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ISSN 18084281 Estudos e Pesquisas em Psicologia Rio de Janeiro v 23 n 1 p 312328 Janeiro a Abril de 2023 Estudos e Pesquisas em Psicologia 2023 Vol 01 doi1012957epp202375313 ISSN 18084281 online version PSICOLOGIA CLÍNICA E PSICANÁLISE O que Terapeutas Comportamentais Aprendem para sua Prática Clínica na Relação Terapêutica Olívia Rodrigues da Cunha Pontifícia Universidade Católica de Goiás PUC Goiás Goiânia GO Brasil ORCID httporcidorg0000000176637532 Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Pontifícia Universidade Católica de Goiás PUC Goiás Goiânia GO Brasil ORCID httporcidorg0000000332523351 RESUMO De acordo com a visão vigente aprendese a ser psicoterapeuta comportamental em cursos onde se ensinam teoria intervenções e técnicas e na supervisão onde a atuação do terapeuta é aprimorada O objetivo deste estudo foi examinar uma terceira via de aprendizagem O que os terapeutas aprendem na relação com seus clientes Foram entrevistados 14 terapeutas analíticocomportamentais cognitivo comportamentais ou comportamentais contextuais a respeito do que aprenderam com seus clientes para sua prática clínica A análise das transcrições foi pautada nos preceitos da grounded theory analysis Os resultados sugerem que os terapeutas aprendem sobre algumas coordenadas importantes do processo terapêutico a singularidade de cada cliente a responsabilidade do cliente e do terapeuta para o processo e sobre as suas limitações como terapeuta Expandem suas competências clínicas como enxergar além de rótulos e julgamentos assumir uma postura terapêutica flexibilidade e autenticidade Adquirem estratégias clínicas aprendem a ceder espaço para o cliente a respeitar o tempo do cliente e responder às suas necessidades Finalmente aprendem a manejar riscos e contrariedades a lidar com a proximidade no relacionamento como usar dos seus equívocos a favor da terapia e conduzir aspectos burocráticos da sua profissão Palavraschave relação terapêutica terapia comportamental formação do psicoterapeuta processos psicoterapêuticos aprendizagem do terapeuta Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 313 What Do the Behavioral Therapists Learn for their Clinical Practice in the Therapeutic Relationship ABSTRACT According to the current view the role of a behavioral therapist is trained in courses which theory interventions and techniques are taught and in clinical supervision supervision where the beginners performance is shaped The aim of this study was to explore a third learning pathway What do therapists learn in their relationship with their clients Fourteen behavioral and cognitivebehavioral therapists were interviewed about what they learned from their clients The transcripts were examined according to the precepts of grounded theory analysis The results suggest that therapists learn about important coordinates of the therapeutic process the uniqueness of each client the clients and therapists responsibility in the process and also about therapists limitations They expand their clinical competencies how to see beyond labels and evaluations to assume a therapeutic stance be flexible and authentic They acquire clinical strategies learning to allow due space to the client to respect the clients time and to respond to their needs Finally they learn how to manage risks and setbacks to deal with closeness in the relationship take advantage of their errors in favor of therapy and how to manage bureaucratic aspects of their profession Keywords therapeutic relationship behavioral therapy psychotherapist training psychotherapeutic processes therapist learning Qué Aprenden los Terapeutas Conductuales para su Práctica Clínica en la Relación Terapéutica RESUMEN Según la visión actual la profesión de psicoterapeuta se aprende de los profesores que imparten teoría intervenciones y técnicas y de los supervisores que acompañan la actuación El objetivo de este estudio fue identificar una tercera vía de aprendizaje qué aprenden los terapeutas con sus clientes Se entrevistó a catorce terapeutas conductuales y cognitivo conductuales sobre lo que aprendieron con sus clientes El análisis de datos se basó en los preceptos del análisis de teoría fundamentada Los resultados sugieren que los terapeutas aprenden sobre las coordenadas importantes del proceso terapéutico la singularidad de cada cliente la responsabilidad del cliente y del terapeuta por el proceso y sus limitaciones como terapeuta Los terapeutas amplían sus competencias clínicas cómo ver más allá de las etiquetas y los juicios adoptar una postura terapéutica desarrollar flexibilidad y autenticidad Adquirir estrategias clínicas aprender a darle espacio al cliente respetar el tiempo del cliente y responder a sus necesidades Finalmente aprenden a gestionar los riesgos y contratiempos a lidiar con la proximidad al cliente a aprovechar los conceptos erróneos a favor de la terapia y a gestionar los aspectos burocráticos de su profesión Palabras clave relación terapéutica terapia de comportamiento formación de psicoterapeutas procesos psicoterapéuticos aprendizaje del terapeuta Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 314 A formação de um terapeuta comportamental consiste na instalação de um repertório que estará sob controle por um lado do modelo teórico com suas especificações de tipos de eventos relevantes relações entre eles e técnicas e por outro das contingências presentes no próprio atendimento do cliente Contudo considerase as contingências presentes no atendimento como condições que devem ser levadas em conta usadas ou modificadas ao fazer o trabalho de mudar o comportamento do cliente Starling 2002 Meyer et al 2015 A questão de como essas contingências afetam o terapeuta é o que nos interessa no presente estudo Para esse estudo optouse para olhar além da comunidade mais estrita da terapia analíticocomportamental e incluir a experiência concreta de terapeutas cognitivo comportamentais e comportamentais contextuais ainda que não todos compartilhem do mesmo viés epistemológico Guilhardi 2012 Azevedo et al 2022 A intenção é discutir a experiência concreta além dos preceitos teóricos dos profissionais no seu diaadia no consultório Consideramos primeiro nos parágrafos que seguem quais são as vias consagradas de aprendizagem do terapeuta Rodrigues e De Luca 2019 apontam que o ofício do terapeuta analítico comportamental é aprendido através de transferência de conteúdo p ex aulas expositivas e leituras oficinas e supervisão e que a área de formação nessa abordagem poderia fazer um uso mais rigoroso dos próprios princípios de aprendizagem analíticocomportamental para treinar terapeutas As formações nas terapias comportamentais contextuais também fazem uso de leituras teóricas e supervisão mas são fortemente enraizadas em práticas experienciais usando oficinas com exercícios explorando as emoções e os valores do próprio terapeuta Harris 2019 ou treinamentos compactados em módulos intensivos complementados com mentoria Miga et al 2020 Aprendese a terapia cognitivo comportamental pela supervisão e pela formação expandida que inclui ensino didático e experiencial aprendizagem ativa por meio de dramatizações modelagem e grupos de discussão A avaliação ocorre através do exame da prática do terapeuta Reis Barbosa 2018 Entre as competências que são ensinadas ou treinadas as mais enfatizadas na literatura são habilidades sociais p ex empatia e ética instrumentais p ex elencar e focar em metas terapêuticas analíticas p ex conhecimento da teoria e das técnicas e autorreflexivas Scotton et al 2021 Ao reunir essas informações percebemos que a supervisão e o treinamento em cursos e oficinas são os lugares onde os terapeutas adquirem suas habilidades e competências profissionais Pouco tem se dado crédito no que a formação do terapeuta ganha in loco no Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 315 próprio setting terapêutico O objetivo deste artigo é verificar o que o cliente ensina ao terapeuta e de oferecer uma categorização dos aspectos da prática clínica que são aprendidos por essa via o cliente Método Participantes Participaram da pesquisa 14 terapeutas incluindo 6 que atuam sob a perspectiva analíticocomportamental 4 cognitivocomportamental e 4 comportamentalcontextual sendo nove mulheres e cinco homens distribuídos pelas cinco regiões do país 2 na região Norte 2 Nordeste 4 CentroOeste 4 Sudeste e 2 Sul Eles tinham entre 3 e 21 anos média 9 anos de experiência clínica Foram escolhidos por a ter credenciamento ativo junto a um Conselho Regional de Psicologia b ter sua prática clínica pautada em uma das terapias mencionadas e c ter no mínimo dois anos de atuação Foram excluídos os terapeutas cuja ênfase de trabalho não fosse a área clínica A amostra foi construída para incluir terapeutas de diferentes regiões e diferentes níveis de experiência clínica com a intenção de permitir aflorar conceitos que são relevantes para descrever o fenômeno estudado de maneira mais ampla Levitt 2021a Materiais Foi construído um roteiro com as seguintes perguntas norteadoras 1 Durante os anos em que tem se dedicado à clínica no que a relação com seus clientes tem te agregado como profissional 2 Você consegue trazer pra mim algum cliente ou algum caso com quem acredita que tenha aprendido mais 3 Você mudou abandonou ou adotou alguma atitude ou estratégia clínica devido a algum feedback de clientes 4 Caso tivesse oportunidade de se encontrar com alguns desses clientes que você mencionou o que você teria para dizer a eles hoje da experiência que passaram juntos Procedimento Foram programados encontros entre a pesquisadora e cada participante A cada um foi fornecido um termo de consentimento livre e esclarecido para garantir os critérios da Resolução 46612 do Conselho Nacional de Saúde Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 316 As entrevistas tiveram duração média de 50 minutos variando entre 36 minutos e 1 hora e 18 minutos Foram gravadas e transcritas pela pesquisadora O roteiro era usado com flexibilidade como referência e a sequência das questões variava entre as entrevistas Muitas vezes uma resposta dada a uma pergunta já trazia consigo a resposta a uma próxima Outras vezes novas questões eram adicionadas para verificar uma dúvida emergente das entrevistas anteriores Quando foi necessário a pesquisadora fez perguntas de contraste ou adicionou novas questões para aprofundar algum assunto relevante A coleta e análise dos dados acompanhou os preceitos da Grounded Theory Analysis na sua forma modificada por Charmaz 2006 e Levitt 2021b afastandose de uma sequência linear mas destacando uma interdependência entre coleta e análise dos dados onde as interpretações iniciais dos dados foram consideradas de forma crítica e verificadas durante as entrevistas seguintes A primeira autora conduziu as entrevistas e preparou as transcrições Depois das transcrições os autores colaboraram na análise interpretativa Foi feita uma leitura do material envolvendo um delineamento de unidades de sentido e criação de códigos que sintetizam e explicam essas unidades Primeiro os trechos que contiveram alguma informação relevante para o objetivo do estudo foram submetidos a codificação analítica isto é receberam rótulos que resumiram o que havia de relevante nesses trechos A codificação induz a estudar os dados rigorosamente e a começar a conceituar as ideias Os códigos assim construídos foram posteriormente organizados de acordo com similaridades e diferenças entre eles em agrupamentos de códigos para as quais um rótulo mais geral uma categoria foi escolhido Foi desenvolvido um trabalho de comparação contínua entre os dados das diferentes entrevistas entre os dados brutos os códigos emergentes e as categorias emergentes Através dessas comparações uma classificação final de categorias e códigos foi construída Levitt 2021b Por esse método não utilizar uma matriz de códigos anteriormente validados é necessário aos pesquisadores se valerem de uma autoconsciência metodológica o que implica na disposição de detectar e dissecar suas próprias visões de mundo e vieses Charmaz 2016 Por isso os pesquisadores consideravam o efeito das suas perspectivas e interesses teóricos sobre suas atividades de coleta e análise de dados e discutiram sobre isso regularmente para evitar que distorcessem de maneira despercebida a interpretação Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 317 Resultados A organização das categorias e códigos resultou num modelo veja Tabela 1 que descreve que os terapeutas relatam ter aprendido dos seus clientes sobre alguns coordenados do processo terapêutico ter adquirido competências e estratégias clínicas e aprendido a manejar alguns riscos e incômodos próprios do ofício de terapeuta Assim os resultados serão apresentados partindo das categorias que emergiram da análise dos dados e cada conceito será exemplificado por fragmentos retirados das entrevistas Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 318 Coordenadas do Processo Terapêutico A metade dos participantes relatou ter aprendido como integrar a singularidade de cada cliente na sua atuação As nuances e especificidades de cada pessoa fazem com que o terapeuta se disponha ao iniciar um novo tratamento a embarcar em um novo universo Cada história é única e é preciso muito cuidado muita atenção e muito respeito pra montar cada caso e abordar cada cliente L Ainda que as demandas sejam parecidas a história e o repertório comportamental de cada um são únicos Você acaba vendo de alguma forma que não dá pra usar uma forma de bolo as pessoas são diferentes as histórias tem nuances diferentes e isso acaba te fazendo ter que pensar e repensar na sua prática para com aquela pessoa que está na sua frente E Ter experiência com um determinado problema não deve tornar o terapeuta menos aberto para aprender a cada novo caso Mesmo que o comportamento problema seja o mesmo as variáveis que o mantém se modificam amplamente e a mesma intervenção pode ter efeitos diferentes O primeiro crescimento da clínica é essa possibilidade de empatizar com o diferente diferente do que a gente já experimentou ou mesmo do que ouviu falar Depende de cada cliente Depende de cada relação Às vezes com aquele cliente você vai ter que usar menos técnica usar mais a escuta Já com outro cliente funciona melhor com certa técnica E Vários aprenderam a enxergar o quanto o cliente é responsável pelo seu engajamento e que é importante identificar o papel do cliente no processo da mudança que almeja Demorei um pouco pra perceber que esses resultados não dependiam só de mim que eu era só parte do processo H Significa que a psicoterapia não é um lugar onde o cliente recebe as respostas mas onde em conjunto irá construir algo um novo repertório comportamental Por outro lado o terapeuta aprende a identificar o que está a seu encargo e quais podem ser as consequências e implicações da sua atuação É um gesto de confiança extrema quando um cliente principalmente que não tem esse repertório te procura se abre com você C Observamos pelos relatos que esta pode ser uma aprendizagem assustadora mas profundamente significativa A primeira na lata sentou na minha frente e me disse assim Eu vou me matar Então você leva aquele tranco e ao mesmo tempo você percebe que você não tem mais os professores pra te auxiliar né Na prática ela trouxe o questionamento assim que tipo de profissional você quer ser A Ainda neste tema L nos diz Você ter o privilégio de oferecer para aquela pessoa muitas vezes o que ela ainda não tem em seus outros ambientes respeito validação entende O mais valioso é essa troca de responsabilidade você Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 319 entender que exerce um papel muito importante e muito sério na vida de quem te procura e ir ajudando ela L O trabalho clínico oferece ao terapeuta a oportunidade de se deparar com seus entraves pessoais e suas dificuldades profissionais que limitam suas possibilidades de atuação As limitações podem envolver habilidades interpessoais Eles demandam demais eles falam muito em sessão às vezes é até difícil encerrar sessão e isso é uma coisa que eu acho até que eu tinha que aprender a trabalhar conseguir finalizar sessão às vezes eu passo muito do tempo porque eu não consigo cortar as falas I Podem também ser técnicas Eu me lembro muito dessa sensação de não poder enganar aquela pessoa de ver que naquele momento os recursos que eu tinha não eram mesmo o suficiente pro caso dela H Uma vez identificada a limitação o profissional pode tanto resignarse e restringir sua ambição clínica quanto buscar soluções para o entrave Já terminei sessão achando que foi uma merda que eu não servia pra isso que a pessoa não entendeu muito bem o que eu estava trazendo tenho tentado naturalizar mais isso oferecer o meu melhor sempre mas entendendo que o meu melhor alguns dias é meio merda mesmo M Sobre a necessidade de procurar suporte mesmo seja de mais estudo de uma rede de afeto pra mim também Uma necessidade recorrente de uma supervisão da cliente falar que você não está ajudando ela e você sair acabado e eu precisar conversar com alguém urgente por me sentir muito mal com aquela situação H Competências Clínicas Aprendese a ver além de ideias préconcebidas Isto inclui aprender a relativizar a importância de categorias diagnósticas e avaliações psicológicas dando prioridade a olhar pelos olhos do cliente entender que o que ele faz tem a ver com a história dele que ele não tem a mesma história que eu então ele não tem que ter os mesmos valores que eu C Então acaba ampliando a possibilidade do terapeuta se ligar pra isso amplia a visão mesmo Por exemplo uma mulher que trai o marido e aí na clínica você vai ver isso sob influências diferentes sobre aquela traição que vão muito além das análises rasas que se ouve A clínica é ter a oportunidade de ver esse outro lado E Acolher e entender alguém pra além de um diagnóstico foi transformador pra mim e pra relação que eu tive desde então com esses pacientes Por linha teórica por estar boa parte da minha formação em meios de profissionais de saúde eu era muito restrito a diagnóstico Eu não percebia o quanto me limitava até atender o meu primeiro caso border Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 320 Com aquela pessoa com aquela relação eu vi que me prender a isso ao que descrevem sobre um transtorno era infinitamente inferior ao que aquela pessoa me trazia ao que ela tinha de recurso ao sofrimento dela Foi algo que senti surgir aí e levei pra mais casos meus N O trabalho com o cliente modela a postura a assumir como terapeuta Isto inclui manejar o tom e atitude e diminuir a ânsia por oferecer respostas À medida que o cliente responde eu entendo que aquilo não foi tão legal que aquela fala minha não foi tão interessante que aquele meu comportamento não foi tão adequado Eu fui aprendendo a lidar com o outro aprendendo a respeitar o outro e a respeitar o meu tempo enquanto terapeuta J Outro aspecto da postura aprendida é impor limites Aceitei atendêla de uma forma que desde o início pra mim não fazia muito sentido Me fez perceber que eu preciso impor limites fazer da forma que eu acho correto e não ceder tanto ao pedido do outro F A interação com o cliente me ensinou muito em como ser terapeuta em como tratar essa pessoa tratar de relacionar mesmo e de conduzir o atendimento I Aprender a ser flexível está diretamente ligado ao abandono da rigidez proveniente da formação regras passos e procedimentos a se seguir Me permitir mais desde me emocionar mais a falar mais e me permitir reconsiderar minhas crenças modificálas mesmo em função do que eu tô vivendo do que eu tô aprendendo com o outro M Me tornar mais ousada Comecei muito presa a protocolos seguindo muitas regras Tinha bons resultados não nego mas via que era uma relação dura entende Vi muito isso com um paciente adolescente que tive há algum tempo Ele era colaborativo mas não era fluído não era uma relação entende Não era uma dupla mas duas pessoas onde uma indica a outra cumpre E eu experimentei ser mais pessoal mais afetivo falar algo de mim me interessar por assuntos dele que não necessariamente à primeira vista caberia em sessão como música filmes e ele passou a render muito mais comigo e eu passei a me sentir muito mais confortável N Os terapeutas podem aprender com o cliente a serem autênticos permitindo aflorar sua individualidade Somos pessoa antes de mais nada Acho que durante muito tempo eu me mantive afastada dos clientes e depois eu fui percebendo que não era a forma que eu queria continuar sendo terapeuta Eu quis me deixar afetar mais pelos clientes sentir mesmo poder me emocionar junto com eles nas sessões K A prática clínica me mostrou que dá pra ser psicólogo sendo eu mesmo O que eu mais tenho aprendido é manter coisas traços da minha personalidade né De quem eu sou da minha história de vida e agregar isso a um saber psicológico A Tem dia que eu não tô legal e eu gosto de dividir isso com meu Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 321 paciente eu preciso que ele compreenda Eles são super empáticos e tá tudo bem falar porque eu sou real e eu gosto de deixar isso claro que eu sou igual a eles G Estratégias Clínicas Ceder espaço para o cliente apesar de ser fundamental na prática clínica parece ser uma estratégia aprendida não tanto durante a formação mas na própria interação com o cliente Ao oferecer respostas e intervenções os terapeutas podem inadvertidamente ocupar o espaço que o cliente precisaria O que eu mais aprendi é a fazer silêncio é dar espaço pra que a pessoa verbalize e que necessariamente eu não preciso de uma resposta pra ela A Aprender a esperar enquanto o cliente se posiciona com os recursos que tem no momento e maneja sua relação para com o terapeuta envolve não forçar o cliente a assimilar a interpretação do terapeuta Na outra sessão eu disse pra ela que percebi um incômodo dela e se ela gostaria de me trazer o que era Aí ela falou que essa fala minha foi muito ruim pra ela porque fez com que ela se sentisse burra Aí eu aprendi primeiro eu tento ajudar a organizar e depois eu coloco coisas B No início a gente quer que a pessoa fique bem logo mas não é nós é a pessoa risos Tem caso que pra nós é muito nítida a contingência que tá acontecendo com aquela pessoa mas pra ela não ela nunca se observou Então não adianta eu tentar explicar antes dela mesma perceber A Eu começo a ficar tão animada com o rastreamento de contingências que eu começo a forçar alguma coisa Eu já tive esse tipo de feedback de ele estar com a sensação de eu estar empurrando demais C Eu aprendi a evitar de questionar comportamento sexual Principalmente nas primeiras sessões Eu percebi que eu preciso estabelecer outras coisas antes de tocar nisso mesmo sendo importante Eu não deixo de falar sobre mas eu esquivo até ver que está pronto B Ainda neste tema outras falas significativas A gente caminhou muito muito mesmo diante do que ela tinha chegado Mas eu lembro de um exercício de enfrentamento Ela foi mas ela se sentiu muito mal eu disse pra ela que minha intervenção naquele momento não foi adequada que ela não estava pronta ela também entendeu assim J Uma coisa que os pacientes me ensinaram foi a ter paciência em relação a cada cliente esperar a história de cada um o ritmo de cada um E que talvez a forma como eu idealizava que as coisas poderiam acontecer nem sempre são na velocidade que eu quero Então vem me ensinando a ter paciência e a mesclar um pouco de mudança com o momento atual do cliente sabe Eu acho que os clientes vem me ensinando muita ter paciência mesmo a esperar ver H Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 322 Aprende a responder ao que a pessoa precisa Que o outro está em sofrimento que é parte de uma contingência e que ele precisa de acolhimento muito mais do que de uma análise B Aprender a construir com cada cliente o vínculo que é diferente de todos os outros Dez clientes e eu aprender onde eu posso ir com cada um onde posso sorrir fazer um trocadilho postura ser mais próxima ou mais distante Aprender sobre o outro e aprender a me colocar nessa relação com esse outro E Eu fui vendo a necessidade de por exemplo algumas vezes estar mais próxima puxando uma cadeira pra mais próximo fisicamente Já ofereci um abraço no final da sessão porque vi que cabia naquele caso e são coisas que eu não me veria fazendo no começo da clínica E O que deu para aprender com essa situação é que eu não tenho autorização para desconsiderar os valores de um cliente meu que para fazer uma sugestão eu preciso analisar avaliar muito bem antes São os valores de cada cliente para alguns clientes determinada intervenção é encaixável para outros não vai dar certo Ficou essa lição H Aprendi que é importante pensar bem antes de testar algumas intervenções No primeiro caso eu pensei só no efeito que eu queria alcançar e não pensei no outro não pensei na história que o cliente tinha K Manejo de Riscos e Incômodos Terapeutas aprendem a manejar a relação com os clientes às vezes com profundos níveis de intimidade com suas nuances e considerações dos riscos pessoais A ter essa sensibilidade discriminar os estímulos a conhecer o outro se arriscar mais e correr o risco de até mesmo ser punida F No começo eu tinha muitas reservas com contato físico com mulheres e atendia muitas mulheres Conforme elas me mostravam sinal de vínculo sorriso abertura pra assuntos íntimos entendia um abraço ao final da sessão como algo mais natural Foi ensinado pelas minhas clientes que sozinho talvez eu não faria depende em muito delas pra me permitir isso K Clientes podem ensinar seus terapeutas a lidar com a proximidade na relação terapêutica Foi uma coisa que meus clientes modelaram em mim esse falar sobre coisas pessoais mesmo Teve esse processo de modelagem isso alterou muito o meu discurso com cliente e foi uma quebra de regra terrível C Podendo até mesmo a proximidade cedida por um cliente servir de modelo para o terapeuta em suas outras relações terapêuticas Eu nunca havia abraçado alguém em sessão e era uma cliente que abraçava e tinha uma intensidade muito boa no abraço Eu me sentia muito bem e não disse isso a ela mas tentei Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 323 replicar nos meus outros atendimentos risos Passei a abraçar e tentar passar nesse abraço algo parecido com o que aquela cliente me gerava H Terapeutas aprendem a manejar os efeitos de seus erros e a aproveitar o ocorrido como oportunidade Eu tive que reconhecer meu erro e reparar minha má atitude Isso me ensinou nesse sentido de reconhecer falha reparála e em não culpabilizar o outro quando não há mesmo espaço pra isso D Aprendem também a ser menos punitivos consigo Coisa que eu aprendi trabalhando atendendo é que você pode errar nós temos essa alternativa Eu mesma peço que meus clientes sinalizem isso pra mim quando perceberem isso pra eu poder voltar e pedir desculpas pra ele E então assim é muito interessante porque aí eles sinalizam ó isso aqui que você falou semana passada isso não foi legal isso pegou mal pra mim B Aprendi mostrar mesmo que a gente se desafinou ali e que ainda assim me mantenho interessada em compreender a história de vida da pessoa e em auxiliar Também é uma habilidade né risos Acho bom quando cliente modela o meu comportamento nesse sentido L O que é aprendido ao reconhecer um erro pode servir de modelo para o cliente É saber reconhecer essas falhas e mostrar inclusive na relação terapêutica que a pessoa pode falhar e que necessariamente isso não é ruim A A dificuldade em abordar questões burocráticas como cobrar honorários parece ser frequente Percebese uma contradição entre ajudar pessoas com assuntos tão pessoais e receber Estou aprendendo na clínica particular a cobrar as consultas Eu tinha uma dificuldade gigantesca de abordar esse tema na terapia porque a minha regra era assim como eu vou falar de dinheiro com essa pessoa se estou cuidando do sofrimento dela Como fazer isso sem mostrar que eu estou querendo lucrar com o sofrimento dela As questões práticas burocráticas que a gente não aprende na faculdade A Discussão O modelo que emergiu do presente estudo diz respeito a uma terceira via de aprendizagem do terapeuta Enquanto o ensino ou treinamento e a supervisão são as vias de formação mais endossadas Starling 2002 Meyer et al 2015 Reis Barbosa 2018 Harris 2019 Rodrigues e de Luca 2019 Miga et al 2021 Scotton et al 2021 a aprendizagem direta durante o exercício da profissão recebeu menos atenção de pesquisadores até o presente Quando consideramos as contribuições individuais dos participantes a partir das quais os diferentes códigos foram construídos veja Tabela 1 percebemos que cada um relatou ao Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 324 menos quatro tipos diferentes de aprendizagem o que sugere que se trata de um processo com uma abrangência importante As aprendizagens mais mencionadas são a flexibilidade no atendimento o abandono da rigidez da formação a postura a assumir como terapeuta o respeito para com o tempo do cliente ser responsivo às necessidades do cliente e saber manejar a proximidade interpessoal com o cliente na sessão Alguns resultados confirmam achados em estudos mais antigos com terapeutas de outras abordagens Os participantes de Stahl et al 2009 relataram aprender sobre conduzir a terapia sobre si mesmos as dinâmicas dos clientes a natureza humana a relação terapêutica e a utilidade da supervisão Como alguns dos participantes do presente estudo também relataram ter aprendido a assumir uma metaperspectiva permitindo usar erros cometidos a favor do processo terapêutico e a acolher a singularidade do cliente transpondo o diagnóstico Já os participantes de Hatcher et al 2012 relataram ter aprendido lições de paciência resiliência escutar sem julgar e respeito para diferenças como também sobre relações íntimas tanto para sua vida pessoal quanto profissional sobre estratégias de enfrentamento e coragem e como considerar personalidade fase da vida e cultura na atuação Entrevistas com terapeutas iniciantes indicam que o ensino e a supervisão abordam pouco tais aspectos importantes da postura terapêutica a empatia para o diferente por exemplo e os terapeutas os aprendem na sessão por um processo de tentativa e erro e observação cuidadosa de como clientes reagem às intervenções e os terapeutas se corrigem a partir disso Levitt et al 2022 No presente estudo terapeutas aprendem com seus clientes estratégias que normalmente são atribuídas à supervisão como por exemplo diminuir a ânsia em impor soluções prontas ou aprender a empatizar com o diferente participante E Isto pode sugerir que a supervisão e a aprendizagem com o cliente dependem de processos similares É interessante considerar que a supervisão clínica contribui para o desenvolvimento de competências clínicas principalmente pelo feedback que é dado a respeito da atuação do terapeuta Alfonsson et al 2020 Aprendizagem por feedback envolve o processo comportamental de modelagem e não é só o supervisor que dá feedback para o terapeuta Brattland et al 2018 apontam os benefícios de eliciar feedback de clientes e de usálo para melhorar a sua atuação Além do feedback verbal do cliente os efeitos diretos que a atuação do terapeuta tem sobre o cliente e sobre o processo terapêutico também modificam os repertórios do terapeuta Já foi observado que o cliente modela o comportamento do terapeuta Marsh 2002 Cunha e Vandenberghe 2016 Cunha e Vandenberghe 2021 Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 325 O presente estudo indica que cada cliente com quem o terapeuta estabelece uma relação pode ensinálo algo sobre aspectos importantes do seu ofício como as coordenadas do processo terapêutico competências clínicas e estratégias que transcendem à formação acadêmica além de habilidades práticas úteis para manejar os riscos e incômodos inerentes à profissão É com o cliente que os terapeutas aprendem a relacionarse de maneiras que não sejam engessadas pelas regras e pelos protocolos de forma autêntica e construtiva tratase de um ponto não tão bem abordado no treinamento e supervisão dos terapeutas Neufeld et al 2022 apontam que a flexibilidade da intervenção de acordo com as demandas do cliente é pouca mencionada na literatura nacional comparada com a literatura internacional Ou talvez seja um aprendizado pela qual treinamento e supervisão não ofereçam o melhor caminho Orientações dadas em treinamentos ou em manuais a respeito da postura do terapeuta como tratar o cliente como alguém que é capaz de gerar soluções e dividir a responsabilidade para o progresso são facilmente perdidas Roscoe et al 2022 apontam que se trata de instruções complexas ensinadas em contextos seguros de treinamento e dificilmente traduzidos para um momento de impasse numa sessão com um cliente em sofrimento intenso Além disso os autores apontam que é impossível ensinar todos os cenários em que tais competências devem ser aplicadas e de que forma deverá ser feito Para tanto as atitudes e habilidades envolvidas devem ser desenvolvidas durante a atuação Bordin 1983 já alertava sobre a lacuna deixada no término da formação e da supervisão quando o terapeuta com diploma em mãos continua o trabalho desassistido e deve aprender os aspectos mais finos da profissão Uma contribuição importante do modelo que resultou do presente estudo é de mostrar o terapeuta aprendendo com o cliente exatamente esses aspectos da atuação que ultrapassam em profundidade o que aprendeu durante sua formação Como limitações deste estudo destacase a quantidade de participantes pequena ao qual se contrapõe como ponto forte do estudo a distribuição geográfica deles pelas cinco regiões do país garantindo uma diversidade ampla de experiências Considerando que um dos achados seja que os terapeutas aprendem postura flexibilidade respeito para o tempo do cliente responsividade às necessidades dele e saber lidar com a proximidade interpessoal na sessão sugerese que futuros estudos investiguem especialmente essas dimensões Ademais é preciso considerar que o presente estudo foi realizado dentro da perspectiva comportamental o que deixa como sugestão a replicação para outras abordagens psicoterápicas Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 326 Referências Alfonsson S Lundgren T Andersson G 2020 Clinical supervision in cognitive behavior therapy improves therapists competence A singlecase experimental pilot study Cognitive Behavior Therapist 495 425438 httpsdoiorg1010801650607320201737571 Azevedo M L Bortolatto M Bizarro L Lopes F 2022 Terapias comportamentais e cognitivas Ondas do mesmo mar ou praias diferentes Revista Psicologia em Pesquisa 162 123 httpsdoiorg1034019198212472022v1630871 Bordin E S 1983 A working alliance based model of supervision The Counseling Psychologist 111 3541 httpsdoiorg1011770011000083111007 Brattland H Høiseth J R Burkeland O Inderhaug T S Binder P E Iversen V C 2018 Learning from clients A qualitative investigation of psychotherapists reactions to negative verbal feedback Psychotherapy Research 284 545559 httpsdoiorg1010801050330720161246768 Charmaz Kathy 2006 Constructing Grounded Theory A practical guide through qualitative analysis Sage Charmaz K 2016 The Power of Constructivist Grounded Theory for Critical Inquiry Qualitative Inquiry 231 3445 httpsdoiorg1011771077800416657105 Cunha O R Vandenberghe L 2016 O Relacionamento TerapeutaCliente e o Transtorno de Personalidade Borderline Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva 181 7286 httpsdoiorg1031505rbtccv18i1833 Cunha O R Vandenberghe L 2021 Caminhos pelos quais o Terapeuta Comportamental Aprende com seus Clientes Contextos Clínicos 143 928945 httpsdoiorg104013ctc202114309 Guilhardi H J 2012 Agosto 1518 Considerações conceituais e históricas sobre a terceira onda no Brasil Trabalho apresentado XXI Encontro da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental Curitiba PR Brasil httpswwwitcrcampinascombrtxtterceiraondapdf Harris R 2019 ACT made simple An easytoread primer on acceptance and commitment therapy 2nd ed New Harbinger Publications Hatcher S L KipperSmith A Waddell M Uhe M West J S Boothe J H Frye JM Tighe K Usselman K L Gingras P 2012 What Therapists Learn from Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 327 Psychotherapy Clients Effects on Personal and Professional Lives The Qualitative Report 1748 121 httpsdoiorg10467432160371520121702 Levitt H M 2021a Qualitative generalization not to the population but to the phenomenon Reconceptualizing variation in qualitative research Qualitative Psychology 81 95110 httpsdoiorg101037qup0000184 Levitt H M 2021b Essentials of criticalconstructivist grounded theory research American Psychological Association Levitt H M Collins K M Morrill Z Gorman K R Ipekci B Grabowski L Karch J Kurtz K Picón R O Reyes A VaswaniBye A Wadler B 2022 Learning Clinical and Cultural Empathy A Call for a Multidimensional Approach to Empathy Focused Psychotherapy Training Journal of Contemporary Psychotherapy 52 267 279 httpsdoiorg101007s1087902209541y Marsh J C 2002 Learning from clients Social Work 474 41343 httpsdoiorg101093sw474341 Meyer S B VillasBôas A Franceschini A C T Oshiro C K B Kameyama M Rossi P R Mangabeira V 2015 Terapia analíticocomportamental Relato de casos e de análises Paradigma Miga E M LoTempio E R Michonski J D Hunter D A 2020 NeufAccreditation adherence and training in dialectical behavior therapy Data review and practical applications In J Bedics Org Handbook of dialectical behavior therapy Theory research and evaluation pp 7193 Academic Press Neufeld C B Barletta J B Mendes A I F Amorim C A Rios B F Amaral E Ferreira I M F Scotton I L Rebessi I P Nogueira J M Teodoro M C Almeida N O Becker P L Peron S Szupzynski K P R 2022 Propostas de intervenção e formação de terapeutas e supervisores Overview dos programas online do LAPICC Revista Brasileira de Terapias Cognitivas 181 114121 httpwwwrbtcorgbrdetalheartigoaspid351 Reis G A Barbosa A J G 2018 Formação de terapeutas cognitivo comportamentais Um estudo sobre o estado da arte Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva 201 7285 httpsdoiorg1031505rbtccv20i11138 Rodrigues B S De Luca G G 2019 Ensino de Terapia AnalíticoComportamental Uma revisão sistemática da literatura Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva 214 503523 httpsdoiorg1031505rbtccv21i31342 Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 328 Roscoe J Bates E A Blackley R 2022 It was like the unicorn of the therapeutic world CBT trainee experiences of acquiring skills in guided discovery The Cognitive Behaviour Therapist 15 123 httpsdoiorg101017S1754470X22000277 Scotton I L Barletta J B Neufeld C B 2021 Competências Essenciais ao Terapeuta CognitivoComportamental PsicoUSF 261 141152 httpsdoiorg1015901413 82712021260112 Stahl J V Hill C E Jacobs T Kleinman S Isenberg D Stern A 2009 When the shoe is on the other foot A qualitative study of internlevel trainees perceived learning from clients Psychotherapy Theory Research Practice Training 463 376389 httpsdoiorg101037a0017000 Starling R R 2002 Formação de terapeutas analítico comportamentais colocando o modelo sob as contingências do modelado In A M S Teixeira Org Ciência do comportamento Conhecer e avançar pp 129 ESETec Endereço para correspondência Olívia Rodrigues da Cunha Rua 9 n 130 Setor Oeste Goiânia Goiás Brasil CEP 74110100 Endereço eletrônico oliviarcunhagmailcom Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Rua 9 n 130 Setor Oeste Goiânia Goiás Brasil CEP 74110100 Endereço eletrônico lucmvandenberghegmailcom Recebido em 07082021 Reformulado em 28112022 Aceito em 15012023 Notas Doutoranda em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás Professora de Pósgraduação Lato Sensu em Especializações em Clínica Comportamental Psicólogo com Mestrado Universidade de Gent Bélgica e Doutorado Universidade de Liège Bélgica em psicologia clínica Professor e supervisor clínico na PUC Goiás Este artigo de revista Estudos e Pesquisas em Psicologia é licenciado sob uma Licença Creative Commons AtribuiçãoNão Comercial 30 Não Adaptada

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ISSN 18084281 Estudos e Pesquisas em Psicologia Rio de Janeiro v 23 n 1 p 312328 Janeiro a Abril de 2023 Estudos e Pesquisas em Psicologia 2023 Vol 01 doi1012957epp202375313 ISSN 18084281 online version PSICOLOGIA CLÍNICA E PSICANÁLISE O que Terapeutas Comportamentais Aprendem para sua Prática Clínica na Relação Terapêutica Olívia Rodrigues da Cunha Pontifícia Universidade Católica de Goiás PUC Goiás Goiânia GO Brasil ORCID httporcidorg0000000176637532 Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Pontifícia Universidade Católica de Goiás PUC Goiás Goiânia GO Brasil ORCID httporcidorg0000000332523351 RESUMO De acordo com a visão vigente aprendese a ser psicoterapeuta comportamental em cursos onde se ensinam teoria intervenções e técnicas e na supervisão onde a atuação do terapeuta é aprimorada O objetivo deste estudo foi examinar uma terceira via de aprendizagem O que os terapeutas aprendem na relação com seus clientes Foram entrevistados 14 terapeutas analíticocomportamentais cognitivo comportamentais ou comportamentais contextuais a respeito do que aprenderam com seus clientes para sua prática clínica A análise das transcrições foi pautada nos preceitos da grounded theory analysis Os resultados sugerem que os terapeutas aprendem sobre algumas coordenadas importantes do processo terapêutico a singularidade de cada cliente a responsabilidade do cliente e do terapeuta para o processo e sobre as suas limitações como terapeuta Expandem suas competências clínicas como enxergar além de rótulos e julgamentos assumir uma postura terapêutica flexibilidade e autenticidade Adquirem estratégias clínicas aprendem a ceder espaço para o cliente a respeitar o tempo do cliente e responder às suas necessidades Finalmente aprendem a manejar riscos e contrariedades a lidar com a proximidade no relacionamento como usar dos seus equívocos a favor da terapia e conduzir aspectos burocráticos da sua profissão Palavraschave relação terapêutica terapia comportamental formação do psicoterapeuta processos psicoterapêuticos aprendizagem do terapeuta Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 313 What Do the Behavioral Therapists Learn for their Clinical Practice in the Therapeutic Relationship ABSTRACT According to the current view the role of a behavioral therapist is trained in courses which theory interventions and techniques are taught and in clinical supervision supervision where the beginners performance is shaped The aim of this study was to explore a third learning pathway What do therapists learn in their relationship with their clients Fourteen behavioral and cognitivebehavioral therapists were interviewed about what they learned from their clients The transcripts were examined according to the precepts of grounded theory analysis The results suggest that therapists learn about important coordinates of the therapeutic process the uniqueness of each client the clients and therapists responsibility in the process and also about therapists limitations They expand their clinical competencies how to see beyond labels and evaluations to assume a therapeutic stance be flexible and authentic They acquire clinical strategies learning to allow due space to the client to respect the clients time and to respond to their needs Finally they learn how to manage risks and setbacks to deal with closeness in the relationship take advantage of their errors in favor of therapy and how to manage bureaucratic aspects of their profession Keywords therapeutic relationship behavioral therapy psychotherapist training psychotherapeutic processes therapist learning Qué Aprenden los Terapeutas Conductuales para su Práctica Clínica en la Relación Terapéutica RESUMEN Según la visión actual la profesión de psicoterapeuta se aprende de los profesores que imparten teoría intervenciones y técnicas y de los supervisores que acompañan la actuación El objetivo de este estudio fue identificar una tercera vía de aprendizaje qué aprenden los terapeutas con sus clientes Se entrevistó a catorce terapeutas conductuales y cognitivo conductuales sobre lo que aprendieron con sus clientes El análisis de datos se basó en los preceptos del análisis de teoría fundamentada Los resultados sugieren que los terapeutas aprenden sobre las coordenadas importantes del proceso terapéutico la singularidad de cada cliente la responsabilidad del cliente y del terapeuta por el proceso y sus limitaciones como terapeuta Los terapeutas amplían sus competencias clínicas cómo ver más allá de las etiquetas y los juicios adoptar una postura terapéutica desarrollar flexibilidad y autenticidad Adquirir estrategias clínicas aprender a darle espacio al cliente respetar el tiempo del cliente y responder a sus necesidades Finalmente aprenden a gestionar los riesgos y contratiempos a lidiar con la proximidad al cliente a aprovechar los conceptos erróneos a favor de la terapia y a gestionar los aspectos burocráticos de su profesión Palabras clave relación terapéutica terapia de comportamiento formación de psicoterapeutas procesos psicoterapéuticos aprendizaje del terapeuta Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 314 A formação de um terapeuta comportamental consiste na instalação de um repertório que estará sob controle por um lado do modelo teórico com suas especificações de tipos de eventos relevantes relações entre eles e técnicas e por outro das contingências presentes no próprio atendimento do cliente Contudo considerase as contingências presentes no atendimento como condições que devem ser levadas em conta usadas ou modificadas ao fazer o trabalho de mudar o comportamento do cliente Starling 2002 Meyer et al 2015 A questão de como essas contingências afetam o terapeuta é o que nos interessa no presente estudo Para esse estudo optouse para olhar além da comunidade mais estrita da terapia analíticocomportamental e incluir a experiência concreta de terapeutas cognitivo comportamentais e comportamentais contextuais ainda que não todos compartilhem do mesmo viés epistemológico Guilhardi 2012 Azevedo et al 2022 A intenção é discutir a experiência concreta além dos preceitos teóricos dos profissionais no seu diaadia no consultório Consideramos primeiro nos parágrafos que seguem quais são as vias consagradas de aprendizagem do terapeuta Rodrigues e De Luca 2019 apontam que o ofício do terapeuta analítico comportamental é aprendido através de transferência de conteúdo p ex aulas expositivas e leituras oficinas e supervisão e que a área de formação nessa abordagem poderia fazer um uso mais rigoroso dos próprios princípios de aprendizagem analíticocomportamental para treinar terapeutas As formações nas terapias comportamentais contextuais também fazem uso de leituras teóricas e supervisão mas são fortemente enraizadas em práticas experienciais usando oficinas com exercícios explorando as emoções e os valores do próprio terapeuta Harris 2019 ou treinamentos compactados em módulos intensivos complementados com mentoria Miga et al 2020 Aprendese a terapia cognitivo comportamental pela supervisão e pela formação expandida que inclui ensino didático e experiencial aprendizagem ativa por meio de dramatizações modelagem e grupos de discussão A avaliação ocorre através do exame da prática do terapeuta Reis Barbosa 2018 Entre as competências que são ensinadas ou treinadas as mais enfatizadas na literatura são habilidades sociais p ex empatia e ética instrumentais p ex elencar e focar em metas terapêuticas analíticas p ex conhecimento da teoria e das técnicas e autorreflexivas Scotton et al 2021 Ao reunir essas informações percebemos que a supervisão e o treinamento em cursos e oficinas são os lugares onde os terapeutas adquirem suas habilidades e competências profissionais Pouco tem se dado crédito no que a formação do terapeuta ganha in loco no Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 315 próprio setting terapêutico O objetivo deste artigo é verificar o que o cliente ensina ao terapeuta e de oferecer uma categorização dos aspectos da prática clínica que são aprendidos por essa via o cliente Método Participantes Participaram da pesquisa 14 terapeutas incluindo 6 que atuam sob a perspectiva analíticocomportamental 4 cognitivocomportamental e 4 comportamentalcontextual sendo nove mulheres e cinco homens distribuídos pelas cinco regiões do país 2 na região Norte 2 Nordeste 4 CentroOeste 4 Sudeste e 2 Sul Eles tinham entre 3 e 21 anos média 9 anos de experiência clínica Foram escolhidos por a ter credenciamento ativo junto a um Conselho Regional de Psicologia b ter sua prática clínica pautada em uma das terapias mencionadas e c ter no mínimo dois anos de atuação Foram excluídos os terapeutas cuja ênfase de trabalho não fosse a área clínica A amostra foi construída para incluir terapeutas de diferentes regiões e diferentes níveis de experiência clínica com a intenção de permitir aflorar conceitos que são relevantes para descrever o fenômeno estudado de maneira mais ampla Levitt 2021a Materiais Foi construído um roteiro com as seguintes perguntas norteadoras 1 Durante os anos em que tem se dedicado à clínica no que a relação com seus clientes tem te agregado como profissional 2 Você consegue trazer pra mim algum cliente ou algum caso com quem acredita que tenha aprendido mais 3 Você mudou abandonou ou adotou alguma atitude ou estratégia clínica devido a algum feedback de clientes 4 Caso tivesse oportunidade de se encontrar com alguns desses clientes que você mencionou o que você teria para dizer a eles hoje da experiência que passaram juntos Procedimento Foram programados encontros entre a pesquisadora e cada participante A cada um foi fornecido um termo de consentimento livre e esclarecido para garantir os critérios da Resolução 46612 do Conselho Nacional de Saúde Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 316 As entrevistas tiveram duração média de 50 minutos variando entre 36 minutos e 1 hora e 18 minutos Foram gravadas e transcritas pela pesquisadora O roteiro era usado com flexibilidade como referência e a sequência das questões variava entre as entrevistas Muitas vezes uma resposta dada a uma pergunta já trazia consigo a resposta a uma próxima Outras vezes novas questões eram adicionadas para verificar uma dúvida emergente das entrevistas anteriores Quando foi necessário a pesquisadora fez perguntas de contraste ou adicionou novas questões para aprofundar algum assunto relevante A coleta e análise dos dados acompanhou os preceitos da Grounded Theory Analysis na sua forma modificada por Charmaz 2006 e Levitt 2021b afastandose de uma sequência linear mas destacando uma interdependência entre coleta e análise dos dados onde as interpretações iniciais dos dados foram consideradas de forma crítica e verificadas durante as entrevistas seguintes A primeira autora conduziu as entrevistas e preparou as transcrições Depois das transcrições os autores colaboraram na análise interpretativa Foi feita uma leitura do material envolvendo um delineamento de unidades de sentido e criação de códigos que sintetizam e explicam essas unidades Primeiro os trechos que contiveram alguma informação relevante para o objetivo do estudo foram submetidos a codificação analítica isto é receberam rótulos que resumiram o que havia de relevante nesses trechos A codificação induz a estudar os dados rigorosamente e a começar a conceituar as ideias Os códigos assim construídos foram posteriormente organizados de acordo com similaridades e diferenças entre eles em agrupamentos de códigos para as quais um rótulo mais geral uma categoria foi escolhido Foi desenvolvido um trabalho de comparação contínua entre os dados das diferentes entrevistas entre os dados brutos os códigos emergentes e as categorias emergentes Através dessas comparações uma classificação final de categorias e códigos foi construída Levitt 2021b Por esse método não utilizar uma matriz de códigos anteriormente validados é necessário aos pesquisadores se valerem de uma autoconsciência metodológica o que implica na disposição de detectar e dissecar suas próprias visões de mundo e vieses Charmaz 2016 Por isso os pesquisadores consideravam o efeito das suas perspectivas e interesses teóricos sobre suas atividades de coleta e análise de dados e discutiram sobre isso regularmente para evitar que distorcessem de maneira despercebida a interpretação Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 317 Resultados A organização das categorias e códigos resultou num modelo veja Tabela 1 que descreve que os terapeutas relatam ter aprendido dos seus clientes sobre alguns coordenados do processo terapêutico ter adquirido competências e estratégias clínicas e aprendido a manejar alguns riscos e incômodos próprios do ofício de terapeuta Assim os resultados serão apresentados partindo das categorias que emergiram da análise dos dados e cada conceito será exemplificado por fragmentos retirados das entrevistas Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 318 Coordenadas do Processo Terapêutico A metade dos participantes relatou ter aprendido como integrar a singularidade de cada cliente na sua atuação As nuances e especificidades de cada pessoa fazem com que o terapeuta se disponha ao iniciar um novo tratamento a embarcar em um novo universo Cada história é única e é preciso muito cuidado muita atenção e muito respeito pra montar cada caso e abordar cada cliente L Ainda que as demandas sejam parecidas a história e o repertório comportamental de cada um são únicos Você acaba vendo de alguma forma que não dá pra usar uma forma de bolo as pessoas são diferentes as histórias tem nuances diferentes e isso acaba te fazendo ter que pensar e repensar na sua prática para com aquela pessoa que está na sua frente E Ter experiência com um determinado problema não deve tornar o terapeuta menos aberto para aprender a cada novo caso Mesmo que o comportamento problema seja o mesmo as variáveis que o mantém se modificam amplamente e a mesma intervenção pode ter efeitos diferentes O primeiro crescimento da clínica é essa possibilidade de empatizar com o diferente diferente do que a gente já experimentou ou mesmo do que ouviu falar Depende de cada cliente Depende de cada relação Às vezes com aquele cliente você vai ter que usar menos técnica usar mais a escuta Já com outro cliente funciona melhor com certa técnica E Vários aprenderam a enxergar o quanto o cliente é responsável pelo seu engajamento e que é importante identificar o papel do cliente no processo da mudança que almeja Demorei um pouco pra perceber que esses resultados não dependiam só de mim que eu era só parte do processo H Significa que a psicoterapia não é um lugar onde o cliente recebe as respostas mas onde em conjunto irá construir algo um novo repertório comportamental Por outro lado o terapeuta aprende a identificar o que está a seu encargo e quais podem ser as consequências e implicações da sua atuação É um gesto de confiança extrema quando um cliente principalmente que não tem esse repertório te procura se abre com você C Observamos pelos relatos que esta pode ser uma aprendizagem assustadora mas profundamente significativa A primeira na lata sentou na minha frente e me disse assim Eu vou me matar Então você leva aquele tranco e ao mesmo tempo você percebe que você não tem mais os professores pra te auxiliar né Na prática ela trouxe o questionamento assim que tipo de profissional você quer ser A Ainda neste tema L nos diz Você ter o privilégio de oferecer para aquela pessoa muitas vezes o que ela ainda não tem em seus outros ambientes respeito validação entende O mais valioso é essa troca de responsabilidade você Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 319 entender que exerce um papel muito importante e muito sério na vida de quem te procura e ir ajudando ela L O trabalho clínico oferece ao terapeuta a oportunidade de se deparar com seus entraves pessoais e suas dificuldades profissionais que limitam suas possibilidades de atuação As limitações podem envolver habilidades interpessoais Eles demandam demais eles falam muito em sessão às vezes é até difícil encerrar sessão e isso é uma coisa que eu acho até que eu tinha que aprender a trabalhar conseguir finalizar sessão às vezes eu passo muito do tempo porque eu não consigo cortar as falas I Podem também ser técnicas Eu me lembro muito dessa sensação de não poder enganar aquela pessoa de ver que naquele momento os recursos que eu tinha não eram mesmo o suficiente pro caso dela H Uma vez identificada a limitação o profissional pode tanto resignarse e restringir sua ambição clínica quanto buscar soluções para o entrave Já terminei sessão achando que foi uma merda que eu não servia pra isso que a pessoa não entendeu muito bem o que eu estava trazendo tenho tentado naturalizar mais isso oferecer o meu melhor sempre mas entendendo que o meu melhor alguns dias é meio merda mesmo M Sobre a necessidade de procurar suporte mesmo seja de mais estudo de uma rede de afeto pra mim também Uma necessidade recorrente de uma supervisão da cliente falar que você não está ajudando ela e você sair acabado e eu precisar conversar com alguém urgente por me sentir muito mal com aquela situação H Competências Clínicas Aprendese a ver além de ideias préconcebidas Isto inclui aprender a relativizar a importância de categorias diagnósticas e avaliações psicológicas dando prioridade a olhar pelos olhos do cliente entender que o que ele faz tem a ver com a história dele que ele não tem a mesma história que eu então ele não tem que ter os mesmos valores que eu C Então acaba ampliando a possibilidade do terapeuta se ligar pra isso amplia a visão mesmo Por exemplo uma mulher que trai o marido e aí na clínica você vai ver isso sob influências diferentes sobre aquela traição que vão muito além das análises rasas que se ouve A clínica é ter a oportunidade de ver esse outro lado E Acolher e entender alguém pra além de um diagnóstico foi transformador pra mim e pra relação que eu tive desde então com esses pacientes Por linha teórica por estar boa parte da minha formação em meios de profissionais de saúde eu era muito restrito a diagnóstico Eu não percebia o quanto me limitava até atender o meu primeiro caso border Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 320 Com aquela pessoa com aquela relação eu vi que me prender a isso ao que descrevem sobre um transtorno era infinitamente inferior ao que aquela pessoa me trazia ao que ela tinha de recurso ao sofrimento dela Foi algo que senti surgir aí e levei pra mais casos meus N O trabalho com o cliente modela a postura a assumir como terapeuta Isto inclui manejar o tom e atitude e diminuir a ânsia por oferecer respostas À medida que o cliente responde eu entendo que aquilo não foi tão legal que aquela fala minha não foi tão interessante que aquele meu comportamento não foi tão adequado Eu fui aprendendo a lidar com o outro aprendendo a respeitar o outro e a respeitar o meu tempo enquanto terapeuta J Outro aspecto da postura aprendida é impor limites Aceitei atendêla de uma forma que desde o início pra mim não fazia muito sentido Me fez perceber que eu preciso impor limites fazer da forma que eu acho correto e não ceder tanto ao pedido do outro F A interação com o cliente me ensinou muito em como ser terapeuta em como tratar essa pessoa tratar de relacionar mesmo e de conduzir o atendimento I Aprender a ser flexível está diretamente ligado ao abandono da rigidez proveniente da formação regras passos e procedimentos a se seguir Me permitir mais desde me emocionar mais a falar mais e me permitir reconsiderar minhas crenças modificálas mesmo em função do que eu tô vivendo do que eu tô aprendendo com o outro M Me tornar mais ousada Comecei muito presa a protocolos seguindo muitas regras Tinha bons resultados não nego mas via que era uma relação dura entende Vi muito isso com um paciente adolescente que tive há algum tempo Ele era colaborativo mas não era fluído não era uma relação entende Não era uma dupla mas duas pessoas onde uma indica a outra cumpre E eu experimentei ser mais pessoal mais afetivo falar algo de mim me interessar por assuntos dele que não necessariamente à primeira vista caberia em sessão como música filmes e ele passou a render muito mais comigo e eu passei a me sentir muito mais confortável N Os terapeutas podem aprender com o cliente a serem autênticos permitindo aflorar sua individualidade Somos pessoa antes de mais nada Acho que durante muito tempo eu me mantive afastada dos clientes e depois eu fui percebendo que não era a forma que eu queria continuar sendo terapeuta Eu quis me deixar afetar mais pelos clientes sentir mesmo poder me emocionar junto com eles nas sessões K A prática clínica me mostrou que dá pra ser psicólogo sendo eu mesmo O que eu mais tenho aprendido é manter coisas traços da minha personalidade né De quem eu sou da minha história de vida e agregar isso a um saber psicológico A Tem dia que eu não tô legal e eu gosto de dividir isso com meu Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 321 paciente eu preciso que ele compreenda Eles são super empáticos e tá tudo bem falar porque eu sou real e eu gosto de deixar isso claro que eu sou igual a eles G Estratégias Clínicas Ceder espaço para o cliente apesar de ser fundamental na prática clínica parece ser uma estratégia aprendida não tanto durante a formação mas na própria interação com o cliente Ao oferecer respostas e intervenções os terapeutas podem inadvertidamente ocupar o espaço que o cliente precisaria O que eu mais aprendi é a fazer silêncio é dar espaço pra que a pessoa verbalize e que necessariamente eu não preciso de uma resposta pra ela A Aprender a esperar enquanto o cliente se posiciona com os recursos que tem no momento e maneja sua relação para com o terapeuta envolve não forçar o cliente a assimilar a interpretação do terapeuta Na outra sessão eu disse pra ela que percebi um incômodo dela e se ela gostaria de me trazer o que era Aí ela falou que essa fala minha foi muito ruim pra ela porque fez com que ela se sentisse burra Aí eu aprendi primeiro eu tento ajudar a organizar e depois eu coloco coisas B No início a gente quer que a pessoa fique bem logo mas não é nós é a pessoa risos Tem caso que pra nós é muito nítida a contingência que tá acontecendo com aquela pessoa mas pra ela não ela nunca se observou Então não adianta eu tentar explicar antes dela mesma perceber A Eu começo a ficar tão animada com o rastreamento de contingências que eu começo a forçar alguma coisa Eu já tive esse tipo de feedback de ele estar com a sensação de eu estar empurrando demais C Eu aprendi a evitar de questionar comportamento sexual Principalmente nas primeiras sessões Eu percebi que eu preciso estabelecer outras coisas antes de tocar nisso mesmo sendo importante Eu não deixo de falar sobre mas eu esquivo até ver que está pronto B Ainda neste tema outras falas significativas A gente caminhou muito muito mesmo diante do que ela tinha chegado Mas eu lembro de um exercício de enfrentamento Ela foi mas ela se sentiu muito mal eu disse pra ela que minha intervenção naquele momento não foi adequada que ela não estava pronta ela também entendeu assim J Uma coisa que os pacientes me ensinaram foi a ter paciência em relação a cada cliente esperar a história de cada um o ritmo de cada um E que talvez a forma como eu idealizava que as coisas poderiam acontecer nem sempre são na velocidade que eu quero Então vem me ensinando a ter paciência e a mesclar um pouco de mudança com o momento atual do cliente sabe Eu acho que os clientes vem me ensinando muita ter paciência mesmo a esperar ver H Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 322 Aprende a responder ao que a pessoa precisa Que o outro está em sofrimento que é parte de uma contingência e que ele precisa de acolhimento muito mais do que de uma análise B Aprender a construir com cada cliente o vínculo que é diferente de todos os outros Dez clientes e eu aprender onde eu posso ir com cada um onde posso sorrir fazer um trocadilho postura ser mais próxima ou mais distante Aprender sobre o outro e aprender a me colocar nessa relação com esse outro E Eu fui vendo a necessidade de por exemplo algumas vezes estar mais próxima puxando uma cadeira pra mais próximo fisicamente Já ofereci um abraço no final da sessão porque vi que cabia naquele caso e são coisas que eu não me veria fazendo no começo da clínica E O que deu para aprender com essa situação é que eu não tenho autorização para desconsiderar os valores de um cliente meu que para fazer uma sugestão eu preciso analisar avaliar muito bem antes São os valores de cada cliente para alguns clientes determinada intervenção é encaixável para outros não vai dar certo Ficou essa lição H Aprendi que é importante pensar bem antes de testar algumas intervenções No primeiro caso eu pensei só no efeito que eu queria alcançar e não pensei no outro não pensei na história que o cliente tinha K Manejo de Riscos e Incômodos Terapeutas aprendem a manejar a relação com os clientes às vezes com profundos níveis de intimidade com suas nuances e considerações dos riscos pessoais A ter essa sensibilidade discriminar os estímulos a conhecer o outro se arriscar mais e correr o risco de até mesmo ser punida F No começo eu tinha muitas reservas com contato físico com mulheres e atendia muitas mulheres Conforme elas me mostravam sinal de vínculo sorriso abertura pra assuntos íntimos entendia um abraço ao final da sessão como algo mais natural Foi ensinado pelas minhas clientes que sozinho talvez eu não faria depende em muito delas pra me permitir isso K Clientes podem ensinar seus terapeutas a lidar com a proximidade na relação terapêutica Foi uma coisa que meus clientes modelaram em mim esse falar sobre coisas pessoais mesmo Teve esse processo de modelagem isso alterou muito o meu discurso com cliente e foi uma quebra de regra terrível C Podendo até mesmo a proximidade cedida por um cliente servir de modelo para o terapeuta em suas outras relações terapêuticas Eu nunca havia abraçado alguém em sessão e era uma cliente que abraçava e tinha uma intensidade muito boa no abraço Eu me sentia muito bem e não disse isso a ela mas tentei Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 323 replicar nos meus outros atendimentos risos Passei a abraçar e tentar passar nesse abraço algo parecido com o que aquela cliente me gerava H Terapeutas aprendem a manejar os efeitos de seus erros e a aproveitar o ocorrido como oportunidade Eu tive que reconhecer meu erro e reparar minha má atitude Isso me ensinou nesse sentido de reconhecer falha reparála e em não culpabilizar o outro quando não há mesmo espaço pra isso D Aprendem também a ser menos punitivos consigo Coisa que eu aprendi trabalhando atendendo é que você pode errar nós temos essa alternativa Eu mesma peço que meus clientes sinalizem isso pra mim quando perceberem isso pra eu poder voltar e pedir desculpas pra ele E então assim é muito interessante porque aí eles sinalizam ó isso aqui que você falou semana passada isso não foi legal isso pegou mal pra mim B Aprendi mostrar mesmo que a gente se desafinou ali e que ainda assim me mantenho interessada em compreender a história de vida da pessoa e em auxiliar Também é uma habilidade né risos Acho bom quando cliente modela o meu comportamento nesse sentido L O que é aprendido ao reconhecer um erro pode servir de modelo para o cliente É saber reconhecer essas falhas e mostrar inclusive na relação terapêutica que a pessoa pode falhar e que necessariamente isso não é ruim A A dificuldade em abordar questões burocráticas como cobrar honorários parece ser frequente Percebese uma contradição entre ajudar pessoas com assuntos tão pessoais e receber Estou aprendendo na clínica particular a cobrar as consultas Eu tinha uma dificuldade gigantesca de abordar esse tema na terapia porque a minha regra era assim como eu vou falar de dinheiro com essa pessoa se estou cuidando do sofrimento dela Como fazer isso sem mostrar que eu estou querendo lucrar com o sofrimento dela As questões práticas burocráticas que a gente não aprende na faculdade A Discussão O modelo que emergiu do presente estudo diz respeito a uma terceira via de aprendizagem do terapeuta Enquanto o ensino ou treinamento e a supervisão são as vias de formação mais endossadas Starling 2002 Meyer et al 2015 Reis Barbosa 2018 Harris 2019 Rodrigues e de Luca 2019 Miga et al 2021 Scotton et al 2021 a aprendizagem direta durante o exercício da profissão recebeu menos atenção de pesquisadores até o presente Quando consideramos as contribuições individuais dos participantes a partir das quais os diferentes códigos foram construídos veja Tabela 1 percebemos que cada um relatou ao Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 324 menos quatro tipos diferentes de aprendizagem o que sugere que se trata de um processo com uma abrangência importante As aprendizagens mais mencionadas são a flexibilidade no atendimento o abandono da rigidez da formação a postura a assumir como terapeuta o respeito para com o tempo do cliente ser responsivo às necessidades do cliente e saber manejar a proximidade interpessoal com o cliente na sessão Alguns resultados confirmam achados em estudos mais antigos com terapeutas de outras abordagens Os participantes de Stahl et al 2009 relataram aprender sobre conduzir a terapia sobre si mesmos as dinâmicas dos clientes a natureza humana a relação terapêutica e a utilidade da supervisão Como alguns dos participantes do presente estudo também relataram ter aprendido a assumir uma metaperspectiva permitindo usar erros cometidos a favor do processo terapêutico e a acolher a singularidade do cliente transpondo o diagnóstico Já os participantes de Hatcher et al 2012 relataram ter aprendido lições de paciência resiliência escutar sem julgar e respeito para diferenças como também sobre relações íntimas tanto para sua vida pessoal quanto profissional sobre estratégias de enfrentamento e coragem e como considerar personalidade fase da vida e cultura na atuação Entrevistas com terapeutas iniciantes indicam que o ensino e a supervisão abordam pouco tais aspectos importantes da postura terapêutica a empatia para o diferente por exemplo e os terapeutas os aprendem na sessão por um processo de tentativa e erro e observação cuidadosa de como clientes reagem às intervenções e os terapeutas se corrigem a partir disso Levitt et al 2022 No presente estudo terapeutas aprendem com seus clientes estratégias que normalmente são atribuídas à supervisão como por exemplo diminuir a ânsia em impor soluções prontas ou aprender a empatizar com o diferente participante E Isto pode sugerir que a supervisão e a aprendizagem com o cliente dependem de processos similares É interessante considerar que a supervisão clínica contribui para o desenvolvimento de competências clínicas principalmente pelo feedback que é dado a respeito da atuação do terapeuta Alfonsson et al 2020 Aprendizagem por feedback envolve o processo comportamental de modelagem e não é só o supervisor que dá feedback para o terapeuta Brattland et al 2018 apontam os benefícios de eliciar feedback de clientes e de usálo para melhorar a sua atuação Além do feedback verbal do cliente os efeitos diretos que a atuação do terapeuta tem sobre o cliente e sobre o processo terapêutico também modificam os repertórios do terapeuta Já foi observado que o cliente modela o comportamento do terapeuta Marsh 2002 Cunha e Vandenberghe 2016 Cunha e Vandenberghe 2021 Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 325 O presente estudo indica que cada cliente com quem o terapeuta estabelece uma relação pode ensinálo algo sobre aspectos importantes do seu ofício como as coordenadas do processo terapêutico competências clínicas e estratégias que transcendem à formação acadêmica além de habilidades práticas úteis para manejar os riscos e incômodos inerentes à profissão É com o cliente que os terapeutas aprendem a relacionarse de maneiras que não sejam engessadas pelas regras e pelos protocolos de forma autêntica e construtiva tratase de um ponto não tão bem abordado no treinamento e supervisão dos terapeutas Neufeld et al 2022 apontam que a flexibilidade da intervenção de acordo com as demandas do cliente é pouca mencionada na literatura nacional comparada com a literatura internacional Ou talvez seja um aprendizado pela qual treinamento e supervisão não ofereçam o melhor caminho Orientações dadas em treinamentos ou em manuais a respeito da postura do terapeuta como tratar o cliente como alguém que é capaz de gerar soluções e dividir a responsabilidade para o progresso são facilmente perdidas Roscoe et al 2022 apontam que se trata de instruções complexas ensinadas em contextos seguros de treinamento e dificilmente traduzidos para um momento de impasse numa sessão com um cliente em sofrimento intenso Além disso os autores apontam que é impossível ensinar todos os cenários em que tais competências devem ser aplicadas e de que forma deverá ser feito Para tanto as atitudes e habilidades envolvidas devem ser desenvolvidas durante a atuação Bordin 1983 já alertava sobre a lacuna deixada no término da formação e da supervisão quando o terapeuta com diploma em mãos continua o trabalho desassistido e deve aprender os aspectos mais finos da profissão Uma contribuição importante do modelo que resultou do presente estudo é de mostrar o terapeuta aprendendo com o cliente exatamente esses aspectos da atuação que ultrapassam em profundidade o que aprendeu durante sua formação Como limitações deste estudo destacase a quantidade de participantes pequena ao qual se contrapõe como ponto forte do estudo a distribuição geográfica deles pelas cinco regiões do país garantindo uma diversidade ampla de experiências Considerando que um dos achados seja que os terapeutas aprendem postura flexibilidade respeito para o tempo do cliente responsividade às necessidades dele e saber lidar com a proximidade interpessoal na sessão sugerese que futuros estudos investiguem especialmente essas dimensões Ademais é preciso considerar que o presente estudo foi realizado dentro da perspectiva comportamental o que deixa como sugestão a replicação para outras abordagens psicoterápicas Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 326 Referências Alfonsson S Lundgren T Andersson G 2020 Clinical supervision in cognitive behavior therapy improves therapists competence A singlecase experimental pilot study Cognitive Behavior Therapist 495 425438 httpsdoiorg1010801650607320201737571 Azevedo M L Bortolatto M Bizarro L Lopes F 2022 Terapias comportamentais e cognitivas Ondas do mesmo mar ou praias diferentes Revista Psicologia em Pesquisa 162 123 httpsdoiorg1034019198212472022v1630871 Bordin E S 1983 A working alliance based model of supervision The Counseling Psychologist 111 3541 httpsdoiorg1011770011000083111007 Brattland H Høiseth J R Burkeland O Inderhaug T S Binder P E Iversen V C 2018 Learning from clients A qualitative investigation of psychotherapists reactions to negative verbal feedback Psychotherapy Research 284 545559 httpsdoiorg1010801050330720161246768 Charmaz Kathy 2006 Constructing Grounded Theory A practical guide through qualitative analysis Sage Charmaz K 2016 The Power of Constructivist Grounded Theory for Critical Inquiry Qualitative Inquiry 231 3445 httpsdoiorg1011771077800416657105 Cunha O R Vandenberghe L 2016 O Relacionamento TerapeutaCliente e o Transtorno de Personalidade Borderline Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva 181 7286 httpsdoiorg1031505rbtccv18i1833 Cunha O R Vandenberghe L 2021 Caminhos pelos quais o Terapeuta Comportamental Aprende com seus Clientes Contextos Clínicos 143 928945 httpsdoiorg104013ctc202114309 Guilhardi H J 2012 Agosto 1518 Considerações conceituais e históricas sobre a terceira onda no Brasil Trabalho apresentado XXI Encontro da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental Curitiba PR Brasil httpswwwitcrcampinascombrtxtterceiraondapdf Harris R 2019 ACT made simple An easytoread primer on acceptance and commitment therapy 2nd ed New Harbinger Publications Hatcher S L KipperSmith A Waddell M Uhe M West J S Boothe J H Frye JM Tighe K Usselman K L Gingras P 2012 What Therapists Learn from Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 327 Psychotherapy Clients Effects on Personal and Professional Lives The Qualitative Report 1748 121 httpsdoiorg10467432160371520121702 Levitt H M 2021a Qualitative generalization not to the population but to the phenomenon Reconceptualizing variation in qualitative research Qualitative Psychology 81 95110 httpsdoiorg101037qup0000184 Levitt H M 2021b Essentials of criticalconstructivist grounded theory research American Psychological Association Levitt H M Collins K M Morrill Z Gorman K R Ipekci B Grabowski L Karch J Kurtz K Picón R O Reyes A VaswaniBye A Wadler B 2022 Learning Clinical and Cultural Empathy A Call for a Multidimensional Approach to Empathy Focused Psychotherapy Training Journal of Contemporary Psychotherapy 52 267 279 httpsdoiorg101007s1087902209541y Marsh J C 2002 Learning from clients Social Work 474 41343 httpsdoiorg101093sw474341 Meyer S B VillasBôas A Franceschini A C T Oshiro C K B Kameyama M Rossi P R Mangabeira V 2015 Terapia analíticocomportamental Relato de casos e de análises Paradigma Miga E M LoTempio E R Michonski J D Hunter D A 2020 NeufAccreditation adherence and training in dialectical behavior therapy Data review and practical applications In J Bedics Org Handbook of dialectical behavior therapy Theory research and evaluation pp 7193 Academic Press Neufeld C B Barletta J B Mendes A I F Amorim C A Rios B F Amaral E Ferreira I M F Scotton I L Rebessi I P Nogueira J M Teodoro M C Almeida N O Becker P L Peron S Szupzynski K P R 2022 Propostas de intervenção e formação de terapeutas e supervisores Overview dos programas online do LAPICC Revista Brasileira de Terapias Cognitivas 181 114121 httpwwwrbtcorgbrdetalheartigoaspid351 Reis G A Barbosa A J G 2018 Formação de terapeutas cognitivo comportamentais Um estudo sobre o estado da arte Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva 201 7285 httpsdoiorg1031505rbtccv20i11138 Rodrigues B S De Luca G G 2019 Ensino de Terapia AnalíticoComportamental Uma revisão sistemática da literatura Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva 214 503523 httpsdoiorg1031505rbtccv21i31342 Olívia Rodrigues da Cunha Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Estud pesqui psicol Rio de Janeiro v 23 n 01 p 312328 2023 328 Roscoe J Bates E A Blackley R 2022 It was like the unicorn of the therapeutic world CBT trainee experiences of acquiring skills in guided discovery The Cognitive Behaviour Therapist 15 123 httpsdoiorg101017S1754470X22000277 Scotton I L Barletta J B Neufeld C B 2021 Competências Essenciais ao Terapeuta CognitivoComportamental PsicoUSF 261 141152 httpsdoiorg1015901413 82712021260112 Stahl J V Hill C E Jacobs T Kleinman S Isenberg D Stern A 2009 When the shoe is on the other foot A qualitative study of internlevel trainees perceived learning from clients Psychotherapy Theory Research Practice Training 463 376389 httpsdoiorg101037a0017000 Starling R R 2002 Formação de terapeutas analítico comportamentais colocando o modelo sob as contingências do modelado In A M S Teixeira Org Ciência do comportamento Conhecer e avançar pp 129 ESETec Endereço para correspondência Olívia Rodrigues da Cunha Rua 9 n 130 Setor Oeste Goiânia Goiás Brasil CEP 74110100 Endereço eletrônico oliviarcunhagmailcom Luc Marcel Adhemar Vandenberghe Rua 9 n 130 Setor Oeste Goiânia Goiás Brasil CEP 74110100 Endereço eletrônico lucmvandenberghegmailcom Recebido em 07082021 Reformulado em 28112022 Aceito em 15012023 Notas Doutoranda em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás Professora de Pósgraduação Lato Sensu em Especializações em Clínica Comportamental Psicólogo com Mestrado Universidade de Gent Bélgica e Doutorado Universidade de Liège Bélgica em psicologia clínica Professor e supervisor clínico na PUC Goiás Este artigo de revista Estudos e Pesquisas em Psicologia é licenciado sob uma Licença Creative Commons AtribuiçãoNão Comercial 30 Não Adaptada

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