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Bioquímica

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Diagnóstico da função pancreática Apresentação Nesta Unidade de Aprendizagem vamos estudar quais os exames mais utilizados para avaliação laboratorial da função pancreática Veremos a importância de conhecer os testes diagnósticos e correlacionar os valores alterados com algumas doenças Além disso conheceremos um pouco mais sobre as lipases amilases e outros exames bioquímicos que auxiliam o médico a encontrar o Diagnóstico do Paciente com Doença Pancreática Bons estudos Ao final desta Unidade de Aprendizagem você deve apresentar os seguintes aprendizados Identificar quais os exames bioquímicos principais no Diagnóstico da Função Pancreática Descrever a sensibilidade e especificidade nas enzimas amilase e lipase na pancreatite aguda Reconhecer outros exames que são úteis para identificação de doenças pancreáticas Desafio A pancreatite crônica é a causa mais comum de insuficiência pancreática exócrina IPE em adultos Além disso a etiologia da IPE também pode ser a fibrose cística obstrução do ducto pancreático deficiência de alfa1antitripsina entre outros Diante deste contexto explique porque a esteatorreia está presente em pacientes com pancreatite crônica Por que a pancreatite crônica pode levar ao diabetes Como estão as enzimas pancreáticas lipase e amilase nessa doença Quais outros exames laboratoriais podem ser úteis para o diagnóstico Infográfico Na ilustração a seguir está esquematizada uma abordagem geral de todos os testes bioquímicos que podem ser úteis para a avaliação da função pancreática Conteúdo do livro O pâncreas é um órgão muito importante para a produção de enzimas secreção exócrina e hormônios secreção endócrina que irão participar ativamente da digestão de produtos alimentares carboidratos gorduras proteínas e da regulação do metabolismo insulina glucagon respectivamente Disfunções nesse órgão são motivo de urgência médica especialmente em condições agudas como a pancreatite que podem gerar danos irreversíveis ao pâncreas e demais órgãos adjacentes podendo ocasionar falência orgânica sistêmica e levar o paciente à óbito O diagnóstico das doenças pancreáticas pode ser feito através da dosagem de biomarcadores importantes para avaliar a função pancreática como a amilase e a lipase mas como a avaliação deste órgão é considerada difícil por existirem poucos biomarcadores específicos uma gama de exames pode ser feita para auxiliar no estabelecimento de um diagnóstico prognóstico e tratamento No capítulo Diagnóstico da função pancreática da obra Bioquímica clínica base teórica desta Unidade de Aprendizagem você vai compreender quais são os marcadores mais utilizados para avaliação da função deste órgão e quais são os principais exames associados que podem ajudar a embasar um correto diagnóstico Ainda irá entender melhor como ocorre a pancreatite aguda uma manifestação pancreática comum e bastante perigosa Bons estudos BIOQUÍMICA CLÍNICA Francine Luciano Rahmeier OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Identificar os principais exames bioquímicos utilizados no diagnóstico da função pancreática Descrever a sensibilidade e a especificidade nas enzimas amilase e lipase na pancreatite aguda Reconhecer outros exames úteis para a identificação de doenças pancreáticas Introdução O pâncreas é um órgão essencial para a produção de enzimas e hormônios res ponsáveis pela digestão de diversos componentes oriundos da alimentação e pela regulação metabólica de algumas funções como o metabolismo da glicose por exemplo A presença de inflamações crônicas ou agudas obstruções do ducto pancreático e abuso de álcool são alguns fatores comuns que podem desencadear doenças pancreáticas graves como a pancreatite aguda uma condição que afeta substancialmente a função e a estrutura do pâncreas podendo levar o paciente à falência orgânica sistêmica e por consequência ao óbito em pouco tempo Diante disso salientase a importância da avaliação de biomarcadores que possam auxiliar no rápido diagnóstico da causa da disfunção pancreática para que a terapêutica correta seja empregada de forma segura e eficaz a fim de salvar a vida do paciente com o menor risco possível de complicações Neste capítulo você vai descobrir quais são os marcadores bioquímicos ideais para acompanhar o status do funcionamento pancreático e como eles se com portam na presença de pancreatite aguda sobretudo a amilase e a lipase Além disto veremos quais são os exames complementares que podem ser feitos para auxiliar no diagnóstico das demais doenças pancreáticas Diagnóstico da função pancreática Marcadores bioquímicos da função pancreática O pâncreas é um órgão anexo do sistema digestório situado na curvatura entre o estômago e o duodeno fazendo conexão com a vesícula biliar e o duodeno Figura 1 Atinge até 25 cm de comprimento e pesa cerca de 80 g em um adulto É responsável majoritariamente pela produção de secreções exócrinas pelos ácinos como as enzimas digestivas lipase amilase tripsina quimiotripsina e as soluções de tamponamento bicarbonato de sódio que compõem o suco pancreático e são liberadas pelo ducto pancreático para o intestino delgado As ilhotas pancreáticas são responsáveis pela produção de secreções endócri nas insulina glucagon somatostatina e polipeptídeos pancreáticos liberadas na corrente sanguínea MARTINI TIMMONS TALLITSCH 2009 REISNER 2016 Figura 1 Anatomia do pâncreas visão anterior do pâncreas e sua superfície externa e a ampliação de um lobo pancreático evidenciando os ácinos e as ilhotas pancreáticas Fonte Martini Timmons e Tallitsch 2009 p 519 De acordo com Martini Timmons e Tallitsch 2009 e Reisner 2016 alterações funcionais no pâncreas podem afetar gravemente a digestão e o metabolismo e associadas com alterações estruturais podem trazer sérias consequências ao organismo gerando doenças como pancreatite aguda e crônica pseudocistos Diagnóstico da função pancreática 2 coleção cística de enzimas pancreáticas diabetes melito e câncer de pâncreas o último responsável por 4 das mortes ocasionadas por câncer devido a seu difícil diagnóstico e a sua agressividade INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER 2020 Diante disso a dosagem de enzimas pancreáticas e de outros marcadores é bastante interessante para a avaliação do funcionamento pancreático e pode auxiliar no monitoramento desse órgão a fim de detectar alterações precocemente e observar complicações MARTINI TIMMONS TALLITSCH 2009 Acesse o YouTube e procure pelo vídeo Por que o câncer de pân creas é tão agressivo do canal Olá Ciência Nele são abordadas de forma simplificada as características e complicações desse importante e agressivo câncer Segundo Coelho e Nunes 2019 entre os principais marcadores da fun ção pancreática estão a amilase e a lipase duas enzimas produzidas pelo pâncreas e que são bastante sensíveis às alterações nesse órgão sendo marcadores de referência para a avaliação do funcionamento pancreático Outros marcadores também podem ser dosados para auxiliar no diagnóstico da causa da alteração pancreática e podem servir como norteamento quando a amilase e a lipase se encontram normais ou fracamente aumentadas como na pancreatite crônica que não possui marcadores específicos Diante disso podemos realizar a dosagem das concentrações de tripsinogênio e glicose séricos e estimar a presença de elastase cromotripsina tripsina e gordura fecal XAVIER DORA BARROS 2016 KASPER et al 2017 Amilase A amilase é uma enzima produzida pelo pâncreas e pelas glândulas salivares mas também pode ser produzida pelo fígado em menor quantidade Sua liberação pelas glândulas salivares inicia a digestão entre 35 da digestão é feita antes da deglutição de carboidratos quebrando as ligações covalentes para gerar maltose e isomaltose o que confere o sabor adocicado típico dos carboidratos O restante desse carboidrato é digerido no estômago com a ajuda dos ácidos estomacais inativam a amilase salivar e no intestino delgado com o auxílio da amilase pancreática que continua o processo de digestão desses carboidratos VANPUTTE REGAN RUSSO 2016 Diagnóstico da função pancreática 3 Enquanto na pancreatite aguda a amilase se eleva de 46 vezes acima de seu limite de normalidade na pancreatite crônica seus valores permanecem cerca de duas vezes acima do valor de referência ainda muitas vezes encontramse normais Dessa forma a amilase pode ser considerada um marcador de maior sensibilidade para condições pancreáticas agudas diminuindo à medida que a doença evolui pois seu valores tendem a retornar a normalidade em cinco dias após a lesão SOARES et al 2012 XAVIER DORA BARROS 2016 Diversas condições conduzem à elevação da concentração de amilase Quadro 1 A intensidade do aumento da concentração sérica não possui relação com a gravidade e o prognóstico da doença pancreática visto que existem alguns casos fatais em que os valores de amilase não ultrapassam três vezes o valor de referência e em cerca de 20 dos pacientes com pancreatite aguda os níveis séricos se encontram normais Valores próximos a 2000 UdL sugerem pancreatite de origem biliar SOARES et al 2012 COELHO NUNES 2019 Quadro 1 Eventos que causam a alteração dos níveis de amilase Condições abdominais Doenças pancreáticas pancreatite aguda pancreatite crônica pseudocistos pancreáticos trauma pancreático póscolangiopancreatografia endoscópica retrógrada Doenças não pancreáticas perfuração intestinal infarto mesentérico obstrução intestinal apendicite peritonite aneurisma de aorta abdominal gestação ectópica rota cistos ovarianos salpingite hepatite colecistite aguda cirrose Condições extraabdominais Parotidite insuficiência renal cetoacidose pneumonia trauma craniano com hemorragia intracerebral queimaduras anorexia nervosa bulimia neoplasia de pulmão infecção pelo vírus da imunodeficiência humana neoplasia com produção ectópica de amilase Induzida por medicamentos Associação definida azatioprina Lasparaginase sulfonamidas tetraciclina αmetildopa estrogênios furosemida pentamidina 5aminossaliclilatos ácido valproico salicilatos tiazídicos cálcio alcaloides da vinca Associação provável glicocorticoides nitrofurantoína rifampicina tacrolimo metronidazol 6mercaptopurina procainamida difenoxilato clortalidona cimetidina cisplatina ciclosporina Outras causas Macroamilasemia e hiperamilasemia idiopática familiar e não familiar Fonte Adaptado de Xavier et al 2016 Soares et al 2012 afirmam que o aumento das concentrações de lipídeos circulantes em pacientes com pancreatite pode demonstrar valores de amilase normais possivelmente pelo fator de interferência dos triglicerídeos na avaliação laboratorial de amilase Além do soro ou plasma a amilase pode ser encontrada elevada em outras amostras sugerindo algumas causas específicas Veja a seguir SOARES et al 2012 Líquido de ascite pancreatite ruptura de pseudocisto ou ducto pancreático câncer no pâncreas tumores abdominais secretores de amilase perfuração intestinal ou da víscera oca Líquido pleural perfuração esofágica e pancreatite com formação de fístula Urina utilizada no monitoramento de pacientes que realizaram transplante de pâncreas resultados muito elevados indicam sucesso na cirurgia e boa evolução do paciente A amilase pode estar elevada nas doenças renais crônicas não exatamente por aumento de sua atividade mas pela diminuição de sua depuração e excreção SOARES et al 2012 Na rotina clínica a dosagem de amilase é feita preferencialmente no soro podendo ser feita com plasma heparinizado outros anticoagulantes podem gerar resultados diminuídos coletado com jejum de no mínimo 4h A amostra se mantém estável por uma semana entre 1525C e por vários meses sob refrigeração 28C Fique atento Devese tomar cuidado ao manusear a amostra para não falar sobre ela evitando o risco de contaminação com saliva falsa elevação fator que pode ser controlado por meio da medição da absorbância do controle LABTEST 2014a Para dosagens na urina esta deve ser coletada por um período horas específico a critério do médico Para enriquecer os achados podese calcular a relação da amilase e da creatinina urinária e também da depuração de amilasecreatinina na urina a fim de avaliar a pancreatite aguda e pancreatite recorrente pois nem sempre o aumento de valores séricos acompanha o aumento dos valores de excreção urinária e os valores urinários de amilase refletem mudanças séricas dessa enzima de 6 a 10h antes da coleta Figura 2 SOARES et al 2012 LABTEST 2014a Figura 2 Cálculos utilizados para obter os valores da relação amilasecreatinina urinárias e valores da depuração de amilasedepuração da creatinina Fonte Soares et al 2012 A dosagem de amilase pode ser feita principalmente pelo método cinético de ponto fixo que avaliará a atividade enzimática da amilase sobre o amido A redução deste para a formação de um produto é mensurada sendo proporcional aos níveis de amilase na amostra LABTEST 2014a Os valores de referência para o método cinético de tempo fixo são os seguintes Soro 60160 UdL Urina 50140 Uh Para a relação amilase urináriacreatinina urinária o valor de referência é até 400 Ug e para a relação da depuração da amilasedepuração da creatinina os valores são 14 Não apenas só o aumento da atividade da amilase está correlacionado a doenças pancreáticas alguns eventos podem provocar a diminuição da atividade da amilase como em casos de pancreatite fulminante pancreatite crônica avançada fibrose cística avançada lesão hepática grave e avançada etilismo hipertrigliceridemia câncer de pâncreas insuficiência cardíaca congestiva e tireotoxicose grave SOUZA et al 2016 Lipase É uma enzima cuja função é a digestão de lipídios fosfolipídeos triglicerídeos colesterol esteroides e vitaminas lipossolúveis Grande parte é produzida e armazenada no interior dos ácinos pancreáticos mas também é secretada em menor quantidade pela língua onde o processo de digestão de lipídios se inicia digerindo menos de 10 e pelo estômago que continua a digestão dos lipídeos junto com a bile O processo de degradação lipídica ocorre no intestino delgado com participação da lipase pancreática contida nos ácinos VANPUTTE REGAN RUSSO 2016 Segundo Xavier Dora e Barros 2016 há indícios de que a lipase também seja secretada em pequenas quantidades pelo esôfago leucócitos tecido adiposo e leite materno mas é o pâncreas que produz as maiores quantidades A dosagem de lipases pode ser feita por meio de método enzimático colorimétrico em que a atividade enzimática é medida pela degradação de compostos sintéticos contendo ácidos graxos semelhantes à molécula de triglicerídeo que dá origem a outros compostos que reagem com o substrato cromógeno onde por fim a intensidade de cor gerada é proporcional à quantidade de lipase presente na amostra LABTEST 2014b Para a dosagem específica apenas da isoenzima pancreática pode ser adicionada na amostra colipase e ácidos biliares a lipase pancreática se conjuga com a colipase assim como fisiologicamente atua e dessa forma não é degradada pelo ácido biliar que destrói todas as demais frações de lipase proveniente de outros tecidos pois fisiologicamente a lipase pancreática é a única que não se degrada pela ação de ácidos biliares devido à conjugação com a colipase SOARES et al 2012 Para a dosagem de lipase deve ser utilizado preferencialmente soro ou plasma heparinizado outros anticoagulantes podem reduzir a atividade enzimática que deve ser conservado entre 1525C por sete dias ou por até um ano a 20C Ao descongelar as amostras devem ser bem homogeneizadas não agitadas e ciclos de congelamento e descongelamento repetidos devem ser evitados LABTEST 2014b A atividade da lipase se eleva nas primeiras 8h do início da lesão pancreática mantendo esse aumento por até 24h e permanecendo elevada entre sete a 14 dias Quando essa elevação permanece por mais de duas semanas pode estar relacionada com complicações ocasionadas por abcessos e pseudocistos pancreáticos A lipase se eleva mais ou menos ao mesmo tempo que a amilase mas se mantém aumentada por mais tempo tornando possível a avaliação mais tardia e o acompanhamento da lesão no paciente sendo considerada portanto um marcador mais específico LABTEST 2014b XAVIER DORA BARROS 2016 Cerca de 20 das pancreatites seguem seu curso apenas com elevação isolada da lipase que apresenta níveis elevados na maioria das doenças infla matórias abdominais entre outras condições como neoplasias pancreáticas caxumba perfuração colônica insuficiência renal fratura óssea embolia gordurosa lesões por esmagamento cetoacidose diabética medicamentos etc LABTEST 2014b XAVIER DORA BARROS 2016 Assim como a amilase a intensidade do pronunciamento da atividade enzimática não tem relação com uma maior gravidade ou pior prognóstico limitando sua importância apenas para fins de diagnóstico SOARES et al 2012 Diagnóstico da função pancreática 7 Algumas substâncias são capazes de reduzir a atividade da lipase como metais pesados quinina íons de cálcio hidroxiureia protamina somatostatina e ácido 5aminossalicílico SOARES et al 2012 Devido ao fato de ser filtrada pelos glomérulos renais e ser totalmente reabsorvida pelos túbulos não se encontra alterada na urina salvo casos em que há distúrbio renal LABTEST 2014b Os valores de referência para o método enzimático colorimétrico são listados a seguir 1 ano 029 UL 112 anos 1037 UL 1318 anos 1146 UL 18 anos 1360 UL Tripsinogênio O tripsinogênio é a proteína precursora da enzima tripsina que por sua vez é responsável pela degradação de proteínas no intestino delgado Sem a presença de tripsinogênio não há degradação de conteúdos proteicos o que dificulta o processo de digestão Ao contrário da lipase e da amilase encontrase alterado em condições mais avançadas de doença pancreática especialmente na pancreatite crônica aumentado e insuficiência pancreática exócrina valores diminuídos abaixo de 20 ngmL devido à insuficiência do órgão em produzir e secretar suas enzimas sendo mais específico para essa condição Qualquer situação que impeça fisicamente a entrada de tripsinogênio no intestino delgado é capaz de aumentar suas concentrações séricas KASPER et al 2017 Fique atento Sinais que sugerem alteração nas concentrações de tripsinogênio englobam diarreia persistente de odor fétido volumosa e gordurosa desnutrição e deficiência de vitaminas XAVIER DORA BARROS 2016 LABTESTS ONLINE 2019 A dosagem dessa proteína também é muito importante para o diagnóstico de fibrose cística em recémnascidos fazendo parte da gama de exames que é feita ao nascimento no teste do pezinho Um sinal sugestivo dessa doença é a presença de íleo meconial icterícia persistente e inexplicável hipoal buminemia e desidratação hiponatrêmica Na fibrose cística a presença de tampões de muco pode obstruir os ductos pancreáticos impedindo a saída de tripsinogênio do pâncreas para o intestino delgado fazendo refluxo do suco pancreático de volta para sua origem podendo acumularse na circula ção SÃO PAULO 2015 XAVIER DORA BARROS 2016 LABTESTS ONLINE 2019 Nesse caso o exame deve ser feito ao nascer coletandose amostras de sangue em um papel filtro em que é feita a dosagem de tripsinogênio imunorreativo IRT que se encontra elevado durante meses Na primeira coleta entre o 3º e o 7º dia de vida se forem encontrados valores iguais ou maiores que 80 ngmL o teste deve ser repetido a partir do 16º dia de vida e no máximo até o 30º Se na segunda coleta as concentrações de IRT estiverem acima de 70 ngmL devese proceder a avaliação clínica imediata como suspeita de fibrose cística SÃO PAULO 2015 Glicemia É bastante comum observarmos intolerância à glicose em pacientes com pancreatite crônica podendo evoluir para diabetes melito com dependência de insulina devido à fibrose tecidual provocada pela inflamação crônica desse tipo de pancreatite De acordo com Xavier Dora e Barros 2016 e Reisner 2016 à medida que as células betapancreáticas são prejudicadas e perdem sua função podese iniciar um processo de hiperglicemia crônica prédiabetes evoluindo para diabetes melito A dosagem de glicemia deve ser feita com soro ou plasma após jejum de 812h A partir da avaliação enzimática da glicose são considerados valores normais aqueles entre 7099 mgdL valores entre 100125 mgdL são con siderados estado prédiabético enquanto valores acima de 125 mgdL são indicativos de diabetes melito SOARES et al 2012 REISNER 2016 Elastase cromotripsina e tripsina fecais A alteração nas dosagens de secreções pancreáticas nas fezes pode ser um indicativo de comprometimento da função pancreática A elastase fecal é uma das mais utilizadas na prática clínica sobretudo para o rastreamento de insuficiência pancreática associada à fibrose cística Possui uma sensibilidade de 77 ou 100 para insuficiência pancreática exócrina moderada a grave respectivamente e especificidade de 93 mas com pouca utilidade para doenças leves XAVIER DORA BARROS 2016 BRASIL 2017 Diagnóstico da função pancreática 9 Devese coletar uma amostra de fezes não diarreica que deve ser refrigerada entre 28C até o momento do exame A amostra mantém estabilidade em temperatura ambiente por 24h por 72h a 28C e por até um ano quando congelada a 20C A dosagem é feita pelo método imunoenzimático Os valores normais de excreção de elastase são 200 ugg de fezes e valores menores podem sugerir insuficiência pancreática exócrina moderada 100200 ugg ou grave 100 ugg BRASIL 2017 FLEURY c2020a A cromotripsina fecal pode encontrarse diminuída em pacientes em estádio avançado de pancreatite crônica que apresentam esteatorreia Não é um exame muito utilizado na prática clínica e pode apresentar falso positivo na presença de doença de Crohn doença celíaca e em estágios avançados de desnutrição XAVIER DORA BARROS 2016 A tripsina também pode ser mensurada nas fezes A pesquisa da atividade da tripsina nas fezes é um teste de triagem para a função exócrina do pâncreas e síndromes de máabsorção pancreatite crônica e fibrose cística As fezes devem ser enviadas ao laboratório em até 2h após a coleta e se congeladas a enzima permanece estável por 72h Para a detecção da presença de tripsina nas fezes podese avaliar se há atividade enzimática no material coletado pela digestão de gelatina que é colocada em contato com a amostra método de Shwarchman modificado por Muralt Em situações normais existe tripsina suficiente para degradar toda a gelatina impedindo que esta se polimerize O material fecal contendo a gelatina fica incubado por um tempo até ser colocado na geladeira onde será observado se o processo de polimerização da gelatina solidificação ocorre Caso essa solidificação não ocorra o que é normal a amostra deve ser testada em diversas diluições para se observar até que ponto a atividade da tripsina continuará impedindo a polimerização da gelatina Para expressar que não há a presença de tripsina nas fezes deve ser detectada a ausência dessa atividade ausência de polimerização em três amostras diferentes FLEURY c2020b Na presença de fibrose cística os valores de tripsina estão diminuídos Os valores de referência são os seguintes FLEURY c2020b Crianças de até um ano diluição 180 Crianças entre 1 e 4 anos diluição 140 Acima de 4 anos diluição 180 Na fibrose cística diluição 110 ou ausência de atividade Gordura fecal A presença de gordura nas fezes esteatorreia é sinal de perda importante 90 da capacidade de secreção exócrina não está digerindo gordura que termina por ser eliminada sem a degradação adequada A avaliação de gordura nesse tipo de material pode ser feita pelo método de Sudan III método qualitativo e de Van de Kamer método quantitativo XAVIER DORA BARROS 2020 O método de Sudan III é de fácil execução e possui uma sensibilidade 94 para diagnóstico de esteatorreia sendo pouco útil para casos leves falsos negativos Uma pequena parte de amostra é colocada em duas lâminas separadas Na primeira lâmina as fezes são homogeneizadas com duas gotas de água duas gotas de álcool 95 e duas gotas do corante Sudan III Na segunda lâmina a homogeneização das fezes é feita com duas gotas de ácido acético e mais duas gotas de Sudan III posteriormente essa lâmina é aquecida até que a amostra comece a ferver As lâminas são observadas no microscópio e a presença de glóbulos alaranjados de gordura na primeira lâmina demonstra triglicerídeos não digeridos sugere uma inflamação pancreática como causa da esteatorreia na segunda lâmina a presença de glóbulos ou espículas alaranjadas demonstram ácidos graxos livres sugerindo disfunção no intestino delgado SOARES et al 2012 No método de Van de Kamer é possível dosar a quantidade de gordura em amostras fecais coletadas durante três dias consecutivos Para tanto o paciente deve ingerir diariamente três dias antes e durante os três dias de coleta uma dieta especial com sobrecarga de gordura 1 g de gordura a cada kg de peso corporal para que se possa estabelecer a taxa de ingesta e a taxa de excreção Esse trabalhoso exame é considerado o padrãoouro para a avaliação de gordura fecal sendo útil para estabelecer um diagnóstico de máabsorção quando não há sinais claros de disfunções intestinais ou pancreáticas para acompanhar o tratamento e a evolução de pacientes diagnosticados com síndrome de máabsorção e observar a evolução de pacientes com ressecção do íleo SOARES et al 2012 XAVIER DORA BARROS 2016 Os valores de referência são os seguintes FLEURY c2020c 7 g24h Para crianças 1 g24h Para lactentes em aleitamento materno de 2 meses a 6 anos 032 g42h Para crianças maiores de 6 anos 17 g24h Pancreatite aguda relação com os biomarcadores A pancreatite aguda é uma condição inflamatória de curta duração especial mente relacionada com a colelitíase cálculos na vesícula biliar que podem bloquear o ducto pancreático e o alcoolismo Está associada a uma inflamação pancreática persistente provocando danos celulares e degradação do tecido pancreático Fatores de risco como tabagismo e uso de alguns medicamentos furosemida e metildopa estão relacionados com esse tipo de pancreatite Outras causas comuns incluem cálculos biliares hipertrigliceridemia com plicações em colangiopancreatografia endoscópica retrógrada traumatismo sobretudo abdominal contuso e pósoperatórios Além disso pode estar relacionada a causas incomuns como vasculite distúrbios do tecido conec tivo câncer de pâncreas hipercalcemia divertículo periampular pancreatite hereditária fibrose cística infecções etc VANPUTTE REGAN RUSSO 2016 KASPER et al 2017 Causas a serem consideradas nos pacientes com crises recorrentes de pancreatite aguda sem etiologia óbvia incluem doença oculta da árvore biliar ou dos ductos pancreáticos sobretudo microlitíase e barro biliar uso de fármacos e drogas abuso de álcool hipertrigliceridemia hipercalcemia pâncreas bífido câncer pancreático neoplasia mucinosa papilar intraductal pancreatite hereditária fibrose cística pancreatite autoimune e pancreatite idiopática KASPER et al 2017 Idade avançada sexo masculino e baixo nível socioeconômico são fa tores frequentemente associados com a taxa de incidência de pancreatite Em crianças as causas são as mais variadas doenças biliares e sistêmicas medicamentos idiopática trauma doença metabólica infecciosa e here ditária Essa condição pode se resolver dentro de algumas horas ou dias mas também pode ter uma evolução rápida acometendo outros órgãos e causando necrose do tecido pancreático quando deve ser tratada como urgência médica É uma das principais causas de morte desencadeada por alterações gastrointestinais em sua forma mais grave pancreatite aguda pode levar ao óbito cerca de 2030 dos pacientes FUKUDA et al 2013 SOUZA et al 2016 COELHO NUNES 2019 Diagnóstico da função pancreática 12 Geralmente o paciente procura atendimento quando manifesta sintomas como dor contínua e profunda na região periumbilical e epigástrica pode estenderse para o dorso o tórax e os flancos náusea vômito e distensão ab dominal podendo evoluir a choque e coma Em alguns casos o paciente pode apresentarse assintomático ou apresentar sinais e sintomas mais amenos como indigestão fezes com cor de argila soluço e redução do débito urinário VANPUTTE REGAN RUSSO 2016 KASPER et al 2017 COELHO NUNES 2019 Ao exame físico são observados sinais de taquicardia pressão baixa febre branda ruídos hidroaéreos palpação abdominal dolorosa com presença de massa palpável no quadrante superior esquerdo do abdômen nódulos cutâneos eritematosos pela necrose da gordura subcutânea derrame pleu ral comumente à esquerda além da presença do sinal de Grey Turner e do sinal de Culen equimoses nos flancos e periumbilicais respectivamente indicativos de hemorragia retroperitoneal Nesse quadro também há a presença de alterações nas enzimas pancreáticas especialmente amilase e lipase KASPER et al 2017 A amilase com valores três vezes maiores os valores de referência repre senta um forte indício de pancreatite aguda começando a elevarse entre 612h após o início da injúria pico em 48h retornando aos valores normais entre três e cinco dias A sensibilidade da amilase no diagnóstico da pan creatite aguda é de 6784 mas pode estar reduzida quando sua dosagem foi feita após cinco dias níveis já retornando ao normal em casos de hiper trigliceridemia resultados falsamente diminuídos devido a interferência no teste e em casos de pancreatite alcoólica 20 dos pacientes apresentam valores normais devido à pancreatite crônica subjacente e à destruição do parênquima Apesar de alterar seus níveis circulantes em diversas condições apresenta uma especificidade em torno de 8598 para a pancreatite aguda aliada com a lipase XAVIER DORA BARROS 2016 KASPER et al 2017 A lipase por sua vez é o principal teste para estabelecer o diagnóstico de pancreatite elevando suas concentrações entre 48h a partir do início do quadro pico em 24h com retorno à normalidade entre oito e 14 dias O fato de esta se elevar junto com a amilase na pancreatite aguda mas permane cer elevada após a amilase retornar à normalidade torna interessante sua avaliação quando é avaliada após cinco dias e por isso possui uma sensi bilidade que varia de 82100 A lipase também possui uma especificidade de 82100 mas assim como a amilase apresentase elevada em outras condições como em casos de úlcera péptica e doenças hepáticas porém concentrações três vezes maiores que os valores de referência são sugestivas de pancreatite aguda Diagnóstico da função pancreática 13 Também se pode encontrar diminuições das concentrações de albumina aumento das concentrações de triglicerídeos lactato desidrogenase e fosfatase alcalina alterações de ureia e creatinina aumento da contagem de leucócitos 1500020000 célulasμL e presença de hipóxia saturação de oxigênio 95 em 25 dos pacientes na gasometria arterial XAVIER DORA BARROS 2016 KASPER et al 2017 A pancreatite pode variar desde uma forma mais branda 90 dos casos como na pancreatite intersticial até uma forma mais grave como a pancreatite necrotizante que pode levar à falência do órgão com taxa de mortalidade de 10 O grau de gravidade pode ser avaliado por meio de escores KASPER et al 2017 O diagnóstico da pancreatite aguda é estabelecido conforme as recomendações estabelecidas no Simpósio Internacional de Pancreatite Aguda realizado em 1992 em Atlanta Estados Unidos pela presença de dois ou três fatores principais que incluem SOUZA et al 2016 KASPER et al 2017 COELHO NUNES 2019 1 dor típica epigástrica que pode irradiar para a região dorsal as costas e os flancos 2 elevação da amilase eou lipase três ou mais vezes acima dos valores de referência 3 presença de alterações pancreáticas observadas por tomografia computadorizada TC com contraste determina extensão e gravidade ressonância magnética utilizada quando a TC com contraste é contraindicada ou ultrassonografia abdominal deve ser feita em pacientes com quadro típico sem diagnóstico preciso para visualização de cálculos biliares gases e coleção de fluídos Mesmo que as enzimas estejam em níveis 3 vezes do valor de referência podem ser graves e fatais por isso os exames de imagem são tão importantes A partir do diagnóstico a gravidade da pancreatite aguda pode ser classificada como COELHO NUNES 2019 leve não há falência de órgãos complicações sistêmicas ou locais moderadamente grave presença de falências de órgão como pulmão rim sistema cardiovascular de caráter transitório presentes por menos de 48h e complicação ou exacerbação de doenças prévias sistêmicas ou complicações locais como pancreatite intersticial ou necrotizante grave falência orgânica que persiste por mais de 48h Além disso existem outros métodos para a classificação de sua gravidade como os escores baseados em critérios clínicolaboratoriais preestabelecidos importantes na escolha de um tratamento adequado e no estabelecimento de um prognóstico para o paciente GUIMARÃESFILHO et al 2009 FUKUDA et al 2013 KASPER et al 2017 Entre esses escores podemos citar os critérios de Ranson Quadro 2 largamente utilizados para o estadiamento da pancreatite em que a presença de mais de três critérios em 48h classifica a doença como grave apresentando uma sensibilidade que varia de 7587 especificidade de 6877 9194 para o valor preditivo negativo e 2849 de valor preditivo positivo FERREIRA et al 2015 Quadro 2 Classificação da pancreatite aguda grave estabelecida a partir dos critérios de Ranson em que cada item vale um ponto À admissão Às 48h Causa alcoólica ou outra Idade 55 anos GB 16000mm3 LDH 350 UI AST 250 UI Glicemia 200 mgdl Queda do hematócrito 10 Aumento da BUN 5 mgdl Cálcio 8 mgdl PO2 60 mmHg Déficit de bases 4 mEql Perda de fluídos 6L Causa biliar Idade 70 anos GB 18000mm3 LDH 250 UI AST 250 UI Glicemia 220 mgdl Queda do hematócrito 10 Aumento da BUN 2 mgdl Cálcio 8 mgdl PO2 60 mmHg Déficit de bases 5 mEql Perda de fluídos 4L Legenda GB glóbulos brancos LDH lactato desidrogenase AST aspartato aminotransferase BUN relação de BUN ureia e creatinina PO2 pressão parcial de oxigênio Fonte Adaptado de Fukuda et al 2013 Existem outros escores que podem ser utilizados como o Apache II pode ser utilizados nas primeiras 24h mas é complexo e pouco prático o escore de Balthazar baseado nos achados de TC o Saps II variação do Apache II utilizado nas primeiras 24h na unidade de teraía intensiva o escore de Marshall que avalia a falência orgânica e os critérios prognósticos de Glasgow determinam o prognóstico baseado nos critérios de Rason expli cados em detalhes em Ferreira et al 2015 Cada um possui sensibilidade especificidade e aplicabilidade particulares e são utilizados de acordo com cada caso e com a escolha do critério mais adequado pela equipe médica FERREIRA et al 2015 XAVIER DORA BARROS 2016 Mecanismo de dano das principais causas de pancreatite aguda obstrução do ducto pancreático e abuso de álcool O mecanismo de dano pancreático ocasionado pelo bloqueio do ducto pancreático cálculos tumores ou outros inicia quando o suco pancreático não consegue sair do pâncreas para o duodeno A partir disso não ocorre exocitose dos grânulos de zimogênio precursores das enzimas pancreáticas presentes nos ácinos pancreáticos acumulandose no interior do órgão Esses grânulos se aderem aos lisossomos intracelulares provocando a conversão do tripsinogênio proteína precursora da tripsina em tripsina enzima ativa que normalmente só é ativada quando liberada no duodeno para digerir produtos oriundos da alimentação por meio da estimulação da catepsina B protease lisossomal Quando a tripsina é ativada dentro do pâncreas também ocorre a ativação das demais enzimas digestivas ocasionando a digestão do próprio órgão De acordo com Reisner 2016 e Coelho e Nunes 2019 o bloqueio da exocitose também faz os grânulos migrarem para o espaço intersticial gerando lesões celulares e um impor tante processo inflamatório que estimula a secreção do fator de necrose tumoral e outros fatores inflamatórios interleucina exacerbando ainda mais o processo inflamatório que pode estenderse para órgãos próximos estômago intestino fígado rins e coração e assim levar à falência múltipla de órgãos O álcool por sua vez além de ter efeito tóxico direto sobre o pâncreas estimula a precipitação de secreções pancreáticas litostatina e glicopro teína 2 com propriedades agregantes que formam agregados de proteína no interior dos ductos gerando a formação de cálculos modificação e ulceração do epitélio de revestimento ductal além de desestabilizar as organelas no interior dos ácinos facilitando a ativação das enzimas no interior do órgão e consequentemente sua autodigestão REISNER 2016 COELHO NUNES 2019 Diagnóstico da função pancreática 16 Exames complementares no diagnóstico de doenças pancreáticas Além dos exames já citados que são mais específicos à função pancre ática outros exames podem ser feitos para auxiliar no diagnóstico de injúrias pancreáticas estimando se há o comprometimento de órgãos associados e fornecer informações importantes para o direcionamento do tratamento e o estabelecimento do prognóstico XAVIER DORA BAR ROS 2016 Cálcio sérico Auxilia no prognóstico da pancreatite aguda sendo um dos fatores que compõem os critérios de Ranson estratificação da gravidade do caso A hipocalcemia ocorre em cerca de 25 dos pacientes com pancreatite aguda relacionandose com um pior prognóstico Devido ao aumento da concen tração de ácidos graxos presentes no pâncreas oriundos do processo de autodigestão ocorre um maior consumo de cálcio para a digestão de ácidos graxos no processo de saponificação gerando hipocalcemia grave que pode trazer complicações em outros órgãos Portanto quanto menor a concen tração de cálcio maior a extensão do dano pancreático A hipercalcemia pode desencadear uma crise pancreática aguda geralmente associada com o hiperparatireoidismo que desregula os níveis de cálcio séricos sendo responsável por cerca de 15 dos casos desse tipo de pancreatite XAVIER DORA BARROS 2016 KASPER et al 2017 O cálcio pode ser dosado no soro ou no plasma heparinizado separado do coágulo ou sangue total em até uma hora após a coleta por meio de métodos de reação de ponto final em que a intensidade da formação de complexos com moléculas orgânicas presentes no reagente é diretamente proporcional à quantidade de cálcio presente Os valores de referência para adultos são de 8811 mgdL enquanto o cálcio iônico fração livre não conjugada com proteínas nem ânions fica entre 460540 SOUZA et al 2016 LABTEST 2014c Diagnóstico da função pancreática 17 Hemograma e contagem de leucócitos No momento da internação recomendase coletar amostra de sangue total em até 24h para realização de hemograma especialmente para a avaliação do hematócrito cujos valores aumentados podem sinalizar hemoconcentra ção 44 que é a principal manifestação da perda hídrica para o terceiro espaço predizendo um risco aumentado de desenvolver necrose pancreática e disfunção orgânica O aumento desse marcador está relacionado com um pior prognóstico enquanto valores normais dentro das primeiras 24h de monstram que o quadro segue um curso benigno A contagem de leucócitos pode apresentar alteração especialmente quando há instalação de processo inflamatório agudo ou crônico e deterioração tecidual como nas pancreatites SOARES et al 2012 XAVIER DORA BARROS 2016 Bilirrubina fosfatase alcalina aminotransferases e lactato desidrogenase A elevação das concentrações de bilirrubina 12 mgdL em adultos fosfatase alcalina 129 UL para homens e 104 UL para mulheres LDH 250 UL alanina aminotransferase ALT 150 UL e aspartato aminotransferase AST 250 UL podem indicar que a origem da doença pancreática é biliar possi velmente causada por cálculos que podem migrar da vesícula biliar e bloquear a luz do ducto pancreático SOARES et al 2012 XAVIER DORA BARROS 2016 Alterações nas concentrações desses marcadores utilizados para avaliação da função hepática também podem estar relacionadas com as complicações hepáticas causadas pela pancreatite aguda podendo conduzir à insuficiência ou à falência hepática Caso o fígado seja comprometido por consequência de disfunções pancreáticas a albumina e os fatores de coagulação tempo de protrombina e tempo de tromboplastina parcial podem estar alterados tendo em vista a produção hepática NEVES et al 2016 Elevações de AST e LDH são utilizadas no escore de Ranson e suas alte rações são indicativas de pior prognóstico podendo estar correlacionadas também com pancreatite alcoólica SOARES et al 2012 FUKUDA et al 2013 TELLI FRIGERI MELLO 2016 XAVIER DORA BARROS 2016 KASPER et al 2017 Todos esses marcadores podem ter a atividade enzimática avaliada por meio de métodos cinéticos pela medição da formação de um produto pro porcional à quantidade de enzima contida na amostra SOARES et al 2012 XAVIER DORA BARROS 2016 Diagnóstico da função pancreática 18 Triglicerídeos Altas concentrações séricas de triglicerídeos hipertrigliceridemia de 1000 mgdL constituem um fator de risco para o surgimento de pancreatite cerca de 1311 dos casos são desencadeadas por esse fator A hipertrigliceridemia é um achado comum nas doenças pancreáticas podendo ser vista no início da pancreatite cerca de 50 dos pacientes e acreditase que essa alteração esteja envolvida com a liberação de ácidos graxos livres ocasionando lesões nas células acinares de forma contínua e provocando uma inflamação tecidual crônica NEVES et al 2016 XAVIER DORA BARROS 2016 A dosagem de triglicerídeos deve ser feita no soro preferencialmente com coleta de sangue feita após jejum de 812h Geralmente utilizase método enzimático colorimétrico com valores ideais para adultos de até 150 mgdL SOARES et al 2012 XAVIER DORA BARROS 2016 Proteína Creativa A proteína Creativa PCR é uma proteína sintetizada pelo fígado encontrada na fase aguda inflamatória importante no processo de resposta imune inata presente em diversas condições como inflamações e infecções incluindo condições pancreáticas agudas A PCR se eleva após 46h do início do pro cesso dobrando sua concentração a cada 8h e atingindo pico na circulação entre 3650h Por ter baixa especificidade em doenças inflamatórias ela deve ser utilizada apenas como um exame complementar podendo ser utilizada também no acompanhamento das doenças pois seus valores retornam à normalidade rapidamente assim que o processo inflamatóriolesão se estabiliza SOARES et al 2012 As metodologias de análise mais utilizadas envolvem a aglutinação de partículas de látex e a nefelometria A primeira permite a avaliação qualitativa e semiquantitativa por meio observação de aglutinação da amostra com a solução de látex pela reação de antígeno nesse caso o antígeno seria a PCR anticorpo e podese avaliar a intensidade dessa aglutinação em diluições seriadas da primeira reação Pela nefelometria é possível avaliar a reação antígenoanticorpo por meio da turbidez da amostra gerada pela formação dos complexos antígenoanticorpo que pode ser medida por espectrofoto metria XAVIER DORA BARROS 2016 Diagnóstico da função pancreática 19 Nitrogênio ureico sanguíneo O nitrogênio ureico sanguíneo BUN estima o risco de mortalidade a partir da dosagem de ureia sérica que é aplicada em uma fórmula para encontrar o equivalente ao nitrogênio ureico Valores de BUN 20 mgdL no primeiro exame admissão do paciente e que permanece em elevação durante as próximas 24h prediz um risco de morte que varia de 920 se reduzir nessas 24h o risco de morte cai para 03 A fórmula de BUN é aplicada da seguinte forma BUN mgdL ureia mgdL21428 XAVIER DORA BARROS 2016 A dosagem de ureia necessária para a realização do cálculo deve ser feita com soro pelo método colorimétrico enzimático com amostra coletada com jejum de no mínimo 4h SOARES et al 2012 Creatinina A dosagem de creatinina complementa o resultado de BUN e também é utilizada para estabelecer risco de morte valores 2 mgdL após ressuscitação hídrica são sugestivos de perda da função renal Se as concentrações de creatinina permanecerem elevadas nas primeiras 24h o risco de evoluir para necrose do pâncreas aumenta em 35 vezes SOARES et al 2012 XAVIER DORA BARROS 2016 A dosagem de creatinina também é útil para avaliação da relação amilase creatinina a fim de observar a relação de depuração da amilase comparada com a creatinina que é um bom marcador para essa finalidade A amostra para a dosagem de creatinina deve ser coletada com jejum de no mínimo 4h utilizando se o soro também por método colorimétrico enzimático SOARES et al 2012 Imunoglobulina G subclasse 4 A Imunoglobulina G subclasse 4 IgG4 é um tipo de imunoglobulina que pode ser avaliada para auxiliar no diagnóstico de pancreatite crônica de origem autoimune PAI definida como uma doença fibroinflamatória sistêmica que afeta além do pâncreas os ductos biliares as glândulas salivares os nódulos linfáticos e o retroperitônio caracterizada por um infiltrado linfoplasmocitário rico em células reagentes para IgG4 A dosagem de IgG4 método de ELISA do inglês enzyme linked immuno sorbent assay é bastante útil para diferenciar a PAI tipo 1 caracterizada pela manifestação pancreática de uma doença inflamatória sistêmica associada a Diagnóstico da função pancreática 20 IgG4 que atinge também vários órgãos da PAI tipo 2 que afeta diretamente o pâncreas quando o aumento dos níveis de IgG4 140 mgdL são sugestivos de PAI tipo 1 na PAI tipo 2 a IgG4 encontra normal GALVÃOALVES GALVÃO 2014 Referências BRASIL Portaria conjunta nº 8 de 15 de agosto de 2017 Aprova os protocolos clínicos e diretrizesterapêuticas da Fibrose Cística ManifestaçõesPulmonares e Insuficiência Pancreática Diário Oficial da União Brasília 4 set 2017 Disponível em httpswww ingovbrwebguestmateriaassetpublisherKujrw0TZC2Mbcontentid19275406 Acesso em 18 set 2020 COELHO L C A NUNES C P Pancreatite aguda uma revisão Revista de Medicina de Família e Saúde Mental v 1 nº 2 2019 FERREIRA A F et al Fatores preditivos de gravidade da pancreatite aguda quais e quando utilizar Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva v 28 nº 3 p 207211 2015 FLEURY Elastase pancreática quantificação fezes c2020a Disponível em https wwwfleurycombrmedicoexameselastasepancreaticaquantificacaofezes Acesso em 18 set 2020 FLEURY Gordura dosagem fezes c2020c Acesso em02092020 Disponível em https wwwfleurycombrmedicoexamesgorduradosagemfezestextA20dosagem20 de20gordura20nascom20envolvimento20de20intestino20delgado Acesso em 18 set 2020 FLEURY Tripsina pesquisa fezes c2020b Disponível em httpswwwfleurycombr medicoexamestripsinapesquisafezes Acesso em 18 set 2020 FUKUDA J K et al Prognóstico dos casos de pancreatite aguda pelo escore de PANC 3 Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva v 26 nº 2 p 133135 2013 GALVÃOALVES J GALVÃO M C Pancreatite autoimune Revista JBM v 102 nº 17 p 1722 janfev 2014 Disponível em httpfilesbvsbruploadS004720772014 v102n1a4021pdf Acesso em 18 set 2020 GUIMARÃESFILHO M A C et al Pancreatite Aguda Etiologia Apresentação Clínica e Tratamento Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto v 8 nº 1 p 6169 2009 httpswwwepublicacoesuerjbrindexphprevistahupearticledownload92347129 Acesso em 18 set 2020 INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER Câncer de pâncreas 2020 Disponível em https wwwincagovbrtiposdecancercancerdepancreastextSegundo20a20 UniC3A3o20Internacional20paramais20significativa20no20sexo20 masculino Acesso em 18 set 2020 KASPER D L et al Manual de medicina de Harrison 19 ed Porto Alegre AMGH 2017 LABTEST Amilase instruções de uso 2014a Disponível em httpslabtestcombr wpcontentuploads201609Amilase11Portpdf Acesso em 18 set 2020 LABTEST Cálcio Liquiform instruções de uso 2014c Disponível em httpslabtest combrwpcontentuploads201609CC3A1lcioLiquiform90Portpdf Acesso em 18 set 2020 Diagnóstico da função pancreática 21 LABTEST Lipase Liquiform instruções de uso 2014b Disponível em httpslabtest combrwpcontentuploads201609LipaseLiquiform107Portpdf Acesso em 18 set 2020 LABTESTS ONLINE Tripsinogênio 2019 Disponível em httpslabtestsonlineorgbr teststripsinogenio Acesso em 18 set 2020 MARTINI F H TIMMONS M J TALLITSCH R B Anatomia humana 6 ed Porto Alegre Artmed 2009 NEVES W S et al Relato de caso pancreatite aguda grave associada à hipertriglice ridemia CuidArte Enfermagem v 10 nº 2 p 166171 juldez 2016 REISNER H M Patologia uma abordagem por estudos de casos Porto Alegre AMGH 2016 SÃO PAULO Resolução SSSP nº 73 de 29 de julho de 2015 Institui o novo Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas e de Diagnóstico Laboratorial da Fibrose Cística FC na Fase III do Programa Nacional de Triagem Neonatal PNTN no Teste do Pezinho e dá providências correlatas Diário Oficial do Estado São Paulo 30 jul 2015 Disponível em httpswwwcremesporgbrsiteAcaoPesquisaLegislacaodifaficha1id133 51tipoRESOLUC7C3OorgaoSecretaria20de20Estado20da20SaFAde20 de20SE3o20Paulonumero73situacaoVIGENTEdata29072015ancintegra Acesso em 18 set 2020 SOARES J L M F et al Métodos diagnósticos 2 ed Porto Alegre Artmed 2012 Série Consulta Rápida SOUZA G D et al Entendendo o consenso internacional para as pancreatites agu das classificação de Atlanta 2012 Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva v 29 nº 3 p 206210 2016 Disponível em httpswwwscielobrscielophpscriptsci arttextpidS010267202016000300206lngentlngen Acesso em 18 set 2020 TELLI E M R P FRIGERI M MELLO S R de Avaliação da atividade de enzimas hepá ticas em dependentes exdependentes e não usuários do etanol RBAC v 48 nº 3 p 245252 2016 Disponível em httpwwwrbacorgbrwpcontentuploads201611 ARTIGO10RBAC4832016ref188pdf Acesso em 18 set 2020 VANPUTTE C REGAN J RUSSO A Anatomia e fisiologia de Seeley 10 ed Porto Alegre AMGH 2016 XAVIER R M DORA J M BARROS E org Laboratório na prática clínica 3 ed Porto Alegre Artmed 2016 Série Consulta Rápida Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material No entanto a rede é extremamente dinâmica suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo Assim os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade precisão ou integralidade das informações referidas em tais links Diagnóstico da função pancreática 22 Conteúdo s a G a H SOLUÇÕES EDUCACIONAIS INTEGRADAS Dica do professor O vídeo que você irá assistir mostra aspectos sobre as funções gerais do pâncreas bem como a avaliação laboratorial dos exames bioquímicos pancreáticos Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar Na prática Veja de que forma o câncer no pâncreas se manifestaVeja de que forma o câncer no pâncreas se manifesta Os sintomas demoram a aparecer e quando aparecem os pacientes apresentamse ictéricos com dor abdominal cansaço e anemia O diagnóstico laboratorial pode ser realizado utilizando os marcadores tumorais CA 199 e o antígeno carcinoembrionário CEA Além disso usase a dosagem de hormônios pancreáticos gastrina somatostatina glucagon etc para diagnosticar tumores neuroendócrinos bem como a avaliação do estado geral de saúde do paciente através do perfil renal hepático e do hemograma Saiba Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto veja abaixo as sugestões do professor Exames de Sangue para o Diagnóstico do Câncer de Pâncreas Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar CÂNCER DE PÂNCREAS Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar Bioquímica Ilustrada de Harper MURRAY ROBERT K BENDER DAVID A BOTHAM KM KENNELY PETER J RODWELL VICTOR W WEIL P ANTHONY Bioquímica Ilustrada de Harper Lange 29 ed MacGraw Hill 2013 Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino