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Psicologia ·
Psicanálise
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1422014 Vol XII 8 OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE III httpwwwfreudonlinecombrlivrosvolume12volxii8observacoessobreoamortransferencialnovasrecomendacoessobreatecnicadapsicanaliseii 19 Vol XII 8 OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE III 1915 1914 NOTA DO EDITOR INGLÊS BEMERKUNGEN ÜBER DIE ÜBERTRAGUNGSLIEBE a EDIÇÕES ALEMÃS 1915 Int Z Psychoanl 3 1 111 1918 S D S N 4 45369 1922 2ª ed 1924 Technik und Metapsychol 12035 1925 G S 6 12035 1931 Neurosenlehre und Technik 38596 1946 G W 10 30621 b TRADUÇÃO INGLESA Further Recommendations in the Technique of PsychoAnalysis Observations on TransferenceLove 1924 CP 2 37791 Trad de Joan Riviere A presente traducão inglesa com o título alterado é versão modificada da publicada em 1924 Quando este artigo foi publicado pela primeira vez em começos de 1915 seu título era Weitere Ratschläge zur Technik der Psychoanalyse III Bemerkungen über die Übertragungsliebe O título da versão inglesa de 1924 tal como fornecido acima é tradução disto As edições alemãs de 1924 em diante adotaram o título mais curto O Dr Erneste Jones nos conta 1955 266 que Freud considerava este o melhor da presente série de trabalhos técnicos Uma carta escrita por Freud a Ferenczi em 13 de dezembro de 1931 com respeito às inovações técnicas introduzidas pelo último constitui interessante pósescrito a este artigo Ela foi publicada pelo Dr Jones quase no final do Capítulo IV de seu terceiro volume da biografia de Freud 1957 174 e segs OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE III Todo principiante em psicanálise provavelmente se sente alarmado de início pelas dificuldades que lhe estão reservadas quando vier a interpretar as associações do paciente e lidar com a reprodução do reprimido Quando chega a ocasião contudo logo aprende a encarar estas dificuldades como insignificantes e ao invés 1422014 Vol XII 8 OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE III httpwwwfreudonlinecombrlivrosvolume12volxii8observacoessobreoamortransferencialnovasrecomendacoessobreatecnicadapsicanaliseii 29 fica convencido de que as únicas dificuldades realmente sérias que tem de enfrentar residem no manejo da transferência Entre as situações que surgem a este respeito selecionarei uma que é muito nitidamente definida e selecioná laei em parte porque ocorre muito amiúde e é tão importante em seus aspectos reais e em parte devido ao seu interesse teórico O que tenho em mente é o caso em que uma paciente demonstra mediante indicações inequívocas ou declara abertamente que se enamorou como qualquer outra mulher mortal poderia fazêlo do médico que a está analisando Esta situação tem seus aspectos aflitivos e cômicos bem como os sérios Ela é também determinada por tantos e tão complicados fatores é tão inevitável e tão difícil de esclarecer que uma discussão sobre o assunto para atender a uma necessidade vital da técnica analítica já há muito se fazia necessária Mas visto que nós que rimos das fraquezas de outras pessoas nem sempre estamos livres delas até agora não estivemos precisamente apressados em cumprir esta tarefa Deparamos constantemente com a obrigação à discrição profissional discrição que não se pode dispensar na vida real mas que é inútil em nossa ciência Na medida em que as publicações psicanalíticas também fazem parte da vida real temos aqui uma contradição insolúvel Recentemente desprezei esta questão da discrição a certa altura e demonstrei como esta mesma situação transferencial retardou o desenvolvimento da terapia psicanalítica durante sua primeira década Para um leigo instruído a pessoa civilizada ideal em relação à psicanálise as coisas que se relacionam com o amor são incomensuráveis achamse por assim dizer escritas numa página especial em que nenhum outro texto é tolerado Se uma paciente enamorouse de seu médico parece a tal leigo que são possíveis apenas dois desfechos Um que acontece de modo comparativamente raro é que todas as circunstâncias permitam uma união legal e permanente entre eles o outro mais freqüente é que médico e paciente se separem e abandonem o trabalho que começaram e que deveria levar ao restabelecimento dela como se houvesse sido interrompido por algum fenômeno elementar Há sem dúvida um terceiro desfecho concebível que até mesmo parece compatível com a continuação do tratamento É que eles iniciam um relacionamento amoroso ilícito e que não se destina a durar para sempre Mas esse caminho é impossível por causa da moralidade convencional e dos padrões profissionais Não obstante o nosso leigo implorará ao analista que lhe assegure tão inequivocamente quanto possível que esta terceira alternativa se acha excluída É claro que um psicanalista tem de encarar as coisas de um ponto de vista diferente Tomemos o caso do segundo desfecho da situação que estamos considerando Após a paciente terse enamorado de seu médico eles se separam o tratamento é abandonado Mas logo o estado da paciente obriga a a fazer uma segunda tentativa de análise com outro médico O que acontece a seguir é que ela sente se ter enamorado deste segundo médico também e se romper com ele e recomeçar outra vez o mesmo acontecerá com o terceiro médico e assim por diante Este fenômeno que ocorre constantemente e que é como sabemos um dos fundamentos da teoria psicanalítica pode ser avaliado a partir de dois pontos de vista o do médico e o da paciente que dele necessita Para o médico o fenômeno significa um esclarecimento valioso e uma advertência útil contra qualquer tendência a uma contratransferência que pode estar presente em sua própria mente Ele deve reconhecer que o enamoramento da paciente é induzido pela situação analítica e não deve ser atribuído aos encantos de sua própria pessoa de maneira que não tem nenhum motivo para orgulharse de tal conquista como seria chamada fora da análise E é sempre bom lembrarse disto Para a paciente contudo há duas alternativas abandonar o tratamento psicanalítico ou aceitar enamorarse de seu médico como um destino inelutável Não tenho dúvida de que os parentes e amigos da paciente se decidirão enfaticamente pela primeira destas duas alternativas assim como o analista optará pela segunda Mas acho que temos aqui um caso em que a decisão não pode ser deixada ao terno ou antes egoísta e ciumento cuidado dos parentes Somente o bem 1422014 Vol XII 8 OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE III httpwwwfreudonlinecombrlivrosvolume12volxii8observacoessobreoamortransferencialnovasrecomendacoessobreatecnicadapsicanaliseii 39 estar da paciente deveria ser a pedra de toque o amor dos parentes não pode insistir que é indispensável para a consecução de certos fins Qualquer parente que adote a atitude de Tolstoi em relação ao problema pode permanecer na posse imperturbada de sua esposa ou filha mas terá de tentar suportar o fato de que ela de sua parte mantém a neurose e a interferência com sua capacidade de amar que aquela acarreta A situação afinal é semelhante à de um tratamento ginecológico Além disso o pai ou marido ciumento está grandemente equivocado se pensa que a paciente escapará de enamorarse do médico se ele entregála a algum outro tipo de tratamento que não a análise para combaterlhe a neurose Pelo contrário a única diferença será que um amor deste tipo fadado a permanecer oculto e não analisado nunca poderá prestar ao restabelecimento da paciente a contribuição que a análise dele teria extraído Chegou ao meu conhecimento que alguns médicos que praticam a análise preparam freqüentemente suas pacientes para o surgimento da transferência erótica ou até mesmo as instam a ir em frente a enamorarse do médico de modo a que o tratamento possa progredir Dificilmente posso imaginar procedimento mais insensato Assim procedendo o analista priva o fenômeno do elemento de espontaneidade que é tão convincente e cria para si próprio no futuro obstáculos difíceis de superar À primeira vista certamente não parece que o fato de a paciente se enamorar na transferência possa resultar em qualquer vantagem para o tratamento Por mais dócil que tenha sido até então ela repentinamente perde toda a compreensão do tratamento e todo o interesse nele e não falará ou ouvirá a respeito de nada que não seja o seu amor que exige que seja retribuído Abandona seus sintomas ou não lhes presta atenção na verdade declara que está boa Há uma completa mudança de cena é como se uma peça de fingimento houvesse sido interrompida pela súbita irrupção da realidade como quando por exemplo um grito de incêndio se erguer durante uma representação teatral Nenhum médico que experimente isto pela primeira vez achará fácil manter o controle sobre o tratamento analítico e livrarse da ilusão de que o tratamento realmente chegou ao fim Uma pequena reflexão capacitanos a encontrar orientação Primeiro e antes de tudo mantémse na mente a suspeita de que tudo que interfere com a continuação do tratamento pode constituir expressão da resistência Não pode haver dúvida de que a irrupção de uma apaixonada exigência de amor é em grande parte trabalho da resistência Há muito notaramse na paciente sinais de uma transferência afetuosa e pôdese ter certeza de que a docilidade dela sua aceitação das explicações analíticas sua notável compreensão e o alto grau de inteligência que apresentava deveriam ser atribuídos a esta atitude em relação ao médico Agora tudo isto passou Ela ficou inteiramente sem compreensão interna insight e parece estar absorvida em seu amor Ademais esta modificação ocorre muito regularmente na ocasião precisa em que se está tentando levála a admitir ou recordar algum fragmento particularmente aflitivo e pesadamente reprimido da história da sua vida Ela esteve enamorada portanto por longo tempo mas agora a resistência está começando a utilizar seu amor a fim de estorvar a continuação do tratamento desviar todo o seu interesse do trabalho e colocar o analista em posição canhestra Se se examinar a situação mais de perto reconhecese a influência de motivos que complicam ainda mais as coisas dos quais alguns achamse vinculados ao enamoramento e outros são expressões específicas da resistência Do primeiro tipo são os esforços da paciente em certificarse de sua irresistibilidade em destruir a autoridade do médico rebaixandoo ao nível de amante e em conquistar todas as outras vantagens prometidas que são incidentais à satisfação do amor Com referência à resistência podemos suspeitar que ocasionalmente ela faz uso de uma declaração de amor da paciente como meio de colocar à prova a severidade do analista de maneira que se ele mostra sinais de complacência pode esperar se chamado à ordem por isso Acima de tudo porém ficase com a impressão de que a resistência está agindo como um agent provocateur ela intensifica o estado amoroso da paciente e exagera sua disposição à rendição sexual a fim de justificar ainda mais enfaticamente o funcionamento da repressão ao apontar os perigos de tal licenciosidade Todos 1422014 Vol XII 8 OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE III httpwwwfreudonlinecombrlivrosvolume12volxii8observacoessobreoamortransferencialnovasrecomendacoessobreatecnicadapsicanaliseii 49 estes motivos acessórios que em casos mais simples podem não se achar presente foram como sabemos encarados por Adler como parte essencial de todo o processo Mas como deve o analista comportarse a fim de não fracassar nessa situação se estiver persuadido de que o tratamento deve ser levado avante apesar desta transferência erótica e que deve enfrentála com calma Sermeia fácil enfatizar os padrões universalmente aceitos de moralidade e insistir que o analista nunca deve em quaisquer circunstâncias aceitar ou retribuir os ternos sentimentos que lhe são oferecidos que ao invés disso deve ponderar que chegou sua vez de apresentar à mulher que o ama as exigências da moralidade social e a necessidade de renúncia conseguir fazêlas abandonar seus desejos e havendo dominado o lado animal do seu eu self prosseguir com o trabalho da análise Não atenderei contudo a estas expectativas nem a primeira nem a segunda delas A primeira porque não estou escrevendo para pacientes mas sim para médicos que têm sérias dificuldades com que lutar e também porque neste caso posso remontar a prescrição moral à sua fonte ou seja a conveniência Encontrome nesta ocasião na feliz posição de poder substituir o impedimento moral por considerações de técnica analítica sem qualquer alteração no resultado Ainda mais decididamente contudo recusome a atender à segunda das expectativas que mencionei Instigar a paciente a suprimir renunciar ou sublimar seus instintos no momento em que ela admitiu sua transferência erótica seria não uma maneira analítica de lidar com eles mas uma maneira insensata Seria exatamente como se após invocar um espírito dos infernos mediante astutos encantamentos devêssemos mandálo de volta para baixo sem lhe haver feito uma única pergunta Terseia trazido o reprimido à consciência apenas para reprimilo mais uma vez um susto Não devemos iludirnos sobre o êxito de qualquer procedimento desse tipo Como sabemos as paixões pouco são afetadas por discursos sublimes A paciente sentirá apenas humilhação e não deixará de vingarse por ela Tampouco posso eu advogar um caminho intermediário que a certas pessoas se recomendaria como especialmente engenhoso Consistiria em declarar que se retribuem os amorosos sentimentos da paciente mas ao mesmo tempo em evitar qualquer complementação física desta afeição até que se possa orientar o relacionamento para canais mais calmos e eleválo a um nível mais alto Minha objeção a este expediente é que o tratamento analítico se baseia na sinceridade e neste fato reside grande parte de seu efeito educativo e de seu valor ético É perigoso desviarse deste fundamento Todo aquele que se tenha embebido na técnica analítica não mais será capaz de fazer uso das mentiras e fingimentos que um médico normalmente acha inevitáveis e se com a melhor das intenções tentar fazêlo é muito provável que se traia Visto exigirmos estrita sinceridade de nossos pacientes colocamos em perigo toda a nossa autoridade se nos deixarmos ser por eles apanhados num desvio da verdade Além disso a experiência de se deixar levar um pouco por sentimentos ternos em relação à paciente não é inteiramente sem perigo Nosso controle sobre nós mesmos não é tão completo que não possamos subitamente um dia ir mais além do que havíamos pretendido Em minha opinião portanto não devemos abandonar a neutralidade para com a paciente que adquirimos por manter controlada a contratransferência Já deixei claro que a técnica analítica exige do médico que ele negue à paciente que anseia por amor a satisfação que ela exige O tratamento deve ser levado a cabo na abstinência Com isto não quero significar apenas a abstinência física nem a privação de tudo o que a paciente deseja pois talvez nenhuma pessoa enferma pudesse tolerar isto Em vez disso fixarei como princípio fundamental que se deve permitir que a necessidade e anseio da paciente nela persistam a fim de poderem servir de forças que a incitem a trabalhar e efetuar mudanças e que devemos cuidar de apaziguar estas forças por meio de substitutos O que poderíamos oferecer nunca seria mais que um substituto pois a condição da paciente é tal que até que suas repressões sejam removidas ela é incapaz de alcançar satisfação real 1422014 Vol XII 8 OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE III httpwwwfreudonlinecombrlivrosvolume12volxii8observacoessobreoamortransferencialnovasrecomendacoessobreatecnicadapsicanaliseii 59 Admitamos que este princípio fundamental de o tratamento ser levado a cabo na abstinência estendase muito além do caso isolado que estamos aqui considerando e que ele necessite ser completamente debatido a fim de podermos definir os limites de sua possível aplicação Todavia abordaremos agora este assunto mas manter nosemos tão próximos quanto possível da situação de que partimos O que aconteceria se o médico se comportasse diferentemente e supondo que ambas as partes fossem livres se aproveitasse dessa liberdade para retribuir o amor da paciente e acalmar sua necessidade de afeição Se ele houvesse sido guiado pelo cálculo de que esta concordância de sua parte lhe garantiria o domínio sobre a paciente e assim capacitáloia a influenciála a realizar as tarefas exigidas pelo tratamento e dessa maneira liberarse permanentemente de sua neurose então a experiência inevitavelmente mostrarlheia que seu cálculo estava errado A paciente alcançaria o objetivo dela mas ele nunca alcançaria o seu O que aconteceria ao médico e à paciente seria apenas o que aconteceu segundo a divertida anedota ao pastor e ao corretor de seguros O corretor de seguros livre pensador estava à morte e seus parentes insistiram em trazer um homem de deus para convertêlo antes de morrer A entrevista durou tanto tempo que aqueles que esperavam do lado de fora começaram a ter esperanças Por fim a porta do quarto do doente se abriu O livre pensador não havia sido convertido mas o pastor foi embora com um seguro Se os avanços da paciente fossem retribuídos isso constituiria grande triunfo para ela mas uma derrota completa para o tratamento Ela teria alcançado sucesso naquilo por que todos os pacientes lutam na análise teria tido êxito em atuar acting out em repetir na vida real o que deveria apenas ter lembrado reproduzido como material psíquico e mantido dentro da esfera dos eventos psíquicos No curso ulterior do relacionamento amoroso ela expressaria todas as inibições e reações patológicas de sua vida erótica sem que houvesse qualquer possibilidade de corrigilas e o episódio penoso terminaria em remorso e num grande fortalecimento de sua propensão à repressão O relacionamento amoroso em verdade destrói a suscetibilidade da paciente à influência do tratamento analítico Uma combinação dos dois seria impossível É portanto tão desastroso para a análise que o anseio da paciente por amor seja satisfeito quanto que seja suprimido O caminho que o analista deve seguir não é nenhum destes é um caminho para o qual não existe modelo na vida real Ele tem de tomar cuidado para não se afastar do amor transferencial repelilo ou tornálo desagradável para a paciente mas deve de modo igualmente resoluto recusarlhe qualquer retribuição Deve manter um firme domínio do amor transferencial mas tratálo como algo irreal como uma situação que se deve atravessar no tratamento e remontar às suas origens inconscientes e que pode ajudar a trazer tudo que se acha muito profundamente oculto na vida erótica da paciente para sua consciência e portanto para debaixo de seu controle Quanto mais claramente o analista permite que se perceba que ele está à prova de qualquer tentação mais prontamente poderá extrair da situação seu conteúdo analítico A paciente cuja repressão sexual naturalmente ainda não foi removida mas simplesmente empurrada para segundo plano sentirseá então segura o bastante para permitir que todas as suas precondições para amar todas as fantasias que surgem de seus desejos sexuais todas as características pormenorizadas de seu estado amoroso venham à luz A partir destas ela própria abrirá o caminho para as raízes infantis de seu amor Existe é verdade determinada classe de mulheres com quem esta tentativa de preservar a transferência erótica para fins do trabalho analítico sem satisfazêla não logrará êxito Tratase de mulheres de paixões poderosas que não toleram substitutos São filhas da natureza que se recusam a aceitar o psíquico em lugar do material e que nas palavras do poeta são acessíveis apenas à lógica da sopa com bolinhos por argumentos Suppenlongik mit Knödelgründen de Die Wanderraten de Heine Transcrito erradamente por Freud Knödelargumenten Com tais pessoas temse de escolher entre retribuir seu amor ou então acarretar para si toda a inimizade de uma mulher desprezada Em nenhum dos casos se podem salvaguardar os interesses do tratamento Temse de bater em retirada sem sucesso e tudo o que se pode fazer é revolver na própria mente o problema de como é que uma capacidade de neurose se liga a tão obstinada necessidade de 1422014 Vol XII 8 OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE III httpwwwfreudonlinecombrlivrosvolume12volxii8observacoessobreoamortransferencialnovasrecomendacoessobreatecnicadapsicanaliseii 69 amor Muitos analistas indubitavelmente estarão de acordo sobre o método pelo qual outras mulheres menos violentas em seu amor podem ser gradativamente levadas a adotar a atitude analítica O que fazemos acima de tudo é acentuar para a paciente o elemento inequívoco de resistência nesse amor O amor genuíno dizemos tornálaia dócil e intensificaria sua presteza em solucionar os problemas de seu caso simplesmente porque o homem de quem está enamorada espera isso dela Em tal caso ela alegremente escolheria a estrada da conclusão do tratamento a fim de adquirir valor aos olhos do médico e prepararse para a vida real onde este sentimento de amor poderia encontrar lugar adequado Em vez disso apontamos nós ela está mostrando um espírito teimoso e rebelde abandonou todo o interesse no tratamento e claramente não sente respeito pelas convicções bem fundadas do médico Está assim expressando uma resistência sob o disfarce de estar enamorada dele e além disso não se compunge por colocálo numa situação difícil Pois se ele recusa seu amor como o dever e a compreensão compelemno a fazer ela pode representar o papel de mulher desprezada e então afastarse de seus esforços terapêuticos por vingança e ressentimento exatamente como agora está fazendo por amor ostensivo Como segundo argumento contra a genuinidade desse amor apresentamos o fato de que ele não exibe uma só característica nova que se origine da situação atual mas compõese inteiramente de repetições e cópias de reações anteriores inclusive infantis Prometemos provar isso mediante uma análise pormenorizada do comportamento da paciente no amor Se se acrescenta a dose necessária de paciência a estes argumentos é geralmente possível superar a difícil situação e continuar o trabalho com um amor que foi moderado ou transformado o trabalho visa então a desvendar a escolha objetal infantil da paciente e as fantasias tecidas ao redor dela Todavia gostaria agora de examinar estes argumentos com olhos críticos e levantar a questão de saber se apresentandoos à paciente estamos realmente dizendo a verdade ou se não nos estamos valendo em nosso desespero de ocultamentos e deturpações Em outras palavras podemos verdadeiramente dizer que o estado de enamoramento que se manifesta no tratamento analítico não é real Acho que dissemos à paciente a verdade mas não toda a verdade sem atentar para as conseqüências Dos nossos dois argumentos o primeiro é o mais forte O papel desempenhado pela resistência no amor transferencial é inquestionável e muito considerável Entretanto a resistência afinal de contas não cria esse amor encontrao pronto à mão faz uso dele e agrava suas manifestações Tampouco a genuinidade do fenômeno deixa de ser provada pela resistência O segundo argumento é muito mais débil É verdade que o amor consiste em novas adições de antigas características e que ele repete reações infantis Mas este é o caráter essencial de todo estado amoroso Não existe estado deste tipo que não reproduza protótipos infantis É precisamente desta determinação infantil que ele recebe seu caráter compulsivo beirando como o faz o patológico O amor transferencial possui talvez um grau menor de liberdade do que o amor que aparece na vida comum e é chamado de normal ele exibe sua dependência do padrão infantil mais claramente e é menos adaptável e capaz de modificação mas isso é tudo e não o que é essencial Por que outros sinais pode a genuinidade de um amor ser reconhecida Por sua eficácia sua utilidade em alcançar o objetivo do amor A esse respeito o amor transferencial não parece ficar devendo nada a ninguém temse a impressão de que se poderia obter dele qualquer coisa Resumamos portanto Não temos o direito de contestar que o estado amoroso que faz seu aparecimento no decurso do tratamento analítico tenha o caráter de um amor genuíno Se parece tão desprovido de normalidade isto é suficientemente explicado pelo fato de que estar enamorado na vida comum fora da análise é também mais semelhante aos fenômenos mentais anormais que aos normais Não obstante o amor 1422014 Vol XII 8 OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE III httpwwwfreudonlinecombrlivrosvolume12volxii8observacoessobreoamortransferencialnovasrecomendacoessobreatecnicadapsicanaliseii 79 transferencial caracterizase por certos aspectos que lhe asseguram posição especial Em primeiro lugar é provocado pela situação analítica em segundo é grandemente intensificado pela resistência que domina a situação e em terceiro faltalhe em alto grau consideração pela realidade é menos sensato menos interessado nas conseqüências e mais ego em sua avaliação da pessoa amada do que estamos preparados para admitir no caso do amor normal Não devemos esquecer contudo que esses afastamentos da norma constituem precisamente aquilo que é essencial a respeito de estar enamorado Quanto à linha de ação do analista é a primeira destas três características do amor transferencial que constitui o fator decisivo Ele evocou este amor ao instituir o tratamento analítico a fim de curar a neurose Para ele tratase de conseqüência inevitável de uma situação médica tal como a exposição do corpo de um paciente ou a comunicação de um segredo vital Élhe portanto evidente que não deve tirar qualquer vantagem pessoal disso A disposição da paciente não faz diferença simplesmente lança toda a responsabilidade sobre o próprio analista Na verdade como ele deve saber a paciente não se preparara para nenhum outro mecanismo de cura Após todas as dificuldades haverem sido triunfantemente superadas ela muitas vezes confessará ter tido uma fantasia antecipatória na ocasião em que começou o tratamento no sentido de que se se comportasse bem seria recompensada no final pela afeição do médico Para o médico motivos éticos unemse aos técnicos para impedilo de dar à paciente seu amor O objetivo que tem de manter em vista é que a essa mulher cuja capacidade de amor achase prejudicada por fixações infantis deve adquirir pleno controle de uma função que lhe é de tão inestimável importância que ela não deve porém dissipálo no tratamento mas mantêla pronta para o momento em que após o tratamento as exigências da vida real se fazem sentir Ele não deve encenar a situação de uma corrida de cães em que o prêmio deveria ser uma guirlanda de salsichas mas que algum humorista estragou ao atirar uma salsicha na pista O resultado foi naturalmente que os cães se atiraram sobre ela e esqueceram tudo sobre a corrida e sobre a guirlanda que os atraía à vitória muito distante Não quero dizer que é sempre fácil ao médico se manter dentro dos limites prescritos pela ética e pela técnica Aqueles que ainda são jovens e não estão ligados por fortes laços podem em particular achálo tarefa árdua O amor sexual é indubitavelmente uma das principais coisas da vida e a união da satisfação mental e física no gozo do amor constitui um de seus pontos culminantes À parte alguns excêntricos fanáticos todos sabem disso e conduzem sua vida dessa maneira só a ciência é refinada demais para admitilo Por outro lado quando uma mulher solicita amor rejeitála e recusála constitui papel penoso para um homem desempenhar e apesar da neurose e da resistência existe um fascínio incomparável numa mulher de elevados princípios que confessa sua paixão Não são os desejos cruamente sensuais da paciente que constituem a tentação É mais provável que estes repugnem e encarálos como fenômeno natural exigirá toda a tolerância do médico São talvez os desejos de mulher mais sutis e inibidos em seu propósito que trazem consigo o perigo de fazer um homem esquecer sua técnica e sua missão médica no interesse de uma bela experiência E no entanto é inteiramente impossível para o analista ceder Por mais alto que possa prezar o amor tem de prezar ainda mais a oportunidade de ajudar sua paciente a passar por um estádio decisivo de sua vida Ela tem de aprender com ele a superar o princípio do prazer e abandonar uma satisfação que se acha à mão mas que socialmente não é aceitável em favor de outra mais distante talvez inteiramente incerta mas que é psicológica e socialmente irrepreensível Para conseguir esta superação ela tem de ser conduzida através do período primevo de seu desenvolvimento mental e nesse caminho tem de adquirir a parte adicional de liberdade mental que distingue a atividade mental consciente no sentido sistemático da inconsciente O psicoterapeuta analítico tem assim uma batalha tríplice a travar em sua própria mente contra as forças que procuram arrastálo para abaixo do nível analítico fora da análise contra opositores que discutem a importância que ele dá às forças instintuais sexuais e impedemnos de fazer uso delas em sua técnica científica e dentro da análise contra as pacientes que a princípio comportamse como opositores mas 1422014 Vol XII 8 OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE III httpwwwfreudonlinecombrlivrosvolume12volxii8observacoessobreoamortransferencialnovasrecomendacoessobreatecnicadapsicanaliseii 89 posteriormente revelam a supervalorização da vida sexual que as domina e tentam tornálo cativo de sua paixão socialmente indomada O público leigo sobre cuja atitude em relação à psicanálise falei no início indubitavelmente apossarseá deste debate do amor transferencial como mais outra oportunidade de dirigir a atenção do mundo para o sério perigo desse método terapêutico O psicanalista sabe que está trabalhando com forças altamente explosivas e que precisa avançar com tanto cautela e escrúpulo quanto um químico Mas quando foram os químicos proibidos devido ao perigo de manejar substâncias explosivas que são indispensáveis por causa de seus efeitos É digno de nota que a psicanálise tenha de conquistar para a própria de novo todas as liberdades que há muito tempo foram concebidas a outras atividades médicas Certamente não sou favorável a abandonar os métodos inócuos de tratamento Para muitos casos eles são suficientes e quando tudo está dito a sociedade humana não tem mais uso para o furor senandi do que para qualquer outro fanatismo Mas acreditar que as neuroses podem ser vencidas pela administração de remediozinhos inócuos é subestimar grosseiramente esses distúrbios tanto quanto à sua origem quanto à sua importância prática Não na clínica médica sempre haverá lugar para o ferrum e para o ignis lado a lado com as medicinas e da mesma maneira nunca seremos capazes de passar sem uma psicanálise estritamente regular e forte que não tenha medo de manejar os mais perigosos impulsos mentais e de obter domínio sobre eles em benefício do paciente APÊNDICE RELAÇÃO DOS TRABALHOS DE FREUD QUE TRATAM PRINCIPALMENTE DA TÉCNICA PSICANALÍTICA E DA TEORIA DA PSICOTERAPIA A data ao início de cada título é a do ano durante o qual o trabalho em apreço foi provavelmente escrito A data ao final é a da publicação e sob esta data pormenores mais completos da obra serão encontrados na Bibliografia e Índice Remissivo de Autores 1888 Crítica de Der Hypnotismus de Forel 1889a 1888 Introdução à tradução de De la suggestion de Bernheim 18889 1890 Tratamento Psíquico ou Mental 1890a 1891 Hipnose em Therapeutisches Lexikon de Bum 1891d 1892 Um Caso de Tratamento Bem Sucedido pelo Hipnotismo 189293b 1895 Estudos sobre a Histeria Parte IV 1895d 1898 A Sexualidade na Etiologia das Neuroses última parte 1898a 1899 A Interpretação de Sonhos Capítulo H primeira parte 1900a 1901 Fragmento de uma Análise de um Caso de Histeria Capítulo IV 1905e 1903 O Procedimento Psicanalítico de Freud 1904a 1904 Sobre a Psicoterapia 1905a 1910 As Perspectivas Futuras da Terapia Psicanalítica 1910d 1910 Psicanálise Silvestre 1910k 1911 O Manejo da Interpretação de Sonhos na Psicanálise 1911e 1422014 Vol XII 8 OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE III httpwwwfreudonlinecombrlivrosvolume12volxii8observacoessobreoamortransferencialnovasrecomendacoessobreatecnicadapsicanaliseii 99 1912 A Dinâmica da Transferência 1912b 1912 Recomendações aos Médicos que Exercem a Psicanálise 1912e 1913 Sobre o Início do Tratamento 1913c 1914 Fausse Reconnaissance déjà raconté no Tratamento Psicanalítico 1914a 1914 Recordar Repetir e Elaborar 1914g 1914 Observações sobre o Amor Transferencial 1915a 1917 Conferências Introdutórias sobre Psicanálise Conferências XXVII e XXVIII 191617 1918 Linhas de Avanço na Terapia Psicanalítica 1919a 1920 Além do Princípio de Prazer Capítulo III 1920g 1923 Considerações sobre a Teoria e Prática da Interpretação de Sonhos 1923c 1926 A Questão da Análise Leiga Capítulo V 1926e 1932 Novas Conferências Introdutórias sobre Psicanálise Conferência XXXIV última parte 1933a 1937 Análise Terminável e Interminável 1937c 1937 Construções em Análise 1937d 1938 Compêndio de Psicanálise Capítulo VI 1940a Freud Online Orgulhosamente criado com WordPress
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1422014 Vol XII 8 OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE III httpwwwfreudonlinecombrlivrosvolume12volxii8observacoessobreoamortransferencialnovasrecomendacoessobreatecnicadapsicanaliseii 19 Vol XII 8 OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE III 1915 1914 NOTA DO EDITOR INGLÊS BEMERKUNGEN ÜBER DIE ÜBERTRAGUNGSLIEBE a EDIÇÕES ALEMÃS 1915 Int Z Psychoanl 3 1 111 1918 S D S N 4 45369 1922 2ª ed 1924 Technik und Metapsychol 12035 1925 G S 6 12035 1931 Neurosenlehre und Technik 38596 1946 G W 10 30621 b TRADUÇÃO INGLESA Further Recommendations in the Technique of PsychoAnalysis Observations on TransferenceLove 1924 CP 2 37791 Trad de Joan Riviere A presente traducão inglesa com o título alterado é versão modificada da publicada em 1924 Quando este artigo foi publicado pela primeira vez em começos de 1915 seu título era Weitere Ratschläge zur Technik der Psychoanalyse III Bemerkungen über die Übertragungsliebe O título da versão inglesa de 1924 tal como fornecido acima é tradução disto As edições alemãs de 1924 em diante adotaram o título mais curto O Dr Erneste Jones nos conta 1955 266 que Freud considerava este o melhor da presente série de trabalhos técnicos Uma carta escrita por Freud a Ferenczi em 13 de dezembro de 1931 com respeito às inovações técnicas introduzidas pelo último constitui interessante pósescrito a este artigo Ela foi publicada pelo Dr Jones quase no final do Capítulo IV de seu terceiro volume da biografia de Freud 1957 174 e segs OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE III Todo principiante em psicanálise provavelmente se sente alarmado de início pelas dificuldades que lhe estão reservadas quando vier a interpretar as associações do paciente e lidar com a reprodução do reprimido Quando chega a ocasião contudo logo aprende a encarar estas dificuldades como insignificantes e ao invés 1422014 Vol XII 8 OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE III httpwwwfreudonlinecombrlivrosvolume12volxii8observacoessobreoamortransferencialnovasrecomendacoessobreatecnicadapsicanaliseii 29 fica convencido de que as únicas dificuldades realmente sérias que tem de enfrentar residem no manejo da transferência Entre as situações que surgem a este respeito selecionarei uma que é muito nitidamente definida e selecioná laei em parte porque ocorre muito amiúde e é tão importante em seus aspectos reais e em parte devido ao seu interesse teórico O que tenho em mente é o caso em que uma paciente demonstra mediante indicações inequívocas ou declara abertamente que se enamorou como qualquer outra mulher mortal poderia fazêlo do médico que a está analisando Esta situação tem seus aspectos aflitivos e cômicos bem como os sérios Ela é também determinada por tantos e tão complicados fatores é tão inevitável e tão difícil de esclarecer que uma discussão sobre o assunto para atender a uma necessidade vital da técnica analítica já há muito se fazia necessária Mas visto que nós que rimos das fraquezas de outras pessoas nem sempre estamos livres delas até agora não estivemos precisamente apressados em cumprir esta tarefa Deparamos constantemente com a obrigação à discrição profissional discrição que não se pode dispensar na vida real mas que é inútil em nossa ciência Na medida em que as publicações psicanalíticas também fazem parte da vida real temos aqui uma contradição insolúvel Recentemente desprezei esta questão da discrição a certa altura e demonstrei como esta mesma situação transferencial retardou o desenvolvimento da terapia psicanalítica durante sua primeira década Para um leigo instruído a pessoa civilizada ideal em relação à psicanálise as coisas que se relacionam com o amor são incomensuráveis achamse por assim dizer escritas numa página especial em que nenhum outro texto é tolerado Se uma paciente enamorouse de seu médico parece a tal leigo que são possíveis apenas dois desfechos Um que acontece de modo comparativamente raro é que todas as circunstâncias permitam uma união legal e permanente entre eles o outro mais freqüente é que médico e paciente se separem e abandonem o trabalho que começaram e que deveria levar ao restabelecimento dela como se houvesse sido interrompido por algum fenômeno elementar Há sem dúvida um terceiro desfecho concebível que até mesmo parece compatível com a continuação do tratamento É que eles iniciam um relacionamento amoroso ilícito e que não se destina a durar para sempre Mas esse caminho é impossível por causa da moralidade convencional e dos padrões profissionais Não obstante o nosso leigo implorará ao analista que lhe assegure tão inequivocamente quanto possível que esta terceira alternativa se acha excluída É claro que um psicanalista tem de encarar as coisas de um ponto de vista diferente Tomemos o caso do segundo desfecho da situação que estamos considerando Após a paciente terse enamorado de seu médico eles se separam o tratamento é abandonado Mas logo o estado da paciente obriga a a fazer uma segunda tentativa de análise com outro médico O que acontece a seguir é que ela sente se ter enamorado deste segundo médico também e se romper com ele e recomeçar outra vez o mesmo acontecerá com o terceiro médico e assim por diante Este fenômeno que ocorre constantemente e que é como sabemos um dos fundamentos da teoria psicanalítica pode ser avaliado a partir de dois pontos de vista o do médico e o da paciente que dele necessita Para o médico o fenômeno significa um esclarecimento valioso e uma advertência útil contra qualquer tendência a uma contratransferência que pode estar presente em sua própria mente Ele deve reconhecer que o enamoramento da paciente é induzido pela situação analítica e não deve ser atribuído aos encantos de sua própria pessoa de maneira que não tem nenhum motivo para orgulharse de tal conquista como seria chamada fora da análise E é sempre bom lembrarse disto Para a paciente contudo há duas alternativas abandonar o tratamento psicanalítico ou aceitar enamorarse de seu médico como um destino inelutável Não tenho dúvida de que os parentes e amigos da paciente se decidirão enfaticamente pela primeira destas duas alternativas assim como o analista optará pela segunda Mas acho que temos aqui um caso em que a decisão não pode ser deixada ao terno ou antes egoísta e ciumento cuidado dos parentes Somente o bem 1422014 Vol XII 8 OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE III httpwwwfreudonlinecombrlivrosvolume12volxii8observacoessobreoamortransferencialnovasrecomendacoessobreatecnicadapsicanaliseii 39 estar da paciente deveria ser a pedra de toque o amor dos parentes não pode insistir que é indispensável para a consecução de certos fins Qualquer parente que adote a atitude de Tolstoi em relação ao problema pode permanecer na posse imperturbada de sua esposa ou filha mas terá de tentar suportar o fato de que ela de sua parte mantém a neurose e a interferência com sua capacidade de amar que aquela acarreta A situação afinal é semelhante à de um tratamento ginecológico Além disso o pai ou marido ciumento está grandemente equivocado se pensa que a paciente escapará de enamorarse do médico se ele entregála a algum outro tipo de tratamento que não a análise para combaterlhe a neurose Pelo contrário a única diferença será que um amor deste tipo fadado a permanecer oculto e não analisado nunca poderá prestar ao restabelecimento da paciente a contribuição que a análise dele teria extraído Chegou ao meu conhecimento que alguns médicos que praticam a análise preparam freqüentemente suas pacientes para o surgimento da transferência erótica ou até mesmo as instam a ir em frente a enamorarse do médico de modo a que o tratamento possa progredir Dificilmente posso imaginar procedimento mais insensato Assim procedendo o analista priva o fenômeno do elemento de espontaneidade que é tão convincente e cria para si próprio no futuro obstáculos difíceis de superar À primeira vista certamente não parece que o fato de a paciente se enamorar na transferência possa resultar em qualquer vantagem para o tratamento Por mais dócil que tenha sido até então ela repentinamente perde toda a compreensão do tratamento e todo o interesse nele e não falará ou ouvirá a respeito de nada que não seja o seu amor que exige que seja retribuído Abandona seus sintomas ou não lhes presta atenção na verdade declara que está boa Há uma completa mudança de cena é como se uma peça de fingimento houvesse sido interrompida pela súbita irrupção da realidade como quando por exemplo um grito de incêndio se erguer durante uma representação teatral Nenhum médico que experimente isto pela primeira vez achará fácil manter o controle sobre o tratamento analítico e livrarse da ilusão de que o tratamento realmente chegou ao fim Uma pequena reflexão capacitanos a encontrar orientação Primeiro e antes de tudo mantémse na mente a suspeita de que tudo que interfere com a continuação do tratamento pode constituir expressão da resistência Não pode haver dúvida de que a irrupção de uma apaixonada exigência de amor é em grande parte trabalho da resistência Há muito notaramse na paciente sinais de uma transferência afetuosa e pôdese ter certeza de que a docilidade dela sua aceitação das explicações analíticas sua notável compreensão e o alto grau de inteligência que apresentava deveriam ser atribuídos a esta atitude em relação ao médico Agora tudo isto passou Ela ficou inteiramente sem compreensão interna insight e parece estar absorvida em seu amor Ademais esta modificação ocorre muito regularmente na ocasião precisa em que se está tentando levála a admitir ou recordar algum fragmento particularmente aflitivo e pesadamente reprimido da história da sua vida Ela esteve enamorada portanto por longo tempo mas agora a resistência está começando a utilizar seu amor a fim de estorvar a continuação do tratamento desviar todo o seu interesse do trabalho e colocar o analista em posição canhestra Se se examinar a situação mais de perto reconhecese a influência de motivos que complicam ainda mais as coisas dos quais alguns achamse vinculados ao enamoramento e outros são expressões específicas da resistência Do primeiro tipo são os esforços da paciente em certificarse de sua irresistibilidade em destruir a autoridade do médico rebaixandoo ao nível de amante e em conquistar todas as outras vantagens prometidas que são incidentais à satisfação do amor Com referência à resistência podemos suspeitar que ocasionalmente ela faz uso de uma declaração de amor da paciente como meio de colocar à prova a severidade do analista de maneira que se ele mostra sinais de complacência pode esperar se chamado à ordem por isso Acima de tudo porém ficase com a impressão de que a resistência está agindo como um agent provocateur ela intensifica o estado amoroso da paciente e exagera sua disposição à rendição sexual a fim de justificar ainda mais enfaticamente o funcionamento da repressão ao apontar os perigos de tal licenciosidade Todos 1422014 Vol XII 8 OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE III httpwwwfreudonlinecombrlivrosvolume12volxii8observacoessobreoamortransferencialnovasrecomendacoessobreatecnicadapsicanaliseii 49 estes motivos acessórios que em casos mais simples podem não se achar presente foram como sabemos encarados por Adler como parte essencial de todo o processo Mas como deve o analista comportarse a fim de não fracassar nessa situação se estiver persuadido de que o tratamento deve ser levado avante apesar desta transferência erótica e que deve enfrentála com calma Sermeia fácil enfatizar os padrões universalmente aceitos de moralidade e insistir que o analista nunca deve em quaisquer circunstâncias aceitar ou retribuir os ternos sentimentos que lhe são oferecidos que ao invés disso deve ponderar que chegou sua vez de apresentar à mulher que o ama as exigências da moralidade social e a necessidade de renúncia conseguir fazêlas abandonar seus desejos e havendo dominado o lado animal do seu eu self prosseguir com o trabalho da análise Não atenderei contudo a estas expectativas nem a primeira nem a segunda delas A primeira porque não estou escrevendo para pacientes mas sim para médicos que têm sérias dificuldades com que lutar e também porque neste caso posso remontar a prescrição moral à sua fonte ou seja a conveniência Encontrome nesta ocasião na feliz posição de poder substituir o impedimento moral por considerações de técnica analítica sem qualquer alteração no resultado Ainda mais decididamente contudo recusome a atender à segunda das expectativas que mencionei Instigar a paciente a suprimir renunciar ou sublimar seus instintos no momento em que ela admitiu sua transferência erótica seria não uma maneira analítica de lidar com eles mas uma maneira insensata Seria exatamente como se após invocar um espírito dos infernos mediante astutos encantamentos devêssemos mandálo de volta para baixo sem lhe haver feito uma única pergunta Terseia trazido o reprimido à consciência apenas para reprimilo mais uma vez um susto Não devemos iludirnos sobre o êxito de qualquer procedimento desse tipo Como sabemos as paixões pouco são afetadas por discursos sublimes A paciente sentirá apenas humilhação e não deixará de vingarse por ela Tampouco posso eu advogar um caminho intermediário que a certas pessoas se recomendaria como especialmente engenhoso Consistiria em declarar que se retribuem os amorosos sentimentos da paciente mas ao mesmo tempo em evitar qualquer complementação física desta afeição até que se possa orientar o relacionamento para canais mais calmos e eleválo a um nível mais alto Minha objeção a este expediente é que o tratamento analítico se baseia na sinceridade e neste fato reside grande parte de seu efeito educativo e de seu valor ético É perigoso desviarse deste fundamento Todo aquele que se tenha embebido na técnica analítica não mais será capaz de fazer uso das mentiras e fingimentos que um médico normalmente acha inevitáveis e se com a melhor das intenções tentar fazêlo é muito provável que se traia Visto exigirmos estrita sinceridade de nossos pacientes colocamos em perigo toda a nossa autoridade se nos deixarmos ser por eles apanhados num desvio da verdade Além disso a experiência de se deixar levar um pouco por sentimentos ternos em relação à paciente não é inteiramente sem perigo Nosso controle sobre nós mesmos não é tão completo que não possamos subitamente um dia ir mais além do que havíamos pretendido Em minha opinião portanto não devemos abandonar a neutralidade para com a paciente que adquirimos por manter controlada a contratransferência Já deixei claro que a técnica analítica exige do médico que ele negue à paciente que anseia por amor a satisfação que ela exige O tratamento deve ser levado a cabo na abstinência Com isto não quero significar apenas a abstinência física nem a privação de tudo o que a paciente deseja pois talvez nenhuma pessoa enferma pudesse tolerar isto Em vez disso fixarei como princípio fundamental que se deve permitir que a necessidade e anseio da paciente nela persistam a fim de poderem servir de forças que a incitem a trabalhar e efetuar mudanças e que devemos cuidar de apaziguar estas forças por meio de substitutos O que poderíamos oferecer nunca seria mais que um substituto pois a condição da paciente é tal que até que suas repressões sejam removidas ela é incapaz de alcançar satisfação real 1422014 Vol XII 8 OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE III httpwwwfreudonlinecombrlivrosvolume12volxii8observacoessobreoamortransferencialnovasrecomendacoessobreatecnicadapsicanaliseii 59 Admitamos que este princípio fundamental de o tratamento ser levado a cabo na abstinência estendase muito além do caso isolado que estamos aqui considerando e que ele necessite ser completamente debatido a fim de podermos definir os limites de sua possível aplicação Todavia abordaremos agora este assunto mas manter nosemos tão próximos quanto possível da situação de que partimos O que aconteceria se o médico se comportasse diferentemente e supondo que ambas as partes fossem livres se aproveitasse dessa liberdade para retribuir o amor da paciente e acalmar sua necessidade de afeição Se ele houvesse sido guiado pelo cálculo de que esta concordância de sua parte lhe garantiria o domínio sobre a paciente e assim capacitáloia a influenciála a realizar as tarefas exigidas pelo tratamento e dessa maneira liberarse permanentemente de sua neurose então a experiência inevitavelmente mostrarlheia que seu cálculo estava errado A paciente alcançaria o objetivo dela mas ele nunca alcançaria o seu O que aconteceria ao médico e à paciente seria apenas o que aconteceu segundo a divertida anedota ao pastor e ao corretor de seguros O corretor de seguros livre pensador estava à morte e seus parentes insistiram em trazer um homem de deus para convertêlo antes de morrer A entrevista durou tanto tempo que aqueles que esperavam do lado de fora começaram a ter esperanças Por fim a porta do quarto do doente se abriu O livre pensador não havia sido convertido mas o pastor foi embora com um seguro Se os avanços da paciente fossem retribuídos isso constituiria grande triunfo para ela mas uma derrota completa para o tratamento Ela teria alcançado sucesso naquilo por que todos os pacientes lutam na análise teria tido êxito em atuar acting out em repetir na vida real o que deveria apenas ter lembrado reproduzido como material psíquico e mantido dentro da esfera dos eventos psíquicos No curso ulterior do relacionamento amoroso ela expressaria todas as inibições e reações patológicas de sua vida erótica sem que houvesse qualquer possibilidade de corrigilas e o episódio penoso terminaria em remorso e num grande fortalecimento de sua propensão à repressão O relacionamento amoroso em verdade destrói a suscetibilidade da paciente à influência do tratamento analítico Uma combinação dos dois seria impossível É portanto tão desastroso para a análise que o anseio da paciente por amor seja satisfeito quanto que seja suprimido O caminho que o analista deve seguir não é nenhum destes é um caminho para o qual não existe modelo na vida real Ele tem de tomar cuidado para não se afastar do amor transferencial repelilo ou tornálo desagradável para a paciente mas deve de modo igualmente resoluto recusarlhe qualquer retribuição Deve manter um firme domínio do amor transferencial mas tratálo como algo irreal como uma situação que se deve atravessar no tratamento e remontar às suas origens inconscientes e que pode ajudar a trazer tudo que se acha muito profundamente oculto na vida erótica da paciente para sua consciência e portanto para debaixo de seu controle Quanto mais claramente o analista permite que se perceba que ele está à prova de qualquer tentação mais prontamente poderá extrair da situação seu conteúdo analítico A paciente cuja repressão sexual naturalmente ainda não foi removida mas simplesmente empurrada para segundo plano sentirseá então segura o bastante para permitir que todas as suas precondições para amar todas as fantasias que surgem de seus desejos sexuais todas as características pormenorizadas de seu estado amoroso venham à luz A partir destas ela própria abrirá o caminho para as raízes infantis de seu amor Existe é verdade determinada classe de mulheres com quem esta tentativa de preservar a transferência erótica para fins do trabalho analítico sem satisfazêla não logrará êxito Tratase de mulheres de paixões poderosas que não toleram substitutos São filhas da natureza que se recusam a aceitar o psíquico em lugar do material e que nas palavras do poeta são acessíveis apenas à lógica da sopa com bolinhos por argumentos Suppenlongik mit Knödelgründen de Die Wanderraten de Heine Transcrito erradamente por Freud Knödelargumenten Com tais pessoas temse de escolher entre retribuir seu amor ou então acarretar para si toda a inimizade de uma mulher desprezada Em nenhum dos casos se podem salvaguardar os interesses do tratamento Temse de bater em retirada sem sucesso e tudo o que se pode fazer é revolver na própria mente o problema de como é que uma capacidade de neurose se liga a tão obstinada necessidade de 1422014 Vol XII 8 OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE III httpwwwfreudonlinecombrlivrosvolume12volxii8observacoessobreoamortransferencialnovasrecomendacoessobreatecnicadapsicanaliseii 69 amor Muitos analistas indubitavelmente estarão de acordo sobre o método pelo qual outras mulheres menos violentas em seu amor podem ser gradativamente levadas a adotar a atitude analítica O que fazemos acima de tudo é acentuar para a paciente o elemento inequívoco de resistência nesse amor O amor genuíno dizemos tornálaia dócil e intensificaria sua presteza em solucionar os problemas de seu caso simplesmente porque o homem de quem está enamorada espera isso dela Em tal caso ela alegremente escolheria a estrada da conclusão do tratamento a fim de adquirir valor aos olhos do médico e prepararse para a vida real onde este sentimento de amor poderia encontrar lugar adequado Em vez disso apontamos nós ela está mostrando um espírito teimoso e rebelde abandonou todo o interesse no tratamento e claramente não sente respeito pelas convicções bem fundadas do médico Está assim expressando uma resistência sob o disfarce de estar enamorada dele e além disso não se compunge por colocálo numa situação difícil Pois se ele recusa seu amor como o dever e a compreensão compelemno a fazer ela pode representar o papel de mulher desprezada e então afastarse de seus esforços terapêuticos por vingança e ressentimento exatamente como agora está fazendo por amor ostensivo Como segundo argumento contra a genuinidade desse amor apresentamos o fato de que ele não exibe uma só característica nova que se origine da situação atual mas compõese inteiramente de repetições e cópias de reações anteriores inclusive infantis Prometemos provar isso mediante uma análise pormenorizada do comportamento da paciente no amor Se se acrescenta a dose necessária de paciência a estes argumentos é geralmente possível superar a difícil situação e continuar o trabalho com um amor que foi moderado ou transformado o trabalho visa então a desvendar a escolha objetal infantil da paciente e as fantasias tecidas ao redor dela Todavia gostaria agora de examinar estes argumentos com olhos críticos e levantar a questão de saber se apresentandoos à paciente estamos realmente dizendo a verdade ou se não nos estamos valendo em nosso desespero de ocultamentos e deturpações Em outras palavras podemos verdadeiramente dizer que o estado de enamoramento que se manifesta no tratamento analítico não é real Acho que dissemos à paciente a verdade mas não toda a verdade sem atentar para as conseqüências Dos nossos dois argumentos o primeiro é o mais forte O papel desempenhado pela resistência no amor transferencial é inquestionável e muito considerável Entretanto a resistência afinal de contas não cria esse amor encontrao pronto à mão faz uso dele e agrava suas manifestações Tampouco a genuinidade do fenômeno deixa de ser provada pela resistência O segundo argumento é muito mais débil É verdade que o amor consiste em novas adições de antigas características e que ele repete reações infantis Mas este é o caráter essencial de todo estado amoroso Não existe estado deste tipo que não reproduza protótipos infantis É precisamente desta determinação infantil que ele recebe seu caráter compulsivo beirando como o faz o patológico O amor transferencial possui talvez um grau menor de liberdade do que o amor que aparece na vida comum e é chamado de normal ele exibe sua dependência do padrão infantil mais claramente e é menos adaptável e capaz de modificação mas isso é tudo e não o que é essencial Por que outros sinais pode a genuinidade de um amor ser reconhecida Por sua eficácia sua utilidade em alcançar o objetivo do amor A esse respeito o amor transferencial não parece ficar devendo nada a ninguém temse a impressão de que se poderia obter dele qualquer coisa Resumamos portanto Não temos o direito de contestar que o estado amoroso que faz seu aparecimento no decurso do tratamento analítico tenha o caráter de um amor genuíno Se parece tão desprovido de normalidade isto é suficientemente explicado pelo fato de que estar enamorado na vida comum fora da análise é também mais semelhante aos fenômenos mentais anormais que aos normais Não obstante o amor 1422014 Vol XII 8 OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE III httpwwwfreudonlinecombrlivrosvolume12volxii8observacoessobreoamortransferencialnovasrecomendacoessobreatecnicadapsicanaliseii 79 transferencial caracterizase por certos aspectos que lhe asseguram posição especial Em primeiro lugar é provocado pela situação analítica em segundo é grandemente intensificado pela resistência que domina a situação e em terceiro faltalhe em alto grau consideração pela realidade é menos sensato menos interessado nas conseqüências e mais ego em sua avaliação da pessoa amada do que estamos preparados para admitir no caso do amor normal Não devemos esquecer contudo que esses afastamentos da norma constituem precisamente aquilo que é essencial a respeito de estar enamorado Quanto à linha de ação do analista é a primeira destas três características do amor transferencial que constitui o fator decisivo Ele evocou este amor ao instituir o tratamento analítico a fim de curar a neurose Para ele tratase de conseqüência inevitável de uma situação médica tal como a exposição do corpo de um paciente ou a comunicação de um segredo vital Élhe portanto evidente que não deve tirar qualquer vantagem pessoal disso A disposição da paciente não faz diferença simplesmente lança toda a responsabilidade sobre o próprio analista Na verdade como ele deve saber a paciente não se preparara para nenhum outro mecanismo de cura Após todas as dificuldades haverem sido triunfantemente superadas ela muitas vezes confessará ter tido uma fantasia antecipatória na ocasião em que começou o tratamento no sentido de que se se comportasse bem seria recompensada no final pela afeição do médico Para o médico motivos éticos unemse aos técnicos para impedilo de dar à paciente seu amor O objetivo que tem de manter em vista é que a essa mulher cuja capacidade de amor achase prejudicada por fixações infantis deve adquirir pleno controle de uma função que lhe é de tão inestimável importância que ela não deve porém dissipálo no tratamento mas mantêla pronta para o momento em que após o tratamento as exigências da vida real se fazem sentir Ele não deve encenar a situação de uma corrida de cães em que o prêmio deveria ser uma guirlanda de salsichas mas que algum humorista estragou ao atirar uma salsicha na pista O resultado foi naturalmente que os cães se atiraram sobre ela e esqueceram tudo sobre a corrida e sobre a guirlanda que os atraía à vitória muito distante Não quero dizer que é sempre fácil ao médico se manter dentro dos limites prescritos pela ética e pela técnica Aqueles que ainda são jovens e não estão ligados por fortes laços podem em particular achálo tarefa árdua O amor sexual é indubitavelmente uma das principais coisas da vida e a união da satisfação mental e física no gozo do amor constitui um de seus pontos culminantes À parte alguns excêntricos fanáticos todos sabem disso e conduzem sua vida dessa maneira só a ciência é refinada demais para admitilo Por outro lado quando uma mulher solicita amor rejeitála e recusála constitui papel penoso para um homem desempenhar e apesar da neurose e da resistência existe um fascínio incomparável numa mulher de elevados princípios que confessa sua paixão Não são os desejos cruamente sensuais da paciente que constituem a tentação É mais provável que estes repugnem e encarálos como fenômeno natural exigirá toda a tolerância do médico São talvez os desejos de mulher mais sutis e inibidos em seu propósito que trazem consigo o perigo de fazer um homem esquecer sua técnica e sua missão médica no interesse de uma bela experiência E no entanto é inteiramente impossível para o analista ceder Por mais alto que possa prezar o amor tem de prezar ainda mais a oportunidade de ajudar sua paciente a passar por um estádio decisivo de sua vida Ela tem de aprender com ele a superar o princípio do prazer e abandonar uma satisfação que se acha à mão mas que socialmente não é aceitável em favor de outra mais distante talvez inteiramente incerta mas que é psicológica e socialmente irrepreensível Para conseguir esta superação ela tem de ser conduzida através do período primevo de seu desenvolvimento mental e nesse caminho tem de adquirir a parte adicional de liberdade mental que distingue a atividade mental consciente no sentido sistemático da inconsciente O psicoterapeuta analítico tem assim uma batalha tríplice a travar em sua própria mente contra as forças que procuram arrastálo para abaixo do nível analítico fora da análise contra opositores que discutem a importância que ele dá às forças instintuais sexuais e impedemnos de fazer uso delas em sua técnica científica e dentro da análise contra as pacientes que a princípio comportamse como opositores mas 1422014 Vol XII 8 OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE III httpwwwfreudonlinecombrlivrosvolume12volxii8observacoessobreoamortransferencialnovasrecomendacoessobreatecnicadapsicanaliseii 89 posteriormente revelam a supervalorização da vida sexual que as domina e tentam tornálo cativo de sua paixão socialmente indomada O público leigo sobre cuja atitude em relação à psicanálise falei no início indubitavelmente apossarseá deste debate do amor transferencial como mais outra oportunidade de dirigir a atenção do mundo para o sério perigo desse método terapêutico O psicanalista sabe que está trabalhando com forças altamente explosivas e que precisa avançar com tanto cautela e escrúpulo quanto um químico Mas quando foram os químicos proibidos devido ao perigo de manejar substâncias explosivas que são indispensáveis por causa de seus efeitos É digno de nota que a psicanálise tenha de conquistar para a própria de novo todas as liberdades que há muito tempo foram concebidas a outras atividades médicas Certamente não sou favorável a abandonar os métodos inócuos de tratamento Para muitos casos eles são suficientes e quando tudo está dito a sociedade humana não tem mais uso para o furor senandi do que para qualquer outro fanatismo Mas acreditar que as neuroses podem ser vencidas pela administração de remediozinhos inócuos é subestimar grosseiramente esses distúrbios tanto quanto à sua origem quanto à sua importância prática Não na clínica médica sempre haverá lugar para o ferrum e para o ignis lado a lado com as medicinas e da mesma maneira nunca seremos capazes de passar sem uma psicanálise estritamente regular e forte que não tenha medo de manejar os mais perigosos impulsos mentais e de obter domínio sobre eles em benefício do paciente APÊNDICE RELAÇÃO DOS TRABALHOS DE FREUD QUE TRATAM PRINCIPALMENTE DA TÉCNICA PSICANALÍTICA E DA TEORIA DA PSICOTERAPIA A data ao início de cada título é a do ano durante o qual o trabalho em apreço foi provavelmente escrito A data ao final é a da publicação e sob esta data pormenores mais completos da obra serão encontrados na Bibliografia e Índice Remissivo de Autores 1888 Crítica de Der Hypnotismus de Forel 1889a 1888 Introdução à tradução de De la suggestion de Bernheim 18889 1890 Tratamento Psíquico ou Mental 1890a 1891 Hipnose em Therapeutisches Lexikon de Bum 1891d 1892 Um Caso de Tratamento Bem Sucedido pelo Hipnotismo 189293b 1895 Estudos sobre a Histeria Parte IV 1895d 1898 A Sexualidade na Etiologia das Neuroses última parte 1898a 1899 A Interpretação de Sonhos Capítulo H primeira parte 1900a 1901 Fragmento de uma Análise de um Caso de Histeria Capítulo IV 1905e 1903 O Procedimento Psicanalítico de Freud 1904a 1904 Sobre a Psicoterapia 1905a 1910 As Perspectivas Futuras da Terapia Psicanalítica 1910d 1910 Psicanálise Silvestre 1910k 1911 O Manejo da Interpretação de Sonhos na Psicanálise 1911e 1422014 Vol XII 8 OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL NOVAS RECOMENDAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DA PSICANÁLISE III httpwwwfreudonlinecombrlivrosvolume12volxii8observacoessobreoamortransferencialnovasrecomendacoessobreatecnicadapsicanaliseii 99 1912 A Dinâmica da Transferência 1912b 1912 Recomendações aos Médicos que Exercem a Psicanálise 1912e 1913 Sobre o Início do Tratamento 1913c 1914 Fausse Reconnaissance déjà raconté no Tratamento Psicanalítico 1914a 1914 Recordar Repetir e Elaborar 1914g 1914 Observações sobre o Amor Transferencial 1915a 1917 Conferências Introdutórias sobre Psicanálise Conferências XXVII e XXVIII 191617 1918 Linhas de Avanço na Terapia Psicanalítica 1919a 1920 Além do Princípio de Prazer Capítulo III 1920g 1923 Considerações sobre a Teoria e Prática da Interpretação de Sonhos 1923c 1926 A Questão da Análise Leiga Capítulo V 1926e 1932 Novas Conferências Introdutórias sobre Psicanálise Conferência XXXIV última parte 1933a 1937 Análise Terminável e Interminável 1937c 1937 Construções em Análise 1937d 1938 Compêndio de Psicanálise Capítulo VI 1940a Freud Online Orgulhosamente criado com WordPress