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241 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Barros Nascimento GÊNEROS TEXTUAIS E LIVRO DIDÁTICO DA TEORIA À PRÁTICA Eliana Merlin Deganutti de Barros Elvira Lopes Nascimento Resumo O objetivo do artigo em pauta é investigar um quadro significativo da transposição didática da teoria dos gêneros textuais a partir da análise de um capítulo do livro Português linguagens CEREJA MAGALHÃES 2004 cujo objeto de trabalho é o gênero crítica Os critérios de análise foram estabelecidos a partir da leitura do manual do professor que acompanha o livro didático e nele os autores explicitam que as atividades propostas para os capítulos de produção textual são embasadas na teoria de gêneros bakhtiniana Para apreender o tratamento didático que os autores dão à produção textual considerando que o capítulo em análise constitui um conjunto de atividades centrado em um gênero textual fundamentamos a análise na abordagem teórica do interacionismo sóciodiscursivo BRONCKART 2003 e nas pesquisas de Dolz Noverraz e Schneuwly 2004 sobre seqüências didáticas centradas em gêneros textuais Palavraschave gênero textual livro didático seqüência didática crítica 1 INTRODUÇÃO Nos últimos anos a noção de gênero textual ou discursivo vem sendo discutida pelos estudiosos da área de ensino de línguas Tal conceito tem ajudado vários pesquisadores de correntes teóricas diversas a compreender as interações sociais nas múltiplas esferas em que agem pela linguagem Assim o conceito de gênero tradicionalmente abordado pela Literatura e Retórica passa a assumir principalmente com base nos estudos de Mikhail Bakhtin um elo entre o uso da língua na sua forma natural ou seja inserida num contexto sóciohistórico onde se confrontam as construções econômicas semióticas e culturais produzidas ao longo da história da humanidade e as práticas de linguagem escolarizadas confinadas às quatro paredes da sala de aula As discussões se tornam mais explícitas pelo menos aqui no Brasil a partir da publicação dos PCN de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental Mestranda no Programa de PósGraduação em Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Londrina E mail edeganuttihotmailcom Professora da Universidade Estadual de Londrina Doutora em Lingüística Email elopessercomtelcombr 242 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Gêneros textuais e livro didático BRASIL 1998 dos PCNEM BRASIL 19991 e dos PCN BRASIL 2002 já que os documentos em pauta passaram a adotar o texto como unidade de ensino e os gêneros como objeto mediador do processo de ensinoaprendizagem Mesmo com os vários problemas que as publicações em foco apresentam principalmente os destinados ao Ensino Médio ROJO MOITA LOPES 2004 com certeza eles motivaram muitas reflexões e conseqüentemente incentivaram novos estudos na área do ensino de línguas principalmente no que diz respeito ao como levar esses novos objetos2 de ensino para sala de aula Quando pensamos neste como não há como ignorarmos o papel que os livros didáticos LDs desempenham nessa árdua tarefa de transposição didática das novas teorias de ensino É de compreensão geral que na maioria das vezes o LD é o único instrumento de trabalho do professor ou seja uma ferramenta semiótica que realiza a mediação entre aspectos do conhecimento sobre a linguagem e a língua de um lado e o professor e os alunos de outro BRÄKLING 2003 p 212 Pensando dessa forma a solução desse como parece estar nas mãos dos autores dos LDs E é nesse sentido que aqui destacamos o importante papel que parece desempenhar o Programa Nacional do Livro Didático PNLD e mais recentemente o Programa Nacional do Livro do Ensino Médio PNLEM responsáveis por avaliar e distribuir LDs para as escolas públicas brasileiras Embora esses programas necessitem de uma revisão em seus critérios de análise BRÄKLING 2003 não temos como negar a influência que eles vêm exercendo na evolução dos nossos LDs ou pelo menos na busca destes por uma adaptação 1 Os PCNEM BRASIL 1999 não são tão explícitos quanto à introdução do gênero nas aulas de Língua Portuguesa Segundo Rojo e Moita Lopes 2004 um dos grandes problemas deste documento é seu grau de generalidade e de hermetismo em relação ao destinatário ou seja os professores razão principal da publicação dos PCN BRASIL 2002 2 Quando falamos novos não queremos dizer que os gêneros não existiam antes foram criados para serem objeto de ensino pelo contrário sabemos por Bakhtin 1992 que só nos comunicamos hoje e sempre por meio de gêneros Entretanto quando transposto para a sala de aula este instrumento da comunicação humana é quase sempre desprovido de sua essência ou seja das implicações da situação sóciohistórica que o engendrou Por exemplo não é de hoje que os professores pedem aos alunos que escrevam cartas pessoais nas aulas de redação porém será que esses alunos sabem que a representação que eles fazem de si próprios de seu interlocutor vai afetar o modo como escrevem ou que deveriam escrever uma carta Será que conseguem entender o porquê de a carta escrita por seus pais ou seus avós ser diferente da carta escrita hoje Ou será que não escrevemos mais carta nos dias de hoje Ou seja não há como trabalhar na escola com uma definição de gênero apenas como um conjunto de traços textuais pois isso ignora o papel dos indivíduos no uso e na construção de sentidos BAZERMAN 2005 p 31 243 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Barros Nascimento às novas concepções de língua e ensino concepções estas que acabam norteando os critérios de avaliação de tais programas Cabe aqui destacar a contribuição de vários projetos de pesquisa de universidades brasileiras no tocante à elaboração de modelos didáticos3 de gêneros e sua transposição para a sala de aula Temos como exemplo o projeto de pesquisa Gêneros Textuais no Ensino Médio modelos didáticos para uma abordagem no ensino de língua materna desenvolvido na UEL do qual somos integrantes e que tem como suporte teóricometodológico fundamental o interacionismo sóciodiscursivo BRONCKART 2003 2006a 2006b abordagem psicossociológica que toma como unidade privilegiada de análise as ações verbais e nãoverbais MACHADO 2005 com a perspectiva de intervenção na educação ensinoaprendizagem e formação do professor A partir das reflexões acima nos propomos no presente estudo a investigar como a noção de gêneros textuais está sendo abordada pelo LD tomando para tanto o livro Português linguagens Literatura Produção de Texto Gramática CEREJA MAGALHÃES 2004 como objeto de pesquisa já que traz em seu manual do professor a teoria dos gêneros e afirma serem estes a ferramenta mediadora de ensino da produção textual de toda a sua coleção Também é importante destacar o fato de seus autores serem bem conceituados na área e suas publicações sempre citadas em pesquisas científicas sobre materiais didáticos Ou seja nosso objetivo aqui não é uma investigação exaustiva em relação a esse ou outros LDs em circulação com o intuito de se chegar a um quadro geral da relação livro didáticogênero mas por meio de um exemplar significativo mostrar um importante recorte da questão Para tanto estabelecemos como foco de nossas análises o capítulo 45 produção de texto do volume II que tem como objetivo o trabalho com o gênero crítica4 A escolha se deve ao fato de este gênero textual ser também objeto de nossos estudos no projeto de pesquisa já mencionado e alvo de alguns de nossos trabalhos BARROS NASCIMENTO 2005a 2005b Embora nossa análise se concentre em apenas um capítulo da produção textual ela pode ser 3 Segundo Schneuwly e Dolz 2004 p 81 Num modelo didático tratase de explicitar o conhecimento implícito do gênero referindose aos saberes formulados tanto no domínio da pesquisa científica quanto pelos profissionais especialistas 4 Analisamos somente as seções Trabalhando o gênero e Produzindo a crítica pois Escrevendo com adequação o discurso citado em textos jornalísticos embora pertença ao mesmo capítulo não está articulada ao trabalho com o gênero crítica 244 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Gêneros textuais e livro didático generalizada aos demais pois o LD segue uma única linha teóricometodológica em toda sua coleção Para apresentação de nossas reflexões trazemos primeiramente toda a fundamentação teórica pertinente ao trabalho Em seguida damos um panorama sobre o LD em análise e sobre o seu manual do professor somente o que se refere à produção textual inserindo quando necessário algumas informações do PNLEM2006 BRASIL 2004 Posteriormente apresentamos resultados de análises da abordagem feita ao gênero crítica no capítulo 45 do LD primeiras impressões análise geral a partir dos nossos estudos sobre o gênero e análise à luz dos pressupostos teóricos citados no manual do professor Para concluir apresentamos uma seqüência didática com o gênero crítica de cinema elaborada segundo o postulado por Dolz Noverraz e Schneuwly 20045 como uma possibilidade mais aberta de trabalho com o gênero 2 EMBASAMENTO TEÓRICO A fundamentação teórica se divide em três momentos O primeiro se destina a trazer uma reflexão sobre a visão bakhtiniana dos gêneros do discurso já que é principalmente com base nela que os autores do LD em pauta declaram no manual do professor desenvolver o trabalho dos capítulos de produção textual e dessa forma será ela também uma das nossas ferramentas analíticas O segundo momento traz um breve panorama do interacionismo sóciodiscursivo ISD pois é ele que em vários momentos servirá de apoio às nossas asserções já que fornece um instrumental teóricometodológico que auxilia o analista a atingir aspectos que se interrelacionam e as implicações dessas relações para a caracterização de um gênero É verdade que Bakhtin é um dos autoreschave que formam o quadro epistemológico do ISD e Bronckart faz referência explícita a essa dialogia quando propõe um sistema de equivalências terminológicas ressaltando que o faz sem deixar de aderir totalmente à concepção de conjunto de Bakhtin BRONCKART 2003 p 143 embora contestando a visão de uma relação de dependência quase mecânica entre formas de atividades e gêneros do discurso na teoria 5 Achamos interessante deixar como contribuição uma seqüência didática BARROS SAITO 2005 assim como postulada por Dolz Noverraz e Schneuwly 2004 já que no manual do professor por várias vezes Cereja e Magalhães usam tal terminologia porém não a explicitam 245 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Barros Nascimento bakhtiniana ver nota 2 Entretanto sob o ponto de vista mais aplicado sobretudo em didática de línguas o ISD consegue desenvolver um quadro geral de análise mais sistematizado que atende tanto as formas e tipos de interação de linguagem e as condições concretas de sua realização quanto os elementos da heterogeneidade textual que constituem a arquitetura interna dos textos Finalmente é apresentado um esboço do que seria o procedimento seqüência didática assim como pensada pelos pesquisadores da vertente mais didática do ISD pois é nele que está baseada nossa contribuição final em termos de transposição didática 21 Gêneros pressupostos bakhtinianos Embora a presença de uma noção mais geral de gêneros encontrese em muitos dos trabalhos do Círculo de Bakhtin é em Os gêneros do discurso BAKHTIN 1992 que as atenções convergem mais especificamente para este problema Em outros textos do Círculo os gêneros receberam outras denominações como por exemplo tipos de interação verbal formas de um todo formas de discurso social porém é no texto em questão que Bakhtin introduz o termo gêneros do discurso e o define como tipos relativamente estáveis de enunciado 1992 p 279 Tal estudo permite compreender os enunciados como fenômenos sociais concretos e únicos constituídos historicamente nas atividades humanas caracterizados por um esqueleto mais ou menos estável porém suscetível a determinadas modificaçõesadaptações Percebese assim que o conceito bakhtiniano enfatiza a relativa estabilização dos gêneros ou seja o seu caráter de processo e não de produto já que ao mesmo tempo em que estes se constituem como forças reguladoras do ato de linguagem também se renovam a cada situação de interação Assim cada enunciado visto em sua individualidade contribui não só para a existência como também para a continuidaderenovação dos gêneros Segundo Bakhtin cada esfera da atividade humana esfera cotidiana do trabalho científica jornalística etc comporta um repertório de gêneros do discurso que vai diferenciandose e ampliandose à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa 1992 p 279 Desse modo podemos dizer que o gênero só existe relacionado à sociedade que o utiliza O que o constitui é muito mais sua ligação com uma situação social de interação do que propriamente suas propriedades formais Por exemplo uma resenha acadêmica e uma resenha 246 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Gêneros textuais e livro didático publicada em jornais eou revistas de grande circulação embora reservem traços formais comuns jamais podem ser confundidas ou seja são gêneros distintos pois estão condicionados às normas socioideológicas das esferas que os engendraram Segundo Bakhtin 1992 os gêneros não só regulam organizam como também significam toda interação humana são eles que orientam todo ato de linguagem Para o falante os gêneros constituemse como parâmetros sociais para a construção de seus enunciados quem sou eu que falo quem é meu interlocutor qual o propósito da minha fala etc Para o interlocutor os gêneros funcionam como um certo horizonte de significação pois dão pistas de como se processará a interação Aprendemos a moldar nossa fala às formas do gênero e ao ouvir a fala do outro sabemos de imediato bem nas primeiras palavras pressentirlhe o gênero Se não existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos se tivéssemos de criálos pela primeira vez no processo da fala se tivéssemos de construir cada um de nossos enunciados a comunicação verbal seria quase impossível BAKHTIN 1992 p 302 Dessa forma indissociável da interação social e disponível em um repertório o domínio de um gênero permite ao falante estabelecer quadros de sentidos e comportamentos nas diferentes situações de comunicação com as quais se depara Conhecer determinado gênero significa pois ser capaz de prever certas coerções que o condicionam como por exemplo sua estrutura de composição ou suas regras de conduta ou seja o que é ou não adequado àquela determinada prática de linguagem Assim quanto mais competente no sentido de dominar um gênero for o indivíduo mais proficiente ele será nos seus atos de linguagem e nas suas práticas sociais Segundo Bakhtin os gêneros do discurso apresentam três dimensões que se fundem indissoluvelmente no todo do enunciado o conteúdo temático o estilo e a construção composicional estes elementos são marcados pela especificidade de uma esfera de comunicação 1992 p 279 O conteúdo temático pode ser compreendido como o assuntoobjeto de que o enunciado vai tratar conteúdo ideologicamente afetado que se torna dizível por meio dos gêneros Já a construção composicional se refere aos elementos das estruturas textuais discursivassemióticas que compõem um texto pertencente a um gênero Por fim o estilo remete a questões individuais e genéricas de seleção vocabulário estruturas 247 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Barros Nascimento frasais preferências gramaticais etc Embora se perceba individualmente esses elementos eles não funcionam de forma autônoma um está intrinsecamente ligado ao outro dependente do outro num processo dialógicodiscursivo Pensando na interação e na linguagem da interação como fenômenos complexos que envolvem múltiplos fatores em múltiplas relações não há como pensar em tema estilo e construção composicional sem pensar no extralingüístico ou seja nos parâmetros do contexto que envolvem a produção e recepção dos enunciados Segundo BakhtinVolochinov 1986 p 113 a situação social mais imediata e o meio social mais amplo determinam completamente e por assim dizer a partir do seu próprio interior a estrutura da enunciação ou seja o gênero e suas especificidades A situação dá forma ao enunciado obrigandoo a dizer isso e não aquilo a se inscrever de uma maneira e não de outra A enunciação é produto da interação e interação pressupõe no mínimo a participação de dois indivíduos socialmente organizados assim mesmo que não haja um interlocutor real este pode ser substituído pelo representante médio do grupo social ao qual pertence o locutor BAKHTINVOLOCHINOV 1986 p 112 Nesse sentido são elementos essenciais da situação social mais imediata os parceiros da interlocução o locutor e seu interlocutor e são as implicações dessa parceria situada em um dado momento sóciohistórico e acrescida da apreciação valorativa do locutor que determinam muitos dos aspectos temáticos composicionais e estilísticos do enunciado Embora explorado apenas nos estudos sobre o romance o conceito bakhtiniano de cronotopos articula bem com o exposto acima Segundo o autor qualquer intervenção na esfera dos significados só se realiza através da porta dos cronotopos BAKHTIN 1993 p 362 Podemos dizer que cada gênero está inscrito em um determinado cronotopo ou seja em uma determinada situação espacial e temporal momento sóciohistórico esfera social suporte material etc e em uma interação que reflete representações do eu e do outro do discurso Cada situação de enunciação é então única não se repete e seus sentidos estão assim condicionados a um contexto específico de comunicação Contexto este repleto de ideologias absorvidas pela palavra e veiculadas pelo gênero Daí dizer que não há palavra neutra oca de sentidos e sim somente palavra eou signo ideológico BAKHTINVOLOCHINOV 1986 248 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Gêneros textuais e livro didático 22 O interacionismo sóciodiscursivo ISD Mais que uma ciência lingüística psicológica ou sociológica o ISD pretende ser uma corrente da ciência do humano cuja problemática central está no desvendamento das atividades linguageiras as práticas de linguagem situadas quer dizer os textosdiscursos são os instrumentos maiores do desenvolvimento humano não somente sob o ângulo dos conhecimentos e dos saberes mas sobretudo sob o das capacidades de agir e da identidade das pessoas BRONCKART 2006a p 8 Ainda segundo o autor textos são todas as produções de linguagem situadas que são construídas de um lado mobilizando os recursos lexicais e sintáticos de uma língua natural dada de outro levando em conta modelos de organização textual disponíveis no quadro dessa mesma língua BRONCKART 2006a p 11 Assim toda elaboração de um texto implica necessariamente escolhas relacionadas à seleção de mecanismos lingüísticodiscursivos e conseqüentemente de modalidades de realização a saber os gêneros textuais que nada mais são que construtos históricos disponíveis em um arquitexto Todo texto é fruto de uma ação de linguagem ou seja é seu correspondente verbal ou semiótico da mesma forma todo texto só é concretizado por meio do empréstimo de um gênero daí poder dizer que todo texto pertence sempre a um determinado gênero Entretanto todo texto empírico também procede de uma adaptação do gênero modelo aos valores atribuídos pelo agente à sua situação de ação e daí além de apresentar as características comuns ao gênero também apresenta propriedades singulares que definem seu estilo particular Por isso a produção de cada novo texto empírico contribui para a transformação histórica permanente das representações sociais referentes não só aos gêneros de textos mas também à língua e às relações de pertinência entre textos e situações de ação BRONCKART 2003 p 108 Assim na medida em que objetiva investigar os efeitos das práticas de linguagem sobre o desenvolvimento humano o ISD adota uma concepção de organização dessas práticas materializadas em textos ou seja elabora modelos de análise de um lado um modelo das condições de produção do texto dois planos mundo físico e mundo sóciosubjetivo e do outro um modelo da sua 249 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Barros Nascimento arquitetura interna6 esta dividida em três níveis 1 infraestrutura textual que compreende o plano geral do texto os tipos de discurso7 tipos de seqüências8 2 os mecanismos de textualização conexão coesão nominal e coesão verbal que conferem coerência temática ao texto e 3 os mecanismos enunciativos distribuição das vozes e explicitação das modalizações responsáveis pela coerência interativa A metodologia de análise interacionista sociodiscursiva aliada ao dispositivo seqüência didática na forma como é concebida pela vertente mais didática do ISD assume especial importância para a metodologia do ensino e da aprendizagem de Língua Portuguesa uma vez que oferece princípios que possibilitam estabelecer referências para orientar os professores na construção dos objetos de ensino visando o desenvolvimento de capacidades que permitem aos nossos alunos agir com eficácia e de forma consciente na interação com os outros com o conhecimento e com o contexto em que se inserem 23 O procedimento seqüência didática Os gêneros podem ser considerados como vimos em Bakhtin 1992 instrumentos que possibilitam a comunicação humana Schneuwly 2004 amplia esta metáfora e diz que os gêneros são na verdade megainstrumentos com uma configuração estabilizada de vários subsistemas semióticos sobretudo lingüísticos mas também paralinguisticos p 28 que nos permitem agir de forma eficaz nas mais variadas situações de comunicação Não só do ponto de vista do uso mas também na perspectiva do ensinoaprendizagem o gênero pode e deve ser considerado um megainstrumento DOLZ SCHNEUWLY 2004 Mas a pergunta que muitos educadores se fazem é como transpor esse megainstrumento para a sala de aula Schneuwly e Dolz admitem que o gênero trabalhado na sala de aula é sempre uma variação do gênero de referência 2004 p 81 pois ele é sempre produzido em um contexto fictício9 com 6 Na arquitetura interna do texto Bronckart 2003 expande as categorias bakhtinianas de conteúdo temático construção composicional e estilo 7 Os quatro tipos de discurso segundo Bronckart 2003 p 137216 discurso teórico expor autônomo discurso interativo expor implicado narração narrar autônomo relato interativo narrar implicado 8 Seqüência narrativa descritiva argumentativa explicativa dialogal e outras formas de planificação cf BRONCKART 2003 p 217248 9 Por mais que a escola tente desenvolver um trabalho com um determinado gênero se aproximando o máximo da sua realidade comunicacional este será na melhor das hipóteses parcialmente fictício já que a finalidade será sempre o ensinoaprendizagem 250 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Gêneros textuais e livro didático finalidades voltadas para a aprendizagemaprimoramento dos aprendizes Dessa forma o que a escola precisa abordar é justamente esta variação entre os dois pólos as práticas de linguagem reais e as práticas de linguagem produzidas no contexto escolar de forma sempre a tentar uma maior aproximação entre ambas É nesse sentido que os pesquisadores do Grupo de Genebra propõem o que eles denominam seqüência didática Para tais estudiosos toda prática de linguagem pode e deve ser ensinada de forma sistemática A seqüência didática a saber um conjunto de atividades escolares organizadas de maneira sistemática em torno de um gênero textual DOLZ NOVERRAZ SCHNEUWLY 2004 p 97 tem por finalidade colocar os alunos frente a práticas de linguagem sócio historicamente construídas e lhes dar a possibilidade de reconstruílas e delas se apropriarem De acordo com Dolz e Schneuwly 2004 essa reconstrução só é possível graças à combinação de três fatores as práticas de linguagem materializadas em gêneros textuais que são objeto de ensinoaprendizagem as capacidades de linguagem dos alunos e as estratégias de ensino desenvolvidas pela seqüência didática As práticas de linguagem materializadas em gêneros textuais constituem o instrumento de mediação de toda estratégia de ensino e o material de trabalho necessário e inesgotável para o ensino da textualidade DOLZ SCHNEUWLY 2004 p 51 Já o conceito de capacidades de linguagem DOLZ PASQUIER BRONCKART 1993 relacionase às aptidões necessárias ao aprendiz para que ele produza um certo gênero numa dada situação de interação Divide se em capacidades de ação o aluno deve adaptar sua produção ao contexto imediato capacidades discursivas o aluno tem que mobilizar certos modelos discursivos e capacidades lingüísticodiscursivas o aluno precisa dominar as operações psicolingüísticas e as unidades lingüísticas que perpassam sua produção Quanto às estratégias de ensino estas se destinam a buscar maneiras de intervenção no contexto de ensinoaprendizagem que levem o aluno à maestria de gêneros textuais em particular e conseqüentemente das diversas situações de comunicação que lhes correspondem Segundo Dolz e Schneuwly 2004 p 53 tratase fundamentalmente de se fornecerem aos alunos os instrumentos necessários para progredir O procedimento seqüência didática comporta quatro etapas a apresentação da situação a produção inicial os módulos e a produção final conferir síntese do procedimento no quadro 1 251 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Barros Nascimento Quadro 1 O procedimento seqüência didática elaborado com base em Dolz Noverraz e Schneuwly 2004 p 95128 3 UMA VISÃO GERAL DO LIVRO DIDÁTICO O livro didático Português linguagens CEREJA MAGALHÃES 2004 apresentase como uma das opções do Catálogo do Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio PNLEM2006 BRASIL 2004 programa este implantado em 2004 e que prevê a distribuição de livros didáticos de Português e Matemática para os alunos do Ensino Médio público de todo o país com exceção dos estados de Minas Gerais e Paraná10 que desenvolvem programas próprios 10 O programa do livro didático para o Ensino Médio do Paraná não possibilita a livre escolha dos materiais didáticos pelo professor a Secretaria Estadual de Ensino faz a seleção de um livro e o envia às escolas públicas 252 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Gêneros textuais e livro didático O volume II alvo de nossas análises se divide em quatro unidades nomeadas com base no conteúdo de Literatura comportando de doze a quatorze capítulos cada estes classificados em três grupos Literatura Língua uso e reflexão conhecimentos lingüísticos e Produção de texto leitura e produção de textos Cada unidade é finalizada com questões de vestibularesENEM e com a seção Intervalo que traz sugestões de projetos na área de literatura Cada capítulo sobre produção de texto aborda um gênero ou um tipo textual e em geral dividese em três seções Trabalhando o gênero na qual o aluno tem contato com um exemplar de determinado gênero ou tipo de texto por meio da leitura e da interpretação textual Produzindo na qual o aluno é convidado a escrever de acordo com o gênero ou o tipo em questão Escrevendo com adequaçãoexpressividade que apresenta trabalhos com elementos discursivostextuais Como o objetivo do presente trabalho não é analisar o livro em si mas sim um determinado capítulo destinado à produção textual não sentimos a necessidade de uma avaliação da sua organização geral 31 O manual do professor abordagem teórica dos gêneros textuais Primeiramente cabe aqui um elogio ao trabalho de Cereja e Magalhães quanto à elaboração do Manual do Professor que funciona efetivamente como um apoio ao uso do livro do aluno e um suporte teóricometodológico de grande importância para o professor do ensino médio O manual se encontra no final do livro destinado aos docentes e se estrutura basicamente em três vertentes metodologia estrutura da obra e sugestões de estratégias Em MetodologiaProdução de texto os autores apresentam em linguagem acessível a noção de gêneros textuais que fundamenta o trabalho com a produção de texto trazendo conceitos e discussões de autores como Bakhtin Bronckart Schneuwly Dolz Afirmam que a perspectiva para o ensinoaprendizagem da produção de texto está centrada nos gêneros textuais ou discursivos11 mas que também não deixam de lado alguns aspectos relacionados à tipologia textual descrição narração e dissertação que podem ser incorporados ao trabalho com os mais diversos gêneros Entretanto Cereja e Magalhães não especificam os autores que lhes servem de apoio para o trabalho com os tipos 11 Cereja e Magalhães assim como nós parecem não ver diferença entre as terminologias Contudo por nosso trabalho se ancorar nas pesquisas do Grupo de Genebra usaremos aqui gêneros textuais 12 Cereja e Magalhães apresentam Por exemplo Quais são os gêneros narrativos Em que gêneros a descrição tratada aqui como recurso ou técnica é utilizada Qual a diferença entre dissertar e argumentar Quais são os gêneros argumentativos CEREJA MAGALHÃES 2004 p 7 253 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Barros Nascimento Também pelos exemplos apontados12 parece que os autores não levam em conta o hibridismo textual ou seja o fato de um texto dificilmente ser formado por um único tipo de discurso discurso interativo discurso teórico relato interativo narração eou por uma única organização seqüencial seqüência narrativa descritiva argumentativa explicativa e dialogal pelo contrário nele geralmente dialogam vários tipos de discurso e seqüências cf BRONCKART 2003 No tópico O que são gêneros o professor encontra uma exposição teórica sobre a noção de gêneros discursivos a partir do postulado bakhtiniano incluindo a problemática dos elementos da situação de comunicação que condicionam o funcionamento de todo ato de linguagem quem fala sobre o que fala com quem fala com qual finalidade qual o suporte Em seguida são privilegiadas as pesquisas do Grupo da Universidade de Genebra em tópicos como O gênero como ferramenta O gênero a serviço da construção do sujeito e da cidadania Agrupamento de gêneros e progressão curricular Gêneros a democratização do texto Neste momento Cereja e Magalhães apresentam alguns pontoschave trabalhados por tais pesquisadores como o gênero como ferramenta que possibilita exercer uma ação lingüística sobre a realidade contexto de produção seqüência didática oficinas de textos A abordagem teórica apresentada no manual do professor cria um efeito de ilusão no que diz respeito à compreensãoapropriação de tais pressupostos teóricometodológicos como se bastasse ao professor um simples ato de leitura para que se dê de forma eficaz as relações entre os comportamentos do professor em aula e a aprendizagem dos alunos DOYLE apud SAUJAT 2004 p 7 Como se essas duas variáveis o modo de agir do professor e a eficácia desse agir estivessem na dependência de uma mera leitura de texto teórico tal como é apresentada no manual e não em um processo de formação continuada cujo programa de implantação demandaria muitos esforços O manual termina tais discussões com algumas sugestões bibliográficas a respeito do assunto e com a afirmação de que com o trabalho de produção textual centrado nos gêneros o ato de escrever é dessacralizado e democratizado todos os alunos devem aprender a escrever todos os tipos de textos CEREJA MAGALHÃES 2004 p 10 A palavra todos por nós destacada tem a finalidade de ressaltar a posição do autor ou seja de que todos os gêneros textuais tipos de textos devem ser ensinados na escola Entendemos que esta proeza jamais possa ser alcançada pois os gêneros que permeiam nossa vida em 254 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Gêneros textuais e livro didático sociedade são muitos e estão a todo o momento em constante processo de transformaçãoadaptação assim seria impossível querer ser tão abrangente O que se pode é fazer uma seleção levandose em conta certos agrupamentos como o dos pesquisadores do Grupo de Genebra explicitados no próprio manual do professor Em A estrutura da obraProdução de texto os autores destacam o fato de o trabalho de produção textual sempre ser iniciado pela leitura de um exemplar do gênero abordado no capítulo e em uma tentativa de aplicação das teorias já exploradas firmam seu procedimento teóricometodológico ou seja Observando aspectos da estrutura modo composicional do tema conteúdo temático do estilo linguagem do suporte e da situação de interlocução o aluno é levado a construir indutivamente um modelo teórico do gênero posteriormente o aluno põe em prática o que aprendeu produzindo um ou dois textos do gênero estudado Antes de produzir o aluno recebe um conjunto de orientações sobre como planejar o seu texto passo a passo CEREJA MAGALHÃES 2004 p 25 Já no tópico Sugestões de estratégiasProdução de texto o manual diz que os professores podem pedir com antecedência que os alunos levem para a sala de aula exemplares do gênero que será estudado a fim de explorarem de forma geral o que observaram quanto à sua estrutura e ao seu conteúdo Também sugere que após os alunos responderem às perguntas propostas na seção o professor confronte as respostas e promova um debate sobre elas Vale aqui a ressalva de que a nosso ver este procedimento deveria aparecer na introdução dos capítulos e não apenas como uma sugestão aos professores pois entendemos que um único exemplar do gênero não é suficiente para que se atinjam resultados satisfatórios em um trabalho de recepção e produção de gêneros textuais 32 Capítulo A crítica primeiras análises No Capítulo 45 destinado à produção de texto o LD Português linguagens volume II inicia o trabalho com o gênero textual crítica com as seguintes informações 255 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Barros Nascimento Em seguida coloca uma resenha do filme Elefante publicada na revista VEJA em 2004 seguida de sete perguntas de compreensão ligadas tanto ao texto em si como a suas características genéricas Na sétima questão temos Reúnase com seus colegas de grupo e juntos concluam Quais são as características da crítica Inicialmente podemos destacar como ponto positivo do capítulo em pauta a atualidade do texto selecionado e a escolha de um veículo de comunicação de massa conhecido pela maioria dos jovens embora a revista VEJA não seja acessível a todos principalmente aos estudantes da escola pública ela ainda continua sendo uma das mais lidas na sua categoria Também é interessante destacar o fato de o livro proporcionar aos alunos o contato com a construção das características prototípicas do gênero por meio de perguntas de compreensão e não trazêlas já prédeterminadas13 Contudo o boxe ß avalie sua crítica que aparece como apoio à proposta de produção textual traz sempre o resumo do que o livro espera que o aluno apreenda sobre o gênero Ou seja após se acostumar com os procedimentos metodológicos da coleção o estudante simplesmente faz uma cópia das informações do referido boxe para responder à última pergunta proposta Para ilustrar a análise em curso transcrevemos abaixo a resposta à questão 7 fornecida pelo livro do professor bem como o boxe Avalie sua crítica para mostrar como os dois apresentam em suma as mesmas informações Entendemos que as características da crítica trabalhadas pelo LD nesta atividade de leitura são muito superficiais em se tratando de um gênero tão complexo Não há um trabalho por exemplo com os tipos de discurso e seqüências que formam a estrutura composicional do gênero e que por sua 13 Este procedimento metodológico é uma constante em todos os capítulos produção de texto 256 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Gêneros textuais e livro didático vez determinam algumas escolhas lingüísticodiscursivas estilo verbal que poderiam ser estudadas no decorrer do capítulo tais como os mecanismos de textualização a conexão a coesão verbal e nominal e os mecanismos enunciativos vozes e modalizações que certamente são decisivos para se compreender o dizível do texto conteúdo temático Após apresentar as questões de compreensão o livro traz logo em seguida a seção Produzindo a crítica com duas alternativas de produção textual A primeira pede que o aluno faça uma crítica de algum objeto cultural e para isso sugere apenas que ele conheça primeiramente o objeto ou seja se a opção for pela produção da crítica de um filme que o aluno o assista antes A segunda proposta é para que se faça uma crítica comparativa entre programas jornalísticos de duas emissoras de TV e para tanto o livro apresenta alguns aspectos que devem ser observados14 Traz também algumas instruções gerais para a 14 Os aspectos que o LD pede que os alunos observem são os seguintes tempo destinado à economia política nacional internacional esporte cidades etc notícias ou assuntos de destaque no dia entrevistas seqüência dos assuntos abordados grau de profundidade na abordagem dos assuntos opinião do jornalista se ele manifesta ou não sua opinião sobre os assuntos 257 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Barros Nascimento elaboração das duas propostas Entendemos que a segunda opção dá mais subsídios para que o aluno possa se apoiar na hora da produção de seu texto Entretanto ela também não sugere um trabalho preliminar no qual os alunos possam se envolver mais com o projeto de produção textual por exemplo a discussão coletiva sobre o objeto a ser resenhado seus temas implicações da situação de produção tanto do objeto da resenha quanto do ato de produção textual objetivo da produção dúvidas sobre as características do gênero etc Uma outra questão pouca explorada pelo LD é o fato de uma crítica nunca abranger todos os aspectos de um objeto cultural geralmente o crítico faz um recorte de seu todo e foca a análise em apenas um de seus pontos o que não significa que outros aspectos não possam também ser abordados Por exemplo uma crítica cinematográfica pode se apoiar na atuação de um ator no desempenho do diretor nas técnicas de iluminação utilizadas no desenvolvimento do tema na qualidade da adaptação de uma obra literária para o cinema etc Como o aluno e também o professor muitas vezes não domina muitas destas características cinematográficas seria interessante que houvesse um trabalho preliminar de pesquisa para que se explorasse mais o fenômeno cinema15 para que o trabalho com o gênero crítica fosse melhor aproveitado Ou então que a proposta fosse para se explorar sobretudo o desenvolvimento do temaenredo pelo roteirista pois este ponto é bem mais absorvido pelos alunos já que não demanda tanto conhecimento específico da área cinematográfica Entendemos também que seria preferível o LD trabalhar apenas com uma modalidade da crítica uma vez que a crítica de cinema modalidade trabalhada na seção de leitura exige um enfoque específico pois é um texto que se configura em um contexto de produção determinado em que na mente do produtor se constituiu uma base de orientação a partir dos parâmetros objetivos sóciosubjetivos BRONCKART 2006b p 146 assim como do conhecimento que ele tem do arquitexto de sua comunidade verbal e do modelo de gênero no caso a crítica cinematográfica aí disponível É importante ressaltar como ponto positivo da coleção didática em foco o fato de as atividades de leitura e produção de texto estarem trabalhando uma em favor da outra ou seja não se trabalha a leitura de um gênero ou tipo textual em um capítulo e a produção textual em outro como se fossem matérias distintas e não eixos que se articulam entre si posição que defendemos para o ensino de língua portuguesa Entretanto ao tentar articular o terceiro eixo dessa 15 Esse trabalho poderia ser realizado conjuntamente com o professor de Artes por exemplo 258 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Gêneros textuais e livro didático engrenagem ou seja a análise lingüística o livro parece quebrar sua seqüência de trabalho pois ao invés de buscar no trabalho com o mesmo gênero textual pontos lingüísticostextuaisgramaticais relevantes para um estudo epilingüístico ele se ancora em outros tipos de texto para o desenvolvimento da seção escrevendo com adequação que trabalha no capítulo em pauta com o discurso citado a partir da leitura de notícias de jornal 33 O capítulo A crítica reflexão e análise à luz do posicionamento teórico assumido no manual do professor Após uma análise e descrição geral do LD e uma pequena investigação do trabalho desenvolvido com os gêneros textuais tendo como foco o capítulo destinado à crítica objetivamos neste tópico analisar o mesmo objeto porém agora tendo como base os pressupostos teóricos explicitados no manual do professor Conforme vimos anteriormente a seção Trabalhando o gênero é construída a partir da leitura de um texto representativo do gênero em foco seguida de perguntas de compreensão Como logo em seguida a esta seção o LD já traz as propostas de produção textual concluise que é por meio das questões de compreensão textual que os alunos devem desenvolver as capacidades de linguagem necessárias para que possam produzir o gênero em estudo Assim sendo é justamente nessas questões que nossa análise se concentra Apresentamos um quadro nº2 com as sete perguntas propostas pelo LD tendo como contraponto as três dimensões do gênero construção composicional conteúdo temático e estilo apresentadas por Bakhtin 1992 bem como os elementos do contexto de produção e o suporte aspectos estes abordados pelo manual do professor 259 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Barros Nascimento Quadro 2 Análise das perguntas de compreensão a partir dos pressupostos teóricos assumidos no manual do professor 260 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Gêneros textuais e livro didático O quadro 2 não pretende ser um mero parâmetro quantitativo uma vez que como já dissemos anteriormente não há como desassociar precisamente os três elementos que dimensionam um gênero como também não se pode tomar esses elementos por si sós sem partir dos aspectos sóciohistóricos da situação enunciativa Nessa perspectiva essa primeira análise baseiase no argumento mais forte da pergunta o que não quer dizer que os aspectos não se acumulem se mesclem Por exemplo quando na pergunta 5 o LD diz que a crítica pode aparecer em uma linguagem mais pessoal ou mais objetiva embora o elemento mais gritante seja o estilo não podemos esquecer que para o agente produtor escolher uma certa posição enunciativa representações do contexto de produção foram acionadas qual é a imagem que ele faz de si mesmo tem legitimidade por exemplo para dizer eu acho que qual a representação que faz de seu interlocutor será que o leitor aceitaria por exemplo se ele se posicionasse explicitamente numa passagem valorativa de cunho negativo será que as coerções do suporte ou do momento sóciohistórico da enunciação permitiriam uma linguagem mais pessoal Da mesma forma este estilo está articulado à construção composicional Por exemplo segundo Bronckart 2003 caso o agente se posicione explicitamente primeira pessoa gramatical a crítica mundo do expor pode se configurar como um discurso interativo implicação de elementos da situação de produção caso opte pela não implicação de elementos da situação pode ser analisado à luz do discurso teórico Ou seja podemos falar que nesse caso a construção composicional depende do estilo e ambos estão diretamente ligados ao contexto de produção da ação de linguagem Após colocar tais ressalvas vamos à análise do quadro Primeiramente observase que as questões normalmente têm uma parte inicial na qual são apresentadas várias informações que dão suporte à pergunta propriamente dita parte em que é solicitada uma resposta do aluno Verificamos que tanto na primeira como na segunda parte da questão são explorados os três elementos bakhtinianos que constituem um gênero tema estilo e construção composicional No que se refere ao conteúdo temático percebemos que tal aspecto é bastante explorado sobretudo na segunda fase da questão Por exemplo na pergunta 2 o LD dá informações relativas à construção composicional contexto de produção suporte e ao direcionarse ao aluno acaba por exigir apenas uma compreensão de pontos temáticos Em geral parece que as perguntas estão mais 261 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Barros Nascimento voltadas para a compreensão dos significados do dizível do texto apresentado para leitura Um elefante na sala de aula do que propriamente para o entendimento do que seja a crítica como um gênero e tudo o que isso implica O estilo do gênero é abordado basicamente na questão 5 por meio de três pontos a variedade lingüística o tempo verbal e o tipo de linguagem objetiva ou subjetiva O que notamos é que tais enfoques são trabalhados isoladamente sem que se faça uma relação com os outros elementos implicados na noção do gênero deixando de oferecer assim a possibilidade de uma compreensão crítica a respeito do contexto social de uso da ação social que configura e que certamente envolve questões de acesso e de poder MEURER 2000 Por exemplo pergunta se apenas qual a variedade lingüística utilizada no texto mas não se entra na questão do porquê de tal escolha ou seja quais as coerções exercidas pelo contexto que levaram o agente produtor a utilizar uma determinada variedade e não outra Pedese que o aluno identifique a forma verbal predominante mas não se estabelece uma relação por exemplo com a estrutura composicional do texto Para Bronckart 2003 o tempo verbal é uma das características observáveis nos tipos de discurso discurso teórico interativo narração ou relato interativo os mecanismos da coesão verbal são um dos responsáveis pelo estabelecimento da coerência temática do texto Na referida pergunta o LD também passa a informação de que a crítica pode ser escrita em uma linguagem mais pessoal ou mais objetiva mas não são questionadas as implicações deste fato para a construção do sentido do texto ou seja qual a diferença entre as duas possibilidades como o leitor interpreta tais escolhas Embora na questão 2 o LD deixe claro que a crítica tem uma estrutura relativamente livre construção composicional que varia dependendo do autor público e veículo de divulgação contexto de produção o fato de o livro apresentar apenas um exemplar do gênero pode levar o aluno a assimilar apenas a estrutura do texto tomado como exemplo desprezando a heterogeneidade composicional própria do gênero Como podemos observar na pergunta em pauta os autores conseguem fazer uma relação entre a estrutura composicional e o contexto de produção embora isso aconteça apenas na primeira parte quando é o LD que se posiciona ou seja não é o aluno quem estabelece essas relações no texto é o LD que as sugere Na pergunta 6 é abordada a finalidade da crítica contexto de produção porém da mesma forma que no caso anterior não é o aluno quem a identifica ela 262 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Gêneros textuais e livro didático já vem préestabelecida pelos autores cabendo a ele apenas aceitála É o que Grigoletto 1999 chama de discurso de verdade Em nossa opinião na pergunta em tela também caberia um elo entre o objetivo do gênero estimular o leitor a consumir ou não um objeto cultural e sua estrutura composicional seqüência argumentativa cf BRONCKART 2003 p 225228 pois para tentar convencer seu interlocutor o sujeitocrítico estabelece uma tese e lança mão de argumentos talvez contraargumentos que possam sustentála Assim seria interessante pedir aos alunos que identificassem essas fases no texto para depois então perguntar você iria ver o filme criticado Por quê pois assim eles teriam mais segurança para responder tais questões 4 SÍNTESE DAS ANÁLISES E CONTRIBUIÇÃO a O manual do professor é um ótimo instrumento de mediação entre teoria e prática por trazer os pressupostos teóricos que embasam o trabalho apresentado no LD de forma clara também é um suplemento importante para o exercício diário do professor pois apresenta muitas sugestões de ampliação das atividades b Entretanto algumas sugestões deveriam se tornar prática metodológica obrigatória por exemplo pedir com antecedência que os alunos tragam para a aula textos do gênero que será estudado CEREJA MAGALHÃES 2004 p 28 isso possibilitaria que os alunos tivessem contato com o gênero na forma natural em que circula na sociedade e em diferentes suportes jornais revistas internet etc c A articulação entre a leitura e a produção de texto favorece a assimilação das características prototípicas do gênero porém o LD perde a chance de estender este trabalho mesmo gênero a alguns pontos da análise lingüística articulação entre os três eixos do ensino de língua portuguesa E sabemos que aí reside um grande desafio para o professor de línguas d O LD propõe levar o aluno a construir indutivamente um modelo teórico do gênero CEREJA MAGALHÃES 2004 p 25 por meio das questões de compreensão leitura Entretanto tais questões já trazem na sua estrutura muitas das informações que os alunos poderiam estar induzindo no texto Assim também as características do gênero 263 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Barros Nascimento que os alunos deveriam construir pela leitura são apresentadas explicitamente no boxe avalie seu gênero o que fragiliza a metodologia proposta e O LD em seu Manual do professor se propõe a abordar os gêneros a partir das três dimensões essenciais da vertente bakhtiniana e dos elementos do contexto de produção Realmente estes são os pontos trabalhados nas seções Trabalhando o gênero e Produzindo o gênero porém o que se observa é que eles são explorados muito superficialmente e na maioria das vezes de forma não articulada deixando a desejar no que diz respeito às nossas expectativas em relação ao trabalho didático segundo o método sociológico de análise do enunciado que é apresentado por BakhtinVolochinov 1986 f As propostas de produção textual embora bem formuladas e com ótimas instruções a nosso ver necessitariam apresentar sugestões que possibilitassem um trabalho prévio realizado coletivamente com esses e outros aspectos do gênero a se produzir Pelo fato de no manual do professor os autores do LD usarem algumas vezes a expressão seqüência didática justamente no mesmo tópico em que expõem os pressupostos teóricos dos pesquisadores do Grupo de Genebra esta expressão acaba sendo equiparada indevidamente àquela proposta por tais pesquisadores Na verdade o que o LD denomina seqüência didática parece ser o trabalho desenvolvido com os gêneros nos capítulos de produção textual da sua coleção Dessa forma a título de contribuição trazemos a seguir o esboço de uma seqüência didática elaborada nos moldes de Dolz Noverraz e Schneuwly 2004 com o gênero resenha cinematográfica ou crítica de cinema 264 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Gêneros textuais e livro didático 1º Na apresentação da situação o aluno vai ser exposto ao projeto da SD seqüência didática e tomará conhecimento da interação que será concretizada na produção final quando as resenhas serão veiculadas no jornal mural da escola Nesse momento a turma poderá construir as suas representações sobre a situação de ação e sobre a atividade de linguagem que executarão Para isso apresentaremos vários exemplos de resenha cinematográfica veiculadas em jornais e revistas de grande circulação Assim os alunos terão contato com o gênero abordado inserido no suporte na seção e no caderno em que circula como também na esfera de comunicação em que se insere Próximo passo então é levar os alunos a examinarem as resenhas verificando o seu plano geral os temas sobre os quais os textos são construídos a premissa tese defendida pelo autor Os alunos devem fazer um levantamento dos argumentos que justificam a premissa dos contraargumentos que freiam e moderam os movimentos argumentativos e que constituem restrições a tal tomada de posição levando o leitor a inferências a respeito da conclusãonova tese que é orientada a partir do peso dos argumentos e restrições Este primeiro passo da SD encaminha os fatores determinantes da escolha do que se vai dizer no texto e do modo como vai se dizer ligados à representação que se faz dos objetivos do texto do leitor a que ele se destina do contexto e do suporte em que deverá circular da situação em que será lido Sem essa etapa que consideramos crucial na SD de produção de textos as atividades se restringiriam à dimensão formal do texto ou seja à estrutura ao produto e não ao processo que implica operações mentais requeridas nas atividades de leitura e de produção e se estaria ignorando o papel decisivo das condições interiores e exteriores em que se dá esse processo São essas atividades desenvolvidas no primeiro passo da SD que proporcionarão os parâmetros que orientam o processo de produção textual e de leitura e darão a orientação sobre os parâmetros da situação de ação de linguagem Dessa forma serão realizadas atividades que visam ao levantamento de hipóteses das representações do produtor sobre o contexto de produção o que levará a turma a realizar pesquisa bibliográfica para obter informações sobre a caminhada sóciohistórica desse gênero ou seja como era a sociedade que o engendrou levantamento de qual era o contexto histórico político e cultural em que foram publicadas as primeiras resenhas cinematográficas de quais representações os autores das resenhas tinham sobre o contexto físico e sócio subjetivo de tal produção a definição do suporte que faz o gênero circular na atualidade definição do lugar de circulação do produto final a explicitação da finalidade colocada para a produção de texto desse gênero o valor social do construto sóciohistórico resenha cinematográfica a imagem social que o produtor tem a respeito do destinatário do texto 2º Elaboração de uma produção inicial Se a situação de produção for bem definida no primeiro passo da SD os alunos conseguirão produzir um texto que seja adequado à situação dada ainda que seja uma produção inicial incipiente com poucas chances de conseguir a publicação no jornal 3º A organização do material a ser utilizado na seqüência didática Coletânea de resenhas cinematográficas em diversos suportes de circulação do gênero coletâneas de outros gêneros com características argumentativas encontrados em diferentes suportes jornais e revistas para levantamento de traços que os identifiquem edições atuais e antigas do jornal e revistas para verificação das adaptações e transformações do gênero 4º A decisão sobre os filmes a serem abordados nas resenhas através da leitura de jornais da semana para levantamento das diferentes opiniões dos críticos de cinema em relação a determinado filme 5º Exercícios em grupo ou individuais que vão propor atividades variadas em torno das categorias de análise do ISD interacionismo sóciodiscursivo adaptadas para os alunos verificação do que eles já sabem e o que eles precisarão aprender sobre o gênero visado Nesta fase os alunos realizarão diferentes oficinas com atividades direcionadas ao projeto de apropriação das características do gênero estudado como é a infraestrutura textual das resenhas cinematográficas os mecanismos de textualização e os mecanismos enunciativos 6º Os alunos deverão detectar essas características 265 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Barros Nascimento Quadro 3 Seqüência didática com o gênero resenha cinematográfica BARROS SAITO 2005 Como podemos perceber o procedimento descrito está estruturado na forma de um roteiro para o professor e não de um material didático propriamente dito que possa ser transposto para a sala de aula independente das especificidades de seu contexto Ou seja uma diferença crucial entre a proposta do LD e tal seqüência didática é que esta pode se adaptar às mais variadas situações Por exemplo as resenhas podem ser escolhidas pela turma o que possibilita trabalhar com assuntos do interesse dos alunos com filmes que acabaram de ser lançados que estão provocando polêmica Após a primeira produção podese por exemplo avaliar as capacidades de linguagem dos alunos em relação à maestria do gênero e desenvolver atividades que trabalhem justamente as carências da turma Ou seja a proposta não apresentada um texto x um filme x uma produção textual x mas sim sugere um trabalho pedagógico em que o professor se torna mediador do ensinoaprendizagem o aluno um participante ativo deste processo e o gênero textual a ferramenta SCHNEUWLY 2004 que possibilita tal mediação o que não desqualifica em hipótese alguma o papel do livro didático em sala de aula 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Verificamos que o LD objeto de nossa investigação não foge da sua proposta de trabalho com gêneros textuais pelo menos no que diz respeito à linha teórica por ele traçada Entretanto entendemos que a sua metodologia de trabalho com gêneros ou seja uma atividade de leitura e compreensão baseada em um único texto seguida de uma proposta de produção textual não consegue abranger toda em um corpus de textos do gênero Apresentarão seminários sobre os dados dos levantamentos dando especial ênfase à relação entre características lingüísticas e discursivas e a situação de ação de linguagem 7º Os alunos vão adquirindo progressivamente conhecimentos sobre o gênero A partir daí poderão organizar o conhecimento construído em um mural com a lista de constatações sobre o gênero que poderá ser afixada na parede 8º Produção de textos em que os alunos colocarão em prática os instrumentos elaborados nos módulos do gênero estudado 9º A avaliação diagnóstica produção inicial para detectar as dificuldades e assim ajustar os objetivos autoavaliação mediante a lista de constatações construída sobre o gênero avaliação longitudinal quando é comparada a produção inicial e as produções pósatividades das oficinas para verificação dos avanços obtidos e dos problemas que ainda apresentam 266 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Gêneros textuais e livro didático a complexidade textualdiscursivaenunciativa de um determinado gênero Vislumbramos este objeto de ensino como realmente uma ferramenta que possibilita a mediação dos conhecimentos que a língua oferece e não apenas como um novo tópico de ensino Não nos interessa apenas ensinar a forma como se escreve uma resenha por exemplo precisamos levar os alunos a compreender como esse gênero funciona na nossa sociedade quais os valores que ele carrega em sua materialidade discursiva quais as implicações que todo um dado contexto sóciohistórico lhe confere Dessa forma explorar um gênero e todas as suas possibilidades de investigação apenas por meio de um exercício de leitura e uma produção textual não parece ser o meio ideal para se alcançar os objetivos propostos pelo LD Com a realização desses exercícios leitura e produção textual o aluno não apenas se apropria definitivamente dos elementos constitutivos do gênero mas também toma consciência dos elementos que compõem a situação social em que ele é produzido CEREJA MAGALHÃES 2004 p 25 grifo nosso A palavra definitivamente pressupõe que os autores do LD realmente acreditam estar no caminho certo Como nosso trabalho infelizmente não pode acompanhar a aplicação de tal procedimento didático em uma sala de aula de sua recepção pelos professores e alunos e de seus resultados concretos ficamos aqui com o nosso olhar de simples analistas que não querem de maneira alguma fazer denúncias ou desqualificar o trabalho desses autores Pelo contrário gostaríamos de ressaltar a importância de iniciativas como a de Cereja e Magalhães que mesmo com as limitações e as dificuldades que a elaboração de um LD oferece conseguem que a teoria dos gêneros chegue até a sala de aula em meio a tantos outros materiais de autores que ainda não se deram conta da relevância dessa nova ferramenta de ensino REFERÊNCIAS BAKHTIN M Os gêneros do discurso In Estética da criação verbal Tradução de M E G Gomes Pereira São Paulo Martins Fontes 1992 p 277326 Formas de tempo e de cronotopo no romance In Questões de 267 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Barros Nascimento literatura e de estética a teoria do romance Tradução deA F Bernardini et al São Paulo Hucitec 1993 p 211362 BAKHTIN M VOLOCHINOV V N Marxismo e filosofia da linguagem Tradução de Michel Lahud e Yara F Vieira São Paulo Hucitec 1986 BARROS E M Deganutti de NASCIMENTO Elvira Lopes O gênero resenha cinematográfica na abordagem do interacionismo sóciodiscursivo In SIGET 3 2005 Santa Maria RS Anais em CDrom Santa Maria UFSM 2005a O gênero resenha cinematográfica como instrumento de ensino aprendizagem no ensino médio In CELLIP 17 2005 GuarapuavaPR Anais em CD rom Guarapuava Unicentro 2005b SAITO C L N Uma proposta pedagógica com o gênero textual resenha cinematográfica In SEMANA DE LETRAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA 4 2005 Londrina PR Anais no prelo BAZERMAN C Gêneros textuais tipificação e Interação São Paulo Cortez 2005 BRÄKLING K L A gramática nos LDs de 5ª a 8ª séries que rio é este pelo qual corre o gânges In ROJO R org Livro didático de língua portuguesa letramento e cultura Campinas Mercado das Letras 2003 p 211252 BRASIL Catálogo do Programa Nacional do Livro Didático PNLEM2006 Língua Portuguesa Brasília MEC SEB FNDE 2004 PCN Ensino Médio Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares nacionais Brasília MEC SEMTEC 2002 Parâmetros Curriculares Nacionais ensino médio Brasília MEC SEMT 1999 Parâmetros Curriculares Nacionais terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental Língua Portuguesa Brasília MEC SEF 1998 BRONCKART JP Entrevista com JeanPaul Bronckart Revista Virtual de Estudos da Linguagem REVEL v 4 n 6 2006a Disponível em httppaginasterracombr educacaoreveledicoesnum6entrevistabronckarthtm Acesso em 31 jul 2006 Atividade de linguagem discurso e desenvolvimento humano Tradução e organização de Anna Rachel Machado e Maria de Lourdes M Matencio Campinas Mercado de Letras 2006b Atividade de linguagem textos e discursos por um interacionismo sócio discursivo Tradução de Anna Rachel Machado e Péricles Cunha São Paulo EDUC 2003 268 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Gêneros textuais e livro didático CEREJA W R MAGALHÃES T C Português linguagens literatura produção de textos Gramática V 2 livro do professor 4 ed São Paulo Atual 2004 DOLZ J NOVERRAZ M SCHNEUWLY B Seqüências didáticas para o oral e a escrita apresentação de um procedimento In SCHNEUWLY Bernard DOLZ Joaquim e col Gêneros orais e escritos na escola Campinas SP Mercado das Letras 2004 p 95 128 PASQUIER A BRONCKART JeanPaul Lacquisition des discours émergence dune compétence ou apprentissage de capacités langagières Études de Linguistique Appliquée n 102 p 2337 1993 SCHNEUWLY Bernard Gêneros e progressão em expressão oral e escrita elementos para reflexões sobre uma experiência suíça francófona In SCHNEUWLY Bernard DOLZ Joaquim e col Gêneros orais e escritos na escola Campinas SP Mercado das Letras 2004 p 4170 GRIGOLETTO M Leitura e funcionamento discursivo do livro didático In CORACINI M J Org Interpretação autoria e legitimação do livro didático Campinas Pontes 1999 p 6777 MACHADO A R A perspectiva interacionista sociodiscursiva de Bronckart In MEURER J L BONINI A MOTAROTH D Orgs Gêneros teorias métodos debates São Paulo Parábola 2005 MEURER J L O conhecimento de gêneros textuais e a formação do profissional de linguagem In FORTKAMP M B M TOMITCH L M B Orgs Aspectos da Lingüística Aplicada estudos em homenagem ao professor Hilário Inácio Bohn Florianópolis Insular 2000 p149167 ROJO R H R MOITA LOPES L P da Linguagens códigos e suas tecnologias In BRASIL Orientações Curriculares do Ensino Médio Brasília MEC SEB 2004 SAUJAT F O trabalho do professor nas pesquisas em educação um panorama In MACHADO A R Org O ensino como trabalho uma abordagem discursiva Londrina Eduel 2004 SCHNEUWLY Bernard Gêneros e tipos de discurso considerações psicológicas e ontogenéticas In DOLZ Joaquim e col Gêneros orais e escritos na escola Campinas SP Mercado das Letras 2004 p 2139 DOLZ Joaquim Os gêneros escolares das práticas de linguagem aos objetos de ensino In SCHNEUWLY Bernard DOLZ Joaquim e col Gêneros orais e escritos na escola Campinas SP Mercado das Letras 2004 p 7191 269 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Barros Nascimento Recebido em 260706 Aprovado em 300107 Title Genres and textbooks from theory to praxis Author Eliana Merlin Deganutti de Barros Elvira Lopes Nascimento Abstract The objective of this article is to investigate a significant picture of the didactic transposition of the genre theory through the analysis of a chapter of the textbook Português Linguagens Cereja Magalhães 2004 whose object of work is the genre review The analysis criteria were established from the reading of the teachers manual that follows the textbook where the authors explain that the proposed activities for the chapters of textual production are based in the Bakhtinian genre theory To understand the didactic treatment the authors give to textual production considering that the chapter under analysis constitutes a set of activities centered on a textual genre we based the analysis on sociodiscursive interactionism BRONCKART 2003 and on the research of Dolz Noverraz and Schneuwly 2004 about didactic sequences centered on textual genres Keywords genre didactic sequence textbook review Titre Genres textuels et livre didactique de la théorie vers la pratique Auteur Eliana Merlin Deganutti de Barros Elvira Lopes Nascimento Résumé Lobjectif de cet article est celui de faire la recherche dun tableau significatif de la transposition didactique de la théorie des genres textuels à partir de lanalyse dun chapitre du livre Portugais langages CEREJA MAGALHÃES 2004 dont lobjet de travail est le genre critique Les critères danalyse ont été établis à partir de la lecture du manuel du professeur qui vient avec le livre didactique et dans lequel les auteurs précisent que les activités proposées pour les chapitres de la production textuelle sont fondées dans la théorie de genres bakhtinienne Pour saisir le traitement didactique que les auteurs donnent à la production textuelle tout en considérant que le chapitre analysé constitue un ensemble dactivités focalisées dans la théorie de linteractionnisme sociodiscursif BRONCKART 2003 et dans les recherches de Dolz Noverraz et Schneuwly 2004 sur les séquences didactiques centrées sur le genres textuels Motsclés genre textuel livre didactique séquence didactique critique Título Géneros textuales y libro didáctico de la teoría a la práctica Autor Eliana Merlin Deganutti de Barros Elvira Lopes Nascimento Resumen El objetivo del artículo es investigar un cuadro significativo de la transposición didáctica de la teoría de los géneros textuales a partir del análisis de un capítulo del libro Português linguagens CEREJA MAGALHÃES 2004 el que tiene como objeto de trabajo el género crítica Los criterios de análisis fueron establecidos a partir de la lectura del manual del profesor que acompaña el libro didáctico en el cual los autores explicitan que las actividades propuestas para los capítulos de producción textual están basadas en la teoría de géneros de Bajtín Para aprehender el tratamiento didáctico que los autores dan a la producción textual considerando que el capítulo en análisis constituye un conjunto de actividades centrado en un género textual fundamentamos el análisis en el abordaje teórico del interaccionismo socio discursivo BRONCKART 2003 y en las investigaciones de Dolz Noverraz e Schneuwly 2004 270 Linguagem em Discurso LemD Tubarão v 7 n 2 p 241270 maiago 2007 Gêneros textuais e livro didático sobre secuencias didácticas centradas en géneros textuales Palabrasclave género textual libro didáctico secuencia didáctica crítica