUMANIDADE O conceito de humanidade de Horney foi fundamentado qua se inteiramente em suas experiências clínicas com pacientes neuróticos assim sua visão da personalidade humana é bas tante influenciada pelo seu conceito de neurose De acordo com Horney a diferença principal entre uma pessoa sadia e um indivíduo neurótico é o grau de compulsividade com o qual cada um se movimenta em direção contra ou para longe das pessoas A natureza compulsiva das tendências neuróticas suge re que o conceito de humanidade de Horney é determinista Contudo uma pessoa sadia tem uma grande parcela de livre escolha Mesmo um indivíduo neurótico por meio da psico terapia e do trabalho árduo pode obter algum controle sobre esses conflitos intrapsíquicos Por essa razão a teoria social psicanalítica de Horney é classificada como um pouco mais alta em livrearbítrio do que em determinismo Segundo os mesmos princípios a teoria de Horney é um pouco mais otimista do que pessimista Horney acreditava que as pessoas possuem poderes curativos inerentes que as conduzem na direção da autorrealização Se a ansiedade bási ca o sentimento de se sentir sozinho e desamparado em um mundo potencialmente hostil puder ser evitada as pessoas se sentirão seguras em suas relações pessoais e como conse quência desenvolverão personalidades sadias Minha crença é de que o homem possui a capacidade bem como o desejo de desenvolver suas potencialidades e se tor nar um ser humano decente e que isso se deteriora se sua relação com os outros e portanto consigo mesmo conti nuar sendo perturbada Acredito que o homem pode mudar e continuar mudando enquanto viver Horney 1945 p 19 Na dimensão da causalidade versus teleologia Horney adotou uma posição intermediária Ela afirmou que o obje tivo natural para as pessoas é a autorrealização mas também acreditava que as experiências da infância podem bloquear esse movimento O passado de uma maneira ou de outra está sempre contido no presente Horney 1939 p 153 No entanto incluída nas experiências passadas das pessoas estão a formação de uma filosofia de vida e um conjunto de valores que dão alguma direção a seu presente e a seu futuro Ainda que Horney tenha adotado uma postura interme diária em relação à motivação consciente versus inconsciente ela acreditava que a maioria das pessoas tem apenas uma consciência limitada de suas motivações Os neuróticos es pecialmente têm pouco entendimento de si mesmos e não veem que seus comportamentos garantem a continuação de suas neuroses Eles rotulam de forma indevida as caracterís ticas pessoais formulandoas em termos socialmente aceitá veis enquanto permanecem em grande parte sem consciên cia de seu conflito básico de seu autoódio de seu orgulho neurótico e de suas reivindicações neuróticas bem como de sua necessidade de um triunfo vingativo O conceito de Horney de personalidade enfatizava for temente as influências sociais mais do que as biológicas As diferenças psicológicas entre homens e mulheres por exem plo devemse mais às expectativas culturais e sociais do que à anatomia Para Horney o complexo de Édipo e a inveja do pênis não são consequências inevitáveis da biologia mas mol dados por forças sociais Horney não ignorou completamente os fatores biológicos mas sua ênfase recaiu sobre as influên cias sociais Feist06indd 126 Feist06indd 126 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 127 Termoschave e conceitos Horney insistia que as influências sociais e culturais eram mais importantes do que as biológicas As crianças que carecem de carinho e afeto não con seguem atender a suas necessidades de segurança e satisfação Os sentimentos de isolamento e desamparo desenca deiam a ansiedade básica ou sentimentos de isolamen to e desamparo em um mundo potencialmente hostil A incapacidade das pessoas de usarem diferentes tá ticas em suas relações com os outros gera o conflito básico ou seja incompatibilidade das tendências ao movimento em direção a contra ou para longe das pessoas Horney denominou os movimentos em direção a con tra ou para longe das pessoas de tendências neuróticas As pessoas sadias resolvem seu conflito básico usando todas as três tendências neuróticas enquanto os neu róticos adotam compulsivamente apenas uma delas As três tendências neuróticas movimento em di reção a contra ou para longe das pessoas são uma combinação de 10 necessidades neuróticas que Hor ney havia identificado anteriormente Tanto as pessoas sadias quanto as neuróticas expe rimentam conflitos intrapsíquicos que se tornaram parte de seu sistema de crenças Os dois conflitos intrapsíquicos principais são a autoimagem idealiza da e o autoódio A autoimagem idealizada resulta em tentativas neu róticas de construir um quadro endeusado de si mesmo O autoódio é a tendência dos neuróticos de odiar e menosprezar seu self real As diferenças psicológicas entre homens e mulheres re sultam de expectativas culturais e sociais e não da biologia O objetivo da psicoterapia horniana é promover o crescimento em direção à realização do self real Como a teoria de Horney direciona o olhar quase que ex clusivamente para as neuroses ela tende a destacar as seme lhanças entre as pessoas mais do que as singularidades Nem todos os neuróticos são iguais é claro e Horney descreveu três tipos básicos os desamparados os hostis e os afastados No entanto ela colocou pouca ênfase nas diferenças individuais dentro de cada uma dessas categorias Feist06indd 127 Feist06indd 127 271014 1515 271014 1515 CAPÍTULO 7 Fromm Psicanálise Humanista Panorama da psicanálise humanista Biografia de Erich Fromm Pressupostos básicos de Fromm Necessidades humanas Ligação Transcendência Enraizamento Sentimento de identidade Estrutura de orientação Resumo das necessidades humanas O fardo da liberdade Mecanismos de fuga Autoritarismo Destrutividade Conformidade Liberdade positiva Orientações do caráter Orientações não produtivas Receptiva Exploradora Acumulativa Mercantil Orientação produtiva Transtornos da personalidade Necrofilia Narcisismo maligno Simbiose incestuosa Psicoterapia Métodos de investigação de Fromm O caráter social em uma vila mexicana Um estudo psicohistórico de Hitler Pesquisa relacionada Estranhamento da cultura e bemestar Autoritarismo e medo Críticas a Fromm Conceito de humanidade Termoschave e conceitos Fromm Feist07indd 128 Feist07indd 128 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 129 P or que a guerra Por que as nações não se dão bem Por que os povos de países diferentes não podem se relacionar entre si se não de uma forma respeitosa pelo menos de uma forma aceitável Como as pessoas po dem evitar a violência que conduz e perpetua a matança no campo de batalha Quando um jovem ponderava sobre essas questões uma guerra devastava sua terra natal Essa luta armada que ele via em primeira mão era a I Guerra Mundial a Grande Guerra a Guerra do Fim de Todas as Guerras Ele via que o povo de seu país Alemanha odiava os povos dos países inimigos principalmente França e In glaterra e ele tinha certeza de que os povos da França e da Inglaterra detestavam o povo da Alemanha A guerra não fazia qualquer sentido Por que pessoas normalmen te amistosas e racionais regrediam para essa matança despropositada Tais questões não foram as primeiras a ter incomoda do o jovem Ele também estava perdido tentando enten der a morte de uma bela e jovem artista que se suicidou imediatamente após o falecimento do pai um evento que deixou o menino de 12 anos confuso e perplexo A jovem mulher uma amiga da família do menino era bonita e talentosa enquanto seu pai era velho e sem atrativos No entanto ela deixou uma nota de suicídio dizendo que dese java ser enterrada com o pai O menino não conseguia en tender o desejo dela nem suas ações A bela artista parecia ter muito por que viver mas ela escolheu a morte em vez de uma vida sem o pai Como a jovem mulher pôde tomar tal decisão Uma terceira experiência que ajudou a moldar a vida inicial daquele jovem foi o treinamento por professores tal múdicos Ele foi especialmente tocado pelo tom compas sivo e redentor dos profetas do Velho Testamento Isaías Oseias e Amós Ainda que mais tarde ele tenha abandona do a religião institucionalizada essas experiências precoces com os sábios talmúdicos combinadas com o repúdio pela guerra e a perplexidade com o suicídio da jovem artista contribuíram de modo substancial para a visão humanista de Erich Fromm PANORAMA DA PSICANÁLISE HUMANISTA A tese básica de Erich Fromm é que as pessoas dos tempos modernos foram afastadas de sua união préhistórica com a natureza e também umas das outras embora tenham o poder de raciocínio previsão e imaginação Essa combina ção de falta de instintos animais e presença do pensamen to racional torna os humanos uma aberração do universo A autoconsciência contribui para os sentimentos de soli dão isolamento e desamparo Para escapar de tais senti mentos as pessoas procuram se unir à natureza e aos seres humanos seus companheiros Formado em psicanálise freudiana e influenciado por Karl Marx Karen Horney e outros teóricos de orientação social Fromm desenvolveu uma teoria da personalida de que enfatiza a influência dos fatores sociobiológicos da história da economia e da estrutura de classes Sua psicanálise humanista pressupõe que a separação da humanidade do mundo natural produziu sentimentos de solidão e isolamento uma condição denominada ansie dade básica Fromm foi mais do que um teórico da personalidade Ele foi crítico social psicoterapeuta filósofo estudioso da bíblia antropólogo cultural e psicobiógrafo Sua psicanálise humanista olha para as pessoas a partir de uma perspectiva histórica e cultural em vez de estritamente psicológica Ela é menos preocupada com o indivíduo e mais preocupada com as características que são comuns a uma cultura Fromm assume uma visão evolucionista da humanida de Quando os humanos surgiram como uma espécie sepa rada na evolução animal eles perderam a maioria de seus instintos animais porém ganharam um aumento no de senvolvimento do cérebro que permitiu a autoconsciência a imaginação o planejamento e a dúvida Fromm 1992 p 5 Essa combinação de instintos fracos e cérebro alta mente desenvolvido torna os humanos distintos de todos os outros animais Um evento mais recente na história humana foi a as censão do capitalismo que por um lado contribuiu para o aumento do tempo de lazer e a liberdade pessoal mas por outro resultou em sentimentos de ansiedade isolamento e impotência O custo da liberdade defendia Fromm ul trapassou seus benefícios O isolamento forjado pelo capi talismo foi intolerável levando as pessoas a duas alternati vas 1 escapar da liberdade para dentro de dependências interpessoais ou 2 avançar para a autorrealização por meio de amor produtivo e trabalho produtivo BIOGRAFIA DE ERICH FROMM Assim como a visão de todos os teóricos da personalida de a concepção de natureza humana de Erich Fromm foi moldada pelas experiências da infância Para Fromm uma vida familiar judaica o suicídio de uma jovem mulher e o extremo nacionalismo do povo alemão contribuíram para sua visão de humanidade Fromm nasceu em 23 de março de 1900 em Frank furt Alemanha era filho único de pais judeus ortodoxos de classe média Seu pai Naphtali Fromm era filho e neto de rabinos Sua mãe Rosa Krause Fromm era sobrinha de Ludwig Krause um estudioso talmúdico renomado Quando menino Fromm estudou o Velho Testamento com vários estudiosos proeminentes homens que eram considerados humanistas de tolerância extraordinária Landis Tauber 1971 p xi A psicologia humanista de Feist07indd 129 Feist07indd 129 271014 1515 271014 1515 130 FEIST FEIST ROBERTS Fromm pode ser reconhecida nos textos desses profetas com sua visão de paz e harmonia universal e seus ensina mentos de que existem aspectos éticos na história que as nações podem agir de modo certo ou errado e que a histó ria possui suas leis morais p x O início da infância de Fromm não foi exatamente ideal Ele lembrava que teve pais muito neuróticos e que ele era provavelmente uma criança neurótica de modo in tolerável Evans 1966 p 56 Ele via seu pai como mal humorado e sua mãe como inclinada à depressão Além do mais cresceu em dois mundos muito distintos um era o mundo judeu ortodoxo tradicional e o outro o mundo capitalista moderno Essa existência dividida criou ten sões que eram quase insuportáveis mas que geraram em Fromm uma tendência vitalícia a ver os eventos a partir de mais de uma perspectiva Fromm 1986 Hausdorff 1972 A vinheta de abertura do capítulo relatou o suicídio chocante e intrigante de uma jovem e atraente artista que se matou para que pudesse ser enterrada com o pai que tinha acabado de falecer Como era possível que essa jo vem pudesse preferir a morte a permanecer viva para os prazeres da vida e da pintura Fromm 1962 p 4 Essa pergunta assombrou Fromm pelos 10 anos seguintes e por fim levou a um interesse em Sigmund Freud e na psicanáli se Quando Fromm leu Freud começou a aprender sobre o complexo de Édipo e a compreender como um evento assim poderia ser possível Mais tarde Fromm interpretou a de pendência irracional que a jovem mulher tinha do pai como uma relação simbiótica não produtiva mas naqueles pri meiros anos ele se contentou com a explicação freudiana Fromm tinha 14 anos quando começou a I Guerra Mundial muito jovem para lutar mas não muito jovem para ser impressionado pela irracionalidade do naciona lismo alemão que teve oportunidade de observar direta mente Ele tinha certeza de que os britânicos e os fran ceses eram igualmente irracionais e mais uma vez foi atingido por uma pergunta perturbadora Como pessoas normalmente racionais e pacíficas podiam ser tão domi nadas por ideologias nacionalistas tão dispostas a matar tão preparadas para morrer Quando a guerra terminou em 1918 eu era um jovem profundamente preocupado e obcecado pela questão de como a guerra era possível pelo desejo de entender a irracionalidade do comportamento em massa humano e por um desejo apaixonado pela paz e pelo entendimento internacional Fromm 1962 p 9 Durante a adolescência Fromm foi tocado profunda mente pelos escritos de Freud e Karl Marx mas também foi estimulado pelas diferenças entre os dois Conforme avan çava nos estudos passava a questionar a validade dos dois sistemas Meu principal interesse estava claramente traça do Eu queria compreender as leis que regem a vida do ho mem individual e as leis da sociedade Fromm 1962 p 9 Após a guerra Fromm se tornou socialista embora naquela época tenha se recusado a ingressar no Partido Socialista Em vez disso ele concentrou seus estudos em psicologia filosofia e sociologia na Universidade de Hei delberg onde obteve o grau de doutor em sociologia aos 22 ou 25 anos Fromm era uma pessoa tão reservada que seus biógrafos não concordam acerca de muitos fatos de sua vida Hornstein 2000 Ainda não confiante de que sua formação fosse sufi ciente para responder a perguntas tão perturbadoras quanto o suicídio de uma jovem mulher ou a insanidade da guer ra Fromm se voltou para a psicanálise acreditando que ela prometia respostas às perguntas da motivação humana que não eram oferecidas em outros campos De 1925 até 1930 ele estudou psicanálise primeiro em Munique de pois em Frankfurt e finalmente no Instituto Psicanalítico de Berlim onde foi analisado por Hanns Sachs um aluno de Freud Apesar de Fromm nunca ter se encontrado com Freud a maioria de seus professores durante aqueles anos incluía adeptos rigorosos da teoria freudiana Knapp 1989 Em 1926 o mesmo ano em que repudiou o judaís mo ortodoxo Fromm se casou com Frieda Reichmann sua analista mais de 10 anos mais velha do que ele Reichmann mais tarde obteria fama internacional por seu trabalho com pacientes esquizofrênicos G P Knapp 1989 sustentava que Reichmann era claramente uma fi gura materna para Fromm e que ela até mesmo se parecia com a mãe dele Gail Hornstein 2000 acrescentou que Fromm parecia ter ido diretamente da posição de predile to da mãe para relacionamentos com inúmeras mulheres mais velhas que o mimavam De qualquer forma o casa mento de Fromm e FrommReichmann não era feliz Eles se separaram em 1930 mas só se divorciaram anos mais tarde após ambos imigrarem para os Estados Unidos Em 1930 Fromm e vários outros fundaram o Instituto Alemão para Psicanálise em Frankfurt mas com a ameaça nazista se tornando mais intensa logo se mudaram para a Suíça onde se associaram ao recentemente fundado Ins tituto de Pesquisa Social em Genebra Em 1933 Fromm aceitou um convite para fazer uma série de conferências no Instituto Psicanalítico de Chicago No ano seguinte imi grou para os Estados Unidos e abriu um consultório parti cular na cidade de Nova York Tanto em Chicago quanto em Nova York Fromm reto mou o contato com Karen Horney a quem havia conhecido casualmente no Instituto Psicanalítico de Berlim Horney que era 15 anos mais velha do que Fromm acabou se tor nando uma forte figura materna e foi sua mentora Knapp 1989 Fromm juntouse à recémformada Associação para o Avanço da Psicanálise AAP de Horney em 1941 Ain da que ele e Horney tivessem sido amantes em 1943 a discórdia dentro da associação os tornou rivais Quando os alunos solicitaram que Fromm que não possuía diploma de médico desse um curso clínico a organização se dividiu quanto a suas qualificações Com Horney ficando contra ele Fromm junto a Harry Stack Sullivan Clara Thompson Feist07indd 130 Feist07indd 130 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 131 e vários outros membros deixaram a AAP e imediata mente fizeram planos para dar início a uma organização alternativa Quinn 1987 Em 1946 esse grupo fundou o Instituto de Psiquiatria Psicanálise e Psicologia William Alanson White com Fromm presidindo tanto o corpo do cente quanto a comissão de formação Em 1944 Fromm se casou com Henny Gurland uma mulher dois anos mais moça do que ele e cujo interesse em religião e pensamento místico estimulou as inclinações de Fromm para o zen budismo Em 1951 o casal se mudou para o México em busca de um clima mais favorável para Gurland que sofria de artrite reumatoide Fromm se asso ciou ao corpo docente da Universidade Nacional Autôno ma na cidade do México onde fundou um departamento psicanalítico no curso de medicina Depois que sua esposa morreu em 1952 ele continuou a viver no México e via java entre sua casa em Cuernavaca e os Estados Unidos onde exerceu várias funções acadêmicas incluindo profes sor de psicologia na Universidade Estadual de Michigan de 1957 a 1961 e professor adjunto na Universidade de Nova York de 1962 a 1970 Enquanto estava no México conheceu Annis Freeman com quem se casou em 1953 Em 1968 Fromm sofreu um ataque cardíaco grave e foi forçado a reduzir o ritmo de sua agenda lotada Em 1974 e ainda doente ele e sua esposa se mudaram para Muralto Suíça onde ele morreu em 18 de março de 1980 poucos dias antes de completar 80 anos Que tipo de pessoa era Erich Fromm Aparentemen te diferentes pessoas o viam de formas bastante distin tas Hornstein 2000 listou inúmeros traços opostos que foram usados para descrever a personalidade de Fromm De acordo com esse levantamento Fromm era autoritário gentil pretensioso arrogante devoto autocrático tímido sincero hipócrita e brilhante Fromm começou sua carreira profissional como psicote rapeuta usando a técnica psicanalítica ortodoxa mas depois de 10 anos tornouse entediado com a abordagem freudia na e desenvolveu seus métodos mais ativos e confrontadores Fromm 1986 1992 Sobel 1980 Ao longo dos anos suas ideias culturais sociais econômicas e psicológicas alcan çaram um público amplo Seus livros mais conhecidos são O medo à liberdade 1941 Análise do homem 1947 Psicanáli se e religião 1950 A sociedade sadia The Sane Society 1955 A arte de amar 1956 Conceito marxista do homem 1961 O coração do homem 1964 Anatomia da destrutividade huma na 1973 Ter ou ser 1976 e Do amor à vida 1986 A teoria da personalidade de Fromm se vale de muitas fontes e talvez seja a teoria de mais ampla fundamentação abordada neste livro Landis e Tauber 1971 destacaram cinco influências importantes no pensamento de Fromm 1 o ensino dos rabinos humanistas 2 o espírito revolu cionário de Karl Marx 3 as ideias igualmente revolucio nárias de Sigmund Freud 4 a racionalidade do zen budis mo conforme defendida por D T Suzuki e 5 os textos de Johann Jakob Bachofen 18151887 sobre sociedades matriarcais PRESSUPOSTOS BÁSICOS DE FROMM O pressuposto mais básico de Fromm é que a personali dade individual pode ser compreendida somente à luz de história humana A discussão da situação humana deve preceder a da personalidade e a psicologia deve estar ba seada em um conceito antropológico da existência huma na Fromm 1947 p 45 Fromm 1947 acreditava que os humanos ao contrá rio dos outros animais tinham sido arrancados de sua união préhistórica com a natureza Eles não possuem ins tintos poderosos para se adaptarem a um mundo em mu dança em vez disso eles adquiriram a faculdade de pensar uma condição chamada por Fromm de dilema humano As pessoas experimentam esse dilema básico porque se separa ram da natureza e no entanto apresentam a capacidade de ter consciência de si mesmas como seres isolados Portanto a capacidade humana de pensar é tanto uma bênção quan to uma maldição Por um lado ela permite que as pessoas sobrevivam mas por outro ela as força a tentar resolver di cotomias básicas insolúveis Fromm se referiu a essas forças opostas como dicotomias existenciais porque elas estão enraizadas na própria existência das pessoas Os humanos não podem eliminar essas dicotomias existenciais eles po dem somente reagir a elas tendo em vista sua cultura e suas personalidades individuais A primeira e mais fundamental dicotomia é aquela en tre a vida e a morte A autoconsciência e a razão nos dizem que iremos morrer mas tentamos negar essa dicotomia postulando a vida após a morte uma tentativa que não altera o fato de que nossas vidas terminam com a morte Uma segunda dicotomia existencial é que os humanos são capazes de conceitualizar o objetivo da autorrealização completa mas ao mesmo tempo têm a consciência de que a vida é muito curta para se atingir esse objetivo Somente se o tempo de vida de um indivíduo fosse idêntico ao da hu manidade é que ele poderia participar do desenvolvimento humano que ocorre no processo histórico Fromm 1947 p 42 Algumas pessoas tentam resolver essa dicotomia as sumindo que seu próprio período histórico é a conquista suprema da humanidade enquanto outras postulam uma continuação do desenvolvimento após a morte A terceira dicotomia existencial é que as pessoas estão em última análise sozinhas embora não consigam tolerar o isolamento Elas têm consciência de si como indivíduos separados e ao mesmo tempo acreditam que sua felicidade depende de se unirem a outros humanos seus semelhan tes Mesmo que as pessoas não possam resolver completa mente o problema da solidão versus união elas precisam fazer uma tentativa ou correr o risco de enlouquecer Feist07indd 131 Feist07indd 131 271014 1515 271014 1515 132 FEIST FEIST ROBERTS NECESSIDADES HUMANAS Como animais os humanos são motivados por necessida des fisiológicas tais como fome sexo e segurança porém eles nunca conseguem resolver seu dilema humano satisfa zendo essas necessidades animais Somente as necessidades humanas distintivas podem mover as pessoas em direção à reunião com o mundo natural Tais necessidades existen ciais emergiram durante a evolução da cultura humana provenientes das tentativas do homem de encontrar uma resposta para sua existência e evitar a loucura Na verdade Fromm 1955 defendia que uma diferença importante en tre os indivíduos de mentalidade sadia e aqueles neuróticos ou insanos é que as pessoas saudáveis encontram respos tas para sua existência respostas que correspondem mais completamente a suas necessidades humanas totais Em outras palavras os indivíduos saudáveis são mais capazes de encontrar formas de se reunirem ao mundo resolvendo produtivamente as necessidades humanas de ligação trans cendência enraizamento sentimento de identidade e estrutura de orientação Ligação A primeira necessidade humana ou existencial é a ligação o impulso para a união com outras pessoas Fromm postu lou três formas básicas por meio das quais uma pessoa pode se relacionar com o mundo 1 submissão 2 poder e 3 amor Uma pessoa pode se submeter a outra a um grupo ou a uma instituição para se tornar única com o mundo Dessa maneira ela transcende a separação de sua existência indi vidual tornandose parte de alguém ou algo maior do que ela mesma e experimenta sua identidade em conexão com a força à qual se submeteu Fromm 1981 p 2 Enquanto as pessoas submissas procuram um relacio namento com indivíduos dominadores aquelas que bus cam o poder acolhem os parceiros submissos Quando uma pessoa submissa e um indivíduo dominador se encontram com frequência estabelecem uma relação simbiótica a qual é satisfatória para ambos Ainda que essa simbiose possa ser gratificante ela bloqueia o crescimento em direção à integridade e à saúde psicológica Os dois parceiros vivem um no outro e um para o outro satisfazendo sua ânsia de intimidade embora sofrendo de falta de força interna e autoconfiança que exigem liberdade e independência Fromm 1981 p 2 As pessoas em relações simbióticas são atraídas uma para a outra não pelo amor mas por uma necessidade de sesperada de ligação uma necessidade que nunca pode ser completamente satisfeita por essa parceria Subjacentes à união encontramse sentimentos inconscientes de hos tilidade As pessoas em relações simbióticas acusam seus parceiros de não serem capazes de satisfazer plenamente suas necessidades Elas acabam procurando submissão ou poder adicional e em consequência tornamse cada vez mais dependentes dos parceiros e cada vez menos um in divíduo Fromm acreditava que o amor é o único caminho pelo qual uma pessoa pode se unir ao mundo e ao mesmo tem po atingir individualidade e integridade Ele definiu amor como uma união com alguém ou algo externo a si com a condição de manter a separação e a integridade do próprio self Fromm 1981 p 3 Amor envolve compartilhamento e comunhão com o outro embora permita à pessoa a li berdade de ser única e separada Ele possibilita que uma pessoa satisfaça a necessidade de ligação sem abdicar da integridade e da independência No amor duas pessoas se tornam uma enquanto continuam a ser duas Em A arte de amar Fromm 1956 identificou cuidado responsabilidade respeito e conhecimento como os qua tro elementos básicos comuns a todas as formas de amor genuíno Alguém que ama outra pessoa precisa cuidar e estar disposto a tomar conta dela Amor também significa responsabilidade ou seja uma disposição e capacidade para responder Uma pessoa que ama as outras responde às ne cessidades físicas e psicológicas delas respeitaas pelo que são e evita a tentação de tentar mudálas Contudo as pes soas só podem respeitar as outras se tiverem conhecimento delas Conhecer os outros significa vêlos a partir do ponto de vista deles Assim cuidado responsabilidade respeito e conhecimento estão todos interligados em uma relação de amor Transcendência Tal como outros animais os humanos são jogados no mundo sem seu consentimento ou desejo e depois são removidos dele novamente sem seu consentimento ou sua vontade Mas ao contrário de outros animais os seres humanos são impulsionados pela necessidade de transcendência definida como a ânsia de se colo car acima de uma existência passiva e acidental e entrar no reino da intencionalidade e da liberdade Fromm 1981 p 4 Assim como a ligação pode ser perseguida por meio de métodos produtivos ou não produtivos a transcendência pode ser buscada mediante abordagens positivas ou negativas As pessoas podem transcender sua natureza passiva criando vida ou destruindoa Mes mo que outros animais possam criar vida por meio da reprodução somente os humanos estão conscientes de si como criadores Além disso os humanos podem ser cria tivos de outras maneiras Eles podem criar arte religiões ideias leis bens materiais e amor Criar significa sermos ativos e nos importarmos com o que criamos Mas também podemos transcender a vida destruindoa e assim nos colocando acima de nossas ví timas mortas Em Anatomia da destrutividade humana Fromm 1973 argumentou que os humanos são a única Feist07indd 132 Feist07indd 132 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 133 espécie a usar a agressividade maligna ou seja matar por outras razões além da sobrevivência Apesar de a agressi vidade maligna ser uma paixão dominante e poderosa em alguns indivíduos e culturas ela não é comum a todos os humanos Ao que parece ela era desconhecida para mui tas sociedades préhistóricas além de algumas sociedades primitivas contemporâneas Enraizamento Uma terceira necessidade existencial é o enraizamento ou a necessidade de estabelecer raízes ou se sentir em casa novamente no mundo Quando os humanos evoluíram como uma espécie separada eles perderam seu lar no mun do natural Ao mesmo tempo sua capacidade para o pensa mento possibilitou aos humanos perceberem que estavam sem um lar sem raízes Os sentimentos consequentes de isolamento e desamparo se tornaram insuportáveis O enraizamento também pode ser procurado por meio de estratégias produtivas ou não produtivas Com a estraté gia produtiva as pessoas se desprendem da órbita da mãe para nascerem integralmente isto é elas se relacionam de modo ativo e criativo com o mundo e se tornam inteiras ou integradas Esse novo vínculo com o mundo natural confere segurança e restabelece um sentimento de perten cimento e enraizamento No entanto as pessoas também podem procurar enraizamento por meio da estratégia não produtiva de fixação uma relutância tenaz em avançar para além da segurança protetora proporcionada pela mãe As pessoas que buscam o enraizamento por meio da fixa ção têm medo de dar o passo seguinte ao nascimento de serem desmamadas do seio da mãe Elas possuem uma ânsia profunda de serem atendidas cuidadas protegidas por uma figura maternal elas são as que aparentam ser in dependentes mas que ficam com medo e inseguras quan do a proteção materna é retirada Fromm 1955 p 40 O enraizamento também pode ser observado filogene ticamente na evolução da espécie humana Fromm concor dava com Freud no sentido de que os desejos incestuosos são universais mas discordava da crença freudiana de que eles fossem essencialmente sexuais De acordo com Fromm 1955 p 4041 os sentimentos incestuosos estão funda mentados na ânsia arraigada de permanecer no ou retor nar ao útero que tudo envolve ou no seio que tudo nutre Fromm foi influenciado pelas ideias de Johann Jakob Ba chofen 18611967 sobre as primeiras sociedades matriar cais Ao contrário de Freud que acreditava que as sociedades primitivas eram patriarcais Bachofen sustentava que a mãe era a figura central nesses grupos sociais antigos Era ela quem provia o enraizamento para seus filhos e os motiva va a desenvolverem sua individualidade e pensamento ou a ficarem fixados e incapazes de um crescimento psicológico A forte predileção de Fromm 1997 pela teoria de Bachofen da situação edípica centrada na mãe comparada com a concepção de Freud centrada no pai é coerente com sua preferência por mulheres mais velhas A primeira espo sa de Fromm Frieda FrommReichmann era 10 anos mais velha do que ele e a sua amante por um longo tempo Ka ren Horney tinha 15 anos mais A concepção de Fromm do complexo de Édipo como um desejo de retornar ao útero ou ao seio materno ou a uma pessoa com uma função de maternagem deve ser entendida à luz de sua atração por mulheres mais velhas Sentimento de identidade A quarta necessidade humana é por um sentimento de identidade ou a capacidade de termos consciência de nós mesmos como uma entidade separada Como fomos afastados da natureza precisamos formar um conceito de nosso self sermos capazes de dizer Sou eu ou Sou o sujeito de minhas ações Fromm 1981 acreditava que as pessoas primitivas se identificavam mais intimamente com seu clã e não se viam como indivíduos que existis sem à parte de seu grupo Mesmo durante a época medie val as pessoas eram identificadas em grande parte por seu papel social na hierarquia feudal Em concordância com Marx Fromm defendia que a ascensão do capitalis mo deu às pessoas mais liberdade econômica e política No entanto essa liberdade só forneceu a uma minoria de pessoas um verdadeiro sentimento de eu A identidade da maioria das pessoas ainda reside na vinculação aos ou tros ou a instituições como nação religião ocupação ou grupo social Em vez da identidade préindividualista do clã desen volvese uma nova identidade gregária em que o sen timento de identidade repousa sobre o sentimento de um inquestionável pertencimento ao grupo O fato de essa uniformidade e conformidade frequentemente não serem reconhecidas como tais e de serem cobertas pela ilusão da individualidade não altera os fatos p 9 Sem um sentimento de identidade as pessoas não pode riam manter sua sanidade e essa ameaça constitui uma moti vação poderosa para fazer quase tudo para adquirir um senti mento de identidade Os neuróticos tentam se ligar a pessoas poderosas ou a instituições sociais ou políticas As pessoas sadias no entanto têm menos necessidade de se adequar ao rebanho menos necessidade de abandonar seu sentimento de self Elas não precisam abrir mão de sua liberdade e indi vidualidade para se enquadrarem na sociedade porque elas possuem um sentimento de identidade autêntico Estrutura de orientação A necessidade humana final é por uma estrutura de orientação Sendo dissociados da natureza os huma nos precisam de um mapa uma estrutura de orientação para trilhar seu caminho pelo mundo Sem esse mapa os humanos seriam confusos e incapazes de agir de modo Feist07indd 133 Feist07indd 133 271014 1515 271014 1515 134 FEIST FEIST ROBERTS proposital e coerente Fromm 1973 p 230 Uma estru tura de orientação possibilita que as pessoas organizem os vários estímulos que lhes são impingidos As pessoas que possuem uma estrutura de orientação sólida conseguem compreender esses eventos e fenômenos mas aquelas que não possuem uma estrutura de orientação confiável se es forçam para colocar tais eventos dentro de algum tipo de estrutura para poder compreendêlos Por exemplo um norteamericano com uma estrutura de orientação frágil e pouca compreensão da história pode tentar entender os eventos de 11 de setembro de 2001 atribuindoos a pes soas más ou cruéis Cada pessoa possui uma filosofia uma forma coerente de olhar para as coisas Muitas pessoas tomam por certa essa filosofia ou estrutura de referência de modo que tudo que entra em conflito com a sua visão é julgado como lou co ou absurdo Tudo o que for coerente com ela é visto simplesmente como bom senso As pessoas farão quase tudo para adquirir e manter uma estrutura de orientação mesmo indo ao extremo de seguir filosofias irracionais ou bizarras como as defendidas por líderes políticos ou reli giosos fanáticos Um mapa sem um objetivo ou destino não possui valor Os humanos têm a capacidade mental de imaginar muitos caminhos alternativos a seguir Para impedir que fiquem insanos no entanto eles precisam de um objetivo final ou objeto de devoção Fromm 1976 p 137 De acordo com Fromm esse objetivo ou objeto de devoção canaliza as energias da pessoa em uma única direção capacita o indi víduo a transcender sua existência isolada e confere signi ficado a sua vida Resumo das necessidades humanas Além das necessidades fisiológicas ou animais as pessoas são motivadas por cinco necessidades distintivamente hu manas ligação transcendência enraizamento um senti mento de identidade e uma estrutura de orientação Essas necessidades evoluíram da existência humana como uma espécie separada e têm como objetivo mover as pessoas em direção a uma vinculação com o mundo natural Fromm acreditava que a falta de satisfação em alguma dessas ne cessidades era intolerável e resultava em loucura Assim as pessoas são fortemente impulsionadas a satisfazêlas de uma forma ou outra de forma positiva ou negativa A Tabela 71 mostra que a ligação pode se satisfeita por submissão dominação ou amor mas somente o amor produz a satisfação autêntica a transcendência pode ser satisfeita pela destrutividade ou pela criatividade mas apenas esta última permite a alegria o enraizamento pode ser satisfeito pela fixação à mãe ou avançando para o nasci mento completo e a totalidade o sentimento de identidade pode ser fundamentado na adaptação ao grupo ou pode ser satisfeito por meio do movimento criativo em direção à individualidade e uma estrutura de orientação pode ser irracional ou racional mas somente uma filosofia racional pode servir como base para o crescimento da personalida de total Fromm 1981 O FARDO DA LIBERDADE A tese central dos textos de Fromm é que os humanos fo ram afastados da natureza embora continuem sendo parte do mundo natural sujeitos às mesmas limitações físicas que os outros animais Como o único animal que possui autoconsciência imaginação e razão os humanos são aberrações do universo Fromm 1955 p 23 A razão é tanto uma bênção quanto uma maldição Ela é responsável por sentimentos de isolamento e solidão mas é também o processo que possibilita aos humanos se unirem novamen te ao mundo Do ponto de vista histórico conforme as pessoas fo ram adquirindo cada vez mais liberdade econômica e polí tica elas passaram a se sentir cada vez mais isoladas Por exemplo durante a Idade Média as pessoas tinham relati vamente pouca liberdade pessoal Elas estavam ancoradas em papéis prescritos na sociedade os quais proporciona vam segurança confiabilidade e certeza Então quando adquiriram mais liberdade para se movimentar social e geograficamente elas descobriram que estavam livres da segurança de uma posição fixa no mundo Elas não mais estavam amarradas a uma região geográfica a uma ordem social ou a uma ocupação Elas foram separadas de suas raí zes e se isolaram umas das outras Existe uma experiência paralela em nível pessoal Quando as crianças se tornam mais independentes da mãe elas ganham mais liberdade para expressarem sua individualidade movimentaremse sem supervisão es colherem seus amigos e suas roupas e assim por diante TABELA 71 Resumo das necessidades humanas de Fromm Componentes negativos Componentes positivos Ligação Submissão ou dominação Amor Transcendência Destrutividade Criatividade Enraizamento Fixação Totalidade Sentimento de identidade Adaptação a um grupo Individualidade Estrutura de orientação Objetivos irracionais Objetivos racionais Feist07indd 134 Feist07indd 134 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 135 Ao mesmo tempo experimentam o fardo da liberdade isto é elas estão livres da segurança de ser um com a mãe Tanto no nível social quanto individual esse fardo da liberdade resulta em ansiedade básica o sentimento de estar sozi nho no mundo Mecanismos de fuga Como a ansiedade básica produz um sentimento assus tador de isolamento e solidão as pessoas tentam escapar da liberdade por meio de uma variedade de mecanismos de fuga Em O medo à liberdade Fromm 1941 identificou três mecanismos primários de fuga autoritarismo destru tividade e conformidade Diferentemente das tendências neuróticas de Horney ver Cap 6 os mecanismos de fuga de Fromm são forças impulsionadoras em pessoas nor mais tanto individual quanto coletivamente Autoritarismo Fromm 1941 definiu autoritarismo como a tendência a abandonar a independência do próprio self individual e fundilo com alguém ou algo fora de si para adquirir a for ça que o indivíduo não possui p 141 Essa necessidade de se unir a um parceiro poderoso pode assumir uma das duas seguintes formas masoquismo ou sadismo O ma soquismo resulta de sentimentos básicos de impotência fraqueza e inferioridade e tem como objetivo a união do self com uma pessoa ou instituição mais poderosa Os es forços masoquistas com frequência são disfarçados como amor ou lealdade mas ao contrário do amor e da lealda de eles nunca podem contribuir de modo positivo para a independência e a autenticidade Comparado ao masoquismo o sadismo é mais neuró tico e mais prejudicial socialmente Assim como o maso quismo o sadismo objetiva a redução da ansiedade básica por meio da aquisição da unidade com outras pessoas Fromm 1941 identificou três tipos de tendências sádi cas todas elas mais ou menos agrupadas A primeira é a necessidade de tornar os outros dependentes de si e obter poder sobre aqueles que são fracos A segunda é a compul são a explorar os outros a tirar vantagem deles e a usálos para o próprio benefício ou prazer A terceira tendência sádica é o desejo de ver os outros sofrerem física ou psi cologicamente Destrutividade Como o autoritarismo a destrutividade está enraizada nos sentimentos de solidão isolamento e impotência Diferen temente do sadismo e do masoquismo no entanto a des trutividade não depende de uma relação contínua com outra pessoa em vez disso ela procura acabar com a outra pessoa Tanto indivíduos quanto nações podem empregar a destrutividade como mecanismo de fuga Ao destruir pes soas e objetos um indivíduo ou uma nação tenta recuperar os sentimentos de poder perdidos Entretanto ao destruir outras pessoas ou nações os indivíduos destrutivos elimi nam muito do mundo exterior e assim adquirem um tipo de isolamento pervertido Conformidade Um terceiro meio de fuga é a conformidade As pessoas que se conformam tentam fugir de um sentimento de solidão e isolamento desistindo da sua individualidade e se tornando aquilo que os outros desejam que elas sejam Assim elas são como robôs reagindo de forma previsível e mecânica aos caprichos dos outros Elas raramente ex pressam sua própria opinião apegamse a padrões de com portamento esperados e com frequência parecem rígidas e automatizadas No mundo moderno as pessoas estão desimpedidas de muitos vínculos externos e são livres para agir de acordo com a própria vontade mas ao mesmo tempo elas não sa bem o que querem pensam ou sentem Elas se conformam como autômatos a uma autoridade anônima e adotam um self que não é autêntico Quanto mais elas se conformam mas impotentes se sentem quanto mais impotentes se sentem mais elas precisam se conformar As pessoas so mente podem romper esse ciclo de conformidade e impo tência atingindo a autorrealização ou a liberdade positiva Fromm 1941 Liberdade positiva A emergência da liberdade política e econômica não con duz inevitavelmente às amarras do isolamento e da impotência Uma pessoa pode ser livre e não sozinha crítica e ainda não ser cheia de dúvidas independente e ainda ser parte integrante da humanidade Fromm 1941 p 257 As pessoas podem atingir esse tipo de li berdade chamada de liberdade positiva por meio de uma expressão espontânea e completa de suas potencia lidades racionais e emocionais A atividade espontânea costuma ser vista em crianças pequenas e em artistas que têm pouca ou nenhuma tendência a se conformarem ao que os outros desejam que eles sejam Eles agem de acordo com sua natureza básica e não segundo as regras convencionais A liberdade positiva representa uma solução de suces so para o dilema humano de fazer parte do mundo natural e ainda estar apartado dele Por meio da liberdade positiva e da atividade espontânea as pessoas superam o terror da solidão alcançam a união com o mundo e mantêm a indi vidualidade Fromm 1941 sustentava que o amor e o tra balho são os dois componentes da liberdade positiva Pelo amor e pelo trabalho ativos os humanos se unem uns aos outros e com o mundo sem sacrificarem sua integridade Eles afirmam sua singularidade como indivíduos e atingem a realização integral de suas potencialidades Feist07indd 135 Feist07indd 135 271014 1515 271014 1515 136 FEIST FEIST ROBERTS ORIENTAÇÕES DO CARÁTER Na teoria de Fromm a personalidade é refletida na orien tação do caráter ou seja na forma relativamente per manente de um indivíduo se relacionar com as pessoas e as coisas Fromm 1947 definiu personalidade como a totalidade de qualidades psíquicas herdadas e adquiridas que são características de um indivíduo e que tornam o in divíduo único p 50 A mais importante das qualidades adquiridas da personalidade é o caráter definido como o sistema relativamente permanente de todos os esforços não ins tintivos por meio dos quais o homem se relaciona com o mundo humano e natural Fromm 1973 p 226 Fromm 1992 acreditava que o caráter é um substituto dos instintos Em vez de agir de acordo com seus instintos as pessoas atuam de acordo com seu caráter Se elas tivessem que pensar so bre as consequências de seu comportamento suas ações seriam muito ineficientes e incoerentes Agindo de acordo com seus traços de caráter os humanos podem se compor tar de modo eficiente e coerente As pessoas se relacionam com o mundo de duas ma neiras adquirindo e usando as coisas assimilação e relacio nandose com o self e com os outros socialização Em ter mos gerais os indivíduos podem se relacionar com as coisas e com as pessoas de modo produtivo ou não produtivo Orientações não produtivas É possível adquirir as coisas por meio de uma das quatro orientações não produtivas 1 recebendo as coisas passiva mente 2 explorando ou tomando as coisas à força 3 acu mulando os objetos e 4 comercializando ou trocando coisas Fromm usou a expressão não produtiva para sugerir estra tégias que não aproximam as pessoas da liberdade positiva e da autorrealização No entanto as orientações não produtivas não são inteiramente negativas cada uma tem tanto um as pecto negativo quanto um aspecto positivo A personalidade é sempre uma mistura ou uma combinação de diversas orien tações mesmo que uma delas seja dominante Receptiva Os caracteres receptivos consideram que a origem de todo o bem está fora deles e que o único modo possível de se re lacionarem com o mundo é recebendo as coisas incluindo amor conhecimento e bens materiais Eles são mais preocu pados com receber do que com dar e querem que os outros os inundem com amor ideias e presentes As qualidades negativas das pessoas receptivas são passividade submissão e falta de autoconfiança Seus tra ços positivos são lealdade aceitação e confiança Exploradora Assim como as pessoas receptivas os caracteres explo radores acreditam que a origem de todo o bem está fora deles Ao contrário das pessoas receptivas no entanto os exploradores tomam agressivamente o que desejam em vez de recebêlo de modo passivo Em suas relações sociais é provável que usem astúcia ou força para tomarem o côn juge as ideias ou a propriedade de alguém Um homem ex plorador pode se apaixonar por uma mulher casada não tanto porque está realmente interessado nela mas porque deseja explorar o marido dela No terreno das ideias as pessoas exploradoras preferem roubar ou plagiar em vez de criar Diferentes dos caracteres receptivos elas estão dispostas a expressar uma ideia mas esta costuma ser uma ideia que foi surrupiada Pelo lado negativo os caracteres exploradores são ego cêntricos vaidosos arrogantes e sedutores Pelo lado po sitivo são impulsivos orgulhosos charmosos e autocon fiantes Acumulativa Em lugar de valorizarem as coisas externas a eles os carac teres acumuladores procuram poupar aquilo que já obti veram Eles mantêm tudo guardado e não se desfazem de nada Eles guardam dinheiro sentimentos e pensamentos para si mesmos Em uma relação amorosa tentam possuir a pessoa amada e preservar a relação em vez de permitir que ela evolua Tendem a viver no passado e a rejeitar o que é novo Eles são semelhantes aos caracteres anais de Freud pois se mostram excessivamente organizados teimosos e avarentos Fromm 1964 no entanto acreditava que os traços anais dos caracteres acumuladores não são resultado de impulsos sexuais mas fazem parte de seu interesse ge ral em tudo o que não é vivo incluindo as fezes Os traços negativos da personalidade acumuladora incluem rigidez esterilidade obstinação compulsividade e falta de criatividade as características positivas são orga nização limpeza e pontualidade Mercantil Os caracteres mercantis são fruto do comércio moderno no qual a transação não é mais pessoal mas realizada por grandes corporações sem rosto Coerentes com as deman das do comércio moderno os caracteres mercantis se veem como produtos com seu valor pessoal dependendo de seu valor de troca isto é sua capacidade de se venderem As personalidades mercantis ou de troca precisam se ver sob constante demanda elas precisam fazer os outros acreditarem que são habilidosas e vendáveis Sua seguran ça pessoal repousa sobre um terreno instável porque elas precisam ajustar sua personalidade ao que está em moda no momento Elas desempenham muitos papéis e são guia das pelo lema Sou como você deseja que eu seja Fromm 1947 p 73 As pessoas com caráter mercantil não têm passado ou futuro e não possuem princípios ou valores permanentes Feist07indd 136 Feist07indd 136 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 137 Elas apresentam menos traços positivos do que as outras orientações porque são basicamente recipientes vazios esperando para serem preenchidos com a característica que for mais comercializável Os traços negativos dos caracteres mercantis são falta de perspectiva oportunismo inconsistência e desperdício Algumas de suas qualidades positivas são mutabilidade liberalidade adaptabilidade e generosidade Orientação produtiva A orientação produtiva possui três dimensões trabalhar amar e pensar Como as pessoas produtivas trabalham em direção à liberdade positiva e a uma realização contínua de seu potencial elas são as mais sadias de todos os tipos de caráter Somente por meio da atividade produtiva as pessoas podem resolver o dilema humano básico ou seja unirse com o mundo e com os outros ao mesmo tempo mantendo a singularidade e a individualidade Essa solução apenas pode ser alcançada por meio de trabalho amor e pensamento produtivos As pessoas sadias valorizam o trabalho não como um fim em si mas como um meio de autoexpressão criativa Elas não trabalham para explorar os outros para se comer cializarem para se afastarem dos outros ou para acumular bens materiais desnecessários Elas não são preguiçosas nem compulsivamente ativas elas usam o trabalho como um meio de suprir as necessidades da vida O amor produtivo é caracterizado pelas quatro qua lidades amorosas discutidas anteriormente cuidado responsabilidade respeito e conhecimento Além dessas quatro características as pessoas sadias possuem biofilia ou seja um amor apaixonado pela vida e por tudo o que está vivo As pessoas biofílicas desejam promover toda a vida a vida das pessoas dos animais das plantas das ideias e das culturas Elas são preocupadas com o cresci mento e o desenvolvimento delas mesmas e também dos outros Os indivíduos biofílicos querem influenciar as pessoas por meio do amor da razão e do exemplo não pela força Fromm acredita que o amor pelos outros e o amor por si mesmo são inseparáveis mas que o amor a si vem pri meiro Todas as pessoas têm a capacidade de amor produ tivo mas a maioria não o atinge porque não consegue a princípio amar a si mesmas O pensamento produtivo que não pode ser separado do trabalho e do amor produtivos é motivado por um interes se ativo em outra pessoa ou objeto As pessoas sadias veem os outros como eles são e não como elas gostariam que fossem Do mesmo modo elas se conhecem pelo que são e não têm a necessidade de se autoiludirem Fromm 1947 acreditava que as pessoas sadias de pendem de uma combinação das cinco orientações do ca ráter Sua sobrevivência como indivíduos sadios depende da capacidade de receber as coisas das outras pessoas de tomar as coisas quando apropriado de preservar as coisas de trocar as coisas e de trabalhar amar e pensar produtiva mente TRANSTORNOS DA PERSONALIDADE Se as pessoas sadias são capazes de trabalhar amar e pen sar produtivamente então as personalidades não sadias são marcadas por problemas nessas três áreas em espe cial a falha em amar de modo produtivo Fromm 1981 sustentava que as pessoas com perturbações psicológicas eram incapazes de amar e não conseguiam estabelecer uma união com os outros Ele discutiu três transtornos da personalidade graves necrofilia narcisismo maligno e simbiose incestuosa Necrofilia O termo necrofilia significa amor pela morte e em geral se refere a uma perversão sexual na qual uma pessoa de seja contato sexual com um cadáver Entretanto Fromm 1964 1973 usou necrofilia em um sentido mais gene ralizado para denotar uma atração pela morte Necrofilia é uma orientação de caráter alternativa à biofilia As pes soas naturalmente amam a vida mas quando condições sociais tolhem a biofilia elas podem adotar uma orienta ção necrofílica As personalidades necrofílicas odeiam a humanidade elas são racistas belicistas e intimidadoras elas amam a carnificina a destruição o terror e a tortura e têm prazer em destruir a vida Elas são fortes defensoras da lei e da ordem adoram conversar sobre doença morte e enterros e são fascinadas por sujeira decadência cadáveres e fezes Elas preferem a noite ao dia e adoram operar na escuridão e na sombra As pessoas necrófilas não se comportam simplesmen te de uma maneira destrutiva antes seu comportamen to destrutivo é um reflexo de seu caráter básico Todas as pessoas se comportam de forma agressiva e destrutiva às vezes mas o estilo de vida integral do indivíduo necrófilo gira em torno de morte destruição doença e decadência Narcisismo maligno Da mesma forma que todas as pessoas exibem algum comportamento necrofílico todas também têm algumas tendências narcisistas As pessoas sadias manifestam uma forma benigna de narcisismo ou seja um interes se pelo próprio corpo No entanto na forma maligna o narcisismo impede a percepção da realidade de modo que tudo o que pertence a uma pessoa narcisista é alta mente valorizado e tudo o que pertence a outro indiví duo é desvalorizado Feist07indd 137 Feist07indd 137 271014 1515 271014 1515 138 FEIST FEIST ROBERTS Os indivíduos narcisistas são preocupados consi go mesmos mas essa preocupação não está limitada a se admirarem em um espelho A preocupação com o próprio corpo com frequência leva a hipocondria ou uma atenção obsessiva à própria saúde Fromm 1964 também discutiu a hipocondria moral uma preocupação com culpa acerca de transgressões prévias As pessoas que são fixadas em si mesmas têm maior probabilidade de internalizar as expe riências e se prenderem à saúde física e às virtudes morais As pessoas narcisistas possuem o que Horney ver Cap 6 denominou reivindicações neuróticas Elas atin gem a segurança apegandose à crença distorcida de que suas qualidades pessoais extraordinárias as tornam su periores a todas as outras pessoas Como o que elas têm aparência psique saúde é tão maravilhoso elas acre ditam que não precisam fazer nada para provar seu valor Seu senso de valor depende de sua autoimagem narcisista e não de suas realizações Quando seus esforços são criti cados pelos outros elas reagem com raiva e fúria frequen temente atacando seus críticos e tentando destruílos Se a crítica é esmagadora os narcisistas podem ser incapazes de destruíla e então voltam sua raiva contra si mesmos O resultado é depressão um sentimento de desvalorização Ainda que depressão culpa intensa e hipocondria aparen temente nada tenham a ver com autoglorificação Fromm acreditava que cada uma delas podia ser sintomática de narcisismo subjacente profundo Simbiose incestuosa Uma terceira orientação patológica é a simbiose inces tuosa ou uma extrema dependência da mãe ou de um substituto materno A simbiose incestuosa é uma forma exagerada da mais comum e mais benigna fixação à mãe Os homens com fixação na mãe precisam de uma mulher que cuide deles e os admire eles se sentem um tanto an siosos e deprimidos quando suas necessidades não são atendidas Essa condição é relativamente normal e não interfere muito na vida diária Com a simbiose incestuosa no entanto as pessoas são inseparáveis do indivíduo hospedeiro sua personalidade é misturada com a da outra pessoa e sua identidade indivi dual é perdida A simbiose incestuosa se origina nos primei ros meses de vida como um apego natural à pessoa que rea liza a maternagem O apego é mais crucial e fundamental do que qualquer interesse sexual que possa se desenvolver durante o período edípico Fromm discordava de Freud sugerindo que o apego à mãe se baseia na necessidade de segurança e não de sexo A busca sexual não é a causa da fixação na mãe mas o resultado Fromm 1964 p 99 As pessoas que vivem em relações simbióticas inces tuosas sentemse extremamente ansiosas e amedrontadas se essa relação for ameaçada Elas acreditam que não con seguem viver sem o substituto da mãe O hospedeiro não precisa ser outro humano ele pode ser uma família um ne gócio uma igreja uma nação A orientação incestuosa dis torce a habilidade de pensar destrói a capacidade de amor autêntico e impede as pessoas de atingirem independência e integridade Alguns indivíduos patológicos apresentam os três transtornos da personalidade ou seja eles são atraídos pela morte necrofilia têm prazer em destruir aqueles a quem consideram inferiores narcisismo maligno e possuem uma relação simbiótica neurótica com a mãe ou com um substituto dela simbiose incestuosa Tal caso forma o que Fromm denominou de síndrome de decadên cia Ele opõe as pessoas patológicas às que são marcadas pela síndrome de crescimento composta pelas qualidades opostas biofilia amor e liberdade positiva Conforme apresentado na Figura 71 a síndrome de decadência e a síndrome de crescimento são formas extremas do Ne cro filia Bi ofil ia Si m bi os e i nc est uosa Libe rda de p os iti va Síndrome de decadência Síndrome de crescimento Desenvolvimento na média Desenvolvimento na média Amor pelos outros Narcisismo FIGURA 71 Três orientações patológicas necrofilia narcisismo e simbiose incestuosa convergem para formar a síndrome de decadência enquanto três orientações sadias biofilia amor pelos outros e liberdade positiva convergem para formar a síndrome de crescimento A maioria das pessoas possui um desenvolvimento na média e não é motivada nem pela síndrome de decadência nem pela síndrome de crescimento Feist07indd 138 Feist07indd 138 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 139 desenvolvimento a maioria das pessoas possui uma saú de psicológica na média PSICOTERAPIA Fromm formouse como freudiano ortodoxo mas fi cou entediado com as técnicas analíticas convencionais Com o tempo passei a ver que meu tédio surgia porque eu não estava em contato com a vida de meus pacientes Fromm 1986 p 106 Ele então desenvolveu seu pró prio sistema de terapia o qual chamou de psicanálise hu manista Comparado com Freud Fromm era muito mais preocupado com os aspectos interpessoais de um encon tro terapêutico Ele acreditava que a finalidade da terapia é que os pacientes venham a se conhecer Sem o conheci mento de nós mesmos não podemos conhecer qualquer outra pessoa ou coisa Para Fromm os pacientes procuram a terapia bus cando a satisfação de suas necessidades humanas bási cas ligação transcendência enraizamento sentimento de identidade e estrutura de orientação Assim a terapia deve ser construída sobre uma relação pessoal entre tera peuta e paciente Como a comunicação precisa é essencial para o crescimento terapêutico o terapeuta deve se rela cionar como um ser humano com outro com absoluta concentração e sinceridade Fromm 1963 p 184 Nesse espírito de ligação o paciente irá se sentir mais uma vez em unidade com outra pessoa Ainda que transferência e contratransferência possam existir nessa relação o ponto importante é que dois seres humanos reais estão envolvi dos um com o outro Como parte da tentativa de atingir a comunicação compartilhada Fromm pedia aos pacientes que revelassem seus sonhos Ele acreditava que os sonhos assim como os contos de fadas e os mitos são expressos em linguagem simbólica a única linguagem universal que os humanos desenvolveram Fromm 1951 Como os sonhos têm um significado que vai além do sonhador Fromm pedia aos pacientes que fizessem associações com o material oníri co Nem todos os símbolos oníricos no entanto são uni versais alguns são acidentais e dependem da disposição do sonhador antes de ir dormir outros são regionais ou nacionais e dependem do clima da geografia e do dialeto Muitos símbolos possuem vários significados devido à variedade de experiências associadas a eles Por exemplo o fogo pode simbolizar afeto e lar para algumas pessoas mas morte e destruição para outras Do mesmo modo o sol pode representar uma ameaça para pessoas do deserto mas crescimento e vida para indivíduos de climas frios Fromm 1963 acreditava que os terapeutas não de viam tentar ser científicos demais na compreensão de um paciente Apenas com a atitude de ligação é que outra pessoa pode ser verdadeiramente compreendida O tera peuta não deve considerar o paciente como um doente ou um objeto mas como uma pessoa com as mesmas necessi dades humanas que todos os indivíduos possuem MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO DE FROMM Fromm reuniu dados sobre a personalidade humana a par tir de muitas fontes incluindo a psicoterapia a antropo logia cultural e a psicohistória Nesta seção examinamos brevemente seu estudo antropológico da vida em uma vila mexicana e sua análise psicobiográfica de Adolf Hitler O caráter social em uma vila mexicana No início da década de 1950 e se estendendo até a metade da década de 1960 Fromm e um grupo de psicólogos psi canalistas antropólogos médicos e estatísticos estudaram o caráter social em Chiconcuac uma vila mexicana que fica a 75 km da Cidade do México O grupo entrevistou todos os adultos e metade das crianças nessa cidade agrícola de 162 moradias e cerca de 800 habitantes As pessoas da vila eram principalmente fazendeiros que ganhavam a vida com pequenos lotes de terra fértil Fromm e Michael Maccoby 1970 descreveram essas pessoas da seguinte forma Eles são egoístas desconfiados das motivações uns dos outros pessimistas quanto ao futuro e fatalistas Mui tos parecem submissos e autodepreciativos embora tenham o potencial para rebelião e revolução Eles se sentem inferiores às pessoas da cidade mais ignorantes e com menos cultura Existe um sentimento preponde rante de impotência para influenciar seja a natureza seja a máquina industrial que os pressiona p 37 Poderíamos esperar encontrar as orientações do cará ter de Fromm nessa sociedade Depois de viver entre os aldeões e obter sua aceitação a equipe de pesquisadores empregou uma variedade de técnicas concebidas para res ponder a essa e a outras questões Incluídas entre as ferra mentas de pesquisa encontravamse entrevistas extensas relatos de sonhos questionários detalhados e duas técnicas projetivas o Método das Manchas de Tinta de Rorschach e o Teste de Apercepção Temática TAT Fromm acreditava que o caráter mercantil era produ to do comércio moderno e que tinha maior probabilidade de ocorrer em sociedades onde a comercialização já não é mais pessoal e as pessoas se consideram produtos Não é de causar surpresa que a equipe de pesquisa tenha desco berto que a orientação mercantil não existia entre esses camponeses Entretanto os pesquisadores não encontraram evi dências de outros tipos de caráter sendo o mais comum o tipo receptivo não produtivo As pessoas dessa orientação tendiam a admirar os outros e despendiam muita energia tentando agradar aqueles a quem consideravam superio res Nos dias de pagamento os trabalhadores que eram Feist07indd 139 Feist07indd 139 271014 1515 271014 1515 140 FEIST FEIST ROBERTS desse tipo aceitavam a remuneração de forma servil como se de alguma forma não a merecessem O segundo tipo de personalidade encontrado com mais frequência foi o caráter acumulativoprodutivo As pessoas desse tipo eram trabalhadoras produtivas e independentes Em geral cultivavam o próprio lote de terra e guardavam parte de cada colheita para semente e alimentação para o caso de perda da colheita futura A acumulação em vez do consumo era essencial para suas vidas A personalidade exploradora não produtiva foi identifica da como uma terceira orientação do caráter Os homens des se tipo tinham maior probabilidade de entrar em brigas com faca ou arma de fogo enquanto as mulheres tendiam a ser fofoqueiras malintencionadas Fromm Maccoby 1970 Apenas cerca de 10 da população era predominantemente exploradora uma porcentagem surpreendentemente pe quena considerandose a extrema pobreza da comunidade Um número ainda menor de habitantes foi descrito como explorador produtivo não mais do que 15 indivíduos em toda a vila Entre eles estavam os homens mais ricos e mais poderosos do local indivíduos que tinham acumu lado capital tirando vantagem da nova tecnologia agrícola além de um aumento recente no turismo Eles também ti nham se beneficiado com os aldeões receptivos não produ tivos mantendoos economicamente dependentes Em geral Fromm e Maccoby 1970 relataram uma notável semelhança entre as orientações do caráter nessa vila mexicana e as orientações teóricas que Fromm havia sugerido alguns anos antes Tal estudo antropológico é cla ro não pode ser considerado uma confirmação da teoria de Fromm Como um dos investigadores principais do estudo Fromm pôde apenas ter encontrado o que ele esperava en contrar Um estudo psicohistórico de Hitler Depois de Freud ver Cap 2 Fromm examinou documen tos históricos para delinear o retrato psicológico de uma pessoa proeminente uma técnica chamada de psicohistória ou psicobiografia O sujeito do estudo psicobiográfico mais completo de Fromm foi Freud Fromm 1959 mas Fromm 1941 1973 1986 também escreveu detalhadamente so bre a vida de Adolf Hitler Fromm considerava Hitler o exemplo mais evidente de uma pessoa com síndrome de decadência apresentan do uma combinação de necrofilia narcisismo maligno e simbiose incestuosa Hitler apresentava as três psicopato logias Ele era atraído pela morte e pela destruição estrita mente focado nos próprios interesses e impulsionado por uma devoção incestuosa à raça germânica dedicandose de modo fanático a impedir que seu sangue fosse poluído pelos judeus e por outros não arianos Diferentemente de alguns psicanalistas que procuram apenas na infância precoce indícios da personalidade futu ra Fromm acreditava que cada estágio do desenvolvimento é importante e que nada na vida pregressa de Hitler aponta va inevitavelmente na direção da síndrome de decadência Quando criança Hitler foi um tanto mimado por sua mãe mas a indulgência dela não causou sua patologia pos terior No entanto estimulou sentimentos narcisistas e de importância pessoal A mãe de Hitler nunca se tornou para ele uma pessoa a quem ele fosse amorosa ou terna mente vinculado Ela era um símbolo das deusas proteto ras e admiráveis mas também a deusa da morte e do caos Fromm 1973 p 378 Hitler foi um aluno acima da média na escola fun damental mas um fracassado no ensino médio Du rante a adolescência entrou em conflito com o pai que queria que ele fosse mais responsável e se tornasse um funcionário público estável Hitler por sua vez um tanto irrealisticamente desejava ser artista Também durante essa época começou a se perder cada vez mais na fan tasia Seu narcisismo acendeu uma paixão ardente pela grandiosidade como artista ou arquiteto porém a rea lidade o levou a repetidos fracassos nessas áreas Cada fracasso causava uma ferida narcísica mais grave e uma humilhação mais profunda do que a anterior Fromm 1973 p 395 Conforme seus fracassos aumentavam em número ele foi ficando mais envolvido em seu mundo de fantasia mais ressentido com os outros mais motivado para a vingança e mais necrofílico A terrível percepção de Hitler do fracasso como artis ta foi atenuada pela deflagração da I Guerra Mundial Sua ambição feroz podia agora ser canalizada para ser um grande herói de guerra lutando por sua terra natal Apesar de não ter sido um grande herói ele era um soldado res ponsável disciplinado e zeloso Após a guerra no entanto experimentou mais fracassos Não só sua amada nação ha via perdido como os revolucionários dentro da Alemanha Para Fromm Adolf Hitler personificava a síndrome de decadência Feist07indd 140 Feist07indd 140 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 141 haviam atacado tudo o que era sagrado para o nacionalis mo reacionário de Hitler e eles venceram A vitória dos revolucionários conferiu à destrutividade de Hitler a sua forma final e inextirpável Fromm 1973 p 394 Necrofilia não se refere simplesmente ao comporta mento ela permeia todo o caráter de uma pessoa E assim foi com Hitler Depois que chegou ao poder ele exigia que seus inimigos não se rendessem meramente mas que tam bém fossem aniquilados Sua necrofilia era expressa na mania de destruição de prédios e cidades nas ordens para matar pessoas defeituosas no enfado e na chacina de mi lhões de judeus Outro traço que Hitler manifestava era o narcisismo maligno Ele era interessado somente em si mesmo em seus planos e em sua ideologia Sua convicção de que pode ria construir um reich de mil anos mostra um sentimento inflamado de importância pessoal Ele não tinha interesse em ninguém a não ser que a pessoa estivesse a seu serviço Suas relações com as mulheres careciam de amor e ternura ele parece têlas usado unicamente para o prazer pessoal pervertido em especial para satisfação voyeurística De acordo com a análise de Fromm Hitler também possuía uma simbiose incestuosa manifestada por sua devoção apaixonada não à sua mãe real mas à raça ger mânica Coerente com esse traço ele também era sadoma soquista introvertido e carecia de sentimentos de amor ge nuíno ou compaixão Todas essas características discutia Fromm não faziam de Hitler um psicótico Elas no entan to o tornavam um homem doente e perigoso Insistindo para que as pessoas não vissem Hitler como desumano Fromm 1973 concluiu sua psicohistória com as seguintes palavras Qualquer análise que distorça a ima gem de Hitler privandoo de sua humanidade intensifica ria a tendência a ficarmos cegos aos Hitlers potenciais a menos que eles tenham chifres p 433 PESQUISA RELACIONADA Apesar de a obra de Erich Fromm ser estimulante e escla recedora sua ideias produziram pouca pesquisa empíri ca no campo da psicologia da personalidade Uma razão para isso pode ser a abordagem ampla que Fromm adota Em muitos aspectos suas ideias são mais sociológicas do que psicológicas uma vez que sua teoria trata da alie nação da cultura e da natureza em geral dois temas que costumam ser abordados mais em aulas de sociologia do que de psicologia Isso não significa no entanto que tais temas amplos não sejam importantes para a psicologia da personalidade Muito ao contrário ainda que amplo e sociológico o estranhamento da própria cultura é um tema que pode ser examinado no nível individual em es tudos psicológicos e pode ter implicações para o bemes tar Além disso as ideias de Fromm sobre autoritarismo levaram a investigações empíricas recentes em particular à associação entre medo e crenças autoritárias Estranhamento da cultura e bemestar É importante lembrar que o tema central da teoria da per sonalidade de Erich Fromm envolve estranhamento e alie nação os humanos foram apartados do ambiente natural ao qual foram projetados para habitar e se distanciaram uns dos outros Além do mais de acordo com Fromm a riqueza material criada pelo capitalismo forneceu tanta li berdade que muito honestamente não sabemos o que fazer com nós mesmos Ironicamente ansiedade e isolamento resultam de muita liberdade Mark Bernard e colaborado res 2006 procuraram testar esses componentes centrais da teoria de Fromm pelo uso de medidas de autorrelato em uma amostra de universitários na GrãBretanha De forma específica os pesquisadores queriam testar se as discre pâncias entre as crenças de uma pessoa e a maneira como ela percebia as crenças de sua sociedade levavam ou não a sentimentos de estranhamento Setenta e dois participantes responderam um ques tionário que consistia de diversos valores que tinham sido identificados por pesquisas prévias como presentes em muitas culturas diferentes como a importância da liberdade os bens materiais a espiritualidade entre ou tros Em primeiro lugar os participantes classificaram cada valor para o quanto ele era um princípio orientador em suas vidas e então classificaram os mesmos valores para o quanto cada um era um princípio orientador para sua sociedade Administrar o questionário dessa manei ra permitiu que os pesquisadores computassem até que ponto cada participante mantinha valores que eram dife rentes de sua sociedade em geral Em segundo o estra nhamento foi avaliado por meio do preenchimento de um questionário com itens que indagavam o quanto os participantes se sentiam diferentes de sua sociedade e até que ponto eles sentiam que não eram normais em sua cultura Os achados do estudo foram conforme o previsto Quanto mais uma pessoa relatava que seus valores eram discrepantes da sociedade em geral mais provável era que ela tivesse um forte sentimento de estranhamento Bernard Gebauer Maio 2006 Isso não é de causar surpresa Basicamente se seus valores são diferentes dos de sua sociedade ou cultura você se sente diferente e não normal Isto também é precisamente o que prevê a teoria de Fromm Quanto mais distante as pessoas se sentem daqueles que estão à sua volta em sua comunidade mais provável é se sentirem isoladas Para testar melhor as ideias de Fromm Bernard e co laboradores 2006 examinaram se o fato de ter um sen timento de estranhamento da própria cultura estava rela cionado a sentimentos mais pronunciados de ansiedade Feist07indd 141 Feist07indd 141 271014 1515 271014 1515 142 FEIST FEIST ROBERTS e depressão Os mesmos participantes que preencheram as medidas de autorrelato das discrepâncias dos valores e do estranhamento também completaram uma medida de ansiedade e depressão Como os pesquisadores previram e como discute a teoria de Fromm quanto mais estranha mento da sociedade as pessoas sentiam em geral mais ansiosas e deprimidas elas eram Apesar de o estranha mento da sociedade em geral ser prejudicial ao bemestar havia um tipo específico de estranhamento que era ruim para as pessoas Aqueles que apresentavam um sentimen to de estranhamento de seus amigos relatavam sentimen tos pronunciados de ansiedade e depressão Esse achado sugere que sentir estranhamento da sociedade em geral pode tornar as pessoas mais suscetíveis a sentimentos de depressão mas tais sentimentos podem ser diminuídos se o indivíduo puder encontrar um grupo de pessoas que compartilham suas crenças mesmo que elas não sejam as crenças da sociedade em geral É particularmente preju dicial no entanto se as pessoas sentem estranhamento não só da sociedade em geral como também daqueles que estão mais próximos delas Tomados em conjunto esses achados apoiam clara mente as ideias de Erich Fromm A sociedade moderna nos proporciona inumeráveis conveniências e benefícios Po rém essas conveniências têm um preço Liberdade pessoal e um sentimento de individualidade são importantes mas quando essas forças levam as pessoas a estranharem sua comunidade isso pode ser prejudicial a seu bemestar Autoritarismo e medo Fundamental para a teoria de Fromm 1941 é que a li berdade é ironicamente assustadora Os indivíduos pro curam fugir da liberdade por meio de mecanismos como o autoritarismo a destruição ou a conformidade para ate nuar o medo do isolamento Logo depois da publicação de Fromm Medo à liberdade os estudiosos interessaram se particularmente pelo mecanismo de fuga autoritário A ideia central por trás de Medo à liberdade é que as pes soas são atraídas por respostas absolutas e pela certeza mesmo que associadas a ditadores autoritários quando elas se sentem com medo e inseguras Depois de Fromm Adorno e colaboradores publicaram um livro intitulado A personalidade autoritária em 1950 e esse trabalho es timulou uma grande quantidade de pesquisas que con tinuam até hoje sobre a questão do autoritarismo como uma orientação da personalidade Entretanto muito desse trabalho se desviou da conceitualização original de Fromm e focou os resultados do autoritarismo incluindo preconceito e hostilidade Recentemente no entanto J Corey Butler no prelo 2009 procurou reabrir a questão da relação entre medo e autoritarismo Adorno 1950 postulou que o autorita rismo é a consequência de parentalidade excessivamente severa durante a infância levando a um sentimento gene ralizado de medo em relação ao mundo interpessoal O tra balho de Butler entretanto é um esforço para confirmar a ideia de Fromm de que os sentimentos de impotência ge rados pelo isolamento da sociedade livre moderna levam à submissão autoritária Estudos sociológicos mostram na verdade que os grupos se voltam para o autoritarismo durante tempos de tensão econômica ou social p ex Ri ckert 1998 preferindo ordem e estabilidade Coerente com a tese original de Fromm Butler previu que como os autoritários abandonam a autonomia e a liberdade pessoal em prol das normas culturais estabelecidas aqueles com tendências de personalidade autoritária devem ter medo não de todas as situações interpessoais mas particular mente do desvio e da desordem social Ou seja aqueles que desafiam as normas da ordem devem ser especialmente problemáticos para os autoritários Butler conduziu vários estudos para testar sua previ são Em cada um ele deu a universitários a Escala de Auto ritarismo de Extrema Direita RWA Right Wing Authori tarianism Scale Altemeyer 1981 um instrumento de 22 itens com afirmações como Nosso país precisa desespera damente de um líder forte que fará o que tem que ser feito para destruir as novas formas radicais e a licenciosidade que está nos arruinando que os participantes classificam em termos de grau de sua concordância No primeiro con junto de estudos 2009 os universitários também classifi caram o quanto temiam uma variedade de itens situações ou circunstâncias No segundo estudo no prelo foi feita aos universitários uma apresentação de slides com vários itens incluindo animais situações perigosas pessoas di versas ou cenas de desordem social Butler encontrou apoio para sua previsão em todos os casos As diferenças sociais e a desordem social eram desproporcionalmente temidas em relação a outros medos por aqueles com alto escore em autoritarismo Parece então conforme Erich Fromm teorizou que as ameaças políticas e sociais e não as ameaças pessoais estão mais fortemente relacionadas ao autoritarismo Isso implica que a ideologia associada ao autoritarismo é um tipo de cognição social motivada Butler 2009 levanta a hipótese de que certos estímulos culturais conduzem ao medo que por sua vez cria a motivação para um sistema de crenças autoritário O desvio e a desordem social en tão tornamse particularmente ameaçadores para essas pessoas que agora desenvolveram um estilo de vida mais convencional e restrito Uma vez que o assim denominado comportamento desviante sugere que existem outras ma neiras de viver os autoritários se sentirão especialmente ameaçados por ele E de fato como cultura devemos ser vigilantes em tempos de intranquilidade social ou econô mica como Fromm alertou contra a fuga que o autorita rismo proporciona Feist07indd 142 Feist07indd 142 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 143 CRÍTICAS A FROMM Erich Fromm foi talvez o ensaísta mais brilhante de todos os teóricos da personalidade Ele escreveu belos ensaios sobre política internacional Fromm 1961 sobre a rele vância dos profetas bíblicos para as pessoas hoje Fromm 1986 sobre os problemas psicológicos do envelhecimento Fromm 1981 sobre Marx Hitler Freud e Cristo e so bre uma miríade de outros temas Seja qual for o tema no cerne de toda a obra de Fromm pode ser encontrada uma revelação da essência da natureza humana Assim como outros teóricos psicodinâmicos Fromm tendeu a assumir uma abordagem global para a cons trução da teoria engendrando um modelo grandioso e altamente abstrato que era mais filosófico do que cien tífico Sua visão da natureza humana toca um ponto sensível conforme evidenciado pela popularidade de seus livros Infelizmente seus ensaios e argumentos não são tão conhecidos hoje como eram 50 anos atrás Paul Roazen 1996 afirmou que durante a metade da década de 1950 uma pessoa não podia ser considerada educa da sem ter lido o livro de Fromm escrito com tanta elo quência Medo à liberdade Hoje no entanto os livros de Fromm raramente são uma leitura requisitada nos campi universitários Eloquência é claro não é igual a ciência A partir de uma perspectiva científica precisamos perguntar como as ideias de Fromm se classificam dentro dos seis critérios de uma teoria útil Primeiro os termos imprecisos e vagos de Fromm tornaram suas ideias quase estéreis como um gerador de pesquisa empírica Na verdade nossa busca dos últimos 45 anos de literatura de psicologia resultou em menos de uma dúzia de estudos empíricos que testaram diretamente os pressupostos teóricos de Fromm Essa es cassez de investigações científicas o coloca entre os menos validados de forma empírica de todos os teóricos aborda dos neste livro Segundo a teoria de Fromm é muito filosófica para ser refutável ou verificável Quase todos os achados empíricos gerados pela teoria de Fromm se existissem poderiam ser explicados por teorias alternativas Terceiro a amplitude da teoria de Fromm possibilita organizar e explicar muito do que é sabido sobre a persona lidade humana Sua perspectiva social política e histórica proporciona tanto amplitude quanto profundidade para a compreensão da condição humana porém a falta de pre cisão de sua teoria dificulta a previsão e torna a refutação impossível Quarto como um guia para a ação o valor principal da obra de Fromm é estimular os leitores a pensarem de modo produtivo Infelizmente no entanto nem o pesquisador nem o terapeuta recebem muita informação prática dos ensaios de Fromm Quinto as visões de Fromm são internamente coeren tes na medida em que um único tema permeia toda a sua obra No entanto a teoria carece de uma taxonomia estru turada um conjunto de termos definidos de forma ope racional e uma limitação clara do escopo Portanto ela se classifica como baixa em coerência interna Por fim como Fromm relutou em abandonar concei tos mais iniciais ou relacionálos com suas ideias posterio res sua teoria carece de simplicidade e unidade Por essas razões classificamos a teoria de Fromm como baixa no cri tério de parcimônia CONCEITO DE HUMANIDADE Mais do que qualquer outro teórico da personalidade Erich Fromm enfatizou as diferenças entre os humanos e os ou tros animais A natureza essencial dos humanos reside na experiência única de estarem na natureza e sujeitos a todas as suas leis e ao mesmo tempo transcenderem a natureza Fromm 1992 p 24 Ele acreditava que apenas os humanos têm consciência de si e de sua existência De forma mais específica a visão de Fromm da huma nidade é resumida em sua definição da espécie A espécie humana pode ser definida como o primata que surgiu naque le ponto da evolução em que o determinismo instintivo ha via atingido um mínimo e o desenvolvimento do cérebro um máximo Fromm 1976 p 137 Os seres humanos então são aberrações da natureza a única espécie a se desenvolver nessa combinação de poderes instintivos mínimos e desen volvimento cerebral máximo Não tendo a capacidade de agir pelo comando dos instintos enquanto possui a capa cidade de autoconsciência pensamento e imaginação a espécie humana precisava de uma estrutura de orientação e um objeto de devoção para sobreviver p 137 No entanto a sobrevivência humana pagou o preço da an siedade básica da solidão e da impotência Em todas as épocas e culturas os indivíduos se defrontam com o mesmo proble ma fundamental como fugir dos sentimentos de isolamento e encontrar a unidade com a natureza e com as outras pessoas De forma geral Fromm era pessimista e otimista Por um lado ele acreditava que a maioria das pessoas não alcança uma reunião com a natureza ou com os outros seres huma nos e que poucos indivíduos atingem a liberdade positiva Ele também tinha uma atitude um tanto negativa em rela Feist07indd 143 Feist07indd 143 271014 1515 271014 1515 144 FEIST FEIST ROBERTS Termoschave e conceitos As pessoas foram apartadas de sua união préhistó rica com a natureza e também umas das outras e no entanto têm o poder do pensamento da previsão e da imaginação A autoconsciência contribui para sentimentos de soli dão isolamento e desamparo Para fugir desses sentimentos as pessoas se esfor çam para se unirem às outras e à natureza Apenas as necessidades exclusivamente humanas de ligação transcendência enraizamento sentimento de identidade e estrutura de orientação podem mo ver as pessoas em direção a uma união com o mundo natural Um sentimento de ligação impulsiona as pessoas a se unirem com outro indivíduo por meio da submissão do poder ou do amor Transcendência é a necessidade das pessoas de se ele varem acima de sua existência passiva e criarem ou destruírem a vida Enraizamento é a necessidade de uma estrutura coe rente na vida de cada pessoa O sentimento de identidade dá à pessoa um sentimen to de eu ou mim A estrutura de orientação é uma forma coerente de olhar para o mundo Ansiedade básica é o sentimento de estar sozinho no mundo Para aliviar a ansiedade básica as pessoas usam vá rios mecanismos de fuga em especial autoritarismo destrutividade e conformidade As pessoas psicologicamente sadias adquirem a sín drome de crescimento a qual inclui 1 liberdade positi va ou a atividade espontânea de uma personalidade total integrada 2 biofilia ou um amor apaixonado pela vida e 3 amor pelos semelhantes humanos Outras pessoas no entanto vivem de modo não pro dutivo e adquirem as coisas recebendoas de modo passivo explorando as outras acumulando coisas e comercializando ou trocando coisas incluindo elas mesmas Algumas pessoas extremamente doentes são moti vadas pela síndrome de decadência a qual inclui 1 necrofilia ou amor pela morte 2 narcisismo malig no ou fascínio pelo self e 3 simbiose incestuosa ou tendência a permanecer ligado a uma pessoa mater nal ou a seu equivalente O objetivo da psicoterapia de Fromm é estabele cer uma união com os pacientes de modo que eles possam se unir novamente ao mundo ção ao capitalismo moderno que ele insistia ser responsável pelo sentimento de isolamento e solidão de muitas pessoas enquanto se apegam desesperadamente à ilusão de indepen dência e liberdade Por outro lado Fromm era esperançoso o suficiente para acreditar que algumas pessoas alcançarão a reunião e portanto realizarão seu potencial humano Ele também acreditava que os humanos podem alcançar um sen timento de identidade liberdade positiva e individualidade crescente dentro dos limites de uma sociedade capitalista Em Análise do homem 1947 ele escreveu Estou cada vez mais impressionado pela força dos esforços por felicidade e saúde que fazem parte do equipamento natural das pessoas p x Na dimensão de livrearbítrio versus determinismo Fromm assumiu uma posição intermediária insistindo que essa questão não pode ser aplicada a toda a espécie Em vez disso ele acreditava que os indivíduos possuem graus de incli nações para a ação livremente escolhida muito embora raras vezes estejam conscientes de todas as alternativas possíveis No entanto sua capacidade de raciocinar possibilita que as pessoas tomem parte ativa no próprio destino Na dimensão da causalidade versus teleologia Fromm tendia a favorecer a teleologia Ele acreditava que as pessoas lutam constantemente por uma estrutura de orientação um mapa por meio do qual planejam suas vidas para o futuro Fromm assumiu uma postura intermediária referente à motivação consciente versus inconsciente colocando um pou co mais de ênfase na motivação consciente e discutindo que um dos traços exclusivamente humanos é a autoconsciência Os humanos são os únicos animais que podem raciocinar visualizar o futuro e conscientemente lutar por objetivos de escolha pessoal Fromm insistia no entanto em que a auto consciência é uma faca de dois gumes e que muitas pessoas re primem seu caráter básico para evitar a escalada da ansiedade No tema das influências sociais versus influências bio lógicas Fromm colocava um pouco mais de importância no impacto da história da cultura e da sociedade do que na bio logia Ainda que insistisse em que as personalidades humanas são histórica e culturalmente determinadas ele não negligen ciava os fatores biológicos definindo os humanos como aber rações do universo Finalmente ao mesmo tempo que conferia ênfase mode rada às similaridades entre as pessoas Fromm também deixava algum espaço para a individualidade Acreditava que apesar de a história e a cultura influenciarem fortemente a persona lidade as pessoas poderiam manter certo grau de singulari dade Os humanos são uma espécie que compartilha muitas necessidades mas as experiências interpessoais ao longo da vida conferem a cada pessoa certa medida de singularidade Feist07indd 144 Feist07indd 144 271014 1515 271014 1515 CAPÍTULO 8 Erikson Teoria Pósfreudiana Panorama da teoria pósfreudiana Biografia de Erik Erikson O ego na teoria pósfreudiana Influência da sociedade Princípio epigenético Estágios do desenvolvimento psicossocial Lactância Infância precoce Idade do jogo Idade escolar Adolescência Início da idade adulta Idade adulta Velhice Resumo do ciclo de vida Métodos de investigação de Erikson Estudos antropológicos Psicohistória Pesquisa relacionada A identidade precede a intimidade Generatividade versus estagnação Críticas a Erikson Conceito de humanidade Termoschave e conceitos Erikson Feist08indd 145 Feist08indd 145 271014 1515 271014 1515 146 FEIST FEIST ROBERTS Q uando criança Erik Salomonsen tinha muitas perguntas mas poucas repostas acerca de seu pai biológico Ele sabia quem era sua mãe uma bela dinamarquesa judia cuja família se esforçava muito para parecer dinamarquesa em vez de judia Mas quem era o pai dele Nascido em uma família uniparental o menino teve três crenças distintas quanto às suas origens Inicialmen te ele achava que o marido da mãe um médico chamado Theodor Homburger fosse seu pai biológico No entanto quando Erik cresceu começou a perceber que aquilo estava incorreto porque seu cabelo loiro e olhos azuis não combi navam com as características morenas dos pais Ele pres sionou a mãe por uma explicação mas ela mentiu e disse que um homem chamado Valdemar Salomonsen seu primeiro marido era seu pai biológico e que ele a abando nou depois que ela ficara grávida de Erik Entretanto Erik não acreditou muito nessa história porque ele sabia que Salomonsen tinha deixado sua mãe quatro anos antes de ele nascer Por fim Erik optou por acreditar que ele era o resultado de uma ligação sexual entre sua mãe e um dina marquês aristocrata com dons artísticos Por quase todo o resto de sua vida Erik acreditou nessa terceira versão No entanto continuou a procurar a sua identidade enquanto buscava o nome de seu pai biológico Durante a época da escola as características escandi navas de Erik contribuíram para sua confusão de identi dade Quando ia ao templo seus olhos azuis e cabelo loiro faziam com que parecesse um estrangeiro Na escola públi ca seus colegas arianos se referiam a ele como um judeu portanto Erik se sentia deslocado nos dois ambientes Por toda a sua vida ele teve dificuldade em se aceitar como ju deu ou gentio Quando sua mãe morreu Erik então com 58 anos te meu nunca vir a conhecer a identidade de seu pai biológico Mas perseverou em sua busca Assim mais de 30 anos de pois e quando sua mente e corpo começavam a deteriorar ele perdeu o interesse em saber o nome do pai Contudo continuou a apresentar alguma confusão de identidade Por exemplo falava principalmente em alemão a língua de sua juventude e raras vezes falava em inglês seu prin cipal idioma por mais de 60 anos Além disso manteve por muito tempo afinidade com a Dinamarca e o povo dina marquês e tinha um orgulho distorcido em exibir a bandei ra da Dinamarca um país no qual nunca viveu PANORAMA DA TEORIA PÓSFREUDIANA A pessoa que apresentamos na vinheta de abertura é claro era Erik Erikson aquele que cunhou a expressão crise de identidade Erikson não tinha curso superior de qualquer tipo mas a falta de educação formal não o impediu de ga nhar fama mundial em uma variedade impressionante de campos incluindo psicanálise antropologia psicohistória e educação Diferentemente dos primeiros teóricos psicodinâmi cos que cortaram todas as ligações com a psicanálise freu diana Erikson pretendia que sua teoria da personalidade ampliasse em vez de repudiar os pressupostos de Freud e oferecesse uma nova maneira de olhar para as coisas Erikson 1963 p 403 Sua teoria pósfreudiana am pliou os estágios do desenvolvimento infantil de Freud até a adolescência a idade adulta e a velhice Erikson sugeriu que em cada estágio uma luta psicossocial contribui para a formação da personalidade A partir da adolescência essa luta assume a forma de uma crise de identidade um ponto de virada na vida do indivíduo que pode fortalecer ou enfraquecer a personalidade Erikson considerava sua teoria pósfreudiana como uma extensão da psicanálise algo que Freud poderia ter feito Mesmo tendo usado a teoria freudiana como funda mento para sua abordagem da personalidade do ciclo de vida Erikson diferia de Freud em vários aspectos Mais que elabo rar os estágios psicossexuais para além da infância Erikson coloca mais ênfase nas influências sociais e históricas A teoria pósfreudiana de Erikson como a de outros teóricos da personalidade é um reflexo de seu histórico que incluía arte extensas viagens experiências com uma variedade de culturas e uma vida inteira de busca pela pró pria identidade a qual mencionamos brevemente na vi nheta de abertura BIOGRAFIA DE ERIK ERIKSON Quem era Erik Erikson Ele era dinamarquês alemão ou americano Judeu ou gentio Artista ou psicanalista O próprio Erikson tinha dificuldade em responder a essas perguntas e passou quase toda a vida tentando determinar quem ele era Nascido em 15 de junho de 1902 no sul da Alemanha Erikson foi criado por sua mãe e por seu padrasto mas permaneceu sem saber a verdadeira identidade do pai bio lógico Para descobrir esse nicho em sua vida Erikson se aventurou para longe de casa durante o final da adolescên cia adotando a vida de artista e poeta ambulante Depois de quase sete anos de perambulação e procura ele voltou para casa confuso exausto deprimido e incapaz de dese nhar ou pintar Nessa época um evento fortuito mudou sua vida ele recebeu uma carta de seu amigo Peter Blos convidandoo a ensinar crianças em uma nova escola em Viena Uma das fundadoras da escola era Anna Freud que se tornou não só a empregadora de Erikson como também sua psicanalista Enquanto se submetia ao tratamento analítico ele en fatizou para Anna Freud que seu problema mais difícil era a busca pela identidade do pai biológico No entanto Anna Feist08indd 146 Feist08indd 146 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 147 Freud não foi muito empática e disse a Erikson que ele de veria parar de fantasiar sobre seu pai ausente Ainda que Erikson em geral obedecesse a sua psicanalista ele não podia seguir o conselho de parar de tentar saber o nome de seu pai Enquanto estava em Viena Erikson conheceu e com permissão de Anna Freud casouse com Joan Serson uma dançarina canadense artista e professora que também ti nha feito psicanálise Com seu histórico psicanalítico e sua facilidade com a língua inglesa ela se tornou uma editora valiosa e ocasional coautora dos livros de Erikson Os Erikson tiveram quatro filhos os meninos Kai Jon e Neil e a menina Sue Kai e Sue seguiram carreiras profissio nais importantes mas Jon que compartilhava a experiência do pai como artista ambulante trabalhava como operário e nunca se sentiu emocionalmente próximo dos pais A busca de Erikson pela identidade o fez passar por algumas experiências difíceis durante seu estágio de desenvolvimento adulto Friedman 1999 De acordo com Erikson esse estágio requer que uma pessoa cuide dos fi lhos dos produtos e das ideias que ela gerou Sob tal as pecto Erikson não chegou a atingir seus próprios padrões Ele não conseguiu cuidar bem de seu filho Neil que nas ceu com síndrome de Down No hospital enquanto Joan ainda estava sedada Erik concordou em colocar Neil em uma instituição Então foi para casa e contou aos três ir mãos mais velhos que seu irmão havia morrido ao nascer Mentiu para os filhos como sua mãe havia mentido para ele acerca da identidade do pai biológico Posteriormente ele contou a verdade ao filho mais velho Kai mas continuou a enganar os dois filhos mais moços Jon e Sue Ainda que a mentira de sua mãe o tenha angustiado muito ele não entendia que sua mentira a respeito de Neil poderia mais tarde angustiar seus outros filhos Ao enganar seus filhos Erikson violava dois de seus próprios princípios Não min ta para as pessoas com quem você se importa e Não co loque um membro da família contra o outro Para agravar a situação quando Neil morreu com cerca de 20 anos os Erikson que estavam na Europa na época chamaram Sue e Jon e os instruíram a tomar as providências para o funeral de um irmão que eles nunca haviam encontrado e apenas recentemente tinham sabido que existia Friedman 1999 Erikson também procurou sua identidade por meio das diversas trocas de emprego e locais de residência Sem credenciais acadêmicas ele não tinha uma identidade profissional específica e era conhecido tanto como artista quanto como psicólogo psicanalista clínico professor an tropólogo cultural existencialista psicobiógrafo ou intelec tual público Em 1933 com o fascismo em alta na Europa Erikson e sua família saíram de Viena para a Dinamarca esperando obter a cidadania dinamarquesa Quando os oficiais dina marqueses recusaram esse pedido ele saiu de Copenhagen e imigrou para os Estados Unidos Na América mudou seu nome de Homburger para Erikson Essa mudança foi um ponto de virada crucial em sua vida porque representava a retirada de sua identifica ção judaica anterior Originalmente Erikson se ressentia com qualquer insinuação de que estaria abandonando sua identidade judaica ao mudar de nome Ele refutava essas acusações indicando que usava seu nome completo Erik Homburger Erikson em seus livros e ensaios No entanto conforme o tempo passou ele retirou seu nome do meio e o substituiu pela inicial H Assim essa pessoa que no final da vida era conhecida como Erik H Erikson anteriormen te tinha se chamado Erik Salomonsen Erik Homburger e Erik Homburger Erikson Na América Erikson continuou seu padrão de mudan ça de um lugar para outro Primeiro instalouse na área de Boston onde estabeleceu uma prática psicanalítica mo dificada Sem credenciais médicas nem qualquer tipo de formação universitária aceitou cargos de pesquisa no Hos pital Geral de Massachusetts na Escola Médica de Harvard e na Clínica Psicológica de Harvard Querendo escrever mas precisando de mais tempo do que sua agenda ocupada em Boston e Cambridge permi tia Erikson assumiu uma posição em Yale em 1936 mas depois de dois anos e meio mudouse para a Universidade da Califórnia em Berkeley mas não antes de viver com o povo da nação Sioux na reserva de Pine Ridge em Dakota do Sul e estudálo Mais tarde ele viveu com o povo da na ção Yurok no norte da Califórnia e essas experiências em antropologia cultural acrescentaram riqueza e abrangência a seu conceito de humanidade Durante seu período na Califórnia Erikson gradual mente desenvolveu uma teoria da personalidade inde pendente mas não incompatível com a de Freud Em 1950 Erikson publicou Infância e sociedade um livro que à primeira vista parece ser uma mistura de capítulos não relacionados O próprio Erikson originalmente teve algu ma dificuldade em encontrar um tema comum subjacen te aos tópicos como a infância em duas tribos de nativos norteamericanos o crescimento do ego os oito estágios do desenvolvimento humano e a infância de Hitler No en tanto ele acabou reconhecendo que a influência de fatores psicológicos culturais e históricos sobre a identidade era o elemento subjacente que unia os vários capítulos Infância e sociedade que se tornou um clássico e deu a Erikson uma reputação internacional como pensador imaginativo per manece como a melhor introdução a sua teoria da persona lidade pósfreudiana Em 1949 os coordenadores da Universidade da Cali fórnia requereram que os membros do corpo docente assi nassem um compromisso de lealdade aos Estados Unidos Tal demanda não era incomum durante aqueles dias quan do o senador Joseph McCarthy convenceu muitos norte americanos de que os comunistas e seus simpatizantes estavam preparados para derrubar o governo dos Estados Feist08indd 147 Feist08indd 147 271014 1515 271014 1515 148 FEIST FEIST ROBERTS Unidos Erikson não era comunista mas por uma questão de princípios recusouse a assinar o compromisso Ainda que o Comitê de Privilégios e Mandato tenha recomendado que ele mantivesse o cargo Erikson deixou a Califórnia e voltou para Massachusetts onde trabalhou como terapeu ta em Austen Riggs um centro de tratamento para forma ção psicanalítica e pesquisa localizado em Stockbridge Em 1960 ele voltou para Harvard e pelos 10 anos seguintes esteve no cargo de professor de desenvolvimento humano Após se aposentar Erikson continuou uma carreira ativa escrevendo palestrando e atendendo alguns pacientes Durante os primeiros anos de sua aposentadoria morou em Marin County Califórnia Cambridge Massachusetts e Cape Cod Durante todas essas mudanças Erikson con tinuou a procurar pelo nome de seu pai Morreu em 12 de maio de 1994 aos 91 anos Quem era Erik Erikson Ainda que ele mesmo não te nha conseguido responder a essa pergunta outras pessoas podem saber a respeito desse indivíduo conhecido como Erik Erikson por meio de seus livros palestras e ensaios brilhantemente construídos Os trabalhos mais conhecidos de Erikson incluem In fância e sociedade 1950 1963 1985 O jovem Luther Young Man Luther 1958 Identidade juventude e crise 1968 A verdade de Gandhi Gandhis Truth 1969 um livro que ganhou o prêmio Pulitzer e o National Book Award Dimen sões de uma nova identidade Dimensions of a New Identity 1974 História de vida e o momento histórico Life History and the Historical Moment 1975 Identidade e o ciclo da vida Identity and the Life Cycle 1980 e O ciclo de vida completo 1982 Stephen Schlein compilou muitos dos trabalhos de Erikson em Uma forma de olhar para as coisas A Way of Looking at Things Erikson 1987 O EGO NA TEORIA PÓSFREUDIANA No Capítulo 2 assinalamos que Freud usou a analogia de um cavaleiro no lombo de um cavalo para descrever a relação entre o ego e o id O cavaleiro ego está em últi ma análise à mercê do cavalo mais forte id O ego não tem força própria portanto deve tomar emprestada sua energia do id Além do mais o ego está constantemente tentando equilibrar as demandas cegas do superego con tra as forças incessantes do id e as oportunidades realistas do mundo externo Freud acreditava que para as pessoas psicologicamente sadias o ego é desenvolvido o suficiente para colocar rédeas no id mesmo que seu controle ainda seja tênue e os impulsos do id possam emergir e invadir o ego a qualquer momento Em contraste Erikson defendia que o ego é uma for ça positiva que cria uma identidade pessoal uma noção de eu Como centro da personalidade o ego ajuda as pessoas a se adaptarem aos vários conflitos e crises da vida e evita que elas percam sua individualidade para as forças nivela doras da sociedade Durante a infância o ego é fraco flexí vel e frágil mas na adolescência ele começa a assumir for ma e ganhar força Durante toda a nossa vida ele unifica a personalidade e evita a fragmentação Erikson via o ego como uma agência organizadora parcialmente inconsciente que sintetiza nossas experiências presentes com identida des pessoais passadas e também com as imagens esperadas do self Ele definiu o ego como a capacidade de uma pessoa de unificar experiências e ações de uma maneira adaptativa Erikson 1963 Erikson 1968 identificou três aspectos interrelacio nados do ego o ego corporal o ideal do ego e a identidade do ego O ego corporal se refere a experiências com nosso corpo uma maneira de ver nosso self físico como diferente de outras pessoas Podemos estar satisfeitos ou insatisfei tos com a aparência e funcionamento do corpo mas reco nhecemos que ele é o único corpo que temos O ideal do ego representa a imagem que temos de nós mesmos em com paração com um ideal estabelecido ele é responsável por estarmos satisfeitos ou insatisfeitos com nossa identidade integral A identidade do ego é a imagem que temos de nós mesmos na variedade de papéis sociais que desempenha mos Apesar de a adolescência ser em geral a época em que esses três componentes estão mudando com rapidez as alterações no ego corporal no ideal do ego e na identida de do ego podem ocorrer e ocorrem em qualquer estágio da vida Influência da sociedade Mesmo que as capacidades inatas sejam importantes no desenvolvimento da personalidade o ego emerge da so ciedade e é em grande parte moldado por ela A ênfase de Erikson nos fatores sociais e históricos ia de encontro ao ponto de vista predominantemente biológico de Freud Para Erikson o ego existe como potencial no nascimento mas ele deve emergir do interior de um ambiente cultural Diferentes sociedades com suas variações nas práticas de criação dos filhos tendem a moldar personalidades que se enquadram nas necessidades e nos valores de sua cultura Por exemplo Erikson 1963 identificou que os cuidados prolongados e permissivos dos bebês da nação Sioux às vezes por 4 ou 5 anos resultaram no que Freud chamava de personalidades orais ou seja as pessoas que obtêm grande prazer por meio das funções da boca Os Sioux atri buem grande valor à generosidade e Erikson acreditava que o reconforto resultante da amamentação ilimitada for ma as bases para a virtude da generosidade No entanto os pais Sioux rapidamente reprimem a mordida uma prática que pode contribuir para a fortaleza e a ferocidade da crian ça Por sua vez o povo da nação Yurok estabelece regras rí gidas referentes à eliminação de urina e fezes práticas que tendem a desenvolver analidade ou limpeza compulsiva Feist08indd 148 Feist08indd 148 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 149 obstinação e avareza Nas sociedades euroamericanas a oralidade e a analidade costumam ser consideradas traços indesejáveis ou sintomas neuróticos Erikson 1963 no entanto argumentava que a oralidade entre os caçadores Sioux e a analidade entre os pescadores Yurok são caracte rísticas adaptativas que ajudam tanto o indivíduo quanto a cultura O fato de a cultura euroamericana considerar a oralidade e a analidade como traços desviantes meramente exibe sua visão etnocêntrica das outras sociedades Erikson 1968 1974 argumentou que historicamente todas as tribos ou nações incluindo os Estados Unidos desenvolve ram o que ele chamou de pseudoespécie ou seja uma ilu são perpetrada e perpetuada por uma sociedade particular de que é de alguma forma escolhida para ser a espécie hu mana Em séculos passados essa crença ajudou na sobrevi vência da tribo mas com meios modernos de aniquilação do mundo uma percepção tão preconceituosa conforme foi demonstrado pelos alemães nazistas ameaça a sobrevi vência de cada nação Uma das contribuições principais de Erikson à teoria da personalidade foi a ampliação dos estágios de desenvol vimento precoces freudianos para incluir a idade escolar a juventude a idade adulta e a velhice Antes de examinar mos em mais detalhes a teoria de Erikson do desenvolvi mento do ego discutiremos a sua visão de como a persona lidade evolui de um estágio para o seguinte Princípio epigenético Para Erikson o ego se desenvolve passando por vários estágios na vida de acordo com um princípio epige nético um termo tomado emprestado da embriologia O desenvolvimento epigenético implica um crescimen to gradual dos órgãos fetais O embrião não inicia como uma pequena pessoa completamente formada esperando apenas expandir sua estrutura e forma Em vez disso ele se desenvolve ou deve se desenvolver de acordo com um ritmo predeterminado e em uma sequência fixa Se olhos fígado ou outros órgãos não se desenvolvem durante esse período crítico então eles nunca atingirão a maturidade adequada De forma semelhante o ego segue o caminho do de senvolvimento epigenético com cada estágio acontecendo em seu momento apropriado Um estágio emerge e é cons truído sobre um estágio anterior sem no entanto substi tuílo Esse desenvolvimento epigenético é análogo ao de senvolvimento físico das crianças que engatinham antes de caminhar caminham antes de correr e correm antes de saltar Quando as crianças ainda estão engatinhando elas estão desenvolvendo o potencial para caminhar correr e saltar depois que estiverem maduras o suficiente para sal tar elas ainda mantêm a capacidade de correr caminhar e engatinhar Erikson 1968 descreveu o princípio epigené tico afirmando que tudo o que cresce tem uma planta bai xa e que a partir dessa planta baixa as partes se erguem cada uma tendo seu momento de ascendência especial até que todas as partes se erguem para formar um todo em funcionamento p 92 De forma mais sucinta epigênese significa que uma característica se desenvolve sobre a outra no espaço e no tempo Evans 1967 p 2122 O princípio epigenético é ilustrado na Figura 81 que descreve os três primeiros estágios eriksonianos A se quência de estágios 1 2 3 e o desenvolvimento de suas partes componentes A B C são mostrados nos quadros com linhas em negrito na diagonal A Figura 81 indica que As crianças engatinham antes de andar caminham antes de correr e correm antes de saltar Feist08indd 149 Feist08indd 149 271014 1515 271014 1515 150 FEIST FEIST ROBERTS cada parte existe antes de seu momento crítico pelo me nos como potencial biológico emerge em seu momento apropriado e por fim continua a se desenvolver durante os estágios subsequentes Por exemplo a parte B componente do Estágio 2 infância precoce existe durante o Estágio 1 lactância conforme apresentado no Quadro 1B A parte B atinge sua ascendência máxima durante o Estágio 2 Qua dro 2B mas continua no Estágio 3 Quadro 3B Do mesmo modo todos os componentes do Estágio 3 existem durante os Estágios 1 e 2 atingem o desenvolvimento integral du rante o Estágio 3 e continuam durante todos os estágios posteriores Erikson 1982 ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL A compreensão dos oito estágios do desenvolvimento psi cossocial de Erikson requer um entendimento de vários pontos básicos Primeiro o crescimento acontece de acor do com o princípio epigenético Ou seja uma parte compo nente surge a partir de outra e tem seu próprio momento de ascendência mas não substitui de todo os componentes anteriores Segundo em cada estágio da vida existe uma interação dos opostos ou seja um conflito entre um elemento sin tônico harmonioso e um elemento distônico perturba dor Por exemplo durante a infância precoce a confiança básica uma tendência sintônica opõese à desconfiança básica uma tendência distônica Porém tanto a confian ça quanto a desconfiança são necessárias para a adaptação adequada Um bebê que aprende somente a confiar se tor na ingênuo e malpreparado para as realidades encontra das no desenvolvimento posterior enquanto um bebê que aprende somente a desconfiar se torna muito receoso e cínico Do mesmo modo durante cada um dos outros sete estágios as pessoas precisam ter experiências harmonio sas sintônicas e perturbadoras distônicas Terceiro em cada estágio o conflito entre os elemen tos distônicos e sintônicos produz uma qualidade de ego ou força de ego à qual Erikson se referia como força bási ca Por exemplo da antítese entre confiança e desconfian ça emerge a esperança uma qualidade do ego que permite que um bebê avance para o estágio seguinte Igualmente cada um dos outros estágios é marcado por uma força bá sica do ego que emerge do choque entre os elementos har moniosos e perturbadores daquele estágio Quarto pouca força básica em qualquer estágio re sulta em uma patologia central para aquele estágio Por exemplo uma criança que não adquire esperança sufi ciente durante a lactância irá desenvolver a antítese ou o oposto da esperança ou seja o retraimento Mais uma vez cada estágio possui uma patologia central potencial Quinto embora Erikson tenha se referido a seus oito estágios como estágios psicossociais ele nunca perdeu de vista o aspecto biológico do desenvolvimento humano Sexto os eventos nos estágios iniciais não causam o desenvolvimento posterior da personalidade A identidade do ego é moldada por uma multiplicidade de conflitos e even tos passados presentes e previstos Sétimo durante cada estágio de forma mais evidente a partir da adolescência o desenvolvimento da persona lidade é caracterizado por uma crise de identidade a qual Erikson 1968 chamou de ponto de virada um período crucial de vulnerabilidade e potencial aumentados p 96 Assim durante cada crise uma pessoa é especial mente suscetível a modificações importantes na identi dade positivas ou negativas Contrário ao uso popular uma crise de identidade não é um evento catastrófico mas uma oportunidade para o ajustamento adaptativo ou desadaptado Os oito estágios de Erikson do desenvolvimento psi cossocial são apresentados na Figura 82 As palavras em letra maiúscula e negrito são as qualidades do ego ou for ças básicas que emergem de conflitos ou crises psicosso ciais que tipificam cada período O versus separando os ele mentos sintônicos e distônicos significa não somente uma relação antitética mas também complementar Apenas os quadros na diagonal estão preenchidos isto é a Figura 82 destaca apenas as forças básicas e as crises psicossociais que são mais características de cada estágio do desenvol vimento No entanto o princípio epigenético sugere que todos os outros quadros seriam preenchidos como na Fig 81 embora com outros itens menos característicos do seu estágio do desenvolvimento psicossocial Cada item no conjunto é vital para o desenvolvimento da personalidade e cada um está relacionado a todos os outros 1 Lactância Partes 3 Idade do jogo 2 Infância precoce A B C 3A 3B 3C 2A 2B 2C 1A 1B 1C Estágio FIGURA 81 Três estágios eriksonianos descrevendo o princípio epi genético Reimpressa de The Life Cycle Completed A Review de Erik H Erikson com permissão de W W Norton Company Inc Copyright 1982 Rikan Enterprises Ltd Feist08indd 150 Feist08indd 150 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 151 Lactância O estágio psicossocial inicial é a lactância um período que abrange aproximadamente o primeiro ano de vida e equi vale à fase oral do desenvolvimento de Freud No entanto o modelo de Erikson adota um foco mais amplo do que a fase oral de Freud que era preocupado quase que de forma exclusiva com a boca Para Erikson 1963 1989 a lactân cia é uma época de incorporação com os bebês ingerindo não só pela boca mas também por meio de seus vários órgãos do sentido Pelos olhos por exemplo os bebês in gerem os estímulos visuais Quando ingerem o alimento e as informações sensoriais os bebês aprendem a confiar ou a desconfiar do mundo externo uma situação que lhes dá esperança realista A lactância então é marcada pelo modo psicossexual oralsensorial pela crise psicossocial de con fiança básica versus desconfiança básica e pela força básica da esperança Modo oralsensorial A visão expandida de Erikson da lactância é manifesta por meio do termo oralsensorial uma expressão que inclui o principal modo de adaptação psicossexual dos bebês O estágio oralsensorial é caracterizado por dois modos de incorporação receber e aceitar o que é dado Os bebês podem receber mesmo na ausência de outra pessoa isto é eles podem incorporar ar pelos pulmões e podem receber dados sensoriais sem ter que manipular os outros O se gundo modo de incorporação no entanto implica um con texto social Os bebês não só recebem mas também preci sam de mais alguém para dar Esse treinamento precoce em relações interpessoais os ajuda a aprender a se tornarem doadores Ao conseguirem que outras pessoas deem eles aprendem a confiar ou a desconfiar de outros indivíduos estabelecendo assim uma crise psicossocial básica do lac tente a saber confiança básica versus desconfiança básica Confiança básica versus desconfiança básica As relações interpessoais mais significativas dos bebês são com seu cuidador primário em geral a mãe Se percebem que a mãe lhes dará alimento regularmente eles começa rão a aprender confiança básica se ouvem regularmente a voz agradável e ritmada da mãe eles desenvolvem mais H Partes A Velhice 8 Idade adulta 7 Início da idade adulta 6 Adolescência 5 Idade escolar 4 Idade do jogo 3 Infância precoce 2 Lactância 1 B C D E F G Estágio ESPERANÇA Confiança básica versus desconfiança básica SABEDORIA Integridade versus desespero desgosto CUIDADO Generatividade versus estagnação AMOR Intimidade versus isolamento FIDELIDADE Identidade versus confusão de identidade COMPETÊNCIA Diligência versus inferioridade PROPÓSITO Iniciativa versus culpa VONTADE Autonomia versus vergonha e dúvida FIGURA 82 Oito estágios do desenvolvimento de Erikson com suas forças básicas apropriadas e crises psicossociais Reimpressa de O ciclo da vida completo uma revisão de Erik H Erikson com permissão de W W Norton e Company Inc Copyright 1982 Rikan Enterprises Ltd Feist08indd 151 Feist08indd 151 271014 1515 271014 1515 152 FEIST FEIST ROBERTS confiança básica se podem se basear em um ambiente vi sual estimulante eles solidificam a confiança básica ainda mais Em outras palavras se o padrão de aceitação das coi sas corresponde ao modo da cultura de dar as coisas os bebês aprendem confiança básica Todavia eles aprendem desconfiança básica se não encontram correspondência en tre suas necessidades oraissensoriais e o ambiente A confiança básica tende a ser sintônica e a descon fiança básica distônica No entanto os bebês precisam desenvolver ambas as atitudes Confiança demais os torna ingênuos e vulneráveis aos caprichos do mundo enquanto pouca confiança conduz a frustração raiva hostilidade ci nismo ou depressão Tanto a confiança quanto a desconfiança são experiên cias inevitáveis Todos os bebês que sobreviveram foram alimentados e cuidados e portanto têm alguma razão para confiar Além disso todos foram frustrados pela dor pela fome ou pelo desconforto e assim têm uma razão para desconfiar Erikson acreditava que alguma proporção en tre confiança e desconfiança é essencial para a capacidade das pessoas de se adaptarem Ele contou a Richard Evans 1967 que quando entramos em uma situação precisa mos ser capazes de diferenciar o quanto podemos confiar e o quanto devemos desconfiar e uso desconfiança no sen tido de uma prontidão para o perigo e uma antecipação de desconforto p 15 O choque inevitável entre a confiança básica e a des confiança básica resulta na primeira crise psicossocial das pessoas Se essa crise for resolvida com sucesso elas adqui rem sua primeira força básica a esperança Esperança a força básica da lactância A esperança emerge do conflito entre confiança básica e desconfiança básica Sem a relação antitética entre con fiança e desconfiança as pessoas não conseguem desenvol ver esperança Os bebês precisam experimentar fome dor e desconforto assim como o alívio dessas condições desa gradáveis Ao terem experiências dolorosas e prazerosas os bebês aprendem a esperar que as angústias futuras sejam atendidas com resultados satisfatórios Se os bebês não desenvolvem esperança suficiente du rante o período de lactância eles demonstram a antítese ou o oposto da esperança o retraimento a patologia central do lactente Com pouco a esperar eles se retiram do mun do externo e começam a jornada em direção a graves trans tornos psicológicos Infância precoce O segundo estágio psicossocial é a infância precoce um período paralelo à fase anal de Freud o qual abrange apro ximadamente o 2º e o 3º ano de vida Mais uma vez exis tem algumas diferenças entre as visões de Freud e Erikson No Capítulo 2 explicamos que Freud considerava o ânus como zona erógena primária ao longo dessa fase e que durante o começo da fase analsádica as crianças sentem prazer em destruir ou perder objetos enquanto posterior mente elas obtêm satisfação em defecar Tal como em relação ao estágio anterior Erikson ado tou uma visão mais ampla Para ele as crianças pequenas obtêm prazer não só ao dominarem o músculo esfincteria no mas também ao dominarem outras funções corporais como urinar caminhar jogar segurar entre outras Além disso as crianças desenvolvem um senso de controle so bre seu ambiente interpessoal assim como uma medida de autocontrole Contudo a infância precoce é uma época de experimentar dúvida e vergonha quando as crianças per cebem que muitas de suas tentativas de autonomia não são bemsucedidas Modo analuretralmuscular Durante o segundo ano de vida o ajuste psicossexual primário das crianças é o modo analuretralmuscular Nesse período as crianças aprendem a controlar seu cor po especialmente em relação a limpeza e mobilidade A infância precoce é mais do que uma época de treinamen to esfincteriano é também uma época de aprender a cami nhar correr abraçar os pais e se apegar aos brinquedos e a outros objetos Nessas atividades as crianças pequenas podem exibir algumas tendências a oposição Elas podem reter suas fezes ou eliminálas segundo sua vontade acon chegarse à mãe ou empurrála de forma abrupta ter pra zer em acumular objetos ou descartálos com frieza A infância precoce é uma época de contradição um momento de rebelião obstinada e meiga complacência uma etapa de autoexpressão impulsiva e desvio compulsivo uma fase de cooperação amorosa e resistência odiosa Essa insistência obstinada em impulsos conflitantes desenca deia a principal crise psicossocial da infância autonomia versus vergonha e dúvida Erikson 1968 Autonomia versus vergonha e dúvida Se a infância precoce é um período para autoexpressão e autonomia então ela também é um momento de vergonha e dúvida Quando as crianças expressam com persistência seu modo analuretralmuscular é provável que encontrem uma cultura que tente inibir parte de sua autoexpressão Os pais podem causar vergonha em seus filhos por sujarem suas calças ou por fazerem bagunça com a comida Eles também podem incutir dúvida ao questionarem a capacidade das crianças de corresponderem a seus padrões O conflito en tre autonomia por um lado e vergonha e dúvida por outro tornase a principal crise psicossocial na infância precoce De modo ideal as crianças devem desenvolver uma proporção adequada entre autonomia e vergonha e dúvida e a proporção deve ser a favor da autonomia a qualidade sintônica da infância precoce As crianças que desenvolvem Feist08indd 152 Feist08indd 152 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 153 pouca autonomia terão dificuldades em estágios posterio res carecendo das forças básicas das etapas anteriores De acordo com os diagramas epigenéticos de Erikson ver Figs 81 e 82 a autonomia se desenvolve a partir da confiança básica se a confiança básica foi estabelecida no período da lactância então as crianças aprendem a ter fé em si mesmas e seu mundo permanece intacto enquanto elas experimentam uma crise psicossocial leve Todavia se o lactente não desenvolveu confiança básica no período adequado suas tentativas de obter controle de seus órgãos anais uretrais e musculares durante a infância precoce serão atingidas com um forte senso de vergonha e dúvi da estabelecendo uma crise psicossocial grave Vergonha é um sentimento de autoconsciência de ser olhado e es tar exposto Dúvida por sua vez é o sentimento de não estar certo o sentimento de que algo permanece oculto e não pode ser visto Tanto a vergonha quanto a dúvida são qualidades distônicas e ambas se desenvolvem a par tir da desconfiança básica que foi estabelecida no período de lactância Vontade a força básica da infância precoce A força básica da vontade ou determinação se desenvolve a partir da resolução da crise de autonomia versus vergonha e dúvida Esse passo é o começo do livrearbítrio e da força de vontade mas somente um começo A força de vontade madura e uma medida significativa do livrearbítrio estão reservadas para estágios posteriores do desenvolvimento mas se originam na vontade rudimentar que emerge du rante a infância precoce Qualquer um que passou muito tempo com crianças de cerca de 2 anos sabe o quanto elas podem ser obstinadas O treinamento esfincteriano com frequência resume o conflito de vontades entre adulto e criança mas a expressão obstinada não está limitada a essa área O conflito básico durante a infância precoce está en tre a luta da criança pela autonomia e as tentativas dos pais de controlar a criança pelo uso de vergonha e dúvida As crianças desenvolvem a vontade somente quando seu ambiente permite alguma autoexpressão em seu con trole dos esfincteres e de outros músculos Quando suas experiências resultam em vergonha e dúvida excessivas as crianças não desenvolvem de modo adequado essa se gunda força básica importante A vontade inadequada será expressa como compulsão a patologia central da infância precoce Pouca vontade e muita compulsividade se trans portam para a idade do jogo como falta de propósito e para a idade escolar como falta de confiança Idade do jogo O terceiro estágio do desenvolvimento de Erikson é a ida de do jogo um período que abrange a mesma época da fase fálica de Freud em torno de 3 a 5 anos Mais uma vez surgem diferenças entre as visões de Freud e Erikson Enquanto Freud colocava o complexo de Édipo no centro da fase fálica Erikson acreditava que o complexo de Édipo é apenas um dos desenvolvimentos importantes durante a idade do jogo Erikson 1968 argumentava que além de se identificar com seus pais as crianças em idade préescolar estão aperfeiçoando a locomoção as habilidades de lingua gem a curiosidade a imaginação e a capacidade de estabe lecer objetivos Modo genitallocomotor O modo psicossexual primário durante a idade do jogo é o genitallocomotor Erikson 1982 entendia a situação edípica como um protótipo do poder ao longo da vida da capacidade lúdica humana p 77 Em outras palavras o complexo de Édipo é um drama encenado na imaginação da criança e inclui o começo da compreensão de concei tos básicos como reprodução crescimento futuro e mor te Os complexos de Édipo e de castração portanto nem sempre são considerados literalmente Uma criança pode brincar de ser uma mãe um pai uma esposa ou um mari do mas esse brinquedo é uma expressão não só do modo genital como também das habilidades locomotoras que se desenvolvem rapidamente na criança Uma menina pode invejar os meninos não porque os meninos possuem um pênis mas porque a sociedade concede mais prerrogativas às crianças com um pênis Um menino pode ter ansiedade quanto a perder algo mas essa ansiedade referese não só ao pênis mas também a outras partes do corpo O comple xo de Édipo então é algo além do que Freud acreditava uma sexualidade infantil é uma mera promessa de coisas que estão por vir Erikson 1963 p 86 A menos que o interesse sexual seja promovido pelo jogo sexual cultural ou por abuso sexual adulto o complexo de Édipo não pro duz efeitos prejudiciais no desenvolvimento posterior da personalidade O interesse que as crianças na idade do jogo têm pela atividade genital é acompanhado por sua crescente facili dade de locomoção Elas agora podem se movimentar com facilidade correr saltar e escalar sem esforço consciente e seu jogo apresenta iniciativa e imaginação Sua vontade rudimentar associada ao estágio precedente está agora se desenvolvendo e se transformando em atividade com um propósito As habilidades cognitivas das crianças pos sibilitam produzir fantasias elaboradas que incluem fan tasias edípicas além de permitirem imaginar como é ser crescido onipotente ou um animal feroz Essas fantasias entretanto também produzem culpa e assim contribuem para a crise psicossocial da idade do jogo a saber iniciativa versus culpa Iniciativa versus culpa Quando as crianças começam a se movimentar com mais facilidade e mais vigor e quando desperta seu interesse ge Feist08indd 153 Feist08indd 153 271014 1515 271014 1515 154 FEIST FEIST ROBERTS nital elas adotam um modo direto radical de aproximação com o mundo Ainda que tomem a iniciativa em sua sele ção e busca de objetivos muitos objetivos como se casar com um dos pais ou sair de casa devem ser reprimidos ou adiados A consequência desses objetivostabu inibidos é a culpa O conflito entre iniciativa e culpa se torna a crise psicossocial dominante na idade do jogo Mais uma vez a proporção entre essas duas deve favo recer a qualidade sintônica iniciativa A iniciativa desenfre ada no entanto pode levar ao caos e a uma falta de princí pios morais Todavia se a culpa for o elemento dominante as crianças podem tornarse compulsivamente moralistas ou muito inibidas A inibição que é a aversão ao propósito constitui a patologia central da idade do jogo Propósito a força básica da idade do jogo O conflito iniciativa versus culpa produz a força básica do propósito As crianças agora jogam com um propósito competir em jogos para vencer ou estar no topo Seus inte resses genitais têm uma direção com a mãe ou o pai sendo o objeto de seus desejos sexuais Elas definem objetivos e os perseguem com um propósito A idade do jogo também é o estágio em que as crianças estão desenvolvendo uma consciência e começando a atribuir rótulos como certo e errado a seu comportamento Essa consciência juvenil se transforma no pilar da moralidade Erikson 1968 p 119 Idade escolar O conceito de Erikson de idade escolar abrange o desen volvimento dos 6 a aproximadamente 12 ou 13 anos e se compara aos anos de latência da teoria de Freud Nessa faixa etária o mundo social das crianças está se expandin do para além da família para incluir amigos professores e outros modelos adultos Para as crianças em idade esco lar seu desejo de saber se torna forte e está vinculado a seu esforço básico pela competência No desenvolvimento normal as crianças empenhamse com diligência em ler e escrever caçar e pescar ou aprender as habilidades reque ridas por sua cultura Idade escolar não significa necessa riamente frequentar escolas formais Nas culturas letradas contemporâneas as escolas e os professores profissionais desempenham uma parte importante na educação das crianças enquanto nas sociedades préescrita os adultos usam métodos menos formais mas igualmente efetivos de ensinar às crianças como funciona a sociedade Latência Erikson concordava com Freud que a idade escolar é um período de latência psicossexual A latência psicossexual é importante porque permite às crianças desviar suas ener gias para o aprendizado da tecnologia de sua cultura e as estratégias de suas interações sociais Quando as crianças trabalham e jogam para adquirir esses pontos fundamen tais elas começam a formar uma imagem de si mesmas como competentes ou incompetentes Essas autoimagens são a origem da identidade do ego aquele sentimento de eu ou mim que se desenvolve de forma mais integral durante a adolescência Diligência versus inferioridade Ainda que a idade escolar seja um período de pouco desen volvimento sexual é um momento de grande crescimento social A crise psicossocial desse estágio é diligência versus inferioridade Diligência uma qualidade sintônica significa empenho uma disposição para permanecer ocupado com algo e terminar um trabalho As crianças em idade escolar aprendem a trabalhar e a jogar em atividades direcionadas à aquisição de habilidades de trabalho e ao aprendizado das regras de cooperação Quando as crianças aprendem a fazer as coisas bem elas desenvolvem um senso de diligência mas se seu tra balho é insuficiente para atingir os objetivos elas adquirem um senso de inferioridade a qualidade distônica da idade escolar Inadequações anteriores também podem contri buir para os sentimentos de inferioridade Por exemplo se as crianças adquirem culpa excessiva e pouco propósito durante a idade do jogo provavelmente se sentirão inferio res e incompetentes durante a idade escolar Entretanto o fracasso não é inevitável Erikson era otimista ao sugerir que as pessoas podem lidar de modo bemsucedido com a crise de determinado estágio mesmo que não tenham ob tido êxito por completo em estágios prévios A proporção entre diligência e inferioridade deve é claro favorecer a primeira mas a inferioridade como outras qualidades distônicas não deve ser evitada Con forme Alfred Adler Cap 3 apontou a inferioridade pode servir como um impulso para a pessoa ser melhor Em contrapartida o excesso de inferioridade pode bloquear a atividade produtiva e colocar em risco os sentimentos de competência Competência a força básica da idade escolar A partir do conflito diligência versus inferioridade as crian ças em idade escolar desenvolvem a força básica de com petência ou seja a confiança para usar as próprias habili dades físicas e cognitivas para resolver os problemas que acompanham a idade escolar A competência lança as bases para a participação cooperativa na vida adulta produtiva Erikson 1968 p 126 Se a luta entre diligência e inferioridade favorece a in ferioridade ou uma superabundância de diligência é pro vável que as crianças desistam e regridam para um estágio anterior do desenvolvimento Elas podem se tornar preo cupadas com fantasias genitais infantis e edípicas e passar a maior parte do tempo em brincadeiras não produtivas Feist08indd 154 Feist08indd 154 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 155 Essa regressão é chamada de inércia a antítese da compe tência e a patologia central da idade escolar Adolescência A adolescência período da puberdade até o início da idade adulta é um dos estágios do desenvolvimento mais cru ciais porque no final desse período uma pessoa precisa adquirir um sentimento firme de identidade do ego Ainda que a identidade do ego não comece nem termine durante a adolescência a crise entre identidade e confusão de identi dade alcança seu ápice durante esse estágio A partir dessa crise de identidade versus confusão de identidade emerge a fidelidade a força básica da adolescência Erikson 1982 considerava a adolescência um período de latência social assim como a idade escolar é uma épo ca de latência sexual Mesmo que os adolescentes estejam desenvolvendose sexual e cognitivamente na maioria das sociedades ocidentais é permitido a eles adiar compromis sos duradouros com uma ocupação um parceiro sexual ou uma filosofia de vida adaptativa Aos adolescentes é permi tido experimentar de várias formas e testar novos papéis e crenças enquanto procuram estabelecer um sentimento de identidade do ego A adolescência então é uma fase adap tativa do desenvolvimento da personalidade um período de tentativa e erro Puberdade A puberdade definida como maturação genital desempe nha um papel relativamente menor no conceito de adoles cência de Erikson Para a maioria dos jovens a maturação genital não apresenta crises sexuais importantes No en tanto a puberdade é psicologicamente relevante porque desencadeia expectativas quanto aos papéis adultos ainda mais adiante os quais são essencialmente sociais e po dem ser preenchidos por meio de uma luta para atingir a identidade do ego Identidade versus confusão de identidade A procura pela identidade do ego alcança seu ápice durante a adolescência quando os jovens se esforçam para desco brir quem são e quem não são Com a chegada da puberda de os adolescentes procuram novos papéis para ajudálos a descobrir sua identidade sexual ideológica e ocupacional Nessa busca valemse de uma variedade de autoimagens anteriores que foram aceitas ou rejeitadas Assim as se mentes da identidade começam a brotar durante o período de lactância e continuam a crescer durante a infância pre coce a idade do jogo e a idade escolar Então na adolescên cia a identidade se fortalece dentro de uma crise quando os jovens aprendem a lidar com o conflito psicossocial da identidade versus confusão de identidade Uma crise não deve sugerir uma ameaça ou catástrofe mas um ponto de virada um período crucial de vulnera bilidade aumentada e potencial elevado Erikson 1968 p 96 Uma crise de identidade pode durar muitos anos e resultar em maior ou menor força do ego De acordo com Erikson 1982 a identidade emerge de duas fontes 1 a afirmação ou o repúdio dos adoles centes em relação às identificações da infância e 2 seu contexto histórico e social que encoraja a conformidade a certos padrões Os jovens com frequência rejeitam os pa drões de seus pais preferindo em vez disso os valores de um grupo de amigos ou de uma turma De qualquer forma A busca pela identidade no final da adolescência inclui a descoberta da identidade sexual Feist08indd 155 Feist08indd 155 271014 1515 271014 1515 156 FEIST FEIST ROBERTS a sociedade desempenha um papel substancial ao moldar sua identidade A identidade é definida de forma tanto positiva quan to negativa quando os adolescentes estão decidindo o que desejam ser e em que acreditam enquanto também des cobrem o que não desejam ser e em que não acreditam Muitas vezes eles precisam repudiar os valores dos pais ou rejeitar os do grupo de pessoas da mesma idade um dilema que pode intensificar sua confusão de identidade A confusão de identidade é uma condição que inclui autoimagem dividida incapacidade de estabelecer intimi dade sentimento de urgência de tempo falta de concentra ção nas tarefas requeridas e rejeição dos padrões familiares ou da comunidade Como acontece com outras tendências distônicas alguma quantidade de confusão de identidade não só é normal como necessária Os jovens precisam ex perimentar alguma dúvida e confusão acerca de quem eles são antes que possam desenvolver uma identidade estável Eles podem sair de casa como Erikson fez para perambu lar sozinhos na busca pelo self experimentar drogas e sexo identificarse com uma gangue associarse a uma ordem religiosa ou se mobilizar contra a sociedade sem respos tas alternativas Ou eles podem simplesmente e de forma silenciosa considerar onde se enquadram no mundo e que valores lhes são caros Mais uma vez a teoria de Erikson é coerente com sua própria vida Aos 18 anos de idade e se sentindo alienado em relação aos padrões de sua família burguesa Erikson partiu em busca de um estilo de vida diferente Com do tes para o desenho e com mais confusão de identidade do que identidade ele passou os sete anos seguintes peram bulando pelo Sul da Europa à procura de uma identidade como artista Erikson 1975 se referiu a esse estágio da vida como uma época de insatisfação rebeldia e confusão de identidade Apesar de a confusão de identidade ser uma parte necessária da busca pela identidade a confusão excessiva pode conduzir a adaptação patológica em forma de regres são a estágios anteriores do desenvolvimento Podemos adiar as responsabilidades da idade adulta e ficar à deriva sem objetivos de um emprego para outro de um parceiro sexual para outro ou de uma ideologia para outra Em con trapartida se desenvolvemos a proporção adequada entre identidade e confusão de identidade teremos 1 fé em al gum tipo de princípio ideológico 2 a capacidade de deci dir livremente como devemos nos comportar 3 confiança em nossos pares e adultos que nos aconselham acerca de objetivos e aspirações e 4 confiança em nossa escolha de uma ocupação eventual Fidelidade a força básica da adolescência A força básica que emerge da crise de identidade adolescen te é a fidelidade ou fé em sua própria ideologia Depois de estabelecer seus padrões internos de conduta os adoles centes não precisam mais da orientação parental pois têm confiança em suas próprias ideologias religiosas políticas e sociais A confiança aprendida pelo lactente é básica para a fidelidade na adolescência Os jovens precisam aprender a confiar nos outros antes que possam ter fé em sua pró pria visão do futuro Eles precisam desenvolver esperança quando lactentes e devem dar seguimento à esperança com as outras forças básicas vontade propósito e competência Cada uma dessas forças é um prérequisito para a fidelida de assim como a fidelidade é essencial para a aquisição de forças de ego subsequentes A contrapartida da fidelidade é o repúdio do papel a patologia central da adolescência que bloqueia a capacidade de sintetizar várias autoimagens e valores em uma identi dade funcional O repúdio do papel pode assumir a forma de desconfiança ou desafio Erikson 1982 Desconfiança é uma falta extrema de autoconfiança expressa como timi dez ou hesitação em se expressar Em contraste desafio é o ato de se rebelar contra a autoridade Os adolescentes de safiadores apegamse obstinadamente a crenças e práticas inaceitáveis no âmbito social apenas porque essas crenças e práticas são inadmissíveis Erikson acreditava que algu ma quantidade de repúdio do papel é necessária não só porque permite que os adolescentes desenvolvam sua iden tidade pessoal mas também porque injeta algumas ideias novas na estrutura social e a revigora Início da idade adulta Depois de alcançar um sentimento de identidade duran te a adolescência os indivíduos precisam adquirir a ca pacidade de fundir essa identidade com a identidade de outra pessoa ao mesmo tempo mantendo sua noção de individualidade O início da idade adulta uma época aproximadamente entre 19 e 30 anos está circunscrito não tanto pelo tempo quanto pela aquisição da intimidade no começo do estágio e pelo desenvolvimento da genera tividade no final Para algumas pessoas esse estágio é um tempo relativamente curto durando talvez apenas alguns anos Para outras o estágio de jovem adulto pode con tinuar por várias décadas Os jovens adultos devem de senvolver a genitalidade madura experimentar o conflito entre intimidade e isolamento e adquirir uma força básica de amor Genitalidade Muito da atividade sexual durante a adolescência é uma expressão da busca pela identidade e está basicamente a serviço do próprio adolescente A verdadeira genitalida de pode se desenvolver somente durante o início da ida de adulta quando ela é distinguida por confiança mútua e pelo compartilhamento estável das satisfações sexuais com Feist08indd 156 Feist08indd 156 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 157 uma pessoa amada Tratase da principal conquista psicos sexual do início da idade adulta e existe apenas em uma relação íntima Erikson 1963 Intimidade versus isolamento O início da idade adulta é marcado pela crise psicossocial intimidade versus isolamento Intimidade é a capacidade de fundir a própria identidade com a de outra pessoa sem medo de perdêla Como a intimidade pode ser alcançada somente depois que as pessoas formaram um ego está vel as paixões encontradas com frequência no início da adolescência não são intimidade verdadeira As pessoas que estão inseguras com sua identidade podem se re trair da intimidade psicossocial ou procurar intimidade desesperadamente por meio de encontros sexuais sem significado Em contraste intimidade madura significa a capaci dade e a disposição para compartilhar uma confiança mú tua Ela envolve sacrifício concessão e comprometimento em um relacionamento entre dois iguais Ela deve ser um requisito para o casamento porém muitos casamentos ca recem de intimidade porque algumas pessoas jovens se casam como parte da busca pela identidade que elas não conseguiram estabelecer durante a adolescência A contrapartida psicossocial da intimidade é o isola mento definido como a incapacidade de arriscar a própria identidade compartilhando a verdadeira intimidade Erik son 1968 p 137 Algumas pessoas se tornam bemsuce didas financeira ou socialmente e no entanto mantêm um sentimento de isolamento porque são incapazes de aceitar as responsabilidades adultas do trabalho produtivo da pro criação e do amor maduro Mais uma vez algum grau de isolamento é essencial antes que se possa adquirir o amor maduro A intimidade excessiva pode diminuir o senso de identidade do ego o que pode levar a pessoa à regressão psicossocial e à inca pacidade de enfrentar o estágio seguinte do desenvolvi mento O maior perigo é claro é o isolamento excessivo pouca intimidade e uma deficiência na força básica do amor Amor a força básica do início da idade adulta O amor a força básica do início da idade adulta emerge da crise de intimidade versus isolamento Erikson 1968 1982 definiu amor como a devoção madura que supera as diferenças básicas entre homens e mulheres Ainda que o amor inclua intimidade ele também contém algum grau de isolamento pois é permitido que cada parceiro mantenha uma identidade separada Amor maduro significa compro metimento paixão sexual cooperação competição e ami zade Ele é a força básica do início da idade adulta possibili tando que uma pessoa enfrente de modo produtivo os dois estágios finais do desenvolvimento A antítese do amor é a exclusividade a patologia cen tral do início da idade adulta Alguma exclusividade no en tanto é necessária para a intimidade ou seja uma pessoa precisa ser capaz de excluir certos indivíduos atividades e ideias para desenvolver um sentimento de identidade for te A exclusividade se torna patológica quando ela bloqueia a capacidade de cooperar competir ou se comprometer todos esses ingredientes são prérequisitos para a intimi dade e o amor Idade adulta O sétimo estágio do desenvolvimento é a idade adulta época em que as pessoas começam a tomar seu lugar na sociedade e a assumir responsabilidade pelo que a socie dade produz Para a maioria esse é o estágio mais longo do desenvolvimento estendendose dos 31 aos 60 anos A idade adulta é caracterizada pelo modo psicossexual da procriatividade pela crise social da generatividade versus es tagnação e pela força básica do cuidado Procriatividade A teoria psicossexual de Erikson pressupõe um impulso instintivo para perpetuar a espécie O impulso é a contra partida do instinto de um animal adulto em direção à pro criação uma extensão da genitalidade que marca o início da idade adulta Erikson 1982 Entretanto procriativi dade é mais do que o contato genital com um parceiro ín timo Ela inclui assumir a responsabilidade pelos cuidados da prole que resulta desse contato sexual De maneira ideal a procriação deve vir depois que a intimidade e o amor ma duro se estabeleceram no estágio precedente Obviamen te as pessoas são capazes no âmbito físico de gerar uma prole antes de estarem prontas no âmbito psicológico para cuidar do bemestar dessas crianças A idade adulta madura demanda mais do que procriar ela inclui cuidar dos próprios filhos assim como dos filhos de outras pessoas Além disso ela abrange trabalhar pro dutivamente para transmitir cultura de uma geração para a seguinte Generatividade versus estagnação A qualidade sintônica da idade adulta é a generatividade de finida como a geração de novos seres bem como de novos produtos e novas ideias Erikson 1982 p 67 Generativi dade que se refere ao estabelecimento e à orientação da ge ração seguinte inclui a geração de filhos a produção de tra balho e a criação de coisas e ideias novas que contribuam para a construção de um mundo melhor As pessoas têm necessidade não só de aprender mas também de ensinar Essa necessidade se estende além dos próprios filhos envolvendo uma preocupação altruísta com os outros jovens A generatividade se desenvolve a partir de qualidades sintônicas anteriores como intimida Feist08indd 157 Feist08indd 157 271014 1515 271014 1515 158 FEIST FEIST ROBERTS de e identidade Conforme observado intimidade requer a capacidade de fundir o próprio ego ao de outra pessoa sem medo de perdêlo Tal unidade de identidades do ego leva a uma expansão gradual dos interesses Durante a idade adulta a intimidade um a um já não é mais suficiente Ou tras pessoas especialmente as crianças tornamse parte de nossas preocupações Instruir os outros nos caminhos da cultura é uma prática encontrada em todas as socieda des Para o adulto maduro essa motivação não é meramen te uma obrigação ou uma necessidade egoísta mas um im pulso evolutivo de contribuir para as gerações posteriores e também assegurar a continuidade da sociedade humana A antítese da generatividade é a autoabsorção e a estag nação O ciclo geracional de produtividade e criatividade é prejudicado quando as pessoas se tornam muito absorvi das em si mesmas excessivamente autoindulgentes Tal atitude estimula um sentimento generalizado de estag nação Contudo alguns elementos de estagnação e auto absorção são necessários As pessoas criativas precisam às vezes permanecer em um estágio dormente e ser absorvi das em si mesmas para por fim gerarem novo crescimen to A interação entre generatividade e estagnação produz cuidado a força básica da idade adulta Cuidado a força básica da idade adulta Erikson 1982 define cuidado como uma ampliação do comprometimento em cuidar das pessoas dos produtos e das ideias com os quais a pessoa aprendeu a se preocupar p 67 Como força básica da idade adulta o cuidado sur ge de cada força básica anterior do ego É preciso ter espe rança vontade propósito competência fidelidade e amor para cuidar daquilo com que nos preocupamos O cuidado não é um dever ou uma obrigação mas um desejo natural que surge do conflito entre generatividade e estagnação ou autoabsorção A antítese do cuidado é a rejeição a patologia central da idade adulta A rejeição é a indisponibilidade para cuidar de certas pessoas ou grupos Erikson 1982 Manifestase como egocentrismo provincianismo ou pseudoespeciação ou seja a crença de que outros grupos de pessoas são in feriores ao seu Ela é responsável por muito do ódio huma no da destruição das atrocidades e das guerras Conforme disse Erikson a rejeição tem implicações de longo alcance para a sobrevivência da espécie assim como para o desen volvimento psicossocial de cada indivíduo p 70 Velhice O oitavo e último estágio do desenvolvimento é a velhice Erikson estava no começo da década dos 40 anos quando conceitualizou esse estágio pela primeira vez e definiuo de forma arbitrária como o período que se estende desde os 60 anos até o final da vida Velhice não precisa significar que as pessoas não são mais generativas A procriação no sentido mais restrito de produzir filhos pode estar ausente e no entanto as pessoas permanecem produtivas e cria tivas de outras maneiras Elas podem ser avós atenciosos com seus netos e também com outros membros mais jo vens da sociedade A velhice pode ser uma época de alegria diversão e encanto mas também pode ser um momento de senilidade depressão e desespero O modo psicossexual da velhice é a sensualidade generalizada e a força básica é a sabedoria Os estágios do desenvolvimento de Erikson se estendem até a velhice Feist08indd 158 Feist08indd 158 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 159 Sensualidade generalizada O estágio psicossexual final é a sensualidade generaliza da Erikson tinha pouco a dizer sobre esse modo de vida psicossexual mas podese inferir que significa obter prazer por meio de uma variedade de sensações físicas imagens sons sabores odores abraços e talvez es timulação genital A sensualidade generalizada também pode incluir uma maior apreciação do estilo de vida tra dicional do sexo oposto Os homens se tornam mais atenciosos e aceitam mais os prazeres de relações não sexuais incluindo aquelas com seus netos e bisnetos As mulheres se tornam mais interessadas e envolvidas em política finanças e questões mundiais Erikson Erikson Kivnick 1986 Uma atitude sensual generalizada no entanto depende da capacidade do indivíduo de manter o controle das coisas isto é manter a integridade diante do desespero Integridade versus desespero A crise de identidade final de uma pessoa é integridade versus desespero No final da vida a qualidade distônica do desespero pode prevalecer mas para os indivíduos com uma identidade de ego forte que aprenderam inti midade e que cuidaram das pessoas e das coisas a qua lidade sintônica da integridade irá predominar Integri dade significa um sentimento de totalidade e coerência uma capacidade de manter o controle sobre o próprio sentimento de si apesar da redução da potência física e intelectual WWW ALÉM DA BIOGRAFIA EM INGLÊS Quem era Erik Erikson Para informações sobre a busca de toda uma vida por sua própria identidade acesse wwwmhhecomfeist8e A integridade do ego é por vezes difícil de manter quando as pessoas percebem que estão perdendo aspec tos regulares de sua existência tais como o cônjuge os amigos a saúde física a força corporal a acuidade men tal a independência e a utilidade social Sob essa pressão as pessoas têm com frequência um sentimento generali zado de desespero o qual podem expressar como repú dio depressão desprezo pelos outros ou alguma outra atitude que revele a não aceitação das fronteiras finitas da vida Desespero literalmente significa estar sem esperança Um reexame da Figura 82 revela que o desespero a últi ma qualidade distônica do ciclo de vida está no extremo oposto da esperança a primeira força básica de uma pes soa Desde a lactância até a velhice pode existir esperança Depois que a esperança é perdida seguese o desespero e a vida deixa de ter significado Sabedoria a força básica da velhice Alguma quantidade de desespero é natural e necessária para a maturidade psicológica A inevitável luta entre in tegridade e desespero produz sabedoria a força básica da velhice Erikson 1982 definiu sabedoria como a preo cupação informada e desapegada acerca da vida ante a própria morte p 61 As pessoas com preocupação de sapegada não carecem de preocupação ao contrário têm um interesse ativo mas desapaixonado Com sabedoria madura elas mantêm sua integridade apesar do declí nio das habilidades físicas e mentais A sabedoria recorre ao conhecimento tradicional transmitido de uma gera ção a outra e também contribui para ele Na velhice as pessoas estão preocupadas com questões derradeiras incluindo a não existência Erikson Erikson Kivnick 1986 A antítese da sabedoria e a patologia central da velhice é o desdém o qual Erikson 1982 p 61 definiu como uma reação a se sentir e ver os outros em um estado crescen te de aniquilamento confusão e desamparo O desdém é uma continuação da rejeição a patologia central da idade adulta Conforme o próprio Erikson envelhecia ele se tornava menos otimista quanto à velhice e com sua esposa come çou a descrever um nono estágio um período de idade muito avançada em que as enfermidades físicas e mentais roubam das pessoas suas habilidades generativas e as redu zem à espera pela morte Joan em especial ficou interes sada nesse nono estágio enquanto via a saúde do marido deteriorarse muito rápido durante os últimos anos de sua vida Infelizmente a própria Joan morreu antes de conse guir completar esse estágio Resumo do ciclo de vida O ciclo de vida de Erikson é resumido na Tabela 81 Cada um dos oito estágios é caracterizado por um modo psicos sexual e por uma crise psicossocial A crise psicossocial é estimulada por um conflito entre o elemento sintônico predominante e seu elemento distônico antitético A partir desse conflito emerge uma força básica ou qualidade do ego Cada força básica possui uma antítese subjacente que se torna a patologia central do estágio correspondente Os humanos têm um leque cada vez mais amplo de relações significativas começando com a figura materna no período de lactância e terminando com uma identificação com toda a humanidade durante a velhice A personalidade sempre se desenvolve durante um período histórico particular e dentro de determinada so ciedade No entanto Erikson acreditava que os oito es tágios do desenvolvimento transcendem a cronologia e a geografia e são apropriados a quase todas as culturas pas sadas e presentes Feist08indd 159 Feist08indd 159 271014 1515 271014 1515 160 FEIST FEIST ROBERTS MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO DE ERIKSON Erikson insistia em que a personalidade é um produto da história da cultura e da biologia e seus diversos mé todos de investigação refletem essa crença Ele empregou métodos antropológicos históricos sociológicos e clíni cos para aprender sobre crianças adolescentes adultos e americanos idosos Ele estudou americanos de classe mé dia crianças europeias o povo das nações Sioux e Yurok da América do Norte e até mesmo marinheiros em um submarino Escreveu retratos biográficos de Adolf Hitler Maxim Gorky Martin Luther e Mohandas K Gandhi en tre outros Nesta seção apresentamos duas abordagens que Erikson usou para explicar e descrever a personalidade humana estudos antropológicos e psicohistória Estudos antropológicos Em 1937 Erikson fez uma viagem de campo à Reserva In dígena Pine Ridge em Dakota do Sul para investigar as cau sas de apatia entre as crianças Sioux Erikson 1963 relatou o treinamento precoce dos Sioux em termos de suas teo rias em construção sobre o desenvolvimento psicossexual e psicossocial Ele constatou que a apatia era a expressão de uma sujeição extrema que os Sioux desenvolveram como resultado da dependência de vários programas do governo federal Em certa época eles tinham sido corajosos caçado res de búfalos mas em 1937 os Sioux já tinham perdido sua identidade de grupo como caçadores e estavam tentan do sem entusiasmo e com muito custo ganhar a vida como fazendeiros As práticas de criação dos filhos que no pas sado haviam treinado os meninos a serem caçadores e as meninas a serem ajudantes e mães dos futuros caçadores já não eram mais apropriadas para uma sociedade agrária Em consequência as crianças Sioux de 1937 tinham grande dificuldade em alcançar um sentimento de identidade do ego em especial depois que chegavam à adolescência Dois anos depois Erikson fez uma viagem de campo semelhante ao Norte da Califórnia para estudar o povo da nação Yurok que vivia principalmente da pesca do salmão Ainda que os Sioux e os Yurok tivessem culturas comple tamente divergentes cada tribo tinha a tradição de treinar seus jovens nas virtudes de sua sociedade O povo Yurok foi treinado para pescar e portanto não possuía um forte sentimento nacional e tinha pouco gosto pela guerra Ob ter e guardar provisões e posses era altamente valorizado pelo povo da nação Yurok Erikson 1963 conseguiu mos trar que o treinamento na infância precoce era coerente com esse forte valor cultural e que a história e a sociedade ajudavam a moldar a personalidade Psicohistória A disciplina chamada psicohistória é um campo con troverso que combina conceitos psicanalíticos e métodos históricos Freud 19101957 deu origem à psicohistória com uma investigação sobre Leonardo da Vinci e posterior mente colaborou com o embaixador americano William Bullitt para escrever um extenso estudo psicológico do pre sidente Woodrow Wilson Freud Bullitt 1967 Apesar TABELA 81 Resumo dos oito estágios do ciclo de vida de Erikson Estágio Modo psicossexual Crise psicossexual Força básica Patologia central Relações significativas 8 Velhice Generalização dos modos sensuais Integridade versus desespero Sabedoria Desdém Toda a humanidade 7 Idade adulta Procriatividade Generatividade versus estagnação Cuidado Rejeição Trabalho dividido e cuidados da casa compartilhados 6 Início da idade adulta Genitalidade Intimidade versus isolamento Amor Exclusividade Parceiros sexuais amigos 5 Adolescência Puberdade Identidade versus confusão de identidade Fidelidade Repúdio do papel Grupos de pares 4 Idade escolar Latência Diligência versus inferioridade Competência Inércia Vizinhança escola 3 Idade do jogo Genitallocomotor infantil Iniciativa versus culpa Propósito Inibição Família 2 Infância precoce Analuretralmuscular Autonomia versus vergonha e dúvida Vontade Compulsão Pais 1 Lactância Oralrespiratório sensorialcinestésico Confiança básica versus desconfiança básica Esperança Retraimento Figura de maternagem De The Life Cycle Completed A Review de Erik H Erikson Copyright 1982 Rikan Enterprises Ltd Reimpressa com permissão de W W Norton e Company Inc Feist08indd 160 Feist08indd 160 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 161 de Erikson 1975 ter deplorado este último trabalho ele tomou os métodos da psicohistória e os refinou especial mente em seu estudo de Martin Luther Erikson 1958 1975 e Mahatma Gandhi Erikson 1969 1975 Tanto Luther quanto Gandhi tiveram um impacto importante na história porque cada um era uma pessoa excepcional com o conflito pessoal certo vivendo durante um período histó rico que precisava resolver coletivamente o que não podia ser solucionado de modo individual E Hall 1983 Erikson 1974 definiu psicohistória como o estudo da vida individual e coletiva com os métodos combinados da psicanálise e da história p 13 Ele usou a psicohistó ria para demonstrar suas crenças fundamentais de que cada pessoa é produto de seu momento histórico e que esses mo mentos históricos são influenciados por líderes excepcio nais que experimentam um conflito de identidade pessoal Como autor de psicohistória Erikson acreditava que deveria envolverse emocionalmente nesse assunto Por exemplo ele desenvolveu um forte apego emocional a Gandhi que atribuía a sua própria busca de toda uma vida pelo pai que ele nunca tinha visto Erikson 1975 Em A verdade de Gandhi Gandhis Truth Erikson 1969 reve lou sentimentos positivos fortes por Gandhi enquanto ten tava responder à questão de como indivíduos sadios como ele elaboram o conflito e a crise quando outras pessoas são debilitadas por conflitos menores Na busca por uma res posta Erikson examinou todo o ciclo de vida de Gandhi mas se concentrou em uma crise particular a qual teve seu clímax quando na meiaidade o líder espiritual usou pela primeira vez o jejum autoimposto como arma política Quando criança Gandhi era próximo de sua mãe mas teve conflitos com seu pai Em vez de considerar essa si tuação como um conflito edípico Erikson a viu como a oportunidade de Gandhi de elaborar o conflito com figuras de autoridade um ensejo que Gandhi teria muitas vezes durante sua vida Gandhi nasceu em 2 de outubro de 1869 em Porban dar Índia Quando jovem estudou direito em Londres e era discreto nas maneiras e na aparência Então vestido como um autêntico sujeito britânico ele voltou para a Ín dia para exercer o direito Após dois anos de prática sem sucesso ele foi para a África do Sul que como a Índia era uma colônia britânica Ele pretendia permanecer por um ano mas sua primeira crise de identidade intensa o mante ve lá por mais de 20 anos Uma semana depois de um juiz têlo expulsado de um tribunal Gandhi foi retirado de um trem quando se recu sou a dar seu lugar para um homem branco Essas duas experiências com preconceito racial mudaram sua vida Na época em que ele resolveu essa crise de identidade sua apa rência havia mudado dramaticamente Não mais trajado com chapéu de seda e casaco preto ele usava uma tanga e um xale de algodão que passaram a ser conhecidos por mi lhões de pessoas em todo o mundo Durante aqueles anos na África do Sul ele desenvolveu a técnica de resistência passiva conhecida como Satyagraha e a usava para resolver seus conflitos com as autoridades Satyagraha é um termo em sânscrito que significa um método tenaz e obstinado de entender a verdade Depois de retornar para a Índia Gandhi experimentou outra crise de identidade quando em 1918 aos 49 anos tornouse a figura central em uma greve de trabalhado res contra os proprietários de moinhos em Ahmedabad Erikson se referiu aos fatos que envolviam a greve como O Evento e dedicou a parte central de A verdade de Gan dhi a tal crise Ainda que essa greve tenha sido apenas um acontecimento menor na história da Índia e tenha recebi do pouca atenção na biografia de Gandhi Erikson 1969 considerou o fato como promotor de um grande impacto na identidade de Gandhi como praticante da não violência militante Os trabalhadores dos moinhos haviam prometido fa zer greve caso suas reivindicações por um aumento de 35 no salário não fossem atendidas Porém os proprietários que haviam combinado entre si de não oferecer um au mento superior a 20 recusaram e tentaram romper sua solidariedade oferecendo o aumento de 20 para aqueles De acordo com Erikson Mahatma Gandhi desenvolveu forças básicas a partir de suas várias crises de identidade Feist08indd 161 Feist08indd 161 271014 1515 271014 1515 162 FEIST FEIST ROBERTS que voltassem ao trabalho Gandhi o portavoz dos traba lhadores ficou abalado com esse impasse Então de forma um tanto impetuosa ele prometeu não comer mais nada até que as demandas dos trabalhadores fossem atendidas Este o primeiro de 17 jejuns até a morte não foi feito como uma ameaça aos proprietários dos moinhos mas para demonstrar aos trabalhadores que uma promessa deve ser mantida Na verdade Gandhi temia que os pro prietários dos moinhos se rendessem por simpatia a ele em vez de por reconhecimento à situação desesperada dos trabalhadores De fato no terceiro dia trabalhadores e pro prietários chegaram a um acordo que permitiu que os dois lados salvassem as aparências os trabalhadores iriam tra balhar um dia por um aumento de 35 um dia por um aumento de 20 e depois pela quantia que um árbitro decidisse No dia seguinte Gandhi interrompeu a greve de fome mas sua resistência pacífica ajudou a moldar sua identidade e lhe deu uma nova ferramenta para a mudança política e social pacífica Diferentemente dos indivíduos neuróticos cuja crise de identidade resulta em patologias centrais Gandhi de senvolveu força a partir dessa e de outras crises Erikson 1969 descreveu a diferença entre conflitos em grandes pessoas como Gandhi e indivíduos psicologicamente per turbados Esta então é a diferença entre um histórico de caso e uma história de vida os pacientes grandes ou pe quenos são cada vez mais debilitados por seus conflitos internos mas na realidade histórica o conflito interno apenas acrescenta um ímpeto indispensável a todo esforço sobrehumano p 363 PESQUISA RELACIONADA Uma das principais contribuições de Erikson foi ampliar o desenvolvimento da personalidade até a idade adulta Ao expandir a noção de Freud do desenvolvimento até a velhice Erikson desafiou a ideia de que o desenvolvi mento psicológico termina com a infância O legado mais influente de Erikson foi sua teoria do desenvolvimento e em particular os estágios desde a adolescência até a velhi ce Ele foi um dos primeiros teóricos a enfatizar o período crítico da adolescência e os conflitos associados à busca por uma identidade Adolescentes e jovens adultos com frequência perguntam Quem sou eu Para onde estou indo E o que quero fazer com o resto da minha vida A forma como eles respondem a essas perguntas desempe nha um papel importante nos tipos de relações que de senvolvem em com quem se casam e nos caminhos pro fissionais que seguem Em contraste com a maioria dos outros teóricos psico dinâmicos Erikson estimulou bastante a pesquisa empíri ca boa parte sobre a adolescência o início da idade adulta e idade adulta Discutimos aqui as pesquisas recentes sobre o desenvolvimento no início e na metade da vida adulta de forma mais específicas os estágios da identidade da inti midade e da generatividade A identidade precede a intimidade Os pesquisadores Wim Beyers e Inge SeiffgeKrenke 2010 fizeram exatamente a mesma pergunta como uma forma de testar o princípio epigenético de Erikson A aquisição na adolescência de um senso de identidade seguro forne ce uma base para o desenvolvimento de relações íntimas sadias na idade adulta emergente Seu estudo longitudi nal testou o pressuposto de Erikson em relação a esse or denamento fixo do desenvolvimento para preencher duas lacunas na literatura de pesquisa a apenas estudos trans versais e de curto prazo foram realizados até o momento sobre esses dois estágios eriksonianos portanto ainda não foi possível chegar a uma conclusão de fato referente ao desenvolvimento e b vários modelos mais recentes sobre o desenvolvimento adolescente questionaram se a identi dade realmente precede a intimidade conforme postula a teoria de Erikson Existem indicações de um contexto de desenvolvimen to bastante alterado em décadas recentes que coloca em questão a adequação do ordenamento de Erikson em es tágios na adolescência e na idade adulta Por exemplo os adolescentes hoje podem adiar os compromissos adultos e explorar um amplo leque de opções na faculdade e além Luyckx Goossens Soenens Beyers 2006 sugerindo que a solidificação da identidade é estendida Além do mais alguns sugeriram que as relações sexuais íntimas se desenvolvem cada vez mais durante a adolescência talvez precedendo e até mesmo interrompendo o desenvolvimen to da identidade considerese a taxa de gravidez na adoles cência p ex Brown 1999 Beyers e SeiffgeKrenke 2010 examinaram dados de 52 mulheres e 41 homens em um estudo longitudinal de 10 anos na Alemanha para avaliar primeiro se o ordena mento do desenvolvimento de Erikson da identidade e segundo a intimidade ainda se mantêm verdadeiros Seus participantes foram entrevistados quando tinham 15 anos e novamente aos 25 anos Eles encontraram evidências de uma marcante progressão do desenvolvimento da identi dade para a intimidade com um crescente desenvolvimen to do ego dos 15 aos 25 anos mais conformado aos 15 anos e mais autoconsciente aos 25 anos Além disso não houve indicação de adiamento da identidade conforme su gerido por outros nos jovens adultos Por fim a maioria da amostra tinha parcerias íntimas aos 25 anos e seus níveis de intimidade podiam ser previstos a partir do desenvol vimento da identidade do ego aos 15 anos Portanto os pesquisadores concluíram que mesmo no novo milênio o desenvolvimento do ego na adolescência é um forte predi tor de intimidade no jovem adulto Feist08indd 162 Feist08indd 162 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 163 O próprio Erik Erikson escreveu certa vez A condição de dois é que precisamos primeiro nos tornar um 1982 p 101 Beyers e SieffgeKrenke 2010 parecem ter de monstrado a verdade dessa declaração incisiva acerca da personalidade da idade adulta emergente Conforme nos tornamos seguros em relação a nós mesmos temos maior probabilidade de desfrutar da intimidade de mais alta qua lidade com um parceiro Generatividade versus estagnação Assim como em todos os estágios a idade adulta consiste em dois conflitos em interação generatividade e estagna ção Erikson de modo geral considerava a estagnação e ge neratividade como extremos opostos do mesmo continuum Em outras palavras uma pessoa que tem alta generativida de tende a apresentar baixa estagnação e viceversa Mas recentemente pesquisadores começaram a questionar o quanto esses dois aspectos do desenvolvimento adulto de fato são opostos e exploraram estagnação e generatividade como construtos independentes Van Hiel Mervielde De Fruyt 2006 Uma razão para essa mudança do mode lo de Erikson é que pode ser possível que as pessoas sejam tanto generativas quanto estagnadas Tal situação aconte ce se uma pessoa realmente desejar ser generativa e com preender a importância de ser generativa mas seja qual for a razão não puder superar o envolvimento em si Ela pode perceber que a generatividade é o estágio seguinte no de senvolvimento mas simplesmente não consegue chegar lá Uma maneira de determinar a independência desses dois construtos é medilos separadamente e depois men surar várias consequências Se eles forem níveis opostos do mesmo continuum então quando a generatividade se mostrar um preditor positivo de um resultado como a saúde mental a estagnação deve se mostrar um preditor negativo da saúde mental Todavia se eles nem sempre se mostrarem correspondentes então ambos os constru tos podem ser conceitos separados Como a estagnação nunca antes foi mensurada separada da generatividade os pesquisadores tiveram que criar uma medida a partir do zero Com base na descrição de estagnação dada por outros estudiosos p ex Bradley Marcia 1998 Van Hiel e colaboradores 2006 criaram uma medida de au torrelato consistindo de itens como Frequentemente mantenho uma distância entre mim e meus filhos e É difícil dizer quais são meus objetivos Para medir a Ge neratividade os pesquisadores usaram a Escala de Gene ratividade Loyola EGL usada na maioria das pesquisas sobre esse tópico Para ver o quanto tais construtos com binam com resultados importantes os pesquisadores es colheram uma medida ampla de saúde mental que incluía a avaliação de sintomas relacionados a vários transtornos da personalidade como a incapacidade de regular as emo ções e questões de intimidade Os resultados desse estudo corroboraram a nova pro posição de que estagnação e generatividade devem ser con sideradas de modo independente Por exemplo estagnação e generatividade não predizem resultados de saúde mental da mesma maneira Aqueles que tinham alta estagnação tendiam a ser menos capazes de regular suas emoções no entanto ao mesmo tempo a generatividade não estava relacionada à regulação da emoção Se apenas a generati vidade tivesse sido medida e não a estagnação separada mente então esses pesquisadores não teriam descoberto o achado importante de que a estagnação está relacionada a problemas na regulação emocional Os pesquisadores também identificaram a existência de indivíduos com alta generatividade e estagnação constatando que tal perfil de personalidade não é sadio em termos de bemestar mental e emocional Comparadas a pessoas com alta generativida de mas baixa estagnação os indivíduos com ambas as di mensões altas são menos capazes de regular suas emoções e experimentam mais dificuldades de intimidade Essas duas qualidades são consideradas componentes de uma personalidade desadaptada Conceitualmente essa pesquisa não difere muito do modelo de Erikson estagnação e generatividade ainda es tão incluídas Ela mostra no entanto que para fins práti cos de pesquisa e para compreender de forma mais integral a personalidade na idade adulta estagnação e generativida de podem operar e por vezes operam de modo separado e independente no desenvolvimento adulto CRÍTICAS A ERIKSON Erikson construiu sua teoria em grande parte sobre princí pios éticos e não necessariamente sobre dados científicos Ele chegou à psicologia pela arte e reconheceu que via o mundo mais pelos olhos de um artista do que pelos olhos de um cientista Certa vez escreveu que nada tinha a ofere cer exceto uma maneira de olhar para as coisas Erikson 1963 p 403 Seus livros são reconhecidamente subjetivos e pessoais o que certamente os torna mais atraentes No entanto a teoria de Erikson deve ser julgada pelos padrões da ciência não pela ética ou pela arte O primeiro critério de uma teoria útil é a capacidade de gerar pesquisa e por esse padrão classificamos a teoria de Erikson como um pouco acima da média Por exemplo somente o tópico da identidade do ego gerou várias cen tenas de estudos outros aspectos dos estágios de desen volvimento de Erikson como intimidade versus isolamen to Gold Rogers 1995 e generatividade Arnett 2000 Pratt Norris Arnold Filyer 1999 e todo o ciclo de vida Whitbourne Zuschlag Elliot Waterman 1992 esti mularam investigações empíricas ativas Apesar dessa pesquisa ativa classificamos a teoria de Erikson como somente na média quanto ao critério de refu Feist08indd 163 Feist08indd 163 271014 1515 271014 1515 164 FEIST FEIST ROBERTS tação Muitos achados desse corpo de pesquisa podem ser explicados por outras teorias além da teoria dos estágios de desenvolvimento de Erikson Em sua capacidade de organizar conhecimento a teoria de Erikson está limitada principalmente aos estágios do desenvolvimento Ela não aborda de modo adequado ques tões como traços pessoais ou motivação uma limitação que reduz a capacidade da teoria de dar significado a muito do que é hoje conhecido sobre a personalidade humana Os oito estágios do desenvolvimento permanecem sendo uma afirmação eloquente do que deve ser o ciclo da vida e os achados de pesquisa nessas áreas em geral podem ser en caixados em um modelo eriksoniano No entanto a teoria carece de alcance suficiente para ser classificada como alta em tal critério Como um guia para a ação a teoria de Erikson fornece muitas diretrizes gerais mas poucas informações específi cas Comparada a outras teorias discutidas neste livro ela se classifica próxima ao topo na sugestão de abordagens para lidar com adultos de meiaidade e mais velhos A visão de Erikson sobre o envelhecimento foi útil para as pessoas no campo da gerontologia e suas ideias sobre a identida de do ego são quase sempre citadas em livros de psicologia adolescente Além disso seus conceitos de intimidade ver sus isolamento e generatividade versus estagnação têm mui to a oferecer a terapeutas de casais e a outros profissionais preocupados com relações íntimas entre jovens adultos Classificamos a teoria de Erikson como alta em coerên cia interna principalmente porque os termos usados para rotular as diferentes crises psicossociais forças básicas e patologias centrais são escolhidos com muito cuidado O inglês não era a língua materna de Erikson e seu extenso uso de um dicionário enquanto escrevia aumentou a pre cisão de sua terminologia No entanto conceitos como es perança vontade propósito amor cuidado entre outros não são definidos de modo operacional Eles têm pouca utilidade científica embora se classifiquem como altos em valor literário e emocional Todavia o princípio epigenético de Erikson e a eloquência da descrição dos outros estágios do desenvolvimento marcam sua teoria com coerência in terna visível No critério de simplicidade ou parcimônia atribuí mos à teoria a classificação moderada A precisão de seus termos é um ponto forte mas as descrições dos estágios psicossexuais e das crises psicossociais em especial nas fases posteriores nem sempre são claramente diferen ciadas Além disso Erikson usou termos diferentes e até conceitos distintos para preencher os 64 quadros que es tão vagos na Figura 82 Tal inconsistência subtrai simpli cidade da teoria CONCEITO DE HUMANIDADE Em contraste com Freud que acreditava que anatomia era destino Erikson sugeriu que outros fatores poderiam ser res ponsáveis pelas diferenças entre mulheres e homens Citando algumas de suas próprias pesquisas Erikson 1977 sugeriu que embora meninas e meninos tenham métodos diferen tes de jogar essas diferenças são pelo menos em parte re sultado de práticas de socialização distintas Essa conclusão significa que Erikson concordava com Freud que anatomia é destino A resposta de Erikson era sim anatomia é destino mas ele rapidamente qualificava essa máxima para dizer Anatomia história e personalidade são nosso destino combi nado Erikson 1968 p 285 Em outras palavras a anatomia isoladamente não determina o destino mas ela se combina com eventos passados incluindo dimensões sociais e várias dimensões da personalidade como temperamento e inteli gência para determinar quem a pessoa se tornará Como a teoria de Erikson conceitualiza a humanidade em termos das seis dimensões que apresentamos no Capí tulo 1 Primeiro o ciclo da vida é determinado por forças externas ou as pessoas têm alguma escolha para moldar suas personalidades e vidas Erikson não era tão determinista quanto Freud mas também não acreditava fortemente em livrearbítrio Sua posição era mais intermediária Ainda que a personalidade seja moldada em parte pela cultura e pela história é possível manter um controle limitado so bre o próprio destino As pessoas podem procurar suas pró prias identidades e não estão completamente restringidas pela cultura e pela história Os indivíduos de fato podem mudar a história e alterar seu ambiente Os dois sujeitos das psicohistórias mais extensas de Erikson Martin Luther e Mahatma Gandhi possibilitaram um profundo efeito na história mundial e em seu ambiente imediato Do mesmo modo cada um de nós tem o poder de determinar o próprio ciclo de vida mesmo que nosso impacto global possa ser em uma escala menor Na dimensão pessimismo versus otimismo Erikson tendia a ser mais otimista Mesmo que patologias centrais possam predominar em estágios iniciais do desenvolvimento os hu manos não estão inevitavelmente condenados a continuar uma existência patológica em estágios posteriores Apesar de fraquezas no início da vida tornarem mais difícil adquirir for ças básicas mais tarde as pessoas permanecem capazes de mudar em qualquer estágio da vida Cada conflito psicossocial consiste em uma qualidade sintônica e distônica Cada crise Feist08indd 164 Feist08indd 164 271014 1515 271014 1515 TEORIAS DA PERSONALIDADE 165 Termoschave e conceitos Os estágios do desenvolvimento se apoiam no prin cípio epigenético significando que cada componente avança passo a passo com o crescimento posterior sendo construído sobre o desenvolvimento anterior Durante cada estágio as pessoas experimentam uma interação de atitudes sintônicas e distônicas opostas o que leva a um conflito ou crise psicossocial A resolução dessa crise produz uma força básica e pos sibilita que a pessoa avance para o estágio seguinte Os componentes biológicos formam a planta baixa de cada indivíduo mas uma multiplicidade de even tos históricos e culturais também molda a identidade do ego Cada força básica possui uma antítese subjacente que se torna a patologia central do estágio correspondente O primeiro estágio do desenvolvimento é o período da lactância caracterizado pelo modo oralsensorial pela crise psicossocial de confiança básica versus des confiança básica pela força básica da esperança e pela patologia central do retraimento Durante a infância precoce as crianças experimentam o modo psicossexual analuretralmuscular o conflito psicossocial da autonomia versus vergonha e dúvida a força básica da vontade e a patologia central da com pulsão Durante a idade do jogo as crianças experimentam o desenvolvimento psicossexual genitallocomotor e passam por uma crise psicossocial de iniciativa ver sus culpa com a força básica do propósito ou a patolo gia central da inibição As crianças em idade escolar estão em um período de latência sexual mas enfrentam a crise psicossocial de diligência versus inferioridade o que produz a força bá sica da competência ou a patologia central da inércia A adolescência ou puberdade é um estágio crucial porque o sentimento de identidade de uma pessoa deve emergir desse período No entanto a confusão de identidade pode dominar a crise psicossocial re tardando assim a identidade Fidelidade é a força básica da adolescência repúdio do papel é a patologia central O início da idade adulta a época que vai dos 18 aos 30 anos é caracterizada pelo modo psicossexual da genitalidade a crise psicossocial de intimidade versus isolamento a força básica do amor e a patologia cen tral da exclusividade A idade adulta é o momento em que as pessoas ex perimentam o modo psicossexual de procriatividade a crise psicossocial de generatividade versus estagna ção a força básica do cuidado e a patologia central da rejeição A velhice é marcada pelo modo psicossexual da sensualidade generalizada pela crise de integridade versus desespero e pela força básica da sabedoria ou pela patologia central do desdém Erikson usou a psicohistória uma combinação de psicanálise e história para estudar as crises de iden tidade de Martin Luther Mahatma Gandhi e outros pode ser resolvida em favor do elemento sintônico ou harmo nioso sejam quais forem as resoluções passadas Erikson não tratou especificamente da questão da causa lidade versus teleologia mas sua visão da humanidade sugere que as pessoas são mais influenciadas por forças biológicas e sociais do que pela visão do futuro As pessoas são produto de um momento histórico particular e de um contexto social específico Mesmo que possamos estabelecer objetivos e lutar ativamente para atingilos não podemos escapar por comple to das forças causais poderosas da anatomia da história e da cultura Por essa razão classificamos Erikson como alto em causalidade Na quarta dimensão determinantes conscientes versus inconscientes a posição de Erikson é mista Antes da adoles cência a personalidade é em grande parte moldada pela motivação inconsciente Os conflitos psicossexuais e psicos sociais durante os quatro primeiros estágios do desenvolvi mento ocorrem antes que as crianças tenham estabelecido sua identidade com firmeza Raras vezes estamos claramente conscientes dessas crises e das formas como elas moldam nos sas personalidades Da adolescência em diante no entanto as pessoas tendem a ter consciência de suas ações e da maioria das razões subjacentes a elas A teoria de Erikson é claro é mais social do que bioló gica embora não negligencie a anatomia e outros fatores fi siológicos no desenvolvimento da personalidade Cada modo psicossexual possui um componente biológico específico En tretanto conforme as pessoas avançam pelos oito estágios as influências sociais se tornam cada vez mais poderosas Além disso o raio das relações sociais se expande da pessoa mater na para uma identificação global com toda a humanidade A sexta dimensão para um conceito de humanidade é singularidade versus semelhanças Erikson tendia a colocar ênfase nas diferenças individuais não tanto nas característi cas universais Ainda que as pessoas em diferentes culturas avancem ao longo dos oito estágios do desenvolvimento na mesma ordem uma miríade de diferenças é encontrada na marcha dessa jornada Cada pessoa resolve as crises psicos sociais de maneira única e cada uma usa as forças básicas de forma peculiar Feist08indd 165 Feist08indd 165 271014 1515 271014 1515 Feistiniciaisindd viii Feistiniciaisindd viii 291014 0943 291014 0943 Esta página foi deixada em branco intencionalmente PARTE TRÊS Teorias Humanistas Existenciais CAPÍTULO 9 Maslow Teoria HolísticoDinâmica 168 CAPÍTULO 10 Rogers Teoria Centrada na Pessoa 191 CAPÍTULO 11 May Psicologia Existencial 213 Feist09indd 167 Feist09indd 167 291014 0926 291014 0926 CAPÍTULO 9 Maslow Teoria HolísticoDinâmica Panorama da teoria holísticodinâmica Biografia de Abraham H Maslow A visão de Maslow sobre a motivação Hierarquia de necessidades Necessidades estéticas Necessidades cognitivas Necessidades neuróticas Discussão geral das necessidades Autorrealização A busca de Maslow pela pessoa autorrealizada Critérios para a autorrealização Valores das pessoas autorrealizadas Características das pessoas autorrealizadas Amor sexo e autorrealização Filosofia da ciência Medindo a autorrealização O complexo de Jonas Psicoterapia Pesquisa relacionada Necessidades de suprir uma deficiência valores B e autoestima Psicologia positiva Críticas a Maslow Conceito de humanidade Termoschave e conceitos Maslow Feist09indd 168 Feist09indd 168 291014 0926 291014 0926 TEORIAS DA PERSONALIDADE 169 P rofessores e universitários reconheceram há tempo que alguns estudantes intelectualmente na média são capazes de tirar boas notas enquanto alguns alunos intelectualmente superiores tiram apenas notas medianas e certos alunos brilhantes na verdade são re provados na escola Que fatores explicam essa situação A motivação é uma suspeita provável Saúde pessoal mor te repentina na família e muitos empregos são outras pos sibilidades Alguns anos atrás um brilhante estudante estava se empenhando em um curso Ainda que seu desempenho fosse razoavelmente bom nas disciplinas que desperta vam seu interesse seu trabalho era tão pobre nas outras que ele era colocado em dependência acadêmica Posterior mente esse jovem se submeteu a um teste de quociente de inteligência QI no qual obteve 195 um escore tão alto que pode ser atingido somente por cerca de uma pessoa em milhões Portanto falta de capacidade intelectual não era a razão para que esse jovem tivesse um desempenho medíocre na faculdade Assim como alguns outros jovens esse estudante es tava profundamente apaixonado uma condição que torna va difícil sua concentração no trabalho acadêmico Por ser muito tímido o jovem não conseguia reunir coragem para se aproximar de sua amada de forma romântica É interes sante observar que a jovem objeto de sua afeição também era sua prima em primeiro grau Essa situação permitia que ele visitasse a prima com o pretexto de visitar sua tia Ele amava sua prima de uma forma distante e tímida nunca tendo tocado nela ou expressado seus sentimentos Então de repente um evento fortuito mudou sua vida Enquan to visitava a tia a irmã mais velha da prima empurrou o jovem na direção dela praticamente ordenando que ele a beijasse Ele fez isso e para sua surpresa sua prima não ofereceu resistência Ela o beijou e daquele momento em diante a vida dele passou a ter significado O jovem tímido nessa história era Abraham Maslow e sua prima Bertha Goodman Depois do primeiro beijo acidental Abe e Bertha casaramse rapidamente e o ca samento o fez mudar de um universitário medíocre para um brilhante estudioso que acabou confirmando o curso da psicologia humanista nos Estados Unidos Essa história não deve ser vista como uma recomendação para se casar com um primo mas ilustra como pessoas brilhantes pre cisam por vezes apenas de um pequeno empurrão para atingir seu potencial PANORAMA DA TEORIA HOLÍSTICODINÂMICA A teoria da personalidade de Abraham Maslow já foi diferentemente chamada de teoria humanista teoria transpessoal a terceira força na psicologia a quarta for ça na personalidade teoria das necessidades e teoria da autorrealização Entretanto Maslow 1970 se referia a ela como teoria holísticodinâmica porque pressupõe que a pessoa em sua totalidade está constantemente sendo mo tivada por uma necessidade ou outra e que os indivíduos têm potencial para crescer em direção à saúde psicológica ou seja à autorrealização Para atingir a autorrealização é preciso satisfazer necessidades de níveis inferiores como fome segurança amor e estima Somente depois que as pessoas estiverem relativamente satisfeitas em cada uma dessas necessidades é que elas podem alcançar a autorrealização As teorias de Maslow Gordon Allport Carl Rogers Rollo May e outros são por vezes consideradas como a terceira força na psicologia A primeira força foi a psi canálise e suas modificações a segunda o behaviorismo e suas várias formas Assim como outros teóricos Maslow aceitava alguns dos princípios da psicanálise e do behavio rismo Quando universitário estudou a Interpretação dos sonhos Freud 19001953 e ficou profundamente interes sado em psicanálise Além disso sua pesquisa de gradua ção com primatas foi bastante influenciada pelo trabalho de John B Watson Watson 1925 Em sua teoria madura no entanto Maslow criticou tanto a psicanálise quanto o behaviorismo por suas visões limitadas da humanidade e pela compreensão inadequada da pessoa psicologicamente sadia Para Maslow os humanos têm uma natureza mais elevada do que a psicanálise ou o behaviorismo sugeriam e ele passou os últimos anos de sua vida tentando descobrir a natureza dos indivíduos psicologicamente sadios BIOGRAFIA DE ABRAHAM H MASLOW Abraham Harold Abe Maslow teve talvez a infância mais solitária e miserável de todas as pessoas discutidas neste livro Nascido em Manhattan Nova York em 1 ο de abril de 1908 passou sua infância infeliz no Brooklin Maslow era o mais velho de sete filhos nascidos de Samuel Maslow e Rose Schilosky Maslow Quando criança sua vida foi re pleta de intensos sentimentos de timidez inferioridade e depressão Maslow não era mais próximo de nenhum dos pais mas tolerava seu pai frequentemente ausente um imigran te russo judeu que ganhava a vida preparando barris Por sua mãe no entanto Maslow sentia ódio e uma animosi dade profunda não somente durante a infância mas até o dia em que ela morreu apenas alguns dias antes da morte do próprio Maslow Apesar de vários anos de psicanálise ele nunca superou o intenso ódio pela mãe e se recusou a ir ao funeral dela apesar dos apelos de seus irmãos que não compartilhavam de seus sentimentos por ela Um ano antes de sua morte Maslow 1969 registrou a seguinte re flexão em seu diário Feist09indd 169 Feist09indd 169 291014 0926 291014 0926 170 FEIST FEIST ROBERTS Aquilo contra o que eu reagia e odiava e rejeitava com pletamente não era apenas sua aparência física mas também seus valores e sua visão do mundo sua mes quinhez seu total egoísmo sua falta de amor por qual quer um no mundo mesmo pelo marido e pelos filhos seu pressuposto de que qualquer um que discordasse dela estava errado sua falta de interesse por seus netos sua falta de amigos seu desleixo e sua sujeira sua falta de sentimento familiar pelos próprios pais e irmãos Sempre me perguntei de onde vieram minha utopia ética humanismo ênfase na bondade amor amizade e todo o resto Eu sabia certamente das consequências di retas de não ter amor materno Mas todo o impulso de minha filosofia de vida e minha pesquisa e teorização também possuem suas raízes em um ódio e uma repul sa por tudo o que ela defendia p 958 Edward Hoffman 1988 relatou uma história que des creve vividamente a crueldade de Rose Maslow Um dia o jovem Maslow encontrou dois gatinhos abandonados na vizinhança Com pena ele levou os filhotes para casa colo couos no porão e lhes deu leite em um pires Quando sua mãe viu os gatinhos ficou furiosa e enquanto o menino assistia ela bateu as cabeças dos animais contra a parede do porão até que estivessem mortos A mãe de Maslow também era uma mulher muito religiosa que com frequência ameaçava o menino com punições de Deus Quando jovem Maslow decidiu testar as ameaças de sua mãe comportandose mal de propósi to Quando nenhuma retaliação divina recaiu sobre si ele raciocinou que as advertências da mãe não eram cientifi camente sólidas Com essas experiências Maslow apren deu a odiar e a suspeitar da religião e se tornou um ateu engajado Apesar de sua visão ateísta ele sentiu o tormento do antissemitismo não somente na infância mas também durante a idade adulta Possivelmente como uma defe sa contra as atitudes antissemitas de seus colegas ele se voltou para os livros e para as conquistas acadêmicas Ele adorava ler mas para alcançar a segurança da biblioteca pública tinha que evitar as gangues antissemitas que pe rambulavam pela sua vizinhança no Brooklin e que não precisavam de desculpas para aterrorizar o jovem Maslow e outros meninos judeus Sendo bemdotado intelectualmente Abe encontrou algum consolo durante seus anos na Boys High School no Brooklin onde suas notas eram apenas um pouco me lhores do que a média Ao mesmo tempo desenvolveu uma amizade próxima com seu primo Will Maslow uma pessoa extrovertida e socialmente ativa Por meio desse relacionamento o próprio Abe aprimorou algumas habili dades sociais e se envolveu em várias atividades escolares Hoffman 1988 Depois que Maslow se formou na Boys High School seu primo Will o encorajou a se candidatar à Universidade Cornell mas por falta de autoconfiança escolheu a menos prestigiosa City College of New York Mais ou menos nes sa época seus pais se divorciaram e ele e seu pai ficaram menos distantes emocionalmente O pai de Maslow que ria que seu filho mais velho fosse advogado e enquanto frequentava o City College Maslow se inscreveu no curso de direito No entanto abandonouo certa noite deixando seus livros para trás Para ele o direito lidava demais com pessoas más e não estava suficientemente preocupado com o bem Seu pai embora inicialmente desapontado acabou aceitando a decisão de Maslow de interromper o curso M H Hall 1968 Como estudante no City College Maslow se saía bem em filosofia e em outras matérias que despertavam seu interesse Entretanto naquelas de que não gostava ele se saía tão mal que era colocado em dependência acadêmica Após três semestres ele se transferiu para a Universida de Cornell no interior de Nova York em parte para ficar mais perto do primo Will que frequentava aquela univer sidade mas também para se distanciar da prima Bertha Goodman por quem estava apaixonado Hoffman 1988 Em Cornell o trabalho escolástico de Maslow continuava apenas medíocre Seu professor de psicologia introdutória era Edward B Titchener um renomado pioneiro em psico logia que ministrava suas aulas vestindo toga acadêmica Maslow não ficava impressionado Ele considerava a abor dagem de Tichener da psicologia fria desumana e nada tendo a ver com as pessoas Depois de um semestre em Cornell Maslow voltou para o City College of New York agora para ficar mais pró ximo de Bertha Logo depois do evento fortuito descrito na vinheta de abertura Abe e Bertha se casaram não sem antes se defrontarem com a resistência dos pais dele Os pais de Maslow faziam objeção ao casamento em parte porque ele tinha apenas 20 anos e ela 19 Entretanto o temor maior era que um casamento entre primos em pri meiro grau pudesse resultar em defeitos hereditários nos possíveis filhos Esse medo era irônico à luz do fato de que os próprios pais de Maslow eram primos em primeiro grau e tiveram seis filhos saudáveis uma filha morreu durante a infância mas não por causa de algum defeito genético Um semestre antes do casamento Maslow se matri culou na Universidade de Wisconsin na qual fez bacha relado em filosofia Além disso ficou muito interessado no behaviorismo de John B Watson e esse interesse o estimulou a fazer cursos de psicologia suficientes para obter um doutorado Como estudante de pósgraduação trabalhou nesse campo com Harry Harlow que estava começando sua pesquisa com macacos A pesquisa para a tese de Maslow sobre dominância e comportamento se xual dos macacos sugeria que a dominância social era um motivo mais poderoso do que o sexo pelo menos entre os primatas Blum 2002 Em 1934 Maslow recebeu seu doutorado mas não conseguiu encontrar um cargo acadêmico tanto por causa Feist09indd 170 Feist09indd 170 291014 0926 291014 0926 TEORIAS DA PERSONALIDADE 171 da Grande Depressão quanto pelo preconceito antissemi ta ainda forte em muitos campi norte americanos naquela época Assim ele continuou a ensinar em Wisconsin por um curto período ao mesmo tempo em que cursava medi cina nessa mesma universidade No entanto ele rechaçava a atitude fria e desapaixonada dos cirurgiões que conse guiam cortar fora partes doentes do corpo sem emoção dis cernível Para Maslow o curso de medicina assim como o de direito refletia uma visão não emocional e negativa das pessoas e ele ficou perturbado e entediado com suas experiências nessa área Sempre que Maslow se entediava com algo ele o abandonava e a medicina não foi uma exce ção Hoffman 1988 No ano seguinte Maslow voltou a Nova York para se tornar assistente de pesquisa de E L Thorndike na Tea chers College Universidade de Columbia Maslow um alu no medíocre durante seus dias no City College e no Cornell teve um escore de 195 no teste de inteligência de Thorndi ke motivando este a dar a seu assistente carta branca para agir como quisesse A mente fértil de Maslow prosperou nessa situação mas depois de um ano e meio fazendo pes quisas sobre dominância humana e sexualidade deixou Columbia para se associar ao corpo docente do Brooklyn College uma escola recémfundada cujos alunos eram pre ponderantemente adolescentes brilhantes provenientes de lares da classe operária muito parecidos com o próprio Maslow 10 anos antes Hoffman 1988 Viver em Nova York durante as décadas de 1930 e 1940 deu a Maslow uma oportunidade de entrar em con tato com muitos dos psicólogos europeus que haviam escapado do domínio nazista De fato Maslow presumia que de todas as pessoas que já tinham vivido ele possuía os melhores professores Goble 1970 Entre outros co nheceu e aprendeu com Erich Fromm Karen Horney Max Wertheimer e Kurt Goldstein Foi influenciado por todos estes a maioria dos quais fazia conferências na New School for Social Research Maslow também se associou a Alfred Adler que estava morando em Nova York naquela época Adler realizava seminários em sua casa nas noites de sexta feira e Maslow era um visitante frequente dessas sessões assim como Julian Rotter ver Cap 18 Ruth Benedict uma antropóloga da Universidade de Columbia também foi mentora de Maslow Em 1938 Benedict encorajouo a conduzir estudos antropológicos entre os índios Blackfoot no Norte de Alberta Canadá Seu trabalho com esses nativos americanos ensinoulhe que as diferenças com as culturas eram superficiais e que os Blackfoot do Norte eram em primeiro lugar pessoas e somente em segundo lugar eram índios Essa percepção ajudou Maslow em anos posteriores a ver que sua famosa hierarquia de necessidades aplicavase igualmente a todos Durante a metade da década de 1940 a saúde de Mas low começou a se deteriorar Em 1946 aos 38 anos sofreu de uma estranha doença que o deixou fraco desanimado e exausto No ano seguinte tirou uma licença médica e com Bertha e suas duas filhas mudouse para Pleasanton Cali fórnia onde apenas no nome ele era diretor de fábrica da Maslow Cooperage Corporation O cronograma de traba lho leve possibilitou a Maslow ler biografias e histórias na busca por informações sobre pessoas autorrealizadas Após um ano sua saúde havia melhorado e ele voltou a ensinar no Brooklyn College Em 1951 Maslow assumiu um cargo como diretor do departamento de psicologia na recémfundada Universi dade Brandeis em Waltham Massachusetts Durante os anos em Brandeis começou a escrever intensamente em seus diários anotando em intervalos regulares seus pen samentos opiniões sentimentos atividades sociais con versas importantes e preocupações com a saúde Maslow 1979 Apesar de ganhar fama durante a década de 1960 Maslow foi ficando cada vez mais desencantado com sua vida em Brandeis Alguns alunos se rebelaram contra seus métodos de ensino reivindicando um envolvimento mais experiencial e uma abordagem menos intelectual e cien tífica Além dos problemas relacionados ao trabalho Maslow sofreu um grave ataque cardíaco em dezembro de 1967 Então ficou sabendo que sua estranha doença 20 anos an tes tinha sido um ataque cardíaco não diagnosticado Ago ra com a saúde fraca e decepcionado com a atmosfera aca dêmica em Brandeis aceitou a oferta de se associar à Saga Administrative Corporation em Menlo Park Califórnia Lá ele não tinha um trabalho em particular e era livre para pensar e escrever como quisesse Ele gostava daquela liber dade mas em 8 de junho de 1970 abruptamente sofreu um colapso e morreu de um ataque cardíaco fulminante Maslow tinha 62 anos Maslow recebeu muitas honrarias durante sua vida in cluindo a eleição para a presidência da American Psycholo gical Association para o período de 1967 a 1968 Na época de sua morte ele era muito conhecido não somente dentro da profissão da psicologia mas também entre pessoas ins truídas em geral particularmente em gestão de negócios marketing teologia aconselhamento educação enferma gem e outros campos relacionados à saúde A vida pessoal de Maslow foi repleta de dor tanto fí sica quanto psicológica Quando adolescente ele era terri velmente tímido infeliz isolado e autorrejeitado Em anos posteriores ele estava com a saúde física fraca sofrendo de uma série de doenças incluindo distúrbios cardíacos crônicos Seus diários Maslow 1979 são repletos de refe rências a sua saúde frágil Em seu último registro no diário 7 de maio de 1970 um mês antes de sua morte ele se queixou das pessoas que esperavam que ele fosse um líder e portavoz corajoso Ele escreveu Não sou corajoso por temperamento Minha coragem é realmente uma superação de todos os tipos de inibição cortesia gentileza timidez Feist09indd 171 Feist09indd 171 291014 0926 291014 0926 172 FEIST FEIST ROBERTS e sempre me custou muito em fadiga tensão apreensão noites maldormidas p 1307 A VISÃO DE MASLOW SOBRE A MOTIVAÇÃO A teoria da personalidade de Maslow fundamentase em vários pressupostos básicos referentes à motivação Pri meiro Maslow 1970 adotou uma abordagem holística da motivação ou seja a pessoa inteira não uma parte ou fun ção é motivada Segundo a motivação é geralmente complexa significan do que o comportamento de uma pessoa pode nascer de vários motivos isolados Por exemplo o desejo de união sexual pode ser motivado não somente por uma necessi dade genital mas também pelas necessidades de dominân cia companheirismo amor e autoestima Além do mais a motivação para um comportamento pode ser inconsciente ou desconhecida para a pessoa Por exemplo a motivação para um universitário tirar uma nota alta pode mascarar a necessidade de dominância ou poder A aceitação de Maslow acerca da importância da motivação inconsciente representa um aspecto importante que o diferencia de Gor don Allport Cap 12 Enquanto Allport diria que uma pes soa joga golfe simplesmente pela diversão Maslow olharia além da superfície buscando razões subjacentes e com fre quência complexas para jogar golfe Um terceiro pressuposto é que as pessoas são conti nuamente motivadas por uma necessidade ou outra Quando uma necessidade é satisfeita ela costuma perde sua for ça motivacional e é então substituída por outra neces sidade Por exemplo enquanto as necessidades de fome forem frustradas as pessoas lutarão por comida toda via quando tiverem o suficiente para comer avançarão para outras necessidades como segurança amizade e autoestima Outro pressuposto é que todas as pessoas em qual quer lugar são motivadas pelas mesmas necessidades básicas A maneira como as pessoas em diferentes culturas obtêm alimento constroem abrigos expressam amizade e assim por diante pode variar bastante mas as necessidades fun damentais de alimento segurança e amizade são comuns à espécie inteira Um pressuposto final referente à motivação é que as necessidades podem ser organizadas em uma hierarquia Mas low 1943 1970 Hierarquia de necessidades O conceito de hierarquia de necessidades de Maslow su põe que as necessidades de nível mais baixo precisam ser satisfeitas ou pelo menos relativamente satisfeitas antes que as necessidades de níveis mais altos se tornem moti vadoras As cinco necessidades que compõem a hierarquia são as necessidades conativas as quais têm um caráter de empenho ou motivacional Estas referidas por Maslow com frequência como necessidades básicas podem ser or ganizadas em uma hierarquia ou escada com cada passo ascendente representando uma necessidade mais alta po rém menos básica para a sobrevivência ver Fig 91 As necessidades de nível mais baixo têm predominância sobre as necessidades de nível mais alto isto é elas devem ser sa tisfeitas ou satisfeitas em sua maior parte antes que as ne cessidades de nível mais alto sejam ativadas Por exemplo alguém motivado por estima ou autorrealização precisa antes ter satisfeito as necessidades de alimento e seguran Estima Autorrealização Fisiológicas Segurança Amor e pertencimento FIGURA 91 Hierarquia de necessidades de Maslow Devese atingir a autorrealização dando um passo de cada vez Feist09indd 172 Feist09indd 172 291014 0926 291014 0926 TEORIAS DA PERSONALIDADE 173 ça Fome e segurança portanto possuem predominância sobre estima e autorrealização Maslow 1970 listou as seguintes necessidades na ordem de predominância fisiológica segurança amor e pertencimento estima e autorrealização Necessidades fisiológicas As necessidades mais básicas de uma pessoa são as neces sidades fisiológicas incluindo comida água oxigênio manutenção da temperatura corporal entre outras Elas são as mais potentes de todas As pessoas constantemen te famintas são motivadas a comer não a fazer amigos ou a adquirir autoestima Elas não veem além da comida e enquanto essa necessidade permanecer insatisfeita sua motivação primária será obter algo para comer Em sociedades abastadas a maioria das pessoas sa tisfaz sua fome de forma natural Elas em geral têm o suficiente para comer portanto quando dizem que estão com fome elas estão na realidade falando de apetite não de fome Uma pessoa faminta de verdade não será exigen te em relação a gosto aroma temperatura ou textura da comida Maslow 1970 disse É bem verdade que o homem vive somente com pão quando não existe pão p 38 Quando as pessoas não têm suas necessidades fisiológicas satisfeitas elas vivem essencialmente por essas necessida des e esforçamse de modo constante para satisfazêlas As pessoas famintas são preocupadas com comida e estão dispostas a fazer quase qualquer coisa para obtêla Keys Brozek Henschel Mickelsen Taylor 1950 As necessidades fisiológicas diferem de outras necessi dades em pelo menos dois aspectos importantes Primeiro elas são as únicas necessidades que podem ser satisfeitas por completo ou mesmo excessivamente satisfeitas As pessoas podem obter o suficiente para comer de forma que a comida perde toda a sua força motivacional Para alguém que terminou há pouco uma farta refeição o pensamen to de mais comida pode até mesmo ter efeito nauseante Uma segunda característica peculiar às necessidades fisio lógicas é sua natureza recorrente Depois que as pessoas comeram elas acabam tendo fome outra vez elas precisam reabastecer constantemente seu suprimento de comida e água e uma respiração precisa ser seguida por outra As necessidades de outro nível no entanto não recorrem de forma tão constante Por exemplo as pessoas que têm suas necessidades de amor e estima satisfeitas pelo menos em parte permanecem confiantes de que podem continuar a satisfazer suas necessidades de amor e estima Necessidades de segurança Depois que as pessoas satisfizeram parcialmente suas necessidades fisiológicas elas ficam motivadas pelas ne cessidades de segurança incluindo segurança física estabilidade dependência proteção e ser livre de forças ameaçadoras como guerra terrorismo doença medo an siedade perigo caos e desastres naturais As necessidades de lei ordem e estrutura também estão associadas à segu rança Maslow 1970 As necessidades de segurança diferem das necessida des fisiológicas uma vez que não podem ser excessivamen te saciadas as pessoas nunca conseguem estar protegidas por completo de meteoritos incêndios enchentes ou atos perigosos Em sociedades que não estão em guerra a maioria dos adultos sadios satisfaz sua necessidade de segurança a maior parte do tempo tornando assim essa necessidade relativamente sem importância As crianças no entanto são motivadas com mais frequência pelas necessidades de segurança porque elas convivem com ameaças como escuridão animais estranhos e castigo dos pais Além disso alguns adultos também sentemse relativamente inseguros porque mantêm medos irracionais da infância que os fazem agir como se tivessem medo da punição dos pais Eles gastam muito mais energia do que as pessoas sadias tentando satisfazer as necessidades de segurança e quando não têm sucesso em suas tentativas sofrem do que Maslow 1970 denominou ansiedade básica Necessidades de amor e pertencimento Depois que as pessoas satisfazem parcialmente suas ne cessidades fisiológicas e de segurança elas ficam mais mo tivadas pelas necessidades de amor e pertencimento tais como o desejo de amizade o desejo por um parceiro e por filhos e a necessidade de pertencer a uma família um clube uma vizinhança ou uma nação Amor e pertenci mento também incluem alguns aspectos de sexo e contato humano bem como a necessidade de dar e receber amor Maslow 1970 As pessoas que tiveram suas necessidades de amor e pertencimento satisfeitas de modo adequado desde uma idade precoce não entram em pânico quando o amor é ne gado Elas têm confiança de que são aceitas por aqueles que são importantes para elas portanto quando outras pes soas as rejeitam elas não se sentem devastadas Um segundo grupo de pessoas envolve aquelas que nunca experimentaram amor e pertencimento e assim são incapazes de dar amor Elas raramente ou nunca foram abraçadas ou acariciadas nem experimentaram qualquer forma de amor verbal Maslow acreditava que essas pes soas acabam aprendendo a desvalorizar o amor e a achar natural a ausência dele Uma terceira categoria inclui aquelas pessoas que ex perimentaram amor e pertencimento somente em peque nas doses Como recebem apenas uma amostra de amor e pertencimento elas são fortemente motivadas a procurá los Em outras palavras as pessoas que receberam apenas Feist09indd 173 Feist09indd 173 291014 0926 291014 0926 174 FEIST FEIST ROBERTS uma pequena quantidade de amor têm necessidades mais intensas de afeição e aceitação do que aquelas que recebe ram uma quantidade saudável de amor ou nenhum amor Maslow 1970 As crianças precisam de amor para crescer psicologi camente e suas tentativas de satisfazer essa necessidade são em geral simples e diretas Os adultos também pre cisam de amor mas suas tentativas de atingilo são por vezes disfarçadas de forma inteligente Esses adultos muitas vezes se envolvem em comportamentos autodes trutivos como fingir estar distantes de outras pessoas ou adotar um estilo cínico frio e calejado em suas relações interpessoais Eles podem ter uma aparência de autossufi ciência e independência mas na realidade possuem uma forte necessidade de serem aceitos e amados Outros adul tos cujas necessidades de amor permanecem em grande parte insatisfeitas adotam formas mais óbvias de tentar satisfazêlas porém acabam minando o próprio sucesso ao se esforçarem demais Suas constantes súplicas por acei tação e afeição deixam os outros desconfiados hostis e irredutíveis Necessidades de estima Depois que as pessoas satisfazem suas necessidades de amor e pertencimento elas estão livres para buscar satis fazer necessidades de estima as quais incluem autorres peito confiança competência e conhecimento de que os outros as têm em alta estima Maslow 1970 identificou dois níveis de necessidades de estima reputação e autoes tima Reputação é a percepção do prestígio do reconhe cimento ou da fama que uma pessoa alcançou aos olhos dos outros enquanto autoestima são os sentimentos de valor e confiança do próprio indivíduo A autoestima está baseada em mais do que reputação ou prestígio ela refle te um desejo de força conquistas adequação domínio e competência confiança diante do mundo e independên cia e liberdade p 45 Em outras palavras a autoestima está baseada na competência real e não meramente na opinião dos outros Depois que as pessoas satisfazem suas necessidades de estima elas se encontram no limiar da autorrealização a necessidade mais alta reconhecida por Maslow Necessidades de autorrealização Quando as necessidades de nível mais baixo são satisfeitas as pessoas avançam de forma mais ou menos automática para o nível seguinte No entanto depois que as necessi dades de estima são satisfeitas elas nem sempre avançam para o nível de autorrealização A princípio Maslow 1950 presumia que as necessidades de autorrealização se torna vam potentes sempre que as necessidades de estima eram satisfeitas Contudo durante a década de 1960 ele perce beu que muitos dos jovens estudantes em Brandeis e em outros campi por todo o país tinham todas as suas neces sidades mais baixas gratificadas incluindo reputação e au toestima e mesmo assim não se tornavam autorrealizados Frick 1982 Hoffman 1988 Maslow 1971 O fato de alguns ultrapassarem o limiar da estima para a autorrea lização e outros não está relacionado à adoção ou não dos valores B os valores B serão discutidos na seção Autorre alização As pessoas que têm um alto respeito por valores como verdade beleza justiça e outros valores B se tornam autorrealizadas depois que suas necessidades de estima são satisfeitas enquanto aquelas que não adotam esses va lores são frustradas em suas necessidades de autorrealiza ção muito embora tenham satisfeito cada uma das outras necessidades básicas As necessidades de autorrealização incluem a rea lização pessoal a realização de todo o seu potencial e um desejo de tornarse criativo no sentido amplo da palavra Maslow 1970 As pessoas que alcançaram o nível de au torrealização tornamse completamente humanas satisfa zendo necessidades que outros meramente vislumbram ou nunca enxergam Elas são naturais no mesmo sentido que os animais e os bebês ou seja elas expressam suas neces sidades humanas básicas e não permitem que estas sejam suprimidas pela cultura As pessoas autorrealizadas mantêm seus sentimentos de autoestima mesmo quando desprezadas rejeitadas e ignoradas Em outras palavras não dependem das neces sidades de amor ou estima elas se tornam independentes das necessidades de nível mais baixo que lhes garantiram a vida Apresentamos um quadro mais completo das pes soas autorrealizadas na seção Autorrealização Ainda que não necessariamente artistas as pessoas realizadas são criativas à própria maneira Feist09indd 174 Feist09indd 174 291014 0926 291014 0926 TEORIAS DA PERSONALIDADE 175 Além dessas cinco necessidades conativas Maslow identificou três outras categorias de necessidades estéti cas cognitivas e neuróticas A satisfação das necessidades estéticas e cognitivas é coerente com a saúde psicológica enquanto a privação destas resulta em patologia As neces sidades neuróticas no entanto levam a patologia sendo ou não satisfeitas Necessidades estéticas Diferentemente das necessidades conativas as neces sidades estéticas não são universais mas pelo menos algumas pessoas em cada cultura parecem motivadas pela necessidade de beleza e experiências esteticamente agradáveis Maslow 1967 Desde os tempos dos mora dores das cavernas até o tempo atual algumas pessoas vêm produzindo arte pela arte As pessoas com fortes necessidades estéticas dese jam um entorno bonito e organizado e quando estas necessidades não são satisfeitas elas ficam doentes da mesma forma que adoecem quando as necessidades co nativas são frustradas As pessoas preferem a beleza à feiura e podem até ficar física ou espiritualmente doen tes quando forçadas a vivem em ambientes miseráveis e desorganizados Maslow 1970 Necessidades cognitivas A maioria das pessoas é curiosa tem o desejo de conhecer resolver mistérios compreender Maslow 1970 chamou esses desejos de necessidades cognitivas Quando as necessidades cognitivas são bloqueadas todas as necessi dades na hierarquia de Maslow ficam ameaçadas isto é o conhecimento é necessário para satisfazer cada uma das cinco necessidades conativas As pessoas podem satisfa zer suas necessidades fisiológicas sabendo como garantir alimento as necessidades de segurança como construir um abrigo as necessidades de amor como se relacionar no âmbito pessoal e as necessidades de estima como adquirir algum nível de autoconfiança e autorrealização usando in tegralmente seu potencial cognitivo Maslow 1968b 1970 acreditava que as pessoas sa dias desejam saber mais teorizar verificar hipóteses des cobrir mistérios ou desvendar como algo funciona apenas pela satisfação de saber Entretanto aquelas que não sa tisfizeram suas necessidades cognitivas que consistente mente ouviram mentiras que tiveram a curiosidade inibi da ou não receberam informações se tornam patológicas uma patologia que assume a forma de ceticismo desilusão e cinismo Necessidades neuróticas A satisfação das necessidades conativas estéticas e cogni tivas é básica para a saúde física e psicológica e sua frus tração conduz a algum nível de doença Entretanto as necessidades neuróticas levam apenas à estagnação e à patologia Maslow 1970 Por definição as necessidades neuróticas não são produtivas Elas perpetuam um estilo insalubre de vida e não há valor na luta pela autorrealização As necessidades neuróticas em geral são reativas ou seja elas servem como compensação para as necessidades básicas insatisfeitas Por exemplo uma pessoa que não satisfaz as necessidades de segurança pode desenvolver um forte desejo de acu mular dinheiro e propriedades O impulso de acumulação é uma necessidade neurótica que leva a patologia sendo ou não satisfeito Do mesmo modo uma pessoa neuróti ca pode ser capaz de estabelecer uma relação íntima com outro indivíduo mas essa relação pode ser neurótica e sim biótica levando a um vínculo patológico em vez de amor genuíno Maslow 1970 apresentou ainda outro exemplo de necessidade neurótica Uma pessoa fortemente moti vada pelo poder pode adquirir poder quase ilimitado mas isso não a torna menos neurótica ou menos exigente de poder adicional Faz pouca diferença para a saúde final se uma necessidade neurótica é gratificada ou frustrada Maslow 1970 p 274 Discussão geral das necessidades Maslow 1970 estimou que uma pessoa hipotética média tem suas necessidades satisfeitas até aproximadamente os seguintes níveis psicológicas 85 segurança 70 amor e pertencimento 50 estima 40 e autorrealiza ção 10 Quanto mais um nível mais baixo for satisfeito maior a emergência da necessidade do nível seguinte Por exemplo se as necessidades de amor forem satisfeitas em apenas 10 a estima pode não ser ativada Porém se as necessidades de amor forem satisfeitas em 25 então a estima pode emergir 5 como uma necessidade Se o amor for satisfeito em 75 então a estima pode emergir 50 e assim por diante As necessidades portanto emergem de modo gradual e uma pessoa pode ser ao mesmo tempo motivada pelas necessidades de dois ou mais níveis Por exemplo uma pessoa autorrealizada pode ser a convidada de honra em um jantar dado por amigos íntimos em um restaurante tranquilo O ato de comer gratifica uma neces sidade fisiológica ao mesmo tempo porém o convidado de honra pode estar satisfazendo necessidades de seguran ça amor estima e autorrealização Ordem invertida das necessidades Muito embora as necessidades sejam em geral satisfeitas na ordem hierárquica mostrada na Figura 91 ocasional mente elas são invertidas Para algumas pessoas o impulso de criatividade uma necessidade de autorrealização pode ter precedência em relação às necessidades de segurança e fisiológicas Um artista entusiasta pode arriscar segurança Feist09indd 175 Feist09indd 175 291014 0926 291014 0926 176 FEIST FEIST ROBERTS e saúde para concluir um trabalho importante Durante anos o falecido escultor Korczak Ziolkowski colocou em perigo sua saúde e abandonou as companhias para escavar uma montanha em Black Hills e fazer um monumento ao Chefe Cavalo Louco As inversões no entanto costumam ser mais aparen tes do que reais e alguns desvios aparentemente óbvios na ordem das necessidades não são variações em absoluto Se entendêssemos a motivação inconsciente subjacente ao com portamento reconheceríamos que as necessidades não es tão invertidas Comportamento imotivado Maslow acreditava que embora todos os comportamentos tenham uma causa alguns deles não são motivados Em outras palavras nem todos os determinantes são motivos Alguns comportamentos não são causados pelas necessi dades mas por outros fatores como reflexos condiciona dos amadurecimento ou uso de drogas A motivação está limitada à luta pela satisfação de alguma necessidade Mui to do que Maslow 1970 definiu como comportamento expressivo é imotivado Comportamento expressivo e de enfrentamento Maslow 1970 distinguiu entre comportamento expressi vo o qual é com frequência é imotivado e comportamen to de enfrentamento o qual é sempre motivado e visa à satisfação de uma necessidade O comportamento expressivo costuma ser um fim em si mesmo e não serve a nenhum outro propósito Ele tende a ser inconsciente e em geral ocorre de forma natural e com pouco esforço Não possui objetivos ou finalidade é meramente um modo de expressão O comportamento expressivo inclui ações como ser desleixado parecer tolo ser relaxado mostrar raiva e expressar alegria O compor tamento expressivo pode continuar mesmo na ausência de reforço ou recompensa Por exemplo uma cara fechada um rubor ou um piscar de olhos normalmente não é refor çado de modo específico Os comportamentos expressivos também incluem a marcha os gestos a voz e o sorriso mesmo quando sozi nho Uma pessoa por exemplo pode expressar uma per sonalidade metódica e compulsiva somente porque ela é o que é e não por causa de alguma necessidade de agir assim Outros exemplos de expressão incluem arte jogo prazer apreciação admiração respeito e excitação O comporta mento expressivo em geral não é aprendido é espontâneo e determinado por forças internas do indivíduo e não pelo ambiente O comportamento de enfrentamento por sua vez cos tuma ser consciente requer esforço é aprendido e deter minado pelo ambiente externo Envolve as tentativas do indivíduo de lidar com o ambiente para assegurar comida e abrigo fazer amigos e receber aceitação apreciação e prestígio dos outros O comportamento de enfrentamento serve a alguma finalidade ou objetivo embora nem sempre consciente ou conhecido pela pessoa e é sempre motivado por alguma necessidade de déficit Maslow 1970 Privação de necessidades A falta de satisfação de alguma das necessidades básicas conduz a algum tipo de patologia A privação das necessi dades fisiológicas resulta em desnutrição fadiga perda de energia obsessão por sexo e assim por diante Ameaças à segurança conduzem a medo insegurança e pavor Quan do as necessidades de amor não são satisfeitas a pessoa se torna defensiva excessivamente agressiva ou tímida A baixa autoestima resulta na doença da autodúvida au todepreciação e falta de confiança A privação de autorre alização também leva a patologia ou mais precisamente metapatologia Maslow 1967 definiu metapatologia como a ausência de valores a falta de satisfação e a perda de significado na vida Natureza instintiva das necessidades Maslow 1970 levantou a hipótese de que algumas neces sidades humanas são determinadas de forma inata mes mo que possam ser modificadas pelo aprendizado Ele de nominou essas necessidades de necessidades instintivas O sexo por exemplo é uma necessidade fisiológica básica mas a maneira como é expresso depende do aprendizado Para a maioria das pessoas então o sexo é uma necessida de instintiva Um critério para separar as necessidades instintivas das não instintivas é o nível de patologia sobre a frustra ção O impedimento das necessidades instintivas produz patologia enquanto a frustração de necessidades não instintivas não produz Por exemplo quando é negado às pessoas amor suficiente elas ficam doentes e impedidas de atingir a saúde psicológica Do mesmo modo quando as pessoas são frustradas na satisfação das necessidades fisiológicas de segurança de estima e de autorrealização elas ficam doentes Portanto essas necessidades são ins tintivas Todavia a necessidade de pentear o cabelo ou fa lar sua língua materna é aprendida e a frustração dessas necessidades em geral não produz doença Se uma pessoa ficasse doente no âmbito psicológico em consequência de não conseguir pentear o cabelo ou falar a língua materna então a necessidade frustrada seria na realidade uma ne cessidade básica instintiva talvez amor e pertencimento ou possivelmente estima Um segundo critério para distinguir entre necessida des instintivas e não instintivas é que aquelas são persis tentes e sua satisfação leva à saúde psicológica Estas pelo contrário geralmente são temporárias e sua satisfação não é um prérequisito para saúde Feist09indd 176 Feist09indd 176 291014 0926 291014 0926 TEORIAS DA PERSONALIDADE 177 Uma terceira distinção é que as necessidades instinti vas são peculiares à espécie Portanto os instintos animais não podem ser usados como modelo para o estudo da mo tivação humana Somente os humanos podem ser motiva dos por estima e autorrealização Quarto embora difíceis de mudar as necessidades ins tintivas podem ser moldadas inibidas ou alteradas por in fluências ambientais Como muitas delas p ex amor são mais fracas do que as forças culturais p ex agressividade na forma de crime ou guerra Maslow 1970 insistia em que a sociedade deve proteger as necessidades instintivas fracas sutis e sensíveis para que elas não sejam sobrecarregadas pela cultura mais rigorosa e poderosa p 82 Dito de outra maneira mesmo que as necessidades instintivas sejam bá sicas e não aprendidas elas podem ser alteradas e até mes mo destruídas pelas forças mais poderosas da civilização Portanto uma sociedade sadia deve procurar formas pelas quais seus membros possam receber satisfação não somente para as necessidades fisiológicas e de segurança mas tam bém para as necessidades de amor estima e autorrealização Comparação entre necessidades mais altas e mais baixas Existem semelhanças e diferenças importantes entre as necessidades de nível mais alto amor estima e autorreali zação e as necessidades de nível mais baixo fisiológicas e de segurança As necessidades mais altas são semelhantes às mais baixas quanto a serem instintivas Maslow 1970 insistia em que amor estima e autorrealização são tão bio lógicos quando sede sexo e fome As diferenças entre as necessidades mais altas e as mais baixas são de grau e não de tipo Primeiro as neces sidades de nível mais alto são mais tardias na escala filoge nética ou evolucionária Por exemplo apenas os humanos uma espécie relativamente recente têm a necessidade de autorrealização Além disso as necessidades mais altas aparecem mais tarde durante o curso do desenvolvimento do indivíduo aquelas de nível mais baixo devem ser aten didas nos bebês e nas crianças antes que as necessidades de nível mais alto se tornem operativas Segundo as necessidades de nível mais alto produzem mais felicidade e mais experiências culminantes embora a satisfação das necessidades de nível mais baixo possa pro duzir algum prazer O prazer hedonista no entanto tende a ser temporário e não comparável à qualidade da felicida de produzida pela satisfação das necessidades mais altas Além disso a satisfação das necessidades de nível mais alto é desejável de forma mais subjetiva para aquelas pessoas que experimentaram tanto as necessidades de nível mais alto quanto as de nível mais baixo Em outras palavras uma pessoa que atingiu o nível de autorrealização não tem motivação para voltar a um estágio mais baixo do desen volvimento Maslow 1970 AUTORREALIZAÇÃO As ideias de Maslow sobre autorrealização começaram logo depois que ele recebeu seu doutorado quando ficou intrigado sobre por que dois de seus professores na cidade de Nova York a antropóloga Ruth Benedict e o psicólogo Max Wertheimer eram tão diferentes da média das pes soas Para Maslow esses dois indivíduos representavam o nível mais elevado do desenvolvimento humano ao qual denominou autorrealização A busca de Maslow pela pessoa autorrealizada Que traços tornavam Wertheimer e Benedict tão espe ciais Para responder a tal pergunta Maslow começou a fazer anotações sobre essas duas pessoas e ele esperava encontrar outros a quem pudesse chamar de um bom ser humano No entanto ele teve problemas em encontrá los Os jovens alunos em suas classes foram voluntários mas nenhum deles parecia combinar com Wertheimer e Benedict fazendo Maslow questionar se universitários de 20 anos de idade poderiam ser bons seres humanos Hoffman 1988 Maslow encontrou inúmeros indivíduos mais velhos que pareciam ter algumas das características pelas quais es tava procurando mas quando entrevistava essas pessoas para saber o que as tornava especiais ele quase sempre fi cava decepcionado Em geral elas eram bemadaptadas mas não têm chama centelha excitação dedicação senti mento de responsabilidade Lowry 1973 p 87 Maslow foi forçado a concluir que segurança emocional e boa adap tação não eram prognosticadores confiáveis de um bom ser humano Maslow enfrentou outros entraves na busca pela pessoa autorrealizada Primeiro ele estava tentando encontrar uma síndrome da personalidade que nunca ti vesse sido claramente identificada Segundo muitas das pessoas que ele acreditava serem autorrealizadas se re cusaram a participar de sua pesquisa Elas não estavam interessadas no que o professor Maslow tentava fazer Maslow 1968a comentou posteriormente que nenhu ma das pessoas que ele identificou como definitivamente autorrealizadas concordou em ser testada Elas pareciam valorizar demais sua privacidade para compartilharem a si mesmas com o mundo Em vez de ficar desencorajado por essa dificuldade Maslow decidiu assumir uma abordagem diferente come çou a ler biografias de celebridades para ver se conseguia encontrar indivíduos autorrealizados entre santos sábios heróis nacionais e artistas Enquanto tomava conhecimen to da vida de Thomas Jefferson Abraham Lincoln em seus últimos anos Albert Einstein William James Albert Schweitzer Benedict de Spinoza Jane Addams e outras Feist09indd 177 Feist09indd 177 291014 0926 291014 0926 178 FEIST FEIST ROBERTS pessoas memoráveis Maslow de repente teve uma epifa nia Em vez de perguntar O que torna Max Wertheimer e Ruth Benedict autorrealizados ele fez uma inversão e indagou Por que nós não somos todos autorrealizados Esse novo olhar sobre o problema foi mudando aos pou cos a concepção de humanidade de Maslow e expandiu sua lista de pessoas autorrealizadas Depois que aprendeu a fazer as perguntas certas Mas low continuou sua busca pela pessoa autorrealizada Para facilitar sua procura ele identificou uma síndrome para a saúde psicológica Depois de selecionar uma amostra de indivíduos potencialmente saudáveis estudou de modo cuidadoso essas pessoas para construir uma síndrome da personalidade A seguir refinou sua definição original e então tornou a selecionar autorrealizados mantendo al guns eliminando outros e acrescentando novos Depois repetiu todo o procedimento com o segundo grupo fazen do algumas alterações na definição e nos critérios de autor realização Maslow 1970 continuou esse processo cíclico até um terceiro ou quarto grupo ou até que estivesse satis feito de que havia refinado um conceito vago e não científi co transformandoo em uma definição precisa e científica da pessoa autorrealizada Critérios para a autorrealização Que critérios as pessoas autorrealizadas apresentam Primeiro elas eram livres de psicopatologia Elas não eram neuróticas nem psicóticas e também não tinham tendên cia a perturbações psicológicas Esse ponto é um critério negativo importante porque alguns indivíduos neuró ticos e psicóticos têm aspectos em comum com pessoas autorrealizadas ou seja características como um sentido acentuado de realidade experiências místicas criatividade e afastamento dos outros indivíduos Maslow eliminou da lista de possíveis pessoas autorrealizadas qualquer uma que demonstrasse sinais claros de psicopatologia exceto algumas doenças psicossomáticas Segundo as pessoas autorrealizadas tinham progredido na hierarquia de necessidades e portanto viviam acima do nível de subsistência e não tinham ameaças sempre pre sentes a sua segurança Além disso elas experimentavam amor e apresentavam um senso arraigado de autovaloriza ção Como tinham suas necessidades de nível mais baixo satisfeitas as pessoas autorrealizadas conseguiam tolerar melhor a frustração dessas necessidades mesmo diante de críticas e desdém Elas são capazes de amar uma ampla va riedade de pessoas mas não têm obrigação de amar todas O terceiro critério de Maslow para autorrealização era a adoção dos valores B Suas pessoas autorrealizadas não só se sentiam confortáveis com aspectos como verdade bele za justiça simplicidade humor e cada um dos outros valo res B que discutiremos mais tarde como também reivindi cavam esses elementos O critério final para atingir a autorrealização era o uso integral e a exploração dos talentos capacidades poten cialidades Maslow 1970 p 150 Em outras palavras seus indivíduos autorrealizados satisfaziam as necessidades de crescer desenvolverse e cada vez mais se transformarem no que eram capazes de ser Valores das pessoas autorrealizadas Maslow 1971 sustentava que as pessoas autorrealizadas eram motivadas pelas verdades eternas o que ele chamava de valores B Esses valores de ser são indicadores de saú de psicológica e se opõem às necessidades de suprir uma de ficiência que motivam os não autorrealizados Os valores B não são necessidades no mesmo sentido que são a comida o abrigo ou o companheirismo Maslow definiu os valores B como metanecessidades para indicar que se trata do últi mo nível de necessidades Ele distinguiu entre a motivação da necessidade comum e os motivos das pessoas autorreali zadas os quais denominou metamotivação A metamotivação é caracterizada pelo comportamen to expressivo em vez de pelo comportamento de enfren tamento e está associada aos valores B Ela diferencia as pessoas autorrealizadas daquelas que não o são Em outras palavras a metamotivação era a resposta provisória de Maslow para o problema de por que algumas pessoas têm suas necessidades mais baixas satisfeitas são capazes de dar e receber amor possuem uma grande quantidade de confiança e autoestima e mesmo assim não conseguem ultrapassar o limiar para a autorrealização Sua vida não tem significado e carece de valores B Somente as pessoas que vivem entre os valores B são autorrealizadas e capazes de metamotivação Maslow 1964 1970 identificou 14 valores B mas o número exato não é importante porque no fim todos se tornam um ou pelo menos todos estão altamente correla cionados Os valores das pessoas autorrealizadas incluem verdade bondade beleza integridade ou a transcendência de dicotomias vivacidade ou espontaneidade singularidade per feição realização justiça e ordem simplicidade riqueza ou to talidade falta de esforço alegria ou humor e autossuficiência ou autonomia Fig 92 Esses valores distinguem as pessoas autorrealizadas daquelas cujo crescimento psicológico é abalado depois que atingem as necessidades de estima Maslow 1970 levan tou a hipótese de que quando as metanecessidades não são satisfeitas as pessoas adoecem elas têm uma patolo gia existencial Todos possuem uma tendência holística a avançar para a perfeição ou a totalidade quando esse movi mento é frustrado há sentimentos de inadequação desin tegração e não realização A ausência dos valores B leva a patologia com a mesma certeza de que a falta de comida resulta em desnutrição Quando é negada a verdade as pessoas sofrem de paranoia quando vivem em ambientes Feist09indd 178 Feist09indd 178 291014 0926 291014 0926 TEORIAS DA PERSONALIDADE 179 ameaçadores tornamse fisicamente doentes sem justiça e ordem elas experimentam medo e ansiedade sem alegria e humor elas se tornam aborrecidas rígidas e sombrias A privação de algum dos valores B resulta em metapatolo gia ou a falta de uma filosofia de vida significativa Características das pessoas autorrealizadas Maslow acreditava que todos os humanos têm potencial para a autorrealização Então por que não somos todos autorrealizados Para se tornar autorrealizada acreditava Maslow a pessoa precisa ser regularmente satisfeita em suas outras necessidades e também deve adotar os valores B Usando esses dois critérios ele supôs que 1 da popula ção adulta dos Estados Unidos mais sadia psicologicamen te seria autorrealizada WWW ALÉM DA BIOGRAFIA EM INGLÊS O que estimulou Maslow a procurar pessoas autorrealizadas Para informações sobre a busca de Maslow pela pessoa autorrealizada acesse wwwmhhecomfeist8e Maslow 1970 listou 15 qualidades experimentais que caracterizam as pessoas autorrealizadas em pelo me nos algum grau Percepção mais eficiente da realidade As pessoas autorrealizadas podem detectar com mais faci lidade a falsidade nos outros Elas conseguem discriminar entre o genuíno e o falso não só nas pessoas mas também na literatura na arte e na música Elas não são enganadas por fachadas e podem ver nos outros os traços positivos e negativos subjacentes que não são tão aparentes para a maioria das pessoas Elas percebem os valores reais com mais clareza do que os outros e são menos preconceituosas e têm menor probabilidade de verem o mundo como gosta riam que ele fosse Além disso as pessoas autorrealizadas possuem me nos medo e ficam mais confortáveis com o desconhecido Elas não só apresentam maior tolerância à ambiguidade como também a buscam ativamente e se sentem confor táveis com problemas e enigmas que não têm uma solu ção certa ou errada definida Elas recebem bem a dúvida a incerteza a indefinição e os caminhos inexplorados uma qualidade que as torna particularmente inclinadas para se rem filósofas exploradoras ou cientistas Aceitação de si dos outros e da natureza As pessoas autorrealizadas conseguem se aceitar da forma como são Elas não são defensivas não têm falsidade ou culpa autodestrutiva possuem um forte apetite animal por comida sono e sexo não são excessivamente críticas dos próprios defeitos e não se mostram sobrecarregadas por ansiedade ou vergonha indevidas De forma similar elas aceitam os outros e não têm a necessidade compulsiva de ensinar informar ou converter Elas conseguem tolerar as fraquezas nos outros e não são ameaçadas pelos pon tos fortes dos demais Elas aceitam a natureza incluindo a natureza humana como ela é e não esperam perfeição em si mesmas ou nos outros Elas reconhecem que as pessoas sofrem envelhecem e morrem Espontaneidade simplicidade e naturalidade As pessoas autorrealizadas são espontâneas simples e na turais Elas são não convencionais mas também não são compulsivas são muito éticas mas podem parecer anti éticas ou fora das normas Em geral comportamse de modo convencional seja porque a questão não é de grande importância ou por respeito aos outros Porém quando a situação justifica elas podem deixar de ser convencionais e tornaremse inflexíveis mesmo pagando o preço do os tracismo e da censura A semelhança entre as pessoas au torrealizadas e as crianças e os animais está em seu com portamento espontâneo e natural Elas tendem a viver com simplicidade no sentido de que não têm necessidade de construir uma aparência complexa para ludibriar o mun do Elas são despretensiosas e não têm medo ou vergonha de expressar alegria admiração euforia tristeza raiva ou outras emoções sentidas com profundidade Centradas nos problemas Uma quarta característica das pessoas autorrealizadas é o interesse em problemas externos a elas As pessoas que não são autorrealizadas costumam ser autocentradas e Integridade Vivacidade Singularidade Perfeição Realização Justiça Simplicidade Totalidade Falta de esforço Humor Beleza Bondade Verdade Autonomia Valores B FIGURA 92 Valores B de Maslow uma única joia com muitas facetas Feist09indd 179 Feist09indd 179 291014 0926 291014 0926 180 FEIST FEIST ROBERTS tendem a ver todos os problemas do mundo em relação a si mesmas enquanto as autorrealizadas são orientadas para a tarefa e preocupadas com problemas externos a elas Esse interesse possibilita que os autorrealizados desenvolvam uma missão na vida um propósito para viver que se pro paga além do autoengrandecimento Sua ocupação não é meramente uma forma de ganhar a vida mas uma vocação um chamado um fim em si As pessoas autorrealizadas estendem sua estrutura de referência para além do self Elas são preocupadas com pro blemas eternos e adotam uma base filosófica e ética sólida para lidar com tais problemas Elas são despreocupadas com o trivial e o insignificante Sua percepção realista lhes possibilita distinguir claramente entre as questões impor tantes e as irrelevantes na vida A necessidade de privacidade As pessoas autorrealizadas têm uma qualidade de distan ciamento que lhes permite estar sozinhas sem serem so litárias Elas se sentem relaxadas e confortáveis quando estão com as pessoas ou sozinhas Como já satisfizeram as necessidades de amor e pertencimento elas não possuem uma necessidade desesperada de estar cercadas por outras pessoas Elas podem encontrar alegria na solidão e na pri vacidade As pessoas autorrealizadas podem ser vistas como in diferentes ou desinteressadas mas de fato seu desinteres se está limitado a questões menores Elas têm uma preo cupação global com o bemestar dos outros sem ficarem enredadas em problemas pequenos e insignificantes Como gastam pouca energia tentando impressionar os outros ou tentando obter amor e aceitação têm maior capacidade de fazer escolhas responsáveis Elas são autoimpulsionadas resistindo às tentativas da sociedade de fazêlas aderirem a convenções Autonomia As pessoas autorrealizadas são autônomas e dependem de si mesmas para o crescimento muito embora em algum momento em seu passado tenham necessitado de amor e segurança Ninguém nasce autônomo e portanto nin guém é completamente independente das pessoas A au tonomia pode ser atingida somente por meio de relações satisfatórias com os outros Contudo a confiança de ser amado e aceito sem con dições ou qualificações pode ser uma força poderosa que contribui para os sentimentos de autovalorização De pois que a confiança é alcançada uma pessoa não mais depende de outras para autoestima As pessoas autorrea lizadas possuem essa confiança e portanto uma grande dose de autonomia que lhes permite não ficar perturba das pelas críticas nem tocadas pela bajulação Tal inde pendência também fornece a elas paz interior e serenida de que não são sentidas por indivíduos dependentes da aprovação dos outros Apreciação constante do novo Maslow 1970 escreveu que as pessoas autorrealizadas possuem a maravilhosa capacidade de apreciar repetidas vezes como novidade e ingenuamente as coisas boas da vida com admiração prazer encanto e até mesmo êxta se p 163 Elas têm plena consciência de sua boa saúde física amigos e pessoas amadas segurança econômica e liberdade política Diferentemente de outras pessoas que consideram suas bênçãos como garantidas as autorreali zadas apreciam com uma nova visão fenômenos cotidianos como as flores a comida e o amigos Elas apreciam suas posses e não perdem tempo se lamentando por uma exis tência aborrecida e desinteressante Em resumo mantêm um constante sentimento de boa sorte e gratidão por ela Maslow 1970 p 164 A experiência culminante Conforme Maslow continuou os estudos a respeito das pessoas autorrealizadas ele fez a descoberta inesperada de que muitas das pessoas estudadas haviam tido expe riências de natureza mística e que de alguma forma isso forneceu a elas um sentimento de transcendência Origi nalmente ele acreditava que essas assim chamadas expe riências culminantes eram muito mais comuns entre os autorrealizados do que entre os não autorrealizados Mais tarde no entanto Maslow 1971 afirmou que a maioria das pessoas ou quase todas tem experiências culminan tes ou êxtases p 175 Nem todas as experiências culminantes são de igual intensidade algumas são apenas levemente sentidas ou tras moderadamente sentidas e algumas intensamente ex perimentadas Na forma leve as experiências culminantes provavelmente ocorrem em todos embora raras vezes se jam percebidas Por exemplo corredores de longa distância com frequência relatam um tipo de transcendência uma perda do self ou um sentimento de serem separados do corpo Por vezes durante períodos de intenso prazer ou satisfação as pessoas têm experiências místicas ou culmi nantes Assistir a um pôr do sol ou a alguma outra grande za da natureza pode precipitar uma experiência culminan te mas esse tipo de experiência não pode ser desencadeado por um ato da vontade muitas vezes ocorre em momen tos inesperados bastante comuns Como é ter uma experiência culminante Maslow 1964 descreveu várias diretrizes que podem ajudar a res ponder a essa pergunta Primeiro as experiências culmi nantes são muito naturais e fazem parte da constituição humana Segundo as pessoas que têm uma experiência culminante veem todo o universo como unificado ou como uma peça única e elas enxergam claramente seu lugar nes Feist09indd 180 Feist09indd 180 291014 0926 291014 0926 TEORIAS DA PERSONALIDADE 181 se universo Além disso durante tal período místico as pessoas se sentem mais humildes e mais potentes ao mes mo tempo Elas se percebem passivas mais desejosas de ouvir e mais capazes de ouvir Ao mesmo tempo sentem se mais responsáveis por suas atividades e percepções mais ativas e mais autodeterminadas Elas experimentam a perda do medo da ansiedade e do conflito e se tornam mais afetivas receptivas e espontâneas Ainda que com frequência relatem emoções como respeito admiração ar rebatamento êxtase reverência humildade e entrega não é provável que desejem obter algo prático com a experiên cia Em geral experimentam uma desorientação no tempo e no espaço uma perda da autoconsciência uma atitude altruísta e uma capacidade de transcender as polaridades do dia a dia A experiência culminante é desmotivada sem empe nho sem desejo e durante uma experiência como essa a pessoa não experimenta necessidades desejos ou deficiên cias Além disso segundo Maslow 1964 A experiência culminante é vista como bela boa desejável louvável etc e nunca é experimentada como má ou indesejável p 63 Maslow também acreditava que a experiência culminante costuma ter um efeito duradouro na vida da pessoa Gemeinschaftsgefühl As pessoas autorrealizadas possuem Gemeinschaftsgefühl o termo de Adler para interesse social sentimento de co munidade ou um sentimento de unidade com toda a hu manidade Maslow identificou nesse grupo um tipo de atitude de cuidado em relação a outras pessoas Ainda que frequentemente se sintam como estranhos em uma terra estrangeira os autorrealizados se identificam com todas as outras pessoas e possuem um interesse genuíno em ajudar os outros estranhos e amigos Os autorrealizados ficam zangados impacientes ou descontentes com os outros porém eles mantêm um sentimento de afeição pelos seres humanos em geral De forma mais especifica Maslow 1970 declarou que os in divíduos autorrealizados ficam frequentemente entriste cidos exasperados e até mesmo enraivecidos pelos defeitos da pessoa média p 166 no entanto continuam a sentir uma afinidade básica por ela Relações interpessoais profundas Relacionada à Gemeinschaftsgefühl há uma qualidade es pecial das relações interpessoais que envolve sentimentos profundos pelos indivíduos Os autorrealizados possuem um sentimento compassivo em relação às pessoas em ge ral mas suas relações íntimas estão limitadas a apenas al gumas Eles não têm uma necessidade frenética de serem amigos de todo mundo entretanto as poucas relações interpessoais importantes que possuem são muito pro fundas e intensas Eles tendem a escolher pessoas sadias como amigos e a evitar relações interpessoais íntimas com indivíduos dependentes ou imaturos embora seu interesse social permita o sentimento especial de empatia por pes soas menos sadias É comum os autorrealizados serem mal compreendi dos e às vezes menosprezados pelos outros Entretanto vários deles são muito amados e atraem um grande grupo de admiradores e até mesmo adoradores especialmente se fizeram alguma contribuição notável para seu negócio ou campo profissional Aquelas pessoas sadias estudadas por Maslow se sentiam desconfortáveis e embaraçadas por tal veneração preferindo relacionamentos que fossem mútuos em vez de unilaterais A estrutura do caráter democrático Maslow descobriu que todos os seus autorrealizados pos suíam valores democráticos Eles podiam ser amistosos e atenciosos com outras pessoas independentemente de classe cor idade ou gênero e na verdade pareciam ter pouca consciência das diferenças superficiais interpes soais Além dessa atitude democrática os autorrealizados possuem um desejo e uma capacidade de aprender com to dos Em uma situação de aprendizagem eles reconhecem o quanto sabem pouco em relação ao que poderiam saber Eles percebem que os indivíduos menos sadios têm muito a oferecer e são respeitosos e até humildes diante dessas pessoas No entanto eles não aceitam passivamente a con duta maliciosa dos outros ao contrário lutam contra as pessoas más e esse tipo de conduta Discriminação entre meios e fins As pessoas autorrealizadas possuem um claro senso de conduta certa e errada e têm pouco conflito acerca de va lores básicos Elas focam os fins e não os meios e têm uma habilidade incomum para distinguir entre os dois O que outras pessoas consideram um meio p ex comer ou se exercitar os indivíduos autorrealizados com frequência veem como um fim em si Eles gostam de fazer algo pela finalidade em si e não porque é um meio para algum outro fim Maslow 1970 descreveu suas pessoas autorrealiza das dizendo que elas frequentemente apreciam o fato em si de ir ou chegar a algum lugar Em alguns casos é possível fazerem da atividade mais trivial e rotineira um jogo in trinsecamente agradável p 169 Senso de humor filosófico Outra característica que distingue as pessoas autorrealiza das é o senso de humor filosófico não hostil A maior parte do que passa pelo humor ou comédia é basicamente hos til sexual ou escatológico O riso em geral se dá à custa de outra pessoa As pessoas sadias veem pouco humor em Feist09indd 181 Feist09indd 181 291014 0926 291014 0926 182 FEIST FEIST ROBERTS brincadeiras depreciativas Elas podem fazer piadas de si mesmas mas não de forma masoquista Elas fazem menos tentativas de humor com os outros mas suas tentativas servem a um propósito que vai além de fazer as pessoas rirem Elas divertem informam apontam ambiguidades provocam um sorriso em vez de uma gargalhada O humor de uma pessoa autorrealizada é intrínseco à situação não forçado ele é espontâneo não planejado Como depende da situação em geral não pode ser repeti do Para aqueles que procuram exemplos de um senso de humor filosófico a decepção é inevitável Recontar o inci dente quase invariavelmente perde a qualidade original de diversão É preciso que se esteja lá para apreciar Criatividade Todas as pessoas autorrealizadas estudadas por Maslow eram criativas em algum sentido da palavra De fato Mas low sugeriu que criatividade e autorrealização podem ser uma coisa só Nem todos os autorrealizados são talento sos ou criativos nas artes mas todos são criativos à pró pria maneira Eles possuem uma percepção aguçada sobre verdade beleza e realidade ingredientes que formam as bases da verdadeira criatividade As pessoas autorrealizadas não precisam ser poetas ou artistas para serem criativas Ao falar da sogra que tam bém era sua tia Maslow 1968a assinalou enfaticamente que a criatividade provinha de quase qualquer lugar Ele disse que embora sua sogra autorrealizada não tivesse talentos especiais como escritora ou artista ela era ver dadeiramente criativa na preparação de uma sopa caseira Maslow observou que a sopa de primeira classe era mais criativa do que uma poesia de segunda classe Resistência à enculturação Uma característica final identificada por Maslow foi a resis tência à enculturação As pessoas autorrealizadas possuem um senso de desligamento de seu entorno e são capazes de transcender uma cultura particular Elas não são antis sociais nem conscientemente inadequadas Em vez disso são autônomas seguindo seus próprios padrões de condu ta e não obedecendo cegamente às regras dos outros As pessoas autorrealizadas não gastam energia lutan do contra costumes insignificantes e regulações da socie dade Usos populares como vestes estilo de cabelo e leis de trânsito são relativamente arbitrários e as pessoas autor realizadas não fazem uma demonstração visível de desafio a essas convenções Como aceitam o estilo e a vestimenta convencionais elas não são muito diferentes de qualquer um na aparência No entanto em questões importantes elas podem ser tornar bastante estimuladas a buscar mu dança social e resistir às tentações da sociedade de encul turálas As pessoas autorrealizadas não têm meramente mais diferença sociais mas segundo a hipótese de Maslow 1970 elas são menos enculturadas menos niveladas menos moldadas p 174 Por essa razão tais pessoas sadias são mais individua lizadas e menos comuns do que as outras Elas não são to das semelhantes De fato o termo autorrealização signi fica se tornar tudo o que é possível ser realizar ou atingir todos os seus potenciais Quando as pessoas conseguem atingir esse objetivo elas se tornam mais singulares mais heterogêneas e menos moldadas por determinada cultura Maslow 1970 Amor sexo e autorrealização Antes que as pessoas possam se tornar autorrealizadas elas precisam satisfazer suas necessidades de amor e per tencimento O que se segue então é que elas são capazes de dar e receber amor e não são mais motivadas pelo tipo de amor proveniente de uma falta amor D comum aos outros indivíduos As pessoas autorrealizadas são capazes do amor B isto é amor pela essência de ser do outro O amor B é mutuamente sentido e compartilhado e não motivado por uma deficiência ou incompletude do aman te Na verdade tratase de um comportamento imotivado expressivo As pessoas autorrealizadas não amam porque esperam algo em retribuição Elas simplesmente amam e são amadas O seu amor nunca é prejudicial É o tipo de amor que permite aos amantes ficar relaxados abertos e não reservados Maslow 1970 Como os autorrealizados são capazes de um nível mais profundo de amor Maslow 1970 acreditava que o sexo entre dois amantes B com frequência se torna um tipo de experiência mística Mesmo sendo pessoas fortes que desfrutam integralmente do sexo da comida e de outros prazeres sensuais os autorrealizados não são dominados pelo sexo Eles conseguem tolerar com mais facilidade a ausência de sexo assim como de outras necessidades bá sicas porque não têm necessidade originária de uma fal ta A atividade sexual entre amantes B nem sempre é uma experiência emocional elevada às vezes ela é realizada de forma leve no espírito da alegria e do humor Mas essa abordagem deve ser esperada porque alegria e humor são valores B e como os demais valores deste tipo são uma parte importante da vida dos autorrealizados FILOSOFIA DA CIÊNCIA A filosofia da ciência de Maslow e seus métodos de pesqui sa são essenciais para a compreensão de como ele chegou ao conceito de autorrealização Maslow 1966 acreditava que a ciência livre de valores não conduz ao estudo ade quado da personalidade humana Ele argumentava a fa vor de uma filosofia da ciência diferente uma abordagem humanista e holística que não é livre de valores que tem cientistas que se importam com as pessoas e com os temas Feist09indd 182 Feist09indd 182 291014 0926 291014 0926 TEORIAS DA PERSONALIDADE 183 que investigam Por exemplo Maslow foi motivado a pro curar pessoas autorrealizadas porque ele tinha como ídolos e admirava muito Max Wertheimer e Ruth Benedict seus dois modelos originais para autorrealização Mas também expressou interesse e admiração por Abraham Lincoln Eleanor Roosevelt e outros indivíduos autorrealizados Maslow 1968a Maslow concordava com Allport ver Cap 12 no sentido de que a ciência psicológica deveria colocar mais ênfase no estudo do indivíduo e menos destaque na aná lise de grandes grupos Os relatos subjetivos deveriam ser favorecidos em relação aos rigidamente objetivos e deveria ser permitido que as pessoas falassem sobre si mesmas de uma forma holística em vez da abordagem mais ortodoxa que estuda os indivíduos em partes A psi cologia tradicional tratou das sensações da inteligência das atitudes dos estímulos dos reflexos dos escores de testes e dos construtos hipotéticos a partir de um pon to de vista externo Ela não se preocupou muito com a pessoa como um todo considerada a partir de uma visão subjetiva Quando Maslow frequentou a escola médica ficou chocado com a atitude impessoal dos cirurgiões que atira vam com indiferença sobre uma mesa partes de corpo re centemente removidas A observação de um procedimento tão frio e insensível levou Maslow ao conceito de dessa cralização o tipo de ciência que carece de emoção alegria admiração respeito e arrebatamento Hoffman 1988 Maslow acreditava que a ciência ortodoxa não apresentava ritual ou cerimônia e convocou os cientistas a colocarem de volta valores criatividade emoção e ritual em seus traba lhos Os cientistas devem estar dispostos a ressacralizar a ciência ou instilála com valores humanos emoção e ritual Os astrônomos não devem apenas estudar as estrelas eles devem ficar fascinados por elas Os psicólogos não devem simplesmente estudar a personalidade humana eles de vem fazer isso com alegria excitação admiração e afeição Maslow 1966 defendeu uma atitude taoísta para a psicologia que seria sem interferências passiva e recep tiva Essa nova psicologia aboliria prognóstico e controle como os objetivos principais da ciência e os substituiria pela fascinação pura e pelo desejo de liberar as pessoas dos controles de forma que elas pudessem crescer e se tornar menos previsíveis A resposta apropriada ao mistério refe riu Maslow não é a análise mas o respeito Maslow insistia em que os próprios psicólogos preci savam ser pessoas sadias capazes de tolerar a ambiguida de e a incerteza Eles devem ser intuitivos não racionais perspicazes e corajosos o suficiente para fazer as perguntas corretas Eles também devem estar dispostos a tropeçar ser imprecisos questionar os próprios procedimentos e assumir os problemas importantes da psicologia Maslow 1966 referia que não há necessidade de fazer bem aquilo que não vale a pena ser feito Em vez disso é melhor fazer razoavelmente aquilo que é importante Em seu estudo sobre as pessoas autorrealizadas e ex periências culminantes Maslow empregou métodos de pesquisa coerentes com sua filosofia da ciência Ele co meçou intuitivamente com frequência patinando sobre o gelo fino depois tentou verificar seus palpites usando métodos idiográficos e subjetivos Com frequência deixa va para outros o trabalho técnico de reunir evidências Sua preferência pessoal era explorar à frente abandonando uma área quando ficava cansado dela e continuando a in vestigar outras novas M H Hall 1968 MEDINDO A AUTORREALIZAÇÃO Everett L Shostrom 1974 desenvolveu o Inventário de Orientação Pessoal POI Personal Orientation Inven tory na tentativa de medir os valores e comportamen tos das pessoas autorrealizadas O POI consiste em 150 itens de escolha obrigatória tais como a Posso me sentir confortável com um desempenho menos do que perfeito versus b Sintome desconfortável com tudo menos um desempenho perfeito a Duas pessoas vão se dar melhor se cada uma se concentrar em agradar a outra versus b Duas pessoas podem se dar melhor se cada uma se sentir livre para se expressar e a Meus valores morais são di tados pela sociedade versus b Meus valores morais são autodeterminados Shostrom 1963 Os sujeitos devem escolher a afirmação a ou b mas podem deixar a respos ta em branco se nenhuma das afirmações se aplicar a eles ou se não souberem nada acerca da afirmação O POI possui duas escalas principais e 10 subescalas A primeira escala principal a de competência no tem poincompetência no tempo mede o grau em que as pessoas são orientadas para o presente A segunda escala principal a de apoio é concebida para mensurar se o modo de reação de um indivíduo é caracteristicamente orientado para o self ou para o outro Shostrom 1974 p 4 As 10 subescalas avaliam níveis de 1 valores de autorrealização 2 flexibilidade na aplicação dos valores 3 sensibilidade às próprias necessidades e aos próprios sentimentos 4 espontaneidade na expressão corporal de sentimentos 5 autoestima 6 autoaceitação 7 visão positiva da humanidade 8 capacidade de ver os opostos da vida como significativamente relacionados 9 aceitação da agressividade e 10 capacidade de contato íntimo Escores altos nas duas escalas principais e nas 10 subescalas indicam algum nível de autorrealização esco res baixos não sugerem necessariamente patologia mas fornecem indícios referentes aos valores e aos comporta mentos de autorrealização de uma pessoa O POI parece ser muito resistente à simulação a me nos que o indivíduo esteja familiarizado com a descrição Feist09indd 183 Feist09indd 183 291014 0926 291014 0926 184 FEIST FEIST ROBERTS de Maslow de uma pessoa autorrealizada No manual do POI Shostrom 1974 citou vários estudos nos quais os examinados eram solicitados a simular ou transmitir uma impressão favorável ao preencherem o inventário Quando os participantes seguiam essas instruções em ge ral tinham escores mais baixos na direção que se afastava da autorrealização do que quando respondiam de modo honesto às afirmações Esse achado de fato é muito interessante Por que as pessoas baixavam seus escores quando tentavam parecer bem A resposta reside no conceito de Maslow de autor realização As afirmações que podem ser verdadeiras para os autorrealizados não são necessariamente desejáveis no âmbito social e nem sempre se adaptam aos padrões culturais Por exemplo itens como Consigo superar qual quer obstáculo enquanto acreditar em mim ou Minha responsabilidade básica é estar consciente das necessida des dos outros podem parecer objetivos desejáveis para alguém que está tentando simular autorrealização porém uma pessoa autorrealizada provavelmente não endossa ria nenhum desses itens Todavia uma pessoa verdadei ramente autorrealizada pode escolher itens como Nem sempre preciso viver de acordo com as regras e os padrões da sociedade ou Não me sinto grato quando um estra nho me faz um favor Shostrom 1974 p 22 Como uma das características das pessoas autorrealizadas é a re sistência à enculturação não deve causar surpresa que as tentativas de passar uma boa impressão possam resultar em fracasso É interessante observar que o próprio Maslow pare cia ter respondido às perguntas honestamente quando preencheu o inventário Apesar do fato de ter ajudado na construção do POI os escores de Maslow foram apenas na direção da autorrealização não sendo tão altos quanto os das pessoas que eram de fato autorrealizadas Shostrom 1974 Ainda que o POI tenha demonstrado fidedignidade e va lidade razoáveis alguns pesquisadores Weiss 1991 Whitson Olczak 1991 criticaram o inventário por não distinguir entre autorrealizados conhecidos e não autorrealizados Além do mais o POI tem dois problemas práticos primei ro ele é longo e os participantes levam de 30 a 45 minutos para preencher segundo o formato de escolha obrigatória de dois itens pode causar hostilidade nos participantes que se sentem frustrados pelas limitações de uma opção de esco lha Para superar essas limitações práticas Alvin Jones e Rick Crandall 1986 criaram o Índice Curto de Autorrealização Short Index of SelfActualization que toma emprestado 15 itens do POI que estão mais fortemente correlacionados com o escore total de autorrealização Os itens do Índice Curto de Autorrealização estão em uma escala de Likert de 6 pontos de concordo plenamente até discordo plenamente Pesquisas Compton Smith Cornish Qualls 1996 Rowan Comp ton Rust 1995 Runco Ebersole Mraz 1991 sobre o Índice Curto de Autorrealização indicaram tratarse de uma escala útil para avaliação da autorrealização Uma terceira medida de autorrealização é o Índice Bre ve de Autorrealização Brief Index of SelfActualization desenvolvido por John Sumerlin e Charles Bundrick 1996 1998 O índice original Sumerlin Bundrick 1996 com preendia 40 itens colocados em uma escala de Likert de 6 pontos o que produziu escores de 40 a 240 A análise fatorial produziu quatro fatores de autorrealização mas como alguns itens foram colocados em mais de um fator os autores Sumerlin Bundrick 1998 revisaram o Índice Breve de Autorrealização eliminando oito itens de modo que não fosse encontrado um mesmo índice em mais de um fator Esse inventário produz quatro fatores I autor realização central ou o uso integral dos próprios potenciais II autonomia III abertura à experiência e IV bemestar ante a solidão Os itens típicos incluem Gosto de minhas realizações autorrealização central Tenho medo de não corresponder a meu potencial um item com escore inver tido medindo autonomia Sou sensível às necessidades dos outros abertura à experiência e Desfruto de minha solidão conforto com a solidão A fidedignidade a vali dade e a utilidade do Índice Breve de Autorrealização ainda não foram completamente determinadas O COMPLEXO DE JONAS De acordo com Maslow 1970 todos nascem com um desejo de saúde uma tendência a crescer em direção à au torrealização mas poucas pessoas atingem tal propósito O que impede as pessoas de alcançarem esse alto nível de saúde O crescimento em direção à personalidade normal e sadia pode ser bloqueado em cada um dos passos na hie rarquia de necessidades Se as pessoas não conseguem pro videnciar comida e abrigo elas permanecem no nível das necessidades fisiológicas e de segurança Outras permane cem bloqueadas no nível das necessidades de amor e per tencimento empenhandose em dar e receber amor e em desenvolver sentimentos de pertencimento Outras ainda satisfazem suas necessidades de amor e obtêm autoestima mas não avançam até o nível da autorrealização porque não conseguem adotar os valores B Maslow 1970 Outro obstáculo que costuma bloquear o crescimento em direção à autorrealização é o complexo de Jonas ou o medo de ser o melhor possível Maslow 1979 O com plexo de Jonas é caracterizado por tentativas de fugir do próprio destino assim como o Jonas bíblico tentou esca par de seu destino O complexo de Jonas que é encontrado em quase todas as pessoas representa um medo do suces so um medo de ser o melhor possível e um sentimento de espanto na presença da beleza e da perfeição A própria história de Maslow demonstrou seu complexo de Jonas Apesar de um QI de 195 ele era apenas um aluno mediano Feist09indd 184 Feist09indd 184 291014 0926 291014 0926 TEORIAS DA PERSONALIDADE 185 e como psicólogo mundialmente famoso com frequência experimentava pânico quando chamado para fazer uma palestra Por que as pessoas fogem da grandeza e da autorrea lização Maslow 1971 1996 ofereceu a seguinte explica ção Primeiro o corpo humano simplesmente não é forte o suficiente para suportar o êxtase da realização por um período de tempo assim como as experiências culminantes e os orgasmos sexuais seriam muito penosos se durassem bastante tempo Portanto a emoção intensa que acompa nha a perfeição e a realização traz consigo uma sensação impactante do tipo Isto é demais ou Não aguento mais Maslow 1971 apresentou uma segunda explicação de porque se evita a grandeza A maioria das pessoas argu mentou ele tem a ambição secreta de ser grande escrever um romance memorável ser um astro do cinema tornar se um cientista mundialmente famoso e assim por diante Contudo quando se comparam com aqueles que atingiram a grandeza ficam chocadas com sua própria arrogância Quem sou eu para achar que poderia me sair tão bem quanto aquela pessoa importante Como uma defesa contra tal grandiosidade ou orgulho pecaminoso elas di minuem suas aspirações sentemse estúpidas e humildes e adotam a abordagem autodestrutiva de fugir da realização integral de seus potenciais Ainda que o complexo de Jonas se destaque de forma mais marcante nas pessoas neuróticas quase todos têm alguma timidez em procurar a perfeição e a grandeza As pessoas aparentam uma falsa humildade para abafar a cria tividade e assim impedem a si próprias de se tornarem autorrealizadas PSICOTERAPIA Para Maslow 1970 o objetivo da terapia deveria ser que as pessoas adotassem os valores de ser ou seja valorizas sem a verdade a justiça a bondade a simplicidade Para atingir esse objetivo os pacientes precisam estar livres da dependência dos outros de modo que seu impulso natural em direção ao crescimento e à autorrealização possa se tor nar ativo A psicoterapia não pode ser livre de valores mas precisa levar em consideração o fato de que todos possuem uma tendência inerente a avançar em direção a uma condi ção melhor e mais enriquecedora isto é a autorrealização Os objetivos da psicoterapia acompanham a posição do paciente na hierarquia de necessidades Como as neces sidades fisiológicas e de segurança são preponderantes as pessoas que operam nesses níveis em geral não são motiva das a procurar psicoterapia Em vez disso elas se esforçam em obter alimento e proteção A maioria das pessoas que procuram terapia tem essas duas necessidades de nível mais baixo relativamente satis feitas mas apresenta alguma dificuldade em satisfazer as necessidades de amor e pertencimento Portanto a psico terapia é em grande parte um processo interpessoal Por meio de uma relação cordial afetuosa e interpessoal com o terapeuta o paciente obtém a satisfação das necessidades de amor e pertencimento e assim adquire sentimentos de confiança e autoestima Uma relação interpessoal sadia en tre paciente e terapeuta é portanto o melhor tratamento psicológico Essa relação de aceitação fornece aos pacientes um sentimento de ser digno de amor e facilita sua capaci dade de estabelecer outras relações sadias fora da terapia Essa visão da psicoterapia é quase idêntica à de Carl Ro gers conforme discutiremos no Capítulo 10 PESQUISA RELACIONADA Como você acabou de ler um dos aspectos mais notáveis da teoria da personalidade de Maslow é o conceito de hie rarquia de necessidades Algumas necessidades como as fisiológicas e de segurança são de ordem mais baixa en quanto necessidades como estima e autorrealização são de ordem mais alta Em linhas gerais de acordo com a teoria de Maslow as necessidades de ordem mais baixa devem ser satisfeitas no início da vida enquanto as de ordem mais alta como autorrealização tendem a ser satisfeitas mais tarde na vida Recentemente pesquisadores testaram esse aspecto da teoria de Maslow medindo a satisfação das necessida des em uma amostra de 1749 pessoas de todas as faixas etárias Reiss Havercamp 2006 Nesse estudo os par ticipantes responderam a um questionário acerca da satis fação de suas necessidades Tais necessidades foram divi didas em dois tipos de motivação motivação mais baixa p ex comer e exercício físico e motivação mais alta p ex honra família e ideais Os resultados corroboraram a teoria de Maslow Os pesquisadores evidenciaram que os motivos mais baixos eram mais fortes em pessoas mais jo vens enquanto os motivos mais altos eram mais intensos em indivíduos mais velhos Lembrese de que para focar a satisfação das necessidades de ordem mais alta como es tima e autorrealização as pessoas precisam primeiro ter satisfeitas as necessidades de ordem mais baixa Assim como teorizou Maslow e conforme encontraram Reiss e Havercamp 2006 se as pessoas conseguem assegurar as necessidades mais básicas no início da vida elas têm mais tempo e energia para focar em alcançar as camadas mais altas da existência humana posteriormente Necessidades de suprir uma deficiência valores B e autoestima Ainda que a psicologia tenha estudado o construto da autoestima por décadas existe pouca concordância na literatura sobre exatamente o que é de fato esse senti Feist09indd 185 Feist09indd 185 291014 0926 291014 0926 186 FEIST FEIST ROBERTS mento elusivo A teoria de Maslow de motivação por dé ficit versus motivação de crescimento conduziu a hipóte ses interessantes em relação à autoestima É importante lembrar que Maslow argumentou que a autoestima é um aspecto da necessidade conativa por estima Depois que essa necessidade é satisfeita argumenta ele ela para de ser motivadora Além disso satisfazer as necessidades de deficiência proporciona prazer mas não felicidade pro funda e duradoura Aqueles indivíduos raros que avançam além das necessidades de estima para a autorrealização fazem isso porque adotam os valores B A busca das ne cessidades de crescimento da parte dessas pessoas autor realizadas proporciona satisfação contínua e duradoura Isso levanta questões interessantes acerca da relação entre as necessidades de suprir uma deficiência relacionadas a estima os valores B e nosso sentimento de nós próprios como seres humanos de valor Pesquisadores procuraram examinar na Europa a re lação entre os valores das pessoas e sua autoestima por meio da teoria de Maslow no intuito de compreender essa relação Lönnqvist Verkasalo Helkama Andreyeva Bezmenova Rattazzi Niit Stetsenko 2009 Quando os valores dos indivíduos refletem as necessidades de su prir uma deficiência de Maslow deve ser porque eles não realizaram objetivos nessas áreas Essa é a definição de ne cessidade de suprir uma deficiência Ela só é sentida quan do somos privados de satisfação Uma vez que a falha em realizar os objetivos foi associada a autoestima reduzida Crocker Wolfe 2001 esses pesquisadores pondera ram que a autoestima baixa pode ser explicada em parte pela atribuição de importância a valores que representam necessidades de suprir uma deficiência como poder segu rança e conformidade Em contraste as necessidades de crescimento associadas à autorrealização são motivações duradouras e os valores associados a elas aumentam em importância quanto mais a pessoa atinge os objetivos para os quais esses valores estão direcionados Portanto valo rizar aspectos como autodireção universalismo e estimu lação deve predizer autoestima mais alta Essas foram as hipóteses que guiaram Lönnqvist e colaboradores 2009 em seu exame de mais de 3 mil pessoas da Finlândia da Rússia da Suíça da Itália e da Estônia A autoestima foi avaliada com o uso da Escala de Autoestima de Rosenberg 1965 a qual consiste em 10 itens cada um dos quais classificado em uma escala de 4 pontos Um exemplo de item é Assumo uma atitude posi tiva em relação a mim mesmo Os valores foram medidos usando o Inventário de Valores de Schwartz 1992 Esse questionário abrange 56 itens os quais os participantes classificam desde 1 oposto a meus valores até 9 de su prema importância para mim Os itens se agrupam para formar 10 tipos de valores benevolência tradição con formismo segurança poder realização hedonismo esti mulação autodireção e universalismo Amostras de estu dantes préprofissionais do ensino médio e adultos foram pesquisadas nos cinco países Os resultados desse estudo foram fascinantes um tanto inesperados e corroboraram moderadamente a teo ria de Maslow Conforme previsto a abertura à mudança de valores autodireção e estimulação estava associada a autoestima mais alta e a valores de conservação confor mismo e tradição com autoestima mais baixa Contudo contrário às expectativas os valores de autocrescimento poder e realização estavam positivamente relacionados a autoestima enquanto os valores de autotranscendência benevolência e universalismo estavam relacionados de modo negativo a autoestima Portanto os objetivos pessoais eram preditivos de autoestima elevada enquanto aqueles relacionados a aceitação não eram O que poderia explicar esses achados Lönnqvist e co laboradores 2009 apontaram para uma possibilidade de enviesamento de medida Os itens na Escala de Autoestima de Rosenberg a avaliação da autoestima mais amplamente usada na literatura enfatizam a comparação do self com os outros p ex Sou capaz de fazer as coisas tão bem quanto a maioria das outras pessoas e Acho que sou uma pessoa de valor pelo menos em um plano igual aos outros Essa forma de conceitualizar a autoestima parece tendenciosa quanto aos objetivos autofocados relacionados ao poder e assim faz sentido que aqueles que valorizam tais objetivos tenham apresentado escores mais altos Uma possibilidade mais interessante é que esses achados colocam em questão as muitas formas como definimos autoestima e o valor supremo que nela depo sitamos na cultura ocidental Talvez a ciência meça esse construto de maneira limitada Talvez autoestima envolva mais do que se sentir relativamente tão bom ou melhor na comparação com os outros Mas talvez essa não seja uma questão de medida em vez disso é o valor que de positamos na autoestima como índice de uma vida bem vivida que precisamos questionar Conforme sugere a hierarquia de Maslow autoestima é uma necessidade de suprir uma deficiência não uma necessidade de cresci mento É interessante observar que as pesquisas sugerem que somos menos felizes quando estamos pensando sobre o self enquanto ser capaz de perder o self em total imer são em uma atividade como as experiências culminan tes de Maslow está conectado a sentimentos de alegria Csikszentmihalyi 1988 Talvez então a busca dos valo res B não leve a melhor autoestima Como Maslow conce bia esses valores eles podem não ajudar a nos sentirmos melhor em relação a nós mesmos Ao contrário eles podem nos capacitar a nos transcendermos e a nos conectarmos de modo mais significativo aos outros e a nosso mundo Fazer isso pode até afetar nossa autoestima conforme medida por escalas como a de Rosenberg e essa humil dade pode ser exatamente o que nos possibilita viver bem indo além do princípio do prazer Feist09indd 186 Feist09indd 186 291014 0926 291014 0926 TEORIAS DA PERSONALIDADE 187 Psicologia positiva A psicologia positiva é um campo relativamente novo da psicologia que combina a ênfase na esperança no otimis mo e no bemestar com a pesquisa e a avaliação científica Muitas das questões examinadas pelos psicólogos positi vos provêm diretamente de teóricos humanistas como Abraham Maslow e Carl Rogers ver Cap 10 Como Mas low e Rogers os psicólogos positivos são críticos da psico logia tradicional que resultou em um modelo do ser huma no como carecendo de características positivas que tornam a vida valer a pena ser vivida Esperança sabedoria cria tividade determinação futura coragem espiritualidade responsabilidade e experiências positivas são ignoradas Seligman Csikszentmihalyi 2000 Uma área da psicologia positiva na qual as ideias de Maslow foram particularmente influentes é o papel das experiências positivas na vida das pessoas Maslow se re feriu a experiências extremamente positivas que envolvem um sentimento de respeito espanto e reverência como ex periências culminantes Ainda que tais experiências sejam mais comuns entre os autorrealizados elas podem ser ex perimentadas em vários graus também por outras pessoas Recentemente pesquisadores investigaram os benefícios potenciais que provêm de reexperimentar por meio da es crita ou do pensamento tais experiências positivas Em um desses estudos os participantes foram instruídos a escrever acerca de uma experiência ou experiências positivas durante 20 minutos todos os dias por três dias consecutivos Bur ton King 2004 As instruções dadas aos participantes an tes de começar foram derivadas diretamente dos escritos de Maslow sobre experiências culminantes e elas pediam aos participantes que escrevessem acerca de seus momentos mais felizes momentos de êxtase momentos de arrebata mento talvez por estarem apaixonados por ouvirem uma música ou repentinamente serem tocados por um livro ou uma pintura ou por algum grande momento criativo p 155 Experimentar tais eventos positivos que inspiram res peito sem dúvida aumentará a emoção positiva e conforme esse estudo testou talvez apenas relembrar tais eventos do passado escrevendo sobre eles também possa aumentar a emoção positiva A experiência da emoção positiva costuma ser uma coisa boa e foi associada a melhora nos recursos de enfrentamento melhor saúde e comportamentos pró sociais Lyubomirsky King Diener 2005 Portanto Burton e King prognosticaram que escrever acerca dessas experiências culminantes ou intensamente positivas estaria associado a melhor saúde física nos meses seguintes ao exer cício de escrita De fato Burton e King 2004 constataram que aqueles que escreveram sobre experiências positivas comparados com aqueles em uma condição de controle que escreveram sobre tópicos não emocionais como uma des crição de seu quarto consultaram com um médico menos vezes por doença durante os três meses após a escrita Outros pesquisadores acompanharam os efeitos sobre a saúde de escrever acerca de experiências extremamente positivas Sonja Lyubomirsky e colaboradores investiga ram se pensar acerca de experiências positivas passadas teria ou não ganhos comparáveis ou até mesmo maiores do que os ganhos derivados de escrever acerca de tais expe riências Lyubomirsky Sousa Dickerhoof 2006 Mes mo não tendo encontrado benefícios na saúde física para o pensamento acerca de experiências positivas constatouse que aqueles que foram instruídos a simplesmente pensar sobre essas experiências por 15 minutos durante três dias consecutivos relataram maior bemestar um mês mais tar de do que aqueles que escreveram sobre tais experiências durante o mesmo período de tempo Esses resultados su gerem não ser preciso superanalisar ou separar experiên cias positivas para obter benefícios Ao contrário relem brar casualmente a experiência em sua mente e recordar o quanto a experiência fez se sentir bem é suficiente para experimentar maior bemestar Tais estudos demonstram a importância de refletir e reviver as experiências mais positivas ou culminantes em nossas vidas Lembrese do início do capítulo em que Abraham Maslow previu que as experiências culminantes com frequência têm um impacto duradouro na vida das pessoas As pesquisas recentes na área da psicologia positi va examinadas nesta seção certamente apoiam tal aspecto da teoria de Maslow CRÍTICAS A MASLOW A busca de Maslow pela pessoa autorrealizada não termi nou com seus estudos empíricos Em seus últimos anos era comum especular sobre a autorrealização com poucas evidências para apoiar suas suposições Ainda que essa prá tica abra a porta para críticas a Maslow ele era despreocu pado com a ciência dessacralizada ou ortodoxa Entretanto usamos os mesmos critérios para avaliar a teoria da personalidade holísticodinâmica como fazemos com as outras teorias Primeiro como a teoria de Maslow se classifica em sua capacidade de gerar pesquisa Segundo esse critério classificamos a teoria de Maslow como um pouco acima da média A autorrealização permanece um tópico popular com os pesquisadores e os testes de au torrealização facilitaram os esforços para investigar esse conceito ilusório No entanto as noções de Maslow sobre metamotivação a hierarquia de necessidades o complexo de Jonas e as necessidades instintivas receberam menos interesse da parte dos pesquisadores Segundo o critério de refutabilidade precisamos clas sificar a teoria de Maslow como baixa Os pesquisadores demonstraram dificuldade para verificar ou confirmar os meios de Maslow de identificação das pessoas autorreali zadas Maslow referiu que suas pessoas autorrealizadas se Feist09indd 187 Feist09indd 187 291014 0926 291014 0926 188 FEIST FEIST ROBERTS recusaram a se submeter a testes que pudessem avaliar a autorrealização Se isso for verdade então os vários inven tários que pretendem medir a autorrealização poderão ser incapazes de identificar a pessoa verdadeiramente autor realizada Contudo se os pesquisadores quiserem seguir a conduta de Maslow e usar entrevistas pessoais eles terão poucas diretrizes para fazer direcionamentos Como Mas low não forneceu uma definição operacional de autorreali zação e uma descrição completa de seus procedimentos de amostragem os pesquisadores não têm como ter certeza de que estão replicando o estudo original ou que estão identi ficando a mesma síndrome de autorrealização Maslow dei xou os futuros pesquisadores com poucas diretrizes claras a seguir quando tentassem replicar seus estudos sobre autor realização Carecendo de definições operacionais da maioria dos conceitos de Maslow os pesquisadores não conseguem verificar nem refutar boa parte de sua teoria básica No entanto a estrutura da hierarquia de necessida des de Maslow dá a sua teoria excelente flexibilidade para organizar o que se conhece acerca do comportamento humano A teoria de Maslow também é muito coerente com o bom senso Por exemplo o bom senso sugere que uma pessoa precisa ter o suficiente para comer antes de ser motivada por outros aspectos As pessoas com fome se importam muito pouco com filosofia política Sua motivação primária é obter comida e não simpatizar com uma filosofia políti ca ou outra Do mesmo modo as pessoas que vivem sob ameaça a seu bemestar físico são motivadas sobretudo por garantir a segurança e os indivíduos que têm as ne cessidades fisiológicas e de segurança relativamente satis feitas se esforçam por serem aceitos e por estabelecer uma relação amorosa A teoria de Maslow serve como um guia para o profis sional Segundo esse critério classificamos a teoria como altamente útil Por exemplo os psicoterapeutas que têm pacientes com as necessidades de segurança ameaçadas precisam oferecer um ambiente seguro a eles Depois que os pacientes satisfizerem suas necessidades de segurança o terapeuta poderá trabalhar para oferecer sentimentos de amor e pertencimento De forma semelhante os gerentes de pessoal no comércio e na indústria podem usar a teoria de Maslow para motivar os trabalhadores A teoria sugere que o aumento de salário não consegue satisfazer neces sidades que vão além do nível fisiológico e de segurança Como as necessidades fisiológicas e de segurança já estão em grande parte satisfeitas para o trabalhador médio o aumento de salário per se não eleva permanentemente o moral e a produtividade do trabalhador Os aumentos de salário podem satisfazer necessidades de nível mais alto somente quando os trabalhadores as encaram como reco nhecimento por um trabalho bemfeito A teoria de Mas low sugere que os executivos de empresas devem permi tir aos trabalhadores mais responsabilidade e liberdade utilizar a engenhosidade e a criatividade deles na solução de problemas e encorajálos a empregar sua inteligência e imaginação no trabalho A teoria é internamente coerente Infelizmente a lin guagem hermética e incerta de Maslow torna ambíguas e incoerentes partes importantes de sua teoria À parte o problema da linguagem idiossincrática no entanto a teo ria de Maslow é classificada como alta no critério de coe rência interna O conceito de hierarquia de necessidades segue uma progressão lógica e Maslow levantou a hipótese de que a ordem das necessidades é a mesma para todos embora ele não tenha desconsiderado a possibilidade de certas inversões À parte algumas deficiências em seus métodos científicos a teoria de Maslow possui coerência e precisão que lhes conferem apelo popular A teoria de Maslow é parcimoniosa ou contém concei tos e modelos fabricados supérfluos À primeira vista a teoria parece bastante simplista Um modelo de hierarquia de necessidades com apenas cinco passos dá à teoria uma aparência ilusória de simplicidade Uma compreensão mais abrangente da teoria de Maslow no entanto sugere um modelo muito mais complexo Globalmente a teoria é par cimoniosa em nível moderado CONCEITO DE HUMANIDADE Maslow acreditava que todos podemos ser autorrealizados nossa natureza humana traz consigo um grande potencial para sermos bons seres humanos Se ainda não atingimos esse alto nível de funcionamento é porque estamos de alguma maneira incapacitados ou patológicos Não conseguimos sa tisfazer nossas necessidades de autorrealização quando nos sas necessidades de nível mais baixo ficam bloqueadas ou seja quando não conseguimos satisfazer nossas necessidades de alimento segurança amor e pertencimento e estima Essa compreensão levou Maslow a postular uma hierarquia de ne cessidades básicas que devem ser regularmente satisfeitas an tes que nos tornemos humanos de modo integral Maslow concluiu que a verdadeira natureza humana é vista apenas nas pessoas autorrealizadas e que parece não haver razão intrínseca para que todos não sejam dessa ma neira Aparentemente todos os bebês têm possibilidades para autorrealização porém a maioria é excluída delas Lowry 1973 p 91 Em outras palavras as pessoas autorrealizadas Feist09indd 188 Feist09indd 188 291014 0926 291014 0926 TEORIAS DA PERSONALIDADE 189 Termoschave e conceitos Para Maslow a motivação afeta a pessoa como um todo ela é completa em geral inconsciente contí nua e aplicável a todos os indivíduos As pessoas são motivadas por quatro dimensões de necessidades conativa esforço obstinado estética a necessidade de ordem e beleza cognitiva a neces sidade de curiosidade e conhecimento e neurótica um padrão improdutivo de relacionamento inter pessoal As necessidades conativas podem ser organizadas em uma hierarquia significando que uma necessi dade precisa ser relativamente satisfeita antes que a seguinte possa se tornar ativa As cinco necessidades conativas são fisiológica de segurança de amor e pertencimento de estima e de autorrealização Em algumas ocasiões as necessidades na hierar quia podem ser invertidas sendo com frequência inconscientes O comportamento de enfrentamento é motivado e está direcionado para a satisfação das necessidades básicas O comportamento expressivo possui uma causa mas não é motivado ele é simplesmente a maneira que a pessoa tem de se expressar As necessidades conativas incluindo autorrealiza ção são instintivas isto é sua privação conduz a patologia não são indivíduos comuns com algo acrescentado e sim pes soas comuns com nada retirado Isto é se comida segurança amor e estima não forem retirados das pessoas então elas avançarão naturalmente em direção à autorrealização Maslow era em geral otimista e esperançoso com os humanos porém reconhecia que as pessoas são capazes de grandes maldades e destruição O mal no entanto provém da frustração ou da não satisfação das necessidades básicas e não da natureza essencial do indivíduo Quando as necessi dades básicas não são satisfeitas as pessoas podem roubar enganar mentir ou matar Maslow acreditava que a sociedade assim como os indi víduos pode ser melhorada mas o crescimento para ambos é lento e doloroso No entanto os pequenos avanços parecem fazer parte da história evolucionária da humanidade Infe lizmente a maioria das pessoas está condenada a desejar o que não tem Maslow 1970 p 70 Ou seja embora todas as pessoas tenham potencial para autorrealização a maioria viverá lutando por comida segurança ou amor Grande parte das sociedades acreditava Maslow enfatiza as necessidades mais baixas e baseia seus sistemas educacionais e políticos em um conceito inválido de humanidade Verdade amor beleza e similares são necessidades ins tintivas e são tão básicas para a natureza humana quanto são a fome o sexo e a agressividade Todas as pessoas possuem o potencial para lutar pela autorrealização assim como têm a motivação para procurar por comida e proteção Como Mas low sustentava que as necessidades básicas são estruturadas da mesma forma para todas as pessoas e que os indivíduos satisfazem essas necessidades no próprio ritmo sua teoria holísticodinâmica da personalidade coloca ênfase moderada na singularidade e nas semelhanças De um ponto de vista histórico e individual os humanos são animais evolutivos no processo de se tornarem cada vez mais completamente humanos Isto é conforme a evolução progride os humanos gradualmente se tornam mais motiva dos pelas metamotivações e pelos valores B Existem neces sidades de nível alto pelo menos como potencialidade em todos Como as pessoas visam à autorrealização a abordagem de Maslow pode ser considerada teleológica e propositada A visão de Maslow sobre a humanidade é difícil de classi ficar em dimensões como determinismo versus livrearbítrio consciente versus inconsciente ou determinantes biológicos versus sociais Em geral o comportamento das pessoas mo tivado por necessidades fisiológicas e de segurança é deter minado por forças externas enquanto o comportamento dos indivíduos autorrealizados é pelo menos em parte moldado pelo livrearbítrio Na dimensão da consciência versus inconsciência Maslow defendia que as pessoas autorrealizadas costumam ser mais conscientes do que os outros em relação ao que elas estão fazendo e por quê No entanto a motivação é tão complexa que as pessoas podem ser impulsionadas por diversas neces sidades ao mesmo tempo e mesmo os indivíduos sadios nem sempre estão plenamente conscientes de todas as razões sub jacentes a seu comportamento Quanto às influências biológicas versus sociais Maslow insistiu em que essa dicotomia é falsa Os indivíduos são mol dados pela biologia e pela sociedade e as duas não podem ser separadas A dotação genética inadequada não condena uma pessoa a uma vida não satisfatória da mesma forma que um ambiente social pobre não impede o crescimento Quando as pessoas atingem a autorrealização elas experimentam uma sinergia maravilhosa entre os aspectos biológico social e espi ritual de suas vidas Os autorrealizados obtêm mais satisfação física com os prazeres sensuais eles experimentam relações interpessoais mais profundas e mais ricas e obtêm prazer com qualidades espirituais como beleza verdade bondade justiça e perfeccionismo Feist09indd 189 Feist09indd 189 291014 0926 291014 0926 190 FEIST FEIST ROBERTS A frustação das necessidades de autorrealização re sulta em metapatologia e rejeição dos valores B A aceitação dos valores B verdade beleza humor entre outros é o critério que separa as pessoas au torrealizadas daquelas que são meramente sadias e está relacionada ao grau de autoestima As características dos autorrealizados incluem 1 percepção mais eficiente da realidade 2 aceitação de si dos outros e da natureza 3 espontaneida de simplicidade e naturalidade 4 abordagem da vida centrada no problema 5 necessidade de pri vacidade 6 autonomia 7 apreciação constante do novo 8 experiências culminantes 9 interes se social 10 relações interpessoais profundas 11 atitude democrática 12 capacidade de dis criminar os meios dos fins 13 senso de humor filosófico 14 criatividade e 15 resistência à enculturação Em sua filosofia da ciência Maslow argumentou a favor de uma atitude taoísta que é de não interferên cia passiva receptiva e subjetiva O Inventário de Orientação Pessoal POI é um teste padronizado concebido para medir os valores e o comportamento de autorrealização O complexo de Jonas é o medo de ser ou fazer o melhor possível A psicoterapia deve ser direcionada para o nível de necessidade que atualmente está frustrado na maioria dos casos as necessidades de amor e perten cimento Feist09indd 190 Feist09indd 190 291014 0926 291014 0926 CAPÍTULO 10 Rogers Teoria Centrada na Pessoa Panorama da teoria centrada na pessoa Biografia de Carl Rogers Teoria centrada na pessoa Pressupostos básicos O self e a autoatualização Consciência awareness Tornarse pessoa Obstáculos à saúde psicológica Psicoterapia Condições Processo Resultados A pessoa do futuro Filosofia da ciência Os estudos de Chicago Hipóteses Método Achados Resumo dos resultados Pesquisa relacionada Teoria da autodiscrepância Motivação e busca dos próprios objetivos Críticas a Rogers Conceito de humanidade Termoschave e conceitos N de RT Como não há uma tradução precisa para o termo awareness em português que equivale a tomar consciência optouse neste livro pelo uso do termo entre parênteses Rogers Feist10indd 191 Feist10indd 191 291014 0927 291014 0927 192 FEIST FEIST ROBERTS E le compartilhou seus dias de escola fundamental em Oak Park Illinois com Ernest Hemingway e os filhos de Frank Lloyd Wright mas não tinha aspirações pela literatura ou pela arquitetura Em vez disso ele queria ser um fazendeiro um fazendeiro científico que se importasse com as plantas e os animais e com o modo como eles cres ciam e se desenvolviam Mesmo vindo de uma família grande era muito tímido e carecia de habilidades sociais Sensível era um menino facilmente magoado pelas provocações que partiam dos colegas e irmãos No começo do ensino médio seus pais na expectati va de uma atmosfera mais saudável e religiosa mudaram se com a família para uma fazenda cerca de 70 km a oeste de Chicago A mudança correspondeu ao objetivo dos pais Naquele ambiente isolado a família desenvolveu fortes la ços entre si mas não com jovens de outras famílias A leitura da Bíblia o trabalho árduo e o cuidado dos animais e das plantas da fazenda ocupavam boa parte do tempo Ainda que ele acreditasse que seus pais se importavam muito com os filhos também achava que eles eram muito controlado res nas práticas de criação dos filhos Em consequência as crianças cresceram em um lar que quase não tinha vida so cial mas muito trabalho árduo Dançar jogar cartas beber refrigerantes e ir ao teatro eram coisas proibidas Nesse ambiente o jovem desenvolveu uma atitude científica em relação à agricultura e à criação de animais fazendo anotações detalhadas de suas observações Essas notas lhe ensinaram sobre as condições necessárias e su ficientes para o crescimento ideal das plantas e dos ani mais Durante o ensino médio e a faculdade ele manteve um interesse apaixonado pela agricultura científica Entre tanto nunca se tornou fazendeiro Depois de dois anos de faculdade mudou seu objetivo de vida da agricultura para o ministério e posteriormente para a psicologia Porém a devoção ao método científico permaneceria com Carl Rogers durante toda a vida e sua pesquisa sobre as condições necessárias e suficientes para o crescimento psicológico humano foi pelo menos em parte responsável por ele receber o primeiro Distinguished Scientific Con tribuition Award concedido pela American Psychological Association APA PANORAMA DA TEORIA CENTRADA NA PESSOA Mesmo sendo mais conhecido como o fundador da terapia centrada no cliente Carl Rogers desenvolveu uma teoria humanista da personalidade que surgiu a partir de suas ex periências práticas como psicoterapeuta Ao contrário de Freud que era principalmente um teórico e em segundo lugar um terapeuta Rogers era um perfeito terapeuta mas apenas um teórico relutante Rogers 1959 Ele era mais preocupado em ajudar as pessoas do que em descobrir por que elas agiam da forma como agiam Era mais provável que ele perguntasse Como posso ajudar essa pessoa a crescer e a se desenvolver do que ponderar sobre a per gunta O que fez com que essa pessoa se desenvolvesse de tal maneira Assim como muitos teóricos da personalidade Rogers construiu sua teoria sobre as bases proporcionadas pelas experiências como terapeuta Ao contrário da maioria dos demais teóricos no entanto ele continuamente recorria à pesquisa empírica para validar sua teoria da personalidade e sua abordagem terapêutica Talvez mais do que qualquer outro terapeuta teórico Rogers 1986 defendeu um equi líbrio entre estudos flexíveis e rigorosos que expandiriam o conhecimento de como os humanos sentem e pensam Ainda que tenha formulado uma teoria rigorosa e internamente coerente da personalidade Rogers não se sentia confortável com a noção de teoria Sua preferência pessoal era ser um auxiliar das pessoas e não um constru tor de teorias Para ele as teorias pareciam deixar as coisas muito frias e externas e ele se preocupava que sua teoria implicasse uma medida de finalidade Durante a década de 1950 na metade de sua carrei ra Rogers foi convidado a escrever sobre o que era então chamado de teoria da personalidade centrada no clien te e seu depoimento original é encontrado no volume 3 de Psychology a study of a Science Psicologia um estudo de uma ciência de Sigmund Koch ver Rogers 1959 Mesmo naquela época Rogers percebia que dali a 10 ou 20 anos suas ideias seriam diferentes mas infelizmente durante os anos intermediários ele nunca reformulou de modo sis temático sua teoria da personalidade Ainda que muitas de suas experiências posteriores tenham alterado algumas das ideias iniciais sua teoria final da personalidade se encontra na base original enunciada na série de Koch BIOGRAFIA DE CARL ROGERS Carl Ransom Rogers nasceu em 8 de janeiro de 1902 em Oak Park Illinois o quarto dos seis filhos de Walter e Ju lia Cushing Rogers Carl era mais próximo da mãe do que do pai o qual durante os primeiros anos frequentemente estava ausente de casa trabalhando como engenheiro ci vil Walter e Julia Rogers eram religiosos devotos e Carl veio a se interessar pela Bíblia lendo este e outros livros mesmo quando ainda em idade préescolar Com seus pais ele também aprendeu o valor do trabalho árduo um valor que ao contrário da religião permaneceu com ele durante toda a vida Rogers pretendia se tornar fazendeiro e depois que se formou no ensino médio ingressou na Universidade de Wisconsin para se especializar em agricultura No entanto em seguida foi se desinteressando pelo assunto e se dedi Feist10indd 192 Feist10indd 192 291014 0927 291014 0927 TEORIAS DA PERSONALIDADE 193 cando mais à religião Em seu terceiro ano em Wisconsin Rogers estava profundamente envolvido com atividades religiosas no campus e passou seis meses viajando à China para participar de uma conferência religiosa de estudantes Essa viagem causou uma impressão duradoura em Rogers A interação com outros jovens líderes religiosos mudouo transformandoo em um pensador mais liberal e condu ziuo à independência das visões religiosas de seus pais Essas experiências com seus companheiros lhe conferiram mais autoconfiança nas relações sociais Infelizmente ele voltou da viagem com uma úlcera Mesmo que a doença o tenha impedido de voltar ime diatamente para a universidade ele não se manteve afas tado do trabalho Ele se recuperou por um ano trabalhan do na fazenda e em uma madeireira local antes de acabar retornando a Wisconsin Lá associouse à fraternidade apresentava mais autoconfiança e de modo geral era um estudante mudado desde seus dias préChina Em 1924 Rogers ingressou no Union Theological Se minary em Nova York com a intenção de se tornar mi nistro Enquanto estava no seminário matriculouse em vários cursos de psicologia e educação na vizinha Univer sidade de Columbia Ele foi influenciado pelo movimento de educação progressiva de John Dewey o qual na época era forte no Teachers College em Columbia Aos poucos Rogers foi se desencantando com a atitude doutrinária do trabalho religioso Muito embora o seminário fosse bastan te liberal Rogers decidiu que não desejava expressar um conjunto fixo de crenças mas que queria mais liberdade para explorar novas ideias Por fim no outono de 1926 ele deixou o seminário para frequentar o Teachers College em tempo integral com ênfase em psicologia clínica e educa cional A partir daquele ponto nunca mais retornou à re ligião formal Agora sua vida tomaria uma direção voltada para a psicologia e a educação Em 1927 Rogers atuou como membro no novo Insti tute for Child Guidance em Nova York e continuou traba lhando lá enquanto concluía seu doutorado No instituto ele adquiriu um conhecimento elementar da psicanálise freudiana mas não foi tão influenciado por ela muito embora a tenha experimentado em sua prática Também assistiu a uma conferência de Alfred Adler que chocou Rogers e os outros membros do grupo com sua discussão de que um histórico de caso elaborado fosse desnecessário para a psicoterapia Rogers recebeu seu grau de doutor da Universidade de Columbia em 1931 depois de já ter se mudado para Nova York para trabalhar com a Rochester Society for the Pre vention of Cruelty to Children Durante a primeira fase de sua carreira profissional foi fortemente influenciado pe las ideias de Otto Rank que tinha sido um dos associados mais próximos de Freud antes de sua saída do círculo res trito do médico vienense Em 1936 Rogers convidou Rank para ir a Rochester e frequentar um seminário de três dias para apresentar sua nova prática pósfreudiana de psicote rapia As palestras de Rank deram a Rogers a noção de que a terapia é uma relação que produz crescimento emocional nutrido pela escuta empática do terapeuta e pela aceitação incondicional do cliente Rogers passou 12 anos em Rochester trabalhando em um emprego que facilmente poderia têlo isolado de uma carreira acadêmica de sucesso Ele cultivava o desejo de en sinar em uma universidade depois de uma experiência de ensino gratificante durante o verão de 1935 no Teachers College e após ter ministrado cursos em sociologia na Uni versidade de Rochester Durante esse período escreveu seu primeiro livro O tratamento clínico da criançaproblema 1939 cuja publicação levou a uma oferta de ensino da parte da Universidade Estadual de Ohio Apesar do desejo de ensinar ele teria declinado da oferta se sua esposa não o tivesse incentivado e se a universidade não tivesse concor dado em começar com ele no topo com o nível acadêmico de professor titular Em 1940 aos 38 anos de idade Rogers se mudou para Columbus para começar uma nova carreira Pressionado por seus alunos de pósgraduação na Universidade Estadual de Ohio Rogers conceitualizou de modo gradual suas ideias sobre psicoterapia não preten dendo que elas fossem exclusivas ou controversas Essas ideias foram apresentadas em Psicoterapia e consulta psico lógica publicado em 1942 Nesse livro que foi uma reação às abordagens mais antigas de terapia Rogers minimizou as causas das perturbações bem como a identificação e a rotulação dos transtornos Em vez disso enfatizou a im portância do crescimento interno do paciente chamado por Rogers de cliente Em 1944 como parte de um esforço de guerra Rogers se mudou de volta para Nova York como diretor dos ser viços de psicoterapia para a United Services Organization Após um ano ele assumiu um cargo na Universidade de Chicago onde fundou um centro de psicoterapia e ganhou mais liberdade para fazer pesquisas sobre a evolução e os resultados do processo terapêutico Os anos de 1945 até 1957 na Universidade de Chicago foram os mais produti vos e criativos de sua carreira Seu trabalho se desenvolveu de uma terapia que enfatizava a metodologia ou o que no início da década de 1940 era chamada de técnica não di retiva para uma intervenção em que a única ênfase era na relação clienteterapeuta Sempre um cientista Rogers com seus alunos e colegas produziu pesquisas inovadoras sobre o processo e a eficácia da psicoterapia Querendo expandir sua pesquisa e suas ideias para a psiquiatria Rogers aceitou um cargo na Universidade de Wisconsin em 1957 No entanto ficou frustrado com sua estada nesse local porque não conseguiu unir as profis sões de psiquiatria e psicologia e porque acreditava que alguns membros da própria equipe de pesquisa haviam se envolvido em comportamento desonesto e antiético Milton 2002 Feist10indd 193 Feist10indd 193 291014 0927 291014 0927 194 FEIST FEIST ROBERTS Decepcionado com seu trabalho em Wisconsin Rogers mudouse para a Califórnia onde se associou ao Western Behavioral Sciences Institute WBSI e foi se interessando cada vez mais por grupos de encontro Rogers renunciou ao WBSI quando sentiu que estava se tornando menos democrático e com 75 outros mem bros do instituto formou o Center for Studies of the Per son Continuou a trabalhar com grupos de encontro mas estendeu seus métodos centrados na pessoa para a educa ção incluindo a formação de médicos e até para a política internacional Durante os últimos anos de vida conduziu workshops em países como Hungria Brasil África do Sul e a antiga União Soviética Gendlin 1988 Ele morreu em 4 de fevereiro de 1987 após uma cirurgia decorrente de uma fratura no quadril A vida de Carl Rogers foi marcada pela mudança e pela abertura à experiência Quando adolescente era muito tí mido não tinha amigos íntimos e mostravase socialmen te incompetente em contatos que não fossem superficiais Rogers 1973 p 4 No entanto ele tinha uma vida de fan tasia ativa a qual posteriormente acreditou que poderia ter sido diagnosticada como esquizoide Rogers 1980 p 30 A timidez e a inaptidão social restringiram de forma significativa suas experiências com as mulheres Quando ingressou na Universidade de Wisconsin só teve coragem suficiente para convidar para sair uma jovem que conhecia da escola fundamental em Oak Park Helen Elliott Helen e Carl se casaram em 1924 e tiveram dois filhos David e Natalie Apesar dos problemas iniciais com relacionamen tos interpessoais Rogers cresceu para se tornar um impor tante proponente da noção de que o relacionamento inter pessoal entre dois indivíduos é um ingrediente poderoso que cultiva o crescimento psicológico em ambos Contudo a transição não foi fácil Abandonou a religião formal dos pais moldando gradualmente uma filosofia humanista existencial que ele esperava que preenchesse a lacuna entre o pensamento oriental e o ocidental Rogers recebeu muitas honrarias durante sua longa vida profissional Ele foi o primeiro presidente da Ameri can Association for Applied Psychology e ajudou a reunir novamente aquela organização com a APA Foi presiden te da APA no período de 1946 a 1947 e o primeiro pre sidente da American Academy of Psychotherapists Em 1956 foi covencedor do primeiro Distinguished Scienti fic Contribution Award conferido pela APA Esse prêmio foi especialmente gratificante para Rogers porque desta cou sua habilidade como pesquisador uma mestria que ele aprendeu muito bem quando menino na fazenda em Illinois OHara 1995 Rogers a princípio via pouca necessidade de uma teo ria da personalidade Porém com a pressão dos outros e também para satisfazer uma necessidade interna de ser capaz de explicar os fenômenos que estava observando ele desenvolveu sua própria teoria a qual foi expressa provi soriamente pela primeira vez em seu discurso presidencial na APA Rogers 1947 Sua teoria foi defendida de modo mais integral em Terapia centrada no cliente 1951 e ex pressa em ainda mais detalhes na série de Koch Rogers 1959 Contudo Rogers sempre insistiu em que a teoria devia permanecer provisória e é com esse pensamento que se deve abordar uma discussão da teoria da personalidade rogeriana TEORIA CENTRADA NA PESSOA Ainda que o conceito de humanidade de Rogers tenha per manecido basicamente inalterado desde o início da década de 1940 até sua morte em 1987 sua terapia e teoria pas saram por várias mudanças de denominação Durante os primeiros anos sua abordagem era conhecida como não diretiva um termo infeliz que permaneceu associado ao nome dele por muito tempo Depois sua abordagem foi denominada com variações como centrada no cliente centrada na pessoa centrada no aluno centrada no grupo e de pessoa para pessoa Usamos o rótulo centrada no cliente em referência à terapia de Rogers e a expressão mais inclusiva centrada na pessoa para fazer referência à teoria da personalidade rogeriana No Capítulo 1 referimos que as teorias claramente formuladas costumam ser expressas em uma estrutura se então De todas as teorias deste livro a teoria centrada na pessoa de Rogers é a que mais se aproxima de tal padrão Um exemplo de uma construção seentão é Se existirem certas condições então ocorrerá um processo se esse pro cesso ocorrer então determinados resultados poderão ser esperados Um exemplo mais específico é encontrado na terapia Se o terapeuta for congruente e comunicar uma consideração positiva incondicional e empatia acura da para o cliente então ocorrerá mudança terapêutica se ocorrer mudança terapêutica então o cliente experimenta rá mais autoaceitação maior confiança em si e assim por diante Discutiremos congruência consideração positiva incondicional e empatia de modo mais detalhado na seção Psicoterapia Pressupostos básicos Quais são os pressupostos básicos da teoria centrada na pessoa Rogers postulou dois pressupostos amplos a ten dência formativa e a tendência atualizante Tendência formativa Rogers 1978 1980 acreditava haver uma tendência de que toda matéria tanto orgânica quanto inorgânica desenvol vese de formas mais simples para mais complexas Para o universo inteiro um processo criativo em vez de desinte grativo está em operação Rogers denominou esse processo Feist10indd 194 Feist10indd 194 291014 0927 291014 0927 TEORIAS DA PERSONALIDADE 195 de tendência formativa e apontou muitos exemplos na natureza Por exemplo galáxias complexas de estrelas se formam a partir de uma massa menos organizada cristais como os flocos de neve emergem do vapor informe orga nismos complexos se desenvolvem a partir de uma única cé lula e a consciência humana evolui do inconsciente primi tivo até uma consciência awareness altamente organizada Tendência atualizante Um pressuposto interrelacionado e mais pertinente é a tendência atualizante ou a tendência de todos os hu manos e de outros animais e plantas a se moverem em direção à conclusão ou à realização dos potenciais Rogers 1959 1980 Tal tendência é o único motivo que as pessoas possuem A necessidade de satisfazer o impulso da fome de expressar emoções profundas quando elas são sentidas e de aceitar o próprio self são todos exemplos do motivo único da atualização Como cada pessoa opera como um or ganismo completo a atualização envolve o indivíduo como um todo nas esferas psicológica e intelectual racional e emocional consciente e inconsciente As propensões a manter e a melhorar o organismo estão incluídas na tendência atualizante A necessidade de manutenção é semelhante aos níveis mais baixos da hierarquia de necessidades de Maslow ver Cap 9 Ela inclui necessidades básicas como comida ar e segurança mas também engloba a tendência a resistir à mudança e a buscar o status quo A natureza conservadora das necessi dades de manutenção é expressa no desejo das pessoas de protegerem seu autoconceito confortável atual As pessoas lutam contra ideias novas elas distorcem experiências que não se encaixam elas consideram a mudança dolorosa e o crescimento assustador Ainda que as pessoas tenham um forte desejo de man ter o status quo elas estão dispostas a aprender e a mudar Essa necessidade de se tornar mais desenvolverse e atin gir o crescimento é chamada de aperfeiçoamento A ne cessidade de aperfeiçoamento do self é vista na disposição para aprender coisas que não são imediatamente gratifi cantes Além do aperfeiçoamento o que motiva uma crian ça a caminhar Engatinhar pode satisfazer a necessidade de mobilidade enquanto caminhar está associado a queda e dor A posição de Rogers é que as pessoas estão dispos tas a enfrentar a ameaça e a dor devido a uma tendência de base biológica do organismo para cumprir sua natureza básica As necessidades de aperfeiçoamento são expressas de várias formas incluindo curiosidade alegria autoexplora ção amizade e confiança de que é possível atingir o cresci mento psicológico As pessoas têm dentro de si a força cria tiva para resolver problemas alterar seus autoconceitos e se tornar cada vez mais autodirecionadas Os indivíduos percebem suas experiências como realidade e conhecem a própria realidade melhor do que qualquer outra pessoa Eles não precisam ser direcionados controlados exortados ou manipulados para serem incitados à atualização A tendência à atualização não está limitada aos hu manos Outros animais e até plantas têm uma tendência inerente a crescer para atingir seu potencial genético con tanto que determinadas condições estejam presentes Por exemplo para que um pimentão atinja seu potencial pro dutivo completo ele precisa ter água luz solar e um solo nutriente Do mesmo modo a tendência à atualização hu mana é realizada somente sob certas condições De forma mais específica as pessoas precisam estar envolvidas em um relacionamento com um parceiro que seja congruente ou autêntico e que demonstre empatia e consideração positi va incondicional Rogers 1961 enfatizou que ter um parcei ro que possui essas três qualidades não causa o movimento para uma mudança pessoal construtiva de um indivíduo No entanto permite concretizar a tendência inata para a autoatualização Rogers discutia que sempre que congruência conside ração positiva incondicional e empatia estiverem presentes em um relacionamento o crescimento psicológico ocorrerá invariavelmente Por essa razão ele considerava essas três condições como necessárias e suficientes para um pessoa se tornar plenamente funcional ou autoatualizada Ainda que as pessoas compartilhem a tendência atualizante com as plantas e com outros animais somente os humanos têm um conceito de self e portanto um potencial para a auto atualização O self e a autoatualização De acordo com Rogers 1959 os bebês começam a desen volver um conceito vago de self quando uma parte de sua experiência se torna personalizada e diferenciada em cons ciência awareness como experiências de eu ou mim Os bebês aos poucos se tornam conscientes da própria iden tidade conforme aprendem o que tem gosto bom e o que tem gosto ruim o que é agradável e o que não é Eles então começam a avaliar as experiências como positivas ou nega tivas usando como critério a tendência atualizante Como a nutrição é um requisito para a atualização os bebês valo rizam a comida e desvalorizam a fome Eles também valo rizam o sono o ar fresco o contato físico e a saúde porque cada um desses aspectos é necessário para a atualização Depois que os bebês estabelecem uma estrutura de eu rudimentar sua tendência a atualizar o self começa a se de senvolver A autoatualização é um subgrupo da tendência à atualização e portanto não é sinônimo dela A tendência à atualização se refere a experiências do organismo do indi víduo isto é referese à pessoa como um todo consciente e inconsciente fisiológica e cognitiva Todavia autoatuali zação é a tendência a atualizar o self como percebido na cons ciência awareness Quando o organismo e o self percebido Feist10indd 195 Feist10indd 195 291014 0927 291014 0927 196 FEIST FEIST ROBERTS estão em harmonia as duas tendências à atualização são quase idênticas porém quando as experiências do organis mo não estão em harmonia com sua visão de self existe uma discrepância entre a tendência à atualização e a ten dência à autoatualização Por exemplo se a experiência do organismo de um homem é de raiva em relação à esposa e se a raiva pela esposa é contrária à sua percepção de self então sua tendência à atualização e sua autoatualização são incongruentes e ele experimenta conflito e tensão interna Rogers 1959 postulou dois subsistemas o autoconceito e o self ideal O autoconceito O autoconceito inclui todos os aspectos do ser e das ex periências que são percebidos na consciência awareness embora nem sempre com precisão pelo indivíduo O au toconceito não é idêntico ao self do organismo Partes do self do organismo podem ir além da consciência awareness da pessoa ou simplesmente não ser daquela pessoa Por exemplo o estômago faz parte do self do organismo mas a menos que ele não funcione bem e cause preocupação não é provável que faça parte do autoconceito do indivíduo De forma semelhante as pessoas podem repudiar certos aspec tos de seu self como experiências de desonestidade quando tais experiências não são coerentes com seu autoconceito Assim depois de formar o autoconceito a mudança e as aprendizagens significativas passam a ser consideradas muito difíceis As experiências que são incoerentes com seu autoconceito em geral são negadas ou aceitas apenas de forma distorcida Um autoconceito estabelecido não torna uma mudan ça impossível mas apenas difícil A mudança ocorre mais prontamente em uma atmosfera de aceitação pelos outros o que possibilita à pessoa reduzir a ansiedade e a ameaça e tomar posse das experiências antes rejeitadas O self ideal O segundo subsistema é o self ideal definido como a vi são do self como a pessoa deseja que ele seja O self ideal contém todos os atributos geralmente positivos que as pessoas desejam possuir Uma grande discrepância entre o self ideal e o autoconceito indica incongruência e perso nalidade não sadia Os indivíduos psicologicamente sadios percebem pouca discrepância entre o seu autoconceito e o que eles idealmente gostariam de ser Consciência awareness Sem consciência awareness o autoconceito e o self ideal não existiriam Rogers 1959 definiu consciência awareness como a representação simbólica não necessariamente em símbolos verbais de parte de nossa experiência p 198 Ele usou o termo como sinônimo de consciência e simbolização Níveis de consciência awareness Rogers 1959 reconheceu três níveis de consciência awa reness Primeiro alguns eventos são experimentados abai xo do limiar da consciência awareness e são ignorados ou negados Uma experiência ignorada pode ser ilustrada por uma mulher que caminha por uma rua movimentada ativi dade que apresenta muitos estímulos potenciais em espe A incongruência entre o self ideal e o self percebido pode resultar em conflito e infelicidade Feist10indd 196 Feist10indd 196 291014 0927 291014 0927 TEORIAS DA PERSONALIDADE 197 cial visuais e sonoros Como ela não pode prestar atenção a todos eles muitos permanecem ignorados Um exemplo de experiência negada pode ser uma mãe que nunca quis ter filhos mas a partir da culpa ela se torna excessivamen te solícita com eles A raiva e o ressentimento em relação aos filhos podem ficar ocultos para ela durante anos nunca alcançando a consciência mas ainda fazendo parte de sua experiência e influenciando seu comportamento conscien te em relação a eles Segundo Rogers 1959 levantou a hipótese de que al gumas experiências são simbolizadas com precisão e livremen te admitidas na autoestrutura Tais experiências são não ameaçadoras e coerentes com o autoconceito existente Por exemplo se um pianista que tem total confiança em sua ha bilidade para tocar piano escuta de um amigo que está tocan do muito bem ele pode ouvir essas palavras simbolizálas com precisão e admitilas livremente em seu autoconceito Um terceiro nível de consciência awareness envolve experiências que são percebidas de forma distorcida Quan do nossa experiência não é coerente com nossa visão de self remodelamos ou distorcemos a experiência de modo que ela possa ser assimilada ao autoconceito existente Se o pianista talentoso ouvisse de um rival sem credibilidade que está tocando muito bem ele reagiria de forma muito diferente do que quando escutou as mesmas palavras de um amigo confiável Ele pode ouvir os comentários mas distorcer seu significado porque se sente ameaçado Por que essa pessoa está tentando me bajular Isso não faz sentido Suas experiências são simbolizadas de forma imprecisa na consciência awareness e assim podem ser distorcidas para que se enquadrem em um autoconceito existente que em parte diz Sou uma pessoa que não con fia em meus competidores que tocam piano especialmente aqueles que estão tentando me enganar Negação das experiências positivas O exemplo do pianista talentoso ilustra que não são apenas as experiências negativas ou depreciativas que podem ser distorcidas ou negadas muitas pessoas têm dificuldade em aceitar elogios genuínos e feedback positivo mesmo quan do merecidos Uma estudante que se sente inadequada mas que tira uma nota alta pode dizer a si mesma Sei que esta nota deve ser evidência de minha capacidade escolar mas de alguma forma simplesmente não me sinto assim Essa matéria é a mais simples do campus Os outros alunos nem se esforçaram Minha professora não sabia o que es tava fazendo Elogios mesmo aqueles feitos de forma ge nuína raras vezes causam influência positiva no autocon ceito do destinatário Eles podem ser distorcidos porque a pessoa não confia em quem os fez ou podem ser negados porque o destinatário não se sente merecedor deles em to dos os casos um elogio do outro também implica o direito daquela pessoa de criticar ou condenar e assim o elogio traz consigo uma ameaça implícita Rogers 1961 Tornarse pessoa Rogers 1959 discutiu o processo necessário para se tor nar uma pessoa Primeiro um indivíduo precisa fazer con tato positivo ou negativo com outra pessoa Tal contato é a experiência mínima necessária para tornarse uma pes soa Para sobreviver um bebê precisa experimentar algum contato com um dos pais ou com outro cuidador Quando as crianças ou os adultos adquirem consciên cia de que outra pessoa tem alguma medida de considera ção por elas começam a valorizar a consideração positiva e a desvalorizar a consideração negativa Ou seja o indiví duo desenvolve uma necessidade de ser amado estimado ou aceito por outra pessoa uma necessidade à qual Rogers 1959 se referiu como consideração positiva Se percebe mos que os outros especialmente os significativos impor tamse prezamnos ou valorizamnos nossa necessidade de receber consideração positiva é pelo menos em parte satisfeita A consideração positiva é um prérequisito para a au toconsideração positiva definida como a experiência de prezar ou valorizar a si mesmo Rogers 1959 acreditava que receber consideração positiva dos outros é necessário para a autoconsideração positiva porém depois que a au toconsideração positiva está estabelecida ela se torna inde pendente da necessidade contínua de ser amado Essa con cepção é muito semelhante à noção de Maslow ver Cap 9 de que precisamos satisfazer nossas necessidades de amor e pertencimento antes que as necessidades de autoestima possam se tornar ativas mas depois que começamos a nos sentir confiantes e valorizados já não precisamos de rea bastecimento de amor e aprovação dos outros A fonte de autoconsideração positiva portanto reside na consideração positiva que recebemos dos outros toda via depois de estabelecida ela é autônoma e autoperpe tuada Como Rogers 1959 afirmou a pessoa então se transforma em certo sentido no próprio outro social sig nificativo p 224 Obstáculos à saúde psicológica Nem todos se tornam uma pessoa psicologicamente sadia Ao contrário a maioria dos indivíduos experimenta con dições de valor incongruência defesas e desorganização Condições de valor Em vez de receber consideração positiva incondicional a maioria das pessoas recebe condições de valor isto é elas percebem que seus pais pares ou parceiros as amam e as aceitam somente se elas atenderem as expectativas e a aprovação desses indivíduos Uma condição de valor surge quando a consideração positiva de uma pessoa sig nificativa é condicional quando o indivíduo sente que em alguns aspectos ele é valorizado e em outros não Rogers 1959 p 209 Feist10indd 197 Feist10indd 197 291014 0927 291014 0927 198 FEIST FEIST ROBERTS As condições de valor se tornam o critério pelo qual acei tamos ou rejeitamos nossas experiências De forma gradual assimilamos a nossa autoestrutura as atitudes que percebe mos que os outros expressam em relação a nós e com o tem po começamos a avaliar as experiências sobre essas bases Se vemos que os outros nos aceitam de modo independen te de nossas ações então passamos a acreditar que somos valorizados incondicionalmente Porém se percebemos que alguns de nossos comportamentos são aprovados e outros desaprovados então vemos que nosso valor é condicional Por fim podemos vir a acreditar nessas avaliações dos outros que são coerentes com nossa visão negativa de self ignora mos nossas percepções sensoriais e viscerais e aos poucos nos afastamos de nosso self real ou do organismo Desde o início da infância a maioria de nós aprende a desconsiderar as próprias avaliações organísmicas e a olhar para além de nós buscando direção e orientação Confor me introjetamos os valores dos outros isto é aceitamos condições de valor tendemos a ser incongruentes ou fora de equilíbrio Os valores das outras pessoas podem ser as similados somente de forma distorcida ou com o risco de criar desequilíbrio e conflito no self Nossas percepções da visão que as outras pessoas têm de nós são denominadas avaliações externas Essas avaliações sejam elas positivas ou negativas não estimu lam a saúde psicológica mas ao contrário impedem de sermos completamente abertos às próprias experiências Por exemplo podemos rejeitar experiências prazerosas porque acreditamos que outras pessoas não as aprovam Quando nossas experiências têm descrédito distorcemos nossa consciência awareness delas consolidando assim a discrepância entre nossa avaliação organísmica e os valo res que introjetamos dos outros Em consequência experi mentamos incongruência Rogers 1959 Incongruência Já vimos que organismo e self são duas entidades sepa radas que podem ou não ser congruentes entre si Vimos também que atualização referese à tendência do organis mo a avançar para a realização enquanto autoatualização é o desejo do self percebido de atingir a realização Essas duas tendências são por vezes variação uma da outra O desequilíbrio psicológico começa quando não re conhecemos nossas experiências organísmicas como ex periências próprias ou seja quando não simbolizamos com precisão as experiências do organismo na consciência awareness porque elas parecem incoerentes com nosso autoconceito emergente Tal incongruência entre nosso au toconceito e nossa experiência organísmica é a fonte dos transtornos psicológicos As condições de valor que rece bemos durante o início da infância conduzem a um auto conceito um tanto falso fundamentado em distorções e negações O autoconceito que emerge inclui percepções vagas que não estão em harmonia com nossas experiências organísmicas e essa incongruência entre o self e a expe riência leva a comportamentos discrepantes e aparente mente incoerentes Às vezes as pessoas se comportam de formas que mantêm ou aumentam a tendência atualizante e outras vezes de uma maneira concebida para manter ou aumentar um autoconceito fundamentado nas expectati vas e nas avaliações que outros indivíduos têm sobre elas Vulnerabilidade Quanto maior a incongruência entre self percebido autoconceito e a experiência organísmica mais vulnerável a pessoa está Rogers 1959 acreditava que as pessoas são vulneráveis quando não estão cons cientes da discrepância entre o self do organismo e a expe riência significativa Não tendo consciência awareness da incongruência as pessoas vulneráveis com frequência se comportam de formas que são incompreensíveis não ape nas para os outros mas também para elas mesmas Ansiedade e ameaça Mesmo havendo vulnerabilidade quando não temos consciência awareness da incongruência dentro de nosso self ansiedade e ameaça são experimenta das quando tomamos consciência awareness de tal incon gruência Quando temos vagamente a consciência de que a discrepância entre nossa experiência organísmica e nosso autoconceito pode se tornar consciente sentimos ansieda de Rogers 1959 definiu ansiedade como um estado de inquietação ou tensão cuja causa é desconhecida p 204 Quando nos tornamos mais conscientes da incongruência entre nossa experiência organísmica e nossa percepção de self a ansiedade começa a se desenvolver e a se transformar em uma ameaça ou seja uma consciência awareness de que nosso self já não é mais uma totalidade ou congruente An siedade e ameaça podem representar os passos em direção à saúde psicológica porque sinalizam que nossa experiência organísmica é incoerente com nosso autoconceito No en tanto esses não são sentimentos agradáveis ou confortáveis Defesas Para prevenir incoerência entre nossa experiência organís mica e nosso self percebido reagimos de maneira defensi va Defesas são meios de proteção do autoconceito contra a ansiedade e a ameaça pela negação ou pela distorção das experiências incoerentes com ele Rogers 1959 Como o autoconceito consiste em muitas afirmações autodescri tivas ele é um fenômeno multifacetado Quando uma de nossas experiências é incoerente com uma parte de nosso autoconceito comportamonos de maneira defensiva para proteger a estrutura atual de nosso autoconceito As duas defesas principais são distorção e negação Com a distorção interpretamos erroneamente uma ex periência para que ela se encaixe em algum aspecto de nosso autoconceito Percebemos a experiência na cons ciência awareness mas não entendemos seu verdadeiro Feist10indd 198 Feist10indd 198 291014 0927 291014 0927 TEORIAS DA PERSONALIDADE 199 significado Com a negação recusamos perceber uma experiência na consciência awareness ou pelo menos impedimos que algum aspecto dela atinja a simbolização A negação não é tão comum quanto a distorção porque a maioria das experiências pode ser alterada ou remodelada para se adequar ao autoconceito atual De acordo com Ro gers 1959 tanto a distorção quanto a negação servem ao mesmo propósito elas mantêm a percepção de nossas experiências organísmicas coerentes com nosso autocon ceito o que nos possibilita ignorar ou bloquear experiên cias que de outra forma causariam ansiedade ou ameaça desagradáveis Desorganização A maioria das pessoas se engaja em comportamentos de fensivos porém por vezes as defesas falham e o compor tamento se torna desorganizado ou psicótico Mas por que as defesas não funcionariam Para responder a essa pergunta precisamos traçar o curso do comportamento desorganizado o qual tem as mesmas origens do comportamento defensivo normal ou seja uma discrepância entre a experiência organísmi ca da pessoa e sua visão de self A negação e a distorção são adequadas para impedir que as pessoas normais reco nheçam essa discrepância mas quando a incongruência entre o self percebido e a experiência organísmica é muito óbvia ou ocorre de modo muito repentino para ser negada ou distorcida seu comportamento se torna desorganizado A desorganização pode ocorrer de for ma súbita ou gradual ao longo de um período de tempo O irônico é que as pessoas são particularmente vulnerá veis à desorganização durante a terapia em especial se o terapeuta interpreta suas ações com precisão e também insiste para que enfrentem precocemente a experiência Rogers 1959 Em um estado de desorganização as pessoas por ve zes comportamse coerentemente com sua experiência organísmica ou de acordo com seu autoconceito abalado Um exemplo do primeiro caso é uma mulher pudica e so cialmente adequada que de repente começa a usar lingua gem explicitamente sexual e escatológica O segundo caso pode ser de um homem que como seu autoconceito já não constitui mais uma gestalt ou um todo unificado começa a se comportar de maneira confusa incoerente e totalmente imprevisível Em ambos os casos o comportamento ain da é coerente com o autoconceito porém o autoconceito foi rompido e assim o comportamento parece bizarro e confuso Ainda que Rogers tenha indicado o caráter provisó rio de suas explicações quando expressou inicialmente sua visão do comportamento desorganizado em 1959 ele não fez revisões importantes nessa parte da teoria Ele nunca hesitou quanto a sua rejeição em usar rótulos diagnósticos para descrever as pessoas Classificações tradicionais como as encontradas no Manual Diagnós tico e Estatístico de Transtornos Mentais Quarta Edição DSMIV American Psychiatric Association 1994 nunca fizeram parte do vocabulário da teoria centrada na pessoa De fato Rogers sempre se sentiu desconfor tável com os termos neurótico e psicótico preferin do em vez disso referirse a comportamentos defensi vos e desorganizados vocábulos que transmitem com mais precisão a ideia de que o desajustamento psicoló gico se encontra em um continuum que vai desde a me nor discrepância entre o self e a experiência até a mais incoerente PSICOTERAPIA A terapia centrada no cliente é enganosamente simples nas afirmações mas decididamente difícil na prática Em resu mo a abordagem centrada no cliente sustenta que para as pessoas vulneráveis ou ansiosas crescerem psicologicamen te elas precisam entrar em contato com um terapeuta que seja congruente e que a seu ver ofereça uma atmosfera de aceitação incondicional e empatia acurada Nisso reside a dificuldade Não é fácil para um terapeuta alcançar as qua lidades de congruência consideração positiva incondicional e compreensão empática Assim como a teoria centrada na pessoa a terapia cen trada no cliente pode ser explícita sob a forma seentão Se as condições de congruência consideração positiva incondi cional e escuta empática do terapeuta estiverem presentes em uma relação clienteterapeuta então o processo de te rapia irá acontecer Se o processo de terapia ocorrer en tão certos resultados podem ser prognosticados A terapia rogeriana portanto pode ser considerada em termos de condições processo e resultados O comportamento se torna desorganizado ou até mesmo psicótico quando as defesas não funcionam adequadamente Feist10indd 199 Feist10indd 199 291014 0927 291014 0927 200 FEIST FEIST ROBERTS Condições Rogers 1959 postulou que para que ocorra o crescimento terapêutico as seguintes condições são necessárias e sufi cientes Primeiro um cliente ansioso ou vulnerável precisa entrar em contato com um terapeuta congruente que tam bém possua empatia e consideração positiva incondicional A seguir o cliente precisa perceber essas características no terapeuta Por fim o contato entre ambos precisa ter algu ma duração A significância da hipótese rogeriana é revolucioná ria Em quase todas as psicoterapias a primeira e a tercei ra condição estão presentes ou seja o cliente é motivado por algum tipo de tensão a procurar ajuda e a relação en tre ele e o terapeuta dura um período de tempo A terapia centrada no cliente é única na insistência de que as con dições de congruência consideração positiva incondicional e escuta empática do terapeuta são necessárias e suficientes Rogers 1957 Mesmo que as três condições sejam necessárias para o crescimento psicológico Rogers 1980 acreditava que a congruência é mais básica do que a consideração positiva incondicional ou a escuta empática A congruência é uma qualidade geral do terapeuta enquanto as outras duas são sentimentos ou atitudes específicas que o terapeuta tem por um cliente específico Congruência do terapeuta A primeira condição necessária e suficiente para a mu dança terapêutica é um terapeuta congruente Existe con gruência quando as experiências organísmicas de uma pessoa são acompanhadas da consciência awareness delas e da habilidade e da disposição para expressar abertamente esses sentimentos Rogers 1980 Ser congruente significa ser real ou genuíno ser total ou integrado ser o que verda deiramente se é Rogers 1995 falou sobre a congruência nas seguintes palavras Em minhas relações com as pessoas descobri que a longo prazo não ajuda agir como se eu fosse alguma coisa que não sou Não ajuda agir com calma e simpatia quando na verdade estou irritado e crítico Não ajuda agir como se eu fosse permissivo quando estou sentindo que gosta ria de impor limites Não ajuda agir como se eu fosse receptivo a outra pessoa quando por baixo dessa apa rência exterior sinto rejeição p 9 Um terapeuta congruente então não é simplesmente uma pessoa gentil e amigável mas um ser humano com pleto com sentimentos de alegria raiva frustração con fusão entre outros Quando esses sentimentos são expe rimentados eles não são negados nem distorcidos mas fluem com facilidade para a consciência awareness e são expressos de modo livre Um terapeuta congruente por tanto não é passivo indiferente e definitivamente não é não diretivo Os terapeutas congruentes não são estáticos Assim como a maioria das outras pessoas eles estão constante mente expostos a novas experiências organísmicas mas ao contrário da maioria dos indivíduos aceitam essas ex periências na consciência awareness o que contribui para seu crescimento psicológico Eles não usam máscara não tentam fingir uma fachada agradável nem evitam qualquer pretensão de simpatia e afeição quando essas emoções não são verdadeiramente sentidas Além disso eles não simu lam raiva resistência ou ignorância nem encobrem sen timentos de alegria euforia ou felicidade Além disso são capazes de combinar os sentimentos com a consciência awareness e ambos com a expressão honesta Como congruência envolve 1 sentimentos 2 cons ciência awareness e 3 expressão a incongruência pode surgir a partir de um dos dois pontos que dividem essas três experiências Primeiro pode haver uma ruptura entre sentimentos e consciência awareness Uma pessoa pode estar sentindo raiva e a raiva pode ser óbvia para os outros mas a pessoa com raiva não está consciente do sentimento Não estou com raiva Como você ousa dizer que estou com raiva A segunda fonte de incongruência é uma discrepân cia entre a consciência awareness de uma experiência e a habilidade ou disposição para expressála a outra pessoa Sei que estou me sentindo entediado pelo que está sendo dito mas não ouso verbalizar o meu desinteresse porque meu cliente vai achar que não sou bom terapeuta Rogers 1961 afirmou que os terapeutas serão mais efetivos se comunicarem sentimentos genuínos mesmo quando es ses sentimentos forem negativos ou ameaçadores Fazer de outra forma seria desonesto e os clientes irão detectar embora não necessariamente de modo consciente qual quer indicador significativo de incongruência Apesar de a congruência ser um ingrediente necessário para o sucesso da terapia Rogers 1980 não acreditava que fosse essencial ao terapeuta ser congruente em todas A terapia centrada no cliente para ser efetiva requer um terapeuta congruente que sinta empatia e consideração positiva incondicional pelo cliente Feist10indd 200 Feist10indd 200 291014 0927 291014 0927 TEORIAS DA PERSONALIDADE 201 as relações fora do processo terapêutico O indivíduo pode não ser exatamente perfeito e ainda se tornar um psicote rapeuta efetivo Além disso o terapeuta não precisa ser ab solutamente congruente para facilitar algum crescimento em um cliente Como ocorre com a consideração positiva incondicional e a escuta empática existem diferentes graus de congruência Quanto mais o cliente percebe cada uma dessas qualidades como caracterizando o terapeuta mais bemsucedido será o processo terapêutico Consideração positiva incondicional Consideração positiva é a necessidade de ser estimado pre zado ou aceito por outra pessoa Quando existe essa ne cessidade sem qualquer condição ou qualificação ocorre a consideração positiva incondicional Rogers 1980 Os terapeutas têm uma consideração positiva incondicional quando estão experimentando uma atitude cordial posi tiva e de aceitação em relação ao que é o cliente Rogers 1961 p 62 A atitude não tem possessividade avaliações ou reservas Um terapeuta com consideração positiva incondicional em relação a um cliente demonstrará cordialidade e aceita ção não possessivas não uma persona efusiva e exuberante Ter cordialidade não possessiva significa se importar com o outro sem sufocar ou ter aquela pessoa como propriedade Inclui a atitude Como me importo com você posso per mitir que você seja autônomo e independente de minhas avaliações e restrições Você é uma pessoa separada com seus próprios sentimentos e opiniões em relação ao que é certo ou errado O fato de me importar com você não sig nifica que eu deva guiálo a fazer escolhas mas que posso permitir que seja você mesmo e decida o que é melhor para você Esse tipo de atitude permissiva fez com que Rogers recebesse a reputação desmerecida de ser passivo ou não diretivo na terapia mas um terapeuta centrado no cliente deve estar ativamente envolvido em um relacionamento com o cliente Consideração positiva incondicional significa que o terapeuta aceita e preza seus clientes sem qualquer restri ção ou reservas e sem levar em conta o comportamento deles Ainda que os terapeutas possam valorizar alguns comportamentos do cliente mais do que outros sua con sideração positiva permanece constante e inabalável Con sideração positiva incondicional também significa que os terapeutas não avaliam os clientes nem aceitam uma ação e rejeitam outra A avaliação externa positiva ou negativa faz com que os clientes se defendam e impede o cresci mento psicológico Apesar de a consideração positiva incondicional ser um termo um tanto estranho as três palavras são impor tantes Consideração significa que existe uma relação íntima e que o terapeuta vê o cliente como uma pessoa importante positiva indica que o relacionamento se dire ciona para os sentimentos de cordialidade e atenção e in condicional sugere que a consideração positiva não é mais dependente dos comportamentos específicos do cliente e não tem que ser continuamente merecida Escuta empática A terceira condição necessária e suficiente do crescimento psicológico é a escuta empática Existe empatia quando os terapeutas sentem com acurácia os sentimentos de seus clientes e são capazes de comunicar essas percepções de forma que estes saibam que outra pessoa entrou em seu mundo de sentimentos sem preconceito projeção ou ava liação Para Rogers 1980 empatia significa viver tempo rariamente a vida do outro movimentarse de modo suave sem fazer julgamentos p 142 Empatia não envolve in terpretar os significados dos clientes ou descobrir seus sen timentos inconscientes procedimentos que implicariam uma estrutura externa de referência e uma ameaça para os clientes Em contraste empatia sugere que um terapeuta vê as coisas segundo o ponto de vista do cliente e que este se sente seguro e não ameaçado Os terapeutas centrados no cliente não tomam a em patia como certa eles verificam a precisão de suas sen sações testandoas com o cliente Você parece estar me dizendo que sente muito ressentimento em relação a seu pai A compreensão empática válida costuma ser seguida por uma exclamação do cliente do tipo Sim é exatamente assim Realmente me sinto ressentido A escuta empática é uma ferramenta poderosa que com a autenticidade e a atenção facilita o crescimento pes soal no interior do cliente Qual é precisamente o papel da empatia na mudança psicológica Como um terapeuta em pático ajuda um cliente a se mover em direção à totalidade e à saúde psicológica As palavras do próprio Rogers 1980 fornecem a melhor resposta a essas perguntas Quando as pessoas são compreendidas com perspicá cia elas entram em contato íntimo com uma gama mais ampla de sua experiência Isso lhes proporciona uma referência ampliada para a qual elas podem se voltar na busca de orientação na compreensão de si mesmas e direcionando seu comportamento Se a empatia foi pre cisa e profunda elas podem ser capazes de desbloquear um fluxo de experiências e permitir que seu curso corra sem inibições p 156 A empatia é efetiva porque possibilita aos clientes ou vir a si mesmos e em efeito tornaremse seus próprios te rapeutas Empatia não deve ser confundida com simpatia Este último termo sugere um sentimento por um cliente en quanto empatia conota um sentimento com um cliente A simpatia nunca é terapêutica porque ela provém da ava liação externa e em geral leva os clientes a sentirem pena de si mesmos Autopiedade é uma atitude prejudicial que Feist10indd 201 Feist10indd 201 291014 0927 291014 0927 202 FEIST FEIST ROBERTS ameaça um autoconceito positivo e cria desequilíbrio na estrutura do eu Além disso empatia não significa que o terapeuta tenha os mesmos sentimentos que o cliente Um terapeuta não sente raiva frustração confusão ressenti mento ou atração sexual ao mesmo tempo em que o cliente experimenta isso Em vez disso o terapeuta está experi mentando a profundidade do sentimento do cliente sem perder de vista que se trata de uma pessoa separada O te rapeuta tem uma reação emocional e também cognitiva aos sentimentos de um cliente mas os sentimentos pertencem ao cliente não ao terapeuta Um terapeuta não toma pos se das experiências do cliente mas é capaz de transmitir a ele uma compreensão do que significa ser o cliente naquele momento particular Rogers 1961 Processo Se as condições de congruência consideração positiva in condicional e empatia do terapeuta estiverem presentes então o processo de mudança terapêutica entrará em an damento Ainda que cada pessoa que procura tratamento seja única Rogers 1959 acreditava que certa legitimidade caracteriza o processo de terapia Estágios da mudança terapêutica O processo de mudança construtiva da personalidade pode ser colocado em um continuum que vai desde a mais defen siva até a mais integrada Rogers 1961 dividiu arbitraria mente esse continuum em sete estágios O estágio 1 é caracterizado pela falta de vontade de co municar qualquer coisa sobre si mesmo As pessoas nesse estágio não costumam procurar ajuda mas se por alguma razão elas chegam à terapia são muito rígidas e resistentes à mudança Elas não reconhecem qualquer problema e se recusam a ter qualquer sentimento ou emoção No estágio 2 os clientes se tornam um pouco menos rígidos Eles discutem sobre eventos externos e outras pessoas mas ainda repudiam ou não reconhecem os pró prios sentimentos No entanto eles podem falar sobre sentimentos pessoais como se estes fossem fenômenos objetivos Quando os clientes entram no estágio 3 eles falam mais livremente sobre si embora ainda como um objeto Estou fazendo o melhor que posso no trabalho mas meu chefe ainda não gosta de mim Os pacientes falam sobre sentimentos e emoções no tempo passado ou no futu ro e evitam os sentimentos presentes Eles se recusam a aceitar suas emoções mantêm os sentimentos pessoais a uma distância da situação do aqui e agora percebem apenas vagamente que podem fazer escolhas pessoais e negam a responsabilidade individual pela maioria de suas decisões Os clientes no estágio 4 começam a falar de senti mentos profundos mas não dos que sentem atualmente Realmente fiquei perturbado quando meu professor me acusou de estar colando Quando os clientes expressam sentimentos atuais em geral ficam surpresos por tal ex pressão Eles negam ou distorcem as experiências embora possam manifestar um reconhecimento vago de que são capazes de sentir emoções no presente Eles começam a questionar alguns valores que foram introjetados dos ou tros e a ver a incongruência entre seu self percebido e sua experiência organísmica Eles aceitam mais liberdade e res ponsabilidade do que no estágio 3 e começam ainda que com hesitação a se envolver em um relacionamento com o terapeuta Quando atingem o estágio 5 começaram a passar por mudanças significativas e crescimento Eles conseguem expressar sentimentos no presente embora ainda não te nham simbolizado esses sentimentos com precisão Eles estão começando a se basear em um locus interno de ava liação para seus sentimentos e fazem novas descobertas sobre si mesmos Também experimentam uma maior dife renciação dos sentimentos e desenvolvem mais apreciação pelas nuances entre eles Além disso começam a tomar as próprias decisões e a aceitar a responsabilidade por suas escolhas As pessoas no estágio 6 experimentam um crescimento dramático e um movimento irreversível em direção ao fun cionamento integral ou à autoatualização Elas permitem de modo livre que essas experiências entrem na consciên cia awareness as quais anteriormente negaram ou distor ceram Elas se tornam mais congruentes e são capazes de combinar suas experiências presentes com a consciência awareness e com a expressão aberta Elas não mais ava liam o próprio comportamento a partir de um ponto de vis ta externo mas se baseiam em seu self do organismo como critério para avaliar as experiências Começam a desenvol ver autoconsideração incondicional significando que têm um sentimento de cuidado e afeição genuínos pela pessoa que estão se tornando Um aspecto concomitante interessante desse estágio é um afrouxamento fisiológico Tais pessoas experimentam seu self do organismo como um todo conforme seus mús culos relaxam as lágrimas fluem a circulação melhora e os sintomas físicos desaparecem Em muitos aspectos o estágio 6 sinaliza um final para a terapia De fato se a terapia tivesse que ser terminada nesse ponto os clientes ainda progrediriam até o próximo nível O estágio 7 pode ocorrer fora do encontro terapêuti co porque o crescimento do estágio 6 parece irreversível Aqueles que alcançam o estágio 7 se tornam pessoas do futuro em total funcionamento um conceito explicado em mais detalhes na seção A pessoa do futuro Eles são ca pazes de generalizar suas experiências na terapia para seu mundo além da terapia Eles possuem a confiança de serem eles mesmos em todos os momentos de ter e sentir pro fundamente a totalidade de suas experiências e viver essas Feist10indd 202 Feist10indd 202 291014 0927 291014 0927 TEORIAS DA PERSONALIDADE 203 experiências no presente Seu self do organismo agora uni ficado com o autoconceito tornase o locus para avaliação de suas experiências As pessoas no estágio 7 obtêm prazer em saber que tais avaliações são fluidas e que a mudança e o crescimento continuam Além disso elas se tornam con gruentes possuem autoconsideração positiva incondicional e mostramse capazes de ser amáveis e empáticas com os outros Explicação teórica para a mudança terapêutica Que formulação teórica consegue explicar a dinâmica da mudança terapêutica A explicação de Rogers 1980 se baseia na seguinte linha de raciocínio Quando as pessoas passam a se experimentar como prezadas e aceitas incon dicionalmente elas percebem talvez pela primeira vez que são merecedoras de amor O exemplo do terapeuta possibilita a elas prezarem e aceitarem a si mesmas ter autoconsideração positiva incondicional Quando os clien tes percebem que são compreendidos com empatia eles são liberados para ouvir a si mesmos de modo mais acu rado ter empatia pelos próprios sentimentos Em conse quência quando passam a se prezar e a se compreender de modo mais preciso seu self percebido se torna mais con gruente com suas experiências organísmicas Eles agora possuem as mesmas três características terapêuticas como um auxiliar efetivo e em efeito tornamse seus próprios terapeutas Resultados Se o processo de mudança terapêutica ocorrer certos resul tados observáveis podem ser esperados O resultado mais básico da terapia bemsucedida centrada no cliente é uma pessoa congruente que é menos defensiva e mais aberta à experiência Os demais resultados são uma extensão lógica desse resultado básico Em consequência de serem mais congruentes ou me nos defensivos os clientes apresentam um quadro mais claro de si mesmos e uma visão mais realista do mundo Eles são mais capazes de assimilar experiências ao self no nível simbólico são mais efetivos na solução de pro blemas e têm um nível mais alto de autoconsideração positiva Sendo realistas possuem uma visão mais acurada de seus potenciais o que reduz a lacuna entre o self ideal e o self real Em geral essa lacuna é reduzida porque tanto o self ideal quanto o verdadeiro apresentam algum movimen to Como os clientes estão mais realistas eles diminuem suas expectativas do que deveriam ser ou do que gostariam de ser e como têm um aumento na autoconsideração posi tiva elevam sua visão do que realmente são Como seu self ideal e seu self real são mais congruen tes os clientes experimentam menos tensão fisiológica e psicológica são menos vulneráveis a ameaça e têm menos ansiedade Eles possuem menos probabilidade de olharem para os outros na busca de uma direção bem como de usar as opiniões e os valores dos outros como critérios para a avaliação das próprias experiências Em vez disso tornam se mais autodirecionados e mais prováveis de perceberem que o locus de avaliação reside dentro deles mesmos Eles já não se sentem mais compelidos a agradar as outras pessoas e a satisfazer expectativas externas Sentemse seguros o suficiente para tomar posse de um número crescente de experiências e confortáveis para reduzir a necessidade de negação e distorção Suas relações com os outros também são modifica das Eles se tornam mais receptivos aos outros fazem me nos exigências e simplesmente permitem que os outros sejam eles mesmos Como têm menos necessidade de dis torcer a realidade eles possuem menos desejo de forçar os outros a satisfazerem suas expectativas Eles também são percebidos pelos outros como mais maduros mais agra dáveis e mais socializados Sua autenticidade autoconsi deração positiva e compreensão empática são ampliadas para além da terapia e eles se tornam mais capazes de participar de outras relações que facilitam o crescimento Rogers 1959 1961 A Tabela 101 ilustra a teoria da te rapia de Rogers TABELA 101 Teoria de Rogers da mudança terapêutica Se existem as seguintes condições 1 um cliente vulnerável ou ansioso 2 faz contato com um conselheiro que possui 3 congruência no relacionamento 4 consideração positiva incondicional pelo cliente e 5 compreensão empática quanto a estrutura de referência interna do cliente e 6 o cliente percebe as condições 3 4 e 5 as três condições necessárias e suficientes para o crescimento terapêutico Então ocorre mudança terapêutica e o cliente irá 1 tornarse mais congruente 2 ser menos defensivo 3 tornarse mais aberto às experiências 4 ter uma visão mais realista do mundo 5 desenvolver uma autoconsideração positiva 6 reduzir a lacuna entre o self ideal e o self real 7 ser menos vulnerável a ameaça 8 tornarse menos ansioso 9 tomar posse das experiências 10 tornarse mais receptivo aos outros 11 tornarse mais congruente nas relações com os outros Nota Os excertos em negrito representam as condições terapêuticaschave e os resultados mais básicos Feist10indd 203 Feist10indd 203 291014 0927 291014 0927 204 FEIST FEIST ROBERTS A PESSOA DO FUTURO O interesse demonstrado por Rogers pelo indivíduo psi cologicamente sadio rivaliza somente com o de Maslow ver Cap 9 Enquanto Maslow era sobretudo um pes quisador Rogers era antes de tudo um psicoterapeuta cuja preocupação com as pessoas psicologicamente sadias se desenvolveu a partir de sua teoria geral da terapia Em 1951 Rogers apresentou pela primeira vez suas carac terísticas da personalidade alterada então ele ampliou o conceito de pessoa em funcionamento pleno em um trabalho publicado Rogers 1953 Em 1959 sua teoria da personalidade sadia foi exposta na série de Koch e ele voltou a esse tópico com frequência durante o início da década de 1960 Rogers 1961 1962 1963 Um pouco mais tarde ele descreveu o mundo do futuro e a pessoa do futuro Rogers 1980 Se as três condições terapêuticas necessárias e sufi cientes de congruência consideração positiva incondi cional e empatia forem ideais então que tipo de pessoa emergiria Rogers 1961 1962 1980 listou várias carac terísticas possíveis Primeiro as pessoas psicologicamente sadias seriam mais adaptáveis Assim de um ponto de vista evolutivo elas teriam maior probabilidade de sobreviverem daí o título pessoas do futuro Elas não apenas se adaptariam a um ambiente estático mas se dariam conta de que a confor midade e a adaptação a uma condição fixa possuem pouco valor para a sobrevivência a longo prazo Segundo as pessoas do futuro seriam abertas às suas experiências simbolizandoas de modo preciso na cons ciência awareness em vez de negálas ou distorcêlas Essa simples declaração está repleta de significado Para as pessoas que estão abertas à experiência todos os estímu los sejam eles provenientes do interior do organismo ou do ambiente externo são livremente recebidos pelo self As pessoas do futuro ouviriam a si mesmas e considera riam sua alegria sua raiva seu desânimo seu medo e sua ternura Uma característica relacionada às pessoas do futuro é a confiança em seus selves organísmicos Essas pessoas em fun cionamento pleno não dependeriam dos outros para orien tação porque perceberiam que suas próprias experiências são os melhores critérios para fazer escolhas elas fariam o que parece certo para si porque confiariam em seus sen timentos internos mais do que nos conselhos dos pais ou nas regras rígidas da sociedade Contudo elas também perceberiam claramente os direitos e os sentimentos das outras pessoas os quais levariam em consideração quando tomassem decisões A terceira característica das pessoas do futuro seria uma tendência a viver plenamente o momento Como essas pessoas estariam abertas a suas experiências elas expe rimentariam um estado constante de fluidez e mudança O que elas experimentam em cada momento seria novo e único algo nunca antes experimentado por seu self em desenvolvimento Elas veriam cada experiência como uma novidade e a apreciariam plenamente no momento pre sente Rogers 1961 se referiu a essa tendência a viver o momento como viver existencial As pessoas do futuro não teriam necessidade de se iludir e nenhuma razão para impressionar os outros Elas seriam jovens de mente e es pírito sem ideias preconcebidas sobre como o mundo de veria ser Elas descobririam o que significa uma experiência para elas vivendo aquela experiência sem o preconceito de expectativas anteriores Quarto as pessoas do futuro permaneceriam con fiantes em sua capacidade de experimentar relações har moniosas com os outros Elas não sentiriam necessidade de ser estimadas ou amadas por todos porque saberiam que são prezadas e aceitas incondicionalmente por alguém Elas buscariam intimidade com outra pessoa que é prova velmente sadia assim como elas e tal relação contribuiria para o crescimento contínuo de cada parceiro As pessoas do futuro seriam autênticas em suas relações com os ou tros Elas seriam o que parecem ser sem dissimulação ou fraude sem defesas e fachadas sem hipocrisia e farsa Elas se importariam com os outros mas sem julgamentos Elas procurariam significado além de si mesmas e ansiariam pela paz espiritual e interna Quinto as pessoas do futuro seriam mais integradas mais plenas sem fronteiras artificiais entre os processos conscientes e os inconscientes Como teriam a capacidade de simbolizar com acurácia todas as suas experiências na consciência awareness elas veriam de modo claro a di ferença entre o que é e o que deveria ser como usariam seus sentimentos organísmicos como critérios para a avaliação de suas experiências elas diminuiriam a distân cia existente entre seu self real e seu self ideal como não teriam necessidade de defender sua importância pessoal elas não apresentariam fachadas para as outras pessoas e como teriam confiança em quem são elas poderiam ex pressar abertamente quaisquer sentimentos que estives sem experimentando Sexto as pessoas do futuro teriam uma confiança bási ca na natureza humana Elas não magoariam os outros me ramente para ganho pessoal elas se importariam com os outros e estariam prontas para ajudar quando necessário elas experimentariam raiva mas seria possível confiar que não atacariam os outros sem razão elas sentiriam agressi vidade mas a canalizariam em direções apropriadas Por fim como as pessoas do futuro são abertas a todas as suas experiências elas desfrutariam de uma maior ri queza na vida do que outras pessoas Elas não distorceriam os estímulos internos nem abafariam suas emoções Por conseguinte elas sentiriam mais profundamente do que os outros Elas viveriam no presente e assim participariam de modo mais intenso do momento em curso Feist10indd 204 Feist10indd 204 291014 0927 291014 0927 TEORIAS DA PERSONALIDADE 205 FILOSOFIA DA CIÊNCIA Rogers era em primeiro lugar um cientista em segundo lugar um terapeuta e em terceiro um teórico da perso nalidade Como sua atitude científica permeia tanto sua terapia quanto sua teoria da personalidade examinaremos brevemente sua filosofia da ciência De acordo com Rogers 1968 a ciência começa e ter mina com a experiência subjetiva embora tudo o que for intermediário deve ser objetivo e empírico Os cientistas precisam ter muitas das características da pessoa do futu ro ou seja eles devem ser inclinados a olhar internamente estar em sintonia com os sentimentos e os valores inter nos ser intuitivos e criativos estar abertos às experiências receber bem a mudança ter uma perspectiva nova e pos suir uma confiança sólida em si mesmos Rogers 1968 acreditava que os cientistas deveriam estar completamente envolvidos nos fenômenos a serem estudados Por exemplo as pessoas que realizam pesquisas sobre psicoterapia precisam primeiro ter atuado em longa carreira como terapeutas Os cientistas devem valorizar e se preocupar com ideias recémnascidas e nutrilas amoro samente durante sua infância frágil A ciência inicia quando um cientista intuitivo começa a perceber padrões entre os fenômenos A princípio essas relações vagamente vistas podem ser dispersas demais para serem comunicadas aos outros mas elas são nutridas por um cientista atento até que por fim possam ser formula das em hipóteses verificáveis Tais hipóteses no entanto são consequência de um cientista de mente aberta e não o resultado de um pensamento estereotipado preexistente Nesse ponto a metodologia entra em cena Ainda que a criatividade de um cientista possa produzir métodos ino vadores esses procedimentos devem ser controlados de forma rigorosa empíricos e objetivos Métodos precisos impedem que o cientista se autoengane e que intencional mente ou não manipule as observações Porém essa preci são não deve ser confundida com ciência Ela é apenas um método da ciência que é preciso e objetivo O cientista então comunica os achados daquele mé todo aos outros pois a própria comunicação é subjetiva As pessoas que recebem a comunicação trazem para o proces so seu próprio grau de mente aberta ou recurso a defesas Elas possuem níveis variados de prontidão para receber o que foi constatado dependendo do clima prevalente do pensamento científico e das experiências subjetivas de cada indivíduo OS ESTUDOS DE CHICAGO Coerente com sua filosofia da ciência Rogers não permi tiu que a metodologia ditasse a natureza de sua pesquisa Em suas investigações sobre os resultados da psicoterapia centrada no cliente primeiramente no Counseling Center da Universidade de Chicago Rogers Dymond 1954 e depois com pacientes esquizofrênicos na Universidade de Wisconsin Rogers Gendlin Kiesler Truax 1967 ele e seus colaboradores permitiram que o problema prevale cesse sobre a metodologia e as medidas Eles não formula ram hipóteses apenas porque as ferramentas para testálas estavam facilmente disponíveis Em vez disso começaram sentindo impressões vagas a partir da experiência clínica e de forma gradual foram transformandoas em hipóteses verificáveis Foi só então que Rogers e colaboradores trata ram da tarefa de encontrar ou inventar instrumentos pelos quais essas hipóteses pudessem ser testadas O propósito dos estudos de Chicago era investigar o processo e os resultados da terapia centrada no cliente Os terapeutas eram de nível aprendiz Eles incluíam Rogers e outros membros do corpo docente mas também alunos de pósgraduação Ainda que variassem muito em experiência e habilidade todos tinham basicamente a abordagem cen trada no cliente Rogers 1961 Rogers Dymond 1954 Hipóteses A pesquisa no Counseling Center da Universidade de Chi cago foi elaborada em torno da hipótese básica centrada no cliente que afirma que todas as pessoas têm dentro de si a capacidade ativa ou latente de autoentendimento e tam bém a capacidade e a tendência de avançarem na direção da autoatualização e da maturidade Essa tendência se reali zará contanto que o terapeuta crie a atmosfera psicológica apropriada De forma mais específica Rogers 1954 levan tou a hipótese de que durante a terapia os clientes assi milariam a seu autoconceito os sentimentos e as experiên cias previamente negados à consciência awareness Ele também previu que durante e após a terapia diminuiria a discrepância entre o self real e o self ideal e o comporta mento observado dos clientes se tornaria mais socializado de maior aceitação pelo próprio cliente e pelos outros Es sas hipóteses por sua vez tornaramse a base para várias hipóteses mais específicas as quais foram explicitadas em termos operacionais e depois testadas Método Como as hipóteses do estudo ditavam que as mudanças subjetivas sutis da personalidade fossem medidas de uma forma objetiva a seleção dos instrumentos de mensura ção foi difícil Para avaliar a mudança de um ponto de vista externo os pesquisadores usaram o Teste de Apercepção Temática TAT a Escala de Atitudes EuOutro Escala SO em inglês e a Escala de Maturidade Emocional de Willoughby Escala EM em inglês O TAT um teste pro jetivo de personalidade desenvolvido por Henry Murray 1938 foi usado para testar hipóteses que requeriam um diagnóstico clínicopadrão a Escala SO um instrumento Feist10indd 205 Feist10indd 205 291014 0927 291014 0927 206 FEIST FEIST ROBERTS compilado no Counseling Center da Universidade de Chi cago a partir de várias fontes anteriores mede tendências antidemocráticas e etnocentrismo a Escala EM foi em pregada para comparar descrições do comportamento e a maturidade emocional dos clientes segundo dois amigos íntimos e segundo os próprios clientes Para medir a mudança segundo o ponto de vista do cliente os pesquisadores se basearam na técnica Qsort desenvolvida por William Stephenson da Universidade de Chicago Stephenson 1953 A técnica Qsort começa com um universo de cem afirmações autorreferentes impressas em cartões de 3 x 5 Os participantes devem classificar em nove pilhas desde mais como eu até menos como eu Os pesquisadores pediram aos participantes para classificarem os cartões em pilhas de 1 4 11 21 26 21 11 4 e 1 A dis tribuição resultante se aproxima de uma curva normal e per mite a análise estatística Em vários pontos durante o estu do os participantes foram solicitados a classificar os cartões para descreverem seu self seu self ideal e a pessoa comum Os participantes do estudo eram 18 homens e 11 mulheres que tinham procurado terapia no Counseling Center da Universidade de Chicago Mais da metade dos participantes era composta por universitários e os demais provinham da comunidade circunvizinha Esses clientes chamados de experimentais ou grupo de terapia passa ram por pelo menos seis entrevistas terapêuticas e cada sessão foi registrada eletronicamente e transcrita procedi mento em que Rogers foi pioneiro já em 1938 Os pesquisadores usaram dois métodos diferentes de controle Primeiro pediram que metade das pessoas do grupo esperasse 60 dias antes de receber terapia Esses par ticipantes conhecidos como controle ou grupo de espera precisaram esperar antes de receber terapia para determi nar se a motivação para mudar em vez da terapia em si poderia fazer as pessoas melhorarem A outra metade do grupo de terapia chamada de grupo sem espera recebeu in tervenção imediatamente O segundo controle consistia de um grupo separado de normais que tinham se apresentado como voluntá rios para servir como participantes em um estudo de pes quisa sobre a personalidade Esse grupo de comparação permitiu que os pesquisadores determinassem os efeitos de variáveis como a passagem do tempo o conhecimen to de fazer parte de um experimento o efeito placebo e o impacto da testagem repetida Os participantes desse grupocontrole foram divididos em um grupo de espera e um grupo sem espera que correspondia aos grupos de te rapia de espera e sem espera Os pesquisadores testaram o grupo de espera da terapia e o grupo de espera controle por quatro vezes no início do período de 60 dias antes da terapia imediatamente após a terapia e após um período de seguimento de 6 a 12 meses Eles administraram aos grupos sem espera os mesmos testes nas mesmas ocasiões exceto é claro antes do período de espera O design geral do estudo é apresentado na Figura 101 Achados Os pesquisadores constataram que o grupo de terapia apre sentava menos discrepância entre o self e o self ideal após a terapia e os integrantes mantinham quase todos os ga nhos durante o período de seguimento Conforme espera do os controles normais tiveram um nível mais alto de Terapia Pontos de testagem Período de espera 60 dias Seguimento 612 meses Terapia Seguimento 612 meses Grupo controle próprio Grupo sem espera 60 dias 612 meses 612 meses Grupo de espera Grupo de terapia Grupo controle Grupo sem espera FIGURA 101 Design do estudo de Chicago De C R Rogers e R F Dymond Psychotherapy and Personality Change 1954 Copyright 1954 The University of Chicago Press Chicago IL Reimpressa com permissão Feist10indd 206 Feist10indd 206 291014 0927 291014 0927 TEORIAS DA PERSONALIDADE 207 congruência do que o grupo de terapia no início do estudo mas em contraste com o grupo de terapia eles quase não apresentaram mudança na congruência entre o self e o self ideal desde a testagem inicial até o seguimento final Além disso o grupo de terapia mudou seu autoconcei to mais do que alterou sua percepção das pessoas comuns Esse achado sugere que embora os clientes mostrassem pouca mudança em sua noção de como era uma pessoa média manifestaram uma modificação acentuada em suas percepções do self Em outras palavras insight intelectual não resulta em crescimento psicológico Rudikoff 1954 A terapia produz mudanças perceptíveis no comporta mento dos clientes conforme percebido pelos amigos ínti mos Solicitouse aos participantes dos grupos de terapia e controle que fornecessem aos experimentadores os nomes de dois amigos íntimos que estariam em posição de julgar mudanças comportamentais explícitas Em geral os amigos não relataram mudanças compor tamentais significativas nos clientes desde o período préte rapia até a pósterapia No entanto essa classificação global de não mudança decorreu de um efeito de compensação Os clientes julgados por seus terapeutas como tendo mais me lhoras receberam escores mais altos na maturidade póste rapia de seus amigos enquanto aqueles classificados como apresentando menos melhoras receberam escores mais bai xos dos amigos É interessante observar que antes da tera pia os clientes em geral se classificaram como menos ma duros do que seus amigos os classificaram mas conforme a terapia progrediu eles começaram a se classificar mais alto e portanto mais em concordância com as avaliações dos amigos Os participantes do grupocontrole não mostraram mudanças durante o estudo na maturidade emocional se gundo julgado pelos amigos Rogers Dymond 1954 Resumo dos resultados Os estudos de Chicago demonstraram que as pessoas que recebiam terapia centrada no cliente mostraram em ge ral algum crescimento ou melhora No entanto a melho ra ficou aquém do ideal O grupo de terapia começou o tratamento como menos sadio do que o grupocontrole apresentou crescimento durante a terapia e reteve a maior parte dessa melhora durante o período de seguimento Entretanto eles nunca atingiram o nível de saúde psico lógica demonstrado pelas pessoas normais no grupo controle Examinando esses resultados de outra maneira a pessoa típica que recebe terapia centrada no cliente pro vavelmente nunca se aproximará do estágio 7 da hipótese de Rogers discutido anteriormente Uma expectativa mais realista seria que os clientes avancem até o estágio 3 ou 4 A terapia centrada no cliente é efetiva mas não resulta no funcionamento pleno da pessoa PESQUISA RELACIONADA Comparadas à teoria de Maslow as ideias de Rogers sobre a força da consideração positiva incondicional geraram uma boa quantidade de pesquisa empírica De fato as próprias pesquisas de Rogers sobre as três condições ne cessárias e suficientes para o crescimento psicológico fo ram precursoras da psicologia positiva e ainda mais apoia das pela pesquisa moderna Cramer 1994 2002 2003a Além do mais a noção de Rogers de incongruência entre o self real e o ideal e a motivação para perseguir objetivos despertaram o interesse contínuo dos pesquisadores Teoria da autodiscrepância Rogers também propôs que o pilar da saúde mental era a congruência entre como de fato nos vemos e como idealmente gostaríamos de ser Se essas duas autoavalia ções forem congruentes então a pessoa está relativamente adaptada e sadia Em caso negativo a pessoa experimenta várias formas de desconforto mental como ansiedade de pressão e baixa autoestima Na década de 1980 E Tory Higgins desenvolveu uma versão da teoria de Rogers que continua a ser influente em pesquisas da psicologia da personalidade e social A versão de Higgins da teoria é denominada teoria da autodiscre pância e trata não apenas da discrepância entre self real e self ideal mas também da discrepância entre self real e o self esperado Higgins 1987 Uma diferença entre Rogers e Higgins é a natureza mais específica da teoria de Higgins Propondo pelo menos duas formas distintas de discrepân cia ele previu resultados negativos diferentes de cada uma Por exemplo a discrepância realideal deve levar a emoções relacionadas a desânimo p ex depressão tristeza decep ção enquanto a discrepância realesperado deve ocasionar emoções relacionadas à agitação p ex ansiedade medo ameaça Apesar de mais específica a teoria de Higgins possui essencialmente a mesma forma e os mesmos pres supostos que a teoria de Rogers os indivíduos com altos níveis de autodiscrepância têm maior probabilidade de ex perimentar altos níveis de afeto negativo em suas vidas como ansiedade e depressão A teoria da Higgins conquistou muita atenção empí rica desde a metade da década de 1980 Algumas das pes quisas recentes procuraram clarificar as condições sob as quais as autodiscrepâncias predizem a experiência emocio nal Phillips Silvia 2005 Por exemplo Ann Phillips e Paul Silvia previram que a emoção negativa experimentada das discrepâncias entre realideal ou realesperado seria mais extrema quando as pessoas são mais autofocadas ou autoconscientes Estar em um estado de autofoco não só deixa a pessoa mais consciente dos traços relevantes para si mas também aumenta a probabilidade do indivíduo Feist10indd 207 Feist10indd 207 291014 0927 291014 0927 208 FEIST FEIST ROBERTS detectar discrepâncias e portanto interessarse mais por ser congruente Para testar sua predição Phillips e Silvia levaram os participantes para um laboratório e induziram a auto consciência selfawareness na metade deles fazendoos preencherem questionários sobre autodiscrepâncias e hu mor na frente de um espelho A outra metade da amostra preencheu os mesmos questionários mas sentada em uma escrivaninha normal sem um espelho presente Por razões óbvias ao responder perguntas sobre si mesmo se olhan do em um espelho você tem maior probabilidade de estar autoconsciente Conforme previsto o fenômeno de expe rimentar emoção negativa em consequência de autodis crepâncias ocorreu apenas nos participantes que estavam altamente autoconscientes i e aqueles que preencheram os questionários na frente do espelho Em outras pesquisas ainda sobre autodiscrepância Rachel Calogero e Neill Watson 2009 examinaram se as discrepâncias percebidas dos indivíduos entre realideal e realesperado prediziam uma forma peculiar de autocons ciência que eles denominaram autoconsciência social crônica A autoconsciência social crônica é caracteriza da pela atenção focada em si quando em público e um monitoramento vigilante do self e do corpo As pesquisas também examinaram até que ponto homens e mulheres diferiam na discrepância realesperado em termos de ima gem corporal e autoconsciência Esses estudiosos prog nosticaram que as discrepâncias realesperado deveriam estar mais fortemente relacionadas a essa tendência de assumir tal visão vigilante do self como um objeto social do que as discrepâncias realideal Isso ocorre porque as discrepâncias realideal resultam em frustração por não satisfazerem as aspirações pessoalmente relevantes en quanto as discrepâncias realesperado produzem agitação ou medo devido à punição prevista pela violação das obri gações sociais Se isso parece uma descrição que se enquadra mais em mulheres do que em homens foi exatamente o que os pes quisadores encontraram De fato em seu primeiro estudo Calogero e Watson detectaram que entre 108 estudantes de graduação as discrepâncias realesperado porém não entre realideal prediziam autoconsciência social crônica nas mulheres mas não nos homens Em um segundo estu do de mais de 200 estudantes de graduação do sexo femi nino eles constataram que controlando outras variáveis como a importância da aparência física a discrepância real esperado continuou a predizer fortemente autoconsciên cia social crônica nas mulheres jovens Se considerarmos a divulgação na mídia de padrões restritos e impossíveis de beleza física feminina faz muito sentido que as meninas e as mulheres desenvolvam uma discrepância realesperado para si mesmas e que isso resulte em um tipo de atenção vigilante a si mesmas como objetos sociais em comparação aos homens Motivação e busca dos próprios objetivos Uma área de pesquisa na qual as ideias de Rogers conti nuam a ser influentes é a busca de objetivos Estabelecer e perseguir objetivos é uma forma de as pessoas organi zarem suas vidas de maneira que conduzam a resultados desejáveis e acrescentem significado às atividades diárias Estabelecer objetivos é fácil mas estipular as metas certas pode ser mais difícil do que parece De acordo com Rogers uma fonte de sofrimento psicológico é a incongruência ou quando o self ideal da pessoa não corresponde sufi cientemente a seu autoconceito e essa incongruência pode ser representada nos objetivos que a pessoa escolhe perseguir Por exemplo uma pessoa pode perseguir o ob jetivo de se sair bem em biologia sem nem mesmo gostar de biologia ou pode nem mesmo precisar dela para seu objetivo de ser um arquiteto Talvez os pais dessa pessoa sejam biólogos e sempre tenha sido esperado que ela fi zesse o mesmo embora a pessoa considere a arquitetu ra como mais estimulante e satisfatória Nesse exemplo a biologia faz parte do autoconceito da pessoa porém a arquitetura faz parte de seu self ideal A incongruência entre os dois é uma fonte de angústia Felizmente Ro gers 1951 ampliou essas ideias para propor que todos temos um processo de valorização organísmica OVP organismic valuing process ou seja um instinto natural que nos direciona para as buscas mais satisfatórias No exemplo anterior o OVP é representado como uma sensa ção profunda visceral ou inexplicável de que a arquitetura não a biologia é o caminho certo Ken Sheldon e colaboradores 2003 exploraram a existência de um OVP em universitários projetando estu dos que pedissem aos estudantes para classificarem a im portância de vários objetivos repetidamente ao longo do curso de muitas semanas Cada vez que as pessoas classifi carem a mesma coisa p ex objetivos ao longo do tempo haverá uma flutuação em suas classificações Sheldon e co laboradores no entanto prognosticaram que a flutuação na importância de vários objetivos teria um padrão distin to Se as pessoas de fato possuem um OVP como Rogers teorizou então ao longo do tempo elas classificarão os objetivos que são inerentemente mais satisfatórios como mais desejáveis do que os objetivos que levam apenas a ganhos materiais Para testar sua previsão Sheldon e cola boradores pediram a estudantes de graduação que classifi cassem vários objetivos préselecionados alguns dos quais eram inerentemente mais satisfatórios do que outros Seis semanas depois os participantes classificaram os mesmos objetivos outra vez e ainda mais uma vez seis semanas de pois disso Os pesquisadores detectaram que de acordo com a previsão de que as pessoas possuem um OVP os participantes tenderam a classificar os objetivos mais satis fatórios com importância crescente ao longo do tempo e os objetivos materiais com importância decrescente Feist10indd 208 Feist10indd 208 291014 0927 291014 0927 TEORIAS DA PERSONALIDADE 209 Mais recentemente Ransom Sheldon e Jacobsen 2010 exploraram o processo de OVP de Rogers no con texto de sobrevivência ao câncer Esses pesquisadores observaram que muitas pessoas com câncer relatam ex perimentar um crescimento positivo em consequência da doença e até mesmo dizem que o câncer teve um im pacto mais positivo do que negativo em suas vidas Essa tendência humana notável a encontrar significado positivo duradouro na sequência de eventos tão estressantes foi denominada crescimento póstraumático CPT do inglês posttraumatic growth Tedeschi Calhoun 1996 O estudo testou a validade dos relatos de CPT Os sobreviventes de câncer experimentam realmente um crescimento pessoal em consequência do processo de valorização organísmica de Rogers Ou seus relatos de mudança positiva são ape nas ilusões resultantes de uma comparação tendenciosa do self presente com o self passado Os indivíduos podem enfrentar o desafio que o câncer apresenta percebendo um crescimento positivo em si mesmos onde não existem evidências objetivas disso Oitenta e três indivíduos com câncer de mama ou próstata preencheram medidas de atri butos pessoais positivos e objetivos pessoais de vida an tes e depois do tratamento com radioterapia Os achados corroboraram fortemente a conceitualização de Rogers do OVP Os pacientes apresentaram tanto uma mudança real quanto percebida ao longo do curso da radioterapia Po rém importante para a psicologia humanista as mudanças para uma orientação mais pessoal e genuína em direção aos objetivos prediziam CPT Ou seja os relatos dos pacientes de crescimento pessoal positivo não eram apenas ilusórios eles se refletiam em uma transição muito real para a va lorização de objetivos mais profundos e satisfatórios em detrimento de objetivos mais materialistas durante o tra tamento contra o câncer Ainda que o estudo recémdiscutido sobre o papel do OVP na busca de objetivos seja um teste direto das ideias de Rogers existe outra pesquisa moderna sobre a persona lidade inspirada no potencial para incongruência que usa uma terminologia diferente Por exemplo os pesquisado res da personalidade referem o fato de os objetivos serem motivados de forma intrínseca ou extrínseca Objetivos intrínsecos são aqueles que uma pessoa considera satis fatórios e gratificantes eles fazem parte do self ideal e os indivíduos são direcionados para eles por seu OVP A busca dos objetivos intrínsecos não precisa ser encorajada por re compensas como dinheiro notas ou presentes Perseguir o objetivo é uma experiência gratificante por si só Objetivos extrínsecos por sua vez são aqueles que não são experi mentados como inerentemente gratificantes podem estar representados no autoconceito da pessoa mas não são necessariamente parte do self ideal Os objetivos extrín secos costumam ser motivados por fatores como dinheiro e prestígio Um teste simples para ver se um de seus obje tivos é intrínseco ou extrínseco é perguntar a si mesmo se perseguiria o objetivo mesmo que nunca recebesse alguma compensação material por ele Se a resposta for afirmativa então o objetivo será intrínseco mas se a resposta for ne gativa então o objetivo provavelmente será de motivação extrínseca As atividades motivadas intrinsecamente em geral tornam as pessoas mais felizes e mais satisfeitas A mo tivação intrínseca e a satisfação estão conectadas porque as atividades motivadas intrinsecamente representam o self ideal Pesquisas recentes exploraram até que pon to ter mais experiências autorrealizantes em que as pes soas podem expressar quem elas realmente são similar ao self ideal de Rogers está relacionado a experimentar mais motivação intrínseca Schwartz Waterman 2006 Schwartz e Waterman projetaram um estudo longitudinal em que no momento 1 os participantes listaram várias atividades que eram importantes para eles Então em mo mentos posteriores espalhados ao longo de um semestre os pesquisadores verificaram com os participantes até que ponto o envolvimento nas atividades listadas no momento 1 levaram a sentimentos mais intensos de autorrealização i é oportunidades de desenvolver os próprios potenciais e até que ponto as atividades estimularam a motivação intrínseca Os resultados desse estudo longitudinal indi caram que assim como Carl Rogers teria previsto quanto mais as atividades em que as pessoas se engajam refletem autorrealização maior a probabilidade de essas atividades serem interessantes autoexpressivas e levar a uma expe riência de fluir Fluir é a experiência de estar totalmente imerso e engajado em uma experiência até o ponto de per der a noção do tempo e do sentimento de self Csíkszent mihályi 1990 Carl Rogers tinha claramente uma visão perspicaz da condição humana e suas ideias continuam a ser validadas pela maior parte das pesquisas modernas Se você se enga jar em experiências que fazem parte de seu self ideal será levado a buscas que são mais engajadas enriquecedoras interessantes e recompensadoras Schwartz Waterman 2006 Mas e se não souber quais buscas específicas você achará mais gratificantes Conforme Sheldon e colabora dores 2003 2010 encontraram em seus dois estudos com universitários sadios e sobreviventes de câncer temos um sistema inato OVP que nos direciona para buscas mais satisfatórias mesmo ou talvez especialmente quando a vida nos apresentar desafios estressantes Tudo o que te mos que fazer é ouvir nossos instintos CRÍTICAS A ROGERS O quanto a teoria rogeriana satisfaz os seis critérios de uma teoria útil Primeiramente ela gera pesquisa e sugere hipóteses verificáveis Ainda que a teoria rogeriana tenha produzido muitas pesquisas no terreno da psicoterapia e Feist10indd 209 Feist10indd 209 291014 0927 291014 0927 210 FEIST FEIST ROBERTS da aprendizagem em sala de aula ver Rogers 1983 ela foi apenas moderadamente produtiva fora dessas duas áreas e assim recebe uma classificação mediana na capacidade de estimular a atividade de pesquisa dentro do campo geral da personalidade Segundo classificamos a teoria rogeriana como alta em refutação Rogers foi um dos poucos teóricos que expressou sua teoria em uma estrutura seentão e tal paradigma se presta à confirmação ou à refutação Sua linguagem precisa facilitou a pesquisa na Universidade de Chicago e posteriormente na Universidade de Wisconsin que expôs sua teoria da terapia à refutação Infelizmente desde a morte de Rogers muitos seguidores de orientação humanista não colocaram à prova a teoria rogeriana mais geral Terceiro a teoria centrada na pessoa organiza o conhe cimento em uma estrutura significativa Ainda que boa parte da pesquisa gerada pela teoria tenha sido limitada às relações interpessoais a teoria rogeriana pode ser amplia da para um leque relativamente amplo da personalidade humana Os interesses de Rogers iam além do consultório e incluíam dinâmica de grupo aprendizagem em sala de aula problemas sociais e relações internacionais Portanto classificamos a teoria centrada na pessoa como alta na ca pacidade de explicar o que é conhecido atualmente acerca do comportamento humano Quarto o quanto a teoria centrada na pessoa serve como um guia para a solução de problemas práticos Para o psicoterapeuta a resposta é inequívoca Para causar mu danças na personalidade o terapeuta deve ter congruência e ser capaz de demonstrar compreensão empática e consi deração positiva incondicional pelo cliente Rogers sugeriu que essas três condições são necessárias e suficientes para afetar o crescimento em qualquer relação interpessoal in cluindo aquelas fora da terapia Quinto a teoria centrada na pessoa é coerente interna mente com um conjunto de definições operacionais Classi ficamos a teoria centrada na pessoa como muito alta quanto a coerência e suas definições operacionais cuidadosamente elaboradas Os que vierem a elaborar teorias futuras podem aprender uma lição valiosa com o trabalho pioneiro de Ro gers na construção de uma teoria da personalidade Por fim a teoria rogeriana é parcimoniosa e livre de conceitos complicados e linguagem difícil A teoria em si costuma ser clara e econômica porém parte da linguagem é estranha e vaga Conceitos como experiência organísmi ca tornarse autoconsideração positiva necessidade de autoconsideração consideração positiva incondicio nal e funcionamento pleno são muito amplos e impreci sos para terem um significado científico claro No entanto essa crítica é pequena em comparação ao rigor e à parcimô nia gerais da teoria centrada na pessoa CONCEITO DE HUMANIDADE O conceito de Rogers de humanidade foi claramente expres so em seus famosos debates com B F Skinner durante a me tade da década de 1950 e início da década de 1960 Talvez os mais famosos debates na história da psicologia norteameri cana essas discussões consistiram de três confrontações face a face entre Rogers e Skinner referentes à questão da liber dade e do controle Rogers Skinner 1956 Skinner ver Cap 16 argumentava que as pessoas são sempre controladas percebendo ou não Como somos controlados sobretudo por contingências casuais que não têm um grande projeto ou plano com frequência temos a ilusão de que somos livres Skinner 1971 Rogers contudo defendia que as pessoas têm algum grau de livrearbítrio e alguma capacidade de serem autodi recionadas Admitindo que uma parte do comportamento hu mano é controlada previsível e legítima Rogers argumentou que os valores e as escolhas importantes estão no âmbito do controle pessoal Durante sua longa carreira Rogers permaneceu ciente da capacidade humana para a crueldade embora seu conceito de humanidade seja realisticamente otimista Ele acreditava que as pessoas essencialmente se movem para frente e que sob condições adequadas crescem na direção da autoatuali zação As pessoas são em príncipio confiáveis socializadas e construtivas Elas costumam saber o que é melhor para elas e lutam pela realização contanto que sejam valorizadas e com preendidas por outro indivíduo sadio Todavia Rogers 1959 também tinha consciência de que as pessoas podem ser mui to brutais rudes e neuróticas Não tenho uma visão de Poliana da natureza humana Es tou bem consciente de que além das defesas e dos medos internos as pessoas podem ser e de fato se comportam de formas horrivelmente destrutivas imaturas regressivas antissociais e nocivas No entanto uma das partes mais agradáveis e revigorantes de minha experiência é trabalhar com tais indivíduos e descobrir as tendências direcionais Feist10indd 210 Feist10indd 210 291014 0927 291014 0927 TEORIAS DA PERSONALIDADE 211 Termoschave e conceitos A tendência formativa diz que toda matéria orgânica e inorgânica tende a se desenvolver de formas sim ples para formas mais complexas Os humanos e outros animais possuem uma ten dência à autoatualização isto é a predisposição a se moverem em direção à completude ou à realização A autoatualização ocorre depois que as pessoas de senvolvem um autossistema e se refere à tendência a se mover na direção de se tornar uma pessoa plena mente funcional Um indivíduo se torna uma pessoa ao fazer contato com um cuidador cuja consideração positiva por ele promove sua autoconsideração positiva Existem obstáculos ao crescimento psicológico quando uma pessoa experimenta condições de valor incon gruência defesas e desorganização As condições de valor e a avaliação externa levam a vul nerabilidade ansiedade e ameaça e impedem que as pessoas experimentem consideração positiva incon dicional A incongruência desenvolvese quando o self do orga nismo e o self percebido não se equivalem Quando o self do organismo e o self percebido são in congruentes as pessoas se tornam defensivas e usam a distorção e a negação como tentativas de reduzir a incongruência As pessoas ficam desorganizadas sempre que a dis torção e a negação são insuficientes para bloquear a incongruência As pessoas vulneráveis não estão conscientes de sua incongruência e têm probabilidade de se tornar an siosas ameaçadas e defensivas Quando as pessoas vulneráveis entram em contato com um terapeuta que é congruente e que tem consi fortemente positivas que existem neles como em todos nós nos níveis mais profundos p 21 Essa tendência para o crescimento e a autoatualização possui uma base biológica Assim como as plantas e os ani mais têm uma tendência inata para o crescimento e a realiza ção assim também ocorre com os humanos Todos os organis mos se atualizam mas somente os humanos podem se tornar autoatualizados Os humanos são diferentes das plantas e dos animais principalmente porque eles têm autoconsciência selfawareness Uma vez que temos consciência awareness somos capazes de fazer livres escolhas e desempenhar um pa pel ativo na formação de nossa personalidade A teoria de Rogers também é alta em teleologia sus tentando que as pessoas se esforçam com um propósito em direção a objetivos que elas livremente estabelecem para si mesmas Mais uma vez sob condições terapêuticas apropria das as pessoas de modo consciente desejam se tornar mais funcionais mais abertas a suas experiências e mais receptivas a si e aos outros Rogers colocou ênfase nas diferenças individuais e na sin gularidade não tanto nas semelhanças Se as plantas possuem um potencial individual para o crescimento as pessoas têm singularidade e individualidade ainda maiores Em um am biente estimulante as pessoas podem crescer à sua própria maneira em direção ao processo de serem mais plenamente funcionais Apesar de Rogers não negar a importância dos processos inconscientes sua ênfase era na capacidade das pessoas de escolherem conscientemente o próprio curso de ação Aquelas com funcionamento pleno tendem a ser conscientes do que estão fazendo e têm algum entendimento das razões para fazêlo Na dimensão das influências biológicas versus sociais Rogers favoreceu as últimas O crescimento psicológico não é automático Para avançar em direção à realização é preciso experimentar compreensão empática e consideração positiva incondicional de outras pessoas que sejam genuínas ou con gruentes Rogers sustentava com firmeza que embora boa parte de nosso comportamento seja determinada pela heredi tariedade e pelo ambiente temos dentro de nós a capacidade de escolher e de nos tornarmos autodirecionados Sob condi ções estimulantes essa escolha sempre parece ser na direção da maior socialização da melhora nas relações com os outros Rogers 1982 p 8 Rogers 1982 não alegava que se deixadas sozinhas as pessoas seriam justas virtuosas e honradas Entretanto sob uma atmosfera sem ameaça as pessoas são livres para se tornarem o que potencialmente podem ser Nenhuma avaliação em termos de moralidade se aplica à natureza da humanidade As pessoas simplesmente têm o potencial para o crescimento a necessidade de crescimento e o desejo pelo crescimento Por natureza elas se esforçarão pela completu de mesmo sob condições desfavoráveis Sob condições fracas elas não percebem seu pleno potencial para a saúde psicoló gica No entanto sob condições mais estimulantes e favorá veis tornamse mais autoconscientes confiáveis congruentes e autodirecionadas qualidades que as fazem avançar para se tornarem pessoas do futuro Feist10indd 211 Feist10indd 211 291014 0927 291014 0927 212 FEIST FEIST ROBERTS deração positiva incondicional e empatia o processo de mudança da personalidade tem início Esse processo de mudança terapêutica da personali dade varia desde o uso extremo de defesas ou uma relutância em falar de si até um estágio final em que os clientes se tornam seus próprios terapeutas e são capazes de continuar o crescimento psicológico fora do ambiente terapêutico Os resultados básicos da terapia centrada no cliente são indivíduos congruentes que estão abertos às ex periências e que não têm necessidade de serem de fensivos Teoricamente os clientes bemsucedidos se tornam pessoas do futuro ou pessoas em pleno funcionamento Feist10indd 212 Feist10indd 212 291014 0927 291014 0927 CAPÍTULO 11 May Psicologia Existencial Panorama da psicologia existencial Biografia de Rollo May Antecedentes do existencialismo O que é existencialismo Conceitos básicos O caso de Philip Ansiedade Ansiedade normal Ansiedade neurótica Culpa Intencionalidade Cuidado amor e vontade União entre amor e vontade Formas de amor Liberdade e destino Definição de liberdade Formas de liberdade O que é destino O destino de Philip O poder do mito Psicopatologia Psicoterapia Pesquisa relacionada Evidência da mortalidade e negação de nossa natureza animal Forma física como uma defesa contra a consciência da mortalidade Existe alguma vantagem na consciência da mortalidade Críticas a May Conceito de humanidade Termoschave e conceitos May Feist11indd 213 Feist11indd 213 271014 1514 271014 1514 214 FEIST FEIST ROBERTS D uas vezes casado duas vezes divorciado Philip es tava com dificuldades em outro relacionamento desta vez com Nicole uma escritora com pouco mais de 40 anos Philip podia oferecer a Nicole não só amor como também segurança financeira mas seu relaciona mento não parecia estar funcionando Seis meses depois que Philip conheceu Nicole os dois passaram um verão idílico juntos no refúgio dele Os dois filhos pequenos de Nicole estavam com o pai e os três fi lhos de Philip já eram jovens adultos que podiam se cuidar sozinhos No início do verão Nicole falou sobre a possibi lidade de casamento mas Philip respondeu que era contra citando seus dois casamentos anteriores fracassados como a razão Com exceção dessa breve discordância o tempo que passaram juntos naquele verão foi completamente prazeroso Suas discussões intelectuais eram gratificantes para Philip e suas relações sexuais eram as mais satisfató rias que ele já havia experimentado com frequência bei rando o êxtase No final desse verão romântico Nicole voltou para casa sozinha para colocar seus filhos na escola No dia se guinte ao que chegou em casa Philip telefonou para ela mas algo na voz dela parecia estranho Na manhã seguinte ele telefonou novamente e teve a sensação de que havia mais alguém com Nicole Naquela tarde telefonou muitas outras vezes mas era constante o sinal de ocupado Quan do finalmente conseguiu falar com Nicole por telefone perguntou se havia alguém com ela naquela manhã Sem hesitação Nicole relatou que Craig um velho amigo do tempo da faculdade estava hospedado na casa dela e que ela tinha se apaixonado por ele Além do mais ela planeja va casar com Craig no final do mês e se mudar para outra região do país Philip ficou devastado Ele se sentiu traído e aban donado Perdeu peso voltou a fumar e sofria de insônia Quando viu Nicole outra vez expressou sua raiva pelo pla no maluco dela Essa explosão de raiva era rara para Phi lip Ele quase nunca demonstrava raiva talvez por medo de perder quem amava Para complicar a situação Nicole dis se que ainda amava Phillip e continuou a vêlo sempre que Craig não estava disponível Por fim a paixão de Nicole por Craig acabou e ela disse a Philip que como ele bem sabia nunca poderia deixálo Esse comentário confundiu Philip porque ele não sabia disso PANORAMA DA PSICOLOGIA EXISTENCIAL Voltaremos à história de Philip em vários pontos deste ca pítulo Mas primeiro apresentamos um breve panorama da psicologia existencial Logo após a II Guerra Mundial uma nova psicologia a psicologia existencial começou a se espalhar da Eu ropa até os Estados Unidos A psicologia existencial está enraizada na filosofia de Søren Kierkegaard Friedrich Nietzsche Martin Heidegger JeanPaul Sartre e outros filósofos europeus Os primeiros psicólogos e psiquiatras existenciais também eram europeus e estes incluíam Ludwig Binswanger Medard Boss Victor Frankl e outros Por quase 50 anos o principal portavoz da psico logia existencial nos Estados Unidos foi Rollo May Du rante seus anos como psicoterapeuta desenvolveu uma nova maneira de olhar para os seres humanos Sua abor dagem não era baseada em alguma pesquisa científica controlada mas na experiência clínica Ele via as pessoas como vivendo em um mundo de experiências presentes e em última análise sendo responsáveis por quem elas se tornam A percepção penetrante e as análises profun das da condição humana fizeram de May um escritor popular entre pessoas leigas e também entre psicólogos profissionais Muitas pessoas acreditava May não têm coragem para enfrentar seu destino e no processo de escapar dele desistem de boa parte de sua liberdade Tendo negado sua liberdade elas igualmente fogem da responsabilidade Não estando dispostas a fazer escolhas perdem de vista quem são e desenvolvem um sentimento de insignificância e alienação Em contraste as pessoas sadias desafiam seu destino valorizam sua liberdade e vivem de forma autênti ca com outros indivíduos e consigo mesmas Elas reconhe cem a inevitabilidade da morte e têm a coragem de viver o presente BIOGRAFIA DE ROLLO MAY Rollo Reese May nasceu em 21 de abril de 1909 em Ada Ohio o primeiro menino dos seis filhos nascidos de Earl Tittle May e Matie Boughton May Nenhum de seus pais tinha muita escolaridade e o ambiente intelectual inicial de May era praticamente inexistente De fato quando sua irmã mais velha teve uma crise psicótica o pai de May atri buiu o caso ao excesso de educação Bilmes 1978 Em idade precoce May se mudou com sua família para Marine City Michigan onde passou a maior parte da in fância Quando jovem May não era particularmente próxi mo dos pais os quais brigavam com frequência e acabaram se separando O pai de May secretário da Associação Cristã de Moços mudavase com frequência durante a juventude de May Sua mãe muitas vezes deixava os filhos sozinhos e de acordo com a descrição de May era uma pessoa im previsível Rabinowitz Good Cozad 1989 p 437 May atribuía seus dois casamentos fracassados ao comporta mento imprevisível da mãe e ao episódio psicótico da irmã mais velha Durante sua infância May encontrou solidão e alívio da discórdia familiar brincando nas praias do rio St Clair O rio se tornou seu amigo um lugar sereno para nadar du Feist11indd 214 Feist11indd 214 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 215 rante o verão e patinar no gelo no inverno Ele alegava ter aprendido mais com o rio do que na escola que frequentou em Marine City Rabinowitz et al 1989 Quando jovem adquiriu gosto por arte e literatura interesses que nunca o abandonaram Frequentou a faculdade inicialmente na Universidade Estadual de Michigan onde se especializou em Inglês Contudo foi convidado a deixar a escola logo depois que se tornou editor de uma revista estudantil radi cal May então transferiuse para a Faculdade Oberlin em Ohio na qual concluiu o bacharelado em 1930 Pelos três anos seguintes May seguiu um curso muito semelhante ao de Erik Erikson uns 10 anos antes ver Cap 8 Ele perambulou pelo Oeste e pelo Sul da Europa como artista pintando quadros e estudando arte nativa Harris 1969 Na verdade o propósito nominal para a viagem de May era ensinar inglês na Faculdade Anatolia em Saloniki Grécia Esse trabalho dava a May tempo para atuar como artista itinerante na Turquia na Polônia na Áustria e em outros países No entanto em seu segundo ano May es tava começando a ficar solitário Em consequência ele se dedicou a seu trabalho como professor mas quanto mais trabalhava menos eficiente se tornava Por fim na primavera daquele segundo ano tive o que é chamado eufemisticamente de uma crise nervosa O que significava simplesmente que as regras os prin cípios os valores pelos quais eu trabalhava e vivia não eram mais suficientes Fiquei tão fatigado que tive que ficar na cama por duas semanas para obter energia su ficiente para continuar a ensinar Eu tinha aprendido na faculdade psicologia suficiente para saber que esses sintomas significavam que algo estava errado com todo o meu estilo de vida Tive que encontrar alguns novos objetivos e propósitos para a minha vida e renunciar a meu estilo de existência moralista e um tanto rígido May 1985 p 8 Daquele ponto em diante May começou a ouvir sua voz interna a única que falava com ele sobre beleza Pa rece que foi preciso um colapso de toda a minha maneira anterior de vida para que essa voz se fizesse ouvida p 13 Uma segunda experiência na Europa também dei xou uma impressão duradoura nele sua participação nos seminários de Alfred Adler no verão de 1932 em um resort nas montanhas acima de Viena May admira va muito Adler e aprendeu bastante sobre o comporta mento humano e sobre si mesmo durante aquele tempo Rabinowitz et al 1989 Depois que May voltou para os Estados Unidos em 1933 ele se matriculou no Union Theological Seminary em Nova York o mesmo seminário que Carl Rogers ha via frequentado 10 anos antes Ao contrário de Rogers no entanto May não entrou no seminário para se tornar um ministro mas para fazer questionamentos funda mentais referentes à natureza dos seres humanos Harris 1969 Enquanto estava lá conheceu o renomado teólogo e filósofo existencial Paul Tillich na época um refugiado recente da Alemanha e membro do corpo docente do semi nário May aprendeu muito de sua filosofia com Tillich e os dois homens foram amigos por mais de 30 anos Ainda que May não tenha ido para o seminário para ser um pregador ele foi ordenado ministro congrega cional em 1938 após receber o grau de mestre em di vindades Ele então serviu como pastor por dois anos mas abandonou o trabalho paroquial achandoo sem significado para perseguir seu interesse em psicologia Estudou psicanálise no William Alanson White Institute of Psychiatry Psychoanalysis and Psychology enquanto trabalhava como terapeuta dos alunos do sexo masculi no no City College de Nova York Mais ou menos nessa época ele conheceu Harry Stack Sullivan presidente e cofundador do William Alanson White Institute May fi cou impressionado com a noção de Sullivan de que o tera peuta é um observador participante e que a terapia é uma aventura humana capaz de melhorar a vida tanto do pa ciente quanto do terapeuta Ele também foi influenciado por Erich Fromm o qual conheceu ver Cap 7 na época em que este era membro do corpo docente no William Alanson White Institute Em 1946 May abriu seu consultório particular e dois anos depois associouse ao corpo docente do William Alanson White Institute Em 1949 com 40 anos recebeu doutorado em psicologia clínica pela Universidade de Co lumbia Ele continuou a trabalhar como professor assisten te de psiquiatria no William Alanson White até 1974 Antes de receber seu doutorado May passou pela experiência mais profunda de sua vida Quando estava no início de seus 30 anos contraiu tuberculose e passou três anos no Sanatório Saranac no interior de Nova York Naquela época não havia medicamento disponível para a doença e por um ano e meio May não sabia se iria viver ou morrer Ele se sentia desamparado e tinha pouco a fa zer exceto esperar pelo raio X mensal que diria se a cavi dade em seu pulmão estava aumentando ou diminuindo May 1972 Naquele ponto ele começou a desenvolver alguma compreensão da natureza da sua doença Percebeu que a doença estava se aproveitando de seu desamparo e de sua atitude passiva Ele via que os pacientes à sua volta que aceitavam a doença eram os mesmos que tendiam a mor rer enquanto aqueles que lutavam contra a condição ten diam a sobreviver Somente depois que desenvolvi alguma luta algum sentimento de responsabilidade pessoal pelo fato de que era eu que tinha a tuberculose uma asserção de minha própria vontade de viver é que fiz progressos dura douros May 1972 p 14 Quando May aprendeu a ouvir seu corpo descobriu que a cura é um processo ativo não passivo A pessoa que está doente seja fisiológica ou psicologicamente deve ser uma participante ativa no processo terapêutico May per Feist11indd 215 Feist11indd 215 271014 1514 271014 1514 216 FEIST FEIST ROBERTS cebeu essa verdade por ele mesmo quando se recuperou da tuberculose mas foi somente mais tarde que conseguiu ver que seus pacientes em psicoterapia também tinham que lutar contra o transtorno para melhorarem May 1972 Durante a doença e a recuperação May estava escre vendo um livro sobre ansiedade Para entender melhor o assunto ele leu Freud e Søren Kierkegaard o grande filóso fo existencial e teólogo dinamarquês Ele admirava Freud mas era mais profundamente tocado pela visão da ansieda de de Kierkegaard como uma luta contra o nãoser ou seja a perda da consciência May 1969a Depois que May se recuperou da doença escreveu sua dissertação sobre a ansiedade e no ano seguinte publicou a com o título Significado de ansiedade May 1950 Três anos depois escreveu O homem à procura de si mesmo May 1953 livro que ganhou reconhecimento não somente nos círculos profissionais mas também entre outras pes soas instruídas Em 1958 colaborou com Ernest Angel e Henri Ellenberger para publicar Existence a new dimension in Psychiatry and Psychology Existência uma nova dimensão em psiquiatria e psicologia Esse livro apresentou aos psico terapeutas norteamericanos os conceitos da terapia exis tencial e deu continuidade à popularidade do movimento existencial O trabalho mais conhecido de May Amor e von tade 1969b tornouse um bestseller nacional e ganhou o Ralph Waldo Emerson Award de 1970 Em 1971 May ganhou o prêmio de Contribuição Distinguida à Ciência e Profissão de Psicologia Clínica da American Psychologi cal Association Em 1972 a New York Society of Clinical Psychologists entregou a May o prêmio Dr Martin Lu ther King Jr Award pela obra Poder e inocência 1972 e em 1987 May recebeu o prêmio American Psychological Foundation Gold Medal Award for Lifetime Contributions to Professional Psychology Durante sua carreira May foi professor visitante em Harvard e Princeton e palestrou em instituições como Yale Dartmouth Columbia Vassar Oberlin e a New School for Social Research Além disso foi professor adjunto na Uni versidade de Nova York diretor do Conselho da Associação de Psicologia e Psiquiatria Existencial presidente da New York Psychological Association e membro do Conselho de Administração da American Foundation for Mental Health Em 1969 May e sua primeira esposa Florence DeFrees divorciaramse após 30 anos de casamento Ele posterior mente casouse com Ingrid Kepler Scholl mas esse matri mônio também terminou em divórcio Em 22 de outubro de 1994 após dois anos de saúde em declínio May morreu em Tiburon Califórnia onde morava desde 1975 Sobrevi veram a ele sua terceira esposa Georgia Lee Miller Johnson uma analista junguiana com quem se casou em 1988 seu filho Robert e as gêmeas Allegra e Carolyn Por meio de seus livros artigos e conferências May foi o representante mais conhecido do movimento exis tencial No entanto ele lutou contra a tendência de alguns existencialistas a escorregar para uma postura anticientífica ou mesmo antiintelectual May 1962 Ele foi crítico de qualquer tentativa de diluir a psicologia existencial em um método indolor de alcançar a autorrealização As pessoas podem aspirar à saúde psicológica somente aprendendo a lidar com a essência inconsciente de sua existência Ainda que filosoficamente alinhado com Carl Rogers ver Cap 10 May discordava do que ele percebia como uma visão in gênua de Rogers de que o mal é um fenômeno cultural May 1982 considerava os seres humanos como bons e maus e capazes de criar culturas que são também boas e más ANTECEDENTES DO EXISTENCIALISMO A psicologia existencial moderna tem suas raízes nos escri tos de Søren Kierkegaard 18131855 filósofo e teólogo dinamarquês Kierkegaard preocupavase com a tendência crescente nas sociedades pósindustriais à desumanização dos indivíduos Ele se opunha a qualquer tentativa de ver as pessoas meramente como objetos mas ao mesmo tem po contrapunhase à visão de que as percepções subjetivas são a única realidade do sujeito Em vez disso Kierkegaard se preocupava com ambos a pessoa que experimenta e a experiência da pessoa Ele queria compreender as pessoas como elas existem no mundo como seres pensantes ativos e com vontade Como May 1967 refere Kierkegaard pro curou superar a dicotomia entre razão e emoção voltando as atenções das pessoas para a realidade da experiência imediata que está subjacente à subjetividade e à objetivi dade p 67 Kierkegaard assim como outros existencialistas en fatizava um equilíbrio entre liberdade e responsabilidade As pessoas adquirem liberdade de ação pela expansão da autoconsciência e então assumindo a responsabilidade por suas ações A aquisição de liberdade e responsabilida de no entanto é alcançada somente à custa de ansiedade Quando as pessoas percebem que em última análise estão à mercê do próprio destino elas experimentam a carga da liberdade e a dor da responsabilidade A visão de Kierkegaard teve pouco efeito sobre o pen samento filosófico durante seu comparativamente curto período de vida ele morreu aos 42 anos Todavia o tra balho de dois filósofos alemães Friedrich Nietzsche 1844 1900 e Martin Heidegger 18991976 ajudou a popula rizar a filosofia existencial durante o século XX Heidegger exerceu influência considerável sobre dois psiquiatras suí ços Ludwig Binswanger e Medard Boss Binswanger e Boss com Karl Jaspers Victor Frankl e outros adaptaram a filo sofia do existencialismo à prática da psicoterapia O existencialismo também permeou a literatura do século XX por meio do trabalho do escritor francês Jean Paul Sartre e do novelista francoargelino Albert Camus a religião por meio dos escritos de Martin Buber Paul Tillich Feist11indd 216 Feist11indd 216 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 217 e outros e o mundo das artes pelo trabalho de Cézanne Matisse e Picasso cujas pinturas rompem as fronteiras do realismo e demonstram a liberdade de ser em vez da liber dade de fazer May 1981 Depois da II Guerra Mundial o existencialismo euro peu em suas várias formas difundiuse nos Estados Uni dos e diversificouse ainda mais quando foi adotado por um grupo variado de escritores artistas dissidentes pro fessores e universitários dramaturgos clérigos e outros O que é existencialismo Ainda que filósofos e psicólogos interpretem o existen cialismo de várias formas alguns elementos comuns são encontrados entre a maioria dos pensadores existenciais Primeiro existência tem precedência sobre essência Exis tência significa emergir ou tornarse essência implica uma substância estática imutável Existência sugere processo essência se refere a produto A existência está associada a crescimento e a mudança essência significa estagnação e finalidade A civilização ocidental e em especial a ciência ocidental tradicionalmente valorizou a essência mais do que a existência Ela procurava compreender a composição essencial das coisas incluindo os humanos Em contraste os existencialistas afirmam que a essência das pessoas é sua força para continuamente se redefinirem pelas esco lhas que fazem Segundo o existencialismo se opõe à dissociação en tre sujeito e objeto De acordo com Kierkegaard as pessoas são mais do que meras engrenagens no maquinário de uma sociedade industrializada mas também são mais do que seres de pensamento subjetivo vivendo de forma passiva por meio de uma especulação de gabinete Em vez disso as pessoas são subjetivas e objetivas e precisam procurar a verdade tendo vidas ativas e autênticas Terceiro as pessoas buscam algum significado para suas vidas Elas fazem perguntas importantes embora nem sempre conscientemente referentes a seu ser quem sou eu A vida vale a pena ser vivida Ela tem um significa do Como posso realizar a minha humanidade Quarto os existencialistas sustentam que cada um de nós é responsável pelo que somos e pelo que nos tor namos Não podemos culpar nossos pais professores empregadores Deus ou as circunstâncias Como disse Sartre 1957 O homem não é nada mais além do que ele faz de si mesmo Este é o primeiro princípio do exis tencialismo p 15 Mesmo que possamos nos associar a outros em relações produtivas e sadias no final cada um de nós é sozinho Podemos escolher nos tornarmos o que podemos ser ou podemos escolher evitar o compro metimento e a escolha mas em última análise essa é a nossa escolha Quinto os existencialistas são basicamente antiteó ricos Para eles as teorias desumanizam mais as pessoas e as transformam em objetos Conforme mencionado no Ca pítulo 1 as teorias são construídas em parte para explicar os fenômenos Os existencialistas costumam se opor a essa abordagem A experiência autêntica precede as explicações artificiais Quando as experiências são moldadas em algum modelo teórico preexistente elas perdem sua autenticida de e se divorciam do indivíduo que as experimentou Conceitos básicos Antes de continuarmos com a visão de Rollo May sobre a humanidade fazemos uma pausa para examinar dois con ceitos básicos do existencialismo a saber sernomundo e nãoser Sernomundo Os existencialistas adotam uma abordagem fenomenoló gica para compreender a humanidade Para eles existimos em um mundo que pode ser mais bem entendido a partir de nossa própria perspectiva Quando os cientistas estu dam as pessoas a partir de uma estrutura de referência externa eles violam tanto os sujeitos quanto seu mundo existencial A unidade básica da pessoa e o ambiente são expressos na palavra alemã Dasein significando existir lá Portanto Dasein significa literalmente existir no mundo e é em geral escrita como sernomundo Os hifens nesse termo implicam uma unidade de sujeito e objeto de pessoa e mundo Muitas pessoas sofrem de ansiedade e desespero cau sados pela alienação de si mesmas e de seu mundo Elas não possuem uma imagem clara de si ou então sentemse isoladas de um mundo que parece distante e estranho Elas não têm um senso de Dasein não possuem uma unidade de self e mundo Conforme lutam para adquirir poder sobre a natureza elas perdem contato com sua relação com o mun do natural Quando passam a depender dos produtos da revolução industrial elas ficam mais alienadas das estrelas do solo e do mar A alienação do mundo também inclui se desligar do próprio corpo Lembrese de que Rollo May co meçou sua recuperação da tuberculose somente depois de se dar conta de que era ele quem tinha a doença Esse sentimento de isolamento e alienação do mundo é sofrido não só por indivíduos patologicamente perturba dos mas também pela maioria das pessoas nas sociedades modernas A alienação é a doença de nosso tempo e ela se manifesta em três áreas 1 separação da natureza 2 fal ta de relações interpessoais significativas e 3 alienação do self autêntico Assim as pessoas experimentam três modos simultâneos em seu sernomundo Umwelt ou o ambien te à nossa volta Mitwelt ou nossas relações com outras pessoas e Eigenwelt ou nossa relação com nosso self Umwelt é o mundo dos objetos e coisas e existiria mesmo que as pessoas não tivessem consciência Ele é o mundo da natureza e das leis naturais e inclui impulsos Feist11indd 217 Feist11indd 217 271014 1514 271014 1514 218 FEIST FEIST ROBERTS biológicos como fome e sono e fenômenos naturais como nascimento e morte Não podemos escapar do Umwelt precisamos aprender a viver no mundo à nossa volta e a nos ajustarmos às mudanças dentro desse mundo A teoria de Freud com sua ênfase na biologia e nos instintos lida principalmente com o Umwelt Mas não vivemos somente no Umwelt Também vi vemos no mundo com pessoas ou seja no Mitwelt Pre cisamos nos relacionar com as pessoas como pessoas não como coisas Se tratamos as pessoas como objetos então estamos vivendo unicamente no Umwelt A dife rença entre Umwelt e Mitwelt pode ser vista contrastan do sexo com amor Se uma pessoa usa outra como um instrumento para gratificação sexual então essa pessoa está vivendo em Umwelt pelo menos em sua relação com aquela pessoa Entretanto amor demanda um compro metimento com o outro Amor significa respeito pelo ser nomundo da outra pessoa uma aceitação incondicional daquela pessoa No entanto nem toda relação Mitwelt necessita de amor O critério essencial é que o Dasein da outra pessoa seja respeitado A teoria de Rogers com sua ênfase nas relações interpessoais lida principalmente com o Mitwelt Eigenwelt referese à relação da pessoa consigo mesma Esse é um mundo que não costuma ser explorado pelos teóricos da personalidade Viver em Eigenwelt significa es tar consciente de si mesmo como ser humano e compreen der quem somos quando nos relacionamos com o mundo das coisas e com o mundo das pessoas O que este pôr do sol significa para mim Como esta outra pessoa faz parte de minha vida Que características minhas permitem que eu ame esta pessoa Como percebo esta experiência As pessoas sadias vivem em Umwelt e Eigenwelt simul taneamente ver Fig 111 Elas se adaptam ao mundo na tural relacionamse com os outros como humanos e têm uma percepção clara do que todas essas experiências signi ficam para elas May 1958a Nãoser Sernomundo necessita de uma consciência de si como um ser com vida e emergente Tal consciência por sua vez leva ao medo de não ser isto é nãoser ou o nada May 1958a escreveu Para compreender o que significa existir a pessoa preci sa entender o fato de que ela pode não existir ela pisa a Eigenwelt Mitwelt Umwelt FIGURA 111 As pessoas sadias vivem simultaneamente em Umwelt Mitwelt e Eigenwelt Feist11indd 218 Feist11indd 218 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 219 cada momento na borda afiada da aniquilação e nunca pode escapar do fato de que a morte chegará em algum momento desconhecido no futuro p 4748 A morte não é o único caminho do nãoser mas é o mais óbvio A vida se torna mais vital mais significativa quando nos defrontamos com a possibilidade da morte Quase 40 anos antes de sua morte May 1958a falou da morte como o único fato em minha vida que não é relati vo mas absoluto e a minha consciência disso dá à minha existência e ao que faço a cada hora uma qualidade absolu ta p 49 Quando não nos defrontamos corajosamente com nosso nãoser ao contemplar a morte experimentamos o nãoser de outras formas incluindo a adição ao álcool ou a outras drogas atividade sexual promíscua e outros com portamentos compulsivos O nosso nãoser também pode ser expresso como conformidade cega às expectativas da sociedade ou como hostilidade generalizada que permeia nossas relações com os outros O medo da morte ou do nãoser com frequência faz com que vivamos de forma defensiva e recebamos menos vida do que se nos confrontássemos com a questão de nossa não existência Como May 1991 referiu Temos medo de não ser e assim atrofiamos nosso ser p 202 Fugimos de fazer escolhas ativas isto é fazemos escolhas sem considerarmos quem somos e o que desejamos Pode mos tentar evitar o medo de não ser obscurecendo nossa autoconsciência e negando nossa individualidade mas tais escolhas nos deixam com sentimentos de desesperança e vazio Assim escapamos do medo de não ser à custa de uma existência limitada Uma alternativa mais sadia é en frentar a inevitabilidade da morte e perceber que não ser é uma parte inseparável de ser O CASO DE PHILIP A psicologia existencial preocupase com a luta do indiví duo para elaborar as experiências da vida e crescer para se tornar um humano mais completo May 1981 descreveu essa luta em um relato sobre um de seus pacientes Phi lip o arquiteto da vinheta de abertura do capítulo Con tinuamos aqui com a história de Philip e vamos usar as experiências dele para ilustrar os conceitos de May de an siedade intencionalidade destino psicopatologia e psico terapia Quando Nicole disse a Philip que como ele bem sabia ela nunca poderia deixálo Philip ficou surpreso e confuso porque ele não sabia disso Cerca de um ano depois Philip fi cou sabendo que Nicole havia tido outro caso mas antes que pudesse confrontála e romper seu relacionamento ele teve que se ausentar por cinco dias em uma viagem a trabalho Quando retornou Philip conseguiu raciocinar que talvez ele conseguisse aceitar o direito de Nicole de dormir com outros homens Além disso Nicole o convenceu de que o outro ho mem nada significava para ela e que só amava Philip Um pouco depois Nicole teve um terceiro caso do qual ela fez questão que Philip soubesse Mais uma vez Philip se encheu de raiva e ciúmes Porém novamente Nicole reas segurou que o homem não significava nada para ela Em um nível Philip desejava aceitar o comportamento de Nicole mas em outro sentiase traído pelos casos dela No entanto ele não parecia capaz de deixála e procurar outra mulher para amar Ele ficava paralisado incapaz de mudar sua relação com Nicole mas também incapaz de rompêla Nessa altura de sua vida Philip procurou terapia com Rollo May ANSIEDADE Philip estava sofrendo de ansiedade neurótica Assim como outros que experimentam ansiedade neurótica ele se com portava de maneira improdutiva e autodestrutiva Mesmo estando profundamente magoado pelo comportamento imprevisível e louco de Nicole ele ficava paralisado e sem ação e não conseguia romper o relacionamento As ações de Nicole pareciam engendrar em Philip um sentimento de dever para com ela Como ela obviamente precisava dele ele se sentia obrigado a cuidar dela Antes de May publicar Significado de ansiedade em 1950 a maioria das teorias sustentava que altos níveis de ansiedade eram indicativos de neuroses ou outras formas de psicopatologia Um pouco antes da publicação do livro May tinha experimentado muita ansiedade enquanto se recuperava da tuberculose Ele sua primeira esposa e seu filho pequeno estavam quase sem um tostão e ele não ti nha certeza de sua recuperação Em Significado de ansieda de May alegava que muito do comportamento humano é motivado por um sentimento subjacente de medo e ansie dade Não confrontar a morte serve como um escape tem porário da ansiedade ou do medo de nãoser Mas o escape não pode ser permanente A morte é algo absoluto na vida que mais cedo ou mais tarde todos precisam enfrentar As pessoas experimentam ansiedade quando tomam consciência de que sua existência ou algum valor identifi cado com ela pode ser destruído May 1958a definiu an siedade como o estado subjetivo do indivíduo de tornarse consciente de que sua existência pode ser destruída que ele pode se tornar nada p 50 Em outro momento May 1967 chamou de ansiedade uma ameaça a algum valor importante A ansiedade então pode se originar de uma consciência de não ser ou de uma ameaça a algum valor essencial para a própria existência Ela existe quando o in divíduo se confronta com a questão de atingir as próprias potencialidades Tal confrontação pode levar à estagnação e à decadência mas também pode resultar em crescimento e mudança Feist11indd 219 Feist11indd 219 271014 1514 271014 1514 220 FEIST FEIST ROBERTS A aquisição de liberdade inevitavelmente leva a an siedade Liberdade não existe sem ansiedade nem ansie dade pode existir sem liberdade May 1981 p 185 citou Kierkegaard dizendo que ansiedade é a vertigem da liber dade A ansiedade assim como a vertigem pode ser praze rosa ou dolorosa construtiva ou destrutiva Ela pode dar às pessoas energia e entusiasmo mas também pode paralisá las e deixálas em pânico Além do mais a ansiedade pode ser normal ou neurótica Ansiedade normal Ninguém pode escapar dos efeitos da ansiedade Crescer e modificar os próprios valores significa experimentar ansie dade construtiva ou normal May 1967 definiu ansieda de normal como aquela que é proporcional à ameaça não envolve repressão e pode ser confrontada construtivamen te no nível consciente p 80 Conforme as pessoas crescem da infância até a velhi ce seus valores se modificam e a cada passo elas expe rimentam ansiedade normal Todo crescimento consiste da renúncia a valores passados que criam ansiedade May 1967 p 80 A ansiedade normal também é experimenta da durante aqueles momentos criativos em que um artis ta cientista ou filósofo de repente alcança um insight que leva ao reconhecimento de que a própria vida e talvez a vida de incontáveis outras pessoas será alterada para sem pre Por exemplo os cientistas que testemunharam os tes tes da primeira bomba atômica em Alamogordo Novo Mé xico experimentaram ansiedade normal com a percepção de que daquele momento em diante tudo havia mudado May 1981 Ansiedade neurótica A ansiedade normal o tipo experimentado durante perío dos de crescimento ou de ameaça aos próprios valores é vivenciada por todos Ela pode ser construtiva desde que permaneça proporcional à ameaça Mas a ansiedade pode se tornar neurótica ou doente May 1967 definiu ansie dade neurótica como uma reação que é desproporcional à ameaça envolve repressão e outras formas de conflito intrapsíquico e é manejada por vários tipos de bloqueio da atividade e da consciência p 80 Enquanto a ansiedade normal é sentida sempre que os valores são ameaçados a ansiedade neurótica é experimen tada quando os valores são transformados em dogma Estar absolutamente certo das próprias crenças proporciona se gurança temporária porém ela é uma segurança compra da ao preço da renúncia à oportunidade pessoal de novo aprendizado e novo crescimento May 1967 p 80 A ansiedade neurótica de Philip era evidente em seu apego a uma mulher imprevisível e louca um apego que começou no início da infância Durante os primeiros dois anos de vida o mundo de Philip foi habitado prin cipalmente por duas outras pessoas sua mãe e uma irmã dois anos mais velha Sua mãe era esquizofrênica border line cujo comportamento com Philip se alternava entre ternura e crueldade Sua irmã era de fato esquizofrênica e posteriormente passou algum tempo em um hospital para doentes mentais Portanto Philip aprendeu cedo que tinha que se apegar às mulheres mas também que tinha de sal válas A vida então para Philip compreensivelmente não seria livre mas iria demandar que ele estivesse de modo contínuo em guarda e de plantão May 1981 p 30 A ansiedade neurótica de Philip bloqueou qualquer forma nova e bemsucedida de comportamento em relação a Nicole Sua abordagem parecia uma recapitulação dos comportamentos da infância em relação à mãe e à irmã CULPA A ansiedade surge quando as pessoas se defrontam com o problema de atingir suas potencialidades A culpa ocorre quando as pessoas negam suas potencialidades não con seguem perceber com precisão as necessidades de seus semelhantes ou permanecem alheias a sua dependência do mundo natural May 1958a Assim como May usou o termo ansiedade para se referir a grandes questões que tratam de sernomundo ele também empregou o conceito de culpa Nesse sentido tanto ansiedade quanto culpa são ontológicas isto é elas se referem à natureza do ser e não a sentimentos decorrentes de situações ou transgressões específicas Ao todo May 1958a reconheceu três formas de culpa ontológica cada uma correspondendo a um dos três mo dos de sernomundo isto é Umwelt Mitwelt e Eigenwelt Para compreender a forma de culpa que corresponde a Umwelt é preciso considerar de que a culpa ontológica não precisa se originar das próprias ações ou de falhas em agir ela pode surgir de uma falta de consciência de serno mundo Conforme a civilização avança tecnologicamente as pessoas são cada vez mais removidas da natureza ou seja de Umwelt Essa alienação leva a uma forma de culpa ontológica que é especialmente prevalente em sociedades avançadas onde as pessoas vivem em lares aquecidos ou refrigerados usam meios motorizados de transporte e consomem alimentos colhidos e preparados por outros A dependência dos outros sem discernimento para essas e outras necessidades contribui para a primeira forma de culpa ontológica Como esse tipo de culpa é resultado de nossa separação da natureza May 1958a também se refe riu a ela como culpa de separação um conceito semelhante à noção de Fromm do dilema humano ver Cap 7 A segunda forma de culpa provém de nossa incapacidade de perceber com precisão o mundo dos outros Mitwelt Podemos ver as outras pessoas somente por meio de nossos próprios olhos e nunca podemos julgar perfeitamente suas Feist11indd 220 Feist11indd 220 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 221 necessidades Assim cometemos violência contra sua verda deira identidade Como não podemos prever infalivelmente as necessidades dos outros sentimos inadequação em nos sas relações com eles Isso então leva a uma condição ge neralizada de culpa a qual é experimentada por todos nós em algum grau May 1958a escreveu que esta não é uma questão de falha moral é um resultado inevitável do fato de que cada um de nós é uma individualidade separada e não tem outra escolha senão olhar para o mundo por meio dos nossos próprios olhos p 54 A terceira forma de culpa ontológica está associada à negação de nossas próprias potencialidades ou à nossa fa lha em realizálas Em outras palavras essa culpa está ba seada em nossa relação com o self Eigenwelt Mais uma vez essa forma de culpa é universal porque nenhum de nós pode realizar completamente todos os nossos poten ciais Esse terceiro tipo de culpa é reminiscente do conceito de Maslow do complexo de Jonas ou o medo de ser ou fazer o melhor de si ver Cap 9 Assim como a ansiedade a culpa ontológica pode ter um efeito positivo ou negativo na personalidade Podemos usar essa culpa para desenvolver um sentimento sadio de humildade melhorar nossas relações com os outros e usar nossas potencialidades com criatividade No entanto quan do nos recusamos a aceitar a culpa ontológica ela se tor na neurótica ou mórbida A culpa neurótica assim como a ansiedade neurótica conduz a sintomas não produtivos ou neuróticos tais como impotência sexual depressão cruel dade com os outros ou incapacidade de fazer uma escolha INTENCIONALIDADE A capacidade de fazer uma escolha implica alguma estru tura subjacente sobre a qual tal escolha é feita A estrutura que dá significado à experiência e permite que as pessoas tomem decisões sobre o futuro é chamada de intenciona lidade May 1969b Sem intencionalidade as pessoas não poderiam escolher nem agir sobre sua escolha Ação impli ca intencionalidade assim como intencionalidade implica ação as duas são inseparáveis May usou o termo intencionalidade para preencher a lacuna entre sujeito e objeto Tratase da estrutura de sig nificado que torna possível para nós sujeitos que somos vermos e compreendermos o mundo externo que é objeti vo Na intencionalidade a dicotomia entre sujeito e objeto é parcialmente superada May 1969b p 225 Para ilustrar como a intencionalidade preenche par cialmente a lacuna entre sujeito e objeto May 1969b usou um exemplo simples de um homem o sujeito sen tado em sua escrivaninha observando uma folha de papel o objeto O homem pode escrever no papel dobrálo e fa zer um avião para seu neto ou fazer um desenho nele Em todos os três casos sujeito homem e objeto papel são idênticos porém as ações do homem dependem de suas intenções e do significado que dá a sua experiência Esse significado é uma função dele mesmo sujeito e de seu am biente objeto A intencionalidade é por vezes inconsciente Por exemplo quando Philip sentiu o dever de cuidar de Nicole apesar de seu comportamento imprevisível e louco ele não viu que suas ações estavam de alguma forma conecta das a suas experiências precoces com a mãe imprevisível e a irmã louca Ele estava preso à crença inconsciente de que as mulheres imprevisíveis e loucas precisam ser cuidadas e essa intencionalidade tornou impossível para ele desco brir novas formas de se relacionar com Nicole CUIDADO AMOR E VONTADE Philip tinha uma história de cuidado com os outros espe cialmente mulheres Ele havia dado a Nicole um emprego em sua empresa que permitia que ela trabalhasse em casa e ganhasse dinheiro suficiente para viver Além disso depois que ela terminou seu caso com Craig e desistiu do plano louco de se mudar para o outro lado do país Philip lhe deu vários milhares de dólares Ele anteriormente tinha sentido um dever de cuidar das suas duas esposas e antes disso de sua mãe e sua irmã Apesar do padrão de Philip de cuidar das mulheres ele nunca de fato aprendeu a se preocupar com elas Preocuparse com alguém significa reconhecer aquela pessoa como um ser humano semelhante identificarse com a dor ou a alegria a culpa ou a lástima dessa pessoa O cuidado é um processo ativo o oposto da apatia Cui dado é um estado em que algo realmente importa May 1969b p 289 Cuidado não é o mesmo que amor mas é a origem do amor Amar significa cuidar reconhecer a humanidade es sencial da outra pessoa ter uma consideração ativa pelo desenvolvimento dessa pessoa May 1953 definiu amor como um prazer na presença da outra pessoa e uma afir mação do valor e do desenvolvimento dessa pessoa tanto quanto em relação a si mesmo p 206 Sem cuidado não pode haver amor somente sentimentalismo vazio ou ex citação sexual transitória O cuidado também é a origem da vontade May 1969b chamou de vontade a capacidade de organizar o próprio self de forma que possa acontecer um movimento em uma certa direção ou em direção a deter minado objetivo p 218 Ele distinguiu vontade e desejo afirmando que Vontade requer autoconsciência desejo não Von tade implica alguma possibilidade de escolha desejo não O desejo empresta o calor o contentamento a imaginação a brincadeira de criança o frescor e a rique za para a vontade A vontade dá a autodireção e a Feist11indd 221 Feist11indd 221 271014 1514 271014 1514 222 FEIST FEIST ROBERTS maturidade ao desejo A vontade protege o desejo permite que ele continue sem correr riscos muito gran des p 218 União entre amor e vontade A sociedade moderna alegava May 1969b está sofren do de uma divisão pouco saudável entre amor e vontade O amor passou a ser associado a amor sensual ou sexo enquanto a vontade passou a significar uma determina ção persistente ou força de vontade Nenhum dos dois conceitos captura o verdadeiro significado desses termos Quando o amor é visto como sexo ele se torna temporário e sem comprometimento não existe vontade mas desejo Quando a vontade é vista como força de vontade ela se torna egoísta e carecendo de paixão não existe cuidado mas apenas manipulação Há razões biológicas para que amor e vontade sejam separados Quando as crianças ingressam no mundo elas estão em unidade com o universo Umwelt com a mãe Mitwelt e com elas mesmas Eigenwelt Nossas necessi dades são satisfeitas sem esforço consciente de nossa parte como biologicamente na condição inicial de lactante Essa é a primeira liberdade o primeiro sim May 1969b p 284 Depois quando a vontade começa a se desenvolver ela se manifesta como oposição o primeiro não A exis tência feliz do início da infância tem agora a oposição da vontade emergente na infância posterior O não não deve ser visto como uma declaração contra os pais mas como uma asserção positiva do self Infelizmente os pais com frequência interpretam o não de modo negativo e por tanto abafam a autoafirmação do filho Em consequência as crianças aprendem a dissociar a vontade do amor feliz que desfrutaram anteriormente Nossa tarefa disse May 1969b 1990b é unir amor e vontade Essa tarefa não é fácil mas é possível Nem o amor feliz nem a vontade egoísta terá um papel na união entre amor e vontade Para a pessoa madura tanto amor quanto vontade significam uma aproximação de outro in divíduo Ambos envolvem cuidado necessitam de escolha implicam ação e requerem responsabilidade Formas de amor May 1969b identificou quatro tipos de amor na tradição ocidental sexo eros filia e ágape Sexo Sexo é uma função biológica que pode ser satisfeita pela relação sexual ou por alguma outra liberação da tensão sexual Mesmo tendo sido banalizado nas sociedades oci dentais modernas ele ainda permanece sendo a força da procriação o impulso que perpetua a raça a fonte imediata do prazer mais intenso do ser humano e de sua ansiedade mais generalizada May 1969b p 38 May acreditava que nos tempos antigos o sexo era tomado como normal assim como comer e dormir Nos tempos modernos tornouse um problema Primeiro durante o período vitoriano as sociedades ocidentais ge ralmente negavam os sentimentos sexuais e sexo não era um tema para conversas em companhia educada Então durante a década de 1920 as pessoas reagiram contra essa supressão sexual e o sexo repentinamente tornouse claro e boa parte da sociedade ocidental estava preocupada com ele May 1969b assinalou que a sociedade passou de um período em que fazer sexo era carregado de culpa e ansie dade para uma época em que não fazer sexo causava culpa e ansiedade Eros Nos Estados Unidos sexo costuma ser confundido com eros Sexo é uma necessidade fisiológica que busca gra tificação pela liberação da tensão Eros é um desejo psi cológico que busca a procriação ou a criação por meio de uma união duradoura com uma pessoa amada Eros é fazer amor sexo é manipular os órgãos Eros é o desejo de estabelecer uma união duradoura sexo é o desejo de experimentar prazer Eros ganha asas com a imaginação humana e sempre transcende todas as técnicas rindo de todos os livros de como fazer colocandose alegremen te em órbita acima de nossas regras mecânicas May 1969b p 74 Eros é fundamentado em cuidado e ternura Almeja es tabelecer uma união duradoura com outra pessoa de for ma que ambos os parceiros experimentem prazer e paixão e sejam ampliados e aprofundados pela experiência Como a espécie humana não poderia sobreviver sem o desejo por uma união duradoura eros pode ser considerado como a salvação do sexo Filia Eros a salvação do sexo é construído sobre as funda ções da filia ou seja uma amizade íntima não sexual en tre duas pessoas A filia não pode ser apressada ela leva tempo para crescer desenvolverse fincar suas raízes Um exemplo de filia pode ser o desenvolvimento lento do amor entre irmãos ou entre amigos de toda uma vida Filia não requer que façamos qualquer coisa pela pessoa amada exceto aceitála estar com ela e gostar dela Ela é amizade nos termos mais simples e mais diretos May 1969a p 31 Harry Stack Sullivan deu grande importância à pré adolescência época do desenvolvimento caracterizada pela necessidade de alguém próximo alguém que é mais ou menos como a própria pessoa De acordo com Sulli van a proximidade ou filia é um requisito necessário para as relações eróticas sadias durante a adolescência inicial e tardia May que foi influenciado por Sullivan no William Feist11indd 222 Feist11indd 222 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 223 Alanson White Institute concordava que a filia torna eros possível O desenvolvimento gradual e relaxado da amiza de verdadeira é um prérequisito para a união duradoura de duas pessoas Ágape Assim como eros depende da filia esta depende do ága pe May 1969b definiu ágape como estima pelo outro preocupação com o bemestar do outro acima de qualquer ganho que se possa obter com isso amor desinteressado geralmente o amor de Deus pelo homem p 319 Ágape é amor altruísta É um tipo de amor espiritual que traz consigo o risco de brincar de Deus Ele não depende de qualquer comportamento ou característica da outra pessoa Nesse sentido ele é imerecido e incondicional Em suma as relações adultas sadias misturam todas as quatro formas de amor Elas estão baseadas na satisfação sexual no desejo por uma união duradoura na amizade ge nuína e na preocupação altruísta pelo bemestar da outra pessoa Esse amor autêntico infelizmente é muito difícil Ele exige autoafirmação e a asserção de si mesmo Ao mes mo tempo ele requer ternura afirmação do outro relaxa mento da competição tanto quanto possível por vezes au toabnegação nos interesses da pessoa amada e as virtudes antigas de misericórdia e perdão May 1981 p 147 LIBERDADE E DESTINO Uma combinação das quatro formas de amor requer auto asserção e afirmação da outra pessoa Também exige as serção da própria liberdade e confrontação com o próprio destino Os indivíduos sadios são capazes de assumir sua liberdade e de enfrentar seu destino Definição de liberdade Em uma definição inicial May 1967 afirmou que liber dade é a capacidade do indivíduo de saber que ele é determi nado p 175 A palavra determinado nessa definição é sinônimo do que May 1981 definiria mais tarde de des tino A liberdade então provém da compreensão de nosso destino uma compreensão de que a morte é uma possi bilidade a qualquer momento de que somos homens ou mulheres de que temos fraquezas inerentes e de que as experiências do início da infância nos predispõem a certos padrões de comportamento Liberdade é a possibilidade de mudar embora possamos não saber que mudanças são essas Liberdade envolve ser capaz de ter diferentes possibilidades na mente mesmo que não esteja claro no momento de que forma se deve agir May 1981 p 1011 Essa condição leva com frequência a um aumento na ansiedade porém é uma ansiedade normal do tipo que as pessoas sadias acolhem bem e são capazes de manejar Formas de liberdade May 1981 reconheceu duas formas de liberdade a liber dade de fazer e a liberdade de ser A primeira é denominada liberdade existencial a última liberdade essencial Liberdade existencial A liberdade existencial não deve ser identificada com a filosofia existencial Ela é a liberdade de ação a liberdade de fazer A maioria dos adultos de classe média desfruta em grande medida da liberdade existencial Eles são livres para viajar por vários estados para escolher seus associa dos para votar em seus representantes no governo e as sim por diante Em uma escala mais trivial eles são livres para empurrar seus carrinhos pelo supermercado e esco lher entre os milhares de itens Liberdade existencial en tão é a liberdade de agir sobre as escolhas que se faz Liberdade essencial A liberdade para agir para se movimentar não assegura a liberdade essencial isto é a liberdade de ser De fato a liberdade existencial com frequência torna a liberdade es sencial mais difícil Por exemplo os prisioneiros e internos em campos de concentração frequentemente falam com en tusiasmo de sua liberdade interior apesar de experimen tarem liberdade existencial muito limitada Assim o confi namento físico ou a negação da liberdade parece possibilitar que as pessoas se defrontem com seu destino e obtenham sua liberdade de ser Em 1981 May 1981 p 60 pergun tou Obtemos nossa liberdade essencial somente quando nossa existência cotidiana é interrompida A resposta do próprio May é não Não é preciso ser aprisionado para al cançar a liberdade essencial isto é a liberdade de ser O pró prio destino é nossa prisão nosso campo de concentração que nos permite ser menos preocupados com a liberdade de fazer e mais preocupados com a liberdade essencial Não seria o enfrentamento de nosso destino o qual é o propósito de nossa vida que nos restringe com o confinamento a sobriedade e mesmo com frequência com a crueldade que nos força a olhar para além dos li mites das ações do dia a dia Não seria o fato inevitável da morte o campo de concentração de todos nós Não seria o fato de que a vida é uma alegria e ao mes mo tempo um fardo suficiente para nos impelir para a consideração do aspecto mais profundo de ser May 1981 p 61 O que é destino May 1981 definiu destino como o projeto do universo fa lando por meio do projeto de cada um de nós p 90 Nosso destino final é a morte porém em escala menor ele inclui outras propriedades biológicas como inteligência gênero tamanho força e predisposição genética para certas doen Feist11indd 223 Feist11indd 223 271014 1514 271014 1514 224 FEIST FEIST ROBERTS ças Além disso fatores psicológicos e culturais também contribuem para nosso destino Destino não significa algo predeterminado ou predes tinado Ele é nossa destinação nosso ponto terminal nos so objetivo Dentro das fronteiras de nosso destino temos poder para escolher e esse poder nos possibilita confron tar e desafiar nosso destino No entanto ele não permite qualquer coisa que desejemos Não podemos ter sucesso em qualquer trabalho superar qualquer doença desfrutar de uma relação gratificante com qualquer pessoa Não po demos apagar nosso destino mas podemos escolher como iremos responder como iremos viver talentos que nos con frontam May 1981 p 89 May sugeriu que liberdade e destino assim como amoródio ou vidamorte não são antitéticos mas um pa radoxo normal da vida O paradoxo é que a liberdade deve sua vitalidade ao destino e o destino deve sua significância à liberdade May 1981 p 17 Liberdade e destino estão assim inexoravelmente interligados um não pode existir sem o outro Liberdade sem destino é licença indisciplina da Ironicamente a licença leva à anarquia e à destruição final da liberdade Sem destino então não temos liberda de mas sem liberdade nosso destino não tem significado Liberdade e destino dão origem um ao outro Quan do desafiamos nosso destino ganhamos liberdade quan do atingimos a liberdade avançamos nas fronteiras do destino O destino de Philip Quando Philip o arquiteto imobilizado por sua relação com Nicole encontrou Rollo May pela primeira vez como seu terapeuta ele estava paralisado e sem ação porque havia se recusado a aceitar seu destino Ele não via cone xão entre seu padrão adulto de relacionamento com as mulheres e sua estratégia de infância para progredir em um mundo imprevisível e louco Seu destino no entan to não estava fixado por aquelas experiências precoces Philip assim como outras pessoas tinha a liberdade de mudar seu destino mas primeiro precisava reconhecer suas limitações biológicas sociais e psicológicas então ele tinha que ter a coragem para fazer escolhas dentro dessas limitações Philip não possuía a compreensão e a coragem para confrontar seu destino Até o ponto em que procurou tera pia ele havia tentado compensar seu destino negálo cons cientemente Ele vinha procurando alguém que compen sasse o fato de ele ter nascido em um mundo avassalador no qual havia uma mãe perturbada e uma irmã esquizofrê nica um destino que ele de forma alguma escolheu May 1981 p 88 A negação de Philip em relação a seu destino o deixou ressentido e confuso Sua incapacidade ou indispo nibilidade para enfrentar o destino rouboulhe a liberdade pessoal e manteveo amarrado à mãe Philip tratava suas esposas e Nicole da mesma ma neira que antes havia tratado com sucesso sua mãe e sua irmã Ele não podia expressar sua raiva para as mulheres em vez disso adotou uma atitude cativante embora um tanto possessiva e protetora em relação a elas May 1981 insistia que a liberdade de cada um de nós está em pro porção com o grau com que nos confrontamos e vivemos em relação a nosso destino p 89 Depois de várias sema nas de psicoterapia Philip conseguiu parar de acusar sua mãe por não fazer o que ele achava que ela deveria ter feito Quando começou a ver as coisas positivas que ela fizera por ele mudou sua atitude em relação a ela Os fatos objetivos de sua infância não haviam mudado mas suas percepções subjetivas sim Quando Philip aceitou seu destino tornou se capaz de expressar sua raiva sentiuse menos preso em seu relacionamento com Nicole e ficou mais consciente de suas possibilidades Em outras palavras ele ganhou sua li berdade de ser O PODER DO MITO Por muitos anos May se preocupou com os efeitos pode rosos dos mitos sobre os indivíduos e as culturas uma preocupação que culminou em seu livro A procura do mito 1991 May defendia que as pessoas da civilização oci dental têm uma necessidade urgente de mitos Não tendo mitos em que acreditar elas se voltaram para cultos religio sos para adição a drogas e para a cultura popular em um esforço em vão para encontrar significado em suas vidas Os mitos não são falsidades ao contrário eles são siste mas de crenças conscientes e inconscientes que fornecem explicações para problemas pessoais e sociais May 1991 comparou os mitos aos pilares de uma casa não visíveis de fora mas mantêm a casa íntegra e a tornam habitável Desde o início dos tempos e em diferentes civilizações as pessoas encontraram significado em suas vidas por meio de mitos que compartilham com os outros em sua cultura Mitos são as histórias que unificam uma sociedade eles são essenciais para o processo de manter nossas almas vi vas e nos trazem um novo significado em um mundo difícil e frequentemente sem sentido May 1991 p 20 May acreditava que as pessoas se comunicam entre si em dois níveis O primeiro é a linguagem racional e nesse nível a verdade precede as pessoas que estão se comuni cando O segundo é por meio dos mitos e nesse nível a experiência humana total é mais importante do que a pre cisão empírica da comunicação As pessoas usam mitos e símbolos para transcender a situação concreta imediata para expandir a autoconsciência e para procurar identidade Para May 1990a 1991 a história de Édipo é um mito poderoso em nossa cultura porque ele contém elementos de crises existenciais comuns a todos Tais crises incluem 1 nascimento 2 separação ou exílio dos pais e de casa Feist11indd 224 Feist11indd 224 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 225 3 união sexual com um dos pais e hostilidade em relação ao outro 4 asserção da independência e busca pela iden tidade e 5 morte O mito de Édipo tem significado para as pessoas porque ele trata de cada uma dessas cinco crises Como Édipo as pessoas são afastadas da mãe e do pai e im pulsionadas pela necessidade de autoconhecimento A luta pela identidade no entanto não é fácil e pode até mesmo resultar em tragédia como aconteceu com Édipo quando ele insistiu em conhecer a verdade sobre suas origens De pois de saber que havia matado seu pai e casado com sua mãe Édipo arrancou os próprios olhos privandose da ca pacidade de ver ou seja de ter consciência Porém a narração de Édipo não termina com a negação da consciência Nesse ponto na trilogia de Sófocles Édipo é mais uma vez exilado uma experiência que May viu como simbólica do próprio isolamento e ostracismo das pessoas Quando velho Édipo é visto contemplando seu trágico so frimento e aceitando a responsabilidade por matar seu pai e casar com sua mãe Suas meditações durante a velhice lhe trazem paz compreensão e capacidade de aceitar a morte com honra Os temas centrais da vida de Édipo nasci mento exílio e separação identidade incesto e parricídio repressão da culpa e finalmente meditação consciente e morte tocam a todos e fazem desse mito uma força de cura poderosa na vida das pessoas O conceito de May sobre mitos é comparável à ideia de Carl Jung de um inconsciente coletivo em que os mi tos são padrões arquetípicos na experiência humana eles são caminhos para imagens universais que vão além da experiência individual ver Cap 4 E como os arquéti pos os mitos podem contribuir para o crescimento psi cológico se as pessoas os adotarem e permitirem que eles revelem uma nova realidade Tragicamente muitas pessoas negam seus mitos universais e assim arriscam a alienação a apatia e o vazio os ingredientes principais da psicopatologia PSICOPATOLOGIA De acordo com May a apatia e o vazio não a ansiedade e a culpa são o malestar dos tempos modernos Quando as pessoas negam o destino ou abandonam os mitos elas perdem seu propósito de ser elas ficam sem direção Sem um objetivo ou destino as pessoas adoecem e se engajam em uma variedade de comportamentos contraproducentes e autodestrutivos Muitas pessoas nas sociedades ocidentais moder nas se sentem alienadas do mundo Umwelt dos outros Mitwelt e especialmente de si mesmas Eigenwelt Elas se sentem impotentes para impedir desastres naturais reverter a industrialização ou fazer contato com outro ser humano Elas se sentem insignificantes em um mundo que cada vez mais desumaniza o indivíduo Tal sentimento de insignificância leva à apatia e a um estado de consciência diminuída May 1967 May via a psicopatologia como uma falta de comuni cação a incapacidade de conhecer os outros e partilhar a si mesmo com eles Os indivíduos perturbados psicologica mente negam o destino e assim perdem a liberdade Eles desencadeiam uma variedade de sintomas neuróticos não para recuperar sua liberdade mas para renunciar a ela Os sintomas imitam o mundo fenomenológico da pessoa até a dimensão que torna o enfrentamento mais fácil A pessoa compulsiva adota uma rotina rígida tornando assim as novas escolhas desnecessárias Os sintomas podem ser temporários como quando o estresse produz dor de cabeça ou podem ser relativamen te permanentes como quando as experiências precoces da infância produzem apatia e vazio A psicopatologia de Phi lip estava vinculada a seu ambiente precoce com uma mãe perturbada e uma irmã esquizofrênica Essas experiências não causaram sua patologia no sentido de que elas por si só tenham produzido a doença No entanto prepararam Philip para aprender a se ajustar a seu mundo por meio da supressão de sua raiva desenvolvendo um sentimento de apatia e tentando ser um bom menino Os sintomas neuróticos portanto não representam uma falha de adap tação mas um ajuste apropriado e necessário pelo qual o próprio Dasein pode ser preservado O comportamento de Philip em relação a suas duas esposas e a Nicole representa uma negação de sua liberdade e uma tentativa autodestru tiva de escapar de seu destino PSICOTERAPIA Ao contrário de Freud Adler Rogers e outros teóricos da personalidade clinicamente orientados May não fundou uma escola de psicoterapia com seguidores ávidos e técni cas identificáveis No entanto escreveu bastante sobre o assunto rejeitando a ideia de que a psicoterapia deve redu O mito de Édipo ainda hoje tem significado para as pessoas porque ele trata das crises existenciais comuns a todos Feist11indd 225 Feist11indd 225 271014 1514 271014 1514 226 FEIST FEIST ROBERTS zir a ansiedade e atenuar os sentimentos de culpa Em vez disso sugeriu que a psicoterapia deveria tornar as pessoas mais humanas isto é ajudálas a expandirem sua cons ciência de modo que fiquem em melhor posição para fazer escolhas M H Hall 1967 Essas escolhas então condu zem ao crescimento simultâneo da liberdade e da respon sabilidade May acreditava que o propósito da psicoterapia é li bertar as pessoas Ele argumentava que os terapeutas que se concentram nos sintomas de um paciente estão igno rando o quadro mais importante Os sintomas neuróticos são simplesmente formas de fugir da liberdade e uma indi cação de que as possibilidades internas dos pacientes não estão sendo usadas Quando os pacientes se tornam mais livres mais humanos seus sintomas neuróticos tendem a desaparecer sua ansiedade neurótica dá lugar à ansiedade normal e sua culpa neurótica é substituída pela culpa nor mal Contudo esses ganhos são secundários e não o pro pósito da terapia May insistia em que a psicoterapia deve se preocupar em ajudar as pessoas a experimentarem sua existência e que o alívio dos sintomas é meramente um subproduto dessa experiência Como um terapeuta ajuda os pacientes a se tornarem seres humanos livres e responsáveis May não ofereceu muitas indicações científicas para os terapeutas seguirem Os terapeutas existenciais não possuem um conjunto de técnicas ou métodos especiais que podem ser aplicados a todos os pacientes Em vez disso eles têm somente a si mesmos a própria humanidade a oferecer Eles devem es tabelecer uma relação um a um Mitwelt que capacite os pacientes a terem mais consciência de si e a viverem mais integralmente no próprio mundo Eigenwelt Tal aborda gem pode significar desafiar os pacientes a confrontarem seu destino a experimentarem desespero ansiedade e cul pa Mas também significa estabelecer um encontro eutu em que tanto terapeuta quanto paciente são vistos como sujeitos em vez de objetos Na relação eutu o terapeuta tem empatia pela experiência do paciente e está aberto ao mundo subjetivo deste May 1991 também descreveu a terapia como parte religião parte ciência e parte amizade Amizade no en tanto não é uma relação social comum ela requer que o terapeuta seja confrontador e desafie o paciente May acre ditava que o próprio relacionamento é terapêutico e seus efeitos transformadores são independentes de qualquer coisa que os terapeutas possam dizer ou de qualquer orien tação teórica que possam ter Nossa tarefa é sermos guia amigo e intérprete para as pes soas em suas jornada ao longo de seus infernos e purgatórios privados De forma mais específica nossa tarefa é aju dar os pacientes a chegarem ao ponto em que possam decidir se desejam permanecer vítimas ou se esco lhem abandonar esse estado de vítima e se aventurar pelo purgatório com a esperança de alcançar o paraíso Nossos pacientes com frequência próximos ao final ficam compreensivelmente amedrontados diante da possibilidade de decidirem de modo livre por si mesmos se aproveitam a oportunidade concluindo a busca que iniciaram bravamente May 1991 p 165 Filosoficamente May sustentava muitas crenças de Carl Rogers ver Cap 10 Básica para ambas as abordagens é a noção de terapia como um encontro humano ou seja uma relação eutu com o potencial de facilitar o crescimen to do terapeuta e do paciente Na prática contudo May era muito mais propenso a fazer perguntas a examinar a pri meira infância do paciente e a sugerir possíveis significados do comportamento atual Por exemplo ele explicou a Philip que seu relaciona mento com Nicole era uma tentativa de se manter apega do à mãe Rogers teria rejeitado essa técnica porque ela emanava de uma estrutura de referência externa i e do terapeuta May contudo acreditava que esses tipos de interpretações podiam ser meios efetivos de confrontar os pacientes com informações que eles escondiam de si mesmos Outra técnica que May usou com Philip foi a suges tão de que mantivesse uma conversa imaginária com a mãe morta Nessa conversa Philip falou por ele e por sua mãe Quando conversava com a mãe ele conseguiu pela primeira vez empatizar com ela ver a si próprio a partir do ponto de vista da mãe Falando por sua mãe disse que ela tinha muito orgulho dele e que ele sempre havia sido o filho favorito Então falando por ele mesmo disse à mãe que apreciava sua coragem e lembrouse de um incidente em que a coragem dela salvou a visão dele Quando Phi lip terminou a conversa em fantasia disse Nunca em mil anos teria imaginado que o resultado seria este May 1981 p 39 May também pediu que Philip trouxesse uma foto dele de quando era pequeno Philip então teve uma conversa em fantasia com o Pequeno Philip Conforme a conversa prosseguia o Pequeno Philip explicou que ele havia triun fado sobre o problema que mais tinha perturbado o Philip crescido ou seja o medo do abandono O Pequeno Philip tornouse um companheiro cordial de Philip e o ajudou a superar sua solidão e a acalmar seu ciúme de Nicole No final da terapia Philip não se transformou em uma nova pessoa mas se tornou mais consciente de uma parte de si que estava lá o tempo todo A consciência de novas possibilidades permitiu a Philip avançar na direção da li berdade pessoal Para Philip o fim da terapia era o come ço da união de si mesmo com aquele self precoce que ele havia trancado em um calabouço para sobreviver quando a vida não era feliz mas ameaçadora May 1981 p 41 Feist11indd 226 Feist11indd 226 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 227 PESQUISA RELACIONADA A teoria existencial de Rollo May tem sido moderadamen te influente como um método de psicoterapia mas não estimulou quase nenhuma pesquisa empírica direta Essa situação está sem dúvida relacionada à postura crítica que May adotou em relação à medição objetiva e quantitativa Qualquer teoria que enfatize a conexão entre sujeito e ob jeto e a singularidade de cada indivíduo não é favorável a uma pesquisa de grande amostra com design experimental ou de questionário De fato May argumentou que a ciência moderna é racionalista em excesso objetiva em demasia e que é necessária uma nova ciência para compreender a pessoa viva total Um tópico existencial a receber atenção empírica foi a ansiedade existencial May 1967 definiu ansiedade como a apreensão desencadeada por uma ameaça a algum valor que o indivíduo mantenha como essencial para sua exis tência como um self p 72 Quando eventos ameaçam nossa existência física ou psicológica experimentamos an siedade existencial e a mais forte entre as ameaças a nos sa existência é a morte Na verdade May e Yalom 1989 argumentaram que uma tarefa importante no desenvol vimento é lidar com o terror da eliminação p 367 Em certo sentido a vida é o processo de enfrentamento e con frontação com a morte Uma abordagem existencial para o estudo do terror e da morte foi realizada no manejo do terror um ramo experi mental moderno da psicologia existencial Uma ligação con ceitual entre a psicologia existencial e a Teoria do Manejo do Terror TMT foi apresentada pelo psiquiatra norteameri cano Ernest Becker inspirado por Kierkegaard e Otto Rank Um argumento básico desses existencialistas e de escrito res como Camus e Sartre é que os humanos são antes de tudo motivados pelo medo da morte Além do mais muitos desses pensadores veem a criatividade humana a cultura e o significado como defesas inconscientes contra a mortalida de O trabalho de Becker em particular foi uma importante fonte de inspiração para os teóricos do manejo do terror Evidência da mortalidade e negação de nossa natureza animal A TMT assumiu tal pressuposto básico e o testou por meio dos mais inteligentes e bemprojetados estudos experi mentais da psicologia social e da personalidade realizados recentemente Ainda que os humanos façam parte do reino animal e portanto sejam mortais eles são únicos na compreen são do mundo e únicos na percepção de sua singularida de Os humanos há muito tempo acreditam ser mais do que apenas corpos eles têm uma alma um espírito uma mente Ao longo dos séculos os humanos aprenderam a repudiar seus selves corporais Por exemplo as funções corporais continuam entre os maiores tabus e as mais pesadas sanções das normas sociais Ser aculturado é estar no controle completo da natureza biológica de ser humano De acordo com os teóricos do manejo do ter ror o ponto crucial da negação de nossa natureza cor poral e animal provém do medo existencial da morte e da decadência do corpo Conforme exposto por Sheldon Solomon e colaboradores os humanos não poderiam funcionar com equanimidade se acreditassem que não eram inerentemente mais significantes do que os ma cacos os lagartos e os feijões Solomon Greenberg Pyszczynski 1991 p 91 Jamie Goldenberg e colaboradores realizaram um estudo para investigar até onde a evidência da mortalida de levaria a uma maior negação da natureza animal pelos humanos De forma mais específica seu raciocínio foi As culturas promovem normas para ajudar os homens a se diferenciar dos animais Essa distinção dá origem à importante função psicológica de proteger contra as preo cupações enraizadas acerca da mortalidade Goldenberg Pyszczynski Greenberg Solomon Kluck Cornwell 2001 p 427 Cultura sob tal perspectiva é o mecanis mo pelo qual a consciência da morte é regulada Ou seja as visões de mundo culturais religião política e normas sociais e a autoestima funcionam para defender contra pensamentos mórbidos de modo que quando a morte se torna evidente por meio de desastres falecimento de uma pessoa amada ou imagem de morte as pessoas respondem se apegando mais às visões de mundo culturais e reforçan do sua autoestima Elas fazem isso por exemplo tornan dose mais patrióticas apegandose mais firmemente a seu grupo ou querendo punir de modo mais duro aqueles que violam as normas culturais e as leis Além disso na emoção de repulsa percebemos mais claramente as defesas cultu rais contra nossa natureza animal Tudo o que nos faz lem brar nossa natureza animal e em última instância a morte é respondido com um forte sentimento de repulsa Goldenberg e colaboradores 2001 estavam interessa dos no efeito oposto o aumento da consciência da morte aumenta a reação de repulsa Além disso eles se pergun tavam se o efeito aumentaria após uma demora ou uma distração porque os pensamentos de morte seriam menos conscientes Para testar a previsão de que a consciência da morte aumentaria os sentimentos de repulsa e de que o efeito aumentaria conforme se tornasse menos conscien te eles manipularam a evidência da morte em universitá rios 60 do sexo feminino A variável em avaliação era o quanto de repulsa os participantes expressavam em um questionário As variáveis independentes eram se a pró pria mortalidade se tornava evidente ou não e se havia um Feist11indd 227 Feist11indd 227 271014 1514 271014 1514 228 FEIST FEIST ROBERTS atraso na medida da repulsa ou não A repulsa foi medida pela Escala de Sensibilidade à Repulsa Disgust Sensitivity Scale sem sua subescala de morte Haidt McCauley Rozin 1994 As respostas foram organizadas em uma es cala Likert de 9 pontos e exemplos de itens incluíam afir mações como Você vê larvas em um pedaço de carne em um balde de lixo na rua Se vejo alguém vomitar isso me deixa com o estômago nauseado e Isso me incomodaria Os pensamentos de morte se tornaram evidentes quando foi solicitado aos participantes que escrevessem o que eles achavam que aconteceria a eles quando morressem fisica mente A condição neutra não evidente simplesmente fez os participantes escreverem o que eles sentiam assistindo à TV A demora foi manipulada com a inclusão de um jogo de palavras que levou cinco minutos para ser completado por metade dos participantes Na condição de demora os par ticipantes escreveram pensamentos sobre morte ou TV concluíram o jogo de palavras e então completaram a me dida de repulsa Na condição imediata o jogo de palavras precedeu a escrita acerca da tarefa de morte Os resultados da manipulação corroboraram a hipóte se As reações de repulsa foras maiores depois que a morte foi tornada evidente e ainda mais quando houve um in tervalo de tempo entre a evidência da mortalidade e as avaliações de repulsa Os participantes na condição neutra TV e de demora mostraram o mesmo nível de repulsa que os participantes na condição imediata e de evidência de morte Goldenberg e colaboradores interpretaram es ses resultados como apoio para o pressuposto básico do manejo do terror de que as pessoas se distanciam dos ani mais porque os animais as fazem lembrarse do corpo fí sico e da morte As pesquisas baseadas na TMT e na sensibilidade à repulsa se desenvolveram em um corpus de trabalho im pressionante que aponta para a conclusão geral de que a repulsa humana particularmente a repulsa relacionada às características humanas que nos lembram nossa natureza animal como a amamentação serve à função de defen der contra a ameaça existencial apresentada pela morte inevitável Forma física como uma defesa contra a consciência da mortalidade Se os pensamentos de morte produzem tanta ansiedade e são criadas defesas contra eles como a maioria dos estudos sobre manejo do terror demonstrou devemos pensar que é óbvio que se lembradas de sua mortalidade as pessoas ficam então motivadas a fazer coisas que diminuam a probabilidade de morrer como por exemplo ter compor tamentos saudáveis como se exercitar Conforme implícito na seção anterior a TMT defen de ativamente duas categorias distintas de defesa contra a morte consciente e inconsciente As defesas conscientes também são referidas como defesas proximais e assumem a forma de não eu não agora e são vistas na supressão ativa de pensamentos de morte bem como no distancia mento e na negação da própria vulnerabilidade Quando a própria morte é ativa inconscientemente então as defesas distais são ativadas Elas envolvem a defesa e a identifica ção com crenças culturais e ideologias e o aumento da au toestima Com a distinção entre defesas proximais e distais como um guia Jamie Arndt Jeff Schimel e Jamie Golden berg 2003 concluíram que a intenção de se exercitar é um caminho ideal para estudar os diferentes efeitos dos dois tipos de defesa A intenção de se exercitar é obviamente uma defesa proximal uma vez que as pessoas são motiva das pelo desejo de serem saudáveis e evitar doenças Ela também é uma defesa distal já que reforça a autoestima e a imagem corporal Em apoio a esse raciocínio saúde e aparência costumam ser a primeira e a segunda razão dadas em pesquisas sobre por que as pessoas decidem se exercitar O estudo de Arndt e colaboradores examinou o prognóstico de que a evidência da mortalidade deveria assim aumentar ambas as razões para querer se exercitar isto é melhorar a forma física e ter melhor aparência au toestima Os pesquisadores examinaram uma combinação de defesas proximais e distais demora Eles também re crutaram participantes para quem o exercício era impor tante para a autoestima e participantes para quem não era importante Os participantes eram universitários 50 do sexo feminino e lhes foi dito que estavam participando de um estudo sobre a relação entre personalidade e forma física Eles receberam questionários para completar que incluíam uma manipulação da evidência de morte semelhante às descritas anteriormente p ex Cox et al 2007 Golden berg et al 2001 Mas desta vez a condição de controle abordou a dor associada a um procedimento dentário sim ples A dor de dente foi escolhida como controle para ex plicar a negatividade geral associada à dor física Depois da manipulação da evidência da mortalidade metade dos par ticipantes grupo de espera recebeu uma tarefa de leitura cinco páginas triviais de um trabalho de Camus que não tinha nenhuma referência à morte ou a outras questões existenciais Em outras palavras depois da manipulação com evidência de morte ou procedimento odontológico os participantes leram a passagem de Camus grupo de es pera ou responderam imediatamente o questionário mais elaborado de intenções relacionadas a forma física grupo imediato consistindo de sete perguntas acerca da inten ção de se exercitarem tais como o quanto mais do que o normal eles pretendem se exercitar durante o próximo mês Essas perguntas foram padronizadas e reunidas para criar uma medida geral da intenção de se exercitar Os resultados mostraram que somente no grupo ime diato a evidência da mortalidade comparada ao procedi Feist11indd 228 Feist11indd 228 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 229 mento dentário doloroso levou a um maior desejo por exer cícios Também houve um efeito global importante para a autoestima associada a forma física com os participantes para quem a forma física é importante para a autoestima geral pretendendo fazer mais exercícios depois da evidên cia da mortalidade do que aqueles para quem não era tão importante Além disso houve um efeito significativo para a evidência da mortalidade independentemente da condi ção de imediatismo os participantes que foram conscien tizados da mortalidade pretendiam fazer mais exercícios do que aqueles que foram levados a pensar em realizar um procedimento dentário doloroso O imediatismo também teve um efeito global importante com os participantes que retardaram a resposta às perguntas sobre suas intenções quanto à forma física alegando que se exercitariam mais do que aqueles que responderam imediatamente Por fim foi encontrada uma interação em que as intenções de for ma física aumentavam após evidência da mortalidade ape nas entre aqueles para quem a forma física era uma fonte importante de autoestima De modo geral os resultados desse estudo confir mam a importância de se distinguir entre defesas pro ximais conscientes e distais inconscientes contra a morte O estudo também confirma a ideia de que as pes soas podem muito bem ser motivadas para realizar com portamentos que lutam contra a morte e a doença i e exercícios quando a própria mortalidade é evidenciada em especial se o exercício for uma fonte relevante para a autoestima Em suma o manejo do terror parece apoiar o princípio fundamental da psicologia existencial de que a ansiedade consciente ou inconsciente produzida por pensamentos de morte é uma força poderosa por trás de boa parte do com portamento humano Existe alguma vantagem na consciência da mortalidade Até o momento as pesquisas sobre TMT como a citada há pouco focaram quase que exclusivamente o que May deno minou de ansiedade neurótica gerada pela consciência da mortalidade o lado mais obscuro de nossas defesas contra o medo de não ser Porém May 1958a assim como todos os existencialistas argumentou que um enfrentamento corajoso da inevitabilidade da morte possibilita que nos elevemos acima de uma existência defensiva e conformista até o Dasein As preocupações existenciais podem facilitar o crescimento humano Pesquisas mais recentes estão con firmando que de fato os humanos podem existir criativa mente dentro da ameaça da não existência Kenneth Vail e colaboradores 2012 realizaram uma revisão da literatura sobre o impacto de pensamentos cons cientes e inconscientes de morte e encontraram evidências de resultados positivos orientados para o crescimento em cada um Além das motivações pela saúde e pela forma física geradas pela consciência proximal da mortalidade discutida anteriormente outros estudos demonstraram que pensamentos conscientes de morte podem ajudar os seres humanos a reverem as prioridades de seus objetivos de vida Heidegger 19261962 se referiu a esse fenômeno como experiência de despertar e hoje com frequência nos referimos a ele como um teste de realidade Por exemplo estudos longitudinais mostraram que contemplações cons cientes diárias da mortalidade levavam as pessoas a dar maior valor aos objetivos pessoais intrínsecos em compa ração aos objetivos extrínsecos orientados para o status em sua vida Heflick Goldenberg Keroack Cooper 2011 Lykins Segerstrom Averill Evans Kemeny 2007 Contudo foram descobertos resultados positivos de correntes também da percepção não consciente da morte Por exemplo Gailliot e colaboradores 2008 realizaram um estudo de campo engenhoso em que um colaborador falava em voz alta em um telefone celular cujo som al cançava os transeuntes acerca do valor de se ajudar os outros Os participantes tinham 40 mais de probabili dade de realmente ajudar um segundo colaborador se esti vessem passando por um cemitério do que se estivessem a um quarteirão de distância fora de visão das lápides Outro estudo de Schimel Wohl e Williams 2006 cons tatou que os valores das pessoas empáticas as preparam para serem gentis como um meio de manejar a consciên cia da mortalidade Esses pesquisadores pediram aos fãs de um time de hóquei local que preenchessem uma escala de empatia e então fossem lembrados da morte A se guir eles liam a respeito de um jogador do time da casa ou do time rival que cometeu faltas agressivas durante um jogo A evidência da mortalidade sempre levouos a desculpar o jogador do time da casa é claro mas também levou os fãs mais empáticos a desculpar também o joga dor do time oposto Outros estudos ainda demonstraram que nossos encontros mais diretos com a morte são especialmente propensos a nos conduzir em direção a objetivos de cres cimento prósociais e pessoais lembrese da discussão da pesquisa sobre crescimento póstraumático e proces so de valorização organísmica no Cap 10 Vail e cola boradores 2012 acreditam que isso ocorre porque tais encontros misturam processos conscientes e inconscien tes de manejo do terror Os indivíduos que experienciam trauma ou a morte de um ente amado com frequência precisam reconstruir o sistema de significados da ne gação da morte que eles mantinham anteriormente mudando de uma compreensão egoísta de seu mundo para uma compreensão existencial mais orientada para o crescimento Dessa forma existencialistas como Rollo May seguramente estavam certos em enfatizar a verdade irônica de que a morte pode ser boa para a vida no âmbi to psicológico Feist11indd 229 Feist11indd 229 271014 1514 271014 1514 230 FEIST FEIST ROBERTS CRÍTICAS A MAY O existencialismo em geral e a psicologia de May em par ticular foram criticados como sendo antiintelectuais e an titeóricos May reconheceu a alegação de que sua visão não se adequava ao conceito tradicional de teoria porém de fendeu com firmeza sua psicologia contra a acusação de ser antiintelectual e anticientífica Ele apontou a esterilidade dos métodos científicos convencionais e a incapacidade de les para revelar o caráter ontológico de seres humanos com vontade atenção e atuantes May defendia que uma nova psicologia científica precisa reconhecer características humanas como a sin gularidade a liberdade pessoal o destino as experiências fenomenológicas e especialmente a capacidade de nos relacionarmos com nós mesmos como objetos e sujeitos Uma nova ciência dos humanos também precisa incluir éti ca As ações dos seres humanos viventes autoconscientes nunca são automáticas mas envolvem alguma avaliação das consequências alguma potencialidade para o bem ou para o mal May 1967 p 199 Até que essa nova ciência adquira maior maturidade precisamos avaliar a visão de May pelos mesmos crité rios usados para cada um dos outros teóricos da perso nalidade Primeiro as ideias de May geraram pesquisa científica May não formulou sua visão em uma estrutura teórica sugerese uma escassez de hipóteses em seus es critos Algumas pesquisas como as investigações de Jeff Greenberg e colaboradores sobre o manejo do terror re lacionamse em geral com a psicologia existencial mas esses estudos não derivam especificamente da teoria de May Conforme o primeiro critério de uma teoria útil portanto a psicologia existencial de May recebe um es core muito baixo Segundo as ideias de May podem ser verificadas ou refutadas Mais uma vez a psicologia existencial em geral e a teoria de May em particular precisam ser classificadas como muito baixas com base em tal critério A teoria é mui to amorfa para sugerir hipóteses específicas que poderiam confirmar ou refutar seus conceitos principais Terceiro a psicologia orientada filosoficamente de May ajuda a organizar o que se sabe atualmente acerca da natureza humana Nesse critério May receberia uma clas sificação média Comparado com a maioria dos teóricos discutidos neste livro May seguiu mais de perto a máxima de Gordon Allport Não se esqueça do que você decidiu esquecer Allport 1968 p 23 May não esqueceu que ele excluiu discursos sobre os estágios do desenvolvimento as forças motivacionais básicas e outros fatores que tendem a segmentar a experiência humana Os escritos filosóficos de May alcançaram profundamente os longínquos recessos da experiência humana e exploraram aspectos da humanidade não examinados por outros teóricos da personalidade Sua popularidade deveuse em parte a sua habilidade de tocar os leitores individualmente de se conectar com sua huma nidade Ainda que suas ideias possam afetar as pessoas de maneiras que outros teóricos não conseguiram o uso de certos conceitos foi por vezes incoerente e confuso Além do mais ele decidiu negligenciar vários tópicos importan tes na personalidade humana como por exemplo desen volvimento cognição aprendizagem e motivação Como um guia prático para a ação a teoria de May é muito fraca Mesmo com um grande conhecimento da per sonalidade humana May reuniu suas visões mais a partir de fontes filosóficas do que científicas De fato ele não fazia objeção a ser chamado de filósofo e muitas vezes referese a si mesmo como filósofoterapeuta De acordo com o critério de coerência interna a psicolo gia existencial de May mais uma vez fica aquém Ele apre sentou uma variedade de definições para conceitos como ansiedade culpa intencionalidade vontade e destino In felizmente nunca apresentou definições operacionais des ses termos Tal terminologia imprecisa contribuiu para a falta de pesquisas sobre as ideias de May O critério final de uma teoria útil é a parcimônia e se gundo esse padrão a psicologia de May recebe uma classi ficação moderada Seus escritos por vezes eram compli cados e estranhos mas para seu crédito ele lidava com questões complexas e não tentou simplificar demais a per sonalidade humana CONCEITO DE HUMANIDADE Assim como Erik Erikson ver Cap 8 May apresentou uma nova maneira de olhar para as coisas Sua visão da humanida de é mais ampla e mais profunda do que as visões da maioria dos outros teóricos da personalidade Ele via as pessoas como seres complexos capazes de um grande bem ou de um mal imenso De acordo com May as pessoas se distanciaram do mun do natural das outras pessoas e sobretudo de si mesmas Conforme as pessoas se alienam mais dos outros e de si mes mas elas renunciam partes de sua consciência Elas ficam me nos conscientes de si mesmas como sujeitos isto é conscientes de experimentar o self Quando o self subjetivo é obscurecido Feist11indd 230 Feist11indd 230 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 231 Termoschave e conceitos Um princípio básico do existencialismo é que a exis tência precede a essência ou seja que as pessoas fa zem é mais importante do que o que elas são Um segundo pressuposto é que as pessoas são sub jetivas e objetivas elas são seres pensantes e atu antes As pessoas são motivadas a buscar respostas para questões importantes referentes ao significado da vida As pessoas têm um grau semelhante de liberdade e responsabilidade A unidade entre as pessoas e seu mundo fenomenoló gico é expressa pelo termo Dasein ou sernomundo Os três modos de sernomundo são Umwelt a rela ção do indivíduo com o mundo das coisas Mitwelt a relação do indivíduo com o mundo das pessoas e Eigenwelt a relação do indivíduo consigo mesmo Nãoser ou o nada é uma consciência da possibili dade de não ser por meio da morte ou da perda da consciência As pessoas experimentam ansiedade quando estão conscientes da possibilidade de seu nãoser bem como quando estão conscientes de que são livres para escolher as pessoas perdem parte de sua capacidade de fazer escolhas Essa progressão no entanto não é inevitável May acreditava que as pessoas dentro dos limites do destino têm a capacida de de fazer livres escolhas Cada escolha faz recuar as frontei ras do determinismo e permite novas escolhas As pessoas em geral têm muito mais potencial para a liberdade do que per cebem No entanto a livre escolha não existe sem ansiedade Escolha demanda coragem para confrontar o próprio destino olhar para dentro e reconhecer o mal e o bem Escolha também implica ação Sem ação a escolha é meramente um desejo um desejo inútil A ação vem acom panhada de responsabilidade Liberdade e responsabilidade são sempre comensuráveis Uma pessoa não pode ter mais liberdade do que responsabilidade nem pode ficar algema da a mais responsabilidade do que à liberdade Os indivíduos sadios recebem bem tanto a liberdade quanto a responsabili dade mas eles percebem que a escolha costuma ser dolorosa produz ansiedade e é difícil Segundo May muitas pessoas renunciaram à capacidade de escolher mas a própria capitulação ele insistia era uma escolha Por fim cada um de nós é responsável pelas escolhas que fazemos e essas escolhas definem cada um de nós como seres humanos únicos May portanto deve ser classificado como alto na dimensão do livrearbítrio A teoria de May é otimista ou pessimista Ainda que por vezes tenha pintado um quadro sóbrio da humanidade May não era pessimista Ele via a era atual como meramente um platô na busca da humanidade por novos símbolos e novos mitos que irão gerar a espécie com espírito renovado Apesar de May ter reconhecido o impacto potencial das ex periências da infância na personalidade adulta ele favoreceu claramente a teleologia em detrimento da causalidade Cada um de nós tem um objetivo particular ou destino que precisa descobrir e desafiar ou então arriscar a alienação e a neurose May assumia uma postura moderada na questão das forças conscientes versus inconscientes Por natureza as pes soas têm uma enorme capacidade de autoconsciência mas com frequência essa capacidade permanece não cultivada As pessoas às vezes não possuem a coragem para enfrentar seu destino ou reconhecer o mal que existe dentro de sua cultura assim como dentro de si mesmas Consciência e escolhas estão interrelacionadas Conforme as pessoas fazem mais escolhas elas adquirem mais conhecimento de quem são ou seja elas desenvolvem um maior sentimento de ser Esse sentimento aguçado de ser por sua vez facilita a capacidade de fazer mais escolhas Uma consciência do self e uma capacidade para livrearbítrio são distintivas de saúde psicológica May também assumiu uma posição intermediária quan to às influências sociais versus biológicas A sociedade contri bui para a personalidade principalmente por meio das rela ções interpessoais Nossas relações com outras pessoas podem ter um efeito libertador ou escravizador Os relacionamentos doentios como os que Philip experimentou com sua mãe e irmã podem abafar o crescimento pessoal e nos deixar inca pazes de participar de um encontro sadio com outra pessoa Sem a capacidade de nos relacionarmos com as pessoas como pessoas a vida se torna sem sentido e desenvolvemos um sen timento de alienação não somente dos outros mas também de nós mesmos A biologia ainda contribui para a personali dade Fatores biológicos como gênero tamanho físico pre disposição a doenças e por fim a morte em si moldam o destino Todos precisam viver dentro das fronteiras do destino mas essas fronteiras podem ser expandidas Na dimensão da singularidade versus semelhanças a visão de May da humanidade definitivamente tende para a singularidade Cada um de nós é responsável por moldar a própria personalidade dentro dos limites impostos pelo des tino Não existem dois de nós que façam a mesma sequência de escolhas e não há dois de nós que desenvolvam formas idênticas de olhar para as coisas A ênfase de May na fenome nologia implica percepções individuais e portanto persona lidades únicas Feist11indd 231 Feist11indd 231 271014 1514 271014 1514 232 FEIST FEIST ROBERTS A ansiedade normal é expressa por todos e proporcio nal à ameaça A ansiedade neurótica é desproporcional à ameaça envolve repressão e é manejada de maneira autodes trutiva As pessoas experimentam culpa em consequência de sua 1 separação do mundo natural 2 incapacidade de julgar as necessidades dos outros e 3 negação dos próprios potenciais Intencionalidade é a estrutura subjacente que dá sig nificado à experiência e possibilita que as pessoas tomem decisões sobre o futuro Amor significa ter prazer na presença da outra pes soa e afirmar o valor daquela pessoa tanto quanto seu próprio valor Sexo uma forma básica de amor é uma função bio lógica que procura satisfação pela liberação da ten são sexual Eros uma forma mais elevada de amor procura uma união duradoura com uma pessoa amada Filia é a forma de amor que procura uma amizade não sexual com outra pessoa Ágape a forma mais elevada de amor é altruísta e não espera nada da outra pessoa A liberdade é obtida pela confrontação com o pró prio destino e pela compreensão de que a morte ou o nãoser é uma possibilidade a qualquer mo mento Liberdade existencial é a liberdade de ação de se mo vimentar e de perseguir objetivos tangíveis Liberdade essencial é a liberdade de ser de pensar de planejar e de ter esperança Os mitos culturais são sistemas de crenças conscien tes ou inconscientes que fornecem explicações para problemas pessoais e sociais Feist11indd 232 Feist11indd 232 271014 1514 271014 1514 PARTE QUATRO Teorias Disposicionais CAPÍTULO 12 Allport Psicologia do Indivíduo 234 CAPÍTULO 13 McCrae e Costa Teoria dos Cinco Fatores de McCrae e Costa 252 Feist12indd 233 Feist12indd 233 291014 0931 291014 0931 CAPÍTULO 12 Allport Psicologia do Indivíduo Panorama da psicologia do indivíduo de Allport Biografia de Gordon Allport Abordagem de Allport da teoria da personalidade O que é personalidade Qual é o papel da motivação consciente Quais são as características da pessoa sadia Estrutura da personalidade Disposições pessoais Proprium Motivação Uma teoria da motivação Autonomia funcional O estudo do indivíduo Ciência morfogênica Os diários de Marion Taylor As cartas de Jenny Pesquisa relacionada Orientação religiosa intrínseca versus extrínseca Como reduzir o preconceito contato ideal Críticas a Allport Conceito de humanidade Termoschave e conceitos Allport Feist12indd 234 Feist12indd 234 291014 0931 291014 0931 TEORIAS DA PERSONALIDADE 235 N o outono de 1920 um estudante norteamericano de filosofia e economia de 22 anos estava visitando um irmão mais velho em Viena Durante sua visita o jovem escreveu um bilhete para Sigmund Freud solici tando um encontro Freud então o mais famoso psiquiatra do mundo concordou em ver o jovem e sugeriu uma deter minada hora para o encontro O jovem norteamericano chegou ao nº 19 da rua Berggasse muito tempo antes para sua consulta com o dou tor Freud Na hora combinada Freud abriu a porta de seu consultório e silenciosamente conduziu o homem para dentro O visitante norteamericano de repente se deu con ta de que não tinha nada a dizer Buscando em sua mente algum incidente que pudesse interessar a Freud ele se lem brou de ter visto um menino no bonde naquele dia quando ia para a casa de Freud O menino de cerca de 4 anos exi bia uma fobia óbvia por sujeira queixandose constante mente para sua bemengomada mãe acerca das condições de sujeira no carro Freud ouviu em silêncio a história e então com uma típica técnica freudiana perguntou ao jovem visitante se ele estava na realidade falando de si mesmo Sentindose culpado o jovem conseguiu mudar de assunto e escapar sem muito mais embaraço O visitante norteamericano no consultório de Freud era Gordon Allport e esse encontro foi o que despertou seu interesse pela teoria da personalidade De volta aos Estados Unidos Allport começou a ponderar se poderia haver espaço para uma terceira abordagem da personali dade uma que se valesse da psicanálise tradicional e das teorias de aprendizagem conduzidas com animais mas que também adotasse uma postura mais humanista Allport ra pidamente concluiu o trabalho para um doutorado em psi cologia e embarcou em numa longa e distinguida carreira como defensor convicto do estudo do indivíduo PANORAMA DA PSICOLOGIA DO INDIVÍDUO DE ALLPORT Mais do que qualquer outro teórico da personalidade Gor don Allport enfatizou a singularidade do indivíduo Ele acre ditava que as tentativas de descrever as pessoas em termos de traços gerais roubam delas sua individualidade única Por essa razão Allport fazia objeção às teorias dos traços e dos fatores que tendem a reduzir os comportamentos individuais a traços comuns Ele insistia por exemplo em que a obstinação de uma pessoa é diferente da obstinação de outra e a maneira como a obstinação de um indivíduo interage com sua extroversão e criatividade não é replicada em nenhum outro indivíduo Coerente com sua ênfase na singularidade de cada pes soa estava sua disposição para estudar em profundidade um único indivíduo Allport denominou o estudo do indi víduo de ciência morfogênica e o comparou com os mé todos de nomotética usados pela maioria dos outros psi cólogos Métodos morfogênicos são aqueles que reúnem dados sobre um único indivíduo enquanto os métodos no motéticos reúnem dados sobre grupos de pessoas Allport também defendia uma abordagem eclética na construção da teoria Ele aceitava algumas das contribuições de Freud Maslow Rogers Eysenck Skinner e outros porém acredi tava que nenhum desses teóricos era capaz de explicar de forma adequada o crescimento total e a personalidade úni ca Para Allport uma teoria ampla e abrangente é preferível a uma teoria limitada e específica mesmo que ela não gere tantas hipóteses verificáveis Allport argumentou contra o particularismo ou as teorias que enfatizam um único aspecto da personalidade Em um importante alerta advertiu outros teóricos não se esqueçam do que vocês decidiram negligenciar Allport 1968 p 23 Em outras palavras nenhuma teoria é completamen te abrangente e os psicólogos devem sempre perceber que muito da natureza humana não está incluído em uma úni ca teoria BIOGRAFIA DE GORDON ALLPORT Gordon Willard Allport nasceu em 11 de novembro de 1897 em Montezuma Indiana o quarto e mais moço filho de John E Allport e Nellie Wise Allport O pai de Allport se envolveu em muitos empreendimentos comerciais antes de se tornar médico mais ou menos na época do nascimento de Gordon Não tendo um local adequado para o consultó rio e o atendimento clínico o doutor Allport transformou sua casa em um hospital em miniatura Havia pacientes e enfermeiras em casa e prevalecia uma atmosfera limpa e asséptica O asseio da ação foi ampliado para a higiene do pen samento Em sua autobiografia Allport 1967 escreveu que o início de sua vida foi marcado pela comum devoção protestante p 4 Floyd Allport seu irmão sete anos mais velho que também se tornou um psicólogo famoso des creveu sua mãe como uma mulher muito devota que dava muita ênfase à religião F Allport 1974 Como exprofes sora de escola ela ensinou ao jovem Gordon as virtudes da linguagem limpa e da conduta adequada bem como a importância de buscar as respostas religiosas finais Na época em que Gordon tinha 6 anos a família se mudou por três vezes e finalmente se estabeleceu em Cle veland Ohio O jovem Allport desenvolveu um interesse precoce por questões religiosas e filosóficas e tinha mais fa cilidade com as palavras do que com os jogos Ele se descre veu como um isolado social que moldou o próprio círculo de atividades Mesmo tendo se formado em segundo lugar em uma turma de cem alunos do ensino médio ele não se considerava um estudante inspirado Allport 1967 Feist12indd 235 Feist12indd 235 291014 0931 291014 0931 236 FEIST FEIST ROBERTS No outono de 1915 Allport ingressou em Harvard seguindo as pegadas do irmão Floyd que havia se formado dois anos antes e que na época era assistente graduado em psicologia Em sua autobiografia Gordon Allport 1967 escreveu Quase do dia para a noite meu mundo foi refeito Meus valores morais básicos de fato foram moldados em casa Novo era o horizonte de intelecto e cultura que agora eu era convidado a explorar p 5 Seu ingresso em Harvard também marcou o início de uma as sociação de 50 anos com aquela universidade a qual foi in terrompida apenas duas vezes Quando recebeu seu grau de bacharelado em 1919 com especialização em filosofia e economia ele ainda estava incerto quanto a uma carreira futura Ele havia feito cursos de psicologia e ética social e ambas as disciplinas deixaram uma impressão duradoura nele Quando teve a oportunidade de ensinar na Turquia considerou isso como uma chance de descobrir se gostaria de ensinar Ele passou o ano acadêmico de 19191920 na Europa ensinando inglês e sociologia no Robert College em Istambul Enquanto estava na Turquia foi oferecida a Allport uma bolsa para estudos de pósgraduação em Harvard Também recebeu um convite do irmão Fayette para ficar com ele em Viena onde Fayette estava trabalhando para a comissão de comércio dos Estados Unidos Em Viena Allport teve o encontro com Sigmund Freud que descreve mos brevemente na introdução deste capítulo Esse encon tro com Freud influenciou de forma significativa as ideias posteriores de Allport sobre personalidade Com certa au dácia o jovem de 22 anos escreveu para Freud anunciando que estava em Viena e ofereceu ao pai da psicanálise uma oportunidade de se encontrar com ele O encontro se reve lou como um evento fortuito que alterou a vida de Allport Não sabendo o que falar o jovem visitante contou a Freud ter visto um menino no bonde anteriormente naquele dia A criança se queixava para a mãe sobre as condições de su jeira do carro e anunciava que não queria se sentar perto dos passageiros a quem ele julgava como sujos Allport ar gumentou que escolheu esse incidente particular para ob ter a reação de Freud a uma fobia à sujeira em uma criança tão pequena mas ficou estarrecido quando Freud fixou seus bondosos olhos terapêuticos em mim e disse E aque le menino era você Allport 1967 p 8 Allport disse que se sentiu culpado e logo mudou de assunto Allport contou essa história muitas vezes raramente alterando alguma palavra e nunca revelou o resto de seu encontro solitário com Freud No entanto Alan Elms des cobriu a descrição por escrito de Allport do que aconteceu a seguir Depois de perceber que Freud estava esperando uma consulta profissional Allport então falou sobre sua aversão a passas cozidas Eu disse a ele que achava que isso se devia ao fato de que aos 3 anos de idade uma babá me disse que eram insetos Freud perguntou Quando você se lembrou desse episódio sua aversão desapareceu Eu disse Não Ele respondeu Então você não chegou ao fundo da questão Elms 1994 p 77 Quando Allport voltou aos Estados Unidos imediata mente se matriculou no programa de doutorado de Har vard Depois de concluído passou os dois anos seguintes na Europa estudando com os grandes psicólogos alemães Max Wertheimer Wolfgang Kohler William Stern Heinz Werner e outros em Berlim e Hamburgo Em 1924 voltou para Harvard para ensinar entre ou tras disciplinas um novo curso de psicologia da persona lidade Em sua autobiografia Allport 1967 sugeriu que esse curso foi o primeiro de personalidade oferecido em uma faculdade norteamericana O curso combinava ética social e a busca da bondade e da moralidade com a disci plina científica de psicologia Ele também refletia as fortes disposições pessoais de Allport de limpeza e moralidade Dois anos depois de iniciar sua carreira de ensino em Harvard Allport assumiu um cargo em Dartmouth College Quatro anos depois voltou para Harvard e lá permaneceu pelo resto de sua carreira profissional Em 1925 Allport se casou com Ada Lufkin Gould a quem havia conhecido quando ambos eram estudantes de pósgraduação Ada Allport que fez mestrado em psicolo gia clínica em Harvard teve o treinamento clínico que seu marido não possuía Ela foi uma valiosa colaboradora com o trabalho de Gordon especialmente em dois extensos es tudos de caso o de Jenny Gove Masterson discutido na seção O estudo do indivíduo e o de Marion Taylor o qual nunca foi publicado Barenbaum 1997 Os Allport tiveram um filho Robert que se tornou pediatra e assim colocou Allport entre duas gerações de médicos um fato que parecia têlo agradado em grande medida Allport 1967 Os prêmios e honrarias foram muitos Em 1939 ele foi eleito presidente da American Psychological Association APA Em 1963 recebeu a Medalha de Ouro da APA em 1964 foi agraciado com o Distinguished Scientific Contribution Award da APA e em 1966 foi homenageado como o primeiro professor Ri chard Clarke Cabot de Ética Social em Harvard Em 9 de outubro de 1967 Allport um fumante inveterado morreu de câncer no pulmão ABORDAGEM DE ALLPORT DA TEORIA DA PERSONALIDADE As respostas a três perguntas interrelacionadas revelam a abordagem de Allport da teoria da personalidade 1 O que é personalidade 2 Qual é o papel da motivação consciente na teoria da personalidade 3 Quais são as características da pessoa psicologicamente sadia Feist12indd 236 Feist12indd 236 291014 0931 291014 0931 TEORIAS DA PERSONALIDADE 237 O que é personalidade Poucos psicólogos foram tão meticulosos e exaustivos quanto Allport na definição de termos Sua busca de uma definição da personalidade é clássica Ele rastreou a eti mologia da palavra persona até as raízes gregas incluindo o significado em latim antigo e etrusco Como vimos no Capítulo 1 a palavra personalidade provavelmente tem origem em persona que se refere à máscara proveniente do teatro grego antigo e usada pelos atores romanos du rante o primeiro e o segundo século antes de Cristo Após rastrear a história do termo Allport especificou 49 defini ções de personalidade usadas em teologia filosofia direi to sociologia e psicologia Ele então apresentou uma 50 a definição que em 1937 era a organização dinâmica dentro do indivíduo daqueles sistemas psicofísicos que determinam seus ajustes únicos a seu ambiente Allport 1937 p 48 Em 1961 ele mudou a última sentença para que deter minam seu comportamento e pensamento característicos Allport 1961 p 28 A mudança foi significativa e refletia a propensão de Allport à exatidão Em 1961 ele percebeu que a sentença ajustes a seu ambiente poderia implicar que as pessoas meramente se adaptam a seu ambiente Em sua última definição Allport transmitia a ideia de que o comportamento é expressivo além de adaptativo As pes soas não só se ajustam ao próprio ambiente como intera gem e se refletem nele de modo a fazer com que também o ambiente se molde a elas Allport escolheu cuidadosamente cada sentença de sua definição para que cada palavra transmitisse com precisão o que ele queria dizer A expressão organização dinâmica im plica uma integração ou interrelação de vários aspectos da personalidade A personalidade é organizada e padroniza da No entanto a organização está sempre sujeita a mu dança daí o qualificador dinâmica A personalidade não é uma organização estática ela está constantemente cres cendo ou mudando O termo psicofísicos enfatiza a impor tância dos aspectos psicológicos e físicos da personalidade Outra palavra na definição que implica ação é determi nam sugerindo que a personalidade é alguma coisa e faz alguma coisa Allport 1961 p 29 Em outras palavras a personalidade não é meramente a máscara que usamos nem é apenas o comportamento Ela se refere ao indivíduo por trás da fachada à pessoa por trás da ação Por característicos Allport sugeria individual ou úni co A palavra caráter originalmente significava uma mar ca ou gravação termos que conferem sabor ao que Allport queria dizer com característicos Todas as pessoas regis tram sua marca única ou gravação em sua personalidade e seu comportamento e pensamento característicos as distinguem de todas as demais pessoas As características são marcadas com uma gravação única uma estampa ou registro que ninguém mais consegue duplicar As palavras comportamento e pensamento apenas se referem a algo que a pessoa faz Tratase de termos globais que pretendem in cluir comportamentos internos pensamentos e externos como palavras e ações A abrangente definição da personalidade de Allport sugere que os seres humanos são as duas coisas produto e processo as pessoas têm uma estrutura organizada ao mesmo tempo elas possuem a capacidade de mudar Pa drão coexiste com crescimento ordem com diversificação Em resumo a personalidade é tanto física quanto psicológica ela inclui comportamentos explícitos e pensa mentos encobertos ela não somente é alguma coisa mas faz alguma coisa A personalidade é substância e mudança produto e processo estrutura e crescimento Qual é o papel da motivação consciente Mais do que qualquer outro teórico Allport enfatizou a im portância da motivação consciente Os adultos sadios são em geral conscientes do que estão fazendo e de suas razões para fazêlo Sua ênfase na motivação consciente remonta a seu encontro em Viena com Freud e sua reação emocio nal à pergunta do médico vienense E aquele menino era você A resposta de Freud tinha a implicação de que seu visitante de 22 anos estava falando inconscientemente da própria mania de limpeza ao revelar a história do me nino limpo no bonde Allport 1967 insistia em que sua motivação era bem consciente ele simplesmente queria conhecer as ideias de Freud acerca da fobia por sujeira em uma criança tão pequena Ainda que Freud presumisse um significado incons ciente subjacente para a história do menino no bonde Allport estava inclinado a aceitar os autorrelatos de modo mais literal Essa experiência ensinoume que a psicolo gia profunda por todos os seus méritos pode mergulhar muito fundo e que os psicólogos fariam muito bem em dar total reconhecimento aos motivos manifestos antes de sondarem o inconsciente Allport 1967 p 8 Entretanto Allport 1961 não ignorou a existência ou mesmo a importância dos processos inconscientes Ele reconheceu o fato de que alguma motivação é incitada por impulsos ocultos e impulsos sublimados Ele acreditava por exemplo que a maioria dos comportamentos compul sivos é de repetições automáticas em geral autodestruti vas e motivadas por tendências inconscientes Eles com frequência se originam na infância e mantêm um aspecto infantil na vida adulta Quais são as características da pessoa sadia Muito antes de Abraham Maslow ver Cap 9 ter torna do popular o conceito de autoatualização Gordon Allport 1937 formulou hipóteses profundas acerca dos atributos da personalidade madura O interesse de Allport na pes soa psicologicamente sadia remonta a 1922 ano em que Feist12indd 237 Feist12indd 237 291014 0931 291014 0931 238 FEIST FEIST ROBERTS ele concluiu seu doutorado Não tendo habilidade particu lar em matemática biologia medicina ou manipulações laboratoriais Allport 1967 foi forçado a encontrar seu próprio caminho no terreno humanista da psicologia p 8 Esse terreno o conduziu a um estudo da personalidade psicologicamente madura Alguns pressupostos gerais são necessários para com preender a concepção de Allport da personalidade madura Primeiro as pessoas psicologicamente maduras são carac terizadas pelo comportamento proativo ou seja elas não reagem aos estímulos externos mas são capazes de agir conscientemente sobre seu ambiente de formas novas e inovadoras e fazem o ambiente reagir a elas O comporta mento proativo não é apenas direcionado para reduzir ten sões mas também para criar novas Além disso as personalidades maduras têm maior pro babilidade do que as perturbadas de serem motivadas por processos conscientes o que lhes permite maior flexibili dade e autonomia em comparação às pessoas que não são sadias que permanecem dominadas por motivos incons cientes que se originam das experiências da infância As pessoas sadias em geral experimentaram uma in fância relativamente livre de traumas muito embora seus anos posteriores possam ser temperados por conflito e sofrimento Os indivíduos psicologicamente sadios não deixam de ter suas deficiências e idiossincrasias que os tornam únicos Além disso idade não é um requisito para maturidade apesar de as pessoas sadias parecerem mais maduras conforme ficam mais velhas Quais então são os requisitos específicos para a saúde psicológica Allport 1961 identificou seis critérios para a personalidade madura O primeiro é uma extensão do senso de self As pessoas maduras procuram continuamente se identificar com eventos externos e deles participar Elas não são autocen tradas mas são capazes de se envolver em problemas e atividades que não estão focadas nelas Elas desenvolvem um interesse altruísta pelo trabalho pelo esporte e pela recreação Interesse social Gemeinschaftsgefühl família e vida espiritual são importantes para elas Por fim essas atividades externas se tornam parte do próprio ser Allport 1961 resumiu esse primeiro critério afirmando Todos possuem amor por si mesmos mas somente a ampliação do self é a marca da maturidade p 285 Segundo as personalidades maduras são caracteriza das por uma relação cordial do self com os outros Allport 1961 p 285 Elas possuem a capacidade de amar os ou tros de maneira íntima e compassiva A relação cordial é claro depende da capacidade de ampliar o senso de self Somente olhando além de si mesmas é que as pessoas maduras podem amar os outros de modo não possessivo e desinteressado Os indivíduos psicologicamente sadios tratam as outras pessoas com respeito e percebem que as necessidades os desejos e as esperanças dos outros não são completamente estranhos aos deles Além disso expres sam uma atitude sexual sadia e não exploram os outros para gratificação pessoal Um terceiro critério é a segurança emocional ou autoacei tação Os indivíduos maduros se aceitam pelo que são e pos suem o que Allport 1961 chamou de equilíbrio emocional Essas pessoas psicologicamente sadias não ficam perturba das em demasia quando as coisas não ocorrem conforme planejado ou quando elas estão apenas tendo um dia ruim Elas não se apegam a irritações menores e reconhecem que as frustrações e inconveniências fazem parte da vida Quarto as pessoas psicologicamente sadias também possuem uma percepção realista do ambiente Elas não vi vem em um mundo de fantasia ou torcem a realidade para que se encaixe em seus próprios desejos Elas são orientadas para o problema em vez de autocentradas e estão em con tato com o mundo como é visto pela maioria das pessoas Um quinto critério é insight e humor As pessoas ma duras se conhecem e portanto não têm necessidade de atribuir os próprios erros e fraquezas aos outros Elas tam bém têm um senso de humor não hostil o qual lhes dá a capacidade de rirem de si mesmas em vez de se basearem em temas sexuais ou agressivos para produzir riso nos ou tros Allport 1961 acreditava que insight e humor estão intimamente relacionados e podem ser aspectos da mesma coisa ou seja a objetificação do self Os indivíduos sadios veemse objetivamente Eles são capazes de perceber as in congruências e os absurdos na vida e não têm a necessida de de fingir ou de se vangloriar O critério final de maturidade é uma filosofia de vida unificadora As pessoas sadias possuem uma visão clara do propósito da vida Sem essa visão seu insight seria va zio e estéril e seu humor seria trivial e cínico A filosofia de vida unificadora pode ou não ser religiosa mas Allport 1954 1963 em nível pessoal parece ter achado que uma orientação religiosa madura é um ingrediente essencial na vida da maioria dos indivíduos maduros Ainda que muitas pessoas frequentadoras da igreja tenham filosofia religiosa imatura e preconceitos raciais e étnicos limitados aquelas muito religiosas são relativamente livres desses precon ceitos A pessoa com uma atitude religiosa madura e uma filosofia de vida unificadora tem uma consciência bem desenvolvida e muito provavelmente um forte desejo de servir aos outros ESTRUTURA DA PERSONALIDADE A estrutura da personalidade referese a suas unidades bá sicas ou componentes fundamentais Para Freud as unida des básicas eram os instintos para Eysenck ver Cap 14 eram fatores biologicamente determinados Para Allport as estruturas mais importantes são aquelas que permitem a descrição da pessoa em termos das características indivi Feist12indd 238 Feist12indd 238 291014 0931 291014 0931 TEORIAS DA PERSONALIDADE 239 duais e ele denominou essas características individuais de disposições pessoais Disposições pessoais Durante a maior parte de sua carreira Allport foi cuidado so em distinguir entre traços comuns e traços individuais Traços comuns são as características gerais que muitas pessoas têm em comum Eles podem ser inferidos de es tudos analíticos sobre fatores como aqueles conduzidos por Eysenck e os autores da Teoria dos Cinco Fatores ver Cap 13 ou podem ser revelados por vários inventários da personalidade Os traços comuns fornecem os meios pelos quais as pessoas dentro de determinada cultura podem ser comparadas entre si Enquanto os traços comuns são importantes para es tudos que fazem comparações entre as pessoas as dispo sições pessoais são de importância ainda maior porque permitem aos pesquisadores estudar um único indivíduo Allport 1961 definiu uma disposição pessoal como uma estrutura neuropsíquica generalizada peculiar ao indiví duo com a capacidade de tornar muitos estímulos funcio nalmente equivalentes e iniciar e guiar formas coerentes equivalentes de comportamento adaptativo e de estilo p 373 A distinção mais importante entre uma disposi ção pessoal e um traço comum está indicada pela expressão peculiar ao indivíduo As disposições pessoais são indi viduais os traços comuns são compartilhados por várias pessoas Para identificar as disposições pessoais Allport e Hen ry Odbert 1936 contaram quase 18 mil 17953 para ser exato palavras pessoalmente descritivas na edição de 1925 do Novo Dicionário Internacional Webster cerca de um quarto das quais descrevia características de personalidade Alguns desses termos em geral referidos como traços des crevem características relativamente estáveis como sociá vel ou introvertido outros em geral referidos como esta dos descrevem características temporárias como feliz ou com raiva outros descreviam características avaliativas ainda como desagradável ou maravilhoso ou caracterís ticas físicas como alto ou obeso Quantas disposições pessoais um indivíduo tem Essa pergunta não pode ser respondida sem referência ao grau de dominância que cada disposição pessoal possui na vida do indivíduo Se contarmos essas disposições pessoais que são centrais para uma pessoa então cada uma provavel mente tem 10 ou menos No entanto se todas as tendên cias forem incluídas então cada pessoa pode ter centenas de disposições pessoais Níveis de disposições pessoais Allport colocou as disposições pessoais em um continuum desde aquelas que são mais centrais até aquelas que são apenas de importância periférica para uma pessoa Disposições cardinais Algumas pessoas possuem uma característica ou paixão predominante tão excepcional que ela domina suas vidas Allport 1961 chamou essas dis posições pessoais de disposições cardinais Elas são tão óbvias que não podem ser escondidas quase toda ação na vida de uma pessoa gira em torno dessa disposição cardi nal A maioria das pessoas não possui uma disposição car dinal mas as poucas que a possuem costumam ser conhe cidas por essa característica Allport identificou várias pessoas históricas e persona gens ficcionais que possuíam uma disposição tão excepcio nal que elas contribuíram para nossa língua com uma nova palavra Alguns exemplos dessas disposições cardinais in cluem quixotesco chauvinista narcisista sádico um Don Juan entre outras Como as disposições cardinais são in dividuais e não são compartilhadas com ninguém apenas Dom Quixote era verdadeiramente quixotesco apenas Narciso era completamente narcisista apenas o Marquês de Sade possuía a disposição cardinal do sadismo Quando esses nomes são usados para descrever características em outros eles se tornam traços comuns Disposições centrais Poucas pessoas possuem disposi ções cardinais mas todas apresentam várias disposições centrais as quais incluem as 5 a 10 características mais excepcionais em torno das quais se foca a vida de um in divíduo Allport 1961 descreveu as disposições centrais como aquelas que seriam listadas em uma carta de reco mendação detalhada escrita por alguém que conheces se a pessoa muito bem Na seção O estudo do indivíduo examinaremos uma série de cartas escritas para Gordon e Ada Allport por uma mulher que eles chamaram de Jenny O conteúdo dessas cartas constitui uma rica fonte de in formações acerca da escritora Também veremos que três análises separadas dessas cartas revelaram que Jenny po deria ser descrita por cerca de oito disposições centrais ou seja características fortes o suficiente para serem detecta das por cada um desses três procedimentos separados Do mesmo modo a maioria das pessoas acreditava Allport possui de 5 a 10 disposições centrais as quais seus amigos e conhecidos próximos concordariam que são descritivas daquela pessoa Disposições secundárias Menos visíveis mas em núme ro muito maior do que as disposições centrais são as dis posições secundárias Todos possuem muitas disposições secundárias que não são centrais à personalidade e no en tanto ocorrem com alguma regularidade e são responsáveis por muitos dos comportamentos específicos da pessoa Os três níveis de disposições pessoais são é claro pontos arbitrários em uma escala contínua desde o mais apropriado até o menos apropriado As disposições car dinais que são bastante proeminentes em uma pessoa obscurecem as disposições centrais que são menos do minantes porém marcam a pessoa como única As dispo Feist12indd 239 Feist12indd 239 291014 0931 291014 0931 240 FEIST FEIST ROBERTS sições centrais que guiam boa parte do comportamento adaptativo e estilístico de uma pessoa misturamse com as disposições secundárias as quais são menos descri tivas daquele indivíduo Não podemos dizer no entan to que as disposições secundárias de uma pessoa sejam menos intensas do que as disposições centrais de outra Comparações entre os indivíduos são inapropriadas para as disposições pessoais e qualquer tentativa de fazer tal aproximação transforma as disposições pessoais em traços comuns Allport 1961 Disposições motivacionais e estilísticas Todas as disposições pessoais são dinâmicas no sentido de que têm força motivacional No entanto algumas são sen tidas com muito mais força do que outras e Allport cha mou essas disposições intensamente experimentadas de disposições motivacionais Tais disposições sentidas de modo intenso recebem sua motivação das necessidades e dos impulsos básicos Allport 1961 referiuse às disposições pessoais que são experimentadas com menos intensidade como disposições estilísticas mesmo que essas disposições possuam alguma força motivacional As disposições estilís ticas guiam a ação enquanto as disposições motivacionais iniciam a ação Um exemplo de uma disposição estilística pode ser a aparência pessoal asseada e impecável As pes soas são motivadas a se vestirem devido a uma necessi dade básica de se manterem aquecidas porém a maneira como elas se vestem é determinada por suas disposições pessoais As disposições motivacionais são um pouco pa recidas com o conceito de Maslow de comportamento de enfrentamento enquanto as disposições estilísticas são semelhantes à ideia de Maslow de comportamento expres sivo ver Cap 9 Ao contrário de Maslow que traçou uma linha clara entre os comportamentos de enfrentamento e expressi vo Allport não via uma divisão clara entre as disposições pessoais motivacionais e estilísticas Ainda que algumas disposições sejam claramente estilísticas outras são basea das em uma necessidade fortemente sentida e são assim motivacionais A educação por exemplo é uma disposição estilística enquanto comer é mais motivacional O modo como as pessoas comem seu estilo depende pelo menos em parte do quanto elas estão com fome mas isso tam bém depende da força de suas disposições estilísticas Uma pessoa em geral polida mas com fome pode renunciar às boas maneiras enquanto come sozinha mas se a disposi ção de polidez for suficientemente forte e se outros estive rem presentes então a pessoa poderá comer com etiqueta e polidez apesar de estar faminta Proprium Sejam elas motivacionais ou estilísticas algumas disposi ções pessoais estão próximas do centro da personalidade enquanto outras estão mais na periferia Aquelas que estão no centro da personalidade são experimentadas pela pes soa como uma parte importante do self Elas são caracterís ticas a que um indivíduo se refere em termos do tipo Este sou eu ou Isto é meu Todas as características que são peculiarmente minhas pertencem ao proprium Allport 1955 Allport usou o termo proprium para se referir a com portamentos e características que as pessoas consideram como vitais centrais e importantes em suas vidas O pro prium não é a personalidade integral porque muitas ca racterísticas e comportamentos de uma pessoa não são vitais e centrais ao contrário eles existem na periferia da personalidade Esses comportamentos não apropriados incluem 1 impulsos e necessidades básicas que costu mam ser atendidos e satisfeitos sem muita dificuldade 2 costumes tribais como usar roupas dizer olá para as pessoas e dirigir pelo lado direito da rua e 3 comporta mentos habituais como fumar ou escovar os dentes que são realizados automaticamente e que não são essenciais para o senso de self Como centro vital da personalidade o proprium inclui aqueles aspectos da vida que a pessoa considera como im portantes para um senso de identidade e autocrescimento Allport 1955 O proprium inclui os valores de uma pessoa e aquela parte da consciência que é pessoal e coerente com as crenças adultas do indivíduo Uma consciência generali zada compartilhada pela maioria das pessoas dentro de determinada cultura pode ser somente periférica para o senso de personalidade de uma pessoa e assim está fora de seu proprium MOTIVAÇÃO Allport acreditava que a maioria das pessoas é motivada por impulsos presentes e não por eventos passados está consciente do que está fazendo e tem alguma compreen são de por que está fazendo Ele também apontava que as teorias da motivação precisam considerar as diferenças entre os motivos periféricos e os esforços do proprium Motivos periféricos são aqueles que reduzem uma necessi dade enquanto os esforços do proprium procuram manter a tensão e o desequilíbrio O comportamento adulto é reativo e proativo e uma teoria adequada da motivação deve ser capaz de explicar ambos Uma teoria da motivação Para Allport uma teoria útil da personalidade reside no pressuposto de que as pessoas não só reagem ao ambiente como também o moldam e o fazem reagir a elas A perso nalidade é um sistema em crescimento permitindo que novos elementos entrem constantemente na pessoa e a modifiquem Feist12indd 240 Feist12indd 240 291014 0931 291014 0931 TEORIAS DA PERSONALIDADE 241 Allport 1960 acreditava que muitas teorias mais an tigas da personalidade não possibilitavam o crescimento A psicanálise e as várias teorias da aprendizagem são em essência teorias homeostáticas ou reativas porque elas veem as pessoas como motivadas a princípio pelas ne cessidades de reduzir a tensão e retornar a um estado de equilíbrio Uma teoria adequada da personalidade argumentava Allport deve permitir o comportamento proativo precisa encarar as pessoas como agindo conscientemente sobre seu ambiente de uma maneira que permita o crescimen to em direção à saúde psicológica Uma teoria abrangente deve não só incluir uma explicação das teorias reativas mas também aquelas teorias proativas que enfatizam a mudança e o crescimento Em outras palavras Allport defendia uma psicologia que por um lado estudasse os padrões comportamentais e as leis gerais o tema da psi cologia tradicional e por outro o crescimento e a indi vidualidade Allport alegava que as teorias dos motivos imutáveis são incompletas porque limitamse a uma explicação do comportamento reativo A pessoa madura no entanto não é motivada somente a procurar prazer e a reduzir a dor mas a adquirir novos sistemas de motivação que são funcionalmente independentes de seus motivos originais Autonomia funcional O conceito de autonomia funcional representa o postula do mais característico de Allport e ao mesmo tempo mais controverso Autonomia é a explicação de Allport 1961 para a miríade de motivos humanos que aparentemente não são explicados pelos princípios hedonistas ou de redu ção do impulso Ela representa uma teoria de mudança em vez de motivos imutáveis e é o ponto alto das ideias de Allport sobre motivação Em geral o conceito de autonomia funcional sustenta que alguns motivos humanos são funcionalmente inde pendentes do motivo original responsável pelo comporta mento Se um motivo for funcionalmente autônomo ele será a explicação para o comportamento e não é preciso procurar causas ocultas ou primárias Em outras palavras se acumular dinheiro é um motivo funcionalmente autô nomo então o comportamento do avarento não é rastreá vel até experiências da infância com o treinamento dos es fincteres ou com recompensas e punições Em vez disso o avarento simplesmente gosta de dinheiro e esta é a única explicação necessária Tal noção de que boa parte do com portamento humano está baseada em interesses presentes e em preferências conscientes está em harmonia com a crença do senso comum de muitas pessoas que afirmam que elas fazem as coisas simplesmente porque fazem A autonomia funcional é uma reação ao que Allport chamou de teorias de motivos imutáveis ou seja o princí pio do prazer de Freud e a hipótese de redução do impulso da psicologia do estímuloresposta Allport sustentava que ambas as teorias estão preocupadas com fatos históricos em vez de fatos funcionais Segundo ele que os motivos adultos são construídos principalmente sobre sistemas conscien tes autônomos e contemporâneos A autonomia funcional representa a tentativa de explicar essas motivações cons cientes e autônomas Admitindo que algumas motivações são inconscientes e outras são o resultado da redução do impulso Allport sustentava que como alguns comportamentos são fun cionalmente autônomos as teorias de motivos imutáveis são inadequadas Ele listou quatro requisitos de uma teoria adequada da motivação A autonomia funcional é claro satisfaz cada critério 1 Uma teoria adequada da motivação reconhecerá a contemporaneidade dos motivos Em outras palavras O que quer que nos move deve mover agora Allport 1961 p 220 O passado per se não é importante A história de um indivíduo é significativa somente quando ela tem um efeito atual sobre a motivação 2 Ela será uma teoria pluralista permitindo motivos de muitos tipos Allport 1961 p 221 Nesse ponto Allport era crítico de Freud e sua teoria dos dois instin tos de Adler e o esforço pelo sucesso e de todas as teo rias que enfatizam a autoatualização como o motivo fi Às vezes as pessoas são motivadas a procurar tensão não meramente reduzila Feist12indd 241 Feist12indd 241 291014 0931 291014 0931 242 FEIST FEIST ROBERTS nal Allport opunhase de forma enfática à redução de todo comportamento humano a um impulsomestre Ele argumentava que os motivos adultos são basica mente diferentes daqueles das crianças e que as mo tivações dos indivíduos neuróticos não são as mesmas das pessoas normais Além disso algumas motivações são conscientes outras inconscientes algumas são transitórias outras recorrentes algumas são periféri cas outras incorporadas e algumas reduzem a tensão e outras a mantêm Os motivos que parecem ser dife rentes realmente são distintos não somente na forma mas também na substância 3 Ela atribuirá força dinâmica aos processos cognitivos por exemplo ao planejamento e à intenção Allport 1961 p 222 Allport argumentava que a maioria das pessoas está ocupada vivendo no futuro mas que muitas teo rias psicológicas estão ocupadas rastreando essas vidas no passado E enquanto parece para cada um de nós que somos espontaneamente ativos muitos psicólogos estão nos dizendo que somos apenas reativos p 206 Ainda que a intenção esteja envolvida em toda a moti vação esse terceiro requisito se refere mais em geral à intenção de longo alcance Uma mulher não aceita um convite para assistir a um filme porque prefere estudar anatomia Essa preferência é coerente com seu propó sito de tirar boas notas na faculdade e relacionase a seus planos de ser admitida na escola médica o que é necessário para que ela satisfaça sua intenção de se tor nar médica A vida das pessoas sadias é orientada para o futuro envolvendo preferências propósitos planos e intenções Tais processos é claro nem sempre são com pletamente racionais como quando as pessoas permi tem que sua raiva domine seus planos e intenções 4 Uma teoria adequada da motivação é aquela que per mitirá a singularidade concreta dos motivos Allport 1961 p 225 Um motivo único concreto é diferen te de um generalizado abstrato este último estando fundamentado em uma teoria preexistente em vez de na verdadeira motivação de uma pessoa real Um exemplo de um motivo único concreto é Derrick in teressado em melhorar seu jogo de boliche Seu mo tivo é concreto e sua maneira de buscar a melhoria é única para ele Algumas teorias da motivação podem atribuir o comportamento de Derrick a uma necessi dade agressiva outros a um impulso sexual inibido e outros ainda a um impulso secundário aprendido com base em um impulso primário Allport simplesmente diria que Derrick deseja melhorar seu jogo de boliche porque ele quer aprimorar seu jogo de boliche Esse é o motivo único concreto e funcionalmente autônomo de Derrick Em resumo um motivo funcionalmente autônomo é contemporâneo e autossustentável ele se desenvolve a partir de um motivo anterior mas é funcionalmente inde pendente dele Allport 1961 definiu autonomia funcional como um sistema de motivação adquirido no qual as tensões envolvidas não são do mesmo tipo que as tensões antecedentes a partir das quais o sistema adquirido se desenvolveu p 229 Em outras palavras o que começa como um motivo pode evoluir para outro que é subsequente ao primeiro porém no aspecto funcional é autônomo em relação ao anterior Por exemplo uma pessoa pode em princípio plantar um pomar para satisfazer um impulso de fome mas acabar se interessando pela jardinagem em si Autonomia funcional perseverativa O mais elementar dos dois níveis de autonomia funcional é a autonomia funcional perseverativa Allport retirou esse termo da palavra perseveração que é a tendência de uma impressão deixar uma influência na experiência subsequente A autonomia funcional perseverativa é en contrada nos animais e também nos humanos e está ba seada em princípios neurológicos simples Um exemplo de autonomia funcional perseverativa é um rato que aprendeu a percorrer um labirinto para ser alimentado mas depois continua a correr pelo labirinto mesmo após ficar saciado Por que ele continua a correr Allport diria que o rato corre no labirinto apenas pela diversão de fazer isso Allport 1961 listou outros exemplos de autonomia funcional perseverativa que envolvem a motivação huma na em vez de animal O primeiro é a adição ao álcool ao tabaco ou a outras drogas quando não existe uma fome fi siológica por eles Os alcoólicos continuam a beber embora sua motivação atual seja funcionalmente independente de seu motivo original Outro exemplo se refere a tarefas incompletas Um problema iniciado mas interrompido irá perseverar criando uma nova tensão para concluir a tarefa Essa nova tensão é diferente da motivação inicial Por exemplo uma universitária recebe 10 centavos para cada peça de um quebracabeça de 500 peças que ela encaixou com suces so Presuma que ela não tenha um interesse preexistente na solução de quebracabeças e que sua motivação origi nal seja unicamente dinheiro Presuma também que sua recompensa monetária esteja limitada a 45 portanto depois que ela completou 450 peças terá maximizado seu pagamento Essa estudante terminará as 50 peças restan tes na ausência de recompensa monetária Em caso afir mativo será criada uma nova tensão e o seu motivo para concluir a tarefa será funcionalmente autônomo em rela ção ao motivo original de ser paga Autonomia funcional do proprium O sistemamestre de motivação que confere unidade à personalidade é a autonomia funcional do proprium a qual se refere àqueles motivos autossustentáveis que estão Feist12indd 242 Feist12indd 242 291014 0931 291014 0931 TEORIAS DA PERSONALIDADE 243 relacionados ao proprium Jogos de quebracabeça e álcool raras vezes são considerados como exclusivamente meus Eles não fazem parte do proprium mas existem somente na periferia da personalidade Entretanto ocupações hob bies e interesses estão mais próximos do centro da perso nalidade e muitas das nossas motivações referentes a eles tornamse funcionalmente autônomas Por exemplo uma mulher pode originalmente assumir um emprego porque precisa de dinheiro No início o trabalho não é interes sante talvez seja até desagradável Conforme passam os anos no entanto ela desenvolve uma grande paixão pelo trabalho em si passando parte do seu tempo de férias no trabalho e talvez até mesmo desenvolvendo um hobby que esteja intimamente relacionado a sua ocupação Critério para a autonomia funcional Em geral um motivo presente é funcionalmente autônomo conforme ele procura novos objetivos significando que o com portamento continuará mesmo quando a motivação para ele se modificar Por exemplo uma criança que está come çando a aprender a andar está motivada por um impulso maturacional mas posteriormente ela pode andar para aumentar a mobilidade ou para desenvolver autoconfiança Do mesmo modo uma cientista que no início dedicouse a encontrar respostas para problemas difíceis pode acabar obtendo mais satisfação com a pesquisa do que com a solu ção Nesse ponto sua motivação tornase funcionalmente independente do motivo original de encontrar respostas Ela pode então procurar outra área de investigação mes mo que o novo campo seja diferente do anterior Novos problemas podem levála a buscar novos objetivos e a esta belecer níveis mais altos de aspiração Processos que não são funcionalmente autônomos A autonomia funcional não é uma explicação para todo comportamento humano Allport 1961 listou oito pro cessos que não são funcionalmente autônomos 1 im pulsos biológicos como comer respirar e dormir 2 mo tivos ligados diretamente à redução dos impulsos básicos 3 ações reflexas como piscar os olhos 4 equipamento constitucional como a psique a inteligência e o tempera mento 5 hábitos no processo de formação 6 padrões de comportamento que requerem reforço primário 7 sublimações que podem ser vinculadas a desejos sexuais infantis e 8 alguns sintomas neuróticos ou patológicos O oitavo processo sintomas neuróticos ou patológicos pode ou não envolver motivos funcionalmente autônomos Para um exemplo de um sintoma compulsivo que não era funcionalmente autônomo Allport 1961 apresentou o caso de uma menina de 12 anos que tinha o hábito perturbador de estalar os lábios várias vezes por minuto Tal hábito tinha começado cerca de oito anos antes quando a mãe da meni na disse que quando ela inspirava aquele era um ar bom e quando expirava aquele era um ar ruim Como a menina achava que tornava seu ar ruim ao expelilo ela decidiu beijá lo para tornálo bom Conforme seu hábito persistiu ela re primiu a razão para sua compulsão e continuou beijando o ar mau um comportamento que assumiu a forma de estalar os lábios Tal comportamento não era funcionalmente au tônomo mas resultado de uma necessidade compulsiva de impedir que o ar bom se transformasse em ruim Allport sugeriu um critério para diferenciar entre uma compulsão funcionalmente autônoma e uma que não é Por exemplo compulsões que podem ser eliminadas por meio de terapia ou modificação do comportamento não são funcionalmente autônomas enquanto aquelas muito resistentes à terapia são autossustentáveis e assim fun cionalmente autônomas Quando a terapia permitiu que a menina de 12 anos descobrisse a razão para seu hábito ela conseguiu parar de estalar os lábios Todavia alguns sintomas patológicos servem como um estilo de vida con temporâneo e são funcionalmente autônomos a partir de experiências anteriores que instigaram a patologia Por exemplo as tentativas de um segundo filho de ultrapassar seu irmão mais velho podem se transformar em um estilo compulsivo marcado por esforços inconscientes de supe rar ou derrotar todos os rivais Como uma neurose tão ar raigada provavelmente não é receptiva à terapia ela satis faz o critério de Allport de ser funcionalmente autônoma O ESTUDO DO INDIVÍDUO Pelo fato de a psicologia historicamente lidar com as leis e as características gerais que as pessoas têm em comum Allport defendia insistentemente o desenvolvimento e o Uma pessoa pode começar a correr para perder peso mas continua porque correr é agradável O motivo para continuar a correr é então funcionalmente autônomo da razão para começar a correr Feist12indd 243 Feist12indd 243 291014 0931 291014 0931 244 FEIST FEIST ROBERTS uso de métodos de pesquisa que estudem o indivíduo Para equilibrar a abordagem normativa ou grupal predominan te ele sugeriu que os psicólogos empregassem métodos que abordassem os comportamentos motivacionais e esti lísticos de uma pessoa Ciência morfogênica Em seus primeiros escritos Allport distinguiu entre duas abordagens científicas a nomotética que busca as leis ge rais e a idiográfica que se refere ao que é peculiar ao caso único Como o termo idiográfico foi com frequência uti lizado erroneamente mal entendido e mal grafado sendo confundido com ideográfico a representação de ideias por meio de símbolos gráficos Allport 1968 abandonou essa nomenclatura em seus escritos posteriores e falava de procedimentos morfogênicos Tanto idiográfico quanto morfogênico são relativos ao indivíduo porém idiográ fico não sugere estrutura ou padrão Em contraste mor fogênico referese a propriedades padronizadas de todo o organismo e permite comparações intrapessoais O padrão ou a estrutura das disposições pessoais de um indivíduo é importante Por exemplo Tyrone pode ser inteligente introvertido e fortemente motivado pelas necessidades de realização mas a maneira única que sua inteligência está relacionada a sua introversão e a cada uma de suas neces sidades de realização forma um padrão estruturado Esses padrões individuais são o tema da ciência morfogênica Quais são os métodos da psicologia morfogênica Allport 1962 listou muitos alguns completamente mor fogênicos outros parcialmente Exemplos de métodos completamente morfogênicos são relatos integrais entre vistas sonhos confissões diários cartas alguns questio nários documentos expressivos documentos projetivos trabalhos literários formas de arte escritos automáticos rabiscos apertos de mão padrões de voz gestos corporais caligrafia marcha e autobiografias Quando Allport conheceu Hans Eysenck o famoso analista dos fatores britânico e partidário da ciência nomo tética ver Cap 14 ele disse que Eysenck um dia escreveria uma autobiografia Eysenck 1997b de fato acabou publi cando uma autobiografia em que ele admitia que Allport estava certo e que métodos morfogênicos como descrição da própria vida e do trabalho podem ter validade As abordagens semimorfogênicas incluem escalas de autoclassificação como a checklist de adjetivos testes padro nizados em que as pessoas são comparadas com elas mes mas em vez de com um grupo de normas o Estudo dos valo res 1960 de AllportVernonLindzey e a técnica Qsort de Stephenson 1953 que discutimos no Capítulo 10 Coerente com o senso comum mas contrário a mui tos psicólogos Allport estava disposto a aceitar por seu próprio valor as declarações de autorrevelação da maioria dos participantes em um estudo Um psicólogo que deseje aprender a dinâmica pessoal dos indivíduos precisa sim plesmente pedirlhes que pensem em si mesmos As res postas a perguntas diretas devem ser aceitas como válidas a menos que a pessoa seja uma criança pequena um indiví duo psicótico ou extremamente defensivo Allport 1962 disse que com frequência fracassamos em consultar a mais rica de todas as fontes de dados ou seja o próprio autoconhecimento do sujeito p 413 Os diários de Marion Taylor Durante o final da década de 1930 Allport e sua esposa Ada tomaram conhecimento de uma fonte extremamente rica de dados pessoais de uma mulher a quem chamaram de Marion Taylor A essência desses dados foram os diá rios de quase uma vida mas as informações pessoais sobre Marion Taylor também incluíam descrições dela feitas por sua mãe sua irmã mais moça seu professor favorito dois de seus amigos e um vizinho bem como anotações em um livro do bebê registros escolares escores em vários testes psicológicos material autobiográfico e dois encontros pes soais com Ada Allport Nicole Barenbaum 1997 preparou um breve relato da vida de Marion Taylor Taylor nasceu em 1902 em Illinois mudouse para a Califórnia com seus pais e sua irmã mais moça em 1908 e começou a escrever seu diário em 1911 Logo após seu 13º aniversário os registros em seu diário se tornaram mais pessoais incluindo fantasias e sentimentos secretos Ela por fim formouse na faculdade fez mestra do e se tornou professora de psicologia e biologia Ela se casou aos 31 anos e não teve filhos Ainda que uma riqueza de documentos pessoais sobre Marion Taylor tenha sido disponibilizada para Ada e Gor don Allport os Allport optaram por não publicar um relato da história dela Barenbaum 1997 apresentou algumas razões possíveis para isso mas devido a importantes lacu nas na correspondência entre Marion Taylor e Ada Allport agora é impossível saber com certeza por que os Allport não publicaram a história desse caso O trabalho deles com Marion provavelmente os ajudou a organizar e a publicar um segundo caso a história de Jenny Gove Masterson ou tro pseudônimo As cartas de Jenny A abordagem morfogênica de Allport do estudo das vidas é mais bem ilustrada em suas famosas Cartas de Jenny Essas cartas revelam a história de uma mulher mais velha e seus intensos sentimentos de amoródio por seu filho Ross Entre março de 1926 quando ela tinha 58 anos e outubro de 1937 quando ela morreu Jenny escreveu uma série de 301 cartas ao excolega de quarto de Ross na faculda de Glenn e a sua esposa Isabel que quase certamente eram Gordon e Ada Allport Winter 1993 Allport ori ginalmente publicou partes dessas cartas em anonimato Feist12indd 244 Feist12indd 244 291014 0931 291014 0931 TEORIAS DA PERSONALIDADE 245 Anônimo 1946 e então mais tarde publicouas em mais detalhes com o próprio nome Allport 1965 Nascida na Irlanda em 1868 e filha de pais protestan tes Jenny era a mais velha em uma família de sete filhos que incluía cinco irmãs e um irmão Quando tinha 5 anos a família mudouse para o Canadá quando tinha 18 anos seu pai morreu e ela foi forçada a abandonar a escola e ir trabalhar para ajudar no sustento da família Depois de nove anos seu irmão e suas irmãs já podiam se sustentar e Jenny que sempre tinha sido considerada rebelde escan dalizou a família ao se casar com um homem divorciado uma decisão que a afastou ainda mais de sua família con servadoramente religiosa Depois de apenas dois anos de casamento o marido de Jenny morreu Pouco mais de um mês depois nasceu seu filho Ross Isso ocorreu em 1897 o mesmo ano em que nasceu Gordon Allport o futuro colega de quarto de Ross Os 17 anos seguintes foram de luta para Jenny Seu mun do girava em torno do filho e ela trabalhava arduamente para garantir que ele tivesse tudo o que queria Ela disse a Ross que à parte a arte o mundo era um lugar miserável e que era seu dever se sacrificar pelo filho porque ela era responsável pela existência dele Quando Ross saiu de casa para ir à faculdade Jenny continuou a economizar para poder pagar todas as contas dele Quando Ross começou a se interessar por mulheres a relação idílica mãefilho chegou ao fim Os dois discutiam com frequência e com rispidez sobre as amigas dele Jenny se referia a cada uma delas como prostituta incluindo a mulher com quem Ross se casou Com o casamento Jenny e Ross ficaram temporariamente distanciados Mais ou menos na mesma época Jenny começou uma correspondência de 11 anos e meio com Glenn e Isabel Gordon e Ada em que ela revelava muito sobre sua vida e sua personalidade As primeiras cartas mostravam que ela estava profundamente preocupada com dinheiro morte e Ross Ela achava que o filho era ingrato e que a tinha aban donado por outra mulher além do mais uma prostituta Ela continuou com sua amargura em relação ao filho até que ele e sua esposa se divorciaram Ela então mudouse para o apartamento ao lado do de Ross e por um curto pe ríodo de tempo ela foi feliz Mas em seguida Ross estava saindo com outras mulheres e Jenny inevitavelmente encontrava algo de errado em cada uma delas Suas cartas estavam outra vez cheias de animosidade por Ross uma atitude desconfiada e cética em relação aos outros e uma abordagem mórbida e dramática da vida Com três anos de correspondência Ross morreu subi tamente Após sua morte as cartas de Jenny expressavam uma atitude mais favorável em relação ao filho Agora ela não tinha que dividilo com alguém Agora ele estava segu ro não havia mais prostitutas Durante os oito anos seguintes Jenny continuou es crevendo para Glenn e Isabel e eles costumavam respon der No entanto eles serviam principalmente como ou vintes neutros e não como conselheiros ou confidentes Jenny continuou a ser excessivamente preocupada com morte e dinheiro Ela acusava cada vez mais os outros por sua infelicidade e intensificou suas suspeitas e hostilidade em relação a seus cuidadores Depois que Jenny morreu Isabel Ana comentou que ao final de tudo Jenny conti nuava a mesma de sempre Allport 1965 p 156 Essas cartas representam uma fonte incomumente rica de material morfogênico Durante anos elas foram objeto de análise e estudo detalhados da parte de Allport e seus alunos que procuraram montar a estrutura de uma personalidade única identificando disposições pessoais que eram centrais àquela pessoa Allport e seus alunos usaram três técnicas para examinar a personalidade de Jenny Primeiro Alfred Baldwin 1942 desenvolveu uma técnica denominada análise da estrutura pessoal para exa minar cerca de um terço das cartas Para analisar a estru tura pessoal de Jenny Baldwin usou dois procedimentos estritamente morfogênicos frequência e contiguidade para reunir evidências O primeiro simplesmente envolve uma notação da frequência com que um item aparece no material do caso Por exemplo com que frequência Jenny menciona Ross ou dinheiro ou ela mesma Contiguidade referese à proximidade de dois itens nas cartas Com que frequência a categoria Ross desfavorável ocorre em ín tima correspondência com ela mesma autossacrifício Freud e outros psicanalistas usaram de forma intuitiva essa técnica da contiguidade para descobrir uma associa ção entre dois itens na mente inconsciente de um pacien te Baldwin no entanto refinou o método determinando estatisticamente essas correspondências que ocorrem com mais frequência do que poderia ser esperado apenas pelo acaso Usando a análise da estrutura pessoal Baldwin identi ficou três grupos de categorias nas cartas de Jenny O pri meiro relacionavase a Ross mulheres o passado e ela mesma autossacrifício O segundo tratava da busca de Jenny por um emprego e o terceiro grupo girava em torno de sua ati tude em relação a dinheiro e morte Os três grupos são inde pendentes uns dos outros muito embora um único tema como dinheiro possa aparecer em todos os três Segundo Jeffrey Paige 1966 usou uma análise fato rial para extrair disposições pessoais primárias reveladas pelas cartas de Jenny Ao todo Paige identificou oito fa tores agressividade possessividade afiliação autonomia aceitação familiar sexualidade consciência e martírio O estudo de Paige é interessante porque identificou oito fatores um número que corresponde muito bem à quan tidade de disposições centrais 5 a 10 que segundo a hipótese anterior de Allport seriam encontradas na maio ria das pessoas O terceiro método de estudo das cartas de Jenny foi uma técnica de senso comum usada por Allport 1965 Feist12indd 245 Feist12indd 245 291014 0931 291014 0931 246 FEIST FEIST ROBERTS Seus resultados são muito semelhantes aos de Baldwin e Paige Allport pediu a 36 juízes que listassem o que eles consideravam as características essenciais de Jenny Eles registraram 198 adjetivos descritivos muitos dos quais eram sinônimos e se sobrepuseram Allport então agru pou os termos em oito grupos 1 belicosodesconfiado 2 autocentrado possessivo 3 independenteautôno mo 4 dramáticointenso 5 estéticoartístico 6 agres sivo 7 céticomórbido e 8 sentimental Comparando essa abordagem clínica de senso comum com o estudo fatorial de Paige Allport 1966 traçou al guns paralelos interessantes ver Tab 121 Por meio das cartas de Jenny então constatamos que ela possuía cerca de oito traços centrais que caracterizavam os últimos 12 anos de sua vida se não sua vida inteira Ela era agressiva desconfiada possessiva estética sentimental mórbida dramática e autocentrada Tais disposições centrais eram fortes o suficiente para que ela fosse descrita em termos si milares por Isabel Ada Allport que a conhecia bem e por pesquisadores independentes que estudaram suas cartas Allport 1965 A grande concordância entre a abordagem clínica de senso comum de Allport e o método analítico fatorial de Paige não comprova a validade de qualquer uma das duas No entanto indica a viabilidade dos estudos morfogêni cos Os psicólogos podem analisar uma pessoa e identificar disposições centrais com coerência mesmo quando usam procedimentos diferentes PESQUISA RELACIONADA Mais do que qualquer outro teórico da personalidade Gor don Allport manteve um interesse ativo por toda a vida no estudo científico da religião e publicou seis conferências sobre o assunto sob o título O indivíduo e sua religião The individual and his religion Allport 1950 Em nível pessoal Allport era um devoto episcopal e por quase 30 anos rea lizou meditações na Capela Appleton na Universidade de Harvard Allport 1978 Orientação religiosa intrínseca versus extrínseca Allport acreditava que um comprometimento religioso profundo era uma marca do indivíduo maduro mas ele também achava que nem todos os frequentadores da igreja tinham uma orientação religiosa madura Alguns na ver dade eram altamente preconceituosos Allportt 1966 ofereceu uma explicação possível para essa observação re latada com frequência Ele sugeriu que igreja e preconcei to oferecem a mesma segurança e status pelo menos para algumas pessoas as quais podem se sentir confortáveis e autojustificadas com suas atitudes preconceituosas e sua participação na igreja Para compreender a relação entre frequentar a igreja e preconceito Allport e J Michael Ross 1967 desenvolve ram a Escala de Orientação Religiosa ROS Religious Orien tation Scale a qual é aplicável somente aos que frequentam a igreja A ROS consiste em 20 itens 11 extrínsecos e 9 intrínsecos Exemplos de itens extrínsecos são O objetivo primário daquele que reza é obter alívio e proteção O que a religião mais me oferece é conforto quando a tristeza e o infortúnio atacam e Uma razão para que eu seja membro da igreja é que essa afiliação ajuda a firmar uma pessoa na comunidade Exemplos de itens intrínsecos incluem Mi nhas crenças religiosas são o que realmente se encontra por trás de toda a minha abordagem de vida e Esforçome mui to para transferir a minha religião para todas as minhas ou tras relações na vida p 436 Allport e Ross consideravam que as pessoas com uma orientação extrínseca têm uma vi são utilitária da religião ou seja elas a veem como um meio para um fim Sua religião é egoísta uma religião de conforto e conveniência social Suas crenças são frágeis e facilmente moldadas quando conveniente Em contraste um segundo grupo de pessoas tem uma orientação intrínseca Essas pes soas vivem sua religião e a consideram o motivo principal em sua fé religiosa Em vez de usarem a religião para algum fim elas colocam outras necessidades em harmonia com seus valores religiosos Elas possuem uma crença internali zada e a seguem integralmente TABELA 121 Disposições centrais de Jenny reveladas pelas técnicas analítica fatorial e clínica Técnica clínica Allport Belicosadesconfiada Agressiva Autocentrada possessiva Sentimental Independenteautônoma Estéticaartística Autocentrada autopiedade Sem paralelo Céticamórbida Dramáticaintensa Técnica analítica fatorial Paige Agressividade Possessividade Necessidade de afiliação Necessidade de aceitação familiar Necessidade de autonomia Consciente Martírio Sexualidade Sem paralelo Exagero i e a tendência a ser dramática e a exagerar suas preocupações Feist12indd 246 Feist12indd 246 291014 0931 291014 0931 TEORIAS DA PERSONALIDADE 247 Pesquisas anteriores constataram que falando de modo geral ser religioso é bom para a saúde Frequentar a igreja regularmente tende a estar associado a sentirse me lhor e viver por mais tempo Powell Shahabi Thoresen 2003 Porém a explicação ainda não está inteiramente compreendida As pessoas que frequentem a igreja podem apenas tender a cuidar melhor de si do que aquelas que não frequentam Ou talvez exista algo peculiar à religião que encoraje uma saúde melhor Um aspecto da religião que pode afetar a conexão entre religião e saúde é o conceito de Allport de orientação religiosa Recentemente pesquisado res começaram a investigar as implicações na saúde de ter uma orientação intrínseca versus extrínseca Conforme dis cutimos no Capítulo 10 as atividades motivadas intrinse camente são em geral melhores do que aquelas atividades que são motivadas extrinsecamente Assim os pesquisa dores previram que aqueles que possuem seus valores re ligiosos internalizados orientação intrínseca estarão em melhor situação do que aqueles que usam a religião para alcançar algum fim orientação extrínseca Kevin Masters e colaboradores 2005 conduziram um estudo examinando orientação religiosa e saúde cardiovas cular A pressão arterial aumenta e diminui dependendo de uma variedade de fatores incluindo estressores no am biente mas às vezes as pessoas possuem pressão arterial cronicamente alta Nesse caso ela impõe um aumento de estresse ao coração e é uma preocupação de saúde impor tante para muitas pessoas sobretudo em idosos porque torna os indivíduos mais suscetíveis a uma variedade de condições cardíacas incluindo ataques cardíacos Para exa minar a relação entre orientação religiosa e hipertensão arterial Masters e colaboradores 2005 trouxeram para o laboratório 75 pessoas entre 60 e 80 anos e pediram que completassem a ROS e algumas tarefas enquanto os pes quisadores monitoravam com atenção sua pressão arterial As tarefas foram concebidas para serem moderadamente estressantes e com probabilidade de elevar a pressão ar terial em pessoas que são em particular propensas a tal condição De forma mais específica as tarefas envolviam resolver alguns problemas matemáticos e um encontro hipotético com uma companhia de seguros que está se re cusando a cobrir um procedimento médico que potencial mente salvaria a vida delas Os pesquisadores constataram que conforme previsto aqueles que possuíam uma orien tação religiosa intrínseca não experimentaram o mesmo aumento na pressão arterial que aqueles que apresentavam uma orientação extrínseca Essa pesquisa demonstrou que uma orientação religiosa intrínseca serve como um amor tecedor contra estressores prováveis de serem experimen tados na vida diária Aqueles que possuem uma orientação religiosa intrínseca provavelmente encontram os mesmos estressores que qualquer pessoa porém seus corpos rea gem de forma diferente e de maneira saudável Existe algo em ter uma fé religiosa intrínseca profunda que ajuda as pessoas a lidarem com estressores do dia a dia de uma for ma que não é prejudicial à saúde física A religião pode ser boa para a saúde mas para que re cebam os benefícios da religião é importante que as pes soas sejam religiosas pelas razões certas Não é suficiente simplesmente ir à igreja ao templo ou à sinagoga uma vez por semana Uma pessoa deve estar frequentando esses serviços porque ela de fato acredita na mensagem de sua religião escolhida e a tem internalizada como uma forma de ter uma vida boa Também é importante observar que embora Allport considerasse o comprometimento religioso como uma marca da pessoa madura saudável ele achava a religião útil porque ela oferece uma filosofia de vida uni ficadora Se ter uma filosofia de vida unificadora que não está baseada em uma religião organizada é benéfico para a saúde da mesma forma que a orientação religiosa intrínse ca ainda permanece uma área para pesquisa futura Como reduzir o preconceito contato ideal Lembrese de que Gordon Allport interessouse incial mente pela diferença entre orientação religiosa intrínseca e extrínseca porque observou que muitas pessoas que se identificavam como religiosas também eram bastante pre conceituosas Allport no entanto também ficou interes sado no preconceito de uma forma mais geral e desenvol ver maneiras de reduzir o preconceito racial era de suma importância para ele Allport 1954 propôs que um dos componentes fundamentais para a redução do preconcei to era o contato se os membros dos grupos majoritários e minoritários interagissem mais sob condições ideais ha veria menos preconceito Esta ficou conhecida como a hi pótese do contato e as condições ideais eram relativamente simples 1 status igual entre os dois grupos 2 objetivos comuns 3 cooperação entre os grupos e 4 apoio de uma figura de autoridade leis ou costume Por exemplo se vi zinhos afroamericanos e euroamericanos se unem para formar um grupo de vigilância no bairro com o objetivo comum de tornar a vizinhança mais segura e tal progra ma for endossado pelo prefeito ou pelo departamento de polícia da cidade então tal interação e o esforço do grupo provavelmente levariam à redução no preconceito entre os residentes do bairro Ainda que o próprio Allport tenha realizado algumas pesquisas sobre o tema da redução do preconceito Allport 1954 um de seus alunos Thomas Pettigrew continuou o trabalho que ele começou Pettigrew et al 2011 Pettigrew Tropp 2006 Tropp Pettigrew 2005 Thomas Pettigrew e Linda Tropp desenvolveram um extenso programa de pes quisa direcionado para a investigação das condições sob as quais o contato entre os grupos pode reduzir o preconceito Em duas metanálises complexas de mais de 500 estu dos e mais de 250 mil participantes Pettigrew Tropp e co laboradores 2006 2011 examinaram a validade da hipó Feist12indd 247 Feist12indd 247 291014 0931 291014 0931 248 FEIST FEIST ROBERTS tese do contato de Allport Eles constataram que de fato o contato entre os grupos reduz o preconceito e que as quatro condições de Allport para o contato ideal entre os grupos facilitam esse efeito Além do mais embora o conceito de contato ideal tenha sido a princípio conceitualizado como uma forma de reduzir o preconceito racial Allport 1954 as pesquisas demonstraram que ele também funciona para minimizar atitudes preconceituosas em relação a outros grupos estigmatizados como idosos deficientes mental mente doentes e homossexuais Pettigrew et al 2011 Os estudos em geral mostram efeitos maiores para medidas em testes de relacionamento do que para indicadores como estereotipia significando que o contato ideal nos ajuda a gostar mais do outgroup muito embora os estereótipos so bre eles possam persistir Tropp Pettigrew 2005 Uma descoberta fascinante de todos esses anos de pes quisa sobre o contato ideal é a importância especial da ami zade entre grupos na redução do preconceito Conforme assinalam Pettigrew e colaboradores 2011 amizade en volve um contato ampliado em uma variedade de contex tos e isso facilita atitudes fortes e positivas em relação ao outgroupque são resistentes à mudança Um estudo parti cularmente comovente realizado no norte da Irlanda ilus tra essa força da amizade Nele a amizade entre católicos e protestantes gerou confiança e perdão do outro grupo re ligioso e tal efeito foi mais forte entre aqueles que tinham sofrido diretamente violência religiosa na área Hewstone Cairns Voci Hamberger Niens 2006 Alguns dos estudos incluídos nas revisões de Thomas Pettigrew e Linda Tropp 2006 2011 envolviam méto dos relativamente simples de apenas perguntar às pes soas quantos amigos elas tinham que eram de um grupo minoritário uma medida de contato e então fazêlas completar várias medidas de autorrelato concebidas para captar até que ponto os participantes endossam visões es tereotipadas dos grupos minoritários Entretanto outros estudos incluídos na revisão abordavam uma metodologia mais complexa em que os participantes eram designados aleatoriamente para grupos que envolviam contato ideal com membros de um grupo minoritário ou para grupos que não envolviam o contato ideal prescrito por Allport Ainda que os dois tipos de estudos tenham constatato que o contato ideal reduz o preconceito os experimentos em que as pessoas foram designadas aleatoriamente para se envolverem em contato ideal ou não apresentam a redu ção mais considerável no preconceito Pettigrew Tropp 2006 Obviamente não há razão para que esse contato ideal ocorra em um laboratório e os achados de Pettigrew e Tropp 2006 demonstram o grande potencial para pro gramas comunitários a serem desenvolvidos com base na prescrição de Allport para a redução do preconceito Se tais programas fossem implementados as pesquisas mostram que as relações entre grupos majoritários e minoritários provavelmente melhorariam muito De modo geral Gordon Allport foi um psicólogo da personalidade bastante perspicaz cujas ideias continuam a inspirar os psicólogos hoje Apesar de suas ideias sem dú vida continuarem a abrilhantar a pesquisa em psicologia da personalidade seus métodos para redução do precon ceito enriqueceram de modo silencioso a vida de pessoas que talvez sem saber beneficiaramse com o profundo comprometimento de Allport em reduzir o preconceito em nossa sociedade Como assinalam Pettigrew e colaboradores 2011 as opiniões sobre o contato entre grupos estão muito dividi das Alguns acreditam que boas cercas fazem bons vizi nhos Ou seja o contato entre grupos só causa conflito portanto é melhor que cuidemos de nossa vida Outros como Allport acreditam que a interação é essencial para reduzir o preconceito e o conflito entre os grupos Décadas de pesquisas feitas por seus alunos resolveram tal discor dância e mostraram que Allport estava certo a única ma neira de reduzir o conflito e o preconceito é interagir com aqueles que consideramos diferentes CRÍTICAS A ALLPORT Allport baseou sua teoria da personalidade mais na espe culação filosófica e no bom senso do que em investigações científicas Ele nunca teve a pretensão de que sua teoria fosse completamente nova ou abrangente ao contrário ele era eclético utilizando de modo cuidadoso conceitos de ou tras teorias e reconhecendo que seus detratores poderiam ter coisas importantes a dizer Coerente com essa atitude tolerante Allport 1968 reconheceu que seus adversários poderiam estar certos pelo menos em parte Para Allport entendese que a maioria da população é constituída de indivíduos conscientes que olham para a frente e buscam a tensão Para aqueles que acham que as teorias deterministas perderam de vista a pessoa proativa a visão de Allport de humanidade é filosoficamente inova dora No entanto como com qualquer outra teoria ela pre cisa ser avaliada a partir de uma base científica É provável que Allport tenha feito mais do que qual quer outro psicólogo para definir a personalidade e clas sificar outras acepções do termo Porém seus escritos constituem uma teoria no sentido de estabelecer um con junto de pressupostos relacionados que geram hipóteses verificáveis Segundo esse critério as propostas de Allport se classificam com um sim qualificado Tratase de uma teoria limitada que oferece explicações para um âmbito restrito da personalidade a saber certos tipos de motiva ção Os motivos funcionalmente autônomos dos adultos sadios no âmbito psicológico são abordados de modo ade quado pela teoria de Allport Mas e quanto aos motivos das crianças e dos adultos mentalmente perturbados O que os move e por quê E quanto aos adultos sadios que Feist12indd 248 Feist12indd 248 291014 0931 291014 0931 TEORIAS DA PERSONALIDADE 249 se comportam de maneira estranha O que explica essas incoerências Que explicação Allport apresentou para so nhos bizarros fantasias e alucinações de indivíduos ma duros Infelizmente essa explicação da personalidade não é ampla o suficiente para responder de modo adequado a tais perguntas Apesar de suas limitações como uma teoria útil a abordagem da personalidade de Allport é estimulante e es clarecedora Qualquer pessoa interessada na construção de uma teoria da personalidade deve primeiro familiarizar se com os escritos de Allport Poucos psicólogos fizeram tanto esforço para colocar a teoria da personalidade em perspectiva poucos foram tão cuidadosos na definição de termos na categorização de definições prévias ou no ques tionamento de quais unidades devem ser empregadas na teoria da personalidade O trabalho de Allport estabeleceu um padrão para o pensamento claro e a precisão que futu ros teóricos deveriam imitar A teoria gerou pesquisa Segundo esse critério a teoria de Allport recebe uma classificação moderada A sua ROS o Estudo dos valores e seu interesse pelo preconceito o con duziram a múltiplos estudos científicos da religião dos va lores e do preconceito Segundo o critério de refutabilidade a teoria de Allport deve receber uma classificação baixa O conceito de quatro orientações religiosas um tanto independentes pode ser verificado ou refutado porém a maioria dos outros insights de Allport está além da capacidade da ciência de determi nar se alguma outra explicação poderia ser igualmente apropriada Uma teoria útil proporciona uma organização para as observações A teoria de Allport satisfaz esse critério Mais uma vez apenas para um âmbito restrito dos motivos adultos a teoria oferece uma organização significativa para as observações Muito do que é conhecido acerca da per sonalidade humana não pode ser facilmente integrado à teoria de Allport De forma mais específica os comporta mentos motivados por forças inconscientes assim como aqueles estimulados por impulsos primários não foram explicados de modo adequado por Allport Ele reconheceu a existência desses tipos de motivações mas pareceu se contentar em permitir que as explicações psicanalíticas e comportamentais permanecessem sem maior elaboração Tal limitação no entanto não invalida a teoria de Allport Aceitar a validade de outros conceitos teóricos é uma abor dagem legítima da construção da teoria Como um guia para os profissionais a teoria de Allport tem utilidade moderada Ela certamente serve como uma baliza para o professor e o terapeuta iluminando a visão da personalidade que sugere que as pessoas devem ser tra tadas como indivíduos Os detalhes no entanto são deixa dos sem especificação Nos dois critérios finais de uma teoria útil a psicolo gia do indivíduo de Allport é classificada como alta Sua linguagem precisa torna a teoria coerente internamente e parcimoniosa CONCEITO DE HUMANIDADE Allport possuía uma visão basicamente otimista e esperan çosa da natureza humana Ele rejeitava as visões psicanalíti ca e comportamental de humanidade como excessivamente deterministas e mecanicistas Ele acreditava que nosso desti no e nossos traços não são determinados por motivos incons cientes que se originam na infância mas por escolhas cons cientes que fazemos no presente Não somos simplesmente autômatos que reagem de modo cego às forças de recom pensa e punição Ao contrário somos capazes de interagir com o ambiente e tornálo reativo a nós Não só procuramos reduzir as tensões como também estabelecer novas Deseja mos a mudança e o desafio e somos reativos intencionais e flexíveis Como as pessoas possuem o potencial de aprender uma variedade de respostas em muitas situações o crescimento psicológico pode acontecer em qualquer idade A personali dade não é estabelecida no início da infância muito embora para algumas pessoas as influências infantis permaneçam fortes As experiências do início da infância são importan tes somente se continuam existindo no presente Ainda que a segurança e o amor precoces deixem marcas duradouras as crianças precisam de mais do que amor Elas necessitam de uma oportunidade para moldarem sua própria existência com criatividade para resistirem à conformidade e para se rem indivíduos livres e autodirecionados Mesmo que a sociedade tenha algum poder de moldar a personalidade Allport acreditava que ela possui a respos ta para a natureza da humanidade Os fatores que moldam a personalidade defendia Allport não são tão importantes quanto a própria personalidade A hereditariedade o am biente e a natureza do organismo são importantes porém as pessoas são essencialmente proativas e livres para seguir os ditames predominantes da sociedade ou para traçar o curso da própria vida As pessoas no entanto não são completamente livres Allport 1961 adotou uma abordagem da liberdade limitada Ele com frequência era crítico daquelas visões que permi tem a liberdade absoluta mas também se opunha às visões Feist12indd 249 Feist12indd 249 291014 0931 291014 0931 250 FEIST FEIST ROBERTS Termoschave e conceitos Allport era eclético na aceitação de ideias de uma va riedade de fontes Ele definiu personalidade como a organização dinâ mica no interior do indivíduo daqueles sistemas psicofísicos que determinam o comportamento e o pensamento de uma pessoa As pessoas psicologicamente sadias são motiva das em grande parte pelos processos conscientes possuem um senso de self ampliado relacionamse afetuosamente com os outros aceitamse pelo que são possuem uma percepção realista do mundo e apresentam insight humor e uma filosofia de vida unificadora Allport defendia uma posição proativa que enfati zasse a noção de que as pessoas têm bastante contro le consciente sobre suas vidas Traços comuns são as características gerais apresen tadas em comum por muitas pessoas Elas podem ser úteis para comparar um grupo de pessoas com outro Os traços individuais disposições pessoais são pe culiares ao indivíduo e têm a capacidade de tornar diferentes estímulos funcionalmente equivalentes e iniciar e guiar o comportamento Os três níveis de disposições pessoais são 1 dis posições cardinais as quais apenas algumas pessoas possuem e que são tão visíveis que não podem ser ocultas 2 disposições centrais os 5 a 10 traços que tornam uma pessoa única e 3 disposições secundá rias que são menos distinguíveis porém muito mais numerosas do que as disposições centrais As disposições pessoais que iniciam ações são deno minadas traços motivacionais As disposições pessoais que guiam as ações são de nominadas traços estilísticos O proprium referese a comportamentos e disposições pessoais que são calorosos e centrais para nossas vi das e que consideramos como exclusivamente nossos psicanalítica e comportamental as quais ele considerava que negavam o livrearbítrio A posição de Allport era intermediá ria Ainda que exista o livrearbítrio algumas pessoas são mais capazes de fazer escolhas do que outras Uma pessoa sadia tem mais liberdade do que uma criança ou um adulto grave mente perturbado A pessoa reflexiva e muito inteligente tem mais capacidade para a livre escolha do que a não reflexiva e com pouca inteligência Mesmo que a liberdade seja limitada Allport defendia que ela pode ser expandida Quanto mais insight pessoal um indivíduo desenvolve maior é a liberdade de escolha des sa pessoa Quanto mais objetiva uma pessoa se torna isto é quanto menores as preocupações consigo e o egoísmo maior o grau de liberdade dessa pessoa Educação e conhecimento também expandem a quanti dade de liberdade que temos Quanto maior nosso conheci mento de uma área particular mais ampla é nossa liberdade nessa área Ter uma educação geral extensa significa que até certo ponto a pessoa tem uma escolha mais ampla de em pregos atividades recreativas materiais de leitura e amigos Por fim nossa liberdade pode ser expandida por nosso modo de escolha Se aderimos teimosamente a um curso de ação familiar apenas porque ele é mais confortável nossa liberdade permanece em grande parte restrita Todavia se adotamos um modo de mente aberta para a solução de pro blemas então ampliamos nossa perspectiva e aumentamos nossas alternativas ou seja expandimos nossa liberdade para escolher Allport 1955 A visão de Allport de humanidade é mais teleológica do que causal A personalidade até certo ponto é influenciada pelas experiências passadas mas os comportamentos que nos tornam humanos são motivados por nossas expectativas do futuro Em outras palavras somos indivíduos sadios uma vez que estabelecemos e buscamos propósitos e aspirações futu ras Cada um de nós é diferente dos outros não tanto porque temos impulsos básicos distintos mas porque temos objetivos e intenções autoconstruídas diferentes O crescimento da personalidade sempre ocorre dentro de um contexto social porém Allport colocou ênfase apenas moderada nos fatores sociais Ele reconheceu a importância das influências ambientais para ajudar a moldar a personali dade mas insistia em que a personalidade tem alguma vida própria A cultura pode influenciar nossa linguagem nossa moral nossos valores nossa moda porém a forma como cada um de nós reage às forças culturais depende de nossa perso nalidade única e de nossa motivação básica Em suma Allport tinha uma visão otimista da humani dade afirmando que as pessoas têm pelo menos liberdade limitada Os seres humanos são orientados para o objetivo proativos e motivados por uma variedade de forças a maioria das quais está dentro do terreno da consciência As experiên cias infantis iniciais são de importância relativamente menor e são significativas apenas quando existem no presente Tan to as diferenças quanto as semelhanças entre as pessoas são importantes mas as diferenças individuais e a singularidade recebem muito maior ênfase na psicologia de Allport Feist12indd 250 Feist12indd 250 291014 0931 291014 0931 TEORIAS DA PERSONALIDADE 251 Autonomia funcional referese aos motivos que são autônomos e independentes dos motivos que foram originalmente responsáveis por um comportamento Autonomia funcional perseverativa referese a hábitos e comportamentos que não fazem parte do proprium da pessoa A autonomia funcional do proprium inclui todas aque las motivações autônomas que estão relacionadas ao proprium Allport usou procedimentos morfogenéticos como diá rios e cartas que destacam os padrões de comporta mento dentro de um único indivíduo Feist12indd 251 Feist12indd 251 291014 0931 291014 0931 CAPÍTULO 13 Teoria dos Cinco Traços e Fatores de McCrae e Costa Panorama das teorias dos traços e fatores O trabalho pioneiro de Raymond B Cattell Princípios básicos da análise fatorial Os cinco grandes fatores taxonomia ou teoria Biografias de Robert R McCrae e Paul T Costa Jr À procura dos cinco grandes fatores Cinco fatores encontrados Descrição dos cinco fatores Evolução da teoria dos cinco fatores Unidades da teoria dos cinco fatores Postulados básicos Pesquisa relacionada Traços e desempenho acadêmico Traços uso da Internet e bemestar Traços e emoção Críticas às teorias dos traços e fatores Conceito de humanidade Termoschave e conceitos McCrae Costa Feist13indd 252 Feist13indd 252 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 253 T homas estava em um bar local com alguns amigos de longa data mas um deles Samuel disse algo que realmente perturbou Thomas que já tinha bebido muito Thomas se levantou empurrou Samuel e começou uma briga Clarisse uma amiga de Samuel puxou Thomas antes que alguém ficasse ferido Clarisse não conhecia Thomas muito bem mas estava convenci da de que ele era um idiota agressivo e impulsivo e disse isso a ele quando os três saíram às pressas do bar Sa muel surpreendentemente veio em defesa de Thomas e disse Sabe Thomas é realmente um cara legal Ele não é assim ele deve estar em um dia difícil Dê uma chance a ele Thomas é um idiota agressivo ou está apenas tendo um dia difícil Podemos dizer que Thomas é agressivo e impulsivo sem saber mais nada sobre sua personalidade É assim que ele é normalmente E quando ele não está bêbado Ele age de forma agressiva e impulsiva em outras situações A situação dia difícil explica melhor como Tho mas agiu ou é mais adequado explicar suas ações por sua personalidade idiota agressivo Esses são os tipos de perguntas que os psicólogos fazem Os psicólogos sociais provavelmente irão expli car o comportamento de Thomas por meio da situação dia difícil É possível que os psicólogos da personalidade atribuam o comportamento de Thomas a traços duradou ros Um traço torna as pessoas únicas e contribui para a coerência de como elas se comportam em diferentes situações e ao longo do tempo Os traços são o foco de estudo de muitos psicólogos da personalidade mas his toricamente psicólogos diferentes tiveram a própria lista particular de traços de personalidade em que se focaram e houve pouco consenso acerca de quais eram as princi pais dimensões da personalidade Esse foi pelo menos o caso até a década de 1980 quando o campo convergiu para uma resposta existem cinco dimensões principais da personalidade são elas extroversão amabilidade conscienciosidade neuroticismo e abertura à experiên cia Esses são os assim chamados cinco grandes traços da personalidade Big Five e sua ampla adoção e aceita ção deve muito às pesquisas e à teoria de Robert McCrae e Paul Costa PANORAMA DAS TEORIAS DOS TRAÇOS E FATORES Como a personalidade pode ser medida Por testes padro nizados Observação clínica Julgamentos de amigos e conhecidos Os teóricos dos fatores usaram todos esses e outros métodos Uma segunda questão é quantos traços ou disposições pessoais o indivíduo possui Dois ou três Meia dúzia Algumas centenas Mais de mil Durante os últimos 25 a 45 anos inúmeros estudiosos Cattell 1973 1983 Eysenck 1981 1997a e várias equipes de pesquisa dores Costa McCrae 1992 McCrae Costa 2003 Tu pes Christal 1961 adotaram uma abordagem analítica fatorial para responder a tais questões Nos dias atuais a maioria dos pesquisadores que estudam os traços de per sonalidade concorda que cinco apenas cinco e não menos do que cinco traços dominantes continuam a emergir das técnicas de análise fatorial procedimentos matemáticos capazes de selecionar os traços de personalidade em meio a inúmeros dados de testes Ainda que muitos teóricos contemporâneos acreditem que cinco é o número mágico teóricos anteriores como Raymond B Cattell encontraram muito mais traços da personalidade e Hans J Eysenck insistia em que somen te três fatores principais podem ser discernidos por meio da análise fatorial Além disso já vimos que a abordagem do senso comum de Gordon Allport ver Cap 12 resultou em 5 a 10 traços que são centrais para a vida de cada pes soa Entretanto a contribuição principal de Allport para a teoria dos traços pode ter sido a identificação de quase 18 mil denominações de traços em um dicionário completo da língua inglesa Essas denominações de traços foram a base para o trabalho original de Cattell e elas continuam a fornecer os fundamentos para estudos de análise fatorial recentes A Teoria dos Cinco Fatores frequentemente deno minada Big Five inclui neuroticismo e extroversão mas acrescenta a abertura à experiência amabilidade e cons cienciosidade Esses termos diferem um pouco entre as equipes de pesquisa mas os traços subjacentes são muito semelhantes O TRABALHO PIONEIRO DE RAYMOND B CATTELL Uma figura importante nos primeiros anos da psicometria foi Raymond B Cattell 19051998 que nasceu na Ingla terra mas passou a maior parte de sua carreira nos Estados Unidos Cattell teve apenas uma influência indireta sobre McCrae e Costa Estes no entanto compartilharam técni cas e ideias mesmo que suas abordagens também tivessem algumas diferenças reais Como a familiaridade com a teo ria dos traços de Cattell ajuda a compreender a teoria dos cinco fatores de McCrae e Costa discutimos brevemente o trabalho de Cattell e o comparamos com o de McCrae e Costa Em primeiro lugar tanto Cattell quanto McCrae e Cos ta usaram um método indutivo de coleta de dados ou seja eles começaram sem ideias preconcebidas referentes ao número ao nome dos traços ou aos tipos Outros teóri cos fatoriais no entanto usaram o método dedutivo ou seja eles tinham hipóteses preconcebidas antes de começa rem a coleta dos dados Feist13indd 253 Feist13indd 253 271014 1514 271014 1514 254 FEIST FEIST ROBERTS Em segundo Cattell usou três diferentes meios de ob servação para examinar as pessoas a partir do maior núme ro de ângulos possível As três fontes de dados incluíam um registro da vida da pessoa dados L do inglês life derivado de observações feitas por outras pessoas autorrelatos da dos Q do inglês questionnaires obtidos de questionários e outras técnicas concebidas para possibilitar que as pessoas façam descrições subjetivas de si mesmas e testes objetivos dados T que medem aspectos como inteligência rapidez de resposta e outras atividades concebidas para instigar o desempenho máximo da pessoa Em contraste cada um dos cinco fatores bipolares de McCrae e Costa está limitado a res postas a questionários Esses autorrelatos restringem os pro cedimentos de McCrae e Costa aos fatores de personalidade Em terceiro Cattell dividiu os traços em traços comuns compartilhados por muitos e traços singulares peculiares a um indivíduo Ele também distinguiu os traços de fundo dos indicadores de traços ou traços superficiais Cattell ain da classificou os traços em temperamento motivação e habi lidade Os traços de temperamento se referem a como uma pessoa se comporta os de motivação tratam de por que ela se comporta e os traços de habilidade abordam até onde ou a que velocidade ela pode realizar Em quarto a abordagem multifacetada de Cattell re sultou em 35 traços primários ou de primeira ordem os quais medem principalmente a dimensão do tempera mento na personalidade Desses fatores 23 caracterizam a população normal e 12 medem a dimensão patológica Os traços normais maiores e estudados com mais frequência são os 16 fatores da personalidade encontrados no Ques tionário de 16 Fatores da Personalidade 16PF Scale de Cattell 1949 Em comparação o Inventário de Personali dadeNEO NEOPI de Costa e McCrae produz escores em apenas cinco fatores da personalidade PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ANÁLISE FATORIAL Um conhecimento abrangente das operações matemáticas envolvidas na análise fatorial não é essencial para a com preensão das teorias dos traços e fatores da personalidade mas uma descrição geral dessa técnica mostrase útil Para usar a análise fatorial iniciamse observações es pecíficas de muitos indivíduos Tais observações são então quantificadas de alguma maneira por exemplo a altura é medida em centímetros o peso em quilos a aptidão em escores de testes o desempenho no trabalho por meio de escalas de classificação e assim por diante Suponhamos que temos mil dessas medidas em 5 mil pessoas O próximo pas so é determinar quais dessas variáveis escores estão relacio nadas a quais outras variáveis e em que medida Para tanto calculamos o coeficiente de correlação entre cada variável e cada um dos outros 999 escores Um coeficiente de corre lação é um procedimento matemático que expressa o grau de correspondência entre dois conjuntos de escores Corre lacionar as mil variáveis com os outros 999 escores envolve ria 499500 correlações individuais 1000 multiplicado por 999 dividido por 2 Os resultados desses cálculos demanda riam uma tabela de intercorrelações ou uma matriz com mil linhas e mil colunas Algumas dessas correlações seriam altas e positivas umas perto de zero e outras seriam negativas Por exemplo poderíamos observar uma correlação positiva alta entre o comprimento da perna e a altura porque uma é parcialmente uma medida da outra Também poderíamos encontrar uma correlação positiva entre uma medida de ha bilidade de liderança e os índices em equilíbrio social Essa relação poderia existir porque cada uma faz parte de um tra ço subjacente mais básico autoconfiança Com mil variáveis separadas nossa tabela de intercor relações seria muito complicada Nesse ponto vamos nos voltar para a análise fatorial que pode explicar um grande número de variáveis com um número menor de dimensões mais básicas Essas dimensões mais básicas podem ser cha madas de traços isto é fatores que representam um grupo de variáveis intimamente relacionadas Por exemplo po demos encontrar intercorrelações positivas entre escores de testes em álgebra geometria trigonometria e cálculo Agora identificamos um grupo de escores que podemos chamar de fator M que representa a habilidade matemáti ca De forma similar podemos identificar inúmeros outros fatores ou unidades da personalidade derivadas por meio da análise fatorial O número de fatores é claro será me nor do que o número original de observações Nosso passo seguinte é determinar até que ponto cada escore individual contribui para os vários fatores As corre lações dos escores com os fatores são denominadas cargas fatoriais Por exemplo se os escores em álgebra geome tria trigonometria e cálculo contribuem de forma signifi cativa para o fator M mas não para outros fatores eles têm cargas fatoriais altas em matemática As cargas fatoriais apontam uma pureza dos vários fatores e possibilitam a interpretação de seus significados Os traços gerados por meio da análise fatorial podem ser unidirecionais ou bidirecionais Os traços unidire cionais encontramse em uma escala de zero até alguma grande quantidade Altura peso e capacidade intelectual são exemplos de traços unidirecionais Em contraste os traços bidirecionais se estendem de um polo até o polo oposto com zero representando um ponto intermediário Introversão versus extroversão liberalismo versus conser vadorismo e domínio social versus timidez são exemplos de traços bidirecionais Para que os fatores derivados matematicamente te nham significado psicológico os eixos em que os escores são marcados costumam ser virados ou rotados em uma Feist13indd 254 Feist13indd 254 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 255 relação matemática específica entre eles Essa rotação pode ser ortogonal ou oblíqua mas os defensores da teoria dos cinco fatores favorecem a rotação ortogonal A Figura 131 mostra que os eixos rotados ortogonalmente estão em ângulos retos entre si Quando os escores na variável x aumentam os escores no eixo y podem ter qualquer valor ou seja eles não têm relação com os escores no eixo x O método oblíquo que foi defendido por Cattell pre sume alguma correlação positiva ou negativa e se refere a um ângulo inferior ou superior a 90 A Figura 132 des creve um diagrama de escores em que x e y estão positiva mente correlacionados entre si ou seja quando os escores na variável x aumentam os escores no eixo y também têm tendência a aumentar Observe que a correlação não é per feita algumas pessoas podem ter escore alto na variável x mas relativamente baixo na y e viceversa Uma correlação perfeita r 100 resultaria em x e y ocupando a mesma linha Psicologicamente a rotação ortogonal em geral re sulta em apenas alguns traços significativos enquanto os métodos oblíquos costumam produzir um número maior OS CINCO GRANDES FATORES TAXONOMIA OU TEORIA No Capítulo 1 definimos uma taxonomia como uma classificação das coisas de acordo com suas relações na turais Também sugerimos que as taxonomias são um ponto de partida essencial para o avanço da ciência mas que elas não são teorias Enquanto as teorias geram pes quisa as taxonomias meramente suprem um sistema de classificação Na discussão seguinte do modelo dos cinco fatores FFM do inglês Five Factor Model de McCrae e Costa veremos que o trabalho deles começou como uma tentati va de identificar traços básicos da personalidade conforme revelados pela análise fatorial Esse trabalho logo evoluiu para uma taxonomia e para o FFM Depois de muito tra balho adicional o FFM se tornou uma teoria a qual pode tanto predizer quanto explicar o comportamento BIOGRAFIAS DE ROBERT R MCCRAE E PAUL T COSTA JR Robert Roger McCrae nasceu em 28 de abril de 1949 em Maryville Missouri uma cidade de 13 mil habitantes loca lizada a cerca de 160 km ao norte de Kansas City Maryville é a terra do Northwest Missouri State o maior empregador da cidade McCrae o mais moço de três filhos nascidos de Andrew McCrae e Eloise Elaine McCrae cresceu com um ávido interesse em ciência e matemática Na época em que ingressou na Universidade Estadual de Michigan ele tinha decidido estudar filosofia Tendo recebido o Mérito Acadê mico Nacional ele no entanto não estava completamente feliz com a natureza de final aberto e não empírica da filo sofia Após concluir a faculdade ingressou no programa de pósgraduação da Universidade de Boston com especiali zação em psicologia Devido a sua inclinação e talento para matemática e ciências McCrae se mostrou intrigado com o trabalho psicométrico de Raymond Cattell Em particular ficou curioso quanto ao uso da análise fatorial para pro curar um método simples de identificação dos traços es truturais encontrados no dicionário Na Universidade de y x FIGURA 131 Eixos ortogonais y x FIGURA 132 Eixos oblíquos Feist13indd 255 Feist13indd 255 271014 1514 271014 1514 256 FEIST FEIST ROBERTS Boston o professor orientador de McCrae era Henry Wein berg um psicólogo clínico com apenas um interesse su perficial pelos traços de personalidade Assim o interesse de McCrae nos traços teve que ser nutrido de forma mais interna do que externa Durante as décadas de 1960 e 1970 Walter Mischel ver Cap 18 estava questionando a noção de que os traços de personalidade são coerentes alegando que a situação é mais importante do que qualquer traço de personalidade Ainda que Mischel há pouco tivesse revisado sua posição sobre a coerência da personalidade sua visão era aceita por muitos psicólogos naquela época Em uma comunicação pessoal datada de 4 de maio de 1999 McCrae escreveu Frequentei o programa de pósgraduação nos anos seguin tes à crítica de Mischel 1968 à psicologia dos traços Mui tos psicólogos na época estavam preparados para acredi tar que os traços não passavam de conjuntos de respostas estereótipos ou ficções cognitivas Aquilo nunca fez sen tido para mim e minha experiência inicial com pesquisa mostrando notável estabilidade nos estudos longitudinais encorajou a crença de que os traços eram reais e duradou ros Entretanto o trabalho de McCrae sobre os traços en quanto estava na pósgraduação foi uma empreitada rela tivamente solitária sendo conduzida de modo silencioso sem muito alarde De fato essa abordagem silenciosa era compatível com sua própria personalidade relativamente quieta e introvertida Em 1975 há quatro anos em seu programa de dou torado o destino de McCrae estava para mudar Ele foi enviado por seu orientador para trabalhar como assistente de pesquisa com James Fozard um psicólogo do desenvol vimento adulto no Normative Aging Study na Veterans Administration Outpatient Clinic em Boston Foi Fozard quem encaminhou McCrae para outro psicólogo da perso nalidade residente em Boston Paul T Costa Jr que fazia parte do corpo docente da Universidade de Massachusetts Depois que McCrae concluiu seu doutorado em 1976 Costa o contratou como diretor de projetos e pesquisador coprincipal em sua pesquisa sobre tabagismo e persona lidade McCrae e Costa trabalharam juntos nesse projeto por dois anos até que ambos foram contratados pelo Cen tro de Pesquisa em Gerontologia do National Institute on Agings Gerontology Research Center uma divisão dos Na tional Institutes of Health NIH com sede em Baltimore Costa foi contratado como chefe da seção sobre estresse e enfrentamento enquanto McCrae assumiu o cargo de membro sênior da equipe Como o Gerontology Research Center já possuía um grande e bemestabelecido conjunto de dados de adultos aquele era o lugar ideal para Costa e McCrae investigarem a questão de como a personalidade é estruturada Durante a década de 1970 com a sombra da influência de Mischel ainda pairando fortemente sobre o estudo da personalidade e com o conceito de traços sendo quase um tema tabu Costa e McCrae realizaram um tra balho sobre traços que assegurou a ambos um papel proe minente nos 40 anos de história da análise da estrutura da personalidade Paul T Costa Jr nasceu em 16 de setembro de 1942 em Franklin New Hampshire filho de Paul T Costa e Es ther Vasil Costa Ele se graduou em psicologia na Univer sidade Clark em 1964 e seu mestrado 1968 e doutorado 1970 em desenvolvimento humano foram pela Universi dade de Chicago Seu interesse de longa data nas diferenças individuais e na natureza da personalidade aumentou mui to no estimulante ambiente intelectual da Universidade de Chicago Enquanto estava nessa instituição trabalhou com Salvatore R Maddi com quem publicou um livro sobre a teoria humanista da personalidade Maddi Costa 1972 Após receber seu título de doutor ensinou por dois anos em Harvard e depois de 1973 até 1978 na Universidade de Massachusetts Boston Em 1978 começou a trabalhar no National Institute of Agings Gerontology Research Center tornandose chefe da Seção Estresse e Enfrenta mento e depois em 1985 foi chefe do Laboratório da Per sonalidade e Cognição Nesse mesmo ano 1985 ele se tornou presidente da Divisão 20 Desenvolvimento Adulto e Envelhecimento da American Psychological Associa tion APA Em sua lista de realizações também se tornou membro da APA em 1977 e presidente da International Society for the Study of Individual Differences em 1995 Costa e sua esposa Karol Sandra Costa têm três filhos Nina Lora e Nicholas A colaboração entre Costa e McCrae tem sido inco mumente profícua com mais de 200 artigos de pesquisa e capítulos em coautoria e vários livros incluindo Vidas emergentes disposições duradouras Emerging Lives Enduring Dispositions McCrae Costa 1984 Personalidade na ida de adulta uma perspectiva da teoria dos cinco fatores 2 a ed Personality in Adulthood A FiveFactor Theory Perspective 2 a edição McCrae Costa 2003 e o Inventário da Perso nalidade NEO Revisado Costa e McCrae 1992 À PROCURA DOS CINCO GRANDES FATORES O estudo dos traços foi iniciado por Allport e Odbert na dé cada de 1930 e continuado por Cattell na década de 1940 e por Tupes Christal e Norman na década de 1960 ver John Srivastava 1999 para uma revisão histórica do FFM ou Big Five No final da década de 1970 e início da década de 1980 Costa e McCrae assim como a maioria dos outros pes quisadores dos fatores estavam construindo taxonomias elaboradas dos traços da personalidade mas não estavam usando essas classificações para gerar hipóteses verificá veis Em vez disso eles estavam simplesmente empregan do técnicas de análise fatorial para examinar a estabilidade e a estrutura da personalidade Durante essa época Costa Feist13indd 256 Feist13indd 256 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 257 e McCrae focaram a príncipio nas duas dimensões princi pais do neuroticismo e da extroversão Quase imediatamente depois que descobriram esses dois fatores Costa e McCrae encontraram um terceiro fa tor o qual chamaram de abertura à experiência A maior parte do trabalho inicial de Costa e McCrae permaneceu focado nessas três dimensões ver p ex Costa McCrae 1976 Costa Fozard McCrae Bosse 1976 Ainda que Lewis Goldberg tenha utilizado primeiro o termo Big Five em 1981 para descrever os achados consistentes das aná lises fatoriais dos traços de personalidade Costa e McCrae continuaram seu trabalho sobre os três fatores Cinco fatores encontrados Em 1983 McCrae e Costa estavam defendendo um modelo da personalidade com três fatores Somente em 1985 eles começaram a relatar o trabalho sobre os cinco fatores da personalidade Esse trabalho culminou em seu novo Inven tário dos Cinco Fatores da Personalidade o NEOPI Costa McCrae 1985 O NEOPI era uma revisão de um inventário de personalidade anterior não publicado que media apenas as três primeiras dimensões neuroticismo N extroversão E e abertura à experiência O do inglês openness No in ventário de 1985 as duas últimas dimensões amabilidade A e conscienciosidade C ainda eram as escalas menos desenvolvidas não havendo subescalas associadas a elas Costa e McCrae 1992 não desenvolveram integralmente as escalas A e C até que o NEOPI Revisado apareceu em 1992 Durante a década de 1980 McCrae e Costa 1985 1989 continuaram seu trabalho dos fatores analisando a maioria dos outros principais inventários da personalidade incluindo o Indicador de Tipos de MyersBriggs Myers 1962 e o Inventário da Personalidade de Eysenck H Eysenck S Eysenck 1975 1993 Por exemplo em uma comparação direta de seu modelo com o inventário de Eysenck Costa e McCrae relataram que os primeiros dois fatores de Eysenck N e E são totalmente coerentes com os dois primeiros fa tores deles A medida de Eysenck do psicoticismo mapeava o limite inferior de amabilidade e conscienciosidade mas não explorava a abertura à experiência McCrae e Costa 1985 Naquela época havia duas questões importantes e relacionadas na pesquisa da personalidade Primeiro com as dezenas de diferentes inventários da personalidade e centenas de escalas distintas como poderia emergir uma linguagem comum Todos tinham o próprio conjunto de variáveis da personalidade um tanto idiossincráticas di ficultando as comparações entre os estudos e o progresso cumulativo De fato como escreveu Eysenck 1991a Onde temos literalmente centenas de inventários incor porando milhares de traços em grande parte se sobre pondo mas também contendo variância específica cada achado empírico está referindo estritamente a apenas um traço específico de modo relevante Essa não é a forma de construir uma disciplina científica unificada p 786 Segundo qual é a estrutura da personalidade Cattell preconizava 16 fatores Eysenck três e muitos outros es tavam começando a argumentar por cinco A principal con quista do FFM foi oferecer respostas a essas duas questões Desde o final da década de 1980 e início da década de 1990 a maioria dos psicólogos da personalidade optou pelo FFM Digman 1990 John Srivastava 1999 Os cinco fatores foram encontrados em uma variedade de culturas sob uma abundância de linguagens McCrae Allik 2002 Além disso os cinco fatores apresentam alguma permanên cia com a idade ou seja os adultos na ausência de doença devastadora como Alzheimer tendem a manter a mesma estrutura de personalidade conforme envelhecem McCrae Costa 2003 Esses achados estimularam McCrae e Costa 1996 a escrever que os fatos acerca da personalidade estão começando a se encaixar p 78 Ou como McCrae e Oliver John 1992 insistiam a existência dos cinco fatores é um fato empírico como o fato de que existem sete continentes ou oito presidentes norteamericanos da Virgínia p 194 A propósito não é um fato empírico que a terra tenha sete continentes a maioria dos geógrafos considera apenas seis Descrição dos cinco fatores McCrae e Costa concordavam com Eysenck que os traços de personalidade são bidirecionais e seguem uma distri buição em forma de sino Isto é a maioria das pessoas tem escores perto da porção intermediária de cada traço com apenas algumas apresentando escores nos extremos Como as pessoas nos extremos podem ser descritas Neuroticismo N e extroversão E são os dois traços da personalidade mais fortes e onipresentes e Costa e Mc Crae conceitualizam de forma muito parecida com a que Eysenck os definiu As pessoas com escore alto em neuro ticismo tendem a ser ansiosas temperamentais autoindul gentes autoconscientes emocionais e vulneráveis a trans tornos relacionados ao estresse Aquelas com escore baixo nesse fator são em geral calmas equilibradas satisfeitas consigo mesmas e não emocionais As pessoas com escore alto em extroversão tendem a ser afetuosas joviais falantes agregadoras e adoram diversão Em contraste as que possuem escores baixos nesse fator são provavelmente reservadas quietas solitárias passivas e sem habilidade para expressar emoções fortes ver Tab 131 A abertura à mudança distingue os indivíduos que pre ferem a variedade daqueles que têm uma necessidade de fechamento e que obtêm conforto na associação com pes soas e coisas familiares Os que procuram de forma consis tente experiências diferentes e variadas teriam um escore alto em abertura à experiência Por exemplo gostam de experimentar novos itens do cardápio em um restaurante ou gostam de procurar restaurantes novos e excitantes Em contraste as pessoas que não são abertas às experiências se apegam a algo familiar que sabem que vão gostar As pessoas com escore alto em abertura à experiência também Feist13indd 257 Feist13indd 257 271014 1514 271014 1514 258 FEIST FEIST ROBERTS tendem a questionar valores tradicionais enquanto aque las com escore baixo nessa dimensão tendem a defender os valores tradicionais e a preservar um estilo de vida fixo Em suma as pessoas com escore alto em abertura à experiência costumam ser criativas imaginativas curiosas e liberais e têm uma preferência pela variedade Em contraste aquelas com escore baixo nesse fator são em geral convencionais práticas conservadoras e carecem de curiosidade A escala de amabilidade distingue as pessoas ternas das inacessíveis As pessoas com escores na direção da amabili dade tendem a ser confiantes generosas flexíveis recepti vas e bondosas Aquelas com escore na direção oposta são geralmente desconfiadas mesquinhas hostis irritáveis e críticas das outras pessoas O quinto fator conscienciosidade descreve pessoas que são ordeiras controladas organizadas ambiciosas focadas nas conquistas e autodisciplinadas Em geral as pessoas com escore alto nesse aspecto são trabalhadoras diligentes pon tuais e perseverantes Em contaste as pessoas com escore baixo em conscienciosidade tendem a ser desorganizadas negligentes preguiçosas sem objetivo e provavelmente desistem quando um projeto se torna difícil Juntas essas dimensões compõem os traços de personalidade do FFM frequentemente referidos como Big Five Goldberg 1981 EVOLUÇÃO DA TEORIA DOS CINCO FATORES Originalmente os cinco fatores constituíam nada mais do que uma taxonomia uma classificação dos traços básicos da personalidade No final da década de 1980 Costa e Mc Crae começaram a acreditar que eles e outros pesquisado res haviam encontrado uma estrutura estável da persona lidade Isto é eles tinham respondido à primeira questão central qual é a estrutura da personalidade Esse avanço foi um marco importante para os traços de personalidade O campo agora tinha uma linguagem de comum acordo para descrever a personalidade e era em cinco dimensões Descrever no entanto não é o mesmo que explicar Para TABELA 131 Modelo da personalidade dos cinco fatores de Costa e McCrae Extroversão Escores altos Afetivo Agregador Falante Adora diversão Ativo Apaixonado Escores baixos Reservado Solitário Quieto Sóbrio Passivo Insensível Neuroticismo Ansioso Temperamental Autoindulgente Inseguro Emocional Vulnerável Calmo Equilibrado Satisfeito consigo Tranquilo Não emocional Resistente Abertura à experiência Imaginativo Criativo Original Prefere variedade Curioso Liberal Prático Não criativo Convencional Prefere rotina Não curioso Conservador Amabilidade Gentil Confiante Generoso Aquiescente Flexível Bondoso Insensível Desconfiado Mesquinho Antagonista Crítico Irritável Conscienciosidade Consciencioso Trabalhador Bemorganizado Pontual Ambicioso Perseverante Negligente Preguiçoso Desorganizado Atrasado Sem objetivo Pouco persistente Feist13indd 258 Feist13indd 258 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 259 a explicação os cientistas precisam de teoria e esse era o projeto seguinte de McCrae e Costa McCrae e Costa 1996 contestaram as primeiras teorias por basearemse excessivamente nas experiências clínicas e em uma especulação de gabinete Na década de 1980 a divergência entre as teorias clássicas e as teorias modernas focadas em pesquisa se tornou bastante pro nunciada Ficou claro para eles que as antigas teorias não podem simplesmente ser abandonadas elas devem ser substituídas por novas teorias que se desenvolvam a partir de insights conceituais do passado e dos achados empíricos da pesquisa contemporânea p 53 De fato essa tensão entre o antigo e o novo foi uma das forças propulsoras sub jacentes ao desenvolvimento de Costa e McCrae de uma teoria alternativa que fosse além da taxonomia dos cinco fatores Qual então é a alternativa O que uma teoria dos tra ços moderna poderia fazer para complementar as teorias clássicas De acordo com McCrae e Costa antes de tudo uma nova teoria deve ser capaz de incorporar a mudança e o crescimento do campo que ocorreram durante os últi mos 25 anos além de ser baseada nos princípios empíricos atuais que emergiram da pesquisa Por 25 anos esses dois estudiosos estiveram na vanguarda da pesquisa contemporânea da personalida de desenvolvendo e elaborando o FFM Para McCrae e Costa 1999 nem o modelo em si nem os achados do corpo de pesquisa com o qual ele está associado consti tuem uma teoria da personalidade Uma teoria organiza os achados para contar uma história coerente colocar em evidência aquelas questões e fenômenos que podem e devem ser explicados p 139140 Em ocasião ante rior McCrae e Costa 1996 p 78 tinham afirmado que os fatos acerca da personalidade estão começando a se encaixar Agora é hora de começar a dar um sentido a eles Em outras palavras era hora de transformar o FFM taxonomia em uma teoria dos cinco fatores FFT FiveFactor Theory Unidades da teoria dos cinco fatores Na teoria da personalidade de McCrae e Costa 1996 1999 2003 o comportamento é previsto por meio da compreensão de três componentes centrais ou essenciais e três periféricos Os três componentes centrais incluem 1 tendências básicas 2 adaptações características e 3 autoconceito Componentes centrais da personalidade Na Figura 133 os componentes centrais ou essenciais são representados por retângulos enquanto os compo nentes periféricos são representados por elipses As setas representam processos dinâmicos e indicam a direção da influência causal Por exemplo a biografia objetiva expe riências de vida é o resultado de adaptações características e de influências externas Além disso as bases biológicas Neuroticismo extroversão abertura à experiência amabilidade conscienciosidade Fenômenos cultural mente condicionados Esforços pessoais atitudes Esquemas pessoais mitos pessoais Reações emocionais mudanças de carreira comportamento Normas culturais eventos na vida situação Processos dinâmicos Processos dinâmicos Processos dinâmicos Processos dinâmicos Processos dinâmicos Processos dinâmicos Processos dinâmicos Processos dinâmicos Processos dinâmicos Bases biológicas Adaptações características Autoconceito Biografia objetiva Influências externas Tendências básicas FIGURA 133 Operação do sistema da personalidade de acordo com a teoria dos cinco fatores As setas indicam a direção das influências causais as quais operam por meio de processos dinâmicos Adaptada de McCrae e Costa 1996 Feist13indd 259 Feist13indd 259 271014 1514 271014 1514 260 FEIST FEIST ROBERTS são a única causa das tendências básicas traços de perso nalidade O sistema da personalidade pode ser interpreta do transversalmente como o sistema opera em determi nado ponto no tempo ou longitudinalmente como nos desenvolvemos durante toda a vida Além do mais cada influência causal é dinâmica significando que ela se modi fica ao longo do tempo Tendências básicas Conforme definido por McCrae e Costa 1996 as tendências básicas são um dos compo nentes centrais da personalidade com adaptações caracte rísticas autoconceito bases biológicas biografia objetiva e influências externas McCrae e Costa definiram as tendên cias básicas como o material bruto universal das capacidades e disposi ções da personalidade que costuma ser inferido em vez de observado As tendências básicas podem ser herda das determinadas pela experiência precoce ou modifi cadas por doença ou intervenção psicológica mas em qualquer período específico da vida elas definem o po tencial e a direção do indivíduo p 66 68 Em versões anteriores de sua teoria McCrae e Cos ta 1996 deixaram claro que muitos elementos diferentes compõem as tendências básicas Além dos cinco traços es táveis da personalidade essas tendências básicas incluem habilidades cognitivas talento artístico orientação sexual e processos psicológicos subjacentes à aquisição da linguagem Na maior parte de suas publicações posteriores Mc Crae e Costa 1999 2003 focaram quase que exclusiva mente os traços de personalidade de modo mais específico as cinco dimensões N E O A e C descritas em detalhes anteriormente ver Tab 131 A essência das tendências básicas é sua base biológica e sua estabilidade ao longo do tempo e das situações Adaptações características Os componentes essenciais da FFT incluem as adaptações características ou seja es truturas da personalidade adquiridas que se desenvolvem conforme as pessoas se adaptam a seu ambiente A dife rença principal entre as tendências básicas e as adaptações características é a flexibilidade Enquanto as tendências básicas são bastante estáveis as adaptações características podem sofrer a interferência de influências externas tais como habilidades adquiridas hábitos atitudes e relações que resultam da interação dos indivíduos com o ambiente McCrae e Costa 2003 explicaram a relação entre as ten dências básicas e as adaptações características referindo que o centro de sua teoria é a distinção entre as tendên cias básicas e as adaptações características precisamente a distinção de que precisamos para explicar a estabilidade da personalidade p 187 Todas as habilidades adquiridas e específicas como a língua inglesa ou a estatística são adaptações caracterís ticas A rapidez com que aprendemos talento inteligên cia aptidão é a tendência básica o que aprendemos é a adaptação característica Além do mais nossas disposições e tendências são a influência direta em nossas adaptações características As respostas características são forma das e moldadas pelas tendências básicas O que as torna características é sua coerência e singularidade portanto elas refletem a operação dos traços de personalidade dura douros Relembrando Allport elas são adaptações porque são moldadas como uma resposta ao que o ambiente tem a oferecer em determinado momento Elas permitem nos encaixarmos ou nos adaptarmos ao ambiente de forma contínua O entendimento de como as adaptações características e as tendências básicas interagem é absolutamente central para a FFT As tendências básicas são estáveis e duradou ras enquanto as adaptações características flutuam estan do sujeitas a mudanças durante a vida As adaptações ca racterísticas diferem de cultura para cultura Por exemplo a expressão de raiva em presença de um superior é muito mais tabu no Japão do que nos Estados Unidos A distin ção entre as tendências estáveis e as adaptações mutáveis é importante porque pode explicar a estabilidade e a plas ticidade da personalidade Assim McCrae e Costa forne ceram uma solução para o problema da estabilidade versus mudança na estrutura da personalidade As tendências bá sicas são estáveis enquanto as adaptações características flutuam Autoconceito McCrae e Costa 2003 explicam que o autoconceito é na verdade uma adaptação característica ver Fig 133 mas ele tem o próprio quadro porque é uma adaptação importante McCrae e Costa 1996 escreveram que ele consiste em conhecimento visões e avaliações do self que vão desde fatos variados da história pessoal até a identidade que dá um senso de propósito e coerência à vida p 70 As crenças as atitudes e os sentimentos que o indivíduo tem em relação a si mesmo são adaptações ca racterísticas uma vez que influenciam o modo como ele se comporta em determinada circunstância Por exemplo acreditar que é uma pessoa inteligente torna o indivíduo mais predisposto a se colocar em situações que são intelec tualmente desafiadoras O autoconceito precisa ser exato Teóricos da apren dizagem como Albert Bandura Cap 17 e teóricos huma nistas como Carl Rogers Cap 10 ou Gordon Allport Cap 12 acreditam que as visões conscientes que as pessoas têm de si mesmas são relativamente precisas com alguma distorção talvez Em contraste os teóricos psicodinâmicos argumentam que a maior parte dos pensamentos e sen timentos conscientes que as pessoas têm de si mesmas é inerentemente distorcida e a verdadeira natureza do self ego é em grande parte inconsciente Contudo McCrae e Costa 2003 incluem os mitos pessoais como parte do autoconceito Feist13indd 260 Feist13indd 260 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 261 Componentes periféricos Os três componentes periféricos são 1 bases biológicas 2 biografia objetiva e 3 influências externas Bases biológicas A FFT se baseia em uma única influên cia causal sobre os traços da personalidade a saber a bio lógica Os principais mecanismos biológicos que influen ciam as tendências básicas são os genes os hormônios e as estruturas cerebrais McCrae e Costa ainda não forne ceram detalhes específicos sobre quais genes hormônios e estruturas cerebrais desempenham quais papéis em sua influência na personalidade Os avanços em genética com portamental e imagens cerebrais podem ajudar a comple tar os detalhes Esse posicionamento das bases biológicas elimina qualquer papel que o ambiente possa desempenhar na formação das tendências básicas Isso não deve sugerir que o ambiente não faça parte da formação da personali dade apenas que ele não tem uma influência direta nas tendências básicas ver Fig 133 O ambiente de fato in fluencia alguns componentes da personalidade Tal aspecto enfatiza a necessidade de distinguir os dois componentes principais do modelo tendências básicas e adaptações ca racterísticas McCrae Costa 1996 p 187 Biografia objetiva O segundo componente periférico é a biografia objetiva definida como tudo o que a pessoa faz pensa ou sente durante toda a vida McCrae Costa 2003 p 187 A biografia objetiva enfatiza o que aconteceu na vida das pessoas objetivo em vez da visão ou de per cepções de suas experiências subjetivo Cada comporta mento ou resposta passa a fazer parte do registro cumulati vo Enquanto teóricos como Alfred Adler estilo de vida ou Dan McAdams narrativa pessoal enfatizam as interpreta ções subjetivas que a pessoa faz da própria história de vida McCrae e Costa focam as experiências objetivas os even tos e as experiências que a pessoa teve ao longo da vida Influências externas As pessoas muitas vezes se encon tram em uma situação física ou social particular que tem alguma influência no sistema da personalidade A questão de como respondemos às oportunidades e às demandas do contexto é do que tratam as influências externas De acor do com McCrae e Costa 1999 2003 essas respostas são uma função de dois aspectos 1 adaptações características e 2 sua interação com influências externas observe as duas setas entrando na elipse da biografia objetiva na Fig 133 McCrae e Costa pressupõem que o comportamento é uma função da interação entre as adaptações característi cas e as influências externas Como exemplo eles citam o caso de Joan a quem são oferecidos ingressos para a ópera La traviata uma influência externa Porém Joan tem uma longa história pessoal de detestar ópera uma adaptação característica e portanto recusa a oferta uma biografia objetiva Para elaborar Joan pode muito bem ter uma tendência básica a ser fechada em vez de aberta a novas experiências e nunca ter assistido à ópera quando criança ou pode ter simplesmente formado uma opinião negativa sobre ela com base no que se diz a respeito Seja qual for o caso ela se sente mais à vontade com eventos que lhe são familiares e com experiências práticas Esse histórico prediz que Joan provavelmente responderá da forma como respondeu a uma oferta de assistir a uma ópera As deci sões de ficar afastada de tais experiências se reforçam con forme seu desagrado por ópera aumenta Isso está refleti do na seta em círculo na Figura 133 Postulados básicos Cada um dos componentes do sistema da personalidade exceto as bases biológicas possui postulados centrais Como os componentes das tendências básicas e das adap tações características são mais centrais ao sistema da per sonalidade vamos elaborar somente os postulados para esses dois componentes Postulados para as tendências básicas As tendências básicas têm quatro postulados individua lidade origem desenvolvimento e estrutura Primeiro o postulado da individualidade estipula que os adultos têm um conjunto único de traços e que cada pessoa exibe uma com binação singular de padrões de traços A quantidade precisa de neuroticismo extroversão abertura à experiência ama bilidade e conscienciosidade é única para todos nós e muito de nossa singularidade resulta da variabilidade em nosso ge nótipo Esse postulado é coerente com a ideia de Allport de que a singularidade é a essência da personalidade Segundo o postulado da origem assume uma postura clara e um tanto controversa todos os traços de personali dade são o resultado de forças endógenas internas como a genética os hormônios e as estruturas cerebrais Em outras palavras o ambiente familiar não desempenha um papel na criação das tendências básicas mas novamente lembrese de que os traços de personalidade não são si nônimos de personalidade como um todo A Figura 133 mostra apenas uma seta causal indo das bases biológicas até as tendências básicas Tal alegação está baseada princi palmente nos achados da genética comportamental de que as cinco dimensões da personalidade podem ser explicadas quase que de modo exclusivo cerca de 50 cada por dois fatores a saber genética e ambiente não compartilhado Hamer Copeland 1998 Loehlin 1992 Plomin Caspi 1999 A influência genética é demonstrada pelo que os ge neticistas comportamentais chamam de coeficientes de he reditariedade e resulta da pesquisa sobre estudos de adoção e estudos com gêmeos Hereditariedade trata da questão de qual é a diferença na correlação de determinado traço de personalidade entre indivíduos que são geneticamente idênticos gêmeos idênticos e aqueles que compartilham apenas 50 de seus genes todos os outros irmãos Se os Feist13indd 261 Feist13indd 261 271014 1514 271014 1514 262 FEIST FEIST ROBERTS genes não desempenhassem papel algum na modelagem dos traços não seriam encontradas diferenças nas correla ções entre as pessoas que variam em seu grau de semelhan ça genética Gêmeos idênticos e gêmeos fraternos seriam igualmente semelhantes ou igualmente diferentes Evidên cias indicam que gêmeos idênticos mesmo se criados em ambientes diferentes apresentam maior semelhança na personalidade do que outros irmãos E no caso da maioria dos traços de personalidade o grau de semelhança sugere que cerca de 50 da variabilidade na personalidade deve se à hereditariedade ou à genética A maior parte dos 50 restantes é explicada por experiências não compartilhadas de irmãos de idades variadas ou seja os irmãos em ge ral têm experiências amigos e professores diferentes Por exemplo os pais modificam seu comportamento parental com o tempo e a experiência Assim um filho nascido três ou quatro anos depois de outro estará sendo criado em um ambiente um pouco diferente Terceiro o postulado do desenvolvimento pressupõe que os traços se desenvolvem e se modificam durante a infância mas na adolescência seu desenvolvimento fica mais lento e do início até a metade da vida adulta aproxi madamente 30 anos as mudanças na personalidade quase param por completo Costa McCrae 1994 Costa Mc Crae Arenberg 1980 McCrae e Costa 2003 especularam que pode haver al gumas razões evolucionárias e adaptativas para essas mu danças quando as pessoas são jovens e estão estabelecen do seus relacionamentos e carreiras extroversão abertura à mudança e até mesmo neuroticismo altos seriam benéfi cos Conforme as pessoas amadurecem e se estabelecem esses traços não são mais tão adaptativos quanto eram an teriormente Já o aumento em amabilidade e consciencio sidade pode ser útil conforme as pessoas envelhecem Em nossa seção sobre pesquisa discutimos a estabilidade dos traços durante a idade adulta Por fim o postulado da estrutura afirma que os traços são organizados de modo hierárquico desde limitados e es pecíficos até amplos e gerais como Eysenck sugeriu Esse postulado se desenvolve a partir da posição de McCrae e Costa de que o número de dimensões da personalidade é cinco e somente cinco Tal número é mais do que os três da hipótese de Eysenck e consideravelmente menor do que os 35 encontrados por Cattell Com o postulado da estrutura McCrae e Costa e outros teóricos dos cinco fatores conver gem para cinco como a resposta para o antigo debate entre os teóricos dos fatores Postulados para as adaptações características O postulado referente às adaptações características afirma que ao longo do tempo as pessoas adaptamse ao ambiente adquirindo padrões de pensamentos sentimentos e com portamentos que são coerentes com seus traços de persona lidade e adaptações anteriores McCrae Costa 2003 p 190 Em outras palavras os traços afetam a maneira como nos adaptamos às mudanças no ambiente Além disso nos sas tendências básicas resultam de nossa procura e seleção de ambientes particulares que combinam com nossas dis posições Por exemplo uma pessoa extrovertida pode se as sociar a um clube de dança enquanto uma pessoa assertiva pode se tornar advogada ou executiva de empresa O segundo postulado da adaptação característica desajustamento sugere que as respostas dos indivíduos nem sempre são coerentes com objetivos pessoais ou valo res culturais Por exemplo quando a introversão é levada ao extremo ela pode resultar em timidez social patológica o que impede as pessoas de saírem de casa ou permane cerem no emprego Além disso a agressividade levada ao extremo pode conduzir à beligerância e ao antagonismo que então resultam em maior frequência de demissões dos empregos Esses hábitos atitudes e competências que compõem as adaptações características por vezes são tão rígidos ou compulsivos que se provocam desadaptação O terceiro postulado da adaptação característica afir ma que os traços básicos podem mudar com o tempo em resposta à maturação biológica a alterações no ambiente ou a intervenções deliberadas McCrae Costa 2003 p 190 Esse é o postulado da plasticidade de McCrae e Costa que reconhece que embora as tendências básicas possam ser consideravelmente estáveis ao longo da vida as adap tações características não o são Por exemplo interven ções como psicoterapia e modificação do comportamento podem ter dificuldade em mudar os traços fundamentais de uma pessoa mas podem ser potentes o suficiente para alterar suas respostas características PESQUISA RELACIONADA A abordagem dos traços adotada por Robert McCrae e Paul Costa é muito popular no campo da personalidade Costa e McCrae desenvolveram um inventário da personalidade am plamente utilizado o NEOPI Costa McCrae 1985 1992 Os traços foram vinculados a resultados vitais como saúde física Martin Friedman Schwartz 2007 bem estar Costa McCrae 1980 e sucesso acadêmico Noftle Robins 2007 Zyphur Islam Landis 2007 mas os traços também foram relacionados a resultados cotidia nos mais comuns como humor McNiel Fleeson 2006 Conforme é visto a seguir os traços podem predizer re sultados de longo prazo como a GPA Noftle Robins 2007 que é produto de anos de trabalho mas os traços também podem predizer resultados mais discretos como quantas vezes você vai fazer um exame de ingresso para N de T A GPA Grade Point Average é uma medida de desem penho acadêmico em faculdade ou universidade Feist13indd 262 Feist13indd 262 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 263 uma universidade como o SAT Zyphur Islam Landis 2007 e com que tipo de humor você pode estar em deter minado dia McNiel Fleeson 2006 Traços e desempenho acadêmico Os traços de personalidade são fortes preditores de muitos aspectos da vida Uma área que recebeu grande quantidade de pesquisa é a relação entre traços e desempenho acadê mico conforme medido por escores de testes padronizados e de GPA Os pesquisadores Erik Noftle e Richard Robins 2007 conduziram um amplo estudo no qual eles medi ram os traços e os resultados acadêmicos de mais de 10 mil estudantes Para realizar essa pesquisa os universitários receberam questionários de autorrelato para medir seus escores nos traços Big Five e perguntouse a eles acerca de seus escores no SAT e nas GPAs do ensino médio e da fa culdade os quais foram então comparados com os regis tros da universidade para exatidão O traço mais importan te para predição de escore GPA alto no ensino médio e na faculdade era a conscienciosidade Os que têm esse traço alto tendem a ter escores GPAs mais altos tanto no ensino médio quanto na faculdade Lembrese de que consciencio sidade no MFF de Costa e McCrae envolve características como trabalhador bemorganizado e pontual Os estudan tes com alta conscienciosidade são aqueles que dia após dia tendem a reservar tempo para o estudo sabem como estudar bem e têm boa frequência às aulas o que contribui para que se saiam bem na escola A relação entre os traços e os escores no SAT seguiu um padrão diferente do observado para os traços e os escores na GPA Os traços Big Five não eram fortes previsores na seção de matemática do SAT mas abertura à experiência estava relacionada aos escores da seção verbal Noftle Robins 2007 Especificamente aqueles com escore mais alto no traço abertura à experiência tinham maior probabilidade de se saírem bem nas questões verbais do SAT Se pensarmos a respeito isso faz sentido Aqueles com escore alto nesse traço são imaginativos criativos e têm pensamento amplo aspec tos que podem ser úteis para questões difíceis em um teste Pode ser surpreendente que na discussão da previsão dos escores no SAT a partir dos traços conscienciosidade não seja um forte previsor como era para GPA E ainda os escores no SAT e na GPA embora sejam medidas gerais de sucesso acadêmico são muito diferentes O escore de uma pessoa no SAT é mais de aptidão e fundamentado em um único teste enquanto o escore na GPA é mais de desempe nho e produto de anos de trabalho É mais difícil apenas por meio do estudo mudar o próprio escore no SAT Ele é mais comparável a um escore de teste de inteligência N de T O SAT Scholastic Aptitude Test é um teste padroni zado aplicado a estudantes do ensino médio que se candidatam à universidade nos Estados Unidos Algumas pessoas submetemse ao SAT muitas vezes enquanto outras o fazem apenas uma vez Essas diferentes abordagens para a realização do teste podem refletir dife renças no traço do neuroticismo As pessoas com escore alto nesse traço são ansiosas e temperamentais enquanto as pessoas com escore baixo são calmas tranquilas e satisfeitas consigo mesmas Considerando que aqueles com escore alto no traço de neuroticismo tendem a ser mais ansiosos e me nos satisfeitos consigo faz sentido que eles tenham maior probabilidade de se submeteram ao SAT repetidas vezes Michael Zyphur e colaboradores 2007 conduziram um estudo para ver se aqueles com escore alto em neuro ticismo tinham de fato maior probabilidade de se subme terem outra vez ao SAT Para testar essa previsão os pes quisadores administraram uma medida de autorrelato de neuroticismo em 207 universitários e então examinaram as transcrições para informações sobre quantas vezes cada estudante submeteuse ao SAT antes de entrar na faculda de e quais foram seus escores Os resultados corroboraram a hipótese dos pesquisadores uma vez que aqueles com escore alto nesse traço tinham maior probabilidade de rea lizar o SAT muitas vezes É interessante observar que os pesquisadores também constataram que os escores no SAT tendiam a aumentar com o tempo portanto os estudantes tendiam a ter escores mais altos na segunda vez do que na primeira e ainda mais altos na terceira vez que realizavam o teste Esses achados são importantes às vezes escores altos em são percebidos de modo negativo porque essas pessoas são altamente autoconscientes nervosas emocio nais e em geral preocupadas com tudo Porém nesse es tudo as tendências ansiosas daqueles com escore alto em neuroticismo eram muito adaptativas porque os levavam a fazer novamente o SAT tendo escore mais alto Quando se trata de predizer o desempenho acadêmico a partir dos traços os traços mais importantes dependem do resultado do interesse pois existem muitas maneiras de se sair bem Conscienciosidade é bom para a GPA mas não tão importante para o SAT A abertura à experiência é ideal para habilidade verbal mas não importa muito para habilidade matemática E neuroticismo embora geral mente relacionado a maiores sentimentos de ansiedade e autoconsciência está associado a fazer os testes repetidas vezes obtendo um resultado melhor a cada vez Traços uso da Internet e bemestar Tem havido muito debate público acerca do impacto da Internet no bemestar dos adolescentes contudo as pes quisas iniciais sobre tal questão apresentaram resultados contraditórios Alguns estudos constataram como muitos pais e educadores temem que o uso diário da Internet está associado a níveis mais elevados de depressão e menor bemestar nos adolescentes p ex Van den Eijnden et al 2008 enquanto outros não detectaram correlação entre Feist13indd 263 Feist13indd 263 271014 1514 271014 1514 264 FEIST FEIST ROBERTS essas variáveis p ex Gross et al 2002 Em um estudo recente de jovens holandeses van der Aa e colaboradores 2009 ponderaram que a Internet não é usada da mesma maneira por todos os adolescentes nem esse uso afeta to dos os adolescentes da mesma maneira Eles procuraram examinar a contribuição dos traços de personalidade dos adolescentes para o uso da Internet e o impacto que o uso tem no bemestar Os adolescentes mais introvertidos se voltam mais para a Internet dos que para as interações so ciais por exemplo E o uso da Internet impacta de modos diferentes os jovens com perfis de traços distintos Os pesquisadores estudaram um grande número de adolescentes na Holanda por meio de um questionário on line A amostra total incluiu 7888 adolescentes variando em idade de 11 a 21 anos Além de completarem o Big Five para avaliar os níveis de extroversão abertura à experiên cia amabilidade neuroticismo e consciensiodade eles foram consultados sobre uso da Internet solidão autoes tima e disposição depressiva Os resultados mostraram que o uso diário da Internet em si não está diretamente asso ciado a redução do bemestar um achado que traz alívio para muitos leitores deste livro Ao contrário os riscos do uso da Internet em termos de bemestar estão mais relacio nados às tendências dos indivíduos a utilizarem a Internet compulsivamente sentirse incapaz de parar de navegar ser preocupado com a Internet ou ter o seu uso interferin do em outras tarefas Essa utilização compulsiva foi previs ta no estudo pelos traços de personalidade Os adolescen tes e os jovens adultos mais introvertidos menos amáveis e mais neuróticos tinham maior probabilidade de ter es cores altos no uso compulsivo e tal utilização compulsiva era por sua vez um preditor mais forte de sentimentos de solidão e de sintomas depressivos De forma intuitiva faz sentido que os adolescentes que são mais introvertidos e neuróticos e menos amáveis con siderem a interação social face a face menos gratificante do que os pares mais extrovertidos amáveis e emocionalmen te estáveis Por causa disso é provável que aqueles jovens considerem a Internet um contexto mais agradável para comunicação Van der Aa e colaboradores 2009 levantam a hipótese de que esses jovens podem acabar em um cír culo vicioso de um uso ainda maior da Internet que pode se tornar compulsivo levando a diminuição do bemestar Talvez então visar aos adolescentes com esse perfil de traços para reduzir o uso da Internet e oferecer atividades gratificantes offline poderiam melhorar sua saúde mental Traços e emoção Os traços de personalidade afetam mais do que o sucesso na escola e outros resultados de longo prazo Eles também podem afetar o humor que a pessoa experimenta diaria mente Se examinarmos com cuidado os descritores de cada traço sobretudo extroversão e neuroticismo isso não causa surpresa Ter extroversão alta é ser aficionado por diversão e apaixonado ambos sentimentos positivos enquanto ter índice alto em neuroticismo é ser ansioso e autoconsciente ambos sentimentos negativos Assim os pesquisadores há tempo consideram emoções positivas como o núcleo da extroversão e emoções negativas como o núcleo do neuro ticismo Costa McCrae 1980 Porém o que não ficou claro na maioria das pesquisas iniciais sobre o tópico é se os traços de extroversão ou neuroticismo causam a experiên cia de humor positivo e negativo respectivamente ou se é a experiência das emoções que faz as pessoas se comporta rem de modo concordante com os traços Por exemplo se as pessoas estão de bom humor faz sentido que elas sejam mais joviais e falantes i e comportamento extrovertido Mas elas estão de bom humor porque estão agindo de for ma extrovertida ou elas estão agindo de forma extrovertida porque estão de bom humor Da mesma forma se as pes soas estão de mau humor faz sentido que elas ajam com um pouco de autoconsciência e experimentem ansiedade i e comportamento neurótico Mas o humor causou o comportamento ou o comportamento promoveu o humor Murray McNiel e William Fleeson 2006 realizaram um estudo para determinar a direção da causalidade para as rela ções entre extroversão e humor positivo e entre neuroticis mo e humor negativo Especificamente eles estavam interes sados em determinar se agir de maneira extrovertida faz as pessoas experimentarem sentimentos positivos e se agir de maneira neurótica faz as pessoas experimentarem sentimen tos negativos Para tanto McNiel e Fleeson levaram para um laboratório de psicologia 45 participantes em grupos de três e os fizeram envolverse em dois grupos de discussão dife rentes Durante a primeira discussão uma pessoa no grupo foi instruída a agir de forma audaciosa espontânea asser tiva e falante todos comportamentos extrovertidos um participante foi instruído a agir de forma reservada inibida tímida e quieta todos comportamentos introvertidos e um terceiro indivíduo não recebeu instruções e em vez disso era um observador neutro do comportamento dos outros dois membros do grupo Após a discussão os participantes que foram instruídos a agir de forma extrovertida ou intro vertida classificavam o próprio humor enquanto o observa dor neutro classificava o humor dos membros de seu grupo aqueles que foram instruídos a agir de forma extrovertida ou introvertida Durante a segunda discussão do grupo os papéis daqueles que foram instruídos a se comportar de for ma extrovertida ou introvertida foram trocados de modo que aquele que agiu de maneira extrovertida na primeira discussão atuava de forma introvertida na segunda discus são e viceversa O observador neutro permanecia o mesmo Esse tipo de design experimental permitiu aos pesquisadores determinar de forma conclusiva se o comportamento extro vertido de fato causa humor positivo Conforme previsto os participantes relataram humor positivo mais alto quando foram instruídos a agir de forma extrovertida do que quando instruídos a atuar de forma in Feist13indd 264 Feist13indd 264 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 265 trovertida Tal achado também foi corroborado pelas ava liações do observador neutro e foi coerente para as pessoas com traço de extroversão alto ou baixo Isso sugere que independentemente do nível natural de extroversão ape nas agir de maneira extrovertida pode fazer você se sentir melhor do que se agir de forma introvertida Lembrese de que enquanto a disposição positiva é considerada o núcleo da extroversão a disposição negativa é considerada o núcleo do neuroticismo McNiel e Fleeson 2006 pretendiam estender as conclusões obtidas quanto a extroversão e a disposição positiva e então realizaram outro estudo dessa vez investigando os efeitos em neuroticismo e disposição negativa O procedimento foi essencialmente o mesmo que o do estudo anterior mas em vez de uma pessoa ser instruída a agir de forma extrovertida ou introvertida um participante foi instruído a atuar de forma emocional subjetiva malhumorada e exigente todos aspectos de neuroticismo alto e outro a agir de forma não emocional objetiva equilibrada e não exigente todos aspectos de neu roticismo baixo Os papéis foram trocados para a segunda discussão do grupo Conforme previsto os participantes re lataram estar com pior humor quando agiram de forma neu rótica do que quando não atuaram assim A conclusão geral dessa pesquisa então é que se você está de mau humor mas quer ficar de bom humor aja de forma extrovertida Até agora discutimos como o traço de neuroticismo pode estar relacionado a emoção negativa e como agir de forma neurótica pode causar emoção negativa Todavia existem algumas pesquisas recentes que sugerem que nem todos com escore alto em neuroticismo experimentam mais emoção negativa Robinson Clore 2007 Há diferenças individuais para a velocidade com que as pessoas processam as informações que chegam e tais diferenças influenciam a relação entre neuroticismo e disposição negativa Essas diferenças na velocidade são medidas em milissegundos e portanto são imperceptíveis para o indivíduo e para as outras pessoas mas existem computadores que conseguem mensurar tais diferenças com bastante precisão Para medir essas diferenças de velocidade os participantes se sentam em frente a um computador e completam a tarefa do teste de Stroop que envolve identificar se a cor da fonte de uma palavra apresentada na tela é vermelha ou verde Essa tarefa é mais difícil do que parece porque às vezes a palavra ver melho aparece em fonte verde então embora a resposta correta seja verde as pessoas a príncipio querem respon der vermelho e devem superar essa tendência No estudo conduzido por Michael Robinson e Gerald Clore 2007 os participantes primeiro completaram a ta refa do teste de Stroop enquanto um computador media a rapidez com que isso era feito Após realizarem a tarefa no computador os participantes também completaram uma medidapadrão de autorrelato de neuroticismo Então tinham que registrar seu humor ao final de cada dia du rante duas semanas De acordo com pesquisas anteriores neuroticismo deveria predizer disposição negativa diária mas Robinson e Clore 2007 previram que esse seria o caso apenas para aqueles que eram relativamente lentos na tarefa de classificação tarefa do teste de Stroop O racio cínio para tal previsão foi que aqueles que são rápidos no processamento das coisas em seu ambiente não precisam depender de traços como neuroticismo para interpretar os eventos e assim causar humor negativo Em outras pala vras os processadores rápidos interpretam o ambiente de forma objetiva enquanto os processadores lentos são mais subjetivos em suas avaliações dependendo de disposições de traços para interpretar os eventos De fato isso é exatamente o que os pesquisadores en contraram neuroticismo realmente predizia experimentar mais humor negativo durante o curso de duas semanas de relato mas apenas para aqueles que eram lentos na tarefa de computador Aqueles que tinham neuroticismo elevado mas eram rápidos na tarefa de computador não relataram mais emoção negativa durante o período de duas semanas do que sua contrapartida com neuroticismo baixo Tomadas em conjunto as pesquisas sobre traços e emoção mostram que embora as pesquisas iniciais nessa área mostrando que extroversão e neuroticismo estão re lacionados a humor positivo e negativo respectivamente não sejam erradas isso não retrata o quadro completo da relação complexa entre traços e emoção A pesquisa de Mc Niel e Fleeson 2006 mostrou que agir de forma extrover tida mesmo sem extroversão alta pode aumentar o humor positivo Além disso embora neuroticismo esteja relaciona do a experimentar mais humor negativo Robinson e Clo re 2007 demonstraram que esse era o caso apenas para aqueles que não somente tinham neuroticismo alto como também eram relativamente lentos na classificação das in formações recebidas Os traços são bons preditores de no tas na escola escores de SAT uso compulsivo da Internet e até mesmo humor diário mas não são um destino imutá vel Mesmo que os traços predisponham a certos tipos de comportamento as ações podem subverter tais disposições CRÍTICAS ÀS TEORIAS DOS TRAÇOS E FATORES Os métodos dos traços e fatores especialmente aqueles de Eysenck e dos defensores do modelo Big Five oferecem importantes taxonomias que organizam a personalidade em classificações significativas Entretanto conforme indi cado no Capítulo 1 as taxonomias por si só não explicam ou preveem comportamento duas funções importantes das teorias úteis Essas teorias vão além das taxonomias e produzem pesquisas importantes sobre a personalidade As teorias dos traços e fatores de Costa e McCrae são exemplos de uma abordagem estritamente empírica de investigação da Feist13indd 265 Feist13indd 265 271014 1514 271014 1514 266 FEIST FEIST ROBERTS personalidade Elas foram construídas por meio da coleta de tantos dados quanto fosse possível em um grande nú mero de pessoas interrelacionando os escores submeten do matrizes de correlação à análise fatorial e aplicando sig nificância psicológica apropriada aos fatores resultantes Uma abordagem psicométrica em vez do julgamento clí nico é o pilar das teorias dos traços e fatores No entanto assim como outras teorias as teorias dos traços e fatores devem ser julgadas pelos seis critérios de uma teoria útil Primeiro as teorias dos traços e fatores geram pesqui sa Com base nesse critério o modelo dos cinco fatores de McCrae e Costa e de outros defensores da estrutura da personalidade Big Five também gerou grande quantidade de pesquisa empírica Essa pesquisa mostrou que os tra ços de extroversão neuroticismo abertura à experiência amabilidade e conscienciosidade não estão limitados às nações ocidentais mas são encontrados em uma ampla variedade de culturas com o uso de várias traduções do NEOPI revisado McCrae 2002 Além disso McCrae e Costa identificaram que os traços básicos da personalida de são um tanto flexíveis até cerca de 30 anos mas depois desse período eles permanecem consideravelmente está veis ao longo da vida Segundo as teorias dos traços e fatores são refutáveis De acordo com esse critério as teorias dos traços e fatores recebem uma classificação de moderada a alta O trabalho de McCrae e Costa prestase à refutação muito embora parte da pesquisa proveniente de países ocidentais sugira que outros traços além do Big Five podem ser necessários para explicar a personalidade em países asiáticos Terceiro as teorias dos traços e fatores têm classifica ção alta na capacidade de organizar o conhecimento Tudo o que é verdadeiramente conhecido acerca da personalidade deve ser redutível a uma quantidade Tudo que pode ser quantificado pode ser medido e tudo o que pode ser medi do pode ser submetido à análise fatorial Os fatores extraí dos então oferecem uma descrição conveniente e precisa da personalidade em termos de traços Estes por sua vez podem apresentar uma estrutura para organizar muitas ob servações diferentes acerca da personalidade humana Quarto uma teoria útil tem o poder de guiar as ações dos praticantes e nesse critério as teorias dos traços e fa tores recebem opiniões variadas Ainda que tais teorias forneçam uma taxonomia abrangente e estruturada essa classificação é menos útil a pais professores e terapeutas do que a pesquisadores As teorias dos traços e fatores são coerentes interna mente A teoria e a pesquisa do Big Five é internamente coerente mesmo que haja alguns p ex Eysenck ver Cap 14 que discordem do número de dimensões básicas da personalidade Pesquisas transculturais tendem a dar apoio para a universalidade dessas cinco dimensões por todo o mundo o que sugere que elas são dimensões coe rentes da personalidade humana McCrae 2002 Schmitt Allik McCrae BenetMartínez 2007 Trull Geary 1997 Zheng et al 2008 No entanto devemos assinalar que a pesquisa transcultural não é unânime em seus acha dos que corroboram com o Big Five em parte devido às dificuldades em traduzir as perguntas para muitas línguas diferentes Por exemplo a coerência interna da escala de amabilidade do Inventário Big Five é apenas 057 no Sul e no Sudeste da Ásia sugerindo que os itens não estão me dindo completamente uma dimensão entre os asiáticos Schmitt et al 2007 O critério final de uma teoria útil é a parcimônia De maneira ideal as teorias dos traços e fatores devem receber uma excelente classificação nesse padrão porque a análise fatorial está baseada na ideia do menor número de fato res explanatórios possível Em outras palavras a própria finalidade da análise fatorial é reduzir um grande número de variáveis ao menor número possível Tal abordagem é a essência da parcimônia CONCEITO DE HUMANIDADE Como os teóricos dos traços e fatores encaram a humanida de Os teóricos dos cinco fatores não eram preocupados com temas tradicionais como determinismo versus livrearbítrio otimismo versus pessimismo e influências teleológicas versus causais De fato suas teorias não se prestam à especulação desses tópicos O que então podemos dizer em relação a sua visão de humanidade Primeiro sabemos que os adeptos da análise fatorial veem os humanos como diferentes dos outros animais So mente os humanos possuem a capacidade de relatar dados acerca de si mesmos A partir desse fato é possível inferir que McCrae e Costa acreditavam que os humanos possuem não so mente consciência mas também autoconsciência Além disso as pessoas são capazes de avaliar seu desempenho e fornecer relatos razoavelmente confiáveis referentes a suas atitudes seu temperamento suas necessidades seus interesses e seus comportamentos Segundo McCrae e Costa colocaram ênfase nos fatores genéticos da personalidade Eles acreditavam que os traços e os fatores são ambos herdados e possuem fortes compo nentes genéticos e biológicos e portanto são universais Mas eles também defendiam que o ambiente desempenha um Feist13indd 266 Feist13indd 266 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 267 Termoschave e conceitos As teorias da personalidade dos traços e fatores es tão baseadas na análise fatorial procedimento que pressupõe que os traços humanos podem ser medi dos por estudos correlacionais Os extrovertidos são caracterizados pela sociabilidade e pela impulsividade os introvertidos pela passivida de e pela ponderação Altos escores na escala de neuroticismo podem indi car ansiedade histeria transtornos obsessivocom pulsivos ou criminalidade baixos escores tendem a predizer estabilidade emocional McCrae e Costa deram a mesma ênfase às influên cias biológicas e ambientais no que se refere à perso nalidade A teoria dos cinco fatores foi usada para avaliar os traços de personalidade em culturas por todo o mundo O NEOPIR mostra um alto nível de estabilidade nos fatores da personalidade conforme as pessoas avançam de cerca dos 30 anos de idade até a velhice papel crucial na modelagem das disposições pessoais Assim classificamos o modelo Big Five como médio em influências sociais Na dimensão das diferenças individuais versus semelhan ças as teorias dos traços e fatores tendem para as diferenças individuais A análise fatorial se baseia na premissa das dife renças entre os indivíduos daí a variabilidade em seus esco res Assim as teorias dos traços estão mais preocupadas com as diferenças individuais do que com as semelhanças entre as pessoas Feist13indd 267 Feist13indd 267 271014 1514 271014 1514 Feist13indd 268 Feist13indd 268 271014 1514 271014 1514 PARTE CINCO Teorias Biológicas Evolucionistas CAPÍTULO 14 Eysenck Teoria dos Fatores de Base Biológica de Eysenck 270 CAPÍTULO 15 Buss Teoria Evolucionista da Personalidade 284 Feist14indd 269 Feist14indd 269 271014 1514 271014 1514 CAPÍTULO 14 Teoria dos Fatores de Base Biológica de Eysenck Panorama da teoria dos traços de base biológica Biografia de Hans J Eysenck Teoria dos fatores de Eysenck Critérios para a identificação dos fatores Hierarquia da organização do comportamento Dimensões da personalidade Extroversão Neuroticismo Psicoticismo Medindo a personalidade Bases biológicas da personalidade Personalidade como um preditor Personalidade e comportamento Personalidade e doença Pesquisa relacionada A biologia dos traços de personalidade Críticas à teoria de base biológica de Eysenck Conceito de humanidade Termoschave e conceitos Eysenck Feist14indd 270 Feist14indd 270 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 271 A caso e fortuidade com frequência desempenham um papel decisivo na vida das pessoas Um evento casual desses aconteceu a um jovem alemão de 18 anos que deixou seu país natal em consequência da tirania nazista Ele acabou se estabelecendo na Inglaterra onde tentou ingressar na Universidade de Londres Tratavase de um leitor ávido interessado em artes e ciências mas sua primeira opção de currículo foi física Entretanto um acontecimento fortuito alterou o flu xo de sua vida e como consequência o curso da história da psicologia Para que fosse aceito na universidade era necessário que ele passasse em um exame de admissão ao qual se submeteu após um ano de preparo Depois de passar no exame ele confiantemente se matriculou na Universidade de Londres pretendendo se especializar em física No entanto foi informado de que havia escolhido as matérias erradas no exame de admissão e portanto não era elegível para cumprir um currículo de física Em vez de esperar outro ano para fazer o exame nas matérias certas ele perguntou se havia alguma disciplina científica para a qual estivesse qualificado Quando lhe disseram que poderia cursar psicologia ele perguntou Mas que diabos é psicologia Ele nunca havia ouvido falar de psicologia embora tivesse uma ideia vaga sobre psicanálise A psico logia poderia ser uma ciência No entanto ele tinha pouca escolha a não ser estudar psicologia portanto ingressou prontamente na universidade com especialização em uma disciplina sobre a qual sabia quase nada Anos depois o mundo da psicologia conheceria muito a respeito de Hans J Eysenck provavelmente o escritor mais prolífico da his tória da psicologia Em sua autobiografia Eysenck 1997b simplesmente observou que por meio de tais aconteci mentos fortuitos o nosso destino é decidido pela estupi dez burocrática p 47 Durante toda sua vida Eysenck batalhou contra a estu pidez burocrática e qualquer outro tipo de tolice com que se deparava Em sua autobiografia ele se descreveu como um arrogante incorrigível que não tolera a estupidez dos tolos ou mesmo das pessoas brilhantes Eysenck 1977b p 31 PANORAMA DA TEORIA DOS TRAÇOS DE BASE BIOLÓGICA Todas as teorias da personalidade discutidas até aqui su bestimaram ignoraram ou até mesmo argumentaram contra a base biológica da personalidade humana Apenas McCrae e Costa ver Cap 13 deram uma pequena ênfase às influências genéticas e biológicas na personalidade Com Eysenck isso mudou Ele desenvolveu uma teoria fatorial muito semelhante à de McCrae e Costa mas como fundamentou sua taxonomia essencialmente na análise fa torial e na biologia derivou somente três em vez de cinco dimensões da personalidade extroversãointroversão neuroticismoestabilidade e psicoticismosuperego Dis cutiremos esses fatores adiante neste capítulo O essencial para Eysenck era que as diferenças individuais na persona lidade eram aspectos biológicos e não apenas psicológicos Ou seja as diferenças genéticas levam a distinções estrutu rais no sistema nervoso central incluindo estruturas cere brais hormônios e neurotransmissores e tais diferenças na biologia conduzem a diferenças nos três fatores da persona lidade extroversão neuroticismo e psicoticismo As evidências para a base biológica da personalidade provêm de muitas fontes diferentes incluindo tempera mento genética comportamental e pesquisa das medidas do cérebro A príncipio o temperamento é a tendência biologicamente determinada a se comportar de uma for ma específica desde o início da vida Em um estudo por exemplo Janet DiPietro e colaboradores 1996 mostra ram que a atividade e a frequência cardíaca fetais predi zem diferenças no temperamento durante o primeiro ano de vida Em particular uma frequência cardíaca alta em um feto de 36 semanas previa menos hábitos alimentares e de sono previsíveis aos 3 e aos 6 meses após o nasci mento Uma frequência cardíaca alta também predizia um bebê menos emocional aos 6 meses O ambiente prénatal desempenha um papel importante na formação da per sonalidade De fato a quantidade de estresse que a mãe experimenta durante a gravidez pode alterar a resposta de estresse do próprio bebê Ou seja bebês nascidos de mães que experimentaram uma quantidade incomum de estres se durante a gravidez tendem a ter a função do estresse prejudicada níveis de base mais elevados de hormônios do estresse e uma resposta fisiológica ao estresse mais rá pida mais forte e mais pronunciada todos os quais persis tem durante a infância Barbazanges et al 1996 Clark Schneider 1997 Em segundo lugar para entender como a hereditarie dade afeta o comportamento e a personalidade os psicólo gos se voltam para a ciência da genética comportamental ou para o estudo científico do papel da hereditariedade no comportamento Fuller Thompson 1960 O ponto até onde uma característica é influenciada pela genética é conhecido como hereditariedade conforme referido no Capítulo 13 Os pesquisadores usam estudos de adoção de gêmeos e estudos da interação geneambiente para exami nar a hereditariedade Os estudos de adoção de gêmeos pesquisam a influência hereditária em gêmeos tanto idên ticos quanto fraternos que foram criados separados ado tados e que foram criados juntos Uma segunda técnica no estudo da hereditariedade a pesquisa da interação gene ambiente permite que os pesquisadores avaliem como as diferenças genéticas interagem com o ambiente para pro duzir certo comportamento em algumas pessoas mas não em outras Moffitt Caspi Rutter 2005 Thapar Lan gley Asherson 2007 Em vez de usar gêmeos membros da família e adotados para variar a semelhança genética os Feist14indd 271 Feist14indd 271 271014 1514 271014 1514 272 FEIST FEIST ROBERTS estudos geneambiente mensuram diretamente a variação genética em partes do próprio genoma e examinam como essa variação interage com diferentes tipos de ambientes para produzir comportamentos distintos Em terceiro lugar os aspectos biológicos da perso nalidade são avaliados com o uso de técnicas de imagem cerebral cujas duas formas mais comuns são a eletrencefa lografia EEG e a imagem por ressonância magnética fun cional IRMf Os pesquisadores usam a EEG para registrar a atividade elétrica do cérebro O procedimento envolve a colocação de eletrodos no couro cabeludo da pessoa Os eletrodos discos de metal ligados a fios costumam ser montados em uma touca de tecido que se encaixa de modo confortável na cabeça Em geral a pessoa está realizando determinadas tarefas enquanto a atividade elétrica é regis trada A EEG é superior a outras técnicas de imagem cere bral em mostrar quando ocorre a atividade cerebral Ela não é muito exata para indicar precisamente onde ocorre a ativi dade A IRMf no entanto descreve a atividade cerebral As IRMfs mostram onde está ocorrendo atividade no cérebro durante tarefas específicas rastreando o uso de oxigênio do sangue no tecido cerebral Dessa maneira os pesquisa dores podem ver quais áreas do cérebro estão usando mais oxigênio e presumivelmente estão mais ativas durante determinadas tarefas Lagopoulos 2007 BIOGRAFIA DE HANS J EYSENCK Hans Jurgen Eysenck nasceu em Berlim em 4 de março de 1916 filho único de uma família do teatro Sua mãe era Ruth Werner uma atriz na época do nascimento de Eysenck Pos teriormente ela foi estrela de um filme mudo alemão com o nome artístico de Helga Molander O pai de Eysenck An ton Eduard Eysenck era comediante cantor e ator Eysenck 1991b recordava Vi muito pouco de meus pais que se divorciaram quando eu tinha 4 anos e tinham pouco senti mento por mim uma emoção que eu retribuía p 40 Após o divórcio dos pais Eysenck foi morar com a avó materna que também tinha trabalhado em teatro mas cuja carreira promissora na ópera fora interrompida por uma queda incapacitante Eysenck 1991b descreveu sua avó como generosa carinhosa altruísta e boa demais para este mundo p 40 Ainda que sua avó fosse uma católica devo ta nenhum de seus pais era religioso e Eysenck cresceu sem qualquer compromisso religioso formal Gibson 1981 Ele também cresceu com pouca disciplina familiar e pouco controle estrito sobre seu comportamento Nenhum dos pais parecia interessado em limitar suas ações e sua avó tinha uma atitude bastante permissiva com ele Essa negligência benigna é exemplificada por dois incidentes No primeiro seu pai havia comprado uma bicicleta para Hans e tinha prometido ensinar a usála Ele me levou até o alto de uma colina disseme que eu tinha que me sen tar no selim forçar os pedais e fazer as rodas girarem Ele então foi soltar alguns balões deixandome sozinho para aprender a andar Eysenck 1997b p 12 No segundo incidente um Eysenck adolescente disse à avó que ia com prar cigarros esperando que ela o proibisse No entanto a avó simplesmente disse Se você gosta certamente deve fazer isso p 14 De acordo com Eysenck experiências ambientais como essas duas têm pouca relação com o de senvolvimento da personalidade Para ele os fatores ge néticos têm um impacto maior sobre o comportamento posterior do que as experiências da infância Assim sua criação permissiva não o ajudou a tornarse um dissidente famoso tampouco atrapalhou Mesmo nos tempos de escola Eysenck não tinha medo de assumir uma postura impopular muitas vezes desafian do seus professores em especial aqueles com tendências militaristas Ele era cético em relação a muito do que os professores ensinavam e nem sempre hesitava em embara çálos com seu conhecimento e intelecto superiores Eysenck sofreu a privação como muitos alemães após a I Guerra Mundial que se defrontaram com uma infla ção astronômica desemprego em massa e quase inanição O futuro de Eysenck não parecia mais brilhante depois que Hitler chegou ao poder Para estudar física na Universidade de Berlim ele foi aconselhado a ingressar na polícia secreta nazista uma ideia que ele achou tão repugnante que deci diu deixar a Alemanha Esse encontro com a direita nazista e suas últimas ba talhas com a esquerda radical sugeriramlhe que o traço de inflexibilidade ou autoritarismo era igualmente prevalen te em ambos os extremos do espectro político Ele mais tarde encontrou algum apoio científico para essa hipótese em um estudo que demonstrou que embora os comunis tas fossem radicais e os fascistas fossem conservadores em uma esfera da personalidade na esfera inflexível versus idealista ambos os grupos eram autoritários rígidos e in tolerantes com a ambiguidade inflexíveis Eysenck 1954 Eysenck Coulter 1972 Em consequência da tirania nazista Eysenck aos 18 anos deixou a Alemanha e se estabeleceu na Inglaterra onde tentou se matricular na Universidade de Londres Como vimos na vinheta de abertura do capítulo ele ingres sou na psicologia completamente por acaso Naquela épo ca o departamento de psicologia da Universidade de Lon dres era basicamente prófreudiano mas também tinha uma forte ênfase na psicometria com Charles Spearman recémegresso e Cyril Burt ainda presidindo Eysenck ter minou o bacharelado em 1938 quase na mesma época em que se casou com Margaret Davies uma canadense com formação em matemática Em 1940 concluiu o doutorado pela Universidade de Londres época em que a Inglaterra e a maioria das nações europeias estavam em guerra Como cidadão alemão ele foi considerado um estran geiro inimigo e não foi autorizado a ingressar na Força Aé Feist14indd 272 Feist14indd 272 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 273 rea Real sua primeira escolha ou em qualquer outro ramo militar Em vez disso sem nenhum treinamento como psi quiatra ou como psicólogo clínico foi trabalhar no Hospital de Emergências Mill Hill tratando pacientes que estavam sofrendo de uma variedade de sintomas psicológicos in cluindo ansiedade depressão e histeria Eysenck no en tanto não estava satisfeito com a maioria das categorias diagnósticas clínicas tradicionais Usando a análise fatorial constatou que dois principais fatores da personalidade neuroticismoestabilidade emocional e extroversãoin troversão podiam explicar todos os grupos diagnósticos tradicionais Essas primeiras ideias teóricas culminaram na publicação de seu primeiro livro Dimensões da personalida de Dimensions of personality Eysenck 1947 Após a guerra ele se tornou diretor do departamen to de psicologia no Hospital Maudsley e posteriormente parecerista em psicologia na Universidade de Londres Em 1949 viajou para a América do Norte para examinar os programas de psicologia clínica nos Estados Unidos e no Canadá com a ideia de estabelecer a profissão de psicologia clínica na GrãBretanha Ele foi professor visitante na Uni versidade da Pensilvânia no período de 1949 a 1950 mas passou boa parte desse ano viajando pelos Estados Unidos e pelo Canadá conhecendo os programas de psicologia clí nica os quais considerou totalmente inadequados e não científicos Eysenck 1980 1997b Eysenck e sua esposa vinham se afastando continua mente e seu casamento foi ainda mais abalado quando sua companheira de viagem para a Filadélfia foi Sybil Rostal uma bela psicóloga quantitativista Ao retornar para a In glaterra Eysenck divorciouse de sua primeira esposa e se casou com Sybil Hans e Sybil Eysenck foram coautores de várias publicações e seu casamento produziu três filhos e uma filha O filho de Eysenck do primeiro casamento Mi chael é um autor amplamente publicado de artigos e livros de psicologia Depois de voltar da América do Norte Eysenck fundou um departamento de psicologia clínica na Universidade de Londres e em 1955 tornouse professor de psicologia En quanto estava nos Estados Unidos ele havia começado a escrever A estrutura da personalidade humana The structu re of human personality 1952b no qual argumentava pela eficácia da análise fatorial como o melhor método de repre sentação dos fatos conhecidos da personalidade humana Eysenck foi talvez o escritor mais prolífico na histó ria da psicologia tendo publicado cerca de 800 artigos em periódicos ou capítulos de livros e mais de 75 livros Vários deles têm títulos de apelo popular tais como Usos e abusos da psicologia Uses and abuses of Psychology 1953 A psicolo gia da política The psychology of politics 1954 1999 Senso e contrassenso em psicologia Sense and nonsense in psycholo gy 1956 Conheça seu QI Know Your Own IQ 1962 Fato e ficção em psicologia Fact and fiction in psychology 1965 Psi cologia se refere às pessoas Psychology is about people 1972 Você e a neurose You and neurosis 1977b Sexo violência e a mídia Sex violence and the media com DKB Nias 1978 Tabagismo personalidade e estresse Smoking personality and stress 1991d Gênio a história natural da criatividade Ge nius the natural history of creativity 1995 e Inteligência um novo olhar Intelligence a new look 1998a A gama de interesses de Eysenck era extremamente ampla e sua disposição para entrar em qualquer controvér sia era lendária Ele foi um crítico contumaz da consciência da psicologia desde o início Ele contrariou muitos psica nalistas e outros terapeutas no início da década de 1950 com a discussão de que não existiam evidências para suge rir que a psicoterapia fosse mais efetiva do que a remissão espontânea Em outras palavras aquelas pessoas que não recebem terapia apresentavam a mesma probabilidade de melhorar do que as que se submeteram a uma cara doloro sa e prolongada psicoterapia com psicanalistas e psicólogos altamente qualificados Eysenck 1952a Ele sustentou essa crença pelo resto da vida Em 1996 disse a um en trevistador que as psicoterapias não são mais efetivas do que tratamentos com placebo Feltham 1996 p 424 Eysenck não tinha medo de assumir um posiciona mento impopular conforme testemunhado pela defesa de Arthur Jensen cuja discussão era de que os escores do quociente de inteligência QI não podem ser aumentados de forma significativa por programas sociais beminten cionados porque eles são em grande parte determinados pela genética O livro de Eysenck A discussão do QI 1971 foi tão controverso que algumas pessoas nos Estados Uni dos ameaçaram os livreiros com incêndio se eles ousassem estocar o livro conhecidos jornais liberais se recusaram a fazer sua resenha e como resultado foi praticamente impossível na terra da liberdade de expressão descobrir a existência do livro ou comprálo Eysenck 1980 p 175 Em 1983 Eysenck se aposentou como professor de psicologia no Instituto de Psiquiatria da Universidade de Londres e como psiquiatra sênior nos hospitais Maudsley e Bethlehem Ele então trabalhou como professor emérito na Universidade de Londres até sua morte em decorrên cia de um câncer em 4 de setembro de 1997 Eysenck que com frequência argumentava que fumar não era um fator de risco importante para câncer tinha sido um fumante inveterado até a meiaidade quando abandonou o cigarro porque acreditava que afetava a prática de tênis Durante seus últimos anos sua pesquisa continuou a refletir uma variedade de tópicos incluindo criativida de Eysenck 1993 1995 Frois Eysenck 1995 inter venções comportamentais em câncer e doença cardíaca Eysenck 1991d 1996 Eysenck GrossarthMaticek 1991 e inteligência Eysenck 1998a Eysenck recebeu muitos prêmios incluindo o Distin guished Contributions Award de 1991 da International Society for the Study of Individual Differences A Ameri can Psychological Association APA concedeu a Eysenck Feist14indd 273 Feist14indd 273 271014 1514 271014 1514 274 FEIST FEIST ROBERTS o Distinguished Scientist Award 1988 a Presidential Ci tation of Scientific Contribution 1993 o William James Fellow Award 1994 e o Centennial Award for Distinghi shed Contributions to Clinical Psychology 1996 TEORIA DOS FATORES DE EYSENCK A teoria da personalidade de Hans Eysenck possui for tes componentes psicométricos e biológicos No entanto Eysenck 1977a 1997a defendia que a sofisticação psico métrica isolada não é suficiente para medir a estrutura da personalidade humana e que as dimensões da personali dade a que se chegou por meio dos métodos de análise fa torial são estéreis e pouco significativas a menos que elas tenham demonstrado uma existência biológica Critérios para a identificação dos fatores Com esses pressupostos em mente Eysenck listou quatro critérios para a identificação de um fator Primeiro deve ser estabelecida a evidência psicométrica da existência do fa tor Um corolário desse critério é que o fator deve ser con fiável e replicável Outros investigadores de laboratórios distintos também devem ser capazes de encontrar o fator e identificar de modo consistente a extroversão o neuroti cismo e o psicoticismo de Eysenck Um segundo critério é que o fator também deve pos suir hereditariedade e se adequar a um modelo genético estabelecido O critério elimina características aprendidas como a capacidade de imitar as vozes de pessoas conheci das ou uma crença religiosa ou política Terceiro o fator deve fazer sentido a partir de uma visão teórica Eysenck empregou o método dedutivo de investiga ção começando com uma teoria e depois reunindo dados que são logicamente coerentes com essa teoria O critério final para a existência de um fator é que ele deve possuir relevância social isto é deve ser demonstrado que fatores derivados matematicamente possuem uma re lação não necessariamente causal com variáveis relevan tes como uso de drogas tendência a lesões involuntárias desempenho excepcional nos esportes comportamento psicótico criminalidade entre outras Hierarquia da organização do comportamento Eysenck 1947 1994c reconheceu uma hierarquia em quatro níveis de organização do comportamento No nível mais inferior estão os atos ou cognições específicas compor tamentos ou pensamentos individuais que podem ou não ser característicos de uma pessoa Um estudante terminan do uma tarefa de leitura é um exemplo de resposta específi ca No segundo nível estão os atos ou cognições habituais ou seja respostas que se repetem em condições semelhantes Por exemplo se um estudante com frequência persiste em uma tarefa até que esteja terminada esse comportamento se torna uma resposta habitual Em oposição às respostas específicas as respostas habituais devem ser razoavel mente confiáveis ou coerentes Várias respostas habituais relacionadas formam um traço o terceiro nível do comportamento Eysenck 1981 definiu traços como disposições importantes semiperma nentes da personalidade p 3 Por exemplo os estudan tes teriam o traço de persistência se eles de forma habitual realizassem as tarefas de aula e continuassem trabalhando em outros empreendimentos até terem terminado Ainda que os traços possam ser identificados de modo intuitivo os teóricos dos traços e fatores se baseiam em uma aborda gem mais sistemática a saber a análise fatorial Os com portamentos no nível dos traços são extraídos pela análise fatorial de respostas no nível dos hábitos assim como as respostas habituais são extraídas matematicamente pela análise fatorial de respostas específicas Os traços então são definidos em termos de intercorrelações significativas entre diferentes comportamentos habituais Eysenck 1990 p 244 A maioria dos 35 traços de fonte primária normais e anormais de Catell está no terceiro nível de or ganização o que explica porque ele identificou muito mais dimensões da personalidade do que Eysenck ou os defen sores da teoria dos cinco fatores ver Cap 13 Eysenck se concentrou no quarto nível o dos tipos ou superfatores Um tipo é composto de vários traços interre lacionados Por exemplo a persistência pode estar relacio nada a inferioridade baixa adaptação emocional timidez social e vários outros traços com o grupo inteiro formando o tipo introvertido Cada um dos quatro níveis de organiza ção do comportamento é apresentado na Figura 141 DIMENSÕES DA PERSONALIDADE Já vimos que Eysenck e Cattell chegaram a um número diferente de dimensões da personalidade porque eles tra balharam em níveis distintos de fatoração Os 35 traços de Cattell estão no terceiro nível da estrutura hierárquica enquanto os superfatores de Eysenck estão no quarto nível ver Cap 13 Quantos superfatores gerais existem Muitos teó ricos fatoriais atuais insistem em que há amplas evidên cias de que cinco e não mais ou menos fatores gerais emergem de quase todas as análises fatoriais dos traços de personalidade Eysenck no entanto extraiu apenas três superfatores gerais Suas três dimensões da personalida de são extroversão E neuroticismo N e psicoticis mo P embora ele não tenha excluído a possibilidade de que outras dimensões sejam acrescidas posteriormente Eysenck 1994b p 151 A Figura 142 mostra a estrutura hierárquica de P E e N de Eysenck Feist14indd 274 Feist14indd 274 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 275 O neuroticismo e psicoticismo não estão limitados a indivíduos patológicos embora as pessoas perturbadas tendam a expressar escores mais elevados do que os indi víduos normais em escalas que medem esses dois fatores Eysenck considerava todos os três fatores como parte da estrutura normal da personalidade Os três são bidirecio nais com a extroversão estando em uma extremidade do fator E e a introversão ocupando o polo oposto Do mes mo modo o fator N inclui neuroticismo em um polo e es tabilidade no outro e o fator P tem o psicoticismo em um polo e a função do superego no outro A bidirecionalidade dos fatores de Eysenck não implica que a maioria das pessoas esteja em uma extremidade ou outra dos três pontos principais Cada fator é distribuído de modo unimodal em vez de bimodal A extroversão por exemplo costuma ser distribuída de forma muito parecida com a inteligência ou a altura Isto é a maioria das pessoas está próxima do centro de uma distribuição em forma de sino da extroversão Eysenck defendia que cada um desses fatores satisfaz seus quatro critérios para identificação das dimensões da personalidade Primeiro existem fortes evidências psicométricas para cada um em especial para os fatores E e N O fator P psicoticismo emergiu posteriormente no trabalho de Eysenck mas não foi levado a sério por outros pesquisa dores até a metade da década de 1990 Eysenck 1997b A extroversão e o neuroticismo ou ansiedade são fatores básicos em quase todos os estudos de análise fatorial da personalidade humana incluindo várias versões da teoria dos cinco fatores McCrae Costa 1999 2002 John Srivastava 1999 Segundo Eysenck 1994a 1994b argumentou haver uma forte base biológica para cada um de seus três super fatores Ao mesmo tempo ele alegava que traços como ama bilidade e conscienciosidade que fazem parte da taxonomia dos cinco fatores John 1990 W T Norman 1963 Tupes Christal 1961 não possuem uma base biológica subjacente Terceiro as três dimensões da personalidade de Eysenck fazem sentido teoricamente Carl Jung ver Cap 4 e outros reconheceram o efeito poderoso da extroversão e da introversão fator E no comportamento e Sigmund Freud ver Cap 2 enfatizou a importância da ansiedade fator N na modelagem do comportamento Além disso o psicoticismo fator P é coerente com as ideias de teóricos como Abraham Maslow ver Cap 9 que propõem que a saúde psicológica se estende desde a autoatualização um baixo escore em P até a esquizofrenia e a psicose um alto escore em P Quarto Eysenck demonstrou várias vezes que seus três fatores se relacionam a temas sociais como uso de substâncias Eysenck 1983 comportamentos sexuais Eysenck 1976 criminalidade Eysenck 1964 1998b Eysenck Gudjonsson 1989 prevenção de câncer e doença cardíaca Eysenck 1991c 1991d GrossarthMa ticek Eysenck Vetter 1988 e criatividade Eysenck 1993 Extroversão No Capítulo 4 explicamos que Jung conceitualizou dois ti pos amplos de personalidade denominados extroversão e introversão Também observamos algumas diferenças en tre suas definições e a noção prevalente desses dois termos Tipo Hábitos Comportamentos específicos Introversão Persistência Timidez social Persiste no trabalho escolar Persiste nos hobbies Termina uma tarefa Estuda sozinho Recusa convites Trabalha em hobbies sozinho Traços FIGURA 141 Organização do comportamento em ações específicas respostas habituais traços e tipos Além da persistência e da timidez social outros traços como inferioridade atividade reduzida e seriedade contribuem para a introversão Feist14indd 275 Feist14indd 275 271014 1514 271014 1514 276 FEIST FEIST ROBERTS Jung via as pessoas extrovertidas como possuidoras de uma visão objetiva ou não personalizada do mundo enquanto os introvertidos tinham essencialmente um modo subjetivo ou individualizado de olhar para as coisas Os conceitos de Eysenck de extroversão e introversão estão mais próximos do uso popular Os extrovertidos são caracterizados prin cipalmente pela sociabilidade e pela impulsividade mas também por jocosidade vivacidade perspicácia otimismo e outros traços indicativos das pessoas que são gratificadas pela associação com os outros Eysenck Eysenck 1969 Os introvertidos são caracterizados pelos traços opos tos aos dos extrovertidos Eles podem ser descritos como quietos passivos pouco sociáveis cuidadosos reservados pensativos pessimistas pacíficos sóbrios e controlados De acordo com Eysenck 1982 no entanto as principais diferenças entre extroversão e introversão não são com portamentais mas de natureza biológica e genética Eysenck 1997a acreditava que a causa primária das di ferenças entre extrovertidos e introvertidos está no nível de excitação cortical uma condição fisiológica que é em grande parte herdada em vez de aprendida Como os extrovertidos possuem um nível mais baixo de excitação cortical do que os introvertidos eles têm limiares sensoriais mais elevados e assim menos reações à estimulação sensorial Os intro vertidos por sua vez são caracterizados por um nível mais elevado de excitação e como consequência de um limiar P Busca sensações Baixa autoestima Agressivo Frio Egocêntrico Impessoal Antissocial Não empático Criativo Determinado Impulsivo E Sociável Animado Ativo Assertivo Despreocupado Dominante Surgente Empreendedor N Ansioso Deprimido Sentimentos de culpa Irracional Tímido Genioso Emotivo Tenso FIGURA 142 Estrutura hierárquica de P psicoticismo E extroversãointroversão e N neuroticismo De Biological dimensions of personality de H J Eysenck 1990 In L A Pervin Ed Handbook of Personality Theory and Research p 224276 New York Guilford Press Reimpressa com permissão de Guilford Press Feist14indd 276 Feist14indd 276 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 277 sensorial mais baixo experimentam reações mais intensas à estimulação sensorial Para manter um nível adequado de estimulação os introvertidos com seu limiar sensorial congenitamente baixo evitam situações que causam muita excitação Por extensão eles evitam atividades como esqui alpino voo livre esportes competitivos liderança de uma fraternidade ou irmandade ou brincadeiras de pregar peças Em contrapartida como os extrovertidos em geral pos suem um baixo nível de excitação cortical eles precisam de uma estimulação sensorial de alto nível para manter um nível adequado de estimulação Assim os extrovertidos participam com mais frequência de atividades excitantes e estimulantes Eles podem apreciar atividades como escalar montanhas envolverse em jogos de azar dirigir carros rá pidos beber álcool e fumar maconha Além disso Eysenck 1976 levantou a hipótese de que os extrovertidos ao con trário dos introvertidos envolvemse em relações sexuais mais cedo com mais frequência com uma gama mais ampla de parceiros em um número maior de posições com uma variedade maior de comportamentos sexuais e se entregam a jogos amorosos précoito mais demorados Entretanto como os extrovertidos têm um nível mais baixo de excitação cortical eles se acostumam mais rapidamente a estímulos fortes sexuais ou outros e respondem cada vez menos ao mesmo estímulo enquanto os introvertidos têm menor pro babilidade de se entediarem ou de se desinteressarem por atividades rotineiras executadas com as mesmas pessoas Neuroticismo O segundo superfator obtido por Eysenck é neuroticismo estabilidade N Assim como a extroversãointroversão o fator N possui um forte componente hereditário Eysenck 1967 relatou vários estudos que encontraram evidências de uma base genética para traços neuróticos como ansie dade histeria e transtornos obsessivocompulsivos Além disso ele detectou uma concordância muito maior entre gêmeos idênticos do que entre gêmeos fraternos em inú meros comportamentos antissociais e associais como cri me adulto transtornos da conduta na infância homosse xualidade e alcoolismo Eysenck 1964 As pessoas com escore alto em neuroticismo costu mam ter tendência a reagir com excesso emocional e di ficuldade em retornar a um estado normal depois de uma excitação emocional Eles muitas vezes queixamse de sintomas físicos como cefaleia e dor nas costas e de pro blemas psicológicos vagos como preocupações e ansieda des O neuroticismo no entanto não sugere necessaria mente uma neurose no sentido tradicional do termo As pessoas podem ter escore alto nesse fator e não apresentar sintomas psicológicos debilitantes Eysenck aceitou o modelo diáteseestresse da psico patologia que sugere que algumas pessoas são vulneráveis a doenças porque possuem uma fraqueza genética ou ad quirida que as predispõe a enfermidades Tal predisposição diátese pode interagir com o estresse para produzir um transtorno neurótico Eysenck assumia que as pessoas no extremo saudável da escala N têm a capacidade de resistir a um transtorno neurótico mesmo em períodos de estresse extremo Aquelas que têm escores altos em N no entan to podem sofrer uma reação neurótica como resultado de apenas um nível mínimo de estresse Em outras palavras quanto mais alto o escore em N mais baixo o nível de es tresse necessário para precipitar um transtorno neurótico Como o neuroticismo pode ser combinado com dife rentes pontos na escala da extroversão uma única síndro me não pode definir o comportamento neurótico A técnica de análise fatorial de Eysenck pressupõe a independência dos fatores ou seja a escala de neuroticismo está perpendi cular significando correlação zero à escala de extroversão Desse modo várias pessoas podem ter escores altos na es cala N e mesmo assim exibirem sintomas muito diferen tes dependendo de seu grau de introversão ou extroversão A Figura 143 mostra o polo introversãoextroversão com correlação zero com o polo neuroticismoestabilidade Con sidere as pessoas A B e C todas igualmente altas na escala de neuroticismo mas representando três pontos distintos na escala de extroversão A pessoa A um neurótico intro vertido é caracterizada por ansiedade depressão fobias e sintomas obsessivocompulsivos a pessoa B que tem neu roticismo alto mas está apenas na média em extroversão é caracterizada provavelmente por histeria um transtorno neurótico associado a instabilidade emocional sugestio nabilidade e sintomas somáticos a pessoa C um indivíduo neurótico extrovertido provavelmente manifestará qua lidades psicopáticas como criminalidade e tendências de linquentes Eysenck 1967 1997a Considere também as pessoas A D e E todas igualmente introvertidas mas com três níveis diferentes de estabilidade emocional A pessoa A é o indivíduo neurótico introvertido que descrevemos há pouco a pessoa D é também introvertida mas não é neu rótica de modo grave nem estável no âmbito emocional e a pessoa E é muito introvertida e psicologicamente estável A Figura 143 mostra apenas cinco pessoas todas com pelo menos um escore extremo A maioria das pessoas é claro teria escore perto da média em extroversão e neu roticismo Conforme os escores avançam para os limites externos do diagrama eles se tornam cada vez menos fre quentes assim como os escores nas extremidades de uma curva em forma de sino são menos frequentes do que aque les próximos ao ponto médio Psicoticismo A teoria original da personalidade de Eysenck foi baseada em apenas duas dimensões da personalidade extrover são e neuroticismo Após vários anos de alusão ao psicoti cismo P como um fator da personalidade independente Feist14indd 277 Feist14indd 277 271014 1514 271014 1514 278 FEIST FEIST ROBERTS Eysenck finalmente o elevou a uma posição igual à dos fatores E e N Eysenck Eysenck 1976 Assim como ex troversão e neuroticismo P é um fator bidirecional com o psicoticismo em um polo e o superego no outro Aque les que têm escores altos em P tendem a ser egocêntricos frios não conformes impulsivos hostis agressivos des confiados psicopáticos e antissociais As pessoas com bai xo escore nesse fator na direção da função do superego tendem a ser altruístas altamente socializadas empáti cas carinhosas cooperativas conformes e convencionais S Eysenck 1997 Anteriormente vimos que Eysenck aceitava o modelo diáteseestresse para pessoas com escore alto na escala de neuroticismo ou seja estresse e escores N se combinam para elevar a vulnerabilidade das pessoas a transtornos psicológicos Esse modelo sugere ainda que as pessoas com escore alto em psicoticismo e que também estão ex perimentando níveis de estresse têm maior probabilidade de desenvolver um transtorno psicótico Eysenck 1994a levantou a hipótese de que as pessoas com altos escores em P têm uma alta predisposição para sucumbir ao estres se e desenvolver uma doença psicótica p 20 O modelo de diáteseestresse sugere que aqueles com escores P altos são geneticamente mais vulneráveis ao estresse do que aqueles com escores baixos Durante períodos de pouco estresse aqueles com escores P altos podem funcionar normalmente mas quando o P alto interage com altos ní veis de estresse as pessoas se tornam vulneráveis a trans tornos psicóticos Em contraste as pessoas com baixos escores P não são necessariamente vulneráveis a psicoses relacionadas ao estresse e resistem a uma crise psicótica mesmo em períodos de extremo estresse De acordo com Eysenck 1994a 1994b quanto mais alto o psicoticismo mais baixo o nível de estresse necessário para precipitar uma reação psicótica O psicoticismosuperego P é independente de E e N A Figura 144 mostra cada um dos três fatores perpendicu lares aos outros dois Como o espaço tridimensional não pode ser reproduzido fielmente em um plano bidimensio nal o leitor deve olhar para a Figura 144 como se as linhas contínuas representassem o canto de uma sala onde duas paredes encontram o chão Cada linha pode então ser vis ta como perpendicular às outras duas A visão de Eysenck da personalidade portanto permite que cada pessoa seja medida em três fatores independentes e os escores resul tantes podem ser marcados no espaço tendo três coorde nadas A pessoa F na Figura 144 por exemplo tem escore bastante alto em superego um pouco alto em extroversão e próximo ao ponto médio na escala de neuroticismoestabi lidade De forma similar os escores de cada pessoa podem ser marcados no espaço tridimensional MEDINDO A PERSONALIDADE Eysenck desenvolveu quatro inventários da personalidade que medem seus superfatores O primeiro o Inventário de Personalidade de Maudsley ou MPI Eysenck 1959 avaliava apenas E e N e produzia alguma correlação en tre esses dois fatores Por tal razão Eysenck desenvolveu outro teste o Inventário de Personalidade de Eysenck ou EPI O EPI contém uma escala de mentira L do inglês lie para detectar fingimento mas o mais importante é que ele mede estroversão e neuroticismo de forma inde pendente com uma correlação próxima a zero entre este e aquele H J Eysenck e S B G Eysenck 1964 1968 O EPI foi ampliado para crianças entre 7 e 16 anos de ida de por Sybil B G Eysenck 1965 que desenvolveu o EPI Júnior O EPI ainda era um inventário de dois fatores então consequentemente Hans Eysenck e Sybil Eysenck 1975 publicaram um terceiro teste de personalidade o Questio nário de Personalidade de Eysenck EPQ o qual incluía uma escala de psicoticismo P O EPQ que apresentava uma versão adulta e júnior é uma revisão do já publicado EPI Críticas posteriores à escala P levaram a ainda outra revisão o Questionário da Personalidade de EysenckRevi sado H J Eysenck S B G Eysenck 1993 BASES BIOLÓGICAS DA PERSONALIDADE De acordo com Eysenck os fatores da personalidade P E e N possuem determinantes biológicos poderosos Ele es timou que cerca de três quartos da variância de todas as três dimensões da personalidade podem ser explicados pela hereditariedade e cerca de um quarto pelos fatores ambientais Neuroticismo A E D B C Estabilidade Extroversão Introversão FIGURA 143 Esquema bidimensional descrevendo vários pontos ex tremos nas escalas E extroversão e N neuroticismo de Eysenck Feist14indd 278 Feist14indd 278 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 279 Eysenck 1990 citou três evidências para um com ponente biológico forte na personalidade Primeiro os pesquisadores McCrae Allik 2002 encontraram fato res quase idênticos entre as pessoas em várias partes do mundo não só no Oeste da Europa e na América do Norte como também em Uganda Nigéria Japão China Rússia e outros países africanos e europeus Segundo evidências McCrae Costa 2003 sugerem que os indivíduos ten dem a manter sua posição ao longo do tempo nas diferen tes dimensões da personalidade E terceiro estudos de gêmeos Eysenck 1990 mostram uma concordância mais alta entre gêmeos idênticos do que entre gêmeos fraternos do mesmo gênero criados juntos sugerindo que os fatores genéticos desempenham um papel dominante na determi nação das diferenças individuais na personalidade Na teoria da personalidade de Eysenck psicoticismo extroversão e neuroticismo possuem antecedentes e con sequências Os antecedentes são genéticos e biológicos enquanto as consequências incluem variáveis experimen tais como experiências de condicionamento sensibilidade e memória além de comportamentos sociais como crimi nalidade criatividade psicopatologia e comportamento sexual A Figura 145 mostra que P E e N estão no meio de uma progressão em cinco passos desde o DNA até o comportamento social com os intermediários biológicos e as evidências experimentais ancorando as três dimensões principais da personalidade Em outras palavras a persona lidade possui determinantes genéticos que moldam indire tamente os intermediários biológicos e esses intermediá rios biológicos ajudam a moldar P E e N Por sua vez estes fatores contribuem para uma ampla variedade de aprendi zados em laboratório além de comportamentos sociais PERSONALIDADE COMO UM PREDITOR O modelo complexo da personalidade de Eysenck apresen tado na Figura 145 sugere que os traços psicométricos de P E e N podem se combinar entre si e com determinantes genéticos intermediários biológicos e estudos experimen tais para predizerem uma variedade de comportamentos sociais incluindo aqueles que contribuem para a doença Personalidade e comportamento As três dimensões gerais da personalidade de Eysenck predizem o comportamento De acordo com o modelo de Eysenck apresentado na Figura 145 psicoticismo ex troversão e neuroticismo devem predizer resultados de estudos experimentais além de comportamentos sociais Lembrese de que a teoria de Eysenck pressupõe que a ex troversão é um produto da excitabilidade cortical baixa Portanto os introvertidos comparados com os extrover tidos devem ser mais sensíveis a uma variedade de estí mulos e condições de aprendizagem Eysenck 1997a ar gumentou que uma teoria efetiva da personalidade deve predizer consequências imediata e remotas ver Fig 145 e ele e seu filho Michael H J Eysenck M W Eysenck 1985 citaram estudos que demonstraram a maior deman da dos extrovertidos por mudança e novidade tanto em estudos de laboratório quanto em estudos do comporta mento social Eysenck 1997a argumentou ainda que muitos es tudos de psicologia chegaram a conclusões erradas porque ignoraram fatores de personalidade Por exemplo estudos em educação comparando a eficácia da aprendizagem pela descoberta e a aprendizagem receptiva tradicional frequen temente produziram diferenças conflitantes ou nenhuma diferença Eysenck acreditava que esses estudos não consi deravam que as crianças extrovertidas preferem a aprendi zagem pela descoberta mais ativa e se saem bem com ela enquanto as crianças introvertidas preferem a aprendiza gem receptiva mais passiva com melhores resultados Em outras palavras existe uma interação entre as dimensões e os estilos de aprendizagem Entretanto quando os investi gadores ignoram tais fatores da personalidade eles podem não encontrar diferenças na eficácia comparativa dos esti los de aprendizagem pela descoberta ou receptiva Eysenck 1995 também levantou a hipótese de que psicoticismo está relacionado ao gênio e à criatividade Mais uma vez a relação não é simples muitas crianças possuem habilidade criativa não são conformistas e têm ideias não ortodoxas mas elas crescem e se tornam pes soas de pouca criatividade Eysenck constatou evidências de que essas pessoas não possuem a persistência daque las com escores P altos Crianças com o mesmo potencial criativo que também têm P alto são capazes de resistir às críticas de pais e professores e de emergir como adultos criativos Neuroticismo Estabilidade Extroversão Superego Psicoticismo Introversão F FIGURA 144 Esquema tridimensional descrevendo os escores de um indivíduo em cada uma das principais dimensões da personalidade de Eysenck Feist14indd 279 Feist14indd 279 271014 1514 271014 1514 280 FEIST FEIST ROBERTS Do mesmo modo Eysenck e S B G Eysenck 1975 relataram que tanto aqueles com escores P altos quanto aqueles com escores E altos têm maior probabilidade de se rem desordeiros quando crianças Contudo pais e profes sores costumam considerar as crianças extrovertidas como malandras charmosas e a perdoar seus delitos enquanto veem aquelas com escores P altos como mais maldosas perturbadoras e desagradáveis Assim os desordeiros com escores E altos tendem a se transformar em adultos produ tivos enquanto os desordeiros com escores P altos tendem a continuar a ter problemas de aprendizagem a ingressar no crime e a apresentar dificuldade em fazer amigos S Eysenck 1997 Mais uma vez Eysenck acreditava forte mente que os psicólogos podem ficar desorientados se não considerarem as várias combinações de dimensões da per sonalidade na condução de suas pesquisas Personalidade e doença Os fatores da personalidade podem predizer mortalida de por câncer e doença cardiovascular DCV No início da década de 1960 Eysenck dedicou muita atenção a essa questão Ele e David Kissen Kissen Eysenck 1962 iden tificaram que as pessoas que apresentavam escore baixo em neuroticismo no Inventário de Personalidade de Maudsley tendiam a suprimir sua emoção e apresentavam probabilida de muito maior do que aqueles com escore alto nesse fator de receber um diagnóstico posterior de câncer de pulmão Mais tarde Eysenck se uniu ao médico e psicólogo iu goslavo Ronald GrossarthMaticek Eysenck Grossarth Maticek 1991 GrossarthMaticek Eysenck 1989 Gros sarthMaticek Eysenck Vetter 1988 para investigar não somente a relação entre personalidade e doença mas também a eficácia da terapia comportamental no prolonga mento da vida de pacientes com câncer e DCV Grossarth Maticek havia usado um questionário curto e uma entrevis ta pessoal longa para colocar as pessoas em um dos quatro grupos ou tipos O Tipo I incluía pessoas com uma reação ao estresse de desesperançadesamparo as pessoas do Tipo II em geral reagiam à frustração com raiva agressividade e ex citação emocional as pessoas do tipo III eram ambivalentes mudando da reação típica das pessoas do Tipo I para a rea ção típica daquelas do Tipo II e depois retornando à primei ra os indivíduos do Tipo IV consideravam a própria auto nomia como uma condição importante para seu bemestar e sua felicidade pessoal No estudo original na Iugoslávia as pessoas do Tipo I tinham probabilidade muito maior do que as outras de morrer de câncer e as do Tipo II tinham probabilidade muito maior de morrer de DCV Os indivíduos dos Tipos III e IV apresentavam taxas de morte muito baixas para câncer ou DCV GrossarthMaticek Eysenck e Vetter replicaram esse estudo em Heidelberg Alemanha e encon traram resultados muito semelhantes Conforme Eysenck 1996 apontou esses e outros estudos sobre a relação entre personalidade e doença não comprovam que os fatores psicológicos causam câncer e DCV Ao contrário essas doenças são causadas por uma interação de muitos fatores Para DCV tais fatores incluem histórico familiar idade gênero origem étnica hiperten são razão entre o colesterol total e lipoproteína de alta densidade HDL tabagismo dieta estilo de vida sedentá rio e vários fatores de personalidade Para câncer os riscos incluem tabagismo dieta álcool práticas sexuais histórico familiar origem étnica e fatores de personalidade Brannon Feist 2007 Eysenck 1996 referia que fumar isolada mente não causa câncer ou DCV mas quando é combina do com estresse e fatores de personalidade ajuda a con tribuir para morte por essas duas doenças Por exemplo Eysenck e colaboradores Marusic Gudjonsson Eysenck Starc 1999 desenvolveram um modelo biopsicossocial DNA Excitação do sistema límbico P E N Personalidade Condicionamento Sensibilidade Vigilância Percepção Memória Reminiscência Sociabilidade Criminalidade Criatividade Psicopatologia Comportamento sexual Antecedentes remotos Antecedentes próximos Consequências próximas Consequências remotas Determinantes genéticos da personalidade Constelação de traços psicométricos Intermediários biológicos Estudos experimentais Comportamento social FIGURA 145 Um modelo dos principais componentes da teoria da personalidade de Eysenck Feist14indd 280 Feist14indd 280 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 281 complexo para DCV que incluía 11 fatores biológicos e sete psicossociais Sua pesquisa com homens na República da Eslovênia corroborou a hipótese de que os fatores da per sonalidade interagem com uma variedade de fatores bioló gicos para contribuir para DCV Uma dessas interações era em relação a tabagismo neuroticismo e reatividade emo cional ou seja as pessoas com escore P alto que fumam e reagem ao estresse com raiva hostilidade e agressividade correm risco maior de DCV PESQUISA RELACIONADA Eysenck desenvolveu o Inventário de Personalidade de Eysenck EPQ e suas versões Eysenck 1959 Eysenck Eysenck 1964 1968 1975 1993 O EPQ foi usado em conjunto com medidas neurofisiológicas e genéticas para avaliar a base biológica da personalidade A biologia dos traços de personalidade Uma das ênfases principais da teoria de Eysenck é que as dimensões da personalidade não são criações arbitrárias da cultura mas resultado da constituição genética e neurofi siológica básica da espécie humana Se houvesse uma base genética para a personalidade dois pressupostos principais deveriam ter validade Primeiro devem existir diferenças neurofisiológicas entre pessoas com escore alto no extremo de uma dimensão p ex introversão e aquelas com escore alto no outro extremo da mesma dimensão p ex extrover são Segundo as dimensões básicas da personalidade de vem ser universais e não limitadas a determinada cultura O primeiro domínio para testar o modelo biológico da personalidade de Eysenck é a neurofisiologia Se conforme propôs Eysenck os introvertidos têm limiares mais baixos de excitação do que os extrovertidos então eles devem ser mais reativos i é sensíveis à estimulação sensorial Uma forma de testar essa ideia é apresentar a ambos os grupos intensidades variadas de estimulação e medir a reatividade fisiológica Se a teoria de Eysenck estiver correta então os in trovertidos devem ser mais reativos do que os extrovertidos Durante os últimos 30 anos uma quantidade subs tancial de pesquisa explorou medidas cognitivas com portamentais e fisiológicas da reatividade em relação a extroversãointroversão Beauducel Brocke Leue 2006 Eysenck 1990 Stelmack 1990 1997 Em geral foi corro borado o pressuposto de Eysenck de que os introvertidos são mais reativos possuem limiares mais baixos do que os extrovertidos com a qualificação de que é a reatividade em vez dos níveis de atividade da linha de base que distingue introvertidos de extrovertidos Por exemplo em um estudo recente Beauducel e cola boradores 2006 predisseram que os extrovertidos teriam menos excitação cortical e apresentariam pior desempenho em uma tarefa entediante e monótona Os pesquisadores selecionaram estudantes que tinham escore muito baixo ou muito alto na escala de Extroversão do Inventário de Perso nalidade de Eysenck Então eles apresentaram aos partici pantes uma série de sons a cada 3 segundos por 60 minu tos Os participantes tinham que apertar um botão depois que ouvissem determinado som Os computadores mediram a velocidade tempo de reação e a exatidão das respostas A tarefa pretendia ser entediante e aborrecida como de fato era A ideia é que os extrovertidos se sairiam pior na tarefa do som porque ela era excessivamente desestimulante Por fim a atividade cortical dos participantes foi medida via EEG durante toda a tarefa As predições mais uma vez eram de que os extrovertidos teriam excitação cortical mais baixa e se sairiam pior na tarefa monótona Beauducel e colabora dores obtiveram evidências favoráveis para tais hipóteses o que sustenta dois dos pressupostos mais fundamentais de Eysenck acerca da base biológica dos traços de personalidade Igualmente Anthony Gale 1983 resumiu os achados de 33 estudos examinando EEG e extroversão e constatou que os introvertidos apresentavam maior excitação cortical do que os extrovertidos em 22 dos 33 estudos Depois Ro bert Stelmack 1997 uma figura importante na verificação da hipótese neurofisiológica de Eysenck revisou a literatu ra e chegou a duas conclusões básicas primeira os introver tidos são mais reativos do que os extrovertidos em várias medidas de excitação e segunda os extrovertidos são mais rápidos em responder a tarefas motoras simples As respos tas motoras mais rápidas dos extrovertidos correspondem bem a espontaneidade desinibição social e impulsividade aumentadas Em um estudo de Cynthia Doucet e Stelmac 2000 contudo foi somente a taxa de resposta motora não a velocidade de processamento cognitivo que di ferenciou introvertidos de extrovertidos Os extrovertidos eram mais rápidos em termos motores do que cognitivos Os extrovertidos podem se movimentar mais rápido mas eles não pensam mais rápido do que os introvertidos O nível ideal de excitação é outra das hipóteses de Eysenck que gerou alguma pesquisa Eysenck teorizou que os introvertidos deveriam trabalhar melhor em ambientes de estimulação sensorial relativamente baixa enquanto os extrovertidos deveriam ter melhor desempenho sob condi ções de estimulação sensorial relativamente alta Dornic Ekehammer 1990 Em um importante estudo conduzido por Russell Geen 1984 os participantes introvertidos e extrovertidos foram designados randomicamente à con dição de baixo ruído ou alto ruído e então receberam uma tarefa relativamente simples para realizar Os resultados mostraram que os introvertidos superaram os extroverti dos sob condições de ruído baixo enquanto os extrover tidos superaram os introvertidos sob condições de ruído alto Tais achados não somente corroboram a teoria de Eysenck mas também sugerem que as pessoas que prefe rem estudar em locais públicos como uma área de estudos do dormitório têm mais probabilidade de serem extrover Feist14indd 281 Feist14indd 281 271014 1514 271014 1514 282 FEIST FEIST ROBERTS tidas Os introvertidos por sua vez consideram que esses ambientes barulhentos distraem e portanto tendem a evitálos Uma segunda fonte de apoio para a teoria da perso nalidade de base biológica de Eysenck provém da genética comportamental As pesquisas em genética comportamen tal em geral estão fundamentadas no estudo de gêmeos idênticos e fraternos criados juntos ou separados Estudos de gêmeos evidenciaram que a maioria dos traços básicos de personalidade possui estimativas de hereditariedade entre 40 e 60 Plomin Caspi 1999 Em outras pala vras a composição genética de um indivíduo fica a meio caminho da explicação de seus traços básicos Por exemplo o traço de extroversão ou sociabilidade com frequência apresenta correlações de cerca de 050 para gêmeos idênti cos e de cerca de 020 a 025 para gêmeos fraternos o que leva a uma estimativa de hereditariedade entre 50 e 60 Do mesmo modo entre 50 e 55 da diferença em neuroti cismo é resultado da genética Bouchard Loehlin 2001 Caspi Roberts Shiner 2005 Krueger Johnson 2008 Plomin Caspi 1999 Em suma a pesquisa tende a corroborar a noção de Eysenck de que os fatores de personalidade possuem uma base biológica e não são apenas dependentes do que apren demos De fato coerente com uma base biológica da perso nalidade os principais traços parecem coerentes na maio ria dos países do mundo McCrae 2002 Pootinga Van de Vijver van Hemert 2002 Como e quando os traços de personalidade se expressam são claramente influenciados pelo contexto cultural e social Mas o fato de todos nós po dermos ser descritos em dimensões similares da persona lidade p ex extroversão ou neuroticismo é influenciado pela composição biológica A personalidade em suma é moldada pela natureza e pelo ambiente CRÍTICAS À TEORIA DE BASE BIOLÓGICA DE EYSENCK A príncipio a teoria de base biológica de Eysenck gera pes quisa Segundo esse critério ela deve ser classificada como muito alta A Figura 145 mostra a abrangência da teoria da personalidade de Eysenck O quadrado do centro abarca as propriedades psicométricas de sua teoria isto é psico ticismo extroversão e neuroticismo Essa figura também mostra que a teoria da personalidade de Eysenck é muito mais do que uma simples classificação Os antecedentes genéticos e biológicos do comportamento são sugeridos pelos dois quadrados à esquerda enquanto algumas das consequências ou resultados da pesquisa de Eysenck são encontrados nos dois quadrados à direita Tais consequên cias são o resultado de estudos experimentais sobre condi cionamento sensibilidade vigilância percepção memória e reminiscência As áreas de pesquisa em comportamento social são apresentadas no quadro na extrema direita e in cluem tópicos como sociabilidade criminalidade criativi dade psicopatologia e comportamento sexual Eysenck e colaboradores relataram quantidades significativas de pes quisas nesses e em outros campos de estudo Segundo as teorias dos traços e fatores são refutá veis Conforme esse critério as teorias dos traços e fato res recebem uma classificação de moderada a alta Alguns dos resultados de pesquisa de Eysenck por exemplo suas investigações sobre personalidade e doença não foram replicados por pesquisadores externos Sua teoria biológica porque faz predições específicas é passível de verificação Os resultados no entanto são mistos com algumas de suas predições sendo confirmadas p ex ex citação ideal e outras não p ex velocidade do processa mento cognitivo Terceiro as teorias dos traços e fatores são classifica das como altas em sua capacidade de organizar o conheci mento Como o modelo da personalidade de Eysenck é um dos poucos a levar a biologia a sério constitui uma das úni cas teorias que podem explicar as observações de que os indivíduos diferem em comportamento ao nascimento e que a genética explica cerca de metade da variabilidade nas diferenças individuais Quarto uma teoria útil tem o poder de guiar as ações dos praticantes e segundo tal critério as teorias biológicas possuem uma classificação relativamente baixa Ainda que essas teorias façam um bom trabalho ao explicarem as ori gens das diferenças de personalidade elas não se prestam facilmente como guias práticos para professores pais e até mesmo terapeutas De acordo com esse critério a teoria biológica se classifica como baixa As teorias dos traços e fatores são coerentes interna mente Mais uma vez a classificação deve ser ambígua A teoria de Eysenck é um modelo de coerência mas quan do comparada com o modelo dos cinco fatores o modelo de Eysenck é um pouco incoerente Eysenck permaneceu convencido de que seus três fatores gigantes eram supe riores ao modelo Big Five Essa incoerência apresenta um problema em especial porque a análise fatorial é um proce dimento matemático preciso e porque as teorias dos fato res são fortemente empíricas O critério final de uma teoria útil é a parcimônia As sim como o modelo dos cinco fatores de McCrae e Cos ta o modelo da personalidade de Eysenck também está fundamentado na análise fatorial e portanto fornece uma explicação muito parcimoniosa da personalidade De fato com apenas três dimensões principais o modelo de Eysenck é ainda mais parcimonioso do que a abordagem dos cinco fatores Feist14indd 282 Feist14indd 282 271014 1514 271014 1514 TEORIAS DA PERSONALIDADE 283 Termoschave e conceitos Eysenck usou uma abordagem hipotéticodedutiva para extrair três fatores bidirecionais extroversão introversão neuroticismoestabilidade e psicoticis mosuperego Os extrovertidos são caracterizados pela sociabilidade e pela impulsividade os introvertidos pela passivida de e pela ponderação Altos escores na escala de neuroticismo podem indi car ansiedade histeria transtornos obsessivocom pulsivos ou criminalidade baixos escores tendem a predizer estabilidade emocional Altos escores em psicoticismo indicam hostilidade egocentrismo desconfiança não conformidade e comportamento antissocial baixos escores apontam um superego forte empatia e cooperação Eysenck insistia em que para ser útil a personalida de deve predizer o comportamento e ele apresentou amplas evidências que corroboram sua teoria dos três fatores As três dimensões principais da personalidade têm base biológica conforme evidenciado pelas pesqui sas de temperamento genética comportamental e cérebro CONCEITO DE HUMANIDADE Na dimensão de determinismo versus livrearbítrio a teoria de Eysenck está mais próxima da visão determinista mas apenas de modo sutil Os fundamentos biológicos são difíceis de mu dar mas como o modelo de diáteseestresse deixa claro tanto a biologia quanto o ambiente são necessários para criar as qualidades finais da personalidade em um indivíduo Em relação ao otimismo versus pessimismo Eysenck é mais silencioso mas em teleologia versus causalidade ele se inclina para o lado da causalidade Lembrese do modelo na Figura 145 no qual a cadeia da causalidade vai desde o DNA até o sistema límbico os traços as consequências imediatas e finalmente as consequências remotas Na questão dos determinantes conscientes versus incons cientes do comportamento a abordagem de Eysenck se inclina para os determinantes inconscientes uma vez que as pessoas são sobretudo incapazes de ter consciência de como a gené tica e os processos cerebrais afetam seu comportamento e sua personalidade Referente à questão das influências biológicas versus sociais pode ser um tanto surpreendente dizer mas de fato Eysenck argumentou muito pelo ambose ambos inato e adquirido A biologia pode estabelecer o piso e o teto para nosso comportamento mas o ambiente é necessário para determinar se estaremos mais próximos do piso ou do teto de nosso potencial Na dimensão das diferenças individuais versus semelhan ças a teoria biológica tende um pouco para as diferenças in dividuais As diferenças biológicas cerebrais e genéticas focam a singularidade dos indivíduos Eysenck 1981 por exemplo escreveu que as pessoas são acima de tudo indivíduos p xi E no entanto ao mesmo tempo a teoria biológica também demonstra os aspectos em comum que todos compartilhamos como membros de uma espécie Já que todos somos membros da mesma espécie esperamos ver e na verdade vemos aspec tos comuns na estrutura da personalidade por todo o mundo Feist14indd 283 Feist14indd 283 271014 1514 271014 1514 CAPÍTULO 15 Buss Teoria Evolucionista da Personalidade Panorama da teoria evolucionista Biografia de David Buss Princípios da psicologia evolucionista Teoria evolucionista da personalidade Natureza e criação da personalidade Problemas adaptativos e suas soluções mecanismos Mecanismos evoluídos Origens das diferenças individuais Teorias evolucionistas da personalidade neobussianas Malentendidos comuns na teoria evolucionista Evolução implica determinismo genético comportamento imutável e livre da influência do ambiente A execução de adaptações requer mecanismos conscientes Os mecanismos visam a um ideal Pesquisa relacionada Temperamento e ambiente pré e pósnatal Genética e personalidade Personalidade animal Críticas à teoria evolucionista da personalidade Conceito de humanidade Termoschave e conceitos Buss Feist15indd 284 Feist15indd 284 291014 0932 291014 0932 TEORIAS DA PERSONALIDADE 285 D avid tinha 17 anos e era evadido do ensino médio preso duas vezes por causa de drogas estava traba lhando no turno da noite em um ponto de parada de caminhões Certa noite um motorista bêbado ameaçou pegar um machado e cortar seu cabelo longo Outra noi te um homem bateu em David com um taco sem razão aparente que não fosse começar uma briga Nesse ponto David decidiu que deveria haver uma maneira melhor de ganhar a vida e então matriculouse na escola noturna para concluir o ensino médio e receber seu diploma Depois de fazer isso ele teve muita sorte ganhou um sorteio para ingressar na Universidade do Texas em Austin para a qual ele não tinha realizado o teste exigido Na faculdade sua curiosidade intelectual floresceu Como ele mesmo disse no meu primeiro ano eu sabia que queria me tornar um cientista e que a mente humana era o território que eu que ria explorar D Buss 2004 p 16 Dez anos depois David era professor de psicologia na Universidade de Harvard Como é que alguém que abandonou o ensino médio se torna professor em Harvard Uma das ideias que desperta ram esse interesse pela aprendizagem e pelo conhecimento em David foi o conceito de evolução em especial quando aplicado a personalidade pensamento e comportamento humanos De forma mais específica foi seu interesse pelo sexo e por todos os comportamentos que o acompanham atração cobiça ciúme traição flerte fofoca que focou suas ambições de carreira Tal interesse catapultou Buss de evadido do ensino médio para professor em Harvard Para sermos justos David nunca foi um evadido típico seu pai era um professor de psicologia distinto e toda a sua família era intelectualmente curiosa e talentosa PANORAMA DA TEORIA EVOLUCIONISTA Charles Darwin 1859 assentou as bases para a teoria mo derna da evolução muito embora a teoria em si já exis tisse desde os gregos antigos A principal contribuição de Darwin não foi a teoria da evolução mas uma explicação de como funciona a evolução a saber por meio da seleção natural e sexual e o acaso O acaso ocorre mais pela mu tação genética aleatória e não há muito a dizer acerca dele Em vez disso focamos a seleção de três tipos diferentes Para compreendermos a seleção natural e sexual exa minemos primeiro um conceito semelhante criado pelos humanos e que proporcionou a Darwin seu insight princi pal a seleção artificial A seleção artificial também co nhecida como reprodução ocorre quando os humanos selecionam traços particulares desejáveis em uma espécie em reprodução Por exemplo as diferenças entre o ca chorro dinamarquês muito grande e um chihuahua muito pequeno aconteceram porque os humanos selecionaram essas qualidades em tais raças Os humanos vêm reprodu zindo espécies de plantas e animais há milhares de anos Seleção natural é simplesmente uma forma mais geral de seleção artificial em que a natureza em vez das pessoas seleciona os traços Ou seja ela ocorre quando os traços se tornam mais ou menos comuns em uma espé cie por longos períodos de tempo porque eles conduzem ou não a maior sobrevivência D Buss 1999 D Buss Greiling 1999 Desse modo seleção natural envolve es tratégias evoluídas para a sobrevivência de uma espécie Mas entendase que tais estratégias não são conscientes com um plano ou previsão em mente mas são cegas não conscientes Os traços são selecionados simplesmente porque levam a uma maior sobrevivência e portanto mais descendentes com esse traço sobrevivem até a idade repro dutiva Esses indivíduos por sua vez têm mais descendên cia A genialidade de Darwin foi ser o primeiro com Alfred Wallace a reconhecer que esse foi o processo que direcio nou a evolução de todas as formas de vida Darwin percebeu que havia certos traços que contra diziam a seleção natural porque eles tornavam a sobrevi vência diretamente menos provável e não mais provável As plumas grandes volumosas e coloridas do pavão eram um exemplo principal Por que existem tais características se elas tornam a sobrevivência mais difícil Sua resposta foi a seleção sexual em vez da seleção natural Darwin 1859 Miller 2000 A seleção sexual opera quando os membros do sexo oposto consideram certos traços mais sedutores e atraentes do que outros e assim produzem descendência com esses traços A chave é que tais qualidades devem ser marcadores de adequação que não podem ser facilmen te falsificados Por exemplo no caso do pavão apenas os machos com a plumagem mais saudável e brilhante são atraentes para a fêmea Mas a plumagem não pode ser Traços como tamanho são às vezes selecionados artificialmente pelos humanos e podem levar a diferentes raças de cães Feist15indd 285 Feist15indd 285 291014 0932 291014 0932 286 FEIST FEIST ROBERTS falsificada isto é nenhum macho consegue fingir ter a plumagem mais brilhante De fato a plumagem mais bri lhante é um verdadeiro marcador de adequação ou seja esses são de fato os machos mais fortes e mais saudáveis no grupo Zahavi Zahavi 1997 Esses traços são des vantagens que apenas os verdadeiramente fortes e saudá veis podem superar Eles sinalizam para as fêmeas Ei me escolha sou o mais forte e o mais saudável Ao acasalarem com esses pavões as fêmeas estão inconscientemente produzindo a prole mais forte e mais saudável Nos huma nos força beleza física dominância inteligência e status são qualidades que muitos consideram atrativas e são por tanto sexualmente selecionadas Por exemplo um estudo recente de mais de 400 indivíduos muitos dos quais eram artistas e poetas criativos revelou uma correlação positi va entre criatividade e sucesso sexual Ou seja as pessoas mais criativas eram também mais ativas sexualmente Nettle Clegg 2006 Os pesquisadores argumentaram que essas constatações corroboram a teoria proposta ini cialmente por Darwin e mais recentemente por Geoffrey Miller 2000 de que a capacidade criativa humana é um traço sexual selecionado porque é uma qualidade que au menta a atratividade para os membros do sexo oposto O processo evolutivo seleção natural e sexual e acaso culmina em três resultados distintos adaptações subpro dutos e ruído D Buss 1999 Tooby Cosmides 1992 Adaptações são estratégias evoluídas que resolvem pro blemas importantes de sobrevivência eou reprodução As adaptações costumam ser produto da seleção natural e se xual e deve haver uma base genética ou herdada para elas As glândulas sudoríparas por exemplo são adaptações porque elas resolvem o problema da regulação térmica As preferências de paladar e a atração sexual também são adaptações Gostamos de alimentos açucarados e gorduro sos porque eles são boas fontes de energia e em tempos evolutivos iniciais eram relativamente escassos A inte ligência e a criatividade humana são adaptações porque elas facilitam soluções adaptativas de sobrevivência Feist 2006 Miller 2000 Subprodutos são traços que acontecem como resulta do de adaptações mas não fazem parte do design funcional D Buss 1999 Tooby Cosmides 1992 Os subprodutos se associam à seleção natural ou sexual mas não constituem uma parte importante dela A capacidade científica ou a ha bilidade de dirigir é um subproduto das adaptações Obvia mente não evoluímos para fazer ciência ou dirigir carros mas um subproduto da evolução da inteligência humana é a capacidade de pensar cientificamente Feist 2006 Do mes mo modo dirigir um carro não é uma estratégia evoluída porém ter reflexos rápidos coordenação mãosolhos e con trole motor muscular nos permite transferir as habilidades evoluídas para aplicações novas e modernas como dirigir O ruído também conhecido como efeitos randômi cos ocorre quando a evolução produz alterações aleatórias no design que não afetam a função Tende a ser produzido pelo acaso e não é selecionado Um exemplo de ruído é a forma de um umbigo isto é se ele é para dentro ou para fora O umbigo é um subproduto de uma adaptação a sa ber o cordão umbilical Buss 1999 BIOGRAFIA DE DAVID BUSS David Buss nasceu em 14 de abril de 1953 em India nápolis Indiana filho de Arnold H Buss e Edith Nolte Arnold H Buss obteve seu doutorado em psicologia pela Universidade de Indiana no início da década de 1950 e foi professor de psicologia na Universidade de Pittsburg Rutgers e na Universidade do Texas onde hoje é profes sor emérito As pesquisas de Arnold Buss focaram a agres sividade a psicopatologia a autoconsciência e a ansieda de social A Buss 2008 Apesar de David Buss ter crescido em uma família acadêmica na adolescência ele pendia para notas medío cres na escola e se envolveu com drogas no ensino médio tendo até sido preso por duas vezes com acusação de uso de substâncias D Buss 2004 Os assuntos acadêmicos simplesmente não o atraíam e aos 17 anos Buss abando nou o ensino médio Ele assumiu o primeiro emprego ao qual se candidatou atendente em um ponto de parada de caminhões porque desejava trabalhar no turno da noite Entretanto em apenas três meses no emprego Buss teve experiências suficientes para perceber que deve haver me lhores formas de se ganhar a vida D Buss 2004 p 16 Por exemplo um motorista bêbado ameaçou usar uma machadinha em seu cabelo longo em outro incidente um homem bateu em Buss com um bastão sem outra razão aparente que não fosse começar uma briga Depois dessas experiências ele se matriculou em au las noturnas concluiu o ensino médio e embora suas no tas fossem muito baixas para ser admitido na universida de em 1971 ele teve a sorte de ser aceito na Universidade do Texas por meio de um sorteio aleatório entre aqueles que não estavam nos 10 melhores na turma D Buss 1989 O sorteio foi extinto no ano seguinte Foi como universitário que seu amor pelo conhecimento e sua fas cinação pelo comportamento humano criaram raízes Os cursos de geologia e astronomia o expuseram à importân cia da evolução No primeiro ano na universidade ele já sabia que queria ser um cientista e mais especificamente um cientista da mente Escreveu o primeiro trabalho so bre evolução e comportamento intitulado Dominância acesso às mulheres Nesse trabalho ele propôs que os ho mens são altamente motivados para atingir dominância e status elevado porque tais traços são atraentes para as mulheres Buss reconheceu no entanto que o interesse dele no acasalamento i e sexo ia muito mais além de volta à história pessoal Feist15indd 286 Feist15indd 286 291014 0932 291014 0932 TEORIAS DA PERSONALIDADE 287 Desde uma idade muito precoce vime fascinado pelas mulheres Aos 7 ou 8 anos fui irresistivelmente atraído pela menina da porta ao lado Eu não tinha um nome para os sentimentos porém mais tarde tive certeza de que era amor Quando cresci descobri que quase todos os meus colegas eram hipnotizados pelo acasalamento As fofocas na escola giravam em torno disso atrações repulsões competição pelo par caça ao par troca de par e conflito sexual permeavam nossa vida social come çando na sexta ou sétima série e possivelmente antes Depois que me encantei pela teoria evolucionista no entanto o acasalamento se tornou natural O sucesso reprodutivo diferencial é o mecanismo da evolução 2004 p 1718 Como vimos ao longo deste livro a personalidade do teó rico molda sua teoria da personalidade Buss parece não ser exceção Essas experiências na infância de alguma maneira criaram algum vetor causal que me motivou a focar o acasala mento em minha vida profissional No entanto duvido que as minhas experiências sejam únicas D Buss 2004 p 17 Além do mais ao mesmo tempo em que David era estudante de psicologia na Universidade do Texas em Austin seu pai estava no mesmo departamento como pro fessor e publicava o primeiro livrotexto de psicologia in trodutória com a evolução como o tema unificador Psicolo gia o homem em perspectiva Psychology man in perspective O decano Buss abriu seu livro com a seguinte afirmação A matéria da psicologia é tão diversa a ponto de deixar o estudante perplexo Seria útil para dar uma ordem ao caos se houvesse um tema simples e abrangente que abarcasse os vários tópicos da psicologia A única pers pectiva que parece suficientemente ampla no âmbito é a da evolução A Buss 1973 p 2 O conceito de evolução e sua importância no compor tamento humano portanto estava claramente sempre presente no lar dos Buss e a fascinação de David pela expli cação do comportamento humano em especial o compor tamento sexual segundo tal perspectiva era uma conse quência óbvia de seu ambiente familiar Em contraste com seu desempenho no ensino fun damental e médio como universitário David Buss se dis tinguiu e desenvolveu uma paixão pela psicologia e pelo comportamento humano e prosseguiu no programa de doutorado em psicologia da personalidade na Universidade da Califórnia em Berkeley de 1976 a 1981 Em Berkeley ele trabalhou com Jack e Jeanne Block Richard Lazarus e Harrison Gough mas sua colaboração mais frutífera foi com Ken Craik Junto a Craik desenvolveu uma avaliação da personalidade com base comportamental que eles deno minaram abordagem atofrequência Sua primeira função como professor foi na Univer sidade de Harvard onde continuou a pesquisa sobre atofrequência mas cada vez mais voltava sua atenção para seu primeiro amor na psicologia a teoria evolucionista En quanto estava em Harvard Buss começou uma colaboração com dois estudantes de pósgraduação Leda Cosmides e John Tooby que com Buss continuariam a estabelecer o campo da psicologia evolucionista David Buss acumulou muitos prêmios ao longo de sua carreira incluindo o Early Career Contribution to Persona lity Psychology pela American Psychological Association APA em 1988 e foi eleito membro tanto dessa institui ção quanto da American Psychological Society Além disso é autor de inúmeros livros incluindo Psicologia evolucionis ta Evolutionary psychology 1999 A evolução do desejo The evolution of desire 2003 e O assassino da porta ao lado The murderer next door 2005 Com Randy Larsenn ele tam bém publicou um livrotexto Psicologia da personalidade Personality psychology 2002 PRINCÍPIOS DA PSICOLOGIA EVOLUCIONISTA Charles Darwin e Herbert Spencer foram os primeiros pensadores a defender uma perspectiva evolucionista do pensamento e do comportamento psicológico Em 1859 Darwin escreveu No futuro vejo se abrirem campos para pesquisas muito mais importantes A psicologia estará se guramente baseada nos fundamentos já bemestabelecidos por Herbert Spencer da aquisição necessária da energia mental de cada um pela gradação 1 Darwin 1859 p 355 Em outras palavras no futuro a visão de que os processos mentais evoluíram de modo gradual será mais amplamen te aceita Algumas décadas depois o filósofo e psicólogo americano William James aderiu a essa visão e argumen tou que a psicologia deveria focar a função da mente em vez de suas partes Foi preciso mais de cem anos no entanto para que o futuro previsto por Darwin chegasse Até a década de 1970 evolução e psicologia eram em grande parte ideias separadas Durante a década de 1970 finalmente as coisas começaram a mudar Um dos primeiros sinais de mudança foi impulsionado por E O Wilson quando ele defendeu a fusão das ciências biológica e social e nomeou seu mo vimento de sociobiologia Wilson 1975 O termo psi cologia evolucionista foi cunhado em 1973 pelo biólogo Michael Ghiselin 1973 e popularizado pelo antropólogo John Tooby e pela psicóloga Leda Cosmides no início da década de 1990 Tooby Cosmides 1992 O termo psi cologia evolucionista pode ser definido como o estudo científico do pensamento e do comportamento humano a partir de uma perspectiva evolucionista e foca quatro gran des questões Buss 1999 1 Herbert Spencer publicou Princípios de psicologia em 1855 quatro anos antes da Origem de Darwin em que ele defendia uma visão biológica e até mesmo evolucionista do pensamento e do comportamento humano Feist15indd 287 Feist15indd 287 291014 0932 291014 0932 288 FEIST FEIST ROBERTS 1 Por que a mente humana é projetada como ela é e como ela veio a assumir sua forma atual 2 Como a mente humana é projetada isto é quais são suas partes e sua estrutura atual 3 Que função têm as partes da mente para fazer o que ela foi projetada a realizar 4 Como a mente evoluída e o ambiente atual intera gem para moldar o comportamento humano No restante deste capítulo veremos como essas perguntas foram aplicadas ao estudo da personalidade humana na teoria evolucionista da personalidade de Buss TEORIA EVOLUCIONISTA DA PERSONALIDADE Desde o início até o fim do século XX as teorias da per sonalidade consistiam de grandes teorias que tentavam explicar todas as pessoas em todos os momentos até teorias menores e mais direcionadas que focavam aspec tos da personalidade como a estrutura da personalidade ou a natureza do self Começando com Freud no início da década de 1900 as teorias da personalidade tenta ram entender o pensamento consciente e inconsciente das pessoas os motivos os impulsos e até seus sonhos A maioria dessas teorias como mencionado nas Partes I e II deste livro assumem que a personalidade é resultado apenas de eventos ambientais e raramente citam algum componente biológico A teoria evolucionista no en tanto assume que as verdadeiras origens desses traços remontam a tempos ancestrais A verdadeira origem da personalidade é a evolução significando que ela é pro duto da interação entre um ambiente sob modificação constante e um corpo e cérebro em mudança A teoria evolucionista é uma das poucas teorias recentes da per sonalidade que tenta mais uma vez explicar a grande visão da personalidade humana suas origens últimas bem como sua função e estrutura geral A metateoria evolucionista propriamente concebida quase ausente das formulações centrais da psicologia da personalida de fornece a esta a grande estrutura que procura Buss 1991 p 486 Como percebido ao longo deste livro personalidade referese principalmente a como os indivíduos diferem de modo consistente no que os motiva e em como eles agem e pensam A evolução também inicia com o pressuposto de que cada membro de uma espécie difere dos demais Nes se sentido ambas pareceriam parceiras perfeitas Consi derando o fato de que personalidade e evolução possuem diferenças individuais em seu ponto de partida você teria pensado que o casamento das duas seria óbvio e que acon tecesse logo depois que Darwin tivesse sugerido isso na metade até o final do século XIX No entanto poucos aceitaram o desafio e o casamen to não aconteceu até a década de 1990 De fato como dois dos principais proponentes da psicologia evolucionista Tooby e Cosmides assinalaram no início do casamen to houve um sério problema a seleção natural em geral trabalha para diminuir as diferenças individuais uma vez que traços e qualidades bemsucedidos se tornam a nor ma e traços menos adaptativos se extinguem Por longos períodos de tempo a natureza está selecionando o mesmo traço Expressando de uma forma mais clara há um para doxo aqui Se a seleção natural elimina os traços maladap tativos e a longo prazo produz uma natureza humana universal como os indivíduos podem de forma coerente diferir em sua disposição para pensar e se comportar i e ter personalidade Tooby Cosmides 1990 As adap tações humanas devem permanecer universais e típicas da espécie ou seja não deve haver diferenças significati vas entre os indivíduos Em outra palavras Tooby e Cos mides argumentam que se um traço apresenta diferenças individuais significativas ele não pode ser uma adaptação porque por definição as adaptações são típicas da espé cie Na verdade Tooby e Cosmides não estavam negando a existência da personalidade mas sim o fato de se tratar de uma adaptação E no entanto poucos não reconhecem a existência de personalidade e diferenças individuais Como explicamos tal paradoxo Na verdade no início de seu desenvolvimento o cam po da psicologia evolucionista da personalidade ficou divi dido sobre como resolver tal paradoxo Alguns psicólogos evolucionistas importantes defenderam duas soluções as diferenças na personalidade eram ruído ou talvez sub produtos de estratégias adaptativas evoluídas Tooby Cosmides 1990 Mais recentemente no entanto outros teóricos sustentaram que os traços de personalidade se riam algo mais do que ruído ou subprodutos seriam adap tações D Buss 1991 1999 MacDonald 1995 Nettle 2006 Nichols Sheldon Sheldon 2008 Como David Buss foi o primeiro e mais proeminente teórico a assumir a causa do desenvolvimento de uma teoria evolucionista da personalidade focaremos em sua teoria Ainda neste capí tulo examinamos brevemente algumas das ampliações dos teóricos neobussianos A essência da teoria da personali dade de Buss relacionase a problemas adaptativos e suas soluções ou mecanismos Antes de discutirmos as adapta ções e suas soluções examinemos primeiro a natureza e a criação da personalidade Natureza e criação da personalidade Lembremos que personalidade referese às diferenças coe rentes e únicas entre os indivíduos acerca de como eles pensam e se comportam A questão rapidamente se coloca O que causa essas diferenças individuais Como ocorre com todas as perguntas sobre comportamento humano Feist15indd 288 Feist15indd 288 291014 0932 291014 0932 TEORIAS DA PERSONALIDADE 289 tudo se resume a duas respostas fundamentais inato eou adquirido Ou seja comportamento e personalidade decor rem de qualidades internas ou de qualidades externasam bientais É fácil perceber no entanto que essa dicotomia é falsa Estados e processos internos desde sistemas bioló gicos e fisiológicos até traços de personalidade acontecem a partir de uma contribuição do ambiente Nenhum deles pode funcionar sem o outro embora a trajetória da psico logia seja em grande parte uma história de inato versus ad quirido Por um lado existe o que Buss denominou de erro situacional fundamental ou a tendência a assumir que o ambiente sozinho pode produzir comportamento despro vido de um mecanismo interno estável Sem mecanismos internos não pode haver comportamento D Buss 1991 p 461 Por outro lado existe o que os psicólogos sociais chamaram de erro de atribuição fundamental para des crever a tendência humana a ignorar forças situacionais e ambientais quando se explica o comportamento de outras pessoas e em vez disso o foco está nas disposições inter nas De fato cada uma dessas visões isoladamente está incompleta porque não existe uma coisa tal como expli cações do comportamento somente internas ou somente externas As duas precisam estar envolvidas e interagir em qualquer comportamento Os mecanismos evoluídos são bons exemplos da inte ração inato e adquirido porque eles só existem em respos ta ao ambiente e com a contribuição deste Não há uma divisão entre biológico e ambiental O ambiente não afeta o comportamento sem um mecanismo para responder A evolução em geral é inerentemente uma interação entre biologia e ambiente inato e adquirido Todas as estruturas biológicas e por extensão todos os sistemas psicológicos ocorreram em um ambiente particular e considerando que estava acontecendo naquele ambiente Durante os estágios iniciais da evolução alguns indivíduos tinham qualidades que funcionavam naquele ambiente naquela época e por tanto apresentavam maior probabilidade de sobreviverem e de se reproduzirem Um dos pressupostos fundamentais da teoria evolucionista da personalidade é que essas quali dades adaptativas incluem disposições coerentes e únicas para se comportar de forma particular em contextos pecu liares em outras palavras traços de personalidade Problemas adaptativos e suas soluções mecanismos Desde Darwin ficou claro que todas as formas de vida são confrontadas com dois problemas fundamentais de adap tação a saber sobrevivência alimento perigo predação e reprodução Para sobreviver qualquer ser vivo precisa lidar com o que ele chamou de forças hostis da natureza as quais incluem doenças parasitas escassez de alimento clima ad verso predadores ou outros perigos naturais D Buss 1991 Os indivíduos que resolvem esses problemas com mais efi ciência e eficácia têm maior probabilidade de sobreviver e a sobrevivência é uma precondição para a reprodução O processo de evolução pela seleção natural produ ziu soluções para esses dois problemas básicos da vida os quais são chamados de mecanismos De forma mais espe cífica os mecanismos operam de acordo com princípios em diferentes do mínios adaptativos totalizam dezenas ou centenas talvez até mesmo milhares são soluções complexas para problemas adaptativos específicos sobrevivência reprodução Cada mecanismo funciona de forma pontual sobre o pro blema que ele resolve e não sobre os outros Por exemplo as glândulas sudoríparas resolvem o problema da regulação da temperatura corporal mas são ineficientes para doen ças ou ferimentos Os mecanismos psicológicos operam convertendo informações adquiridas em ações particulares ou regras de decisão que ajudam a resolver tais problemas adaptativos D Buss 1991 Existem duas classes específicas principais de meca nismos mecanismo físico e mecanismo psicológico Os mecanismos físicos são órgãos e sistemas fisiológicos que evoluíram para resolver problemas de sobrevivência en quanto os mecanismos psicológicos são sistemas cogniti vos motivacionais e de personalidade internos e específi cos que resolvem questões de sobrevivência e reprodução Os mecanismos anatômicos e fisiológicos são amiúde compartilhados por muitas espécies enquanto os mecanis mos psicológicos tendem a ser mais específicos à espécie A biologia evolucionista foca a origem dos mecanismos físicos enquanto a psicologia evolucionista a origem dos mecanis mos psicológicos Na verdade uma contribuição importante da psicologia evolucionista à teoria evolucionista é a introdu ção e o desenvolvimento dos mecanismos psicológicos Exemplos de problemas de sobrevivência e reprodução e suas várias soluções físicas e psicológicas são apresenta dos na Tabela 151 Buss 1991 Por exemplo animais de diferentes espécies desenvolveram sistemas sensoriais si milares Na maioria dos vertebrados os mamíferos em par ticular esses sistemas assumem a forma de olhos orelhas nariz pele e língua Os sentidos são adaptativos pois fun cionam para assimilar diferentes tipos de informações do mundo externo e permitem que o organismo responda de modo apropriado Os mecanismos sensoriais diferem en tre as espécies de animais Os cães por exemplo escutam sons na variação 10 a 35000 ciclos por segundo Hertz enquanto os humanos têm apenas capacidade na faixa de 20 a 20 mil ciclos por segundo Hertz Os humanos en tretanto desenvolveram células fotorreceptoras cones na retina que são sensíveis a três comprimentos de onda de luz diferentes vermelho verde e azul Jacobs Nathans 2009 Os cães assim como a maioria dos outros animais Feist15indd 289 Feist15indd 289 291014 0932 291014 0932 290 FEIST FEIST ROBERTS desenvolveram cones sensíveis a apenas dois comprimen tos de onda azul e verde Neitz Geist Jacobs 1989 Os humanos em outras palavras possuem melhor visão das cores do que os cães porém estes ouvem e têm olfato muito melhor do que os humanos Outro mecanismo físico é o sistema imune o qual evoluiu em resposta a parasitas e doenças assim como a coagulação sanguínea se desenvol veu para resolver a morte por ferimentos ou lesão Um exemplo de um problema de reprodução é a com petição entre o mesmo sexo que provém do fato de que os indivíduos precisam competir com membros do mesmo sexo pelo acesso para se reproduzirem com o sexo oposto O problema portanto é a competição entre o mesmo sexo ou nas palavras de Buss superar os membros do próprio sexo para obter acesso aos membros desejáveis do sexo oposto 1991 p 465 Uma solução mas de forma alguma a única para a reprodução é a dominância Os indivíduos que competem com sucesso contra os integrantes do mes mo sexo de sua espécie são os membros dominantes de um grupo e por isso costumam ter sucesso em muitas deman das específicas tais como adquirir recursos negociar hie rarquias sociais formar alianças bemsucedidas e cortejar com êxito um parceiro potencial D Buss 1988 1991 Os mecanismos psicológicos têm consequências com portamentais e táticas e ações associadas a eles Buss 1991 1999 Por exemplo a competição intrassexo resulta de um membro dominante em um grupo ser o líder em de corrência de alguém ter conseguido negociar com sucesso seu lugar em uma hierarquia superar os inimigos e atrair os parceiros A função principal de um modelo evolucio nista da personalidade é descrever estudar e explicar esses mecanismos psicológicos duradouros Mecanismos evoluídos Mais uma vez os mecanismos psicológicos são processos internos que ajudam a resolver questões de sobrevivência eou reprodução Os mecanismos psicológicos relevantes para a personalidade podem ser agrupados em três catego rias principais objetivosimpulsosmotivos emoções traços de personalidade Não diremos muito a respeito de objetivos impulsos e emoções Em vez disso focaremos os traços de personali dade como mecanismos evoluídos Veremos contudo que objetivos motivos e emoções estão intimamente conecta dos à personalidade De fato a maioria das teorias da per sonalidade se concentrou na motivação e no impulso Motivação e emoção como mecanismos evoluídos Dois objetivos e motivos que atuam como mecanismos evoluídos são o poder e a intimidade Esses impulsos ad quirem muitas formas diferentes com o poder assumindo a forma de agressividade dominância conquista status negociação da hierarquia e a intimidade assumindo a forma de amor apego aliança recíproca A psicologia evolucionista se refere a tais impulsos como adaptações TABELA 151 Exemplos de problemas evolucionários e suas soluções mecanismos Problema Soluçãomecanismo Sobrevivência Adquirir informações do mundo externo Olhos orelhas nariz pele e língua Regulação da temperatura Sistema ectotérmico glândulas sudoríparas Doenças e parasitas Sistema imune Ferimentos e lesões Coagulação sanguínea Predadores e perigo Membros e locomoção Superar os ataques do inimigo Força agressividade velocidade Confiançacooperação Conscienciosidade amabilidade Aliança e coesão do grupo Dominância amabilidade Coletar alimento Criatividade inteligência Abrigo Criatividade inteligência Reprodução Atração pelo parceiro Dominância surgência criatividade Seleção do parceiro Inteligência social teoria da mente Confiança Conscienciosidade confiabilidade Competição intrassexo Agressividade impulso conquista aquisição de recursos beleza Intimidade Amor apego amabilidade Adaptada de Buss 1991 e MacDonald 1995 Feist15indd 290 Feist15indd 290 291014 0932 291014 0932 TEORIAS DA PERSONALIDADE 291 porque eles afetam de modo direto a saúde e o bemestar da pessoa Da mesma maneira emoções são adaptações porque elas alertam o indivíduo para situações que são prejudiciais ou benéficas a seu bemestar Lazarus 1991 Se um evento é prejudicial ao bemestar de uma pessoa alguma forma de emoção negativa é experimentada Além disso se ocorre um evento que é benéfico para o bemestar dessa pessoa desen volvese algum tipo de emoção positiva Por exemplo se o dano está na forma de perda então é experimentada triste za já se o dano está na forma de insulto é experimentada raiva Igualmente experimentase orgulho quando o evento é percebido como importante e executado com sucesso Motivação e emoção estão diretamente ligadas a tra ços de personalidade estáveis Buss 1991 cf MacDonald 1995 Se um indivíduo é impulsionado para conquistas e para vencer competições e é orientado para o status então o rotulamos como dominante ou orientado para o po der Uma pessoa que age regularmente de modo a reunir as pessoas é amável Da mesma forma se o indivíduo ex perimenta tristeza vergonha culpa ou ansiedade quando outras pessoas não sentem poderíamos dizer que ele é an sioso A motivação faz parte da personalidade Traços de personalidade como mecanismos evoluídos Buss 1991 inicia com a suposição de que motivação emo ção e personalidade são adaptativas uma vez que resolvem problemas de sobrevivência e reprodução Ele argumenta que as cinco dimensões principais da personalidade Big Five podem ser mais bem pensadas como uma forma de resumir o panorama social isto é elas sinalizam para as ou tras pessoas a nossa capacidade de resolver problemas de sobrevivência e reprodução Buss conceitualiza as diferen ças individuais e a personalidade como estratégias para a solução de problemas adaptativos E o mais importante ser sensível e estar consciente dessas diferenças na personalida de proporciona vantagens reprodutivas em quem percebe Se você sabe quem é cooperativo eou dominante tem uma vantagem sobre aqueles que não possuem consciência de tais traços Sempre que os indivíduos diferem em maneiras relevantes para os problemas de sobrevivência e reprodução que os seres humanos devem resolver uma vantagem sele tiva resultaria para aqueles cuja capacidade de discernir as diferenças os capacitasse a aumentar sua atratividade geral p 473 Colocado de forma diferente essas disposições são inerentemente avaliativas ou seja elas permitem que os outros nos avaliem quanto aos problemas adaptativos as disposições sinalizam aos outros nossa capacidade de resol ver problemas de sobrevivência e reprodução Por exemplo a conscienciosidade indica a quem se pode atribuir tarefas e aqueles que fazem isso bem acumulam uma vantagem se letiva i e são mais atraentes para os outros O modelo de Buss da personalidade se parece muito com a abordagem dos traços Big Five de McCrae e Costa mas não possui uma estrutura idêntica Buss argumenta pelas mesmas cinco dimensões da personalidade mas com uma terminologia um pouco diferente Além do mais sua visão é de que tais disposições comportamentais possuem significado adaptativo Surgênciaextroversãodominância Amabilidade Conscienciosidade Estabilidade emocional oposto de neuroticismo Abertura à experiênciaintelecto Surgência envolve a disposição para experimentar es tados emocionais positivos e para se envolver no ambien te e ser sociável e autoconfiante Uma pessoa surgente é impulsionada para as conquistas e com frequência tende a dominar e a liderar os outros Ela é quase um sinônimo de extroversão Em tempos ancestrais esses indivíduos eram de alto status e representavam portanto parceiros atraentes e desejáveis Colocada na linguagem da evolução surgência envolve propensão à hierarquia ou seja como as pessoas negociam e decidem quem é dominante e quem é submisso As negociações acontecem como entre mui tos animais por meio da competição e da luta pelo poder Em tempos ancestrais era mais comum essas competições envolverem aspectos físicos e agressivos mas também podiam ser verbais e pelo acúmulo de riqueza e recursos Os líderes são aqueles que assumem o controle e dirigem os outros e se eles assumem o controle pela força ou pela persuasão são reconhecidos pelos outros como estando no comando e adquirem uma posição social dominante Como poder e dominância são atrativos esses indivíduos também tendiam a ter mais filhos A surgência é marcada ainda por uma tendência a assumir riscos e experimentar emoção positiva i e ser feliz e iniciar e manter amizades e relacionamentos As pessoas com alta surgência também são impulsionadas e ambiciosas Uma segunda dimensão da personalidade amabi lidadehostilidade é marcada pela disposição e pela capacidade de cooperar e ajudar o grupo por um lado e de ser hostil e agressivo por outro Algumas pessoas são afetivas cooperativas e orientadas para o grupo mas ou tras são mais egoístas e hostis em relação aos outros Os indivíduos amáveis trabalham para regular o conflito no grupo e formar alianças As pessoas amáveis estimulam a coesão do grupo e tendem a se adequar às normas do grupo Elas se dão bem e acompanham os outros Em re sumo a amabilidade marca a disposição de uma pessoa a cooperar O terceiro sistema adaptativo da personalidade en volve a resposta ao perigo e à ameaça Todos os animais possuem sistemas de alarme que os avisam sobre perigo e dano potencial Nos humanos e em outros animais isso Feist15indd 291 Feist15indd 291 291014 0932 291014 0932 292 FEIST FEIST ROBERTS assume a forma de ansiedade como um estado emocional e estabilidade emocionalneuroticismo como um tra ço disposicional A vigilância ou sensibilidade ao dano e à ameaça é muito necessária e adaptativa A estabilidade emocional envolve a capacidade de lidar ou não com o es tresse Algumas pessoas são calmas sob estresse enquanto outras são tensas a maior parte do tempo Medo e ansiedade são emoções adaptativas Sem elas certamente morreríamos como indivíduos e como espécie Conforme discutimos nos capítulos sobre McCrae e Costa e Eysenck neuroticismo é a tendência a experimentar emo ções negativas como ansiedade culpa e tristeza A tendên cia a ser sensível a ameaças por exemplo pode muito bem ter sido adaptativa em ambientes perigosos como aqueles em que nossos ancestrais viveram A ansiedade exacerbada forneceria um sinal de perigo e ameaça sua ausência logo levaria à extinção da espécie Considere um caçador na sa vana Ele ouve o rugido de um animal grande e sente medo Ele recua e pula para trás dos arbustos antes que o animal perceba sua presença Se não se sentisse ansioso ele pode ria não se esconder com consequências terríveis para sua segurança Da mesma forma o outro extremo hipersensi bilidade a ameaças seria debilitante e perturbador para o funcionamento diário Se o mesmo homem que ficou com medo ao ouvir o rugido de um animal grande também fi casse com medo com cada farfalhar de folhas ou cada sopro do vento ele teria dificuldades de funcionamento na vida diária Ter algum grau de medo é adaptativo e as pessoas com essa qualidade têm maior probabilidade de sobreviver reproduzirse e transmitir essa disposição Os traços natu ralmente selecionados são favorecidos se eles aumentam a chance de sobrevivência e o sucesso reprodutivo Quarto a capacidade e o comprometimento com o tra balho são a característica central da conscienciosidade As pessoas conscienciosas são cuidadosas e orientadas para os detalhes além de focadas e confiáveis As pessoas menos conscienciosas são menos confiáveis e tendem a não ter foco A conscienciosidade sinaliza para os outros em quem podemos confiar com tarefas e responsabilidades e de quem podemos depender em momentos de necessidade Por fim a estratégia evoluída de abertura à experiên cia envolve a propensão para a inovação e a capacidade de resolver problemas Ela está intimamente alinhada com o intelecto e a inteligência mas também com uma disposi ção para experimentar coisas novas e para ter novas expe riências em vez de se apegar à rotina Essas pessoas são os exploradores de um grupo elas seguem em frente quando os outros estão hesitantes Em épocas ancestrais tal quali dade seria expressa em uma disposição para explorar novos territórios na busca de alimento ou vegetação mas hoje ela é expressa em artistas e cientistas que estão na linha de frente das ideias e do conhecimento Buss 1991 argumenta que das cinco dimensões da personalidade surgênciadominância amabilidade e conscienciosidade são os traços mais importantes porque fornecem de forma mais direta respostas a uma série de problemas adaptativos Por exemplo Quem está em nível alto ou baixo na hierarquia social Quem possui os recursos de que preciso Com quem devo formar um casal Quem poderia me machucar ou me trair Quem poderá ser um bom membro de meu grupo Em quem posso confiar e depender quando tiver ne cessidade As diferenças de personalidade funcionam para resolver problemas adaptativos ao fornecer respostas a essas per guntas tanto para o indivíduo quanto para os outros Nesse sentido são indicadores de adequação muito semelhante à plumagem do pavão Origens das diferenças individuais Conforme já discutimos a teoria evolucionista é inerente mente uma perspectiva de inato versus adquirido quando se trata das origens Buss e Heidi Greiling propõem qua tro fontes distintas de diferenças individuais D Buss Greiling 1999 Em essência essas fontes de diferença referemse ao que é inato biológico genético e ao que é adquirido ambientalsocial Uma visão geral das quatro fontes principais de diferenças individuais é apresentada na Tabela 152 Fontes ambientais Há inúmeras formas pelas quais o ambiente contribui para as diferenças individuais adaptativas As diferenças adaptativas aumentam o sucesso reprodutivo e as chan ces de sobrevivência Uma fonte ambiental de diferenças de personalidade é o que Buss denominou calibragem experiencial precoce para defender que as experiências da infância tornam algumas estratégias comportamen tais mais prováveis do que outras Um exemplo dessa calibragem é o seguinte se as pessoas crescem sem um pai presente elas têm maior probabilidade de serem sexualmente ativas em tenra a idade e possuírem mais parceiros sexuais durante a adolescência e a idade adulta As pessoas nessa situação cultivam uma estratégia mais promíscua porque a atenção parental não é confiável e as relações adultas são encaradas como transitórias Belsky Steinberg Draper 1991 Outro exemplo de calibragem precoce de estratégias adaptativas é o estilo de apego como discutimos no ca pítulo de Klein Cap 5 O apego entre cuidador e bebê é inerentemente adaptativo sem ele o bebê não sobrevi ve às primeiras semanas de vida Buss Greiling 1999 O apego ao adulto aumenta o apoio a proteção e a tranqui lização se apego é o modelo que a criança vivencia então provavelmente ela irá desenvolver relações similares na Feist15indd 292 Feist15indd 292 291014 0932 291014 0932 TEORIAS DA PERSONALIDADE 293 idade adulta Do mesmo modo o apego evitativo sinaliza a indisponibilidade parental de investir na criança Uma segunda origem das diferenças individuais indu zidas pelo ambiente é a especialização de nicho alterna tivo ou seja pessoas diferentes encontram o que as faz se destacarem das outras para obterem atenção dos pais ou de parceiros potenciais Um exemplo de especialização de ni cho é visto na ordem de nascimento como abordamos no capítulo de Adler Cap 3 As crianças de diferentes ordens de nascimento gravitam em torno de diferentes personali dades interesses e atividades porque essa é a única forma de obterem a atenção dos pais Frank Sulloway 1996 ar gumentou que o primogênito encontra seu nicho se iden tificando com os pais e as figuras de autoridade enquanto o segundo e os nascidos posteriormente encontram seu nicho sendo focados em derrubar aqueles que estão no poder i e os irmãos mais velhos Fontes herdáveisgenéticas Conforme referido nos capítulos de Eysenck e McCrae e Cos ta hereditariedade significa até onde um traço está sob in fluência genética O tipo físico a morfologia facial e o grau de atratividade física agem como fontes herdáveis de diferenças individuais Buss Greiling 1999 Isto é homens muscu losos ou com aparência masculina dominante atraem mais a atenção feminina o que conduz a mais oportunidades para atividade sexual do que no caso dos homens franzinos ou com aparência menos dominante Mazur Halpern Udry 1994 Essas são características herdáveis pois a forma do rosto ou do corpo é controlada sobretudo pela genética Fontes não adaptativas Algumas fontes dos indivíduos não beneficiam a sobre vivência ou o sucesso reprodutivo e portanto são clas sificadas como não adaptativas A fonte de diferenças individuais não adaptativas mais comum são as variações genéticas neutras as quais com mais frequência assumem a forma de mutações genéticas Algumas mutações são neutras já que elas não são nem prejudiciais nem bené ficas para o indivíduo Elas podem permanecer na carga genética indefinidamente até que as pressões da seleção natural ou sexual as eliminem Fontes maladaptativas Traços maladaptativos são aqueles que prejudicam ativa mente a chance de sobrevivência ou reduzem a atratividade sexual do indivíduo Eles podem se originar de fontes gené ticas ou ambientais Uma fonte genética é o defeito genéti co mas nesse caso a mutação é prejudicial para a pessoa Uma fonte ambiental é vista no trauma ambiental como uma lesão cerebral ou na coluna vertebral o que também pode conduzir a diferenças individuais maladaptativas Teorias evolucionistas da personalidade neobussianas David Buss foi o primeiro a propor em termos formais uma teoria evolucionista completa da personalidade mas outros seguiram a teoria e fizeram avanços nela MacDo nald 1995 por exemplo favoreceu a teoria de Buss com duas contribuições principais Primeiro ele vinculou a personalidade mais intimamente aos sistemas motivacio nais e emocionais evoluídos segundo ele argumentou que a gama de variação da personalidade que vemos em suas principais dimensões são estratégias alternativas viáveis para a maximização da adequação MacDonald tal como Buss também vinculou as di mensões da personalidade a estratégias evoluídas para a solução de problemas adaptativos Tais estratégias TABELA 152 Origens das diferenças individuais Buss Greiling 1999 Fontes ambientais das diferenças individuais adaptativas 1 Calibragem ambiental precoce 2 Evocação situacional duradoura 3 Especialização de nicho estratégica Fontes herdáveis genéticas das diferenças individuais adaptativas 1 Autoavaliação adaptativa dos atributos herdáveis 2 Estratégias adaptativas dependentes da frequência 3 Estratégias herdáveis contínuas dependentes da condição Fontes não adaptativas das diferenças individuais 1 Variação genética neutra 2 Subprodutos incidentais da variação adaptativa Fontes maladaptativas das diferenças individuais 1 Defeitos genéticos 2 Danostrauma ambiental Feist15indd 293 Feist15indd 293 291014 0932 291014 0932 294 FEIST FEIST ROBERTS comportamentais estão conectadas com a motivação de abordar ou evitar situações ou com o sistema emocional de afeto positivo ou negativo MacDonald no entanto apresentou apenas quatro dimensões da personalidade dominância conscienciosidade criação e neuroticismo deixando de fora a abertura à experiência MacDonald argumentou ainda que é adaptativo para uma espécie produzir indivíduos que variem ao longo de um continuum em suas respostas a problemas importan tes porque ambientes em mudança requerem respostas diferentes É isso o que MacDonald quer dizer com estra tégias alternativas viáveis para a maximização da adequa ção Por exemplo em ambientes relativamente seguros ansiedade e vigilância não são tão adaptativas quanto são em ambientes relativamente perigosos Os animais po dem ser mais ousados em ambientes mais seguros Alguns ambientes podem favorecer aqueles que correm riscos e outros ambientes podem favorecer os que evitam riscos De fato em animais não humanos podemos perceber essas mudanças adaptativas em ambientes sob mudança Nettle 2006 Por exemplo em populações de alevinos com relativamente poucos predadores a ousadia é um tra ço comum mas se são introduzidos predadores esse tra ço se torna menos comum em apenas poucas gerações cf OSteen et al 2002 Observe também que esses traços são herdáveis e possuem uma base genética o que é um critério para adaptação Do mesmo modo Nettle 2006 recentemente am pliou as teorias evolucionistas da personalidade e apon tou que a alegação de Tooby e Cosmide 1990 de que a personalidade não poderia ser uma adaptação não consi derou como a mudança ambiental e a variabilidade sele cionariam em última análise as diferenças individuais no comportamento dentro de determinada espécie Nettle 2006 examinou numerosos estudos da literatura animal não humana que relataram como mudanças repentinas no ambiente apenas algumas gerações aumentavam a pro porção de animais que tinham traços adaptativos àquele ambiente Quando o ambiente voltava às condições ori ginais os animais no outro extremo dessa dimensão se tornavam mais comuns outra vez Por exemplo algumas fêmeas do chapim são ousadas e exploratórias enquanto outras são inibidas Em anos de escassez de alimento os pássaros mais exploratórios têm menor probabilidade de sobreviver possivelmente porque apresentam maior pro babilidade de se envolverem em encontros perigosos com predadores Em resumo a evolução favorece as diferenças individuais porque nunca se pode predizer o que o futuro reserva e quais qualidades se enquadrarão melhor às mu danças no ambiente Além disso Nettle 2006 levantou a hipótese de que houve custos e benefícios adaptativos de cada uma das cin co grandes dimensões da personalidade durante períodos ancestrais da evolução ver Tab 153 Por exemplo os be nefícios de ser extrovertido incluem ter mais sucesso no acasalamento fazer aliados sociais e explorar o próprio ambiente enquanto os custos evolutivos da extroversão incluem assumir mais riscos físicos e ter potencialmente uma família menos estável i e mais casos Um benefício de ser aberto à experiência é a criatividade aumentada e seus custos são ter crenças mais incomuns e possivelmen te até desenvolver psicose Altos níveis de conscienciosi dade possuem o benefício de se prestar mais atenção aos detalhes do cuidado pessoal e portanto pode levar a uma vida mais longa e mais saudável mas também aumenta o risco de comportamento rígido e compulsivo MALENTENDIDOS COMUNS NA TEORIA EVOLUCIONISTA Quando a teoria evolucionista se tornou popular na dé cada de 1980 ela causou certa controvérsia Houve muita resistência dentro e fora dos ambientes acadêmicos contra a aplicação das ideias evolucionistas ao pensamento e ao comportamento humano Ainda que boa parte dessa resis tência tenha diminuído durante os últimos 20 a 30 anos alguns malentendidos ainda ocorrem D Buss 1999 TABELA 153 Custos e benefícios das cinco dimensões da personalidade Nettle 2006 Domínio Benefícios Custos Extroversão Sucesso no acasalamento aliados sociais exploração do ambiente Riscos físicos estabilidade familiar Neuroticismo Vigilância aos perigos esforço e competitividade Estresse e depressão com consequências interpessoais e à saúde Abertura à experiência Criatividade com efeito na atratividade Crenças incomuns psicose Conscienciosidade Atenção a benefícios de adequação a longo prazo expectativa de vida e qualidades sociais desejáveis Perda dos ganhos imediatos de adequação obsessividade rigidez Amabilidade Atenção aos estados mentais dos outros relações interpessoais harmoniosas parceiro de coalizão valorizado Sujeito a fraudes sociais não consegue aproveitar ao máximo as vantagens egoístas De Nettle 2006 copyright American Psychological Association reimpressa com permissão Feist15indd 294 Feist15indd 294 291014 0932 291014 0932 TEORIAS DA PERSONALIDADE 295 Evolução implica determinismo genético comportamento imutável e livre de influências do ambiente Evolução se refere a mudanças corporais decorrentes de al terações no ambiente Nesse sentido ela é inerentemente uma perspectiva de interação inato e adquirido A evolu ção ocorre como resultado da interação entre as adaptações e a contribuição do ambiente que desencadeia as adapta ções Buss usa as calosidades como um exemplo as calo sidades são adaptações evoluídas mas não são expressas sem a contribuição do ambiente como caminhar de pés descalços por longos períodos ou tocar violão As calosida des são expressas pela formação geneticamente induzida de proteínas e essa expressão genética somente ocorre com a contribuição do ambiente UlrichVinther Schwarz Pedersen Soballe Andreassen 2005 De forma mais geral a descoberta da epigenética é um exemplo ainda mais poderoso de como a influência genética não é inalterável no momento da concepção e in terage com a contribuição do ambiente Epigenética é a mudança na função do gene que não envolve alterações no DNA Meaney 2010 Rutter 2006 Em outras palavras as experiências que os animais têm criam marcas que ade rem à estrutura externa do DNA e controlam a expressão genética A epigenética alterou fundamentalmente nossa visão da influência genética Ela deixa claro que as expe riências que temos como comer beber ou ser expostos a substância químicas podem afetar mudanças nos genes Watters 2006 De fato os cânceres são um dos exemplos mais generalizados de mudança epigenética na expressão dos genes e demonstram tragicamente como o que come mos bebemos e fumamos pode alterar a atividade genéti ca Jones Baylin 2002 De fato em um sentido muito real as mudanças em órgãos sistemas fisiológicos e corpos que ocorrem por longos períodos de tempo i e evolução são o resultado não somente de mutações nos genes mas também de processos epigenéticos Em resumo o fato de o DNA não ser destino está perfeitamente coerente com a teoria evolucionista A execução de adaptações requer mecanismos conscientes Dizer que os mecanismos cognitivos e de personalidade evoluíram para resolver problemas importantes de sobre vivência e reprodução não significa que eles requerem ha bilidades matemáticas complexas conscientes para ope rar Por exemplo a noção de adequação inclusiva orbita na ideia de que temos maior probabilidade de ajudar um irmão do que um primo e um primo mais do que um es tranho porque o irmão está mais intimamente relaciona do a nós e um primo está mais intimamente relacionado do que um estranho Esse não é um cálculo matemático maior do que o que uma aranha precisa compreender de geometria para tecer uma teia Além disso quando os psi cólogos evolucionistas falam de estratégias estas não são consideradas como atos conscientes ou intencionais De fato as pessoas não têm consciência dessas influências e quando discutido o tema até as lamentam Ugh eu não estou atraída por ele por causa dos seus recursos e forma física Estratégia sexual é apenas um termo abreviado para uma ideia complicada de que a evolução moldou nos sas preferências pelos parceiros porque somos atraídos por aqueles que produzem uma prole saudável e adequada e de maneira ideal continuam a fornecêlo Isso aumenta a pro babilidade de que eles sobrevivam até a idade reprodutiva e transmitam seus genes saudáveis Os mecanismos visam a um ideal Por vezes as pessoas chegam à conclusão de que a evolução produz soluções que são ideais Na verdade algumas adap tações são estranhas A mudança evolutiva ocorre duran te centenas de gerações e sempre existe uma defasagem entre adaptação e ambiente A preferência humana por alimentos gordurosos e salgados é um bom exemplo Em ambientes ancestrais dezenas de milhares de anos atrás alimentos gordurosos e açucarados eram muito difíceis de obter No entanto eles fornecem benefícios nutricio nais importantes Durante os últimos cem anos gordura e açúcar se tornaram baratos e abundantes Nossas barrigas cresceram até o ponto em que dois terços dos norteame ricanos adultos têm agora sobrepeso ou são obesos Flegal et al 2010 Se eles fossem projetados visando a um ideal teriam se tornado mais eficientes e responderiam de modo mais rápido a mudanças no ambiente PESQUISA RELACIONADA O modelo evolucionista da personalidade não pode ser testado diretamente uma vez que não podemos conduzir estudos por centenas de gerações Além disso assim como na biologia há evidências consideráveis para a base evolu tiva da personalidade humana a qual pode ser dividida em pelo menos três tópicos gerais temperamento genética e personalidade animal As três linhas de evidência apoiam a visão de que a personalidade possui uma base biológica e que tais sistemas biológicos evoluíram Temperamento e ambiente pré e pósnatal Quase todos os pais de dois ou mais filhos sabem que os bebês são diferentes entre si desde o primeiro dia Tais diferenças no comportamento têm uma base biológica e são conhecidas como temperamento A Buss 2012 O temperamento lança as bases para os traços de perso nalidade posteriores Uma vez que ele é expresso antes e Feist15indd 295 Feist15indd 295 291014 0932 291014 0932 296 FEIST FEIST ROBERTS imediatamente após o nascimento isso significa que ele se desenvolve principalmente a partir de sistemas biológicos mas é modificado pela contribuição do ambiente Além do mais as diferenças nos sistemas biológicos entre os indiví duos alguns são mais ativos e outros são mais sensíveis à estimulação sensorial foram moldadas pelas pressões da seleção natural e sexual isto é pela evolução Evidências sugerem que as diferenças de tempera mento e personalidade são manifestas ainda antes do nas cimento no período prénatal Ao que parece a atividade fetal e a frequência cardíaca podem revelar algo acerca das diferenças de comportamento durante o primeiro ano de vida DiPietro et al 1996 Em particular uma frequência cardíaca alta com 36 semanas de gestação quase a termo prediziam hábitos alimentares e de sono menos previsíveis 3 a 6 meses após o nascimento e menos emocionalidade aos seis meses após o nascimento Ter altos níveis de ativi dade com 36 semanas de gestação mostrouse um preditor de lentidão para se adaptar a pessoas ou situações novas e de hábitos alimentares e de sono mais irregulares aos 3 a 6 meses assim como ser uma criança mais difícil ou irritadi ça aos 6 meses DiPietro et al 1996 O ambiente prénatal desempenha um papel importante na modelagem da personalidade Na verdade a quantidade de estresse que a mãe experimenta durante a gravidez pode alterar a resposta ao estresse do próprio bebê Ou seja bebês nascidos de mães que experimentaram uma quantidade inco mum de estresse durante a gravidez tendem a ter função do estresse afetada níveis de base mais altos de hormônios do estresse e resposta fisiológica ao estresse mais rápida mas forte e mais pronunciada o que persiste durante toda a in fância Barbazanges et al 1996 Clark Schneider 1997 Após o nascimento no período pósnatal imediato os recémnascidos já exibem diferenças regulares e consisten tes no comportamento isto é eles possuem temperamen tos distintos A Buss 2012 Tais diferenças comporta mentais são mais pronunciadas em quatro dimensões do temperamento atividade emocionalidade sociabilidade e impulsividade Atividade é simplesmente o quanto o bebê é ativo e quanta energia ele usa fazendo as coisas ou seja a rapidez ou a lentidão com que realiza as ações A emo cionalidade é vista na frequência e na intensidade com que experimenta emoção positiva ou negativa isto é o quan to é feliz ou irritadiço Sociabilidade referese à resposta do bebê às outras pessoas especialmente estranhos Alguns bebês são sociáveis e extrovertidos e outros se retraem e choram ou são reservados e tímidos na presença de estra nhos ClarkeStewart Umeh Snow Peterson 1980 Por fim impulsividade envolve a prontidão e a velocidade para agir sem reflexão Todos os bebês são relativamente im pulsivos porém mesmo no período de lactância existem diferenças consistentes entre eles Essas diferenças tendem a se tornar mais perceptíveis durante a infância e a adoles cência Além do mais uma pesquisa de longo prazo relatou que as crianças até 2 anos que têm temperamento impul sivo apresentam maior probabilidade de cometer atividade criminal e de ter problemas com álcool na época em que atingem os 21 anos além de pior desempenho acadêmico e escores mais baixos em testes admissionais ao ensino su perior Caspi 2000 Mischel Shoda Rodriguez 1989 Genética e personalidade Em parte devido a como a genética foi ensinada na esco la um pressuposto comum que muitas pessoas têm é que há uma correspondência simples de quase 11 entre genes e traços Lembrese de como você aprendeu a calcular a probabilidade de que a prole herdasse um traço se os pais fossem portadores dominantes ou recessivos daquele traço Existem traços categóricos simples p ex cor dos olhos que são transmitidos por um gene Porém todos os traços psicológicos complexos que são expressos em um continuum de valores baixos a valores altos são transmitidos por mui tos muitos genes De modo mais técnico os traços catego ricamente simples são transmitidos monogenicamente um gene enquanto os traços que variam de pouco a muito p ex agressividade altura peso ansiedade são transmi tidos poligenicamente Ebstein 2006 Evans et al 2007 Expresso de maneira mais elementar a transmissão mo nogênica acontece quando um gene produz um traço fe nótipos e a transmissão poligênica ocorre quando mui tos genes interagem para criar uma característica Rutter 2006 Tal distinção é muito importante para a compreen são de uma ideia fundamental na genética moderna isto é nosso genoma é o ponto de partida não o ponto final para como nossos genes são expressos nosso fenótipo Não existe um gene inteligente um gene tímido ou um gene agressivo Muitos muitos genes dezenas e talvez mais são responsáveis pelos traços de personalidade Quando estudam a genética do comportamento os pesquisadores empregam dois métodos principais para in vestigar a relação entre genética comportamento e persona lidade Com o primeiro método a abordagem dos loci de traços quantitativos QTL do inglês Quantitative Trait Loci eles procuram a localização de partes específicas de DNA nos genes que podem estar associadas a comportamen tos particulares Nesse sentido é uma busca por marcadores genéticos do comportamento Os traços são quantitativos porque representam marcadores para comportamentos que são expressos em um continuum amplo de bem pouco até muito Por exemplo a ansiedade é um traço quantitativo porque algumas pessoas não são nada ansiosas a maioria dos indivíduos está na média e alguns são muito ansiosos O método QTL descobre a localização de genes particulares que está associada a níveis altos ou baixos de um traço Essas localizações também são conhecidas como marcadores A pesquisa dos QTL aponta para os marcadores ge néticos de vários traços básicos da personalidade como Feist15indd 296 Feist15indd 296 291014 0932 291014 0932 TEORIAS DA PERSONALIDADE 297 busca por novidade ou emoção impulsividade e neuroti cismoansiedade Benjamin et al 1996 Hamer Cope land 1998 Lesch et al 1996 Plomin Caspi 1999 Retz et al 2010 Rutter 2006 Considere o caso da busca por emoção um traço que envolve correr riscos As pessoas com esse traço podem procurar atividades altamente ex citantes como bungee jumping alpinismo ou mergulho As atividades de busca de emoção criam um ímpeto de exci tação um sentimento positivo que pode estar relacionado à liberação de dopamina um neurotransmissor associado à excitação fisiológica Dada a possível conexão entre do pamina e busca de emoção uma teoria sugere que as pes soas que têm deficiência de dopamina tenderão a procurar situações excitantes como uma maneira de aumentar a li beração de dopamina e compensar os baixos níveis desse neurotransmissor Na metade da década de 1990 pesquisadores apresen taram a primeira evidência genética que corrobora tal teo ria O gene DRD4 está envolvido na produção de dopamina no sistema límbico e quanto mais longa a sequência gené tica menos eficiente é a produção desse neurotransmissor Em outras palavras as versões longas do gene DRD4 estão associadas a produção menos eficiente de dopamina Se a teoria estiver correta as pessoas que buscam emoções de vem ter a forma mais longa desse gene e isso é exatamen te o que as pesquisas demonstraram Ebstein et al 1996 Hamer Copeland 1998 Um aspecto estimulante de tal achado é que ele foi o primeiro a demonstrar uma influên cia genética específica sobre um traço de personalidade normal não patológico O segundo método usado pelos geneticistas do com portamento para desvendar os efeitos da genética e do ambiente na personalidade foi discutido no Capítulo 14 Eysenck em estudos de adoção de gêmeos Lembrese de que a conclusão dessa pesquisa foi que entre 40 a 60 das diferenças na personalidade provêm da influência genéti ca Bouchard Loehlin 2001 Caspi Roberts Shiner 2003 Kruger Johnson 2008 Loehlin et al 1998 Plomin Caspi 1999 Tellegen et al 1988 Essa linha de pesquisa portanto sugere que cerca de metade das dife renças que existem entre as pessoas em suas personalida des é atribuída à genética e a outra metade é influenciada pelo ambiente ou por outros fatores desconhecidos Esses resultados são coerentes com a visão de que personalida de inteligência motivação e outras qualidades psicológi cas são produtos não só de forças biológicas ou ambientais isoladas mas da interação entre ambas Em resumo as diferenças na personalidade são criadas tanto por fatores inatos quanto adquiridos Personalidade animal A maioria das pessoas que já tiveram gatos ou cães de es timação concordaria prontamente que seus bichinhos possuem personalidade única Um dos autores deste livro GJF por exemplo atualmente tem dois gatos irmãos um macho Scooter e uma fêmea Belle Esses dois felinos di ficilmente poderiam ser mais diferentes em termos de com portamento e personalidade Scooter é curioso e sociável Ele explorou cada polegada do novo lar no primeiro dia e interfere em todas as atividades de seu dono comer as sistir à TV trabalhar no computador e dormir Nenhuma vez ele demonstrou ter medo de alguma situação Ele se aproxima de tudo com alegria e admiração Belle no entan to ficou ansiosa e tímida no começo Ela levou cerca de três dias para deixar de se esconder e ficar tranquila no novo lar Ela brinca com estranhos mas não muito No entanto adora brincar com seu irmão e eles costumam provocar e perseguir um ao outro Agora ela interage com a família e gosta de uma boa massagem mas ainda fica ressabiada com abordagens repentinas Para os donos de animais a questão da personalidade animal parece ter uma resposta óbvia os animais possuem personalidades distintas Mas para os psicólogos a ques tão poderia estar estendendo muito a definição de perso nalidade Mesmo que possamos ver evidências de perso nalidade em animais como cães e gatos podemos observar em outros animais E quanto aos pássaros Aos répteis Aos peixes Aos vermes Até a década de 1990 a maioria dos psicólogos teria argumentado que o termo personalidade aplicase somen te a humanos mas desde então inúmeros estudos têm corroborado a noção de que animais não humanos não só possuem personalidades distintas como têm personalida des em dimensões similares ao Big Five nos humanos Din gemanse Both Drent Van Oers Van Noordwijk 2002 Gosling 1998 Gosling Kwan John 2003 Weinstein Capitanio Gosling 2008 Por exemplo Gosling e Oliver John 1999 conduziram uma metanálise revisão quanti tativa de 19 estudos sobre 12 espécies não humanas Eles encontraram evidências de traços de personalidade que podem ser categorizados nas mesmas dimensões da per sonalidade humana para pelo menos 14 espécies não hu manas O resumo desses achados é apresentado na Tabela 154 Tenha em mente que os rótulos do Big Five são gerais e os rótulos específicos usados nesses estudos variam um pouco Por exemplo neuroticismo é por vezes chamado de estabilidade emocional excitabilidade medo reativida de emocional medoesquiva ou emocionalidade Amabili dade é por vezes referida como agressividade hostilidade compreensão oportunismo sociabilidade afeição ou luta timidez Além disso dominânciasubmissão é um traço que costuma ser visto e medido em animais não humanos mas não se encaixa em qualquer uma das cinco grandes categorias Essas classificações da personalidade animal foram feitas por meio de uma das duas técnicas de obser vação comportamental mediante treinadores de animais que tinham amplo conhecimento de cada um dos animais Feist15indd 297 Feist15indd 297 291014 0932 291014 0932 298 FEIST FEIST ROBERTS ou mediante observadores sem histórico com animais mas que foram treinados até que conseguissem avaliar de modo fidedigno as dimensões em questão Pode não causar surpresa que os primatas e outros ma míferos tenham a tendência a compartilhar o maior núme ro de traços de personalidade com os humanos Weinstein et al 2008 Por exemplo os chimpanzés nossos paren tes mais próximos compartilham com os humanos uma dimensão de conscienciosidade diferenciada Tal achado sugere que a conscienciosidade que envolve o controle dos impulsos e portanto requer regiões cerebrais alta mente desenvolvidas capazes de controlar os impulsos é o traço de personalidade evoluído de modo mais recente Assim com exceção dos chimpanzés e dos cavalos outros animais não humanos não possuem as estruturas cere brais necessárias para controlar os impulsos e organizar e planejar suas atividades com antecipação Mesmo com os chimpanzés a dimensão da conscienciosidade foi definida de um modo um tanto restrito como falta de atenção de direção dos objetivos e comportamento desorganizado Pode no entanto ser surpreendente ver pássaros sel vagens peixes e até mesmo polvos em uma lista de animais que possuem traços de personalidade parecidos com os dos humanos Por exemplo em um estudo de um pássaro euro peu parecido com um chapim quando os pesquisadores co locaram um objeto estranho como uma pilha ou um bone co da Pantera Corderosa dentro da gaiola alguns pássaros se mostraram muito curiosos e exploraram o novo objeto enquanto outros se retraíram e o evitaram Zimmer 2005 cf Dingemanse et al 2002 Os pesquisadores definiram essas diferenças nos pássaros como ousado e tímido Tais diferenças são muito parecidas com as que os psicólo gos observam quando colocam um bebê em uma sala com um estranho Abordagemousadia e timidezesquiva tam bém são dimensões do temperamento humano Em suma assim como os olhos os ouvidos o cérebro e a termorregulação são soluções evoluídas e compartilha das entre as espécies e os gêneros de animais os traços de personalidade são soluções compartilhadas e encontradas em quase todos os animais desde invertebrados peixes répteis pássaros até mamíferos incluindo primatas Quanto mais semelhante o gênero e a espécie mais similar o sistema e isso vale para a personalidade A estrutura da personalidade dos primatas é mais semelhante entre si do que em comparação com a dos mamíferos em geral a qual por sua vez é mais similar à dos primatas do que à de pássaros ou invertebrados Tais evidências corroboram a visão de que os traços de personalidade evoluíram muito antes de os humanos modernos e têm suas origens em um ancestral comum milhões de anos atrás CRÍTICAS À TEORIA EVOLUCIONISTA DA PERSONALIDADE A psicologia evolucionista em geral e a psicologia evo lucionista da personalidade em particular estimularam muita controvérsia mas também um grande corpo de pes TABELA 154 Dimensões da personalidade entre as espécies Dimensão da personalidade Espécie Neuroticismo Extroversão Amabilidade Abertura à experiência Conscienciosidade Chimpanzé Cavalo a Macaco Rhesus Gorila Cachorro b Gato b Hiena Porco Macaco vervet Burro Rato Alevino Polvo Chapim c aCom base em Morris Gale e Duffy 2002 bCompetênciaaprendizagem é uma combinação de abertura à experiência e consciosidade cCom base em Dingemanse Both Drent Van Oers e Van Noordwijk 2002 Ampliada e adaptada de Gosling e John 1999 Feist15indd 298 Feist15indd 298 291014 0932 291014 0932 TEORIAS DA PERSONALIDADE 299 quisa empírica O campo possui a própria sociedade cien tífica Human Behavior and Evolutionary Society HBES e o próprio jornal científico Evolution and Human Behavior Evolução e Comportamento Humano A disciplina também relacionase a outras áreas científicas como a biologia evolucionista a etologia a genética do comportamento e a neurociência portanto existe um fundamento empí rico sólido para o campo Do mesmo modo uma rápida pesquisa no GoogleScholar gerou mais de 34 mil artigos para o termo psicologia evolucionista A mesma busca no GoogleScholar sobre psicologia evolucionista da persona lidade resultou em 660 artigos entre 1990 e 2012 Quanto à questão de a teoria evolucionista da perso nalidade ser irrefutável a resposta ainda é complexa Em geral a teoria evolucionista é difícil de refutar no sentido estrito da palavra Stamos 1996 Muitos críticos da teo ria evolucionista são rápidos em apontar que os princí pios centrais da teoria evolucionista inerentemente não podem ser refutados ou verificados porque a evolução é um evento passado e levaria pelo menos milhares de anos para se observar o resultado dela nos animais Além disso eles argumentam que a psicologia evolucionista centrase principalmente em explicações após o fato post hoc para determinado fenômeno em resumo a psicologia evolu cionista produz histórias do tipo foi assim plausíveis e muitas histórias plausíveis diferentes sempre podem ser construídas para explicar um resultado evolutivo Gould Lewontin 1979 Horgan 1995 No entanto outros estudiosos argumentaram que isso é um tanto impreciso e também não é de todo verdade Os defensores da teoria evolucionista por exemplo assinala ram que derrubar a teoria por meio de fatos contrários re futação é a única forma pela qual a ciência avança Ellis Ketelaar 2000 Ketelaar Ellis 2000 Um critério alter nativo para o progresso científico é se ele gera novas predi ções e explicações Sob tal padrão a teoria evolucionista se sai muito bem Em termos de como a teoria evolucionista da personali dade organiza o conhecimento argumentaríamos que se clas sifica como muito alta A teoria evolucionista é muito ampla e de longo alcance em seu âmbito e nesse sentido ela for nece uma gama de explicações raramente vistas na ciência social Ela oferece explicações para as origens últimas não só de todos os sistemas biológicos mas também do pensamen to do comportamento e da personalidade humanos No entanto como um guia para os praticantes damos à teoria uma classificação relativamente baixa A teoria evolucionista diz pouco acerca de como devemos criar nos sos filhos o que devemos lhes ensinar e de que forma ou como conduzir a terapia para tratar transtornos mentais A teoria é mais abstrata e pura do que concreta e aplicada A teoria evolucionista da personalidade se classifica como moderada em coerência interna A adaptação é um princípio orientador e muitas ideias se originam desse conceito central Além disso a maioria dos estudiosos con corda quanto a como definir adaptação Entretanto nem todos chegam a um consenso sobre o que é e o que não é adaptação O exemplo mais evidente é a personalidade Ainda que Buss MacDonald e Nettles concordem que a va riabilidade da personalidade é uma adaptação dois outros teóricos importantes Tooby e Cosmides discordam A teoria evolucionista da personalidade tem escore alto no critério da parcimônia A ideia de que você pode explicar as origens da personalidade humana com alguns conceitoschave de adaptação mecanismo e seleção natu ral e sexual é muito simples CONCEITO DE HUMANIDADE É difícil dizer em qual lado do debate evolucionista do otimis mopessimismo a teoria recai Ela é principalmente descriti va e nesse sentido tende a ser mais neutra quanto à descri ção da natureza humana Os humanos são e foram capazes de atos incrivelmente edificadores de heroísmo bravura e cooperação inspirando trabalhos de criatividade e atos ina creditáveis e inqualificáveis de violência e crueldade Os dois extremos fazem parte da natureza humana Pinker 2002 A psicologia evolucionista tem uma visão complexa so bre a questão determinismo versus livrearbítrio Um suposto comum dos críticos acerca da teoria evolucionista é que ela é fortemente determinista uma vez que explica o comporta mento em termos de um passado evoluído e de influências genéticas Na verdade a psicologia evolucionista costuma ser criticada por pactuar com os papéis sexuais tradicionais p ex as mulheres são atraídas por homens de status alto e os homens são atraídos por mulheres fisicamente atraentes Buss e outros teóricos evolucionistas deixam claro no en tanto que a psicologia evolucionista é uma teoria de como esses traços começaram e não como eles deveriam ser Em outras palavras ela pretende ser mais descritiva do que pres critiva Além disso conforme a visão de Buss da origem da personalidade as explicações biológicas e ambientais não são mutuamente excludentes Elas são ambas necessárias Buss 1999 argumenta na verdade que o conhecimento e a consciência de nossos mecanismos psicológicos e estraté gias evoluídos nos dão mais poder de modificálos se assim desejarmos Feist15indd 299 Feist15indd 299 291014 0932 291014 0932 300 FEIST FEIST ROBERTS Termoschave e conceitos A seleção artificial ocorre quando os humanos esco lhem traços desejáveis em uma espécie em criação Seleção natural é o processo pelo qual a evolução acontece representa simplesmente uma forma mais geral de seleção artificial em que a natureza em vez das pessoas seleciona os traços A seleção sexual opera quando membros do sexo opos to consideram certos traços mais atraentes do que outros e assim produzem prole com esses traços Adaptações são estratégias evoluídas para resolver problemas de sobrevivência eou reprodução signi ficativos As adaptações tendem a ser produto da seleção natural ou sexual e precisam ter uma base genética ou herdada Subprodutos são traços que acontecem em conse quência de adaptações mas não fazem parte do de sign funcional O ruído também conhecido como efeitos alea tórios ocorre quando a evolução produz altera ções aleatórias no design que não afetam a função O ruído tende a ser produzido pelo acaso e não pela seleção A expressão psicologia evolucionista pode ser definida como o estudo científico do pensamento e do com portamento humano a partir de uma perspectiva evolucionista e foca quatro grandes questões O processo de evolução pela seleção natural produ ziu soluções para dois problemas básicos da vida so brevivência e reprodução os mecanismos De forma mais específica os mecanismos operam de acordo com princípios em domínios adaptativos diferentes totalizam dezenas ou centenas talvez até mesmo milhares e são soluções complexas para problemas adaptativos específicos Mecanismos físicos são os órgãos e sistemas que evo luíram para resolver problemas de sobrevivência enquanto mecanismos psicológicos são sistemas cog nitivos motivacionais e de personalidade internos e específicos que resolvem problemas específicos de sobrevivência e reprodução Os mecanismos psicológicos relevantes para a per sonalidade podem ser agrupados em três categorias principais objetivosimpulsosmotivos emoções e traços de personalidade Eles são adaptativos por que ajudam a resolver problemas de sobrevivência e reprodução Quanto à questão da causalidade versus teleologia está claro que a teoria evolucionista pende fortemente para o lado da causalidade na equação A evolução pela seleção natural é acima de tudo uma teoria de origens ou causa O livro de Darwin afinal de contas foi intitulado A origem das espécies A teoria evolucionista relacionase de modo mais direto com as influências inconscientes sobre o pensamento o com portamento e a personalidade do que com as conscientes A maior parte do que fazemos está além de nossa percepção consciente e isso é especialmente verdadeiro para as origens e as estratégias evolutivas que moldam nosso comportamen to Não estamos mais conscientes de por que preferimos o doce e gorduroso ao amargo do que estamos conscientes de por que somos atraídos por uma pessoa e não por outra Da mesma maneira não temos ideia de por que ficamos ansiosos e sensíveis ao estresse enquanto outra pessoa fica calma e controlada sob pressão Na verdade uma razão por que os indivíduos podem resistir aos relatos evolucionistas do comportamento muito como resistiram às ideias de Freud é que ele torna o incons ciente consciente e as ideias conscientes das pessoas de por que elas fazem o que fazem gostam do que gostam e são in fluenciadas pelo que são influenciadas está quase sempre em conflito com as evidências da ciência em geral e da psicolo gia evolucionista e da biologia em particular E no entanto não temos que tomar conhecimento de como os olhos e o co ração evoluíram para que possamos usálos Simplesmente os usamos Do mesmo modo simplesmente agimos pensamos sentimos e somos motivados A consciência não é necessária e em muitos casos seria muito perturbadora O conceito de humanidade mais surpreendente para muitas pessoas é a posição da psicologia evolucionista quanto à influência biológica versus social Existe claramente uma for te ênfase nas influências biológicas dos sistemas cerebrais da neuroquímica e da genética Mas conforme deixamos claro no capítulo os mecanismos evoluídos só podem operar com a contribuição do ambiente Portanto a teoria evolucionista é completamente equilibrada na questão das causas biológicas versus ambientais da personalidade A teoria evolucionista também é equilibrada na questão da singularidade do indivíduo comparada aos pontos comuns entre todas as pessoas A estrutura dos mecanismos evoluídos ou seja quais mecanismos operam são espécies típicas e uni versais mas o conteúdo dos mecanismos é único e demonstra diferenças consideráveis entre os indivíduos Feist15indd 300 Feist15indd 300 291014 0932 291014 0932 TEORIAS DA PERSONALIDADE 301 O modelo de Buss da personalidade se parece muito com a abordagem dos traços Big Five de McCrae e Costa mas não é idêntico na estrutura surgênciaex troversãodominância amabilidade conscienciosidade estabilidade emocional e abertura à experiênciainte lecto Buss defende que essas disposições comporta mentais possuem significado adaptativo As duas fontes principais da origem da personalidade são o ambiente e a genética Ainda existem inúmeros malentendidos sobre a teoria evolucionista incluindo a ideia de que evolução im plica determinismo genético ou que os mecanismos são sempre designs ideais Feist15indd 301 Feist15indd 301 291014 0932 291014 0932 Feistiniciaisindd viii Feistiniciaisindd viii 291014 0943 291014 0943 Esta página foi deixada em branco intencionalmente PARTE SEIS Teorias Cognitivistas e da Aprendizagem CAPÍTULO 16 Skinner Análise do Comportamento 304 CAPÍTULO 17 Bandura Teoria Social Cognitiva 328 CAPÍTULO 18 Rotter e Mischel Teoria da Aprendizagem Social Cognitiva 349 CAPÍTULO 19 Kelly Teoria dos Construtos Pessoais 374 Feist16indd 303 Feist16indd 303 291014 0934 291014 0934 CAPÍTULO 16 Skinner Análise do Comportamento Panorama da análise do comportamento Biografia de B F Skinner Precursores do behaviorismo científico de Skinner Behaviorismo científico Filosofia da ciência Características da ciência Condicionamento Condicionamento clássico Condicionamento operante O organismo humano Seleção natural Evolução cultural Estados internos Comportamento complexo Controle do comportamento humano A personalidade desadaptada Estratégias de combate Comportamentos inapropriados Psicoterapia Pesquisa relacionada Como o condicionamento afeta a personalidade Como a personalidade afeta o condicionamento O reforço e o cérebro Críticas a Skinner Conceito de humanidade Termoschave e conceitos Skinner Feist16indd 304 Feist16indd 304 291014 0934 291014 0934 TEORIAS DA PERSONALIDADE 305 E rik Erikson ver Cap 8 acreditava que as pessoas passam por uma série de crises de identidade que as deixam vulneráveis a mudanças importantes no modo como elas se veem Uma dessas pessoas foi Fred um ho mem que experimentou pelo menos duas dessas crises e cada uma delas levou a viradas significativas na trajetória de sua vida Sua primeira crise de identidade ocorreu durante o início da idade adulta quando munido com um diploma de graduação em inglês Fred voltou para a casa dos pais es perando moldar sua identidade no mundo da literatura Seu pai relutantemente concordou em permitir a Fred um ano para que conquistasse para si um nicho como escritor Ele alertou o filho da necessidade de encontrar um emprego mas permitiu que Fred transformasse o sótão em estúdio Todas as manhãs Fred subia dois lances de escada e começava seu trabalho como escritor Mas nada acontecia Depois de apenas três meses tentando se tornar um escri tor criativo Fred percebeu que a qualidade de seu trabalho era fraca Ele culpou seus pais sua cidade natal e a própria literatura por seu fracasso em produzir um texto de valor Elms 1981 Ele perdeu tempo com atividades não pro dutivas sentado na biblioteca da família por longos perío dos permanecendo absolutamente imóvel em um tipo de estupor catatônico Skinner 1976a p 287 No entanto ele se sentiu obrigado a continuar a farsa de perseguir uma carreira literária durante o ano inteiro conforme ele e seu pai haviam combinado Por fim Fred perdeu a esperança de que pudesse prestar alguma contribuição à literatura Anos mais tarde ele se referiu a esse período não produti vo como seu ano negro Erik Erikson teria chamado esse tempo de confusão de identidade época para tentar des cobrir quem ele era para onde estava indo e como iria che gar lá O jovem que estava passando por esse ano negro era B F Skinner que posteriormente tornouse um dos psicólogos mais influentes no mundo mas apenas depois que experimentou uma segunda crise de identidade con forme discutiremos em sua biografia PANORAMA DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO Durante os primeiros anos do século XX enquanto Freud Jung e Adler estavam se baseando na prática clínica e antes que Eysenck e Costa e McCrae estivessem usando a psico metria para construir teorias da personalidade humana uma abordagem denominada behaviorismo emergiu dos estudos de laboratório com animais e humanos Dois dos pioneiros do behaviorismo foram E L Thorndike e John Watson porém a pessoa associada com mais frenquência à posição behaviorista é B F Skinner cuja análise do com portamento é um desvio claro das teorias psicodinâmi cas altamente especulativas discutidas do Capítulo 2 ao 8 Skinner minimizou a especulação e focou quase inteira mente o comportamento observável Entretanto ele não alegava que o comportamento observável estivesse limita do aos eventos externos Comportamentos privados como pensamento lembrança e previsão são todos observáveis pela pessoa que os experimenta A adesão estrita de Skin ner ao comportamento observável deu a sua abordagem o rótulo de behaviorismo radical uma doutrina que evita todos os construtos hipotéticos como ego traços impul sos necessidades fome e assim por diante Além de ser um behaviorista radical Skinner pode legitimamente ser considerado um determinista e um ambientalista Como determinista ele rejeitou a noção de volição ou livrearbítrio O comportamento humano não se origina de um ato de vontade mas como qualquer fenô meno observável ele é regido por leis e pode ser estudado cientificamente Como ambientalista Skinner sustentava que a psicolo gia não deve explicar o comportamento com base nos com ponentes fisiológicos e constitucionais do organismo mas com base nos estímulos ambientais Ele reconhecia que os fatores genéticos são importantes porém insistia que como eles são fixados na concepção não contribuem para o controle do comportamento A história do indivíduo em vez da anatomia fornece os dados mais úteis para a predi ção e o controle do comportamento Watson levou o behaviorismo radical o determinismo e as forças ambientais para além da concepção de Skinner ignorando de todo os fatores genéticos e prometendo mol dar a personalidade pelo controle do ambiente Em uma conferência famosa Watson 1926 fez sua extraordinária promessa Dême uma dúzia de bebês saudáveis bemformados e meu mundo especificado para criálos e garanto pegar qualquer um aleatoriamente e treinálo para se tornar qualquer tipo de especialista que eu possa escolher um médico um advogado um artista um comerciante e sim até mesmo um mendigo e um ladrão indepen dentemente de seus talentos propensões tendências habilidades vocações e raça de seus ancestrais p 10 Ainda que poucos behavioristas radicais nos dias atuais aceitem essa posição extrema a promessa de Wat son produziu muita discussão e debate BIOGRAFIA DE B F SKINNER Burrhus Frederic Skinner nasceu em 20 de março de 1904 em Susquehanna Pensilvânia o primeiro filho de William Skinner e Grace Mange Burrhus Skinner Seu pai era advo gado e aspirante a político sua mãe ficava em casa cuidan do dos dois filhos Skinner cresceu em um lar confortável e feliz de classe média alta onde seus pais praticavam os valores da temperança da devoção da honestidade e do trabalho árduo A família Skinner era presbiteriana mas Feist16indd 305 Feist16indd 305 291014 0934 291014 0934 306 FEIST FEIST ROBERTS Fred ele quase nunca era chamado de Burrhus ou B F começou a perder sua fé durante o ensino médio e depois disso nunca praticou qualquer religião Quando Skinner tinha 2 anos e meio nasceu seu irmão Edward Fred achava que Ebbie como o chamavam era mais amado pelos pais embora ele não se sentisse rejeitado Ele era apenas mais independente e menos apegado emocio nalmente à mãe e ao pai Contudo depois que Ebbie morreu de repente durante o primeiro ano de Skinner na universi dade os pais de forma progressiva foram ficando menos dispostos a deixar seu filho mais velho partir Eles queriam que ele se tornasse o garoto da família e de fato tiveram sucesso em mantêlo dependente financeiramente mesmo depois que BF Skinner se tornou um nome conhecido na psicologia americana Skinner 1979 Wiener 1996 Quando criança Skinner era inclinado para a música e para a literatura Desde uma idade precoce interessou se em se tornar um escritor profissional um objetivo que pode ter atingido com a publicação de Walden II quando estava chegando aos 40 anos Mais ou menos na mesma época em que concluiu o en sino médio sua família se mudou para Scranton Pensilvâ nia Quase imediatamente no entanto Skinner ingressou no Hamilton College uma escola de artes liberais em Clin ton Nova York Depois da formação em inglês Skinner começou a realizar sua ambição de ser um escritor criativo Quando escreveu para seu pai informandoo do desejo de passar um ano em casa somente escrevendo sua solicita ção foi recebida com aceitação indiferente Alertando o fi lho da necessidade de ganhar a vida William Skinner con cordou com relutância em sustentálo por um ano com a condição de que ele arranjaria um emprego se sua carreira como escritor não tivesse sucesso Essa resposta nada en tusiástica foi seguida por uma carta mais incentivadora de Robert Frost que tinha lido alguns dos textos de Skinner Skinner voltou para a casa dos pais em Scranton mon tou um estúdio no sótão e todas as manhãs ia escrever Mas nada aconteceu Seus esforços foram improdutivos porque ele nada tinha a dizer e não possuía uma posição firme em qualquer assunto corrente Esse ano negro exemplificou uma poderosa confusão de identidade na vida de Skinner mas conforme discutimos neste esboço biográfico essa não foi sua última crise de identidade Ao final de seu ano negro malsucedido na verdade 18 meses Skinner se defrontou com a tarefa de procurar uma nova carreira A psicologia lhe acenava Depois de ler alguns dos trabalhos de Watson e Pavlov ele estava deter minado a ser um behaviorista Ele nunca titubeou com tal decisão e lançouse totalmente ao behaviorismo radical Elms 1981 1994 defendeu que essa dedicação total a uma ideologia extrema é bem típica de pessoas que enfren tam uma crise de identidade N de T Equivalente aos bacharelados interdisciplinares no Brasil Apesar de Skinner nunca ter feito um curso de gra duação em psicologia Harvard o aceitou como estudante graduado em psicologia Depois de concluir o doutorado em 1931 Skinner recebeu uma bolsa do National Research Council para continuar sua pesquisa de laboratório em Harvard Agora confiante quanto a sua identidade como behaviorista ele elaborou um plano descrevendo seus ob jetivos para os 30 anos seguintes O plano também o lem brava de aderir com firmeza à metodologia behaviorista e não se render à fisiologia do sistema nervoso central Skinner 1979 p 115 Em 1960 Skinner tinha atingido as fases mais importantes do plano Quando sua bolsa terminou em 1933 Skinner se defrontou pela primeira vez com a tarefa de lutar por um emprego permanente As vagas eram escassas durante esse ano de depressão e as perspectivas pareciam sombrias Mas logo suas preocupações foram aliviadas Na primavera de 1933 Harvard criou a Society of Fellows um programa concebido para promover o pensamento criativo entre ho mens intelectualmente dotados na universidade Skinner foi selecionado como Junior Fellow e passou os três anos seguintes fazendo mais pesquisas de laboratório No final da bolsa de três anos como Junior Fellow ele estava novamente procurando emprego Curiosamente ele não sabia quase nada sobre a psicologia acadêmica tradi cional e não estava interessado em aprender a respeito Ele tinha um doutorado em psicologia cinco anos e meio de pesquisa adicional em laboratório mas ainda estava des preparado para ensinar psicologia tradicional não tendo nunca lido nem mesmo um texto em psicologia como um todo Skinner 1979 p 179 Em 1936 Skinner assumiu um cargo de ensino e pes quisa na Universidade de Minnesota onde permaneceu por nove anos Logo após se mudar para Minneapolis e depois de um namoro curto e instável ele se casou com Yvonne Blue Skinner e Yvonne tiveram duas filhas Julie nascida em 1938 e Deborah Debbie nascida em 1944 Durante o tempo em que morou em Minnesota Skinner publicou seu primeiro livro O comportamento dos organis mos The behaivor of organisms 1938 mas além disso ele estava envolvido com dois de seus empreendimentos mais interessantes o míssil guiado por pombos e o aircrib aero berço construído para sua segunda filha Debbie Ambos os projetos trouxeram frustração e decepção emoções que podem ter levado à segunda crise de identidade O Projeto Pombo de Skinner foi uma tentativa inteli gente de condicionar pombos a darem bicadas apropriadas em chaves que manobrariam um míssil explosivo até um alvo inimigo Quase dois anos antes de os Estados Unidos entrarem na guerra Skinner comprou um bando de pom bos com o propósito de treinálos para guiar os mísseis Para trabalhar em tempo integral nesse projeto Skinner obteve uma bolsa da Universidade de Minnesota e auxílio financeiro da General Mills um conglomerado de alimen Feist16indd 306 Feist16indd 306 291014 0934 291014 0934 TEORIAS DA PERSONALIDADE 307 tos sediado em Minneapolis Infelizmente ele ainda não tinha apoio do governo Em um esforço para garantir os fundos necessários preparou um filme de pombos treinados bicando os con troles de um míssil e guiandoo até um alvo móvel Depois de assistir ao filme os funcionários do governo desperta ram seu interesse e concederam à General Mills um auxílio substancial para desenvolver o projeto No entanto frus trações estavam por vir Em 1944 Skinner demonstrou dramaticamente aos funcionários do governo a viabilida de do projeto produzindo um pombo vivo que rastreava de modo infalível um alvo em movimento Apesar dessa demonstração espetacular alguns observadores riram e a maioria permaneceu cética Por fim após quatro anos de trabalho mais de dois dos quais foram em tempo integral Skinner foi notificado de que a ajuda financeira não pode ria mais ser fornecida e o projeto foi interrompido Logo depois que Skinner abandonou o Projeto Pombo e imediatamente antes do nascimento de Debbie ele se en volveu em outra empreitada o aeroberço Este consistia es sencialmente em uma caixa fechada com uma grande janela e um suprimento contínuo de ar quente fresco Ela oferecia um ambiente física e psicologicamente seguro e saudável para Debbie bem como liberava os pais de um trabalho te dioso desnecessário Skinner e Yvonne com frequência re moviam Debbie do berço para brincar mas na maior parte do dia ela ficava sozinha em seu aeroberço Depois que o Ladies Home Journal publicou um artigo sobre o aerober ço Skinner foi tanto condenado quanto elogiado por sua invenção O interesse de outros pais o persuadiu a comer cializar o berço No entanto as dificuldades de obtenção de uma patente e seu vínculo com um sócio incompetente e inescrupuloso culminaram no abandono da empreitada comercial Quando Debbie ficou muito grande para o aero berço aos dois anos meio Skinner sem cerimônia trans formou o berço em uma gaiola para pombos WWW ALÉM DA BIOGRAFIA EM INGLÊS Como B F Skinner resolveu suas crises de identidade Para mais informações sobre as crises de identidade de Skinner e seu Projeto Pombo fracassado acesse wwwmhhecomfeist8e Nesse ponto de sua vida Skinner tinha 40 anos ainda era dependente financeiramente do pai lutava sem sucesso para escrever um livro sobre comportamento verbal e não estava de todo desligado de seu ano negro quase 20 anos antes Alan Elms 1981 1994 acreditava que as frustações que Skinner experimentou quanto ao Projeto Pombo e ao aeroberço levaram à segunda crise de identidade esta na metade da vida Mesmo quando Skinner estava se tornando um beha viorista de sucesso demorou a estabelecer sua indepen dência financeira e de uma forma infantil permitia que seus pais pagassem automóveis férias as escolas particu lares das filhas e uma casa para sua família Bjork 1993 Wiener 1996 Uma experiência significativa ocorreu enquanto Skin ner ainda estava na Universidade de Minnesota Seu pai se ofereceu para pagar a quantia de seu salário de verão na escola se ele parasse de lecionar durante os meses de verão e trouxesse sua esposa e filha para Scranton Em sua auto biografia Skinner 1979 p 245 questionou os motivos paternos dizendo que o pai meramente queria ver mais sua adorada neta No entanto Skinner aceitou a oferta do pai foi para Scranton montou uma mesa no subsolo o mais longe possível do sótão que foi a base doméstica durante seu ano negro e começou a escrever Mais uma vez Scranton se revelou um ambiente estéril e o livro que ele estava escrevendo permaneceu inacabado até muitos anos depois Skinner 1957 Em 1945 Skinner deixou Minnesota para se tornar diretor do departamento de psicologia na Universidade de Indiana uma mudança que trouxe mais frustrações Sua esposa tinha sentimentos ambivalentes quanto a deixar os amigos seus deveres administrativos se revelaram incômo dos e ele ainda se sentia à margem da psicologia científica tradicional Entretanto sua crise pessoal logo teve um fi nal e sua carreira profissional deu outra virada No verão de 1945 enquanto estava de férias Skinner escreveu Walden II um romance utópico que retratava uma sociedade em que os problemas eram resolvidos por meio da engenharia do comportamento Apesar de não ter sido publicado até 1948 o livro proporcionou a seu autor uma terapia imediata na forma de uma catarse emocional Fi nalmente Skinner tinha feito o que não conseguira realizar durante seu ano negro 20 anos antes Skinner 1967 admitiu que os dois personagens principais do livro Fra zier e Burris representavam sua tentativa de reconciliar os aspectos separados da própria personalidade Walden II também foi um divisor de águas na carreira profissio nal de Skinner Ele não mais ficaria confinado ao estudo de ratos e pombos em laboratório pois depois disso iria se envolver com a aplicação da análise do comportamento à tecnologia da modelagem do comportamento humano Sua preocupação com a condição humana foi elaborada em Ciência e comportamento humano Science of human behavior 1953 e ele atingiu expressão filosófica em Para além da liberdade e da dignidade Beyond freedom and dignity 1971 Em 1948 voltou para Harvard onde ensinou prin cipalmente na Faculdade de Educação e continuou com alguns experimentos pequenos com pombos Em 1964 aos 60 anos ele se aposentou da docência mas manteve o status de membro do corpo docente Pelos 10 anos seguin tes recebeu duas bolsas de cinco anos que lhe permitiram continuar a escrever e a conduzir pesquisas Ele se aposen tou como professor de psicologia em 1974 mas continuou como professor emérito com poucas alterações em suas Feist16indd 307 Feist16indd 307 291014 0934 291014 0934 308 FEIST FEIST ROBERTS condições de trabalho Depois de se aposentar da docência em 1964 Skinner escreveu vários livros importantes sobre comportamento humano que o ajudaram a atingir o status de psicólogo vivo mais conhecido na América Além de Para além da liberdade e da dignidade 1971 ele publicou Sobre o behaviorismo About Behaviorism 1974 Reflexões sobre behaviorismo e sociedade Reflections on Behaviorism and Society 1978 e Upon Further Reflection 1987a Durante esse período ele também escreveu uma autobiografia em três volumes Detalhes de minha vida Particulars of My Life 1976a A formação de um behaviorista The Shaping of a Behaviorist 1979 e Uma questão de consequências A Matter of Consequences 1983 Em 18 de agosto de 1990 Skinner morreu de leuce mia Uma semana antes de sua morte ele fez um discurso emocionado para a convenção da American Psychological Association APA em que continuava a defesa do behavio rismo radical Nessa convenção ele recebeu uma Citação de Contribuição Vitalícia Excepcional à Psicologia que não tinha precedentes a única pessoa a receber esse prêmio na história da APA Durante sua carreira Skinner recebeu ou tras honrarias e prêmios incluindo o papel de Palestrante William James em Harvard sendo agraciado com o Dis tinguished Scientific Award da APA de 1958 e ganhando a Medalha Presidencial de Ciência PRECURSORES DO BEHAVIORISMO CIENTÍFICO DE SKINNER Por séculos os observadores do comportamento huma no sabiam que as pessoas em geral fazem coisas que têm consequências prazerosas e evitam executar aquelas com consequências punitivas No entanto o primeiro psicó logo a estudar de modo sistemático as consequências do comportamento foi Edward L Thorndike que trabalhou originalmente com animais Thorndike 1898 1913 e mais tarde com humanos Thorndike 1931 Thorndike observou que a aprendizagem acontece sobretudo devido aos efeitos que seguem uma resposta e ele chamou essa observação de lei do efeito Conforme concebida origi nalmente por Thorndike a lei do efeito tinha duas partes A primeira afirmava que as respostas a estímulos que são seguidas imediatamente por um gratificador tendem a ser fortalecidas a segunda defendia que as respostas a estímu los que são seguidas imediatamente por um aversivo ten dem a ser suprimidas Thorndike depois retificou a lei do efeito minimizando a importância dos aversivos Enquan to as recompensas gratificadores fortalecem a associação entre um estímulo e uma resposta as punições aversivos não costumam enfraquecer tal associação Isto é punir um comportamento apenas inibe aquele comportamento não o suprime Skinner 1954 reconheceu que a lei do efeito era crucial para o controle do comportamento e conside rou que sua missão seria assegurar que os efeitos realmente ocorrem em relação ao fato de sob condições ideais de aprendizagem Ele também concordou com Thorndike em relação ao fato de que os efeitos das recompensas são mais previsíveis do que os efeitos das punições na modelagem do comportamento Uma segunda e mais direta influência sobre Skinner foi o trabalho de John B Watson J B Watson 1913 1925 J B Watson Rayner 1920 Watson estudou ani mais e humanos e ficou convencido de que os conceitos de consciência e introspecção não devem ter qualquer função no estudo científico do comportamento humano Em Psi cologia como o behaviorista a vê Psychology as the Behaviorist Views Watson 1913 argumentou que o comportamento humano assim como o comportamento dos animais e das máquinas pode ser estudado de modo objetivo Ele atacou não só a consciência e a introspecção mas também as no ções de instinto sensação percepção motivação estados mentais mente e imagem Todos esses conceitos segundo ele estão fora do domínio da psicologia científica Watson referiu ainda que a missão da psicologia é a predição e o controle do comportamento o que terá mais chance de êxi to se a psicologia se limitar a um estudo objetivo dos hábi tos formados pelas conexões estímuloresposta BEHAVIORISMO CIENTÍFICO Assim como Thorndike e Watson Skinner insistia em que o comportamento humano deve ser estudado de forma científica Seu behaviorismo científico sustenta que o com portamento pode ser mais bem estudado sem referência a necessidades instintos ou motivos Atribuir motivação ao comportamento humano seria como atribuir livrearbítrio aos fenômenos naturais O vento não sopra porque ele quer girar os moinhos as pedras não rolam encosta abaixo por que elas possuem uma noção de gravidade e os pássaros não migram porque eles gostam mais do clima em outras regiões Os cientistas podem aceitar facilmente a ideia de que o comportamento do vento das pedras e até mesmo dos pássaros pode ser estudado sem referência a uma mo tivação interna porém a maioria dos teóricos da personali dade pressupõe que as pessoas são motivadas por impulsos internos e que um conhecimento dos impulsos é essencial Skinner discordava Por que postular uma função men tal interna As pessoas não comem porque estão com fome A fome é uma condição interna não observável diretamente Se os psicólogos desejam aumentar a probabilidade de que uma pessoa coma devem observar primeiro as variáveis re lacionadas ao comer Se a privação de comida aumenta a pro babilidade de comer então eles podem privar uma pessoa de comida para melhor predizer e controlar o comportamento alimentar posterior Tanto a privação quanto o ato de comer são eventos físicos claramente observáveis e portanto estão Feist16indd 308 Feist16indd 308 291014 0934 291014 0934 TEORIAS DA PERSONALIDADE 309 dentro do domínio da ciência Os cientistas que afirmam que as pessoas comem porque estão com fome estão presumindo uma condição mental desnecessária e inobservável entre o fato físico da privação e o fato físico de comer Esse pressu posto obscurece a questão e relega muito da psicologia àquele domínio da filosofia conhecido como cosmologia ou a preo cupação com a causação Para ser científica insistia Skinner 1953 1987a a psicologia deve evitar os fatores mentais in ternos e se limitar aos eventos físicos observáveis Mesmo que Skinner acreditasse que os estados inter nos estão fora do domínio da ciência ele não negava sua existência Há condições como fome emoções valores autoconfiança necessidades agressivas crenças religiosas e maldade mas elas não são explicações para o compor tamento Usálas como explicações não só é inútil como também limita o avanço do behaviorismo científico Outras ciências fizeram avanços maiores porque há tempo abandonaram a prática de atribuir motivos necessidades ou força de vontade ao movimento comportamento de organismos vivos e objetos inanimados O behaviorismo científico de Skinner faz o mesmo Skinner 1945 Filosofia da ciência O behaviorismo científico permite uma interpretação do comportamento mas não uma explicação de suas causas A interpretação permite ao cientista generalizar a partir de uma condição de aprendizagem simples para uma mais complexa Por exemplo Skinner generalizou dos estudos com animais para as crianças e depois para os adultos Qualquer ciência incluindo a do comportamento huma no começa com os princípios simples e evolui para os mais amplos que permitem uma interpretação dos mais com plexos Skinner 1978 usou princípios derivados de estu dos de laboratório para interpretar o comportamento dos seres humanos mas insistia em que a interpretação não deveria ser confundida com uma explicação de por que as pessoas se comportam da forma que se comportam Características da ciência De acordo com Skinner 1953 a ciência possui três caracte rísticas principais primeiro a ciência é cumulativa segundo ela é uma atitude que valoriza a observação empírica tercei ro tratase de uma busca pela ordem e por relações legítimas A ciência em contraste com a arte a filosofia e a li teratura avança de maneira cumulativa A quantidade e a natureza do conhecimento científico que os alunos do en sino médio têm hoje da física ou química são muito mais sofisticadas do que até mesmo os gregos mais instruídos 2500 anos atrás O mesmo não pode ser dito das ciências humanas A sabedoria e a genialidade de Platão Michelan gelo e Shakespeare é claro não são inferiores à sabedoria e à genialidade de qualquer filósofo artista ou escritor mo derno No entanto conhecimento cumulativo não pode ser confundido com progresso tecnológico A ciência é única não por causa da tecnologia mas devido a sua atitude A segunda e mais crítica característica da ciência é uma atitude que coloca valor na observação empírica acima de tudo Nas palavras de Skinner 1953 Ela é uma disposi ção para lidar com os fatos em vez de com o que alguém disse sobre eles p 12 Em particular existem três com ponentes para a atitude científica Primeiro ela rejeita a au toridade até mesmo a própria autoridade Apenas porque uma pessoa respeitada como Einstein diz algo isso em si não torna uma afirmação verdadeira Ela deve se submeter ao teste de observação empírica Lembrese no Capítulo 1 de que nossa discussão da crença de Aristóteles de que corpos de diferentes massas caem em velocidades distintas Isso foi aceito como fato por cerca de mil anos apenas por que Aristóteles disse Galileu no entanto testou essa ideia cientificamente e descobriu que ela não era verdadeira Se gundo a ciência demanda honestidade intelectual e requer que os cientistas aceitem os fatos mesmo quando eles são opostos a seus desejos Tal atitude não significa que os cien tistas sejam inerentemente mais honestos do que as outras pessoas Eles não são Temos conhecimento de cientistas que fabricaram dados e manipularam seus resultados No entanto como disciplina a ciência valoriza muito a hones tidade intelectual simplesmente pois a resposta certa acaba sendo descoberta Os cientistas não têm escolha a não ser relatar os resultados que vão contra suas esperanças e hipó teses pois se não o fizerem outra pessoa fará e os novos resultados irão mostrar que os cientistas manipulavam os dados Não ser possível estabelecer o certo e o errado de forma rápida é fácil não existe pressão similar a isso Skin ner 1953 p 13 Por fim a ciência suspende o julgamento até que surjam tendências claras Nada é mais prejudicial para a reputação de um cientista do que a pressa em reproduzir dados que são insuficientemente verificados e testados Se os dados a que o cientista chegou não resistem a duplicação então esse cientista parece tolo na melhor das hipóteses e desonesto na pior Um ceticismo saudável e uma disposição para suspender o julgamento são portanto essenciais para ser um cientista Uma terceira característica da ciência é a busca pela ordem e por relações legítimas Toda ciência começa com a observação de eventos individuais e então tenta inferir princípios e leis gerais a partir desses eventos Em resumo o método científico consiste em predição controle e descri ção Um cientista faz observações guiado por supostos teó ricos desenvolve hipóteses faz predições verificaas por meio da experimentação controlada descreve os resultados de forma honesta e fidedigna e por fim modifica a teoria para se adequar aos resultados empíricos reais Essa relação circular entre teoria e pesquisa foi discutida no Capítulo 1 Skinner 1953 acreditava que a predição o contro le e a descrição são possíveis no behaviorismo científico porque o comportamento é determinado e possui leis Feist16indd 309 Feist16indd 309 291014 0934 291014 0934 310 FEIST FEIST ROBERTS O comportamento humano como o das entidades físicas e biológicas não é caprichoso nem resultado do livre arbítrio Ele é determinado por certas variáveis identifi cáveis e segue princípios de leis definidas que em tese podem ser conhecidos O comportamento que parece caprichoso ou individualmente determinado está apenas além da capacidade atual dos cientistas de predizer ou controlar Porém de forma hipotética as condições sob as quais ele ocorre podem ser descobertas permitindo assim a predição e o controle além da descrição Skin ner dedicou muito de seu tempo tentando descobrir essas condições usando um procedimento que chamou de con dicionamento operante CONDICIONAMENTO Skinner 1953 reconheceu dois tipos de condicionamen to clássico e operante Com o condicionamento clássico o qual Skinner chamou de condicionamento responden te obtémse uma resposta do organismo por um estímulo específico identificável Com o condicionamento operante também chamado de condicionamento skinneriano é mais provável que um comportamento se repita se for ime diatamente reforçado Uma distinção entre o condicionamento clássico e o operante é que no primeiro o comportamento é eliciado no organismo enquanto no segundo o comportamento é emitido Uma resposta eliciada é extraída do organismo en quanto uma resposta emitida é aquela que simplesmente aparece Como não existem respostas dentro do organis mo e assim não podem ser extraídas Skinner preferiu o termo emitida As respostas emitidas não existem previa mente dentro do organismo elas apenas aparecem devido à história individual de reforço do organismo ou à história evolutiva da espécie Condicionamento clássico No condicionamento clássico um estímulo neutro condicionado é pareado isto é precede de imediato a um estímulo incondicionado inúmeras vezes até que ele seja capaz de provocar uma resposta previamente in condicionada agora denominada resposta condicionada Os exemplos mais simples envolvem o comportamento reflexo A luz que brilha no olho estimula a pupila a se contrair o alimento colocado sobre a língua provoca sali vação e pimenta nas narinas resulta no reflexo do espir ro Com o comportamento reflexo as respostas não são aprendidas são involuntárias e comuns não somente à espécie mas também entre as espécies O condiciona mento clássico no entanto não está limitado a reflexos simples Ele também pode ser responsável por aprendi zagens humanas mais complexas como fobias medos e ansiedades Um primeiro exemplo de condicionamento clássico com humanos foi descrito por John Watson e Rosalie Ray ner em 1920 e envolvia um menino Albert B geralmen te citado como o Pequeno Albert Albert era uma criança normal e saudável que aos 9 meses de idade não demons trava medo de coisas como um rato branco um coelho um cachorro um macaco com máscaras entre outras Quando Albert tinha 11 meses os pesquisadores lhe apresentaram um rato branco Quando Albert estava começando a tocar o rato um dos pesquisadores bateu com uma barra atrás da cabeça de Albert O menino imediatamente mostrou si nais de medo embora não tenha chorado Então quando ele tocou o rato com a outra mão um pesquisador bateu com a barra outra vez De novo Albert demonstrou medo e começou a choramingar Uma semana depois Watson e Rayner repetiram o procedimento várias vezes e finalmen te apresentaram o rato branco sem o som alto e abrupto da batida da barra Dessa vez Albert tinha aprendido a ter medo do próprio rato e logo começou a engatinhar se afastando dele Alguns dias depois foram apresentados a Albert alguns blocos Ele não demonstrou medo A seguir eles mostraram o rato sozinho Albert demonstrou medo Então eles ofereceram os blocos novamente a Albert Ne nhum medo Eles seguiram essa parte do experimento mostrando a Albert um coelho Albert prontamente come çou a chorar e engatinhou se afastando do coelho Watson e Rayner então mostraram a Albert os blocos novamente depois um cachorro depois os blocos depois um casaco de pele e então um pacote de lã Para todos os objetos ex ceto os blocos Albert demonstrou algum medo Por fim Watson trouxe a máscara do Papai Noel para a qual Albert demonstrou sinais de medo Esse experimento que nunca foi concluído porque a mãe de Albert interveio demons trou pelo menos quatro pontos Primeiro os bebês têm pouco ou nenhum medo inato de animais segundo eles podem aprender a ter medo de um animal se ele for apre sentado em associação com um estímulo aversivo terceiro os bebês conseguem discriminar entre um rato branco pe ludo e um bloco de madeira pesado de modo que o medo de um rato não se generaliza para o medo de um bloco e quarto o medo de um rato branco peludo pode se genera lizar para outros animais bem como para outros objetos cabeludos ou peludos A chave para tal experimento de condicionamento clássico foi o pareamento de um estímulo condicionado o rato branco com um estímulo incondicionado medo de um som alto e abrupto até que a presença do estímulo condicionado o rato branco fosse suficiente para desenca dear o estímulo incondicionado medo Condicionamento operante Ainda que o condicionamento clássico seja responsável por algum aprendizado humano Skinner acreditava que Feist16indd 310 Feist16indd 310 291014 0934 291014 0934 TEORIAS DA PERSONALIDADE 311 a maioria dos comportamentos é aprendida por meio do condicionamento operante A solução para o condicio namento operante é o reforço imediato de uma resposta O organismo primeiro faz algo e depois é reforçado pelo ambiente O reforço por sua vez aumenta a probabilidade de que o mesmo comportamento ocorra de novo Esse con dicionamento é denominado condicionamento operante porque o organismo opera no ambiente para produzir um efeito específico O condicionamento operante muda a fre quência de uma resposta ou a probabilidade de que ocorra uma resposta O reforço não causa o comportamento mas aumenta a probabilidade de que ele seja repetido Modelagem Na maioria dos casos de condicionamento operante o comportamento desejado é muito complexo para ser emi tido sem antes ser modelado pelo ambiente Modelagem é o procedimento em que o experimentador ou o ambiente primeiro recompensa aproximações grosseiras do com portamento depois aproximações mais refinadas e final mente o comportamento desejado em si Por meio desse processo de reforço de aproximações sucessivas o expe rimentador ou o ambiente de forma gradual molda o com plexo conjunto final de comportamentos Skinner 1953 A modelagem pode ser ilustrada pelo exemplo do treinamento de um menino com problemas mentais gra ves para aprender a se vestir O comportamento final da criança é vestir toda a roupa Se o pai retivesse o reforço até que ocorresse o comportamentoalvo a criança nunca completaria a tarefa com sucesso Para treinar o menino o pai deve dividir o comportamento complexo em segmen tos simples Primeiro o pai dá ao filho uma recompensa digamos um doce sempre que este se aproximar do com portamento de posicionar a mão esquerda perto da parte interna da manga esquerda de sua camisa Depois que o comportamento estiver suficientemente reforçado o pai retém a recompensa até que a criança coloque sua mão dentro da manga apropriada Então o pai recompensa o filho somente por colocar o braço esquerdo inteiramente dentro da manga Os mesmos procedimentos são usados com a manga direita os botões as calças as meias e os sapatos Assim que a criança aprende a se vestir comple tamente o reforço não precisa se seguir a cada tentativa bemsucedida Nesse momento de fato a habilidade de vestir toda a roupa se tornará uma recompensa em si Ao que parece a criança poderá atingir o comportamentoalvo somente se o pai dividir o comportamento complexo em suas partes componentes e então reforçar as aproxima ções sucessivas para cada resposta Nesse exemplo como em todos os casos de condicio namento operante três condições estão presentes o ante cedente A o comportamento B e a consequência C O an tecedente A se refere ao ambiente ou ao contexto em que o comportamento ocorre Em nosso exemplo o ambiente seria a casa ou algum outro lugar em que a criança pudes se vestir as roupas A segunda condição essencial nesse exemplo é o comportamento B do menino de se vestir Essa resposta deve estar dentro do repertório do menino e não ter a interferência de comportamentos paralelos ou antagonistas como a distração dos irmãos ou da televisão A consequência é a recompensa C ou seja o doce Se o reforço aumenta a probabilidade de que deter minada resposta se repita então como o comportamento pode ser moldado a partir de um comportamento relati vamente indiferenciado para um bastante complexo Em outras palavras por que o organismo simplesmente não repete a antiga resposta reforçada Por que ele emite no vas respostas que nunca foram reforçadas mas que de forma gradual avançam em direção ao comportamento alvo A resposta é que o comportamento não é descon tínuo mas contínuo ou seja o organismo em geral se move um pouco além da resposta reforçada previamente Se o comportamento fosse descontínuo a modelagem não poderia ocorrer porque o organismo ficaria estag nado na simples emissão de respostas reforçadas previa mente Como o comportamento é contínuo o organismo se move um pouco além da resposta antes reforçada e esse valor um tanto excepcional pode então ser usado como o novo padrão mínimo para reforço O organismo também pode se mover um pouco para trás ou um pouco para os lados mas somente os movimentos de avanço em direção ao alvo desejado são reforçados Skinner 1953 comparou a modelagem do comportamento a um escul tor moldando uma estátua a partir de um grande bloco de argila Em ambos os casos o produto parece ser diferente da forma original mas a história da transformação revela um comportamento contínuo e não um conjunto de pas sos aleatórios O comportamento operante sempre ocorre em algum ambiente e este possui um papel seletivo na modelagem e na manutenção do comportamento Cada um de nós tem Mesmo um comportamento complexo como trabalhar no computador é adquirido por meio de modelagem e aproximações sucessivas Feist16indd 311 Feist16indd 311 291014 0934 291014 0934 312 FEIST FEIST ROBERTS uma história de ser reforçado pela reação a alguns elemen tos em nosso ambiente mas não a outros O histórico de reforço diferencial resulta em discriminação operante Skinner alegava que a discriminação não é uma habilidade que possuímos mas uma consequência de nosso histórico de reforço Não vamos para a mesa de jantar porque dis cernimos que a comida está pronta vamos porque nossas experiências prévias de reação de uma forma similar foram em sua maioria reforçadas Essa distinção pode parecer uma falácia mas Skinner defendia que ela possuía implica ções teóricas e práticas importantes Os defensores da pri meira explicação veem a discriminação como uma função cognitiva existindo dentro da pessoa enquanto Skinner explicava tal comportamento pelas diferenças ambientais e pelo histórico de reforço do indivíduo A primeira explica ção vai além do âmbito da observação empírica a segunda pode ser estudada de modo científico Uma resposta a um ambiente semelhante na ausência de reforço prévio é chamada de generalização do estímu lo Um exemplo de generalização do estímulo é dado pela compra que uma estudante universitária faz de um ingres so para um show de rock apresentado por uma banda que ela nunca viu nem ouviu mas que alguém lhe disse que é parecida com sua banda preferida Tecnicamente as pes soas não generalizam de uma situação para outra mas elas reagem a uma nova situação da mesma maneira que rea giram a uma anterior porque as duas situações possuem alguns elementos idênticos ou seja comprar ingresso para um show de rock contém elementos comuns a comprar um ingresso para um show de rock diferente Skinner 1953 expressou isso da seguinte maneira O reforço de uma res posta aumenta a probabilidade de todas as respostas que contêm os mesmos elementos p 94 Reforço De acordo com Skinner 1987a o reforço possui dois efeitos ele reforça o comportamento e recompensa a pes soa Reforço e recompensa portanto não são sinônimos Nem todo comportamento que é reforçado é gratificante ou agradável para a pessoa Por exemplo as pessoas são reforçadas por trabalhar porém muitas consideram seus empregos entediantes desinteressantes e não gratifican tes Os reforçadores existem no ambiente e não são algo percebido pela pessoa O alimento não é reforçador porque ele tem gosto bom ao contrário ele tem gosto bom porque é reforçador Skinner 1971 Todo comportamento que aumenta a probabilidade de sobrevivência da espécie ou do indivíduo tende a ser fortalecido Alimento sexo e cuidado parental são neces sários para a sobrevivência das espécies e todo comporta mento que produz tais condições é reforçado Ferimentos doenças e clima extremo são prejudiciais à sobrevivência e qualquer comportamento que tende a reduzir ou evitar es sas condições é igualmente reforçado O reforço portanto pode ser dividido entre aquilo que produz uma condição ambiental benéfica e aquilo que reduz ou evita uma con dição nociva O primeiro é chamado de reforço positivo o segundo de reforço negativo Reforço positivo Qualquer estímulo que quando acresci do a uma situação aumenta a probabilidade de que ocorra determinado comportamento é denominado reforçador positivo Skinner 1953 Comida água sexo dinheiro aprovação social e conforto físico em geral são exemplos de reforçadores positivos Quando contingentes ao comporta mento cada um tem a capacidade de aumentar a frequên cia de uma resposta Por exemplo se aparecer água limpa sempre que uma pessoa abrir a torneira da cozinha então esse comportamento será reforçado porque um estímulo ambiental benéfico foi acrescido Boa parte do comporta mento humano e animal é adquirida por meio de reforço positivo Sob condições controladas Skinner conseguiu treinar animais para realizarem uma grande variedade de tarefas relativamente complexas Com os humanos no entanto o reforço com frequên cia é acidental e portanto o aprendizado é ineficiente Outro problema com o condicionamento de humanos é determinar quais consequências são reforçadoras e quais não são Dependendo da história pessoal surras e repreen sões podem ser reforçadores e beijos e elogios podem ser punitivos Reforço negativo A remoção de um estímulo aversivo de uma situação também aumenta a probabilidade de que ocorra o comportamento precedente Tal remoção resulta em reforço negativo Skinner 1953 Redução ou esquiva de sons altos choques e fome seriam reforçadores negati vos porque fortalecem o comportamento que as precede de imediato O reforço negativo difere do reforço positivo uma vez que ele requer a remoção de uma condição aversi va enquanto o reforço positivo envolve a apresentação de um estímulo benéfico O efeito do reforço negativo no en tanto é idêntico ao do positivo ambos fortalecem o com portamento Algumas pessoas comem porque elas gostam de uma comida em particular outras comem para dimi nuir a fome Para o primeiro grupo a comida é um reforça dor positivo para o segundo grupo a remoção da fome é um reforçador negativo Em ambos os casos o comporta mento de comer é reforçado porque as consequências são gratificantes Existe um número quase ilimitado de estímulos aversivos cuja remoção pode ser um reforço negativo Ansiedade por exemplo costuma ser um estímulo aver sivo e qualquer comportamento que a reduza é reforça dor Esses comportamentos podem incluir fazer exercí cios reprimir lembranças desagradáveis pedir desculpas por um comportamento inapropriado fumar beber ál cool e inúmeros outros comportamentos concebidos de Feist16indd 312 Feist16indd 312 291014 0934 291014 0934 TEORIAS DA PERSONALIDADE 313 forma intencional ou não para reduzir o caráter desagra dável da ansiedade Punição Reforço negativo não deve ser confundido com punição Os reforçadores negativos removem reduzem ou evitam estímulos aversivos enquanto punição é a apresentação de um estímulo aversivo como um choque elétrico ou a remoção de um estímulo positivo como desligar o telefone de um adolescente Um reforçador negativo fortalece uma resposta a punição não Ainda assim ela também não a enfraquece inevitavelmente Skinner 1953 concordou com Thorndike que os efeitos da punição são menos previ síveis do que os da recompensa Efeitos da punição O controle do comportamento hu mano e animal é mais bem servido pelos reforços positivo e negativo do que pela punição Os efeitos da punição não são opostos aos do reforço Quando as contingências de reforço são estritamente controladas o comportamento pode ser modelado com precisão e previsto com exatidão Com a punição no entanto essa exatidão não é possível A razão para tal discrepância é simples A punição costu ma ser imposta para impedir que as pessoas ajam de uma maneira particular Quando ela tem sucesso as pessoas param de se comportar daquela maneira mas ainda preci sam fazer algo O que elas fazem não pode ser previsto com exatidão porque a punição não diz o que elas devem fa zer ela meramente suprime a tendência a se comportarem da maneira indesejável Como consequência um efeito da punição é suprimir o comportamento Por exemplo se um menino provoca sua irmã menor seus pais podem fazêlo parar batendo nele mas infelizmente essa punição não irá melhorar sua disposição em relação à irmã Ela apenas su prime a provocação por um tempo ou na presença dos pais Outro efeito da punição é o condicionamento de um sentimento negativo pela associação de um forte estímulo aversivo com o comportamento que está sendo punido No exemplo anterior se a dor da surra for forte o suficiente ela instigará uma resposta choro retraimento ataque que é incompatível com o comportamento de provocar a irmã menor No futuro quando o menino pensar em tra tar mal a irmã mais nova esse pensamento pode provocar uma resposta condicionada clássica como medo ansieda de culpa ou vergonha Tal emoção negativa serve então para impedir que o comportamento indesejável se repita Lamentavelmente ela não oferece instrução positiva algu ma para a criança Um terceiro resultado da punição é a difusão de seus efeitos Todo estímulo associado com a punição pode ser suprimido ou evitado Em nosso exemplo o menino pode aprender a evitar sua irmã menor ficar longe dos pais ou desenvolver sentimentos negativos em relação à palmada ou ao lugar em que a palmada ocorreu Em consequência o comportamento do menino em relação à família se tor na maladaptativo No entanto esse comportamento ina propriado serve ao propósito de impedir punições futuras Skinner reconheceu os mecanismos de defesa freudianos clássicos como meios efetivos de evitar a dor e sua ansie dade concomitante A pessoa punida pode fantasiar proje tar sentimentos nos outros racionalizar comportamentos agressivos ou deslocálos para outras pessoas ou animais Punição e reforço comparados A punição apresenta vá rias características em comum com o reforço Assim como existem dois tipos de reforços positivo e negativo há dois tipos de punição O primeiro requer a apresentação de um estímulo aversivo o segundo envolve a remoção de um reforçador positivo Um exemplo do primeiro é a dor sentida por cair em consequência de caminhar muito rá pido em uma calçada congelada Um exemplo do segundo é uma multa pesada dada a um motorista por dirigir em alta velocidade O primeiro exemplo cair resulta de uma condição natural o segundo ser multado decorre de uma intervenção humana Esses dois tipos de punição revelam uma segunda característica comum à punição e ao reforço ambos podem derivar de consequências naturais ou da im posição humana Por fim tanto a punição quanto o reforço são meios de controlar o comportamento seja o controle premeditado ou por acaso Skinner obviamente preferia o controle planejado e seu livro Walden II Skinner 1948 apresenta muitas de suas ideias sobre o controle do com portamento humano Reforçadores condicionados e generalizados A comida é um reforço para humanos e animais porque ela remove uma condição de privação Mas como o dinheiro que não pode remover diretamente uma condição de priva ção pode ser reforçador A resposta é que o dinheiro é um reforçador condicionado Reforçadores condicionados às vezes chamados de reforçadores secundários envolvem estímulos ambientais que não são por natureza satisfató rios mas que se tornam satisfatórios porque se associam a reforçadores primários não aprendidos como comida água sexo ou conforto físico O dinheiro é um reforçador condi cionado porque ele pode ser trocado por uma grande varie dade de reforçadores primários Além disso constitui um reforçador generalizado pois está associado a mais de um reforçador primário Skinner 1953 reconheceu cinco reforçadores gene ralizados importantes que sustentam muito do compor tamento humano atenção aprovação afeição submissão a outros e símbolos dinheiro Cada um pode ser usado como reforçador em uma variedade de situações A aten ção por exemplo é um reforçador condicionado generali zado porque está associada a reforçadores primários como comida e contato físico Quando as crianças estão sendo alimentadas ou estão no colo elas também estão receben Feist16indd 313 Feist16indd 313 291014 0934 291014 0934 314 FEIST FEIST ROBERTS do atenção Depois que comida e atenção são combinadas por várias vezes a atenção em si se torna reforçadora pelo processo de condicionamento respondente clássico Crianças e adultos também trabalham por atenção sem qualquer expectativa de receberem comida ou contato fí sico De forma muito parecida a aprovação a afeição a submissão a outros e o dinheiro adquirem valor de reforço generalizado O comportamento pode ser modelado e as respostas aprendidas com reforçadores condicionados ge neralizados constituindo um único reforço Esquema de reforço Todo comportamento seguido pela apresentação de um re forçador positivo ou pela remoção de um estímulo aversi vo tende depois disso a ser mais recorrente A frequência desse comportamento no entanto está sujeita às condi ções sob as quais ocorreu o treinamento de forma mais específica as várias programações de reforço Ferster Skinner 1957 O reforço pode seguir o comportamento em uma pro gramação contínua ou intermitente Com um esquema de reforço contínuo o organismo é reforçado a cada res posta Esse tipo de esquema aumenta a frequência de uma resposta mas é um uso ineficiente do reforçador Skinner preferia os esquemas intermitentes não só porque eles fazem uso mais eficiente do reforçador mas também porque produzem respostas mais resistentes à extinção É interessante observar que Skinner começou a usar os esquemas intermitentes porque ele estava com estoque baixo de ração Wiener 1996 Os esquemas intermitentes baseiamse no comportamento do organismo ou no tempo decorrido eles podem ser estabelecidos em uma frequên cia fixa ou variar de acordo com um programa aleatório Ferster e Skinner 1957 reconheceram um grande número de esquemas de reforço mas os quatro esquemas intermi tentes básicos são razão fixa razão variável intervalo fixo e intervalo variável Razão fixa FR Com um esquema de razão fixa o or ganismo é reforçado de forma intermitente de acordo com o número de respostas que ele dá Razão referese à pro porção entre respostas e reforçadores Um experimentador pode decidir recompensar um pombo com um grão de ra ção a cada quinta bicada que ele der em um disco O pombo é então condicionado em um esquema de relação fixa de 5 para 1 ou seja FR 5 Quase todos os esquemas de reforço começam com re forço contínuo mas em seguida o experimentador pode avançar da recompensa contínua para um reforço inter mitente Da mesma forma esquemas de razão fixa extre mamente alta como 200 para 1 devem começar com uma proporção baixa de respostas e de modo gradual avançar para uma mais alta Um pombo pode ser condicionado a trabalhar por longo tempo e de modo rápido em troca de um grão de ração contanto que ele tenha sido previamente reforçado em uma proporção mais baixa Tecnicamente quase nenhuma escala de pagamento para humanos segue um esquema de razão fixa ou de outro tipo porque os trabalhadores em geral não começam com um esquema de reforço contínuo imediato Uma aproxima ção de um esquema de razão fixa seria o pagamento de pe dreiros que recebem uma quantidade fixa de dinheiro para cada tijolo que colocam Razão variável VR Com um esquema de razão com relação fixa o organismo é reforçado depois de cada ené sima resposta Com a o esquema de razão variável ele é reforçado após a enésima resposta em média Mais uma vez o treinamento deve começar com reforço contínuo prosseguir para um número baixo de respostas e então aumentar para uma taxa mais alta de resposta Um pombo recompensado a cada terceira resposta em média pode de senvolver um esquema de até VR 6 depois VR 10 e assim por diante porém o número médio de respostas deve ser aumentado de forma gradual para evitar a extinção Depois de alcançada uma média alta digamos VR 500 as respos tas se tornam extremamente resistentes à extinção Mais detalhes sobre a taxa de extinção são fornecidos na próxi ma seção Para os humanos jogar em caçaníqueis é um exemplo de esquema de razão variável A máquina é ajustada para pagar em determinado ritmo mas o ritmo deve ser flexí vel ou seja variável para impedir que os jogadores preve jam os pagamentos Intervalo fixo Com um esquema de intervalo fixo o organismo é reforçado para a primeira resposta após um período de tempo designado Por exemplo FI 5 indica que o organismo é recompensado por sua primeira resposta após cada 5 minutos de intervalo Os empregados que tra Como as máquinas caçaníqueis pagam com um esquema de razão variável algumas pessoas se tornam jogadoras compulsivas Feist16indd 314 Feist16indd 314 291014 0934 291014 0934 TEORIAS DA PERSONALIDADE 315 balham por salário ou por pagamento se aproximam de um esquema de intervalo fixo Eles são pagos todas as sema nas a cada duas semanas ou a cada mês mas essa progra mação de pagamento não é estritamente um esquema de intervalo fixo Ainda que os pombos geralmente apresen tem um impulso no trabalho próximo ao final do período de tempo a maioria dos trabalhadores humanos distribui seus esforços de modo uniforme em vez de trabalharem pouco a maior parte do tempo e depois se empenharem mais no final do período Essa situação se deve em parte a fatores como supervisores atentos ameaças de demissão promessas de promoção ou reforçadores autogerados Intervalo variável VI Um esquema de intervalo va riável é aquele em que o organismo é reforçado após de corridos períodos de tempo aleatórios ou variados Por exemplo VI 5 significa que o organismo é reforçado após intervalos de duração aleatória que têm em média 5 mi nutos Tais programações resultam em mais respostas por intervalo do que os esquemas de intervalo fixo Para os hu manos o reforço resulta com mais frequência do próprio esforço do que da passagem do tempo Por essa razão os esquemas de razão são mais comuns do que os de interva lo e o esquema com intervalo variável é provavelmente o menos comum de todos Extinção Depois de aprendidas as respostas podem ser perdidas por pelo menos quatro razões Primeiro elas podem sim plesmente ser esquecidas com a passagem do tempo Se gundo e mais provável elas podem ser perdidas devido à interferência de aprendizado precedente ou subsequente Terceiro elas podem desaparecer devido à punição E quar to devido à extinção definida como a tendência de uma resposta previamente adquirida se tornar enfraquecida de modo progressivo com a ausência de reforço A extinção operante ocorre quando um pesquisador retém de modo sistemático o reforço de uma resposta pre viamente aprendida até a probabilidade de que aquela res posta diminua até zero O ritmo da extinção operante de pende em grande parte do esquema de reforço sob a qual o aprendizado ocorreu Comparado com as respostas adquiridas em um es quema contínuo o comportamento treinado com um es quema intermitente é muito mais resistente à extinção Skinner 1953 observou 10 mil respostas não reforçadas com esquemas intermitentes Tal comportamento parece se autoperpetuar e é praticamente indistinguível do com portamento que dispõe de autonomia funcional um con ceito sugerido por Gordon Allport e discutido no Capítulo 12 Em geral quanto mais alta a taxa de respostas por re forço mais lento o ritmo de extinção quanto menos res postas um organismo precisa dar ou quanto mais curto o tempo entre os reforçadores mais rapidamente ocorre a extinção Esse achado sugere que o elogio e outros refor çadores devem ser usados com moderação no treinamen to de crianças A extinção raramente é aplicada de modo sistemático ao comportamento humano fora da terapia ou da modifi cação do comportamento A maioria de nós vive em am bientes relativamente imprevisíveis e quase nunca experi mentamos a retenção metódica do reforço Assim muitos de nossos comportamentos persistem por um longo pe ríodo de tempo porque eles estão sendo reforçados de for ma intermitente muito embora a natureza desse reforço possa ser obscura para nós O ORGANISMO HUMANO Nossa discussão a respeito da teoria skinneriana até este ponto tratou principalmente da tecnologia do compor tamento uma tecnologia baseada sobretudo no estudo de animais Mas os princípios do comportamento coleta dos de ratos e pombos se aplicam ao organismo humano A visão de Skinner 1974 1987a era que o conhecimento do comportamento de animais de laboratório pode se ge neralizar para o comportamento humano assim como a física pode ser usada para interpretar o que é observado no espaço exterior e um conhecimento de genética bási ca pode ajudar na interpretação de conceitos evolutivos complexos Skinner 1953 1990a concordava com John Watson 1913 em relação ao fato de que a psicologia deve ser limi tada a um estudo científico dos fenômenos observáveis ou seja o comportamento A ciência deve começar pelo sim ples e avançar para o mais complexo Essa sequência pode avançar do comportamento dos animais para o dos psicóti cos para o das crianças com limitações cognitivas daí para o de outras crianças e por fim para o comportamento complexo dos adultos Skinner 1974 1987a portanto não fez apologia para começar com o estudo de animais De acordo com Skinner 1987a o comportamento humano e a personalidade humana é modelado por três forças 1 a seleção natural 2 as práticas culturais e 3 o histórico de reforço do indivíduo que acabamos de dis cutir No entanto tudo é uma questão de seleção natural uma vez que o condicionamento operante é um processo evoluído do qual as práticas culturais são aplicações espe ciais p 55 Seleção natural A personalidade humana é produto de uma longa histó ria evolutiva Como indivíduos nosso comportamento é determinado pela composição genética e especialmente por nossos históricos de reforçamento pessoais Como es pécie no entanto somos modelados pelas contingências da sobrevivência A seleção natural desempenha um pa Feist16indd 315 Feist16indd 315 291014 0934 291014 0934 316 FEIST FEIST ROBERTS pel importante na personalidade humana Skinner 1974 1987a 1990a O comportamento individual que é reforçado tende a ser repetido do contrário tende a se extinguir Do mesmo modo os comportamentos que durante a história foram benéficos para a espécie tenderam a sobreviver enquanto os reforçados apenas de modo idiossincrático tendiam a se extinguir Por exemplo a seleção natural favoreceu aque les indivíduos cujas pupilas dilatavam e contraíam com as alterações na iluminação Sua habilidade superior de en xergar durante a luz do dia e à noite os capacitou a evitar perigos ameaçadores à vida e a sobreviverem até a idade reprodutiva De forma semelhante os bebês cujas cabe ças se voltavam na direção de um leve toque na bochecha eram capazes de sugar aumentando assim suas chances de sobrevivência e a probabilidade de essa característica de procura ser transmitida para sua prole Esses são apenas dois exemplos de vários reflexos que caracterizam o bebê humano hoje Alguns como o reflexo pupilar continuam a ter valor para a sobrevivência enquanto outros como o reflexo perioral são de benefício menor As contingências de reforço e as de sobrevivência in teragem e alguns comportamentos individualmente refor çadores também contribuem para a sobrevivência da es pécie Por exemplo o comportamento sexual costuma ser reforçador para um indivíduo mas ele também tem valor para a seleção natural porque os indivíduos que eram mais excitados pela estimulação sexual também eram os que ti nham maior probabilidade de produzir uma prole capaz de padrões de comportamento similares Nem todo remanescente da seleção natural continua a ter valor de sobrevivência Na história humana inicial comer em excesso era adaptativo porque permitia às pes soas sobreviver durante os períodos em que o alimento era menos abundante Agora nas sociedades em que o alimen to está sempre disponível a obesidade se tornou um pro blema de saúde e comer em excesso perdeu seu valor de sobrevivência Ainda que a seleção natural tenha ajudado a moldar parte do comportamento humano é provável que seja responsável por apenas um pequeno número de ações das pessoas Skinner 1989a argumentou que as contingên cias de reforço em especial aquelas que moldaram a cul tura humana explicam a maior parte do comportamento humano Podemos rastrear uma pequena parte do comporta mento humano até a seleção natural e a evolução da espécie mas a maior parte do comportamento humano deve ser rastreada até as contingências de reforço em especial as contingências sociais muito complexas que chamamos de culturas Somente quando levamos essas histórias em consideração é que podemos explicar por que as pessoas se comportam da forma como se com portam p 18 Evolução cultural Em seus últimos anos Skinner 1987a 1989a elaborou de modo mais integral a importância da cultura na mode lagem da personalidade humana A seleção é responsável pelas práticas culturais que sobreviveram da mesma forma que desempenha um papel crucial na história evolutiva dos humanos e também nas contingências de reforço As pes soas não observam práticas particulares para que o grupo tenha maior probabilidade de sobreviver elas as observam porque os grupos que induziram seus membros a fazer isso sobreviveram e as transmitiram Skinner 1987a p 57 Em outras palavras os humanos não tomam uma decisão cooperativa para fazer o que é melhor para a sociedade mas as sociedades cujos membros comportaramse de modo cooperativo tenderam a sobreviver Práticas culturais como a fabricação de ferramentas e o comportamento verbal começaram quando um indivíduo foi reforçado por usar uma ferramenta ou por pronunciar um som distintivo Com o tempo desenvolveuse uma prática cultural que era reforçadora para o grupo embora não necessariamente para o indivíduo Tanto a fabricação de ferramentas quando o comportamento verbal possuem valor de sobrevivência para um grupo mas poucas pessoas agora fabricam ferramentas e ainda menos inventam no vas linguagens Os remanescentes da cultura como aqueles da seleção natural não são todos adaptativos Por exemplo a divisão de trabalho que evoluiu da Revolução Industrial ajudou a sociedade a produzir mais bens porém conduziu a um trabalho que já não é mais diretamente reforçador Outro exemplo é a guerra que no mundo préindustrializado be neficiou certas sociedades mas agora evoluiu como uma ameaça para a existência humana Estados internos Ainda que rejeitasse explicações do comportamento fun damentadas em construtos hipotéticos não observáveis Skinner 1989b não negava a existência de estados in ternos como sentimentos de amor ansiedade ou medo Os estados internos podem ser estudados como qualquer outro comportamento porém sua observação é obvia mente limitada Em uma comunicação pessoal de 13 de junho de 1983 Skinner referiu Acredito que seja possí vel falar sobre eventos privados e em particular estabe lecer os limites com os quais fazemos isso com tanta exa tidão Acredito que isso coloca dentro do alcance os assim chamados de não observáveis Qual é então o papel de estados internos como autoconsciência impulsos emo ções e propósito Autoconsciência Skinner 1974 acreditava que os humanos não só têm consciência como também estão cientes da própria cons Feist16indd 316 Feist16indd 316 291014 0934 291014 0934 TEORIAS DA PERSONALIDADE 317 ciência eles não estão apenas conscientes de seu ambiente mas também têm consciência de si mesmos como parte do ambiente além de observarem os estímulos externos também estão conscientes de si mesmos percebendo tais estímulos O comportamento é função do ambiente e parte des se ambiente está sob a própria pele Tal porção do universo é peculiarmente nossa e portanto é privada Cada pessoa está subjetivamente consciente dos próprios pensamen tos sentimentos recordações e intenções A autoconsciên cia e os eventos privados podem ser ilustrados pelo exem plo seguinte Uma trabalhadora relata para uma amiga Eu estava tão frustrada hoje que quase abandonei meu em prego O que pode ser feito com tal declaração Primeiro o relato em si é um comportamento verbal e como tal pode ser estudado da mesma maneira que outros compor tamentos Segundo a declaração de que ela estava a ponto de abandonar seu emprego se refere a um não comporta mento Respostas nunca emitidas não são respostas e é claro não possuem significado para a análise científica do comportamento Terceiro um evento privado transpira va dentro da pele da trabalhadora Esse evento privado como seu relato verbal para a amiga pode ser analisado cientificamente No momento em que a trabalhadora teve vontade de desistir ela poderia ter constatado o seguinte comportamento oculto Estou observando dentro de mim graus crescentes de frustração que estão aumentando a probabilidade de que eu informe meu chefe de que estou indo embora Essa declaração é mais precisa do que dizer Quase abandonei meu emprego e se refere ao comporta mento que embora privado está dentro das fronteiras da análise científica Impulsos Do ponto de vista do behaviorismo radical os impulsos não são a causa do comportamento apenas ficções expla natórias Para Skinner 1953 os impulsos referemse sim plesmente aos efeitos de privação e saciedade e à probabili dade correspondente de que o organismo responda Privar uma pessoa de comida aumenta a probabilidade de comer saciar uma pessoa reduz essa probabilidade Entretanto privação e saciedade não são os únicos correlatos de comer Outros fatores que aumentam ou diminuem a probabili dade de comer são a sensação de fome a disponibilidade de comida e as experiências prévias com reforçadores de comida Se os psicólogos conhecessem o suficiente acerca dos três aspectos essenciais do comportamento antecedente comportamento e consequências saberiam por que uma pessoa se comporta de determinada forma ou seja que impulsos estão relacionados a comportamentos específi cos Somente então os impulsos teriam um papel legítimo no estudo científico do comportamento humano Atual mente no entanto as explicações baseadas em constru tos fictícios como os impulsos ou as necessidades são apenas hipóteses não verificáveis Emoções Skinner 1974 reconheceu a existência subjetiva das emoções é claro mas ele insistia em que o comportamen to não deve ser atribuído a elas Ele explicava as emoções pelas contingências de sobrevivência e de reforço Por milênios os indivíduos que estavam mais fortemente dispostos para o medo ou para a raiva eram aqueles que escapavam ou triunfavam sobre o perigo e assim eram capazes de transmitir essas características para a prole Em um nível individual os comportamentos seguidos por deleite alegria prazer e outras emoções agradáveis tendem a ser reforçados aumentando assim a probabi lidade de que tais comportamentos se repitam na vida do indivíduo Propósito e intenção Skinner 1974 também reconheceu os conceitos de pro pósito e intenção porém mais uma vez alertou contra a atribuição de comportamento a eles Propósito e intenção existem dentro do indivíduo mas não estão sujeitos ao escrutínio externo direto Um propósito constantemen te sentido pode ser por si só reforçador Por exemplo se você acredita que seu propósito em correr é se sentir melhor e viver mais então tal pensamento age como um estímulo reforçador em especial durante o trabalho árduo da corrida ou quando tenta explicar sua motivação para alguém que não é corredor Uma pessoa pode pretender assistir a um filme na noite de sextafeira porque assistir a filmes similares foi reforçador No momento em que a pessoa pretende ir ao cinema ela sente uma condição física e a rotula como uma intenção O que é chamado de intenções ou propósitos portanto são estímulos sentidos fisicamente dentro do organismo e não eventos mentais responsáveis pelo com portamento As consequências do comportamento ope rante não são o que o comportamento é no momento elas são apenas similares às consequências que o moldaram e o mantiveram Skinner 1987a p 57 Comportamento complexo O comportamento humano pode ser bastante complexo embora Skinner acreditasse que mesmo o comportamento mais abstrato e complexo seja moldado pela seleção natu ral pela evolução cultural ou pela história e pelo reforço do indivíduo Mais uma vez Skinner não negou a existência de processos mentais superiores como cognição raciocí nio e evocação nem ignorou esforços humanos complexos como criatividade comportamento inconsciente sonhos e comportamento social Feist16indd 317 Feist16indd 317 291014 0934 291014 0934 318 FEIST FEIST ROBERTS Processos mentais superiores Skinner 1974 admitia que o pensamento humano é en tre todos os comportamentos o mais difícil de analisar todavia é possível entendêlo desde que não se recorra a uma ficção hipotética como a mente Pensar resolver problemas e recordar são comportamentos encobertos que ocorrem dentro do indivíduo mas não dentro da mente Como comportamentos eles são receptivos às mesmas contingências de reforço dos comportamentos explícitos Por exemplo quando uma mulher perde as chaves do carro ela procura por elas porque um comportamento de busca similar já foi reforçado previamente Da mesma maneira quando ela não consegue lembrar o nome de um conheci do ela procura aquele nome de modo encoberto porque esse tipo de comportamento já foi reforçado em outra si tuação Entretanto o nome do conhecido não existia em sua mente mais do que as chaves do carro Skinner 1974 resumiu tal procedimento dizendo que as técnicas de evo cação não têm a ver com uma busca em um depósito da memória mas com o aumento da probabilidade das res postas p 109110 A resolução de problemas também envolve o compor tamento encoberto e com frequência requer que a pes soa manipule de modo velado as variáveis relevantes até que seja encontrada a solução correta Em última análise essas variáveis são ambientais e não surgem como mági co da mente da pessoa Um jogador de xadrez que parece irremediavelmente acuado examina o tabuleiro e de re pente faz um movimento que permite a sua peça escapar O que provocou esse insight inesperado Ele não resolveu o problema em sua mente Ele manipulou as várias peças não as tocando mas de forma velada rejeitou movimen tos não acompanhados de reforço e por fim escolheu aquele que foi seguido por um reforçador interno Ainda que a solução possa ter sido facilitada por suas experiên cias prévias de ler um livro sobre xadrez ouvir conselhos de um especialista ou praticar o jogo ela foi iniciada por contingências ambientais e não fabricada por maquina ções mentais Criatividade Como o behaviorista radical explica a criatividade Logica mente se o comportamento não fosse nada além de uma resposta previsível a um estímulo o comportamento cria tivo não poderia existir porque apenas o comportamento previamente reforçado seria emitido Skinner respondeu a esse problema comparando comportamento criativo com seleção natural na teoria evolucionista Assim como os traços acidentais que surgem de mutações são seleciona dos por sua contribuição para a sobrevivência também as variações acidentais no comportamento são selecionadas por suas consequências reforçadoras p 114 Do mesmo modo como a seleção natural explica a diferenciação entre as espécies sem recorrer a uma mente onipotente criativa também o behaviorismo explica um comportamento novo sem recorrer a uma mente criativa pessoal O conceito de mutação é crucial tanto para a seleção natural quanto para o comportamento criativo Em ambos os casos são produzidas condições aleatórias ou acidentais que têm a mesma possibilidade de sobrevivência Os escri tores criativos alteram seu ambiente produzindo assim respostas que têm alguma chance de serem reforçadas Quando sua criatividade seca eles podem se mudar para um local diferente viajar ler falar com outras pessoas co locar palavras no computador com pouca expectativa de que sejam o produto final ou podem experimentar várias palavras sentenças e ideias de forma velada Para Skinner então criatividade é simplesmente o resultado de compor tamentos aleatórios ou acidentais manifestos ou encober tos que acabam sendo recompensados O fato de algumas pessoas serem mais criativas do que outras se deve a dife renças na dotação genética e a experiências que moldaram seu comportamento criativo Comportamento inconsciente Como behaviorista radical Skinner não podia aceitar a no ção de um depósito de ideias ou emoções inconscientes No entanto aceitava a ideia de comportamento inconscien te De fato como as pessoas raramente observam a rela ção entre as variáveis genéticas e ambientais e o próprio comportamento quase todo o nosso comportamento é motivado de forma inconsciente Skinner 1987a Em um sentido mais limitado o comportamento é rotulado como inconsciente quando as pessoas não pensam mais nele porque ele foi suprimido pela punição O comportamento que tem consequências aversivas apresenta a tendência de ser ignorado ou não pensado Uma criança que foi puni da várias vezes com severidade por um jogo sexual pode suprimir o comportamento sexual e reprimir qualquer pen samento ou lembrança de tal atividade Por fim a criança pode negar que a atividade sexual aconteça Tal negação evita os aspectos aversivos associados a pensamentos de punição e assim é um reforçador negativo Em outras pa lavras a criança é recompensada por não pensar acerca de certos comportamentos sexuais Um exemplo de não pensar acerca de estímulos aver sivos é uma criança que se comporta de forma furiosa em relação à mãe Ao fazer isso ela também exibe alguns com portamentos menos antagonistas Se o comportamento indesejável for punido ele será suprimido e substituído por comportamentos mais positivos Por fim a criança será re compensada por gestos de amor os quais então aumen tarão em frequência Depois de um tempo seu comporta mento se torna cada vez mais positivo e pode até mesmo parecer o que Freud 19261959a denominou amor rea tivo A criança já não tem mais pensamentos de ódio em Feist16indd 318 Feist16indd 318 291014 0934 291014 0934 TEORIAS DA PERSONALIDADE 319 relação à mãe e se comporta de forma excessivamente cari nhosa e subserviente Sonhos Skinner 1953 considerava os sonhos como formas vela das e simbólicas de comportamento que estão sujeitas às mesmas contingências de reforço que os demais comporta mentos Ele concordava com Freud sobre os sonhos servi rem ao propósito de satisfação do desejo O comportamen to do sonho é reforçador quando é permitida a expressão de estímulos sexuais ou agressivos reprimidos Realizar as fantasias sexuais e de fato infligir dano a um inimigo são dois comportamentos com probabilidade de estar asso ciados à punição Até mesmo pensar veladamente nesses comportamentos pode ter efeitos punitivos mas nos so nhos esses comportamentos expressamse de modo sim bólico e sem que uma punição os acompanhe Comportamento social Os grupos não agem apenas os indivíduos Os indivíduos estabelecem grupos porque foram recompensados por fa zer isso Por exemplo os indivíduos formam clãs de modo que possam ser protegidos contra animais desastres na turais ou tribos inimigas Também formam governos fun dam igrejas ou se tornam parte de uma multidão sem re gras porque eles são reforçados por esse comportamento A filiação a um grupo social nem sempre é reforçadora no entanto pelo menos por três razões algumas pessoas continuam como membros de um grupo Primeiro podem permanecer em um grupo que abusa delas porque alguns membros do grupo as estão reforçando segundo algumas pessoas especialmente as crianças podem não possuir os meios para deixar o grupo e terceiro o reforço pode ocor rer de forma intermitente de modo que o abuso sofrido por um indivíduo é mesclado com recompensa ocasional Se o reforço positivo for forte o suficiente seus efeitos se rão mais fortes do que os da punição Controle do comportamento humano Por fim o comportamento de um indivíduo é controlado por contingências ambientais Essas contingências podem ser impostas pela sociedade por outro indivíduo ou pelo próprio indivíduo mas o ambiente não o livrearbítrio é responsável pelo comportamento Controle social Os indivíduos agem para formar grupos sociais porque tal comportamento tende a ser reforçador Os grupos por sua vez exercem controle sobre seus membros formulando leis regras e costumes escritos ou não escritos que pos suem existência física que vai além da vida dos indivíduos As leis de uma nação as regras de uma organização e os costumes de uma cultura transcendem os meios de con tracontrole de qualquer indivíduo e servem como variáveis potentes de controle na vida dos membros individuais Um exemplo um tanto cômico de comportamento inconsciente e controle social envolveu Skinner e Erich Fromm um dos críticos mais severos de Skinner Em um encontro profissional no qual os dois participaram Fromm argumentou que as pessoas não são pombos e não podem ser controladas por meio de técnicas de condicionamento operante Enquanto estava sentado em frente a Fromm do outro lado da mesa e ouvia tal tirada Skinner decidiu reforçar o comportamento de Fromm ao acenar com o braço Ele passou um bilhete para um de seus amigos que dizia Observe a mão esquerda de Fromm Vou modelar um movimento de corte Skinner 1983 p 151 Sempre que Fromm erguia a mão esquerda Skinner olhava direta mente para ele Se o braço esquerdo de Fromm abaixasse em um movimento de corte Skinner sorria e balançava a cabeça com aprovação Se Fromm mantinha o braço rela tivamente imóvel Skinner olhava para outro lado ou apa rentava estar entediado com a fala de Fromm Após 5 mi nutos desse reforço seletivo Fromm inconscientemente começou a bater com o braço de modo tão vigoroso que seu relógio de pulso deslizou sobre sua mão Assim como Erich Fromm cada um de nós é contro lado por uma variedade de forças e técnicas sociais mas todas elas podem ser agrupadas sob os seguintes títulos 1 condicionamento operante 2 descrição de contingên cias 3 privação e saciedade e 4 restrição física Skinner 1953 A sociedade exerce controle sobre seus membros por meio de quatro métodos principais de condicionamento operante reforço positivo reforço negativo e duas técnicas de punição acrescentando um estímulo aversivo e remo vendo um positivo Uma segunda técnica de controle social é descrever para uma pessoa as contingências de reforço Isso envol ve a linguagem geralmente verbal para informar as pes soas das consequências de seu comportamento ainda não emitido Muitos exemplos de descrição das contingências estão disponíveis em especial ameaças e promessas Um meio mais sutil de controle social é a propaganda concebi da para manipular as pessoas para comprarem certos pro dutos Em nenhum desses exemplos a tentativa de con trole será perfeitamente bemsucedida embora cada uma delas aumente a probabilidade de ser emitida a resposta desejada Terceiro o comportamento pode ser controlado pri vando as pessoas ou satisfazendoas com reforçadores Mais uma vez mesmo que a privação e a saciedade sejam estados internos o controle se origina com o ambiente As pessoas privadas de comida têm maior probabilidade de comer aquelas saciadas têm menor probabilidade de co mer mesmo quando uma refeição deliciosa está disponível Feist16indd 319 Feist16indd 319 291014 0934 291014 0934 320 FEIST FEIST ROBERTS Por fim as pessoas podem ser controladas por meio de restrições físicas como segurar uma criança para que não caia de um barranco ou colocando na prisão pessoas que desrespeitam a lei A restrição física atua para contrariar os efeitos do condicionamento e resulta em comportamento contrário àquele que teria sido emitido caso a pessoa não tivesse sido restringida Alguns poderiam argumentar que a restrição física é um meio de negar a liberdade Contudo Skinner 1971 sustentava que o comportamento não tem nada a ver com liberdade pessoal mas é moldado pelas contingências de sobrevivência os efeitos do reforço e as contingências do ambiente social Portanto o ato de restringir fisicamente uma pessoa não nega a liberdade mais do que qualquer ou tra técnica de controle incluindo o autocontrole Autocontrole Se a liberdade pessoal é uma ficção então como uma pes soa pode exercer o autocontrole Skinner diria que da mesma forma como as pessoas podem alterar as variáveis no ambiente de outro indivíduo elas também podem ma nipular as variáveis dentro do próprio ambiente e assim exercer alguma medida de autocontrole As contingências de autocontrole no entanto não residem dentro do indi víduo e não podem ser livremente escolhidas Quando as pessoas controlam o próprio comportamento elas fazem isso manipulando algumas variáveis que usariam no con trole do comportamento de outra pessoa e em última aná lise essas variáveis se encontram fora delas Skinner e Margaret Vaughan Skinner Vaughan 1983 discutiram várias técnicas que as pessoas podem usar para exercer autocontrole sem recorrer ao livrearbí trio Primeiro elas podem usar ajuda física como ferra mentas máquinas e recursos financeiros para alterar seu ambiente Por exemplo uma pessoa pode levar um dinhei ro extra quando vai às compras para se dar a opção de com prar por impulso Segundo as pessoas podem alterar seu ambiente aumentando assim a probabilidade do compor tamento desejado Por exemplo um estudante que deseja se concentrar em seus estudos pode desligar uma TV que o está distraindo Terceiro as pessoas podem organizar o ambiente de forma que possam escapar de um estímu lo aversivo apenas produzindo a resposta apropriada Por exemplo uma mulher pode ajustar o despertador de forma que o som aversivo só possa ser interrompido se ela sair da cama para desligar o alarme Quarto as pessoas podem usar substâncias especial mente álcool como um meio de autocontrole Por exem plo um homem pode ingerir tranquilizantes para tornar seu comportamento mais calmo Quinto as pessoas po dem simplesmente fazer outra coisa para evitar se com portarem de uma forma indesejável Por exemplo uma mulher obsessiva pode contar os padrões repetitivos no papel de parede para evitar pensar em experiências prévias que gerariam culpa Nesses exemplos os comportamentos substitutos são reforçadores negativos porque permitem que a pessoa evite comportamentos ou pensamentos de sagradáveis A PERSONALIDADE DESADAPTADA Infelizmente as técnicas de controle social e autocontrole por vezes produzem efeitos nocivos o que resulta em com portamento inapropriado e no desenvolvimento de uma personalidade desadaptada Estratégias de combate Quando o controle social é excessivo as pessoas podem usar estratégias básicas para combatêlo elas podem fugir revoltarse ou usar a resistência passiva Skinner 1953 Com a estratégia defensiva de fuga as pessoas se afastam do agente controlador física ou psicologicamente Nesse caso encontram dificuldade em se envolverem em relações pessoais íntimas tendem a ser desconfiadas e pre ferem ter vidas solitárias sem envolvimento As pessoas que se revoltam contra os controles da so ciedade se comportam de modo mais ativo combatendo o agente controlador Elas podem se rebelar vandalizando a propriedade pública atormentando professores agredindo verbalmente outros indivíduos furtando equipamento dos patrões provocando a polícia ou derrubando organizações estabelecidas como religiões ou governos As pessoas que combatem o controle por meio da re sistência passiva são mais sutis do que as que se rebelam e mais irritantes para os controladores do que aquelas que A restrição física é um meio de controle social Feist16indd 320 Feist16indd 320 291014 0934 291014 0934 TEORIAS DA PERSONALIDADE 321 se baseiam na fuga Skinner 1953 acreditava que a resis tência passiva tem maior probabilidade de ser empregada quando a fuga e a revolta fracassaram A característica evi dente da resistência passiva é a obstinação Uma criança com a tarefa escolar para fazer encontra uma dúzia de des culpas por que a tarefa não pode ser terminada um empre gado retarda o progresso minando o trabalho dos outros Comportamentos inapropriados Os comportamentos inapropriados se seguem a técnicas autodestrutivas de combate ao controle social ou a tenta tivas malsucedidas de autocontrole especialmente quando esses fracassos são acompanhados de forte emoção Como a maioria dos comportamentos as respostas inapropriadas ou inadequadas são aprendidas Elas são moldadas por re forço positivo e negativo e principalmente pelos efeitos da punição Os comportamentos inapropriados incluem compor tamento excessivamente enérgico que não faz sentido em termos da situação contemporânea mas pode ser razoável em termos da história passada e comportamento contido em demasia que as pessoas usam como um meio de evitar os estímulos adversos associados à punição Outro tipo de comportamento inapropriado é bloquear a realidade sim plesmente não prestando atenção aos estímulos aversivos Uma quarta forma de comportamento indesejável re sulta do autoconhecimento distorcido a qual se manifesta por meio de respostas autoenganadoras como contar van tagem racionalizar ou alegar ser o Messias Esse padrão de comportamento é reforçado negativamente porque a pes soa evita a estimulação aversiva associada a pensamentos de inadequação Outro padrão de comportamento inapropriado é a autopunição exemplificada por pessoas que se castigam diretamente ou que organizam as variáveis ambientais de modo que possam ser punidas pelos outros PSICOTERAPIA Skinner 1978b acreditava que a psicoterapia é um dos principais obstáculos que bloqueiam a tentativa da psico logia de se tornar científica No entanto suas ideias sobre a modelagem do comportamento não só tiveram um impac to significativo na terapia comportamental como também se estenderam para uma descrição de como toda terapia funciona Independentemente da orientação teórica um tera peuta é um agente controlador Nem todos os agentes con troladores no entanto são nocivos e um paciente precisa aprender a discriminar entre figuras de autoridade puni tivas passadas e presentes e um terapeuta permissivo Enquanto os pais de um paciente são frios e rejeitadores o terapeuta é caloroso e receptivo enquanto os pais do paciente são críticos e julgadores o terapeuta é apoiador e empático A modelagem de qualquer comportamento leva tem po e o comportamento terapêutico não é exceção Um te rapeuta molda o comportamento desejável reforçando mu danças no comportamento que vão melhorando de forma sutil O terapeuta não comportamental pode afetar o com portamento de modo acidental ou inadvertido enquanto o terapeuta comportamental atenta de modo específico para essa técnica Skinner 1953 Os terapeutas tradicionais em geral explicam os com portamentos recorrendo a uma variedade de construtos fictícios como os mecanismos de defesa a luta pela su perioridade o inconsciente coletivo e as necessidades de autoatualização Skinner no entanto acreditava que es ses e outros construtos fictícios são comportamentos que podem ser explicados pelos princípios da aprendizagem Nenhum propósito terapêutico é servido pela postulação de ficções explanatórias e causas internas Segundo os fundamentos de Skinner se o comportamento for mol dado por causas internas então alguma força deve ser responsável pela causa interna As teorias tradicionais precisam em última análise explicar essa causa mas a te rapia comportamental meramente salta sobre ela e lida de modo direto com a história do organismo e é essa histó ria que afinal de contas é responsável por alguma causa interna hipotética Os terapeutas comportamentais desenvolveram uma variedade de técnicas ao longo dos anos a maioria baseada no condicionamento operante Skinner 1988 embora algumas sejam construídas em torno dos princípios do condicionamento clássico respondente Em geral esses terapeutas desempenham um papel ativo no processo de tratamento apontando as consequências positivas de certos comportamentos e os efeitos aversivos de outros e também sugerindo comportamentos que a longo prazo resultarão em reforço positivo PESQUISA RELACIONADA Em sua história inicial o condicionamento operante foi usado sobretudo em estudos com animais e depois res postas humanas simples porém mais recentemente as ideias de Skinner foram empregadas em inúmeros estu dos que lidam com comportamentos humanos complexos Alguns desses estudos se preocuparam com a relação en tre os padrões de comportamento de longo prazo i e a personalidade e as contingências de reforço Tais estudos costumam ser de dois tipos eles indagam como o condi cionamento afeta a personalidade e como a personalidade afeta o condicionamento Feist16indd 321 Feist16indd 321 291014 0934 291014 0934 322 FEIST FEIST ROBERTS Como o condicionamento afeta a personalidade No Capítulo 1 referimos que os elementoschave da per sonalidade são a estabilidade do comportamento ao longo do tempo e em diferentes situações Por esses critérios a mudança na personalidade ocorre quando novos compor tamentos se tornam estáveis ao longo do tempo eou em diferentes situações Um domínio em que a mudança na personalidade pode ser evidenciada é a psicoterapia De fato um objetivo principal da terapia é modificar o compor tamento e se as mudanças são estáveis ao longo do tempo e nas situações então podemos falar de mudança na perso nalidade Dizemos isso para deixar claro que embora Skin ner discutisse a mudança do comportamento a longo prazo ele nunca abordou de fato a alteração na personalidade Um suposto básico do condicionamento skinneria no é que o reforço molda o comportamento No entanto quais são os fatores que modificam o reforço isto é certos estímulos podem se tornar mais ou menos reforçadores para um indivíduo ao longo do tempo Essa é uma per gunta importante no tratamento de pessoas com abuso de substâncias porque o sucesso terapêutico requer que um reforçador a substância perca seu valor de reforço Para os fumantes por exemplo a nicotina gradualmente se torna um reforçador negativo conforme estados leves de tensão são removidos pelos efeitos dessa substância Certas evidências mostraram que estimulantes psico motores como cocaína ou danfetamina aumentam os níveis de tabagismo naqueles que fumam Existem duas explicações possíveis para o efeito primeiro talvez o esti mulante aumente de forma específica o efeito de reforço da nicotina segundo talvez os estimulantes psicomotores apenas aumentem os níveis de atividade em geral e fumar é uma delas Para testar essas duas explicações Jennifer Ti dey Suzane ONeill e Stephen Higgins 2000 conduziram um estudo com 13 fumantes e os submeteram a um ela borado procedimento de teste 12 sessões separadas de 5 horas em que eles recebiam um placebo ou danfetamina Depois de 90 minutos os fumantes tinham que escolher entre dois reforços diferentes dinheiro 025 ou fumar duas tragadas Se escolhessem o dinheiro a contagem total da quantia acumulada era mostrada na tela de um computador e os participantes recebiam aquela quantia no final da sessão de teste Se optassem pelo cigarro po diam dar duas tragadas imediatamente após expressarem o comportamento desejado Se o estimulante simplesmente aumentar os níveis de atividade geral não deve haver pre ferência sistemática por um reforçador em relação ao ou tro em comparação com as preferências da linha de base Além disso depois que a sessão experimental terminou foi permitido aos participantes um período em que poderiam fumar o quanto desejassem muito ou pouco sessão com fumo liberado No entanto os resultados mostraram que os níveis de tabagismo em ambas as sessões experimentais de escolha comparado com o dinheiro e fumo livre aumentaram em proporção à danfetamina Quanto mais alta a dose de d anfetamina mais os participantes fumavam E ainda mais importante o fumo era preferido ao dinheiro na sessão de escolha em proporção direta com a quantidade de d anfetamina administrada Portanto o estimulante deve aumentar o valor de reforço da nicotina especificamente e não o outro reforçador dinheiro Em resumo a resposta à pergunta sobre se os reforçadores podem alterar seu valor ao longo do tempo e em combinação com outros estímulos é sim e nesse caso a nicotina pode se tornar ainda mais reforçadora na presença de estimulantes psicomotores Como a personalidade afeta o condicionamento Se o condicionamento pode afetar a personalidade o in verso também é verdadeiro Ou seja a personalidade pode afetar o condicionamento Milhares de estudos com ani mais e humanos demonstraram a força que o condiciona mento tem de alterar o comportamentoa personalidade Com os humanos em particular no entanto está claro que diferentes pessoas respondem de modos distintos aos mesmos reforçadores e a personalidade pode fornecer um indício importante sobre por que isso ocorre Voltando à pesquisa sobre danfetamina e tabagismo por exemplo parece haver diferenças individuais sistemá ticas no efeito ou seja funciona para algumas pessoas mas não para outras Assim como no estudo anterior Sta cey Sigmon e colaboradores 2003 estudaram os efeitos que a danfetamina tem sobre o tabagismo usando dois reforçadores diferentes cigarros e dinheiro Além de ten tar replicar o achado de que os estimulantes psicomotores aumentam especificamente o valor de reforço da nicotina comparada com o dinheiro eles queriam examinar a exis tência de diferenças individuais no feito Se houvesse en tão quais seriam as explicações possíveis Os participantes eram fumantes adultos em média 20 cigarros por dia entre 18 e 45 anos de idade com uma idade média de 21 anos 78 eram euroamericanos e 61 eram do sexo feminino Para serem incluídos no estudo os participantes tinham que apresentar teste negativo para outras substâncias além da nicotina e não relatar proble mas psiquiátricos e as mulheres tinham que praticar uma forma aceitável para a saúde de controle de natalidade e apresentar teste negativo para gravidez Os participantes foram informados de que poderiam receber vários medica mentos incluindo placebos estimulantes e sedativos e que o propósito do estudo era investigar os efeitos de tais substâncias no humor no comportamento e na fisiologia Os participantes recebiam 435 se concluíssem as nove sessões Feist16indd 322 Feist16indd 322 291014 0934 291014 0934 TEORIAS DA PERSONALIDADE 323 O procedimento geral incluía nove sessões a primei ra das quais era uma sessão de 35 horas para familiarizar os participantes com os procedimentos e o equipamento não foram administradas substâncias na primeira sessão As sessões 2 até 9 duraram 5 horas cada e incluíram testes respiratórios para assegurar que eles não haviam fumado anteriormente As medidas da linha de base envolviam questionários e medidas fisiológicas présessão tais como frequência cardíaca temperatura corporal e pressão arte rial Além disso cada participante acendia um cigarro e dava pelo menos uma tragada para assegurar um tempo igual para todos desde a última exposição à nicotina O me dicamento experimental ou placebo era então adminis trado seguido por perguntas referentes ao humor e uma refeição leve para evitar náusea As perguntas relativas ao humor incluíam Você sente algum efeito bom Você se sente alto Você se sente nervoso e assim por dian te Usando um procedimento duplocego os participantes receberam placebo ou danfetamina O participante en tão completava um teste de múltipla escolha que opunha dinheiro a fumar para avaliar os níveis básicos do valor monetário de fumar Por exemplo o participante recebia uma série de 45 escolhas hipotéticas entre fumar e uma quantidade progressiva de dinheiro O ponto em que o par ticipante parava de escolher fumar e selecionava o dinheiro era referido como ponto de intersecção e era considerado um índice de eficácia do reforço da substância A seguir começava uma sessão de reforço positivo RP de 3 horas O RP envolve o aumento do número de respostas que são necessárias antes do reforço Nesse caso os parti cipantes tinham que executar uma tarefa motora repetitiva por um número n de vezes começando com 160 e indo até 8400 vezes para ganhar duas tragadas de um cigarro ou 1 Qual reforçador escolhiam dependia deles A ideia por trás da natureza progressiva do procedimento de reforço era ver quanto tempo levava para que uma pessoa parasse de res ponder desistir de tentar obter um cigarro ou dinheiro Esse ponto de parada é considerado a força do reforçador Se o ponto de parada dos participantes aumentasse mais na condição com a substância do que na linha de base eles eram considerados respondentes à substância senão eram considerados não respondentes Como no estudo de Tidey e colaboradores a última sessão permitia que os participantes fumassem livremente o quanto quisessem pouco ou muito O resultado geral foi que houve um pequeno efeito da danfetamina no aumento do tabagismo Entretanto hou ve diferenças individuais significativas e quando se exami navam os efeitos para os respondentes comparados com os não respondentes o efeito era claro Os pontos de para da do fumo para os 10 respondentes foram cada vez mais altos com dosagens aumentadas de danfetamina e os pontos de parada do dinheiro foram cada vez mais baixos Em outras palavras os respondentes estavam dispostos a trabalhar mais para obter cigarros com quantidades cres centes de danfetamina Mas esse padrão de resultados não se manteve para os oito não respondentes a danfetamina não tinha efeito real sobre seu comportamento de fumar cigarros As possíveis razões para tal efeito foram vistas nas classificações subjetivas dos efeitos da substância os respondentes referiram que se sentiram altos e sono lentos e que a substância tinha bons efeitos Nas medidas objetivas efeitos fisiológicos no entanto não houve dife rença entre os dois grupos Ainda que esse estudo não tenha apresentado evidên cias diretas outras pesquisas fornecem uma explicação plausível para as diferenças individuais constatadas na dan fetamina ela resulta em diferenças individuais em sensibili dade ao neurotransmissor dopamina o qual está associado a maior bemestar e humor positivo Em outras palavras os respondentes têm maior probabilidade de serem afetados pelo estimulante porque sua sensibilidade à dopamina é maior Uma vez que a personalidade tem uma base biológica ver Caps 14 e 15 ela pode afetar a sensibilidade ao condi cionamento Na verdade muitos pesquisadores consideram a dopamina como um sistema de reforço positivo Mais evidências de que os estados do temperamento e biológicos afetam a sensibilidade da resposta ao condi cionamento provêm de Jeffrey Gray e Alan Pickering e sua teoria da sensibilidade ao reforço RST reinforcement sensi tivity theory Pickering Gray 1999 Esses dois pesquisa dores conduziram dezenas de estudos testando sua teoria e embora os resultados sejam em geral complexos tendem a apoiar a RST Contudo a associação entre sensibilidades ao reforço e outras dimensões da personalidade e sua interação apenas recentemente começou a ser explorada Philip Corr 2002 por exemplo conduziu um dos primeiros estudos a exami nar as diferenças na ansiedade e na impulsividade e sua as sociação com as sensibilidades à resposta A sensibilidade ao reforço prediz que os indivíduos introvertidos assim como os altamente ansiosos devem ser mais sensíveis à punição devido à forte necessidade de evitar estados aversivos As sim como os extrovertidos os indivíduos altamente impul sivos devem ser mais sensíveis à recompensa devido à forte necessidade de experimentar estados positivos Além disso na formulação original da teoria as dimensões da persona lidade devem operar completamente de modo independen te enquanto na reformulação de Corr elas podem operar de forma conjunta e interdependente Para testar a hipó tese reformulada da influência conjunta Corr previu que a impulsividade deveria interagir com a ansiedade de modo que pessoas ansiosas mas impulsivas deveriam responder menos a um estímulo assustador quando vissem imagens negativas slides de corpos mutilados do que os indivíduos ansiosos mas não impulsivos Por contraste a formulação da RST anteciparia apenas que as pessoas ansiosas seriam mais responsivas ao sobressalto durante um estado de hu mor negativo e que a impulsividade não teria efeito algum Feist16indd 323 Feist16indd 323 291014 0934 291014 0934 324 FEIST FEIST ROBERTS Os resultados corroboraram a hipótese do subsistema conjunto e refutaram a hipótese do subsistema separado Ou seja os participantes que eram altamente ansiosos mas tam bém impulsivos demonstraram uma resposta de sobressalto mais baixa sobretudo quando viam imagens negativas com parados aos participantes que eram altamente ansiosos mas não impulsivos Em outras palavras para os participantes muito ansiosos a impulsividade atua como um amortecedor para a responsividade a imagens negativas A questão global no entanto ainda permanece as pessoas não respondem aos reforçadores da mesma maneira e a personalidade é um dos mecanismoschave que modera seu efeito Corr e colaboradores ampliaram essa pesquisa em um esforço para compreender o lado mais sombrio da persona lidade aplicando a RST revisada à emergência da psicopatia Hughes Moore Morris Corr 2012 Os indivíduos psi copatas são caracterizados por extremo egocentrismo au sência de remorso impulsividade e relacionado a um capí tulo sobre Skinner uma capacidade prejudicada de aprender com as consequências negativas A maioria dos estudos de psicopatia examina as populações clínicas ou aprisionadas mas esse pesquisou 192 universitários no Reino Unido para fornecer informações importantes sobre como a personali dade não perturbada pode evoluir para patologia Corr e colaboradores avaliaram estudantes com as escalas Sistema de Inibição ComportamentalEscala de Ativação Comportamental BISBAS Behavioral Inhibition SystemBehavioral Activation System Scales Carver White 1994 bem como a Escala de Autorrelato de Psicopatia de Levenson LSRP Levenson SelfReport Psychopathy Scale Levenson Kiehl Fitzpatrick 1995 que mede as atitudes e as crenças disposicionais que presumidamente subjazem à psicopatia como a ausência de remorso ou uma tendência a mentir Os resultados foram coerentes com o modelo neu ropsicológico de Corr 2010 o qual propõe um sistema de inibição comportamental BIS hipoativo nas pessoas psico páticas que em geral não antecipa ou responde a eventos potencialmente punitivos Isto é aqueles que tiveram esco re mais elevado na LSRP também tendiam a exibir escores baixos no BIS A ideia aqui é que os psicopatas apresentam déficits em sua capacidade de detectar conflito de objetivos e assim aprender com experiências aversivas Mais pesquisas são necessárias para refinar nossa compreensão da relação entre personalidade e condiciona mento mas todo esse trabalho proporciona uma visão fas cinante de como a personalidade sadia e a psicopatológica são moldadas pela ansiedade disposicional pela impulsivi dade e pela capacidade de resolver conflitos de objetivos e de aprender com as experiências aversivas O reforço e o cérebro Recentemente pesquisadores deram um passo adiante na pesquisa da sensibilidade à reação analisando diferenças individuais na ativação cerebral em consequência da expo sição a estímulos de recompensa como comida Beaver et al 2006 A ativação cerebral pode ser estudada de diferen tes maneiras mas os pesquisadores nesse estudo usaram a tecnologia de imagem de ressonância magnética funcional IRMf a qual está baseada na mesma tecnologia que o mé dico usa quando solicita uma imagem de ressonância mag nética IRM do seu corpo para diagnosticar um problema de saúde Em essência a tecnologia da IRM tanto IRMf quanto IRM convencional detecta o fluxo de oxigênio no interior do cérebro O oxigênio transportado pelo sangue é necessário para todas as atividades cerebrais e quanto mais oxigênio houver em uma área particular mais ativi dade existe lá John Beaver e colaboradores 2006 usaram a IRMf para examinar quais partes do cérebro eram ativa das quando os participantes olhavam para vários estímu los relacionados a comida e se havia diferenças individuais na personalidade que prediziam essa ativação cerebral Os estímulos com comida eram ideais para esse experimento porque algumas comidas são muito gratificantes como sorvete e bolo enquanto outras não são tão gratificantes como arroz e batatas Para conduzir seu experimento John Beaver e cola boradores 2006 primeiramente fizeram os participantes completarem a Escala de Ativação Comportamental BAS a qual é uma medida de autorrelato que capta a tendência geral de perseguir recompensas de modo ativo Para se ter uma ideia do que a BAS mede pense em como você respon deria ao seguinte item Saio de meu caminho para obter as coisas que desejo Carver White 1994 Alguém que tenha uma alta tendência a perseguir ativamente as recom pensas responderia de forma muito positiva a esse item Após completar a BAS os participantes eram colocados em um scanner de IRM que foi especialmente equipado para tal experimento De forma mais específica o scanner foi adap tado com um monitor que permitia aos pesquisadores apre sentar imagens a cada participante enquanto um técnico de modo simultâneo verificava as zonas ativadas do cérebro do participante Várias imagens eram apresentadas aos par ticipantes enquanto estavam no scanner porém para fins desta discussão você pode pensar nelas como situadas em duas categorias 1 prazerosas bolo de chocolate e sundaes e 2 sem interesse arroz e batatas cruas Os pesquisadores conseguiram determinar qual área do cérebro era ativada durante a apresentação das figuras prazerosas versus sem interesse e o que é mais importante se as diferenças indivi duais quanto à ativação de comportamentos informada na escala de autorrelato estavam relacionadas a essa ativação Os pesquisadores constataram que as pessoas com es cores mais altos na variável de personalidade da ativação do comportamento experimentavam maior ativação diante das imagens de bolo e sorvete em cinco áreas específicas do cérebro corpo estriado ventral direito e esquerdo amígdala esquerda substância negra e córtex orbitofrontal esquerdo Feist16indd 324 Feist16indd 324 291014 0934 291014 0934 TEORIAS DA PERSONALIDADE 325 do que suas contrapartes com baixa ativação do compor tamento Em outras palavras os resultados corroboraram a conclusão mais geral de que a personalidade está relacio nada a diferenças nos processos biológicos de como res pondemos à recompensa Nesse estágio inicial da pesquisa da ativação cerebral é difícil saber o que significa ativação aumentada porém uma hipótese é que a ativação aumenta da experimentada por alguns indivíduos torna mais difícil para eles dizerem não a estímulos atraentes Se essa hipó tese se revelar correta em pesquisas futuras isso significa que as variáveis de personalidade e as diferenças individuais na ativação cerebral desempenham um papel importante em questões de saúde como a obesidade e sugerem formas como os terapeutas podem usar as recompensas para tratá las De modo mais geral isso também significa que esta remos mais próximos de compreender por que e o que as pessoas consideram gratificante e reforçador CRÍTICAS A SKINNER Certa vez o psicólogo independente Hans J Eysenck 1988 criticou Skinner por ignorar conceitos como dife renças individuais inteligência fatores genéticos e todo o domínio da personalidade Essas alegações são apenas parcialmente verdadeiras porque Skinner reconhecia os fatores genéticos e apresentou uma definição pouco entu siástica da personalidade dizendo que é na melhor das hipóteses um repertório de comportamento partilhado por um conjunto organizado de contingências Skinner 1974 p 149 Ainda que as opiniões de Eysenck sejam in teressantes elas não apresentam uma crítica cuidadosa ao trabalho de Skinner Como a teoria de Skinner satisfaz os seis critérios de uma teoria útil Primeiro como a teoria gerou uma grande quantidade de pesquisa ela é classificada como muito alta na capacidade de gerar pesquisa Segundo a maioria das ideias de Skinner pode ser refutada ou verificada portanto classificamos a teoria como alta em refutabilidade Terceiro em sua habilidade para organizar tudo o que é conhecido acerca da personalidade humana damos à teoria apenas uma classificação moderada A abordagem de Skin ner foi descrever o comportamento e as contingências am bientais sob as quais ele ocorre Seu propósito era reunir esses fatos descritivos e generalizar a partir deles Muitos traços de personalidade como os do modelo dos cinco fa tores podem ser explicados pelos princípios do condicio namento operante Entretanto outros conceitos como insight criatividade motivação inspiração e autoeficácia não se encaixam facilmente na estrutura do condiciona mento operante Quarto como um guia para a ação classificamos a teo ria de Skinner como muito alta A abundância de pesqui sas descritivas produzidas por Skinner e seus seguidores tornou o condicionamento operante um procedimento ex tremamente prático Por exemplo as técnicas skinnerianas têm sido usadas para ajudar pacientes fóbicos a superarem seus medos para melhorar a adesão a recomendações mé dicas para ajudar as pessoas a superarem adições ao tabaco e a outras substâncias para melhorar hábitos alimentares e aumentar a assertividade De fato a teoria skinneriana pode ser aplicada a quase todas as áreas de treinamento ensino e psicoterapia O quinto critério de uma teoria útil é a coerência inter na e julgada segundo esse padrão classificamos a teoria skinneriana como muito alta Skinner definiu seus termos de modo preciso e operacional um processo auxiliado em grande escala pela esquiva de conceitos mentais ficcionais A teoria é parcimoniosa Segundo esse critério final a teoria de Skinner é difícil de classificar Por um lado a teo ria é livre de construtos hipotéticos complicados mas por outro demanda uma nova manifestação das expressões do dia a dia Por exemplo em vez de dizer Fiquei tão bra va com meu marido que joguei um prato nele mas errei seria preciso dizer As contingências de reforço dentro de meu ambiente foram organizadas de tal maneira que ob servei meu organismo jogando um prato contra a parede da cozinha CONCEITO DE HUMANIDADE Sem dúvida B F Skinner apresentava uma visão determinista da natureza humana e conceitos como livrearbítrio e escolha individual não tinham lugar em sua análise do comportamento As pessoas não são livres mas controladas por forças ambien tais Elas podem parecer motivadas por causas internas mas na realidade essas causas podem ser rastreadas até fontes externas ao indivíduo O autocontrole depende em última análise de variáveis ambientais e não de alguma força interna Quando as pessoas controlam as próprias vidas elas fazem isso manipulan do o ambiente o qual por sua vez molda seu comportamento Tal abordagem ambiental nega construtos hipotéticos como for ça de vontade ou responsabilidade O comportamento humano é extremamente complexo mas as pessoas se comportam se gundo as mesmas leis que as máquinas e os animais A noção de que o comportamento humano é determina do por completo é bastante problemática para muitas pessoas Feist16indd 325 Feist16indd 325 291014 0934 291014 0934 326 FEIST FEIST ROBERTS que consideram observar todos os dias vários exemplos de livrearbítrio em si mesmas e nos outros O que explica essa ilusão de liberdade Skinner 1971 afirmava que liberdade e dignidade são conceitos reforçadores porque as pessoas en contram satisfação na crença de que são livres para escolher e também na fé na dignidade básica dos seres humanos Como esses conceitos fictícios são reforçadores em muitas socieda des modernas as pessoas tendem a se comportar de formas que aumentam a probabilidade de que esses construtos se jam perpetuados Quando liberdade e dignidade perderem seu valor de reforço as pessoas irão parar de se comportar como se esses conceitos existissem Antes de Louis Pasteur muitas pessoas pensavam que as larvas eram geradas de forma espontânea nos corpos dos animais mortos Skinner 1974 usou essa observação para fazer uma analogia com o comportamento humano apon tando que a geração espontânea do comportamento não é uma realidade mais do que a geração espontânea das larvas O comportamento acidental ou aleatório pode parecer livre mente escolhido mas ele é na verdade produto de condições ambientais e genéticas acidentais ou aleatórias As pessoas não são autônomas porém a ilusão de autonomia persiste devido ao conhecimento incompleto da história de um indiví duo Quando as pessoas não conseguem compreender o com portamento elas o atribuem a algum conceito interno como livrearbítrio crenças intenções valores ou motivos Skinner acreditava que as pessoas são capazes de refletir sobre a pró pria natureza e que esse comportamento reflexivo pode ser observado e estudado como qualquer outro O conceito de humanidade de Skinner é otimista ou pes simista A princípio pode parecer que uma postura determi nista seja necessariamente pessimista Entretanto a visão de Skinner da natureza humana é altamente otimista Como o comportamento humano é moldado pelos princípios do refor ço a espécie é bastante adaptável De todos os comportamen tos os mais satisfatórios tendem a aumentar a frequência de ocorrência As pessoas portanto aprendem a viver harmonio samente com seu ambiente A evolução das espécies se dá na direção de um maior controle sobre as variáveis ambientais o que resulta em um repertório crescente de comportamentos que vão além daqueles essenciais para a mera sobrevivência Entretanto Skinner 1987a também se preocupava que as práticas culturais modernas ainda não tinham evoluído até o ponto em que a guerra nuclear a superpopulação e o esgo tamento dos recursos naturais pudessem ser interrompidos Nesse sentido ele era mais realista do que otimista Ainda assim Skinner forneceu um modelo para uma so ciedade utópica Walden II Skinner 1948 1976b Se suas re comendações fossem seguidas as pessoas poderiam aprender a organizar as variáveis em seus ambientes de modo que a probabilidade das soluções corretas ou satisfatórias seria au mentada A humanidade é basicamente boa ou má Skinner an siava por uma sociedade idealista em que os indivíduos se comportassem de forma amável sensível democrática inde pendente e boa porém as pessoas não são por natureza des sa maneira Mas elas também não são essencialmente más Dentro dos limites definidos pela hereditariedade as pessoas são flexíveis em sua adaptação ao ambiente porém nenhuma avaliação de bom ou mau deve ser colocada sobre o compor tamento individual Se uma pessoa se comporta de forma al truísta para o bem dos outros é porque esse comportamento seja na história evolutiva da espécie seja na história pessoal do indivíduo já foi reforçado antes Se o indivíduo age com covardia é porque as recompensas para a covardia superam as variáveis aversivas Skinner 1978 Na dimensão causalidade versus teleologia a teoria da personalidade de Skinner é muito alta em causalidade O comportamento é causado pelo histórico de reforço da pessoa bem como pelas contingências para sobrevivência da espécie e pela evolução das culturas Ainda que as pessoas se comportem de forma velada dentro da pele quando pensam sobre o futuro todos esses pensamentos são determinados por experiências passadas Skinner 1990b O complexo de contingências ambientais responsáveis por tais pensamentos assim como por todos os demais com portamentos está além da consciência das pessoas Elas rara mente têm conhecimento da relação entre todas as variáveis genéticas e ambientais e seu comportamento Por essa razão classificamos Skinner como muito alto na dimensão incons ciente da personalidade Mesmo acreditando que a genética desempenha um pa pel importante no desenvolvimento da personalidade Skin ner sustentava que a personalidade humana é moldada em grande parte pelo ambiente Porque uma parte importante desse ambiente é outra pessoa o conceito de humanidade de Skinner se inclina mais para os determinantes sociais do que biológicos do comportamento Como espécie os humanos se desenvolveram até sua forma atual em decorrência de fatores ambientais particulares que eles encontraram O clima a geo grafia e a força física em relação a outros animais ajudaram a moldar a espécie humana Mas o ambiente social incluindo estrutura familiar experiências precoces com os pais sistemas educacionais organização governamental entre outros de sempenhou um papel ainda mais importante no desenvolvi mento da personalidade Skinner esperava que as pessoas fossem confiáveis com preensivas afetivas e empáticas características que seu ad versário amistoso Carl Rogers ver Cap 10 acreditava estarem na essência da personalidade psicologicamente sadia Em con traste com Rogers que defendia que esses comportamentos positivos são pelo menos em parte resultado da capacidade humana de ser autodirecionada Skinner sustentava que eles estão completamente sob o controle das variáveis ambientais Feist16indd 326 Feist16indd 326 291014 0934 291014 0934 TEORIAS DA PERSONALIDADE 327 Termoschave e conceitos A teoria da personalidade de Skinner está baseada principalmente na análise do comportamento de ratos e pombos Mesmo havendo estados internos como pensamen to e sentimento eles não podem ser usados como explicações do comportamento somente o compor tamento explícito pode ser estudado pelo cientista O comportamento humano é moldado por três for ças 1 o histórico de reforço pessoal do indivíduo 2 a seleção natural e 3 a evolução das práticas culturais Condicionamento operante é um processo de mudança do comportamento em que o reforço ou punição é contingente à ocorrência de um comportamento particular Um reforçador positivo é um evento que quando acrescido a uma situação aumenta a probabilidade de ocorrer determinado comportamento Um reforçador negativo é um estímulo adverso que quando removido do ambiente aumenta a probabi lidade de ocorrer determinado comportamento Skinner também identificou dois tipos de punição O primeiro é a apresentação de um estímulo aversi vo e o segundo envolve a remoção de um estímulo positivo O reforço pode ser contínuo ou intermitente mas os esquemas intermitentes são mais eficientes Os quatro principais esquemas de reforço intermi tente são razão fixa razão variável intervalo fixo e intervalo variável O controle social é alcançado por meio de 1 condi cionamento operante 2 descrição das contingên cias de reforço 3 privação ou saciedade ou 4 res trição física do indivíduo As pessoas também podem controlar o próprio com portamento por meio do autocontrole mas todo con trole em última análise reside no ambiente e não no livrearbítrio Os comportamentos desadaptados são aprendidos da mesma forma que todos os demais comportamen tos ou seja principalmente pelo condicionamento operante Para modificar comportamentos desadaptados os terapeutas comportamentais usam uma variedade de técnicas de modificação do comportamento todas baseadas nos princípios do condicionamento ope rante Os humanos não são bons por natureza mas eles podem se tornar se forem expostos às contingências de reforço apropria das Apesar de sua visão da pessoa ideal ser semelhante à de Rogers e de Abraham H Maslow ver Cap 9 Skinner acredi tava que os meios para se tornar autônomo afetuoso e auto atualizado não devem ser deixados ao acaso mas devem ser concebidos de forma específica dentro da sociedade A história de uma pessoa determina o comportamento e como cada humano tem uma história singular de contingên cias de reforço o comportamento e a personalidade são rela tivamente singulares As diferenças genéticas também justifi cam a singularidade entre as pessoas As diferenças biológicas e históricas moldam indivíduos únicos e Skinner enfatizava a singularidade das pessoas mais do que suas semelhanças Feist16indd 327 Feist16indd 327 291014 0934 291014 0934 CAPÍTULO 17 Bandura Teoria Social Cognitiva Panorama da teoria social cognitiva Biografia de Albert Bandura Aprendizagem Aprendizagem por observação Aprendizagem enativa Causação recíproca triádica Um exemplo de causação reciproca triádica Encontros casuais e eventos fortuitos Agência humana Características fundamentais da agência humana Autoeficácia Agência por procuração Eficácia coletiva Autorregulação Fatores externos na autorregulação Fatores internos na autorregulação Autorregulação por meio da agência moral Comportamento desadaptado Depressão Fobias Agressividade Terapia Pesquisa relacionada Autoeficácia e terrorismo Autoeficácia e diabetes A teoria social cognitiva se torna global Críticas a Bandura Conceito de humanidade Termoschave e conceitos Bandura Feist17indd 328 Feist17indd 328 291014 0935 291014 0935 TEORIAS DA PERSONALIDADE 329 A s pessoas com frequência têm sua trajetória de vida alterada por encontros inesperados ou por acontecimentos não planejados Esses encontros casuais e eventos fortuitos muitas vezes determinam com quem as pessoas se casam que carreira seguem onde mo ram e como vivem Muitos anos atrás um jovem estudante de pósgra duação chamado Al teve um encontro casual que alterou o curso de sua vida Em um domingo Al que geralmente era um estudante consciencioso sentiuse entediado com uma tarefa de leitura desinteressante e decidiu que uma partida de golfe seria preferível a enfrentar o trabalho escolar Al se encontrou com um amigo e os dois jovens foram até o campo de golfe No entanto eles chegaram muito tarde para o tempo final de jogo e então foram para um buraco mais adiantado Por acaso esses dois rapazes se encontra vam jogando atrás de duas garotas de jogo muito lento Em vez de continuar jogando os dois homens se juntaram às duas mulheres e os dois se tornaram quatro Assim um trabalho de leitura enfadonha e um tempo de jogo atrasado reuniu duas pessoas que de outra forma nunca teriam se encontrado Por essa série de eventos casuais Albert Ban dura e Ginny Virginia Varns se conheceram em uma ar madilha de areia de um campo de golfe Eles acabaram se casando e tiveram duas filhas Mary e Carol que como a maioria de nós foram fruto de um encontro casual Os encontros casuais e os eventos fortuitos foram ignorados em grande parte pela maioria dos teóricos da personalidade muito embora muitos de nós reconheçam ter tido experiências não planejadas que modificaram de forma significativa nossas vidas PANORAMA DA TEORIA SOCIAL COGNITIVA A teoria social cognitiva de Albert Bandura leva a sério os encontros casuais e os eventos fortuitos muito embora reconheça que tais encontros e eventos não alteram inva riavelmente a trajetória da vida de alguém A forma como reagimos a um encontro ou evento inesperado costuma ser mais poderosa do que o evento em si A teoria social cognitiva se apoia em vários pressupos tos básicos Primeiro a característica excepcional dos hu manos é a plasticidade ou seja eles têm a flexibilidade para aprender uma variedade de comportamentos em diversas situações Bandura concorda com Skinner Cap 16 que as pessoas podem aprender e aprendem pela experiência direta ainda que dê muito mais ênfase à aprendizagem vicariante ou seja aprender pela observação dos outros Bandura também enfatiza a ideia de que o reforço pode ser vicariante as pessoas podem ser reforçadas observando outro indivíduo receber uma recompensa Esse reforço in direto explica boa parte da aprendizagem humana Segundo por meio de um modelo de causação recíproca triádica que inclui fatores comportamentais ambientais e pessoais as pessoas têm a capacidade de regular suas vi das Os humanos podem transformar eventos transitórios em formas relativamente habituais de avaliar e regular seu ambiente social e cultural Sem essa capacidade as pessoas meramente reagiriam às experiências sensoriais e não te riam a capacidade de antecipar eventos criar ideias novas ou usar padrões internos para avaliar experiências atuais Duas forças ambientais importantes no modelo triádico são os encontros casuais e os eventos fortuitos Terceiro a teoria social cognitiva assume uma perspec tiva de agência ou seja os humanos têm a capacidade de exercer controle sobre a natureza e sobre a qualidade de suas vidas As pessoas são tanto as produtoras quanto os produtos dos sistemas sociais Um componente importan te do modelo de causação recíproca triádica é a autoeficácia O desempenho tende a ser melhorado quando há autoeficá cia ou seja a confiança de que as pessoas podem executar aqueles comportamentos que produzirão comportamentos desejados em uma situação particular Além da autoeficá cia a agência por procuração e a eficácia coletiva podem predizer o desempenho Com a agência procuração as pes soas podem depender de outros para bens e serviços en quanto eficácia coletiva referese às crenças compartilhadas dos indivíduos de que são capazes de promover mudança Quarto as pessoas regulam sua conduta por meio de fatores externos e internos Os fatores externos incluem o ambiente físico e social e os fatores internos a autoobser vação o processo de julgamento e a autorreação Quinto quando as pessoas se encontram em situa ções moralmente ambíguas em geral tentam regular seu comportamento por meio da agência moral a qual inclui redefinir o comportamento desconsiderar ou distorcer as consequências do comportamento desumanizar ou acusar as vítimas do comportamento e deslocar ou pulverizar a responsabilidades por suas ações BIOGRAFIA DE ALBERT BANDURA Albert Bandura nasceu em 4 de dezembro de 1925 em Mundare uma pequena cidade nas planícies do norte de Alberta Ele cresceu como o único menino em uma família de cinco irmãs mais velhas Ambos os pais emigraram de países do Leste Europeu quando ainda eram adolescentes seu pai da Polônia e sua mãe da Ucrânia Bandura foi enco rajado por suas irmãs a ser independente e autoconfiante Ele também aprendeu a se autodirecionar na pequena es cola da cidade que tinha poucos professores e recursos es cassos No ensino médio ele tinha apenas dois instrutores para ensinar todo o currículo Nesse ambiente a aprendi zagem era deixada para a iniciativa dos alunos uma situa ção que se adequava bem a um estudante brilhante como Feist17indd 329 Feist17indd 329 291014 0935 291014 0935 330 FEIST FEIST ROBERTS Bandura Outros alunos também pareciam desabrochar sob essa atmosfera praticamente todos os colegas de aula de Bandura frequentaram a universidade uma situação muito incomum no início da década de 1940 Depois de se formar no ensino médio Bandura pas sou um verão em Yukon trabalhando na rodovia do Alasca Essa experiência o colocou em contato com uma variedade de trabalhadores muitos dos quais estavam fugindo dos credores de pensão alimentícia ou do serviço militar Além disso diversos companheiros de trabalho manifestavam vários graus de psicopatologia Ainda que suas observações desses trabalhadores tenham acendido nele um interesse pela psicologia clínica ele só decidiu se tornar psicólogo depois de ter se matriculado na Universidade de British Columbia em Vancouver Bandura disse a Richard Evans Evans 1989 que sua decisão de se tornar psicólogo foi acidental isto é foi resul tado de um evento fortuito Na faculdade Bandura viaja va até a escola com alunos de medicina e engenharia que eram madrugadores Em vez de não fazer nada durante o primeiro horário Bandura decidiu se inscrever em uma turma de psicologia oferecida naquele período de tempo Ele achou a aula fascinante e acabou decidindo focar a psicologia Posteriormente Bandura veio a considerar os eventos fortuitos como o fato de ir para a escola com estu dantes que eram madrugadores como influências impor tantes na vida das pessoas Depois de se formar na British Columbia em apenas três anos Bandura procurou um programa de pósgradua ção em psicologia clínica que tivesse uma base forte na teoria da aprendizagem Seu conselheiro recomendou a Universidade de Iowa e então Bandura deixou o Cana dá e foi para os Estados Unidos Ele concluiu o mestrado em 1951 e o doutorado em psicologia clínica no ano se guinte Então passou um ano em Wichita fazendo uma residência pósdoutorado no Wichita Guidance Center Em 1953 associouse ao corpo docente da Universidade Stanford onde permaneceu exceto por um ano como membro do Centro para Estudos Avançados em Ciências Comportamentais A maior parte das publicações iniciais de Bandura foi em psicologia clínica abordando principalmente psicote rapia e o teste de Rorschach Então em 1958 ele colaborou com Richard H Walters seu primeiro aluno de doutorado para publicar um trabalho sobre delinquentes agressivos No ano seguinte publicou seu livro Agressividade adoles cente Adolescent Aggression 1959 Desde então Bandura continuou a escrever sobre uma ampla variedade de temas muitas vezes em colaboração com seus alunos da pósgra duação Seus livros mais influentes são Teoria da aprendi zagem social Social Learning Theory 1977 Fundamentos sociais do pensamento e da ação Social Foundations of Thou ght and Action 1986 e Autoeficácia o exercício do controle Selfefficacy the exercise of control 1997 Bandura ocupou mais de uma dezena de cargos em prestigiosas sociedades científicas incluindo presidente da American Psychological Association APA em 1974 presidente da Western Psychological Association em 1980 e presidente honorário da Canadian Psychological Associa tion em 1999 Além disso recebeu mais de uma dúzia de títulos honorários de universidades renomadas por todo o mundo Outras honrarias e prêmios incluem o Guggehheim Fellowship em 1972 o Distinguished Scientific Contribu tion Award da Divisão 12 Clínica da APA no mesmo ano o Distinguished Scientific Contribution Award da APA em 1980 e o Distinguished Scientist Award da Society of Beha vior Medicine Ele foi eleito membro da American Acade my of Arts and Sciences em 1980 Além disso recebeu o Distinguished Contribution Award da International Society for Research on Aggression o William James Award of the American Psychological Science por realizações excepcio nais na ciência psicológica o Robert Thorndike Award for Distinguished Contribution of Psychology to Education da APA e o James McKeen Cattell Fellow Award da American Psychological Society Também foi eleito para a American Academy of Arts and Sciences e para o Institute of Medi cine da National Academy of Sciences Iniciando em 2004 a American Psychology Society em parceria com a Psy Chi The National Honor Society in Psychology passou a pre miar um aluno excepcional de pósgraduação em psicologia com o Albert Bandura Graduate Research Award Bandura atualmente detém a cátedra David Starr Jordan de Ciência Social em Psicologia na Universidade Stanford APRENDIZAGEM Um dos primeiros e mais básicos pressupostos da teoria social cognitiva de Bandura é que os humanos são muito flexíveis e capazes de aprender inúmeras atitudes habilida des e comportamentos e que boa parte dessas aprendiza gens são resultado de experiências vicariantes Ainda que as pessoas possam aprender e aprendam com a experiência direta muito do que elas aprendem é adquirido por meio da observação dos outros Bandura 19986 afirmou que se o conhecimento só pudesse ser adquirido por meio dos efeitos das próprias ações o processo do desenvolvimento cognitivo e social seria enormemente retardado para não dizer excessivamente entediante p 47 Aprendizagem por observação Conforme Bandura a observação permite que as pessoas aprendam sem realizar qualquer comportamento As pes soas observam fenômenos naturais plantas animais ca choeiras o movimento da lua e das estrelas e assim por diante mas especialmente importante para a teoria so cial cognitiva é o pressuposto de que elas aprendem pela observação do comportamento de outras pessoas A esse Feist17indd 330 Feist17indd 330 291014 0935 291014 0935 TEORIAS DA PERSONALIDADE 331 respeito Bandura difere de Skinner para quem o compor tamento enativo é o dado básico da ciência psicológica Ele também discorda de Skinner por acreditar que o reforço não é essencial para a aprendizagem Ainda que o refor ço facilite a aprendizagem Bandura afirma que ele não é uma condição necessária As pessoas podem aprender por exemplo observando modelos sendo reforçados Para Bandura 1986 2003 a aprendizagem por obser vação é muito mais eficiente do que a aprendizagem pela experiência direta Observando outras pessoas os humanos poupam incontáveis respostas que poderiam ser seguidas por punição ou por nenhum reforço As crianças observam as personagens na televisão por exemplo repetem o que ou vem ou veem elas não precisam executar comportamentos aleatórios esperando que algum deles seja recompensado Modelagem A essência da aprendizagem por observação é a modelagem Aprender por modelagem envolve somar e subtrair a partir do comportamento observado e generalizar de uma observa ção para outra Em outras palavras modelagem envolve pro cessos cognitivos e não simplesmente mimetismo ou imita ção É mais do que combinar as ações de outra pessoa implica representar simbolicamente as informações e armazenálas para uso em um momento futuro Bandura 1986 1994 Vários fatores determinam se uma pessoa irá aprender com um modelo em uma situação particular Primeiro as características do modelo são importantes As pessoas têm maior probabilidade de usar como modelo indivíduos de alto status do que aqueles de baixo status competentes em vez de sem habilidades ou incompetentes e poderosos em vez de impotentes Segundo as características do observador afetam a probabilidade da modelagem As pessoas que não pos suem status habilidade ou poder têm maior probabilidade de modelar As crianças modelam mais do que as pessoas mais velhas e os novatos têm mais probabilidade de mode lar do que os experts Terceiro as consequências do comportamento a ser modelado podem ter um efeito no observador Quanto maior o valor que um observador atribui a determinado comportamento mais provavelmente ele irá adquirir tal comportamento Além disso a aprendizagem pode ser facilitada quando o observador vê um modelo recebendo punição severa por exemplo ver outra pessoa receber um choque forte ao tocar em um fio elétrico ensina ao observa dor uma lição valiosa Processos que governam a aprendizagem por observação Bandura 1986 reconhece quatro processos que governam a aprendizagem por observação atenção representação produção do comportamento e motivação Atenção Antes que possamos modelar outra pessoa pre cisamos prestar atenção nela Que fatores regulam a aten ção Primeiro como temos mais oportunidades de obser var indivíduos com quem frequentemente nos associamos temos mais probabilidade de prestar atenção nessas pes soas Segundo modelos atraentes têm maior probabilidade de serem observados dos que os não tão atraentes figuras populares na televisão em esportes ou em filmes tendem a ser observadas de modo atento Além disso a natureza do comportamento a ser moldado afeta nossa atenção obser vamos o comportamento que consideramos importante ou valioso para nós Representação Para que a observação conduza a novos padrões de resposta esses padrões devem ser simbolica mente representados na memória A representação simbó lica não precisa ser verbal porque algumas observações são retidas em imagens e podem ser evocadas na ausência do modelo físico Esse processo é especialmente importante na infância quando as habilidades verbais ainda não se de senvolveram A codificação verbal no entanto acelera muito o pro cesso da aprendizagem por observação Com linguagem podemos avaliar verbalmente nossos comportamentos e decidir quais deles desejamos descartar e quais desejamos experimentar A codificação verbal também nos ajuda a en saiar o comportamento simbolicamente ou seja diz repe tidas vezes a nós mesmos como iremos realizar o compor tamento quando surgir a oportunidade O ensaio também pode envolver a realização real da resposta modelada e sua prática auxilia o processo de retenção Produção do comportamento Depois de prestar atenção a um modelo e reter o que observamos então produzimos o comportamento Ao converter as representações cogniti vas em ações apropriadas precisamos nos fazer várias per guntas acerca do comportamento a ser modelado Primeiro perguntamos Como posso fazer isto Depois de ensaiar simbolicamente as respostas relevantes experimentamos o novo comportamento Enquanto o executamos monito ramos a nós mesmos com a pergunta O que estou fazen do Por fim avaliamos nosso desempenho perguntando Estou fazendo isto certo Esta última pergunta nem sempre é fácil de responder em especial se ela se refere a uma habilidade motora como dançar balé ou pular de um trampolim em que não podemos nos ver realmente Por tal razão alguns atletas usam câmeras de vídeo para ajudálos a adquirir ou a melhorar habilidades motoras Motivação A aprendizagem por observação é mais efe tiva quando os aprendizes estão motivados para realizar o comportamento modelado Atenção e representação po dem levar à aquisição da aprendizagem mas o desempe nho é facilitado pela motivação para executar aquele com portamento em particular Mesmo que a observação dos Feist17indd 331 Feist17indd 331 291014 0935 291014 0935 332 FEIST FEIST ROBERTS outros possa nos ensinar como fazer algo podemos não ter o desejo de realizar a ação necessária Uma pessoa pode ob servar outra usando uma serra elétrica ou um aspirador de pó e não estar motivada para experimentar qualquer uma dessas atividades A maioria dos pedestres que observam uma obra em construção não tem o desejo de imitar o tra balhador da construção Aprendizagem enativa Cada resposta dada é seguida por uma consequência Algu mas dessas consequências são satisfatórias outras insatis fatórias ou simplesmente não são captadas de modo cog nitivo e portanto têm pouco efeito Bandura acredita que o comportamento humano complexo pode ser aprendido quando as pessoas pensam a respeito e avaliam as conse quências de seus comportamentos As consequências de uma resposta servem a pelo me nos três funções Primeiro as consequências da resposta nos informa dos efeitos de nossas ações Podemos reter essa informação e usála como um guia para ações futu ras Segundo as consequências de nossas respostas mo tivam nosso comportamento antecipatório isto é somos capazes de representar simbolicamente resultados futuros e agir em conformidade Não só possuímos insight como também somos capazes de previsão Não temos que sofrer o desconforto das temperaturas frias antes de decidirmos vestir um casaco quando saímos em um clima gélido Em vez disso antecipamos os efeitos do clima frio e úmido e nos vestimos de acordo Terceiro as consequências das respostas servem para reforçar o comportamento uma função que foi solidamente documentada por Skinner Cap 16 e por outros teóricos do reforço Bandura 1986 no entanto discute que embora o reforço possa ser in consciente e automático às vezes os padrões comporta mentais complexos são bastante facilitados pela interven ção cognitiva Ele defendia que a aprendizagem ocorre de forma muito mais eficiente quando o aprendiz está envolvido cognitivamente na situação de aprendizagem e compreende quais comportamentos precedem respostas de sucesso Em resumo conforme Bandura novos comporta mentos são adquiridos por meio de dois tipos principais de aprendizagem aprendizagem por observação e apren dizagem enativa O elemento central da aprendizagem por observação é a modelagem que é facilitada pela observa ção de atividades apropriadas pela codificação apropriada desses eventos para representação na memória pela real execução do comportamento e por estar motivado o su ficiente A aprendizagem enativa permite que as pessoas adquiram novos padrões de comportamento complexo pela experiência direta pensando a respeito e avaliando as consequências de seus comportamentos O processo de aprendizagem permite que as pessoas tenham algum grau de controle sobre os eventos que moldam o curso de suas vidas O controle entretanto depende da interação recíproca de variáveis pessoais do comportamento e do ambiente CAUSAÇÃO RECÍPROCA TRIÁDICA No Capítulo 16 vimos que para Skinner o comportamen to é uma função do ambiente ou seja o comportamento em última análise pode ser rastreado até forças externas à pessoa À medida que as contingências ambientais mu dam o comportamento se modifica também Mas que impulso muda o ambiente Skinner reconhecia que o com portamento humano pode exercer alguma medida de con tracontrole sobre o ambiente porém insistia em que na análise final o comportamento é ambientalmente deter minado Outros teóricos como Gordon Allport Cap 12 e Hans Eysenck Cap 14 enfatizaram a importância dos traços ou da disposição pessoal para moldar o comporta mento Em geral esses teóricos sustentavam que fatores pessoais interagem com as condições ambientais para pro duzir o comportamento Albert Bandura 1986 1999b 2001 2002b adota uma posição um pouco diferente Sua teoria social cogni tiva explica o funcionamento psicológico em termos de causação recíproca triádica Esse sistema pressupõe que a ação humana é resultado de uma interação entre três va riáveis ambiente comportamento e pessoa Por pessoa Bandura queria dizer em grande parte mas não exclusi vamente fatores cognitivos como memória antecipação planejamento e julgamento Como as pessoas possuem e usam essas capacidades cognitivas elas possuem alguma capacidade de selecionar ou reestruturar seu ambiente ou seja a cognição determina pelo menos em parte a quais eventos ambientais as pessoas atentam que valor elas atribuem a esses eventos e como elas os organizam para uso futuro Ainda que a cognição possa ter um forte efeito causal sobre o ambiente e o comportamento ela não é uma entidade autônoma independente dessas duas variáveis Bandura 1986 criticava os teóricos que atribuem a causa do comportamento humano a forças internas como instin tos impulsos necessidades e intenções A própria cognição é determinada sendo formada pelo comportamento e pelo ambiente A causação recíproca triádica é representada de forma esquemática na Figura 171 em que B significa comporta mento behavior E é o ambiente externo environment e P representa a pessoa person incluindo o gênero a posição social o tamanho e a atratividade física mas especialmen te fatores cognitivos como pensamento memória julga mento e previsão Bandura usa o termo recíproca para indicar uma interação triádica de forças não uma ação contrária Os Feist17indd 332 Feist17indd 332 291014 0935 291014 0935 TEORIAS DA PERSONALIDADE 333 três fatores recíprocos não precisam ser de mesma força ou fazer contribuições iguais A potência relativa dos três varia conforme o indivíduo e a situação Por vezes o com portamento pode ser mais potente como quando a pessoa toca piano para o próprio prazer Outras vezes o ambiente exerce a maior influência como quando um barco vira e todos os sobreviventes começam a pensar e a agir de uma forma muito semelhante Mesmo que comportamento e ambiente possam por vezes ser os contribuintes mais fortes para o desempenho a cognição pessoa em geral é o contribuinte mais significativo para o desempenho A cognição provavelmente seria ativada nos exemplos da pessoa tocando piano para o próprio prazer e nos sobrevi ventes de um barco virado A influência relativa do com portamento do ambiente e da pessoa depende de qual dos fatores triádicos é mais forte em um momento específico Bandura 1997 Um exemplo de causação recíproca triádica Considere o seguinte exemplo de causação recíproca triádica Uma criança implorando ao pai por um segundo brownie é do ponto de vista do pai um evento ambien tal Se o pai automaticamente sem pensamento desse ao filho o que foi solicitado então os dois estariam con dicionando o comportamento um do outro no sentido skinneriano O comportamento do pai seria controlado pelo ambiente mas também teria um efeito de contra controle em seu ambiente ou seja o filho Na teoria de Bandura no entanto o pai é capaz de pensar sobre as con sequências de recompensar ou ignorar o comportamento do filho Ele pode pensar Se eu lhe der outro brownie ele vai parar de chorar por um tempo mas em casos futuros ele terá maior probabilidade de persistir até que eu ceda Portanto não vou permitir que ele ganhe outro brownie Dessa forma o pai tem um efeito sobre o ambiente a criança e sobre o próprio comportamento rejeitando o pedido do filho O comportamento posterior da criança ambiente do pai ajuda a moldar a cognição e o compor tamento do pai Se a criança para de insistir o pai pode então ter outros pensamentos Por exemplo ele pode avaliar seu comportamento pensando Sou um bom pai porque fiz a coisa certa A mudança no ambiente também permite ao pai buscar comportamentos diferentes Assim seu comportamento posterior é parcialmente determina do pela interação recíproca do ambiente da cognição e do comportamento Esse exemplo ilustra a interação recíproca dos fatores comportamentais ambientais e pessoais segundo o pon to de vista do pai Primeiro os apelos do filho afetaram o comportamento do pai E B eles também determi naram em parte a cognição do pai E P o comporta mento do pai ajudou a moldar o comportamento do filho ou seja o ambiente dele B E o comportamento dele também interferiu em seus pensamentos B P e sua cognição determinou parcialmente seu comportamento B P Para completar o ciclo P pessoa deve influen ciar E ambiente Como a cognição do pai pode moldar diretamente o ambiente sem antes ser transformada em comportamento Não pode No entanto P não significa cognição apenas representa pessoa Bandura 1999b le vantou a hipótese de que as pessoas evocam diferentes reações de seu ambiente social devido a suas caracterís ticas físicas como idade altura raça sexo e atratividade física mesmo antes de dizerem ou fazerem algo p 158 O pai então devido a seu papel e status como pai e talvez em conjunção com o seu tamanho e força tem um efeito decisivo sobre o filho Assim a ligação causal é completa P E Encontros casuais e eventos fortuitos Ainda que as pessoas possam exercitar e exercitem uma dose significativa de controle sobre suas vidas elas não podem predizer ou antecipar todas as mudanças ambien tais possíveis Bandura é o único teórico da personalidade a considerar com seriedade a possível importância dos en contros casuais e dos eventos fortuitos Bandura 1998a definiu um encontro casual como um encontro não intencional de pessoas que não são fa miliarizadas entre si p 95 Um evento fortuito é uma experiência ambiental inesperada e não intencional A vida diária é afetada em maior ou menor grau por indivíduos que as pessoas acabam encontrando por acaso e por even tos aleatórios que elas não poderiam prever O parceiro conjugal de uma pessoa sua ocupação e local de residên B P E FIGURA 171 Conceito de Bandura de causação recíproca O funciona mento humano é produto da interação de B comportamento P variá veis da pessoa e E ambiente De Albert Bandura 1994 Social cognitive theory and mass communication In J Bryant D Zillmann Eds Media Effects Advances in Theory and Research p 62 Hillsdale NJ Erlbaum Reproduzida com permissão Feist17indd 333 Feist17indd 333 291014 0935 291014 0935 334 FEIST FEIST ROBERTS cia podem em grande parte ser resultado de um encontro fortuito Assim como a fortuidade influenciou as vidas de to dos nós ela também moldou a vida e a carreira de teóricos famosos da personalidade Dois exemplos são Abraham H Maslow Cap 9 e Hans J Eysenck Capítulo 14 Quando jovem Maslow era extremamente tímido com as mulheres Ao mesmo tempo ele estava muito apaixonado por sua pri ma Bertha Goodman mas era muito tímido para expres sar seu amor Um dia enquanto estava visitando a prima a irmã mais velha de Berta o empurrou na direção de sua amada prima dizendo Pelo amor de Deus beijea vamos lá Hoffman 1988 p 29 Maslow a beijou e para sua surpresa Bertha não ofereceu resistência Ela o beijou e a partir daquele momento a vida antes sem propósito de Maslow foi transformada Além disso Hans Eysenck o conhecido psicólogo bri tânico aproximouse da psicologia completamente por acaso Ele pretendia estudar física na Universidade de Lon dres mas primeiro teria que passar no exame de ingres so Depois de esperar um ano para fazer o exame foi dito que ele havia se preparado para o teste errado e que teria de esperar mais um ano para fazer o teste correto Em vez de retardar ainda mais sua educação ele perguntou se ha via algum tema científico que pudesse seguir Quando lhe disseram que ele poderia se matricular em um programa de psicologia Eysenck perguntou Mas o que vem a ser psicologia Eysenck 1982 p 290 Eysenck é claro for mouse em psicologia e se tornou um dos psicólogos mais famosos do mundo A fortuidade acrescenta uma dimensão específica a qualquer esquema usado para predizer o comportamen to humano e torna predições exatas praticamente im possíveis Contudo os encontros casuais influenciam as pessoas somente pela entrada no paradigma da causação recíproca triádica no ponto E ambiente somandose à interação mútua de pessoa comportamento e ambiente Nesse sentido os encontros casuais influenciam as pes soas da mesma maneira que os eventos planejados Depois que ocorre um encontro casual as pessoas se comportam em relação ao novo relacionamento de acordo com suas atitudes seus sistemas de crenças e seu interesse como também de acordo com a reação da outra pessoa a elas Assim enquanto muitos encontros casuais e eventos não planejados têm pouca ou nenhuma influência no compor tamento outros têm efeitos mais duradouros e outros ainda impulsionam as pessoas para novas trajetórias na vida Bandura 2001 p12 Os encontros casuais e os eventos fortuitos não são incontroláveis De fato as pessoas podem fazer a oportuni dade acontecer Um homem divorciado que está procuran do uma oportunidade para se casar novamente aumentará sua chance de encontrar uma esposa potencial seguindo um curso de ação proativo por exemplo associandose a um clube de solteiros indo a lugares onde é provável que encontre mulheres solteiras ou pedindo que um amigo lhe apresente uma parceira potencial elegível Se ele conhece uma mulher elegível e desejável aumentam as chances de uma relação duradoura se ele se preparou para ser atraente ou interessante para as mulheres Bandura 2001 cita Louis Pasteur O acaso favorece apenas a mente prepara da p 12 Todavia a pessoa preparada é capaz de escapar de encontros casuais desagradáveis e infortúnios do acaso antecipando a possibilidade de acontecerem e tomando providências para minimizar algum impacto negativo que possam ter no desenvolvimento futuro AGÊNCIA HUMANA A teoria social cognitiva assume uma visão agêntica da per sonalidade significando que os humanos têm a capacidade de exercer controle sobre a própria vida 2002b Na verda de a agência humana é a essência da humanidade Ban dura 2001 acredita que as pessoas são autorreguladas proativas autorreflexivas e autoorganizadas e que elas têm o poder de influenciar as próprias ações para produzir as consequências desejadas Agência humana não signi fica que as pessoas possuem um homúnculo isto é um agente autônomo tomando decisões que são coerentes com sua visão do self Nem significa que reajam de forma automática a eventos externos e internos A agência huma na não é uma coisa mas um processo ativo de exploração manipulação e influência do ambiente para atingir os re sultados desejados Características fundamentais da agência humana Bandura 2001 2004 refere quatro características funda mentais da agência humana intencionalidade antecipa ção autorreatividade e autorreflexão Intencionalidade referese a atos realizados de forma intencional Uma intenção inclui planejamento mas tam bém envolve ações Não é simplesmente uma expectativa ou predição de ações futuras mas um comprometimento proativo de provocálas 2001 p 6 Intencionalidade não significa que todos os planos de uma pessoa serão concretizados As pessoas continuamente alteram seus planos conforme se conscientizam das consequências de suas ações As pessoas também possuem antecipação para estabe lecer objetivos para antecipar os prováveis resultados de suas ações e escolher comportamentos que irão produzir os resultados desejados e evitar os indesejados A anteci pação possibilita às pessoas libertaremse das restrições do ambiente Se o comportamento fosse completamente uma função do ambiente então ele seria mais variável e menos consistente porque estaríamos constantemente reagindo Feist17indd 334 Feist17indd 334 291014 0935 291014 0935 TEORIAS DA PERSONALIDADE 335 à grande diversidade de estímulos ambientais Se as ações fossem determinadas unicamente por recompensas e pu nições externas as pessoas se comportariam como cata ventos Bandura 1986 p 335 Mas as pessoas não se comportam como cataventos constantemente mudando de direção para se adequarem às influências que as afetam no momento Bandura 2001 p 7 Elas fazem mais do que planejar e contemplar com portamentos futuros Elas também são capazes de autor reatividade no processo de motivação e regulação de suas ações As pessoas não só fazem escolhas mas também monitoram seu progresso para cumprirem tais escolhas Bandura 2001 reconhece que o estabelecimento de ob jetivos não é suficiente para atingir as consequências de sejadas Os objetivos devem ser específicos estar dentro da capacidade da pessoa de atingilos e refletir as realiza ções potenciais que não estão muito distantes no futuro Discutimos a autorreguação em mais detalhes na seção Autorregulação Por fim as pessoas têm autorreflexão Elas são avalia doras do próprio funcionamento podem pensar a respeito e analisar suas motivações seus valores e os significados de seus objetivos de vida e refletir quanto à adequação de seu pensamento Elas também podem avaliar o efeito que as ações das outras pessoas tem sobre elas O mecanismo au torreflexivo mais crucial é a autoeficácia ou seja as crenças pessoais de ser capaz de executar ações que irão produzir um efeito desejado Autoeficácia A forma como as pessoas agem em uma situação em par ticular depende da reciprocidade das condições compor tamentais ambientais e cognitivas em especial aqueles fatores cognitivos relacionados às crenças de que elas podem ou não executar o comportamento necessário para produzir os resultados desejados em uma situação específica Bandura 1997 chama essas expectativas de autoeficácia De acordo com Bandura 1994 as cren ças das pessoas em sua eficácia pessoal influenciam o curso de ação que escolhem seguir o quanto de esforço irão investir nas atividades por quanto tempo irão per severar em face de obstáculos e experiências de fracasso e sua resiliência após contratempos p 65 Apesar de a autoeficácia ter uma influência causal poderosa sobre as ações das pessoas ela não é o único determinante Em vez disso a autoeficácia se combina com o ambiente o comportamento prévio e outras variáveis pessoais prin cipalmente as expectativas de resultado para produzir o comportamento No modelo causal triádico recíproco que postula que o ambiente o comportamento e a pessoa têm uma in fluência interativa entre si autoeficácia referese ao fator P pessoa O que é autoeficácia Bandura 2001 definiu autoeficácia como crenças das pessoas em sua capacidade de exercer alguma medida de controle sobre o próprio funcionamento e sobre eventos ambientais p 10 Ele refere que as crenças na eficácia são o fundamento da agência humana p 10 As pes soas que acreditam que podem fazer algo que tenha o potencial de alterar eventos ambientais têm maior pro babilidade de agir e ter sucesso do que aquelas com baixa autoeficácia Autoeficácia não é a expectativa pelos resultados de nossas ações Bandura 1986 1997 distinguiu entre ex pectativas de eficácia e expectativas de resultados Eficácia referese à confiança das pessoas de que elas têm a capaci dade de realizar certos comportamentos enquanto expec tativa de resultados referese à predição que a pessoa faz sobre as consequências prováveis daquele comportamento Resultado não deve ser confundido com realização bem sucedida de um ato ele se refere às consequências do com portamento não à realização do ato em si Por exemplo uma candidata a um emprego pode ter confiança de que se sairá bem durante a entrevista de seleção terá a capacidade de responder as perguntas possíveis permanecerá relaxada e controlada e exibirá um nível apropriado de comporta mento amistoso Portanto ela tem alta autoeficácia com relação à entrevista de emprego Contudo apesar dessas expectativas de alta eficácia ela pode ter baixas expecta tivas de resultados Existiria uma baixa expectativa de re sultado se ela acreditasse ter poucas chances de receber um cargo Esse julgamento pode se dever a condições ambien tais não promissoras como alta taxa de desemprego de pressão na economia ou competição superior Além disso outros fatores pessoais como idade gênero altura peso ou saúde física podem afetar negativamente as expectati vas de resultados Além de ser diferente das expectativas de resultados a autoeficácia deve ser distinguida de vários outros concei tos Primeiro eficácia não se refere à capacidade de execu tar habilidades motoras básicas como caminhar alcançar ou agarrar Eficácia também não implica que podemos exe cutar comportamentos designados sem ansiedade estres se ou medo ela é meramente nosso julgamento preciso ou falho sobre podermos ou não executar as ações necessá rias Por fim os julgamentos de eficácia não são a mesma coisa que os níveis de aspiração Os aditos em heroína por exemplo muitas vezes desejam estar livres da droga mas podem ter pouca confiança em sua capacidade de romper o vício com sucesso Bandura 1997 Auteficácia não é um conceito global ou generali zado como autoestima ou autoconfiança As pessoas podem ter alta autoeficácia em uma situação e baixa autoeficácia em outra Ela varia conforme a situação de pendendo das competências necessárias para diferentes Feist17indd 335 Feist17indd 335 291014 0935 291014 0935 336 FEIST FEIST ROBERTS atividades da presença ou ausência de outras pessoas da competência percebida dessas outras pessoas especial mente se elas são competidoras da predisposição da pes soa a prestar atenção no fracasso do desempenho em vez de no sucesso e dos estados fisiológicos concomitantes particularmente a presença de fadiga ansiedade apatia ou prostração Alta e baixa eficácia combinam com ambientes res ponsivos e não responsivos para produzir quatro variáveis preditivas possíveis Bandura 1997 Quando a eficácia é alta e o ambiente é responsivo é mais provável que os re sultados sejam de sucesso Quando a baixa eficácia é com binada com um ambiente responsivo as pessoas podem ficar deprimidas ao observarem que os outros têm sucesso em tarefas que parecem muito difíceis para elas Quando pessoas com alta eficácia encontram situações ambientais não responsivas elas em geral intensificam seus esfor ços para mudar o ambiente Elas podem usar o protesto o ativismo social ou mesmo a força para instigar mudança mas se todos os esforços falham Bandura levanta a hipó tese de que ou elas desistem daquele curso e assumem um novo ou procuram um ambiente mais responsivo Por fim quando a baixa autoeficácia se combina com um ambiente não responsivo as pessoas provavelmente sentem apa tia resignação e desamparo Por exemplo um executivo júnior com baixa autoeficácia que percebe as dificuldades de se tornar presidente da empresa irá desenvolver senti mentos de desencorajamento desistirá e não conseguirá transferir esforços produtivos para um objetivo semelhan te porém menor O que contribui para a autoeficácia A eficácia pessoal é adquirida melhorada ou diminuída por meio de uma fonte ou da combinação de quatro fontes 1 experiências de domínio 2 modelagem social 3 per suasão social e 4 estados físicos e emocionais Bandura 1997 Com cada método as informações sobre si mesmo e sobre o ambiente são processadas cognitivamente e com as lembranças de experiências prévias alteram a autoeficá cia percebida Experiências de domínio As fontes mais influentes de autoeficácia são as experiências de domínio ou seja os de sempenhos passados Bandura 1997 Em geral o desem penho de sucesso aumenta as expectativas de eficácia o fracasso tende a reduzilas Essa afirmação geral possui seis corolários Primeiro o desempenho de sucesso eleva a autoeficá cia proporcionalmente à dificuldade da tarefa Jogadores de tênis muito habilidosos adquirem pouca autoeficácia derrotando oponentes inferiores porém ganham muito ao terem bom desempenho contra oponentes superio res Segundo as tarefas realizadas com sucesso por si só são mais eficazes do que aquelas concluídas com a ajuda de outros Nos esportes as realizações em equipe não aumentam a eficácia pessoal tanto quanto as realizações individuais Terceiro o fracasso é mais provável de redu zir a eficácia quando sabemos que empreendemos nossos melhores esforços Fracassar quanto se tentou apenas pela metade não é tão ineficaz quanto ficar aquém apesar dos melhores esforços Quarto o fracasso sob condições de alta excitação emocional ou angústia não é tão autodebilitante quanto o fracasso sob condições máximas Quinto o fra casso antes de estabelecer um sentimento de domínio é mais prejudicial para os sentimentos de eficácia pessoal do que o fracasso posterior Um sexto corolário relacionado é que o fracasso ocasional tem pouco efeito sobre a eficácia em especial para pessoas com uma expectativa em geral alta de sucesso Modelagem social Uma segunda fonte de eficácia é a modelagem social ou seja as experiências vicariantes proporcionadas por outras pessoas Nossa autoeficácia é aumentada quando observamos as realizações de outras pessoas de igual competência mas é diminuída quando ve mos um par fracassar Quando a outra pessoa é diferente de nós a modelagem social terá pouco efeito sobre nossa autoeficácia Um velho e covarde sedentário observando um jovem ativo e corajoso artista de circo andar sobre um arame sem dúvida terá pouca melhora nas expectativas de eficácia para duplicar o feito Em geral os efeitos da modelagem social não são tão fortes quanto os do desempenho pessoal em elevar os níveis de eficácia mas eles podem ter efeitos poderosos quando se refere à ineficácia Observar um nadador de igual habilidade fracassar em atravessar um rio agitado provavelmente irá dissuadir o observador de tentar a mes ma façanha Os efeitos dessa experiência vicariante podem durar até mesmo a vida inteira A fonte mais influente de autoeficácia é o desempenho Feist17indd 336 Feist17indd 336 291014 0935 291014 0935 TEORIAS DA PERSONALIDADE 337 Persuasão social A autoeficácia também pode ser adqui rida ou enfraquecida pela persuasão social Bandura 1997 Os efeitos dessa fonte são limitados mas sob as condições adequadas a persuasão dos outros pode aumentar ou redu zir a autoeficácia Exortações ou críticas de uma fonte con fiável têm maior poder de eficácia do que aquelas de uma pessoa não confiável Incentivar a autoeficácia por meio da persuasão social será efetivo somente se a atividade que a pessoa estiver sendo encorajada a experimentar encontrar se dentro de seu próprio repertório de comportamento Nenhuma quantidade de persuasão verbal pode alterar o julgamento de eficácia de uma pessoa quanto à capacidade de correr 100 metros em menos de 8 segundos Bandura 1986 levanta a hipótese de que a eficácia da sugestão está diretamente relacionada ao status e à autori dade percebida do persuasor Status e autoridade é claro não são idênticos Por exemplo a sugestão de um psico terapeuta para pacientes fóbicos de que eles conseguem andar em um elevador lotado tem maior probabilidade de aumentar a autoeficácia do que o encorajamento por parte do cônjuge ou dos filhos dessas pessoas Porém se esse mesmo terapeuta disser aos pacientes que eles têm a capacidade de trocar um interruptor de luz estragado os pacientes provavelmente não irão melhorar sua autoefi cácia para essa atividade Além disso a persuasão social é mais efetiva quando combinada com o desempenho bem sucedido A persuasão pode convencer alguém a tentar uma atividade e se o desempenho for bemsucedido tanto a realização quanto as recompensas verbais posteriores au mentarão a eficácia futura Estados físicos e emocionais A fonte final de eficácia são os estados físicos e emocionais Bandura 1997 Uma emoção forte tende a reduzir o desempenho quando as pessoas experimentam medo intenso ansiedade aguda ou altos níveis de estresse é provável que elas tenham expec tativas de eficácia mais baixas Um ator em uma peça da escola sabe seu texto durante o ensaio mas percebe que o medo que ele sente na noite de estreia pode bloquear sua memória A propósito para algumas situações a excitação emocional se não for muito intensa está associada a um desempenho aumentado de modo que a ansiedade mode rada sentida por aquele ator na noite de estreia tem poten cial para aumentar suas expectativas de eficácia A maioria das pessoas quando não está com medo tem a capacidade de segurar cobras venenosas Elas apenas devem pegar a cobra com firmeza por trás da cabeça mas para muitas pessoas o medo que acompanha o contato com a cobra é debilitante e reduz sobremaneira sua expectativa de desempenho Os psicoterapeutas já reconheceram há tempo que uma redução na ansiedade ou um aumento no relaxamento físico podem facilitar o desempenho A informação da excitação está relacionada a inúmeras variáveis Primeiro é claro está o nível de excitação em geral quanto maior a excitação mais baixa a autoeficácia A segunda variável é o realismo percebido da excitação Se a pessoa sabe que o medo é realis ta como quando dirige na estrada congelada de uma mon tanha a eficácia pessoal pode ser aumentada Entretanto quando a pessoa percebe o absurdo da fobia por exemplo medo de lugares abertos então a excitação emocional ten de a baixar a eficácia Por fim a natureza da tarefa é uma variável adicional A excitação emocional pode facilitar a rea lização bemsucedida de tarefas simples mas é provável que interfira no desempenho de atividades complexas Ainda que a autoeficácia seja o fundamento da agên cia humana Bandura 2001 p 10 ela não é o único modo de agência humana As pessoas também podem exercer controle sobre suas vidas por meio da agência por procuração e da eficácia coletiva Agência por procuração Procuração envolve o controle indireto sobre as condições sociais que afetam a vida diária Bandura 2001 observou que ninguém possui o tempo a energia e os recursos para ter domínio em todos os terrenos da vida diária O fun cionamento de sucesso necessariamente envolve uma combinação de confiança na agência por procuração em algumas áreas de funcionamento p 13 Na sociedade americana moderna por exemplo as pessoas seriam quase impotentes se dependessem unicamente das realizações pessoais para regular suas vidas A maioria não tem a capa cidade pessoal de consertar um condicionador de ar uma câmera ou um automóvel Por meio da agência por pro curação no entanto elas podem realizar seu objetivo de pendendo de outras pessoas para consertar esses objetos As pessoas tentam mudar sua vida diária fazendo contato com seu representante no congresso ou com outra pessoa potencialmente influente elas buscam mentores para aju dálas a aprender habilidades úteis elas contratam um me nino da vizinhança para cortar sua grama elas se baseiam nos serviços de notícias internacionais para saberem de eventos recentes elas contratam advogados para resolver problemas legais e assim por diante Procuração no entanto possui um aspecto negativo Ao dependerem muito da competência e do poder dos ou tros as pessoas podem enfraquecer seu senso de eficácia pessoal e coletiva Um cônjuge pode se tornar dependente do outro para cuidar dos afazeres domésticos filhos no fim da adolescência ou jovens adultos podem esperar que os pais cuidem deles e os cidadãos podem aprender a depen der do governo para sanar suas necessidades da vida Eficácia coletiva O terceiro modo de agência humana é a eficácia coletiva Bandura 2000 definiu eficácia coletiva como as cren ças compartilhadas das pessoas em seu poder coletivo de Feist17indd 337 Feist17indd 337 291014 0935 291014 0935 338 FEIST FEIST ROBERTS produzir os resultados desejados p 75 Em outras pa lavras eficácia coletiva é a confiança que as pessoas têm de que seus esforços combinados ocasionarão realizações para o grupo Bandura 2000 sugeriu duas técnicas para medir a eficácia coletiva A primeira é combinar as ava liações dos membros individuais sobre suas capacidades de exercer comportamentos que beneficiem o grupo Por exemplo os atores em uma peça teriam alta eficácia co letiva se todos tivessem a confiança em sua capacidade pessoal de realizar seu papel de modo adequado A segun da abordagem proposta por Bandura é medir a confiança que cada pessoa tem na capacidade do grupo de produzir um resultado desejado Por exemplo jogadores de beisebol podem ter pouca confiança em cada um de seus compa nheiros de time mas possuem alta confiança de que o time terá um ótimo desempenho Essas duas abordagens um pouco diferentes da eficácia coletiva requerem técnicas de medida distintas A eficácia coletiva não se origina de uma mente co letiva mas da eficácia pessoal de muitos indivíduos traba lhando em conjunto A eficácia coletiva de um grupo no entanto depende não só do conhecimento e das habilida des de seus membros individuais mas também das cren ças de que eles podem trabalhar juntos de maneira coorde nada e interativa Bandura 2000 As pessoas podem ter alta autoeficácia mas baixa eficácia coletiva Por exemplo uma mulher pode ter alta eficácia pessoal para perseguir um estilo de vida saudável mas ela pode ter baixa eficácia coletiva para ser capaz de reduzir a poluição ambiental as condições de trabalho perigosas ou a ameaça de doença infecciosa Bandura 1998b assinalou que diferentes culturas possuem níveis distintos de eficácia coletiva e trabalham de forma mais produtiva sob sistemas diferentes Por exemplo as pessoas nos Estados Unidos uma cultura indi vidualista sentem maior autoeficácia e trabalham melhor sob um sistema orientado individualmente enquanto as pessoas na China uma cultura coletivista sentem maior eficácia coletiva e trabalham melhor sob um sistema orien tado para o grupo Bandura 1997 1998b 2001 lista vários fatores que podem minar a eficácia coletiva Primeiro os humanos vivem em um mundo transnacional o que acontece em uma parte do globo pode afetar pessoas em outros países dandolhes um sentimento de desamparo A destruição da floresta amazônica as políticas de comércio internacional ou a destruição da camada de ozônio por exemplo podem afetar a vida de pessoas em qualquer lugar e minar sua con fiança para moldar um mundo melhor para elas Segundo tecnologias recentes que as pessoas não en tendem nem acreditam que conseguem controlar podem diminuir seu sentimento de eficácia coletiva Em anos pas sados muitos motoristas por exemplo tinham confiança em sua capacidade de manter seu carro em condições de funcionamento Com o advento dos controles computa dorizados em automóveis modernos muitos mecânicos moderadamente habilidosos não só perderam a eficácia pessoal para consertar seu veículo como também apresen taram baixa eficácia coletiva para inverter a tendência dos automóveis cada vez mais complicados Uma terceira condição que mina a eficácia coletiva é a complexa máquina social com níveis de burocracia que impedem a mudança social As pessoas que tentam mudar as estruturas burocráticas com frequência são desenco rajadas pelo fracasso ou pelo longo lapso de tempo entre suas ações e alguma alteração perceptível Ao ficarem de sencorajadas muitas pessoas em vez de desenvolverem os meios para moldar seu futuro com relutância abdicam do controle deixandoo para especialistas técnicos e fun cionários públicos Bandura 1995 p 37 Quarto o grande âmbito e a magnitude dos proble mas humanos podem prejudicar a eficácia coletiva Guer ras fome superpopulação crime e desastres naturais são apenas alguns dos problemas globais que podem deixar as pessoas com um sentimento de impotência Apesar desses enormes problemas transnacionais Bandura acre dita que mudanças positivas são possíveis se as pessoas perseverarem com seus esforços coletivos e não ficarem desencorajadas Segundo uma ótica mundial Bandura 2000 concluiu que conforme a globalização atinge mais profundamen te a vida das pessoas um sentimento resiliente de eficácia compartilhada se torna essencial para promover seus inte resses comuns p 78 AUTORREGULAÇÃO Quando as pessoas possuem altos níveis de autoeficácia são confiantes em relação a suas procurações e possuem eficácia coletiva sólida elas têm capacidade considerável de regular o próprio comportamento Bandura 1994 acredi ta que as pessoas usam estratégias reativas e proativas para autorregulação Ou seja elas reativamente tentam reduzir as discrepâncias entre suas realizações e seu objetivo mas depois que acabam com essas discrepâncias elas proativa mente estabelecem novos objetivos e mais altos para si As pessoas se motivam e guiam suas ações por meio do con trole proativo estabelecendo para si objetivos valorizados que criam um estado de desequilíbrio e mobilizando suas capacidades e esforços com base na estimativa antecipató ria do que é necessário para alcançar os objetivos p 63 A noção de que as pessoas procuram um estado de desequi líbrio é semelhante à crença de Gordon Allport de que os indivíduos são motivados para criar tensão tanto quanto para reduzila ver Cap 12 Que processos contribuem para essa autorregulação Primeiro as pessoas possuem capacidade limitada para Feist17indd 338 Feist17indd 338 291014 0935 291014 0935 TEORIAS DA PERSONALIDADE 339 manipular os fatores externos que se integram ao paradig ma interativo recríproco Segundo as pessoas são capazes de monitorar o próprio comportamento e avaliálo em ter mos de objetivos próximos e distantes O comportamento então originase de uma influência recíproca de fatores externos e internos Fatores externos na autorregulação Os fatores externos afetam a autorregulação pelo menos de duas formas Primeiro eles fornecem um padrão para a avaliação de nosso comportamento Os padrões não pro vêm unicamente de forças internas Fatores ambientais interagindo com influências pessoais moldam os padrões individuais para avaliação Mediante princípios aprende mos com pais e professores o valor do comportamento honesto e amistoso pela experiência direta aprendemos a atribuir mais valor a sermos afetuosos do que frios e por meio da observação de outros desenvolvemos inúme ros padrões para avaliar nosso desempenho Em cada um desses exemplos fatores pessoais afetam quais padrões aprendemos porém as forças ambientais também desem penham um papel Segundo fatores externos influenciam a autorregula ção fornecendo os meios para o reforço As recompensas intrínsecas nem sempre são suficientes também precisa mos de incentivos que emanem de fatores externos Um artista por exemplo pode precisar de mais reforço do que autossatisfação para concluir um grande mural O apoio ambiental em forma de um adiantamento financeiro ou de um elogio e encorajamento dos outros também pode ser necessário Os incentivos para concluir um projeto moroso geral mente provêm do ambiente e com frequência assumem a forma de pequenas recompensas contingentes à conclu são de subobjetivos O artista pode ter prazer com uma xícara de café depois de ter pintado a mão de um dos su jeitos ou fazer uma pausa para o almoço depois de termi nar outra pequena parte do mural No entanto a autorre compensa pelo desempenho inadequado provavelmente resulta em sanções ambientais Os amigos podem criticar o trabalho do artista ou zombar dele os patrocinadores podem retirar o apoio financeiro ou o artista pode ser autocrítico Quando o desempenho não satisfaz nossos próprios padrões tendemos a retirar as recompensas de nós mesmos Fatores internos na autorregulação Fatores externos interagem com fatores internos ou pes soais na autorregulação Bandura 1986 1996 reconhece três requisitos internos no exercício constante da autoin fluência 1 autoobservação 2 processos de julgamento e 3 autorreação Autoobservação O primeiro fator interno na autorregulação é a autoob servação do desempenho Precisamos ser capazes de mo nitorar nosso próprio desempenho embora a atenção que damos a isso não precise ser completa ou mesmo acurada Atentamos de forma seletiva a alguns aspectos de nosso comportamento e ignoramos outros por completo O que observamos depende dos interesses e de outras autocon cepções preexistentes Em situações de realização como pintar quadros praticar jogos ou fazer exames prestamos atenção à qualidade à quantidade à velocidade ou à ori ginalidade de nosso trabalho Em situações interpessoais como conhecer novos indivíduos ou relatar eventos moni toramos a sociabilidade ou a moralidade de nossa conduta Processo de julgamento A autoobservação sozinha não fornece uma base sufi ciente para a regulação do comportamento Também preci samos avaliar nosso desempenho Esse segundo processo o processo de julgamento ajuda a regular nosso comporta mento por meio do processo de mediação cognitiva Somos capazes não só de autoconsciência reflexiva como também de julgamento do valor de nossas ações com base nos obje tivos que estabelecemos para nós mesmos De forma mais específica o processo de julgamento depende de padrões pessoais desempenhos referenciais valorização da ativida de e atribuição de desempenho Os padrões pessoais nos permitem avaliar nosso desem penho sem comparálo à conduta dos outros Para uma criança de 10 anos profundamente incapacitada o ato de dar um laço em seu calçado pode ser muito valorizado Ela não precisa desvalorizar sua conquista simplesmente porque outras crianças podem realizar o mesmo ato com menos idade Os padrões pessoais no entanto são uma fonte limita da de avaliação Para a maioria de nossas atividades avalia mos nosso desempenho comparandoo com um padrão de referência Os estudantes comparam suas notas nos testes com as de seus colegas e jogadores de tênis julgam suas habilidades pessoais comparandoas com as dos outros jo gadores Além disso usamos nossos níveis prévios de rea lizações como uma referência para a avaliação do desempe nho presente Minha voz ao cantar melhorou ao longo dos anos Minha habilidade para ensinar agora está melhor do que nunca Além disso podemos julgar nosso desem penho comparandoo com o de outro indivíduo um ir mão uma irmã um genitor ou até mesmo um rival odiado ou podemos comparálo a uma normapadrão como o par no golfe ou um escore perfeito no boliche Além dos padrões pessoais e de referência o proces so de julgamento também depende do valor global que atribuímos a uma atividade Se atribuirmos valor menor à habilidade de lavar pratos ou tirar o pó da mobília então Feist17indd 339 Feist17indd 339 291014 0935 291014 0935 340 FEIST FEIST ROBERTS empregaremos pouco tempo ou esforço para tentar melho rar tais habilidades Entretanto se atribuímos valor alto a estar à frente no mundo dos negócios ou a obter um di ploma profissional ou um mestrado então empregaremos muito esforço para atingir o sucesso nessas áreas Por fim a autorregulação também depende de como julgamos as causas de nosso comportamento ou seja a atribuição de desempenho Se acreditarmos que nosso su cesso resulta dos próprios esforços iremos nos orgulhar de nossas conquistas e tenderemos a trabalhar mais ar duamente para atingir nossos objetivos No entanto se atribuirmos nosso desempenho a fatores externos não sentiremos muita autossatisfação e provavelmente não empregaremos esforços árduos para atingir nossos obje tivos Contudo se acreditarmos que somos responsáveis por nossos fracassos ou desempenho inadequado traba lharemos mais prontamente na direção da autorregulação do que se estivermos convencidos de que nossas falhas e nossos medos se devem a fatores que estão além de nosso controle Bandura 1986 1996 Autorreação O terceiro fator interno na autorregulação é a autorreação As pessoas respondem de forma positiva ou negativa a seus comportamentos dependendo do quanto eles estão à altura de seus padrões pessoais Ou seja as pessoas criam incentivos para as próprias ações por meio do autorreforço ou da autopunição Por exemplo uma estudante aplicada que concluiu uma tarefa de leitura pode se recompensar as sistindo a seu programa de televisão favorito O autorreforço não se baseia no fato de que ele se segue imediatamente a uma resposta Ao contrário ele se baseia em grande parte no uso de nossa habilidade cogni tiva para mediar as consequências do comportamento As pessoas estabelecem padrões de desempenho que quando satisfeitos tendem a regular o comportamento por meio de recompensas autoproduzidas tais como orgulho e au tossatisfação Quando as pessoas não conseguem corres ponder a seus padrões seu comportamento é seguido de autoinsatisfação ou autocrítica Esse conceito de consequências automediadas é um grande contraste com a noção de Skinner de que as con sequências do comportamento são determinadas pelo ambiente Bandura levanta a hipótese de que as pessoas trabalham para obter recompensas e para evitar punições de acordo com padrões autoimpostos Mesmo quando as recompensas sejam tangíveis elas costumam ser acompa nhadas por incentivos intangíveis automediados como um sentimento de realização O Prêmio Nobel por exemplo implica uma recompensa substancial em dinheiro porém seu valor maior para a maioria dos ganhadores é o senti mento de orgulho ou autossatisfação por realizarem tare fas que conduziram à premiação Autorregulação por meio da agência moral As pessoas também regulam suas ações por meio de pa drões morais de conduta Bandura 1999a considera a agência moral composta por dois aspectos 1 não causar danos às pessoas e 2 ajudar as pessoas proativamente Nossos mecanismos autorregulatórios no entanto não afetam outras pessoas até que atuemos sobre eles Não temos um agente controlador automático interno como uma consciência ou um superego que invariavelmente di recione nosso comportamento para valores correntes no âmbito moral Bandura 2002a insiste em que os preceitos morais predizem o comportamento moral somente quan do convertidos em ação Em outras palavras as influên cias autorregulatórias não são automáticas mas operam somente se ativadas um conceito que Bandura chama de ativação seletiva Como as pessoas com fortes crenças morais referentes a valor e dignidade da humanidade podem se comportar de forma desumana A resposta de Bandura é que as pessoas normalmente não se engajam em conduta repreensível até que elas tenham se justificado da moralidade de suas ações p 72 Justificando a moralidade de suas ações elas podem se separar ou se desengajar das consequências de seu comportamento um conceito que Bandura denomina desengajamento do controle interno As técnicas de desengajamento permitem que as pes soas individualmente ou em conjunto com outras enga jemse em comportamentos desumanos ao mesmo tempo em que mantêm seus padrões morais Bandura 2002a Por exemplo os políticos com frequência convencem seus eleitores da moralidade da guerra Assim as guerras são empreendidas contra pessoas más indivíduos que mere cem ser derrotados ou até mesmo aniquilados A ativação seletiva e o desengajamento do controle in terno permitem que pessoas com os mesmos padrões mo rais se comportem de formas muito diferentes assim como possibilitam que a mesma pessoa se comporte de forma diferente em situações distintas A Figura 172 ilustra os vários mecanismos por meio dos quais o autocontrole é de sengajado ou ativado seletivamente Primeiro as pessoas podem redefinir ou reconstruir a natureza do comportamento em si por meio de técnicas como justificálo moralmente fazer comparações vantajosas ou rotular suas ações de modo eufemístico Segundo elas podem minimizar ignorar ou distorcer as consequências nocivas de seu comportamento Terceiro elas podem acusar ou desumanizar a vítima Quar to elas podem deslocar ou diluir a responsabilidade por seu comportamento obscurecendo a relação entre suas ações e os efeitos destas Redefinir o comportamento Com a redefinição do comportamento as pessoas justifi cam ações de outra forma repreensíveis por meio de uma Feist17indd 340 Feist17indd 340 291014 0935 291014 0935 TEORIAS DA PERSONALIDADE 341 reestruturação cognitiva capaz de minimizar ou elimi nar a responsabilidade Elas podem se aliviar da respon sabilidade por seu comportamento por meio de pelo menos três técnicas ver quadro superior à esquerda na Fig 172 A primeira é a justificativa moral em que um compor tamento de outra forma culpável tende a parecer defen sável ou até mesmo nobre Bandura 1986 citou o exem plo do herói da I Guerra Mundial o sargento Alvin York o qual como um objetor consciencioso acreditava que matar era moralmente errado Depois que o comandante de seu batalhão citou da Bíblia as condições sob as quais era moralmente justificado matar e após uma longa vigília de orações York se convenceu de que matar soldados ini migos era defensável sob o âmbito moral Depois de sua redefinição de matar York prosseguiu matando e captu rando mais de cem soldados alemães e como consequên cia tornouse um dos maiores heróis de guerra na história americana Um segundo método de redução da responsabilidade pela redefinição do comportamento ilícito é fazer compa rações vantajosas ou paliativas entre aquele comportamen to e as atrocidades ainda maiores cometidas por outros A criança que vandaliza o prédio de uma escola usa a des culpa de que os outros quebraram mais janelas Uma terceira técnica na redefinição do comportamen to é o uso de rótulos eufemísticos Os políticos que promete ram não elevar os impostos falam de aumento da receita em vez de taxas alguns líderes nazistas chamavam o assas sinato de milhões de judeus de purificação da Europa ou a solução final Desconsiderar ou distorcer as consequências do comportamento Um segundo método para evitar a responsabilidade envol ve distorcer ou obscurecer a relação entre o comportamento e suas consequências nocivas ver quadro superior central da Fig 172 Bandura 1986 1999a reconheceu pelo menos três técnicas de distorção ou obscurecimento das conse quências nocivas das ações de um indivíduo Primeiro as pessoas podem minimizar as consequências de seu compor tamento Por exemplo um motorista ultrapassa um sinal vermelho e atropela um pedestre Enquanto a vítima está sangrando e inconsciente no chão o motorista diz Ela não está muito machucada Ela vai ficar bem Segundo as pessoas podem desconsiderar ou ignorar as consequências de suas ações como quando elas não veem inicialmente os efeitos prejudiciais de seu comportamento Em tempos de guerra os chefes de Estado e os generais do exército raramente veem a destruição total e as mortes resultantes de suas decisões Finalmente as pessoas podem distorcer ou interpretar mal as consequências de suas ações como quando um pai bate muito no filho causando hematomas graves mas ex plica que a criança precisa de disciplina para amadurecer de forma adequada Desumanizar ou culpar as vítimas Terceiro as pessoas podem obscurecer a responsabilidade por suas ações desumanizando suas vítimas ou atribuindo a culpa a elas ver quadro superior à direita na Fig 172 Em tempos de guerra as pessoas muitas vezes consideram o inimigo como subhumano portanto não precisam se sen tir culpadas por matarem soldados rivais Em vários mo mentos na história americana judeus afroamericanos hispanoamericanos americanos nativos asiáticoame ricanos homossexuais e moradores de rua se tornaram vítimas desumanizadas Pessoas de outra forma amáveis atenciosas e gentis perpetraram atos de violência insulto ou outras formas de maustratos contra esses grupos ao mesmo tempo em que evitavam a responsabilidade por seu comportamento Quando as vítimas não são desumanizadas elas são às vezes acusadas pela conduta culpável do perpetrador Um estuprador pode acusar a vítima por seu crime citando seu vestido ou comportamento provocativo Conduta repreensível Efeitos nocivos Vítima Justificativa moral Comparação paliativa Rotulação eufemística Deslocamento da responsabilidade Diluição da responsabilidade Minimizar ignorar ou interpretar mal as consequências Desumanização Atribuição de culpa FIGURA 172 Mecanismos por meio dos quais o controle interno é ativado de forma seletiva ou desenga jado de conduta repreensível em diferentes pontos no processo regulatório Feist17indd 341 Feist17indd 341 291014 0935 291014 0935 342 FEIST FEIST ROBERTS Deslocar ou diluir a responsabilidade O quarto método para dissociar as ações das consequências é deslocar ou diluir a responsabilidade ver quadro inferior na Fig 172 Com o deslocamento as pessoas minimizam as consequências de suas ações atribuindo a responsabilida de a uma fonte externa Exemplos incluem uma emprega da que alega que seu chefe é responsável por sua ineficiên cia e um universitário que culpa o professor por suas notas baixas Um procedimento relacionado é diluir a responsabilida de espalhála tanto que ninguém seja responsável Uma funcionária pública pode diluir a responsabilidade por suas ações por toda a burocracia com comentários como É as sim que as coisas são feitas por aqui ou Isto é simples mente política COMPORTAMENTO DESADAPTADO O conceito de Bandura de causação recíproca triádica presume que o comportamento é aprendido como conse quência de uma interação mútua 1 da pessoa incluindo cognição e processos neurofisiológicos 2 do ambiente incluindo relações interpessoais e condições socioeco nômicas e 3 de fatores comportamentais incluindo experiências prévias com reforço O comportamento desadaptado não é exceção O conceito de Bandura de comportamento desadaptado se presta mais pronta mente a reações depressivas fobias e comportamentos agressivos Depressão Padrões e objetivos pessoais altos podem levar a realiza ções e satisfação consigo próprio No entanto quando as pessoas estabelecem objetivos muito altos é provável que fracassem O fracasso em geral conduz a depressão e as pessoas deprimidas amiúde subestimam suas realizações O resultado é infelicidade crônica sentimento de desva lia falta de propósito e depressão generalizada Bandura 1986 1997 acredita que pode ocorrer depressão desa daptada em qualquer uma das três subfunções autorregu latórias 1 autoobservção 2 processos de julgamento e 3 autorreações Primeiro durante a autoobservação as pessoas po dem julgar erroneamente o próprio desempenho ou dis torcer sua lembrança de realizações passadas As pessoas deprimidas tendem a exagerar seus erros passados e a minimizar suas realizações anteriores uma tendência que perpetua sua depressão Segundo as pessoas deprimidas tendem a fazer jul gamentos equivocados Elas estabelecem seus padrões irrealisticamente tão altos que qualquer realização pessoal é julgada como um fracasso Mesmo quando atingem o su cesso aos olhos dos outros elas continuam a criticar com severidade o próprio desempenho A depressão é especial mente provável quando as pessoas estabelecem objetivos e padrões pessoais muito mais altos do que sua eficácia per cebida para atingilos Por fim as reações dos indivíduos deprimidos são mui to diferentes daquelas das pessoas não deprimidas As pes soas deprimidas não só se julgam duramente mas também são inclinadas a se tratarem mal devido a seus defeitos Fobias Fobias são medos fortes e disseminados o suficiente para terem efeitos debilitantes graves na vida diária da pessoa Por exemplo fobias a cobras impedem as pessoas de terem uma variedade de empregos e desfrutarem de muitos tipos de atividades recreativas As fobias e os medos são apren didos por contato direto generalização inadequada e es pecialmente experiências de observação Bandura 1986 Eles são difíceis de extinguir porque a pessoa fóbica sim plesmente evita o objeto ameaçador A menos que o objeto temido seja encontrado de alguma maneira a fobia irá du rar de modo indefinido Bandura 1986 credita à televisão e a outras mídias de notícias a geração de muitos de nossos medos Estupros assaltos à mão armada ou assassinatos divulgados pela mídia aterrorizam uma comunidade fazendo as pessoas terem as vidas confinadas por portas trancadas A maioria das pessoas nunca foi estuprada roubada ou machucada de modo intencional no entanto muitas vivem com medo de serem agredidas por criminosos Os atos criminais vio lentos que parecem aleatórios e imprevisíveis são mais pro váveis de instigar reações fóbicas Depois de estabelecidas as fobias são mantidas por determinantes consequentes ou seja o reforço negativo que a pessoa fóbica recebe por evitar a situação que produz medo Por exemplo se a pessoa espera passar por experiên cias aversivas ser assaltada enquanto atravessa o parque da cidade ela reduz seu sentimento de ameaça não en trando no parque ou até mesmo não chegando perto dele Nesse exemplo o comportamento desadaptado esquiva é produzido e mantido pela interação mútua das expectati vas da pessoa crença de que será assaltada pelo ambiente externo o parque da cidade e por fatores comportamen tais suas experiências prévias com o medo Agressividade Comportamentos agressivos quando levados a extremos também são desadaptados Para Bandura 1986 o com portamento agressivo é adquirido por meio de observação de outros experiências diretas com reforços positivos e ne gativos treinamento ou instrução e crenças bizarras Depois de estabelecido o comportamento agressivo as pessoas continuam a agredir por pelo menos cinco razões Feist17indd 342 Feist17indd 342 291014 0935 291014 0935 TEORIAS DA PERSONALIDADE 343 1 elas gostam de infligir danos à vítima reforço positi vo 2 elas evitam ou contrariam as consequências aver sivas da agressão pelos outros reforço negativo 3 elas recebem lesões ou danos por não se comportarem agres sivamente punição 4 elas correspondem aos padrões pessoais de conduta por seu comportamento agressivo au torreforço e 5 elas observam outros recebendo recom pensas por atos agressivos ou punição por comportamento não agressivo Bandura acredita que as ações agressivas conduzam a mais agressividade Essa crença está baseada no clássi co estudo de Bandura Dorrie Ross e Sheila Ross 1963 o qual constatou que as crianças que observavam outros comportaremse com agressividade exibiam mais agressi vidade do que um grupocontrole de crianças que não viam atos agressivos Nesse estudo os pesquisadores dividiram os meninos e as meninas da creche em três grupos experi mentais combinados e um grupocontrole As crianças no primeiro grupo experimental observa ram um modelo ao vivo se comportando com agressivida de física e verbal com inúmeros brinquedos incluindo um grande JoãoBobo inflado o segundo grupo experimen tal observou um filme que mostrava o mesmo modelo se comportando de maneira idêntica o terceiro grupo experi mental viu um desenho animado em que um modelo ves tido como um gato preto comportavase agressivamente contra o JoãoBobo As crianças do grupocontrole foram combinadas com aquelas dos grupos experimentais em classificações prévias de agressividade mas elas não foram submetidas a um modelo agressivo Depois que as crianças nos três grupos experimen tais observaram um modelo repreendendo chutando soqueando e batendo no JoãoBobo com um taco elas direcionaramse para outra sala onde foram frustradas de forma sutil Imediatamente após tal frustração cada criança entrava na sala experimental que continha alguns brinquedos como uma versão menor do JoãoBobo que podiam ser usados de modo agressivo Além disso alguns brinquedos não agressivos como um aparelho de chá e material para colorir estavam presentes Os observadores assistiram à resposta agressiva ou à não agressiva com os brinquedos por meio de uma sala de espelho Conforme esperado as crianças expostas a um mo delo agressivo exibiram mais respostas agressivas do que aquelas que não tinham sido expostas Mas ao contrário das expectativas os pesquisadores não constataram di ferenças na quantidade total de agressividade demons trada pelas crianças nos três grupos experimentais As crianças que tinham observado o personagem de dese nho animado eram pelo menos tão agressivas quanto as expostas a um modelo ao vivo ou a um modelo filmado Em geral as crianças em cada grupo experimental exibi ram quase duas vezes mais comportamento agressivo do que as do grupocontrole Além disso o tipo particular de resposta agressiva foi extremamente semelhante ao exibido pelos modelos adultos As crianças repreende ram chutaram soquearam e bateram no boneco com um taco em uma imitação muito próxima do que havia sido modelado Esse estudo agora com mais de 40 anos foi conduzido em uma época em que as pessoas ainda debatiam os efei tos da violência na televisão sobre as crianças e os adultos Algumas pessoas argumentavam que assistir a comporta mentos agressivos na televisão teria um efeito catártico sobre as crianças ou seja as que experimentavam agres sividade vicariamente teriam pouca motivação para agir de maneira agressiva O estudo de Bandura Ross e Ross 1963 ofereceu algumas das primeiras evidências experi mentais de que a violência na TV não refreia a agressivi dade ao contrário ela produz comportamentos agressivos adicionais TERAPIA De acordo com Bandura comportamentos desviantes são iniciados com base nos princípios da aprendizagem social cognitiva e são mantidos porque em alguns aspectos eles continuam a servir a um propósito A mudança terapêuti ca portanto é difícil pois envolve eliminar comportamen tos que são satisfatórios para a pessoa Fumar comer em excesso e consumir bebidas alcoólicas por exemplo em geral têm efeitos positivos e suas consequências aversivas de longo alcance não costumam ser suficientes para produ zir comportamento de esquiva O objetivo final da terapia social cognitiva é a autorre gulação Bandura 1986 Para atingir esse fim o terapeu ta introduz estratégias designadas para induzir mudanças comportamentais específicas generalizar tais mudanças para outras situações e mantêlas prevenindo recaída O primeiro passo para o sucesso da terapia é instigar alguma mudança no comportamento Por exemplo se um terapeuta consegue extinguir o medo de altura em uma pessoa previamente acrofóbica então a mudança foi in duzida e aquela pessoa não terá medo de subir uma es cada de 6 metros Um nível mais importante da terapia é generalizar mudanças específicas Por exemplo a pessoa acrofóbica não só será capaz de subir uma escada como também será capaz de andar de avião ou olhar por janelas de edifícios altos Alguns terapeutas induzem mudança e facilitam a generalização mas com o tempo os efeitos terapêuticos são perdidos e a pessoa readquire o com portamento desadaptado Essa recaída é particularmen te provável quando as pessoas estão extinguindo hábitos maladaptativos tais como fumar e comer em excesso A terapia mais efetiva atinge o terceiro nível de conquis ta que é a manutenção dos comportamentos funcionais recémadquiridos Feist17indd 343 Feist17indd 343 291014 0935 291014 0935 344 FEIST FEIST ROBERTS Bandura 1986 sugeriu várias abordagens terapêu ticas básicas A primeira inclui a modelagem explícita ou vi cariante As pessoas que observam modelos ao vivo ou fil mados realizando atividades ameaçadoras com frequência sentem menos medo e ansiedade e então são capazes de realizar essas mesmas atividades Em um segundo modo de tratamento modelagem velada ou cognitiva o terapeuta treina os pacientes para visualizarem modelos que realizam comportamentos te míveis As estratégias de modelagem explícita e velada são mais efetivas no entanto quando combinadas com abor dagens orientadas para o desempenho Um terceiro procedimento denominado domínio ena tivo requer que os pacientes executem comportamentos que anteriormente produziram medos incapacitantes Contudo a execução não costuma ser o primeiro passo no tratamento Os pacientes em geral começam observando modelos ou diminuindo sua excitação emocional por meio da dessensibilização sistemática que envolve a extinção da ansiedade ou do medo mediante relaxamento autoindu zido ou induzido pelo terapeuta Com a dessensibilização sistemática o terapeuta e o paciente trabalham juntos para colocar as situações temíveis em uma hierarquia desde a menos ameaçadora até a mais ameaçadora Wolpe 1973 Os pacientes enquanto relaxados executam o comporta mento menos ameaçador e então de forma gradual avan çam pela hierarquia até conseguirem realizar a atividade mais ameaçadora ao mesmo tempo permanecendo em estado de excitação emocional baixo Bandura demonstrou que cada uma dessas estratégias pode ser efetiva e que elas são mais poderosas quando usa das em combinação Bandura 1989 acredita que a razão para sua eficácia pode ser rastreada até um mecanismo co mum em cada uma dessas abordagens ou seja a mediação cognitiva Quando as pessoas usam a cognição para aumen tar a autoeficácia ou seja quando elas se convencem de que podem realizar tarefas difíceis então de fato elas se tornam capazes de enfrentar situações previamente inti midadoras PESQUISA RELACIONADA A teoria social cognitiva de Albert Bandura continua a pro duzir uma grande quantidade de pesquisa em vários domí nios da psicologia com o conceito de autoeficácia gerando por si só centenas de estudos por ano A autoeficácia foi aplicada a uma ampla variedade de domínios incluindo desempenho acadêmico produção no trabalho depressão escape da privação de abrigo enfrentamento do terrorismo e comportamentos relacionados à saúde Selecionamos a seguir apenas duas das muitas aplicações interessantes do conceito de autoeficácia de Albert Bandura o enfrentamen to da ameaça de terrorismo e o manejo do diabetes tipo II Autoeficácia e terrorismo O terrorismo há tempo vem sendo uma ameaça para as sociedades modernas mas como sabem todos os que lembram de 2001 em 11 de setembro daquele ano o ter rorismo atingiu um nível de perigo e promoveu o medo em pessoas por todo o globo Os psicólogos sobretudo em áreas do mundo comumente afetadas pelo terrorismo sempre estiveram interessados em como os indivíduos in gressam na cultura terrorista e como pessoas inocentes lidam com a ameaça constante de terrorismo BenZur Zeidner 1995 Moghaddam Marsella 2004 Zeidner 2007 Mas esse interesse no terrorismo aumentou expo nencialmente depois de 2001 e foi na estrutura da mente pós119 que alguns pesquisadores começaram a conside rar como a autoeficácia poderia ajudar as pessoas a lidar com o terrorismo Na sequência de um ataque terrorista as pessoas re latam experimentar menos segurança pessoal Gallup 2002 Com frequência os ataques terroristas parecem surgir de lugar nenhum e assim as pessoas sentem como se não tivessem controle sobre a prevenção ou a esquiva de tais ataques A crença de que podemos controlar os eventos é a essência do que Bandura pretendia dizer com autoefi cácia Portanto um sentimento aumentado de autoeficácia pode ajudar a aliviar os sentimentos negativos e de insegu rança associados aos ataques terroristas Ainda que possa parecer improvável que determinada pessoa tenha poder de impedir o próximo grande ataque apenas o sentimen to de ser possível fazer algo para tornar um ataque menos provável pode ser útil Talvez isso signifique tomar atitu des concretas como manter um olhar atento a malas aban donadas em aeroportos e estações de metrô ou algo mais abstrato como rezar ou encontrar algum sentimento de conforto e segurança na religião Peter Fischer e colaboradores estavam interessados em investigar a possível ligação entre religião autoeficá cia e enfrentamento da ameaça de terrorismo Fischer Greitemeyer Kastenmuller Jonas Frey 2006 Para examinar o papel da religião Fischer e colaboradores usa ram a Escala de Orientação Religiosa de Gordon Allport ROS Religious Orientation Scale Cap 12 Como você deve lembrar a ROS mede o grau em que as pessoas são intrinsecamente versus extrinsecamente religiosas A re ligiosidade intrínseca é caracterizada por viver de fato a religião não como um meio para um fim mas como uma busca por significado e valor Pesquisas anteriores cons tataram que o uso da oração como um mecanismo de en frentamento está relacionado a um sentimento aumen tado de controle interno sobre os eventos Ai Peterson Rodgers Tice 2005 e então Fischer e colaboradores 2006 levantaram a hipótese de que as pessoas intrin secamente religiosas experimentariam um maior nível de autoeficácia Essa autoeficácia aumentada as ajudaria Feist17indd 344 Feist17indd 344 291014 0935 291014 0935 TEORIAS DA PERSONALIDADE 345 a enfrentar a ameaça de terrorismo quando comparadas aos indivíduos que não são religiosos Para testar sua predição Fischer e colaboradores co letaram dados de uma amostra alemã em novembro de 2003 Durante esse mês a relevância do terrorismo esta va muito em alta na Europa porque em 20 de novembro homensbomba atacaram duas sinagogas em Istambul e cinco dias depois o consulado britânico em Istambul e a sede turca de um banco britânico foram atacados simul taneamente Ao todo 38 pessoas perderam a vida nesses ataques e mais de 500 pessoas ficaram feridas Com a ameaça de mais ataques terroristas na mente de todos os pesquisadores recrutaram participantes para completar a ROS uma medida de autorrelato de autoeficá cia contendo itens como Graças à minha capacidade sei como lidar com situações imprevistas e uma medida do humor Dois meses depois quando a evidência de terroris mo amenizou os pesquisadores administraram outra vez essas mesmas medidas em uma nova amostra de alemães A maior parte dos resultados confirmou as hipóteses dos pesquisadores Quando a relevância do terrorismo era alta pessoas intrinsecamente religiosas estavam com hu mor melhor e relatavam maior autoeficácia do que os indi víduos não religiosos Além disso os pesquisadores cons tataram que o melhor humor experimentado pelas pessoas intrinsecamente religiosas era resultado de seus sentimen tos aumentados de autoeficácia Quando as evidências de terrorismo eram baixas no entanto não houve diferenças no humor ou na autoeficácia entre pessoas intrinsecamen te religiosas e não religiosas Assim quando uma pessoa se defronta com uma ameaça a autoeficácia é crucial para reduzir o impacto nocivo da ameaça A religiosidade é uma forma mas provavelmente não a única de desenvolver um sentimento mais forte de autoeficácia durante tais ameaças A ameaça de terrorismo provavelmente não irá declinar de modo rápido mas essa pesquisa da teoria da personalidade de Bandura demonstrou que quanto mais nos sentirmos no controle e capazes de lidar com circuns tâncias imprevistas menos a ameaça de terrorismo afeta de modo negativo nosso bemestar Autoeficácia e diabetes Uma das formas pelas quais a teoria social cognitiva de Al bert Bandura teve o maior impacto na vida diária de mui tos indivíduos foi na promoção da saúde e na prevenção de doença O próprio Bandura escreveu a respeito da utilidade de sua teoria para encorajar as pessoas a se engajarem em comportamentos saudáveis que podem aumentar o bem estar geral a saúde e a longevidade Bandura 1998b Recentemente William Sacco e colaboradores 2007 estudaram o construto de autoeficácia de Bandura em rela ção com o diabetes tipo II O diabetes é uma doença crôni ca que requer um tratamento muito cuidadoso incluindo uma dieta especial e um programa de exercícios O diabetes apresenta às pessoas uma variedade de desafios físicos mas também está associado a desafios significativos em saúde mental De fato a prevalência de depressão entre diabéticos é o dobro da população geral Anderson Freed land Clouse Lustman 2001 Um dos traços caracterís ticos da depressão é a falta de motivação e devido à dieta restrita e ao plano de exercícios ao qual os pacientes devem aderir isso é particularmente problemático para aqueles que tentam tratar do diabetes Quanto menos os pacientes aderem a seu plano de tratamento da doença maiores se tornam seus sintomas de diabetes o que cria uma espiral descendente com implicações negativas para a saúde física e mental Sacco e colaboradores 2007 portanto procuraram explorar o papel da autoeficácia como uma variável capaz de aumentar a adesão ao plano de manejo da doença e re duzir os sintomas negativos de saúde física e mental A pre dição do estudo desses autores era de que quanto maior o nível de autoeficácia que os pacientes sentissem mais provavelmente as pessoas iriam aderir a seu plano de trata mento da doença e assim melhor se sentiriam Para testar tal hipótese Sacco e colaboradores recru taram uma amostra de adultos que haviam sido diagnos ticados com diabetes tipo II Os participantes completa ram medidas de autorrelato sobre o quanto eles aderiram a dieta exercícios teste de glicose e plano de medicação uma medida de depressão e uma medida de autoeficácia especificamente adaptada para avaliar o quanto de autoe ficácia eles sentiam com relação ao tratamento da doença Além disso os participantes completaram uma medida da frequência e gravidade dos sintomas de diabetes e seu ín dice de massa corporal IMC foi computado com base em dados de seus registros médicos Os resultados desse estudo demonstraram claramen te o quanto a autoeficácia é importante para o tratamen to de doenças crônicas Níveis mais altos de autoeficácia estavam relacionados a níveis mais baixos de depressão adesão aumentada às ordens médicas IMC mais baixo e menor gravidade dos sintomas de diabetes Considerando esses resultados substanciais para a importância da autoe ficácia os pesquisadores examinaram melhor o papel dela no tratamento do diabetes Em outras análises Sacco e co laboradores identificaram que o IMC estava positivamente relacionado à depressão e que a adesão às ordens médicas estava negativamente relacionada à depressão Mas a autoeficácia pode desempenhar um papel nes sas relações Para responder a essa pergunta os pesquisa dores realizaram análises mais complexas e o que eles en contraram só destacou ainda mais o quanto é importante o paciente peceber um sentimento de controle sobre sua saúde quando se trata de tratar uma doença como o diabe tes A autoeficácia foi diretamente responsável pela relação entre IMC e depressão e pela relação entre adesão e depres Feist17indd 345 Feist17indd 345 291014 0935 291014 0935 346 FEIST FEIST ROBERTS são De forma mais específica ter um IMC alto levava as pessoas a sentirem menos autoeficácia o que por sua vez conduzia a um aumento na depressão Ao contrário ser ca paz de aderir ao plano de tratamento da doença servia para aumentar a autoeficácia e esse aumento no sentimento de controle sobre a doença foi o responsável pela diminuição da depressão A teoria social cognitiva se torna global O trabalho mais recente de Albert Bandura está levando a teoria social cognitiva a novas direções para encontrar soluções para problemas globais como o crescimento eleva do da população Em colaboração com o Population Media Center um grupo que proporciona entretenimento e edu cação para a mudança social na África na Ásia e na Améri ca Latina Bandura ajudou a produzir dramas em seriados que encorajam comportamentos de mudança positiva com base em evidências para a audiência da televisão e do rádio modelar por meio da aprendizagem por observação Essas produções para mídias de massa demonstraram melhorar a eficácia percebida do público para determinar o tama nho de sua família aumentar o uso de contraceptivos e promover o status das mulheres na vida familiar social e educacional Bandura 2002c Um trabalho mais recente dessa equipe de colaboradores está explorando a eficácia de seriados dramáticos similares para a melhoria de práticas de preservação Em uma apresentação que fez à Britsh Psychological Society em 2009 sobre essa notável aplicação efetiva de seu trabalho Bandura encerrou com o seguinte chamado à ação Os problemas globais instilam um sentimento de para lisia nas pessoas Elas acham que há pouco que possam fazer para reduzir tais problemas O mantra pense glo balmente aja localmente é um esforço para localizar o global Nossas aplicações globais aumentam a escala e a abrangência da teoria social cognitiva na promoção de mudanças pessoais e sociais Elas ilustram como um es forço coletivo combinando o desempenho dos diferen tes atores pode ter um impacto mundial sobre proble mas aparentemente intransponíveis Como sociedade desfrutamos dos benefícios deixados por aqueles que antes de nós trabalharam coletivamente pelas mudan ças sociais que melhoraram nossas vidas Nossa pró pria eficácia coletiva determinará se entregaremos um planeta habitável para nossos netos e gerações futuras Assim enquanto você mobiliza nosso conhecimento e sua influência pessoal para salvar nosso planeta maltra tado que a força da eficácia esteja com você Bandura 2009 p 506 Esse novo e excitante trabalho colaborativo é uma ilustração forte de como uma teoria da personalidade pode estruturar soluções para problemas sociais globais A au toeficácia é claramente um construto com implicações de longo alcance não só para nossas vidas pessoais mas para a ação coletiva Considerando isso é fácil perceber por que a teoria de Albert Bandura continua a gerar uma quanti dade impressionante de pesquisa e aplicação CRÍTICAS A BANDURA Abert Bandura desenvolveu sua teoria social cognitiva por meio de um equilíbrio cuidadoso dos dois componentes principais da estrutura teórica especulação inovadora e observação acurada Suas especulações teóricas raras vezes ultrapassaram seus dados mas avançaram com cuidado apenas um passo à frente das observações Tal procedi mento cientificamente sólido aumenta a probabilidade de que suas hipóteses produzam resultados positivos e que sua teoria gere hipóteses verificáveis adicionais A utilidade da teoria da personalidade de Bandura como a de outras teorias reside na capacidade de gerar pes quisa de se oferecer para refutação e organizar o conheci mento Além disso ela deve servir como um guia prático para a ação e ser internamente coerente e parcimoniosa Como ela se classifica segundo esses seis critérios A teoria de Bandura gerou milhares de estudos de pesquisa e assim recebe uma classificação muito alta na capacidade de gerar pesquisa Bandura e seus colaborado res conduziram boa parte do trabalho mas outros pes quisadores também foram atraídos pela teoria Bandura pode ser o escritor mais meticuloso de todos os teóricos da personalidade Suas formulações cuidadosamente construídas prestamse à formação de inúmeras hipóte ses verificáveis Segundo o padrão de refutabilidade classificamos a teoria de Bandura como alta A teoria da autoeficácia su gere que as crenças das pessoas em sua eficácia pessoal influenciam o curso de ação que escolhem seguir o quanto de esforço irão investir nas atividades por quanto tempo irão perseverar em face de obstáculos e experiências de fracasso e sua resiliência após contratempos Bandura 1994 p 65 Tal afirmação sugere várias áreas possíveis de pesquisa que poderiam levar à refutação da teoria da auto eficácia Na capacidade de organizar o conhecimento a teoria de Bandura recebe uma classificação alta Muitos achados da pesquisa em psicologia podem ser organizados pela teoria social cognitiva O modelo de causação recíproca triádica é um conceito abrangente que oferece uma explicação viável para a aquisição dos comportamentos mais observáveis A inclusão de três variáveis nesse paradigma confere à teo ria maior flexibilidade para organizar e explicar o compor tamento do que o behaviorismo radical de Skinner o qual se baseia fortemente nas variáveis ambientais O quanto a teoria social cognitiva de Bandura é prática Para o terapeuta o professor o pai ou alguém interessado Feist17indd 346 Feist17indd 346 291014 0935 291014 0935 TEORIAS DA PERSONALIDADE 347 na aquisição e na manutenção de novos comportamentos a teoria da autoeficácia fornece diretrizes úteis e específi cas Além de apresentar técnicas para melhorar a eficácia pessoal e coletiva para uso eficiente por procuração a teo ria de Bandura sugere formas pelas quais a aprendizagem por observação e a modelagem podem ser empregadas para adquirir comportamentos A teoria é coerente internamente Como a teoria social cognitiva de Bandura não é especulativa ela possui coe rência interna excepcional Bandura não tem medo de es pecular mas ele nunca arrisca muito além dos dados em píricos disponíveis O resultado é uma teoria formulada com cuidado escrita de modo rigoroso e internamente coerente O critério final de uma teoria útil é a parcimônia Mais uma vez a teoria de Bandura satisfaz altos padrões A teo ria é simples e sem restrições de explicações hipotéticas ou fantasiosas CONCEITO DE HUMANIDADE Bandura considera os humanos como detentores da capa cidade de se tornar muitas coisas e a maioria dessas coisas é aprendida por modelagem Se a aprendizagem humana dependesse da experiência direta de ensaio e erro ela seria excessivamente lenta entediante e perigosa Felizmente os humanos desenvolveram uma capacidade cognitiva avançada para a aprendizagem por observação que lhes possibilita mol dar e estruturar suas vidas mediante o poder da modelagem Bandura 2002a p 167 Bandura acredita que as pessoas são plásticas e flexíveis e que a plasticidade e a flexibilidade são a essência da nature za básica da humanidade Como os humanos desenvolveram mecanismos neurofisiológicos para simbolizar suas experiên cias sua natureza é marcada por um grande grau de flexibili dade As pessoas têm a capacidade de armazenar experiências anteriores e usar essas informações para traçar ações futuras A capacidade de usar símbolos proporciona uma ferra menta poderosa para entender e controlar o ambiente Ela possibilita às pessoas resolver problemas sem precisar recorrer ao comportamento ineficiente de ensaio e erro imaginar as consequências de suas ações e estabelecer objetivos para si Os humanos são direcionados para os objetivos são ani mais orientados que conseguem encarar o futuro e lhe confe rir significado tendo consciência das possíveis consequências de um comportamento futuro Os humanos antecipam o fu turo e se comportam em conformidade no presente O futuro não determina o comportamento mas sua representação cog nitiva exerce um efeito poderoso sobre as ações presentes As pessoas estabelecem objetivos antecipam as prováveis conse quências das ações prospectivas e selecionam e criam cursos de ação que provavelmente irão produzir os resultados dese jados e evitar os resultados prejudiciais Bandura 2001 p 7 Ainda que as pessoas sejam basicamente orientadas para os objetivos Bandura acredita que elas possuem inten ções e propósitos específicos em vez de gerais As pessoas não são motivadas por um único objetivo dominante como a luta pela superioridade ou pela autoatualização mas por uma multiplicidade de objetivos alguns distantes outros pró ximos Essas intenções individuais no entanto não costumam ser anárquicas elas possuem alguma estabilidade e ordem A cognição dá às pessoas a capacidade de avaliar prováveis consequências e eliminar comportamentos que não satisfa zem seus padrões de conduta Os padrões pessoais portanto tendem a fornecer ao comportamento humano um grau de coerência muito embora esse comportamento não possua um motivomestre para guiálo O conceito de Bandura de humanidade é mais otimista do que pessimista porque sustenta que as pessoas são capazes de aprender novos comportamentos durante a vida No entanto os comportamentos desadaptados podem persistir devido à baixa autoeficácia ou porque são percebidos como reforçados Porém esses comportamentos desadaptados não precisam persistir porque a maioria das pessoas tem a capacidade de mudar imitando comportamentos produtivos dos outros e usando suas habilidades cognitivas para resolver problemas A teoria social cognitiva de Bandura é claro enfatiza mais os fatores sociais do que os biológicos Contudo ela reconhece que a genética contribui para a variável da pes soa P no paradigma da causação recíproca triádica Porém mesmo dentro desse modelo a cognição ganha ascendência portanto os fatores biológicos se tornam menos importan tes Além do mais os fatores sociais são claramente mais es senciais do que as outras duas variáveis o ambiente E e o comportamento B Classificamos Bandura como alto em liberdade versus de terminismo porque ele acredita que as pessoas podem exer cer uma grande medida de controle sobre suas vidas Mesmo sendo afetadas pelo ambiente e pelas experiências com refor ço elas têm algum poder de moldar essas duas condições ex ternas Até certo ponto as pessoas conseguem manejar essas condições ambientais que moldarão o comportamento futuro e podem escolher ignorar ou aumentar as experiências pré vias A agência humana sugere que as pessoas que possuem alta eficácia pessoal e coletiva e que fazem uso eficiente de procuradores têm uma grande influência sobre as próprias ações No entanto algumas pessoas têm mais liberdade do Feist17indd 347 Feist17indd 347 291014 0935 291014 0935 348 FEIST FEIST ROBERTS Termoschave e conceitos A aprendizagem por observação permite que as pes soas aprendam sem realizar um comportamento A aprendizagem por observação requer 1 atenção a um modelo 2 organização e retenção das observa ções 3 produção do comportamento e 4 motivação para realizar um comportamento modelado A aprendizagem enativa ocorre quando as respostas das pessoas produzem consequências O funcionamento humano é um produto da intera ção mútua entre eventos ambientais comportamen to e fatores pessoais modelo denominado causação recíproca triádica Encontros casuais e eventos fortuitos são dois fatores ambientais importantes que influenciam a vida das pessoas de forma não planejada e inesperada Agência humana significa que as pessoas podem e de fato exercem uma medida de controle sobre suas vidas Autoeficácia referese à crença das pessoas de que elas são capazes de realizar comportamentos que podem produzir os resultados desejados em uma si tuação particular Agência por procuração ocorre quando as pessoas têm a capacidade de depender de outros para bens e serviços Eficácia coletiva referese à confiança que os grupos de pessoas têm de que seus esforços combinados produzirão mudança social As pessoas possuem alguma capacidade de autorre gulação e elas usam fatores externos e internos para se autorregularem Os fatores externos nos fornecem padrões para avaliar mos nosso comportamento bem como reforço exter no na forma de recompensas recebidas dos outros Os fatores internos na autorregulação incluem 1 autoobservação 2 processos de julgamento e 3 autorreação Por meio da ativação seletiva e do desengajamento do controle interno as pessoas podem se distanciar das consequências prejudiciais de suas ações Há quatro técnicas principais de ativação seletiva e desengajamento do controle interno a saber 1 redefinição do comportamento 2 deslocamento ou di fusão da responsabilidade 3 desconsideração ou dis torção das consequências do comportamento e 4 desu manização ou acusação das vítimas por seus prejuízos Comportamentos desadaptados como depressão fo bias e agressividade são adquiridos por meio da in teração recíproca entre ambiente fatores pessoais e comportamento A terapia social cognitiva enfatiza a mediação cogniti va em especial a autoficácia percebida que outras porque elas são mais aptas na regulação do pró prio comportamento Bandura 1986 definiu liberdade como o número de opções disponíveis às pessoas e seu direito de exercêlas p 42 A liberdade pessoal então é limitada por restrições físicas como as leis por preconceitos por regula ções e pelos direitos das outras pessoas Além disso fatores pessoais como ineficácia percebida e falta de confiança res tringem a liberdade individual Na questão de causalidade ou teleologia a posição de Bandura é descrita como moderada O funcionamento hu mano é produto de fatores ambientais que interagem com o comportamento e com variáveis pessoais em especial a ativi dade cognitiva As pessoas se movem com um propósito em direção aos objetivos que elas estabeleceram mas não existe motivação no passado nem no futuro ela é contemporânea Ainda que eventos futuros não possam motivar as pessoas a concepção que as pessoas têm do futuro pode e de fato regula o comportamento atual A teoria social cognitiva enfatiza o pensamento conscien te sobre as determinantes inconscientes do comportamento A autorregulação das ações se baseia no automonitoramento no julgamento e no autorreação todos os quais tendem a ser conscientes durante a situação de aprendizagem As pessoas não deixam de ter reflexão durante o processo de aprendi zagem Elas fazem julgamentos conscientes sobre como suas ações afetam o ambiente Bandura 1986 p 116 Depois que as aprendizagens estão bemestabelecidas especialmente as aprendizagens motoras elas podem se tornar inconscientes As pessoas não têm que estar conscientes de todas as suas ações enquanto caminham comem ou dirigem um carro Bandura 2001 acredita que a divisão entre fatores bio lógicos e sociais é uma falsa dicotomia Apesar de as pessoas serem limitadas por forças biológicas elas possuem uma plas ticidade notável Seus ambientes sociais lhes permitem um amplo leque de comportamentos incluindo o uso de outras pessoas como modelos Cada pessoa vive dentro de inúmeras redes sociais e assim é influenciada por uma variedade de pessoas A tecnologia moderna na forma da Rede Mundial e da mídia facilita a propagação das influências sociais Como as pessoas possuem uma notável flexibilidade e ca pacidade de aprendizagem há grandes diferenças individuais entre elas No entanto a ênfase de Bandura na singularidade é moderada pelas influências biológicas e sociais ambas as quais contribuem para algumas semelhanças entre as pessoas Feist17indd 348 Feist17indd 348 291014 0935 291014 0935 CAPÍTULO 18 Rotter e Mischel Teoria da Aprendizagem Social Cognitiva Panorama da teoria da aprendizagem social cognitiva Biografia de Julian Rotter Introdução à teoria da aprendizagem social de Rotter Predição de comportamentos específicos Potencial do comportamento Expectativa Valor do reforço Situação psicológica Fórmula de predição básica Predição de comportamentos gerais Expectativas generalizadas Necessidades Fórmula de predição geral Controle interno e externo do reforço Escala de Confiança Interpessoal Comportamento desadaptado Psicoterapia Mudando objetivos Eliminando expectativas baixas Introdução à teoria da personalidade de Mischel Biografia de Walter Mischel Antecedentes do sistema de personalidade cognitivoafetivo Paradoxo da consistência Interação pessoasituação Sistema de personalidade cognitivoafetivo Predição do comportamento Variáveis da situação Unidades cognitivoafetivas Pesquisa relacionada Locus de controle e heróis do holocausto Interação pessoasituação Autorregulação ao longo da vida Críticas à teoria da aprendizagem social cognitiva Conceito de humanidade Termoschave e conceitos Rotter Mischel Feist18indd 349 Feist18indd 349 291014 0936 291014 0936 350 FEIST FEIST ROBERTS Qual par de itens se enquadra melhor em suas crenças Marque a ou b 1 a Sorte é a razão principal para o sucesso das pessoas b As pessoas fazem a própria sorte 2 a Uma forma de provocar um temporal é planejar um piquenique ou algum outro evento ao ar livre b Os padrões do clima não têm nada a ver com os de sejos das pessoas 3 a As notas dos estudantes são sobretudo resultado do acaso b As notas dos estudantes são sobretudo resultado do trabalho árduo 4 a As pessoas não têm controle sobre as grandes indús trias que poluem o ambiente b As pessoas podem trabalhar em conjunto para im pedir que as grandes indústrias descartem objetos no ambiente 5 a A popularidade entre os estudantes do ensino mé dio é devida sobretudo a coisas além de seu contro le por exemplo a boa aparência b A popularidade entre os estudantes do ensino mé dio é devida sobretudo aos esforços dos próprios estudantes 6 a Ferimentos por acidentes de trânsito não podem ser prevenidos Quando é sua vez é sua vez b Usar cinto de segurança ter airbags em seu auto móvel e dirigir dentro do limite de velocidade são formas comprovadas de reduzir ferimentos por aci dentes de trânsito Esses itens são semelhantes aos que Julian Rotter usou para desenvolver sua Escala de Controle ExternoInterno geralmente denominada escala de locus de controle Discutiremos esse ins trumento popular na seção sobre controle interno e externo do reforço e apresentaremos uma análise do significado desses itens PANORAMA DA TEORIA DA APRENDIZAGEM SOCIAL COGNITIVA As teorias da aprendizagem social cognitiva de Julian Rot ter e Walter Mischel se baseiam no pressuposto de que fa tores cognitivos ajudam a moldar como as pessoas reagem às forças ambientais Ambos os teóricos discordam da ex plicação de Skinner de que o comportamento é moldado pelo reforço imediato e em vez disso sugerem que as ex pectativas que o indivíduo tem dos eventos futuros são os determinantes primários do desempenho Rotter argumenta que o comportamento humano é previsto de forma mais adequada a partir de uma com preensão da interação das pessoas com seus ambientes significativos Como interacionista ele acredita que nem o ambiente nem o indivíduo é completamente responsá vel pelo comportamento Em vez disso ele sustenta que as cognições das pessoas a história passada e as expec tativas do futuro são a chave para a predição do compor tamento Nesse aspecto ele difere de Skinner Cap 16 que acreditava que o reforço provém em última análise do ambiente A teoria social cognitiva de Mischel tem muito em co mum com a teoria social cognitiva de Bandura e a teoria da aprendizagem social de Rotter Assim como Bandura e Rot ter Mischel defende que fatores cognitivos como expec tativas percepções subjetivas valores objetivos e padrões sociais desempenham papéis importantes na formação da personalidade Suas contribuições à teoria da persona lidade se desenvolveram a partir da pesquisa sobre o adia mento da gratificação da pesquisa referente à consistên cia ou à inconsistência da personalidade e atualmente do trabalho com Yuichi Shoda a respeito do desenvolvimento de um sistema de personalidade cognitivoafetivo BIOGRAFIA DE JULIAN ROTTER Julian B Rotter o autor da escala de locus de controle nasceu no Brooklyn em 22 de outubro de 1916 o terceiro e mais novo filho de pais imigrantes judeus Rotter 1993 lembra va que ele se encaixava na descrição de Adler de um filho caçula altamente competitivo e combativo Ainda que seus pais observassem a religião e os costumes judeus eles não eram muito religiosos Rotter 1993 descreveu a condição socioeconômica de sua família como confortavelmente clas se média até a Grande Depressão quando meu pai perdeu seu negócio de atacado de papéis e nos tornamos parte das massas de desempregados durante dois anos p 273274 A depressão despertou em Rotter uma preocupação vitalícia com a injustiça social e ensinou a importância das condições situacionais que afetam o comportamento humano Como estudante do ensino fundamental e do ensino médio ele era um ávido leitor e quando calouro na uni versidade já tinha lido quase todos os livros de ficção da biblioteca pública local Assim certo dia se voltou para as estantes de psicologia onde encontrou O conhecimento da natureza humana de Adler 1927 Psicopatologia da vida co tidiana de Freud 19011960 e A mente humana de Karl Menninger 1920 Ele ficou particularmente impressiona do com Adler e Freud e logo voltou procurando por mais textos Rotter 1982 1993 Quando ingressou no Brooklyn College ele já se mos trava muito interessado em psicologia mas escolheu a ên fase em química porque parecia um diploma com maior probabilidade de assegurar um emprego durante a de pressão da década de 1930 Quando calouro no Brooklyn College ele soube que Adler era professor de psicologia médica na Faculdade de Medicina de Long Island Ele as sistiu às conferências médicas de Adler e várias de suas demonstrações clínicas Por fim veio a conhecer Adler Feist18indd 350 Feist18indd 350 291014 0936 291014 0936 TEORIAS DA PERSONALIDADE 351 pessoalmente que o convidou para participar das reuniões da Society for Individual Psychology Rotter 1993 Quando Rotter se formou no Brooklyn College em 1937 tinha mais créditos em psicologia do que em quí mica Ingressou então na pósgraduação em psicologia na Universidade de Iowa na qual recebeu o diploma de mestrado em 1938 Ele concluiu a residência em psicolo gia clínica no Worcester State Hospital em Massachusetts onde conheceu sua futura esposa Clara Barnes Em 1941 Rotter concluiu o doutorado em psicologia clínica na Uni versidade de Indiana Naquele mesmo ano aceitou um cargo como psicólogo clínico no Norwich State Hospital em Connecticut e suas funções incluíam a formação dos internos e dos assistentes da Universidade de Connecticut e da Universidade Wes leyan Na II Guerra Mundial ele ingressou no exército e atuou por mais de três anos como psicólogo Após a guerra Rotter voltou por pouco tempo para Norwich mas logo assumiu um emprego na Universidade Estadual de Ohio para onde atraiu inúmeros estudantes excepcionais de pósgraduação incluindo Walter Mischel Por mais de 12 anos Rotter e George Kelly ver Cap 19 atuaram como os dois membros mais dominantes do depar tamento de psicologia na Universidade de Ohio No entanto Rotter estava insatisfeito com os efeitos políticos do macar thismo em Ohio e em 1963 assumiu um cargo na Universi dade de Connecticut como diretor do Programa de Forma ção Clínica Ele continuou nesse cargo até 1987 quando se aposentou como professor emérito Rotter e sua esposa Cla ra que morreu em 1986 tiveram dois filhos uma menina Jean e um menino Richard que morreu em 1995 Entre as publicações mais importantes de Rotter es tão Aprendizagem social e psicologia clínica Social Learning and Clinical Psychology 1954 Psicologia clínica Clinical Psychology 1964 Aplicações de uma teoria da aprendizagem social da personalidade com J E Chance e E J Phares Ap plications of a Social Learning Theory of Personality 1972 Personalidade com D J Hochreich Personality 1975 De senvolvimento e aplicação da teoria da aprendizagem social trabalhos selecionados The Development and Application of Social Learning Theory Selected Papers 1982 o Teste de Completamento de Sentenças de Rotter Rotter 1966 e a Escala de Confiança Interpessoal Rotter 1967 Rotter trabalhou como presidente da Eastern Psycho logical Association e das divisões de Psicologia Social e da Personalidade e Psicologia Clínica da American Psychologi cal Association APA Ele também cumpriu dois mandatos no Conselho de Educação e Formação da APA Em 1988 recebeu o prestigioso Distinguished Scientific Contribu tion Award da APA No ano seguinte recebeu o Distingui shed Contribution to Clinical Training Award do Conselho de Diretores Universitários de Psicologia Clínica N de RT Julian Rooter faleceu em 06 de janeiro de 2014 INTRODUÇÃO À TEORIA DA APRENDIZAGEM SOCIAL DE ROTTER A teoria da aprendizagem social se baseia em cinco hipó teses básicas Primeiro ela pressupõe que os humanos in teragem com seus ambientes significativos Rotter 1982 A reação das pessoas aos estímulos ambientais depende do significado ou da importância que atribuem a um evento Os reforços não dependem dos estímulos externos somen te mas recebem significado atribuído pela capacidade cog nitiva do indivíduo Da mesma forma características pes soais como as necessidades ou os traços não podem por si só causar o comportamento Em vez disso Rotter acredita que o comportamento humano se origina da interação de fatores ambientais e pessoais O segundo pressuposto da teoria de Rotter é que a personalidade humana é aprendida Ou seja a personali dade não é estabelecida ou determinada em uma época particular do desenvolvimento em vez disso ela pode ser alterada ou modificada enquanto as pessoas forem capa zes de aprender Apesar de nosso acúmulo de experiências anteriores dar a nossa personalidade alguma estabilidade sempre somos responsivos à mudança por meio de novas experiências Aprendemos com as experiências passadas mas essas experiências não são absolutamente constantes elas são influenciadas por experiências intervenientes as quais então afetam as percepções presentes O terceiro pressuposto da teoria da aprendizagem so cial é que a personalidade possui uma unidade básica isto é as personalidades das pessoas dispõem de uma estabilidade relativa As pessoas aprendem a avaliar novas experiências com base no reforço prévio Essa avaliação relativamente consistente culmina em maior estabilidade e unidade da personalidade A quarta hipótese básica de Rotter é que a motivação é direcionada para o objetivo Ele rejeita a noção de que as pessoas são primeiro motivadas a reduzir a tensão e bus car o prazer insistindo em que a melhor explicação para o comportamento humano reside nas expectativas das pessoas de que seus comportamentos as estejam impul sionando em direção aos objetivos Por exemplo a maioria dos estudantes universitários tem o objetivo da graduação e está disposta a suportar o estresse a tensão e o trabalho árduo para atingir esse objetivo Em vez de reduzir a ten são a perspectiva de vários anos difíceis de aulas na uni versidade tende a aumentála Em igualdade de condições as pessoas são mais forte mente reforçadas por comportamentos que as movem na direção dos objetivos previstos Essa afirmação referese à lei empírica do efeito de Rotter a qual define reforço como qualquer ação condição ou evento que afete o movi mento do indivíduo na direção de um objetivo Rotter Hochreich 1975 p 95 Feist18indd 351 Feist18indd 351 291014 0936 291014 0936 352 FEIST FEIST ROBERTS O quinto pressuposto de Rotter é que as pessoas são capazes de prever eventos Além disso elas usam o movi mento percebido na direção do evento previsto como um critério para avaliar os reforçadores Começando por esses cinco pressupostos gerais Rotter construiu uma teoria da personalidade que pretende predizer o comportamento humano PREDIÇÃO DE COMPORTAMENTOS ESPECÍFICOS Como a preocupação primária de Rotter é a predição do comportamento humano ele sugeriu quatro variáveis que devem ser analisadas para que se façam predições corretas em uma situação específica Essas variáveis são o potencial do comportamento a expectativa o valor do reforço e a si tuação psicológica O potencial do comportamento referese à probabilidade de que determinado comportamento ocorra em uma situação particular expectativa é a esperança que a pessoa tem de ser reforçada valor do reforço é a preferência por um reforço em particular e situação psicológica refere se a um padrão complexo de pistas que a pessoa percebe durante um período de tempo específico Potencial do comportamento Considerado de forma ampla o potencial do comporta mento PC é a possibilidade de que uma resposta parti cular ocorra em determinado tempo e espaço Existem vá rios potenciais de comportamento de forças variadas em uma situação psicológica específica Por exemplo quando Megan caminha até um restaurante ela tem vários poten ciais de comportamento Ela pode passar sem notar o res taurante ignorálo ativamente parar e comer pensar em parar para comer mas ir em frente examinar o prédio e seu conteúdo com a intenção de comprálo ou parar en trar e roubar o caixa Para Megan nessa situação o poten cial para algum desses comportamentos se aproximaria de zero alguns seriam muito prováveis e outros estariam entre tais extremos Como uma pessoa pode predizer quais comportamentos têm maior ou menor probabilidade de ocorrer O potencial do comportamento em determinada situação é função da expectativa e do valor do reforço Se uma pessoa deseja saber a probabilidade de Megan roubar o caixa em vez de comprar o restaurante ou parar para comer por exemplo deve manter constante a expectativa e variar o valor do reforço Se cada um desses comportamentos po tenciais tivesse uma expectativa de 70 de ser reforçado então uma pessoa poderia fazer uma predição acerca de sua probabilidade relativa de ocorrência com base unicamente no valor do reforço de cada uma Se assaltar o caixa tiver um valor de reforço positivo maior do que fazer o pedido de uma comida ou comprar o restaurante ele seria o com portamento de maior potencial de ocorrência A segunda abordagem da predição é manter o valor do reforço constante e variar a expectativa Se os reforços totais de cada comportamento possível forem de igual va lor então o comportamento que terá maior probabilidade de ocorrer será o que tiver maior expectativa de reforço De modo mais específico se os reforços de roubar o cai xa comprar o negócio e fazer o pedido de um jantar forem igualmente valorizados a resposta de PC mais alto será a que tiver maior probabilidade de produzir reforço Rotter emprega uma definição ampla de comporta mento que se refere a qualquer resposta implícita ou ex plícita capaz de ser observada ou medida de forma direta ou indireta Esse conceito abrangente permite que Rotter inclua como comportamento construtos hipotéticos como a generalização a solução de problemas o pensamento a análise entre outros Expectativa Expectativa E referese à esperança de que algum reforço específico ou conjunto de reforços ocorra em determinada situação A probabilidade não é definida pelo histórico de reforços do indivíduo como alegava Skinner mas é sus tentada subjetivamente pela pessoa O histórico é claro é um fator contribuinte mas também o são o pensamento irrealista as expectativas baseadas na falta de informação e as fantasias desde que a pessoa acredite sinceramente que determinado reforço ou grupo de reforços seja contingente em uma resposta particular As expectativas podem ser gerais ou específicas As ex pectativas generalizadas EGs são aprendidas por meio de experiências prévias com uma resposta particular ou com respostas similares e estão baseadas na crença de que cer tos comportamentos serão seguidos por reforço positivo Por exemplo universitários cujo trabalho árduo anterior foi reforçado por notas altas terão uma expectativa geral de recompensa futura e trabalharão arduamente em uma variedade de situações acadêmicas As expectativas específicas são designadas como E E linha Em determinada situação a expectativa de um reforço particular é estabelecida por uma combinação de E e EG Por exemplo um estudante pode ter uma expecta tiva geral de que determinado nível de trabalho acadêmico será recompensado por boas notas mas pode acreditar que uma quantidade igual de trabalho árduo em uma aula de francês não será recompensada A expectativa total de sucesso é uma função tanto das expectativas generalizadas quanto de uma expectativa es pecífica do indivíduo A expectativa total determina em parte a quantidade de esforço que as pessoas empregarão na busca de seus objetivos Uma pessoa com baixa expec tativa total para o sucesso na obtenção de um emprego de Feist18indd 352 Feist18indd 352 291014 0936 291014 0936 TEORIAS DA PERSONALIDADE 353 prestígio provavelmente não irá se candidatar à posição enquanto uma pessoa com alta expectativa para o sucesso empregará muito esforço e persistirá diante dos contra tempos para atingir os objetivos que parecem possíveis Valor do reforço Outra variável na fórmula da predição é o valor do refor ço VR o qual é a preferência que uma pessoa associa a algum reforço quando as probabilidades de ocorrência de inúmeros reforços diferentes são iguais O valor do reforço pode ser ilustrado pelas interações de uma mulher com uma máquina de venda automática que contém diversas opções possíveis todas de mesmo preço A mulher se aproxima da máquina disposta a pagar 75 centavos de dólar para receber um petisco A máquina de venda está em perfeitas condições de funcionamento portanto existe 100 de probabilidade de que a resposta da mulher seja seguida pelo mesmo tipo de reforço Sua expectativa de reforço portanto para uma barra de choco late salgadinhos de milho batata chips milho tortilhas e biscoitos amanteigados são iguais Sua resposta ou seja qual botão ela pressiona é determinada pelo valor do re forço de cada petisco Quando as expectativas e as variáveis situacionais são mantidas constantes o comportamento é moldado pela preferência do indivíduo pelos reforços possíveis ou seja o valor do reforço Na maioria das situações é claro as ex pectativas raramente são iguais e a predição é difícil por que tanto a E quando o valor do reforço podem variar O que determina o valor do reforço para um evento uma condição ou uma ação Primeiro a percepção do in divíduo contribui para o valor positivo ou negativo de um evento Rotter chama essa percepção de reforço interno e a distingue do reforço externo que se refere a eventos condições ou ações aos quais a sociedade ou a cultura atri buem um valor Os reforços internos e externos podem estar em harmonia ou diferir entre si Por exemplo se você gosta de filmes populares isto é dos mesmos que a maioria das outras pessoas gosta então seus reforços internos e externos para assistir a esses tipos de filmes es tão em acordo No entanto se seu gosto por filmes segue o caminho contrário ao de seus amigos então seus reforços internos e externos são discrepantes Outro contribuinte para o valor do reforço são as neces sidades do indivíduo Em geral o valor de um reforço espe cífico aumenta à medida que a necessidade que ele satisfaz se torna mais forte Uma criança com muita fome atribui um valor mais alto a uma tigela de sopa do que uma com fome moderada Essa questão é discutida em mais detalhes posteriormente neste capítulo na seção Necessidades Os reforços também são valorizados de acordo com suas consequências esperadas para reforços futuros Rot ter acredita que as pessoas são capazes de usar a cognição para antecipar uma sequência de eventos que conduzem a algum objetivo futuro e que o objetivo final contribui para o valor do reforço de cada evento na sequência Os reforços raras vezes ocorrem de modo independente dos reforços relacionados ao futuro mas é provável que apareçam nas sequências reforçoreforço as quais Rotter 1982 deno minou grupos de reforço Os humanos são orientados para os objetivos eles acreditam que atingirão um objetivo se se comportarem de uma maneira particular Quando outros aspectos fo rem iguais os objetivos com o valor do reforço mais alto serão mais desejáveis No entanto o desejo sozinho não é suficiente para predizer o comportamento O potencial do comportamento é função da expectativa e do valor do reforço bem como da situação psicológica Situação psicológica A quarta variável na fórmula da predição é a situação psicológicas definida como a parte do mundo externo e interno à qual uma pessoa está respondendo Ela não é sinônimo de estímulo externo embora os eventos físicos em geral sejam importantes para a situação psicológica O comportamento não é resultado nem dos eventos ambientais nem dos traços pessoais em vez disso ele se origina da interação de uma pessoa com seu ambiente sig nificativo Se os estímulos físicos sozinhos determinas sem o comportamento dois indivíduos responderiam da mesma forma a estímulos idênticos Se os traços pessoais fossem os únicos responsáveis pelo comportamento uma pessoa sempre responderia da mesma forma e característi ca inclusive a eventos diferentes Como nenhuma dessas condições é válida outro aspecto além do ambiente ou dos traços pessoais deve moldar o comportamento A teoria da aprendizagem social de Rotter levanta a hipótese de que a interação entre pessoa e ambiente é um fator crucial na modelagem do comportamento A situação psicológica é um conjunto complexo de sinais em interação que agem sobre um indivíduo por um período de tempo específico Rotter 1982 p 318 As pessoas não se comportam em um vácuo em vez dis so elas respondem a sinais no ambiente percebido Esses sinais servem para determinar para elas certas expectati vas quanto a sequências de comportamentoreforço bem como para sequências de reforçoreforço O período de tempo para os sinais pode variar de momentâneo a pro longado assim a situação psicológica não está limitada pelo tempo A situação conjugal do indivíduo por exemplo pode ser relativamente constante por um longo período enquanto a situação psicológica enfrentada por um moto rista rodando fora de controle em uma estrada congelada seria muito breve A situação psicológica deve ser conside rada com as expectativas e o valor do reforço determinan do a probabilidade de uma resposta específica Feist18indd 353 Feist18indd 353 291014 0936 291014 0936 354 FEIST FEIST ROBERTS Fórmula de predição básica Como um meio hipotético de predizer comportamentos específicos Rotter propôs uma fórmula básica que inclui as quatro varáveis da predição A fórmula representa um meio de predição teórica em vez de prática associado e nenhum valor preciso pode ser associado a ela Conside re o caso de La Juan uma universitária com bons recur sos acadêmicos que está ouvindo uma palestra maçante e longa feita por um de seus professores Para os sinais internos de tédio e os sinais externos de ver os colegas letárgicos qual é a probabilidade de que La Juan responda descansando a cabeça sobre a mesa em uma tentativa de dormir A situação psicológica isolada não é responsável por seu comportamento porém ela interage com sua ex pectativa de reforço mais o valor do reforço de dormir na quela situação particular O potencial do comportamen to de La Juan pode ser estimado pela fórmula básica de Rotter 1982 p 302 para a predição de comportamento direcionado para o objetivo PCx1 s1 ra fEx1 ra s1 VR a s1 Esta fórmula significa o potencial para o comportamento x ocorrer na situação 1 em relação ao reforço a é uma fun ção da expectativa de que o comportamento x seja seguido pelo reforço a na situação 1 e pelo valor de reforço a na si tuação 1 Aplicada a nosso exemplo a fórmula sugere que a pro babilidade ou PC de que La Juan repouse a cabeça sobre a mesa comportamento x em uma aula maçante e cha ta com outros alunos adormecidos a situação psicológi ca ou s1 com o objetivo de dormir reforço ou ra é uma função de sua expectativa de que tal comportamento Ex seja seguido pelo sono ra nessa situação particular de sala de aula s1 mais uma medida do quanto ela deseja dor mir valor do reforço ou VRa em tal situação específica s Como a medida exata de cada uma dessas variáveis pode estar além do estudo científico do comportamento huma no Rotter propôs uma estratégia para a predição de com portamentos gerais PREDIÇÃO DE COMPORTAMENTOS GERAIS Para predizer comportamentos gerais observamos David que trabalhou por 18 anos na loja de ferragens do senhor Hoffman David foi informado de que devido a um declí nio nos negócios o senhor Hoffman precisa fazer cortes no pessoal e que David pode perder o emprego Como po demos predizer o comportamento subsequente de David Ele vai implorar ao senhor Hoffman para deixálo perma necer na empresa Ele vai se voltar com violência contra a loja ou contra o empregador Ele vai deslocar sua raiva e agir agressivamente com sua esposa ou seus filhos Ele vai começar a beber demais e se tornar apático quanto à busca de um novo emprego Ele vai procurar outro emprego ime diatamente Expectativas generalizadas Já que a maioria dos comportamentos possíveis de David é nova para ele como podemos predizer o que ele irá fazer Nesse ponto os conceitos de generalização e expectativa generalizada entram na teoria de Rotter Se no passado David em geral foi recompensado por comportamen tos que aumentaram seu status social existe apenas uma pequena probabilidade de que ele vá implorar ao senhor Hoffman pelo emprego porque tais ações são contrárias ao status social mais elevado Todavia se suas tentativas ante riores de comportamentos responsáveis e independentes foram reforçadas e se ele teve liberdade de movimento ou seja a oportunidade de se candidatar a outro emprego então presumindo que ele precisa de trabalho existe uma alta probabilidade de que se candidate a outro emprego ou comportese de modo independente Essa precisão embo ra não tão específica quanto a que prediz a probabilidade da universitária de dormir durante uma aula maçante é no entanto mais útil em situações em que o controle ri goroso das variáveis pertinentes não é possível Predizer a reação de David à provável perda de um emprego é uma questão de saber como ele encara as opções disponíveis e também o status de suas necessidades atuais Necessidades Rotter 1982 definiu necessidades como um comporta mento ou conjunto de comportamentos que as pessoas veem como impulsionandoas na direção de um objetivo As necessidades não são estados de privação ou excitação mas indicadores da direção do comportamento A dife rença entre necessidades e objetivos é apenas semântica Quando o foco está no ambiente Rotter se refere a objeti vos quando está na pessoa referese a necessidades O conceito de necessidades permite previsões mais generalizadas do que as possibilitadas pelas quatro variá veis específicas que compreendem a fórmula de predição básica Em geral a teoria da personalidade lida com pre dições amplas do comportamento humano Por exemplo é provável que uma pessoa com fortes necessidades de dominância tente obter a posição de poder na maioria das relações interpessoais bem como em uma variedade de ou tras situações Em situações específicas no entanto uma pessoa dominante pode se comportar de uma maneira não dominante ou até mesmo submissa A fórmula de predição básica permite predições específicas com o pressuposto é claro de que todas as informações relevantes estão à dis posição Ela é a fórmula mais apropriada para experimen tos de laboratório controlados porém não é adequada para predizer comportamentos cotidianos Por essa razão Rot Feist18indd 354 Feist18indd 354 291014 0936 291014 0936 TEORIAS DA PERSONALIDADE 355 ter introduziu o conceito de necessidades e sua fórmula de predição geral Categorias das necessidades Rotter e Hochreich 1975 listaram seis categorias amplas de necessidades com cada categoria representando um grupo de comportamentos funcionalmente relacionados isto é comportamentos que levam aos mesmos reforços ou a reforços similares Por exemplo as pessoas podem satisfazer suas necessidades de reconhecimento em uma variedade de situações e por meio de muitos indivíduos diferentes Portanto elas podem receber reforço para um grupo de comportamentos funcionalmente relacionados que satisfazem a necessidade de reconhecêlas A relação a seguir não é completa mas representa a maioria das neces sidades humanas importantes Reconhecimentostatus A necessidade de ser reconheci do pelos outros e de alcançar um status a seus olhos é um aspecto poderoso para a maioria das pessoas Reconheci mentostatus inclui a necessidade de se sobressair naquilo que a pessoa considera importante como por exemplo escola esportes ocupação hobbies e aparência física Tam bém inclui a necessidade de status socioeconômico e prestí gio pessoal Jogar uma boa partida de bridge é um exemplo da necessidade de reconhecimentostatus Dominância A necessidade de controlar o comporta mento dos outros é chamada de dominância Essa necessi dade inclui um conjunto de comportamentos direcionados para obter o poder sobre a vida de amigos família colegas superiores e subordinados Convencer os colegas a aceita rem suas ideias é um exemplo específico de dominância Independência Independência é a necessidade de ser livre da dominação dos outros Ela inclui comportamen tos que têm como objetivo ganhar a liberdade para tomar decisões depender de si mesmo e atingir metas sem a aju da dos outros Rejeitar ajuda para consertar uma bicicleta pode ser uma necessidade de independência Proteçãodependência Um conjunto de necessidades quase opostas à independência são as de proteção e depen dência Essa categoria inclui as necessidades de ser cuidado pelos outros de ser protegido da frustração e dos danos e de satisfazer as outras categorias de necessidades Um exemplo específico de proteçãodependência é pedir ao cônjuge para não ir trabalhar e ficar em casa para cuidar de você quando está doente Amor e afeição A maioria das pessoas possui fortes ne cessidades de amor e afeição isto é necessidades de aceita ção por parte dos outros que vai além de reconhecimento e status de modo a indicar que os outros possuem sentimen tos afetuosos e positivos por elas As necessidades de amor e afeição incluem comportamentos que visam a assegurar a consideração amigável o interesse e a devoção por parte dos outros Fazer favores aos outros para receber expres sões verbais de consideração positiva e gratidão pode ser um exemplo dessa necessidade Conforto físico O conforto físico é talvez a necessidade mais básica porque as demais necessidades são aprendidas em relação a ele Essa necessidade inclui comportamentos que visam a assegurar o alimento a boa saúde e a seguran ça física Outras necessidades são aprendidas como uma consequência das necessidades de prazer contato físico e bemestar Ligar o aparelho de ar condicionado ou abraçar alguém são exemplos de necessidade de conforto físico Componentes das necessidades Um complexo de necessidades possui três componentes essenciais potencial da necessidade liberdade de movimen to e valor da necessidade Esses componentes são análogos aos conceitos mais específicos de potencial do comporta mento expectativa e valor do reforço Rotter Chance Phares 1972 Potencial da necessidade Potencial da necessidade PN referese à possível ocorrência de um conjunto de comportamentos funcionalmente relacionados e direcio nados para a satisfação dos mesmos objetivos ou de ob jetivos similares Tratase de um conceito análogo ao de potencial do comportamento A diferença entre os dois é que o primeiro se refere a um grupo de comportamentos funcionalmente relacionados enquanto o segundo é a pro babilidade de que um comportamento particular ocorra em determinada situação em relação a um reforço específico O potencial da necessidade não pode ser medido ape nas por meio da observação do comportamento Se pes soas diferentes são vistas se comportando aparentemente da mesma maneira por exemplo comendo em um res taurante fino não se deve concluir que todas estejam sa tisfazendo o mesmo potencial da necessidade Uma pessoa pode estar satisfazendo a necessidade de conforto físico ou seja comida outra pode estar mais interessada em amor e afeição e a terceira pode estar tentando principal mente satisfazer a necessidade de reconhecimentostatus Provavelmente alguma das seis necessidades amplas po deria ser satisfeita comendo no restaurante No entanto a realização ou não do potencial da necessidade depende não só do valor ou da preferência que o indivíduo tem por aque le reforço mas também de sua liberdade de movimento em dar respostas que levem àquele reforço Liberdade de movimento O comportamento é determina do em parte por nossas expectativas ou seja pela suposi ção de que um reforço particular vá se seguir a uma resposta específica Na fórmula geral de predição liberdade de mo vimento LM é análoga à expectativa Ela é a expectativa global do indivíduo de ser reforçado realizando comporta Feist18indd 355 Feist18indd 355 291014 0936 291014 0936 356 FEIST FEIST ROBERTS mentos direcionados para a satisfação de alguma necessidade geral Para ilustrar uma pessoa com uma forte necessidade de dominância poderia se comportar de várias formas para satisfazer essa necessidade Ela poderia escolher as roupas do marido decidir qual curso universitário seu filho irá seguir dirigir atores em uma peça organizar uma conferência pro fissional envolvendo dezenas de colegas ou realizar qualquer um das centenas de comportamentos que visam a garantir o reforço para sua necessidade de dominância A média ou o nível médio de expectativas de que esses comportamentos conduzirão à satisfação desejada é uma medida de sua liber dade de movimento na área da dominância A liberdade de movimento pode ser determinada man tendose o valor da necessidade constante e observandose o potencial da necessidade do indivíduo Por exemplo se uma pessoa atribui exatamente o mesmo valor a dominân cia independência amor e afeição e a cada uma das outras necessidades ela realizará os comportamentos avaliados como tendo a maior esperança de serem reforçados Se a pessoa realiza comportamentos que levam ao conforto físico por exemplo haverá mais liberdade de movimento nesse complexo de necessidades do que em outros Nor malmente é claro o valor da necessidade não é constante porque a maioria das pessoas prefere a satisfação de uma necessidade em detrimento de outras Valor da necessidade O valor da necessidade VN de uma pessoa é o grau em que ela prefere um conjunto de ne cessidades em detrimento de outro Rotter Chance e Pha res 1972 definiram esse aspecto como o valor médio de preferência de um conjunto de reforços funcionalmente relacionados p 33 Na fórmula geral de predição o valor da necessidade é o análogo do valor do reforço Quando a liberdade de movimento é mantida constante as pessoas realizam as sequências de comportamento que levam à sa tisfação da necessidade preferida Se as pessoas possuem ex pectativas iguais de obter reforço positivo pelos comporta mentos que visam à satisfação de alguma necessidade então o valor que elas atribuem a um complexo de necessidades particular é o determinante principal de seu comportamen to Se preferem a independência a qualquer outro complexo de necessidades e se têm expectativa igual de serem refor çadas na busca de alguma das necessidades então seu com portamento é direcionado para atingir a independência Fórmula de predição geral A fórmula de predição básica está limitada a situações al tamente controladas em que as expectativas o valor do reforço e a situação psicológica são todos relativamente simples e discretos Na maioria das situações no entanto a predição do comportamento é muito mais complexa por que os comportamentos e os reforços em geral ocorrem em sequências funcionalmente relacionadas Considere outra vez o caso de La Juan a estudante dedicada que estava ten do dificuldades em se manter acordada durante uma aula desagradável e maçante A fórmula de predição básica ofe rece alguma indicação da probabilidade de que na situação específica de uma aula maçante La Juan vá deitar a cabe ça sobre a mesa No entanto é necessária uma fórmula de predição mais generalizada para prever seu potencial da necessidade de obter o reconhecimentostatus que provém de se formar com as honrarias mais altas A probabilida de de La Juan satisfazer essa necessidade depende de um complexo de comportamentos Para fazer predições gene ralizadas referentes a um conjunto de comportamentos concebidos para satisfazer as necessidades Rotter introdu ziu a seguinte fórmula de predição geral PN f LM VN Tal equação significa que o potencial da necessidade é uma função da liberdade de movimento LM e o valor da necessidade VN e cada fator é paralelo aos fatores corres pondentes daquela fórmula básica Para ilustrar a fórmula de predição geral podemos examinar a situação de La Juan em relação a seu futuro trabalho acadêmico Para predizer o potencial da necessidade para trabalhar por uma gradua ção com as honrarias mais altas precisamos medir sua li berdade de movimento ou seja sua expectativa média de ser reforçada por uma série de comportamentos necessá rios para atingir seu objetivo mais o valor da necessidade de todos aqueles reforços isto é o valor que ela atribui ao reconhecimentostatus ou a alguma outra necessidade que ela associe a receber horarias acadêmicas O valor que La Juan atribui a reconhecimentostatus valor da necessida de mais sua expectativa média de ser reforçada pela reali zação da série de comportamentos necessária liberdade de movimento é igual a seu potencial para seguir um conjun to de comportamentos necessários potencial da necessi dade Uma comparação entre a fórmula de predição básica específica e a fórmula de predição generalizada é apresen tada na Figura 181 A fórmula de predição geral de Rotter permite que a história da pessoa de usar experiências similares antecipe o reforço atual Ou seja ela tem uma expectativa generali zada de sucesso As duas escalas mais populares de Rotter para medir a expectativa generalizada são a Escala de Con trole InternoExterno e a Escala de Confiança Interpessoal Controle interno e externo do reforço Na essência da teoria da aprendizagem social de Rotter encontrase a noção de que o reforço não se reflete auto maticamente nos comportamentos mas que as pessoas têm a capacidade de ver uma conexão causal entre o pró prio comportamento e a ocorrência do reforçador Rotter 1954 Rotter Hochreich 1975 As pessoas se esforçam para atingir seus objetivos porque elas têm uma expectati va generalizada de que tais esforços serão bemsucedidos Feist18indd 356 Feist18indd 356 291014 0936 291014 0936 TEORIAS DA PERSONALIDADE 357 Durante a década de 1950 e início da década de 1960 Rotter ficou intrigado com a observação de que muitas pes soas não aumentavam seus sentimentos de controle pessoal depois do sucesso e outras não diminuíam suas expectativas após falhas repetidas Rotter 1990 1993 Zuroff Rotter 1985 Em outras palavras algumas pessoas tendiam a expli car resultados de sucesso como decorrentes de sorte ou aca so enquanto outras mantinham um alto senso de controle pessoal mesmo depois de vários comportamentos não refor çados Essas tendências pareciam especialmente verdadeiras em situações consideradas ambíguas ou novas Rotter 1992 ou quando não havia clareza se o resultado de seu comporta mento era devido à habilidade ou ao acaso Rotter 1990 su geriu que tanto a situação quanto a pessoa contribuem para sentimentos de controle pessoal Assim uma pessoa com uma expectativa generalizada de sucesso em uma situação pode ter sentimentos de controle pessoal baixos em outra Para avaliar o controle interno e externo do reforço ou locus do controle Rotter 1966 desenvolveu a Escala de Controle InternoExterno IE com base nas teses de douto rado de dois de seus alunos E Jerry Phares 1955 e William H James 1957 A escala IE consiste em 29 itens de escolha obrigatória em que 23 pares são pontuados e seis são afir mações inócuas concebidas para disfarçar o propósito da es cala A escala é pontuada na direção do controle externo de forma que 23 é o escore externo mais alto possível e 0 é o es core interno mais alto possível A Tabela 181 mostra vários itens com exemplos da escala IE As pessoas devem escolher entre a alternativa a ou a b de cada par de itens Ainda que a direção interna ou externa desses itens possa parecer óbvia Rotter 1990 relatou que os escores têm apenas uma correlação modesta com uma escala de conveniência social A escala IE tenta medir o grau em que as pessoas per cebem uma relação causal entre os próprios esforços e as consequências no ambiente As pessoas que têm escore alto em controle interno de modo geral acreditam que a fonte do controle reside dentro delas e que elas exercem um alto ní vel de controle pessoal na maioria das situações As pessoas com escore alto em controle externo tendem a acreditar que sua vida é regulada em grande parte por forças externas a elas como o acaso o destino ou o comportamento de ter ceiros No início deste capítulo pedimos que você marcasse a ou b para seis itens que poderiam avaliar o locus de controle interno ou externo Marcar b em todos exceto no número 2 indicaria locus de controle interno No entan to conforme Rotter 1975 1990 referiu controle interno excessivo nem sempre é socialmente desejável Por exem plo o item 2 na abertura do capítulo explora a expectativa generalizada de uma pessoa em relação à onipotência difi cilmente uma atitude desejável no âmbito social A escala IE de Rotter se tornou um dos tópicos mais detalhadamente investigados em psicologia bem como em outras ciências sociais tendo estimulado milhares de pu blicações desde sua concepção Apesar de sua popularida de os conceitos de controle interno e externo nem sempre são compreendidos com clareza Ainda que Rotter 1975 tenha apontado várias concepções falsas comuns referen tes ao controle interno e externo do reforço raras vezes se referiu a ele como locus de controle as pessoas conti nuam a fazer uso indevido do instrumento e a interpretá lo mal Uma concepção falsa é que os escores na escala são determinantes do comportamento Rotter insistia em que eles não devem ser vistos como causas do comportamento mas como indicadores de expectativa generalizada Como tal eles devem ser considerados com o valor do reforço ao predizer o potencial do comportamento Uma segunda concepção falsa é de que o locus do contro le é específico e pode predizer a realização em uma situação Fórmula de predição básica PCx1s1ra fEx1ras1 e VRas1 O potencial de La Juan deitar a cabeça na mesa sua expectativa de que esse comportamento será seguido por dormir sua necessidade de dormir nessa situação Fórmula de predição geral PN fLM e VN O potencial de La Juan concluir todos os comportamentos necessários para receber o grau de doutora em psicologia clínica e assim satisfazer sua necessidade de reconhecimentostatus é função de é função de sua expectativa média de que um conjunto de comportamentos relacionados direcionados para reconhecimentostatus será reforçado sua preferência por boas notas prestígio reputação aceitação pelos colegas elogios dos professores e outros reforços relacionados a reconhecimentostatus FIGURA 181 Comparação entre a fórmula de predição básica e a fórmula de predição geral Feist18indd 357 Feist18indd 357 291014 0936 291014 0936 358 FEIST FEIST ROBERTS em particular Mais uma vez o conceito se refere à expectati va generalizada de reforço e indica o grau em que as pessoas em geral acreditam que estão no controle de suas vidas Uma terceira concepção falsa comum é de que a escala divide as pessoas em dois grupos distintos internas e ex ternas Rotter 1975 1990 insistia em que as expectativas generalizadas implicam um gradiente de generalização e que em situações específicas uma pessoa com sentimen tos geralmente expressivos de controle interno pode acre ditar que o resultado de seu comportamento seja devido sobretudo ao destino ao acaso ou ao comportamento de outros inidvíduos poderosos Quarto muitas pessoas parecem acreditar que escores internos altos significam traços socialmente desejáveis e que escores externos altos indicam características indesejáveis no âmbito social Na verdade escores extremos em cada uma das direções são indesejáveis Escores externos muito altos podem estar relacionados a apatia e a desespero com as pessoas acreditando que não possuem controle sobre o am biente enquanto escores internos extremamente altos signi ficam que as pessoas aceitam a responsabilidade por tudo o que acontece com elas fracasso nos negócios filhos delin quentes sofrimento de outros e tempestades que interferem nas atividades planejadas ao ar livre Escores em algum pon to entre esses extremos mas pendendo na direção do contro le interno provavelmente são os mais saudáveis e desejáveis Escala de Confiança Interpessoal Outro exemplo de uma expectativa generalizada que pro duziu considerável interesse e pesquisas é o conceito de confiança interpessoal Rotter 1980 definiu confiança interpessoal como uma expectativa generalizada susten tada por um indivíduo de que se pode confiar na palavra na promessa na declaração oral ou escrita de outro indiví duo ou grupo p 1 Confiança interpessoal não se refere à crença de que as pessoas são naturalmente boas ou que elas vivem no melhor de todos os mundos possíveis Nem ela deve ser igualada à ingenuidade Rotter entendia a con fiança interpessoal como uma crença nas comunicações dos outros quando não existem evidências para desacre ditar enquanto ingenuidade é acreditar de forma tola ou ingênua na palavra de outra pessoa Como muitas de nossas recompensas e punições pro vêm de outras pessoas desenvolvemos expectativas gene ralizadas de que algum tipo de reforço se seguirá a promes sas ou a ameaças verbais feitas por outros Às vezes essas promessas e ameaças são cumpridas outras vezes não Dessa forma cada pessoa aprende a confiar ou a desconfiar da palavra dos outros Como temos experiências distintas com a palavra dos outros há diferenças individuais no que diz respeito à confiança interpessoal Para medir as diferenças na confiança interpessoal Rot ter 1967 desenvolveu a Escala de Confiança Interpessoal que solicitava às pessoas que concordassem ou discordassem dos 25 itens que avaliavam a confiança interpessoal e apre sentava 15 itens inócuos concebidos para ocultar a natureza do instrumento A escala é pontuada em uma graduação de 5 pontos desde concordo plenamente até discordo total mente de modo que as respostas concordo plenamente e concordo indicariam confiança em 12 itens e as respostas discordo totalmente e discordo confiança nos outros 13 itens A Tabela 182 mostra alguns itens da Escala de Con fiança Interpessoal de Rotter Os escores para cada um dos 25 itens são somados de forma que pontuação alta indica a presença de confiança interpessoal e pontuação baixa nos escores uma expectativa generalizada de desconfiança É mais desejável ter escore alto ou baixo na escala ser confiante ou desconfiado Quando confiança é definida de modo independente de ingenuidade conforme defendia Rotter 1980 então confiança não é somente desejável mas essencial para a sobrevivência da civilização As pes soas confiam que a comida que elas compram não é enve nenada que a gasolina em seus carros não irá explodir na ignição que os pilotos sabem conduzir o avião em que elas TABELA 181 Amostra de itens da Escala de Controle InternoExterno de Rotter 1 a Muitas das coisas infelizes na vida das pessoas são em parte ocasionadas pela má sorte b Os infortúnios resultam dos erros que as pessoas cometem 2 a Uma das principais razões por que temos guerras é que as pessoas não apresentam interesse suficiente pela política b Sempre haverá guerras a despeito do quanto as pessoas tentem impedilas 3 a A longo prazo as pessoas obtêm o respeito que elas merecem neste mundo b Infelizmente o valor de um indivíduo com frequência não é reconhecido independentemente do quanto ele se esforce 4 a O cidadão médio pode ter influência nas decisões do governo b O mundo é dirigido por poucas pessoas no poder e não há muito o que os pequenos possam fazer a respeito 5 a A ideia de que os professores são injustos com os alunos não faz sentido b A maioria dos alunos não percebe até que ponto suas notas são influenciadas por acontecimentos acidentais 6 a Não importa o quanto você tente algumas pessoas simplesmente não gostam de você b As pessoas que não conseguem fazer os outros gostarem delas não compreendem como se dar bem com terceiros De J B Rotter 1966 Generalized expectancies for internal versus external control of reinforcement Psychological Monographs 80 Nº 609 p 11 Reimpressa com permissão Feist18indd 358 Feist18indd 358 291014 0936 291014 0936 TEORIAS DA PERSONALIDADE 359 viajam e até mesmo que o serviço postal irá entregar a cor respondência sem violála As sociedades funcionam sem dificuldades apenas quando as pessoas têm pelo menos uma quantidade moderada de confiança umas nas outras Rotter 1980 resumiu os resultados dos estudos que indicam que as pessoas com escore alto em confiança inter pessoal em oposição àquelas com escore baixo apresentam os seguintes aspectos 1 menor probabilidade de mentir 2 menor probabilidade de trapacear ou roubar 3 maior probabilidade de dar aos outros uma segunda chance 4 maior probabilidade de respeitar os direitos dos outros 5 menor probabilidade de serem infelizes conflitadas ou desa justadas 6 tendência a serem um pouco mais admiradas e populares 7 mais confiáveis 8 nem mais nem menos in gênuas e 9 nem mais nem menos inteligentes Em outras palavras indivíduos com confiança alta não são crédulos ou ingênuos e em vez de serem prejudicados por sua atitude confiante eles parecem possuir muitas das características que outras pessoas consideram positivas e desejáveis COMPORTAMENTO DESADAPTADO O comportamento desadaptado na teoria da aprendiza gem social de Rotter é um comportamento persistente que impede a pessoa de se aproximar de um objetivo desejado Ele com frequência mas não de modo inevitável surge da combinação de valor da necessidade alto e liberdade de mo vimento baixa isto é de objetivos que são irrealisticamente altos em relação à capacidade de alcançálos Rotter 1964 Por exemplo a necessidade de amor e afeição é realis ta porém algumas pessoas estabelecem o objetivo inalcan çável de ser amadas por todos Desse modo seu valor da necessidade quase certamente excederá sua liberdade de movimento resultando em comportamento que muito provavelmente será defensivo ou desadaptado Quando as pessoas definem metas muito altas elas não conseguem aprender comportamentos produtivos porque seus objeti vos estão fora de alcance Em vez disso elas aprendem a evitar o fracasso ou a se defenderem contra a dor que acom panha o fracasso Por exemplo uma mulher cujo objetivo é ser amada por todos inevitavelmente será ignorada ou rejeitada por alguém Para obter amor ela pode se tornar socialmente agressiva uma estratégia não produtiva e con traproducente ou se afastar das pessoas o que impede que seja magoada por elas mas que também é não produtivo Estabelecer objetivos muito altos é apenas um dos vá rios contribuintes possíveis para o comportamento desadap tado As pessoas podem ter expectativas de sucesso baixas porque não possuem informação ou capacidade de realizar os comportamentos que serão seguidos pelo reforço positivo Uma pessoa que valoriza o amor por exemplo pode não ter as habilidades interpessoais necessárias para obtêlo As pessoas também podem ter liberdade de movimento baixa porque fazem uma avaliação incorreta da situação pre sente Por exemplo as pessoas às vezes subestimam suas ha bilidades intelectuais porque no passado foi dito a elas que eram limitadas Mesmo que seus valores da necessidade não sejam irrealisticamente altos elas possuem uma expectativa de sucesso baixa pois acreditam de modo equivocados que são incapazes por exemplo de ter bom desempenho na escola ou de competir com êxito por um emprego de nível mais alto Outra possibilidade é a de que as pessoas tenham bai xa liberdade de movimento porque generalizam de uma situação para a qual de fato não estejam capacitadas para outras para as quais tenham habilidades suficientes para serem bemsucedidas Por exemplo um adolescente fisica mente fraco que não tem as habilidades para ser um atleta realizado pode de modo equivocado se ver como incapaz de competir por um papel na peça da escola ou de ser um líder em um clube social Ele generaliza inapropriadamente suas inadequações nos esportes para a falta de habilidade em áreas não relacionadas Em resumo os indivíduos desadaptados são caracteri zados por objetivos irrealistas comportamentos inapropria dos habilidades inadequadas ou expectativas irracionalmen te baixas de serem capazes de executar os comportamentos necessários para o reforço positivo Mesmo tendo aprendi do formas inadequadas de resolver problemas dentro de um contexto social eles podem desaprender esses comporta mentos e também aprender outros mais apropriados em um ambiente social controlado oferecido pela psicoterapia TABELA 182 Amostra de itens da Escala de Confiança Interpessoal de Rotter 1 Ao lidar com estranhos é melhor ser cauteloso até que eles tenham apresentado evidências de que são confiáveis 2 Os pais em geral merecem a confiança de que irão cumprir suas promessas 3 Pais e professores têm maior probabilidade de dizer o que eles acreditam e não apenas o que acham que seja bom para o filhoaluno ouvir 4 A maioria dos políticos eleitos é realmente sincera em suas promessas de campanha 5 Nesses tempos competitivos devese estar alerta ou é provável que alguém se aproveite de você 6 Podemos contar que a maioria das pessoas fará o que diz que irá fazer 7 A maioria dos vendedores é honesta na descrição de seus produtos De J B Rotter 1967 A new scale for the measurement of interpersonal trust Journal of Personality 35 p 654 e M R Gurtman 1992 Trust distrust and interpersonal problems A circumplex analysis Journal of Personality and Social Psychology 62 p 997 Feist18indd 359 Feist18indd 359 291014 0936 291014 0936 360 FEIST FEIST ROBERTS PSICOTERAPIA Para Rotter 1964 os problemas da psicoterapia referem se a como efetuar mudanças no comportamento por meio da interação de uma pessoa com outra Ou seja eles são problemas de aprendizagem humana em uma situação so cial p 82 Ainda que Rotter adote uma abordagem de so lução de problemas para a psicoterapia ele não limita sua preocupação a soluções rápidas para problemas imediatos Seu interesse é de alcance mais longo envolvendo uma mudança na orientação do paciente em relação à vida Em geral o objetivo da terapia de Rotter é trazer har monia à liberdade de movimento e ao valor da necessidade reduzindo assim comportamentos defensivos e de esqui va O terapeuta assume um papel ativo como um professor e tenta atingir o objetivo terapêutico de duas maneiras bá sicas 1 mudando a importância dos objetivos e 2 eli minando expectativas irrealisticamente baixas de sucesso Rotter 1964 1970 1978 Rotter Hochreich 1975 Mudando objetivos Muitos pacientes não conseguem resolver problemas da vida porque estão perseguindo objetivos distorcidos O pa pel do terapeuta é ajudar esses pacientes a compreender a natureza equivocada de seus objetivos e ensinar meios construtivos de lutar por objetivos realistas Rotter e Ho chreich 1975 listaram três fontes de problemas que se seguem a objetivos inapropriados Primeiro dois ou mais objetivos importantes podem estar em conflito Por exemplo os adolescentes com fre quência valorizam independência e proteçãodependên cia Por um lado eles desejam ser livres da dominação e do controle dos pais mas por outro mantêm a necessidade de uma pessoa que cuide deles e os proteja de experiências dolorosas Seus comportamentos ambivalentes costumam ser confusos tanto para eles quanto para os pais Nessa si tuação o terapeuta pode ajudar os adolescentes a verem como comportamentos específicos estão relacionados a cada uma dessas necessidades e continuar a trabalhar com eles na mudança do valor de uma ou de ambas as neces sidades Alterando o valor da necessidade os pacientes de forma gradual começam a se comportar de modo mais consistente e experimentam maior liberdade de movimen to na obtenção de seus objetivos Uma segunda fonte de problemas é um objetivo des trutivo Alguns pacientes perseguem com persistência ob jetivos autodestrutivos que inevitavelmente resultam em fracasso e punição O trabalho do terapeuta é assinalar a natureza prejudicial da busca por tais objetivos e a proba bilidade de que ela seja seguida de punição Uma técnica possível usada nesses casos é reforçar positivamente mo vimentos que se afastem dos objetivos destrutivos Rotter no entanto é tanto pragmático quanto eclético e não se limita a um conjunto específico de técnicas para cada pro blema imaginável Para ele o procedimento apropriado é o que funciona com determinado paciente Terceiro muitas pessoas se encontram com problemas porque elas estabelecem objetivos muito altos e são conti nuamente frustradas quando não conseguem alcançálos ou superálos Objetivos altos conduzem ao fracasso e à dor portanto em vez de aprenderem meios construtivos de obter um objetivo as pessoas aprendem maneiras não produtivas de evitar a dor Por exemplo uma pessoa pode aprender a evitar experiências dolorosas fugindo fisicamen te da experiência ou reprimindoa psicologicamente Como essas técnicas têm sucesso a pessoa aprende a usar a fuga e a repressão em uma variedade de situações Nesse caso a terapia consistiria em fazer o paciente reavaliar de modo realístico e diminuir os objetivos exagerados reduzindo o valor do reforço desses objetivos Como o valor do reforço alto costuma ser aprendido pela generalização o terapeuta trabalharia para ensinar os pacientes a discriminarem entre os valores legítimos prévios e os valores falsos atuais Eliminando expectativas baixas Além de modificar os objetivos o terapeuta tenta eliminar as expectativas baixas de sucesso e seu movimento análogo de pouca liberdade As pessoas podem ter liberdade de mo vimento reduzida por pelo menos três razões Primeiro elas podem carecer de habilidades ou infor mações necessárias para se esforçarem com sucesso em di reção a seus objetivos Rotter 1970 Com tais pacientes o terapeuta se torna um professor instruindoos afetiva e empaticamente em técnicas mais eficazes para a solução de problemas e a satisfação das necessidades Se um paciente por exemplo tem dificuldades nas relações interpessoais o terapeuta possui um arsenal de técnicas incluindo a ex tinção de comportamentos inapropriados simplesmente ignorandoos o emprego da relação com o terapeuta como um modelo para um encontro interpessoal efetivo que pos sa então generalizar para além da situação terapêutica e o aconselhamento do paciente quanto a comportamentos específicos a serem tentados na presença de outras pessoas que têm maior probabilidade de serem receptivas Uma segunda fonte de liberdade de movimento baixa é a avaliação equivocada da situação presente Por exem plo uma mulher adulta pode não ter assertividade com seus colegas porque durante a infância ela foi punida por competir com os irmãos Essa paciente precisa aprender a diferenciar entre o passado e o presente além de entre ir mãos e colegas A tarefa do terapeuta é ajudar a fazer essas distinções e ensinar técnicas assertivas em uma variedade de situações apropriadas Por fim a liberdade de movimento baixa pode se ori ginar de generalização inadequada Os pacientes com fre quência usam o fracasso em uma situação como prova de Feist18indd 360 Feist18indd 360 291014 0936 291014 0936 TEORIAS DA PERSONALIDADE 361 que não podem ter sucesso em outras áreas Tome o exem plo do adolescente fisicamente fraco que por não ter su cesso no esporte generalizava esse fracasso para áreas não atléticas Seus problemas atuais provêm da generalização equivocada e o terapeuta deve reforçar mesmo os peque nos sucessos em relações sociais conquistas acadêmicas e outras situações O paciente acabará aprendendo a discri minar entre falhas realistas em uma área e comportamen tos bemsucedidos em outras situações Ainda que Rotter reconhecesse que os terapeutas de veriam ser flexíveis em suas técnicas e utilizar abordagens distintas com pacientes diferentes ele sugeriu várias téc nicas interessantes que considerava efetivas A primeira é ensinar os pacientes a procurarem cursos de ação alter nativos Os pacientes muitas vezes queixamse de que o cônjuge o pai o filho ou o chefe não os entende trataos de forma injusta e é a fonte de seus problemas Nessa si tuação Rotter simplesmente ensinaria o paciente a mu dar o comportamento da outra pessoa Tal mudança pode ser obtida examinando os comportamentos do paciente que em geral conduzem a reações negativas da esposa dos pais do filho ou do chefe Se for possível encontrar um método alternativo em relação a outras pessoas im portantes provavelmente elas mudarão seu comporta mento em relação ao paciente Depois disso o paciente será recompensado por se comportar de uma forma mais apropriada Rotter também sugeriu uma técnica para ajudar os pa cientes a compreenderem os motivos das outras pessoas Muitos pacientes têm uma atitude desconfiada em relação aos outros acreditando que um cônjuge professor ou che fe está tentando prejudicálos de forma maldosa e intencio nal Rotter tentaria ensinar esses pacientes a descobrirem como eles podem estar contribuindo para o comportamen to defensivo ou negativo da outra pessoa e ajudálos a per ceber que a outra pessoa não é simplesmente desagradável ou maldosa mas pode se sentir amedrontada ou ameaçada pelo paciente Os terapeutas também podem ajudar os pacientes a olharem para as consequências de longo prazo de seus comportamentos e a entenderem que muitos comporta mentos desadaptados produzem ganhos secundários que compensam a frustração atual dos pacientes Por exem plo uma mulher pode adotar o papel de uma criança in defesa para obter controle sobre o marido Ela se queixa ao terapeuta de que está insatisfeita com sua impotência e gostaria de se tornar mais independente tanto por sua causa quanto em benefício do marido O que ela pode não perceber no entanto é que seu comportamento atual de impotência está satisfazendo sua necessidade básica de dominância Quanto mais impotente se mostra mais controle ela exerce sobre o marido que deve responder a sua impotência O reforço positivo que ela recebe do reco nhecimento do marido é mais forte do que os sentimentos negativos que o acompanham Além disso ela pode não perceber com clareza as consequências positivas de longo prazo da autoconfiança e da independência A tarefa dos terapeutas é treinar os pacientes a adiar satisfações meno res atuais por outras futuras mais importantes Outra técnica nova sugerida por Rotter é fazer os pacientes entrarem em uma situação social previamente dolorosa mas em vez de falar tanto quanto o habitual devem permanecer em silêncio o máximo possível e ape nas observar Observando outras pessoas o paciente tem maior probabilidade de aprender sobre seus motivos Os pacientes podem usar essa informação no futuro para alterar o próprio comportamento mudando assim a rea ção dos outros e reduzindo os efeitos dolorosos de encon tros futuros com essas pessoas Em resumo Rotter acredita que um terapeuta deve ser um participante ativo na interação social com o paciente Um terapeuta eficaz possui as características de afetivida de e aceitação não só porque essas atitudes encorajam o paciente a verbalizar os problemas mas também porque o reforço de um terapeuta afetivo e receptivo é mais efetivo do que o reforço de um terapeuta frio e rejeitador Rotter Chance Phares 1972 O terapeuta tenta minimizar a discrepância entre o valor da necessidade e a liberdade de movimento ajudando os pacientes a alterarem os objetivos ou ensinando meios efetivos de obter tais objetivos Mes mo que o terapeuta seja um solucionador de problemas ati vo Rotter 1978 defende que os pacientes devem apren der a resolver os próprios problemas INTRODUÇÃO À TEORIA DA PERSONALIDADE DE MISCHEL Em geral as teorias da personalidade são de dois tipos aquelas que veem a personalidade como uma entidade dinâ mica motivada por impulsos percepções necessidades ob jetivos e expectativas e aquelas que consideram a persona lidade como uma função de traços ou disposições pessoais relativamente estáveis A primeira categoria inclui as teorias de Adler Cap 3 Maslow Cap 9 e Bandura Cap 17 Essa abordagem enfatiza as dinâmicas cognitiva e afetiva que in teragem com o ambiente para produzir o comportamento A segunda categoria enfatiza a importância de tra ços ou disposições pessoais relativamente estáveis As teorias de Allport Cap 12 Eysenck Cap 14 e McCrae e Costa Cap 13 estão nessa categoria Tal abordagem compreende as pessoas como motivadas por um núme ro limitado de impulsos ou traços pessoais que tendem a deixar o comportamento um tanto consistente Walter Mischel 1973 originalmente contestou essa explicação do comportamento da teoria dos traços Em vez disso ele defendeu a ideia de que as atividades cognitivas e situa ções específicas desempenham um papel importante na Feist18indd 361 Feist18indd 361 291014 0936 291014 0936 362 FEIST FEIST ROBERTS determinação do comportamento Contudo mais recente mente Mischel colaboradores Mischel Shoda 1998 1999 Mischel Shoda MendozaDenton 2002 defen deram uma reconciliação entre a abordagem da dinâmica do processamento e a abordagem das disposições pessoais Essa teoria da personalidade cognitivoafetiva sustenta que o comportamento se origina de disposições pessoais relativamente estáveis e processos cognitivoafetivos que interagem com uma situação específica BIOGRAFIA DE WALTER MISCHEL Walter Mischel o segundo filho de pais de classe média alta nasceu em 22 de fevereiro de 1930 em Viena Ele e seu irmão Theodore que posteriormente se tornou filó sofo da ciência cresceram em um ambiente agradável a uma pequena distância da casa de Freud A tranquilidade da infância no entanto foi abalada quando os nazistas invadiram a Áustria em 1938 Naquele mesmo ano a fa mília Mischel fugiu da Áustria e se mudou para os Esta dos Unidos Depois de viverem em várias partes do país eles acabaram se estabelecendo no Brooklin onde Walter frequentou o ensino fundamental e o médio Antes que pudesse aceitar uma bolsa de estudos na universidade seu pai ficou doente de forma repentina e Walter foi forçado a assumir uma série de empregos estranhos Por fim ele conseguiu frequentar a Universidade de Nova York onde se tornou apaixonadamente interessado por arte pintura e escultura e dividia seu tempo entre a arte a psicologia e a vida em Greenwich Village Na universidade Mischel ficou chocado com as aulas de psicologia introdutória centrada nos ratos que pare ciam para ele muito distantes da vida cotidiana dos huma nos Suas inclinações humanistas foram solidificadas com a leitura de Freud dos pensadores existencialistas e dos grandes poetas Após a formatura ele ingressou no pro grama de mestrado em psicologia clínica no City College de Nova York Enquanto trabalhava em seu mestrado ele atuou como trabalhador social nas favelas do Lower East Side atividade que o levou a duvidar da utilidade da teoria psicanalítica e perceber a necessidade de usar evidências empíricas para avaliar todas as alegações da psicologia O desenvolvimento de Mischel como psicólogo social cognitivo foi aprimorado por seus estudos de doutorado na Universidade Ohio State de 1953 a 1956 Naquela época o departamento de psicologia na Ohio State foi dividido informalmente entre os apoiadores de seus dois membros mais influentes do corpo docente Julian Rotter e Geor ge Kelly Ao contrário da maioria dos alunos que apoiava fortemente a posição de um ou outro Mischel admirava Rotter e Kelly e aprendeu com cada um deles Como con sequência a teoria social cognitiva de Mischel mostra a influência da teoria da aprendizagem social de Rotter e da teoria dos construtos pessoais de base cognitiva de Kelly ver Cap 19 Rotter ensinou a Mischel a importância do design de pesquisa para melhorar as técnicas de avaliação e para medir a eficácia da intervenção terapêutica Kelly ensinoulhe que os participantes em experimentos de psi cologia são como os psicólogos que os estudam uma vez que eles são seres humanos pensantes e com sentimentos De 1956 a 1958 Mischel viveu boa parte do tempo no Caribe estudando cultos religiosos que praticavam posses são de espíritos e investigando o adiamento da gratificação em um contexto transcultural Ele estava determinado a saber mais a respeito de por que as pessoas preferem re compensas valiosas futuras em vez de recompensas ime diatas menos valiosas Muito de sua pesquisa posterior envolveu esse tema A seguir Mischel ensinou por dois anos na Universi dade do Colorado Ele então associouse ao Departamen to de Relações Sociais em Harvard onde seu interesse em teoria e avaliação da personalidade foi mais estimulado por discussões com Gordon Allport ver Cap 12 Henry Murray David McClelland e outros Em 1962 Mischel se mudou para Stanford e se tornou colega de Albert Bandu ra ver Cap 17 Depois de mais de 20 anos em Stanford Mischel voltou para Nova York associandose ao corpo docente da Universidade de Columbia onde permanece como pesquisador ativo e continua a aperfeiçoar sua teoria da aprendizagem social cognitiva Enquanto estava em Harvard Mischel conheceu Har riet Nerlove aluna de pósgraduação em psicologia cog nitiva com quem se casou Antes do divórcio os Mischel tiveram três filhas e produziram vários projetos científicos H N Mischel W Mischel 1973 W Mischel H N Mischel 1976 1983 O trabalho inicial mais importan te de Mischel foi Personalidade e avaliação Personality and Assessment 1968 uma consequência de seus esforços para identificar voluntários de sucesso para o Peace Corps Suas experiências como consultor dessa entidade mostra ram que sob as condições certas as pessoas são pelo me nos tão capazes quanto os testes padronizados de predizer o próprio comportamento Em Personalidade e avaliação Mischel argumentou que os traços são preditores fracos de desempenho em uma variedade de situações e que a situa ção é mais importante do que os traços para influenciar o comportamento Esse livro contrariou muitos psicólogos clínicos que defendiam que a incapacidade das disposições pessoais de predizer o comportamento deviase à falta de fidedignidade e à imprecisão dos instrumentos que medem os traços Alguns acreditavam que Mischel estava tentando invalidar o conceito de traços de personalidade estáveis e até mesmo negar a existência da personalidade Mais tar de Mischel 1979 respondeu a essas críticas afirmando que não se opunha aos traços em si mas somente aos tra ços generalizados que negam a individualidade e a singula ridade de cada pessoa Feist18indd 362 Feist18indd 362 291014 0936 291014 0936 TEORIAS DA PERSONALIDADE 363 Boa parte da pesquisa de Mischel foi um esforço cooperativo com inúmeros alunos da pósgraduação Em anos recentes muitas de suas publicações foram colabo rações com Yuichi Shoda que recebeu seu grau de doutor pela Universidade de Columbia em 1990 e está atualmente na Universidade de Washington O livro mais popular de Mischel Introdução à personalidade Introdution to personali ty foi publicado originalmente em 1971 e passou pela sé tima revisão em 2004 com Yuichi Shoda e Ronald D Smith como coautores Mischel recebeu vários prêmios incluindo o prêmio Distinguished Scientist da American Psychologi cal Association APA em 1978 e o prêmio da APA Distin guished Scientific Contribution em 1982 ANTECEDENTES DO SISTEMA DE PERSONALIDADE COGNITIVOAFETIVO Alguns teóricos como Hans Eysenck Cap 14 e Gordon Allport Cap 12 acreditavam que o comportamento era sobretudo um produto de traços de personalidade relati vamente estáveis Contudo Walter Mischel contestou esse pressuposto Sua pesquisa inicial Mischel 1958 1961a 1961b o levou a acreditar que o comportamento era em grande parte função da situação Paradoxo da consistência Mischel constatou que tanto leigos quanto psicólogos profis sionais parecem acreditar de modo intuitivo que o compor tamento das pessoas é relativamente consistente embora evidências empíricas sugiram muita variabilidade no com portamento uma situação que Mischel denominou parado xo da consistência Para muitas pessoas parece evidente por si que disposições pessoais globais tais como agressivi dade honestidade avareza pontualidade entre outras ex pliquem muito do comportamento As pessoas elegem po líticos para um cargo porque os veem como honestos leais determinados e íntegros os gerentes de pessoal selecionam empregados que sejam pontuais leais cooperativos traba lhadores organizados e sociáveis Uma pessoa se mostra de modo geral amistosa e gregária ao passo que outra costu ma comportarse de modo hostil e taciturno Os psicólogos bem como os leigos há muito tempo sintetizaram o com portamento das pessoas usando tais definições de traços descritivos Assim muitas pessoas presumem que os traços de personalidade globais se manifestem por um período de tempo e também conforme a situação Mischel sugeriu que na melhor das hipóteses essas pessoas estão apenas parcial mente certas Ele argumentava que alguns traços básicos de fato persistem ao longo do tempo mas existem poucas evi dências de que eles se generalizam de uma situação para ou tra Mischel contestava enfaticamente as tentativas de atri buir o comportamento a esses traços globais Uma tentativa de classificar os indivíduos como amistosos extrovertidos conscienciosos pode ser uma forma de definir a personalida de mas essa é uma taxonomia que não consegue explicar o comportamento Mischel 1990 1999 2004 Mischel et al 2002 Shoda Mischel 1998 Por muitos anos as pesquisas não conseguiram apoiar a consistência dos traços de personalidade entre as situa ções Hugh Hartshorne e Mark May em seu estudo clássi co de 1928 constataram que as crianças em idade escolar eram honestas em uma situação e desonestas em outra Por exemplo algumas colavam nos testes mas não rou bavam lembrancinhas de festas outras quebravam as re gras em uma competição atlética mas não colavam em um teste Alguns psicólogos como Seymour Epstein 1979 1980 argumentaram que estudos como o de Hartshorne e May usavam comportamentos muito específicos Epstein defendia que em vez de se basearem em um único com portamento os pesquisadores precisam agregar medidas do comportamento ou seja eles devem obter uma soma de muitos comportamentos Em outras palavras Epstein referia que muito embora as pessoas nem sempre exibam um traço pessoal forte por exemplo conscienciosidade a soma total de seus comportamentos individuais reflete uma essência geral de conscienciosidade Entretanto Mischel 1965 anteriormente havia des coberto que um comitê de avaliação de três pessoas que usava informações agregadas de uma variedade de escores não conseguia predizer de forma confiável o desempenho de professores do Peace Corps A correlação entre o jul gamento do comitê e o desempenho dos professores era um 020 não significativo Além do mais Mischel 1968 defendia que correlações de cerca de 030 entre diferentes medidas do mesmo traço assim como entre os escores dos traços e dos comportamentos subsequentes representa vam os limites externos da consistência do traço Assim essas correlações relativamente baixas entre traços e com portamento não decorrem da falta de fidedignidade do ins trumento de avaliação mas de inconsistências no compor tamento Mesmo com medidas perfeitamente fidedignas argumentava Mischel comportamentos específicos não predizem com precisão os traços de personalidade Interação pessoasituação Com o tempo no entanto Mischel 1973 2004 acabou percebendo que as pessoas não são vasos vazios sem traços de personalidade duradouros Ele reconheceu que a maio ria tem alguma consistência em seu comportamento mas continuou a insistir em que a situação tem um efeito po deroso sobre o comportamento A objeção de Mischel ao uso de traços como preditores de comportamento não se baseava em sua instabilidade temporal mas na inconsis tência de uma situação para outra Para ele muitas dispo sições básicas podem ser estáveis por um longo período de Feist18indd 363 Feist18indd 363 291014 0936 291014 0936 364 FEIST FEIST ROBERTS tempo Por exemplo um estudante pode ter um histórico de conscienciosidade no trabalho acadêmico mas não ter a mesma postura para limpar seu apartamento ou manter seu carro em condições de funcionamento Sua falta de cuidado com a limpeza do apartamento pode ser devida a desinteresse e sua negligência com seu carro pode ser resultado de conhecimento insuficiente Assim a situação específica interage com competências interesses objeti vos valores expectativas entre outros etc para predizer o comportamento Para Mischel essas visões de traços ou disposições pessoais embora importantes na predição do comportamento humano negligenciam o significado da situação específica em que a pessoa funciona As disposições pessoais influenciam o comportamen to somente sob certas condições e em determinadas situa ções Essa visão sugere que o comportamento não é causa do por traços pessoais globais mas pelas percepções que as pessoas têm de si mesmas em uma situação particular Por exemplo um jovem que em geral é muito tímido perto de mulheres jovens pode se comportar de maneira sociável e extrovertida quando está com homens ou com mulheres mais velhas Esse jovem é tímido ou extrovertido Mischel diria que ele é ambos dependendo das condições que o afetam durante uma situação específica A visão condicional sustenta que o comportamento é moldado pelas disposições pessoais e pelos processos cog nitivos e afetivos específicos de uma pessoa Enquanto a teoria dos traços sugere que as disposições globais predi zem o comportamento Mischel argumenta que as crenças os valores os objetivos as cognições e os sentimentos in teragem com essas disposições para moldar o comporta mento Por exemplo a teoria dos traços tradicional sugere que as pessoas com o traço de conscienciosidade tendem a se comportar de uma maneira conscienciosa No entan to Mischel assinala que em uma variedade de situações a conscienciosidade pode ser usada com outros processos cognitivoafetivos para atingir um resultado específico Em um estudo exploratório para testar esse modelo Jack Wright e Mischel 1988 entrevistaram crianças de 8 e 12 anos e adultos e pediram que relatassem tudo o que sabiam sobre gruposalvo de crianças Tanto os adultos quanto as crianças reconheceram a variabilidade do com portamento de outras pessoas porém os adultos estavam mais certos acerca das condições sob as quais comporta mentos particulares ocorrem Enquanto as crianças res tringiram suas descrições a termos como Carlo às vezes bate em outras crianças os adultos foram mais específi cos por exemplo Carlo bate quando provocado Esses dados sugerem que as pessoas reconhecem prontamente a interrelação entre situações e comportamento e que elas de modo intuitivo seguem uma visão condicional das dis posições Nem a situação isolada nem os traços de persona lidade estáveis isolados determinam o comportamento Em vez disso o comportamento é produto de ambos Portanto Mischel e Shoda propuseram um sistema de personalidade cognitivoafetivo que procura conciliar es sas duas abordagens de predição dos comportamentos humanos SISTEMA DE PERSONALIDADE COGNITIVOAFETIVO Para resolver o clássico paradoxo da consistência Mischel e Shoda Mischel 2004 Mischel Shoda 1995 1998 1999 Shoda Mischel 1996 1998 propuseram um sis tema de personalidade cognitivoafetivo CAPS cogni tiveaffective personality system também chamado de sistema de processamento cognitivoafetivo que explica a variabilidade entre as situações e a estabilidade do com portamento de uma pessoa As inconsistências aparentes no comportamento de uma pessoa não são resultado de um erro aleatório nem produzidas apenas pela situação Ao contrário elas são comportamentos potencialmente previsíveis que refletem padrões de variação estáveis em uma pessoa O CAPS prediz que o comportamento de uma pessoa muda de situação para situação mas de maneira significativa Mischel e Shoda Mischel 1999 2004 Mischel Ayduk 2002 Shoda LeeTiernan Mischel 2002 de fendem que as variações no comportamento podem ser conceitualizadas na seguinte estrutura Se A então X mas se B então Y Por exemplo se Mark for provocado por sua esposa então ele reagirá agressivamente No entan to quando o se muda o então também se modifica Se Mark for provocado por seu chefe então ele reagirá de forma submissa O comportamento de Mark pode parecer inconsistente porque ao que parece ele reage de forma diferente ao mesmo estímulo Mischel e Shoda no entan to argumentam que ser provocado por duas pessoas dife rentes não constitui o mesmo estímulo O comportamen to de Mark não é inconsistente e pode refletir um padrão de reação estável Essa interpretação acreditam Mischel e Shoda resolve o paradoxo da consistência levando em consideração o longo histórico de variabilidade observado no comportamento e a convicção intuitiva de psicólogos e leigos de que a personalidade é relativamente estável A variabilidade observada com frequência no comporta mento é apenas uma parte essencial de uma estabilidade unificadora da personalidade Essa teoria não propõe que os comportamentos se jam fruto de traços de personalidade globais estáveis Se os comportamentos fossem resultado de traços globais então haveria pouca variação individual no comportamen to Em outras palavras Mark reagiria de maneira muito parecida à provocação independentemente da situação es pecífica No entanto o padrão duradouro de variabilidade Feist18indd 364 Feist18indd 364 291014 0936 291014 0936 TEORIAS DA PERSONALIDADE 365 de Mark atesta a inadequação tanto da teoria da situação quanto da teoria dos traços Seu padrão de variabilidade é sua assinatura comportamental da personalidade ou seja sua maneira consistente de variar o comportamento em situações específicas Shoda LeeTiernan Mischel 2002 Sua personalidade tem uma assinatura que perma nece estável entre as situações mesmo que o comporta mento mude Mischel 1999 acredita que uma teoria ade quada da personalidade deve tentar predizer e explicar essas assinaturas da personalidade em vez de eliminálas ou ignorálas p 46 Predição do comportamento No Capítulo 1 defendemos que as teorias efetivas de vem ser apresentadas em uma estrutura seentão porém Mischel 1999 2004 é um dos poucos teóricos da perso nalidade a fazer isso Sua posição teórica básica para pre dizer e explicar é apresentada da seguinte maneira Se a personalidade é um sistema estável que processa as infor mações acerca das situações externas ou internas então quando os indivíduos encontram diferentes situações os seus comportamentos devem variar entre as situações p 43 Essa posição teórica pode gerar inúmeras hipóte ses acerca dos resultados do comportamento Ela presu me que a personalidade pode ter estabilidade temporal e que os comportamentos podem variar conforme a situa ção Ela também sugere que a predição do comportamen to se baseia no conhecimento de como e quando as várias unidades cognitivoafetivas são ativadas Essas unidades incluem codificações expectativas crenças competên cias planos e estratégias autorregulatórias bem como afetos e objetivos Variáveis da situação Mischel acredita que a influência relativa das variáveis da situação e das qualidades pessoais pode ser determi nada pela observação da uniformidade ou da diversidade das respostas em determinada situação Quando pessoas diferentes se comportam de maneira muito similar por exemplo enquanto assistem a uma cena emotiva em um filme envolvente as variáveis da situação são mais pode rosas do que as características pessoais Todavia eventos que parecem os mesmos podem produzir reações muito di ferentes porque as qualidades pessoais superam as situa cionais Por exemplo vários trabalhadores podem ser des pedidos do emprego mas as diferenças individuais levam a comportamentos diversos dependendo da necessidade de trabalho percebida dos trabalhadores da confiança em seu nível de habilidade e da capacidade percebida de encontrar outro emprego No início de sua carreira Mischel conduziu estudos demonstrando que a interação entre a situação e as várias qualidades pessoais era um determinante importante do comportamento Em um estudo por exemplo Mischel e Ervin Staub 1965 examinaram as condições que influen ciavam a escolha de uma recompensa e constataram que tanto a situação quanto a expectativa de sucesso do indi víduo eram significativas Esses investigadores pediram inicialmente que meninos da sétima série classificassem suas expectativas de sucesso em tarefas de raciocínio ver bal e informações gerais Posteriormente depois que os es tudantes trabalharam em uma série de problemas foi dito a alguns que eles tinham obtido sucesso naqueles proble mas outros foram informados de que haviam fracassado e o terceiro grupo não recebeu qualquer informação Então solicitouse que escolhessem entre uma recompensa não contingente menos valiosa e imediata e uma recompensa contingente mais valiosa e adiada Consistente com a teoria da interação de Mischel os estudantes a quem tinha sido dito que haviam obtido sucesso na tarefa similar anterior apresentaram maior probabilidade de esperar pela recom pensa mais valiosa que era contingente a seu desempenho aqueles que foram informados de que haviam fracassado anteriormente tenderam a escolher uma recompensa me nos valiosa imediata e aqueles que não tinham recebido feedback fizeram escolhas baseadas em suas expectativas originais de sucesso ou seja os estudantes no grupo sem informação que a princípio tinham altas expectativas de sucesso fizeram escolhas similares àqueles que acredita vam que haviam tido sucesso enquanto aqueles que ori ginalmente tinham baixas expectativas de sucesso fizeram escolhas similares àqueles que acreditavam ter fracassado A Figura 182 mostra como o feedback situacional interage com a expectativa de sucesso para influenciar a escolha das recompensas Mischel e colaboradores também demonstraram que as crianças podem usar seus processos cognitivos para mudar uma situação difícil transformandoa em fácil Por exemplo Mischel e Ebbe B Ebbesen 1970 descobriram que algumas crianças eram capazes de usar sua habilida de cognitiva para mudar uma espera desagradável por um presente transformandoa em uma situação mais agradá vel Em seu estudo sobre o adiamento da gratificação foi dito a crianças de uma creche que elas receberiam uma pequena recompensa depois de um curto período de tem po mas um presente maior se elas pudessem esperar mais tempo As crianças que pensaram no presente tiveram di ficuldade de esperar enquanto aquelas que conseguiram esperar por mais tempo usaram uma variedade de formas de se distrair para evitar pensarem na recompensa Elas ignoraram o presente fecharam os olhos ou cantaram músicas para transformar a situação de espera aversiva em uma situação agradável Esses e outros resultados de pesquisa levaram Mischel a concluir que tanto a situação quanto os vários componentes cognitivoafetivos da per sonalidade desempenham um papel na determinação do comportamento Feist18indd 365 Feist18indd 365 291014 0936 291014 0936 366 FEIST FEIST ROBERTS Unidades cognitivoafetivas Em 1973 Mischel propôs um conjunto de cinco variáveis sobrepostas relativamente estáveis que interagem com a situação para determinar o comportamento Mais de 30 anos de pesquisa fizeram com que Mischel e colaboradores ampliassem sua concepção dessas variáveis as quais cha maram de unidades cognitivoafetivas Mischel 1999 2004 Mischel Ayduk 2002 Mischel Shoda 1995 1998 1999 Tais variáveis pessoais mudaram a ênfase do que a pessoa tem i e traços globais para o que a pessoa faz em uma situação particular O que uma pessoa faz inclui mais do que ações abarca qualidades cognitivas e afetivas como pensar planejar sentir e avaliar As unidades cognitivoafetivas incluem todos os as pectos psicológicos sociais e fisiológicos que fazem as pes soas interagirem com seu ambiente em um padrão de va riação relativamente estável Essas unidades envolvem 1 estratégias de codificação 2 competências e estratégias autorregulatórias 3 expectativas e crenças 4 objetivos e valores e 5 respostas afetivas Estratégias de codificação Uma unidade cognitivoafetiva importante que acaba afe tando o comportamento são os construtos pessoais das pessoas e as estratégias de codificação ou seja as for mas de categorização das informações recebidas dos es tímulos externos As pessoas usam processos cognitivos para transformar esses estímulos em construtos pessoais incluindo seu autoconceito sua visão acerca das outras pessoas e sua maneira de encarar o mundo Diferentes pessoas codificam os mesmos eventos de formas distin tas o que explica as diferenças individuais nos construtos pessoais Por exemplo uma pessoa pode reagir com raiva quando insultada enquanto outra pode optar por ignorar o mesmo insulto Além disso a mesma pessoa pode codi ficar o mesmo evento de formas diferentes em situações distintas Por exemplo uma mulher que normalmente interpreta um telefonema da melhor amiga como uma experiência agradável pode em determinada situação percebêla como incômoda As entradas de estímulos são alteradas de modo substancial pela atenção seletiva das pessoas pelo modo como elas interpretam sua experiência e pela forma como categorizam essas entradas Mischel e o exaluno de doutorado Bert Moore 1973 constataram que as crianças podem transformar eventos ambientais focan do aspectos selecionados das entradas dos estímulos Nesse estudo do adiamento da gratificação as crianças expostas a imagens das recompensas petiscos ou moe das conseguiam esperar mais tempo pelas recompensas do que aquelas encorajadas a construir cognitivamente imaginar recompensas reais enquanto visualizavam as figuras Um estudo anterior Mischel Ebbesen Zeiss 1972 demonstrou que as crianças expostas a recompen sas reais durante um período de espera tinham maior di ficuldade em esperar do que as que não eram expostas à recompensa Os resultados desses dois estudos suge riram que em pelo menos algumas situações as trans formações cognitivas dos estímulos podem ter quase o mesmo efeito que os estímulos reais Competências e estratégias autorregulatórias A forma como nos comportamos depende em parte dos comportamentos potenciais disponíveis de nossas cren ças do que podemos fazer de nossos planos e estratégias para realizar comportamentos e de nossas expectativas de sucesso Mischel Cantor Feldman 1996 Nossas crenças no que podemos fazer relacionamse às nossas competências Mischel 1990 usou o termo compe tências para se referir a um amplo leque de informações que adquirimos acerca do mundo e de nossa relação com ele Observando nossos próprios comportamentos e os dos outros aprendemos o que podemos fazer em uma si tuação específica assim como o que não podemos fazer Fizeram escolhas com base em expectativa anterior de sucesso Escolheram recompensas não contingentes menos valiosas Escolheram recompensas contingentes mais valiosas Sem informação Fracasso obtido Todos trabalham em uma série de problemas Todos medidos quanto à expectativa de sucesso Sucesso obtido FIGURA 182 Modelo usado por Mischel e Staub 1965 Feist18indd 366 Feist18indd 366 291014 0936 291014 0936 TEORIAS DA PERSONALIDADE 367 Mischel concordou com Bandura em relação ao fato de que não atentamos a todos os estímulos em nosso am biente em vez disso construímos seletivamente ou gera mos nossa própria versão do mundo real Assim adquiri mos um conjunto de crenças acerca de nossas capacidades de desempenho com frequência na ausência do desempe nho real Por exemplo uma estudante excepcional pode acreditar que possui a competência para se sair bem no Graduate Record Exam GRE mesmo que nunca tenha se submetido a esse teste Competências cognitivas como se sair bem em um teste são em geral mais estáveis temporariamente e en tre as situações do que outras unidades cognitivoafetivas Ou seja os escores das pessoas nos testes de habilidade mental não costumam apresentar grandes flutuações de uma vez até a seguinte ou de uma situação para a outra De fato Mischel 1990 argumentou que uma das razões para a aparente consistência dos traços é a estabilidade relativa da inteligência um traço básico subjacente a muitas dispo sições pessoais Segundo ele as competências cognitivas conforme medidas pelos testes tradicionais de habilidade mental revelaram ser alguns dos melhores preditores do ajuste social e interpessoal e assim dão aos traços sociais e interpessoais uma aparência de estabilidade Além disso Mischel sugeriu que quando a inteligência é avaliada por medidas não tradicionais que incluem o potencial de uma pessoa para ver soluções alternativas aos problemas ela ex plica as porções ainda maiores da consistência encontrada em outros traços No Capítulo 17 discutimos o conceito de Bandura de autorregulação por meio da qual as pessoas controlam o próprio comportamento Do mesmo modo Mischel acre dita que as pessoas usam estratégias autorregulatórias para controlar o próprio comportamento por meio de ob jetivos autoimpostos e consequências autoproduzidas As pessoas não precisam de recompensas externas e punições para moldarem seu comportamento elas podem estabele cer objetivos para si mesmas e então recompensarem ou criticarem a si próprias conforme seu comportamento as move ou não na direção desses objetivos O sistema autorregulatório possibilita planejar ini ciar e manter comportamentos mesmo quando o apoio ambiental é fraco ou inexistente Pessoas como Abraham Lincoln e Mohandas Gandhi foram capazes de regular o próprio comportamento em face de um ambiente não apoiador e hostil mas cada um de nós pode persistir sem incentivo ambiental se tivermos objetivos e valores pode rosos autoproduzidos Contudo objetivos inapropriados e estratégias ineficazes aumentam a ansiedade e levam ao fracasso Por exemplo pessoas com objetivos inflexíveis N de RT Teste informatizado cuja nota é utilizada como critério de admissão em vários programas de pósgraduação dos Estados Unidos e da Europa e exagerados podem persistir tentando atingilos mas a falta de competência e de apoio ambiental impede que isso ocorra Expectativas e crenças Toda situação apresenta um grande número de potencial do comportamento mas a forma como as pessoas se com portam depende de suas expectativas e crenças específicas sobre as consequências de cada uma das diferentes possi bilidades de comportamento O conhecimento de hipóte ses ou crenças das pessoas referentes ao resultado de uma situação é um preditor mais preciso do comportamento do que o conhecimento de sua capacidade de desempenho Mischel et al 2002 A partir da experiência prévia e observando os outros as pessoas aprendem a executar os comportamentos que elas esperam que tenham os resultados mais valorizados subjetivamente Quando as pessoas não possuem informa ção acerca do que podem esperar de um comportamento elas executam os comportamentos que receberam o maior reforço em situações prévias semelhantes Por exemplo um universitário que nunca se submeteu ao GRE já teve no entanto a experiência de se preparar para outros testes O que esse estudante faz para se preparar para o GRE é influenciado em parte por aquilo que os comportamentos de preparação para testes anteriores apresentaram como melhores resultados Um estudante que anteriormente foi recompensado por usar técnicas de autorrelaxamento para se preparar para os testes tem a expectativa de que as mesmas técnicas o ajudem a se sair bem no GRE Mischel 1990 2004 se referiu a esse tipo de expectativa como expectativa de comportamentoresultado As pessoas com frequência interpretam as expectativas de comportamen toresultado em uma estrutura se então Se eu usar procedimentos de autorrelaxamento então posso esperar me sair bem no GRE Se eu disser à minha chefe o que realmente penso dela então posso perder meu emprego Mischel também identificou um segundo tipo de ex pectativa as expectativas de estímuloresultado que se refere às muitas condições de estímulos que influenciam as pro váveis consequências de um padrão de comportamento As expectativas de estímuloresultado ajudam a predizer quais eventos têm probabilidade de ocorrer após certos estímu los Talvez o exemplo mais óbvio seja uma expectativa de um trovão alto e desagradável após a ocorrência de um raio o estímulo Mischel acredita que as expectativas de estí muloresultado são unidades importantes para compreen der o condicionamento clássico Por exemplo uma criança que foi condicionada a associar dor com enfermeiras em um hospital começa a chorar e demonstrar medo quando vê uma enfermeira segurando uma seringa Mischel 1990 acredita que uma razão para a in consistência do comportamento é nossa incapacidade de Feist18indd 367 Feist18indd 367 291014 0936 291014 0936 368 FEIST FEIST ROBERTS predizer o comportamento das pessoas Não hesitamos em atribuir traços pessoais aos outros mas quando no tamos que seu comportamento é inconsistente com esses traços temos menos certeza de como reagir a elas Nosso comportamento será consistente entre as situações até o ponto em que as nossas expectativas se mantiverem Mas nossas expectativas não são constantes elas mudam por que podemos discriminar e avaliar a grande variedade de reforçadores potenciais em determinada situação Mischel Ayduk 2002 Objetivos e valores As pessoas não reagem passivamente às situações mas são ativas e direcionadas para o objetivo Elas formulam objeti vos fazem planos para atingilos e em parte criam as pró prias situações Os objetivos os valores e as preferências subjetivas das pessoas representam uma quarta unidade cognitivoafetiva Por exemplo dois universitários podem ter a mesma capacidade acadêmica e também a mesma expectativa de sucesso na pósgraduação O primeiro no entanto atribui maior valor a ingressar no mercado de tra balho do que a fazer pósgraduação enquanto o segundo escolhe fazer pósgraduação em vez de procurar uma car reira imediata Os dois podem ter vivenciado experiências muito semelhantes durante a universidade mas como possuem objetivos diferentes tomaram decisões muito distintas Valores objetivos e interesses juntamente com as competências estão entre as unidades cognitivoafetivas mais estáveis Uma razão para essa consistência são as propriedades dessas unidades de desencadearem emoções Por exemplo uma pessoa pode atribuir um valor negati vo a determinada comida porque a associa com a náusea que certa vez experimentou enquanto consumia aquele ali mento Sem o contracondicionamento é provável que essa aversão persista devido à forte emoção negativa produzida pela comida De modo semelhante valores patrióticos po dem durar uma vida inteira porque eles estão associados a emoções positivas como segurança e vinculação ao lar e ao amor materno Respostas afetivas Durante o início da década de 1970 a teoria de Mischel era sobretudo uma teoria cognitiva Ela estava baseada no pressuposto de que os pensamentos e outros processos cognitivos interagem com uma situação particular para determinar o comportamento Desde então no entanto Mischel e colaboradores Mischel Ayduk 2002 Mischel Shoda 1998 1999 acrescentaram as respostas afetivas à lista de unidades cognitivoafetivas importantes As res postas afetivas incluem emoções sentimentos e reações fisiológicas Mischel considera as respostas afetivas insepa ráveis das cognições e compreende as unidades cognitivo afetivas interconectadas como mais básicas do que outras unidades cognitivoafetivas As respostas afetivas então não existem de forma isolada Elas não só são inseparáveis dos processos cog nitivos como também influenciam cada uma das demais unidades cognitivoafetivas Por exemplo a codificação da visão de self de uma pessoa inclui certos sentimentos posi tivos e negativos Vejome como um estudante de psicolo gia competente e isso me agrada Não sou muito bom em matemática e não gosto disso Do mesmo modo as com petências e as estratégias de enfrentamento das pessoas suas crenças e expectativas e seus objetivos e valores são todos influenciados por suas respostas afetivas Mischel e Shoda 1995 afirmaram As representações cognitivoafetivas não são unidades discretas desconectadas simplesmente evocadas como respostas em isolado essas representações cognitivas e esses estados afetivos interagem de forma dinâmica e influenciam uns aos outros de modo recíproco e é a organização das relações entre eles que forma a essência da estrutura da personalidade e que guia e condiciona seu impacto p 253 Uma razão para a inconsistência no comportamento das pessoas é sua incapacidade de prever o comportamento dos outros Feist18indd 368 Feist18indd 368 291014 0936 291014 0936 TEORIAS DA PERSONALIDADE 369 Em resumo as unidades cognitivoafetivas inter relacionadas contribuem para o comportamento quando interagem com traços de personalidade estáveis e com um ambiente receptivo As mais importantes dessas variáveis incluem 1 estratégias de codificação ou como as pessoas interpretam ou categorizam um evento 2 competências e estratégias de autorregulação ou seja o que as pessoas podem fazer e suas estratégias e seus planos para realizar um comportamento desejado 3 expectativas e crenças de comportamentoresultado e estímuloresultado referentes a uma situação específica 4 objetivos valores e preferências subjetivos que determinam em parte a atenção seletiva aos eventos e 5 respostas afetivas incluindo sentimentos e emoções além de afetos que acompanham as reações fi siológicas PESQUISA RELACIONADA As ideias de Rotter sobre controle interno e externo ge raram uma quantidade considerável de pesquisa em psi cologia com muitos pesquisadores de outras disciplinas aproveitando os conceitos desse autor para as próprias investigações O CAPS de Mischel embora um modelo re lativamente novo da personalidade foi proposto de forma integral na metade da década de 1990 gerou um forte corpus de trabalho considerando sua idade com vários es tudos focando a estrutura seentão discutida previamente Locus de controle e heróis do holocausto Como mencionado ao longo deste livro as variáveis da personalidade podem ser usadas para predizer resultados incontáveis Alguns resultados são triviais e rotineiros como se La Juan irá deitar a cabeça durante uma palestra maçante enquanto outros são extraordinários tais como se La Juan obterá doutorado em psicologia Mas talvez ne nhum resultado seja mais extraordinário do que o selecio nado pela psicóloga Elizabeth Midlarsky e colaboradores Midlarsky procurou usar variáveis da personalidade para predizer quem era um herói do holocausto e quem era um espectador durante os anos trágicos da II Guerra Mundial Midlarsky Fagin Jones Corley 2005 O genocídio de 6 milhões de judeus pelos nazistas foi tão extremo tão terrível que é difícil imaginar que apenas metade de 1 das pessoas em território ocupado pelos nazistas optou por ajudar seus vizinhos judeus quando a vida deles corria perigo Oliner Oliner 1988 Mas o perigo apresentado àqueles que auxiliavam os judeus era igual ao risco de ser judeu portanto as ações dos civis não judeus que coloca ram suas vidas em risco para auxiliar seus vizinhos perse guidos eram verdadeiramente atos raros e heroicos Para investigar o poder da personalidade para predizer tais atos heroicos raros Midlarsky e colaboradores reuni ram uma amostra extraordinária de pessoas que consistia de 80 salvadores de judeus durante a II Guerra Mundial 73 espectadores que viviam na Europa durante o mesmo período mas não auxiliaram os judeus e uma amostra de comparação de 43 pessoas que eram da Europa mas imi graram para a América do Norte antes da guerra Os par ticipantes tinham cerca de 72 anos em média na época em que o estudo foi conduzido significando que a maioria deles estava na faixa dos 20 anos durante a II Guerra Mun dial O status de salvador foi verificado pelo testemunho de sobreviventes do holocausto resgatados pelos participan tes do estudo Os pesquisadores incluíram diversas variáveis de per sonalidade em seu esforço para predizer quem era um he rói e quem era um espectador uma dessas variáveis era o locus de controle Ser orientado mais em direção ao senso de controle interno era previsto como relacionado a ser um herói do holocausto porque tais indivíduos acreditam ter controle sobre os eventos da vida e que o sucesso não se deve à sorte ou ao acaso como as pessoas com um senso de controle externo acreditariam Para usar a linguagem de Rotter Rotter 1966 aqueles com controles internos são pessoas que possuem uma expectativa generalizada de que seus atos para salvar a vida dos vizinhos perseguidos seriam bemsucedidos Outras variáveis que Midlarsky e colaboradores examinaram eram autonomia ter um senso de independência correr riscos responsabilidade social autoritarismo relacionado a possuir atitudes preconcei tuosas em relação a grupos de minorias e o oposto da to lerância empatia e raciocínio moral altruísta altos níveis dos quais requerem raciocínio abstrato incluindo o uso de valores internalizados Todas as variáveis da personalida de foram mensuradas por meio de medidas de autorrelato convencionais e os participantes preencheram as medidas durante entrevistas face a face com um dos pesquisadores na casa do participante Os pesquisadores constataram que possuir um senso interno de controle estava positivamente relacionado a to das as variáveis da personalidade medidas ou seja aque les que tinham um alto senso de controle interno também eram mais autônomos corriam mais riscos apresentavam um senso de responsabilidade social mais forte eram mais tolerantes menos autoritários eram mais empáticos e exibiam níveis mais elevados de raciocínio moral altruísta Para testar sua hipótese principal de que a personali dade poderia predizer o status de herói os pesquisadores usaram um procedimento estatístico que permitiu reunir todos os participantes heróis expectadores e a amostra de comparação de imigrantes préguerra e então empregar os escores de cada pessoa nas variáveis de personalidade para predizer a qual categoria cada participante pertencia Corroborando a hipótese dos pesquisadores a personali dade predizia corretamente quem era um herói e quem não era 93 das vezes o que é uma taxa de precisão muito alta para esse tipo de análise Feist18indd 369 Feist18indd 369 291014 0936 291014 0936 370 FEIST FEIST ROBERTS Análises adicionais revelaram que aqueles que coloca ram a própria vida em risco para ajudar seus vizinhos per seguidos tinham um senso de controle interno mais alto do que aqueles que não ofereceram assistência E isso faz muito sentido se uma pessoa tem um senso de controle externo acreditando que o resultado dos eventos é uma casualidade então por que iria arriscar a própria segurança para tomar uma atitude de ajudar a assegurar a segurança de outros Ter uma expectativa generalizada de que suas ações terão um efeito positivo e que o resultado dos even tos não é uma casualidade é essencial para ser capaz de aju dar os outros sob condições extraordinárias Interação pessoasituação Walter Mischel conduziu uma grande quantidade de pes quisas sobre as complexidades associadas a personalida de situações e comportamento Sua pesquisa e teoria da aprendizagem social cognitiva geraram ainda mais pesqui sas realizadas por muitos estudiosos no campo Talvez a mais importante delas tenha sido a pesquisa recente sobre a interação pessoasituação A essência dessa abordagem é resumida pela contingência contextual entre comporta mento e contexto na declaração Se estou nesta situação então faço X mas se estou naquela situação então faço Y Conforme discutimos na seção sobre sistema de persona lidade cognitivoafetivo Mischel e Shoda desenvolveram métodos conceituais e empíricos de investigação da intera ção pessoasituação simplesmente fazendo os participan tes responderem a situações seentão Em um estudo recente sofisticado em sua simplicida de uma das alunas de Mischel Lara Kammrath e colabo radores demonstraram a estrutura Se então de forma muito clara Kammrath MendozaDenton Mischel 2005 O objetivo do estudo era mostrar que as pessoas compreendem a estrutura seentão e a usam quando fazem julgamentos acerca dos outros Os participantes desse es tudo receberam apenas um traço de uma estudante fictícia e então foram convidados a predizer a afetividade com que a estudante se comportaria em várias situações dife rentes O traço descritor que cada participante recebeu foi determinado aleatoriamente a partir da seguinte lista ami gável aduladora sedutora tímida ou hostil Com apenas um desses traços em mente os participantes tinham que prever como a estudante fictícia se comportaria com os pa res os professores as mulheres os homens os familiares e as pessoas estranhas O que os pesquisadores encontraram corroborou perfei tamente a estrutura seentão das interações pessoasituação Por exemplo quando o descritor do traço para a estudante fictícia era aduladora os participantes predisseram que ela agiria de modo muito afetivo com os professores mas não excepcionalmente afetiva com os pares Em outras palavras se o alvo da interação fosse de alto status professor então a estudante era muito afetiva mas se o alvo não fosse de alto status então a estudante não era afetiva Do mesmo modo quando a estudante era descrita como hostil os par ticipantes predisseram que ela seria mais afetiva com pes soas conhecidas mas absolutamente não afetiva com estra nhos Esses achados demonstram claramente que a pessoa mediana compreende que os indivíduos não se comportam da mesma maneira em todas as situações dependendo da personalidade as pessoas ajustam o comportamento para se adequarem à situação Mischel e colaboradores concluíram que a conceituali zação interacionista social cognitiva do ambiente pessoa situação é uma forma mais apropriada de compreender o comportamento humano do que as visões da personali dade descontextualizadas tradicionais em que os indiví duos se comportam de determinada maneira independen temente do contexto Autorregulação ao longo da vida Conforme mencionado anteriormente neste capítu lo a primeira pesquisa de Walter Mischel em psicologia da personalidade foi sobre o adiamento da gratificação Lembrese de que em seus primeiros estudos com Ebbe sen 1970 Mischel identificou que as crianças que eram capazes de resistir à tentação neste caso não comer um marshmallow mas em vez disso esperar para receber dois marshmallows mais tarde faziam isso com o uso de uma variedade de estratégias cognitivas e comportamentais Desde aquele trabalho inicial décadas de pesquisa longi tudinal acompanharam os préescolares ao longo de sua vida para explorar os mecanismos que possibilitam a au torregulação efetiva Em uma revisão recente desses estudos de followup Walter Mischel Yuichi Shoda e colaboradores 2012 apre sentam evidências da validade de predição surpreendente mente significativa do teste do marshmallow para resulta dos sociais cognitivos e mentais ao longo da vida A lista de consequências marcantes é longa Por exemplo o núme ro de segundos que os préescolares eram capazes de espe rar para obter os dois marshmallows preferidos predizia de forma significativa escores mais altos no SAT quando eles estavam no ensino médio e posteriormente uma conquis ta educacional mais elevada maior autoestima e uma capa cidade mais aprimorada de lidar com o estresse Ayduk et al 2000 Shoda et al 1990 Além disso os préescolares que cederam à tentação de um marshmallow apresentaram 30 a mais de probabilidade de ter sobrepeso aos 11 anos de idade Seeyave et al 2009 e maior probabilidade de desenvolver características de personalidade borderline na idade adulta Ayduk et al 2008 do que os que foram capa zes de esperar pela recompensa adiada O que possibilita essa incrível força de vontade em alguns mas não em todos nós Mischel e colaboradores Feist18indd 370 Feist18indd 370 291014 0936 291014 0936 TEORIAS DA PERSONALIDADE 371 publicaram substancialmente sobre essa questão e con cluíram que os que conseguem resistir à tentação em favor de objetivos de longo prazo usam duas estratégias amplas redirecionamento da atenção ou reestruturação cognitiva Mischel et al 2010 Ignorar ou prestar atenção em algo além do objeto tentador ajuda os retardadores Reestrutu rar uma situação a partir do que Mischel e colaboradores denominaram de características quentes p ex o sabor delicioso do marshmallow e se direcionar para represen tações mais frias a forma do marshmallow também estimula a capacidade de adiar Essas estratégias simples podem ser ensinadas para melhorar de modo substancial a capacidade de adiar a gratificação e aprimorar a autor regulação e por extensão a vida As demonstrações apa rentemente simples de Walter Mischel das competências autorregulatórias do início da vida se revelaram preditores poderosos de personalidade flexível e saudável durante a meiaidade CRÍTICAS À TEORIA DA APRENDIZAGEM SOCIAL COGNITIVA A teoria da aprendizagem social cognitiva é atraente para quem valoriza os rigores da teoria da aprendizagem e o pressuposto especulativo de que as pessoas são seres cognitivos orientados para o futuro Rotter e Mischel de senvolveram teorias da aprendizagem para humanos pen santes avaliadores e direcionados para objetivos em vez de para animais de laboratório Como as demais teorias o valor da teoria da aprendizagem social cognitiva reside em como ela se classifica em relação aos seis critérios para uma teoria útil Em primeiro lugar as teorias de Rotter e Mischel es timularam um corpo de pesquisa significativo Com base nesse critério as teorias da aprendizagem social cognitiva geraram tanto quantidade quanto qualidade de pesquisa Por exemplo o conceito de Rotter de locus do controle foi e continua a ser um dos tópicos mais amplamente pesquisa dos na literatura psicológica O locus do controle no entan to não é o núcleo da teoria da personalidade de Rotter e a teoria em si não gerou um nível comparável de pesquisa Em contraste com o conceito de Rotter de locus do contro le a teoria de Mischel gerou um pouco menos de pesquisa porém mais relevante para suas ideias centrais Segundo as teorias da aprendizagem social cognitiva são refutáveis A natureza empírica do trabalho de Rotter e Mischel expõe essas teorias a possível refutação e verifica ção Entretanto a fórmula de predição básica e a fórmula de predição geral são completamente hipotéticas e não po dem ser testadas com precisão Por comparação a teoria de Mischel se presta um pou co mais à refutação De fato a pesquisa sobre adiamento da gratificação levouo a colocar mais ênfase nas variáveis da situação e menos na inconsistência do comportamento Essa redução da ênfase no adiamento da gratificação per mitiu a Mischel evitar as abordagens metodológicas limita das usadas em sua pesquisa inicial Terceiro conforme o critério de organização do conhe cimento a teoria social cognitiva se classifica um pouco acima da média Em tese pelo menos a fórmula de pre dição geral de Rotter e seus componentes de potencial da necessidade liberdade de movimento e valor da necessida de oferecem uma estrutura útil para compreender muito do comportamento humano Quando o comportamento é visto como uma função dessas variáveis ele assume um matiz diferente A teoria de Mischel agora se classifica aci ma da média nesse critério porque ele continuou a ampliar o âmbito de sua teoria para incluir disposições pessoais e unidades cognitivoafetivas capazes de predizer e explicar o comportamento Quarto a teoria da aprendizagem social cognitiva serve como um guia para a ação útil Com base em tal cri tério classificamos a teoria como apenas moderadamente alta As ideias de Rotter sobre psicoterapia são bastante explícitas e constituem um guia útil para o terapeuta po rém sua teoria da personalidade não é tão prática As fór mulas matemáticas servem como uma estrutura útil para organizar o conhecimento contudo não sugerem um cur so específico de ação para o praticante porque o valor de cada fator dentro da fórmula não pode ser conhecido com certeza matemática Da mesma forma a teoria de Mischel é apenas moderadamente útil para o terapeuta o profes sor ou o pai Ela sugere aos praticantes que eles devem esperar que as pessoas se comportem de formas diferen tes em situações distintas e até mesmo de um momento para outro mas fornece poucas diretrizes específicas para a ação Quinto as teorias de Rotter e Mischel têm coerên cia interna Rotter é cuidadoso na definição de conceitos para que o mesmo termo não tenha dois ou mais signi ficados Além disso os componentes separados de sua teoria são logicamente compatíveis A fórmula de pre dição básica com seus quatro fatores específicos é logi camente coerente com as três variáveis mais amplas da fórmula de predição geral Mischel assim como Bandura ver Cap 17 desenvolveu uma teoria a partir da pesqui sa empírica sólida um procedimento que favorece muito a coerência Sexto a teoria da aprendizagem social cognitiva é parcimoniosa Em geral ela é relativamente simples e não pretende oferecer explicações para toda a personalidade humana Mais uma vez a ênfase na pesquisa em vez de na especulação filosófica contribuiu para a parcimônia das teorias da aprendizagem social cognitiva tanto de Rotter quanto de Mischel Feist18indd 371 Feist18indd 371 291014 0936 291014 0936 372 FEIST FEIST ROBERTS Termoschave e conceitos As teorias da aprendizagem social cognitiva de Rotter e Mischel procuram sintetizar os pontos fortes da teoria do reforço com os da teoria cognitivista De acordo com Rotter o comportamento das pes soas em uma situação específica é função de suas expectativas de reforços e da força das necessidades sa tisfeitas por esses reforços Em situações específicas o comportamento é esti mado pela fórmula de predição básica que sugere que o potencial para determinado comportamento ocor rer é uma função da expectativa E da pessoa mais o valor do reforço VR A fórmula de predição geral afirma que o potencial da necessidade PN é função da liberdade de movi mento LM e do valor da necessidade VN CONCEITO DE HUMANIDADE Rotter e Mischel veem as pessoas como animais cognitivos cujas percepções dos eventos são mais importantes do que os próprios eventos As pessoas são capazes de interpretar os eventos de várias maneiras e essas percepções cognitivas ten dem a ser geralmente mais influentes do que o ambiente na determinação do valor do reforçador A cognição capacita pes soas diferentes a verem a mesma situação de formas distintas e a atribuírem valores diferentes ao reforço que se segue ao comportamento Tanto Rotter quanto Mischel entendem os humanos como animais direcionados para o objetivo que não reagem meramente ao ambiente mas que interagem com seus am bientes psicologicamente significativos Portanto a teoria da aprendizagem social cognitiva é mais teleológica ou orienta da para o futuro do que causal As pessoas atribuem valor positivo aos eventos que elas percebem que as aproximam de seus objetivos e atribuem valor negativo aos eventos que as impedem de atingilos Os objetivos então servem como critérios para avaliar os eventos As pessoas são motivadas menos pelas experiências passadas com o reforço do que por suas expectativas de eventos futuros A teoria da aprendizagem social cognitiva sustenta que as pessoas se movem na direção dos objetivos que estabelece ram para si Esses objetivos no entanto modificamse confor me mudam as expectativas de reforço das pessoas e sua pre ferência por um reforço em relação a outro Como as pessoas estão continuamente no processo de estabelecer objetivos elas possuem alguma escolha na direção de suas vidas O livre arbítrio não é ilimitado no entanto porque as experiências passadas e os limites das competências pessoais determinam em parte o comportamento Como Rotter e Mischel são realistas e pragmáticos é difí cil classificálos na dimensão do otimismo versus pessimismo Eles acreditam que as pessoas podem aprender estratégias construtivas para a solução de problemas e que elas são capa zes de aprender novos comportamentos em qualquer ponto da vida Contudo esses teóricos não sustentam que as pessoas tenham dentro de si uma força inerente que as move inevita velmente na direção do crescimento psicológico Quanto ao aspecto dos motivos conscientes versus incons cientes a teoria da aprendizagem social cognitiva pende na direção das forças conscientes As pessoas podem consciente mente estabelecer objetivos para si e lutar de modo conscien te para resolver velhos e novos problemas Entretanto nem sempre estão conscientes das motivações subjacentes de uma boa parte de seu comportamento atual Quanto à questão de a personalidade ser moldada por influências sociais ou biológicas a teoria da aprendizagem social cognitiva enfatiza os fatores sociais Rotter destacou particularmente a importância da aprendizagem dentro de um ambiente social Mischel também enfatizou as influências sociais mas ele não negligencia a importância dos fatores ge néticos Ele e Shoda Mischel Shoda 1999 sustentam que as pessoas têm uma predisposição tanto genética quanto social para agir de determinada maneira A predisposição genética é claro provém de sua dotação genética enquanto sua predis posição social resulta de sua história social Quanto à ênfase na singularidade ou nas semelhanças colocamos Rotter em uma posição intermediária As pessoas possuem histórias individuais e experiências únicas que per mitem estabelecer objetivos personalizados mas também há semelhanças suficientes entre as pessoas para possibilitar a construção de fórmulas matemáticas que na presença de in formações suficientes permitem a predição fidedigna e preci sa do comportamento Por comparação Mischel claramente coloca maior ênfase na singularidade do que nas semelhanças As diferenças entre as pessoas resultam da assinatura comportamental de cada in divíduo e dos padrões únicos de variação no comportamento de cada pessoa Em suma a teoria da aprendizagem social cog nitiva considera as pessoas como animais direcionados para o futuro orientadas unificadas cognitivas afetivas e sociais que são capazes de avaliar experiências atuais e prever eventos fu turos com base em objetivos que elas escolheram para si Feist18indd 372 Feist18indd 372 291014 0936 291014 0936 TEORIAS DA PERSONALIDADE 373 O potencial da necessidade é a ocorrência possível de um conjunto de comportamentos funcionalmente relacionados e direcionados para a satisfação de um objetivo ou de um conjunto similar de objetivos A liberdade de movimento é a expectativa média de que um conjunto de comportamentos relacionados será reforçado O valor da necessidade é o grau em que uma pessoa prefere um conjunto de reforços a outro Em muitas situações as pessoas desenvolvem ex pectativas generalizadas EGs de sucesso porque um conjunto de experiências semelhantes foi reforçado previamente Locus de controle é uma expectativa generalizada que se refere à crença das pessoas de que elas podem ou não controlar suas vidas Confiança interpessoal é uma expectativa generaliza da de que a palavra do outro é confiável Comportamento desadaptado referese às ações que não aproximam uma pessoa de um objetivo dese jado O método de Rotter de psicoterapia visa à mudança de objetivos e à eliminação de expectativas baixas O sistema de personalidade cognitivoafetivo CAPS sugere que o comportamento das pessoas é em grande parte moldado por uma interação entre tra ços estáveis da personalidade e situação o que inclui inúmeras variáveis pessoais As disposições pessoais possuem alguma consistência ao longo do tempo mas pouca consistência de uma situação para outra As disposições da personalidade relativamente es táveis interagem com as unidades cognitivoafetivas para produzir comportamento As unidades cognitivoafetivas incluem as estraté gias de codificação ou a forma que as pessoas têm de interpretar e categorizar as informações suas com petências e seus planos autorregulatórios ou o que elas conseguem fazer e suas estratégias para tanto suas expectativas e crenças acerca das consequências per cebidas de suas ações seus objetivos e valores e suas repostas afetivas Feist18indd 373 Feist18indd 373 291014 0936 291014 0936 CAPÍTULO 19 Kelly Teoria dos Construtos Pessoais Panorama da teoria dos construtos pessoais Biografia de George Kelly Posição filosófica de Kelly A pessoa como cientista O cientista como pessoa Alternativismo construtivo Construtos pessoais Postulado básico Corolários de apoio Aplicações da teoria dos construtos pessoais Desenvolvimento anormal Psicoterapia O Teste Rep Pesquisa relacionada O gênero como um construto pessoal Compreendendo o preconceito internalizado pela teoria dos construtos pessoais Construtos pessoais e os Big Five Críticas a Kelly Conceito de humanidade Termoschave e conceitos Kelly Feist19indd 374 Feist19indd 374 291014 0937 291014 0937 TEORIAS DA PERSONALIDADE 375 A rlene uma universitária de engenharia de 21 anos estava conciliando um horário acadêmico intenso com um emprego em tempo integral De repente sua vida se tornou ainda mais frenética quando seu car ro de 10 anos quebrou Agora ela enfrenta uma decisão importante Conforme sua interpretação de mundo ela vê que tem várias opções Ela pode mandar consertar seu carro velho pode obter um empréstimo para comprar um carro seminovo pode ir a pé para a faculdade e o trabalho pode pedir carona aos amigos pode abandonar a faculdade e voltar para a casa dos pais ou pode escolher entre várias outras opções O processo pelo qual Arlene ou qualquer um toma uma decisão é comparável aos processos seguidos pelos cientistas quando abordam um problema Como um bom cientista Arlene seguiu vários passos para uma tomada de decisão Primeiro ela observou seu ambiente Vejo que meu carro não funciona A seguir ela fez perguntas Como posso permanecer na faculdade e manter meu tra balho se meu carro não funcionar Devo mandar con sertar meu carro Devo comprar um carro mais novo Que outras opções tenho Terceiro ela antecipou as respostas Posso mandar consertar meu carro comprar um mais novo depender dos amigos para o transporte ou abandonar a faculdade Quarto ela percebeu relações en tre os eventos Abandonar a faculdade significaria voltar para casa adiar ou desistir de meu objetivo de me tornar uma engenheira e perder boa parte de minha independên cia Quinto ela levantou hipóteses acerca das soluções possíveis para seu dilema Se eu mandar consertar meu carro velho isso pode custar mais do que o carro vale mas se eu comprar um modelo mais recente usado vou ter que fazer um empréstimo Sexto ela fez mais perguntas Se eu comprar um carro diferente que marca modelo e cor quero A seguir ela previu os resultados potenciais Se eu comprar um carro confiável poderei permanecer na faculdade e continuar em meu emprego E por fim ela tentou controlar os eventos Comprando esse carro vou ficar livre para ir dirigindo para o trabalho e ganhar dinheiro suficiente para permanecer na faculdade Mais tarde voltaremos ao dilema de Arlene antes vamos abordar um panorama da teoria dos construtos pessoais conforme postulada por George Kelly PANORAMA DA TEORIA DOS CONSTRUTOS PESSOAIS A teoria dos construtos pessoais de George Kelly não é como outra teoria da personalidade Ela recebeu diferentes denominações teoria cognitivista teoria comportamental teoria existencial e teoria fenomenológica No entanto ela não é nenhuma dessas Talvez o termo mais apropriado seja metateoria ou uma teoria sobre teorias De acordo com Kelly todas as pessoas incluindo aquelas que cons truíram as teorias da personalidade preveem eventos por meio dos significados ou das interpretações que atribuem a esses eventos Stevens Walker 2002 Tais significados ou interpretações são denominados construtos As pessoas existem em um mundo real mas seu comportamento é moldado por sua interpretação gradualmente expandida ou construção daquele mundo Elas interpretam o mundo da própria maneira e cada construção está aberta a revisão ou a substituição As pessoas não são vítimas das circuns tâncias porque construções alternativas estão sempre dis poníveis Kelly chamou essa posição filosófica de alternati vismo construtivo O alternativismo construtivo é sugerido na teoria dos construtos pessoais de Kelly uma teoria que ele expressou em um postulado básico e 11 corolários de apoio O postu lado básico pressupõe que as pessoas estão constantemen te ativas e que sua atividade é orientada pela forma como antecipam os eventos BIOGRAFIA DE GEORGE KELLY De todos os teóricos da personalidade discutidos neste livro George Kelly teve as experiências variadas mais in comuns sobretudo envolvendo educação seja como estu dante seja como professor George Alexander Kelly nasceu em 28 de abril de 1905 em uma fazenda perto de Perth Kansas uma cida de minúscula quase inexistente 56 km ao sul de Wichita George era filho único de Elfleda M Kelly uma exprofes sora de escola e Theodore V Kelly um ministro presbi teriano ordenado Na época em que Kelly nasceu seu pai tinha deixado o ministério para se tornar um fazendeiro no Kansas Seus pais eram instruídos e ajudaram na educação formal do filho uma feliz circunstância porque a vida es colar de Kelly era um tanto errática Quando Kelly tinha 4 anos a família se mudou para o oeste do Colorado onde seu pai reivindicou parte das últimas terras livres naquela região do país Enquanto es tava no Colorado Kelly frequentou a escola de forma ir regular raramente por mais de algumas semanas por vez Thompson 1968 A falta de água levou a família de volta para o Kansas onde Kelly frequentou quatro escolas diferentes em qua tro anos No início ele viajava todos os dias até a escola de ensino médio mas aos 13 anos foi mandado para a es cola em Wichita Daquele momento em diante ele morou principalmente longe de casa Depois de se formar passou três anos na Friends University em Wichita e um ano no Park College em Parkville Missouri Ambas as instituições tinham afiliações religiosas o que pode explicar por que Feist19indd 375 Feist19indd 375 291014 0937 291014 0937 376 FEIST FEIST ROBERTS muitos dos escritos posteriores de Kelly são salpicados de referências bíblicas Kelly foi um homem de diversos interesses Sua forma ção foi em física e matemática mas ele também era mem bro da equipe de debate da universidade e como tal tor nouse intensamente preocupado com problemas sociais Esse interesse o levou à Universidade do Kansas onde fez mestrado com ênfase em sociologia educacional e relações de trabalho e sociologia Durante os anos seguintes Kelly se mudou várias vezes e ocupou diversos cargos Primeiro ele foi para Minneapolis onde ensinou oratória em uma faculdade especial para orga nizadores do setor trabalhista deu aulas de oratória para a Associação Americana de Bancários e ensinou assuntos governamentais para uma turma de americanização para prováveis cidadãos Kelly 1969a Em 1928 ele se mudou para Sheldon Iowa onde lecionou em uma faculdade co munitária e ensinou teatro Enquanto estava lá conheceu sua futura esposa Gladys Thompson uma professora de inglês na mesma escola Depois de um ano e meio ele se mudou de volta para Minnesota onde ensinou no período de verão na Universidade de Minnesota A seguir retornou a Wichita para trabalhar por alguns meses como engenheiro aeronáutico Dali ele foi para a Universidade de Edinburgh na Escócia como aluno de intercâmbio recebendo um di ploma de especialização em educação Nesse ponto da vida Kelly tinha feito explorações acadêmicas em educação sociologia economia relações trabalhistas biometria distúrbios da fala e antropologia tendo se licenciado em psicologia em um total de nove me ses Kelly 1969a p 48 Após retornar a Edinburgh no entanto começou a seguir seriamente uma carreira em psi cologia Matriculouse na Universidade Estadual de Iowa e em 1931 concluiu seu doutorado com uma tese sobre fatores comuns nas deficiências da fala e da leitura Mais uma vez Kelly retornou ao Kansas iniciando sua carreira acadêmica em 1931 na Faculdade Estadual Fort Hays em Hays Kansas ensinando psicologia fisiológica No entanto com a tempestade de areia e a Grande Depres são ele logo se convenceu de que deveria seguir algo mais humanitário do que psicologia fisiológica Kelly 1969a p 48 Como consequência decidiu se tornar terapeuta atedendo estudantes de faculdade e de ensino médio na comunidade de Hays Fiel a sua psicologia dos construtos pessoais Kelly apontou que sua decisão não foi ditada por circunstâncias mas por sua interpretação dos eventos ou seja a própria construção da realidade alterou o curso de sua vida Tudo à nossa volta chama se resolvermos prestar aten ção Além do mais nunca fiquei totalmente convencido de que me tornar um psicólogo fosse mesmo uma ideia muito boa em primeiro lugar A única coisa que parece clara acerca de minha carreira em psicologia é que fui eu quem ingressou nela e que a persegui p 49 Agora um psicoterapeuta Kelly obteve apoio legal para um programa de clínicas psicológicas itinerantes no Kansas Ele e seus alunos viajaram por todo o estado pres tando serviços psicológicos durante aqueles tempos econô micos difíceis Nessa época ele desenvolveu a própria abor dagem de terapia abandonando as técnicas freudianas que havia usado anteriormente Fransella 1995 Durante a II Guerra Mundial Kelly se alistou na ma rinha como psicólogo da aviação Depois da guerra ensi nou na Universidade de Maryland por um ano e então em 1946 associouse ao corpo docente da Universidade Esta dual de Ohio como professor e diretor de sua clínica psico lógica Lá ele trabalhou com Julian Rotter ver Cap 18 o qual o sucedeu como diretor da clínica Em 1965 aceitou um cargo na Universidade Brandeis onde por um curto período foi colega de A H Maslow ver Cap 9 A partir da época que passou em Fort Hays Kelly co meçou a formular uma teoria da personalidade Por fim em 1955 ele publicou seu trabalho mais importante A psicologia dos construtos pessoais The Psychology of Perso nal Constructs Esse livro em dois volumes reimpresso em 1991 contém toda a teoria da personalidade de Kelly e é um dos poucos trabalhos publicados em vida Kelly passou vários verões como professor convidado em instituições como Universidade de Chicago Univer sidade de Nebraska Universidade da Califórnia do Sul Universidade do Noroeste Universidade Brigham Young Universidade Stanford Universidade de New Hampshire e City College de Nova York Durante os anos do pósguerra ele se transformou em uma força importante em psicolo gia clínica nos Estados Unidos Foi presidente das Divisões Clínica e de Consultoria da American Psychological Asso ciation e também foi sócio fundador e posteriormente pre sidente do American Board of Examiners in Professional Psychology Kelly morreu em 6 de março de 1967 antes que pu desse concluir as revisões de sua teoria dos construtos pessoais As experiências de vida diversificadas de Kelly dos campos de trigo do Kansas para algumas das principais universidades do mundo da educação para as relações trabalhistas do teatro e do debate para a psicologia são coerentes com sua teoria da personalidade a qual enfati za a possibilidade de interpretação dos eventos a partir de muitos ângulos possíveis POSIÇÃO FILOSÓFICA DE KELLY O comportamento humano é fundamentado na realidade ou na percepção que as pessoas têm da realidade George Kelly diria ambos Ele não aceitava a posição de Skinner ver Cap 16 de que o comportamento é moldado pelo ambien te isto é pela realidade Entretanto ele também rejeitou a Feist19indd 376 Feist19indd 376 291014 0937 291014 0937 TEORIAS DA PERSONALIDADE 377 fenomenologia extrema ver Combs Snygg 1959 que defende que a única realidade é o que as pessoas percebem Kelly 1955 1991 acreditava que o universo é real mas que pessoas diferentes o interpretam de formas distintas Logo os construtos pessoais ou maneiras de interpre tar e explicar os eventos continham a chave para prever o comportamento das pessoas A teoria dos construtos pessoais não tenta explicar a natureza Em vez disso ela é uma teoria da construção de eventos das pessoas ou seja sua investigação pessoal do mundo É uma psicologia da busca humana Ela não diz o que foi ou será encontrado mas propõe como podemos realizála Kelly 1970 p 1 A pessoa como cientista Quando você decide o que comer no almoço a que progra mas de televisão assistir ou em que ocupação ingressar está agindo de forma muito parecida com um cientista Isto é você faz perguntas formula hipóteses testa as hi póteses tira conclusões e tenta predizer eventos futuros Como todas as outras pessoas incluindo os cientistas sua percepção da realidade é influenciada por seus construtos pessoais sua maneira de olhar explicar e interpretar even tos em seu mundo De modo similar todas as pessoas em sua busca pelo significado fazem observações interpretam as relações entre os eventos formulam teorias geram hipóteses tes tam as mais plausíveis e chegam a conclusões a partir de seus experimentos As conclusões de uma pessoa como as de qualquer cientista não são fixas ou finais Elas estão abertas a reconsideração e a reformulação Kelly tinha a ex pectativa de que as pessoas de modo individual e coletivo irão encontrar formas melhores de reestruturar suas vidas por meio da imaginação e da previsão O cientista como pessoa Se as pessoas podem ser vistas como cientistas os cientis tas podem ser vistos como pessoas Portanto as declara ções dos cientistas devem ser consideradas com o mesmo ceticismo com o qual abordamos qualquer comportamen to Cada observação científica pode ser examinada a partir de uma perspectiva diferente Cada teoria pode ser um tan to tendenciosa e ser encarada a partir de um ângulo novo Essa abordagem é claro significa que a teoria de Kelly não está isenta de reestruturação Kelly 1969b apresentou sua teoria como um conjunto de meias verdades e reconheceu a imprecisão de suas construções Assim como Carl Rogers ver Cap 10 Kelly esperava que sua teoria fosse derruba da e substituída por uma melhor Na verdade Kelly mais do que qualquer outro teórico da personalidade formulou uma teoria que encoraja a própria morte Assim como to dos nós podemos usar a imaginação para ver os eventos cotidianos de forma diferente os teóricos da personalidade podem empregar sua engenhosidade para construir teorias melhores Alternativismo construtivo Kelly começou com o pressuposto de que o universo real mente existe e funciona como uma unidade integral com todas as suas partes interagindo com precisão entre si Além do mais o universo está constantemente mudando portanto algo está acontecendo o tempo todo Somada a esses pressupostos básicos está a noção de que os pensa mentos das pessoas também existem de fato e de que elas se esforçam para compreender seu mundo em constante mudança Pessoas diferentes interpretam a realidade de maneiras distintas e a mesma pessoa é capaz de mudar a própria visão de mundo Em outras palavras as pessoas sempre têm maneiras alternativas de olhar para as coisas Kelly 1963 considera va que todas as nossas intepretações presentes do universo es tão sujeitas a revisão ou a substituição p 15 Ele se referiu a esse pressuposto como alternativismo construtivo e re sumiu a noção com as seguintes palavras Os eventos que enfrentamos hoje estão sujeitos a uma grande variedade de construções tanto quanto a nossa inteligência seja capaz de idealizar Kelly 1970 p 1 A filosofia do alternativis mo construtivo presume que o acúmulo dos fatos peça por peça não se soma à verdade em vez disso ela supõe que os fatos podem ser olhados a partir de perspectivas dife rentes Kelly concordava com Adler ver Cap 3 no sentido de que a interpretação acerca dos eventos é mais impor tante que os eventos em si Em contraste com Adler no entanto Kelly enfatizava a noção de que as interpretações têm significado na dimensão do tempo e o que é válido em um momento se torna falso quando interpretado de forma diferente em um momento posterior Por exemplo quando Freud ver Cap 2 originalmente ouvia os relatos de seus pacientes sobre uma sedução na infância ele acre ditava que as experiências sexuais precoces eram responsá veis pelas reações histéricas posteriores Se Freud tivesse continuado a interpretar dessa forma os relatos de seus pacientes toda a história da psicanálise teria sido muito diferente Então por uma variedade de razões Freud rees truturou seus dados e abandonou a hipótese da sedução Logo depois ele inclinou um pouco o quadro e teve uma vi são muito diferente Com essa nova visão ele concluiu que tais relatos de sedução eram meramente fantasias infantis Sua hipótese alternativa foi o complexo de Édipo um con ceito que permeia a teoria psicanalítica atual e está 180º afastado de sua teoria da sedução original Se considerar mos as observações de Freud ainda por outro ângulo como a perspectiva de Erikson ver Cap 8 poderemos chegar ainda a uma conclusão diferente Kelly acreditava que a pessoa não os fatos detém a chave para o futuro de um indivíduo Os fatos e os eventos Feist19indd 377 Feist19indd 377 291014 0937 291014 0937 378 FEIST FEIST ROBERTS não ditam as conclusões em vez disso eles carregam sig nificados para descobrirmos Todos nos defrontamos cons tantemente com alternativas as quais podemos explorar conforme nossa opção mas de qualquer modo precisamos assumir a responsabilidade por como interpretamos o mun do Não somos vítimas da história nem das circunstâncias presentes Isso não significa que possamos fazer do mundo o que quer que desejemos Estamos limitados por nossa in teligência frágil e nossa confiança tímida no que é familiar Kelly 1970 p 3 Nem sempre recebemos bem as ideias novas Assim como os cientistas em geral e os teóricos da personalidade em particular com frequência julgamos a reestruturação perturbadora e assim adotamos ideias que são confortáveis e teorias que estão bemestabelecidas CONSTRUTOS PESSOAIS A filosofia de Kelly pressupõe que a interpretação das pessoas em relação a um mundo unificado e em constan te mudança constitui sua realidade Na abertura do capí tulo apresentamos Arlene a estudante com o automó vel quebrado A percepção de Arlene de seu problema de transporte não foi estática Enquanto conversava com um mecânico um vendedor de carros usados um vendedor de carros novos um bancário seus pais e outros ela estava constantemente mudando sua interpretação da realidade De forma semelhante todas as pessoas criam continua mente a própria visão do mundo Algumas são bem infle xíveis e quase nunca mudam sua maneira de ver as coisas Elas se apegam a sua visão da realidade mesmo quando o mundo real muda Por exemplo pessoas com anorexia ner vosa continuam a se ver como gordas enquanto seu peso diminui até um nível que coloca a vida em risco Algumas pessoas constroem um mundo que é substancialmente di ferente do mundo das outras pessoas Por exemplo pacien tes psicóticos em hospitais mentais podem falar com pes soas que ninguém mais consegue enxergar Kelly 1963 insistiria em que essas pessoas junto a todas as outras estão olhando para seu mundo por meio de padrões ou moldes transparentes que elas criaram para lidar com as realidades do mundo Ainda que esses padrões ou moldes nem sempre se encaixem com precisão eles são o meio pelo qual as pessoas compreendem o mundo Kelly se refe riu a tais padrões como construtos pessoais Eles são formas de interpretar o mundo Eles são o que possibilita que as pessoas e os animais inferiores tam bém tracem o rumo do comportamento formulado explicitamente ou atuando implicitamente expresso verbalmente ou totalmente inarticulado consistente ou inconsistente com outros rumos do comportamento pensado intelectualmente ou sentido vegetativamente Um construto pessoal é a forma pela qual a pessoa vê como as coisas ou pessoas se parecem e ainda como são diferentes das outras coisas ou pessoas Por exemplo você pode ver como Ashly e Brenda se parecem e como elas são diferentes de Carol A comparação e o contraste devem ocorrer dentro do mesmo contexto Por exemplo dizer que Ashly e Brenda são atraentes e Carol é religiosa não consti tuiria um construto pessoal porque atratividade é uma di mensão e religiosidade é outra Um construto seria forma do ao constatar que Ashly e Brenda são atraentes e Carol não é ou se você considera Ashly e Brenda não religiosas e Carol religiosa Tanto a comparação quanto o contraste são essenciais Sejam eles percebidos com clareza ou vagamente sen tidos os construtos pessoais moldam o comportamento de um indivíduo Como exemplo considere Arlene com seu carro quebrado Depois que o carro velho parou de funcio nar seus construtos pessoais moldaram seu curso de ação posterior mas nem todos os seus construtos foram defini dos de forma clara Por exemplo ela pode ter decidido com prar um automóvel de modelo recente porque interpretou a amabilidade e a persuasão do vendedor como significando que o carro era confiável Os construtos pessoais de Arlene podem ser precisos ou imprecisos mas em cada um dos ca sos eles são seus meios de predizer e controlar o ambiente Arlene tentou aumentar a precisão de suas previsões de que o carro seria um transporte confiável econômico e confortável aumentando seu estoque de informações Ela pesquisou sua compra pediu a opinião de terceiros testou o carro e mandou revisálo por um mecânico De forma muito parecida todas as pessoas tentam validar seus cons trutos Elas procuram moldes que se encaixem melhor e assim tentam melhorar seus construtos pessoais Entre tanto a melhoria pessoal não é inevitável porque o inves timento que as pessoas fazem em seus construtos estabe lecidos bloqueia o caminho do avanço do desenvolvimento O mundo está mudando constantemente portanto o que é exato em um momento pode não ser exato em outro A bicicleta azul confiável que Arlene usou durante a infân cia não deve iludila com a interpretação de que todos os veículos azuis são confiáveis Postulado básico A teoria dos construtos pessoais é expressa em um postu lado fundamental ou pressuposto e elaborada por meio de 11 corolários de apoio O postulado básico pressupõe que os processos de uma pessoa são psicologicamente canalizados pelas formas como essa pessoa prevê os eventos Kelly 1955 p 46 Em outras palavras os comportamentos pensa mentos e ações são direcionados pela forma como as pes soas veem o futuro Esse postulado não pretende ser uma declaração absoluta da verdade mas é um pressuposto pro visório aberto a questionamento e verificação científica Kelly 1955 1970 esclareceu esse pressuposto fun damental definindo seus termoschave Primeiro a ex Feist19indd 378 Feist19indd 378 291014 0937 291014 0937 TEORIAS DA PERSONALIDADE 379 pressão processos da pessoa se refere a um ser humano vivo em mutação e em movimento Aqui Kelly não esta va preocupado com os animais com a sociedade ou com qualquer parte da função da pessoa Ele não reconheceu motivos necessidades impulsos ou instintos como forças subjacentes à motivação A própria vida explica o movi mento da pessoa Kelly escolheu o termo canalizado para sugerir que as pessoas se movem em uma direção mediante uma rede de caminhos ou canais A rede no entanto é flexível facili tando e restringindo o âmbito de ação das pessoas Além disso o termo evita a implicação de que algum tipo de energia está sendo transformado em ação As pessoas já estão em movimento elas somente canalizam ou orientam seus processos na direção de algum fim ou propósito A expressãochave seguinte é formas de prever os even tos o que sugere que as pessoas orientam suas ações de acordo com suas previsões do futuro Nem o passado nem o futuro per se determinam o comportamento Ao contrário a visão presente do futuro molda as ações Ar lene não comprou um carro azul porque ela teve uma bi cicleta azul quando criança embora esse fato possa têla ajudado a interpretar o presente de forma que ela previu que seu carro azul de modelo recente seria confiável no futuro Kelly 1955 afirmou que as pessoas são afligidas não pelo passado mas por sua visão do futuro As pessoas continuamente se aproximam do futuro pela janela do presente p 49 Corolários de apoio Para elaborar sua teoria dos construtos pessoais Kelly pro pôs 11 corolários de apoio todos os quais podem ser infe ridos a partir de seu postulado básico Semelhanças entre os eventos Dois eventos não são exatamente iguais embora interpre temos eventos similares de modo que eles sejam percebi dos como o mesmo Um nascer do sol nunca é idêntico a outro mas nosso construto amanhecer comunica nosso reconhecimento de alguma semelhança ou alguma replica ção dos eventos Ainda que dois amanheceres nunca sejam exatamente iguais eles podem ser parecidos o suficiente para que os interpretemos como o mesmo evento Kelly 1955 1970 se referiu a essa semelhança entre os eventos como o corolário da construção O corolário da construção declara que uma pessoa an tecipa os eventos interpretando suas replicações Kelly 1955 p 50 Esse corolário mais uma vez indica que as pessoas estão olhando para a frente seu comportamento é forjado pela antecipação de eventos futuros Ele também enfati za a noção de que as pessoas constroem ou interpretam eventos futuros de acordo com temas recorrentes ou re plicações O corolário da construção pode parecer pouco mais do que o senso comum as pessoas veem semelhanças entre os eventos e usam um único conceito para descrever as propriedades comuns Kelly no entanto considerava ser necessário incluir o óbvio quando se constrói uma teoria Diferenças entre as pessoas O segundo corolário de Kelly é igualmente óbvio As pes soas diferem umas das outras em sua interpretação dos even tos Kelly 1955 p 55 Kelly denominou essa ênfase nas diferenças individuais de corolário da individualidade Como as pessoas possuem repertórios de experiências diferentes elas interpretam o mesmo evento de maneiras diferentes Logo não existem duas pessoas que criam uma experiência exatamente da mesma maneira Tanto a subs tância quanto a forma de seus construtos são diferentes Por exemplo um filósofo pode incluir o construto verdade sob a rubrica de valores eternos um advogado pode enca rar a verdade como um conceito relativo útil para um pro pósito particular e um cientista pode interpretar a verdade como um objetivo inalcançável algo a ser procurado mas nunca atingido Para o filósofo o advogado e o cientista a verdade possui uma substância diferente um significa do distinto Além do mais cada pessoa chegou a sua in terpretação particular de uma maneira diferente e assim atribuiu uma forma diferente Mesmo gêmeos idênticos vivendo em ambientes quase iguais não interpretam even tos exatamente da mesma maneira Por exemplo parte do ambiente do gêmeo A inclui o gêmeo B uma experiência não compartilhada pelo gêmeo B Apesar de Kelly 1955 ter enfatizado as diferenças individuais ele assinalou que as experiências podem ser compartilhadas e que as pessoas podem encontrar um ponto comum para interpretar as experiências Isso possi bilita a comunicação verbal e não verbal Contudo devido a diferenças individuais a comunicação nunca é perfeita Relações entre os construtos O terceiro corolário de Kelly o corolário da organização enfatiza as relações entre os construtos e refere que as pes soas desenvolvem caracteristicamente para a sua conveniên cia na antecipação de eventos um sistema de interpretação que abarca as relações ordinais entre os construtos Kelly 1955 p 56 Os primeiros dois corolários assumem semelhanças entre os eventos e diferenças entre as pessoas O terceiro enfatiza que pessoas diferentes organizam eventos seme lhantes de uma maneira que reduz ao mínimo incompatibi lidades e inconsistências Organizamos nossas interpreta ções de modo que possamos nos mover de uma para outra de forma ordenada o que nos permite prever eventos de maneiras que transcendem contradições e evitam conflitos desnecessários Feist19indd 379 Feist19indd 379 291014 0937 291014 0937 380 FEIST FEIST ROBERTS O corolário da organização também pressupõe uma re lação ordinal dos construtos permitindo que um construto possa ser incluído em outro A Figura 191 ilustra uma hie rarquia de construtos que podem se aplicar a Arlene a es tudante de engenharia Ao decidir um curso de ação depois que seu carro quebrou a jovem pode ter visto sua situa ção em termos de construtos dicotômicos superordenados como bom versus ruim Naquele ponto de sua vida Arle ne considerava a independência de amigos ou pais como boa e a dependência como ruim No entanto seu sistema de construtos pessoais sem dúvida incluía uma variedade de construtos considerados bons e ruins Por exemplo Arlene provavelmente interpretou inteligência e saúde como bom e estupidez e doença como ruim Além do mais as visões de Arlene de independência e dependência como seus construtos de bom e ruim teriam apresentado um grande número de construtos subordinados Nessa situação ela interpretou permanecer na faculdade como independência e morar com os pais como dependência Para permanecer na faculdade e continuar no emprego Arlene precisava de transporte Havia muitos meios possíveis de locomoção porém Arlene considerava apenas quatro usar o transporte público caminhar depender dos amigos ou dirigir o pró prio carro Incluídos no construto do carro estavam três construtos subordinados consertar o carro velho comprar um novo ou comprar um carro usado de modelo recente Esse exemplo sugere que os construtos possuem não só uma relação ordinal complexa entre si mas também uma relação dicotômica Dicotomia dos construtos Agora chegamos a um corolário que não é tão óbvio O co rolário da dicotomia afirma que o sistema de construção é composto de um número finito de construtos dicotômicos Kelly 1955 p 59 Kelly insistia em que um construto é uma proposição ouou preto ou branco sem nuances de cinza Na nature za as coisas podem não ser ouou mas os eventos naturais não possuem outro significado além daqueles atribuídos a eles pelo sistema de construtos pessoais de um indivíduo Na natureza a cor azul pode não ter polo oposto exceto em um quadro de cores mas as pessoas atribuem quali dades contrastantes ao azul como azulclaro versus azul escuro ou bonito versus feio Para formar um construto as pessoas precisam ser ca pazes de ver semelhanças entre os eventos mas elas tam bém devem contrastar esses eventos com seu polo oposto Kelly 1955 se expressou da seguinte maneira Em seu contexto mínimo um construto é uma forma em que pelo menos dois elementos são semelhantes e contrastam com um terceiro p 61 Como exemplo vamos voltar à Figura 191 O quanto inteligência e independência são semelhan tes Seu elemento comum não possui significado sem con trastálo com um oposto Inteligência e dependência não têm um elemento sobreposto quando comparadas com um martelo ou uma barra de chocolate Contrastando inteli gência com estupidez e independência com dependência é possível perceber como são semelhantes e como podem ser organizados sob o construto bom em oposição a ruim versus Inteligência Saúde Ônibus Caminhar Amigos Consertar o carro velho Comprar um carro usado Comprar um carro novo Estupidez Doença Faculdade Independência Transporte Carro Dependência Casa dos pais Bom Ruim FIGURA 191 Complexidade das relações entre os construtos Feist19indd 380 Feist19indd 380 291014 0937 291014 0937 TEORIAS DA PERSONALIDADE 381 Escolha entre dicotomias Se as pessoas interpretam os eventos de uma forma dico tomizada elas têm a mesma escolha nos seguintes cursos de ação alternativos Esse é o corolário da escolha para fraseado da seguinte forma as pessoas escolhem por si aquela alternativa em um construto dicotomizado por meio dela pre veem a maior possibilidade de extensão e definição de constru tos futuros Esse corolário pressupõe muito do que é declarado no postulado básico de Kelly e nos corolários precedentes As pessoas fazem escolhas com base em como elas antecipam os eventos e essas escolhas estão entre alternativas dico tômicas Além disso o corolário da escolha pressupõe a seleção de ações que têm maior probabilidade de ampliar o âmbito de escolhas futuras A decisão de Arlene de comprar um carro usado foi ba seada em uma série de escolhas anteriores cada uma das quais estava entre alternativas dicotomizadas e ampliava seu âmbito de escolhas futuras Primeiro ela escolhe a in dependência da faculdade sobre a dependência de voltar a morar com seus pais A seguir comprar um carro oferecia mais liberdade do que depender dos amigos ou dos horá rios de ônibus ou caminhar o que ela percebia como demo rado Consertar seu carro velho era financeiramente arris cado em comparação com a maior segurança de comprar um usado Comprar um carro novo era muito caro comparado com o carro usado relativamente barato Cada opção estava entre alternativas em um construto dicotomizado e com cada opção Arlene previa a maior possibilidade de ampliar e definir construtos futuros Âmbito de conveniência O corolário do âmbito de Kelly pressupõe que os cons trutos pessoais são finitos e não relevantes para tudo Um construto é conveniente para a antecipação apenas de uma fai xa finita de eventos Kelly 1955 p 68 Em outras palavras um construto está limitado a uma faixa de conveniência particular O construto independência estava dentro da faixa de conveniência de Arlene quando ela estava decidindo com prar um carro mas em outras ocasiões a independência estaria fora dessas fronteiras A independência carrega consigo a noção de dependência A liberdade de Arlene de permanecer na faculdade a liberdade de continuar em seu emprego e a liberdade de se movimentar rapidamente de um lugar para outro sem depender dos outros recaem em sua faixa de conveniência de independênciadependência Contudo o construto de independência de Arlene exclui todas as irrelevâncias como acimaabaixo claroescuro ou secomolhado ou seja ele é conveniente apenas para uma faixa de eventos finita O corolário do âmbito permitiu a Kelly distinguir en tre um conceito e um construto Um conceito inclui todos os elementos que possuem uma propriedade comum e exclui aqueles que não têm essa propriedade O conceito alto inclui todas as pessoas e todos os objetos que têm al tura alongada e exclui todos os demais conceitos mesmo aqueles que estão fora de sua faixa de conveniência Por tanto rápido independente ou escuro são todos excluídos do conceito alto porque eles não possuem altura alongada Porém essas exclusões são infindáveis e desnecessárias A ideia de construto contrasta alto com baixo limitando assim sua faixa de conveniência Aquilo que está fora da faixa de conveniência do construto não é considerado par te do campo contrastante mas simplesmente uma área de irrelevância Kelly 1955 p 69 Assim as dicotomias li mitam a faixa de conveniência de um construto Experiência e aprendizagem A antecipação dos eventos é básica para a teoria do cons truto Olhamos para o futuro e fazemos suposições acerca do que irá acontecer Então quando os eventos nos são re velados validamos nossos construtos existentes ou então reestruturamos esses eventos para adequálos nossa expe riência A reestruturação dos eventos nos permite apren der com nossas experiências O corolário da experiência refere O sistema de inter pretação de uma pessoa varia conforme ela interpreta sucessi vamente as replicações dos eventos Kelly 1955 p 72 Kelly usou a palavra sucessivamente para assinalar que presta mos atenção a apenas uma coisa por vez Os eventos de nossa interpretação marcham em fila indiana ao longo do caminho do tempo p 73 A experiência consiste na interpretação sucessiva dos eventos Os eventos em si não constituem experiência é o significado que atribuímos a eles que modifica nossas vi das Para ilustrar essa ideia vamos retomar o exemplo da Arlene e seu construto pessoal de independência Quan do seu carro velho um presente de formatura no ensino médio dado pelos pais quebrou ela decidiu permanecer As pessoas escolhem entre as alternativas com base em sua antecipação de eventos futuros Feist19indd 381 Feist19indd 381 291014 0937 291014 0937 382 FEIST FEIST ROBERTS na faculdade em vez de voltar para a segurança e o status dependente de voltar para a casa dos pais Conforme Arle ne posteriormente se deparou com eventos sucessivos ela teve que tomar decisões sem o benefício do conselho dos pais uma tarefa que a forçou a reestruturar sua noção de independência Em outro momento ela havia interpreta do independência como liberdade da interferência externa Após decidir fazer uma dívida referente a um carro usado ela começou a alterar seu significado de independência para incluir responsabilidade e ansiedade Os eventos por si só não forçaram a reestruturação Arlene poderia ter se tornado uma espectadora dos eventos à sua volta Em vez disso seus construtos existentes foram flexíveis o suficien te para permitir sua adaptação à experiência Adaptação à experiência A flexibilidade de Arlene ilustra o corolário da modulação de Kelly A variação no sistema de interpretação de uma pessoa está limitada pela permeabilidade dos construtos dentro de cuja faixa de conveniência as variantes se encontram Kely 1955 p 77 Esse corolário provém do corolário da experiência e a expande Ele pressupõe que o grau em que as pessoas revisam seus construtos está relacionado ao nível de per meabilidade de seus construtos existentes Um construto é permeável se novos elementos podem ser acrescidos a ele Construtos impermeáveis ou concretos não admitem novos elementos Se um homem acredita que as mulheres são inferiores aos homens evidências contraditórias não encontrarão seu caminho na faixa de conveniência Em vez disso esse homem irá atribuir as realizações das mulheres à sorte ou a uma vantagem social injusta Uma mudança nos eventos significa uma alteração nos construtos somen te se estes forem permeáveis O construto pessoal de Arlene de independência versus dependência foi suficientemente permeável para incorporar novos elementos Quando sem consultar os pais ela to mou a decisão de comprar um carro usado o construto da maturidade versus infantilidade penetrou na independência versus dependência e acrescentou um novo sentido a ele Anteriormente os dois construtos estavam separados e a noção de independência de Arlene estava limitada à ideia de fazer o que ela escolhia enquanto a dependência estava associada à dominação parental Agora ela interpretou in dependência como significando responsabilidade madura e dependência como significando uma inclinação infantil para os pais Dessa maneira todas as pessoas modulam ou ajustam seus construtos pessoais Construtos incompatíveis Ainda que Kelly tenha presumido uma estabilidade ou con sistência global do sistema de construtos de uma pessoa seu corolário da fragmentação permite a incompatibili dade de elementos específicos Uma pessoa pode empregar de modo sucessivo uma variedade de subsistemas de interpre tação que são inferencialmente incompatíveis entre si Kelly 1955 p 83 No início pode parecer que os construtos pessoais são incompatíveis mas se examinarmos nosso próprio comportamento e pensamento é fácil perceber algumas inconsistências No Capítulo 18 assinalamos que Walter Mischel um aluno de Kelly acreditava que o comporta mento tende a ser mais inconsistente do que os teóricos dos traços nos fariam acreditar As crianças muitas vezes são pacientes em uma situação embora impacientes em outra Do mesmo modo uma pessoa pode ser corajosa ao se defrontar com um cachorro bravo mas covarde quando se defronta com um chefe ou professor Ainda que nossos comportamentos com frequência pareçam inconsistentes Kelly percebia uma estabilidade subjacente na maioria de nossas ações Por exemplo um homem pode ser protetor com sua esposa enquanto a incentiva a ser mais indepen dente Proteção e independência podem ser incompatíveis entre si em um nível mas em um plano mais amplo am bas estão incluídas no construto de amor Assim as ações do homem para proteger sua esposa e encorajála a ser mais independente são consistentes com um construto superior Os sistemas superiores também podem mudar mas essas mudanças ocorrem dentro de um sistema ainda maior No exemplo anterior do marido protetor o amor do homem pela esposa pode gradualmente mudar para ódio mas essa mudança permanece dentro de um construto maior de autoconsideração O amor anterior pela esposa e o ódio atual são ambos consistentes com sua visão de au toconsideração Se construtos incompatíveis não pudessem coexistir as pessoas estariam presas em um construto fixo o qual tornaria a mudança quase impossível Semelhanças entre as pessoas Ainda que o segundo corolário de apoio de Kelly assuma que as pessoas são diferentes umas das outras seu corolá rio da comunalidade presume semelhanças interpessoais Segundo ele Na medida em que uma pessoa emprega uma construção da experiência similar à usada por outra pessoa os processos de ambas são psicologicamente semelhantes Kelly 1970 p 20 Duas pessoas não precisam experimentar o evento ou eventos similares para que seus processos sejam psicologi camente semelhante Elas devem apenas interpretar suas experiências de forma similar Como as pessoas interpre tam ativamente os eventos fazendo perguntas formulan do hipóteses tirando conclusões e depois fazendo mais perguntas indivíduos diferentes com experiências muito distintas podem interpretar eventos de forma bem seme lhante Por exemplo duas pessoas podem chegar a visões políticas semelhantes embora sejam provenientes de ba Feist19indd 382 Feist19indd 382 291014 0937 291014 0937 TEORIAS DA PERSONALIDADE 383 ckgrounds diferentes Uma pode ser proveniente de uma família rica tendo desfrutado uma vida de lazer e contem plação enquanto a outra pode ter experienciado uma in fância indigente lutando constantemente pela sobrevivên cia No entanto ambas adotam uma visão política liberal Mesmo que pessoas de diferentes backgrounds possam ter construtos semelhantes pessoas com experiências si milares apresentam maior probabilidade de interpretar os eventos de forma similar Dentro de determinado grupo social as pessoas podem empregar construções similares mas é sempre o indivíduo nunca a sociedade quem in terpreta os eventos Isso é semelhante à noção de Albert Bandura de eficácia coletiva é o indivíduo não a sociedade que possui níveis variados de alta ou baixa eficácia coleti va ver Cap 17 Kelly também assume que duas pessoas nunca interpretam as experiências exatamente da mesma maneira Os americanos podem ter uma construção simi lar de democracia mas dois americanos não a encaram em termos idênticos Processos sociais As pessoas pertencem ao mesmo grupo cultural não só porque elas se comportam de modo semelhante nem por que elas esperam as mesmas coisas dos outros mas em especial porque interpretam sua experiência da mesma maneira Kelly 1955 p 94 O corolário de apoio final o corolário da sociabi lidade pode ser parafraseado da seguinte maneira Até o ponto em que as pessoas interpretam corretamente o sistema de crenças dos outros elas podem desempenhar um papel em um processo social que envolva essas outras pessoas As pessoas não se comunicam entre si simplesmente com base em experiências comuns ou mesmo constru ções similares elas se comunicam porque interpretam as construções umas das outras Nas relações interpessoais elas não só observam o comportamento alheio elas tam bém interpretam o que esse comportamento significa para aquela pessoa Quando Arlene estava negociando com o vendedor de carros usados ela estava consciente não só de suas palavras e ações mas também de seus significados Ela percebeu que para o vendedor ela era um comprador potencial alguém que poderia proporcionar uma comissão substancial Ela interpretou as palavras dele como exage ros e ao mesmo tempo percebeu que ele interpretava sua indiferença como uma indicação de que ela interpretava as motivações dele como diferentes das dela Tudo isso parece um tanto complicado mas Kelly es tava apenas sugerindo que as pessoas estão envolvidas ati vamente em relações interpessoais e percebem que fazem parte do sistema de construção da outra pessoa Kelly introduziu a noção de papel com seu corolá rio da sociabilidade Um papel referese a um padrão de comportamento que resulta da compreensão que a pessoa tem dos construtos das outras com quem está envolvida em uma tarefa Por exemplo quando Arlene estava nego ciando com o vendedor de carros usados ela construiu seu papel como o de um comprador potencial porque ela entendia que essa era a expectativa que ele tinha dela Em outros momentos e com outras pessoas ela constrói seu papel como estudante empregada filha namorada e as sim por diante Kelly construiu papéis a partir de uma perspectiva psicológica em vez de sociológica O papel de uma pes soa não depende de seu lugar ou sua posição em um con texto social mas de como ela interpreta esse papel Kelly também destacou o aspecto de que a construção que se faz de um papel não precisa ser exata para que a pessoa o desempenhe Os papéis de Arlene como estudante empregada e fi lha seriam considerados papéis periféricos Mais essencial para sua existência é seu papel central Com nosso papel central definimos nós mesmos em termos do que de fato somos Ele nos dá um senso de identidade e nos fornece diretrizes para a vida cotidiana APLICAÇÕES DA TEORIA DOS CONSTRUTOS PESSOAIS Assim como a maioria dos teóricos da personalidade Kelly desenvolveu suas formulações teóricas a partir de sua prá tica como psicoterapeuta Ele passou mais de 20 anos con duzindo terapia antes de publicar A psicologia dos construtos pessoais em 1955 Nesta seção examinamos suas visões acerca do desenvolvimento anormal sua abordagem à psi coterapia e por fim seu Teste de Repertório de Construtos de Papel Rep Desenvolvimento anormal Na visão de Kelly as pessoas psicologicamente sadias vali dam seus construtos pessoais opondoos a suas experiên cias com o mundo real Elas são como cientistas competen tes que testam hipóteses razoáveis aceitam os resultados sem negação ou distorção e então prontamente alteram suas teorias para adequálas aos dados disponíveis Os in divíduos sadios não só antecipam os eventos como tam bém são capazes de fazer ajustes satisfatórios quando as coisas não acontecem conforme esperavam As pessoas não sadias por sua vez apegamse obstina damente a construtos pessoais ultrapassados temendo a validação de construtos novos que perturbariam sua visão de mundo confortável atual Tais pessoas são semelhantes a cientistas incompetentes que testam hipóteses irracio nais rejeitam ou distorcem resultados legítimos e se re cusam a corrigir ou a abandonar antigas teorias que não são mais úteis Kelly 1955 definiu um transtorno como Feist19indd 383 Feist19indd 383 291014 0937 291014 0937 384 FEIST FEIST ROBERTS qualquer construção pessoal que é usada repetidamente apesar da invalidação recorrente p 831 O sistema de construção de uma pessoa existe no presente não no passado ou no futuro Os transtor nos psicológicos portanto também existem no presen te eles não são causados por experiências infantis nem por eventos futuros Como os sistemas de construção são pessoais Kelly se opôs às classificações tradicionais das condições psicológicas Usar o Manual Diagnóstico e Esta tístico de Transtornos Mentais DSMIVTR da American Psychiatric Association 2002 para rotular uma pessoa provavelmente resultará na má intepretação das constru ções únicas da pessoa As pessoas psicologicamente não sadias assim como qualquer um possuem um sistema de construção com plexo Seus construtos pessoais no entanto tendem a fracassar no teste de permeabilidade em uma de duas maneiras eles podem ser excessivamente impermeáveis ou flexíveis demais No primeiro caso as experiências novas não penetram no sistema de construção portan to a pessoa não se ajusta ao mundo real Por exemplo uma criança vitimizada pode interpretar a intimidade com os pais como ruim e a solidão como boa Os trans tornos psicológicos desenvolvemse quando o sistema de construção da criança nega rigidamente o valor de uma relação íntima e se apega à noção de que o afastamento ou o ataque são modos preferíveis de resolver problemas interpessoais Outro exemplo é um homem com signifi cativa dependência de álcool que se recusa a se ver como alcoolista mesmo quando seu comportamento de beber aumenta e seu emprego e casamento se desintegram Burrell 2002 Entretanto um sistema de construção que é muito frouxo ou flexível conduz à desorganização a um padrão inconsistente de comportamento e a um conjunto transi tório de valores Um indivíduo sob tal sistema é facilmente abalado pelo impacto de eventos menores diários inespe rados Kelly 1955 p 80 Apesar de Kelly não ter usado rótulos tradicionais na descrição da psicopatologia ele identificou quatro elemen tos comuns na maioria dos transtornos humanos ameaça medo ansiedade e culpa Ameaça As pessoas experimentam ameaça quando percebem que a estabilidade de seus construtos básicos provavelmente será abalada Kelly 1955 definiu ameaça como a cons ciência de mudanças abrangentes iminentes em suas estruturas centrais p 489 A ameaça pode se manifestar por meio de pessoas ou eventos e às vezes os dois não podem ser separados Por exemplo durante a psicoterapia os pacien tes com frequência sentemse ameaçados diante da pers pectiva de mudança mesmo que seja uma mudança para melhor Se eles veem o terapeuta como um possível ins tigador da mudança irão considerálo como uma ameaça Os pacientes costumam resistir à mudança e interpretam o comportamento do terapeuta de uma maneira negativa Essa resistência e transferência negativa são meios de re duzir a ameaça e manter seus construtos pessoais Stojnov Butt 2002 Medo Pela definição de Kelly a ameaça envolve uma mudança ampla nas estruturas centrais de uma pessoa O medo por sua vez é mais específico e incidental Kelly 1955 ilustrou a diferença entre ameaça e medo com o seguinte exemplo Um homem pode dirigir seu carro perigosamente como consequência de raiva ou ostentação Esses impulsos se tornam ameaçadores quando ele percebe que pode atrope lar uma criança ou ser preso por direção perigosa e acabar como um criminoso Nesse caso uma porção ampla de seus construtos pessoais está ameaçada Contudo se ele de repente for confrontado com a probabilidade de bater com o carro irá experimentar medo Ameaça demanda uma reestruturação abrangente medo uma demanda inciden tal O transtorno psicológico resulta quando a ameaça ou o medo impedem de forma persistente que uma pessoa se sinta segura Ansiedade Kelly 1955 definiu ansiedade como o reconhecimento de que os eventos com os quais a pessoa é confrontada se encon tram fora do âmbito de conveniência de seu sistema de constru tos p 495 Em geral as pessoas se sentem ansiosas quan do experimentam um evento novo Por exemplo quando Arlene a estudante de engenharia estava negociando com o vendedor de carros usados ela não estava certa do que fazer ou dizer Ela nunca tinha negociado uma quantia tão grande de dinheiro e portanto essa experiência estava fora do âmbito de sua conveniência Como consequência ela sentiu ansiedade mas foi em nível normal logo não resultou em incapacitação A ansiedade patológica ocorre quando os construtos incompatíveis de uma pessoa não podem mais ser tolera dos e o sistema de construção é rompido Lembrese de que o corolário da fragmentação de Kelly pressupõe que as pessoas podem desenvolver subsistemas de construção que são incompatíveis entre si Por exemplo quando uma pessoa que montou uma construção rígida de que todos os indivíduos são confiáveis é descaradamente enganada por um colega essa pessoa pode por algum tempo tolerar a ambiguidade dos dois subsistemas incompatíveis Contu do quando as evidências de falta de confiança se tornam muito claras o sistema de construtos da pessoa pode se romper O resultado é uma experiência de ansiedade relati vamente permanente e debilitante Feist19indd 384 Feist19indd 384 291014 0937 291014 0937 TEORIAS DA PERSONALIDADE 385 Culpa O corolário da sociabilidade de Kelly pressupõe que as pes soas interpretam um papel central que fornece um senso de identidade em um ambiente social No entanto se esse papel central é enfraquecido ou dissolvido a pessoa desen volve um sentimento de culpa Kelly 1970 definiu culpa como o sentimento de ter perdido a própria estrutura do pa pel central p 27 Ou seja as pessoas se sentem culpadas quando se comportam de forma inconsistente com seu senso de quem elas são As pessoas que nunca desenvolveram um papel cen tral não se sentem culpadas Elas podem ser ansiosas ou confusas mas sem um senso de identidade pessoal elas não experimentam culpa Por exemplo uma pessoa com uma consciência subdesenvolvida tem pouco ou nenhum senso integral de self e uma estrutura de papel central fraca ou inexistente Essa pessoa não possui diretrizes estáveis para violar e portanto sentirá pouca ou nenhuma culpa mesmo por um comportamento depravado ou vergonhoso Kelly 1970 Psicoterapia Existe sofrimento psicológico sempre que as pessoas ti verem dificuldade em validar seus construtos pessoais antecipar eventos futuros e controlar seu ambiente atual Quando o sofrimento se torna incontrolável elas podem buscar ajuda externa na forma de psicoterapia Na visão de Kelly as pessoas devem ser livres para es colher os cursos de ação mais coerentes com sua antecipa ção dos eventos Na terapia essa abordagem significa que os pacientes não o terapeuta escolhem o objetivo Os pa cientes são participantes ativos no processo terapêutico e o papel do terapeuta é auxiliálos a alterar seus sistemas de construtos para melhorar a eficiência em fazer predições Para alterar os construtos dos pacientes Kelly usou um procedimento denominado terapia de papel fixo Seu propósito é ajudar os pacientes a mudarem sua perspec tiva da vida construtos pessoais encenando um papel predeterminado primeiro dentro da segurança relativa do ambiente terapêutico e depois no ambiente além da tera pia onde eles encenarão o papel continuamente durante várias semanas Com o terapeuta os pacientes exercitam um papel que inclui atitudes e comportamentos que no momento não fazem parte de seu papel central Ao escre verem a definição do papel fixo o paciente e o terapeuta são cuidadosos para incluir os sistemas de construção de outras pessoas Como o cônjuge ou os pais ou o chefe ou os amigos do paciente irão reconstruir os eventos de forma mais produtiva Então esse novo papel é experimentado na vida diária de forma muito parecida com um cientista que testa uma hipótese de forma cuidadosa e objetiva Na verdade a definição do papel fixo costuma ser esboçada na terceira pessoa com o ator assumindo uma nova identidade O pa ciente não está tentando ser outra pessoa apenas repre sentando a parte de alguém que é digno de ser conhecido O papel não deve ser levado muito a sério ele é apenas um ato algo que pode ser alterado quando as evidências justi ficarem A terapia de papel fixo não visa a resolver problemas específicos ou reparar construtos obsoletos Ela é um processo criativo que permite aos pacientes descobrirem de modo gradual aspectos previamente ocultados de si mesmos Nos primeiros estágios os clientes são apresen tados somente a papéis periféricos então depois que se mostrarem à vontade com mudanças menores na estru tura da personalidade eles experimentam novos papéis centrais que permitem uma alteração mais profunda Kelly 1955 Antes de desenvolver a abordagem de papel fixo Kelly 1969a incluiu um procedimento incomum que se pare ce muito com a terapia de papel fixo Insatisfeito com as técnicas freudianas Kelly decidiu oferecer a seus pacien tes interpretações absurdas para suas queixas Algumas eram interpretações freudianas exageradas entretanto a maioria dos clientes aceitou essas explicações e as usou como guias para ação futura Por exemplo Kelly poderia di zer a um paciente que seu treinamento esfincteriano rígido tinha feito com que ele construísse sua vida de uma manei ra dogmaticamente rígida mas que ele não precisava conti nuar a ver as coisas dessa maneira Para a surpresa de Kelly muitos de seus pacientes começaram a funcionar melhor A chave para a mudança era a mesma que com a terapia de papel fixo os pacientes devem começar a interpretar sua vida a partir de uma perspectiva diferente e a verem a si mesmos em um papel distinto O Teste Rep Outro procedimento usado por Kelly tanto dentro quanto fora da terapia era o Teste de Repertório de Construtos de Papel Rep O propósito do Teste Rep é descobrir formas pelas quais as pessoas constroem os indivíduos significati vos em sua vida No Teste Rep uma pessoa recebe uma lista de títulos de papéis e deve designar pessoas que se enquadrem nos títulos de papéis escrevendo seus nomes em um cartão Por exemplo para um professor de quem você gostava a pessoa deve atribuir um nome particular O número de títulos de papéis pode variar mas Kelly 1955 listou 24 em uma versão ver Tab 191 A seguir a pessoa recebe três nomes da lista e ela precisa julgar quais duas pessoas são parecidas e também diferentes da terceira Lembrese de que um construto requer tanto uma semelhança quanto um contraste portanto três é o número mínimo para um construto Digamos por exemplo que uma pessoa inter preta o número 1 Um professor de quem você gostava Feist19indd 385 Feist19indd 385 291014 0937 291014 0937 386 FEIST FEIST ROBERTS e o número 6 Sua mãe como semelhantes e o número 9 Sua irmã de idade mais próxima à sua como diferente Então perguntase em que a mãe e o professor favorito são parecidos e ainda diferentes da irmã A razão que a pessoa dá para a semelhança e o contaste constitui o construto Se a pessoa dá uma resposta superficial como Ambos são velhos e a minha irmã é jovem o examinador pode dizer Este é um aspecto em que eles são parecidos Você consegue pensar em outro A pessoa pode então decla rar Minha mãe e meu professor favorito são altruístas e a minha irmã é muito autocentrada O examinador regis tra o construto e na sequência pede que a pessoa separe mais três cartões Nem todas as combinações são obtidas e o examinador tem alguma liberdade na determinação de quais combinações usar Depois da conclusão de algumas combinações o exa minador transfere as informações para uma grade de reper tórios A Figura 192 mostra uma grade hipotética na qual 19 títulos de papéis estão listados ao longo do eixo hori zontal e 22 construtos pessoais ao longo do eixo vertical No número 1 a pessoa que preencheu essa grade interpre tou as pessoas 17 e 18 como parecidas porque elas não acreditam em Deus e a pessoa 19 como diferente por ser muito religiosa O examinando também marcou as pessoas 7 10 e 12 porque elas são interpretadas como semelhan tes às duas pessoas no polo emergente isto é elas também não acreditam em Deus Da mesma forma a pessoa marca cada fila até que toda a grade esteja completa Há várias versões do Teste Rep e da grade de repertó rios mas todas são concebidas para avaliar os construtos pessoais Por exemplo uma mulher pode ver em que seu pai e o chefe são parecidos ou diferentes se ela se identifica ou não com sua mãe em que o namorado e o pai são pare cidos ou como ela interpreta os homens em geral Além disso o teste pode ser aplicado no início da terapia e no vamente no final As mudanças nos construtos pessoais revelam a natureza e o grau do movimento feito durante a terapia Kelly e colaboradores usaram o Teste Rep em uma va riedade de formas e não são aplicadas regras definidas de pontuação A fidedignidade e a validade do instrumento não são muito altas e sua utilidade depende em grande parte da habilidade e da experiência do examinador Fran sella Bannister 1977 TABELA 191 Exemplo de uma lista de papéis de títulos para o Teste Rep 1 Um professor de quem você gostava Ou o professor de uma matéria de que você gostava 2 Um professor de quem você não gostava Ou o professor de uma matéria de que você não gostava 3a Sua esposa ou namorada atual 3b Para mulheres Seu marido ou namorado atual 4 Um empregador supervisor ou funcionário com quem trabalhou ou serviu e que você achou difícil de se relacionar Ou alguém com quem você trabalhou em uma situação que não gostou 5 Um empregador supervisor ou funcionário com quem você trabalhou ou serviu e de quem gostou Ou alguém com quem você trabalhou em uma situação de que você gostou 6 Sua mãe Ou a pessoa que fez o papel de mãe em sua vida 7 Seu pai Ou a pessoa que fez o papel de pai em sua vida 8 Seu irmão de idade mais próxima à sua Ou a pessoa que foi como um irmão 9 Sua irmã de idade mais próxima à sua Ou a pessoa que foi como uma irmã 10 Uma pessoa com quem você trabalhou e foi fácil de se relacionar 11 Uma pessoa com quem você trabalhou e foi difícil de se entender 12 Um vizinho com quem você se dá bem 13 Um vizinho com quem você acha difícil se entender 14 Um garoto com quem você se deu bem quando estava no ensino médio Ou quando você tinha 16 anos 15 Uma garota com quem você se deu bem quando estava no ensino médio Ou quando você tinha 16 anos 16 Um garoto de quem você não gostava quando estava no ensino médio Ou quando você tinha 16 anos 17 Uma garota de quem você não gostava quando estava no ensino médio Ou quando você tinha 16 anos 18 Uma pessoa de seu sexo que você gostaria de ter como companheira de viagem 19 Uma pessoa de seu sexo que você não gostaria de ter como companheira de viagem 20 Uma pessoa com quem você esteve associado de modo íntimo recentemente que parece não gostar de você 21 A pessoa a quem você mais gostaria de ajudar Ou por quem você sente mais compaixão 22 A pessoa mais inteligente que você conhece pessoalmente 23 A pessoa de maior sucesso que você conhece pessoalmente 24 A pessoa mais interessante que você conhece pessoalmente De The psychology of personal constructs de G A Kelly 1955 p 221222 New York Norton Copyright 1955 W W Norton Company Usada com permissão Feist19indd 386 Feist19indd 386 291014 0937 291014 0937 TEORIAS DA PERSONALIDADE 387 PESQUISA RELACIONADA Muito embora George Kelly tenha escrito apenas um tra balho pioneiro 1955 1991 seu impacto na psicologia da personalidade é marcante Sua teoria dos construtos pessoais gerou um número considerável de investigações científicas incluindo quase 600 estudos empíricos sobre o Teste Rep o que sugere que sua teoria se saiu muito bem em gerar pesquisa Como ele estava entre os primeiros psi cólogos a enfatizar disposições cognitivas como os esque mas a ideia de Kelly de construtos pessoais em um senti do muito real foi instrumental na formação do campo da cognição social uma das perspectivas mais influentes na psicologia social e da personalidade hoje A cognição social examina as bases cognitivas e de atitudes da percepção da pessoa incluindo esquemas vieses estereótipos e compor tamento preconceituoso Os esquemas sociais por exem plo são representações mentais ordenadas das qualidades dos outros e considerase que contêm informações sociais importantes Apesar de muitos pesquisadores no campo da cognição social usarem questionários convencionais al guns seguiram a liderança de Kelly e empregaram medidas fenomenológicas e idiográficas como o Teste Rep ou algu ma versão modificada dele Neimeyer Neimeyer 1995 Aplicações mais recentes da metodologia do Teste Rep por exemplo analisaram os diferentes sistemas de construtos de indivíduos vítimas de violência sexual e não vitimizados LewisHarter Erbes Hart 2004 Nas próximas três seções examinamos algumas pes quisas sobre o gênero como um construto pessoal com preendendo o preconceito internalizado por meio da teoria dos construtos pessoais e como os construtos pessoais se relacionam com as medidas de personalidade dos Big Five O gênero como um construto pessoal Marcel Harper e Wilhelm Schoeman 2003 argumenta ram que embora o gênero seja talvez um dos esquemas mais fundamentais e universais na percepção pessoal nem todas as pessoas são iguais no grau em que organizam suas crenças e atitudes acerca dos outros em relação ao gênero Em outras palavras há diferenças individuais no grau em que as pessoas internalizam as visões culturais do gênero Além do mais Harper e Schoeman levantaram a hipótese de que os que usam o gênero para organizar suas percep ções sociais podem fazer isso de maneira mais estereoti pada do que aqueles que regularmente não usam o gênero 1 COMBI NAÇÃO No POLO EMERGENTE POLO IMPLÍCITO CONSTRUTOS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 19 17 18 Eu Mãe Pai Irmão Irmã Cônjuge Exnamorado Amigo Examigo Pessoa que rejeita Pessoa de quem tem compaixão Pessoa ameaçadora Pessoa atraente Professor aceito Professor rejeitado Chefe Pessoa ética Pessoa de sucesso Pessoa feliz Não acreditam em Deus Ambos apreciam música Mais compreensivos Ambos amigos Crenças iguais às minhas Mesma idade Pensam igual Ambos possuem moral alta Ambas garotas Ambas garotas Mais sociáveis Acreditam na educação superior Mais religiosos Não gostam das outras pessoas Educação superior Conseguiram muita coisa Ensinam a coisa certa Entendemme melhor Pais Ambas garotas Não atlético Mesmo tipo de educação Muito religiosos Não entendem de música Menos compreensivos Não amigos Crenças diferentes das minhas Idades diferentes Pensam diferente Moral baixa Não garotas Não garotas Não sociáveis Não acreditam em muita educação Não religiosos Gostam das outras pessoas Sem educação Não conseguiram muita coisa Ensinam a coisa errada Não me entendem Ideias diferentes Um garoto Atlético Educação completamente diferente FIGURA 192 Exemplo de uma grade de repertórios De The psychology of personal constructs de G A Kelly 1955 p 270 New York Norton Copyright 1955 W W Norton Company Usada com permissão Feist19indd 387 Feist19indd 387 291014 0937 291014 0937 388 FEIST FEIST ROBERTS para organizar as percepções sociais O gênero assim tor nase um meio primário de resolver a ambiguidade social Harper Schoeman 2003 p 518 Por fim esses autores previram que quanto menos informação alguém tem sobre uma pessoa mais provavelmente ela usará esquemas este reotipados de gênero para avaliála e percebêla Ou seja com indivíduos conhecidos devemos esperar atitudes mais complexas e menos estereotipadas No estudo de Harper e Schoeman os participantes eram preponderantemente estudantes do sexo feminino de uma universidade na África do Sul A versão do Teste Rep usada pelos pesquisadores requeria que os participan tes dissessem se as categorias de pessoas usadas descre viam mulheres homens nenhum ou ambos mulheres e homens No primeiro estágio de procedimento do Teste Rep os participantes escreveram os nomes das pessoas que melhor representavam um dos 15 títulos de papéis di ferentes tais como palestranteprofessor preferido uma pessoa com quem eles trabalhavam e a pessoa de mais sucesso conhecida pessoalmente No segundo estágio do procedimento as pessoas que se enquadravam em cada pa pel eram comparadas umas às outras em grupos de três com dois títulos de papéis sendo comparados com um ter ceiro Por fim no terceiro estágio do procedimento os par ticipantes classificavam os títulos de papéis quanto a serem mais descritivos de mulheres do que de homens homens do que mulheres ou nenhumambos As classificações por gênero receberam o escore 1 e as classificações sem gênero ambos ou nenhum o escore 0 com os escores possíveis variando de 0 a 20 Além do Teste Rep os participantes completaram um questionário referente à estereotipia de gênero e à possibilidade de eles aplicarem estereótipos de gênero a estranhos em situações sociais bem como um questionário sobre atitudes sexistas de gênero Os resultados mostraram que o gênero era uma cate goria básica para muitos participantes com ninguém ten do escore 0 e a média foi um pouco menos de 10 em um máximo de 20 Além disso aqueles que usaram o gênero principalmente como uma maneira de categorizar as pes soas no Rep também tinham maior probabilidade de apli car estereótipos de gênero a estranhos em situações sociais Harper e Schoeman 2003 concluíram que os participan tes que frequentemente se engajavam em estereotipia de gênero também organizavam seus esquemas pessoais em termos de gênero Isso sugere que aqueles que usam este reótipos de gênero na percepção de estranhos também ten dem a circunscrever suas percepções de amigos membros da família e conhecidos de forma semelhante p 523 Compreendendo o preconceito internalizado pela teoria dos construtos pessoais Talvez a característica mais insidiosa de ser uma pessoa que pertence a um grupo estigmatizado ocorra quando os indivíduos nesse grupo internalizam o preconceito e pensam de modo negativo sobre si mesmos Estudos mos tram que o preconceito contra gays e lésbicas internalizado geralmente referido como homofobia internalizada por exemplo está associado em indivíduos gays e lésbicas a resultados de estresse alto e saúde mental fraca cf Szy manski KashubeckWest Meyer 2008 Considerando isso é importante para os psicólogos clínicos e psicotera peutas entenderem o preconceito internalizado para tratar de forma efetiva os indivíduos em sofrimento Em 2009 Bonnie Moradi Jacob van den Berg e Franz Epting usaram a teoria dos construtos pessoais de Kelly para fazer isso A homofobia internalizada foi conceitua lizada como contendo duas características separação da identidade e depreciação da identidade Esses pesquisado res aplicaram as noções de Kelly 1991 de ameaça e culpa às duas características da homofobia internalizada Isto é o conceito de Kelly de ameaça a experiência das pessoas que percebem seus construtos pessoais básicos como ins táveis pode levar gays e lésbicas a separar sua identidade homossexual do self para evitar uma mudança assusta dora em sua autoconstrução Kelly definiu a culpa como ocorrendo quando os indivíduos percebem que aspectos centrais dentro deles são incongruentes com o que eles deveriam ser A culpa então pode levar gays e lésbicas a depreciar a identidade homossexual O estudo envolveu 102 participantes com idades de 18 a 73 anos e que se identificavam como lésbicas ou gays Eles preencheram questionários que incluíam medidas de ma nejo da impressão preconceito contra lésbicas e gays inter nalizado e uma medida de 30 construtos pessoais bipolares derivados de um estudo prévio de 160 participantes usan do o Teste Rep Landfield 1971 Os participantes gays e lésbicas de Moradi e colaboradores circularam o polo com o qual estavam mais associados por três vezes primeiro para como eles se veem segundo para como eles preferiam se ver e por último para como eles se veem enquanto fo cam o fato de serem gays ou lésbicos A ameaça foi calcula da como o número de cisões entre self e self preferido em relação ao self gay ou lésbico A culpa foi calculada como o número de cisões entre self gay ou lésbico e self preferido Seus achados foram coerentes com os conceitos de Kelly de ameaça e culpa e mostraram que esses dois aspec tos desempenham papéis distintos no preconceito interna lizado A ideia de Kelly de que os indivíduos se afastam de construtos ameaçadores foi verificada aqui quando os esco res de ameaça em tal amostra associaramse à preferência mais baixa pela orientação gay ou lésbica Mantendo a ideia de Kelly de que se sente culpa quando os indivíduos perce bem aspectos indesejáveis dentro do self os participantes homossexuais que tinham culpa alta depreciavam mais a identidade gay ou lésbica Moradi e colaboradores 2009 apresentam suges tões para intervenções de terapia dos construtos pessoais Feist19indd 388 Feist19indd 388 291014 0937 291014 0937 TEORIAS DA PERSONALIDADE 389 para abordar de forma específica a ameaça e a culpa em indivíduos com preconceito internalizado Por exemplo os terapeutas podem obter contrastes das construções dos pacientes pedindo que eles imaginem que tipo de pessoa não seria ansiosa quanto a ser gay possibilitando uma mudança de uma construção de self que é inaceitável para uma aceitável Técnicas de redução da culpa focariam a substituição de construções de self negativas por outras mais positivas A redução da ameaça focaria capacitar os pacientes gays e lésbicas a verem que integrar ser homos sexual a sua construção de self desejado não significa que eles devam mudar quem eles são em aspectos fundamen tais Esse trabalho representa formas verdadeiramente empolgantes de como a teoria da personalidade de Kelly pode ser aplicada para possibilitar a cura naqueles que so frem com a internalização de construções preconceituosas no âmbito cultural Construtos pessoais e os Big Five Pesquisadores começaram a investigar as conexões entre os construtos pessoais de Kelly e os traços Big Five Cap 13 Os traços Big Five neuroticismo extroversão abertura à experiência amabilidade e conscienciosidade têm recebi do muita atenção na pesquisa moderna da personalidade Os construtos pessoais de Kelly recebem uma quantidade moderada de atenção mas não na mesma intensidade que o modelo Big Five Nem todos os psicólogos da personali dade concordam com essa distribuição desproporcional da pesquisa e o valor de cada abordagem James Grice e cola boradores por exemplo compararam diretamente a teoria dos construtos pessoais de Kelly com os Big Five Grice 2004 Grice Jackson McDaniel 2006 Essas duas abordagens da personalidade são mui to diferentes e vale a pena destacar a importância de tal comparação A lista de traços dos Big Five foi criada essen cialmente reduzindo as milhares de formas que as pessoas descrevem umas às outras a uma lista menor e mais geren ciável que capturasse os temas mais comuns Ela procura descrever todos ao longo do mesmo continuum A aborda gem da grade de repertórios de Kelly por sua vez parece capturar a singularidade dos indivíduos A singularidade é difícil de ser capturada no modelo Big Five porque todos são descritos por apenas cinco dimensões Porém na grade de repertórios o examinador cria o próprio continuum no qual descreve as pessoas Por exemplo conforme discutido anteriormente neste capítulo o primeiro continuum descri to na grade de repertórios na Figura 192 é a religiosidade portanto para a pessoa que preenche a grade de repertó rios a religiosidade é um descritor importante mas não é um descritor que seja capturado de modo direto por muitas medidas dos Big Five A pesquisa de James Grice Grice 2004 Grice et al 2006 em essência procurou determinar o quanto a abor dagem da grade de repertórios era boa em capturar a sin gularidade comparada com os Big Five Para tanto Grice 2004 pediu aos participantes que preenchessem uma versão modificada da grade de repertórios de Kelly e uma medidapadrão de autorrelato dos Big Five Os participan tes classificaram a si mesmos e às pessoas que eles conhe ciam usando esses dois recursos Com base em procedi mentos estatísticos complexos os pesquisadores puderam medir a quantidade de sobreposições nas classificações dos escores na grade de repertórios e no modelo Big Five dos participantes O que eles encontraram foi surpreendente houve ape nas cerca de 50 de sobreposições Grice 2004 Grice et al 2006 Isso significa que a grade de repertórios estava capturando aspectos das pessoas que os Big Five não es tavam e que estes por sua vez estavam apreendendo as pectos que a grade de repertórios não estava Alguns dos aspectos únicos capturados pela grade de repertórios era o tipo corporal a etnia os recursos o status de fumante e a afiliação política Grice et al 2006 Esses são aspec tos importantes das pessoas a serem considerados e certa mente podem afetar o modo de interação embora eles não apareçam em uma medida típica dos Big Five Apesar disso este ainda é um modelo valioso como uma estrutura para o estudo da personalidade Em ciência costuma ser im portante se não imperativo que os pesquisadores tenham ferramentas e descritores comuns para comparar seus ob jetos de estudo no caso da psicologia da personalidade as pessoas A estrutura dos Big Five forneceu esses descritores comuns que facilitaram um grande número de pesquisas Mas a psicologia da personalidade trata das diferenças in dividuais e da importância do indivíduo e comparada a esse modelo a teoria dos construtos pessoais de Kelly faz um trabalho muito bom ao enfatizar a singularidade dos indivíduos e como estes definem a si mesmos e àqueles à sua volta em seus próprios termos CRÍTICAS A KELLY A maior parte da carreira profissional de Kelly foi passada trabalhando com universitários relativamente normais e inteligentes É compreensível assim que a teoria de Kelly parece mais aplicável a essas pessoas Ele não fez tentativas de elucidar as experiências infantis precoces como Freud ou a maturidade e a velhice como Erikson Para Kelly as pessoas vivem unicamente no presente com um olhar sempre no futuro Tal visão embora um tanto otimista não explica as influências do desenvolvimento e da cultura na personalidade Como a teoria de Kelly se classifica nos seis critérios de uma teoria útil Primeiro a teoria dos construtos pessoais recebe uma classificação de moderada a forte na quanti dade de pesquisa que ela gerou O Teste Rep e a grade de Feist19indd 389 Feist19indd 389 291014 0937 291014 0937 390 FEIST FEIST ROBERTS repertórios possibilitaram um número considerável de es tudos em especial na GrãBretanha embora esses instru mentos sejam usados com menos frequência pelos psicólo gos nos Estados Unidos Segundo apesar da parcimônia relativa do postulado básico de Kelly e dos 11 corolários de apoio a teoria não se presta facilmente à verificação ou à refutação Portanto classificamos a teoria dos construtos pessoais como baixa em refutabilidade Terceiro a teoria dos construtos pessoais organiza o conhecimento acerca do comportamento humano Confor me esse critério a teoria deve ser classificada como baixa A noção de Kelly de que nosso comportamento é consis tente com nossas percepções correntes ajuda a organizar o conhecimento porém sua esquiva dos problemas de mo tivação das influências do desenvolvimento e das forças culturais limita a capacidade de sua teoria de atribuir signi ficados específicos a muito do que é hoje sabido acerca da complexidade da personalidade Quarto classificamos a teoria como baixa quanto a ser um guia para a ação As ideias de Kelly sobre psicoterapia são inovadoras e sugerem ao praticante algumas técnicas interessantes Desempenhar o papel de uma pessoa fictí cia alguém que o paciente gostaria de conhecer é na ver dade uma abordagem incomum e prática da terapia Kelly baseavase fortemente no bom senso nessa prática tera pêutica e o que funcionava para ele poderia não funcionar para outra pessoa Entretanto tal disparidade seria bastan te aceitável para Kelly porque ele via a terapia como um experimento científico O terapeuta é como um cientista usando a imaginação para testar uma variedade de hipóte ses ou seja experimentar novas técnicas e explorar formas alternativas de olhar para as coisas No entanto sua teo ria oferece poucas sugestões específicas a pais terapeutas pesquisadores e outros que estão tentando compreender o comportamento humano Quinto a teoria tem coerência interna com um con junto de termos definidos operacionalmente Na primeira parte dessa pergunta a teoria dos construtos pessoais se classifica como muito alta Kelly era muito cuidadoso em escolher termos e conceitos para explicar seu postulado fundamental e os 11 corolários Sua linguagem embora um tanto difícil é sofisticada e precisa A psicologia dos construtos pessoais Kelly 1995 contém mais de 1200 páginas porém toda a teoria é estruturada como um te cido finamente tramado Kelly parecia estar constante mente consciente do que ele já havia dito e do que iria dizer De acordo com a segunda parte desse critério a teo ria dos construtos pessoais é insuficiente porque como a maioria dos teóricos discutidos neste livro Kelly não defi niu seus termos de modo operacional No entanto ele foi exemplar em escrever definições abrangentes e exatas de quase todos os termos usados no postulado básico e nos corolários de apoio Por fim a teoria é parcimoniosa Apesar da extensão do livro de Kelly em dois volumes a teoria dos construtos pessoais é excepcionalmente simples e econômica A teoria básica é expressa em um postulado fundamental e então elaborada por meio de 11 corolários Todos os demais con ceitos e pressupostos podem ser relacionados com facilida de a essa estrutura relativamente simples CONCEITO DE HUMANIDADE Kelly tinha uma visão essencialmente otimista da natureza humana Ele via as pessoas como antecipando o futuro e vi vendo de acordo com essas previsões As pessoas são capazes de mudar seus construtos pessoais em qualquer época da vida porém essas mudanças raramente são fáceis O coro lário de modulação de Kelly sugere que os construtos são permeáveis ou resilientes significando que novos elemen tos podem ser admitidos Nem todas as pessoas no entan to possuem construtos igualmente permeáveis Algumas aceitam as experiências novas e reestruturam suas interpre tações de acordo com elas enquanto outras possuem cons trutos concretos que são muito difíceis de alterar Todavia Kelly era bastante otimista na crença de que as experiências terapêuticas podem ajudar as pessoas a terem vidas mais produtivas Na dimensão do determinismo versus livrearbítrio a teo ria de Kelly pende para o segundo tópico Dentro de nosso sistema de construtos pessoais somos livres para fazer uma escolha Kelly 1980 Escolhemos entre alternativas em um sistema de construtos que nós mesmos construímos Fazemos essas escolhas com base em nossa antecipação dos eventos Porém mais do que isso escolhemos as alternativas que pa recem nos oferecer a maior oportunidade de elaboração de nosso sistema antecipatório Kelly se referiu a essa visão como escolha elaborativa ou seja ao fazer escolhas atuais olha mos em frente e optamos pela alternativa que irá aumentar nosso âmbito de escolhas futuras Kelly adotou uma visão teleológica em oposição a uma visão causal da personalidade humana Ele insistia em que os eventos da infância per se não moldam a personalidade atual Feist19indd 390 Feist19indd 390 291014 0937 291014 0937 TEORIAS DA PERSONALIDADE 391 Termoschave e conceitos A ideia de alternativismo construtivo ou a noção de que nossas interpretações presentes estão sujeitas à mudança é básica para a teoria de Kelly O postulado básico de Kelly pressupõe que todos os processos psicológicos são direcionados pela forma como antecipamos os eventos Onze corolários deri vam desse postulado fundamental e o elaboram O corolário da construção presume que as pessoas an tecipam eventos futuros de acordo com suas inter pretações de temas recorrentes O corolário da individualidade afirma que as pessoas têm experiências diferentes e portanto interpre tam os eventos de forma distinta O corolário da organização sustenta que as pessoas orga nizam seus construtos pessoais em um sistema hierár quico com alguns construtos em posições superorde nadas e outros subordinados a eles Essa organização permite a redução de construtos incompatíveis O corolário da dicotomia de Kelly pressupõe que todos os construtos pessoais são dicotômicos ou seja as pessoas interpretam os eventos de uma ma neira ouou Nossa construção presente de experiências passadas pode ter alguma influência sobre o comportamento presente mas a influência dos eventos passados é bastante limitada A perso nalidade muito mais provavelmente será guiada por nossa antecipação dos eventos futuros O postulado fundamental de Kelly aquele sobre o qual se baseiam todos os corolários e pressupostos é que toda atividade humana está direcionada pela forma como antecipamos os eventos Kelly 1955 Não pode haver dúvida então de que a teoria de Kelly é essencial mente teleológica Kelly enfatizou os processos conscientes mais do que os inconscientes Contudo ele não destacou a motivação cons ciente porque a motivação não desempenha um papel na teoria dos construtos pessoais Kelly fala de níveis de cons ciência cognitiva Níveis de consciência altos referemse aos processos psicológicos facilmente simbolizados em palavras e que podem ser expressos com precisão para outras pessoas Os processos de nível baixo são simbolizados de forma incom pleta e são difíceis ou impossíveis de comunicar As experiências podem ocorrer em níveis de consciência baixos por várias razões Primeiro alguns construtos são pré verbais porque eles são formados antes que a pessoa tenha adquirido uma linguagem significativa e portanto não po dem ser simbolizados mesmo para a própria pessoa Segun do algumas experiências estão em nível de consciência baixo porque a pessoa vê apenas as semelhanças e não consegue fazer contrastes significativos Por exemplo interpretação de que todos os indivíduos são confiáveis No entanto o polo im plícito da inconfiabilidade é negado Como o sistema de cons truções superordenado da pessoa é rígido ela não consegue adotar um construto realista de confiávelinconfiável e tende a ver as ações dos outros como completamente confiáveis Terceiro alguns construtos subordinados podem permane cer em um nível de consciência baixo quando os construtos superordenados estão mudando Por exemplo mesmo depois que uma pessoa percebe que nem todos são confiáveis ela pode se mostrar relutante em interpretar um indivíduo em particular como pouco confiável Essa hesitação significa que um construto subordinado ainda não alcançou um superorde nado Por fim como alguns eventos podem se encontrar fora do âmbito de conveniência de uma pessoa certas experiên cias não se tornam parte do sistema de construtos daquela pessoa Por exemplo processos involuntários como o bati mento cardíaco a circulação sanguínea o piscar dos olhos e a digestão tendem a estar fora do âmbito de conveniência e em geral a pessoa não está consciente deles Na questão das influências biológicas versus sociais Kelly estava mais inclinado para as sociais Seu corolário da socia bilidade pressupõe que até certo ponto somos influenciados pelos outros e temos algum impacto sobre eles Quando in terpretamos com exatidão as construções de outra pessoa podemos desempenhar um papel em um processo social que envolve essa outra pessoa Kelly assumia que nossa interpre tação dos sistemas de construção de outras pessoas importan tes como pais cônjuge e amigos pode ter alguma influên cia sobre nossas construções futuras Lembrese de que na terapia de papel fixo os pacientes adotam a identidade de uma pessoa fictícia e experimentando esse papel em vários contextos sociais eles podem vivenciar alguma mudança em seus construtos pessoais Entretanto as ações dos outros não moldam seu comportamento em vez disso é sua interpreta ção dos eventos que altera seu comportamento Na dimensão final para uma concepção da humanidade singularidade versus semelhanças Kelly enfatizou a singu laridade da personalidade Essa ênfase contudo foi tempera da por seu corolário da comunalidade que pressupõe que as pessoas de mesma origem cultural tendem a apresentar al guns dos mesmos tipos de experiências e portanto interpre tam os eventos de forma similar No entanto Kelly sustentava que nossas interpretações individuais dos eventos são cruciais e que não existem duas pessoas que tenham exatamente os mesmos construtos pessoais Feist19indd 391 Feist19indd 391 291014 0937 291014 0937 392 FEIST FEIST ROBERTS O corolário da escolha refere que as pessoas selecio nam a alternativa em um construto dicotomizado que elas veem como ampliando seu âmbito de esco lhas futuras O corolário do âmbito pressupõe que os construtos estão limitados a um âmbito de conveniência par ticular isto é eles não são relevantes para todas as situações O corolário da experiência sustenta que as pessoas revisam continuamente seus construtos pessoais como consequência da experiência O corolário da modulação defende que algumas expe riências novas não levam a uma revisão dos constru tos pessoais porque estes são muito concretos ou impermeáveis O corolário da fragmentação reconhece que o com portamento das pessoas é por vezes inconsistente pois seu sistema de construtos pode admitir pronta mente elementos incompatíveis O corolário da comunalidade de Kelly expressa que até o ponto em que tivermos experiências similares às experiências de outras pessoas nossos construtos pessoais tendem a ser semelhantes aos sistemas de construção dessas pessoas O corolário da sociabilidade afirma que as pessoas são capazes de se comunicar com outras porque elas po dem interpretar as construções das outras pessoas As pessoas não só observam o comportamento dos outros como também interpretam o que esse com portamento significa para elas A terapia de papel fixo requer que os pacientes ence nem papéis predeterminados continuamente até que seus papéis periféricos e centrais modifiquem se quando outras pessoas significativas começam a reagir de forma diferente a eles O propósito do Teste Rep de Kelly é descobrir for mas pelas quais as pessoas interpretam indivíduos importantes em sua vida Feist19indd 392 Feist19indd 392 291014 0937 291014 0937 Glossário A abertura à experiência Buss Envolve a propensão à inovação e a capacidade de resolver problemas abordagem dos loci de traços quantitativos QTL Buss Uma técnica para descobrir marcadores genéticos encontrando a localização de partes específicas de DNA nos genes que estão associados a comportamentos particulares acusação Tendência à salvaguarda adleriana em que o indiví duo protege sentimentos magnificados de autoestima acusando os outros pelas próprias falhas adaptações Buss Estratégias desenvolvidas que resolvem problemas significativos de sobrevivência eou reprodução adaptações características McCrae e Costa Estruturas adqui ridas da personalidade que se desenvolvem conforme as pessoas se adaptam a seu ambiente adiamento da gratificação Uma referência à observação de que algumas pessoas em alguns momentos irão preferir recom pensas adiadas mais valorizadas em comparação àquelas imedia tas menos valorizadas adolescência Erikson Um importante estágio psicossocial no qual a identidade do ego deve ser formada A adolescência é caracterizada pela puberdade e pela crise de identidade versus confusão de identidade ágape Amor altruísta agência humana Bandura A capacidade das pessoas de usar habilidades cognitivas para controlar suas vidas agressividade Adler Tendências à salvaguarda que podem incluir depreciação ou acusação dos outros bem como autoa cusação concebidas para proteger sentimentos exagerados de superioridade pessoal por meio do ataque a outras pessoas agressividade Freud Um dos dois instintos ou impulsos pri mários que motivam as pessoas Agressividade é a manifestação externalizada do instinto de morte agressividade maligna Fromm A destruição da vida por ou tras razões além da sobrevivência alternativismo construtivo Visão de Kelly de que os eventos podem ser encarados construídos a partir de uma perspectiva alternativa diferente amabilidadehostilidade Buss Disposição e capacidade da pessoa para cooperar e ajudar o grupo por um lado ou ser hostil e agressiva por outro ameaça Kelly A previsão do perigo à estabilidade dos pró prios construtos pessoais ameaça Rogers Sentimento que resulta da percepção de uma experiência que é incoerente com o self do organismo amor Erikson A força básica do início da idade adulta que emerge da crise de intimidade versus isolamento amor Fromm Uma união com outro indivíduo em que a pes soa mantém a distinção e a integridade do self amor May Ter prazer na presença da outra pessoa e afirmar o valor e o desenvolvimento daquela pessoa tanto quanto o próprio amor B Maslow Amor entre pessoas autoatualizadas e carac terizado pelo amor de ser do outro amor D Maslow Deficiência de amor ou afeição apego com base na deficiência específica do amante e na capacidade da pes soa amada de satisfazer esse déficit analuretralmuscular Termo de Erikson para o modo de adaptação psicossexual da criança na infância análise do comportamento Abordagem de Skinner ao estudo do comportamento que pressupõe que a conduta humana é moldada primariamente pelo histórico pessoal de reforço do in divíduo e secundariamente pela seleção natural e pelas práticas culturais análise dos sonhos Freud Procedimento terapêutico conce bido para revelar material inconsciente por meio de associações livres feitas pelo paciente a partir das imagens oníricas Ver tam bém associação livre análise fatorial Procedimento matemático para reduzir a poucas variáveis um grande número delas é usada por Eysenck e outros para identificar traços e fatores da personalidade anima Arquétipo junguiano que representa o componente fe minino na personalidade dos homens e se origina das experiên cias herdadas dos homens com as mulheres animus Arquétipo junguiano que representa o componente masculino na personalidade das mulheres e se origina das expe riências herdadas das mulheres com os homens ansiedade Um estado sentido afetivo e desagradável acompa nhado pela sensação física de inquietação ansiedade Kelly Reconhecimento de que os eventos com os quais o indivíduo é confrontado se encontram fora da área de conveniência de seu sistema de construtos ansiedade May Experiência de ameaça de uma não existência iminente ansiedade Rogers Sentimentos de inquietação ou tensão de correntes de uma causa desconhecida ansiedade básica Fromm Sentimento de estar sozinho e iso lado separado do mundo natural ansiedade básica Horney Sentimentos de isolamento e de samparo em um mundo potencialmente hostil 01Feistglossarioindd 393 01Feistglossarioindd 393 271014 1512 271014 1512 394 GLOSSÁRIO ansiedade básica Maslow Ansiedade que surge da incapaci dade de satisfazer as necessidades fisiológicas e de segurança ansiedade de castração Freud Ver complexo de castração ansiedade de separação Reação dos bebês ao perderem de vis ta seu cuidador primário no início os bebês protestam depois desesperamse e no final ficam emocionalmente afastados ansiedade moral Freud Ansiedade que resulta do conflito do ego com o superego ansiedade neurótica Freud Apreensão acerca de um perigo desconhecido enfrentado pelo ego mas originário dos impulsos do id ansiedade neurótica May Reação desproporcional à ameaça e que leva a repressão e a comportamentos defensivos ansiedade normal May A experiência de ameaça que acom panha o crescimento ou a mudança nos próprios valores ansiedade realista Freud Um sentimento desagradável e não específico resultante da relação do ego com o mundo externo aperfeiçoamenro Rogers A necessidade de se desenvolver crescer e realizar aproximações sucessivas Procedimento usado para moldar as ações de um organismo recompensando os comportamentos conforme se aproximam cada vez mais do comportamentoalvo arquétipos Conceito de Jung que se refere aos conteúdos do inconsciente coletivo Os arquétipos também chamados de imagens primordiais ou símbolos coletivos representam padrões psíquicos de comportamento herdado e assim são distinguidos dos instintos os quais são os impulsos físicos em direção à ação Os arquétipos típicos são a anima o animus e a sombra assinatura comportamental da personalidade Mischel Pa drão único e estável de um indivíduo de comportarse diferente mente em situações distintas associação livre Técnica usada em psicoterapia freudiana na qual o terapeuta instrui o paciente a verbalizar todo pensamento que lhe vier à mente independentemente do quanto possa pare cer irrelevante ou repulsivo atitude Jung Predisposição a reagir de maneira característica ou seja em uma direção introvertida ou extrovertida atitude taoísta Maslow Atitude de não interferência passiva e receptiva que inclui respeito e admiração pelo que é observado ativação seletiva Crença de Bandura de que as influências autorregulatórias não são automáticas mas operam somente se forem ativadas atos falhos Lapsos de linguagem ou escrita erros na leitura audição incorreta esquecimento temporário de nomes e de intenções e extravio de objetos causados por desejos inconscien tes Também chamados de parapraxias autismo normal Mahler Estágio evolutivo de um bebê em que todas as suas necessidades são satisfeitas automaticamente ou seja sem que o bebê tenha que lidar com o mundo externo autoódio Horney A tendência poderosa com que os neuróti cos menosprezam seu self real autoacusação Tendência à salvaguarda adleriana em que uma pessoa agride indiretamente os outros por meio da autotortura e culpa autoatualização Rogers Um subsistema da tendência à atua lização a tendência a atualizar o self conforme percebido autoconceito McCrae e Costa O conhecimento as visões e as avaliações do self autoconceito Rogers Aspectos do ser e das experiências das quais um indivíduo está consciente autoconsideração positiva Rogers A experiência de valorizar a si mesmo autoeficácia Bandura Expectativa da pessoa de que ela é capaz de executar os comportamentos que produzirão os resulta dos desejados em alguma situação particular autoimagem idealizada Horney Uma tentativa de resolver conflitos básicos adotando uma crença nas próprias qualidades endeusadas autonomia funcional Allport A tendência de alguns motivos a se tornarem independentes da razão original responsável pelo comportamento autonomia funcional do proprium Allport Conceito de Allport de um sistemamestre de motivação que confere unida de à personalidade relacionando motivos autossustentáveis ao proprium autonomia funcional perseverativa Allport Motivos funcio nalmente independentes que não fazem parte do proprium inclui adições a tendência a terminar tarefas incompletas e outros motivos adquiridos autoritarismo Fromm Tendência a abdicar da própria in dependência e se unir a uma ou mais pessoas para obter força Assume a forma de masoquismo ou sadismo autorrealização Jung O nível mais alto possível de ma turação psíquica necessita de equilíbrio entre consciente e inconsciente ego e self masculino e feminino e introversão e extroversão As quatro funções pensamento sentimento sensa ção e intuição são completamente desenvolvidas pelas pessoas autorrealizadas avaliações externas Rogers Percepção das pessoas da visão que os outros têm delas B behaviorismo Uma escola de psicologia que limita sua maté ria ao comportamento observável John B Watson costuma ser referido como o fundador do behaviorismo sendo B F Skinner o proponente mais notável behaviorismo radical Visão de Skinner de que a psicologia como ciência pode avançar apenas quando os psicólogos pararem de atribuir o comportamento a construtos hipotéticos e come çarem a escrever e a falar estritamente em termos do comporta mento observável biofilia Amor pela vida biografia objetiva McCrae e Costa Todas as experiências de uma pessoa ao longo da vida busca neurótica pela glória Conceito de Horney para o impul so abrangente em direção à realização do self ideal C caracteres acumuladores Fromm Pessoas que procuram guardar e não se desfazer de posses materiais sentimentos ou ideias 01Feistglossarioindd 394 01Feistglossarioindd 394 271014 1512 271014 1512 GLOSSÁRIO 395 caracteres exploradores Fromm Pessoas que tiram dos ou tros seja por força ou astúcia caracteres mercantis Fromm Pessoas que se veem como pro dutos com seu valor pessoal dependente de sua habilidade de se venderem caracteres receptivos Fromm Pessoas que se relacionam com o mundo recebendo amor conhecimento e bens materiais característica Qualidades únicas de um indivíduo que incluem atributos como temperamento psique inteligência e outras aptidões caráter Fromm Qualidades adquiridas relativamente per manentes por meio das quais as pessoas se relacionam com os outros e com o mundo caráter anal Termo freudiano para uma pessoa que é caracteri zada por limpeza compulsiva teimosia e avareza cargas fatoriais A quantidade de correlação com que um esco re contribui para determinado fator catarse Processo de remoção ou redução dos transtornos psi cológicos por meio da fala acerca dos problemas causação recíproca Bandura Esquema que inclui ambiente comportamento e pessoa interagindo reciprocamente para de terminar a conduta pessoal causalidade Uma explicação do comportamento em termos das experiências passadas centrada na pessoa Teoria da personalidade fundada por Carl Rogers como um consequência da psicoterapia centrada no cliente ciência Um ramo de estudo preocupado com a observação e a classificação dos dados e com a verificação das leis gerais por meio do teste de hipóteses ciência morfogênica Conceito de Allport de ciência que trata de diferentes métodos de coleta de dados referentes a padrões de comportamento de um único indivíduo coeficiente de correlação Índice matemático usado para me dir a direção e a magnitude da relação entre duas variáveis competências Mischel Construção cognitiva e comporta mental das pessoas do que elas conseguem ou não fazer com base em suas observações do mundo de si mesmas e dos outros complexo Jung Um conglomerado de ideias com teor emo cional que compreendem os conteúdos do inconsciente pessoal Jung originalmente usou o teste de associação de palavras para desvendar os complexos complexo de castração Freud Condição que acompanha o complexo de Édipo mas assume formas diferentes nos dois sexos Nos meninos assume a forma de ansiedade de castração ou o temor de ter o pênis removido e é responsável por desfazer o complexo de Édipo Nas meninas assume a forma de inveja do pênis ou o desejo de ter um pênis e precede e instiga o complexo de Édipo complexo de Édipo Termo usado por Freud para indicar a situação em que a criança independentemente do sexo desen volve sentimentos de amor eou hostilidade pelo genitor No complexo de Édipo masculino simples o menino desenvolve sentimentos incestuosos de amor pela mãe e hostilidade em rela ção ao pai O complexo de Édipo feminino simples existe quando a menina sente hostilidade pela mãe e amor sexual pelo pai complexo de inferioridade Adler Sentimentos de inferiori dade exagerados ou anormalmente fortes que em geral inter ferem nas soluções úteis no âmbito social para os problemas da vida complexo de Jonas O medo de ser ou fazer o melhor de si compulsão à repetição Freud A tendência de um instinto especialmente o instinto de morte a repetir ou recriar uma con dição anterior sobretudo uma que foi assustadora ou despertou ansiedade condicionamento clássico Aprendizagem pela qual um estímulo neutro é associado a um estímulo significativo e adquire a capa cidade de promover uma resposta similar condicionamento operante Skinner Um tipo de aprendiza gem na qual o reforço que é contingente à ocorrência de uma resposta particular aumenta a probabilidade de que a mesma resposta ocorra outra vez condições de valor Rogers Restrições ou qualificações vincu ladas à consideração de uma pessoa por outra confiança interpessoal Rotter Uma expectativa generalizada mantida por um indivíduo de que se pode confiar que outras pessoas irão manter sua palavra A Escala Interpessoal de Con fiança tenta medir o grau de confiança interpessoal conflito básico Horney Tendência incompatível de se movi mentar em direção a contra as ou para longe das pessoas conformidade Fromm Meio de escapar do isolamento e da solidão abrindo mão do próprio self e transformandose no que os outros desejam congruência Rogers A combinação de experiências do orga nismo com a consciência e com a capacidade de expressar essas experiências Uma das três condições terapêuticas necessárias e suficientes consciência Freud A parte do superego que resulta da expe riência com punição e que portanto diz a uma pessoa o que é certo ou impróprio conscienciosidade Buss Capacidade e comprometimento do indivíduo de trabalhar e estar focado e orientado aos detalhes consciente Freud Elementos mentais na consciência em de terminado momento consciente Jung Imagens mentais que são percebidas pelo ego e desempenham um papel relativamente menor na teoria junguiana consciente perceptivo Freud Sistema que percebe estímulos externos por meio da visão da audição do paladar e similares e que os comunica ao sistema consciente consideração positiva Rogers A necessidade de ser amado estimado ou aceito por outros consideração positiva incondicional Rogers A necessidade de ser aceito e valorizado por outra pessoa sem qualquer restri ção ou qualificação uma das três condições terapêuticas neces sárias e suficientes construção de obstáculos Adler Tendência à salvaguarda em que as pessoas criam uma barreira ao próprio sucesso permitin dolhes assim protegerem a autoestima seja usando a barreira como desculpa pelo fracasso ou superandoa construtos pessoais Kelly A maneira de uma pessoa interpre tar explicar e prever eventos 01Feistglossarioindd 395 01Feistglossarioindd 395 271014 1512 271014 1512 396 GLOSSÁRIO conteúdo latente do sonho Freud O conteúdo subjacente inconsciente de um sonho Freud sustentava que o conteúdo latente que pode ser revelado somente pela interpretação do sonho era mais importante do que o conteúdo superficial ou manifesto conteúdo manifesto do sonho Freud O nível superficial ou consciente de um sonho Freud acreditava que o nível manifesto de um sonho não possui significado psicológico profundo e que o nível inconsciente ou latente detém a chave para o verdadeiro significado do sonho contratransferência Sentimentos fortes e imerecidos que o terapeuta desenvolve em relação ao paciente durante o curso do tratamento Esses sentimentos podem ser positivos ou negati vos e são considerados pela maioria dos autores um obstáculo ao sucesso da terapia corolário da comunalidade Teoria de Kelly de que os constru tos pessoais de indivíduos com experiências similares tendem a ser semelhantes corolário da construção Pressuposto de Kelly de que as pes soas anteveem os eventos de acordo com suas interpretações de temas recorrentes corolário da dicotomia Pressuposto de Kelly de que as pes soas constroem eventos de uma maneira ouou dicotômica corolário da escolha Pressuposto de Kelly de que as pessoas optam pela alternativa em um construto dicotômico percebida como aquela que que ampliará sua margem de escolhas futuras corolário da experiência Visão de Kelly de que os indivíduos continuamente revisam seus construtos pessoais em decorrência da experiência corolário da fragmentação Pressuposto de Kelly de que o comportamento é por vezes incoerente porque o sistema de construtos do indivíduo pode admitir elementos incompatíveis corolário da individualidade Pressuposto de Kelly de que as pessoas têm diferentes experiências e portanto constroem os eventos de formas distintas corolário da modulação Kelly Teoria que afirma que os construtos pessoais são permeáveis resilientes e estão sujeitos a mudança por meio da experiência corolário da organização Noção de Kelly de que as pessoas organizam seus construtos pessoais em um sistema hierárquico corolário da sociabilidade Noção de Kelly de que as pessoas podem se comunicar com as outras porque são capazes de pro duzir construções acerca dos outros corolário do âmbito Pressuposto de Kelly de que os cons trutos pessoais estão limitados a uma variação finita de conve niência cosmologia Campo da filosofia que lida com a natureza da causação crise de identidade Termo de Erikson para um período crucial ou ponto de virada no ciclo da vida que pode resultar em mais ou menos força do ego As crises de identidade podem ser encontra das nos estágios eriksonianos que se seguem ao desenvolvimen to da identidade em geral durante a adolescência cuidado Erikson Um compromisso de cuidar das pessoas e das coisas com as quais o indivíduo aprendeu a se importar culpa Kelly O sentimento de ter perdido a estrutura do papel central culpa May Uma característica ontológica da existência huma na que surge de nossa separação do mundo natural Umwelt das outras pessoas Mitwelt ou de si mesmo Eigenwelt D Dasein Um termo existencial que significa um sentimento do self como um indivíduo livre e responsável cuja existência está incorporada ao mundo das coisas das pessoas e da autocons ciência defesas Rogers Proteção do autoconceito contra a ansiedade e a ameaça por meio da negação e da distorção das experiências que são incoerentes com ele definição operacional Definição de um conceito em termos de eventos ou comportamentos observáveis que podem ser mensurados depreciação Tendência à salvaguarda adleriana em que as realizações dos outros são subvalorizadas e as próprias são su pervalorizadas desculpas Tendências à salvaguarda adleriana em que a pes soa pelo uso de justificativas que parecem razoáveis fica con vencida da realidade dos obstáculos autoerigidos desengajamento do controle interno Bandura O desloca mento ou a difusão da responsabilidade pelos efeitos prejudiciais das próprias ações deslocamento Um mecanismo de defesa freudiano em que impulsos indesejados são redirecionados para outros objetos ou pessoas para disfarçar o impulso original dessacralização Maslow Processo de remoção do respeito da alegria do medo e do arrebatamento de uma experiência que então purifica ou torna objetiva tal experiência destrutividade Fromm Método de fuga da liberdade elimi nando pessoas ou objetos recuperando assim os sentimentos de poder dialeto do órgão Adler Expressão das intenções subjacentes ou do estilo de vida de uma pessoa por meio de um órgão corpo ral doente ou disfuncional dilema humano Fromm A condição presente dos humanos que têm capacidade de raciocínio mas carecem de instintos po tentes necessários para se adaptar a um mundo em mudança discriminação operante Observação de Skinner de que um or ganismo em consequência de seu histórico de reforço aprende a responder a alguns elementos no ambiente mas não a outros A discriminação operante não existe dentro do organismo mas é uma função das variáveis ambientais e do histórico prévio de reforço disposições cardinais Allport Disposições pessoais tão do minantes que não podem ser escondidas A maioria das pessoas não possui uma disposição cardinal disposições centrais Allport Os 5 a 10 traços pessoais em torno dos quais está focada a vida do indivíduo disposições pessoais Allport Uma estrutura neuropsíquica relativamente permanente peculiar ao indivíduo que tem a ca pacidade de tornar diferentes estímulos equivalentes no âmbito 01Feistglossarioindd 396 01Feistglossarioindd 396 271014 1512 271014 1512 GLOSSÁRIO 397 funcional e de iniciar e guiar formas personalizadas de compor tamento disposições secundárias Allport As disposições pessoais menos características e confiáveis que aparecem com alguma regularidade na vida da pessoa dissociação teoria das relações objetais Um mecanismo de defesa psíquico no qual a criança separa subjetivamente aspectos incompatíveis de um objeto distônico Termo de Erikson para o elemento negativo em cada par de opostos que caracteriza os oito estágios do desen volvimento distorção Rogers Interpretação equivocada de uma expe riência de modo que ela é vista como se encaixando em algum aspecto do autoconceito E eclética Abordagem que permite a seleção de elementos utili záveis de diferentes teorias ou abordagens e as combina de uma maneira coerente e unificada efeito placebo Alterações no comportamento ou no funcio namento causadas pelas crenças ou pelas expectativas do indi víduo eficácia coletiva Bandura A confiança que as pessoas têm de que seus esforços combinados produzirão mudança social ego Freud A esfera da mente que se refere ao eu ou àquelas experiências que a pessoa possui não necessariamente Como é a única região da mente em contato com o mundo real conside rase que o ego serve ao princípio da realidade ego Jung O centro da consciência Na psicologia junguiana o ego é de menor importância do que o self mais inclusivo e está limitado à consciência Eigenwelt Um termo existencialista que significa o mundo das relações do indivíduo com o self Um dos três modos simultâne os de estar no mundo empírica Pesquisa com base na experiência na observação sistemática e no experimento em vez de no raciocínio lógico ou na especulação filosófica encontro casual Bandura Um encontro involuntário entre pessoas desconhecidas enraizamento Fromm A necessidade humana de estabelecer raízes isto é encontrar novamente um lar no mundo epigenética Buss Mudança na função do gene que não envol ve alterações no DNA epistemologia Ramo da filosofia que trata da natureza do conhecimento eros O desejo por uma união duradoura com uma pessoa amada erro de atribuição fundamental Buss A tendência dos in divíduos de ignorar forças situacionais e ambientais ao explicar o comportamento de outras pessoas e considerar somente as disposições internas erro situacional fundamental Buss Tendência a assumir que o ambiente por si só pode produzir comportamento sem um mecanismo interno estável escolha elaborativa Kelly Fazer escolhas que aumentarão o leque de escolhas futuras de uma pessoa escuta empática Rogers A percepção correta dos sentimen tos do outro e a comunicação dessa percepção Uma das três condições terapêuticas necessárias e suficientes esforços do proprium Allport Motivação em direção a obje tivos que são coerentes com um proprium estabelecido e particu larmente individuais especialização do nicho alternativo Buss Pessoas diferentes encontram o que as faz se destacarem dos outros para obter atenção dos pais ou de parceiros potenciais esquema contínuo Skinner O reforço de um organismo para cada resposta correta oposto ao esquema intermitente em que apenas certas respostas selecionadas são reforçadas esquema intermitente Skinner O reforço de um organismo em apenas certas ocorrências de respostas selecionadas opos to a um esquema contínuo em que o organismo é reforçado a cada resposta correta Os quatro esquemas intermitentes mais comuns são razão fixa razão variável intervalo fixo e intervalo variável estabilidade Eysenck Ver neuroticismo estabilidade emocionalneuroticismo Buss Envolve a capa cidade de lidar ou não com o estresse e a disposição para experi mentar ansiedade depressão ou culpa estilo de vida Adler Individualidade de uma pessoa que se expressa em qualquer circunstância ou ambiente o sabor da vida de uma pessoa estratégias autorregulatórias Mischel Técnicas usadas para controlar o próprio comportamento por meio de objetivos au toimpostos e consequências autoproduzidas estratégias de codificação Mischel Formas como os indiví duos transformam a entrada de estímulos em informação sobre si mesmas sobre outras pessoas e sobre o mundo estrutura de orientação Fromm A necessidade dos humanos de desenvolverem uma filosofia unificadora ou uma maneira coerente de olhar para as coisas etologia Estudo científico dos padrões de comportamento ca racterísticos dos animais evento fortuito Bandura Eventos ambientais inesperados ou não intencionais exclusividade Erikson A patologia central do início da idade adulta marcada pela exclusão do indivíduo em relação a certas pessoas atividades e ideias expectativa A probabilidade subjetiva mantida por uma pes soa de que um reforço específico ou um conjunto de reforços irá ocorrer em determinada situação expectativa generalizada Rotter Expectativa baseada em experiências passadas similares de que determinado comporta mento será reforçado experiências culminantes Maslow Experiência mística in tensa em geral característica de pessoas autoatualizadas mas não limitada a elas experiências vicariantes Aprendizagem pela observação das consequências do comportamento de outros extinção Tendência de uma resposta previamente adquirida de tornarse progressivamente enfraquecida devido à ausência do reforço 01Feistglossarioindd 397 01Feistglossarioindd 397 271014 1512 271014 1512 398 GLOSSÁRIO extinção operante Skinner A perda de uma resposta con dicionada de modo operante devido à retirada sistemática do reforço extroversão E Eysenck Um dos três tipos de superfatores identificados por Eysenck que apresentam dois polos opostos extroversão e introversão Os extrovertidos são caracterizados comportalmente pela sociabilidade e pela impulsividade e em termos fisiológios por um baixo nível de excitação cortical Os introvertidos por sua vez são caracterizados pela pouca socia bilidade e pela grande cautela bem como e por um alto nível de excitação cortical extroversão Jung Uma atitude ou um tipo marcado pelo direcionamento da energia psíquica de modo que a pessoa seja orientada para o mundo objetivo F fase anal Freud Por vezes chamada de fase anal sádica este segundo estágio da infância é caracterizado por tentativas da criança de obter prazer por meio da função excretória e de comportamentos relacionados a destruição ou perda de objetos teimosia limpeza e avareza Corresponde aproximadamente ao segundo ano de vida fase fálica Freud Terceira e última fase da infância é ca racterizada pelo complexo de Édipo Ainda que as diferenças anatômicas entre os sexos sejam responsáveis por distinções importantes nos períodos edípicos masculino e feminino Freud usava a nomenclatura fase fálica para se referir tanto ao desen volvimento masculino quanto ao feminino fase genital Klein Comparável à fase fálica de Freud ou seja a época em torno dos 3 a 5 anos quando o complexo de Édipo atinge seu auge fase oral Freud Primeira fase da infância caracterizada por tentativas de obter prazer por meio da atividade da boca em especial sugar comer e morder corresponde aproximadamente aos primeiros 12 a 18 meses de vida fator Uma unidade da personalidade derivada da análise fa torial Por vezes usado de modo mais genérico para incluir um aspecto subjacente da personalidade fenomenologia Uma posição filosófica que enfatiza que o comportamento é causado pelas percepções do indivíduo em vez de pela realidade externa ficar parado Adler Tendência à salvaguarda caracterizada pela falta de ação como um meio de evitar o fracasso ficção Adler Crenças ou expectativas do futuro que servem para motivar o comportamento atual A veracidade de uma ideia fictícia é imaterial porque a pessoa age como se a ideia fosse verdadeira fidedignidade O ponto até onde um teste ou outro instru mento de medição produz resultados coerentes filia Amor fraternal amizade fixação Fromm A forma não produtiva de enraizamento marcada por uma relutância em crescer para além da segurança proporcionada pela mãe fixação Mecanismo de defesa que surge quando a energia psíquica é bloqueada em um estágio do desenvolvimento tornando assim mais difícil a mudança ou o crescimento psicológico força básica Qualidade do ego que emerge do conflito entre elementos antitéticos nos estágios do desenvolvimento de Eri kson força criativa Termo de Adler para o que ele acreditava ser uma liberdade interna que possibilita que cada um de nós crie o próprio estilo de vida formação reativa Mecanismo de defesa em que uma pessoa reprime um impulso e adota a forma exatamente oposta de com portamento a qual em geral é exagerada e ostensiva função do superego Eysenck Ver psicoticismo G Gemeinschaftsgefühl Ver interesse social generalização A transferência dos efeitos de uma situação de aprendizagem para outra generalização do estímulo Ver generalização genitallocomotor Termo de Erikson correspondente ao modo psicossexual de adaptação da criança na idade do jogo genitalidade Erikson Período de vida que inicia na puberda de e continua na idade adulta marcado pela identidade sexual completa grande mãe Arquétipo junguiano das forças opostas de fertili dade e destruição H herança filogenética Imagens inconscientes herdadas trans mitidas por meio de muitas gerações de repetição Um conceito usado por Freud e Klein herói Arquétipo junguiano representando o mito do homem semelhante aos deuses que conquista ou derrota o mal em geral na forma de monstro dragão ou serpente hesitação Adler Tendência à salvaguarda caracterizada pela vacilação ou pela procrastinação concebida para dar à pessoa a desculpa É tarde demais agora hierarquia de necessidades Conceito de Maslow de que as necessidades são ordenadas de maneira tal que aquelas de nível inferior sejam satisfeitas antes que as de níveis superiores sejam ativadas hipocondria Atenção obsessiva à própria saúde em geral ca racterizada por sintomas imaginários hipocondria moral Fromm Preocupação com culpa sobre coisas que o indivíduo fez de errado hipótese Um pressuposto ou uma suposição fundamentada que pode ser testada cientificamente histeria Freud Transtorno mental marcado pela conversão de elementos psíquicos reprimidos em sintomas somáticos como impotência paralisia ou cegueira na ausência de bases fisiológi cas que justifiquem a ocorrência desses sintomas hostilidade básica Horney Sentimentos reprimidos de raiva que se originam durante a infância quando as crianças temem que seus pais não supram suas necessidades de segurança e sa tisfação 01Feistglossarioindd 398 01Feistglossarioindd 398 271014 1512 271014 1512 GLOSSÁRIO 399 I id Freud Região da personalidade que é estranha ao ego porque inclui experiências que nunca foram apropriadas pela pessoa O id é a base de todos os instintos e é a única função a procurar prazer independentemente das consequências idade adulta Erikson Estágio desde aproximadamente 31 até 60 anos caracterizado pelo modo psicossexual da procriativida de e pela crise de generatividade versus estagnação idade do jogo Erikson Terceiro estágio do desenvolvimento psicossocial abrange aproximadamente a faixa dos 3 aos 5 anos de idade e é caracterizado pelo modo psicossexual genitalloco motor e pela crise de iniciativa versus culpa idade escolar Erikson O quarto estágio do desenvolvimento psicossocial abrange o período em torno dos 6 aos 12 ou 13 anos de idade e é caracterizado pela latência sexual e pela crise psicossocial da diligência versus inferioridade ideal de ego Freud A parte do superego que resulta de expe riências com recompensa e que portanto ensina a uma pessoa o que é uma conduta certa ou adequada identificação projetiva Klein Mecanismo de defesa psíquico em que os bebês dissociam partes inaceitáveis de si projetam nas em outro objeto e então as introjetam de forma distorcida idiográfica Abordagem ao estudo da personalidade com base em um caso único imaginação ativa Técnica usada por Jung para descobrir ma terial do inconsciente coletivo Solicitase aos pacientes que se concentrem em uma imagem até que uma série de fantasias seja produzida incongruência Rogers A percepção de discrepâncias entre o self do organismo o autoconceito e o self ideal inconsciente Freud Todos os elementos mentais dos quais uma pessoa não está consciente Os dois níveis do inconsciente são o inconsciente propriamente dito e o préconsciente As ideias inconscientes só se tornam conscientes com grande resis tência e dificuldade inconsciente coletivo Ideia de Jung de um inconsciente her dado que é responsável por muitos de nossos comportamentos ideias e imagens de sonhos O inconsciente coletivo vai além das experiências pessoais e se origina de experiências repetidas de nossos ancestrais inconsciente pessoal Termo de Jung referente às experiências reprimidas exclusivas de um indivíduo oposto ao inconsciente coletivo que diz respeito a experiências inconscientes que são provenientes de experiências repetidas de nossos ancestrais individuação Termo de Jung para o processo de se tornar uma pessoa integral ou seja um indivíduo com alto nível de desen volvimento psíquico infância precoce Erikson Segundo estágio do desenvolvi mento psicossocial caracterizado pelo modo psicossexual anal uretralmuscular e pela crise de autonomia versus vergonha e dúvida influências externas McCrae e Costa Conhecimento visões e avaliações do self início da idade adulta Erikson O estágio aproximadamente entre os 18 e os 30 anos durante o qual uma pessoa adquire genitalidade madura e experimenta a crise de intimidade versus isolamento instinto Freud Do alemão Trieb significa ímpeto ou im pulso referese a um estímulo interno que impele a ação ou o pensamento Os dois instintos primários são sexo e agressi vidade instinto Jung Um impulso físico inconsciente em direção à ação Os instintos são a contrapartida física dos arquétipos instinto de vida Freud Um dos dois ímpetos ou impulsos primários o instinto de vida também é chamado de Eros ou sexo intencionalidade May A estrutura subjacente que dá signifi cado à experiência das pessoas interacionista Aquele que acredita que o comportamento re sulta de uma interação de variáveis ambientais e variáveis que o indivíduo tem incluindo a cognição interesse social Adler Tradução do alemão Gemeinschaftsge fühl significando um sentimento comunitário ou um sentimen to de estar unido a todos os seres humanos internalização teoria das relações objetais Processo em que a pessoa assimila introjeta aspectos do mundo externo e então organiza essas introjeções de maneira psicologicamente significativa intervalo fixo Skinner Esquema de reforço intermitente em que o organismo é reforçado por sua primeira resposta depois de um período de tempo designado p ex FI 10 significa que o animal é reforçado na primeira resposta emitida após decorridos 10 minutos do último reforço recebido intervalo variável Skinner Esquema de reforço intermitente no qual o organismo é reforçado após decorridos períodos de tempo aleatórios e variáveis p ex VI 10 significa que o animal é reforçado pela sua primeira resposta após intervalos de duração aleatória em média 10 minutos intimidade Erikson Capacidade de fundir a própria identida de com a de outra pessoa sem temer perdêla O elemento sintô nico do início da idade adulta introjeção Freud Mecanismo de defesa em que as pessoas incorporam qualidades positivas de outro indivíduo a seu ego introjeção Klein Fantasia de assimilar os objetos externos como o seio da mãe ao próprio corpo introversão Eysenck Ver extroversão Eysenck introversão Jung Uma atitude ou um tipo caracterizado pelo desvio da energia psíquica para dentro com uma orientação para o subjetivo intuição Jung Função irracional que envolve a percepção de dados elementares que estão além da consciência As pessoas intuitivas sabem algo sem compreenderem como sabem inveja do pênis Freud Ver complexo de castração Inventário de Orientação Pessoal POI Teste concebido por E L Shostrom para medir o conceito de tendências de autorrea lização de Maslow nas pessoas isolamento Erikson A incapacidade de compartilhar a verda deira intimidade ou arriscar a própria identidade O elemento distônico do início da idade adulta 01Feistglossarioindd 399 01Feistglossarioindd 399 271014 1512 271014 1512 400 GLOSSÁRIO L lactância Erikson O primeiro estágio do desenvolvimento psicossocial é marcado pelo modo oralsensorial e pela crise da confiança básica versus desconfiança básica latência Erikson O modo psicossexual da criança em idade escolar Um período de pouco desenvolvimento sexual lei do efeito Princípio de Thorndike de que as respostas a estímulos seguidas imediatamente por uma satisfação tendem a fortalecer a conexão entre essas respostas e os estímulos ou seja elas tendem a ser aprendidas lei empírica do efeito Rotter Pressuposto de que os compor tamentos que movem as pessoas em direção a seus objetivos têm maior probabilidade de serem reforçados lembranças precoces Técnica proposta por Adler para com preender um padrão ou tema que permeia o estilo de vida de uma pessoa liberdade de movimento Rotter A expectativa média de ser reforçado pela realização de todos os comportamentos direciona dos para a satisfação de alguma necessidade geral liberdade essencial May A liberdade de ser ou a liberdade da mente consciente A liberdade essencial não pode ser limitada por correntes ou grades liberdade existencial May A liberdade de fazer a própria vontade A liberdade existencial pode ser limitada por correntes ou grades liberdade positiva Fromm Atividade espontânea da perso nalidade completa e integrada sinaliza uma reunificação com os outros e com o mundo libido Freud Energia psíquica do instinto de vida impulso ou energia sexual ligação Fromm Necessidade de união com uma ou mais pessoas Expressase por meio da submissão do poder ou do amor locus de controle Rotter A crença que as pessoas têm de que suas tentativas de atingir um objetivo estão sob seu controle lo cus interno de controle ou decorrem de eventos poderosos como o destino o acaso ou outras pessoas locus externo de controle O locus de controle é medido pela Escala de Controle Interno Externo M mandala Jung Símbolo que representa a luta pela unidade e pela completude Costuma ser vista como um círculo dentro de um quadrado ou um quadrado dentro de um círculo manutenção Rogers Necessidades básicas que protegem o status quo Elas podem ser fisiológicas p ex alimento ou inter pessoais p ex necessidade de manter o autoconceito atual masoquismo Uma condição caracterizada pela aceitação de prazer sexual oriundo de dor e humilhação infligidas por si ou por outros maturidade Freud O estágio psicossexual final após as fases da infância o período de latência e a fase genital Hipotetica mente a maturidade seria caracterizada por um ego forte no controle do id e do superego e por um campo de consciência em constante expansão mecanismos Buss Processo de evolução pela seleção natural que produziu soluções para os dois problemas básicos da vida sobrevivência e reprodução mecanismos de defesa Freud Técnicas como repressão for mação reativa sublimação e similares pelas quais o ego se defen de contra a dor da ansiedade mecanismos físicos Buss Órgãos e sistemas fisiológicos que se desenvolveram para resolver problemas de sobrevivência mecanismos psicológicos Buss Sistemas internos e específi cos cognitivos motivacionais e de personalidade que resolvem problemas pontuais de sobrevivência e reprodução medo Kelly Ameaça específica aos construtos pessoais de um indivíduo metamotivação Maslow Os motivos das pessoas autoatuali zadas incluindo particularmente os valores B metapatologia Maslow Doença caracterizada pela ausência de valores pela falta de realização e pela perda de significado que resulta da privação de necessidades de autoatualização método dedutivo Abordagem das teorias analíticas da per sonalidade que reúne dados com base em hipóteses ou teorias previamente determinadas raciocinando do geral para o parti cular método indutivo Uma forma de raciocínio baseada na obser vação e na mensuração sem hipóteses preconcebidas método oblíquo Método de rotação dos eixos na análise fatorial que pressupõe alguma intercorrelação entre os fatores primários mitos May Sistema de crenças que oferece explicações para problemas pessoais e sociais Mitwelt Termo existencialista que significa o mundo da relação de um indivíduo com outras pessoas Um dos três modos simul tâneos de estar no mundo modelagem Condicionamento de uma resposta que recom pensa inicialmente aproximações grosseiras do comportamen to depois aproximações mais próximas e no final o comporta mento desejado modelagem Bandura Uma das duas fontes básicas de apren dizagem envolve a observação dos outros e assim o aprendi zado por meio das ações deles Mais do que simples imitação a modelagem implica adição e subtração de atos específicos e observação das consequências do comportamento dos outros modelo diáteseestresse Eysenck aceitava esse modelo da psi copatologia o qual sugere que algumas pessoas são vulneráveis a doença porque possuem uma fraqueza genética e adquirida que as predispõe a uma doença movimento contra as pessoas Uma das tendências neuróticas de Horney em que os neuróticos se protegem contra a hostilida de dos outros adotando uma estratégia agressiva movimento em direção às pessoas Uma das tendências neuróticas de Horney em que os neuróticos desenvolvem uma necessidade dos outros como uma proteção contra sentimentos de desamparo movimento para longe das pessoas Uma das tendências neu róticas de Horney em que os neuróticos se protegem contra sen timentos de isolamento adotando uma atitude independente 01Feistglossarioindd 400 01Feistglossarioindd 400 271014 1512 271014 1512 GLOSSÁRIO 401 N nãoser A consciência da possibilidade de não existência não ser por meio da morte ou da perda da consciência narcisismo Amor por si ou obtenção de prazer erótico pela contemplação do próprio corpo narcisismo primário Freud Investimento de libido de um bebê no próprio ego amor por si mesmo ou comportamento au toerótico do bebê Ver narcisismo narcisismo secundário Freud Amor por si ou comportamen to autoerótico em um adolescente Ver narcisismo necessidades cognitivas Maslow Necessidades de conheci mento e compreensão relacionamse às necessidades básicas ou conativas embora operando em dimensão diferente necessidades conativas Necessidades que dizem respeito ao esforço deliberado e intencional por exemplo a hierarquia das necessidades de Maslow necessidades de amor e pertencimento O terceiro nível na hierarquia de necessidades de Maslow incluem a necessidade de dar amor e a de receber amor necessidades de autorrealização Maslow O nível mais alto de motivação humana elas incluem a necessidade do indivíduo de desenvolver completamente todas as suas capacidades psico lógicas necessidades de estima O quarto nível da hierarquia das ne cessidades de Maslow elas incluem autorrespeito competência e a estima percebida dos outros necessidades de segurança O segundo nível na hierarquia de necessidades de Maslow incluem segurança física proteção e liberdade do perigo necessidades estéticas Maslow Necessidades de arte mú sica beleza e similares Ainda que possam estar relacionadas às necessidades básicas conativas as necessidades estéticas são uma dimensão separada necessidades existenciais Fromm Necessidades particular mente humanas que têm como objetivo levar as pessoas em dire ção à reunificação com o mundo natural Fromm listou a ligação a transcendência o enraizamento um sentimento de identidade e uma estrutura de orientação como necessidades existenciais ou humanas necessidades fisiológicas O nível mais básico da hierarquia de necessidades de Maslow elas incluem alimento água ar entre outras necessidades instintivas Maslow Necessidades determinadas de forma inata mas que podem ser modificadas por meio do aprendizado A frustração dessas necessidades leva a vários tipos de patologia necessidades neuróticas Horney As 10 defesas originais con tra a ansiedade básica necessidades neuróticas Maslow Necessidades não produ tivas opostas às necessidades básicas que bloqueiam a saúde psicológica sendo ou não satisfeitas necrofilia Amor pela morte negação Rogers Bloqueio da consciência de uma experiência ou algum aspecto de uma experiência porque é incoerente com o autoconceito neurose Termo um tanto antigo significando transtornos da personalidade leves em comparação com reações psicóticas mais graves As neuroses costumam ser caracterizadas por uma ou mais das seguintes manifestações ansiedade histeria fobias reações obsessivocompulsivas depressão fadiga crônica e rea ções hipocondríacas neuroticismo N Eysenck Um dos três tipos ou superfatores identificados por Eysenck O neuroticismo é um fator bidirecio nal que consiste em neuroticismo em um polo e estabilidade em outro Altos escores em neuroticismo podem indicar ansiedade histeria transtorno obsessivocompulsivo ou criminalidade Bai xos escores indicam estabilidade emocional nomotética Uma abordagem ao estudo da personalidade que está fundamentada em leis ou princípios gerais O o nada Ver nãoser objeto Termo psicanalítico que se refere à pessoa ou à parte de uma pessoa que pode satisfazer um instinto ou um impulso obsessão Uma ideia persistente e recorrente geralmente en volvendo um impulso para alguma ação oralsensorial Termo de Erikson para o primeiro modo psicos sexual de adaptação do lactente orgulho neurótico Horney Um falso orgulho com base na própria imagem idealizada do self orientação do caráter Fromm Padrões produtivos ou não pro dutivos de reação ao mundo das coisas ou ao mundo das pessoas P papel Kelly Um padrão de comportamento que resulta da compreensão das pessoas dos construtos de outros com quem elas estão envolvidas em alguma tarefa papel central Kelly Construção das pessoas de quem elas realmente são seu sentimento de identidade que proporciona um guia para a vida paradoxo da consistência Termo de Mischel para a observa ção de que a intuição clínica e as percepções dos leigos sugerem que o comportamento é coerente enquanto a pesquisa constata que não é paranoia Transtorno mental caracterizado por sentimentos irrealistas de perseguição grandiosidade e uma atitude descon fiada em relação aos outros parapraxias Atos falhos como os lapsos de linguagem ou escri ta erros de leitura audição incorreta esquecimento temporário de nomes e intenções e extravio de objetos causados por desejos inconscientes parcimônia Critério de utilidade de uma teoria segundo o qual em igualdade de condições de outros critérios a mais sim ples é a preferida patologia central Erikson Um transtorno psicossocial em al gum dos oito estágios do desenvolvimento que resulta de pouca força básica pensamento Jung Uma função racional que revela o signifi cado de uma imagem que se origina do mundo externo extro vertida ou do mundo interno introvertida 01Feistglossarioindd 401 01Feistglossarioindd 401 271014 1512 271014 1512 402 GLOSSÁRIO período de latência Freud Período entre a infância e a puber dade no qual crescimento psicossexual está estagnado período genital Freud Período de vida que inicia na puber dade e continua na idade adulta marcado pela identidade sexual completa período infantil Freud Primeiros 4 ou 5 anos de vida caracte rizados por comportamento autoerótico ou de busca de prazer e consistindo das fases oral anal e fálica permeabilidade Kelly Uma qualidade dos construtos pes soais que permite que novas informações reavaliem a maneira das pessoas de ver as coisas persona Arquétipo junguiano que representa o lado da perso nalidade que o indivíduo mostra para o resto do mundo Tam bém a máscara usada pelos atores romanos antigos no teatro e assim a raiz da palavra personalidade personalidade Conceito global que se refere a um padrão de traços disposições ou características relativamente permanentes que conferem algum grau de coerência ao comportamento de uma pessoa pessoa do futuro Rogers O indivíduo psicologicamente sau dável no processo de evoluir até tudo aquilo o que ele pode se tornar pessoa em funcionamento pleno Rogers ver pessoa do futuro posição depressiva Klein Sentimentos de ansiedade quanto a perder um objeto amado associados a um sentimento de culpa por querer destruir esse objeto posição esquizoparanoide Klein Uma tendência do bebê a ver o mundo como tendo as mesmas qualidades destrutivas e onipotentes que ele possui posições Klein Formas como o bebê organiza sua experiência para lidar com o conflito básico de amor e ódio As duas posições são a esquizoparanoide e a depressiva potencial da necessidade Rotter Uma referência à possível ocorrência de um conjunto de comportamentos funcionalmente relacionados direcionados para a satisfação do mesmo objetivo ou de um conjunto de objetivos similares potencial do comportamento Rotter A possibilidade de uma resposta particular ocorrer em determinado tempo e espaço cal culada em relação ao reforço da resposta préconsciente Freud Elementos mentais que no momento não estão no consciente mas que podem se tornar conscientes com graus variados de dificuldade princípio da realidade Freud Uma referência ao ego que deve arbitrar de forma realística as demandas conflitantes do id do superego e do mundo externo princípio do prazer Freud Uma referência à motivação do id de buscar a redução imediata da tensão por meio da gratificação dos impulsos instintivos princípio epigenético Termo de Erikson significando que um componente se desenvolve a partir de outro em seu devido tem po e sequência princípio idealista Freud Uma referência ao ideal de ego um subsistema do superego que diz às pessoas o que elas devem fazer princípio moralista Freud Referência à consciência um subsistema do superego que diz às pessoas o que elas não devem fazer proativo Allport Conceito que pressupõe que as pessoas são capazes de agir de modo consciente sobre seu ambiente de for mas novas as quais por sua vez alimentam novos elementos no sistema e estimulam o crescimento psicológico processo de valorização organísmica OVP Processo pelo qual as experiências são valorizadas de acordo com a melhora ideal do organismo e do self processo primário Freud Uma referência ao id que abriga os motivadores primários do comportamento chamados instintos processo secundário Freud Uma referência ao ego o qual cronologicamente é a segunda região da mente depois do id ou processo primário O pensamento do processo secundário está em contato com a realidade processos dinâmicos Termo de McCrae e Costa para a inter conectividade dos componentes centrais e periféricos da perso nalidade procriatividade Erikson O impulso de ter filhos e cuidar deles procuração Bandura Um dos três modos de agência huma na envolve a regulação de si por meio de outras pessoas progressão Jung O fluxo direto da energia psíquica envolve a atitude extrovertida e o movimento em direção à adaptação ao mundo externo projeção Mecanismo de defesa pelo qual o ego reduz a ansie dade atribuindo um impulso indesejado a outra pessoa proprium Allport Todas as características que as pessoas veem como peculiarmente suas e que são consideradas cordiais centrais e importantes protesto viril Termo de Adler para a crença neurótica e errônea sustentada por alguns homens e mulheres de que os homens são superiores às mulheres pseudoespécie Erikson A ilusão mantida por uma sociedade particular de que ela é de alguma forma escolhida como mais importante do que outras psicanálise Teoria da personalidade abordagem de psicotera pia e método de investigação fundada por Freud psicanálise humanista Teoria da personalidade de Fromm que combina os aspectos básicos da psicanálise e da psicologia humanista psicohistória Um campo de estudo que combina conceitos psicanalíticos com métodos históricos psicodinâmica Termo livremente definido em geral se refere às teorias psicológicas que enfatizam de modo consistente a mo tivação inconsciente As teorias de Freud Jung Klein Erikson e talvez Fromm costumam ser consideradas psicodinâmicas psicologia analítica Teoria da personalidade e abordagem de psicoterapia fundada por Carl Jung psicologia da ciência Uma subdisciplina da psicologia que es tuda tanto a ciência quanto o comportamento dos cientistas psicologia evolucionista Buss O estudo científico do pensa mento e do comportamento humano que explica o pensamento o comportamento a motivação e a personalidade humanos por meio dos conceitos de adaptação e mecanismos 01Feistglossarioindd 402 01Feistglossarioindd 402 271014 1512 271014 1512 GLOSSÁRIO 403 psicologia individual Teoria da personalidade e abordagem de psicoterapia fundada por Alfred Adler psicologia positiva Um campo relativamente novo da psicolo gia que combina a ênfase na esperança no otimismo e no bem estar com a valorização da pesquisa e da avaliação psicoses Transtornos da personalidade graves em comparação com as reações neuróticas mais leves As psicoses interferem de forma significativa nas funções usuais da vida e incluem trans tornos mentais orgânicos e condições funcionais aprendidas psicoticismo P Eysenck Um dos três superfatores ou tipos identificados por Eysenck O psicoticismo é um fator bidire cional que consiste do psicoticismo em um polo e da função do superego no outro Escores de psicoticismo altos indicam hostili dade egocentrismo desconfiança e não conformidade punição Apresentação de um estímulo aversivo ou a remoção de um positivo A punição às vezes enfraquece uma resposta Q Qsort Técnica de inventário originada por William Stephen son na qual o sujeito deve ordenar uma série de afirmações autorreferentes em vários grupos cujo tamanho se aproxima de uma curva normal R razão fixa Skinner Esquema de reforço em que o organismo é reforçado intermitentemente de acordo com um número espe cífico de respostas que ele dá p ex FR 7 significa que o organis mo é reforçado a cada sétima resposta razão variável Skinner Programa de reforço intermitente no qual o organismo é reforçado para cada resposta n na média p ex VR 50 significa que o animal é reforçado na média de uma vez a cada 50 respostas reativas Allport Termo referente a teorias que consideram as pessoas como motivadas pela redução da tensão e pelo desejo de voltar a um estado de equilíbrio reforçador condicionado Skinner Evento ambiental que não é por natureza satisfatório mas passa a ser porque está asso ciado a reforçadores não aprendidos ou não condicionados tais como alimento sexo e similares reforçador generalizado Skinner Um reforçador condiciona do que foi associado a vários reforçadores primários Dinheiro por exemplo é um reforçador generalizado porque está associa do a alimento a moradia e a outros reforçadores primários reforçador negativo Qualquer estímulo adverso que quando removido de uma situação aumenta a probabilidade de que o comportamento imediatamente precedente ocorra reforçador positivo Um estímulo que quando acrescentado a uma situação aumenta a probabilidade de que determinado comportamento ocorra reforço Skinner Uma condição do ambiente que fortalece um comportamento Ver também reforçador negativo e reforça dor positivo reforço externo Rotter O valor positivo ou negativo de um evento reforçador conforme a visão dos valores sociais ou cul turais reforço interno Rotter A percepção que o indivíduo tem do valor positivo ou negativo de um evento reforçador refutável Atributo de uma teoria que possibilita a aceitação ou a rejeição de seus princípios fundamentais por meio de pesqui sas Uma teoria refutável explica os resultados experimentais regressão Freud Mecanismo de defesa em que a pessoa retor na a um estágio anterior para proteger o ego contra a ansiedade regressão Jung Recuo do fluxo de energia psíquica a regres são envolve a atitude introvertida e o movimento em direção à adaptação ao mundo interno reivindicações neuróticas Horney Demandas e expectativas irrealistas dos neuróticos de terem direito a privilégios especiais repressão Freud Forçar experiências indesejadas e carregadas de ansiedade para dentro do inconsciente como defesa contra a dor daquela ansiedade repúdio do papel Erikson Incapacidade de sintetizar diferen tes autoimagens e valores em uma identidade funcional resistência Uma variedade de respostas inconscientes dos pa cientes cujo objetivo é bloquear o processo terapêutico ressacralizar Maslow O processo de retornar ao respeito à alegria e ao arrebatamento de uma experiência para tornar essa experiência mais subjetiva e pessoal retraimento Adler O gesto de um indivíduo de proteger seu senso exagerado de superioridade por meio do estabelecimento de uma distância entre si mesmo e os problemas retroceder Adler Salvaguarda de sentimentos inflados de superioridade por meio do retorno a um período de vida mais seguro rotação ortogonal Método de rotação dos eixos na análise fa torial que pressupõe a independência dos fatores primários ruído Buss Também conhecido como efeitos randômicos ocorre quando a evolução produz mudanças aleatórias no design que não afetam a função O ruído tende a ser produzido pelo aca so e não é selecionado S sadismo Condição em que uma pessoa obtém prazer sexual infligindo dor ou humilhação a outro indivíduo seleção artificial Buss Ocorre quando os humanos selecio nam traços particulares desejáveis em uma espécie em reprodu ção conhecida como aprimoramento genético seleção natural Buss Processo pelo qual a evolução acontece e é simplesmente uma forma mais geral de seleção artificial em que a natureza em vez das pessoas seleciona os traços seleção sexual Buss Opera quando membros do sexo oposto consideram certos traços mais atraentes do que outros e assim produzem descendência com esses traços self Jung O mais abrangente de todos os arquétipos o self inclui toda a personalidade embora seja preponderantemente in consciente O self costuma ser simbolizado pelo tema da mandala self do organismo Rogers Um termo mais geral do que o autoconceito referese à pessoa inteira incluindo os aspectos da existência além da consciência self ideal Rogers A visão que a pessoa tem de si como gosta ria de ser 01Feistglossarioindd 403 01Feistglossarioindd 403 271014 1512 271014 1512 404 GLOSSÁRIO selfobjetos Kohut Os pais ou outros adultos significativos na vida de uma criança que acabam sendo incorporados ao senti mento de self da criança sensação Jung Uma função irracional que recebe estímulos físicos e os transmite para o consciente perceptivo As pessoas podem depender da sensação extrovertida percepções externas ou da sensação introvertida percepções internas sentimento Jung Uma função racional que nos diz o valor de algo A função sentimento pode ser extrovertida direcionada para o mundo objetivo ou introvertida direcionada para o mun do subjetivo sentimento de identidade Fromm Necessidade exclusiva mente humana de desenvolver um sentimento de eu separaçãoindividuação Mahler O terceiro estágio evolutivo principal no qual a criança se torna um indivíduo separado da mãe abrange o período dos 4 ou 5 meses até aproximadamente 30 a 60 meses sequências reforçoreforço Termo de Rotter que indica que o valor de um evento é uma função da expectativa de que um reforço levará a reforços futuros sernomundo Ver Dasein simbiose incestuosa Fromm Extrema dependência da mãe ou de um substituto da mãe simbiose normal Mahler Segundo estágio evolutivo marca do por uma unidade dual entre o bebê e a mãe sintônico Termo de Erikson relativo ao elemento positivo em cada par de opostos que caracterizam seus oito estágios do de senvolvimento sistema de personalidade cognitivoafetivo CAPS Sistema de Mischel e Shoda que explica a variabilidade do comportamen to entre as situações bem como a estabilidade do comportamen to em uma pessoa situação psicológica Rotter A parte do mundo externo e in terno à qual um indivíduo está respondendo sombra Arquétipo junguiano representando o lado inferior ou sombrio da personalidade sublimação Mecanismo de defesa que envolve a repressão da finalidade genital de Eros e sua substituição por uma finalidade cultural ou social subprodutos Buss Traços que acontecem em consequência de adaptações mas que não fazem parte do design funcional superego Freud Os processos morais ou éticos da personali dade O superego possui dois subsistemas a consciência que diz o que é errado e o ideal de ego que diz o que é certo supressão Bloqueio ou inibição de uma atividade seja por um ato consciente da vontade seja por um agente externo como os pais ou outras figuras de autoridade Difere da repressão que é o bloqueio inconsciente de experiências que produzem ansiedade surgência Buss Envolve a disposição para experimentar esta dos emocionais positivos e para se envolver no próprio ambien te bem como para ser sociável e autoconfiante T taxonomia Um sistema de classificação de dados de acordo com suas relações naturais teleologia Uma explicação do comportamento em termos de objetivos ou propósitos futuros temperamento Buss Diferenças no comportamento que pos suem uma base biológica e estão presentes no nascimento tendência atualizante Rogers Tendência dentro de todas as pessoas a avançar em direção à concretização ou à realização dos potenciais tendência formativa Rogers Tendência de toda matéria a evoluir de formas mais simples para mais complexas tendências à salvaguarda Adler Mecanismos protetores como agressividade afastamento e similares que mantêm senti mentos exagerados de superioridade tendências básicas Termo de McCrae para o material bruto universal da personalidade tendências neuróticas Termo de Horney para as três atitudes básicas em relação ao self e aos outros movimento em direção às pessoas movimento contra as pessoas e movimento para lon ge das pessoas uma revisão da lista original de Horney das 10 necessidades neuróticas teoria Um conjunto de pressupostos relacionados que permite aos cientistas usar o raciocínio lógicodedutivo para formular hipóteses testáveis teoria da personalidade cognitivoafetiva Teoria de Mischel que vê as pessoas como indivíduos ativos e direcionados para objetivos capazes de exercer influência sobre sua situação e sobre elas mesmas teoria das relações objetais Uma referência ao trabalho de Melanie Klein e outros que ampliaram a psicanálise com ênfase nas relações precoces com os pais objetos que influenciam as relações interpessoais posteriores teoria holísticodinâmica Teoria da personalidade de Maslow que enfatiza a unidade do organismo e os aspectos motivacio nais da personalidade teoria pósfreudiana Teoria da personalidade de Erikson que ampliou as fases de desenvolvimento de Freud até a velhice Em cada idade uma luta psicológica específica contribui para a for mação da personalidade teoria social cognitiva Pressuposto de Bandura de que a personalidade é moldada pela interação entre comportamento fatores pessoais e o ambiente do indivíduo teoria social psicanalítica Teoria da personalidade de Horney que enfatiza a influência cultural na formação do desenvolvi mento normal e neurótico terapia centrada no cliente Abordagem de psicoterapia por posta por Rogers baseada no respeito pela capacidade da pessoa de crescer dentro de um clima propício terceira força Termo um tanto vago que se refere às abordagens da psicologia que reagiram contra as teorias psicodinâmicas e behavioristas mais antigas Em geral considerase que a terceira força inclui as teorias humanistas existenciais e fenomenológicas tipos Jung Classificação das pessoas com base no esque ma bidimensional de atitudes e funções As duas atitudes de extroversão e introversão e as quatro funções de pensamento sentimento sensação e intuição se combinam para produzir oito tipos possíveis 01Feistglossarioindd 404 01Feistglossarioindd 404 271014 1512 271014 1512 GLOSSÁRIO 405 tipos teóricos do fator Um grupo de traços primários Eysenck reconheceu três tipos gerais extroversão E neuroticis mo N e psicoticismo P tirania do dever Horney Um elementochave na busca neu rótica pela glória inclui um impulso inconsciente e persistente pela perfeição traço Uma disposição relativamente permanente de um indiví duo inferida a partir do comportamento traços bidirecionais Traços com dois polos ou seja traços na escala a partir de um ponto negativo até um ponto positivo com o zero representando o ponto intermediário traços comuns Allport Ver traço traços unidirecionais Traços com apenas um polo ou seja aqueles traços com escala a partir do zero até uma grande quan tidade em oposição aos traços bidirecionais que têm uma escala a partir de um ponto negativo passando pelo zero até um ponto positivo transcendência Fromm A necessidade dos humanos de se elevarem acima da existência animal passiva por meio da criação ou da destruição da vida transferência Sentimentos fortes e imerecidos que o paciente desenvolve em relação ao terapeuta durante o curso do trata mento Esses sentimentos podem ser sexuais ou hostis e decor rem de experiências mais precoces do paciente com os pais transferência negativa Sentimentos fortes hostis e imereci dos que o paciente desenvolve em relação ao terapeuta durante o curso do tratamento transformação Abordagem psicoterapêutica usada por Jung na qual o terapeuta é transformado em um indivíduo saudável que pode ajudar o paciente no estabelecimento de uma filosofia de vida transmissão monogênica Buss Quando genes únicos produ zem traços únicos fenótipos transmissão poligênica Buss Quando muitos genes intera gem para criar uma única característica transtorno de estresse póstraumático TEPT Transtorno mental resultante de experiências extremamente estressantes inclui pesadelos e flashbacks do evento traumático tríade anal Freud Os três traços de limpeza compulsiva tei mosia e avareza que caracterizam o caráter anal U Umwelt Um termo existencialista significando o mundo das coisas ou objetos Um dos três modos simultâneos de estar no mundo V validade O ponto até onde um teste ou outro instrumento de mensuração mede o que ele pretende medir fidedignidade valor da necessidade Rotter O grau em que uma pessoa pre fere um conjunto de reforços a outro valor do reforço Rotter A preferência que uma pessoa atribui a um reforço quando as probabilidades de ocorrência de diferen tes reforços são as mesmas valores B Maslow Os valores das pessoas autoatualiza das incluindo beleza verdade bondade justiça totalidade e similares velhice Erikson Oitavo e último estágio do ciclo da vida é marcado pela crise psicológica de integridade versus desespero e a força básica da sabedoria velho sábio Arquétipo junguiano da sabedoria e do signifi cado viver existencial Termo de Rogers indicando uma tendência a viver no momento vontade May Um compromisso consciente com a ação vulnerável Rogers Uma condição que existe quando as pes soas não estão conscientes da discrepância entre seu self do orga nismo e suas experiências significativas As pessoas vulneráveis com frequência se comportam de formas incompreensíveis para elas mesmas e para os outros Z zonas erógenas Órgãos do corpo que são especialmente sensí veis à recepção de prazer Na teoria freudiana as três principais zonas erógenas são a boca o ânus e os genitais 01Feistglossarioindd 405 01Feistglossarioindd 405 271014 1512 271014 1512 Feistiniciaisindd viii Feistiniciaisindd viii 291014 0943 291014 0943 Esta página foi deixada em branco intencionalmente Referências Adler A 19071917 Study of organ inferiority and its psychical compensation New York Nervous and Mental Disease Publishing 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105106 Bleuler E 70 Blos P 146147 Blum D 170171 Boag S 3940 Bonaparte M 3031 4041 Boss M 214 216217 Bosse R 256257 Both C 34 294 297299 Bottome P 4647 6061 Bouchard T J Jr 281282 297 Bowlby J 9596 101 104109 Bradley C L 163 Brannon L 3031 6365 280281 Breger L 1617 3031 42 Breuer J 1416 32 8788 Brocke B 280282 Brome V 72 Brown B B 162163 Brozek J 173 Brunswick R M 40 Buber M 216217 Buchsbaum M 3738 Bullitt W C 160161 Bundrick C M 184 Burrell M 384 Burt C 272273 Burton C M 186187 Buss D M 284301 Buss S H Sr 286 Butler J C 4042 141143 Butt T 384 C Cairns E 247248 Calder A J 324325 Calhoun L G 208209 Calogero R M 208 Camus A 216217 226229 Cantor N 366367 Capitanio J P 34 297298 Carroll M D 295 Carver C S 323325 Caspi A 261262 271272 281282 296297 Cattell R B 253258 262 274275 Chance J E 355356 361 Charcot JM 1415 Chartrand T L 3637 Chen D 6263 Chodorow N J 3031 Chow T W 3738 Christ O 247249 Christal R E 253 256276 Clark A J 6365 Clark A S 271272 295296 Clark R W 16 ClarkeStewart K A 295296 Clegg H 285286 Clore G L 264266 Clouse R E 345 Coleman S 370371 Combs A W 377 Compton W C 184 Coolidge F L 124125 Cooper D P 229 Copeland P 261262 296297 Copernicus N 43 Corley R P 368370 Cornish K A 184 Cornwell R 227229 Corr P J 323324 Cosmides L 285288 294 Costa P T Jr 56 252267 256 271272 275276 282 291293 305 361 Costigan K A 271272 295 296 Coulter T 272273 Cox C R 228229 Cozad L 214215 Craik K 287 Cramer D 207 Cramer P 38 Crandall J E 65 Crandall R 184 Crews F 42 Csíkszentmihályi M 186187 209210 Cullum A J 294 Cummings J L 3738 Curtain L R 295 D Damasio A 3637 Danielian J 124 Darwin C 43 285289 299300 Davidovitz R 107108 Davies M 272273 da Vinci L 160161 Davis M H 324325 De Fruyt P 162163 Demosthenes 5152 Deutsch H 40 Dewey J 192193 Dickerhoof R 187 Diener E 187 Dieterich A 74 Digman J M 257258 Dingemanse N J 34 294 297299 DiPietro J A 271272 295 296 04Feistindicenomes02indd 425 04Feistindicenomes02indd 425 271014 1631 271014 1631 426 ÍNDICE ONOMÁSTICO Dollard J 113 Dornic S 281282 Doucet C 281282 Downey G 370 Draper P 292293 Drent P J 34 294 297299 Duffy K 297298f Dunne C 7172 8788 Dymond R F 205207 206 207f E Ebbesen E B 365367 370 Ebersole P 184 Ebstein R P 296297 Eckstein D 63 Efran J S 6 Einstein A 36 177178 309 310 Ekehammer B 281282 Ellenberger H F 1316 47 6972 215216 Elliot L B 163 Ellis A 4849 Ellis B J 299 Elms A C 7172 236 305 307 Elson M 103104 Engels R C M E 263264 Epstein S 363 Epting F 388389 Erbes C R 387388 Erikson E H 8 145165 214 215 230231 305 389390 Erikson J M 158160 Estey A J 124125 Evans D R 229 Evans L M 296297 Evans R I 129130 149 152 329330 Eysenck H J 910 238239 244 253 256257 262 265 266 270283 297 305 325 332334 361363 Eysenck M W 279280 Eysenck S B G 256257 272 273 275280 F Fagin Jones S 368370 Fairbairn W R D 108 Federn E 4142 Feist G J 56 285286 Feist J 6365 280281 Feldman S 366367 Feltham C 273274 Ferenczi S 1617 7071 95 Ferris P 14 1617 7071 Ferster C B 313314 Fiebert M S 47 Filbeck G 8890 Filyer R 163 Fischer P 344345 Fitzpatrick C M 323324 Fleeson W 262266 Flegal K M 295 Fliess W 1516 33 4043 Fozard J L 256257 Frankl V 214 216217 Fransella F 376 386378 Freedland K E 345 Freitag C M 296297 Freud A 14f 1617 2425 40 9496 106 146147 Freud S 34 710 1244 14f 4649 5152 5762 69 70 76 8081 8388 90 9597 99102 108109 112 114 122123 129131 136140 146154 160161 164165 169170 215216 235239 241242 275276 287288 299300 313 318319 350 351 377378 Frey D 344345 Frick W B 174175 Friedland B U 65 Friedman A 345 Friedman H S 262263 Friedman L J 146147 Friedman M 107108 Frois J P 273274 Fromm E 113 128144 170 171 215 319320 FrommReichmann F 113 130 132134 Frost R 306 Fuegen K 38 Fuller J L 271272 G Gable S L 263264 Gage P 3738 Gailliot M T 229 Gale A 281282 297298f Galileo 309310 Gallup G Jr 344345 Gandhi M 160162 164165 366367 Gardner W 8990 Gay P 34 1516 4041 46 Geary D C 266 Gebauer J E 141142 Geen R G 281282 Geist T 289290 Gendlin E T 193194 205 Germer C K 6 Ghannam J H 38 Ghiselin M T 287288 Gholson B 56 Gibson H B 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Henschel A 173 Hewstone M 247248 Higgins E T 207 Higgins S T 321322 Hill R D 246247 Hillman J 7576 Hitler A 139141 160 Hobson A A 3637 Hochreich D J 351352 355 357 360 Hodgson D M 271272 295 296 Hoffman E 4648 6162 169171 174175 177 182 183 334 Holder A 4142 Holland J 63 64f Horgan J 298299 Horney K 4849 95 111127 129134 138 170171 Hornstein G A 113 120121 130 131 Horvath P 8890 HouserMarko L 208210 Houts A C 56 Hughes J M 9596 Hughes K A 323324 I Irigaray L 3031 Isbister J N 16 Islam G 262264 Izsak R 107108 J Jackson B J 388390 Jacobs G H 289290 Jacobsen P E 208209 James W 177178 287288 356358 Janet P 70 Jarlstrom M 8990 Jaspers K 216217 Jefferson T 177178 Jensen A 273274 John O P 34 256258 275 276 297 Johnson J A 6 Johnson T R B 271272 295296 Johnson W 281282 297 Jonas E 344345 Jones A 184 Jones E 1316 3031 4041 4849 5960 95 Juhl J 229 Jung C G 810 1518 4849 6892 225 275276 Juvonen J 263264 04Feistindicenomes02indd 426 04Feistindicenomes02indd 426 271014 1631 271014 1631 ÍNDICE ONOMÁSTICO 427 K Kahane M 16 Kammrath L K 370 Kandel E R 3637 KashubeckWest S 388 Kasler J 63 Kastenmuller A 344345 Keck P E 296297 Kelly G A 350351 362 374392 Kelsoe J R 296297 Kemeny M E 229 Keroack L J 229 Ketalaar T 299 Keys A 173 Kiehl K A 323324 Kierkegaard S 214217 219 220 226227 Kiesler D 205 King L A 186187 King P 9596 Kirby L 8990 Kircher J C 246247 Kissen D M 279280 Kivnick H Q 158160 Klein M 40 93110 112113 Kluck B 227229 Knapp G P 130 Koch S 192193 Kohler W 236 Kohut H 9496 101 103104 Kozak M 3840 Krause L 129130 Krausz E O 3031 Krueger R F 281282 297 Kurzweil E 16 Kwan V S Y 297 L LaCasse L 3738 Lagopoulos J 271272 Laird T G 6365 Landis B 129131 Landis R 262264 Langley K 271272 Larsen R 287 Lawrence A D 324325 Lazarus R S 290291 LeDoux J 36 LeeTiernan S 364365 Le Moal M 271272 295296 LensegravBenson T L 246 247 Leong F T L 6 Lesch KP 296297 Leue A 280282 Levenson M R 323324 LewisHarter S 387388 Lewontin R C 298299 Li L 296297 Libet B 38 Lincoln A 177178 182183 366367 Lindzey G 244 Loehlin J C 261262 281 282 297 Lönnqvist JE 186 Lorenz K 104105 Lowes I 6365 Lowry R J 177178 188189 Lustman P J 345 Luther M 160161 164165 Luyckx K 162163 Lykins E L B 229 Lyubmirsky S 187 M Maccari S 271272 295296 Maccoby M 139140 MacDonald K 288 290f 290 291 293294 Maddi S R 256 Mahler M S 9496 101104 108109 Maio G R 141142 Maner J K 229 Maniacci M 4849 Marcia J E 163 Marsella A J 344345 Martin L R 262263 Martin III A M 107108 Martinko M 8990 Marusic A 280281 Marx K 129131 133134 Maslow A H 8 46 4849 168190 195 197 203204 207 221 237238 240 275 276 326 333334 361 376 Masters K S 246247 Matthew R 345 May M A 363 May R 8 4849 169 213232 Mayseless O 107108 Mazur A 293 McAdams D P 260261 McCarthy J 147148 350 351 McCauley C R 228 McClelland D 362363 McCrae R R 56 252267 271272 275276 278279 281282 291293 305 361 McDaniel B L 388390 McDonald J 63 McElroy S L 296297 McGlashan A 7071 McGuire W 16 7072 McLynn F 7072 McNiel J M 262266 Mead M 113 Meaney M J 294295 Meerkerk GJ 263264 MendozaDenton R 361363 367368 370 Menninger K A 350351 Mervielde L 162163 Meyer J 388 Michelangelo 2627 Mickelsen O 173 Midlarsky E 368370 Mikulincer M 107108 Miller G F 285286 Milton J 193194 Mischel H N 362363 Mischel W 255256 296297 350351 361372 365366f 382 Mitchell S A 9596 108109 Moffitt T E 271272 Moghaddam F M 344345 Moor C 124 Moore B 365366 Moore R A 323324 Moradi B 388389 Morford J 8889 Morris P H 297298f 323324 Mosak H 4849 Mraz W 184 Mroczek D 34 Müller C R 296297 Muller R T 106107 Murphy D L 296297 Murray H A 106107 205 207 362363 Myers I B 8889 256257 N Nathans J 289290 Neimeyer G J 387388 Neimeyer R A 56 387388 Neitz J 289290 Nettle D 285286 288 294 294295f Neuzil P J 124125 Nevo O 63 Newton P M 14 16 Nichols C P 288 Niens U 247248 Nietzsche F 214 216217 Nievergelt C M 296297 Niit T 186 Noftle E E 262263 Noland R W 16 Noll R 70 Norman W T 275276 Norris J E 163 O Odbert H S 238239 256257 Ode S 124125 Ogden C L 295 Ogden T H 9798 OHara M 193194 Olczak P V 184 Oliner P M 368369 Oliner S P 368369 ONeill S C 321322 OSteen S 294 Overbeek G 263264 Overton W F 6 P Panksepp J 3738 Paris B J 112113 122123 Pasteur L 325326 334 Patterson C 296297 Paulhus D L 6263 Payne B K 38 Peake P K 370 Pedersen F S 294295 Perez S 345 Pervin L A 275276f Peterson C 344345 Peterson J A 295296 Petot JM 9495 Petri S 296297 Pettigrew T F 247249 Phares E J 355358 361 Phillips A G 207208 Piazza P V 271272 295296 Pickering A D 323324 Pincus J H 3738 Pine F 102 Pinker S 299 Plant E A 229 Plomin R 261262 281282 296297 Poldrack R A 3940 Poortinga Y 281282 Popper K 36 Popper M 107108 Powell L H 246247 Praamstra P 3940 Pratt M W 163 Pyszczynski T 227229 Q Qualls D L 184 Quinn S 95 112113 131 R Rabinowitz F E 214215 Raine A 3738 Ramachandran V 36 Rank O 193 226227 Ransom S 208209 Rattazzi A M M 186 Rattner J 4647 Rayner R 308 310311 Reif A 296297 Reiss S 185186 Reitler R 16 Remick R A 296297 Retz W 296297 04Feistindicenomes02indd 427 04Feistindicenomes02indd 427 271014 1631 271014 1631 428 ÍNDICE ONOMÁSTICO RetzJunginger P 296297 Rholes W S 107108 Rickert E J 141142 Riklin F 8586 Roazen P 16 1617 142143 Roberts B W 34 281282 297 Robins R W 262263 Robinson M D 124125 264266 Rodgers W 344345 Rodriguez M L 296297 370 Rogers C R 8 4849 169 186187 191212 206207f 215217 226227 229 260 261 326 377 Rogers J D 163 Roosevelt E 182183 Rosenberg M 186187 Rösler M 296297 Ross D 342343 Ross J M 246247 Ross S A 342343 Rotter J B 910 4849 170 171 350362 369370 376 Routledge C 229 Rowan D G 184 Rozin P 228 Rudikoff E C 206207 Runco M A 184 Rust J O 184 Rutjens B T 229 Rutter M 271272 294297 S Sabol S Z 296297 Sacco W P 345 Sachs H 130 Sadovnick A D 296297 Sartre JP 214 216217 226227 Sayers J 9495 Schacter D L 3637 Schimel J 228229 Schmeichel B J 229 Schmideberg M K 9496 Schmideberg W 9496 Schmitt D P 266 Schneider M L 271272 295296 Schoeman W J 387388 Scholte R H J 263264 Schork N J 296297 Schur M 1516 Schwartz J E 262263 Schwartz S H 186 Schwartz S J 209210 Schwarz E M 294295 Schweitzer A 177178 Seeyave D M 370371 Segal D L 124125 Segal H 9495 Segerstrom S C 229 SeiffgeKrenke I 162163 Seiss E 3940 Seligman M 186187 Shadish W R 56 Shahabi L 246247 Shaver P R 106108 Sheldon K M 208210 288 Sheldon M S 288 Shelton A J 6365 Shevrin H 38 Shiner R L 281282 297 Shoda Y 296297 350351 361370 372 Shostrom E L 183184 Sigmon S C 322 Silverstein B 16 Silvia P J 207208 Simonton D K 6 Simpson J A 107108 Singer J 70 Skinner B F 8 210 303327 330332 340 350 352353 376 Smith M L 184 Smith R D 362363 Snow M E 295296 Snygg D 377 Søballe K 294295 Sobel D 131 Soenens B 162163 Solms M 3639 Solomon S 227229 Sophocles 2829 224225 Sousa L 187 Spearman C 272273 Spencer H 287288 Sperber M A 63 Spijkerman R 263264 Spinoza B de 177178 Srivastava S 256258 275 276 Stamos D N 298299 Starc R 280281 Staub E 365366 365366f Steinberg L 292293 Steiner R 9597 Stekel W 16 Stelmack R M 280282 Stephenson W 206207 244 Stern W 236 Stetsenko A 186 Stevens C D 375 Stewart S E 124 Stillman T F 229 Stojnov D 384 Strachey J 3536 4142 Strozier C B 103104 Sulliman J R 65 Sullivan H S 4849 131 215 222223 Sulloway F J 15 16 42 62 63 293 Sumerlin J R 184 Suzuki D T 131 Szymanski D M 388 T Tauber E S 129131 Taylor H L 173 Tedeschi R G 208209 Thapar A 271272 Thompson C 131 Thompson G G 375376 Thompson W R 271272 Thoresen C E 246247 Thornback K 106107 Thorndike E L 170171 305 308 Tice T N 344345 Tidey J W 321322 Tiggeman M 6365 Tillich P 215217 Titchenor E B 170 Tooby J 285288 294 Tran S 107108 Trapnell P D 6263 Tropp L R 247249 Truax C 205 Trull T J 266 Tseng M S 65 Tupes E C 253 256257 275276 Turnbull O 3638 U Udry J R 293 UlrichVinther M 294295 Umeh B J 295296 V Vaihinger H 51 Vail K 229 Valkealahti K 8990 van den Berg J 388389 Van den Eijnden R J J M 263264 Van de Vijver F J R 281282 Van der Aa N 263264 van Dijken S 104105 van Ditzhuijzen J 324325 van Hemert D A 281282 Van Hiel A 162163 Van Noordwijk A J 34 294 297299 Van Oers K 34 294 297299 Van Wiesner V 63 Vaughan C A 345 Vaughan M E 320 Verkasalo M 186 Vermulst A A 263264 Vernon P E 244 Vess M 229 Vetter H 275276 279281 Vitz P C 16 Voci A 247248 W Wagner U 247249 Walker B M 375 Wall S 105106 Wallace A 285286 Walters R H 330 Waterman A S 163 209210 Waters E 105106 Watson J B 169171 305 306 308 310311 315 Watson N 208 Watters E 295 Watts R E 63 Webster R 42 Wegner D M 3840 Weinberg H 255256 Weinstein T A 34 297298 Weiss A S 184 Wells K J 345 Wenzlaff R M 3840 Werner H 236 Wertheimer M 170171 177 178 182183 236 Whitbourne S K 163 White T L 323325 Whitson E R 184 Wiener D N 305307 313314 Wilkowski B M 124125 Williams T 229 Willing D C 8889 Wilson E O 287288 Wilson W 160161 Winnicott D W 108 Winter D G 244245 Wohl M 229 Wolpe J 344 Woods A 324325 Wortis J 1516 Wright F L 192 Wright J C 364 Y Yalom I 226227 Yamazaki T G 124 Z Zachar P 6 Zahavi A 285286 Zahavi A 285286 Zeidner M 344345 Zeiss A R 366367 Zimmer C 298299 Ziolkowski K 175176 Zuroff D C 356357 Zuschlag M Z 163 Zyphur M J 262264 04Feistindicenomes02indd 428 04Feistindicenomes02indd 428 271014 1631 271014 1631 Índice Nota Os números de páginas seguidos por f indicam figuras A Abertura à experiência na teoria dos cinco fatores 257258 258f na teoria evolucionista de Buss 292 Abordagem do ciclo de vida 146147 Abordagem dos loci dos traços quantitativos QTL 296297 Abordagem eclética 235 Abordagem holística da motivação discussão geral das necessidades 175177 hierarquia das necessidades conativa 172f 172175 necessidades adicionais 175 Ação social 5455 Aceitação de si e dos outros 179180 Ações e impulsos autodestrutivos 122 Aconselhamento e psicoterapia Rogers 193 Aculturação resistência por parte de pessoas autoatualizadas 182 Acusação 57 Acusar a vítima 341342 Adaptações na teoria evolucionista de Buss 285 286 288290 295 Adaptações características na teoria dos cinco fatores 260 262 Adiamento da gratificação 350351 Adler Alfred 4567 Ver também psicologia individual de Adler biografia 4649 5960 críticas 6366 publicações 4748 Sigmund Freud e 4649 5152 5662 8081 Adolescência Ver também puberdade nos estágios do desenvolvimento psicossocial de Erikson 151f 154157 160f nos estágios do desenvolvimento psicossocial de Freud 27 3132 154155 Afastamento 5758 116 152 Afeição 115117 Ágape na psicologia existencial de May 222223 Agência humana 334339 agência por procuração 329 330 337338 autoeficácia 334338 características centrais 334 eficácia coletiva 329330 337339 Agência moral 329330 340 342 Agressividade maligna 132133 na psicologia individual de Adler 57 na teoria psicanalítica de Freud 16 2324 na teoria social cognitiva de Bandura 342343 na teoria social psicanalítica de Horney 117118f 118 120 119120f Ainsworth Mary situação estranha e 105106 Alegações neuróticas 120122 138 Além da liberdade e da dignidade Skinner 307308 Além do princípio do prazer Freud 2324 Alemanha nazista 139141 148149 271273 Allport Gordon W 234251 Ver também psicologia do indivíduo de Allport biografia 235236 críticas 248249 honrarias e prêmios 236 Jenny Gore Masterson caso 236 239240 244 246 246f Marion Taylor caso 236 244245 publicações 236 244246 Sigmund Freud e 235239 Alternativismo construtivo 375 377378 Amabilidade na teoria dos cinco traços e fatores 257258 258f na teoria evolucionista de Buss 291292 Ameaça na teoria centrada na pessoa de Rogers 198199 na teoria dos construtos pessoais de Kelly 384 American Association for Applied Psychology 193194 American Psychological Association APA 171172 193194 215216 256 307 308 330 Amor como orientação produtiva 136137 na psicanálise humanística de Fromm 132 136137 na psicologia existencial de May 221223 na teoria da aprendizagem social cognitiva de Rotter 355 359360 na teoria holísticodinâmica de Maslow 182183 185 187 na teoria psicanalítica de Freud 2324 na teoria social psicanalítica de Horney 113115 nos estágios do desenvolvimento psicossocial de Erikson 151f 157 Amor B amorser 182183 185187 Amor D amor deficiência 182 185187 Amor e vontade May 215216 Análise da estrutura pessoal 245 Análise do comportamento de Skinner 303327 behaviorismo científico 305306 308310 biografia de Skinner 305308 conceito de humanidade 325327 condicionamento 310315 321322 críticas a Skinner 325 natureza da análise do comportamento 305306 organismo humano 315320 panorama 305306 personalidade não sadia 320321 pesquisa relacionada 321 325 precursores 308 psicoterapia 321322 Análise do homem Fromm 131 144 análise do self A Kohut 103 104 Análise dos sonhos na análise do comportamento de Skinner 318319 na psicanálise humanista de Fromm 138139 na psicologia analítica de Jung 6972 74 8587 na psicologia individual de Adler 6162 na teoria psicanalítica de Freud 1517 3336 3840 42 7071 95 169170 na teoria social psicanalítica de Horney 123 anatomia da destrutividade humana A Fromm 131133 Anna O caso de Breuer 15 8788 Ansiedade na psicanálise humanista de Fromm 129 143144 na psicologia existencial de May 215216 219221 05Feistindice03indd 429 05Feistindice03indd 429 271014 1649 271014 1649 430 ÍNDICE na teoria do construto pessoal de Kelly 384385 na teoria psicanalítica de Freud 2425 3536 na teoria social psicanalítica de Horney 112116 117 118f teoria centrada na pessoa de Rogers 198199 Ansiedade de castração 29 3940 101 de separação 104105 moral 24 neurótica 24 219221 normal 219220 realista 24 Antecipação 334335 Apego ansiosoesquivo 105108 ansiosoresistente 105106 na teoria evolucionista de Buss 292293 seguro 105108 Apego e perda Bowlby 104 105 Aperfeiçoamento 195 Aprendizagem 330332 Ver também Condicionamento enativa 331332 observacional 330332 Aproximação 102104 Aproximações sucessivas 310311 Argumento do QI Eysenck 273274 Arquétipos 69 7379 anima 7576 86 animus 76 grande mãe 72 7677 herói 77 persona 34 7475 self 7779 sombra 7476 velho sábio 7677 arte de amar A Fromm 131 132 Assinatura comportamental da personalidade 364365 Association for the Advancement of Psychoanalysis AAP 113 130131 Atenção 330332 Atitude taoísta 182183 Atitudes na psicologia analítica de Jung 7981 81f Ativação seletiva 340341 Atos falhos 3536 Atribuição de desempenho 340 Autismo normal 102 Autoacusação 57 122 Autoanálise Horney 112113 Autoatualização na teoria centrada na pessoa de Rogers 195197 na teoria holísticodinâmica de Maslow 169 174175 177187 Autocoerência da personalidade 5152 Autoconceito na teoria centrada na pessoa de Rogers 195197 na teoria dos cinco traços e fatores 260261 Autoconsciência 131132 316317 Autoconsideração positiva 197 Autocontrole na análise comportamental de Skinner 319320 Autodesprezo 122 Autoeficácia 329330 334 338 diabetes e 345346 fatores que contribuem para 336338 natureza da 335336 terrorismo e 344345 Autofrustração 122 Autoimagem idealizada 120 122 alegações neuróticas 120 122 busca neurótica por glória 120121 orgulho neurótico 121122 Autonomia das pessoas autoatualizadas 180 funcional 241244 versus vergonha e dúvida 151f 152153 Autonomia funcional 241 244 315 critério para 241244 do proprium 242243 perseverativa 242243 processos que não são funcionalmente autônomos 243244 Autoobservação 339 Autoódio 120122 Autoritarismo 134135 141 143 Autorreação 340 Autorrealização na psicanálise humanista de Fromm 131132 na psicologia analítica de Jung 7275 7779 8386 8889 na teoria social psicanalítica de Horney 120 123124 Autorreatividade 334335 Autorreflexão 334335 Autorreforço 340 Autorregulação 338342 ao longo da vida 370371 estratégias autorregulatórias na teoria da personalidade cognitivoafetiva de Mischel 366367 fatores externos 338339 fatores internos 339340 por meio da agência moral 329330 340342 Autossuficiência 116117 Autotormento 122 Avaliações externas 197198 Aversivos 308 B Bandura Albert 328348 Ver também teoria social cognitiva de Bandura biografia 329330 críticas 346347 honrarias e prêmios 330 publicações 330 Bases biológicas da personalidade 278280 da teoria dos cinco traços e fatores 260261 Beber compulsivo 6365 Behaviorismo 305306 308 310 Behaviorismo radical 305 Berlin Psychoanalytic Institute 130 Biofilia 136137 138139f Biografia objetiva na teoria dos cinco fatores 260261 Bowlby John teoria do apego 104107 British PsychoAnalytic Society 9496 British Psychological Society 345346 Busca neurótica por glória 120121 Buss David M 284301 Ver também teoria evolucionista de Buss biografia 285287 críticas 298299 honrarias e prêmios 287 publicações 287 C Calibração experiencial precoce 292293 Capitalismo 129130 133 134 141 Caracteres de acumulação 136137 139140 exploradores 136 139140 receptivos 136 139140 Características 45 Caráter anal 2728 Caráter mercantil 136137 139 Carga de liberdade 134136 mecanismos de fuga 134 136 liberdade positiva 135136 Cargas fatoriais 254255 Cartas de Jenny Allport 244 246 Casos Anna O Breuer 15 8788 Jenny Gore Masterson Allport 236 239240 244246 246f Marion Taylor Allport 236 244245 Pequeno Albert Watson e Raynor 310311 Pequeno Hans S Freud 95 Philip May 214 219222 224227 Catarse 14 Causação recíproca triádica 329 332334 encontros casuais 333334 eventos fortuitos 333334 exemplo de 332334 Causalidade versus teleologia definição de causalidade 9 51 definição de teleologia 9 51 na análise do comportamento de Skinner 326 na psicanálise humanística de Fromm 144 na psicologia analítica de Jung 79 na psicologia do indivíduo de Allport 250 na psicologia existencial de May 231 na psicologia individual de Adler 51 na teoria centrada na pessoa de Rogers 210211 na teoria da aprendizagem social cognitiva 371372 05Feistindice03indd 430 05Feistindice03indd 430 271014 1649 271014 1649 ÍNDICE 431 na teoria das relações objetais 109110 na teoria dos cinco traços e fatores 267 na teoria dos construtos de Kelly 390391 na teoria dos fatores de base biológica de Eysenck 283 na teoria evolucionista de Buss 299300 na teoria holísticodinâmica de Maslow 188189 na teoria pósfreudiana de Erikson 164165 na teoria psicanalítica de Freud 43 na teoria psicanalítica social de Horney 126127 na teoria social cognitiva de Bandura 347348 no conceito de humanidade 9 Censor final 1718 1920f primário 1718 Censura 1718 1920f Centrado no problema 179 180 Centro para Estudos da Pessoa 193194 Chicago Psychoanalytic Institute 103104 113 130 Ciência morfogênica 235 244 nomotética 244 teoria versus 5 Ciência e comportamento humano Skinner 307308 Cinderela 7677 Codependência 118 Coeficiente de correlação 254255 Coerência interna 108109 Comparações paliativas 341 342 Competência 151f 154155 366367 Competição na teoria social psicanalítica de Horney 113 115 Complexo de castração 2931 3940 153 Electra 2931 inferioridade 5051 Jonas 184185 221 Complexo de Édipo na psicanálise humanista de Fromm 132134 138 na teoria das relações objetais de Klein 100101 na teoria psicanalítica de Freud 1516 2631 33 3942 74 na teoria social psicanalítica de Horney 122123 nos estágios do desenvolvimento psicossocial de Erikson 153 Complexos 7273 Comportamento complexo 317319 de enfrentamento 176177 desadaptado 342343 Ver desenvolvimento anormal desadaptado expressivo 175177 não motivado 175176 proativo 237238 240242 reativo 240242 social na análise do comportamento de Skinner 319 comportamento dos organismos O Skinner 306 Comportamentos inapropriados 321 Compulsão à repetição 3435 Condensação 3435 Condicionamento clássico 310311 impacto da personalidade no 322325 impacto na personalidade 321322 na análise do comportamento de Skinner 310315 321 322 operante 310315 Condições de valor 197198 Confiabilidade 89 Confiança básica versus desconfiança básica 151f 151152 Conflito básico 117118 117 120f 126 Conflitos intrapsíquicos 112 119122 autoimagem idealizada 120 122 autoódio 120122 Conformidade 135136 Confusão de identidade na teoria pósfreudiana de Erikson 146 154156 305 Congruência 197201 207 208 Consciência 2122 196197 na teoria dos cinco traços e fatores 258f 258259 na teoria evolucionista de Buss 292 negação de experiências positivas 197 níveis de 196197 Consciente na psicologia analítica de Jung 7273 77 7778f na psicologia individual de Adler 5253 na teoria psicanalítica de Freud 1719 1920f 32 Consciente versus inconsciente na análise do comportamento de Skinner 326 na psicanálise humanística de Fromm 144 na psicologia existencial de May 231 na psicologia individual de Adler 5253 na teoria centrada na pessoa de Rogers 210211 na teoria da aprendizagem social cognitiva 372 na teoria das relações objetais 109110 na teoria dos cinco traços e fatores 267 na teoria dos construtos pessoais de Kelly 391 na teoria dos fatores de base biológica de Eysenck 283 na teoria evolucionista de Buss 299300 na teoria holísticodinâmica de Maslow 188190 na teoria pósfreudiana de Erikson 164165 na teoria psicanalítica de Freud 43 na teoria social cognitiva de Bandura 347348 na teoria social psicanalítica de Horney 126127 no conceito de humanidade 9 Consideração positiva 197 201 Consistência 8 5153 108109 Constelação familiar 5961 6061f 6263 Construindo obstáculos 5758 Construtos 375 Construtos pessoais 377378 corolários de apoio 378 384 definição 377 e os Big Five 388390 gênero com construto pessoal 387388 postulado básico 378379 preconceito internalizado e 388389 Teste de Repertório de Construtos de Papel Rep 385390 Contato ideal na redução do preconceito 247249 Conteúdo latente 3435 manifesto 3435 Contratransferência 8788 138139 Controle social na análise do comportamento de Skinner 319321 Corolário da comunalidade 382383 da construção 378379 da dicotomia 380 da escolha 381 da experiência 381382 da fragmentação 382 da individualidade 379 380 da modulação 381382 da organização 379380 da sociabilidade 382383 do âmbito 381382 Cosmologia 308309 Costa Paul T Jr 252267 Ver também teoria dos cinco traços e fatores biografia 256 publicações 256 Crenças na teoria cognitivoafetiva da personalidade de Mischel 367368 Crescimento Póstraumático Tedeschi e Calhoun 208 209 Criatividade na análise comportamental de Skinner 317319 Crise de identidade nos estágios do desenvolvimento psicossocial de Erikson 146 150151 305 Cuidados na psicologia existencial de May 221222 na teoria holísticodinâmica de Maslow 182183 nos estágios do desenvolvimento psicossocial de Erikson 151f 157158 05Feistindice03indd 431 05Feistindice03indd 431 271014 1649 271014 1649 432 ÍNDICE Culpa 57 na psicologia existencial de May 220221 na teoria dos construtos pessoais de Kelly 384385 pela separação 220221 D Dasein 217218 229 Declarações seentão 5 8 194 195 364365 Ver também teoria Defesas 198199 Definição operacional 8 Dependência mórbida 118 Depreciação 57 Depressão na psicanálise humanista de Fromm 138 na teoria social cognitiva de Bandura 342 Desculpas 57 Desdém 159160 Desengajamento do controle interno 340341 Desenvolvimento anormal desadapto 5560 na análise do comportamento de Skinner 320321 na psicanálise humanista de Fromm 137141 na psicologia existencial de May 225 na psicologia individual de Adler 5560 na teoria da aprendizagem social cognitiva de Rotter 358360 na teoria do construto pessoal de Kelly 383385 na teoria dos fatores de base biológica de Eysenck 274275 275276f 277 280 na teoria social cognitiva de Bandura 342343 nos estágios do desenvolvimento psicossocial de Erikson 150157 159160 Deslocamento 25 Deslocar a responsabilidade 341342 Desorganização na teoria centrada na pessoa de Rogers 199200 Dessacralização 182183 Destino na psicologia existencial de May 223224 Destrutividade 134136 Desumanização 341342 Determinismo genético 294 297 Determinismo versus livrearbítrio na análise do comportamento de Skinner 325326 na psicanálise humanista de Fromm 144 na psicologia do indivíduo de Allport 249250 na psicologia existencial de May 230231 na teoria centrada na pessoa de Rogers 210 na teoria da aprendizagem social cognitiva 372 na teoria das relações objetais 108109 na teoria dos cinco traços e fatores 267 na teoria dos construtos pessoais de Kelly 390 na teoria dos fatores de base biológica de Eysenck 283 na teoria evolucionista de Buss 299300 na teoria holísticodinâmica de Maslow 188190 na teoria psicanalítica de Freud 4243 na teoria social cognitiva de Bandura 347348 na teoria social psicanalítica de Horney 126 no conceito de humanidade 9 Diabetes autoeficácia e 345 346 Dialeto do órgão 5153 Diferenças individuais na teoria evolucionista de Buss 292293 Diferenciação 102103 Dilema humano 131132 Diligência versus inferioridade 151f 154155 Dimensões da personalidade Eysenck 272273 Dinâmica da personalidade na teoria psicanalítica de Freud 2225 Discriminação operante 312 Disposições cardinais 239240 centrais 239240 estilísticas 240 motivacionais 240 pessoais 238240 secundárias 239240 Dissociação nas relações objetais de Klein 98100 Distorção 198199 Domínio enativo 344 E Efeito placebo 206207 Efeitos da ordem de nascimento 5961 6061f 6263 Eficácia coletiva 329330 337339 Ego corporal 148149 na psicologia analítica de Jung 7273 77 na teoria das relações objetais de Klein 97100 na teoria pósfreudiana de Erikson 147150 na teoria psicanalítica de Freud 1920 20f 2122 22f 3638 ego e o id O Freud 4042 Eigenwelt 217218 218219f 220222 225 226 Elemento distônico 150 sintônico 150 Emoções na análise do comportamento de Skinner 317 na teoria evolucionista de Buss 290291 Empatia 98 na escuta empática 201 202 Encontros casuais 329330 333334 Enraizamento 132134 134f Epigenética 294295 Epistemologia definição 5 Erikson Eric 145165 biografia 146148 críticas 163164 publicações 147148 160 162 Sigmund Freud e 146154 162 164165 Eros na psicologia existencial de May 222 na teoria psicanalítica de Freud 2224 2627 31 32 Erro de atribuição fundamental 289290 situacional fundamental 289290 Escala de Atitudes SelfOutro Escala SO 205207 Escala de Ativação Comportamental BAS 324 325 Escala de Autoestima Rosenberg 186187 Escala de Autoritarismo de Extrema Direita RWA 142 143 Escala de Autorrelato de Psicopatia de Levenson LSRP 323324 Escala de Confiança Interpessoal 357359 Escala de Controle InternoExterno IE 356358 Escala de Interesse Social Crandall 65 Escala de Interesse Social de Sulliman 65 Escala de Maturidade Emocional Willoughby Escala EM 205207 Escala de Orientação Religiosa ROS 246247 344345 Escala de Sensibilidade à Repulsa 228 Escolha da carreira 63 64f elaborativa 390 Escores no GRE 366368 Escores SAT 262264 Esferas da mente Freud 1922 Esforços do proprium 240 241 Especialização do nicho alternativo 292293 Especulação teoria versus 5 Espelhamento 104 Esperança 151f 152 Espontaneidade 179180 Esquema de reforço com intervalo fixo 314 315 com intervalo variado 314 315 com razão fixa 313315 com relação variável 314 315 Estabilidade emocional na teoria evolucionista de Buss 291292 05Feistindice03indd 432 05Feistindice03indd 432 271014 1649 271014 1649 ÍNDICE 433 Estabilidade na teoria dos fatores de base biológica de Eysenck 275276 Estados emocionais 336338 físicos 336338 internos 316318 Estágio da maturidade Freud 27 3132 Estágio de latência Freud 27 3032 153155 Estágio genital Freud 27 3132 Estágio genital Klein 100101 Estágio infantil Freud 2731 fase anal 2729 152153 fase fálica 2731 3031f 153 fase oral 2728 150151 Estágios do desenvolvimento estágios de desenvolvimento psicossexual de Freud 27 32 estágios do desenvolvimento psicossocial de Erikson 150160 160f 162163 psicologia analítica de Jung 8385 Estar no mundo 217218 Estilo de vida 5457 mimado 5657 negligenciado 5657 Estratégias de codificação 365367 estrutura da personalidade humana A Eysenck 272 273 Estrutura de caráter democrático 181182 Estrutura de orientação na psicanálise humanista de Fromm 133134 134f Estudo da inferioridade do órgão e sua compensação física Adler 4748 Estudo dos valores Allport et al 244 Estudos com gêmeos 297 Estudos de Chicago 205207 Estudos sobre a histeria Breuer Freud 1516 3233 Etologia 104105 Eventos fortuitos 329330 333334 Evidênciaconsciência da mortalidade 227230 Evolução cultural 315317 Exclusividade 157 Existência May et al 215 216 Expectativa na teoria cognitivoafetiva da personalidade de Mischel 367368 na teoria da aprendizagem social cognitiva de Rotter 352353 360361 Expectativa comportamento resultado 367368 Expectativa estímulo resultado 367368 Expectativas generalizadas EGs 354 356358 Experiência de fluir 209210 Experiências culminantes 180181 183 184 de domínio 336337 vicariantes 336337 Experimentos com JoãoBobo 342343 Extinção 314315 operante 315 Extroversão na psicologia analítica de Jung 8081 81f 8183 83f na teoria dos cinco traços e fatores 257258 258f na teoria dos fatores de base biológica de Eysenck 274 280 na teoria evolucionista de Buss 291292 Eysenck Hans J 270283 Ver também teoria dos fatores de base biológica de Eysenck biografia 271274 333334 críticas 282 honrarias e prêmios 273 274 publicações 272274 F Fantasias 9697 Fase anal Freud 2729 152 153 Fase anárquica da infância 8384 Fase dualista da infância 83 84 Fase edípica do desenvolvimento 2122 Fase fálica Freud 2731 30 31f 153 Fase monárquica da infância 8384 Fase oral Freud 2728 150 151 Fenomenologia 376377 Ficar de pé 5758 Ficcionalismo 51 Ficções 51 Fidelidade 151f 154157 Filia na psicologia existencial de May 222223 Filosofia teoria versus 5 Filosofia do como se Vaihinger 51 Finanças tipo de personalidade e 8890 Fixação 2526 132133 Fixação à mãe 138 Fluxo de consciência 3940 Fobias na teoria social cognitiva de Bandura 342 343 Fontes ambientais das diferenças individuais 292 293 Fontes herdáveisgenéticas de diferenças individuais 293 Força básica nos estágios do desenvolvimento psicossocial de Erikson 150160 Força criativa criatividade das pessoas autoatualizadas 182 na psicologia individual de Adler 49 5556 65 Força do mito na psicologia existencial de May 224225 Forma física inclusiva 295 Formação reativa na teoria psicanalítica de Freud 1718 2325 Fórmula de predição geral 356 Freud Sigmund 1244 Ver também teoria psicanalítica de Freud Alfred Adler e 4649 5152 5662 8081 biografia 1317 5960 Carl Gustav Jung e 6976 8081 8388 90 compreender as mulheres 2931 4042 5860 críticas 4043 Eric Erikson e 146154 162 164165 Erich Fromm e 129133 136140 Gordon Allport e 235239 honrarias e prêmios 1617 Karen Horney e 112114 122123 Melanie Klein e 9597 100 101 Pequeno Hans caso 95 publicações 1517 2324 3233 3536 3842 7071 95 169170 técnica psicoterapêutica 1517 27 3236 Fromm Erich 128144 Ver também psicanálise humanista de Fromm biografia 129131 críticas 142144 Karen Horney e 113 129 134 publicações 131135 139 144 Sigmund Freud e 129133 136140 Fuga 320 Funções na psicologia analítica de Jung 8183 83f G Gemeinschaftsgefühl 5254 6365 180181 238 General Mills 306307 Generalização 354 do estímulo 312 Generatividade versus estagnação 151f 157158 162163 Genitalidade 156157 Gratificadores 308 H Herança filogenética 1718 29 74 9697 Hesitação 5758 Hierarquia da organização do comportamento 274275 275276f Hierarquia das necessidades 172f 172175 amor e pertencimento 173 174 autoatualização 174175 178 estima 173175 fisiológica 173 segurança 173174 Hipocondria 138 Hipocondria moral 138 Hipótese 56 do contato 247249 nos Estudos de Chicago 205 teste 67 Histeria 1416 3233 História de Édipo 224225 Homofobia 388389 05Feistindice03indd 433 05Feistindice03indd 433 271014 1649 271014 1649 434 ÍNDICE Horney Karen 111127 Ver também teoria social psicanalítica de Horney autoanálise 112113 biografia 112114 críticas 125126 Erich Fromm e 113 129134 Melanie Klein e 95 publicações 112114 126 Sigmund Freud e 112114 122123 Hostilidade na teoria evolutiva de Buss 291292 na teoria social psicanalítica de Horney 112116 117 118f Human Behavior and Evolutionary Society HBES 298299 Humor pessoas autoatualizadas e 181182 Id na teoria pósfreudiana de Erikson 147148 na teoria psicanalítica de Freud 1920 20f 2022 22f 3638 Idade adulta na psicologia analítica de Jung 8384f 8384 nos estágios do desenvolvimento psicossexual de Erikson 151f 157160 160f 162 163 nos estágios do desenvolvimento psicossexual de Freud 27 3132 156157 teoria das relações objetais na 106108 teoria do apego na 106 108 Idade adulta jovem nos estágios do desenvolvimento psicossocial de Erikson 156 157 160f Idade do jogo estágios do desenvolvimento psicossocial de Erikson 150f 153160 160f Idade escolar nos estágios do desenvolvimento psicossocial de Erikson 153155 160f Ideal de ego 2122 148149 Identidade do ego nos estágios do desenvolvimento psicossocial de Erikson 148 151 153155 Identidade versus confusão de identidade 151f 155156 Identificação 2829 Identificação projetiva na teoria das relações objetais de Klein 99100 Idiográfico 244 Imagem parental idealizada 104 Imaginação ativa 8688 Imperial Society of Physicians of Vienna 1415 Impulso para o triunfo vingativo 120121 Impulso sexual na teoria psicanalítica de Freud 2224 Impulsos na análise do comportamento de Skinner 317 na teoria das relações objetais 9597 na teoria psicanalítica de Freud 2224 na teoria social psicanalítica de Horney 116120 Impulsos compulsivos 116 120 necessidades neuróticas 112 116117 117120f tendências neuróticas 116 120 119120f Incongruência 196201 Inconsciente coletivo 1718 6976 77 na análise do comportamento de Skinner 318319 na psicologia analítica de Jung 7076 7778f 8687 na psicologia individual de Adler 5253 na teoria psicanalítica de Freud 1718 1920f 36 37 78f 8687 pessoal 7273 7778f Indicador de Tipos MyersBriggs MBTI 8891 256257 Índice Breve de Autorrealização 184 Índice Curto de Autorrealização 184 Índice de Interesse Social Greever et al 65 Individuação na psicologia analítica de Jung 7275 77 79 8386 8889 indivíduo e sua religião O Allport 246 Infância ego e 2122 experimentos sobre agressividade de Bandura 342343 id e 2022 lembranças precoces LPs 5961 63 64f 6365 na psicologia analítica de Jung 8384 8384f na psicologia individual de Adler 5961 63 64f 63 65 369370 na teoria das relações objetais 106107 na teoria das relações objetais de Klein 100101 na teoria psicanalítica social de Horney Ver teoria psicanalítica social de Horney nos estágios do desenvolvimento psicossocial de Erikson 150f 151f 152155 160f nos estágios do desenvolvimento psicossexual de Freud 27 32 153155 relações objetais na Ver Teoria das relações objetais de Klein temperamento na 295297 Infância e sociedade Erikson 147 Inferioridades físicas 5152 Influências biológicas versus sociais na análise do comportamento de Skinner 326 na psicanálise humanista de Fromm 144 na psicologia analítica de Jung 9192 na psicologia do indivíduo de Allport 250 na psicologia existencial de May 231 na teoria centrada na pessoa de Rogers 210211 na teoria da aprendizagem social cognitiva 372 na teoria das relações objetais 109110 na teoria do construto pessoal de Kelly 391 na teoria dos fatores de base biológica de Eysenck 283 na teoria evolucionista de Buss 299300 na teoria holísticodinâmica de Maslow 188190 na teoria pósfreudiana de Erikson 164165 na teoria psicanalítica de Freud 43 na teoria social cognitiva de Bandura 347348 na teoria social psicanalítica de Horney 126127 no conceito de humanidade 9 Influências externas na teoria dos cinco fatores 260262 Iniciativa versus culpa 151f 153154 Instintos 7374 9597 Institute for Child Guidance 193 Integridade de ego 158160 Integridade versus desespero 151f 158160 Intenção na análise do comportamento de Skinner 317318 Intencionalidade 221 334 335 Interação dos opostos 150 pessoasituação 363364 369370 Interesse social 5257 6162 importância do 5354 origens do 5354 subdesenvolvido 5557 Internalização na teoria das relações objetais de Klein 99101 International Institute for Social Research 130 International Psychoanalytic Association 47 7072 interpretação dos sonhos A Freud 1517 3839 42 70 71 169170 Intimidade versus isolamento 151f 156157 Introdução à personalidade Mischel 362363 Introjeção 2627 na teoria das relações objetais de Klein 96100 Introversão na psicologia analítica de Jung 7981 81f 8183 83f na teoria dos fatores de base biológica de Eysenck 275 276 Intuição na psicologia analítica de Jung 8283 83f 05Feistindice03indd 434 05Feistindice03indd 434 271014 1649 271014 1649 ÍNDICE 435 Inveja do pênis 2731 3940 122123 Inventário da Personalidade de Maudsley 278280 Inventário da Personalidade NEO 253254 256257 266 Inventário das Relações Objetais de Bell BORI 108 Inventário de Orientação Pessoal POI 183184 Inventário de Personalidade de Eysenck EPI 256257 278279 Inventário de Personalidade NEO Revisado 256257 Inventário de Valores de Schwartz 186 Inventário Tridimensional de HorneyCoolidge HCTI 124125 Isolamento na psicanálise humanista de Fromm 131132 na teoria social psicanalítica de Horney 117118f 118 119 119120f nos estágios psicossociais de Erikson 156157 J Jung Carl Gustav 6892 7172 Ver também psicologia analítica de Jung biografia 6972 críticas 9091 publicações 6972 7476 8688 Sigmund Freud e 6976 8081 8388 90 Justificação moral 340342 K Karen Horney Psychoanalytic Institute 113 Kelly George A 374392 Ver também teoria dos construtos pessoais de Kelly biografia 375376 críticas 389390 posição filosófica 376378 publicações 376 383384 390 Klein Melanie 93110 Ver também teoria das relações objetais de Klein Anna Freud e 9496 106 biografia 9496 Karen Horney e 95 publicações 95 Sigmund Freud e 9597 100101 Kohut Heinz selfobjetos e 103104 L Lei da entrada baixa Adler 55 do efeito 308 empírica do efeito 351352 Lembranças precoces LPs 59 61 63 64f 6365 Liberdade de movimento LM 354 356 essencial 223224 existencial 223224 na psicologia existencial de May 222224 positiva 135136 Libido 2223 100 Liderança estilo de apego e 107108 tipo de personalidade e 8990 Ligação 131132 134f Locus de controle na teoria da aprendizagem social cognitiva de Rotter 356358 na teoria da personalidade cognitivoafetiva de Mischel 368370 Luta pelo sucessosuperioridade 4949 5455 Luta psicossocial na teoria pósfreudiana de Erikson 146 M Mágico de Oz Baum 7677 Mahler Margaret teoria da separaçãoindividuação de 102104 Mandala 7779 8687 Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais DSMIV 124125 199200 383384 Manutenção 195 Maslow Abraham 167190 Ver também teoria holísticodinâmica de Maslow biografia 169172 333334 críticas 187188 filosofia da ciência 182184 honrarias e prêmios 171172 Masoquismo 2324 134135 Masturbação 2829 3132 May Rollo 213232 Ver também psicologia existencial de May biografia 214217 críticas 230231 honrarias e premiações 215 216 Philip caso 214 219222 224227 publicações 215216 219 220 224225 McCrae Robert R 252267 Ver também teoria dos cinco traços e fatores biografia 255256 publicações 256 Mecanismos evoluídos 290292 físicos 289290 na teoria evolucionista de Buss 289292 295 psicológicos 289290 Mecanismos de defesa na psicologia existencial de May 228229 na teoria das relações objetais de Klein 96100 na teoria psicanalítica de Freud 21 2427 3839 5657 5859f 313 Mediação cognitiva 344 Medo à liberdade Fromm 131 134135 141143 Medo na teoria dos construtos de Kelly 384 Meios versus fins pessoas autoatualizadas e 181182 Memórias sonhos reflexões Jung 6972 7476 86 Metamotivação dos autoatualizadores 178179 Metapatologia 176177 Método dedutivo 253254 indutivo 253254 oblíquo 255256 Métodos nomotéticos 235 Mischel Walter 361371 Ver também teoria da personalidade cognitivoafetiva de Mischel biografia 362363 conceito de humanidade 371372 críticas à teoria da aprendizagem social cognitiva 370372 honrarias e premiações 362 363 pesquisa relacionada 369 371 publicações 362363 Mitwelt 217218 218219f 220222 225 226 Modelagem 310312 330 331 cognitiva 344 social 336337 velada 344 vicariante 344 Modelo de diáteseestresse 277 Modelos evolucionistas da personalidade neobussianos 293294 Modo analuretralmuscular 152 153 genitallocomotor 153 oralsensorial 150151 Morte consciênciaevidência da mortalidade 227230 instinto de morte 9798 100 nãosernada 217219 Motivação consciente 237238 inconsciente 175176 na psicologia do indivíduo de Allport 237238 240 244 na teoria evolucionista de Buss 290291 na teoria holísticodinâmica de Maslow 169 171177 na teoria social cognitiva de Bandura 331332 processo de valorização organísmica OVP 208 210 Movimento contra as pessoas 117118f 118120 119120f em direção às pessoas 117 118f 118 119120f para longe das pessoas 117 118f 118119 119120f Mudança terapêutica 201 203 estágios da 201203 explicação teórica da 202 203 Mulheres entendimento de Adler das 5861 entendimento de Freud das 2931 4042 5860 protesto viril e 5860 05Feistindice03indd 435 05Feistindice03indd 435 271014 1649 271014 1649 436 ÍNDICE psicologia feminina de Horney 113114 122123 teoria da autodiscrepância e 208 visões de Jung 6972 76 77 visões de Klein 100101 N Nação Sioux na teoria pósfreudiana de Erikson 147149 160161 Nação Yurok na teoria pósfreudiana de Erikson 147149 160161 Nacionalismo alemão 129 130 Nãosernada 217219 Narcisismo maligno 137138 140141 primário 2224 secundário 2224 Nascido para se rebelar Sulloway 6263 National Institute of Health NIH 256 Naturalidade 179180 Necessidades cognitivas 175 conativas 172175 de afeição 355 359360 de amor e pertencimento 173174 de conforto físico 355 de dominância 355 de estima 173175 de independência 355 de proteçãodependência 355 de reconhecimentostatus 355 de segurança 173174 enraizamento 132134 134f estéticas 175 estrutura da orientação 133134 134f existenciais 131134 134f fisiológicas 173 hierarquia de 172175 instintivas 176177 ligação 131132 134f na teoria da aprendizagem social cognitiva de Rotter 354356 narcisistas 104 resumo 134 senso de identidade 133 134 134f transcendência 132133 134f Necessidades neuróticas 175 na teoria social psicanalítica de Horney 112 116117 117120f Necrofilia 137 138139f 140141 Negação na teoria centrada na pessoa de Rogers 198199 Neurociência aspectos biológicos da personalidade e 271272 teoria psicanalítica e 3640 Neuropsicanálise 3637 Neurose Ver também teoria social psicanalítica de Horney aspectos positivos da 124 125 na teoria psicanalítica de Freud 1516 Neurose e crescimento humano Horney 113114 126 Neuroticismo na teoria dos cinco traços e fatores 257258 258f na teoria dos fatores de base biológica de Eysenck 274 275 275276f 277280 na teoria evolucionista de Buss 291292 New School for Social Research 4748 113 170171 New York Psychoanalitic Institute 113 Níveis da psique Jung 7279 8586 Níveis de vida mental Freud 1720 1920f Nível de excitação cortical 275277 Novidade da apreciação 180 Novos rumos na psicanálise Horney 113 O O homem à procura de si mesmo May 215216 Objeto libidinal 103104 Observação empírica 309310 Obsessão 1516 Orgulho neurótico 121122 Orientação do caráter 135137 definição de caráter 135136 orientação produtiva 136 137 orientações não produtivas 136137 Orientação produtiva 136 137 Orientação religiosa extrínseca 246247 Orientação religiosa intrínseca 246247 Orientações não produtivas 136137 acumulativa 136137 139 140 exploradora 136 139140 mercantil 136137 139 receptiva 136 139140 Origem das espécies Darwin 299300 Origens desadaptadas das diferenças individuais 293 P Padrão de referência 339 Padrões pessoais 339 Papel 382383 Papel central 383384 Paradoxo da consistência 362363 Paranoia 2627 Parapraxias 3536 Parcimônia 8 Patologia central nos estágios do desenvolvimento psicossocial de Erikson 150 157 159160 Pensamento como orientação produtiva 137 na psicologia analítica de Jung 8182 83f Pequeno Albert caso de Watson e Raynor 310311 Pequeno Hans caso de Freud 95 Percepção eficiente da realidade 179180 Percepções subjetivas 5152 Perfeição 116117 120121 Permeabilidade 381382 Persona 34 7475 Personalidade como preditor 279282 definição 35 236238 medição 278279 natureza da 35 Personalidade animal na teoria evolucionista da personalidade 297299 personalidade autoritária A Adorno 141142 Personalidade e avaliação Mischel 362363 Personalidade esquizoide 1819 Personalidade na idade adulta McCrae e Costa 256 Perspectiva agêntica 329330 Perspectiva antropológica na teoria holística dinâmica de Maslow 170171 na teoria pósfreudiana de Erikson 147149 160161 Perspectiva evolucionista 104105 129130 203205 258262 Ver também teoria evolucionista de Buss Persuasão social 336337 Pesquisa descritiva 67 empírica 266 Pessimismo versus otimismo na análise do comportamento de Skinner 325326 na psicanálise humanista de Fromm 144 na psicologia do indivíduo de Allport 249 250 na psicologia existencial de May 231 na teoria centrada na pessoa de Rogers 210211 na teoria da aprendizagem social cognitiva 372 na teoria das relações objetais 109110 na teoria dos cinco traços e fatores 267 na teoria dos construtos pessoais de Kelly 390 na teoria dos fatores de base biológica de Eysenck 283 na teoria evolucionista de Buss 299 na teoria holísticodinâmica de Maslow 188189 na teoria neofreudiana de Erikson 164165 na teoria psicanalítica de Freud 43 na teoria social cognitiva de Bandura 347 na teoria social psicanalítica de Horney 126127 no conceito de humanidade 9 Pessoa do futuro 203205 em funcionamento pleno 203205 Plasticidade 329 Poder 116117 132 05Feistindice03indd 436 05Feistindice03indd 436 271014 1649 271014 1649 ÍNDICE 437 Poder e inocência May 215 216 Population Media Center 345346 Posição depressiva 98 esquizoparanoide 9798 Posições na teoria das relações objetais de Klein 9798 Possessão 116 Potencial da necessidade PN 355356 do comportamento PC 351353 Prática 102103 Préconsciente 1719 1920f Predição do comportamento 364365 Prestígio 116117 Primeira força em psicologia 169170 Princípio conservador 8384 da realidade 2122 do prazer 2021 3638 113114 241242 epigenético 149150 150f 151f 152153 162163 idealista 2122 moralista 2122 Privação das necessidades 176177 Privacidade necessidade de 180 Processo de julgamento 339340 de valorização organísmica OVP 208210 primário 21 secundário 21 Processos dinâmicos na teoria dos cinco fatores 258260 Processos mentais superiores 317318 Procriatividade 157158 procura do mito A May 224 225 Produção comportamental 331332 Programação de reforço contínuo 313314 intermitente 313314 Programações de reforço 313 315 Progressão na psicologia analítica de Jung 7980 Projeção na teoria das relações objetais de Klein 9699 106107 na teoria psicanalítica de Freud 2627 Projeto Pombo 306307 Propósito 151f 153154 na análise do comportamento de Skinner 317318 Proprium 240241 Protesto viril 5860 122123 Pseudoespeciação 157158 Pseudoespécie 148149 psicanálise de crianças A Klein 95 Psicanálise humanista de Fromm 128144 biografia de Fromm 129 131 carga de liberdade 134136 conceito de humanidade 143144 críticas a Fromm 142144 métodos de investigação 139141 necessidades humanas 131 134 134f orientações de caráter 135 137 139140 panorama 129130 pesquisa relacionada 141 143 pressupostos básicos 131 132 psicoterapia 138139 transtornos da personalidade 137139 Psicohistóriapsicobiografia na psicanálise humanista de Fromm 139141 na teoria pósfreudiana de Erikson 160162 Psicologia Koch 192193 Psicologia analítica de Jung 6892 biografia de Jung 6972 conceito de humanidade 79 9092 críticas a Jung 9091 dinâmica da personalidade 7980 estágios do desenvolvimento da personalidade 8385 métodos de investigação 8489 níveis da psique 7279 85 86 panorama 6970 pesquisa relacionada 88 90 tipos psicológicos 7983 83f Psicologia como o behaviorista a vê Skinner 308 Psicologia da ciência 56 Psicologia do indivíduo de Allport 234251 abordagem da teoria da personalidade 236239 biografia de Allport 235 236 características da pessoa sadia 237239 conceito de humanidade 249250 críticas a Allport 248249 definição de personalidade 236238 estrutura da personalidade 238241 estudo do indivíduo 243 246 motivação 237238 240 244 motivação consciente 237 238 panorama 235236 pesquisa relacionada 246 249 Psicologia dos construtos pessoais A Kelly 376 383 384 390 Psicologia evolucionista 287 288 Psicologia existencial de May 213232 ansiedade 219221 biografia de May 214219 conceito de humanidade 230231 críticas a May 230231 cuidado amor e vontade 221223 culpa 220221 destino 223224 força do mito 224225 histórico do existencialismo 216219 intencionalidade 221 liberdade 222224 panorama 214215 pesquisa relacionada 226 230 psicopatologia 225 psicoterapia 225227 Psicologia individual de Adler 4567 aplicações 5963 biografia de Adler 4649 5960 conceito de humanidade 65 67 constelação familiar 5961 6061f 6263 críticas a Adler 6366 desenvolvimento anormal 5560 estilo de vida 5457 força criativa 49 5556 65 infância inicial e questões relacionadas à saúde 6365 interesse social 5257 61 62 introdução à 4849 lembranças precoces LPs 5961 63 64f 6365 369 370 luta pelo sucesso ou pela superioridade 4951 54 55f panorama 4647 percepções subjetivas 5152 pesquisa relacionada 6265 protesto viril 5860 psicoterapia 6163 sonhos 6162 tendências à salvaguarda 5658 5859f unidade da autocoerência da personalidade 5153 Psicologia positiva 186187 Psicopatologia da vida cotidiana Freud 3536 Psicoses 3334 Psicoterapia Ver terapia psicoterapia Psicoticismo na teoria dos fatores de base biológica de Eysenck 274275 275276f 277280 Puberdade Ver também adolescência definição 155 estágio da juventude na psicologia analítica de Jung 8384 8384f estágio genital Freud 27 3132 Punição 312313 Q Questionário de Personalidade de Eysenck EPQ 278281 Questionário Histeroideobsessoide 3839 R Raciocínio dedutivo 56 indutivo 56 05Feistindice03indd 437 05Feistindice03indd 437 271014 1649 271014 1649 438 ÍNDICE Realização do desejo 3536 38 Reforçadores condicionados 313314 generalizados 313314 primários 313314 Reforço 312313 332 cérebro e 324325 comparado com punição 313 controle internoexterno do 356358 externo 353 interno 353 negativo 312313 positivo 312313 programações de 313315 progressivo RP 323 reforçadores condicionados generalizados 313314 seletivo 319320 Regressão na psicologia analítica de Jung 7980 na psicologia individual de Adler 5758 na teoria psicanalítica de Freud 26 5758 Rejeição 157158 Relação simbiótica 132 Relações interpessoais das pessoas autoatualizadas 180182 Reparação 98 Representação 331332 Repressão na teoria psicanalítica de Freud 1718 2122 2425 3839 Repúdio do papel 156157 Resistência 3334 passiva 160162 320321 Responsabilidade difusa 341 342 Respostas afetivas na teoria da personalidade cognitivoafetiva de Mischel 368369 Ressacralização 182183 restauração do self A Kohut 103104 Retroceder 5758 Revolta 320 Rogers Carl R 191212 Ver também teoria centrada na pessoa de Rogers biografia 192194 críticas 209210 filosofia da ciência 204205 honrarias e premiações 192 194 publicações 193194 Rotação ortogonal 255 Rotter Julian B 350 361 Ver também teoria da aprendizagem social cognitiva de Rotter biografia 350351 conceito de humanidade 371372 críticas à teoria da aprendizagem social cognitiva 370372 honrarias e premiações 351 pesquisa relacionada 368 370 publicações 350351 Rótulos eufemísticos 341 342 Ruído 286 S Sabedoria 151f 159160 Sadismo 2324 134135 Segunda força na psicologia 169170 Seio ideal 9798 persecutório 9798 Seleção artificial 285 natural 285286 288 315 316 sexual 285286 Self do organismo 195197 grandiosoexibicionista 104 ideal 196197 SelfDirected Search SDS 63 Selfobjetos 103104 seminários de Kohut Os Kohut 103104 Sensação na psicologia analítica de Jung 8183 83f Senso de identidade na psicanálise humanista de Fromm 133134 134f na teoria social psicanalítica de Horney 120 Sensualidade generalizada 158159 Sentimento na psicologia analítica de Jung 8182 83f Sentimentos incestuosos 132133 Separaçãoindividuação 102 103 Sequências reforçoreforço 353 Seres humanos bons Ver autoatualização Sexo na psicologia existencial de May 222 significado de ansiedade O May 215216 219220 Simbiose incestuosa 138139 138 139f 140141 normal 102103 Simplicidade 179180 Síndrome da decadência 138139 138139f 139141 do crescimento 138139 138139f Singularidade versus semelhança na análise do comportamento de Skinner 327 na psicanálise humanista de Fromm 144 na psicologia analítica de Jung 9192 na psicologia do indivíduo de Allport 235 250 na psicologia existencial de May 231 na teoria centrada na pessoa de Rogers 210211 na teoria da aprendizagem social cognitiva 372 na teoria das relações objetais 109110 na teoria dos cinco traços e fatores 267 na teoria dos construtos pessoais de Kelly 391 na teoria dos fatores de base biológica de Eysenck 283 na teoria evolucionista de Buss 299300 na teoria holísticodinâmica de Maslow 188189 na teoria pósfreudiana de Erikson 164165 na teoria psicanalítica de Freud 43 na teoria social psicanalítica de Horney 126127 no conceito de humanidade 9 Sistema consciente perceptivo 1819 Sistema de Inibição do Comportamento BIS 323 324 Sistema dopaminérgico 3738 Sistema opioide 3738 Situação estranha 105106 psicológica 353354 Skinner B F 303327 Ver também análise do comportamento de Skinner biografia 305308 críticas 325 honrarias e prêmios 306 308 publicações 305308 313 326 Sobre os sonhos Freud 16 95 Society for Free Psychoanalytic Study 4748 Society for Individual Psychology 4748 350351 Sono REM movimento rápido dos olhos 3840 South German Institute for Psychoanalysis 130 Sublimação 2627 Submissão 115 132 Subprodutos 286 288 Superego na teoria das relações objetais de Klein 100101 na teoria dos fatores de base biológica de Eysenck 275 279 na teoria pósfreudiana de Erikson 147148 na teoria psicanalítica de Freud 1920 20f 2122 22f 3638 Supressão 1718 3940 Surgência na teoria evolucionista de Buss 291292 T Tabagismo condicionamento e 321325 Taxonomia definição 56 dos Big Five McCrae Costa 56 910 255256 290292 294295f 297 299 388390 Ver também teoria dos cinco traços e fatores Teachers College Universidade de Columbia 170171 192 193 Técnica de associação livre 14 3334 123124 Técnica Q sort 206207 244 Teleologia 9 51 Ver também causalidade versus teleologia 05Feistindice03indd 438 05Feistindice03indd 438 271014 1649 271014 1649 ÍNDICE 439 Temperamento no ambiente pré e pósnatal 295297 Tendência de atualização 194196 Tendência formativa 194195 Tendências à salvaguarda 56 58 5859f Tendências básicas na teoria dos cinco fatores 259262 Tendências neuróticas 116 120 119120f conflito básico 117118 117120f movimento contra as pessoas 117118f movimento para longe das pessoas 117118f 118 119120f Teoria 48 Ver também teoria da personalidade conceitos relacionados 46 67f critérios para útil 68 4243 definição 45 necessidade de teorias diferentes 56 psicologia da ciência e 56 Teoria centrada na pessoa de Rogers 191212 barreiras à saúde psicológica 197200 biografia de Rogers 192194 conceito de humanidade 210211 consciência 196197 críticas a Rogers 209210 Estudos de Chicago 205 207 panorama 192193 pesquisa relacionada 207 210 pessoa do futuro 203205 pressupostos básicos 194 195 psicoterapia 192194 199 204 203204f self e autoatualização 195 197 terapia centrada no cliente na 192 199204 203204f tornarse pessoa 197 Teoria da aprendizagem social cognitiva de Rotter 350361 biografia de Rotter 350351 comportamento desadaptado 358360 conceito de humanidade 371372 críticas 370372 introdução 351352 lei empírica do efeito 351 352 panorama 350351 pesquisa relacionada 368 371 predição de comportamentos específicos 351354 predição de comportamentos gerais 354359 psicoterapia 359361 Teoria da autodiscrepância 207208 Teoria da personalidade Ver também nomes de teóricos e teorias da personalidade específicos conceito de humanidade e 99 critérios para a teoria útil 68 pesquisa em 810 teoria definição 45 Teoria da personalidade cognitivoafetiva de Mischel 361371 conceito de humanidade 371372 críticas 370372 interação pessoasituação 363364 introdução 350351 361 362 paradoxo da consistência 362363 pesquisa relacionada 368 371 sistema de personalidade cognitivoafetivo CAPS 364369 Teoria da sensibilidade ao reforço RST 323324 Teoria das relações objetais de Klein 93110 biografia de Klein 9496 conceito de humanidade 108110 críticas 108109 Heinz Kohut e 9495 103 104 internalizações 99101 introdução 9597 John Bowlby e 104107 Margaret Mahler e 9495 102104 Mary Ainswoth e 9495 105106 mecanismos de defesa psíquicos 96100 objeto na 9697 panorama 9495 pesquisa relacionada 106 108 posições 9798 psicoterapia 105106 relações adultas e 106108 vida psíquica do bebê 9697 visões posteriores 9496 101106 Teoria de ativaçãosíntese 3839 Teoria do apego 104108 Teoria do manejo do terror TMT 227230 Teoria dos cinco traços e fatores 252267 325 biografias de McCrae e Costa 255256 componentes periféricos 260262 conceito de humanidade 267 críticas 265266 evolução da 258262 fatores na 256259 fundamentos da análise fatorial 254256 panorama dos traços e fatores 253254 pesquisa relacionada 262 266 postulados básicos 261262 taxonomia versus 255256 trabalho pioneiro de Cattell 253254 Teoria dos construtos pessoais de Kelly 374392 aplicações 383378 biografia de Kelly 375376 conceito de humanidade 390391 construtos pessoais 377 378 críticas a Kelly 389390 panorama 375 pesquisa relacionada 386 390 posição filosófica de Kelly 376378 terapiapsicoterapia 384 386 Teoria dos fatores de base biológica de Eysenck 270 283 bases biológicas da personalidade 278280 biografia de Eysenck 271 274 333334 conceito de humanidade 283 críticas a Eysenck 282 dimensões da personalidade 274279 medida da personalidade 278279 panorama 271272 personalidade como preditor 279282 teoria dos fatores de Eysenck 273275 Teoria evolucionista de Buss 284301 biografia de Buss 285287 componentes da 285293 294295f conceito de humanidade 299300 críticas a Buss 298299 malentendidos comuns 294295 modelos evolucionistas neobussianos 293294 panorama 285286 pesquisa relacionada 295 299 princípios da psicologia evolucionista 287288 Teoria holísticodinâmica de Maslow 168190 autoatualização 169 174 175 177187 biografia de Maslow 169 172 333334 complexo de Jonas 184 185 221 conceito de humanidade 188190 críticas a Maslow 187188 hierarquia das necessidades 172175 motivação 169 171177 panorama 169170 pesquisa relacionada 185 187 psicoterapia 184186 Teoria pósfreudiana de Erikson 145165 biografia de Erikson 146 148 conceito de humanidade 164165 críticas a Erikson 163164 ego 147150 estágios do desenvolvimento psicossocial 150160 160f 162163 métodos de investigação 160162 panorama 146147 pesquisa relacionada 162 163 05Feistindice03indd 439 05Feistindice03indd 439 271014 1649 271014 1649 440 ÍNDICE Teoria psicanalítica de Freud 1244 aplicações 1417 3236 biografia de Freud 1317 5960 conceito de humanidade 4243 críticas a Freud 4043 dinâmica da personalidade 2225 esferas da mente 1922 20f estágios do desenvolvimento psicossexual 2732 mecanismos de defesa 24 27 níveis da vida mental 17 20 1920f panorama 1314 pesquisa relacionada 36 40 Teoria refutável 7 Teoria social cognitiva de Bandura 328348 agência humana 334339 aprendizagem 330332 autorregulação 338342 biografia de Bandura 329 330 causação recíproca triádica 329 332334 comportamento disfuncional 342343 conceito de humanidade 347348 críticas a Bandura 346347 panorama 329330 pesquisa relacionada 344 346 terapia 343344 Teoria social psicanalítica de Horney 111127 biografia de Horney 112 114 conceito de humanidade 126127 conflitos intrapsíquicos 112 119122 críticas a Horney 125126 hostilidade básica ansiedade básica 112 116 117118f impulsos compulsivos 112 116120 119120f influências culturais 113 115 introdução 113115 panorama 112113 pesquisa relacionada 124 125 psicologia feminina 113 114 122123 psicoterapia 123124 Teorias dos fatores Ver também teoria dos fatores de base biológica de Eysenck teoria dos cinco traços e fatores críticas 265266 fundamentos da análise fatorial 254256 panorama 253254 Teorias dos traços bemestar e 263264 críticas 265266 emoções e 264266 panorama 253254 sucesso acadêmico e 262 264 uso da internet e 263264 Terapia centrada no cliente Rogers 193194 Terapia centrada no cliente 192194 199204 203204f Ver também teoria centrada na pessoa de Rogers Terapia de papel fixo 384 386 Terapia lúdica 106 Terapiapsicoterapia na abordagem psicanalítica de Freud 1517 27 3236 na análise do comportamento de Skinner 321322 na psicanálise humanista de Fromm 138139 na psicologia analítica de Jung 8789 na psicologia existencial de May 225227 na psicologia individual de Adler 6163 na teoria centrada na pessoa de Rogers 192 199204 203204f na teoria das relações objetais de Klein 105106 na teoria de aprendizagem social cognitiva de Rotter 359361 na teoria dos construtos pessoais de Kelly 384386 na teoria holístico dinâmica de Maslow 184186 na teoria social cognitiva de Bandura 343344 na teoria social psicanalítica de Horney 123124 Terceira força em psicologia 169170 Terrorismo autoeficácia e 344345 Teste das Lembranças Precoces 3839 Teste de Apercepção Temática TAT 106107 205207 Teste de associação de palavras 8586 Teste de Repertório de Construtos de Papel Rep 385390 Teste de Rorschach 3839 106107 330 Teste de Stroop 264266 Teste de Vocabulário do WAIS 3839 Tipos na psicologia analítica de Jung 8183 83f na teoria dos fatores de base biológica de Eysenck 274279 Tipos de interesse vocacional de Holland 63 64f Tirania do dever 120121 Trabalho como orientação produtiva 136137 Traços 35 bipolares 254255 comuns 238239 unidirecionais 254255 Transcendência 132133 134f Transferência 3334 8788 106 138139 negativa 3334 106 Transformação na psicologia analítica de Jung 8788 Transmissão monogênica 296297 poligênica 296297 Transtorno de estresse póstraumático TEPT 34 35 106107 Transtornos da alimentação 6365 Transtornos da personalidade 137139 Ver também desenvolvimento anormaldesadaptado Hitler e 139141 narcisismo maligno 137 138 140141 necrofilia 137 138139f 140141 simbiose incestuosa 138 139 138139f 140141 tratamento clínico da criança problema O Rogers 193 Trauma teoria das relações objetais e 106107 Tríade anal 2728 Tribo Northern Blakfoot 170171 U Umwelt 217218 218219f 220222 225 Unidade da personalidade 5153 Unidades cognitivoafetivas 365369 Union Theological Seminary 192193 215 Universidade Brandeis 171 172 174175 Universidade da Califórnia em Berkeley 147148 287 Universidade de Boston 255 256 Universidade de British Columbia 329330 Universidade de Chicago 103 104 193 205207 256 Universidade de Columbia 47 48 170171 192193 215 362363 Universidade de Harvard 236 287 306308 362363 Universidade de Iowa 329 330 350351 Universidade de Londres 272274 Universidade de Minnesota 306308 375376 Universidade de Viena 1314 4748 Universidade de Wisconsin 192194 205 Universidade do Kansas 375 376 Universidade do Texas 286 Universidade Estadual de Iowa 375376 Universidade Estadual de Ohio 350351 362 376 Universidade Stanford 330 342343 362363 Uso de álcool 6365 V Validade 810 convergente 910 discriminante 910 divergente 910 do construto 910 preditiva 910 Valor da necessidade VN 355356 05Feistindice03indd 440 05Feistindice03indd 440 271014 1649 271014 1649 ÍNDICE 441 Valor do reforço VR 352 353 357358 Valores B dos autoatualizadores 178179 179f Variações genéticas neutras 293 Variáveis da situação 364366 Questionário dos Dezesseis Fatores da Personalidade Escala 16PF 253254 Velhice na psicologia analítica de Jung 8384f 84 nos estágios do desenvolvimento psicossocial de Erikson 157160 160f Verdade de Gandhi Erikson 160162 Vidas emergentes disposições duradouras McCrae e Costa 256 Vienna Psychoanalytic Society 16 4748 Viver existencial 204 Vontade 151f 152153 na psicologia existencial de May 221222 Vulnerabilidade 198199 W Walden II Skinner 305308 313 326 Wednesday Psychological Society 16 40 47 Western Behavioral Sciences Institute WBSI 193194 Wichita Guidance 330 William Alansonn White Institute of Psychiatry Psychoanalysis and Psychology 131 215 222223 Z Zen budismo 131 Zonas erógenas 2224 152 05Feistindice03indd 441 05Feistindice03indd 441 271014 1649 271014 1649 Feistiniciaisindd viii Feistiniciaisindd viii 291014 0943 291014 0943 Esta página foi deixada em branco intencionalmente