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Economia

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4. PRODUÇÃO E PREÇOS EM MERCADOS COMPETITIVOS\n\n4.1 Introdução\n\nTeoricamente um mercado competitivo, segundo Leon Walras (no qual atuaria permanentemente um \"leiloeiro\", como se viu na aula anterior) seria um mercado concorrencial na definição dos preços e quantidades a produzir/consumir, com suas próprias leis e procedimentos, válidos para cada bem ou serviço transacionado na economia, frente ao quais todos os agentes da economia (famílias, empresas e governo) devem fazer suas próprias escolhas.\n\nUm caso prático no mundo real pode fundamentar nosso interesse nisto: Nos últimos do Plano Real, entre os anos 1994 e 1995, aumentou a produção do iogurte e da carne de frango; entre tanto o preço da carne de frango caiu e o preço do iogurte aumentou, nas proporções que aparecem a seguir:\n\nTabela N° 4.1\nProdução e preço do iogurte e carne de frango\nAnos\nIogurte\nProdução, Preço\nmil t. \npoto 200g \nmil t. \nR$/Kg\n1994\n118,6\n0,59\n3.411\n1,75\n1995\n222,5\n0,66\n4.051\n1,49\nVariação %\n88%\n12%\n19%\n-15%\nFonte: Diaz, 2007 p. 55\n\nComo se explicaria este paradoxo? Mais na frente, no item 4.6 da apostila se encontrará a resposta correspondente, porém para isso temos que enfrentar todo o raciocínio que vem a seguir.\n\n4.2 Conceitos básicos: concorrência perfeita e as condições de existência.\n\nNossos cursos de microeconomia nos ensinam que para que exista um mercado competitivo ou de concorrência perfeita deve-se atender as seguintes condições (Vasconcellos & Oliveira, 2000 p. 163-164):\n\na) Existem muitos produtores e muitos consumidores, tanto que nenhum deles tem condições de influenciar a formação do preço correspondente. Neste caso a curva de demanda é horizontal e o consumidor otimizará sua escolha no curto prazo, no ponto onde P = Cm; e no longo prazo, no ponto onde P = Cme.\n\nb) Todos os bens transacionados na economia são homogêneos, quer dizer as características físicas do café, milho, soja, etc., são as mesmas dentro delas mesmas; quando existir alguma diferença, isto daria lugar para considerá-lo outro bem. c) Inexistência de barreiras de entrada ou saída, de tipo legal, contratual, tecnológico ou de gestão da comercialização. Um aumento dos preços sinalizaria escassez e os produtores (autônomos e novos) aumentariam a produção. A inversa, uma queda dos preços sinalizaria fatura, provocando a paralisação e/ou saída de produtores deste ramo.\n\nd) As informações estão perfeitas e totalmente disseminadas. Tanto produtores como consumidores são racionais e tem todas as informações necessárias das características físicas dos bens, preços dos mesmos e as curvas de utilidade e custo marginal são de domínio de todos eles.\n\nAdicionalmente existem outros princípios, que são matéria de cursos mais avançados de economia, como os princípios do bliss point (ponto em que os consumidores exercem totalmente sua saciedade) ou do free disposal (os consumidores preferem mais e não menos, dos bens disponíveis), além do preço único (na economia existe um único preço para cada bem e serviço transacionado), e da neutralidade do governo (o Estado não deve interferir nas leis do mercado), entre outros. Para conhecer estes e outros princípios adicionais se pode ver Gerard Debreu (1959), entre outros autores.\n\n4.3 O equilíbrio de mercado\n\nAplicando todos estes princípios pode-se-se desenhar um caso prático, do mercado de concorrência perfeita para um bem simples como o pão de queijo e com os dados seguintes. Assim se identificaria o \"preço de equilíbrio\", no ponto em que se igualam a oferta e a demanda correspondente, como aparece na Tabela seguinte:\n\nTabela N° 4.2\nMercado do pão de queijo\nPreço\nDemanda\nOferta\n0,00\n107\n\n1,00\n95\n9\n\n2,00\n83\n32\n\n3,00\n71\n144\n\n4,00\n59\n59\n\n5,00\n47\n74\n\n6,00\n35\n89\n\n7,00\n24\n104\n\n8,00\n16\n119\n\n9,00\n6\n134\n\n10,00\n0\n149\nFonte: Diaz, 2007 p. 26 e 50\n\nO ponto em que se igualam os valores preço e quantidade da demanda e da oferta seria Q = 59 e P = 4 ou na linguagem geométrica, o par ordenado → (59;4), como aparece no seguinte Gráfico. Gráfico N° 4.1\nDesenho das curvas de demanda e oferta do pão de queijo\n\n12,00\n10,00\n8,00\n6,00\n4,00\n2,00\n0,00\nQuantidades\n\nFonte: Elaborado com os dados da Tabela N° 4.2\n\nNeste ponto (59;4) é só nele se dá uma equivalência entre a disposição de compra dos consumidores e a disposição de venda dos produtores. Por quê?\n\nPorque se o preço for fixado abaixo do ponto de equilíbrio, em P = 2, por exemplo, a demanda correspondente neste ponto (83) seria muito maior que a oferta (32), gerando um déficit no abastecimento, provocando tendências altistas dos preços. Como 83 > 32 → P↑ \n\nÀ inversa, se o preço for fixado acima do ponto de equilíbrio, em P = 6, por exemplo, a oferta correspondente neste ponto (89) seria muito maior que a demanda (35), gerando um superávit no abastecimento, provocando tendências baixistas dos preços. Como 89 > 35 → P↓\n\nIsto significa que as leis do mercado sempre levariam ao equilíbrio dos preços e quantidades, igualando a oferta e a procura dos bens, porém considerando só as relações endógenas Preço e Quantidade; entretanto, eles não são as únicas variáveis que atuam no mercado, já que existem outras variáveis exógenas como:\n\nX = f (Px; R; Pr; Py; Pz...etc.), onde:\nX = Quantidade demandada do bem X\nPx = Preço do bem X\nR = Renda do consumidor\nPr = Hábitos e gostos dos consumidores\nPy = Preço dos bens substitutivos\nPz = Preços complementares dos bens. Aqui, correlacionando X com R podem aparecer as seguintes particularidades:\n\nSe o bem X é um bem normal ou um bem superior, frente a um aumento da renda do consumidor (R), aparecerá também um maior interesse pelo consumo deste bem X e vice-versa, onde X = f(R)\n\nExemplo: o pão de queijo\n\nSe o bem X for um bem inferior, frente ao aumento da renda do consumidor (R), aparecerá uma queda ou perda de interesse pelo consumo do bem X e vice-versa:\n\nExemplo: Feijão ou chuchu\n\nNo caso dos bens substitutos, como o pão de queijo (X) e a coxinha de frango (Y), onde X seria uma função composta de Py, assim X = f(g(Py)). (Para maiores referências sobre \"funções compostas\", consultar Veras, 1999 p. 35-36).\n\nMais sobre a função composta: (Veras, 1999 p. 14, 15 e 35)\nEscreva funções descrevendo os seguintes fatos:\n\na) O salário mensal e de um operário que ganha R$ 3.300 fixos mais R$ 15 por hora extra por hora extra, sabendo que o número de horas extras varia todo mês: => X = 3.300 + 15x\nb) Um operário que ganha salário variável e de acordo com as horas extras que trabalha, paga R$ 100 de prestação da casa própria, gasta 60% de seu salário em manutenção e poupança ou reslane. Escreva sua função consumo C: => C = 0,9y + 100\nc) Expressando o consumo C em função das horas extras x: => C = 0,6(3.300 + 15x) + 100 ou C = 2.280 + 9x\nAqui se vê como y = f(x) O C = f(y); logo y = f(g(x)), em que y é uma \"função composta\" de x No caso dos bens complementares, como os salgadinhos (X) e o guaraná (Z), onde X seria uma função composta de Pz, assim X = f(g[Pz])\n\nQuer dizer, o encarregamento do refrigerante guaraná (Z) desestimulará o consumo dos salgadinhos (Z), que vão juntos, e vice-versa.\n\nNo caso da função oferta, estas outras variáveis também podem ser representadas na seguinte equação (Garfálo & Carvalho, 1995 p. 309-310):\n\nX = f (Px; Pi; Te; Py; Pz... etc.), onde:\n\nX = Quantidade ofertada do bem X\nPx = Preço do bem X\nPi = Preço dos fatores de produção (custo de produção)\nTe = Preço da disponibilidade de tecnologia\nPy = Preço dos produtos substitutos\nPz = Preço dos produtos complementares\n\nNo caso dos custos de produção, um aumento do preço das matérias primas (por exemplo, a farinha e/ou queijo, Pi) desestimulará a produção do pão de queijo (X), e vice-versa, onde X = f(Pi)\n\nNo caso da tecnologia disponível (Te), inovações ou melhoria destes deve provocar uma redução de seus preços, e como tal uma redução dos custos de produção e vice-versa, onde X = f(Te).\n\nNo caso dos produtos substitutos, como o açúcar (X) e o álcool (Y), substitutos no uso da terra e/ou da cana em estado bruto, eles têm um comportamento inverso (correlação negativa), onde X é uma função composta de Py, assim X = f(g(Py)) No caso dos produtos complementares, como a carne (X) e o couro (Z); eles são complementares para o produtor já que a produção de um bem força também a produção do outro bem e vice-versa (correlação positiva); onde X é uma função composta de Pz, assim X = f(g[Pz])\n\nTodas estas simulações servem para entender os deslocamentos das curvas de oferta e procura, para a direita ou para a esquerda, não por variações da variável endógena Px, senão por variações das outras variáveis que se acaba de ver.\n\n4.4 Efeitos de deslocamentos da demanda\n\nQue aconteceria se a renda do consumidor (R) aumenta? Como reagionária o consumo de pão de queijo? Como o pão de queijo é um bem normal, frente a um aumento da renda dos consumidores, aumentará também e proporcionalmente, a demanda e consumo de pão de queijo, como se vê no seguinte Gráfico:\n\nGráfico Nº 4.2\nAumento da demanda do pão de queijo e um novo equilíbrio\n\nComo a correlação entre X e R é positiva (com se viu no item anterior 4.3) então frente a um aumento da renda R, também a curva da demanda X se deslocará para a direita, definindo assim um novo ponto de equilíbrio: Agora o novo ponto de equilíbrio, em que se igualam os valores preço e quantidade da demanda e a oferta seria Q = 74 e P = 5 ou na linguagem geométrica, o par ordenado → (74;5). Neste novo ponto, tanto o preço como a quantidade correspondente, são maiores que o ponto anterior, (59;4).\n\nÀ inversa, que aconteceria se a renda do consumidor (R) diminuísse? Como reagionaria a curva da demanda de pão de queijo? Como o pão de queijo é um bem normal, frente a uma queda da renda dos consumidores, diminuirá também e proporcionalmente, a demanda e consumo de pão de queijo, como se vê no seguinte Gráfico:\n\nGráfico N° 4.3\n\nQueda da demanda de pão de queijo e novo ponto de equilíbrio\n\n\n\n\n\n\n\n\n12,00\n10,00\n8,00\n6,00\n4,00\n2,00\n0,00\n\n0 50 100 150 200\n\nQuantidades\n\nFonte: Com os dados da Tabela N° 4.2, considerando uma queda da renda\n\nNovamente, como a correlação entre X e R é positiva (com se viu no item anterior 4.3) então frente a uma queda da renda R, também a curva da demanda X se deslocará para a esquerda, definindo assim um novo ponto de equilíbrio:\n\nAgora o novo ponto de equilíbrio, em que se igualam os valores preço e quantidade da demanda e a oferta seria Q = 44 e P = 3 ou na linguagem geométrica, o par ordenado → (44;3). Neste novo ponto, tanto o preço como a quantidade correspondente, são menores que o ponto inicial, (59;4).\n\nIgual raciocínio se pode fazer para aumentos ou diminuições das outras variáveis independentes da função demanda, como aquele dos hábitos ou gostos dos consumidores (Pi) e os preços dos bens substitutos (Py) e complementares (Pz); e só considerar se suas correlações são positivas (+) ou negativas (-).\n\n4.5 Efeitos de deslocamentos na oferta\n\nQue aconteceria se os custos de produção aumentam? Assumindo um aumento da tarifa de energia elétrica (Pi), um insumo importante na elaboração do pão de queijo, que aconteceria na curva de oferta deste bem? (isto mesmo pode acontecer para o caso dos impostos que afetam a produção). Viu-se em 4.3 como existe uma correlação negativa entre Pi e X.\n\nA maiores custos de produção, menor oferta do bem correspondente. No Gráfico seguinte aparece esta nova relação, derivado de um aumento de Pi.\n\nGráfico N° 4.4\n\nQueda da oferta de pão de queijo e um novo ponto de equilíbrio\n\n\n\n\n\n\n\n\n12,00\n10,00\n8,00\n6,00\n4,00\n2,00\n0,00\n\n0 50 100 150 200\n\nQuantidades\n\nFonte: Com os dados da Tabela N° 4.2, considerando um aumento dos custos\n\nComo a correlação entre X e Pi é negativa então frente a um aumento dos custos, derivado do aumento da tarifa de energia elétrica, também a curva da oferta X correspondente diminuirá, se deslocando para a esquerda, definindo assim um novo ponto de equilíbrio:\n\nAgora o novo ponto de equilíbrio, em que se igualam os valores preço e quantidade da demanda e a oferta seria Q = 47 e P = 5 ou na linguagem geométrica, o par ordenado → (47;5). Á inversa, que aconteceria se os custos de produção diminuem? Como reagionaria a curva da oferta de pão de queijo? Frente a uma queda da tarifa de energia elétrica (Pi) e como tal queda dos custos de produção, então aumentará também e proporcionalmente, a oferta de pão de queijo.\n\nA menores custos de produção, maior será a oferta de pão de queijo, como se vê no seguinte Gráfico:\n\nGráfico N° 4.5\n\nAumento da oferta de pão de queijo e novo ponto de equilíbrio\n\n\n\n\n\n\n\n\n12,00\n10,00\n8,00\n6,00\n4,00\n2,00\n0,00\n\n0 50 100 150 200\n\nQuantidades\n\nFonte: Com os dados da Tabela N° 4.2, considerando uma queda dos custos\n\nComo a correlação entre X e Pi é negativa (com se viu no item anterior 4.3) então frente a uma queda dos custos, derivado de uma queda da tarifa de energia elétrica, a curva da oferta X correspondente aumentará, se deslocando para a direita, definindo assim um novo ponto de equilíbrio:\n\nAgora o novo ponto de equilíbrio, em que se igualam os valores preço e quantidade da demanda e a oferta seria Q = 83 e P = 2 ou na linguagem geométrica, o par ordenado → (83;2).\n\n4.6 Explicações para o caso do iogurte e da carne de frango\n\nO ponto levantado inicialmente foi de que tanto frango como o iogurte apresentaram, entre 1994 e 1995, aumentos nas quantidades vendidas, mas, enquanto o preço do frango diminuiu o do iogurte aumentou. Porque desta diferença? A resposta seria: a) O aumento nas quantidades vendidas de frango decorreu de um aumento na oferta (similar ao caso que se acaba de ver no Gráfico N° 4.5)\nb) O aumento nas quantidades vendidas de iogurte decorreu de um aumento da demanda (similar ao caso visto no Gráfico N° 4.2 anterior).\n\nO aumento da oferta de frango seria consequência das melhorias tecnológicas em sua cria e comercialização, que deu lugar a substanciais quedas nos custos de produção. \"Há 20 anos, o frango levava dois meses, do ovo ao frigorífico. Hoje 37 dias\". (Diaz, 2007 p. 49).\n\nJá o aumento da demanda de iogurte seria consequência da estabilidade econômica e melhoria da renda conseguida nos primeiros dias de vigência do Plano Real (1994-1995), já que este bem é próprio de mercados desenvolvidos. Por exemplo, na França seu consumo per capita é de 19 kg/hab/ano, no Uruguai e Argentina, 7 e no Brasil 60 s (Dias, 2007 p. 66).\n\n4.7 Efeitos dos deslocamentos simultâneos da oferta e da demanda\n\nDeve-se aceitar que os deslocamentos para a direita, seja da curva da demanda ou da oferta, devem originar maiores quantidades vendidas; a inversa, deslocamentos para a esquerda devem originar menores quantidades vendidas. Em ambos os casos, os preços podem ser maiores ou menores, em função da curva isolada (oferta ou demanda) que deu lugar a estes deslocamentos; ou efeitos, locais simultâneos e condições de deslocamentos. Assim, pode aparecer estas alternativas:\n\n1) A oferta e a demanda aumentam simultaneamente, porém a força do aumento da primeira é maior que o aumento da segunda; neste caso o preço deve cair.\n\nA oferta aumentou em 51 unidades a mais, ao longo de toda sua curva e a demanda aumentou em 24 unidades a mais, também ao longo de toda sua curva.\nSe A Oferta > A Demanda n=> P↓\n\nTudo isto aparece na seguinte Tabela\n\nTabela N° 4.3\nDeslocamento para a direita das curvas oferta e demanda\nPreço\tDemanda\tOferta\tDemanda\tOferta\n0.00\t107\t131\n1.00\t95\t9\t119\t60\n2.00\t83\t32\t107\t83\n3.00\t71\t44\t95\t95\n4.00\t59\t59\t83\t110\n5.00\t47\t74\t71\t125\n6.00\t36\t89\t59\t140\n7.00\t24\t104\t48\t165