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95 4 SEQÜêNCIAS DIDÁTICAS PARA O ORAL E A ESCRITA APRESENTAÇÃO DE UM PROCEDIMENTO1 Joaquim Dolz Michèle Noverraz2 Bernard Schneuwly INTRODUÇÃO Como ensinar a expressão oral e escrita Se hoje em dia existem várias pistas para responder esta questão nenhuma satisfaz simultaneamente as seguintes exigências permitir o ensino da oralidade e da escrita a partir de um encaminhamento a um só tempo semelhante e diferenciado propor uma concepção que englobe o conjunto da escolaridade obrigatória centrarse de fato nas dimensões textuais da expressão oral e escrita oferecer um material rico em textos de referência escritos e orais nos quais os alunos possam inspirarse para suas produções ser modular para permitir uma diferenciação do ensino favorecer a elaboração de projetos de classe A presente coleção responde entre outras a estas exigências Sem pretender de forma alguma cobrir a totalidade do ensino de produção oral e escrita ela fundamentase no seguinte postulado é possível se ensinar a escrever textos e a exprimirse oralmente em situações públicas escolares e extra escolares Uma proposta como esta tem sentido quando se inscreve num 1 Este é o texto de apresentação da Coleção de Livros Didáticos Exprimirse em francês Seqüências Didáticas para o Oral e a Escrita Joaquim Dolz Michèle Noverraz e Bernard Schneuwly dirs 2 Michèle Noverraz é formadora de professores no seminário pedagógico de ensino secundário e professora da Rede de Ensino Fundamental de Lausanne além de coordenadora da obra que este texto apresenta em conjunto com Joaquim Dolz e Bernard Schneuwly 96 ambiente escolar no qual múltiplas ocasiões de escrita e de fala são oferecidas aos alunos sem que cada produção se transforme necessariamente num objeto de ensino sistemático Criar contextos de produção precisos efetuar atividades ou exercícios múltiplos e variados é isto que permitirá aos alunos apropriaremse das noções técnicas e instrumentos necessários ao desenvolvimento de suas capacidades de expressão oral e escrita em situações de comunicação diversas É esse o desafio a que se propõe esta coleção O texto abaixo fornece ao leitor os elementos necessários para a compreensão da natureza deste material Primeiramente ele expõe detalhadamente o procedimento seqüência didática que é seu elemento chave na medida em que esta propõe uma maneira precisa de trabalhar em sala de aula Em seguida o texto insiste em alguns pontos essenciais a saber mais particularmente os princípios teóricos subjacentes ao procedimento seu caráter modular e as possibilidades de diferenciação de ensino deste decorrentes a relação com as outras dimensões de ensino de língua Ele apresenta ainda a organização do conjunto da coleção justificando o modo de progressão proposto para cobrir a totalidade da escolaridade obrigatória Finalmente o texto descreve o material à disposição dos professores O PROCEDIMENTO SEQÜêNCIA DIDÁTICA Uma seqüência didática é um conjunto de atividades escolares organizadas de maneira sistemática em torno de um gênero textual oral ou escrito Vejamos mais detalhadamente as principais características de uma seqüência didática Trabalhar com gêneros Quando nos comunicamos adaptamonos à situação de comunicação Não escrevemos da mesma maneira quando redigimos uma carta de solicitação ou um conto não falamos da mesma maneira quando fazemos uma exposição diante de uma classe ou quando conversamos à mesa com amigos Os textos 97 escritos ou orais que produzimos diferenciamse uns dos outros e isto porque são produzidos em condições diferentes Apesar desta diversidade podemos constatar regularidades Em situações semelhantes escrevemos textos com características semelhantes que podemos chamar de gêneros de textos conhecidos de e reconhecidos por todos e que por isso mesmo facilitam a comunicação a conversa em família a negociação no mercado ou o discurso amoroso Certos gêneros interessam mais à escola as narrativas de aventuras as reportagens esportivas as mesas redondas os seminários as notícias do dia as receitas de cozinha para citar apenas alguns Uma seqüência didática tem precisamente a finalidade de ajudar o aluno a dominar melhor um gênero de texto permitindo lhe assim escrever ou falar de uma maneira mais adequada numa dada situação de comunicação O trabalho escolar será realizado evidentemente sobre gêneros que o aluno não domina ou o faz de maneira insuficiente sobre aqueles dificilmente acessíveis espontaneamente pela maioria dos alunos e sobre gêneros públicos e não privados voltaremos à questão da escolha dos gêneros no próximo item As seqüências didáticas servem portanto para dar acesso aos alunos a práticas de linguagem novas ou dificilmente domináveis A estrutura de base de uma seqüência didática A estrutura de base de uma seqüência didática pode ser representada pelo seguinte esquema Esquema da seqüência didática Apresentação da situação PRODUÇÃO FINAL PRODUÇÃO INICIAL Módulo 1 Módul o 2 Módulo n 98 Após uma apresentação da situação na qual é descrita de maneira detalhada a tarefa de expressão oral ou escrita que os alunos deverão realizar estes elaboram um primeiro texto inicial oral ou escrito que corresponde ao gênero trabalhado é a primeira produção Esta etapa permite ao professor avaliar as capacidades já adquiridas e ajustar as atividades e exercícios previstos na seqüência às possibilidades e dificuldades reais de uma turma Além disso ela define o significado de uma seqüência para o aluno isto é as capacidades que devem desenvolver para melhor dominar o gênero de texto em questão Os módulos constituídos por várias atividades ou exercícios dãolhe os instrumentos necessários para este domínio pois os problemas colocados pelo gênero são trabalhados de maneira sistemática e aprofundada No momento da produção final o aluno pode pôr em prática os conhecimentos adquiridos e com o professor medir os progressos alcançados A produção final serve também para uma avaliação de tipo somativo que incidirá sobre os aspectos trabalhados durante a seqüência Retomemos um a um os quatro componentes da seqüência didática A apresentação da situação A apresentação da situação visa expor aos alunos um projeto de comunicação que será realizado verdadeiramente na produção final Ao mesmo tempo ela os prepara para a produção inicial que pode ser considerada como uma primeira tentativa de realização do gênero que será em seguida trabalhado nos módulos A apresentação da situação é portanto o momento em que a turma constrói uma representação da situação de comunicação e da atividade de linguagem a ser executada Tratase de um momento crucial e difícil no qual duas dimensões principais podem ser distinguidas 1 Apresentar um problema de comunicação bem definido A primeira dimensão é a do projeto coletivo de produção de um gênero oral ou escrito proposto aos alunos de maneira bastante explícita para que estes 99 compreendam o melhor possível a situação de comunicação na qual devem agir qual é finalmente o problema de comunicação que devem resolver produzindo um texto oral ou escrito Devese dar indicações que respondam às seguintes questões Qual é o gênero que será abordado Tratase por exemplo da apresentação de uma receita de cozinha a ser realizada para a rádio escolar de uma coletânea de contos a redigir de uma exposição a ser proposta para a turma da elaboração de instruções de montagem etc Para esclarecer as representações dos alunos podemos inicialmente pedirlhes que leiam ou escutem um exemplo do gênero visado A quem se dirige a produção Os destinatários possíveis são múltiplos os pais outras turmas da escola turmas de outras escolas os alunos da turma um grupo de alunos da turma pessoas do bairro Que forma assumirá a produção Gravação em áudio ou vídeo folheto carta a ser enviada representação em palco ou em sala de aula Quem participará da produção Todos os alunos alguns alunos da turma todos juntos uns após os outros individualmente ou em grupos etc 2 Preparar os conteúdos dos textos que serão produzidos A segunda dimensão é a dos conteúdos Na apresentação da situação é preciso que os alunos percebam imediatamente a importância desses conteúdos e saibam com quais vão trabalhar O cerne de um debate pode por exemplo ser apresentado através da escuta de breves tomadas de posição de um tema geral por exemplo animais ou homens e mulheres célebres podem ser retirados subtemas para um artigo enciclopédico para um seminário os alunos deverão conhecer bem o que devem explicar a outrem e terão eventualmente aprendido os conteúdos em outras áreas de ensino história geografia ciências etc Se for o caso de uma carta do leitor os alunos deverão compreender bem a questão colocada e os argumentos a favor e contra as diferentes posições Para redigir um 100 conto eles deverão saber quais são seus elementos constitutivos personagens ações e lugares típicos objetos mágicos etc A fase inicial de apresentação da situação permite portanto fornecer aos alunos todas informações necessárias para que conheçam o projeto comunicativo visado e a aprendizagem de linguagem a que está relacionado Na medida do possível as seqüências didáticas devem ser realizadas no âmbito de um projeto de classe elaborado durante a apresentação da situação pois este torna as atividades de aprendizagem significativas e pertinentes Criar uma coletânea de enigmas policiais participar de um debate organizado por uma revista ou mais modestamente redigir um texto explicativo para uma outra turma num projeto interclasses são projetos realizáveis que permitem ao aluno compreender melhor a tarefa que lhe é proposta e que facilitam a apresentação da situação Notemos que este projeto pode ser também parcialmente fictício na medida em que a motivação pode nascer mais diretamente do desejo de progredir de adquirir novas capacidades A primeira produção No momento da produção inicial os alunos tentam elaborar um primeiro texto oral ou escrito e assim revelam para si mesmos e para o professor as representações que têm desta atividade Contrariamente ao que se poderia supor a experiência nos tem mostrado que este encaminhamento não põe os alunos numa situação de insucesso se a situação de comunicação é suficientemente bem definida durante a fase de apresentação da situação todos os alunos inclusive os mais fracos são capazes de produzir um texto oral ou escrito que responda corretamente à situação dada mesmo que não respeitem todas as características do gênero visado Cada aluno consegue seguir pelo menos parcialmente à instrução dada Este sucesso parcial é de fato uma condição sine qua non para o ensino pois permite circunscrever as capacidades de que os alunos já dispõem e consequentemente suas potencialidades É assim que se definem o ponto preciso em que o professor pode intervir melhor e o caminho que o aluno tem ainda a 101 percorrer para nós esta é a essência da avaliação formativa Desta forma a produção inicial pode motivar tanto a seqüência como o aluno 1 Um primeiro encontro com o gênero A apresentação da situação não dsemboca necessariamente em uma produção inicial completa Somente a produção final constitui bem freqüentemente a situação real em toda sua riqueza e complexidade A produção inicial pode ser simplificada ou somente dirigida à turma ou ainda a um destinatário fictício Por exemplo uma primeira entrevista pode ser realizada com um colega de classe ou alguns alunos podem tentar realizar uma primeira exposição com uma preparação mínima sobre um tema que já dominam ou sobre um mesmo tema elaborado por toda a classe Nós já o dissemos anteriormente a produção inicial tem um papel central como reguladora da seqüência didática tanto para os alunos quanto para o professor Para os alunos a realização de um texto oral ou escrito concretiza os elementos dados na apresentação da situação e esclarece portanto quanto ao gênero abordado na seqüência didática Ao mesmo tempo isso lhes permite descobrir o que já sabem fazer e conscientizarse dos problemas que eles mesmos ou outros alunos encontram Através da produção o objeto da seqüência didática delineiase melhor nas suas dimensões comunicativas e também se manifesta como lugar de aprendizagem necessária das dimensões problemáticas Assim a seqüência começa pela definição do que é preciso trabalhar a fim de desenvolver as capacidades de linguagem dos alunos que apropriandose dos instrumentos de linguagem próprios ao gênero estarão mais preparados para realizar a produção final 2 Realização prática de uma avaliação formativa e primeiras aprendizagens Para o professor estas primeiras produções que não receberão evidentemente uma nota constituem momentos privilegiados de observação que permitem refinar a seqüência modulála e adaptála de 102 maneira mais precisa às capacidades reais dos alunos de uma dada turma Em outros termos de pôr em prática um processo de avaliação formativa A análise das produções orais ou escritas dos alunos guiada por critérios bem definidos permite avaliar de maneira bastante precisa em que ponto está a classe e quais são as dificuldades encontradas pelos alunos O professor obtém assim informações preciosas para diferenciar e até individualizar se necessário seu ensino A construção modular das seqüências facilita uma tal adaptação nós aprofundaremos este aspecto no item Modularidade e diferenciação Mas a produção inicial é igualmente o primeiro lugar de aprendizagem da seqüência Com efeito o simples fato de fazer de realizar uma atividade delimitada de maneira precisa constitui um momento de conscientização do que está em jogo e das dificuldades relativas ao objeto de aprendizagem sobretudo se o problema comunicativo a ser resolvido ultrapassa parcialmente as capacidades de linguagem dos alunos e confrontaos assim a seus próprios limites Este efeito pode ser ampliado se o desempenho dos alunos for objeto de uma análise que pode ser desenvolvida de diferentes maneiras discussão em classe sobre o desempenho oral de um aluno troca de textos escritos entre os alunos da classe reescuta da gravação dos alunos que produziram o texto oral etc Os pontos fortes e fracos são evidenciados as técnicas de escrita ou de fala são discutidas e avaliadas são buscadas soluções para os problemas que aparecem Isto permite introduzir uma primeira linguagem comum entre aprendizes e professor ampliar e delimitar o arcabouço dos problemas que serão objeto de trabalho nos módulos Os módulos Nos módulos tratase de trabalhar os problemas que apareceram na primeira produção e de dar aos alunos os instrumentos necessários para superá los A atividade de produzir um texto escrito ou oral é de uma certa maneira decomposta para abordar um a um e separadamente seus diversos elementos à 103 semelhança de certos gestos que fazemos para melhorar as capacidades de natação nos diferentes estilos O movimento geral da seqüência didática vai portanto do complexo para o simples da produção inicial aos módulos cada um trabalhando uma ou outra capacidade necessárias ao domínio de um gênero No fim o movimento leva novamente ao complexo a produção final Três questões se colocam quanto ao encaminhamento de decomposição e de trabalho sobre problemas assim isolados 1 Que dificuldades da expressão oral ou escrita abordar 2 Como construir um módulo para trabalhar um problema particular 3 Como capitalizar o que é adquirido nos módulos 1 Trabalhar problemas de níveis diferentes Produzir textos escritos e orais é um processo complexo com vários níveis que funcionam simultaneamente na mente de um indivíduo Em cada um desses níveis o aluno deparase com problemas específicos de cada gênero e deve ao final tornarse capaz de resolvêlos simultaneamente A fim de prepará lo para isso trabalharemos em cada seqüência problemas relativos a vários níveis de funcionamento Esquematicamente e inspirandonos nas abordagens da psicologia da linguagem podemos distinguir quatro níveis principais na produção de textos Representação da situação de comunicação O aluno deve aprender a fazer uma imagem a mais exata possível do destinatário do texto pais colegas a turma quem quer que seja da finalidade visada convencer divertir informar de sua própria posição enquanto autor ou locutor ele fala ou escreve enquanto aluno ou representante dos jovens Enquanto pessoa individual ou narrador e do gênero visado Elaboração dos conteúdos O aluno deve conhecer as técnicas para buscar elaborar ou criar conteúdos Estas técnicas diferem muito em função dos gêneros técnicas de criatividade busca sistemática de informações relacionadas ao ensino de outras matérias discussões debates e tomada de notas citando apenas os mais importantes 104 Planejamento do texto O aluno deve estruturar seu texto de acordo com um plano que depende da finalidade que se deseja atingir ou do destinatário visado cada gênero é caracterizado por uma estrutura mais ou menos convencional Realização do texto O aluno deve escolher os meios de linguagem mais eficazes para escrever seu texto utilizar um vocabulário apropriado a uma dada situação variar os tempos verbais em função do tipo e do plano do texto servirse de organizadores textuais para estruturar o texto ou introduzir argumentos 2 Variar as atividades e exercícios Além da alternância bem conhecida de um trabalho com toda a turma em grupos ou individual o princípio essencial de elaboração de um módulo que trate de um problema de produção textual é o de variar os modos de trabalho Para fazêlo existe um arsenal bastante diversificado de atividades e de exercícios que relacionam intimamente leitura e escrita oral e escrita e que enriquecem consideravelmente o trabalho em sala de aula Em cada módulo é muito importante propor atividades as mais diversificadas possível dando assim a cada aluno a possibilidade de ter acesso através de diferentes vias às noções e aos instrumentos aumentando deste modo suas chances de sucesso Três grandes categorias de atividades e de exercícios podem ser distinguidas As atividades de observação e de análise de textos sejam orais ou escritos autênticos ou fabricados para pôr em evidência certos aspectos do funcionamento textual constituem o ponto de referência indispensável a toda aprendizagem eficaz da expressão Estas atividades podem ser realizadas a partir de um texto completo ou de uma parte de um texto elas podem comparar vários textos de um mesmo gênero ou de gêneros diferentes etc 105 As tarefas simplificadas de produção de textos são exercícios que pelo próprio fato de imporem ao aluno limites bastante rígidos permitemlhe descartar certos problemas de linguagem que deve habitualmente gerenciar simultaneamente conforme os diferentes níveis de produção O aluno pode então concentrar se mais particularmente num aspecto preciso da elaboração de um texto Entre outras podem ser citadas as seguintes tarefas reorganizar o conteúdo de uma descrição narrativa para um texto explicativo inserir uma parte que falta num dado texto revisar um texto em função de critérios bem definidos elaborar refutações encadeadas ou a partir de uma resposta dada encadear com uma questão etc A elaboração de uma linguagem comum para poder falar dos textos comentálos criticálos melhorálos quer se trate de seus próprios textos ou dos de outrem Este trabalho é feito ao longo de toda a seqüência e especialmente no momento da elaboração dos critérios explícitos para a produção de um texto oral ou escrito 3 Capitalizar as aquisições Realizando os módulos os alunos aprendem também a falar sobre o gênero abordado Eles adquirem um vocabulário uma linguagem técnica que será comum à classe e ao professor e mais do que isso a numerosos alunos fazendo o mesmo trabalho sobre os mesmos gêneros Eles constróem progressivamente conhecimentos sobre o gênero Ao mesmo tempo pelo fato de que toma a forma de palavras técnicas e de regras que permitem falar sobre ela esta linguagem é também comunicável a outros e o que é também muito importante favorece uma atitude reflexiva e um controle do próprio comportamento Por exemplo quando aprendemos através de diferentes exercícios quais são as partes de uma instrução de montagem ou quais são as técnicas para transformar as respostas do outro em perguntas numa entrevista estes conhecimentos trabalhados discutidos explicitados numa linguagem técnica que pode ser simples 106 permitem a revisão do próprio texto ou uma melhor antecipação do que se deve fazer numa produção oral Em geral este vocabulário técnico e as regras elaboradas durante as seqüências são registradas numa lista que resume tudo o que foi adquirido nos módulos Esta lista pode ser construída ao longo do trabalho ou elaborada num momento de síntese antes da produção final ela pode ser redigida pelos alunos ou proposta pelo professor Independentemente das modalidades de elaboração cada seqüência é finalizada com um registro dos conhecimentos adquiridos sobre o gênero durante o trabalho nos módulos sob forma sintética de lista de constatações ou de lembrete ou glossário A produção final A seqüência é finalizada com uma produção final que dá ao aluno a possibilidade de pôr em prática as noções e instrumentos elaborados separadamente nos módulos Esta produção permite também ao professor realizar uma avaliação somativa 1 Investir as aprendizagens Durante a produção final é no pólo do aluno que o documento de síntese ganha sua maior importância Indicalhe os objetivos a serem atingidos e dálhe portanto um controle sobre seu próprio processo de aprendizagem O que aprendi O que resta a fazer Serve de instrumento para regular e controlar seu próprio comportamento de produtor de textos durante a revisão e a reescrita Permitelhe avaliar os progressos realizados no domínio trabalhado 2 Avaliação de tipo somativo A produção final é a momento se assim se desejar para uma avaliação de tipo somativo Quer o professor utilize nessa ocasião tal e qual a lista de 107 constatações construída durante a seqüência ou escolha uma grade diferente quanto a sua forma o importante é que o aluno encontre de maneira explícita os elementos trabalhados em aula e que devem servir como critérios de avaliação Esta forma de explicitação dos critérios de avaliação permite ao professor pelo menos parcialmente desfazerse de julgamentos subjetivos e de comentários freqüentemente alusivos que não são compreendidos pelos alunos para passar a referirse a normas explícitas e utilizar um vocabulário conhecido pelas duas partes Ao mesmo tempo a grade permitelhe centrar sua intervenção em pontos essenciais supostamente aprendidos pelos alunos ao longo da seqüência Assim a grade serve portanto não só para avaliar num sentido mais estrito mas também para observar as aprendizagens efetuadas e planejar a continuação do trabalho permitindo eventuais retornos a pontos mal assimilados Uma avaliação somativa assentada em critérios elaborados ao longo da seqüência é mais objetiva mas mantém sempre uma parte de subjetividade Ao invés de considerar a avaliação como um problema técnico de cotação é preferível aceitar e assumir o caráter aproximativo inerente a qualquer aplicação de escalas ou de grades seja qual for o grau de complexidade A avaliação é uma questão de comunicação e de trocas Assim ela orienta os professores para uma atitude responsável humanista e profissional Frisemos ainda que este tipo de avaliação será realizado em geral exclusivamente sobre a produção final ALGUNS ESCLARECIMENTOS QUANTO AO PROCEDIMENTO SEQüêNCIA DIDÁTICA Para bem compreender e apreciar as especifidades do procedimento que acabamos de apresentar esquematicamente parecenos importante insistir em alguns pontos cruciais 1 Os princípios teóricos subjacentes ao procedimento 108 2 O caráter modular do procedimento e suas possibilidades de diferenciação 3 As diferenças entre os trabalhos com oralidade e com escrita 4 A articulação entre o trabalho na seqüência e outros domínios de ensino de língua Os princípios teóricos Para apreciar o procedimento acima descrito parecenos importante esboçar em algumas palavraschave as escolhas pedagógicas psicológicas e lingüísticas que guiaram sua elaboração e as suas principais finalidades visadas 1 Escolhas pedagógicas a O procedimento inclui possibilidades de avaliação formativa isto é de regulação dos processos de ensino e de aprendizagem b Ele inserese num projeto que motiva os alunos a escrever ou tomar a palavra correspondendo plenamente aos princípios que presidiram a reforma do ensino do francês nos países francófonos c Ele maximiza pela diversificação das atividades e dos exercícios as chances de cada aluno se apropriar dos instrumentos e noções propostos respondendo assim às exigências de diferenciação do ensino 2 Escolhas psicológicas a A atividade de produção de textos escritos ou orais é trabalhada não somente como colocação em palavras ou frases de idéias prévias mas em toda sua complexidade incluindo a representação da situação de comunicação o trabalho sobre os conteúdos e a estruturação dos textos b O procedimento visa transformar o modo de falar e de escrever dos alunos no sentido de uma consciência mais ampla de seu comportamento 109 de linguagem em todos os níveis por exemplo escolha de palavras adaptação ao público colocação da voz organização do conteúdo etc c Essa transformação ocorre porque diferentes instrumentos de linguagem são propostos aos alunos por exemplo regras de estruturação de um texto fórmulas particulares para argumentar meios para evidenciar informações etc 3 Escolhas lingüísticas a A atividade de linguagem produz textos e discursos O procedimento utiliza instrumentos lingüísticos que permitem compreender estas unidades de linguagem b Toda língua se adapta às situações de comunicação e funciona portanto de maneira bastante diversificada Ela não é abordada como objeto único que funciona sempre de maneira idêntica c Há formas históricas relativamente estáveis de comunicação que emergem correspondendo a situações de comunicação típicas a saber os gêneros de textos Estes últimos definem o que é dizível através de quais estruturas textuais e com que meios lingüísticos Eles constituem o objeto do procedimento 4 As finalidades gerais O procedimento de ensino de expressão escrita e oral que acabamos de descrever sob forma de seqüências didáticas concretiza de fato as seguintes finalidades que hoje fundam o ensino do francês Preparar os alunos para dominarem sua língua nas situações mais diversas da vida cotidiana oferecendolhes instrumentos precisos imediatamente eficazes para melhorarem suas capacidades de escrever e de falar Desenvolver no aluno uma relação consciente e voluntária com seu comportamento de linguagem favorecendo procedimentos de avaliação formativa e de autoregulação 110 Construir nos alunos uma representação da atividade de escrita e de fala em situações complexas como produto de um trabalho de uma lenta elaboração A modularidade e a diferenciação A modularidade é um princípio geral no uso das seqüências didáticas O procedimento deseja pôr em relevo os processos de observação e de descoberta Ele distanciase de uma abordagem naturalista segundo a qual é suficiente fazer para provocar a emergência de uma nova capacidade O procedimento evita uma abordagem impressionista de visitação Ao contrário este se inscreve numa perspectiva construtivista interacionista e social que supõe a realização de atividades intencionais estruturadas e intensivas que devem adaptarse às necessidades particulares dos diferentes grupos de aprendizes 1 Percursos variados em função das capacidades e dificuldades A modularidade deve ser associada à diferenciação pedagógica Levar em conta a heterogeneidade dos aprendizes representa atualmente um desafio social decisivo As diferenças entre os alunos longe de serem uma fatalidade podem constituir um enriquecimento para a aula desde que se faça um esforço de adaptação Deste ponto de vista as seqüências didáticas apresentam uma grande variedade de atividades que devem ser selecionadas adaptadas e transformadas em função das necessidades dos alunos dos momentos escolhidos para o trabalho da história didática do grupo e da complementaridade em relação a outras situações de aprendizagem da expressão propostas fora do contexto das seqüências didáticas É a partir de uma análise minuciosa da produção inicial que o professor poderá adaptar a seqüência didática a sua turma a certos grupos de alunos de sua turma ou ainda a certos alunos Para mostrar como essa adaptação pode ser feita as seqüências didáticas propostas contêm em geral exemplos de produção de 111 alunos e sugestões de percurso para responder o melhor possível aos diversos problemas A adaptação das seqüências às necessidades dos alunos exige da parte do professor Analisar as produções dos alunos em função dos objetivos da seqüência e das características do gênero Escolher as atividades indispensáveis para a realização da continuidade da seqüência Prever e elaborar para os casos de insucesso um trabalho mais profundo e intervenções diferenciadas no que diz respeito às dimensões mais problemáticas O caráter modular das atividades não deverá obscurecer o fato de que a ordem dos módulos de uma seqüência didática não é aleatória Se vários itinerários são possíveis certas atividades apresentam uma base para a realização de outras As diferenças do trabalho com a escrita e com o oral O procedimento que acaba de ser descrito em suas linhas gerais é aplicável tanto ao trabalho com a expressão escrita como a expressão oral Isso decorre do simples fato de que o objeto de trabalho que funda o procedimento a saber o gênero é a forma que assume necessariamente toda comunicação seja qual for a modalidade utilizada Podemos no entanto evidenciar diferenças entre as seqüências destinadas ao trabalho com gêneros orais ou escritos Três diferenças parecem particularmente importantes pois todas decorrem da materialidade do objeto escrito ou oral a saber que o primeiro é necessariamente permanente enquanto que o outro desaparece em princípio logo que é pronunciado Verba volant scripta manent diziam os antigos 1 Possibilidade de revisão 112 Na atividade de escrita o processo de produção e o produto final são normalmente separados salvo nas interações escritas diretas como no caso da Internet por exemplo Dito de outra forma o escritor pode considerar seu texto como um objeto a ser retrabalhado revisto refeito mesmo a ser descartado até o momento em que o dá a seu destinatário O texto permanece provisório enquanto estiver submetido a esse trabalho de re escrita Podemos até dizer que considerar seu próprio texto como objeto a ser retrabalhado é um objetivo essencial do ensino da escrita O aluno deve aprender que escrever é também reescrever A estruturação da seqüência didática em primeira produção por um lado e produção final por outro permite tal aprendizagem A produção de um texto oral segue uma lógica totalmente diferente A palavra pronunciada é dita de uma vez por todas O processo de produção e o produto constituem um todo O controle do próprio comportamento deve ser realizado durante a produção o que somente é possível numa certa medida É portanto importante criar automatismos preparar a fala sobretudo se esta é pública através da escrita e da memorização considerar seu texto oral como o produto de uma preparação aprofundada que em situação não supõe de fato mais do que variações devidas aos imprevistos da comunicação em ato A escrita deve ser corrigida no final o texto durante muito tempo provisório é o instrumento de elaboração do texto definitivo De certa maneira a fala é corrigida antecipadamente numa atividade de preparação intensa cujos instrumentos o aluno deve aprender a dominar 2 Observação do próprio comportamento O texto escrito pode ser considerado como uma forma permanente exteriorizada do próprio comportamento de linguagem Pelo fato de ser permanente esse comportamento tornase de uma certa maneira observável como um objeto exterior ao qual o próprio olhar pode orientarse Através 113 deste objeto é possível se refletir sobre a maneira de fazer ou de escrever um texto É claro que na oralidade existe também um processo de exteriorização mas o objeto produzido o texto oral desaparece imediatamente e não se presta a uma análise posterior para se compreender e observar seu modo próprio de funcionamento Para tornar o comportamento observável existe um só procedimento a gravação que transforma a fala num objeto que o produtor ou o ouvinte podem escutar novamente que pode ser facilmente comparado a outras falas sobre o qual podem ser formuladas hipóteses a se verificar que pode ser eventualmente transcrito A fita cassete e o gravador são portanto instrumentos indispensáveis em qualquer ensino da expressão oral 3 Observação de textos de referência O mesmo princípio se aplica ao comportamento de linguagem dos outros O texto escrito pelo autor ou especialista mas também por algum aluno prestase a uma análise aprofundada à comparação à crítica Tratase de um objeto estável Por que tal debatedor sobressaise De onde vem o tédio gerado por aquele conferencista Que astúcias utiliza um bom entrevistador Para penetrar um pouco nesses mistérios e portanto dar acesso aos alunos a instrumentos que propiciarão uma melhor performance existem três meios primeiramente a gravação e conseqüentemente a possibilidade da escuta repetida que permite a verificação das hipóteses levantadas a escuta dirigida pela escrita que deixa traços que podem ser analisados e discutidos em certos casos a transcrição que transforma o oral em escrita observável de maneira permante 114 Trabalho com as seqüências e atividades de estruturação da língua As poucas observações tecidas adiante dizem respeito à questão da articulação entre o trabalho proposto nas seqüências e outros domínios do ensino de língua As seqüências visam o aperfeiçoamento das práticas de escrita e de produção oral e estão principalmente centradas na aquisição de procedimentos e de práticas Ao mesmo tempo em que constituem um lugar de intersecção entre atividades de expressão e de estruturação as seqüências não podem assumir a totalidade do trabalho necessário para levar os alunos a um melhor domínio da língua e devem apoiarse em certos conhecimentos construídos em outros momentos Ambas as abordagens são portanto complementares 1 Uma perspectiva textual A perspectiva adotada nas seqüências é uma perspectiva textual o que como já foi sublinhado várias vezes implica levar em conta os diferentes níveis do processo de elaboração de textos É no nível da textualização mais particularmente que o trabalho conduzido nas seqüências tornase complementar à outras abordagens Neste nível as seqüências didáticas propõem numerosas atividades de observação de manipulação e de análise de unidades lingüísticas O procedimento é comparável ao que é utilizado nas atividades de estruturação mas ele diz respeito a objetos particulares cujo funcionamento só assume um significado pleno no nível textual Assim o trabalho será centrado por exemplo nas marcas de organização características de um gênero nas unidades que permitem designar uma mesma realidade ao longo de um texto nos elementos de responsabilidade enunciativa e de modalização dos enunciados no emprego de tempos verbais na maneira como são utilizados e inseridos os discursos indiretos 115 2 Questões de gramática e sintaxe Ao contrário o tratamento de outros pontos não está em geral diretamente integrado nas atividades propostas Tratase particularmente de questões relativas à sintaxe da frase à morfologia verbal ou à ortografia No entanto ao produzir um texto o aluno confrontase forçosamente a problemas provenientes destes domínios Como então favorecer uma articulação do trabalho proposto nas seqüências com o que é ainda necessário em outros níveis de estruturação da língua Algumas elos parecem bastante evidentes Assim a recorrência de formas verbais ligadas a um gênero de texto por exemplo o presente nos textos que visam a transmissão de saberes ou os pretéritos perfeito e imperfeito nos textos narrativos cria a ocasião para abordar ou retomar estas formas de um ponto de vista morfológico de maneira paralela ao trabalho realizado na seqüência O problema é mais complexo quando se trata da sintaxe da frase No entanto algumas pistas podem ser esboçadas No plano da sintaxe as seguintes dificuldades aparecem mais freqüentemente nos textos dos alunos utilização de frases incompletas falta de variedade na construção das frases utilização de coordenação mais que da subordinação pontuação insuficiente Estas inabilidades freqüentemente resultantes de interferências entre sintaxe do oral e sintaxe da escrita indicam também uma dificuldade de ordem cognitiva para hierarquizar elementos Os textos produzidos durante as seqüências permitem levantar os pontos problemáticos e constituir corpora de frases a serem melhoradas Nesse sentido observações pontuais podem ser feitas tendo em vista a re escrita do texto Não se trata porém de realizar um trabalho sistemático no interior da seqüência cujo objetivo principal continua a ser a aquisição de condutas de linguagem num contexto de produção bem definido 116 O domínio de uma sintaxe mais elaborada não está ligado a um gênero preciso Ele passa pela compreensão e pela apropriação das regras gerais que dizem respeito à organização da frase e necessita de conhecimentos explícitos sobre o funcionamento da língua nesse nível Tratase portanto de desenvolver nos alunos capacidades de análise que lhes permitam melhorar esses conhecimentos Para tanto é essencial reservar tempo para um ensino específico de gramática no qual o objeto principal das tarefas de observação e de manipulação é o funcionamento da língua2 A bagagem que os alunos terão acumulado ao longo destes momentos de reflexão específica poderá ser reinvestido com proveito nas tarefas de escrita e de revisão previstas nas seqüências Em contrapartida as seqüências permitirão contextualizar certos objetivos de aprendizagem e darlhes mais sentido 3 E a ortografia Em ortografia como em sintaxe os problemas encontrados pelos alunos ao escreverem textos não podem ser diretamente relacionados à questão dos gêneros textuais Mesmo que certas unidades lingüísticas sejam mais freqüentes em certo gênero de texto e possam desta maneira favorecer mais facilmente grafias incorretas as regras ortográficas são as mesmas em todos os textos O procedimento proposto nas seqüências exige que os alunos escrevam freqüentemente e os textos pedidos mesmo nas séries iniciais podem ser relativamente longos e difíceis Um fato é evidente quanto mais os alunos escrevem mais eles correm o risco de cometer erros ortográficos Devese em razão disso renunciar a se propor aos alunos a escrita de textos e começar a se ensinar as regras elementares de ortografia As pesquisas feitas sobre os processos de aprendizagem mostram ao contrário que dar aos 2 Aqui os autores se referem ao que tem sido tratado no Brasil como atividades de caráter epilingüístico NT 117 alunos múltiplas ocasiões para escrever é uma condição indispensável para favorecer o desenvolvimento de suas capacidades neste domínio Os obstáculos encontrados criam um lugar de questionamento onde é possível progressivamente corrigir as regras provisórias elaboradas pelos alunos identificadas muitas vezes através da análise dos erros cometidos Neste sentido os erros encontrados nos textos produzidos ao longo das seqüências são uma fonte de informação preciosa para o professor Um levantamento dos erros mais freqüentes pode servir como base para a escolha das noções a serem estudadas ou revistas nos momentos consagrados unicamente à ortografia Evidentemente não se trata de retomar tudo de uma só vez mas de determinar as intervenções prioritárias Um tal levantamento permite também diferenciar o trabalho com a ortografia em função da freqüência dos erros alguns pontos deverão ser abordados com todos os alunos outros apenas com um pequeno grupo e outros ainda com alunos que necessitam atenção individual 4 O lugar da revisão ortográfica Dito isso e considerandose que um dos princípios de base das seqüências é a revisão ou reescrita dos textos produzidos resta ainda o problema de como lidar com os textos incorretos do ponto de vista da ortografia Antes de mais nada um ponto importante deve ser lembrado A questão da correção ortográfica não deve obscurecer as outras dimensões que entram em jogo na produção textual Primeiramente para o aluno que preocupado sobretudo com a ortografia perderá de vista o sentido do trabalho que ele está realizando isto é a redação de um texto que responde a uma tarefa de linguagem Em segundo lugar para o professor cujo olhar atraído pelos erros ortográficos não se deterá nem na qualidade do texto nem em outros erros mais fundamentais do ponto de vista da escrita 118 incoerência de conteúdo organização geral deficiente falta de coesão entre as frases inadaptação à situação de comunicação etc Sem querer negar a importância da ortografia é necessário atribuirlhe seu devido lugar um problema de escrita sem dúvida mas que como tal deve ser tratado de preferência no final do percurso após o aperfeiçoamento de outros níveis textuais Isso permite não só centrar os esforços em problemas textuais mas também evita sobrecarregar o aluno com a correção de palavras ou de passagens que serão suprimidas Entretanto uma revisão fina de um ponto de vista estritamente ortográfico é necessária Porém ela deve ser realizada na versão final do texto Devese insistir particularmente na importância dessa higienização ortográfica nos textos que serão lidos por outros seja na sala de aula seja fora dela Esta tarefa de releitura e de correção pode parecer pesada particularmente para alguns alunos já que constitui uma aprendizagem em si mesma Podem ser combinados diferentes meios para se encaminhar este trabalho Alguns deles serão esboçados brevemente abaixo A releitura dos textos é feita naturalmente com o apoio de obras de referência habitualmente disponíveis nas salas de aula dicionários quadros de conjugação manuais de ortografia etc Os alunos deverão portanto estar familiarizados com a utilização desses diferentes meios No que diz respeito aos instrumentos também é interessante que os alunos disponham de meios mais evolutivos centrados nos objetivos prioritários que os ajudem a agrupar seus erros mais freqüentes de acordo com uma tipologia que lhes permitirá melhor tratálos A elaboração desses instrumentos do tipo Guia de orotografia estabelece um elo entre o trabalho pedido nas seqüências e outras atividades de ortografia O modo de trabalho utilizado para a correção é igualmente importante pois ele deve levar em conta as diferenças entre os alunos Um aluno particularmente bom em ortografia pode corrigir seu texto sozinho 119 mas esta maneira de proceder é evidentemente impossível para alunos que têm mais dificuldades A revisão dos textos do ponto de vista da ortografia é um lugar ideal de colaboração Dar seu texto para outros lerem é uma prática usual mesmo entre profissionais da escrita Com efeito os erros dos outros são mais facilmente percebidos do que os próprios Em classe esta colaboração pode assumir diversas formas troca de textos entre dois alunos cujas capacidades em ortografia são bastante próximas colaboração entre um aluno que tem facilidade e um que encontra mais problemas utilização de um grupo de especialistas em ortografia e naturalmente recurso ao professor como leitor O tipo de intervenção feita no texto do outro é também variada Pode se corrigir diretamente o texto sublinhar o lugar onde se situa o erro referindose ou não a um código comum de tipos de erro indicar o número de erros a serem corrigidos numa passagem etc O objetivo essencial é que cada um melhore progressivamente suas capacidades ortográficas através destas atividades de revisão AGRUPAMENTO DE GêNEROS E PROGRESSÃO A difícil questão da escolha de gêneros para o ensino fundamental3 foi tratada em dois tempos 1 Num primeiro momento em função de critérios diversos foram feitos agrupamentos que delimitam os conjuntos de gêneros suscetíveis de serem trabalhados para atingir as finalidades gerais acima definidas e de maneira mais geral para permitir aos alunos o acesso a uma cultura suficiente no domínio da produção de textos orais e escritos cultura que não se limita apenas a dimensões utilitárias 3 Traduziuse scolarité obligatoire por ensino fundamental de maneira a melhor se adequar o texto à realidade escolar brasileira NT 120 2 Num segundo momento a escolha de determinados gêneros dentro dos agrupamentos é feita em função de critérios de progressão através dos diferentes ciclosséries4 do ensino fundamental Os agrupamentos de gêneros Não se deve encarar a aprendizagem da expressão como um procedimento unitário mas sim como um conjunto de aprendizagens específicas de gêneros textuais variados Não é porque se domina o processo de escrita de um texto narrativo que se domina o processo de escrita de um texto explicativo Cada gênero de texto necessita um ensino adaptado pois apresenta características distintas os tempos verbais por exemplo não são os mesmos quando se relata uma experiência vivida ou quando se escreve instruções para a fabricação de um objeto No entanto os gêneros podem ser agrupados em função de um certo número de regularidades lingüisticas e de transferências possíveis Estes agrupamentos respondem a três critérios essenciais do ponto de vista da construção de progressões para a qual eles constituem um instrumento indispensável Inserindose na tradição didática da escola é preciso que os agrupamentos 1 correspondam às grandes finalidades sociais atribuídas ao ensino cobrindo os domínios essenciais de comunicação escrita e oral em nossa sociedade 2 retomem de maneira flexível certas distinções tipológicas da maneira como já funcionam em vários manuais planejamentos e currículos 3 sejam relativamente homogêneos quanto às capacidades de linguagem implicadas no domínio dos gêneros agrupados O quadro abaixo apresenta os agrupamentos constituídos em função destes três critérios 4 O termo séries mais adaptado a nossa realidade escolar majoritária foi acrescentado pelas tradutoras NT 121 Domínios sociais de comunicação ASPECTOS TIPOLÓGICOS Capacidades de linguagem dominantes Exemplos de gêneros orais e escritos Cultura literária ficcional NARRAR Mimesis da ação através da criação de intriga Conto maravilhoso Fábula Lenda Narrativa de aventura Narrativa de ficção científica Narrativa de enigma Novela fantástica Conto parodiado Documentação e memorização de ações humanas RELATAR Representação pelo discurso de experiências vividas situadas no tempo Relato de experiência vivida Relato de viagem Testemunho Curriculum vitae Notícia Reportagem Crônica esportiva Ensaio biográfico Discussão de problemas sociais controversos ARGUMENTAR Sustentação refutação e negociação de tomadas de posição Texto de opinião Diálogo argumentativo Carta do leitor Carta de reclamação Deliberação informal Debate regrado Discurso de defesa adv Discurso de acusação adv Transmissão e construção de saberes EXPOR Apresentação textual de diferentes formas dos saberes Seminário Conferência Artigo ou verbete de enciclopédia Entrevista de especialista Tomada de notas Resumo de textos expositivos ou explicativos Relatório científico Relato de experiência científica Instruções e prescrições DESCREVER AÇÕES Regulação mútua de comportamentos Instruções de montagem Receita Regulamento Regras de jogo Instruções de uso Instruções 122 Os agrupamentos assim definidos não são estanques uns em relação aos outros não é possível classificar um gênero de maneira absoluta num dos agrupamentos propostos Podese no máximo determinar alguns gêneros que poderiam ser protótipos para cada agrupamento e assim talvez particularmente indicados para um trabalho didático Tratase mais simplesmente de dispor de um instrumento suficientemente fundado teoricamente para resolver provisoriamente problemas práticos como a escolha dos gêneros e sua organização numa progressão O agrupamento de gêneros proposto tem em vista o desenvolvimento da expressão oral e escrita Ele leva em conta a diversidade e a especificidade dos gêneros orais não negando porém as passagens e transferências possíveis no âmbito das dimensões comuns aos gêneros orais e escritos Dentro de uma seqüência didática é preciso prever uma alternância entre atividades escritas e orais e em particular nas seqüências orais que são mais difíceis de conduzir considerandose o cansaço dos alunos e do professor Os gêneros orais privilegiados nas seqüências didáticas propostas são os gêneros orais públicos Por exemplo o debate regrado a entrevista o seminário a narrativa de uma viagem diante da classe etc A progressão através dos ciclosséries Para definir a progressão as pesquisas em psicologia sobre o desenvolvimento das capacidades de linguagem não constituem a única referência a ser levada em consideração no sentido que estas pesquisas são freqüentemente conduzidas em laboratório com indivíduos em tarefas que não fazem parte de um ensino sistemático É necessário igualmente e talvez sobretudo levar em conta as pesquisas em didática que consideram os limites da situação escolar e o currículo seguido pelos alunos A foco central na aprendizagem em situação escolar supõe que sejam evidenciados a avaliação das capacidades iniciais dos alunos 123 a escolha de objetivos que merecem uma prioridade para assegurar novas aquisições e que estão ligeiramente acima das possibilidades dos alunos a fim de criar um desafio intelectual desestabilizador as etapas decisivas a serem vencidas os obstáculos e os conflitos que intervêm na aprendizagem as ajudas didáticas os dispositivos de apoio e as condições que favorecem o trabalho em sala de aula permitindo evidenciar os desafios de aprendizagem as formas de redução de ajuda externa para permitir aos alunos realizar tarefas análogas de maneira autônoma Em resumo os princípios da progressão são os seguintes 1 Uma progressão organizada em torno dos agrupamentos de gêneros O agrupamento de gêneros revelouse um meio econômico para se pensar a progressão Ou um mesmo gênero é trabalhado em diferentes ciclosséries com objetivos cada vez mais complexos ou diferentes gêneros pertencentes a um mesmo agrupamento podem ser estudados em função das possibilidades de transferência que permitem Levandose em conta os objetivos de aprendizagem nos domínios das situações de comunicação da organização global do texto e do emprego das unidades lingüísitcas é possível se elaborar uma progressão em cada um dos cinco agrupamentos de gêneros Dentro de um mesmo agrupamento por exemplo argumentar há uma alternância entre gêneros orais como o debate regrado e gêneros escritos como o pedido justificado a carta do leitor e a petição A cada ciclosérie aparecem novos objetivos de aprendizagem dar sua opinião com um mínimo de sustentação hierarquizar uma seqüência de argumentos escolher um plano de texto adaptado à situação antecipar e refutar posições contrárias 2 Uma progressão em espiral melhor domínio do mesmo gênero em diferentes níveis 124 A uma abordagem linear que encara o trabalho sobre textos narrativos como propedêutico para os textos informativos e argumentativos opomos um procedimento que concebe a progressão das aprendizagens em espiral Esta expressão remete a um ensino da diversidade textual a cada nível O que varia de um nível para outro são os objetivos limitados a serem atingidos em relação a cada gênero as dimensões trabalhadas a complexidades dos conteúdos e as exigências quanto ao tamanho e ao acabamento do texto Em cada nível o aluno terá se exercitado na produção de gêneros pertencentes a diversos agrupamentos cf quadro de agrupamentos dos gêneros Ele escreverá vários textos diferentes um relatório de ciências uma carta uma notícia etc exercitarseá oralmente em vários gêneros públicos entrevista seminário etc e comparará o que aprende especificamente 3 Os gêneros tratados de acordo com os ciclosséries A escolha dos gêneros tratados de acordo com os ciclosséries justificase pela idéia de que a aprendizagem não é uma conseqüência do desenvolvimento mas ao contrário uma condição para este O desenvolvimento da expressão oral e escrita é ativado pelo ensino aprendizagem de diferentes gêneros iniciado precocemente graduados no tempo de acordo com objetivos limitados e realizados em momentos propícios isto é quando a intervenção do professor e as interações com outros alunos podem gerar progresso Para organizar de maneira ideal a progressão a constituição de ciclos de dois anosséries revelouse a mais pertinente para os seis primeiros anos escolares tal organização deixa uma certa flexibilidade nas escolhas permite estender o trabalho a ser desenvolvido inserilo num gênero em projetos de classe e diversificálo nos diferentes agrupamentos de gêneros ou nas modalidades oral e escrita Os três últimos anos 7o 8o e 9o5 são tratados como um só ciclo aumentando assim as possibilidades de escolha e de 5 No Cantão de Genebra o ensino fundamental vai até a 9a série NT 125 adaptação às particularidades de uma turma As diferentes seqüências dão entretanto indicações quanto à adequação do gênero ao início ou ao final de um dado ciclo 4 Aprendizagem precoce para assegurar o domínio ao longo do tempo Produzir textos é um processo complexo A aprendizagem de tal conhecimento é lenta e longa Para assegurar o domínio dos principais gêneros no final do ensino fundamental propõese uma iniciação precoce com objetivos adaptados às primeiras etapas Não se trata evidentemente de levar os menores a fazer o que estava anteriormente previsto para os maiores A retomada dos mesmos gêneros em etapas posteriores é importante para observarse o efeito do ensino a longo prazo e para assegurar uma construção contínua Os comportamentos complexos exigem tempo 5 Evitar a repetição propondose diferentes níveis de complexidade Cada gênero pode ser abordado em diferentes níveis de complexidade O conto por exemplo será trabalhado em diferentes etapas do ensino fundamental porém com objetivos graduados tanto do ponto de vista da organização e da construção de personagens típicas como das unidades lingüísticas que o caracterizam Se nos ciclosséries inferiores os alunos descobrem as principais características do conto da 7a à 8a séries o domínio do gênero pode permitir o distanciamento e a paródia A repetição dos mesmos gêneros a cada ano não se justifica Entretanto a retomada de objetivos já trabalhados após um certo espaço de tempo e numa nova perspectiva parece indispensável para que a aprendizagem seja assegurada A distribuição dos gêneros tratados na coleção6 é apresentada no quadro a seguir Tratase de uma maneira possível de respeitar estes princípios 6 Na falta do restante da coleção os leitores podem tomar o Quadro como um exemplo de possível organização de currículo e se remeter aos artigos da terceira parte deste volume como exemplos de organização de seqüências didáticas específicas para gêneros orais e escritos NT 126 Seqüências didáticas para expressão oral e escrita7 distribuição das 35 seqüências CICLO AGRUPAMENTO 1a 2a 3a 4a 5a 6a 7a 8a 9a NARRAR 1 O livro para completar 1 O conto maravilhoso 2 A narrativa de aventura 1 O conto do porque e do como 2 A narrativa de aventura 1 A paródia de conto 2 A narrativa de ficção científica 3 A novela fantástica RELATAR 1 O relato de experiência vivida Apresentação em audio 1 O testemunho de uma experiência vivida 1 A notícia 1 A nota biográfica 2 A reportagem radiofônica ARGUMENTAR 1 A carta de solicitação 1 A carta de resposta ao leitor 2 O debate regrado 1 A carta de leitor 2 A apresentação de um romance 1 A petição 2 A nota crítica de leitura 3 O ponto de vista 4 O debate público TRANSMITIR CONHECIMENTOS 1 Como funciona Apresentação de um brinquedo e de seu funcionamento 1 O artigo enciclopédico 2 A entrevista radiofônica 1 A exposição escrita 2 A nota de síntese para aprender 3 A exposição oral 1 A apresentação de documentos 2 O relatório científico 3 A exposição oral 4 A entrevista radiofônica REGULAR COMPORTAMENTOS 1 A receita de cozinha Apresentação em audio 1 A descrição de um itinerário 1 As regras de jogo 5 seqüências sendo 2 orais 8 seqüências sendo 3 orais 9 seqüências sendo 2 orais 13 seqüências sendo 4 orais 7 Os asteriscos indicam as seqüências de expressão oral 127 Orientação metodológica Concretizar uma proposta sob forma de material didático é por vezes correr o risco de tornála estática ou mesmo de vêla desviada dos princípios sobre os quais se apoia É por esta razão que é importante insistir ainda em alguns pontos de ordem metodológica No material proposto não serão encontradas indicações quanto ao tempo a ser consagrado às diferentes atividades nem quanto ao percurso típico Tais indicações entrariam com efeito em contradição com o princípio fundamental da proposta que é de partir do que já está adquirido pelos alunos para visar objetivos de aprendizagem relacionados com suas capacidades reais Portanto as seqüências não devem ser consideradas como um manual a ser seguido passo a passo Para o professor a responsabilidade é de efetuar escolhas e em diferentes níveis 1 Escolha de seqüências dentre as que estão propostas para um ciclosérie De maneira geral para que a diversidade das capacidades de linguagem a serem utilizadas seja levada em conta devem ser escolhidas seqüências pertencentes a agrupamentos de gêneros diferentes reservando se espaço e não se negligenciando o ensinoaprendizagem da modalidade oral Esta escolha também será efetuada em função dos objetivos do programa de cada série e do grau de dificuldade da seqüência para os alunos Por fim esta escolha não deve menosprezar o caráter mais ou menos motivante de um gênero pode ter para os alunos de uma turma em particular 2 Escolha dos módulos ou das atividades a serem efetivadas numa seqüência A proposta só assume seu sentido completo se as atividades desenvolvidas em sala de aula e não o material à disposição forem determinadas pelas dificuldades encontradas pelos alunos na realização da 128 tarefa proposta A esse respeito é necessário destacar mais uma vez o papel primordial da análise realizada pelo professor das produções iniciais de seus alunos Tal análise ver exemplos dados em cada seqüência deverá permitir lhe escolher dentre as atividades propostas aquelas que convêm a todos os alunos aquelas que se reservam a apenas alguns e aquelas que devem ser descartadas Dados os limites de todo material mesmo que as seqüências apresentem um grande número e uma grande variedade de exercícios nem todos os problemas que podem aparecer estarão previstos Portanto para adaptar o trabalho à realidade de sua turma o professor deverá por vezes criar outras atividades ou modificar os textos de referência utilizados Por outro lado durante o tempo consagrado à seqüência o professor deverá levar em conta os fenômenos de desencorajamento que poderão manifestarse Sobre este ponto podese lembrar que nem toda atividade de produção deve forçosamente dar lugar a uma aprendizagem tão sistemática quanto a que se tem em vista nas seqüências e que deve ser deixado um espaço para as atividades mais informais e menos exigentes em termos de tempo Portanto a intenção não é a de pedir aos professores que realizem todas seqüências e na sua integralidade mas de leválos a apropriarse progressivamente da proposta Apesar de sua amplidão o material proposto aliás está distante de recobrir o conjunto dos gêneros que poderiam ser abordados em sala de aula As seqüências devem funcionar como exemplos à disposição dos professores Elas assumirão seu papel pleno se os conduzirem através da formação inicial ou contínua a elaborar por conta própria outras seqüências