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ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 Antônio Luiz Pereira de Castilho Mestre em psicologia pela UFMG na área de Estudos Psicanalíticos Especialista em Teoria Psicanalítica pela UFMG Revisitando o pRimeiRo modelo fReudiano do tRauma sua composição cRise e hoRizonte de peRsistência na teoRia psicanalítica Antônio Luiz Pereira de Castilho Resumo Revisitase a construção do primeiro modelo freudiano do trauma o eixo da chamada teoria da sedução 1896 Seus compo nentes e dinâmica são examinados e discutidos O paradoxo presente na mencionada teoria é registrado bem como a reformulação por parte de Freud do fundamento de sua doutrina através da postulação da pulsão e da sexualidade infantil Por fim ao lado da engenhosa e singular maneira pela qual aquele modelo do trauma articula seus elementos um horizonte de persistência daquela abordagem é ainda afirmado na esfera da teoria da sedução generalizada palavraschave Trauma teoria da sedução pulsão sexualidade infantil teoria da sedução generalizada abstRact Revisiting the first Freudian model of trauma its com position crisis and horizon of persistence in the psychoanalytical theory The author revisits the building of the first Freudian model of trauma the axis of the socalled theory of seduction 1896 Its components and dynamics are examined and discussed The paradox inside the mentioned theory is registered and also Freuds reformulation of the basis of his doctrine by the postulation of drive and infantile sexuality At last in addition to the inventiveness and unique way the first Freudian model of trauma connects its ele ments a horizon of persistence to that approach is still affirmed in the sphere of the theory of generalized seduction Keywords Trauma theory of seduction drive infantile sexuality theory of generalized seduction 04 Antonio Luiz 33indd 235 4122013 102939 236 AntônIo LuIz PeReIRA de CAstILho ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 intRodução A reflexão sobre o trauma é um dos mais importantes eixos do movimento de ideias da teoria psicanalítica freudiana estabelecendo com os conceitos de in consciente sexualidade e pulsão uma intensa dialética Há disso vários exemplos Freud supera Charcot no entendimento da histeria por enxergar uma inovadora lógica do trauma na etiologia da neurose Em 1896 sua abordagem do trauma se tornaria ainda mais percuciente configurando a chamada teoria da sedução cuja organicidade requintada de elementos e dinâmica singular produziriam o pri meiro modelo na acepção plenamente epistemológica dessa palavra do trauma Mais adiante no caso do Homem dos Lobos publicado em 1918 Freud recorreria novamente ao modelo do trauma de 1896 Já em 1920 os sonhos traumáticos seriam focalizados pelo viés da compulsão à repetição índice da pulsão de morte Por fim em 1926 a tentativa de síntese metapsicológica que Freud empreende em Inibições sintomas e angústia traria à luz sua derradeira elaboração da questão do trauma A palavra trauma é de origem grega e reportase à ferida que provém de uma penetração Assim o traumatizante seria sempre associado ao rompimento de uma estrutura de defesa O caráter súbito inesperado e ameaçador de acontecimentos extraordinários a variedade desconcertante das formas de sua assimilação psíquica a discrepância entre a recorrência duradoura do ataque interno pulsional e a finitude do evento externo a desestabilização e a regressão psíquica que incidem sobre o sujeito e a peculiar dinâmica temporal e mnemônica da irrupção traumática apresentarseiam como os múltiplos e embaraçados fios do que poderíamos chamar de trama do trauma O curso histórico do pensamento freudiano registraria essas várias faces do trauma oscilando porém quanto ao peso epistemológico concedido a cada uma dessas dimensões aludidas Rumo ao pRimeiRo modelo do tRauma a constituição da teoRia da sedução Se retrocedermos nossa atenção ao mistério oitocentista da histeria objeto de grande esforço de elucidação por parte da medicina nas décadas finais daquela época constatamos que a neurose maior como o mal histérico era chamado na França já era abordada por meio da noção de trauma Essa conexão seria inicialmente sustentada por Charcot 18251893 com quem Freud estagiaria por cinco meses a partir de outubro de 1885 no Hospital de Salpêtrière Com o objetivo de livrar os quadros histéricos das habituais acusações de simulação Charcot utilizava bastante a hipnose em prestigiadas demonstrações nas quais sintomas eram fabricados e apagados experimentalmente Embora a índole neu rótica da histeria fosse atribuída em última instância à hereditariedade Charcot identificava a atuação de agentes provocadores dentre os quais se destacava o trauma 04 Antonio Luiz 33indd 236 4122013 102939 ReVIsItAndo o PRImeIRo modeLo fReudIAno do tRAumA 237 ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 Esse era o estado de coisas dominante frente ao qual Freud em suas primeiras publicações ousará introduzir um ponto de vista alternativo Ele reservará ao trauma uma participação diversa e mais importante no deslinde da questão No texto Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos uma conferên cia 1893 destacará a relevância do papel do trauma na histeria recorrendo a uma hipotética suspensão da hereditariedade a fundamental razão patogênica classicamente sustentada por Charcot Consideremos o caso de uma pessoa sujeita a um trauma sem antes ter estado doente e talvez mesmo sem ter qualquer predisposição hereditária O trauma deve satisfazer a certas condições Deve ser grave isto é ser de uma espécie que envolva a ideia de perigo mortal de uma ameaça à vida Mas não deve ser grave no sentido de pôr termo à atividade psíquica De outra forma não produziria o resultado que esperamos dele FREUD 18931994 p37 Podemos perceber que a atividade psíquica decorrente do trauma físico se insinua como tão importante como o aludido predicado de gravidade do fato O racio cínio adotado é o de que o evento externo não produz por si mesmo o trauma mas na verdade dispara uma atividade psíquica esta sim patogênica Freud enfatizará esse posicionamento dizendo que o que produz o resultado não é o fator mecânico mas o afeto de terror o trauma psíquico 18931994 p40 Portanto toda histeria pode ser compreendida como uma histeria traumática pois responde sintomaticamente a uma atividade psíquica Freud então afirma rá que a dinâmica neurótica consiste na formação de uma dupla consciência por meio de uma cisão entre afeto e representação De um lado há o afeto suscitado pelo evento na forma de um quantum de excitação correspondente que permanecerá retido em parte da psique pela inexistência ou incompletude de um movimento psíquico de uma abreação que deveria ter descarregado aquele excesso de estí mulo produzido De outro em face dessa ausência ou insuficiência evacuatória instalarseá de modo correlato e representativo daquele afeto patologicamente preservado o sintoma neurótico Podemos notar que o mesmo configura uma cone xão equivocada por assim dizer uma falsa ligação entre o quantum de afeto e uma área corporal convertida histericizada ou uma representação deslocada investida de forma obsessivocompulsiva Caberá à terapêutica religar o núcleo enquis tado de afeto à representação original via rememoração da cena traumática de modo a drenálo e assim estancar a produção de sintomas Em suma o que se propugnava naquele instante era refazer a sequência traumática no âmbito clí nico proporcionando substitutivamente o necessário arremate catártico que outrora restara inacabado pela atividade psíquica regular do sujeito 04 Antonio Luiz 33indd 237 4122013 102940 238 AntônIo LuIz PeReIRA de CAstILho ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 Se até aqui Freud estabelecera a ligação entre a sintomatologia da histeria e um trauma psíquico que se define pelo desencadeamento de uma atividade men tal inconclusa e dissociativa em A hereditariedade e a etiologia das neuroses 1896 dará mais um passo adiante e apresentará finalmente a tese da natureza sexual do trauma De forma solene e como resultado de ampla pesquisa reivindica se agora à experiência sexual precoce o estatuto de fator fundamental na causa das psiconeuroses de defesa em assumido contraste e confronto com a tradicional tese da hereditariedade nervosa outrora firmada por Charcot Esse novo entendimento resulta de acordo com Freud da aplicação de um novo recurso a psicanálise método peculiar que é atribuído a Breuer O texto A hereditariedade e a etiologia das neuroses 1896 abriga o primeiro registro publicado da palavra psicanálise Tratase segundo Freud de um procedimento exploratório um pouco intrincado mas insubstituível tal a fertilidade que tem demonstrado para lançar luz sobre os obscuros caminhos da ideação inconsciente FREUD 1896a1994 p150 Ele ressalta a eficácia da psicanálise em determinar a origem dos sintomas afirmando que a investigação acurada e retrospectiva da vida do paciente pela qual se vai tecendo a complexa articulação de suas representações psíquicas permitenos verificar que em todos os casos um determinado agente esteve especificamente presente na eclosão da histeria Esse agente é de fato uma lembrança relacionada à vida sexual mas que apresenta duas características da máxima importância O evento do qual o sujeito reteve uma lembrança inconsciente é uma experiência precoce de relações sexuais com excitação real dos órgãos genitais resultante do abuso sexual cometido por outra pessoa e o período da vida em que ocorre esse evento fatal é a infância até a idade de 8 ou 10 anos antes que a criança tenha atingido a maturidade sexual Uma experiência sexual passiva antes da puberdade eis portanto a etiologia específica da histeria FREUD 1896a1994 p151 Estamos pois diante do que se chamou teoria da sedução O infante numa con dição de passividade sofreria a ação sexual de um adulto ou de outra criança originando o implante de um potencial traumático que permanecerá adormecido num primeiro momento até que uma lembrança inconsciente a ocorrer no futuro produza a ressignificação do evento como experiência sexual por parte da vítima fazendo com que o sintoma neurótico então se manifeste discussão dos componentes e mecanismos do modelo etiológico de 1896 A teoria da sedução articulará neurose e trauma pela mediação de um aspecto fático o atentado sexual e um psíquico a memória ressignificante Relevante observar que em A etiologia da histeria 1896 Freud reafirmará categorica 04 Antonio Luiz 33indd 238 4122013 102940 ReVIsItAndo o PRImeIRo modeLo fReudIAno do tRAumA 239 ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 mente a experiência sexual passiva infantil em seu valor heurístico e empírico de novo e seguro ponto de abordagem da neurose ao assinalar o seguinte qualquer que seja o caso e qualquer que seja o sintoma que tomemos como ponto de partida no fim chegamos infalivelmente ao campo da experiência sexual FREUD 1896b1994 p196 Podemos constatar que a experiência do atentado sexual aparece na forma de uma predisposição o que nos indica que na verdade a etiologia neurótica preconizada pelo autor não opera de forma mecânica mas é na verdade decorrente de um processo complexo composto por momentos conjugados já que o fator predisponente sempre exigirá interligação com um cofator para a instauração do trauma Sustentamos portanto que as experiências sexuais infantis constituem a precon dição fundamental da histeria que são por assim dizer a predisposição para esta e que são elas que criam os sintomas histéricos mas não o fazem de imediato permanecendo inicialmente sem efeito e só exercendo uma ação patogênica depois ao serem despertadas após a puberdade sob a forma de lembranças inconscientes FREUD 1896b1994 p207 E ainda nas pessoas histéricas quando há uma causa precipitante atual en tram em ação as antigas experiências sob a forma de lembranças inconscientes idem p213 Mas afinal em que momento o trauma se instala No texto Observações adicionais sobre as neuropsicoses de defesa 1896c Freud utiliza várias vezes as expressões trauma infantil e traumas infantis o que aparentemente nos conduziria a situar o traumático no âmbito do atentado sexual No entanto já advertira que não são as experiências em si que agem de modo traumático mas antes sua revivescência como lembrança depois que o sujeito ingressa na maturidade sexual FREUD 1896a1994 p165 Portanto vêse que sua opção é por loca lizar o pathos traumatizante no momento do efeito singular da lembrança a saber naquela revivescência mnemônica da experiência arcaica por sua ressignificação em termos sexuais Mas a expressão trauma infantil fartamente utilizada por Freud pode ser referida em nosso entendimento ao resultado da implantação de uma potência que agirá no futuro já que o atentado sexual representou uma invasão por ora inativa mas cujos efeitos aparecerão a posteriori Nesse âmbito nos reme teríamos ao trauma em sua acepção de efração ou seja de ruptura penetrante Mas se quisermos nos referir ao momento propriamente inaugural da desorganização psíquica teremos de privilegiar o instante da ação patogênica aquele da signi ficação sexual a posteriori do atentado sedutor deflagrado pela lembrança É visível o quanto a primeira teoria do trauma fundamentase num modelo da psique como um aparelho de memória das experiências intersubjetivas que se transforma dialeticamente em sistema de conflito inconscienteconsciente em face da 04 Antonio Luiz 33indd 239 4122013 102940 240 AntônIo LuIz PeReIRA de CAstILho ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 atribuição de significado sexual a posteriori a um evento de abuso infantil Recapitulando os momentos já descritos teríamos 1 a inscrição psíquica de um traço de memória a experiência do abuso por assim dizer depositada no sujeito 2 a ativação desse traço de memória a experiência infantil res significada 3 O recalcamento dessa representação inadmissível o abuso era sexual com a cisão representaçãoexcitação afetiva 4 o retorno do recalcado nos sintomas neuróticos conflito psíquico Nesse contexto é imprescindível o registro de que a teoria do trauma em dois tempos traz consigo a primeira ela boração psicanalítica a respeito do recalcamento que se articula à sexualidade e ao conflito psíquico Segundo Freud a eclosão da histeria pode ser quase que invariavelmente atribuída a um conflito psíquico que emerge quando uma representação incompatível detona uma defesa por parte do ego e solicita um recalcamento A defesa cumpre seu propósito de arremessar a representação incompatível para fora da consciência quando há cenas sexuais infantis presentes no sujeito até então normal sob a forma de lembranças inconscientes FREUD1896b1994 p206 Cumprenos o alerta de que esta teoria do trauma calcada na sedução sexual tem seu registro temporal a partir de dois marcos bem específicos 1º um acon tecimento de abuso infantil e 2º uma lembrança ativadora daquele depósito traumático até então inócuo Tratase de uma operação póstuma de um trauma sexual na infância FREUD 1896c1994 p167 Tal operação no entanto se dá pelo poder patogênico ressignificante da lembrança Portanto o segundo evento o propiciador da lembrança é desprezado axiologicamente por Freud A rigor o segundo evento apenas acende a luz da lembrança mas não dispara o gatilho do trauma ou seja não integra a cadeia traumatizante ativando a experi ência infantil Fenomenologicamente os acontecimentos posteriores suscitarão a lembrança inconsciente patogênica por meio de associações Mas em termos de lógica do trauma o que vale é apenas a relação entre dois termos uma dia lética entre um primitivo acontecimento abusivo ainda não significado e sua lembrança ressignificante entre os quais se insere sua inocuidade temporária posteriormente transformada em reativação traumática a partir de um conhecimento adquirido pela vítima sobre a sexualidade ao longo de seu amadurecimento Questão instigante diz respeito ao grau de consciência do sujeito no momen to da ressignificação sexual de sua experiência infantil Haveria algum flash de consciência do cunho sexual da experiência vivida imediatamente recalcado Ou a lembrança isto é a ligação representativa entre o evento primitivo e sua na tureza sexual processase no plano inconsciente formando daí a expressão algo paradoxal lembrança inconsciente Freud não esclarece esse ponto 04 Antonio Luiz 33indd 240 4122013 102940 ReVIsItAndo o PRImeIRo modeLo fReudIAno do tRAumA 241 ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 Mas entendemos que o imprescindível é observar que a teoria do trauma articulada à sedução infantil coloca o momento tradutivo a saber o momento da significação sexual da experiência subjetiva como a verdadeira efetividade deto nadora do trauma Devemos ter em mente que a transição freudiana do trauma psíquico para o trauma sexual como fator etiológico das neuroses decorreu justa mente da dificuldade que Freud sentia em acatar sem maiores questionamentos a hipótese de que qualquer acontecimento poderia ser assimilado pelo sujeito na qualidade de psiquicamente traumatizante Esse ponto de vista até então dominante que passa a ser questionado sistematicamente por Freud parecia encontrar amparo em experiências com a hipnose através das quais determinações triviais eram então elevadas a um estatuto traumático para o indivíduo hipnotizado Tal fato se correlacionava de maneira intensa com certas associações levadas a efeito por pacientes quando seus estados patológicos eram vinculados mnemonicamente a eventos banais Ao lado disso ia ao encontro da tese de Breuer segundo a qual supostas ocorrências extraclínicas de um estado hipnoide no sujeito possibilitariam psiquicamente uma marcação traumática naquele a despeito da insignificância objetiva do fato Mas se Freud sabe por um lado que o traumático se inscreve por meio de uma atividade mental a tese do trauma psíquico por outro ele de fato não se sente à vontade para dispensar uma relação de adequação entre o movimento interno da psique responsável pela irrupção sintomática e a qualidade do evento externo Assim permanecia a incômoda indagação sobre se a teoria do trauma poderia apoiarse num evento exterior de escassa significação ou seja se seria viável para o entendimento que se construía alicerçarse parcialmente num fato desprovido de gravidade Uma saída cogitada para esse impasse seria o aprofundamento radical da pesquisa sobre a etiologia do sintoma de modo a se adotar uma política metodológica de sempre ultrapassar as associações ligadas a eventos de vetor atacante questionável rumo a uma ideal rememoração de um acontecimento indiscutivelmente adequado à eclosão psíquica do trauma Mas Freud ressalta que essa via vaise revelando na experiência clínica uma missão impossível uma trajetória labiríntica e infinita Mesmo quando o paciente por fim supostamente conseguia localizar um ponto de origem de seus sinto mas de apropriado valor patogênico aos olhos do analista a posteridade do tratamento não tardava a revelar o aparecimento de novas cenas até então desconhecidas e insuspeitas Podemos então notar que a preconização da etiologia sexual da neurose teria o condão de determinar um deslinde epistemologicamente eficiente para aquele interminável novelo de interconexões associativas com que a clínica se defron tava E essa virtude ocorre na medida em que não funda o seu poder explicativo apenas na economia e na dinâmica de uma suposta cena originária carecedora de 04 Antonio Luiz 33indd 241 4122013 102940 242 AntônIo LuIz PeReIRA de CAstILho ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 abreação e daí clivante e patogênica mas no significado de uma experiência infantil inconscientemente evocada O traço mnemônico que aciona a experiência infantil do atentado sexual será o fator que preservará tanto a tese da natureza psíquica do trauma quanto a adequação deste a um fato que não pode ser qualquer um mas sim certo acon tecimento qualificado axiologicamente pelo psiquismo humano um evento pois sexual O sexual surgia na teoria da sedução como uma experiência apassivante geradora de uma representação inconciliável cuja inadmissibilidade frente ao eu se definia por sua censurabilidade moral Segundo Freud os esforços defensivos do ego dependem do desenvolvimento moral e intelectual completo do sujeito 1896b1994 p207 Introduziase assim o quesito da maturidade orgânico intelectiva da vítima a fim de que a fugaz pois recalcada ressignificação da experiência infantil vivida por meio da eclosão de sentimentos de asco repúdio vergonha culpa etc se fizesse justamente pelo índice de sexualidade condenável então identificado Destaquemos que essa aludida dependência da maturação dos órgãos sexuais na puberdade bem como o correlativo conhecimento a respeito do normativo e do transgressivo são itens que contrastarão com a futura ideia de sexualidade infantil a ser desenvolvida em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade 1905 De qualquer modo tornandose a eclosão do trauma vinculada a um aspecto espe cífico de um movimento de ressignificação de evento pretérito de ordem sexual poderseia agora responder por que por exemplo tanto a prosaica visão de uma borboleta como um grave acidente ferroviário poderiam ser relatados por pacientes como os momentos a partir dos quais surgiram seus sintomas A solução consistente que se apresenta é a seguinte tanto o exemplo de evento ameaçador de fato quanto o outro francamente débil quanto ao poder de produzir um efeito traumático não fazem parte da lógica patogênica do trauma Não é pois o segundo acontecimento ou um rol secundário de acontecimentos que exatamente desencadeiam o trauma Eles desencadeiam na verdade o traço de memória traumatizante Eles são seja qual for sua natureza agentes provocadores contingenciais da lembrança inconsciente esta sim a real ativadora do evento infantil em termos patogênicos Por serem evocados mais facilmente pela memória os acontecimentos integrantes de um quadro de eventos secun dários ao abuso infantil foram sempre associados com maior espontaneidade ao trauma pelos pacientes Porém ao entendêlos corretamente como meros gatilhos mnemônicos tanto faz se tais eventos posteriores ao atentado forem triviais ou terríveis e ameaçadores de fato Por isso a opção freudiana pelo restrito entendimento do trauma através da primazia de um determinado evento infantil qualificado como sexual e de sua ativação posterior excluindose o possível poder patogênico de uma segunda 04 Antonio Luiz 33indd 242 4122013 102940 ReVIsItAndo o PRImeIRo modeLo fReudIAno do tRAumA 243 ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 cena ou de cenas posteriores terá a virtude de resolver o enigma da banalidade e da falta de adequação ao quadro traumático de uma plêiade de experiências trazidas à luz pelos pacientes ingenuamente valorizadas por eles mas em rea lidade imprestáveis para a específica composição da lógica traumática Observemos então que o sexual na forma de uma experiência infantil é o elemento que no âmbito desta primeira teoria do trauma retira o foco da parti cularidade do modo de assimilação psíquica abreativo ou não das experiências e o redireciona para o significado de uma determinada cena seu sentido inaceitável à consciência que é seu caráter efetivamente traumático Com isso a descoberta de que o trauma é sexual liberta a teoria e a clínica do puro empirismo psicologista das experiências não abreagidas e neurotizantes e coloca a reflexão e a prática defronte a um significado específico e exclusivo que se revelará o fundamento da neurose a experiência apassivante da sexualidade por via do atentado sexual Desse modo a primeira teoria do trauma de Freud não é biologista pois não sustenta qualquer aposta etiológica fundamental na hereditariedade não é mecani cista pois não admite que o evento externo por si mesmo provoque diretamente o trauma mas também não é psicologista porque não reduz o traumático à contin gência de uma forma de assimilação psíquica de eventos quaisquer que sejam Era assim notável a evolução pela qual havia passado o pensamento de Freud e sua complexa originalidade atingida nos anos 18951896 quando preconiza definitivamente a etiologia sexual da neurose formulando uma teoria da sedução como teoria do trauma em dois tempos o Refluxo da teoRia da sedução A autocrítica levada a cabo por Freud no início do outono de 1897 a respeito de sua proposta de uma etiologia traumática da neurose aparece em geral na historiografia psicanalítica como um revolucionário ponto de inflexão a partir do qual ocorreria o efetivo surgimento da psicanálise tal como prevaleceria e se tornaria conhecida na posteridade Partindo da então preconizada realidade factual da sedução infantil o pensamento freudiano teria avançado para fundamentarse na fantasia de sedução o que representaria um inquestionável aperfeiçoamento de suas bases e de seu foco As dúvidas freudianas conducentes à transformação de seu ponto de vista aparecem na carta 69 a Fliess de 21 de setembro de 1897 Querido Wilhelm E agora quero confiarlhe de imediato o grande segredo que foi despontando lentamente em mim nestes últimos meses Não acredito mais em minha neurótica teoria das neuroses A incidência da perversão teria que ser incomensura 04 Antonio Luiz 33indd 243 4122013 102940 244 AntônIo LuIz PeReIRA de CAstILho ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 velmente mais frequente do que a histeria dela resultante porque afinal a doença só ocorre quando há um acúmulo de acontecimentos e um fator contributivo que enfraqueça a defesa Agora não tenho a menor ideia de onde me situo pois não tive êxito em alcançar uma compreensão teórica do recalcamento e de sua interrelação de forças Mais uma vez parece discutível que somente as experiências posteriores deem ímpeto às fantasias que então remontariam à infância e com isso o fator da predisposição hereditária recupera uma esfera de influência da qual eu me incumbira de desalojá lo em prol do esclarecimento da neurose MASSON 1985 p265266 Embora a sinalização de um retorno à hereditariedade charcotiana jamais se tenha consumado Freud notava com gravidade e pesar que sua teoria da sedução fundavase numa improbabilidade estatística já que a quantidade de pacientes histéricos com reminiscências a respeito de atentados de sedução ultrapassava amplamente o número de pacientes com sintomatologia neurótica O corolário disso seria a existência de um quantitativo de perversos nos próprios meios familiares muitíssimo superior ao que seria razoável supor para que se tor nasse possível sustentar aquela ampla gama de lembranças quanto a abusos e atos de sedução infantil É a essa situação implausível que Freud parece se referir em certo momento da mesma carta 69 quando revela a percepção da inesperada frequência da histeria com predomínio precisamente das mesmas condições em cada caso muito embora certamente essas perversões tão generalizadas contra as crianças não sejam muito prováveis MASSON 1985 p265 Com efeito a constatação clínica de um instigante padrão e de uma inusitada regularidade nas falas de pacientes histéricos fatos aludidos por Freud como francamente inesperados resultará na ruína da tese da permanente empiricidade do atentado sexual como causador da neurose e pavimentará a introdução da suspeita de contaminação dos relatos por parte de puros movimentos de fantasia histérica desprovidos pois de lastro no abuso infantil A vantagem da hipótese da hegemonia da fantasia é que essa se apresenta aos olhos de Freud como fator dotado de plena aptidão para sustentar a surpreendente e extensa similaridade entre os relatos clínicos Embora parte dos psicanalistas antagonize a teoria da sedução com a inflexão crítica de 1897 apontando essa última como introdutora de uma radical inovação doutrinária a refletir o amadurecimento do pensamento freudiano é bom que se diga que a questão da fantasia jamais restara inexistente na etiologia traumáticosexual da neurose presente na teoria da sedução Freud salienta na dita carta 69 que lhe parece discutível que somente experiências posteriores deem ímpeto às fantasias que então remontariam à infância idem p266 Ora contrariando a historiografia simplificadora da 04 Antonio Luiz 33indd 244 4122013 102940 ReVIsItAndo o PRImeIRo modeLo fReudIAno do tRAumA 245 ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 psicanálise tal passagem supracitada nos mostra inequivocamente a ausência de um antagonismo dicotômico entre trauma e fantasia no âmbito da teoria da sedução Podemos verificar no texto em foco que as experiências posteriores configuradoras do segundo rol de eventos na fenomenologia do trauma constituem o momento de incitação e de irrupção de lembranças cujo poder patologizante pois ressignificador do evento abusivo infantil operará justamente através da deflagração de fantasias Portanto o processo de eclosão neurótica como aparece na teoria da se dução iniciouse precisamente no aludido ímpeto às fantasias ou seja na inevitável instigação fantasmática e em seu efeito atacante que são indiscerníveis da reminiscência A lembrança traumatizante opera carregandose de uma face gozosa a fantasia que por sua vez só pode ser suscitada e tecida a partir de uma dimensão mnemônica ínsita à reminiscência Nossa conclusão é a de que nesse trecho da carta do equinócio de 1897 explicitase o que restava implícito mas em pleno vigor na teoria da sedução lembrança e fantasia são correlativas e contrafaciais na irrupção traumática por via da ressignificação do evento passado infantil Na esteira disso diríamos que o mérito da teoria do trauma em dois tempos consistiria entre outras coisas em demonstrar a íntima articulação entre memória gozo ataque fantasmático defesa recalque e retorno do recalcado Se o ser humano fantasia ele só o pode fazer pela operação da lembrança traumática ainda lembrar é inevitavelmente gozar de uma fantasia atacante imediatamente formada no próprio momento e seio do que é lembrado Enfim contrariamente aos comentadores que de modo apressado elegem a suposta intro dução da fantasia na cena teórica psicanalítica como o elemento de diferenciação entre o pensamento freudiano pré e pósequinócio de 1897 o mais correto é sustentar que o que separou um momento do outro jamais foi a presença ou a ausência da noção de fantasia mas sim a especificação da origem da fantasia que cada um deles registrou explícita ou implicitamente um novo paRadigma a sexualidade infantil e pulsional Após 1897 a origem e fundamento da fantasia não mais será a vivência apas sivadora infantil por assim dizer revisada mnemonicamente como sexual mas a própria sexualidade infantil como evento universal e biológico produzido por um fator a que Freud daria o nome de Triebe impulso pulsão introduzido em 1905 no texto Três ensaios sobre a teoria da sexualidade A revolucio nária ampliação efetuada nessa obra quanto à determinação do início e das fronteiras da sexualidade que passa de fenômeno genital tutelado pela puberdade para um fenômeno autoerótico já em plena positividade e vigên 04 Antonio Luiz 33indd 245 4122013 102940 246 AntônIo LuIz PeReIRA de CAstILho ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 cia na aurora da vida infantil só se torna possível através da mencionada introdução do conceito de pulsão que funcionará como a força de pressão subjacente àquela fenomenologia sexual arcaica que então poderá ser enten dida como biológica e infantil e daí universal e não traumática Por isso logo nas primeiras linhas de Três ensaios sobre a teoria da sexualidade Freud entrelaçará sexualidade fundamento biológico e postulado pulsional ao escrever que o fato da existência de necessidades sexuais no homem e no animal expressase na biologia pelo pressuposto de uma pulsão sexual FREUD 19051994 p127 Isso quer dizer que a sexualidade só pode ser cientificamente compreendida postulandose a presença de um estímulo es pecífico de fonte somática que precede e rege aquele conjunto singular de manifestações efeitos e vicissitudes nos seres vivos Nessa mesmíssima linha uma passagem de Pulsões e destinos da pulsão Se abordarmos agora a vida psíquica do ponto de vista biológico a pulsão nos aparecerá como um conceito limite entre o psíquico e o somático como o repre sentante psíquico dos estímulos que provêm do interior do corpo e alcançam a psique como uma medida de trabalho imposta ao psíquico em consequência de sua relação com o corpo FREUD 19152004 p148 Atenção para as expressões vida psíquica do ponto de vista biológico estímulos que provêm do interior do corpo medida de trabalho imposta ao psíquico em consequência de sua relação com o corpo Todas elas nos mostram que no freudismo pósteoria da sedução a sexualidade tornarase um epifenômeno desse postulado biológico denominado Triebe pulsão que Freud compreendia por um lado como singularidade interna ao sujeito e por outro como estimulação análoga àquela produzida pela realidade em nossos sentidos Assim tanto o corpo quanto o mundo exterior têm como predicado essencial e comum o fato de ambos serem fontes de estímulos que provocarão a necessidade de um processamento evacuatório por parte do aparelho psíquico cuja função de redutor daquelas sensações e tensões recebidas e acumuladas é sua própria razão de ser Com efeito procedeuse no pensamento freudiano à substituição do sexual como instância traumática em virtude do encontro a posteriori do sujeito no curso de sua existência com certa significação relativa a evento interpessoal de sua infância pelo ponto de vista que apresenta a sexualidade como um campo das manifestações polimórficas perversas e fantasísticas oriundas do investimento de uma força pressionante de fundo somático e de operacionalidade representativa na psique a que se deu o nome de pulsão Assim o conflito psíquico fundado na sedução infantil em face de reminiscên ciasfantasias traumáticas pois inaceitáveis deflagradoras de uma defesa a partir 04 Antonio Luiz 33indd 246 4122013 102940 ReVIsItAndo o PRImeIRo modeLo fReudIAno do tRAumA 247 ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 de agora será substituído por um modelo em que um determinado fenômeno biológico e universal intitulado sexualidade infantil propiciado por fontes orgânicas de estimulação pulsional percorrerá um desenvolvimento por etapas através de fases de investimento e de organização libidinal oral anal fálica em direção a certa síntese derradeira sob a hegemonia da genitalidade Cabenos lembrar que esse processo sequencial desenrolase de modo multifacetado e por vezes acidentado apresentase sujeito a vicissitudes tais como inibições fixações e regressões contraise numa fase de latência atinge seu coroamento na genitalidadereprodutiva bem como exibe um variado leque de destinação pulsional nas vias do recalque da sublimação etc Freud registraria enfim a mudança de enfoque e da correção de curso ocorrida em seu pensamento que teria efetuado a substituição dos traumas sexuais infantis pela descoberta do infantilismo da sexualidade FREUD19061994 p258 conclusão um modelo do tRauma dotado de viés antRopológico O calcanhar de Aquiles da teoria da sedução a postulação da universalidade do atentado perverso sobre a criança tornouse tema de domínio público explorado ad nauseam no campo doutrinário da psicanálise recalcando as virtu des subsistentes da sofisticada articulação lógica e fenomenológica contida em seu modelo de entendimento do trauma Consideramos o primeiro modelo do trauma presente na teoria da sedução de 1896 um impressionante tour de force Ele é revelador da magnitude do gênio de Freud pela capacidade que possui de articular dialeticamente uma série de elementos de forma bastante engenhosa Simultaneamente o que exsurge como grandioso nas bases daquela teorização é a dimensão antropológica que se insinua Subjacente ao esquema de causação traumática da neurose vislumbrase uma visão de homem profunda complexa multifacetada a A subjetividade humana é indiscernível da categoria de intersubjetividade o trauma só pode ser pensado a partir do encontro do sujeito com a alteridade um encontro marcante com o outro marcado pelo outro b No humano ser e temporalidade se conjugam a inscrição dos eventos no psiquismo não é feita de forma imediata direta mecânica mas requer um duplo tempo para a irrupção de seus efeitos c No humano o tempo só é tornado ser pela mediação de um significado que então configura o segundo tempo do trauma e esse significado é referente ao campo sexual como dimensão intolerável e atacante ao eu e daí destinada ao recalcamento 04 Antonio Luiz 33indd 247 4122013 102940 248 AntônIo LuIz PeReIRA de CAstILho ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 d No humano a significação encontrase mnemonicamente magnetizada pelo inconsciente Significar é sempre recordar sem perceber e sem poder perceber que se recorda é associar num átimo consciente e inconsciente Daí a expressão freudiana ambígua fluida misteriosa mas reveladora lembrança inconsciente indicandonos que a conexão mnemônica entre tempos e eventos por um significado pode ser recalcada de imediato e produzir efeitos psíquicos sem que o sujeito tenha racionalmente atinado com esse processo de si sobre si mesmo e O ser humano traumatizase porque nele acontece o inusitado o traço de memória então ressignificado como inconciliável tornase a despeito disso fan tasia de desejo e ataque pulsional A passividade é um gozo paradoxal é desejo inconsciente e angústia consciente Eis o retrato panorâmico percuciente operacional e absolutamente vertigi noso em seu paradoxo que Sigmund Freud em 1896 logrou revelar a respeito da psique humana de maneira audaciosa e revolucionária A primeira teoria do trauma é portanto uma complexa articulação entre várias dimensões me tapsicológicas e antropológicas a fática intersubjetiva a significacional sexual a temporal mnemônica a inconsciente a recalcada ressignificação do evento a etiológicopulsional o retorno do recalcado pelos sintomas neuróticos e a conflitual intersistêmica o que é prazer para o inconsciente é desprazer para o consciente Na teoria da sedução o trauma é sexual Essa palavra sexual adquire aqui o estatuto de uma experiência tão marcante tão singular para o ser humano que ganha a dimensão de parâmetro de memória e critério de recepção face às vicissitudes que acometerão o sujeito em sua existência futura A sexualidade é antes e acima de tudo um tempo ao qual o homem remeterseá mnemonicamente vida afora e que ressurgirá por via de um efeito neurótico que é afinal efeito pulsional Daí o diálogo que a teoria da sedução pode estabelecer com uma magistral passagem de Walter Benjamin Pois um acontecimento vivido é finito ou pelo menos encerrado na esfera do vivido ao passo que o acontecimento lembrado é sem limites porque é apenas uma chave para tudo o que veio antes e depois BENJAMIN 1985 p37 Nesse trecho Benjamin mostranos que o vivido não passa de um depósito um traço uma inscrição que nesse nível se encerra mas que será inevita velmente ativado ressignificado pela lembrança segundo tempo do trauma tornandose sem limites ou seja produzindo em tradução psicanalítica efeito pulsional e nesse instante transformandose em chave para o que veio antes a sedução e para o que veio depois os ataques de fantasias os sonhos a neurose a compulsão repetitiva etc Eis uma dialética da memória que é a dialética da existência humana sexualizada intersubjetivamente em seu próprio originário superando o paradoxo do atentado através 04 Antonio Luiz 33indd 248 4122013 102940 ReVIsItAndo o PRImeIRo modeLo fReudIAno do tRAumA 249 ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 de uma sedução não contingente mas generalizada e universal LAPLANCHE 1988 p108125 visto que transformadora do finito o vivido em infinito objeto fonte de pulsão para sempre causa de desejo Recebido em 1542011 Aprovado em 1162011 RefeRências ANDERSON O 2000 Freud precursor de Freud São Paulo Casa do Psicó logo BENJAMIN W 1985 Magia e técnica arte e política São Paulo Brasiliense FREUD S 1994 Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1893 Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos uma conferência vIII p3747 1896a A hereditariedade e a etiologia das neuroses vIII p143 155 1896b A etiologia da histeria vIII p189215 1896c Observações adcionais sobre as neuropsicoses de defesa vIII p163183 1905 Três ensaios sobre a teoria da sexualidade vVII p118 230 1906 Minhas teses sobre o papel da sexualidade na etiologia das neurose vVII p253263 2004 Obras psicológicas de Sigmund Freud escritos sobre a psicologia do inconsciente Rio de Janeiro Imago 1915 Pulsões e destinos da pulsão v1 p133173 LACAN J 19641985 O Seminário livro 11 Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor LAPLANCHE J 1988 Teoria da sedução generalizada e outros ensaios Porto Alegre Artes Médicas 1992 Novos fundamentos para a psicanálise São Paulo Martins Fontes MASSON J 1986 A correspondência completa de Sigmund Freud para Wilhelm Fliess 18871904 Rio de Janeiro Imago MEZAN R 1991 Freud a trama dos conceitos 3 ed São Paulo Perspec tiva RAPAPORT D 1982 A estrutura da teoria psicanalítica São Paulo Perspec tiva RIBEIRO P C 1996 Sedução generalizada e primazia do sexual Percurso Revista de Psicanálise ano VIII n16 São Paulo Instituto Sedes Sapientiae p4957 04 Antonio Luiz 33indd 249 4122013 102940 250 AntônIo LuIz PeReIRA de CAstILho ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 ROBERT M 1991 A revolução psicanalítica São Paulo Perspectiva RUDGE A 2009 Trauma Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor UCHITEL M 2001 Neurose traumática São Paulo Casa do Psicólogo Antônio Luiz Pereira de Castilho anluizyahoocom 04 Antonio Luiz 33indd 250 4122013 102940 CASTILHO A Revisitando o primeiro modelo freudiana do trauma sua composição crise e horizonte de persistência na teoria psicanalítica Àgora v 16 n 2 Rio de Janeiro 2013 Entre inúmeras as teorias e fundamentos ligados à psicanálise freudiana a teoria da sedução de 1896 traz em sua fundamentações noções de traumas teoria da sedução pulsão e da sexualidade infantil Essa teoria é o produto das reflexões freudianas acerca do trauma Em primeira análise é importante relembrar que dentro da psicologia o mecanismo de defesa chamado de histeria é um dos pontos de partida da teoria freudiana Bem como é impreterível pontuar que Charcot foi um dos mentores de Freud com quem ele fez estágio Nessa época Charcot fazia uso da hipnose frente aos quadros histéricos Somado a isso o artigo retrata que a palavra trauma tem origem grega e referese a uma ferida em decorrência de uma penetração sendo associada a um rompimento de determinada estrutura de defesa A constituição da teoria da sedução dessa forma tem sua base nos estudos de Charcot onde a partir da histeria há uma busca pela identificação a agentes provocadores e dentro deles estava o trauma Para Freud a identificação do trauma era posto como um momento responsável pelo desencadeamento da histéria sendo esse tão forte que mesmo sem predisposição genética o sujeito o evento dispara uma atividade psíquica patológica que seria responsável por desencadear a neurose Com isso a dinâmica neurótica freudiana consiste na formação cisão entre afeto sendo esse de terror como resposta ao trauma psíquico e representação Esse trauma psíquico era retido recalcado e por isso não era de acesso consciente do sujeito Com isso o processo de cura viria por meio de uma retrospectiva da vida do sujeito a fim de determinar a origem dos sintomas Esse momento de acordo com Freud era necessariamente de origem sexual uma experiência precoce de relação sexual resultante de um momento de abuso ainda na infância Ao criar essa teoria Freud choca sua época retratando a sexualidade infantil temática essa que ainda é sensível nos dias atuais era ainda mais sensível no seu contexto sócio histórico Em suma diante do que Freud chama de teoria da sedução marca uma articulação entre a neurose e o trauma em outras palavras seria marcado por um momento na infancia onde na condição de passividade a criança sofreria um abuso sexual o que irá culminar em um trauma Esse trauma irá se tornar uma lembrança inconsciente que irá se manifestar de maneira ressignificada em eventos no futuro que irá fazer com que o sintoma histérico se manifeste Vale salientar que é necessário um momento uma lembrança ativadora daquele depósito traumático até então recalcado Vale ainda pontuar que apesar do discurso freudiano vir atrelado a uma busca por padrões fala comuns as histéricas bem como pontua que as manifestações histéricas como todo estariam relacionadas a um trauma sexual infanto a psicanálise freudiana reforça a particularidade de cada sujeito diante seu mecanismo de defesa e seus sintomas sendo esses subjetivos a cada experiências vivenciada pelo sujeito Para além dessas concepções o paradigma pulsional tão é uma análise que cabe a pulsão vem como a representação de estímulos psíquicos apesar de universal é singular a cada sujeito que tem origem na sexualidade infantil CASTILHO A Revisitando o primeiro modelo freudiana do trauma sua composição crise e horizonte de persistência na teoria psicanalítica Àgora v 16 n 2 Rio de Janeiro 2013 Entre inúmeras as teorias e fundamentos ligados à psicanálise freudiana a teoria da sedução de 1896 traz em sua fundamentações noções de traumas teoria da sedução pulsão e da sexualidade infantil Essa teoria é o produto das reflexões freudianas acerca do trauma Em primeira análise é importante relembrar que dentro da psicologia o mecanismo de defesa chamado de histeria é um dos pontos de partida da teoria freudiana Bem como é impreterível pontuar que Charcot foi um dos mentores de Freud com quem ele fez estágio Nessa época Charcot fazia uso da hipnose frente aos quadros histéricos Somado a isso o artigo retrata que a palavra trauma tem origem grega e referese a uma ferida em decorrência de uma penetração sendo associada a um rompimento de determinada estrutura de defesa A constituição da teoria da sedução dessa forma tem sua base nos estudos de Charcot onde a partir da histeria há uma busca pela identificação a agentes provocadores e dentro deles estava o trauma Para Freud a identificação do trauma era posto como um momento responsável pelo desencadeamento da histéria sendo esse tão forte que mesmo sem predisposição genética o sujeito o evento dispara uma atividade psíquica patológica que seria responsável por desencadear a neurose Com isso a dinâmica neurótica freudiana consiste na formação cisão entre afeto sendo esse de terror como resposta ao trauma psíquico e representação Esse trauma psíquico era retido recalcado e por isso não era de acesso consciente do sujeito Com isso o processo de cura viria por meio de uma retrospectiva da vida do sujeito a fim de determinar a origem dos sintomas Esse momento de acordo com Freud era necessariamente de origem sexual uma experiência precoce de relação sexual resultante de um momento de abuso ainda na infância Ao criar essa teoria Freud choca sua época retratando a sexualidade infantil temática essa que ainda é sensível nos dias atuais era ainda mais sensível no seu contexto sóciohistórico Em suma diante do que Freud chama de teoria da sedução marca uma articulação entre a neurose e o trauma em outras palavras seria marcado por um momento na infancia onde na condição de passividade a criança sofreria um abuso sexual o que irá culminar em um trauma Esse trauma irá se tornar uma lembrança inconsciente que irá se manifestar de maneira ressignificada em eventos no futuro que irá fazer com que o sintoma histérico se manifeste Vale salientar que é necessário um momento uma lembrança ativadora daquele depósito traumático até então recalcado Vale ainda pontuar que apesar do discurso freudiano vir atrelado a uma busca por padrões fala comuns as histéricas bem como pontua que as manifestações histéricas como todo estariam relacionadas a um trauma sexual infanto a psicanálise freudiana reforça a particularidade de cada sujeito diante seu mecanismo de defesa e seus sintomas sendo esses subjetivos a cada experiências vivenciada pelo sujeito Para além dessas concepções o paradigma pulsional tão é uma análise que cabe a pulsão vem como a representação de estímulos psíquicos apesar de universal é singular a cada sujeito que tem origem na sexualidade infantil
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ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 Antônio Luiz Pereira de Castilho Mestre em psicologia pela UFMG na área de Estudos Psicanalíticos Especialista em Teoria Psicanalítica pela UFMG Revisitando o pRimeiRo modelo fReudiano do tRauma sua composição cRise e hoRizonte de peRsistência na teoRia psicanalítica Antônio Luiz Pereira de Castilho Resumo Revisitase a construção do primeiro modelo freudiano do trauma o eixo da chamada teoria da sedução 1896 Seus compo nentes e dinâmica são examinados e discutidos O paradoxo presente na mencionada teoria é registrado bem como a reformulação por parte de Freud do fundamento de sua doutrina através da postulação da pulsão e da sexualidade infantil Por fim ao lado da engenhosa e singular maneira pela qual aquele modelo do trauma articula seus elementos um horizonte de persistência daquela abordagem é ainda afirmado na esfera da teoria da sedução generalizada palavraschave Trauma teoria da sedução pulsão sexualidade infantil teoria da sedução generalizada abstRact Revisiting the first Freudian model of trauma its com position crisis and horizon of persistence in the psychoanalytical theory The author revisits the building of the first Freudian model of trauma the axis of the socalled theory of seduction 1896 Its components and dynamics are examined and discussed The paradox inside the mentioned theory is registered and also Freuds reformulation of the basis of his doctrine by the postulation of drive and infantile sexuality At last in addition to the inventiveness and unique way the first Freudian model of trauma connects its ele ments a horizon of persistence to that approach is still affirmed in the sphere of the theory of generalized seduction Keywords Trauma theory of seduction drive infantile sexuality theory of generalized seduction 04 Antonio Luiz 33indd 235 4122013 102939 236 AntônIo LuIz PeReIRA de CAstILho ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 intRodução A reflexão sobre o trauma é um dos mais importantes eixos do movimento de ideias da teoria psicanalítica freudiana estabelecendo com os conceitos de in consciente sexualidade e pulsão uma intensa dialética Há disso vários exemplos Freud supera Charcot no entendimento da histeria por enxergar uma inovadora lógica do trauma na etiologia da neurose Em 1896 sua abordagem do trauma se tornaria ainda mais percuciente configurando a chamada teoria da sedução cuja organicidade requintada de elementos e dinâmica singular produziriam o pri meiro modelo na acepção plenamente epistemológica dessa palavra do trauma Mais adiante no caso do Homem dos Lobos publicado em 1918 Freud recorreria novamente ao modelo do trauma de 1896 Já em 1920 os sonhos traumáticos seriam focalizados pelo viés da compulsão à repetição índice da pulsão de morte Por fim em 1926 a tentativa de síntese metapsicológica que Freud empreende em Inibições sintomas e angústia traria à luz sua derradeira elaboração da questão do trauma A palavra trauma é de origem grega e reportase à ferida que provém de uma penetração Assim o traumatizante seria sempre associado ao rompimento de uma estrutura de defesa O caráter súbito inesperado e ameaçador de acontecimentos extraordinários a variedade desconcertante das formas de sua assimilação psíquica a discrepância entre a recorrência duradoura do ataque interno pulsional e a finitude do evento externo a desestabilização e a regressão psíquica que incidem sobre o sujeito e a peculiar dinâmica temporal e mnemônica da irrupção traumática apresentarseiam como os múltiplos e embaraçados fios do que poderíamos chamar de trama do trauma O curso histórico do pensamento freudiano registraria essas várias faces do trauma oscilando porém quanto ao peso epistemológico concedido a cada uma dessas dimensões aludidas Rumo ao pRimeiRo modelo do tRauma a constituição da teoRia da sedução Se retrocedermos nossa atenção ao mistério oitocentista da histeria objeto de grande esforço de elucidação por parte da medicina nas décadas finais daquela época constatamos que a neurose maior como o mal histérico era chamado na França já era abordada por meio da noção de trauma Essa conexão seria inicialmente sustentada por Charcot 18251893 com quem Freud estagiaria por cinco meses a partir de outubro de 1885 no Hospital de Salpêtrière Com o objetivo de livrar os quadros histéricos das habituais acusações de simulação Charcot utilizava bastante a hipnose em prestigiadas demonstrações nas quais sintomas eram fabricados e apagados experimentalmente Embora a índole neu rótica da histeria fosse atribuída em última instância à hereditariedade Charcot identificava a atuação de agentes provocadores dentre os quais se destacava o trauma 04 Antonio Luiz 33indd 236 4122013 102939 ReVIsItAndo o PRImeIRo modeLo fReudIAno do tRAumA 237 ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 Esse era o estado de coisas dominante frente ao qual Freud em suas primeiras publicações ousará introduzir um ponto de vista alternativo Ele reservará ao trauma uma participação diversa e mais importante no deslinde da questão No texto Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos uma conferên cia 1893 destacará a relevância do papel do trauma na histeria recorrendo a uma hipotética suspensão da hereditariedade a fundamental razão patogênica classicamente sustentada por Charcot Consideremos o caso de uma pessoa sujeita a um trauma sem antes ter estado doente e talvez mesmo sem ter qualquer predisposição hereditária O trauma deve satisfazer a certas condições Deve ser grave isto é ser de uma espécie que envolva a ideia de perigo mortal de uma ameaça à vida Mas não deve ser grave no sentido de pôr termo à atividade psíquica De outra forma não produziria o resultado que esperamos dele FREUD 18931994 p37 Podemos perceber que a atividade psíquica decorrente do trauma físico se insinua como tão importante como o aludido predicado de gravidade do fato O racio cínio adotado é o de que o evento externo não produz por si mesmo o trauma mas na verdade dispara uma atividade psíquica esta sim patogênica Freud enfatizará esse posicionamento dizendo que o que produz o resultado não é o fator mecânico mas o afeto de terror o trauma psíquico 18931994 p40 Portanto toda histeria pode ser compreendida como uma histeria traumática pois responde sintomaticamente a uma atividade psíquica Freud então afirma rá que a dinâmica neurótica consiste na formação de uma dupla consciência por meio de uma cisão entre afeto e representação De um lado há o afeto suscitado pelo evento na forma de um quantum de excitação correspondente que permanecerá retido em parte da psique pela inexistência ou incompletude de um movimento psíquico de uma abreação que deveria ter descarregado aquele excesso de estí mulo produzido De outro em face dessa ausência ou insuficiência evacuatória instalarseá de modo correlato e representativo daquele afeto patologicamente preservado o sintoma neurótico Podemos notar que o mesmo configura uma cone xão equivocada por assim dizer uma falsa ligação entre o quantum de afeto e uma área corporal convertida histericizada ou uma representação deslocada investida de forma obsessivocompulsiva Caberá à terapêutica religar o núcleo enquis tado de afeto à representação original via rememoração da cena traumática de modo a drenálo e assim estancar a produção de sintomas Em suma o que se propugnava naquele instante era refazer a sequência traumática no âmbito clí nico proporcionando substitutivamente o necessário arremate catártico que outrora restara inacabado pela atividade psíquica regular do sujeito 04 Antonio Luiz 33indd 237 4122013 102940 238 AntônIo LuIz PeReIRA de CAstILho ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 Se até aqui Freud estabelecera a ligação entre a sintomatologia da histeria e um trauma psíquico que se define pelo desencadeamento de uma atividade men tal inconclusa e dissociativa em A hereditariedade e a etiologia das neuroses 1896 dará mais um passo adiante e apresentará finalmente a tese da natureza sexual do trauma De forma solene e como resultado de ampla pesquisa reivindica se agora à experiência sexual precoce o estatuto de fator fundamental na causa das psiconeuroses de defesa em assumido contraste e confronto com a tradicional tese da hereditariedade nervosa outrora firmada por Charcot Esse novo entendimento resulta de acordo com Freud da aplicação de um novo recurso a psicanálise método peculiar que é atribuído a Breuer O texto A hereditariedade e a etiologia das neuroses 1896 abriga o primeiro registro publicado da palavra psicanálise Tratase segundo Freud de um procedimento exploratório um pouco intrincado mas insubstituível tal a fertilidade que tem demonstrado para lançar luz sobre os obscuros caminhos da ideação inconsciente FREUD 1896a1994 p150 Ele ressalta a eficácia da psicanálise em determinar a origem dos sintomas afirmando que a investigação acurada e retrospectiva da vida do paciente pela qual se vai tecendo a complexa articulação de suas representações psíquicas permitenos verificar que em todos os casos um determinado agente esteve especificamente presente na eclosão da histeria Esse agente é de fato uma lembrança relacionada à vida sexual mas que apresenta duas características da máxima importância O evento do qual o sujeito reteve uma lembrança inconsciente é uma experiência precoce de relações sexuais com excitação real dos órgãos genitais resultante do abuso sexual cometido por outra pessoa e o período da vida em que ocorre esse evento fatal é a infância até a idade de 8 ou 10 anos antes que a criança tenha atingido a maturidade sexual Uma experiência sexual passiva antes da puberdade eis portanto a etiologia específica da histeria FREUD 1896a1994 p151 Estamos pois diante do que se chamou teoria da sedução O infante numa con dição de passividade sofreria a ação sexual de um adulto ou de outra criança originando o implante de um potencial traumático que permanecerá adormecido num primeiro momento até que uma lembrança inconsciente a ocorrer no futuro produza a ressignificação do evento como experiência sexual por parte da vítima fazendo com que o sintoma neurótico então se manifeste discussão dos componentes e mecanismos do modelo etiológico de 1896 A teoria da sedução articulará neurose e trauma pela mediação de um aspecto fático o atentado sexual e um psíquico a memória ressignificante Relevante observar que em A etiologia da histeria 1896 Freud reafirmará categorica 04 Antonio Luiz 33indd 238 4122013 102940 ReVIsItAndo o PRImeIRo modeLo fReudIAno do tRAumA 239 ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 mente a experiência sexual passiva infantil em seu valor heurístico e empírico de novo e seguro ponto de abordagem da neurose ao assinalar o seguinte qualquer que seja o caso e qualquer que seja o sintoma que tomemos como ponto de partida no fim chegamos infalivelmente ao campo da experiência sexual FREUD 1896b1994 p196 Podemos constatar que a experiência do atentado sexual aparece na forma de uma predisposição o que nos indica que na verdade a etiologia neurótica preconizada pelo autor não opera de forma mecânica mas é na verdade decorrente de um processo complexo composto por momentos conjugados já que o fator predisponente sempre exigirá interligação com um cofator para a instauração do trauma Sustentamos portanto que as experiências sexuais infantis constituem a precon dição fundamental da histeria que são por assim dizer a predisposição para esta e que são elas que criam os sintomas histéricos mas não o fazem de imediato permanecendo inicialmente sem efeito e só exercendo uma ação patogênica depois ao serem despertadas após a puberdade sob a forma de lembranças inconscientes FREUD 1896b1994 p207 E ainda nas pessoas histéricas quando há uma causa precipitante atual en tram em ação as antigas experiências sob a forma de lembranças inconscientes idem p213 Mas afinal em que momento o trauma se instala No texto Observações adicionais sobre as neuropsicoses de defesa 1896c Freud utiliza várias vezes as expressões trauma infantil e traumas infantis o que aparentemente nos conduziria a situar o traumático no âmbito do atentado sexual No entanto já advertira que não são as experiências em si que agem de modo traumático mas antes sua revivescência como lembrança depois que o sujeito ingressa na maturidade sexual FREUD 1896a1994 p165 Portanto vêse que sua opção é por loca lizar o pathos traumatizante no momento do efeito singular da lembrança a saber naquela revivescência mnemônica da experiência arcaica por sua ressignificação em termos sexuais Mas a expressão trauma infantil fartamente utilizada por Freud pode ser referida em nosso entendimento ao resultado da implantação de uma potência que agirá no futuro já que o atentado sexual representou uma invasão por ora inativa mas cujos efeitos aparecerão a posteriori Nesse âmbito nos reme teríamos ao trauma em sua acepção de efração ou seja de ruptura penetrante Mas se quisermos nos referir ao momento propriamente inaugural da desorganização psíquica teremos de privilegiar o instante da ação patogênica aquele da signi ficação sexual a posteriori do atentado sedutor deflagrado pela lembrança É visível o quanto a primeira teoria do trauma fundamentase num modelo da psique como um aparelho de memória das experiências intersubjetivas que se transforma dialeticamente em sistema de conflito inconscienteconsciente em face da 04 Antonio Luiz 33indd 239 4122013 102940 240 AntônIo LuIz PeReIRA de CAstILho ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 atribuição de significado sexual a posteriori a um evento de abuso infantil Recapitulando os momentos já descritos teríamos 1 a inscrição psíquica de um traço de memória a experiência do abuso por assim dizer depositada no sujeito 2 a ativação desse traço de memória a experiência infantil res significada 3 O recalcamento dessa representação inadmissível o abuso era sexual com a cisão representaçãoexcitação afetiva 4 o retorno do recalcado nos sintomas neuróticos conflito psíquico Nesse contexto é imprescindível o registro de que a teoria do trauma em dois tempos traz consigo a primeira ela boração psicanalítica a respeito do recalcamento que se articula à sexualidade e ao conflito psíquico Segundo Freud a eclosão da histeria pode ser quase que invariavelmente atribuída a um conflito psíquico que emerge quando uma representação incompatível detona uma defesa por parte do ego e solicita um recalcamento A defesa cumpre seu propósito de arremessar a representação incompatível para fora da consciência quando há cenas sexuais infantis presentes no sujeito até então normal sob a forma de lembranças inconscientes FREUD1896b1994 p206 Cumprenos o alerta de que esta teoria do trauma calcada na sedução sexual tem seu registro temporal a partir de dois marcos bem específicos 1º um acon tecimento de abuso infantil e 2º uma lembrança ativadora daquele depósito traumático até então inócuo Tratase de uma operação póstuma de um trauma sexual na infância FREUD 1896c1994 p167 Tal operação no entanto se dá pelo poder patogênico ressignificante da lembrança Portanto o segundo evento o propiciador da lembrança é desprezado axiologicamente por Freud A rigor o segundo evento apenas acende a luz da lembrança mas não dispara o gatilho do trauma ou seja não integra a cadeia traumatizante ativando a experi ência infantil Fenomenologicamente os acontecimentos posteriores suscitarão a lembrança inconsciente patogênica por meio de associações Mas em termos de lógica do trauma o que vale é apenas a relação entre dois termos uma dia lética entre um primitivo acontecimento abusivo ainda não significado e sua lembrança ressignificante entre os quais se insere sua inocuidade temporária posteriormente transformada em reativação traumática a partir de um conhecimento adquirido pela vítima sobre a sexualidade ao longo de seu amadurecimento Questão instigante diz respeito ao grau de consciência do sujeito no momen to da ressignificação sexual de sua experiência infantil Haveria algum flash de consciência do cunho sexual da experiência vivida imediatamente recalcado Ou a lembrança isto é a ligação representativa entre o evento primitivo e sua na tureza sexual processase no plano inconsciente formando daí a expressão algo paradoxal lembrança inconsciente Freud não esclarece esse ponto 04 Antonio Luiz 33indd 240 4122013 102940 ReVIsItAndo o PRImeIRo modeLo fReudIAno do tRAumA 241 ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 Mas entendemos que o imprescindível é observar que a teoria do trauma articulada à sedução infantil coloca o momento tradutivo a saber o momento da significação sexual da experiência subjetiva como a verdadeira efetividade deto nadora do trauma Devemos ter em mente que a transição freudiana do trauma psíquico para o trauma sexual como fator etiológico das neuroses decorreu justa mente da dificuldade que Freud sentia em acatar sem maiores questionamentos a hipótese de que qualquer acontecimento poderia ser assimilado pelo sujeito na qualidade de psiquicamente traumatizante Esse ponto de vista até então dominante que passa a ser questionado sistematicamente por Freud parecia encontrar amparo em experiências com a hipnose através das quais determinações triviais eram então elevadas a um estatuto traumático para o indivíduo hipnotizado Tal fato se correlacionava de maneira intensa com certas associações levadas a efeito por pacientes quando seus estados patológicos eram vinculados mnemonicamente a eventos banais Ao lado disso ia ao encontro da tese de Breuer segundo a qual supostas ocorrências extraclínicas de um estado hipnoide no sujeito possibilitariam psiquicamente uma marcação traumática naquele a despeito da insignificância objetiva do fato Mas se Freud sabe por um lado que o traumático se inscreve por meio de uma atividade mental a tese do trauma psíquico por outro ele de fato não se sente à vontade para dispensar uma relação de adequação entre o movimento interno da psique responsável pela irrupção sintomática e a qualidade do evento externo Assim permanecia a incômoda indagação sobre se a teoria do trauma poderia apoiarse num evento exterior de escassa significação ou seja se seria viável para o entendimento que se construía alicerçarse parcialmente num fato desprovido de gravidade Uma saída cogitada para esse impasse seria o aprofundamento radical da pesquisa sobre a etiologia do sintoma de modo a se adotar uma política metodológica de sempre ultrapassar as associações ligadas a eventos de vetor atacante questionável rumo a uma ideal rememoração de um acontecimento indiscutivelmente adequado à eclosão psíquica do trauma Mas Freud ressalta que essa via vaise revelando na experiência clínica uma missão impossível uma trajetória labiríntica e infinita Mesmo quando o paciente por fim supostamente conseguia localizar um ponto de origem de seus sinto mas de apropriado valor patogênico aos olhos do analista a posteridade do tratamento não tardava a revelar o aparecimento de novas cenas até então desconhecidas e insuspeitas Podemos então notar que a preconização da etiologia sexual da neurose teria o condão de determinar um deslinde epistemologicamente eficiente para aquele interminável novelo de interconexões associativas com que a clínica se defron tava E essa virtude ocorre na medida em que não funda o seu poder explicativo apenas na economia e na dinâmica de uma suposta cena originária carecedora de 04 Antonio Luiz 33indd 241 4122013 102940 242 AntônIo LuIz PeReIRA de CAstILho ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 abreação e daí clivante e patogênica mas no significado de uma experiência infantil inconscientemente evocada O traço mnemônico que aciona a experiência infantil do atentado sexual será o fator que preservará tanto a tese da natureza psíquica do trauma quanto a adequação deste a um fato que não pode ser qualquer um mas sim certo acon tecimento qualificado axiologicamente pelo psiquismo humano um evento pois sexual O sexual surgia na teoria da sedução como uma experiência apassivante geradora de uma representação inconciliável cuja inadmissibilidade frente ao eu se definia por sua censurabilidade moral Segundo Freud os esforços defensivos do ego dependem do desenvolvimento moral e intelectual completo do sujeito 1896b1994 p207 Introduziase assim o quesito da maturidade orgânico intelectiva da vítima a fim de que a fugaz pois recalcada ressignificação da experiência infantil vivida por meio da eclosão de sentimentos de asco repúdio vergonha culpa etc se fizesse justamente pelo índice de sexualidade condenável então identificado Destaquemos que essa aludida dependência da maturação dos órgãos sexuais na puberdade bem como o correlativo conhecimento a respeito do normativo e do transgressivo são itens que contrastarão com a futura ideia de sexualidade infantil a ser desenvolvida em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade 1905 De qualquer modo tornandose a eclosão do trauma vinculada a um aspecto espe cífico de um movimento de ressignificação de evento pretérito de ordem sexual poderseia agora responder por que por exemplo tanto a prosaica visão de uma borboleta como um grave acidente ferroviário poderiam ser relatados por pacientes como os momentos a partir dos quais surgiram seus sintomas A solução consistente que se apresenta é a seguinte tanto o exemplo de evento ameaçador de fato quanto o outro francamente débil quanto ao poder de produzir um efeito traumático não fazem parte da lógica patogênica do trauma Não é pois o segundo acontecimento ou um rol secundário de acontecimentos que exatamente desencadeiam o trauma Eles desencadeiam na verdade o traço de memória traumatizante Eles são seja qual for sua natureza agentes provocadores contingenciais da lembrança inconsciente esta sim a real ativadora do evento infantil em termos patogênicos Por serem evocados mais facilmente pela memória os acontecimentos integrantes de um quadro de eventos secun dários ao abuso infantil foram sempre associados com maior espontaneidade ao trauma pelos pacientes Porém ao entendêlos corretamente como meros gatilhos mnemônicos tanto faz se tais eventos posteriores ao atentado forem triviais ou terríveis e ameaçadores de fato Por isso a opção freudiana pelo restrito entendimento do trauma através da primazia de um determinado evento infantil qualificado como sexual e de sua ativação posterior excluindose o possível poder patogênico de uma segunda 04 Antonio Luiz 33indd 242 4122013 102940 ReVIsItAndo o PRImeIRo modeLo fReudIAno do tRAumA 243 ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 cena ou de cenas posteriores terá a virtude de resolver o enigma da banalidade e da falta de adequação ao quadro traumático de uma plêiade de experiências trazidas à luz pelos pacientes ingenuamente valorizadas por eles mas em rea lidade imprestáveis para a específica composição da lógica traumática Observemos então que o sexual na forma de uma experiência infantil é o elemento que no âmbito desta primeira teoria do trauma retira o foco da parti cularidade do modo de assimilação psíquica abreativo ou não das experiências e o redireciona para o significado de uma determinada cena seu sentido inaceitável à consciência que é seu caráter efetivamente traumático Com isso a descoberta de que o trauma é sexual liberta a teoria e a clínica do puro empirismo psicologista das experiências não abreagidas e neurotizantes e coloca a reflexão e a prática defronte a um significado específico e exclusivo que se revelará o fundamento da neurose a experiência apassivante da sexualidade por via do atentado sexual Desse modo a primeira teoria do trauma de Freud não é biologista pois não sustenta qualquer aposta etiológica fundamental na hereditariedade não é mecani cista pois não admite que o evento externo por si mesmo provoque diretamente o trauma mas também não é psicologista porque não reduz o traumático à contin gência de uma forma de assimilação psíquica de eventos quaisquer que sejam Era assim notável a evolução pela qual havia passado o pensamento de Freud e sua complexa originalidade atingida nos anos 18951896 quando preconiza definitivamente a etiologia sexual da neurose formulando uma teoria da sedução como teoria do trauma em dois tempos o Refluxo da teoRia da sedução A autocrítica levada a cabo por Freud no início do outono de 1897 a respeito de sua proposta de uma etiologia traumática da neurose aparece em geral na historiografia psicanalítica como um revolucionário ponto de inflexão a partir do qual ocorreria o efetivo surgimento da psicanálise tal como prevaleceria e se tornaria conhecida na posteridade Partindo da então preconizada realidade factual da sedução infantil o pensamento freudiano teria avançado para fundamentarse na fantasia de sedução o que representaria um inquestionável aperfeiçoamento de suas bases e de seu foco As dúvidas freudianas conducentes à transformação de seu ponto de vista aparecem na carta 69 a Fliess de 21 de setembro de 1897 Querido Wilhelm E agora quero confiarlhe de imediato o grande segredo que foi despontando lentamente em mim nestes últimos meses Não acredito mais em minha neurótica teoria das neuroses A incidência da perversão teria que ser incomensura 04 Antonio Luiz 33indd 243 4122013 102940 244 AntônIo LuIz PeReIRA de CAstILho ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 velmente mais frequente do que a histeria dela resultante porque afinal a doença só ocorre quando há um acúmulo de acontecimentos e um fator contributivo que enfraqueça a defesa Agora não tenho a menor ideia de onde me situo pois não tive êxito em alcançar uma compreensão teórica do recalcamento e de sua interrelação de forças Mais uma vez parece discutível que somente as experiências posteriores deem ímpeto às fantasias que então remontariam à infância e com isso o fator da predisposição hereditária recupera uma esfera de influência da qual eu me incumbira de desalojá lo em prol do esclarecimento da neurose MASSON 1985 p265266 Embora a sinalização de um retorno à hereditariedade charcotiana jamais se tenha consumado Freud notava com gravidade e pesar que sua teoria da sedução fundavase numa improbabilidade estatística já que a quantidade de pacientes histéricos com reminiscências a respeito de atentados de sedução ultrapassava amplamente o número de pacientes com sintomatologia neurótica O corolário disso seria a existência de um quantitativo de perversos nos próprios meios familiares muitíssimo superior ao que seria razoável supor para que se tor nasse possível sustentar aquela ampla gama de lembranças quanto a abusos e atos de sedução infantil É a essa situação implausível que Freud parece se referir em certo momento da mesma carta 69 quando revela a percepção da inesperada frequência da histeria com predomínio precisamente das mesmas condições em cada caso muito embora certamente essas perversões tão generalizadas contra as crianças não sejam muito prováveis MASSON 1985 p265 Com efeito a constatação clínica de um instigante padrão e de uma inusitada regularidade nas falas de pacientes histéricos fatos aludidos por Freud como francamente inesperados resultará na ruína da tese da permanente empiricidade do atentado sexual como causador da neurose e pavimentará a introdução da suspeita de contaminação dos relatos por parte de puros movimentos de fantasia histérica desprovidos pois de lastro no abuso infantil A vantagem da hipótese da hegemonia da fantasia é que essa se apresenta aos olhos de Freud como fator dotado de plena aptidão para sustentar a surpreendente e extensa similaridade entre os relatos clínicos Embora parte dos psicanalistas antagonize a teoria da sedução com a inflexão crítica de 1897 apontando essa última como introdutora de uma radical inovação doutrinária a refletir o amadurecimento do pensamento freudiano é bom que se diga que a questão da fantasia jamais restara inexistente na etiologia traumáticosexual da neurose presente na teoria da sedução Freud salienta na dita carta 69 que lhe parece discutível que somente experiências posteriores deem ímpeto às fantasias que então remontariam à infância idem p266 Ora contrariando a historiografia simplificadora da 04 Antonio Luiz 33indd 244 4122013 102940 ReVIsItAndo o PRImeIRo modeLo fReudIAno do tRAumA 245 ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 psicanálise tal passagem supracitada nos mostra inequivocamente a ausência de um antagonismo dicotômico entre trauma e fantasia no âmbito da teoria da sedução Podemos verificar no texto em foco que as experiências posteriores configuradoras do segundo rol de eventos na fenomenologia do trauma constituem o momento de incitação e de irrupção de lembranças cujo poder patologizante pois ressignificador do evento abusivo infantil operará justamente através da deflagração de fantasias Portanto o processo de eclosão neurótica como aparece na teoria da se dução iniciouse precisamente no aludido ímpeto às fantasias ou seja na inevitável instigação fantasmática e em seu efeito atacante que são indiscerníveis da reminiscência A lembrança traumatizante opera carregandose de uma face gozosa a fantasia que por sua vez só pode ser suscitada e tecida a partir de uma dimensão mnemônica ínsita à reminiscência Nossa conclusão é a de que nesse trecho da carta do equinócio de 1897 explicitase o que restava implícito mas em pleno vigor na teoria da sedução lembrança e fantasia são correlativas e contrafaciais na irrupção traumática por via da ressignificação do evento passado infantil Na esteira disso diríamos que o mérito da teoria do trauma em dois tempos consistiria entre outras coisas em demonstrar a íntima articulação entre memória gozo ataque fantasmático defesa recalque e retorno do recalcado Se o ser humano fantasia ele só o pode fazer pela operação da lembrança traumática ainda lembrar é inevitavelmente gozar de uma fantasia atacante imediatamente formada no próprio momento e seio do que é lembrado Enfim contrariamente aos comentadores que de modo apressado elegem a suposta intro dução da fantasia na cena teórica psicanalítica como o elemento de diferenciação entre o pensamento freudiano pré e pósequinócio de 1897 o mais correto é sustentar que o que separou um momento do outro jamais foi a presença ou a ausência da noção de fantasia mas sim a especificação da origem da fantasia que cada um deles registrou explícita ou implicitamente um novo paRadigma a sexualidade infantil e pulsional Após 1897 a origem e fundamento da fantasia não mais será a vivência apas sivadora infantil por assim dizer revisada mnemonicamente como sexual mas a própria sexualidade infantil como evento universal e biológico produzido por um fator a que Freud daria o nome de Triebe impulso pulsão introduzido em 1905 no texto Três ensaios sobre a teoria da sexualidade A revolucio nária ampliação efetuada nessa obra quanto à determinação do início e das fronteiras da sexualidade que passa de fenômeno genital tutelado pela puberdade para um fenômeno autoerótico já em plena positividade e vigên 04 Antonio Luiz 33indd 245 4122013 102940 246 AntônIo LuIz PeReIRA de CAstILho ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 cia na aurora da vida infantil só se torna possível através da mencionada introdução do conceito de pulsão que funcionará como a força de pressão subjacente àquela fenomenologia sexual arcaica que então poderá ser enten dida como biológica e infantil e daí universal e não traumática Por isso logo nas primeiras linhas de Três ensaios sobre a teoria da sexualidade Freud entrelaçará sexualidade fundamento biológico e postulado pulsional ao escrever que o fato da existência de necessidades sexuais no homem e no animal expressase na biologia pelo pressuposto de uma pulsão sexual FREUD 19051994 p127 Isso quer dizer que a sexualidade só pode ser cientificamente compreendida postulandose a presença de um estímulo es pecífico de fonte somática que precede e rege aquele conjunto singular de manifestações efeitos e vicissitudes nos seres vivos Nessa mesmíssima linha uma passagem de Pulsões e destinos da pulsão Se abordarmos agora a vida psíquica do ponto de vista biológico a pulsão nos aparecerá como um conceito limite entre o psíquico e o somático como o repre sentante psíquico dos estímulos que provêm do interior do corpo e alcançam a psique como uma medida de trabalho imposta ao psíquico em consequência de sua relação com o corpo FREUD 19152004 p148 Atenção para as expressões vida psíquica do ponto de vista biológico estímulos que provêm do interior do corpo medida de trabalho imposta ao psíquico em consequência de sua relação com o corpo Todas elas nos mostram que no freudismo pósteoria da sedução a sexualidade tornarase um epifenômeno desse postulado biológico denominado Triebe pulsão que Freud compreendia por um lado como singularidade interna ao sujeito e por outro como estimulação análoga àquela produzida pela realidade em nossos sentidos Assim tanto o corpo quanto o mundo exterior têm como predicado essencial e comum o fato de ambos serem fontes de estímulos que provocarão a necessidade de um processamento evacuatório por parte do aparelho psíquico cuja função de redutor daquelas sensações e tensões recebidas e acumuladas é sua própria razão de ser Com efeito procedeuse no pensamento freudiano à substituição do sexual como instância traumática em virtude do encontro a posteriori do sujeito no curso de sua existência com certa significação relativa a evento interpessoal de sua infância pelo ponto de vista que apresenta a sexualidade como um campo das manifestações polimórficas perversas e fantasísticas oriundas do investimento de uma força pressionante de fundo somático e de operacionalidade representativa na psique a que se deu o nome de pulsão Assim o conflito psíquico fundado na sedução infantil em face de reminiscên ciasfantasias traumáticas pois inaceitáveis deflagradoras de uma defesa a partir 04 Antonio Luiz 33indd 246 4122013 102940 ReVIsItAndo o PRImeIRo modeLo fReudIAno do tRAumA 247 ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 de agora será substituído por um modelo em que um determinado fenômeno biológico e universal intitulado sexualidade infantil propiciado por fontes orgânicas de estimulação pulsional percorrerá um desenvolvimento por etapas através de fases de investimento e de organização libidinal oral anal fálica em direção a certa síntese derradeira sob a hegemonia da genitalidade Cabenos lembrar que esse processo sequencial desenrolase de modo multifacetado e por vezes acidentado apresentase sujeito a vicissitudes tais como inibições fixações e regressões contraise numa fase de latência atinge seu coroamento na genitalidadereprodutiva bem como exibe um variado leque de destinação pulsional nas vias do recalque da sublimação etc Freud registraria enfim a mudança de enfoque e da correção de curso ocorrida em seu pensamento que teria efetuado a substituição dos traumas sexuais infantis pela descoberta do infantilismo da sexualidade FREUD19061994 p258 conclusão um modelo do tRauma dotado de viés antRopológico O calcanhar de Aquiles da teoria da sedução a postulação da universalidade do atentado perverso sobre a criança tornouse tema de domínio público explorado ad nauseam no campo doutrinário da psicanálise recalcando as virtu des subsistentes da sofisticada articulação lógica e fenomenológica contida em seu modelo de entendimento do trauma Consideramos o primeiro modelo do trauma presente na teoria da sedução de 1896 um impressionante tour de force Ele é revelador da magnitude do gênio de Freud pela capacidade que possui de articular dialeticamente uma série de elementos de forma bastante engenhosa Simultaneamente o que exsurge como grandioso nas bases daquela teorização é a dimensão antropológica que se insinua Subjacente ao esquema de causação traumática da neurose vislumbrase uma visão de homem profunda complexa multifacetada a A subjetividade humana é indiscernível da categoria de intersubjetividade o trauma só pode ser pensado a partir do encontro do sujeito com a alteridade um encontro marcante com o outro marcado pelo outro b No humano ser e temporalidade se conjugam a inscrição dos eventos no psiquismo não é feita de forma imediata direta mecânica mas requer um duplo tempo para a irrupção de seus efeitos c No humano o tempo só é tornado ser pela mediação de um significado que então configura o segundo tempo do trauma e esse significado é referente ao campo sexual como dimensão intolerável e atacante ao eu e daí destinada ao recalcamento 04 Antonio Luiz 33indd 247 4122013 102940 248 AntônIo LuIz PeReIRA de CAstILho ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 d No humano a significação encontrase mnemonicamente magnetizada pelo inconsciente Significar é sempre recordar sem perceber e sem poder perceber que se recorda é associar num átimo consciente e inconsciente Daí a expressão freudiana ambígua fluida misteriosa mas reveladora lembrança inconsciente indicandonos que a conexão mnemônica entre tempos e eventos por um significado pode ser recalcada de imediato e produzir efeitos psíquicos sem que o sujeito tenha racionalmente atinado com esse processo de si sobre si mesmo e O ser humano traumatizase porque nele acontece o inusitado o traço de memória então ressignificado como inconciliável tornase a despeito disso fan tasia de desejo e ataque pulsional A passividade é um gozo paradoxal é desejo inconsciente e angústia consciente Eis o retrato panorâmico percuciente operacional e absolutamente vertigi noso em seu paradoxo que Sigmund Freud em 1896 logrou revelar a respeito da psique humana de maneira audaciosa e revolucionária A primeira teoria do trauma é portanto uma complexa articulação entre várias dimensões me tapsicológicas e antropológicas a fática intersubjetiva a significacional sexual a temporal mnemônica a inconsciente a recalcada ressignificação do evento a etiológicopulsional o retorno do recalcado pelos sintomas neuróticos e a conflitual intersistêmica o que é prazer para o inconsciente é desprazer para o consciente Na teoria da sedução o trauma é sexual Essa palavra sexual adquire aqui o estatuto de uma experiência tão marcante tão singular para o ser humano que ganha a dimensão de parâmetro de memória e critério de recepção face às vicissitudes que acometerão o sujeito em sua existência futura A sexualidade é antes e acima de tudo um tempo ao qual o homem remeterseá mnemonicamente vida afora e que ressurgirá por via de um efeito neurótico que é afinal efeito pulsional Daí o diálogo que a teoria da sedução pode estabelecer com uma magistral passagem de Walter Benjamin Pois um acontecimento vivido é finito ou pelo menos encerrado na esfera do vivido ao passo que o acontecimento lembrado é sem limites porque é apenas uma chave para tudo o que veio antes e depois BENJAMIN 1985 p37 Nesse trecho Benjamin mostranos que o vivido não passa de um depósito um traço uma inscrição que nesse nível se encerra mas que será inevita velmente ativado ressignificado pela lembrança segundo tempo do trauma tornandose sem limites ou seja produzindo em tradução psicanalítica efeito pulsional e nesse instante transformandose em chave para o que veio antes a sedução e para o que veio depois os ataques de fantasias os sonhos a neurose a compulsão repetitiva etc Eis uma dialética da memória que é a dialética da existência humana sexualizada intersubjetivamente em seu próprio originário superando o paradoxo do atentado através 04 Antonio Luiz 33indd 248 4122013 102940 ReVIsItAndo o PRImeIRo modeLo fReudIAno do tRAumA 249 ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 de uma sedução não contingente mas generalizada e universal LAPLANCHE 1988 p108125 visto que transformadora do finito o vivido em infinito objeto fonte de pulsão para sempre causa de desejo Recebido em 1542011 Aprovado em 1162011 RefeRências ANDERSON O 2000 Freud precursor de Freud São Paulo Casa do Psicó logo BENJAMIN W 1985 Magia e técnica arte e política São Paulo Brasiliense FREUD S 1994 Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1893 Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos uma conferência vIII p3747 1896a A hereditariedade e a etiologia das neuroses vIII p143 155 1896b A etiologia da histeria vIII p189215 1896c Observações adcionais sobre as neuropsicoses de defesa vIII p163183 1905 Três ensaios sobre a teoria da sexualidade vVII p118 230 1906 Minhas teses sobre o papel da sexualidade na etiologia das neurose vVII p253263 2004 Obras psicológicas de Sigmund Freud escritos sobre a psicologia do inconsciente Rio de Janeiro Imago 1915 Pulsões e destinos da pulsão v1 p133173 LACAN J 19641985 O Seminário livro 11 Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor LAPLANCHE J 1988 Teoria da sedução generalizada e outros ensaios Porto Alegre Artes Médicas 1992 Novos fundamentos para a psicanálise São Paulo Martins Fontes MASSON J 1986 A correspondência completa de Sigmund Freud para Wilhelm Fliess 18871904 Rio de Janeiro Imago MEZAN R 1991 Freud a trama dos conceitos 3 ed São Paulo Perspec tiva RAPAPORT D 1982 A estrutura da teoria psicanalítica São Paulo Perspec tiva RIBEIRO P C 1996 Sedução generalizada e primazia do sexual Percurso Revista de Psicanálise ano VIII n16 São Paulo Instituto Sedes Sapientiae p4957 04 Antonio Luiz 33indd 249 4122013 102940 250 AntônIo LuIz PeReIRA de CAstILho ágora Rio de Janeiro v XVI n 2 juldez 2013 235250 ROBERT M 1991 A revolução psicanalítica São Paulo Perspectiva RUDGE A 2009 Trauma Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor UCHITEL M 2001 Neurose traumática São Paulo Casa do Psicólogo Antônio Luiz Pereira de Castilho anluizyahoocom 04 Antonio Luiz 33indd 250 4122013 102940 CASTILHO A Revisitando o primeiro modelo freudiana do trauma sua composição crise e horizonte de persistência na teoria psicanalítica Àgora v 16 n 2 Rio de Janeiro 2013 Entre inúmeras as teorias e fundamentos ligados à psicanálise freudiana a teoria da sedução de 1896 traz em sua fundamentações noções de traumas teoria da sedução pulsão e da sexualidade infantil Essa teoria é o produto das reflexões freudianas acerca do trauma Em primeira análise é importante relembrar que dentro da psicologia o mecanismo de defesa chamado de histeria é um dos pontos de partida da teoria freudiana Bem como é impreterível pontuar que Charcot foi um dos mentores de Freud com quem ele fez estágio Nessa época Charcot fazia uso da hipnose frente aos quadros histéricos Somado a isso o artigo retrata que a palavra trauma tem origem grega e referese a uma ferida em decorrência de uma penetração sendo associada a um rompimento de determinada estrutura de defesa A constituição da teoria da sedução dessa forma tem sua base nos estudos de Charcot onde a partir da histeria há uma busca pela identificação a agentes provocadores e dentro deles estava o trauma Para Freud a identificação do trauma era posto como um momento responsável pelo desencadeamento da histéria sendo esse tão forte que mesmo sem predisposição genética o sujeito o evento dispara uma atividade psíquica patológica que seria responsável por desencadear a neurose Com isso a dinâmica neurótica freudiana consiste na formação cisão entre afeto sendo esse de terror como resposta ao trauma psíquico e representação Esse trauma psíquico era retido recalcado e por isso não era de acesso consciente do sujeito Com isso o processo de cura viria por meio de uma retrospectiva da vida do sujeito a fim de determinar a origem dos sintomas Esse momento de acordo com Freud era necessariamente de origem sexual uma experiência precoce de relação sexual resultante de um momento de abuso ainda na infância Ao criar essa teoria Freud choca sua época retratando a sexualidade infantil temática essa que ainda é sensível nos dias atuais era ainda mais sensível no seu contexto sócio histórico Em suma diante do que Freud chama de teoria da sedução marca uma articulação entre a neurose e o trauma em outras palavras seria marcado por um momento na infancia onde na condição de passividade a criança sofreria um abuso sexual o que irá culminar em um trauma Esse trauma irá se tornar uma lembrança inconsciente que irá se manifestar de maneira ressignificada em eventos no futuro que irá fazer com que o sintoma histérico se manifeste Vale salientar que é necessário um momento uma lembrança ativadora daquele depósito traumático até então recalcado Vale ainda pontuar que apesar do discurso freudiano vir atrelado a uma busca por padrões fala comuns as histéricas bem como pontua que as manifestações histéricas como todo estariam relacionadas a um trauma sexual infanto a psicanálise freudiana reforça a particularidade de cada sujeito diante seu mecanismo de defesa e seus sintomas sendo esses subjetivos a cada experiências vivenciada pelo sujeito Para além dessas concepções o paradigma pulsional tão é uma análise que cabe a pulsão vem como a representação de estímulos psíquicos apesar de universal é singular a cada sujeito que tem origem na sexualidade infantil CASTILHO A Revisitando o primeiro modelo freudiana do trauma sua composição crise e horizonte de persistência na teoria psicanalítica Àgora v 16 n 2 Rio de Janeiro 2013 Entre inúmeras as teorias e fundamentos ligados à psicanálise freudiana a teoria da sedução de 1896 traz em sua fundamentações noções de traumas teoria da sedução pulsão e da sexualidade infantil Essa teoria é o produto das reflexões freudianas acerca do trauma Em primeira análise é importante relembrar que dentro da psicologia o mecanismo de defesa chamado de histeria é um dos pontos de partida da teoria freudiana Bem como é impreterível pontuar que Charcot foi um dos mentores de Freud com quem ele fez estágio Nessa época Charcot fazia uso da hipnose frente aos quadros histéricos Somado a isso o artigo retrata que a palavra trauma tem origem grega e referese a uma ferida em decorrência de uma penetração sendo associada a um rompimento de determinada estrutura de defesa A constituição da teoria da sedução dessa forma tem sua base nos estudos de Charcot onde a partir da histeria há uma busca pela identificação a agentes provocadores e dentro deles estava o trauma Para Freud a identificação do trauma era posto como um momento responsável pelo desencadeamento da histéria sendo esse tão forte que mesmo sem predisposição genética o sujeito o evento dispara uma atividade psíquica patológica que seria responsável por desencadear a neurose Com isso a dinâmica neurótica freudiana consiste na formação cisão entre afeto sendo esse de terror como resposta ao trauma psíquico e representação Esse trauma psíquico era retido recalcado e por isso não era de acesso consciente do sujeito Com isso o processo de cura viria por meio de uma retrospectiva da vida do sujeito a fim de determinar a origem dos sintomas Esse momento de acordo com Freud era necessariamente de origem sexual uma experiência precoce de relação sexual resultante de um momento de abuso ainda na infância Ao criar essa teoria Freud choca sua época retratando a sexualidade infantil temática essa que ainda é sensível nos dias atuais era ainda mais sensível no seu contexto sóciohistórico Em suma diante do que Freud chama de teoria da sedução marca uma articulação entre a neurose e o trauma em outras palavras seria marcado por um momento na infancia onde na condição de passividade a criança sofreria um abuso sexual o que irá culminar em um trauma Esse trauma irá se tornar uma lembrança inconsciente que irá se manifestar de maneira ressignificada em eventos no futuro que irá fazer com que o sintoma histérico se manifeste Vale salientar que é necessário um momento uma lembrança ativadora daquele depósito traumático até então recalcado Vale ainda pontuar que apesar do discurso freudiano vir atrelado a uma busca por padrões fala comuns as histéricas bem como pontua que as manifestações histéricas como todo estariam relacionadas a um trauma sexual infanto a psicanálise freudiana reforça a particularidade de cada sujeito diante seu mecanismo de defesa e seus sintomas sendo esses subjetivos a cada experiências vivenciada pelo sujeito Para além dessas concepções o paradigma pulsional tão é uma análise que cabe a pulsão vem como a representação de estímulos psíquicos apesar de universal é singular a cada sujeito que tem origem na sexualidade infantil