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Pedagogia

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26072023 1451 FILOSOFIA E EDUCAÇÃO wwwbvanisioteixeiraufbabrartigosfilosofiahtml 210 Com o apogeu das civilizações é que vamos encontrar os homens mergulhados em um estágio de triunfo e estagnação mais devotados ao lazer e à suntuosidade do que à criação endurecidos e cristalizados em intricados contextos de costumes ritos e rotinas Os sofistas e Platão não eram assim os reveladores da vida grega mas os seus reformadores Ao investirem contra os costumes e as práticas correntes tão hirtos e mortos que pareciam decorrer da adaptação cega do homem aos seus rudes apetites e necessidades criaram virtualmente a sociedade dinâmica que se iria fundar na mudança e no cultivo da mudança Dispondo de uma língua excepcionalmente avançada para o tempo contavam os gregos não sòmente com êste instrumento verbal de alta perfeição como também com a disposição especial para criar por desenhos simbolizações intelectuais para a especulação nos campos da geometria e da matemática Se a isso acrescermos a peculiaridade helênica de não estar a sua civilização tanto quanto outras civilizações contemporâneas acorrentada ao poder sacerdotal detentor habitual e cioso do saber tradicional teremos alguns elementos para esclarecer a mudança de direção na aventura humana a que Renan veio chamar de milagre grego Capacidade especulativa decorrente do desenvolvimento da língua e da simbolização geométrica aliada ao secularismo da civilização grega deu a êsse momento histórico oportunidade para a formulação do pensamento filosófico da humanidade em condições jamais até então imaginadas Tão definitivas se revelaram certas formulações que A N Whitehead pôde afirmar que a melhor caracterização geral da tradição filosófica do Ocidente é a de ser ela uma série de notas notas de pé de página diz êle ao pensamento de Platão Não se pode pois analisar a filosofia de educação de nossa época sem que antes nos detenhamos nesses recuados primórdios da civilização A construção filosófica então erguida pelo homem é um prodígio de bomsenso e de capacidade especulativa dentro das limitações de conhecimento do tempo A experiência antes criadora se havia tornado rotina ou acidente e esvaziada do conteúdo plástico já não oferecia condições para progresso contínuo ou ordenado A razão pelo contrário recémdescoberta estava em pleno esplendor de criação especulativa extasiando a imaginação grega com a maravilha das proporções do ritmo da simetria da harmonia do completo do acabado do ordenado do perfeito Não há como admirar haver chegado Platão à concepção de um mundo racional suprasensível mais real que o mundo das coisas desordenadas e passageiras e de que êste último seria apenas a sombra fugaz e ilusória A alegoria da caverna consagrou sob forma literária essa concepção de um mundo de idéias real eterno e imutável a que o homem podia chegar pela educação da mente e do espírito A descoberta do conhecimento racional como algo em que se pudesse apoiar o homem constituiu aquisição de tal modo segura que daí por diante as filosofias flutuaram e oscilaram mas difìcilmente se puderam libertar e ainda hoje incompletamente dos quadros com que as balizou o gênio de Platão Duas ordens de conhecimento eram possíveis o empírico fundado em experiência e êrro e por conseguinte insuscetível de produzir a certeza e o racional fundado na especulação matemática e filosófica nas leis da harmonia e da simetria construção intelectual do espírito em sua intuição reveladora do real do perene e do imutável Dar a êsse segundo conhecimento que se elaboraria na contemplação e no lazer a nobreza e a dignidade da única realidade que importava era algo como uma conclusão lógica tanto mais conseqüente quanto a sociedade grega aristocrática e baseada na desigualdade entre homens livres e escravos veria nessa conclusão uma justificação de seu próprio regime social Estavam aí os elementos para as teorias do homem e da sociedade que Platão desenvolve na República propondo a organização de um Estado que mais do que nenhum outro se iria fundar 26072023 1451 FILOSOFIA E EDUCAÇÃO wwwbvanisioteixeiraufbabrartigosfilosofiahtml 310 na educação e no treinamento dos indivíduos para atender às diferentes funções sociais que lhes fôssem reservadas pelas respectivas ordens de sua natureza humana Filosofia e educação se fazem campos correlatos de estudo e de prática e em nenhum outro período da história se registra afirmação mais decisiva primeiro quanto à função da educação na formação e distribuição dos indivíduos pela sociedade e em segundo lugar quanto ao reconhecimento de que sociedade ordenada e feliz será aquela em que o indivíduo esteja a fazer aquilo a que o destinou sua natureza Como se distribuiriam os homens A observação do sensocomum estava a mostrar que se escalonavam êles em graus diversos de capacidade mental alguns mal se libertando dos apetites e necessidades do corpo outros alcançando a coragem e a generosidade e outros ascendendo afinal à contemplação intelectual e ao gôsto das idéias e das formas do espírito Com tais elementos não seria difícil a fórmula especulativa pela qual se ordenasse o complexo do mundo e do homem O pressuposto fundamental aí estava tudo que existe se divide em Formas e Aparências as primeiras reais eternas e só elas suscetíveis de conhecimento e as últimas passageiras mutáveis em processo de ser mas não chegando a ser suscetíveis apenas de produzir opiniões e crenças sem valor de saber isto é saber racional O conhecimento das Formas é uma intuição mediata do intelecto sob a provocação dos sentidos e o fim do homem é a contemplação dessas Formas Composto de alma e corpo substâncias diversas e de certo modo independentes o homem pela alma que não é pròpriamente Forma mas aparentada com as Formas e aprisionada no corpo vive num aspirar ao mundo das Formas que é o seu verdadeiro mundo Como o corpo pertence ao mundo das aparências cabelhe subordinarse à alma e ser atendido apenas em seus apetites necessários e em grau mínimo Alcança o homem o seu destino na medida em que se liberta das ilusões e aparências e depara com o mundo das realidades ou das formas que vem a conhecer pela atividade intelectual e a amar pela sua harmonia e beleza A natureza e a sociedade decorrem dêsses pressupostos distribuindose os homens na medida em que se libertam do corpo e ascendem na capacidade de contemplação da Verdade do bem e do belo isto é do conhecimento que produz a virtude como uma conseqüência Aos filósofos que seriam por excelência tais homens competiria a função de govêrno descendo depois a hierarquia aos capazes de generosidade e coragem defensores até aos artesãos e produtores dominados pelos apetites e sentidos A sociedade é assim rigorosamente aristocrática e se funda na desigualdade e que os homens se distribuem por êsses três degraus da escala humana Temos nessa filosofia aí tôscamente esboçada uma teoria do universo uma teoria do homem e uma teoria da sociedade que vêm governando a vida humana e a educação no Ocidente até os nossos dias Absorvea depois de longos séculos de confusão o cristianismo que lhe acrescenta as teorias da criação e do pecado original Compreendese a fascinação dos primeiros filósofos da Igreja pelo pensamento platônico Parecia uma antecipação ao pensamento eclesiástico em elaboração e uma fundamentação teórica para os pressupostos orientais da religião nascente Pela teoria platônica a natureza não chegava a ser digna de estudo e os homens estavam todos distribuídos em três classes apenas de indivíduos conforme atingissem os dois únicos níveis de desenvolvimento além do nível dos simples apetites do corpo Aos dêsse último grupo caberia o trabalho para atender às necessidades da matéria aos que ultrapassando os apetites alcançassem a coragem e a generosidade competia a defesa da sociedade e finalmente aos que se elevassem ao estágio da razão e da visão universal o poder e o govêrno A educação seria o processo pelo qual os indivíduos desvendariam suas potencialidades e se distribuiriam pelas diferentes classes formulando dêsse modo o filósofo grego a mais perfeita teoria das funções de processo educativo 26072023 1451 FILOSOFIA E EDUCAÇÃO wwwbvanisioteixeiraufbabrartigosfilosofiahtml 410 Não lhe foi porém intelectualmente possível prever nem a unicidade de cada indivíduo nem a extrema variedade de suas potencialidades o que o levou a um conceito aristocrático de sociedade e em rigor depois de realizado a uma forma limitada e estática para essa mesma sociedade A idéia da criação do mundo e a do pecado original trazidas pelos cristãos e oriundas da tradição judaica viriam por um lado tornar a natureza respeitável por haver sido criada por Deus e por outro dar nova explicação aos elementos constitutivos do homem já agora carne e espírito os quais longe de serem suscetíveis de contrôle pelo desenvolvimento do espírito se encontrariam em luta permanente não sendo a vitória do espírito sôbre a carne o privilégio de alguns mas a luta de todos os homens do mais humilde ao mais bem dotado Não se alteram as grandes estruturas do mundo do homem da natureza e da sociedade mas surgem duas novas linhas de desenvolvimento A primeira é o fermento democrático decorrente da igualdade substancial de todos os homens a segunda é a de estudo da natureza como algo em que se esconderiam as formas pois já não era a natureza a extravagância de um demiurgo mas a criação de Deus O dualismo de forma e matéria assim tomado aos gregos na formulação aristotélica viria mais tarde sofrer a reformulação tomista e reconciliarse com a doutrina judaicocristã dando origem ao desenvolvimento moderno e às filosofias de Bacon Descartes Locke Kant Fichte e Hegel tôdas oriundas e no fundo destinadas apenas a complementar Platão em face da evolução da sociedade e dos conhecimentos humanos Ainda na Idade Média os primeiros estudiosos da natureza já se chamam de platonistas pois estão a buscar além das aparências e do bomsenso o segrêdo das formas de que a natureza seria a cópia ou a imitação Por outro lado os homens passaram a ser julgados pelo esfôrço com que lutavam pela vitória do espírito sôbre a carne e o mérito humano em oposição ao critério grego a se medir pela sinceridade na luta e não pelas vitórias alcançadas São dois elementos quasenovos a vontade do homem na luta entre o bem e o mal e o julgamento do homem pelas intenções O grego virtuoso e sábio era um vitorioso de fato Havia se desenvolvido até alcançar o saber e a virtude O cristão virtuoso era um lutador sempre vencido e sempre em luta a ser julgado não pelos resultados mas pelas intenções e pela intensidade da vontade de luta Por isso mesmo a fórmula platônica era intelectualista e aristocrática e a fórmula cristã voluntarística e potencialmente democrática na expressão de W H Walsh resumindose nestes pontos as diferenças mais substanciais originárias em essência da distinção entre a concepção grega de alma e corpo e a cristã de espírito e carne Recordemos que para São Tomás corpo e espírito constituiriam certa unidade o que dificulta o conceito de imortalidade e leva os cristãos ao dogma da ressurreição dos corpos proeza de raciocínio que de certo modo santifica o corpo na luta de espírito sôbre a carne e ameniza os rigores do ascetismo helênico É com êstes novos elementos que elabora Bacon a primeira revolta com a reformação da teoria do conhecimento racional Legitimado o estudo da natureza e dignificado o corpo humano de um lado sob a inspiração platônica de que a natureza escondia as formas do real e de outro sob a inspiração cristã de que a natureza era obra de Deus o novo filósofo lança as bases da experimentação como processo do conhecimento e cria o novo conhecimento racional o das leis da natureza reveladas não pela simples especulação intelectual fundada na observação do bom senso mas pela especulação intelectual fundada nos novos processos de experimentação A formulação medieval da filosofia platônica mantendo o mesmo critério do racional que recebera dos gregos antecipava a natureza emprestandolhe características arbitrárias e fundadas em opiniões humanas que importava substituir pela descoberta de suas verdadeiras leis Para tais descobertas se inventara o método experimental que mais não era que o método 26072023 1451 FILOSOFIA E EDUCAÇÃO wwwbvanisioteixeiraufbabrartigosfilosofiahtml 510 imemorial de observar a manipular as coisas a fim de ver o que se podia fazer com elas no fim de contas o método do trabalho humano O encontro entre o trabalho e o conhecimento desde que dezenove séculos antes se dera o encontro entre a razão e o conhecimento constitui a segunda grande revolução da inteligência humana Platão substituíra o mágico o supersticioso o empírico no sentido de acidental o costume a rotina pela reflexão especulativa racional mas tal reflexão revelaria uma verdade estática e puramente lógica Rompendo com a natureza e com os processos empíricos de trabalho que não julgava sequer dignos de estudo achara a solução para sociedades aristocráticas e reduzidas capazes de viver de literatura e de lazer Sòmente Bacon abre as portas para as sociedades numerosas e ricas em perpétuo desenvolvimento ao trazer o conhecimento racional para o campo do prático com o que inaugura nova era de criação e originalidade permanentes para a espécie humana As sociedades destinadas a mudar e agora devotadas ao culto da mudança ressurgiram afinal sob o céu A volta à observação que as concepções platônicas de certo modo haviam tornado possível interromper religa o espírito científico aos períodos anteriores à época de Platão e de Aristóteles restaurando cosmologia anteriormente descoberta e criando com o método experimental uma física e uma nova ciência da natureza As estruturas do pensamento lógico e filosófico são as mesmas de Platão mas abrese um campo novo de estudos e se refazem pela experimentação os métodos de observação antes os do sensocomum e agora os da pesquisa e da descoberta São estas estruturas de pensamento que retoma Descartes no século XVII para reformular o que se veio chamar de filosofia moderna A sua posição entretanto ainda é a de um platonismo cristão Conserva o dualismo de res cogitans e res extensa em substituição ao de formas e aparências recria o conceito platônico de conhecimento pela intuição intelectual recomenda a observação antes com o ôlho da mente do que com os olhos dos sentidos e antecipa os conceitos de Leibnitz de cognitio intuitiva como base da cognitio symbolica ou descritiva Acrescenta contudo para mostrar a origem cristã de sua posição a idéia da alma dotada das faculdades de compreender e de querer esta mais extensa do que aquela dando origem ao primado da vontade que vai encontrar em Kant a sua expressão mais decisiva Com efeito Descartes consolida a liberdade para o estudo da ciência física separando as esferas de influência entre o mecânico e o espiritual Deixa êste para os teólogos e moralistas e o mundo físico para os cientistas de certo modo reconciliando os esforços de uns e outros É Kant porém que tenta a última pacificação com o seu dualismo ainda platônico entre noumeno e fenômeno Todo conhecimento é conhecimento de fenômeno ou de aparências O categórico absoluto só é possível no campo da razão prática Substituiuse pela fé o conhecimento Pura fé prática é afinal o motor da ação humana O homem progride nesse campo não pelo conhecimento mas pela vontade e pela experiência ancestral da vida humana O primado do prático sôbre o teórico faz dêle já o disse alguém o filósofo do protestantismo e mostra as suas raízes cristãs A estrutura dualista do seu pensamento é platônica mas as conseqüências são voluntarísticas e cristãs Tôda essa tradição filosófica se reflete na educação com a sua organização intelectualista e a sua prevenção contra o técnico Seja o sistema inglês seja o francês seja o alemão são organizações educativas fundadas na teoria do conhecimento pela intuição intelectual na teoria moral do treino da vontade na nobreza de estudos literários e na prevenção contra o prático e o técnico Bacon ficará ainda por muito tempo simples profeta da ciência 26072023 1451 FILOSOFIA E EDUCAÇÃO wwwbvanisioteixeiraufbabrartigosfilosofiahtml 610 Até nos tipos de escolas encontrase a hierarquia platônica com a maior dignidade assegurada às formas contemplativas do saber depois em uma segunda ordem as do conhecimento científico experimental e afinal as de ensino prático ou técnico como último escalão da ordem educacional Quase que até o fim do século XIX podese considerar pacífica essa classificação sendo as instituições educativas mais famosas as instituições em que Platão fàcilmente se reconheceria com alguns rápidos esclarecimentos sôbre modificações de detalhes em suas concepções Os próprios empiricistas a despeito de divergências aparentes não repudiavam os pressupostos básicos de Descartes e dêste modo também se ligavam a Platão Só recentemente essa tradição entrou em real ataque com o repúdio ao cartesianismo e ao kantismo mas não se pode dizer que os novos filósofos já estejam influindo decisivamente nas instituições educativas Estas vêm de origem demasiado remota para se transformar ràpidamente e os professôres em sua esmagadora maioria refletem a posição filosófica tradicional e não a que começa a se esboçar em face da nova ciência das culturas e dos novos desenvolvimentos da filosofia científica A filosofia mais recente repele o conceito cartesiano de alma e o seu conceito de conhecimento Alma passa a ser um nome para designar certas formas de comportamento humano suscetíveis de explicação natural e o conhecimento a descoberta muito mais de como são as coisas do que de que são elas A busca da certeza que moveu Descartes continua a motivar os filósofos mas êstes se mostram bem mais modestos e começam a se contentar com a garantia provisória da prova experimental em constante processo de renovação Do lado lógico o progresso tem sido sensível considerandose diversas formas de lógica fundadas em convenções diversas válidas segundo os casos a que se aplicam A ciência tôda se vem fazendo convencional em sua parte matemática e experimental na parte física com reflexos poderosos sôbre as filosofias Assim que se generalizarem os novos conceitos sôbre a natureza do homem a natureza do conhecimento e a natureza do comportamento social e moral do homem a educação refletirá os novos conceitos que depois se verão institucionalizados nas escolas Com efeito o método desenvolvido pela pesquisa científica originário do retôrno à experiência recomendada inicialmente por Bacon depois de séculos de pensamento puramente especulativo e racional constituiu algo de tão característico e amplo que veio a refletirse sôbre a filosofia produzindo primeiro os empiricistas depois em contraste com êsses os racionalistas e afinal os pragmatistas instrumentalistas ou experimentalistas que buscam reconciliar as posições dos dois primeiros mediante uma reconstrução fundamental dos conceitos de experiência e de razão à luz dêsse novo método científico A reformulação dêsses conceitos se fêz em face da alteração real sofrida pela natureza do ato de experiência e das modificações introduzidas na psicologia pelo progresso da ciência biológica A mudança do caráter da experiência pode ser condensada na diferença entre os têrmos empírico e experimental A experiência no conceito tradicional consistia no processo de tentativa e êrro só podendo produzir o saber por acidente saber que se consubstanciava em hábitos e procedimentos cegos os quais por sua vez se cristalizavam em costumes e rotinas hirtos e duros Daí ser a experiência um instrumento de escravização ao passado e não de renovação e progresso A experiência como a concebeu Bacon seria a Experimentação o produzir voluntàriamente a experiência para se conseguir o resultado novo e o novo conhecimento A psicologia dos séculos dezessete e dezoito retardou se não impediu que se extraísse dêsse novo conceito da experiência uma teoria experimental do conhecimento O atomismo associacionista dos empiricistas teve por certo a sua eficácia no desencorajamento das 26072023 1451 FILOSOFIA E EDUCAÇÃO wwwbvanisioteixeiraufbabrartigosfilosofiahtml 710 racionalizações especulativas mas não forneceu os elementos para uma teoria satisfatória do saber dando assim lugar ao surgimento dos racionalistas que buscaram completar o vácuo produzido pela psicologia inadequada dos sensacionalistas com os conceitos e categorias a priori de Kant e dos pósKant Foi a abordagem antes biológica do que psicológica já no século XIX do fenômeno da experiência humana que permitiu desenvolverse o conceito de experiência como interação do organismo vivo com o meio e elaborarse uma teoria psicológica adequada à explicação do comportamento humano face à experiência e ao conhecimento Segundo essa teoria o processo de vida é uma seqüência de ações e reações coordenadas pelo organismo para o seu ajustamento e reajustamento ao meio Os sentidos e as sensações não são meios ou caminhos do conhecimento mas estímulos provocações e sugestões de ação mediante os quais o organismo age e reage ajustandose às condições ou modificando as condições para êsse reajustamento Conhecimento ou saber é um resultado um derivado dessa atividade quando conduzida inteligentemente A mente não é algo de passivo em que se imprima o conhecimento nem a razão uma faculdade superior e isolada que elabore as categorias os conceitos Êstes conceitos ou categorias resultam da percepção das conexões e coordenações dos elementos constitutivos dos processos de experiência e constituem normas de ação ou padrões de julgamento A integração dêsses novos conceitos na filosofia veio permitir a sua reformulação com a elaboração de uma teoria geral do conhecimento fundada no método do conhecimento científico uma teoria da sociedade adaptada aos novos meios de trabalho industrial criados pela ciência e uma nova teoria política da democracia a qual essa mesma ciência veio afinal tornar possível Em nosso continente de forma mais marcante contribuíram para essa reconstrução os pensadores William James Ch S Peirce e John Dewey A designação mais corrente dessa filosofia como pragmatismo e a identificação de pragmatismo com a frase saber é o que é útil concorreram para incompreensões deformações e críticas as mais lamentáveis John Dewey a quem coube a formulação mais demorada e mais completa dêsse método de filosofia mais do que sistema filosófico muito se esforçou para afastar as confusões e desinteligências e a sua contribuição foi decerto das maiores se não a maior na emprêsa de integrar os estudos filosóficos de nossa época no campo dos estudos de natureza científica isto é fundados na observação e na experiência na hipótese na verificação e na revisão constante de suas conclusões Coube a Dewey a formulação do método o método de inteligência como prefere êle chamá lo para caracterizar a sua revisão do conceito de razão e experiência Mas o que será a filosofia do nosso tempo ainda irá depender do trabalho de inúmeras pessoas que devotandose à filosofia realizem nessa esfera o que os cientistas realizaram e vêm realizando no campo da ciência A generalização do novo método do conhecimento humano ao campo da política da moral e da organização social em geral será a grande tarefa das próximas décadas John Dewey marcou os rumos e balizou as linhas para essa marcha da inteligência experimental por êsses novos campos marcha que nos há de dar uma nova ordem mais humana do que tudo que até hoje tenhamos conhecido Nenhum grande filósofo moderno foi mais explícito do que Dewey na necessidade dessa transformação educacional imposta pela filosofia fundada na nova ciência do mundo físico e nova ciência do humano e do social Chegou êle a formular tôda uma filosofia da educação destinada a conciliar os velhos dualismos e a dirigir o processo educativo com espírito de continuidade num permanente movimento de revisão e reconstrução em busca da unidade básica da personalidade em desenvolvimento 26072023 1451 FILOSOFIA E EDUCAÇÃO wwwbvanisioteixeiraufbabrartigosfilosofiahtml 810 Dewey cujo centenário de nascimento se celebra neste ano de 1959 continua a ser um simples precursor não se revelando sua influência no sistema educacional dos Estados Unidos onde nasceu e viveu nem muito menos em outros países senão em aspectos superficiais e secundários Não há maior êrro do que supôlo seguido e ainda menos dominante no sistema escolar norte americano Sem dúvida foi profundíssima a influência da vida americana do caráter prático de sua civilização sôbre o pensamento de John Dewey Êste pensamento porém na sua mais fecunda parte original no seu esfôrço de conciliação das contradições e conflitos da vida moderna ainda não logrou implantarse e está mesmo ameaçado de se ver ali e na parte que lhe é oposta do mundo submergido por um refluxo das velhas doutrinas dualistas de origem platônica hoje em franca popularidade no Leste e no Oeste Antes que a influência de Dewey se possa estabelecer com qualquer extensão e profundidade terseá de resolver o problema que se poderia considerar o do materialismo ou naturalismo cultural isto é se a conduta humana será suscetível de estudo científico Para Dewey isto será essencial a fim de se restabelecer a eficácia da formação moral pela escola De certo modo Dewey neste ponto volta a uma concepção que não se distancia da de Platão não no aspecto dualista de sua doutrina mas no aspecto em que une o conhecimento e a virtude O comportamento moral para Dewey é aquêle que leva o indivíduo a crescer e crescer é realizarse mais amplamente em suas potencialidades E como tais potencialidades sòmente se desenvolvem em sociedade o indivíduo cresce tanto mais quanto todos os membros da sociedade crescerem não podendo o seu comportamento prejudicar o dos demais porque com isto o seu crescimento se prejudica Com êste critério naturalístico de moral abrese a possibilidade de seu estudo científico e com êle o da generalização de processos de conduzir a educação de forma objetiva ou científica Discordam os filósofos inglêses atuais dessa possibilidade reabrindo a velha questão e de certo modo insinuando o dualismo kantiano de razão pura e razão prática Mas a correção se fará se prevalecer o conceito integrado do social como a mais ampla categoria do real em que o indivíduo encontra as suas formas de desenvolvimento Por isto mesmo mais do que o exame de aspectos mais recentes dos desdobramentos filosóficos e de suas repercussões inevitáveis sôbre a educação cabe analisar mais demoradamente o fenômeno da democracia como forma do social o qual recomeçou a medrar depois das ruínas das civilizações antigas com a filosofia cristãmedieval vindo afinal na época moderna a implantarse definitivamente e impor a mais ampla reconstrução educacional Já afirmamos que os filósofos cristãos com a identificação do corpo e da alma em uma só unidade e a teoria da virtude como resultado da luta voluntária do homem contra a carne e pelo espírito haviam criado a possibilidade da democracia dando a cada homem o valor da medida em que lograsse triunfar moralmente O cristianismo constituiuse assim uma teoria potencialmente democrática Em sua pureza doutrinária permitiria a democracia O exemplo das ordens religiosas é bem eloqüente Na realidade entretanto não produziu a democracia e se ajustou a condições sociais as mais contraditórias até que o renascimento e a reforma protestante vieram aparentemente renovar as esperanças de se estabelecer a democracia Com os fatos novos do livreexame religioso e a revolução científica baconiana a democracia efetivamente se faria possível de um lado pela revolução industrial que Bacon profetizara e que de fato veio a confirmarse e de outro pela liberdade religiosa As fôrças da tradição foram porém mais fortes reduzindose a liberdade religiosa a controvérsias baseadas nas velhas formas de argumentação da Idade Média exatamente do tipo 26072023 1451 FILOSOFIA E EDUCAÇÃO wwwbvanisioteixeiraufbabrartigosfilosofiahtml 910 da atividade intelectual que Bacon condenava e a experimentação científica conservandose extremamente reduzida e limitada aproveitados os seus resultados pelos que estavam em condições econômicas de explorálos em seu proveito Embora estivesse superada a teoria do conhecimento que justificaria a preeminência do conhecimento de natureza puramente intelectual ou literária o fato de não ser a cultura européia nativa mas na sua parte mais significativa herdada das civilizações antigas concorria para que a educação sob o pretexto de humanismo se fizesse sobretudo por meio das letras gregas e latinas incluindose entre elas quando muito a matemática e a filosofia natural Será impossível exagerar o vigor da resistência das tradições escolásticas da Idade Média no sistema escolar da época moderna e mesmo contemporânea sobretudo no ensino secundário e superior A cultura chamada acadêmica isto é de letras domina ainda na segunda metade do século XIX as universidades inglêsas e sòmente na Alemanha e na França já tem então certa mas pequena influência o ensino de ciências e da tecnologia científica À maneira de Platão pululam os dualismos sendo um dos mais influentes o do espírito e matéria considerada a ciência como estudo da matéria e continuando a mente como algo de puramente subjetivo confiado o seu estudo às especulações filosóficas Até o século XIX com efeito a ciência não vai além do mecânico e a própria biologia está ainda a aguardar Darwin para revolucionála com a Origem das Espécies A despeito pois do novo método do conhecimento científico e a despeito da riqueza crescente produzida pela revolução industrial acelerada pela revolução científica a partir dos fins do século XVIII continua a dominar a civilização chamada moderna uma filosofia de tipo platônico cujo dualismo fundamental se vê multiplicado nos dualismos de atividade e conhecimento atividade e mente autoridade e liberdade corpo e espírito cultura e eficiência disciplina e interêsse fazer e saber subjetivo e objetivo físico e psíquico prática e teoria homem e natureza intelectual e prático etc que continuam a impedir a constituição da sociedade democrática definida como sociedade em que haja o máximo de participação dos indivíduos entre si e entre os diferentes grupos sociais em que se subdivide a sociedade complexa diversificada e múltipla em que se vem transformando a associação humana Não cabe nos limites dêste artigo estendermonos sôbre as deformações geradas por todos aquêles dualismos pela natureza puramente mecânica do progresso material e pelo grau em que se viu frustrado o individualismo mais econômico do que humano dos séculos dezoito e dezenove De qualquer modo porém todo o grande problema contemporâneo continua a ser o da organização da sociedade democrática com uma filosofia adequada em face dos novos conhecimentos científicos das novas teorias do conhecimento da natureza do homem e da própria sociedade democrática Essa filosofia que irá determinar a educação adequada à nova sociedade democrática em processo de formação já se acha esboçada na grande obra de John Dewey que a traçou tendo em vista mais especialmente a sociedade americana a qual por um conjunto de circunstâncias constitui a sociedade que històricamente mais se viu sob a influência direta do espírito oriundo dos movimentos prédemocráticos dos séculos XVI e XVIII e mais liberta das influências do feudalismo e da Idade Média Como as filosofias em suas formulações teóricas ocorrem sempre a posteriori mais como explicações ou justificações das culturas existentes ou predicações para sua reforma revisão e reconstrução não se consegue a sua implantação senão depois de longos esforços e lutas A educação institucionalizada em escolas resiste de todos os modos à ação das novas idéias e novas teorias e só lentamente se irá transformando até chegar a constituir verdadeira aplicação da nova filosofia democrática da sociedade moderna 26072023 1451 FILOSOFIA E EDUCAÇÃO wwwbvanisioteixeiraufbabrartigosfilosofiahtml 1010 No Brasil onde se desenvolve em novas condições a mesma civilização ocidental que estivemos analisando a educação de modo geral reflete os modelos de que se originou só recentemente apresentando os primeiros sinais de desenvolvimento autônomo Em linhas gerais a filosofia de educação dominante é a mesma que nos veio da Europa e que ali começa agora a modificarse sob a impacto das novas condições científicas e sociais e das formulações mais recentes da filosofia geral contemporânea Também aqui à medida que nos fizermos autênticamente nacionais e tomarmos plena consciência de nossa experiência iremos elaborando a mentalidade brasileira e com ela a nossa filosofia e a nossa educação Scientific Production Technical Administrative Production Literature about the Educator Journal articles Chapter of book Speeches Pamphlets Books Prefaces and Postfaces Text in book flaps Unpublished papers Conference papers 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