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Estágio e docência diferentes concepções PIMENTA Selma Garrido1 LIMA Maria Socorro Lucena2 Resumo Este artigo discute a formação de professores e pedagogos a partir da relação teoria e prática presente nas atividades de estágio As autoras revelam preocupação com as práticas que imitam modelos escolares assim como com as práticas escolares que priorizam a instrumentalização técnica No sentido de superar este extremodicotomia o estágio segundo as autoras não é percebido como um apêndice curricular mas um instrumento pedagógico que contribui para a superação da dicotomia teoriaprática Palavras chave estágio docência dicotomia teoria prática Abstract This article discusses teachers and pedagogues formation according to apprenticeships pedagogical activities references The authors criticize pedagogical practices that imitate scholar models such as practices that enphasize technic instrumentalization To overcome this dichotomy the Med internship here called apprenticeships pedagogical activities according to these authors is more than a curriculum appendix but a pedagogical instrument to face and overcome the dichotomy theory x practice Key words Med internship teaching dichotomy theory practice 1 Professora Titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo USP 2 Professora Doutora da Universidade Estadual do Ceará UECE Revista Poíesis Volume 3 Números 3 e 4 pp524 20052006 Considerações Iniciais Entendemos que o estágio se constitui como um campo de conhecimento o que significa atribuirlhe um estatuto epistemológico que supera sua tradicional redução à atividade prática instrumental Enquanto campo de conhecimento o estágio se produz na interação dos cursos de formação com o campo social no qual se desenvolvem as práticas educativas Nesse sentido o estágio poderá se constituir em atividade de pesquisa Para fundamentar essa concepção procederseá a uma análise dos diferentes enfoques que o estágio tem historicamente recebido nos cursos de formação de professores Até há um ano atrás eu tinha certeza de que estava tendo uma boa formação Agora estou chocada com a realidade daquelas crianças e nem sei por onde começar Na prática a teoria é outra Depoimento de Nilce Conceição da Silva Revista Sala de Aula 19902220 O estágio sempre foi identificado como a parte prática dos cursos de formação de profissionais em geral em contraposição à teoria Não é raro ouvirse dos alunos que concluem seus cursos se referirem a estes como teóricos que a profissão se aprende na prática que certos professores e disciplinas são por demais teóricos Que na prática a teoria é outra No cerne dessa afirmação popular está a constatação no caso da formação de professores de que o curso não fundamenta teoricamente a atuação do futuro profissional nem toma a prática como referência para a fundamentação teórica Ou seja carece de teoria e de prática Na verdade os currículos de formação têmse constituído em um aglomerado de disciplinas isoladas entre si sem qualquer explicitação de seus nexos com a realidade que lhes deu origem Assim sequer podese denominálas de teorias pois constituem apenas saberes disciplinares em cursos de formação que em geral estão completamente desvinculados do campo de atuação profissional dos futuros formandos Neles as disciplinas do currículo assumem quase total autonomia em relação ao campo de atuação dos profissionais e especialmente ao significado social cultural humano da ação desse profissional O que significa ser profissional Que profissional se quer formar Qual a contribuição da área na construção da sociedade humana de suas relações e de suas estruturas de poder e de dominação Quais os nexos com o conhecimento científico produzido e em produção São questões que muitas vezes não são consideradas nos programas das disciplinas nos conteúdos objetivos e métodos que desenvolvem Revista Poíesis Volume 3 Números 3 e 4 pp524 20052006 Estágio e docência diferentes concepções Essa contraposição entre teoria e prática não é meramente semântica pois se traduz em espaços desiguais de poder na estrutura curricular atribuindose menor importância à carga horária denominada de prática Nos cursos especiais de formação de professores realizados em convênios entre secretarias de educação e universidades observase essa desvalorização traduzida em contenção de despesas aí as decisões têm sido reduzir a carga horária destinada ao estágio ou transformálo em estágio à distância atestado burocraticamente dando margem a burlas No campo da pesquisa essa desvalorização da prática se traduz em verbas menores a projetos aplicados como no caso da educação Também com frequência se ouve que o estágio tem de ser teóricoprático ou seja que a teoria é indissociável da prática Para desenvolver essa perspectiva é necessário explicitarse os conceitos de prática e de teoria e como compreendemos a superação da fragmentação entre elas a partir do conceito de práxis o que aponta para o desenvolvimento do estágio como uma atitude investigativa que envolve a reflexão e a intervenção na vida da escola dos professores dos alunos e da sociedade O estágio como pesquisa já se encontra presente em práticas de grupos isolados No entanto entendemos que precisa ser assumido como horizonte ou utopia a ser conquistada no projeto dos cursos de formação como mostraremos a seguir 1 A prática como imitação de modelos O exercício de qualquer profissão é prático no sentido de que se trata de aprender a fazer algo ou ação A profissão de professor também é prática E o modo de aprender a profissão conforme a perspectiva da imitação será a partir da observação imitação reprodução e às vezes da reelaboração dos modelos existentes na prática consagrados como bons Muitas vezes nossos alunos aprendem conosco observandonos imitando mas também elaborando seu próprio modo de ser a partir da análise crítica do nosso modo de ser Nesse processo escolhem separam aquilo que consideram adequado acrescentam novos modos adaptandose aos contextos nos quais se encontram Para isso lançam mão de suas experiências e dos saberes que adquiriram Cientes da importância dessa forma de aprender ela não é entretanto suficiente e apresenta alguns limites Nem sempre o aluno dispõe de elementos para essa ponderação crítica e apenas tenta transpor os modelos em situações para as quais não são adequados Por Revista Poíesis Volume 3 Números 3 e 4 pp524 20052006 outro lado o conceito de bom professor é polssêmico passível de interpretações diferentes e mesmo divergentes A prática como imitação de modelos tem sido denominada por alguns autores de artesanal caracterizando o modo tradicional da atuação docente ainda presente em nossos dias O pressuposto dessa concepção é o de que a realidade do ensino é imutável e os alunos que freqüentam a escola também o são Idealmente concebidos à escola competiria ensinálos segundo a tradição Não cabe pois considerar as transformações históricas e sociais decorrentes dos processos de democratização do acesso que trouxe para a escola novas demandas e realidades sociais com a inclusão de alunos até então marginalizados do processo de escolarização e dos processos de transformação da sociedade de seus valores e das características que crianças e jovens vão adquirindo Ao valorizar as práticas e os instrumentos consagrados tradicionalmente como modelos eficientes a escola resume seu papel a ensinar se os alunos não aprendem o problema é deles de suas famílias de sua cultura diversa daquela tradicionalmente valorizada pela escola A formação do professor por sua vez darseá pela observação e tentativa de reprodução dessa prática modelar como um aprendiz que aprende o saber acumulado Essa perspectiva está ligada a uma concepção de professor que não valoriza sua formação intelectual reduzindo a atividade docente apenas a um fazer que será bem sucedido quanto mais se aproximar dos modelos que observou Por isso gera o conformismo é conservadora de hábitos idéias valores comportamentos pessoais e sociais legitimados pela cultura institucional dominante O estágio então nessa perspectiva reduzse a observar os professores em aula e a imitar esses modelos sem proceder a uma análise crítica fundamentada teoricamente e legitimada na realidade social em que o ensino se processa 2 A prática como instrumentalização técnica O exercício de qualquer profissão é técnico no sentido de que é necessária a utilização de técnicas para executar as operações e ações próprias Assim o médico o dentista necessitam desenvolver habilidades específicas para operar os instrumentos próprios de seu fazer O professor também No entanto as habilidades não são suficientes para a resolução dos problemas com os quais se defrontam uma vez que a redução às técnicas não dá conta do conhecimento científico nem da complexidade das situações do exercício desses profissionais Revista Poíesis Volume 3 Números 3 e 4 pp524 20052006 Nessa perspectiva o profissional fica reduzido ao prático o qual não necessita dominar os conhecimentos científicos mas tão somente as rotinas de intervenção técnica deles derivadas Essa compreensão tem sido traduzida muitas vezes em posturas dicotômicas em que teoria e prática são tratadas isoladamente o que gera equívocos graves nos processos de formação profissional A prática pela prática e o emprego de técnicas sem a devida reflexão pode reforçar a ilusão de que há uma prática sem teoria ou de uma teoria desvinculada da prática Tanto é que freqüentemente os alunos afirmam que na minha prática a teoria é outra Ou ainda pode se ver em painéis de propaganda a faculdade tal onde a prática não é apenas teoria ou ainda o adágio que se tornou popular de que quem sabe faz quem não sabe ensina Nessa perspectiva a atividade de estágio fica reduzida à hora da prática ao como fazer às técnicas a ser empregadas em sala de aula ao desenvolvimento de habilidades específicas do manejo de classe ao preenchimento de fichas de observação diagramas fluxogramas As oficinas pedagógicas que trabalham a confecção de material didático e a utilização de sucatas ilustram essa perspectiva Muito utilizadas e valorizadas têm por objetivo auxiliar os alunos no desempenho de suas atividades na sala de aula podendo ser desenvolvidas sob a forma de cursos ministrados por estagiários voltados para a confecção de recursos didáticos Por isso muitas vezes têm sido utilizadas como cursos de prestação de serviço às redes de ensino obras sociais e eventos o que acaba submetendo os estagiários como mãodeobra gratuita e substitutos de profissionais formados Atividades de microensino miniaula dinâmica de grupo também ilustram a perspectiva em estudo O entendimento de prática presente nessas atividades é o de desenvolvimento de habilidades instrumentais necessárias ao desenvolvimento da ação docente Um curso de formação estará dando conta do aspecto prático da profissão na medida em que possibilite o treinamento em situações experimentais de determinadas habilidades consideradas a priori como necessárias ao bom desempenho docente A despeito da importância dessas atividades elas não possibilitam que se compreenda o processo de ensino em seu todo Assim cabe indagar quem define as habilidades mais importantes a serem treinadas Seriam as habilidades treinadas generalizáveis para o trabalho docente com qualquer agrupamento de alunos O processo educativo é mais amplo complexo e inclui situações específicas de treino mas não pode a ele ser reduzido Parecenos que a um certo nível é possível falar em domínio de determinadas técnicas instrumentos e recursos para o desenvolvimento de determinadas habilidades em situação Portanto a habilidade que o professor deve desenvolver é a de saber lançar mão adequadamente das técnicas conforme Revista Poíesis Volume 3 Números 3 e 4 pp524 20052006 as diversas e diferentes situações em que o ensino ocorre o que necessariamente implica a criação de novas técnicas A perspectiva técnica no estágio gera um distanciamento da vida e do trabalho concreto que ocorre nas escolas uma vez que as disciplinas que compõem os cursos de formação não estabelecem os nexos entre os conteúdos teorias que desenvolvem e a realidade nas quais o ensino ocorre A exigência dos alunos em formação por sua vez reforça essa perspectiva quando solicitam novas técnicas e metodologias universais acreditando no poder destas para resolver as deficiências da profissão e do ensino fortalecendo assim o mito das técnicas e das metodologias Esse mito está presente não apenas nos anseios dos alunos mas também entre professores e sobretudo em políticas governamentais de formação que acabam investindo verbas em intermináveis programas de formação descontínua de professores partindo do pressuposto de que a falta de conhecimento de técnicas e métodos destes é a responsável exclusiva pelos resultados do ensino Está deste modo em movimento o ciclo de uma pedagogia compensatória realimentada pela ideologia do mito metodológico Nas disciplinas práticas dos cursos de formação nas universidades em geral a didática instrumental aí empregada gera a ilusão de que as situações de ensino são iguais e poderão ser resolvidas com técnicas Essa crítica à didática instrumental gerou num primeiro momento uma negação da didática sendo substituída por uma crítica às escolas em geral uma vez que se consideravam estas como aparelhos reprodutores das ideologias dominantes na sociedade Essa percepção traduziuse em modalidades de estágio que se restringiam a apenas captar os desvios e falhas da escola dos diretores e dos professores configurandose como um criticismo vazio uma vez que os estagiários lá iam apenas para rotular as escolas e seus profissionais como tradicionais e autoritários entre outros Essa forma de estágio gera conflitos e situações de distanciamento entre a universidade e as escolas que justamente passaram a se recusar a receber estagiários o que por vezes leva a situações extremas de secretarias de educação obrigarem suas escolas a receberem estagiários O repensar essa questão assumindo a crítica da realidade existente mas numa perspectiva de encaminhar propostas e soluções aos problemas estruturais sociais políticos e econômicos dos sistemas de ensino e seus reflexos no espaço escolar e na ação de seus profissionais constituiu o núcleo das pesquisas em várias áreas da educação em especial no campo da pedagogia e da didática Também no campo da formação de professores e dos estágios inúmeras pesquisas têm sido produzidas denunciando essas questões contribuindo Revista Poíesis Volume 3 Números 3 e 4 pp524 20052006 para uma melhor compreensão dessa formação a partir de estudos críticos e analíticos das práticas de formação desenvolvidas nas universidades mas também trazendo contribuições significativas do campo prático dos cursos de licenciatura e do campo teórico para novos encaminhamentos aos cursos de formação É importante destacar que essas pesquisas têm apontado como unanimidade que a universidade é o espaço formativo por excelência da docência uma vez que não é simples formar para o exercício da docência de qualidade e que a pesquisa é o caminho metodológico para essa formação Se contrapõem portanto às orientações das políticas geradas a partir do Banco Mundial que reduzem a formação a simples treinamento de habilidades e competências 3 O que entendemos por teoria e por prática O reducionismo dos estágios às perspectivas da prática instrumental e do criticismo como anteriormente apresentadas expõe os problemas na formação profissional docente A dissociação entre teoria e prática aí presente resulta em um empobrecimento das práticas nas escolas o que evidencia a necessidade de se explicitar por que o estágio é teoria e prática e não teoria ou prática Para tanto necessário se faz explicitar o conceito que temos de teoria e de prática Para isso vamos introduzir o conceito de ação docente A profissão docente é uma prática social ou seja como tantas outras é uma forma de se intervir na realidade social no caso por meio da educação que ocorre não só mas essencialmente nas instituições de ensino Para melhor compreendêla necessário se faz distinguir a atividade docente como prática e como ação Para Sacristán 1999 a prática é institucionalizada são as formas de educar que ocorrem em diferentes contextos institucionalizados configurando a cultura e a tradição das instituições Essa tradição seria o conteúdo e o método da educação E para Zabala 1998 a estrutura da prática institucional obedece a múltiplos determinantes tendo sua justificação em parâmetros institucionais organizativos tradições metodológicas possibilidades reais dos professores e das condições físicas existentes A ação cf Sacristán 1999 referese aos sujeitos seus modos de agir e pensar seus valores seus compromissos suas opções seus desejos e vontade seu conhecimento seus esquemas teóricos de leitura do mundo seus modos de ensinar de se relacionar com os alunos de planejar e desenvolver seus cursos e se realiza nas práticas institucionais nas quais Revista Poíesis Volume 3 Números 3 e 4 pp 524 20052006 se encontram sendo por estas determinados e nelas determinando Se a pretensão é alterar as instituições com a contribuição das teorias é preciso compreender a imbricação entre sujeitos e instituições ação e prática Em sentido amplo ação designa a atividade humana o fazer um fazer efetivo ou a simples oposição a um estado passivo Entretanto em uma compreensão filosófica e sociológica a noção de ação é sempre referida a objetivos finalidades e meios implicando a consciência dos sujeitos para essas escolhas supondo um certo saber e conhecimento Assim denominaremos de ação pedagógica as atividades que os professores realizam no coletivo escolar supondo o desenvolvimento de certas atividades materiais orientadas e estruturadas Tais atividades têm por finalidade a efetivação do ensino e da aprendizagem por parte dos professores e alunos Esse processo de ensino e aprendizagem é composto de conteúdos educativos habilidades e posturas científicas sociais afetivas humanas enfim utilizandose de certas mediações pedagógicas específicas Nesse sentido na escola compreendida como comunidade temos diferentes ações e diferentes sujeitos com funções que também se diferenciam para a concretização do objetivo coletivo a educação escolar Moura 2003134 As atividades materiais que articulam as ações pedagógicas são as interações entre os professores os alunos e os conteúdos educativos em geral para a formação do humano as interações que estruturam os processos de ensino e aprendizagem as interações nas quais se atualizam os diversos saberes pedagógicos do professor e nas quais ocorrem os processos de reorganização e ressignificação de tais saberes Considerando que nem sempre os professores têm clareza sobre os objetivos que orientam suas ações no contexto escolar e no meio social onde se inserem os meios existentes para realizálos os caminhos e procedimentos a seguir ou seja os saberes de referência de sua ação pedagógica faz sentido investir nos processos de reflexão na e das ações pedagógicas realizadas nos contextos escolares cf Navarro 2000 Nesse processo o papel das teorias é o de iluminar e oferecer instrumentos e esquemas para análise e investigação que permitam questionar as práticas institucionalizadas e as ações dos sujeitos e ao mesmo tempo se colocar elas próprias em questionamento uma vez que as teorias são explicações sempre provisórias da realidade A prática educativa institucional é um traço cultural compartilhado e que tem relações com o que acontece em outros âmbitos da sociedade e de suas instituições Portanto no estágio dos cursos de formação de professores compete possibilitar que os futuros professores se apropriem da compreensão dessa complexidade das práticas institucionais e das ações aí praticadas por seus profissionais como possibilidade de se prepararem para sua Revista Poíesis Volume 3 Números 3 e 4 pp 524 20052006 inserção profissional É pois uma atividade de conhecimento das práticas institucionais e das ações nelas praticadas O que pode ser conseguido se o estágio for uma preocupação um eixo de todas as disciplinas do curso e não apenas daquelas erroneamente denominadas práticas Todas as disciplinas conforme nosso entendimento são ao mesmo tempo teóricas e práticas Num curso de formação de professores todas as disciplinas as de fundamentos e as didáticas devem contribuir para a sua finalidade que é a de formar professores a partir da análise da crítica e da proposição de novas maneiras de fazer educação Nesse sentido todas as disciplinas necessitam oferecer conhecimentos e métodos para esse processo 4 O estágio superando a separação teoria e prática No movimento teórico recente sobre a concepção de estágio é possível situar duas perspectivas que marcam a busca para se superar a pretensa dicotomia entre atividade teórica e atividade prática A produção dos anos 90 do século anterior é indicativa dessa possibilidade quando o estágio foi definido como atividade teórica que permite conhecer e se aproximar da realidade Mais recentemente ao se colocar no horizonte as contribuições da epistemologia da prática e se diferenciar o conceito de ação que diz dos sujeitos do conceito de prática que diz das instituições o estágio como pesquisa começa a ganhar solidez 41 O estágio aproximação da realidade e atividade teórica A compreensão da relação entre teoria e prática conforme explicitado anteriormente possibilitou estudos e pesquisas que têm iluminado perspectivas para uma nova concepção de estágio Pimenta e Gonçalves 1990 consideram que a finalidade do estágio é a de propiciar ao aluno uma aproximação à realidade na qual atuará Assim o estágio se afasta da compreensão até então corrente de que seria a parte prática do curso Defendem uma nova postura uma redefinição do estágio que deve caminhar para a reflexão a partir da realidade Revista Poíesis Volume 3 Números 3 e 4 pp 524 20052006 REFLEXÕES SOBRE O ESTÁGIO PRÁTICA DE ENSINO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES Reflections upon the apprenticeshippractice of teaching in teachers development Maria Socorro Lucena Lima Professora e pesquisadora em Didática e Estágio da Universidade Estadual do Ceará UECE e Doutora pela FEUSP Fortaleza Ceará Brasil email socorrolucenauolcombr Resumo As reflexões apresentadas neste texto procuram perceber entre o escrito e o vivido o papel do EstágioPrática de Ensino nos cursos de formação de professores percorrendo os seguintes pontos um convite à reflexão pedagógica sobre o contexto universidade e escola diferentes culturas que se encontram no Estágio ensinar e aprender a formação docente e lições do Estágio Tais reflexões permitemnos perceber a transitoriedade desta atividade enquanto ritual de passagem para o exercício da profissão À luz dos conceitos atualmente abordados pela literatura na área destacamos o Estágio curricular como eixo privilegiado de formação docente e um campo de conhecimento Como lócus de conhecimento com vistas à aproximação investigativa da realidade tem na pesquisa sobre a prática o centro dessa formação Palavraschave Formação de professores Estágio Prática de ensino Rev Diálogo Educ Curitiba v 8 n 23 p 195205 janabr 2008 Abstract The reflections presented in this text focus on how to realize between what has been written and lived the trainingteaching practice role at teachers instructions courses through the following points an invitation aiming at the education reflection about context university and school diferent cultures which get closer at training period teach and learn the teacher instruction and training according to all its content These reflections let us know how this activity occurs while a step for reaching the professional degree Theoretically based on the current educational literature we pointed the curricular period of training out as an important teaching instruction axis as well as a knowledge field By taking training period as a knowledge place looking forwards to an investigative approach of reality it finds on research about practice the formation basis Keywords Teachers formation Training period Teaching practice É triste ver esse homem guerreiro menino com as marcas do seu tempo por sobre seus ombros eu vejo que ele berra eu vejo que ele sangra a dor que traz no peito pois ama e ama Gonzaguinha O tempo de magistério com atuação na disciplina Prática de Ensino Estágio Supervisionado na universidade tem nos ensinado muitas lições Aprendizagens que nos levam a refazer continuamente nossa prática e a descobrir novos jeitos de conviver com os desafios deste componente curricular nos cursos de formação de professores e seu papel na vida dos estagiários Estaremos percorrendo os cinco pontos de reflexão que apresentamos a seguir procurando fazer um debate entre o escrito e o vivido entre o dito e o feito um convite à reflexão pedagógica sobre o contexto universidade e escola diferentes culturas que se encontram no Estágio ensinar e aprender a formação docente lições do estágio somos sempre estagiários da vida Esperamos que nossa conversa possa trazer elementos para o debate e que abra caminhos para que o Estágio curricular possa ser o eixo da formação e um campo de conhecimentos pedagógicos Lembramos que os cursos de Rev Diálogo Educ Curitiba v 8 n 23 p 195205 janabr 2008 Selma Garrido Pimenta e Maria Socorro Lucena Lima Esse conceito provoca entretanto algumas indagações o que se entende por realidade Que realidade é essa Qual o sentido dessa aproximação O aproximarse seria uma observação minuciosa ou à distância A aproximação à realidade só tem sentido quando tem conotação de envolvimento de intencionalidade pois a maioria dos estágios burocratizados carregados de fichas de observação está numa visão míope de aproximação da realidade Isso aponta para a necessidade de um aprofundamento conceitual do estágio e das atividades que nele se realizam É preciso que os professores orientadores de estágios procedam no coletivo junto a seus pares e alunos essa apropriação da realidade para analisála e questionála criticamente à luz de teorias Essa caminhada conceitual certamente será uma trilha para a proposição de novas experiências Na direção desse aprofundamento Pimenta 1994 partindo de pesquisa realizada em escolas de formação de professores introduz a discussão de práxis na tentativa de superar a decantada dicotomia entre teoria e prática Conclui que o estágio nessa perspectiva ao contrário do que se propugnava não é atividade prática mas atividade teórica instrumentalizadora da práxis docente entendida esta como a atividade de transformação da realidade Nesse sentido o estágio atividade curricular é atividade teórica de conhecimento fundamentação diálogo e intervenção na realidade este sim objeto da práxis Ou seja é no trabalho docente do contexto da sala de aula da escola do sistema de ensino e da sociedade que a práxis se dá 42 O estágio como pesquisa e a pesquisa no estágio É possível o estágio se realizar em forma de pesquisa A pesquisa no estágio é uma estratégia um método uma possibilidade de formação do estagiário como futuro professor Ela pode ser também uma possibilidade de formação e desenvolvimento dos professores da escola na relação com os estagiários A pesquisa no estágio como método de formação dos estagiários futuros professores se traduz pela mobilização de pesquisas que permitam a ampliação e análise dos contextos onde os estágios se realizam Mas também e em especial na possibilidade de os estagiários desenvolverem postura e habilidades de pesquisador a partir das situações de estágio elaborando projetos que lhes permitam ao mesmo tempo compreender e problematizar as situações que observam Esse estágio pressupõe outra postura diante do conhecimento que passe a considerálo não mais como verdade capaz de explicar toda e qualquer situação observada o que tem conduzido estágios e estagiários a assumirem uma postura de irem às Revista Poíesis Volume 3 Números 3 e 4 pp 524 20052006 Reflexões sobre o estágioprática de ensino na formação de professores licenciatura precisam ser espaços onde se pede licença para o exercício do magistério daí a importância do Estágio na identificação com a profissão de professor e a necessidade dos diálogos pedagógicos entre os professores formadores e alunos Diz a canção popular que Guerreiros são pessoas tão fortes tão frágeis guerreiros são meninos no fundo do peito Precisam de um descanso precisam de um remanso precisam de um sonho que os torne refeitos GONZAGUINHA Que este momento seja para nós guerreiros do magistério uma pausa para a troca para o sonho comum para a utopia da organização de um estágio melhor Um convite à reflexão sobre o contexto Para que possamos compreender formação docente na atualidade e suas tendências investigativas e metodológicas que incluem o estudo dos saberes necessários à prática do professor é importante que busquemos os seus determinantes Destacamos dentre eles os princípios do lema aprender a aprender constante no Relatório da Comissão Internacional da Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura UNESCO Criada em 1993 e presidida por Jaques Delors trouxe consequências para os chamados novos paradigmas da educação no campo da formação docente A comissão definiu as responsabilidades individuais e sociais do processo educativo com base em seis pistas de reflexão educação e cultura educação e cidadania educação e coesão social educação trabalho e emprego educação e desenvolvimento educação investigação e ciência A comissão aponta os males do final do século XX como os progressos econômico e científico que foram repartidos de forma desigual elevando o desemprego e a exclusão social e indica a educação como um meio de amenizar os problemas e afastar os riscos das questões sociais provocadas pela globalização A partir dessa premissa afirma ser necessário pensar políticas educacionais que promovam a construção de um mundo melhor mediante a renovação de uma vivência democrática real para o desenvolvimento humano sustentável a compreensão entre os povos e a solução das crises sociais Ao professor cabe o papel de ajudar seus alunos a encontrar organizar e gerir o saber DELORS 2001 p 145 Mudando o conceito de professor mudam os rumos da sua formação que são mobilizados pelo discurso ideológico e a implementação de políticas controladas por propostas de gestão e avaliação do sistema de ensino Nesse contexto o professor muitas vezes nem percebe os determinantes que norteiam e sustentam sua vida profissional e as mudanças que nela estão ocorrendo mesmo quando estão freqüentando um curso de formação docente Rev Diálogo Educ Curitiba v 8 n 23 p 195205 janabr 2008 Maria Socorro Lucena Lima Ao mesmo tempo a sociedade moderna tem exigido dos trabalhadores da educação desempenhos cada vez mais qualificados e eficazes para conviver com as contradições e os problemas da sociedade dita globalizada que se refletem na escola Por esses motivos entendemos a necessidade de investigar e analisar as atividades de EstágioPrática de Ensino considerandoas como um dos importantes eixos dos cursos de formação de professores e como espaço propiciador da reflexão Assim a prática reflexiva e dialogada com a teoria estaria sendo realizada por meio da pesquisa e dos seus desdobramentos Reiteramos a importância de que os envolvidos nas atividades do EstágioPrática de Ensino possam levantar elementos de compreensão sobre o trânsito dos alunos estagiários entre a cultura acadêmica e a cultura escolar no sentido de identificar a cultura do magistério e as aprendizagens dela decorrentes Há uma perspectiva de ritual de passagem intermediando as práticas de EstágioPrática de Ensino Seu caráter passageiro faz com que ele seja sempre incompleto porque é no efetivo exercício do magistério que a profissão docente é aprendida de maneira sempre renovada Defendemos este componente curricular como espaço de aprendizagem da profissão docente e de construção da identidade profissional que permeia as outras disciplinas da formação no projeto pedagógico dos cursos de formação mas é o locus da sistematização da pesquisa sobre a prática no papel de realizar a síntese e a reflexão das vivências efetivadas Universidade e escola diferentes culturas que se encontram na prática de ensino estágio supervisionado Os grandes desafios e contradições que envolvem a operacionalização do EstágioPrática de Ensino na Universidade nem sempre são estudados e compreendidos por formadores e formandos O trabalho de planejamento negociação com as escolas recebedoras desenvolvimento e avaliação de atividades concentrados no período letivo de um semestre muitas vezes dificulta a visão do todo Dessa forma pode ficar despercebida uma questão fundamental que está na base de muitos dos nossos descontentamentos e conflitos no decorrer do Estágio que é o movimento de aproximação de duas instituições de ensino cada uma trazendo valores objetivos imediatos cultura e relações de poder diferentes com o objetivo de realizarem um trabalho comum a formação de professores No meio destes dois campos de força está o estagiário preocupado em cumprir os requisitos acadêmicos propostos pelo professor orientador da disciplina e transitar de maneira satisfatória pela escola na busca de aprendizagens sobre a profissão Na busca de compreender essa questão recorremos aos conceitos de campo de habitus BOURDIEU 2003 p 64 e de cultura docente Se considerarmos o campo como espaço de poder tanto da universidade como da Rev Diálogo Educ Curitiba v 8 n 23 p 195205 janabr 2008 Reflexões sobre o estágioprática de ensino na formação de professores escola podemos perceber a complexidade que envolve o estágio e as práticas executadas no seu interior A nossa preocupação é quanto às aprendizagens e às lições que podem ser retiradas dessa passagem uma vez que nesse enfoque o estágio pode ser comparado a uma ponte na qual os estagiários exercem suas atividades na tensão desse jogo de forças A idéia de habitus preconizada por Bourdieu 2003 p 64 se revela nas práticas completando um movimento de interiorização de estruturas exteriores Tanto na universidade como na escola o estagiário vai conviver com tais esquemas e práticas Muitas vezes acontecem problemas e equívocos no decorrer do Estágio que são agravados pelo fato de os estagiários não terem clareza das relações que se estabelecem entre as instituições e as pessoas que por elas transitam O espaço da escola de educação básica recebedora dos estagiários tornase dessa forma o espaço de encontro das culturas dos alunos dos formadores e dos estagiários É importante lembrar que cada escola tem um jeito especial específico de conduzir o seu cotidiano e sua organização e de se posicionar diante das questões e desafios que surgem De acordo com Farias 2002 p 110 no interior da escola se fazem acordos negociações e se estabelecem regras próprias que regulamentam tanto seu funcionamento burocrático como as concepções crenças e valores das pessoas que fazem seu coletivo Para Apple 1989 p 82 os estudos ligados à economia à classe social à cultura e aos processos de escolarização ajudam na compreensão sociológica e crítica sobre a escola É preciso atentar para o fato de que a cultura vivenciada é trazida para a escola e entra em confronto com o conhecimento formal trazido pelo currículo Assim é na sala de aula que acontece o embate entre os conhecimentos das disciplinas conhecimentos do currículo e a cultura vivida por alunos e professores Ajudamnos ainda nesta compreensão os estudos de Fourquin 1993 p 10 pela explicação que não é possível ver a cultura como algo imutável Para o autor a escola é um caldeirão de culturas espaço de efervescência cultural identificado na forma de organização do trabalho escolar e nos elementos que a constituem hierarquia visão de mundo tipo de formação concepção de ciência e espaços de poder Diante de toda a cultura que mobiliza a escola é necessário que o estagiário possa entendêla como um grupo social interativo no qual acontece o fenômeno educacional em suas contradições e possibilidades Quando trazemos os estudos sobre cultura escolar realizados pelos autores anteriormente citados para o panorama do ensino superior indagamos sobre o mesmo processo acontecendo no espaço universitário onde está situado o trabalho de formadores e as atividades dos estagiários Quais valores crenças preocupações espaços de poder da Universidade Qual o lugar da pesquisa e da docência De que maneira cada curso de licenciatura lida com a profissão docente na teoria e na prática Rev Diálogo Educ Curitiba v 8 n 23 p 195205 janabr 2008 Ensinar e aprender a profissão docente Pensar sobre os cursos de formação para o magistério em suas perspectivas teóricas e práticas levanos a refletir sobre o trabalho docente a profissão do professor na sociedade e no momento histórico em que estamos inseridos Implica na construção de conhecimentos no estabelecimento de um diálogo pedagógico com os alunos com os livros com os saberes da docência com o papel social da escola da universidade e as políticas que regem a educação entre outras questões Assim indagamos É possível ensinar o ofício de professor Qual o espaço da prática na formação para o magistério E da teorização da prática Que lições de estágio podem ser aprendidas pelos alunos dos cursos de licenciatura Os processos de identificação com a profissão docente podem acontecer por meio das atividades realizadas por formadores e formandos Compreendemos que as propostas metodológicas revelam uma percepção do valor atribuído ao ensino bem como certas idéias em relação aos processos de ensinar e de aprender De acordo com a concepção de conhecimento que norteia a sua prática pedagógica o professor de Estágio passa a articular as atividades com os alunos Dentro de suas limitações e possibilidades de tempo espaço e condições objetivas de trabalho da universidade dos estagiários e das escolas recebedoras o professor assume o papel de orientador que é o responsável por um componente curricular no contexto das disciplinas do curso Já o olhar atento do estagiário aproveitará a oportunidade de contato com a escola para descobrir valores organização funcionamento dela bem como a vida e o trabalho dos seus professores e gestores Pinto e Fontana 2002 p 116 quando falam sobre o trabalho escolar e a produção do conhecimento por ocasião das atividades de Práticas de Ensino advertam para o encontro e o confronto que acontecem entre os professores da escola de educação básica os professores da universidade e os educadores em formação Consideram o Estágio e a Prática de Ensino uma grande convergência de saberes histórias de vida e experiências individuais e coletivas Cientes desse confronto e refletindo sobre eles o estagiário poderá situarse e entender os acontecimentos tirando deles as lições necessárias à sua formação As autoras fazem perguntas que versam em primeiro lugar sobre os saberes dos estagiários da escola e da universidade indagando sobre os laços coletivos que unem tais saberes Refletem ainda sobre os valores as contradições as lutas próprias de cada segmento que se encontra no espaço do Estágio destacando a necessidade de um reconhecimento de papéis e de um diálogo pedagógico que estabeleça a compreensão da escola como recebedora e formadora dos estagiários Há grande necessidade de que o estagiário encontre o seu lugar na escola dentro das relações de que participa e que o Estágio inclua no seu projeto uma proposta de mudança de enfoque sugerindo que os alunos reconheçam sua Rev Diálogo Educ Curitiba v 8 n 23 p 195205 janabr 2008 própria presença e o seu papel no local do estágio em vez de focalizarem suas atenções apenas nos fracassos encontrados Dessa forma o período do EstágioPrática de Ensino mesmo que transitório pode tornarse um exercício de participação de conquista e negociação sobre as aprendizagens profissionais que a escola pode proporcionar O que dá sentido às atividades práticas dos cursos de formação é esse movimento que acontece a partir das leituras práticas saberes e conhecimentos que se confrontam e se entrecruzam As atividades de reflexão e registro poderão auxiliar no entendimento das questões relativas às contradições acontecidas no trabalho educativo Entre o escrito e o vivido estão cultura relações de trabalho classe social etnia idade e campos de poder entre outros aspectos Pimenta e Anastasiou 2002 p 197 afirmam que o significado social que os professores atribuem a si mesmos e à educação escolar exerce papel fundamental nos processos de construção da identidade docente Para as autoras esta identidade se constrói no confronto entre as teorias e as práticas na análise sistemática das práticas à luz das teorias na construção de teorias Essa compreensão permite analisar o estágio como espaço de mediação reflexiva entre a universidade a escola e a sociedade Compreendemos assim que a identidade pode ser analisada tanto na perspectiva individual como na dimensão coletiva Enquanto a primeira é constituída pela experiência pessoal e as vivências individuais que expressa o sentimento de originalidade a segunda se constrói no interior dos grupos configurandose socialmente uma identidade coletiva Lições do estágioprática de ensino As aprendizagens decorrentes do estágio poderá ser uma postura metodológica utilizada pelos professores e alunos que trabalham com o EstágioPrática de Ensino A clareza de que cabe ao estagiário a tarefa de fazer da experiência com o trabalho de campo deverá ser um passo significativo para a construção da identidade profissional docente e a compreensão do processo educacional acontecido na escola e da cultura do magistério Que pontos de reflexão podem ajudar nos percursos de estágio Lições aprendidas na localização da escola Onde a escola está situada Em que parte da cidade Como é sua localização urbana Como se caracteriza a vizinhança o comércio os serviços de saúde a segurança entre outros Lições aprendidas na chegada entre nossas atividades com os estagiários destacamos o portão da escola e a chegada dos alunos Em trabalho anterior LIMA 2002 p 61 destacamos que a porta ou o portão da escola representa para Rev Diálogo Educ Curitiba v 8 n 23 p 195205 janabr 2008 o estagiário uma oportunidade de reflexão e questionamentos Quais as marcas da sociedade atual estão na entrada da escola Como é o prédio Quem controla o portão e de que maneira Como são os transeuntes que por aí trafegam Quem passa o que passa e deixa de passar pelo portão da escola Demorarse no portão da escola é experiência de compreensão do que acontece lá dentro O panorama que se descortina a partir do espaço escolar pode trazer à tona alguns aspectos que talvez nunca tenhamos observado a vida da comunidade a movimentação na frente da escola costumes preferências manifestações de multiculturalismo O entorno da escola e o movimento que acontece na rua no quarteirão a chegada dos alunos dos pais e de funcionários e de outras pessoas que compõem esse fluxo Lições de aprendidas entre o dito e o feito entre o escrito e o vivido é importante a compreensão da escola dentro do sistema educacional e da implantação e implementação das políticas vigentes A análise sobre o papel social da escola por meio do levantamento de dados registro e documentos oficiais pode trazer valiosas informações para uma visão de conjunto das necessidades e problemas das possibilidades e avanços da instituição escolar Tratase do estagiário aprofundar os conhecimentos teóricos e práticos sobre a escola não mais de forma descomprometida mas com o olhar de professor O diagnóstico da escola é uma das atividades relevantes para a compreensão da realidade Para Libâneo 2006 p 178 o estudo e a reflexão na escola sobre a proposta dos PCN atrelamse a outro componente muito importante na vida escolar a organização e a forma da gestão da instituição de ensino O cruzamento de dados feito entre o que a literatura pedagógica diz sobre a escola o que dizem os documentos oficiais e a realidade registrada nas observações e entrevistas oferece um importante estudo comparativo de compreensão reflexiva e crítica da realidade Lições do Projeto Político Pedagógico da Escola vale a pena perceber o Projeto Pedagógico em processo de operacionalização ou seja a comunidade escolar vivenciando aquilo que foi debatido e decidido por ela no coletivo A idéia de projeto como ação está ligada a dois componentes essenciais a questão educativa e o trabalho coletivo De acordo com Valle 1999 p 05 todo projeto parte de uma tomada de posição diante da realidade natural social e humana Dessa forma é uma maneira de superar o contexto existente criando o novo pela razão emoção e ação O contato do estagiário com o Projeto PolíticoPedagógico e com outras modalidades de registro sobre gestão e desempenho como PDE Plano de Desenvolvimento da Escola poderá trazer elementos de análise e reflexão No entanto tirar do papel o que está registrado não é fácil É preocupante a burocratização do Projeto PolíticoPedagógico e o distanciamento dos professores das decisões coletivas da escola O estudo dos registros e das práticas coletivas realizadas encontradas no espaço da instituição também são oportunidades de relevantes lições para os estagiários Rev Diálogo Educ Curitiba v 8 n 23 p 195205 janabr 2008 Lições decorrentes da interação de saberes o estudo das relações estabelecidas no encontroconfronto de professores da universidade docentes da escola de educação básica e estagiários cada um com os seus valores visões de mundo e experiências diferentes abre espaço para descobertas Qual o papel da universidade Qual o papel da escola Quem é o estagiário Que cultura de magistério permeia o Estágio Lições dos procedimentos de investigação concordamos com Charlot 2005 p 147 quando insiste que a escola pública deve ser defendida como um direito o que acarreta obrigações para com ela Para o autor supracitado tal educação requer transformações das práticas pedagógicas que devem ser acompanhadas por uma formação de professores instrumentalizada pela pesquisa Cabe ao ensino superior manter de maneira interligada as atividades de ensino de pesquisa e as profissionalizantes Para Libâneo 2006 p 410 a aprendizagem da pesquisa implica na promoção de atividades em que o aluno supere suas dificuldades de buscar informações analisálas relacionálas com os conhecimentos anteriores dandolhes significado Lições da escola em movimento Como os alunos circulam no espaço escolar Que posturas caracterizam a equipe gestora os funcionários os professores e os alunos Como são os procedimentos de entradas saídas atividades no pátio de recreio quadra de esportes corredores banheiros portas das salas de aula cantina Lições da observação e atuação na sala de aula é necessário que o estagiário aprenda a exercitar um olhar pedagógico e atento para entender o que há de estranho nas coisas comuns Quando estamos atentos para o movimento da sala e seu cotidiano podemos verificar o que não se aprende o que se ensina a interação entre os alunos as possibilidade e contradições entre alunos e professores Somos sempre estagiários da vida considerações finais A observação do contexto e a investigação do cotidiano escolar abrem um leque de outras questões de investigaçãointervenção que podem se constituir como aprendizagem da profissão docente Formadores e formandos atentos aos nexos e relações que se estabelecem entre a universidade e a escola e destas com a profissão magistério e seus profissionais terão a oportunidade de descobrir formas de se reconhecerem como estagiários da vida e aprendizes da prática docente A cultura do magistério incluise na cultura escolar e pode ser compreendida como jeito de ser e de estar na profissão Dessa forma precisamos entender melhor a realidade inserida nessa diversidade cultural Rev Diálogo Educ Curitiba v 8 n 23 p 195205 janabr 2008 Acreditamos no Estágio como locus de formação do professor reflexivopesquisador de aprendizagens significativas da profissão de cultura do magistério de aproximação investigativa da realidade e do seu contexto social Reafirmamos o nosso conceito de Estágio como campo de conhecimento que envolve estudos análise problematização reflexão e proposição de soluções sobre o ensinar e o aprender tendo como eixo a pesquisa sobre as ações pedagógicas o trabalho docente e as práticas institucionais situadas em contextos sociais históricos e culturais PIMENTA LIMA 2004 p 61 O estágio curricular é uma passagem Quando as perguntas e dificuldades básicas começam a ser superadas após algumas discussões registros e relatórios a carga horária prevista para o estágio chega ao seu fim antes mesmo que encontremos todas as respostas para as perguntas iniciais ingressamos em outros desafios acadêmicos e novas perguntas e reflexões vão surgindo Ao reelaborar este processo lembramos que em outras fases da vida somos também estagiários como nos ensinava uma das nossas alunas em seus registros Somos sempre estagiários da vida Estamos sempre despreparados para as perguntas e os desafios pessoais e profissionais que surgem em nossa vida Partindo do princípio de que ser aprendiz da vida é ser estagiário queremos chamar novamente a canção de Gonzaguinha para terminar nossa reflexão É triste ver esse homem guerreiro menino com as marcas do seu tempo por sobre seus ombros A letra da música termina dizendo Não dá pra ser feliz Voltando à epígrafe inicial desse texto sabemos que dá para ser feliz sim porque guerreiros são pessoas que precisam não apenas de um sonho que os tornem refeitos Este sonho em que se procura refletir compreender e buscar superação é chamado de utopia pelo mestre Paulo Freire REFERÊNCIAS APPLE M W Educação e poder Tradução Maria Cristina Monteiro Porto Alegre Artes Médicas 1989 BOURDIEU Pierre A economia das trocas simbólicas Tradução de Sergio Miceli e outros São Paulo Perspectiva 2003 CHARLOT Bernard Relação com o saber formação de professores e globalização questões para a educação hoje Porto Alegre Artmed 2005 DELORS Jaques Educação um tesouro a descobrir São Paulo Cortez 2001 Rev Diálogo Educ Curitiba v 8 n 23 p 195205 janabr 2008 FARIAS Isabel Maria Sabino Inovação e mudança implicações sobre a cultura dos professores 2002 260 f Tese Doutorado em Educação Faculdade de Educação Universidade Federal do Ceará Fortaleza 2002 FOURQUIN JeanClaude Escola e cultura Porto Alegre Artes Médicas 1993 LIBÂNEO José Carlos Organização e a gestão da escola teoria e prática 3 ed Goiânia Alternativa 2006 Docência no ensino superior compromissos e desafios da prática pedagógica In ENCONTRO DA AVALIAÇÃO E PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO EAPP 10 e 11 2006 Salvador Anais Salvador UCSAL 2006 p 112 LIMA Maria Socorro Lucena Org Dialogando com a escola Fortaleza Demócrito Rocha 2002 PIMENTA Selma Garrido ANASTASIOU Léa das Graças Camargo Docência no ensino superior São Paulo Cortez 2002 Coleção Docência em Formação LIMA Maria Socorro Lucena Estágio e docência São Paulo Cortez 2004 Coleção Docência em Formação PINTO Ana Lúcia Guedes FONTANA Roseli Aparecida Cação Trabalho Escolar e Produção de Conhecimentos In MACIEL Lizete Shizue Bomura SHIGUNOV Neto SHIGUNOV Alexandre Org Desatando os nós da formação docente Porto Alegre Mediação 2002 p 522 SANTOS Milton Técnica espaço tempo globalização e meio técnico científico e informal São Paulo Hucitec 1996 VALLE Lilian do Espaços e tempos educativos na contemporaneidade a Paidéia democrática como emergência do singular e do comum In CANDAU Vera Maria Org Cultura linguagem e subjetividade no ensinar e aprender Rio de Janeiro DPA 1999 p 97110 Recebido 30082007 Received 08302007 Aprovado 05112007 Approved 11052007 Rev Diálogo Educ Curitiba v 8 n 23 p 195205 janabr 2008 Reflexões sobre o estágio na formação de professores O estágio não deve ser apenas uma atividade prática instrumental mas sim um campo de conhecimento que se produz na interação dos cursos de formação com o campo social no qual se desenvolvem as práticas educativas Os desafios enfrentados pelos estagiários durante o estágio são reflexo da falta de integração entre teoria e prática nos cursos de formação A dicotomia entre teoria e prática precisa ser superada e o estágio deve ser encarado como uma atitude investigativa que envolve a reflexão e a intervenção na vida da escola dos professores dos alunos e da sociedade A formação docente na atualidade exige uma abordagem que contemple os saberes necessários à prática do professor levando em consideração os princípios do lema aprender a aprender Nesse sentido é importante entender as responsabilidades individuais e sociais do processo educativo como apontado no Relatório da Comissão Internacional da UNESCO A prática reflexiva e dialogada com a teoria é importante para a formação de professores e o estágioprática de ensino deve ser considerado como um importante eixo dos cursos de formação É por meio da pesquisa e da reflexão das vivências efetivadas que os estagiários podem construir sua identidade profissional e aprender de maneira renovada a profissão docente A complexidade do estágioprática de ensino reside na necessidade de compreender as diferentes culturas presentes no ambiente universitário e escolar A aproximação dessas instituições de ensino cada uma com seus valores objetivos e relações de poder representa um desafio para os estagiários que precisam transitar de maneira satisfatória por esses contextos A cultura do magistério e a cultura escolar são elementos a serem considerados durante o estágio pois influenciam diretamente a prática docente Compreender a diversidade cultural presente nesses ambientes é essencial para uma formação mais abrangente e significativa A pesquisa sobre as ações pedagógicas o trabalho docente e as práticas institucionais situadas em contextos sociais históricos e culturais é fundamental para a construção de uma formação mais estruturada e eficaz
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Estágio e docência diferentes concepções PIMENTA Selma Garrido1 LIMA Maria Socorro Lucena2 Resumo Este artigo discute a formação de professores e pedagogos a partir da relação teoria e prática presente nas atividades de estágio As autoras revelam preocupação com as práticas que imitam modelos escolares assim como com as práticas escolares que priorizam a instrumentalização técnica No sentido de superar este extremodicotomia o estágio segundo as autoras não é percebido como um apêndice curricular mas um instrumento pedagógico que contribui para a superação da dicotomia teoriaprática Palavras chave estágio docência dicotomia teoria prática Abstract This article discusses teachers and pedagogues formation according to apprenticeships pedagogical activities references The authors criticize pedagogical practices that imitate scholar models such as practices that enphasize technic instrumentalization To overcome this dichotomy the Med internship here called apprenticeships pedagogical activities according to these authors is more than a curriculum appendix but a pedagogical instrument to face and overcome the dichotomy theory x practice Key words Med internship teaching dichotomy theory practice 1 Professora Titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo USP 2 Professora Doutora da Universidade Estadual do Ceará UECE Revista Poíesis Volume 3 Números 3 e 4 pp524 20052006 Considerações Iniciais Entendemos que o estágio se constitui como um campo de conhecimento o que significa atribuirlhe um estatuto epistemológico que supera sua tradicional redução à atividade prática instrumental Enquanto campo de conhecimento o estágio se produz na interação dos cursos de formação com o campo social no qual se desenvolvem as práticas educativas Nesse sentido o estágio poderá se constituir em atividade de pesquisa Para fundamentar essa concepção procederseá a uma análise dos diferentes enfoques que o estágio tem historicamente recebido nos cursos de formação de professores Até há um ano atrás eu tinha certeza de que estava tendo uma boa formação Agora estou chocada com a realidade daquelas crianças e nem sei por onde começar Na prática a teoria é outra Depoimento de Nilce Conceição da Silva Revista Sala de Aula 19902220 O estágio sempre foi identificado como a parte prática dos cursos de formação de profissionais em geral em contraposição à teoria Não é raro ouvirse dos alunos que concluem seus cursos se referirem a estes como teóricos que a profissão se aprende na prática que certos professores e disciplinas são por demais teóricos Que na prática a teoria é outra No cerne dessa afirmação popular está a constatação no caso da formação de professores de que o curso não fundamenta teoricamente a atuação do futuro profissional nem toma a prática como referência para a fundamentação teórica Ou seja carece de teoria e de prática Na verdade os currículos de formação têmse constituído em um aglomerado de disciplinas isoladas entre si sem qualquer explicitação de seus nexos com a realidade que lhes deu origem Assim sequer podese denominálas de teorias pois constituem apenas saberes disciplinares em cursos de formação que em geral estão completamente desvinculados do campo de atuação profissional dos futuros formandos Neles as disciplinas do currículo assumem quase total autonomia em relação ao campo de atuação dos profissionais e especialmente ao significado social cultural humano da ação desse profissional O que significa ser profissional Que profissional se quer formar Qual a contribuição da área na construção da sociedade humana de suas relações e de suas estruturas de poder e de dominação Quais os nexos com o conhecimento científico produzido e em produção São questões que muitas vezes não são consideradas nos programas das disciplinas nos conteúdos objetivos e métodos que desenvolvem Revista Poíesis Volume 3 Números 3 e 4 pp524 20052006 Estágio e docência diferentes concepções Essa contraposição entre teoria e prática não é meramente semântica pois se traduz em espaços desiguais de poder na estrutura curricular atribuindose menor importância à carga horária denominada de prática Nos cursos especiais de formação de professores realizados em convênios entre secretarias de educação e universidades observase essa desvalorização traduzida em contenção de despesas aí as decisões têm sido reduzir a carga horária destinada ao estágio ou transformálo em estágio à distância atestado burocraticamente dando margem a burlas No campo da pesquisa essa desvalorização da prática se traduz em verbas menores a projetos aplicados como no caso da educação Também com frequência se ouve que o estágio tem de ser teóricoprático ou seja que a teoria é indissociável da prática Para desenvolver essa perspectiva é necessário explicitarse os conceitos de prática e de teoria e como compreendemos a superação da fragmentação entre elas a partir do conceito de práxis o que aponta para o desenvolvimento do estágio como uma atitude investigativa que envolve a reflexão e a intervenção na vida da escola dos professores dos alunos e da sociedade O estágio como pesquisa já se encontra presente em práticas de grupos isolados No entanto entendemos que precisa ser assumido como horizonte ou utopia a ser conquistada no projeto dos cursos de formação como mostraremos a seguir 1 A prática como imitação de modelos O exercício de qualquer profissão é prático no sentido de que se trata de aprender a fazer algo ou ação A profissão de professor também é prática E o modo de aprender a profissão conforme a perspectiva da imitação será a partir da observação imitação reprodução e às vezes da reelaboração dos modelos existentes na prática consagrados como bons Muitas vezes nossos alunos aprendem conosco observandonos imitando mas também elaborando seu próprio modo de ser a partir da análise crítica do nosso modo de ser Nesse processo escolhem separam aquilo que consideram adequado acrescentam novos modos adaptandose aos contextos nos quais se encontram Para isso lançam mão de suas experiências e dos saberes que adquiriram Cientes da importância dessa forma de aprender ela não é entretanto suficiente e apresenta alguns limites Nem sempre o aluno dispõe de elementos para essa ponderação crítica e apenas tenta transpor os modelos em situações para as quais não são adequados Por Revista Poíesis Volume 3 Números 3 e 4 pp524 20052006 outro lado o conceito de bom professor é polssêmico passível de interpretações diferentes e mesmo divergentes A prática como imitação de modelos tem sido denominada por alguns autores de artesanal caracterizando o modo tradicional da atuação docente ainda presente em nossos dias O pressuposto dessa concepção é o de que a realidade do ensino é imutável e os alunos que freqüentam a escola também o são Idealmente concebidos à escola competiria ensinálos segundo a tradição Não cabe pois considerar as transformações históricas e sociais decorrentes dos processos de democratização do acesso que trouxe para a escola novas demandas e realidades sociais com a inclusão de alunos até então marginalizados do processo de escolarização e dos processos de transformação da sociedade de seus valores e das características que crianças e jovens vão adquirindo Ao valorizar as práticas e os instrumentos consagrados tradicionalmente como modelos eficientes a escola resume seu papel a ensinar se os alunos não aprendem o problema é deles de suas famílias de sua cultura diversa daquela tradicionalmente valorizada pela escola A formação do professor por sua vez darseá pela observação e tentativa de reprodução dessa prática modelar como um aprendiz que aprende o saber acumulado Essa perspectiva está ligada a uma concepção de professor que não valoriza sua formação intelectual reduzindo a atividade docente apenas a um fazer que será bem sucedido quanto mais se aproximar dos modelos que observou Por isso gera o conformismo é conservadora de hábitos idéias valores comportamentos pessoais e sociais legitimados pela cultura institucional dominante O estágio então nessa perspectiva reduzse a observar os professores em aula e a imitar esses modelos sem proceder a uma análise crítica fundamentada teoricamente e legitimada na realidade social em que o ensino se processa 2 A prática como instrumentalização técnica O exercício de qualquer profissão é técnico no sentido de que é necessária a utilização de técnicas para executar as operações e ações próprias Assim o médico o dentista necessitam desenvolver habilidades específicas para operar os instrumentos próprios de seu fazer O professor também No entanto as habilidades não são suficientes para a resolução dos problemas com os quais se defrontam uma vez que a redução às técnicas não dá conta do conhecimento científico nem da complexidade das situações do exercício desses profissionais Revista Poíesis Volume 3 Números 3 e 4 pp524 20052006 Nessa perspectiva o profissional fica reduzido ao prático o qual não necessita dominar os conhecimentos científicos mas tão somente as rotinas de intervenção técnica deles derivadas Essa compreensão tem sido traduzida muitas vezes em posturas dicotômicas em que teoria e prática são tratadas isoladamente o que gera equívocos graves nos processos de formação profissional A prática pela prática e o emprego de técnicas sem a devida reflexão pode reforçar a ilusão de que há uma prática sem teoria ou de uma teoria desvinculada da prática Tanto é que freqüentemente os alunos afirmam que na minha prática a teoria é outra Ou ainda pode se ver em painéis de propaganda a faculdade tal onde a prática não é apenas teoria ou ainda o adágio que se tornou popular de que quem sabe faz quem não sabe ensina Nessa perspectiva a atividade de estágio fica reduzida à hora da prática ao como fazer às técnicas a ser empregadas em sala de aula ao desenvolvimento de habilidades específicas do manejo de classe ao preenchimento de fichas de observação diagramas fluxogramas As oficinas pedagógicas que trabalham a confecção de material didático e a utilização de sucatas ilustram essa perspectiva Muito utilizadas e valorizadas têm por objetivo auxiliar os alunos no desempenho de suas atividades na sala de aula podendo ser desenvolvidas sob a forma de cursos ministrados por estagiários voltados para a confecção de recursos didáticos Por isso muitas vezes têm sido utilizadas como cursos de prestação de serviço às redes de ensino obras sociais e eventos o que acaba submetendo os estagiários como mãodeobra gratuita e substitutos de profissionais formados Atividades de microensino miniaula dinâmica de grupo também ilustram a perspectiva em estudo O entendimento de prática presente nessas atividades é o de desenvolvimento de habilidades instrumentais necessárias ao desenvolvimento da ação docente Um curso de formação estará dando conta do aspecto prático da profissão na medida em que possibilite o treinamento em situações experimentais de determinadas habilidades consideradas a priori como necessárias ao bom desempenho docente A despeito da importância dessas atividades elas não possibilitam que se compreenda o processo de ensino em seu todo Assim cabe indagar quem define as habilidades mais importantes a serem treinadas Seriam as habilidades treinadas generalizáveis para o trabalho docente com qualquer agrupamento de alunos O processo educativo é mais amplo complexo e inclui situações específicas de treino mas não pode a ele ser reduzido Parecenos que a um certo nível é possível falar em domínio de determinadas técnicas instrumentos e recursos para o desenvolvimento de determinadas habilidades em situação Portanto a habilidade que o professor deve desenvolver é a de saber lançar mão adequadamente das técnicas conforme Revista Poíesis Volume 3 Números 3 e 4 pp524 20052006 as diversas e diferentes situações em que o ensino ocorre o que necessariamente implica a criação de novas técnicas A perspectiva técnica no estágio gera um distanciamento da vida e do trabalho concreto que ocorre nas escolas uma vez que as disciplinas que compõem os cursos de formação não estabelecem os nexos entre os conteúdos teorias que desenvolvem e a realidade nas quais o ensino ocorre A exigência dos alunos em formação por sua vez reforça essa perspectiva quando solicitam novas técnicas e metodologias universais acreditando no poder destas para resolver as deficiências da profissão e do ensino fortalecendo assim o mito das técnicas e das metodologias Esse mito está presente não apenas nos anseios dos alunos mas também entre professores e sobretudo em políticas governamentais de formação que acabam investindo verbas em intermináveis programas de formação descontínua de professores partindo do pressuposto de que a falta de conhecimento de técnicas e métodos destes é a responsável exclusiva pelos resultados do ensino Está deste modo em movimento o ciclo de uma pedagogia compensatória realimentada pela ideologia do mito metodológico Nas disciplinas práticas dos cursos de formação nas universidades em geral a didática instrumental aí empregada gera a ilusão de que as situações de ensino são iguais e poderão ser resolvidas com técnicas Essa crítica à didática instrumental gerou num primeiro momento uma negação da didática sendo substituída por uma crítica às escolas em geral uma vez que se consideravam estas como aparelhos reprodutores das ideologias dominantes na sociedade Essa percepção traduziuse em modalidades de estágio que se restringiam a apenas captar os desvios e falhas da escola dos diretores e dos professores configurandose como um criticismo vazio uma vez que os estagiários lá iam apenas para rotular as escolas e seus profissionais como tradicionais e autoritários entre outros Essa forma de estágio gera conflitos e situações de distanciamento entre a universidade e as escolas que justamente passaram a se recusar a receber estagiários o que por vezes leva a situações extremas de secretarias de educação obrigarem suas escolas a receberem estagiários O repensar essa questão assumindo a crítica da realidade existente mas numa perspectiva de encaminhar propostas e soluções aos problemas estruturais sociais políticos e econômicos dos sistemas de ensino e seus reflexos no espaço escolar e na ação de seus profissionais constituiu o núcleo das pesquisas em várias áreas da educação em especial no campo da pedagogia e da didática Também no campo da formação de professores e dos estágios inúmeras pesquisas têm sido produzidas denunciando essas questões contribuindo Revista Poíesis Volume 3 Números 3 e 4 pp524 20052006 para uma melhor compreensão dessa formação a partir de estudos críticos e analíticos das práticas de formação desenvolvidas nas universidades mas também trazendo contribuições significativas do campo prático dos cursos de licenciatura e do campo teórico para novos encaminhamentos aos cursos de formação É importante destacar que essas pesquisas têm apontado como unanimidade que a universidade é o espaço formativo por excelência da docência uma vez que não é simples formar para o exercício da docência de qualidade e que a pesquisa é o caminho metodológico para essa formação Se contrapõem portanto às orientações das políticas geradas a partir do Banco Mundial que reduzem a formação a simples treinamento de habilidades e competências 3 O que entendemos por teoria e por prática O reducionismo dos estágios às perspectivas da prática instrumental e do criticismo como anteriormente apresentadas expõe os problemas na formação profissional docente A dissociação entre teoria e prática aí presente resulta em um empobrecimento das práticas nas escolas o que evidencia a necessidade de se explicitar por que o estágio é teoria e prática e não teoria ou prática Para tanto necessário se faz explicitar o conceito que temos de teoria e de prática Para isso vamos introduzir o conceito de ação docente A profissão docente é uma prática social ou seja como tantas outras é uma forma de se intervir na realidade social no caso por meio da educação que ocorre não só mas essencialmente nas instituições de ensino Para melhor compreendêla necessário se faz distinguir a atividade docente como prática e como ação Para Sacristán 1999 a prática é institucionalizada são as formas de educar que ocorrem em diferentes contextos institucionalizados configurando a cultura e a tradição das instituições Essa tradição seria o conteúdo e o método da educação E para Zabala 1998 a estrutura da prática institucional obedece a múltiplos determinantes tendo sua justificação em parâmetros institucionais organizativos tradições metodológicas possibilidades reais dos professores e das condições físicas existentes A ação cf Sacristán 1999 referese aos sujeitos seus modos de agir e pensar seus valores seus compromissos suas opções seus desejos e vontade seu conhecimento seus esquemas teóricos de leitura do mundo seus modos de ensinar de se relacionar com os alunos de planejar e desenvolver seus cursos e se realiza nas práticas institucionais nas quais Revista Poíesis Volume 3 Números 3 e 4 pp 524 20052006 se encontram sendo por estas determinados e nelas determinando Se a pretensão é alterar as instituições com a contribuição das teorias é preciso compreender a imbricação entre sujeitos e instituições ação e prática Em sentido amplo ação designa a atividade humana o fazer um fazer efetivo ou a simples oposição a um estado passivo Entretanto em uma compreensão filosófica e sociológica a noção de ação é sempre referida a objetivos finalidades e meios implicando a consciência dos sujeitos para essas escolhas supondo um certo saber e conhecimento Assim denominaremos de ação pedagógica as atividades que os professores realizam no coletivo escolar supondo o desenvolvimento de certas atividades materiais orientadas e estruturadas Tais atividades têm por finalidade a efetivação do ensino e da aprendizagem por parte dos professores e alunos Esse processo de ensino e aprendizagem é composto de conteúdos educativos habilidades e posturas científicas sociais afetivas humanas enfim utilizandose de certas mediações pedagógicas específicas Nesse sentido na escola compreendida como comunidade temos diferentes ações e diferentes sujeitos com funções que também se diferenciam para a concretização do objetivo coletivo a educação escolar Moura 2003134 As atividades materiais que articulam as ações pedagógicas são as interações entre os professores os alunos e os conteúdos educativos em geral para a formação do humano as interações que estruturam os processos de ensino e aprendizagem as interações nas quais se atualizam os diversos saberes pedagógicos do professor e nas quais ocorrem os processos de reorganização e ressignificação de tais saberes Considerando que nem sempre os professores têm clareza sobre os objetivos que orientam suas ações no contexto escolar e no meio social onde se inserem os meios existentes para realizálos os caminhos e procedimentos a seguir ou seja os saberes de referência de sua ação pedagógica faz sentido investir nos processos de reflexão na e das ações pedagógicas realizadas nos contextos escolares cf Navarro 2000 Nesse processo o papel das teorias é o de iluminar e oferecer instrumentos e esquemas para análise e investigação que permitam questionar as práticas institucionalizadas e as ações dos sujeitos e ao mesmo tempo se colocar elas próprias em questionamento uma vez que as teorias são explicações sempre provisórias da realidade A prática educativa institucional é um traço cultural compartilhado e que tem relações com o que acontece em outros âmbitos da sociedade e de suas instituições Portanto no estágio dos cursos de formação de professores compete possibilitar que os futuros professores se apropriem da compreensão dessa complexidade das práticas institucionais e das ações aí praticadas por seus profissionais como possibilidade de se prepararem para sua Revista Poíesis Volume 3 Números 3 e 4 pp 524 20052006 inserção profissional É pois uma atividade de conhecimento das práticas institucionais e das ações nelas praticadas O que pode ser conseguido se o estágio for uma preocupação um eixo de todas as disciplinas do curso e não apenas daquelas erroneamente denominadas práticas Todas as disciplinas conforme nosso entendimento são ao mesmo tempo teóricas e práticas Num curso de formação de professores todas as disciplinas as de fundamentos e as didáticas devem contribuir para a sua finalidade que é a de formar professores a partir da análise da crítica e da proposição de novas maneiras de fazer educação Nesse sentido todas as disciplinas necessitam oferecer conhecimentos e métodos para esse processo 4 O estágio superando a separação teoria e prática No movimento teórico recente sobre a concepção de estágio é possível situar duas perspectivas que marcam a busca para se superar a pretensa dicotomia entre atividade teórica e atividade prática A produção dos anos 90 do século anterior é indicativa dessa possibilidade quando o estágio foi definido como atividade teórica que permite conhecer e se aproximar da realidade Mais recentemente ao se colocar no horizonte as contribuições da epistemologia da prática e se diferenciar o conceito de ação que diz dos sujeitos do conceito de prática que diz das instituições o estágio como pesquisa começa a ganhar solidez 41 O estágio aproximação da realidade e atividade teórica A compreensão da relação entre teoria e prática conforme explicitado anteriormente possibilitou estudos e pesquisas que têm iluminado perspectivas para uma nova concepção de estágio Pimenta e Gonçalves 1990 consideram que a finalidade do estágio é a de propiciar ao aluno uma aproximação à realidade na qual atuará Assim o estágio se afasta da compreensão até então corrente de que seria a parte prática do curso Defendem uma nova postura uma redefinição do estágio que deve caminhar para a reflexão a partir da realidade Revista Poíesis Volume 3 Números 3 e 4 pp 524 20052006 REFLEXÕES SOBRE O ESTÁGIO PRÁTICA DE ENSINO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES Reflections upon the apprenticeshippractice of teaching in teachers development Maria Socorro Lucena Lima Professora e pesquisadora em Didática e Estágio da Universidade Estadual do Ceará UECE e Doutora pela FEUSP Fortaleza Ceará Brasil email socorrolucenauolcombr Resumo As reflexões apresentadas neste texto procuram perceber entre o escrito e o vivido o papel do EstágioPrática de Ensino nos cursos de formação de professores percorrendo os seguintes pontos um convite à reflexão pedagógica sobre o contexto universidade e escola diferentes culturas que se encontram no Estágio ensinar e aprender a formação docente e lições do Estágio Tais reflexões permitemnos perceber a transitoriedade desta atividade enquanto ritual de passagem para o exercício da profissão À luz dos conceitos atualmente abordados pela literatura na área destacamos o Estágio curricular como eixo privilegiado de formação docente e um campo de conhecimento Como lócus de conhecimento com vistas à aproximação investigativa da realidade tem na pesquisa sobre a prática o centro dessa formação Palavraschave Formação de professores Estágio Prática de ensino Rev Diálogo Educ Curitiba v 8 n 23 p 195205 janabr 2008 Abstract The reflections presented in this text focus on how to realize between what has been written and lived the trainingteaching practice role at teachers instructions courses through the following points an invitation aiming at the education reflection about context university and school diferent cultures which get closer at training period teach and learn the teacher instruction and training according to all its content These reflections let us know how this activity occurs while a step for reaching the professional degree Theoretically based on the current educational literature we pointed the curricular period of training out as an important teaching instruction axis as well as a knowledge field By taking training period as a knowledge place looking forwards to an investigative approach of reality it finds on research about practice the formation basis Keywords Teachers formation Training period Teaching practice É triste ver esse homem guerreiro menino com as marcas do seu tempo por sobre seus ombros eu vejo que ele berra eu vejo que ele sangra a dor que traz no peito pois ama e ama Gonzaguinha O tempo de magistério com atuação na disciplina Prática de Ensino Estágio Supervisionado na universidade tem nos ensinado muitas lições Aprendizagens que nos levam a refazer continuamente nossa prática e a descobrir novos jeitos de conviver com os desafios deste componente curricular nos cursos de formação de professores e seu papel na vida dos estagiários Estaremos percorrendo os cinco pontos de reflexão que apresentamos a seguir procurando fazer um debate entre o escrito e o vivido entre o dito e o feito um convite à reflexão pedagógica sobre o contexto universidade e escola diferentes culturas que se encontram no Estágio ensinar e aprender a formação docente lições do estágio somos sempre estagiários da vida Esperamos que nossa conversa possa trazer elementos para o debate e que abra caminhos para que o Estágio curricular possa ser o eixo da formação e um campo de conhecimentos pedagógicos Lembramos que os cursos de Rev Diálogo Educ Curitiba v 8 n 23 p 195205 janabr 2008 Selma Garrido Pimenta e Maria Socorro Lucena Lima Esse conceito provoca entretanto algumas indagações o que se entende por realidade Que realidade é essa Qual o sentido dessa aproximação O aproximarse seria uma observação minuciosa ou à distância A aproximação à realidade só tem sentido quando tem conotação de envolvimento de intencionalidade pois a maioria dos estágios burocratizados carregados de fichas de observação está numa visão míope de aproximação da realidade Isso aponta para a necessidade de um aprofundamento conceitual do estágio e das atividades que nele se realizam É preciso que os professores orientadores de estágios procedam no coletivo junto a seus pares e alunos essa apropriação da realidade para analisála e questionála criticamente à luz de teorias Essa caminhada conceitual certamente será uma trilha para a proposição de novas experiências Na direção desse aprofundamento Pimenta 1994 partindo de pesquisa realizada em escolas de formação de professores introduz a discussão de práxis na tentativa de superar a decantada dicotomia entre teoria e prática Conclui que o estágio nessa perspectiva ao contrário do que se propugnava não é atividade prática mas atividade teórica instrumentalizadora da práxis docente entendida esta como a atividade de transformação da realidade Nesse sentido o estágio atividade curricular é atividade teórica de conhecimento fundamentação diálogo e intervenção na realidade este sim objeto da práxis Ou seja é no trabalho docente do contexto da sala de aula da escola do sistema de ensino e da sociedade que a práxis se dá 42 O estágio como pesquisa e a pesquisa no estágio É possível o estágio se realizar em forma de pesquisa A pesquisa no estágio é uma estratégia um método uma possibilidade de formação do estagiário como futuro professor Ela pode ser também uma possibilidade de formação e desenvolvimento dos professores da escola na relação com os estagiários A pesquisa no estágio como método de formação dos estagiários futuros professores se traduz pela mobilização de pesquisas que permitam a ampliação e análise dos contextos onde os estágios se realizam Mas também e em especial na possibilidade de os estagiários desenvolverem postura e habilidades de pesquisador a partir das situações de estágio elaborando projetos que lhes permitam ao mesmo tempo compreender e problematizar as situações que observam Esse estágio pressupõe outra postura diante do conhecimento que passe a considerálo não mais como verdade capaz de explicar toda e qualquer situação observada o que tem conduzido estágios e estagiários a assumirem uma postura de irem às Revista Poíesis Volume 3 Números 3 e 4 pp 524 20052006 Reflexões sobre o estágioprática de ensino na formação de professores licenciatura precisam ser espaços onde se pede licença para o exercício do magistério daí a importância do Estágio na identificação com a profissão de professor e a necessidade dos diálogos pedagógicos entre os professores formadores e alunos Diz a canção popular que Guerreiros são pessoas tão fortes tão frágeis guerreiros são meninos no fundo do peito Precisam de um descanso precisam de um remanso precisam de um sonho que os torne refeitos GONZAGUINHA Que este momento seja para nós guerreiros do magistério uma pausa para a troca para o sonho comum para a utopia da organização de um estágio melhor Um convite à reflexão sobre o contexto Para que possamos compreender formação docente na atualidade e suas tendências investigativas e metodológicas que incluem o estudo dos saberes necessários à prática do professor é importante que busquemos os seus determinantes Destacamos dentre eles os princípios do lema aprender a aprender constante no Relatório da Comissão Internacional da Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura UNESCO Criada em 1993 e presidida por Jaques Delors trouxe consequências para os chamados novos paradigmas da educação no campo da formação docente A comissão definiu as responsabilidades individuais e sociais do processo educativo com base em seis pistas de reflexão educação e cultura educação e cidadania educação e coesão social educação trabalho e emprego educação e desenvolvimento educação investigação e ciência A comissão aponta os males do final do século XX como os progressos econômico e científico que foram repartidos de forma desigual elevando o desemprego e a exclusão social e indica a educação como um meio de amenizar os problemas e afastar os riscos das questões sociais provocadas pela globalização A partir dessa premissa afirma ser necessário pensar políticas educacionais que promovam a construção de um mundo melhor mediante a renovação de uma vivência democrática real para o desenvolvimento humano sustentável a compreensão entre os povos e a solução das crises sociais Ao professor cabe o papel de ajudar seus alunos a encontrar organizar e gerir o saber DELORS 2001 p 145 Mudando o conceito de professor mudam os rumos da sua formação que são mobilizados pelo discurso ideológico e a implementação de políticas controladas por propostas de gestão e avaliação do sistema de ensino Nesse contexto o professor muitas vezes nem percebe os determinantes que norteiam e sustentam sua vida profissional e as mudanças que nela estão ocorrendo mesmo quando estão freqüentando um curso de formação docente Rev Diálogo Educ Curitiba v 8 n 23 p 195205 janabr 2008 Maria Socorro Lucena Lima Ao mesmo tempo a sociedade moderna tem exigido dos trabalhadores da educação desempenhos cada vez mais qualificados e eficazes para conviver com as contradições e os problemas da sociedade dita globalizada que se refletem na escola Por esses motivos entendemos a necessidade de investigar e analisar as atividades de EstágioPrática de Ensino considerandoas como um dos importantes eixos dos cursos de formação de professores e como espaço propiciador da reflexão Assim a prática reflexiva e dialogada com a teoria estaria sendo realizada por meio da pesquisa e dos seus desdobramentos Reiteramos a importância de que os envolvidos nas atividades do EstágioPrática de Ensino possam levantar elementos de compreensão sobre o trânsito dos alunos estagiários entre a cultura acadêmica e a cultura escolar no sentido de identificar a cultura do magistério e as aprendizagens dela decorrentes Há uma perspectiva de ritual de passagem intermediando as práticas de EstágioPrática de Ensino Seu caráter passageiro faz com que ele seja sempre incompleto porque é no efetivo exercício do magistério que a profissão docente é aprendida de maneira sempre renovada Defendemos este componente curricular como espaço de aprendizagem da profissão docente e de construção da identidade profissional que permeia as outras disciplinas da formação no projeto pedagógico dos cursos de formação mas é o locus da sistematização da pesquisa sobre a prática no papel de realizar a síntese e a reflexão das vivências efetivadas Universidade e escola diferentes culturas que se encontram na prática de ensino estágio supervisionado Os grandes desafios e contradições que envolvem a operacionalização do EstágioPrática de Ensino na Universidade nem sempre são estudados e compreendidos por formadores e formandos O trabalho de planejamento negociação com as escolas recebedoras desenvolvimento e avaliação de atividades concentrados no período letivo de um semestre muitas vezes dificulta a visão do todo Dessa forma pode ficar despercebida uma questão fundamental que está na base de muitos dos nossos descontentamentos e conflitos no decorrer do Estágio que é o movimento de aproximação de duas instituições de ensino cada uma trazendo valores objetivos imediatos cultura e relações de poder diferentes com o objetivo de realizarem um trabalho comum a formação de professores No meio destes dois campos de força está o estagiário preocupado em cumprir os requisitos acadêmicos propostos pelo professor orientador da disciplina e transitar de maneira satisfatória pela escola na busca de aprendizagens sobre a profissão Na busca de compreender essa questão recorremos aos conceitos de campo de habitus BOURDIEU 2003 p 64 e de cultura docente Se considerarmos o campo como espaço de poder tanto da universidade como da Rev Diálogo Educ Curitiba v 8 n 23 p 195205 janabr 2008 Reflexões sobre o estágioprática de ensino na formação de professores escola podemos perceber a complexidade que envolve o estágio e as práticas executadas no seu interior A nossa preocupação é quanto às aprendizagens e às lições que podem ser retiradas dessa passagem uma vez que nesse enfoque o estágio pode ser comparado a uma ponte na qual os estagiários exercem suas atividades na tensão desse jogo de forças A idéia de habitus preconizada por Bourdieu 2003 p 64 se revela nas práticas completando um movimento de interiorização de estruturas exteriores Tanto na universidade como na escola o estagiário vai conviver com tais esquemas e práticas Muitas vezes acontecem problemas e equívocos no decorrer do Estágio que são agravados pelo fato de os estagiários não terem clareza das relações que se estabelecem entre as instituições e as pessoas que por elas transitam O espaço da escola de educação básica recebedora dos estagiários tornase dessa forma o espaço de encontro das culturas dos alunos dos formadores e dos estagiários É importante lembrar que cada escola tem um jeito especial específico de conduzir o seu cotidiano e sua organização e de se posicionar diante das questões e desafios que surgem De acordo com Farias 2002 p 110 no interior da escola se fazem acordos negociações e se estabelecem regras próprias que regulamentam tanto seu funcionamento burocrático como as concepções crenças e valores das pessoas que fazem seu coletivo Para Apple 1989 p 82 os estudos ligados à economia à classe social à cultura e aos processos de escolarização ajudam na compreensão sociológica e crítica sobre a escola É preciso atentar para o fato de que a cultura vivenciada é trazida para a escola e entra em confronto com o conhecimento formal trazido pelo currículo Assim é na sala de aula que acontece o embate entre os conhecimentos das disciplinas conhecimentos do currículo e a cultura vivida por alunos e professores Ajudamnos ainda nesta compreensão os estudos de Fourquin 1993 p 10 pela explicação que não é possível ver a cultura como algo imutável Para o autor a escola é um caldeirão de culturas espaço de efervescência cultural identificado na forma de organização do trabalho escolar e nos elementos que a constituem hierarquia visão de mundo tipo de formação concepção de ciência e espaços de poder Diante de toda a cultura que mobiliza a escola é necessário que o estagiário possa entendêla como um grupo social interativo no qual acontece o fenômeno educacional em suas contradições e possibilidades Quando trazemos os estudos sobre cultura escolar realizados pelos autores anteriormente citados para o panorama do ensino superior indagamos sobre o mesmo processo acontecendo no espaço universitário onde está situado o trabalho de formadores e as atividades dos estagiários Quais valores crenças preocupações espaços de poder da Universidade Qual o lugar da pesquisa e da docência De que maneira cada curso de licenciatura lida com a profissão docente na teoria e na prática Rev Diálogo Educ Curitiba v 8 n 23 p 195205 janabr 2008 Ensinar e aprender a profissão docente Pensar sobre os cursos de formação para o magistério em suas perspectivas teóricas e práticas levanos a refletir sobre o trabalho docente a profissão do professor na sociedade e no momento histórico em que estamos inseridos Implica na construção de conhecimentos no estabelecimento de um diálogo pedagógico com os alunos com os livros com os saberes da docência com o papel social da escola da universidade e as políticas que regem a educação entre outras questões Assim indagamos É possível ensinar o ofício de professor Qual o espaço da prática na formação para o magistério E da teorização da prática Que lições de estágio podem ser aprendidas pelos alunos dos cursos de licenciatura Os processos de identificação com a profissão docente podem acontecer por meio das atividades realizadas por formadores e formandos Compreendemos que as propostas metodológicas revelam uma percepção do valor atribuído ao ensino bem como certas idéias em relação aos processos de ensinar e de aprender De acordo com a concepção de conhecimento que norteia a sua prática pedagógica o professor de Estágio passa a articular as atividades com os alunos Dentro de suas limitações e possibilidades de tempo espaço e condições objetivas de trabalho da universidade dos estagiários e das escolas recebedoras o professor assume o papel de orientador que é o responsável por um componente curricular no contexto das disciplinas do curso Já o olhar atento do estagiário aproveitará a oportunidade de contato com a escola para descobrir valores organização funcionamento dela bem como a vida e o trabalho dos seus professores e gestores Pinto e Fontana 2002 p 116 quando falam sobre o trabalho escolar e a produção do conhecimento por ocasião das atividades de Práticas de Ensino advertam para o encontro e o confronto que acontecem entre os professores da escola de educação básica os professores da universidade e os educadores em formação Consideram o Estágio e a Prática de Ensino uma grande convergência de saberes histórias de vida e experiências individuais e coletivas Cientes desse confronto e refletindo sobre eles o estagiário poderá situarse e entender os acontecimentos tirando deles as lições necessárias à sua formação As autoras fazem perguntas que versam em primeiro lugar sobre os saberes dos estagiários da escola e da universidade indagando sobre os laços coletivos que unem tais saberes Refletem ainda sobre os valores as contradições as lutas próprias de cada segmento que se encontra no espaço do Estágio destacando a necessidade de um reconhecimento de papéis e de um diálogo pedagógico que estabeleça a compreensão da escola como recebedora e formadora dos estagiários Há grande necessidade de que o estagiário encontre o seu lugar na escola dentro das relações de que participa e que o Estágio inclua no seu projeto uma proposta de mudança de enfoque sugerindo que os alunos reconheçam sua Rev Diálogo Educ Curitiba v 8 n 23 p 195205 janabr 2008 própria presença e o seu papel no local do estágio em vez de focalizarem suas atenções apenas nos fracassos encontrados Dessa forma o período do EstágioPrática de Ensino mesmo que transitório pode tornarse um exercício de participação de conquista e negociação sobre as aprendizagens profissionais que a escola pode proporcionar O que dá sentido às atividades práticas dos cursos de formação é esse movimento que acontece a partir das leituras práticas saberes e conhecimentos que se confrontam e se entrecruzam As atividades de reflexão e registro poderão auxiliar no entendimento das questões relativas às contradições acontecidas no trabalho educativo Entre o escrito e o vivido estão cultura relações de trabalho classe social etnia idade e campos de poder entre outros aspectos Pimenta e Anastasiou 2002 p 197 afirmam que o significado social que os professores atribuem a si mesmos e à educação escolar exerce papel fundamental nos processos de construção da identidade docente Para as autoras esta identidade se constrói no confronto entre as teorias e as práticas na análise sistemática das práticas à luz das teorias na construção de teorias Essa compreensão permite analisar o estágio como espaço de mediação reflexiva entre a universidade a escola e a sociedade Compreendemos assim que a identidade pode ser analisada tanto na perspectiva individual como na dimensão coletiva Enquanto a primeira é constituída pela experiência pessoal e as vivências individuais que expressa o sentimento de originalidade a segunda se constrói no interior dos grupos configurandose socialmente uma identidade coletiva Lições do estágioprática de ensino As aprendizagens decorrentes do estágio poderá ser uma postura metodológica utilizada pelos professores e alunos que trabalham com o EstágioPrática de Ensino A clareza de que cabe ao estagiário a tarefa de fazer da experiência com o trabalho de campo deverá ser um passo significativo para a construção da identidade profissional docente e a compreensão do processo educacional acontecido na escola e da cultura do magistério Que pontos de reflexão podem ajudar nos percursos de estágio Lições aprendidas na localização da escola Onde a escola está situada Em que parte da cidade Como é sua localização urbana Como se caracteriza a vizinhança o comércio os serviços de saúde a segurança entre outros Lições aprendidas na chegada entre nossas atividades com os estagiários destacamos o portão da escola e a chegada dos alunos Em trabalho anterior LIMA 2002 p 61 destacamos que a porta ou o portão da escola representa para Rev Diálogo Educ Curitiba v 8 n 23 p 195205 janabr 2008 o estagiário uma oportunidade de reflexão e questionamentos Quais as marcas da sociedade atual estão na entrada da escola Como é o prédio Quem controla o portão e de que maneira Como são os transeuntes que por aí trafegam Quem passa o que passa e deixa de passar pelo portão da escola Demorarse no portão da escola é experiência de compreensão do que acontece lá dentro O panorama que se descortina a partir do espaço escolar pode trazer à tona alguns aspectos que talvez nunca tenhamos observado a vida da comunidade a movimentação na frente da escola costumes preferências manifestações de multiculturalismo O entorno da escola e o movimento que acontece na rua no quarteirão a chegada dos alunos dos pais e de funcionários e de outras pessoas que compõem esse fluxo Lições de aprendidas entre o dito e o feito entre o escrito e o vivido é importante a compreensão da escola dentro do sistema educacional e da implantação e implementação das políticas vigentes A análise sobre o papel social da escola por meio do levantamento de dados registro e documentos oficiais pode trazer valiosas informações para uma visão de conjunto das necessidades e problemas das possibilidades e avanços da instituição escolar Tratase do estagiário aprofundar os conhecimentos teóricos e práticos sobre a escola não mais de forma descomprometida mas com o olhar de professor O diagnóstico da escola é uma das atividades relevantes para a compreensão da realidade Para Libâneo 2006 p 178 o estudo e a reflexão na escola sobre a proposta dos PCN atrelamse a outro componente muito importante na vida escolar a organização e a forma da gestão da instituição de ensino O cruzamento de dados feito entre o que a literatura pedagógica diz sobre a escola o que dizem os documentos oficiais e a realidade registrada nas observações e entrevistas oferece um importante estudo comparativo de compreensão reflexiva e crítica da realidade Lições do Projeto Político Pedagógico da Escola vale a pena perceber o Projeto Pedagógico em processo de operacionalização ou seja a comunidade escolar vivenciando aquilo que foi debatido e decidido por ela no coletivo A idéia de projeto como ação está ligada a dois componentes essenciais a questão educativa e o trabalho coletivo De acordo com Valle 1999 p 05 todo projeto parte de uma tomada de posição diante da realidade natural social e humana Dessa forma é uma maneira de superar o contexto existente criando o novo pela razão emoção e ação O contato do estagiário com o Projeto PolíticoPedagógico e com outras modalidades de registro sobre gestão e desempenho como PDE Plano de Desenvolvimento da Escola poderá trazer elementos de análise e reflexão No entanto tirar do papel o que está registrado não é fácil É preocupante a burocratização do Projeto PolíticoPedagógico e o distanciamento dos professores das decisões coletivas da escola O estudo dos registros e das práticas coletivas realizadas encontradas no espaço da instituição também são oportunidades de relevantes lições para os estagiários Rev Diálogo Educ Curitiba v 8 n 23 p 195205 janabr 2008 Lições decorrentes da interação de saberes o estudo das relações estabelecidas no encontroconfronto de professores da universidade docentes da escola de educação básica e estagiários cada um com os seus valores visões de mundo e experiências diferentes abre espaço para descobertas Qual o papel da universidade Qual o papel da escola Quem é o estagiário Que cultura de magistério permeia o Estágio Lições dos procedimentos de investigação concordamos com Charlot 2005 p 147 quando insiste que a escola pública deve ser defendida como um direito o que acarreta obrigações para com ela Para o autor supracitado tal educação requer transformações das práticas pedagógicas que devem ser acompanhadas por uma formação de professores instrumentalizada pela pesquisa Cabe ao ensino superior manter de maneira interligada as atividades de ensino de pesquisa e as profissionalizantes Para Libâneo 2006 p 410 a aprendizagem da pesquisa implica na promoção de atividades em que o aluno supere suas dificuldades de buscar informações analisálas relacionálas com os conhecimentos anteriores dandolhes significado Lições da escola em movimento Como os alunos circulam no espaço escolar Que posturas caracterizam a equipe gestora os funcionários os professores e os alunos Como são os procedimentos de entradas saídas atividades no pátio de recreio quadra de esportes corredores banheiros portas das salas de aula cantina Lições da observação e atuação na sala de aula é necessário que o estagiário aprenda a exercitar um olhar pedagógico e atento para entender o que há de estranho nas coisas comuns Quando estamos atentos para o movimento da sala e seu cotidiano podemos verificar o que não se aprende o que se ensina a interação entre os alunos as possibilidade e contradições entre alunos e professores Somos sempre estagiários da vida considerações finais A observação do contexto e a investigação do cotidiano escolar abrem um leque de outras questões de investigaçãointervenção que podem se constituir como aprendizagem da profissão docente Formadores e formandos atentos aos nexos e relações que se estabelecem entre a universidade e a escola e destas com a profissão magistério e seus profissionais terão a oportunidade de descobrir formas de se reconhecerem como estagiários da vida e aprendizes da prática docente A cultura do magistério incluise na cultura escolar e pode ser compreendida como jeito de ser e de estar na profissão Dessa forma precisamos entender melhor a realidade inserida nessa diversidade cultural Rev Diálogo Educ Curitiba v 8 n 23 p 195205 janabr 2008 Acreditamos no Estágio como locus de formação do professor reflexivopesquisador de aprendizagens significativas da profissão de cultura do magistério de aproximação investigativa da realidade e do seu contexto social Reafirmamos o nosso conceito de Estágio como campo de conhecimento que envolve estudos análise problematização reflexão e proposição de soluções sobre o ensinar e o aprender tendo como eixo a pesquisa sobre as ações pedagógicas o trabalho docente e as práticas institucionais situadas em contextos sociais históricos e culturais PIMENTA LIMA 2004 p 61 O estágio curricular é uma passagem Quando as perguntas e dificuldades básicas começam a ser superadas após algumas discussões registros e relatórios a carga horária prevista para o estágio chega ao seu fim antes mesmo que encontremos todas as respostas para as perguntas iniciais ingressamos em outros desafios acadêmicos e novas perguntas e reflexões vão surgindo Ao reelaborar este processo lembramos que em outras fases da vida somos também estagiários como nos ensinava uma das nossas alunas em seus registros Somos sempre estagiários da vida Estamos sempre despreparados para as perguntas e os desafios pessoais e profissionais que surgem em nossa vida Partindo do princípio de que ser aprendiz da vida é ser estagiário queremos chamar novamente a canção de Gonzaguinha para terminar nossa reflexão É triste ver esse homem guerreiro menino com as marcas do seu tempo por sobre seus ombros A letra da música termina dizendo Não dá pra ser feliz Voltando à epígrafe inicial desse texto sabemos que dá para ser feliz sim porque guerreiros são pessoas que precisam não apenas de um sonho que os tornem refeitos Este sonho em que se procura refletir compreender e buscar superação é chamado de utopia pelo mestre Paulo Freire REFERÊNCIAS APPLE M W Educação e poder Tradução Maria Cristina Monteiro Porto Alegre Artes Médicas 1989 BOURDIEU Pierre A economia das trocas simbólicas Tradução de Sergio Miceli e outros São Paulo Perspectiva 2003 CHARLOT Bernard Relação com o saber formação de professores e globalização questões para a educação hoje Porto Alegre Artmed 2005 DELORS Jaques Educação um tesouro a descobrir São Paulo Cortez 2001 Rev Diálogo Educ Curitiba v 8 n 23 p 195205 janabr 2008 FARIAS Isabel Maria Sabino Inovação e mudança implicações sobre a cultura dos professores 2002 260 f Tese Doutorado em Educação Faculdade de Educação Universidade Federal do Ceará Fortaleza 2002 FOURQUIN JeanClaude Escola e cultura Porto Alegre Artes Médicas 1993 LIBÂNEO José Carlos Organização e a gestão da escola teoria e prática 3 ed Goiânia Alternativa 2006 Docência no ensino superior compromissos e desafios da prática pedagógica In ENCONTRO DA AVALIAÇÃO E PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO EAPP 10 e 11 2006 Salvador Anais Salvador UCSAL 2006 p 112 LIMA Maria Socorro Lucena Org Dialogando com a escola Fortaleza Demócrito Rocha 2002 PIMENTA Selma Garrido ANASTASIOU Léa das Graças Camargo Docência no ensino superior São Paulo Cortez 2002 Coleção Docência em Formação LIMA Maria Socorro Lucena Estágio e docência São Paulo Cortez 2004 Coleção Docência em Formação PINTO Ana Lúcia Guedes FONTANA Roseli Aparecida Cação Trabalho Escolar e Produção de Conhecimentos In MACIEL Lizete Shizue Bomura SHIGUNOV Neto SHIGUNOV Alexandre Org Desatando os nós da formação docente Porto Alegre Mediação 2002 p 522 SANTOS Milton Técnica espaço tempo globalização e meio técnico científico e informal São Paulo Hucitec 1996 VALLE Lilian do Espaços e tempos educativos na contemporaneidade a Paidéia democrática como emergência do singular e do comum In CANDAU Vera Maria Org Cultura linguagem e subjetividade no ensinar e aprender Rio de Janeiro DPA 1999 p 97110 Recebido 30082007 Received 08302007 Aprovado 05112007 Approved 11052007 Rev Diálogo Educ Curitiba v 8 n 23 p 195205 janabr 2008 Reflexões sobre o estágio na formação de professores O estágio não deve ser apenas uma atividade prática instrumental mas sim um campo de conhecimento que se produz na interação dos cursos de formação com o campo social no qual se desenvolvem as práticas educativas Os desafios enfrentados pelos estagiários durante o estágio são reflexo da falta de integração entre teoria e prática nos cursos de formação A dicotomia entre teoria e prática precisa ser superada e o estágio deve ser encarado como uma atitude investigativa que envolve a reflexão e a intervenção na vida da escola dos professores dos alunos e da sociedade A formação docente na atualidade exige uma abordagem que contemple os saberes necessários à prática do professor levando em consideração os princípios do lema aprender a aprender Nesse sentido é importante entender as responsabilidades individuais e sociais do processo educativo como apontado no Relatório da Comissão Internacional da UNESCO A prática reflexiva e dialogada com a teoria é importante para a formação de professores e o estágioprática de ensino deve ser considerado como um importante eixo dos cursos de formação É por meio da pesquisa e da reflexão das vivências efetivadas que os estagiários podem construir sua identidade profissional e aprender de maneira renovada a profissão docente A complexidade do estágioprática de ensino reside na necessidade de compreender as diferentes culturas presentes no ambiente universitário e escolar A aproximação dessas instituições de ensino cada uma com seus valores objetivos e relações de poder representa um desafio para os estagiários que precisam transitar de maneira satisfatória por esses contextos A cultura do magistério e a cultura escolar são elementos a serem considerados durante o estágio pois influenciam diretamente a prática docente Compreender a diversidade cultural presente nesses ambientes é essencial para uma formação mais abrangente e significativa A pesquisa sobre as ações pedagógicas o trabalho docente e as práticas institucionais situadas em contextos sociais históricos e culturais é fundamental para a construção de uma formação mais estruturada e eficaz