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Serviço Social ·

Serviço Social 1

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SOCIEDADE CULTURA E CONTEMPORANEIDADE SOCIEDADE CULTURA E CONTEMPORANEIDADE Copyright UVA 2021 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa AUTORIA DO CONTEÚDO Camila Pigozzo Cristiana Lopes Leticia Borges Luiz Guilherme Moreira Margot Barcia Michele Vieira CURADORIA DO CONTEÚDO Katia Puente REVISÃO Janaina Senna Janaina Vieira Lydianna Lima PROJETO GRÁFICO UVA DIAGRAMAÇÃO UVA SUMÁRIO Apresentação Autores 6 8 Direitos humanos afirmações identitárias e o legado sociocultural de matriz africana e de matriz indígena no Brasil 33 Direitos humanos e afirmações identitárias A expressão da diversidade cultural indígena e os movimentos identi tários indígenas na formação da identidade nacional A diáspora negra na formação cultural brasileira e a politização do conceito de raça UNIDADE 2 11 Cultura e Identidade categoria conceitual que se afirma para a compreensão da diversidade Conflitos de identidade processo etnocêntrico e intolerância Diversidade o desafio contemporâneo da coexistência plural Identidade cultural diversidade e coexistência plural UNIDADE 1 SUMÁRIO Desenvolvimento científicotecnológico e o mundo do trabalho 93 Desenvolvimento tecnocientífico e reconfigurações no ambiente de Trabalho Desemprego tecnológico eliminação e criação de profissões Máquinas ou humanos reflexões sobre o grau de importância do ser humano frente à evolução da Inteligência Artificial UNIDADE 4 66 Aspectos históricos da Educação Ambiental Marcos teóricos referenciais as grandes conferências Ética e valores da teoria à prática reduzindo os impactos ambientais Histórico e marcos da Educação ambiental UNIDADE 3 6 Quando ouvimos falar em sociedade cultura ciência meio ambiente e tecnologia somos levados a pensar como esses temas podem contribuir para nossa formação profissional Então considere os seguintes pontos O que podemos afirmar é que a contemporaneidade nos coloca diante de muitos desa fios e precisamos de certas habilidades que são chave no mundo de hoje Elas podem inclusive representar um diferencial no mundo do trabalho Ter empatia Estar predisposto a ouvir outros tão diferentes de nós Respeitar e colaborar para objetivos comuns Ser imparcial e solidário Ter autocrítica Desenvolver uma atitude afirmativa diante dos obstáculos Em síntese ativar nossa capacidade de compreensão cultural e tornar a socieda de em que vivemos e trabalhamos menos intolerante com o outro Um ponto de partida para essas habilidades é exercitar o nosso olhar diante das ques tões culturais que se apresentam diariamente Desenvolver uma atitude sobre a di ferença que permita colaborar para um mundo mais sustentável fraterno humano e menos excludente A nossa Constituição Federal de 1988 em seus artigos 205 e 206 destaca inclusive que devemos desenvolver também por meio da educação competências que tornem o sujeito capaz de lidar com tais problemas conviver com a pluralidade de ideias promo ver e incentivar sua colaboração com a sociedade e fornecer meios para o exercício da cidadania qualificação para o trabalho e desenvolvimento pessoal APRESENTAÇÃO 7 A disciplina Sociedade Cultura e Contemporaneidade foi desenvolvida com esse obje tivo Queremos conectar você com assuntos que fazem parte do seu cotidiano Afinal além de desenvolver nossas habilidades para lidar com novos dados tecnologias resol ver situações complexas e exercer liderança não podemos deixar de exercitar outras ferramentas que possibilitem a cada um de nós estabelecer da melhor forma possível nossas interações humanas Ao longo dessa jornada de aprendizagem vamos juntos explorar temas para provocar o pensamento e contribuir para o seu posicionamento pessoal perante a vida Assim convidamos para uma experiência imersiva e provocativa de forma dialógica interativa e direta com temaschave do mundo global direitos humanos e inclusão mul ticulturalismo relações interétnicas meio ambiente e sustentabilidade É isso que vamos estudar no decorrer das unidades Vamos lá 8 AUTORES CAMILA PIGOZZO Bióloga Doutora em Ciências pela Universidade Estadual de Feira de Santana UEFS BA mestre em Ecologia e Biomonitoramento e bacharel em Ciências Biológicas pela Uni versidade Federal da Bahia UFBA Docente e coordenadora dos cursos de licenciatura e bacharelado em Ciências Biológicas do Centro Universitário Jorge Amado Unijorge Na pesquisa atua em temas relacionados ao meio ambiente especialmente Ecologia CRISTIANA LOPES Graduação em Filosofia e Serviço Social Mestrado em Filosofia pela Universidade Fede ral da Bahia UFBA 2010 Especialização em Metodologia do Ensino Pesquisa e Exten são em Educação pela Universidade do Estado da Bahia Uneb em 2006 Atualmente é editora do Cabine Cultural wwwcabineculutralcom canal de crítica de arte assistente social perita do Tribunal de Justiça da Bahia professora do Centro Universitário Jorge Amado Unijorge nos cursos de Psicologia Serviço Social Pedagogia Administração Redes e Recursos Humanos professora de Direitos Humanos e Economia Solidária na Associação Sons do Silêncio AESOS que trabalha com inclusão sobretudo de surdos no Projeto Libras para Todos Fez mestrado sanduíche entre a Universidade de São Paulo USP e a Universidade Federal da Bahia UFBA por meio do programa de cooperação acadêmica Procad também participou do Projeto BNBPNUD com experiência nas áreas de gestão de participação comunitária educação popular projetos sociais planeja mento e capacitação em oficinas de intervenção É também professoratutora habilitada pelo Programa de Formação de Tutores da Universidade Veiga de Almeida UVARJ e pelo Curso de Formação de Tutores da Universidade Federal da Bahia UFBA 9 LUIZ GUILHERME MOREIRA MARGOT BÁRCIA LETICIA BORGES Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense UFF 2015 mestre em His tória Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ 2010 graduado e licen ciado em História pela UFRJ 2001 Professor da rede municipal de Armação dos Búzios e Cabo Frio Professor da Universidade Veiga de Almeida UVA e do Instituto ProMinas Cândido Mendes onde ministra os encontros presenciais de Metodologia Científica do curso de pósgraduação latosensu modalidade EAD atuando também como professor orientador de TCCs Em 2010 recebeu menção honrosa no Concurso de Monografias promovido pelo Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro por sua dissertação de mes trado Neste mesmo ano publicou Os índios na história da Aldeia de São Pedro de Cabo Frio séculos XVIIXIX em coautoria com Janderson Bax Carneiro Em 2012 lançou o Atlas histórico e geográfico escolar de São Pedro da Aldeia em coautoria com Maria Ca tarina da Silva Azevedo Em 2013 lançou o documentário A pesca artesanal em Armação dos Búzios IphanSecretaria de Educação de Armação dos Búzios Em 2016 foi um dos organizadores do livro Cabo Frio 400 anos 16152015 publicado pelo Instituto Brasileiro de Museus Ibram Doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Mes tre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Graduada em Comunicação Social Jornalismo UFRJ e em Pedagogia pela Universidade do Grande Rio Leciona em cursos de graduação e pósgraduação nas modalidades presencial e a distância nas áreas de Comunicação e Educação Autora de material didático para edu cação à distância Experiência em coordenação pedagógica de cursos e em programas de formação de professores Doutoranda em Direito pela Universidade Veiga de Almeida UVA mestra em Direito pela Universidade Gama Filho UGF Professora auxiliar de Direito Internacional e Direitos Humanos na UVA professora auxiliar de Direito Civil e História do Direito na Universidade Estácio de Sá Unesa Palestrante na área de direitos humanos 10 KATIA PUENTE MICHELE VIEIRA Doutoranda PsicanáliseSaúde e Sociedade UVARJ Mestre em Sociologia UFRJ 1996 Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Bacharelado 1991 Licenciatura 1996 Professora Adjunta Universidade Veiga de Almeida Professor DOC I Sociologia SeeducRJ Professor PósGraduação Especialização Tecnologia e Mí dias UVARJ Supervisora Acadêmica Prograd Autora e tutora de disciplina EaD UVA Ilumno Graduação Sociologia Geral e Sociologia da Educação PósGraduação Lato Sensu Educação e Tecnologia Cultura Tecnologia e Trabalho Coautora disciplina gra duação Ead Antropologia e Educação Autora Curso Avaliação de Aprendizagem em Ead para Professor Ilumno Brasil Coautora e tutora do curso Formação de Tutores Ead UVA EpicCanvasGrupos de Pesquisa Inovação na Gestão Educacional UVARJ Uni sinos Currículo Tecnologias Educacionais e Formação Docente UVARJ e O diagnóstico em psicanálise e suas contribuições para a prática clínica UVAFUNADESP Áreas de Concentração Ensino superior Formação Docente e EAD Avaliação Tecnologia Educa cional Ativismo e Juventude Doutora e mestre em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense UFF Pesqui sadora do Laboratório de Pesquisa em Culturas e Tecnologias da Comunicação Labcult Possui graduação em Comunicação Social Jornalismo e Publicidade pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro 1999 graduação em História pela Universidade Gama Filho 2005 e especialização em História Contemporânea pela Universidade Cân dido Mendes 2006 Foi jornalista de 1997 a 2003 e assistente de pesquisa do CPDOC da Fundação Getúlio Vargas 20032004 Atualmente é professora dos cursos de Publicida de e Jornalismo da Escola Superior de Propaganda e Marketing ESPM das Faculdades Integradas Hélio Alonso Facha e da Universidade Veiga de Almeida UVA Identidade cultural diversidade e coexistência plural UNIDADE 1 12 Esta unidade mostrará que o conceito de cultura é dinâmico portanto está sempre sendo reconstruído Dessa maneira os problemas e as questões relevantes da contem poraneidade interferem no modo como se dá esse processo em especial os oriundos da globalização que resultou em um redesenhar das fronteiras socioeconômicas A cons trução da identidade é fundamental para o posicionamento de qualquer agente social no mundo contemporâneo O que lhe permite construir memórias e narrativas individuais e coletivas percebendo o seu pertencimento ou não a um universo cultural dando luz à diversidade cultural Ao mesmo tempo ao se estabelecer essas barreiras culturais muitos conflitos podem ocorrer por conta da intolerância causada pelo etnocentrismo Como saída para esse problema temos que buscar uma coexistência plural respeitando a diversidade cultural INTRODUÇÃO Nesta unidade você será capaz de Reconhecer as instituições sociopolíticas enquanto territórios de intercâmbio cruzamentos conflitos e coexistência da diversidade cultural atendendo ao de safio contemporâneo da coexistência das diferenças OBJETIVO 13 Cultura e Identidade categoria conceitual que se afirma para a compreensão da diversidade A cultura inicialmente pode ser definida como o modo pelo qual as diferentes socieda des entendem o mundo em que vivem e agem dentro dele Dessa maneira está condicio nada a uma temporalidade no nosso caso à contemporaneidade sendo portanto um processo histórico Como é uma expressão humana a cultura só surge quando a própria humanidade aparece Cultura é um tema chave para compreender os fenômenos sociais e distingue o que é natural do que é cultural Veja a diferença Natural O natural é tudo que diz respeito às leis biológicas que transcende as nor mas os hábitos e costumes e que não é peculiar a nenhum grupo social humano particular portanto é universal Cultural Já o cultural é tudo que depende da tradição social de comportamento aprendido que é particular a determinada sociedade e depende de suas regras Para compreender a diversidade cultural não é necessário viajar a terras distantes es trangeiras Na nossa civilização encontramos costumes culturais bem diferentes entre si Por exemplo no Brasil em áreas rurais é mais comum dormir e acordar cedo a noite é reservada ao descanso Já as grandes cidades funcionam 24 horas por dia a noite é cheia de atrações de baladas frequentadas principalmente pelos jovens Tudo isso é cultura Para o antropólogo a resposta é sim uma vez que cultura é tudo aquilo capaz de superar a dependência do homem em relação aos fatores ambientais Assim a luta do homem desde sua origem é diferenciar na construção de sua existência o que é natural do que é cultural Veja a explicação de Laraia 2013 A grande qualidade da espécie humana foi a de romper com suas pró prias limitações um animal frágil provido de insignificante força física dominou toda a natureza e se transformou no mais terrível dos predado res Sem asas dominou os ares sem guelras ou membranas próprias 14 conquistou os mares Tudo isto porque difere dos outros animais por ser o único que possui cultura LARAIA Roque Barros de Cultura um con ceito antropológico Rio de Janeiro Zahar 2013 p 24 A cultura se classifica em material objetos ferramentas instrumentos e imaterial o que não é concreto ou seja valores costumes cada uma compreende bens e produtos construídos pelo homem ao longo de sua história Há também inúmeros outros bens para a cultura imaterial que inclui Conhecimento O saber acumulado através de gerações Normas São as regras convenções que definem o modo de agir dos indivíduos em certas situações Valores Elementos abstratos consagrados por um indivíduo grupo ou sociedade que orientam suas ações Exemplos liberdade sucesso eficiência igualdade pro gresso Crenças Atitude de aceitação de uma proposição por parte dos indivíduos que fundamenta sua ação Podem ser pessoais públicas declaradas supersticiosas extravagantes etc Padrões de conduta hábitos e costumes Face um dado problema alguns povos desenvolvem e transmitem às gerações seguintes formas peculiares para lidar com cada situação Se os resultados forem positivos passam a ser repetidas Assim são adotadas pelo grupo e se tornam padrões de ação Por exemplo qualquer morador de uma grande cidade sabe que ao chegar diante de um prédio com botões na porta estará diante de um interfone e deve tocálo para entrar no local Talvez um membro de uma outra cultura fique em frente ao edifício durante horas até alguém lhe explicar o que já é padrão para nós Mecanismos que estabelecem uma divisão de funções e posições sociais definidas Todos os grupos estabelecem relações sociais e definem posições para seus membros Mas isso pode variar Por exemplo em nossa sociedade tra dicionalmente ou seja culturalmente o papel de provedor da família sempre foi do homem pai de família e a mulher estava destinada a cuidar do lar dona de casa No entanto as mudanças em algumas sociedades contemporâneas geram e ampliam outra divisão de funções com a mulher se transformando em chefe de família mantendo financeiramente a casa Estamos diante de outro me canismo cultural Atualmente alguns homens casados não trabalham ou apenas atuam em meio período e realizam as atividades domésticas antes destinadas especificamente às mulheres 15 Para o senso comum cultura é entendida como Domínio artístico sofisticação sabedoria ExOs africanos não têm a cultura dos euro peus Domínio intelectual grau de instrução volume de informação quantidade de títu los acadêmicos inteligência ExMaria não tem cultura mas João é culto Analfabeto não tem cultura Civilização ExA cultura inglesa é mais civilizada do que a cultura dos índios Yanomami Sinônimo de estética e entretenimento ExNesta seção do jornal você verá os eventos culturais da semana teatro cinema exposições shows A cultura portanto é um elemento altamente complexo rico e acima de tudo único particular O processo de globalização aproximou inúmeras sociedades e culturas portanto identidades culturais diversas Apesar disso não se pode negligenciar que a cultura também deve ser vista na relação com outras culturas sempre visto que seus formuladores os inúmeros povos estão sempre em um processo de interação Tal procedimento é fundamental É o que nos permitirá questionar a realidade de nossa própria sociedade com seus valores hábitos atitudes conflitos tensões etc que à primeira vista nos parecem ser naturais e nor mais quando na verdade estão longe de serem No seio dessa preocupação em estudar as diversas culturas surgiu também a neces sidade de comparálas Para isso buscouse dois caminhos Hierarquizar as culturas x Negar a hierarquização Muitas pesquisas e trabalhos optaram por trilhar o primeiro caminho Tentavase enquadrar as culturas num processo linear e teleológico Todavia Para refletir Agora que você já conhece qual é o conceito antropológico de cultura é impor tante não confundir com o conceito que o senso comum atribui à cultura E por que Para o senso comum cultura é entendida como conhecimento empírico ou seja adquirido pela observação dos fatos pelas experiências vivências que é passado de geração a geração Ou seja é o modo de pensar da maioria das pessoas e não está fundamentado em leis e teorias científicas que precisam ser comprovadas para serem aceitas como verdadeiras E não podemos tomar decisões seja na vida pessoal ou profissional com base no senso comum 16 esse modelo recebeu inúmeras críticas de intelectuais que escolheram o segundo cami nho Afirmavam que o processo de classificaçãohierarquização cultural não poderia ser aplicado a todas as sociedades ocidentais e tampouco a todas as sociedades humanas Se portanto comparar as culturas tendo como norte aquele primeiro caminho é proble mático o segundo também se apresenta arriscado Uma vez que quando se procede na comparação de culturas sempre a fazemos pelo olhar de nossa cultura ou seja do ponto de onde se observa Portanto eivado de classificações e conceitos da cultura do observador Tudo passa a ser relativo Porém mesmo esse relativismo carrega em si um problema pois as interconexões culturais dos diferentes povos foram são e serão feitas por meio de relações de poder que são desiguais e portanto hierarquizantes Nem sem pre é fácil analisar as culturas tendo isso em mente O mesmo problema se apresenta quando analisamos o interior de uma cultura nacio nal uma vez que as sociedades nacionais são divididas em diferentes classes e grupos sociais regiões religiões etc que também carregam em si relações de poder que são desiguais e hierarquizantes assim como as relações internacionais Um outro aspecto importante nesse estudo é a identidade cultural O conceito de identidade começou a adentrar com mais ênfase nas ciências sociais na contemporaneidade quando se procurava analisar alguns problemas oriundos da globa lização Com ele vieram alguns adjetivos como identidade cultural identidade nacional identidade étnica identidade social etc No que nos interessa aqui iremos enfatizar a identidade cultural Já estudamos o que é cultura nos resta entender o que é identidade e como ela se constrói Para uma primeira aproximação podemos pensar em nossa Carteira de Identidade documento oficial que identifica o cidadão no Brasil Nela temos uma série de dados Para refletir Todos temos uma identidade Se lhe perguntarem qual ou quais são as caracte rísticas que temos e que nos são fundamentais para a construção de nossas identidades saberemos responder Mas será que sabemos exatamente o que é identidade Como ela é construída 17 como nome filiação data de nascimento naturalidade etc Todas essas informações irão acompanhar o indivíduo por toda a sua vida sendo portanto fixos Mas será que a identidade é realmente fixa Valeria por toda uma vida Podemos começar a tentar responder essa resposta nos apropriando da ideia do senso comum que define a identidade a partir da percepção de um indivíduo de que ao longo do tempo mantém algumas características De modo a se tornar único e por oposição diferente dos demais Tal como o exemplo acima Mas em se tratando de identidade cultural na contemporaneidade o tema de nossa disciplina temos que levar em consideração outros elementos que são capitais como a maneira pela qual o indivíduogrupo representa o seu passado as condutas os atos que praticou e como planeja seu futuro Quando esse processo ocorre de modo compartilha do ou seja quando um determinado grupo de pessoas mantém essas mesmas caracte rísticas ao longo de um tempo passamos a ter não mais uma identidade individual mas uma identidade cultural Tal questionamento levaria ao abandono de uma visão a respeito da identidade incluindo as identidades étnica e cultural calcada numa racionalidade do sujeito que opera e constrói a sua identidade Todavia essa crítica esbarra em dois problemas em relação ao conceito 1 Surgiu em um contexto que fora superado mas no entanto não se criou nenhum outro conceito que pudesse ser usado em sua substituição Um dos teóricos mais importantes a respeito da identidade é Stuart Hall Ele queria conceituar o termo hibridização Como os demais estava preocupado com as questões oriundas da globalização mais precisamente com a chama da descolonização ou movimentos póscoloniais quando as antigas colônias europeias localizadas sobretudo nos continentes africanos e asiáticos consti tuíramse como nações independentes no pósguerra O autor sublinhou que as ciências sociais e humanas têm revisto o conceito de identidade colocando em xeque a ideia de que ela seria integral originária e unificada Importante 18 2 Diz respeito à impossibilidade de enquadrar a ação do indivíduo dentro dos li mites da identidade não havendo um ajuste de suas ações a uma totalidade a qual pertence Mas entender que as ações por vezes são realizadas fora de uma expec tativa relacionada à identidade a que pertence sendo paradoxal Deste segundo ponto emerge uma série de questões apontadas pelo autor uma das quais a substituição do conceito de identidade por identificação A identificação pos sui uma série de elementos herdados da psicologia freudiana como a idealização e a ambivalência Idealização porque é fundada na fantasia no inconsciente numa projeção que se daria de forma cristalina entre o outro que não o eu que na verdade não cor responde à realidade Ambivalência porque os laços ou seja as características usadas para a constru ção da identidade podem ser apropriadas dos polos opostos No mundo globalizado a formação das identidades culturais sobretudo as ligadas a gru pos que foram forçados a migrarem de suas regiões de origem utilizam a história como uma ferramenta que lhes confere uma unidade Todavia o que temos que ter em mente é que o analista social não pode ver essa instrumentalização do passado de modo que torne este grupo engessado naquela temporalidade Ou seja os membros do grupo não estão preocupados em perceber como o grupo é mas o que se tornou como está sendo representado e como essa representação afeta o grupo Tal mecanismo leva a rever um conceito importante para a identidade e que também está ligado a temporalidades pretéritas a noção de tradição Ela deixa de ser vista como algo que perdura no tempo para ser encarada como algo que se reitera que se trans forma De tal modo que preservar essa tradição não significa voltar às raízes mas enten der como essa tradição inventada fantasiada ficcional foi construída Em outras linhas não se busca viajar ao passado para pegar essa tradição materializada e trazêla para o presente tal como se fosse um objeto concreto Mas ir além Procurar entender como essa tradição pretérita foi manipulada lapidada lasqueada envernizada etc até chegar ao presente 19 Para Stuart Hall as identidades culturais seriam pontos de encontros entre um discurso que nos obriga a nos situarmos em um lugar social que possui um significado próprio e a própria subjetividade do ator social Quando um ator atribuise ou a ele é atribuído uma identidade cultural assume uma determinada posição social que não deixa de ser uma representação construída não pelo que ela é mas por aquilo que não é Deste modo as identidades culturais não podem nunca ser iguais já que eivada de subjetividade e do lugar que o sujeito ocupa Além mais como os sujeitos ocupam vários lugares sociais possuem várias identidades que podem ser ambíguas e contraditórias Como também depende das subjetividades que sempre se apresentam mutáveis dos autores elas são temporárias Nesse processo de construção da identidade cultural a memória é fundamental Mas assim como a identidade seu conceito apresenta uma série de características que preci sam ser mais bem detalhadas Paul Ricouer 19132005 filósofo francês Um dos estudos mais importantes a respeito da memória e como ela influência não apenas as narrativas culturais mas a própria identidade cultural foi o realizado por Paul Ricoeur 2005 Para o autor a memória individual e a memória coletiva Importante Essa construção da identidade cultural é realizada dentro de instituições e gru pos que possuem interesses específicos não apenas em seu seio mas na re lação com outros grupos Portanto é uma construção repleta de relações de poder externas e internas Sua finalidade principal é demarcar de forma clara a pertença e por conseguinte a exclusão do outro Não estando no centro de suas preocupações estabelecer uma unidade em seu interior Assim a homo geneidade desse grupo está longe de ser natural e de existir de fato Caracteri zase por uma invenção por uma ficção quando se define que determinadas características daquele grupo serão as fundamentais para a construção de suas identidades e não outras Importante 20 A memória é um termo polissêmico portanto com vários significados que opera ter mos ambíguos como nos lembra Margarida de Souza Neves A autora destacou que o conceito trabalha com o tempo lembrado e o tempo da lembrança o individual e o coletivo o registro e a invenção o material e o simbólico a rememoração e o esqueci mento as paixões e os interesses a informação e o ocultamento a razão e a emoção 2009 p 22 Nossos pais por exemplo nos trazem vivências que estão em nossa memória mas de certo modo adormecidas Grupos sociais também podem ter papel similar Eles evo cam experiências que poderíamos chamar de história ou de narrativa cultural que não foram vividas por nós mas nos reconhecemos naquelas pessoas que as vivenciaram e as construíram Os próximos seriam espaços de mediação entre o coletivo e o individual que permi tem que haja entendimento entre ambos e assimilação ou negação dos caracteres cole tivos no indivíduo e viceversa Atuam como filtros dos elementos que saem da memória coletiva e entram ou são barrados na memória individual e viceversa Como a memória opera muitas vezes por informações que foram vivenciadas por outrem como vimos estes próximos são fundamentais uma vez que são eles que trazem essas informações para os atores No entanto sua importância não resulta apenas no fato de nos apresen tar informações desconhecidas Eles muitas vezes nos fazem lembrar de memórias que foram por nós esquecidas são frutos de um mundo em comum A memória individual busca na memória co letiva a legitimação de seu discurso pelo fato de se expressar em uma linguagem que é coletiva a cultura Ao mesmo tempo a individualidade e o coletivo possuem uma relação muito íntima não apenas porque o coletivo é um conjunto de indi víduos mas porque a memória coletiva se expressa por um daqueles indivíduos que compõem o coletivo Mas para além da relação entre a memória coletiva e a individual haveria um terceiro elemento a que chamou de os próximos 21 Conflitos de identidade processo etnocêntrico e intolerância Vamos refletir um pouco sobre esse tema Com a intensificação do processo de globalização as diversas culturas existentes no mundo passaram a ter mais contato Em resposta a esse movimento tivemos dois pro cessos Um primeiro o processo de hibridismo cultural E o segundo em que os con flitos e as tensões tornamse mais claros calcado no etnocentrismo e na intolerância para com o outro ou seja aquele que não compartilha de sua cultura e em sua grande maioria acabam gerando conflitos muitos dos quais violentos Aqui vamos discutir alguns pontos que dizem respeito aos conceitos de etnocentrismo e intolerância de modo que possam ser úteis quando nas aulas e unidades estudarmos alguns dos conflitos de identidade culturais existentes na contemporaneidade e como poderemos superálos O conceito de etnocentrismo talvez seja o mais fácil de trabalhar dentre os que foram apresentados e os que ainda veremos ao longo deste curso Poderíamos rapidamente começar a definilo buscando o significado etimológico da palavra Etnocentrismo O passo inicial seria desmembrálo em dois termos CUNHA 2012 p 274 e 142 Etno Segundo Antônio Geraldo da Cunha etno provem do grego étnhos que significa raça povo A ideia foi apropriada pela linguagem científica internacional a partir do século XX Centro O conceito centro originouse do latim centrum que por sua vez teria surgido do grego kéntron tendo sido apropriado pela geometria para designar o ponto para onde convergem as coisas Assim facilmente veríamos que Etnocentrismo foi um conceito criado pelas ciências so ciais e humanas para dizer que a cultura de um determinado povo seria central o ponto de partida Todavia não basta dizer que a cultura é uma chave de entendimento de um povo de uma sociedade 22 Mas de que cultura estamos falando De quem analisa ou de quem é analisado Rapidamente não hesitaríamos em responder que dos dois tanto do analista quanto do analisado O analista pode ter uma visão etnocêntrica da cultura que observa Por sua vez o analisado também pode ter um olhar etnocêntrico ao se deparar com outras cultu ras como denunciaria o analista não etnocêntrico Tal fato enseja alguns problemas mas o fundamental é pontuar que ambos partem da questão central do conceito ou seja da visão de determinado povo de que sua cultura é a mais importante correta perfeita excelente e normal De modo que quem não lê o mundo por essa cultura estaria em um grau de humanidade menor ou não estaria nem mesmo nesta categoria Mas a questão não é tão simplória assim A visão etnocêntrica acarreta portanto em um posicionamento em relação às demais culturas em que os seus referenciais culturais são centrais Ao pensar e refletir sobre as demais culturas levamos nossa maneira de entender o mundo para outras sociedades O que mostra a imensa dificuldade de lidar com a diferença e o diferente e pensar a seu respeito Mas o problema não se restringe à esfera do pensamento da abstração ele também se materializa quando se precisa estabelecer relações sociais com indivíduos de outras culturas Nessa relação acabamos por estranhar apresentar hostilidades e até ter medo do outro pelo simples fato de ser diferente Portanto longe de ser apenas uma questão abstrata entendida como não sendo algo prático e palpável o etnocentrismo se apresenta de forma objetiva mesmo que no cam po dos sentimentos que não deixam de ser abstrações mas que se expressam em ações concretas Cabe sublinhar que ao estudar a história da humanidade a questão do etno centrismo aparece de forma constante assim como em nosso cotidiano mais elementar Dessa maneira o que temos que salientar se realmente quisermos construir um mundo solidário e democrático em sua plenitude mais justo e menos excludente é que há a necessidade de se entender como se expressam esses etnocentrismos qual a sua ra zão como atuam nas emoções nos sentimentos das pessoas etc 23 Cabe ainda dizer que esta representação fica à mercê de uma lógica ideológica e de contextos que não estão ligados à cultura representada Passam a ser instrumentos que podem ser manipulados de modo ambíguo podendo ser positivada ou negativada como é feita na maior parte das vezes Alguns autores pontuam que o primeiro passo para o início da globalização teria aconte cido ainda na Idade Moderna 14531789 na chamada Era dos Descobrimentos cujos movimentos mais importantes foram a descoberta da América por Cristóvão Colombo 1492 a chegada de Vasco da Gama às Índias 1498 e a descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral 1500 Esses acontecimentos levaram os europeus a travarem contatos com uma imensa gama de culturas diferentes Assim muitos pensadores da Moder nidade que ficaram conhecidos como Renascentistas naturalmente com os olhos da Modernidade logo começaram a tentar entender aquelas inúmeras culturas Uma saída possível é romper com o silêncio do outro quando o tratamos de modo etnocêntrico Dito de outra forma geralmente quando abordamos o ou tro o fazemos por meio de uma representação criada por nós mesmos e não a empreendida pelo outro Negamos assim o caráter humano de fala do ou tro já que o consideramos incapazes de se expressarem e formularem uma visão de mundo Nessa representação que fazemos não há nenhuma barreira nenhum limite tudo é possível de acordo com a intenção que se tem ao criar aquela representação Exemplo É preciso lembrar que o etnocentrismo não ocorre apenas nas relações de cul turas externas também pode se expressar em relações dentro de uma mesma cultura com gruposclasses sociais diferentes Desta feita se faz uma repre sentação estereotipada a respeito de determinados gruposclasses sociais que em nosso cotidiano mais comezinho apresentam diferenças que resultam em conflitos tais como mulheres velhos homossexuais negros pessoas que pra ticam determinadas religiões etc Importante 24 Nesse movimento com intensidade bem menor que o da Globalização houve alteração das fronteiras contato com outros povos e culturas desenvolvimento de tecnologias que diminuíram as distâncias espaciais e de comunicação Mas para o que nos interessa aqui o europeu se relacionou com os outros vendose obrigado a pensar a diferença O momento foi crucial porque nascia de modo bem embrionário a necessidade de se formular um pensamento a respeito das diferenças embora ainda de um jeito muito in formal e sem rigores conceituais Essa época que também ficou conhecida como a era da Descoberta do Homem e do Mundo devese destacar igualmente que não foi importante apenas porque o homem europeu conheceu e se deparou com outras culturas Mas porque ao olhar os outros obrigavase a olhar para dentro o que o levou a desco brir a si mesmo e a questionar alguns de seus valores e atitudes Mais um passo de expansão e domínio da cultura europeia ocidental frente às demais ex pressões culturais fora dado o que para diversos autores também se insere no processo de globalização O choque cultural propiciado pelo outro novamente veio à tona No entanto já não era mais calcado em uma visão de mundo religiosa mas científica na qual o cientificismo deveria explicar o mundo Surgia a Antropologia com a preocupação de compreender e elucidar o funcionamento das diferentes culturas Para refletir O discurso sobre o outro na verdade começará a ganhar corpo em outro mo mento importante para os europeus quando houve uma reestruturação das suas áreas coloniais Dessa forma se a época dos descobrimentos na Modernidade inaugurou o colonialismo o século XIX na contemporaneidade com a suprema cia dos países capitalistas industriais daria início a outro tipo de contato que ficou conhecido como Neocolonialismo ou Imperialismo Foi o momento em que de terminadas áreas do globo ainda não tocadas ou tocadas de forma muito super ficial por aquele primeiro processo de dominação o colonialismo passaram a ser controladas pelos países europeus sobretudo na África e na Ásia 25 Questão esta que tinha a preocupação de hierarquizar as culturas No bojo desse proces so surgiu o conceito de Evolucionismo Social O termo Evolucionismo havia sido cunha do naquele mesmo século pelo cientista natural Charles Darwin e tentava explicar por meio de uma metodologia científica a origem e a evolução das espécies que em suma poderia ser resumida ao fato de que somente as espécies mais bem adaptadas ao meio ambiente evoluem e por conta disso se perpetuam no tempo conseguindo se reproduzir e transmitir as suas características para as futuras gerações A ideia do evolucionismo foi levada para a Antropologia que acabou por formular a ideia de que a cultura europeia ocidental era mais desenvolvida mais civilizada que as demais A noção de progresso passou a guiar as análises antropológicas e as sociedades foram classificadas de acordo com o seu grau de evolução Alguns antropólogos evolucionistas observavam o caminho que levou as sociedades do primitivismo à civilização Para isso identificavam em seu seio a existência de estruturas políticas formais A humanidade teria percorrido um caminho de sociedades sem Estado portanto sem política até o aparecimento de sociedades possuidoras de Estados comple xos centralizados hierarquizados e ordenados tal qual os europeus do século XIX Mas as sociedades primitivas na infância da humanidade não teriam desaparecido nos oitocentos elas estariam naquelas áreas coloniais África e Ásia onde uma série de características negativas aos olhos dos europeus lhes eram atribuídas como a barbárie o paganismo o atraso a ignorância falta de ciência etc Como dever civilizacional cabia aos países euro peus civilizados na fase madura da humanidade o ônus de salválas do atraso levando à civilização Tal visão caracteriza um olhar etnocêntrico uma vez que estabelece como fator mais importante da cultura o elemento político que seria universal e não particular Apesar dos problemas etnocêntricos apontados Everardo Rocha 1984 observa um ponto positivo a respeito dessa visão evolucionista Essa antropologia do século XIX no que pese ter tachado o outro de primitivo reconheceu que o mesmo fazia parte da natureza humana tal qual o europeu Uma das formas de expressão do etnocentrismo é a intolerância Essa por sua vez nada mais é do que a não aceitação de qualquer elemento ou contato com o outro Movimentos de intolerância podem ocorrer nas mais variadas escalas seja por exem plo pelo genocídio de um povo localizado dentro ou fora das fronteiras do Estado nação a que pertenço ou na perseguição ao meu vizinho que professa uma religião diferente da minha A resposta dada pelos que sofrem a intolerância também se apresenta diversa Pode re sultar ainda em mais violência desde a simbólica até a física ou no silêncio total da vítima 26 Diversidade o desafio contemporâneo da coexistência plural Vamos iniciar este tópico enfatizando que nós que vivemos em uma sociedade contem porânea temos um desafio qual seja a construção de uma sociedade na qual possa existir e se manifestar de modo pacífico as diferentes expressões culturais Para isso al gumas barreiras devem ser vencidas como o etnocentrismo que se manifesta na intole rância como visto na aula passada Desse modo cabe à sociedade desenvolver políticas públicas que atuem na questão apontada Porém para pensar essas questões alguns pontos têm que ser revistos e derrubados Um dos quais é a herança que ainda temos hoje da importância do tempo ou melhor da história como uma linha evolutiva teleológica Como vimos na aula passada era por meio do tempo que se poderia visualizar o desenvolvimento dos povosculturas na esca la civilizacional Ao abandonarmos essa noção podemos entender que cada uma das sociedades e de suas culturas são uma expressão do particular O fato abre espaço para a relativização das sociedadesculturas na medida em que cada uma caminharia por trilhas que lhes seriam próprias e únicas Desse modo por exemplo podese entender que ao contrário da noção de tempo linear baseado em causas e consequências que possuímos diversas sociedades produziram produzem e produzirão outras relações com o tempo Algumas de modo circular em que características vão e vem de forma natural Ou tras trabalham com o tempo espelhado ou seja um tempo perfeito anterior a esse vivido que deve servir de espelho modelo e portanto sempre sendo reproduzido O processo é muito difícil e por vezes impossível de ser compreendido Afinal estamos acostumados com esse tempo linear e que não tem volta o que torna bastante difícil visualizar um tempo circular em que as coisas se repetirão A questão abre uma discussão como lidar com essas diferenças As análises e as ferra mentas analíticas precisam dar conta dessa complexidade de sociedadesculturas No vos conceitos precisam ser formulados velhos conceitos precisam ser esquecidos ou reformados É esse processo que permitirá um novo olhar para o outro para que se possa entendêlo por ele mesmo e não explicálo por nós De tal modo que não se bus 27 cam mais leis gerais mas sim interpretar a maneira pela qual as inúmeras sociedades procuraram viver suas vidas ou seja produziram suas próprias culturas Conhecer essas culturas é fundamental porque são experiências sociais e culturais do vivido que podem servir de modelos alternativos à nossa própria sociedade e cultura O outro então ganha um novo patamar Deixa de ser o que precisa ser educado civilizado para ser o que pode nos ensinar a construir uma sociedade melhor Deve se destacar aqui que também está por se refundar o conceito de cultura Ou seja a abertura para que o outro também seja produtor de cultura a criação de sentidos e significados criados pelos homens para os seus atos desde os mais simples e banais aos mais complexos Esses significados aprisionam seus produtores de modo que orientam as suas ações É por meio da análise desses significados que se pode extrair dados sobre determinada sociedade que evidenciaram quem ela é o que pensa o que faz Esses ensinamentos são importantíssimos para que se possa na con temporaneidade construir sociedades que respeitem a diversidade cul tural com a implementação de uma coexistência plural Para isso devemos levar essa visão para diversos níveis de escala Sejam as internacio nais as interétnicas na relação com o colega de trabalho com o vizinho etc O que co mumente não é feito Tal mecanismo permitirá que os indivíduos pertencentes à minha sociedade ou às outras sociedades reconheçam que as diferenças entre ambos são escolhas dentre infinitas possibilidades e que respeitálas é um ato de generosidade e de humanidade Só assim se poderá romper a visão hierarquizante das culturas pertinen tes a visão etnocêntrica Todavia para que se construa um mundo mais plural há a necessidade de se desenvol ver políticas públicas que tenham esse objetivo Elas não pairam no ar no etéreo são formuladas por indivíduos que estão inseridos nessas mesmas sociedades nas quais as políticas irão atuar Desta feita é desnecessário sublinhar que todas as características da sociedade contemporânea mesmo aquelas que se queira combater estarão presentes nas referidas políticas Nesse sentido a diversidade cultural entra na ordem do dia no mundo contemporâneo 28 Mas levar em consideração que a diversidade cultural deve ser um bem universal ou seja algo buscado por todos enseja a manutenção do mesmo problema presente na globalização qual seja como lidar com a relação entre o global e o fragmentado No seio dessa discussão uma questão a ser observada é que algumas conotações que nos parecem universais tais como muitas das combatidas pelos que lutam a favor da diversidade cultural surgiram dentro de expressões culturais ocidentais portanto de cul turas fragmentadas que se tornaram globais porém calcadas no etnocentrismo Desse modo até que ponto direitos humanos democracia desenvolvimento material de senvolvimento tecnológico cientificismo competição racionalidade empreendedo rismo mercado etc devem ser valores globais Tais valores não evidenciariam relações de poder de quem os define Não seriam uma expressão da capacidade das sociedades ocidentais em definir o que é desejável para as demais culturas impondo um etnocentrismo disfarçado e solapando as diferenças cul turais Essa imposição de valores globais não caracterizaria um monopólio cultural Não seria um meio de reprodução das elites globais Tais questionamentos foram feitos de forma brilhante pelo antropólogo Gustavo Lins Ribeiro 2009 Para refletir Walter Mignolo 2000 destacou que esse fenômeno pode ser chamado de di versalidade ou seja um projeto universal de respeito às diversidades que se apresenta como uma alternativa contrária ao movimento de homogeneidade cultural que expressaria os interesses das classes globais hegemônicas A di versalidade seria a compreensão de que a diversidade cultural é a chave para a criatividade a busca de uma sociedade cosmopolita crítica que procura dialo gar com o particular e o global e não a adoção de um modelo que se pretende único para toda a humanidade 29 Todavia dentro desse quadro há uma tensão fruto de sua ambiguidade visto ser muito difícil reconciliar valores globais com os particulares devido aos diferentes processos históricos e culturais existentes O discurso de solidariedade faz com que esse particula rismo seja o mais facilmente aplicável tanto para quem defende o processo de globali zação como para quem luta contra ele São adotados por instituições de alcance global que podem ser divididas em duas esferas Por isso a busca pela valorização da empatia e do respeito a um mundo cada vez mais multicultural Resgatando a questão proposta em relação ao modo de lidar com o global e o fragmentado Ribeiro 2009 aponta que a melhor saída seria o que chamou de particularismo cosmopolita Um discurso que traz em si as questões globais e que tem a pretensão de ser incorporado pelas outras culturas A ideia cos mopolita se insere no que foi dito acima um conceito europeu que se pretende universal enfatiza um conjunto ou uma determinada característica que extra pola as fronteiras nacionais e se impõe ao globo Encara a diferença cultural de forma positiva e luta para que essas diferentes sociedades consigam estabele cer diálogos e trocas de modo igualitário criando solidariedade entre os povos Importante Para ampliar o seu conhecimento veja o material complementar da Unidade 1 disponível na midiateca MIDIATECA 30 Hoje nas redes sociais observamos cada vez mais a necessidade de empatia e valorização da diversidade cultural Isso reduziria uma cultura do ódio que se propaga nesses espaços do desrespeito da falta de ética e cidadania Ser um sujeito global não é só ser capaz de ter acesso ao avanço científico e tecno lógico presente num mundo que se socializa cada vez mais de forma digital Demanda de cada um de nós dialogar com a cultura e coexistência plural NA PRÁTICA 31 Resumo da Unidade 1 No primeiro momento trabalhamos os aspectos da cultura e da identidade cultural e seus desdobramentos impulsionados pela sociedade cada vez mais globalizada Em seguida trabalhamos os conflitos provocados pela intolerância e etnocentrismo Por fim discutimos os desafios de viver a diversidade na sociedade contemporânea Trabalhamos os conceitos de cultura identidade cultural memória e narra tiva cultural e etnocentrismo diversidade cultural CONCEITO 32 Referências CHICARINO Tathiana Org Antropologia social e cultural São Paulo Pearson Prentice Hall 2014 DAMATTA Roberto Você tem cultura Artigo publicado no Jornal da Embratel RJ 1981 DAMATTA Roberto Relativizando uma introdução à Antropologia Social Prefácio do livro de mesmo nome 2007 HALL Stuart Quem precisa da identidade In SILVA Tomaz Tadeu da Org Identidade e diferença a perspectiva dos estudos culturais Petrópolis Vozes 2009 p 103133 NEVES Margarida de Souza Nos compassos do tempo A história e a cultura da memó ria In SOIHET Rachel ALMEIDA Maria Regina Celestino de AZEVEDO Cecília GONTI JO Rebeca Orgs Mitos projetos e práticas políticas Memória e Historiografia Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2009 p 2133 RIBEIRO Gustavo Lins Diversidade Cultural enquanto Discurso Global In Avá 2009 nº 15 RICOEUR Paul A memória A história O esquecimento Campinas Unicamp 2005 ROCHA Everardo P Guimarães O que é etnocentrismo São Paulo Brasiliense 1984 Direitos humanos afirmações identitárias e o legado sociocultu ral de matriz africana e de matriz indígena no Brasil UNIDADE 2 34 Nesta unidade vamos estudar como podemos pensar os direitos humanos as afirma ções identitárias contemporâneas e como se expressa a diversidade cultural dos inú meros povos indígenas existentes no Brasil Também abordaremos a importância da diáspora negra africana que entre outras coisas foi fundamental por fundar as religiões híbridas no Brasil comumente chamadas de afrobrasileiras que são obrigadas cada vez com mais frequência a lidarem com a intolerância por parte de outras práticas reli giosas Todo esse processo fruto do legado sociocultural das matrizes culturais indíge nas e afrobrasileiras é fundamental para a reconstrução da identidade brasileira e das suas identidades regionais INTRODUÇÃO Nesta unidade você será capaz de Reconhecer o legado sociocultural de matriz africana e indígena na composi ção identitária nacional e regional em uma perspectiva de afirmação política questionamento dos estereótipos no convívio social a fim de quebrar padrões de pensamento e julgamento do outro OBJETIVO 35 Direitos humanos e afirmações identitárias A formação da democracia e da cidadania por meio da efetivação dos direitos humanos é o único objeto capaz de efetivar as garantias mínimas dos direitos essenciais aos homens A cidadania deve ser compreendida como um conceito dinâmico pois se renova e se altera de forma constante diante das transformações sociais dos contextos históricos e das mudanças de paradigmas ideológicos Essas alterações são fundamentais para a compreensão da cidadania pois cidadão é o indivíduo que vive de acordo com um con junto de normas jurídicas pertencentes a uma comunidade politicamente e socialmente organizada na forma de Estado em que o exercício dos direitos e deveres civis políticos e sociais estão estabelecidos na Carta Magna de seu país A cidadania brasileira é concedida à pessoa nascida em território brasileiro ou que solici ta a sua naturalização no caso de estrangeiros Para refletir Exercer a cidadania é ter consciência dos binômios formados pelos direitos e obrigações garantindo que esses sejam efetivados sempre de forma interli gada a fim de contribuir para uma sociedade mais equilibrada e justa Exercer a cidadania é então estar em pleno gozo dos direitos constitucionais sendo preparado para isso o cidadão por meio da educação Art 12 CRFB88 São brasileiros I natos a os nascidos na República Federativa do Brasil ainda que de pais estrangei ros desde que estes não estejam a serviço de seu país Ampliando o foco 36 A cidadania deve ser entendida como um processo contínuo uma construção coletiva propiciadora da concretização dos direitos humanos Sua conceituação perpassa tanto a situação de fato explicitada no artigo transcrito acima como a prática da tomada de consciência de seus direitos e a realização dos deveres Isso implica no efetivo exercício dos direitos civis políticos e socioeconômicos bem como na participação do bemestar da sociedade A cidadania portanto deve ser entendida como processo contínuo uma construção coletiva significando a concretização dos direitos humanos b os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou mãe brasileira desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil c os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil antes da maioridade e alcançada esta optem em qualquer tempo pela nacionalidade brasileira d os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou mãe brasileira desde que ve nham a residir na República Federativa do Brasil e optem em qualquer tempo pela nacionalidade brasileira Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3 de 1994 e os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem em qualquer tempo depois de atingida a maioridade pela nacionalidade brasileira Redação dada pela Emenda Cons titucional nº 54 de 2007 II naturalizados a os que na forma da lei adquiram a nacionalidade brasileira exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano inin terrupto e idoneidade moral b os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na República Fede rativa do Brasil há mais de trinta anos ininterruptos e sem condenação penal desde que requeiram a nacionalidade brasileira b os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na República Federa tiva do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal desde que requeiram a nacionalidade brasileira 37 DEVERES DO CIDADÃO 1 Votar para escolher os governantes 2 Cumprir as leis 3 Educar e proteger seus semelhantes 4 Proteger a natureza 5 Proteger o patrimônio público e social do país DIREITOS DO CIDADÃO 1 Direito à saúde educação moradia trabalho previdência social e lazer 2 O cidadão é livre para escrever e dizer o que pensa de forma não anônima 3 Liberdade religiosa e de fé bem como sua manifestação 4 Liberdade de trabalho ofício ou profissão mas a lei pode pedir estudo e formação específica 5 Liberdade patrimonial onde cada pessoa administra seus bens da forma que desejar 6 Liberdade plena de ir e vir em tempo de paz Ser cidadão implica não se deixar oprimir nem subjugar mas enfrentar o desafio que for para defender e exercer seus direitos humanos valores princípios e normas que definem o respeito à vida e à dignidade E a democracia Pode ser conceituada como o regime político em que a soberania é exercida pelo povo A palavra democracia tem origem no grego demokratía que é composta por demos que significa povo e kratos que significa poder Nesse sistema político o poder é exer cido pelo povo por meio do sufrágio universal Compreender a união da democracia com os direito humanos é também entender a ligação daquela com a igualdade e liberdade pois desde a Grécia Clássica a igualdade é um dos pilares da democracia que pode ser traduzida no princípio da isonomia Nas modernas constituições democráticas esse princípio aparece embasando os direitos humanos como na Constituição Federal Brasileira de 1988 artigo 5º Todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natu reza garantindose aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida à liberdade à igualdade à segurança e à propriedade 38 Esse princípio impede que no Brasil alguns atos abomináveis retornem e se instalem no seio da sociedade tais como a escravidão a discriminação racial religiosa ideológi ca por conta da posição social ou ainda a aplicação de direitos por razões de ordem pessoal Também é a base precípua que garante a igualdade jurídica de sufrágio e de acesso às oportunidades Contudo a realidade mostra que por conta das desigualdades sociais e econômicas muitos cidadãos encontramse alijados dos instrumentos necessários para usufruir ple namente de seus direitos situação esta que é alterada com a educação do povo O segundo desdobramento da democracia é o princípio da liberdade que constitui na verdade o fundamento e o fim desse sistema político Os direitos de liberdade são objetivos e devem ser compreendidos de maneira ampla Eles garantem desde o livre exercício das atividades físicas intelectuais e morais até a inviolabilidade do domicílio e da propriedade Entretanto possuem em seu âmago uma parcela de subjetividade quando ocorre tutela à livre manifestação do pensamento à livre locomoção à liberdade de crença e de religião bem como à liberdade sexual Destacase que no tocante à liberdade de pensamento e de crença ela se configura como um direito absoluto Essas categorias mesmo que sujeitas à opressão governa mental não podem ser impostas pois vivem e se desenvolvem no mundo do interno e pessoal Nos demais casos a liberdade é sempre relativa pois encontrase disciplinada e condicionada pelo Estado por meio de seu ordenamento jurídico Constituição do Brasil comprometese nos artigos 1º 2º e 3º com a observância da democracia em seu território e com a realização de seus elementos no art 4º com o respeito aos princípios democráticos e de direitos humanos no âmbito internacional e no art 5ºe nos seguintes define o conteúdo dos direitos e as garantias fundamentais o que deixa claro serem a democracia a cidadania e os direitos humanos elementos indubitá veis do Estado brasileiro 39 Uma dos formas de garantir os direitos é estabelecer marcos legais que protejam os direitos de todos principalmente das minorias sociais e culturais Discriminações baseadas em caráter racial com distinção de cor de raça de sexo de idio ma e de religião assolaram a humanidade e causaram feridas em todas as sociedades Os direitos humanos podem ser divididos em duas categorias Direitos individuais têm como sujeito ativo um indivíduo humano Direitos coletivos são aqueles que envolvem a coletividade como um todo uma sociedade 21 Direitos individuais homogêneos sendo os de origem como previstos no art 81 parágrafo único III do Código de Defesa do Consumidor 22 Direitos difusos são aqueles transindividuais de natureza indivisível de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato conforme o art 81 parágrafo único I do Código de Defesa do Consumidor Importante Conferência Mundial Contra o Racismo a Discriminação Racial a Xenofobia e a Intolerância Correlatas Esta convenção visa proteger todas as minorias de todas as formas de intolerância A conferência de Durban visa estimular intercâmbios entre os Estados mem bros as instituições especializadas e as organizações não governamentais com o desenvolvimento de programas de ações para a prevenção a educação e reparações cooperações e o reforço dos mecanismos de colaborações com o objetivo de efetivar a luta contra o racismo a discriminação racial a xenofobia e a intolerância associada Ampliando o foco 40 Por isso na atualidade na sociedade global em especial na brasileira devemos lutar contra o racismo a discriminação racial a xenofobia e a intolerância correlatas e impedir uma nova onda de violações maciça dos direitos humanos Por sua diversidade a cultura brasileira é constantemente lembrada e reafirmada por nós brasileiros como por outras nações como uma das mais ricas do mundo Isso se deve ao nosso processo de formação histórico e ao seu corolário ou seja ao proces so de hibridização que ocorreu ao longo daquele processo de várias culturas dentre as quais se destacam três grandes vertentes a indígena a portuguesa e a africana No en tanto com bastante frequência essa positividade se dá apenas no campo do discurso Na prática seja pela ausência eou pela incompetência das políticas públicas desenvolvi das pelas diversas esferas do poder público seja o municipal Estadual ou federal ou até mesmo por ignorância e pelo desleixo de entidades privadas e de indivíduos isoladamen te essa visão não se dá de forma objetiva Manifestações culturais que fogem do padrão hegemônico branco ocidental jovem masculino e cristão são comumente vistas de modo intolerante pela sociedade como um todo gerando conflitos simbólicos e físicos No Brasil um dos pontos de partida para superar essa intolerância é conhecer a expres são de nossa diversidade cultural Deveres dos Estadosmembros Impedir manifestações de racismo discriminação racial e xenofobia espe cialmente em relação a migrantes refugiados e requerentes de asilo Promover uma maior participação e oportunidades para as pessoas de ori gem africana e asiática os povos indígenas e os indivíduos pertencentes a minorias étnicas religiosas e linguísticas Garantir que a discriminação não contamine de forma aberta ou velada o acesso ao emprego aos serviços sociais e aos cuidados de saúde Efetividade máxima da liberdade de expressão com a proibição da incitação ao ódio Proibição de atividades violentas racistas e xenófobas de grupos que te nham ideologias de supremacia 41 Identidades de gênero e orientação sexual o sexismo e a homofobia em debate As tensões geracionais conflitos e convivência social Observamos duas tensões existentes na contemporaneidade A primeira de caráter etá rio e a segunda de caráter de gênero Como vimos a identidade cultural de uma classegrupopovoindivíduo é dinâmica já que absorve ou reforça suas características identitárias de modo a dialogar com as ques tões que se colocam no presente Uma dessas identidades culturais está ligada ao cará ter etário e geracional dos indivíduos a qual gera conflitos que comumente chamamos de choque de gerações Identidade cultural geracional você sabe o que é A identidade cultural geracional está intimamente relacionada ao tempo assim como à própria vida de seus membros Em se tratando de pessoas nada mais natural que o ve lho dito popular nascer desenvolver reproduzir e morrer Para fechar esse ciclo natural o indivíduo nasce como um bebê reproduzse quando atinge a fase adulta e morre quando já é idoso O ciclo também nos remete a um processo natural ou seja de que o indivíduo jovem hoje se tornará idoso amanhã Esse ciclo nos permite refletir será que a identidade cultural não está ligada a essas etapas da vida as quais reforçariam o caráter dinâmico Uma das questões que iremos tratar aqui é exatamente a tensão que se apresenta hoje na sociedade contemporânea a respeito dos choques de geração Uma tensão que gera conflitos nos quais em sua grande parte os idosos saem derrotados Parte desses problemas e conflitos geracionais tem origem nos valores que são consi derados positivos em nossa sociedade Em nosso mundo contemporâneo baseado no avanço da tecnologia e no desenvolvimento industrial atribuímos aos idosos as imagens de um passado que deve ser negado pelo jovem no presente posto que já superado sendo portanto inútil O futuro também se torna problemático por conta da incerteza da vida Os jovens veem nos idosos doentes fracos fisicamente senis etc o seu próprio futuro Dessa forma os afastam ou até mesmo os exterminam como se estivessem ex tirpando esses problemas de si mesmos Contudo quem são os idosos no Brasil 42 Segundo o Estatuto do Idosos Lei nº 107412003 são considerados idosos as pessoas com mais de 60 anos Esses possuem a prerrogativa de que seus direitos sejam resguar dados pelo Estado juntamente com os demais cidadãos Como se sabe as leis só são criadas quando existe um problema a ser solucionado Sen do assim se em nossa sociedade tal questão a exclusão do idoso não se apresentasse ou seja se esses atores tivessem seus direitos respeitados tal lei não seria necessária Todavia no que pese a existência de um grupo de pessoas que se chamam de idosos definido por sua faixa etária esse não possui uma identidade homogênea e sim plural Ao contrário de outras identidades a do idoso não é construída por uma memória cole tiva do grupo a que pertence não faz parte de um grupo minoritário e não é construída em uma relação de oposição Ela é associada ao mundo do trabalho ou seja quando se atinge uma determinada idade na qual é possível se aposentar e sair do mundo laboral Porém ser idoso é mais do que isso A categoria idosa como todos as categorias é histórica Portanto ser idoso hoje não significa ser idoso em outros períodos históricos que por exemplo poderiam nem ter essa categoria Por outro lado em nossa sociedade contemporânea cada um dos ido sos ao passar por aquele ciclo natural descrito acima o faz de maneira diferente Cada um deles passa por experiências únicas que serão fundamentais para a criação de sua identidade cultural de idoso Devese destacar que essa identidade cultural também opera de acordo com os variados contextos sociais Assim envelhecer para as mulheres não significa a mesma coisa do que para os homens Tornarse maduro para as classes mais abastadas economicamen te não é o mesmo que tornarse maduro para as classes menos abastadas economi camente Por outro lado o indivíduo pode ser visto como velho no seio de sua família enquanto no âmbito laboral não A questão geracional no Brasil começou a se tornar mais patente nos anos de 1990 quando o crescimento demográfico evidenciou a grande quantidade de idosos que co meçavam a se movimentar para que seus direitos fossem respeitados Todavia discus sões conceituais apareceram muito lentamente e consequentemente muitos dos pro blemas a que esses personagens passavam ou passam não eram abordados como por exemplo a violência sobretudo a empreendida contra a mulher idosa Como compreender a questão da sexualidade 43 Michel Foucault 1984 um dos sociólogos mais respeitados defendeu que na moder nidade a característica mais importante para definir a identidade seria a sexualidade A identidade sexual seria uma das mais importantes visto que ela atua diretamente no cor po do indivíduo e em sua faceta mais íntima e privada Ao mesmo tempo o corpo sexual seria a menor escala local que dialoga com as escalas globais O processo de globali zação como vimos redefiniu as identidades uma das quais a sexual e como resposta a ele o par da identidade sexual homem e mulher se acentuou Por outro lado dentro desses polos houve uma fragmentação Assim não há mais homens e sim homens de diferentes etnias religiões classes sociais etc Dito isso para compreender a cultura na contemporaneidade devese analisar a construção da identidade sexual O que nos resta perguntar é no mundo contemporâneo essas identidades binárias são suficientes para entender as identidades sexuais dos indivíduos Para a caracterização de um desses polos basta dizer que ele é o que o outro não é Essas duas identidades dão sentido a todas as pessoas que vivem em um sem número de sociedades Porém não seriam as identidades dinâmicas de modo que as identidades sexuais também seriam As identidades são requisitadas por quem as têm sendo construídas de forma dialógica com as estruturas e relações de poder existentes em uma determinada sociedade e que operam contra a desigualdade e a opressão Nesse sentido com a globalização na con temporaneidade tornandose cada vez mais intensa cabe a pergunta a quais interesses respondem a definição das identidades sexuais binárias Definir novas identidades sexuais não interessa aos homens heterossexuais Contudo as outras identidades sexuais que surgem respondem às necessidades dessas categorias Mesmo a identidade sexual bipolar pode ser realmente válida O indivíduo caracterizado como homem é em todos os contextos só homem Foucault 1984 ao estudar a história da sexualidade concluiu que essas identidades fechadas começaram a ser elaboradas depois do século XVIII Assim devese subli nhar que essa identidade sexual fora construída não sendo natural Para edificálas é fundamental dominar a língua na qual se fala e o discurso sobre esse processo Por isso dominar a palavra que resultará em um conceito é fundamental não apenas para definir a sua identidade sexual mas a dos outros também o que se expressa em uma relação de poder As pessoas tornamse homossexuais nas sociedades contemporâneas como sublinha ram Peter Fry e Edward MacRae 1985 devido a pressões sociais visto que atuam na 44 sociedade de modo a não se enquadrarem nas identidades sexuais binárias homem e mulher Os autores vão chamar a atenção para o fato de que as explicações a respeito de como uma pessoa se torna homossexual seja religiosa biológica científica etc são expressões de ideologias portanto desnecessárias de serem sublinhadas eivadas de conflitos e de relações de poder Elas são muito mais reflexos de outros contextos sociais do que da homossexualidade em si Essas pressões sociais acabam por meio de seus diversos atores produzindo discursos confusos a respeito das práticas sexuais que têm em seu bojo a preocupação de formu lálos para reproduzir a dominação vigente de modo que é necessário revêlos A ques tão tem tido bastante visibilidade na contemporaneidade em um mundo que viu explodir o resurgimento de identidades Inclusive atualmente o combate à homossexualidade é tido como uma violação dos direitos humanos Inclusão deficiência e contexto social possibilidades e desafios das políticas de acessibilidade No mundo contemporâneo também temos outros conflitos culturais que são menos ex plícitos do que os que foram trabalhados até aqui Isso se deve ao fato de que a violência que ocorre em seu interior é muito mais simbólica do que física É o caso dos indivíduos que possuem algum tipo de deficiência e que por conta disso têm dificuldades de serem incluídos em um contexto social mais amplo sendolhes negado a acessibilidade não ape nas por conta da ausência de políticas públicas que tenham esse objetivo mas também quando elas existem mostramse totalmente ineficazes o que por si só já seria um reflexo da atenção que a sociedade demanda para a questão e para quem sofre essa violência Nos últimos anos um dos temas correntes em relação ao respeito à diversidade se dá com a discussão em torno da questão da acessibilidade das pessoas portadoras de al gum tipo de deficiência um dos direitos básicos reconhecidos por inúmeros países em acordos e documentos internacionais Porém o que seria deficiência A Organização Mundial da Saúde OMS por meio da Classificação Internacional da Funcionalidade CIF 2001 p 13 definiu deficiências como problemas nas funções ou nas estruturas do corpo tais como um desvio importante ou uma perda 45 Devese destacar que não se classifica pessoas mas sim características relacionadas a determinadas particularidades da saúde Sendo assim temos pessoas portadoras de deficiência e não pessoas deficientes Ao observarmos a história da humanidade vemos que em seu percurso houve diversos episódios nos quais os portadores de deficiência física ou mental sofreram inúmeros pro cessos de violência seja física ou simbólica Na contemporaneidade infelizmente também mantemos esse processo seja porque reconstruímos estigmas e estereótipos para es ses atores eou porque eles não se enquadram nos estigmas e estereótipos considerados ideais Tal fato levanos a adotar ações negativas contra esses agentes calcadas na discri minação levandoos à exclusão social dos inúmeros espaços de vida coletiva A pessoa com deficiência antes mesmo de ir para uma escola já sofre em uma socieda de pautada pela exclusão quando de seu nascimento na sua própria família independen temente do tipo de família ao qual estejamos nos referindo sejam as ditas heteroafetivas as homoafetivas as poliafetivas as com maior ou menor escolaridade as mais bem estruturadas ou as menos estruturadas economicamente embora essas últimas sejam as que sofrem mais Os primeiros a se depararem com uma pessoa portadora de deficiência são os pais que logo se fazem uma série de perguntas algumas das quais incidem sobre o futuro de seus filhos quando eles tiverem falecido Como será a interação social de seus filhos na socie dade também é outra indagação bastante comum Os pais não estão preparados para lidar com a questão porque os profissionais que os cercam enfatizam em seus diagnós ticos as limitações das deficiências de seus filhos e raras vezes informam como esses poderiam se desenvolver para vencêlas Por outro lado em termos sociais as mídias pouco falam a esse respeito ou quando o fazem é de modo bastante superficial e precon ceituoso afinal elas também são um reflexo dos valores que imperam na sociedade Nesse processo os pais são fundamentais já que serão os grandes responsáveis por fazer a mediação entre seus filhos e a sociedade sendo que esses também precisam de ajuda especializada Um passo extremamente importante é criar mecanismos e instituições que fortaleçam de fato os direitos dessas pessoas Para tal devem ser direcionadas mais verbas ao setor que naturalmente seriam aplicadas na contratação de profissionais capacitados a atuarem nas inúmeras áreas Além disso devese abrir espaço para que os próprios indivíduos portadores de deficiência também participem do processo de decisão O termo pessoa com deficiência foi estabelecido pela Lei Brasileira de Inclusão no seu artigo 2º Link da lei http wwwplanaltogovbrCCIVIL03Ato201520182015LeiL13146htm 46 A mídia deve ser chamada a participar de modo mais positivo promovendo ações inclu sivas e mostrando em seus canais atitudes positivas a respeito dessa parcela da popu lação Ela deve ter em seu interior equipes de análise e crítica dos conteúdos produzidos que atuem juntamente com os conselhos de defesa da pessoa portadora de deficiência evidenciando assim possíveis erros que possam cometer Por último cabe lembrar que para a criação de uma sociedade em que se respeite a diversidade cultural esses personagens como todos os outros independentemente de suas características culturais carecem de ser incluídos na sociedade e por conta disso necessitam ter acesso a todos os recursos gerados por ela Além disso a inclu são e a acessibilidade dos portadores de deficiência significam também um fator de ordem econômica visto que eles podem e devem ser inseridos no sistema produtivo de nossa sociedade o que fatalmente diminuiria o seu custo social para com esses agentes Portanto o problema de inclusão não é apenas individual nem familiar mas de toda a sociedade 47 A expressão da diversidade cultural indíge na a construção do conceito de etnia Movi mentos identitários indígenas na formação da identidade nacional Vamos iniciar nosso tópico 2 pensando o cenário da população indígena No Brasil segun do o censo de 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE existem hoje 896 mil indivíduos que se declaram indígenas Esse quantitativo confirma um crescimento que já se apresentava expressivo no censo que foi realizado em 1991 Na quele ano havia 294 mil indígenas no Brasil No censo seguinte em 2000 contabilizouse 743 mil indígenas Esse crescimento pode ser melhor visualizado em um gráfico População indígena segundo os censos do IBGE de 1991 2000 e 2010 Fonte IBGE O crescimento não se deu única e exclusivamente por características demográficas ou seja pelo fato de que nasceram mais indivíduos do que morreram mas porque mais pes soas passaram a se reconhecer como indígenas em especial nas áreas urbanas Pelo senso comum tal processo é bastante difícil de se compreender uma vez que se associa as culturas indígenas ao meio rural pois entendese que se o indígena se desloca para a cidade deixando para trás sua aldeia ele deixaria de pertencer a alguma etnia indígena 1000 900 800 700 600 500 400 300 200 1991 2000 População indígena no Brasil em mil 2010 48 Etnia O conceito de etnia começou a ser construído a partir do momento em que se criticava o conceito de raça já no século XIX Tais conceitos por vezes são utilizados como sinô nimos quando na verdade não são Etnia apareceu nas ciências sociais no século XIX para definir um grupo de indivíduos que tinham a mesma língua e os mesmos costumes Esse conceito foi criado pelo antropólogo francês Vacher de Lapouge para definir tudo o que dizia respeito às características culturais portanto inventadas pelos homens em oposição à raça que eram as características físicas assim natural herdadas pelos ho mens Contudo o conceito ficou mais refinado com a definição proposta pelo sociólogo alemão Max Weber Segundo esse autor os grupos étnicos acreditam que possuem a mesma origem cultural enquanto a raça é definida por sua origem cultural e biológica logo natural O que se deve destacar é que a definição proposta e mais aceita pelos cientistas sociais a respeito da etnia indicanos que a questão natural biológica está longe de ser a mais importante ou seja o fato de ter uma origem em comum real que determinaria o perten cimento a uma determinada etnia Sendo capital na verdade o fato de que os indivíduos compartilham e acreditam que possuem uma origem comum corroborada pelo fato de terem costumes e atos semelhantes tais como religião e língua o que chamamos de cultura Ela é portanto uma construção daquele grupo e para que continue a existir seus membros devem sempre acreditar nessa crença e se sentir pertencentes a ela Esse conceito vem sendo denunciado por alguns antropólogos como etnocêntrico uma vez que é aplicado nas sociedades primitivas tribais em oposição ao conceito de Nação com N maiúsculo para os Estados civilizados Esses indígenas falam 274 línguas e pertencem a 305 etnias diferentes Tais números precisam de um estudo mais aprofundado uma vez que algumas das línguas declaradas podem ser variações assim como as etnias podem ser subgrupos étnicos Apesar desses ajustes os números são importantíssimos e já nos mostram uma característica muito importante que costuma passar desapercebida Ou seja não é possível falar de uma cultura indígena mas sim de culturas indígenas Ampliando o foco 49 O conceito no entanto é extremamente importante porque tem sido utilizado de forma bastante objetiva Sendo assim têm sido reivindicado direitos específicos pelo fato de o indivíduo pertencer a um grupo étnico específico ou seja de o grupo ter uma identidade étnica etnicidade particular Se por um lado o conceito pode ser positivo por conta do que acaba de ser exposto por outro lado ele pode ser negativo uma vez que acaba por reafirmar o etnocentrismo Tal problema ocorre porque ao fazer com que o indivíduo se insira em uma determinada etnicidade isso pode leválo a atitudes de repulsão às de mais etnicidades como já vimos Dessa forma a aceleração da globalização e a consequente mudança de percepção que temos a respeito do tempo e do espaço passam por um processo de compressão e as etnicidades passam instrumentos políticos utilizados dentro dos Estadosnação mas igualmente em escala global Assim conflitos políticos têm se mostrado como sendo étnicos que buscam a afirmação de cidadania Como dito acima existem hoje no Brasil aproximadamente 305 etnias diferentes o que daria algo em torno de 300 culturas indígenas distintas No exíguo espaço que dispomos só é possível traçar um quadro geral dessas culturas Para isso vamos citar alguns dos critérios criados por estudiosos para mais uma vez evidenciarmos essa riqueza cultural e a dificuldade em classificálas Um dos que tentaram agrupar essas culturas foi o linguista Aryon Dalllgna Rodrigues em 1972 O autor utilizou três critérios a saber O tipo físico Ou seja suas características raciais Os índios no Brasil são classi ficados como mongoloides tendo as mesmas origens que os povos orientais O tronco linguistico Subdivididos em três o Tupi Divididos em sete famílias sendo a mais importante a tupiguarani o Macrojê Na qual se inclui a família jê que é composta em especial pelas línguas kayapó timbira e akuen Ainda teriam mais quatro famílias menores o Arauak Composta pela família arauak sendo a mais importante a arawá o Outras famílias ainda não agrupadas como karib tukâno pano xirianá txapakura mura maku nambikwára guaicuru o Ainda existiriam línguas isoladas que não se filiam a nenhuma família lin guística o Línguas que não se têm informações suficientes para que possam ser clas sificadas o Línguas que não possuem mais falantes 50 Para saber mais a respeito das línguas indígenas leia SCHRÖDER Peter Curt Unckel Nimuendajú um levantamento bibliográfico Tellus Campo Grande n 24 p 3976 jan jun2013 Diferenças culturais Mesmo os índios que possuem a mesma língua não têm o mesmo modo de vida Por vezes grupos indígenas que possuem famílias linguísti cas diferentes têm modos de vida mais parecidos porque habitam regiões próximas mantendo contatos culturais Todavia os grupos indígenas brasileiros são divididos em dois grupos o Caçadores e coletores que se tornaram agricultores Localizados no cer rado brasileiro eles têm na prática da horticultura sua principal atividade com o cultivo da batatadoce Em épocas de seca pequenos grupos praticam a coleta a caça e a pesca no cerrado Em relação aos bens culturais eles não possuem cerâmica nem objetos para tecer fios e canoas o Aldeias agrícolas da floresta tropical Localizados em lugares acessíveis que possuem grande quantidade de água em especial na bacia amazônica Não possuem alto grau de desenvolvimento tecnológico e de complexidade social tal qual as culturas andinas précolombianas Para saber mais sobre Aryon Dalllgna Rodrigues acesse o link wwwetnolinguisticaorg Em termos de aculturação dos índios outra classificação foi feita por Eduardo Galvão em 1959 O estudioso considerou as características de dinâmica social e as relações que esses povos estabelecem com o tempo e com o espaço dividindo os indígenas em 11 áreas com algumas subáreas 1 Norteamazônica 2 JuruáPurus 3 Guaporé 4 TapajósMadeira 5 Alto Xingu 6 TocantinsXingu 7 PindaréGurupi 8 Paraguai Chaco 9 Paraná 10 TietêUruguai 11 Nordeste 51 Fonte Indios do Brasil Outra classificação foi feita por Darcy Ribeiro em 1957 levando em consideração a situação de contato dos grupos indígenas com a sociedade nacional dividindoos em quatro grupos Grupos isolados Grupos que ainda não fizeram o contato ou apresentam alguma hosti lidade ao fazêlo Habitam ou vagueiam em áreas que ainda não foram colonizadas Grupos em contatos intermitentes Grupos que se situam em regiões de baixa den sidade demográfica como o CentroOeste e a Amazônia A maior parte desses grupos encontrase protegida pelo menos oficialmente pelo Estado brasileiro visto que estão em reservas indígenas Grupos em contatos permanentes Grupos que apresentam algum grau de preserva ção de seus elementos culturais como língua religião cultura material etc mas depen dem do fornecimento de objetos e bens para a sua sobrevivência Grupos integrados Grupos que perderam suas línguas e outras características cultu rais porém ainda preservam a sua identidade cultural Todavia também dependem eco nomicamente da sociedade envolvente Estado brasileiro para a sua sobrevivência Eles lutam pela preservação de suas terras e pela manutenção de suas identidades indígenas 52 Tais classificações são importantes em especial no campo da análise social Contudo a classificação mais importante foi dada por Darcy Ribeiro Segundo ele índio é todo indivíduo reconhecido como membro de uma comunidade de origem précolombiana que se identifica como etnicamente diversa da nacional e é considerado indígena pela população brasileira com quem está em contato Essa legislação também fez uma classificação oficial a respeito dos grupos indígenas segundo ela Art 4º Os índios são considerados I Isolados Quando vivem em grupos desconhecidos ou de que se possuem poucos e vagos informes através de contatos eventuais com elementos da comunhão nacional II Em vias de integração Quando em contato intermitente ou permanente com grupos estranhos conservam menor ou maior parte das condições de sua vida nativa mas acei tam algumas práticas e modos de existência comuns aos demais setores da comunhão nacional da qual vão necessitando cada vez mais para o próprio sustento Para refletir Suas palavras foram tão importantes que em 1973 ao se criar o Estatuto do Índio por meio da lei n 60011973 uma pequeníssima variação delas acabou por compor o artigo 3º dessa legislação que definiu o que é ser índio e o que é uma comunidade indígena a saber Art 3º Para os efeitos de lei ficam estabelecidas as definições a seguir discri minadas I Índio ou Silvícola É todo indivíduo de origem e ascendência précolombiana que se identifica e é identificado como pertencente a um grupo étnico cujas características culturais o distinguem da sociedade nacional II Comunidade Indígena ou Grupo Tribal É um conjunto de famílias ou comu nidades índias quer vivendo em estado de completo isolamento em relação aos outros setores da comunhão nacional quer em contatos intermitentes ou permanentes sem contudo estarem neles integrados BRASIL 1973 53 III Integrados Quando incorporados à comunhão nacional e reconhecidos no pleno exercício dos direitos civis ainda que conservem usos costumes e tradições caracterís ticos da sua cultura BRASIL 1973 Acesse o Estatuto do Índio pelo link wwwplanaltogovbr A Constituição de 1988 deu um novo tratamento aos indígenas enfatizando sobretudo o direito de permanecerem enquanto indígenas e o usufruto de suas terras ancestrais Para dar conta dessas mudanças foram apresentados inúmeros projetos de lei para re ver o Estatuto do Índio o que não ocorreu entretanto Somente em 1994 uma comissão parlamentar criada dois anos antes propôs o Estatuto das Sociedades Indígenas para substituir o Estatuto do Índio Contudo ele permanece parado até então sobretudo por conta da pressão da bancada de parlamentares ruralistas que lutam para dificultar as demarcações das terras indígenas ou até mesmo extinguilas Enquanto isso em 2014 uma comissão no Congresso Nacional aprovou a proposta de Emenda Constitucional nº 215 de 2010 que em linhas gerais ataca o direito das popula ções tradicionais índios e quilombolas em relação à questão fundiária O tema é bastan te polêmico mas o principal ponto incide no fato de que as novas demarcações de terras deixariam de ser feitas pelo governo federal para os casos dos indígenas e quilombo las e pela Funai para os indígenas as quais passariam a ser feitas pelo Congresso Nacional por meio dos deputados federais e senadores o que dificultaria imensamente tais demarcações visto o número de parlamentares envolvidos com a referida bancada ruralista Em 2016 o senador Telmário Motta PDTRR propôs um projeto de lei PLS nº 1692016 criando o Estatuto dos Povos Indígenas porém ele permanece parado O dia 7 de fevereiro foi instituído pelo decreto presidencial nº11696 de 12 de junho de 2008 como o dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas Mas ainda há muito para conquistar Contribuições culturais indígenas Chegou a hora de olharmos algumas das inúmeras contribuições das culturas indígenas à cultura nacional brasileira De um modo geral essa contribuição tem sido negligencia da e a sociedade brasileira não consegue ou não quer vêla o que nos causa estranheza posto que muitas delas são importantíssimas para a economia mundial isso sem falar no conhecimento científico Essas contribuições são exemplos claros de crioulização do 54 mundo ou seja como essas culturas précolombianas contribuíram imensamente para a cultura global Um legado cultural importante que as culturas indígenas trouxeram para a cultura brasi leira diz respeito a algumas crenças lendas e mitologias que foram adaptadas ou sim plesmente incorporadas sendo muitas delas de origem na cultura tradição oral como duendes e assombrações Esses seres moram no fundo dos rios ou nos cantões das florestas materializamse em entidades naturais ou sobrenaturais como botos cobras grandes curupiras anhangás sacis etc Para finalizar não poderíamos deixar de abordar um dos legados culturais mais impor tantes que os índios nos deram o mutirão Uma instituição amplamente utilizada sobre tudo em comunidades carentes no Brasil em especial na área da construção civil que instaura a ajuda mútua entre seus vizinhos os quais se reúnem para executar um traba lho coletivo que pode beneficiar toda a comunidade ou apenas um de seus participantes Muitas plantas também são importantes para o uso medicinal em nossa socie dade embora algumas não tenham sido incorporadas à medicina tradicional científica Ipecacuana Usada contra a diarreia e na indústria farmacêutica Jaborandi Usado como sudorífico e depurativo e na indústria farmacêutica Copaíba Usada para curar feridas No século XVIII passou a ser usada pelos ocidentais contra infecções nas vias urinárias Quina Usada para a cura da malária Alguns alucinógenos também têm origem nas plantas da América como o ah uyasca ou caapi o ipadu ou coca Ampliando o foco 55 A diáspora negra na formação cultural bra sileira a politização do conceito de raça Vimos que os conceitos de raça e etnia por vezes são usados de forma equivocada como sinônimos Como naquela aula o objetivo era trabalhar com o conceito de etnia acaba mos apenas por desenvolvêlo Neste tópico 3 portanto vamos analisar o de raça O tema é bastante complexo Por isso iremos observar apenas alguns pontos que tocam direta mente a questão da cultura brasileira sendo ainda mais pontual abordando o legado das culturas africanas e afrobrasileira para a formação da brasilidade No imaginário popular raça possui um significado diferente do científico acadêmico e está vinculado à ideia original do conceito que data do século XIX Naquela oportuni dade definiase como um conjunto de características biológicas portanto naturais que um determinado grupo de pessoas possuía Embora o termo já fosse utilizado na época moderna porém com outras definições seria no início da Idade Contemporânea inau gurada pela Revolução Francesa 1789 portanto na virada do século XVIII para o XIX que o conceito de raça como entendemos hoje passaria a se firmar Era o momento no qual se construíam os Estados nacionais e estavam em voga a história natural e a antro pologia física Naquele contexto a história da humanidade ou melhor o surgimento da humanidade passava a ser explicado pela poligenia ou seja pela existência de diversas raças humanas Todo esse quadro acabava por definir raça como um conjunto de pessoas que possuíam as mesmas características físicas que determinavam sua condição moral suas atitudes mentais e o seu comportamento Sendo assim cultura na verdade passou a ser sinôni mo de raça Entretanto devese sublinhar que no limite essa cultura independia da ação humana já que era determinada pela natureza Essa visão acabou por se impor classifi cando as raças como superiores e inferiores naturalmente dentro de um quadro no qual a raça branca europeia cristã caucasiana era a mais desenvolvida Nesse cenário como quadro de fundo também havia a teoria do darwinismo social já no século XIX juntamen te com teorias eugênicas uma prática médica e criminológica que defendia a influência da raça em determinadas doenças e práticas criminais Parte desse pensamento em especial a ideia de que os seres humanos possuem origens diferentes e que essas levam à construção de diversas raças como a branca a negra a amarela etc continua a perdurar no senso comum 56 Inúmeras ciências de diversos campos já abandonaram essa ideia Hoje o consenso cien tífico diz que todos os seres humanos pertencem à mesma espécie Homo sapiens e sua subespécie Homo sapiens sapiens Uma das primeiras ciências a defender essa visão foi a biologia em especial os geneticistas Esses estudiosos mostraram que entre bran cos negros e amarelos há uma parcela muito pequena de genes que os diferem o que não justificaria a existência de várias raças A questão ainda é bastante problemática porque como as ciências sejam elas quais fo rem são um discurso produzido por pessoas e instituições eivadas de valores situadas em uma determinada sociedade alguns estudiosos ainda teimam em utilizar o conceito de raça tal qual o formulado no século XIX Outros campos tentam reformular o conceito de raça e ainda o usam de forma objetiva até porque como vimos o conceito no senso comum continua sendo aplicado Dessa forma o conceito de raça aproximase dos de etnia e de cultura O que se pretende com isso é observar a maneira como a sociedade em especial a contemporânea lida com as diferenças culturais o que seria útil para analisar o racismopreconceitoetnocentrismo A raça deixa de ser um conceito naturalbiológico para se tornar social que estipula e im põe o lugar social de determinados grupos e instaura desigualdades sociais e identidades culturais Nesta aula iremos utilizar esse conceito de raça A raça negra trazida por meio da diáspora africana para o Brasil foi fundamental para a formação da cultural brasileira A afirmativa pode ser comprovada tanto quantitativamen te como qualitativamente Em termos quantitativos o último censo realizado pelo IBGE em 2010 foi bastante importante como pode ser visto no quadro Os números do censo de 2010 mostram que pela primeira vez após a abolição da escravatura no Brasil 1888 o número de pessoas não brancas preta parda amarela indígena sem declaração aproximadamente 99 milhões ultrapassou o de brancos que corresponde à aproxima damente 91 milhões de indivíduos na população brasileiraAssim na população brasileira temos 48 de brancos 51 de pretos e pardos e 52 de não brancos Raçaetnia Sem declaração Ano Total Branca Preta Parda Amarela Indígena 1872 9930478 3787289 1954452 3801782 386955 1890 14334215 6302198 2097426 4638795 1295796 1900 17438434 57 1920 30635605 1940 41236315 26171778 6035869 8744365 242320 41983 1950 51944397 32027661 5692657 13786742 329082 108255 1960 70191370 42838639 6116848 20706431 482848 46604 1970 93193070 1980 119011052 64540 467 7046906 46233531 672251 517897 1991 146815791 75704924 7335139 62316060 630659 294131 534878 2000 169799170 90647461 10402450 66016783 866972 701462 1164042 2010 190755799 91051646 14517961 82277333 2084288 817963 6608 Fonte IBGE Tais números mais uma vez mostram a importância da camada afrobrasileira preta parda para a cultura brasileira E não devemos deixar de sublinhar o fato de que esses números expressam a maneira pela qual a própria população se enxerga uma vez que seus dados foram pautados pelo princípio da autodeclaração Assim eles nos mostram que a população no Brasil se entende como não branca em sua maioria Nesse sen tido cabe a pergunta será que os elementos culturais dessas outras matrizes culturais têm sido valorizados e reconhecidos por parte da população Como para o caso indígena a resposta é negativa Já para a cultura afrobrasileira a questão é um pouco menos problemática o que com toda a certeza está ligada ao pro cesso histórico da formação de nossa sociedade contemporânea Não é à toa mais uma vez que somente agora como evidenciado acima no censo de 2010 a parcela da população branca deixou de ser majoritária no quadro demográfico 52 48 52 51 50 48 46 de raçaetnia da população brasileira segundo o Censo de 2010 raçaetnia Brancos Não brancos Pretos e pardos 58 Se por um lado esse número aos olhos da sociedade brasileira apareceu como uma no vidade aos olhos de alguns apareceu como bem interessante Por outro lado os olhares internacionais já creditavam o Brasil como o país de maior população afrodescendente fora da África Grande parte desses indivíduos são descendentes de vítimas da diáspora negra motiva da pelo tráfico Atlântico de escravos africanos que vigorou durante a Era Moderna e par te da Contemporânea uma vez que ele só foi oficialmente extinto em 1850 Não se sabe ao certo quantas vítimas o comércio de almas fez mas algumas estimativas muitas das quais apresentam números muito diferentes dão conta que desembarcaram na Amé rica cerca de 10 milhões de pessoas que vinham de inúmeras áreas as quais davam uma determinada identidade a esses sujeitos posto que aos seus nomes cristãos eram acrescentadas suas nações portos de onde tinham saído na África que não necessa riamente eram os seus lugares de origem como Benguela Mina Angola Cassange etc Dessa maneira é muito difícil identificar de onde vêm sua origem cultural mas no ge ral esses africanos com suas inúmeras culturas acabam sendo classificados em dois grandes grupos A civilização congoangolana Congo Benguela ovambo Cabinda Angola macua angi co etc cuja cultura é chamada de banto Ela esteve presente em todos os momentos do tráfico de escravos Os da região do Golfo da Guiné iorubá jeje hauçá e nagô cuja cultura é chamada de sudanesa Em especial eles foram mais traficados para as regiões Nordeste do açúcar e Sudeste do ouro O legado cultural desses povos pode ser sentido em várias facetas de modo qualitativo na filosofia e nas doutrinas religiosas que conferem uma estrutura aos cultos de diversas religiões populares no Brasil Assim várias religiões que são depreciativamente chama das de macumbas são modalidade de candomblés de minas Macumba vale lembrar é um instrumento de percussão cuja origem remonta ao continente africano o qual era utilizado nessas expressões religiosas Essas expressões sagradas hibridizaramse com outras de diversas matrizes como as indígenas e a branca dando origem a outras como respectivamente as encantarias e a umbanda Contudo mesmo algumas modalidades de candomblés e de minas não fi caram também sem sofrer algum tipo de mudança ao longo de todo esse período Elas 59 igualmente passaram por processos de hibridização o que muitas vezes não é ressalta do por seus praticantes que preferem enfatizar uma falsa pureza e tradição Alguns estudiosos começaram a destacar que muitos desses candomblés não eram africanos e sim afrobrasileiros Eles sublinhavam que aquelas práticas religiosas realiza das em solo brasileiro haviam perdido uma de suas principais características o culto aos antepassados familiares ou o de suas aldeias de modo que era impossível cultuálos Assim esses cultos acabaram por ser substituídos pelo culto aos orixás seres mágicos que controlam a natureza para continuarem a se diferenciar das demais práticas reli giosas Além do mais no processo de escravidão e de encontro de etnias africanas nas senzalas houve um processo de incorporação e fusão hibridização de culturas diversas que transformariam os candomblés Além da religião outros legados culturais dos afrobrasileiros são importantíssimos para a formação da identidade e da cultura brasileira Mas a religião ainda é uma das mani festações que mais geram intolerância e se dá exatamente em relação às religiões de matrizes afrobrasileiras As religiões de matriz africana que desembarcaram no Brasil ao longo da diáspora instalaramse basicamente no meio urbano Inicialmente suas práticas aconteciam dentro do foro individual por meio de rituais voltados para a cura física e psíquica de um indivíduo que se encontrava doente Faziase então o uso de adivinhações limpezas espirituais rezas medicações etc As pessoas que conduziam tais rituais incorporavam seus ancestrais ou diziam atuar sob suas orientações No início esses rituais eram praticamente originários dos povos bantos mas logo depois outros povos da África ocidental também começaram a prati car suas religiões em especial nesse segundo grupo o qual trouxe o culto de algumas divindades que protegiam as suas coletividades na África como suas aldeias cidades e Estados Essas divindades eram ligadas aos elementos da natureza como a água rios e mares montanhas florestas às atividades realizadas na natureza como a caça e a pesca e aos fenômenos naturais como vento trovão etc Sendo assim aqueles primeiros lugares chamados de casa de dar fortuna ou seja o espaço no qual o doente isoladamente ia buscar uma melhora na sua saúde na sua sorte e no seu bemestar deram lugar aos famosos calundus ambientes no qual se re uniam várias pessoas de forma organizada onde se instalava um panteão de divindades africanas e se estabelecia também uma hierarquia sacerdotal Em suma as práticas religiosas começaram a se estruturar criar hierarquias ritos filosofia e a se construírem enquanto uma religião com uma forma específica 60 Dos bantos essas religiões herdaram o culto aos chefes de linhagens e aos seus heróis fundadores ancestrais enquanto do oesteafricano o legado foi mais voltado para o culto a tudo o que dizia respeito à natureza e às divindades que protegiam determinadas ações humanas Tudo porém tinha um princípio unificador de que a interação da força vital do universo não poderia ser abalada tanto no plano material quanto no espiritual Todos os elementos da natureza do qual se inclui o homem os animais vegetais e mi nerais deveriam permanecer unidos tendo cada um deles uma função nesse equilíbrio Os primeiros registros escritos desses curadores apareceram no Brasil na segunda me tade do século XVII Naquele momento o termo calundu já era bastante comum So mente no início do século XIX que o termo vodum e candomblé passaram a ser re gistrados Todavia seria apenas na segunda metade dos novecentos que o candomblé passou a se organizar em especial nas regiões da Bahia e do Rio de Janeiro Em seu seio surgiram lideranças capitais no campo da política e da religião compostas por afrobra sileiros e por africanos Nos anos de 1970 por conta de uma série de questões algumas das quais já vistas neste curso como a aceleração da globalização e o reviver étnico as religiões afrobrasileiras passaram a se reestruturar e conquistaram um espaço social importante Nos anos de 1990 inúmeros sacerdotes de religiões afro provenientes de Cuba instalaramse no Brasil quando houve um renascer do culto do orixá Ifá divindade que representa o saber e o conhecimento que se tornou a base para os cultos de outros orixás de origem ioruba Esse movimento especialmente no Rio de Janeiro ganhou bas tante força O candomblé no Brasil acabou dando nome à religião de grupos iorubás e jejes prove nientes do oeste africano que cultuam orixás e voduns Provavelmente os jejes já esta vam presentes no Brasil no século XVIII na região das minas e dali teriam introduzido tais práticas ao se misturarem com os escravos de origem banto Os terreiros mais importantes de tradição jeje no entanto estão localizados em outras regiões em São Luís MA a Casa das Minas e em Salvador BA o Bogum Todavia por conta de uma melhor organização os terreiros de tradição iorubá da região do Keto acabaram se tornando os mais famosos Os mais populares ficam em Salvador como o da Barroquinha embrião do terreiro da Casa Branca do Engenho Velho considera do por alguns o mais antigo do Brasil Esse teria dado origem no século XIX ao candomblé do Alaketo que mais tarde ajudaria na fundação de dois outros terreiros importantíssimos o Axé Opô Afonjá com atuação marcante nos anos de 1930 quando o candomblé se con solidava e o Gantois frequentado por inúmeras personalidades brasileiras cujo carisma da ialorixá Menininha do Gantois foi fundamental para o seu crescimento 61 Já o candomblé banto teria se estruturado por hibridização com os candomblés de tra dição jejenagô dos calundus devido ao uso de muitas práticas e rituais parecidos Há ainda os candomblés conhecidos como xangô nordestino e batuque gaúcho que são variações dos de origem iorubá Outra religião importante de matriz afro é a umbanda Umbanda é uma palavra de origem quimbundo que possui vários significados dentre os quais o de medicina Sua origem remete à ideia de práticas visando à cura física eou espiritual Inicialmente ela era utiliza da por ritos de bantos no sudeste brasileiro Muitos chamam essa prática pejorativamen te de macumba Em sua essência a umbanda reúne elementos de diversas religiões como as africanas o catolicismo popular e o kardecismo Não se sabe ao certo como se deu sua criação porém uma de suas explicações dão conta que ela teria surgido em 1908 em um centro espírita kardecista Naquela oportunidade uma entidade indígena protestando contra a discriminação existente naquele centro que hierarquizava os espíri tos de modo que os africanos os indígenas e as crianças eram tidos como atrasados informou que criaria uma nova religião tendo como base tais espíritos A umbanda assim como outras religiões afro passou a adotar práticas sincréticas ne gando inclusive seu caráter inicial de resgate da africanidade original Ela começou a se apresentar mais científica e menos primitiva ao se aproximar mais de vertentes e elementos de religiões europeias em vez de religiões afro No entanto nas linhas mais tradicionais o culto aos pretos velhos antigos escravos africanos caboclos chefes e antepassados indígenas orixás iourubanos cristianizados e crianças continuam a ter grande espaço Sua prática sincrética continua forte Dessa maneira por exemplo os espíritos infantis são associados aos santos do catolicismo Cosme e Damião e ao orixá duplo iourubano Ibêji que protege os gêmeos e as crianças em geral Estudos mostram que os conflitos motivados pela intolerância religiosa no Brasil têm aumentado e não são exclusivos da contemporaneidade Portanto não são novidade Vale lembrar que durante todo o período colonial 15001822 a única religião permiti da no Brasil era o catolicismo Já no império 18221889 com a outorga da primeira Constituição brasileira 1824 o catolicismo passou a ser a religião do império Porém em seu artigo 5º havia a permissão de outras práticas religiosas desde que executadas em espaço doméstico sem a construção de templos específicos Pesquisadores que estudam a intolerância no Brasil contemporâneo sublinham que tal fenômeno está liga do ao crescimento de religiões neopentecostais por conta da crença dessas no qual é necessário eliminar o demônio assim como suas ações do mundo Os neopentecostais afirmam ainda que outras religiões têm se esforçado muito pouco em tal empreitada ou elas mesmas são um disfarce não apenas desse demônio mas também de suas ações 62 Essa última característica tem sido creditada às religiões de matriz africana embora mui tas de suas práticas tenham origem nessas religiões que combatem As igrejas neopentecostais atualmente vivem uma terceira onda de crescimento inicia da nos anos de 1970 com algumas características diferentes das duas outras ondas e por isso receberam o prefixo de neo novo Algumas identidades passaram a ser comum a essas igrejas como por exemplo o descarte do ascetismo a ênfase no prag matismo a gerência empresarial a valorização da teologia da prosperidade o uso cons tante da mídia para a conversão e propaganda e para o que nos interessa mais de perto o caráter central da teoria de luta espiritual contra as demais religiões especialmente as que possuem algum grau de espiritismo sejam as religiões afrobrasileiras ou até mes mo o espiritismo Como vimos a parcela da população brasileira que professa religiões afrobrasileiras é muito pequena sendo segundo o censo de 2010 apenas 031 O que nos levaria a pen sar seria realmente útil abrir uma guerra contra uma parcela tão pequena a ser converti da e conquistada Não seria melhor abrir fogo contra religiões que possuem uma parcela maior de adeptos como por exemplo o próprio catolicismo romano A questão não reside no número em si mas na estratégia utilizada para a conversão de novos fieis e a sua manutenção Haveria no Brasil uma demanda por expressões religiosas que se pautem em sistemas de mediações mágicas e experiências de transe religioso A essa característica se somaria a proposta de exacerbação do avivamento a manifestação de Deus entre os homens dos neopentecostais Combater as religiões afrobrasileiras e espíritas não estaria ligado ao fato de lhes retirarem fiéis mas sim a combater a possibilidade de elas conseguirem ofertar àquelas pessoas as mediações mágicas e experiências de transe que demandam Os neopentecostais no limite pro curam ter o monopólio desse ritual no que são ajudados sem sombra de dúvida pelo respeito social que a religião cristã possui na sociedade ao contrário das religiões afro brasileiras que historicamente são associadas a fatores negativos Ou seja ainda temos muito para aprender em termos de coexistência cultural 63 Para ampliar o seu conhecimento veja o material complementar da Unidade 2 disponível na midiateca MIDIATECA Apesar de no Brasil adotarmos um discurso de que nossa cultura é rica por conta do somatório de matrizes culturais distintas indígena portuguesa e africana ainda continuamos a valorizar os elementos lusos em detrimento dos demais de modo que as religiões de matrizes africanase a forma de vida indígenas são vis tas com preconceito e como menores Podemos observar ainda na atualidade um processo de menosprezo e quando se pensou em criar uma cultura nacio nal sua importância foi relegada como ainda o fazemos atualmente Por isso a luta por vozes produzidas a partir do seu lugar de fala a partir dos grupos que vivenciam essas culturas afim de participar de debates para defen der sua identidade cultural Uma delas é evitar uso de elementos de sua cultura material fora do contexto como roupa de índio como fantasia de carnaval ou mesmo músicas que reproduzem preconceitos NA PRÁTICA 64 Resumo da Unidade 2 Nesta unidade estudamos a importância dos direitos humanos na construção de afir mações identitárias Também observamos como os conceitos de etnia e de raça foram construídos e como eles são utilizados ainda hoje Sublinhamos que por vezes ambos são usados equivocadamente como sinônimos Destacamos igualmente que o senso comum reúne em uma única categoria cultural as inúmeras etnias indígenas não con siderando a imensa diversidade étnica existente entre os povos précolombianos antes do contato assim como na contemporaneidade Listamos contribuições indígenas para a reformação da identidade e da cultura contemporânea brasileira Vimos também que outras etnias provenientes da África foram fundamentais para esse processo Esses po vos desembarcaram aqui por conta da diáspora africana que se deu entre 1530 e 1850 E por fim vimos que a intolerância contra práticas culturais originárias desses povos continuam a existir no Brasil contemporâneo em especial as que se manifestam no cam po religioso o que faz com que nossa sociedade brasileira atual não respeite a diversida de cultural embora formule um discurso contrário Trabalhamos os conceitos de etnia raça direitos humanos e legislação demo cracria e cidadania discriminção e preconceito identidade cultural geracional identidade sexual pessoa com deficiência identidade indígena identidade afri cana religiosidade afrobrasileira e coexistência cultural CONCEITO 65 Referências CARNEIRO Si Racismo sexismo e desigualdade no Brasil São Paulo Selo Negro 2011 p 119136 CUNHA M C CESARINO P N Políticas culturais e povos indígenas São Paulo Unesp 2016 GUIMARÃES A S A Como trabalhar com raça em sociologia Educação e Pesquisa São Paulo v 29 n 1 janjun 2003 HEYWOOD A Ideologias políticas do feminismo ao multiculturalismo São Paulo Ática 2010 p 2144 Disponível na Biblioteca Virtual IANNI Otavio Dialética das relações sociais Estudos Avançados São Paulo v 18 n 50 janabr 2004 LOEWE Daniel Multiculturalismo direitos culturais Caxias do Sul Educs 2011 p 914 NILMÁRIO Miranda Por que Direitos Humanos Belo Horizonte Autêntica 2006 Biblio teca virtual UVA Pearson OLIVEIRA Fabiano Melo Gonçalves de Direitos humanos Rio de Janeiro Forense São Paulo MÉTODO 2016 PINSKY J PINSKY C Fanatismo Fanatismo In PINSKY J PINSKY C org Facetas do fanatismo pura uma história da eugenia no Brasil e no mundo São Paulo Contex toHall 2004 p 914 Histórico e marcos da Educação Ambiental UNIDADE 3 67 Tudo faz mais sentido quando contextualizado e essa é a proposta desta unidade revelar as circunstâncias do surgimento da educação ambiental acima de tudo nos cenários an tropológico e filosófico passando pelas questões políticas econômicas e sociais Quan do entendemos o contexto do surgimento de uma ideia de uma proposta de um campo do conhecimento o estudo fica mais interessante INTRODUÇÃO Nesta unidade você será capaz de Contextualizar o surgimento da educação ambiental no mundo e no Brasil OBJETIVO 68 Aspectos históricos da Educação ambiental A população humana tem passado por muitas transformações Vamos entender um pouco mais sobre isso e localizar a educação am biental nesse cenário de mudanças Segundo Alves 2017 a literatura demográfica revela que a população mundial era de cerca de cinco milhões de habitantes no ano 8000 antes de Cristo chegando a aproxi madamente 300 milhões no ano 1 da Era Cristã e atingindo um bilhão de pessoas por volta do ano 1800 A taxa de crescimento demográfico foi de 005 ao ano por aproximada mente 10 mil anos Em 2019 o relatório Perspectivas mundiais de população 2019 destaques publicado pela Divisão de População do Departamento da ONU de Assuntos Econômicos e Sociais indica que a população mundial deve crescer em dois bilhões de pessoas nos próximos 30 anos passando de 77 bilhões de indivíduos para 97 bilhões em 2050 O estudo ainda concluiu que a população mundial poderá alcançar seu pico por volta do final do atual século chegando a quase 11 bilhões de pessoas em 2100 O que aconteceu com a taxa de crescimento populacional humano A resposta é relativamente simples a taxa de mortalidade caiu e a longevidade aumentou frutos das revoluções passadas pela humanidade entre elas as revoluções industriais As revoluções industriais Na primeira Revolução Industrial no final do século XVIII James Hargreaves e Richard Arkwright revolucionaram as máquinas de fiar e James Watt aumentou a eficiência do motor a vapor As locomotivas e os navios a vapor revolucionaram os transportes de passageiros e de carga expandindo as fronteiras e as migrações humanas 69 Um novo modelo de produção e consumo começou a apresentar resulta dos práticos e os avanços científicos e tecnológicos permitiram a evolu ção da manufatura movida a energia não animal SCHWAB 2019 Ainda segundo Schwab 2019 na segunda Revolução Industrial na virada do século XIX para o XX os avanços foram ainda maiores com a introdução da iluminação elétrica o aço o motor de combustão interna o petróleo o telefone o automóvel o avião etc Nos últimos dois séculos os avanços da população e da economia superaram tudo o que foi feito nos últimos 200 mil anos A terceira Revolução Industrial também conhecida como Revolução Digital começou na década de 1960 assim chamada por ter sido impulsionada pelo desenvolvimento dos semicondutores em mainframe da computação pessoal décadas de 1970 e 1980 e da internet década de 1990 Para Schwab 2019 a quarta Revolução Industrial acontece na virada do século XXI e está baseada na terceira revolução a digital sendo que a atual está pautada em uma internet mais robusta e móvel com dispositivos menores mais poderosos e acessíveis além da inteligência artificial e da aprendizagem automática Primavera silenciosa Note por quantas mudanças a humanidade já passou desde seu surgimento vivendo em cavernas praticando o modo de vida nômade até chegarmos ao modo de vida atual re sidente e consumista Antes das revoluções industriais tivemos a revolução da agricultu ra quando domesticamos animais e plantas e pudemos fixar moradia Em intensidades diferentes a existência humana sempre implicou o uso dos recursos naturais de forma que é intuitiva a relação entre esse consumo e o tamanho da população humana Assim atribuise à primeira Revolução Industrial o aumento súbito da exploração dos recursos e da degradação ambiental Foi nesse momento que surgiu uma obra que despertou a discussão sobre meio ambien te o livro Primavera silenciosa Silent Spring em 1962 de autoria de Rachel Carson escritora cientista bióloga e ecologista norteamericana 70 A importância dessa obra se dá por tratarse de um livro dedicado a alertar os leitores so bre os impactos da ação humana no meio ambiente e criticar práticas como a utilização de insumos químicos e o despejo de dejetos industriais na natureza Segundo Bonzi 2013 apesar de todas as críticas que a obra recebeu quando publicada e ainda na época de seu artigo a esse livro pode ser atribuída nada menos que a fundação do movimento ambientalista moderno Linda Lear biógrafa da autora conta que após a publicação do primeiro trecho o alerta de Rachel Carson desencadeou um debate na cional sobre o uso de pesticidas químicos a responsabilidade da ciência e os limites do progresso tecnológico LEAR 2010 sendo o mesmo mérito atribuído por Lopes 2011 Pereira 2012 em seu artigo que comemora os 50 anos dessa publicação afirma Em 1962 a bióloga norteamericana Rachel Carson 19071964 publi cou uma das obras mais importantes do século 20 Primavera silenciosa é considerado o primeiro alerta mundial contra os efeitos nocivos do uso de pesticidas na agricultura O livro influenciou a criação da agência de proteção ambiental EPA nos Estados Unidos e inspirou movimentos ambientalistas em diversos países O livro de Carson porém mais que um alerta contra os agrotóxicos divulgou uma mensagem ética a rela ção do homem com a natureza está no caminho errado e precisa mudar Por suscitar essa discussão inovadora em meio ao frenesi do desenvolvimento econô mico Primavera silenciosa é uma obra amplamente citada como marco histórico da educação ambiental uma vez que esta pode ser entendida como o conjunto de proces sos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais conhe cimentos habilidades atitudes e competências voltados para a conservação do meio ambiente bem de uso comum do povo essencial à sadia qualidade de vida e sua susten tabilidade BRASIL 1999 Tomar conhecimento e consciência dos problemas ambientais é o primeiro passo rumo a esse processo ao qual a Política Nacional de Educação Ambien tal se refere Importante 71 Desenvolvimento sustentável A preocupação e o alerta de Carson já vinham sendo sentidos mundo afora com os pro testos e as manifestações questionando os valores da sociedade capitalista e os proble mas de ordem social e política que ocorreram nos anos 1950 e 1960 Segundo Ramos 2001 tais mobilizações estariam criando um clima favorável para o envolvimento da sociedade civil e impulsionando o fortalecimento dos movimentos so ciais em torno dos quais se agrega e amplia o ambientalismo Na América Latina e espe cialmente no Brasil segundo Pires et al 2014 esses movimentos foram mais intensos na década de 1980 Segundo Reigota 2012 essa diferença temporal é justificada pelo período da ditadura militar vivida no Brasil uma vez que por aqui enfrentar com discur sos ecologistas a ditadura militar era correr risco de vida de prisão ou exílio É então nesse contexto de expansão econômica de mudança do modelo de produção em larga escala que surge a ideia de que nossas ações impactam profundamente o meio ambiente podendo gerar consequências sem precedentes para as gerações futu ras Isso nos leva a outro conceito intimamente relacionado à educação ambiental mas que também não é seu sinônimo o de desenvolvimento sustentável Ideia que surge na Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento CMMAD criada em 1983 o desenvolvimento sustentável não é uma ciência ou um ór gão mas um conjunto de atitudes que nos garante atender às demandas do presente sem comprometer as necessidades das gerações futuras Essas atitudes incluem o uso racional dos recursos naturais evitando seu esgotamento e permitindo suas renovação e perpetuação que no entanto são incompatíveis com o modelo atual da sociedade Vale dizer que é possível encontrar citações de levantamento da bandeira da ecologia como referência à educação ambiental cabendo aqui um esclareci mento muito importante não são sinônimos A ecologia pode ser definida de várias formas uma delas e talvez a mais completa seja a definição de Krebs 2001 de que é o estudo científico das relações que determinam a distribuição e a abundância de organismos Ampliando o foco 72 humana baseado no consumo na obsolescência programada e perceptiva e na rotativi dade do descartável Política ambiental A construção do conceito de desenvolvimento sustentável continuou durante a Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável da ONU realizada em Joanesburgo África do Sul em 2010 A Declaração de Joanesburgo estabeleceu que o desenvolvimen to sustentável baseiase em três pilares I Desenvolvimento econômico II Desenvolvimento social III Proteção ambiental No entanto para garantir a sustentabilidade e o desenvolvimento sustentável fazse ne cessária uma política ambiental o conjunto de normas leis e ações públicas visando à preservação do meio ambiente em um dado território A política ambiental pode ser considerada como um conjunto de instrumentos à dispo sição do Estado para alterar a alocação de recursos de forma a reduzir o consumo de bens e serviços escassos sujeitos a externalidades negativas tais como o ar que age como veículo de descarga de resíduos de processos de combustão e de diversos pro cessos industriais os recursos hídricos que são receptores de efluentes derivados de processos industriais e da própria vida humana e vários outros Outro conceito relacionado mas também distinto é o da sustentabilidade Se gundo Boff 2012 o termo surgiu originalmente na Alemanha em 1560 na província da Saxônia a partir da preocupação em relação ao uso racional das florestas de forma que elas pudessem se regenerar e se manter permanente mente Sustentabilidade é uma característica ou condição de um processo ou sistema que permite sua permanência em certo nível por um determinado pra zo O princípio da sustentabilidade aplicase tanto a um único empreendimento a uma pequena comunidade como ao planeta inteiro Ampliando o foco 73 A política ambiental pode ser tratada em diversas esferas desde as leis municipais até os acordos internacionais uma vez que os interesses po dem ser de uma única cidade ou de toda a humanidade Por mais que exista uma política ambiental forte e bem elaborada o caminho mais efi ciente para alcançar a sustentabilidade é a educação ambiental uma vez que esta inspira mudança de hábitos e valores A Política Nacional do Meio Ambiente brasileira foi criada em 1981 e já fazia referência à educação ambiental que só foi brindada com uma política própria no Brasil a Política Nacional da Educação Ambiental em 1999 A seguir abordaremos detalhes sobre eventos congressos conferências simpósios reu niões e documentos que marcaram a trajetória da educação ambiental no mundo 74 Marcos teóricos referenciais as grandes conferências Não existe um consenso sobre quando exatamente a educação ambiental surgiu mas sabese que uma série de eventos marca sua história e seu fortalecimento Vamos conhecer um pouco dos principais eventos que contribuíram para a educação ambiental que temos hoje no Brasil e no mundo Em 1972 10 anos depois do lançamento da obra que mudou a forma de o mundo ver e pensar meio ambiente Primavera silenciosa o Clube de Roma que reunia especialistas preocupados com o tema publica Os limites do crescimento um relatório com previsões pessimistas sobre o futuro da humanidade enfocando o modelo de exploração dos re cursos e o de produção Conferência sobre ambiente humano Ainda em 1972 acontece a Conferência sobre Ambiente Humano realizada em Esto col mo na Suécia na qual a Organização das Nações Unidas ONU estende as discus sões sobre meio ambiente ao campo da educação O Brasil participou da conferência aprovando a declaração final resultante chamada De claração de Estocolmo de 1972 que possui um preâmbulo com sete pontos e 26 prin cípios sendo que o último contém uma declaração contra as armas nucleares Pedrini 2000 considera que seja um marco histórico para a educação ambiental pois foi reco nhecida como instrumentochave na solução da crise ambiental internacional A Conferência sobre Ambiente Humano foi a primeira da história a reunir 113 Estados 250 organizações não governamentais e diversas unidades ou agên cias especializadas da própria ONU para debater as questões pertinentes ao meio ambiente BARD et al 2017 Ampliando o foco 75 Segundo o Ministério do Meio Ambiente MMA A Recomendação 96 da Conferência de Estocolmo sobre o Ambiente Humano nomeia o desenvolvimento da Educação Ambiental como um dos elementos mais críticos para que se possa combater rapidamente a crise ambiental do mundo Esta nova Educação Ambiental deve ser baseada e fortemente relacionada aos princípios básicos delineados na Declaração das Nações Unidas na Nova Ordem Econômica Mundial Para Piovesan 2015 a educação ambiental foi ainda apresentada como instrumento de efetivação do direito ambiental uma necessidade e um direito do homem ao desen volvimento sustentável uma vez que é apenas por meio da educação que o homem será conscientizado quanto ao meio ambiente e às questões ambientais Outro desdobramento importante da conferência foi a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente Pnuma sediado em Nairóbi no Quênia o qual passou a dividir com a Unesco as preocupações pertinentes ao meio ambiente no âmbito das Nações Unidas tendo como objetivos manter o estado do meio ambiente global sob contínuo monitoramento alertar povos e nações sobre problemas e ameaças ao meio ambiente e recomendar medidas para melhorar a qualidade de vida da população sem comprometer os recursos e serviços ambientais das gerações futuras Programa internacional de Educação ambiental Piea Em 1975 três anos depois da conferência ainda como parte de seus desdobramentos especificamente da Recomendação nº 96 a ONU lança o Programa Internacional de Educação Ambiental Piea de responsabilidade da Unesco e do Pnuma Objetivando promover o intercâmbio de informações investigação formação e elaboração de material educativo Visando à elaboração de estratégias globais para a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais Segundo Bard et al 2017 como parte do Piea a Unesco e o Pnuma promoveram dois importantes eventos que se tornaram os marcos da educação ambiental O Seminário Internacional de Educação Ambiental em Belgrado na exIugoslá via em outubro de 1975 76 A Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental em Tbilisi Geór gia integrante da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas URSS em outubro de 1977 Uma leitura cuidadosa da Carta de Belgrado e da Declaração de Tbilisi revela que ambas apresentam prolongamentos da Declaração de Estocolmo que inspiraram e reverberam a nossa Política Nacional do Meio Ambiente instituída pela Lei nº 97951999 Por todos esses eventos a década de 1970 se destaca na história da edu cação ambiental Congresso internacional sobre Educação e formação sobre o meio ambiente Já na década de 1980 uma série de eventos sinalizou o agravamento da crise ambiental como a tragédia de Bhopal em 1984 na Índia com o vazamento de toneladas de gás tóxico em uma fábrica americana de pesticidas e o acidente nuclear de Chernobyl 1986 na então União Soviética URSS Esses eventos levaram a ONU a promover em 1987 em Moscou o Congresso Internacional sobre Educação e Formação Ambiental um encontro de caráter não governamental que reafirmou os princípios de educação am biental e assinalou a importância e a necessidade de pesquisas e da formação na área Ainda em 1987 foi elaborado o relatório O nosso futuro comum também chamado Re latório de Brundtland resultado dos estudos realizados pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento CMMAD também conhecida como Comissão Brundtland criada em 1983 com o objetivo principal de analisar a equação formada pela questão ambiental e pelo desenvolvimento para propor um plano de ações BARD et Ainda segundo Bard et al 2017 em 1975 o Seminário Internacional de Edu cação Ambiental em Belgrado contou com a participação de 65 Estados e desse evento nasceu a Carta de Belgrado que estabelece metas e princípios da educação ambiental Já na conferência de Tbilisi no documento chamado De claração de Tbilisi definiramse diretrizes estratégias e ações até hoje adotadas por especialistas da área Ampliando o foco 77 al 2017 Esse documento critica o modelo adotado pelos países desenvolvidos ressal tando os riscos do uso excessivo dos recursos naturais sem considerar a capacidade de suporte dos ecossistemas apresentando o conceito de desenvolvimento sustentável como O desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes sem com prometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias ne cessidades Rio92 e fórum Global Segundo Pires et al 2014 especificamente no Brasil a década de 1980 foi marcada pela explosão dos movimentos sociais Um marco foi a criação da Política Nacional do Meio Ambiente Lei Federal nº 69831981 que enfatiza a educação ambiental como um dos princípios para a preservação a melhoria e a recuperação da qualidade ambiental devendo ser para todos Em 1988 a Constituição Federal é promulgada e no Capítulo VI sobre meio ambiente artigo 225 parágrafo 1º inciso VI determina ao poder público a promoção da educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente Ainda segundo Pires et al 2014 é a partir dessa década que muitos educadores pas sam a se denominar ambientais promovendo encontros estaduais nacionais e latino americanos vistos como espaços de discussão e construção de práticas educativas voltadas à temática ambiental Também em 1987 a Unesco e o Pnuma realizaram em Moscou o Congresso Internacional sobre Educação e Formação Ambiental evento no qual foram analisadas as conquistas e as dificuldades da educação ambiental e discuti da uma estratégia internacional de ação e promoção da educação e formação ambientais para a década de 1990 reiterandose os conceitos em relação à educação ambiental debatidos na Conferência de Tbilisi Ampliando o foco 78 Diante de tudo isso a ONU declara o ano de 1990 como o Ano da Educação Ambiental e então iniciase a organização da Conferência sobre o Meio Ambiente e Desenvolvi mento das Nações Unidas a ser realizada no Brasil na cidade do Rio de Janeiro ape lidada de Rio92 ou Eco92 Desse encontro alguns documentos importantes foram gerados uma declaração de princípios Carta da Terra e a Agenda 21 Ainda em 1992 acontece o Fórum Global com a participação de ambientalistas sindi ca listas ONGs e lideranças indígenas de todas as partes do mundo Nesse evento é assi nado o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsa bilidade Global reconhecendo o papel central da educação ambiental como processo di nâmico em permanente construção e traçando as diretrizes de um plano de ação social Também é fundada a Rede Brasileira de Educação Ambiental Rebea composta por ONGs edu cadores e instituições ligadas à educação Uma série de eventos e documentos merecem destaque no cenário brasileiro 1994 Lançamento do Programa Nacional de Educação Ambiental ProNEA cujo objetivo seria consolidar a educação ambiental como política pública 1995 Os Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs defendem que o estudo do meio ambiente esteja articulado e seja transversal às diversas áreas do conheci mento 1999 Promulgação da Lei Federal nº 97971999 que institui a Política Nacio nal de Educação Ambiental Pnea e cujo artigo 2º reforça A educação ambiental é um componente permanente da educação nacional devendo estar presente de forma articulada em todos os níveis e modalidades do processo educativo em ca ráter formal e não formal Essa política foi regulamentada em 2002 pelo Decreto Federal nº 4281 Agenda 21 Plano de ação para o desenvolvimento sustentável com um capítulo inteiro de dicado à educação ambiental Ampliando o foco 79 Rio20 e Educação para o desenvolvimento sustentável Eds Também em 2002 no cenário internacional a ONU promove uma segunda Cúpula Mun dial sobre o Desenvolvimento Sustentável dessa vez em Joanesburgo na África do Sul O encontro reuniu dirigentes de 193 nações com o objetivo de avaliar a implementação da Agenda 21 e das convenções assinadas na conferência Eco92 Em um dos documentos oficiais do evento recomendouse que a ONU promovesse um decênio dedicado à Edu cação para o Desenvolvimento Sustentável EDS o que aconteceu em dezembro do mesmo ano quando o período de 2005 a 2014 foi instituído como a década da educação para o desenvolvimento sustentável Ainda em um cenário marcado pela crise na Europa pelas desigualdades de crescimento e de poder entre os países e pelo enfraquecimento dos Estados nacionais e dos movi men tos sociais diante dos interesses financeiros acontece no Brasil em 2012 a Con ferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável Conhecida como Rio20 a reunião atraiu líderes de mais de 180 nações para uma dis cussão sobre o desenvolvimento sustentável Na II Jornada Internacional de Educação Ambiental um dos eventos paralelos ao encontro foi elaborado o Plano de Ação do Tra tado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Glo bal que incluiu a formação da Rede Planetária de Educação Ambiental com a função de assegurar a continuidade e a expansão das ações após a Rio20 especialmente aquelas já previstas no tratado Para Piovesan 2015 O século XX é o período em que inicia e intensificase o reconhecimento internacional da Educação Ambiental para a efetivação do direito am biental das presentes e futu ras gerações à vida digna em um meio am biente sadio como sendo fator importante no processo de evolução da relação homemnatureza o que somente se alcançará por intermédio da educação no que se refere às questões ambientais e à necessidade de mudança da forma de desenvolvimento econômico atual 80 Ética e valores Segundo a Conferência Intergovernamental de Tbilisi 1977 A educação ambiental é um processo de reconhecimento de valores e clarificações de conceitos objetivando o desenvolvimento das habili dades e modificando as atitudes em relação ao meio para entender e apreciar as interrelações entre os seres humanos suas culturas e seus meios biofísicos A educação ambiental também está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhora da qua lidade de vida Nesse conceito anunciado em um dos primeiros eventos que marcaram a trajetória da educação ambiental no mundo podemos destacar a relevância dos valores e da ética como inerentes a qualquer processo de educação ambiental Para chegarmos à ética e aos valores preconizados na educação ambiental faremos uma breve retrospectiva sobre a forma como nós humanos nos relacionamos com o meio ambiente que nos rodeia entendendo as mudanças ocorridas na concepção filosó fica acerca da natureza Segundo Battestin 2008 a análise de distintos períodos históricos vividos pelo ser hu mano nos leva a diferentes concepções acerca da natureza e do ser humano pois as maneiras de pensar e repensar as formas de vida e de mundo foram modificadas com o passar dos tempos Na filosofia antiga anterior a Sócrates os filósofos não faziam uma separação entre homem e natureza e concordavam que as transformações e os movimentos que consti tuem a natureza e a própria existência poderiam ser deduzidos das propriedades de uma única substância que formaria todo o cosmos Apesar de mudanças nos tipos de ques tionamentos os filósofos Sócrates Platão e Aristóteles mantinham a ideia de harmonia e pertencimento à natureza Até por volta do século XV a visão de mundo era marcada por poucos conflitos Durante a Idade Média as comunidades eram pequenas e viviam em harmonia com a natureza sendo que o tempo pertencia a Deus nesse período a visão de mundo dominante era o teocentrismo 81 Isso até acontecerem fortes mudanças e revoluções advindas da física e da astronomia Nicolau Copérnico definindo que a Terra seria um planeta deixando assim de ser o centro do Universo Galileu revelando que a experiência tornarseia uma fonte de conhecimento para explicar os fenômenos da natureza A revolução científica do século XVII marcou o domínio da ciência pela técnica a partir do momento em que ela busca seu próprio método desvinculado da reflexão filosófica A filosofia moderna representa o começo da busca pelo saber pela téc nica sendo enfatizado o desenvolvimento do método científico A Idade Moderna foi um período que causou grandes mudanças até hoje sentidas tendo o filósofo físico e matemático René Descartes enfatizado as oposições entre Homem e natureza Sujeito e objeto Espírito e matéria Desse modo surgia o antropocentrismo Teocentrismo Deus como o centro de tudo Ampliando o foco Antropocentrismo É a concepção de que o homem seria o proprietário da natureza e de que todos os conhecimentos deveriam ser úteis à vida assim como é a ideia de natureza como recurso como meio para se atingir um fim de forma que o homem não seria parte dela mas sim seu usuário Ampliando o foco 82 Segundo Coimbra e Rech 2017 a concepção antropocêntrica teve ampla aceitação no mundo ocidental a partir das proposições racionalistas que pressupunham a razão como atributo exclusivo da espécie humana Nesse sentido Gonçalves 2010 afirma que a ideia do homem não natural exterior ao meio em que vive solidificouse com a sociedade industrial a partir do capitalismo A banalização das outras espécies e dos recursos que compõem o meio ambiente a fim de atender às exigências do desenvolvimento econômico vai de encontro à realidade de que tais elementos são finitos ou possuem uma capacidade de regeneração muito menor que o potencial destrutivo do homem de forma que o capitalismo desenfreado às custas dos recursos naturais encontrou seu ponto de fraqueza a necessidade da manutenção do meio para que o progresso econômico possa acontecer COIMBRA RECH 2017 Essa percepção culmina em movimentos sociais inspirados em obras como a Prima vera silenciosa de Rachel Carson publicada em 1962 que por sua vez impulsionam discussões no âmbito mundial como a Conferência de Estocolmo em 1972 indicativos de que a concepção filosófica acerca da natureza estaria mudando O filósofo australiano Peter Singer propôs na década de 1970 uma ética para nortear as ações humanas que poderiam resultar em danos ao bemestar ou destruição da vida de qualquer ser senciente um ser capaz de sentir dor e prazer A ética ambiental sencientista rompe o paradigma antropocêntrico quando atribui valor moral à comunidade dos seres sencientes na qual incluemse aqueles que possuem sensibilidade à dor e prazer COIMBRA RECH 2017 Ainda nas décadas de 1970 e 1980 surge o ecocentrismo ou fisiocentrismo concebido a partir dos estudos de Arne Naess 1973 e de Aldo Leopold 1989 e que se refere à pos tura ética em que todas as formas de vida não humanas possuem valor próprio e a natu reza e todos seus elementos antecede o homem sendo este parte integrante daquela Tal concepção representa o reconhecimento de que a espécie humana é apenas uma entre tantas outras e acentua a mútua relação de dependência entre todos os entes da natureza sejam vivos ou não sob uma clara influência da ecologia clássica COIMBRA RECH 2017 Na visão ecocêntrica a medida do valor moral de qualquer ser ou elemento individual é sua relação com a comunidade de forma que a coletividade sobrepõe a individualidade 83 Quase na mesma época surge o biocentrismo teoria desenvolvida por Paul W Taylor 1987 que também ultrapassa a barreira da restrição moral aos seres humanos am pliandoa a todas as entidades naturais vivas O diferencial é que o biocentrismo valoriza todos os indivíduos A visão biocêntrica fundase no valor individual de cada vida humana ou não humana em detrimento da visão holística de um ecossistema global bem como nega o harmôni co equilíbrio entre as espécies Ética ambiental Entendemos que ética segundo Lima 1999 seja a exteriorização dos juízos morais ciência da conduta ou ainda a filosofia que estuda a conduta do ser humano e os crité rios pelos quais valoram os comportamentos e a escolha A partir do momento em que nossa concepção filosófica passa a valori zar elementos da natureza rompendo com a visão utilitarista podese dizer que começamos a praticar a ética ambiental As discussões sobre a ética ambiental têm como referencial teórico principal a obra do filósofo Hans Jonas 19031993 especialmente o chamado princípio ético da respon sabilidade BATTESTIN 2008 Em 1979 Hans Jonas publica sua obra mais importante O princípio responsabilidade ensaio de uma ética para a civilização tecnológica na qual busca a base de uma nova ética da responsabilidade Para refletir Essas mudanças na concepção filosófica acerca da natureza segundo Av zaradel 2013 teriam sido impulsionadas pela chamada crise ambiental con sequente das ações do homem que em última instância ameaçam a própria espécie humana situação que exige soluções e saídas de ordem puramente tecnológicas uma vez que tal situação nos obriga a repensar nossa existência enquanto seres vivos sob várias perspectivas inclusive éticas 84 Estimulado pelos diversos desastres ambientais Hans Jonas defende uma concepção ética em que prescreve princípios para a idade da técnica chamada de Ética de Res ponsabilidade na qual os mundos animal vegetal e mineral a biosfera ou a estratosfera passam a fazer parte do âmbito da responsabilidade O futuro da humanidade em seu habitat planetário determina uma ética baseada em uma relação de responsabilidade Para Ximenes 2011 a relação entre ética ambiental e educação ambiental é simbiótica sem a qual dificilmente a humanidade pode realizar as amplas mudanças necessárias em e para sua existência Assim chegamos ao x da questão Apesar das mudanças filosóficas de concepção do homem em relação ao meio do antropocentrismo ao biocentrismo essa percepção não é para todos Não é toda a comunidade planetária que é sensível à ética ambiental e aos valores associados Em verdade poucos entendem a importância de um desevolvimento sustentável justamente por ignorarem usando aqui esse termo para além de desconhe cer não compreender a forma como temos explorado os recursos e as consequências dessas ações para as gerações atuais e futuras bem como para a manu tenção da biosfera Assim é por isso que a educação ambiental é tão necessária sendo um pro cesso contínuo e multidisciplinar que objetiva promover a mudança de hábitos por meio do conhecimento Quais são os impactos e riscos ambientais provenientes dos avanços tecnológicos Seria isso pensar em desenvolvimento sustentável As questões ambientais influenciam os padrões governamentais de maneira geral isso é inquestionável Nesse sentido as atividades produtivas precisam dialogar com o meio ambiente para a própria sobrevivência da empresa no mercado e no entorno em que ela está localizada Ela precisa necessariamente estar integrada às questões am bientais Já abordamos o tema ambiental na unidade 3 mas vamos agora articular com o aspecto técnocientífico Em 1998 foi criada a Lei nº 9605 que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e isso inclui qualquer tipo de atividade sejam elas vindas de empresas instituições particulares ou não Mais do que necessária não é mesmo 85 Sabemos que a competitividade e o desejo de lucro são fatores que levam algumas em presas a tomar decisões irreparáveis em relação ao meio ambiente Por isso mesmo é preciso pensar em formas de controle justamente para que outras vidas não sejam pre judicadas e colocadas em risco por conta de interesses individuais É inquestionável portanto que os desastres causaram tragédias terríveis no meio am biente e na sociedade Nossa tentativa é refletir agora sobre as formas sustentáveis paraapropriarmonos da melhor maneira de nos relacionarmos com o meio ambiente Assim vamos citar alguns pontos positivos desses avanços tecnocientíficos como as desco bertas de cura e vacina para algumas doenças como sarampo hanseníase etc aumento na troca de informações e conhecimentos de maneira rápida uso produtivo e criativo da agricultura por meio de replantio uso de satélites diminuição no uso de fertili zantes uso de placas de energia solar produção de biocombustível a partir do plantio de canadeaçúcar uso das tecnologias para tratamento de água e resíduos reutilização de água e resíduos Ou seja pensar o desenvolvimento sem afetar nosso capital ambiental e nem a qualidade de vida de seus habitantes Vamos ver alguns conceitos importantes Sustentabilidade É quando o uso e a exploração dos recursos naturais não comprometem a nossa sobrevivência e a das gerações que ainda virão ou seja quando o meio ambiente é considerado importante e parte do processo Educação ambiental É quando o processo de formação do indivíduo agrega valores não só econômicos políticos ou sociais mas também valores ambientais e de conservação do meio Desenvolvimento sustentável É quando pensamos o progresso associado às questões do meio ambiente e en tende mos o processo de relação do homem com o meio de maneira sistêmica e interligada Assim precisamos fazer uso consciente dos recursos naturais sob pena de nos dizimar mos em nome do progresso do capitalismo e do lucro O desenvolvimento civilizatório precisa pensar as consequências do uso inadequado dos nossos recursos básicos de sobrevivência O crescimento econômico precisa andar de mãos dadas com a questão ambiental ou seja precisamos fazer uso racional dos nossos recursos naturais e nos tor 86 narmos mais produtivos e menos poluentes Precisamos fazer bem essa conta para nos mantermos vivos Precisamos pensar essa questão de forma ética e sistêmica Da teoria à prática reduzindo os impactos ambientais Veremos algumas dicas para melhorar nossa relação com o meio ambiente Podemos começar nossas mudanças em casa com a simples prática dos 3Rs Reduzir Reaprovei tar ou Reutilizar e Reciclar Reduzir Quanto menos consumimos menos recursos extraímos da natureza e menos teremos que descartar Reaproveitar Reutilizar Dar outro uso ao que iríamos descartar Tudo o que é produ zido utiliza energia e matériaprima portanto temos que aproveitar ao máximo os mate riais que é também uma forma de economizar energia Reciclar Tudo que não pudermos reaproveitar deve ser direcionado para reciclagem A reciclagem gera renda e emprego para muitas pessoas além de evitar o descarte que só irá agravar o problema do lixo Pegada ecológica é uma outra forma de se posicionar diante do tema ambiental O con ceito de pegada ecológica ou capacidade de suporte apropriada foi elaborado pelo en genheiro mecânico suíço Mathis Wackernagel e pelo biólogo canadense William Ernest Rees na metade da década de 1990 De acordo com Wackernagel 1994 p 68 a pegada ecológica ou capacidade de suporte apropriada é o território requerido agora neste planeta para suportar o estilo de vida atual indefinidamente Notase portanto que o valor da pegada ecológica é dinâmico variando no tempo e no espaço visto que as necessidades e estilos de vida das pessoas mudam ao longo do tempo e variam de acordo com cada país embora em última análise a pegada seja uma só para toda a humanidade pois só temos um planeta Isto significa que os cálculos da pegada ecológica precisam ser constantemente revistos O conceito de pegada ecológica foi bem recepcionado pelo movimento ambientalista e tornouse amplamente difundido sendo hoje a principal medida do consumo de recursos naturais pela humanidade 87 De acordo com a Rede da Pegada Global Global Footprint Network GFP fundada e dirigida pelo próprio Mathis Wackernagel desde a década de 1970 a humanidade vem consumindo recursos naturais a uma taxa maior do que a capacidade de reposição da natureza De acordo com estas informações concluímos que nossa pegada no planeta é cada vez maior Esta situação é muito grave Portanto a gravidade da situação exige uma verdadeira revolução de costumes em escala global o que é obviamente uma meta bas tante difícil de ser alcançada Mesmo assim medidas simples como a prática dos 3Rs já são um bom começo mas é preciso ir além se quisermos que nossos descendentes usufruam dos recursos do planeta 88 Para ampliar o seu conhecimento veja o material complementar da Unidade 3 disponível na midiateca MIDIATECA Apesar de termos visto que as temáticas educação ambiental ética ambiental desenvolvimento sustentável e sustentabilidade já ocupam lugar de destaque nos debates locais nacionais e internacionais ainda vivenciamos consequên cias de atitudes antropocêntricas que valorizam os ganhos econômicos em detrimento dos bens naturais Um exemplo disso é o avanço do desmatamen to na Amazônia Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Inep revelam que nos meses de janeiro fevereiro e março de 2020 foram emitidos alertas para 79608 km² da Amazônia um aumento de 5145 em relação ao mesmo período de 2019 São dados como esse que sugerem a relevância da concepção da implementação e do monitoramento de projetos de educação ambiental e que ainda temos muito trabalho pela frente até que a consciência ambiental seja comum a toda a humanidade NA PRÁTICA 89 Resumo da Unidade 3 Ao longo desta unidade você teve a oportunidade de entender o surgimento da educação ambiental em um contexto integrado associandoo às mudanças vividas nos diversos campos da existência e da vida humana compreendendo que a educação ambiental está intimamente relacionada à ética ambiental que entende a importância e a urgência de estratégias que promovam o desenvolvimento sustentado para garantir a perpetuação da nossa espécie Trabalhamos os conceitos de movimento ambientalista educação ambiental conjunto de processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade cons troem valores sociais conhecimentos habilidades atitudes e competências voltados para a conservação do meio ambiente bem de uso comum do povo essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade sustentabilidade desenvolvimento sustentável política ambiental ética ambiental prática am biental 3Rs pegada ecológica CONCEITO 90 Referências ALVES J E D A transição demográfica e o crescimento populacional no mundo Ladem Juiz de Fora UFJF 7 abr 2017 Disponível em httpswwwufjfbrladem20170407a transicaodemograficaeocrescimentopopulacionalnomundoartigodejoseeusta quiodinizalves2 Acesso em 5 maio 2020 AVZARADEL P C S Ética e educação ambiental um diálogo necessário Revista de Direito da Cidade Rio de Janeiro v 5 n 1 p 6585 2013 BADR E et al Educação ambiental conceitos histórico concepções e comentários à lei da Política Nacional de Educação Ambiental Lei nº 97951999 Manaus Valer 2017 BATTESTIN C Ética e educação ambiental considerações filosóficas Monografia Pro grama de PósGraduação em Educação Ambiental Especialização Universidade Fede ral de Santa Maria Santa Maria 2008 BOFF L Sustentabilidade o que é o que não é Petrópolis Vozes 2012 BONZI R S Meio século de Primavera silenciosa um livro que mudou o mundo Desen volvimento e Meio Ambiente UFPR n 28 p 207215 juldez 2013 BRASIL Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos Lei nº 6938 de 31 de agosto de 1981 Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente seus fins e mecanismos de formulação e aplicação e dá outras providências Brasília Presidência da República 1981 Disponível em httpwwwplanaltogovbrccivil03Leis L6938compiladahtm Acesso em 5 maio 2020 BRASIL Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos Lei 9795 de 27 de abril de 1999 Dispõe sobre a educação ambiental institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências Brasília Presidência da Repú blica 1999 Disponível em httpwwwplanaltogovbrccivil03LeisL9795htm Acesso em 5 maio 2020 COIMBRA D RECH A U A superação do antropocentrismo uma necessária reconfigu ração da interface homemnatureza Revista da Faculdade de Direito da UFG v 41 n 2 p 1427 maioago 2017 91 GONÇALVES C W P Os descaminhos do meio ambiente 2 ed São Paulo Contexto 2010 KREBS C J Ecology the Experimental Analysis of Distribution and Abundance 5 ed San Francisco Benjamin Cummings 2001 695 p LEAR L Introdução In CARSON R Primavera silenciosa São Paulo Gaia 2010 LEOPOLD A A Sand County Almanac and Sketches Here and There New York Oxford University Press 1989 LIMA A O R de Ética global legislação profissional no terceiro milênio São Paulo Iglu 1999 LOPES A R S Primavera silenciosa que sacudiu as próximas estações Revista Esbo ços Florianópolis v 18 n 25 p 316319 ago 2011 NAESS A Ecology Community and Lifestyle an outline of an ecosophy Cambridge Cambridge University Press 1989 PEDRINI A de G Trajetórias da educação ambiental In PEDRINI A de G org Educa ção ambiental reflexões e práticas contemporâneas Petrópolis Vozes 2000 PEREIRA E M Rachel Carson ciência e coragem Primavera silenciosa primeiro alerta mundial contra agrotóxicos faz 50 anos Ciência Hoje v 50 n 296 p 7273 set 2012 PIOVESAN F Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional 15 ed São Paulo Saraiva 2015 PIRES et al Educação ambiental conceitos e práticas na gestão ambiental pública Rio de Janeiro Inea 2014 52p il RAMOS E C Educação ambiental origem e perspectivas Educar Curitiba UFPR n 18 2001 REIGOTA M Educação ambiental a emergência de um campo científico Perspectivas Florianópolis v 30 n 2 p 499520 maioago 2012 92 SCHWAB K A quarta revolução industrial Tradução Daniel Moreira Miranda 2 ed São Paulo Edipro 2019 TAYLOR P W Respect for Nature a Theory of Environmental Ethics 2 impress with corrections New Jersey Princeton Princeton University Press 1987 UN United Nations World Population Prospects 2019 Disponível em httpspopula tionunorgwpp Acesso em 5 maio 2020 XIMENES D S S A evolução da sustentabilidade ambiental urbana e as interferências da ética Revista LABVERDE São Paulo n 2 p 8280 jun 2011 Disponível em httpsdoi org 1011606issn21792275v0i2p6280 Acesso em 3 maio 2020 Desenvolvimento científico tecnológico e o mundo do trabalho UNIDADE 4 94 Nesta unidade vamos discutir as reconfigurações do mercado de trabalho por conta do desenvolvimento tecnocientífico e como profissionais e empresas precisaram e preci sam se estruturar para acompanhar as mudanças e permanecerem no mercado Discuti remos também o chamado desemprego tecnológico e as novas profissões que são con sequências desse processo de evolução Discutiremos a sociabilidade e a cultura digital virtual e a dimensão do real usos e apreensões de tecnologias emergentes e sobretudo o grau de importância do ser humano frente às evoluções INTRODUÇÃO Nesta unidade você será capaz de Identificar alternativas para a valorização da atuação profissional dentro de um contexto de profundas mudanças provocadas pela evolução científica e tecnológica OBJETIVO 95 Desenvolvimento tecnocientífico e reconfi gurações no ambiente de trabalho Hoje assistirmos a uma disputa entre tecnologia e costumetradição Mas a tecnologia tal qual a ciência que facilita muito os nossos processos cotidianos além de ser ferramen ta do capitalismo tende a ganhar Mas o que é tecnologia Se fizermos uma busca no Google ou em qualquer dicionário vamos ver que a tecnologia está relacionada a termos como técnica método instrumento ou mesmo habilidade e processo que denotam a maneira como o homem produzia ou produz um bem ou como alcança algum objetivo Se isso é verdade desfazemos alguns equívocos nossos quando pensamos na tecnologia associada normalmente a um aparelho eletrônico não é mesmo Se a gente consegue responder sim estamos a meio caminho de compreender essa perspectiva histórica da evolução e da tecnologia Em Abbagnano 2000 p 942 tecnologia é o estudo dos processos técnicos de determinado ramo da produção industrial ou de vários ramos ou seja o conceito de técnica se confunde em vários sentidos com o conceito de tecnologia Cita ainda o conceito de tecnocracia que se refere a quando a técnica é usada como ins trumento de poder ou controle social Dessa forma se pensarmos a humanidade como um todo vamos perceber que tudo o que diz respeito a ela está associado à capacidade humana de criar de encontrar meios para sobreviver e de pensar formas de adaptarse ou estruturar o meio em que vive para deixálo mais agradável ou mais funcional Se por um lado as empresas e a própria sociedade precisaram adaptarse aos avanços tecnológicos e até entendêlos como um fator de progresso social por outro houve e há também a necessidade de se perguntar sobre nossa responsabilidade em meio a esse progresso Responsabilidade e talvez as consequências dessas inovações em nosso meio não é mesmo É inegável que todos os níveis econômico político social etc sofreram fortes transformações tecnológicas e científicas Mas não há sentido algum em discutir sobre tecnologia e ciência sem tomar como parâmetro para quem elas servem ou a quem estão subordinadas ou seja sem levar em consideração o homem ou a sociedade Nesse sentindo o período contemporâneo é marcado sobretudo pela velocidade das descobertas científicas e de informações na era digital já que passamos pelos automó veis pelos aviões pelas televisões pelos avanços na área genética etc Então o termo tecnologia se associa cada vez mais ao termo inovação que não tem nem tempo nem espaço como limites Assim todos nós precisamos acompanhar as mudanças e nos adaptarmos cada vez mais sobretudo quando falamos no mercado de trabalho mesmo que hoje se pensarmos na questão capitalista necessariamente sejamos levados a re fletir também sobre as questões política e econômica 96 Por isso muitas áreas profissões e profissionais precisaram se reinventar por conta das mudanças tecnológicas e dos avanços científicos pelos quais passamos enquanto so ciedade Precisamos reconfigurar nossa relação com o ambiente como um todo e mais especificamente com o ambiente de trabalho de maneira geral Foram mudanças sócio históricas políticas e econômicas em todos os âmbitos de nossas relações sociais e mudanças mais estruturais em relação aos nossos instrumentos de trabalho Nesta perspectiva há uma espécie de exigência do próprio mercado para que haja um investimento cada vez maior nessas novas ferramentas consequentes dos avanços tecnológicos sobretudo por se tratarem de espaços altamente competitivos Além da infraestrutura há a necessidade também de se capacitar a equipe de trabalho para se adequar a esses avanços Um exemplo no fordismo Essa questão de necessidade de reestruturação esteve presente em vários momentos de nossa história como na chamada Segunda Revolução Industrial que é até hoje tida como referência automobilística o fordismo O mais incrível é que a empresa existe até hoje As linhas de montagem e o uso de esteiras de rolagem mudaram completamente a forma de se lidar com a produção inclusive expandindose e servindo como exemplo para outras áreas como a siderurgia e a indústria têxtil O fordismo foi sem sombra de dúvida uma revolução nos modos de produção Quando falamos em linhas de montagem ou linhas de produção queremos dizer com isso que cada empregado dentro da fábrica seria responsável apenas por uma função ou apenas por uma parte de todo o processo que geraria um produto final ou seja apenas uma parte do todo O objetivo portanto era produzir o máximo possível no menor tempo pos sível já que o mercado estava se expandindo ou seja ganhar tempo na produção e assim diminuir custos e aumentar os lucros Para refletir A tecnologia muda nossos estilos de vida Esse pode ser nosso norte para es tudarmos a partir de agora a perspectiva da ciência do mercado de trabalho e da noção de competitividade em que toda inovação tecnológica faz pensar 97 Um exemplo dessa diminuição de custo usada pela empresa nes se período foi a escolha de uma única cor para todos os carros Assim todos os carros da Ford eram pintados de preto A tinta preta à época tinha o menor pre ço e o menor tempo de secagem além de toda a comodidade que isso representava naquele perío do Outra coisa que era importan te no fordismo era o fato de que se o empregado executava a mesma função ele se tornava cada vez mais eficiente e cada vez se apropriava mais daquela função tornandose portanto um especialista na quilo que fazia É bem verdade que muitas críticas pertinentes foram feitas a essa forma de trabalho O que queremos destacar é sobretudo a maneira como nos adaptamos e fazemos uso das tecnologias Linha de produção de modelo da Ford em 1928 Veja nossa dica de filme para saber a quais críticas ao capitalismo estamos nos referindo Pesquise e assista ao filme Tem pos modernos O filme é uma crítica aos modelos de produ ção baseados na divisão do tra balho e à produção em massa também ao processo de repe tição e alienação que as linhas de montagens podem gerar no indivíduo Conhecido por ser es crito dirigido e protagonizado por Charlie Chaplin o filme retrata a vida de um funcionário de uma fábrica e tornase conhecido por criticar o avanço do capitalismo e a desumanização na época da Revolução Industrial Ampliando o foco 98 Por que trouxemos esses dois exemplos na área organizacional Para dizer sobretu do que todo ambiente de trabalho sofre ou precisa sofrer alteração ou se reestruturar para adequarse ao desenvolvimento tecnocientífico Inauguramse novos paradigmas socioeconômicos e novos setores são criados como veremos no próximo tópico Há uma nova leitura dos padrões de exigência em relação às empresas As organizações que saem na frente são aquelas que fazem o melhor uso de sua equipe de trabalho das potencialidades do mercado e dos recursos tecnológicos disponíveis Hoje por exemplo não cabe mais o discurso de que não se sabe usar um computador de que não se sabe usar as ferramentas de comunicação por aplicativos de conversa e videoconferências e de que não se usam as redes sociais Aquele que quer estar adequa do ao ambiente de trabalho precisa adaptarse precisa se reconfigurar precisa se capaci tar e se adequar às novas formas do mercado de trabalho e da sociedade como um todo A era digital é sem dúvida alguma uma mudança estrutural em toda forma de relaciona mento Isso em todos os ambientes e em todos os níveis social familiar e mais ainda no ambiente socioprodutivo e profissional Há uma exigência do mercado de trabalho e pre cisamos nos enquadrar sob pena de sermos substituídos ou de não sermos requisitados Um outro exemplo visto no toyotismo Das diferenças entre taylorismo e fordismo surge o toyotismo Considerado uma espécie de avanço do fordismo no toyotismo o processo de produção se ria adequado às demandas do mercado de trabalho ou seja não se teria mais um dos problemas atribuídos ao fordismo que foi a produção em massa de carros sem que fossem todos consumidos ficando em estoque Assim além do recurso parado havia o problema de necessitar de espaço físico para arma zenamento dos carros produzidos No estilo Toyota os carros seriam produzidos de acordo com a demanda e a necessidade do cliente ou do mercado sem desperdício de tempo e dinheiro Outra diferença é que o trabalhador teria conhecimento de todas as etapas do processo de produção Se no fordismo o controle de qualidade era feito apenas na última etapa da linha de produção no toyotismo esse controle acontecia o tempo inteiro em todas as etapas evitando assim determinados custos caso houvesse algum problema Exemplo 99 Ciência tecnologia e sociedade necessariamente dialogam nessa necessidade ou exi gência É como se a nossa relação social estivesse vinculada ao trabalho Dominique Schnapper uma socióloga francesa que discute sobre trabalho e sociologia urbana em seu livro intitulado Contra o fim do trabalho publicado em 1998 diz que Se hoje devemos repensar o estatuto do trabalho devemos fazêlo sem negligenciar este elo original que continua a ser fundamental entre o trabalho produtivo e a cidadania O cidadão moderno adquire a sua dig nidade trabalhando 1998 p 15 A nossa identidade parece confundirse com aquilo que produzimos 100 Desemprego tecnológico eliminação e criação de profissões Como em muitas das coisas que podemos discutir há duas faces de uma mesma moe da quando falamos em avanços tecnocientíficos Ao mesmo tempo que temos o surgi mento e a criação de novas profissões consequentes dos avanços tecnológicos temos também desemprego e eliminação de outras formas de trabalho Você consegue lembrarse de alguma profissão que hoje não tem mais espaço Com bem pouco esforço lembramonos de várias não é mesmo A substituição das atividades ou produtos artesanais por mercadorias que são resultado de um processo técnico ou construído a partir das máquinas já foi discutido um pouco na primeira unidade quando falamos dos momentos históricos marcados por revolu ções tecnológicas Falamos também da necessidade de reestruturação do trabalhador no tópico anterior e agora mais especificamente vamos tentar pensar sobre a ideia do chamado desemprego tecnológico Acompanhamos um número considerável de pessoas que perderam seus empregos e viraram motoristas de aplicativos ou pequenos empreendedores Pessoas inclusive que não tinham tanta afinidade com as novas tecnologias oferecidas por um aparelho de celular e que precisaram se modernizar para sobreviver Antes quando havia algum pro blema com nossa linha telefônica ou algum problema em nosso número procurávamos uma loja física ou um funcionário da empresa para resolvêlo Hoje as lojas físicas pare cem concentrar seu objetivo na venda de novos aparelhos e de planos ou combos Todo o resto é resolvido pelo telefone Antes todas as nossas contas eram pagas em agências bancárias Hoje conseguimos efetuar todas as operações e pagamentos pela tela do celular o que causou o fechamento de inúmeras agências físicas Essa é uma tendência cada vez maior que nos leva a pensar o mercado a partir da exclusão de profissões como gerente de banco ou caixa De um lado há a leitura desse movimento como progresso do outro lamentamos tam bém muitas perdas e exclusões Hoje temos mão de obra sendo substituída por robôs eou circuitos digitais A utilização de máquinas sempre foi tida na maioria das vezes por empresários e economistas de linha mais capitalista como sinônimo de aumento de produtividade aumento de lucros e consequentemente aumento de frentes novas de 101 empregos caso haja expansão nos negócios já que seriam ferramentas utilizadas para facilitar as atividades do trabalhador É fato também que nem sempre ou pouco se discutiu por exemplo sobre a quantidade de trabalhadores que foram descartados por conta dessas mesmas máquinas sinôni mos de progresso como dito mais acima Em seu livro intitulado O capital Karl Marx fi lósofo sociólogo historiador e economista diz que a finalidade da maquinaria capitalista é sem dúvida um meio de produção de maisvalor Ou seja ela existe para o aumento do lucro do empregador Para ele na manufatura o revolucionamento palavra criada por ele do modo de produção começa com a força de trabalho na grande indústria com o meio de trabalho Nesse sentido não dá para desconsiderar que o aumento do número de máquinas e meios tecnológicos é também o descarte de profissões e da classe trabalhadora Na manufatura os trabalhadores individualmente ou em grupo têm de executar cada processo parcial específico com sua ferramenta manual Se o trabalhador é adaptado ao processo este último também foi previa mente adaptado ao trabalhador Este princípio subjetivo da divisão deixa de existir na produção mecanizada O processo total é aqui considerado objetivamente por si mesmo e analisado em suas fases constitutivas e o problema de executar cada processo parcial e de combinar os diversos processos parciais é solucionado mediante a aplicação técnica da me cânica da química etc MARX 2013 p 454 Dessa forma o que fica claro quando lemos a situação de maneira crítica é o avanço que leva em consideração sobretudo as necessidades de um mercado consumidor e de uma sociedade capitalista Marx também vai dizer mais à frente sobre o modo de produção na indústria que um revolucionamento leva a outro revolucionamento e nos dá um exemplo Assim a fiação tornou necessário mecanizar a tecelagem e ambas tor naram necessária a revolução mecânicoquímica no branqueamento na estampagem e no tingimento Por outro lado a revolução na fiação do algodão provocou a invenção do gin para separar a fibra do algodão da semente o que finalmente possibilitou a produção de algodão na larga escala agora exigida Mas a revolução no modo de produção da indústria 102 e da agricultura provocou também uma revolução nas condições gerais do processo de produção social isto é nos meios de comunicação e de transporte MARX 2013 p 457 Apesar de não ser uma leitura marxista propriamente dita usamos o pretexto das novas exigências e revoluções no processo de produção que ele traz na citação acima para dizer que da mesma forma que é inevitável reconhecer o descarte de algumas profis sões como falamos no início desse tópico também reconhecemos o fato de que houve inclusão de várias outras profissões exatamente por conta da evolução tecnológica e científica Podemos citar algumas dessas profissões profissionais que trabalham com controle produção e organização de dados ou seja as profissões da área de tecnologia como um todo sobretudo da tecnologia da informação como o profissional chama do de big data os engenheiros de softwares e desenvolvedores de aplicativos Temos também os gestores de desenvolvimento de negócios de inteligência artificial influencer digital professores tutores de ensino na modalidade online designers de redes sociais especialista em ecommerce etc Como em muitas das coisas que podemos discutir há duas faces de uma mesma moe da quando falamos em avanços tecnocientíficos Ao mesmo tempo que temos o surgi mento e a criação de novas profissões consequentes dos avanços tecnológicos temos também desemprego e eliminação de outras formas de trabalho Você consegue lembrarse de alguma profissão que hoje não tem mais espaço Com bem pouco esforço lembramonos de várias não é mesmo A substituição das atividades ou produtos artesanais por mercadorias que são resultado de um processo técnico ou construído a partir das máquinas já foi discutido um pouco na primeira unidade quando falamos dos momentos históricos marcados por revolu ções tecnológicas Falamos também da necessidade de reestruturação do trabalhador no tópico anterior e agora mais especificamente vamos tentar pensar sobre a ideia do chamado desemprego tecnológico Acompanhamos um número considerável de pessoas que perderam seus empregos e viraram motoristas de aplicativos ou pequenos empreendedores Pessoas inclusive que não tinham tanta afinidade com as novas tecnologias oferecidas por um aparelho de celular e que precisaram se modernizar para sobreviver Antes quando havia algum pro blema com nossa linha telefônica ou algum problema em nosso número procuráva mos uma loja física ou um funcionário da empresa para resolvêlo Hoje as lojas físicas 103 parecem concentrar seu objetivo na venda de novos aparelhos e de planos ou combos Todo o resto é resolvido pelo telefone Antes todas as nossas contas eram pagas em agências bancárias Hoje conseguimos efetuar todas as operações e pagamentos pela tela do celular o que causou o fechamento de inúmeras agências físicas Essa é uma tendência cada vez maior que nos leva a pensar o mercado a partir da exclusão de profissões como gerente de banco ou caixa É inevitável reconhecer o descarte de algumas profissões como falamos no início desse tópico também reconhecemos o fato de que houve inclusão de várias outras profissões exatamente por conta da evolução tecnológica e científica Podemos citar algumas des sas profissões profissionais que trabalham com controle produção e organização de dados ou seja as profissões da área de tecnologia como um todo sobretudo da tecno logia da informação como o profissional chamado de big data os engenheiros de soft wares e desenvolvedores de aplicativos Temos também os gestores de desenvolvimento de negócios de inteligência artificial influencer digital professores tutores de ensino na modalidade online designers de redes sociais especialista em ecommerce etc Diferen te do que se pensa as profissões do futuro não estão necessariamente relaciona das à área da tecnologia da informação ou o chamado TI A abrangência é muito maior quan do levamos em conta toda relação que as tecnologias têm com a sociedade como um todo Elas estão relacionadas ao meio ambiente às comunicações à saúde etc O site Educa Mais Brasil traz uma lista de 10 profissões futuristas São elas Detetive de dados Analisa os dados coletados pelo big data e propõe soluções rela cionadas a eles Gerente de mídias sociais Propõe estratégias para conteúdos e publicações nas redesmí dias sociais Consultor de aposentadoria Tem sido muito necessário já que estamos passando por diversas transformações e inseguranças em relação à estabilidade financei ra relacionada à aposentadoria O consultor de aposentadoria vai fazer projeção para os proventos futuros Analistas de energias alternativas Vai pensar em alternativas para as organizações em relação ao que há de mais sustentável em relação a elas 104 Engenheiro hospitalar Vai pensar estruturas administrativotécnicas para hospitais ou re des hospitalares Pensa sobretudo em alternativas e soluções por meio de tecnologias Big Data Já falamos um pouco na unidade anterior É aquele profissional que vai gerenciar o conjunto de dados coletados Desenvolvedores de softwares O profissional que desenvolve e implementa sistemas operacio nais de acordo com as necessidades dos clientes ou empresas Analista financeiro Analisa todo tipo de valor patrimonial mobiliário etc e realiza todo tipo de modelagem de orçamento ou custo Logística e compliance Profissional que vai pensar as ações e atividades das empresas a partir de sua adequação às normas e regras existentes É aquele que conhece todos os processos burocráticos da área logística e vai pensar estrategicamente como as empresas compram e como vão se adequar a tal cenário Designer de inovação Profissional que cria e desenvolve produtos e serviços pensando inclusive em identidade e estratégias de comunicação e imagem das empresas Se pensarmos em áreas específicas podemos citar mais algumas profissões Por exem plo na área da saúde temos o técnico em telemedicina regulamentado pelo Conselho de Medicina e que atende na modalidade a distância pacientes que moram em zonas distantes Também temos o chamado bioinformacionista que trabalha desenvolvendo medicamentos a partir de informações genéticas Na área administrativa ou educacional temos o mercado de criação de cursos online e criadores de videoaulas Na área jurídica temos o perito forense digital que trabalha com crimes cibernéticos tão comuns na atualidade e que tem sido muito requisitado inclusive em delegacias para solucionar crimes na área digital Como vimos os exemplos são inúmeros e há uma ponta de esperança pelo simples fato de sermos altamente capazes de nos reinventar o tempo inteiro Quem um dia pensou que existiria um profissional que faz especulação de moedas alternativas as chamadas criptomoedas 105 O que são criptomoedas São um meio de troca que faz uso de base de dados criptografados criando índices mercadológicos e novas moedas eletrônicas Temos como exemplo a bitcoin a primeira criptomoeda ou dinheiro eletrônico commodity considerada a primeira moeda digital mundial e que revolucionou transações financeiras pela internet Ampliando o foco Para refletir Incrível não é mesmo Tecnologia conhecimento criatividade e inovação são as principais ferramentas para lidarmos com toda a rapidez com que mudamos e com a quantidade de informações próprias dos avanços cien tíficos e tecnológicos 106 Máquinas ou humanos reflexões sobre o grau de importância do ser humano frente à evolução da Inteligência Artificial Como funciona o raciocínio humano Existem ferramentas e meios capa zes de reproduzir o que o homem pensa O que você acha A tarefa de tentar compreender como funcionam os nossos pensamentos não é recente Desde sempre na história da filosofia essa vontade e busca existe Entretanto é mes mo possível transferir nossas sinapses cerebrais para um computador Nesse terceiro tópico seguiremos discutindo portanto quais são as discussões acerca do processo de maquinização de seres humanos ou mesmo se é possível dizer que sistemas racioci nam ou não A partir da década de 1940 Alan Turing trouxe a pergunta sobre a possibilidade de as máquinas pensarem ou demonstrarem algum tipo de comportamento tido como inteli gente e provocou os pensadores britânicos que pesquisavam cibernética a discutirem o tema Vários experimentos surgiram depois disso mas foi sobretudo a partir da década de 1980 que a chamada inteligência artificial configurouse como modelo considerável e Quando pensamos sobre o conceito de inteligência artificial logo nos vem à mente o questionamento se seremos ou não substituídos por robôs Entretan to a inteligência artificial vai muito além disso Nós já fazemos uso da inteligên cia artificial no nosso dia a dia Por exemplo quando digitamos uma palavra incorreta e um corretor ortográfico dos aparelhos celulares a corrige Ou então quando ele nos oferece como opção as palavras que mais usamos para conti nuar as frases que escrevemos Ou quando nossos aparelhos são reconheci dos automaticamente pelo carro ou pelas caixas de som que já foram usadas anteriormente É como se a inteligência artificial estivesse diretamente ligada à capacidade que algumas máquinas aparelhos ou dispositivos têm de proces sar os dados e agirem de forma independente dos nossos comandos Exemplo 107 usado por empresas sobretudo nos Estados Unidos e no Japão Já nessa época discu tiase o uso de microchips e a interação homemcomputador A inteligência artificial já é a base sólida para os processos de automação em todos os setores O mais incrível porém em relação à inteligência artificial é que nós já estamos conectados e imbricados Somos híbridos nesse sentido Esse processo de automação já aparece em diversas atividades que executamos sem que a gente se dê conta Parece que não nos reconhecemos mais sem ela Já faz parte de praticamente todas as áreas com as quais a sociedade tem contato na área organizacional no marketing digital Na medicina por exemplo temos automação em transplantes de órgãos e em várias cirurgias que já são feitas com o auxílio de máquinas robótica e microcâmeras Nas indústrias ou fábricas vemos automação no controle de estoque nas rotas de entrega nos registros de reclamação ou avaliação de serviço Na área educacional temos os softwares de gestão escolar e os monitoramentos de atividades Vemos tam bém no uso dos códigos de barras dos boletos de pagamento nos indicadores de metas nas campanhas com públicos específicos Nesse sentido discutir automação ou inteligência artificial vai além de pensarmos se vamos ou não ser substituídos por robôs Exemplo Para refletir Há quem diga que o homem e sua criatividade terão ainda mais valor e impor tância nesse processo mas é constatável pela velocidade com que temos visto esses avanços que muitas pessoas de fato não alcancem e claro muitas áreas de atuação serão completamente automatizadas Chegará o tempo em que nossa maior preocupação não será com os avanços tecnocientíficos ou com todas essas eras de revolução das máquinas Haverá um tempo em que nossa maior preocupação será com a energia com a água e com o meio ambiente ou seja com as nossas necessidades mais básicas 108 Conhecendo um pouco mais Machine learning ou aprendizagem de máquinas É parte do conhecimento sobre inteligência artificial e diz respeito ao reconhecimento de padrões de dados para tomada de decisão Um curso ou faculdade consegue por meio desses dados prever por exemplo se haverá desistência dos alunos e promover por con ta disso uma grande ação de marketing São estabelecidos padrões ou regras lógicas como aquelas dos corretores ortográficos nos nossos celulares Por exemplo existem algumas palavras que foram pesquisadas anteriormente em algum site ou rede social ou mesmo que usamos com muita frequência e o corretor armazena essa informação dis ponibilizandoa em seguida quando digitamos as primeiras letras São reconhecimentos provenientes de algum algoritmo ou armazenamento de dados Realidade misturada Faz uma combinação de cenas reais do mundo físico e cenas virtuais ou artificiais Esse ambiente é gerado por computadores por meio dos quais o usuário interage de maneira intuitiva Combina cores formas uma espécie de ambiente tridimensional Os capacetes de visualização e os óculos estereoscópicos usam a realidade misturada QR Code ou Código de Resposta Rápida É um código de barras bidimensional usado inicialmente na indústria automobilística para rastreamento e que hoje tem sido bem comum Eles ficaram bem conhecidos nas lives que aconteceram durante a pandemia do Covid19 Os cantores faziam shows e seus patrocinadores por meio do QRCode vendiam seus produtos davam descontos ou direcionavam os usuários para as páginas de propagandas ou venda desses produtos Tecnologia RFID Identificação por sinais de rádio ou radiofrequência Usada em hospitais para controle dos pacientes com pulseiras com etiqueta de tecnologia RFID e também em pedágios quando os carros são identificados e liberados por possuírem planos como sem parar Internet das coisas A internet das coisas entende que qualquer objeto físico conectado pode ser programá vel É uma espécie de conexão avançada de dispositivos e tecnologia sensorial 109 Computadores de vestir São as tecnologias usadas em acessórios que estão frequentemente mais perto e com a gente do que computadores e tablets São as tecnologias por exemplo encontradas nos smartwatches também conhecidos como relógios inteligentes ou mesmo em óculos de alta tecnologia Nanotecnologia São as tecnologias que utilizam as escalas nanométricas ou escala atômica e molecular São usadas em microscópios e chips Energia renovável alternativa ou limpa Proveniente de recursos naturais ou de fontes que não geram grandes impactos ao meio ambiente e que se renovam como sol vento chuva etc Acordo de Paris Tratado assinado pelas nações em acordo sobre as questões do meio ambiente e que decidiram pensar ações que minimizem a emissão de gases estufa e o aquecimento global Aprovado por 195 países O Brasil assumiu o compromisso de contribuir para as questões da sustentabilidade em 12 de setembro de 2016 compromisso inclusive com o reflorestamento e uso de energia renovável Fonte Ministério do Meio Ambiente 2020 Pesquise e assista a série Black mirror uma série britânica de ficção científica criada pelo roteirista Charlie Brooker que retrata situações cotidianas geradas pelo uso de novas tecnolo gias A série causa um certo incômodo exata mente por se mostrar mais do que real porque por mais que essa não seja uma escolha ne cessariamente nós parecemos fazer parte de cada episódio Realidade virtualidade e ficção Ampliando o foco 110 Para ampliar o seu conhecimento veja o material complementar da Unidade 3 disponível na midiateca MIDIATECA científica misturamse e confundemse trazendo a questão dos avanços cien tíficos e tecnológicos como pauta de reflexão A série vai além de uma simples crítica à mídia moderna ou à tecnologia propriamente dita Ela vai além faz pensar sobre a nossa relação com essas ferramentas e quais seriam nossas posturas diante do encanto que um novo instrumento pode trazer Vale muito a pena conferir O que seria de nós se ao passarmos por uma pandemia não existissem as tec nologias e meios digitais sobretudo as ferramentas de comunicação Como ficariam as reuniões de trabalho já que fomos obrigados a estar em isolamento social Temos inclusive peças de teatro sendo encenadas ao vivo pelas redes sociais ou algum aplicativo Temos shows improvisados sendo feitos a partir de lives e temos também muito desemprego readaptações e o surgimento de novas fontes de renda como a fabricação de máscaras de proteção vendas de ring light com tripé e aumento considerável do mercado de delivery Empresas que não admitiam incluir em sua forma de atividade a venda pela internet preci saram se reinventar para não fechar as portas NA PRÁTICA 111 Resumo da Unidade 4 Nesta unidade discutimos as novas configurações do mercado de trabalho que in cluem o chamado desemprego tecnológico e quais foram as profissões que passaram a fazer parte dessa nova configuração Trabalhamos as novas nomenclaturas de usos e mercados tecnológicos e as combinações já existentes entre o mundo físico e o mun do digital Por fim discutimos o processo de automação inteligência artificial e seus desdobramentos Trabalhamos os conceitos de avanço tecnocientífico reestruturação produtiva desemprego tecnológico Fordismo Taylorismo Automação Inteligência artifi cial Internet das coisas Tecnologia RFID QR Code Realidade misturada Ma chine learning Acordo de Paris CONCEITO 112 Referências ABBAGNANO N Dicionário de filosofia 4 ed São Paulo Martins Fontes 2000 ACORDO de Paris Ministério do Meio Ambiente Brasília DF MMA Disponível em https antigommagovbrclimaconvencaodasnacoesunidasacordodeparishtml Acesso em 10 jul 2020 ALMEIDA F J R Ética e desempenho social das organizações um modelo teórico de análise dos fatores culturais e contextuais Revista de Administração Contemporânea v 11 n 3 Curitiba JulhoSetembro 2007 Disponível em httpswwwscielobrscielo phpscriptsciarttextpidS141565552007000300006 Acesso em 16 jun 2020 MARX K O Capital crítica da economia política Livro 1 São Paulo Boitempo 2013 SCHNAPPER D Contra o fim do trabalho Lisboa Terramar 1998 Disponível em ht tpsrevistagalileuglobocomCulturanoticia20180617fatosecuriosidadessobrevi dadoalanturinghtml Acesso em 10 Jun 2020 SCHWAB K A quarta revolução industrial São Paulo Edipro 2019 ULRICH F Bitcoin como investimento uma nova classe de ativos InfoMoney 21072014 Disponível em httpswwwinfomoneycombrcolunistasmoedanaeradigitalbitcoin comoinvestimentoumanovaclassedeativos Acesso em 10 jun 2020 VIVEIROS E P MIRANDA M G NOVAES A M P AVELAR K E S Por uma nova ética ambiental Eng Sanit Ambient 2015 v 20 n 3 p 331336 Disponível em httpswww scielobrpdfesav20n314134152esa200300331pdf Acesso em 16 jun 2020 UVA UNIJORGE