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Texto de pré-visualização
Proposta no Drive do professor Guilherme para Desenvolvimento do Grupo Relatório Parcial 1 Introdução e Objetivos Relatório Parcial 2 Metodologia Justificativa Relatório Parcial 3 Resultados Discussão e Reflexões Finais nossas entregas vao ser das 2020 as 2040 Aula de terçafeira Orientações Introdução O básico da observação clínica discrição e trazer um pouco dos nichos Objetivos A rotatividade dos estagiários como o estágio sente em relação a carreira sobre o trabalho terceirizado e o cuidado e saúde mental dos estagiários Intervenção Metodologia métodos de entrevista visita forms com o norteamento de perguntas para o estagiário discrição local discrição do que vamos fazer ex explicar como foi feito e como vai ser feito Discussão Levantamento de dados os teóricos que usamos categorias das problematicas ex vivência da terceirização rotatividade carreira e o que coletamos na clínica vamos juntar o que conseguimos ao longo dos pontos Reflexão final Experiência que o grupo teve do tema articular o que foi feito e ideias de continuidade da pesquisa e prática a partir da temática tipo de intervenção a ser pensada o que achamos importante ex seria importante roda de conversar etc Referências Coloque textos e fontes normas ABNT etc aqui já sabemos Explicar também pq que colocamos o autor Ex o que ele trouxe para agregar Pesquisa qualitativa Volta ao campo reflexão não necessariamente precisa voltar o campo ou coleta de mais informações no local Local escolhido pelo grupo para estudo Clínica escolhida para observação localizada no Campo Belo São Paulo Ela foi fundada em 1994 pela psicóloga Valéria Pagetti especializada em Transtorno do Espectro Autista TEA Antes disso ela já atuava na área desde 1985 como sócia de outra instituição Ao criar a clínica Valéria reativou o contrato com a psiquiatria do IAMSPE com foco no atendimento a pessoas com TEA Em 2007 a clínica firmou parceria com a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo ampliando seu alcance e impacto social Com o aumento da demanda a Clínica expandiu suas instalações e em 2015 inaugurou uma unidade infantil Hoje atende mais de 200 pacientes entre crianças adolescentes e adultos Como funcionam os atendimentos A clínica oferece um modelo de atenção psicossocial interdisciplinar e integral com foco em inclusão e desenvolvimento Os atendimentos são gratuitos e voltados para pessoas com TEA e comorbidades Veja como funciona Atendimentos familiares nas áreas de Psicologia Enfermagem e Assistência Social com suporte aos cuidadores e orientação para manejo comportamental Intervenção precoce com foco em crianças pequenas visando estimular o desenvolvimento desde os primeiros anos Grupos terapêuticos e atividades temáticas promovem socialização e desenvolvimento de habilidades Sala de Integração Sensorial para trabalhar estímulos sensoriais de forma estruturada Passeios terapêuticos e ações no território os atendimentos também ocorrem fora da clínica em escolas e espaços públicos fortalecendo o senso de comunidade Equipe multidisciplinar inclui profissionais de psicologia psiquiatria fonoaudiologia fisioterapia terapia ocupacional psicopedagogia enfermagem nutrição assistência social e até aulas de música Além disso a Clínica atua como clínicaescola formando estagiários de diversas áreas com supervisão especializada Agendamento de triagem A clínica realiza uma triagem inicial para entender o perfil do paciente e direcionar para os programas adequados Essa triagem pode incluir entrevistas com a família e avaliação interdisciplinar 3 Documentação necessária É comum que seja solicitado laudo médico documentos pessoais e comprovante de residência Em alguns casos há necessidade de encaminhamento por serviços públicos de saúde 4 Critérios de inclusão Os atendimentos são voltados para pessoas com diagnóstico de TEA ou suspeita em diferentes faixas etárias A clínica prioriza famílias em situação de vulnerabilidade social mas busca atender o maior número possível de casos 5 Lista de espera Devido à alta demanda pode haver lista de espera para alguns programas A equipe mantém contato com os responsáveis para informar sobre vagas e atualizações Observações realizadas através da visita presencial pelo grupo Relato da visita à clínica Na visita observamos algumas melhorias físicas no espaço O que antes era um grande terreno de barro agora conta com um calçadão facilitando a circulação em dias de chuva evitando que os pacientes deixem de transitar ou fiquem restritos apenas à sala de atendimento As paredes da clínica também ganharam novas cores salas que antes eram neutras agora possuem paredes cheias de vida com desenhos materiais interativos e funcionais para os pacientes Em conversa com os supervisores foi possível coletar muitas informações necessárias para a pesquisa informações estas que coincidem com os relatos dos estagiários Durante uma dessas conversas conseguimos entender melhor como funciona a estrutura do local tanto no aspecto físico quanto na rotina Com relação aos pacientes logo pela manhã por volta das 8h começam as chegadas Há sempre um correcorre para receber os pacientes e muitas vezes para cobrir um ou mais colegas que acabam faltando A demanda semanal é intensa Os atendimentos são divididos em dois turnos das 8h às 12h e das 13h às 16h podendo se estender até meia hora além do previsto devido a atrasos familiares ou outras questões Os contratos com os estagiários são de 32 horas semanais totalizando seis horas diárias de trabalho incluindo uma hora de almoço Segundo os estagiários uma mudança significativa foi a queda no número de supervisões semanais que passaram a ocorrer apenas uma vez por mês Nesse encontro é feito um café da manhã coletivo com toda a equipe e em seguida uma roda de conversa onde discutem casos melhorias e ajustes possíveis Após a roda os psicólogos se reúnem para o estudo de caso O processo funciona assim cada psicólogo escolhe um paciente de sua responsabilidade para apresentar totalizando quatro casos Considerando que cada sala atende em média oito pacientes por dia os demais acabam sendo discutidos somente após um mês Os supervisores reconhecem que isso não é o suficiente mas explicam que devido a outras funções exercidas fora da clínica fazem o que está ao alcance As devolutivas com os familiares também deixaram de ocorrer como antes O que antes era feito a cada seis meses hoje já não acontece mais Apesar da cobrança de familiares os profissionais não têm respostas concretas a oferecer Atualmente a equipe conta com Profissionais da limpeza Quatro psicólogos formados Oito a nove estagiários por andar Uma musicoterapeuta Uma psicopedagoga Uma psiquiatra Uma enfermeira Dois fisioterapeutas um estagiário e um formado Na administração são apenas duas pessoas uma responsável por contratos e pagamentos e outra pela coordenação geral que também direciona a equipe auxilia no manejo dos pacientes e promove oficinas divertidas ao menos uma vez por semana Dentre os programas terapêuticos a equipe utiliza a Comunicação Aumentativa e Alternativa CAA um conjunto de ferramentas clínicas e pedagógicas que auxiliam pessoas com dificuldades de comunicação Os recursos incluem símbolos imagens gestos escrita e dispositivos eletrônicos como tablets e computadores A própria instituição confecciona placas utilizadas pelos pacientes que necessitam desse apoio Além disso os profissionais promovem atividades voltadas ao desenvolvimento motor habilidades sociais socioemocionais e de vida diária como escovação dos dentes fazer a barba e cortar as unhas Para fortalecer a autonomia são realizadas saídas externas como idas à feira ou lojas para pequenas compras Nessas ocasiões os pacientes são incentivados a se comunicar e até a realizar pagamentos Apesar de serem atividades divertidas os supervisores relatam desafios como episódios de desorganização ou pacientes que tentam fugir Por isso essas atividades são sempre feitas em grupo Durante a visita perguntamos a um supervisor com mais tempo de casa que brincou ao dizer ter mais tempo de firma sobre seus objetivos ao levar os pacientes para esses espaços e como enxerga o impacto de seu trabalho Ele respondeu Quando entrei na instituição ainda era tudo muito nebuloso em relação às minhas competências Foi no meu espaço de supervisão que meu orientador me perguntou Maurício você tem estagiários agora Então vai ter que supervisionálos Eles estão sob sua responsabilidade Daí surgiu minha função de supervisor No começo era algo grosseiro tirar o estagiário de sala e conversar rapidamente no corredor Com o tempo e com a ajuda dos colegas foi ganhando uma forma mais profissional Sempre busquei ser uma base nesse terreno tão incerto que é a prática em saúde mental ainda mais em uma clínica voltada ao TEA sem uma estrutura fixa baseada em única abordagem teórica É difícil sustentar uma prática sem direcionamentos mas fui acreditando na possibilidade de o estudante de psicologia criar sua forma de estar em um atendimento Quando minha primeira turma saiu da instituição e seguiu outros caminhos vieram os relatos de crescimento profissional e lembranças daquela experiência É gratificante saber que aqueles estudantes que começaram aqui como primeira vivência hoje estão se formando conduzindo seus próprios atendimentos e se reconhecendo como profissionais Quanto às atividades externas penso que leválos ao espaço público é uma forma de apresentálos à sociedade de mostrar que fazem parte dela e têm direito de ocupar esses espaços Não é uma tarefa fácil alguns ainda não estão acostumados a sair sem os responsáveis Já ouvi mães dizerem que limitam as saídas com seus filhos por medo dos comportamentos em público Levar os pacientes às lojas feiras mercados ou estações de metrô também é um modo de mostrar às famílias que é possível circular com eles em diferentes ambientes Além da ideia de passeio e lazer penso muito na ocupação e no direito de estar nesses lugares Durante nossa visita à clínica tivemos a oportunidade de conversar com estagiários e profissionais que atuam diretamente no atendimento a pacientes com diferentes síndromes e transtornos Logo nos primeiros momentos percebemos que o processo de contratação de estagiários nem sempre é claro muitos iniciam sem saber exatamente quais serão suas funções O primeiro contato com o ambiente é descrito por eles como impactante uma experiência nova intensa e repleta de aprendizados que vão muito além do que se imagina nos primeiros semestres da graduação Uma das estagiárias relatou que ao iniciar no segundo semestre da faculdade já se deparava com situações clínicas complexas o que gerou admiração e surpresa entre os colegas No entanto junto com o aprendizado veio também uma carga significativa de responsabilidade A autonomia oferecida muitas vezes vinha acompanhada de uma expectativa silenciosa de que o estagiário assumisse funções que extrapolam sua formação inicial Com o passar das semanas os relatos apontam para um aumento da sobrecarga emocional e física A confiança depositada nos estagiários embora genuína em muitos casos também parece estar atrelada à lógica da mão de obra barata Questionamentos como por que não recebemos instruções claras ou por que não há horário fixo para almoço são comuns revelando falhas na estrutura organizacional A ausência de um cronograma definido e a escassez de supervisão contínua que ocorre apenas uma vez ao mês contribuem para sentimentos de frustração insegurança e até culpa Muitos estagiários relatam que são eles os responsáveis por criar e aplicar atividades terapêuticas sem apoio técnico constante Isso gera dúvidas sobre a eficácia dos atendimentos e sobre o próprio desenvolvimento profissional Um dos relatos mais marcantes veio de uma estagiária que após a saída de seu colega de sala passou a ser vista como responsável por aquele espaço e pelos pacientes Com a chegada de uma nova parceira o trabalho se tornou mais colaborativo mas os desafios continuaram pacientes com psicose comportamentos sexualizados ausência de medicação e episódios de agressividade física são parte da rotina A cada três meses são realizadas reuniões com familiares para devolutivas Nessas ocasiões é possível perceber o olhar cansado e ao mesmo tempo esperançoso das famílias que desejam ver progresso nos pacientes Apesar de contar com uma equipe composta por psicólogos coordenadores fisioterapeutas musicoterapeutas e psicopedagogos a carga de trabalho recai majoritariamente sobre os estagiários Outro ponto observado foi a alta rotatividade de profissionais Muitos pacientes iniciam vínculos terapêuticos que são interrompidos com a saída dos terapeutas o que pode gerar sofrimento e até abandono do tratamento A maioria dos estagiários permanece por menos de oito meses embora alguns por necessidade financeira ou por resiliência estendam o contrato por mais tempo A rotina é exaustiva número elevado de pacientes jornadas intensas risco de agressões físicas e pouca valorização financeira O maior desafio segundo os relatos é manter a regulação emocional diante de situações extremas sem responsabilizar os pacientes por comportamentos que fazem parte de seus quadros clínicos Muitos estagiários enfrentam crises de ansiedade choram antes e depois do expediente mas ainda assim precisam manter a postura profissional diante dos pacientes Observação 24 de setembro 1 Comunicação Feita por caixa de som todos os ambientes possuem caixas de som Orientações homogêneas e diretas são passadas por esse meio 2 Horário de funcionamento 08h às 17h Alguns pacientes permanecem o dia todo outros até 11h ou 15h 3 Enfermaria Cada paciente leva seu próprio medicamento Administração somente com receita médica independente da tarja 4 Estrutura física Primeiro ambiente pátio com jardim organizado e limpo Salas interativas com rotina visual paredes bem pintadas e iluminação clara Copa equipada com microondas geladeira e utensílios de cozinha mesas e cadeiras disponíveis Sala de fisioterapia com utensílios básicos para tratamento 5 Motivação dos estagiários Estrutura humanista 1 mês estagiária Adquirir experiência com TEA e deficiência intelectual DI 2 meses estagiária Adquirir experiência geral 4 meses estagiária Experiência pessoal despertou interesse em trabalhar com TEADI tempo não especificado 6 Desmotivações dos estagiários Sobrecarga e desvio de função frente de sala durante 3 semanas com cuidados paliativos mesmo com enfermeira presente 1 ano estagiária Demanda excessiva e necessidade de entender a dinâmica individual de cada paciente 3 meses estagiária Desvalidação do trabalho do psicólogo por parte da família reforços negativos em casa 4 meses estagiário Dificuldade em tornar ambiente e atividades mais estimulantes para faixa etária mais avançada 40 6 meses estagiário 7 Supervisão Psicóloga supervisões realizadas uma vez por mês às sextasfeiras com análise dos casos mais pertinentes Psicólogo motivação em acompanhar estagiários no desenvolvimento desmotivação diante de questões institucionais A pergunta que ecoa entre os estagiários é como oferecer um serviço de qualidade se o próprio ambiente de trabalho não reconhece e valoriza o profissional em formação Em resumo a observação revelou que apesar de o ambiente favorecer o aprendizado e o desenvolvimento prático também impõe desafios que impactam diretamente a saúde mental dos estagiários A diferença entre a expectativa de uma atuação estritamente técnica e a realidade de um trabalho que exige flexibilidade e enfrentamento de situações complexas constitui um ponto essencial a ser investigado Apesar de tudo o que sustenta esses jovens profissionais são os vínculos criados entre colegas A rede de apoio formada dentro da clínica entre estagiários e profissionais que compartilham o mesmo propósito é o que permite que muitos sigam em frente oferecendo o melhor de si mesmo diante de tantos desafios UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO UNINOVE PSICOLOGIA TÂNIA RELATÓRIO PROJETO DE OBSERVAÇÃO E PSICOLOGIA SOCIAL PARCERIA COM A CLÍNICA DO SUS SÃO PAULO 2025 1 INTRODUÇÃO A observação clínica é um recurso demasiadamente crucial no âmbito da Psicologia social haja vista que possibilita a identificação dos aspectos técnicos dos atendimentos como também os fatores institucionais relacionais e subjetivos que atravessam a prática profissional A observação é um instrumento largamente utilizado nas ciências para a obtenção de informações que serão posteriormente analisadas pelos mais diversos métodos Campos 2001 Gil 1999 AlvesMazzotti e Gewansznajder 2002 Ademais em consonância com Ferreira e Mosquer 2004 a supracitada foi defendida por Galileu como um dos elementos que proporcionariam um conhecimento fidedigno do mundo posteriormente também passou a ser utilizada pelas ciências humanas e sociais de forma que é um instrumento altamente reconhecido na psicologia Em estágios supervisionados o exercício da observação corrobora no desenvolvimento crítico dos estudantes e à reflexão concernente às condições de trabalho e saúde mental sobretudo em contextos permeados por terceirização alta rotatividade e sobrecarga emocional No âmbito da saúde pública brasileira principalmente nas instituições conveniadas ao Sistema Único de Saúde SUS a presença de estagiários é fundamental para o processo formativo e funcionamento cotidiano das clínicas A inserção de tais estudantes em cenários de prática configurase como um espaço de aprendizagem mas também expõe contradições De um lado existe a oportunidade de contato direto com pacientes equipes multiprofissionais e situações complexas que ocorrem no dia a dia de outro evocase desafios como sobrecarga de tarefas a falta de supervisão perene a rotatividade de profissionais e as tensões decorrentes da lógica de terceirização e precarização do trabalho em saúde A clínica escolhida para observação localizada no bairro Campo Belo em São Paulo ilustra bem essa realidade Com trajetória consolidada no atendimento a pessoas com Transtorno do Espectro Autista TEA atua em parceria com a Secretaria da Saúde do Estado e desempenha importante papel social Além de oferecer atenção integral e gratuita também funciona como clínicaescola recebendo estagiários de diferentes áreas É nesse espaço de formação que se situam as questões centrais desta pesquisa como os estagiários vivenciam a experiência prática quais impactos essa vivência gera em sua identidade profissional e de que modo a estrutura institucional contribui ou fragiliza sua saúde mental O presente relatório do projeto tem como foco a análise da experiência de estagiários em uma clínica parceira do SUS especializada em Transtorno do Espectro Autista TEA Pretendese compreender como a dinâmica institucional os vínculos com pacientes e a gestão da equipe repercutem na formação e saúde mental dos estagiários 2 OBJETIVOS 21 GERAL Compreender as condições de estágio em uma clínica conveniada ao SUS e seus impactos na trajetória formativa e no bemestar psicológico dos estagiários 22 ESPECÍFICOS Identificar como os estagiários vivenciam a rotatividade e a transitoriedade de sua permanência no campo Analisar a percepção dos estagiários sobre a carreira em Psicologia a partir da experiência prática Investigar os efeitos da terceirização e da lógica da mão de obra barata no cotidiano institucional 3 JUSTIFICATIVA A realização deste estudo justificase pela necessidade de compreender os desafios enfrentados por estagiários de Psicologia em clínicas conveniadas ao Sistema Único de Saúde SUS especialmente em instituições que atuam com demandas complexas como o Transtorno do Espectro Autista TEA A prática de estágio configurase como um momento crucial na formação acadêmica pois permite a articulação entre teoria e prática ao mesmo tempo em que expõe os estudantes às contradições e limitações presentes no cotidiano institucional Nesse sentido tornase relevante investigar como a experiência prática repercute na identidade profissional em construção e no bemestar psicológico desses futuros profissionais De mais a mais o contexto das clínicasescola conveniadas ao SUS revela problemáticas estruturais que atravessam a realidade dos serviços públicos de saúde tais como a terceirização a alta rotatividade de profissionais e a redução de supervisão Tais fatores impactam não apenas a qualidade da assistência prestada à população mas também a formação dos estagiários que muitas vezes se deparam com sobrecarga de tarefas e precarização das condições de trabalho A escolha pela clínica localizada no bairro Campo Belo em São Paulo reforça a relevância deste projeto uma vez que a instituição desempenha papel social essencial no atendimento gratuito e integral a pessoas com TEA ao mesmo tempo em que constitui um espaço de aprendizagem para estagiários de diversas áreas Investigar como esses futuros psicólogos vivenciam tal realidade suas dificuldades percepções e estratégias de enfrentamento contribui para a reflexão sobre as políticas públicas de saúde e educação além de oferecer subsídios para o aprimoramento da supervisão acadêmica e das condições de estágio Assim justificase tanto pela sua contribuição para o fortalecimento da formação em Psicologia ao possibilitar um olhar crítico sobre a prática profissional em contextos de saúde pública quanto pela sua relevância social ao evidenciar aspectos que podem subsidiar melhorias na qualidade dos serviços oferecidos à população e na saúde mental dos estagiários envolvidos 4 METODOLOGIA A pesquisa foi conduzida a partir de uma abordagem qualitativa com foco na observação participante e no levantamento de percepções de estagiários e supervisores da clínica conveniada ao SUS Inicialmente foi realizada uma visita de campo à instituição com o objetivo de conhecer a estrutura física a organização dos atendimentos e a dinâmica de funcionamento da equipe multiprofissional Durante essa etapa buscouse observar o cotidiano da clínica registrando aspectos relacionados à rotina aos fluxos de trabalho e às interações entre profissionais estagiários pacientes e familiares Além da observação foram aplicados instrumentos de coleta de dados como entrevistas semiestruturadas e formulários que serviram de norteamento para identificar as experiências motivações e dificuldades vivenciadas pelos estagiários no contexto da prática As entrevistas foram conduzidas de forma individual e em grupo respeitando os critérios de confidencialidade e anonimato permitindo que os participantes expressassem livremente seus sentimentos percepções e críticas em relação à formação e às condições de trabalho O levantamento de informações foi complementado com relatos obtidos junto a supervisores e profissionais da clínica a fim de comparar as diferentes perspectivas sobre a organização do estágio a rotatividade de estudantes e os impactos da redução de supervisões semanais Essa triangulação de fontes possibilitou construir uma visão mais ampla do fenômeno investigado A análise dos dados buscou identificar categorias recorrentes relacionadas às problemáticas centrais do estudo tais como rotatividade precarização do trabalho construção da carreira e saúde mental dos estagiários A partir desse processo foram produzidas interpretações fundamentadas em referenciais teóricos da Psicologia Social e da Saúde Coletiva relacionando a prática observada às discussões mais amplas sobre políticas públicas de saúde terceirização e formação acadêmica Assim a metodologia adotada visou não apenas descrever o campo observado mas também compreender os sentidos atribuídos pelos sujeitos à sua experiência articulando observação entrevista e análise crítica como estratégias complementares de investigação 5 RESULTADOS A observação que fora realizada na clínica localizada no bairro Campo Belo em São Paulo evidenciou a complexidade e a riqueza do trabalho desenvolvido no atendimento a pessoas com Transtorno do Espectro Autista TEA Fundada em 1994 pela psicóloga Valéria Pagetti a instituição consolidouse como referência no atendimento gratuito e interdisciplinar unindo Psicologia Psiquiatria Fonoaudiologia Fisioterapia Terapia Ocupacional Psicopedagogia Enfermagem Nutrição Assistência Social e Musicoterapia Atualmente a clínica atende mais de 200 pacientes de diferentes faixas etárias e contextos sociais priorizando famílias em situação de vulnerabilidade Durante a visita foi possível constatar que a estrutura física passou por melhorias significativas como a instalação de calçamento e a renovação dos ambientes internos tornandoos mais acolhedores e interativos A organização do espaço busca favorecer a circulação e oferecer recursos visuais e funcionais que estimulam o desenvolvimento dos pacientes Além disso os atendimentos ocorrem de forma diversificada incluindo intervenções precoces atividades terapêuticas em grupo integração sensorial e saídas externas para espaços públicos o que fortalece a socialização e a autonomia Entretanto os dados coletados também revelaram desafios importantes A rotina intensa de atendimentos com turmas distribuídas entre manhã e tarde somada ao alto número de pacientes por sala gera sobrecarga para os estagiários Embora a clínica exerça papel fundamental como clínicaescola a supervisão ocorre apenas uma vez ao mês o que limita a possibilidade de acompanhamento contínuo e discussão aprofundada de casos Essa lacuna acaba gerando sentimentos de insegurança e frustração entre os estagiários que frequentemente assumem responsabilidades acima de sua formação inicial Outro ponto crítico observado foi a redução na frequência das devolutivas com familiares e a alta rotatividade de profissionais que prejudicam a continuidade terapêutica e afetam o vínculo dos pacientes com a equipe Relatos de estagiários indicam ainda a presença de sobrecarga emocional ansiedade e sensação de desvalorização profissional resultado de jornadas intensas ausência de cronograma definido e pouca clareza nas atribuições Apesar disso também emergiram aspectos positivos que sustentam a prática Muitos estagiários relataram motivação para adquirir experiência na área do TEA e deficiência intelectual bem como o fortalecimento de vínculos interpessoais entre colegas que funcionam como rede de apoio diante das adversidades Supervisores experientes destacaram a relevância das atividades externas como forma de inclusão social enfatizando o direito dos pacientes de ocupar espaços públicos e vivenciar experiências que extrapolam os limites da clínica Assim os resultados apontam para uma realidade marcada por contradições de um lado um espaço reconhecido pela excelência em atendimento psicossocial inovação terapêutica e impacto social de outro condições de estágio que ainda carecem de estruturação adequada acompanhamento contínuo e valorização profissional Essa dualidade revela a importância de investir tanto na manutenção do atendimento integral à população quanto no fortalecimento das práticas de supervisão e acolhimento aos estagiários visando garantir qualidade nos serviços e formação ética e sólida dos futuros profissionais de Psicologia 6 DISCUSSÃO A partir dos dados colhidos na observações buscarmos agora discutilos e articula los com os referenciais teóricos que baseiam a Psicologia Social e a Saúde coletiva O levantamento de informações revelou aspectos centrais da dinâmica institucional como a rotatividade de estagiários a lógica de terceirização e precarização do trabalho as fragilidades na supervisão bem como o impacto direto dessas condições na formação profissional e na saúde mental dos estudantes de Psicologia Tais elementos longe de se restringirem a experiências individuais remetem a processos estruturais que atravessam o campo da saúde pública no Brasil Em primeira instância os dados demonstram que os estagiários assumem múltiplas funções na clínica muitas vezes sem clareza de atribuições o que evidencia um modelo organizacional que se apoia na utilização de estudantes como força de trabalho substitutiva Tal configuração pode ser compreendida mediante a crítica postulada por Antunes 2009 para quem o processo de terceirização e precarização no mundo do trabalho transfere aos trabalhadores condições de instabilidade insegurança e desvalorização Nesse viés o estágio que deveria configurarse prioritariamente como espaço formativo passa a reproduzir as mesmas lógicas de exploração e flexibilização que marcam o mercado de trabalho contemporâneo Ademais um dado que também fora constatado tratase da elevada rotatividade de estagiários com permanência média inferior a oito meses Essa instabilidade ocasiona um impacto direto à continuidade terapêutica e os vínculos estabelecidos com pacientes e familiares Sob a perspectiva da Psicologia Social e da Saúde coletiva a integralidade do cuidado é diretamente dependente das relações de confiança e permanência das equipes de modo que a constante substituição provoca uma fragilização dos processos terapêuticos Mediante as premissas estipuladas por Gil 1999 a análise clínica institucional possibilita a identificação das falhas organizacionais expondo o modo com a instabilidade repercute de modo negativo nos sujeitos atendidos Assim a rotatividade não deve ser compreendida apenas como característica de programas de estágio mas sim como uma problemática que compromete a qualidade da atenção psicossocial No que tange à gestão da supervisão também apresentouse como um ponto merecedor de atenção O fato de ocorrer apenas uma vez por mês com discussão restrita a alguns casos atenua significativamente as possibilidades de reflexão crítica e mediação pedagógica Bock e Teixeira 2001 ressalta que a formação em Psicologia demanda uma constante articulação entre teoria e prática sendo a supervisão um espaço privilegiado para que os discentes elaborem desafios da clínica e construam uma identidade profissional consolidada Ademais Neto e Faria 2014 complementam que o estágio supervisionado deve garantir um acompanhamento perene a fim de que previna que a prática transformese em uma mera execução de tarefas Os relatos obtidos de insegurança e desmotivação do estagiários bem como a ausência de cronogramas claros evidenciam que esta função formativa encontrase com um nível de defasagem elevado e muito fragilizado A precariedade na supervisão e as ambiguidades nas funções atribuídas reverberam de modo direto na saúde mental do discentes Os relatos indicaram ansiedade insegurança choro pré e pós os turnos de trabalho e a sensação de desvalorização Tais sintomas podem ser caracterizados mediante a Psicodinâmica do Trabalho de Dejours 1991 na qual o sofrimento é produzido por fatores individuais e pela organização do trabalho que mediante a negação do reconhecimento e limitação das margens de manobra ocasiona estados de angústia e adoecimento A clínica ao depender fortemente do trabalho dos estagiários sem oferecer suporte institucional adequado acaba expondoos a riscos emocionais que poderiam ser minimizados por meio de supervisão mais consistente e políticas de cuidado específicas Não obstante às dificuldades encontradas a clínica também apresenta práticas técnicas de demasiada relevância tais como o uso da comunicação alternativa aumentativa CAA a sala de integração sensorial os programas de intervenção precoce e a saídas ao território que visam ampliar a autonomia e a inclusão social de pacientes com Transtorno do Espectro Autista TEA Tais funções coadunam com os princípios da atenção psicossocial defendidos pela saúde coletiva que destacam a necessidade de práticas interdisciplinares Silva 2025 Assim mediante as premissas supracitadas depreendemos que existe uma tensão constante entre excelência técnica em algumas práticas e precariedade organizacional em outras dimensões Mediante as categorias discutidas notase um circuito problemático a precarização institucional ocasiona uma sobrecarga e insegurança nos estagiários tal sobrecarga eleva a rotatividade a rotatividade fragiliza os vínculos terapêuticos e compromete a qualidade do cuidado Diante disso o estágio deixa de cumprir plenamente sua função formativa Assim esse diagnóstico corroborado por Antunes 2009 Dejours 1991 e Silva 2025 possibilita a compreensão de que os problemas analisados não são acidentais mas resultado de um arranjo estrutural que necessita de reavaliação 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Mediante as premissas supracitadas foi possível evidenciar que os aspectos abordados estão interligados e impactam diretamente a saúde organizacional e o bemestar dos trabalhadores Mediante a mobilização dos referenciais teóricos foi possível compreender a complexidade das questões levantadas e associálas às práticas experienciadas O embasamento teórico fora fundamental para explicar o modo como a lógica da terceirização produz insegurança instabilidade e enfraquecimento dos vínculos profissionais Outrossim as contribuições dos supracitados possibilitaram situar a problemática da rotatividade e da gestão de pessoas em um campo mais amplo permitindo articular práticas de recursos humanos com impactos sociais e psicológicos Portanto este relatório corrobora a relevância de aprofundar análises concernente às formas de organização do trabalho na contemporaneidade principalmente no que tange aos efeitos da terceirização da rotatividade e da fragilidade de carreiras no contexto da gestão de pessoas 8 REFERÊNCIAS ANTUNES Ricardo Os sentidos do trabalho Boitempo editorial 2025 BOCK Ana Mercês Bahia FURTADO Odair TEIXEIRA Maria de Lourdes Trassi Psicologias uma introdução ao estudo de psicologia 2001 DEJOURS Christophe A loucura do trabalho estudo de psicopatologia do trabalho In A loucura do trabalho estudo de psicopatologia do trabalho 1991 p 163163 NETO Silva FARIA Walter Mariano de Supervisão de estágio em psicologia escolar contribuições da psicologia crítica à formação e à prática do supervisor 2014 SILVA Rangel Cardoso Tecnologia assistiva e comunicação aumentativa e alternativa um estudo sobre o transtorno do espectro autista Dissertação de Mestrado Universidade do Estado da Bahia 2025
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articular o que foi feito e ideias de continuidade da pesquisa e prática a partir da temática tipo de intervenção a ser pensada o que achamos importante ex seria importante roda de conversar etc Referências Coloque textos e fontes normas ABNT etc aqui já sabemos Explicar também pq que colocamos o autor Ex o que ele trouxe para agregar Pesquisa qualitativa Volta ao campo reflexão não necessariamente precisa voltar o campo ou coleta de mais informações no local Local escolhido pelo grupo para estudo Clínica escolhida para observação localizada no Campo Belo São Paulo Ela foi fundada em 1994 pela psicóloga Valéria Pagetti especializada em Transtorno do Espectro Autista TEA Antes disso ela já atuava na área desde 1985 como sócia de outra instituição Ao criar a clínica Valéria reativou o contrato com a psiquiatria do IAMSPE com foco no atendimento a pessoas com TEA Em 2007 a clínica firmou parceria com a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo ampliando seu alcance e impacto social Com o aumento da demanda a Clínica expandiu suas instalações e em 2015 inaugurou uma unidade infantil Hoje atende mais de 200 pacientes entre crianças adolescentes e adultos Como funcionam os atendimentos A clínica oferece um modelo de atenção psicossocial interdisciplinar e integral com foco em inclusão e desenvolvimento Os atendimentos são gratuitos e voltados para pessoas com TEA e comorbidades Veja como funciona Atendimentos familiares nas áreas de Psicologia Enfermagem e Assistência Social com suporte aos cuidadores e orientação para manejo comportamental Intervenção precoce com foco em crianças pequenas visando estimular o desenvolvimento desde os primeiros anos Grupos terapêuticos e atividades temáticas promovem socialização e desenvolvimento de habilidades Sala de Integração Sensorial para trabalhar estímulos sensoriais de forma estruturada Passeios terapêuticos e ações no território os atendimentos também ocorrem fora da clínica em escolas e espaços públicos fortalecendo o senso de comunidade Equipe multidisciplinar inclui profissionais de psicologia psiquiatria fonoaudiologia fisioterapia terapia ocupacional psicopedagogia enfermagem nutrição assistência social e até aulas de música Além disso a Clínica atua como clínicaescola formando estagiários de diversas áreas com supervisão especializada Agendamento de triagem A clínica realiza uma triagem inicial para entender o perfil do paciente e direcionar para os programas adequados Essa triagem pode incluir entrevistas com a família e avaliação interdisciplinar 3 Documentação necessária É comum que seja solicitado laudo médico documentos pessoais e comprovante de residência Em alguns casos há necessidade de encaminhamento por serviços públicos de saúde 4 Critérios de inclusão Os atendimentos são voltados para pessoas com diagnóstico de TEA ou suspeita em diferentes faixas etárias A clínica prioriza famílias em situação de vulnerabilidade social mas busca atender o maior número possível de casos 5 Lista de espera Devido à alta demanda pode haver lista de espera para alguns programas A equipe mantém contato com os responsáveis para informar sobre vagas e atualizações Observações realizadas através da visita presencial pelo grupo Relato da visita à clínica Na visita observamos algumas melhorias físicas no espaço O que antes era um grande terreno de barro agora conta com um calçadão facilitando a circulação em dias de chuva evitando que os pacientes deixem de transitar ou fiquem restritos apenas à sala de atendimento As paredes da clínica também ganharam novas cores salas que antes eram neutras agora possuem paredes cheias de vida com desenhos materiais interativos e funcionais para os pacientes Em conversa com os supervisores foi possível coletar muitas informações necessárias para a pesquisa informações estas que coincidem com os relatos dos estagiários Durante uma dessas conversas conseguimos entender melhor como funciona a estrutura do local tanto no aspecto físico quanto na rotina Com relação aos pacientes logo pela manhã por volta das 8h começam as chegadas Há sempre um correcorre para receber os pacientes e muitas vezes para cobrir um ou mais colegas que acabam faltando A demanda semanal é intensa Os atendimentos são divididos em dois turnos das 8h às 12h e das 13h às 16h podendo se estender até meia hora além do previsto devido a atrasos familiares ou outras questões Os contratos com os estagiários são de 32 horas semanais totalizando seis horas diárias de trabalho incluindo uma hora de almoço Segundo os estagiários uma mudança significativa foi a queda no número de supervisões semanais que passaram a ocorrer apenas uma vez por mês Nesse encontro é feito um café da manhã coletivo com toda a equipe e em seguida uma roda de conversa onde discutem casos melhorias e ajustes possíveis Após a roda os psicólogos se reúnem para o estudo de caso O processo funciona assim cada psicólogo escolhe um paciente de sua responsabilidade para apresentar totalizando quatro casos Considerando que cada sala atende em média oito pacientes por dia os demais acabam sendo discutidos somente após um mês Os supervisores reconhecem que isso não é o suficiente mas explicam que devido a outras funções exercidas fora da clínica fazem o que está ao alcance As devolutivas com os familiares também deixaram de ocorrer como antes O que antes era feito a cada seis meses hoje já não acontece mais Apesar da cobrança de familiares os profissionais não têm respostas concretas a oferecer Atualmente a equipe conta com Profissionais da limpeza Quatro psicólogos formados Oito a nove estagiários por andar Uma musicoterapeuta Uma psicopedagoga Uma psiquiatra Uma enfermeira Dois fisioterapeutas um estagiário e um formado Na administração são apenas duas pessoas uma responsável por contratos e pagamentos e outra pela coordenação geral que também direciona a equipe auxilia no manejo dos pacientes e promove oficinas divertidas ao menos uma vez por semana Dentre os programas terapêuticos a equipe utiliza a Comunicação Aumentativa e Alternativa CAA um conjunto de ferramentas clínicas e pedagógicas que auxiliam pessoas com dificuldades de comunicação Os recursos incluem símbolos imagens gestos escrita e dispositivos eletrônicos como tablets e computadores A própria instituição confecciona placas utilizadas pelos pacientes que necessitam desse apoio Além disso os profissionais promovem atividades voltadas ao desenvolvimento motor habilidades sociais socioemocionais e de vida diária como escovação dos dentes fazer a barba e cortar as unhas Para fortalecer a autonomia são realizadas saídas externas como idas à feira ou lojas para pequenas compras Nessas ocasiões os pacientes são incentivados a se comunicar e até a realizar pagamentos Apesar de serem atividades divertidas os supervisores relatam desafios como episódios de desorganização ou pacientes que tentam fugir Por isso essas atividades são sempre feitas em grupo Durante a visita perguntamos a um supervisor com mais tempo de casa que brincou ao dizer ter mais tempo de firma sobre seus objetivos ao levar os pacientes para esses espaços e como enxerga o impacto de seu trabalho Ele respondeu Quando entrei na instituição ainda era tudo muito nebuloso em relação às minhas competências Foi no meu espaço de supervisão que meu orientador me perguntou Maurício você tem estagiários agora Então vai ter que supervisionálos Eles estão sob sua responsabilidade Daí surgiu minha função de supervisor No começo era algo grosseiro tirar o estagiário de sala e conversar rapidamente no corredor Com o tempo e com a ajuda dos colegas foi ganhando uma forma mais profissional Sempre busquei ser uma base nesse terreno tão incerto que é a prática em saúde mental ainda mais em uma clínica voltada ao TEA sem uma estrutura fixa baseada em única abordagem teórica É difícil sustentar uma prática sem direcionamentos mas fui acreditando na possibilidade de o estudante de psicologia criar sua forma de estar em um atendimento Quando minha primeira turma saiu da instituição e seguiu outros caminhos vieram os relatos de crescimento profissional e lembranças daquela experiência É gratificante saber que aqueles estudantes que começaram aqui como primeira vivência hoje estão se formando conduzindo seus próprios atendimentos e se reconhecendo como profissionais Quanto às atividades externas penso que leválos ao espaço público é uma forma de apresentálos à sociedade de mostrar que fazem parte dela e têm direito de ocupar esses espaços Não é uma tarefa fácil alguns ainda não estão acostumados a sair sem os responsáveis Já ouvi mães dizerem que limitam as saídas com seus filhos por medo dos comportamentos em público Levar os pacientes às lojas feiras mercados ou estações de metrô também é um modo de mostrar às famílias que é possível circular com eles em diferentes ambientes Além da ideia de passeio e lazer penso muito na ocupação e no direito de estar nesses lugares Durante nossa visita à clínica tivemos a oportunidade de conversar com estagiários e profissionais que atuam diretamente no atendimento a pacientes com diferentes síndromes e transtornos Logo nos primeiros momentos percebemos que o processo de contratação de estagiários nem sempre é claro muitos iniciam sem saber exatamente quais serão suas funções O primeiro contato com o ambiente é descrito por eles como impactante uma experiência nova intensa e repleta de aprendizados que vão muito além do que se imagina nos primeiros semestres da graduação Uma das estagiárias relatou que ao iniciar no segundo semestre da faculdade já se deparava com situações clínicas complexas o que gerou admiração e surpresa entre os colegas No entanto junto com o aprendizado veio também uma carga significativa de responsabilidade A autonomia oferecida muitas vezes vinha acompanhada de uma expectativa silenciosa de que o estagiário assumisse funções que extrapolam sua formação inicial Com o passar das semanas os relatos apontam para um aumento da sobrecarga emocional e física A confiança depositada nos estagiários embora genuína em muitos casos também parece estar atrelada à lógica da mão de obra barata Questionamentos como por que não recebemos instruções claras ou por que não há horário fixo para almoço são comuns revelando falhas na estrutura organizacional A ausência de um cronograma definido e a escassez de supervisão contínua que ocorre apenas uma vez ao mês contribuem para sentimentos de frustração insegurança e até culpa Muitos estagiários relatam que são eles os responsáveis por criar e aplicar atividades terapêuticas sem apoio técnico constante Isso gera dúvidas sobre a eficácia dos atendimentos e sobre o próprio desenvolvimento profissional Um dos relatos mais marcantes veio de uma estagiária que após a saída de seu colega de sala passou a ser vista como responsável por aquele espaço e pelos pacientes Com a chegada de uma nova parceira o trabalho se tornou mais colaborativo mas os desafios continuaram pacientes com psicose comportamentos sexualizados ausência de medicação e episódios de agressividade física são parte da rotina A cada três meses são realizadas reuniões com familiares para devolutivas Nessas ocasiões é possível perceber o olhar cansado e ao mesmo tempo esperançoso das famílias que desejam ver progresso nos pacientes Apesar de contar com uma equipe composta por psicólogos coordenadores fisioterapeutas musicoterapeutas e psicopedagogos a carga de trabalho recai majoritariamente sobre os estagiários Outro ponto observado foi a alta rotatividade de profissionais Muitos pacientes iniciam vínculos terapêuticos que são interrompidos com a saída dos terapeutas o que pode gerar sofrimento e até abandono do tratamento A maioria dos estagiários permanece por menos de oito meses embora alguns por necessidade financeira ou por resiliência estendam o contrato por mais tempo A rotina é exaustiva número elevado de pacientes jornadas intensas risco de agressões físicas e pouca valorização financeira O maior desafio segundo os relatos é manter a regulação emocional diante de situações extremas sem responsabilizar os pacientes por comportamentos que fazem parte de seus quadros clínicos Muitos estagiários enfrentam crises de ansiedade choram antes e depois do expediente mas ainda assim precisam manter a postura profissional diante dos pacientes Observação 24 de setembro 1 Comunicação Feita por caixa de som todos os ambientes possuem caixas de som Orientações homogêneas e diretas são passadas por esse meio 2 Horário de funcionamento 08h às 17h Alguns pacientes permanecem o dia todo outros até 11h ou 15h 3 Enfermaria Cada paciente leva seu próprio medicamento Administração somente com receita médica independente da tarja 4 Estrutura física Primeiro ambiente pátio com jardim organizado e limpo Salas interativas com rotina visual paredes bem pintadas e iluminação clara Copa equipada com microondas geladeira e utensílios de cozinha mesas e cadeiras disponíveis Sala de fisioterapia com utensílios básicos para tratamento 5 Motivação dos estagiários Estrutura humanista 1 mês estagiária Adquirir experiência com TEA e deficiência intelectual DI 2 meses estagiária Adquirir experiência geral 4 meses estagiária Experiência pessoal despertou interesse em trabalhar com TEADI tempo não especificado 6 Desmotivações dos estagiários Sobrecarga e desvio de função frente de sala durante 3 semanas com cuidados paliativos mesmo com enfermeira presente 1 ano estagiária Demanda excessiva e necessidade de entender a dinâmica individual de cada paciente 3 meses estagiária Desvalidação do trabalho do psicólogo por parte da família reforços negativos em casa 4 meses estagiário Dificuldade em tornar ambiente e atividades mais estimulantes para faixa etária mais avançada 40 6 meses estagiário 7 Supervisão Psicóloga supervisões realizadas uma vez por mês às sextasfeiras com análise dos casos mais pertinentes Psicólogo motivação em acompanhar estagiários no desenvolvimento desmotivação diante de questões institucionais A pergunta que ecoa entre os estagiários é como oferecer um serviço de qualidade se o próprio ambiente de trabalho não reconhece e valoriza o profissional em formação Em resumo a observação revelou que apesar de o ambiente favorecer o aprendizado e o desenvolvimento prático também impõe desafios que impactam diretamente a saúde mental dos estagiários A diferença entre a expectativa de uma atuação estritamente técnica e a realidade de um trabalho que exige flexibilidade e enfrentamento de situações complexas constitui um ponto essencial a ser investigado Apesar de tudo o que sustenta esses jovens profissionais são os vínculos criados entre colegas A rede de apoio formada dentro da clínica entre estagiários e profissionais que compartilham o mesmo propósito é o que permite que muitos sigam em frente oferecendo o melhor de si mesmo diante de tantos desafios UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO UNINOVE PSICOLOGIA TÂNIA RELATÓRIO PROJETO DE OBSERVAÇÃO E PSICOLOGIA SOCIAL PARCERIA COM A CLÍNICA DO SUS SÃO PAULO 2025 1 INTRODUÇÃO A observação clínica é um recurso demasiadamente crucial no âmbito da Psicologia social haja vista que possibilita a identificação dos aspectos técnicos dos atendimentos como também os fatores institucionais relacionais e subjetivos que atravessam a prática profissional A observação é um instrumento largamente utilizado nas ciências para a obtenção de informações que serão posteriormente analisadas pelos mais diversos métodos Campos 2001 Gil 1999 AlvesMazzotti e Gewansznajder 2002 Ademais em consonância com Ferreira e Mosquer 2004 a supracitada foi defendida por Galileu como um dos elementos que proporcionariam um conhecimento fidedigno do mundo posteriormente também passou a ser utilizada pelas ciências humanas e sociais de forma que é um instrumento altamente reconhecido na psicologia Em estágios supervisionados o exercício da observação corrobora no desenvolvimento crítico dos estudantes e à reflexão concernente às condições de trabalho e saúde mental sobretudo em contextos permeados por terceirização alta rotatividade e sobrecarga emocional No âmbito da saúde pública brasileira principalmente nas instituições conveniadas ao Sistema Único de Saúde SUS a presença de estagiários é fundamental para o processo formativo e funcionamento cotidiano das clínicas A inserção de tais estudantes em cenários de prática configurase como um espaço de aprendizagem mas também expõe contradições De um lado existe a oportunidade de contato direto com pacientes equipes multiprofissionais e situações complexas que ocorrem no dia a dia de outro evocase desafios como sobrecarga de tarefas a falta de supervisão perene a rotatividade de profissionais e as tensões decorrentes da lógica de terceirização e precarização do trabalho em saúde A clínica escolhida para observação localizada no bairro Campo Belo em São Paulo ilustra bem essa realidade Com trajetória consolidada no atendimento a pessoas com Transtorno do Espectro Autista TEA atua em parceria com a Secretaria da Saúde do Estado e desempenha importante papel social Além de oferecer atenção integral e gratuita também funciona como clínicaescola recebendo estagiários de diferentes áreas É nesse espaço de formação que se situam as questões centrais desta pesquisa como os estagiários vivenciam a experiência prática quais impactos essa vivência gera em sua identidade profissional e de que modo a estrutura institucional contribui ou fragiliza sua saúde mental O presente relatório do projeto tem como foco a análise da experiência de estagiários em uma clínica parceira do SUS especializada em Transtorno do Espectro Autista TEA Pretendese compreender como a dinâmica institucional os vínculos com pacientes e a gestão da equipe repercutem na formação e saúde mental dos estagiários 2 OBJETIVOS 21 GERAL Compreender as condições de estágio em uma clínica conveniada ao SUS e seus impactos na trajetória formativa e no bemestar psicológico dos estagiários 22 ESPECÍFICOS Identificar como os estagiários vivenciam a rotatividade e a transitoriedade de sua permanência no campo Analisar a percepção dos estagiários sobre a carreira em Psicologia a partir da experiência prática Investigar os efeitos da terceirização e da lógica da mão de obra barata no cotidiano institucional 3 JUSTIFICATIVA A realização deste estudo justificase pela necessidade de compreender os desafios enfrentados por estagiários de Psicologia em clínicas conveniadas ao Sistema Único de Saúde SUS especialmente em instituições que atuam com demandas complexas como o Transtorno do Espectro Autista TEA A prática de estágio configurase como um momento crucial na formação acadêmica pois permite a articulação entre teoria e prática ao mesmo tempo em que expõe os estudantes às contradições e limitações presentes no cotidiano institucional Nesse sentido tornase relevante investigar como a experiência prática repercute na identidade profissional em construção e no bemestar psicológico desses futuros profissionais De mais a mais o contexto das clínicasescola conveniadas ao SUS revela problemáticas estruturais que atravessam a realidade dos serviços públicos de saúde tais como a terceirização a alta rotatividade de profissionais e a redução de supervisão Tais fatores impactam não apenas a qualidade da assistência prestada à população mas também a formação dos estagiários que muitas vezes se deparam com sobrecarga de tarefas e precarização das condições de trabalho A escolha pela clínica localizada no bairro Campo Belo em São Paulo reforça a relevância deste projeto uma vez que a instituição desempenha papel social essencial no atendimento gratuito e integral a pessoas com TEA ao mesmo tempo em que constitui um espaço de aprendizagem para estagiários de diversas áreas Investigar como esses futuros psicólogos vivenciam tal realidade suas dificuldades percepções e estratégias de enfrentamento contribui para a reflexão sobre as políticas públicas de saúde e educação além de oferecer subsídios para o aprimoramento da supervisão acadêmica e das condições de estágio Assim justificase tanto pela sua contribuição para o fortalecimento da formação em Psicologia ao possibilitar um olhar crítico sobre a prática profissional em contextos de saúde pública quanto pela sua relevância social ao evidenciar aspectos que podem subsidiar melhorias na qualidade dos serviços oferecidos à população e na saúde mental dos estagiários envolvidos 4 METODOLOGIA A pesquisa foi conduzida a partir de uma abordagem qualitativa com foco na observação participante e no levantamento de percepções de estagiários e supervisores da clínica conveniada ao SUS Inicialmente foi realizada uma visita de campo à instituição com o objetivo de conhecer a estrutura física a organização dos atendimentos e a dinâmica de funcionamento da equipe multiprofissional Durante essa etapa buscouse observar o cotidiano da clínica registrando aspectos relacionados à rotina aos fluxos de trabalho e às interações entre profissionais estagiários pacientes e familiares Além da observação foram aplicados instrumentos de coleta de dados como entrevistas semiestruturadas e formulários que serviram de norteamento para identificar as experiências motivações e dificuldades vivenciadas pelos estagiários no contexto da prática As entrevistas foram conduzidas de forma individual e em grupo respeitando os critérios de confidencialidade e anonimato permitindo que os participantes expressassem livremente seus sentimentos percepções e críticas em relação à formação e às condições de trabalho O levantamento de informações foi complementado com relatos obtidos junto a supervisores e profissionais da clínica a fim de comparar as diferentes perspectivas sobre a organização do estágio a rotatividade de estudantes e os impactos da redução de supervisões semanais Essa triangulação de fontes possibilitou construir uma visão mais ampla do fenômeno investigado A análise dos dados buscou identificar categorias recorrentes relacionadas às problemáticas centrais do estudo tais como rotatividade precarização do trabalho construção da carreira e saúde mental dos estagiários A partir desse processo foram produzidas interpretações fundamentadas em referenciais teóricos da Psicologia Social e da Saúde Coletiva relacionando a prática observada às discussões mais amplas sobre políticas públicas de saúde terceirização e formação acadêmica Assim a metodologia adotada visou não apenas descrever o campo observado mas também compreender os sentidos atribuídos pelos sujeitos à sua experiência articulando observação entrevista e análise crítica como estratégias complementares de investigação 5 RESULTADOS A observação que fora realizada na clínica localizada no bairro Campo Belo em São Paulo evidenciou a complexidade e a riqueza do trabalho desenvolvido no atendimento a pessoas com Transtorno do Espectro Autista TEA Fundada em 1994 pela psicóloga Valéria Pagetti a instituição consolidouse como referência no atendimento gratuito e interdisciplinar unindo Psicologia Psiquiatria Fonoaudiologia Fisioterapia Terapia Ocupacional Psicopedagogia Enfermagem Nutrição Assistência Social e Musicoterapia Atualmente a clínica atende mais de 200 pacientes de diferentes faixas etárias e contextos sociais priorizando famílias em situação de vulnerabilidade Durante a visita foi possível constatar que a estrutura física passou por melhorias significativas como a instalação de calçamento e a renovação dos ambientes internos tornandoos mais acolhedores e interativos A organização do espaço busca favorecer a circulação e oferecer recursos visuais e funcionais que estimulam o desenvolvimento dos pacientes Além disso os atendimentos ocorrem de forma diversificada incluindo intervenções precoces atividades terapêuticas em grupo integração sensorial e saídas externas para espaços públicos o que fortalece a socialização e a autonomia Entretanto os dados coletados também revelaram desafios importantes A rotina intensa de atendimentos com turmas distribuídas entre manhã e tarde somada ao alto número de pacientes por sala gera sobrecarga para os estagiários Embora a clínica exerça papel fundamental como clínicaescola a supervisão ocorre apenas uma vez ao mês o que limita a possibilidade de acompanhamento contínuo e discussão aprofundada de casos Essa lacuna acaba gerando sentimentos de insegurança e frustração entre os estagiários que frequentemente assumem responsabilidades acima de sua formação inicial Outro ponto crítico observado foi a redução na frequência das devolutivas com familiares e a alta rotatividade de profissionais que prejudicam a continuidade terapêutica e afetam o vínculo dos pacientes com a equipe Relatos de estagiários indicam ainda a presença de sobrecarga emocional ansiedade e sensação de desvalorização profissional resultado de jornadas intensas ausência de cronograma definido e pouca clareza nas atribuições Apesar disso também emergiram aspectos positivos que sustentam a prática Muitos estagiários relataram motivação para adquirir experiência na área do TEA e deficiência intelectual bem como o fortalecimento de vínculos interpessoais entre colegas que funcionam como rede de apoio diante das adversidades Supervisores experientes destacaram a relevância das atividades externas como forma de inclusão social enfatizando o direito dos pacientes de ocupar espaços públicos e vivenciar experiências que extrapolam os limites da clínica Assim os resultados apontam para uma realidade marcada por contradições de um lado um espaço reconhecido pela excelência em atendimento psicossocial inovação terapêutica e impacto social de outro condições de estágio que ainda carecem de estruturação adequada acompanhamento contínuo e valorização profissional Essa dualidade revela a importância de investir tanto na manutenção do atendimento integral à população quanto no fortalecimento das práticas de supervisão e acolhimento aos estagiários visando garantir qualidade nos serviços e formação ética e sólida dos futuros profissionais de Psicologia 6 DISCUSSÃO A partir dos dados colhidos na observações buscarmos agora discutilos e articula los com os referenciais teóricos que baseiam a Psicologia Social e a Saúde coletiva O levantamento de informações revelou aspectos centrais da dinâmica institucional como a rotatividade de estagiários a lógica de terceirização e precarização do trabalho as fragilidades na supervisão bem como o impacto direto dessas condições na formação profissional e na saúde mental dos estudantes de Psicologia Tais elementos longe de se restringirem a experiências individuais remetem a processos estruturais que atravessam o campo da saúde pública no Brasil Em primeira instância os dados demonstram que os estagiários assumem múltiplas funções na clínica muitas vezes sem clareza de atribuições o que evidencia um modelo organizacional que se apoia na utilização de estudantes como força de trabalho substitutiva Tal configuração pode ser compreendida mediante a crítica postulada por Antunes 2009 para quem o processo de terceirização e precarização no mundo do trabalho transfere aos trabalhadores condições de instabilidade insegurança e desvalorização Nesse viés o estágio que deveria configurarse prioritariamente como espaço formativo passa a reproduzir as mesmas lógicas de exploração e flexibilização que marcam o mercado de trabalho contemporâneo Ademais um dado que também fora constatado tratase da elevada rotatividade de estagiários com permanência média inferior a oito meses Essa instabilidade ocasiona um impacto direto à continuidade terapêutica e os vínculos estabelecidos com pacientes e familiares Sob a perspectiva da Psicologia Social e da Saúde coletiva a integralidade do cuidado é diretamente dependente das relações de confiança e permanência das equipes de modo que a constante substituição provoca uma fragilização dos processos terapêuticos Mediante as premissas estipuladas por Gil 1999 a análise clínica institucional possibilita a identificação das falhas organizacionais expondo o modo com a instabilidade repercute de modo negativo nos sujeitos atendidos Assim a rotatividade não deve ser compreendida apenas como característica de programas de estágio mas sim como uma problemática que compromete a qualidade da atenção psicossocial No que tange à gestão da supervisão também apresentouse como um ponto merecedor de atenção O fato de ocorrer apenas uma vez por mês com discussão restrita a alguns casos atenua significativamente as possibilidades de reflexão crítica e mediação pedagógica Bock e Teixeira 2001 ressalta que a formação em Psicologia demanda uma constante articulação entre teoria e prática sendo a supervisão um espaço privilegiado para que os discentes elaborem desafios da clínica e construam uma identidade profissional consolidada Ademais Neto e Faria 2014 complementam que o estágio supervisionado deve garantir um acompanhamento perene a fim de que previna que a prática transformese em uma mera execução de tarefas Os relatos obtidos de insegurança e desmotivação do estagiários bem como a ausência de cronogramas claros evidenciam que esta função formativa encontrase com um nível de defasagem elevado e muito fragilizado A precariedade na supervisão e as ambiguidades nas funções atribuídas reverberam de modo direto na saúde mental do discentes Os relatos indicaram ansiedade insegurança choro pré e pós os turnos de trabalho e a sensação de desvalorização Tais sintomas podem ser caracterizados mediante a Psicodinâmica do Trabalho de Dejours 1991 na qual o sofrimento é produzido por fatores individuais e pela organização do trabalho que mediante a negação do reconhecimento e limitação das margens de manobra ocasiona estados de angústia e adoecimento A clínica ao depender fortemente do trabalho dos estagiários sem oferecer suporte institucional adequado acaba expondoos a riscos emocionais que poderiam ser minimizados por meio de supervisão mais consistente e políticas de cuidado específicas Não obstante às dificuldades encontradas a clínica também apresenta práticas técnicas de demasiada relevância tais como o uso da comunicação alternativa aumentativa CAA a sala de integração sensorial os programas de intervenção precoce e a saídas ao território que visam ampliar a autonomia e a inclusão social de pacientes com Transtorno do Espectro Autista TEA Tais funções coadunam com os princípios da atenção psicossocial defendidos pela saúde coletiva que destacam a necessidade de práticas interdisciplinares Silva 2025 Assim mediante as premissas supracitadas depreendemos que existe uma tensão constante entre excelência técnica em algumas práticas e precariedade organizacional em outras dimensões Mediante as categorias discutidas notase um circuito problemático a precarização institucional ocasiona uma sobrecarga e insegurança nos estagiários tal sobrecarga eleva a rotatividade a rotatividade fragiliza os vínculos terapêuticos e compromete a qualidade do cuidado Diante disso o estágio deixa de cumprir plenamente sua função formativa Assim esse diagnóstico corroborado por Antunes 2009 Dejours 1991 e Silva 2025 possibilita a compreensão de que os problemas analisados não são acidentais mas resultado de um arranjo estrutural que necessita de reavaliação 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Mediante as premissas supracitadas foi possível evidenciar que os aspectos abordados estão interligados e impactam diretamente a saúde organizacional e o bemestar dos trabalhadores Mediante a mobilização dos referenciais teóricos foi possível compreender a complexidade das questões levantadas e associálas às práticas experienciadas O embasamento teórico fora fundamental para explicar o modo como a lógica da terceirização produz insegurança instabilidade e enfraquecimento dos vínculos profissionais Outrossim as contribuições dos supracitados possibilitaram situar a problemática da rotatividade e da gestão de pessoas em um campo mais amplo permitindo articular práticas de recursos humanos com impactos sociais e psicológicos Portanto este relatório corrobora a relevância de aprofundar análises concernente às formas de organização do trabalho na contemporaneidade principalmente no que tange aos efeitos da terceirização da rotatividade e da fragilidade de carreiras no contexto da gestão de pessoas 8 REFERÊNCIAS ANTUNES Ricardo Os sentidos do trabalho Boitempo editorial 2025 BOCK Ana Mercês Bahia FURTADO Odair TEIXEIRA Maria de Lourdes Trassi Psicologias uma introdução ao estudo de psicologia 2001 DEJOURS Christophe A loucura do trabalho estudo de psicopatologia do trabalho In A loucura do trabalho estudo de psicopatologia do trabalho 1991 p 163163 NETO Silva FARIA Walter Mariano de Supervisão de estágio em psicologia escolar contribuições da psicologia crítica à formação e à prática do supervisor 2014 SILVA Rangel Cardoso Tecnologia assistiva e comunicação aumentativa e alternativa um estudo sobre o transtorno do espectro autista Dissertação de Mestrado Universidade do Estado da Bahia 2025