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Ciências Econômicas ·
Economia Política
· 2023/2
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No capítulo 4, Marx afirma que o processo de valorização é sempre renovado e ampliado. Nesse processo, o capitalista se torna instrumento para o movimento próprio do capital, como se o capital possuísse vida, vontade e consciência próprias: A circulação do dinheiro como capital é, ao contrário, um fim em si mesmo, pois a valorização do valor existe apenas no interior desse movimento sempre renovado. O movimento do capital é, por isso, desmedido. Como portador consciente desse movimento, o possuidor de dinheiro se torna capitalista. Sua pessoa, ou melhor, seu bolso, é o ponto de partida e de retorno do dinheiro. O conteúdo objetivo daquela circulação - a valorização do valor - é sua finalidade subjetiva, e é somente enquanto a apropriação crescente da riqueza abstrata é o único motivo de suas operações que ele funciona como capitalista ou capital personificado, dotado de vontade e consciência. Assim, o valor de uso jamais pode ser considerado como finalidade imediata do capitalista. Tampouco pode sê-lo o lucro isolado, mas apenas o incessante movimento do lucro. (Marx, 2013, p. 229) Elabore uma resenha sobre a relação entre o tema dessa passagem e o tema do capítulo um, seção quatro de O Capital, intitulado “O caráter fetichista da mercadoria e o seu segredo”. Resenha: Relação entre o Capítulo 4 e o Capítulo 1, Seção 4 de “O Capital” de Karl Marx No capítulo 4 de “O Capital”, Karl Marx explora a dinâmica do processo de valorização do capital, destacando a metamorfose do dinheiro em capital e a personificação do capitalista como um mero instrumento desse movimento incessante. Ele descreve como o capital, uma vez em movimento, parece adquirir vida própria, impulsionando o capitalista a se tornar seu portador consciente. A circulação do dinheiro como capital não é um meio para um fim, mas um fim em si mesmo, perpetuando-se na busca incessante de valorização. Essa passagem do capítulo 4 se conecta intrinsecamente com o tema abordado no capítulo 1, seção 4 de “O Capital”, intitulado “O caráter fetichista da mercadoria e o seu segredo”. Nesta seção inicial, Marx explora a ideia de como as mercadorias, na sociedade capitalista, parecem adquirir características fetichistas, como se tivessem vida própria, independentemente dos produtores que as criaram. O valor de uma mercadoria não é percebido como resultado do trabalho humano, mas sim como uma qualidade inerente à própria mercadoria. Ao estabelecer uma conexão entre essas duas passagens, é possível perceber que Marx está construindo uma análise profunda sobre a naturesa do capitalismo, destacando como tanto o dinheiro quanto as mercadorias adquirem uma existência quase autônoma. No capítulo 1, ele destaca a fetichização das mercadorias, enquanto no capítulo 4, ele leva essa análise para o próximo nível, discutindo como o capital em si mesmo se torna um sujeito ativo na busca incessante por valorização. No “caráter fetichista da mercadoria”, Marx examina como as relações sociais entre os indivíduos são obscurecidas pela relação entre as mercadorias. Os produtos do trabalho humano são tratados como entidades independentes, dotadas de valor intrínseco. Essa fetichização leva a uma alienação dos produtores em relação ao produto de seu trabalho e, consequentemente, em relação aos outros produtores. A passagem do capítulo 4 expande essa análise ao introduzir o papel do capitalista como o portador consciente do movimento do capital. O capital, que inicialmente é apenas uma forma objetiva (dinheiro), adquire subjetividade através do capitalista. O bolso do possuidor de dinheiro torna-se o ponto de partida e de retorno do dinheiro em seu movimento constante de valorização. Aqui, Marx destaca como o capitalista, apesar de ser o agente aparente, torna-se subserviente ao movimento do capital, que age como se tivesse uma vontade própria. Ao vincular esses temas, Marx destaca a alienação não apenas na produção, como discutido no capítulo 1, mas também na esfera de circulação e valorização do capital. A fetichização da mercadoria na seção 4 do capítulo 1 é ampliada para incluir a fetichização do próprio capital na passagem do capítulo 4. O capitalista, apesar de aparentemente controlar o processo, torna-se um mero instrumento do movimento do capital, como se estivesse subjugado a uma entidade supra-humana. Essa relação entre os capítulos ressalta a complexidade das relações capitalistas, onde tanto as mercadorias quanto o capital adquirem uma autonomia aparente, obscurecendo as relações sociais subjacentes. Marx sugere que o fetichismo não se limita apenas às mercadorias, mas permeia todo o sistema capitalista, onde o próprio capital parece possuir uma vida própria, agindo através dos indivíduos, como evidenciado na figura do capitalista. Em síntese, a passagem do capítulo 4 de “O Capital” amplia e aprofunda a análise iniciada no capítulo 1, seção 4, destacando como a fetichização não se restringe às mercadorias, mas se estende ao próprio movimento do capital. Essa conexão entre os capítulos destaca a alienação não apenas na produção, mas em todo o ciclo do capitalismo, revelando uma visão crítica da sociedade baseada na busca incessante de valorização e na aparente autonomia do capital em seu movimento desmedido. RESENHA DO LIVRO “O CAPITAL” DE KARL MARX O estudo do capitalismo, conforme articulado por Karl Marx no referido livro, oferece uma visão penetrante das engrenagens que movimentam as sociedades modernas. A obra é um exame profundo das relações econômicas, mas vai além, tocando em aspectos culturais e filosóficos. Dois conceitos fundamentais são explorados: o processo de valorização do capital, descrito no capítulo 4, e o fetichismo da mercadoria, discutido no primeiro capítulo, seção quatro. Estes conceitos não apenas moldam a compreensão do capitalismo como um sistema econômico, mas também revelam as complexas relações sociais e culturais inerentes a ele. No quarto capítulo, Marx apresenta uma análise detalhada e penetrante do processo de valorização do capital, que ele identifica como a força motriz central do sistema capitalista. Este processo vai além da simples função do capital como meio de facilitar trocas comerciais, elevando-o a um status quase místico, onde o capital se torna um fim em si mesmo. Esta percepção revolucionária de Marx sobre o capital oferece uma visão crítica da natureza e das motivações subjacentes ao capitalismo. Marx descreve o capital como tendo adquirido uma autonomia quase personificada, agindo independentemente dos desejos e intenções humanas. Neste contexto, o capital transcende sua função original de meio de troca e se transforma em uma entidade que busca sua própria valorização contínua. Essa característica do capitalismo transforma radicalmente a natureza das atividades econômicas, priorizando a acumulação de capital sobre todas as outras considerações, incluindo as necessidades humanas e sociais. Dentro deste sistema, o papel do capitalista é reinterpretado. Marx argumenta que o capitalista, longe de ser um agente independente, torna-se um instrumento do próprio capital. O capitalista é compelido a seguir a lógica implacável da valorização do capital. Suas ações, portanto, não são motivadas por escolhas pessoais ou por uma busca autônoma de riqueza, mas são determinadas pelas exigências do capital. Nesse sentido, o capitalista funciona como um "portador" do capital, um personagem cujo propósito principal é facilitar a constante expansão e acumulação do capital. Este processo de valorização do capital tem implicações profundas não apenas para a economia, mas também para a sociedade como um todo. Ao tornar a acumulação de capital um fim em si mesmo, o capitalismo cria uma dinâmica onde a riqueza é constantemente buscada, mas nunca satisfaz plenamente. Isso leva a uma corrida sem fim pela acumulação de capital, frequentemente à custa do bem-estar social, ambiental e humano. A análise de Marx sobre a valorização do capital revela, portanto, uma crítica fundamental ao coração do sistema capitalista. Ele expõe como o capitalismo transforma as relações econômicas, subordinando todas as outras esferas da vida - sociais, morais, culturais - à lógica do capital. Essa compreensão é essencial para qualquer análise crítica do capitalismo e suas implicações na sociedade moderna. Já na seção quatro do primeiro capítulo, Marx introduz e elabora o conceito do fetichismo da mercadoria, um aspecto central para compreender as peculiaridades e distorções inerentes ao sistema capitalista. Nesta análise, Marx explora como, sob o capitalismo, as relações sociais entre os produtores são obscurecidas e substituídas por relações entre as mercadorias que produzem. O cerne do argumento de Marx é que as mercadorias no capitalismo adquirem um "valor intrínseco" aparente, desvinculado do trabalho humano que está na sua origem. Esta percepção cria uma ilusão: as mercadorias parecem ter valor por si mesmas, independentemente do trabalho humano que as criou. Esse fenômeno, que Marx chama de "fetichismo", distorce a realidade econômica e social, ocultando a verdadeira natureza das relações de produção capitalista. O fetichismo da mercadoria tem implicações profundas. Ele mascara a exploração do trabalho que está no cerne do processo de produção capitalista. Sob a aparência de igualdade e autonomia das mercadorias, esconde-se a realidade de desigualdade e exploração. Por exemplo, quando um consumidor compra um produto, ele vê apenas o preço e a mercadoria, não o trabalho e as condições de trabalho que estão por trás de sua produção. Assim, as relações sociais entre os trabalhadores, que são a verdadeira fonte de valor das mercadorias, são substituídas por uma relação aparentemente objetiva e natural entre os objetos. Além disso, o fetichismo da mercadoria contribui para a reificação das relações sociais. As pessoas começam a tratar as relações sociais como se fossem relações entre coisas. Isso leva a uma compreensão distorcida da realidade econômica, onde os seres humanos e suas interações são subordinados às demandas do mercado e do capital. Marx argumenta que esse fenômeno não é apenas um erro de percepção, mas uma característica intrínseca do modo de produção capitalista. O fetichismo da mercadoria é um reflexo da forma como o capitalismo organiza a produção e a troca, transformando as relações sociais e humanas em relações entre objetos. Este conceito é fundamental para entender não apenas a economia, mas a própria estrutura da sociedade capitalista. Portanto, a valorização do capital e o fetichismo da mercadoria são dois lados da mesma moeda. Ambos ilustram como, no capitalismo, objetos econômicos - seja capital ou mercadorias - adquirem uma vida própria, distanciando-se de suas origens humanas. O capital se torna uma força autônoma, enquanto as mercadorias assumem um valor que parece independente do trabalho que as criou. Esta análise revela como o capitalismo abstrai e distorce as relações humanas, transformando-as em relações entre coisas. Esses conceitos são cruciais para compreender o capitalismo além da esfera econômica. Eles oferecem uma janela para entender como o capitalismo molda não apenas os mercados, mas também a cultura, as relações sociais e a consciência individual e coletiva. A personificação do capital e o fetichismo da mercadoria contribuem para uma compreensão do capitalismo que abrange filosofia, cultura e política, mostrando como o sistema não apenas afeta a economia, mas permeia todos os aspectos da vida social. O que se conclui com essa análise é que Marx não se limita a desvendar os mecanismos econômicos do capitalismo, mas expõe como esses mecanismos estão intrinsecamente ligados a questões sociais e culturais mais amplas. A interconexão entre o processo de valorização e o fetichismo da mercadoria ilustra a complexidade e a profundidade da crítica marxista ao capitalismo, revelando um sistema que vai além das simples transações econômicas para moldar a estrutura fundamental das sociedades modernas. Referências BOTTOMORE, T. (Ed.). Dicionário do pensamento marxista. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. HARVEY, D. Os limites do capital. Tradução de João Alexandre Peschanski. São Paulo: Boitempo, 2013. MANDEL, E. Marx: Economia Política para Trabalhadores. Tradução de Ciro Mioranza. São Paulo: Expressão Popular, 2013. MARX, K. O Capital: Crítica da economia política. Livro I: O processo de produção do capital. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013. UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA. Anais da Semana de Economia 2014. Disponível em: https://www2.uesb.br/eventos/semana_economia/2014/anais-2014/g02.pdf. Acesso em: 19 de nov de 2023.
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