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Linguística

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Disciplina Linguística III Prof Dr Almir Almeida de Oliveira Nome FICHA DE LEITURA XI 1 Por que o argumento convencionalista é tão forte ante a tese biológica do inatismo 1 Por que para Raposo 1992 os estudos gerativistas configuram um Programa de Pesquisa E quais as implicações dessa definição 2 Explique como a língua se torna numa perspectiva gerativa em um sistema de princípios e regras atuando de forma computacional a gerar sentenças gramaticais 3 Qual a importância teórica dos conceitos de competência e performance 4 Por que a gramática enquanto modelo de competência é neutra em relação à produçãocompreensão da linguagem Capítulo 1 A língua como sistema de representação mental 1 Introdução Neste capítulo procuramos caracterizar as questões de fundo em particular questões de natureza epistemológica que têm definido o programa da gramática generativa independentemente dos mecanismos técnicoteóricos propostos no âmbito específico da investigação sobre a estrutura das línguas humanas Insistimos em particular na natureza mentalista da teoria isto é na concepção de que o seu objecto de estudo consiste num sistema de regras e princípios radicados em última instância na mente humana e não em propriedades absolutas das expressões linguísticas consideradas em si mesmas ou consideradas como um aspecto particular do comportamento humano independente das propriedades mentais subjacentes à sua produção e compreensão Esta preocupação da gramática generativa com o aspecto psicológico da linguagem e sobretudo com o problema da aquisição da linguagem em última instância com o seu aspecto biológico não aparece apenas com a TRL pelo contrário tem estado no centro das preocupações de Chomsky e de outros generativistas desde os seus primeiros trabalhos como se pode ver por exemplo pela data de publicação da célebre recensão crítica de Chomsky 1959 a Skinner 1957 um trabalho sem dúvida tão revolucionário no impacte que teve no desenvolvimento das ciências da cognição e dos estudos sobre a aquisição da linguagem como Chomsky 1957 o foi relativamente à área dos estudos gramaticais É no entanto na TRL que se torna possível talvez pela primeira vez ancorar mais solidamente na teoria gramatical as investigações relativas à aquisição e desenvolvimento da linguagem na criança através do modelo de princípios e parâmetros 2 A tensão entre a natureza e a convenção nos estudos da linguagem As línguas naturais com as propriedades que os linguistas e filósofos lhes têm reconhecido são adquiridas e faladas espontaneamente apenas pelos membros da espécie humana isto é por organismos com um determinado tipo específico de estrutura e organização mental Parece pois difícil escapar à conclusão de que as propriedades essenciais da linguagem são directamente determinadas por propriedades mentais dos seres que as falam e que estudar a linguagem humana consiste em estudar determinadas propriedades da mente humana radicadas em última instância na organização biológica da espécie Ao longo da história dos estudos sobre a linguagem esta conclusão que nos parece indiscutível tem sido no entanto objecto de intensos debates e muitas das teorias desenvolvidas por filósofos e linguistas a têm negado explícita ou implicitamente Como Chomsky o assinala várias vezes o pensamento científico e humanista ocidental tem uma extrema dificuldade em assumir que os produtos do pensamento entre os quais a linguagem possam radicar na natureza biológica dos seres humanos tal como as estruturas anatómicas A posição antimentalista tem usualmente uma fundamentação social os seres humanos vivem em comunidades sociais a linguagem é um instrumento essencial na vida social das mulheres e dos homens logo a explicação última das propriedades da linguagem tem a ver com o seu funcionamento social em última instância é um produto convencional da cultura dos seres humanos vivendo em sociedade e não um produto natural da sua organização mental Não é este o lugar para apresentar detalhadamente as diferentes escolas e correntes que se sucederam na história da linguística e a posição que tomaram relativamente a esta dicotomia 1 A teoria da Gramática Generativa inscrevese decididamente na corrente naturalista dos estudos sobre a linguagem e a natureza humana o que não significa como Chomsky acentua várias vezes que seja o produto ou o seguimento directo de nenhuma das tradições históricas que a antecederam 2 1 Ver a este respeito Chomsky 1966a 1972 1975 Robins 1967 e Lyons 1968 Uma versão contemporânea da posição convencionalista reduz a linguagem humana e as suas propriedades centrais a um simples instrumento comunicativo estruturalmente optimizado com vista à comunicação mais eficaz possível Como Chomsky tem insistido várias vezes nem a comunicação constitui o único uso que os seres humanos fazem da linguagem nem é viável efectuar uma redução das complexas propriedades estruturais da linguagem a requisitos comunicativos Sobre este tópico ver por exemplo Chomsky 1975 capítulo 2 2 Entre os exemplos da perspectiva naturalista sobre a linguagem assinalemos a O programa de investigação da gramática generativa Na base do pressuposto de que a linguagem é um sistema de conhecimentos interiorizado na mente humana Chomsky define o programa de investigação da Gramática Generativa como o desenvolvimento das quatro seguintes questões para uma exposição extremamente clara deste programa ver Chomsky 1988a e as entrevistas dedicadas à linguística em Chomsky 1988b 3 1 Qual é o conteúdo do sistema de conhecimentos do falante de uma determinada língua particular por exemplo do Português O que é que existe na mente deste falante que lhe permite falarcompreender expressões do Português e ter intuições de natureza fonológica sintáctica e semântica sobre a sua língua 2 Como é que este sistema de conhecimentos se desenvolve na mente do falante Que tipo de conhecimentos é necessário pressupor que a criança traz a priori para o processo de aquisição de uma língua particular para explicar o desenvolvimento dessa língua na sua mente 3 Como é que o sistema de conhecimentos adquirido é utilizado pelo falante em situações discursivas concretas 4 Quais são os sistemas físicos no cérebro do falante que servem de base ao sistema de conhecimentos linguísticos gramática especulativa dos escolásticos do período medieval a qual distinguia entre os aspectos universais e os aspectos acidentais das línguas realçando que a gramática é essencialmente universal e radicada no conhecimento humano e que os aspectos acidentais residem no vocabulário diferente das línguas particulares e a tradição da Gramática de PortRoyal dos séculos XVII e XVIII com a sua insistência que a linguagem é um produto da natureza mental humana reflectindo directamente a organização e funcionamento do raciocínio Sobre esta última corrente ver em particular Chomsky 1966a 3 O termo língua tal como utilizado na formulação das questões 14 no decorrer deste livro e de um modo mais geral na literatura generativista referese a um sistema de conhecimentos mental e não ao conjunto de objectos abstractos frases ou expressões determinado por esse sistema Nesta acepção o termo língua é sinónimo de gramática interiorizada ver a secção 4 ou de competência ver a secção 5 Chomsky 1986b utiliza nesta acepção o termo técnico línguaI de língua interiorizada opondoo ao termo línguaE de língua exteriorizada que refere o conjunto de frases e expressões determinadas pela línguaI O objecto de estudo da gramática generativa é a línguaI não a línguaE Para mais detalhes sobre esta dicotomia conceptual ver Chomsky 1986b 2146 1988b 589590 O empreendimento generativista atribui um lugar central à questão 2 tanto do ponto de vista filosóficoepistemológico como do ponto de vista da teoria gramatical propriamente dita Em particular o cuidado atribuído à interação entre 1 e 2 é a pedradetoque da gramática generativa qualquer proposta relativa ao tipo de conhecimentos iniciais que a criança traz para o processo de aquisição tem de poder explicar adequadamente o carácter dos conhecimentos adquiridos relativamente a uma língua particular e inversamente qualquer proposta quanto ao carácter dos conhecimentos sobre uma língua particular tem de ser compatível com os conhecimentos iniciais da criança e com o facto de a aquisição e o desenvolvimento dessa língua serem feitos a partir dos conhecimentos iniciais Por outras palavras nem todas as gramáticas que descrevem adequadamente os dados de uma língua particular são psicologicamente possíveis É necessário para além disso que possam ter sido desenvolvidas pela criança com base no sistema de aquisição inicial Nas próximas secções abordamos os problemas levantados por cada uma destas questões com mais ou menos pormenor consoante se inscrevam ou não nas preocupações centrais deste livro Como o nosso objectivo central é a apresentação de uma teoria linguística que serve de guia à elucidação dos problemas 1 e 2 é a estes que dedicamos mais espaço especialmente à questão central 2 Começamos portanto com algumas observações sobre 1 3 e 4 para nos ocupamos a seguir mais longamente de 2 4 A gramática como sistema computacional O primeiro feixe de problemas leva ao desenvolvimento da gramática de uma língua particular isto é de um modelo que represente o sistema de conhecimentos particular do falante capaz de explicar as suas intuições sobre a forma e a significação das expressões linguísticas nomeadamente se são ou não admitidas pela sua língua isto é se são aceitáveis ou não 4 As investigações dos generativistas sobretudo nos últimos 20 anos mostraram que a gramática interiorizada consiste por um lado num dicionário mental das formas da língua e por outro num sistema de princípios e regras actuando de forma computacional sobre essas formas isto é construindo representações mentais constituídas por combinações categorizadas das formas linguísticas 5 Estas representações determinam de uma forma muito explícita as propriedades fonológicas e sintácticas das expressões da língua assim como aquelas propriedades semânticas que são derivadas directamente a partir das propriedades sintácticas A gramática determina igualmente o modo como estas representações se articulam com outros sistemas conceptuais da mente humana ou com o sistema neuromuscular que determina a pronúncia das expressões 6 Para dar um exemplo simples do funcionamento da gramática tomemos uma expressão do Português como por exemplo a oração interrogativa que livro o Luís leu A informação contida no dicionário mental sobre ler indica que esta forma pertence à categoria verbo e que é necessariamente acompanhada de um complemento de objecto directo uma expressão de categoria NP Com base nesta informação uma regra geral do sistema constrói a representação 5 determinando em particular as seguintes propriedades da expressão i o produto da combinação VNP pertence à categoria VP ii dentro do VP V precede NP 7 5 VP V leu NP que livro Uma outra regra do sistema determina que a representação 5 se combina com uma expressão de categoria NP com a função de sujeito e que a representação resultante pertence à categoria Frase S 6 S NP o Luís VP V leu NP que livro 5 Podemos assimilar as formas primitivas do dicionário às palavras o que não é tecnicamente correcto mas é suficiente para a exposição neste ponto Ver o capítulo 3 para uma discussão técnica da forma e conteúdo deste dicionário 6 A linguagem é para Chomsky um sistema formal interpretado no sentido da lógica isto é as expressões são construídas por um sistema de regras exclusivamente formais e são posteriormente investidas de significação A interpretação semântica atribuída às expressões derivadas pelo sistema formal podem ser determinadas por regras tardias do próprio sistema ou por regras de outros sistemas de representação mental como o sistema de crenças e de pressuposições acerca do mundo que nos rodeia o sistema de significações parcialmente arbitrárias e convencionais que a sociedade atribui às palavras e um sistema de representação semântica parcialmente autónomo em relação à gramática Ver o capítulo 5 para uma discussão de algumas destas questões 7 Ver o capítulo 232 para uma explicação da notação dos parênteses aqui utilizada Ver o capítulo 9 para uma caracterização do princípio que determina a construção sintáctica da representação 5 a partir das propriedades do verbo ler Finalmente outra regra do sistema determina com base na presença da forma que no NP objecto directo que esta categoria é deslocada para a posição inicial da oração e que a expressão recebe uma interpretação interrogativa o travessão indica a posição a partir da qual o NP é deslocado 7 NP que livro S NP o Luís VP V leu A gramática interiorizada do falante é um sistema autónomo cujos princípios e representações lhe são específicos isto é não são partilhados por outros sistemas ou capacidades humanas Para além disso a gramática é independente dos outros sistemas conceptuais da mente humana como por exemplo princípios de conversação princípios de formação de conceitos etc embora mantendo com eles uma interacção complexa em pontos específicos Esta visão da organização da mente humana tem sido chamada de modular 8 Qualquer fenómeno linguístico nesta perspectiva é um produto complexo da acção da gramática e de outros mecanismos conceptuais Uma das tarefas do linguista consiste precisamente em determinar quais são aqueles aspectos de uma expressão linguística que devem ser representados no nível da gramática formal ver igualmente a discussão na secção seguinte 8 A concepção modular da mente humana defende que esta é formada por módulos autónomos cada um deles caracterizado por princípios e representações específicas Estes módulos comunicam entre si em pontos determinados mantendo uma interacção complexa que determina as propriedades dos fenómenos mentais humanos Assim para além do módulo linguístico a mente humana possui por hipótese um módulo matemático um módulo musical um módulo espacial que lhe permite compreender mapas por exemplo um módulo de formação de conceitos entre outros cujo descobrimento e caracterização pertence às ciências cognitivas Ver a este respeito Fodor 1983 e Gardner 1983 1985 Esta posição opõese a uma visão da mente como sendo uma estrutura uniforme não diferenciada no que respeita aos seus princípios de funcionamento nomeadamente possuindo uma inteligência generalizada aplicável a todos os domínios mentais e determinando o desenvolvimento cognitivo geral da criança incluindo o seu desenvolvimento linguístico Esta concepção da estrutura mental era defendida pelo psicólogo Jean Piaget e continua a ser defendida pelos seus seguidores Para um debate entre Chomsky e Piaget relativamente a estas questões bem como numerosos comentários e discussões por outros linguistas psicólogos e neurologistas ver PiattelliPalmarini ed 1979 Recomendase a versão inglesa desta obra mais fiel ao texto das publicações submetidas originalmente em Inglês 5 Competência e performance A questão 3 está na base da distinção efectuada por Chomsky 1965 315 entre competência e performance A competência é o conhecimento mental puro de uma língua particular por parte do sujeito falante isto é a sua gramática interiorizada A performance por sua vez designa o uso concreto da linguagem em situações de fala concretas Chomsky 1965 3 Como os actos de fala põem em jogo variáveis de natureza social e psicológica independentes do conhecimento gramatical da língua a estrutura organização e conteúdo de qualquer expressão linguística ou sequência discursiva de expressões pronunciada em condições naturais é determinada por uma combinação muitas vezes complexa de factores que têm a ver apenas parcialmente com a competência Os problemas levantados por 3 dizem pois respeito ao modo como a competência é utilizada ou distorcida em situações de performance através da sua interação com esses sistemas 9 Para dar apenas alguns exemplos a atenção e a memória podem provocar erros de competência por exemplo quando entre o sujeito e o verbo se interpõe material suficiente para fazer esquecer ao falante o número do sujeito e induzir desse modo uma forma verbal com a concordância errada As falsas partidas as mudanças de plano discursivo as hesitações o gaguejar etc são outros factores que afectam o resultado gramatical das expressões enquanto reflexo da competência Num plano diferente existem convenções linguísticas de natureza discursiva que determinam significações para as expressões que não são aquelas atribuídas pela gramática Um caso interessante é o dos actos de fala indirectos como 8 ver Searle 1975 8 a Podes passarme a manteiga b Está um frio de rachar A expressão 8a é gramaticalmente uma oração interrogativa caracterizada pelo sistema formal como um pedido de informação No entanto num acto de fala em que seja normalmente pronunciada por exemplo à mesa durante o almoço esta expressão é interpretada como um pedido para 9 A trajectória real de um projéctil constitui uma analogia possível na medida em que é o produto da trajectória ideal determinada pela balística com as condições atmosféricas do mundo real vento etc que a afectam Do mesmo modo a estrutura conteúdo e organização das expressões da linguagem são o produto da interacção da competência ideal com factores psicológicos ou sociais que afectam essa competência efectuar uma determinada acção passar a manteiga e não como um pedido de informação O sentido convencional neste caso anula o sentido formal Do mesmo modo 8b uma oração declarativa exprimindo a priori uma proposição assertiva pode ser utilizada como um pedido ou mesmo como uma ordem para fechar a janela por exemplo num contexto discursivo apropriado e se o falante tiver um ascendente de qualquer tipo sobre o ouvinte Outras áreas de natureza geral que caem no âmbito da performance são a estrutura das conversações e a relação entre o significado gramatical das expressões e o contexto do discurso isto é o modo como esse contexto desambigua expressões semanticamente ambíguas ou atribui novas significações a expressões que a priori não as possuem Qualquer destes tópicos põe em jogo a competência em interacção com fenómenos complexos de natureza social psicológica e discursiva por exemplo estratégias de comunicação10 Num sentido mais restrito o termo performance é utilizado sobretudo na literatura generativista para referir exclusivamente os mecanismos psicológicos de percepção e processamento da linguagem que facilitam o funcionamento da gramática interiorizada ver por exemplo Berwick e Weinberg 1984 Neste sentido a teoria da performance tem como um dos seus objectivos centrais a construção de um analisador em Inglês um parser o qual consiste num mecanismo capaz de analisar a cadeia falada linear que é tudo a que o ouvinte tem acesso de acordo com os princípios de uma gramática generativa os quais envolvem noções mais abstractas como estrutura de constituintes e movimentos transformacionais entre outras ver os capítulos 2 e 4 respectivamente Notese a propósito que a gramática enquanto modelo da competência é neutra relativamente à produçãocompreensão da linguagem sendo subjacente a ambas Em particular não é um modelo da produção linguística pelo falante erro de interpretação por vezes cometido devido ao termo generativo o qual significa simplesmente neste contexto caracterizar explicitamente os 10 Dada a natureza diversa dos factores extragramaticais que determinam os actos de fala não podemos falar num único modelo generalizado de performance mas sim em vários modelos de acordo com a especificidade e autonomia dos factores em jogo Por exemplo o estudo do modo como o contexto discursivo desambigua o sentido das expressões semanticamente ambíguas está na base de uma disciplina específica da performance a pragmática Ao atribuir a pragmática à performance não estamos de modo nenhum a negar a existência de uma possível competência pragmática interiorizada na mente do falante objectos de um determinado conjunto neste caso particular as frases de uma língua 11 Em síntese o estudo da competência enquanto puro sistema de conhecimentos mental implica que o linguista proceda a uma abstracção das diversas variáveis em jogo nos actos de fala concretos ou seja implica que o objecto do seu estudo seja um falanteouvinte ideal situado numa comunidade linguística completamente homogénea que conhece a sua língua perfeitamente e que ao aplicar o seu conhecimento da língua numa performance efectiva não é afectado por condições gramaticalmente irrelevantes tais como limitações de memória distrações desvios de atenção e interesse e erros casuais ou característicos Chomsky 1965 3 citado da tradução portuguesa p 8312 6 A realização física do sistema da competência Enquanto sistema mental a língua tem necessariamente um suporte material no cérebro humano A questão 4 tem a ver com a relação línguacérebro em particular com os mecanismos neuronais que suportam o conhecimento gramatical Pouco teremos aqui a dizer sobre esta área da investigação a qual se bem que esteja ainda numa fase prematura tem sido objecto de esforços renovados no âmbito do interesse crescente pelas ciências da cognição em geral Estes estudos escusado será dizêlo terão de pôr em jogo uma colaboração estreita entre linguistas psicólogos patologistas da fala e neurologistas os quais com base em resultados pelo menos parciais obtidos pelos linguistas relativamente às questões 13 poderão investigar os mecanismos físicos específicos que estão na base dos diversos sistemas da competência e da performance Uma área privilegiada nesta investigação é o estudo das afasias em particular o estudo do modo se 11 Chomsky 1988a coloca igualmente entre as questões de 3 o problema da produção da linguagem que considera no entanto o seu aspecto mais misterioso e sobre o qual o pensamento científico pouco ou nada tem a dizer Entre os problemas levantados pela produção encontramse o uso criativo e inovador da linguagem isto é a possibilidade de pronunciarmos pensamentos que nunca exprimimos ou ouvimos anteriormente a liberdade da linguagem relativamente a estímulos externos ou internos por exemplo se tenho fome não digo necessariamente tenho fome e a sua adequação salvo casos patológicos às situações discursivas Critérios deste tipo eram frequentemente adiántados pelos Cartesianos para a postulação da noção de mente oposta à noção de corpo como autómato 12 Para uma discussão das confusões metodológicas e conceptuais que a distinção competênciaperformance tem suscitado na linguística contemporânea ver Newmeyer 1983 lectivo como o conhecimento gramatical é afectado por tipos diferentes de lesões cerebrais 13 A possibilidade de sucesso teórico na caracterização neuronal detalhada do sistema gramatical levanta a questão do estatuto epistemológico dos conceitos utilizados pelo linguista na caracterização desse sistema em particular se estes conceitos devem ou não ser substituídos pelos do neurologista no momento em que este seja capaz de oferecer uma caracterização igualmente detalhada e profunda em termos de células neurónios etc A questão mais geral que se coloca é a de saber se o estudo da mente entendida como um conjunto de sistemas cognitivos deve ou não ser reduzido ao estudo do cérebro no momento em que os neurologistas tiverem um conhecimento completo do modo como os sistemas físicos suportam os vários sistemas mentais Como o assinala Chomsky 1988a e outros cientistas da cognição relativamente aos seus domínios particulares é pouco provável que a compreensão dos fenómenos linguísticos possa ser atingida sem referência a noções especificamente gramaticais como Frase Grupo Nominal Grupo Verbal pronome anáfora ligação etc O mesmo se passa de um modo mais geral relativamente aos restantes sistemas cognitivos da mente humana Os dois tipos de estudos da mente e do cérebro sem dúvida que se complementam mas situamse em planos diferentes da realidade sem que nenhum se possa reduzir ao outro A mente nesta perspectiva é o conjunto das propriedades abstractas dos sistemas físicos do cérebro e a compreensão destas propriedades passa necessariamente pelo uso de conceitos em particular o conceito de representação independente dos mecanismos materiais postulados ao nível do cérebro 7 A questão da aquisição da linguagem Como mencionámos acima a questão central do programa de investigação da gramática generativa é sem dúvida 2 ou seja o problema de saber como é que a gramática se desenvolve na mente do sujeito falante e em que base Por outras palavras é a questão da aquisição da linguagem que foi e continua a ser uma das questões mais debatidas na história 13 A investigação das relações línguacérebro tem antecedentes importantes que remontam ao século XIX no estudo das localizações cerebrais de aspectos diferenciados da linguagem por Broca e Wernicke entre outros Broca foi o primeiro a apresentar evidência experimental de que a língua se situa dominantemente no hemisfério esquerdo do cérebro Disciplina Linguística III Prof Dr Almir Almeida de Oliveira Nome FICHA DE LEITURA X 1 De que trata a noção de recursividade 2 Por que a noção de recursividade pode parecer problemática 3 Quais as contribuições teóricas de uma distinção entre faculdade de linguagem ampla e restrita 4 Quais são as quatro diferentes distinções para recursividade 5 Por que recursividade não pode ser confundida como estrutura frasal 6 Em que o pensamento de Pinker e Chomsky dessoam sobre a origem da língua na espécie humana 27 LINGUAGEM EM FOCO Revista do Programa de PósGraduação em Linguística Aplicada da UECE V 6 N 1 ano 2014 A RECURSIVIDADE COMO PROPRIEDADE ÚNICA E UNIVERSAL DA FACULDADE DA LINGUAGEM 1Sidriana Scheffer Rattova PUCRS RESUMO A noção de recursividade há muito tem desempenhado um papel importante no desenvolvimento do campo da Linguística mais especificamente na abordagem Gerativa em virtude da sua estreita relação com a sintaxe Ao mesmo tempo o conceito de recursividade é uma questão polêmica e tem sido motivo de grande debate na literatura recente CHOMSKY HAUSER e FITCH 2002 PINKER JACKENDOFF 2005 entre outros Não havendo um consenso sobre a sua definição especulase que o componente sintático recursivo seja único à linguagem humana e principalmente questiona se a sua universalidade Dessa forma este artigo procura iluminar as questões problemáticas apresentadas acima partindo de um panorama dos vários desdobramentos que o conceito apresenta no que diz respeito a seu tratamento na Linguística Cognitiva e culminando com as reivindicações relativamente recentes sobre a centralidade da recursividade no contexto da Biolinguística Palavraschave Recursividade Sintaxe Linguística Cognitiva Biolinguística ABSTRACT The notion of recursion has long played an important role in developing field of Linguistics specifically in Generative Approach because of its close relationship with syntax At the same time the concept of recursion is a controversial issue and it has been the subject of a great debate in recent literature CHOMSKY HAUSER and FITCH 2002 PINKER and JACKENDOFF 2005 among others There is no consensus on its definition it is speculated that the recursive syntactic component is unique to human language and specially there are doubts about its universality Thus this article seeks to illuminate the problematic issues presented above starting with an overview of the several development that recursion introduces the concept with regard to their treatment in the Cognitive Linguistics and culminating with the claims relatively recent on the centrality of recursion in Biolinguistc context Keywords Recursion Syntax Cognitive Linguistics Biolinguistc Mestre em Linguística pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul PUCRS Email sidrirottavayahoocombr 28 A recursividade como propriedade única e universal da faculdade da linguagem INTRODUÇÃO Este artigo propõe um estudo sobre o fenômeno recursivo das línguas naturais partindo de um panorama dos vários desdobramentos que o conceito recursividade apresenta no que diz respeito a seu tratamento na Teoria Linguística A noção de recursividade há muito tem desempenhado um papel importante no desenvolvimento do campo da Linguística mais especificamente na abordagem Gerativa Porém o interesse pelo fenômeno recursivo das línguas naturais é bem mais antigo Descartes procurou sublinhar a diferença entre o homem e o animal através da racionalidade e da variante linguística Segundo o Filósofo não há nenhum homem mesmo estúpido e louco incapaz de dispor juntas diversas palavras e de compôlas num discurso ao passo que animais embora perfeitos em sua espécie não podem falar como nós isto é demonstrando que pensam aquilo que dizem DISCURSO DO MÉTODO 2002 p 58 Da mesma forma dois séculos mais tarde Wilhelm von Humbolt chamou a atenção à capacidade humana de fazer o uso infinito de meios finitos Contudo Descartes e Humboldt ainda não tinham falado precisamente sobre recursão1 e infinitude poderia ser produzida por outros meios Com efeito foi desde os estudos de Noam Chomsky 1955 que uma teoria formal linguística desenvolveuse tendo um modelo matemático preciso de linguagem baseado na recursividade Chomsky mostrou que a noção central da teoria das funções recursivas formais poderia ser adaptada à linguagem partindo do pressuposto de que um processo recursivo é aquele que pode reaplicarse indefinidamente dando origem a uma estrutura hierárquica visto que até o momento a linguística estruturalista na sua vertente norteamericana havia realizado uma descrição das relações estruturais em termos de constituintes imediatos No entanto a noção do termo recursividade é problemática visto que não há um consenso sobre o seu conceito e as definições disponíveis na literatura muitas vezes são vagas e imprecisas na hora de fornecer uma explicação Certas definições salientam o encaixamento das estruturas recursivas outras utilizam as regras de estrutura frasal como base outras simplesmente equiparam recursão a repetição ou iteração Assim a dificuldade mais significante em relação às definições é a incapacidade em se fazer três distinções essenciais recursão não é o mesmo que iteração recursão não é o mesmo que estrutura frasal e há diferentes tipos de recursão Além de todas essas controvérsias e indefinições envolvendo o termo recursividade há aproximadamente 10 anos a pesquisa sobre o fenômeno recursivo das línguas naturais passou a delinearse sob a perspectiva biolinguística e assim um novo viés de pesquisa desenvolveuse desde o trabalho de Marc Hauser Noam Chosmky e Tecumseh Fitch HCF Com a publicação de um artigo Hauser et al 2002 formulam uma nova hipótese envolvendo a recursividade Neste artigo os autores diferenciam a faculdade da linguagem entre Sentido Amplo Faculty of Language in the Broad Sense FLB e Restrito Faculty of Language in the Narrow Sense FLN extraindo da Biolinguística a distinção entre os traços humanos que podem ser relegados a capacidades cognitivas gerais que de acordo com HCF são compartilhadas com outros animais e traços que são especificamente humanos Assim a FLB é constituída por um sistema sensóriomotor fonética 1 Neste artigo usaremos o termo recursividade ou recursão indistintamente Sidriana Scheffer Rattova 29 e fonologia intencionalcomputacional semântica e pragmática e computacional interno sintaxe restrita que é a faculdade da linguagem em sentido restrito FLN sendo que a FLN apenas envolve a propriedade da infinitude discreta com base na recursividade A questão crucial relativa à hipótese de HCF baseiase no fato de que além da combinação dos mecanismos da FLB algo sobre a faculdade da linguagem deve ser único com o objetivo de explicar a diferença entre os humanos e os outros animais HAUSER CHOMSKY e FITCH 2005 p 182 e o elemento que se mostra exclusivo e específico à linguagem e aos humanos é a FLN 1 O FENÔMENO RECURSIVO O caráter recursivo da linguagem humana é um dos aspectos que diferencia nosso sistema comunicacional de todos os outros sistemas utilizados por não humanos A capacidade de encaixar estruturas em outras num processo recursivo dotou a nossa espécie com uma habilidade ilimitada de criar sentenças para expressar um conjunto igualmente ilimitado de possíveis significados Considerando os limites de nossa memória e de nossa capacidade de processamento podemos combinar frases para fazer sentenças ad infinitum O conceito de recursividade incorporado pela linguística provém das ciências formais mais precisamente da Matemática e da Computação Segundo Parker 2006 o conceito do termo que a área da Linguística oferece carece muitas vezes de uma definição No entanto este não parece ser um problema específico da Linguística uma vez que conforme a autora na Computação de onde a Linguística herdou a noção as significações necessitariam de um fio condutor comum Igualmente na Matemática área na qual o termo foi originalmente estabelecido notase uma situação semelhante SOARE 1996 De fato não há um consenso entre os linguistas para a definição de recursividade e dependendo da área em que ela é usada algumas definições são mais informativas do que outras Na Matemática por exemplo um objeto é dito recursivo se ele constituir parcialmente ou for definido em termos de si próprio Nesse contexto um tipo especial de procedimento algoritmo2 será utilizado algumas vezes para a solução de alguns problemas Esse procedimento é denominado recursivo Assim na Matemática a recursividade é caracterizada como uma propriedade de mecanismos relações ou determinados objetos Por isso encontramos conjuntos recursivos algoritmos recursivos funções recursivas problemas com soluções recursivas definições recursivas etc A Computação que também faz uso de mecanismos recursivos toma a recursividade como uma ferramenta ou uma técnica de programação Assim a recursividade ocorre quando um dos passos de um determinado algoritmo envolve repetição desse mesmo algoritmo PONTES JUNIOR 2010 p4 Então é possível obter um objeto ou sequências infinitas a partir de um componente finito Santiago e Bedregal 2004 p22 definem recursividade como um método para definir funções que descreve como uma função retorna valores a partir de resultados previamente obtidos Os autores mencionam que a recursividade na computação é utilizada em três maneiras distintas i nas definições ii na solução de problema e iii nas estratégias de programação 2 Tanto na Matemática quanto na Computação um algoritmo é uma lista bem definida ordenada e finita de operações que permitem obter um resultado Dado um estado inicial e uma entrada input através de passos sucessivos e claramente definidos chegase a um estado final obtendose uma saída output 30 A recursividade como propriedade única e universal da faculdade da linguagem Apesar do uso do termo recursividade ser bastante difundido na literatura tanto no domínio da Linguística como em outros campos sua definição não tem recebido um tratamento esclarecedor Muitos autores afirmam que até pouco tempo atrás não havia na literatura uma preocupação manifesta em elucidar os pontos obscuros associados à essa noção PARKER 2006 TOMALIN 2007 entre outros Essa situação está começando a mudar com a recente publicação de alguns trabalhos que visam a discutir os alcances e limites do conceito tanto no seio da teoria Linguística quanto na sua aplicação nas Ciências Cognitivas de um modo geral PARKER 2006 TOMALIN 2007 LOBINA 2010 VAN DER HULST 2010 CORBALLIS 2011 entre outros No campo da Linguística a literatura atual oferece no mínimo quatro diferentes distinções para recursividade De acordo com Parker 2006 essas caracterizações se distinguem com base no aspecto que resulta mais saliente em cada uma delas como por exemplo a primeira distinção que é baseada na infinitude discreta da língua Essa concepção liga a propriedade da infinitude discreta à recursividade nas regras de estrutura frasal que geram as sentenças gramaticais da língua De acordo com Carnie 2002 a recursividade é a propriedade de alçamento looping nas regras de estrutura frasal que permitem sentenças infinitas e explica a criatividade linguística3 A estrutura abaixo ilustra as alças as quais o autor se refere 1 Ele sabe que eu sei que João encontrou Maria S SN SV SN det N CP SV V SN CP CP S A alça loop mencionada por Carnie 2002 é realizada pelo fato de que toda sentença contém um SN que contém um CP que por sua vez contém uma sentença S A essa natureza indireta de alçamento looping chamamos de recursão indireta Chomsky 2000 nas versões mais recentes da teoria também utiliza o termo recursividade como sinônimo de infinitude discreta que é tomada muitas vezes como sinônimo de criatividade e produtividade linguística A segunda definição procura explicar o fenômeno recursivo através do alçamento looping exibido nas regras de estrutura frasal Christiansen 1994 p120 formaliza essas regras afirmando que a recursividade acarreta que um símbolo não terminal4 no lado esquerdo de uma regra reapareça no lado direito da mesma ou outra regra Essa definição sugere que todos os símbolos terminais devem aparecer no lado direito da estrutura frasal caso eles sejam utilizados mas que se aparecerem 3 Rosa 2010 p 138 salienta que a noção de criatividade linguística resulta da recursividade que caracteriza a sintaxe O conceito portanto não tem relação com o uso coloquial da palavra criatividade que remete a aspectos estéticos ou mesmo artísticos do uso de uma língua 4 De acordo com Raposo 1992 as categorias sintagmáticas NP AP VP etc constituem os símbolos não terminais e os símbolos terminais são as palavras Sidriana Scheffer Rattova 31 novamente sozinhos esse fato não acarretará recursão Assim haverá recursão se i o símbolo não terminal aparecer em ambos os lados da mesma regra ou ii ele aparecer no lado direito de uma regra cujo lado esquerdo consiste em um símbolo terminal ou não terminal que aparece no lado direito da regra que por sua vez o símbolo não terminal original aparece no lado esquerdo No exemplo 1 a regra para o símbolo não terminal S se expande para incluir um símbolo não terminal NP que se expande para conter outro símbolo não terminal CP cuja regra se expande novamente para incluir o símbolo não terminal inicial S Pinker 2003 também sugere que é o alçamento looping que permite gerar sentenças de número infinito visto que uma sentença pode ser composta de um SN e um SV e um SV pode ser composto de um verbo ou outro SN criando assim uma alça loop regida pelo princípio da recursividade Uma terceira definição de recursão na literatura linguística envolve a noção de encaixamento embedding particularmente encaixamento de constituintes idênticos Essas definições abstêmse de ligar a recursividade diretamente às regras da gramática formal um fato que permite tais definições serem mais acessíveis Kirby 2002 p 27 define recursividade como uma propriedade da gramática com um léxico e um conjunto de regras finito no qual algum constituinte de uma expressão possa conter um constituinte da mesma categoria Carnie 2002 Pinker e Jackendoff 2005 definem recursividade como sendo o encaixamento de constituintes idênticos Várias outras definições envolvem iteração e podem ser divididas em dois tipos a aquelas que confundem os conceitos de recursividade e iteração b as que definem recursividade como sendo oposta à iteração Radford 1997 por exemplo sugere que recursividade é apenas um procedimento que pode ser repetido várias vezes De acordo com esta definição recursividade é simplesmente a aplicação de algo sucessivamente Hurford 2004 p 560 por outro lado define iteração como a propriedade de se fazer a mesma coisa repetidamente até que algum critério seja encontrado e recursividade como um procedimento que é parcialmente definido em termos de si mesmo Parker 2006 p 181 aponta iteração como sendo uma simples repetição de uma ação e um objeto sendo cada repetição um ato separado que pode existir independente de outras repetições Por fim Corballis 2011 sugere que a distinção entre recursividade e iteração é uma questão de interpretação Em resumo a definição do termo recursividade na Teoria Linguística pode ser classificada da seguinte maneira a Infinitude discreta CARNIE 2002 CHOMSKY 2002 b Estrutura frasal HORROCKS 1987 PINKER 2003 c Encaixamento principalmente de constituintes da mesma natureza KIRBY2002 CARNIE 2002 PINKER e JACKENDOFF 2005 PARKER 2006 CORBALLIS 2011 d Iteração RADFORD 1997 32 A recursividade como propriedade única e universal da faculdade da linguagem Apesar de haver um número expressivo e muitas vezes contraditório de posicionamentos sobre o significado de recursividade muitas definições pecam em não diferenciar a distinção entre recursividade e iteração como também dois tipos importantes de recursividade tail recursion e nested embedded recursion5 Compreendese tail recursion como sendo simplesmente um tipo de recursão que envolve encaixamento na borda direita ou esquerda do sintagma como por exemplo 2 A bola do filho da amiga da minha mãe está no jardim Em 2 todo o SN contém um núcleo bola bem como um SN modificador do filho da amiga da minha mãe que por sua vez contém outro núcleo mãe e um SN modificador o filho da amiga e assim sucessivamente Percebemos que cada SN contém um outro SN menor encaixado até chegarmos no final da sentença Todos os SNs são encaixados na borda esquerda por isso denominamos de leftbranching recursion Já no exemplo abaixo 3 O rapaz que beijou a garota que conheceu Pedro no bar que eu recomendei é meu vizinho O encaixamento recursivo ocorre na borda direita Todo o SN consiste em um determinante O seguido de um núcleo rapaz seguido de um modificador CP que beijou a garota que conheceu Pedro no bar que eu recomendei Nesse caso cada CP contém uma frase que contém um CP menor encaixado nele na borda direita da sentença o que caracteriza rightbranching recursion Por outro lado nestedembedded recursion acarreta o encaixamento no centro deixando material em ambos os lados do constituinte encaixado sendo que a nested recursion normalmente produz dependências de longa distância Exemplos de nested recursion são mais difíceis de construir visto que eles raramente ocorrem na linguagem cotidiana PARKER 2006 Para ilustrar esse tipo de recursão utilizaremos um exemplo em inglês bastante usado na literatura 4 The mouse the cat the dog chased bit ran6 Aqui o SN que aparece primeiro na sentença pertence ao verbo que aparece na posição final o segundo SN pertence ao penúltimo verbo e o terceiro SN pertence ao primeiro verbo Representando essa sentença em outra maneira teríamos the mouse ran the cat bit de dog chased Porém em 4 o SN the dog chased está encaixado no centro da sentença the cat bit que também está encaixado no centro da sentença the mouse ran O encaixamento é cercado em ambos os lados por material adicional e neste caso não pode ser considerado tail recursion Iteração por sua vez envolve apenas a repetição de uma ação ou de um objeto um número arbitrário de vezes como por exemplo 5 O garoto comeu um sanduíche um doughnut e uma maçã 5 Optamos em utilizar o termo em língua inglesa 6 O rato que o gato que o cachorro perseguiu mordeu correu Sidriana Scheffer Rattova 33 Nesse exemplo os constituintes um sanduíche um doughtnut uma maçã não estão encaixados e não produzem dependência Podemos alterar a ordem de qualquer um deles sem alterar o sentido da sentença fato que não é possível principalmente na tail recursion Uma terceira distinção pode ser estabelecida entre recursividade e estrutura frasal Não raras vezes ambos os conceitos são assumidos como sendo análogos Embora a ideia de estrutura frasal refirase à relação hierárquica dos constituintes na sentença uma estrutura frasal pode ser hierarquicamente organizada sem por isso ser obrigatoriamente recursiva A diferença crucial entre recursão e estrutura frasal se dá pelo fato de que enquanto a primeira envolve constituintes idênticos dentro de outros constituintes a segunda envolve frases encaixadas em outras frases Então para haver recursão é necessário fazer uso da hierarquia existente na estrutura frasal porque precisamos da capacidade de encaixar constituintes porém o contrário não ocorre Segundo Lobina e GarciaAlbea 2009 p 1352 Parece haver uma forte tendência em confundir representações de estruturas hierárquicas com recursão Embora a estrutura de dados hierárquicos chame por mecanismos recursivos este último não é automático por causa do primeiro A recursão sempre envolve hierarquia mas nem toda a hierarquia envolve recursão iteração pode ser uma boa candidata para algumas estruturas ou tarefas7 Com efeito uma estrutura frasal por natureza possui uma forma hierárquica os elementos da computação sintática são combinados para formar estruturas maiores que chamamos de frases e frases são combinadas com outras frases para formar frases ainda maiores Essa formação sucessiva de frases resulta em uma estrutura hierárquica que pode ser representada através de árvores sintáticas LOBINA e GARCIA ALBEA 2009 Segundo Parker 2006 o esclarecimento destas diferenças dá um suporte teórico na alegação de Hauser et al 2002 sobre a centralidade da recursão na faculdade da linguagem O psicólogo Marc Hauser o biólogo Tecumseh Fitch e o linguista Noam Chomsky delineiam atualmente uma nova perspectiva sobre a natureza da recursão e o papel que ela desempenha na linguagem O tema ganhou dimensões maiores desde a publicação do controverso e de certo modo provocativo artigo de Hauser Chomsky e Fich 2002 no qual os autores procuram estabelecer um quadro conceitual mais geral sobre a recursão e abrem uma discussão mais ampla em relação à evolução da linguagem a partir da capacidade recursiva do ser humano Seguindo a linha chomskyana os autores sugerem que a linguagem interna LI é primeiramente o objeto de interesse de estudo da evolução e da função da faculdade da linguagem HAUSER CHOMSKY FICH 2002 p 1570 Para explorar a questão da evolução da linguagem os autores fazem uma distinção terminológica e conceitual dividindo a faculdade da linguagem em sentido amplo Faculty of Language broad sense FLB e em sentido restrito Faculty of 7 There seem to have a strong tendency to confuse hierarchically structure representations with recursion Even though hierarchical data structure call for recursive mechanisms the latter are not automatic because of the former Recursion always involve hierarchy but not all hierarchy involves recursion iteration may well be right candidate for some structuretasks 34 A recursividade como propriedade única e universal da faculdade da linguagem language narrow sense FLN De acordo com os autores a FLB inclui um sistema computacional interno a FLN combinado com no mínimo dois outros sistemas i o sistema sensóriomotor e ii o sistema conceitualintencional A FLN é o núcleo computacional da faculdade da linguagem o subsistema cognitivo que captura um conjunto finito de elementos e produz um conjunto potencialmente infinito de expressões discretas Cada uma dessas expressões discretas passa pelo sistema sensóriomotor e conceitual intencional que processa e elabora essa informação e a transforma em linguagem em uso Hauser Chomsky e Fich argumentam que o que é único à espécie humana é específico à FLN ao contrário da FLB que pode ser compartilhada com outras espécies A hipótese desses autores define a FLN como sendo um elemento interno da teoria linguística portanto não há a possibilidade de haver uma abordagem interdisciplinar ou de interface Assim a FLN permanece apenas no domínio da Linguística Ainda para os autores no processo evolutivo da linguagem a FLN pode ter evoluído para outras habilidades cognitivas além da linguagem visto que a recursividade pode expressarse em outros domínios como por exemplo a navegação números e relações sociais Portanto ela não seria uma adaptação apenas para a comunicação Talvez os maiores opositores à hipótese de Hauser Chomsky e Fich sobre os aspectos da linguagem que são unicamente humanos e unicamente linguísticos que é a recursividade sintática contida na FLN sejam Pinker e Jackendoff 2005 Embora concordem que há a necessidade de se fazer uma distinção entre a faculdade da linguagem em sentido amplo e em sentido restrito FLB e FLN para uma melhor compreensão de como a linguagem evoluiu Pinker e Jackendoff não aceitam a hipótese de que a recursividade seja o único elemento exclusivo à linguagem que possa ter evoluído para outras funções além dela e por isso não seja resultado de um processo adaptativo na evolução Pinker e Jackendoff argumentam que há muitos outros aspectos da gramática que não são recursivos mas que se mostram essenciais à linguagem como a fonologia a morfologia caso e concordância e muitas propriedades das palavras A dissonância entre os protagonistas desse debate ocorre em virtude dos pressupostos teóricos que cada um defende Embora haja concordância quanto à hipótese de que a linguagem tenha evoluído pela seleção natural para Chomsky há uma gramática universal de base inata e a linguagem surgiu através da exaptação ou seja no avanço evolutivo a linguagem pode ter surgido por um acidente de percurso Por outro lado Pinker aposta na evolução O autor segue o darwinismo clássico e afirma que a linguagem é um conjunto de propriedades de várias naturezas que evoluiu como qualquer outro ser vivo como uma forma de instinto CONCLUSÃO Este artigo teve como objetivo central estabelecer o lugar da recursividade no sistema sintático subjacente à faculdade da linguagem Para tanto realizamos uma revisão na literatura referente ao estudo da recursividade aplicada às Ciências Formais mais precisamente na Matemática e Computação e posteriormente na Teoria Linguística Apresentamos as diferentes definições do termo recursividade no contexto atual a distinção entre dois tipos de recursão tail recursion e embedded recursion como também a investigação da hipótese da recursividade como elemento central e único da faculdade da linguagem Sidriana Scheffer Rattova 35 Este estudo demonstrou que o conceito de recursividade e seu emprego nas Ciências Cognitivas ainda está longe de alcançar um senso comum e que estudos mais detalhados precisam ser conduzidos com o objetivo de evitar ainda mais confusões em relação à sua definição Não apregoamos uma postura específica em relação ao papel da recursividade na Teoria Gerativa atual tampouco questionamos a sua validade na hipótese de Marc Hauser Noam Chosmky e Tecumseh Fitch relativa à centralidade da recursividade na faculdade da linguagem Este trabalho constitui em essência um apelo para uma maior precisão e clarificação no que diz respeito ao papel da recursividade na Teoria Linguística visto que se a recursividade realmente for o principal componente da faculdade da linguagem em sentido restrito conforme alegam então é imprescindível determinar as propriedades deste componente de forma acurada e eliminar qualquer ambiguidade identificada na discussão desse tópico REFERÊNCIAS CARNIE A Syntax A Generative Introduction Oxford Blackwell 2002 CHOMSKY N Logical Syntax and Semantics Their Linguistic Relevance Language v 31 n 1 p 36 451955 New Horizons in the Studies of Language and Mind Cambridge Cambridge University of Press 2000 CHRISTIANSEN M H Infinite Languages Finite Minds Connectionism Learning and Linguistic Structure University of Edinburgh Dissertation 1994 CORBALLIS M C The Recursive Mind The origins of human language thought and civilization Princeton University Press 2011 DESCARTES R Discurso do Método para bem conduzir a própria razão e procurar a verdade nas ciências Tradução de Thereza Christina Stummer São Paulo Paulus 2002 FITCH W T HAUSER M D CHOMSKY N The evolution of the language faculty clarifications and implications Cognition v 97 p 179210 st 2005 The evolution of syntax an exaptationist perspective Frontiers in Evolutionary Neuroscience v3 n 9 p 1 12 dez 2011 HAUSER M D CHOMSKY N FITCH W T The Faculty of Language What Is It Who Has It and How Did It Evolve Science Compass v 298 p 15691579 nov 2002 HURFORD J The evolution of language and languages Edinburgh University Press p 173 193 1999 Human uniqueness learning symbols and recursive thoughts European Review v 12 p 551565 2004 36 A recursividade como propriedade única e universal da faculdade da linguagem JACKENDOFF R PINKER S The Nature of the language faculty and its implications for language Cognition v 97 p 211225 set 2005 KIRBY S Learning bottlenecks and the evolution of recursive syntax In Linguistic Evolution Through Language Acquistion Formal and Computation Models Ed T Brescoe Cambridge Cambridge University Press 2002 p 173203 LOBINA D J GARCÍA ALBEA J E Recursion and Cognitive Science Data Structure and Mechanism Preceedings of the 31st Annual Conference of the Cognitive Science Society p 13371352 2009 PARKER A R Evolution as a Constraint on Theories of Syntax The Case against Minimalism 2006 357f Tese de Doutorado Doctor of Philosophy to Linguistic and English Language School of Philosophy Psychology and Language Sciences University of Edinburgh PINKER S Language as an Adaptation in the Cognitive Niche In KINKY S Christiansen M Language Evolution States of the Art New York Oxford University Press 2003 p 1637 JACKENDOFF R The Faculty of language whats special about it Cognition v 95 p 201236 mar 2005 PONTES JUNIOR M Introdução à Ciência da Computação II Recursão Instituto de Ciências Matemática e Computação USP p 1 36 2010 RADFORD A Synthatic Theory and the Structure of English a Minimalist Approach Cambridge Cambridge Univrsity Press 1997 ROSA M C Introdução à Bio linguística linguagem e mente São Paulo Contexto 2010 SANTIAGO R H N BEDREGAL B R C Computalidade os limites da computação São Carlos SP SBMAC 2004 SOARE R Computability and Recursion The Bulletin of Symbolic Logic v 2 n 3 p 284321 1996 TOMALIN M Reconsidering recursion in syntatic theory Downing College Universtiy of Cambridge 2007 VAN DER HULST H ed Recursion and Human Language Berlin New York Walter de Gruyter 2010 FICHA DE LEITURA XII 1 Implica quando é estudada pelo vieis cientifico por abordagens empíricas e testes laboratoriais evidenciando os mecanismos internos da mente já que pela teoria gerativa a linguagem é um objeto natural por partir do homem como ser biológico e com aspectos mentais como a linguagem e o pensamento são objetos naturais 2 A faculdade da linguagem como um modulo ligado a língua apresenta entre seus componentes um sistema cognitivo que tem a capacidade de guardar informações por uma cotação genética chamada de estado inicial como também pode se desenvolver em qualquer língua a Gramática Universal Uma outra é o sistema se desempenho que utiliza dessas informações para articulação e percepção um procedimento computacional que satisfaz a propriedade básica 3 A faculdade da linguagem é geneticamente determinada nos indivíduos como estado inicial da linguagem determinando o sistema computacional da linguagem por possibilidades lexicais e elementos gramaticais que não constitui conteúdo substantivo 4 Apesar das distinções a LínguaI e a Língua E compartilham uma estrutura virtual dos seres humanos pelo estado inicial da faculdade da linguagem ajudando a entender pela perspectiva da gramática gerativa a relação entre a competência linguística e a manifestação da linguagem 5 A LínguaI é composta pelo sistema computacional sistema sensório motor e sistema conceitualintencional 6 O Merge é resultado da operações de das expressões que de maneira hierárquicas são estruturadas na LínguaI logo passa a ser um princípio computacional básico de todas as línguas 7 O léxico pelo vvíeiscognitivo da linguagem tem o papel de possuir infâncias de interface com a memória de longo prazo por sistemas conceituada articulatório e computacional que são componentes da LinguaI 8 A faculdade da linguagem tem a capacidade de assumir a forma de uma LínguaI completa Além disso pode ser integrar num sistema de desempenho na articulação interpretação e expressões Logo a faculdade da linguagem pode assumir essa forma quando o falante utiliza a LínguaI o que não são a mesma coisa 9 A LínguaE é composta por dois tipos distintos O primeiro chamado de sistema sensóriomotor fornece instruções para externalização da língua na representação fonética Já o sistema conceitualintencional produz informações para os processos mentais por uma representação lógica 10Isso acontece pelo fato de que por ser um processo auxiliar e suas propriedades no sistema sensório motor a externalização influenciam no processamento periférico da linguagem ou seja na comunicação 11O princípios são fixos e inatos ao ser humano e são propriedades universais presentes na língua sendo em nível fonológico por exemplo Já os parâmetros está ligado as propriedades específicas das línguas restritas às variações nos sistemas de desempenho FICHA DE LEITURA XI 1 Por ser uma posição no qual defende conhecimento e princípios exclusivamente humano são adquiridos pela interação e evolução quando o inatismo se apoia que esses mesmo princípios e conhecimentos pertencem a própria natureza humana 2 O programa de pesquisa da Gramática generativa se desenvolve por uma corrente naturalista dos estudos sobre a linguagem da natureza humana partindo de suas estruturas e princípios o que passa a ser uma implicação devido a ser uma programa teórico e metodológicos específico sobretudo por ser flexível 3 A língua passa a ser um sistema de princípios e regras a partir de uma gramática interiorizada a partir de representações mentas que são constituídas por combinações caracterizadas linguisticamente ou seja estão presente por representações fonológica e sintáticas de propriedades semânticas que partem das sintáticas 4 Através do conhecimento mental de uma língua particular a competência parte da gráfica interior do falante e a performance se dá pelo uso concreto da linguagem nas situações de falas concretas O que fazem portanto serem relevantes devido a idealização e a ação real 5 Ela é considerada neutra porque se concentra nas regras e princípios de sentenças da língua além disso não se preocupa com fatores externos já que seu objeto de estudo falanteouvinte ideal que é conhecedor da sua língua não se afeta a limitações de memória desvios de atenção dentre outros problemas externos já que estes são referente a performance FICHA DE LEITURA X 1 No campo da Linguística há sobretudo na abordagem Gerativa a noção de recursividade tem desenvolvido um importante papel Chomsky mostrou que quanto a noção central da teoria que adaptada a linguagem pode se reaplicar de maneira indefinida 2 O termo recursividade é problemático uma vez que não há uma definições e conceitos precisos que por muitas vezes dentro da teoria passam a ser vagos e precisos 3 Hauser desenvolveu uma nova hipótese quando a recursividade no qual diferenciam a faculdade da linguagem em um sentido amplo e restrito que pela Biolinguística diferem os traços humanos quando delegados as cognições gerais e podem ser compartilhadas com outros animais 4 A recursividade pode ser classificada pela Infinitude discreta estrutura frasal encaixamento e Interação A primeira conecta a Infinitude discreta à recursividade quanto as regras da estrutura frasal que formam sentenças gramaticais que pelo estrutura de alçamento explica a criatividade linguística A segunda exibindo as regras da estrutura nasal discute que a recursividade acarreta um símbolo não terminal no lado esquerdo e que todos os símbolos terminais devem aparecer do lado direito da estrutura frasal A terceira com a noção de encaixamento liga a recursividade diretamente às regras da gramática formal a interação assim como pode confundir os termos com a recursividade as duas podem ser opostas na definição A Interação dessa forma pode fazer o mesmo processo várias vezes até que um critério seja encontrado 5 Apesar da estrutura frasal está relacionado hierarquicamente aos constituintes da sentença não tem obrigatoriedade a recursividade Dessa forma se diferenciam pelo fato de que a estrutura frasal por não ser automático envolve constituintes idênticos dentro de outros constituintes quando a recursividade envolve frases encaixadas em outras frases 6 Pinker e Chomsky apesar de estarem em acordo que a linguagem é uma característica exclusivamente humana dentro da sua capacidade cognitiva os autores têm visões diferentes quanto a origem da língua da espécie humana Para Chomsky pela perspectiva da gramática universal de base nata a linguagem teve surgimento pela exaptação no avanço evolutivo por um acidente de percurso Enquanto para Pinker a linguagem por constituir várias naturezas o autor acredita que ela partiu da evolução