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Psicologia ·
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14 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 GÊNERO PATRIARCADO TRABALHO E CLASSE1 2 Helena Hirata3 Resumo A conjunção das palavraschave que compõem o título desse artigo remete imediatamente ao conjunto de reflexões e práticas do que se convencionou denominar feminismo materialista Assim esse texto apresenta de início o feminismo materialista para em seguida abordar o tema do trabalho das mulheres e mais geralmente a relação entre trabalho e gênero no contexto de um capitalismo patriarcal Discute enfim o paradigma da interseccionalidade que propõe a interdependência e a nãohierarquização das relações de poder de gênero raça e classe social Palavraschave feminismo materialista gênero e classe interseccionalidade Abstract Linking the key words present in the title of this article remind us immediately to all the ideas and practices of we call today materialist feminism Firstly the article discusses the concept of materialist feminism Secondly it refers to the question of female labour and more generally to the relation between work and gender in the context of patriarchal capitalism Finally the article discusses the intersectional paradigm that states the interdependency and nohierarchization of gender race and class power relations Keywords materialist feminism gender and class intersectionality O feminismo materialista A conjunção das palavraschave que compõem o título desse artigo remete imediatamente ao conjunto de reflexões e práticas do que se convencionou denominar feminismo materialista O feminismo materialista se interessa pelas relações de poder pelas relações de exploração opressão dominação entre homens e mulheres e é ao 1DOI httpsdoiorg1022409tn16i29p4552 2Esse artigo resulta de uma comunicação Trabalho encomendado pelo GT Trabalho e Educação apresentada no dia 03102017 durante a 38 Reunião Nacional da ANPED em São Luis 3 Diretora de pesquisa emérita no Centre National de la Recherche Scientifique CNRS França e professora visitante internacional no Depto de Sociologia da USP 15 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 mesmo tempo uma teoria e uma prática Teorias feministas e movimentos feministas enquanto movimentos sociais são indissociáveis Para o feminismo materialista o trabalho é central em sua materialidade e enquanto prática social A divisão sexual do trabalho profissional e do trabalho doméstico subjacente à divisão sexual do poder e do saber também é central para essa corrente do feminismo materialista Ele critica a partir de uma perspectiva de gênero a teoria marxista das classes sociais DELPHY 1977 HIRATA E KERGOAT 1994 porque ela não permite apreender o lugar das mulheres na produção e na reprodução social Delphy 1977 mostrou como a classe social das mulheres é construída em referência exclusiva aos homens marido pai etc nos estudos de estratificação Também Kergoat demonstrou em seus escritos como as relações de classe são sexuadas e as relações sociais de sexo são atravessadas por pontos de vista de classe relações de sexo e relações de classe organizam como diz Kergoat a totalidade das práticas sociais Não é so em casa que se é oprimida nem só na fábrica que se é explorada Também é necessário se referir aqui à ideia do trabalho como atividade paradigmática KERGOAT isto é afirmar a centralidade do trabalho contra os que preconizam o fim do trabalho André Gorz Jeremy Rifkin Claus Offe Dominique Méda etc3 No marxismo as classes sempre foram tratadas como se o gênero não implicasse nenhuma heterogeneidade em sua composição SOUZA LOBO 2011 1990 HIRATA e KERGOAT 1994 a classe operária tem dois sexos como consta no título do livro póstumo de Elisabeth Souza Lobo e no artigo de Hirata e Kergoat As mulheres no Capital não têm existência enquanto sexo social mas fazem parte com outras categorias do exército industrial de reserva cf crítica à categoria exército industrial de reserva HIRATA 2002 As atividades de trabalho estão sendo expulsas para a periferia do mundo capitalista Bruno Lautier 1998 se refere aos cortadores de cana do Nordeste brasileiro Ao mesmo tempo assistese sobretudo desde os anos cinquenta ao desenvolvimento acelerado do setor de serviços e à conceitualização emergente de classes populares Schwartz 2011 para englobar o conjunto dos setores 3 Para a apresentação da posição dessesas autoresas na controvérsia fim do trabalho x centralidade do trabalho cf Hirata 1998 16 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 assalariados proletarizados que não são abarcados pelo conceito de classe operária Enfim é interessante o comentário de Alexis Cukier 2016 que mostra como Danièle Kergoat politiza o conceito de trabalho junto com Christine Delphy e Silvia Federici Segundo Cukier essas autoras apontam para a função política central do conceito de trabalho A ideia de base dessas autoras seria segundo ele a indissociabilidade entre as funções econômicas produção de bens e serviços e politicas reprodução e transformação das relações sociais o que permite segundo Cukier renovar a crítica marxista da economia politica e pensar o trabalho como alavanca da emancipação coletiva Para esse autor o feminismo materialista permite opor ao neoliberalismo a perspectiva de um trabalho feminista póscapitalista e democrático A própria Danièle Kergoat afirma que é o potencial crítico e subversivo dessa sociologia crítica que se trata de evidenciar GALERAND KERGOAT 2014 Ela dá preeminência às relações sociais e ao trabalho no que se diferencia das sociologias das diferenças entre os sexos ou dos gender studies que não analisam conjuntamente trabalho e exploração dominação e emancipação O trabalho das mulheres no capitalismo patriarcal Trabalho e gênero Apresentaremos a seguir em traços amplos a situação atual do trabalho das mulheres no quadro de um capitalismo patriarcal entendendo por patriarcado uma formação social em que os homens detêm o poder ou ainda mais simplesmente o poder é dos homens Ele é assim quase sinônimo de dominação masculina ou de opressão das mulheres DELPHY 2009 2000 p 172 Para nós não existe uma formação social patriarcado separado do capitalismo Preferimos falar em capitalismo patriarcal Ou como bem formulou Danièle Kergoat Patriarcado e capitalismo se combinam e exploram dominando e dominam explorando KERGOAT 1978 p 44 Se as mulheres sempre trabalharam como mostram as historiadoras do trabalho feminino a porcentagem de mulheres trabalhadoras passou no caso da França de um terço a metade no conjunto da população ativa em um século MARUANI e MERON 2012 No Brasil considerando apenas a década passada observase um incremento de 24 na atividade feminina OLIVEIRA COSTA 17 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 2013 p 400 Portanto uma convergência notável entre a França e o Brasil no que diz respeito à divisão do trabalho profissional é que a despeito da crise econômica mundial e da austeridade a despeito da recessão econômica no Brasil as mulheres se mantêm no mercado de trabalho e aumentam a sua participação Embora possamos constatar esse aumento nas taxas de atividade femininas também se deve assinalar a persistência das desigualdades tanto entre sexos quanto entre raças e entre classes na medida em que partimos do ponto de vista segundo o qual as relações sociais de gênero de raça e de classe são interdependentes e indissociáveis Um indício de desigualdade está na segregação horizontal e vertical as mulheres não têm acesso às mesmas profissões que os homens estão limitadas a um número restrito de atividades tanto na França quanto no Brasil e têm poucas perspectivas de promoção o fenômeno do glass ceiling o teto de vidro e a polarização do emprego feminino A segregação dos empregos e das atividades em todo o mundo é o que Danièle Kergoat 2012 chama o princípio da separação distinção entre trabalho masculino e feminino Se as taxas de atividade aumentam os empregos criados são vulneráveis e precários com o desenvolvimento do trabalho informal no Sul E sobretudo a coexistência da expansão do mercado formal de trabalho CARNEIRO ARAUJO LOMBARDI 2013 p473 com o informal absorvendo mais mulheres do que homens mais negros do que brancos idem ib 2013 O desemprego feminino é maior do que o masculino na maioria dos países industrializados e as mulheres são majoritárias no desemprego oculto pelo desalento INSEE Enquête Emploi 2005a Na França em 2012 a taxa de desemprego feminina é em 2012 ligeiramente mais elevada 10 que a taxa de desemprego masculina 97 mas esse diferencial foi mais importante em todos os anos passados chegando a ser de 4 em 1980 e em 1990 e de 3 em 2000 Outra similitude entre a situação das mulheres ao nível internacional elas têm sempre salários inferiores aos dos homens Os salários femininos são inferiores aos salários masculinos e há desigualdade salarial entre homens negros e brancos mulheres negras e brancas Segundo o INSEE a desigualdade de salários entre mulheres e homens na França não tem variado nas últimas 18 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 décadas o diferencial de salários permanecendo em torno dos 25 Silvera 2014 Esse diferencial diminui no setor público e varia segundo as categorias sócioprofissionais Assim o diferencial mais significativo se observa entre os executivos e o menor na categoria de empregados Em 1950 o diferencial de salários era como no Japão hoje de 50 mas ele se estabilizou em torno de 25 desde a metade do século passado No Brasil o diferencial de salários está hoje em torno de 30 OLIVEIRA COSTA 2013 após um longo período em que esteve em torno de 35 Quanto ao trabalho precário sem proteção social e sem direitos ele diz respeito a 30 das mulheres ocupadas contra 8 dos homens ocupados LOMBARDI 2010 O exemplo paradigmático do trabalho precário é o emprego doméstico sobretudo o emprego de diarista majoritariamente exercido sem vínculo empregatício sem proteção social e sem direitos 16 das mulheres brasileiras ocupadas são empregadas domésticas Enfim quanto à divisão sexual do trabalho doméstico se indicamos desigualdades gritantes no que diz respeito ao trabalho profissional pior ainda parecem ser as desigualdades no âmbito do trabalho doméstico o que é atribuído a um e a outro sexo é um fator imediato de desigualdade e de discriminação A atribuição do trabalho doméstico às mulheres permaneceu intacto em todas as regiões do mundo com diferenças de grau na sua realização dos modelos tradicionais aos modelos de delegação A delegação às empregadas domésticas e diaristas é muito mais importante no Brasil do que na França pois se há cerca de 1 350 000 mulheres trabalhando nos serviços domésticos e de cuidados na França INSEE Enquête Emploi 2005b no Brasil segundo o recenseamento da população de 2010 há 7 000 000 de pessoas no emprego doméstico das quais cerca de 5 do sexo masculino Podemos concluir essa apresentação sumária das desigualdades entre mulheres e homens no trabalho nos referindo à constatação feita sistematicamente hoje a partir das pesquisas empíricas em ciências sociais a posição das mulheres e dos homens na hierarquia social em termos de repartição do trabalho doméstico de hierarquia profissional ou de representação politica não é a mesma nas sociedades contemporâneas O paradoxo dessa desigualdade persiste a despeito do fato de que as mulheres têm níveis de 19 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 educação superiores aos dos homens em quase todos os níveis de escolaridade e em praticamente todos os países industrializados Por exemplo na França segundo os dados para 2012 da Pesquisa Emprego do INSEE 87 de mulheres e 82 de homens na faixa etária de 2024 anos possuem diplomas do ensino superior do 2 grau e equivalentes Inversamente entre os que não completaram os estudos e não obtiveram diplomas do 2 grau há mais homens 18 do que mulheres 13 segundo a mesma Pesquisa Emprego do INSEE Na maioria das vezes os desempenhos escolares das meninas são superiores aos dos meninos em escala mundial Baudelot Establet 2013 Entretanto a despeito do melhor desempenho escolar das mulheres em relação aos homens em quase todos os países industrializados a situação de inferioridade das mulheres no mercado de trabalho permanece O que coloca uma série de questões sobre justiça e ética conhecimento e ação politica sobre os quais o paradigma interseccional tem avançado proposições que discutiremos a seguir O paradigma interseccional Podese situar a gênese do paradigma interseccional nas elaborações teóricas do blackfeminism Patricia Hill Collins 1990 Audre Lorde 1980 Angela Davis 1981 bell hooks 2015 1982 todas teóricas e militantes negras afirmaram desde 19811982 a natureza interseccional da opressão das mulheres negras HILL COLLINS 1990 cf também Combahee River Collective 1979 Mas é uma jurista negra Kimberlé Crenshaw 1989a que é conhecida como a teórica da interseccionalidade a partir do seu objetivo de melhor formular os termos da ação jurídica para defender as mulheres negras contra a discriminação de raça e de sexo e de classe O que abarca o conceito de interseccionalidade A extensão desse conceito a outras categorias como a sexualidade e a orientação sexual a idade a nação a etnicidade a deficiência etc faz parte central do debate HIRATA 2014 Creio que gênero contém a dimensão sexualidade e portanto a interseccionalidade deve apontar para a imbricação de gênerosexualidade raça e classe Embora a gênese do conceito de interseccionalidade possa ser situada como dissemos acima no final dos anos setenta com o blackfeminism cuja 20 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 crítica coletiva se voltou de maneira radical contra o feminismo branco de classe média heteronormativo a vasta literatura existente em língua inglesa e mais recentemente também em francês aponta o uso pela primeira vez desse termo para designar a interdependência das relações de poder de raça sexo e classe num texto da jurista afroamericana Kimberlé W Crenshaw 1989b A problemática da interseccionalidade foi desenvolvida nos países anglo saxões a partir dessa herança do blackfeminism desde o início dos anos noventa dentro de um quadro interdisciplinar por Kimberlé Crenshaw e outras pesquisadoras inglesas americanas canadenses e alemãs Entretanto a ampla difusão e controvérsias em torno desse conceito na literatura feminista data da segunda metade dos anos 2000 Com a categoria da interseccionalidade Crenshaw 2005a 1994 focaliza sobretudo as interseções da raça e do gênero abordando parcialmente ou perifericamente classe ou sexualidade que podem contribuir para estruturar suas experiências as das mulheres de cor CRENSHAW 2005b p 54 A interseccionalidade é uma proposta para levar em conta as múltiplas fontes da identidade embora não tenha a pretensão de propor uma nova teoria globalizante da identidade id ibid Crenshaw propõe a subdivisão em duas categorias a interseccionalidade estrutural a posição das mulheres de cor na intersecção da raça e do gênero e as consequências sobre a experiência da violência conjugal e do estupro e das formas de resposta a tais formas de violência e a interseccionalidade política as políticas feministas e as políticas antirracistas que têm como consequência a marginalização da questão da violência em relação às mulheres de cor id ibid Essa formulação do início dos anos noventa desenvolvida posteriormente pela própria Crenshaw e outras pesquisadoras tem hoje na definição de Sirma Bilge 2009 uma boa síntese A interseccionalidade remete a uma teoria transdisciplinar que visa apreender a complexidade das identidades e das desigualdades sociais por intermédio de um enfoque integrado BILGE 2009 Ela refuta o enclausuramento e a hierarquização dos grandes eixos da diferenciação social que são as categorias de sexogênero classe raça etnicidade idade deficiência e orientação sexual O enfoque interseccional vai 21 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 além do simples reconhecimento da multiplicidade dos sistemas de opressão que opera a partir dessas categorias e postula sua interação na produção e a reprodução das desigualdades sociais BILGE 2009 p 70 É interessante notar que a problemática da consubstancialidade de Danièle Kergoat foi elaborada a partir do final dos anos setenta em termos de articulação entre sexo e classe social para ser desenvolvida mais tarde em termos de imbricação entre classe sexo e raça Embora ambas partam da intersecção ou da consubstancialidade a intersecção mais visada por Crenshaw no ponto de partida da sua conceptualização é aquela entre sexo e raça enquanto a de Kergoat é aquela entre sexo e classe o que fatalmente terá implicações teóricas e políticas significativamente diferentes Um ponto maior de convergência entre ambas é a proposta de não hierarquização dos tipos de opressão O desenvolvimento das pesquisas feministas na França o contato com as ideias vindas de outro lado do Atlântico as interpelações das feministas negras em países onde a opressão racial foi objeto de análise bem antes da França como é o caso do Brasil certamente contribuíram para uma sensibilização crescente às relações de poder ligadas à dimensão racial e às praticas racistas Embora pesquisadoras como Colette Guillaumin 1972 1992 tivessem conceptualizado o racismo desde o início dos anos setenta e a raça desde os primeiros momentos da existência da revista Questions Féministes na França no fim dos anos setenta essa conceptualização não se fez em termos interseccionais ou de co extensividade da raça do sexo e da classe social O interesse teórico e epistemológico de articular sexo e raça por exemplo fica claro nos achados de pesquisas que não olham apenas para as diferenças entre homens e mulheres mas as diferenças entre homens brancos e negros e mulheres brancas e negras como fica claro nos trabalhos de Nadya Araujo Guimarães no Brasil mobilizando raça e gênero para explicar desigualdades salariais ou diferenças quanto ao desemprego GUIMARÃES 2002 e GUIMARÃES e ALVES DE BRITTO 2008 A partir dos dados da PNAD 1989 e 1999 Araujo Guimarães mostra que considerando sexo e raça veemse os homens brancos com os mais altos salários em seguida os homens negros e as mulheres brancas e por último as mulheres negras com salários significativamente inferiores GUIMARÃES 2002 p13 22 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 Também considerando sexo e raça a partir de levantamentos via Agência Nacional de Empregos ANPE 1995 e 1998 da França e via questionário suplementar à Pesquisa de Emprego e Desemprego PED da SEADEDIEESE 1994 e 2001 Araujo Guimarães mostra que os imigrantes estrangeiros estão em formas mais precárias de emprego em relação aos franceses que as mulheres negras e brancas na França estão mais representadas na inatividade mas que há peso maior das mulheres negras em relação às brancas no desemprego e nas formas precárias de ocupação No caso do Brasil as mulheres brancas e negras têm trajetórias duradouras nas ocupações de menor prestígio e más condições de trabalho como o emprego doméstico as mulheres negras sendo mais numerosas nessas ocupações Ambas estão também sobrerepresentadas no desemprego Homens brancos e negros estão sobrerepresentados nas trajetórias de emprego formal e de trabalho autônomo embora os últimos em menor proporção Eles têm trajetórias marcadas pela instabilidade de forma mais marcante que os homens brancos indicando vulnerabilidade maior GUIMARÃES 2008 p 51 e seg O interesse jurídico de articular sexo e raça é cabalmente demonstrado por Crenshaw 2008 quando ela se refere ao caso de um contencioso jurídico na fábrica da General Motors nos Estados Unidos que ilustra bem o que é interseccionalidade o tribunal desagregou e recusou a acusação de discriminação racial e de gênero da parte de mulheres afroamericanas afirmando que a GM recruta afroamericanos para trabalhar no chão de fábrica e que também recruta mulheres O problema sublinhado por Crenshaw é que os afroamericanos recrutados pela GM não eram mulheres e que as mulheres que a GM recrutava não eram negras Assim embora a GM recrutasse negros e mulheres ela não recrutava mulheres negras CRENSHAW 2008 p91 Enfim o interesse político de articular sexo e raça como elementos indissociáveis para uma luta unitária tem sido demonstrado pelas teóricas da interseccionalidade e da consubstancialidade que situam a prática no prolongamento da teoria embora a questão do véu islâmico na França tenha ao mesmo tempo indicado as dificuldades dessa conjunção e o surgimento de controvérsias relacionadas à opressão de raça e à opressão de sexo A ideia de articular relações sociais de sexo e de classe foi proposta na França desde final dos anos setenta por Danièle Kergoat 1978 que quis 23 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 compreender de maneira não mecânica as práticas sociais de homens e mulheres frente à divisão social do trabalho em sua tripla dimensão de classe de gênero e origem NorteSul KERGOAT 2010 p 93 A ideia de genrer a classe e classer o gênero foi desenvolvida ao longo da sua trajetória desde o artigo de 1978 e esteve na origem da criação de um laboratório o Grupo de Estudos sobre a Divisão social e sexual do trabalho GEDISST no CNRS consagrado aos eixos temáticos de gênero e trabalho na França em 1983 Propusemos Hirata e Kergoat 1984 um apanhado crítico sobre classe e gênero num artigo que retomava a herança teórica de Christine Delphy 1977 no seu texto clássico sobre as mulheres nos estudos sobre estratificação social e discutia as teses de Eric Olin Wright Proposta similar foi feita no Brasil também desde os anos oitenta por Elisabeth SouzaLobo 20111991 A crítica da categoria de interseccionalidade é feita explicitamente por Danièle Kergoat pela primeira vez em conferência no congresso da Associação Francesa de Sociologia AFS em Grenoble em 2006 publicada sob forma de artigo em 2009 e traduzido no Brasil em 2010 No artigo citado ela critica a noção geométrica de intersecção Segundo Kergoat Pensar em termos de cartografia nos leva a naturalizar as categorias analíticas Dito de outra forma a multiplicidade de categorias mascara as relações sociais As posições não são fixas por estarem inseridas em relações dinâmicas estão em perpétua evolução e renegociação KERGOAT 2010 p 98 Essa crítica é aprofundada na introdução do seu recente livro Se Battre disentelles 2012 pelos pontos seguintes 1 a multiplicidade de pontos de entrada casta religião região etnia nação etc e não apenas raça gênero classe leva a um risco de fragmentação das práticas sociais e à dissolução da violência das relações sociais com o risco de contribuir à sua reprodução 2 não é certo que esses pontos remetem todos a relações sociais e talvez não seja o caso de colocálos todos num mesmo plano 3 os teóricos da interseccionalidade continuam a raciocinar em termos de categorias e não de relações sociais privilegiando uma ou outra categoria como por exemplo a nação a classe a religião o sexo a casta etc sem historicizálos e por vezes não levando em conta as dimensões materiais da dominação KERGOAT 2012 2122 24 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 O ponto essencial a meu ver da crítica de Kergoat ao conceito de interseccionalidade é que ele não parte das relações sociais fundamentais sexo classe raça em toda sua complexidade e dinâmica Entretanto me parece que outra crítica nem sempre explícita é a de que a análise interseccional coloca em geral em jogo mais o par gêneroraça deixando a dimensão classe social em um ângulo menos visível De uma maneira mais global cremos que a controvérsia central quanto às categorias de interseccionalidade e consubstancialidade se refere ao que denominamos a interseccionalidade de geometria variável Assim se para Danièle Kergoat existem três relações sociais fundamentais que se imbricam e são transversais o gênero a classe e a raça para outras cf a definição de Sirma Bilge supra a intersecção é de geometria variável podendo incluir além das relações sociais de gênero de classe e de raça outras relações sociais como a relação social de sexualidade de idade de religião etc Devese atentar sobretudo no que se refere à metodologia de pesquisa quais os elementos determinantes da intersecção que devem ser analisados na sua conjunção atentando sempre à ideia de não hierarquização das relações de poder de gênero de raça e de classe social ideia desenvolvida e argumentada por teóricas supracitadas como Danièle Kergoat e Patricia Hill Collins Essa ideia é por exemplo contrária à tese de uma sobredeterminação da classe sobre as outras dimensões da intersecção pois o paradigma interseccional critica a ideia de uma determinação em última instância pela classe social A tese da indissociabilidade entre gênero raça e classe também vai contra uma análise unicamente a partir da categoria de gênero pois tratar as relações de poder unicamente a partir de uma perspectiva de gênero pode reduzir a pertinência de tal análise apenas às mulheres brancas e burguesas Também é necessário enfatizar a tese segundo a qual a interseccionalidade pode ser vista como uma das formas de combate às opressões múltiplas e imbricadas e portanto como instrumento de luta politica É nesse sentido que Patricia Hill Collins considera a interseccionalidade ao mesmo tempo como um projeto de conhecimento e uma arma política 25 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 Referências BILGE Sirma Théorisations féministes de lintersectionnalité Diogène vol 1 n 225 2009 p 7088 CARNEIRO ARAUJO Ângela M LOMBARDI Maria Rosa Trabalho informal gênero e raça no Brasil do inicio do século XXI In Cadernos de Pesquisa FCC v 43 n 149 2013 CRENSHAW Kimberlé W Demarginalizing the intersection of race and sex a black feminist critique of discrimination doctrine feminist theory and antiracist politics University of Chicago Legal Forum 1989 p 139167 Mapping the margins intersectionality identity politics and violence against women of colo In ALBERTSON FINEMAN M MYKITIUK R eds The public nature of private violence New York Routledge 1994 p 93 118 Beyond Entrenchment Race Gender and the New Frontiers of Unequal Protection In M TSUJIMURA ed International Perspectives on Gender Equality Social Diversity Sendai Tohoku University Press 2008 CUKIER Alexis De la centralité politique du travail les apports du féminisme matérialiste In BIDET A GALERAND E KERGOAT D coord Analyse critique et féminismes matérialistes Cahiers du Genre n horssérie 2016 p 151173 DAVIS Angela Women Race and Class New York Vintage Books 1981 DELPHY Christine Les femmes dans les études de stratification In MICHEL Andrée ed Femmes sexisme et sociétés Paris PUF 1977 Par où attaquer le partage inégal du travail ménager In Nouvelles Questions Féministes vol22 n 3 2003 p 4771 Teorias do patriarcado In HIRATA H LABORIE F LE DOARÉ H SENOTIER D coord Dicionário crítico do feminismo São Paulo EDUNESP 2009 FASSA Farinaz LÉPINARD Eléonore ROCA I ESCODA Marta dir LIntersectionnalité enjeux théoriques et politiques Paris La Dispute coll Le genre du monde 2016 FEDERICI Silvia Caliban et la Sorcière Femmes corps et accumulation primitive MarseilleGenèveParis SenoneveroEntremonde 2014 GALERAND Elsa KERGOAT Danièle Les apports de la sociologie du genre à la critique du travail In La nouvelle revue du travail revista on line 42014 26 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 GUIMARÃES Nadya Araujo BRITTO Murillo Marschner Alves de Genre race et trajectoires professionnelles Une comparaison São Paulo et Paris In MARUANI M HIRATA H LOMBARDI M R orgs Travail et genre Regards croisés France Europe Amérique Latine Paris La découverte pp 4660 GUIMARÃES Nadya Araujo Os desafios da equidade reestruturação e desigualdades de gênero e raça no Brasil Cadernos Pagu n 1718 2002 p 237266 HILL Collins Patricia BILGE Sirma Intersectionality Cambridge Polity Press Key Concepts Series 2016 HILL Collins Patricia 1990 Black Feminist Thought Knowledge Consciousness and and The Politics of Empowerment New YorkLondon Routledge 2011 HIRATA Helena Restructuration industrielle et division sexuelle du travail Une perspective comparative in revue Tiers Monde n 154 avriljuin 1998 p 381 402 Nova divisão sexual do trabalho Um olhar voltado para a empresa e a sociedade São Paulo Boitempo 2002 Gênero classe e raça interseccionalidade e consubstancialidade das relaçoes sociais in Tempo Social V26 n nov 2014 p6174 KERGOAT Danièle 1994 A classe operaria tem dois sexos In Revista Estudos Feministas vol2 n 3 HOOKS Bell 20151982 Ne suisje pas une femme Femmes noires et féminisme Paris Cambourakis coll Sorcières Aint I a Woman Black Women and Feminism Boston South End Press 1982 KERGOAT Danièle Ouvriersouvrières In Critique de lEconomie Politique n 5 Paris 1978 Publicado também em Se battre disentelles Paris La Dispute 2012 Dinâmicas e consubstancialidade das relações sociais In Novos Estudos Cebrap n 86 2010 2009 p 93103 Se battre disentelles Paris La Dispute 2012 Lautier Bruno Introduction in HIRATA H LAUTIER B SALAMA P Revue Tiers Monde t XXXIX n 154 avriljuin 1998 LOMBARDI Maria Rosa A persistência das desigualdades de gênero no mercado de trabalho in Costa Albertina et al orgs Divisão sexual do trabalho Estado e crise do capitalismo Recife SOS Corpo 2010 p3356 27 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 LORDE Audre Age Race Class and Sex Women Redefining Difference Copeland Colloquium Amherst College April 1980 MARUANI Margaret MERON Monique Un siècle de travail des femmes en France 19012011 Paris La Découverte 2012 OLIVEIRA COSTA Albertina Apresentação Tema em destaque Trabalho e gênero Cadernos de Pesquisa Fundação Carlos Chagas vol 43 n 149 maio agosto 2013 SCHWARTZ Olivier Peuton parler des classes populaires In La vie des idéesfr 2011 on line httpwwwlaviedesideesfrPeutonparlerdes classeshtml SILVERA Rachel Un quart en moins Des femmes se battent pour en finir avec les inégalités de salaires Paris La Découverte 2014 SOUZALOBO Elisabeth A classe operária tem dois sexos trabalho dominação e resistência São Paulo Fundação Perseu Abramo 1991 Recebido em 07 de fevereiro de 2018 Aprovado em 26 de fevereiro de 2018 Publicado em 13 de junho de 2018
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14 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 GÊNERO PATRIARCADO TRABALHO E CLASSE1 2 Helena Hirata3 Resumo A conjunção das palavraschave que compõem o título desse artigo remete imediatamente ao conjunto de reflexões e práticas do que se convencionou denominar feminismo materialista Assim esse texto apresenta de início o feminismo materialista para em seguida abordar o tema do trabalho das mulheres e mais geralmente a relação entre trabalho e gênero no contexto de um capitalismo patriarcal Discute enfim o paradigma da interseccionalidade que propõe a interdependência e a nãohierarquização das relações de poder de gênero raça e classe social Palavraschave feminismo materialista gênero e classe interseccionalidade Abstract Linking the key words present in the title of this article remind us immediately to all the ideas and practices of we call today materialist feminism Firstly the article discusses the concept of materialist feminism Secondly it refers to the question of female labour and more generally to the relation between work and gender in the context of patriarchal capitalism Finally the article discusses the intersectional paradigm that states the interdependency and nohierarchization of gender race and class power relations Keywords materialist feminism gender and class intersectionality O feminismo materialista A conjunção das palavraschave que compõem o título desse artigo remete imediatamente ao conjunto de reflexões e práticas do que se convencionou denominar feminismo materialista O feminismo materialista se interessa pelas relações de poder pelas relações de exploração opressão dominação entre homens e mulheres e é ao 1DOI httpsdoiorg1022409tn16i29p4552 2Esse artigo resulta de uma comunicação Trabalho encomendado pelo GT Trabalho e Educação apresentada no dia 03102017 durante a 38 Reunião Nacional da ANPED em São Luis 3 Diretora de pesquisa emérita no Centre National de la Recherche Scientifique CNRS França e professora visitante internacional no Depto de Sociologia da USP 15 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 mesmo tempo uma teoria e uma prática Teorias feministas e movimentos feministas enquanto movimentos sociais são indissociáveis Para o feminismo materialista o trabalho é central em sua materialidade e enquanto prática social A divisão sexual do trabalho profissional e do trabalho doméstico subjacente à divisão sexual do poder e do saber também é central para essa corrente do feminismo materialista Ele critica a partir de uma perspectiva de gênero a teoria marxista das classes sociais DELPHY 1977 HIRATA E KERGOAT 1994 porque ela não permite apreender o lugar das mulheres na produção e na reprodução social Delphy 1977 mostrou como a classe social das mulheres é construída em referência exclusiva aos homens marido pai etc nos estudos de estratificação Também Kergoat demonstrou em seus escritos como as relações de classe são sexuadas e as relações sociais de sexo são atravessadas por pontos de vista de classe relações de sexo e relações de classe organizam como diz Kergoat a totalidade das práticas sociais Não é so em casa que se é oprimida nem só na fábrica que se é explorada Também é necessário se referir aqui à ideia do trabalho como atividade paradigmática KERGOAT isto é afirmar a centralidade do trabalho contra os que preconizam o fim do trabalho André Gorz Jeremy Rifkin Claus Offe Dominique Méda etc3 No marxismo as classes sempre foram tratadas como se o gênero não implicasse nenhuma heterogeneidade em sua composição SOUZA LOBO 2011 1990 HIRATA e KERGOAT 1994 a classe operária tem dois sexos como consta no título do livro póstumo de Elisabeth Souza Lobo e no artigo de Hirata e Kergoat As mulheres no Capital não têm existência enquanto sexo social mas fazem parte com outras categorias do exército industrial de reserva cf crítica à categoria exército industrial de reserva HIRATA 2002 As atividades de trabalho estão sendo expulsas para a periferia do mundo capitalista Bruno Lautier 1998 se refere aos cortadores de cana do Nordeste brasileiro Ao mesmo tempo assistese sobretudo desde os anos cinquenta ao desenvolvimento acelerado do setor de serviços e à conceitualização emergente de classes populares Schwartz 2011 para englobar o conjunto dos setores 3 Para a apresentação da posição dessesas autoresas na controvérsia fim do trabalho x centralidade do trabalho cf Hirata 1998 16 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 assalariados proletarizados que não são abarcados pelo conceito de classe operária Enfim é interessante o comentário de Alexis Cukier 2016 que mostra como Danièle Kergoat politiza o conceito de trabalho junto com Christine Delphy e Silvia Federici Segundo Cukier essas autoras apontam para a função política central do conceito de trabalho A ideia de base dessas autoras seria segundo ele a indissociabilidade entre as funções econômicas produção de bens e serviços e politicas reprodução e transformação das relações sociais o que permite segundo Cukier renovar a crítica marxista da economia politica e pensar o trabalho como alavanca da emancipação coletiva Para esse autor o feminismo materialista permite opor ao neoliberalismo a perspectiva de um trabalho feminista póscapitalista e democrático A própria Danièle Kergoat afirma que é o potencial crítico e subversivo dessa sociologia crítica que se trata de evidenciar GALERAND KERGOAT 2014 Ela dá preeminência às relações sociais e ao trabalho no que se diferencia das sociologias das diferenças entre os sexos ou dos gender studies que não analisam conjuntamente trabalho e exploração dominação e emancipação O trabalho das mulheres no capitalismo patriarcal Trabalho e gênero Apresentaremos a seguir em traços amplos a situação atual do trabalho das mulheres no quadro de um capitalismo patriarcal entendendo por patriarcado uma formação social em que os homens detêm o poder ou ainda mais simplesmente o poder é dos homens Ele é assim quase sinônimo de dominação masculina ou de opressão das mulheres DELPHY 2009 2000 p 172 Para nós não existe uma formação social patriarcado separado do capitalismo Preferimos falar em capitalismo patriarcal Ou como bem formulou Danièle Kergoat Patriarcado e capitalismo se combinam e exploram dominando e dominam explorando KERGOAT 1978 p 44 Se as mulheres sempre trabalharam como mostram as historiadoras do trabalho feminino a porcentagem de mulheres trabalhadoras passou no caso da França de um terço a metade no conjunto da população ativa em um século MARUANI e MERON 2012 No Brasil considerando apenas a década passada observase um incremento de 24 na atividade feminina OLIVEIRA COSTA 17 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 2013 p 400 Portanto uma convergência notável entre a França e o Brasil no que diz respeito à divisão do trabalho profissional é que a despeito da crise econômica mundial e da austeridade a despeito da recessão econômica no Brasil as mulheres se mantêm no mercado de trabalho e aumentam a sua participação Embora possamos constatar esse aumento nas taxas de atividade femininas também se deve assinalar a persistência das desigualdades tanto entre sexos quanto entre raças e entre classes na medida em que partimos do ponto de vista segundo o qual as relações sociais de gênero de raça e de classe são interdependentes e indissociáveis Um indício de desigualdade está na segregação horizontal e vertical as mulheres não têm acesso às mesmas profissões que os homens estão limitadas a um número restrito de atividades tanto na França quanto no Brasil e têm poucas perspectivas de promoção o fenômeno do glass ceiling o teto de vidro e a polarização do emprego feminino A segregação dos empregos e das atividades em todo o mundo é o que Danièle Kergoat 2012 chama o princípio da separação distinção entre trabalho masculino e feminino Se as taxas de atividade aumentam os empregos criados são vulneráveis e precários com o desenvolvimento do trabalho informal no Sul E sobretudo a coexistência da expansão do mercado formal de trabalho CARNEIRO ARAUJO LOMBARDI 2013 p473 com o informal absorvendo mais mulheres do que homens mais negros do que brancos idem ib 2013 O desemprego feminino é maior do que o masculino na maioria dos países industrializados e as mulheres são majoritárias no desemprego oculto pelo desalento INSEE Enquête Emploi 2005a Na França em 2012 a taxa de desemprego feminina é em 2012 ligeiramente mais elevada 10 que a taxa de desemprego masculina 97 mas esse diferencial foi mais importante em todos os anos passados chegando a ser de 4 em 1980 e em 1990 e de 3 em 2000 Outra similitude entre a situação das mulheres ao nível internacional elas têm sempre salários inferiores aos dos homens Os salários femininos são inferiores aos salários masculinos e há desigualdade salarial entre homens negros e brancos mulheres negras e brancas Segundo o INSEE a desigualdade de salários entre mulheres e homens na França não tem variado nas últimas 18 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 décadas o diferencial de salários permanecendo em torno dos 25 Silvera 2014 Esse diferencial diminui no setor público e varia segundo as categorias sócioprofissionais Assim o diferencial mais significativo se observa entre os executivos e o menor na categoria de empregados Em 1950 o diferencial de salários era como no Japão hoje de 50 mas ele se estabilizou em torno de 25 desde a metade do século passado No Brasil o diferencial de salários está hoje em torno de 30 OLIVEIRA COSTA 2013 após um longo período em que esteve em torno de 35 Quanto ao trabalho precário sem proteção social e sem direitos ele diz respeito a 30 das mulheres ocupadas contra 8 dos homens ocupados LOMBARDI 2010 O exemplo paradigmático do trabalho precário é o emprego doméstico sobretudo o emprego de diarista majoritariamente exercido sem vínculo empregatício sem proteção social e sem direitos 16 das mulheres brasileiras ocupadas são empregadas domésticas Enfim quanto à divisão sexual do trabalho doméstico se indicamos desigualdades gritantes no que diz respeito ao trabalho profissional pior ainda parecem ser as desigualdades no âmbito do trabalho doméstico o que é atribuído a um e a outro sexo é um fator imediato de desigualdade e de discriminação A atribuição do trabalho doméstico às mulheres permaneceu intacto em todas as regiões do mundo com diferenças de grau na sua realização dos modelos tradicionais aos modelos de delegação A delegação às empregadas domésticas e diaristas é muito mais importante no Brasil do que na França pois se há cerca de 1 350 000 mulheres trabalhando nos serviços domésticos e de cuidados na França INSEE Enquête Emploi 2005b no Brasil segundo o recenseamento da população de 2010 há 7 000 000 de pessoas no emprego doméstico das quais cerca de 5 do sexo masculino Podemos concluir essa apresentação sumária das desigualdades entre mulheres e homens no trabalho nos referindo à constatação feita sistematicamente hoje a partir das pesquisas empíricas em ciências sociais a posição das mulheres e dos homens na hierarquia social em termos de repartição do trabalho doméstico de hierarquia profissional ou de representação politica não é a mesma nas sociedades contemporâneas O paradoxo dessa desigualdade persiste a despeito do fato de que as mulheres têm níveis de 19 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 educação superiores aos dos homens em quase todos os níveis de escolaridade e em praticamente todos os países industrializados Por exemplo na França segundo os dados para 2012 da Pesquisa Emprego do INSEE 87 de mulheres e 82 de homens na faixa etária de 2024 anos possuem diplomas do ensino superior do 2 grau e equivalentes Inversamente entre os que não completaram os estudos e não obtiveram diplomas do 2 grau há mais homens 18 do que mulheres 13 segundo a mesma Pesquisa Emprego do INSEE Na maioria das vezes os desempenhos escolares das meninas são superiores aos dos meninos em escala mundial Baudelot Establet 2013 Entretanto a despeito do melhor desempenho escolar das mulheres em relação aos homens em quase todos os países industrializados a situação de inferioridade das mulheres no mercado de trabalho permanece O que coloca uma série de questões sobre justiça e ética conhecimento e ação politica sobre os quais o paradigma interseccional tem avançado proposições que discutiremos a seguir O paradigma interseccional Podese situar a gênese do paradigma interseccional nas elaborações teóricas do blackfeminism Patricia Hill Collins 1990 Audre Lorde 1980 Angela Davis 1981 bell hooks 2015 1982 todas teóricas e militantes negras afirmaram desde 19811982 a natureza interseccional da opressão das mulheres negras HILL COLLINS 1990 cf também Combahee River Collective 1979 Mas é uma jurista negra Kimberlé Crenshaw 1989a que é conhecida como a teórica da interseccionalidade a partir do seu objetivo de melhor formular os termos da ação jurídica para defender as mulheres negras contra a discriminação de raça e de sexo e de classe O que abarca o conceito de interseccionalidade A extensão desse conceito a outras categorias como a sexualidade e a orientação sexual a idade a nação a etnicidade a deficiência etc faz parte central do debate HIRATA 2014 Creio que gênero contém a dimensão sexualidade e portanto a interseccionalidade deve apontar para a imbricação de gênerosexualidade raça e classe Embora a gênese do conceito de interseccionalidade possa ser situada como dissemos acima no final dos anos setenta com o blackfeminism cuja 20 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 crítica coletiva se voltou de maneira radical contra o feminismo branco de classe média heteronormativo a vasta literatura existente em língua inglesa e mais recentemente também em francês aponta o uso pela primeira vez desse termo para designar a interdependência das relações de poder de raça sexo e classe num texto da jurista afroamericana Kimberlé W Crenshaw 1989b A problemática da interseccionalidade foi desenvolvida nos países anglo saxões a partir dessa herança do blackfeminism desde o início dos anos noventa dentro de um quadro interdisciplinar por Kimberlé Crenshaw e outras pesquisadoras inglesas americanas canadenses e alemãs Entretanto a ampla difusão e controvérsias em torno desse conceito na literatura feminista data da segunda metade dos anos 2000 Com a categoria da interseccionalidade Crenshaw 2005a 1994 focaliza sobretudo as interseções da raça e do gênero abordando parcialmente ou perifericamente classe ou sexualidade que podem contribuir para estruturar suas experiências as das mulheres de cor CRENSHAW 2005b p 54 A interseccionalidade é uma proposta para levar em conta as múltiplas fontes da identidade embora não tenha a pretensão de propor uma nova teoria globalizante da identidade id ibid Crenshaw propõe a subdivisão em duas categorias a interseccionalidade estrutural a posição das mulheres de cor na intersecção da raça e do gênero e as consequências sobre a experiência da violência conjugal e do estupro e das formas de resposta a tais formas de violência e a interseccionalidade política as políticas feministas e as políticas antirracistas que têm como consequência a marginalização da questão da violência em relação às mulheres de cor id ibid Essa formulação do início dos anos noventa desenvolvida posteriormente pela própria Crenshaw e outras pesquisadoras tem hoje na definição de Sirma Bilge 2009 uma boa síntese A interseccionalidade remete a uma teoria transdisciplinar que visa apreender a complexidade das identidades e das desigualdades sociais por intermédio de um enfoque integrado BILGE 2009 Ela refuta o enclausuramento e a hierarquização dos grandes eixos da diferenciação social que são as categorias de sexogênero classe raça etnicidade idade deficiência e orientação sexual O enfoque interseccional vai 21 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 além do simples reconhecimento da multiplicidade dos sistemas de opressão que opera a partir dessas categorias e postula sua interação na produção e a reprodução das desigualdades sociais BILGE 2009 p 70 É interessante notar que a problemática da consubstancialidade de Danièle Kergoat foi elaborada a partir do final dos anos setenta em termos de articulação entre sexo e classe social para ser desenvolvida mais tarde em termos de imbricação entre classe sexo e raça Embora ambas partam da intersecção ou da consubstancialidade a intersecção mais visada por Crenshaw no ponto de partida da sua conceptualização é aquela entre sexo e raça enquanto a de Kergoat é aquela entre sexo e classe o que fatalmente terá implicações teóricas e políticas significativamente diferentes Um ponto maior de convergência entre ambas é a proposta de não hierarquização dos tipos de opressão O desenvolvimento das pesquisas feministas na França o contato com as ideias vindas de outro lado do Atlântico as interpelações das feministas negras em países onde a opressão racial foi objeto de análise bem antes da França como é o caso do Brasil certamente contribuíram para uma sensibilização crescente às relações de poder ligadas à dimensão racial e às praticas racistas Embora pesquisadoras como Colette Guillaumin 1972 1992 tivessem conceptualizado o racismo desde o início dos anos setenta e a raça desde os primeiros momentos da existência da revista Questions Féministes na França no fim dos anos setenta essa conceptualização não se fez em termos interseccionais ou de co extensividade da raça do sexo e da classe social O interesse teórico e epistemológico de articular sexo e raça por exemplo fica claro nos achados de pesquisas que não olham apenas para as diferenças entre homens e mulheres mas as diferenças entre homens brancos e negros e mulheres brancas e negras como fica claro nos trabalhos de Nadya Araujo Guimarães no Brasil mobilizando raça e gênero para explicar desigualdades salariais ou diferenças quanto ao desemprego GUIMARÃES 2002 e GUIMARÃES e ALVES DE BRITTO 2008 A partir dos dados da PNAD 1989 e 1999 Araujo Guimarães mostra que considerando sexo e raça veemse os homens brancos com os mais altos salários em seguida os homens negros e as mulheres brancas e por último as mulheres negras com salários significativamente inferiores GUIMARÃES 2002 p13 22 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 Também considerando sexo e raça a partir de levantamentos via Agência Nacional de Empregos ANPE 1995 e 1998 da França e via questionário suplementar à Pesquisa de Emprego e Desemprego PED da SEADEDIEESE 1994 e 2001 Araujo Guimarães mostra que os imigrantes estrangeiros estão em formas mais precárias de emprego em relação aos franceses que as mulheres negras e brancas na França estão mais representadas na inatividade mas que há peso maior das mulheres negras em relação às brancas no desemprego e nas formas precárias de ocupação No caso do Brasil as mulheres brancas e negras têm trajetórias duradouras nas ocupações de menor prestígio e más condições de trabalho como o emprego doméstico as mulheres negras sendo mais numerosas nessas ocupações Ambas estão também sobrerepresentadas no desemprego Homens brancos e negros estão sobrerepresentados nas trajetórias de emprego formal e de trabalho autônomo embora os últimos em menor proporção Eles têm trajetórias marcadas pela instabilidade de forma mais marcante que os homens brancos indicando vulnerabilidade maior GUIMARÃES 2008 p 51 e seg O interesse jurídico de articular sexo e raça é cabalmente demonstrado por Crenshaw 2008 quando ela se refere ao caso de um contencioso jurídico na fábrica da General Motors nos Estados Unidos que ilustra bem o que é interseccionalidade o tribunal desagregou e recusou a acusação de discriminação racial e de gênero da parte de mulheres afroamericanas afirmando que a GM recruta afroamericanos para trabalhar no chão de fábrica e que também recruta mulheres O problema sublinhado por Crenshaw é que os afroamericanos recrutados pela GM não eram mulheres e que as mulheres que a GM recrutava não eram negras Assim embora a GM recrutasse negros e mulheres ela não recrutava mulheres negras CRENSHAW 2008 p91 Enfim o interesse político de articular sexo e raça como elementos indissociáveis para uma luta unitária tem sido demonstrado pelas teóricas da interseccionalidade e da consubstancialidade que situam a prática no prolongamento da teoria embora a questão do véu islâmico na França tenha ao mesmo tempo indicado as dificuldades dessa conjunção e o surgimento de controvérsias relacionadas à opressão de raça e à opressão de sexo A ideia de articular relações sociais de sexo e de classe foi proposta na França desde final dos anos setenta por Danièle Kergoat 1978 que quis 23 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 compreender de maneira não mecânica as práticas sociais de homens e mulheres frente à divisão social do trabalho em sua tripla dimensão de classe de gênero e origem NorteSul KERGOAT 2010 p 93 A ideia de genrer a classe e classer o gênero foi desenvolvida ao longo da sua trajetória desde o artigo de 1978 e esteve na origem da criação de um laboratório o Grupo de Estudos sobre a Divisão social e sexual do trabalho GEDISST no CNRS consagrado aos eixos temáticos de gênero e trabalho na França em 1983 Propusemos Hirata e Kergoat 1984 um apanhado crítico sobre classe e gênero num artigo que retomava a herança teórica de Christine Delphy 1977 no seu texto clássico sobre as mulheres nos estudos sobre estratificação social e discutia as teses de Eric Olin Wright Proposta similar foi feita no Brasil também desde os anos oitenta por Elisabeth SouzaLobo 20111991 A crítica da categoria de interseccionalidade é feita explicitamente por Danièle Kergoat pela primeira vez em conferência no congresso da Associação Francesa de Sociologia AFS em Grenoble em 2006 publicada sob forma de artigo em 2009 e traduzido no Brasil em 2010 No artigo citado ela critica a noção geométrica de intersecção Segundo Kergoat Pensar em termos de cartografia nos leva a naturalizar as categorias analíticas Dito de outra forma a multiplicidade de categorias mascara as relações sociais As posições não são fixas por estarem inseridas em relações dinâmicas estão em perpétua evolução e renegociação KERGOAT 2010 p 98 Essa crítica é aprofundada na introdução do seu recente livro Se Battre disentelles 2012 pelos pontos seguintes 1 a multiplicidade de pontos de entrada casta religião região etnia nação etc e não apenas raça gênero classe leva a um risco de fragmentação das práticas sociais e à dissolução da violência das relações sociais com o risco de contribuir à sua reprodução 2 não é certo que esses pontos remetem todos a relações sociais e talvez não seja o caso de colocálos todos num mesmo plano 3 os teóricos da interseccionalidade continuam a raciocinar em termos de categorias e não de relações sociais privilegiando uma ou outra categoria como por exemplo a nação a classe a religião o sexo a casta etc sem historicizálos e por vezes não levando em conta as dimensões materiais da dominação KERGOAT 2012 2122 24 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 O ponto essencial a meu ver da crítica de Kergoat ao conceito de interseccionalidade é que ele não parte das relações sociais fundamentais sexo classe raça em toda sua complexidade e dinâmica Entretanto me parece que outra crítica nem sempre explícita é a de que a análise interseccional coloca em geral em jogo mais o par gêneroraça deixando a dimensão classe social em um ângulo menos visível De uma maneira mais global cremos que a controvérsia central quanto às categorias de interseccionalidade e consubstancialidade se refere ao que denominamos a interseccionalidade de geometria variável Assim se para Danièle Kergoat existem três relações sociais fundamentais que se imbricam e são transversais o gênero a classe e a raça para outras cf a definição de Sirma Bilge supra a intersecção é de geometria variável podendo incluir além das relações sociais de gênero de classe e de raça outras relações sociais como a relação social de sexualidade de idade de religião etc Devese atentar sobretudo no que se refere à metodologia de pesquisa quais os elementos determinantes da intersecção que devem ser analisados na sua conjunção atentando sempre à ideia de não hierarquização das relações de poder de gênero de raça e de classe social ideia desenvolvida e argumentada por teóricas supracitadas como Danièle Kergoat e Patricia Hill Collins Essa ideia é por exemplo contrária à tese de uma sobredeterminação da classe sobre as outras dimensões da intersecção pois o paradigma interseccional critica a ideia de uma determinação em última instância pela classe social A tese da indissociabilidade entre gênero raça e classe também vai contra uma análise unicamente a partir da categoria de gênero pois tratar as relações de poder unicamente a partir de uma perspectiva de gênero pode reduzir a pertinência de tal análise apenas às mulheres brancas e burguesas Também é necessário enfatizar a tese segundo a qual a interseccionalidade pode ser vista como uma das formas de combate às opressões múltiplas e imbricadas e portanto como instrumento de luta politica É nesse sentido que Patricia Hill Collins considera a interseccionalidade ao mesmo tempo como um projeto de conhecimento e uma arma política 25 TrabalhoNecessário wwwuffbrrevistatrabalhonecessario ano 16 Nº292018 Referências BILGE Sirma Théorisations féministes de lintersectionnalité Diogène vol 1 n 225 2009 p 7088 CARNEIRO ARAUJO Ângela M LOMBARDI Maria Rosa Trabalho informal gênero e raça no Brasil do inicio do século XXI In Cadernos de Pesquisa FCC v 43 n 149 2013 CRENSHAW Kimberlé W Demarginalizing the intersection of race and sex a black feminist critique of discrimination 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