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1 CINCO LIÇÕES DE PSICANÁLISE 1910 1909 NOTA DO EDITOR INGLÊS JAMES STRACHEY ÜBER PSYCHOANALYSE a EDIÇÕES ALEMÃS 1910 Leipzig e Viena Deuticke P 62 2ª ed 1912 3ª ed 1916 4ª ed 1919 5ª ed 1920 6ª ed 1922 7ª ed 1924 8ª ed 1930 todas sem modificações 1924 GS 4 349406 Ligeiramente modificada 1943 GW 8 360 Não modificada da GS b TRADUÇÃO INGLESA The Origin and Development of Psychoanalysis 1910 Am J Psychol 21 2 e 3 181218 Tr H W Chase 1910 Em Lectures and Addresses Delivered before the Departments of Psychology and Pedagogy in Celebration of the Twentieth Anniversary of the Opening of Clark University Worcester Mass Parte I pp 138 Reimpressão da acima mencionada 1924 Em An Outline of Psychoanalysis ed Van Teslaar Nova Iorque Boni and Liveright Pp 2170 Reedição da acima mencionada A presente tradução inglesa inteiramente nova com o título diferente de Five Lectures on PsychoAnalysis é de James Strachey Em 1909 a Clark University Worcester Massachusetts comemorou o vigésimo ano de sua fundação e seu presidente o Dr G Stanley Hall convidou Freud e alguns de seus principais seguidores C G Jung S Ferenczi Ernest Jones e A A Brill para participarem das celebrações e receberem graus honoríficos Foi em dezembro de 1908 que Freud recebeu pela primeira vez o convite mas foi somente no outono seguinte que esse convite se concretizou tendo as cinco conferências de Freud sido pronunciadas na segundafeira 6 de setembro de 1909 e nos quatro dias subseqüentes Isto conforme declarou o próprio Freud na ocasião foi o primeiro reconhecimento oficial da novel ciência havendo ele descrito em seu Autobiographical Study Estudo Autobiográfico 1925d Capítulo V como ao subir ao estrado para pronunciar suas conferências isso lhe pareceu a concretização de um incrível devaneio As conferências em alemão naturalmente foram de acordo com a prática quase universal de Freud pronunciadas de improviso e conforme nos informa o Dr Jones sem notas e depois de muito pouco preparo Foi somente depois de sua volta a Viena que ele foi induzido a contragosto a escrevêlas Esse trabalho somente foi concluído na segunda semana de dezembro mas sua memória verbal era tão boa que segundo nos assegura o Dr Jones a versão impressa não fugia muito da exposição original Sua primeira publicação foi feita numa tradução inglesa no American Journal of Psychology no início de 1910 mas o original em alemão apareceu pouco depois sob a forma de panfleto em Viena O trabalho tornouse popular e teve várias edições em nenhuma delas contudo houve qualquer alteração de substância salvo quanto à nota de rodapé acrescentada em 1923 bem no início aparecendo somente no Gesammelte Schriften e Gesammelte Werke nos 2 quais Freud retirou suas expressões de gratidão a Breuer Um exame da atitude modificada de Freud quanto a Breuer encontrarseá na Introdução do Editor a Studies on Hysteria Estudos sobre a Histeria Standard Ed 2 XXVI ss Durante toda sua carreira Freud sempre estava pronto a apresentar exposições de suas descobertas Já publicara ele alguns curtos relatos de psicanálise mas esse grupo de conferências foi o primeiro numa escala ampliada Essas exposições naturalmente variavam de dificuldade de acordo com o auditório para o qual se destinavam devendo essas ser consideradas como as mais simples mormente quando postas em confronto com a grande série de Introductory Lectures Conferências Introdutórias pronunciadas alguns anos depois 191617 Não obstante apesar de todos os acréscimos que iriam ser feitos à estrutura da psicanálise durante o próximo quartel de um século essas conferências ainda proporcionam admirável quadro preliminar que exige muito pouca correção E dão elas uma excelente idéia da facilidade e clareza de estilo e do irrestrito sentido de forma que tornou Freud um conferencista tão notável quanto à exposição Consideráveis trechos da tradução anterior 1910 deste trabalho foram incluídos na General Selection from the Works of Sigmund Freud Seleção Geral dos Trabalhos de Sigmund Freud de Rickman 1937 343 NOTA DO EDITOR BRASILEIRO A presente tradução brasileira diretamente do alemão é da autoria de Durval Marcondes Professor de Psicologia Clínica da Universidade de S Paulo e Presidente da Associação Brasileira de Psicanálise e de J Barbosa Corrêa Professor de Clínica Médica da Escola Paulista de Medicina Feita para a Companhia Editora Nacional data de 1931 Foi ligeiramente modificada por Jayme Salomão MembroAssociado da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro 3 Carta enviada por Sigmund Freud ao Professor Durval Marcondes agradecendo a primeira tradução brasileira de um de seus livros CINCO LIÇÕES DE PSICANÁLISE Pronunciadas por Ocasião das Comemorações do Vigésimo Aniversário da Fundação da CLARK UNIVERSITY WORCESTER MASSACHUSETTS Setembro de 1909 Ao DR G STANLEY HALL Ph D LL D Presidente da Clark University Professor de Psicologia e Pedagogia 4 Este Trabalho é Penhoradamente Dedicado PREFÁCIO PARA AS CINCO LIÇÕES DE PSICANÁLISE DE DURVAL MARCONDES As lições que se seguem foram pronunciadas em língua alemã por Freud em 1909 na Clark University em Worcester Estados Unidos por ocasião do vigésimo aniversário dessa instituição e a convite de seu presidente o eminente psicólogo Stanley Hall Elas constituem a primeira exposição sistemática que Freud fez de sua teoria e embora não envolvam as aquisições mais recentes da psicanálise são a meu ver a leitura mais apropriada para quem aborda pela primeira vez a obra do mestre A psicanálise estava longe de ter naquela época a importância e o renome que hoje desfruta Se é exato que já em 1907 ela era estudada e utilizada pelo notável psiquiatra Bleuler e por seus assistentes na clínica de Zurique e que já em 1908 se reunia em Salisburgo o primeiro congresso psicanalítico internacional nem por isso as novas idéias eram bem recebidas nas rodas científicas oficiais onde as afirmações sobre o papel da sexualidade na etiologia das neuroses esbarravam quase sempre com os preconceitos de uma falsa moral Daí a alta significação para a jovem doutrina teve a sua consagração na cátedra de Worcester Na Europa escreveu Freud eu me sentia como um proscrito ali me via acolhido pelos melhores como um igual A psicanálise não era mais portanto uma concepção delirante mas se tornara uma parte preciosa da realidade Freud nasceu em 6 de maio de 1856 em Freiberg na Morávia tendo passado aos quatro anos para Viena onde fez seus estudos Formouse em Medicina em 1881 Ainda estudante entrou em 1876 a trabalhar no laboratório de fisiologia de Ernst Brücke sob cuja direção efetuou pesquisas de histologia nervosa Depois de formado ingressou no serviço do grande psiquiatra Theodor Meynert tendose dedicado por essa época a estudos de neuroanatomia Antes de entregarse definitivamente à investigação psicanalítica publicou vários trabalhos sobre afecções orgânicas do sistema nervoso tais como as afasias e as encefalopatias infantis Entre 1885 e 1886 foi discípulo de Charcot em Paris e acompanhou em 1889 em Nancy as experiências de Bernheim sobre o hipnotismo A influência de ambos nas concepções iniciais da teoria psicanalítica poderá ser bem avaliada nestas Cinco Lições Essas concepções tiveram sua primeira expressão na nota prévia que Freud publicou em 1893 com o Dr Breuer intitulada Sobre o Mecanismo Psíquico dos Fenômenos Histéricos a que se seguiu em 1895 o livro também em colaboração Estudos Sobre a Histeria A vida de Freud tem sido toda ela uma luta incessante pela verdade Exposto pela sua coragem de afirmar ao anátema das escolas psiquiátricas dominantes preferiu suportar por muito tempo a dureza de um verdadeiro exílio intelectual a ceder naquilo que era o honesto resultado de sua investigação Desde o começo de sua carreira profissional o amor à certeza científica fêlo prejudicar deliberadamente a clínica em início pela tenacidade em pesquisar em seus doentes o exato determinismo dos sintomas Sua obra fundamentase na mais demorada e paciente observação dos fatos Há cerca de quarenta anos que ele se dedica diariamente a oito nove dez às vezes mesmo onze análises de uma hora cada uma podendose portanto dizer que passou toda uma existência debruçado sobre a alma 5 dos neuróticos O impiedoso rigor para com as próprias convicções chegou às vezes ao ponto de fazêlo adiar por vários anos a publicação de seus trabalhos até que a experiência ulterior proporcionasse a confirmação de suas descobertas Minha A Interpretação de Sonhos diz ele e meu Fragmento de uma Análise de um Caso de Histeria o caso de Dora foram retidos por mim se não pelos nove anos aconselhados por Horácio em todo caso por quatro ou cinco anos antes que me decidisse a publicálos Compreendese portanto que quem adquiriu uma visão nova dos fatos à custa de tão penosos sacrifícios se tenha recusado a mudar de idéia ante a pressão de uma crítica partidária que se não baseia na verificação objetiva Essa justificada intransigência de Freud foi não obstante tachada de dogmatismo o que não impede porém que novos dados da observação direta e imparcial confirmem e completem cada vez mais as suas conclusões Os homens são fortes enquanto representam uma idéia forte Em sua aureolada velhice Freud assiste presentemente ao triunfo gradual e seguro de seus princípios cujo enunciado já não constitui uma blasfêmia Eles conquistam paulatinamente o lugar que lhes cabe na ciência dos fenômenos espirituais e se vão tornando aceitos pelos mais legítimos representantes da psiquiatria moderna Existe na verdade quem insista em rejeitar as conseqüências teóricas da psicanálise sem lhe conhecer sequer os métodos Mas aos poucos irão chegando os últimos retardatários Quem sabe esperar não necessita fazer concessões São Paulo novembro de 1931 Durval Marcondes 6 PRIMEIRA LIÇÃO SENHORAS E SENHORES Constitui para mim sensação nova e embaraçosa apresentarme como conferencista ante um auditório de estudiosos do Novo Mundo Considerando que devo esta honra tão somente ao fato de estar meu nome ligado ao tema da psicanálise será esse por conseqüência o assunto de que lhes falarei tentando proporcionarlhes o mais sinteticamente possível uma visão de conjunto da história inicial e do ulterior desenvolvimento desse novo processo semiológico e terapêutico Se algum mérito existe em ter dado vida à psicanálise a mim não cabe pois não participei de suas origens Era ainda estudante e ocupavame com os meus últimos exames quando outro médico de Viena o Dr Joseph Breuer empregou pela primeira vez esse método no tratamento de uma jovem histérica 18801882 Ocupemonos pois primeiramente da história clínica e terapêutica desse caso a qual se acha minuciosamente descrita nos Studies on Hysteria Estudos Sobre a Histeria 1895d que mais tarde publicamos o Dr Breuer e eu Mas preliminarmente uma observação Vim a saber aliás com satisfação que a maioria de meus ouvintes não pertence à classe médica Não cuidem porém que seja necessária uma especial cultura médica para acompanhar minha exposição Caminharemos por algum tempo ao lado dos médicos mas logo deles nos apartaremos para seguir com o Dr Breuer uma rota absolutamente original A paciente do Dr Breuer uma jovem de 21 anos de altos dotes intelectuais manifestou no decurso de sua doença que durou mais de dois anos uma série de perturbações físicas e psíquicas mais ou menos graves Tinha uma paralisia espástica de ambas as extremidades do lado direito com anestesia sintoma que se estendia por vezes aos membros do lado oposto perturbações dos movimentos oculares e várias alterações da visão dificuldade em manter a cabeça erguida tosse nervosa intensa repugnância pelos alimentos e impossibilidade de beber durante várias semanas apesar de uma sede martirizante redução da faculdade de expressão verbal que chegou a impedila de falar ou entender a língua materna e finalmente estados de absence ausência de confusão de delírio e de alteração total da personalidade aos quais voltaremos mais adiante a nossa atenção Ao terem notícia de semelhante quadro mórbido os senhores tenderão mesmo não sendo médicos a supor que se trate de uma doença grave provavelmente do cérebro com poucas esperanças de cura e que levará rapidamente o enfermo a um desenlace fatal Os médicos podem entretanto assegurarlhes que numa série de casos com fenômenos da mesma gravidade justificase outra opinião muito mais favorável Quando tal quadro mórbido é encontrado em indivíduo jovem do sexo feminino cujos órgãos vitais internos coração rins etc nada revelam de anormal ao exame objetivo mas que sofreu no entanto violentos abalos emocionais e quando em certas minúcias os sintomas se afastam do comum já os médicos não consideram o caso tão grave Afirmam que não se trata de uma afecção cerebral orgânica mas desse enigmático estado que desde o tempo da medicina grega é denominado histeria e que pode simular todo um conjunto de graves perturbações Nesses casos não consideram a vida ameaçada e até acham provável o restabelecimento completo Nem sempre é fácil distinguir a histeria de uma grave doença orgânica Não nos importa porém precisar aqui como se faz um diagnóstico diferencial desse gênero bastandonos a certeza de que o caso da paciente de Breuer era daqueles em que nenhum médico experimentado deixaria de fazer o diagnóstico de histeria Podemos também acrescentar 7 consoante a história clínica não só que a afecção lhe apareceu quando estava tratando do pai que ela adorava e cuja grave doença havia de conduzilo à morte como também que ela por causa de seus próprios padecimentos teve de abandonar a cabeceira do enfermo Até aqui nos tem sido vantajoso caminhar ao lado dos médicos mas breve os deixaremos Não devem os senhores esperar que o diagnóstico de histeria em substituição ao de afecção cerebral orgânica grave possa melhorar consideravelmente para o doente a perspectiva de um auxílio médico Se a medicina é o mais das vezes impotente em face das lesões cerebrais orgânicas diante da histeria o médico não sabe do mesmo modo o que fazer tendo de confiar à providencial natureza a maneira e a ocasião em que se há de cumprir seu esperançoso prognóstico Com o rótulo de histeria pouco se altera portanto a situação do doente enquanto que para o médico tudo se modifica Podese observar que este se comporta para com o histérico de modo completamente diverso que para com o que sofre de uma doença orgânica Negase a conceder ao primeiro o mesmo interesse que dá ao segundo pois não obstante as aparências o mal daquele é muito menos grave Mas acresce outra circunstância o médico que por seus estudos adquiriu tantos conhecimentos vedados aos leigos pode formar uma idéia da etiologia das doenças e de suas lesões como por exemplo nos casos de apoplexia ou de tumor cerebral idéia que até certo ponto deve ser exata pois lhe permite compreender os pormenores do quadro mórbido Em face porém das particularidades dos fenômenos histéricos todo o seu saber e todo o seu preparo em anatomia fisiologia e patologia deixamno desamparado Não pode compreender a histeria diante da qual se sente como um leigo posição nada agradável a quem tenha em alta estima o próprio saber Os histéricos ficam assim privados de sua simpatia Ele os considera como transgressores das leis de sua ciência tal como os crentes consideram os hereges julgaos capazes de todo mal acusaos de exagero e de simulação e puneos com lhes retirar seu interesse O Dr Breuer não mereceu certamente essa censura com relação à sua paciente Embora não pretendesse no princípio curála não lhe negou entretanto interesse e simpatia o que lhe foi provavelmente facilitado pelas elevadas qualidades de espírito e de caráter da jovem das quais ele nos dá testemunho na história clínica que redigiu Sua carinhosa observação proporcionoulhe bem logo o caminho que lhe permitiu prestar à doente os primeiros auxílios Haviase notado que nos estados de absence alteração da personalidade acompanhada de confusão costumava a doente murmurar algumas palavras que pareciam relacionarse com aquilo que lhe ocupava o pensamento O médico que anotara essas palavras colocou a moça numa espécie de hipnose e repetiuas para incitála a associar idéias A paciente entrou assim a reproduzir diante do médico as criações psíquicas que a tinham dominado nos estados de absence e que se haviam traído naquelas palavras isoladas Eram fantasias profundamente tristes muitas vezes de poética beleza devaneios como podiam ser chamadas que tomavam habitualmente como ponto de partida a situação de uma jovem à cabeceira do pai doente Depois de relatar certo número dessas fantasias sentiase ela como que aliviada e reconduzida à vida normal Esse bemestar durava muitas horas e desaparecia no dia seguinte para dar lugar a nova absence que cessava do mesmo modo pela revelação das fantasias novamente formadas É forçoso reconhecer que a alteração psíquica manifestada durante as absences era conseqüência da excitação proveniente dessas fantasias intensamente afetivas A própria paciente que nesse período da moléstia só falava e entendia inglês deu a esse novo gênero de tratamento o nome de talking cure 8 cura de conversação qualificandoo também por gracejo de chimney sweeping limpeza da chaminé Verificouse logo como por acaso que limpandose a mente por esse modo era possível conseguir alguma coisa mais que o afastamento passageiro das repetidas perturbações psíquicas Podese também fazer desaparecer sintomas quando na hipnose a doente recordava com exteriorização afetiva a ocasião e o motivo do aparecimento desses sintomas pela primeira vez Tinha havido no verão uma época de calor intenso e a paciente sofria de sede horrível pois sem que pudesse explicar a causa viuse de repente impossibilitada de beber Tomava na mão o cobiçado copo de água mas assim que o tocava com os lábios repeliao como hidrófoba Nesses poucos segundos ela se achava evidentemente em estado de absence Para mitigar a sede que a martirizava vivia somente de frutas melões etc Quando isso já durava perto de seis semanas falou certa vez durante a hipnose a respeito de sua dama de companhia inglesa de quem não gostava e contou então com demonstrações da maior repugnância que tendo ido ao quarto dessa senhora viu bebendo num copo o seu cãozinho um animal nojento Nada disse por polidez Depois de exteriorizar energicamente a cólera retida pediu de beber bebeu sem embaraço grande quantidade de água e despertou da hipnose com o copo nos lábios A perturbação desapareceu definitivamente Permitamme que os detenha alguns momentos ante esta experiência Ninguém até então havia removido por tal meio um sintoma histérico nem penetrado tão profundamente na compreensão da sua causa O descobrimento desses fatos devia ser de ricas conseqüências se se confirmasse a esperança de que outros sintomas da doente e talvez a maioria se houvessem originado do mesmo modo e do mesmo modo pudessem ser suprimidos Para verificálos Breuer não mediu esforços e pesquisou sistematicamente a patogenia de outros sintomas mais graves E realmente era assim Quase todos se haviam formado desse modo como resíduos como precipitados se quiserem de experiências emocionais que por essa razão foram denominadas posteriormente traumas psíquicos e o caráter particular a cada um desses sintomas se explicava pela relação com a cena traumática que o causara Eram segundo a expressão técnica determinados pelas cenas cujas lembranças representavam resíduos não havendo já necessidade de considerálos como produtos arbitrários ou enigmáticos da neurose Registremos apenas uma complicação que não fora prevista nem sempre era um único acontecimento que deixava atrás de si os sintomas para produzir tal efeito uniamse na maioria dos casos numerosos traumas às vezes análogos e repetidos Toda essa cadeia de recordações patogênicas tinha então de ser reproduzida em ordem cronológica e precisamente inversa as últimas em primeiro lugar e as primeiras por último sendo completamente impossível chegar ao primeiro trauma muitas vezes o mais ativo saltandose sobre os que ocorreram posteriormente Os senhores desejam por certo que lhes apresente outros exemplos de produção de sintomas histéricos além do da hidrofobia originada pela repugnância diante do cão que bebia no copo Para manterme porém no meu programa devo limitarme a poucas ilustrações Assim relata Breuer que as perturbações visuais da doente remontavam a situações como aquelas em que estando a paciente com os olhos marejados de lágrimas junto ao leito do enfermo perguntoulhe este de repente que horas eram e não podendo ela ver distintamente forçou a vista aproximando dos olhos o relógio cujo mostrador lhe pareceu então muito grande devido à macropsia e ao estrabismo convergente Ou se esforçou em reprimir as lágrimas para que o enfermo não as visse Todas as impressões 9 patogênicas provinham aliás do tempo em que ela se dedicava ao pai doente Uma noite velava muito angustiada junto ao doente febricitante e estava em grande ansiedade porque se esperava de Viena um cirurgião para operálo Sua mãe ausentarase por algum tempo e Anna sentada à cabeceira do doente pôs o braço direito sobre o espaldar da cadeira Caiu em estado de semisonho e viu como se viesse da parede uma cobra negra que se aproximava do enfermo para mordêlo É muito provável que no campo situado atrás da casa algumas cobras tivessem de fato aparecido assustando anteriormente a moça e fornecendo agora o material de alucinação Ela quis afastar o ofídio mas estava como que paralisada o braço direito que pendia no espaldar achavase adormecido insensível e parético e quando ela o contemplou transformaramse os dedos em cobrinhas cujas cabeças eram caveiras as unhas Provavelmente procurou afugentar a cobra com a mão direita paralisada e por isso a anestesia e a paralisia da mesma se associaram com a alucinação da serpente Quando esta desapareceu aterrorizada quis rezar mas não achou palavras em idioma algum até que lembrandose duma poesia infantil em inglês pode pensar e rezar nessa língua Com a reconstituição dessa cena durante a hipnose foi removida a paralisia espástica do braço direito que existia desde o começo da moléstia e teve fim o tratamento Quando alguns anos mais tarde comecei a empregar nos meus próprios doentes o método semiótico e terapêutico de Breuer fiz experiências que concordam com as dele Numa senhora de cerca de quarenta anos existia um tic tique sob a forma de um especial estalar da língua que se produzia quando a paciente se achava excitada e mesmo sem causa perceptível Originarase esse tique em duas ocasiões nas quais sendo desígnio dela não fazer nenhum rumor o silêncio foi rompido contra sua vontade justamente por esse estalido Uma vez foi quando com grande trabalho conseguira finalmente fazer adormecer seu filhinho doente e desejava no íntimo ficar quieta para o não despertar outra vez quando numa viagem de carro com os dois filhos por ocasião de uma tempestade assustaramse os cavalos e ela cuidadosamente quisera evitar qualquer ruído para que os animais não se espantassem ainda mais Dou esse esse exemplo dentre muitos outros que se acham consignados nos Studies on Hysteria Estudos Sobre a Histeria Senhoras e Senhores Se me permitem uma generalização inevitável numa exposição tão breve podemos sintetizar os conhecimentos até agora adquiridos na seguinte fórmula os histéricos sofrem de reminiscências Seus sintomas são resíduos e símbolos mnêmicos de experiências especiais traumáticas Uma comparação com outros símbolos mnêmicos de gênero diferente talvez nos permita compreender melhor esse simbolismo Os monumentos com que ornamos nossas cidades são também símbolos dessa ordem Passeando em Londres verão diante de uma das maiores estações da cidade uma coluna gótica ricamente ornamentada a Charing Cross No século XIII um dos velhos reis plantagenetas que fez transportar para Westminster os restos mortais de sua querida esposa e rainha Eleanor erigiu cruzes góticas nos pontos em que havia pousado o esquife Charing Cross é o último desses monumentos destinados a perpetuar a memória do cortejo fúnebre Em outro ponto da cidade não muito distante da London Bridge verão uma coluna moderna e muito alta chamada simplesmente The Monument cujo fim é lembrar o grande incêndio que em 1666 irrompeu ali perto e destruiu boa parte da cidade Tanto quanto se justifique a comparação esses monumentos são também símbolos mnêmicos como os sintomas histéricos Mas que diriam do londrino que ainda hoje se detivesse compungido ante o monumento erigido em memória do enterro da rainha Eleanor em vez de tratar de seus negócios com a pressa exigida pelas modernas condições de trabalho ou de pensar 10 satisfeito na jovem rainha de seu coração Ou de outro que em face do Monument chorasse a incineração da cidade querida reconstruída depois com tanto brilho Como esses londrinos pouco práticos procedem entretanto os histéricos e neuróticos não só recordam acontecimentos dolorosos que se deram há muito tempo como ainda se prendem a eles emocionalmente não se desembaraçam do passado e alheiamse por isso da realidade e do presente Essa fixação da vida psíquica aos traumas patogênicos é um dos caracteres mais importantes da neurose e dos que têm maior significação prática Desde já aceito a objeção que provavelmente os senhores formularam refletindo sobre a história da paciente de Breuer Todos os traumas que influíram na moça datavam do tempo em que ela cuidava do pai doente e os sintomas que apresentava podem ser considerados como simples sinais mnêmicos da doença e da morte dele Correspondem portanto a uma manifestação de luto e a fixação à memória do finado tão pouco tempo depois do traspasse nada representa de patológico corresponde antes a um processo emocional normal Reconheço que na paciente de Breuer a fixação aos traumas nada tem de extraordinário Mas em outros casos como no tique por mim tratado cujos fatores datavam mais de quinze e dez anos é muito nítido o caráter da fixação anormal ao passado A doente de Breuer nos haveria de oferecer oportunidade de apreciar a mesma fixação anormal se não tivesse sido tratada pelo método catártico tão pouco tempo depois do traumatismo e da eclosão dos sintomas Até aqui apenas discorremos sobre as relações entre os sintomas histéricos e os fatos da vida da doente mas dois outros elementos da observação de Breuer podem também indicarnos como conceber tanto o mecanismo da moléstia como o do restabelecimento Quanto ao primeiro é preciso salientar que a doente de Breuer em quase todas as situações teve de subjugar uma poderosa emoção em vez de permitir sua descarga por sinais apropriados de emoção palavras ou ações No trivialíssimo incidente relativo ao cãozinho de sua dama de companhia por consideração a esta ela não deixou sequer transparecer a sua profunda aversão velando à cabeceira do pai estava sempre atenta para que o doente não lhe percebesse a ansiedade e a penosa depressão Ao reproduzir posteriormente estas mesmas cenas diante do médico a energia afetiva então inibida manifestavase intensamente como se estivera até então represada Além disso o sintoma resíduo desta cena atingia a máxima intensidade quando durante o tratamento iase chegando à sua causa para desaparecer completamente quando esta se aclarava inteiramente Por outro lado podese verificar que era inútil recordar a cena diante do médico se por qualquer razão isto se dava sem exteriorização afetiva Era pois a sorte dessas emoções que podemos imaginar como grandezas variáveis o que regulava tanto a doença como a cura Tinhase de admitir que a doença se instalava porque a emoção desenvolvida nas situações patogênicas não podia ter exteriorização normal e que a essência da moléstia consistia na atual utilização anormal das emoções enlatadas Em parte ficavam estas como carga contínua da vida psíquica e fonte permanente de excitação para a mesma em parte se desviavam para insólitas inervações e inibições somáticas que se apresentavam como os sintomas físicos do caso Para este último mecanismo propusemos o nome de conversão histérica Demais uma certa parte de nossas excitações psíquicas é conduzida normalmente para a inervação somática constituindo aquilo que conhecemos por expressão das emoções A conversão histérica exagera então essa parte da descarga de um processo mental catexizado emocionalmente ela representa uma expressão mais intensa das emoções conduzida por nova via Quando uma corrente de água se escoa por 11 dois canais num deles o líquido se elevará logo que no outro se interponha um obstáculo Como vêem estamos quase chegando a uma teoria puramente psicológica da histeria onde assinalamos o primeiro lugar para os processos afetivos Uma segunda observação de Breuer obriganos agora a atribuir grande significação aos estados de consciência para a característica dos fatos mórbidos A doente de Breuer exibia ao lado de seu estado normal vários outros de absence confusão e alterações do caráter Em estado normal ela ignorava totalmente as cenas patogênicas ou pelo menos havia rompido a conexão patogênica Sob hipnose era possível depois de considerável esforço trazer tais cenas à memória e por este trabalho de evocação os sintomas eram removidos Ficaríamos em grande perplexidade para interpretar esse fato se a experiência do hipnotismo já não nos tivesse indicado o caminho Pelo estudo dos fenômenos hipnóticos tornouse habitual a concepção a princípio estranhável de que num mesmo indivíduo são possíveis vários agrupamentos mentais que podem ficar mais ou menos independentes entre si sem que um nada saiba do outro e que podem se alternar entre si em sua emersão à consciência Casos destes também ocasionalmente aparecem de forma espontânea sendo então descritos como exemplos de double consciente Quando nessa divisão da personalidade a consciência fica constantemente ligada a um desses dois estados chamase esse o estado mental consciencee o que dela permanece separado o inconsciente Nos conhecidos fenômenos da chamada sugestão póshipnótica em que uma ordem dada durante a hipnose é depois no estado normal imperiosamente cumprida temse um esplêndido modelo das influências que o estado inconsciente pode exercer no consciente modelo esse que permite sem dúvida compreender o que ocorre na manifestação da histeria Breuer resolveu admitir que os sintomas histéricos apareciam em estados mentais particulares que chamava hipnóides As excitações durante esses estados hipnóides tornamse facilmente patogênicas porque não encontram neles as condições para a descarga normal do processo de excitação Originase então do processo de excitação um produto anormal o sintoma que como corpo estranho se insinua no estado normal escapando a este por isso o conhecimento da situação patogênica hipnóide Onde existe um sintoma existe também uma amnésia uma lacuna da memória cujo preenchimento suprime as condições que conduzem à produção do sintoma Receio que esta parte de minha exposição não lhes pareça muito clara Os presentes devem contudo ser indulgentes tratase de concepções novas e difíceis que talvez não possam fazerse muito mais claras prova de que nossos conhecimentos ainda não progrediram muito A teoria de Breuer dos estados hipnóides tornouse aliás embaraçante e supérflua e foi abandonada pela psicanálise moderna Mais tarde me ouvirão falar nem que seja sucintamente das influências e processos que era mister descobrir atrás das fronteiras dos estados hipnóides por Breuer fixadas Hão de ter tido também a impressão sem dúvida justa de que a pesquisa de Breuer só lhes pode dar uma teoria muito incompleta e uma explicação insuficiente dos fenômenos observados porém as teorias completas não caem do céu e com toda a razão desconfiarão se alguém lhes apresentar logo no início de suas observações uma teoria sem falhas otimamente rematada Tal teoria certamente só poderá ser filha de sua especulação e nunca o fruto da pesquisa imparcial e desprevenida da realidade 12 SEGUNDA LIÇÃO SENHORAS E SENHORES Quase ao mesmo tempo em que Breuer praticava a talking cure cura de conversação com sua paciente começava o grande Charcot em Paris com as doentes histéricas da Salpêtrière as investigações de onde havia de surgir nova concepção da enfermidade Estes resultados não podiam naquela ocasião ser conhecidos em Viena Quando porém cerca de dez anos mais tarde Breuer e eu publicávamos nossa Preliminary Communication Comunicação Preliminar sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos relacionada com o tratamento catártico da primeira doente de Breuer 1893a já nos achávamos de todo sob a influência das pesquisas de Charcot A nosso ver os acontecimentos patogênicos de nossos doentes isto é os traumas psíquicos eram equivalentes dos traumas físicos cuja influência nas paralisias histéricas fora precisada por Charcot e a hipótese dos estados hipnóides de Breuer nada mais é que o reflexo da reprodução artificial daquelas paralisias traumáticas que Charcot obtivera durante a hipnose O grande observador francês de quem fui discípulo em 1885 e 1886 não era propenso às concepções psicológicas Foi seu discípulo Pierre Janet que tentou penetrar mais intimamente os processos psíquicos particulares da histeria e nós seguimoslhes o exemplo tomando a divisão da mente e a dissociação da personalidade como ponto central de nossa teoria Segundo a de Janet que leva em grande conta as idéias dominantes na França sobre o papel da hereditariedade e da degeneração a histeria é uma forma de alteração degenarativa do sistema nervoso que se manifesta pela fraqueza congênita do poder de síntese psíquica Os pacientes histéricos seriam desde o princípio incapazes de manter como um todo a multiplicidade dos processos mentais e daí a dissociação psíquica Se me for permitida uma comparação trivial mais precisa direi que o paciente histérico de Janet lembra uma pobre mulher que saiu a fazer compras e volta carregada de pacotes Não podendo só com dois braços e dez dedos conter toda a pilha cailhe primeiro um embrulho ao inclinarse para levantálo cailhe outro e assim sucessivamente Contrariando porém esta suposta fraqueza mental dos pacientes histéricos podem observarse neles além dos fenômenos de capacidade diminuída outros por assim dizer compensadores de exaltação parcial da eficiência Durante o tempo em que a doente de Breuer esquecera a língua materna e outros idiomas exceto o inglês era tal a facilidade com que falava este último que chegava a ponto de ser capaz diante de um livro alemão de traduzilo à primeira vista perfeita e corretamente Quando eu mais tarde prosseguia sozinho as pesquisas iniciadas por Breuer fui levado a outro ponto de vista a respeito da dissociação histérica a divisão da consciência Era fatal essa divergência aliás decisiva para o resultado futuro visto que eu não partia como Janet de experiências de laboratório e sim do trabalho terapêutico O que sobretudo me impelia era a necessidade prática O procedimento catártico como Breuer o praticava exigia previamente a hipnose profunda do doente pois só no estado hipnótico é que tinha este o conhecimento das ligações patogênicas que em condições normais lhe escapavam Tornouseme logo enfadonho o hipnotismo como recurso incerto e algo místico e quando verifiquei que apesar de todos os esforços não conseguia hipnotizar 13 senão parte de meus doentes decidi abandonálo tornando o procedimento catártico independente dele Como não podia modificar à vontade o estado psíquico dos doentes procurei agir mantendoos em estado normal Parecia isto a princípio empresa insensata e sem probabilidade de êxito Tratavase de fazer o doente contar aquilo que ninguém nem ele mesmo sabia Como esperar conseguilo O auxílio me veio da recordação de uma experiência de Bernheim singularíssima e instrutiva a que eu assistira em Nancy em 1889 Bernheim nos havia então mostrado que as pessoas por ele submetidas ao sonambulismo hipnótico e que nesse estado tinham executado atos diversos só aparentemente perdiam a lembrança dos fatos ocorridos sendo possível despertar nelas tal lembrança mesmo no estado normal Quando interrogadas a propósito do que havia acontecido durante o sonambulismo afirmavam de começo nada saber mas se ele não cedia insistindo com elas e assegurandolhes que era possível lembrar a recordação vinha sempre de novo à consciência Procedi do mesmo modo com os meus doentes Quando chegávamos a um ponto em que nos afirmavam nada mais saber asseguravalhes que sabiam que só precisavam dizer e ia mesmo até afirmar que a recordação exata seria a que lhes apontasse no momento em que lhes pusesse a mão sobre a fronte Dessa maneira pude prescindindo do hipnotismo conseguir que os doentes revelassem tudo quanto fosse preciso para estabelecer os liames existentes entre as cenas patogênicas olvidadas e os seus resíduos os sintomas Esse processo era porém ao cabo de algum tempo extenuante inadequado para uma técnica definitiva Não o abandonei contudo sem tirar das observações feitas conclusões decisivas Vi confirmado assim que as recordações esquecidas não se haviam perdido Jaziam em poder do doente e prontas a ressurgir em associação com os fatos ainda sabidos mas alguma força as detinha obrigandoas a permanecer inconscientes A existência desta força pode ser seguramente admitida pois sentiaselhe a potência quando em oposição a ela se intentava trazer à consciência do doente as lembranças inconscientes A força que mantinha o estado mórbido faziase sentir como resistência do enfermo Nesta idéia de resistência alicercei então minha concepção acerca dos processos psíquicos na histeria Para o restabelecimento do doente mostrouse indispensável suprimir estas resistências Partindo do mecanismo da cura podiase formar idéia muito precisa da gênese da doença As mesmas forças que hoje como resistência se opõem a que o esquecido volte à consciência deveriam ser as que antes tinham agido expulsando da consciência os acidentes patogênicos correspondentes A esse processo por mim formulado dei o nome de repressão e julgueio demonstrado pela presença inegável da resistência Podiase ainda perguntar sem dúvida que força era essa e quais as condições da repressão em que reconhecemos agora o mecanismo patogênico da histeria Um exame comparativo das situações patogênicas conhecidas graças ao tratamento catártico permitia dar a conveniente resposta Tratavase em todos os casos do aparecimento de um desejo violento mas em contraste com os demais desejos do indivíduo e incompatível com as aspirações morais e estéticas da própria personalidade Produziase um rápido conflito e o desfecho desta luta interna era sucumbir à repressão a idéia que aparecia na consciência trazendo em si o desejo inconciliável sendo a mesma expulsa da consciência e esquecida juntamente com as respectivas lembranças Era portanto a incompatibilidade entre a idéia e o ego do doente o motivo da repressão as aspirações individuais éticas e outras eram as forças repressivas A aceitação do impulso desejoso incompatível ou o prolongamento do 14 conflito teriam despertado intenso desprazer a repressão evitava o desprazer revelandose desse modo um meio de proteção da personalidade psíquica Dos muitos casos por mim observados quero relatarlhes um apenas no qual são patentes os aspectos determinantes e a vantagem da repressão Para não me afastar do meu propósito sou forçado a resumir esta história clínica deixando de lado importantes hipóteses A paciente era uma jovem que perdera recentemente o pai depois de tomar parte carinhosamente nos cuidados ao enfermo situação análoga à da doente de Breuer Nascera quando a irmã mais velha se casou uma simpatia particular para o novo cunhado que se mascarava por disfarce de ternura familiar Esta irmã adoeceu logo depois e veio a falecer durante a ausência da minha doente e de sua mãe Estas foram chamadas urgentemente sem notícia completa do doloroso acontecimento Quando a moça chegou ao leito da morta correulhe na mente por um rápido instante uma idéia mais ou menos assim ele agora está livre pode desposarme Énos lícito admitir como certo que esta idéia denunciandolhe à consciência o intenso amor que sem o saber tinha ao cunhado foi logo entregue à repressão pelos próprios sentimentos revoltados A jovem adoeceu com graves sintomas histéricos e quando comecei a tratála tinha esquecido não só aquela cena junto ao leito da irmã como também o concomitante sofrimento indigno e egoísta Mas recordou se de tudo durante o tratamento reproduziu o incidente patogênico com sinais de intensa emoção e curouse Talvez possa ilustrar o processo de repressão e a necessária relação deste com a resistência mediante uma comparação grosseira tirada de nossa própria situação neste recinto Imaginem que nesta sala e neste auditório cujo silêncio e cuja atenção eu não saberia louvar suficientemente se acha no entanto um indivíduo comportandose de modo inconveniente perturbandonos com risotas conversas e batidas de pé desviandome a atenção de minha incumbência Declaro não poder continuar assim a exposição diante disso alguns homens vigorosos dentre os presentes se levantam e após ligeira luta põem o indivíduo fora da porta Ele está agora reprimido e posso continuar minha exposição Para que porém se não repita o incômodo se o elemento perturbador tentar penetrar novamente na sala os cavalheiros que me satisfizeram a vontade levam as respectivas cadeiras para perto da porta e consumada a repressão se postam como resistências Se traduzirmos agora os dois lugares sala e vestíbulo para a psique como consciente e inconsciente os senhores terão uma imagem mais ou menos perfeita do processo de repressão Os senhores podem ver desde logo onde está a diferença entre nossa concepção e a de Janet Não atribuímos a divisão psíquica à incapacidade inata para a síntese da parte do aparelho psíquico mas explicamolo dinamicamente pelo conflito de forças mentais contrárias reconhecendo nele o resultado de uma luta ativa da parte dos dois agrupamentos psíquicos entre si De nossa concepção surgem novos problemas em grande número Os conflitos psíquicos são excessivamente freqüentes observase com muita regularidade o esforço do eu para se defender de recordações penosas sem que isso produza a divisão psíquica É forçoso portanto admitir que outras condições são também necessárias para que do conflito resulte a dissociação Concordo de boavontade que com a hipótese da repressão estamos não no remate mas antes no limiar de uma teoria psicológica só passo a passo podemos avançar esperando que um trabalho posterior mais aprofundado aperfeiçoe os conhecimentos Os presentes devem absterse de examinar o caso da doente de Breuer sob o ponto de vista da repressão essa história clínica não se presta para isso porque foi obtida sob o influxo do hipnotismo Só prescindido deste último poderão perceber a resistência e a 15 repressão e formar idéia exata do processo patogênico real A hipnose encobre a resistência deixando livre e acessível um determinado setor psíquico em cujas fronteiras porém acumula as resistências criando para o resto uma barreira intransponível O que de mais importante nos proporcionou a observação de Breuer foi esclarecer as relações dos sintomas com as experiências patogênicas ou traumas psíquicos resultado que não devemos deixar de focalizar agora sob o ponto de vista da teoria da repressão À primeira vista com efeito não se percebe como partindo da repressão se pode chegar à formação dos sintomas Em lugar de trazer uma complicada dedução teórica prefiro retornar à comparação que há pouco nos serviu Suponhamos que com a expulsão do perturbador e com a guarda à porta não terminou o incidente Pode muito bem ser que o sujeito irritado e sem nenhuma consideração continue a nos dar que fazer Ele já não está aqui conosco ficamos livres de sua presença dos motejos dos apartes mas a expulsão foi por assim dizer inútil pois lá de fora ele dá um espetáculo insuportável e com berros e murros na porta nos perturba a conferência mais do que antes Em tais conjunturas poderíamos felicitarnos se o nosso honrado presidente Dr Stanley Hall quisesse assumir o papel de medianeiro e pacificador Iria parlamentar com o nosso intratável companheiro e voltaria pedindonos que o recebêssemos de novo garantindonos um comportamento conveniente daqui por diante Graças à autoridade do Dr Hall condescendemos em desfazer a repressão voltando a paz e o sossego Eis uma representação muito apropriada da missão que cabe ao médico na terapêutica psicanalítica das neuroses Agora para dizêlo sem rebuços chegamos à convicção pelo exame dos doentes histéricos e outros neuróticos de que a repressão das idéias a que o desejo insuportável está apenso malogrou Expeliramnas da consciência e da lembrança com isso os pacientes se livraram aparentemente de grande soma de dissabores Mas o impulso desejoso continua a existir no inconsciente à espreita de oportunidade para se revelar concebe a formação de um substituto do reprimido disfarçado e irreconhecível para lançar à consciência substituto ao qual logo se liga a mesma sensação de desprazer que se julgava evitada pela repressão Esta substituição da idéia reprimida o sintoma é protegida contra as forças defensivas do ego e em lugar do breve conflito começa então um sofrimento interminável No sintoma a par dos sinais do disfarce podem reconhecerse traços de semelhança com a idéia primitivamente reprimida Pelo tratamento psicanalítico desvendase o trajeto ao longo do qual se realizou a substituição e para a recuperação é necessário que o sintoma seja reconduzido pelo mesmo caminho até a idéia reprimida Uma vez restituído à atividade mental consciente aquilo que fora reprimido e isso pressupõe que consideráveis resistências tenham sido desfeitas o conflito psíquico que desse modo se originara e que o doente quis evitar alcança orientado pelo médico uma solução mais feliz do que a oferecida pela repressão Há várias dessas soluções para rematar satisfatoriamente conflito e neurose as quais em determinados casos podem combinarse entre si Ou a personalidade do doente se convence de que repelira sem razão o desejo e consente em aceitálo total ou parcialmente ou este mesmo desejo é dirigido para um alvo irrepreensível e mais elevado o que se chama sublimação do desejo ou finalmente reconhece como justa a repulsa Nesta última hipótese o mecanismo da repressão automático por isso mesmo insuficiente é substituído por um julgamento de condenação com a ajuda das mais altas funções mentais do homem o controle consciente do desejo é atingido Desculpemme se porventura não logrei apresentarlhes mais compreensivelmente estes pontos de vista capitais do método terapêutico hoje denominado psicanálise A dificuldade 16 não está só na novidade do assunto A natureza dos desejos incompatíveis que não obstante a repressão continuam a dar sinal de si no inconsciente e os elementos determinantes subjetivos e constitucionais que devem estar presentes em qualquer pessoa antes do malogro da repressão podem ocorrer e um substituto ou sintoma ser formado sobre tudo isto procurarei esclarecer em algumas observações posteriores TERCEIRA LIÇÃO SENHORAS E SENHORES Nem sempre é fácil dizer a verdade mormente quando é mister ser conciso e por isso vejome obrigado a corrigir uma inexatidão que cometi na última conferência Dizialhes eu que quando posto de lado o hipnotismo eu forçava os doentes a comunicarem o que lhes viesse à mente pois que saibam apesar de tudo aquilo que supunham ter esquecido e a idéia que lhes brotasse havia de certamente conter em si o que se procurava pude com efeito verificar que o primeiro pensamento surgido trazia o elemento desejado e se revelava como a continuação inadvertida da lembrança Isto porém nem sempre é certo foi por amor à concisão que o apresentei com essa singeleza Na realidade só nas primeiras vezes aconteceu que pela simples pressão de minha parte exatamente o esquecido que buscávamos se apresentasse Continuando a empregar o método vinham pensamentos despropositados que não poderiam ser o procurado e que os próprios doentes repeliam como inexatos Já não adiantava insistência e poderseia de novo lamentar o abandono do hipnotismo Neste estado de perplexidade valime de um pressuposto cuja exatidão científica foi anos depois demonstrada pelo meu amigo C G Jung de Zurique e seus discípulos Devo afirmar que às vezes é muito útil ter um pressuposto Eu tinha em alto conceito o rigor do determinismo dos processos mentais e não podia crer que uma idéia concebida pelo doente com atenção concentrada fosse inteiramente espontânea sem nenhuma relação com a representação mental esquecida e por nós procurada Que não fosse idêntica a esta explicavase satisfatoriamente pela situação psicológica suposta Duas forças antagônicas atuavam no doente de um lado o esforço refletido para trazer à consciência o que jazia deslembrado no inconsciente de outro lado a resistência já nossa conhecida impedindo a passagem para o consciente do elemento reprimido ou dos derivados deste Se fosse igual a zero ou insignificante a resistência o olvidado se tornaria consciente sem deformação Podemos admitir que seja tanto maior a deformação do elemento procurado quanto mais forte a resistência que o detiver O pensamento que no doente vinha em lugar do desejado tinha origem idêntica à de um sintoma era uma nova substituição artificial e efêmera do reprimido e tanto menos semelhante a ele quanto maior a deformação que tivesse de sofrer sob a influência da resistência Ele devia mostrar porém certa parecença com o procurado em virtude da sua natureza de sintoma e desde que a resistência não fosse muito intensa seria possível partindo da idéia lobrigar o oculto que se buscava O pensamento devia comportarse em relação ao elemento reprimido com uma alusão como uma representação do mesmo por meio de palavras indiretas Conhecemos no domínio da vida psíquica normal exemplos em que situações análogas às que admitimos produzem resultados semelhantes É o caso do chiste O problema da 17 técnica psicanalítica forçoume a estudar o mecanismo da formação das pilhérias Quero exporlhes apenas um desses exemplos aliás uma anedota da língua inglesa Diz a anedota Por uma série de empresas duvidosas dois comerciantes tinham conseguido reunir grandes cabedais e esforçavamse para penetrar na boa sociedade Entre outros pareceulhes um meio conveniente fazeremse retratar pelo pintor mais notável e mais careiro da cidade cujo quadro fosse um acontecimento Numa grande reunião foram inaugurados os custosíssimos quadros um ao lado do outro e os dois proprietários conduziram até a parede o mais influente crítico de arte a fim de obterem o valioso julgamento O crítico examinou longamente o quadro sacudiu a cabeça como se achasse falta de alguma coisa e perguntou apenas indicando o espaço entre os dois quadros But wheres the Saviour Mas onde está o Redentor Vejo que todos se riem da boa pilhéria penetramoslhes agora a significação Os presentes compreendem que o crítico queria dizer vocês são dois patifes como aqueles que ladearam o Cristo crucificado Mas não o disse em lugar disso exprimiu coisa que à primeira vista parece extraordinariamente abstrusa e fora de propósito mas que logo depois reconhecemos como uma alusão à injúria que lhe estava no íntimo e que vale perfeitamente como substituto dela Não podemos esperar que numa anedota sejam encontradas todas as circunstâncias que pressupomos na gênese das idéias associadas dos nossos doentes queremos todavia realçar a identidade de motivação para a anedota e para a idéia Por que é que o nosso crítico não lhes falou claramente Porque nele outras razões contrárias também atuavam ao lado do ímpeto de dizêlo francamente face a face Não deixa de ser perigoso desfeitear pessoas de que somos hóspedes e que dispõem de criadagem numerosa de pulsos vigorosos A sorte poderia ser a mesma que na conferência anterior serviu de exemplo para a repressão Por tal razão o crítico atirou indiretamente a ofensa que estava ruminando transfigurandoa numa alusão com desabafo É a nosso ver devido à mesma constelação que o paciente produz uma idéia de substituição mais ou menos distorcida em lugar do elemento esquecido que procuramos Senhoras e Senhores Aceitando a proposta da Escola de Zurique Bleuler Jung e outros convém dar o nome de complexo a um grupo de elementos ideacionais interdependentes catexizados de energia afetiva Vemos assim que partindo da última recordação que o doente ainda possui em busca de um complexo reprimido temos toda a probabilidade de desvendálo desde que o doente nos proporcione um número suficiente de associações livres Mandamos o doente dizer o que quiser cônscios de que nada lhe ocorrerá à mente senão aquilo que indiretamente dependa do complexo procurado Talvez lhes pareça muito fastidioso este processo de descobrir os elementos reprimidos mas assegurolhes é o único praticável No emprego desta técnica o que ainda nos perturba é que com freqüência o doente se detém afirmando não saber dizer mais nada que nada mais lhe vem à idéia Se assim fosse se o doente tivesse razão o método terseia revelado impraticável Uma observação atenta mostra contudo que as idéias livres nunca deixam de aparecer É que o doente influenciado pela resistência disfarçada em juízos críticos sobre o valor da idéia retémna ou de novo a afasta Para evitála põese previamente o doente a par do que pode ocorrer pedindolhe renuncie a qualquer crítica sem nenhuma seleção deverá expor tudo que lhe vier ao pensamento mesmo que lhe pareça errôneo despropositado ou absurdo e especialmente se lhe for desagradável a vinda dessas idéias à mente Pela observância dessa regra garantimonos o material que nos conduz ao roteiro do complexo reprimido 18 Esse material associativo que o doente rejeita como insignificante quando em vez de estar sob a influência do médico está sob a da resistência representa para o psicanalista o minério de onde com simples artifício de interpretação há de extrair o metal precioso Se diante de um doente quiserem os presentes ter um conhecimento rápido e provisório dos complexos reprimidos sem lhes penetrar na ordem e nas relações podem dispor da experiência da associação cuja técnica foi aperfeiçoada por Jung 1906 e seus discípulos Para o psicanalista este método é tão precioso quanto para o químico a análise qualitativa prescindível na terapêutica dos neuróticos é indispensável para a demonstração objetiva dos complexos e para o estudo das psicoses com tanto êxito empreendido pela Escola de Zurique Não é o estudo das divagações quando o doente se sujeita à regras psicanalíticas o único recurso técnico para sondagem do inconsciente Ao mesmo escopo servem dois outros processos a interpretação de sonhos e o estudo dos lapsos e atos casuais Confessolhes prezados ouvintes que estive longo tempo indeciso sobre se em lugar desta rápida vista geral sobre todo o domínio da psicanálise não seria preferível exporlhes minuciosamente a interpretação de sonhos Motivo puramente subjetivo e aparentemente secundário me deteve Pareceume quase escandaloso apresentarme neste país de orientação prática como onirócrita antes de mostrarlhes qual a importância a que pode aspirar esta velha e ridicularizada arte A interpretação de sonhos é na realidade a estrada real para o conhecimento do inconsciente a base mais segura da psicanálise É campo onde cada trabalhador pode por si mesmo chegar a adquirir convicção própria como atingir maiores aperfeiçoamentos Quando me perguntam como pode uma pessoa fazerse psicanalista respondo que é pelo estudo dos próprios sonhos Os adversários da psicanálise com muita habilidade têm até agora evitado estudar de perto A Interpretação de Sonhos ou têm oposto ao de longe objeções superficialíssimas Se não repugna aos presentes ao contrário aceitar as soluções dos problemas da vida onírica já não apresentam aos ouvintes dificuldade alguma as novidades trazidas pela psicanálise Não se esqueçam de que se nossas elaborações oníricas noturnas mostram de um lado a maior semelhança externa e o mais íntimo parentesco com as criações da alienação mental são de outro lado compatíveis com a mais perfeita saúde na vida desperta Não é nenhum paradoxo afirmar que quem fica admirado ante essas alucinações delírios ou mudanças de caráter que podemos chamar normais sem procurar explicálos não tem a menor probabilidade de compreender senão como qualquer leigo as formações anormais dos estados psíquicos patológicos E entre esses leigos os ouvintes podem contar atualmente sem receio quase todos os psiquiatras Acompanhemme agora numa rápida excursão pelo campo dos problemas do sonho Quando acordados costumamos tratar os sonhos com o mesmo desdém com que os doentes rejeitam as idéias soltas despertadas pelo psicanalista Desprezamolos olvidando os em geral rápida e completamente O nosso descaso fundase no caráter exótico apresentado mesmo pelos sonhos que possuem clareza e nexo e sobre a evidente absurdez e insensatez dos demais nossa repulsa explicase pelas tendências imorais e menos pudicas que se patenteiam em muitos deles É de todos sabido que a antigüidade não compartilhou tal desapreço para com os sonhos As camadas baixas do nosso povo mesmo hoje não estão totalmente desnorteadas na apreciação do valor dos sonhos dos quais esperam como os antigos a revelação do futuro Confessolhes que não tenho 19 necessidade de nenhuma hipótese mística para preencher as falhas de nossos conhecimentos atuais e por isso nunca pude descobrir nada que confirmasse a natureza profética dos sonhos Coisa muito diferente disso embora assaz maravilhosa se pode dizer a respeito deles Em primeiro lugar nem todos os sonhos são estranhos incompreensíveis e confusos para a pessoa que sonhou Examinando os sonhos de criancinhas desde um ano e meio de idade verificarão que eles são extremamente simples e de fácil explicação A criancinha sonha sempre com a realização de desejos que o dia anterior lhe trouxe e que ela não satisfez Não há necessidade de arte divinatória para encontrar solução tão simples basta saber o que se passou com a criança na véspera dia do sonho Estaria certamente resolvido e de modo satisfatório o enigma do sonho se o do adulto não fosse nada mais que o da criancinha realização de desejos trazidos pelo dia do sonho E o é de fato As dificuldades que esta solução apresenta removemse uma a uma mediante a análise minuciosa dos sonhos A primeira objeção e a mais importante é a de que os sonhos dos adultos via de regra têm um conteúdo ininteligível sem nenhuma semelhança com a satisfação de desejos Resposta estes sonhos estão distorcidos o processo psíquico correspondente teria originariamente uma expressão verbal muito diversa O conteúdo manifesto do sonho recordado vagamente de manhã e que não obstante a espontaneidade aparente se exprime em palavras com esforço deve ser diferenciado dos pensamentos latentes do sonho que se têm de admitir como existentes no inconsciente Esta deformação possui mecanismo idêntico ao que já conhecemos desde quando examinamos a gênese dos sintomas histéricos e é uma prova da participação da mesma interação de forças mentais tanto na formação dos sonhos como na dos sintomas O conteúdo manifesto do sonho é o substituto deformado para os pensamentos inconscientes do sonho Esta deformação é obra das forças defensivas do ego isto é das resistências que na vigília impedem de modo geral a passagem para a consciência dos desejos reprimidos do inconsciente enfraquecidas durante o sono estas resistências ainda são suficientemente fortes para só os tolerar disfarçados Quem sonha portanto reconhece tão mal o sentido de seus sonhos como o histérico as correlações e a significação de seus sintomas De que há pensamentos latentes do sonho e que entre eles e o conteúdo manifesto existe de fato o nexo aludido os presentes se convencerão pela análise de sonhos cuja técnica se confunde com a da psicanálise Pondo de lado a aparente conexão dos elementos do sonho manifesto procurarão os senhores evocar idéias por livre associação partindo de cada um desses elementos e observando as regras da prática psicanalítica De posse deste material chegarão aos pensamentos latentes do sonho com a mesma perfeição com que conseguiram surpreender no doente o complexo oculto por meio das idéias sugeridas pelas associações livres a partir dos sintomas e lembranças Pelos pensamentos latentes do sonho descobertos desse modo podese ver sem mais nada como é justo equiparar o sonho dos adultos ao das crianças O que agora como verdadeiro sentido do sonho substitui o seu conteúdo manifesto e isto é sempre claramente compreensível ligase às impressões da véspera e se patenteia como a realização de um desejo nãosatisfeito O sonho manifesto que conhecem no adulto graças à recordação pode então ser descrito como uma realização velada de desejos reprimidos Podem agora os ouvintes por uma espécie de trabalho sintético examinar o processo mediante o qual os pensamentos inconscientes do sonho se disfarçam no conteúdo manifesto Esse processo que denominamos elaboração onírica é digno de nosso maior 20 interesse teórico porque em nenhuma outra circunstância poderíamos estudar melhor do que nele os processos psíquicos nãosuspeitados que se passam no inconsciente ou mais exatamente entre dois sistemas psíquicos distintos como consciente e inconsciente Entre tais processos psíquicos recentemente descobertos ressaltam notavelmente o da condensação e o do deslocamento A elaboração onírica é um caso especial da influência recíproca de agrupamentos mentais diversos isto é o resultado da divisão psíquica e parece essencialmente idêntico ao trabalho de deformação que transforma em sintomas os complexos cuja repressão fracassou Pela análise dos sonhos descobrirão os senhores ainda mais com surpresa porém do modo mais convincente possível o papel importantíssimo e nunca imaginado que os fatos e impressões da tenra infância exercem no desenvolvimento do homem Na vida onírica a criança prolonga por assim dizer sua existência no homem conservando todas as peculiaridades e aspirações mesmo as que se tornam mais tarde inúteis Com força irresistível apresentarselhesão os processos de desenvolvimento repressões sublimações e formações reativas de onde saiu da criança com tão diferentes disposições o chamado homem normal esteio e em parte vítima da civilização tão penosamente alcançada Quero ainda fazer notar que pela análise de sonhos também pudemos descobrir que o inconsciente se serve especialmente para a representação de complexos sexuais de certo simbolismo em parte variável individualmente e em parte tipicamente fixo que parece coincidir com o que conjecturamos por detrás dos nossos mitos e lendas Não seria impossível que essas últimas criações populares recebessem portanto do sonho a sua explicação Impendenos advertilos finalmente de que não se deixem desorientar pela objeção de que aparecimento de pesadelos contradiz o nosso modo de entender o sonho como satisfação de desejos Além de que é necessário interpretar os pesadelos antes de sobre eles poder firmar qualquer juízo pode dizerse de modo geral que a ansiedade que os acompanha não depende assim tão simplesmente do conteúdo oniríco como muitos imaginam por ignorar as condições da ansiedade neurótica A ansiedade é uma das reações do ego contra desejos reprimidos violentos e daí perfeitamente explicável a presença dela no sonho quando a elaboração deste se pôs excessivamente a serviço da satisfação daqueles desejos reprimidos Como vêem o estudo dos sonhos já estaria em si justificado pelo fato de que proporciona conclusões sobre coisas de que por outros meios dificilmente chegaríamos a ter noção Foi todavia no decorrer do tratamento psicanalítico dos neuróticos que chegamos até ele Pelo que até agora dissemos podem compreender facilmente que a interpretação de sonhos quando não a estorvam em excesso as resistências do doente leva ao conhecimento dos desejos ocultos e reprimidos bem como dos exemplos entretidos por este Posso agora tratar do terceiro grupo de fenômenos psíquicos cujo estudo se tornou recurso técnico da psicanálise Os fenômenos em questão são as pequenas falhas comuns aos indivíduos normais e aos neuróticos fatos aos quais não costumamos ligar importância o esquecimento de coisas que deviam saber e que às vezes sabem realmente por exemplo a fuga temporária dos nomes próprios os lapsos de linguagem tão freqüentes até mesmo conosco na escrita ou na leitura em voz alta atrapalhações no executar qualquer coisa perda ou quebra de objetos etc bagatelas de cujo determinismo psicológico de ordinário não se cuida que passam sem reparo como casualidades como resultado de distrações desatenções e 21 outras condições semelhantes Juntamse ainda os atos e gestos que as pessoas executam sem perceber e sobretudo sem lhes atribuir importância mental como sejam trautear melodias brincar com objetos com partes da roupa ou do próprio corpo etc Essas coisinhas os atos falhos como os sintomáticos e fortuitos não são assim tão destituídas de valor como por uma espécie de acordo tácito e hábito admitir São extraordinariamente significativas e quase sempre de interpretação fácil e segura tendose em vista a situação em que ocorrem verificase que mais uma vez exprimem impulsos e intenções que devem ficar ocultos à própria consciência ou emanam justamente dos desejos reprimidos e dos complexos que como já sabemos são criadores dos sintomas e formadores dos sonhos Fazem jus à mesma consideração que os sintomas e o seu exame tanto quanto o dos sonhos pode levar ao descobrimento da parte oculta da mente Por elas o homem trai em regra os mais íntimos segredos Se se produzem com grande facilidade e freqüência até em indivíduos normais cujos desejos inconscientes estão reprimidos de modo eficaz isso se explica pela futilidade e inverossimilhança das mesmas São porém do mais alto valor teórico testemunham a existência da repressão e da substituição mesmo na saúde perfeita Notarão desde logo que o psicanalista se distingue pela rigorosa fé no determinismo da vida mental Para ele não existe nada insignificante arbitrário ou casual nas manifestações psíquicas Antevê um motivo suficiente em toda parte onde habitualmente ninguém pensa nisso está até disposto a aceitar causas múltiplas para o mesmo efeito enquanto nossa necessidade causal que supomos inata se satisfaz plenamente com uma única causa psíquica Se os ouvintes reunirem os meios que estão ao nosso alcance para descobrimento do que na vida mental jaz escondido deslembrado e reprimido o estudo das idéias livremente associadas pelos pacientes seus sonhos falhas e ações sintomáticas se ainda juntarem a tudo isso o exame de outros fenômenos surgidos no decurso do tratamento psicanalítico e a respeito dos quais farei algumas observações quando tratar da transferência chegarão comigo à conclusão de que a nossa técnica já é suficientemente capaz de realizar aquilo que se propôs conduzir à consciência o material psíquico patogênico dando fim desse modo aos padecimentos ocasionados pela produção dos sintomas de substituição O fato de enriquecermos e aprofundarmos durante o tratamento os nossos conhecimentos sobre a vida mental dos sãos e dos doentes deve ser considerado apenas como estímulo especial a este trabalho e uma de suas vantagens Não sei se ficaram com a impressão de que a técnica através de cujo arsenal os conduzi apresenta dificuldades especiais Para mim ela amoldase perfeitamente aos seus fins Mas não é menos certo também que não constitui prenda inata tem de ser aprendida como a histológica ou a cirúrgica Talvez se espantem em saber que na Europa ouvi uma série de juízos relativos à psicanálise expendidos por pessoas jejunas a respeito desta técnica que elas não exercitam as quais pessoas ainda por ironia nos exigem lhes demonstremos a exatidão de nossos resultados No meio de tais opositores encontramse sem dúvida homens familiarizados com o raciocínio científico em outras matérias incapazes de contestar por exemplo o resultado dum exame microscópico só porque não o podem confirmar pela inspeção do preparado anatômico com a vista desarmada e que não emitiriam parecer algum antes de minuciosa observação ao microscópio Mas no tocante à psicanálise as circunstâncias são realmente desfavoráveis a um imediato assentimento Quer a psicanálise tornar conscientemente reconhecido aquilo que está reprimido na vida mental e todo aquele que a julga é homem com as mesmas repressões mantidas talvez à 22 custa de penosos sacrifícios Neles devem levantarse pois as mesmas resistências como nos doentes e estas se revestem facilmente das roupagens da impugnação intelectual suscitando argumentos semelhantes aos que desfazemos nos doentes com a regra psicanalítica fundamental Como nos doentes podemos reconhecer em nossos adversários notável influxo afetivo na faculdade de julgamento com prejuízo desta O orgulho da consciência que chega por exemplo a desprezar os sonhos pertence ao forte aparelhamento disposto em nós de modo geral contra a invasão dos complexos inconscientes Esta é a razão por que tão dificultoso é como vencer os homens da realidade do inconsciente e dar lhes a conhecer qualquer novidade em contradição com seu conhecimento consciente QUARTA LIÇÃO SENHORAS E SENHORES Desejam os ouvintes saber agora o que com auxílio dos meios técnicos descritos logramos averiguar a respeito dos complexos patogênicos e dos desejos reprimidos dos neuróticos Mas antes de tudo uma coisa o exame psicanalítico relaciona com uma regularidade verdadeiramente surpreendente os sintomas mórbidos a impressões da vida erótica do doente mostranos que os desejos patogênicos são da natureza dos componentes instintivos eróticos e obriganos a admitir que as perturbações do erotismo têm a maior importância entre as influências que levam à moléstia tanto num como noutro sexo Bem sei que não se acredita de boa mente nesta minha afirmação Mesmo os investigadores que me seguem solícitos os trabalhos psicológicos são inclinados a julgar que eu exagero a participação etiológica do fator sexual e vêm a mim perguntando por que outras excitações mentais não hão de dar também motivo aos fenômenos da repressão e formação de substitutivos Por ora só lhes posso responder não sei Mas a experiência mostra que elas não têm a mesma importância Quando muito reforçam a ação do elemento sexual mas nunca podem substituílo Esta ordem de coisas não a determinei mais ou menos teoricamente Quando em 1895 publiquei com o Dr J Breuer os Estudos sobre a Histeria ainda não tinha esta opinião vime forçado a adotála quando as minhas experiências se tornaram mais numerosas e penetraram mais intimamente o problema Senhores Achamse entre os presentes alguns de meus adeptos e amigos mais chegados que viajaram comigo até Worcester Se os interrogarem ouvirão que todos eles a princípio recebiam com a maior descrença a afirmação da importância decisiva da etiologia sexual até que pelo exercício analítico pessoal foram obrigados a aceitar como sua própria aquela afirmação O modo de proceder dos doentes em nada facilita o reconhecimento da justeza da tese a que estamos aludindo Em vez de nos fornecerem prontamente informações sobre a sua vida sexual procuram por todos os meios ocultála Em matéria sexual os homens são em geral insinceros Não expõem a sua sexualidade francamente saem recobertos de espesso manto tecido de mentiras para se resguardarem como se reinasse um temporal terrível no mundo da sexualidade E não deixam de ter razão o sol e o ar em nosso mundo civilizado não são realmente favoráveis à atividade sexual Com efeito nenhum de nós pode manifestar o seu erotismo francamente à turba Quando porém seus pacientes tiverem percebido que durante o tratamento devem estar à vontade se despojarão daquele manto de mentira e só então estarão os presentes em condições de formar juízo a respeito deste 23 problema Infelizmente os médicos não desfrutam nenhum privilégio especial sobre os demais homens no tocante ao comportamento na esfera da vida sexual e muitos deles estão dominados por aquela mescla de lubricidade e afetado recato que é o que governa a maioria dos povos civilizados nas coisas da sexualidade Deixemme prosseguir no relato das nossas contestações Em outra série de casos o exame psicanalítico vem sem dúvida ligar os sintomas não a fatos sexuais senão a acontecimentos traumáticos comuns Mas por outra circunstância esta diferenciação perde todo valor O trabalho de análise necessário para o esclarecimento completo e cura definitiva de um caso mórbido não se detém nos episódios contemporâneos da doença retrocede sempre em qualquer hipótese até a puberdade e a mais remota infância do doente para só aí topar as impressões e acontecimentos determinantes da doença ulterior Só os fatos da infância explicam a sensibilidade aos traumatismos futuros e só com o descobrimento desses restos de lembranças quase regularmente olvidados e com a volta deles à consciência é que adquirimos o poder de afastar os sintomas Chegamos aqui à mesma conclusão do exame de sonhos isto é que foram os desejos duradouros e reprimidos da infância que emprestaram à formação dos sintomas a força sem a qual teria decorrido normalmente a reação contra traumatismos posteriores Estes potentes desejos da infância hão de ser reconhecidos porém em sua absoluta generalidade como sexuais Mas agora sim estou realmente certo do espanto dos ouvintes Existe então perguntarão uma sexualidade infantil A infância não é ao contrário o período da vida marcado pela ausência do instinto sexual Não meus senhores Não é verdade certamente que o instinto sexual na puberdade entre o indivíduo como segundo o Evangelho os demônios nos porcos A criança possui desde o princípio o instinto e as atividades sexuais Ela os traz consigo para o mundo e deles provêm através de uma evolução rica de etapas a chamada sexualidade normal do adulto Não são difíceis de observar as manifestações da atividade sexual infantil ao contrário para deixálas passar desapercebidas ou incompreendidas é que é preciso certa arte Por um feliz acaso achome em condições de chamar dentre os presentes uma testemunha em favor de minhas afirmações Eis aqui o trabalho do Dr Sanford Bell impresso em 1902 em The American Journal of Psychology O autor é um Fellow da Clark University o mesmo instituto em cujo seio nos achamos no atual instante Nesse trabalho intitulado A Preliminary Study of the Emotion of Love Between the Sexes publicado três anos antes dos meus Three Essays on the Theory of Sexuality 1905d Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade escreve o autor tal qual há pouco lhes dizia A emoção do amor sexual não aparece pela primeira vez no período da adolescência como se tem pensado Procedendo à americana como diríamos na Europa reuniu durante 15 anos nada menos de 2500 observações positivas das quais 800 são próprias Dos sinais por que se revelam esses temperamentos namoradiços diz ele O espírito mais desprevenido observando estas manifestações em centenas de casais de crianças não poderá deixar de atribuirlhes uma origem sexual O mais rigoroso espírito satisfazse quando a estas observações se juntam as confissões dos que em criança sentiram a emoção intensamente e cujas recordações daquela época são relativamente nítidas Aqueles dentre os ouvintes que não queriam acreditar na sexualidade infantil terão o maior assombro ouvindo que entre estas crianças tão cedo enamoradas não poucas se encontram na tenra idade de três quatro ou cinco anos Não me admiraria se estas observações de seu compatriota lhes merecessem mais crédito que as minhas A mim mesmo foime dado obter recentemente um quadro mais ou menos 24 completo das manifestações instintivas somáticas e das produções mentais num período precoce da vida amorosa infantil graças à análise empreendida com todas as regras pelo próprio pai de um menino de cinco anos atacado de ansiedade Devo lembrarlhes que meu amigo Dr C G Jung há poucas horas nesta mesma sala lhes expôs a observação de uma menina ainda mais nova que pelo mesmo motivo do meu paciente nascimento de um irmãozinho evidenciava quase os mesmos impulsos sensuais e idêntica formação de desejos e complexos Cf Jung 1910 Não duvido pois de que os presentes se acabarão familiarizando com a idéia de início tão exótica da sexualidade infantil memorese o exemplo notável do psiquiatra E Bleuler de Zurique que há poucos anos dizia publicamente que não compreendia minha teoria sexual mas que de então para cá pôde mediante observações próprias confirmar a sexualidade infantil em toda a extensão Cf Bleuler 1908 É facílima de explicar a razão por que a maioria dos homens observadores médicos e outros nada querem saber da vida sexual da criança Sob o peso da educação e da civilização esqueceram a atividade sexual infantil e não desejam agora relembrar aquilo que já estava reprimido Se quisessem iniciar o exame pela autoanálise com uma revisão e interpretação das próprias recordações infantis haviam de chegar a convicção muito diferente Deixem que se dissipem as dúvidas e examinemos juntos a sexualidade infantil desde os primeiros anos O instinto sexual se nos apresenta muito complexo podendo ser desmembrado em vários componentes de origem diversa Antes de tudo é independente da função procriadora a cujo serviço mais tarde se há de pôr Serve para dar ensejo a diversas espécies de sensações agradáveis que nós pelas suas analogias e conexões englobamos como prazer sexual A principal fonte de prazer sexual infantil é a excitação apropriada de determinadas partes do corpo particularmente excitáveis além dos órgãos genitais como sejam os orifícios da boca ânus e uretra e também a pele e outras superfícies sensoriais Como nesta primeira fase da vida sexual infantil a satisfação é alcançada no próprio corpo excluído qualquer objeto estranho dáselhe o nome segundo o termo introduzido por Havelock Ellis de autoerotismo Zonas erógenas denominamse os lugares do corpo que proporcionam o prazer sexual O prazer de chupar o dedo o gozo da sucção é um bom exemplo de tal satisfação autoerótica partida de uma zona erógena Quem primeiro observou cientificamente esse fenômeno o pediatra Lindner 1879 de Budapeste já o tinha interpretado como satisfação dessa natureza e descrito exaustivamente a transição para outras formas mais elevadas de atividade sexual Outra satisfação da mesma ordem nessa idade é a excitação masturbatória dos órgãos genitais fenômeno que tão grande importância conserva para o resto da vida e que muitos indivíduos não conseguem suplantar jamais Ao lado dessas e outras atividades autoeróticas revelamse muito cedo na criança aqueles componentes instintivos do gozo sexual ou como preferimos dizer da libido que pressupõem como objeto uma pessoa estranha Estes instintos aparecem em grupos de dois um oposto ao outro ativo e passivo citolhes como mais notáveis representantes deste grupo o prazer de causar sofrimento sadismo com o seu reverso passivo masoquismo e o prazer visual ativo ou passivo Do gozo visual ativo desenvolvese mais tarde a sede de saber como do passivo o pendor para as representações artísticas e teatrais Outras atividades sexuais infantis já incidem na escolha do objeto onde o principal elemento é uma pessoa estranha a qual deve primordialmente sua importância a considerações relativas ao instinto de conservação Mas a diferença de sexo ainda não tem neste período infantil papel decisivo podese pois atribuir a toda criança sem injustiça uma parcial 25 disposição homossexual Esta vida sexual infantil desordenada rica mas dissociada em que cada impulso isolado se entrega à conquista do gozo independentemente dos demais experimenta uma condensação e organização em duas principais direções de tal modo que ao fim da puberdade o caráter sexual definitivo está completamente formado De um lado subordinamse todos os impulsos ao domínio da zona genital por meio da qual a vida sexual se coloca em toda a plenitude ao serviço da propagação da espécie passando a satisfação daqueles impulsos a só ter importância como preparo e estímulo do verdadeiro ato sexual De outro lado a escolha de objeto repele o autoerotismo de maneira que na vida erótica os componentes do instinto sexual só querem satisfazerse na pessoa amada Mas nem todos os componentes instintivos originários são admitidos a tomar parte nesta fixação definitiva da vida sexual Já antes da puberdade sob o influxo de educação certos impulsos são submetidos a repressões extremamente enérgicas ao mesmo passo que surgem forças mentais o pejo a repugnância a moral que como sentinelas mantêm as aludidas repressões Chegando na puberdade a maré das necessidades sexuais encontra nas mencionadas reações psíquicas diques de resistência que lhe conduzem a corrente pelos caminhos chamados normais e lhe impedem reviver os impulsos reprimidos Os mais profundamente atingidos pela repressão são primeiramente e sobretudo os prazeres infantis coprófilos isto é os que se relacionam com os excrementos e em segundo lugar os da fixação às pessoas da primitiva escolha de objeto Senhores Um princípio de patologia geral afirma que todo processo evolutivo traz em si os germes de uma disposição patológica e pode ser inibido ou retardado ou desenvolverse incompletamente Isto vale para o tão complicado desenvolvimento da função sexual que nem em todos os indivíduos se desenrola sem incidentes que deixem após si ou anormalidade ou disposições a doenças futuras por meio de uma regressão Pode suceder que nem todos os impulsos parciais se sujeitem à soberania da zona genital o que ficou independente estabelece o que chamamos perversão e pode substituir a finalidade sexual normal pela sua própria Segundo já foi dito acontece freqüentemente que o autoerotismo não seja completamente superado como testemunham as multiformes perturbações aparecidas depois A equivalência primitiva dos sexos como objeto sexual pode conservar se e disso se originará no adulto uma tendência homossexual capaz de chegar em certas circunstâncias até a da homossexualidade exclusiva Esta série de distúrbios corresponde a entraves diretos no desenvolvimento da função sexual abrange as perversões e o nada raro infantilismo geral da vida sexual A propensão à neurose deve provir por outra maneira de uma perturbação do desenvolvimento sexual As neuroses são para as perversões o que o negativo é para o positivo Como nas perversões evidenciamse nelas os mesmos componentes instintivos que mantêm os complexos e são os formadores de sintomas mas aqui eles agem do inconsciente onde puderam firmarse apesar da repressão sofrida A psicanálise nos mostra que a manifestação excessivamente intensa e prematura desses impulsos conduz a uma espécie de fixação parcial ponto fraco na estrutura da função sexual Se o exercício da capacidade genética normal encontra no adulto um obstáculo rompese a repressão da fase do desenvolvimento justamente naquele ponto em que se deu a fixação infantil É muito possível que me contestem dizendo que nada disto é sexualidade e que emprego a palavra num sentido mais extenso do que estão habituados a entender Concordo Mas podese perguntar se não têm antes utilizado os presentes o vocábulo em sentido nímio restrito quando o limitam ao terreno da procriação Sacrificam assim a compreensão das perversões do enlaçamento que existe entre estas a neurose e a vida sexual normal e os 26 senhores se colocam em situação de não reconhecer em seu verdadeiro significado os primórdios facilmente observáveis da vida erótica somática e psíquica das crianças Qualquer que seja a opinião dos presentes sobre o emprego do termo devem ter sempre em conta que o psicanalista considera a sexualidade naquele sentido amplo a que o conduziu a apreciação da sexualidade infantil Volvamos ainda uma vez à evolução sexual da criança Temos aqui ainda muito que rever porque nossa atenção foi dirigida mais para as manifestações somáticas da vida sexual do que às psíquicas A primitiva escolha de objeto feita pela criança e dependente de sua necessidade de amparo exigenos ainda toda a atenção Essa escolha dirigese primeiro a todas as pessoas que lidam com a criança e logo depois especialmente aos genitores A relação entre criança e pais não é como a observação direta do menino e posteriormente o exame psicanalítico do adulto concordemente demonstram absolutamente livre de elementos de excitação sexual A criança toma ambos os genitores e particularmente um deles como objeto de seus desejos eróticos Em geral o incitamento vem dos próprios pais cuja ternura possui o mais nítido caráter de atividade sexual embora inibido em suas finalidades O pai em regra tem preferência pela filha a mãe pelo filho a criança reage desejando o lugar do pai se é menino o da mãe se se trata da filha Os sentimentos nascidos destas relações entre pais e filhos e entre um irmão e outros não são somente de natureza positiva de ternura mas também negativos de hostilidade O complexo assim formado é destinado a pronta repressão porém continua a agir do inconsciente com intensidade e persistência Devemos declarar que suspeitamos represente ele com seus derivados o complexo nuclear de cada neurose e nos predispusemos a encontrálo não menos ativo em outros campos da vida mental O mito do rei Édipo que tendo matado o pai tomou a mãe por mulher é uma manifestação pouco modificada do desejo infantil contra o qual se levantam mais tarde como repulsa as barreiras do incesto O Hamlet de Shakespeare assenta sobre a mesma base embora mais velada do complexo do incesto No tempo em que é dominada pelo complexo central ainda não reprimido a criança dedica aos interesses sexuais notável parte da atividade intelectual Começa a indagar de onde vêm as criancinhas e com os dados a seu alcance adivinha das circunstâncias reais mais do que os adultos podem suspeitar Comumente o que lhe desperta a curiosidade é a ameaça material do aparecimento de um novo irmãozinho no qual a princípio só vê um competidor Sob a influência dos impulsos parciais que nela agem forma até numerosas teorias sexuais infantis Chega a pensar que ambos os sexos possuem órgãos genitais masculinos que comendo é que se geram crianças que estas vêm ao mundo pela extremidade dos intestinos que a cópula é um ato de hostilidade uma espécie de subjugação Mas justamente a falta de acabamento de sua constituição sexual e a deficiência de conhecimentos especialmente no que se refere ao tubo genital feminino forçam o pequeno investigador a suspender o improfícuo trabalho O próprio fato dessa investigação e as conseqüentes teorias sexuais infantis são de importância determinante para a formação do caráter da criança e do conteúdo da neurose futura É absolutamente normal e inevitável que a criança faça dos pais o objeto da primeira escolha amorosa Porém a libido não permanece fixa neste primeiro objeto posteriormente o tomará apenas como modelo passando dele para pessoas estranhas na ocasião da escolha definitiva Desprender dos pais a criança tornase portanto uma obrigação inelutável sob pena de graves ameaças para a função social do jovem Durante o tempo em que a repressão promove a seleção entre os impulsos parciais de ordem sexual e mais tarde quando a influência dos pais principal fator da repressão deve abrandar cabem no 27 trabalho educativo importantes deveres que atualmente por certo nem sempre são preenchidos de modo inteligente e livre de críticas Senhoras e senhores Não julguem que com esta dissertação acerca da vida sexual infantil e do desenvolvimento psicossexual da criança nos tenhamos afastado da psicanálise e da terapêutica das perturbações nervosas Se quiserem podem definir o tratamento psicanalítico como simples aperfeiçoamento educativo destinado a vencer os resíduos infantis QUINTA LIÇÃO SENHORAS E SENHORES Com o descobrimento da sexualidade infantil e atribuindo aos componentes eróticos instintivos os sintomas das neuroses chegamos a algumas fórmulas inesperadas sobre a natureza e tendência destas últimas Vemos que os indivíduos adoecem quando por obstáculos exteriores ou ausência de adaptação interna lhes falta na realidade a satisfação das necessidades sexuais Observamos que então se refugiam na moléstia para com o auxílio dela encontrar uma satisfação substitutiva Reconhecemos que os sintomas mórbidos contêm certa parcela da atividade sexual do indivíduo ou sua vida sexual inteira No distanciar da realidade reconhecemos também a tendência principal e ao mesmo tempo o dano capital do estado patológico Conjecturamos que a resistência oposta pelos doentes à cura não seja simples mas composta de vários elementos Não somente o ego do doente se recusa a desfazer a repressão por meio da qual se esquivou de suas disposições originárias como também pode o instinto sexual não renunciar à satisfação vicariante enquanto houver dúvida de que a realidade lhe ofereça algo melhor A fuga da realidade insatisfatória para aquilo que pelos danos biológicos que produz chamamos doença não deixa jamais de proporcionar ao doente um prazer imediato ela se dá pelo caminho da regressão às primeiras fases da vida sexual a que na época própria não faltou satisfação Esta regressão mostrase sob dois aspectos temporal porque a libido na necessidade erótica volta a fixarse aos mais remotos estados evolutivos e formal porque emprega os meios psíquicos originários e primitivos para manifestação da mesma necessidade Sob ambos os aspectos a regressão orientase para a infância restabelecendo um estado infantil da vida sexual Quanto mais profundamente penetrarlhes a patogênese das afecções nervosas mais claramente verão os liames entre as neuroses e outras produções da vida mental do homem ainda as mais altamente apreciadas Hão de notar que nós os homens com as elevadas aspirações de nossa cultura e sob a pressão das íntimas repressões achamos a realidade de todo insatisfatória e por isso mantemos uma vida de fantasia onde nos comprazemos em compensar as deficiências da realidade engendrando realizações de desejos Nestas fantasias há muito da própria natureza constitucional da personalidade e muito dos sentimentos reprimidos O homem enérgico e vencedor é aquele que pelo próprio esforço consegue transformar em realidade seus castelos no ar Quando esse resultado não é atingido seja por oposição do mundo exterior seja por fraqueza do indivíduo este se desprende da realidade recolhendose aonde pode gozar isto é ao seu mundo de fantasia cujo conteúdo no caso de moléstia se transforma em sintoma Em certas condições favoráveis ainda lhe é possível encontrar outro caminho dessas fantasias para a realidade em vez de se alhear dela definitivamente pela regressão ao período infantil Quando a 28 pessoa inimizada com a realidade possui dotes artísticos psicologicamente ainda enigmáticos podem suas fantasias transmudarse não em sintomas senão em criações artísticas subtraise desse modo à neurose e reata as ligações com a realidade Cf Rank 1907 Quando com a revolta perpétua contra o mundo real faltam ou são insuficientes esses preciosos dons é absolutamente inevitável que a libido seguindo a origem da fantasia chegue ao reavivamento dos desejos infantis e com isso à neurose representante em nossos dias do claustro aonde costumavam recolherse todas as pessoas desiludidas da vida ou que se sentiam fracas demais para viver Sejame lícito referir neste ponto o que de mais importante pudemos conseguir pelo estudo psicanalítico dos nervosos e vem a ser que as neuroses não têm um conteúdo psíquico que como privilégio deles não se possa encontrar nos sãos segundo expressou C G Jung aqueles adoecem pelos mesmos complexos com que lutamos nós os que temos saúde perfeita Conforme as circunstâncias de quantidade e da proporção entre as forças em choque será o resultado da luta a saúde a neurose ou a sublimação compensadora Senhoras e senhores Não lhes falei até agora sobre a experiência mais importante que vem confirmar nossa suposição acerca das forças instintivas sexuais da neurose Todas as vezes que tratamos psicanaliticamente um paciente neurótico surge nele o estranho fenômeno chamado transferência isto é o doente consagra ao médico uma série de sentimentos afetuosos mesclados muitas vezes de hostilidade não justificados em relações reais e que pelas suas particularidades devem provir de antigas fantasias tornadas inconscientes Aquele trecho da vida sentimental cuja lembrança já não pode evocar o paciente torna a vivêlo nas relações com o médico e só por este ressurgimento na transferência é que o doente se convence da existência e do poder desses sentimentos sexuais inconscientes Os sintomas para usar uma comparação química são os precipitados de anteriores eventos amorosos no mais amplo sentido que só na elevada temperatura da transferência podem dissolverse e transformarse em outros produtos psíquicos O médico desempenha nesta reação conforme a excelente expressão de Ferenczi 1909 o papel de fermento catalítico que atrai para si temporariamente a energia afetiva aos poucos libertada durante o processo O estudo da transferência pode darlhes ainda a chave para compreenderem a sugestão hipnótica de que a princípio nos servimos como meio técnico de esquadrinhar o inconsciente dos doentes Naquela época o hipnotismo revelavase um meio terapêutico mas constituía ao mesmo tempo um empecilho ao conhecimento científico da questão removendo as resistências psíquicas de um certo território para amontoálas como muralha intransponível nos confins do mesmo Não pensem além disso que o fenômeno da transferência a respeito do qual infelizmente pouco posso dizer aqui seja produzido pela influência da psicanálise A transferência surge espontaneamente em todas as relações humanas e de igual modo nas que o doente entretém com o médico é ela em geral o verdadeiro veículo da ação terapêutica agindo tanto mais fortemente quanto menos se pensa em sua existência A psicanálise portanto não a cria apenas a desvenda à consciência e dela se apossa a fim de encaminhála ao termo desejado Não posso certamente deixar o assunto da transferência sem frisar que este fenômeno é decisivo não só para o convencimento do doente mas também do médico Sei que todos os meus adeptos só pela experiência própria sobre a transferência se convenceram da exatidão das minhas afirmações referentes à patogênese das neuroses posso perfeitamente compreender que ninguém alcance um modo de julgar tão seguro enquanto não se faça psicanalista e não observe dessa maneira a ação da transferência 29 Senhoras e senhores Do ponto de vista intelectual devemos levar em conta julgo eu que existem especialmente dois obstáculos dignos de nota contra a aceitação das idéias psicanalíticas primeiramente a falta de hábito de contar com o rigoroso determinismo da vida mental o qual não conhece exceção e em segundo lugar o desconhecimento das singularidades pelas quais os processos mentais inconscientes se diferenciam dos conscientes que nos são familiares Uma das formas de oposição mais espalhadas contra o emprego da psicanálise tanto em doentes como em sãos se liga ao último desses dois fatores Temese que ela faça mal temse medo de chamar à consciência do doente os impulsos sexuais reprimidos como se lhe oferecessem então o perigo de aniquilar as mais altas aspirações morais e o privassem das conquistas da civilização Notase que o doente apresenta feridas na vida psíquica mas receiase tocar nelas para não aumentar os sofrimentos Podemos aceitar esta analogia Não devemos com efeito tocar em pontos doentes quando estamos certos de que com isso só provocamos dor e nada mais Todos sabem porém que o cirurgião não deixa de examinar palpando o foco da moléstia quando tem em vista realizar uma operação que há de proporcionar a cura completa Ninguém pensa já em incriminálo pelos inevitáveis incômodos do exame nem pelos fenômenos pós operatórios desde que a operação tenha bom êxito e que mediante a agravação passageira do mal o doente alcance a definitiva supressão do estado mórbido Em relação à psicanálise as condições são semelhantes pode ela reivindicar os mesmos direitos que a cirurgia a exasperação dos incômodos que impõe ao doente durante o tratamento é uma vez observada a boa técnica incomparavelmente menor que a infligida pelo cirurgião e em geral nem deve ser tomada em consideração diante da gravidade da moléstia principal A destruição do caráter civilizado pelos impulsos instintivos libertados da repressão é um desfecho temido mas absolutamente impossível É que este temor não leva em conta o que a nossa experiência nos ensinou com toda segurança que o poder mental e somático de um desejo desde que se baldou a respectiva repressão se manifesta com muito mais força quando inconsciente do que quando consciente indo para a consciência só se pode enfraquecer O desejo inconsciente escapa a qualquer influência é independente das tendências contrárias ao passo que o consciente é atalhado por tudo quando igualmente consciente se lhe opuser O tratamento psicanalítico colocase assim como o melhor substituto da repressão fracassada justamente em prol das aspirações mais altas e valiosas da civilização Que acontece geralmente com os desejos inconscientes libertados pela psicanálise e quais os meios por cujo intermédio pretendemos tornálos inofensivos à vida do indivíduo Desses meios há vários O resultado mais freqüente é que os mesmos desejos já durante o tratamento são anulados pela ação mental bem conduzida dos melhores sentimentos contrários A repressão é substituída pelo julgamento de condenação efetuado com recursos superiores Isso é possível porque quase sempre temos de remover tãosomente conseqüências de estados evolutivos anteriores do ego Como o indivíduo na época se achava ainda incompletamente organizado não pôde senão reprimir o instinto inutilizável mas na força e madureza de hoje pode talvez dominar perfeitamente aquilo que lhe é hostil Outro desfecho do tratamento psicanalítico é que os impulsos inconscientes ora descobertos passam a ter a utilização conveniente que deviam ter encontrado antes se a evolução não tivesse sido perturbada A extirpação radical dos desejos infantis não é absolutamente o fim ideal Por causa das repressões o neurótico perdeu muitas fontes de energia mental que lhe teriam sido de grande valor na formação do caráter e na luta pela vida Conhecemos uma solução muito mais conveniente a chamada sublimação pela qual 30 a energia dos desejos infantis não se anula mas ao contrário permanece utilizável substituindose o alvo de algumas tendências por outro mais elevado quiçá não mais de ordem sexual Exatamente os componentes do instinto sexual se caracterizam por essa faculdade de sublimação de permutar o fim sexual por outro mais distante e de maior valor social Ao reforço de energia para nossas funções mentais por essa maneira obtido devemos provavelmente as maiores conquistas da civilização A repressão prematura exclui a sublimação do instinto reprimido desfeito aquele está novamente livre o caminho para a sublimação Não devemos deixar de contemplar também o terceiro dos possíveis desenlaces do tratamento psicanalítico Certa parte dos desejos libidinais reprimidos faz jus à satisfação direta e deve alcançála na vida As exigências da sociedade tornam o viver dificílimo para a maioria das criaturas humanas forçandoas com isso a se afastarem da realidade e dando origem às neuroses sem que o excesso de coerção sexual traga maiores benefícios à coletividade Não devemos ensoberbecernos tanto a ponto de perder completamente de vista nossa natureza animal nem esquecer tampouco que a felicidade individual não deve ser negada pela civilização A plasticidade dos componentes sexuais manifesta na capacidade de sublimaremse pode ser uma grande tentação a conquistarmos maiores frutos para a sociedade por intermédio da sublimação contínua e cada vez mais intensa Mas assim como não contamos transformar em trabalho senão parte do calor empregado em nossas máquinas de igual modo não devemos esforçarnos em desviar a totalidade da energia do instinto sexual da sua finalidade própria Nem o conseguiríamos E se o cerceamento da sexualidade for exagerado trará consigo todos os danos duma exploração abusiva Não sei se da parte dos senhores considerarão como presunção minha a admoestação com que concluo Atrevome apenas a representar indiretamente a convicção que tenho narrandolhes uma anedota já antiga cuja moralidade os senhores mesmo apreciarão A literatura alemã conhece um vilarejo chamado Schilda de cujos habitantes se contam todas as espertezas possíveis Dizem que possuíam eles um cavalo com cuja força e trabalho estavam satisfeitíssimos Uma só coisa lamentavam consumia aveia demais e esta era cara Resolveram tirálo pouco a pouco desse mau costume diminuindo a ração de alguns grãos diarimente até acostumálo à abstinência completa Durante certo tempo tudo correu magnificamente o cavalo já estava comendo apenas um grãozinho e no dia seguinte devia finalmente trabalhar sem alimento algum No outro dia amanheceu morto o pérfido animal e os cidadãos de Schilda não sabiam explicar por que Nós nos inclinaremos a crer que o cavalo morreu de fome e que sem certa ração de aveia não podemos esperar em geral trabalho de animal algum Pelo convite e pela atenção com que me honraram os meus agradecimentos PRIMEIRA LIÇÃO A apresentação feita por Sigmund Freud começa com uma reflexão sobre a novidade e o embaraço que ele sente ao se apresentar como um conferencista principalmente em direção de um público interessado na psicanálise com a qual ele ainda se identifica Freud verifica que seu nome está assentado sobre a psicanálise no entanto não foi ele quem a iniciou foi iniciada pelo médico vienense Joseph Breuer que tratou uma paciente jovem com histeria por meio da criação de um novo tratamento a partir do então recente e ainda em construção método psicanalítico que ficou conhecido como cura pela fala ou cura podcast A paciente de Breueratrás não possuiu paralisias dificuldades de fala e estados de confusão mental Ao hipnotizála descobriu que os sintomas estavam relacionados a retornos de experiências traumáticas afetivas traumas psíquicos que geram sintomas tal como incapacidade para beber água por efeito de um experimento afetivo com uma mulher e seu cachorro que foi um trauma ou seja se de um lado a paciente revivesse as suas experiências em hipnose traria para uma efervescência temporária os seus sintomas histéricos Freud vai à frente explicando que os sintomas histéricos são retornos de memórias de experiências emocionais intensas com uma natureza muitas e muitas vezes reprimida com sintomas físicos O tratamento consistiria em retornar tais experiências à maneira catastrófica trazer à tona as pessoas reprimidas Freud afirma que a análise psicanalítica demonstra que as neuroses e a histeria decorrem da fixação emocional no passado constituindo um impedimento para a pessoa viver plenamente no presente Ele conclui que o tratamento para esses transtornos é realizado através da conscientização dos traumas recalcados ou reprimidos o que possibilita ao paciente liberar as emoções de maneira adequada e restabelecer o seu equilíbrio psíquico Esta exposição é um marco da apresentação inicial do método psicanalítico e elucida a importância do inconsciente e das emoções reprimidas na formação dos sintomas psíquicos e físicos SEGUNDA LIÇÃO O presente texto é parte de uma exposição de Sigmund Freud sobre o desenvolvimento da teoria psicanalítica da histeria e do mecanismo da repressão Freud faz inicialmente referência ao trabalho realizado por JeanMartin Charcot em Paris no âmbito da histeria e a sua influência na investigação em Viena no tratamento da histeria realizada por Freud e Josef Breuer Da prática terapêutica Freud observou a importância das memórias indiferentes e dos conflitos dentro do sujeito para a concepção de doença Freud rejeita a concepção de Pierre Janet de que a histeria é secundária à incapacidade inata do sistema nervoso de incorporar as experiências psíquicas Para Freud a histeria é secundária aos conflitos psíquicos internos em que um desejo intolerável ou nãocoincidente com o eu da pessoa é reprimido O processo de repressão funciona da seguinte maneira o desejo ou lembrança indesejada é expulsa do nível da consciência mas permanece no inconsciente e vai gerar os sintomas encontrados na histeria O conceito de resistência ocupa um lugar central na psicanálise freudiana A resistência é a força que impede que o material reprimido retorne à consciência e para que ocorra a cura é necessário vencer a resistência Freud descreve a partir da sua prática A solução pode envolver a aceitação do desejo reprimido dele mesmo a sublimação desse mesmo desejo em outro mais socialmente aceito ou a negação do desejo tendo por suporte as funções mentais superiores Por fim Freud reconhece que a explicação definitiva a respeito dos fenômenos psíquicos da histeria e da repressão ainda está em trabalho e se compromete a dar continuidade aos seus trabalhos com o objetivo de conduzir a cabo a teoria psicanalítica TERCEIRA LIÇÃO O texto trata de alguns conceitos básicos da psicanálise com ênfase em associação livre e uso deste para a decifração do inconsciente Freud inicia corrigindo uma afirmação contida em uma conferência anterior em que ele sustentou que na maioria dos casos bastava a pressão para o paciente lembrarse de um conteúdo esquecido O autor admite que este processo num certo sentido não é válido uma vez que as resistências mentais podem gerar pensamentos distorcidos O verdadeiro encontro com a resistência seria aquele que impede o acesso ao material reprimido Para acessálo é preciso um esforço constante Freud recorre para isso ao conceito de complexo uma constelação de ideias e sentimentos interligados com energia de afeto os quais podem ser descobertos através de associações livres Ao permitir que o paciente diga tudo o que lhe venha à mente sem censura poderá mostrarse e descobrirse as marcas dos complexos reprimidos mas os pacientes em geral retêm os pensamentos devido à resistência inconsciente o que exige uma atenção especial A técnica de associação livre é semelhante ao trabalho de um químico que ao analisar os sintomas e suas associações é capaz de extrair da mente do paciente os elementos reprimidos de sua mente Freud ainda menciona a interpretação de sonhos que considera uma das ferramentas mais poderosas para acessar o inconsciente sugerindo que os sonhos são uma forma de satisfação de desejos reprimidos embora disfarçados Outro fenômeno importante são os atos falhos lapsos de linguagem esquecimentos ou ações inconscientes que podem evidenciar desejos ocultos Lutamos pelo poder ou pelo prazer e os atos falhos banalizados como um erro são importantes para a psicanálise pois mostram o oculto atrás da máscara da consciência F reud conclui ressaltando que o inconsciente deveria ser investigado cientificamente sem insinuações de explicação mística ou superficial e que a psicanálise é um recurso que investiga o material reprimido oferecendo um melhor entendimento dos conflitos e da origem dos sintomas A técnica da psicanálise é complexa e exige rigor mas é essencial para produzir resultados exatos e positivos nos tratamentos dos distúrbios psíquicos O autor ainda se posiciona contra as críticas que pessoas que nunca tiveram experiência prática na psicanálise fazem de forma a negar o seu valor e as compara contra qualquer resistência do ser humano a aceitar novas verdades sobre o inconsciente sendo essa resistência natural pois cada um tem seus complexos inconscientes a enfrentar QUARTA LIÇÃO O texto é uma imagem de Sigmund Freud em que expõe as suas descobertas sobre sexualidade infantil psicanálise e a relação destes fatores com as neuroses Para Freud quando se investiga para descobrir a origem dos sintomas das doenças neuróticas pela psicanálise encontrase a relação mais surpreendente entre estes sintomas e a vivência erótica dos pacientes especialmente com seus desejos sexuais que são desviados Segundo Freud os distúrbios do erotismo desempenham um papel fundamental nas doenças psíquicas ao passo que as influências sexuais têm importância maior do que as outras excitações mentais Freud discorre também sobre a sexualidade infantil no sentido de refutar a concepção de que a criança não possui instinto sexual Ele mostra que a criança tem uma sexualidade desde o início complexa manifestandoa com o autoerotismo e escolha de objetos envolvendo figuras parentais O efeito da repressão desses impulsos em desenvolvimento é levar a perturbações psíquicas e talvez neuroses no futuro A tese central de Freud é que os desejos infantis reprimidos que envolvem tanto o prazer quanto a escolha do objeto sexual são fundamentais para o desenvolvimento das neuroses na vida adulta e ao trazer estes desejos reprimidos à consciência a psicanálise é um dos caminhos para a cura e para o entendimento QUINTA LIÇÃO Freud começa seu discurso comentando sobre a descoberta da sexualidade infantil e como os sintomas das neuroses se devem a componentes eróticos instintivos Ele aponta que as pessoas adoecem quando não podem satisfazer suas necessidades sexuais e às vezes como resposta a isso buscam uma satisfação substitutiva através dos sintomas patológicos Freud menciona a conexão entre a realidade insatisfatória e o adoecimento psíquico sugerindo que a regressão à infância age como um modo de fuga da realidade na qual os sintomas se relacionam a necessidades eróticas insatisfeitas Ele também ressalta que a regressão poderia ocorrer de duas formas a primeira a regressão pode ser temporal quando a libido volta para épocas iniciais da vida sexual a segunda forma de regressão a regressão formal quando um indivíduo utiliza meios psíquicos primitivos para lidar com suas necessidades eróticas Freud compara as neuroses às fantasias afirmando que quando as pessoas sentem que a realidade não as satisfaz elas criam mundos de fantasia que visam compensar por suas deficiências Contudo se esses mundos de fantasia não se realizarem existe o risco de cair na regressão levando o indivíduo a retornar a um estado infantil o que então produz a neurose Freud ainda esclarece que as neuroses não contêm conteúdos psíquicos exclusivamente dos doentes mas atémse aos mesmos complexos que as pessoas normais ocupam De acordo com Freud a transferência possibilita um acesso a estes sentimentos recalcados constituindose como um instrumento fundamental da terapia Dessa forma a transferência não teria sido criada pela psicanálise mas é o que se revela constitutiva do próprio processo terapêutico Freud aceita ainda existir dois principais obstáculos ao reconhecimento da psicanálise o determinismo estrito da vida mental e a dificuldade de compreensão sobre como os processos inconscientes se diferenciam de seus equivalentes conscientes Além disso ele enfrenta ainda objeções a respeito da periculosidade em se liberar os impulsos sexuais reprimidos este de fato afirma que assim como no caso de uma operação cirúrgica em que a doença é tratada o tratamento destas questões poderia causar dor de maneira temporária mas levaria à cura em longo prazo a psicanálise dessa forma se apresentaria como uma variante mais eficiente e menos prejudicial do que a própria repressão Quando os desejos inconscientes reprimidos são trazidos para a consciência podese notar um emagrecimento de sua eficácia e um maior domínio sobre eles A psicanálise não tem o objetivo de simplesmente cancelar os desejos mas permitir a estes sua transformação em manifestações mais adequadas à realidade valendo se deste processo denominado por sublimação em que os impulsos sexuais se dirigem para objetivos mais profundos e socialmente aceitos como a criação artística ou a realização de uma profissão Essa transformação da energia sexual em outras formas de expressão é vista como uma das chaves para as conquistas culturais e sociais Freud também discute o risco de um excesso de repressão onde o indivíduo seria privado de suas fontes de energia psíquica necessárias para o desenvolvimento pessoal A sublimação então se apresenta como um meio saudável de canalizar essa energia evitando os danos da repressão excessiva No entanto ele alerta que é importante não tentar reprimir toda a energia do instinto sexual pois isso traria danos significativos à saúde mental PRIMEIRA LIÇÃO A apresentação feita por Sigmund Freud começa com uma reflexão sobre a novidade e o embaraço que ele sente ao se apresentar como um conferencista principalmente em direção de um público interessado na psicanálise com a qual ele ainda se identifica Freud verifica que seu nome está assentado sobre a psicanálise no entanto não foi ele quem a iniciou foi iniciada pelo médico vienense Joseph Breuer que tratou uma paciente jovem com histeria por meio da criação de um novo tratamento a partir do então recente e ainda em construção método psicanalítico que ficou conhecido como cura pela fala ou cura podcast A paciente de Breueratrás não possuiu paralisias dificuldades de fala e estados de confusão mental Ao hipnotizála descobriu que os sintomas estavam relacionados a retornos de experiências traumáticas afetivas traumas psíquicos que geram sintomas tal como incapacidade para beber água por efeito de um experimento afetivo com uma mulher e seu cachorro que foi um trauma ou seja se de um lado a paciente revivesse as suas experiências em hipnose traria para uma efervescência temporária os seus sintomas histéricos Freud vai à frente explicando que os sintomas histéricos são retornos de memórias de experiências emocionais intensas com uma natureza muitas e muitas vezes reprimida com sintomas físicos O tratamento consistiria em retornar tais experiências à maneira catastrófica trazer à tona as pessoas reprimidas Freud afirma que a análise psicanalítica demonstra que as neuroses e a histeria decorrem da fixação emocional no passado constituindo um impedimento para a pessoa viver plenamente no presente Ele conclui que o tratamento para esses transtornos é realizado através da conscientização dos traumas recalcados ou reprimidos o que possibilita ao paciente liberar as emoções de maneira adequada e restabelecer o seu equilíbrio psíquico Esta exposição é um marco da apresentação inicial do método psicanalítico e elucida a importância do inconsciente e das emoções reprimidas na formação dos sintomas psíquicos e físicos SEGUNDA LIÇÃO O presente texto é parte de uma exposição de Sigmund Freud sobre o desenvolvimento da teoria psicanalítica da histeria e do mecanismo da repressão Freud faz inicialmente referência ao trabalho realizado por JeanMartin Charcot em Paris no âmbito da histeria e a sua influência na investigação em Viena no tratamento da histeria realizada por Freud e Josef Breuer Da prática terapêutica Freud observou a importância das memórias indiferentes e dos conflitos dentro do sujeito para a concepção de doença Freud rejeita a concepção de Pierre Janet de que a histeria é secundária à incapacidade inata do sistema nervoso de incorporar as experiências psíquicas Para Freud a histeria é secundária aos conflitos psíquicos internos em que um desejo intolerável ou nãocoincidente com o eu da pessoa é reprimido O processo de repressão funciona da seguinte maneira o desejo ou lembrança indesejada é expulsa do nível da consciência mas permanece no inconsciente e vai gerar os sintomas encontrados na histeria O conceito de resistência ocupa um lugar central na psicanálise freudiana A resistência é a força que impede que o material reprimido retorne à consciência e para que ocorra a cura é necessário vencer a resistência Freud descreve a partir da sua prática A solução pode envolver a aceitação do desejo reprimido dele mesmo a sublimação desse mesmo desejo em outro mais socialmente aceito ou a negação do desejo tendo por suporte as funções mentais superiores Por fim Freud reconhece que a explicação definitiva a respeito dos fenômenos psíquicos da histeria e da repressão ainda está em trabalho e se compromete a dar continuidade aos seus trabalhos com o objetivo de conduzir a cabo a teoria psicanalítica TERCEIRA LIÇÃO O texto trata de alguns conceitos básicos da psicanálise com ênfase em associação livre e uso deste para a decifração do inconsciente Freud inicia corrigindo uma afirmação contida em uma conferência anterior em que ele sustentou que na maioria dos casos bastava a pressão para o paciente lembrarse de um conteúdo esquecido O autor admite que este processo num certo sentido não é válido uma vez que as resistências mentais podem gerar pensamentos distorcidos O verdadeiro encontro com a resistência seria aquele que impede o acesso ao material reprimido Para acessálo é preciso um esforço constante Freud recorre para isso ao conceito de complexo uma constelação de ideias e sentimentos interligados com energia de afeto os quais podem ser descobertos através de associações livres Ao permitir que o paciente diga tudo o que lhe venha à mente sem censura poderá mostrarse e descobrirse as marcas dos complexos reprimidos mas os pacientes em geral retêm os pensamentos devido à resistência inconsciente o que exige uma atenção especial A técnica de associação livre é semelhante ao trabalho de um químico que ao analisar os sintomas e suas associações é capaz de extrair da mente do paciente os elementos reprimidos de sua mente Freud ainda menciona a interpretação de sonhos que considera uma das ferramentas mais poderosas para acessar o inconsciente sugerindo que os sonhos são uma forma de satisfação de desejos reprimidos embora disfarçados Outro fenômeno importante são os atos falhos lapsos de linguagem esquecimentos ou ações inconscientes que podem evidenciar desejos ocultos Lutamos pelo poder ou pelo prazer e os atos falhos banalizados como um erro são importantes para a psicanálise pois mostram o oculto atrás da máscara da consciência F reud conclui ressaltando que o inconsciente deveria ser investigado cientificamente sem insinuações de explicação mística ou superficial e que a psicanálise é um recurso que investiga o material reprimido oferecendo um melhor entendimento dos conflitos e da origem dos sintomas A técnica da psicanálise é complexa e exige rigor mas é essencial para produzir resultados exatos e positivos nos tratamentos dos distúrbios psíquicos O autor ainda se posiciona contra as críticas que pessoas que nunca tiveram experiência prática na psicanálise fazem de forma a negar o seu valor e as compara contra qualquer resistência do ser humano a aceitar novas verdades sobre o inconsciente sendo essa resistência natural pois cada um tem seus complexos inconscientes a enfrentar QUARTA LIÇÃO O texto é uma imagem de Sigmund Freud em que expõe as suas descobertas sobre sexualidade infantil psicanálise e a relação destes fatores com as neuroses Para Freud quando se investiga para descobrir a origem dos sintomas das doenças neuróticas pela psicanálise encontrase a relação mais surpreendente entre estes sintomas e a vivência erótica dos pacientes especialmente com seus desejos sexuais que são desviados Segundo Freud os distúrbios do erotismo desempenham um papel fundamental nas doenças psíquicas ao passo que as influências sexuais têm importância maior do que as outras excitações mentais Freud discorre também sobre a sexualidade infantil no sentido de refutar a concepção de que a criança não possui instinto sexual Ele mostra que a criança tem uma sexualidade desde o início complexa manifestandoa com o autoerotismo e escolha de objetos envolvendo figuras parentais O efeito da repressão desses impulsos em desenvolvimento é levar a perturbações psíquicas e talvez neuroses no futuro A tese central de Freud é que os desejos infantis reprimidos que envolvem tanto o prazer quanto a escolha do objeto sexual são fundamentais para o desenvolvimento das neuroses na vida adulta e ao trazer estes desejos reprimidos à consciência a psicanálise é um dos caminhos para a cura e para o entendimento QUINTA LIÇÃO Freud começa seu discurso comentando sobre a descoberta da sexualidade infantil e como os sintomas das neuroses se devem a componentes eróticos instintivos Ele aponta que as pessoas adoecem quando não podem satisfazer suas necessidades sexuais e às vezes como resposta a isso buscam uma satisfação substitutiva através dos sintomas patológicos Freud menciona a conexão entre a realidade insatisfatória e o adoecimento psíquico sugerindo que a regressão à infância age como um modo de fuga da realidade na qual os sintomas se relacionam a necessidades eróticas insatisfeitas Ele também ressalta que a regressão poderia ocorrer de duas formas a primeira a regressão pode ser temporal quando a libido volta para épocas iniciais da vida sexual a segunda forma de regressão a regressão formal quando um indivíduo utiliza meios psíquicos primitivos para lidar com suas necessidades eróticas Freud compara as neuroses às fantasias afirmando que quando as pessoas sentem que a realidade não as satisfaz elas criam mundos de fantasia que visam compensar por suas deficiências Contudo se esses mundos de fantasia não se realizarem existe o risco de cair na regressão levando o indivíduo a retornar a um estado infantil o que então produz a neurose Freud ainda esclarece que as neuroses não contêm conteúdos psíquicos exclusivamente dos doentes mas atémse aos mesmos complexos que as pessoas normais ocupam De acordo com Freud a transferência possibilita um acesso a estes sentimentos recalcados constituindose como um instrumento fundamental da terapia Dessa forma a transferência não teria sido criada pela psicanálise mas é o que se revela constitutiva do próprio processo terapêutico Freud aceita ainda existir dois principais obstáculos ao reconhecimento da psicanálise o determinismo estrito da vida mental e a dificuldade de compreensão sobre como os processos inconscientes se diferenciam de seus equivalentes conscientes Além disso ele enfrenta ainda objeções a respeito da periculosidade em se liberar os impulsos sexuais reprimidos este de fato afirma que assim como no caso de uma operação cirúrgica em que a doença é tratada o tratamento destas questões poderia causar dor de maneira temporária mas levaria à cura em longo prazo a psicanálise dessa forma se apresentaria como uma variante mais eficiente e menos prejudicial do que a própria repressão Quando os desejos inconscientes reprimidos são trazidos para a consciência podese notar um emagrecimento de sua eficácia e um maior domínio sobre eles A psicanálise não tem o objetivo de simplesmente cancelar os desejos mas permitir a estes sua transformação em manifestações mais adequadas à realidade valendose deste processo denominado por sublimação em que os impulsos sexuais se dirigem para objetivos mais profundos e socialmente aceitos como a criação artística ou a realização de uma profissão Essa transformação da energia sexual em outras formas de expressão é vista como uma das chaves para as conquistas culturais e sociais Freud também discute o risco de um excesso de repressão onde o indivíduo seria privado de suas fontes de energia psíquica necessárias para o desenvolvimento pessoal A sublimação então se apresenta como um meio saudável de canalizar essa energia evitando os danos da repressão excessiva No entanto ele alerta que é importante não tentar reprimir toda a energia do instinto sexual pois isso traria danos significativos à saúde mental
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1 CINCO LIÇÕES DE PSICANÁLISE 1910 1909 NOTA DO EDITOR INGLÊS JAMES STRACHEY ÜBER PSYCHOANALYSE a EDIÇÕES ALEMÃS 1910 Leipzig e Viena Deuticke P 62 2ª ed 1912 3ª ed 1916 4ª ed 1919 5ª ed 1920 6ª ed 1922 7ª ed 1924 8ª ed 1930 todas sem modificações 1924 GS 4 349406 Ligeiramente modificada 1943 GW 8 360 Não modificada da GS b TRADUÇÃO INGLESA The Origin and Development of Psychoanalysis 1910 Am J Psychol 21 2 e 3 181218 Tr H W Chase 1910 Em Lectures and Addresses Delivered before the Departments of Psychology and Pedagogy in Celebration of the Twentieth Anniversary of the Opening of Clark University Worcester Mass Parte I pp 138 Reimpressão da acima mencionada 1924 Em An Outline of Psychoanalysis ed Van Teslaar Nova Iorque Boni and Liveright Pp 2170 Reedição da acima mencionada A presente tradução inglesa inteiramente nova com o título diferente de Five Lectures on PsychoAnalysis é de James Strachey Em 1909 a Clark University Worcester Massachusetts comemorou o vigésimo ano de sua fundação e seu presidente o Dr G Stanley Hall convidou Freud e alguns de seus principais seguidores C G Jung S Ferenczi Ernest Jones e A A Brill para participarem das celebrações e receberem graus honoríficos Foi em dezembro de 1908 que Freud recebeu pela primeira vez o convite mas foi somente no outono seguinte que esse convite se concretizou tendo as cinco conferências de Freud sido pronunciadas na segundafeira 6 de setembro de 1909 e nos quatro dias subseqüentes Isto conforme declarou o próprio Freud na ocasião foi o primeiro reconhecimento oficial da novel ciência havendo ele descrito em seu Autobiographical Study Estudo Autobiográfico 1925d Capítulo V como ao subir ao estrado para pronunciar suas conferências isso lhe pareceu a concretização de um incrível devaneio As conferências em alemão naturalmente foram de acordo com a prática quase universal de Freud pronunciadas de improviso e conforme nos informa o Dr Jones sem notas e depois de muito pouco preparo Foi somente depois de sua volta a Viena que ele foi induzido a contragosto a escrevêlas Esse trabalho somente foi concluído na segunda semana de dezembro mas sua memória verbal era tão boa que segundo nos assegura o Dr Jones a versão impressa não fugia muito da exposição original Sua primeira publicação foi feita numa tradução inglesa no American Journal of Psychology no início de 1910 mas o original em alemão apareceu pouco depois sob a forma de panfleto em Viena O trabalho tornouse popular e teve várias edições em nenhuma delas contudo houve qualquer alteração de substância salvo quanto à nota de rodapé acrescentada em 1923 bem no início aparecendo somente no Gesammelte Schriften e Gesammelte Werke nos 2 quais Freud retirou suas expressões de gratidão a Breuer Um exame da atitude modificada de Freud quanto a Breuer encontrarseá na Introdução do Editor a Studies on Hysteria Estudos sobre a Histeria Standard Ed 2 XXVI ss Durante toda sua carreira Freud sempre estava pronto a apresentar exposições de suas descobertas Já publicara ele alguns curtos relatos de psicanálise mas esse grupo de conferências foi o primeiro numa escala ampliada Essas exposições naturalmente variavam de dificuldade de acordo com o auditório para o qual se destinavam devendo essas ser consideradas como as mais simples mormente quando postas em confronto com a grande série de Introductory Lectures Conferências Introdutórias pronunciadas alguns anos depois 191617 Não obstante apesar de todos os acréscimos que iriam ser feitos à estrutura da psicanálise durante o próximo quartel de um século essas conferências ainda proporcionam admirável quadro preliminar que exige muito pouca correção E dão elas uma excelente idéia da facilidade e clareza de estilo e do irrestrito sentido de forma que tornou Freud um conferencista tão notável quanto à exposição Consideráveis trechos da tradução anterior 1910 deste trabalho foram incluídos na General Selection from the Works of Sigmund Freud Seleção Geral dos Trabalhos de Sigmund Freud de Rickman 1937 343 NOTA DO EDITOR BRASILEIRO A presente tradução brasileira diretamente do alemão é da autoria de Durval Marcondes Professor de Psicologia Clínica da Universidade de S Paulo e Presidente da Associação Brasileira de Psicanálise e de J Barbosa Corrêa Professor de Clínica Médica da Escola Paulista de Medicina Feita para a Companhia Editora Nacional data de 1931 Foi ligeiramente modificada por Jayme Salomão MembroAssociado da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro 3 Carta enviada por Sigmund Freud ao Professor Durval Marcondes agradecendo a primeira tradução brasileira de um de seus livros CINCO LIÇÕES DE PSICANÁLISE Pronunciadas por Ocasião das Comemorações do Vigésimo Aniversário da Fundação da CLARK UNIVERSITY WORCESTER MASSACHUSETTS Setembro de 1909 Ao DR G STANLEY HALL Ph D LL D Presidente da Clark University Professor de Psicologia e Pedagogia 4 Este Trabalho é Penhoradamente Dedicado PREFÁCIO PARA AS CINCO LIÇÕES DE PSICANÁLISE DE DURVAL MARCONDES As lições que se seguem foram pronunciadas em língua alemã por Freud em 1909 na Clark University em Worcester Estados Unidos por ocasião do vigésimo aniversário dessa instituição e a convite de seu presidente o eminente psicólogo Stanley Hall Elas constituem a primeira exposição sistemática que Freud fez de sua teoria e embora não envolvam as aquisições mais recentes da psicanálise são a meu ver a leitura mais apropriada para quem aborda pela primeira vez a obra do mestre A psicanálise estava longe de ter naquela época a importância e o renome que hoje desfruta Se é exato que já em 1907 ela era estudada e utilizada pelo notável psiquiatra Bleuler e por seus assistentes na clínica de Zurique e que já em 1908 se reunia em Salisburgo o primeiro congresso psicanalítico internacional nem por isso as novas idéias eram bem recebidas nas rodas científicas oficiais onde as afirmações sobre o papel da sexualidade na etiologia das neuroses esbarravam quase sempre com os preconceitos de uma falsa moral Daí a alta significação para a jovem doutrina teve a sua consagração na cátedra de Worcester Na Europa escreveu Freud eu me sentia como um proscrito ali me via acolhido pelos melhores como um igual A psicanálise não era mais portanto uma concepção delirante mas se tornara uma parte preciosa da realidade Freud nasceu em 6 de maio de 1856 em Freiberg na Morávia tendo passado aos quatro anos para Viena onde fez seus estudos Formouse em Medicina em 1881 Ainda estudante entrou em 1876 a trabalhar no laboratório de fisiologia de Ernst Brücke sob cuja direção efetuou pesquisas de histologia nervosa Depois de formado ingressou no serviço do grande psiquiatra Theodor Meynert tendose dedicado por essa época a estudos de neuroanatomia Antes de entregarse definitivamente à investigação psicanalítica publicou vários trabalhos sobre afecções orgânicas do sistema nervoso tais como as afasias e as encefalopatias infantis Entre 1885 e 1886 foi discípulo de Charcot em Paris e acompanhou em 1889 em Nancy as experiências de Bernheim sobre o hipnotismo A influência de ambos nas concepções iniciais da teoria psicanalítica poderá ser bem avaliada nestas Cinco Lições Essas concepções tiveram sua primeira expressão na nota prévia que Freud publicou em 1893 com o Dr Breuer intitulada Sobre o Mecanismo Psíquico dos Fenômenos Histéricos a que se seguiu em 1895 o livro também em colaboração Estudos Sobre a Histeria A vida de Freud tem sido toda ela uma luta incessante pela verdade Exposto pela sua coragem de afirmar ao anátema das escolas psiquiátricas dominantes preferiu suportar por muito tempo a dureza de um verdadeiro exílio intelectual a ceder naquilo que era o honesto resultado de sua investigação Desde o começo de sua carreira profissional o amor à certeza científica fêlo prejudicar deliberadamente a clínica em início pela tenacidade em pesquisar em seus doentes o exato determinismo dos sintomas Sua obra fundamentase na mais demorada e paciente observação dos fatos Há cerca de quarenta anos que ele se dedica diariamente a oito nove dez às vezes mesmo onze análises de uma hora cada uma podendose portanto dizer que passou toda uma existência debruçado sobre a alma 5 dos neuróticos O impiedoso rigor para com as próprias convicções chegou às vezes ao ponto de fazêlo adiar por vários anos a publicação de seus trabalhos até que a experiência ulterior proporcionasse a confirmação de suas descobertas Minha A Interpretação de Sonhos diz ele e meu Fragmento de uma Análise de um Caso de Histeria o caso de Dora foram retidos por mim se não pelos nove anos aconselhados por Horácio em todo caso por quatro ou cinco anos antes que me decidisse a publicálos Compreendese portanto que quem adquiriu uma visão nova dos fatos à custa de tão penosos sacrifícios se tenha recusado a mudar de idéia ante a pressão de uma crítica partidária que se não baseia na verificação objetiva Essa justificada intransigência de Freud foi não obstante tachada de dogmatismo o que não impede porém que novos dados da observação direta e imparcial confirmem e completem cada vez mais as suas conclusões Os homens são fortes enquanto representam uma idéia forte Em sua aureolada velhice Freud assiste presentemente ao triunfo gradual e seguro de seus princípios cujo enunciado já não constitui uma blasfêmia Eles conquistam paulatinamente o lugar que lhes cabe na ciência dos fenômenos espirituais e se vão tornando aceitos pelos mais legítimos representantes da psiquiatria moderna Existe na verdade quem insista em rejeitar as conseqüências teóricas da psicanálise sem lhe conhecer sequer os métodos Mas aos poucos irão chegando os últimos retardatários Quem sabe esperar não necessita fazer concessões São Paulo novembro de 1931 Durval Marcondes 6 PRIMEIRA LIÇÃO SENHORAS E SENHORES Constitui para mim sensação nova e embaraçosa apresentarme como conferencista ante um auditório de estudiosos do Novo Mundo Considerando que devo esta honra tão somente ao fato de estar meu nome ligado ao tema da psicanálise será esse por conseqüência o assunto de que lhes falarei tentando proporcionarlhes o mais sinteticamente possível uma visão de conjunto da história inicial e do ulterior desenvolvimento desse novo processo semiológico e terapêutico Se algum mérito existe em ter dado vida à psicanálise a mim não cabe pois não participei de suas origens Era ainda estudante e ocupavame com os meus últimos exames quando outro médico de Viena o Dr Joseph Breuer empregou pela primeira vez esse método no tratamento de uma jovem histérica 18801882 Ocupemonos pois primeiramente da história clínica e terapêutica desse caso a qual se acha minuciosamente descrita nos Studies on Hysteria Estudos Sobre a Histeria 1895d que mais tarde publicamos o Dr Breuer e eu Mas preliminarmente uma observação Vim a saber aliás com satisfação que a maioria de meus ouvintes não pertence à classe médica Não cuidem porém que seja necessária uma especial cultura médica para acompanhar minha exposição Caminharemos por algum tempo ao lado dos médicos mas logo deles nos apartaremos para seguir com o Dr Breuer uma rota absolutamente original A paciente do Dr Breuer uma jovem de 21 anos de altos dotes intelectuais manifestou no decurso de sua doença que durou mais de dois anos uma série de perturbações físicas e psíquicas mais ou menos graves Tinha uma paralisia espástica de ambas as extremidades do lado direito com anestesia sintoma que se estendia por vezes aos membros do lado oposto perturbações dos movimentos oculares e várias alterações da visão dificuldade em manter a cabeça erguida tosse nervosa intensa repugnância pelos alimentos e impossibilidade de beber durante várias semanas apesar de uma sede martirizante redução da faculdade de expressão verbal que chegou a impedila de falar ou entender a língua materna e finalmente estados de absence ausência de confusão de delírio e de alteração total da personalidade aos quais voltaremos mais adiante a nossa atenção Ao terem notícia de semelhante quadro mórbido os senhores tenderão mesmo não sendo médicos a supor que se trate de uma doença grave provavelmente do cérebro com poucas esperanças de cura e que levará rapidamente o enfermo a um desenlace fatal Os médicos podem entretanto assegurarlhes que numa série de casos com fenômenos da mesma gravidade justificase outra opinião muito mais favorável Quando tal quadro mórbido é encontrado em indivíduo jovem do sexo feminino cujos órgãos vitais internos coração rins etc nada revelam de anormal ao exame objetivo mas que sofreu no entanto violentos abalos emocionais e quando em certas minúcias os sintomas se afastam do comum já os médicos não consideram o caso tão grave Afirmam que não se trata de uma afecção cerebral orgânica mas desse enigmático estado que desde o tempo da medicina grega é denominado histeria e que pode simular todo um conjunto de graves perturbações Nesses casos não consideram a vida ameaçada e até acham provável o restabelecimento completo Nem sempre é fácil distinguir a histeria de uma grave doença orgânica Não nos importa porém precisar aqui como se faz um diagnóstico diferencial desse gênero bastandonos a certeza de que o caso da paciente de Breuer era daqueles em que nenhum médico experimentado deixaria de fazer o diagnóstico de histeria Podemos também acrescentar 7 consoante a história clínica não só que a afecção lhe apareceu quando estava tratando do pai que ela adorava e cuja grave doença havia de conduzilo à morte como também que ela por causa de seus próprios padecimentos teve de abandonar a cabeceira do enfermo Até aqui nos tem sido vantajoso caminhar ao lado dos médicos mas breve os deixaremos Não devem os senhores esperar que o diagnóstico de histeria em substituição ao de afecção cerebral orgânica grave possa melhorar consideravelmente para o doente a perspectiva de um auxílio médico Se a medicina é o mais das vezes impotente em face das lesões cerebrais orgânicas diante da histeria o médico não sabe do mesmo modo o que fazer tendo de confiar à providencial natureza a maneira e a ocasião em que se há de cumprir seu esperançoso prognóstico Com o rótulo de histeria pouco se altera portanto a situação do doente enquanto que para o médico tudo se modifica Podese observar que este se comporta para com o histérico de modo completamente diverso que para com o que sofre de uma doença orgânica Negase a conceder ao primeiro o mesmo interesse que dá ao segundo pois não obstante as aparências o mal daquele é muito menos grave Mas acresce outra circunstância o médico que por seus estudos adquiriu tantos conhecimentos vedados aos leigos pode formar uma idéia da etiologia das doenças e de suas lesões como por exemplo nos casos de apoplexia ou de tumor cerebral idéia que até certo ponto deve ser exata pois lhe permite compreender os pormenores do quadro mórbido Em face porém das particularidades dos fenômenos histéricos todo o seu saber e todo o seu preparo em anatomia fisiologia e patologia deixamno desamparado Não pode compreender a histeria diante da qual se sente como um leigo posição nada agradável a quem tenha em alta estima o próprio saber Os histéricos ficam assim privados de sua simpatia Ele os considera como transgressores das leis de sua ciência tal como os crentes consideram os hereges julgaos capazes de todo mal acusaos de exagero e de simulação e puneos com lhes retirar seu interesse O Dr Breuer não mereceu certamente essa censura com relação à sua paciente Embora não pretendesse no princípio curála não lhe negou entretanto interesse e simpatia o que lhe foi provavelmente facilitado pelas elevadas qualidades de espírito e de caráter da jovem das quais ele nos dá testemunho na história clínica que redigiu Sua carinhosa observação proporcionoulhe bem logo o caminho que lhe permitiu prestar à doente os primeiros auxílios Haviase notado que nos estados de absence alteração da personalidade acompanhada de confusão costumava a doente murmurar algumas palavras que pareciam relacionarse com aquilo que lhe ocupava o pensamento O médico que anotara essas palavras colocou a moça numa espécie de hipnose e repetiuas para incitála a associar idéias A paciente entrou assim a reproduzir diante do médico as criações psíquicas que a tinham dominado nos estados de absence e que se haviam traído naquelas palavras isoladas Eram fantasias profundamente tristes muitas vezes de poética beleza devaneios como podiam ser chamadas que tomavam habitualmente como ponto de partida a situação de uma jovem à cabeceira do pai doente Depois de relatar certo número dessas fantasias sentiase ela como que aliviada e reconduzida à vida normal Esse bemestar durava muitas horas e desaparecia no dia seguinte para dar lugar a nova absence que cessava do mesmo modo pela revelação das fantasias novamente formadas É forçoso reconhecer que a alteração psíquica manifestada durante as absences era conseqüência da excitação proveniente dessas fantasias intensamente afetivas A própria paciente que nesse período da moléstia só falava e entendia inglês deu a esse novo gênero de tratamento o nome de talking cure 8 cura de conversação qualificandoo também por gracejo de chimney sweeping limpeza da chaminé Verificouse logo como por acaso que limpandose a mente por esse modo era possível conseguir alguma coisa mais que o afastamento passageiro das repetidas perturbações psíquicas Podese também fazer desaparecer sintomas quando na hipnose a doente recordava com exteriorização afetiva a ocasião e o motivo do aparecimento desses sintomas pela primeira vez Tinha havido no verão uma época de calor intenso e a paciente sofria de sede horrível pois sem que pudesse explicar a causa viuse de repente impossibilitada de beber Tomava na mão o cobiçado copo de água mas assim que o tocava com os lábios repeliao como hidrófoba Nesses poucos segundos ela se achava evidentemente em estado de absence Para mitigar a sede que a martirizava vivia somente de frutas melões etc Quando isso já durava perto de seis semanas falou certa vez durante a hipnose a respeito de sua dama de companhia inglesa de quem não gostava e contou então com demonstrações da maior repugnância que tendo ido ao quarto dessa senhora viu bebendo num copo o seu cãozinho um animal nojento Nada disse por polidez Depois de exteriorizar energicamente a cólera retida pediu de beber bebeu sem embaraço grande quantidade de água e despertou da hipnose com o copo nos lábios A perturbação desapareceu definitivamente Permitamme que os detenha alguns momentos ante esta experiência Ninguém até então havia removido por tal meio um sintoma histérico nem penetrado tão profundamente na compreensão da sua causa O descobrimento desses fatos devia ser de ricas conseqüências se se confirmasse a esperança de que outros sintomas da doente e talvez a maioria se houvessem originado do mesmo modo e do mesmo modo pudessem ser suprimidos Para verificálos Breuer não mediu esforços e pesquisou sistematicamente a patogenia de outros sintomas mais graves E realmente era assim Quase todos se haviam formado desse modo como resíduos como precipitados se quiserem de experiências emocionais que por essa razão foram denominadas posteriormente traumas psíquicos e o caráter particular a cada um desses sintomas se explicava pela relação com a cena traumática que o causara Eram segundo a expressão técnica determinados pelas cenas cujas lembranças representavam resíduos não havendo já necessidade de considerálos como produtos arbitrários ou enigmáticos da neurose Registremos apenas uma complicação que não fora prevista nem sempre era um único acontecimento que deixava atrás de si os sintomas para produzir tal efeito uniamse na maioria dos casos numerosos traumas às vezes análogos e repetidos Toda essa cadeia de recordações patogênicas tinha então de ser reproduzida em ordem cronológica e precisamente inversa as últimas em primeiro lugar e as primeiras por último sendo completamente impossível chegar ao primeiro trauma muitas vezes o mais ativo saltandose sobre os que ocorreram posteriormente Os senhores desejam por certo que lhes apresente outros exemplos de produção de sintomas histéricos além do da hidrofobia originada pela repugnância diante do cão que bebia no copo Para manterme porém no meu programa devo limitarme a poucas ilustrações Assim relata Breuer que as perturbações visuais da doente remontavam a situações como aquelas em que estando a paciente com os olhos marejados de lágrimas junto ao leito do enfermo perguntoulhe este de repente que horas eram e não podendo ela ver distintamente forçou a vista aproximando dos olhos o relógio cujo mostrador lhe pareceu então muito grande devido à macropsia e ao estrabismo convergente Ou se esforçou em reprimir as lágrimas para que o enfermo não as visse Todas as impressões 9 patogênicas provinham aliás do tempo em que ela se dedicava ao pai doente Uma noite velava muito angustiada junto ao doente febricitante e estava em grande ansiedade porque se esperava de Viena um cirurgião para operálo Sua mãe ausentarase por algum tempo e Anna sentada à cabeceira do doente pôs o braço direito sobre o espaldar da cadeira Caiu em estado de semisonho e viu como se viesse da parede uma cobra negra que se aproximava do enfermo para mordêlo É muito provável que no campo situado atrás da casa algumas cobras tivessem de fato aparecido assustando anteriormente a moça e fornecendo agora o material de alucinação Ela quis afastar o ofídio mas estava como que paralisada o braço direito que pendia no espaldar achavase adormecido insensível e parético e quando ela o contemplou transformaramse os dedos em cobrinhas cujas cabeças eram caveiras as unhas Provavelmente procurou afugentar a cobra com a mão direita paralisada e por isso a anestesia e a paralisia da mesma se associaram com a alucinação da serpente Quando esta desapareceu aterrorizada quis rezar mas não achou palavras em idioma algum até que lembrandose duma poesia infantil em inglês pode pensar e rezar nessa língua Com a reconstituição dessa cena durante a hipnose foi removida a paralisia espástica do braço direito que existia desde o começo da moléstia e teve fim o tratamento Quando alguns anos mais tarde comecei a empregar nos meus próprios doentes o método semiótico e terapêutico de Breuer fiz experiências que concordam com as dele Numa senhora de cerca de quarenta anos existia um tic tique sob a forma de um especial estalar da língua que se produzia quando a paciente se achava excitada e mesmo sem causa perceptível Originarase esse tique em duas ocasiões nas quais sendo desígnio dela não fazer nenhum rumor o silêncio foi rompido contra sua vontade justamente por esse estalido Uma vez foi quando com grande trabalho conseguira finalmente fazer adormecer seu filhinho doente e desejava no íntimo ficar quieta para o não despertar outra vez quando numa viagem de carro com os dois filhos por ocasião de uma tempestade assustaramse os cavalos e ela cuidadosamente quisera evitar qualquer ruído para que os animais não se espantassem ainda mais Dou esse esse exemplo dentre muitos outros que se acham consignados nos Studies on Hysteria Estudos Sobre a Histeria Senhoras e Senhores Se me permitem uma generalização inevitável numa exposição tão breve podemos sintetizar os conhecimentos até agora adquiridos na seguinte fórmula os histéricos sofrem de reminiscências Seus sintomas são resíduos e símbolos mnêmicos de experiências especiais traumáticas Uma comparação com outros símbolos mnêmicos de gênero diferente talvez nos permita compreender melhor esse simbolismo Os monumentos com que ornamos nossas cidades são também símbolos dessa ordem Passeando em Londres verão diante de uma das maiores estações da cidade uma coluna gótica ricamente ornamentada a Charing Cross No século XIII um dos velhos reis plantagenetas que fez transportar para Westminster os restos mortais de sua querida esposa e rainha Eleanor erigiu cruzes góticas nos pontos em que havia pousado o esquife Charing Cross é o último desses monumentos destinados a perpetuar a memória do cortejo fúnebre Em outro ponto da cidade não muito distante da London Bridge verão uma coluna moderna e muito alta chamada simplesmente The Monument cujo fim é lembrar o grande incêndio que em 1666 irrompeu ali perto e destruiu boa parte da cidade Tanto quanto se justifique a comparação esses monumentos são também símbolos mnêmicos como os sintomas histéricos Mas que diriam do londrino que ainda hoje se detivesse compungido ante o monumento erigido em memória do enterro da rainha Eleanor em vez de tratar de seus negócios com a pressa exigida pelas modernas condições de trabalho ou de pensar 10 satisfeito na jovem rainha de seu coração Ou de outro que em face do Monument chorasse a incineração da cidade querida reconstruída depois com tanto brilho Como esses londrinos pouco práticos procedem entretanto os histéricos e neuróticos não só recordam acontecimentos dolorosos que se deram há muito tempo como ainda se prendem a eles emocionalmente não se desembaraçam do passado e alheiamse por isso da realidade e do presente Essa fixação da vida psíquica aos traumas patogênicos é um dos caracteres mais importantes da neurose e dos que têm maior significação prática Desde já aceito a objeção que provavelmente os senhores formularam refletindo sobre a história da paciente de Breuer Todos os traumas que influíram na moça datavam do tempo em que ela cuidava do pai doente e os sintomas que apresentava podem ser considerados como simples sinais mnêmicos da doença e da morte dele Correspondem portanto a uma manifestação de luto e a fixação à memória do finado tão pouco tempo depois do traspasse nada representa de patológico corresponde antes a um processo emocional normal Reconheço que na paciente de Breuer a fixação aos traumas nada tem de extraordinário Mas em outros casos como no tique por mim tratado cujos fatores datavam mais de quinze e dez anos é muito nítido o caráter da fixação anormal ao passado A doente de Breuer nos haveria de oferecer oportunidade de apreciar a mesma fixação anormal se não tivesse sido tratada pelo método catártico tão pouco tempo depois do traumatismo e da eclosão dos sintomas Até aqui apenas discorremos sobre as relações entre os sintomas histéricos e os fatos da vida da doente mas dois outros elementos da observação de Breuer podem também indicarnos como conceber tanto o mecanismo da moléstia como o do restabelecimento Quanto ao primeiro é preciso salientar que a doente de Breuer em quase todas as situações teve de subjugar uma poderosa emoção em vez de permitir sua descarga por sinais apropriados de emoção palavras ou ações No trivialíssimo incidente relativo ao cãozinho de sua dama de companhia por consideração a esta ela não deixou sequer transparecer a sua profunda aversão velando à cabeceira do pai estava sempre atenta para que o doente não lhe percebesse a ansiedade e a penosa depressão Ao reproduzir posteriormente estas mesmas cenas diante do médico a energia afetiva então inibida manifestavase intensamente como se estivera até então represada Além disso o sintoma resíduo desta cena atingia a máxima intensidade quando durante o tratamento iase chegando à sua causa para desaparecer completamente quando esta se aclarava inteiramente Por outro lado podese verificar que era inútil recordar a cena diante do médico se por qualquer razão isto se dava sem exteriorização afetiva Era pois a sorte dessas emoções que podemos imaginar como grandezas variáveis o que regulava tanto a doença como a cura Tinhase de admitir que a doença se instalava porque a emoção desenvolvida nas situações patogênicas não podia ter exteriorização normal e que a essência da moléstia consistia na atual utilização anormal das emoções enlatadas Em parte ficavam estas como carga contínua da vida psíquica e fonte permanente de excitação para a mesma em parte se desviavam para insólitas inervações e inibições somáticas que se apresentavam como os sintomas físicos do caso Para este último mecanismo propusemos o nome de conversão histérica Demais uma certa parte de nossas excitações psíquicas é conduzida normalmente para a inervação somática constituindo aquilo que conhecemos por expressão das emoções A conversão histérica exagera então essa parte da descarga de um processo mental catexizado emocionalmente ela representa uma expressão mais intensa das emoções conduzida por nova via Quando uma corrente de água se escoa por 11 dois canais num deles o líquido se elevará logo que no outro se interponha um obstáculo Como vêem estamos quase chegando a uma teoria puramente psicológica da histeria onde assinalamos o primeiro lugar para os processos afetivos Uma segunda observação de Breuer obriganos agora a atribuir grande significação aos estados de consciência para a característica dos fatos mórbidos A doente de Breuer exibia ao lado de seu estado normal vários outros de absence confusão e alterações do caráter Em estado normal ela ignorava totalmente as cenas patogênicas ou pelo menos havia rompido a conexão patogênica Sob hipnose era possível depois de considerável esforço trazer tais cenas à memória e por este trabalho de evocação os sintomas eram removidos Ficaríamos em grande perplexidade para interpretar esse fato se a experiência do hipnotismo já não nos tivesse indicado o caminho Pelo estudo dos fenômenos hipnóticos tornouse habitual a concepção a princípio estranhável de que num mesmo indivíduo são possíveis vários agrupamentos mentais que podem ficar mais ou menos independentes entre si sem que um nada saiba do outro e que podem se alternar entre si em sua emersão à consciência Casos destes também ocasionalmente aparecem de forma espontânea sendo então descritos como exemplos de double consciente Quando nessa divisão da personalidade a consciência fica constantemente ligada a um desses dois estados chamase esse o estado mental consciencee o que dela permanece separado o inconsciente Nos conhecidos fenômenos da chamada sugestão póshipnótica em que uma ordem dada durante a hipnose é depois no estado normal imperiosamente cumprida temse um esplêndido modelo das influências que o estado inconsciente pode exercer no consciente modelo esse que permite sem dúvida compreender o que ocorre na manifestação da histeria Breuer resolveu admitir que os sintomas histéricos apareciam em estados mentais particulares que chamava hipnóides As excitações durante esses estados hipnóides tornamse facilmente patogênicas porque não encontram neles as condições para a descarga normal do processo de excitação Originase então do processo de excitação um produto anormal o sintoma que como corpo estranho se insinua no estado normal escapando a este por isso o conhecimento da situação patogênica hipnóide Onde existe um sintoma existe também uma amnésia uma lacuna da memória cujo preenchimento suprime as condições que conduzem à produção do sintoma Receio que esta parte de minha exposição não lhes pareça muito clara Os presentes devem contudo ser indulgentes tratase de concepções novas e difíceis que talvez não possam fazerse muito mais claras prova de que nossos conhecimentos ainda não progrediram muito A teoria de Breuer dos estados hipnóides tornouse aliás embaraçante e supérflua e foi abandonada pela psicanálise moderna Mais tarde me ouvirão falar nem que seja sucintamente das influências e processos que era mister descobrir atrás das fronteiras dos estados hipnóides por Breuer fixadas Hão de ter tido também a impressão sem dúvida justa de que a pesquisa de Breuer só lhes pode dar uma teoria muito incompleta e uma explicação insuficiente dos fenômenos observados porém as teorias completas não caem do céu e com toda a razão desconfiarão se alguém lhes apresentar logo no início de suas observações uma teoria sem falhas otimamente rematada Tal teoria certamente só poderá ser filha de sua especulação e nunca o fruto da pesquisa imparcial e desprevenida da realidade 12 SEGUNDA LIÇÃO SENHORAS E SENHORES Quase ao mesmo tempo em que Breuer praticava a talking cure cura de conversação com sua paciente começava o grande Charcot em Paris com as doentes histéricas da Salpêtrière as investigações de onde havia de surgir nova concepção da enfermidade Estes resultados não podiam naquela ocasião ser conhecidos em Viena Quando porém cerca de dez anos mais tarde Breuer e eu publicávamos nossa Preliminary Communication Comunicação Preliminar sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos relacionada com o tratamento catártico da primeira doente de Breuer 1893a já nos achávamos de todo sob a influência das pesquisas de Charcot A nosso ver os acontecimentos patogênicos de nossos doentes isto é os traumas psíquicos eram equivalentes dos traumas físicos cuja influência nas paralisias histéricas fora precisada por Charcot e a hipótese dos estados hipnóides de Breuer nada mais é que o reflexo da reprodução artificial daquelas paralisias traumáticas que Charcot obtivera durante a hipnose O grande observador francês de quem fui discípulo em 1885 e 1886 não era propenso às concepções psicológicas Foi seu discípulo Pierre Janet que tentou penetrar mais intimamente os processos psíquicos particulares da histeria e nós seguimoslhes o exemplo tomando a divisão da mente e a dissociação da personalidade como ponto central de nossa teoria Segundo a de Janet que leva em grande conta as idéias dominantes na França sobre o papel da hereditariedade e da degeneração a histeria é uma forma de alteração degenarativa do sistema nervoso que se manifesta pela fraqueza congênita do poder de síntese psíquica Os pacientes histéricos seriam desde o princípio incapazes de manter como um todo a multiplicidade dos processos mentais e daí a dissociação psíquica Se me for permitida uma comparação trivial mais precisa direi que o paciente histérico de Janet lembra uma pobre mulher que saiu a fazer compras e volta carregada de pacotes Não podendo só com dois braços e dez dedos conter toda a pilha cailhe primeiro um embrulho ao inclinarse para levantálo cailhe outro e assim sucessivamente Contrariando porém esta suposta fraqueza mental dos pacientes histéricos podem observarse neles além dos fenômenos de capacidade diminuída outros por assim dizer compensadores de exaltação parcial da eficiência Durante o tempo em que a doente de Breuer esquecera a língua materna e outros idiomas exceto o inglês era tal a facilidade com que falava este último que chegava a ponto de ser capaz diante de um livro alemão de traduzilo à primeira vista perfeita e corretamente Quando eu mais tarde prosseguia sozinho as pesquisas iniciadas por Breuer fui levado a outro ponto de vista a respeito da dissociação histérica a divisão da consciência Era fatal essa divergência aliás decisiva para o resultado futuro visto que eu não partia como Janet de experiências de laboratório e sim do trabalho terapêutico O que sobretudo me impelia era a necessidade prática O procedimento catártico como Breuer o praticava exigia previamente a hipnose profunda do doente pois só no estado hipnótico é que tinha este o conhecimento das ligações patogênicas que em condições normais lhe escapavam Tornouseme logo enfadonho o hipnotismo como recurso incerto e algo místico e quando verifiquei que apesar de todos os esforços não conseguia hipnotizar 13 senão parte de meus doentes decidi abandonálo tornando o procedimento catártico independente dele Como não podia modificar à vontade o estado psíquico dos doentes procurei agir mantendoos em estado normal Parecia isto a princípio empresa insensata e sem probabilidade de êxito Tratavase de fazer o doente contar aquilo que ninguém nem ele mesmo sabia Como esperar conseguilo O auxílio me veio da recordação de uma experiência de Bernheim singularíssima e instrutiva a que eu assistira em Nancy em 1889 Bernheim nos havia então mostrado que as pessoas por ele submetidas ao sonambulismo hipnótico e que nesse estado tinham executado atos diversos só aparentemente perdiam a lembrança dos fatos ocorridos sendo possível despertar nelas tal lembrança mesmo no estado normal Quando interrogadas a propósito do que havia acontecido durante o sonambulismo afirmavam de começo nada saber mas se ele não cedia insistindo com elas e assegurandolhes que era possível lembrar a recordação vinha sempre de novo à consciência Procedi do mesmo modo com os meus doentes Quando chegávamos a um ponto em que nos afirmavam nada mais saber asseguravalhes que sabiam que só precisavam dizer e ia mesmo até afirmar que a recordação exata seria a que lhes apontasse no momento em que lhes pusesse a mão sobre a fronte Dessa maneira pude prescindindo do hipnotismo conseguir que os doentes revelassem tudo quanto fosse preciso para estabelecer os liames existentes entre as cenas patogênicas olvidadas e os seus resíduos os sintomas Esse processo era porém ao cabo de algum tempo extenuante inadequado para uma técnica definitiva Não o abandonei contudo sem tirar das observações feitas conclusões decisivas Vi confirmado assim que as recordações esquecidas não se haviam perdido Jaziam em poder do doente e prontas a ressurgir em associação com os fatos ainda sabidos mas alguma força as detinha obrigandoas a permanecer inconscientes A existência desta força pode ser seguramente admitida pois sentiaselhe a potência quando em oposição a ela se intentava trazer à consciência do doente as lembranças inconscientes A força que mantinha o estado mórbido faziase sentir como resistência do enfermo Nesta idéia de resistência alicercei então minha concepção acerca dos processos psíquicos na histeria Para o restabelecimento do doente mostrouse indispensável suprimir estas resistências Partindo do mecanismo da cura podiase formar idéia muito precisa da gênese da doença As mesmas forças que hoje como resistência se opõem a que o esquecido volte à consciência deveriam ser as que antes tinham agido expulsando da consciência os acidentes patogênicos correspondentes A esse processo por mim formulado dei o nome de repressão e julgueio demonstrado pela presença inegável da resistência Podiase ainda perguntar sem dúvida que força era essa e quais as condições da repressão em que reconhecemos agora o mecanismo patogênico da histeria Um exame comparativo das situações patogênicas conhecidas graças ao tratamento catártico permitia dar a conveniente resposta Tratavase em todos os casos do aparecimento de um desejo violento mas em contraste com os demais desejos do indivíduo e incompatível com as aspirações morais e estéticas da própria personalidade Produziase um rápido conflito e o desfecho desta luta interna era sucumbir à repressão a idéia que aparecia na consciência trazendo em si o desejo inconciliável sendo a mesma expulsa da consciência e esquecida juntamente com as respectivas lembranças Era portanto a incompatibilidade entre a idéia e o ego do doente o motivo da repressão as aspirações individuais éticas e outras eram as forças repressivas A aceitação do impulso desejoso incompatível ou o prolongamento do 14 conflito teriam despertado intenso desprazer a repressão evitava o desprazer revelandose desse modo um meio de proteção da personalidade psíquica Dos muitos casos por mim observados quero relatarlhes um apenas no qual são patentes os aspectos determinantes e a vantagem da repressão Para não me afastar do meu propósito sou forçado a resumir esta história clínica deixando de lado importantes hipóteses A paciente era uma jovem que perdera recentemente o pai depois de tomar parte carinhosamente nos cuidados ao enfermo situação análoga à da doente de Breuer Nascera quando a irmã mais velha se casou uma simpatia particular para o novo cunhado que se mascarava por disfarce de ternura familiar Esta irmã adoeceu logo depois e veio a falecer durante a ausência da minha doente e de sua mãe Estas foram chamadas urgentemente sem notícia completa do doloroso acontecimento Quando a moça chegou ao leito da morta correulhe na mente por um rápido instante uma idéia mais ou menos assim ele agora está livre pode desposarme Énos lícito admitir como certo que esta idéia denunciandolhe à consciência o intenso amor que sem o saber tinha ao cunhado foi logo entregue à repressão pelos próprios sentimentos revoltados A jovem adoeceu com graves sintomas histéricos e quando comecei a tratála tinha esquecido não só aquela cena junto ao leito da irmã como também o concomitante sofrimento indigno e egoísta Mas recordou se de tudo durante o tratamento reproduziu o incidente patogênico com sinais de intensa emoção e curouse Talvez possa ilustrar o processo de repressão e a necessária relação deste com a resistência mediante uma comparação grosseira tirada de nossa própria situação neste recinto Imaginem que nesta sala e neste auditório cujo silêncio e cuja atenção eu não saberia louvar suficientemente se acha no entanto um indivíduo comportandose de modo inconveniente perturbandonos com risotas conversas e batidas de pé desviandome a atenção de minha incumbência Declaro não poder continuar assim a exposição diante disso alguns homens vigorosos dentre os presentes se levantam e após ligeira luta põem o indivíduo fora da porta Ele está agora reprimido e posso continuar minha exposição Para que porém se não repita o incômodo se o elemento perturbador tentar penetrar novamente na sala os cavalheiros que me satisfizeram a vontade levam as respectivas cadeiras para perto da porta e consumada a repressão se postam como resistências Se traduzirmos agora os dois lugares sala e vestíbulo para a psique como consciente e inconsciente os senhores terão uma imagem mais ou menos perfeita do processo de repressão Os senhores podem ver desde logo onde está a diferença entre nossa concepção e a de Janet Não atribuímos a divisão psíquica à incapacidade inata para a síntese da parte do aparelho psíquico mas explicamolo dinamicamente pelo conflito de forças mentais contrárias reconhecendo nele o resultado de uma luta ativa da parte dos dois agrupamentos psíquicos entre si De nossa concepção surgem novos problemas em grande número Os conflitos psíquicos são excessivamente freqüentes observase com muita regularidade o esforço do eu para se defender de recordações penosas sem que isso produza a divisão psíquica É forçoso portanto admitir que outras condições são também necessárias para que do conflito resulte a dissociação Concordo de boavontade que com a hipótese da repressão estamos não no remate mas antes no limiar de uma teoria psicológica só passo a passo podemos avançar esperando que um trabalho posterior mais aprofundado aperfeiçoe os conhecimentos Os presentes devem absterse de examinar o caso da doente de Breuer sob o ponto de vista da repressão essa história clínica não se presta para isso porque foi obtida sob o influxo do hipnotismo Só prescindido deste último poderão perceber a resistência e a 15 repressão e formar idéia exata do processo patogênico real A hipnose encobre a resistência deixando livre e acessível um determinado setor psíquico em cujas fronteiras porém acumula as resistências criando para o resto uma barreira intransponível O que de mais importante nos proporcionou a observação de Breuer foi esclarecer as relações dos sintomas com as experiências patogênicas ou traumas psíquicos resultado que não devemos deixar de focalizar agora sob o ponto de vista da teoria da repressão À primeira vista com efeito não se percebe como partindo da repressão se pode chegar à formação dos sintomas Em lugar de trazer uma complicada dedução teórica prefiro retornar à comparação que há pouco nos serviu Suponhamos que com a expulsão do perturbador e com a guarda à porta não terminou o incidente Pode muito bem ser que o sujeito irritado e sem nenhuma consideração continue a nos dar que fazer Ele já não está aqui conosco ficamos livres de sua presença dos motejos dos apartes mas a expulsão foi por assim dizer inútil pois lá de fora ele dá um espetáculo insuportável e com berros e murros na porta nos perturba a conferência mais do que antes Em tais conjunturas poderíamos felicitarnos se o nosso honrado presidente Dr Stanley Hall quisesse assumir o papel de medianeiro e pacificador Iria parlamentar com o nosso intratável companheiro e voltaria pedindonos que o recebêssemos de novo garantindonos um comportamento conveniente daqui por diante Graças à autoridade do Dr Hall condescendemos em desfazer a repressão voltando a paz e o sossego Eis uma representação muito apropriada da missão que cabe ao médico na terapêutica psicanalítica das neuroses Agora para dizêlo sem rebuços chegamos à convicção pelo exame dos doentes histéricos e outros neuróticos de que a repressão das idéias a que o desejo insuportável está apenso malogrou Expeliramnas da consciência e da lembrança com isso os pacientes se livraram aparentemente de grande soma de dissabores Mas o impulso desejoso continua a existir no inconsciente à espreita de oportunidade para se revelar concebe a formação de um substituto do reprimido disfarçado e irreconhecível para lançar à consciência substituto ao qual logo se liga a mesma sensação de desprazer que se julgava evitada pela repressão Esta substituição da idéia reprimida o sintoma é protegida contra as forças defensivas do ego e em lugar do breve conflito começa então um sofrimento interminável No sintoma a par dos sinais do disfarce podem reconhecerse traços de semelhança com a idéia primitivamente reprimida Pelo tratamento psicanalítico desvendase o trajeto ao longo do qual se realizou a substituição e para a recuperação é necessário que o sintoma seja reconduzido pelo mesmo caminho até a idéia reprimida Uma vez restituído à atividade mental consciente aquilo que fora reprimido e isso pressupõe que consideráveis resistências tenham sido desfeitas o conflito psíquico que desse modo se originara e que o doente quis evitar alcança orientado pelo médico uma solução mais feliz do que a oferecida pela repressão Há várias dessas soluções para rematar satisfatoriamente conflito e neurose as quais em determinados casos podem combinarse entre si Ou a personalidade do doente se convence de que repelira sem razão o desejo e consente em aceitálo total ou parcialmente ou este mesmo desejo é dirigido para um alvo irrepreensível e mais elevado o que se chama sublimação do desejo ou finalmente reconhece como justa a repulsa Nesta última hipótese o mecanismo da repressão automático por isso mesmo insuficiente é substituído por um julgamento de condenação com a ajuda das mais altas funções mentais do homem o controle consciente do desejo é atingido Desculpemme se porventura não logrei apresentarlhes mais compreensivelmente estes pontos de vista capitais do método terapêutico hoje denominado psicanálise A dificuldade 16 não está só na novidade do assunto A natureza dos desejos incompatíveis que não obstante a repressão continuam a dar sinal de si no inconsciente e os elementos determinantes subjetivos e constitucionais que devem estar presentes em qualquer pessoa antes do malogro da repressão podem ocorrer e um substituto ou sintoma ser formado sobre tudo isto procurarei esclarecer em algumas observações posteriores TERCEIRA LIÇÃO SENHORAS E SENHORES Nem sempre é fácil dizer a verdade mormente quando é mister ser conciso e por isso vejome obrigado a corrigir uma inexatidão que cometi na última conferência Dizialhes eu que quando posto de lado o hipnotismo eu forçava os doentes a comunicarem o que lhes viesse à mente pois que saibam apesar de tudo aquilo que supunham ter esquecido e a idéia que lhes brotasse havia de certamente conter em si o que se procurava pude com efeito verificar que o primeiro pensamento surgido trazia o elemento desejado e se revelava como a continuação inadvertida da lembrança Isto porém nem sempre é certo foi por amor à concisão que o apresentei com essa singeleza Na realidade só nas primeiras vezes aconteceu que pela simples pressão de minha parte exatamente o esquecido que buscávamos se apresentasse Continuando a empregar o método vinham pensamentos despropositados que não poderiam ser o procurado e que os próprios doentes repeliam como inexatos Já não adiantava insistência e poderseia de novo lamentar o abandono do hipnotismo Neste estado de perplexidade valime de um pressuposto cuja exatidão científica foi anos depois demonstrada pelo meu amigo C G Jung de Zurique e seus discípulos Devo afirmar que às vezes é muito útil ter um pressuposto Eu tinha em alto conceito o rigor do determinismo dos processos mentais e não podia crer que uma idéia concebida pelo doente com atenção concentrada fosse inteiramente espontânea sem nenhuma relação com a representação mental esquecida e por nós procurada Que não fosse idêntica a esta explicavase satisfatoriamente pela situação psicológica suposta Duas forças antagônicas atuavam no doente de um lado o esforço refletido para trazer à consciência o que jazia deslembrado no inconsciente de outro lado a resistência já nossa conhecida impedindo a passagem para o consciente do elemento reprimido ou dos derivados deste Se fosse igual a zero ou insignificante a resistência o olvidado se tornaria consciente sem deformação Podemos admitir que seja tanto maior a deformação do elemento procurado quanto mais forte a resistência que o detiver O pensamento que no doente vinha em lugar do desejado tinha origem idêntica à de um sintoma era uma nova substituição artificial e efêmera do reprimido e tanto menos semelhante a ele quanto maior a deformação que tivesse de sofrer sob a influência da resistência Ele devia mostrar porém certa parecença com o procurado em virtude da sua natureza de sintoma e desde que a resistência não fosse muito intensa seria possível partindo da idéia lobrigar o oculto que se buscava O pensamento devia comportarse em relação ao elemento reprimido com uma alusão como uma representação do mesmo por meio de palavras indiretas Conhecemos no domínio da vida psíquica normal exemplos em que situações análogas às que admitimos produzem resultados semelhantes É o caso do chiste O problema da 17 técnica psicanalítica forçoume a estudar o mecanismo da formação das pilhérias Quero exporlhes apenas um desses exemplos aliás uma anedota da língua inglesa Diz a anedota Por uma série de empresas duvidosas dois comerciantes tinham conseguido reunir grandes cabedais e esforçavamse para penetrar na boa sociedade Entre outros pareceulhes um meio conveniente fazeremse retratar pelo pintor mais notável e mais careiro da cidade cujo quadro fosse um acontecimento Numa grande reunião foram inaugurados os custosíssimos quadros um ao lado do outro e os dois proprietários conduziram até a parede o mais influente crítico de arte a fim de obterem o valioso julgamento O crítico examinou longamente o quadro sacudiu a cabeça como se achasse falta de alguma coisa e perguntou apenas indicando o espaço entre os dois quadros But wheres the Saviour Mas onde está o Redentor Vejo que todos se riem da boa pilhéria penetramoslhes agora a significação Os presentes compreendem que o crítico queria dizer vocês são dois patifes como aqueles que ladearam o Cristo crucificado Mas não o disse em lugar disso exprimiu coisa que à primeira vista parece extraordinariamente abstrusa e fora de propósito mas que logo depois reconhecemos como uma alusão à injúria que lhe estava no íntimo e que vale perfeitamente como substituto dela Não podemos esperar que numa anedota sejam encontradas todas as circunstâncias que pressupomos na gênese das idéias associadas dos nossos doentes queremos todavia realçar a identidade de motivação para a anedota e para a idéia Por que é que o nosso crítico não lhes falou claramente Porque nele outras razões contrárias também atuavam ao lado do ímpeto de dizêlo francamente face a face Não deixa de ser perigoso desfeitear pessoas de que somos hóspedes e que dispõem de criadagem numerosa de pulsos vigorosos A sorte poderia ser a mesma que na conferência anterior serviu de exemplo para a repressão Por tal razão o crítico atirou indiretamente a ofensa que estava ruminando transfigurandoa numa alusão com desabafo É a nosso ver devido à mesma constelação que o paciente produz uma idéia de substituição mais ou menos distorcida em lugar do elemento esquecido que procuramos Senhoras e Senhores Aceitando a proposta da Escola de Zurique Bleuler Jung e outros convém dar o nome de complexo a um grupo de elementos ideacionais interdependentes catexizados de energia afetiva Vemos assim que partindo da última recordação que o doente ainda possui em busca de um complexo reprimido temos toda a probabilidade de desvendálo desde que o doente nos proporcione um número suficiente de associações livres Mandamos o doente dizer o que quiser cônscios de que nada lhe ocorrerá à mente senão aquilo que indiretamente dependa do complexo procurado Talvez lhes pareça muito fastidioso este processo de descobrir os elementos reprimidos mas assegurolhes é o único praticável No emprego desta técnica o que ainda nos perturba é que com freqüência o doente se detém afirmando não saber dizer mais nada que nada mais lhe vem à idéia Se assim fosse se o doente tivesse razão o método terseia revelado impraticável Uma observação atenta mostra contudo que as idéias livres nunca deixam de aparecer É que o doente influenciado pela resistência disfarçada em juízos críticos sobre o valor da idéia retémna ou de novo a afasta Para evitála põese previamente o doente a par do que pode ocorrer pedindolhe renuncie a qualquer crítica sem nenhuma seleção deverá expor tudo que lhe vier ao pensamento mesmo que lhe pareça errôneo despropositado ou absurdo e especialmente se lhe for desagradável a vinda dessas idéias à mente Pela observância dessa regra garantimonos o material que nos conduz ao roteiro do complexo reprimido 18 Esse material associativo que o doente rejeita como insignificante quando em vez de estar sob a influência do médico está sob a da resistência representa para o psicanalista o minério de onde com simples artifício de interpretação há de extrair o metal precioso Se diante de um doente quiserem os presentes ter um conhecimento rápido e provisório dos complexos reprimidos sem lhes penetrar na ordem e nas relações podem dispor da experiência da associação cuja técnica foi aperfeiçoada por Jung 1906 e seus discípulos Para o psicanalista este método é tão precioso quanto para o químico a análise qualitativa prescindível na terapêutica dos neuróticos é indispensável para a demonstração objetiva dos complexos e para o estudo das psicoses com tanto êxito empreendido pela Escola de Zurique Não é o estudo das divagações quando o doente se sujeita à regras psicanalíticas o único recurso técnico para sondagem do inconsciente Ao mesmo escopo servem dois outros processos a interpretação de sonhos e o estudo dos lapsos e atos casuais Confessolhes prezados ouvintes que estive longo tempo indeciso sobre se em lugar desta rápida vista geral sobre todo o domínio da psicanálise não seria preferível exporlhes minuciosamente a interpretação de sonhos Motivo puramente subjetivo e aparentemente secundário me deteve Pareceume quase escandaloso apresentarme neste país de orientação prática como onirócrita antes de mostrarlhes qual a importância a que pode aspirar esta velha e ridicularizada arte A interpretação de sonhos é na realidade a estrada real para o conhecimento do inconsciente a base mais segura da psicanálise É campo onde cada trabalhador pode por si mesmo chegar a adquirir convicção própria como atingir maiores aperfeiçoamentos Quando me perguntam como pode uma pessoa fazerse psicanalista respondo que é pelo estudo dos próprios sonhos Os adversários da psicanálise com muita habilidade têm até agora evitado estudar de perto A Interpretação de Sonhos ou têm oposto ao de longe objeções superficialíssimas Se não repugna aos presentes ao contrário aceitar as soluções dos problemas da vida onírica já não apresentam aos ouvintes dificuldade alguma as novidades trazidas pela psicanálise Não se esqueçam de que se nossas elaborações oníricas noturnas mostram de um lado a maior semelhança externa e o mais íntimo parentesco com as criações da alienação mental são de outro lado compatíveis com a mais perfeita saúde na vida desperta Não é nenhum paradoxo afirmar que quem fica admirado ante essas alucinações delírios ou mudanças de caráter que podemos chamar normais sem procurar explicálos não tem a menor probabilidade de compreender senão como qualquer leigo as formações anormais dos estados psíquicos patológicos E entre esses leigos os ouvintes podem contar atualmente sem receio quase todos os psiquiatras Acompanhemme agora numa rápida excursão pelo campo dos problemas do sonho Quando acordados costumamos tratar os sonhos com o mesmo desdém com que os doentes rejeitam as idéias soltas despertadas pelo psicanalista Desprezamolos olvidando os em geral rápida e completamente O nosso descaso fundase no caráter exótico apresentado mesmo pelos sonhos que possuem clareza e nexo e sobre a evidente absurdez e insensatez dos demais nossa repulsa explicase pelas tendências imorais e menos pudicas que se patenteiam em muitos deles É de todos sabido que a antigüidade não compartilhou tal desapreço para com os sonhos As camadas baixas do nosso povo mesmo hoje não estão totalmente desnorteadas na apreciação do valor dos sonhos dos quais esperam como os antigos a revelação do futuro Confessolhes que não tenho 19 necessidade de nenhuma hipótese mística para preencher as falhas de nossos conhecimentos atuais e por isso nunca pude descobrir nada que confirmasse a natureza profética dos sonhos Coisa muito diferente disso embora assaz maravilhosa se pode dizer a respeito deles Em primeiro lugar nem todos os sonhos são estranhos incompreensíveis e confusos para a pessoa que sonhou Examinando os sonhos de criancinhas desde um ano e meio de idade verificarão que eles são extremamente simples e de fácil explicação A criancinha sonha sempre com a realização de desejos que o dia anterior lhe trouxe e que ela não satisfez Não há necessidade de arte divinatória para encontrar solução tão simples basta saber o que se passou com a criança na véspera dia do sonho Estaria certamente resolvido e de modo satisfatório o enigma do sonho se o do adulto não fosse nada mais que o da criancinha realização de desejos trazidos pelo dia do sonho E o é de fato As dificuldades que esta solução apresenta removemse uma a uma mediante a análise minuciosa dos sonhos A primeira objeção e a mais importante é a de que os sonhos dos adultos via de regra têm um conteúdo ininteligível sem nenhuma semelhança com a satisfação de desejos Resposta estes sonhos estão distorcidos o processo psíquico correspondente teria originariamente uma expressão verbal muito diversa O conteúdo manifesto do sonho recordado vagamente de manhã e que não obstante a espontaneidade aparente se exprime em palavras com esforço deve ser diferenciado dos pensamentos latentes do sonho que se têm de admitir como existentes no inconsciente Esta deformação possui mecanismo idêntico ao que já conhecemos desde quando examinamos a gênese dos sintomas histéricos e é uma prova da participação da mesma interação de forças mentais tanto na formação dos sonhos como na dos sintomas O conteúdo manifesto do sonho é o substituto deformado para os pensamentos inconscientes do sonho Esta deformação é obra das forças defensivas do ego isto é das resistências que na vigília impedem de modo geral a passagem para a consciência dos desejos reprimidos do inconsciente enfraquecidas durante o sono estas resistências ainda são suficientemente fortes para só os tolerar disfarçados Quem sonha portanto reconhece tão mal o sentido de seus sonhos como o histérico as correlações e a significação de seus sintomas De que há pensamentos latentes do sonho e que entre eles e o conteúdo manifesto existe de fato o nexo aludido os presentes se convencerão pela análise de sonhos cuja técnica se confunde com a da psicanálise Pondo de lado a aparente conexão dos elementos do sonho manifesto procurarão os senhores evocar idéias por livre associação partindo de cada um desses elementos e observando as regras da prática psicanalítica De posse deste material chegarão aos pensamentos latentes do sonho com a mesma perfeição com que conseguiram surpreender no doente o complexo oculto por meio das idéias sugeridas pelas associações livres a partir dos sintomas e lembranças Pelos pensamentos latentes do sonho descobertos desse modo podese ver sem mais nada como é justo equiparar o sonho dos adultos ao das crianças O que agora como verdadeiro sentido do sonho substitui o seu conteúdo manifesto e isto é sempre claramente compreensível ligase às impressões da véspera e se patenteia como a realização de um desejo nãosatisfeito O sonho manifesto que conhecem no adulto graças à recordação pode então ser descrito como uma realização velada de desejos reprimidos Podem agora os ouvintes por uma espécie de trabalho sintético examinar o processo mediante o qual os pensamentos inconscientes do sonho se disfarçam no conteúdo manifesto Esse processo que denominamos elaboração onírica é digno de nosso maior 20 interesse teórico porque em nenhuma outra circunstância poderíamos estudar melhor do que nele os processos psíquicos nãosuspeitados que se passam no inconsciente ou mais exatamente entre dois sistemas psíquicos distintos como consciente e inconsciente Entre tais processos psíquicos recentemente descobertos ressaltam notavelmente o da condensação e o do deslocamento A elaboração onírica é um caso especial da influência recíproca de agrupamentos mentais diversos isto é o resultado da divisão psíquica e parece essencialmente idêntico ao trabalho de deformação que transforma em sintomas os complexos cuja repressão fracassou Pela análise dos sonhos descobrirão os senhores ainda mais com surpresa porém do modo mais convincente possível o papel importantíssimo e nunca imaginado que os fatos e impressões da tenra infância exercem no desenvolvimento do homem Na vida onírica a criança prolonga por assim dizer sua existência no homem conservando todas as peculiaridades e aspirações mesmo as que se tornam mais tarde inúteis Com força irresistível apresentarselhesão os processos de desenvolvimento repressões sublimações e formações reativas de onde saiu da criança com tão diferentes disposições o chamado homem normal esteio e em parte vítima da civilização tão penosamente alcançada Quero ainda fazer notar que pela análise de sonhos também pudemos descobrir que o inconsciente se serve especialmente para a representação de complexos sexuais de certo simbolismo em parte variável individualmente e em parte tipicamente fixo que parece coincidir com o que conjecturamos por detrás dos nossos mitos e lendas Não seria impossível que essas últimas criações populares recebessem portanto do sonho a sua explicação Impendenos advertilos finalmente de que não se deixem desorientar pela objeção de que aparecimento de pesadelos contradiz o nosso modo de entender o sonho como satisfação de desejos Além de que é necessário interpretar os pesadelos antes de sobre eles poder firmar qualquer juízo pode dizerse de modo geral que a ansiedade que os acompanha não depende assim tão simplesmente do conteúdo oniríco como muitos imaginam por ignorar as condições da ansiedade neurótica A ansiedade é uma das reações do ego contra desejos reprimidos violentos e daí perfeitamente explicável a presença dela no sonho quando a elaboração deste se pôs excessivamente a serviço da satisfação daqueles desejos reprimidos Como vêem o estudo dos sonhos já estaria em si justificado pelo fato de que proporciona conclusões sobre coisas de que por outros meios dificilmente chegaríamos a ter noção Foi todavia no decorrer do tratamento psicanalítico dos neuróticos que chegamos até ele Pelo que até agora dissemos podem compreender facilmente que a interpretação de sonhos quando não a estorvam em excesso as resistências do doente leva ao conhecimento dos desejos ocultos e reprimidos bem como dos exemplos entretidos por este Posso agora tratar do terceiro grupo de fenômenos psíquicos cujo estudo se tornou recurso técnico da psicanálise Os fenômenos em questão são as pequenas falhas comuns aos indivíduos normais e aos neuróticos fatos aos quais não costumamos ligar importância o esquecimento de coisas que deviam saber e que às vezes sabem realmente por exemplo a fuga temporária dos nomes próprios os lapsos de linguagem tão freqüentes até mesmo conosco na escrita ou na leitura em voz alta atrapalhações no executar qualquer coisa perda ou quebra de objetos etc bagatelas de cujo determinismo psicológico de ordinário não se cuida que passam sem reparo como casualidades como resultado de distrações desatenções e 21 outras condições semelhantes Juntamse ainda os atos e gestos que as pessoas executam sem perceber e sobretudo sem lhes atribuir importância mental como sejam trautear melodias brincar com objetos com partes da roupa ou do próprio corpo etc Essas coisinhas os atos falhos como os sintomáticos e fortuitos não são assim tão destituídas de valor como por uma espécie de acordo tácito e hábito admitir São extraordinariamente significativas e quase sempre de interpretação fácil e segura tendose em vista a situação em que ocorrem verificase que mais uma vez exprimem impulsos e intenções que devem ficar ocultos à própria consciência ou emanam justamente dos desejos reprimidos e dos complexos que como já sabemos são criadores dos sintomas e formadores dos sonhos Fazem jus à mesma consideração que os sintomas e o seu exame tanto quanto o dos sonhos pode levar ao descobrimento da parte oculta da mente Por elas o homem trai em regra os mais íntimos segredos Se se produzem com grande facilidade e freqüência até em indivíduos normais cujos desejos inconscientes estão reprimidos de modo eficaz isso se explica pela futilidade e inverossimilhança das mesmas São porém do mais alto valor teórico testemunham a existência da repressão e da substituição mesmo na saúde perfeita Notarão desde logo que o psicanalista se distingue pela rigorosa fé no determinismo da vida mental Para ele não existe nada insignificante arbitrário ou casual nas manifestações psíquicas Antevê um motivo suficiente em toda parte onde habitualmente ninguém pensa nisso está até disposto a aceitar causas múltiplas para o mesmo efeito enquanto nossa necessidade causal que supomos inata se satisfaz plenamente com uma única causa psíquica Se os ouvintes reunirem os meios que estão ao nosso alcance para descobrimento do que na vida mental jaz escondido deslembrado e reprimido o estudo das idéias livremente associadas pelos pacientes seus sonhos falhas e ações sintomáticas se ainda juntarem a tudo isso o exame de outros fenômenos surgidos no decurso do tratamento psicanalítico e a respeito dos quais farei algumas observações quando tratar da transferência chegarão comigo à conclusão de que a nossa técnica já é suficientemente capaz de realizar aquilo que se propôs conduzir à consciência o material psíquico patogênico dando fim desse modo aos padecimentos ocasionados pela produção dos sintomas de substituição O fato de enriquecermos e aprofundarmos durante o tratamento os nossos conhecimentos sobre a vida mental dos sãos e dos doentes deve ser considerado apenas como estímulo especial a este trabalho e uma de suas vantagens Não sei se ficaram com a impressão de que a técnica através de cujo arsenal os conduzi apresenta dificuldades especiais Para mim ela amoldase perfeitamente aos seus fins Mas não é menos certo também que não constitui prenda inata tem de ser aprendida como a histológica ou a cirúrgica Talvez se espantem em saber que na Europa ouvi uma série de juízos relativos à psicanálise expendidos por pessoas jejunas a respeito desta técnica que elas não exercitam as quais pessoas ainda por ironia nos exigem lhes demonstremos a exatidão de nossos resultados No meio de tais opositores encontramse sem dúvida homens familiarizados com o raciocínio científico em outras matérias incapazes de contestar por exemplo o resultado dum exame microscópico só porque não o podem confirmar pela inspeção do preparado anatômico com a vista desarmada e que não emitiriam parecer algum antes de minuciosa observação ao microscópio Mas no tocante à psicanálise as circunstâncias são realmente desfavoráveis a um imediato assentimento Quer a psicanálise tornar conscientemente reconhecido aquilo que está reprimido na vida mental e todo aquele que a julga é homem com as mesmas repressões mantidas talvez à 22 custa de penosos sacrifícios Neles devem levantarse pois as mesmas resistências como nos doentes e estas se revestem facilmente das roupagens da impugnação intelectual suscitando argumentos semelhantes aos que desfazemos nos doentes com a regra psicanalítica fundamental Como nos doentes podemos reconhecer em nossos adversários notável influxo afetivo na faculdade de julgamento com prejuízo desta O orgulho da consciência que chega por exemplo a desprezar os sonhos pertence ao forte aparelhamento disposto em nós de modo geral contra a invasão dos complexos inconscientes Esta é a razão por que tão dificultoso é como vencer os homens da realidade do inconsciente e dar lhes a conhecer qualquer novidade em contradição com seu conhecimento consciente QUARTA LIÇÃO SENHORAS E SENHORES Desejam os ouvintes saber agora o que com auxílio dos meios técnicos descritos logramos averiguar a respeito dos complexos patogênicos e dos desejos reprimidos dos neuróticos Mas antes de tudo uma coisa o exame psicanalítico relaciona com uma regularidade verdadeiramente surpreendente os sintomas mórbidos a impressões da vida erótica do doente mostranos que os desejos patogênicos são da natureza dos componentes instintivos eróticos e obriganos a admitir que as perturbações do erotismo têm a maior importância entre as influências que levam à moléstia tanto num como noutro sexo Bem sei que não se acredita de boa mente nesta minha afirmação Mesmo os investigadores que me seguem solícitos os trabalhos psicológicos são inclinados a julgar que eu exagero a participação etiológica do fator sexual e vêm a mim perguntando por que outras excitações mentais não hão de dar também motivo aos fenômenos da repressão e formação de substitutivos Por ora só lhes posso responder não sei Mas a experiência mostra que elas não têm a mesma importância Quando muito reforçam a ação do elemento sexual mas nunca podem substituílo Esta ordem de coisas não a determinei mais ou menos teoricamente Quando em 1895 publiquei com o Dr J Breuer os Estudos sobre a Histeria ainda não tinha esta opinião vime forçado a adotála quando as minhas experiências se tornaram mais numerosas e penetraram mais intimamente o problema Senhores Achamse entre os presentes alguns de meus adeptos e amigos mais chegados que viajaram comigo até Worcester Se os interrogarem ouvirão que todos eles a princípio recebiam com a maior descrença a afirmação da importância decisiva da etiologia sexual até que pelo exercício analítico pessoal foram obrigados a aceitar como sua própria aquela afirmação O modo de proceder dos doentes em nada facilita o reconhecimento da justeza da tese a que estamos aludindo Em vez de nos fornecerem prontamente informações sobre a sua vida sexual procuram por todos os meios ocultála Em matéria sexual os homens são em geral insinceros Não expõem a sua sexualidade francamente saem recobertos de espesso manto tecido de mentiras para se resguardarem como se reinasse um temporal terrível no mundo da sexualidade E não deixam de ter razão o sol e o ar em nosso mundo civilizado não são realmente favoráveis à atividade sexual Com efeito nenhum de nós pode manifestar o seu erotismo francamente à turba Quando porém seus pacientes tiverem percebido que durante o tratamento devem estar à vontade se despojarão daquele manto de mentira e só então estarão os presentes em condições de formar juízo a respeito deste 23 problema Infelizmente os médicos não desfrutam nenhum privilégio especial sobre os demais homens no tocante ao comportamento na esfera da vida sexual e muitos deles estão dominados por aquela mescla de lubricidade e afetado recato que é o que governa a maioria dos povos civilizados nas coisas da sexualidade Deixemme prosseguir no relato das nossas contestações Em outra série de casos o exame psicanalítico vem sem dúvida ligar os sintomas não a fatos sexuais senão a acontecimentos traumáticos comuns Mas por outra circunstância esta diferenciação perde todo valor O trabalho de análise necessário para o esclarecimento completo e cura definitiva de um caso mórbido não se detém nos episódios contemporâneos da doença retrocede sempre em qualquer hipótese até a puberdade e a mais remota infância do doente para só aí topar as impressões e acontecimentos determinantes da doença ulterior Só os fatos da infância explicam a sensibilidade aos traumatismos futuros e só com o descobrimento desses restos de lembranças quase regularmente olvidados e com a volta deles à consciência é que adquirimos o poder de afastar os sintomas Chegamos aqui à mesma conclusão do exame de sonhos isto é que foram os desejos duradouros e reprimidos da infância que emprestaram à formação dos sintomas a força sem a qual teria decorrido normalmente a reação contra traumatismos posteriores Estes potentes desejos da infância hão de ser reconhecidos porém em sua absoluta generalidade como sexuais Mas agora sim estou realmente certo do espanto dos ouvintes Existe então perguntarão uma sexualidade infantil A infância não é ao contrário o período da vida marcado pela ausência do instinto sexual Não meus senhores Não é verdade certamente que o instinto sexual na puberdade entre o indivíduo como segundo o Evangelho os demônios nos porcos A criança possui desde o princípio o instinto e as atividades sexuais Ela os traz consigo para o mundo e deles provêm através de uma evolução rica de etapas a chamada sexualidade normal do adulto Não são difíceis de observar as manifestações da atividade sexual infantil ao contrário para deixálas passar desapercebidas ou incompreendidas é que é preciso certa arte Por um feliz acaso achome em condições de chamar dentre os presentes uma testemunha em favor de minhas afirmações Eis aqui o trabalho do Dr Sanford Bell impresso em 1902 em The American Journal of Psychology O autor é um Fellow da Clark University o mesmo instituto em cujo seio nos achamos no atual instante Nesse trabalho intitulado A Preliminary Study of the Emotion of Love Between the Sexes publicado três anos antes dos meus Three Essays on the Theory of Sexuality 1905d Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade escreve o autor tal qual há pouco lhes dizia A emoção do amor sexual não aparece pela primeira vez no período da adolescência como se tem pensado Procedendo à americana como diríamos na Europa reuniu durante 15 anos nada menos de 2500 observações positivas das quais 800 são próprias Dos sinais por que se revelam esses temperamentos namoradiços diz ele O espírito mais desprevenido observando estas manifestações em centenas de casais de crianças não poderá deixar de atribuirlhes uma origem sexual O mais rigoroso espírito satisfazse quando a estas observações se juntam as confissões dos que em criança sentiram a emoção intensamente e cujas recordações daquela época são relativamente nítidas Aqueles dentre os ouvintes que não queriam acreditar na sexualidade infantil terão o maior assombro ouvindo que entre estas crianças tão cedo enamoradas não poucas se encontram na tenra idade de três quatro ou cinco anos Não me admiraria se estas observações de seu compatriota lhes merecessem mais crédito que as minhas A mim mesmo foime dado obter recentemente um quadro mais ou menos 24 completo das manifestações instintivas somáticas e das produções mentais num período precoce da vida amorosa infantil graças à análise empreendida com todas as regras pelo próprio pai de um menino de cinco anos atacado de ansiedade Devo lembrarlhes que meu amigo Dr C G Jung há poucas horas nesta mesma sala lhes expôs a observação de uma menina ainda mais nova que pelo mesmo motivo do meu paciente nascimento de um irmãozinho evidenciava quase os mesmos impulsos sensuais e idêntica formação de desejos e complexos Cf Jung 1910 Não duvido pois de que os presentes se acabarão familiarizando com a idéia de início tão exótica da sexualidade infantil memorese o exemplo notável do psiquiatra E Bleuler de Zurique que há poucos anos dizia publicamente que não compreendia minha teoria sexual mas que de então para cá pôde mediante observações próprias confirmar a sexualidade infantil em toda a extensão Cf Bleuler 1908 É facílima de explicar a razão por que a maioria dos homens observadores médicos e outros nada querem saber da vida sexual da criança Sob o peso da educação e da civilização esqueceram a atividade sexual infantil e não desejam agora relembrar aquilo que já estava reprimido Se quisessem iniciar o exame pela autoanálise com uma revisão e interpretação das próprias recordações infantis haviam de chegar a convicção muito diferente Deixem que se dissipem as dúvidas e examinemos juntos a sexualidade infantil desde os primeiros anos O instinto sexual se nos apresenta muito complexo podendo ser desmembrado em vários componentes de origem diversa Antes de tudo é independente da função procriadora a cujo serviço mais tarde se há de pôr Serve para dar ensejo a diversas espécies de sensações agradáveis que nós pelas suas analogias e conexões englobamos como prazer sexual A principal fonte de prazer sexual infantil é a excitação apropriada de determinadas partes do corpo particularmente excitáveis além dos órgãos genitais como sejam os orifícios da boca ânus e uretra e também a pele e outras superfícies sensoriais Como nesta primeira fase da vida sexual infantil a satisfação é alcançada no próprio corpo excluído qualquer objeto estranho dáselhe o nome segundo o termo introduzido por Havelock Ellis de autoerotismo Zonas erógenas denominamse os lugares do corpo que proporcionam o prazer sexual O prazer de chupar o dedo o gozo da sucção é um bom exemplo de tal satisfação autoerótica partida de uma zona erógena Quem primeiro observou cientificamente esse fenômeno o pediatra Lindner 1879 de Budapeste já o tinha interpretado como satisfação dessa natureza e descrito exaustivamente a transição para outras formas mais elevadas de atividade sexual Outra satisfação da mesma ordem nessa idade é a excitação masturbatória dos órgãos genitais fenômeno que tão grande importância conserva para o resto da vida e que muitos indivíduos não conseguem suplantar jamais Ao lado dessas e outras atividades autoeróticas revelamse muito cedo na criança aqueles componentes instintivos do gozo sexual ou como preferimos dizer da libido que pressupõem como objeto uma pessoa estranha Estes instintos aparecem em grupos de dois um oposto ao outro ativo e passivo citolhes como mais notáveis representantes deste grupo o prazer de causar sofrimento sadismo com o seu reverso passivo masoquismo e o prazer visual ativo ou passivo Do gozo visual ativo desenvolvese mais tarde a sede de saber como do passivo o pendor para as representações artísticas e teatrais Outras atividades sexuais infantis já incidem na escolha do objeto onde o principal elemento é uma pessoa estranha a qual deve primordialmente sua importância a considerações relativas ao instinto de conservação Mas a diferença de sexo ainda não tem neste período infantil papel decisivo podese pois atribuir a toda criança sem injustiça uma parcial 25 disposição homossexual Esta vida sexual infantil desordenada rica mas dissociada em que cada impulso isolado se entrega à conquista do gozo independentemente dos demais experimenta uma condensação e organização em duas principais direções de tal modo que ao fim da puberdade o caráter sexual definitivo está completamente formado De um lado subordinamse todos os impulsos ao domínio da zona genital por meio da qual a vida sexual se coloca em toda a plenitude ao serviço da propagação da espécie passando a satisfação daqueles impulsos a só ter importância como preparo e estímulo do verdadeiro ato sexual De outro lado a escolha de objeto repele o autoerotismo de maneira que na vida erótica os componentes do instinto sexual só querem satisfazerse na pessoa amada Mas nem todos os componentes instintivos originários são admitidos a tomar parte nesta fixação definitiva da vida sexual Já antes da puberdade sob o influxo de educação certos impulsos são submetidos a repressões extremamente enérgicas ao mesmo passo que surgem forças mentais o pejo a repugnância a moral que como sentinelas mantêm as aludidas repressões Chegando na puberdade a maré das necessidades sexuais encontra nas mencionadas reações psíquicas diques de resistência que lhe conduzem a corrente pelos caminhos chamados normais e lhe impedem reviver os impulsos reprimidos Os mais profundamente atingidos pela repressão são primeiramente e sobretudo os prazeres infantis coprófilos isto é os que se relacionam com os excrementos e em segundo lugar os da fixação às pessoas da primitiva escolha de objeto Senhores Um princípio de patologia geral afirma que todo processo evolutivo traz em si os germes de uma disposição patológica e pode ser inibido ou retardado ou desenvolverse incompletamente Isto vale para o tão complicado desenvolvimento da função sexual que nem em todos os indivíduos se desenrola sem incidentes que deixem após si ou anormalidade ou disposições a doenças futuras por meio de uma regressão Pode suceder que nem todos os impulsos parciais se sujeitem à soberania da zona genital o que ficou independente estabelece o que chamamos perversão e pode substituir a finalidade sexual normal pela sua própria Segundo já foi dito acontece freqüentemente que o autoerotismo não seja completamente superado como testemunham as multiformes perturbações aparecidas depois A equivalência primitiva dos sexos como objeto sexual pode conservar se e disso se originará no adulto uma tendência homossexual capaz de chegar em certas circunstâncias até a da homossexualidade exclusiva Esta série de distúrbios corresponde a entraves diretos no desenvolvimento da função sexual abrange as perversões e o nada raro infantilismo geral da vida sexual A propensão à neurose deve provir por outra maneira de uma perturbação do desenvolvimento sexual As neuroses são para as perversões o que o negativo é para o positivo Como nas perversões evidenciamse nelas os mesmos componentes instintivos que mantêm os complexos e são os formadores de sintomas mas aqui eles agem do inconsciente onde puderam firmarse apesar da repressão sofrida A psicanálise nos mostra que a manifestação excessivamente intensa e prematura desses impulsos conduz a uma espécie de fixação parcial ponto fraco na estrutura da função sexual Se o exercício da capacidade genética normal encontra no adulto um obstáculo rompese a repressão da fase do desenvolvimento justamente naquele ponto em que se deu a fixação infantil É muito possível que me contestem dizendo que nada disto é sexualidade e que emprego a palavra num sentido mais extenso do que estão habituados a entender Concordo Mas podese perguntar se não têm antes utilizado os presentes o vocábulo em sentido nímio restrito quando o limitam ao terreno da procriação Sacrificam assim a compreensão das perversões do enlaçamento que existe entre estas a neurose e a vida sexual normal e os 26 senhores se colocam em situação de não reconhecer em seu verdadeiro significado os primórdios facilmente observáveis da vida erótica somática e psíquica das crianças Qualquer que seja a opinião dos presentes sobre o emprego do termo devem ter sempre em conta que o psicanalista considera a sexualidade naquele sentido amplo a que o conduziu a apreciação da sexualidade infantil Volvamos ainda uma vez à evolução sexual da criança Temos aqui ainda muito que rever porque nossa atenção foi dirigida mais para as manifestações somáticas da vida sexual do que às psíquicas A primitiva escolha de objeto feita pela criança e dependente de sua necessidade de amparo exigenos ainda toda a atenção Essa escolha dirigese primeiro a todas as pessoas que lidam com a criança e logo depois especialmente aos genitores A relação entre criança e pais não é como a observação direta do menino e posteriormente o exame psicanalítico do adulto concordemente demonstram absolutamente livre de elementos de excitação sexual A criança toma ambos os genitores e particularmente um deles como objeto de seus desejos eróticos Em geral o incitamento vem dos próprios pais cuja ternura possui o mais nítido caráter de atividade sexual embora inibido em suas finalidades O pai em regra tem preferência pela filha a mãe pelo filho a criança reage desejando o lugar do pai se é menino o da mãe se se trata da filha Os sentimentos nascidos destas relações entre pais e filhos e entre um irmão e outros não são somente de natureza positiva de ternura mas também negativos de hostilidade O complexo assim formado é destinado a pronta repressão porém continua a agir do inconsciente com intensidade e persistência Devemos declarar que suspeitamos represente ele com seus derivados o complexo nuclear de cada neurose e nos predispusemos a encontrálo não menos ativo em outros campos da vida mental O mito do rei Édipo que tendo matado o pai tomou a mãe por mulher é uma manifestação pouco modificada do desejo infantil contra o qual se levantam mais tarde como repulsa as barreiras do incesto O Hamlet de Shakespeare assenta sobre a mesma base embora mais velada do complexo do incesto No tempo em que é dominada pelo complexo central ainda não reprimido a criança dedica aos interesses sexuais notável parte da atividade intelectual Começa a indagar de onde vêm as criancinhas e com os dados a seu alcance adivinha das circunstâncias reais mais do que os adultos podem suspeitar Comumente o que lhe desperta a curiosidade é a ameaça material do aparecimento de um novo irmãozinho no qual a princípio só vê um competidor Sob a influência dos impulsos parciais que nela agem forma até numerosas teorias sexuais infantis Chega a pensar que ambos os sexos possuem órgãos genitais masculinos que comendo é que se geram crianças que estas vêm ao mundo pela extremidade dos intestinos que a cópula é um ato de hostilidade uma espécie de subjugação Mas justamente a falta de acabamento de sua constituição sexual e a deficiência de conhecimentos especialmente no que se refere ao tubo genital feminino forçam o pequeno investigador a suspender o improfícuo trabalho O próprio fato dessa investigação e as conseqüentes teorias sexuais infantis são de importância determinante para a formação do caráter da criança e do conteúdo da neurose futura É absolutamente normal e inevitável que a criança faça dos pais o objeto da primeira escolha amorosa Porém a libido não permanece fixa neste primeiro objeto posteriormente o tomará apenas como modelo passando dele para pessoas estranhas na ocasião da escolha definitiva Desprender dos pais a criança tornase portanto uma obrigação inelutável sob pena de graves ameaças para a função social do jovem Durante o tempo em que a repressão promove a seleção entre os impulsos parciais de ordem sexual e mais tarde quando a influência dos pais principal fator da repressão deve abrandar cabem no 27 trabalho educativo importantes deveres que atualmente por certo nem sempre são preenchidos de modo inteligente e livre de críticas Senhoras e senhores Não julguem que com esta dissertação acerca da vida sexual infantil e do desenvolvimento psicossexual da criança nos tenhamos afastado da psicanálise e da terapêutica das perturbações nervosas Se quiserem podem definir o tratamento psicanalítico como simples aperfeiçoamento educativo destinado a vencer os resíduos infantis QUINTA LIÇÃO SENHORAS E SENHORES Com o descobrimento da sexualidade infantil e atribuindo aos componentes eróticos instintivos os sintomas das neuroses chegamos a algumas fórmulas inesperadas sobre a natureza e tendência destas últimas Vemos que os indivíduos adoecem quando por obstáculos exteriores ou ausência de adaptação interna lhes falta na realidade a satisfação das necessidades sexuais Observamos que então se refugiam na moléstia para com o auxílio dela encontrar uma satisfação substitutiva Reconhecemos que os sintomas mórbidos contêm certa parcela da atividade sexual do indivíduo ou sua vida sexual inteira No distanciar da realidade reconhecemos também a tendência principal e ao mesmo tempo o dano capital do estado patológico Conjecturamos que a resistência oposta pelos doentes à cura não seja simples mas composta de vários elementos Não somente o ego do doente se recusa a desfazer a repressão por meio da qual se esquivou de suas disposições originárias como também pode o instinto sexual não renunciar à satisfação vicariante enquanto houver dúvida de que a realidade lhe ofereça algo melhor A fuga da realidade insatisfatória para aquilo que pelos danos biológicos que produz chamamos doença não deixa jamais de proporcionar ao doente um prazer imediato ela se dá pelo caminho da regressão às primeiras fases da vida sexual a que na época própria não faltou satisfação Esta regressão mostrase sob dois aspectos temporal porque a libido na necessidade erótica volta a fixarse aos mais remotos estados evolutivos e formal porque emprega os meios psíquicos originários e primitivos para manifestação da mesma necessidade Sob ambos os aspectos a regressão orientase para a infância restabelecendo um estado infantil da vida sexual Quanto mais profundamente penetrarlhes a patogênese das afecções nervosas mais claramente verão os liames entre as neuroses e outras produções da vida mental do homem ainda as mais altamente apreciadas Hão de notar que nós os homens com as elevadas aspirações de nossa cultura e sob a pressão das íntimas repressões achamos a realidade de todo insatisfatória e por isso mantemos uma vida de fantasia onde nos comprazemos em compensar as deficiências da realidade engendrando realizações de desejos Nestas fantasias há muito da própria natureza constitucional da personalidade e muito dos sentimentos reprimidos O homem enérgico e vencedor é aquele que pelo próprio esforço consegue transformar em realidade seus castelos no ar Quando esse resultado não é atingido seja por oposição do mundo exterior seja por fraqueza do indivíduo este se desprende da realidade recolhendose aonde pode gozar isto é ao seu mundo de fantasia cujo conteúdo no caso de moléstia se transforma em sintoma Em certas condições favoráveis ainda lhe é possível encontrar outro caminho dessas fantasias para a realidade em vez de se alhear dela definitivamente pela regressão ao período infantil Quando a 28 pessoa inimizada com a realidade possui dotes artísticos psicologicamente ainda enigmáticos podem suas fantasias transmudarse não em sintomas senão em criações artísticas subtraise desse modo à neurose e reata as ligações com a realidade Cf Rank 1907 Quando com a revolta perpétua contra o mundo real faltam ou são insuficientes esses preciosos dons é absolutamente inevitável que a libido seguindo a origem da fantasia chegue ao reavivamento dos desejos infantis e com isso à neurose representante em nossos dias do claustro aonde costumavam recolherse todas as pessoas desiludidas da vida ou que se sentiam fracas demais para viver Sejame lícito referir neste ponto o que de mais importante pudemos conseguir pelo estudo psicanalítico dos nervosos e vem a ser que as neuroses não têm um conteúdo psíquico que como privilégio deles não se possa encontrar nos sãos segundo expressou C G Jung aqueles adoecem pelos mesmos complexos com que lutamos nós os que temos saúde perfeita Conforme as circunstâncias de quantidade e da proporção entre as forças em choque será o resultado da luta a saúde a neurose ou a sublimação compensadora Senhoras e senhores Não lhes falei até agora sobre a experiência mais importante que vem confirmar nossa suposição acerca das forças instintivas sexuais da neurose Todas as vezes que tratamos psicanaliticamente um paciente neurótico surge nele o estranho fenômeno chamado transferência isto é o doente consagra ao médico uma série de sentimentos afetuosos mesclados muitas vezes de hostilidade não justificados em relações reais e que pelas suas particularidades devem provir de antigas fantasias tornadas inconscientes Aquele trecho da vida sentimental cuja lembrança já não pode evocar o paciente torna a vivêlo nas relações com o médico e só por este ressurgimento na transferência é que o doente se convence da existência e do poder desses sentimentos sexuais inconscientes Os sintomas para usar uma comparação química são os precipitados de anteriores eventos amorosos no mais amplo sentido que só na elevada temperatura da transferência podem dissolverse e transformarse em outros produtos psíquicos O médico desempenha nesta reação conforme a excelente expressão de Ferenczi 1909 o papel de fermento catalítico que atrai para si temporariamente a energia afetiva aos poucos libertada durante o processo O estudo da transferência pode darlhes ainda a chave para compreenderem a sugestão hipnótica de que a princípio nos servimos como meio técnico de esquadrinhar o inconsciente dos doentes Naquela época o hipnotismo revelavase um meio terapêutico mas constituía ao mesmo tempo um empecilho ao conhecimento científico da questão removendo as resistências psíquicas de um certo território para amontoálas como muralha intransponível nos confins do mesmo Não pensem além disso que o fenômeno da transferência a respeito do qual infelizmente pouco posso dizer aqui seja produzido pela influência da psicanálise A transferência surge espontaneamente em todas as relações humanas e de igual modo nas que o doente entretém com o médico é ela em geral o verdadeiro veículo da ação terapêutica agindo tanto mais fortemente quanto menos se pensa em sua existência A psicanálise portanto não a cria apenas a desvenda à consciência e dela se apossa a fim de encaminhála ao termo desejado Não posso certamente deixar o assunto da transferência sem frisar que este fenômeno é decisivo não só para o convencimento do doente mas também do médico Sei que todos os meus adeptos só pela experiência própria sobre a transferência se convenceram da exatidão das minhas afirmações referentes à patogênese das neuroses posso perfeitamente compreender que ninguém alcance um modo de julgar tão seguro enquanto não se faça psicanalista e não observe dessa maneira a ação da transferência 29 Senhoras e senhores Do ponto de vista intelectual devemos levar em conta julgo eu que existem especialmente dois obstáculos dignos de nota contra a aceitação das idéias psicanalíticas primeiramente a falta de hábito de contar com o rigoroso determinismo da vida mental o qual não conhece exceção e em segundo lugar o desconhecimento das singularidades pelas quais os processos mentais inconscientes se diferenciam dos conscientes que nos são familiares Uma das formas de oposição mais espalhadas contra o emprego da psicanálise tanto em doentes como em sãos se liga ao último desses dois fatores Temese que ela faça mal temse medo de chamar à consciência do doente os impulsos sexuais reprimidos como se lhe oferecessem então o perigo de aniquilar as mais altas aspirações morais e o privassem das conquistas da civilização Notase que o doente apresenta feridas na vida psíquica mas receiase tocar nelas para não aumentar os sofrimentos Podemos aceitar esta analogia Não devemos com efeito tocar em pontos doentes quando estamos certos de que com isso só provocamos dor e nada mais Todos sabem porém que o cirurgião não deixa de examinar palpando o foco da moléstia quando tem em vista realizar uma operação que há de proporcionar a cura completa Ninguém pensa já em incriminálo pelos inevitáveis incômodos do exame nem pelos fenômenos pós operatórios desde que a operação tenha bom êxito e que mediante a agravação passageira do mal o doente alcance a definitiva supressão do estado mórbido Em relação à psicanálise as condições são semelhantes pode ela reivindicar os mesmos direitos que a cirurgia a exasperação dos incômodos que impõe ao doente durante o tratamento é uma vez observada a boa técnica incomparavelmente menor que a infligida pelo cirurgião e em geral nem deve ser tomada em consideração diante da gravidade da moléstia principal A destruição do caráter civilizado pelos impulsos instintivos libertados da repressão é um desfecho temido mas absolutamente impossível É que este temor não leva em conta o que a nossa experiência nos ensinou com toda segurança que o poder mental e somático de um desejo desde que se baldou a respectiva repressão se manifesta com muito mais força quando inconsciente do que quando consciente indo para a consciência só se pode enfraquecer O desejo inconsciente escapa a qualquer influência é independente das tendências contrárias ao passo que o consciente é atalhado por tudo quando igualmente consciente se lhe opuser O tratamento psicanalítico colocase assim como o melhor substituto da repressão fracassada justamente em prol das aspirações mais altas e valiosas da civilização Que acontece geralmente com os desejos inconscientes libertados pela psicanálise e quais os meios por cujo intermédio pretendemos tornálos inofensivos à vida do indivíduo Desses meios há vários O resultado mais freqüente é que os mesmos desejos já durante o tratamento são anulados pela ação mental bem conduzida dos melhores sentimentos contrários A repressão é substituída pelo julgamento de condenação efetuado com recursos superiores Isso é possível porque quase sempre temos de remover tãosomente conseqüências de estados evolutivos anteriores do ego Como o indivíduo na época se achava ainda incompletamente organizado não pôde senão reprimir o instinto inutilizável mas na força e madureza de hoje pode talvez dominar perfeitamente aquilo que lhe é hostil Outro desfecho do tratamento psicanalítico é que os impulsos inconscientes ora descobertos passam a ter a utilização conveniente que deviam ter encontrado antes se a evolução não tivesse sido perturbada A extirpação radical dos desejos infantis não é absolutamente o fim ideal Por causa das repressões o neurótico perdeu muitas fontes de energia mental que lhe teriam sido de grande valor na formação do caráter e na luta pela vida Conhecemos uma solução muito mais conveniente a chamada sublimação pela qual 30 a energia dos desejos infantis não se anula mas ao contrário permanece utilizável substituindose o alvo de algumas tendências por outro mais elevado quiçá não mais de ordem sexual Exatamente os componentes do instinto sexual se caracterizam por essa faculdade de sublimação de permutar o fim sexual por outro mais distante e de maior valor social Ao reforço de energia para nossas funções mentais por essa maneira obtido devemos provavelmente as maiores conquistas da civilização A repressão prematura exclui a sublimação do instinto reprimido desfeito aquele está novamente livre o caminho para a sublimação Não devemos deixar de contemplar também o terceiro dos possíveis desenlaces do tratamento psicanalítico Certa parte dos desejos libidinais reprimidos faz jus à satisfação direta e deve alcançála na vida As exigências da sociedade tornam o viver dificílimo para a maioria das criaturas humanas forçandoas com isso a se afastarem da realidade e dando origem às neuroses sem que o excesso de coerção sexual traga maiores benefícios à coletividade Não devemos ensoberbecernos tanto a ponto de perder completamente de vista nossa natureza animal nem esquecer tampouco que a felicidade individual não deve ser negada pela civilização A plasticidade dos componentes sexuais manifesta na capacidade de sublimaremse pode ser uma grande tentação a conquistarmos maiores frutos para a sociedade por intermédio da sublimação contínua e cada vez mais intensa Mas assim como não contamos transformar em trabalho senão parte do calor empregado em nossas máquinas de igual modo não devemos esforçarnos em desviar a totalidade da energia do instinto sexual da sua finalidade própria Nem o conseguiríamos E se o cerceamento da sexualidade for exagerado trará consigo todos os danos duma exploração abusiva Não sei se da parte dos senhores considerarão como presunção minha a admoestação com que concluo Atrevome apenas a representar indiretamente a convicção que tenho narrandolhes uma anedota já antiga cuja moralidade os senhores mesmo apreciarão A literatura alemã conhece um vilarejo chamado Schilda de cujos habitantes se contam todas as espertezas possíveis Dizem que possuíam eles um cavalo com cuja força e trabalho estavam satisfeitíssimos Uma só coisa lamentavam consumia aveia demais e esta era cara Resolveram tirálo pouco a pouco desse mau costume diminuindo a ração de alguns grãos diarimente até acostumálo à abstinência completa Durante certo tempo tudo correu magnificamente o cavalo já estava comendo apenas um grãozinho e no dia seguinte devia finalmente trabalhar sem alimento algum No outro dia amanheceu morto o pérfido animal e os cidadãos de Schilda não sabiam explicar por que Nós nos inclinaremos a crer que o cavalo morreu de fome e que sem certa ração de aveia não podemos esperar em geral trabalho de animal algum Pelo convite e pela atenção com que me honraram os meus agradecimentos PRIMEIRA LIÇÃO A apresentação feita por Sigmund Freud começa com uma reflexão sobre a novidade e o embaraço que ele sente ao se apresentar como um conferencista principalmente em direção de um público interessado na psicanálise com a qual ele ainda se identifica Freud verifica que seu nome está assentado sobre a psicanálise no entanto não foi ele quem a iniciou foi iniciada pelo médico vienense Joseph Breuer que tratou uma paciente jovem com histeria por meio da criação de um novo tratamento a partir do então recente e ainda em construção método psicanalítico que ficou conhecido como cura pela fala ou cura podcast A paciente de Breueratrás não possuiu paralisias dificuldades de fala e estados de confusão mental Ao hipnotizála descobriu que os sintomas estavam relacionados a retornos de experiências traumáticas afetivas traumas psíquicos que geram sintomas tal como incapacidade para beber água por efeito de um experimento afetivo com uma mulher e seu cachorro que foi um trauma ou seja se de um lado a paciente revivesse as suas experiências em hipnose traria para uma efervescência temporária os seus sintomas histéricos Freud vai à frente explicando que os sintomas histéricos são retornos de memórias de experiências emocionais intensas com uma natureza muitas e muitas vezes reprimida com sintomas físicos O tratamento consistiria em retornar tais experiências à maneira catastrófica trazer à tona as pessoas reprimidas Freud afirma que a análise psicanalítica demonstra que as neuroses e a histeria decorrem da fixação emocional no passado constituindo um impedimento para a pessoa viver plenamente no presente Ele conclui que o tratamento para esses transtornos é realizado através da conscientização dos traumas recalcados ou reprimidos o que possibilita ao paciente liberar as emoções de maneira adequada e restabelecer o seu equilíbrio psíquico Esta exposição é um marco da apresentação inicial do método psicanalítico e elucida a importância do inconsciente e das emoções reprimidas na formação dos sintomas psíquicos e físicos SEGUNDA LIÇÃO O presente texto é parte de uma exposição de Sigmund Freud sobre o desenvolvimento da teoria psicanalítica da histeria e do mecanismo da repressão Freud faz inicialmente referência ao trabalho realizado por JeanMartin Charcot em Paris no âmbito da histeria e a sua influência na investigação em Viena no tratamento da histeria realizada por Freud e Josef Breuer Da prática terapêutica Freud observou a importância das memórias indiferentes e dos conflitos dentro do sujeito para a concepção de doença Freud rejeita a concepção de Pierre Janet de que a histeria é secundária à incapacidade inata do sistema nervoso de incorporar as experiências psíquicas Para Freud a histeria é secundária aos conflitos psíquicos internos em que um desejo intolerável ou nãocoincidente com o eu da pessoa é reprimido O processo de repressão funciona da seguinte maneira o desejo ou lembrança indesejada é expulsa do nível da consciência mas permanece no inconsciente e vai gerar os sintomas encontrados na histeria O conceito de resistência ocupa um lugar central na psicanálise freudiana A resistência é a força que impede que o material reprimido retorne à consciência e para que ocorra a cura é necessário vencer a resistência Freud descreve a partir da sua prática A solução pode envolver a aceitação do desejo reprimido dele mesmo a sublimação desse mesmo desejo em outro mais socialmente aceito ou a negação do desejo tendo por suporte as funções mentais superiores Por fim Freud reconhece que a explicação definitiva a respeito dos fenômenos psíquicos da histeria e da repressão ainda está em trabalho e se compromete a dar continuidade aos seus trabalhos com o objetivo de conduzir a cabo a teoria psicanalítica TERCEIRA LIÇÃO O texto trata de alguns conceitos básicos da psicanálise com ênfase em associação livre e uso deste para a decifração do inconsciente Freud inicia corrigindo uma afirmação contida em uma conferência anterior em que ele sustentou que na maioria dos casos bastava a pressão para o paciente lembrarse de um conteúdo esquecido O autor admite que este processo num certo sentido não é válido uma vez que as resistências mentais podem gerar pensamentos distorcidos O verdadeiro encontro com a resistência seria aquele que impede o acesso ao material reprimido Para acessálo é preciso um esforço constante Freud recorre para isso ao conceito de complexo uma constelação de ideias e sentimentos interligados com energia de afeto os quais podem ser descobertos através de associações livres Ao permitir que o paciente diga tudo o que lhe venha à mente sem censura poderá mostrarse e descobrirse as marcas dos complexos reprimidos mas os pacientes em geral retêm os pensamentos devido à resistência inconsciente o que exige uma atenção especial A técnica de associação livre é semelhante ao trabalho de um químico que ao analisar os sintomas e suas associações é capaz de extrair da mente do paciente os elementos reprimidos de sua mente Freud ainda menciona a interpretação de sonhos que considera uma das ferramentas mais poderosas para acessar o inconsciente sugerindo que os sonhos são uma forma de satisfação de desejos reprimidos embora disfarçados Outro fenômeno importante são os atos falhos lapsos de linguagem esquecimentos ou ações inconscientes que podem evidenciar desejos ocultos Lutamos pelo poder ou pelo prazer e os atos falhos banalizados como um erro são importantes para a psicanálise pois mostram o oculto atrás da máscara da consciência F reud conclui ressaltando que o inconsciente deveria ser investigado cientificamente sem insinuações de explicação mística ou superficial e que a psicanálise é um recurso que investiga o material reprimido oferecendo um melhor entendimento dos conflitos e da origem dos sintomas A técnica da psicanálise é complexa e exige rigor mas é essencial para produzir resultados exatos e positivos nos tratamentos dos distúrbios psíquicos O autor ainda se posiciona contra as críticas que pessoas que nunca tiveram experiência prática na psicanálise fazem de forma a negar o seu valor e as compara contra qualquer resistência do ser humano a aceitar novas verdades sobre o inconsciente sendo essa resistência natural pois cada um tem seus complexos inconscientes a enfrentar QUARTA LIÇÃO O texto é uma imagem de Sigmund Freud em que expõe as suas descobertas sobre sexualidade infantil psicanálise e a relação destes fatores com as neuroses Para Freud quando se investiga para descobrir a origem dos sintomas das doenças neuróticas pela psicanálise encontrase a relação mais surpreendente entre estes sintomas e a vivência erótica dos pacientes especialmente com seus desejos sexuais que são desviados Segundo Freud os distúrbios do erotismo desempenham um papel fundamental nas doenças psíquicas ao passo que as influências sexuais têm importância maior do que as outras excitações mentais Freud discorre também sobre a sexualidade infantil no sentido de refutar a concepção de que a criança não possui instinto sexual Ele mostra que a criança tem uma sexualidade desde o início complexa manifestandoa com o autoerotismo e escolha de objetos envolvendo figuras parentais O efeito da repressão desses impulsos em desenvolvimento é levar a perturbações psíquicas e talvez neuroses no futuro A tese central de Freud é que os desejos infantis reprimidos que envolvem tanto o prazer quanto a escolha do objeto sexual são fundamentais para o desenvolvimento das neuroses na vida adulta e ao trazer estes desejos reprimidos à consciência a psicanálise é um dos caminhos para a cura e para o entendimento QUINTA LIÇÃO Freud começa seu discurso comentando sobre a descoberta da sexualidade infantil e como os sintomas das neuroses se devem a componentes eróticos instintivos Ele aponta que as pessoas adoecem quando não podem satisfazer suas necessidades sexuais e às vezes como resposta a isso buscam uma satisfação substitutiva através dos sintomas patológicos Freud menciona a conexão entre a realidade insatisfatória e o adoecimento psíquico sugerindo que a regressão à infância age como um modo de fuga da realidade na qual os sintomas se relacionam a necessidades eróticas insatisfeitas Ele também ressalta que a regressão poderia ocorrer de duas formas a primeira a regressão pode ser temporal quando a libido volta para épocas iniciais da vida sexual a segunda forma de regressão a regressão formal quando um indivíduo utiliza meios psíquicos primitivos para lidar com suas necessidades eróticas Freud compara as neuroses às fantasias afirmando que quando as pessoas sentem que a realidade não as satisfaz elas criam mundos de fantasia que visam compensar por suas deficiências Contudo se esses mundos de fantasia não se realizarem existe o risco de cair na regressão levando o indivíduo a retornar a um estado infantil o que então produz a neurose Freud ainda esclarece que as neuroses não contêm conteúdos psíquicos exclusivamente dos doentes mas atémse aos mesmos complexos que as pessoas normais ocupam De acordo com Freud a transferência possibilita um acesso a estes sentimentos recalcados constituindose como um instrumento fundamental da terapia Dessa forma a transferência não teria sido criada pela psicanálise mas é o que se revela constitutiva do próprio processo terapêutico Freud aceita ainda existir dois principais obstáculos ao reconhecimento da psicanálise o determinismo estrito da vida mental e a dificuldade de compreensão sobre como os processos inconscientes se diferenciam de seus equivalentes conscientes Além disso ele enfrenta ainda objeções a respeito da periculosidade em se liberar os impulsos sexuais reprimidos este de fato afirma que assim como no caso de uma operação cirúrgica em que a doença é tratada o tratamento destas questões poderia causar dor de maneira temporária mas levaria à cura em longo prazo a psicanálise dessa forma se apresentaria como uma variante mais eficiente e menos prejudicial do que a própria repressão Quando os desejos inconscientes reprimidos são trazidos para a consciência podese notar um emagrecimento de sua eficácia e um maior domínio sobre eles A psicanálise não tem o objetivo de simplesmente cancelar os desejos mas permitir a estes sua transformação em manifestações mais adequadas à realidade valendo se deste processo denominado por sublimação em que os impulsos sexuais se dirigem para objetivos mais profundos e socialmente aceitos como a criação artística ou a realização de uma profissão Essa transformação da energia sexual em outras formas de expressão é vista como uma das chaves para as conquistas culturais e sociais Freud também discute o risco de um excesso de repressão onde o indivíduo seria privado de suas fontes de energia psíquica necessárias para o desenvolvimento pessoal A sublimação então se apresenta como um meio saudável de canalizar essa energia evitando os danos da repressão excessiva No entanto ele alerta que é importante não tentar reprimir toda a energia do instinto sexual pois isso traria danos significativos à saúde mental PRIMEIRA LIÇÃO A apresentação feita por Sigmund Freud começa com uma reflexão sobre a novidade e o embaraço que ele sente ao se apresentar como um conferencista principalmente em direção de um público interessado na psicanálise com a qual ele ainda se identifica Freud verifica que seu nome está assentado sobre a psicanálise no entanto não foi ele quem a iniciou foi iniciada pelo médico vienense Joseph Breuer que tratou uma paciente jovem com histeria por meio da criação de um novo tratamento a partir do então recente e ainda em construção método psicanalítico que ficou conhecido como cura pela fala ou cura podcast A paciente de Breueratrás não possuiu paralisias dificuldades de fala e estados de confusão mental Ao hipnotizála descobriu que os sintomas estavam relacionados a retornos de experiências traumáticas afetivas traumas psíquicos que geram sintomas tal como incapacidade para beber água por efeito de um experimento afetivo com uma mulher e seu cachorro que foi um trauma ou seja se de um lado a paciente revivesse as suas experiências em hipnose traria para uma efervescência temporária os seus sintomas histéricos Freud vai à frente explicando que os sintomas histéricos são retornos de memórias de experiências emocionais intensas com uma natureza muitas e muitas vezes reprimida com sintomas físicos O tratamento consistiria em retornar tais experiências à maneira catastrófica trazer à tona as pessoas reprimidas Freud afirma que a análise psicanalítica demonstra que as neuroses e a histeria decorrem da fixação emocional no passado constituindo um impedimento para a pessoa viver plenamente no presente Ele conclui que o tratamento para esses transtornos é realizado através da conscientização dos traumas recalcados ou reprimidos o que possibilita ao paciente liberar as emoções de maneira adequada e restabelecer o seu equilíbrio psíquico Esta exposição é um marco da apresentação inicial do método psicanalítico e elucida a importância do inconsciente e das emoções reprimidas na formação dos sintomas psíquicos e físicos SEGUNDA LIÇÃO O presente texto é parte de uma exposição de Sigmund Freud sobre o desenvolvimento da teoria psicanalítica da histeria e do mecanismo da repressão Freud faz inicialmente referência ao trabalho realizado por JeanMartin Charcot em Paris no âmbito da histeria e a sua influência na investigação em Viena no tratamento da histeria realizada por Freud e Josef Breuer Da prática terapêutica Freud observou a importância das memórias indiferentes e dos conflitos dentro do sujeito para a concepção de doença Freud rejeita a concepção de Pierre Janet de que a histeria é secundária à incapacidade inata do sistema nervoso de incorporar as experiências psíquicas Para Freud a histeria é secundária aos conflitos psíquicos internos em que um desejo intolerável ou nãocoincidente com o eu da pessoa é reprimido O processo de repressão funciona da seguinte maneira o desejo ou lembrança indesejada é expulsa do nível da consciência mas permanece no inconsciente e vai gerar os sintomas encontrados na histeria O conceito de resistência ocupa um lugar central na psicanálise freudiana A resistência é a força que impede que o material reprimido retorne à consciência e para que ocorra a cura é necessário vencer a resistência Freud descreve a partir da sua prática A solução pode envolver a aceitação do desejo reprimido dele mesmo a sublimação desse mesmo desejo em outro mais socialmente aceito ou a negação do desejo tendo por suporte as funções mentais superiores Por fim Freud reconhece que a explicação definitiva a respeito dos fenômenos psíquicos da histeria e da repressão ainda está em trabalho e se compromete a dar continuidade aos seus trabalhos com o objetivo de conduzir a cabo a teoria psicanalítica TERCEIRA LIÇÃO O texto trata de alguns conceitos básicos da psicanálise com ênfase em associação livre e uso deste para a decifração do inconsciente Freud inicia corrigindo uma afirmação contida em uma conferência anterior em que ele sustentou que na maioria dos casos bastava a pressão para o paciente lembrarse de um conteúdo esquecido O autor admite que este processo num certo sentido não é válido uma vez que as resistências mentais podem gerar pensamentos distorcidos O verdadeiro encontro com a resistência seria aquele que impede o acesso ao material reprimido Para acessálo é preciso um esforço constante Freud recorre para isso ao conceito de complexo uma constelação de ideias e sentimentos interligados com energia de afeto os quais podem ser descobertos através de associações livres Ao permitir que o paciente diga tudo o que lhe venha à mente sem censura poderá mostrarse e descobrirse as marcas dos complexos reprimidos mas os pacientes em geral retêm os pensamentos devido à resistência inconsciente o que exige uma atenção especial A técnica de associação livre é semelhante ao trabalho de um químico que ao analisar os sintomas e suas associações é capaz de extrair da mente do paciente os elementos reprimidos de sua mente Freud ainda menciona a interpretação de sonhos que considera uma das ferramentas mais poderosas para acessar o inconsciente sugerindo que os sonhos são uma forma de satisfação de desejos reprimidos embora disfarçados Outro fenômeno importante são os atos falhos lapsos de linguagem esquecimentos ou ações inconscientes que podem evidenciar desejos ocultos Lutamos pelo poder ou pelo prazer e os atos falhos banalizados como um erro são importantes para a psicanálise pois mostram o oculto atrás da máscara da consciência F reud conclui ressaltando que o inconsciente deveria ser investigado cientificamente sem insinuações de explicação mística ou superficial e que a psicanálise é um recurso que investiga o material reprimido oferecendo um melhor entendimento dos conflitos e da origem dos sintomas A técnica da psicanálise é complexa e exige rigor mas é essencial para produzir resultados exatos e positivos nos tratamentos dos distúrbios psíquicos O autor ainda se posiciona contra as críticas que pessoas que nunca tiveram experiência prática na psicanálise fazem de forma a negar o seu valor e as compara contra qualquer resistência do ser humano a aceitar novas verdades sobre o inconsciente sendo essa resistência natural pois cada um tem seus complexos inconscientes a enfrentar QUARTA LIÇÃO O texto é uma imagem de Sigmund Freud em que expõe as suas descobertas sobre sexualidade infantil psicanálise e a relação destes fatores com as neuroses Para Freud quando se investiga para descobrir a origem dos sintomas das doenças neuróticas pela psicanálise encontrase a relação mais surpreendente entre estes sintomas e a vivência erótica dos pacientes especialmente com seus desejos sexuais que são desviados Segundo Freud os distúrbios do erotismo desempenham um papel fundamental nas doenças psíquicas ao passo que as influências sexuais têm importância maior do que as outras excitações mentais Freud discorre também sobre a sexualidade infantil no sentido de refutar a concepção de que a criança não possui instinto sexual Ele mostra que a criança tem uma sexualidade desde o início complexa manifestandoa com o autoerotismo e escolha de objetos envolvendo figuras parentais O efeito da repressão desses impulsos em desenvolvimento é levar a perturbações psíquicas e talvez neuroses no futuro A tese central de Freud é que os desejos infantis reprimidos que envolvem tanto o prazer quanto a escolha do objeto sexual são fundamentais para o desenvolvimento das neuroses na vida adulta e ao trazer estes desejos reprimidos à consciência a psicanálise é um dos caminhos para a cura e para o entendimento QUINTA LIÇÃO Freud começa seu discurso comentando sobre a descoberta da sexualidade infantil e como os sintomas das neuroses se devem a componentes eróticos instintivos Ele aponta que as pessoas adoecem quando não podem satisfazer suas necessidades sexuais e às vezes como resposta a isso buscam uma satisfação substitutiva através dos sintomas patológicos Freud menciona a conexão entre a realidade insatisfatória e o adoecimento psíquico sugerindo que a regressão à infância age como um modo de fuga da realidade na qual os sintomas se relacionam a necessidades eróticas insatisfeitas Ele também ressalta que a regressão poderia ocorrer de duas formas a primeira a regressão pode ser temporal quando a libido volta para épocas iniciais da vida sexual a segunda forma de regressão a regressão formal quando um indivíduo utiliza meios psíquicos primitivos para lidar com suas necessidades eróticas Freud compara as neuroses às fantasias afirmando que quando as pessoas sentem que a realidade não as satisfaz elas criam mundos de fantasia que visam compensar por suas deficiências Contudo se esses mundos de fantasia não se realizarem existe o risco de cair na regressão levando o indivíduo a retornar a um estado infantil o que então produz a neurose Freud ainda esclarece que as neuroses não contêm conteúdos psíquicos exclusivamente dos doentes mas atémse aos mesmos complexos que as pessoas normais ocupam De acordo com Freud a transferência possibilita um acesso a estes sentimentos recalcados constituindose como um instrumento fundamental da terapia Dessa forma a transferência não teria sido criada pela psicanálise mas é o que se revela constitutiva do próprio processo terapêutico Freud aceita ainda existir dois principais obstáculos ao reconhecimento da psicanálise o determinismo estrito da vida mental e a dificuldade de compreensão sobre como os processos inconscientes se diferenciam de seus equivalentes conscientes Além disso ele enfrenta ainda objeções a respeito da periculosidade em se liberar os impulsos sexuais reprimidos este de fato afirma que assim como no caso de uma operação cirúrgica em que a doença é tratada o tratamento destas questões poderia causar dor de maneira temporária mas levaria à cura em longo prazo a psicanálise dessa forma se apresentaria como uma variante mais eficiente e menos prejudicial do que a própria repressão Quando os desejos inconscientes reprimidos são trazidos para a consciência podese notar um emagrecimento de sua eficácia e um maior domínio sobre eles A psicanálise não tem o objetivo de simplesmente cancelar os desejos mas permitir a estes sua transformação em manifestações mais adequadas à realidade valendose deste processo denominado por sublimação em que os impulsos sexuais se dirigem para objetivos mais profundos e socialmente aceitos como a criação artística ou a realização de uma profissão Essa transformação da energia sexual em outras formas de expressão é vista como uma das chaves para as conquistas culturais e sociais Freud também discute o risco de um excesso de repressão onde o indivíduo seria privado de suas fontes de energia psíquica necessárias para o desenvolvimento pessoal A sublimação então se apresenta como um meio saudável de canalizar essa energia evitando os danos da repressão excessiva No entanto ele alerta que é importante não tentar reprimir toda a energia do instinto sexual pois isso traria danos significativos à saúde mental