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Psicologia ·
Psicologia Social
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IDEOLOGIA Pedrinho A Guareschi A ideologia nem era mencionada ao se falar em psicologia social pelos autores que pretenderam tomar conta da psicologia social transformandoa numa disciplina individualizante e experimental Farr 1996 mostra muito bem como a psicologia social americana com pretensões de se tomar hegemônica descartou totalmente a dimensão social e a dimensão crítica da psicologia social Essa dimensão mais relacional permaneceu tenuemente nos escritos de George Herbert Mead nos inícios do século E a dimensão crítica surgiu a partir da década de 1930 com os teóricos da Escola de Frankfurt cuja escola se chamou especificamente Crítica da Ideologia Ideologiekritik GEUSS 1988 FREITAG 1992 O conceito e a teoria da ideologia se fizeram mais presentes na psicologia social a partir da década de 1970 quando muitos autores principalmente da Europa e América Latina começaram a incorporar o tema em seus estudos e pesquisa Moscovici por exemplo chega a afirmar que o objeto central e exclusivo da Psicologia Social deve ser o estudo de tudo o que se refere à ideologia e à comunicação do ponto de vista de sua estrutura sua gênese e sua função 1972 p 55 Ideologia domando um conceito amplo e complexo Talvez não exista conceito mais complexo escorregadio e sujeito a equívocos no campo das ciências sociais do que o de ideologia Embora o nome como tal ideologia somente tenha aparecido há pouco mais de um século sua realidade já estava presente desde que se começou a pensar a vida social com diferentes nomes mas querendo designar a mesma realidade Assim por exemplo a ideologia já era discutida nas culturas gregas e romanas Mas foi sobretudo a partir do século XV e XVI que estudos mais pertinentes começaram a ser feitos sobre o assunto apesar de ainda não empregarem o nome Machiavelli in CRICK 1970 ao discutir as práticas dos príncipes principalmente o uso da força e da fraude para conseguir o poder referese a estratégias que não se diferenciam das usadas hoje pelos poderes dominantes para se legitimarem Mas é principalmente Bacon in PIEST 1960 quem desenvolve um estudo extremamente próximo ao que hoje se costuma entender por ideologia através de sua teoria sobre as quatro classes de ídolos que nos dificultam chegar mais próximos da verdade Esses ídolos são os da caverna nossas idiossincrasias caráter da tribo superstições paixões da praça as interrelações humanas principalmente através da linguagem e os ídolos do teatro a transmissão das tradições e doutrinas dogmáticas e autoritárias através do teatro que seriam hoje os meios de comunicação social A crescente importância da ideologia devese hoje certamente ao fato de nossa sociedade e nosso mundo tornaremse a cada dia mais imateriais sempre mais sustentados numa comunicação verbal e simbólica A primeira coisa a que precisamos prestar atenção ao querer penetrar nessa realidade da ideologia é que existem hoje inúmeros enfoques teóricos que dão ao conceito de ideologia diferentes significados e funções Não é tarefa fácil tratar esse assunto de maneira clara e inteligível Vamos nos arriscar por esse terreno acidentado minado mostrando quanto possível as semelhanças diferenças sobreposições e relações dos vários aspectos presentes em geral na realidade da ideologia Para melhor esclarecer e compreender os muitos significados de ideologia vamos tentar traçar duas linhas divisórias em forma de cruz formando quatro planos quatro quadrantes e discutir a partir daí as diversas acepções de ideologia Primeira linha horizontal ideologia como algo positivo ou algo negativo Vamos inicialmente traçar uma linha horizontal onde faremos uma primeira distinção central onde a ideologia vai ser localizada em dois grandes planos a dimensão positiva e a dimensão negativa Quadro 1 Dimensão positiva Dimensão negativa Ideologia no sentido positivo ou neutro é entendida como sendo uma cosmovisão isto é um conjunto de valores ideias ideais filosofias de uma pessoa ou grupo Nesse sentido todas as pessoas ou grupos sociais possuem sua ideologia pois é impossível alguém não ter suas ideias ideais ou valores próprios Já ideologia no sentido negativo ou crítico alguns falam até em sentido pejorativo seria constituída pelas ideias distorcidas enganadoras mistificadoras seriam as meiasmentiras algo que ajuda a obscurecer a realidade e a enganar as pessoas Ela se apresenta como algo abstrato ou impraticável como algo ilusório ou errôneo expressando interesses dominantes e como que sustentando relações de dominação Na faixa de cima numa concepção positiva ou neutra poderiam ser colocados autores como o próprio criador do termo Destutt De Tracy 1803 ideologia é o estudo das ideias que por sua vez são uma emanação do cérebro de Lenin 1969 e Lukács 1971 como as ideias de um grupo revolucionário e a formulação geral da concepção total de Mannheim 1954 que afirma que tudo o que nós pensamos é ideológico pois é impossível não se deixar contaminar pela situação social em que alguém nasce e vive em outras palavras Mannheim identifica aqui ideologia com conhecimento como todo conhecimento é condicionado assim toda ideologia é condicionada Mas nisso não há nada de errado Entre as concepções críticonegativas poderiam ser colocadas as três concepções de Marx cf THOMPSON 1995 ideias puras como autônomas e eficazes conforme defendiam os hegelianos sem ligação com a realidade 1989 as ideias da classe dominante 1989 e um sistema de representações que serve para sustentar relações de dominação 1968 Também estaria aqui a concepção restrita de ideologia de Mannheim 1954 isto é as ideias dominantes de um grupo sobre outro dominação de classe Segunda linha vertical ideologia como algo materializado corporificado ou como prática Na tentativa de compreensão das diversas acepções de ideologia podemos agora traçar uma segunda linha agora vertical onde distinguiremos outros dois grandes conjuntos de ideologias ideologias como sendo algo materializado onde a ideologia está corporificada na própria ideia na forma simbólica ou mesmo concretizada numa instituição como a escola ou a família e ideologia como modo e estratégia onde a ideologia é vista como uma prática uma maneira como as formas simbólicas servem para criar e manter as relações sociais entre pessoas Quadro 2 Dimensão Dimensão material dinâmica concreta prática Essa dimensão material concreta é exemplificada pela concepção descrita por Marx 1989 onde ideologia é definida como sendo as ideias da classe dominante Isto é as ideias da classe dominante pelo simples fato de serem da classe dominante já seriam ideologia A ideologia se concretiza nessas ideias Outro exemplo desse tipo de ideologia é a acepção empregada por Althusser 1972 onde ele define ideologia como sendo aparelhos ideológicos de estado Esses aparelhos são as instituições que são criadas no desenrolar da história e que são frutos de tensões que se dão nas relações entre os homens como por exemplo a escola a família as igrejas os meios de comunicação social as entidades assistenciais etc Para Althusser a ideologia está materializada nessas instituições elas constituem a ideologia Na sua dimensão dinâmica porém a ideologia é vista como uma determinada prática um modo de agir uma maneira de se criar produzir ou manter determinadas relações sociais A função da ideologia seria também a produção reprodução e transformação das experiências vitais na construção de subjetividades Therborn ao definir ideologia diz que a operação da ideologia na vida humana envolve fundamentalmente a constituição e a padronização de como os seres humanos vivem suas vidas como iniciadores conscientes e reflexivos de ações num universo de significados Nesse sentido ideologia constitui os seres humanos como sujeitos 1980 p 2 E logo após ele afirma que estudar o aspecto ideológico duma prática é deterse na maneira pela qual ela opera na formação e transformação da subjetividade humana Juntando as duas linhas Até aqui analisamos dois eixos onde sempre aparece uma dicotomia com dimensões opostas de ideologia Na junção dos dois eixos formamse quatro amplos campos que servem para visualizar identificar e relacionar quatro grandes concepções de ideologia Quadro 3 1 2 3 4 Cada um desses campos possui também seus teóricos Assim no quadrante 1 há autores que definem ideologia no sentido positivo e como algo material É o caso por exemplo de Mannheim 1954 para quem a ideologia é algo positivo e concreto como as cosmovisões das pessoas Já no quadrante 2 temos ideologia como algo positivo mas como uma prática é a visão de Therborn 1980 e muitos outros que veem a ideologia como uma maneira de se criar e manter as relações sociais sejam elas de que tipo forem No quadrante 3 ideologia passa a ser algo negativo mas algo concreto como por exemplo as ideias da classe dominante de Marx 1989 No caso de Althusser 1972 ideologia abrangeria tanto o 1 como o 3 pois uma escola por exemplo materializa a ideologia mas pode ser tanto positiva como negativa Finalmente no quadrante 4 teríamos ideologia como uma prática mas não uma prática qualquer deve ser uma prática que serve para criar ou manter relações assimétricas desiguais injustas É essa exatamente a definição de John B Thompson 1995 que no nosso modo de ver é o autor que melhor trata a problemática da ideologia Vamos nos deter especificamente nesse autor e nesse quadrante daqui para a frente Muitos talvez estejam se perguntando por que fazer todas essas distinções Pois há muitas razões para isso Em primeiro lugar é preciso deixar claro que o termo ideologia possui como acabamos de ver muitos sentidos diferentes Toda vez que formos empregar tal conceito devemos pois dizer qual o sentido que damos a esse termo Isso é fundamental para podermos estabelecer uma comunicação honesta e correta Ao mesmo tempo sempre que formos ler ou escutar alguém empregando esse termo devemos ver de imediato qual o sentido que esse autor ou locutor está dando à palavra Somente assim é possível progredir no diálogo e na investigação Em segundo lugar podemos a partir dessas distinções vermos qual é o melhor enfoque para podermos fazer uma boa pesquisa e podermos realizar um trabalho que seja prático e útil à ciência e à sociedade É nosso entendimento por exemplo que tomar ideologia no sentido negativo é bem mais interessante que simplesmente empregálo como sendo um conjunto de ideias Ideias cosmovisões todos nós temos e não há como ser diferente O importante porém é saber se essas ideias são falsas enganadoras se elas podem trazer prejuízos aos nossos colegas Finalmente é sempre mais honesto diríamos empregar ideologia como uma prática pois se a tomamos como materializada em alguma instituição ou ideia é arriscado cremos afirmar que ela é automaticamente negativa O que vai mostrar se uma ideia ou uma instituição possui uma dimensão negativa é a maneira como é empregada isto é sua função se ela serve ou não para criar ou reproduzir relações que chamaremos daqui para a frente de relações de dominação Nenhuma ideia mesmo que seja da classe dominante é por definição mistificadora ou falsa Precisamos ver caso a caso se ela está enganando ou não Se ela de fato ilude e esconde a realidade então dizse que é uma ideologia Do mesmo modo com as instituições Uma instituição por si mesma como a escola por exemplo não se constitui numa ideologia negativa Só é negativa quando se consegue mostrar que ela ajuda a criar ou reproduzir relações de dominação assimétricas desiguais Apesar disso contudo é importante deixar claro que não há critérios intrínsecos que forcem a adoção de uma ou outra dessas dimensões Cada pesquisador tratará de fazer sua opção por uma delas e nessa opção os critérios escolhidos serão os que conforme o autor em questão possam ajudar a investigar e compreender mais claramente os fenômenos concretos e os que possam ser úteis aos propósitos de cada investigador É o que pretendemos fazer a seguir Arriscamos sugerir um modo que julgamos prático e eficaz no tratamento dessa realidade complexa e provocante dentro de uma perspectiva históricocrítica Um modo prático de se tratar a ideologia Em anos bem recentes principalmente a partir dos estudos de Thompson 1995 uma nova aproximação ao estudo da ideologia começou a ser desenvolvido como vimos em parte no item anterior A grande diferença nesse estudo é que se começa a deixar de lado a preocupação com a verdade ou falsidade de um conceito p ex o entendimento da ideologia como as ideias da classe dominante ou a preocupação com a constituição específica de uma instituição que seja ideológica p ex os aparelhos ideológicos de estado de Althusser ou a preocupação com a concepção de uma ideologia reificada p ex ideologia como um ismo por exemplo socialismo comunismo Ideologia assume a dimensão de uma prática de um modo de operação de uma estratégia de ação A concepção e o emprego da ideologia dentro dessa perspectiva evita a difícil e ingente tarefa de se verificar em cada caso a validade ou falsidade dos conceitos já estabelecidos Essa concepção já pode ser visualizada em Marx não de maneira clara mas implícita quando ele emprega ideologia como sendo um sistema de representações que servem para sustentar relações existentes de dominação através da orientação das pessoas para o passado ou para imagens ou ideias que desviam da busca de mudança social Essa teria sido a legitimação do golpe de estado de Luís Napoleão Bonaparte MARX 1968 É uma concepção bem distinta da que é apresentada na Ideologia alemã 1989 onde a ideologia é tomada como sendo as ideias da classe dominante Essa nova concepção de ideologia afasta nossa atenção de ideias abstratas de doutrinas filosóficas e teóricas concentrando em vez disso nossa atenção nas maneiras como as formas simbólicas são usadas e transformadas em contextos sociais específicos É uma concepção que nos obriga a examinar as maneiras como as relações sociais são criadas e sustentadas por formas simbólicas que circulam na vida social aprisionando as pessoas e orientandoas para certas direções De acordo com esse enfoque estudar a ideologia é estudar as maneiras como o sentido serve para estabelecer e sustentar relações de dominação THOMPSON 1995 p 76 Assim um fenômeno ideológico só é ideológico se ele serve em circunstâncias específicas para estabelecer e sustentar relações de dominação Isso quer dizer que os fenômenos não são ideológicos em si mesmos não se pode retirar o caráter ideológico dos próprios fenômenos como tais mas somente quando os situamos em contextos sóciohistóricos onde eles passam a estabelecer e sustentar relações de dominação E a questão de se dizer se essas relações estabelecem ou sustentam relações de dominação só pode ser respondida quando se examina a interação entre sentido e poder em circunstâncias particulares Analisamos a seguir algumas implicações derivadas dessa concepção a Ideologia como uma concepção crítica Concepção crítica contrapõese aqui a concepção neutra Concepção neutra é a que caracteriza fenômenos como ideológicos sem implicar que esses fenômenos sejam necessariamente enganadores ilusórios ou ligados a interesses de algum grupo particular Ideologia seria um aspecto da vida social entre outros Pode servir para a revolução restauração reforma ou perpetuação de qualquer ordem social Exemplos de concepções neutras de ideologia seriam concepções que veem ideologia como puro e simples estudo das ideias a como um conhecimento que é socialmente condicionado ou mesmo a concepção de ideologia como uma plataforma de análise e de luta do proletariado Já a concepção crítica possui um sentido negativo ou até certo ponto pejorativo Implica que o fenômeno caraterizado como ideológico é enganador ilusório ou parcial e a própria caracterização do fenômeno como ideologia carrega consigo a própria condenação desses fenômenos b Sentido e formas simbólicas Vimos acima que dentro de uma perspectiva crítica estudar ideologia é a maneira pela qual o sentido se serve para sustentar relações de dominação O sentido de que se fala aqui é o sentido das formas simbólicas E por formas simbólicas se entende o amplo espectro de ações e falas imagens e textos que são produzidos por pessoas e reconhecidos por elas como contendo um significado Essas formas são principalmente as falas e expressões linguísticas faladas ou não mas podem ser também formas não linguísticas ou quase linguísticas como uma imagem visual ou um construto que combine imagens e palavras O caráter significativo das formas simbólicas pode ser analisado através de quatro dimensões específicas que são a dimensão intencional as formas simbólicas são expressões de um sujeito e para um sujeito a dimensão convencional a produção construção emprego e interpretação das formas simbólicas são processos que envolvem a aplicação de regras ou convenções de vários tipos a dimensão estrutural as formas simbólicas são construções que exibem uma estrutura articulada a dimensão referencial são construções que representam algo de modo específico referemse a algo dizem algo sobre alguma coisa finalmente a mais importante a dimensão contextual isto é as formas simbólicas estão sempre inseridas em processos e contextos sócio hitóricos determinados dentro dos quais e por meio dos quais elas são produzidas transmitidas e recebidas c O conceito de dominação É importante e estratégico distinguir aqui dois conceitos o conceito de poder e o conceito de dominação Essa distinção não é ainda muito comum nas ciências sociais Poder é definido aqui como sendo uma capacidade de produzir algo capacidade essa específica de cada prática GUARESCHI 1992 Todo tipo de prática envolve assim certa quantidade de poder Além disso toda pessoa situada dentro de um contexto socialmente estruturado tem em virtude de sua localização diferentes quantidades e diferentes graus de acesso a recursos disponíveis Isso significa que tal localização e as qualificações associadas a essas posições nas instituições e na sociedade fornecem a esses indivíduos diferentes graus de poder Já a dominação é uma relação e se dá quando determinada pessoa expropria poder capacidades de outro ou quando relações estabelecidas de poder são sistematicamente assimétricas fazendo com que determinados agentes ou grupos de agentes não possam participar de determinados benefícios sendo assim injustamente deles privados independentemente da base sobre a qual tal exclusão é levada a efeito d Modos e estratégias como o sentido pode servir para estabelecer e sustentar relações de dominação Esse é certamente o ponto mais prático e útil para quem quer se arriscar numa análise da ideologia Quais os modos e estratégias empregados na criação e manutenção das relações de dominação Ou como o sentido pode servir para estabelecer e sustentar tais relações Evidentemente as maneiras são muitíssimas Cada pesquisa vem contribuir para que se descubram novas e diferentes maneiras Melhor discutir isso através de alguns exemplos Suponhamos um político pronunciando um discurso em que afirma que a competição em âmbito mundial e o processo de globalização são condições indispensáveis que vêm favorecer o progresso e o desenvolvimento de todas as nações Que está afirmado ou suposto aqui Estamos diante de uma estratégia ideológica que poderíamos chamar de universalização Esses processos irão de fato favorecer e são indispensáveis a todos os países ou só a alguns Na verdade eles vêm favorecer apenas aos mais desenvolvidos pois como mostrou muito bem Nelson W Sodré 1995 globalização é simplesmente um novo nome para colonização O que os países colonizadores faziam com os colonizados é o que fazem hoje os países com mais tecnologia e recursos com respeito aos menos desenvolvidos Primeiro afirmam que a competição é o fator essencial a todo progresso e desenvolvimento Depois a transportam a nível mundial Nessa competição globalizada os mais fracos saem fica claro fortemente prejudicados É o mesmo que dizer que um atleta que ao iniciar uma corrida está muitos metros à frente e que possui muito mais recursos e preparo físico tem as mesmas chances de vencer que seu parceiro colocado atrás e com menos recursos Como não fica bem falar em colonização hoje falase em globalização Ou vejamos a atitude de uma mãe solícita ao descobrir que sua filha está namorando vários rapazes A reação imediata é Minha filha isso não é natural Isso nunca foi assim Mal sabe essa santa mãe que as tibetanas possuem muitos maridos E que os árabes possuem muitas mulheres Que estratégia é usada aqui A estratégia da naturalização ou da eternalização que consiste em tirar dos fenômenos seu caráter histórico relativo e transformálos em eternos imutáveis naturais Ou senão escutemos a fala daquela empregada que ao ser perguntada por que há pessoas ricas responde absolutamente convicta Rico é quem poupa Que se esconde por detrás dessa fala Uma enorme legitimação e justificação de uma situação desigual e muitas vezes injusta Na verdade grande número de pessoas ricas assim o são em geral por explorarem o trabalho dos outros Quando digo por isso que rico é quem poupa estou mistificando a realidade propiciando uma explicação distorcida do fenômeno legitimando a riqueza de uns por um lado e explicando por que alguns no caso a empregada são pobres por outro lado Eles explicam a si mesmos que são pobres porque não pouparam quando na grande maioria das vezes são pobres porque foram explorados E mais quando por acaso sobrarem alguns tostões eles irão correndo colocálos na poupança propiciando indiretamente mais lucros ainda aos que fazem uso dessa poupança para empregála em investimentos muito mais lucrativos Os exemplos poderiam assim ser multiplicados Thompson 1995 enumera cinco modos gerais de operação da ideologia legitimação dissimulação unificação fragmentação reificação junto com inúmeras estratégias típicas de construção simbólica associadas a cada modo geral Remetemos a seu texto para a descrição e exemplificação tanto dos modos como das estratégias Esses mecanismos não são as únicas maneiras de operação da ideologia Várias outras estratégias já foram identificadas em diversas pesquisas que poderiam se somar às descritas acima tais como a rotulação ou estigmatização onde se ligam determinados estereótipos a um sujeito ou instituição propiciando com isso que relações de dominação se criem ou se perpetuem a sacralização ou divinização através das quais caraterísticas sobrenaturais são referendadas a acontecimentos ou pessoas criandose com isso situações onde relações assimétricas de poder são instituídas com o prejuízo de diversas pessoas ou grupos e ainda outras possibilidades GUARESCHI 1996 Além do mais esses modos e estratégias podem se sobrepor e se reforçar ou se legitimar mutuamente e A valorização das formas simbólicas Há ainda um último ponto que merece ser assinalado que se mostrou extremamente útil na análise da ideologia Como vimos as formas simbólicas possuem diversas características Elas têm um caráter intencional convencional estrutural referencial e contextual O caráter contextual significa que elas estão sempre inseridas num contexto sociocultural específico São produzidas por sujeitos historicamente situados que possuem recursos e capacidades específicas Ao mesmo tempo elas são recebidas por sujeitos que estão inseridos em contextos sóciohistóricos particulares Esses fatos fazem com que as formas simbólicas carreguem consigo diferentes particularidades a partir desses sujeitos São essas especificidades que Bourdieu 1977 discute ao analisar os diferentes campos de interação E a esses recursos e capacidades Bourdieu chama de capital e um desses tipos é o capital simbólico Em tais circunstâncias as formas simbólicas podem ser valorizadas de diferentes maneiras Quando se conectam as posições que determinada pessoa ocupa dentro de certo campo de interação a diversos processos de valorização simbólica podemos identificar diferentes graus de poder que passam a ser atribuídos a diferentes atores Poder é entendido aqui como a capacidade de agir para conseguir diferentes objetivos poder de fazer algo ou de agir de determinada maneira Ao agir a pessoa emprega recursos disponíveis capital Ora o fato de uma pessoa ocupar determinada posição num campo de interação como nas instituições por exemplo possibilita capacita a essa pessoa a conseguir determinados fins realizar seus objetivos tomar tais decisões E pelo fato de possuir graus diferentes de poder relacionase diferentemente com os outros Surgem assim dessas interações diferentes relações que ao se constituírem como sistematicamente assimétricas desiguais transformamse em relações de dominação Retornamos então ao campo da ideologia entendida como maneira de criar e manter relações de dominação A dominação dentro de tais situações é uma dominação mais estável que não depende de circunstâncias que podem ser facilmente mudadas e transformadas mas que por se situarem em instituições e até mesmo na estrutura social possuem caraterísticas mais estáveis e cristalizadas Surgem daqui outros tipos de estratégias típicas de valorização simbólica que podem servir dependendo das circunstâncias para criar ou manter relações de dominação isto é prestamse a ser recurso ideológico dentro da definição por ele defendida Exemplificando podese dizer que uma pessoa ao ocupar uma posição dominante dentro de um campo de interação pode apelar a estratégias de valorização simbólica como a de distinção o uso de vestimentas que materializam situações de prestígio como o uso de gravata etc de menosprezo de condescendência e assim por diante Tais estratégias permitem às pessoas que estão em posição dominante reafirmar sua dominação sem necessitar de demonstrações mais claras e específicas Já quem está numa posição intermediária pode empregar estratégias de moderação valorização dos bens à sua disposição pretensão fingindo ser o que de fato não é e buscando assemelharse aos de cima ou desvalorização depreciando as produções dos dominantes E quem ocupa uma posição subordinada pode empregar estratégias de praticidade em vez de buscar requintes dá valor a coisas práticas e baratas de resignação respeitosa aceita sua posição como inevitável ou de rejeição não aceita e ridiculariza o que é produzido pelos dominantes rotulando muitas vezes tais produções como intelectuais ou efeminadas Conclusão Tentamos mostrar de um lado como o conceito de ideologia é complexo e multifacetado tomado em acepções bem diversas de outro lado argumentamos que quando tomado no sentido negativo e crítico e como uma prática isto é como o uso de formas simbólicas para criar ou manter relações de dominação ele se presta para fazer com que os estudos e pesquisas se tornem mais úteis e frutíferos é realmente o que torna os estudos e pesquisas frutíferos Mais que identificar cosmovisões gerais de pessoas ou grupos o que na verdade cremos ser importante e necessário é revelar como as pessoas sofrem e são prejudicadas na sua vida cotidiana devido a relações que são estabelecidas de maneira desigual e injusta Com isso nosso trabalho poderá contribuir de maneira iluminadora e emancipatória na construção de uma sociedade economicamente justa politicamente democrática culturalmente plural eticamente solidária Leituras complementares Em estudo abrangente bastante completo e crítico do conceito e da teoria da ideologia pode ser encontrado no livro de John B Thompson Ideologia e cultura moderna Petrópolis Vozes 1995 Além do histórico do conceito ele mostra os diversos sentidos em que ideologia foi tomada e sugere maneiras de se poder analisála Um outro livro do mesmo autor Studies in the Theory of Ideology Londres Polity Press 1984 traz também excelente material para compreender e criticar a ideologia O livro de Marilena Chauí O que é Ideologia São Paulo Brasiliense 1983 é também um ótimo tratado introdutório e mais simples para quem quiser se familiarizar com o que seja ideologia Bibliografia ALTHUSSER L Ideologia e aparelhos ideológicos de estado Lisboa Presença 1972 BOURDIEU P Outline of a theory of practice Cambridge Cambridge University Press 1977 CRICK B ed Machiavelli Discourses Nova Iorque Penguin 1970 DE TRACY D Éléments dIdéologie Vol 1 Paris Librairie Philosophique J Vrin 1803 reimpresso em 1970 FARR R The roots of modern social psychology 18721954 Oxford Blackwell 1996 FREITAG B A teoria crítica ontem e hoje São Paulo Brasiliense 1992 GEUSS R Teoria crítica Habermas e a Escola de Frankfurt São Paulo Papirus 1988 GUARESCHI P A ideologia um terreno minado Psicologia Social Sociedade 82 p 8294 juldez 1996 Sociologia da prática social Petrópolis Vozes 1992 LENIN Vladimir I The state and revolution In Selected works Londres Lawrence and Wishart 1969 LUKÁCS G History and class consciousness studies in marxist dialectics Londres Merlin Press 1971 MANNHEIM Karl Ideology and utopia Londres Routledge Kegan Paul 1954 The Eighteenth Brumaire of Louis Bonaparte In Selected Works Londres Lawrence Wishart 1968 MARX Karl Capital Nova Iorque Vintage Books 1977 MARX Karl ENGELS F A ideologia alemã São Paulo Martins Fontes 1989 MOSCOVICI S Society and theory in social psychology In ISRAEL J TAJFEL H The context of social psychology Londres Academic Press 1972 PIEST O ed The new organon and related wtitings Nova Iorque The Liberal Arts Press 1960 SODRÉ NW A farsa do neoliberalismo Rio de Janeiro Graphia 1995 THERBORN Goran The ideology of power and the power of ideology Londres Verso 1980 THOMPSON John B Ideologia e cultura moderna teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa Petrópolis Vozes 1995
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sociais possuem sua ideologia pois é impossível alguém não ter suas ideias ideais ou valores próprios Já ideologia no sentido negativo ou crítico alguns falam até em sentido pejorativo seria constituída pelas ideias distorcidas enganadoras mistificadoras seriam as meiasmentiras algo que ajuda a obscurecer a realidade e a enganar as pessoas Ela se apresenta como algo abstrato ou impraticável como algo ilusório ou errôneo expressando interesses dominantes e como que sustentando relações de dominação Na faixa de cima numa concepção positiva ou neutra poderiam ser colocados autores como o próprio criador do termo Destutt De Tracy 1803 ideologia é o estudo das ideias que por sua vez são uma emanação do cérebro de Lenin 1969 e Lukács 1971 como as ideias de um grupo revolucionário e a formulação geral da concepção total de Mannheim 1954 que afirma que tudo o que nós pensamos é ideológico pois é impossível não se deixar contaminar pela situação social em que alguém nasce e vive em outras palavras Mannheim identifica aqui ideologia com conhecimento como todo conhecimento é condicionado assim toda ideologia é condicionada Mas nisso não há nada de errado Entre as concepções críticonegativas poderiam ser colocadas as três concepções de Marx cf THOMPSON 1995 ideias puras como autônomas e eficazes conforme defendiam os hegelianos sem ligação com a realidade 1989 as ideias da classe dominante 1989 e um sistema de representações que serve para sustentar relações de dominação 1968 Também estaria aqui a concepção restrita de ideologia de Mannheim 1954 isto é as ideias dominantes de um grupo sobre outro dominação de classe Segunda linha vertical ideologia como algo materializado corporificado ou como prática Na tentativa de compreensão das diversas acepções de ideologia podemos agora traçar uma segunda linha agora vertical onde distinguiremos outros dois grandes conjuntos de ideologias ideologias como sendo algo materializado onde a ideologia está corporificada na própria ideia na forma simbólica ou mesmo concretizada numa instituição como a escola ou a família e ideologia como modo e estratégia onde a ideologia é vista como uma prática uma maneira como as formas simbólicas servem para criar e manter as relações sociais entre pessoas Quadro 2 Dimensão Dimensão material dinâmica concreta prática Essa dimensão material concreta é exemplificada pela concepção descrita por Marx 1989 onde ideologia é definida como sendo as ideias da classe dominante Isto é as ideias da classe dominante pelo simples fato de serem da classe dominante já seriam ideologia A ideologia se concretiza nessas ideias Outro exemplo desse tipo de ideologia é a acepção empregada por Althusser 1972 onde ele define ideologia como sendo aparelhos ideológicos de estado Esses aparelhos são as instituições que são criadas no desenrolar da história e que são frutos de tensões que se dão nas relações entre os homens como por exemplo a escola a família as igrejas os meios de comunicação social as entidades assistenciais etc Para Althusser a ideologia está materializada nessas instituições elas constituem a ideologia Na sua dimensão dinâmica porém a ideologia é vista como uma determinada prática um modo de agir uma maneira de se criar produzir ou manter determinadas relações sociais A função da ideologia seria também a produção reprodução e transformação das experiências vitais na construção de subjetividades Therborn ao definir ideologia diz que a operação da ideologia na vida humana envolve fundamentalmente a constituição e a padronização de como os seres humanos vivem suas vidas como iniciadores conscientes e reflexivos de ações num universo de significados Nesse sentido ideologia constitui os seres humanos como sujeitos 1980 p 2 E logo após ele afirma que estudar o aspecto ideológico duma prática é deterse na maneira pela qual ela opera na formação e transformação da subjetividade humana Juntando as duas linhas Até aqui analisamos dois eixos onde sempre aparece uma dicotomia com dimensões opostas de ideologia Na junção dos dois eixos formamse quatro amplos campos que servem para visualizar identificar e relacionar quatro grandes concepções de ideologia Quadro 3 1 2 3 4 Cada um desses campos possui também seus teóricos Assim no quadrante 1 há autores que definem ideologia no sentido positivo e como algo material É o caso por exemplo de Mannheim 1954 para quem a ideologia é algo positivo e concreto como as cosmovisões das pessoas Já no quadrante 2 temos ideologia como algo positivo mas como uma prática é a visão de Therborn 1980 e muitos outros que veem a ideologia como uma maneira de se criar e manter as relações sociais sejam elas de que tipo forem No quadrante 3 ideologia passa a ser algo negativo mas algo concreto como por exemplo as ideias da classe dominante de Marx 1989 No caso de Althusser 1972 ideologia abrangeria tanto o 1 como o 3 pois uma escola por exemplo materializa a ideologia mas pode ser tanto positiva como negativa Finalmente no quadrante 4 teríamos ideologia como uma prática mas não uma prática qualquer deve ser uma prática que serve para criar ou manter relações assimétricas desiguais injustas É essa exatamente a definição de John B Thompson 1995 que no nosso modo de ver é o autor que melhor trata a problemática da ideologia Vamos nos deter especificamente nesse autor e nesse quadrante daqui para a frente Muitos talvez estejam se perguntando por que fazer todas essas distinções Pois há muitas razões para isso Em primeiro lugar é preciso deixar claro que o termo ideologia possui como acabamos de ver muitos sentidos diferentes Toda vez que formos empregar tal conceito devemos pois dizer qual o sentido que damos a esse termo Isso é fundamental para podermos estabelecer uma comunicação honesta e correta Ao mesmo tempo sempre que formos ler ou escutar alguém empregando esse termo devemos ver de imediato qual o sentido que esse autor ou locutor está dando à palavra Somente assim é possível progredir no diálogo e na investigação Em segundo lugar podemos a partir dessas distinções vermos qual é o melhor enfoque para podermos fazer uma boa pesquisa e podermos realizar um trabalho que seja prático e útil à ciência e à sociedade É nosso entendimento por exemplo que tomar ideologia no sentido negativo é bem mais interessante que simplesmente empregálo como sendo um conjunto de ideias Ideias cosmovisões todos nós temos e não há como ser diferente O importante porém é saber se essas ideias são falsas enganadoras se elas podem trazer prejuízos aos nossos colegas Finalmente é sempre mais honesto diríamos empregar ideologia como uma prática pois se a tomamos como materializada em alguma instituição ou ideia é arriscado cremos afirmar que ela é automaticamente negativa O que vai mostrar se uma ideia ou uma instituição possui uma dimensão negativa é a maneira como é empregada isto é sua função se ela serve ou não para criar ou reproduzir relações que chamaremos daqui para a frente de relações de dominação Nenhuma ideia mesmo que seja da classe dominante é por definição mistificadora ou falsa Precisamos ver caso a caso se ela está enganando ou não Se ela de fato ilude e esconde a realidade então dizse que é uma ideologia Do mesmo modo com as instituições Uma instituição por si mesma como a escola por exemplo não se constitui numa ideologia negativa Só é negativa quando se consegue mostrar que ela ajuda a criar ou reproduzir relações de dominação assimétricas desiguais Apesar disso contudo é importante deixar claro que não há critérios intrínsecos que forcem a adoção de uma ou outra dessas dimensões Cada pesquisador tratará de fazer sua opção por uma delas e nessa opção os critérios escolhidos serão os que conforme o autor em questão possam ajudar a investigar e compreender mais claramente os fenômenos concretos e os que possam ser úteis aos propósitos de cada investigador É o que pretendemos fazer a seguir Arriscamos sugerir um modo que julgamos prático e eficaz no tratamento dessa realidade complexa e provocante dentro de uma perspectiva históricocrítica Um modo prático de se tratar a ideologia Em anos bem recentes principalmente a partir dos estudos de Thompson 1995 uma nova aproximação ao estudo da ideologia começou a ser desenvolvido como vimos em parte no item anterior A grande diferença nesse estudo é que se começa a deixar de lado a preocupação com a verdade ou falsidade de um conceito p ex o entendimento da ideologia como as ideias da classe dominante ou a preocupação com a constituição específica de uma instituição que seja ideológica p ex os aparelhos ideológicos de estado de Althusser ou a preocupação com a concepção de uma ideologia reificada p ex ideologia como um ismo por exemplo socialismo comunismo Ideologia assume a dimensão de uma prática de um modo de operação de uma estratégia de ação A concepção e o emprego da ideologia dentro dessa perspectiva evita a difícil e ingente tarefa de se verificar em cada caso a validade ou falsidade dos conceitos já estabelecidos Essa concepção já pode ser visualizada em Marx não de maneira clara mas implícita quando ele emprega ideologia como sendo um sistema de representações que servem para sustentar relações existentes de dominação através da orientação das pessoas para o passado ou para imagens ou ideias que desviam da busca de mudança social Essa teria sido a legitimação do golpe de estado de Luís Napoleão Bonaparte MARX 1968 É uma concepção bem distinta da que é apresentada na Ideologia alemã 1989 onde a ideologia é tomada como sendo as ideias da classe dominante Essa nova concepção de ideologia afasta nossa atenção de ideias abstratas de doutrinas filosóficas e teóricas concentrando em vez disso nossa atenção nas maneiras como as formas simbólicas são usadas e transformadas em contextos sociais específicos É uma concepção que nos obriga a examinar as maneiras como as relações sociais são criadas e sustentadas por formas simbólicas que circulam na vida social aprisionando as pessoas e orientandoas para certas direções De acordo com esse enfoque estudar a ideologia é estudar as maneiras como o sentido serve para estabelecer e sustentar relações de dominação THOMPSON 1995 p 76 Assim um fenômeno ideológico só é ideológico se ele serve em circunstâncias específicas para estabelecer e sustentar relações de dominação Isso quer dizer que os fenômenos não são ideológicos em si mesmos não se pode retirar o caráter ideológico dos próprios fenômenos como tais mas somente quando os situamos em contextos sóciohistóricos onde eles passam a estabelecer e sustentar relações de dominação E a questão de se dizer se essas relações estabelecem ou sustentam relações de dominação só pode ser respondida quando se examina a interação entre sentido e poder em circunstâncias particulares Analisamos a seguir algumas implicações derivadas dessa concepção a Ideologia como uma concepção crítica Concepção crítica contrapõese aqui a concepção neutra Concepção neutra é a que caracteriza fenômenos como ideológicos sem implicar que esses fenômenos sejam necessariamente enganadores ilusórios ou ligados a interesses de algum grupo particular Ideologia seria um aspecto da vida social entre outros Pode servir para a revolução restauração reforma ou perpetuação de qualquer ordem social Exemplos de concepções neutras de ideologia seriam concepções que veem ideologia como puro e simples estudo das ideias a como um conhecimento que é socialmente condicionado ou mesmo a concepção de ideologia como uma plataforma de análise e de luta do proletariado Já a concepção crítica possui um sentido negativo ou até certo ponto pejorativo Implica que o fenômeno caraterizado como ideológico é enganador ilusório ou parcial e a própria caracterização do fenômeno como ideologia carrega consigo a própria condenação desses fenômenos b Sentido e formas simbólicas Vimos acima que dentro de uma perspectiva crítica estudar ideologia é a maneira pela qual o sentido se serve para sustentar relações de dominação O sentido de que se fala aqui é o sentido das formas simbólicas E por formas simbólicas se entende o amplo espectro de ações e falas imagens e textos que são produzidos por pessoas e reconhecidos por elas como contendo um significado Essas formas são principalmente as falas e expressões linguísticas faladas ou não mas podem ser também formas não linguísticas ou quase linguísticas como uma imagem visual ou um construto que combine imagens e palavras O caráter significativo das formas simbólicas pode ser analisado através de quatro dimensões específicas que são a dimensão intencional as formas simbólicas são expressões de um sujeito e para um sujeito a dimensão convencional a produção construção emprego e interpretação das formas simbólicas são processos que envolvem a aplicação de regras ou convenções de vários tipos a dimensão estrutural as formas simbólicas são construções que exibem uma estrutura articulada a dimensão referencial são construções que representam algo de modo específico referemse a algo dizem algo sobre alguma coisa finalmente a mais importante a dimensão contextual isto é as formas simbólicas estão sempre inseridas em processos e contextos sócio hitóricos determinados dentro dos quais e por meio dos quais elas são produzidas transmitidas e recebidas c O conceito de dominação É importante e estratégico distinguir aqui dois conceitos o conceito de poder e o conceito de dominação Essa distinção não é ainda muito comum nas ciências sociais Poder é definido aqui como sendo uma capacidade de produzir algo capacidade essa específica de cada prática GUARESCHI 1992 Todo tipo de prática envolve assim certa quantidade de poder Além disso toda pessoa situada dentro de um contexto socialmente estruturado tem em virtude de sua localização diferentes quantidades e diferentes graus de acesso a recursos disponíveis Isso significa que tal localização e as qualificações associadas a essas posições nas instituições e na sociedade fornecem a esses indivíduos diferentes graus de poder Já a dominação é uma relação e se dá quando determinada pessoa expropria poder capacidades de outro ou quando relações estabelecidas de poder são sistematicamente assimétricas fazendo com que determinados agentes ou grupos de agentes não possam participar de determinados benefícios sendo assim injustamente deles privados independentemente da base sobre a qual tal exclusão é levada a efeito d Modos e estratégias como o sentido pode servir para estabelecer e sustentar relações de dominação Esse é certamente o ponto mais prático e útil para quem quer se arriscar numa análise da ideologia Quais os modos e estratégias empregados na criação e manutenção das relações de dominação Ou como o sentido pode servir para estabelecer e sustentar tais relações Evidentemente as maneiras são muitíssimas Cada pesquisa vem contribuir para que se descubram novas e diferentes maneiras Melhor discutir isso através de alguns exemplos Suponhamos um político pronunciando um discurso em que afirma que a competição em âmbito mundial e o processo de globalização são condições indispensáveis que vêm favorecer o progresso e o desenvolvimento de todas as nações Que está afirmado ou suposto aqui Estamos diante de uma estratégia ideológica que poderíamos chamar de universalização Esses processos irão de fato favorecer e são indispensáveis a todos os países ou só a alguns Na verdade eles vêm favorecer apenas aos mais desenvolvidos pois como mostrou muito bem Nelson W Sodré 1995 globalização é simplesmente um novo nome para colonização O que os países colonizadores faziam com os colonizados é o que fazem hoje os países com mais tecnologia e recursos com respeito aos menos desenvolvidos Primeiro afirmam que a competição é o fator essencial a todo progresso e desenvolvimento Depois a transportam a nível mundial Nessa competição globalizada os mais fracos saem fica claro fortemente prejudicados É o mesmo que dizer que um atleta que ao iniciar uma corrida está muitos metros à frente e que possui muito mais recursos e preparo físico tem as mesmas chances de vencer que seu parceiro colocado atrás e com menos recursos Como não fica bem falar em colonização hoje falase em globalização Ou vejamos a atitude de uma mãe solícita ao descobrir que sua filha está namorando vários rapazes A reação imediata é Minha filha isso não é natural Isso nunca foi assim Mal sabe essa santa mãe que as tibetanas possuem muitos maridos E que os árabes possuem muitas mulheres Que estratégia é usada aqui A estratégia da naturalização ou da eternalização que consiste em tirar dos fenômenos seu caráter histórico relativo e transformálos em eternos imutáveis naturais Ou senão escutemos a fala daquela empregada que ao ser perguntada por que há pessoas ricas responde absolutamente convicta Rico é quem poupa Que se esconde por detrás dessa fala Uma enorme legitimação e justificação de uma situação desigual e muitas vezes injusta Na verdade grande número de pessoas ricas assim o são em geral por explorarem o trabalho dos outros Quando digo por isso que rico é quem poupa estou mistificando a realidade propiciando uma explicação distorcida do fenômeno legitimando a riqueza de uns por um lado e explicando por que alguns no caso a empregada são pobres por outro lado Eles explicam a si mesmos que são pobres porque não pouparam quando na grande maioria das vezes são pobres porque foram explorados E mais quando por acaso sobrarem alguns tostões eles irão correndo colocálos na poupança propiciando indiretamente mais lucros ainda aos que fazem uso dessa poupança para empregála em investimentos muito mais lucrativos Os exemplos poderiam assim ser multiplicados Thompson 1995 enumera cinco modos gerais de operação da ideologia legitimação dissimulação unificação fragmentação reificação junto com inúmeras estratégias típicas de construção simbólica associadas a cada modo geral Remetemos a seu texto para a descrição e exemplificação tanto dos modos como das estratégias Esses mecanismos não são as únicas maneiras de operação da ideologia Várias outras estratégias já foram identificadas em diversas pesquisas que poderiam se somar às descritas acima tais como a rotulação ou estigmatização onde se ligam determinados estereótipos a um sujeito ou instituição propiciando com isso que relações de dominação se criem ou se perpetuem a sacralização ou divinização através das quais caraterísticas sobrenaturais são referendadas a acontecimentos ou pessoas criandose com isso situações onde relações assimétricas de poder são instituídas com o prejuízo de diversas pessoas ou grupos e ainda outras possibilidades GUARESCHI 1996 Além do mais esses modos e estratégias podem se sobrepor e se reforçar ou se legitimar mutuamente e A valorização das formas simbólicas Há ainda um último ponto que merece ser assinalado que se mostrou extremamente útil na análise da ideologia Como vimos as formas simbólicas possuem diversas características Elas têm um caráter intencional convencional estrutural referencial e contextual O caráter contextual significa que elas estão sempre inseridas num contexto sociocultural específico São produzidas por sujeitos historicamente situados que possuem recursos e capacidades específicas Ao mesmo tempo elas são recebidas por sujeitos que estão inseridos em contextos sóciohistóricos particulares Esses fatos fazem com que as formas simbólicas carreguem consigo diferentes particularidades a partir desses sujeitos São essas especificidades que Bourdieu 1977 discute ao analisar os diferentes campos de interação E a esses recursos e capacidades Bourdieu chama de capital e um desses tipos é o capital simbólico Em tais circunstâncias as formas simbólicas podem ser valorizadas de diferentes maneiras Quando se conectam as posições que determinada pessoa ocupa dentro de certo campo de interação a diversos processos de valorização simbólica podemos identificar diferentes graus de poder que passam a ser atribuídos a diferentes atores Poder é entendido aqui como a capacidade de agir para conseguir diferentes objetivos poder de fazer algo ou de agir de determinada maneira Ao agir a pessoa emprega recursos disponíveis capital Ora o fato de uma pessoa ocupar determinada posição num campo de interação como nas instituições por exemplo possibilita capacita a essa pessoa a conseguir determinados fins realizar seus objetivos tomar tais decisões E pelo fato de possuir graus diferentes de poder relacionase diferentemente com os outros Surgem assim dessas interações diferentes relações que ao se constituírem como sistematicamente assimétricas desiguais transformamse em relações de dominação Retornamos então ao campo da ideologia entendida como maneira de criar e manter relações de dominação A dominação dentro de tais situações é uma dominação mais estável que não depende de circunstâncias que podem ser facilmente mudadas e transformadas mas que por se situarem em instituições e até mesmo na estrutura social possuem caraterísticas mais estáveis e cristalizadas Surgem daqui outros tipos de estratégias típicas de valorização simbólica que podem servir dependendo das circunstâncias para criar ou manter relações de dominação isto é prestamse a ser recurso ideológico dentro da definição por ele defendida Exemplificando podese dizer que uma pessoa ao ocupar uma posição dominante dentro de um campo de interação pode apelar a estratégias de valorização simbólica como a de distinção o uso de vestimentas que materializam situações de prestígio como o uso de gravata etc de menosprezo de condescendência e assim por diante Tais estratégias permitem às pessoas que estão em posição dominante reafirmar sua dominação sem necessitar de demonstrações mais claras e específicas Já quem está numa posição intermediária pode empregar estratégias de moderação valorização dos bens à sua disposição pretensão fingindo ser o que de fato não é e buscando assemelharse aos de cima ou desvalorização depreciando as produções dos dominantes E quem ocupa uma posição subordinada pode empregar estratégias de praticidade em vez de buscar requintes dá valor a coisas práticas e baratas de resignação respeitosa aceita sua posição como inevitável ou de rejeição não aceita e ridiculariza o que é produzido pelos dominantes rotulando muitas vezes tais produções como intelectuais ou efeminadas Conclusão Tentamos mostrar de um lado como o conceito de ideologia é complexo e multifacetado tomado em acepções bem diversas de outro lado argumentamos que quando tomado no sentido negativo e crítico e como uma prática isto é como o uso de formas simbólicas para criar ou manter relações de dominação ele se presta para fazer com que os estudos e pesquisas se tornem mais úteis e frutíferos é realmente o que torna os estudos e pesquisas frutíferos Mais que identificar cosmovisões gerais de pessoas ou grupos o que na verdade cremos ser importante e necessário é revelar como as pessoas sofrem e são prejudicadas na sua vida cotidiana devido a relações que são estabelecidas de maneira desigual e injusta Com isso nosso trabalho poderá contribuir de maneira iluminadora e emancipatória na construção de uma sociedade economicamente justa politicamente democrática culturalmente plural eticamente solidária Leituras complementares Em estudo abrangente bastante completo e crítico do conceito e da teoria da ideologia pode ser encontrado no livro de John B Thompson Ideologia e cultura moderna Petrópolis Vozes 1995 Além do histórico do conceito ele mostra os diversos sentidos em que ideologia foi tomada e sugere maneiras de se poder analisála Um outro livro do mesmo autor Studies in the Theory of Ideology Londres Polity Press 1984 traz também excelente material para compreender e criticar a ideologia O livro de Marilena Chauí O que é Ideologia São Paulo Brasiliense 1983 é também um ótimo tratado introdutório e mais simples para quem quiser se familiarizar com o que seja ideologia Bibliografia ALTHUSSER L Ideologia e aparelhos ideológicos de estado Lisboa Presença 1972 BOURDIEU P Outline of a theory of practice Cambridge Cambridge University Press 1977 CRICK B ed Machiavelli Discourses Nova Iorque Penguin 1970 DE TRACY D Éléments dIdéologie Vol 1 Paris Librairie Philosophique J Vrin 1803 reimpresso em 1970 FARR R The roots of modern social psychology 18721954 Oxford Blackwell 1996 FREITAG B A teoria crítica ontem e hoje São Paulo Brasiliense 1992 GEUSS R Teoria crítica Habermas e a Escola de Frankfurt São Paulo Papirus 1988 GUARESCHI P A ideologia um terreno minado Psicologia Social Sociedade 82 p 8294 juldez 1996 Sociologia da prática social Petrópolis Vozes 1992 LENIN Vladimir I The state and revolution In Selected works Londres Lawrence and Wishart 1969 LUKÁCS G History and class consciousness studies in marxist dialectics Londres Merlin Press 1971 MANNHEIM Karl Ideology and utopia Londres Routledge Kegan Paul 1954 The Eighteenth Brumaire of Louis Bonaparte In Selected Works Londres Lawrence Wishart 1968 MARX Karl Capital Nova Iorque Vintage Books 1977 MARX Karl ENGELS F A ideologia alemã São Paulo Martins Fontes 1989 MOSCOVICI S Society and theory in social psychology In ISRAEL J TAJFEL H The context of social psychology Londres Academic Press 1972 PIEST O ed The new organon and related wtitings Nova Iorque The Liberal Arts Press 1960 SODRÉ NW A farsa do neoliberalismo Rio de Janeiro Graphia 1995 THERBORN Goran The ideology of power and the power of ideology Londres Verso 1980 THOMPSON John B Ideologia e cultura moderna teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa Petrópolis Vozes 1995