Leishmaniose - Fisiopatologia, Diagnóstico, Tratamento e Nutrição

Leishmanioses Apresentação A leishmaniose é uma antropozoonose e um grande problema de saúde pública Segundo a Organização Mundial da Saúde OMS cerca de 2 milhões de novos casos podem ocorrer ao ano Ela se caracteriza por apresentar duas formas clínicas principais a tegumentar que congrega a forma cutânea e a forma de mucosa e a visceral Há registro de casos em todas as regiões brasileiras A leishmaniose tegumentar causa um impacto ainda maior pois além da patologia em si existe o sério risco de ocorrência de deformidades físicas que podem causar impacto psicológico e social resultando em um agravo ainda maior em relação à doença original Por estar relacionada a questões de vulnerabilidade socioeconômica existe também a questão da preocupação com o acesso nutricional por parte dos indivíduos afetados e como isso pode influenciar a patologia Nesta Unidade de Aprendizagem você vai aprender sobre a fisiopatologia a classificação e o diagnóstico dessa importante doença infecciosa Também vai conhecer as formas de tratamento o estado nutricional e as possíveis intervenções dietéticas no tratamento da leishmaniose Bons estudos Ao final desta Unidade de Aprendizagem você deve apresentar os seguintes aprendizados Reconhecer a fisiopatologia e o diagnóstico da leishmaniose Identificar a classificação e o tratamento da leishmaniose Indicar o estado nutricional e as intervenções dietéticas no tratamento da leishmaniose Desafio A leishmaniose é uma infecção que pode resultar em diferentes patologias dependendo da espécie do parasita que infecta o indivíduo Ao todo no Brasil já foram identificadas sete espécies mas entre elas devemos considerar principalmente três a L amazonensis a L braziliensis e a L guyanensi Embora menos importantes mas ainda relevantes estão as espécies L chagasi a L lainsoni a L shawi e a L naiffi Outro ponto importante de frisar é que a leishmaniose é considerada como sendo parte da categoria das doenças negligenciadas uma vez que é endêmica quase que exclusivamente em países em desenvolvimento e que não tem o mesmo apelo por parte dos pesquisadores como tem o HIV o SARSCoV2 entre outros Além disso a leishmaniose tornouse também uma doença emergente a partir dos anos de 1990 quando o número de casos começou a subir fortemente junto a outras patologias também classificadas com o termo possivelmente em decorrência do avanço da contaminação pelo HIV no país Para a maioria das infecções é possível verificar a presença de uma infecção ativa eou a memória imunológica em relação a uma infecção anterior Isso pode ser detectado por meio de exames sorológicos que indicam anticorpos como a IgM indicativo de infecção agudaativa e IgG indicativo de infecção crônica ou recuperação para a leishmaniose não é diferente Com base nessas informações analise o seguinte caso Diante desse quadro considerando que você é um profissional de saúde da equipe que está trabalhando nesse caso reflita e responda os seguintes questionamentos a Visto que o paciente vive em uma área endêmica para leishmaniose está imunodeficiente devido ao forte avanço do HIV e tem sintomas condizentes com leishmaniose visceral ele deveria ser medicado para leishmaniose mesmo que o exame sorológico tenha sido nãoreagente Por quê b Caso a suspeita de leishmaniose persista e os exames sorológicos continuem nãoreagentes haveria outra maneira de confirmar ou descartar a infecção Infográfico A leishmaniose é uma patologia infecciosa que afeta em maior ou menor grau praticamente todos os estados brasileiros tornandose um grande problema de saúde pública Essa é uma infecção parasitária que pode se desenvolver de diferentes formas clínicas dependendo da espécie do parasita que infecta o indivíduo No Brasil já foram identificadas sete espécies Entre elas as três principais são a L amazonensis a L braziliensis e a L guyanensi embora seja possível encontrar ainda outras espécies como a L chagasi a L lainsoni a L shawi e a L naiffi Neste Infográfico você vai conhecer um pouco da distribuição dos casos de leishmaniose no Brasil as suas formas clínicas e quais as principais espécies causadoras dessa patologia que afeta de forma tão intensa não apenas a saúde física mas também mental dos pacientes Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar Conteúdo do livro A leishmaniose é uma doença parasitária causada por protozoários do gênero Leishmania que embora haja diversas espécies diferentes se resume a dois subgêneros Leishmania e Viannia e três formas clínicas forma visceral forma cutânea e de mucosa Entre as diferentes espécies de Leishmania podemse destacar Leishmania donovani Leishmania chagasi Leishmania braziliensis Assim sendo no capítulo Leishmanioses base teórica desta Unidade de Aprendizagem você vai conhecer as principais metodologias utilizadas para identificar essa parasitose tão importante assim como os principais sinais e sintomas relacionados o tratamento dessa infecção além do estado nutricional e as intervenções dietéticas no tratamento da leishmaniose Boa leitura PARASITOLOGIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Reconhecer a fisiopatologia e o diagnóstico da leishmaniose Identificar a classificação e o tratamento da leishmaniose Indicar o estado nutricional e as intervenções dietéticas no tratamento da leishmaniose Introdução As leishmanioses assolam o território brasileiro e diversas outras porções do globo terrestre como China Índia Sudão Paquistão Nepal região do Mar Mediterrâneo entre outros Entre as principais patologias podemos destacar a Leishmania donovani a Leishmania chagasi ambas causadoras da leishmaniose visceral e a Leishmania braziliensis principal responsável pela leishmaniose tegumentar LAINSON 2010 Neste capítulo você vai conhecer algumas metodologias utilizadas para identificar e classificar essa parasitose Vai estudar além disso quais são seus principais sinais sintomas e tratamentos incluindo as possíveis intervenções na dieta para tratar uma pessoa infectada com a doença Leishmanioses Guilherme Cerutti Müller Identificação e fisiopatologia da Leishmaniose São quatro as espécies importantes de Leishmania spp L donovani L braziliensis L tropica e L mexicana Serão abordados a seguir os métodos diagnósticos comumente utilizados para identificar esses quatro parasitos Para a identificação das espécies L braziliensis L tropica e L mexicana é utilizado o trabalho com microscopia para buscar a presença de formas amastigotas em um esfregaço obtido na lesão cutânea do paciente infectado Para o diagnóstico de leishmaniose tegumentar é usado o teste cutâneo de leishmanina teste intradérmico ou intradermoreação de Montenegro leishmanina IDRM baseado em uma reação de hipersensibilidade celular retardada Nesse teste uma solução contendo unidades promastigotas de Leishmania é aplicada na face anterior do braço esquerdo e após um tempo de espera de 48 horas são considerados positivos aqueles casos que apre sentarem uma área de enduração igual ou maior que 5 mm LEVINSON 2016 Para o diagnóstico de L donovani é realizada a detecção de formas amastigotas em biópsia da medula óssea do baço ou de linfonodo Esses organismos podem também ser cultivados para detecção É possível utilizar testes sorológicos para identificar a infecção tendo boa taxa de sensibilidade e especificidade imunofluorescência indireta Nesse caso a presença de anticorpos IgM indica a fase aguda da doença e a presença de anticorpos IgG indica o contato prévio ao patógeno Quando em altas concentrações além disso podem ser indicativos de infecção ativa Também é possível utilizar o teste IDRM que embora dê negativo durante a doença ativa reage em pacientes recorrentes O ciclo de vida da L donovani em humanos inicia no contato do mosquito palha contaminado com o sangue humano Ao sugar o sangue o mosquito transfere formas promastigotas do parasita no organismo do futuro hospe deiro Esses parasitas são fagocitados pelos macrófagos dos hospedeiros local onde se transformam nas formas amastigotas estando prontos para infectar novos mosquitospalhas quando sugarem novamente o sangue do hospedeiro Figura 1 Leishmanioses 2 Figura 1 Ciclo parasitário da L donovani setas roxas indicam desenvolvimento no hospedeiro humano e setas vermelhas indicam o desenvolvimento no vetor Fonte Adaptada de Levinson 2016 São três as formas clínicas da leishmaniose No caso da leishmaniose cutânea as principais espécies causadoras da patologia são a L tropica e a L mexicana Geralmente as úlceras formadas no tecido são indolores e não provocam sintomas sistêmicos embora pelo fato de ser uma ferida aberta possa haver infecções bacterianas associadas Essa ferida inicia após inoculação dos parasitas no local da picada do mosquito formando uma pápula avermelhada que conforme aumenta gera nódulos e úlceras Considerando que o responsável pela inoculação das formas parasitárias é o mosquito é natural que as lesões ocorram principalmente em regiões do corpo mais expostas como mãos braços e pernas As lesões podem ci catrizar espontaneamente após meses ou perdurar por anos A evolução da doença é distinta em pacientes imunodeprimidos quando as úlceras podem não ficar localizadas disseminandose e criando grandes áreas afetadas o que potencializa muito a possibilidade de infecções bacterianas associadas BRASIL 2017 LEVINSON 2016 Leishmanioses 3 Já a leishmaniose mucocutânea acomete a pele e as mucosas e é causada principalmente pela L braziliensis Assim como no caso da forma cutânea a lesão se inicia no local da picada do mosquito As lesões têm um aspecto granulomatoso podendo ser muito variadas uma única lesão ou múltiplas lesões disseminadas ou difusas Assim como na leishmaniose cutânea as lesões são geralmente indolores mas a sua evolução tende a ser diferente Embora tenha o aspecto de úlcera com bordas elevadas e fundo granuloso as lesões ulcerativas costumam situarse na junção mucocutânea do nariz na boca e na garganta podendo destruir a cartilagem nasal de modo que a cicatrização é muito mais lenta possibilitando o agravamento de infecções secundárias BRASIL 2017 LEVINSON 2016 Por afetar regiões muito sensí veis as consequências são também mais acentuadas na versão cutânea da doença Por afetar a mucosa nasal o paciente poderá sentir a sensação de entupimento nasal coriza sangramento além de novas feridas e crostas Quando a área atingida é a garganta pode sentir tosse dor ao engolir e rouquidão BRASIL 2017 Já a leishmaniose visceral é uma forma de leishmaniose completamente distinta das anteriores Os órgãos do sistema reticuloendotelial fígado baço e medula óssea são severamente afetados Hemorragia e infecções secundárias podem ocorrer como consequência de diversos problemas causados pela parasitose como leucopenia anemia e trombocitopenia que por sua vez são causados diretamente pela redução da atividade da medula óssea e pela destruição celular no baço LEVINSON 2016 Febre intermitente fraqueza e emagrecimento são sinais e sintomas característicos da infecção assim como o aumento maciço do baço e a hiperpigmentação cutânea No início da doença o paciente não tem sintomas apenas uma febre persistente Porém o curso da doença perdura de meses a anos e os sintomas de fraqueza hemorragia e infecções secundárias vão começando a aparecer conforme a leucopenia a anemia e a trombocitopenia tornamse mais acentuadas Quando não tratada a doença grave pode evoluir para o óbito por causa de infecções secundárias Classificação e tratamento da leishmaniose O agente etiológico causador da leishmaniose patologia com formato visceral e tegumentar como vimos é um protozoário que pertence à família Trypa nosomatidae e ao gênero Leishmania subgêneros Leishmania e Viannia Esse parasito é considerado digenéticos heteroxenos Infecta e parasita as Leishmanioses 4 principais células fagocíticas mononucleares do sistema imune do hospedeiro os macrófagos sendo um parasita intracelular obrigatório na forma amastigota É encontrado nas duas formas principais a seguir BRASIL 2017 Flageladapromastigota pode ser encontrada no tubo digestivo do vetor mosquitopalha Não flageladaamastigota sem movimentos vista em tecidos dos hospedeiros vertebrados No Brasil foram identificadas ao todo sete espécies capazes de desencadear a leishmaniose tegumentar em seres humanos listadas a seguir BRASIL 2017 LAINSON 2010 LEVINSON 2016 Seis do subgênero Viannia L braziliensis L guyanensis L lainsoni L naiffi L lindenberg e L shawi principais responsáveis pela maioria das infecções humanas A L braziliensis é encontrada no Brasil no sul dos Estados Unidos e no norte da Argentina Uma do subgênero Leishmania L amazonensis Já as espécies capazes de causar a leishmaniose visceral estão listadas a seguir BRASIL 2017 LEVINSON 2016 L chagasi ou L infantum endêmica no Brasil e em diversas regiões da América do Sul L donovani endêmica em diferentes países desde a região do Mar Mediterrâneo passando pelo Oriente Médio sul da Rússia China Índia além de ser encontrada no continente africano Outros exemplos de espécies de Leishmania encontrados no mundo são a L tropica a L mexicana ambas relacionadas à leishmaniose cutânea As formas promastigotas Figura 2 apresentam corpo alongado medindo entre 14 e 20 mm variação de diâmetro de 1040 153 pm com um flagelo longo que emerge do corpo do parasito na sua porção anterior São encontradas no trato digestivo do hospedeiro invertebrado os flebotomíneos Esses parasitas na sua forma promastigota têm núcleo arredondado localizandose na região mediana ou na porção anterior Já o flagelo pode ter comprimento equivalente ou superior ao comprimento do corpo do parasita BRASIL 2017 NEVES 2016 Figura 2 Forma promastigota da Leishmania sp Fonte Brasil 2017 p 19 As formas amastigotas Figura 3 por sua vez são vistas nos tecidos dos hospedeiros vertebrados Os limites micrométricos de seus diâmetros são de aproximadamente 15 a 3 3 a 65 pm não possuindo um flagelo livre pois seu flagelo é interno e a sua porção intracitoplasmática dificilmente é observada BRASIL 2017 NEVES 2016 Figura 3 Forma amastigota da Leishmania sp Fonte Brasil 2017 p 19 A prevenção é sempre melhor do que qualquer tratamento mas no con texto da leishmaniose a única prevenção possível é evitar a ação do mosquito transmissor Uma vez contaminado é preciso combater a infecção Na leishmaniose visceral tendo a L chagasis e a L donovani como princi pais exemplos o tratamento pode reduzir a taxa de mortalidade para cerca de 5 com a escolha de fármacos como o estibogliconato de sódio assim como a anfotericina B lipossomal para pacientes que tenham contraindica ções para os antimoniais pentavalentes É importante frisar também que a Leishmanioses 6 recuperação após a infecção pode resultar em uma memória imunológica de longa duração BRASIL 2006 LEVINSON 2016 Confira a seguir um esquema terapêutico para a leishmaniose visceral BRASIL 2006 Número de doses 20 intervalos menores que 72 horas entre as doses Dose 20 mgSb5kgdia de antimonial pentavalente Tempo máximo de duração 30 dias Já na leishmaniose tegumentar os fármacos de primeira escolha são os antimoni uais pentavalentes Sb5 principalmente o antimoniato de Nmetilglucamina pois os antimoniu ais pentavalentes são drogas leishmanicidas e inteferem diretamente nas formas amastigotas de Leishmania Nmetilglucamina é indicado tanto em lesões cutâneas quanto em lesões na mucosa embora não seja completamente efetivo Como fármaco de segunda opção o desoxicolato de anfotericina B é um antibiótico poliênico com excelente atividade in vitro na destruição de Leishmania intra e extracelular sendo considerada como droga de segunda escolha quando não se obtém resposta ao tratamento com o antimonial pentavalente ou na impossibilidade de seu uso e de primeira escolha no tratamento de gestantes A anfotericina B lipossomal é um fármaco de segunda opção pois nessa formulação a anfotericina B é incorporada dentro de lipossomas e assim o fármaco atinge níveis plasmáticos mais elevados do que o desoxicolato de anfotericina B Isso significa também que tem um tempo de meiavida menor devido à ação dos macrófagos no baço e no fígado BRASIL 2017 LEVINSON 2016 Observe no Quadro 1 o esquema terapêutico preconizado para duas formas clínicas de leishmaniose tegumentar Quadro 1 Esquema terapêutico para a leishmaniose tegumentar Forma clínica Dose Tempo mínimo de duração Leishmaniose cutânea 1020 mgSb5kgdia recomendase 15 mgSb5kgdia 20 dias Leishmaniose mucosa 20 mgSb5kgdia 30 dias Fonte Adaptado de Brasil 2017 Você sabia que os parasitas do gênero Leishmania são capazes de escapar do sistema imunológico e que é justamente assim que eles causam todos os problemas que o indivíduo afetado sofre O texto Um parasita camuflado de Andrade 2013 que discute o artigo The genome sequence of Leishmania Leishmania amazonensis functional annotation and extended analysis of gene models aborda exatamente esse mecanismo de escape que permite a convivência harmoniosa entre patógenos e células do sistema imune Nutrição no contexto da leishmaniose Como vimos a leishmaniose é um grande problema de saúde pública Con siderando que a desnutrição é outro grave problema de saúde no Brasil avaliamse possíveis relações entre esses problemas A desnutrição é um fator importante para o agravo de diferentes patologias infectocontagiosas pelo impacto da falta de nutrientes para o bom funcionamento do sistema imunológico de um indivíduo A desnutrição pode ser considerada uma das maiores causas de imunode ficiência no mundo afetando mecanismos essenciais ao bom funcionamento do sistema imune A carência nutricional pode estar relacionada a calorias proteínas eou absorção de micronutrientes As deficiências de micronutrien tes mais comuns são de vitaminas A C e E além de minerais como cobre iodo ferro magnésio e zinco A ausência ou queda da absorção de nutrientes deprime a função imunológica afetando a capacidade de proliferação e fun ção dos leucócitos circulantes Sabendo que os micronutrientes não apenas podem afetar a resposta imune mas que também são de fato essenciais para o seu adequado funcionamento o uso de imunoestimulantes pode melhorar a eficácia do tratamento GUZMANRIVERO et al 2014 LOSADABARRAGÁN et al 2017 MALAFAIA 2008 A desnutrição proteicocalórica é responsável direta ou indiretamente por 54 das 108 milhões de mortes de crianças com idade inferior a 5 anos e a leishmaniose visceral afeta cerca 350 milhões de pessoas no mundo No entanto muito ainda precisa ser pesquisado para que seja possível com preender os mecanismos biológicos que permitem essa interação entre a falta de nutrientes essenciais e o agravamento dessa parasitose embora esteja bem estabelecido que a deficiência de micronutrientes pode levar ao aumento da suscetibilidade a infecções MALAFAIA 2019 Leishmanioses 8 Cada vez mais fica evidente como a alimentação pode influenciar a evolu ção e a involução das mais diferentes patologias assim como a microbiota intestinal No artigo Nutritional supplements for patients being treated for active visceral leishmaniasis Custodio et al 2018 procuram compreender como a suplementação poderia ajudar na evolução positiva da doença mas não encontram resultados na literatura que suportem essa hipótese o que evidencia a necessidade de mais pesquisas que busquem entender qual seria a intervenção dietética mais adequada para casos de leishmaniose Werneck Hasselmann e Gouvêa 2011 por sua vez compilaram 29 anos de estudos relacionados aos aspectos nutricionais da leishmaniose visceral Entre eles existe pouca evidência que corrobore a hipótese de que a desnutrição poderia elevar à possibilidade de um indivíduo ser infectado pelo parasito Percebeuse apenas uma tendência à menor concentração de vitamina A zinco e maior concentração de cobre em indivíduos infectados Dessa forma podese especular apenas que as condições socioeconômicas desse indiví duo possam estar associadas à desnutrição o que o deixa mais exposto à infecção Contudo segundo os mesmos autores entre os diferentes estudos foi possível observar que a presença de anemia pode estar relacionada ao óbito assim como a desnutrição moderadagrave pode ter essa associação Conforme os autores existe a possibilidade de que a desnutrição seja um importante fator de risco para o desenvolvimento da forma clínica da doença após a infecção ter ocorrido Além disso destacase que uma dieta deficiente em proteína calorias ferro e zinco pode predispor à leishmaniose afetando inclusive órgãos como o fígado e o baço No entanto ainda não há estudos que demonstrem a suplementação de micronutrientes como fator protetor para a infecção GUZMANRIVERO et al 2014 É importante considerar que a leishmaniose é uma doença negligenciada Como está muito relacionada à pobreza é possível associála à desnutrição A desnutrição pode causar um aumento da carga parasitária resultando no maior risco de manifestação da doença seja na forma tegumentar seja na forma visceral Há situações porém em que a falta de zinco pode causar um agravo nos sintomas mas a sua suplementação aparentemente não resulta em nenhum benefício clínico GUZMANRIVERO et al 2014 LOSADABARRAGÁN et al 2017 MALAFAIA 2008 Leishmanioses 9 Sabendo que a recuperação do paciente passa obrigatoriamente pela sua capacidade em regenerar as lesões às quais foi submetido e pela capacidade de estimular a resposta imune capaz de combater controlar e eliminar a infecção a intervenção dietética na leishmaniose tegumentar poderá apoiar estes dois pilares regeneração tecidual e resposta imunológica É possível compreender a importância da regeneração tecidual e do apoio nutricional quando observamos as lesões causadas pela leishmaniose e o grande risco que corre o paciente de sofrer com infecções secundárias Dessa forma destacase a importância de combater a desnutrição proteicocalórica com a ingestão de carboidratos proteínas e lipídios mas também vitaminas A B C e E além de cobre ferro zinco e selênio DINIZ 2013 Além disso é fundamental que o paciente seja capaz de desenvolver uma resposta imune de cunho celular com ação robusta de linfócitos CD4 Th1 capazes de produzir interferongama para estimular os macrófagos a cumprir a sua missão de combater diretamente os parasitas Para isso é fundamental que o timo esteja saudável e funcional de acordo com o padrão da idade do indivíduo afinal esse órgão linfoide primário involui com o decorrer da idade MALAFAIA 2008 Porém na leishmaniose visceral outras complicações decorrentes da infecção podem demandar um suporte nutricional mais intenso como o caso da anemia da diarreia e da desnutrição além da necessidade de fortalecer a imunidade A nutrição no paciente grave deve iniciar cedo o mais precocemente possível para reduzir os efeitos do hipercatabolismo utilizando preferencialmente a via enteral para evitar a atrofia intestinal e a translocação bacteriana BRASIL 2006 Em caso de anemia podese utilizar o tratamento com sulfato ferroso com administração oral de ferro tratamento recomendado para pacientes com anemia ferropriva A dose pode variar de acordo com o grau de severidade da anemia e do perfil do paciente Confira a seguir Gestantes com anemia leve 60 mg de ferro duas vezes ao dia Gestantes com anemia severa 60 mg de ferro três vezes ao dia Adolescentes e adultos com anemia moderada 60 mg duas vezes ao dia Lactantes e préescolares a dose é baseada no peso com 3 mgkg e pesodia O período de suplementação pode variar de quatro a seis meses É importante destacar que a suplementação com ferro pode atrapalhar a absorção do zinco outro importante micronutriente CARDOSO PENTEADO 1994 Considerando o quadro de diarreia que pode ser ocasionado pela leishmaniose visceral o uso de fibras dietéticas solúveis em nutrição enteral de pacientes hemodinamicamente estáveis é seguro e deve ser considerado benéfico para a redução da diarreia de um modo geral REIS et al 2018 O quadro de desnutrição pode ser amplo e causado por diferentes fatores de modo que é muito importante que o profissional avalie as necessidades do paciente de acordo com a situação Embora não existam protocolos específicos para intervenções dietéticas da leishmaniose quando se observam os cuidados com pacientes críticos no processo de internação podem ser avaliados perda de peso índice de massa corporal índice creatininaaltura colesterol sérico avaliação subjetiva global Já para avaliar os efeitos dessa intervenção nutricional podem ser avaliadas a préalbumina proteína ligada ao retinol e a somatomedina sérica além de 3metilhistidina urinária MAICÁ SCHWEIGERT 2008 Referências ANDRADE R O Um parasita camuflado Pesquisa FAPESP 3 out 2013 Disponível em httpsrevistapesquisafapespbrumparasitacamuflado Acesso em 10 nov 2021 BRASIL Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saúde Leishmaniose visceral grave normas e condutas Brasília DF Ministério da Saúde 2006 BRASIL Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saúde Manual de vigilância da leishmaniose tegumentar Brasília DF Ministério da Saúde 2017 CARDOSO M A PENTEADO M V C Intervenções nutricionais na anemia ferropriva Cadernos de Saúde Pública v 10 n 2 1994 CUSTODIO E et al Nutritional supplements for patients being treated for active visceral leishmaniasis The Cochrane Database of Systematic Reviews v 3 2018 DINIZ A G Relevância da nutrição no processo de cicatrização de feridas 2013 Monografia Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família Universidade Federal de Minas Gerais Lagoa Santa 2013 GUZMANRIVERO M et al Nutritional status in patients with cutaneous leishmaniasis and a study of the effects of zinc supplementation together with antimony treatment Food Nutrition Research v 58 n 1 p 23353 2014 LAINSON R Espécies neotropicais de Leishmania uma breve revisão histórica sobre sua descoberta ecologia e taxonomia Revista PanAmazônica de Saúde v 1 n 2 2010 LEVINSON W Microbiologia médica e imunologia 13 ed Porto Alegre AMGH 2016 LOSADABARRAGÁN M et al Protein malnutrition promotes dysregulation of molecules involved in T cell migration in the thymus of mice infected with Leishmania infantum Scientific Reports v 7 2017 MAICÁ A O SCHWEIGERT I D Avaliação nutricional em pacientes graves Revista Brasileira de Terapia Intensiva v 20 n 3 2008 MALAFAIA G O sinergismo entre a desnutrição protéicocalórica e a leishmaniose visceral Revista Saúdecom v 4 n 2 p 134147 2008 MALAFAIA G Proteinenergy malnutrition as a risk factor for visceral leishmaniasis a review Parasite Immunology v 31 n 10 p 587596 2019 NEVES D P Parasitologia humana 13 ed São Paulo Atheneu 2016 REIS A M et al Uso de fibras dietéticas em nutrição enteral de pacientes graves uma revisão sistemática Revista Brasileira de Terapia Intensiva v 30 n 3 p 358365 2018 WERNECK G L HASSELMANN M H GOUVÊA T G Panorama dos estudos sobre nutrição e doenças negligenciadas no Brasil Ciência Saúde Coletiva v 16 n 1 2011 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material No entanto a rede é extremamente dinâmica suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo Assim os edito res declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade precisão ou integralidade das informações referidas em tais links Leishmanioses 12 Conteúdo S A G A H SOLUÇÕES EDUCACIONAIS INTEGRADAS Dica do professor A leishmaniose é uma doença que ocorre devido à infecção pelo microrganismo Leishmania sp altamente capaz de escapar das defesas do sistema imunológico do indivíduo hospedeiro e desencadear diferentes sintomas Diferentes células são protagonistas desse processo mas entre elas os macrófagos se destacam como principais alvos do parasita em sua estratégia de sobrevivência no organismo humano Nesta Dica do Professor você vai conhecer um pouco mais sobre a resposta imunológica do corpo humano contra o parasita e como ele trabalha para escapar dessa resposta de defesa Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar Na prática Sendo a leishmaniose uma doença granulomatosa infecciosa ela pode afetar o epitélio da mucosa nasal e oral Porém quando atinge a laringe pode causar confusão para os profissionais de saúde resultando por vezes em erros de diagnóstico Neste Na Prática você vai conhecer um caso inusitado um quadro de leishmaniose tegumentar incomum que confunde os profissionais de saúde atrapalhando o prognóstico do paciente e ocasionando uma situação de desnutrição importante Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar Saiba Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto veja a seguir as sugestões do professor Um parasita camuflado Confira o comentário sobre o artigo The genome sequence of Leishmania Leishmania amazonensis functional annotation and extended analysis of gene models que reflete sobre como o parasita pode conseguir evitar o sistema imunológico do hospedeiro sem ser incomodado Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar Leishmania tropica Leishmania mexicana e Leishmania braziliensis Neste subcapítulo do livro Microbiologia Médica e Imunologia os autores descrevem objetivamente as características mais importantes dessa infecção quando causada por Leishmania tropica Leishmania mexicana e Leishmania braziliensis a patogênese a epidemiologia os principais achados clínicos o diagnóstico laboratorial o tratamento e a prevenção Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino Evasão Microbiana da Fagocitose Neste subcapítulo do livro Microbiologia os autores descrevem o modo como parasitas sobrevivem à fagocitose promovida por macrófagos listando as principais doenças entre elas a leishmaniose Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino Ciclo de vida da Leishmania no homem Neste vídeo é possível observar de forma simples e didática o modo como o parasita encontra o seu hospedeiro humano e nele se estabelece Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar Comparação entre espécies de Trypanosoma e Leishmania Nesta tabela do livro Microbiologia Médica de Jawetz Melnik e Adelbergo os autores listam e comparam os parasitas que sobrevivem à fagocitose promovida por macrófagos listando as principais doenças entre elas a leishmaniose a doença de Chagas e a doença do sono Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino