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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA UNEB Autorização Decreto nº 923786 DOU 180796 Reconhecimento Portaria 90995 DOU 010895 GABINETE DA REITORIA UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA UNEAD Criação e Implantação Resolução CONSU nº 10512014 DOU 200514 1 ATIVIDADE a Elaborar um jogo ou brincadeira que envolva a Arte para os estudantes da Educação do Ensino Fundamental 1 Componente Curricular do Ensino Fundamental 1 Ano do Ensino Fundamental 1 Quantidade de Crianças Conteúdo a ser trabalhado Nome do Jogo ou Brincadeira A Arte Envolvida no Jogo ou Brincadeira Materiais Necessários Habilidades a serem trabalhadas Objetivos com o jogo ou brincadeira Regras do Jogo ou Brincadeira Duração 1 Curso Pedagogia Componente Curricular Educação Ludicidade e Corporeidade Código EADP 123 Ch 60 Semestre 20241 Professora Formadora Valeria Nagy Turma OFERTA Período 1605 a 300524 Nomes dos Componentes da Equipe Cidade Avaliação Fundamente a atividade com os teóricos citados no texto As relações entre jogo infantil e a educação paradigmas da pag28 até a pag35 de KISHIMOTO Referências conforme as normas da ABNT Observação caso seja necessário b Espaço para incluir foto desenho croqui desenho maquete ou mapa para melhor compreensão da atividade a ser desenvolvida 2 Tizuko Morchida Kishimoto Organizadora JOGO BRINQUEDO BRINCADEIRA E A EDUCAÇÃO Edda Bomtempo Heloísa Dupas Penteado Leny Magalhães Mrech Manoel Oriosvaldo de Moura Maria Felisminda de Rezende e Fusari Maria Luisa Sprovieri Ribeiro Marina Célia Moraes Dias Sahda Marta Ide Tizuko Morchida Kishimoto 8ª edição CORTEZ EDITORA Capítulo I O jogo e a educação infantil Tizuko Morchida Kishimoto Jogo brinquedo e brincadeira Tentar definir o jogo não é tarefa fácil Quando se pronuncia a palavra jogo cada um pode entendêla de modo diferente Podese estar falando de jogos políticos de adultos crianças animais ou amarelinha xadrez adivinhas contar estórias brincar de mamãe e filhinha futebol dominó quebracabeça construir barquinho brincar na areia e uma infinidade de outros Tais jogos embora recebam a mesma denominação têm suas especificidades Por exemplo no fazdeconta há forte presença da situação imaginária no jogo de xadrez regras padronizadas permitem a movimentação das peças Brincar na areia sentir o prazer de fazêla escorrer pelas mãos encher e esvaziar copinhos com areia requer a satisfação da manipulação do objeto Já a construção de um barquinho exige não só a representação mental do objeto a ser construído mas também a habilidade manual para operacionalizálo O que dizer de um jogo político quando se imagina a estratégia e a astúcia de parlamentares e empresários negociando vantagens para conseguir seus objetivos Ou de uma partida de basquete em que a estratégia do armador é a responsável pela vitória Ou de um jogo de baralho em que o objetivo maior é o dinheiro a ser ganho na partida Quais os elementos que caracterizam tais jogos A incerteza que paira em qualquer partida quer seja de basquete quer de futebol A astúcia dos políticos A estratégia do jogador de xadrez O prazer que acompanha brincadeiras de pular amarelinha brincar na areia ou soltar pipa A flexibilidade de conduta que leva o jogador a experimentar novas jogadas novas situações O desenvolvimento de habilidades cognitiva manual ou social subjacentes a um jogo de construção O nãosério o fútil que caracteriza o jogo pelo dinheiro Outras indagações começam a aparecer quando se fala em utilizar jogos como a dama para ensinar cálculo matemático ou quebracabeça para ensinar formas geométricas Neste caso temos o jogo ou é o ensino que prevalece Qual a diferença entre um jogo de futebol profissional e um de várzea Seria a falta de rigor no cumprimento das regras ou o prazer manifesto no jogo coletivo Ou ambos Que especificidades marcam situações como a disputa de uma partida de xadrez um gato que empurra uma bola de lã um tabuleiro com piões e uma criança que brinca com boneca Na partida de xadrez há regras externas que orientam as ações de cada jogador Tais ações dependem também da estratégia do adversário Entretanto nunca se tem a certeza do lance que será dado em cada passo do jogo Este tipo de jogo serve para entreter amigos em momentos de lazer situação na qual predomina o prazer a vontade de cada um participar livremente da partida Em disputa entre profissionais os dois parceiros não jogam pelo prazer ou pela vontade de o fazer mas são obrigados por circunstâncias como o trabalho ou a competição esportiva Neste caso podese chamáIo de jogo O gato que rola uma bola tem o comportamento igual ao de uma criança que brinca com a bola Enquanto a criança tem consciência de seus atos escolhe deliberadamente brincar ou não no caso do gato não seriam os instintos biológios do animal os estimulantes da ação de rolar a bola Podese afirmar que o jogo do animal é semelhante ao jogo infantil Um tabuleiro com piões é um brinquedo quando usado para fins de brincadeira Teria o mesmo significado quando vira recurso de ensino destinado à aprendizagem de números É brinquedo ou material pedagógico Da mesma forma um tabuleiro de xadrez feito de material nobre como o cobre ou mármore exposto como objeto de decoração teria o significado de jogo A boneca é brinquedo para uma criança que brinca de filhinha mas para certas tribos indígenas conforme pesquisas etnográficas é símbolo de divindade objeto de adoração A variedade de fenômenos considerados como jogo mostra a complexidade da tarefa de definilo A dificuldade aumenta quando se percebe que um mesmo comportamento pode ser visto como jogo ou nãojogo Se para um observador externo a ação da criança indígena que se diverte atirando com arco e flecha em pequenos animais é uma brincadeira para a comunidade indígena nada mais é que uma forma de preparo para a arte da caça necessária à subsistência da tribo Assim atirar com arco e flecha para uns é jogo para outros é preparo profissional Uma mesma conduta pode ser jogo ou nãojogo em diferentes culturas dependendo do significado a ela atribuído Por tais razões fica difícil elaborar uma definição de jogo que englobe a multiplicidade de suas manifestações concretas Todos os jogos possuem peculiaridades que os aproximam ou distanciam Para aumentar a complexidade do campo em questão entre os materiais lúdicos alguns são usualmente chamados de jogo outros brinquedos Qual é a diferença entre jogo e brinquedo Para compreender o significado de tais termos foi indispensável a leitura de obras como a de Brougére Le jeu dans la pédagogie prescolaire depuis le Romantisme 1993 Henriot Sous couleur de jouer la métaphore ludique 1989 e Wittgenstein Investigações filosóficas 1975 Pesquisadores do Laboratoire de Recherche sur le Jeu et le Jouet da Université ParisNord como Gilles Brougère 1981 1993 e Jacques Henriot 1983 1989 começam a desatar o nó deste conglomerado de significados atribuídos ao termo jogo ao apontar três níveis de diferenciações O jogo pode ser visto como 1 o resultado de um sistema linguístico que funciona dentro de um contexto social 2 um sistema de regras e 3 um objeto No primeiro caso o sentido do jogo depende da linguagem de cada contexto social Há um funcionamento pragmático da linguagem do qual resulta um conjunto de fatos ou atitudes que dão significados aos vocábulos a partir de analogias As línguas funcionam como fontes disponíveis de expressão Elas exigem o respeito a certas regras de construção que nada têm a ver com a ordem do mundo A designação não tem por objetivo compreender a realidade mas manipulála simbolicamente pelos desejos da vida cotidiana A noção de jogo não nos remete à língua particular de uma ciência mas a um uso cotidiano Assim o essencial não é obedecer à lógica de uma designação científica dos fenômenos e sim respeitar o uso cotidiano e social da linguagem pressupondo interpretações e projeções sociais Assumir que cada contexto cria sua concepção de jogo não pode ser visto de modo simplista como mera ação de nomear Empregar um termo não é um ato solitário Subentende todo um grupo social que o compreende fala e pensa da mesma forma Considerar que o jogo tem um sentido dentro de um contexto significa a emissão de uma hipótese a aplicação de uma experiência ou de uma categoria fornecida pela sociedade veiculada pela língua enquanto instrumento de cultura dessa sociedade Toda denominação pressupõe um quadro sociocultural transmitido pela linguagem e aplicado ao real Dessa forma enquanto fato social o jogo assume a imagem o sentido que cada sociedade lhe atribui É este o aspecto que nos mostra por que dependendo do lugar e da época os jogos assumem significações distintas Se o arco e a flecha hoje aparecem como brinquedos em certas culturas indígenas representavam instrumentos para a arte da caça e da pesca Em tempos passados o jogo era visto como inútil como coisa nãoséria Já nos tempos do Romantismo o jogo aparece como algo sério e destinado a educar a criança Outros aspectos relacionados ao trabalho à inutilidade ou à educação da criança emergem nas várias sociedades em diferentes tempos históricos No Brasil termos como jogo brinquedo e brincadeira ainda são empregados de forma indistinta demonstrando um nível baixo de conceituação deste campo Enfim cada contexto social constrói uma imagem de jogo conforme seus valores e modo de vida que se expressa por meio da linguagem No segundo caso um sistema de regras permite identificar em qualquer jogo uma estrutura sequencial que especifica sua modalidade O xadrez tem regras explícitas diferentes do jogo de damas loto ou trilha São as regras do jogo que distinguem por exemplo jogar buraco ou tranca usando o mesmo objeto o baralho Tais estruturas sequenciais de regras permitem diferenciar cada jogo permitindo superposição com a situação lúdica ou seja quando alguém joga está executando as regras do jogo e ao mesmo tempo desenvolvendo uma atividade lúdica O terceiro sentido referese ao jogo enquanto objeto O xadrez materializase no tabuleiro e nas peças que podem ser fabricadas com papelão madeira plástico pedra ou metais O pião confeccionado de madeira casca de fruta ou plástico representa o objeto empregado na brincadeira de rodar pião Os três aspectos citados permitem uma primeira compreensão do jogo diferenciando significados atribuídos por culturas diferentes pelas regras e objetos que o caracterizam expressam preferencialmente personagens sob forma de bonecos como manequins articulados ou superheróis misto de homens animais máquinas e monstros O brinquedo propõe um mundo imaginário da criança e do adulto criador do objeto lúdico No caso da criança o imaginário varia conforme a idade para o préescolar de 3 anos está carregado de animismo de 5 a 6 anos integra predominantemente elementos da realidade O fabricante ou sujeito que constrói brinquedos neles introduz imagens que variam de acordo com a sua cultura Cada cultura tem maneiras de ver a criança de tratar e educar Entre as antigas concepções a criança vista como homem em miniatura revela uma visão negativa a criança é um ser inacabado sem nada específico e original sem valor positivo É contra essa visão que a partir do século XVIII Rousseau em Emílio defende a especificidade infantil a criança como portadora de uma natureza própria que deve ser desenvolvida A infância é também a idade do possível Podese projetar sobre ela a esperança de mudança de transformação social e renovação moral A infância é portadora de uma imagem de inocência de candura moral imagem associada à natureza primitiva dos povos um mito que representa a origem do homem e da cultura Como são construídas tais imagens tão diferentes e contraditórias A imagem de infância é reconstituída pelo adulto por meio de um duplo processo de um lado ela está associada a todo um contexto de valores e aspirações da sociedade e de outro depende de percepções próprias do adulto que incorpora memórias de seu tempo de criança Assim se a imagem de infância reflete o contexto atual ela é carregada também de uma visão idealizada do passado do adulto que contempla sua própria infância A infância expressa no brinquedo contém o mundo real com seus valores modos de pensar e agir e o imaginário do criador do objeto 10 Bachelard em A poética do devaneio 1988 93137 nos mostra que há sempre uma criança em todo adulto que o devaneio sobre a infância é um retorno à infância pela memória e imaginação A poesia é o estimulante que permite esse devaneio essa abertura para o mundo para o cósmico que se manifesta no momento da solidão Há em nós uma infância represada que emerge quando algumas imagens nos tocam Bachelard considera as imagens que sobrevivem da infância como resultado de dois elementos a memória e a imaginação Os fatos ocorridos são metamorfoseados pela imaginação que recria as situações com novo olhar com novo brilho Daí nem sempre a memória ser aceita como documento factual em trabalhos de história Por ser o devaneio composto de memória e imaginação é que se entende Mário de Andrade em Vestida de Preto 1943 apud Faria 1994 130 falar da alegria de ter soltado balões quando na verdade não o fez São suas fantasias sua imaginação que recriam situações de retorno à infância como a satisfação de soltar balões Quantas memórias de infância povoam a imaginação quando nos deparamos com os poemas Cai cai balão cai cai balão na Rua do Sabão ou Café com pão café com pão café com pão Virge Maria que foi isto maquinista Manoel Bandeira 1986 Os devaneios retomam as lembranças de infância mas também nossos sonhos ideais e vontades Muitas vezes o passado de ausência de brinquedos misturase com o presente e alimenta o devaneio dinamizandoo com a imaginação criativa Mário não foi criança de soltar balão mas quando adulto gostava de brincar com os sobrinhos esconder doces pela casa e pedir para achar apertar a campainha das portas e sair correndo Suas obras retratam diferentes imagens de infância a miserável a feliz cada uma delas com graus diferentes de memória e imaginação São seus devaneios que permitiram o retorno à infância e a expressão de diferentes visões de criança em sua vasta produção literária Assim como a poesia os jogos infantis despertam em nós o imaginário a memória dos tempos passados Em Infância 8 Brinquedo é outro termo indispensável para compreender esse campo Diferindo do jogo o brinquedo supõe uma relação íntima com a criança e uma indeterminação quanto ao uso ou seja a ausência de um sistema de regras que organizam sua utilização Uma boneca permite à criança várias formas de brincadeiras desde a manipulação até a realização de brincadeiras como mamãe e filhinha O brinquedo estimula a representação a expressão de imagens que evocam aspectos da realidade Ao contrário jogos como xadrez e jogos de construção exigem de modo explícito ou implícito o desempenho de certas habilidades definidas por uma estrutura preexistente no próprio objeto e suas regras Admitese que o brinquedo represente certas realidades Uma representação é algo presente no lugar de algo Representar é corresponder a alguma coisa e permitir sua evocação mesmo em sua ausência O brinquedo coloca a criança na presença de reproduções tudo o que existe no cotidiano a natureza e as construções humanas Podese dizer que um dos objetivos do brinquedo é dar à criança um substituto dos objetos reais para que possa manipulálos Duplicando diversos tipos de realidades presentes o brinquedo metamorfoseia e fotografa a realidade Não reproduz apenas objetos mas uma totalidade social Hoje os brinquedos reproduzem o mundo técnico e científico e o modo de vida atual com aparelhos eletrodomésticos naves espaciais bonecos e robôs A imagem representada não é uma cópia idêntica da realidade existente uma vez que os brinquedos incorporam características como tamanho formas delicadas e simples estilizadas ou ainda antropomórficas relacionadas à idade e gênero do público ao qual é destinado Os brinquedos podem incorporar também um imaginário preexistente criado pelos desenhos animados seriados televisivos mundo da ficção científica com motores e robôs mundo encantado dos contos de fada estórias de piratas índios e bandidos Ao representar realidades imaginárias os brinquedos 1984 Graciliano Ramos recorda seu cotidiano de criança pobre que construía brinquedos de barro e invejava os meninos que possuíam brinquedos mecânicos Em contraposição Baudelaire em Curiosités esthétiques apud Brougère 1993 relembra o menino burguês que deixa seus brinquedos sofisticados para olhar interessado o brinquedo vivo rato do menino maltrapilho São também sugestivas as poéticas páginas de José Lins do Rêgo em Menino de engenho 1969 relembrando seus tempos de infância em que nadava nos rios trepava nas árvores trocava frutas roubadas da despensa com piões que dormiam nas mãos dos espertos moleques da senzala Por tais razões o brinquedo contém sempre uma referência ao tempo de infância do adulto com representações veiculadas pela memória e imaginação O vocábulo brinquedo não pode ser reduzido à pluralidade de sentidos do jogo pois conota criança e tem uma dimensão material cultural e técnica Enquanto objeto é sempre suporte de brincadeira É o estimulante material para fazer fluir o imaginário infantil E a brincadeira É a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras do jogo ao mergulhar na ação lúdica Podese dizer que é o lúdico em ação Desta forma brinquedo e brincadeira relacionamse diretamente com a criança e não se confundem com o jogo Hoje a imagem de infância é enriquecida também com o auxílio de concepções psicológicas e pedagógicas que reconhecem o papel de brinquedos e brincadeiras no desenvolvimento e na construção do conhecimento infantil Após as distinções iniciais entre jogo brinquedo e brincadeira vamos explorar mais detalhadamente o termo jogo analisando a grande família que o caracteriza A família do jogo Wittgenstein em Investigações filosóficas 1975 423 estuda a grande família composta por diferentes tipos de jogos e suas analogias Diz ser o jogo um termo impreciso com contornos vagos por assumir múltiplos significados Considere por exemplo os processos que chamamos de jogos Refirome a jogos de tabuleiro de cartas de bola torneios esportivos etc O que é comum a todos eles Não diga Algo deve ser comum a eles senão não se chamariam jogos mas veja se algo é comum a eles todos pois se você os contemplar não verá na verdade algo comum a todos mas semelhanças parentescos e até toda uma série deles Como disse não pense mas veja Considere por exemplo os jogos de tabuleiro com seus múltiplos parentescos Agora passe para os jogos de cartas aqui você encontra muitas correspondências com aqueles da primeira classe mas muitos traços comuns desaparecem e outros surgem Se passamos agora ao jogo de bola muita coisa comum se conserva mas muitas se perdem São todos recreativos Compare o xadrez com o jogo da amarelinha Ou há em todos um ganhar e um perder ou uma concorrência entre os jogadores Pense nas paciências Nos jogos de bola há um ganhar e um perder mas se uma criança atira a bola na parede e a apanha outra vez este traço desapareceu Veja que papéis desempenham a habilidade e a sorte E como é diferente a habilidade no xadrez e no tênis Pense agora nos brinquedos de roda o elemento de divertimento está presente mas quantos dos outros traços característicos desapareceram E assim podemos percorrer muitos muitos outros grupos de jogos e ver semelhanças surgirem e desaparecerem E tal é o resultado desta consideração vemos uma rede complicada de semelhanças que se envolvem e se cruzam mutuamente Semelhanças de conjunto e de pormenor Não posso caracterizar melhor essas semelhanças do que com a expressão semelhanças de família pois assim se envolvem e se cruzam as diferentes semelhanças que existem entre os membros de uma família estatura traços fisionômicos cor dos olhos o andar o temperamento etc etc E digo os jogos formam uma família Nesse trecho de sua obra o autor descreve a ramificação do jogo em uma família com múltiplas espécies e seus parentescos Ao assumir o sentido do jogo como uma família surgem imprecisões se não aponto exatamente o tipo de jogo a que me refiro Mas o que significa exatamente essa imprecisão Vejamos um exemplo Quando alguém diz Ensine um jogo às crianças Se foi proposto jogar baralho o outro pode retrucar dizendo Não tive em mente um jogo como esse Na visão do discordante o termo jogo relacionado ao ensino excluía o jogo de baralho provavelmente por sua associação ao jogo de azar O conceito de jogo dos dois protagonistas não é o mesmo para um inclui o baralho e para o outro por se tratar de situações de ensino o exclui É exatamente o que Wittgenstein ressalta o termo se explicita no uso na espécie de jogo a que o usuário está se referindo no sentido que deu ao termo Essa questão demanda uma investigação sobre as características presentes em toda rede de manifestações sobre o jogo Características do jogo Entre os autores que discutem a natureza do jogo suas características ou como diz Wittgenstein semelhanças de família encontramse Caillois 1958 Huizinga 1951 Henriot 1989 e mais recentemente Fromberg 1987 e Christie 1991a e 1991b e muitos outros Ao descrever o jogo como elemento da cultura Huizinga 1951 331 omite os jogos de animais e analisa apenas os produzidos pelo meio social apontando as características o prazer o caráter nãosério a liberdade a separação dos fenômenos do cotidiano as regras o caráter fictício ou representativo e sua limitação no tempo e no espaço Embora predomine na maioria das situações o prazer como distintivo do jogo há casos em que o desprazer é o elemento que o caracteriza Vygotsky é um dos que afirmam que nem sempre o jogo possui essa característica porque em certos casos há esforço e desprazer na busca do objetivo da brincadeira A psicanálise também acrescenta o desprazer como constitutivo do jogo especialmente ao demonstrar como a criança representa em processos catárticos situações extremamente dolorosas O caráter nãosério apontado por Huizinga não implica que a brincadeira infantil deixe de ser séria Quando a criança brinca ela o faz de modo bastante compenetrado A pouca seriedade a que faz referência está mais relacionada ao cômico ao riso que acompanha na maioria das vezes o ato lúdico e se contrapõe ao trabalho considerado atividade séria Ao postular a natureza livre do jogo Huizinga a coloca como atividade voluntária do ser humano Se imposta deixa de ser jogo Quando brinca a criança toma certa distância da vida cotidiana entra no mundo imaginário Embora Huizinga não aprofunde essa questão ela merecerá atenção de psicólogos que discutem o papel do jogo na construção da representação mental e da realidade A existência de regras em todos os jogos é uma característica marcante Há regras explícitas como no xadrez ou amarelinha regras implícitas como na brincadeira de fazdeconta em que a menina se faz passar pela mãe que cuida da filha São regras internas ocultas que ordenam e conduzem a brincadeira Finalmente todo jogo acontece em um tempo e espaço com uma sequência própria da brincadeira Seguindo quase a mesma orientação de Huizinga Caillois 1958 423 aponta como características do jogo a liberdade de ação do jogador a separação do jogo em limites de espaço e tempo a incerteza que predomina o caráter improdutivo de não criar nem bens nem riqueza e suas regras Um novo elemento introduzido pelo autor é a natureza improdutiva do jogo Entendese que o jogo por ser uma ação voluntária da criança um fim em si mesmo não pode criar nada não visa a um resultado final O que importa é o processo em si de brincar que a criança se impõe Quando ela brinca não está preocupada com a aquisição de conhecimento ou desenvolvimento de qualquer habilidade mental ou física Da mesma forma a incerteza presente em toda conduta lúdica é outro ponto que merece destaque No jogo nunca se sabem os rumos da ação do jogador que dependerá sempre de 24 fatores internos de motivações pessoais e de estímulos externos como a conduta de outros parceiros Uma dúvida que paira em torno do jogo é o fato de condutas semelhantes representarem jogo e nãojogo Nem sempre o pesquisador consegue identificar um jogo uma vez que se pode manifestar um comportamento que externamente tem a semelhança de jogo sem que esteja presente a motivação interna para o lúdico É preciso também estar em perfeita simbiose com o jogador para identificar em sua atitude o envolvimento no jogo O jogo inclui sempre uma intenção lúdica do jogador Muitas vezes ao observar brincadeiras infantis o pesquisador se depara com duas situações que externamente são idênticas em que a criança diz Agora eu não estou brincando mas logo em seguida expressando a mesma conduta diz que está brincando O que diferencia o primeiro momento não brincar que aparentemente é idêntico ao segundo brincar é a intenção da criança o que cria uma certa dificuldade para realizar pesquisas empíricas sobre o jogo infantil Mais recentemente Christie 1991b 4 rediscute as características do jogo infantil apontando pesquisas atuais que o distinguem de outros tipos de comportamentos Utilizando estudos de Garvey 1977 King 1979 Rubin e outros 1983 Smith e Vollstedt 1985 a autora elabora os critérios para identificar seus traços 1 a nãoliteralidade as situações de brincadeira caracterizamse por um quadro no qual a realidade interna predomina sobre a externa O sentido habitual é substituído por um novo São exemplos de situações em que o sentido não é literal o ursinho de pelúcia servir como filhinho e a criança imitar o irmão que chora 2 efeito positivo o jogo infantil é normalmente caracterizado pelos signos do prazer ou da alegria entre os quais o sorriso Quando brinca livremente e se satisfaz a criança o demonstra por meio do sorriso Esse processo traz inúmeros 25 efeitos positivos aos aspectos corporal moral e social da criança 3 flexibilidade as crianças estão mais dispostas a ensaiar novas combinações de idéias e de comportamentos em situações de brincadeira que em outras atividades nãorecreativas Estudos como os de Bruner 1976 demonstram a importância da brincadeira para a exploração A ausência de pressão do ambiente cria um clima propício para investigações necessárias à solução de problemas Assim brincar leva a criança a tornarse mais flexível e buscar alternativas de ação 4 prioridade do processo de brincar enquanto a criança brinca sua atenção está concentrada na atividade em si e não em seus resultados ou efeitos O jogo infantil só pode receber esta designação quando o objetivo da criança é brincar O jogo educativo utilizado em sala de aula muitas vezes desvirtua esse conceito ao dar prioridade ao produto à aprendizagem de noções e habilidades 5 livre escolha o jogo infantil só pode ser jogo quando escolhido livre e espontaneamente pela criança Caso contrário é trabalho ou ensino 6 controle interno no jogo infantil são os próprios jogadores que determinam o desenvolvimento dos acontecimentos Quando o professor utiliza um jogo educativo em sala de aula de modo coercitivo não oportuniza aos alunos liberdade e controle interno Predomina neste caso o ensino a direção do professor Segundo Christie 1991b 5 os indicadores mais úteis e relativamente confiáveis do jogo infantil podem ser encontrados nas quatro primeiras características a nãoliteralidade o efeito positivo a flexibilidade e a finalidade em si Para auxiliar pesquisadores na tarefa de discriminar se os professores concebem atividades escolares como jogo ou trabalho os dois últimos são os mais indicados Se a atividade não for de livre escolha e seu desenvolvimento não depender da própria criança não se terá jogo mas trabalho Já existem estudos no Brasil como o de Costa 1991 que demonstram que as crianças 26 concebem como jogo somente as atividades iniciadas e mantidas por elas Para Fromberg 1987 36 o jogo infantil inclui as características simbolismo representa a realidade e atitudes significação permite relacionar ou expressar experiências atividade a criança faz coisas voluntário ou intrinsecamente motivado incorporar motivos e interesses regrado sujeito a regras implícitas ou explícitas e episódico metas desenvolvidas espontaneamente Em conferência proferida em 21 de setembro de 1994 na Faculdade de Educação da USP o filósofo e antropólogo Brougère acentuou que o jogo inclui uma reflexão de segundo grau a natureza simbólica as regras a incerteza dos resultados a futilidade sem consequência e a motivação interna Em síntese excetuando jogos de animais os autores assinalam pontos comuns como elementos que interligam a grande família dos jogos 1 liberdade de ação do jogador ou o caráter voluntário de motivação interna e episódica da ação lúdica prazer ou desprazer futilidade o nãosério ou efeito positivo 2 regras implícitas ou explícitas 3 relevância do processo de brincar o caráter improdutivo incerteza de resultados 4 nãoliteralidade reflexão de segundo grau representação da realidade imaginação e 5 contextualização no tempo e no espaço São tais características que permitem identificar fenômenos que pertencem à grande família dos jogos Após distinções iniciais entre jogo brinquedo e brincadeira e a análise das características comuns aos jogos pretendese avançar nos múltiplos sentidos que o jogo assume na educação As relações entre o jogo infantil e a educação paradigmas Antes da revolução romântica três concepções estabeleciam as relações entre o jogo infantil e a educação 1 recreação 2 uso do jogo para favorecer o ensino de conteúdos escolares e 3 diagnóstico da personalidade infantil e recurso para ajustar o ensino às necessidades infantis O jogo visto como recreação desde a antigüidade grecoromana aparece como relaxamento necessário a atividades que exigem esforço físico intelectual e escolar Aristóteles Tomás de Aquino Sêneca Sócrates Por longo tempo o jogo infantil fica limitado à recreação Durante a Idade Média o jogo foi considerado nãosério por sua associação ao jogo de azar bastante divulgado na época O jogo serviu para divulgar princípios de moral ética e conteúdos de história geografia e outros a partir do Renascimento o período de compulsão lúdica O Renascimento vê a brincadeira como conduta livre que favorece o desenvolvimento da inteligência e facilita o estudo Ao atender necessidades infantis o jogo infantil tornase forma adequada para a aprendizagem dos conteúdos escolares Assim para se contrapor aos processos verbalistas de ensino à palmatória vigente o pedagogo deveria dar forma lúdica aos conteúdos Quintiliano Erasmo Rabelais Basedow comungam dessa perspectiva Na clássica obra Gargântua e Pantagruel Rabelais sd fala do jogo utilizando personagens da época para desenvolver a trama de suas histórias O autor satiriza os sofistas da época mostrando a deseducação de Gargântua que não valorizava conhecimentos hábitos saudáveis de higiene de alimentação etc Critica a educação dos sofistas ou deseducação excesso de comida bebidas e divertimento Entre os passatempos cita cerca de 204 jogos em que predominam os de azar com uso de cartas movimentos simulação seleção enfim jogos tradicionais da época Se na educação inadequada de Gargântua o jogo aparece como inutilidade e futilidade passatempo na educação do sábio pedagogo o jogo é visto como instrumento de ensino de matemática e outros conteúdos No fundo Rabelais critica o jogo como futilidade como nãosério aliado ao dinheiro e o valoriza como instrumento de educação para ensinar conteúdos gerar conversas ilustrar valores e práticas do passado ou até para recuperar brincadeiras dos tempos passados Recomenda brincar de ossinhos nos dias de chuva enquanto se discute como povos do passado pensam e brincam sd11014 Entre os jogos citados por Rabelais sd939 aparecem os de cartas alguns já desaparecidos que fizeram a desgraça de muitos jogadores como os lesquenet aluette crou madame além de outros como o trunfo vinte e um jogos de seleção como par ou ímpar cara ou coroa e uma grande quantidade de jogos tradicionais como volante bilboquê chicote queimado carniça beliscão quebracabeça pular o carneiro catavento Como Rabelais Montaigne divulga o caráter educativo do jogo Considera inúteis jogos de caça passatempo dos nobres e a dança tida como lazer popular Para Montaigne o jogo é um instrumento de desenvolvimento da linguagem e do imaginário É o escritor o poeta sua prioridade Privilegia jogos que valorizam a escrita Mas é Vives Traité de lenseignement 1612 apud Brougère 1993108 que completa o sentido do jogo veiculado nos tempos atuais como um meio de expressão de qualidades espontâneas ou naturais da criança como recriação momento adequado para observar a criança que expressa através dele sua natureza psicológica e inclinações Uma tal concepção mantém o jogo à margem da atividade educativa mas sublinha sua espontaneidade Tal forma de perceber o jogo está relacionada com a nova percepção da infância que começa a constituirse no Renascimento a criança dotada de valor positivo de uma natureza boa que se expressa espontaneamente por meio do jogo perspectiva que irá fixarse com o Romantismo É dentro dos quadros do Romantismo que o jogo aparece como conduta típica e espontânea da criança Recorrendo à metáfora do desenvolvimento infantil como recapitulação da história da humanidade o Romantismo com sua consciência poética do mundo reconhece na criança uma natureza boa semelhante à alma do poeta considerando o jogo sua forma de expressão Mais que um ser em desenvolvimento com características próprias embora transitórias a criança é vista como ser que imita e brinca dotada de espontaneidade e liberdade O Romantismo constrói no pensamento da época um novo lugar para a criança e seu jogo tendo como representantes filósofos e educadores como JeanPaul Richter Hoffmann e Fröebel que consideram o jogo como conduta espontânea e livre e instrumento de educação da pequena infância O uso metafórico do jogo como conduta prazerosa e espontânea tem suas origens nas teorias da recapitulação conforme estudos recentes de Brougère 1993 Em tempos passados as fases da vida do indivíduo infância maturidade e velhice eram comparadas às da humanidade Com o Romantismo e seu foco na criança surge a metáfora que correlaciona a infância do indivíduo à da humanidade por influência de Rousseau que inicia a perspectiva genética em sua obra Émile ou De lEducation 1961 Ao observar as brincadeiras infantis e a capacidade imitativa da criança o século XVIII erige o conhecimento da criança como via de acesso à origem da humanidade Supondo existir uma equivalência entre povos primitivos e a infância poderseia entender a infância como idade do imaginário da poesia à semelhança dos povos dos tempos da mitologia Daí ter sentido a afirmação de que o jogo é uma conduta espontânea livre de expressão de tendências infantis axioma que parte do princípio de que o mundo em sua infância era composto de povos poetas Essa teoria denominada recapitulação influenciada pelo positivismo recebe os sopros do darwinismo no fim do 30 século XIX A seleção natural justifica a sobrevivência apenas das espécies animais que se adaptam às novas condições de vida Vista como elemento participante dessa seleção a conduta lúdica parece incorporar a adaptabilidade dos animais que se tornam mais aptos para a sobrevivência Dessa forma o jogo recebe um estatuto científico nos quadros do darwinismo Brougère 1933 Ao surgir no século XIX a psicologia da criança recebe forte influência da biologia e faz transposições dos estudos com animais para o campo infantil Nesse eixo emerge a teoria de Groos que considera o jogo préexercício de instintos herdados uma ponte entre a biologia e a psicologia Para Groos o jogo é uma necessidade biológica um instinto e psicologicamente um ato voluntário apud Brougère 1993 p182 Se o jogo remete ao natural universal e biológico ele é necessário para a espécie para o treino de instintos herdados Dessa forma Groos retoma o jogo enquanto ação espontânea natural influência biológica prazerosa e livre influência psicológica e já antecipa sua relação com a educação treino de instintos Groos adota o pressuposto biológico da necessidade da espécie e acrescenta a vontade e a consciência infantil em busca do prazer para justificar os processos psicológicos Assim as teorias da recapitulação e do préexercício associadas ao darwinismo recebem nova roupagem que dão estatuto ao jogo permitindo sua divulgação no seio da psicologia e da pedagogia Entretanto se considerarmos a inadequação da transposição de estudos no campo da etologia animal para os seres humanos o jogo continua assentado na metáfora das idades da humanidade tornandose um conceito pouco objetivo e questionável Claparède 1956 procurando conceituar pedagogicamente a brincadeira recorre à psicologia da criança embebida de influências da biologia e do romantismo Para o autor o jogo infantil desempenha papel importante como o motor do autodesenvolvimento e em consequência método natural de edu 31 cação e instrumento de desenvolvimento É pela brincadeira e imitação que se dará o desenvolvimento natural como postula a psicologia e a pedagogia do escolanovismo Piaget 1978 1977 adota em parte o referencial escolanovista ao dar destaque à imitação que participa de processos de acomodação na forma de assimilação Na teoria piagetiana a brincadeira não recebe uma conceituação específica Entendida como ação assimiladora a brincadeira aparece como forma de expressão da conduta dotada de características metafóricas como espontânea prazerosa semelhantes às do Romantismo e da biologia Ao colocar a brincadeira dentro do conteúdo da inteligência e não na estrutura cognitiva Piaget distingue a construção de estruturas mentais da aquisição de conhecimentos A brincadeira enquanto processo assimilativo participa do conteúdo da inteligência à semelhança da aprendizagem Embora dotada de grande consistência a teoria piagetiana não discute a brincadeira em si Em síntese Piaget adota o uso metafórico vigente na época da brincadeira como conduta livre espontânea que a criança expressa por sua vontade e pelo prazer que lhe dá Para o autor ao manifestar a conduta lúdica a criança demonstra o nível de seus estágios cognitivos e constrói conhecimentos Da mesma forma para psicólogos especialmente freudianos a brincadeira infantil é o meio de estudar a criança e perceber seus comportamentos Melanie Klein usa a brincadeira como meio de diagnóstico de problemas da criança Concebendoa como meio de expressão natural não estuda sua especificidade Outros teóricos como Vygotsky e Bruner focalizam o contexto sociocultural e a estrutura da linguagem para subsidiar o estudo da brincadeira Para Vygotsky 1988 1987 1982 os processos psicológicos são construídos a partir de injunções do contexto sociocultural Seus paradigmas para explicitar o jogo infantil localizamse na filosofia marxistaleninista que concebe o mundo como resultado de processos históricosociais que alteram não só o modo de vida da sociedade mas inclusive as formas de 32 pensamento do ser humano São os sistemas produtivos geradores de novos modos de vida fatores que modificam o modo de pensar do homem Dessa forma toda conduta do ser humano incluindo suas brincadeiras é construída como resultado de processos sociais Considerada situação imaginária a brincadeira de desempenho de papéis é conduta predominante a partir de 3 anos e resulta de influências sociais recebidas ao longo dos anos anteriores Além das teorias de Piaget e Vygotsky cresce a influência do psicólogo americano Jerome Seymour Bruner Com a fundação do Centro de Estudos Cognitivos da Universidade de Harvard em 1960 em parceria com o lingüista George Miller Bruner inicia a gestação de sua teoria sobre os jogos Enquanto Bruner pesquisava os processos cognitivos e a educação MiIler estudava a linguagem Influenciado por Chomsky e sua revolucionária teoria da gramática gerativa os estudos de MiIler sobre a linguagem seguem esse eixo Posteriormente Bruner pesquisa o jogo adotando o mesmo referencial ou seja identificando a estrutura do jogo à linguagem Chomsky traz a questão cartesiana do caráter criativo da linguagem de que o conhecimento das regras da linguagem permitem infinitas construções das frases A compreensão de que as regras geram as sentenças e de que é possível criar novas sentenças a partir de outras regras é a chave para a compreensão da linguagem e de sua teoria sobre as brincadeiras infantis Para Bruner 1978 1986 1983 1976 brincadeiras infantis como esconder o rosto com a fralda peekaboo estimulam a criatividade não no sentido romântico mas na acepção de Chomsky de conduzir à descoberta das regras e colaborar com a aquisição da linguagem É a ação comunicativa que se desenrola nas brincadeiras entre mãe e filho que dá significado aos gestos e que permite à criança decodificar contextos e aprender a falar Ao descobrir as regras nos episódios altamente circunstanciados a criança aprende ao mesmo tempo a falar a iniciar a brincadeira e alterála A aprendizagem da língua 33 materna é mais rápida quando se inscreve no campo lúdico A mãe ao interagir com a criança cria um esquema previsível de interação que serve de microcosmo para a comunicação e o estabelecimento de uma realidade compartilhada Entre os paradigmas construídos com referenciais já apontados a brincadeira da criança aparece como um processo metafórico relacionado a comportamentos naturais e sociais Especialmente na psicologia teóricos do jogo infantil têm procurado elaborar conceitos que tentam se ergir como científicos a partir da observação da conduta infantil No campo da antropologia e sociologia excetuando os trabalhos do grupo do Laboratoire de Recherche sur le Jeu et le Jouet geralmente não há discussão do jogo em si mas um uso metafórico sem a explicitação de seu significado Brougère mostra que as metáforas do jogo aparecem em várias áreas Para alguns autores o jogo é livre sem constrangimentos se opõe à norma a toda regra fixa Jean Cazeneuve em La vie dans la société moderne é um exemplo desse emprego em que o jogo é visto como o símbolo de nossa autonomia apud Brougère 1993605 Nessa mesma linha Goffman em Manicômios prisões e conventos 1961 mostra como certas instituições ao controlarem o cotidiano infantil impedem a autonomia a ação livre da criança Em obras de Bourdieu o modelo empregado é a estratégia do jogo de xadrez que serve como parâmetro para analisar a reprodução das relações de matrimônio em certas culturas e da vida universitária parisiense Brougère 1993612 Mead 1972 identifica o jogo a uma estrutura heurística em que jogos coletivos como o futebol apresentam analogias com as relações que se estabelecem entre os indivíduos dentro de uma sociedade O jogo fornece um modelo simplificado para compreender essa interdependência Embora alguns autores construam um conceito operatório de jogo não discutem seu significado e utilizam o modelo heurístico sem questionar o jogo em si É também dentro do processo metafórico que se compreende a expressão jogo 34 educativo ou brinquedo educativo O quebracabeça tornase brinquedo educativo quando se transportam para o ensino as propriedades do jogo Com Henriot começam a delinearse os traços centrais do jogo uma espécie de definição stricto sensu Para o autor não se pode chegar ao jogo se não há a conjunção de uma conduta subjetiva intencional e uma situação objetiva constatável Para que exista jogo é necessário que o sujeito tenha consciência de que está jogando e que manifeste conduta compatível com a situação Qualquer conduta pode transformarse em jogo por meio de equivalência metafórica quando a intenção do jogador está presente Para Henriot o jogo é sempre um processo metafórico élhe próprio tomar ausência como matéria ultrapassar o presente no sentido do futuro transformar o real por meio do possível e lhe dar a dimensão do imaginário Segundo o autor podese chamar jogo todo processo metafórico resultante da decisão tomada e mantida como um conjunto coordenado de esquemas conscientemente percebidos como aleatórios para a realização de um tema deliberadamente colocado como arbitrário Henriot 1989 7 Essa interpretação permite compreender por que condutas tão diferentes aparecem como jogo Como já foi visto os paradigmas sobre o jogo infantil parecem equiparar o jogo ao espontâneo nãosério à futilidade ou reivindicar o sério e associálo à utilidade educativa em sua grande maioria referenciais dos tempos do Romantismo O aparecimento de novos paradigmas como os de Bruner e de Vygotsky partindo de pressupostos sociais e da linguística oferece novos fundamentos teóricos ao papel dos brinquedos e brincadeiras na educação préescolar Tipos de brinquedos e brincadeiras Não se pretende discutir as classificações existentes apenas ressaltar algumas modalidades de brincadeiras presentes na educação infantil 35 Brinquedo educativo jogo educativo O brinquedo educativo data dos tempos do Renascimento mas ganha força com a expansão da educação infantil especialmente a partir deste século Entendido como recurso que ensina desenvolve e educa de forma prazerosa o brinquedo educativo materializase no quebracabeça destinado a ensinar formas ou cores nos brinquedos de tabuleiro que exigem a compreensão do número e das operações matemáticas nos brinquedos de encaixe que trabalham noções de sequência de tamanho e de forma nos múltiplos brinquedos e brincadeiras cuja concepção exigiu um olhar para o desenvolvimento infantil e a materialização da função psicopedagógica móbiles destinados à percepção visual sonora ou motora carrinhos munidos de pinos que se encaixam para desenvolver a coordenação motora parlendas para a expressão da linguagem brincadeiras envolvendo músicas danças expressão motora gráfica e simbólica O uso do brinquedojogo educativo com fins pedagógicos remetenos para a relevância desse instrumento para situações de ensinoaprendizagem e de desenvolvimento infantil Se considerarmos que a criança préescolar aprende de modo intuitivo adquire noções espontâneas em processos interativos envolvendo o ser humano inteiro com suas cognições afetividade corpo e interações sociais o brinquedo desempenha um papel de grande relevância para desenvolvêla Ao permitir a ação intencional afetividade a construção de representações mentais cognição a manipulação de objetos e o desempenho de ações sensóriomotoras físico e as trocas nas interações social o jogo contempla várias formas de representação da criança ou suas múltiplas inteligências contribuindo para a aprendizagem e o desenvolvimento infantil Quando as situações lúdicas são intencionalmente criadas pelo adulto com vistas a estimular certos tipos de aprendizagem surge a dimensão educativa Desde que mantidas as condições para a expressão do jogo ou seja a ação intencional da criança para brincar o educador está potencializando as situações de aprendizagem Utilizar o jogo na educação infantil significa transportar para o campo do ensinoaprendizagem condições para maximizar a construção do conhecimento introduzindo as propriedades do lúdico do prazer da capacidade de iniciação e ação ativa e motivadora Ao usar a quadrilha para a apreensão de noções de conjunto de pares e ímpares ou o boliche para a construção de números estão presentes propriedades metafóricas do jogo que possibilitam à criança o acesso a vários tipos de conhecimentos e habilidades Ao assumir a função lúdica e educativa o brinquedo educativo merece algumas considerações 1 função lúdica o brinquedo propicia diversão prazer e até desprazer quando escolhido voluntariamente e 2 função educativa o brinquedo ensina qualquer coisa que complete o indivíduo em seu saber seus conhecimentos e sua apreensão do mundo O brincar dotado de natureza livre parece incompatibilizarse com a busca de resultados típica de processos educativos Como reunir dentro da mesma situação o brincar e o educar Essa é a questão que merece ser detalhada Se a criança está diferenciando cores ao manipular livre e prazerosamente um quebracabeça disponível na sala de aula a função educativa e a lúdica estão presentes No entanto se a criança prefere empilhar peças do quebracabeça fazendo de conta que está construindo um castelo certamente estão contemplados o lúdico a situação imaginária a habilidade para a construção do castelo a criatividade na disposição das cartas mas não se garante a diferenciação das cores Essa é a especificidade do brinquedo educativo Apesar da riqueza de situações de aprendizagens que propicia nunca se tem a certeza de que a construção do conhecimento efetuado pela criança será exatamente a mesma desejada pelo professor A utilização do jogo potencializa a exploração e a construção do conhecimento por contar com a motivação interna típica do lúdico mas o trabalho pedagógico requer a oferta de estímulos externos e a influência de parceiros bem como a sistematização de conceitos em outras situações que não jogos Ao utilizar de modo metafórico a forma lúdica objeto suporte de brincadeira para estimular a construção do conhecimento o brinquedo educativo conquistou espaço definitivo na educação infantil Brincadeiras tradicionais infantis A brincadeira tradicional infantil filiada ao folclore incorpora a mentalidade popular expressandose sobretudo pela oralidade Considerada como parte da cultura popular essa modalidade de brincadeira guarda a produção espiritual de um povo em certo período histórico A cultura nãooficial desenvolvida especialmente de modo oral não fica cristalizada Está sempre em transformação incorporando criações anônimas das gerações que vão se sucedendo Por ser um elemento folclórico a brincadeira tradicional infantil assume características de anonimato tradicionalidade transmissão oral conservação mudança e universalidade Não se conhece a origem da amarelinha do pião das parlendas das fórmulas de seleção Seus criadores são anônimos Sabese apenas que provêm de práticas abandonadas por adultos de fragmentos de romances poesias mitos e rituais religiosos A tradicionalidade e universalidade das brincadeiras assentamse no fato de que povos distintos e antigos como os da Grécia e do Oriente brincaram de amarelinha empinar papagaios jogar pedrinhas e até hoje as crianças o fazem quase da mesma forma Tais brincadeiras foram transmitidas de geração em geração através de conhecimentos empíricos e permanecem na memória infantil Muitas brincadeiras preservam sua estrutura inicial outras modificamse recebendo novos conteúdos A força de tais brincadeiras explicase pelo poder da expressão oral Enquanto manifestação livre e espontânea da cultura popular a brincadeira tradicional tem a função de perpetuar a cultura infantil de senvolver formas de convivência social e permitir o prazer de brincar Por pertencer à categoria de experiências transmitidas espontaneamente conforme motivações internas da criança a brincadeira tradicional infantil garante a presença do lúdico da situação imaginária Brincadeiras de fazdeconta A brincadeira de fazdeconta também conhecida como simbólica de representação de papéis ou sociodramática é a que deixa mais evidente a presença da situação imaginária Ela surge com o aparecimento da representação e da linguagem em torno de 23 anos quando a criança começa a alterar o significado dos objetos dos eventos a expressar seus sonhos e fantasias e a assumir papéis presentes no contexto social O fazdeconta permite não só a entrada no imaginário mas a expressão de regras implícitas que se materializam nos temas das brincadeiras É importante registrar que o conteúdo do imaginário provém de experiências anteriores adquiridas pelas crianças em diferentes contextos Ideias e ações adquiridas pelas crianças provêm do mundo social incluindo a família e o seu círculo de relacionamento o currículo apresentado pela escola as ideias discutidas em classe os materiais e os pares O conteúdo das representações simbólicas recebe geralmente grande influência do currículo e dos professores Os conteúdos veiculados durante as brincadeiras infantis bem como os temas de brincadeiras os materiais para brincar as oportunidades para interações sociais e o tempo disponível são todos fatores que dependem basicamente do currículo proposto pela escola A inclusão do jogo infantil nas propostas pedagógicas remetenos para a necessidade de seu estudo nos tempos atuais A importância dessa modalidade de brincadeira justificase pela aquisição do símbolo É alterando o significado de objetos de situações é criando novos significados que se desenvolve a função simbólica o elemento que garante a racionalidade ao 39 ser humano Ao brincar de fazdeconta a criança está aprendendo a criar símbolos Brincadeiras de construção Os jogos de construção são considerados de grande importância por enriquecer a experiência sensorial estimular a criatividade e desenvolver habilidades da criança Fröebel o criador dos jogos de construção oportunizou a muitos fabricantes a duplicação de seus tijolinhos para a alegria da criançada que constrói cidades e bairros que estimulam a imaginação infantil Construindo transformando e destruindo a criança expressa seu imaginário seus problemas e permite aos terapeutas o diagnóstico de dificuldades de adaptação bem como a educadores o estímulo da imaginação infantil e o desenvolvimento afetivo e intelectual Dessa forma quando está construindo a criança está expressando suas representações mentais além de manipular objetos O jogo de construção tem uma estreita relação com o de fazdeconta Não se trata de manipular livremente tijolinhos de construção mas de construir casas móveis ou cenários para as brincadeiras simbólicas As construções se transformam em temas de brincadeiras e evoluem em complexidade conforme o desenvolvimento da criança Para se compreender a relevância das construções é necessário considerar tanto a fala como a ação da criança que revelam complicadas relações É importante também considerar as ideias presentes em tais representações como elas adquirem tais temas e como o mundo real contribui para a sua construção Bibliografia ARISTÓTELES A política Tradução de Torrieri Guimarães São Paulo Hemus 1966 40 Ética a Nicômacos Trad de Mário da Gama Kury Brasília Editora Universidade de Brasília 1985 BACHELARD Gaston A poética do devaneio São Paulo Martins Fontes 1988 BROUGÈRE Gilles Jeu et education Le jeu dans la pédagogie prescolaire depuis le Romantisme Thèse pour le Doctorat dEtat ès Lettres et Sciences Humaines Paris Université Paris V v I e II 1993 Le jouet ou la production de lenfance limage culturelle de lenfance à travers du jouet industriel Paris VIII v I thèse 3ème cycle UER dethnologie 1981 BRUNER Jerome Childs talk Learning to use language New York Norton 1983 Actual Minds Possible Worlds Cambridge Massachusetts Harvard University Press 1986 RATNER N Games social exchange and the acquisition of langage Journal of Child Language v 5 nº 3 p 391401 oct 1978 et alii eds Play its role in development evolution New York Penguin Books 1976 CAILLOIS R Les jeux et les hommes Paris Gallimard 1967 CHRISTIE James F La fonction de jeu au niveau des enseignements prescolaires et primaires 1ère partie Léducation par le jeu et lenvironnement 3ème trimestre nº 43 p 38 1991a Programme de jeux pour les structures prescolaires et les cours primaires 2ème partie Léducation par le jeu et lenvironnement nº 44 p 36 1991b CHOMSKY Noam Structures syntaxiques Trad Michel Braudeau Paris Seuil 1969 La linguistique cartésienne Paris Seuil 1969 CLAPARÈDE Eduardo Psicologia da Criança e Pedagogia Experimental São Paulo Editora do Brasil 1956 41 COSTA Eneida Elisa Mello O jogo com regras e a construção do pensamento operatório Tese de doutorado São Paulo IPUSP 1991 FARIA Ana Lucia Goulart Direito à Infância Mário de Andrade e os Parques Infantis para as crianças de família operária na cidade de São Paulo 19351938 Tese de Doutoramento apresentada à Faculdade de Educação da USP São Paulo 1993 FRONBERG Doris ProminPlay in the Early Childhood Curriculum A review of current research Seefeldt cord ed USA Teachers College Press 1987 pp 3674 FRÖEBEL F La educación del hombre Traducción del alemán por Luis de Zulueta sl Daniel Jorro Editor 1913 GOFFMAN E Manicômios prisões e conventos Trad Dante Moreira Leite São Paulo Perspectiva 1961 HENRIOT Jacques Le jeu Paris Synonyme SOR 1983 Sous couleur de jouer La métaphore ludique Paris José Corti 1989 HUIZINGA Johan Homo Ludens essai sur la fonction sociale du jeu Paris Gallimard 1951 JAULIN Robert Jeux et jouets essai dethnotechnologie Paris Aubier 1979 KISHIMOTO Tizuko Morchida O jogo a criança e a educação Tese de Livredocência apresentada à Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo São Paulo 1992 Jogos tradicionais infantis o jogo a criança e a educação Petrópolis Vozes 1993 O jogo e a educação infantil São Paulo Pioneira 1994 A préescola em São Paulo das origens a 1940 São Paulo Loyola 1988 MANOEL BANDEIRA Berimbau e outros poemas Rio de Janeiro José Olympio 1986 MEAD G H Espiritu persona y sociedad desde el punto de vista del condutismo social Buenos Aires Paidós 1972 PIAGET Jean A formação do símbolo na criança Rio de Janeiro Zahar 1978 O julgamento moral na criança Trad de Elzon Lenardon São Paulo Mestre Jou 1977 RABELAIS François Gargântua Trad de Paulo M Oliveira Rio de Janeiro Athena sd Biblioteca Clássica v VIII RAMOS Graciliano Infância 20 ed Rio de Janeiro Record 1984 RÊGO José Lins do Menino do Engenho Introdução de José Aderaldo Castelo nota de João Ribeiro 14 ed Rio de Janeiro José Olympio 1969 RIGOLOT F Les jeux de Montaigne In Les jeux à la Renaissance Ariès P e Margolin J Cl orgs Paris Vrin 1982 ROUSSEAU JeanJacques Émile ou De Léducation Paris Garnier Frères 1961 VYGOTSKY L S Historia del desarrollo de las funciones psíquicas superiores Ciudad de la Habana Editorial Científico Técnica 1987 A formação social da mente 2 ed São Paulo Martins Fontes 1988 La imaginación y el arte en la infancia Madrid Akal Editor 1982 WITTGENSTEIN Ludwig Investigações filosóficas Trad de José Carlos Bruni São Paulo Abril Cultural e Industrial 1975
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Texto de pré-visualização
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA UNEB Autorização Decreto nº 923786 DOU 180796 Reconhecimento Portaria 90995 DOU 010895 GABINETE DA REITORIA UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA UNEAD Criação e Implantação Resolução CONSU nº 10512014 DOU 200514 1 ATIVIDADE a Elaborar um jogo ou brincadeira que envolva a Arte para os estudantes da Educação do Ensino Fundamental 1 Componente Curricular do Ensino Fundamental 1 Ano do Ensino Fundamental 1 Quantidade de Crianças Conteúdo a ser trabalhado Nome do Jogo ou Brincadeira A Arte Envolvida no Jogo ou Brincadeira Materiais Necessários Habilidades a serem trabalhadas Objetivos com o jogo ou brincadeira Regras do Jogo ou Brincadeira Duração 1 Curso Pedagogia Componente Curricular Educação Ludicidade e Corporeidade Código EADP 123 Ch 60 Semestre 20241 Professora Formadora Valeria Nagy Turma OFERTA Período 1605 a 300524 Nomes dos Componentes da Equipe Cidade Avaliação Fundamente a atividade com os teóricos citados no texto As relações entre jogo infantil e a educação paradigmas da pag28 até a pag35 de KISHIMOTO Referências conforme as normas da ABNT Observação caso seja necessário b Espaço para incluir foto desenho croqui desenho maquete ou mapa para melhor compreensão da atividade a ser desenvolvida 2 Tizuko Morchida Kishimoto Organizadora JOGO BRINQUEDO BRINCADEIRA E A EDUCAÇÃO Edda Bomtempo Heloísa Dupas Penteado Leny Magalhães Mrech Manoel Oriosvaldo de Moura Maria Felisminda de Rezende e Fusari Maria Luisa Sprovieri Ribeiro Marina Célia Moraes Dias Sahda Marta Ide Tizuko Morchida Kishimoto 8ª edição CORTEZ EDITORA Capítulo I O jogo e a educação infantil Tizuko Morchida Kishimoto Jogo brinquedo e brincadeira Tentar definir o jogo não é tarefa fácil Quando se pronuncia a palavra jogo cada um pode entendêla de modo diferente Podese estar falando de jogos políticos de adultos crianças animais ou amarelinha xadrez adivinhas contar estórias brincar de mamãe e filhinha futebol dominó quebracabeça construir barquinho brincar na areia e uma infinidade de outros Tais jogos embora recebam a mesma denominação têm suas especificidades Por exemplo no fazdeconta há forte presença da situação imaginária no jogo de xadrez regras padronizadas permitem a movimentação das peças Brincar na areia sentir o prazer de fazêla escorrer pelas mãos encher e esvaziar copinhos com areia requer a satisfação da manipulação do objeto Já a construção de um barquinho exige não só a representação mental do objeto a ser construído mas também a habilidade manual para operacionalizálo O que dizer de um jogo político quando se imagina a estratégia e a astúcia de parlamentares e empresários negociando vantagens para conseguir seus objetivos Ou de uma partida de basquete em que a estratégia do armador é a responsável pela vitória Ou de um jogo de baralho em que o objetivo maior é o dinheiro a ser ganho na partida Quais os elementos que caracterizam tais jogos A incerteza que paira em qualquer partida quer seja de basquete quer de futebol A astúcia dos políticos A estratégia do jogador de xadrez O prazer que acompanha brincadeiras de pular amarelinha brincar na areia ou soltar pipa A flexibilidade de conduta que leva o jogador a experimentar novas jogadas novas situações O desenvolvimento de habilidades cognitiva manual ou social subjacentes a um jogo de construção O nãosério o fútil que caracteriza o jogo pelo dinheiro Outras indagações começam a aparecer quando se fala em utilizar jogos como a dama para ensinar cálculo matemático ou quebracabeça para ensinar formas geométricas Neste caso temos o jogo ou é o ensino que prevalece Qual a diferença entre um jogo de futebol profissional e um de várzea Seria a falta de rigor no cumprimento das regras ou o prazer manifesto no jogo coletivo Ou ambos Que especificidades marcam situações como a disputa de uma partida de xadrez um gato que empurra uma bola de lã um tabuleiro com piões e uma criança que brinca com boneca Na partida de xadrez há regras externas que orientam as ações de cada jogador Tais ações dependem também da estratégia do adversário Entretanto nunca se tem a certeza do lance que será dado em cada passo do jogo Este tipo de jogo serve para entreter amigos em momentos de lazer situação na qual predomina o prazer a vontade de cada um participar livremente da partida Em disputa entre profissionais os dois parceiros não jogam pelo prazer ou pela vontade de o fazer mas são obrigados por circunstâncias como o trabalho ou a competição esportiva Neste caso podese chamáIo de jogo O gato que rola uma bola tem o comportamento igual ao de uma criança que brinca com a bola Enquanto a criança tem consciência de seus atos escolhe deliberadamente brincar ou não no caso do gato não seriam os instintos biológios do animal os estimulantes da ação de rolar a bola Podese afirmar que o jogo do animal é semelhante ao jogo infantil Um tabuleiro com piões é um brinquedo quando usado para fins de brincadeira Teria o mesmo significado quando vira recurso de ensino destinado à aprendizagem de números É brinquedo ou material pedagógico Da mesma forma um tabuleiro de xadrez feito de material nobre como o cobre ou mármore exposto como objeto de decoração teria o significado de jogo A boneca é brinquedo para uma criança que brinca de filhinha mas para certas tribos indígenas conforme pesquisas etnográficas é símbolo de divindade objeto de adoração A variedade de fenômenos considerados como jogo mostra a complexidade da tarefa de definilo A dificuldade aumenta quando se percebe que um mesmo comportamento pode ser visto como jogo ou nãojogo Se para um observador externo a ação da criança indígena que se diverte atirando com arco e flecha em pequenos animais é uma brincadeira para a comunidade indígena nada mais é que uma forma de preparo para a arte da caça necessária à subsistência da tribo Assim atirar com arco e flecha para uns é jogo para outros é preparo profissional Uma mesma conduta pode ser jogo ou nãojogo em diferentes culturas dependendo do significado a ela atribuído Por tais razões fica difícil elaborar uma definição de jogo que englobe a multiplicidade de suas manifestações concretas Todos os jogos possuem peculiaridades que os aproximam ou distanciam Para aumentar a complexidade do campo em questão entre os materiais lúdicos alguns são usualmente chamados de jogo outros brinquedos Qual é a diferença entre jogo e brinquedo Para compreender o significado de tais termos foi indispensável a leitura de obras como a de Brougére Le jeu dans la pédagogie prescolaire depuis le Romantisme 1993 Henriot Sous couleur de jouer la métaphore ludique 1989 e Wittgenstein Investigações filosóficas 1975 Pesquisadores do Laboratoire de Recherche sur le Jeu et le Jouet da Université ParisNord como Gilles Brougère 1981 1993 e Jacques Henriot 1983 1989 começam a desatar o nó deste conglomerado de significados atribuídos ao termo jogo ao apontar três níveis de diferenciações O jogo pode ser visto como 1 o resultado de um sistema linguístico que funciona dentro de um contexto social 2 um sistema de regras e 3 um objeto No primeiro caso o sentido do jogo depende da linguagem de cada contexto social Há um funcionamento pragmático da linguagem do qual resulta um conjunto de fatos ou atitudes que dão significados aos vocábulos a partir de analogias As línguas funcionam como fontes disponíveis de expressão Elas exigem o respeito a certas regras de construção que nada têm a ver com a ordem do mundo A designação não tem por objetivo compreender a realidade mas manipulála simbolicamente pelos desejos da vida cotidiana A noção de jogo não nos remete à língua particular de uma ciência mas a um uso cotidiano Assim o essencial não é obedecer à lógica de uma designação científica dos fenômenos e sim respeitar o uso cotidiano e social da linguagem pressupondo interpretações e projeções sociais Assumir que cada contexto cria sua concepção de jogo não pode ser visto de modo simplista como mera ação de nomear Empregar um termo não é um ato solitário Subentende todo um grupo social que o compreende fala e pensa da mesma forma Considerar que o jogo tem um sentido dentro de um contexto significa a emissão de uma hipótese a aplicação de uma experiência ou de uma categoria fornecida pela sociedade veiculada pela língua enquanto instrumento de cultura dessa sociedade Toda denominação pressupõe um quadro sociocultural transmitido pela linguagem e aplicado ao real Dessa forma enquanto fato social o jogo assume a imagem o sentido que cada sociedade lhe atribui É este o aspecto que nos mostra por que dependendo do lugar e da época os jogos assumem significações distintas Se o arco e a flecha hoje aparecem como brinquedos em certas culturas indígenas representavam instrumentos para a arte da caça e da pesca Em tempos passados o jogo era visto como inútil como coisa nãoséria Já nos tempos do Romantismo o jogo aparece como algo sério e destinado a educar a criança Outros aspectos relacionados ao trabalho à inutilidade ou à educação da criança emergem nas várias sociedades em diferentes tempos históricos No Brasil termos como jogo brinquedo e brincadeira ainda são empregados de forma indistinta demonstrando um nível baixo de conceituação deste campo Enfim cada contexto social constrói uma imagem de jogo conforme seus valores e modo de vida que se expressa por meio da linguagem No segundo caso um sistema de regras permite identificar em qualquer jogo uma estrutura sequencial que especifica sua modalidade O xadrez tem regras explícitas diferentes do jogo de damas loto ou trilha São as regras do jogo que distinguem por exemplo jogar buraco ou tranca usando o mesmo objeto o baralho Tais estruturas sequenciais de regras permitem diferenciar cada jogo permitindo superposição com a situação lúdica ou seja quando alguém joga está executando as regras do jogo e ao mesmo tempo desenvolvendo uma atividade lúdica O terceiro sentido referese ao jogo enquanto objeto O xadrez materializase no tabuleiro e nas peças que podem ser fabricadas com papelão madeira plástico pedra ou metais O pião confeccionado de madeira casca de fruta ou plástico representa o objeto empregado na brincadeira de rodar pião Os três aspectos citados permitem uma primeira compreensão do jogo diferenciando significados atribuídos por culturas diferentes pelas regras e objetos que o caracterizam expressam preferencialmente personagens sob forma de bonecos como manequins articulados ou superheróis misto de homens animais máquinas e monstros O brinquedo propõe um mundo imaginário da criança e do adulto criador do objeto lúdico No caso da criança o imaginário varia conforme a idade para o préescolar de 3 anos está carregado de animismo de 5 a 6 anos integra predominantemente elementos da realidade O fabricante ou sujeito que constrói brinquedos neles introduz imagens que variam de acordo com a sua cultura Cada cultura tem maneiras de ver a criança de tratar e educar Entre as antigas concepções a criança vista como homem em miniatura revela uma visão negativa a criança é um ser inacabado sem nada específico e original sem valor positivo É contra essa visão que a partir do século XVIII Rousseau em Emílio defende a especificidade infantil a criança como portadora de uma natureza própria que deve ser desenvolvida A infância é também a idade do possível Podese projetar sobre ela a esperança de mudança de transformação social e renovação moral A infância é portadora de uma imagem de inocência de candura moral imagem associada à natureza primitiva dos povos um mito que representa a origem do homem e da cultura Como são construídas tais imagens tão diferentes e contraditórias A imagem de infância é reconstituída pelo adulto por meio de um duplo processo de um lado ela está associada a todo um contexto de valores e aspirações da sociedade e de outro depende de percepções próprias do adulto que incorpora memórias de seu tempo de criança Assim se a imagem de infância reflete o contexto atual ela é carregada também de uma visão idealizada do passado do adulto que contempla sua própria infância A infância expressa no brinquedo contém o mundo real com seus valores modos de pensar e agir e o imaginário do criador do objeto 10 Bachelard em A poética do devaneio 1988 93137 nos mostra que há sempre uma criança em todo adulto que o devaneio sobre a infância é um retorno à infância pela memória e imaginação A poesia é o estimulante que permite esse devaneio essa abertura para o mundo para o cósmico que se manifesta no momento da solidão Há em nós uma infância represada que emerge quando algumas imagens nos tocam Bachelard considera as imagens que sobrevivem da infância como resultado de dois elementos a memória e a imaginação Os fatos ocorridos são metamorfoseados pela imaginação que recria as situações com novo olhar com novo brilho Daí nem sempre a memória ser aceita como documento factual em trabalhos de história Por ser o devaneio composto de memória e imaginação é que se entende Mário de Andrade em Vestida de Preto 1943 apud Faria 1994 130 falar da alegria de ter soltado balões quando na verdade não o fez São suas fantasias sua imaginação que recriam situações de retorno à infância como a satisfação de soltar balões Quantas memórias de infância povoam a imaginação quando nos deparamos com os poemas Cai cai balão cai cai balão na Rua do Sabão ou Café com pão café com pão café com pão Virge Maria que foi isto maquinista Manoel Bandeira 1986 Os devaneios retomam as lembranças de infância mas também nossos sonhos ideais e vontades Muitas vezes o passado de ausência de brinquedos misturase com o presente e alimenta o devaneio dinamizandoo com a imaginação criativa Mário não foi criança de soltar balão mas quando adulto gostava de brincar com os sobrinhos esconder doces pela casa e pedir para achar apertar a campainha das portas e sair correndo Suas obras retratam diferentes imagens de infância a miserável a feliz cada uma delas com graus diferentes de memória e imaginação São seus devaneios que permitiram o retorno à infância e a expressão de diferentes visões de criança em sua vasta produção literária Assim como a poesia os jogos infantis despertam em nós o imaginário a memória dos tempos passados Em Infância 8 Brinquedo é outro termo indispensável para compreender esse campo Diferindo do jogo o brinquedo supõe uma relação íntima com a criança e uma indeterminação quanto ao uso ou seja a ausência de um sistema de regras que organizam sua utilização Uma boneca permite à criança várias formas de brincadeiras desde a manipulação até a realização de brincadeiras como mamãe e filhinha O brinquedo estimula a representação a expressão de imagens que evocam aspectos da realidade Ao contrário jogos como xadrez e jogos de construção exigem de modo explícito ou implícito o desempenho de certas habilidades definidas por uma estrutura preexistente no próprio objeto e suas regras Admitese que o brinquedo represente certas realidades Uma representação é algo presente no lugar de algo Representar é corresponder a alguma coisa e permitir sua evocação mesmo em sua ausência O brinquedo coloca a criança na presença de reproduções tudo o que existe no cotidiano a natureza e as construções humanas Podese dizer que um dos objetivos do brinquedo é dar à criança um substituto dos objetos reais para que possa manipulálos Duplicando diversos tipos de realidades presentes o brinquedo metamorfoseia e fotografa a realidade Não reproduz apenas objetos mas uma totalidade social Hoje os brinquedos reproduzem o mundo técnico e científico e o modo de vida atual com aparelhos eletrodomésticos naves espaciais bonecos e robôs A imagem representada não é uma cópia idêntica da realidade existente uma vez que os brinquedos incorporam características como tamanho formas delicadas e simples estilizadas ou ainda antropomórficas relacionadas à idade e gênero do público ao qual é destinado Os brinquedos podem incorporar também um imaginário preexistente criado pelos desenhos animados seriados televisivos mundo da ficção científica com motores e robôs mundo encantado dos contos de fada estórias de piratas índios e bandidos Ao representar realidades imaginárias os brinquedos 1984 Graciliano Ramos recorda seu cotidiano de criança pobre que construía brinquedos de barro e invejava os meninos que possuíam brinquedos mecânicos Em contraposição Baudelaire em Curiosités esthétiques apud Brougère 1993 relembra o menino burguês que deixa seus brinquedos sofisticados para olhar interessado o brinquedo vivo rato do menino maltrapilho São também sugestivas as poéticas páginas de José Lins do Rêgo em Menino de engenho 1969 relembrando seus tempos de infância em que nadava nos rios trepava nas árvores trocava frutas roubadas da despensa com piões que dormiam nas mãos dos espertos moleques da senzala Por tais razões o brinquedo contém sempre uma referência ao tempo de infância do adulto com representações veiculadas pela memória e imaginação O vocábulo brinquedo não pode ser reduzido à pluralidade de sentidos do jogo pois conota criança e tem uma dimensão material cultural e técnica Enquanto objeto é sempre suporte de brincadeira É o estimulante material para fazer fluir o imaginário infantil E a brincadeira É a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras do jogo ao mergulhar na ação lúdica Podese dizer que é o lúdico em ação Desta forma brinquedo e brincadeira relacionamse diretamente com a criança e não se confundem com o jogo Hoje a imagem de infância é enriquecida também com o auxílio de concepções psicológicas e pedagógicas que reconhecem o papel de brinquedos e brincadeiras no desenvolvimento e na construção do conhecimento infantil Após as distinções iniciais entre jogo brinquedo e brincadeira vamos explorar mais detalhadamente o termo jogo analisando a grande família que o caracteriza A família do jogo Wittgenstein em Investigações filosóficas 1975 423 estuda a grande família composta por diferentes tipos de jogos e suas analogias Diz ser o jogo um termo impreciso com contornos vagos por assumir múltiplos significados Considere por exemplo os processos que chamamos de jogos Refirome a jogos de tabuleiro de cartas de bola torneios esportivos etc O que é comum a todos eles Não diga Algo deve ser comum a eles senão não se chamariam jogos mas veja se algo é comum a eles todos pois se você os contemplar não verá na verdade algo comum a todos mas semelhanças parentescos e até toda uma série deles Como disse não pense mas veja Considere por exemplo os jogos de tabuleiro com seus múltiplos parentescos Agora passe para os jogos de cartas aqui você encontra muitas correspondências com aqueles da primeira classe mas muitos traços comuns desaparecem e outros surgem Se passamos agora ao jogo de bola muita coisa comum se conserva mas muitas se perdem São todos recreativos Compare o xadrez com o jogo da amarelinha Ou há em todos um ganhar e um perder ou uma concorrência entre os jogadores Pense nas paciências Nos jogos de bola há um ganhar e um perder mas se uma criança atira a bola na parede e a apanha outra vez este traço desapareceu Veja que papéis desempenham a habilidade e a sorte E como é diferente a habilidade no xadrez e no tênis Pense agora nos brinquedos de roda o elemento de divertimento está presente mas quantos dos outros traços característicos desapareceram E assim podemos percorrer muitos muitos outros grupos de jogos e ver semelhanças surgirem e desaparecerem E tal é o resultado desta consideração vemos uma rede complicada de semelhanças que se envolvem e se cruzam mutuamente Semelhanças de conjunto e de pormenor Não posso caracterizar melhor essas semelhanças do que com a expressão semelhanças de família pois assim se envolvem e se cruzam as diferentes semelhanças que existem entre os membros de uma família estatura traços fisionômicos cor dos olhos o andar o temperamento etc etc E digo os jogos formam uma família Nesse trecho de sua obra o autor descreve a ramificação do jogo em uma família com múltiplas espécies e seus parentescos Ao assumir o sentido do jogo como uma família surgem imprecisões se não aponto exatamente o tipo de jogo a que me refiro Mas o que significa exatamente essa imprecisão Vejamos um exemplo Quando alguém diz Ensine um jogo às crianças Se foi proposto jogar baralho o outro pode retrucar dizendo Não tive em mente um jogo como esse Na visão do discordante o termo jogo relacionado ao ensino excluía o jogo de baralho provavelmente por sua associação ao jogo de azar O conceito de jogo dos dois protagonistas não é o mesmo para um inclui o baralho e para o outro por se tratar de situações de ensino o exclui É exatamente o que Wittgenstein ressalta o termo se explicita no uso na espécie de jogo a que o usuário está se referindo no sentido que deu ao termo Essa questão demanda uma investigação sobre as características presentes em toda rede de manifestações sobre o jogo Características do jogo Entre os autores que discutem a natureza do jogo suas características ou como diz Wittgenstein semelhanças de família encontramse Caillois 1958 Huizinga 1951 Henriot 1989 e mais recentemente Fromberg 1987 e Christie 1991a e 1991b e muitos outros Ao descrever o jogo como elemento da cultura Huizinga 1951 331 omite os jogos de animais e analisa apenas os produzidos pelo meio social apontando as características o prazer o caráter nãosério a liberdade a separação dos fenômenos do cotidiano as regras o caráter fictício ou representativo e sua limitação no tempo e no espaço Embora predomine na maioria das situações o prazer como distintivo do jogo há casos em que o desprazer é o elemento que o caracteriza Vygotsky é um dos que afirmam que nem sempre o jogo possui essa característica porque em certos casos há esforço e desprazer na busca do objetivo da brincadeira A psicanálise também acrescenta o desprazer como constitutivo do jogo especialmente ao demonstrar como a criança representa em processos catárticos situações extremamente dolorosas O caráter nãosério apontado por Huizinga não implica que a brincadeira infantil deixe de ser séria Quando a criança brinca ela o faz de modo bastante compenetrado A pouca seriedade a que faz referência está mais relacionada ao cômico ao riso que acompanha na maioria das vezes o ato lúdico e se contrapõe ao trabalho considerado atividade séria Ao postular a natureza livre do jogo Huizinga a coloca como atividade voluntária do ser humano Se imposta deixa de ser jogo Quando brinca a criança toma certa distância da vida cotidiana entra no mundo imaginário Embora Huizinga não aprofunde essa questão ela merecerá atenção de psicólogos que discutem o papel do jogo na construção da representação mental e da realidade A existência de regras em todos os jogos é uma característica marcante Há regras explícitas como no xadrez ou amarelinha regras implícitas como na brincadeira de fazdeconta em que a menina se faz passar pela mãe que cuida da filha São regras internas ocultas que ordenam e conduzem a brincadeira Finalmente todo jogo acontece em um tempo e espaço com uma sequência própria da brincadeira Seguindo quase a mesma orientação de Huizinga Caillois 1958 423 aponta como características do jogo a liberdade de ação do jogador a separação do jogo em limites de espaço e tempo a incerteza que predomina o caráter improdutivo de não criar nem bens nem riqueza e suas regras Um novo elemento introduzido pelo autor é a natureza improdutiva do jogo Entendese que o jogo por ser uma ação voluntária da criança um fim em si mesmo não pode criar nada não visa a um resultado final O que importa é o processo em si de brincar que a criança se impõe Quando ela brinca não está preocupada com a aquisição de conhecimento ou desenvolvimento de qualquer habilidade mental ou física Da mesma forma a incerteza presente em toda conduta lúdica é outro ponto que merece destaque No jogo nunca se sabem os rumos da ação do jogador que dependerá sempre de 24 fatores internos de motivações pessoais e de estímulos externos como a conduta de outros parceiros Uma dúvida que paira em torno do jogo é o fato de condutas semelhantes representarem jogo e nãojogo Nem sempre o pesquisador consegue identificar um jogo uma vez que se pode manifestar um comportamento que externamente tem a semelhança de jogo sem que esteja presente a motivação interna para o lúdico É preciso também estar em perfeita simbiose com o jogador para identificar em sua atitude o envolvimento no jogo O jogo inclui sempre uma intenção lúdica do jogador Muitas vezes ao observar brincadeiras infantis o pesquisador se depara com duas situações que externamente são idênticas em que a criança diz Agora eu não estou brincando mas logo em seguida expressando a mesma conduta diz que está brincando O que diferencia o primeiro momento não brincar que aparentemente é idêntico ao segundo brincar é a intenção da criança o que cria uma certa dificuldade para realizar pesquisas empíricas sobre o jogo infantil Mais recentemente Christie 1991b 4 rediscute as características do jogo infantil apontando pesquisas atuais que o distinguem de outros tipos de comportamentos Utilizando estudos de Garvey 1977 King 1979 Rubin e outros 1983 Smith e Vollstedt 1985 a autora elabora os critérios para identificar seus traços 1 a nãoliteralidade as situações de brincadeira caracterizamse por um quadro no qual a realidade interna predomina sobre a externa O sentido habitual é substituído por um novo São exemplos de situações em que o sentido não é literal o ursinho de pelúcia servir como filhinho e a criança imitar o irmão que chora 2 efeito positivo o jogo infantil é normalmente caracterizado pelos signos do prazer ou da alegria entre os quais o sorriso Quando brinca livremente e se satisfaz a criança o demonstra por meio do sorriso Esse processo traz inúmeros 25 efeitos positivos aos aspectos corporal moral e social da criança 3 flexibilidade as crianças estão mais dispostas a ensaiar novas combinações de idéias e de comportamentos em situações de brincadeira que em outras atividades nãorecreativas Estudos como os de Bruner 1976 demonstram a importância da brincadeira para a exploração A ausência de pressão do ambiente cria um clima propício para investigações necessárias à solução de problemas Assim brincar leva a criança a tornarse mais flexível e buscar alternativas de ação 4 prioridade do processo de brincar enquanto a criança brinca sua atenção está concentrada na atividade em si e não em seus resultados ou efeitos O jogo infantil só pode receber esta designação quando o objetivo da criança é brincar O jogo educativo utilizado em sala de aula muitas vezes desvirtua esse conceito ao dar prioridade ao produto à aprendizagem de noções e habilidades 5 livre escolha o jogo infantil só pode ser jogo quando escolhido livre e espontaneamente pela criança Caso contrário é trabalho ou ensino 6 controle interno no jogo infantil são os próprios jogadores que determinam o desenvolvimento dos acontecimentos Quando o professor utiliza um jogo educativo em sala de aula de modo coercitivo não oportuniza aos alunos liberdade e controle interno Predomina neste caso o ensino a direção do professor Segundo Christie 1991b 5 os indicadores mais úteis e relativamente confiáveis do jogo infantil podem ser encontrados nas quatro primeiras características a nãoliteralidade o efeito positivo a flexibilidade e a finalidade em si Para auxiliar pesquisadores na tarefa de discriminar se os professores concebem atividades escolares como jogo ou trabalho os dois últimos são os mais indicados Se a atividade não for de livre escolha e seu desenvolvimento não depender da própria criança não se terá jogo mas trabalho Já existem estudos no Brasil como o de Costa 1991 que demonstram que as crianças 26 concebem como jogo somente as atividades iniciadas e mantidas por elas Para Fromberg 1987 36 o jogo infantil inclui as características simbolismo representa a realidade e atitudes significação permite relacionar ou expressar experiências atividade a criança faz coisas voluntário ou intrinsecamente motivado incorporar motivos e interesses regrado sujeito a regras implícitas ou explícitas e episódico metas desenvolvidas espontaneamente Em conferência proferida em 21 de setembro de 1994 na Faculdade de Educação da USP o filósofo e antropólogo Brougère acentuou que o jogo inclui uma reflexão de segundo grau a natureza simbólica as regras a incerteza dos resultados a futilidade sem consequência e a motivação interna Em síntese excetuando jogos de animais os autores assinalam pontos comuns como elementos que interligam a grande família dos jogos 1 liberdade de ação do jogador ou o caráter voluntário de motivação interna e episódica da ação lúdica prazer ou desprazer futilidade o nãosério ou efeito positivo 2 regras implícitas ou explícitas 3 relevância do processo de brincar o caráter improdutivo incerteza de resultados 4 nãoliteralidade reflexão de segundo grau representação da realidade imaginação e 5 contextualização no tempo e no espaço São tais características que permitem identificar fenômenos que pertencem à grande família dos jogos Após distinções iniciais entre jogo brinquedo e brincadeira e a análise das características comuns aos jogos pretendese avançar nos múltiplos sentidos que o jogo assume na educação As relações entre o jogo infantil e a educação paradigmas Antes da revolução romântica três concepções estabeleciam as relações entre o jogo infantil e a educação 1 recreação 2 uso do jogo para favorecer o ensino de conteúdos escolares e 3 diagnóstico da personalidade infantil e recurso para ajustar o ensino às necessidades infantis O jogo visto como recreação desde a antigüidade grecoromana aparece como relaxamento necessário a atividades que exigem esforço físico intelectual e escolar Aristóteles Tomás de Aquino Sêneca Sócrates Por longo tempo o jogo infantil fica limitado à recreação Durante a Idade Média o jogo foi considerado nãosério por sua associação ao jogo de azar bastante divulgado na época O jogo serviu para divulgar princípios de moral ética e conteúdos de história geografia e outros a partir do Renascimento o período de compulsão lúdica O Renascimento vê a brincadeira como conduta livre que favorece o desenvolvimento da inteligência e facilita o estudo Ao atender necessidades infantis o jogo infantil tornase forma adequada para a aprendizagem dos conteúdos escolares Assim para se contrapor aos processos verbalistas de ensino à palmatória vigente o pedagogo deveria dar forma lúdica aos conteúdos Quintiliano Erasmo Rabelais Basedow comungam dessa perspectiva Na clássica obra Gargântua e Pantagruel Rabelais sd fala do jogo utilizando personagens da época para desenvolver a trama de suas histórias O autor satiriza os sofistas da época mostrando a deseducação de Gargântua que não valorizava conhecimentos hábitos saudáveis de higiene de alimentação etc Critica a educação dos sofistas ou deseducação excesso de comida bebidas e divertimento Entre os passatempos cita cerca de 204 jogos em que predominam os de azar com uso de cartas movimentos simulação seleção enfim jogos tradicionais da época Se na educação inadequada de Gargântua o jogo aparece como inutilidade e futilidade passatempo na educação do sábio pedagogo o jogo é visto como instrumento de ensino de matemática e outros conteúdos No fundo Rabelais critica o jogo como futilidade como nãosério aliado ao dinheiro e o valoriza como instrumento de educação para ensinar conteúdos gerar conversas ilustrar valores e práticas do passado ou até para recuperar brincadeiras dos tempos passados Recomenda brincar de ossinhos nos dias de chuva enquanto se discute como povos do passado pensam e brincam sd11014 Entre os jogos citados por Rabelais sd939 aparecem os de cartas alguns já desaparecidos que fizeram a desgraça de muitos jogadores como os lesquenet aluette crou madame além de outros como o trunfo vinte e um jogos de seleção como par ou ímpar cara ou coroa e uma grande quantidade de jogos tradicionais como volante bilboquê chicote queimado carniça beliscão quebracabeça pular o carneiro catavento Como Rabelais Montaigne divulga o caráter educativo do jogo Considera inúteis jogos de caça passatempo dos nobres e a dança tida como lazer popular Para Montaigne o jogo é um instrumento de desenvolvimento da linguagem e do imaginário É o escritor o poeta sua prioridade Privilegia jogos que valorizam a escrita Mas é Vives Traité de lenseignement 1612 apud Brougère 1993108 que completa o sentido do jogo veiculado nos tempos atuais como um meio de expressão de qualidades espontâneas ou naturais da criança como recriação momento adequado para observar a criança que expressa através dele sua natureza psicológica e inclinações Uma tal concepção mantém o jogo à margem da atividade educativa mas sublinha sua espontaneidade Tal forma de perceber o jogo está relacionada com a nova percepção da infância que começa a constituirse no Renascimento a criança dotada de valor positivo de uma natureza boa que se expressa espontaneamente por meio do jogo perspectiva que irá fixarse com o Romantismo É dentro dos quadros do Romantismo que o jogo aparece como conduta típica e espontânea da criança Recorrendo à metáfora do desenvolvimento infantil como recapitulação da história da humanidade o Romantismo com sua consciência poética do mundo reconhece na criança uma natureza boa semelhante à alma do poeta considerando o jogo sua forma de expressão Mais que um ser em desenvolvimento com características próprias embora transitórias a criança é vista como ser que imita e brinca dotada de espontaneidade e liberdade O Romantismo constrói no pensamento da época um novo lugar para a criança e seu jogo tendo como representantes filósofos e educadores como JeanPaul Richter Hoffmann e Fröebel que consideram o jogo como conduta espontânea e livre e instrumento de educação da pequena infância O uso metafórico do jogo como conduta prazerosa e espontânea tem suas origens nas teorias da recapitulação conforme estudos recentes de Brougère 1993 Em tempos passados as fases da vida do indivíduo infância maturidade e velhice eram comparadas às da humanidade Com o Romantismo e seu foco na criança surge a metáfora que correlaciona a infância do indivíduo à da humanidade por influência de Rousseau que inicia a perspectiva genética em sua obra Émile ou De lEducation 1961 Ao observar as brincadeiras infantis e a capacidade imitativa da criança o século XVIII erige o conhecimento da criança como via de acesso à origem da humanidade Supondo existir uma equivalência entre povos primitivos e a infância poderseia entender a infância como idade do imaginário da poesia à semelhança dos povos dos tempos da mitologia Daí ter sentido a afirmação de que o jogo é uma conduta espontânea livre de expressão de tendências infantis axioma que parte do princípio de que o mundo em sua infância era composto de povos poetas Essa teoria denominada recapitulação influenciada pelo positivismo recebe os sopros do darwinismo no fim do 30 século XIX A seleção natural justifica a sobrevivência apenas das espécies animais que se adaptam às novas condições de vida Vista como elemento participante dessa seleção a conduta lúdica parece incorporar a adaptabilidade dos animais que se tornam mais aptos para a sobrevivência Dessa forma o jogo recebe um estatuto científico nos quadros do darwinismo Brougère 1933 Ao surgir no século XIX a psicologia da criança recebe forte influência da biologia e faz transposições dos estudos com animais para o campo infantil Nesse eixo emerge a teoria de Groos que considera o jogo préexercício de instintos herdados uma ponte entre a biologia e a psicologia Para Groos o jogo é uma necessidade biológica um instinto e psicologicamente um ato voluntário apud Brougère 1993 p182 Se o jogo remete ao natural universal e biológico ele é necessário para a espécie para o treino de instintos herdados Dessa forma Groos retoma o jogo enquanto ação espontânea natural influência biológica prazerosa e livre influência psicológica e já antecipa sua relação com a educação treino de instintos Groos adota o pressuposto biológico da necessidade da espécie e acrescenta a vontade e a consciência infantil em busca do prazer para justificar os processos psicológicos Assim as teorias da recapitulação e do préexercício associadas ao darwinismo recebem nova roupagem que dão estatuto ao jogo permitindo sua divulgação no seio da psicologia e da pedagogia Entretanto se considerarmos a inadequação da transposição de estudos no campo da etologia animal para os seres humanos o jogo continua assentado na metáfora das idades da humanidade tornandose um conceito pouco objetivo e questionável Claparède 1956 procurando conceituar pedagogicamente a brincadeira recorre à psicologia da criança embebida de influências da biologia e do romantismo Para o autor o jogo infantil desempenha papel importante como o motor do autodesenvolvimento e em consequência método natural de edu 31 cação e instrumento de desenvolvimento É pela brincadeira e imitação que se dará o desenvolvimento natural como postula a psicologia e a pedagogia do escolanovismo Piaget 1978 1977 adota em parte o referencial escolanovista ao dar destaque à imitação que participa de processos de acomodação na forma de assimilação Na teoria piagetiana a brincadeira não recebe uma conceituação específica Entendida como ação assimiladora a brincadeira aparece como forma de expressão da conduta dotada de características metafóricas como espontânea prazerosa semelhantes às do Romantismo e da biologia Ao colocar a brincadeira dentro do conteúdo da inteligência e não na estrutura cognitiva Piaget distingue a construção de estruturas mentais da aquisição de conhecimentos A brincadeira enquanto processo assimilativo participa do conteúdo da inteligência à semelhança da aprendizagem Embora dotada de grande consistência a teoria piagetiana não discute a brincadeira em si Em síntese Piaget adota o uso metafórico vigente na época da brincadeira como conduta livre espontânea que a criança expressa por sua vontade e pelo prazer que lhe dá Para o autor ao manifestar a conduta lúdica a criança demonstra o nível de seus estágios cognitivos e constrói conhecimentos Da mesma forma para psicólogos especialmente freudianos a brincadeira infantil é o meio de estudar a criança e perceber seus comportamentos Melanie Klein usa a brincadeira como meio de diagnóstico de problemas da criança Concebendoa como meio de expressão natural não estuda sua especificidade Outros teóricos como Vygotsky e Bruner focalizam o contexto sociocultural e a estrutura da linguagem para subsidiar o estudo da brincadeira Para Vygotsky 1988 1987 1982 os processos psicológicos são construídos a partir de injunções do contexto sociocultural Seus paradigmas para explicitar o jogo infantil localizamse na filosofia marxistaleninista que concebe o mundo como resultado de processos históricosociais que alteram não só o modo de vida da sociedade mas inclusive as formas de 32 pensamento do ser humano São os sistemas produtivos geradores de novos modos de vida fatores que modificam o modo de pensar do homem Dessa forma toda conduta do ser humano incluindo suas brincadeiras é construída como resultado de processos sociais Considerada situação imaginária a brincadeira de desempenho de papéis é conduta predominante a partir de 3 anos e resulta de influências sociais recebidas ao longo dos anos anteriores Além das teorias de Piaget e Vygotsky cresce a influência do psicólogo americano Jerome Seymour Bruner Com a fundação do Centro de Estudos Cognitivos da Universidade de Harvard em 1960 em parceria com o lingüista George Miller Bruner inicia a gestação de sua teoria sobre os jogos Enquanto Bruner pesquisava os processos cognitivos e a educação MiIler estudava a linguagem Influenciado por Chomsky e sua revolucionária teoria da gramática gerativa os estudos de MiIler sobre a linguagem seguem esse eixo Posteriormente Bruner pesquisa o jogo adotando o mesmo referencial ou seja identificando a estrutura do jogo à linguagem Chomsky traz a questão cartesiana do caráter criativo da linguagem de que o conhecimento das regras da linguagem permitem infinitas construções das frases A compreensão de que as regras geram as sentenças e de que é possível criar novas sentenças a partir de outras regras é a chave para a compreensão da linguagem e de sua teoria sobre as brincadeiras infantis Para Bruner 1978 1986 1983 1976 brincadeiras infantis como esconder o rosto com a fralda peekaboo estimulam a criatividade não no sentido romântico mas na acepção de Chomsky de conduzir à descoberta das regras e colaborar com a aquisição da linguagem É a ação comunicativa que se desenrola nas brincadeiras entre mãe e filho que dá significado aos gestos e que permite à criança decodificar contextos e aprender a falar Ao descobrir as regras nos episódios altamente circunstanciados a criança aprende ao mesmo tempo a falar a iniciar a brincadeira e alterála A aprendizagem da língua 33 materna é mais rápida quando se inscreve no campo lúdico A mãe ao interagir com a criança cria um esquema previsível de interação que serve de microcosmo para a comunicação e o estabelecimento de uma realidade compartilhada Entre os paradigmas construídos com referenciais já apontados a brincadeira da criança aparece como um processo metafórico relacionado a comportamentos naturais e sociais Especialmente na psicologia teóricos do jogo infantil têm procurado elaborar conceitos que tentam se ergir como científicos a partir da observação da conduta infantil No campo da antropologia e sociologia excetuando os trabalhos do grupo do Laboratoire de Recherche sur le Jeu et le Jouet geralmente não há discussão do jogo em si mas um uso metafórico sem a explicitação de seu significado Brougère mostra que as metáforas do jogo aparecem em várias áreas Para alguns autores o jogo é livre sem constrangimentos se opõe à norma a toda regra fixa Jean Cazeneuve em La vie dans la société moderne é um exemplo desse emprego em que o jogo é visto como o símbolo de nossa autonomia apud Brougère 1993605 Nessa mesma linha Goffman em Manicômios prisões e conventos 1961 mostra como certas instituições ao controlarem o cotidiano infantil impedem a autonomia a ação livre da criança Em obras de Bourdieu o modelo empregado é a estratégia do jogo de xadrez que serve como parâmetro para analisar a reprodução das relações de matrimônio em certas culturas e da vida universitária parisiense Brougère 1993612 Mead 1972 identifica o jogo a uma estrutura heurística em que jogos coletivos como o futebol apresentam analogias com as relações que se estabelecem entre os indivíduos dentro de uma sociedade O jogo fornece um modelo simplificado para compreender essa interdependência Embora alguns autores construam um conceito operatório de jogo não discutem seu significado e utilizam o modelo heurístico sem questionar o jogo em si É também dentro do processo metafórico que se compreende a expressão jogo 34 educativo ou brinquedo educativo O quebracabeça tornase brinquedo educativo quando se transportam para o ensino as propriedades do jogo Com Henriot começam a delinearse os traços centrais do jogo uma espécie de definição stricto sensu Para o autor não se pode chegar ao jogo se não há a conjunção de uma conduta subjetiva intencional e uma situação objetiva constatável Para que exista jogo é necessário que o sujeito tenha consciência de que está jogando e que manifeste conduta compatível com a situação Qualquer conduta pode transformarse em jogo por meio de equivalência metafórica quando a intenção do jogador está presente Para Henriot o jogo é sempre um processo metafórico élhe próprio tomar ausência como matéria ultrapassar o presente no sentido do futuro transformar o real por meio do possível e lhe dar a dimensão do imaginário Segundo o autor podese chamar jogo todo processo metafórico resultante da decisão tomada e mantida como um conjunto coordenado de esquemas conscientemente percebidos como aleatórios para a realização de um tema deliberadamente colocado como arbitrário Henriot 1989 7 Essa interpretação permite compreender por que condutas tão diferentes aparecem como jogo Como já foi visto os paradigmas sobre o jogo infantil parecem equiparar o jogo ao espontâneo nãosério à futilidade ou reivindicar o sério e associálo à utilidade educativa em sua grande maioria referenciais dos tempos do Romantismo O aparecimento de novos paradigmas como os de Bruner e de Vygotsky partindo de pressupostos sociais e da linguística oferece novos fundamentos teóricos ao papel dos brinquedos e brincadeiras na educação préescolar Tipos de brinquedos e brincadeiras Não se pretende discutir as classificações existentes apenas ressaltar algumas modalidades de brincadeiras presentes na educação infantil 35 Brinquedo educativo jogo educativo O brinquedo educativo data dos tempos do Renascimento mas ganha força com a expansão da educação infantil especialmente a partir deste século Entendido como recurso que ensina desenvolve e educa de forma prazerosa o brinquedo educativo materializase no quebracabeça destinado a ensinar formas ou cores nos brinquedos de tabuleiro que exigem a compreensão do número e das operações matemáticas nos brinquedos de encaixe que trabalham noções de sequência de tamanho e de forma nos múltiplos brinquedos e brincadeiras cuja concepção exigiu um olhar para o desenvolvimento infantil e a materialização da função psicopedagógica móbiles destinados à percepção visual sonora ou motora carrinhos munidos de pinos que se encaixam para desenvolver a coordenação motora parlendas para a expressão da linguagem brincadeiras envolvendo músicas danças expressão motora gráfica e simbólica O uso do brinquedojogo educativo com fins pedagógicos remetenos para a relevância desse instrumento para situações de ensinoaprendizagem e de desenvolvimento infantil Se considerarmos que a criança préescolar aprende de modo intuitivo adquire noções espontâneas em processos interativos envolvendo o ser humano inteiro com suas cognições afetividade corpo e interações sociais o brinquedo desempenha um papel de grande relevância para desenvolvêla Ao permitir a ação intencional afetividade a construção de representações mentais cognição a manipulação de objetos e o desempenho de ações sensóriomotoras físico e as trocas nas interações social o jogo contempla várias formas de representação da criança ou suas múltiplas inteligências contribuindo para a aprendizagem e o desenvolvimento infantil Quando as situações lúdicas são intencionalmente criadas pelo adulto com vistas a estimular certos tipos de aprendizagem surge a dimensão educativa Desde que mantidas as condições para a expressão do jogo ou seja a ação intencional da criança para brincar o educador está potencializando as situações de aprendizagem Utilizar o jogo na educação infantil significa transportar para o campo do ensinoaprendizagem condições para maximizar a construção do conhecimento introduzindo as propriedades do lúdico do prazer da capacidade de iniciação e ação ativa e motivadora Ao usar a quadrilha para a apreensão de noções de conjunto de pares e ímpares ou o boliche para a construção de números estão presentes propriedades metafóricas do jogo que possibilitam à criança o acesso a vários tipos de conhecimentos e habilidades Ao assumir a função lúdica e educativa o brinquedo educativo merece algumas considerações 1 função lúdica o brinquedo propicia diversão prazer e até desprazer quando escolhido voluntariamente e 2 função educativa o brinquedo ensina qualquer coisa que complete o indivíduo em seu saber seus conhecimentos e sua apreensão do mundo O brincar dotado de natureza livre parece incompatibilizarse com a busca de resultados típica de processos educativos Como reunir dentro da mesma situação o brincar e o educar Essa é a questão que merece ser detalhada Se a criança está diferenciando cores ao manipular livre e prazerosamente um quebracabeça disponível na sala de aula a função educativa e a lúdica estão presentes No entanto se a criança prefere empilhar peças do quebracabeça fazendo de conta que está construindo um castelo certamente estão contemplados o lúdico a situação imaginária a habilidade para a construção do castelo a criatividade na disposição das cartas mas não se garante a diferenciação das cores Essa é a especificidade do brinquedo educativo Apesar da riqueza de situações de aprendizagens que propicia nunca se tem a certeza de que a construção do conhecimento efetuado pela criança será exatamente a mesma desejada pelo professor A utilização do jogo potencializa a exploração e a construção do conhecimento por contar com a motivação interna típica do lúdico mas o trabalho pedagógico requer a oferta de estímulos externos e a influência de parceiros bem como a sistematização de conceitos em outras situações que não jogos Ao utilizar de modo metafórico a forma lúdica objeto suporte de brincadeira para estimular a construção do conhecimento o brinquedo educativo conquistou espaço definitivo na educação infantil Brincadeiras tradicionais infantis A brincadeira tradicional infantil filiada ao folclore incorpora a mentalidade popular expressandose sobretudo pela oralidade Considerada como parte da cultura popular essa modalidade de brincadeira guarda a produção espiritual de um povo em certo período histórico A cultura nãooficial desenvolvida especialmente de modo oral não fica cristalizada Está sempre em transformação incorporando criações anônimas das gerações que vão se sucedendo Por ser um elemento folclórico a brincadeira tradicional infantil assume características de anonimato tradicionalidade transmissão oral conservação mudança e universalidade Não se conhece a origem da amarelinha do pião das parlendas das fórmulas de seleção Seus criadores são anônimos Sabese apenas que provêm de práticas abandonadas por adultos de fragmentos de romances poesias mitos e rituais religiosos A tradicionalidade e universalidade das brincadeiras assentamse no fato de que povos distintos e antigos como os da Grécia e do Oriente brincaram de amarelinha empinar papagaios jogar pedrinhas e até hoje as crianças o fazem quase da mesma forma Tais brincadeiras foram transmitidas de geração em geração através de conhecimentos empíricos e permanecem na memória infantil Muitas brincadeiras preservam sua estrutura inicial outras modificamse recebendo novos conteúdos A força de tais brincadeiras explicase pelo poder da expressão oral Enquanto manifestação livre e espontânea da cultura popular a brincadeira tradicional tem a função de perpetuar a cultura infantil de senvolver formas de convivência social e permitir o prazer de brincar Por pertencer à categoria de experiências transmitidas espontaneamente conforme motivações internas da criança a brincadeira tradicional infantil garante a presença do lúdico da situação imaginária Brincadeiras de fazdeconta A brincadeira de fazdeconta também conhecida como simbólica de representação de papéis ou sociodramática é a que deixa mais evidente a presença da situação imaginária Ela surge com o aparecimento da representação e da linguagem em torno de 23 anos quando a criança começa a alterar o significado dos objetos dos eventos a expressar seus sonhos e fantasias e a assumir papéis presentes no contexto social O fazdeconta permite não só a entrada no imaginário mas a expressão de regras implícitas que se materializam nos temas das brincadeiras É importante registrar que o conteúdo do imaginário provém de experiências anteriores adquiridas pelas crianças em diferentes contextos Ideias e ações adquiridas pelas crianças provêm do mundo social incluindo a família e o seu círculo de relacionamento o currículo apresentado pela escola as ideias discutidas em classe os materiais e os pares O conteúdo das representações simbólicas recebe geralmente grande influência do currículo e dos professores Os conteúdos veiculados durante as brincadeiras infantis bem como os temas de brincadeiras os materiais para brincar as oportunidades para interações sociais e o tempo disponível são todos fatores que dependem basicamente do currículo proposto pela escola A inclusão do jogo infantil nas propostas pedagógicas remetenos para a necessidade de seu estudo nos tempos atuais A importância dessa modalidade de brincadeira justificase pela aquisição do símbolo É alterando o significado de objetos de situações é criando novos significados que se desenvolve a função simbólica o elemento que garante a racionalidade ao 39 ser humano Ao brincar de fazdeconta a criança está aprendendo a criar símbolos Brincadeiras de construção Os jogos de construção são considerados de grande importância por enriquecer a experiência sensorial estimular a criatividade e desenvolver habilidades da criança Fröebel o criador dos jogos de construção oportunizou a muitos fabricantes a duplicação de seus tijolinhos para a alegria da criançada que constrói cidades e bairros que estimulam a imaginação infantil Construindo transformando e destruindo a criança expressa seu imaginário seus problemas e permite aos terapeutas o diagnóstico de dificuldades de adaptação bem como a educadores o estímulo da imaginação infantil e o desenvolvimento afetivo e intelectual Dessa forma quando está construindo a criança está expressando suas representações mentais além de manipular objetos O jogo de construção tem uma estreita relação com o de fazdeconta Não se trata de manipular livremente tijolinhos de construção mas de construir casas móveis ou cenários para as brincadeiras simbólicas As construções se transformam em temas de brincadeiras e evoluem em complexidade conforme o desenvolvimento da criança Para se compreender a relevância das construções é necessário considerar tanto a fala como a ação da criança que revelam complicadas relações É importante também considerar as ideias presentes em tais representações como elas adquirem tais temas e como o mundo real contribui para a sua construção Bibliografia ARISTÓTELES A política Tradução de Torrieri Guimarães São Paulo Hemus 1966 40 Ética a Nicômacos Trad de Mário da Gama Kury Brasília Editora Universidade de Brasília 1985 BACHELARD Gaston A poética do devaneio São Paulo Martins Fontes 1988 BROUGÈRE Gilles Jeu et education Le jeu dans la pédagogie prescolaire depuis le Romantisme Thèse pour le Doctorat dEtat ès Lettres et Sciences Humaines Paris Université Paris V v I e II 1993 Le jouet ou la production de lenfance limage culturelle de lenfance à travers du jouet industriel Paris VIII v I thèse 3ème cycle UER dethnologie 1981 BRUNER Jerome Childs talk Learning to use language New York Norton 1983 Actual Minds Possible Worlds Cambridge Massachusetts Harvard University Press 1986 RATNER N Games social exchange and the acquisition of langage Journal of Child Language v 5 nº 3 p 391401 oct 1978 et alii eds Play its role in development evolution New York Penguin Books 1976 CAILLOIS R Les jeux et les hommes Paris Gallimard 1967 CHRISTIE James F La fonction de jeu au niveau des enseignements prescolaires et primaires 1ère partie Léducation par le jeu et lenvironnement 3ème trimestre nº 43 p 38 1991a Programme de jeux pour les structures prescolaires et les cours primaires 2ème partie Léducation par le jeu et lenvironnement nº 44 p 36 1991b CHOMSKY Noam Structures syntaxiques Trad Michel Braudeau Paris Seuil 1969 La linguistique cartésienne Paris Seuil 1969 CLAPARÈDE Eduardo Psicologia da Criança e Pedagogia Experimental São Paulo Editora do Brasil 1956 41 COSTA Eneida Elisa Mello O jogo com regras e a construção do pensamento operatório Tese de doutorado São Paulo IPUSP 1991 FARIA Ana Lucia Goulart Direito à Infância Mário de Andrade e os Parques Infantis para as crianças de família operária na cidade de São Paulo 19351938 Tese de Doutoramento apresentada à Faculdade de Educação da USP São Paulo 1993 FRONBERG Doris ProminPlay in the Early Childhood Curriculum A review of current research Seefeldt cord ed USA Teachers College Press 1987 pp 3674 FRÖEBEL F La educación del hombre Traducción del alemán por Luis de Zulueta sl Daniel Jorro Editor 1913 GOFFMAN E Manicômios prisões e conventos Trad Dante Moreira Leite São Paulo Perspectiva 1961 HENRIOT Jacques Le jeu Paris Synonyme SOR 1983 Sous couleur de jouer La métaphore ludique Paris José Corti 1989 HUIZINGA Johan Homo Ludens essai sur la fonction sociale du jeu Paris Gallimard 1951 JAULIN Robert Jeux et jouets essai dethnotechnologie Paris Aubier 1979 KISHIMOTO Tizuko Morchida O jogo a criança e a educação Tese de Livredocência apresentada à Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo São Paulo 1992 Jogos tradicionais infantis o jogo a criança e a educação Petrópolis Vozes 1993 O jogo e a educação infantil São Paulo Pioneira 1994 A préescola em São Paulo das origens a 1940 São Paulo Loyola 1988 MANOEL BANDEIRA Berimbau e outros poemas Rio de Janeiro José Olympio 1986 MEAD G H Espiritu persona y sociedad desde el punto de vista del condutismo social Buenos Aires Paidós 1972 PIAGET Jean A formação do símbolo na criança Rio de Janeiro Zahar 1978 O julgamento moral na criança Trad de Elzon Lenardon São Paulo Mestre Jou 1977 RABELAIS François Gargântua Trad de Paulo M Oliveira Rio de Janeiro Athena sd Biblioteca Clássica v VIII RAMOS Graciliano Infância 20 ed Rio de Janeiro Record 1984 RÊGO José Lins do Menino do Engenho Introdução de José Aderaldo Castelo nota de João Ribeiro 14 ed Rio de Janeiro José Olympio 1969 RIGOLOT F Les jeux de Montaigne In Les jeux à la Renaissance Ariès P e Margolin J Cl orgs Paris Vrin 1982 ROUSSEAU JeanJacques Émile ou De Léducation Paris Garnier Frères 1961 VYGOTSKY L S Historia del desarrollo de las funciones psíquicas superiores Ciudad de la Habana Editorial Científico Técnica 1987 A formação social da mente 2 ed São Paulo Martins Fontes 1988 La imaginación y el arte en la 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