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httpsperiodicosunifapbrindexphpletras Macapá v 7 n 2 2º semestre 2017 49 UM ESTUDO DE COMPLEMENTOS DO TIPO SMALL CLAUSE EM ORAÇÕES COPULARES Ednalvo Apóstolo Campos1 Larissa da Costa Arrais2 Resumo Neste artigo abordamos os complementos de orações copulares tratadas tradicionalmente como orações com predicado nominal e verbo nominal mas direcionamonos sobretudo ao predicado nominal Discuti mos as implicações sintáticas e teóricas de construções como as do tipo é nósnóis tamo junto tamo aí tamo na área partindo da classifica ção proposta pela Gramática Tradicional sobre os predicados nominais e verbonominais para então chegar à noção de pequena oração que se desenvolveu dentro do modelo teórico de Princípios e Parâmetros em es tudos já clássicos sobre complementos de verbos copulares Defendemos que as sentenças copulares analisadas podem ser entendidas como peque nas orações formadas por expressões cristalizadas compostas por sintag mas nominais adjetivais preposicionais ou adverbiais sem alçamento visí vel para a posição canônica de sujeito Palavraschave Predicados nominais Oração copular Pequena oração Abstract This paper is concerned with the complements of copular clauses traditionally treated as nominal and verbalnominal predicate sentences with a focus on the nominal predicates We discuss syntactic and theoreti cal implications of constructions such as é nósnóis tamo junto tamo aí tamo na área starting from the classification proposed in traditional grammars of Portuguese on nominal and verbalnominal predicates until the more refined notion of small clause developed within the theoretical model of Principles and Parameters in classical studies about the comple ment of copular verbs We argue that the copular sentences analyzed can be understood as small clauses formed by fixed expressions composed of nominal phrases adjectival phrases prepositional phrases and adverbial phrases without visible raising to the canonical subject position Keywords Nominal predicates Copular clause Small clause 1 Doutor em Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo USP e profes sor Adjunto da Universidade do Estado do Pará UEPA Email ednalvocyahoocom 2 Graduada em Letras Língua Portuguesa pela Universidade do Estado do Pará UEPA e graduanda em Letras Língua Inglesa pela Universidade Federal do Pará UFPA E mail larissaarraisymailcom DOI 1018468letras2017v7n2p4966 httpsperiodicosunifapbrindexphpletras Macapá v 7 n 2 2º semestre 2017 50 1 Introdução3 Neste artigo fazemos um breve estudo de algumas constru ções copulares de uso frequente em situações comunicativas infor mais apontadas em 1 1 a é nós b é nós na fita c tamo junto d tamo aí e tamo na área Tais construções por conterem a cópula ser levamnos a pensar que são casos de complementos descritos na literatura como pequenas orações small clauses ou SCs cf STOWELL 1981 1983 Pretendemos então analisar as sentenças no estudo em ques tão sob a hipótese de que se comportam configuracionalmente como SCs e discutir também as implicações de tal proposta Essas construções costumam ocorrer em contextos de uso menos formais e portanto podem também ser encontradas em vari edades estigmatizadas em vista de serem provenientes de fala es pontânea São empregadas normalmente nas áreas urbanas perifé ricas por falantes de uma variedade considerada não culta do portu guês Seu uso tem sido cada vez mais frequente entre os jovens e fa lantes de outras variedades4 Para o desenvolvimento da discussão partimos das classifica 3 Agradecemos as contribuições precisas e pertinentes dadas pelos pareceristas que nos levaram à revisão de alguns caminhos e possibilitaram uma melhora considerável do artigo Os erros e incoerências que ainda persistirem são inteiramente de nossa responsabilidade 4 Esclarecemos que não fizemos um estudo quantitativo no sentido de analisar a variação ou os contextos de interação em que ocorrem as construções e apesar de afirmamos que essas construções têm uso frequente entre jovens não apresentaremos nesse artigo estudos que confirmam essa informação httpsperiodicosunifapbrindexphpletras Macapá v 7 n 2 2º semestre 2017 51 ções da gramática tradicional ROCHA LIMA 2007 BECHARA 2009 sobre os predicados nominais e verbonominais para então chegar mos à noção mais refinada que se desenvolveu dentro do modelo teórico de Princípios e Parâmetros em estudos já clássicos sobre complementos de verbos copulares O artigo se desenvolve nas seguintes partes apresentamos discussões acerca dos predicados conforme a Gramatica Tradicional na seção 2 segundo a Teoria Gramatical e o conceito de small clause na seção 3 na seção 4 trazemos as análises das construções forma das por verbos copulares e por fim na seção 5 as considerações fi nais 2 Os predicados na abordagem da gramática tradicional Na classificação tradicional das orações abordadas por gramá ticas de referência como Rocha Lima 2007 e Bechara 2009 os pre dicados oracionais são denominados nominal verbal e verbo nominal Interessamnos sobretudo os predicados nominal e o ver bonominal Para Rocha Lima 2007 o predicado nominal é aquele cujo núcleo é formado por um nome substantivo adjetivo ou pro nome e que pelos seus caracteres de forma e posição recebe parti cularmente o título de nome predicativo ou apenas predicativo ROCHA LIMA 2007 p 238 e os verbos que aí figuram ser estar andar permanecer continuar ficar e parecer chamamse verbos de ligação conforme o exemplo em 25 2 Pedro éestáandapermanececontinuaficouparece doente Em exemplos como 2 o adjetivo doente funciona como o predicado 5 Exemplos retirados de Rocha Lima 2007 p 238 renumerados e adaptados httpsperiodicosunifapbrindexphpletras Macapá v 7 n 2 2º semestre 2017 52 da sentença e recebe a denominação de nome predicativo ou predi cativo Bechara 2009 p 426 menciona as propriedades formais des ses predicados como a manifestação de concordância a possibilida de em alguns casos de troca do predicativo pelo pronome clítico de terceira pessoa o6 Ele é meu irmão ele o é e a impossibilidade de passivização Por esses aspectos formais e ainda pelas características de esvaziamento lexical eou semântico que neles ocorre além da característica gramatical que se restringe a ligar o predicativo ao sujeito vem os nomes copulativos ou de ligação Bechara 20097 No que concerne ao predicado verbonominal ou misto Rocha Lima 2007 p 239 destaca que o predicado misto representa a fu são de um predicado verbal com um predicado nominal e o predica tivo pode nesses casos se referir tanto ao sujeito quanto ao objeto direto ou indireto conforme os exemplos em 38 3 a O trem chegou atrasado b A Bahia elegeu Rui Barbosa senador c Todos lhe chamavam ladrão Voltando aos verbos copulativos para Bechara 2009 não há por que afirmar que esses verbos não se incluem na classe dos verbos em geral uma vez que possuem todas as marcas de um verbo mor femas de gênero número pessoa tempo e modo Devido a isso con sidera desnecessário distinguir predicado verbal de nominal bem 6 As propriedades gramaticais dessa categoria são híbridas pois tanto podem apresentar potencial referencial quanto predicativo Déchaine Wiltschko 2002 captam essas particularidades dos clíticos além de outras e propõem uma tipologia em que esses pronomes são proformas pronominais proФPs argumentais eou predicacionais 7 Embora a classe dos verbos de ligação seja bem mais extensa o estudo em foco se restringirá às cópulas serestar 8 Exemplos retirados de Rocha Lima 2007 pp 23940 e renumerados httpsperiodicosunifapbrindexphpletras Macapá v 7 n 2 2º semestre 2017 53 como verbonominal predicado complexo visto que toda relação predicativa apresenta um núcleo verbal Embora Bechara 2009 p 42730 estabeleça muitas seme lhanças entre o predicativo e o predicado complexo faz ponderações que expõem algumas diferenças presentes em construções predicati vas O autor afirma que os predicativos que acompanham os verbos copulares são geralmente nucleados por adjetivos apesar de pode rem também ser nucleados por substantivos pronomes e advérbios que não podem ser suprimidos Além disso nota que a relação se mântica estabelecida entre o verbo e o predicado nominal num pre dicado complexo permite a supressão deste último sem alterar o sen tido da sentença como em 4a mas não em 4b exemplos retira dos de BECHARA 2009 p 429 4 a Ele estudou atento a Ele estudou b Ele é estudioso b Ele é A Teoria da Gramática trata tais construções como pequenas orações como se detalha na próxima seção 3 A Teoria da Gramática e o conceito de pequena oração Stowell 1981 1983 foi o autor dos primeiros estudos sobre pequenas orações em que propôs que as sequências que formam esses constituintes são do tipo oracional contendo um sujeito e um predicado ainda que não projetem os núcleos V e T Raposo 1992 também considera as pequenas orações constituintes de tipo oracio nal que contêm um sujeito e um predicado que pode ser um AP um PP um NP ou um VP elencados respectivamente nos exemplos en tre colchetes em 5 exemplos retirados de RAPOSO 1992 p 217 httpsperiodicosunifapbrindexphpletras Macapá v 7 n 2 2º semestre 2017 54 5 a Eu considero os alunos preocupados com o exame b A polícia quer esse gatuno na prisão c O presidente fez o Dr Barros chefe de serviço d Eu tive o meu carro roubado da garagem Conforme explica Raposo 1992 em todos esses exemplos há uma relação de predicação independente do VP da oração os DPs os alu nos esse gatuno o Dr Barros e o meu carro estão diretamente liga dos ao AP preocupados com o exame ao PP na prisão ao NP chefe de serviço e ao VP roubado da garagem A gramática tradicional classifi caria esses sintagmas AP PP NP e VP como predicativos do objeto Nos exemplos destacados em 5 também não ocorre a cate goria funcional flexão IP uma vez que as SCs são projeções dos seus predicados A hipótese de Stowell 1981 propõe que as SCs embora não projetem IPs apresentam um sujeito o qual não está ligado à categoria funcional mas à lexical nome verbo preposição e adjeti vo Desse modo as SCs segundo a teoria de Stowell 1981 são projeções sintagmáticas cujo sujeito ocupa a posição de especificador dessas projeções como na projeção em 6 exemplo adaptado de RAPOSO 1992 p 219 httpsperiodicosunifapbrindexphpletras Macapá v 7 n 2 2º semestre 2017 55 6 Nessa projeção Raposo capta o desdobramento da SC que funciona como complemento do predicador transitivo considerar que normalmente seleciona ou SCs ou completivas infinitivas como seu argumento interno em vez de DPs Duarte 2003 p 542 menciona que os verbos copulativos a presentam propriedades comuns aos inacusativos no que tange a sua subcategorização caindo sob a alçada da Generalização de Burzio pois não tendo papel temático externo não legitimam o seu com plemento com Caso acusativo somente atribuindo Caso inerente ao seu argumento interno o predicado da SC Logo não tendo acesso a Caso nessa posição o constituinte nominal sujeito da SC precisa ser alçado para fora dessa posição onde checará Caso nominativo con forme 79 7 a Ela A Maria é simpática Éa simpática b Eles Os biscoitos ainda estão quentes Ainda os estão quentes Duarte 2003 reforça ainda o argumento de que os verbos co 9 Exemplos retirados de Duarte 2003 p 542 renumerados e modificados httpsperiodicosunifapbrindexphpletras Macapá v 7 n 2 2º semestre 2017 56 pulares não atribuem Caso acusativo ao mostrar que o predicado da SC quando complemento de verbos transitivos pode ser recuperado por meio do clítico predicacional o mencionado também por Bechara 2009 como ocorre nos exemplos em 8 exemplos de DUARTE 2003 p 542 8 a O João acha SCa Maria simpática a O João achaa simpática b Os miúdos comeram SCos biscoitos ainda quentes b Os miúdos comeramnos ainda quentes Na seção seguinte analisamos alguns aspectos particulares das construções copulares incluindo questões relativas à sua interpreta ção 31 Aspectos particulares das construções copulares Como já foi mencionado anteriormente a análise de constru ções como é nósnóis e tamo junto entre outras mencionadas em 1 abarcará as SCs selecionadas por uma cópula Desse modo é necessário que se façam mais algumas ponderações em relação às sentenças copulares As sentenças copulares são classificadas na literatura como equativas e predicativas a partir da possibilidade de determinação do sintagma que ocorre após a cópula Essas sentenças cf 9 apresen tam estrutura DP1cópulaDP2 Se o DP póscópula for definido a sentença é equativa se for indefinido a sentença é predicativa GO MES 2007 p 40 Vejamos os exemplos10 10 Exemplos retirados de Gomes 2007 p 40 e renumerados httpsperiodicosunifapbrindexphpletras Macapá v 7 n 2 2º semestre 2017 57 9 a Pedro é o vencedor b Pedro é um vencedor O principal argumento apresentado na literatura para a distinção que ocorre em 9ab entre estrutura equativa e predicativa está na lei tura de identidade entre os DPs 1 e 2 ou seja uma estrutura equati va é aquela em que os DPs sujeito e predicado podem permutar suas posições se A é B B é A sem prejuízo do valor de verdade Fazendo alusão a 9a temos se Pedro é o vencedor logo o vencedor é Pedro Num ponto de vista referencial sentenças equativas verdadeiras são estruturas A é B em que A e B reportamse ao mesmo referente já que uma coisa é sempre idêntica a si mesma LAGE 1999 Gomes 2007 menciona que na literatura há também posições contrárias à distinção entre estruturas equativa e predicativa que defendem a ideia de que a equatividade não existe O argumento pa ra isso baseiase no sentido de que há um único verbo ser o predica tivo A hipótese de autores como Moro 1997 é que há relação de predicação mesmo nas pequenas orações nominais com DP2 defini do além disso a própria existência de SCs nominais infirma a hipóte se de que a categoria lexical tenha influência sobre a predicação Se guindo essa mesma linha Gomes 2007 defende a hipótese de que a simples presença de um DP2 definido em SCs nominais não é sufici ente para se ter uma estrutura que permita uma leitura de identidade entre os DPs Voltando à argumentação que mantém a distinção entre sen tenças copulares relacionada ao tipo de predicado da SC Braga Kato Mioto 2009 p 280 apontam essa distinção mas a partir de dois ti pos de cópula a cópula impessoal e a cópula de alçamento exempli httpsperiodicosunifapbrindexphpletras Macapá v 7 n 2 2º semestre 2017 58 ficadas em 1011 10 a É tarde b O João é o chefe c O João é um poeta Para Braga Kato Mioto 2009 a cópula impessoal seleciona um constituinte que não pode ser alçado para a posição de sujeito cf 10a Já em 10b e 10c as SCs equativa e predicativa selecio nadas pela cópula permitem alçamento do sujeito o João mas so mente a equativa permite o alçamento tanto do DP sujeito quanto do DP predicado A cópula predicativa no entanto não permite o alça mento do DP predicado como se pode verificar em 11b12 11 a O chefe é o João b Um poeta é o João Com esse argumento sintático de restrição de alçamento seria possí vel manter a distinção entre os dois tipos de small clause ao menos para a cópula do tipo ser Sibaldo 2011 analisa os verbos copulares ser e estar e apre senta diferenças entre seus predicados13 Dialogando com Avelar 2004 o autor afirma que o verbo ser possui um predicado que está atrelado a propriedades intrínsecas a atributos mais permansi vos o que não se observa com o verbo estar pois o predicado rela cionado a este verbo é uma atribuição adquirida a partir de expres sões que se referem a condições passageiras Em suma o sentido dos 11 Exemplos retirados de Braga Kato Mioto 2009 p 280 e renumerados 12 Exemplos retirados de Braga Kato Mioto 2009 p 280 e renumerados 13 O autor afirma que pode haver outros verbos copulares além de ser e estar httpsperiodicosunifapbrindexphpletras Macapá v 7 n 2 2º semestre 2017 59 predicados formados por cópulas depende da cópula selecionada como em 12 e 1314 12 O João está gordo 13 O João é gordo Para que se compreendam melhor as questões que envolvem as restrições dos predicados em sentenças copulares Sibaldo 2011 destaca uma hierarquia proposta por Pustet 2003 que estabelece como padrão a seleção dos tipos de predicados formados por cópu las chamada de hierarquia implicacional que segue a distribuição nominais adjetivais verbais15 Como se pode perceber a hierarquia não considera a categoria Preposição em vista de a mesma variar entre lexical e funcional É necessário pontuar que tais explanações são observadas no PB con forme cita Sibaldo 2011 visto que as cópulas ser e estar selecionam as categorias expressas em 12 e 13 acima com as que ocorrem em 1416 14 a A Maria é uma professora b A Maria é linda c A Maria foi beijada Sibaldo 2011 destaca discussões acerca de orações copulares formadas por PPs e nota que o PB apresenta diversas construções com verbos copulares que selecionam um PP com papel temático Sendo assim para o autor dependendo do PP selecionado o predi 14 Exemplos retirados de Sibaldo 2011 p 53 e renumerados 15 Distribuição retirada de Sibaldo 2011 p 55 16 Exemplos retirados de Sibaldo 2011 p 56 e renumerados httpsperiodicosunifapbrindexphpletras Macapá v 7 n 2 2º semestre 2017 60 cado poderá apresentar natureza distinta como locativa possessiva ou indicativa de matéria origem beneficiário e tempo É importante destacar que a cópula selecionada junto a esses PPs é fixa logo os verbos ser e estar não sofrerão permuta como em 15 15 a A Denise está é na praia Locativo b Essa chave é está de ouro Matéria Na seção seguinte apresentamos as análises acerca das cons truções formadas por verbos copulares como é nósnóis tamo junto tamo na área dentre outras levantando a hipótese de que são SCs selecionadas por cópulas 4 Análise das construções formadas por verbos copulares Conforme mencionamos na seção anterior analisamos as construções sintáticas largamente utilizadas no PBPVB discutidas em 1 na introdução e renumeradas em 16 16 a é nós b é nós na fita c tamo junto d tamo aí e tamo na área Mencionamos também que diferentemente da classificação tradicional a teoria gramatical capta as peculiaridades dos comple mentos copulares ser e estar e propõe analisálos como subcategori zação de uma estrutura compreendida como pequena oração Inicialmente levantamos a hipótese de que as construções es httpsperiodicosunifapbrindexphpletras Macapá v 7 n 2 2º semestre 2017 61 colhidas para a análise eram semelhantes à pequena oração Marti nha é bonita conforme Oliveira 2010 isto é não podem ser consi deradas apenas como nominais visto que apresentam um verbo co pular de alçamento que subcategoriza uma SC como seu comple mento No entanto diferentemente da SC que ocorre em Martinha é bonita em nenhuma das construções que analisaremos haverá al çamento para Spec TP Aliás quanto à impossibilidade de movimento as construções em 16 comportamse sintaticamente como a SC impessoal apontada por Braga Kato Mioto 2009 em 10a mas há que se considerar que ainda que não ocorra alçamento naquela construção com cópula impessoal é sempre possível expandir o argumento único da SC con forme 17 similar às construções que apontamos em 16 17 É muito bastante tarde O comportamento da cópula nas sentenças a serem analisadas também não apresenta as propriedades intrínsecas mencionadas por Sibaldo 2011 já discutidas na seção anterior o fato de ser pos suir um predicado com atributos mais permansivos aproximando se efetivamente de estar cujo predicado é uma atribuição adquirida a partir de expressões que se referem a condições passageiras Voltando à similaridade das sentenças que analisamos em 16 com a sentença analisada por Braga Kato Mioto 2009 em 17 para além da restrição de movimento há o comportamento impessoal mas não estamos assumindo que as sentenças em 16 sejam todas impessoais já que a cópula estar em 16cde apresenta flexão No tocante à possibilidade de expressar flexão retomamos as sentenças para evidenciar que esse recurso sintático não pode ser httpsperiodicosunifapbrindexphpletras Macapá v 7 n 2 2º semestre 2017 62 atribuído a todas elas como se nota em 18 18 a é nós tudo a somos nós tudo b é nós na fita b somos nós na fita c está junto c está na área A ausência obrigatória de concordância em 18ab explica a agramaticalidade de 18ab e pode ser um argumento no sentido de considerar as construções com ser impessoais tal qual a constru ção estudada por Braga Kato Mioto 2009 apresentada em 17 já a agramaticalidade de 18cc evidencia a concordância expressa por um sujeito nulo nessas construções Essa assunção levanos à distinção entre as construções com ser em 18 das construções com estar em 19ac com flexão aparen te17 19 a tamo tudo junto a estamos todos juntos b tamo tudo aí b estamos todos aí c tamo tudo na área c estamos todos na área Apesar da realização de concordância o fato de que estamos diante de expressões cristalizadas se verifica pelo estranhamento das frases em contextos de uso similares como se nota em 19ac Outra característica dessas construções é que enquanto a có pula ser em 18 seleciona uma SC simples composta por DP prono minal ou DP APQP e nunca uma expressão referencial18 sem contudo desencadear concordância expressa a small clause selecio 17 Estamos considerando parte das sentenças em 18 e 19 agramaticais exclusivamente nos contextos de uso cristalizados que estamos analisando 18 Expressões referenciais e pronomes possuem comportamento sintático distinto no tocante às propriedades de ligação cf CHOMSKY 1986 httpsperiodicosunifapbrindexphpletras Macapá v 7 n 2 2º semestre 2017 63 nada por estar em 19 não contém um DP expresso mas APs PPs ou AdvPs o que pode ser um argumento para que as small clauses em 19 sejam compostas por um sujeito nulo um pro referencial afas tandoas de construções impessoais como 17 e 18ab Logo em nossa análise estamos postulando que as constru ções em 19 sejam compostas por estruturas com sujeitos referenci ais nulos em Spec TP conforme em 2019 20 TP ø T tamo VP estar SC pro AP PP ADVP Podese ainda argumentar em defesa de sujeitos referenciais nas construções em 20 pela possibilidade de estipular contextos prag máticos que permitam interpretar tais construções como interlocu ções advindas de reduções de estruturas como Estamos juntos para o que der e vier ou Eu nós o apoioamos no sentido de prestar solidariedade a alguém Contrariamente às construções com estar o contexto pragmá tico relacionado às sentenças discutidas em 18 com ser parece re meter a uma dada situação de fala significando essa é a nossa vez a nossa hora sem contudo remeter a um referente ou sujeito refe rencial conforme 21 21 TP EXPL ø T é VP ser SC DP QPPP Após as análises defendemos que as construções formadas por estar tamo junto tamo na área tamo aí tamo na fita podem ser entendidas como expressões cristalizadas formadas por cópulas pessoais que selecionam SCs com alçamento apenas de tra 19 Haegeman 1999 p 126 propõe a categoria funcional AGRP como núcleo que projeta a SC estando o sujeito da SC em Spec AgrP httpsperiodicosunifapbrindexphpletras Macapá v 7 n 2 2º semestre 2017 64 ços referenciais do sujeito para Spec TP conforme 20 enquanto as sentenças com ser é nósnóis é nósnóis na fita em 21 são im pessoais e compostas por um sujeito gramatical expletivo Ao considerarmos essas construções expressões cristaliza das estamos cientes de que adentramos em um domínio que englo ba um campo de investigação bastante fecundo teoricamente sem contudo analisálas devidamente20 5 Considerações finais Neste breve estudo procuramos analisar os complementos de orações copulativas tratadas tradicionalmente como orações com predicado nominal e verbonominal As análises foram direcionadas sobretudo ao predicado nominal Partimos de uma reflexão sobre as construções é nósnóis é nósnóis na fita tamo junto tamo na área tamo aí e tamo na fita muito frequentes em situações comunicativas informais e cuja disseminação entre os falantes levou nos à afirmação de que sejam típicas da variedade Português Popular ou Português Vernacular Brasileiro PVB Um estudo sobre o seu uso não foi realizado por nós mas poderia auxiliar a compreensão dessas construções Nosso objetivo em lançar mão primeiramente das classifica ções tradicionais compreendidas com complemento nominal e verbo nominal foram no sentido de contrastar e ao mesmo tempo corrobo rar estudos como os de Oliveira 2010 que compreendem esses complementos como verbais selecionados por verbos inacusativos 20 A literatura que trata das fraseologias construções cristalizadas e expressões idiomáticas é extremamente vasta e estipula tanto uma tipologia específica quanto metodologia de análise dessas construções e constituem interesses de campos teóricos distintos podendo tratarse de processos de gramaticalização lexicalização fossilização etc Entendemos ser esta uma outra via de investigação muito produtiva para as construções analisadas que chamamos genericamente de construções cristalizadas mas por necessidade de delimitação o estudo nessas áreas encontramse fora do escopo do trabalho Para o leitor interessado sugerimos a tese de Hudson 1999 httpsperiodicosunifapbrindexphpletras Macapá v 7 n 2 2º semestre 2017 65 no domínio de uma pequena oração As sentenças analisadas são compreendidas por nós como ex pressões cristalizadas formadas pelas cópulas ser e estar com com portamento sintático distinto i a construção pessoal Tamo junto que seleciona uma SC com alçamento apenas de traços referenciais para a checagem de EPP em Spec TP e ii a construção impessoal É nósnóis sem alçamento de traços referenciais para a posição canô nica de sujeito Referências AVELAR J de O Dinâmicas Morfossintáticas com Ter Ser e Estar em Português Brasileiro Dissertação Mestrado em Linguística Univer sidade de Campinas Campinas 2004 BECHARA Evanildo Moderna gramática portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2009 BRAGA M L KATO M MIOTO C As construçõesQ no português brasileiro falado In KATO M NASCIMENTO M do orgs Gramáti ca do português culto falado 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