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100 R E V I S T A U S P R E V I S T A U S P 101 102 R E V I S T A U S P R E V I S T A U S P 103 104 R E V I S T A U S P R E V I S T A U S P 105 106 R E V I S T A U S P R E V I S T A U S P 107 108 R E V I S T A U S P R E V I S T A U S P 109 110 R E V I S T A U S P R E V I S T A U S P 111 REFERÊNCIA MUNANGA K África Trinta anos de processo de independência Revista USP S l n 18 p 100111 1993 DOI 1011606issn2316 9036v0i18p100111 Disponível em httpswwwrevistasuspbrrevusparticleview26002 Acesso em 17 set 2023 O presente trabalho visa fazer uma resenha crítica acerca da produção científica do professor Kabengele Munanga do Departamento de Antropologia da USP O artigo traz considerações acerca do processo de independência dos países africanos e a visão da comunidade internacional acerca do continente O autor inicia afirmando que para boa parte da sociedade a África é um bloco único e compacto sendo visto apenas como um reservatório inesgotável de diversos minérios de bananas amendoim e outras culturas exóticas e ainda Os intelectuais ocidentais que nunca visitaram a África a imaginam como uma imensa terra virgem onde poderiam à vontade projetar seus sonhos de revolução frustrados e impossíveis na sua terra p 03 Essa visão é reforçada pela mídia que apresenta a África basicamente como um conjunto de guerras civis lutas massacres e tragédias humanas principalmente a fome crônica Para o autor há diversas Áfricas cada qual com características próprias sendo que mesmo a das Nações Unidas não é o bastante para representar o continente de forma adequada já que afogam a realidade numa linguagem codificada que serviria indistintamente tanto para a América Latina quanto para a Ásia do Sul Acontece que essa visão eurocentrista não se restringe à externalidade africana já que a própria população e os especialistas do continente têm dificuldades para abordar a realidade em que se inserem Iniciando pelos países da África Tropical temse que iniciaram suas independências entre 1957 e 1968 por meio da política ao contrário de outras nações que tiveram que usar a guerra para se autoafirmar Na prática o processo durou mais de 30 anos e passou por diversas alterações substanciais na vida das pessoas especialmente de estruturas sociais políticas e demográficas Assim o autor lança o seguinte questionamento O que significou a independência africana em termos concretos ou seja qual é o balanço crítico dos trinte e três anos de processo A resposta se inicia com o significado da independência que representou o fim das barreiras sociais raciais e a quebra de paradigma de inferioridade africana e da humilhação e desumanização Ocorre que apesar de independentes ainda restavam diversos problemas a serem sanados p 05 a produção de alimentos embora tivesse aumentado ao ritmo de 17 ao ano não acompanhou o crescimento demográfico que atingiu a taxa de 26 As produções comercializadas do então Daomé recuaram de 10 a 53 entre 1957 e 1963 Do Senegal ao Chade a zona da savana mergulhou na miséria Outra questão diz respeito ao papel da educação para a sociedade africana tratase de uma maneira de ascensão social em contraponto à atividade agrícola fazendo com que aumentasse a taxa de escolarização no cenário pós independência no entanto esse fato não significou um desenvolvimento econômico regular já que apesar de ter introduzido algumas inovações tais como o ensino das culturas civilização e história africanas é ainda um ensino nãoadaptado não descolonizado totalmente um ensino desligado dos problemas nacionais p 05 Assim na verdade formouse um exército de burocratas ligados às classes mais privilegiadas que representaram um gasto exacerbado com despesas de pessoal Para fins de comparação o autor trouxe a situação do Gabão que contava com cerca de 65 deputados ou seja 1 a cada 6000 habitantes e os gastos com a presidência ministérios e outros foram tão altos em relação à renda do país que ultrapassaram as despesas reais de Luís XVI à época Foise criada portanto uma burguesia de um tipo novo de função pública que Karl Marx não pôde prever p 06 As elites africanas tomaram a independência como uma forma de na verdade tomar o lugar dos colonizadores com vantagens e lucros anteriormente restritos apenas aos países estrangeiros com a economia ainda baseada nos sistemas coloniais e bastante dependente do exterior Nas palavras do autor p 06 A pilhagem da África que começou com o tráfico negreiro a escravidão e a colonização se prolonga hoje através da chamada troca desigual o preço muito abaixo das matériasprimas agrícolas e minerais em contraposição ao superfaturamento dos produtos e bens de consumo e de equipamentos produzidos pelos países desenvolvidos patentes transferência de tecnologia e outros truques invisíveis renovam e reforçam as formas de exploração Através da chamada cooperação euroafricana os países europeus importam a mãodeobra barata quando precisam pagandolhe salários baixos e desrespeitando as leis trabalhistas Assim as elites africanas passaram a viver de modo ocidentalizado com gastos bastante levados e o privilégio à cultura da importação Em relação ao modo de transferência de poder e criação das constituições foram baseadas no bicameralismo e presidencialismo adotando a democracia como algo natural mesmo não fazendo parte da história e cultura africanas Outra mudança se deu no contingente populacional que triplicou entre 1950 e 1980 sendo que nesta última década a maioria da população se concentrou nas cidades patamar superior ao continente asiático Isso fez com que problemas fossem agravados e novos surgissem como a insuficiência de transporte coletiva má conservação da infraestrutura urbana poluição e desabastecimento de alimentos Além disso ainda se mantém a exploração da mão de obra realizada pela imigração nãoforçada mas organizada e encorajada p 10 Os trabalhadores qualificados também são objeto de políticas de incentivo à migração especialmente de profissionais que não conseguem formar em quantidade suficiente no próprio país fazendo com que se iniciasse o movimento de fuga de cérebros dos países africanos Salienta o autor que os países industrializados realizam uma economia importante ao receber gratuitamente especialistas cuja longa formação nada lhes custou ou pouco lhes custou pelo curto tempo que passaram estudando p 10 e ainda segundo as estimativas os Estados Unidos principal aproveitador de cérebros estrangeiros teriam economizado cerca de quatro bilhões de dólares entre 1949 e 1967 em custo de formação p 10 O pesquisador também discorre sobre a propagação da AIDS que causou elevados índices de mortalidade com cerca de 13 da população atingida de modo fatal se devendo ao fato principalmente de afetar a população mais jovem Outra grave questão presente à época foram os problemas ligados ao alcoolismo intensificado em razão do tráfico de bebidas alcoólicas de alto teor Nesse sentido destacase que em 1954 o vinho e o álcool representam de 10 a 20 dos orçamentos urbanos da Costa do Marfim De 1960 para cá o consumo do álcool em todas as cidades africanas aumentou excessivamente p 11 Após 30 anos de independência o cenário africano ainda não havia trazido grandes benefícios à população trazendo uma perspectiva bastante negativa à uma consolidação econômica e política