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Farmácia ·
Farmacologia
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Texto de pré-visualização
Autoras Profa Cristina Maria Franzini Profa Luana Cardoso de Oliveira Profa Marina de Freitas Silva Profa Michele Georges Issa Colaboradores Prof Juliano Rodrigo Guerreiro Profa Eliane Maria de Almeida Orsine Farmacotécnica Professoras conteudistas Cristina Maria Franzini Luana Cardoso de Oliveira Marina de Freitas Silva Michele Georges Issa Todos os direitos reservados Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma eou quaisquer meios eletrônico incluindo fotocópia e gravação ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP F837f Franzini Cristina Maria Farmacotécnica Cristina Maria Franzini Luana Cardoso de Oliveira Marina de Freitas Silva Michele Georges Issa São Paulo Editora Sol 2021 148 p il Nota este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP Série Didática ISSN 15179230 1 Medicamento 2 Estabilidade 3 Forma I Franzini Cristina Maria II Oliveira Luana Cardoso de III Silva Marina de Freitas IV Issa Michele Georges V Título CDU 615014 U51286 21 Cristina Maria Franzini Possui graduação em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Ciências Biológicas de Araras 1994 especialização em farmácia Hospitalar pelo Hospital das Clinicas da faculdade de medicina de Ribeirão Preto USP 1995 habilitação em farmácia industrial pela Universidade de Ribeirão Preto Unaerp 1996 mestrado em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho 2006 e doutorado em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho 2010 na área de tecnologia farmacêutica com ênfase em farmacotecnia e desenvolvimento farmacotécnico Também tem especialização em Farmácia Estética pela Uniararas FHO 2018 Docente da Universidade Paulista desde 2013 Luana Cardoso de Oliveira É farmacêuticabioquímica com graduação pela Universidade Estadual Paulista Unesp 1999 mestre em Ciências Farmacêuticas pela Unesp 2006 especialista em manipulação magistral alopática pela Anfarmag e especialista em gestão da assistência farmacêutica pela UFSC Atualmente é docente na UNIP e farmacêutica atuante na atenção básica da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo Apresenta experiência na área de produção e controle de qualidade de medicamentos e cosméticos e assistência farmacêutica Marina de Freitas Silva Farmacêuticabioquímica com graduação pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto FCFRPUSP 2005 é mestre 2009 e doutora 2014 em Ciências pelo programa de Fármaco e Medicamentos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas FCFUSP com ênfase em Biofarmácia e Farmacotécnica Atualmente é docente do curso de graduação em Farmácia e pósgraduação em Farmácia Clínica na UNIP Também é docente do programa de pósgraduação do Instituto Racine Possui experiência em estudos de bioequivalência biofarmacotécnica correlação in vitro in vivo CIVIV modelagem farmacocinética in silico desenvolvimento de formulações e desenvolvimento analítico É docente na Universidade Paulista Michele Georges Issa É farmacêutica 2007 mestre 2011 e doutora 2016 pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo FCFUSP com estágio na University of East Anglia Reino Unido Foi analista de desenvolvimento na Libbs Farmacêutica e atualmente é pósdoutoranda na FCFUSP trabalhando em projetos de pesquisa no Laboratório de Desenvolvimento e Inovação Farmacotécnica Deinfar Desde 2010 atua como professora na Universidade Paulista e desde 2020 como professora colaboradora na FCFUSP Possui experiência em desenvolvimento de formulações préformulação dissolução e delineamento experimental Prof Dr João Carlos Di Genio Reitor Profa Dra Marilia Ancona Lopez ViceReitora de Graduação ViceReitora de PósGraduação e Pesquisa Prof Fábio Romeu de Carvalho ViceReitor de Planejamento Administração e Finanças Profa Melânia Dalla Torre ViceReitora de Unidades Universitárias Unip Interativa Profa Dra Cláudia Andreatini Profa Elisabete Brihy Prof Marcelo Vannini Prof Dr Luiz Felipe Scabar Prof Ivan Daliberto Frugoli Material Didático Comissão editorial Profa Dra Christiane Mazur Doi Profa Dra Angélica L Carlini Profa Dra Ronilda Ribeiro Apoio Profa Cláudia Regina Baptista Profa Deise Alcantara Carreiro Projeto gráfico Prof Alexandre Ponzetto Revisão Vera Saad Jaci Albuquerque Sumário Farmacotécnica APRESENTAÇÃO 9 INTRODUÇÃO 10 Unidade I 1 CONCEITUAÇÃO E TERMINOLOGIA 13 11 Componentes do medicamento 13 111 Insumos ativos 13 112 Insumos inertes 14 113 Materiais de embalagem 15 12 Forma farmacêutica e fórmula farmacêutica17 121 Fórmula farmacêutica 17 122 Forma farmacêutica 17 13 Classificação dos medicamentos quanto à forma de preparação 18 131 Medicamento oficinal 18 132 Medicamento magistral 19 133 Especialidade farmacêutica 21 14 Classificação dos medicamentos quanto ao método terapêutico 21 141 Medicamentos alopáticos 22 142 Medicamentos homeopáticos 22 143 Medicamentos fitoterápicos 23 15 Classificação dos medicamentos quanto ao tipo de registro 24 151 Medicamento novo 24 152 Medicamento inovador 24 153 Medicamento de referência 24 154 Medicamento genérico 24 155 Medicamento similar 27 16 Abreviaturas siglas e códigos 29 161 Rx 29 162 FSA29 163 qs 29 164 qsp 29 165 ãã 30 166 ãã qsp 30 167 UI 30 168 Ext e Int 30 169 Abreviações para vias de administração 30 2 CÁLCULOS EM FARMACOTÉCNICA 31 21 Unidades de medida 31 22 Cálculos de porcentagem32 221 Peso por volume pv 32 222 Peso por peso pp 32 223 Volume por volume vv 32 23 Cálculos de concentração 33 231 Molaridade M 34 24 Densidade 35 25 Cálculos de diluição37 251 Diluições seriadas39 252 Diluições geométrica de sólidos 40 3 BOAS PRÁTICAS DE MANIPULAÇÃO EM FARMÁCIA 43 31 Estrutura do sistema de garantia da qualidade 44 311 Manual da qualidade44 312 Documentação legal 44 313 Procedimentos operacionais padrão POP 45 314 Programa de treinamento de funcionários 46 315 Especificações de materiais 46 316 Qualificação de fornecedoresfabricantes 48 317 Registros de análises de controle de qualidade 48 318 Registros de manipulação 50 319 Registros complementares 51 3110 Registros de reclamações 51 3111 Plano de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde 51 3112 Auditorias internas 52 3113 Investigação de desvios de qualidade 53 32 Infraestrutura 54 33 Equipamentos matérias e utensílios 55 34 Recursos Humanoscondutas 56 4 MÉTODOS DE TRATAMENTO DE ÁGUA 57 41 Contaminantes da água 59 411 Microrganismos e pirogênios 59 412 Materiais orgânicos presença de carbono 59 413 Partículas 59 414 Coloides 59 415 Íons 59 42 Água potável 60 43 Água purificada 62 44 Água ultrapurificada 63 45 Água para injeção 63 46 Sistemas de purificação da água 63 461 Níveis de passagem de compostos 64 462 Filtração 64 463 Microfiltração 64 464 Ultrafiltração 65 465 Nanofiltração 65 466 Destilação 66 467 Deionização 67 468 Eletrodeionização 67 469 Adsorção 68 4610 Carvão ativado68 4611 Oxidação ultravioleta 68 4612 Osmose reversa 69 47 Especificações de pureza 70 48 Monitoramento 71 Unidade II 5 ESTABILIDADE E CONSERVAÇÃO DE MEDICAMENTOS CONCEITOS REGULAMENTAÇÃO TIPOS DE ESTABILIDADE FATORES QUE INFLUENCIAM E REAÇÕES DE DEGRADAÇÃO 77 51 Regulamentação técnica da estabilidade77 52 Tipos de estabilidade 78 521 Estabilidade física 79 522 Estabilidade química 80 523 Estabilidade microbiológica 81 524 Estabilidade terapêutica 82 525 Estabilidade toxicológica 83 53 Fatores extrínsecos 83 54 Reações de degradação 84 541 Hidrólise 85 542 Oxidação 87 543 Fotólise 89 544 Isomerização 89 545 Polimerização 90 6 ESTABILIDADE E CONSERVAÇÃO DE MEDICAMENTOS ESTRATÉGIAS PARA ESTABILIZAÇÃO E DETERMINAÇÃO DO PRAZO DE VALIDADE 91 61 Estratégias farmacotécnicas para a estabilização de produtos farmacêuticos 91 611 Estabilização de preparações sujeitas à hidrólise 92 612 Estabilização de preparações sujeitas à oxidação 95 613 Estabilização de preparações sujeitas à fotólise 96 614 Estabilização de preparações sujeitas à deterioração microbiana 96 62 Determinação do prazo de validade de produtos farmacêuticos 97 621 Estudo de estabilidade acelerado 98 622 Estudo de estabilidade de longa duração 99 623 Estudo de estabilidade de acompanhamento 100 624 Condução e frequência dos estudos de estabilidade 100 625 Estudo de fotoestabilidade 101 626 Limites de produtos de degradação 101 627 Determinação do prazo de validade de especialidades farmacêuticas 102 7 FORMAS FARMACÊUTICAS LÍQUIDAS SOLUÇÕES 103 71 Conceitos 103 72 Aspectos físicoquímicos e farmacotécnicos104 721 Solubilidade 105 722 Preparo de soluções 105 723 Adjuvantes empregados para o preparo de soluções 106 724 Dispositivos de medição para a administração de soluções 110 725 Estabilidade das soluções 111 73 Fatores que influenciam na dissolução de substâncias 111 731 Escolha de solventes 111 732 Cossolvente 114 733 Tamanho de partícula 114 734 Temperatura 114 735 Agitação 115 736 pH 115 737 Formação de sais 117 738 Tensoativos 117 739 Estrutura molecular do soluto 118 7310 Polimorfismo 118 7311 Solvatação 119 7312 Formação de complexos 119 8 CONCEITOS E PRINCIPAIS ASPECTOS DE SOLUÇÕES OTOLÓGICAS ENXAGUATÓRIOS COLUTÓRIOS DUCHAS ENEMAS COLÍRIOS ERRINOS DOMISSANITÁRIOS SOLUÇÕES EXTRATIVAS 120 81 Soluções otológicas 121 82 Enxaguatórios 121 83 Colutórios 121 84 Duchas 122 85 Enema 122 86 Colírios 122 87 Errinos 123 88 Domissanitários 123 89 Soluções extrativas 124 810 Exemplos de formulações de solução 125 811 Cálculo de isotonia 126 9 APRESENTAÇÃO Prezado aluno Apresentaremos a você o universo da farmacotécnica a ciência relacionada à produção de medicamentos e todas as suas ramificações Conforme o conhecimento e a tecnologia avançam mais insumos farmacêuticos estão disponíveis mais técnicas de obtenção e liberação de fármacos e consequentemente muitas opções terapêuticas chegam ao mercado para atender as mais diversas condições de saúde Desse modo ao longo de seus estudos você entrará em contato com os diferentes tipos de matériasprimas utilizadas no desenvolvimento de formulações os medicamentos que podem ser obtidos conforme as associações feitas e técnicas de produção Neste livrotexto buscouse inserir os conceitos básicos para habilitar o futuro farmacêutico não apenas na produção de medicamentos em indústrias e farmácias de manipulação mas na análise e interpretação de composições medicamentosas prescrições além de aspectos relacionados à dispensação e administração dessas preparações A competência da disciplina Farmacotécnica visa habilitar o aluno para que saiba definir a forma farmacêutica a ser produzida Por exemplo se será líquida sólida ou semissólida e ainda dentro dessa escolha selecionar o tipo se entre os possíveis medicamentos sólidos por exemplo será cápsula comprimido granulado ou pó Quais insumos inertes devem ser associados às substâncias ativas e como calcular as quantidades corretas para cada um a melhor técnica para viabilizar a produção do medicamento em questão e a escolha do material de embalagem A manutenção da estabilidade durante o prazo de validade é um tópico transversal à escolha da forma farmacêutica matériasprimas material de embalagem e técnica de produção pois garantirá qualidade e eficácia do produto e segurança do paciente Além disso outro tema que transpassa essa ciência e que se objetiva incutir no profissional em formação relacionase às condutas adotadas por todos os envolvidos para assegurar qualidade e eficácia do medicamento e segurança para o paciente e colaboradores condutas essas conhecidas como boas práticas Ao avançar nos capítulos estudados você perceberá que a farmacotécnica está relacionada a outras disciplinas como química físicoquímica fisiologia e farmacologia Apesar de esta disciplina e de outras relacionadas a ela capacitaremno para a produção industrial e magistral elas também são muito úteis em outras áreas de atuação como na dispensação e atenção farmacêutica nos níveis primário secundário e terciário de atenção à saúde Complemente seus estudos acessando os links apontados no recurso Saiba Mais pois é uma maneira de refletir e aperfeiçoar o entendimento das informações Esperamos que você se encante com esta área que além de fascinante é privativa da profissão farmacêutica Bons estudos 10 INTRODUÇÃO Segundo Nogueira Prista e colegas Ao tratar dos procedimentos de preparo de medicamentos uma das grandes referências na área afirma que as matériasprimas utilizadas no preparo de muitos medicamentos obtidas natural ou sinteticamente raramente podem ser utilizadas como se apresentam sendo necessário submetêlas quase sempre a um certo número de procedimentos farmacotécnicos destinados a transformálas em forma farmacêutica terapeuticamente ativa ou fármaco ativo Estas formas farmacêuticas que apresentam o produto final sob o qual as substâncias ativas são aplicadas aos doentes têm por objetivo não só facilitar a administração como assegurar sua eficiência terapêutica e boa conservação PRISTA 2008 Quando se deseja veicular no organismo uma ou mais substâncias ativas seja para prevenir seja para tratar seja para curar é preciso transformar essas substâncias em um medicamento isto é associálas a outras substâncias sem efeito terapêutico de modo a facilitar a produção proporcionar estabilidade ao produto final favorecer a administração e a liberação in vivo Desse modo tornase necessário considerar quais são as possíveis moléculas com atividade terapêutica aquelas consideradas inertes e os possíveis medicamentos que podem ser obtidos São esses aspectos que o primeiro capítulo deste livrotexto abordará a terminologia comumente utilizada na área de farmacotécnica ou seja de delineamento de medicamentos É comum que fórmulas sejam expressas em porcentagem e que esses valores tenham que ser convertidos em unidades de massa ou volume para correta pesagem ou medição dos componentes Muitas vezes as dosagens de fármacos são expressas em unidades de concentração o que também pode requerer conversões Por isso um capítulo foi incluído para tratar dos cálculos básicos envolvidos em qualquer área de produção e até mesmo correta dispensação e administração de medicamentos A água é matériaprima tão relevante na composição de medicamentos análises limpeza de equipamentos e instrumentos que ganhou aqui um capítulo exclusivo para tratar dos seus possíveis contaminantes tipos de sistemas de tratamento para eliminação deles e diferentes graus de pureza obtidos Como garantir que todas as vezes que um medicamento seja preparado apresente estabilidade qualidade segurança e eficácia Que todos os colaboradores envolvidos executem as atividades de modo a alcançar esses objetivos O capítulo de boas práticas de manipulação em farmácia tem por finalidade apresentar ao aluno as normas e os princípios éticos que regem a rotina das farmácias de manipulação e possibilitam atingir esses preceitos imprescindíveis aos medicamentos 11 Já na segunda unidade do livro dois capítulos foram dedicados aos estudos sobre estabilidade de medicamentos condição primordial para garantir a segurança e eficácia Primeiro tratamos da regulamentação técnica dos tipos de estabilidade fatores que podem afetála e reações de degradação Posteriormente foram abordadas as estratégias disponíveis para garantir a estabilização dos produtos farmacêuticos bem como a determinação do prazo de validade Depois de percorrer esse caminho que introduz o estudante à concepção e à produção de medicamentos chegamos à primeira forma farmacêutica a ser estudada de modo mais detalhado a forma líquida mais especificamente as soluções Os dois últimos capítulos da unidade 2 trazem os aspectos físicoquímicos e farmacotécnicos relevantes a essas preparações fatores que afetam a dissolução algumas soluções diferenciadas e como é possível obter produtos isotônicos Desejamos a todos sucesso em seus estudos e esperamos sinceramente que este livrotexto os auxilie a compreender o que é e a importância da farmacotécnica para a profissão farmacêutica 13 FARMACOTÉCNICA Unidade I 1 CONCEITUAÇÃO E TERMINOLOGIA A farmacotécnica referese à arte de elaborar formulações medicamentosas para tratar as diferentes necessidades de saúde da população adequadas às diversas vias de administração além de estabelecer a melhor técnica de preparo material de embalagem condições de armazenamento e utilização A seguir destacamse alguns termos e conceitos relacionados à farmacotécnica que são importantes para melhor compreensão desse saber 11 Componentes do medicamento Medicamento é o produto farmacêutico tecnicamente obtido ou elaborado com finalidade profilática curativa paliativa ou para fins de diagnóstico BRASIL 1973 Todo medicamento é constituído por matériasprimas ou insumos ou seja substâncias com especificações definidas Os insumos farmacêuticos podem ser divididos conforme descrevemos a seguir 111 Insumos ativos Insumos farmacêuticos ativos IFAs são substâncias que apresentam propriedades farmacológicas ou seja desempenham efeito terapêutico ANVISA 2018a Podem ser designados pelos termos fármaco droga ou princípio ativo Essas matériasprimas podem ser sintéticas semissintéticas ou naturais de origem animal vegetal ou marinha O quadro a seguir ilustra alguns exemplos de insumos ativos Quadro 1 Exemplos de insumos farmacêuticos ativos de acordo com sua origem e respectivas fontes de obtenção Insumo ativo Origem Exemplos Fonte de obtenção Natural Vegetal Digoxina Folhas de Digitalis dedaleira Isoflavonas Sementes de Glycine max L soja Animal Heparina Intestino de bovinos e suínos Estrógenos conjugados Urina de equinos Marinha Carbonato de cálcio Conchas de ostras Zidovudina AZT Molécula inspirada em nucleosídeos de algas marinhas Microrganismos Penicilina Fungos do gênero Penicillium Anfotericina B Actinomiceto Streptomyces nodosus 14 Unidade I Insumo ativo Origem Exemplos Fonte de obtenção Sintético Síntese química Ácido acetilsalicílico imipramina indometacina Semissintético Síntese química a partir de uma molécula de origem natural Sinvastatina Derivada da lovastatina substância isolada de Aspergillus terreus Amoxicilina Derivado da penicilina isolada de Penicillium Observação O termo remédio é muitas vezes utilizado como sinônimo de medicamento mas possui um sentido amplo referindose a todos os meios utilizados com a finalidade de prevenir ou curar doenças 112 Insumos inertes Insumos inertes são substâncias complementares de natureza definida desprovidas de propriedades farmacológicas ou terapêuticas nas concentrações utilizadas CFF 2007 Adicionados à composição do medicamento para dar formapeso facilitar a administração proporcionar estabilidade favorecer o processo produtivo tornálos mais atraentes e palatáveis entre outros A seleção adequada dessas substâncias resulta em diversas formas farmacêuticas Desse modo os insumos inertes desempenham um papel de grande destaque na formulação de medicamentos já que garantem a obtenção da forma de administração adequada para se alcançar o efeito terapêutico desejado Os insumos inertes ou adjuvantes farmacêuticos podem ser designados por excipientes quando se tratar de substâncias sólidas amido lactose por exemplo veículos em caso de substâncias líquidas água álcool etílico por exemplo O quadro a seguir fornece exemplos de alguns tipos de adjuvantes 15 FARMACOTÉCNICA Quadro 2 Diferentes tipos de adjuvantes farmacêuticos empregados em medicamentos e respectivos exemplos Função do adjuvante Exemplo Conservantes antimicrobianos Metilparabeno propilparabeno Corretivos de pH Ácido cítrico hidróxido de sódio Emulsificantes Polisorbato docusato sódico Espessantes Carboximetilcelulose carbômero Antioxidantes Sulfitos vitamina E Lubrificantes Estearato de magnésio talco Edulcorantes Sacarina ciclamato Solubilizantes Glicerina propilenoglicol Corantes Amarelo crepúsculo vermelho carmim Aromatizantesflavorizantes Acetato de benzila sabor de cereja acetato de isoamila aroma de banana Apesar das funções específicas dos adjuvantes farmacêuticos como auxiliares da formulação e de não terem por objetivo desempenhar resposta biológica quando de sua administração a literatura cita inúmeros exemplos de substâncias que provocam reações adversas em alguns indivíduos Por isso ao se elaborar uma formulação é preciso considerar a populaçãoalvo e como esses insumos poderiam afetar o desfecho terapêutico esperado No quadro a seguir podemos visualizar alguns insumos que eventualmente desencadeiam reações adversas Quadro 3 Reações adversas causadas por adjuvantes farmacêuticos Insumo Reações adversas Sorbitol e lactose Podem ocasionar transtornos gastrintestinais Corantes Alguns corantes são responsáveis por reações de hipersensibilidade Parabenos ácido benzoico e seus sais Podem desencadear urticária e angioedema Adaptado de Balbani Stelzer e Montovani 2006 Silva et al 2008 Tonazio et al 2011 113 Materiais de embalagem Materiais de embalagem são utilizados para acondicionar medicamentos e têm como função proporcionar estabilidade facilitar o transporte e administração e também são considerados insumos farmacêuticos Podem ser designados por embalagem primária quando mantiverem contato direto com o medicamento ou por embalagem secundária quando estiverem em contato com a embalagem primária ou envoltório intermediário podendo conter uma ou mais embalagens primárias Ampola frascoampola blíster frasco pote são exemplos de embalagens primárias figura 1 enquanto que o cartucho embalagem comercial no formato de caixa pequena é um exemplo comum de embalagem secundária figura 2 16 Unidade I A B C D E F Figura 1 Exemplos de embalagens primárias a blíster b frasco c frasco ampola d potes e sachês f ampolas Figura 2 Exemplo de embalagem secundária contendo um blíster em seu interior Disponível em httpsbitly3yfeqk7 Acesso em 24 ago 2021 Lembrete Produto a granel é qualquer produto que tenha passado por todas as etapas de produção sem incluir o processo de embalagem 17 FARMACOTÉCNICA A B C D E F Figura 1 Exemplos de embalagens primárias a blíster b frasco c frasco ampola d potes e sachês f ampolas Figura 2 Exemplo de embalagem secundária contendo um blíster em seu interior Disponível em httpsbitly3yfeqk7 Acesso em 24 ago 2021 Lembrete Produto a granel é qualquer produto que tenha passado por todas as etapas de produção sem incluir o processo de embalagem Observação Os produtos estéreis em sua embalagem primária são considerados produto a granel 12 Forma farmacêutica e fórmula farmacêutica Uma distinção importante a ser feita é a diferença entre fórmula farmacêutica e forma farmacêutica Apesar de os termos serem parecidos apresentam significados diferentes conforme demonstramos a seguir 121 Fórmula farmacêutica A fórmula farmacêutica relaciona todos os componentes do medicamento fármacos e adjuvantes e suas respectivas concentrações ou seja é a composição qualitativa e quantitativa do medicamento A preparação descrita a seguir é uma suspensão de hidróxido de alumínio e tratase de um exemplo de fórmula farmacêutica BRASIL 2012a Hidróxido de alumínio 6 g Sacarina sódica 10 mg Benzoato de sódio 0525 g Carmelose sódica alta viscosidade 1 g Glicerol 25 mL Aromatizante qs Água purificada qsp 100 mL Verificamos nesse exemplo a presença de fármaco hidróxido de alumínio e insumos inertes que viabilizam preparo estabilidade e adesão ao tratamento sacarina sódica benzoato de sódio carmelose sódica glicerol aromatizante e água purificada Além disso cada ingrediente está descrito com a concentração a ser utilizada para que se atinja o objetivo de obtenção de medicamento que proporcione qualidade segurança e eficácia 122 Forma farmacêutica A forma farmacêutica referese ao estado final de apresentação que os princípios ativos farmacêuticos possuem após uma ou mais operações farmacêuticas executadas com a adição de excipientes apropriados ou sem a adição de excipientes a fim de facilitar a sua utilização e obter o efeito terapêutico desejado com características apropriadas a uma determinada via de administração Uma maneira de classificar as formas farmacêuticas é quanto ao estado físico Assim poderíamos classificar as formas farmacêuticas em líquidas sólidas semissólidas e gasosas sendo que estas por sua vez ainda apresentam diferentes tipos com características diversas conforme descrito no quadro a seguir 18 Unidade I Quadro 4 Principais tipos de formas farmacêuticas e suas descrições Forma farmacêutica Tipos Descrição Líquida Solução Preparação homogênea em que um ou mais fármacos estão totalmente dissolvidos em um solvente ou mistura de solventes Suspensão As partículas de fármaco são insolúveis no veículo constituindo um sistema heterogêneo Emulsão Consiste em um sistema em que um líquido imiscível está disperso na forma de gotículas fase interna ou dispersa em outro líquido fase externa ou contínua Tratase de uma dispersão coloidal a qual é estabilizada através de agentes emulsificantes Semissólida Pomada Constituída por uma solução ou dispersão de um ou mais fármacos em uma mistura de excipientes com viscosidade apropriada para aplicação na pele ou membranas mucosas Creme É uma emulsão semissólida portanto os fármacos estáão dissolvidos ou dispersos em uma dispersão coloidal constituída geralmente por fase aquosa e fase oleosa estabilizada por agentes emulsificantes Gel É uma dispersão coloidal obtida através de um agente gelificante o qual proporciona viscosidade a um ou mais solventes Sólida Supositório Contém uma dose única de um ou mais fármacos dissolvidos ou dispersos em uma base adequada cujo tamanho e formato é definido por um molde Sua administração é retal vaginal ou uretral Óvulos Forma farmacêutica de dose única de um ou mais fármacos dissolvidos ou dispersos em uma base adequada com formato ovoide para aplicação no orifício vaginal Pó Constituída de partículas de tamanho reduzido de fármacos com ou sem excipientes Granulado Tratase de aglomerados de partículas sólidas de volumes uniformes resistentes ao manuseio Cápsula Constituída por um invólucro solúvel duro ou mole geralmente de gelatina de formatos e tamanhos variados Contém no seu interior fármacos apenas ou associados a excipientes Comprimido Obtido pela compressão de volumes uniformes de pós ou granulados Contém uma dose única de um ou mais fármacos geralmente associados a excipientes Gasosa Gás Preparação gasosa utilizada com fins medicinais Adaptado de Anvisa 2011b 13 Classificação dos medicamentos quanto à forma de preparação Dependendo do local e da forma de preparo os medicamentos podem ser classificados em três tipos conforme veremos a seguir 131 Medicamento oficinal Medicamento oficinal é aquele preparado em farmácia habilitada cuja fórmula esteja inscrita no Formulário Nacional ou em formulários internacionais reconhecidos pela Anvisa CFF 2007 19 FARMACOTÉCNICA A fórmula descrita a seguir sais para reidratação oral está presente no Formulário nacional da farmacopeia brasileira ANVISA 2012 Uma vez que a farmácia manipule sais para reidratação oral de acordo com essa fórmula descrita em um compêndio oficial Formulário nacional da farmacopeia brasileira o produto receberá a designação de medicamento oficinal Cloreto de sódio26 g Cloreto de potássio 15 g Citrato de sódio 29 g Glicose 135 g 132 Medicamento magistral Medicamento magistral é aquele produzido em uma farmácia com base em uma prescrição de profissional habilitado destinada a um paciente individualizado que pormenoriza composição forma farmacêutica e posologia A figura a seguir fornece um exemplo de prescrição para preparação de um medicamento magistral Figura 3 Exemplo de prescrição para obtenção de medicamento através de preparo magistral 20 Unidade I Podemos observar nesse exemplo que o receituário possui informações claras a respeito do estabelecimento nome endereço telefone CNPJ prescritor vinculado ao estabelecimento nome número de registro no respectivo conselho profissional paciente nome idade peso altura endereço uso externo ou interno prescrição a ser manipulada Lácido ascórbico 15 ácido salicílico 3 gel não iônico qsp 30 g posologia indica dose a ser administrada intervalo de administrações e tempo de tratamento Na prescrição em questão aplicar uma fina camada na face todas as noites por 60 dias local e data Desse modo temos informações necessárias e objetivas para o paciente entender seu tratamento o farmacêutico realizar a produção do medicamento e dispensálo corretamente além de dados que possibilitam contatar o prescritor caso seja necessário Vale ressaltar que as prescrições de medicamentos estão sujeitas a legislações específicas e códigos de ética de classe os quais devem ser respeitados para se garantir em última instância a saúde da população Saiba mais Para mais informações sobre a prescrição de medicamentos consulte algumas legislações relacionadas DAMMENHAIN R A Manual prático para prescrição de medicamentos de acordo com a legislação sanitária brasileira São Paulo Inbravisa 2010 Disponível em httpsbitly3oyeub8 Acesso em 20 maio 2021 BRASIL Presidência da República Casa Civil Lei Federal n 5991 de 17 de dezembro de 1973 Dispõe sobre o controle sanitário do comércio de drogas medicamentos insumos farmacêuticos e correlatos e dá outras providências Brasília 1973 Disponível em httpsbitly3ypwwkC Acesso em 20 maio 2021 21 FARMACOTÉCNICA BRASIL Presidência da República Casa Civil Decreto n 3181 de 23 de setembro de 1999 Regulamenta a Lei n 9787 de 10 de fevereiro de 1999 que dispõe sobre a Vigilância Sanitária estabelece o medicamento genérico dispõe sobre a utilização de nomes genéricos em produtos farmacêuticos e dá outras providências Brasília 1999 Disponível em httpsbitly3wkSAuH Acesso em 20 maio 2021 BRASIL Ministério da Saúde Agência Nacional de Vigilância Sanitária ResoluçãoRDC n 44 de 17 de agosto de 2009 Dispõe sobre Boas Práticas Farmacêuticas para o controle sanitário do funcionamento da dispensação e da comercialização de produtos e da prestação de serviços farmacêuticos em farmácias e drogarias e dá outras providências Brasília 2009 Disponível em httpsbitly3bGGYKy Acesso em 20 maio 2021 Observação Os termos farmácia magistral e farmácia galênica esse último em homenagem ao médico farmacêutico Claudius Galenus que viveu em Roma durante o século II são utilizados para designar farmácias de manipulação 133 Especialidade farmacêutica Medicamento produzido em indústrias farmacêuticas com registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária Anvisa e disponíveis no mercado BRASIL 2007 Desse modo cada vez que uma indústria farmacêutica elabora uma formulação desenvolve seu método de produção garante sua eficácia e segurança e finalmente a registra no órgão regulatório competente com nome comercial fantasia ou genérico temos uma nova especialidade farmacêutica Para se ter uma noção da dimensão desse mercado a Anvisa divulgou em seu portal que em 2017 foram comercializados no mercado brasileiro 6576 medicamentos os quais contemplam 1794 princípios ativos ou associações de princípios ativos distintos por 214 empresas diferentes o que movimentou aproximadamente 695 bilhões de reais ANVISA 2021a 14 Classificação dos medicamentos quanto ao método terapêutico De acordo com o método terapêutico aplicado a cada tratamento os medicamentos podem ser classificados em 22 Unidade I 141 Medicamentos alopáticos Medicamentos alopáticos são aqueles que atuam seguindo o método terapêutico da alopatia ou seja produzem no organismo reação contrária aos sintomas que ele apresenta do latim contraria contrariis curentur a fim de reduzilos ou eliminálos Por exemplo se o sintoma é dor utilizase um analgésico se o sintoma é inflamação um antiinflamatório e assim por diante Medicamentos alopáticos apresentam como principais desvantagens seus efeitos colaterais e toxicidade ANVISA 2010 A grande maioria dos medicamentos comercializados atualmente em drogarias brasileiras é alopática 142 Medicamentos homeopáticos Medicamentos homeopáticos são produzidos segundo os princípios da homeopatia utilizando compêndios homeopáticos reconhecidos internacionalmente Obtido pelo método de diluições seguidas de sucussões eou triturações sucessivas para ser usada segundo a lei dos semelhantes de forma preventiva eou terapêutica para uso externo ou interno A homeopatia criada por Samuel Hahnemann em 1796 é baseada no princípio vitalista e no uso da lei dos semelhantes similia similibus curentur Homeo de homeopatia significa semelhante e pathos doença A ciência homeopática possui como fundamentos ANVISA 2011a Lei da semelhança os medicamentos só podem curar doenças semelhantes àquelas que eles próprios podem produzir Princípio da experimentação no homem é caracterizado pela administração de uma substância em indivíduos sadios para ser utilizada em indivíduos doentes seguida pela observação e registro precisos e criteriosos de todos os sintomas advindos dessa experimentação Princípio do uso de doses mínimas ou infinitesimais Hahnemann introduziu os conceitos de diluição e dinamização visando à diminuição da toxicidade das substâncias diluição e a liberação da força medicamentosa latente das substâncias dinamização São realizadas diluições sucessivas e agitações de acordo com técnica específica para liberação da energia da substância de interesse Ao término do preparo o medicamento não conterá mais informação química apenas energética Princípio da totalidade sintomática cada pessoa reage de forma própria e individual às doenças A homeopatia não trata apenas a doença mas o doente como um todo A seguir está descrita uma fórmula de medicamento homeopático Verificase que os insumos ativos estão designados pelos nomes científicos DH e CH referemse às escalas de diluições decimal e centesimal respectivamente 23 FARMACOTÉCNICA Calcarea carb 3 DH trit 25 Calcarea phosph 3 DH trit 25 China officinalis 3 CH 25 Avena sativa 3 CH 25 Lactose qsp 500 mg Saiba mais O artigo a seguir de Corrêa e colaboradores 2006 aborda alguns aspectos históricos da medicina homeopática CORRÊA A D et al Similia Similibus Curentur revisitando aspectos históricos da homeopatia nove anos depois Hist cienc saúdeManguinhos v 13 n 1 janmar 2006 Disponível em httpsbitly2QyaV8m Acesso em 20 maio 2021 143 Medicamentos fitoterápicos Medicamentos fitoterápicos são aqueles cujos insumos farmacêuticos ativos são obtidos a partir de plantas medicinais ou de seus derivados e que apresentam finalidade profilática curativa ou paliativa Não se incluem nessa classificação medicamentos que apresentam substâncias ativas isoladas ou altamente purificadas mesmo que de origem vegetal nem as associações dessas com outros extratos sejam eles vegetais sejam eles de outras fontes como a animal ANVISA 2011a BRASIL 2014a Podem ser denominados simples quando o ativo é proveniente de uma única espécie vegetal medicinal ou composto quando o ativo é proveniente de mais de uma espécie vegetal Entre outras informações os medicamentos fitoterápicos devem dispor aos usuários nomenclatura popular nomenclatura botânica concentração do insumo farmacêutico ativo vegetal parte da planta utilizada A seguir verificase um exemplo de medicamento fitoterápico Extrato seco de Maytenus ilicifolia 380 mg Amido qsp 1 cápsula Equivalente a 133 mg de taninos totais Parte utilizada folhas Nomenclatura popular espinheira santa cancerosa cancorosadesete espinhos cancrosa espinheiradivina espinhodedeus maiteno ervacancrosa ervasanta 24 Unidade I 15 Classificação dos medicamentos quanto ao tipo de registro Os medicamentos também podem ser classificados de acordo com o tipo de registro na Anvisa 151 Medicamento novo Medicamento com insumo farmacêutico ativo ou seus novos sais isômeros ou mistura de isômeros ésteres éteres complexos ou demais derivados não registrados anteriormente no país 152 Medicamento inovador Medicamento com inovação incremental ou seja com desenvolvimento de melhorias em relação a um medicamento já registrado no país incluindo novos sais isômeros ou mistura de isômeros ésteres ou éteres As inovações em medicamentos são registradas como novas formas farmacêuticas novas concentrações novas associações de insumos farmacêuticos nova indicação terapêutica entre outros 153 Medicamento de referência Medicamento de referência é um produto inovador registrado na Anvisa e comercializado no país cuja eficácia segurança e qualidade foram comprovadas cientificamente junto à Anvisa por ocasião do registro BRASIL 1999 Os que fazem parte da lista de medicamentos de referência são utilizados como parâmetro de eficácia terapêutica segurança e qualidade para o registro de medicamentos similares e genéricos sendo que a Anvisa dispõe em legislação específica BRASIL 2012c seus critérios de indicação inclusão e exclusão na lista BRASIL 2012b O medicamento de referência deve ser registrado por um nome fantasia marca 154 Medicamento genérico De acordo com a Lei n 978799 medicamento genérico é aquele similar a um medicamento de referência ou inovador geralmente produzido após expiração ou renúncia de patente ou outros direitos de exclusividade com comprovação de sua eficácia segurança e qualidade as quais permitem que sejam intercambiáveis com o produto de referência BRASIL 1999 O medicamento genérico deve apresentar o mesmo fármaco que seu respectivo medicamento de referência mesma concentração e forma farmacêutica além de mesma via de administração podendo ou não conter excipientes idênticos Todo medicamento genérico deve ser designado pela DCB denominação comum brasileira ou na sua ausência pela DCI denominação comum internacional ou seja pelo nome genérico de seus 25 FARMACOTÉCNICA princípios ativos desse modo não apresentará nome de marcafantasia Em sua embalagem secundária logo abaixo de sua designação deve constar a inscrição medicamento genérico Lei n 978799 Além disso deve possuir tarja amarela com a letra G em maiúsculo e a frase medicamento genérico A figura a seguir ilustra como deve ser o cartucho de um medicamento genérico Figura 4 Representação de embalagem secundária de medicamento genérico Para que um medicamento possa ser registrado como genérico entre outras ações a empresa fabricanteprodutora deverá apresentar à agência reguladora estudos de Equivalência farmacêutica demonstrar através de ensaios físicoquímicos e quando aplicáveis microbiológicos e biológicos que cumpram especificações atualizadas da Farmacopeia brasileira na ausência dessas com as de outros códigos autorizados pela legislação vigente ou ainda com outros padrões aplicáveis de qualidade que possui mesmo fármaco isto é mesmo sal ou éster da mesma molécula terapeuticamente ativa na mesma quantidade e forma farmacêutica e mesma via de administração que o medicamento de referência Somente os centros habilitados pela Anvisa pertencentes à Rede Brasileira de Laboratórios Analíticos em Saúde Reblas poderão realizar o estudo de equivalência farmacêutica Equivalência terapêutica dois medicamentos equivalentes farmacêuticos medicamento testecandidato a genérico e medicamento de referência são administrados na mesma dose molar e devem apresentar essencialmente os mesmos efeitos em relação a eficácia e segurança A avaliação desses efeitos é realizada através de estudos de bioequivalência apropriados ensaios farmacodinâmicos ensaios clínicos ou estudos in vitro 26 Unidade I Os estudos de biodisponibilidade relativabioequivalência contemplam três etapas Na etapa clínica quantificase o fármaco eou o metabólito ativo do medicamento teste e referência na circulação sangue plasma ou soro ou na urina quando justificado A etapa analítica referese à escolha da metodologia e às análises em si das amostras coletadas as quais devem ser realizadas seguindo normas internacionais de Boas Práticas de Laboratório BPL e guia para validação de métodos analíticos e bioanalíticos disponível em legislação específica da Anvisa Na etapa estatística os parâmetros farmacocinéticos área sob a curva de concentração sanguínea versus tempo ASC o pico de concentração máxima Cmáx o tempo para atingir este pico Tmáx e meiavida de eliminação t12 do fármaco eou metabólito serão obtidos das curvas de concentração sanguínea do fármaco versus tempo próxima figura e analisados estatisticamente para determinação da bioequivalência 0 0 2 4 6 8 10 4 TmáxA CmáxA TmáxB CmáxB 8 AUC Tempo Concentração mgL 12 16 20 Figura 5 Curva concentração sanguínea versus tempo com destaque para área sob a curva AUC Cmáx e Tmáx Medicamento de referência medicamente teste Adaptada de BPAC 2009 p 5 Resumidamente podemos dizer que para comprovação da equivalência terapêutica o medicamento será administrado nos voluntários e amostras de sangue ou urina serão coletadas e analisadas para quantificar a substância ativa em função do tempo Posteriormente as informações obtidas do medicamento referência e candidato a genérico serão comparadas e analisadas estaticamente Os medicamentos serão considerados bioequivalentes quando se encontrarem semelhanças estatísticas em suas curvas plasmáticas Desse modo serão considerados bioequivalentes os medicamentos que administrados nas mesmas condições experimentais não apresentam diferenças estatisticamente significativas em relação à biodisponibilidade 27 FARMACOTÉCNICA Somente os centros certificados pela Anvisa poderão realizar o estudo de biodisponibilidade relativabioequivalência 155 Medicamento similar É o medicamento que contém os mesmos fármacos mesma concentração forma farmacêutica via administração posologia e indicação terapêutica do medicamento de referência Pode apresentar excipientes e veículos diferentes além de diferentes tamanhos e formas do produto prazo de validade embalagem rotulagem O medicamento similar deve apresentar nome comercial ou marca A figura a seguir representa a embalagem secundária de um medicamento similar BRASIL 1999 Figura 6 Representação de um cartucho de medicamento similar Enquanto os medicamentos genéricos tiveram a obrigatoriedade de apresentar estudos de equivalência farmacêutica e equivalência terapêutica desde a sua criação para os medicamentos similares essa exigência iniciouse a partir de 2003 com a publicação da Resolução RDC n 1342003 e da Resolução RDC n 1332003 ambas revogadas atualmente Para medicamentos similares que já eram registrados a apresentação dos ensaios que comprovam as mesmas características de qualidade e comportamento in vivo que o medicamento de referência seguiu uma ordem de prioridade sendo o prazo final a segunda renovação de registro a qual deveria ter ocorrido no máximo até o ano de 2014 Assim o medicamento similar que comprove ser equivalente farmacêutico e terapêutico do medicamento de referência apresentará as mesmas características de qualidade e ação que esse último e por isso ambos podem ser intercambiáveis A Anvisa possui legislação apropriada a esse fim a RDC n 582014 que dispõe sobre as medidas a serem adotadas junto à Anvisa pelos titulares de registro de medicamentos para a intercambialidade de medicamentos similares com o medicamento de referência BRASIL 2014b além da lista de medicamentos similares intercambiáveis atualizada frequentemente a qual pode ser obtida no site da Anvisa 28 Unidade I Saiba mais Diretamente no site da Anvisa é possível consultar as últimas atualizações da Lista de medicamentos de referência ANVISA Lista de medicamentos de referência 13 ago 2021 Disponível em httpsbitylicomqCQWoQ Acesso em 24 ago 2021 Lista de medicamentos genéricos ANVISA Medicamentos genéricos registrados 5 ago 2019 Disponível em httpsbitly3B7fb09 Acesso em 24 ago 2019 Lista de medicamentos similares intercambiáveis ANVISA Lista de medicamentos similares e seus respectivos medicamentos de referência conforme RDC 582014 11 maio 2020 Disponível em httpsbitly2XIseH1 Acesso em 24 ago 2021 Não serão admitidos para fins de registro como medicamento genérico ou similar e portanto não poderão ser incluídos nas listas de medicamentos de referência I produtos biológicos imunoterápicos derivados do plasma e sangue humano II medicamentos fitoterápicos III medicamentos específicos IV medicamentos dinamizados V medicamentos de notificação simplificada VI antissépticos de uso hospitalar VII produtos com fins diagnósticos e contrastes radiológicos VIII radiofármacos IX gases medicinais X outras classes de medicamentos que venham a possuir legislação específica para seu registro BRASIL 2017 O quadro a seguir sumariza algumas características dos medicamentos genéricos e similares Quadro 5 Diferenças e semelhanças entre medicamentos genéricos e similares Tanto o medicamento genérico quanto o similar intercambiável possuem a mesma qualidade e efeito terapêutico que o medicamento de referência por isso podem ser considerados cópias desses últimos Genérico Enquanto o medicamento genérico deve ser designado pelo nome de seu princípio ativo e pode ser intercambiável com o medicamento de referência apenas Similar o medicamento similar possui nome comercial marca e pode apenas ser intercambiável com o respectivo medicamento de referência desde que tenha realizado os estudos exigidos pela legislação e conste na lista de medicamentos similares intercambiáveis Como resultado verificase maior disputa de mercado entre as indústrias farmacêuticas barateando o preço final e possibilitando maior acesso à população 29 FARMACOTÉCNICA 16 Abreviaturas siglas e códigos Algumas abreviaturas siglas e mesmo códigos são comumente utilizados em fórmulas bulas prescrições entre outros e por isso tornase importante conhecêlos Entre eles podemos citar 161 Rx Do latim recipere ou recipe significa faça uso de Utilizado no início de prescrições para designar o tratamento a ser recebido pelo paciente Exemplo Rx Diclofenaco de sódio 50 mg Tomar 1 comprimido a cada 8 horas por 5 dias 162 FSA Expressão que vem do latim fiat secundum artem ou seja façase segundo a arte É uma menção à arte farmacêutica de produzir medicamentos Pode ser utilizada por exemplo para definir a quantidade a ser manipulada como se verifica na situação hipotética a seguir em que se deve preparar 50 gramas de uma pomada com 5 do fármaco fluoracila Pomada contendo fluoracila 5 FSA 50 g 163 qs Abreviação para quantidade suficiente quantum satis Utilizada quando se deve adicionar uma certa substância em quantidade tal para se atingir determinado objetivo Por exemplo Aroma de baunilha qs Ácido cítrico qs pH 4 Desse modo é preciso adicionar aroma de baunilha até se obter o odor desejado e adicionar ácido cítrico até que se atinja pH igual a 4 164 qsp Sigla para a expressão quantidade suficiente para Designa a substância que se deve adicionar até atingir determinada massa ou volume Exemplo Digluconato de clorexidine 1 Água destilada qsp 100 mL Água destilada será adicionada em vidraria volumétrica contendo 1 g de digluconato de clorexidine até completar 100 mL 30 Unidade I 165 ãã Referese a partes iguais quantidades iguais de cada componente No exemplo que segue serão utilizados 5 mL de óleo mineral e 5 mL de óleo de amêndoas Óleo mineral ãã 5 mL Óleo de amêndoas 166 ãã qsp Partes iguais de cada componente em quantidade suficiente para determinada massa ou volume Parafina ãã qsp 30 g Vaselina Uma vez que a massa total é 30 g e devese pesar a mesma quantidade de cada componente serão utilizados 15 g de parafina e 15 g de vaselina 167 UI UI é a sigla de unidades internacionais Tratase de uma maneira de quantificar substâncias geralmente as que possuem dosagem muito baixa como alguns tipos de vitaminas hormônios e enzimas No preparo de medicamentos unidades internacionais devem ser convertidas para massa para que seja possível a pesagem da substância É importante saber que não existe uma regra fixa de conversão para cada substância as unidades internacionais correspondem a um valor de massa por isso é preciso sempre consultar a literatura para verificar qual a correspondência Observe os exemplos que seguem Colecalciferol 1 UI 0025 µg Retinol 1 UI 03 µg 168 Ext e Int Estas abreviações costumam vir antes da indicação do tratamento propriamente dito e referem se o uso do medicamento será externo Ext ou interno Int 169 Abreviações para vias de administração IM intramuscular IV ou EV intravenosa ou endovenosa ID intradérmica 31 FARMACOTÉCNICA SC subcutânea po ou VO per os ou via oral 2 CÁLCULOS EM FARMACOTÉCNICA Este tópico tem por objetivo fornecer ao aluno os fundamentos teóricopráticos para o desenvolvimento preparo dispensação e administração das principais formas farmacêuticas Além disso capacitar o aluno quanto à distinção das formas farmacêuticas análise e interpretação farmacotécnica de prescrições manipulação e dispensação de medicamentos através de conhecimentos teóricos e práticos fundamentais para sua atuação técnica e profissional Cálculos são ferramentas essenciais para a prática farmacêutica e seu conhecimento é imprescindível ao profissional farmacêutico tanto para o preparo de formulações na manipulação ou indústria farmacêutica como para administração de medicamentos THOMPSON 2013 Considerando o grande número de formulações a serem produzidas e a infinidade de unidades de medida de massa e volume erros são passíveis de acontecer Por isso é necessário aplicar adequadamente os fundamentos da matemática para auxiliar o profissional na prevenção de erros relacionados ao preparo à dosagem e até à administração de medicamentos COREN 2011a Para introduzir as bases de cálculos farmacêuticos devemos entender a importância do conhecimento das unidades de medida relacionadas a fármacos e excipientes e as unidades de concentração aceitas para medicamentos e preparações farmacêuticas THOMPSON 2013 21 Unidades de medida O sistema métrico decimal utilizado na área farmacotécnica tem como unidades básicas o litro e o grama sendo o litro L a unidade básica de volume e o grama g a unidade básica do peso Para unidades de peso são conhecidas as unidades básicas quilograma kg grama g miligrama mg micrograma µg ou mcg e nanograma ng ANSEL STOKLOSA 2008 Na área farmacêutica utilizamse unidades de massa e volume e as transformações se dão segundo a figura a seguir kg g mg µg x 1000 1000 x 1000 1000 x 1000 1000 kL L mL µL x 1000 1000 x 1000 1000 x 1000 1000 Figura 7 Correlação entre medidas de massa e volume e suas transformações 32 Unidade I 22 Cálculos de porcentagem A concentração fornece a quantidade de fármaco ou substância ativa por quantidade massa ou volume de preparação THOMPSON 2013 Porcentagem por cento Tem o significado de partes em 100 partes COREN 2011a Como exemplo podemos citar 20 de 250 gramas significa que há 50 g de massa em 250 gramas do total A depender se a substância em questão e a preparação estão em unidades de massa ou volume podemos ter o que segue 221 Peso por volume pv Significa a quantidade de gramas unidade de massa de um constituinte em um determinado volume de líquido unidade de volume Existe adicionalmente a unidade representada pelo símbolo pv Exemplo 15 pv significa que há 15 g a cada 100 mL 222 Peso por peso pp Significa a quantidade de gramas unidade de massa de um constituinte em uma determinada massa unidade de massa Existe adicionalmente a unidade representada pelo símbolo pp Exemplo 20 pp significa que há 20 g a cada 100 g 223 Volume por volume vv É a medida de volume geralmente mL de uma substância líquida em um solvente ou mistura líquida Existe adicionalmente a unidade representada pelo símbolo vv Exemplo 20 vv significa que há 20 mL a cada 100 mL Exemplo de aplicação Agora que você já entendeu como podem ser expressas as porcentagens vejamos como ficariam esses cálculos em uma fórmula Calcule a quantidade de cada matériaprima necessária para o preparo desta formulação 33 FARMACOTÉCNICA Fármaco X 5 pv Propilenoglicol 3 pv Metilparabeno 018 pv Sacarina 05 pv Água destilada qsp 1000 pv Preparar 60 mL Resolução Fármaco X 5 5 g para cada 100 mL A massa em gramas necessárias para preparar 60 mL de formulação será de 3 g Propilenoglicol 3 3 g para cada 100 mL A massa em gramas necessárias para preparar 60 mL de formulação será de 18 g Metilparabeno 018 0108 g serão necessários para manipular 60 mL de formulação Sacarina 05 03 g serão necessários para manipular 60 mL de formulação 23 Cálculos de concentração Quando se fala em concentração de soluções é comum que imediatamente se pense em unidades de quantidade de massa em determinado solvente Essa dada concentração pode ser expressa em unidades diversas como gL gmL molaridade e equivalente grama TEIXEIRA 2018 A concentração comum C relaciona a quantidade de massa g em um volume em litros L e utiliza a equação a seguir C m V 34 Unidade I Sendo C concentração comum gL m massa do soluto g V volume da solução L As unidades de concentração podem assim ser interpretadas Gramas por litro gL significa que existe 1 g de um dado soluto em 1 L 1000 mL de uma formulação líquida Gramas por mL gmL significa que existe 1 g de um dado soluto em 1 mL de uma formulação líquida Outro exemplo pode ser dado quando se calcula a massa da substância ativa por volume do produto uma solução farmacêutica de 80 mg por litro 80 mgL contém 008 gramas de ativo em cada litro de solução ou seja 008 gL A massa da substância ativa pode ser expressa em relação à massa do produto final Podemos exemplificar um creme contendo fármacos 50 mg por grama também escrito 50 mgg contém 005 g do fármaco em cada 1 g de formulação Além disso existe o preparo de formulações de um líquido em outro líquido sendo as expressões de unidade como mililitros por litro mLL ou microlitro por mililitro µLmL por exemplo 231 Molaridade M Mol é uma grandeza utilizada para mensurar a quantidade de matéria que se apresenta em dimensões microscópicas como átomos e moléculas O termo utilizado mol ou mole deriva da palavra molécula Podese utilizar os termos concentração molar concentração em molL e o símbolo M que significam a razão da quantidade de matéria do soluto mol pelo volume de solução em litros o número de moles de soluto por litro de solução Essa concentração é expressa na unidade molL molar ou moldm3 Utilizase a equação matemática a seguir M m g MM x V L 35 FARMACOTÉCNICA Sendo m massa em g MM massa molecular gmol V volume L Dessa forma é possível calcular a massa ou volume de um soluto para preparar determinada solução quando é expressa uma concentração molar Exemplo 1 Uma solução de ácido clorídrico HCl 1 M contém 1 mol de HCl por litro de solução Visto que a massa molecular do HCl é 365 gmol uma solução de HCl 1 M contém 365 g de HCl por litro de solução 365 gL ou 365 mgmL 2 Prepare 300 mL de uma solução de glicose C6H12O6 a 06 M Dados de massa molar C 12 H 1 O 16 0 6 180 0 3 m g m 324 g de glicose 24 Densidade A determinação da densidade de um composto seja ele sólido seja ele líquido pode ser descrita como o entendimento de qual volume ocupa uma determinada massa de uma substância ou seja é a concentração de matéria em gramas contida em um volume específico Matematicamente é descrita como razão ou quociente entre a massa de um composto e o volume em mL ocupado por ele TEIXEIRA 2018 Como exemplo podemos citar que 1 kg de algodão pesa o mesmo que um 1 kg de chumbo porém os dois componentes ocupam volumes distintos em um espaço Percebese então que as diferenças entre os dois está no volume ocupado COREN 2011a Sendo a densidade d de uma solução a relação entre a massa m e o volume V temse a equação d m V 36 Unidade I Sendo d densidade gmL m massa g V volume mL Um dado importante a ser levado em consideração é que os valores obtidos estão relacionados ainda à temperatura do ambiente sendo relatadas as medidas a 25 C Os valores de densidade de uma sustância analisados na mesma temperatura e pressão deverão ser sempre os mesmos como Água 0997 gmL Álcool etílico 0789 gmL Leite integral 103 gmL Mercúrio 136 gmL Vejamos um exemplo prepare 400 mL de uma solução de ácido sulfúrico H2SO4 a 02 M Dados sobre massa molar H 1 S 32 O 16 d 183 gmL 0 2 98 0 4 m g m 784 g ácido sulfúrico Porém o ácido sulfúrico é uma substância que se encontra no estado líquido Então você pode pesar 784 g do líquido ou aplicar o cálculo da densidade para medir em volume d m V 183 7 84 V V 428 mL 37 FARMACOTÉCNICA 25 Cálculos de diluição Diluição é uma técnica em que se acrescenta solvente à solução A quantidade de soluto permanece constante CONSTANTINO 2009 A diluição de líquidos ocorre quando se deseja preparar uma solução que contenha uma dada concentração S2 a partir de outra já preparada anteriormente contendo uma concentração superior S1 BROWN LEMAY BURSTEN 2005 Para a realização dos cálculos se faz necessário saber A concentração de S1 C1 A concentração pretendida S2 C2 O volume de S2 V2 Dessa forma essa solução S2 será preparada utilizandose uma alíquota da solução mais concentrada S1 e dado volume de solvente para completar o volume desejado Se faz necessário ainda o uso de vidrarias volumétricas precisas e calibradas Realizar diluições é uma prática muito comum em laboratórios farmacêuticos químicos de controle de qualidade e afins uma vez que as soluções estoque concentradas são preparadas previamente e armazenadas Elas então são diluídas para alcançarem determinadas concentrações dependendo da técnica a ser executada FERREIRA 2010 Para a realização do cálculo pode ser utilizada a equação a seguir C1 V1 C2 V2 Sendo C1 concentração S1 V1 volume antes da diluição C2 concentração S2 V2 volume final da solução pretendida A quantidade de solvente suficiente para a manipulação da solução é igual a V2 V1 Podese ainda usar uma vidraria como balão volumétrico com volume exato adicionar a alíquota de S2 e completar o volume com o solvente Ao realizar os cálculos de diluição de soluções é imprescindível que as unidades de concentração e de volume sejam as mesmas dos dois lados 38 Unidade I Vejamos alguns exemplos Exemplo de aplicação Exemplo 1 Preparar 250 mL de uma solução de NaOH 01 M a partir de uma solução estoque de NaOH a 15 M C1 15 V1 C2 01 V2 250 Resolução Substituindo os valores na equação C1 V1 C2 V2 15 V1 01 250 V1 1667 mL Desse modo podemos afirmar que serão necessários 1667 mL da solução de NaOH 15 M para preparar a solução de NaOH 01 M Ou seja 1667 mL da solução de NaOH e água qsp 250 mL Exemplo 2 Preparar 20 L de uma solução de NaCl 2 mgmL a partir de uma solução estoque de NaCl contendo 15 mgmL C1 15 mgmL V1 C2 2 mgmL V2 20 L 39 FARMACOTÉCNICA Resolução Substituindo os valores na equação C1 V1 C2 V2 15 V1 2 20 V1 267 L Desse modo podemos afirmar que serão necessários 267 L da solução de NaCl 15 mgmL para preparar a solução de NaCl 2 mgmL Ou seja 267 L da solução de NaCl e água qsp 20 mL 251 Diluições seriadas Outra técnica de diluição muito utilizada é das diluições em série Tratase de um processo que reduz através de uma sequência de diluições a concentração de uma substância em uma solução São sucessões de diluições simples porém precisas O processo ocorre quando a diluição gera uma solução de volume muito grande BARBOSA 2014 É basicamente uma sequência de diluições simples que leva a um aumento do fator de diluição A amostra para diluição de cada etapa vem da diluição anteriormente realizada CAMARA 2016 O procedimento iniciase com uma alíquota da solução mais concentrada C1 e determinado volume de solvente gerando outra solução mais diluída C2 O processo então continua através da retirada de uma alíquota da solução já diluída C2 acréscimo de volume de solvente e formação de outra ainda mais diluída C3 E assim por diante até chegar à concentração desejada Dessa forma ficará estabelecido o fator de diluição que fica maior a cada diluição Em uma diluição em série deve ser observada a diluição em cada etapa e posteriormente somálas Se a 1 mL da solução inicial foi acrescentado 9 mL de solvente dizse que ocorreu uma diluição 110 e o fator de diluição é 10 Se for adicionado 10 mL de uma solução inicial e 990 mL de solvente podese dizer que a diluição foi 101000 e o fator de diluição deverá ser calculado de acordo com a equação a seguir FD volume final volume inicial No exemplo anterior o fator de diluição é FD 1000 10 FD 100 40 Unidade I As diluições seriadas são muito utilizadas em laboratórios quando há a necessidade de se prepararem soluções extremamente precisas e muito diluídas CAMARA 2016 Na área farmacêutica também são utilizadas no desenvolvimento de curvas analíticas utilizadas por exemplo para quantificação de fármacos em formulações Ainda são utilizadas na área de microbiologia ou biologia quando células ou microrganismos devem ser contados Também para criar com precisão soluções extremamente diluídas bem como soluções para experimentos que exigem uma curva de concentração com uma escala exponencial ou logarítmica BISPO et al 2010 A seguir um exemplo de uma diluição seriada 01 mL 01 mL 01 mL 01 mL 01 mL 09 mL 105 09 mL 104 09 mL 103 09 mL 102 09 mL 101 Solução estoque Figura 8 Esquema de uma diluição seriada Verificase no caso da figura anterior que a solução foi diluída 50 vezes pois em cada tubo há 1 mL Como são cinco tubos há um total de 5 mL sendo este o volume final Portanto FD 5 0 1 FD 50 Logo o fator de diluição corresponde ao número total de volumes em que o seu material será dissolvido 252 Diluições geométrica de sólidos A pesagem de sólidos e homogeneidade de dose são imprescindíveis na manipulação de formulações Para se ter controle rigoroso na manipulação de fármacos de baixa dosagem a diluição desses sólidos em excipientes inertes deve ocorrer Nessas situações a pesagem e o processo de mistura são fatores críticos e merecem total atenção 41 FARMACOTÉCNICA Outros fatores para se utilizar diluição geométrica são fármacos de alta potência frequentemente utilizados em doses baixas ausência de balança com quantidade mínima pesável QMP apropriada Para que o processo de homogeneização seja adequado antes da produção devido a possíveis diferenças de proporção entre os componentes ativos e excipientes é possível obter uma mistura mais homogênea por meio da adição sequencial dessas substâncias em um gral Essa operação se dá através da mistura inicial do composto ativo com massa aproximadamente igual dos diluentes Dessa forma a massa do gral passa a ser o dobro da inicial ativo excipiente Continuase a mistura adicionando diluente igual à massa contida no gral Assim repetese sucessivamente o processo até que a massa de excipiente acabe ANFARMAG 2014 As formas de diluição mais conhecidas são 110 1100 11000 Utilizase o tipo de diluição dependendo da dosagem do fármaco que será utilizada Tabela 1 Dosagens e tipos de diluição Dosagem de fármaco Tipo de diluição Até 01 mg 11000 De 011 a 099 mg 1100 Acima de 1 mg 110 Fonte Anfarmag 2014 Até 01 mg recomendase diluição 11000 De 011 mg a 099 mg recomendase diluição 1100 Acima de 1 mg recomendase diluição 110 Desse modo Diluição 110 Pesar 1 g da substância 9 g de diluente 42 Unidade I Diluição 1100 Pesar 1 g da substância 99 g de diluente Diluição 11000 Pesar 01 g da substância 9999 g de diluente Exemplo de aplicação Calcule a quantidade de fármaco para o preparo da seguinte formulação Hormônio T3 002 mg Preparar 50 cápsulas Resolução A diluição 11000 foi selecionada em função da baixíssima dosagem ou seja menor que 01 mg Entendese dessa forma que a cada 1000 partes dessa mistura uma dessas partes referese ao hormônio T3 e 999 correspondem ao excipiente Se o fármaco está diluído 1000 vezes a massa que deverá ser pesada deverá ser 1000 vezes superior Então 002 mg 1000 20 mg para 1 cápsula Como serão manipuladas 50 cápsulas é preciso multiplicar esse número por 50 Assim 20 mg 50 cápsulas 1000 mg ou 1 g da diluição de hormônio T3 A técnica do uso de corantes também pode ser utilizada para princípios ativos difíceis de serem pesados com exatidão Quando a massa de fármaco é muito pequena por exemplo na pesagem de 1 g para ser diluído em 499 g 1500 ou em 999 g 11000 é possível se adicionar corante em massa equivalente à do fármaco ou menor e procedese a sua homogeneização Quando o corante oferecer coloração uniforme à massa entendese que ocorreu o mesmo com o fármaco Observação Em conformidade com a legislação as substâncias que sofrerem processo de diluição devem estar claramente identificadas com etiqueta alertando esta substância somente deve ser usada quando diluída A legislação preconiza que seja feita análise trimestral do diluído para o teor e uniformidade de conteúdo UC e que exista um local separado para armazenamento das diluições Sugerese ainda que os fármacos diluídos 43 FARMACOTÉCNICA sejam acondicionados em recipientes de cor diferente e que seja preenchido um relatório de diluição É importante lembrar que antes da pesagem o fator de correção deve ser aplicado para determinação da massa a ser utilizada BRASIL 2007 3 BOAS PRÁTICAS DE MANIPULAÇÃO EM FARMÁCIA As boas práticas de manipulação em farmácia BPMF envolvem todas as ações executadas com a finalidade de produzir e dispensar medicamentos magistrais e oficinais que apresentem qualidade segurança eficácia além de promover seu uso seguro e racional e que sejam apropriados para o uso pretendido e requerido na prescrição Para se atingir esse objetivo é preciso que haja envolvimento e responsabilização de todos os setores e colaboradores desde as instalações recursos humanos e equipamentos aquisição dos insumos farmacêuticos avaliação farmacêutica da prescrição produção fracionamento controle de qualidade conservação armazenamento transporte dispensação das preparações até a atenção farmacêutica aos usuários ou seus responsáveis Em se tratando de produtos farmacêuticos as boas práticas de manipulação são normas obrigatórias regulamentadas pela Anvisa pela Resolução RDC n 672007 que dispõe sobre boas práticas de manipulação de preparações magistrais e oficinais para uso humano em farmácias BRASIL 2007 e pelas resoluções relacionadas RDC n 872008 que altera o regulamento técnico sobre boas práticas de manipulação em farmácias BRASIL 2008 e RDC n 212009 que altera o item 27 do anexo III da Resolução RDC n 672007 BRASIL 2009 Além de ser um requisito legal é importante ressaltar que as boas práticas se relacionam com a ética profissional e que visam como objetivo maior a saúde do usuário além de proporcionar economia de tempo e custos já que evitam perdas e retrabalhos Desse modo apresentamos como fundamentos para as boas práticas de manipulação em farmácia as diretrizes apresentadas na RDC n 672007 e resoluções relacionadas Um sistema de garantia da qualidade SGQ que incorpore as BPMF é a maneira pela qual as farmácias podem alcançar a qualidade necessária A garantia da qualidade é o empenho organizado e totalmente documentado que perpassa transversalmente todos os setores da farmácia figura a seguir no sentido de assegurar que os produtos e serviços estejam dentro dos padrões de qualidade exigidos 44 Unidade I Avaliação das prescrições Manipulação Armazenamento Dispensação atenção farmacêutica Aquisição Transporte Equipamentos Infraestrutura Recursos humanos Controle de qualidade Sistema de garantia da qualidade Figura 9 Representação esquemática da interrelação do sistema de garantia da qualidade com outros setores da farmácia 31 Estrutura do sistema de garantia da qualidade Alguns elementos são importantes para estruturar o sistema de garantia da qualidade em uma farmácia de manipulação conforme destacamos a seguir 311 Manual da qualidade Nesse caso denominado manual de boas práticas de manipulação o qual apresenta as diretrizes empregadas pelo estabelecimento para o gerenciamento da qualidade As atribuições de cada função bem como suas responsabilidades devem estar descritas nesse manual e devem ser claras para o entendimento de todos os colaboradores 312 Documentação legal Entre outros se destacam os seguintes documentos exigidos para o funcionamento de farmácias de manipulação Autorização de funcionamento de empresa AFE expedida pela Anvisa Autorização especial expedida pela Anvisa quando manipular substâncias sujeitas a controle especial 45 FARMACOTÉCNICA Licença de funcionamento expedida pelo órgão de Vigilância Sanitária local explicitando os grupos de atividades para os quais a farmácia está habilitada Certidão de regularidade emitida pelo Conselho Regional de Farmácia Esses documentos devem estar afixados em local visível 313 Procedimentos operacionais padrão POP Descreve em detalhes a maneira de realizar uma atividade Seu objetivo é a padronização das ações ou seja todas as atividades devem ser sempre executadas pelo modo preconizado por todos os colaboradores envolvidos com vistas a garantir a qualidade dos medicamentos manipulados e segurança dos colaboradores A farmácia de manipulação deve possuir POPs para todas as atividades relevantes e cada estabelecimento deve escrever seus próprios procedimentos operacionais padrão de acordo com suas particularidades Um procedimento operacional padrão deve responder às seguintes perguntas em relação ao que está sendo abordado O que faz Quem faz Quando faz Onde faz Como faz Além disso todo POP deve ter uma planilha de treinamento contendo ao menos o assunto abordado data e local do treinamento duração do treinamento instrutor assinatura do participante Um procedimento operacional padrão passa a ser efetivamente valioso para a garantia da qualidade quando todos os funcionários relacionados são treinados 46 Unidade I Exemplo de aplicação Os procedimentos operacionais padrão representam uma ferramenta importante para que qualquer colaborador possa executar a tarefa em questão do mesmo modo obtendo sempre o mesmo resultado final Com as informações apresentadas elabore um procedimento operacional padrão de uma atividade que você realize rotineiramente 314 Programa de treinamento de funcionários Todos os colaboradores devem fazer parte de um programa de treinamento inicial e contínuo ou seja devem receber treinamentos pertinentes a todas as atividades que desenvolverão antes de iniciálas e periodicamente de acordo com um cronograma estabelecido ou sempre que necessário como em casos de revisão de POP e verificação de desvios de qualidade O programa de treinamento deve ser elaborado com base em um levantamento de necessidades sendo que todos devem ser registrados em planilha própria contendo ao menos data da realização do treinamento e carga horária documentos relacionados às atividade de capacitação conteúdo treinado nome dos participantes e respectivas assinaturas identificação dos ministrantes A efetividade de todos os treinamentos realizados deve ser avaliada Observação Nos treinamentos devem ser abordados procedimentos a serem adotados em caso de acidente ou incidente além de informações quanto à existência de riscos no desenvolvimento das atividades suas causas e medidas preventivas apropriadas BRASIL 2007 315 Especificações de materiais As fichas de especificação de insumos são documentos exigidos pela legislação utilizadas no controle de qualidade que apontam os requisitos de qualidade de cada matériaprima ou material de embalagem além de servir de referência para aquisição desses insumos ANFARMAG 2019 47 FARMACOTÉCNICA A figura a seguir ilustra como as fichas de especificação e compra devem ser elaboradas No caso de matériaprima vegetal nome popular nome científico parte da planta utilizada Nome da matériaprima DCB DCI ou CAS quando couber Nome e código interno de referência quando houver Solicitação da metodologia validada Transcrição de dados do laudo de análise emitido pelo fornecedor de insumo caso este esteja qualificado pela farmácia Pesquisa em literatura científica reconhecida pela Anvisa Pesquisa das literaturas oficialmente reconhecidas pela Anvisa O insumo é farmacopeico A literatura possui dados do insumo Não Não Sim Sim Aprovação da ficha Garantia da qualidade Conferência dos dados Elaboração da ficha de especificação Ficha de especificação de insumo Ficha de especificação de compra Requisitos quantitativos e qualitativos com os respectivos limites de aceitação Condições de armazenamento e precauções No caso dos insumos farmacêuticos ativos IFA e adjuvantesreferência de monografia da farmacopeia brasileira ou de outros compêndios internacioanis reconhecidos pela Anvisa Orientações sobre amostragem ensaios de qualidade metodologias de análise e referência utilizada nos procedimentos de controle Periodicidade quando couber como devem ser feito novos ensaios de cada matériaprima para confirmação das especificações farmacopeicas Figura 10 Fluxograma representativo da elaboração de ficha de especificação e de compra de insumo farmacêutico de acordo com a norma sanitária Adaptada de Anfarmag sd 48 Unidade I Observação Vejamos o significado de importantes denominações de acordo com a Anvisa sd CAS do inglês chemical abstracts service ou seja referência internacional de substâncias químicas DCB denominação comum brasileira Tratase do nome do fármaco ou princípio farmacologicamente ativo aprovado pelo órgão federal responsável pela vigilância sanitária DCI denominação comum internacional Referese ao nome do fármaco ou princípio farmacologicamente ativo aprovado pela Organização Mundial da Saúde 316 Qualificação de fornecedoresfabricantes Fornecedores ou fabricantes de matériasprimas e materiais de embalagem devem ser avaliados selecionados monitorados quanto ao seu desempenho e reavaliados periodicamente para garantir a qualidade dos medicamentos produzidos com esses insumos A qualificação do fabricante ou fornecedor deve ser feita ao menos seguindo os seguintes requisitos apresentação da documentação exigida pela Anvisa e Vigilância Sanitária municipal verificação do cumprimento das normas de fracionamento ou distribuição de insumos ou de boas práticas de fabricação através de auditorias avaliação do histórico de fornecimento da empresa em questão avaliação dos laudos analíticos e análises de controle de qualidade realizados pela farmácia para verificar o atendimento às especificações estabelecidas e acertadas entre a farmácia e o fabricantefornecedor 317 Registros de análises de controle de qualidade O controle de qualidade verifica se insumos farmacêuticos materiais de embalagem e medicamentos manipulados estão em conformidade com as especificações estabelecidas Para tanto a farmácia deve possuir infraestrutura equipamentos e instrumentos adequados POPs aprovados para a realização de amostragem inspeção e ensaios das matériasprimas e materiais de embalagem 49 FARMACOTÉCNICA Já no recebimento das matériasprimas deve ser feita uma inspeção para verificar as informações dos rótulos e se há algum dano na embalagem Após o recebimento todos os materiais são segregados e identificados como em quarentena o que quer dizer que não podem ser utilizados até que o controle de qualidade os analise e os aprove para o uso ou reprove nesse caso é preciso segregar e identificar esse material até que seja devolvido ao fornecedorfabricante além de notificar a autoridade sanitária A figura a seguir sumariza este processo Quarentena Recebimento do insumo Aprovado Armazenamento e uso na manipulação Reprovado Segregação devolução ao fornecedor e comunicação à vigilância sanitária Conferência Análises de controle de qualidade Figura 11 Fluxograma representativo do recebimento de insumos Todos os lotes adquiridos devem vir acompanhados dos respectivos certificados de análises realizadas com informações claras e conclusivas e todas as especificações estabelecidas entre o farmacêutico e o fornecedorfabricante sendo que o atendimento a essas especificações deve ser avaliado pela farmácia Quando estão em quarentena as matériasprimas devem ser submetidas a ensaios de controle de qualidade e ter o laudo de análise do fabricantefornecedor avaliado A farmácia pode aceitar outras análises farmacopeicas realizadas pelo fabricantefornecedor desde que este seja qualificado Os produtos acabados também devem ser submetidos a análises de controle de qualidade com base na Farmacopeia brasileira ou outro compêndio oficial reconhecido pela Anvisa Devem ser realizados ensaios físicoquímicos e microbiológicos da água potável e da água purificada no mínimo a cada seis meses e um mês respectivamente O estabelecimento deve realizar ensaios de controle de qualidade de ao menos uma fórmula manipulada a cada dois meses Essas análises podem ser realizadas no próprio estabelecimento ou 50 Unidade I terceirizadas preferencialmente em laboratórios da Rede Brasileira de Laboratórios em Saúde Reblas Todas as amostras devem contemplar diferentes manipuladores fármacos e dosagensconcentrações adotandose sistema de rodízio É possível manter estoque mínimo de bases galênicas e preparações oficinais uma vez que se garanta sua estabilidade e qualidade O controle de qualidade microbiológico das bases galênicas pode ser feito por monitoramento ou seja análise mensal de pelo menos uma base ou produto acabado preparado com ela no mínimo adotandose sistema de rodízio levando em consideração o tipo de base e manipulador Observação Bases galênicas são fórmulas produzidas sem princípios ativos e que servem de base ou veículo de incorporação de fármacos para atender os diferentes tipos de prescrição com o objetivo de otimizar o processo de manipulação Assim se produzem cremes pomadas xaropes entre outras formas farmacêuticas sem nenhum insumo ativo e os utiliza para preparar fórmulas magistrais e oficinais 318 Registros de manipulação O processo de manipulação deve ser totalmente documentado de modo a permitir rastreabilidade O farmacêutico deve avaliar a prescrição antes de se iniciar o processo de manipulação conferindo sua legibilidade ausência de emendas ou rasuras identificação tanto do prescritor quanto do paciente informações sobre a fórmula a ser manipulada Ainda deverá verificar coerência incompatibilidades e necessidade de correção de massa dos fármacos Além disso deverá confrontar as informações da receita com a ordem de manipulação emitida para produção desse medicamento Uma ordem de manipulação é um documento destinado a acompanhar todas as etapas do processo e deve conter número de ordem do livro de receituário descrição da formulação contendo todos os componentes inclusive os excipientes e concentrações lote de cada matériaprima fornecedor e quantidade pesada nome e assinatura dos responsáveis pela pesagem e manipulação visto do farmacêutico data da manipulação no caso da forma farmacêutica cápsulas deve constar ainda o tamanho e a cor da cápsula utilizada BRASIL 2007 Os resultados dos ensaios de controle de qualidade devem ser também registrados nesse documento 51 FARMACOTÉCNICA 319 Registros complementares São documentos que registram a dinâmica das BPMF para além do processo de manipulação propriamente dito e que servem de subsídio para garantir e atestar a qualidade dos medicamentos manipulados Entre esses registros podem ser mencionados planilhas de verificação de balanças controle de temperatura e umidade do ambiente e de geladeira recebimento de materiais limpeza do sistema de purificação de água etc 3110 Registros de reclamações A farmácia deve dispor de um sistema de atendimento a reclamações Quando estas forem referentes a desvios de qualidade de produtos manipulados é necessário que sejam registradas em ficharelatório específico o qual deve conter no mínimo informações pessoais do paciente e do prescritor descrição da fórmula manipulada e número de registro no livro de receituário descrição detalhada da reclamação dados pessoais do reclamante desfecho da investigação e procedimento adotado O farmacêutico deve investigar a reclamação adotar medidas corretivas e esclarecer o reclamante além de registrar todo esse processo Em caso de desvios de qualidade comprovados o farmacêutico deve comunicar a autoridade sanitária No ambiente principal de atendimento ao público devem estar afixados endereço e telefones da autoridade sanitária local para aqueles que desejarem realizar reclamações 3111 Plano de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde A farmácia deve dispor de um programa de gerenciamento de resíduos descrevendo como é realizado o manejo dos resíduos gerados insumos vencidos reprovados medicamentos devolvidos produtos de análises de controle de qualidade desde a sua segregação até a coleta pela empresa responsável Esse programa deverá ser elaborado de acordo com a norma federal em vigor que regulamenta as boas práticas de gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde e dá outras providências BRASIL 2018 a Resolução RDC n 2222018 além de dispositivos e regulamentos sanitários ambientais ou de limpeza urbana federais estaduais municipais ou do Distrito Federal 52 Unidade I As farmácias são responsáveis pelos resíduos de manipulação que geram uma vez que estes se não forem devidamente tratados podem ocasionar malefícios aos colaboradores população em geral aos medicamentos manipulados além de sérios danos ambientais Saiba mais Para saber mais sobre descarte apropriado de resíduos consulte a RDC n 222 de 2018 comentada BRASIL Ministério da Saúde Agência Nacional de Vigilância Sanitária ResoluçãoRDC n 222 de 28 de março de 2018 Regulamenta as boas práticas de gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde e dá outras providências Brasília 2018 Disponível em httpsbitly3wpDu7j Acesso em 21 maio 2021 3112 Auditorias internas Auditar também consiste em analisar registros documentos fatos e informações e comparar com uma norma ou requisito PAULISTA TURRIONI 2018 De acordo com o Conselho Federal de Farmácia 2017 p 7 a autoinspeção é o instrumento de avalição de conformidade documental e operacional da farmácia As auditorias internas também designadas autoinspeções devem ser executadas a intervalos preestabelecidos ao menos uma vez por ano para constatar e avaliar o cumprimento das BPMF A administração responsável pela área que está sendo auditada deve assegurar que quaisquer correções e ações corretivas sejam executadas em tempo hábil para eliminar não conformidades detectadas e suas causas ABNT 2008 Uma vez que as inspeções sanitárias devem ser realizadas com base nas disposições da norma em vigor RDC n 672007 e seu respectivo roteiro de inspeção esse mesmo roteiro pode servir de ferramenta para as autoinspeções realizadas em farmácias de manipulação Os critérios para a avaliação do cumprimento dos itens desse roteiro têm como base o risco potencial inerente a cada item Desse modo considerase item IMPRESCINDÍVEL I aquele que pode influir em grau crítico na qualidade segurança e eficácia das preparações magistrais ou oficinais e na segurança dos trabalhadores em sua interação com os produtos e processos durante a manipulação NECESSÁRIO N aquele que pode influir em grau menos crítico na qualidade segurança e eficácia das preparações magistrais ou oficinais e na segurança dos trabalhadores em sua interação com os produtos e processos durante a manipulação 53 FARMACOTÉCNICA RECOMENDÁVEL R aquele item que pode influir em grau não crítico na qualidade segurança e eficácia das preparações magistrais ou oficinais e na segurança dos trabalhadores em sua interação com os produtos e processos durante a manipulação INFORMATIVO INF aquele que oferece subsídios para melhor interpretação dos demais itens O item N não cumprido após a primeira inspeção passa a ser tratado automaticamente como I na inspeção subsequente O item R não cumprido após a primeira inspeção passa a ser tratado automaticamente como N na inspeção subsequente mas nunca passa a I Os itens I N e R devem ser respondidos com SIM ou NÃO BRASIL 2007 Saiba mais É possível consultar o roteiro de inspeção completo da RDC n 672007 em BRASIL Ministério da Saúde Agência Nacional de Vigilância Sanitária ResoluçãoRDC n 67 de 8 de outubro de 2007 Dispõe sobre boas práticas de manipulação de preparações magistrais e oficinais para uso humano em farmácias Brasília 2007 Disponível em httpsbitly3f1XHu7 Acesso em 20 maio 2021 3113 Investigação de desvios de qualidade Qualquer desvio de qualidade ou não conformidade deve ter sua causa raiz investigada Então devem ser adotadas ações corretivas e preventivas Ação corretiva é aquela adotada através de procedimento documentado para eliminar a causa de um desvio de qualidade detectado ou outra situação indesejável Já a ação preventiva é adotada através de procedimento documentado para eliminar a causa de uma potencial não conformidade ou outra potencial situação indesejável As ações preventivas devem ser executadas levandose em consideração as consequências das não conformidades quaisquer que sejam elas como insatisfação do cliente perdas financeiras etc Para que seja efetivamente possível realizar investigações de desvios de qualidade a farmácia deve possuir POPs que permitam o rastreamento dos medicamentos manipulados A rastreabilidade representa a capacidade de ser rastreável ou seja é poder conhecer todo o caminho percorrido pelos insumos desde sua aquisição transformação no medicamento final controle de 54 Unidade I qualidade e dispensação através de documentação apropriada em cada uma dessas etapas Por exemplo suponha que um determinado paciente volte à farmácia com a reclamação de que seu medicamento mudou de cor Através do rótulo do produto apresentado deverão ser levantadas informações que levem a descobrir qual a causa do problema se é devido a desvio de qualidade da farmácia ou usoconservação inadequados pelo usuário Desse modo é preciso rever quais colaboradores estiveram envolvidos nos processos de análises de controle de qualidade produção conferência e dispensação assim como laudos ordens de manipulação lotes de matériasprimas água utilizada na produção etc 32 Infraestrutura Infraestrutura adequada às atividades propostas é um requisito importante para se cumprirem as boas práticas Desse modo é preciso levar em conta sua localização ou seja se suas imediações são possíveis fontes de contaminação ou favorecem aparecimento de insetos e roedores Seja um imóvel construído ou adaptado às funções o projeto de todas as farmácias inclusive filiais deve apresentar ao menos área ou sala de armazenamento para matériasprimas materiais de embalagem e medicamentos manipulados salas de manipulação ao menos uma para sólidos e outra para semissólidos ou líquidos cabines especiais com fluxo controlado de entrada e saída e ar para preparações de hormônios antibióticos e citostáticos se o estabelecimento optar por trabalhar com estas substâncias vestiário para guarda dos pertences e colocação de uniformes sala de paramentação localizada imediatamente antes da área produtiva para se vestirem os equipamentos de proteção individual EPIs sala ou local de pesagem de matériasprimas área ou sala de controle de qualidade a qual pode ser centralizada em uma de suas unidades área ou local para lavagem de utensílios e materiais de embalagem que pode ser dentro do laboratório de manipulação apenas se houver POP definindo que essa atividade será em horário diferente da manipulação área de dispensação área ou sala para atividades administrativas e arquivos de documentos depósito para guarda de material de limpeza sanitários 55 FARMACOTÉCNICA local e equipamentos seguros e protegidos para o armazenamento de produtos inflamáveis cáusticos corrosivos e explosivos seguindo normas técnicas em vigor capela de exaustão para manipulação de substâncias voláteis tóxicas corrosivas cáusticas e irritantes Nas áreas em que houver armazenamento produção ou controle de qualidade deve haver proteção contra entrada de partículas insetos roedores ou outros animais Além disso todas as áreas devem possuir tamanho adequado às funções ali desempenhadas paredes pisos e tetos laváveis e resistentes aos sanitizantes serem lisos e impermeáveis sem nenhuma rachadura 33 Equipamentos matérias e utensílios O estabelecimento deve dispor ao menos dos seguintes equipamentos materiais e utensílios básicos uma balança de precisão ao menos em cada laboratório com capacidade compatível com as quantidades a serem pesadas Devem possuir registros e serem instaladas em local que ofereça segurança e estabilidade ou haver uma central de pesagem onde as balanças estarão instaladas devendo ser adotados procedimentos que impeçam a contaminação cruzada e microbiana pesospadrão rastreáveis para verificação diária das balanças próxima figura vidraria verificada contra um padrão calibrado ou adquirida de fornecedores certificados pelos laboratórios da RBC quando for o caso sistema de purificação de água geladeira exclusiva para a conservação de produtos sensíveis ao calor termômetros e higrômetros bancadas revestidas de material liso resistente e de fácil limpeza armário fechado para armazenar matériasprimas e produtos sensíveis à luz eou sensíveis à umidade armários ou salas fechados à chave para guarda de matériasprimas e medicamentos de controle especial utensílios exclusivos para manipulação de preparações de uso interno e outros para preparações de uso externo lixeiras com tampa pedal e saco plástico devidamente identificadas 56 Unidade I A B Figura 12 Pesos padrões A representação esquemática de verificação de balança usando peso padrão B jogo de pesos padrões Adaptada de A httpsbitly3jmrxM5 B httpsbitly3gEU25J Acesso em 27 ago 2021 A farmácia deve dispor de um programa de manutenção preventiva dos equipamentos e empresas credenciadas à Rede Brasileira de Calibração RBC devem ser as responsáveis por executar as calibrações dos equipamentos e instrumentos de medição ao menos anualmente ou em função da frequência de uso Além disso deve ser feita verificação diária dos equipamentos por pessoal treinado da própria farmácia 34 Recursos Humanoscondutas A farmácia deve seguir um programa de saúde médico e operacional PCMSO com exames médicos obrigatórios antes do início das atividades e periodicamente Para evitar contaminação e mesmo acidentes é proibido nas áreas de produção uso de cosméticos joias e adornos ou objetos de uso pessoal Também para evitar contaminação eou não atrair insetos e roedores não é permitido comer ou manter alimentos beber ou manter bebidas mascar fumar ou dispor de produtos fumígenos nas áreas de produção A farmácia deve dispor em quantidade suficiente e gratuitamente aos colaboradores que atuarem em atividades de manipulação e controle de qualidade equipamentos de proteção individual EPIs apropriados às atividades desenvolvidas com o objetivo de não expor esses indivíduos aos produtos manipulados além de proteger os medicamentos de contaminações advindas do corpo humano A colocação dos EPIs deve ser realizada após higiene das mãos e antebraços EPIs descartáveis como toucas luvas máscaras propés devem ser repostos periodicamente Os reutilizáveis como jalecos por exemplo devem ser trocados sempre que necessário e lavados sendo esta responsabilidade do estabelecimento As exigências de higiene e uso de EPIs também se aplicam a qualquer pessoa que por algum motivo precise adentrar a área produtiva As fórmulas manipuladas não podem ficar expostas ao público com finalidade de promoção publicidade ou propaganda 57 FARMACOTÉCNICA Não podem ser aceitas receitas contendo nome de fantasia nome da fórmula símbolo ou código O prescritor também não pode receber qualquer benefício monetário ou outro para realizar indicação de farmácias As farmácias de manipulação não podem preparar medicamentos que estão disponíveis comercialmente ou seja que tenham sido produzidos por indústrias farmacêuticas sejam eles de referência similares ou genéricos O estabelecimento deve ter um programa de controle integrado de pragas e vetores para garantir a ausência de insetos e roedores os quais são grandes causadores de contaminação sendo os serviços terceirizados por empresas licenciadas Apresentamos de forma resumida os principais aspectos gerais das boas práticas de manipulação Além das disposições gerais as BPMF possuem particularidades importantes quando se trata de manipulação de substâncias de baixo índice terapêutico antibióticos hormônios citostáticos e substâncias sujeitas a controle especial medicamentos estéreis medicamentos homeopáticos doses unitárias e unitarização de dose de medicamentos em serviços de saúde Lembrete Para que aconteçam as boas práticas de manipulação em farmácia é preciso que haja envolvimento e responsabilização de todos os setores e colaboradores desde instalações recursos humanos e equipamentos passando por aquisição de insumos avaliação da prescrição produção fracionamento controle de qualidade conservação armazenamento transporte e dispensação até a atenção farmacêutica aos usuários ou seus responsáveis 4 MÉTODOS DE TRATAMENTO DE ÁGUA A água deve apresentar critérios específicos de acordo com o tipo de medicamento ou produção em que será utilizada BRASIL 2007 Monóxido de dihidrogênio ou simplesmente água de fórmula química H2O é uma molécula que nas condições normais de temperatura e pressão se apresenta como um líquido incolor inodoro e insípido que possui como pontos de solidificação e ebulição respectivamente 0 C e 99974 C e peso molecular de 1801528 gmol É ainda uma molécula polar considerada solvente universal CENTRO CIENTÍFICO CONHECER 2018 Segundo a literatura água é um dos componentes mais importantes na produção de alimentos e medicamentos Sabese ainda que ela necessita de análises físicoquímicas e microbiológicas desenvolvidas pelo departamento de controle de qualidade devido à existência de substâncias em sua 58 Unidade I composição que podem comprometer a qualidade dos medicamentos e a vida útil dos sistemas de purificação de água OLIVEIRA PELEGRINI 2011 Essas análises são definidas pela Farmacopeia brasileira ANVISA 2019b e por outros compêndios oficiais A água potável é utilizada pelos diversos sistemas de purificação ou seja é o ponto de partida para iniciar os processos de tratamento portanto deve ser obtida de local com instalações e equipamentos que também passem por manutenção constante Não menos importante está a validação de metodologia e calibração de equipamentos e instrumentos de medição OLIVEIRA PELEGRINI 2011 A água é extremamente importante para quase todos as atividades dentro de uma farmácia laboratório ou indústria farmacêutica assim como para empresas que comercializem produtos que promovam impacto na saúde humana ou de animais Em uma indústria farmacêutica a água pode fazer parte de processos de limpeza Em quase todos os casos a água está presente nos processos de lavagem de equipamentos formatos e utensílios que entram em contato com o produto A água também é o principal componente da limpeza e lavagem de superfícies de bancadas do chão das paredes e demais componentes das instalações industriais Ainda está presente na produção como na fabricação de formas farmacêuticas líquidas e semissólidas ou mesmo em produção de sólidos como na manipulação de granulados para fabricação de comprimidos BRASIL 2007 Além disso a água é necessária nas análises de controle de qualidade físicoquímico e microbiológico Todos os tipos de água são cobertos pelo sistema de qualidade das empresas e portanto devem ser qualificados A água é uma substância de importância ímpar relacionada à manutenção da vida e participa de quase todas as reações metabólicas e bioquímicas no nosso organismo Na área farmacêutica está envolvida em todos os setores e apresenta diversas aplicações Faz parte da produção de quase todas as formas farmacêuticas líquidas como soluções suspensões emulsões formulações semissólidas cremes géis séruns além de formas sólidas ou mesmo cosméticas como xampus condicionadores entre outros Na área de controle de qualidade tanto físicoquímico quanto microbiológico é imprescindível que seja de alta qualidade e altamente purificada MIERZWA 2002 É fato muito conhecido que variações nos valores de pH da água podem afetar muitas análises laboratoriais tais como análises de pH de amostras em culturas de células e tecidos etc UNITED STATES PHARMACOPEIA 2012 A United States Pharmacopeia USPBPEP classifica os tipos de água para os diferentes usos e aplicações indicando que deve ser empregada com fins farmacêuticos a água que tenha sido adequadamente purificada para o fim a que se destina Entre essas classificações a água purificada é a ideal para ser usada como componente de formas farmacêuticas oficiais BACTERIAL sd 59 FARMACOTÉCNICA 41 Contaminantes da água Há várias substâncias além de microrganismos que podem ser interferentes em potencial em procedimentos laboratoriais THERMO SCIENTIFIC 2013 ELGA PURE LAB WATER GUIDE 2005 A seguir veremos alguns desses interferentes 411 Microrganismos e pirogênios Podem causar interferências em análises de material biológico que podem eventualmente se contaminar Dessa forma poderia afetar o funcionamento de etapas do sistema de purificação em que bactérias podem eventualmente proliferar Ainda há de se tomar cuidado com vírus e nucleases SALTER et al 2014 412 Materiais orgânicos presença de carbono A presença de compostos orgânicos na água pode ocasionar problemas na fabricação de medicamentos e pode ser um indicativo da presença de biofilmes nas paredes do sistema de tratamento de água e geração de endotoxinas A determinação do carbono orgânico total COT é um método sensível e inespecífico de quantificar os átomos de carbono ligados por covalência em moléculas orgânicas presentes em uma amostra geralmente através da oxidação total das moléculas orgânicas a dióxido de carbono que é quantificado como carbono ANVISA 2019b 413 Partículas Dependendo das dimensões das partículas principalmente as de tamanho entre 1 μm a 10 μm podem deixar a água turva causando problemas desde o funcionamento de instrumentos até análises Essas partículas podem ainda provocar entupimentos em equipamentos e ser danosas aos processos de purificação da água FUNASA 2014 414 Coloides Normalmente com tamanho de 001 μm a 1 μm essas partículas são pequenas demais para decantarem por gravidade Dessa forma costumam permanecer suspensas na água podendo interferir em análises pois causam turbidez na água atrapalhando a eficácia de diversos sistemas de purificação tais como troca iônica osmose reversa e entupindo filtros FUNASA 2014 415 Íons A presença de íons como silicatos e cloretos pode aumentar a condutividade elétrica da água e reduzir a resistividade da água afetando tanto análises de compostos inorgânicos como absorção atômica cromatografia de íons e espectrometria de massas com plasma indutivamente acoplado Pode afetar ainda análises de compostos orgânicos como o crescimento de células e tecidos além de reduzir 60 Unidade I a vida útil de cartuchos no sistema de deionização EMD MILLIPORE 2012 Além disso íons podem interferir diretamente na estabilidade dos medicamentos Lembrete Variações nos valores de pH da água podem afetar muitas análises laboratoriais tais como análises de pH de amostras em culturas de células e tecidos etc 42 Água potável Recebe esse nome a água que é certificada após análises que atestem seu padrão de potabilidade Segundo Brasil 2011 a água potável é destinada à higiene pessoal ao uso doméstico para limpeza e preparação de alimentos e ainda à ingestão A água potável geralmente contém cloro A água no Brasil é considerada mole o que significa que contém sólidos dissolvidos A filtração inicial pode ser realizada com filtros de areia Em seguida ela sofrerá cloração e ficará armazenada sendo de boa qualidade do ponto de vista microbiológico Além de seu uso para limpeza ela também é utilizada como matériaprima para obtenção da água purificada De acordo com a Portaria n 29142017 que dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade fica sob responsabilidade da Vigilância Sanitária Municipal controlar as análises feitas de acordo com o tipo de abastecimento Considerando o seu art 4 Toda água destinada ao consumo humano proveniente de solução alternativa individual de abastecimento de água independentemente da forma de acesso da população está sujeita à vigilância da qualidade da água BRASIL 2011 A água potável é o ponto de partida para o processo de purificação da água empregada nas etapas iniciais de procedimentos de limpeza sendo obtida de mananciais por processos de tratamentos de acordo com os padrões de potabilidade estabelecidos pela Portaria SVSMS 518 de 2004 BRASIL 2004 O padrão de potabilidade de água para o consumo humano preconiza as análises mínimas microbiológicas a serem realizadas como contagem de Escherichia coli ou coliformes termotolerantes e coliformes fecais correspondendo simultaneamente ausentes em 100 mL da amostra BRASIL 2004 FUNASA 2014 Em resumo as análises de água para efeitos de controle operacional da potabilidade para consumo humano podem ser classificadas de acordo com o quadro a seguir 61 FARMACOTÉCNICA Quadro 6 Potabilidade da água periodicidade e solução alternativa coletiva Padrão Tipo de manancial Periodicidade Observações Turbidez Superficial Amostra única Apenas recomendado Turbidez Superficial subterrâneo Mensal sistema efluente Diário filtração lenta Cada 2h filtração rápida Com sistema de filtração Coliformes totais Superficial subterrâneo Semanal superficial Mensal subterrâneo Sem sistema de filtração Cor Superficial subterrâneo Semanal superficial Mensal subterrâneo 1 amostra a cada 500 pessoas pH Superficial subterrâneo Semanal superficial Mensal subterrâneo 1 amostra a cada 500 pessoas Cloro livre Superficial subterrâneo Diário 1 amostra a cada 500 pessoas Escherichia Coli Superficial subterrâneo Mensal ponto de captação 1 amostra a cada 500 pessoas Cianobactérias Superficial Mensal ou semanal dependendo da densidade Coleta de água bruta Substâncias químicas Superficial subterrâneo Semestral Coleta de água bruta Cianotoxinas Superficial Semestral Coleta de água bruta Radioatividade Superficial subterrâneo Semestral Coleta de água bruta Padrão organoléptico de potabilidade Superficial subterrâneo Semestral Coleta de água bruta Adaptado de Snatural 2020 Como já mencionado a água advinda da natureza apresenta uma série de impurezas como sólidos suspensos compostos orgânicos dissolvidos compostos inorgânicos dissolvidos microrganismos gases dissolvidos O tipo de tratamento que ocorrerá é dependente do grau necessário de purificação e de classificação da água FREITAS 2013 Para estabelecimento de um sistema de purificação de água segundo a Farmacopeia brasileira ANVISA 2019b é importante conhecer o sistema de fornecimento de água e sua qualidade Devese observar ainda se esse sistema apresenta características compatíveis como a vazão a distância entre o 62 Unidade I sistema de produção e os pontos de uso o layout da tubulação e suas conexões o material empregado a assistência técnica e manutenção e monitoramento Nesse sentido a préfiltração é processo imprescindível para a qualidade final da água e para que chegue até o sistema de purificação com menos contaminantes possíveis ANVISA 2010 Na indústria farmacêutica são usados geralmente três tipos de água Colocando em ordem crescente de pureza temos água purificada água ultrapurificada água para injeção 43 Água purificada É produzida a partir da água potável ou da água reagente tipos I II ou III Deve atender às especificações estabelecidas na monografia publicada pela Farmacopeia brasileira ANVISA 2019b Uma combinação de sistemas de purificação é efetuada em sequência lógica como múltipla destilação troca iônica osmose reversa eletrodeionização ultrafiltração ou outro processo capaz de atender aos limites especificados pela Farmacopeia brasileira ANVISA 2019b Segundo Anvisa 2010 a sequência lógica inclui filtração grossa retirada de cloro por filtro de carvão ou pela adição de bissulfito de sódio osmose reversa eou eletrodeionização Apresenta baixa condutividade por ter poucos íons contaminação microbiológica controlada e ausência de cloro É produzida a partir da água potável frequentemente através dos processos sequenciais ver figura a seguir Pontos de uso Eletrodeionização Tanque PW Bomba Pontos de uso Ultravioleta Filtro quebravácuo Filtro Coloração Bissulfito Osmose reversa Água potável Água purificada Armazenamento Figura 13 Obtenção de água purificada a partir de água potável Adaptada de WHO 2012 Anvisa 2013 É usada como matériaprima para a produção de medicamentos para última lavagem de equipamentos e utensílios de produção e como matériaprima para obtenção da água para injeção e para a água ultrapura Ela ainda gera vapor limpo utilizado em processos estéreis FDA 2017 63 FARMACOTÉCNICA 44 Água ultrapurificada Possui baixa concentração iônica baixa carga microbiana e baixo nível de carbono orgânico total COT Essa água é muito importante para a obtenção de resultados analíticos precisos Deve ser utilizada no momento em que é produzida ou no mesmo dia da produção BRASIL 2019b 45 Água para injeção Possui um rigoroso controle de qualidade e não permite contaminação microbiológica e de endotoxinas do tipo pirogênio Sua obtenção deve ser por destilação ou por processo igual ou superior à destilação tal como por osmose reversa acoplada a outros sistemas como ultrafiltração por osmose duplo passo e eletrodeionização para a remoção que possa retirar contaminantes físicos químicos e microrganismos Pode ser utilizada na limpeza de equipamentos além de ser utilizada como veículo na preparação de formulações parenterais de pequeno e grande volume como ampolas e nutrições parenterais produtos de uso oftálmico e outro que necessitem de isenção de endotoxinas ANVISA 2010 EMA EUROPEAN MEDICINES AGENCY 2016 46 Sistemas de purificação da água O sistema adotado para a purificação da água dependerá do tipo de água que se deseja obter porém aquele que for adotado deve seguir os requisitos de boas práticas de fabricação Objetivase reduzir o risco de contaminação podendo ser física química ou microbiológica BRASIL 2013 Os métodos de purificação podem ser visualizados no quadro a seguir Quadro 7 Métodos de purificação da água na indústria farmacêutica Métodos Vantagens Desvantagem Carvão ativado Remove cloro e matéria orgânica Não elimina íons e bactérias Filtração Remove partículas suspensas e microrganismos Uso de filtros de diferentes porosidades Deionização Baixo custo fácil operação remove apenas compostos inorgânicos Não remove material particulado bactérias e saturação rápida da resina Destilação Remove grande parte de todos os contaminantes Consumo elevado de energia Ultrafiltração Remove microrganismos Risco de rompimento da membrana Osmose reversa Remove material orgânico Alto custo do equipamento Adaptado de Macedo 2000 Membranas são meios físicos filtrantes estruturados compostos de diversos tipos de polímeros tais como PVDF difluoreto de polivinilideno PTFE politetrafluretileno 64 Unidade I PES polietersulfona PAN poliacrilonitrila Há aquelas constituídas de matérias inorgânicas A diferença entre membranas de filtros convencionais é sua alta capacidade de retenção uma vez que há a presença de poros de dimensões variadas que servem tanto para separar partículas como para fracionar moléculas de diferentes massas molares 461 Níveis de passagem de compostos Os tipos de componentes como proteínas vírus íons e microrganismos conseguem atravessar as membranas em diversos tipos de processos 462 Filtração Filtração é um procedimento simples de remoção física de partículas presentes na água Nesse método a água passa por algum material poroso de forma que as partículas fiquem retidas conforme explicitado na figura a seguir Costuma ser utilizada em diversos pontos do sistema de purificação de água de maneira a proteger e prolongar a vida útil dos equipamentos seguintes porém não remove material dissolvido VIJYA et al 2013 Figura 14 Esquema de processo de filtração Adaptada de Li et al 2014 463 Microfiltração Tratase de um processo de separação crossflow que se caracteriza por ser de baixa pressão de partículas que vão desde coloidais até sólidos em suspensão na água Apresenta a capacidade de diminuir a turbidez da água e ainda pode capturar alguns vírus que se agrupam em colônias em pequenas proporções 65 FARMACOTÉCNICA R1s R1 B1 B2 Reciclo MF Permeado T1 R1S R2 Figura 15 Fluxograma contendo a microfiltração Fonte Dacanal e Beal 2010 p 12 Essas membranas atuam na proteção das membranas em processos de nanofiltração e de osmose reversa Agem na dessalinização e desmineralização de água A porosidade das membranas de microfiltração varia de 01 µm a 02 µm 464 Ultrafiltração Assim como outros procedimentos de filtração a ultrafiltração também atua na remoção física de partículas agindo no entanto ao final do sistema de purificação em que um filtro retém partículas superiores a determinada dimensão Sabese que na ultrafiltração e nanofiltração são removidos ainda os sais dissolvidos No caso da microfiltração são retidas partículas com dimensões que ficam entre 01 μm e 10 μm sendo essas partículas suspensas bactérias algas Um poro de 022 μm é considerado um tamanho bastante comum entre os filtros comercializados Partículas com tamanhos entre 001 μm e 01 μm costumam ser retidas pela ultrafiltração São essas vírus coloides macromoléculas Partículas menores com tamanho entre 001 μm e 0001 μm tais como compostos orgânicos e íons bivalentes precisam passar por nanofiltração ELGA PURE LAB WATER GUIDE 2005 VIJYA et al 2013 No intuito de remover material particulado e endotoxinas a ultrafiltração é muito utilizada nos equipamentos de osmose reversa já que apresenta pequena porosidade em suas membranas VIJYA et al 2013 465 Nanofiltração Esse processo figura a seguir compreende a difusão de algumas soluções iônicas predominantemente íons monovalentes tais como Cl e Na de forma que se propaguem sob influência da pressão osmótica A nanofiltração favorece remoção considerável que atinge até mesmo cálcio e magnésio Porém em relação à dessalinização deixa a desejar permitindo a passagem de certas quantidades de cloro As membranas possuem poros de 0001 µm Nesse processo a pressão osmótica do fluido atua na remoção das partículas É considerado um processo alternativo para a osmose reversa para dessalinização quando não é considerada potável e aplicada em caldeiras SNATURAL 2020 66 Unidade I TA CV CV P P T T Bomba Controlador de velocidade Rotâmetro Concentrado Permeado Válvula agulha Manômetro Termômetro Figura 16 Esquema de uma unidade de nanofiltração Fonte Andrade 2011 p 73 466 Destilação A destilação simples próxima figura é utilizada para a eliminação de contaminantes Essa técnica remove bactérias e partículas mas não elimina substâncias inorgânicas e demanda grande consumo de energia MACEDO 2000 É utilizada para a separação de uma mistura homogênea de dois ou mais líquidos miscíveis sendo necessário que os pontos de ebulição das substâncias sejam diferentes e distantes Nas farmácias de manipulação são utilizados os destilados que trabalham pelo princípio observado a seguir Caldeira Coluna Entrada de água Descarte de água Saída de água destilada Figura 17 Destilação simples Fonte SPlabor 2020 A água entra no destilador através de orifício de entrada acoplado à rede Ela deverá entrar ascendentemente até o topo através da coluna A água será aquecida e o vapor de água produzido condensará a água obtida será purificada com qualidade microbiológica atestada nos compêndios 67 FARMACOTÉCNICA oficiais O volume de água descartado nesse processo costuma ser grande dependendo do equipamento SPLABOR 2020 467 Deionização Os sistemas de deionização próximas figuras produzem água purificada através da utilização de resinas sintéticas de troca iônica específicas São compostas de polímeros orgânicos sulfonadas quase sempre na forma de pequenas partículas Sabese que são resinas catiônicas e aniônicas realizando a troca seletiva das impurezas ionizadas contidas na água pelos íons H ou OH presentes nas resinas As resinas são regeneráveis com ácidos e bases simultaneamente ANVISA 2010 A remoção é apenas para compostos inorgânicos e não remove compostos orgânicos dissolvidos Ainda não ocorre a remoção de materiais particulados e nem de bactérias presentes na água No entanto uma grande vantagem está no baixo custo e na facilidade de operação MACEDO 2000 Pode ocorrer de esses equipamentos possuírem carvão ativado em um procedimento prévio para depois a água passar pela resina É possível a obtenção de água com mais de 95 de pureza iônica 468 Eletrodeionização Através desse processo é possível remover íons presentes na água através da combinação de deionização à eletrodiálise que são conhecidas por serem correntes elétricas que atraem os íons através de membranas seletivas propriedades semelhantes às esferas de resina da troca iônica conforme figura a seguir Em relação à deionização tratase de um processo vantajoso pois as membranas seletivas são continuamente regeneradas A eletrodiálise é mais utilizada para a remoção de sais de água salobra para que ela fique potável Para utilização em laboratório esse método é menos eficiente e mais caro além de mostrar a necessidade de técnicos especializados e de manutenções mais frequentes LEE et al 2013 VIJYA et al 2013 OH OH Na Na Na Na Na CI CI CI CI H H A C A C Anodo Descarte Água purificada Catodo CI Figura 18 Processo de eletrodeionização Fonte Brunini 2013 p 17 68 Unidade I 469 Adsorção A figura a seguir ilustra um processo de adsorção que é baseado na remoção de cloro e substâncias orgânicas por quimisorção adsorção química e fisissorção adsorção física respectivamente Funciona através da passagem da água por carvão ativado Nesse processo as moléculas líquido ou gás fazem uma ligação com a superfície de um sólido ou líquido Nesse processo costuma ser realizada prétécnica de osmose reversa e deionização pois é de extrema importância diminuir a quantidade de cloro para que o equipamento não se deteriore precocemente Esse método não remove íons e partículas É por fim o fenômeno de transferência de massa em que há retenção de moléculas em superfícies de partículas sólidas VIJYA et al 2013 Figura 19 Esquema de um processo de adsorção aparato experimental esquerda A bulbo de reação B manta aquecedora C termopar D agitador E haste de aplicação coluna de adsorção direita F1 corpo central F2 corpo secundário Fonte Lucena 2008 p 52 4610 Carvão ativado A utilização da filtração através de carvão ativado elimina o cloro contido na água por formação de óxidos e remove a matéria orgânica por meio da adsorção Sendo o carvão um material poroso é comum a utilização de filtro de 1 μm após o filtro de carvão ativado para retenção de material particulado MACEDO 2000 4611 Oxidação ultravioleta Esse processo objetiva eliminar microrganismos presentes na água por meio da radiação ultravioleta com frequência de 254 nm através de oxidação É também utilizado nas frequências de 185 nm e 254 nm para oxidar moléculas orgânicas Vale ressaltar que esse método não remove partículas apenas as inativa VIJYA et al 2013 KRÖCKEL SCHMIDT 2014 69 FARMACOTÉCNICA Préfiltro Bomba Água Rede pública Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Declorador Osmose reversa Resina mista Reator UV Tanque de armazenamento Figura 20 Esquema de purificação que utiliza a radiação ultravioleta Fonte Barbosa 2016 p 37 O processo catalítico oxidativo avançado também tem sido muito explorado sendo considerado um dos mais eficazes para controle de poluentes microrganismos cor e odor de efluentes Usa o radical hidroxila OH gerado in situ atuando como agente oxidante A hidroxila OH o ozônio O3 e o peróxido de hidrogênio H202 são os mais utilizados para tratamento de água potável ou água para reuso Essa escolha se baseia no fato de que não deixam subprodutos A hidroxila é instável dessa forma ela reage rapidamente e é capaz de oxidar moléculas orgânicas ou inorgânicas que estiverem na água gerando CO2 e H2O No processo de oxidação figura a seguir os elétrons são transferidos de uma substância para outra gerando um potencial elétrico Sabese que a oxidação é mais eficiente quanto maior for o potencial elétrico pois mais elevada será a capacidade de a substância subtrair elétrons das outras oxidandoas aumentando sua valência Oxidar uma substância significa também combinála com oxigênio como no caso do fogo ou da ferrugem 4612 Osmose reversa A osmose reversa é obtida através da aplicação mecânica de uma pressão superior à pressão osmótica do lado da solução mais concentrada Sendo assim a água pura pode ser retirada de uma solução salina por meio de uma membrana semipermeável que pode ser composta por ésteres de celulose ou poliamidas e são eficazes na retenção de todas as macromoléculas e pequenos íons Na prática essa etapa é realizada pressionandose a solução por meio de uma bomba de modo que ela passe sob alta pressão por um vaso permeador onde está contida a membrana A água pura e a solução mais concentrada são retiradas de forma contínua dos dois lados da membrana de modo que a pressão osmótica e a concentração de sais se mantenham em nível aceitável para que o processo não seja interrompido A água obtida é denominada produto e a solução concentrada denominase descartado ou rejeito FRISCHKORN ROCHA NETO 2009 O processo de osmose reversa próxima figura é aplicado na separação concentração e fracionamento de substâncias orgânicas e inorgânicas em soluções aquosas ou não aquosas Tanto a natureza física como química da membrana de osmose reversa determinam sua capacidade de transportar moléculas de água e rejeitar partículas ou sais dissolvidos OLIVEIRA 2007 70 Unidade I P ρ g h ρ densidade g atração gravitacional h altura Meio menos concentrado Meio mais concentrado Concentrações iguais Pressão osmótica Tempo h P Figura 21 Funcionamento de osmose reversa Fonte Gouvêa et al 2012 p 529 47 Especificações de pureza No Brasil para determinar as especificações e classificações da água a principal referência é a Farmacopeia brasileira publicada pela Anvisa Porém na indústria é comum encontrarmos outros tipos de literaturas e referências como USP e CLSI Clinical Laboratory Standards Institute ORGANIC sd As tabelas a seguir comparam essas diferentes especificações Tabela 2 Especificações para diferentes tipos de água Parâmetro Água reagente Água purificada Água para injetáveis Água ultrapura Condutividade 1 a 5 µScm 01 a 13 µScm 01 a 13 µScm 0055 a 01 µScm Resistividade 02 MΩcm 1 MΩcm 1 MΩcm 18 MΩcm TOC 02 mgL 05 mgL 05 mgL 005 mgL Contagem microbiológica 100 UFCmL 10 UFCmL 1 UFCmL Endotoxinas 025 UI de endotoxinamL Adaptada de Anvisa 2019b p 792 Tabela 3 Especificações para diferentes tipos de água segundo Clinical Laboratory Standards Institute 2020 Parâmetro Água reagente tipo I Água reagente tipo II Água reagente tipo III Condutividade 01 µScm 1 µScm 10 µScm Resistividade 10 MΩcm 1 MΩcm 01 MΩcm Sílica Total 005 mgL 01 mgL 1 mgL pH 5 a 8 Contagem microbiológica 10 UFCmL 1000 UFCmL Adaptada de Organic sd 71 FARMACOTÉCNICA 48 Monitoramento Todas as águas farmacêuticas devem ser monitoradas A água potável é monitorada quanto ao nível de cloro contagem microbiológica e total de sólidos dissolvidos amônia e ouros íons Os sistemas de água purificada e água para injeção são mais constantemente monitorados Os parâmetros são contagem de microrganismos e condutividade além de TOC total organic carbon e pirogênio no caso de API água para injeção O nível alto TOC pode significar contaminação da água por material em decomposição solventes tensoativos ou outras fontes de carbono MIRA 2015 Normalmente são coletadas amostras dos pontos de uso e outros pontos representativos como no retorno do anel antes da bomba de recirculação e após a lâmpada ultravioleta A tendência da maioria dos sistemas de água é ser cada vez mais automatizado Para água potável o sistema mais frequentemente automatizado é o doseamento e a correção de cloro Para água purificada temos o doseamento de metabissulfito no prétratamento e depois de purificada temos condutividade TOC funcionamento da bomba e nível do tanque de armazenamento Para API acrescentase o controle de temperatura 72 Unidade I Resumo Nesta unidade estudamos conceitos e terminologias de uso diário na rotina do farmacêutico especialmente aqueles vinculados à produção de medicamentos Assim foram diferenciados os componentes principais do medicamento insumos ativos fármacos princípios ativos drogas dos insumos inertes adjuvantes excipientes veículos Distinguimos forma farmacêutica de fórmula farmacêutica a primeira referindose ao estado físico do medicamento enquanto a segunda fornece a composição quantitativa desse produto No que diz respeito à maneira pela qual são preparados os medicamentos verificamos a existência de três tipos de produtos farmacêuticos Magistrais e oficinais ambos preparados em farmácia de manipulação Já as especialidades farmacêuticas são os medicamentos registrados pela Anvisa e produzidos em indústrias farmacêuticas Quanto ao tipo de ação os medicamentos foram divididos em alopáticos possuem efeito contrário à manifestação da doença ou homeopáticos possuem efeito semelhante à manifestação da doença além dos fitoterápicos cujos insumos ativos são drogas de origem vegetal Pela legislação em vigor vimos que os medicamentos podem ser registrados como novos inovadores de referência genéricos e similares Entendemos a importância dos cálculos farmacêuticos para a correta produção e mesmo análise dos medicamentos Destacandose os cálculos de conversão de unidades de massa e volume porcentagem e aqueles que expressam concentrações além das diluições Vislumbramos as boas práticas as quais englobam um conjunto de normas legais e éticas que direcionam o trabalho do farmacêutico na produção de medicamentos sendo que neste livrotexto demos ênfase às BPMF A garantia da qualidade é o setor que conduz todos os outros departamentos no correto cumprimento das boas práticas sendo de sua responsabilidade manual da qualidade documentação legal POPs programas de treinamento especificações de materiais qualificação de fabricantesfornecedores registros de manipulação análises de controle de qualidade reclamações registros complementares plano de gerenciamento de resíduos Além disso também investiga desvios de qualidade e realiza auditorias internas As boas práticas exigem ainda que o estabelecimento apresente infraestrutura equipamentos materiais e utensílios com características mínimas adequadas além de condutas apropriadas aos seus colaboradores Finalmente estudamos a água matériaprima vital em toda produção de medicamentos Foi possível aprender que a água deve apresentar grau de 73 FARMACOTÉCNICA pureza adequado ao objetivo a que se propõe ou seja quanto maior a exigência da produção mais pura deve ser Vimos os possíveis contaminantes e metodologias para a remoção deles e como essas técnicas podem ser associadas para obtenção dos diferentes tipos de água Exercícios Questão 1 Observe a fórmula de suspensão de hidróxido de alumínio a seguir extraída e modificada do Formulário nacional da farmacopeia brasileira 2 ed 2012 Hidróxido de alumínio 6 pv Sacarina sódica 0010 pv Benzoato de sódio 0525 pv Carmelose sódica alta viscosidade 1 pv Glicerol 25 vv Aromatizante qs Água purificada qsp 100 mL Disponível em httpsbitly3hYEnjc Acesso em 26 maio 2021 Considere que um médico tenha prescrito a fórmula anterior solicitando ao farmacêutico a preparação de 600 mL do produto e avalie as afirmativas I Para atender à solicitação do prescritor o farmacêutico deveria pesar 36 g de hidróxido de alumínio II Para atender corretamente à solicitação do prescritor o farmacêutico pesaria 60 mg de sacarina sódica III O volume de glicerol necessário para atender à solicitação do prescritor é 15 mL É correto o que se afirma em A I apenas B II apenas C III apenas D I e III apenas E I II e III Resposta correta alternativa E 74 Unidade I Análise das afirmativas I Afirmativa correta Justificativa sabemos que 6 pv 6 g em 100 mL A massa de hidróxido de alumínio em gramas necessária para preparar 60 mL do produto é obtida a partir do seguinte cálculo 6 g 100 mL X 60 mL X 6 60100 36 g II Afirmativa correta Justificativa sabemos que 0010 pv 0010 g em 100 mL A massa de sacarina sódica em gramas necessária para preparar 60 mL do produto é obtida a partir do seguinte cálculo 0010 g 100 mL X 60 mL X 0010 60100 0006 g Porém observemos que na afirmativa a massa está expressa em mg e não em g Assim devemos efetuar a transformação de unidades sabendo que 1 g corresponde a 1000 mg 1 g 1000 mg 0006 g X X 0006 10001 6 mg III Afirmativa correta Justificativa sabemos que 25 vv 25 mL em 100 mL O volume de sacarina sódica necessário para preparar 60 mL do produto é obtido a partir do seguinte cálculo 25 mL 100 mL X 60 mL X 25 60100 15 mL 75 FARMACOTÉCNICA Questão 2 A RDC n 67 de 8 de outubro de 2007 dispõe sobre Boas Práticas de Manipulação de Preparações Magistrais e Oficinais para Uso Humano em Farmácias Considerando o que está previsto nessa RDC avalie as afirmativas I Boas práticas de manipulação em farmácias BPMF é um termo que se refere ao conjunto de ações e serviços relacionados com o medicamento destinados a apoiar as ações de saúde demandadas por uma comunidade Isso envolve o abastecimento de medicamentos em todas e em cada uma de suas etapas constitutivas a conservação e o controle de qualidade a segurança e a eficácia terapêutica dos medicamentos o acompanhamento e a avaliação da utilização a obtenção e a difusão de informação sobre medicamentos a educação permanente dos profissionais de saúde do paciente e da comunidade para assegurar o uso racional de medicamentos II A atenção farmacêutica é a interação direta do farmacêutico com o usuário visando à farmacoterapia racional e à obtenção de resultados definidos e mensuráveis para a melhoria da qualidade de vida Essa interação também deve envolver as concepções dos seus sujeitos respeitadas as suas especificidades biopsicossociais sob a ótica da integralidade das ações de saúde III Em relação à concentração à viabilidade e à compatibilidade físicoquímica e farmacológica dos componentes da dose e da via de administração a avaliação farmacêutica das prescrições deve ser feita depois que o medicamento for manipulado É correto o que se afirma apenas em A I B II C III D I e II E II e III Resposta correta alternativa B Análise das afirmativas I Afirmativa incorreta Justificativa a definição constante dessa afirmativa é de assistência farmacêutica Conforme previsto no item 4 definições dessa RDC temos o que segue Boas práticas de manipulação em farmácias BPMF conjunto de medidas que visam a assegurar que os produtos manipulados sejam consistentemente manipulados e controlados com padrões de qualidade apropriados para o uso pretendido e requerido na prescrição 76 Unidade I II Afirmativa correta Justificativa conforme previsto no item 4 dessa RDC temos o que segue Atenção farmacêutica é um modelo de prática farmacêutica desenvolvida no contexto da assistência farmacêutica Compreende atitudes valores éticos comportamentos habilidades compromissos e corresponsabilidades na prevenção de doenças promoção e recuperação da saúde de forma integrada à equipe de saúde É a interação direta do farmacêutico com o usuário visando a uma farmacoterapia racional e à obtenção de resultados definidos e mensuráveis voltados para a melhoria da qualidade de vida Essa interação também deve envolver as concepções dos seus sujeitos respeitadas as suas especificidades biopsicossociais sob a ótica da integralidade das ações de saúde III Afirmativa incorreta Justificativa a avaliação da prescrição deve ocorrer antes da manipulação não depois dela Essa exigência está prevista no item 51811 da RDC em foco como segue A avaliação farmacêutica das prescrições quanto à concentração viabilidade e compatibilidade físicoquímica e farmacológica de componentes dose e via de administração deve ser feita antes do início da manipulação
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Autoras Profa Cristina Maria Franzini Profa Luana Cardoso de Oliveira Profa Marina de Freitas Silva Profa Michele Georges Issa Colaboradores Prof Juliano Rodrigo Guerreiro Profa Eliane Maria de Almeida Orsine Farmacotécnica Professoras conteudistas Cristina Maria Franzini Luana Cardoso de Oliveira Marina de Freitas Silva Michele Georges Issa Todos os direitos reservados Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma eou quaisquer meios eletrônico incluindo fotocópia e gravação ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP F837f Franzini Cristina Maria Farmacotécnica Cristina Maria Franzini Luana Cardoso de Oliveira Marina de Freitas Silva Michele Georges Issa São Paulo Editora Sol 2021 148 p il Nota este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP Série Didática ISSN 15179230 1 Medicamento 2 Estabilidade 3 Forma I Franzini Cristina Maria II Oliveira Luana Cardoso de III Silva Marina de Freitas IV Issa Michele Georges V Título CDU 615014 U51286 21 Cristina Maria Franzini Possui graduação em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Ciências Biológicas de Araras 1994 especialização em farmácia Hospitalar pelo Hospital das Clinicas da faculdade de medicina de Ribeirão Preto USP 1995 habilitação em farmácia industrial pela Universidade de Ribeirão Preto Unaerp 1996 mestrado em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho 2006 e doutorado em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho 2010 na área de tecnologia farmacêutica com ênfase em farmacotecnia e desenvolvimento farmacotécnico Também tem especialização em Farmácia Estética pela Uniararas FHO 2018 Docente da Universidade Paulista desde 2013 Luana Cardoso de Oliveira É farmacêuticabioquímica com graduação pela Universidade Estadual Paulista Unesp 1999 mestre em Ciências Farmacêuticas pela Unesp 2006 especialista em manipulação magistral alopática pela Anfarmag e especialista em gestão da assistência farmacêutica pela UFSC Atualmente é docente na UNIP e farmacêutica atuante na atenção básica da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo Apresenta experiência na área de produção e controle de qualidade de medicamentos e cosméticos e assistência farmacêutica Marina de Freitas Silva Farmacêuticabioquímica com graduação pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto FCFRPUSP 2005 é mestre 2009 e doutora 2014 em Ciências pelo programa de Fármaco e Medicamentos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas FCFUSP com ênfase em Biofarmácia e Farmacotécnica Atualmente é docente do curso de graduação em Farmácia e pósgraduação em Farmácia Clínica na UNIP Também é docente do programa de pósgraduação do Instituto Racine Possui experiência em estudos de bioequivalência biofarmacotécnica correlação in vitro in vivo CIVIV modelagem farmacocinética in silico desenvolvimento de formulações e desenvolvimento analítico É docente na Universidade Paulista Michele Georges Issa É farmacêutica 2007 mestre 2011 e doutora 2016 pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo FCFUSP com estágio na University of East Anglia Reino Unido Foi analista de desenvolvimento na Libbs Farmacêutica e atualmente é pósdoutoranda na FCFUSP trabalhando em projetos de pesquisa no Laboratório de Desenvolvimento e Inovação Farmacotécnica Deinfar Desde 2010 atua como professora na Universidade Paulista e desde 2020 como professora colaboradora na FCFUSP Possui experiência em desenvolvimento de formulações préformulação dissolução e delineamento experimental Prof Dr João Carlos Di Genio Reitor Profa Dra Marilia Ancona Lopez ViceReitora de Graduação ViceReitora de PósGraduação e Pesquisa Prof Fábio Romeu de Carvalho ViceReitor de Planejamento Administração e Finanças Profa Melânia Dalla Torre ViceReitora de Unidades Universitárias Unip Interativa Profa Dra Cláudia Andreatini Profa Elisabete Brihy Prof Marcelo Vannini Prof Dr Luiz Felipe Scabar Prof Ivan Daliberto Frugoli Material Didático Comissão editorial Profa Dra Christiane Mazur Doi Profa Dra Angélica L Carlini Profa Dra Ronilda Ribeiro Apoio Profa Cláudia Regina Baptista Profa Deise Alcantara Carreiro Projeto gráfico Prof Alexandre Ponzetto Revisão Vera Saad Jaci Albuquerque Sumário Farmacotécnica APRESENTAÇÃO 9 INTRODUÇÃO 10 Unidade I 1 CONCEITUAÇÃO E TERMINOLOGIA 13 11 Componentes do medicamento 13 111 Insumos ativos 13 112 Insumos inertes 14 113 Materiais de embalagem 15 12 Forma farmacêutica e fórmula farmacêutica17 121 Fórmula farmacêutica 17 122 Forma farmacêutica 17 13 Classificação dos medicamentos quanto à forma de preparação 18 131 Medicamento oficinal 18 132 Medicamento magistral 19 133 Especialidade farmacêutica 21 14 Classificação dos medicamentos quanto ao método terapêutico 21 141 Medicamentos alopáticos 22 142 Medicamentos homeopáticos 22 143 Medicamentos fitoterápicos 23 15 Classificação dos medicamentos quanto ao tipo de registro 24 151 Medicamento novo 24 152 Medicamento inovador 24 153 Medicamento de referência 24 154 Medicamento genérico 24 155 Medicamento similar 27 16 Abreviaturas siglas e códigos 29 161 Rx 29 162 FSA29 163 qs 29 164 qsp 29 165 ãã 30 166 ãã qsp 30 167 UI 30 168 Ext e Int 30 169 Abreviações para vias de administração 30 2 CÁLCULOS EM FARMACOTÉCNICA 31 21 Unidades de medida 31 22 Cálculos de porcentagem32 221 Peso por volume pv 32 222 Peso por peso pp 32 223 Volume por volume vv 32 23 Cálculos de concentração 33 231 Molaridade M 34 24 Densidade 35 25 Cálculos de diluição37 251 Diluições seriadas39 252 Diluições geométrica de sólidos 40 3 BOAS PRÁTICAS DE MANIPULAÇÃO EM FARMÁCIA 43 31 Estrutura do sistema de garantia da qualidade 44 311 Manual da qualidade44 312 Documentação legal 44 313 Procedimentos operacionais padrão POP 45 314 Programa de treinamento de funcionários 46 315 Especificações de materiais 46 316 Qualificação de fornecedoresfabricantes 48 317 Registros de análises de controle de qualidade 48 318 Registros de manipulação 50 319 Registros complementares 51 3110 Registros de reclamações 51 3111 Plano de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde 51 3112 Auditorias internas 52 3113 Investigação de desvios de qualidade 53 32 Infraestrutura 54 33 Equipamentos matérias e utensílios 55 34 Recursos Humanoscondutas 56 4 MÉTODOS DE TRATAMENTO DE ÁGUA 57 41 Contaminantes da água 59 411 Microrganismos e pirogênios 59 412 Materiais orgânicos presença de carbono 59 413 Partículas 59 414 Coloides 59 415 Íons 59 42 Água potável 60 43 Água purificada 62 44 Água ultrapurificada 63 45 Água para injeção 63 46 Sistemas de purificação da água 63 461 Níveis de passagem de compostos 64 462 Filtração 64 463 Microfiltração 64 464 Ultrafiltração 65 465 Nanofiltração 65 466 Destilação 66 467 Deionização 67 468 Eletrodeionização 67 469 Adsorção 68 4610 Carvão ativado68 4611 Oxidação ultravioleta 68 4612 Osmose reversa 69 47 Especificações de pureza 70 48 Monitoramento 71 Unidade II 5 ESTABILIDADE E CONSERVAÇÃO DE MEDICAMENTOS CONCEITOS REGULAMENTAÇÃO TIPOS DE ESTABILIDADE FATORES QUE INFLUENCIAM E REAÇÕES DE DEGRADAÇÃO 77 51 Regulamentação técnica da estabilidade77 52 Tipos de estabilidade 78 521 Estabilidade física 79 522 Estabilidade química 80 523 Estabilidade microbiológica 81 524 Estabilidade terapêutica 82 525 Estabilidade toxicológica 83 53 Fatores extrínsecos 83 54 Reações de degradação 84 541 Hidrólise 85 542 Oxidação 87 543 Fotólise 89 544 Isomerização 89 545 Polimerização 90 6 ESTABILIDADE E CONSERVAÇÃO DE MEDICAMENTOS ESTRATÉGIAS PARA ESTABILIZAÇÃO E DETERMINAÇÃO DO PRAZO DE VALIDADE 91 61 Estratégias farmacotécnicas para a estabilização de produtos farmacêuticos 91 611 Estabilização de preparações sujeitas à hidrólise 92 612 Estabilização de preparações sujeitas à oxidação 95 613 Estabilização de preparações sujeitas à fotólise 96 614 Estabilização de preparações sujeitas à deterioração microbiana 96 62 Determinação do prazo de validade de produtos farmacêuticos 97 621 Estudo de estabilidade acelerado 98 622 Estudo de estabilidade de longa duração 99 623 Estudo de estabilidade de acompanhamento 100 624 Condução e frequência dos estudos de estabilidade 100 625 Estudo de fotoestabilidade 101 626 Limites de produtos de degradação 101 627 Determinação do prazo de validade de especialidades farmacêuticas 102 7 FORMAS FARMACÊUTICAS LÍQUIDAS SOLUÇÕES 103 71 Conceitos 103 72 Aspectos físicoquímicos e farmacotécnicos104 721 Solubilidade 105 722 Preparo de soluções 105 723 Adjuvantes empregados para o preparo de soluções 106 724 Dispositivos de medição para a administração de soluções 110 725 Estabilidade das soluções 111 73 Fatores que influenciam na dissolução de substâncias 111 731 Escolha de solventes 111 732 Cossolvente 114 733 Tamanho de partícula 114 734 Temperatura 114 735 Agitação 115 736 pH 115 737 Formação de sais 117 738 Tensoativos 117 739 Estrutura molecular do soluto 118 7310 Polimorfismo 118 7311 Solvatação 119 7312 Formação de complexos 119 8 CONCEITOS E PRINCIPAIS ASPECTOS DE SOLUÇÕES OTOLÓGICAS ENXAGUATÓRIOS COLUTÓRIOS DUCHAS ENEMAS COLÍRIOS ERRINOS DOMISSANITÁRIOS SOLUÇÕES EXTRATIVAS 120 81 Soluções otológicas 121 82 Enxaguatórios 121 83 Colutórios 121 84 Duchas 122 85 Enema 122 86 Colírios 122 87 Errinos 123 88 Domissanitários 123 89 Soluções extrativas 124 810 Exemplos de formulações de solução 125 811 Cálculo de isotonia 126 9 APRESENTAÇÃO Prezado aluno Apresentaremos a você o universo da farmacotécnica a ciência relacionada à produção de medicamentos e todas as suas ramificações Conforme o conhecimento e a tecnologia avançam mais insumos farmacêuticos estão disponíveis mais técnicas de obtenção e liberação de fármacos e consequentemente muitas opções terapêuticas chegam ao mercado para atender as mais diversas condições de saúde Desse modo ao longo de seus estudos você entrará em contato com os diferentes tipos de matériasprimas utilizadas no desenvolvimento de formulações os medicamentos que podem ser obtidos conforme as associações feitas e técnicas de produção Neste livrotexto buscouse inserir os conceitos básicos para habilitar o futuro farmacêutico não apenas na produção de medicamentos em indústrias e farmácias de manipulação mas na análise e interpretação de composições medicamentosas prescrições além de aspectos relacionados à dispensação e administração dessas preparações A competência da disciplina Farmacotécnica visa habilitar o aluno para que saiba definir a forma farmacêutica a ser produzida Por exemplo se será líquida sólida ou semissólida e ainda dentro dessa escolha selecionar o tipo se entre os possíveis medicamentos sólidos por exemplo será cápsula comprimido granulado ou pó Quais insumos inertes devem ser associados às substâncias ativas e como calcular as quantidades corretas para cada um a melhor técnica para viabilizar a produção do medicamento em questão e a escolha do material de embalagem A manutenção da estabilidade durante o prazo de validade é um tópico transversal à escolha da forma farmacêutica matériasprimas material de embalagem e técnica de produção pois garantirá qualidade e eficácia do produto e segurança do paciente Além disso outro tema que transpassa essa ciência e que se objetiva incutir no profissional em formação relacionase às condutas adotadas por todos os envolvidos para assegurar qualidade e eficácia do medicamento e segurança para o paciente e colaboradores condutas essas conhecidas como boas práticas Ao avançar nos capítulos estudados você perceberá que a farmacotécnica está relacionada a outras disciplinas como química físicoquímica fisiologia e farmacologia Apesar de esta disciplina e de outras relacionadas a ela capacitaremno para a produção industrial e magistral elas também são muito úteis em outras áreas de atuação como na dispensação e atenção farmacêutica nos níveis primário secundário e terciário de atenção à saúde Complemente seus estudos acessando os links apontados no recurso Saiba Mais pois é uma maneira de refletir e aperfeiçoar o entendimento das informações Esperamos que você se encante com esta área que além de fascinante é privativa da profissão farmacêutica Bons estudos 10 INTRODUÇÃO Segundo Nogueira Prista e colegas Ao tratar dos procedimentos de preparo de medicamentos uma das grandes referências na área afirma que as matériasprimas utilizadas no preparo de muitos medicamentos obtidas natural ou sinteticamente raramente podem ser utilizadas como se apresentam sendo necessário submetêlas quase sempre a um certo número de procedimentos farmacotécnicos destinados a transformálas em forma farmacêutica terapeuticamente ativa ou fármaco ativo Estas formas farmacêuticas que apresentam o produto final sob o qual as substâncias ativas são aplicadas aos doentes têm por objetivo não só facilitar a administração como assegurar sua eficiência terapêutica e boa conservação PRISTA 2008 Quando se deseja veicular no organismo uma ou mais substâncias ativas seja para prevenir seja para tratar seja para curar é preciso transformar essas substâncias em um medicamento isto é associálas a outras substâncias sem efeito terapêutico de modo a facilitar a produção proporcionar estabilidade ao produto final favorecer a administração e a liberação in vivo Desse modo tornase necessário considerar quais são as possíveis moléculas com atividade terapêutica aquelas consideradas inertes e os possíveis medicamentos que podem ser obtidos São esses aspectos que o primeiro capítulo deste livrotexto abordará a terminologia comumente utilizada na área de farmacotécnica ou seja de delineamento de medicamentos É comum que fórmulas sejam expressas em porcentagem e que esses valores tenham que ser convertidos em unidades de massa ou volume para correta pesagem ou medição dos componentes Muitas vezes as dosagens de fármacos são expressas em unidades de concentração o que também pode requerer conversões Por isso um capítulo foi incluído para tratar dos cálculos básicos envolvidos em qualquer área de produção e até mesmo correta dispensação e administração de medicamentos A água é matériaprima tão relevante na composição de medicamentos análises limpeza de equipamentos e instrumentos que ganhou aqui um capítulo exclusivo para tratar dos seus possíveis contaminantes tipos de sistemas de tratamento para eliminação deles e diferentes graus de pureza obtidos Como garantir que todas as vezes que um medicamento seja preparado apresente estabilidade qualidade segurança e eficácia Que todos os colaboradores envolvidos executem as atividades de modo a alcançar esses objetivos O capítulo de boas práticas de manipulação em farmácia tem por finalidade apresentar ao aluno as normas e os princípios éticos que regem a rotina das farmácias de manipulação e possibilitam atingir esses preceitos imprescindíveis aos medicamentos 11 Já na segunda unidade do livro dois capítulos foram dedicados aos estudos sobre estabilidade de medicamentos condição primordial para garantir a segurança e eficácia Primeiro tratamos da regulamentação técnica dos tipos de estabilidade fatores que podem afetála e reações de degradação Posteriormente foram abordadas as estratégias disponíveis para garantir a estabilização dos produtos farmacêuticos bem como a determinação do prazo de validade Depois de percorrer esse caminho que introduz o estudante à concepção e à produção de medicamentos chegamos à primeira forma farmacêutica a ser estudada de modo mais detalhado a forma líquida mais especificamente as soluções Os dois últimos capítulos da unidade 2 trazem os aspectos físicoquímicos e farmacotécnicos relevantes a essas preparações fatores que afetam a dissolução algumas soluções diferenciadas e como é possível obter produtos isotônicos Desejamos a todos sucesso em seus estudos e esperamos sinceramente que este livrotexto os auxilie a compreender o que é e a importância da farmacotécnica para a profissão farmacêutica 13 FARMACOTÉCNICA Unidade I 1 CONCEITUAÇÃO E TERMINOLOGIA A farmacotécnica referese à arte de elaborar formulações medicamentosas para tratar as diferentes necessidades de saúde da população adequadas às diversas vias de administração além de estabelecer a melhor técnica de preparo material de embalagem condições de armazenamento e utilização A seguir destacamse alguns termos e conceitos relacionados à farmacotécnica que são importantes para melhor compreensão desse saber 11 Componentes do medicamento Medicamento é o produto farmacêutico tecnicamente obtido ou elaborado com finalidade profilática curativa paliativa ou para fins de diagnóstico BRASIL 1973 Todo medicamento é constituído por matériasprimas ou insumos ou seja substâncias com especificações definidas Os insumos farmacêuticos podem ser divididos conforme descrevemos a seguir 111 Insumos ativos Insumos farmacêuticos ativos IFAs são substâncias que apresentam propriedades farmacológicas ou seja desempenham efeito terapêutico ANVISA 2018a Podem ser designados pelos termos fármaco droga ou princípio ativo Essas matériasprimas podem ser sintéticas semissintéticas ou naturais de origem animal vegetal ou marinha O quadro a seguir ilustra alguns exemplos de insumos ativos Quadro 1 Exemplos de insumos farmacêuticos ativos de acordo com sua origem e respectivas fontes de obtenção Insumo ativo Origem Exemplos Fonte de obtenção Natural Vegetal Digoxina Folhas de Digitalis dedaleira Isoflavonas Sementes de Glycine max L soja Animal Heparina Intestino de bovinos e suínos Estrógenos conjugados Urina de equinos Marinha Carbonato de cálcio Conchas de ostras Zidovudina AZT Molécula inspirada em nucleosídeos de algas marinhas Microrganismos Penicilina Fungos do gênero Penicillium Anfotericina B Actinomiceto Streptomyces nodosus 14 Unidade I Insumo ativo Origem Exemplos Fonte de obtenção Sintético Síntese química Ácido acetilsalicílico imipramina indometacina Semissintético Síntese química a partir de uma molécula de origem natural Sinvastatina Derivada da lovastatina substância isolada de Aspergillus terreus Amoxicilina Derivado da penicilina isolada de Penicillium Observação O termo remédio é muitas vezes utilizado como sinônimo de medicamento mas possui um sentido amplo referindose a todos os meios utilizados com a finalidade de prevenir ou curar doenças 112 Insumos inertes Insumos inertes são substâncias complementares de natureza definida desprovidas de propriedades farmacológicas ou terapêuticas nas concentrações utilizadas CFF 2007 Adicionados à composição do medicamento para dar formapeso facilitar a administração proporcionar estabilidade favorecer o processo produtivo tornálos mais atraentes e palatáveis entre outros A seleção adequada dessas substâncias resulta em diversas formas farmacêuticas Desse modo os insumos inertes desempenham um papel de grande destaque na formulação de medicamentos já que garantem a obtenção da forma de administração adequada para se alcançar o efeito terapêutico desejado Os insumos inertes ou adjuvantes farmacêuticos podem ser designados por excipientes quando se tratar de substâncias sólidas amido lactose por exemplo veículos em caso de substâncias líquidas água álcool etílico por exemplo O quadro a seguir fornece exemplos de alguns tipos de adjuvantes 15 FARMACOTÉCNICA Quadro 2 Diferentes tipos de adjuvantes farmacêuticos empregados em medicamentos e respectivos exemplos Função do adjuvante Exemplo Conservantes antimicrobianos Metilparabeno propilparabeno Corretivos de pH Ácido cítrico hidróxido de sódio Emulsificantes Polisorbato docusato sódico Espessantes Carboximetilcelulose carbômero Antioxidantes Sulfitos vitamina E Lubrificantes Estearato de magnésio talco Edulcorantes Sacarina ciclamato Solubilizantes Glicerina propilenoglicol Corantes Amarelo crepúsculo vermelho carmim Aromatizantesflavorizantes Acetato de benzila sabor de cereja acetato de isoamila aroma de banana Apesar das funções específicas dos adjuvantes farmacêuticos como auxiliares da formulação e de não terem por objetivo desempenhar resposta biológica quando de sua administração a literatura cita inúmeros exemplos de substâncias que provocam reações adversas em alguns indivíduos Por isso ao se elaborar uma formulação é preciso considerar a populaçãoalvo e como esses insumos poderiam afetar o desfecho terapêutico esperado No quadro a seguir podemos visualizar alguns insumos que eventualmente desencadeiam reações adversas Quadro 3 Reações adversas causadas por adjuvantes farmacêuticos Insumo Reações adversas Sorbitol e lactose Podem ocasionar transtornos gastrintestinais Corantes Alguns corantes são responsáveis por reações de hipersensibilidade Parabenos ácido benzoico e seus sais Podem desencadear urticária e angioedema Adaptado de Balbani Stelzer e Montovani 2006 Silva et al 2008 Tonazio et al 2011 113 Materiais de embalagem Materiais de embalagem são utilizados para acondicionar medicamentos e têm como função proporcionar estabilidade facilitar o transporte e administração e também são considerados insumos farmacêuticos Podem ser designados por embalagem primária quando mantiverem contato direto com o medicamento ou por embalagem secundária quando estiverem em contato com a embalagem primária ou envoltório intermediário podendo conter uma ou mais embalagens primárias Ampola frascoampola blíster frasco pote são exemplos de embalagens primárias figura 1 enquanto que o cartucho embalagem comercial no formato de caixa pequena é um exemplo comum de embalagem secundária figura 2 16 Unidade I A B C D E F Figura 1 Exemplos de embalagens primárias a blíster b frasco c frasco ampola d potes e sachês f ampolas Figura 2 Exemplo de embalagem secundária contendo um blíster em seu interior Disponível em httpsbitly3yfeqk7 Acesso em 24 ago 2021 Lembrete Produto a granel é qualquer produto que tenha passado por todas as etapas de produção sem incluir o processo de embalagem 17 FARMACOTÉCNICA A B C D E F Figura 1 Exemplos de embalagens primárias a blíster b frasco c frasco ampola d potes e sachês f ampolas Figura 2 Exemplo de embalagem secundária contendo um blíster em seu interior Disponível em httpsbitly3yfeqk7 Acesso em 24 ago 2021 Lembrete Produto a granel é qualquer produto que tenha passado por todas as etapas de produção sem incluir o processo de embalagem Observação Os produtos estéreis em sua embalagem primária são considerados produto a granel 12 Forma farmacêutica e fórmula farmacêutica Uma distinção importante a ser feita é a diferença entre fórmula farmacêutica e forma farmacêutica Apesar de os termos serem parecidos apresentam significados diferentes conforme demonstramos a seguir 121 Fórmula farmacêutica A fórmula farmacêutica relaciona todos os componentes do medicamento fármacos e adjuvantes e suas respectivas concentrações ou seja é a composição qualitativa e quantitativa do medicamento A preparação descrita a seguir é uma suspensão de hidróxido de alumínio e tratase de um exemplo de fórmula farmacêutica BRASIL 2012a Hidróxido de alumínio 6 g Sacarina sódica 10 mg Benzoato de sódio 0525 g Carmelose sódica alta viscosidade 1 g Glicerol 25 mL Aromatizante qs Água purificada qsp 100 mL Verificamos nesse exemplo a presença de fármaco hidróxido de alumínio e insumos inertes que viabilizam preparo estabilidade e adesão ao tratamento sacarina sódica benzoato de sódio carmelose sódica glicerol aromatizante e água purificada Além disso cada ingrediente está descrito com a concentração a ser utilizada para que se atinja o objetivo de obtenção de medicamento que proporcione qualidade segurança e eficácia 122 Forma farmacêutica A forma farmacêutica referese ao estado final de apresentação que os princípios ativos farmacêuticos possuem após uma ou mais operações farmacêuticas executadas com a adição de excipientes apropriados ou sem a adição de excipientes a fim de facilitar a sua utilização e obter o efeito terapêutico desejado com características apropriadas a uma determinada via de administração Uma maneira de classificar as formas farmacêuticas é quanto ao estado físico Assim poderíamos classificar as formas farmacêuticas em líquidas sólidas semissólidas e gasosas sendo que estas por sua vez ainda apresentam diferentes tipos com características diversas conforme descrito no quadro a seguir 18 Unidade I Quadro 4 Principais tipos de formas farmacêuticas e suas descrições Forma farmacêutica Tipos Descrição Líquida Solução Preparação homogênea em que um ou mais fármacos estão totalmente dissolvidos em um solvente ou mistura de solventes Suspensão As partículas de fármaco são insolúveis no veículo constituindo um sistema heterogêneo Emulsão Consiste em um sistema em que um líquido imiscível está disperso na forma de gotículas fase interna ou dispersa em outro líquido fase externa ou contínua Tratase de uma dispersão coloidal a qual é estabilizada através de agentes emulsificantes Semissólida Pomada Constituída por uma solução ou dispersão de um ou mais fármacos em uma mistura de excipientes com viscosidade apropriada para aplicação na pele ou membranas mucosas Creme É uma emulsão semissólida portanto os fármacos estáão dissolvidos ou dispersos em uma dispersão coloidal constituída geralmente por fase aquosa e fase oleosa estabilizada por agentes emulsificantes Gel É uma dispersão coloidal obtida através de um agente gelificante o qual proporciona viscosidade a um ou mais solventes Sólida Supositório Contém uma dose única de um ou mais fármacos dissolvidos ou dispersos em uma base adequada cujo tamanho e formato é definido por um molde Sua administração é retal vaginal ou uretral Óvulos Forma farmacêutica de dose única de um ou mais fármacos dissolvidos ou dispersos em uma base adequada com formato ovoide para aplicação no orifício vaginal Pó Constituída de partículas de tamanho reduzido de fármacos com ou sem excipientes Granulado Tratase de aglomerados de partículas sólidas de volumes uniformes resistentes ao manuseio Cápsula Constituída por um invólucro solúvel duro ou mole geralmente de gelatina de formatos e tamanhos variados Contém no seu interior fármacos apenas ou associados a excipientes Comprimido Obtido pela compressão de volumes uniformes de pós ou granulados Contém uma dose única de um ou mais fármacos geralmente associados a excipientes Gasosa Gás Preparação gasosa utilizada com fins medicinais Adaptado de Anvisa 2011b 13 Classificação dos medicamentos quanto à forma de preparação Dependendo do local e da forma de preparo os medicamentos podem ser classificados em três tipos conforme veremos a seguir 131 Medicamento oficinal Medicamento oficinal é aquele preparado em farmácia habilitada cuja fórmula esteja inscrita no Formulário Nacional ou em formulários internacionais reconhecidos pela Anvisa CFF 2007 19 FARMACOTÉCNICA A fórmula descrita a seguir sais para reidratação oral está presente no Formulário nacional da farmacopeia brasileira ANVISA 2012 Uma vez que a farmácia manipule sais para reidratação oral de acordo com essa fórmula descrita em um compêndio oficial Formulário nacional da farmacopeia brasileira o produto receberá a designação de medicamento oficinal Cloreto de sódio26 g Cloreto de potássio 15 g Citrato de sódio 29 g Glicose 135 g 132 Medicamento magistral Medicamento magistral é aquele produzido em uma farmácia com base em uma prescrição de profissional habilitado destinada a um paciente individualizado que pormenoriza composição forma farmacêutica e posologia A figura a seguir fornece um exemplo de prescrição para preparação de um medicamento magistral Figura 3 Exemplo de prescrição para obtenção de medicamento através de preparo magistral 20 Unidade I Podemos observar nesse exemplo que o receituário possui informações claras a respeito do estabelecimento nome endereço telefone CNPJ prescritor vinculado ao estabelecimento nome número de registro no respectivo conselho profissional paciente nome idade peso altura endereço uso externo ou interno prescrição a ser manipulada Lácido ascórbico 15 ácido salicílico 3 gel não iônico qsp 30 g posologia indica dose a ser administrada intervalo de administrações e tempo de tratamento Na prescrição em questão aplicar uma fina camada na face todas as noites por 60 dias local e data Desse modo temos informações necessárias e objetivas para o paciente entender seu tratamento o farmacêutico realizar a produção do medicamento e dispensálo corretamente além de dados que possibilitam contatar o prescritor caso seja necessário Vale ressaltar que as prescrições de medicamentos estão sujeitas a legislações específicas e códigos de ética de classe os quais devem ser respeitados para se garantir em última instância a saúde da população Saiba mais Para mais informações sobre a prescrição de medicamentos consulte algumas legislações relacionadas DAMMENHAIN R A Manual prático para prescrição de medicamentos de acordo com a legislação sanitária brasileira São Paulo Inbravisa 2010 Disponível em httpsbitly3oyeub8 Acesso em 20 maio 2021 BRASIL Presidência da República Casa Civil Lei Federal n 5991 de 17 de dezembro de 1973 Dispõe sobre o controle sanitário do comércio de drogas medicamentos insumos farmacêuticos e correlatos e dá outras providências Brasília 1973 Disponível em httpsbitly3ypwwkC Acesso em 20 maio 2021 21 FARMACOTÉCNICA BRASIL Presidência da República Casa Civil Decreto n 3181 de 23 de setembro de 1999 Regulamenta a Lei n 9787 de 10 de fevereiro de 1999 que dispõe sobre a Vigilância Sanitária estabelece o medicamento genérico dispõe sobre a utilização de nomes genéricos em produtos farmacêuticos e dá outras providências Brasília 1999 Disponível em httpsbitly3wkSAuH Acesso em 20 maio 2021 BRASIL Ministério da Saúde Agência Nacional de Vigilância Sanitária ResoluçãoRDC n 44 de 17 de agosto de 2009 Dispõe sobre Boas Práticas Farmacêuticas para o controle sanitário do funcionamento da dispensação e da comercialização de produtos e da prestação de serviços farmacêuticos em farmácias e drogarias e dá outras providências Brasília 2009 Disponível em httpsbitly3bGGYKy Acesso em 20 maio 2021 Observação Os termos farmácia magistral e farmácia galênica esse último em homenagem ao médico farmacêutico Claudius Galenus que viveu em Roma durante o século II são utilizados para designar farmácias de manipulação 133 Especialidade farmacêutica Medicamento produzido em indústrias farmacêuticas com registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária Anvisa e disponíveis no mercado BRASIL 2007 Desse modo cada vez que uma indústria farmacêutica elabora uma formulação desenvolve seu método de produção garante sua eficácia e segurança e finalmente a registra no órgão regulatório competente com nome comercial fantasia ou genérico temos uma nova especialidade farmacêutica Para se ter uma noção da dimensão desse mercado a Anvisa divulgou em seu portal que em 2017 foram comercializados no mercado brasileiro 6576 medicamentos os quais contemplam 1794 princípios ativos ou associações de princípios ativos distintos por 214 empresas diferentes o que movimentou aproximadamente 695 bilhões de reais ANVISA 2021a 14 Classificação dos medicamentos quanto ao método terapêutico De acordo com o método terapêutico aplicado a cada tratamento os medicamentos podem ser classificados em 22 Unidade I 141 Medicamentos alopáticos Medicamentos alopáticos são aqueles que atuam seguindo o método terapêutico da alopatia ou seja produzem no organismo reação contrária aos sintomas que ele apresenta do latim contraria contrariis curentur a fim de reduzilos ou eliminálos Por exemplo se o sintoma é dor utilizase um analgésico se o sintoma é inflamação um antiinflamatório e assim por diante Medicamentos alopáticos apresentam como principais desvantagens seus efeitos colaterais e toxicidade ANVISA 2010 A grande maioria dos medicamentos comercializados atualmente em drogarias brasileiras é alopática 142 Medicamentos homeopáticos Medicamentos homeopáticos são produzidos segundo os princípios da homeopatia utilizando compêndios homeopáticos reconhecidos internacionalmente Obtido pelo método de diluições seguidas de sucussões eou triturações sucessivas para ser usada segundo a lei dos semelhantes de forma preventiva eou terapêutica para uso externo ou interno A homeopatia criada por Samuel Hahnemann em 1796 é baseada no princípio vitalista e no uso da lei dos semelhantes similia similibus curentur Homeo de homeopatia significa semelhante e pathos doença A ciência homeopática possui como fundamentos ANVISA 2011a Lei da semelhança os medicamentos só podem curar doenças semelhantes àquelas que eles próprios podem produzir Princípio da experimentação no homem é caracterizado pela administração de uma substância em indivíduos sadios para ser utilizada em indivíduos doentes seguida pela observação e registro precisos e criteriosos de todos os sintomas advindos dessa experimentação Princípio do uso de doses mínimas ou infinitesimais Hahnemann introduziu os conceitos de diluição e dinamização visando à diminuição da toxicidade das substâncias diluição e a liberação da força medicamentosa latente das substâncias dinamização São realizadas diluições sucessivas e agitações de acordo com técnica específica para liberação da energia da substância de interesse Ao término do preparo o medicamento não conterá mais informação química apenas energética Princípio da totalidade sintomática cada pessoa reage de forma própria e individual às doenças A homeopatia não trata apenas a doença mas o doente como um todo A seguir está descrita uma fórmula de medicamento homeopático Verificase que os insumos ativos estão designados pelos nomes científicos DH e CH referemse às escalas de diluições decimal e centesimal respectivamente 23 FARMACOTÉCNICA Calcarea carb 3 DH trit 25 Calcarea phosph 3 DH trit 25 China officinalis 3 CH 25 Avena sativa 3 CH 25 Lactose qsp 500 mg Saiba mais O artigo a seguir de Corrêa e colaboradores 2006 aborda alguns aspectos históricos da medicina homeopática CORRÊA A D et al Similia Similibus Curentur revisitando aspectos históricos da homeopatia nove anos depois Hist cienc saúdeManguinhos v 13 n 1 janmar 2006 Disponível em httpsbitly2QyaV8m Acesso em 20 maio 2021 143 Medicamentos fitoterápicos Medicamentos fitoterápicos são aqueles cujos insumos farmacêuticos ativos são obtidos a partir de plantas medicinais ou de seus derivados e que apresentam finalidade profilática curativa ou paliativa Não se incluem nessa classificação medicamentos que apresentam substâncias ativas isoladas ou altamente purificadas mesmo que de origem vegetal nem as associações dessas com outros extratos sejam eles vegetais sejam eles de outras fontes como a animal ANVISA 2011a BRASIL 2014a Podem ser denominados simples quando o ativo é proveniente de uma única espécie vegetal medicinal ou composto quando o ativo é proveniente de mais de uma espécie vegetal Entre outras informações os medicamentos fitoterápicos devem dispor aos usuários nomenclatura popular nomenclatura botânica concentração do insumo farmacêutico ativo vegetal parte da planta utilizada A seguir verificase um exemplo de medicamento fitoterápico Extrato seco de Maytenus ilicifolia 380 mg Amido qsp 1 cápsula Equivalente a 133 mg de taninos totais Parte utilizada folhas Nomenclatura popular espinheira santa cancerosa cancorosadesete espinhos cancrosa espinheiradivina espinhodedeus maiteno ervacancrosa ervasanta 24 Unidade I 15 Classificação dos medicamentos quanto ao tipo de registro Os medicamentos também podem ser classificados de acordo com o tipo de registro na Anvisa 151 Medicamento novo Medicamento com insumo farmacêutico ativo ou seus novos sais isômeros ou mistura de isômeros ésteres éteres complexos ou demais derivados não registrados anteriormente no país 152 Medicamento inovador Medicamento com inovação incremental ou seja com desenvolvimento de melhorias em relação a um medicamento já registrado no país incluindo novos sais isômeros ou mistura de isômeros ésteres ou éteres As inovações em medicamentos são registradas como novas formas farmacêuticas novas concentrações novas associações de insumos farmacêuticos nova indicação terapêutica entre outros 153 Medicamento de referência Medicamento de referência é um produto inovador registrado na Anvisa e comercializado no país cuja eficácia segurança e qualidade foram comprovadas cientificamente junto à Anvisa por ocasião do registro BRASIL 1999 Os que fazem parte da lista de medicamentos de referência são utilizados como parâmetro de eficácia terapêutica segurança e qualidade para o registro de medicamentos similares e genéricos sendo que a Anvisa dispõe em legislação específica BRASIL 2012c seus critérios de indicação inclusão e exclusão na lista BRASIL 2012b O medicamento de referência deve ser registrado por um nome fantasia marca 154 Medicamento genérico De acordo com a Lei n 978799 medicamento genérico é aquele similar a um medicamento de referência ou inovador geralmente produzido após expiração ou renúncia de patente ou outros direitos de exclusividade com comprovação de sua eficácia segurança e qualidade as quais permitem que sejam intercambiáveis com o produto de referência BRASIL 1999 O medicamento genérico deve apresentar o mesmo fármaco que seu respectivo medicamento de referência mesma concentração e forma farmacêutica além de mesma via de administração podendo ou não conter excipientes idênticos Todo medicamento genérico deve ser designado pela DCB denominação comum brasileira ou na sua ausência pela DCI denominação comum internacional ou seja pelo nome genérico de seus 25 FARMACOTÉCNICA princípios ativos desse modo não apresentará nome de marcafantasia Em sua embalagem secundária logo abaixo de sua designação deve constar a inscrição medicamento genérico Lei n 978799 Além disso deve possuir tarja amarela com a letra G em maiúsculo e a frase medicamento genérico A figura a seguir ilustra como deve ser o cartucho de um medicamento genérico Figura 4 Representação de embalagem secundária de medicamento genérico Para que um medicamento possa ser registrado como genérico entre outras ações a empresa fabricanteprodutora deverá apresentar à agência reguladora estudos de Equivalência farmacêutica demonstrar através de ensaios físicoquímicos e quando aplicáveis microbiológicos e biológicos que cumpram especificações atualizadas da Farmacopeia brasileira na ausência dessas com as de outros códigos autorizados pela legislação vigente ou ainda com outros padrões aplicáveis de qualidade que possui mesmo fármaco isto é mesmo sal ou éster da mesma molécula terapeuticamente ativa na mesma quantidade e forma farmacêutica e mesma via de administração que o medicamento de referência Somente os centros habilitados pela Anvisa pertencentes à Rede Brasileira de Laboratórios Analíticos em Saúde Reblas poderão realizar o estudo de equivalência farmacêutica Equivalência terapêutica dois medicamentos equivalentes farmacêuticos medicamento testecandidato a genérico e medicamento de referência são administrados na mesma dose molar e devem apresentar essencialmente os mesmos efeitos em relação a eficácia e segurança A avaliação desses efeitos é realizada através de estudos de bioequivalência apropriados ensaios farmacodinâmicos ensaios clínicos ou estudos in vitro 26 Unidade I Os estudos de biodisponibilidade relativabioequivalência contemplam três etapas Na etapa clínica quantificase o fármaco eou o metabólito ativo do medicamento teste e referência na circulação sangue plasma ou soro ou na urina quando justificado A etapa analítica referese à escolha da metodologia e às análises em si das amostras coletadas as quais devem ser realizadas seguindo normas internacionais de Boas Práticas de Laboratório BPL e guia para validação de métodos analíticos e bioanalíticos disponível em legislação específica da Anvisa Na etapa estatística os parâmetros farmacocinéticos área sob a curva de concentração sanguínea versus tempo ASC o pico de concentração máxima Cmáx o tempo para atingir este pico Tmáx e meiavida de eliminação t12 do fármaco eou metabólito serão obtidos das curvas de concentração sanguínea do fármaco versus tempo próxima figura e analisados estatisticamente para determinação da bioequivalência 0 0 2 4 6 8 10 4 TmáxA CmáxA TmáxB CmáxB 8 AUC Tempo Concentração mgL 12 16 20 Figura 5 Curva concentração sanguínea versus tempo com destaque para área sob a curva AUC Cmáx e Tmáx Medicamento de referência medicamente teste Adaptada de BPAC 2009 p 5 Resumidamente podemos dizer que para comprovação da equivalência terapêutica o medicamento será administrado nos voluntários e amostras de sangue ou urina serão coletadas e analisadas para quantificar a substância ativa em função do tempo Posteriormente as informações obtidas do medicamento referência e candidato a genérico serão comparadas e analisadas estaticamente Os medicamentos serão considerados bioequivalentes quando se encontrarem semelhanças estatísticas em suas curvas plasmáticas Desse modo serão considerados bioequivalentes os medicamentos que administrados nas mesmas condições experimentais não apresentam diferenças estatisticamente significativas em relação à biodisponibilidade 27 FARMACOTÉCNICA Somente os centros certificados pela Anvisa poderão realizar o estudo de biodisponibilidade relativabioequivalência 155 Medicamento similar É o medicamento que contém os mesmos fármacos mesma concentração forma farmacêutica via administração posologia e indicação terapêutica do medicamento de referência Pode apresentar excipientes e veículos diferentes além de diferentes tamanhos e formas do produto prazo de validade embalagem rotulagem O medicamento similar deve apresentar nome comercial ou marca A figura a seguir representa a embalagem secundária de um medicamento similar BRASIL 1999 Figura 6 Representação de um cartucho de medicamento similar Enquanto os medicamentos genéricos tiveram a obrigatoriedade de apresentar estudos de equivalência farmacêutica e equivalência terapêutica desde a sua criação para os medicamentos similares essa exigência iniciouse a partir de 2003 com a publicação da Resolução RDC n 1342003 e da Resolução RDC n 1332003 ambas revogadas atualmente Para medicamentos similares que já eram registrados a apresentação dos ensaios que comprovam as mesmas características de qualidade e comportamento in vivo que o medicamento de referência seguiu uma ordem de prioridade sendo o prazo final a segunda renovação de registro a qual deveria ter ocorrido no máximo até o ano de 2014 Assim o medicamento similar que comprove ser equivalente farmacêutico e terapêutico do medicamento de referência apresentará as mesmas características de qualidade e ação que esse último e por isso ambos podem ser intercambiáveis A Anvisa possui legislação apropriada a esse fim a RDC n 582014 que dispõe sobre as medidas a serem adotadas junto à Anvisa pelos titulares de registro de medicamentos para a intercambialidade de medicamentos similares com o medicamento de referência BRASIL 2014b além da lista de medicamentos similares intercambiáveis atualizada frequentemente a qual pode ser obtida no site da Anvisa 28 Unidade I Saiba mais Diretamente no site da Anvisa é possível consultar as últimas atualizações da Lista de medicamentos de referência ANVISA Lista de medicamentos de referência 13 ago 2021 Disponível em httpsbitylicomqCQWoQ Acesso em 24 ago 2021 Lista de medicamentos genéricos ANVISA Medicamentos genéricos registrados 5 ago 2019 Disponível em httpsbitly3B7fb09 Acesso em 24 ago 2019 Lista de medicamentos similares intercambiáveis ANVISA Lista de medicamentos similares e seus respectivos medicamentos de referência conforme RDC 582014 11 maio 2020 Disponível em httpsbitly2XIseH1 Acesso em 24 ago 2021 Não serão admitidos para fins de registro como medicamento genérico ou similar e portanto não poderão ser incluídos nas listas de medicamentos de referência I produtos biológicos imunoterápicos derivados do plasma e sangue humano II medicamentos fitoterápicos III medicamentos específicos IV medicamentos dinamizados V medicamentos de notificação simplificada VI antissépticos de uso hospitalar VII produtos com fins diagnósticos e contrastes radiológicos VIII radiofármacos IX gases medicinais X outras classes de medicamentos que venham a possuir legislação específica para seu registro BRASIL 2017 O quadro a seguir sumariza algumas características dos medicamentos genéricos e similares Quadro 5 Diferenças e semelhanças entre medicamentos genéricos e similares Tanto o medicamento genérico quanto o similar intercambiável possuem a mesma qualidade e efeito terapêutico que o medicamento de referência por isso podem ser considerados cópias desses últimos Genérico Enquanto o medicamento genérico deve ser designado pelo nome de seu princípio ativo e pode ser intercambiável com o medicamento de referência apenas Similar o medicamento similar possui nome comercial marca e pode apenas ser intercambiável com o respectivo medicamento de referência desde que tenha realizado os estudos exigidos pela legislação e conste na lista de medicamentos similares intercambiáveis Como resultado verificase maior disputa de mercado entre as indústrias farmacêuticas barateando o preço final e possibilitando maior acesso à população 29 FARMACOTÉCNICA 16 Abreviaturas siglas e códigos Algumas abreviaturas siglas e mesmo códigos são comumente utilizados em fórmulas bulas prescrições entre outros e por isso tornase importante conhecêlos Entre eles podemos citar 161 Rx Do latim recipere ou recipe significa faça uso de Utilizado no início de prescrições para designar o tratamento a ser recebido pelo paciente Exemplo Rx Diclofenaco de sódio 50 mg Tomar 1 comprimido a cada 8 horas por 5 dias 162 FSA Expressão que vem do latim fiat secundum artem ou seja façase segundo a arte É uma menção à arte farmacêutica de produzir medicamentos Pode ser utilizada por exemplo para definir a quantidade a ser manipulada como se verifica na situação hipotética a seguir em que se deve preparar 50 gramas de uma pomada com 5 do fármaco fluoracila Pomada contendo fluoracila 5 FSA 50 g 163 qs Abreviação para quantidade suficiente quantum satis Utilizada quando se deve adicionar uma certa substância em quantidade tal para se atingir determinado objetivo Por exemplo Aroma de baunilha qs Ácido cítrico qs pH 4 Desse modo é preciso adicionar aroma de baunilha até se obter o odor desejado e adicionar ácido cítrico até que se atinja pH igual a 4 164 qsp Sigla para a expressão quantidade suficiente para Designa a substância que se deve adicionar até atingir determinada massa ou volume Exemplo Digluconato de clorexidine 1 Água destilada qsp 100 mL Água destilada será adicionada em vidraria volumétrica contendo 1 g de digluconato de clorexidine até completar 100 mL 30 Unidade I 165 ãã Referese a partes iguais quantidades iguais de cada componente No exemplo que segue serão utilizados 5 mL de óleo mineral e 5 mL de óleo de amêndoas Óleo mineral ãã 5 mL Óleo de amêndoas 166 ãã qsp Partes iguais de cada componente em quantidade suficiente para determinada massa ou volume Parafina ãã qsp 30 g Vaselina Uma vez que a massa total é 30 g e devese pesar a mesma quantidade de cada componente serão utilizados 15 g de parafina e 15 g de vaselina 167 UI UI é a sigla de unidades internacionais Tratase de uma maneira de quantificar substâncias geralmente as que possuem dosagem muito baixa como alguns tipos de vitaminas hormônios e enzimas No preparo de medicamentos unidades internacionais devem ser convertidas para massa para que seja possível a pesagem da substância É importante saber que não existe uma regra fixa de conversão para cada substância as unidades internacionais correspondem a um valor de massa por isso é preciso sempre consultar a literatura para verificar qual a correspondência Observe os exemplos que seguem Colecalciferol 1 UI 0025 µg Retinol 1 UI 03 µg 168 Ext e Int Estas abreviações costumam vir antes da indicação do tratamento propriamente dito e referem se o uso do medicamento será externo Ext ou interno Int 169 Abreviações para vias de administração IM intramuscular IV ou EV intravenosa ou endovenosa ID intradérmica 31 FARMACOTÉCNICA SC subcutânea po ou VO per os ou via oral 2 CÁLCULOS EM FARMACOTÉCNICA Este tópico tem por objetivo fornecer ao aluno os fundamentos teóricopráticos para o desenvolvimento preparo dispensação e administração das principais formas farmacêuticas Além disso capacitar o aluno quanto à distinção das formas farmacêuticas análise e interpretação farmacotécnica de prescrições manipulação e dispensação de medicamentos através de conhecimentos teóricos e práticos fundamentais para sua atuação técnica e profissional Cálculos são ferramentas essenciais para a prática farmacêutica e seu conhecimento é imprescindível ao profissional farmacêutico tanto para o preparo de formulações na manipulação ou indústria farmacêutica como para administração de medicamentos THOMPSON 2013 Considerando o grande número de formulações a serem produzidas e a infinidade de unidades de medida de massa e volume erros são passíveis de acontecer Por isso é necessário aplicar adequadamente os fundamentos da matemática para auxiliar o profissional na prevenção de erros relacionados ao preparo à dosagem e até à administração de medicamentos COREN 2011a Para introduzir as bases de cálculos farmacêuticos devemos entender a importância do conhecimento das unidades de medida relacionadas a fármacos e excipientes e as unidades de concentração aceitas para medicamentos e preparações farmacêuticas THOMPSON 2013 21 Unidades de medida O sistema métrico decimal utilizado na área farmacotécnica tem como unidades básicas o litro e o grama sendo o litro L a unidade básica de volume e o grama g a unidade básica do peso Para unidades de peso são conhecidas as unidades básicas quilograma kg grama g miligrama mg micrograma µg ou mcg e nanograma ng ANSEL STOKLOSA 2008 Na área farmacêutica utilizamse unidades de massa e volume e as transformações se dão segundo a figura a seguir kg g mg µg x 1000 1000 x 1000 1000 x 1000 1000 kL L mL µL x 1000 1000 x 1000 1000 x 1000 1000 Figura 7 Correlação entre medidas de massa e volume e suas transformações 32 Unidade I 22 Cálculos de porcentagem A concentração fornece a quantidade de fármaco ou substância ativa por quantidade massa ou volume de preparação THOMPSON 2013 Porcentagem por cento Tem o significado de partes em 100 partes COREN 2011a Como exemplo podemos citar 20 de 250 gramas significa que há 50 g de massa em 250 gramas do total A depender se a substância em questão e a preparação estão em unidades de massa ou volume podemos ter o que segue 221 Peso por volume pv Significa a quantidade de gramas unidade de massa de um constituinte em um determinado volume de líquido unidade de volume Existe adicionalmente a unidade representada pelo símbolo pv Exemplo 15 pv significa que há 15 g a cada 100 mL 222 Peso por peso pp Significa a quantidade de gramas unidade de massa de um constituinte em uma determinada massa unidade de massa Existe adicionalmente a unidade representada pelo símbolo pp Exemplo 20 pp significa que há 20 g a cada 100 g 223 Volume por volume vv É a medida de volume geralmente mL de uma substância líquida em um solvente ou mistura líquida Existe adicionalmente a unidade representada pelo símbolo vv Exemplo 20 vv significa que há 20 mL a cada 100 mL Exemplo de aplicação Agora que você já entendeu como podem ser expressas as porcentagens vejamos como ficariam esses cálculos em uma fórmula Calcule a quantidade de cada matériaprima necessária para o preparo desta formulação 33 FARMACOTÉCNICA Fármaco X 5 pv Propilenoglicol 3 pv Metilparabeno 018 pv Sacarina 05 pv Água destilada qsp 1000 pv Preparar 60 mL Resolução Fármaco X 5 5 g para cada 100 mL A massa em gramas necessárias para preparar 60 mL de formulação será de 3 g Propilenoglicol 3 3 g para cada 100 mL A massa em gramas necessárias para preparar 60 mL de formulação será de 18 g Metilparabeno 018 0108 g serão necessários para manipular 60 mL de formulação Sacarina 05 03 g serão necessários para manipular 60 mL de formulação 23 Cálculos de concentração Quando se fala em concentração de soluções é comum que imediatamente se pense em unidades de quantidade de massa em determinado solvente Essa dada concentração pode ser expressa em unidades diversas como gL gmL molaridade e equivalente grama TEIXEIRA 2018 A concentração comum C relaciona a quantidade de massa g em um volume em litros L e utiliza a equação a seguir C m V 34 Unidade I Sendo C concentração comum gL m massa do soluto g V volume da solução L As unidades de concentração podem assim ser interpretadas Gramas por litro gL significa que existe 1 g de um dado soluto em 1 L 1000 mL de uma formulação líquida Gramas por mL gmL significa que existe 1 g de um dado soluto em 1 mL de uma formulação líquida Outro exemplo pode ser dado quando se calcula a massa da substância ativa por volume do produto uma solução farmacêutica de 80 mg por litro 80 mgL contém 008 gramas de ativo em cada litro de solução ou seja 008 gL A massa da substância ativa pode ser expressa em relação à massa do produto final Podemos exemplificar um creme contendo fármacos 50 mg por grama também escrito 50 mgg contém 005 g do fármaco em cada 1 g de formulação Além disso existe o preparo de formulações de um líquido em outro líquido sendo as expressões de unidade como mililitros por litro mLL ou microlitro por mililitro µLmL por exemplo 231 Molaridade M Mol é uma grandeza utilizada para mensurar a quantidade de matéria que se apresenta em dimensões microscópicas como átomos e moléculas O termo utilizado mol ou mole deriva da palavra molécula Podese utilizar os termos concentração molar concentração em molL e o símbolo M que significam a razão da quantidade de matéria do soluto mol pelo volume de solução em litros o número de moles de soluto por litro de solução Essa concentração é expressa na unidade molL molar ou moldm3 Utilizase a equação matemática a seguir M m g MM x V L 35 FARMACOTÉCNICA Sendo m massa em g MM massa molecular gmol V volume L Dessa forma é possível calcular a massa ou volume de um soluto para preparar determinada solução quando é expressa uma concentração molar Exemplo 1 Uma solução de ácido clorídrico HCl 1 M contém 1 mol de HCl por litro de solução Visto que a massa molecular do HCl é 365 gmol uma solução de HCl 1 M contém 365 g de HCl por litro de solução 365 gL ou 365 mgmL 2 Prepare 300 mL de uma solução de glicose C6H12O6 a 06 M Dados de massa molar C 12 H 1 O 16 0 6 180 0 3 m g m 324 g de glicose 24 Densidade A determinação da densidade de um composto seja ele sólido seja ele líquido pode ser descrita como o entendimento de qual volume ocupa uma determinada massa de uma substância ou seja é a concentração de matéria em gramas contida em um volume específico Matematicamente é descrita como razão ou quociente entre a massa de um composto e o volume em mL ocupado por ele TEIXEIRA 2018 Como exemplo podemos citar que 1 kg de algodão pesa o mesmo que um 1 kg de chumbo porém os dois componentes ocupam volumes distintos em um espaço Percebese então que as diferenças entre os dois está no volume ocupado COREN 2011a Sendo a densidade d de uma solução a relação entre a massa m e o volume V temse a equação d m V 36 Unidade I Sendo d densidade gmL m massa g V volume mL Um dado importante a ser levado em consideração é que os valores obtidos estão relacionados ainda à temperatura do ambiente sendo relatadas as medidas a 25 C Os valores de densidade de uma sustância analisados na mesma temperatura e pressão deverão ser sempre os mesmos como Água 0997 gmL Álcool etílico 0789 gmL Leite integral 103 gmL Mercúrio 136 gmL Vejamos um exemplo prepare 400 mL de uma solução de ácido sulfúrico H2SO4 a 02 M Dados sobre massa molar H 1 S 32 O 16 d 183 gmL 0 2 98 0 4 m g m 784 g ácido sulfúrico Porém o ácido sulfúrico é uma substância que se encontra no estado líquido Então você pode pesar 784 g do líquido ou aplicar o cálculo da densidade para medir em volume d m V 183 7 84 V V 428 mL 37 FARMACOTÉCNICA 25 Cálculos de diluição Diluição é uma técnica em que se acrescenta solvente à solução A quantidade de soluto permanece constante CONSTANTINO 2009 A diluição de líquidos ocorre quando se deseja preparar uma solução que contenha uma dada concentração S2 a partir de outra já preparada anteriormente contendo uma concentração superior S1 BROWN LEMAY BURSTEN 2005 Para a realização dos cálculos se faz necessário saber A concentração de S1 C1 A concentração pretendida S2 C2 O volume de S2 V2 Dessa forma essa solução S2 será preparada utilizandose uma alíquota da solução mais concentrada S1 e dado volume de solvente para completar o volume desejado Se faz necessário ainda o uso de vidrarias volumétricas precisas e calibradas Realizar diluições é uma prática muito comum em laboratórios farmacêuticos químicos de controle de qualidade e afins uma vez que as soluções estoque concentradas são preparadas previamente e armazenadas Elas então são diluídas para alcançarem determinadas concentrações dependendo da técnica a ser executada FERREIRA 2010 Para a realização do cálculo pode ser utilizada a equação a seguir C1 V1 C2 V2 Sendo C1 concentração S1 V1 volume antes da diluição C2 concentração S2 V2 volume final da solução pretendida A quantidade de solvente suficiente para a manipulação da solução é igual a V2 V1 Podese ainda usar uma vidraria como balão volumétrico com volume exato adicionar a alíquota de S2 e completar o volume com o solvente Ao realizar os cálculos de diluição de soluções é imprescindível que as unidades de concentração e de volume sejam as mesmas dos dois lados 38 Unidade I Vejamos alguns exemplos Exemplo de aplicação Exemplo 1 Preparar 250 mL de uma solução de NaOH 01 M a partir de uma solução estoque de NaOH a 15 M C1 15 V1 C2 01 V2 250 Resolução Substituindo os valores na equação C1 V1 C2 V2 15 V1 01 250 V1 1667 mL Desse modo podemos afirmar que serão necessários 1667 mL da solução de NaOH 15 M para preparar a solução de NaOH 01 M Ou seja 1667 mL da solução de NaOH e água qsp 250 mL Exemplo 2 Preparar 20 L de uma solução de NaCl 2 mgmL a partir de uma solução estoque de NaCl contendo 15 mgmL C1 15 mgmL V1 C2 2 mgmL V2 20 L 39 FARMACOTÉCNICA Resolução Substituindo os valores na equação C1 V1 C2 V2 15 V1 2 20 V1 267 L Desse modo podemos afirmar que serão necessários 267 L da solução de NaCl 15 mgmL para preparar a solução de NaCl 2 mgmL Ou seja 267 L da solução de NaCl e água qsp 20 mL 251 Diluições seriadas Outra técnica de diluição muito utilizada é das diluições em série Tratase de um processo que reduz através de uma sequência de diluições a concentração de uma substância em uma solução São sucessões de diluições simples porém precisas O processo ocorre quando a diluição gera uma solução de volume muito grande BARBOSA 2014 É basicamente uma sequência de diluições simples que leva a um aumento do fator de diluição A amostra para diluição de cada etapa vem da diluição anteriormente realizada CAMARA 2016 O procedimento iniciase com uma alíquota da solução mais concentrada C1 e determinado volume de solvente gerando outra solução mais diluída C2 O processo então continua através da retirada de uma alíquota da solução já diluída C2 acréscimo de volume de solvente e formação de outra ainda mais diluída C3 E assim por diante até chegar à concentração desejada Dessa forma ficará estabelecido o fator de diluição que fica maior a cada diluição Em uma diluição em série deve ser observada a diluição em cada etapa e posteriormente somálas Se a 1 mL da solução inicial foi acrescentado 9 mL de solvente dizse que ocorreu uma diluição 110 e o fator de diluição é 10 Se for adicionado 10 mL de uma solução inicial e 990 mL de solvente podese dizer que a diluição foi 101000 e o fator de diluição deverá ser calculado de acordo com a equação a seguir FD volume final volume inicial No exemplo anterior o fator de diluição é FD 1000 10 FD 100 40 Unidade I As diluições seriadas são muito utilizadas em laboratórios quando há a necessidade de se prepararem soluções extremamente precisas e muito diluídas CAMARA 2016 Na área farmacêutica também são utilizadas no desenvolvimento de curvas analíticas utilizadas por exemplo para quantificação de fármacos em formulações Ainda são utilizadas na área de microbiologia ou biologia quando células ou microrganismos devem ser contados Também para criar com precisão soluções extremamente diluídas bem como soluções para experimentos que exigem uma curva de concentração com uma escala exponencial ou logarítmica BISPO et al 2010 A seguir um exemplo de uma diluição seriada 01 mL 01 mL 01 mL 01 mL 01 mL 09 mL 105 09 mL 104 09 mL 103 09 mL 102 09 mL 101 Solução estoque Figura 8 Esquema de uma diluição seriada Verificase no caso da figura anterior que a solução foi diluída 50 vezes pois em cada tubo há 1 mL Como são cinco tubos há um total de 5 mL sendo este o volume final Portanto FD 5 0 1 FD 50 Logo o fator de diluição corresponde ao número total de volumes em que o seu material será dissolvido 252 Diluições geométrica de sólidos A pesagem de sólidos e homogeneidade de dose são imprescindíveis na manipulação de formulações Para se ter controle rigoroso na manipulação de fármacos de baixa dosagem a diluição desses sólidos em excipientes inertes deve ocorrer Nessas situações a pesagem e o processo de mistura são fatores críticos e merecem total atenção 41 FARMACOTÉCNICA Outros fatores para se utilizar diluição geométrica são fármacos de alta potência frequentemente utilizados em doses baixas ausência de balança com quantidade mínima pesável QMP apropriada Para que o processo de homogeneização seja adequado antes da produção devido a possíveis diferenças de proporção entre os componentes ativos e excipientes é possível obter uma mistura mais homogênea por meio da adição sequencial dessas substâncias em um gral Essa operação se dá através da mistura inicial do composto ativo com massa aproximadamente igual dos diluentes Dessa forma a massa do gral passa a ser o dobro da inicial ativo excipiente Continuase a mistura adicionando diluente igual à massa contida no gral Assim repetese sucessivamente o processo até que a massa de excipiente acabe ANFARMAG 2014 As formas de diluição mais conhecidas são 110 1100 11000 Utilizase o tipo de diluição dependendo da dosagem do fármaco que será utilizada Tabela 1 Dosagens e tipos de diluição Dosagem de fármaco Tipo de diluição Até 01 mg 11000 De 011 a 099 mg 1100 Acima de 1 mg 110 Fonte Anfarmag 2014 Até 01 mg recomendase diluição 11000 De 011 mg a 099 mg recomendase diluição 1100 Acima de 1 mg recomendase diluição 110 Desse modo Diluição 110 Pesar 1 g da substância 9 g de diluente 42 Unidade I Diluição 1100 Pesar 1 g da substância 99 g de diluente Diluição 11000 Pesar 01 g da substância 9999 g de diluente Exemplo de aplicação Calcule a quantidade de fármaco para o preparo da seguinte formulação Hormônio T3 002 mg Preparar 50 cápsulas Resolução A diluição 11000 foi selecionada em função da baixíssima dosagem ou seja menor que 01 mg Entendese dessa forma que a cada 1000 partes dessa mistura uma dessas partes referese ao hormônio T3 e 999 correspondem ao excipiente Se o fármaco está diluído 1000 vezes a massa que deverá ser pesada deverá ser 1000 vezes superior Então 002 mg 1000 20 mg para 1 cápsula Como serão manipuladas 50 cápsulas é preciso multiplicar esse número por 50 Assim 20 mg 50 cápsulas 1000 mg ou 1 g da diluição de hormônio T3 A técnica do uso de corantes também pode ser utilizada para princípios ativos difíceis de serem pesados com exatidão Quando a massa de fármaco é muito pequena por exemplo na pesagem de 1 g para ser diluído em 499 g 1500 ou em 999 g 11000 é possível se adicionar corante em massa equivalente à do fármaco ou menor e procedese a sua homogeneização Quando o corante oferecer coloração uniforme à massa entendese que ocorreu o mesmo com o fármaco Observação Em conformidade com a legislação as substâncias que sofrerem processo de diluição devem estar claramente identificadas com etiqueta alertando esta substância somente deve ser usada quando diluída A legislação preconiza que seja feita análise trimestral do diluído para o teor e uniformidade de conteúdo UC e que exista um local separado para armazenamento das diluições Sugerese ainda que os fármacos diluídos 43 FARMACOTÉCNICA sejam acondicionados em recipientes de cor diferente e que seja preenchido um relatório de diluição É importante lembrar que antes da pesagem o fator de correção deve ser aplicado para determinação da massa a ser utilizada BRASIL 2007 3 BOAS PRÁTICAS DE MANIPULAÇÃO EM FARMÁCIA As boas práticas de manipulação em farmácia BPMF envolvem todas as ações executadas com a finalidade de produzir e dispensar medicamentos magistrais e oficinais que apresentem qualidade segurança eficácia além de promover seu uso seguro e racional e que sejam apropriados para o uso pretendido e requerido na prescrição Para se atingir esse objetivo é preciso que haja envolvimento e responsabilização de todos os setores e colaboradores desde as instalações recursos humanos e equipamentos aquisição dos insumos farmacêuticos avaliação farmacêutica da prescrição produção fracionamento controle de qualidade conservação armazenamento transporte dispensação das preparações até a atenção farmacêutica aos usuários ou seus responsáveis Em se tratando de produtos farmacêuticos as boas práticas de manipulação são normas obrigatórias regulamentadas pela Anvisa pela Resolução RDC n 672007 que dispõe sobre boas práticas de manipulação de preparações magistrais e oficinais para uso humano em farmácias BRASIL 2007 e pelas resoluções relacionadas RDC n 872008 que altera o regulamento técnico sobre boas práticas de manipulação em farmácias BRASIL 2008 e RDC n 212009 que altera o item 27 do anexo III da Resolução RDC n 672007 BRASIL 2009 Além de ser um requisito legal é importante ressaltar que as boas práticas se relacionam com a ética profissional e que visam como objetivo maior a saúde do usuário além de proporcionar economia de tempo e custos já que evitam perdas e retrabalhos Desse modo apresentamos como fundamentos para as boas práticas de manipulação em farmácia as diretrizes apresentadas na RDC n 672007 e resoluções relacionadas Um sistema de garantia da qualidade SGQ que incorpore as BPMF é a maneira pela qual as farmácias podem alcançar a qualidade necessária A garantia da qualidade é o empenho organizado e totalmente documentado que perpassa transversalmente todos os setores da farmácia figura a seguir no sentido de assegurar que os produtos e serviços estejam dentro dos padrões de qualidade exigidos 44 Unidade I Avaliação das prescrições Manipulação Armazenamento Dispensação atenção farmacêutica Aquisição Transporte Equipamentos Infraestrutura Recursos humanos Controle de qualidade Sistema de garantia da qualidade Figura 9 Representação esquemática da interrelação do sistema de garantia da qualidade com outros setores da farmácia 31 Estrutura do sistema de garantia da qualidade Alguns elementos são importantes para estruturar o sistema de garantia da qualidade em uma farmácia de manipulação conforme destacamos a seguir 311 Manual da qualidade Nesse caso denominado manual de boas práticas de manipulação o qual apresenta as diretrizes empregadas pelo estabelecimento para o gerenciamento da qualidade As atribuições de cada função bem como suas responsabilidades devem estar descritas nesse manual e devem ser claras para o entendimento de todos os colaboradores 312 Documentação legal Entre outros se destacam os seguintes documentos exigidos para o funcionamento de farmácias de manipulação Autorização de funcionamento de empresa AFE expedida pela Anvisa Autorização especial expedida pela Anvisa quando manipular substâncias sujeitas a controle especial 45 FARMACOTÉCNICA Licença de funcionamento expedida pelo órgão de Vigilância Sanitária local explicitando os grupos de atividades para os quais a farmácia está habilitada Certidão de regularidade emitida pelo Conselho Regional de Farmácia Esses documentos devem estar afixados em local visível 313 Procedimentos operacionais padrão POP Descreve em detalhes a maneira de realizar uma atividade Seu objetivo é a padronização das ações ou seja todas as atividades devem ser sempre executadas pelo modo preconizado por todos os colaboradores envolvidos com vistas a garantir a qualidade dos medicamentos manipulados e segurança dos colaboradores A farmácia de manipulação deve possuir POPs para todas as atividades relevantes e cada estabelecimento deve escrever seus próprios procedimentos operacionais padrão de acordo com suas particularidades Um procedimento operacional padrão deve responder às seguintes perguntas em relação ao que está sendo abordado O que faz Quem faz Quando faz Onde faz Como faz Além disso todo POP deve ter uma planilha de treinamento contendo ao menos o assunto abordado data e local do treinamento duração do treinamento instrutor assinatura do participante Um procedimento operacional padrão passa a ser efetivamente valioso para a garantia da qualidade quando todos os funcionários relacionados são treinados 46 Unidade I Exemplo de aplicação Os procedimentos operacionais padrão representam uma ferramenta importante para que qualquer colaborador possa executar a tarefa em questão do mesmo modo obtendo sempre o mesmo resultado final Com as informações apresentadas elabore um procedimento operacional padrão de uma atividade que você realize rotineiramente 314 Programa de treinamento de funcionários Todos os colaboradores devem fazer parte de um programa de treinamento inicial e contínuo ou seja devem receber treinamentos pertinentes a todas as atividades que desenvolverão antes de iniciálas e periodicamente de acordo com um cronograma estabelecido ou sempre que necessário como em casos de revisão de POP e verificação de desvios de qualidade O programa de treinamento deve ser elaborado com base em um levantamento de necessidades sendo que todos devem ser registrados em planilha própria contendo ao menos data da realização do treinamento e carga horária documentos relacionados às atividade de capacitação conteúdo treinado nome dos participantes e respectivas assinaturas identificação dos ministrantes A efetividade de todos os treinamentos realizados deve ser avaliada Observação Nos treinamentos devem ser abordados procedimentos a serem adotados em caso de acidente ou incidente além de informações quanto à existência de riscos no desenvolvimento das atividades suas causas e medidas preventivas apropriadas BRASIL 2007 315 Especificações de materiais As fichas de especificação de insumos são documentos exigidos pela legislação utilizadas no controle de qualidade que apontam os requisitos de qualidade de cada matériaprima ou material de embalagem além de servir de referência para aquisição desses insumos ANFARMAG 2019 47 FARMACOTÉCNICA A figura a seguir ilustra como as fichas de especificação e compra devem ser elaboradas No caso de matériaprima vegetal nome popular nome científico parte da planta utilizada Nome da matériaprima DCB DCI ou CAS quando couber Nome e código interno de referência quando houver Solicitação da metodologia validada Transcrição de dados do laudo de análise emitido pelo fornecedor de insumo caso este esteja qualificado pela farmácia Pesquisa em literatura científica reconhecida pela Anvisa Pesquisa das literaturas oficialmente reconhecidas pela Anvisa O insumo é farmacopeico A literatura possui dados do insumo Não Não Sim Sim Aprovação da ficha Garantia da qualidade Conferência dos dados Elaboração da ficha de especificação Ficha de especificação de insumo Ficha de especificação de compra Requisitos quantitativos e qualitativos com os respectivos limites de aceitação Condições de armazenamento e precauções No caso dos insumos farmacêuticos ativos IFA e adjuvantesreferência de monografia da farmacopeia brasileira ou de outros compêndios internacioanis reconhecidos pela Anvisa Orientações sobre amostragem ensaios de qualidade metodologias de análise e referência utilizada nos procedimentos de controle Periodicidade quando couber como devem ser feito novos ensaios de cada matériaprima para confirmação das especificações farmacopeicas Figura 10 Fluxograma representativo da elaboração de ficha de especificação e de compra de insumo farmacêutico de acordo com a norma sanitária Adaptada de Anfarmag sd 48 Unidade I Observação Vejamos o significado de importantes denominações de acordo com a Anvisa sd CAS do inglês chemical abstracts service ou seja referência internacional de substâncias químicas DCB denominação comum brasileira Tratase do nome do fármaco ou princípio farmacologicamente ativo aprovado pelo órgão federal responsável pela vigilância sanitária DCI denominação comum internacional Referese ao nome do fármaco ou princípio farmacologicamente ativo aprovado pela Organização Mundial da Saúde 316 Qualificação de fornecedoresfabricantes Fornecedores ou fabricantes de matériasprimas e materiais de embalagem devem ser avaliados selecionados monitorados quanto ao seu desempenho e reavaliados periodicamente para garantir a qualidade dos medicamentos produzidos com esses insumos A qualificação do fabricante ou fornecedor deve ser feita ao menos seguindo os seguintes requisitos apresentação da documentação exigida pela Anvisa e Vigilância Sanitária municipal verificação do cumprimento das normas de fracionamento ou distribuição de insumos ou de boas práticas de fabricação através de auditorias avaliação do histórico de fornecimento da empresa em questão avaliação dos laudos analíticos e análises de controle de qualidade realizados pela farmácia para verificar o atendimento às especificações estabelecidas e acertadas entre a farmácia e o fabricantefornecedor 317 Registros de análises de controle de qualidade O controle de qualidade verifica se insumos farmacêuticos materiais de embalagem e medicamentos manipulados estão em conformidade com as especificações estabelecidas Para tanto a farmácia deve possuir infraestrutura equipamentos e instrumentos adequados POPs aprovados para a realização de amostragem inspeção e ensaios das matériasprimas e materiais de embalagem 49 FARMACOTÉCNICA Já no recebimento das matériasprimas deve ser feita uma inspeção para verificar as informações dos rótulos e se há algum dano na embalagem Após o recebimento todos os materiais são segregados e identificados como em quarentena o que quer dizer que não podem ser utilizados até que o controle de qualidade os analise e os aprove para o uso ou reprove nesse caso é preciso segregar e identificar esse material até que seja devolvido ao fornecedorfabricante além de notificar a autoridade sanitária A figura a seguir sumariza este processo Quarentena Recebimento do insumo Aprovado Armazenamento e uso na manipulação Reprovado Segregação devolução ao fornecedor e comunicação à vigilância sanitária Conferência Análises de controle de qualidade Figura 11 Fluxograma representativo do recebimento de insumos Todos os lotes adquiridos devem vir acompanhados dos respectivos certificados de análises realizadas com informações claras e conclusivas e todas as especificações estabelecidas entre o farmacêutico e o fornecedorfabricante sendo que o atendimento a essas especificações deve ser avaliado pela farmácia Quando estão em quarentena as matériasprimas devem ser submetidas a ensaios de controle de qualidade e ter o laudo de análise do fabricantefornecedor avaliado A farmácia pode aceitar outras análises farmacopeicas realizadas pelo fabricantefornecedor desde que este seja qualificado Os produtos acabados também devem ser submetidos a análises de controle de qualidade com base na Farmacopeia brasileira ou outro compêndio oficial reconhecido pela Anvisa Devem ser realizados ensaios físicoquímicos e microbiológicos da água potável e da água purificada no mínimo a cada seis meses e um mês respectivamente O estabelecimento deve realizar ensaios de controle de qualidade de ao menos uma fórmula manipulada a cada dois meses Essas análises podem ser realizadas no próprio estabelecimento ou 50 Unidade I terceirizadas preferencialmente em laboratórios da Rede Brasileira de Laboratórios em Saúde Reblas Todas as amostras devem contemplar diferentes manipuladores fármacos e dosagensconcentrações adotandose sistema de rodízio É possível manter estoque mínimo de bases galênicas e preparações oficinais uma vez que se garanta sua estabilidade e qualidade O controle de qualidade microbiológico das bases galênicas pode ser feito por monitoramento ou seja análise mensal de pelo menos uma base ou produto acabado preparado com ela no mínimo adotandose sistema de rodízio levando em consideração o tipo de base e manipulador Observação Bases galênicas são fórmulas produzidas sem princípios ativos e que servem de base ou veículo de incorporação de fármacos para atender os diferentes tipos de prescrição com o objetivo de otimizar o processo de manipulação Assim se produzem cremes pomadas xaropes entre outras formas farmacêuticas sem nenhum insumo ativo e os utiliza para preparar fórmulas magistrais e oficinais 318 Registros de manipulação O processo de manipulação deve ser totalmente documentado de modo a permitir rastreabilidade O farmacêutico deve avaliar a prescrição antes de se iniciar o processo de manipulação conferindo sua legibilidade ausência de emendas ou rasuras identificação tanto do prescritor quanto do paciente informações sobre a fórmula a ser manipulada Ainda deverá verificar coerência incompatibilidades e necessidade de correção de massa dos fármacos Além disso deverá confrontar as informações da receita com a ordem de manipulação emitida para produção desse medicamento Uma ordem de manipulação é um documento destinado a acompanhar todas as etapas do processo e deve conter número de ordem do livro de receituário descrição da formulação contendo todos os componentes inclusive os excipientes e concentrações lote de cada matériaprima fornecedor e quantidade pesada nome e assinatura dos responsáveis pela pesagem e manipulação visto do farmacêutico data da manipulação no caso da forma farmacêutica cápsulas deve constar ainda o tamanho e a cor da cápsula utilizada BRASIL 2007 Os resultados dos ensaios de controle de qualidade devem ser também registrados nesse documento 51 FARMACOTÉCNICA 319 Registros complementares São documentos que registram a dinâmica das BPMF para além do processo de manipulação propriamente dito e que servem de subsídio para garantir e atestar a qualidade dos medicamentos manipulados Entre esses registros podem ser mencionados planilhas de verificação de balanças controle de temperatura e umidade do ambiente e de geladeira recebimento de materiais limpeza do sistema de purificação de água etc 3110 Registros de reclamações A farmácia deve dispor de um sistema de atendimento a reclamações Quando estas forem referentes a desvios de qualidade de produtos manipulados é necessário que sejam registradas em ficharelatório específico o qual deve conter no mínimo informações pessoais do paciente e do prescritor descrição da fórmula manipulada e número de registro no livro de receituário descrição detalhada da reclamação dados pessoais do reclamante desfecho da investigação e procedimento adotado O farmacêutico deve investigar a reclamação adotar medidas corretivas e esclarecer o reclamante além de registrar todo esse processo Em caso de desvios de qualidade comprovados o farmacêutico deve comunicar a autoridade sanitária No ambiente principal de atendimento ao público devem estar afixados endereço e telefones da autoridade sanitária local para aqueles que desejarem realizar reclamações 3111 Plano de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde A farmácia deve dispor de um programa de gerenciamento de resíduos descrevendo como é realizado o manejo dos resíduos gerados insumos vencidos reprovados medicamentos devolvidos produtos de análises de controle de qualidade desde a sua segregação até a coleta pela empresa responsável Esse programa deverá ser elaborado de acordo com a norma federal em vigor que regulamenta as boas práticas de gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde e dá outras providências BRASIL 2018 a Resolução RDC n 2222018 além de dispositivos e regulamentos sanitários ambientais ou de limpeza urbana federais estaduais municipais ou do Distrito Federal 52 Unidade I As farmácias são responsáveis pelos resíduos de manipulação que geram uma vez que estes se não forem devidamente tratados podem ocasionar malefícios aos colaboradores população em geral aos medicamentos manipulados além de sérios danos ambientais Saiba mais Para saber mais sobre descarte apropriado de resíduos consulte a RDC n 222 de 2018 comentada BRASIL Ministério da Saúde Agência Nacional de Vigilância Sanitária ResoluçãoRDC n 222 de 28 de março de 2018 Regulamenta as boas práticas de gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde e dá outras providências Brasília 2018 Disponível em httpsbitly3wpDu7j Acesso em 21 maio 2021 3112 Auditorias internas Auditar também consiste em analisar registros documentos fatos e informações e comparar com uma norma ou requisito PAULISTA TURRIONI 2018 De acordo com o Conselho Federal de Farmácia 2017 p 7 a autoinspeção é o instrumento de avalição de conformidade documental e operacional da farmácia As auditorias internas também designadas autoinspeções devem ser executadas a intervalos preestabelecidos ao menos uma vez por ano para constatar e avaliar o cumprimento das BPMF A administração responsável pela área que está sendo auditada deve assegurar que quaisquer correções e ações corretivas sejam executadas em tempo hábil para eliminar não conformidades detectadas e suas causas ABNT 2008 Uma vez que as inspeções sanitárias devem ser realizadas com base nas disposições da norma em vigor RDC n 672007 e seu respectivo roteiro de inspeção esse mesmo roteiro pode servir de ferramenta para as autoinspeções realizadas em farmácias de manipulação Os critérios para a avaliação do cumprimento dos itens desse roteiro têm como base o risco potencial inerente a cada item Desse modo considerase item IMPRESCINDÍVEL I aquele que pode influir em grau crítico na qualidade segurança e eficácia das preparações magistrais ou oficinais e na segurança dos trabalhadores em sua interação com os produtos e processos durante a manipulação NECESSÁRIO N aquele que pode influir em grau menos crítico na qualidade segurança e eficácia das preparações magistrais ou oficinais e na segurança dos trabalhadores em sua interação com os produtos e processos durante a manipulação 53 FARMACOTÉCNICA RECOMENDÁVEL R aquele item que pode influir em grau não crítico na qualidade segurança e eficácia das preparações magistrais ou oficinais e na segurança dos trabalhadores em sua interação com os produtos e processos durante a manipulação INFORMATIVO INF aquele que oferece subsídios para melhor interpretação dos demais itens O item N não cumprido após a primeira inspeção passa a ser tratado automaticamente como I na inspeção subsequente O item R não cumprido após a primeira inspeção passa a ser tratado automaticamente como N na inspeção subsequente mas nunca passa a I Os itens I N e R devem ser respondidos com SIM ou NÃO BRASIL 2007 Saiba mais É possível consultar o roteiro de inspeção completo da RDC n 672007 em BRASIL Ministério da Saúde Agência Nacional de Vigilância Sanitária ResoluçãoRDC n 67 de 8 de outubro de 2007 Dispõe sobre boas práticas de manipulação de preparações magistrais e oficinais para uso humano em farmácias Brasília 2007 Disponível em httpsbitly3f1XHu7 Acesso em 20 maio 2021 3113 Investigação de desvios de qualidade Qualquer desvio de qualidade ou não conformidade deve ter sua causa raiz investigada Então devem ser adotadas ações corretivas e preventivas Ação corretiva é aquela adotada através de procedimento documentado para eliminar a causa de um desvio de qualidade detectado ou outra situação indesejável Já a ação preventiva é adotada através de procedimento documentado para eliminar a causa de uma potencial não conformidade ou outra potencial situação indesejável As ações preventivas devem ser executadas levandose em consideração as consequências das não conformidades quaisquer que sejam elas como insatisfação do cliente perdas financeiras etc Para que seja efetivamente possível realizar investigações de desvios de qualidade a farmácia deve possuir POPs que permitam o rastreamento dos medicamentos manipulados A rastreabilidade representa a capacidade de ser rastreável ou seja é poder conhecer todo o caminho percorrido pelos insumos desde sua aquisição transformação no medicamento final controle de 54 Unidade I qualidade e dispensação através de documentação apropriada em cada uma dessas etapas Por exemplo suponha que um determinado paciente volte à farmácia com a reclamação de que seu medicamento mudou de cor Através do rótulo do produto apresentado deverão ser levantadas informações que levem a descobrir qual a causa do problema se é devido a desvio de qualidade da farmácia ou usoconservação inadequados pelo usuário Desse modo é preciso rever quais colaboradores estiveram envolvidos nos processos de análises de controle de qualidade produção conferência e dispensação assim como laudos ordens de manipulação lotes de matériasprimas água utilizada na produção etc 32 Infraestrutura Infraestrutura adequada às atividades propostas é um requisito importante para se cumprirem as boas práticas Desse modo é preciso levar em conta sua localização ou seja se suas imediações são possíveis fontes de contaminação ou favorecem aparecimento de insetos e roedores Seja um imóvel construído ou adaptado às funções o projeto de todas as farmácias inclusive filiais deve apresentar ao menos área ou sala de armazenamento para matériasprimas materiais de embalagem e medicamentos manipulados salas de manipulação ao menos uma para sólidos e outra para semissólidos ou líquidos cabines especiais com fluxo controlado de entrada e saída e ar para preparações de hormônios antibióticos e citostáticos se o estabelecimento optar por trabalhar com estas substâncias vestiário para guarda dos pertences e colocação de uniformes sala de paramentação localizada imediatamente antes da área produtiva para se vestirem os equipamentos de proteção individual EPIs sala ou local de pesagem de matériasprimas área ou sala de controle de qualidade a qual pode ser centralizada em uma de suas unidades área ou local para lavagem de utensílios e materiais de embalagem que pode ser dentro do laboratório de manipulação apenas se houver POP definindo que essa atividade será em horário diferente da manipulação área de dispensação área ou sala para atividades administrativas e arquivos de documentos depósito para guarda de material de limpeza sanitários 55 FARMACOTÉCNICA local e equipamentos seguros e protegidos para o armazenamento de produtos inflamáveis cáusticos corrosivos e explosivos seguindo normas técnicas em vigor capela de exaustão para manipulação de substâncias voláteis tóxicas corrosivas cáusticas e irritantes Nas áreas em que houver armazenamento produção ou controle de qualidade deve haver proteção contra entrada de partículas insetos roedores ou outros animais Além disso todas as áreas devem possuir tamanho adequado às funções ali desempenhadas paredes pisos e tetos laváveis e resistentes aos sanitizantes serem lisos e impermeáveis sem nenhuma rachadura 33 Equipamentos matérias e utensílios O estabelecimento deve dispor ao menos dos seguintes equipamentos materiais e utensílios básicos uma balança de precisão ao menos em cada laboratório com capacidade compatível com as quantidades a serem pesadas Devem possuir registros e serem instaladas em local que ofereça segurança e estabilidade ou haver uma central de pesagem onde as balanças estarão instaladas devendo ser adotados procedimentos que impeçam a contaminação cruzada e microbiana pesospadrão rastreáveis para verificação diária das balanças próxima figura vidraria verificada contra um padrão calibrado ou adquirida de fornecedores certificados pelos laboratórios da RBC quando for o caso sistema de purificação de água geladeira exclusiva para a conservação de produtos sensíveis ao calor termômetros e higrômetros bancadas revestidas de material liso resistente e de fácil limpeza armário fechado para armazenar matériasprimas e produtos sensíveis à luz eou sensíveis à umidade armários ou salas fechados à chave para guarda de matériasprimas e medicamentos de controle especial utensílios exclusivos para manipulação de preparações de uso interno e outros para preparações de uso externo lixeiras com tampa pedal e saco plástico devidamente identificadas 56 Unidade I A B Figura 12 Pesos padrões A representação esquemática de verificação de balança usando peso padrão B jogo de pesos padrões Adaptada de A httpsbitly3jmrxM5 B httpsbitly3gEU25J Acesso em 27 ago 2021 A farmácia deve dispor de um programa de manutenção preventiva dos equipamentos e empresas credenciadas à Rede Brasileira de Calibração RBC devem ser as responsáveis por executar as calibrações dos equipamentos e instrumentos de medição ao menos anualmente ou em função da frequência de uso Além disso deve ser feita verificação diária dos equipamentos por pessoal treinado da própria farmácia 34 Recursos Humanoscondutas A farmácia deve seguir um programa de saúde médico e operacional PCMSO com exames médicos obrigatórios antes do início das atividades e periodicamente Para evitar contaminação e mesmo acidentes é proibido nas áreas de produção uso de cosméticos joias e adornos ou objetos de uso pessoal Também para evitar contaminação eou não atrair insetos e roedores não é permitido comer ou manter alimentos beber ou manter bebidas mascar fumar ou dispor de produtos fumígenos nas áreas de produção A farmácia deve dispor em quantidade suficiente e gratuitamente aos colaboradores que atuarem em atividades de manipulação e controle de qualidade equipamentos de proteção individual EPIs apropriados às atividades desenvolvidas com o objetivo de não expor esses indivíduos aos produtos manipulados além de proteger os medicamentos de contaminações advindas do corpo humano A colocação dos EPIs deve ser realizada após higiene das mãos e antebraços EPIs descartáveis como toucas luvas máscaras propés devem ser repostos periodicamente Os reutilizáveis como jalecos por exemplo devem ser trocados sempre que necessário e lavados sendo esta responsabilidade do estabelecimento As exigências de higiene e uso de EPIs também se aplicam a qualquer pessoa que por algum motivo precise adentrar a área produtiva As fórmulas manipuladas não podem ficar expostas ao público com finalidade de promoção publicidade ou propaganda 57 FARMACOTÉCNICA Não podem ser aceitas receitas contendo nome de fantasia nome da fórmula símbolo ou código O prescritor também não pode receber qualquer benefício monetário ou outro para realizar indicação de farmácias As farmácias de manipulação não podem preparar medicamentos que estão disponíveis comercialmente ou seja que tenham sido produzidos por indústrias farmacêuticas sejam eles de referência similares ou genéricos O estabelecimento deve ter um programa de controle integrado de pragas e vetores para garantir a ausência de insetos e roedores os quais são grandes causadores de contaminação sendo os serviços terceirizados por empresas licenciadas Apresentamos de forma resumida os principais aspectos gerais das boas práticas de manipulação Além das disposições gerais as BPMF possuem particularidades importantes quando se trata de manipulação de substâncias de baixo índice terapêutico antibióticos hormônios citostáticos e substâncias sujeitas a controle especial medicamentos estéreis medicamentos homeopáticos doses unitárias e unitarização de dose de medicamentos em serviços de saúde Lembrete Para que aconteçam as boas práticas de manipulação em farmácia é preciso que haja envolvimento e responsabilização de todos os setores e colaboradores desde instalações recursos humanos e equipamentos passando por aquisição de insumos avaliação da prescrição produção fracionamento controle de qualidade conservação armazenamento transporte e dispensação até a atenção farmacêutica aos usuários ou seus responsáveis 4 MÉTODOS DE TRATAMENTO DE ÁGUA A água deve apresentar critérios específicos de acordo com o tipo de medicamento ou produção em que será utilizada BRASIL 2007 Monóxido de dihidrogênio ou simplesmente água de fórmula química H2O é uma molécula que nas condições normais de temperatura e pressão se apresenta como um líquido incolor inodoro e insípido que possui como pontos de solidificação e ebulição respectivamente 0 C e 99974 C e peso molecular de 1801528 gmol É ainda uma molécula polar considerada solvente universal CENTRO CIENTÍFICO CONHECER 2018 Segundo a literatura água é um dos componentes mais importantes na produção de alimentos e medicamentos Sabese ainda que ela necessita de análises físicoquímicas e microbiológicas desenvolvidas pelo departamento de controle de qualidade devido à existência de substâncias em sua 58 Unidade I composição que podem comprometer a qualidade dos medicamentos e a vida útil dos sistemas de purificação de água OLIVEIRA PELEGRINI 2011 Essas análises são definidas pela Farmacopeia brasileira ANVISA 2019b e por outros compêndios oficiais A água potável é utilizada pelos diversos sistemas de purificação ou seja é o ponto de partida para iniciar os processos de tratamento portanto deve ser obtida de local com instalações e equipamentos que também passem por manutenção constante Não menos importante está a validação de metodologia e calibração de equipamentos e instrumentos de medição OLIVEIRA PELEGRINI 2011 A água é extremamente importante para quase todos as atividades dentro de uma farmácia laboratório ou indústria farmacêutica assim como para empresas que comercializem produtos que promovam impacto na saúde humana ou de animais Em uma indústria farmacêutica a água pode fazer parte de processos de limpeza Em quase todos os casos a água está presente nos processos de lavagem de equipamentos formatos e utensílios que entram em contato com o produto A água também é o principal componente da limpeza e lavagem de superfícies de bancadas do chão das paredes e demais componentes das instalações industriais Ainda está presente na produção como na fabricação de formas farmacêuticas líquidas e semissólidas ou mesmo em produção de sólidos como na manipulação de granulados para fabricação de comprimidos BRASIL 2007 Além disso a água é necessária nas análises de controle de qualidade físicoquímico e microbiológico Todos os tipos de água são cobertos pelo sistema de qualidade das empresas e portanto devem ser qualificados A água é uma substância de importância ímpar relacionada à manutenção da vida e participa de quase todas as reações metabólicas e bioquímicas no nosso organismo Na área farmacêutica está envolvida em todos os setores e apresenta diversas aplicações Faz parte da produção de quase todas as formas farmacêuticas líquidas como soluções suspensões emulsões formulações semissólidas cremes géis séruns além de formas sólidas ou mesmo cosméticas como xampus condicionadores entre outros Na área de controle de qualidade tanto físicoquímico quanto microbiológico é imprescindível que seja de alta qualidade e altamente purificada MIERZWA 2002 É fato muito conhecido que variações nos valores de pH da água podem afetar muitas análises laboratoriais tais como análises de pH de amostras em culturas de células e tecidos etc UNITED STATES PHARMACOPEIA 2012 A United States Pharmacopeia USPBPEP classifica os tipos de água para os diferentes usos e aplicações indicando que deve ser empregada com fins farmacêuticos a água que tenha sido adequadamente purificada para o fim a que se destina Entre essas classificações a água purificada é a ideal para ser usada como componente de formas farmacêuticas oficiais BACTERIAL sd 59 FARMACOTÉCNICA 41 Contaminantes da água Há várias substâncias além de microrganismos que podem ser interferentes em potencial em procedimentos laboratoriais THERMO SCIENTIFIC 2013 ELGA PURE LAB WATER GUIDE 2005 A seguir veremos alguns desses interferentes 411 Microrganismos e pirogênios Podem causar interferências em análises de material biológico que podem eventualmente se contaminar Dessa forma poderia afetar o funcionamento de etapas do sistema de purificação em que bactérias podem eventualmente proliferar Ainda há de se tomar cuidado com vírus e nucleases SALTER et al 2014 412 Materiais orgânicos presença de carbono A presença de compostos orgânicos na água pode ocasionar problemas na fabricação de medicamentos e pode ser um indicativo da presença de biofilmes nas paredes do sistema de tratamento de água e geração de endotoxinas A determinação do carbono orgânico total COT é um método sensível e inespecífico de quantificar os átomos de carbono ligados por covalência em moléculas orgânicas presentes em uma amostra geralmente através da oxidação total das moléculas orgânicas a dióxido de carbono que é quantificado como carbono ANVISA 2019b 413 Partículas Dependendo das dimensões das partículas principalmente as de tamanho entre 1 μm a 10 μm podem deixar a água turva causando problemas desde o funcionamento de instrumentos até análises Essas partículas podem ainda provocar entupimentos em equipamentos e ser danosas aos processos de purificação da água FUNASA 2014 414 Coloides Normalmente com tamanho de 001 μm a 1 μm essas partículas são pequenas demais para decantarem por gravidade Dessa forma costumam permanecer suspensas na água podendo interferir em análises pois causam turbidez na água atrapalhando a eficácia de diversos sistemas de purificação tais como troca iônica osmose reversa e entupindo filtros FUNASA 2014 415 Íons A presença de íons como silicatos e cloretos pode aumentar a condutividade elétrica da água e reduzir a resistividade da água afetando tanto análises de compostos inorgânicos como absorção atômica cromatografia de íons e espectrometria de massas com plasma indutivamente acoplado Pode afetar ainda análises de compostos orgânicos como o crescimento de células e tecidos além de reduzir 60 Unidade I a vida útil de cartuchos no sistema de deionização EMD MILLIPORE 2012 Além disso íons podem interferir diretamente na estabilidade dos medicamentos Lembrete Variações nos valores de pH da água podem afetar muitas análises laboratoriais tais como análises de pH de amostras em culturas de células e tecidos etc 42 Água potável Recebe esse nome a água que é certificada após análises que atestem seu padrão de potabilidade Segundo Brasil 2011 a água potável é destinada à higiene pessoal ao uso doméstico para limpeza e preparação de alimentos e ainda à ingestão A água potável geralmente contém cloro A água no Brasil é considerada mole o que significa que contém sólidos dissolvidos A filtração inicial pode ser realizada com filtros de areia Em seguida ela sofrerá cloração e ficará armazenada sendo de boa qualidade do ponto de vista microbiológico Além de seu uso para limpeza ela também é utilizada como matériaprima para obtenção da água purificada De acordo com a Portaria n 29142017 que dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade fica sob responsabilidade da Vigilância Sanitária Municipal controlar as análises feitas de acordo com o tipo de abastecimento Considerando o seu art 4 Toda água destinada ao consumo humano proveniente de solução alternativa individual de abastecimento de água independentemente da forma de acesso da população está sujeita à vigilância da qualidade da água BRASIL 2011 A água potável é o ponto de partida para o processo de purificação da água empregada nas etapas iniciais de procedimentos de limpeza sendo obtida de mananciais por processos de tratamentos de acordo com os padrões de potabilidade estabelecidos pela Portaria SVSMS 518 de 2004 BRASIL 2004 O padrão de potabilidade de água para o consumo humano preconiza as análises mínimas microbiológicas a serem realizadas como contagem de Escherichia coli ou coliformes termotolerantes e coliformes fecais correspondendo simultaneamente ausentes em 100 mL da amostra BRASIL 2004 FUNASA 2014 Em resumo as análises de água para efeitos de controle operacional da potabilidade para consumo humano podem ser classificadas de acordo com o quadro a seguir 61 FARMACOTÉCNICA Quadro 6 Potabilidade da água periodicidade e solução alternativa coletiva Padrão Tipo de manancial Periodicidade Observações Turbidez Superficial Amostra única Apenas recomendado Turbidez Superficial subterrâneo Mensal sistema efluente Diário filtração lenta Cada 2h filtração rápida Com sistema de filtração Coliformes totais Superficial subterrâneo Semanal superficial Mensal subterrâneo Sem sistema de filtração Cor Superficial subterrâneo Semanal superficial Mensal subterrâneo 1 amostra a cada 500 pessoas pH Superficial subterrâneo Semanal superficial Mensal subterrâneo 1 amostra a cada 500 pessoas Cloro livre Superficial subterrâneo Diário 1 amostra a cada 500 pessoas Escherichia Coli Superficial subterrâneo Mensal ponto de captação 1 amostra a cada 500 pessoas Cianobactérias Superficial Mensal ou semanal dependendo da densidade Coleta de água bruta Substâncias químicas Superficial subterrâneo Semestral Coleta de água bruta Cianotoxinas Superficial Semestral Coleta de água bruta Radioatividade Superficial subterrâneo Semestral Coleta de água bruta Padrão organoléptico de potabilidade Superficial subterrâneo Semestral Coleta de água bruta Adaptado de Snatural 2020 Como já mencionado a água advinda da natureza apresenta uma série de impurezas como sólidos suspensos compostos orgânicos dissolvidos compostos inorgânicos dissolvidos microrganismos gases dissolvidos O tipo de tratamento que ocorrerá é dependente do grau necessário de purificação e de classificação da água FREITAS 2013 Para estabelecimento de um sistema de purificação de água segundo a Farmacopeia brasileira ANVISA 2019b é importante conhecer o sistema de fornecimento de água e sua qualidade Devese observar ainda se esse sistema apresenta características compatíveis como a vazão a distância entre o 62 Unidade I sistema de produção e os pontos de uso o layout da tubulação e suas conexões o material empregado a assistência técnica e manutenção e monitoramento Nesse sentido a préfiltração é processo imprescindível para a qualidade final da água e para que chegue até o sistema de purificação com menos contaminantes possíveis ANVISA 2010 Na indústria farmacêutica são usados geralmente três tipos de água Colocando em ordem crescente de pureza temos água purificada água ultrapurificada água para injeção 43 Água purificada É produzida a partir da água potável ou da água reagente tipos I II ou III Deve atender às especificações estabelecidas na monografia publicada pela Farmacopeia brasileira ANVISA 2019b Uma combinação de sistemas de purificação é efetuada em sequência lógica como múltipla destilação troca iônica osmose reversa eletrodeionização ultrafiltração ou outro processo capaz de atender aos limites especificados pela Farmacopeia brasileira ANVISA 2019b Segundo Anvisa 2010 a sequência lógica inclui filtração grossa retirada de cloro por filtro de carvão ou pela adição de bissulfito de sódio osmose reversa eou eletrodeionização Apresenta baixa condutividade por ter poucos íons contaminação microbiológica controlada e ausência de cloro É produzida a partir da água potável frequentemente através dos processos sequenciais ver figura a seguir Pontos de uso Eletrodeionização Tanque PW Bomba Pontos de uso Ultravioleta Filtro quebravácuo Filtro Coloração Bissulfito Osmose reversa Água potável Água purificada Armazenamento Figura 13 Obtenção de água purificada a partir de água potável Adaptada de WHO 2012 Anvisa 2013 É usada como matériaprima para a produção de medicamentos para última lavagem de equipamentos e utensílios de produção e como matériaprima para obtenção da água para injeção e para a água ultrapura Ela ainda gera vapor limpo utilizado em processos estéreis FDA 2017 63 FARMACOTÉCNICA 44 Água ultrapurificada Possui baixa concentração iônica baixa carga microbiana e baixo nível de carbono orgânico total COT Essa água é muito importante para a obtenção de resultados analíticos precisos Deve ser utilizada no momento em que é produzida ou no mesmo dia da produção BRASIL 2019b 45 Água para injeção Possui um rigoroso controle de qualidade e não permite contaminação microbiológica e de endotoxinas do tipo pirogênio Sua obtenção deve ser por destilação ou por processo igual ou superior à destilação tal como por osmose reversa acoplada a outros sistemas como ultrafiltração por osmose duplo passo e eletrodeionização para a remoção que possa retirar contaminantes físicos químicos e microrganismos Pode ser utilizada na limpeza de equipamentos além de ser utilizada como veículo na preparação de formulações parenterais de pequeno e grande volume como ampolas e nutrições parenterais produtos de uso oftálmico e outro que necessitem de isenção de endotoxinas ANVISA 2010 EMA EUROPEAN MEDICINES AGENCY 2016 46 Sistemas de purificação da água O sistema adotado para a purificação da água dependerá do tipo de água que se deseja obter porém aquele que for adotado deve seguir os requisitos de boas práticas de fabricação Objetivase reduzir o risco de contaminação podendo ser física química ou microbiológica BRASIL 2013 Os métodos de purificação podem ser visualizados no quadro a seguir Quadro 7 Métodos de purificação da água na indústria farmacêutica Métodos Vantagens Desvantagem Carvão ativado Remove cloro e matéria orgânica Não elimina íons e bactérias Filtração Remove partículas suspensas e microrganismos Uso de filtros de diferentes porosidades Deionização Baixo custo fácil operação remove apenas compostos inorgânicos Não remove material particulado bactérias e saturação rápida da resina Destilação Remove grande parte de todos os contaminantes Consumo elevado de energia Ultrafiltração Remove microrganismos Risco de rompimento da membrana Osmose reversa Remove material orgânico Alto custo do equipamento Adaptado de Macedo 2000 Membranas são meios físicos filtrantes estruturados compostos de diversos tipos de polímeros tais como PVDF difluoreto de polivinilideno PTFE politetrafluretileno 64 Unidade I PES polietersulfona PAN poliacrilonitrila Há aquelas constituídas de matérias inorgânicas A diferença entre membranas de filtros convencionais é sua alta capacidade de retenção uma vez que há a presença de poros de dimensões variadas que servem tanto para separar partículas como para fracionar moléculas de diferentes massas molares 461 Níveis de passagem de compostos Os tipos de componentes como proteínas vírus íons e microrganismos conseguem atravessar as membranas em diversos tipos de processos 462 Filtração Filtração é um procedimento simples de remoção física de partículas presentes na água Nesse método a água passa por algum material poroso de forma que as partículas fiquem retidas conforme explicitado na figura a seguir Costuma ser utilizada em diversos pontos do sistema de purificação de água de maneira a proteger e prolongar a vida útil dos equipamentos seguintes porém não remove material dissolvido VIJYA et al 2013 Figura 14 Esquema de processo de filtração Adaptada de Li et al 2014 463 Microfiltração Tratase de um processo de separação crossflow que se caracteriza por ser de baixa pressão de partículas que vão desde coloidais até sólidos em suspensão na água Apresenta a capacidade de diminuir a turbidez da água e ainda pode capturar alguns vírus que se agrupam em colônias em pequenas proporções 65 FARMACOTÉCNICA R1s R1 B1 B2 Reciclo MF Permeado T1 R1S R2 Figura 15 Fluxograma contendo a microfiltração Fonte Dacanal e Beal 2010 p 12 Essas membranas atuam na proteção das membranas em processos de nanofiltração e de osmose reversa Agem na dessalinização e desmineralização de água A porosidade das membranas de microfiltração varia de 01 µm a 02 µm 464 Ultrafiltração Assim como outros procedimentos de filtração a ultrafiltração também atua na remoção física de partículas agindo no entanto ao final do sistema de purificação em que um filtro retém partículas superiores a determinada dimensão Sabese que na ultrafiltração e nanofiltração são removidos ainda os sais dissolvidos No caso da microfiltração são retidas partículas com dimensões que ficam entre 01 μm e 10 μm sendo essas partículas suspensas bactérias algas Um poro de 022 μm é considerado um tamanho bastante comum entre os filtros comercializados Partículas com tamanhos entre 001 μm e 01 μm costumam ser retidas pela ultrafiltração São essas vírus coloides macromoléculas Partículas menores com tamanho entre 001 μm e 0001 μm tais como compostos orgânicos e íons bivalentes precisam passar por nanofiltração ELGA PURE LAB WATER GUIDE 2005 VIJYA et al 2013 No intuito de remover material particulado e endotoxinas a ultrafiltração é muito utilizada nos equipamentos de osmose reversa já que apresenta pequena porosidade em suas membranas VIJYA et al 2013 465 Nanofiltração Esse processo figura a seguir compreende a difusão de algumas soluções iônicas predominantemente íons monovalentes tais como Cl e Na de forma que se propaguem sob influência da pressão osmótica A nanofiltração favorece remoção considerável que atinge até mesmo cálcio e magnésio Porém em relação à dessalinização deixa a desejar permitindo a passagem de certas quantidades de cloro As membranas possuem poros de 0001 µm Nesse processo a pressão osmótica do fluido atua na remoção das partículas É considerado um processo alternativo para a osmose reversa para dessalinização quando não é considerada potável e aplicada em caldeiras SNATURAL 2020 66 Unidade I TA CV CV P P T T Bomba Controlador de velocidade Rotâmetro Concentrado Permeado Válvula agulha Manômetro Termômetro Figura 16 Esquema de uma unidade de nanofiltração Fonte Andrade 2011 p 73 466 Destilação A destilação simples próxima figura é utilizada para a eliminação de contaminantes Essa técnica remove bactérias e partículas mas não elimina substâncias inorgânicas e demanda grande consumo de energia MACEDO 2000 É utilizada para a separação de uma mistura homogênea de dois ou mais líquidos miscíveis sendo necessário que os pontos de ebulição das substâncias sejam diferentes e distantes Nas farmácias de manipulação são utilizados os destilados que trabalham pelo princípio observado a seguir Caldeira Coluna Entrada de água Descarte de água Saída de água destilada Figura 17 Destilação simples Fonte SPlabor 2020 A água entra no destilador através de orifício de entrada acoplado à rede Ela deverá entrar ascendentemente até o topo através da coluna A água será aquecida e o vapor de água produzido condensará a água obtida será purificada com qualidade microbiológica atestada nos compêndios 67 FARMACOTÉCNICA oficiais O volume de água descartado nesse processo costuma ser grande dependendo do equipamento SPLABOR 2020 467 Deionização Os sistemas de deionização próximas figuras produzem água purificada através da utilização de resinas sintéticas de troca iônica específicas São compostas de polímeros orgânicos sulfonadas quase sempre na forma de pequenas partículas Sabese que são resinas catiônicas e aniônicas realizando a troca seletiva das impurezas ionizadas contidas na água pelos íons H ou OH presentes nas resinas As resinas são regeneráveis com ácidos e bases simultaneamente ANVISA 2010 A remoção é apenas para compostos inorgânicos e não remove compostos orgânicos dissolvidos Ainda não ocorre a remoção de materiais particulados e nem de bactérias presentes na água No entanto uma grande vantagem está no baixo custo e na facilidade de operação MACEDO 2000 Pode ocorrer de esses equipamentos possuírem carvão ativado em um procedimento prévio para depois a água passar pela resina É possível a obtenção de água com mais de 95 de pureza iônica 468 Eletrodeionização Através desse processo é possível remover íons presentes na água através da combinação de deionização à eletrodiálise que são conhecidas por serem correntes elétricas que atraem os íons através de membranas seletivas propriedades semelhantes às esferas de resina da troca iônica conforme figura a seguir Em relação à deionização tratase de um processo vantajoso pois as membranas seletivas são continuamente regeneradas A eletrodiálise é mais utilizada para a remoção de sais de água salobra para que ela fique potável Para utilização em laboratório esse método é menos eficiente e mais caro além de mostrar a necessidade de técnicos especializados e de manutenções mais frequentes LEE et al 2013 VIJYA et al 2013 OH OH Na Na Na Na Na CI CI CI CI H H A C A C Anodo Descarte Água purificada Catodo CI Figura 18 Processo de eletrodeionização Fonte Brunini 2013 p 17 68 Unidade I 469 Adsorção A figura a seguir ilustra um processo de adsorção que é baseado na remoção de cloro e substâncias orgânicas por quimisorção adsorção química e fisissorção adsorção física respectivamente Funciona através da passagem da água por carvão ativado Nesse processo as moléculas líquido ou gás fazem uma ligação com a superfície de um sólido ou líquido Nesse processo costuma ser realizada prétécnica de osmose reversa e deionização pois é de extrema importância diminuir a quantidade de cloro para que o equipamento não se deteriore precocemente Esse método não remove íons e partículas É por fim o fenômeno de transferência de massa em que há retenção de moléculas em superfícies de partículas sólidas VIJYA et al 2013 Figura 19 Esquema de um processo de adsorção aparato experimental esquerda A bulbo de reação B manta aquecedora C termopar D agitador E haste de aplicação coluna de adsorção direita F1 corpo central F2 corpo secundário Fonte Lucena 2008 p 52 4610 Carvão ativado A utilização da filtração através de carvão ativado elimina o cloro contido na água por formação de óxidos e remove a matéria orgânica por meio da adsorção Sendo o carvão um material poroso é comum a utilização de filtro de 1 μm após o filtro de carvão ativado para retenção de material particulado MACEDO 2000 4611 Oxidação ultravioleta Esse processo objetiva eliminar microrganismos presentes na água por meio da radiação ultravioleta com frequência de 254 nm através de oxidação É também utilizado nas frequências de 185 nm e 254 nm para oxidar moléculas orgânicas Vale ressaltar que esse método não remove partículas apenas as inativa VIJYA et al 2013 KRÖCKEL SCHMIDT 2014 69 FARMACOTÉCNICA Préfiltro Bomba Água Rede pública Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Declorador Osmose reversa Resina mista Reator UV Tanque de armazenamento Figura 20 Esquema de purificação que utiliza a radiação ultravioleta Fonte Barbosa 2016 p 37 O processo catalítico oxidativo avançado também tem sido muito explorado sendo considerado um dos mais eficazes para controle de poluentes microrganismos cor e odor de efluentes Usa o radical hidroxila OH gerado in situ atuando como agente oxidante A hidroxila OH o ozônio O3 e o peróxido de hidrogênio H202 são os mais utilizados para tratamento de água potável ou água para reuso Essa escolha se baseia no fato de que não deixam subprodutos A hidroxila é instável dessa forma ela reage rapidamente e é capaz de oxidar moléculas orgânicas ou inorgânicas que estiverem na água gerando CO2 e H2O No processo de oxidação figura a seguir os elétrons são transferidos de uma substância para outra gerando um potencial elétrico Sabese que a oxidação é mais eficiente quanto maior for o potencial elétrico pois mais elevada será a capacidade de a substância subtrair elétrons das outras oxidandoas aumentando sua valência Oxidar uma substância significa também combinála com oxigênio como no caso do fogo ou da ferrugem 4612 Osmose reversa A osmose reversa é obtida através da aplicação mecânica de uma pressão superior à pressão osmótica do lado da solução mais concentrada Sendo assim a água pura pode ser retirada de uma solução salina por meio de uma membrana semipermeável que pode ser composta por ésteres de celulose ou poliamidas e são eficazes na retenção de todas as macromoléculas e pequenos íons Na prática essa etapa é realizada pressionandose a solução por meio de uma bomba de modo que ela passe sob alta pressão por um vaso permeador onde está contida a membrana A água pura e a solução mais concentrada são retiradas de forma contínua dos dois lados da membrana de modo que a pressão osmótica e a concentração de sais se mantenham em nível aceitável para que o processo não seja interrompido A água obtida é denominada produto e a solução concentrada denominase descartado ou rejeito FRISCHKORN ROCHA NETO 2009 O processo de osmose reversa próxima figura é aplicado na separação concentração e fracionamento de substâncias orgânicas e inorgânicas em soluções aquosas ou não aquosas Tanto a natureza física como química da membrana de osmose reversa determinam sua capacidade de transportar moléculas de água e rejeitar partículas ou sais dissolvidos OLIVEIRA 2007 70 Unidade I P ρ g h ρ densidade g atração gravitacional h altura Meio menos concentrado Meio mais concentrado Concentrações iguais Pressão osmótica Tempo h P Figura 21 Funcionamento de osmose reversa Fonte Gouvêa et al 2012 p 529 47 Especificações de pureza No Brasil para determinar as especificações e classificações da água a principal referência é a Farmacopeia brasileira publicada pela Anvisa Porém na indústria é comum encontrarmos outros tipos de literaturas e referências como USP e CLSI Clinical Laboratory Standards Institute ORGANIC sd As tabelas a seguir comparam essas diferentes especificações Tabela 2 Especificações para diferentes tipos de água Parâmetro Água reagente Água purificada Água para injetáveis Água ultrapura Condutividade 1 a 5 µScm 01 a 13 µScm 01 a 13 µScm 0055 a 01 µScm Resistividade 02 MΩcm 1 MΩcm 1 MΩcm 18 MΩcm TOC 02 mgL 05 mgL 05 mgL 005 mgL Contagem microbiológica 100 UFCmL 10 UFCmL 1 UFCmL Endotoxinas 025 UI de endotoxinamL Adaptada de Anvisa 2019b p 792 Tabela 3 Especificações para diferentes tipos de água segundo Clinical Laboratory Standards Institute 2020 Parâmetro Água reagente tipo I Água reagente tipo II Água reagente tipo III Condutividade 01 µScm 1 µScm 10 µScm Resistividade 10 MΩcm 1 MΩcm 01 MΩcm Sílica Total 005 mgL 01 mgL 1 mgL pH 5 a 8 Contagem microbiológica 10 UFCmL 1000 UFCmL Adaptada de Organic sd 71 FARMACOTÉCNICA 48 Monitoramento Todas as águas farmacêuticas devem ser monitoradas A água potável é monitorada quanto ao nível de cloro contagem microbiológica e total de sólidos dissolvidos amônia e ouros íons Os sistemas de água purificada e água para injeção são mais constantemente monitorados Os parâmetros são contagem de microrganismos e condutividade além de TOC total organic carbon e pirogênio no caso de API água para injeção O nível alto TOC pode significar contaminação da água por material em decomposição solventes tensoativos ou outras fontes de carbono MIRA 2015 Normalmente são coletadas amostras dos pontos de uso e outros pontos representativos como no retorno do anel antes da bomba de recirculação e após a lâmpada ultravioleta A tendência da maioria dos sistemas de água é ser cada vez mais automatizado Para água potável o sistema mais frequentemente automatizado é o doseamento e a correção de cloro Para água purificada temos o doseamento de metabissulfito no prétratamento e depois de purificada temos condutividade TOC funcionamento da bomba e nível do tanque de armazenamento Para API acrescentase o controle de temperatura 72 Unidade I Resumo Nesta unidade estudamos conceitos e terminologias de uso diário na rotina do farmacêutico especialmente aqueles vinculados à produção de medicamentos Assim foram diferenciados os componentes principais do medicamento insumos ativos fármacos princípios ativos drogas dos insumos inertes adjuvantes excipientes veículos Distinguimos forma farmacêutica de fórmula farmacêutica a primeira referindose ao estado físico do medicamento enquanto a segunda fornece a composição quantitativa desse produto No que diz respeito à maneira pela qual são preparados os medicamentos verificamos a existência de três tipos de produtos farmacêuticos Magistrais e oficinais ambos preparados em farmácia de manipulação Já as especialidades farmacêuticas são os medicamentos registrados pela Anvisa e produzidos em indústrias farmacêuticas Quanto ao tipo de ação os medicamentos foram divididos em alopáticos possuem efeito contrário à manifestação da doença ou homeopáticos possuem efeito semelhante à manifestação da doença além dos fitoterápicos cujos insumos ativos são drogas de origem vegetal Pela legislação em vigor vimos que os medicamentos podem ser registrados como novos inovadores de referência genéricos e similares Entendemos a importância dos cálculos farmacêuticos para a correta produção e mesmo análise dos medicamentos Destacandose os cálculos de conversão de unidades de massa e volume porcentagem e aqueles que expressam concentrações além das diluições Vislumbramos as boas práticas as quais englobam um conjunto de normas legais e éticas que direcionam o trabalho do farmacêutico na produção de medicamentos sendo que neste livrotexto demos ênfase às BPMF A garantia da qualidade é o setor que conduz todos os outros departamentos no correto cumprimento das boas práticas sendo de sua responsabilidade manual da qualidade documentação legal POPs programas de treinamento especificações de materiais qualificação de fabricantesfornecedores registros de manipulação análises de controle de qualidade reclamações registros complementares plano de gerenciamento de resíduos Além disso também investiga desvios de qualidade e realiza auditorias internas As boas práticas exigem ainda que o estabelecimento apresente infraestrutura equipamentos materiais e utensílios com características mínimas adequadas além de condutas apropriadas aos seus colaboradores Finalmente estudamos a água matériaprima vital em toda produção de medicamentos Foi possível aprender que a água deve apresentar grau de 73 FARMACOTÉCNICA pureza adequado ao objetivo a que se propõe ou seja quanto maior a exigência da produção mais pura deve ser Vimos os possíveis contaminantes e metodologias para a remoção deles e como essas técnicas podem ser associadas para obtenção dos diferentes tipos de água Exercícios Questão 1 Observe a fórmula de suspensão de hidróxido de alumínio a seguir extraída e modificada do Formulário nacional da farmacopeia brasileira 2 ed 2012 Hidróxido de alumínio 6 pv Sacarina sódica 0010 pv Benzoato de sódio 0525 pv Carmelose sódica alta viscosidade 1 pv Glicerol 25 vv Aromatizante qs Água purificada qsp 100 mL Disponível em httpsbitly3hYEnjc Acesso em 26 maio 2021 Considere que um médico tenha prescrito a fórmula anterior solicitando ao farmacêutico a preparação de 600 mL do produto e avalie as afirmativas I Para atender à solicitação do prescritor o farmacêutico deveria pesar 36 g de hidróxido de alumínio II Para atender corretamente à solicitação do prescritor o farmacêutico pesaria 60 mg de sacarina sódica III O volume de glicerol necessário para atender à solicitação do prescritor é 15 mL É correto o que se afirma em A I apenas B II apenas C III apenas D I e III apenas E I II e III Resposta correta alternativa E 74 Unidade I Análise das afirmativas I Afirmativa correta Justificativa sabemos que 6 pv 6 g em 100 mL A massa de hidróxido de alumínio em gramas necessária para preparar 60 mL do produto é obtida a partir do seguinte cálculo 6 g 100 mL X 60 mL X 6 60100 36 g II Afirmativa correta Justificativa sabemos que 0010 pv 0010 g em 100 mL A massa de sacarina sódica em gramas necessária para preparar 60 mL do produto é obtida a partir do seguinte cálculo 0010 g 100 mL X 60 mL X 0010 60100 0006 g Porém observemos que na afirmativa a massa está expressa em mg e não em g Assim devemos efetuar a transformação de unidades sabendo que 1 g corresponde a 1000 mg 1 g 1000 mg 0006 g X X 0006 10001 6 mg III Afirmativa correta Justificativa sabemos que 25 vv 25 mL em 100 mL O volume de sacarina sódica necessário para preparar 60 mL do produto é obtido a partir do seguinte cálculo 25 mL 100 mL X 60 mL X 25 60100 15 mL 75 FARMACOTÉCNICA Questão 2 A RDC n 67 de 8 de outubro de 2007 dispõe sobre Boas Práticas de Manipulação de Preparações Magistrais e Oficinais para Uso Humano em Farmácias Considerando o que está previsto nessa RDC avalie as afirmativas I Boas práticas de manipulação em farmácias BPMF é um termo que se refere ao conjunto de ações e serviços relacionados com o medicamento destinados a apoiar as ações de saúde demandadas por uma comunidade Isso envolve o abastecimento de medicamentos em todas e em cada uma de suas etapas constitutivas a conservação e o controle de qualidade a segurança e a eficácia terapêutica dos medicamentos o acompanhamento e a avaliação da utilização a obtenção e a difusão de informação sobre medicamentos a educação permanente dos profissionais de saúde do paciente e da comunidade para assegurar o uso racional de medicamentos II A atenção farmacêutica é a interação direta do farmacêutico com o usuário visando à farmacoterapia racional e à obtenção de resultados definidos e mensuráveis para a melhoria da qualidade de vida Essa interação também deve envolver as concepções dos seus sujeitos respeitadas as suas especificidades biopsicossociais sob a ótica da integralidade das ações de saúde III Em relação à concentração à viabilidade e à compatibilidade físicoquímica e farmacológica dos componentes da dose e da via de administração a avaliação farmacêutica das prescrições deve ser feita depois que o medicamento for manipulado É correto o que se afirma apenas em A I B II C III D I e II E II e III Resposta correta alternativa B Análise das afirmativas I Afirmativa incorreta Justificativa a definição constante dessa afirmativa é de assistência farmacêutica Conforme previsto no item 4 definições dessa RDC temos o que segue Boas práticas de manipulação em farmácias BPMF conjunto de medidas que visam a assegurar que os produtos manipulados sejam consistentemente manipulados e controlados com padrões de qualidade apropriados para o uso pretendido e requerido na prescrição 76 Unidade I II Afirmativa correta Justificativa conforme previsto no item 4 dessa RDC temos o que segue Atenção farmacêutica é um modelo de prática farmacêutica desenvolvida no contexto da assistência farmacêutica Compreende atitudes valores éticos comportamentos habilidades compromissos e corresponsabilidades na prevenção de doenças promoção e recuperação da saúde de forma integrada à equipe de saúde É a interação direta do farmacêutico com o usuário visando a uma farmacoterapia racional e à obtenção de resultados definidos e mensuráveis voltados para a melhoria da qualidade de vida Essa interação também deve envolver as concepções dos seus sujeitos respeitadas as suas especificidades biopsicossociais sob a ótica da integralidade das ações de saúde III Afirmativa incorreta Justificativa a avaliação da prescrição deve ocorrer antes da manipulação não depois dela Essa exigência está prevista no item 51811 da RDC em foco como segue A avaliação farmacêutica das prescrições quanto à concentração viabilidade e compatibilidade físicoquímica e farmacológica de componentes dose e via de administração deve ser feita antes do início da manipulação