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ESTUDOS CULTURAIS E ANTROPOLÓGICOS Priscila Farfan Barroso A história da filosofia Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto você deve apresentar os seguintes aprendizados Identificar os períodos históricos da filosofia Relacionar os períodos históricos da filosofia com as escolas filosóficas Reconhecer a trajetória histórica do desenvolvimento do pensamento humano Introdução A história da filosofia é a disciplina responsável por estudar o pensamento filosófico ordenado cronologicamente para se identificar o debate entre as ideias filosóficas no tempo Neste capítulo você vai ver os principais períodos históricos e as escolas filosóficas A partir daí acessará a trajetória histórica do desenvolvimento do pensamento humano Filosofia e seus períodos históricos Você sabe o que signifi ca fi losofi a Boécio 1998 nos lembra que segundo a etimologia dessa palavra fi losofi a signifi ca amor à sabedoria Ou seja o desejo de conhecer compreender e explicar as coisas da vida de forma mais profunda e refl exiva faz parte dessa disciplina Mas como fi losofar Por meio da própria refl exão sobre o pensar e o agir humano Então qualquer pessoa pode propor questões fi losófi cas Sim qualquer pessoa pode fazer suas questões diante do mundo inclusive você Indagar sobre a vida cotidiana também nos permite desenvolver o pensa mento reflexivo uma vez que as ideias do senso comum são questionadas e por meio da investigação filosófica podese constituir o pensamento crítico Desse modo é preciso tomar distância do que conhecemos costumeiramente a fim de analisar como se conhecêssemos aquilo pela primeira vez como nos provoca Chauí 2000 p 9 A Filosofia começa dizendo não às crenças e aos preconceitos do senso comum e portanto começa dizendo que não sabemos o que imaginávamos saber por isso o patrono da Filosofia o grego Sócrates afirmava que a primeira e fundamental verdade filosófica é dizer Só sei que nada sei Para o discípulo de Sócrates o filósofo grego Platão a Filosofia começa com a admiração já o discípulo de Platão o filósofo Aristóteles acreditava que a Filosofia começa com o espanto Sendo assim você pode realizar análises filosóficas a partir de muitas questões e ainda englobar inúmeras abordagens nessa reflexão como enfatiza Aranha e Martins 2009 p 21 A filosofia é um tipo de reflexão totalizante de conjunto por que examina os problemas relacionando os diversos aspectos entre si Mais ainda o objeto da filosofia é tudo por que nada escapa a seu interesse Por exemplo o filósofo se debruça sobre assuntos tão diferentes como a moral a política a ciência o mito a religião o cômico a arte a técnica a educação e tantos outros Daí o caráter transdisciplinar da filosofia ao estabelecer o elo ente diversas expressões do saber e do agir Logo podese imaginar que desde o surgimento do homem as preocu pações sobre o modo de vida em sociedade e as explicações possíveis para os problemas da convivência no meio social se tornaram grandes estímulos para iniciar e aprofundar questões filosóficas Contudo o que orienta as respostas para essas explicações também marca uma época histórica em nossa socie dade Ou seja estudar a história da filosofia nos leva a estudar a história da constituição da nossa sociedade que por questões históricas de migrações guerras e construção de nações faz com compreendamos também a história do pensamento Ocidental Assim ao conhecer e apreender a história desta disciplina também com preendemos como se dão as mudanças de ideias ao longo do tempo Nesse sentido Moura 1988 p 152 nos lembra que Como é um fato que o passado da filosofia é relevante para a reflexão do presente dirá Gueroult o estudo da história da filosofia tem interesse para a filosofia e essa história bem compreendida é sempre uma história sapientiae que nos mostra o passado como contemporâneo ao presente sem com isso deformálo A história da filosofia 2 Por consequência o estudo dos períodos históricos na filosofia corresponde ao estudo dos períodos históricos na história da sociedade Ocidental Assim baseado em Marcondes 2010 podemos periodizar a história da filosofia da seguinte forma Filosofia Antiga corresponde à História Antiga datada entre o sur gimento do homem até o fim do século IV Nessa época passouse do pensamento míticoreligioso para o pensamento filosóficocientífico evidenciando a noção da natureza da causalidade e da racionalidade Coube buscar as primeiras respostas para os dilemas existenciais humanos Filosofia Medieval corresponde à Idade Média período entre os séculos V e XV Nesse momento deuse a transição do helenismo para o cristianismo que veio acompanhando de uma deterioração cultural e econômica na Europa em decorrência do Império Romano do Ocidente Filosofia Moderna corresponde à História Moderna indo do século XV até o século XVIII Nessa época ocorre a descoberta das Américas há uma ruptura com a tradição e valorizase o progresso e a individualidade Na questão da fé é a reforma protestante que entra em voga questionando a autoridade institucional da Igreja Filosofia Contemporânea corresponde à Contemporaneidade período a partir do final do século XVIII até os dias atuais Sua concepção busca encontrar respostas para a crise do projeto filosófico da modernidade pretendendose assim atualizar o racionalismo trazer novas alternativas para o questionamento da subjetividade e evidenciar questões de linguagens Períodos históricos da filosofia e as escolas filosóficas Agora aprofundaremos nosso conhecimento sobre cada um dos períodos his tóricos da fi losofi a a fi m de compreender o desenrolar histórico do pensamento humano na sociedade Ocidental Em cada período também será destacada a principal escola que o representa Cada escola é determinada por um pensador que teve suas ideias ecoadas na época em que viveu 3 A história da filosofia Entretanto devemos lembrar que estas caixas da história são apenas referên cias e que quando falamos da história da filosofia estamos na verdade falando sobre filosofar como nos indica MerleauPonty 1980 p 212 a explicação histórica é apenas uma maneira de filosofar sem dar na vista disfarçar as ideias em coisas e pensar sem precisão Uma concepção da história só explica as filosofias sob a condição de tornarse também filosofia e filosofia implícita A Filosofia Antiga engloba todo o pensamento filosófico anterior ao século V Esse momento corresponde à Antiguidade que vai da invenção da escrita 4000 aC a 3500 aC até a queda do Império Romano do Ocidente 476 dC Surgiu então a formação do Estado e as civilizações existentes nesse período eram Egito Grécia Roma Persas Fenícios povos germânicos entre outros Quanto ao desenvolvimento da filosofia sobre esse período histórico Braz 2005 enfatiza o período présocrático que faz referência ao período anterior à existência de Sócrates e destaca filósofos que se focavam com aspectos da natureza para responder suas questões o período socrático que na figura de Sócrates estimulava o diálogo para filosofar o período sistemático que é um período atribuído a Aristóteles e período grecoromano que destacou aspectos da cosmologia para buscar responder aos problemas da época Segundo Marques 2007 as principais preocupações neste momento eram compreender a origem do universo os fenômenos da natureza e os comporta mentos humanos a partir da razão Assim não se aceita mais as explicações míticas e buscase observar analisar e fundamentar as explicações por meio da racionalidade humana Uma das escolas mais representativas deste período da Filosofia Antiga é a Escola Socrática Seu representante é Sócrates que viveu durante o ano de 470 aC em Atenas na Grécia Dentre as preocupações centrais deste filósofo estavam a ética a razão a verdade e o questionamento O discípulo mais conhecido de Sócrates foi o filósofo Platão que inclusive foi responsável por compilar e escrever as ideias de seus mestre visto que Sócrates nade de escrito deixou Sócrates foi um filósofo que agiu pela fala e por ela influenciou seus con cidadãos e se um indivíduo se define como político na medida em que age e influencia os demais por meio da palavra viva em ato isto é a fala Sócrates foi sem dúvida o mais público o mais político o mais cidadão de todos os filósofos E embora só possamos ter e construir imagens dele a partir do que se escreveu a seu respeito o que é inevitável a imagem que predomina sobre as demais ou as monopoliza é a de um filósofo em ação e sobretudo da ação um cidadão que agiu sobre outros cidadãos falando conversando e discutindo com eles um cidadão que sustentou e defendeu a palavra falada viva em contraposição à palavra escrita que tinha na conta de morta como meio de ação na e para a pólis A história da filosofia 4 O método utilizado por ele ficou conhecido como método socrático Esse método visava à construção de conhecimento pelo homem a partir de ques tionamentos sobre questões banais Assim o diálogo entre professor e aluno não era mais um processo de simples transmissão de ideias mas uma profusão de trocas em que se podia realizar novas aprendizagens A Filosofia Medieval comporta o período que é determinado entre os séculos V e XV Sua correspondência histórica se deu com a Idade Média que começou com a queda do Império Romano do Oriente em 476 dC e foi até a tomada de Constantinopla capital do Império Bizantino Esse período ficou conhecido como Idade das Trevas visto que se opôs à difusão de conhecimento existente no período anterior o Renascimento como desenvolve Franco Júnior 2001 p 910 Admirador dos clássicos o italiano Francesco Petrarca 13041374 já se referira ao período anterior como de tenebrae nascia o mito historiográfico da Idade das Trevas Em 1469 o bispo Giovanni Andrea bibliotecário papal falava em media tempestas literalmente tempo médio mas também com o sentido figurado de flagelo ruína A idéia enraizouse quando em meados do século XVI Giorgio Vasari numa obra biográfica de grandes artistas do seu tempo popularizou o termo Renascimento De qualquer forma o critério era inicialmente filológico Opunhase o século XVI que buscava na sua produção literária utilizar o latim nos moldes clássicos aos séculos anteriores caracterizados por um latim bárbaro A arte medieval por fugir aos padrões clássicos também era vista como grosseira daí o grande pintor Rafael Sanzio 14831520 chamála de gótica termo então sinônimo de bárbara Na mesma linha François Rabelais 14831553 falava da Idade Média como a espessa noite gótica Nessa época a cultura grecoromana é recuperada e a igreja Católica tem uma forte influência sobre a produção de conhecimento Sendo assim a figura de Deus tornase base para as explicações e a filosofia leva em consideração as orientações teológicas da época Um dos principais expoentes nesse período é Santo Agostinho que viveu de 354 a 430 na Argélia Para ele era Deus que atuava na vida do homem de modo que essa relação era considerada fundamental para compreender o comportamento humano e até mesmo outros fenômenos Nesse sentido Franco Júnior 2001 p 145 enfatiza que é preciso lembrar que para ele as verdades da fé não podem ser demonstráveis pela razão mas esta pode confirmar aquelas compreender para crer crer para compreender 5 A história da filosofia Outro expoente é São Tomás de Aquino que viveu de 1225 a 1274 na Itália Ele retomou a escola aristotélica a partir de princípios do cristianismo Este último é definido por Santos 2017 p 139 Tratase de Tomás de Aquino inteligência única na história humana um pensador que além de demonstrar a compatibilidade entre as ideias de Aris tóteles e a fé cristã desenvolveu um sofisticado sistema racional que apresenta e demonstra de forma racional as mais profundas questões que envolvem o ser humano ética estética lógica etc e sua respectiva relação com Deus fé salvação da alma missão da Igreja etc Para compreender a discussão sobre o conhecimento na Filosofia Medieval recomenda se o filme O nome da Rosa 1986 de JeanJacques Annaud que foi inspirado no livro de mesmo nome de Umberto Eco A Filosofia Moderna começa no século XV e vai até o século XVIII Com a queda do Império Romano do Ocidente o poder da igreja Católica diminuiu e então a filosofia passa a valorizar a reflexão humana como partida do ra ciocínio filosófico Para aprofundar a discussão Dias 2005 p 87 afirma que A modernidade caracterizada como uma ordem póstradicional ao romper com as práticas e preceitos preestabelecidos enfatiza o cultivo das poten cialidades individuais oferecendo ao indivíduo uma identidade móvel mutável É nesse sentido que na modernidade o eu tornase cada vez mais um projeto reflexivo pois aonde não existe mais a referência da tradição descortinase para o indivíduo um mundo de diversidade de possibilidades abertas de escolhas O indivíduo passa a ser responsável por si mesmo e o planejamento estratégico da vida assume especial importância Logo o homem ganha centralidade nas respostas das indagações da época e as questões humanas passam a ser o centro de preocupações filosóficas Assim o homem não é mais passivo do mundo em que vive pelo contrário ele é agente do seu processo de existência e aos poucos vai se dando conta disso como reforça Chauí 2000 p 57 A realidade é um sistema de causalidades racionais rigorosas que podem ser conhecidas e transformadas pelo homem A história da filosofia 6 A escola identificada neste período envolve o racionalismo clássico O filósofo que encabeçou as bases filosóficas neste momento foi René Descartes Ele foi um filósofo francês nascido em 1596 que propôs uma obra intitulada discurso do método Nessa publicação Descartes aposta em uma metodologia racional para se buscar a verdade contrapondose à autoridade eclesiástica Seu método é nomeado cartesiano Sobre esse método Battisti 2010 p 575 enfatiza que O método cartesiano brota da reflexão sobre a matemática como paradigma metodológico e ao mesmo tempo da reflexão sobre os poderes resolutivos espontâneos possuídos por nossa razão A matemática serve de ocasião para que a racionalidade revele seu modo de operar e seus poderes Assim a resposta para esse conjunto de dificuldades parece ser o seguinte o método de análise cartesiano não é de natureza matemática A matemática serve de ilustração ao método e como tal é uma fonte importante para compreendêlo A matemática é o horizonte privilegiado de atuação da razão graças a suas características inerentes e por isso merece lugar de destaque na investigação metodológica do filósofo Descartes é um praticante da análise método que espontaneamente emergiu no interior da ciência matemática mas que deverá ser justificado na medida em que revela o modus operandi de nossa capacidade de conhecer Para compreender o pensamento da época recomendase a leitura da obra Discurso do Método de René Descartes pois nessa obra o autor os meandros da filosofia moderna colocando em dúvida as aprendizagens feitas com seus mestres para produzir as bases filosóficas de uma nova ciência que valorize a experimentação A Filosofia Contemporânea é considerada desde o final do século XVIII que tem como marco a Revolução Francesa em 1789 e vai até os dias de hoje No entanto enfocaremos o começo do período para refletir como ele é determinante de toda uma reflexão acompanhada de experiências de lutas e reivindicações por direitos e expressões políticas Podemos dizer que esse foi um período de agitação política que questionou as estruturas de Estado na época e após derrubarem o governo vigentes na França definiramse novos valores para a sociedade como liberdade igualdade e fraternidade Essa situação política ecoou em outros países e transformou o modo de pensar da população como um todo 7 A história da filosofia Desse modo o eco da Revolução Francesa reverberou adiante A literatura e o discurso propriamente político continuaram sendo muito naturalmente o lugar onde se inscreve a referência à Revolução Francesa permanecendo até o início do século XX a referência maior a uma modi ficação violenta da ordem social e institucional como o lugar fundador de toda uma filosofia política Lembrança da herança dos valoreschaves liberdade igualdade fraternidade reflexão sobre as vias da passagem de um estado social a um outro pela riqueza das experiências históricas da qual era portadora a Revolução Francesa pôde ser reclamada sucessivamente pelos movimentos liberais do século XIX nacionais assim como conheceu a partir de 1848 uma espécie de apropriação pelas correntes socialistas e o movimento operário integrando em seu patrimônio a referência a essa experiência coletiva No que definimos como plasticidade da herança revo lucionária é evidente que não foram considerados os mesmos aspectos da herança ou os mesmos heróis de 1789 ou 1793 Mirabeau ou Robespierre VOVELLE 1989 p 44 Quanto ao ponto de vista da filosofia de forma geral as afirmações univer sais da tradição filosófica foram colocadas em xeque e novas reinvindicações filosóficas entraram em voga Nesse momento a ênfase de análise é dada para condição de vida do homem na sociedade e diversas escolas a compõem Para compreender este momento histórico Domingues 2006 p 910 entende que Tratase de uma época em que as distinções dos campos disciplinares eram mais elásticas as especializações mais fluidas e a filosofia moral garantia a ligação da filosofia e da ciência com o mundo da ação ligação requerida por toda a sabedoria que se preze do Oriente e do Ocidente Ora é justamente esse liame da filosofia da ciência e da sabedoria que se rompeu no curso da modernidade gerando a conhecida situação de uma ciência sem filosofia e sem sabedoria bem como de uma filosofia sem sabedoria e sem ciência Minha tentativa ao longo da conferência uma vez convencido de que esse estado de coisas não pode persistir sob pena de pôr tudo a perder será justamente a de restabelecer as pontes entre a filosofia a ciência e a sabedoria bem entendido a sabedoria não é uma disciplina mas um olhar e uma atitude tendo por foco a filosofia contemporânea e por eixo os grandes desafios do pensamento no século XXI Uma das escolas que se destacou nessa época é a escola marxista Karl Marx nasceu na Alemanha em 1818 e morreu no Reino Unido em 1883 Sua proposta de metodologia envolvia a análise socioeconômica das relações A história da filosofia 8 sociais e visava à dialética para a transformação Para Marx é a contradição das próprias ideias que levam a novas ideias Portanto a proposição da dialética é de refletir acerca da realidade e não mais de interpretála Para aprofundar a discussão sobre a história da filosofia recomendase a leitura de O mundo de Sofia de Jostein Gaarder De modo lúdico o livro apresenta a protagonista Sofia e suas questões sobre o mundo Por meio de cartas recebidas ela aprende sobre o pensamento filosófico e faz novas perguntas inquietantes Assim a obra remonta a aspectos históricos do pensamento filosófico para compreendermos as particularidades de cada avanço na disciplina Ao mesmo tempo essa obra apresenta de forma linear as mudanças filosóficas e as transformações sociais da história do mundo sendo um compilado essencial para quem pretende mergulhar na área da filosofia Desenvolvimento do pensamento humano A partir da fi losofi a podemos perceber que o pensamento humano passa por transformações tanto no sentido de negar ideias que antes eram consideradas corretas como de retomar conceitos e proposições antigas em novos contextos Sendo assim o que é considerado verdade é ressignifi cado com o passar do tempo e o estudo da história da fi losofi a nos apresenta as características que são evidenciadas em cada período Desse modo a história da filosofia explicita uma sequência histórica do pensamento humano mostrando questões relevantes em cada período histórico da sociedade Ocidental como reforça Porta 2002 p 25 tratase de ter opiniões sobre certos temas bem definidos e sustentálas em algo diferente de uma convicção pessoal mais ainda o núcleo essencial da filosofia não é constituído de crenças tematicamente definidas e racionalmente fundadas senão de problemas e soluções Contudo só podemos ter certeza da pertinência de problemas e solu ções que marcam um período quando temos certo distanciamento sobre essa época pois também estamos contaminados por diversas outras questões que julgamos pertinentes 9 A história da filosofia Ainda se deve levar em conta que os acontecimentos históricos são mar cadores de mudanças de paradigmas o que torna ainda mais importante compreender a história do homem e o desenvolvimento da sociedade Assim evidenciase também que a filosofia se constitui como atributo humano possibilitando tanto o acúmulo de saber como a reflexividade sobre esse saber Nesse sentido Chauí 2000 p 13 explica que As indagações filosóficas se realizam de modo sistemático Que significa isso Significa que a filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos busca encadeamentos lógicos entre os enunciados opera por conceitos ou ideias obtidas por procedimentos de demonstração e prova exige a fundamentação do que é enunciado e pensado Somente assim a reflexão filosófica pode fazer com que nossa experiência cotidiana nossas crenças e opiniões alcancem uma visão crítica de si mesmas Não se trata de dizer eu acho que mas de poder afirmar eu penso que Nesse sentido o estudo do pensamento humano nos permite compreender quais são as bases para as explicações das questões filosóficas e buscar novas soluções para problemas da sociedade Contudo para isso temos de partir de algum lugar de alguma pergunta de algo que nos intrigue como a dúvida assim como todos esses pensadores explicitados ao longo do capítulo o fizeram para iniciar suas reflexões Como enfatiza Fernandes 1994 p 341 Partese da dúvida fazemse conjecturas e aplicase o raciocínio explicativo causal Chegase assim a à certeza possível Dessa forma é preciso reconhecer nossa ignorância diante do mundo a fim de que possamos construir conhecimento sobre ele Chauí 2000 p 111 também enfatiza uma questão relevante Ignorar é não saber alguma coisa A ignorância pode ser tão profunda que sequer a percebemos ou a sentimos isto é não sabemos que não sabemos não sabemos que ignoramos Em geral o estado de ignorância se mantém em nós enquanto as crenças e opiniões que possuímos para viver e agir no mundo se conservam como eficazes e úteis de modo que não temos nenhum motivo para duvidar delas nenhum motivo para desconfiar delas e consequentemente achamos que sabemos tudo o que há para saber A incerteza é diferente da ignorância porque na incerteza descobrimos que somos ignorantes que nossas crenças e opiniões parecem não dar conta da realidade que há falhas A história da filosofia 10 naquilo em que acreditamos e que durante muito tempo nos serviu como referência para pensar e agir Na incerteza não sabemos o que pensar o que dizer ou o que fazer em certas situações ou diante de certas coisas pessoas fatos etc Temos dúvidas ficamos cheios de perplexidade e somos tomados pela insegurança No entanto como manifestar essas questões expor as dúvidas sobre o mundo e apresentar os problemas mais profundos que o ser humano espera resolver Um desses meios seria a própria linguagem pois é por meio dela que se dá a comunicação entre os homens e que se explicita o raciocínio lógico para desvendar questões que nos inquietam Sobre a linguagem Pokorski 2010 p 97 afirma que A linguagem é um meio pelo qual se comunica algo a outra pessoa Essa co municação pode ser expressa de várias formas A mais utilizada é a linguagem verbal ou seja as palavras faladas ou escritas A comunicação também se dá através da linguagem não verbal expressa em gestos desenhos músicas pinturas mímicas silêncios sonhos etc A linguagem é um meio pelo qual se comunica algo a outra pessoa Essa comunicação pode ser expressa de várias formas A mais utilizada é a linguagem verbal ou seja as palavras faladas ou escritas A comunicação também se dá através da linguagem não verbal expressa em gestos desenhos músicas pinturas mímicas silêncios sonhos etc Assim entendemos a importância da linguagem para canalizar as nossas dúvidas apresentar possibilidades de reflexões sobre elas e também construir conhecimento sobre o mundo Chauí enfatiza que para se relacionarem com o mundo e com os outros humanos os homens devem valerse de um outro instrumento a linguagem para persuadir os outros de suas próprias ideias e opiniões 2000 p 139 Um dos atributos da linguagem é que ela nos ajuda a encontrar a verdade a expor nossas ideias e a chegar a conclusões sobre o mundo Sendo o homem questionador sobre si e o mundo em que vive cabe a ele desvendar o desenvolvimento humano por meio da linguagem e buscar novas verdades Essa troca entre os seres humanos é fundamental e o que é construído como saber pode ser acumulado como conhecimento não só para o homem que a descobriu mas também para as gerações futuras 11 A história da filosofia ARANHA M L A MARTINS M H P Filosofando introdução à filosofia 4 ed São Paulo Moderna 2009 BATTISTI C A O método de análise cartesiano e o seu fundamento Scientiae Studia v 8 n 4 p 571596 dez 2010 BOÉCIO A M S A consolação da filosofia São Paulo Martins Fontes 1998 BRAZ A L N Origem e significado do amor na mitologia grecoromana Estudos de Psicologia v 22 n 1 p 6375 mar 2005 Disponível em httpwwwscielobrscielophppidS0103 166X2005000100008scriptsciabstracttlngpt Acesso em 18 dez 2018 CHAUÍ M Convite à filosofia São Paulo Ática 2000 DIAS R C P Resenha modernidade e identidade Psicologia Sociedade v 17 n 3 p 8788 dez 2005 Disponível em httpwwwscielobrscielophpscriptsciarttextpi dS010271822005000300013 Acesso em 18 dez 2018 DOMINGUES I Desafios da filosofia no século XXI ciência e sabedoria Kriterion v 47 n 113 p 925 jun 2006 Disponível em httpwwwscielobrscielophpscriptsci arttextpidS0100512X2006000100001 Acesso em 18 dez 2018 FERNANDES A T O problema da dúvida na busca do conhecimento Sociologia Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto v 4 1994 Disponível em httplerletras upptuploadsficheiros1324pdf Acesso em 18 dez 2018 FRANCO JÚNIOR H 1948 A idade média nascimento do ocidente 2 ed rev e ampl São Paulo Brasiliense 2001 GOTO R O cidadão Sócrates e o filosofar numa democracia ProPosições v 21 n 1 p 107 125 janabr 2010 Disponível em httpwwwscielobrpdfppv21n1v21n1a08pdf Acesso em 18 dez 2018 MARCONDES D Iniciação à história da filosofia dos présocráticos a Wittgenstein Rio de Janeiro Zahar 2010 MARQUES M P O conceito grego de natureza Kriterion v 48 n 116 p 505509 dez 2007 Disponível em httpwwwscielobrscielophpscriptsciarttextpidS0100 512X2007000200017 Acesso em 18 dez 2018 MERLEAUPONTY M Em toda e em nenhuma parte In MERLEAUPONTY M Textos esco lhidos São Paulo Abril Cultural 1980 MOURA C A R História stultitiae e história sapientiae discurso editorial Revista do Depar tamento de Filosofia da USP v 17 p 151171 1988 Disponível em httpswwwrevistasusp brdiscursoarticleview37935 Acesso em 18 dez 2018 POKORSKI M M W F POKORSKI L A F A linguagem constituinte do ser humano Estudos de Psicanálise n 38 p 97103 dez 2012 Disponível em httppepsicbvsaludorgscielo phpscriptsciarttextpidS010034372012000200011 Acesso em 18 dez 2018 A história da filosofia 12 PORTA M A G A filosofia a partir de seus problemas São Paulo Loyola 2002 SANTOS I O Tomás de Aquino e o século XIII Ágora Filosófica n 1 janjun 2017 Disponível em httpwwwunicapbrojsindexphpagoraarticleview1007 Acesso em 18 dez 2018 VOVELLE M A Revolução Francesa e seu eco Estudos Avançados v 3 n 6 p 2545 ago 1989 Disponível em httpwwwscielobrscielophpscriptsciarttextpi dS010340141989000200003 Acesso em 18 dez 2018 Leituras recomendadas DESCARTES R Discurso do método São Paulo Paulus 2002 GAARDER J O mundo de Sofia São Paulo Companhia das Letras 1995 HISTÓRIA EM PAUTA Socrates on Selfconfidence Sócrates e a Autoconfiança Alain de Botton Youtube maio 2012 Disponível em httpswwwyoutubecomwatchvW 8ol7UAiQzQlistPLkvP1njR6JeMU5SqLoyfdJBycGU4aUT9q Acesso em 18 dez 2018 O NOME DA ROSA Direção JeanJacques Annaud Roteiro JeanJacques Annaud Umberto Eco Andrew Birkin Gérard Brach Alain Godard Howard Franklin Lançamento 1986 13 A história da filosofia Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem Na Biblioteca Virtual da Instituição você encontra a obra na íntegra Conteúdo saGAH Soluções Educacionais Integradas
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a admiração já o discípulo de Platão o filósofo Aristóteles acreditava que a Filosofia começa com o espanto Sendo assim você pode realizar análises filosóficas a partir de muitas questões e ainda englobar inúmeras abordagens nessa reflexão como enfatiza Aranha e Martins 2009 p 21 A filosofia é um tipo de reflexão totalizante de conjunto por que examina os problemas relacionando os diversos aspectos entre si Mais ainda o objeto da filosofia é tudo por que nada escapa a seu interesse Por exemplo o filósofo se debruça sobre assuntos tão diferentes como a moral a política a ciência o mito a religião o cômico a arte a técnica a educação e tantos outros Daí o caráter transdisciplinar da filosofia ao estabelecer o elo ente diversas expressões do saber e do agir Logo podese imaginar que desde o surgimento do homem as preocu pações sobre o modo de vida em sociedade e as explicações possíveis para os problemas da convivência no meio social se tornaram grandes estímulos para iniciar e aprofundar 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história da sociedade Ocidental Assim baseado em Marcondes 2010 podemos periodizar a história da filosofia da seguinte forma Filosofia Antiga corresponde à História Antiga datada entre o sur gimento do homem até o fim do século IV Nessa época passouse do pensamento míticoreligioso para o pensamento filosóficocientífico evidenciando a noção da natureza da causalidade e da racionalidade Coube buscar as primeiras respostas para os dilemas existenciais humanos Filosofia Medieval corresponde à Idade Média período entre os séculos V e XV Nesse momento deuse a transição do helenismo para o cristianismo que veio acompanhando de uma deterioração cultural e econômica na Europa em decorrência do Império Romano do Ocidente Filosofia Moderna corresponde à História Moderna indo do século XV até o século XVIII Nessa época ocorre a descoberta das Américas há uma ruptura com a tradição e valorizase o progresso e a individualidade Na questão da fé é a reforma protestante que entra em voga questionando a autoridade institucional da Igreja Filosofia Contemporânea corresponde à Contemporaneidade período a partir do final do século XVIII até os dias atuais Sua concepção busca encontrar respostas para a crise do projeto filosófico da modernidade pretendendose assim atualizar o racionalismo trazer novas alternativas para o questionamento da subjetividade e evidenciar questões de linguagens Períodos históricos da filosofia e as escolas filosóficas Agora aprofundaremos nosso conhecimento sobre cada um dos períodos his tóricos da fi losofi a a fi m de compreender o desenrolar histórico do pensamento humano na sociedade Ocidental Em cada período também será destacada a principal escola que o representa Cada escola é determinada por um pensador que teve suas ideias ecoadas na época em que viveu 3 A história da filosofia Entretanto devemos lembrar que estas caixas da história são apenas referên cias e que quando falamos da história da filosofia estamos na verdade falando sobre filosofar como nos indica MerleauPonty 1980 p 212 a explicação histórica é apenas uma maneira de filosofar sem dar na vista disfarçar as ideias em coisas e pensar sem precisão Uma concepção da história só explica as filosofias sob a condição de tornarse também filosofia e filosofia implícita A Filosofia Antiga engloba todo o pensamento filosófico anterior ao século V Esse momento corresponde à Antiguidade que vai da invenção da escrita 4000 aC a 3500 aC até a queda do Império Romano do Ocidente 476 dC Surgiu então a formação do Estado e as civilizações existentes nesse período eram Egito Grécia Roma Persas Fenícios povos germânicos entre outros Quanto ao desenvolvimento da filosofia sobre esse período histórico Braz 2005 enfatiza o período présocrático que faz referência ao período anterior à existência de Sócrates e destaca filósofos que se focavam com aspectos da natureza para responder suas questões o período socrático que na figura de Sócrates estimulava o diálogo para filosofar o período sistemático que é um período atribuído a Aristóteles e período grecoromano que destacou aspectos da cosmologia para buscar responder aos problemas da época Segundo Marques 2007 as principais preocupações neste momento eram compreender a origem do universo os fenômenos da natureza e os comporta mentos humanos a partir da razão Assim não se aceita mais as explicações míticas e buscase observar analisar e fundamentar as explicações por meio da racionalidade humana Uma das escolas mais representativas deste período da Filosofia Antiga é a Escola Socrática Seu representante é Sócrates que viveu durante o ano de 470 aC em Atenas na Grécia Dentre as preocupações centrais deste filósofo estavam a ética a razão a verdade e o questionamento O discípulo mais conhecido de Sócrates foi o filósofo Platão que inclusive foi responsável por compilar e escrever as ideias de seus mestre visto que Sócrates nade de escrito deixou Sócrates foi um filósofo que agiu pela fala e por ela influenciou seus con cidadãos e se um indivíduo se define como político na medida em que age e influencia os demais por meio da palavra viva em ato isto é a fala Sócrates foi sem dúvida o mais público o mais político o mais cidadão de todos os filósofos E embora só possamos ter e construir imagens dele a partir do que se escreveu a seu respeito o que é inevitável a imagem que predomina sobre as demais ou as monopoliza é a de um filósofo em ação e sobretudo da ação um cidadão que agiu sobre outros cidadãos falando conversando e discutindo com eles um cidadão que sustentou e defendeu a palavra falada viva em contraposição à palavra escrita que tinha na conta de morta como meio de ação na e para a pólis A história da filosofia 4 O método utilizado por ele ficou conhecido como método socrático Esse método visava à construção de conhecimento pelo homem a partir de ques tionamentos sobre questões banais Assim o diálogo entre professor e aluno não era mais um processo de simples transmissão de ideias mas uma profusão de trocas em que se podia realizar novas aprendizagens A Filosofia Medieval comporta o período que é determinado entre os séculos V e XV Sua correspondência histórica se deu com a Idade Média que começou com a queda do Império Romano do Oriente em 476 dC e foi até a tomada de Constantinopla capital do Império Bizantino Esse período ficou conhecido como Idade das Trevas visto que se opôs à difusão de conhecimento existente no período anterior o Renascimento como desenvolve Franco Júnior 2001 p 910 Admirador dos clássicos o italiano Francesco Petrarca 13041374 já se referira ao período anterior como de tenebrae nascia o mito historiográfico da Idade das Trevas Em 1469 o bispo Giovanni Andrea bibliotecário papal falava em media tempestas literalmente tempo médio mas também com o sentido figurado de flagelo ruína A idéia enraizouse quando em meados do século XVI Giorgio Vasari numa obra biográfica de grandes artistas do seu tempo popularizou o termo Renascimento De qualquer forma o critério era inicialmente filológico Opunhase o século XVI que buscava na sua produção literária utilizar o latim nos moldes clássicos aos séculos anteriores caracterizados por um latim bárbaro A arte medieval por fugir aos padrões clássicos também era vista como grosseira daí o grande pintor Rafael Sanzio 14831520 chamála de gótica termo então sinônimo de bárbara Na mesma linha François Rabelais 14831553 falava da Idade Média como a espessa noite gótica Nessa época a cultura grecoromana é recuperada e a igreja Católica tem uma forte influência sobre a produção de conhecimento Sendo assim a figura de Deus tornase base para as explicações e a filosofia leva em consideração as orientações teológicas da época Um dos principais expoentes nesse período é Santo Agostinho que viveu de 354 a 430 na Argélia Para ele era Deus que atuava na vida do homem de modo que essa relação era considerada fundamental para compreender o comportamento humano e até mesmo outros fenômenos Nesse sentido Franco Júnior 2001 p 145 enfatiza que é preciso lembrar que para ele as verdades da fé não podem ser demonstráveis pela razão mas esta pode confirmar aquelas compreender para crer crer para compreender 5 A história da filosofia Outro expoente é São Tomás de Aquino que viveu de 1225 a 1274 na Itália Ele retomou a escola aristotélica a partir de princípios do cristianismo Este último é definido por Santos 2017 p 139 Tratase de Tomás de Aquino inteligência única na história humana um pensador que além de demonstrar a compatibilidade entre as ideias de Aris tóteles e a fé cristã desenvolveu um sofisticado sistema racional que apresenta e demonstra de forma racional as mais profundas questões que envolvem o ser humano ética estética lógica etc e sua respectiva relação com Deus fé salvação da alma missão da Igreja etc Para compreender a discussão sobre o conhecimento na Filosofia Medieval recomenda se o filme O nome da Rosa 1986 de JeanJacques Annaud que foi inspirado no livro de mesmo nome de Umberto Eco A Filosofia Moderna começa no século XV e vai até o século XVIII Com a queda do Império Romano do Ocidente o poder da igreja Católica diminuiu e então a filosofia passa a valorizar a reflexão humana como partida do ra ciocínio filosófico Para aprofundar a discussão Dias 2005 p 87 afirma que A modernidade caracterizada como uma ordem póstradicional ao romper com as práticas e preceitos preestabelecidos enfatiza o cultivo das poten cialidades individuais oferecendo ao indivíduo uma identidade móvel mutável É nesse sentido que na modernidade o eu tornase cada vez mais um projeto reflexivo pois aonde não existe mais a referência da tradição descortinase para o indivíduo um mundo de diversidade de possibilidades abertas de escolhas O indivíduo passa a ser responsável por si mesmo e o planejamento estratégico da vida assume especial importância Logo o homem ganha centralidade nas respostas das indagações da época e as questões humanas passam a ser o centro de preocupações filosóficas Assim o homem não é mais passivo do mundo em que vive pelo contrário ele é agente do seu processo de existência e aos poucos vai se dando conta disso como reforça Chauí 2000 p 57 A realidade é um sistema de causalidades racionais rigorosas que podem ser conhecidas e transformadas pelo homem A história da filosofia 6 A escola identificada neste período envolve o racionalismo clássico O filósofo que encabeçou as bases filosóficas neste momento foi René Descartes Ele foi um filósofo francês nascido em 1596 que propôs uma obra intitulada discurso do método Nessa publicação Descartes aposta em uma metodologia racional para se buscar a verdade contrapondose à autoridade eclesiástica Seu método é nomeado cartesiano Sobre esse método Battisti 2010 p 575 enfatiza que O método cartesiano brota da reflexão sobre a matemática como paradigma metodológico e ao mesmo tempo da reflexão sobre os poderes resolutivos espontâneos possuídos por nossa razão A matemática serve de ocasião para que a racionalidade revele seu modo de operar e seus poderes Assim a resposta para esse conjunto de dificuldades parece ser o seguinte o método de análise cartesiano não é de natureza matemática A matemática serve de ilustração ao método e como tal é uma fonte importante para compreendêlo A matemática é o horizonte privilegiado de atuação da razão graças a suas características inerentes e por isso merece lugar de destaque na investigação metodológica do filósofo Descartes é um praticante da análise método que espontaneamente emergiu no interior da ciência matemática mas que deverá ser justificado na medida em que revela o modus operandi de nossa capacidade de conhecer Para compreender o pensamento da época recomendase a leitura da obra Discurso do Método de René Descartes pois nessa obra o autor os meandros da filosofia moderna colocando em dúvida as aprendizagens feitas com seus mestres para produzir as bases filosóficas de uma nova ciência que valorize a experimentação A Filosofia Contemporânea é considerada desde o final do século XVIII que tem como marco a Revolução Francesa em 1789 e vai até os dias de hoje No entanto enfocaremos o começo do período para refletir como ele é determinante de toda uma reflexão acompanhada de experiências de lutas e reivindicações por direitos e expressões políticas Podemos dizer que esse foi um período de agitação política que questionou as estruturas de Estado na época e após derrubarem o governo vigentes na França definiramse novos valores para a sociedade como liberdade igualdade e fraternidade Essa situação política ecoou em outros países e transformou o modo de pensar da população como um todo 7 A história da filosofia Desse modo o eco da Revolução Francesa reverberou adiante A literatura e o discurso propriamente político continuaram sendo muito naturalmente o lugar onde se inscreve a referência à Revolução Francesa permanecendo até o início do século XX a referência maior a uma modi ficação violenta da ordem social e institucional como o lugar fundador de toda uma filosofia política Lembrança da herança dos valoreschaves liberdade igualdade fraternidade reflexão sobre as vias da passagem de um estado social a um outro pela riqueza das experiências históricas da qual era portadora a Revolução Francesa pôde ser reclamada sucessivamente pelos movimentos liberais do século XIX nacionais assim como conheceu a partir de 1848 uma espécie de apropriação pelas correntes socialistas e o movimento operário integrando em seu patrimônio a referência a essa experiência coletiva No que definimos como plasticidade da herança revo lucionária é evidente que não foram considerados os mesmos aspectos da herança ou os mesmos heróis de 1789 ou 1793 Mirabeau ou Robespierre VOVELLE 1989 p 44 Quanto ao ponto de vista da filosofia de forma geral as afirmações univer sais da tradição filosófica foram colocadas em xeque e novas reinvindicações filosóficas entraram em voga Nesse momento a ênfase de análise é dada para condição de vida do homem na sociedade e diversas escolas a compõem Para compreender este momento histórico Domingues 2006 p 910 entende que Tratase de uma época em que as distinções dos campos disciplinares eram mais elásticas as especializações mais fluidas e a filosofia moral garantia a ligação da filosofia e da ciência com o mundo da ação ligação requerida por toda a sabedoria que se preze do Oriente e do Ocidente Ora é justamente esse liame da filosofia da ciência e da sabedoria que se rompeu no curso da modernidade gerando a conhecida situação de uma ciência sem filosofia e sem sabedoria bem como de uma filosofia sem sabedoria e sem ciência Minha tentativa ao longo da conferência uma vez convencido de que esse estado de coisas não pode persistir sob pena de pôr tudo a perder será justamente a de restabelecer as pontes entre a filosofia a ciência e a sabedoria bem entendido a sabedoria não é uma disciplina mas um olhar e uma atitude tendo por foco a filosofia contemporânea e por eixo os grandes desafios do pensamento no século XXI Uma das escolas que se destacou nessa época é a escola marxista Karl Marx nasceu na Alemanha em 1818 e morreu no Reino Unido em 1883 Sua proposta de metodologia envolvia a análise socioeconômica das relações A história da filosofia 8 sociais e visava à dialética para a transformação Para Marx é a contradição das próprias ideias que levam a novas ideias Portanto a proposição da dialética é de refletir acerca da realidade e não mais de interpretála Para aprofundar a discussão sobre a história da filosofia recomendase a leitura de O mundo de Sofia de Jostein Gaarder De modo lúdico o livro apresenta a protagonista Sofia e suas questões sobre o mundo Por meio de cartas recebidas ela aprende sobre o pensamento filosófico e faz novas perguntas inquietantes Assim a obra remonta a aspectos históricos do pensamento filosófico para compreendermos as particularidades de cada avanço na disciplina Ao mesmo tempo essa obra apresenta de forma linear as mudanças filosóficas e as transformações sociais da história do mundo sendo um compilado essencial para quem pretende mergulhar na área da filosofia Desenvolvimento do pensamento humano A partir da fi losofi a podemos perceber que o pensamento humano passa por transformações tanto no sentido de negar ideias que antes eram consideradas corretas como de retomar conceitos e proposições antigas em novos contextos Sendo assim o que é considerado verdade é ressignifi cado com o passar do tempo e o estudo da história da fi losofi a nos apresenta as características que são evidenciadas em cada período Desse modo a história da filosofia explicita uma sequência histórica do pensamento humano mostrando questões relevantes em cada período histórico da sociedade Ocidental como reforça Porta 2002 p 25 tratase de ter opiniões sobre certos temas bem definidos e sustentálas em algo diferente de uma convicção pessoal mais ainda o núcleo essencial da filosofia não é constituído de crenças tematicamente definidas e racionalmente fundadas senão de problemas e soluções Contudo só podemos ter certeza da pertinência de problemas e solu ções que marcam um período quando temos certo distanciamento sobre essa época pois também estamos contaminados por diversas outras questões que julgamos pertinentes 9 A história da filosofia Ainda se deve levar em conta que os acontecimentos históricos são mar cadores de mudanças de paradigmas o que torna ainda mais importante compreender a história do homem e o desenvolvimento da sociedade Assim evidenciase também que a filosofia se constitui como atributo humano possibilitando tanto o acúmulo de saber como a reflexividade sobre esse saber Nesse sentido Chauí 2000 p 13 explica que As indagações filosóficas se realizam de modo sistemático Que significa isso Significa que a filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos busca encadeamentos lógicos entre os enunciados opera por conceitos ou ideias obtidas por procedimentos de demonstração e prova exige a fundamentação do que é enunciado e pensado Somente assim a reflexão filosófica pode fazer com que nossa experiência cotidiana nossas crenças e opiniões alcancem uma visão crítica de si mesmas Não se trata de dizer eu acho que mas de poder afirmar eu penso que Nesse sentido o estudo do pensamento humano nos permite compreender quais são as bases para as explicações das questões filosóficas e buscar novas soluções para problemas da sociedade Contudo para isso temos de partir de algum lugar de alguma pergunta de algo que nos intrigue como a dúvida assim como todos esses pensadores explicitados ao longo do capítulo o fizeram para iniciar suas reflexões Como enfatiza Fernandes 1994 p 341 Partese da dúvida fazemse conjecturas e aplicase o raciocínio explicativo causal Chegase assim a à certeza possível Dessa forma é preciso reconhecer nossa ignorância diante do mundo a fim de que possamos construir conhecimento sobre ele Chauí 2000 p 111 também enfatiza uma questão relevante Ignorar é não saber alguma coisa A ignorância pode ser tão profunda que sequer a percebemos ou a sentimos isto é não sabemos que não sabemos não sabemos que ignoramos Em geral o estado de ignorância se mantém em nós enquanto as crenças e opiniões que possuímos para viver e agir no mundo se conservam como eficazes e úteis de modo que não temos nenhum motivo para duvidar delas nenhum motivo para desconfiar delas e consequentemente achamos que sabemos tudo o que há para saber A incerteza é diferente da ignorância porque na incerteza descobrimos que somos ignorantes que nossas crenças e opiniões parecem não dar conta da realidade que há falhas A história da filosofia 10 naquilo em que acreditamos e que durante muito tempo nos serviu como referência para pensar e agir Na incerteza não sabemos o que pensar o que dizer ou o que fazer em certas situações ou diante de certas coisas pessoas fatos etc Temos dúvidas ficamos cheios de perplexidade e somos tomados pela insegurança No entanto como manifestar essas questões expor as dúvidas sobre o mundo e apresentar os problemas mais profundos que o ser humano espera resolver Um desses meios seria a própria linguagem pois é por meio dela que se dá a comunicação entre os homens e que se explicita o raciocínio lógico para desvendar questões que nos inquietam Sobre a linguagem Pokorski 2010 p 97 afirma que A linguagem é um meio pelo qual se comunica algo a outra pessoa Essa co municação pode ser expressa de várias formas A mais utilizada é a linguagem verbal ou seja as palavras faladas ou escritas A comunicação também se dá através da linguagem não verbal expressa em gestos desenhos músicas pinturas mímicas silêncios sonhos etc A linguagem é um meio pelo qual se comunica algo a outra pessoa Essa comunicação pode ser expressa de várias formas A mais utilizada é a linguagem verbal ou seja as palavras faladas ou escritas A comunicação também se dá através da linguagem não verbal expressa em gestos desenhos músicas pinturas mímicas silêncios sonhos etc Assim entendemos a importância da linguagem para canalizar as nossas dúvidas apresentar possibilidades de reflexões sobre elas e também construir conhecimento sobre o mundo Chauí enfatiza que para se relacionarem com o mundo e com os outros humanos os homens devem valerse de um outro instrumento a linguagem para persuadir os outros de suas próprias ideias e opiniões 2000 p 139 Um dos atributos da linguagem é que ela nos ajuda a encontrar a verdade a expor nossas ideias e a chegar a conclusões sobre o mundo Sendo o homem questionador sobre si e o mundo em que vive cabe a ele desvendar o desenvolvimento humano por meio da linguagem e buscar novas verdades Essa troca entre os seres humanos é fundamental e o que é construído como saber pode ser acumulado como conhecimento não só para o homem que a descobriu mas também para as gerações futuras 11 A história da filosofia ARANHA M L A MARTINS M H P Filosofando introdução à filosofia 4 ed São Paulo Moderna 2009 BATTISTI C A O método de análise cartesiano e o seu fundamento Scientiae Studia v 8 n 4 p 571596 dez 2010 BOÉCIO A M S A consolação da filosofia São Paulo Martins Fontes 1998 BRAZ A L N Origem e significado do amor na mitologia grecoromana Estudos de Psicologia v 22 n 1 p 6375 mar 2005 Disponível em httpwwwscielobrscielophppidS0103 166X2005000100008scriptsciabstracttlngpt Acesso em 18 dez 2018 CHAUÍ M Convite à filosofia São Paulo Ática 2000 DIAS R C P Resenha modernidade e identidade Psicologia Sociedade v 17 n 3 p 8788 dez 2005 Disponível em httpwwwscielobrscielophpscriptsciarttextpi dS010271822005000300013 Acesso em 18 dez 2018 DOMINGUES I Desafios da filosofia no século XXI ciência e sabedoria Kriterion v 47 n 113 p 925 jun 2006 Disponível em httpwwwscielobrscielophpscriptsci arttextpidS0100512X2006000100001 Acesso em 18 dez 2018 FERNANDES A T O problema da dúvida na busca do conhecimento Sociologia Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto v 4 1994 Disponível em httplerletras 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Annaud Roteiro JeanJacques Annaud Umberto Eco Andrew Birkin Gérard Brach Alain Godard Howard Franklin Lançamento 1986 13 A história da filosofia Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem Na Biblioteca Virtual da Instituição você encontra a obra na íntegra Conteúdo saGAH Soluções Educacionais Integradas