·

Psicologia ·

Psicologia Social

Send your question to AI and receive an answer instantly

Ask Question

Preview text

SÍNTESE 1 O artigo Construcionismo práticas discursivas e possibilidades de pesquisa em psicologia social de autoria de Méllo Ferreira e Santos é uma obra que discute a abordagem construcionista na psicologia social destacando a importância das práticas discursivas na construção da realidade social A partir de uma revisão bibliográfica os autores apresentam as bases teóricas do construcionismo e sua relação com a psicologia social enfatizando a importância da análise do discurso e das narrativas na compreensão dos processos sociais Méllo é doutora em psicologia social pela Universidade de São Paulo e professora da Universidade Federal de São Carlos Ferreira é doutor em psicologia social pela Universidade de São Paulo e professor da Universidade Federal de Santa Catarina Santos é doutor em psicologia social pela Universidade de São Paulo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul O texto apresenta outras informações relevantes para a compreensão do tema como a discussão sobre as diferentes abordagens teóricas na psicologia social e a crítica ao determinismo biológico e psicológico Além disso os autores destacam a importância da reflexividade na pesquisa construcionista ou seja a necessidade de os pesquisadores se colocarem em questão e questionarem as próprias práticas discursivas Os autores também destacam a importância de se considerar o contexto histórico e cultural na análise das práticas discursivas Segundo eles a análise de discurso não pode se restringir a um exame das estruturas linguísticas ou gramaticais mas deve levar em conta as condições sociais e históricas que moldam as práticas discursivas p 76 O artigo discute a abordagem construcionista na psicologia social enfatizando a importância das práticas discursivas na construção da realidade social Os autores apresentam as bases teóricas do construcionismo destacam a importância da análise do discurso e das narrativas na compreensão dos processos sociais e discutem a necessidade de reflexividade na pesquisa construcionista SÍNTESE 2 O texto Ideologia de Pedrinho A Guareschi discute o conceito de ideologia e suas diferentes interpretações Ele destaca que a ideologia pode ser vista como algo positivo ou negativo material ou como prática dependendo do autor e do contexto em que é utilizado O autor explora as diferentes estratégias ideológicas como a universalização a naturalização e a legitimação que podem ser usadas para criar e manter relações de dominação O texto também destaca a importância de se compreender o conceito de ideologia para uma comunicação mais honesta e coerente Pedrinho A Guareschi é professor de psicologia social e autor de diversos livros sobre o tema O texto é uma reflexão sobre o conceito de ideologia e suas diferentes interpretações O autor destaca que a ideologia pode ser vista de forma positiva ou negativa material ou como prática dependendo do autor e do contexto em que é utilizado Segundo ele o conceito é complexo e multifacetado e cada pesquisa contribui para descobrir novas e diferentes maneiras de entender a ideologia Guareschi explora as diferentes estratégias ideológicas como a universalização a naturalização e a legitimação que podem ser usadas para criar e manter relações de dominação Ele destaca que essas estratégias dependem do contexto e da posição dos atores envolvidos Além disso o autor ressalta a importância de compreender o conceito de ideologia para uma comunicação mais honesta e coerente Cada vez que o conceito é empregado é preciso dizer qual o sentido que se está dando a ele Ele destaca que o conceito pode ser entendido como algo positivo e concreto como as cosmovisões das pessoas ou como algo negativo e enganador como as ideias da classe dominante De acordo com o autor estudar a ideologia é estudar as maneiras como o sentido serve para estabelecer e sustentar relações de dominação Em suas palavras estudar a ideologia é estudar as maneiras como o sentido serve para estabelecer e sustentar relações de dominação p7 Assim é importante compreender as diferentes estratégias ideológicas para desvelar as relações de poder subjacentes SÍNTESE 3 O texto aborda a relação entre consciência alienação e ideologia no nível individual O indivíduo é descrito como um sujeito histórico e social tanto passivo quanto ativo cujas ações são moldadas por suas relações sociais e contextos A consciência e a alienação são discutidas em relação à ideologia presente nas atividades superestruturais da sociedade que se reproduz no nível individual A linguagem é considerada um componente fundamental transmitindo valores e representações sociais que influenciam o pensamento do indivíduo A autora Sílvia Tatiana Maurer Lane foi uma psicóloga social brasileira que desempenhou um papel significativo no desenvolvimento da Psicologia Social no Brasil Ela nasceu em 1933 e faleceu em 1994 Ela destaca que as representações individuais não necessariamente reproduzem ideologia mas podem ser influenciadas por ela especialmente quando envolvem aspectos valorativos e de certoerrado A análise ideológica é vista como essencial para compreender a interação entre comportamento social e consciência individual O texto também explora a relação entre ação e pensamento demonstrando como a reflexão sobre as contradições entre ação e inação pode levar à conscientização A alienação é definida como a atribuição de naturalidade a fenômenos sociais resultando na reificação da consciência A distinção entre consciência de classe e consciência sócio individual é abordada indicando que a primeira é mais sociológica enquanto a última é mais psicológica embora ambas sejam interligadas A metodologia proposta para pesquisas em Psicologia Social enfatiza a análise das representações individuais por meio do discurso partindo do empírico e buscando capturar as contradições e especificidades Como dito pela autora O pensar uma ação pode simplesmente reproduzir essa ideologia na medida em que se submete ou a reproduz p 4 A relação entre pesquisador e pesquisado é destacada como parte integrante do processo e a pesquisa é vista como um processo acumulativo em direção ao conhecimento do indivíduo em sua totalidade históricosocial SÍNTESE 4 O texto Identidade de Antonio da Costa Ciampa é um ensaio que explora profundamente o conceito de identidade abordando suas múltiplas dimensões e complexidades O autor examina como a identidade é moldada por fatores individuais sociais e culturais destacando como ela é um constructo em constante evolução Ciampa explora como a identidade não é fixa mas sim uma construção fluida que se adapta às experiências e influências ao longo da vida de um indivíduo O ensaio também discute as tensões entre a identidade pessoal e as categorizações sociais evidenciando a interação entre identidade autodeclarada e identidade atribuída pela sociedade Antonio da Costa Ciampa é um renomado sociólogo e escritor brasileiro Nasceu em São Paulo em 1942 Ele é conhecido por suas contribuições significativas para os campos da sociologia e da psicologia social Além de suas obras acadêmicas Ciampa também escreveu ensaios e artigos que exploram temas relacionados à subjetividade identidade e cultura Ele é reconhecido por sua abordagem interdisciplinar e perspicaz sobre as questões humanas o que o torna uma figura proeminente no cenário intelectual brasileiro No texto Identidade Ciampa destaca a relevância da identidade em um mundo globalizado onde as interações culturais e sociais são cada vez mais complexas Ele examina como as identidades individuais podem ser moldadas por fatores históricos políticos e econômicos e como a busca por uma identidade autêntica pode ser desafiadora diante das pressões sociais Ciampa também chama a atenção para a relação entre identidade e poder explorando como certos grupos podem impor suas definições de identidade sobre outros resultando em marginalização e conflito Ao questionar as noções tradicionais de identidade o autor incentiva uma reflexão profunda sobre como nos vemos e como nos relacionamos com os outros Ciampa nos destaca que não só a identidade de uma personagem constitui a de outra e viceversa como também a identidade das personagens constitui a do autor p 3 O texto incita os leitores a questionar suas próprias concepções de identidade e a considerar as implicações sociais e culturais dessa construção contínua PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA Da solidariedade à autonomia Regina Helena de Freitas Campos org Silvia TM Lane Bader B Sawaia Maria de Fátima Q de Freitas Pedrinho Guareschi Jacyara CR Nasciutti Naumi A de Vasconcelos Regina Helena Campos APRESENTAÇÃO Esta coletânea apresenta reflexões do Grupo de Trabalho em psicologia social comunitária da Associação Nacional de Pesquisa e Pósgraduação em Psicologia Anpepp Inspirados nas discussões do grupo constituído durante a realização do V Simpósio de Pesquisa e Intercâmbio Científico da Anpepp realizado em Caxambu Minas Gerais em maio de 1994 os textos exploram diferentes aspectos das relações entre o psicólogo e a comunidade visando enriquecer o debate sobre as perspectivas teóricas do campo Os autores são todos professores de psicologia social em programas de pósgraduação na área em diversas universidades brasileiras Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Universidade Federal do Rio de Janeiro Universidade Federal do Espírito Santo e Universidade Federal de Minas Gerais A reunião deste grupo de pesquisadores na Anpepp tem por objetivo promover a melhor delimitação do campo e aperfeiçoar os instrumentos de análise e intervenção disponíveis e em elaboração Esta é a primeira produção conjunta do grupo que esperamos seja útil aos profissionais estudantes e pesquisadores que compartilham de nossas preocupações e buscam em seu trabalho contribuir para a construção de relações democráticas e solidárias nas comunidades em que atuam 1996 Editora Vozes Ltda Rua Frei Luís 100 25689900 Petrópolis RJ wwwvozescombr Brasil Todos os direitos reservados Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma eou quaisquer meios eletrônico ou mecânico incluindo fotocópia e gravação ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da editora Diretor editorial Frei Antônio Moser Editores Aline dos Santos Carneiro José Maria da Silva Lídio Peretti Marilac Loraine Oleniki Secretário executivo João Batista Kreuch Diagramação Sheilandre Desenv Gráfico Capa Studio Graphit ISBN 9788532650962 Edição digital Editado conforme o novo acordo ortográfico INTRODUÇÃO A PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA Regina Helena de Freitas Campos A comunidade seja geográfica um bairro por exemplo ou psicossocial por exemplo os colegas de profissão é o lugar em que grande parte da vida cotidiana é vivida Entretanto o conceito de comunidade utilizado pela psicologia social comunitária tem algumas características próprias derivadas da própria forma como surgiu entre nós esta nova área de estudos Sabemos que a prática científica não é imune aos movimentos sociais em cujo contexto se desenvolve e a psicologia social comunitária não é exceção a esta regra Desde meados da década de 1960 no Brasil a utilização de teorias e métodos da psicologia em trabalhos feitos em comunidades de baixa renda visando por um lado deselitizar a profissão e de outro buscar a melhoria das condições de vida da população trabalhadora constitui o espaço teórico e prático do que passamos a denominar a psicologia comunitária ou psicologia na comunidade Freitas 1994 Bairros populares favelas associações de bairro comunidades eclesiais de base movimentos populares em geral foram os lugares em que tiveram início essas experiências de psicologia comunitária Mais recentemente com a ampliação dos sistemas de saúde e educação pública no país e o aumento do número de psicólogos trabalhando em postos de saúde creches instituições de promoção do bemestar social ou setores do sistema judiciário voltados para o cuidado de famílias e menores enfim em instituições públicas que visam promover o desenvolvimento social a psicologia social comunitária procura desenvolver os instrumentais de análise e intervenção relevantes para as novas problemáticas que se apresentam aos psicólogos Tipicamente os trabalhos comunitários partem de um levantamento das necessidades e carências vividas pelo grupocliente sobretudo no que se refere às condições de saúde educação e saneamento básico A seguir utilizandose métodos e processos de conscientização procurase trabalhar com os grupos populares para que eles assumam progressivamente seu papel de sujeitos de sua própria história conscientes dos determinantes sociopolíticos de sua situação e ativos na busca de soluções para os problemas enfrentados A busca do desenvolvimento da consciência crítica da ética da solidariedade e de práticas cooperativas ou mesmo autogestionárias a partir da análise dos problemas cotidianos da comunidade marca a produção teórica e prática da psicologia social comunitária A perspectiva da psicologia social comunitária enfatiza em termos teóricos a problematização da relação entre produção teórica e aplicação do conhecimento partese do pressuposto de que o conhecimento se produz na interação entre o profissional e os sujeitos da investigação Utilizandose a conceituação do papel dos intelectuais de Gramsci podese dizer que os psicólogos atuando em trabalhos de psicologia social comunitária desempenham o papel de intelectuais tradicionais na medida em que organizam o saber já constituído pela psicologia social e se encarregam de transmitilo mas visando a formação de intelectuais orgânicos isto é sujeitos capazes de sintetizar o ponto de vista da comunidade e de coordenar processos de transformação do instituído em termos de metodologia utilizase sobretudo a metodologia da pesquisa participante na qual o pesquisador e os sujeitos da pesquisa trabalham juntos na busca de explicações para os problemas colocados e no planejamento e execução de programas de transformação da realidade vivida em termos de valores os trabalhos de psicologia comunitária enfatizam sobretudo a ética da solidariedade os direitos humanos fundamentais e a busca da melhoria da qualidade de vida da população focalizada Ou seja questionase a visão da ciência como atividade não valorativa e assumese ativamente o compromisso ético e político Em termos éticos buscase trabalhar no sentido de estabelecer as condições apropriadas para o exercício pleno da cidadania da democracia e da igualdade entre pares Em termos políticos questionamse todas as formas de opressão e de dominação e buscase o desenvolvimento de práticas de autogestão cooperativa Bonfim 1987 Góis 1993 define a psicologia comunitária como uma área da psicologia social que estuda a atividade do psiquismo decorrente do modo de vida do lugarcomunidade estuda o sistema de relações e representações identidade níveis de consciência identificação e pertinência dos indivíduos ao lugarcomunidade e aos grupos comunitários Visa ao desenvolvimento da consciência dos moradores como sujeitos históricos e comunitários através de um esforço interdisciplinar que perpassa o desenvolvimento dos grupos e da comunidade Seu problema central é a transformação do indivíduo em sujeito Em trabalho recente sobre a situação da psicologia social no Brasil Bomfim observa o crescimento da área entre nós e informa que as atividades são em sua grande maioria constituídas por atuações em equipes multidisciplinares que estabelecem procedimentos práticos de acordo com a demanda social e possibilidades de ação Bomfim 1994 As principais estratégias de ação detectadas foram reuniões com os moradores para análise das necessidades e possíveis soluções inclusive com o incentivo à formação de grupos de autogestão e à formação de recursos humanos da própria comunidade e propostas de atividades específicas Para que a formação de recursos humanos capazes de desenvolver e dar continuidade a projetos de melhoria da qualidade de vida seja viável temse verificado a importância de fortalecer o envolvimento afetivo com os objetivos e programas de ação propostos A promoção deste envolvimento tem sido feita exatamente através da busca de uma definição pela própria comunidade das prioridades de atuação Neste sentido o psicólogo atua mais como um analistafacilitador que como um profissional que toma as iniciativas de solucionar os problemas São centrais portanto nesta área de estudos os conceitos que contribuem na análise da constituição do sujeito social produto e produtor da cultura e as metodologias de desenvolvimento da consciência Neste volume estudos e reflexões sobre algumas dessas problemáticas específicas da psicologia social comunitária são apresentados ao leitor Pioneira na delimitação conceitual da área na América Latina Sílvia Tatiana Maurer Lane professora de psicologia social no programa de estudos pósgraduados em psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo explica o surgimento da psicologia comunitária entre nós durante os anos de 1970 como reação à opressão política e dominação econômica e ideológica que caracterizaram o período militar na região Observase nos relatos de experiências na área a tentativa de promover em comunidades populares a crescente consciência da situação de opressão e a iniciativa de ações transformadoras autônomas que levassem em consideração a necessária vinculação entre condições objetivas de vida e processos psicológicos A partir desses relatos a autora busca definir os principais conceitos teóricos necessários ao trabalho do psicólogo em comunidade e a evolução dos modelos de atuação no Brasil A seguir Bader Sawaia também lecionando no programa de estudos pósgraduados da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo explora as origens do próprio conceito de comunidade na história do pensamento social A autora analisa a evolução do conceito como contraponto ao avanço do senso individualista que caracteriza o capitalismo Acompanhando as perspectivas que informaram a elaboração teórica da noção de comunidade na sociologia e na psicologia Sawaia observa como a partir de um ponto de vista totalitário o conceito passa no final do século XX a incorporar o sentido da resistência à opressão e da luta pela cidadania plena Maria de Fátima Quintal de Freitas docente do mestrado em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo acompanha a evolução do conceito de comunidade em psicologia a partir das representações e práticas dos psicólogos e observa que a principal fonte de definição da área da psicologia comunitária nos anos de 1960 e 1970 vinculavase a práticas comprometidas com a perspectiva de libertação sociopolítica da população Já no curso da década de 1980 e início dos anos de 1990 esta perspectiva se modifica a partir de transformações no próprio sistema de saúde pública no país Estas transformações se tornam mais evidentes a partir da própria mudança de denominação a psicologia na comunidade passa à psicologia da comunidade tomando como unidade de análise o grupo comunitário e a psicologia comunitária que toma como objeto de análise o sujeito construído sóciohistoricamente Já Pedrinho Guareschi professor no programa de pósgraduação em psicologia social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul convida o leitor a compartilhar sua reflexão sobre conceitos fundamentais da psicologia social comunitária como os conceitos de relações sociais relações de dominação e relações comunitárias procurando demonstrar que é na comunidade que se estruturam as relações democráticas desejáveis Jacyara Nasciutti professora no programa de pósgraduação em comunidades e ecologia social da Universidade Federal do Rio de Janeiro busca esclarecer as relações entre instituições e comunidades de um ponto de vista psicossocial e mostra como utilizar os conceitos da análise institucional na análise das instituições de saúde mental no Brasil Naumi Vasconcelos também professora no programa de pósgraduação em comunidades e ecologia social da Universidade Federal do Rio de Janeiro reflete sobre a relação entre qualidade de vida e habitação focalizando especialmente o processo de ocupação do espaço urbano e da construção de hábitos comunitários em habitações urbanas as relações corpocasa e seus impactos sobre as representações da qualidade de vida Procura assim uma definição subjetiva de qualidade de vida que possa ser incorporada como contribuição da psicologia social aos indicadores objetivos deste conceito Regina Helena de Freitas Campos do programa de mestrado em psicologia social da Universidade Federal de Minas Gerais trabalha sobre as relações entre comunidade cultura e consciência Busca assim refletir sobre como as teorias sobre os processos de construção do conhecimento produzidas pela psicologia social podem se aproximar das práticas da psicologia comunitária sobretudo no que se refere à emergência dos processos de conscientização mencionados na literatura da área Esta coletânea espera contribuir para o desenvolvimento teórico da psicologia social comunitária estabelecendo bases mais sólidas para os conceitos de interesse para estudantes e profissionais da área Referências BOMFIM EM Psicologia social psicologia do esporte e psicologia jurídica In ACHCAR R et al Psicólogo brasileiro Práticas emergentes e desafios para a formação São Paulo Casa do Psicólogo 1994 Comum moderna cidade In BOMFIM E MACHADO M Em torno da psicologia social Belo Horizonte publicação autônoma 1987 FREITAS MFQ Psicologia comunitária Professores de psicologia falam sobre os modelos que orientam a sua prática São Paulo Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 1994 Tese de doutorado GÓIS Cézar Wagner de Lima Noções de psicologia comunitária Fortaleza Edições UFC 1993 LANE STM Psicologia Ciência ou política São Paulo Educ 1988 Produzir uma síntese de apenas uma lauda para cada um dos textos em anexo A síntese deverá obrigatoriamente ser apenas de apenas 1 lauda e deverá ser incluir obrigatoriamente as seguintes informações aDados da obra b Informações bibliográficas sobre o autor ou a autora cOutras informações relevantes para a compreensão do texto A síntese será produzida recorrendo ao uso de cores para identificar os diferentes tipos de texto produzido a Texto copiado literalmente inserir página Azul b Texto parafraseado Preto c Texto elaborado pelo discente Vermelho É fundamental que em seu texto ao menos um parágrafo que tenha elaborado integralmente e que sintetize o conteúdo Segundo ponto Realizar uma crítica observação em cada uma das sínteses HISTÓRICO E FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA COMUNITÁRIA NO BRASIL Silvia Tatiana Maurer Lane Introdução Uma revisão da psicologia comunitária no Brasil não pode ser feita fora do contexto econômico e político do Brasil e da América Latina Sem dúvida o golpe militar de 1964 tem muito a ver com o seu surgimento pois se num primeiro momento 19681975 vivemos um período de extrema repressão e violência quando uma reunião de cinco pessoas já era considerada subversão ele fez com que individualmente os profissionais de psicologia se questionassem sobre a atuação junto à maioria da população e de qual seria o seu papel na sua conscientização e organização Esta preocupação é mais sentida na universidade quando a partir dos movimentos de 1968 questionando o ensino e a academia é desenvolvida uma reflexão crítica quanto ao seu papel principalmente em países do Terceiro Mundo que não podem se dar ao luxo de uma universidade fechada numa torre de marfim Neste contexto os professores dos cursos de formação profissional do psicólogo questionam a sua prática ao mesmo tempo em que a crise da psicologia como ciência está patente em que a antipsiquiatria abala os conceitos de doença mental deslocando o problema para a questão da saúde mental e para uma possível ação preventiva junto à maioria da população pobre oprimida e desatendida pelo Estado É nesse período também que surge nos Estados Unidos e em vários países da América Latina a expressão psicologia comunitária referindose à atuação de profissionais junto a populações carentes porém a maioria dos trabalhos dessa época tinham um forte cunho assistencial e manipulativo utilizando técnicas e procedimentos sem a necessária análise crítica a intenção era boa porém não os resultados obtidos Fora da universidade médicos e psiquiatras preocupados com a saúde pública e uma ação preventiva criam na década de 1970 os centros comunitários de saúde mental que segundo A Abib Andery 1981 12 o fazem numa tentativa de superar os clássicos hospitais psiquiátricos mas também nesse caso as mudanças foram mais aparentes do que estruturais Por outro lado já na década de 1960 surge uma preocupação com a educação popular com a alfabetização de adultos como instrumento de conscientização são os trabalhos de Paulo Freire e de outros dos quais participavam diversos profissionais e entre eles psicólogos sem qualquer preocupação em definir especificidades em termos de áreas de trabalho eram atividades inerentes à cidadania Essas experiências levam os psicólogos na década de 1970 a desenvolverem atividades em comunidades em termos de educação popular tendo como meta a conscientização da população Assim vamos encontrar sob o rótulo de psicologia social comunitária uma prática voltada a a prevenção da saúde mental unindo psicólogos psiquiatras e assistentes sociais e b educação popular com a participação de pedagogos psicólogos sociólogos e assistentes sociais No encontro de 1981 as duas linhas se confundem Também neste encontro uma questão pouco discutida mas necessária de ser aclarada foi colocada O que é uma comunidade Ela é possível numa sociedade capitalista baseada na ideia de competição Ou ela é uma utopia que se pretende atingir algum dia Na nossa revisão utilizaremos dois referenciais 1 o 1º Encontro Regional de Psicologia na comunidade realizado em São Paulo em 1981 com trabalhos realizados na década de 1970 e 2 o 2º Encontro Regional ocorrido em Belo Horizonte em 1988 com relatos referentes a trabalhos da década de 1980 Ambos foram organizados pela Associação Brasileira de Psicologia Social Abrapso tendo por objetivos a troca de experiências e principalmente o de não cometer os mesmos erros Em cada encontro foram apresentados em torno de 10 relatórios para uma audiência de mais de 100 profissionais como psicólogos assistentes sociais educadores sociólogos etc Podemos observar nestes dois encontros o contraste entre preocupações com a saúde mental e aqueles com a educação popular ambos com objetivos diferentes O encontro de 1981 À procura de uma compreensão de uma psicologia social comunitária O Projeto de Saúde Mental Comunitária do Jardim Santo Antônio foi apresentado por Helio Figueiredo como proposta que se origina na universidade em 1977 numa visão do compromisso dela com a sociedade A equipe é formada por dois professores de psicologia uma socióloga e um administrador que devem orientar alunos estagiários do curso de psicologia O projeto é precedido por uma pesquisa que deverá dizer o melhor local de trabalho e levando ao aluguel de uma sede própria em julho de 1979 onde são prestados serviços como atendimento psicológico individual e grupal acompanhamento do clube de mães e grupo de jovens e promoção de reuniões da equipe com grupos do bairro a fim de se definir programas de ação A presença constante e fixa da equipe no bairro faz com que os grupos passem a procurála tendo como referência a casa da sede Com o objetivo de atuar a nível da saúde mental a equipe detecta como principais problemas da população além de questões como ausência de infraestrutura baixos salários violência urbana desgaste físico e psicológico a questão da perda da identidade cultural devido à migração a ação dos meios de comunicação transmitindo a ideologia de uma sociedade de massa e de consumo e por último a ausência de organização popular Da prática desenvolvida o grupo profissional chega à definição clara de seu objetivo que seria o de proporcionar o crescimento da consciência dessa população através da participação dos indivíduos em grupos que os levariam a superar o individualismo e a se unirem em atividades que visassem mudar o seu cotidiano Uma outra experiência é relatada por Pedro de C Pontual e Paulo Moldes 1981 realizada pelo centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientiae SP cuja proposta é de intervenção crítica e de prestação de serviços nas áreas de saúde e educação através de duas equipes interdisciplinares jornalistas psicólogos sociólogos assistentes sociais teólogos economistas pedagogos geógrafos engenheiros e arquitetos Os princípios básicos que norteiam as duas equipes são a importância da organização legítima dos trabalhadores por eles mesmos a importância do controle pela base dos movimentos populares a importância do aspecto organizativo como conscientizador dos movimentos e o profissional como dinamizador como animador dos grupos nunca como liderança É Pontual que afirma Nesse sentido o que identifica qualquer profissional ligado realmente aos movimentos populares é o seu papel de educador popular embora ele possa dar uma contribuição maior na área de conhecimento em que se formou 1981 30 e continua dizendo que enquanto psicólogos devem lidar com a dinâmica de grupos de encontros com questões metodológicas e de avaliação também devem lidar com as tensões e problemas de relacionamento porém sem fazer recortes todos se identificam como educadores populares Há ainda o relato da atuação da equipe junto à população visando definir problemas prioritários que levam a comunidade a questionarse o quanto sabe sobre a própria realidade e a realizar uma pesquisa no bairro e apresentar os seus resultados em um caderno em quadrinhos que divulgado leva a uma assembleia com objetivo de discutir os resultados da pesquisa e definir os problemas prioritários ou seja creche posto de saúde e coleta de lixo A discussão da creche por sua vez leva à produção de um filme super 8 sobre as crianças do bairro que quando exibido mobiliza a população num movimento reivindicatório por creche Um terceiro relato nesse encontro referiuse à utilização do psicodramapedagógico com mulheres na periferia apresentado por Maria Alice Vassimon 1981 3945 É colocado como objetivo a educação popular auxiliando o grupo a perceber a sua própria realidade a sua própria cultura Vassimon 1981 41 O trabalho iniciase com 60 mulheres ávidas em discutir problemas de seu cotidiano em relação a filhos maridos casa família etc e a equipe também interdisciplinar preocupase durante dois anos em como tornar o grupo independente e assumir a própria história e seu próprio caminho 1981 41 Este grupo de mulheres assume o clube de mães aproximase da escola organiza uma feira de arte e trabalha no posto de saúde dando curso para gestantes cada vez mais independentes da equipe à qual recorrem quando necessário necessidade essa que se espaça cada vez mais ao longo do tempo O relato encerrase com uma reflexão sobre o psicodrama como sendo uma forma de aproximação extremamente saudável porque não se fica falando e para o povo falar nem sempre é fácil e para estimular uma libertação imprimir a direção a sua própria realidade o psicodrama é muito importante 1981 48 Brühl e Malheiros apresentaram suas reflexões sobre a psicologia social comunitária no Nordeste Paraíba agora voltada para uma formação universitária em nível de mestrado em psicologia na comunidade da Universidade Federal da Paraíba Das observações e experiências realizadas os autores definem dois níveis de atuação 1 desenvolvimento de trabalho educacional visando a mobilização e organização de grupos comunitários para a busca de soluções de seus problemas 2 desenvolvimento de trabalho de assessoramento a grupos já existentes E finalizam afirmando que a atuação do psicólogo deve darse no sentido de que a resolução das situações de crises individuais resulte na superação das contradições sociais que geraram 1981 102 através de um processo de conscientização Outras experiências em centros de saúde em bairros com grupos de mulheres de adolescentes de teatro e outros foram apresentados sempre enfatizando o grupo como condição básica tanto para a ação clínica como preventiva e educativa O Encontro de 1981 se encerra com o questionamento se a atuação do psicólogo se caracteriza por tarefas visando a prevenção e a cura da doença mental ou por tarefas educativas e conscientizadoras O que é específico da psicologia e dos demais profissionais envolvidos nas mesmas tarefas E qual o papel da universidade 1981 987 O que vemos nesse momento é ainda uma visão do psicólogo que se define pelas técnicas que utiliza e não pelo conhecimento que ele tem do psiquismo humano do indivíduo como pessoa que se constrói na relação com os outros no desenvolvimento de suas atividades no movimento de sua consciência e na produção de sua identidade É ainda uma visão fragmentada do indivíduo aprendizagem educação é um processo terapia é outro conscientização é outro ainda Parece que o único ponto constante é a relação grupal é no encontro com os outros semelhantes que descobrimos a realidade que descobrimos a individualidade e a sociedade As diferentes ideias são discutidas em torno de técnicas ao invés de considerarem a natureza do psiquismo humano e a natureza do indivíduo que interage com outros Encontro de 1988 À procura da sistematização No Encontro Mineiro de Psicologia Comunitária de 1988 os relatores procuraram definir qual a especificidade da prática psicológica em comunidade e grande ênfase é dada às técnicas de dinâmica de grupo como se pode observar nos relatos de Elizabeth Bomfim 1988 200 É a partir do conhecimento dos grupos e das instituições que se chega à organização popular é a experiência que ela e Marília N da Mata Machado relatam sobre a favela de Vila Acaba Mundo em Belo Horizonte As atividades desenvolvidas além de propiciar o treinamento de estudantes de psicologia treinam os moradores em técnicas de autoorganização através de recursos que vão desde um vídeo sobre a favela de informações sobre direitos que a comunidade tem para ir em busca de soluções até uma prática grupal espaço de palavra livre visando a autoorganização e a criação de cooperativas A atuação clínica se dá em termos de análise e terapia da autodepreciação visando o erguimento da autoestima É ainda na Vila Acaba Mundo que Alayde M Caifa de Arantes 1988 150 relata sua experiência com grupos de adolescentes onde não se fala em psicólogos mas se trabalha em artesanato visando através do desenvolvimento grupal a compreensão das relações sociais e das regras necessárias para uma melhor convivência Elizabeth Bomfim sintetiza o trabalho de seu grupo afirmando a existência de uma relação estreita entre saúde e condições de vida cabendo ao psicólogo atuar no sentido de que as condições e modos de vida precisam ser dominados para que haja autonomia de sujeito para exercer a sua saúde 1988 202 O trabalho apresentado por Angela Caniato é uma avaliação da experiência realizada pela Universidade de Maringá em uma comunidade atendida por posto de saúde e conclui que o psicólogo esbarra nos limites teóricos e técnicos de sua formação na universidade que não lhe permite responder às demandas de atendimento psicossocialmente colocadas pelas populações que frequentam estes postos de saúde 1988 180 E continua afirmando que o cidadão desaparece sob o indivíduo doente que procura o psicólogo para se tratar 1988 181 Daí a necessidade de se resgatar a individualidade e a subjetividadecompetência do psicólogo Por fim William CC Pereira faz uma análise do individualismo como produto da modernidade e analisando o filme A classe operária vai ao paraíso conclui que a grande vítima mais do que o corpo do indivíduo é a subjetividade negada por um poder arbitrário Resgata a questão do poder que permeia as relações sociais apontando para a necessidade de se diferenciar podertrabalhoserviço de poderdominaçãoautoritartismo o primeiro sendo um jogo de mútuas influências e o segundo apenas um fetiche Concluindo o relato deste Encontro podemos observar um avanço na definição do que seja uma atuação do psicólogo em comunidades cabendo a ele desenvolver grupos que se tornem conscientes e aptos a exercer um autocontrole de situações de vida através de atividades cooperativas e organizadas Para tanto o entendimento de relações de poder que se constituem no cotidiano é de grande importância para a compreensão tanto da violência arbitrária quanto de uma ação cooperativa e transformadora Por outro lado o resgate da subjetividade que implica a compreensão das representações do mundo em que vive até às emoções e afetos que definem a sua individualidade única Além destes trabalhos apresentados nos Encontros várias universidades têm criado o que chamam de serviço de extensão visando integrar alunos e professores de diferentes áreas na prestação de serviços à sociedade em geral e nesta linha a participação de psicólogos em trabalhos comunitários tem sido bastante significativa À guisa de exemplo gostaríamos de relatar o trabalho desenvolvido na Universidade Metodista de PiracicabaSp Unimep onde o serviço de extensão se origina pela atuação da equipe de psicólogos sociais liderada por Lucila Reboredo junto à população favelada da cidade levandoa a se constituir em associação a reivindicar seus direitos a melhorar sua condição de vida chegando a um projeto de autoconstruções com a participação de vários setores da universidade É um trabalho que foi relatado e analisado por Reboredo em sua tese de doutorado o qual já se estende por vários anos e se amplia para outras atividades garantida pela institucionalização do setor de extensão universitária integrada ao ensino e à pesquisa Trabalhos comunitários na zona rural Acreditamos ser importante ainda uma menção aos trabalhos comunitários desenvolvidos na zona rural provavelmente os primeiros a falarem em comunidade contando com a participação de cientistas sociais e que se estendeu de forma semelhante por vários países da América Latina Na década de 1940 encontramos os chamados centros sociais que deram origem aos atuais centros comunitários Esses contavam com o apoio da Igreja Católica de assistentes sociais e órgãos governamentais criando equipes itinerantes interdisciplinares médicos agrônomos assistentes sociais e outros que procuravam organizar grupos locais que dessem continuidade aos trabalhos propostos basicamente educativos Porém estes em pouco tempo se desfaziam Após a II Guerra Mundial a ONU desenvolve um programa de Desenvolvimento de comunidades que no Brasil contou com a cooperação dos Estados Unidos visando a consolidação do sistema capitalista Em 1951 são definidos os objetivos destes centros entre eles o de constituirse uma organização democrática obedecendo ao propósito de fomentar a solidariedade comunal dispondo para tal fim de um local onde possam se reunir em pé de igualdade os residentes de um mesmo setor para participar de atividades sociais recreativas e educativasApud Amman 1985 38 As atividades desenvolvidas nestes centros se caracterizavam por serem acríticas e aclassistas procurando através da ação comunitária desenvolver os indivíduos e consequentemente a sociedade O combate ao analfabetismo foi a primeira meta seguida do ensino de tecnologias agrícolas e numa segunda etapa criamse instituições que visam uma maior integração social Em um seminário realizado em 1960 foram estabelecidos princípios básicos para o desenvolvimento comunitário que implicavam a ajuda de cientistas sociais orientados pela perspectiva positivista de sociedade que levava a uma postura essencialmente paternalista mas com um discurso desenvolvimentista Tratavase de harmonizar através da participação de todos os conflitos existentes acreditando que a igualdade social poderia brotar automaticamente das estruturas econômicas sociais e políticas do capitalismo monopolista Fernandes F Prefácio in Amman 1985 43 Um destes centros comunitários foi estudado por Patricia Maria GC Mortara para a sua dissertação de mestrado defendida em setembro de 1989 Através de entrevistas abertas e de análise das representações sociais de moradores de um bairro da cidade de Amparo no interior do Estado de São Paulo Mortara estuda a consciência social de participantes de atividades do centro comunitário que congrega grande parte dos moradores do bairro O centro comunitário foi criado em 1969 por fazendeiros e lideranças locais que o sustentam até hoje visando atuar na saúde preventiva e curativa e na educação formal e informal tendo por finalidade promover o homem integrandoo no meio em que vive Mortara 1989 72 Atualmente o centro desenvolve atividades tais como grupos de mães e jovens atividades educativas desde préescola até a integração escolacomunidade serviços ambulatoriais médicos e dentários atendimento psicológico cursos profissionalizantes e recreações sociais Cabe observar que aqui o psicólogo é o profissional clínico que atende pacientes encaminhados sem qualquer participação mais ativa nas relações comunitárias apenas faz parte de uma equipe que presta serviços à população Ao analisar as representações de moradores participantes de atividades do centro Mortara mostra com clareza que os homens antes colonos ora assalariados mantém uma relação afiliativa com os patrões que são bons e não pagam melhores salários porque não podem a culpa é do governo As mulheres cuidam dos afazeres domésticos e dos filhos quando casadas ou trabalham em atividades femininas procurando sempre que possível ajudar os outros A união entre os moradores do bairro é exaltada em contraposição a outros locais Mortara 1989 162163 Em suma este estudo mostra com clareza a existência de trabalhos comunitários que por sua origem paternalista e objetivos assistenciais levam à manutenção de consciências fragmentadas pelo idealismo e individualismo e de fato impedindo qualquer avanço tanto na ação como na consciência Não podemos deixar de mencionar que alguns anos antes fins da década de 1940 e início de 1950 em Minas Gerais uma psicóloga Helena Antipoff defendia o princípio da educação democrática e de que a inteligência era algo construído socialmente Na Fazenda do Rosário ela criou um centro educacional onde qualquer criança deficiente abandonada pobre ou rica branca ou preta tinha seu lugar garantido Criou também a Associação Comunitária do Rosário na qual psicólogos educadores e a comunidade trabalham em conjunto pela melhoria das condições de vida da população e por sua autonomia Toda esta história tão brasileira nos seus contrastes foi pesquisada por Regina Helena de F Campos em sua tese de doutorado e continua a ser pesquisada por instituições legais porém com a mobilização dos meios de comunicação de massa e sem deixar a vila desprotegida A reunião terminou com a designação de quem faria o quê Pudemos notar que a equipe da universidade apesar de bastante entrosada e querida pelos moradores do local apenas assistia à discussão coordenada por um deles e só participava quando solicitada para algum esclarecimento Notamos a confiança no poder de decisão do grupo sinal de uma autonomia em construção Em busca de uma sistematização teóricoprática Certamente não demos conta com estes relatos de todas as experiências em psicologia social comunitária que vêm ocorrendo no Brasil porém acreditamos que eles sejam significativos em termos de representatividade das grandes questões teóricas e práticas que a caracterizam hoje em nosso país A partir desta revisão nos compete ainda uma sistematização teóricoprática dentro dos pressupostos que vêm orientando nossos trabalhos nestes últimos anos As diversas experiências comunitárias vêm apontando para a importância do grupo como condição por um lado para o conhecimento da realidade comum para a autorreflexão e por outro para a ação conjunta e organizada Em outros termos estamos falando da consciência e da atividade categorias fundamentais do psiquismo humano que sistematizam muito do que se sabe sobre comportamento aprendizagem e cognição Quando se procura resgatar a subjetividade esta implica necessariamente em identidade categoria que leva ao conhecimento da singularidade do indivíduo que se exprime em termos afetivos motivacionais através das relações com os outros ou seja na vida grupal A análise das três categorias fundamentais atividade consciência e identidade só se faz pelo registro de mediações com a linguagem e o pensamento ferramenta essencial para as relações com os outros e que irá constituir os conteúdos da consciência E são também estas relações sociais que se desenvolvem através de atividades que por sua vez sofrem a mediação das emoções individuais possivelmente constituindo conteúdos inconscientes presentes tanto na consciência como na atividade e na identidade Sintetizando o psicólogo na comunidade trabalha fundamentalmente com a linguagem e representações com relações grupais vínculo essencial entre o indivíduo e a sociedade e com as emoções e afetos próprios da subjetividade para exercer sua ação em nível da consciência da atividade e da identidade dos indivíduos que irão algum dia viver em verdadeira comunidade E é Góis 1990 117 quem melhor define esta prática Fazer psicologia comunitária é estudar as condições internas e externas ao homem que o impedem de ser sujeito e as condições que o fazem sujeito numa comunidade ao mesmo tempo que no ato de compreender trabalhar com esse homem a partir dessas condições na construção de sua personalidade de sua individualidade crítica da consciência de si identidade e de uma nova realidade social Acreditamos que estes aspectos teóricos estão concretizados na pesquisa de Bader B Sawaia onde através de sua participação junto a mulheres de uma favela analisa o movimento de consciência imbricada nas atividades desenvolvidas por elas ao longo de quatro anos Sawaia demonstra a importância metodológica da pesquisa participante como recurso científico distinto da militância porém sem negar os compromissos social e político necessariamente envolvidos neste processo Sawaia 1987 Quando decidimos delinear nova visão histórica da psicologia comunitária no Brasil pudemos observar que os grupos seja como recurso da pesquisa participante seja como referência teórica são os espaços privilegiados para uma análise teóricoprática dos avanços das consciências individuais envolvidas no processo É no contexto grupal que nos identificamos com o outro e é nele também que nos diferenciamos deste e assim construímos a nossa identidade sendo o grupo condição para a sua manutenção ou metamorfose Porém é também nas relações grupais que sentimos a ação do poder o qual tanto pode negar a nossa identidade como redefinila Há o poder do bom falante aquele que entende de tudo e assim impõe o seu pensamento aos demais como uma verdade absoluta Neste jogo o participante expressionista se sente perdido pois ele o outro é estudado ele sabe falar bem e precisamos de um líder E a conclusão acaba sendo deixa ele decidir Desta forma cristalizamos a nossa identidade nos submetendo a um poder autoritário e espúrio esquecendo que em um grupo por princípio somos todos iguais em direitos e deveres Referências ABRAPSO Anais do I Encontro de Psicologia na Comunicação São Paulo 1981 AMMANN SB Ideologia de desenvolvimento de comunidade no Brasil São Paulo Cortez Editora 1985 ANDERY AA Psicologia na comunidade no Brasil Anais do I Encontro Regional de Psicologia na comunidade São Paulo 1981 ARANTES AMC Vila Acaba Mundo Anais do III Encontro Mineiro de Psicologia Social Abrapso março ano III n 4 1988 BOMFIM E Vila Acaba Mundo Bairro Sion Anais do III Encontro Mineiro de Psicologia Social Abrapso março ano III n 4 1988 BRÜHL D MALHEIRO DPA Psicologia na comunidade e os problemas psicossociais de grupos populacionais pobres do Nordeste do Brasil Anais do I Encontro Regional de Psicologia na comunidade São Paulo 1981 CAMPOS RH de F Psicologia comunitária no Brasil Um pouco de história Anais do III Simpósio de Pesquisa e Intercâmbio Cientifico Anpepp PUCSP agosto 1990 p 28 CANIATO A Implicações do enfoque social na prática do psicólogo em saúde mental Anais do III Encontro Mineiro de Psicologia Social ABRAPSO março ano III n 4 1988 FIGUEIREDO H Proposta de atuação do Projeto de Saúde Mental Comunitária do Jardim Santo Antônio Anais do I Encontro Regional na comunidade São Paulo 1981 MORTARA PMGC A consciência social de uma população rural um estudo de caso no Bairro Pantaleão Amparo PUCSP São Paulo 1989 Dissertação de mestrado PONTUAL P de C MOLDES P Experiência de bairro operário Anais do I Encontro Regional de Psicologia da comunidade São Paulo 1981 SAWAIA BB A consciência em construção no processo de construção da existência PUCSP 1987 Tese de doutorado VASSIMON MA Psicodrama pedagógico com mulheres na periferia Anais do I Encontro Regional de Psicologia na comunidade São Paulo 1981 Tratase da 1a parte revista e ampliada de um artigo em coautoria com Bader B Sawaia enviado para publicação num livro sobre psicologia social comunitária na América Latina organizado por Sánchez E e Wiesenfeld E a ser publicado na Venezuela Em janeiro de 1990 a Revista Psicologia e Sociedade da Abrapso publicou o primeiro trabalho relatado Pedra Branca uma contribuição comunitária Ano V n 8 novembro de 1989 a março de 1990 p 95118 SÍNTESE TEXTO 1 A obra Psicologia Social Comunitária Da Solidariedade à Autonomia de Regina Helena de Freitas Campos e colaboradores foi publicada pela Editora Vozes Limitada em 2017 O livro aborda questões pertinentes à psicologia social comunitária e sua evolução rumo à autonomia Regina Helena de Freitas Campos é uma renomada psicóloga e pesquisadora brasileira com vasta experiência na área de psicologia social comunitária Ela é reconhecida por suas contribuições significativas para o desenvolvimento teórico e prático dessa disciplina Regina Helena de Freitas Campos é conhecida por sua atuação como docente em diversas instituições de ensino superior onde tem compartilhado seu conhecimento e experiência com estudantes e profissionais da psicologia O texto oferece uma abordagem abrangente sobre a psicologia social comunitária explorando temas como solidariedade participação comunitária empoderamento e autonomia A autora apresenta reflexões teóricas embasadas em sua sólida formação acadêmica e em sua vivência prática o que confere à obra uma relevância significativa no contexto da psicologia social Conforme o texto Tipicamente os trabalhos comunitários partem de um levantamento das necessidades e carências vividas pelo grupocliente sobretudo no que se refere às condições de saúde educação e saneamento básico A seguir utilizandose métodos e processos de conscientização procura se trabalhar com os grupos populares para que eles assumam progressivamente seu papel de sujeitos de sua própria história conscientes dos determinantes sociopolíticos de sua situação e ativos na busca de soluções para os problemas enfrentados p 5 A obra também destaca a importância do trabalho em rede e da construção de parcerias entre diferentes atores sociais visando o fortalecimento das comunidades e a promoção do bemestar coletivo A autora enfatiza a necessidade de uma abordagem participativa e colaborativa que valorize os saberes locais e promova a inclusão de diferentes vozes no processo de transformação social Ao longo do livro a autora apresenta estudos de caso e experiências práticas que ilustram as potencialidades e desafios da psicologia social comunitária Ela também discute estratégias de intervenção e a importância do engajamento cidadão na construção de comunidades mais justas e solidárias O texto oferece subsídios teóricos e práticos relevantes contribuindo para a consolidação de uma abordagem comprometida com a promoção da justiça social e o fortalecimento das comunidades SÍNTESE TEXTO 2 O texto Histórico e fundamentos da psicologia comunitária no Brasil foi publicado no livro Psicologia Social Comunitária da solidariedade à autonomia em 1996 O capítulo de autoria de Sílvia TM Lane e colaboradores aborda a trajetória e os princípios fundamentais da psicologia comunitária no contexto brasileiro Sílvia TM Lane é uma renomada psicóloga e pesquisadora brasileira com vasta atuação na área da psicologia social e comunitária Possui diversas publicações e contribuições acadêmicas que enriquecem o campo da psicologia no Brasil Além disso é reconhecida por seu engajamento em questões sociais e políticas trazendo uma perspectiva crítica e transformadora para suas análises O texto inicia situando a Psicologia Comunitária dentro do contexto brasileiro destacando a influência de movimentos sociais e políticos bem como a busca por uma prática psicológica mais comprometida com as demandas das comunidades A partir dessa contextualização são apresentados os principais marcos históricos que contribuíram para a consolidação da Psicologia Comunitária no Brasil desde suas raízes na década de 1960 até o momento da publicação do artigo em 1996 Um dos pontos centrais abordados no texto é a importância da Psicologia Comunitária como uma abordagem que busca promover a participação ativa das comunidades na identificação e resolução de seus próprios problemas Nesse sentido são discutidos os fundamentos teóricos que embasam essa prática enfatizando a valorização do contexto social cultural e político na compreensão dos fenômenos psicológicos O artigo destaca a relevância da Psicologia Comunitária no enfrentamento das desigualdades sociais e na promoção da autonomia e empoderamento das comunidades São apresentados exemplos de intervenções e práticas desenvolvidas no Brasil que ilustram como a Psicologia Comunitária tem contribuído para a transformação de realidades locais fortalecendo redes de solidariedade e ampliando o acesso a serviços psicológicos O texto também fala sobre a necessidade de uma formação profissional que prepare os psicólogos para atuarem de forma efetiva no contexto comunitário São discutidas as características e competências requeridas para esse tipo de atuação bem como os desafios e dilemas éticos que podem surgir no trabalho comunitário Quando decidimos delinear nova visão histórica da psicologia comunitária no Brasil pudemos observar que os grupos seja como recurso da pesquisa participante seja como referência teórica são os espaços privilegiados para uma análise teóricoprática dos avanços das consciências individuais envolvidas no processo É no contexto grupal que nos identificamos com o outro e é nele também que nos diferenciamos deste e assim construímos a nossa identidade sendo o grupo condição para a sua manutenção ou metamorfose p 12 O texto em questão oferece uma visão panorâmica do desenvolvimento da psicologia comunitária no Brasil destacando suas origens influências teóricas e práticas bem como os desafios enfrentados ao longo do tempo Além disso apresenta reflexões sobre a importância da solidariedade e da autonomia nas intervenções psicossociais em comunidades contribuindo para uma compreensão mais ampla das dinâmicas sociais e das possibilidades de atuação da psicologia nesse contexto