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Economia Política
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See discussions stats and author profiles for this publication at httpswwwresearchgatenetpublication369585579 ANÁLISE DOS SISTEMAS MUNDO UMA INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE IMMANUEL WALLERSTEIN 2ªED Book March 2023 DOI 1015210ISBN978856696192 CITATIONS 3 READS 295 1 author Charles Pennaforte Universidade Federal de Pelotas 67 PUBLICATIONS 41 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Charles Pennaforte on 28 March 2023 The user has requested enhancement of the downloaded file Coleção Dinâmicas Contemporâneas História Geopolítica Relações Internacionais Vol 1 ANÁLISE DOS SISTEMAS MUNDO ANÁLISE DOS SISTEMAS MUNDO Charles Pennaforte Charles Pennaforte UMA INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE IMMANUEL WALLERSTEIN UMA INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE IMMANUEL WALLERSTEIN Coleção Dinâmicas Contemporâneas História Geopolítica Relações Internacionais Vol 3 2ª edição Coleção Dinâmicas Contemporâneas História Geopolítica Relações Internacionais Vol 3 2ª edição ANÁLISE DOS SISTEMASMUNDO UMA INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE IMMANUEL WALLERSTEIN Conselho Editorial Presidente do Conselho Editorial Ana da Rosa Bandeira Representantes das Ciências Agrárias Sandra Mara da Encarnação Fiala Rechsteiner TITULAR Representantes da Área das Ciências Exatas e da Terra Eder João Lenardão TITULAR Daniela Hartwig de Oliveira e Aline Joana Rolina Wohlmuth Alves dos Santos Representantes da Área das Ciências Biológicas Rosangela Ferreira Rodrigues TITULAR e Francieli Moro Stefanello Representantes da Área das Engenharias Reginaldo da Nóbrega Tavares TITULAR Representantes da Área das Ciências da Saúde Fernanda Capella Rugno TITULAR e Jucimara Baldissarelli Representantes da Área das Ciências Sociais Aplicadas Daniel Lena Marchiori Neto TITULAR Representantes da Área das Ciências Humanas Charles Pereira Pennaforte TITULAR e Silvana Schimanski Representantes da Área das Linguagens e Artes Chris de Azevedo Ramil TITULAR Reitoria Reitora Isabela Fernandes Andrade ViceReitora Ursula Rosa da Silva Chefe de Gabinete Aline Ribeiro Paliga PróReitora de Ensino Maria de Fátima Cóssio PróReitor de Pesquisa PósGraduação e Inovação Flávio Fernando Demarco PróReitor de Extensão e Cultura Eraldo dos Santos Pinheiro PróReitor de Planejamento e Desenvolvimento Paulo Roberto Ferreira Júnior PróReitor Administrativo Ricardo Hartlebem Peter PróReitor de Gestão da Informação e Comunicação Julio Carlos Balzano de Mattos PróReitora de Assuntos Estudantis Fabiane Tejada da Silveira PróReitora de Gestão de Pessoas Taís Ullrich Fonseca Coleção Dinâmicas Contemporâneas História Geopolítica Relações Internacionais Vol 3 2ª edição ANÁLISE DOS SISTEMASMUNDO UMA INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE IMMANUEL WALLERSTEIN Charles Pennaforte Pelotas 2023 Rua Benjamin Constant 1071 Porto Pelotas RS Brasil Fone 55 533284 1684 editoraufpelgmailcom Seção de PréProdução Isabel Cochrane Administrativo Suelen Aires Böettge Administrativo Seção de Produção Preparação de originais Eliana Peter Braz Administrativo Revisão textual Anelise Heidrich Assistente de Revisão Suelen Aires Böettge Administrativo Projeto gráfico e diagramação Fernanda Figueredo Alves Angélica Knuth Bolsista Carolina Abukawa Bolsista Coordenação de projeto Ana da Rosa Bandeira Seção de PósProdução Madelon Schimmelpfennig Lopes Administrativo Eliana Peter Braz Administrativo Projeto Gráfico Alana Machado Kusma Diagramação Capa Angélica Knuth Filiada à ABEU P412a Pennaforte Charles Análise dos sistemasmundo recurso eletrônico uma introdução ao pensamento de Immanuel Wallerstein Charles Pennaforte 2 ed Pelotas Ed UFPel 2023 81 p Coleção Dinâmicas Contemporâneas História Geopolítica Relações Internacionais v 3 340 MB ebook PDF ISBN 9788560696192 1 Wallerstein Immanuel Maurice 2 Globalização 3 História social 4 Teoria dos sistemas 5 Política mundial 6 Sistemas sociais I Título II Coleção CDD 3034 Universidade Federal de Pelotas Sistema de Bibliotecas Catalogação na Publicação Elaborada por Leda Lopes CRB 102064 A Coleção DinâmiCAs ContemporâneAs HistóriA GeopolítiCA relAções internACionAis tem como objetivo trazer ao público os grandes temas de relevância do cenário nacional e internacional Para isso conta com a análise de grandes espe cialistas que aprofundam os seus temas de estudos por meio de uma linguagem aces sível e crítica Coleção Dinâmicas Contemporâneas História Geopolítica Relações Internacionais CoorDenADor Charles Pennaforte Universidade Federal de Pelotas ConselHo eDitoriAl Edgar Gandra Universidade Federal de Pelotas Georgina Németh Lesznova Instituto Superior de Relaciones Internacionales Raúl Roa García Cuba Gilberto Aranda Universidad de Chile Paulo Gilberto Fagundes Visentini Universidade Federal do Rio Grande do Sul Roy Williams Universidade Nacional de Rosario Argentina Duas coisas ameaçam o mundo a ordem e a desordem Paul Valéry 1934 p 20 Eles praticam um massacre e o chamam de paz Tácito apud Hardt Negri 2001 Os homens que mudaram o mundo nunca o fizeram mudando os dirigentes mas sempre agitando as massas Napoleão Bonaparte 2010 p 56 O capitalismo só tem êxito quando começa a ser identificado com o Estado quando ele próprio é o Estado Fernand Braudel apud Hardt Negri 2001 p 21 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 1 QUEM FOI IMMANUEL WALLERSTEIN 2 AS ORIGENS DA ANÁLISE DOS SISTEMAS MUNDO 3 A ANÁLISE DOS SISTEMASMUNDO 4 OS CICLOS SISTÊMICOS DE ACUMULAÇÃO 5 O DECLÍNIO DA HEGEMONIA DOS EUA 6 A UTOPÍSTICA 7 AS PERSPECTIVAS DO SISTEMAMUNDO CONTEMPORÂNEO 71 A crise da Ucrânia CONSIDERAÇÕES FINAIS LIVROS PUBLICADOS NO BRASIL BIBLIOGRAFIA COMPLETA DE I WALLERSTEIN 11 18 21 27 37 46 51 55 60 66 68 70 SITES SOBRE I WALLERSTEIN E A ANÁLISE DOS SISTEMASMUNDO REFERÊNCIAS REFERÊNCIA DAS IMAGENS SOBRE O AUTOR 73 75 78 80 INTRODUÇÃO Continuo acreditando que a análise dos sistemasmundo é em primeiro lugar um protesto contra as formas nas quais a ciência se apresenta atualmente incluindo aqui o âmbito de sua forma de teorizar Immanuel Wallerstein WALLERSTEIN apud ROJAS 2007 p 141 A herança marxista desde o início do século XX sempre colocou o capitalismo como pronto para o colapso Na verdade as próprias observações de Marx sobre o caráter autofágico do capitalismo e suas incoerências estruturais apontavam e apontam para a sua crise final processo inerente ao desenvolvimento do próprio capitalismo Sobre isso inclusive não há dúvidas Basta uma leitura atenta das obras marxistas e seus inúmeros teóricos para se observar que não se trata de positi vismo ou catastrofismo anticapitalista Contudo a capacidade de superação da burguesia termo quase esquecido hoje em dia ou dos investido res o termo mais moderno na criação de saídas eou fórmulas para manter o sistema saudável frente aos seus dilemas estruturais não pôde ser levada em conta no início da análise do capitalismo enquanto sistema no século XIX O motivo era óbvio o capitalismo estava ainda em desenvolvimento 1 Sigo creyendo que el análisis de los sistemasmundo es en primer lugar una protesta en contra de las formas en las cuales la ciencia social se presenta actualmente e incluyendo aquí el ámbito de su modo de teorizar 12 Alguns teóricos foram importantes para a supe ração positiva da obra de Marx e a compreensão da dinâmica capitalista desde então Se por um lado Karl Marx 18181883 teorizou o capitalismo em sua lógica estrutural e ideológica coube a Vladimir Lênin 1870 1924 transformar a realidade e não somente interpre tála parafraseando uma das teses2 de Marx nas Teses Sobre Feuerbach MARX 1982 O líder comunista e teórico italiano Antonio Gramsci 18911937 também foi um importante cola borador nessa empreitada fornecendo uma abordagem mais sofisticada para a análise do capitalismo e de sua sociedade3 A pertinência de Gramsci nos dias de hoje é surpreendente e indispensável impactando as Ciências Sociais de maneira muito intensa Compreender e criticar um sistema complexo como o capitalismo é uma tarefa hercúlea principal mente quando se objetiva fugir do discurso panfletário eou ortodoxo e até mesmo da sua perfeição defen dida pelos liberais O trabalho intelectual levado a cabo por Immanuel Maurice Wallerstein 19302019 é de suma importância para a compreensão da dinâmica capitalista da segunda metade do século XX e sua influência sobre as Ciências 2 Tratase da décima primeira tese Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes a questão porém é transformálo 3 Conceituações teóricas como revolução passiva hegemo nia bloco histórico função piemontesa entre outras fazem parte do léxico gramsciano Sua influência sobre as Ciências Sociais é considerável 13 12 Sociais Tal importância é atestada pela influência de seu trabalho em várias áreas do conhecimento humano da política às relações internacionais O objetivo deste livro reformulado e lançado agora pela Editora da UFPel é apresentar uma visão panorâmica do pensamento do principal expoente da chamada análise dos sistemasmundo ASM Imma nuel Wallerstein de forma clara e sucinta agregando as novas realidades e reflexões sobre a última década Devemos salientar que não é uma tarefa fácil pois o teórico navegou com facilidade entre as várias áreas do pensamento humano Esperamos que o nosso propósito seja alcançado de forma integral Para atingir esses objetivos o livro será dividido em cinco partes com o propósito de facilitar a com preensão da obra wallersteiniana Para entendermos o trajeto intelectual e consequentemente os objetos de estudo de Immanuel Wallerstein faremos uma breve resenha de sua biografia Em As origens da análise dos sistemasmundo traçaremos uma visão geral das bases históricas e meto dológicas que favoreceram o surgimento da ASM A crítica à teoria da modernização e as lutas de libertação nacional ocorridas na África e Ásia no pós1945 con figuraramse no pano de fundo para a sua emergência Na segunda parte A análise dos sistemasmundo veremos o arcabouço teórico proposto por Immanuel Wallerstein e suas críticas epistemológicas ao enten dimento da nova dinâmica gerada pelo surgimento do Terceiro Mundo e as explicações para o seu atraso eco nômico e social Serão ainda explicitadas as principais categorias que formam a ASM 14 Na terceira parte Os ciclos sistêmicos de acumula ção conheceremos a contribuição de Giovanni Arrighi para a ASM no campo econômico revelando as influên cias de Antonio Gramsci e de Nikolai Kondratiev4 A quarta parte desta obra O declínio da hegemo nia dos EUA trata de uma das teses mais polêmicas de Wallerstein Em seu livro Decline of american power the US in a chaotic world5 de 2003 ele já fazia um amplo estudo sobre as origens da crise de hegemonia dos EUA que de modo geral podemos visualizar em vários aspectos da atualidade Como já assinalamos a velha tradição marxista sempre apontou a inevitabilidade da derrocada capita lista Inúmeros críticos do marxismo constantemente apontam os resquícios do positivismo em tais afir mativas Vale lembrar que a crença de um capita lismo perfeito e equilibrado com uma mão invisível regulando com perfeição a dinâmica do sistema é tão positivista quanto as afirmativas marxistas do seu fim A contribuição de Wallerstein para esse tema é justamente a indicação dos motivos do declínio hege mônico estadunidense por meio de um processo alta mente complexo com inúmeras variáveis Ou seja ele apontou o que seriam os elos fracos do capitalismo contemporâneo 4 Economista russo que elaborou nos anos 1920 os ciclos eco nômicos que explicariam as crises endêmicas do capitalismo sob uma perspectiva estrutural 5 Edição brasileira O declínio do poder americano Rio de Janeiro Contraponto 2004 15 14 A crise econômica mundial de 2008 pareceu cor roborar as análises de Wallerstein até o momento Sem a atuação do famigerado Estado as economias esta dunidense e mundial teriam entrado em uma crise tão acentuada que o crack da bolsa de 1929 não se configu raria como algo realmente importante do ponto de vista históricoeconômico para o capitalismo A própria pandemia do novo coronavírus no final de 2019 e durante 20202021 assinalou como nunca a importância da atuação do Estado como partícipe no processo econômico O presidente Donald Trump 20172021 por exemplo despejou bilhões de dólares na economia estadunidense para diminuir os efeitos da recessão econômica Uma medida inegavelmente key nesiana para o desespero dos liberais que nunca recu sam a ajuda do Estado em época de crise Outro símbolo importante da crise hegemônica dos EUA é a diminuição cada vez maior de sua capa cidade de exercer influência em prol de seus interes ses A própria atuação de Donald Trump frente à China durante o seu mandato com a guerra comercial e ataques à segunda economia do mundo assinalaram algo além do que um simples conflito por empregos Outro exemplo que pode ser mencionado foi a ten tativa de isolamento da Rússia após a invasão da Ucrâ nia em 2022 Vários países se recusaram a participar do isolamento comercial econômico e político promovido pelos EUA e pela União Europeia UE entre eles a China a Índia e o Brasil Vale lembrar os múltiplos interesses envolvidos entre esses países desde aspectos estratégicos China até econômicos a Índia com as 16 rotas do Colar de Pérolas de Beijing e falta de clareza da política externa brasileira no governo Bolsonaro Em A utopística abordaremos os caminhos e perspectivas para o que está por vir na visão de Wal lerstein De que maneira devemos nos preparar para o que irá ocupar o lugar do capitalismo nesse momento de transição O que virá depois do capitalismo Ou o capitalismo sofrerá mais uma metamorfose Na última parte com As perspectivas do siste mamundo contemporâneo analisamos o atual estágio das relações internacionais à luz do declínio geopolítico dos EUA passando pela questão ucraniana e da Otan no conflito no papel do Brics e no que podemos esperar como corolário desta nova realidade Uma obra instigante e importante para todos aque les que querem ficar um passo à frente na atualidade O principal mérito em nossa opinião de Immanuel Wallerstein foi a sua atualidade na criação de visões do momento que passa o capitalismo e suas influências sobre a vida de bilhões de pessoas Como ficaremos em um cenário de desagregação do atual ciclo de acumulação Os países ditos emer gentes terão capacidade de ocupar o lugar das nações que compõem o atual ciclo de acumulação no novo ciclo que virá O Brics é uma nova perspectiva E os EUA A sua derrocada é inevitável ou o sistema se adaptará mais uma vez e superará a sua atual crise Muitas perguntas Respostas certamente existem mas não dentro do senso comum difundido em jornais e revistas ou por acadêmicos que criam eou reprodu zem análises que vão ao encontro dos interesses das 17 16 grandes corporações internacionais ou das instituições de ensino vinculadas ao processo de manutenção sis têmico Wallerstein propôs algumas análises Por que não as conhecer 18 1 QUEM FOI IMMANUEL WALLERSTEIN Formado em Sociologia nasceu em Nova Iorque EUA em 28 de setembro de 1930 Wallerstein obteve toda a sua formação acadêmica na Universidade de Columbia Nova Iorque Em 1947 iniciou o curso de Sociologia na Universidade Columbia e ao mesmo tempo sua militância política Começou a sua carreira ainda em Nova Iorque o epicentro do capitalismo mundial onde encontrou o solo fértil e as condições de liberdades intelectuais e financeiras para desenvolver as suas ideias assim como seus colegas Robert Cox 19262018 ligado à York University em Toronto Canadá e Giovanni Arrighi na Jonh Hopkins Em 1951 formouse e publicou seu primeiro artigo Revolution and order no qual discutia como um possível governo mundial trataria as revoluções em curso no mundo e os problemas que as motivavam VIEIRA 2021 p 136 Em 1953 retornou à Univer sidade de Columbia para escrever sua dissertação de mestrado aprovada em 1954 com o título McCarthysm and the Conservative VIEIRA 2021 Seu doutorado foi concluído em 1959 lecionou na Universidade até o início dos anos 1970 Ensinou Sociologia na Universidade McGill no Canadá até 1976 Entre 1976 e 1996 trabalhou na Universidade de 19 18 Binghamton Nova Iorque Foi professor visitante em várias universidades do mundo e desde 2000 era pes quisador sênior na Universidade de Yale EUA onde trabalhou até sua morte em 2019 GENZLINGER 2019 online O trabalho de Wallerstein direcionouse inicial mente para os temas africanos póscoloniais6 Em sua juventude havia se aproximado da África por meio de dois congressos em 1951 e 1952 sendo o segundo em Dacar Senegal onde teve contato com os movimentos de independência Seu foco de estudo estaria definido a partir de então VIEIRA 2021 online Após a defesa de sua tese The role of voluntary associations in the nationalist movements in Ghana and the Ivory Coast tornouse um africanista reconhecido No início dos anos 1970 o teórico deslocou o seu interesse pela África para a história e a dinâmica da economia mundial tendo sido reconhecido internacio nalmente Wallerstein foi diretor do Fernand Braudel Center até 2005 e em várias ocasiões atuou na reno mada École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris Na década de 1990 liderou a Gulbenkian Com mission para a Reestruturação das Ciências Sociais e entre 1994e 1998 foi presidente da International Socio logical Association7 Além de títulos honoríficos por diversas univer sidades ao redor do mundo vale mencionar o título de 6 Ao final do livro o leitor encontrará uma lista completa dos livros publicados por Wallerstein em português Brasil e em inglês 7 httpsiwallersteincom 20 Doutor Honoris Causa oferecido em 2009 no Brasil pela Universidade de Brasília Figura 1 Immanuel Wallerstein na European University São Petersburgo 2008 Fonte KOUPRIANOV 2008 CC BYSA 30 disponível no repositório digital da Wikimedia Commons 2 AS ORIGENS DA ANÁLISE DOS SISTEMASMUNDO O capitalismo representa a recompensa material para alguns mas para que isto possa acontecer nunca pode haver recompensa material para todos Immanuel Wallerstein 2002 p 174175 A ASM surgiu da crítica ao modelo de análise social e econômico utilizado pelas Ciências Sociais Europa desde o século XIX Do final do século XIX até 1970 as Ciências Sociais consistiam em uma série de discipli nas específicas com maior ou menor aceitação de suas fronteiras sob o ponto de vista epistemológico Entre 1850 e 1945 as clivagens intelectuais mais importantes entre os acadêmicos desde o século XIX eram o passadopresente e o mundo Ocidentalresto do mundo Dentro dessa lógica os historiadores estuda vam o passado e os economistas cientistas políticos e sociólogos estudavam o presente A História a Economia a Ciência Política e a Sociologia estavam voltadas para o mundo ocidental enquanto os orientalistas e antropólogos estudavam o resto do mundo8 Até 1945 as fronteiras entre essas disciplinas eram bem delimitadas No pósguerra segundo Wallerstein esse modelo não conseguiu dar 8 Os antropólogos estudavam as sociedades primitivas e os orientalistas estudavam as grandes civilizações não ocidentais 22 conta da nova realidade surgida com o processo de lutas de independência na África e na Ásia Sob ataque o modelo vigente de análise das Ciên cias Sociais começou a enfraquecer Para Wallerstein a maior mudança na ciência social mundial nos 25 anos após 1945 foi a descoberta da realidade contem porânea do Terceiro Mundo 2002 p 231 Como con sequência as pesquisas do mundo ocidental Europa foram divididas em três domínios em função da nova configuração do mundo moderno o mercado Econo mia o Estado Ciência Política e a sociedade civil Sociologia Como salientamos um novo contexto se abriu no pós1945 com as lutas pela independência Inúmeras nações foram influenciadas pela proposta socialista principalmente pelo exemplo bemsucedido da Revolu ção Russa com a República Popular da China adotando inicialmente o seu modelo As excolônias trataram de defender sua autono mia política e cultural no bojo das lutas de libertação nacional e em eventos internacionais como por exem plo a Conferência de Bandung9 em 1955 Tratavase de um processo de reafirmação eou autoafirmação perante o mundo ocidental As novas nações que a priori não deviam mais satisfações aos colonizadores estavam em pleno processo de tomar as rédeas de seus destinos 9 A conferência reuniu inúmeros países do então Terceiro Mundo que não aceitavam a bipolaridade entre EUAURSS como forma de divisão do sistema internacional 23 22 Figura 2 Sessão plenária na Conferência de Bandung 1955 Fonte Ministério das Relações Exteriores da Indonésia 1955 A perspectiva epistemológica de disciplinas espe cíficas para os países ricos metrópoles e de outras para o resto do mundo entrou em declínio e a integração passou a ser necessária A partir de então o estudo sobre América Latina Ásia ou África tornouse legítimo O fim do poder metropolitano trouxe à tona uma triste realidade para as excolônias demonstrando o real caráter do sistema capitalista como um todo A ideia de que a ocupação europeia seria benéfica para os povos atrasados da África e Ásia não se mostrou verdadeira Pelo contrário O que se verificou foi um resultado nefasto da civilização sobre os povos atra sados principalmente na África Todas as imagens de guerras miséria e epidemias que eram comuns na segunda metade do século XX tiveramtêm em seu bojo 24 a trama criada pelos colonizadores europeus em suas formas econômicas eou sociais Com esse cenário os movimentos políticos póscoloniais optaram por outro modelo que não fosse o do colonizador daí a vitória da proposta socialista e terceiromundista entre asiáticos e africanos Como forma de fugir da responsabilidade desse legado alguns setores da academia vinculados ao capi talismocolonialismo elaboraram teorias que justificas sem o atraso das excolônias e ao mesmo tempo resgatassem a dimensão benéfica do capitalismo enquanto sistema organizador socioeconômico A ideia do desenvolvimento em etapas um processo evolutivo tornouse a grande moda no pósguerra O desenvolvimento econômico algo inevitável pela lógica dos seus defensores para a solução das mazelas econômicas e sociais das excolônias ganhou força no meio acadêmico ocidental oferecendo ao mesmo tempo uma perspectiva teórica de melhoria para as novas nações A culpa do atraso social e econô mico não seria mais a exploração econômica das antigas metrópoles ou do capitalismo enquanto sistema mas sim do baixo desenvolvimento das próprias colônias Surgia assim a teoria da modernização TM cujo método de análise era a comparação sistemática entre todos os Estados A TM partia da premissa de um desen volvimento linear e universal de todas as sociedades na direção do crescimento econômico Desse modo todas as excolônias chegariam inevitavelmente ao desenvolvimento copiando os modelos de sucesso das antigas metrópoles independentemente da parte 25 24 em que as excolônias estavam inseridas na estrutura sistêmica do capitalismo WALLERSTEIN 200210 A TM era perfeita para explicar o resultado não muito favorável da exploração colonial desde o século XIX Na verdade o que se propunha agora era um cho que capitalista para as excolônias que haviam sofrido com o próprio capitalismo É na direção oposta que a ASM se apresentou como uma perspectiva teórica para compreender e explicar a nova realidade do momento Mais precisa mente se a análise de sistemasmundo tomou forma nos anos 1970 foi porque as condições do seu surgi mento estavam maduras no interior do sistemamundo WALLERSTEIN 2002 p 231 Continuando Wal lerstein afirma que a intenção original da análise dos sistemasmundo era o protesto contra a teoria da modernização 2002b p 234 Finalizando ele argumenta que é no ponto que a análise de sistemasmundo se apresenta como um movimento de conheci mento que fez uma série de argumentos que pôs em causa a teoria da modernização e depois mais fundamentalmente toda a estrutura das ciências sociais como tinham sido construídos no século XIX WALLERSTEIN 2004 p 411 10 Para um aprofundamento do desenvolvimentismo e seus re sultados ver o artigo Geocultura do desenvolvimento ou trans formação da nossa geocultura 11 It is at point that worldsystems analysis presented itself as a knowledge movement that made a series of arguments which called into question first modernization theory and then more fundamentally the whole structure of the social sciences as they had been constructed in the nineteenth century 26 O cenário para a formulação de respostas ao status quo póscolonial estava formado 3 A ANÁLISE DOS SISTEMAS MUNDO É por essa razão que sempre resisti a usar o termo teoria dos sistemasmundo frequentemente empregado para des crever o que estamos discutindo especialmente por não especialistas e tenho insistido em chamar nosso trabalho de análise de sistemasmundo Immanuel Wallerstein 2002 p 231 No capítulo anterior observamos as contradições sis têmicas que permitiram o surgimento da ASM Apesar de ser considerado como uma das principais figuras da ASM Immanuel Wallerstein não esteve só Figuram ao seu lado André Gunder Frank 19292005 Samir Amin 19312018 e Oliver C Cox 19011974 Oliver Cox seria um dos pais fundadores da ASM SWEEZY apud WALLERSTEIN 2017 p 179 Wallerstein apontou o papel fundamental de Cox na perspectiva dos siste masmundo destacando que ele havia escrito dez anos sobre os vários aspectos importantes do capitalismo histórico SWEEZY apud WALLERSTEIN 2017 p 179 Segundo Wallerstein Cox havia proposto cinco pontos essenciais para a futura perspectiva analítica da ASM Eram eles 1 O capitalismo não é meramente um sistema é um sistemamundo 28 2 O capitalismo opera como uma economiamundo ca pitalista baseado na acumulação sem fim do capital 3 Há uma divisão do trabalho axial na economiamun do capitalista baseada na antinomia centroperiferia 4 Inevitavelmente ocorreu uma mudança constante na localização dos Estados centrais no sistema 5 O capitalismo não foi inventado múltiplas vezes mas somente uma SWEEZY apud WALLERSTEIN 2017 p 179 Segundo Wallerstein Cox estava correto e expôs as ideias básicas da ASM nas décadas de 1950 e 1960 SWEEZY apud WALLERSTEIN 2017 p 179 Para ele Cox seria realmente o paifundador da ASM Em seu livro The WorldSystem and Africa 2017 na ver dade uma coletânea de artigos publicados entre 1985 e 2009 Wallerstein dedica o capítulo Oliver C Cox as worldsystem analyst para ressaltar a importância do sociólogo trinidadiano para a ASM Segundo ele Acho que o leitor verá claramente agora como o modo de análise do capitalismo de Cox está em consonância com o que veio a ser chamado de análise do sistemamundo SWEEZY apud WALLERSTEIN 2017 p 190 Além das próprias observações de Immanuel Wal lerstein e da contribuição de Oliver C Cox a ASM possui três influências importantes na sua constituição a escola dos Annales o marxismo e a teoria da depen dência VELA 2001 p 3 Da primeira Wallerstein tomou de Braudel a sua insistência na longa duração 29 28 longue durée O impacto dos Annales está no nível metodológico geral VELA 2001 p 312 A contribuição dos Annales por meio da longue durée longa duração ajudaria na compreensão do sis temamundo como um sistemahistórico que possui ria um ciclo de vida a ascensão e a decadência Sendo assim existiria um processo dinâmico e dialético que permitiria a existência de um sistemamundo que seria substituído por outro ocorrendo assim períodos de transições WALLERSTEIN 2006 p 306 De Marx Wallerstein aprendeu que 1 a realidade fundamen tal está materialmente baseada no conflito social entres os grupos humanos 2 a preocupação relevante com a totalidade 3 a natureza transi tória das formas sociais e teóricas sobre elas 4 a centralidade do processo de acumulação e da competitividade da luta de classes resulta dela 5 um senso dialético do movimento através do conflito e da contradição VELA 2001 p 313 A teoria da dependência inspirase fortemente da teoria da dependência uma explicação neomarxista dos processos de desenvolvimento popular no mundo em desen 12 Wallerstein got from Braudels his insistence on the long term la longue durée The impact of the Annales is at the general methodological level 13 Wallerstein learned that 1 the fundamental reality if social conflict among materially based human groups 2 the concern with a relevant totality 3 the transitory nature of social forms and theories about them 4 the centrality of the accumulation process and competitive class struggles that result from it 5 a dialectical sense of motion through conflict and contradiction 30 volvimento A teoria da dependência concen trase na compreensão da periferia olhando para as relações centroperiferia VELA 2001 p 314 Os economistas Karl Polanyi 18861964 e Joseph Schumpeter 18831950 também forneceram importantes observações para os trabalhos de Wallers tein Para alguns analistas a ASM seria de alguma maneira uma adaptação da TD por apresentar uma explicação do processo de desenvolvimento econô mico atrelado à dinâmica Centro países ricos Perife ria e SemiPeriferia países subdesenvolvidos VELA 2001 p 3 Figura 3 O economista húgaro Karl Polanyi Fonte Autor desconhecido 2019 CCPD 10 disponível no repositório digital da Wikimedia Commons 14 draws heavily from dependency theory a neoMarxist expla nation of development processes popular in the developing world Dependency theory focuses on understanding the periphery by looking at coreperiphery relations 31 30 Nesse processo os países pobres levariam desvan tagens qualitativas nos termos de troca entre produtos de pouco valor agregado matériasprimas por exem plo por produtos de alto valor agregado industrializa dos das nações mais desenvolvidas Centro dentro do sistemamundo capitalista O desnível tecnológico entre as nações seria o ponto central no processo de atraso econômico e social e na manutenção desse status quo Sob tais influências Wallerstein construiu uma importante análise de interpretação da realidade capi talista nos últimos 45 anos Como já vimos o teórico refutava a ideia de ter construído uma teoria dos sistemasmundo Segundo ele sempre resisti a usar o termo teoria dos sistemasmundo frequentemente empregado para descrever o que estamos discutindo espe cialmente por não especialistas e tenho insistido em chamar nosso trabalho de análise de siste masmundo É cedo demais para teorizar de maneira minimamente séria e quando chegar mos ao ponto de fazêlo é a ciência social e não os sistemasmundo que devemos teorizar Vejo o trabalho dos últimos 20 anos e de alguns anos adiante como limpeza de terreno que nos permitirá construir uma estrutura útil para a ciência social WALLERSTEIN 2002 p 231 Como já assinalamos a ASM surgiu como um movimento de conhecimento que fez uma série de argu mentos que puseram em xeque a TM e depois mais fundamentalmente toda a estrutura das Ciências Sociais como tinha sido construída desde o século XIX 32 Para Wallerstein a ASM deveria conter três eixos 1 O sistemamundo não os EstadosNação é a uni dade básica de análise social 2 Nem as epistemologias idiográficas15 e nomotéticas16 são úteis para análise da realidade social e 3 A existência de limites das disciplinas dentro das Ciências Sociais não faz qualquer tipo de sentido intelectual Wallerstein definia o sistemamundo como uma divisão territorial do trabalho multicultural na qual as produções e intercâmbio de bens básicos e matériaspri mas é necessária para a vida de seus habitantes todos os dias VELA 2001 p 417 Um detalhe importante sempre mencionado pelos críticos da ASM é a dicoto mia macromicro localnacional Para Wallerstein isso seria uma falsa polêmica pois delimitar se as fronteiras sociais correspondem ao siste mamundo ou às NaçõesEstado é o menos importante Para o sociólogo estadunidense a real novidade é que a perspectiva dos sistemasmundo nega que a NaçãoEs 15 Corresponderiam grosso modo às Ciências HumanasSo ciais cuja metodologia não estaria necessariamente vinculada à criação de leis gerais de grande envergadura explicativa como os eventos que ocorrem no universo 16 Estabelecem leis gerais para fenômenos suscetíveis serem reproduzidos para a compreensão do universo De modo geral corresponderiam às Ciências Exatas 17 multicultural territorial division of labor in which the produc tions and exchange of basic goods and raw materials is necessary for the everyday life of its inhabitants 33 32 tado represente em algum sentido uma sociedade relativamente autônoma que se desenvolve ao longo do tempo WALLERSTEIN 2002 p 306 O capitalismo é compreendido como o moderno sistema social uma economiamundo que possui inú meros centros políticos Estados que disputam a hege monia do sistema Na ASM a definição da hegemonia estaria acoplada aos Ciclos Sistêmicos de Acumula ção18 Para Rojas a obra de Wallerstein segue quatro eixos importantes o históricocrítico a análise crítica o estudo da história mais imediata e a reflexão episte mológica crítica ROJAS 2007 p 1520 O eixo históricocrítico corresponde à análise da história global do capitalismo desde o século XVI até os dias de hoje A análise crítica referese à elucidação dos principais processos do que seria o longo século XX e todas as contradições sistêmicas No estudo da história mais imediata Wallers tein traça projeções do futuro do sistema capitalista enquanto sistemamundo O quarto e último eixo da abordagem wallersteiniana é a reflexão epistemológica crítica Nessa etapa é feita uma reavaliação crítica das Ciências Sociais e do saber dominante na econo miamundo capitalista O trajeto para a construção da ASM teve início em 1974 quando Wallerstein publicou The rise and future demise of the world capitalist system concepts for com parative analysis importante contribuição para os estu dos históricos e sociológicos O objetivo de Wallerstein era segundo Skopcol uma clara ruptura conceitual 18 Veremos esse tema no próximo capítulo 34 com as teorias de modernização e assim fornecer um novo paradigma teórico para orientar as nossas inves tigações acerca do surgimento e desenvolvimento do capitalismo o industrialismo e os estados nacionais SKOPCOL apud VELA 2001 p 219 Carlos A Martinez Vela assinala que o objetivo era fazer uma crítica ampla aos paradigmas vigentes no período As críticas à modernização incluem 1 a reifi cação do Estadonação como a única unidade de análise 2 pressuposto de que todos os paí ses podem seguir apenas um caminho único de desenvolvimento evolutivo 3 desconsideração do desenvolvimento históricomundial da transna cional estrutura que condiciona o desenvolvimento local e nacional 4 explicando em termos de tipos ideais história da tradição versus modernidade que são elaboradas e aplicadas a casos nacionais VELA 2001 p 220 Dois anos depois Wallerstein publicou The modern world system capitalist agriculture and the 19 a clear conceptual break with theories of modernization and thus provide a new theorical paradigm to guide our investigations of the emergence and development of capitalism industrialism and national states 20 Criticisms to modernization include 1 the reification of the nationstate as the sole unit of analysis 2 assumption that all countries can follow only a single path of evolutionary deve lopment 3 disregard of the worldhistorical development of transnational structures that constrain local and national de velopment 4 explaining in terms of ahistorical ideal types of tradition versus modernity which are elaborated and applied to national cases 35 34 origins of the european world economy in the sixteenth century sua magnum opus Em The modern world system Wallerstein teve como objetivo desenvolver um quadro teórico que permitisse a compreensão das mudanças históricas envolvidas na ascensão do mundo moderno Para Wallerstein o moderno sistemamundo capitalista poderia ser explicado pela crise do sistema feudal e a ascensão da Europa Ocidental à supremacia mundial entre 1450 e 1670 Tal perspectiva facilitaria o entendimento do processo de modernização no período assinalado proporcionando comparações entre partes do mundo diferentes Wallerstein explica que Um sistemamundo não é o sistema do mundo mas um sistema que é um mundo e que pode ser e frequentemente tem sido localizado numa área menor que o globo inteiro Uma análise de sistemas mundiais argumenta que as unidades da realidade social dentro das quais nós operamos cujas regras nos restringem são na maioria tais sistemasmundos WALLERSTEIN apud VOIGT 2007 p 110 O teórico apontava ainda a existência de dois tipos de sistemasmundo 1 os impérios mundiais e as 2 economiasmundos A diferenciação entre os dois tipos de sistemasmundo se daria pelo fato de os Impé rios mundiais terem sido ou serem uma grande estrutura burocrática com centralização política e uma divisão de trabalho central coexistindo culturas múltiplas A eco nomiamundo ao contrário se caracterizaria por uma grande divisão central do trabalho inúmeros centros políticos mantendo a coexistência de múltiplas culturas 36 O atual moderno sistema mundial teria sido for mado no século XVI na Europa expandindose pelo globo até o século XX O mundo no qual nós estamos inseridos agora ou seja o sistema mundial moderno teve suas ori gens no século XVI Este sistema mundial foi então localizado em somente uma parte do globo prin cipalmente em regiões da Europa e das Américas Ele se expandiu ao longo dos anos e atingiu todo o globo É e sempre foi uma economiamundo É e sempre foi uma economiamundo capitalista WALLERSTEIN apud VOIGT 2007 p 111 4 OS CICLOS SISTÊMICOS DE ACUMULAÇÃO A noção de ciclo sistêmico de acumulação como observa mos deriva diretamente da ideia braudeliana do capitalismo como camada superior da hierarquia do mundo dos negó cios Nosso constructo analítico portanto concentrase nessa camada superior e fornece uma visão limitada do que se passa na camada intermediária a da economia de mer cado e na camada inferior a da vida material Esse é simul taneamente o ponto forte e o ponto fraco do constructo É seu ponto forte porque a camada superior é o verdadeiro lar do capitalismo e ao mesmo tempo é menos transpa rente e menos explorada do que a camada intermediária a da economia de mercado Giovanni Arrighi 1996 p 24 Outro importante teórico para construção da ASM foi o economista italiano radicado nos EUA Gio vanni Arrighi21 19372009 Com o seu livro O longo século XX22 entre outras obras forneceu importante colaboração 21 Foi professor de Sociologia na Universidade Estadual de Nova Iorque Binghamton e na Universidade Johns Hopkins EUA 22 Ao lado do livro O longo século XX vale a pena ler os livros Caos e governabilidade no moderno sistema mundial em coautoria com Beverly Silver e Adam Smith em Pequim Os três livros analisam o capitalismo histórico sendo uma importante contribuição para a ASM 38 A sua contribuição ocorreu na análise da hege monia dos EUA sob inspiração gramsciana e nos ciclos de acumulação capitalista Arrighi era adepto tal como Wallerstein dos Ciclos de Kondratiev elaboração teó rica do economista russo Nikolai Kondratiev 1898 1932 na década de 1920 A tese do economista russo para o capitalismo analisando o desenvolvimento do capitalismo do século XIX era de que o seu desenvol vimento se baseava em ciclos Um ciclo de Kondratiev teria um período de dura ção determinada de 40 a 60 anos que corresponderia aproximadamente ao retorno de um mesmo fenômeno Esse ciclo apresenta duas fases distintas uma fase ascendente fase A e uma fase descendente fase B Essas flutuações de longo prazo seriam características da economia capitalista A primeira referência de Kondratiev aos ciclos prolongados ocorreu em seu livro A economia mundial e sua conjuntura durante e depois da guerra 1922 Para ele a natureza particularmente aguda da crise do pósguerra Primeira Guerra Mundial se explicava pelo ponto de mudança no ciclo prolongado e o começo de sua fase descendente Em 1926 Kondratiev apresentou na sua obra As ondas longas da conjuntura a hipótese da existência de ciclos longos23 23 Kondratiev fez sua base na análise de séries cronológicas de preços no atacado de 1790 a 1920 das potências capitalistas no período Estados Unidos da França e do Reino Unido 39 38 Figura 4 O economista russo Nikolai Kondratiev Fonte Autor desconhecido 2018 Domínio Público disponível no repositório digital da Wikimedia Commons Partindo de curvas empíricas Kondratiev elaborou curvas teóricas que a seu ver mostravam tendências seculares Considerou ter encontrado dois ciclos longos e meio entre 1780 e 1920 iniciando a fase descendente do terceiro ciclo Segundo Kondratiev a base dos ciclos longos é o desgaste a reposição e o incremento do fundo de bens de capital básicos cuja produção exigiria investimentos enormes A reposição e o incremento desse fundo não 40 seriam um processo contínuo e aconteceriam por saltos Os ciclos econômicos ocorreriam a partir desses fatos Sob inspiração dos Ciclos de Kondratiev para Arrighi o sistema capitalista teria passado por quatro ciclos sistêmicos de acumulação e expansão genovês holandês britânico e estadunidense Os ciclos sistêmi cos de acumulação de capital constituem uma cadeia de estágios parcialmente superpostos por meio dos quais a economia capitalista europeia transformou a economia mundial em um intenso sistema de trocas A superposição desses ciclos ocorre na passagem de um para o outro ou seja enquanto um ciclo está se aproximando do seu término ao mesmo tempo outro ciclo sistêmico de acumulação começa a se formar Essa fase de superposição ocorre durante a chamada turbu lência financeira do ciclo que está chegando ao fim24 24 O aspecto principal do perfil temporal do capitalismo histórico aqui esquematizado é a estrutura semelhante de todos os séculos longos Todos esses constructos consistem em três segmentos ou períodos distintos 1 um primeiro período de expansão fi nanceira que se estende de Sn1 a Tn1 no correr do qual o novo regime de acumulação se desenvolve dentro do antigo sendo seu desenvolvimento um aspecto integrante da plena expansão e das contradições deste último 2 um período de consolidação e desenvolvimento adicional do novo regime de acumulação que vai de Tn1 a Sn no decorrer do qual seus agentes principais promovem monitoram e se beneficiam da expansão material de toda a economia mundial e 3 um segundo período de expansão financeira de Sn a Tn no decorrer do qual as contradições do regime de acumulação plenamente desenvolvido criam espaço para o surgimento de regimes concorrentes e alternativos um dos quais acaba por se tornar no tempo Tn o novo regime dominante ARRIGHI 1996 p 219220 41 40 Desse modo as grandes expansões materiais e financeiras ocorreriam quando um bloco dominante tivesse acúmulo suficiente para dominar o sistema mundial que ao chegar ao seu término provocaria a mudança de poder hegemônico Quando isso ocorre um novo ciclo sistêmico de acumulação tem início Arrighi corroborou que a contribuição mais impor tante e perene para o desenvolvimento do capitalismo como sistema mundial encontrase no âmbito das altas finanças durante o Renascimento italiano do final do século XIV e início do século XV que é o período do seu surgimento Figura 5 Ciclos Sistêmicos de Acumulação Fonte ARRIGHI 1996 p 219 O primeiro ciclo sistêmico o genovês de acordo com Arrighi é derivado de Fernand Braudel a matu 42 ridade de todos os grandes desenvolvimentos da eco nomia capitalista mundial é anunciada por uma guinada peculiar do comércio de mercadorias para o comércio de moedas ARRIGHI 1996 p 111 O capitalismo financeiro genovês desenvolveuse na segunda metade do séc XVI Segundo Arrighi À medida que se intensificaram as pressões com petitivas e que houve uma escalada na luta pelo poder o capital excedente que já não encontrava investimentos lucrativos no comércio foi man tido em estado de liquidez e usado para financiar a crescente dívida pública das cidadesEstados cujo patrimônio e receita futura foram assim mais completamente alienados do que nunca a suas res pectivas classes capitalistas ARRIGHI 1996 p 112 O ciclo de acumulação genovês foi o ponto máximo de acumulação de capital sob uma perspectiva sistêmica e estruturada uma grande expansão material da economia mundial europeia através do estabelecimento de novas rotas de comércio e da incorporação de novas áreas de exploração comercial foi acompa nhada por uma expansão financeira que acentuou o controle de capital sobre uma economia mun dial ampliada Além disso uma classe capitalista claramente identificável a genovesa incentivou supervisionou e se beneficiou das duas expansões em virtude de uma estrutura de acumulação de capital que em sua maior parte já passara a existir quando a expansão material teve início ARRIGHI 1996 p 129130 43 42 Para Arrighi esse padrão seria o ciclo sistêmico de acumulação Os capitalistas genoveses seriam os precur sores no século XVI fato que ocorreria mais três vezes Figura 6 O historiador francês Fernand Braudel Fonte Confins Revista FrancoBrasileira de Geografia 2014 online No ciclo holandês a sua supremacia comercial baseavase em uma lógica capitalista de poder repre sentada pela fórmula DinheiroTrabalhoDinheiro enquanto a supremacia comercial posterior a inglesa que se iniciou nos primórdios do século XVIII basea vase em uma síntese harmônica entre a lógica territo 44 rialista de poder TDT e a capitalista DTD Essa síntese foi o fator fundamental para o regime inglês ter alcançado um ciclo sistêmico de acumulação muito mais avançado do que o holandês ARRIGHI 1996 p 204 O ciclo britânico caracterizouse por processo contínuo de expansão reestruturação e reorganização financeira da economia mundial capitalista Os perío dos de expansão financeira foram momentos em que aumentaram as pressões competitivas tanto sobre os governos quanto empresas e comércio Essas pressões favoreceram a expansão industrial inglesa que se man teve na supremacia econômica mundial até o início do século XX O ciclo estadunidense seria a expansão do moderno sistema mundial que ocorreu durante quase todo o século XX e entrou em crise na década de 70 do século passado Segundo Arrighi utilizando agora as reflexões de Antonio Gramsci a crise hegemônica é um componente importante para o fim do ciclo de acumulação O conceito de hegemonia mundial referese especificamente à capacidade de um Estado exercer funções de liderança e governo sobre um sistema de nações soberanas Em princípio esse poder pode implicar apenas a gestão corriqueira desse sistema tal como instituído num dado momento Historicamente entretanto o governo de um sistema de Estados soberanos sempre implicou algum tipo de ação transformadora que alterou fundamentalmente o modo de funciona mento do sistema ARRIGHI 1996 p 27 45 44 Figura 7 Antonio Gramsci no início da década de 1920 Fonte Autor desconhecido 2007 Domínio Público disponível no repositório digital da Wikimedia Commons Estaríamos portanto vivendo a crise do ciclo sistêmico de acumulação fato que favoreceria ao sur gimento de novas perspectivas antissistêmicas para a superação da atual fase Conforme assinala Wallerstein Estamos passando por uma transição em nosso atual sistema mundial a economia mundial capi talista estará se transformando em um outro sistema ou em outros sistemas mundiais Não sabemos se essa mudança será para melhor ou para pior E não saberemos até que cheguemos lá um processo que pode demorar ainda uns 50 anos a partir do momento em que estamos Sabe mos no entanto que o período de transição será um período difícil para todos os que vivenciarem WALLERSTEIN 2003 p 49 46 5 O DECLÍNIO DA HEGEMONIA DOS EUA Os Estados Unidos estão em declínio Quando se afirma isto a maior parte das pessoas não acredita Sim os únicos que acham que a ideia é pertinente são os falcões americanos cujo principal argumento é a necessidade de reverter o declínio Immanuel Wallerstein 2002 p 9 Apesar da vitória sobre a URSS fato que provocou várias celebrações sobre a Nova Ordem que se abria para sistema internacional ou seja uma era de paz e prosperidade capitalista Pax Americana a realidade se mostrou bem diferente no final do século XX e nas primeiras décadas do século XXI A crise econômica global de 2008 o retorno da Rússia ao palco global geopolítico a China assumindo protagonismo eco nômico e geopolítico o programa nuclear do Irã e a Coreia do Norte como potência nuclear entre outros fatos demonstram que o cenário é muito diferente da Guerra Fria Os EUA não se configuram mais como um modelo a ser seguido ou conseguem impor seus interesses de maneira tão contundente como antes George W Bush 20012009 e Donald Trump 20172021 foram atores importantes para esse enfraquecimento que começou algumas décadas antes Para Wallerstein o declínio dos EUA começou na década de 1970 e decorre de 47 46 uma lógica simples a priori como ele mesmo assinala os fatores econômicos políticos e militares que con tribuíram para a hegemonia dos EUA são os mesmos fatores que produzirão o iminente declínio dos EUA WALLERSTEIN 2004 p 21 Historicamente a hegemonia dos EUA teve início com a recessão mundial de 1873 quando a sua eco nomia cresceu acentuadamente ao mesmo tempo em que a economia britânica entrava em uma inflexão No período entre 1873 e 1914 os EUA e a Alemanha tor naramse os principais produtores de aço e produtos químicos A busca pela hegemonia tornouse um processo natural A Segunda Guerra Mundial proporcionou uma posição privilegiada para os EUA que não sofreram diretamente os efeitos do conflito Seu território não sofreu nenhum dano em termos físicoestruturais ao contrário da Europa e da Ásia Com a derrota do nazismo o socialismo tornouse o principal obstáculo à hegemonia dos EUA em termos globais Se por um lado os soviéticos colaboraram deci sivamente para o sucesso da vitória dos Aliados sob o ponto de vista ideológico o Kremlin conseguiu uma posição privilegiada ao projetar para o mundo uma ima gem de nação com grande força militar e defensora dos valores universais de igualdade Ao mesmo tempo ocorreu a expansão de sua influência política sobre o Leste Europeu por meio da formação de Estadossaté lites Na Ásia os EUA também tiveram alguns reveses a vitória de Mao Zedong 18931976 na China 1949 a divisão das Coreias 1953 e a unificação do Vietnã 1976 sob a liderança de HoChi Min 18901969 48 Apesar dos problemas verificados na região a atuação dos EUA na reconstrução do Japão a partir dos anos 1950 permitiu aos estadunidenses encontrar brechas ideológicas importantes para manter o comu nismo longe dos seus aliados O Japão tornouse uma vitrine do capitalismo na Ásia demonstrando com o decorrer do tempo como a economia de mercado era um modelo de sucesso a ser seguido eou copiado Segundo Wallerstein o sucesso dos EUA no Pósguerra como potência hegemônica é que provocou o início de sua própria decadência O sucesso dos EUA como potência hegemônica no período do pósguerra criou as condições para que a sua própria hegemonia fosse minada Este processo pode ser capturado em quatro símbo los a guerra do Vietnã as revoluções de 1968 a queda do Muro de Berlim em 1989 e os ataques terroristas de setembro de 2001 Cada símbolo acresce ao anterior culminando na situação em que os EUA se encontram hoje uma superpotência solitária à qual falta um verdadeiro poder um líder mundial que ninguém segue e poucos respeitam e uma nação perigosamente à deriva imersa em um caos global que não pode controlar WALLERSTEIN 2004 p 25 Os quatro eventos apontados por Wallerstein representariam cada momento do declínio do poder estadunidense Gastos militares em linha crescente o enfraquecimento ideológico do sistema capitalista enquanto criador de uma sociedade livre por exem plo demonstram a lógica desse quadro segundo o teórico 49 48 A Era Bush 20012009 corroeu totalmente a geocultura25 estadunidense De antigos defensores do mundo livre os EUA passaram a ser associados à opressão e à tortura Sob George W Bush os EUA tornaramse um vilão global Mais recentemente Donald Trump ocupou o lugar de destaque no desgaste dos EUA com sua política de ataques ao meioambiente ao desprezo pelas minorias e na guerra comercial com a China corolário que culminou com a sua derrota em 2021 para o democrata Joe Biden O fato é que sem o comunismo como ameaça ao mundo livre os EUA ficaram sozinhos no palco global para exercer o seu poder agora amplamente questionado utilizando o hard power26 de maneira mais incisiva A chamada guerra ao terror liderada pelos EUA após o 11 de Setembro foi uma tentativa de aglu tinar a comunidade internacional usando o terrorismo como tema importante para a agenda global O desgaste inevitável do poder hegemônico foi acentuado com a grande competição intracapitalista a partir do pósguerra Tigres Asiáticos Coreia do Sul Hong Kong Cingapura e Taiwan China e Japão Sem a Guerra Fria como pano de fundo e justificativa para os seus atos arbitrários em todo o planeta os EUA se 25 Segundo Wallerstein Geocultura termo criado por analo gia com o da geopolítica designa normas e práticas discursivas amplamente reconhecidas como legítimas no seio de um siste mamundo WALLERSTEIN 2006 p 150 26 Termo que representa a utilização de meios coercitivos guer ras invasões sanções econômicas etc por um Estado contra outro para obter a satisfação dos seus interesses políticos e econômicos 50 encaixam perfeitamente na visão de Wallerstein um líder que ninguém segue ou respeita Tendo em mente os fatores apontados é possí vel explicar o surgimento de pontos de contato entre Washington e alguns países como Irã e Coreia do Norte por exemplo A perda da influência sobre a América Latina como vimos com governos mais à esquerda de Chávez na Venezuela 19982013 Rafael Correa no Equador 20072017 e Evo Morales na Bolívia 2006 2019 ou mais próximos ao centro como foram o casal Kirchner na Argentina 20032015 e Lula 2003 2011 com eleição de sua sucessora Dilma Rousseff 20112016 nas primeiras décadas do século XXI tam bém revelam os EUA como uma liderança realmente em declínio sob o ponto de vista político Com todo o foco da política externa estadunidense praticamente direcionado para o Oriente Médio desde o fim da Guerra Fria a Casa Branca afrouxou o seu controle sobre antigas áreas menos importantes do pla neta mas que possuíam algum destaque no chessboard internacional em virtude da grande ameaça comunista A administração de Barack Obama 20092017 tentou reverter essa perda de força ideológica procu rando o uso soft power27 como caminho mais fácil para recuperar o prestígio dos EUA Mas não devemos esquecer que o líder ainda é líder apesar de sua perda de legitimidade 27 Termo criado por Joseph Nye professor da Universidade de Harvard para designar a capacidade de um Estado influenciar ideologicamente e culturalmente outras nações sem a utiliza ção de meios coercitivos para obter sucesso na defesa dos seus interesses É o oposto ao conceito de hard power 51 50 6 A UTOPÍSTICA a utopística envolve uma reconsideração profunda das estruturas do conhecimento e daquilo que realmente sabe mos a respeito da maneira como o mundo social funciona Immanuel Wallerstein 2003 p 12 Segundo Wallerstein a atual crise sistêmica do capi talismo está na ordem do debate Tal fato favorece a seguinte pergunta o que está por vir As contradições sistêmicas aumentam dia após dia apesar de poucas vozes apontarem tais problemas de maneira realmente efetiva como Wallerstein e Arrighi por exemplo O fato é que a transição histórica a bifurcação sistêmica atual requer uma profunda análise sobre o futuro e o que está sendo gestado nesse momento O que ocupará o lugar do capitalismo Até 1990 o socia lismo real ou não seria apontado como o substituto Mas e agora O sociólogo estadunidense foi categórico na afir mativa de que estaríamos passando por uma transição no sistema capitalista mundial Contudo não é possível detectar se a mudança será para um sistema ou vários sistemas WALLERSTEIN 2003 p 49 Será para melhor ou pior Wallerstein não ousou apontar isso Para uma avaliação correta do que está acontecendo e do que poderá acontecer Wallerstein elaborou a Uto pística Para ele a Utopística seria 52 uma avaliação profunda das alternativas his tóricas o exercício de nosso juízo para examinar a racionalidade substantiva de possíveis sistemas históricos alternativos é uma avaliação sóbria e racional e realista dos sistemas sociais humanos em que condições eles podem existir e as áreas que estão abertas à criatividade humana Não o rosto de um futuro perfeito e inevitável e sim o rosto de um futuro cujas melhoras sejam verossí meis e que seja historicamente possível embora longe de ser inevitável Assim é um exercício que ocorre simultaneamente na ciência na política e na moralidade WALLERSTEIN 2003 p 8 A Utopística portanto é a necessidade real do conhecimento de como o sistema social funciona na atualidade Somente a partir disso poderemos elaborar formas de superação da atual transição histórica que estamos passando A discussão sobre futuro deve envol ver além do entendimento do que está ocorrendo a perspectiva de construção de algo novo Daí a impor tância de trabalharmos as perspectivas sob a forma de um trinômio ciênciapolíticamoralidade Wallerstein avança afirmando que a utopística representa uma responsabilidade permanente dos cientistas sociais mas representa uma tarefa particularmente urgente quando a gama de escolhas é a maior E quando isso acon tece Precisamente quando o sistema histórico do qual somos parte está o mais longe do equilí brio quando as flutuações são maiores quando as bifurcações estão mais próximas quando pequenos insumos geram grandes produtos Eis o momento que estamos vivendo agora e que deve mos estar vivendo pelos próximos 25 a 50 anos 53 52 Se quisermos ser sérios quanto à utopística temos que parar de lutar sobre não questões e a primeira dessas não questões é determinismo versus livre arbítrio ou estrutura versus agência ou global ver sus local ou macro versus micro WALLERSTEIN 2002 p 256257 A lógica predatória do capitalismo é uma carac terística inata do sistema apesar das tentativas de domesticação do seu caráter impiedoso cujo exem plo bemsucedido foi o Welfare State28 europeu São sempre mencionados os casos da França Suécia e da Alemanha por exemplo Não devemos esquecer que tais benefícios sociais na realidade são recursos des locados de outras partes do mundo sociedades sob a forma de juros atraso tecnológico e social etc Contudo a montagem de aparatos jurídicoestatais que garantam benefícios sociais aos trabalhadores foge totalmente à lógica sistêmica do capitalismo histórico Portanto não é possível a igualdade para todos pois o sistema não suporta tal golpe O primeiro passo é real mente termos o conhecimento do sistema histórico no qual vivemos Conhecimento sem o véu ideológico a geocultura como coloca Wallerstein o sucesso pessoal e mítico como algo comum e de fácil acesso a todos bastando para isso trabalhar Tratase portanto de uma procura pela apreensão da totalidade como substrato fundamental para o avanço social E uma das formas de avanço é estarmos prepa 28 Em português Estado do BemEstar Social ou EstadoProvi dência Referese ao sistema de garantias sociais à população implementado principalmente na Europa no pósguerra 54 rados para a discussão das estruturas do conhecimento WALLERSTEIN 2002 p 12 Após esse processo estaremos aptos a rediscutir a política e a moralidade sob um novo paradigma social 55 54 7 AS PERSPECTIVAS DO SISTEMA MUNDO CONTEMPORÂNEO Um poder hegemônico não é um poder imperial Opera de maneira totalmente diferente sem legitimar o controle político sobre o sistema como um todo mas com algum sentido de legitimidade moral do seu domínio um sentido que o hegemônico há de ter sobre si mesmo e que tem de ser amplamente mesmo que jamais universalmente com partilhado Seu próprio sucesso cria condições para a sua extinção Immanuel Wallerstein 2002 p 256257 A crise mundial de 2008200929 certamente deixou o mundo atônito principalmente ao demonstrar a fragi lidade da economia Mais do que apontarmos este ou aquele país em crise devemos compreender que a crise é estrutural e permanente O leitor já deve ter notado que as crises mundiais estão em espaço de tempo cada vez menor e a intensidade gravidade é cada vez maior Isso no plano econômico O planeta também dá os seus sinais de crise O modelo baseado exclusivamente na ideia do consumo acima de tudo vem provocando catástrofes em várias 29 A crise econômica internacional que teve como epicentro os EUA O banco Lehman Brothers fundado na segunda meta de do séc XIX decretou sua falência e contaminou o sistema financeiro do país no mundo O governo dos EUA desde então socorreu as suas instituições financeiras com aproximadamente dois trilhões de dólares 56 regiões do planeta com efeitos inimagináveis até algum tempo atrás a despeito de paliativos como uso cons ciente dos recursos ou desenvolvimento sustentável práticas que atentam contra o processo de acumulação do capital sem fim O que devemos notar é a feição estrutural de tais problemas seja no âmbito econômico ou político além de lembrarmos que os dois estão interligados inexoravelmente Salientamos que a ASM é uma das construções teóricas que a nosso ver possui as cate gorias necessárias para superarmos a atual bifurcação sistêmica Tal como apontou Wallerstein há algumas décadas estamos vivendo essa bifurcação Avançando para o campo das relações interna cionais a ASM colabora de maneira decisiva para uma compreensão mais clara do atual processo que estaría mos vivendo Se estamos passando por um processo de transição no atual ciclo sistêmico de acumulação com a predominância dos EUA podemos sentir de maneira intensa tal processo no sistema internacional O avanço econômico da China nas últimas déca das para o topo da economia capitalista internacional é um aviso importante dessa transformação A ideia de um mundo unipolar comandado pelos EUA perdeu força face às grandes contradições sistêmicas crises econômicas cada vez mais intensas a perda da lide rança moral por meio das violações sistemáticas dos Direitos Humanos e a falta de uma unidade de ação com os seus antigos aliados são entre outros fatores o sinal da mudança 57 56 Um evento negligenciado pelo centro sistêmico capitalista mais precisamente pela academia e mídia foi a transformação do acrônimo Brics em um meca nismo de inserção dessas potências emergentes a des peito de suas idiossincrasias internas O Brics tenta se estabelecer como uma alternativa diante do reordena mento pelo qual todo o sistema mundial está passando atualmente A dimensão multipolar para essa nova realidade mundial é a chave para a compreensão do processo Liderado com mais ênfase pelos chineses com o objetivo de criar alternativas ao predomínio euroatlân tico econômico e geopolítico o Brics surfou na primeira década do século XXI nas boas condições econômicas geradas pela demanda por recursos naturais e agrícolas de várias nações de baixomédio desenvolvimento tec nológico O Brasil foi beneficiado durante esse período e acumulou prestígio e força agregando força inicial ao Brics Ao mesmo tempo a Rússia de Vladimir Putin voltou ao cenário internacional e passou a ver o Brics também como uma opção de melhor inserção nesse período de transição de ciclo sistêmico A Índia com a mesma percepção e a África do Sul chegando por último concluiu as economias emergentes que se des tacavam no período A criação do Novo Banco de Desenvolvimento NBD em inglês propiciou a institucionalização finan ceira do grupo por meio de um ponto que agrega os seus membros e ao mesmo tempo se expande para fora dele Logicamente não é possível apontar a sua capacidade 58 por enquanto de competir com as instituições origina das pósBretton Woods BID FMI etc e comandadas pelos EUA e seus aliados Contudo devemos ter em mente que a diminuição do uso do dólar nas transações entre os países membros do Brics e a criação do Renmimbi como moeda para trocas comerciais pela China já apontam as transforma ções em curso As sanções econômicas de alta enverga dura contra a Rússia por ocasião da invasão à Ucrânia em 2022 cujos principais exemplos foram a exclusão de grande parte das instituições financeiras russas do sistema bancário internacional o chamado SWIFT e o confiscocongelamento dos recursos do país no exterior assinalam que não haverá mais sentido em depender de um sistema controlado por poucos países É verdade que no momento podese visualizar que apesar de ainda não conseguir se apresentar como uma alternativa de grande envergadura para substituir e competir em termos globais com os grandes bancos já estabelecidos o NBD poderá apresentar vantagens futuramente para os países que não possuem acesso aos recursos do eixo estadunidenseeuropeu BID FMI etc Nesse contexto de imprevisibilidade gerada pela pandemia da covid19 e a invasão da Ucrânia o Brics tem que lidar com as demandas de consolidação como instituição e bloco de poder internacional além de seus países integrantes serem submetidos às transformações sistêmicas engendradas pelos EUA que lutam para manter a estrutura hegemônica intacta 59 58 Apesar de Wallerstein ser cético em relação ao futuro do Brics a ASM fornece um material sólido para avaliar o declínio relativo dos EUA e o surgimento de novos blocos de poder que poderiam ocupar o lugar vago deixado pela primazia dos EUA WALLERSTEIN 2016 online Da mesma forma o constructo de Wallerstein com o auxílio das teorias da Geopolítica e das Rela ções Internacionais fornece instrumentos para analisar a realidade econômica dos Brics bem como os aspectos formais do poder em termos de hard e soft power Os países membros do Brics enfrentam o desa fio de manter um propósito utópico inviável porém não confirmado como uma economia consolidada do triângulo estratégico formado por China Índia e Rússia Para isso é preciso aumentar o comércio entre os países e catalisar os efeitos colaterais de fazer parte do bloco principalmente por meio da maior ampliação do Novo Banco de Desenvolvimento A China vem defendendo há algum tempo a entrada de novos membros no Brics o Brics Plus como forma de aumentar a influência global da organização Em julho de 2022 Moscou mostrouse favorável à expansão principalmente por meio da candidatura da Argentina contudo sem retirar as prerrogativas dos paí ses fundadores como afirmou o assessor do presidente russo Yuri Ushakov SPUTNIK BRASIL 2022 online Durante a 14ª Cúpula do Brics realizada virtual mente entre os dias 23 e 24 de junho Argentina e Irã comunicaram as suas candidaturas Egito Turquia e Arábia Saudita anunciaram interesse na adesão que 60 se estabelecida trará uma nova realidade não só eco nômica como geopolítica Envolto por um cenário incerto o Brics busca ser um ator capaz de propor alternativas dentro de uma ordem em ruptura frente aos rearranjos globais de poder Os países do bloco considerados emergentes precisarão reemergir diante da pandemia da covid19 e sua crise que agora é mais um elemento estrutural no tabuleiro de xadrez geopolítico A capacidade eco nômica do Brics para o resto do mundo pode prever o futuro do bloco 71 A crise da Ucrânia Em fevereiro de 2022 a Rússia deu início a uma campa nha militar com o objetivo de desmilitarizar e desnazi ficar a Ucrânia segundo Vladimir Putin Na verdade a invasão foi o segundo ato da atuação russa após anexar a Crimeia em 2014 Os motivos alegados por Moscou era a chegada da Otan perto de suas fronteiras por meio de um país com grande relação histórica e a então virtual entrada de Kiev para a aliança militar ocidental Wallerstein em 2014 dedicou uma análise para a então invasão da Crimeia pelos russos Segundo Wallerstein O conflito sobre a Ucrânia ilumina o perigo da Otan Os EUA procuraram criar novas estruturas mili tares obviamente voltadas para a Rússia sob o pretexto de que elas visavam combater uma hipo tética ameaça iraniana À medida que o conflito ucraniano se desenrolava a linguagem da guerra 61 60 fria foi revivida Os EUA usam a Otan para pressio nar os países da Europa Ocidental a concordar com as ações antirussas E dentro dos EUA o presi dente Barack Obama está sob forte pressão para agir com força contra a chamada ameaça russa à Ucrânia30 WALLERSTEIN 2014 online A existência da Otan como uma aliança militar originada na Guerra Fria contra um inimigo específico como a URSS que deixou de existir em 1991 perdeu sentido Contudo Wallerstein 2014 nos fornece sua visão para uma possível explicação Segundo ele Então por que a expansão da Otan em vez de sua dissolução Isso mais uma vez teve a ver com a política intraeuropeia e o desejo dos EUA de con trolar seus supostos aliados Foi no regime Bush que o então secretário de Defesa Donald Rumsfeld falou de uma velha e uma nova Europa Por velha Europa ele estava se referindo especialmente à relutância francesa e alemã em concordar com as estratégias dos EUA Ele via os países da Europa Ocidental se afastando de seus laços com os Esta dos Unidos Sua percepção estava de fato correta Em resposta os EUA esperavam cortar as asas dos europeus ocidentais introduzindo estados do leste 30 The conflict over Ukraine illuminates the danger of NATO The US has sought to create new military structures obviously aimed at Russia under the guise that these were meant to counter a hypothetical Iranian threat As the Ukrainian conflict played on the language of the cold war was revived The US uses NATO to press western European countries to agree with antiRussian actions And within the US President Barack Obama is under heavy pressure to move forcefully against the Russian socalled threat to the Ukraine 62 europeu na Otan que os EUA consideravam aliados mais confiáveis31 WALLERSTEIN 2014 online Caminhando na direção de uma explicação geo política Moniz Bandeira em seu livro a Desordem Mundial 2016 fez uma magistral análise do cenário de competição entre as potências pelo poder no sistema internacional Além de uma sustentação bibliográfica e jornalística robusta oriunda de grande pesquisa seu texto trouxe explicações importantes para a análise das causas da invasão à Crimeia em 2014 pelos russos Segundo ele o embaixador George F Kennan arquiteto da estratégia de containment da União Soviética advertiu sabiamente que expanding NATO would be most fateful error of America policy in the entire postcoldwar era Poderseia esperar que a decisão acrescentou inflamasse as tendências nacionalistas antiocidentais e militaristas na opi nião do povo russo e que tivesse um efeito adverso ao desenvolvimento da democracia na Rússia bem como arriscasse restaurar a atmosfera da Guerra Fria nas relações LesteOeste e impedir decisiva 31 So why then the expansion of NATO instead of its dissolution This had once again to do with intraEuropean politics and the desire of the US to control its presumed allies It was in the Bush regime that the then Secretary of Defense Donald Rumsfeld talked of an old and a new Europe By old Europe he was referring especially to the French and German reluctance to agree with US strategies He saw the western European countries as moving away from their ties to the United States His perception was in fact correct In response the US hoped to clip the wings of the western Europeans by introducing eastern European states into NATO which the US considered more reliable allies 63 62 mente sua geopolítica exterior na direção contrária à do que os Estados Unidos gostariam BANDEIRA 2016 p 113 Na verdade a invasão da Ucrânia em 2022 deve ser vista por esse prisma ao contrário da narrativa rasa e ahistórica da mídia ocidental Figura 8 George F Kennan Fonte Autor desconhecido 2005 Domínio Público disponível no repositório digital da Wikimedia Commons George F Kennan 19042005 ainda daria outra declaração em 1998 reforçando os problemas da expan 64 são da Otan para o Leste Europeu declarandoa como um trágico erro BANDEIRA 2016 p 115 Outro motivo para a manutenção ativa da Otan no pósGuerra Fria seria os interesses do complexomilitar e da cadeia de corrupção comissões e lucros e o sistema finan ceiro BANDEIRA 2016 p 115 Ou seja um grande negócio de bilhões e bilhões de dólares para os bancos estadunidenses financiarem a compra de armas made in USA O fato é que depois do fim da URSS certamente a atuação russa na Ucrânia em 2022 seria um fato his tórico nas novas relações entre Moscou e o Ocidente Tal evento certamente promoverá uma rearticulação do poder mundial dentro da perspectiva de declínio da influência dos EUA O apoio da China ao não conde nar de maneira veemente a invasão e propiciar saídas econômicas para Moscou foi um aspecto importante do novo cenário internacional O papel da Índia também deve ser mencionado ao não ter alterado as relações econômicas com a Rússia Os dois países resistiram às pressões dos EUA e da UE pelas sanções contra Moscou FRONTLINER 2022 online A pressão de Washington e da UE para tirar a Rússia da economia mundial segundo palavras do então primeiroministro inglês Boris Johnson em 2022 UOL 2022 online assinala o que estava em jogo na Ucrânia a asfixia geopolítica da Rússia e consequen temente do governo de Vladimir Putin A disposição da GrãBretanha nas sanções econômicas contra os russos é de um país que sempre se comportou como um peão estadunidense na Europa 65 64 No âmbito geral o controle de Washington já não é mais o mesmo Estamos vivenciando grandes trans formações na arena geopolítica internacional Os EUA conseguirão alcançar os seus objetivos de se manter no topo do comando global no século XXI 66 CONSIDERAÇÕES FINAIS Outro aspecto importante é que os analistas dos sistemas mundiais são no conjunto mais bem treinados do que a maioria dos cientistas sociais de hoje para lidar com essas questões como um todo interrelacionado Immanuel Wallerstein 2002 p 239 A análise dos sistemasmundo é uma ferramenta impor tante para compreendermos o atual estágio do capi talismo e as Ciências Sociais sob outra perspectiva Estamos vivendo um processo histórico de grande importância crise ambiental crise democrática o retorno do discurso fascista o racismo entre outros fatores demonstra que o sistema vive suas contradições O resurgimento de antigos e novos players no sistema internacional e o desafio cada vez mais cons tante aos EUA ocorrem com mais intensidade Isso vai ao encontro das análises de declínio do poder de Washington visualizado por Wallerstein e Arrighi nas últimas décadas Mas o fato concreto é que a base dos nossos problemas societários é o capitalismo histórico que há pelo menos 200 anos degrada e dilapida as con dições de sobrevivência dos seres humanos no planeta O diagnóstico e algumas soluções já foram apontadas A originalidade das análises de Wallerstein e Arrighi em nossa opinião é levar em consideração as inúmeras variáveis existentes para a compreensão do capitalismo histórico na atualidade Aspectos econômi cos políticos culturais e geopolíticos por exemplo são fundamentais nesse processo 67 66 No campo das relações internacionais sua con tribuição é muito interessante Desprezar o avanço econômico da China no final do século XX e agora a destreza geopolítica de Beijing resumindoa única e exclusivamente a uma mera ameaça aos valores ocidentais é de uma pobreza conceitual muito grande mas válida para o grande público que não conhece os meandros da política internacional E o Brics com suas assimetrias mas que vai caminhando e ganhando corpo gradativamente E a sua expansão que está começando E a importância da amizade sinosoviética que desafiou as sanções econômicas contra a Rússia e garantiu a Moscou um fôlego importante ao cerco dos EUAUE na invasão da Ucrânia Como o leitor observou a ASM pode ser utilizada de várias formas e em vários campos para analisar o atual momento de transição sistêmica Há algum tempo as hierarquias e suas legitimidades estão sendo desafia das classe raça e gênero com resultados diretos para uma nova perspectiva sob as Ciências Sociais na visão de Wallerstein WALLERSTEIN 2002 Frente aos acontecimentos que estamos vivendo quando perguntado sobre se ele seria otimista ou pes simista sobre o futuro Wallerstein possuía uma res posta padrão 5050 Esta é minha resposta cin quentacinquenta e ela depende de nós WILLIAMS 2013 p 209 Resta agora trabalharmos utopisticamente na elaboração do Novo enquanto vivemos esse processo de transição ou como dizia o sociólogo estadunidense nesse período de bifurcação 68 LIVROS PUBLICADOS NO BRASIL32 Capitalismo Histórico E Civilização Capitalista Publicado em 2001 apresenta textos sobre a dinâmica capitalista à luz do marxismo crítico Editora Contraponto Após o liberalismo em busca da re construção do mundo Publicado em 2002 faz um balanço da onda liberal e dos seus valores que se tornaram do minantes após a desintegração da URSS Editora Vozes Como o concebemos o fim do mundo ciência social para o século XXI Publicado em 2002 o livro traz artigos publica dos pelo autor entre 1995 e 1998 Editora Revan Utopística ou as decisões históricas do século vinte e um Publicado em 2003 traz a série de Conferências Sir Douglas Robb proferidas na Universidade de Auckland Nova Zelândia Editora Vozes 32 NA a publicação no Brasil não corresponde necessariamente ao ano da versão original 69 68 O declínio do poder americano Publicado em 2004 o autor expõe a sua tese so bre a decadência econômica e principalmente de legitimidade dos EUA Editora Contraponto Impensar a Ciência Social Publicado em 2006 apresenta importantes textos críticos sobre as Ciências Sociais De senvolvimento e SistemasMundo Editora Vozes e Letras O universialismo europeu a retórica do poder Publicado em 2007 faz uma crítica contunden te ao ideário europeu universalista de defesa dos direitos individuais e humanos Editora Boitempo Raça nação classe as identidades ambíguas Publicado em 2021 em parceria com Étienne Balibar Editora Boitempo 70 BIBLIOGRAFIA COMPLETA DE I WALLERSTEIN 1961 África The Politics of Independence New York Vintage 1964 The Road to Independence Ghana and the Ivory Coast Paris La Haye Mouton 1967 África The Politics of Unity New York Random House 1969 University in Turmoil The Politics of Change New York Atheneum 1972 com Evelyn Jones Rich África Tradition Change New York Random House 1974 The Modern WorldSystem vol I Capitalist Agriculture and the Origins of the European WorldEconomy in the Sixteenth Century New YorkLondon Academic Press 1979 The Capitalist WorldEconomy Cambridge Cambridge University Press 1980 The Modern WorldSystem vol II Mercantilism and the Consolidation of the European WorldE conomy 16001750 New York Academic Press 1982 com Terence K Hopkins et al WorldSystems Analysis Theory and Methodology Beverly Hills Sage 1982 com Samir Amin Giovanni Arrighi e Andre Gunder Frank Dynamics of Global Crisis Lon don Macmillan 1983 Historical Capitalism London Verso 71 70 1984 The Politics of the WorldEconomy The States the Movements and the Civilizations Cambridge Cambridge University Press 1986 África and the Modern World Trenton NJ África World Press 1989 The Modern WorldSystem vol III The Second Great Expansion of the Capitalist WorldEco nomy 17301840s San Diego Academic Press 1989 com Giovanni Arrighi e Terence K Hopkins Antisystemic Movements London Verso 1990 com Samir Amin Giovanni Arrighi e Andre Gun der Frank Transforming the Revolution Social Movements and the WorldSystem New York Monthly Review Press 1991 com Étienne Balibar Race Nation Class Ambi guous Identities London Verso 1991 Geopolitics and Geoculture Essays on the Chan ging WorldSystem Cambridge Cambridge Uni versity Press 1991 Unthinking Social Science The Limits of Nine teenth Century Paradigms Cambridge Polity 1995 After Liberalism New York New Press 1995 Historical Capitalism with Capitalist Civiliza tion London Verso 1998 Utopistics Or Historical Choices of the Twentyfirst Century New York New Press 1999 The End of the World As We Know It Social Science for the Twentyfirst Century Minneapolis University of Minnesota Press 2003 Decline of American Power The US in a Chao tic World New York New Press 72 2003 com Armand Clesse The World We Are Entering 20002050 Amsterdam Dutch University Press 2004 The Uncertainties of Knowledge Philadelphia Temple University Press 2004 WorldSystems Analysis An Introduction Durham North Carolina Duke University Press 2004 Alternatives The US Confronts the World Boul der Colorado Paradigm Press 2006 European Universalism The Rhetoric of Power New York New Press 2011 The Modern WorldSystem vol IV Centrist Libe ralism Triumphat 17891914 California Univer sity California Press 2016 2004 Alternatives The United States confronts the world New York Routledge 2017 The World System and Africa New York Dias poric Africa Press 2021 The Global Left Yesterday today tomorrow New York Routledge SITES SOBRE I WALLERSTEIN E A ANÁLISE DOS SISTEMASMUNDO Immanuel Wallerstein oficial httpwwwiwallersteincom Immanuel Wallerstein httpwwwfacultyrsuedufelwellTheoristsWallersteinindexhtm Grupo de Economia Política do SistemaMundoUFSC httpsgpepsmufscbr WorldSystems Archives httpwsarchucredu Fernand Braudel Center httpfbcbinghamtonedu The Institute for Research on WorldSystems httpirowsucredu Entrevista de I Wallerstein disponíveis na Internet33 Immanuel Wallerstein Programa Milênio da GloboNews legendas em português httpwwwyoutubecomwatchv8XeJICHkNW4 33 NA os vídeos em inglês podem contar com legendas a partir da configuração do vídeo da plataforma 74 Breakfast with Immanuel Wallerstein On Latin America Inglês 2010 httpwwwyoutubecomwatchvG30fv0ZUWEo Breakfast with Wallerstein On Central Asia Inglês 2010 httpwwwyoutubecomwatchvbiDhDJ3vj0Y Immanuel Wallerstein on the end of Capitalism Inglês 2009 httpwwwyoutubecomwatchvnLvszWBf6BQ Wallerstein on the Structures of Knowledge Inglês httpwwwyoutubecomwatchvTHRYks7YkU REFERÊNCIAS ARRIGHI Giovanni Longo Século XX Rio de Janeiro Contraponto 1996 ARRIGHI Giovanni SILVER Beverly J Chaos and governance in the modern world system Minnea polis University of Minnesota Press1999 BANDEIRA Moniz A desordem mundial o espectro da total dominação Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2016 BONAPARTE Napoleão Manual do Líder Porto Ale gre LPM 2010 FRONTLINER Sanções à Rússia e Putin não encon tram apoio em governos da Ásia e da África 5 mar 2022 Disponível em httpswwwfrontli nercombrsancoesarussiaeputinnaoencon tramapoioemgovernosdaasiaedaafrica Acesso em 15 maio 2022 GENZLINGER Neil Immanuel Wallerstein Socio logist with Global View Dies at 88 New York Times 10 set 2019 Disponível em httpswww nytimescom20190910booksimmanuelwal lersteindeadhtml Acesso em 16 maio 2022 HARDT Tony NEGRI Antonio Império Rio de Janeiro Record 2001 MARX Karl Teses Sobre Feuerbach Lisboa Mos covo Edições Avante Moscovo Editora Pro gresso 1982 ROJAS Carlos Antonio A Immanuel Wallerstein y la perspectiva crítica del Analisis de los 76 sistemamundo Textos de Economia Florianó polis v 10 n 2 juldez 2007 SPUTNIK BRASIL Kremlin sobre desejo da Argen tina de aderir ao BRICS Moscou apoia expan são da organização Panorama internacional 27 jul 2022 Disponível em httpsbrsputniknews com20220627kremlinsobredesejodaargen tinadeaderiraobricsmoscouapoiaexpan saodaorganizacao23313356html 27072022 Acesso em 2 ago 2022 VALERY Paul Variété Paris Édition du Sagittaire 1934 VELA Carlos A Martinez World Systems Theory ESD 83 Fall 2001 VIEIRA Pedro Antônio Immanuel Wallerstein de africanista a criador da análise dos site masmundo Reoriente estudos sobre marxismo dependência e sistemasmundo v 1 n 1 p 136 139 2021 Disponível em httpsrevistasufrj brindexphpreorientearticleview4589824742 Acesso em 7 set 2022 VOIGT Márcio Roberto A análise dos sistemasmundo e a política internacional uma abordagem alterna tiva das teorias das relações internacionais Textos de Economia Florianópolis v 10 n 2 juldez 2007 WALLERSTEIN Immanuel O fim do mundo como o concebemos Ciência Social para o século XXI Rio de Janeiro Editora Revan 2002 WALLERSTEIN Immanuel Utopística ou as decisões históricas do século XXI Petrópolis Vozes 2003 WALLERSTEIN Immanuel WorldSystems Analysis In MODELSKI G Encyclopedia of Life Support 77 76 Systems EOLSS UNESCO Eolss Publishers Oxford 2004 p 114 Disponível em https wwweolssnetsamplechaptersc04E69401pdf WALLERSTEIN Immanuel Comprendre Le Monde Paris La Découvert 2006 WALLERSTEIN Immanuel Impensar a Ciência Social Aparecida SP Ideias Letras 2006 WALLERSTEIN Immanuel The NATO Danger to World Peace O libro Comentário n 389 15 nov 2014 Disponível em httpsiwallerstein comnatodangertoworldpeace Acesso em 11 maio 2022 WALLERSTEIN Immanuel The BRICS a fable for our time O libro Comentário n 416 1º jan 2016 Disponível em httpsiwallersteincom thebricsafableforourtime Acesso em 14 maio 2022 WALLERSTEIN Immanuel The WorldSystem and Africa New York Diasporic Africa Press 2017 WILLIAMS Gregory P Special Contribution Inter view with Immanuel Wallerstein Retrospective on the Origins of WorldSystems Analysis Jour nal of WorldSystems Research v 19 n 2 p 202 210 26 Aug 2013 78 REFERÊNCIA DAS IMAGENS ARRIGHI Giovanni Longo Século XX Rio de Janeiro Contraponto 1996 p 219 AUTOR DESCONHECIDO Polányi Károly In WIKI MEDIA COMMONS a midiateca livre Flórida Wikimedia Foundation 2019 Domínio Público Disponível em httpscommonswikimediaorg wikiFilePolC3A1nyiKC3A1rolyjpg Acesso em 6 set 2022 CONFINS Revista FrancoBrasileira de Geografia n 21 2014 online Disponível em httpsjournals openeditionorgconfins9658 Acesso em 6 set 2022 KOUPRIANOV Alexei Immanuel Wallerstein in the European University at St Petersburg on May 24 2008 In WIKIMEDIA COMMONS a midia teca livre Flórida Wikimedia Foundation 2008 Disponível em httpscommonswikimediaorg wikiFileImmanuelWallerstein2008jpg sob CC BYAS 30 Acesso em 6 set 2022 MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DA INDONÉSIA The AfricanAsian Conference Bul letin 9 ed 24 abr 1955 p 18 Disponível em httpsbandung60fileswordpresscom201504 bandungbulletin92pdf Acesso em 6 set 2022 WIKIMEDIA COMMONS a midiateca livre Николай КондратьевJPG Flórida Wikimedia Foudation 2018 Disponível em httpswwwpromvedru imagesPV56p1r2JPG Acesso em 6 set 2022 WIKIMEDIA COMMONS a midiateca livre Gramsci png Flórida Wikimedia Foudation 2007 79 78 Disponível em httpscommonswikimediaorg wikiFileGramscipng Acesso em 6 set 2022 WIKIMEDIA COMMONS a midiateca livre Kennan jpeg Flórida Wikimedia Foudation 2007 Dis ponível em httpscommonswikimediaorgwiki FileKennanjpeg Acesso em 6 set 2022 80 SOBRE O AUTOR Charles Pennaforte Doutor em Relações Internacionais pela Universidad Nacional de La PlataArgentina Professor do Curso de Relações Internacio nais da Universidade Federal de Pelotas UFPel e coordenador do Laboratório de Geopolítica Relações Internacionais e Movimentos Antissistêmicos LabGRIMA UFPel Professor permanente do Pro grama de Pósgraduação em HistóriaUFPel Editora UFPel
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See discussions stats and author profiles for this publication at httpswwwresearchgatenetpublication369585579 ANÁLISE DOS SISTEMAS MUNDO UMA INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE IMMANUEL WALLERSTEIN 2ªED Book March 2023 DOI 1015210ISBN978856696192 CITATIONS 3 READS 295 1 author Charles Pennaforte Universidade Federal de Pelotas 67 PUBLICATIONS 41 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Charles Pennaforte on 28 March 2023 The user has requested enhancement of the downloaded file Coleção Dinâmicas Contemporâneas História Geopolítica Relações Internacionais Vol 1 ANÁLISE DOS SISTEMAS MUNDO ANÁLISE DOS SISTEMAS MUNDO Charles Pennaforte Charles Pennaforte UMA INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE IMMANUEL WALLERSTEIN UMA INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE IMMANUEL WALLERSTEIN Coleção Dinâmicas Contemporâneas História Geopolítica Relações Internacionais Vol 3 2ª edição Coleção Dinâmicas Contemporâneas História Geopolítica Relações Internacionais Vol 3 2ª edição ANÁLISE DOS SISTEMASMUNDO UMA INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE IMMANUEL WALLERSTEIN Conselho Editorial Presidente do Conselho Editorial Ana da Rosa Bandeira Representantes das Ciências Agrárias Sandra Mara da Encarnação Fiala Rechsteiner TITULAR Representantes da Área das Ciências Exatas e da Terra Eder João Lenardão TITULAR Daniela Hartwig de Oliveira e Aline Joana Rolina Wohlmuth Alves dos Santos Representantes da Área das Ciências Biológicas Rosangela Ferreira Rodrigues TITULAR e Francieli Moro Stefanello Representantes da Área das Engenharias Reginaldo da Nóbrega Tavares TITULAR Representantes da Área das Ciências da Saúde Fernanda Capella Rugno TITULAR e Jucimara Baldissarelli Representantes da Área das Ciências Sociais Aplicadas Daniel Lena Marchiori Neto TITULAR Representantes da Área das Ciências Humanas Charles Pereira Pennaforte TITULAR e Silvana Schimanski Representantes da Área das Linguagens e Artes Chris de Azevedo Ramil TITULAR Reitoria Reitora Isabela Fernandes Andrade ViceReitora Ursula Rosa da Silva Chefe de Gabinete Aline Ribeiro Paliga PróReitora de Ensino Maria de Fátima Cóssio PróReitor de Pesquisa PósGraduação e Inovação Flávio Fernando Demarco PróReitor de Extensão e Cultura Eraldo dos Santos Pinheiro PróReitor de Planejamento e Desenvolvimento Paulo Roberto Ferreira Júnior PróReitor Administrativo Ricardo Hartlebem Peter PróReitor de Gestão da Informação e Comunicação Julio Carlos Balzano de Mattos PróReitora de Assuntos Estudantis Fabiane Tejada da Silveira PróReitora de Gestão de Pessoas Taís Ullrich Fonseca Coleção Dinâmicas Contemporâneas História Geopolítica Relações Internacionais Vol 3 2ª edição ANÁLISE DOS SISTEMASMUNDO UMA INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE IMMANUEL WALLERSTEIN Charles Pennaforte Pelotas 2023 Rua Benjamin Constant 1071 Porto Pelotas RS Brasil Fone 55 533284 1684 editoraufpelgmailcom Seção de PréProdução Isabel Cochrane Administrativo Suelen Aires Böettge Administrativo Seção de Produção Preparação de originais Eliana Peter Braz Administrativo Revisão textual Anelise Heidrich Assistente de Revisão Suelen Aires Böettge Administrativo Projeto gráfico e diagramação Fernanda Figueredo Alves Angélica Knuth Bolsista Carolina Abukawa Bolsista Coordenação de projeto Ana da Rosa Bandeira Seção de PósProdução Madelon Schimmelpfennig Lopes Administrativo Eliana Peter Braz Administrativo Projeto Gráfico Alana Machado Kusma Diagramação Capa Angélica Knuth Filiada à ABEU P412a Pennaforte Charles Análise dos sistemasmundo recurso eletrônico uma introdução ao pensamento de Immanuel Wallerstein Charles Pennaforte 2 ed Pelotas Ed UFPel 2023 81 p Coleção Dinâmicas Contemporâneas História Geopolítica Relações Internacionais v 3 340 MB ebook PDF ISBN 9788560696192 1 Wallerstein Immanuel Maurice 2 Globalização 3 História social 4 Teoria dos sistemas 5 Política mundial 6 Sistemas sociais I Título II Coleção CDD 3034 Universidade Federal de Pelotas Sistema de Bibliotecas Catalogação na Publicação Elaborada por Leda Lopes CRB 102064 A Coleção DinâmiCAs ContemporâneAs HistóriA GeopolítiCA relAções internACionAis tem como objetivo trazer ao público os grandes temas de relevância do cenário nacional e internacional Para isso conta com a análise de grandes espe cialistas que aprofundam os seus temas de estudos por meio de uma linguagem aces sível e crítica Coleção Dinâmicas Contemporâneas História Geopolítica Relações Internacionais CoorDenADor Charles Pennaforte Universidade Federal de Pelotas ConselHo eDitoriAl Edgar Gandra Universidade Federal de Pelotas Georgina Németh Lesznova Instituto Superior de Relaciones Internacionales Raúl Roa García Cuba Gilberto Aranda Universidad de Chile Paulo Gilberto Fagundes Visentini Universidade Federal do Rio Grande do Sul Roy Williams Universidade Nacional de Rosario Argentina Duas coisas ameaçam o mundo a ordem e a desordem Paul Valéry 1934 p 20 Eles praticam um massacre e o chamam de paz Tácito apud Hardt Negri 2001 Os homens que mudaram o mundo nunca o fizeram mudando os dirigentes mas sempre agitando as massas Napoleão Bonaparte 2010 p 56 O capitalismo só tem êxito quando começa a ser identificado com o Estado quando ele próprio é o Estado Fernand Braudel apud Hardt Negri 2001 p 21 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 1 QUEM FOI IMMANUEL WALLERSTEIN 2 AS ORIGENS DA ANÁLISE DOS SISTEMAS MUNDO 3 A ANÁLISE DOS SISTEMASMUNDO 4 OS CICLOS SISTÊMICOS DE ACUMULAÇÃO 5 O DECLÍNIO DA HEGEMONIA DOS EUA 6 A UTOPÍSTICA 7 AS PERSPECTIVAS DO SISTEMAMUNDO CONTEMPORÂNEO 71 A crise da Ucrânia CONSIDERAÇÕES FINAIS LIVROS PUBLICADOS NO BRASIL BIBLIOGRAFIA COMPLETA DE I WALLERSTEIN 11 18 21 27 37 46 51 55 60 66 68 70 SITES SOBRE I WALLERSTEIN E A ANÁLISE DOS SISTEMASMUNDO REFERÊNCIAS REFERÊNCIA DAS IMAGENS SOBRE O AUTOR 73 75 78 80 INTRODUÇÃO Continuo acreditando que a análise dos sistemasmundo é em primeiro lugar um protesto contra as formas nas quais a ciência se apresenta atualmente incluindo aqui o âmbito de sua forma de teorizar Immanuel Wallerstein WALLERSTEIN apud ROJAS 2007 p 141 A herança marxista desde o início do século XX sempre colocou o capitalismo como pronto para o colapso Na verdade as próprias observações de Marx sobre o caráter autofágico do capitalismo e suas incoerências estruturais apontavam e apontam para a sua crise final processo inerente ao desenvolvimento do próprio capitalismo Sobre isso inclusive não há dúvidas Basta uma leitura atenta das obras marxistas e seus inúmeros teóricos para se observar que não se trata de positi vismo ou catastrofismo anticapitalista Contudo a capacidade de superação da burguesia termo quase esquecido hoje em dia ou dos investido res o termo mais moderno na criação de saídas eou fórmulas para manter o sistema saudável frente aos seus dilemas estruturais não pôde ser levada em conta no início da análise do capitalismo enquanto sistema no século XIX O motivo era óbvio o capitalismo estava ainda em desenvolvimento 1 Sigo creyendo que el análisis de los sistemasmundo es en primer lugar una protesta en contra de las formas en las cuales la ciencia social se presenta actualmente e incluyendo aquí el ámbito de su modo de teorizar 12 Alguns teóricos foram importantes para a supe ração positiva da obra de Marx e a compreensão da dinâmica capitalista desde então Se por um lado Karl Marx 18181883 teorizou o capitalismo em sua lógica estrutural e ideológica coube a Vladimir Lênin 1870 1924 transformar a realidade e não somente interpre tála parafraseando uma das teses2 de Marx nas Teses Sobre Feuerbach MARX 1982 O líder comunista e teórico italiano Antonio Gramsci 18911937 também foi um importante cola borador nessa empreitada fornecendo uma abordagem mais sofisticada para a análise do capitalismo e de sua sociedade3 A pertinência de Gramsci nos dias de hoje é surpreendente e indispensável impactando as Ciências Sociais de maneira muito intensa Compreender e criticar um sistema complexo como o capitalismo é uma tarefa hercúlea principal mente quando se objetiva fugir do discurso panfletário eou ortodoxo e até mesmo da sua perfeição defen dida pelos liberais O trabalho intelectual levado a cabo por Immanuel Maurice Wallerstein 19302019 é de suma importância para a compreensão da dinâmica capitalista da segunda metade do século XX e sua influência sobre as Ciências 2 Tratase da décima primeira tese Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes a questão porém é transformálo 3 Conceituações teóricas como revolução passiva hegemo nia bloco histórico função piemontesa entre outras fazem parte do léxico gramsciano Sua influência sobre as Ciências Sociais é considerável 13 12 Sociais Tal importância é atestada pela influência de seu trabalho em várias áreas do conhecimento humano da política às relações internacionais O objetivo deste livro reformulado e lançado agora pela Editora da UFPel é apresentar uma visão panorâmica do pensamento do principal expoente da chamada análise dos sistemasmundo ASM Imma nuel Wallerstein de forma clara e sucinta agregando as novas realidades e reflexões sobre a última década Devemos salientar que não é uma tarefa fácil pois o teórico navegou com facilidade entre as várias áreas do pensamento humano Esperamos que o nosso propósito seja alcançado de forma integral Para atingir esses objetivos o livro será dividido em cinco partes com o propósito de facilitar a com preensão da obra wallersteiniana Para entendermos o trajeto intelectual e consequentemente os objetos de estudo de Immanuel Wallerstein faremos uma breve resenha de sua biografia Em As origens da análise dos sistemasmundo traçaremos uma visão geral das bases históricas e meto dológicas que favoreceram o surgimento da ASM A crítica à teoria da modernização e as lutas de libertação nacional ocorridas na África e Ásia no pós1945 con figuraramse no pano de fundo para a sua emergência Na segunda parte A análise dos sistemasmundo veremos o arcabouço teórico proposto por Immanuel Wallerstein e suas críticas epistemológicas ao enten dimento da nova dinâmica gerada pelo surgimento do Terceiro Mundo e as explicações para o seu atraso eco nômico e social Serão ainda explicitadas as principais categorias que formam a ASM 14 Na terceira parte Os ciclos sistêmicos de acumula ção conheceremos a contribuição de Giovanni Arrighi para a ASM no campo econômico revelando as influên cias de Antonio Gramsci e de Nikolai Kondratiev4 A quarta parte desta obra O declínio da hegemo nia dos EUA trata de uma das teses mais polêmicas de Wallerstein Em seu livro Decline of american power the US in a chaotic world5 de 2003 ele já fazia um amplo estudo sobre as origens da crise de hegemonia dos EUA que de modo geral podemos visualizar em vários aspectos da atualidade Como já assinalamos a velha tradição marxista sempre apontou a inevitabilidade da derrocada capita lista Inúmeros críticos do marxismo constantemente apontam os resquícios do positivismo em tais afir mativas Vale lembrar que a crença de um capita lismo perfeito e equilibrado com uma mão invisível regulando com perfeição a dinâmica do sistema é tão positivista quanto as afirmativas marxistas do seu fim A contribuição de Wallerstein para esse tema é justamente a indicação dos motivos do declínio hege mônico estadunidense por meio de um processo alta mente complexo com inúmeras variáveis Ou seja ele apontou o que seriam os elos fracos do capitalismo contemporâneo 4 Economista russo que elaborou nos anos 1920 os ciclos eco nômicos que explicariam as crises endêmicas do capitalismo sob uma perspectiva estrutural 5 Edição brasileira O declínio do poder americano Rio de Janeiro Contraponto 2004 15 14 A crise econômica mundial de 2008 pareceu cor roborar as análises de Wallerstein até o momento Sem a atuação do famigerado Estado as economias esta dunidense e mundial teriam entrado em uma crise tão acentuada que o crack da bolsa de 1929 não se configu raria como algo realmente importante do ponto de vista históricoeconômico para o capitalismo A própria pandemia do novo coronavírus no final de 2019 e durante 20202021 assinalou como nunca a importância da atuação do Estado como partícipe no processo econômico O presidente Donald Trump 20172021 por exemplo despejou bilhões de dólares na economia estadunidense para diminuir os efeitos da recessão econômica Uma medida inegavelmente key nesiana para o desespero dos liberais que nunca recu sam a ajuda do Estado em época de crise Outro símbolo importante da crise hegemônica dos EUA é a diminuição cada vez maior de sua capa cidade de exercer influência em prol de seus interes ses A própria atuação de Donald Trump frente à China durante o seu mandato com a guerra comercial e ataques à segunda economia do mundo assinalaram algo além do que um simples conflito por empregos Outro exemplo que pode ser mencionado foi a ten tativa de isolamento da Rússia após a invasão da Ucrâ nia em 2022 Vários países se recusaram a participar do isolamento comercial econômico e político promovido pelos EUA e pela União Europeia UE entre eles a China a Índia e o Brasil Vale lembrar os múltiplos interesses envolvidos entre esses países desde aspectos estratégicos China até econômicos a Índia com as 16 rotas do Colar de Pérolas de Beijing e falta de clareza da política externa brasileira no governo Bolsonaro Em A utopística abordaremos os caminhos e perspectivas para o que está por vir na visão de Wal lerstein De que maneira devemos nos preparar para o que irá ocupar o lugar do capitalismo nesse momento de transição O que virá depois do capitalismo Ou o capitalismo sofrerá mais uma metamorfose Na última parte com As perspectivas do siste mamundo contemporâneo analisamos o atual estágio das relações internacionais à luz do declínio geopolítico dos EUA passando pela questão ucraniana e da Otan no conflito no papel do Brics e no que podemos esperar como corolário desta nova realidade Uma obra instigante e importante para todos aque les que querem ficar um passo à frente na atualidade O principal mérito em nossa opinião de Immanuel Wallerstein foi a sua atualidade na criação de visões do momento que passa o capitalismo e suas influências sobre a vida de bilhões de pessoas Como ficaremos em um cenário de desagregação do atual ciclo de acumulação Os países ditos emer gentes terão capacidade de ocupar o lugar das nações que compõem o atual ciclo de acumulação no novo ciclo que virá O Brics é uma nova perspectiva E os EUA A sua derrocada é inevitável ou o sistema se adaptará mais uma vez e superará a sua atual crise Muitas perguntas Respostas certamente existem mas não dentro do senso comum difundido em jornais e revistas ou por acadêmicos que criam eou reprodu zem análises que vão ao encontro dos interesses das 17 16 grandes corporações internacionais ou das instituições de ensino vinculadas ao processo de manutenção sis têmico Wallerstein propôs algumas análises Por que não as conhecer 18 1 QUEM FOI IMMANUEL WALLERSTEIN Formado em Sociologia nasceu em Nova Iorque EUA em 28 de setembro de 1930 Wallerstein obteve toda a sua formação acadêmica na Universidade de Columbia Nova Iorque Em 1947 iniciou o curso de Sociologia na Universidade Columbia e ao mesmo tempo sua militância política Começou a sua carreira ainda em Nova Iorque o epicentro do capitalismo mundial onde encontrou o solo fértil e as condições de liberdades intelectuais e financeiras para desenvolver as suas ideias assim como seus colegas Robert Cox 19262018 ligado à York University em Toronto Canadá e Giovanni Arrighi na Jonh Hopkins Em 1951 formouse e publicou seu primeiro artigo Revolution and order no qual discutia como um possível governo mundial trataria as revoluções em curso no mundo e os problemas que as motivavam VIEIRA 2021 p 136 Em 1953 retornou à Univer sidade de Columbia para escrever sua dissertação de mestrado aprovada em 1954 com o título McCarthysm and the Conservative VIEIRA 2021 Seu doutorado foi concluído em 1959 lecionou na Universidade até o início dos anos 1970 Ensinou Sociologia na Universidade McGill no Canadá até 1976 Entre 1976 e 1996 trabalhou na Universidade de 19 18 Binghamton Nova Iorque Foi professor visitante em várias universidades do mundo e desde 2000 era pes quisador sênior na Universidade de Yale EUA onde trabalhou até sua morte em 2019 GENZLINGER 2019 online O trabalho de Wallerstein direcionouse inicial mente para os temas africanos póscoloniais6 Em sua juventude havia se aproximado da África por meio de dois congressos em 1951 e 1952 sendo o segundo em Dacar Senegal onde teve contato com os movimentos de independência Seu foco de estudo estaria definido a partir de então VIEIRA 2021 online Após a defesa de sua tese The role of voluntary associations in the nationalist movements in Ghana and the Ivory Coast tornouse um africanista reconhecido No início dos anos 1970 o teórico deslocou o seu interesse pela África para a história e a dinâmica da economia mundial tendo sido reconhecido internacio nalmente Wallerstein foi diretor do Fernand Braudel Center até 2005 e em várias ocasiões atuou na reno mada École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris Na década de 1990 liderou a Gulbenkian Com mission para a Reestruturação das Ciências Sociais e entre 1994e 1998 foi presidente da International Socio logical Association7 Além de títulos honoríficos por diversas univer sidades ao redor do mundo vale mencionar o título de 6 Ao final do livro o leitor encontrará uma lista completa dos livros publicados por Wallerstein em português Brasil e em inglês 7 httpsiwallersteincom 20 Doutor Honoris Causa oferecido em 2009 no Brasil pela Universidade de Brasília Figura 1 Immanuel Wallerstein na European University São Petersburgo 2008 Fonte KOUPRIANOV 2008 CC BYSA 30 disponível no repositório digital da Wikimedia Commons 2 AS ORIGENS DA ANÁLISE DOS SISTEMASMUNDO O capitalismo representa a recompensa material para alguns mas para que isto possa acontecer nunca pode haver recompensa material para todos Immanuel Wallerstein 2002 p 174175 A ASM surgiu da crítica ao modelo de análise social e econômico utilizado pelas Ciências Sociais Europa desde o século XIX Do final do século XIX até 1970 as Ciências Sociais consistiam em uma série de discipli nas específicas com maior ou menor aceitação de suas fronteiras sob o ponto de vista epistemológico Entre 1850 e 1945 as clivagens intelectuais mais importantes entre os acadêmicos desde o século XIX eram o passadopresente e o mundo Ocidentalresto do mundo Dentro dessa lógica os historiadores estuda vam o passado e os economistas cientistas políticos e sociólogos estudavam o presente A História a Economia a Ciência Política e a Sociologia estavam voltadas para o mundo ocidental enquanto os orientalistas e antropólogos estudavam o resto do mundo8 Até 1945 as fronteiras entre essas disciplinas eram bem delimitadas No pósguerra segundo Wallerstein esse modelo não conseguiu dar 8 Os antropólogos estudavam as sociedades primitivas e os orientalistas estudavam as grandes civilizações não ocidentais 22 conta da nova realidade surgida com o processo de lutas de independência na África e na Ásia Sob ataque o modelo vigente de análise das Ciên cias Sociais começou a enfraquecer Para Wallerstein a maior mudança na ciência social mundial nos 25 anos após 1945 foi a descoberta da realidade contem porânea do Terceiro Mundo 2002 p 231 Como con sequência as pesquisas do mundo ocidental Europa foram divididas em três domínios em função da nova configuração do mundo moderno o mercado Econo mia o Estado Ciência Política e a sociedade civil Sociologia Como salientamos um novo contexto se abriu no pós1945 com as lutas pela independência Inúmeras nações foram influenciadas pela proposta socialista principalmente pelo exemplo bemsucedido da Revolu ção Russa com a República Popular da China adotando inicialmente o seu modelo As excolônias trataram de defender sua autono mia política e cultural no bojo das lutas de libertação nacional e em eventos internacionais como por exem plo a Conferência de Bandung9 em 1955 Tratavase de um processo de reafirmação eou autoafirmação perante o mundo ocidental As novas nações que a priori não deviam mais satisfações aos colonizadores estavam em pleno processo de tomar as rédeas de seus destinos 9 A conferência reuniu inúmeros países do então Terceiro Mundo que não aceitavam a bipolaridade entre EUAURSS como forma de divisão do sistema internacional 23 22 Figura 2 Sessão plenária na Conferência de Bandung 1955 Fonte Ministério das Relações Exteriores da Indonésia 1955 A perspectiva epistemológica de disciplinas espe cíficas para os países ricos metrópoles e de outras para o resto do mundo entrou em declínio e a integração passou a ser necessária A partir de então o estudo sobre América Latina Ásia ou África tornouse legítimo O fim do poder metropolitano trouxe à tona uma triste realidade para as excolônias demonstrando o real caráter do sistema capitalista como um todo A ideia de que a ocupação europeia seria benéfica para os povos atrasados da África e Ásia não se mostrou verdadeira Pelo contrário O que se verificou foi um resultado nefasto da civilização sobre os povos atra sados principalmente na África Todas as imagens de guerras miséria e epidemias que eram comuns na segunda metade do século XX tiveramtêm em seu bojo 24 a trama criada pelos colonizadores europeus em suas formas econômicas eou sociais Com esse cenário os movimentos políticos póscoloniais optaram por outro modelo que não fosse o do colonizador daí a vitória da proposta socialista e terceiromundista entre asiáticos e africanos Como forma de fugir da responsabilidade desse legado alguns setores da academia vinculados ao capi talismocolonialismo elaboraram teorias que justificas sem o atraso das excolônias e ao mesmo tempo resgatassem a dimensão benéfica do capitalismo enquanto sistema organizador socioeconômico A ideia do desenvolvimento em etapas um processo evolutivo tornouse a grande moda no pósguerra O desenvolvimento econômico algo inevitável pela lógica dos seus defensores para a solução das mazelas econômicas e sociais das excolônias ganhou força no meio acadêmico ocidental oferecendo ao mesmo tempo uma perspectiva teórica de melhoria para as novas nações A culpa do atraso social e econô mico não seria mais a exploração econômica das antigas metrópoles ou do capitalismo enquanto sistema mas sim do baixo desenvolvimento das próprias colônias Surgia assim a teoria da modernização TM cujo método de análise era a comparação sistemática entre todos os Estados A TM partia da premissa de um desen volvimento linear e universal de todas as sociedades na direção do crescimento econômico Desse modo todas as excolônias chegariam inevitavelmente ao desenvolvimento copiando os modelos de sucesso das antigas metrópoles independentemente da parte 25 24 em que as excolônias estavam inseridas na estrutura sistêmica do capitalismo WALLERSTEIN 200210 A TM era perfeita para explicar o resultado não muito favorável da exploração colonial desde o século XIX Na verdade o que se propunha agora era um cho que capitalista para as excolônias que haviam sofrido com o próprio capitalismo É na direção oposta que a ASM se apresentou como uma perspectiva teórica para compreender e explicar a nova realidade do momento Mais precisa mente se a análise de sistemasmundo tomou forma nos anos 1970 foi porque as condições do seu surgi mento estavam maduras no interior do sistemamundo WALLERSTEIN 2002 p 231 Continuando Wal lerstein afirma que a intenção original da análise dos sistemasmundo era o protesto contra a teoria da modernização 2002b p 234 Finalizando ele argumenta que é no ponto que a análise de sistemasmundo se apresenta como um movimento de conheci mento que fez uma série de argumentos que pôs em causa a teoria da modernização e depois mais fundamentalmente toda a estrutura das ciências sociais como tinham sido construídos no século XIX WALLERSTEIN 2004 p 411 10 Para um aprofundamento do desenvolvimentismo e seus re sultados ver o artigo Geocultura do desenvolvimento ou trans formação da nossa geocultura 11 It is at point that worldsystems analysis presented itself as a knowledge movement that made a series of arguments which called into question first modernization theory and then more fundamentally the whole structure of the social sciences as they had been constructed in the nineteenth century 26 O cenário para a formulação de respostas ao status quo póscolonial estava formado 3 A ANÁLISE DOS SISTEMAS MUNDO É por essa razão que sempre resisti a usar o termo teoria dos sistemasmundo frequentemente empregado para des crever o que estamos discutindo especialmente por não especialistas e tenho insistido em chamar nosso trabalho de análise de sistemasmundo Immanuel Wallerstein 2002 p 231 No capítulo anterior observamos as contradições sis têmicas que permitiram o surgimento da ASM Apesar de ser considerado como uma das principais figuras da ASM Immanuel Wallerstein não esteve só Figuram ao seu lado André Gunder Frank 19292005 Samir Amin 19312018 e Oliver C Cox 19011974 Oliver Cox seria um dos pais fundadores da ASM SWEEZY apud WALLERSTEIN 2017 p 179 Wallerstein apontou o papel fundamental de Cox na perspectiva dos siste masmundo destacando que ele havia escrito dez anos sobre os vários aspectos importantes do capitalismo histórico SWEEZY apud WALLERSTEIN 2017 p 179 Segundo Wallerstein Cox havia proposto cinco pontos essenciais para a futura perspectiva analítica da ASM Eram eles 1 O capitalismo não é meramente um sistema é um sistemamundo 28 2 O capitalismo opera como uma economiamundo ca pitalista baseado na acumulação sem fim do capital 3 Há uma divisão do trabalho axial na economiamun do capitalista baseada na antinomia centroperiferia 4 Inevitavelmente ocorreu uma mudança constante na localização dos Estados centrais no sistema 5 O capitalismo não foi inventado múltiplas vezes mas somente uma SWEEZY apud WALLERSTEIN 2017 p 179 Segundo Wallerstein Cox estava correto e expôs as ideias básicas da ASM nas décadas de 1950 e 1960 SWEEZY apud WALLERSTEIN 2017 p 179 Para ele Cox seria realmente o paifundador da ASM Em seu livro The WorldSystem and Africa 2017 na ver dade uma coletânea de artigos publicados entre 1985 e 2009 Wallerstein dedica o capítulo Oliver C Cox as worldsystem analyst para ressaltar a importância do sociólogo trinidadiano para a ASM Segundo ele Acho que o leitor verá claramente agora como o modo de análise do capitalismo de Cox está em consonância com o que veio a ser chamado de análise do sistemamundo SWEEZY apud WALLERSTEIN 2017 p 190 Além das próprias observações de Immanuel Wal lerstein e da contribuição de Oliver C Cox a ASM possui três influências importantes na sua constituição a escola dos Annales o marxismo e a teoria da depen dência VELA 2001 p 3 Da primeira Wallerstein tomou de Braudel a sua insistência na longa duração 29 28 longue durée O impacto dos Annales está no nível metodológico geral VELA 2001 p 312 A contribuição dos Annales por meio da longue durée longa duração ajudaria na compreensão do sis temamundo como um sistemahistórico que possui ria um ciclo de vida a ascensão e a decadência Sendo assim existiria um processo dinâmico e dialético que permitiria a existência de um sistemamundo que seria substituído por outro ocorrendo assim períodos de transições WALLERSTEIN 2006 p 306 De Marx Wallerstein aprendeu que 1 a realidade fundamen tal está materialmente baseada no conflito social entres os grupos humanos 2 a preocupação relevante com a totalidade 3 a natureza transi tória das formas sociais e teóricas sobre elas 4 a centralidade do processo de acumulação e da competitividade da luta de classes resulta dela 5 um senso dialético do movimento através do conflito e da contradição VELA 2001 p 313 A teoria da dependência inspirase fortemente da teoria da dependência uma explicação neomarxista dos processos de desenvolvimento popular no mundo em desen 12 Wallerstein got from Braudels his insistence on the long term la longue durée The impact of the Annales is at the general methodological level 13 Wallerstein learned that 1 the fundamental reality if social conflict among materially based human groups 2 the concern with a relevant totality 3 the transitory nature of social forms and theories about them 4 the centrality of the accumulation process and competitive class struggles that result from it 5 a dialectical sense of motion through conflict and contradiction 30 volvimento A teoria da dependência concen trase na compreensão da periferia olhando para as relações centroperiferia VELA 2001 p 314 Os economistas Karl Polanyi 18861964 e Joseph Schumpeter 18831950 também forneceram importantes observações para os trabalhos de Wallers tein Para alguns analistas a ASM seria de alguma maneira uma adaptação da TD por apresentar uma explicação do processo de desenvolvimento econô mico atrelado à dinâmica Centro países ricos Perife ria e SemiPeriferia países subdesenvolvidos VELA 2001 p 3 Figura 3 O economista húgaro Karl Polanyi Fonte Autor desconhecido 2019 CCPD 10 disponível no repositório digital da Wikimedia Commons 14 draws heavily from dependency theory a neoMarxist expla nation of development processes popular in the developing world Dependency theory focuses on understanding the periphery by looking at coreperiphery relations 31 30 Nesse processo os países pobres levariam desvan tagens qualitativas nos termos de troca entre produtos de pouco valor agregado matériasprimas por exem plo por produtos de alto valor agregado industrializa dos das nações mais desenvolvidas Centro dentro do sistemamundo capitalista O desnível tecnológico entre as nações seria o ponto central no processo de atraso econômico e social e na manutenção desse status quo Sob tais influências Wallerstein construiu uma importante análise de interpretação da realidade capi talista nos últimos 45 anos Como já vimos o teórico refutava a ideia de ter construído uma teoria dos sistemasmundo Segundo ele sempre resisti a usar o termo teoria dos sistemasmundo frequentemente empregado para descrever o que estamos discutindo espe cialmente por não especialistas e tenho insistido em chamar nosso trabalho de análise de siste masmundo É cedo demais para teorizar de maneira minimamente séria e quando chegar mos ao ponto de fazêlo é a ciência social e não os sistemasmundo que devemos teorizar Vejo o trabalho dos últimos 20 anos e de alguns anos adiante como limpeza de terreno que nos permitirá construir uma estrutura útil para a ciência social WALLERSTEIN 2002 p 231 Como já assinalamos a ASM surgiu como um movimento de conhecimento que fez uma série de argu mentos que puseram em xeque a TM e depois mais fundamentalmente toda a estrutura das Ciências Sociais como tinha sido construída desde o século XIX 32 Para Wallerstein a ASM deveria conter três eixos 1 O sistemamundo não os EstadosNação é a uni dade básica de análise social 2 Nem as epistemologias idiográficas15 e nomotéticas16 são úteis para análise da realidade social e 3 A existência de limites das disciplinas dentro das Ciências Sociais não faz qualquer tipo de sentido intelectual Wallerstein definia o sistemamundo como uma divisão territorial do trabalho multicultural na qual as produções e intercâmbio de bens básicos e matériaspri mas é necessária para a vida de seus habitantes todos os dias VELA 2001 p 417 Um detalhe importante sempre mencionado pelos críticos da ASM é a dicoto mia macromicro localnacional Para Wallerstein isso seria uma falsa polêmica pois delimitar se as fronteiras sociais correspondem ao siste mamundo ou às NaçõesEstado é o menos importante Para o sociólogo estadunidense a real novidade é que a perspectiva dos sistemasmundo nega que a NaçãoEs 15 Corresponderiam grosso modo às Ciências HumanasSo ciais cuja metodologia não estaria necessariamente vinculada à criação de leis gerais de grande envergadura explicativa como os eventos que ocorrem no universo 16 Estabelecem leis gerais para fenômenos suscetíveis serem reproduzidos para a compreensão do universo De modo geral corresponderiam às Ciências Exatas 17 multicultural territorial division of labor in which the produc tions and exchange of basic goods and raw materials is necessary for the everyday life of its inhabitants 33 32 tado represente em algum sentido uma sociedade relativamente autônoma que se desenvolve ao longo do tempo WALLERSTEIN 2002 p 306 O capitalismo é compreendido como o moderno sistema social uma economiamundo que possui inú meros centros políticos Estados que disputam a hege monia do sistema Na ASM a definição da hegemonia estaria acoplada aos Ciclos Sistêmicos de Acumula ção18 Para Rojas a obra de Wallerstein segue quatro eixos importantes o históricocrítico a análise crítica o estudo da história mais imediata e a reflexão episte mológica crítica ROJAS 2007 p 1520 O eixo históricocrítico corresponde à análise da história global do capitalismo desde o século XVI até os dias de hoje A análise crítica referese à elucidação dos principais processos do que seria o longo século XX e todas as contradições sistêmicas No estudo da história mais imediata Wallers tein traça projeções do futuro do sistema capitalista enquanto sistemamundo O quarto e último eixo da abordagem wallersteiniana é a reflexão epistemológica crítica Nessa etapa é feita uma reavaliação crítica das Ciências Sociais e do saber dominante na econo miamundo capitalista O trajeto para a construção da ASM teve início em 1974 quando Wallerstein publicou The rise and future demise of the world capitalist system concepts for com parative analysis importante contribuição para os estu dos históricos e sociológicos O objetivo de Wallerstein era segundo Skopcol uma clara ruptura conceitual 18 Veremos esse tema no próximo capítulo 34 com as teorias de modernização e assim fornecer um novo paradigma teórico para orientar as nossas inves tigações acerca do surgimento e desenvolvimento do capitalismo o industrialismo e os estados nacionais SKOPCOL apud VELA 2001 p 219 Carlos A Martinez Vela assinala que o objetivo era fazer uma crítica ampla aos paradigmas vigentes no período As críticas à modernização incluem 1 a reifi cação do Estadonação como a única unidade de análise 2 pressuposto de que todos os paí ses podem seguir apenas um caminho único de desenvolvimento evolutivo 3 desconsideração do desenvolvimento históricomundial da transna cional estrutura que condiciona o desenvolvimento local e nacional 4 explicando em termos de tipos ideais história da tradição versus modernidade que são elaboradas e aplicadas a casos nacionais VELA 2001 p 220 Dois anos depois Wallerstein publicou The modern world system capitalist agriculture and the 19 a clear conceptual break with theories of modernization and thus provide a new theorical paradigm to guide our investigations of the emergence and development of capitalism industrialism and national states 20 Criticisms to modernization include 1 the reification of the nationstate as the sole unit of analysis 2 assumption that all countries can follow only a single path of evolutionary deve lopment 3 disregard of the worldhistorical development of transnational structures that constrain local and national de velopment 4 explaining in terms of ahistorical ideal types of tradition versus modernity which are elaborated and applied to national cases 35 34 origins of the european world economy in the sixteenth century sua magnum opus Em The modern world system Wallerstein teve como objetivo desenvolver um quadro teórico que permitisse a compreensão das mudanças históricas envolvidas na ascensão do mundo moderno Para Wallerstein o moderno sistemamundo capitalista poderia ser explicado pela crise do sistema feudal e a ascensão da Europa Ocidental à supremacia mundial entre 1450 e 1670 Tal perspectiva facilitaria o entendimento do processo de modernização no período assinalado proporcionando comparações entre partes do mundo diferentes Wallerstein explica que Um sistemamundo não é o sistema do mundo mas um sistema que é um mundo e que pode ser e frequentemente tem sido localizado numa área menor que o globo inteiro Uma análise de sistemas mundiais argumenta que as unidades da realidade social dentro das quais nós operamos cujas regras nos restringem são na maioria tais sistemasmundos WALLERSTEIN apud VOIGT 2007 p 110 O teórico apontava ainda a existência de dois tipos de sistemasmundo 1 os impérios mundiais e as 2 economiasmundos A diferenciação entre os dois tipos de sistemasmundo se daria pelo fato de os Impé rios mundiais terem sido ou serem uma grande estrutura burocrática com centralização política e uma divisão de trabalho central coexistindo culturas múltiplas A eco nomiamundo ao contrário se caracterizaria por uma grande divisão central do trabalho inúmeros centros políticos mantendo a coexistência de múltiplas culturas 36 O atual moderno sistema mundial teria sido for mado no século XVI na Europa expandindose pelo globo até o século XX O mundo no qual nós estamos inseridos agora ou seja o sistema mundial moderno teve suas ori gens no século XVI Este sistema mundial foi então localizado em somente uma parte do globo prin cipalmente em regiões da Europa e das Américas Ele se expandiu ao longo dos anos e atingiu todo o globo É e sempre foi uma economiamundo É e sempre foi uma economiamundo capitalista WALLERSTEIN apud VOIGT 2007 p 111 4 OS CICLOS SISTÊMICOS DE ACUMULAÇÃO A noção de ciclo sistêmico de acumulação como observa mos deriva diretamente da ideia braudeliana do capitalismo como camada superior da hierarquia do mundo dos negó cios Nosso constructo analítico portanto concentrase nessa camada superior e fornece uma visão limitada do que se passa na camada intermediária a da economia de mer cado e na camada inferior a da vida material Esse é simul taneamente o ponto forte e o ponto fraco do constructo É seu ponto forte porque a camada superior é o verdadeiro lar do capitalismo e ao mesmo tempo é menos transpa rente e menos explorada do que a camada intermediária a da economia de mercado Giovanni Arrighi 1996 p 24 Outro importante teórico para construção da ASM foi o economista italiano radicado nos EUA Gio vanni Arrighi21 19372009 Com o seu livro O longo século XX22 entre outras obras forneceu importante colaboração 21 Foi professor de Sociologia na Universidade Estadual de Nova Iorque Binghamton e na Universidade Johns Hopkins EUA 22 Ao lado do livro O longo século XX vale a pena ler os livros Caos e governabilidade no moderno sistema mundial em coautoria com Beverly Silver e Adam Smith em Pequim Os três livros analisam o capitalismo histórico sendo uma importante contribuição para a ASM 38 A sua contribuição ocorreu na análise da hege monia dos EUA sob inspiração gramsciana e nos ciclos de acumulação capitalista Arrighi era adepto tal como Wallerstein dos Ciclos de Kondratiev elaboração teó rica do economista russo Nikolai Kondratiev 1898 1932 na década de 1920 A tese do economista russo para o capitalismo analisando o desenvolvimento do capitalismo do século XIX era de que o seu desenvol vimento se baseava em ciclos Um ciclo de Kondratiev teria um período de dura ção determinada de 40 a 60 anos que corresponderia aproximadamente ao retorno de um mesmo fenômeno Esse ciclo apresenta duas fases distintas uma fase ascendente fase A e uma fase descendente fase B Essas flutuações de longo prazo seriam características da economia capitalista A primeira referência de Kondratiev aos ciclos prolongados ocorreu em seu livro A economia mundial e sua conjuntura durante e depois da guerra 1922 Para ele a natureza particularmente aguda da crise do pósguerra Primeira Guerra Mundial se explicava pelo ponto de mudança no ciclo prolongado e o começo de sua fase descendente Em 1926 Kondratiev apresentou na sua obra As ondas longas da conjuntura a hipótese da existência de ciclos longos23 23 Kondratiev fez sua base na análise de séries cronológicas de preços no atacado de 1790 a 1920 das potências capitalistas no período Estados Unidos da França e do Reino Unido 39 38 Figura 4 O economista russo Nikolai Kondratiev Fonte Autor desconhecido 2018 Domínio Público disponível no repositório digital da Wikimedia Commons Partindo de curvas empíricas Kondratiev elaborou curvas teóricas que a seu ver mostravam tendências seculares Considerou ter encontrado dois ciclos longos e meio entre 1780 e 1920 iniciando a fase descendente do terceiro ciclo Segundo Kondratiev a base dos ciclos longos é o desgaste a reposição e o incremento do fundo de bens de capital básicos cuja produção exigiria investimentos enormes A reposição e o incremento desse fundo não 40 seriam um processo contínuo e aconteceriam por saltos Os ciclos econômicos ocorreriam a partir desses fatos Sob inspiração dos Ciclos de Kondratiev para Arrighi o sistema capitalista teria passado por quatro ciclos sistêmicos de acumulação e expansão genovês holandês britânico e estadunidense Os ciclos sistêmi cos de acumulação de capital constituem uma cadeia de estágios parcialmente superpostos por meio dos quais a economia capitalista europeia transformou a economia mundial em um intenso sistema de trocas A superposição desses ciclos ocorre na passagem de um para o outro ou seja enquanto um ciclo está se aproximando do seu término ao mesmo tempo outro ciclo sistêmico de acumulação começa a se formar Essa fase de superposição ocorre durante a chamada turbu lência financeira do ciclo que está chegando ao fim24 24 O aspecto principal do perfil temporal do capitalismo histórico aqui esquematizado é a estrutura semelhante de todos os séculos longos Todos esses constructos consistem em três segmentos ou períodos distintos 1 um primeiro período de expansão fi nanceira que se estende de Sn1 a Tn1 no correr do qual o novo regime de acumulação se desenvolve dentro do antigo sendo seu desenvolvimento um aspecto integrante da plena expansão e das contradições deste último 2 um período de consolidação e desenvolvimento adicional do novo regime de acumulação que vai de Tn1 a Sn no decorrer do qual seus agentes principais promovem monitoram e se beneficiam da expansão material de toda a economia mundial e 3 um segundo período de expansão financeira de Sn a Tn no decorrer do qual as contradições do regime de acumulação plenamente desenvolvido criam espaço para o surgimento de regimes concorrentes e alternativos um dos quais acaba por se tornar no tempo Tn o novo regime dominante ARRIGHI 1996 p 219220 41 40 Desse modo as grandes expansões materiais e financeiras ocorreriam quando um bloco dominante tivesse acúmulo suficiente para dominar o sistema mundial que ao chegar ao seu término provocaria a mudança de poder hegemônico Quando isso ocorre um novo ciclo sistêmico de acumulação tem início Arrighi corroborou que a contribuição mais impor tante e perene para o desenvolvimento do capitalismo como sistema mundial encontrase no âmbito das altas finanças durante o Renascimento italiano do final do século XIV e início do século XV que é o período do seu surgimento Figura 5 Ciclos Sistêmicos de Acumulação Fonte ARRIGHI 1996 p 219 O primeiro ciclo sistêmico o genovês de acordo com Arrighi é derivado de Fernand Braudel a matu 42 ridade de todos os grandes desenvolvimentos da eco nomia capitalista mundial é anunciada por uma guinada peculiar do comércio de mercadorias para o comércio de moedas ARRIGHI 1996 p 111 O capitalismo financeiro genovês desenvolveuse na segunda metade do séc XVI Segundo Arrighi À medida que se intensificaram as pressões com petitivas e que houve uma escalada na luta pelo poder o capital excedente que já não encontrava investimentos lucrativos no comércio foi man tido em estado de liquidez e usado para financiar a crescente dívida pública das cidadesEstados cujo patrimônio e receita futura foram assim mais completamente alienados do que nunca a suas res pectivas classes capitalistas ARRIGHI 1996 p 112 O ciclo de acumulação genovês foi o ponto máximo de acumulação de capital sob uma perspectiva sistêmica e estruturada uma grande expansão material da economia mundial europeia através do estabelecimento de novas rotas de comércio e da incorporação de novas áreas de exploração comercial foi acompa nhada por uma expansão financeira que acentuou o controle de capital sobre uma economia mun dial ampliada Além disso uma classe capitalista claramente identificável a genovesa incentivou supervisionou e se beneficiou das duas expansões em virtude de uma estrutura de acumulação de capital que em sua maior parte já passara a existir quando a expansão material teve início ARRIGHI 1996 p 129130 43 42 Para Arrighi esse padrão seria o ciclo sistêmico de acumulação Os capitalistas genoveses seriam os precur sores no século XVI fato que ocorreria mais três vezes Figura 6 O historiador francês Fernand Braudel Fonte Confins Revista FrancoBrasileira de Geografia 2014 online No ciclo holandês a sua supremacia comercial baseavase em uma lógica capitalista de poder repre sentada pela fórmula DinheiroTrabalhoDinheiro enquanto a supremacia comercial posterior a inglesa que se iniciou nos primórdios do século XVIII basea vase em uma síntese harmônica entre a lógica territo 44 rialista de poder TDT e a capitalista DTD Essa síntese foi o fator fundamental para o regime inglês ter alcançado um ciclo sistêmico de acumulação muito mais avançado do que o holandês ARRIGHI 1996 p 204 O ciclo britânico caracterizouse por processo contínuo de expansão reestruturação e reorganização financeira da economia mundial capitalista Os perío dos de expansão financeira foram momentos em que aumentaram as pressões competitivas tanto sobre os governos quanto empresas e comércio Essas pressões favoreceram a expansão industrial inglesa que se man teve na supremacia econômica mundial até o início do século XX O ciclo estadunidense seria a expansão do moderno sistema mundial que ocorreu durante quase todo o século XX e entrou em crise na década de 70 do século passado Segundo Arrighi utilizando agora as reflexões de Antonio Gramsci a crise hegemônica é um componente importante para o fim do ciclo de acumulação O conceito de hegemonia mundial referese especificamente à capacidade de um Estado exercer funções de liderança e governo sobre um sistema de nações soberanas Em princípio esse poder pode implicar apenas a gestão corriqueira desse sistema tal como instituído num dado momento Historicamente entretanto o governo de um sistema de Estados soberanos sempre implicou algum tipo de ação transformadora que alterou fundamentalmente o modo de funciona mento do sistema ARRIGHI 1996 p 27 45 44 Figura 7 Antonio Gramsci no início da década de 1920 Fonte Autor desconhecido 2007 Domínio Público disponível no repositório digital da Wikimedia Commons Estaríamos portanto vivendo a crise do ciclo sistêmico de acumulação fato que favoreceria ao sur gimento de novas perspectivas antissistêmicas para a superação da atual fase Conforme assinala Wallerstein Estamos passando por uma transição em nosso atual sistema mundial a economia mundial capi talista estará se transformando em um outro sistema ou em outros sistemas mundiais Não sabemos se essa mudança será para melhor ou para pior E não saberemos até que cheguemos lá um processo que pode demorar ainda uns 50 anos a partir do momento em que estamos Sabe mos no entanto que o período de transição será um período difícil para todos os que vivenciarem WALLERSTEIN 2003 p 49 46 5 O DECLÍNIO DA HEGEMONIA DOS EUA Os Estados Unidos estão em declínio Quando se afirma isto a maior parte das pessoas não acredita Sim os únicos que acham que a ideia é pertinente são os falcões americanos cujo principal argumento é a necessidade de reverter o declínio Immanuel Wallerstein 2002 p 9 Apesar da vitória sobre a URSS fato que provocou várias celebrações sobre a Nova Ordem que se abria para sistema internacional ou seja uma era de paz e prosperidade capitalista Pax Americana a realidade se mostrou bem diferente no final do século XX e nas primeiras décadas do século XXI A crise econômica global de 2008 o retorno da Rússia ao palco global geopolítico a China assumindo protagonismo eco nômico e geopolítico o programa nuclear do Irã e a Coreia do Norte como potência nuclear entre outros fatos demonstram que o cenário é muito diferente da Guerra Fria Os EUA não se configuram mais como um modelo a ser seguido ou conseguem impor seus interesses de maneira tão contundente como antes George W Bush 20012009 e Donald Trump 20172021 foram atores importantes para esse enfraquecimento que começou algumas décadas antes Para Wallerstein o declínio dos EUA começou na década de 1970 e decorre de 47 46 uma lógica simples a priori como ele mesmo assinala os fatores econômicos políticos e militares que con tribuíram para a hegemonia dos EUA são os mesmos fatores que produzirão o iminente declínio dos EUA WALLERSTEIN 2004 p 21 Historicamente a hegemonia dos EUA teve início com a recessão mundial de 1873 quando a sua eco nomia cresceu acentuadamente ao mesmo tempo em que a economia britânica entrava em uma inflexão No período entre 1873 e 1914 os EUA e a Alemanha tor naramse os principais produtores de aço e produtos químicos A busca pela hegemonia tornouse um processo natural A Segunda Guerra Mundial proporcionou uma posição privilegiada para os EUA que não sofreram diretamente os efeitos do conflito Seu território não sofreu nenhum dano em termos físicoestruturais ao contrário da Europa e da Ásia Com a derrota do nazismo o socialismo tornouse o principal obstáculo à hegemonia dos EUA em termos globais Se por um lado os soviéticos colaboraram deci sivamente para o sucesso da vitória dos Aliados sob o ponto de vista ideológico o Kremlin conseguiu uma posição privilegiada ao projetar para o mundo uma ima gem de nação com grande força militar e defensora dos valores universais de igualdade Ao mesmo tempo ocorreu a expansão de sua influência política sobre o Leste Europeu por meio da formação de Estadossaté lites Na Ásia os EUA também tiveram alguns reveses a vitória de Mao Zedong 18931976 na China 1949 a divisão das Coreias 1953 e a unificação do Vietnã 1976 sob a liderança de HoChi Min 18901969 48 Apesar dos problemas verificados na região a atuação dos EUA na reconstrução do Japão a partir dos anos 1950 permitiu aos estadunidenses encontrar brechas ideológicas importantes para manter o comu nismo longe dos seus aliados O Japão tornouse uma vitrine do capitalismo na Ásia demonstrando com o decorrer do tempo como a economia de mercado era um modelo de sucesso a ser seguido eou copiado Segundo Wallerstein o sucesso dos EUA no Pósguerra como potência hegemônica é que provocou o início de sua própria decadência O sucesso dos EUA como potência hegemônica no período do pósguerra criou as condições para que a sua própria hegemonia fosse minada Este processo pode ser capturado em quatro símbo los a guerra do Vietnã as revoluções de 1968 a queda do Muro de Berlim em 1989 e os ataques terroristas de setembro de 2001 Cada símbolo acresce ao anterior culminando na situação em que os EUA se encontram hoje uma superpotência solitária à qual falta um verdadeiro poder um líder mundial que ninguém segue e poucos respeitam e uma nação perigosamente à deriva imersa em um caos global que não pode controlar WALLERSTEIN 2004 p 25 Os quatro eventos apontados por Wallerstein representariam cada momento do declínio do poder estadunidense Gastos militares em linha crescente o enfraquecimento ideológico do sistema capitalista enquanto criador de uma sociedade livre por exem plo demonstram a lógica desse quadro segundo o teórico 49 48 A Era Bush 20012009 corroeu totalmente a geocultura25 estadunidense De antigos defensores do mundo livre os EUA passaram a ser associados à opressão e à tortura Sob George W Bush os EUA tornaramse um vilão global Mais recentemente Donald Trump ocupou o lugar de destaque no desgaste dos EUA com sua política de ataques ao meioambiente ao desprezo pelas minorias e na guerra comercial com a China corolário que culminou com a sua derrota em 2021 para o democrata Joe Biden O fato é que sem o comunismo como ameaça ao mundo livre os EUA ficaram sozinhos no palco global para exercer o seu poder agora amplamente questionado utilizando o hard power26 de maneira mais incisiva A chamada guerra ao terror liderada pelos EUA após o 11 de Setembro foi uma tentativa de aglu tinar a comunidade internacional usando o terrorismo como tema importante para a agenda global O desgaste inevitável do poder hegemônico foi acentuado com a grande competição intracapitalista a partir do pósguerra Tigres Asiáticos Coreia do Sul Hong Kong Cingapura e Taiwan China e Japão Sem a Guerra Fria como pano de fundo e justificativa para os seus atos arbitrários em todo o planeta os EUA se 25 Segundo Wallerstein Geocultura termo criado por analo gia com o da geopolítica designa normas e práticas discursivas amplamente reconhecidas como legítimas no seio de um siste mamundo WALLERSTEIN 2006 p 150 26 Termo que representa a utilização de meios coercitivos guer ras invasões sanções econômicas etc por um Estado contra outro para obter a satisfação dos seus interesses políticos e econômicos 50 encaixam perfeitamente na visão de Wallerstein um líder que ninguém segue ou respeita Tendo em mente os fatores apontados é possí vel explicar o surgimento de pontos de contato entre Washington e alguns países como Irã e Coreia do Norte por exemplo A perda da influência sobre a América Latina como vimos com governos mais à esquerda de Chávez na Venezuela 19982013 Rafael Correa no Equador 20072017 e Evo Morales na Bolívia 2006 2019 ou mais próximos ao centro como foram o casal Kirchner na Argentina 20032015 e Lula 2003 2011 com eleição de sua sucessora Dilma Rousseff 20112016 nas primeiras décadas do século XXI tam bém revelam os EUA como uma liderança realmente em declínio sob o ponto de vista político Com todo o foco da política externa estadunidense praticamente direcionado para o Oriente Médio desde o fim da Guerra Fria a Casa Branca afrouxou o seu controle sobre antigas áreas menos importantes do pla neta mas que possuíam algum destaque no chessboard internacional em virtude da grande ameaça comunista A administração de Barack Obama 20092017 tentou reverter essa perda de força ideológica procu rando o uso soft power27 como caminho mais fácil para recuperar o prestígio dos EUA Mas não devemos esquecer que o líder ainda é líder apesar de sua perda de legitimidade 27 Termo criado por Joseph Nye professor da Universidade de Harvard para designar a capacidade de um Estado influenciar ideologicamente e culturalmente outras nações sem a utiliza ção de meios coercitivos para obter sucesso na defesa dos seus interesses É o oposto ao conceito de hard power 51 50 6 A UTOPÍSTICA a utopística envolve uma reconsideração profunda das estruturas do conhecimento e daquilo que realmente sabe mos a respeito da maneira como o mundo social funciona Immanuel Wallerstein 2003 p 12 Segundo Wallerstein a atual crise sistêmica do capi talismo está na ordem do debate Tal fato favorece a seguinte pergunta o que está por vir As contradições sistêmicas aumentam dia após dia apesar de poucas vozes apontarem tais problemas de maneira realmente efetiva como Wallerstein e Arrighi por exemplo O fato é que a transição histórica a bifurcação sistêmica atual requer uma profunda análise sobre o futuro e o que está sendo gestado nesse momento O que ocupará o lugar do capitalismo Até 1990 o socia lismo real ou não seria apontado como o substituto Mas e agora O sociólogo estadunidense foi categórico na afir mativa de que estaríamos passando por uma transição no sistema capitalista mundial Contudo não é possível detectar se a mudança será para um sistema ou vários sistemas WALLERSTEIN 2003 p 49 Será para melhor ou pior Wallerstein não ousou apontar isso Para uma avaliação correta do que está acontecendo e do que poderá acontecer Wallerstein elaborou a Uto pística Para ele a Utopística seria 52 uma avaliação profunda das alternativas his tóricas o exercício de nosso juízo para examinar a racionalidade substantiva de possíveis sistemas históricos alternativos é uma avaliação sóbria e racional e realista dos sistemas sociais humanos em que condições eles podem existir e as áreas que estão abertas à criatividade humana Não o rosto de um futuro perfeito e inevitável e sim o rosto de um futuro cujas melhoras sejam verossí meis e que seja historicamente possível embora longe de ser inevitável Assim é um exercício que ocorre simultaneamente na ciência na política e na moralidade WALLERSTEIN 2003 p 8 A Utopística portanto é a necessidade real do conhecimento de como o sistema social funciona na atualidade Somente a partir disso poderemos elaborar formas de superação da atual transição histórica que estamos passando A discussão sobre futuro deve envol ver além do entendimento do que está ocorrendo a perspectiva de construção de algo novo Daí a impor tância de trabalharmos as perspectivas sob a forma de um trinômio ciênciapolíticamoralidade Wallerstein avança afirmando que a utopística representa uma responsabilidade permanente dos cientistas sociais mas representa uma tarefa particularmente urgente quando a gama de escolhas é a maior E quando isso acon tece Precisamente quando o sistema histórico do qual somos parte está o mais longe do equilí brio quando as flutuações são maiores quando as bifurcações estão mais próximas quando pequenos insumos geram grandes produtos Eis o momento que estamos vivendo agora e que deve mos estar vivendo pelos próximos 25 a 50 anos 53 52 Se quisermos ser sérios quanto à utopística temos que parar de lutar sobre não questões e a primeira dessas não questões é determinismo versus livre arbítrio ou estrutura versus agência ou global ver sus local ou macro versus micro WALLERSTEIN 2002 p 256257 A lógica predatória do capitalismo é uma carac terística inata do sistema apesar das tentativas de domesticação do seu caráter impiedoso cujo exem plo bemsucedido foi o Welfare State28 europeu São sempre mencionados os casos da França Suécia e da Alemanha por exemplo Não devemos esquecer que tais benefícios sociais na realidade são recursos des locados de outras partes do mundo sociedades sob a forma de juros atraso tecnológico e social etc Contudo a montagem de aparatos jurídicoestatais que garantam benefícios sociais aos trabalhadores foge totalmente à lógica sistêmica do capitalismo histórico Portanto não é possível a igualdade para todos pois o sistema não suporta tal golpe O primeiro passo é real mente termos o conhecimento do sistema histórico no qual vivemos Conhecimento sem o véu ideológico a geocultura como coloca Wallerstein o sucesso pessoal e mítico como algo comum e de fácil acesso a todos bastando para isso trabalhar Tratase portanto de uma procura pela apreensão da totalidade como substrato fundamental para o avanço social E uma das formas de avanço é estarmos prepa 28 Em português Estado do BemEstar Social ou EstadoProvi dência Referese ao sistema de garantias sociais à população implementado principalmente na Europa no pósguerra 54 rados para a discussão das estruturas do conhecimento WALLERSTEIN 2002 p 12 Após esse processo estaremos aptos a rediscutir a política e a moralidade sob um novo paradigma social 55 54 7 AS PERSPECTIVAS DO SISTEMA MUNDO CONTEMPORÂNEO Um poder hegemônico não é um poder imperial Opera de maneira totalmente diferente sem legitimar o controle político sobre o sistema como um todo mas com algum sentido de legitimidade moral do seu domínio um sentido que o hegemônico há de ter sobre si mesmo e que tem de ser amplamente mesmo que jamais universalmente com partilhado Seu próprio sucesso cria condições para a sua extinção Immanuel Wallerstein 2002 p 256257 A crise mundial de 2008200929 certamente deixou o mundo atônito principalmente ao demonstrar a fragi lidade da economia Mais do que apontarmos este ou aquele país em crise devemos compreender que a crise é estrutural e permanente O leitor já deve ter notado que as crises mundiais estão em espaço de tempo cada vez menor e a intensidade gravidade é cada vez maior Isso no plano econômico O planeta também dá os seus sinais de crise O modelo baseado exclusivamente na ideia do consumo acima de tudo vem provocando catástrofes em várias 29 A crise econômica internacional que teve como epicentro os EUA O banco Lehman Brothers fundado na segunda meta de do séc XIX decretou sua falência e contaminou o sistema financeiro do país no mundo O governo dos EUA desde então socorreu as suas instituições financeiras com aproximadamente dois trilhões de dólares 56 regiões do planeta com efeitos inimagináveis até algum tempo atrás a despeito de paliativos como uso cons ciente dos recursos ou desenvolvimento sustentável práticas que atentam contra o processo de acumulação do capital sem fim O que devemos notar é a feição estrutural de tais problemas seja no âmbito econômico ou político além de lembrarmos que os dois estão interligados inexoravelmente Salientamos que a ASM é uma das construções teóricas que a nosso ver possui as cate gorias necessárias para superarmos a atual bifurcação sistêmica Tal como apontou Wallerstein há algumas décadas estamos vivendo essa bifurcação Avançando para o campo das relações interna cionais a ASM colabora de maneira decisiva para uma compreensão mais clara do atual processo que estaría mos vivendo Se estamos passando por um processo de transição no atual ciclo sistêmico de acumulação com a predominância dos EUA podemos sentir de maneira intensa tal processo no sistema internacional O avanço econômico da China nas últimas déca das para o topo da economia capitalista internacional é um aviso importante dessa transformação A ideia de um mundo unipolar comandado pelos EUA perdeu força face às grandes contradições sistêmicas crises econômicas cada vez mais intensas a perda da lide rança moral por meio das violações sistemáticas dos Direitos Humanos e a falta de uma unidade de ação com os seus antigos aliados são entre outros fatores o sinal da mudança 57 56 Um evento negligenciado pelo centro sistêmico capitalista mais precisamente pela academia e mídia foi a transformação do acrônimo Brics em um meca nismo de inserção dessas potências emergentes a des peito de suas idiossincrasias internas O Brics tenta se estabelecer como uma alternativa diante do reordena mento pelo qual todo o sistema mundial está passando atualmente A dimensão multipolar para essa nova realidade mundial é a chave para a compreensão do processo Liderado com mais ênfase pelos chineses com o objetivo de criar alternativas ao predomínio euroatlân tico econômico e geopolítico o Brics surfou na primeira década do século XXI nas boas condições econômicas geradas pela demanda por recursos naturais e agrícolas de várias nações de baixomédio desenvolvimento tec nológico O Brasil foi beneficiado durante esse período e acumulou prestígio e força agregando força inicial ao Brics Ao mesmo tempo a Rússia de Vladimir Putin voltou ao cenário internacional e passou a ver o Brics também como uma opção de melhor inserção nesse período de transição de ciclo sistêmico A Índia com a mesma percepção e a África do Sul chegando por último concluiu as economias emergentes que se des tacavam no período A criação do Novo Banco de Desenvolvimento NBD em inglês propiciou a institucionalização finan ceira do grupo por meio de um ponto que agrega os seus membros e ao mesmo tempo se expande para fora dele Logicamente não é possível apontar a sua capacidade 58 por enquanto de competir com as instituições origina das pósBretton Woods BID FMI etc e comandadas pelos EUA e seus aliados Contudo devemos ter em mente que a diminuição do uso do dólar nas transações entre os países membros do Brics e a criação do Renmimbi como moeda para trocas comerciais pela China já apontam as transforma ções em curso As sanções econômicas de alta enverga dura contra a Rússia por ocasião da invasão à Ucrânia em 2022 cujos principais exemplos foram a exclusão de grande parte das instituições financeiras russas do sistema bancário internacional o chamado SWIFT e o confiscocongelamento dos recursos do país no exterior assinalam que não haverá mais sentido em depender de um sistema controlado por poucos países É verdade que no momento podese visualizar que apesar de ainda não conseguir se apresentar como uma alternativa de grande envergadura para substituir e competir em termos globais com os grandes bancos já estabelecidos o NBD poderá apresentar vantagens futuramente para os países que não possuem acesso aos recursos do eixo estadunidenseeuropeu BID FMI etc Nesse contexto de imprevisibilidade gerada pela pandemia da covid19 e a invasão da Ucrânia o Brics tem que lidar com as demandas de consolidação como instituição e bloco de poder internacional além de seus países integrantes serem submetidos às transformações sistêmicas engendradas pelos EUA que lutam para manter a estrutura hegemônica intacta 59 58 Apesar de Wallerstein ser cético em relação ao futuro do Brics a ASM fornece um material sólido para avaliar o declínio relativo dos EUA e o surgimento de novos blocos de poder que poderiam ocupar o lugar vago deixado pela primazia dos EUA WALLERSTEIN 2016 online Da mesma forma o constructo de Wallerstein com o auxílio das teorias da Geopolítica e das Rela ções Internacionais fornece instrumentos para analisar a realidade econômica dos Brics bem como os aspectos formais do poder em termos de hard e soft power Os países membros do Brics enfrentam o desa fio de manter um propósito utópico inviável porém não confirmado como uma economia consolidada do triângulo estratégico formado por China Índia e Rússia Para isso é preciso aumentar o comércio entre os países e catalisar os efeitos colaterais de fazer parte do bloco principalmente por meio da maior ampliação do Novo Banco de Desenvolvimento A China vem defendendo há algum tempo a entrada de novos membros no Brics o Brics Plus como forma de aumentar a influência global da organização Em julho de 2022 Moscou mostrouse favorável à expansão principalmente por meio da candidatura da Argentina contudo sem retirar as prerrogativas dos paí ses fundadores como afirmou o assessor do presidente russo Yuri Ushakov SPUTNIK BRASIL 2022 online Durante a 14ª Cúpula do Brics realizada virtual mente entre os dias 23 e 24 de junho Argentina e Irã comunicaram as suas candidaturas Egito Turquia e Arábia Saudita anunciaram interesse na adesão que 60 se estabelecida trará uma nova realidade não só eco nômica como geopolítica Envolto por um cenário incerto o Brics busca ser um ator capaz de propor alternativas dentro de uma ordem em ruptura frente aos rearranjos globais de poder Os países do bloco considerados emergentes precisarão reemergir diante da pandemia da covid19 e sua crise que agora é mais um elemento estrutural no tabuleiro de xadrez geopolítico A capacidade eco nômica do Brics para o resto do mundo pode prever o futuro do bloco 71 A crise da Ucrânia Em fevereiro de 2022 a Rússia deu início a uma campa nha militar com o objetivo de desmilitarizar e desnazi ficar a Ucrânia segundo Vladimir Putin Na verdade a invasão foi o segundo ato da atuação russa após anexar a Crimeia em 2014 Os motivos alegados por Moscou era a chegada da Otan perto de suas fronteiras por meio de um país com grande relação histórica e a então virtual entrada de Kiev para a aliança militar ocidental Wallerstein em 2014 dedicou uma análise para a então invasão da Crimeia pelos russos Segundo Wallerstein O conflito sobre a Ucrânia ilumina o perigo da Otan Os EUA procuraram criar novas estruturas mili tares obviamente voltadas para a Rússia sob o pretexto de que elas visavam combater uma hipo tética ameaça iraniana À medida que o conflito ucraniano se desenrolava a linguagem da guerra 61 60 fria foi revivida Os EUA usam a Otan para pressio nar os países da Europa Ocidental a concordar com as ações antirussas E dentro dos EUA o presi dente Barack Obama está sob forte pressão para agir com força contra a chamada ameaça russa à Ucrânia30 WALLERSTEIN 2014 online A existência da Otan como uma aliança militar originada na Guerra Fria contra um inimigo específico como a URSS que deixou de existir em 1991 perdeu sentido Contudo Wallerstein 2014 nos fornece sua visão para uma possível explicação Segundo ele Então por que a expansão da Otan em vez de sua dissolução Isso mais uma vez teve a ver com a política intraeuropeia e o desejo dos EUA de con trolar seus supostos aliados Foi no regime Bush que o então secretário de Defesa Donald Rumsfeld falou de uma velha e uma nova Europa Por velha Europa ele estava se referindo especialmente à relutância francesa e alemã em concordar com as estratégias dos EUA Ele via os países da Europa Ocidental se afastando de seus laços com os Esta dos Unidos Sua percepção estava de fato correta Em resposta os EUA esperavam cortar as asas dos europeus ocidentais introduzindo estados do leste 30 The conflict over Ukraine illuminates the danger of NATO The US has sought to create new military structures obviously aimed at Russia under the guise that these were meant to counter a hypothetical Iranian threat As the Ukrainian conflict played on the language of the cold war was revived The US uses NATO to press western European countries to agree with antiRussian actions And within the US President Barack Obama is under heavy pressure to move forcefully against the Russian socalled threat to the Ukraine 62 europeu na Otan que os EUA consideravam aliados mais confiáveis31 WALLERSTEIN 2014 online Caminhando na direção de uma explicação geo política Moniz Bandeira em seu livro a Desordem Mundial 2016 fez uma magistral análise do cenário de competição entre as potências pelo poder no sistema internacional Além de uma sustentação bibliográfica e jornalística robusta oriunda de grande pesquisa seu texto trouxe explicações importantes para a análise das causas da invasão à Crimeia em 2014 pelos russos Segundo ele o embaixador George F Kennan arquiteto da estratégia de containment da União Soviética advertiu sabiamente que expanding NATO would be most fateful error of America policy in the entire postcoldwar era Poderseia esperar que a decisão acrescentou inflamasse as tendências nacionalistas antiocidentais e militaristas na opi nião do povo russo e que tivesse um efeito adverso ao desenvolvimento da democracia na Rússia bem como arriscasse restaurar a atmosfera da Guerra Fria nas relações LesteOeste e impedir decisiva 31 So why then the expansion of NATO instead of its dissolution This had once again to do with intraEuropean politics and the desire of the US to control its presumed allies It was in the Bush regime that the then Secretary of Defense Donald Rumsfeld talked of an old and a new Europe By old Europe he was referring especially to the French and German reluctance to agree with US strategies He saw the western European countries as moving away from their ties to the United States His perception was in fact correct In response the US hoped to clip the wings of the western Europeans by introducing eastern European states into NATO which the US considered more reliable allies 63 62 mente sua geopolítica exterior na direção contrária à do que os Estados Unidos gostariam BANDEIRA 2016 p 113 Na verdade a invasão da Ucrânia em 2022 deve ser vista por esse prisma ao contrário da narrativa rasa e ahistórica da mídia ocidental Figura 8 George F Kennan Fonte Autor desconhecido 2005 Domínio Público disponível no repositório digital da Wikimedia Commons George F Kennan 19042005 ainda daria outra declaração em 1998 reforçando os problemas da expan 64 são da Otan para o Leste Europeu declarandoa como um trágico erro BANDEIRA 2016 p 115 Outro motivo para a manutenção ativa da Otan no pósGuerra Fria seria os interesses do complexomilitar e da cadeia de corrupção comissões e lucros e o sistema finan ceiro BANDEIRA 2016 p 115 Ou seja um grande negócio de bilhões e bilhões de dólares para os bancos estadunidenses financiarem a compra de armas made in USA O fato é que depois do fim da URSS certamente a atuação russa na Ucrânia em 2022 seria um fato his tórico nas novas relações entre Moscou e o Ocidente Tal evento certamente promoverá uma rearticulação do poder mundial dentro da perspectiva de declínio da influência dos EUA O apoio da China ao não conde nar de maneira veemente a invasão e propiciar saídas econômicas para Moscou foi um aspecto importante do novo cenário internacional O papel da Índia também deve ser mencionado ao não ter alterado as relações econômicas com a Rússia Os dois países resistiram às pressões dos EUA e da UE pelas sanções contra Moscou FRONTLINER 2022 online A pressão de Washington e da UE para tirar a Rússia da economia mundial segundo palavras do então primeiroministro inglês Boris Johnson em 2022 UOL 2022 online assinala o que estava em jogo na Ucrânia a asfixia geopolítica da Rússia e consequen temente do governo de Vladimir Putin A disposição da GrãBretanha nas sanções econômicas contra os russos é de um país que sempre se comportou como um peão estadunidense na Europa 65 64 No âmbito geral o controle de Washington já não é mais o mesmo Estamos vivenciando grandes trans formações na arena geopolítica internacional Os EUA conseguirão alcançar os seus objetivos de se manter no topo do comando global no século XXI 66 CONSIDERAÇÕES FINAIS Outro aspecto importante é que os analistas dos sistemas mundiais são no conjunto mais bem treinados do que a maioria dos cientistas sociais de hoje para lidar com essas questões como um todo interrelacionado Immanuel Wallerstein 2002 p 239 A análise dos sistemasmundo é uma ferramenta impor tante para compreendermos o atual estágio do capi talismo e as Ciências Sociais sob outra perspectiva Estamos vivendo um processo histórico de grande importância crise ambiental crise democrática o retorno do discurso fascista o racismo entre outros fatores demonstra que o sistema vive suas contradições O resurgimento de antigos e novos players no sistema internacional e o desafio cada vez mais cons tante aos EUA ocorrem com mais intensidade Isso vai ao encontro das análises de declínio do poder de Washington visualizado por Wallerstein e Arrighi nas últimas décadas Mas o fato concreto é que a base dos nossos problemas societários é o capitalismo histórico que há pelo menos 200 anos degrada e dilapida as con dições de sobrevivência dos seres humanos no planeta O diagnóstico e algumas soluções já foram apontadas A originalidade das análises de Wallerstein e Arrighi em nossa opinião é levar em consideração as inúmeras variáveis existentes para a compreensão do capitalismo histórico na atualidade Aspectos econômi cos políticos culturais e geopolíticos por exemplo são fundamentais nesse processo 67 66 No campo das relações internacionais sua con tribuição é muito interessante Desprezar o avanço econômico da China no final do século XX e agora a destreza geopolítica de Beijing resumindoa única e exclusivamente a uma mera ameaça aos valores ocidentais é de uma pobreza conceitual muito grande mas válida para o grande público que não conhece os meandros da política internacional E o Brics com suas assimetrias mas que vai caminhando e ganhando corpo gradativamente E a sua expansão que está começando E a importância da amizade sinosoviética que desafiou as sanções econômicas contra a Rússia e garantiu a Moscou um fôlego importante ao cerco dos EUAUE na invasão da Ucrânia Como o leitor observou a ASM pode ser utilizada de várias formas e em vários campos para analisar o atual momento de transição sistêmica Há algum tempo as hierarquias e suas legitimidades estão sendo desafia das classe raça e gênero com resultados diretos para uma nova perspectiva sob as Ciências Sociais na visão de Wallerstein WALLERSTEIN 2002 Frente aos acontecimentos que estamos vivendo quando perguntado sobre se ele seria otimista ou pes simista sobre o futuro Wallerstein possuía uma res posta padrão 5050 Esta é minha resposta cin quentacinquenta e ela depende de nós WILLIAMS 2013 p 209 Resta agora trabalharmos utopisticamente na elaboração do Novo enquanto vivemos esse processo de transição ou como dizia o sociólogo estadunidense nesse período de bifurcação 68 LIVROS PUBLICADOS NO BRASIL32 Capitalismo Histórico E Civilização Capitalista Publicado em 2001 apresenta textos sobre a dinâmica capitalista à luz do marxismo crítico Editora Contraponto Após o liberalismo em busca da re construção do mundo Publicado em 2002 faz um balanço da onda liberal e dos seus valores que se tornaram do minantes após a desintegração da URSS Editora Vozes Como o concebemos o fim do mundo ciência social para o século XXI Publicado em 2002 o livro traz artigos publica dos pelo autor entre 1995 e 1998 Editora Revan Utopística ou as decisões históricas do século vinte e um Publicado em 2003 traz a série de Conferências Sir Douglas Robb proferidas na Universidade de Auckland Nova Zelândia Editora Vozes 32 NA a publicação no Brasil não corresponde necessariamente ao ano da versão original 69 68 O declínio do poder americano Publicado em 2004 o autor expõe a sua tese so bre a decadência econômica e principalmente de legitimidade dos EUA Editora Contraponto Impensar a Ciência Social Publicado em 2006 apresenta importantes textos críticos sobre as Ciências Sociais De senvolvimento e SistemasMundo Editora Vozes e Letras O universialismo europeu a retórica do poder Publicado em 2007 faz uma crítica contunden te ao ideário europeu universalista de defesa dos direitos individuais e humanos Editora Boitempo Raça nação classe as identidades ambíguas Publicado em 2021 em parceria com Étienne Balibar Editora Boitempo 70 BIBLIOGRAFIA COMPLETA DE I WALLERSTEIN 1961 África The Politics of Independence New York Vintage 1964 The Road to Independence Ghana and the Ivory Coast Paris La Haye Mouton 1967 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WorldSystems Archives httpwsarchucredu Fernand Braudel Center httpfbcbinghamtonedu The Institute for Research on WorldSystems httpirowsucredu Entrevista de I Wallerstein disponíveis na Internet33 Immanuel Wallerstein Programa Milênio da GloboNews legendas em português httpwwwyoutubecomwatchv8XeJICHkNW4 33 NA os vídeos em inglês podem contar com legendas a partir da configuração do vídeo da plataforma 74 Breakfast with Immanuel Wallerstein On Latin America Inglês 2010 httpwwwyoutubecomwatchvG30fv0ZUWEo Breakfast with Wallerstein On Central Asia Inglês 2010 httpwwwyoutubecomwatchvbiDhDJ3vj0Y Immanuel Wallerstein on the end of Capitalism Inglês 2009 httpwwwyoutubecomwatchvnLvszWBf6BQ Wallerstein on the Structures of Knowledge Inglês httpwwwyoutubecomwatchvTHRYks7YkU REFERÊNCIAS ARRIGHI Giovanni Longo Século XX Rio de Janeiro Contraponto 1996 ARRIGHI Giovanni SILVER Beverly J Chaos and governance in the modern world system Minnea polis University of Minnesota Press1999 BANDEIRA Moniz A 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WALLERSTEIN Immanuel WorldSystems Analysis In MODELSKI G Encyclopedia of Life Support 77 76 Systems EOLSS UNESCO Eolss Publishers Oxford 2004 p 114 Disponível em https wwweolssnetsamplechaptersc04E69401pdf WALLERSTEIN Immanuel Comprendre Le Monde Paris La Découvert 2006 WALLERSTEIN Immanuel Impensar a Ciência Social Aparecida SP Ideias Letras 2006 WALLERSTEIN Immanuel The NATO Danger to World Peace O libro Comentário n 389 15 nov 2014 Disponível em httpsiwallerstein comnatodangertoworldpeace Acesso em 11 maio 2022 WALLERSTEIN Immanuel The BRICS a fable for our time O libro Comentário n 416 1º jan 2016 Disponível em httpsiwallersteincom thebricsafableforourtime Acesso em 14 maio 2022 WALLERSTEIN Immanuel The WorldSystem and Africa New York Diasporic Africa Press 2017 WILLIAMS Gregory P Special Contribution Inter view with Immanuel Wallerstein Retrospective on the Origins of WorldSystems Analysis Jour nal of WorldSystems Research v 19 n 2 p 202 210 26 Aug 2013 78 REFERÊNCIA DAS IMAGENS 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