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DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 1 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 1 18102009 192453 18102009 192453 FUNDAÇÃO EDITORA DA UNESP Presidente do Conselho Curador Herman Voorwald DiretorPresidente José Castilho Marques Neto Editor Executivo Jézio Hernani Bomfi m Gutierre Assessor Editorial Antonio Celso Ferreira Conselho Editorial Acadêmico Alberto Tsuyoshi Ikeda Célia Aparecida Ferreira Tolentino Eda Maria Góes Elisabeth Criscuolo Urbinati Ildeberto Muniz de Almeida Luiz Gonzaga Marchezan Nilson Ghirardello Paulo César Corrêa Borges Sérgio Vicente Motta Vicente Pleitez Editores Assistentes Anderson Nobara Arlete Zebber Ligia Cosmo Cantarelli Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 2 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 2 18102009 192530 18102009 192530 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Orgs Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 3 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 3 18102009 192530 18102009 192530 Editora afi liada CIPBrasil Catalogação na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros RJ 2009 Editora UNESP 2000 Presses Universitaires de France 1ª edição 2004 Presses Universitaires de France 2a edição aumentada 2009 da tradução brasileira Título original Dictionnaire critique du féminisme Este livro publicado no âmbito do Ano da França no Brasil e do programa de auxílio à publicação Carlos Drummond de Andrade contou com o apoio do Ministério francês das Relações Exteriores e Européias O Ano da França no Brasil 21 de abril a 15 de novembro é organizado na França pelo Comissariado geral francês pelo Ministério das Relações Exteriores e Europeias pelo Ministério da Cultura e da Comunicação e por Culturesfrance no Brasil pelo Comissariado geral brasileiro pelo Ministério da Cultura e pelo Ministério das Relações Exteriores Direitos de publicação reservados à Fundação Editora da UNESP FEU Praça da Sé 108 01001900 São Paulo SP Tel 0xx11 32427171 Fax 0xx11 32427172 wwweditoraunespcombr wwwlivrariaunespcombr feueditoraunespbr Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 4 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 4 18102009 192530 18102009 192530 SUMÁRIO Apresentação 7 Prefácio à edição brasileira 9 Prefácio à edição francesa 13 Siglas utilizadas 19 VERBETES Aborto e contracepção Alisa Del Re 21 Assédio sexual Carme Alemany 25 Categorias socioprofi ssionais Pierre CoursSalies 30 Cidadania Bérengère MarquesPereira 35 Ciências e gênero Ilana Löwy 40 Coexistência dos sexos Sabine Fortino 44 Desemprego Chantal Rogerat 48 Desenvolvimento Bruno Lautier 53 Diferença dos sexos teorias da Françoise Collin 59 Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Danièle Kergoat 67 Dominação Erika Apfelbaum 76 Educação e socialização Claude Zaidman 80 Emprego Margaret Maruani 85 Etnicidade e nação Danielle Juteau 90 Família AnneMarie Devreux 96 Feminilidade masculinidade virilidade Pascale Molinier e Daniel WelzerLang 101 Flexibilidade Nathalie Cattanéo e Helena Hirata 106 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 5 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 5 18102009 192530 18102009 192530 6 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER História sexuação da Michelle Perrot 111 Igualdade Eleni Varikas 116 Lesbianismo JulesFrance Falquet 122 Linguagem científi ca sexuação da Evelyn Fox Keller 129 Maternidade Françoise Collin et Françoise Laborie 133 Migrações Catherine Quiminal 138 Movimentos feministas Dominique FougeyrollasSchwebel 144 Movimentos sociais Josette Trat 149 Mundialização Fatiha Talahite 154 Ofício profi ssão bico Prisca Kergoat Geneviève Picot e Emmanuelle Lada 159 Paridade Hélène Le Doaré 167 Patriarcado teorias do Christine Delphy 173 Pesquisas de opinião HélèneYvonne Meynaud 179 Poderes Michèle RiotSarcey 183 Políticas sociais e familiares Jacqueline Heinen 188 Precarização social Béatrice Appay e Annie ThébaudMony 193 Prostituição I Claudine Legardinier 198 Prostituição II Gail Pheterson 203 Públicoprivado Diane Lamoureux 208 Religiões Maria José F Rosado Nunes 213 Saúde no trabalho Annie ThébaudMony 217 Sexo e gênero NicoleClaude Mathieu 222 Sexualidade Brigitte Lhomond 231 Sindicatos Chantal Rogerat e MarieHélène Zylberberg Hocquard 236 Técnicas e gênero Danielle ChabaudRychter e Delphine Gardey 241 Tecnologias da reprodução humana Françoise Laborie 246 Trabalho o conceito de Helena Hirata e Philippe Zarifi an 251 Trabalho doméstico Dominique FougeyrollasSchwebel 256 Transmissões intergeracionais JeanPierre Terrail 262 Universalismo e particularismo Eleni Varikas 266 Violências Carme Alemany 271 Referências bibliográfi cas 277 Índice onomástico 309 Índice remissivo 315 Sobre os autores 329 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 6 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 6 18102009 192530 18102009 192530 APRESENTAÇÃO Visando estimular a refl exão crítica sobre a construção social da hie rarquia entre os sexos e dessa forma desenvolver um pensamento críti co feminista que favoreça a emancipação das mulheres e a igualdade na diferença o Dicionário crítico do feminismo traz consigo uma coletânea de rúbricas redigidas por autorases especializadasos em cada uma das temáticas abordadas Como se trata na grande maioria de professorases e pesquisadorases francesases membros do Grupo de Pesquisa Genre travail mobilité GTM Gênero trabalho mobilidade algumas rúbricas possuem referências e características francesas paralelamente às referên cias europeias e mundiais Isso permite sem dúvida integrar uma pequena dimensão nacional num contexto marcado mundialmente pela dominação das mulheres pelos homens que ao longo dos séculos temse transformado e assumido novas formas que se sustentam e se fortalecem por um lado nos códigos sociais estabelecidos há décadas e impostos desde a infância e por outro em algumas políticas públicas sociais familiares de emprego Publicado em diversos países tais como Turquia Japão Bulgária e Espanha sua tradução para o português contou com o apoio fundamen tal da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científi co e Tecnológico do Maranhão FAPEMA e com a colaboração da SOF e da Marcha Mundial das Mulheres Tratase enfi m de uma obra destinada a um público variado que inclui estudantes professores pesquisadores sindicalistas e movimentos sociais em geral Boa leitura Vivian Aranha Saboia Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 7 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 7 18102009 192530 18102009 192530 PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA A publicação do Dicionário crítico do feminismo em português pela EDUNESP uma década após sua primeira edição francesa é bemvinda não só para os estudos de gênero e para o feminismo brasileiros mas tam bém para todosas aquelesas que na ciência ou na própria existência estejam em busca de novos conhecimentos1 Coordenado por Helena Hi rata socióloga brasileira radicada na França e pelas sociólogas e pesquisa doras francesas Françoise Laborie Hélène Doaré e Danièle Senotier este dicionário traz muito mais do que um repertório de conceitos criados pelas teorias feministas para abordar as questões de gênero Ele evidencia como essas teorias introduziram categorias inéditas nas Ciências Sociais ao mo difi carem seus paradigmas fundamentados na dominação masculina O acesso a esta obra em nossa língua é portanto promissor pois possi bilita a ampliação do debate interdisciplinar e pluralista do feminismo crí tico contemporâneo O fato de ter sido concebida com base na experiência acadêmica e política do feminismo francês e europeu amplia seu interesse pois nos traz conceitos ligados a essa realidade social além daqueles que historicamente circulam em nível internacional Em vista disso ela nos abre meios de comparação e diferenciação entre países distintos como a França e o Brasil 1 A primeira edição foi publicada em 2000 e a segunda edição aumentada em 2004 pela PUF Presses Universitaires de France Em espanhol Diccionario critico del feminismo Madri Sinte sis 2002 Em japonês Josei Gaku Tóquio Fujiwara Shoten Coll Jitem Yomu 2002 Deverá ser publicado em turco em Istambul Kanat Kitap em 2009 e também em búlgaro em Sofi a Edições CWSP Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 9 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 9 18102009 192530 18102009 192530 10 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Nos 48 verbetes deste Dicionário entre os quais Aborto e contracep ção Assédio Sexual Cidadania Desemprego Etnicidade e Nação Femini lidade masculinidade virilidade Igualdade Lesbianismo Mundialização Patriarcado Paridade Prostituição Religiões Sexo e Gênero Sexualidade Sindicatos Tecnologias de Reprodução Humana Violências há grosso modo dois tipos de entrada analítica A primeira tem como ponto de partida a análise dos fenômenos sociais gerais sob a perspectiva de gênero o que re sulta numa compreensão acurada da realidade estudada Por esse caminho descobrese literalmente a invisibilidade social das mulheres no trabalho na ciência na política entre outros Ele indica que ao mesmo tempo em que se constroem explicações detalhadas para temas abrangentes dáse visibi lidade às relações de gênero e desconstróise a generalidade ofuscante das análises sociológicas deterministas A segunda entrada parte dos conceitos específi cos derivados ou rea propriados das e pelas experiências feministas e abordagens teóricas dos estudos de gênero A maioria desses conceitos foi paulatinamente integra da ao repertório das Ciências Sociais e se estendeu para outros campos é interessante observar como eles têm um signifi cado sociológico específi co O aborto por exemplo é defi nido sobretudo como um direito das mu lheres de decidirem pela interrupção da gravidez decisão que as remete à apropriação de seus corpos reivindicada pelo feminismo dos anos 70 Em decorrência a maternidade é também uma escolha e uma construção social não mais um determinismo biológico A divisão sexual do trabalho e as relações sociais de sexo são conceitos que estão na base da teoria mate rialista do feminismo francês de inspiração marxista Essa divisão atraves sa todo o tecido social e incide tanto no trabalho doméstico e reprodutivo como no trabalho propriamente produtivo ela é resultante das relações sociais de sexo Ressaltese aqui a particularidade francesa do uso corrente do termo relações sociais de sexo que equivale a uma construção social do sexo da mesma forma que o vocábulo gênero de origem anglófona e inspira ção pósestruturalista utilizado com maior frequência do que o primeiro inclusive no Brasil Este segundo caminho evidencia não só o signifi cativo capital teórico político e conceitual dos estudos de gênero e feministas mas também como ele tem sido absorvido pelas Ciências Humanas e Sociais transformandoas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 10 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 10 18102009 192530 18102009 192530 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 11 Perpassam por todas as análises posições teóricas e políticas divergen tes que são parte do pensamento feminista crítico quais sejam igualdade eou diferença universal eou particular sexo eou gênero Penetrar nes te universo é pois estabelecer contato com o substrato político feminista confrontarse com a pluralidade e diversidade desse pensamento para as quais as organizadoras desse Dicionário souberam atentar A legitimidade científi ca que alguns destes conceitos alcançaram como os de gênero e de divisão sexual do trabalho não encobre nem neutraliza a questão política que lhes é subjacente ao contrário alargamna conforme se verifi ca na lei tura deste livro Os dois caminhos encontrados para a entrada dos verbetes mostraram a interrelação que a crítica feminista e os estudos de gênero estão aptos a fazer para dar visibilidade às questões políticas sociais de gênero e tornálas indispensáveis como categorias de análise científi ca Por fi m é oportuno lembrar um ponto de ligação histórico do feminismo brasileiro com o feminismo francês quando nos anos da ditadura militar no Brasil a França acolheu exiladas políticas e estudantes que criaram em 1976 O Círculo de Mulheres Brasileiras em Paris Naquele período em que as ideias feministas se espalhavam céleres pelo mundo a experiência desse grupo não foi desperdiçada Ao regressarem ao Brasil no começo dos anos 80 ou ao fi carem por lá como Helena Hirata muitas delas continuaram vinculadas ao movimento social ou à produção acadêmica feminista Hoje os estudos de gênero e feministas brasileiros alcançaram uma dimensão inter disciplinar ampla com infl uências e diálogos internacionais diversifi cados embora ainda não tenham produzido nem traduzido uma obra semelhante a esta A originalidade deste Dicionário está posta em toda a sua diversidade teórica sociológica e política Cabenos tão somente usufruíla Lucila Scavone Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 11 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 11 18102009 192530 18102009 192530 PREFÁCIO À EDIÇÃO FRANCESA A característica que deve ter um bom dicionário é a de mudar a forma comum de pensar Diderot E esse é de fato o objetivo deste dicionário um tanto quanto especial De fato esta obra a primeira do tipo na França não visa colocar em ordem alfabética um conjunto de conhecimentos adquiridos ou de elementos do saber com contornos provisoriamente delimitados mas estimular a aber tura a uma problemática e seus métodos O inventário exaustivo de ter mos produzidos por uma disciplina ou um campo de estudos abre espaço à organização de noções que pertencendo a registros científi cos diferentes foram concebidas para permitir a emergência ou consolidação de uma outra visão da sociedade esta que nasce com a percepção da hierarquia entre o masculino e o feminino com a recusa do neutro Em poucas palavras trata se de transmitir uma nova grade de leitura de forma que o senso comum se transforme em senso crítico Daí o seu título Este dicionário é feminista porque coloca como central a problemática da dominação entre os sexos e suas consequências E é duplamente crítico expõe as controvérsias teóricas e políticas que atravessam o pensamento e o movimento feminista e propõe uma desconstrução de certos conceitos clássicos das Ciências Sociais Apre senta também uma série de análises que mostram que a realidade social na sua dinâmica e complexidade não pode ser corretamente apreendida se excluirmos o efeito estruturante das relações sociais entre os homens e as mulheres Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 13 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 13 18102009 192530 18102009 192530 14 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Para tanto escolhemos três tipos de termos 1 Conceitos novos os mais importantes dentre os que são diretamente provenientes da teorização feminista divisão sexual do trabalho gê nero relações sociais de sexo patriarcado 2 Termos advindos dos campos de intervenção das lutas feministas em torno do corpo aborto e contracepção assédio sexual maternidade tecnologias de reprodução humana prostituição sexualidade vio lências da área do trabalho trabalho doméstico e sua articulação com o trabalho profi ssional desemprego fl exibilidade ou do cam po político dominação paridade poderes públicoprivado 3 Enfi m certas noções abrangem termos gerais cujo conteúdo foi re construído reformulado por meio da consideração das divisões so ciais operadas pelas relações entre homens e mulheres Estas rúbri cas cujo número importante provém da Sociologia e da Economia do Trabalho fornecem exemplos da pertinência da problemática femi nista para uma melhor compreensão do social cidadania desempre go igualdade trabalho A particularidade deste dicionário está muito mais em dar sentido ao que queremos dizer do que oferecer palavras para dizer o que queremos Tornando metodicamente visível a sexualização do social e seus efeitos a natureza desta obra possui uma ambição epistemológica já que procura induzir uma sistemática de questionamentos sobre o androcentrismo pre sente na representação dos objetos e na produção das palavras das ideias dos sistemas de pensamento Ela deseja tornar necessária a ideia segundo a qual todos os fenômenos inclusive aqueles aparentemente mais afastados das relações entre homens e mulheres tais como a fi nanceirização da Eco nomia ou a informatização generalizada da comunicação não parecem mais constituídos na neutralidade dos espíritos Sempre que foi possível osas autoresas levaram as disciplinas a dia logar a Antropologia e a Psicologia a História e a Sociologia por exemplo e abriram um grande espaço para a dimensão internacional cf mundia lização desenvolvimento migrações etnicidade e nação etc Se algumas contribuições permanecem centradas na França é porque o tema teria ne cessitado diversos artigos tendo em vista que as realidades sociais as abor dagens e as práticas são diferentes de um país para outro este é o caso por exemplo da rúbrica sindicatos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 14 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 14 18102009 192530 18102009 192530 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 15 Se a introdução de debates e comparações internacionais bem como da dimensão histórica é heterogênea a cidadania necessitava de uma incur são na Antiguidade enquanto a relação social de sexo é um conceito bas tante recente o espaço signifi cativo concedido à apresentação de diversas controvérsias testemunha a vitalidade do campo e a importância dos traba lhos já efetuados desde a emergência dos movimentos feministas no fi nal dos anos 60 Dentre as controvérsias mencionamos duas uma no plano teórico e ou tra no político A primeira concerne às concepções diversas da noção de gênero um termo de origem anglosaxã ou relações sociais de sexo uma formulação elaborada num contexto francófono Se não está imediatamente presente numa forma construída ela subentende diversos textos Com efei to para algunsumas esta noção diz respeito a uma relação contraditória antagônica entre dois grupos ou duas classes relação intrinsecamente liga da às outras relações sociais que fundamentam uma dada sociedade para outrosas ela pode se limitar a designar uma forma desigual de um vínculo e se integrar a conceitos que admitem a negociação a conciliação dos papéis Além disso a articulação das diversas relações sociais classesexoraça se faz de maneira interdependente ou através de um modo hierarquizado em que a relação social de sexo é o fundamento de todas as outras As res postas são divergentes A segunda controvérsia que concerne à prostituição resulta da atua lidade política e social Em função de ser analisada como um trabalho ou uma violência ela induz a reivindicações antagônicas de profi ssionalização ou de abolição Esses dois pontos de vista são atualmente tão irredutíveis na França que nós os apresentamos por meio de duas rúbricas contraditórias Outras rúbricas desta obra tais como Ofício Profi ssão Bico mas também Sexualidade Violências Feminilidade Masculinidade Virilidade trazem esclarecimentos necessários para esse debate Se hoje nós podemos fazer um balanço desses desacordos isto ocorre graças à lenta acumulação desde o início dos anos 70 de trabalhos de pes quisa Desse ponto de vista este dicionário se inscreve num processo his tórico e constitui uma amostra datada da variedade de trabalhos realizados fora e dentro das instituições acadêmicas Iniciada por um grande colóquio Mulheres feminismo pesquisa realizado em 1982 a institucionaliza ção desse movimento se realizou em alguns grupos de pesquisa GEDISST Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 15 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 15 18102009 192530 18102009 192530 16 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER em 1983 CEDREF em 1985 equipe SIMONE em 1986 e na constituição de algumas cátedras de estudos feministas por exemplo Toulouse Paris VII Paris VIII Rennes A forma de rede foi um canal frutuoso de inter câmbios nacionais e internacionais Grupo ad hoc Structures familiales et systèmes productifs em 1982 Ateliê Productionreproduction em 1984 État et rapport sociaux de sexe em 1987 ANEF em 1989 Marché du travail et genre em 1995 RING em 2000 Surgiram diversas revistas algumas con tinuam a ser publicadas regularmente o que permite pela difusão desses trabalhos darlhes visibilidade Na França podemos citar Clio Cahiers du CEDREF Cahiers du féminisme Cahiers du Genre Cahiers du GRIF Nouvelles questions féministes Projets féministes Travail Genre et Sociétés Cada rúbrica contém uma ou várias defi nições da noção traça as etapas do seu desenvolvimento histórico expõe os debates e controvérsias que ela suscitou ou suscita e apresenta sua atualidade tanto social como científi ca Embora a maioria dos textos possua o mesmo tamanho deixamos um espa ço mais importante para três abordagens conceituais fundamentais na área a saber diferença de sexos divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo sexo e gênero Essas rúbricas constituem os elementos teóricos bási cos que permitem compreender os fundamentos das oposições ideológicas e práticas no que concerne à naturalidade ou à dimensão construída da di ferença entre os sexos e o confi namento de um deles à maternidade eou ao trabalho doméstico considerado por exemplo não qualifi cado Correlatos no fi nal do artigo permitem localizar diversas rúbricas do di cionário em que a noção é mencionada ou utilizada Cada artigo contém cinco ou seis referências bibliográfi cas consideradas essenciais para o apro fundamento do tema Uma bibliografi a geral no fi nal do volume reúne essas referências bem como diversas outras mencionadas nos textos Um índice geral permite o acesso imediato às rúbricas do dicionário e seus correlatos e a reiteração de certos termos se explica pela centralidade que ocupam quan do abordamos as relações sociais entre os sexos o conceito de trabalho a divisão sexual do trabalho a dominação o poder ou ainda as violências Por outro lado o índice permite fazer referência a termos que não foram objeto de um artigo como por exemplo Corpo Opressão Este dicionário fruto da atividade do Grupo de Estudos sobre a Divisão Social e Sexual do Trabalho GEDISSTCNRS que se tornou Gênero e Relações Sociais GERSCNRS em 2001 e GTM em 2005 tem como pú Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 16 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 16 18102009 192530 18102009 192530 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 17 blicoalvo todos os estudantes pesquisadores universitários professores jornalistas militantes sindicais e associativos centros de documentação e bibliotecas que encontrarão nele assim o esperamos uma ferramenta de trabalho efi caz A procura de uma linguagem clara visa igualmente atingir um público vasto que se questiona sobre noções que às vezes são aborda das pela mídia sem que sua história ou seus debates sejam apresentados ou explicitados O número limitado de rúbricas e a forma sintética dos artigos visam possibilitar a realização de uma obra de pequeno formato e custo acessível a um vasto público Além disso nós feminizamos os nomes dos ofícios e das funções respeitando as regras fi xadas pelo Centro Nacional da Pesquisa Científi ca e pelo Instituto Nacional de Língua Francesa publica das em 1999 Femme jécris ton nom Paris La Documentation française Enfi m retomamos a metáfora proposta pelosas autoresas de um glossário inglês similar Sonya Andermahr et al a teoria feminista faz parte das teorias nômades que vão de pessoa a pessoa de um período a ou tro transformandose conforme os novos usos e às vezes conforme as dis ciplinas Se este livro pode ser considerado um guia ele não substituirá a viagem Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 17 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 17 18102009 192530 18102009 192530 SIGLAS UTILIZADAS AMI Acordo Multilateral sobre o Investimento AN EF Associação Nacional de Estudos Feministas APE Subsídio Parental para a Educação APRE Ateliê ProduçãoReprodução ATTAC Associação para a Criação de uma Taxa sobre Transações Finan ceiras para Auxílio aos Cidadãos AVFT Associação Europeia contra as Violências Exercidas sobre as Mu lheres no Trabalho OIT Organização Internacional do Trabalho BTP Construção Civil e Obras Públicas CDD Contrato de Duração Determinada CDI Contrato de Duração Indeterminada CEA Comissariado da Energia Atômica CEDREF Centro de Ensino Documentação e Pesquisa sobre Estudos Feministas CEREQ Centro de Estudos e Pesquisas sobre Qualifi cações CES Contrato EmpregoSolidariedade emprego subvencionado pelo governo CFDT Confederação Francesa Democrática do Trabalho CGT Confederação Geral do Trabalho CNRS Centro Nacional de Pesquisa Científi ca CSF Conselho do Estatuto da Mulher CSP Categorias Socioprofi ssionais FIV Fecundação in vitro Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 19 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 19 18102009 192530 18102009 192530 20 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER GEDISST Grupo de Estudos sobre a Divisão Social e Sexual do Trabalho IFOP Instituto Francês da Opinião Pública INSEE Instituto Nacional da Estatística e dos Estudos Econômicos INSERM Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica IRESCO Instituto de Pesquisa sobre as Sociedades Contemporâneas IVG Interrupção voluntária da gravidez MAGE Mercado de Trabalho e Gênero MFPF Movimento Francês pelo Planejamento Familiar MLF Movimento de Libertação das Mulheres NTR Novas Tecnologias da Reprodução Humana OCDE Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico OMC Organização Mundial do Comércio ONG Organização Não Governamental ONU Organização das Nações Unidas OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte PACS Pacto Civil de Solidariedade PCS Profi ssões e Categorias Sociais PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento RING Rede Interuniversitária e Interdisciplinar sobre Gênero RMI Renda Mínima de Inserção SIMONESAGESSE Saberes Gênero e Relações Sociais de Sexo TTP Trabalho em Tempo Parcial UE União Europeia UNEDIC União Nacional para o Emprego na Indústria Comércio e Agricultura UNESCO Organização Educacional Científi ca e Cultural das Nações Unidas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 20 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 20 18102009 192531 18102009 192531 Aborto e contracepção Alisa Del Re O reconhecimento do direito de dispor do seu corpo foi um grande acon tecimento para as mulheres do século XX Desde a greve dos ventres no século XIX essa reivindicação foi objeto de diversas lutas perdidas ou par cialmente ganhas Internacionalmente essa luta é sustentada de maneira unânime pelos movimentos feministas dos anos 70 Quem possui o poder de controle sobre o corpo feminino o Estado as autoridades religiosas as corporações médicas o chefe da família marido ou pai ou as próprias in teressadas É um ponto decisivo pois se trata da autonomia das mulheres Exigindo que estas últimas possam ter o domínio da sua sexualidade e re cusandose a que o debate seja remetido para a esfera privada que tende a culpabilizar os relacionamentos individuais o movimento feminista con feriu uma dimensão política a esta questão que sempre ocupou um espaço primordial nas lutas parlamentares e conduziu a fraturas no interior dos partidos Os limites e as abstrações dos discursos políticos que ignoram a sexuação dos corpos vieram dessa forma à tona Entretanto em diversas regiões do planeta esse direito ainda não foi re conhecido Nos países em vias de desenvolvimento por exemplo as po líticas de planejamento familiar quando existentes repousam sobretudo na coerção esterilização forçada por exemplo ao invés de numa escolha livre Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 21 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 21 18102009 192531 18102009 192531 22 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Limites das legislações adotadas Na Europa Ocidental no que concerne à contracepção e ao acesso aos meios contraceptivos encontramos mais semelhanças do que diferenças Entretanto o contexto legal difere em função de se tratar de países que aboli ram as leis restritivas e as proibições do passado França Irlanda ou de paí ses mais tolerantes que criaram leis para afi rmar o direito ao planejamento familiar e o direito à informação no que concerne a este tema Blayo 1993 As medidas de prevenção desde a educação sexual até as informações sobre os métodos contraceptivos modernos pílula DIU etc são conquis tas importantes para as mulheres E a difusão da contracepção ao mesmo tempo que o desenvolvimento econômico restringiu o controle dos homens sobre o corpo feminino Conferência do Cairo 1994 Todavia isso não tornou a questão do aborto obsoleta Todas as mulhe res em idade fértil podem um dia engravidar sobretudo num contexto do minado pela heterossexualidade masculina pouco responsável Entretanto nem todas desejam se tornar mães ou tornarse nesse momento Por outro lado as práticas de informação e educação sexual permanecem aquém das necessidades na grande maioria dos países conforme mostram os dados alarmantes de adolescentes grávidas A importância do preserva tivo no contexto das campanhas de prevenção do HIVAids fez que muitas jovens esquecessem o fato de que uma vez descartado o risco da doença a contracepção continuaria sendo indispensável Por sua vez o atraso da di fusão da pílula do dia seguinte num país como a França ou a pouca atenção conferida ao desenvolvimento da contracepção masculina testemunham o caráter secundário que a questão da contracepção continua tendo aos olhos do corpo médico e dos poderes públicos No que concerne ao aborto foi somente a partir dos anos 70 que os paí ses da Europa Ocidental adotaram leis autorizando a interrupção voluntá ria da gravidez IVG Hoje a Irlanda onde o aborto não somente é ilegal mas inconstitucional representa uma exceção assim como é o caso na Eu ropa Oriental da Polônia onde o aborto foi praticamente banido em 1993 Heinen e MatuchniakKrasuska 1992 Entretanto na maioria dos casos as mulheres devem justifi car seu pe dido e obter uma autorização médica para poder abortar e com exceção de Dinamarca Suécia e Holanda a interrupção da gravidez se insere no âmbito do Código Penal quando não se cumprem as condições restritivas impostas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 22 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 22 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 23 Essas condições variam de país para país o limite do número de semanas além das quais a gravidez não pode ser interrompida se não houver razões terapêuticas o tempo mínimo de residência no país se a mulher for estran geira consentimento dos pais se ela é menor de idade MFPF 1992 É necessário entretanto distinguir lei e prática Em países com legislação liberal as mulheres podem enfrentar na prática inúmeros obstáculos tais como a presença de um grande número de médicos com objeção de cons ciência Uma lei restritiva no entanto pode ser interpretada de forma mais ou menos liberal Em quase todos os países da Europa empregamse técnicas simples de aborto por aspiração mas a prática da curetagem ainda é frequente mente usada A pílula abortiva ou RU 486 está disponível apenas num número limitado de países Além disso a frequência do recurso ao aborto é muito desigual enquan to as mulheres na Europa Ocidental e do Norte sofrem menos de um aborto durante a vida as frequências são muito mais elevadas nos países do Sul e na Europa Oriental onde o aborto é tido como substituto da contracepção Newman 1993 Abordagens políticas diferenciadas Os argumentos lançados por feministas na década de 1970 para justifi car o direito ao aborto repousavam em vários tipos de expectativas Os pontos comuns residiam na vontade de eliminar o perigo de morte que ameaçava as mulheres que recorriam ao aborto clandestino e na reivindicação da auto nomia reprodutiva das mulheres refl etida no slogan nós teremos os fi lhos que quisermos se quisermos e quando quisermos A posição adotada pela maioria consistia em reivindicar uma lei que as segurasse o aborto livre reembolsado pelo sistema de seguro social público e com assistência médica Ela se baseava na crença de que essa legislação teria não apenas um resultado simbólico mas que daria às mulheres um poder de barganha perante os poderes públicos a respeito de um tema tra dicionalmente visto como da esfera privada Aquelas que defendiam o princípio da descriminalização insistiam an tes de tudo na responsabilidade das mulheres por sua procriação e muitas vezes reclamavam medidas para proteger a saúde das mulheres asseguran do simultaneamente o princípio de sua autonomia Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 23 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 23 18102009 192531 18102009 192531 24 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Em geral a noção de liberdade sexual ocupou um espaço central na ar gumentação das feministas favoráveis ao direito de aborto Diversas pes quisas realizadas após a aprovação de leis que liberalizaram a interrupção da gravidez mostraram que as razões que levam as mulheres a interromper uma gravidez não são apenas materiais porque muitas delas tinham infor mações sobre métodos de contracepção e sentiram no entanto a necessida de de abortar naquele momento Entretanto os partidos políticos apresentaram posições muito mais tradicionais A esquerda viu as mulheres como vítimas de injustiça social e cultural impedindo a maternidade livre e consciente Aos olhos dos ca tólicos e das diferentes organizações de direita as vítimas eram principal mente os fetos identifi cados como bebês De todo modo a grande maioria dos políticos qualifi cava a interrupção da gravidez como um drama uma tragédia e era a maternidade que ocupava o centro das preocupações Apenas algumas correntes laicas defi niam o aborto como um direito civil isto é como uma questão de liberdade individual sobre a qual o Estado não deveria interferir Tal posição não é fácil mesmo que seja apenas devido ao vínculo re clamado pela maioria das feministas e amplamente aceito entre aborto e direitos sociais Além disso se o direito das mulheres em dispor de seus corpos não é questionável a relação entre aborto e direitos civis é complexa na medida em que levanta a questão do direito do parceiro que não pode ser negado a priori Assises pour les droits des femmes 1998 Os obstáculos atuais Nos últimos anos o debate assistiu ao ressurgimento dos discursos das correntes de direita recusandose a ver as mulheres como sujeitos autôno mos O Papa e grande parte da hierarquia católica que tentam impor seu poder sobre as consciências têm reafi rmado insistentemente a sua intran sigência quanto ao tema da vida estabelecendo uma ligação intrínseca entre direito à vida e democracia A encíclica Evangelium Vitae de 1995 nega qualquer validade jurídica às leis que autorizam o aborto A defesa do direito à vida é aí apresenta da como uma nova questão social justifi cando implicitamente as piores condutas fundamentalistas dos comandos antiaborto Nessa óptica é pre Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 24 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 24 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 25 ciso salvar a vida em potencial o feto e não a das mulheres correndo o risco de morrer em consequência de um aborto clandestino Del Re 1997 Além disso o discurso dos médicos e das comissões nacionais de ética sobre as novas tecnologias reprodutivas reforçam esta tendência ao tratar o feto como uma pessoa quase independente favorecendo a emergência do conceito de paciente que assim deixa a mãe em segundo plano Akrich e Laborie 1999 Essa abordagem que instrumentaliza o corpo da mulher rejeita a estreita relação entre o desejo desta última e as condições do desen volvimento físico e mental da futura criança Pitch 1998 Quem defende o direito das mulheres de decidir sobre a sua gravidez insiste ao contrário no fato de que colocar uma criança no mundo é uma escolha de vida uma opção para toda a existência O que conta nesse caso é a situação concreta e as representações das mulheres envolvidas e portanto o respeito por sua autodeterminação e pelo espaço de liberdade que elas conquistaram Maternidade Movimentos feministas Políticas sociais e familiares Públicoprivado Sexualidade Tecnologias da reprodução humana Assises pour le droit des femmes En avant toutes Paris Le temps de cerises 1998 308p Blayo Chantal Régulation de la fécondité en Europe Entre nous La revue européenne de planifi cation familiale 1993 n223 p39 Del Re Alisa Reproducción social y reproducción biológica en la Italia del fi n de milenio Papers 1997 n53 p2536 Heinen Jacqueline MatuchniakKrasuska Anna Lavortement en Pologne la croix et la bannière Paris LHarmattan 1992 240p Mouvement français pour le planning familial Europe elles Le droit de choisir Paris MFPF 1992 228p Pitch Tamar Un diritto per due La costruzione giuridica di genere sesso e sessualità Turim Il Saggiatore 1998 281p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Assédio sexual Carme Alemany As defi nições são extremamente variáveis Certos países Alemanha e Áustria por exemplo dão a essa expressão uma acepção muito ampla incluindo todas as alusões sexistas outros como a França se atêm a uma Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 25 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 25 18102009 192531 18102009 192531 26 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER defi nição legal mais restrita Essa denominação designa todas as condutas de natureza sexual quer sejam de expressão física verbal ou não verbal propostas ou impostas a pessoas contra a sua vontade principalmente em seu local de trabalho e que acarretam um ataque à sua dignidade A maior parte desses comportamentos é dirigida contra as mulheres e constitui uma expressão do poder dos homens sobre elas Uma nova noção para um problema antigo Várias gerações de mulheres têm sido e ainda são submetidas a solici tações de ordem sexual não desejadas Assim o droit de cuissage2 tem sido assinalado por diferentes autores entre eles Leon Richier jurista francês do fi m do século XIX MarieVictoire Louis 1994 analisando a condição das mulheres no momento da aparição do assalariamento escreveu Os direi tos de utilização dos corpos das mulheres aí compreendidos evidentemente em sua dimensão sexual foram perpetuados no seio das relações salariais Foram as feministas americanas da Universidade de Cornell que nos anos 70 designaram pela primeira vez sob o nome de assédio sexual sexual ha rassment esse gênero de condutas masculinas Elas se referiam então mais concretamente às práticas observadas no contexto das relações de trabalho com os homens A partir de 1975 esse conceito se generalizou nos países anglosaxônicos Entretanto e apesar das análises feministas o assédio se xual somente foi considerado um fenômeno importante a partir dos anos 80 No campo jurídico Catharine MacKinnon 1979 nos Estados Unidos foi a primeira a introduzir o conceito de assédio sexual na doutrina legal e a apresentálo como uma forma de discriminação sexual Nos Estados Unidos esse processo conduz ao seu reconhecimento pelos tribunais como discriminação ilegal fundada no sexo e à consideração desse fenômeno na legislação e na regulamentação administrativa Nos países europeus também foi adotado o conceito de assédio sexual Foi em meados dos anos 80 que se reconheceu verdadeiramente a impor tância do problema sobretudo no ambiente de trabalho Segundo uma série de resoluções do Parlamento europeu o assédio sexual constitui ataque à 2 Direito que tinha o senhor na época medieval de colocar a perna no leito da recémcasada na noite de núpcias e em certas regiões de passar essa primeira noite com ela Cf Dicionario Petit Robert NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 26 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 26 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 27 dignidade e aos direitos das mulheres no local de trabalho Em 1987 a Co missão Europeia publicou o primeiro relatório sobre a questão Elaborado por Michael Rubenstein ele defi niu o assédio sexual como uma conduta verbal ou física de natureza sexual cujo autor sabe ou deveria saber que é ofensiva à vítima Esse documento que permitiu divulgar a situação nos diferentes paísesmembros da União Europeia assinala em especial que o assédio sexual entra em confl ito com o objetivo de igualdade de trata mento entre mulheres e homens e mostra que a legislação existente nos Estadosmembros não está adaptada para responder a essa situação Assim ele recomenda a elaboração de uma diretriz comunitária a fi m de prevenir o assédio sexual no mundo do trabalho proteger os trabalhadores desse risco e encorajar os empregadores a instituir e manter um ambiente de trabalho isento de todo assédio sexual Abordagens segundo os países Nem todas as análises coincidem em sua abordagem à questão Algumas feministas americanas recusam limitar o fenômeno às relações de trabalho porque elas o consideram uma forma de relação de poder entre o homem e a mulher exercida igualmente em outras situações Farley 1978 Por ou tro lado há aquelas que se centram no âmbito profi ssional e enfatizam que o assédio sexual é um elemento determinante da segregação feminina no mercado de trabalho Stanko 1988 Na Europa os debates das feministas americanas tiveram eco sobretudo nos países nórdicos e na GrãBretanha Nos demais países da União Eu ropeia a defi nição do conceito de assédio sexual conforme proposto nos textos europeus foi decisiva para fazer explodir o debate no seio do movi mento feminista Certos países entre eles a França centraramse princi palmente na necessidade de uma legislação sobre a matéria enquanto em outros sobretudo na Itália o debate tomou um caráter mais ideológico e teve por objeto as causas do fenômeno a discussão política do conceito utilizado nos textos europeus e a possível utilidade de uma lei Na França as associações feministas entre elas a AVFT Associação Europeia contra as Violências às Mulheres no Trabalho criada em 1985 foram as primeiras a reivindicar a sanção legal contra o assédio sexual Des de a década de 1990 elas propõem uma defi nição inspirada nos textos da Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 27 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 27 18102009 192531 18102009 192531 28 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Comunidade Europeia e nos conceitos norteamericanos que inclua o as sédio sexual exercido por colegas de trabalho e a chantagem sexual de um superior hierárquico A discussão sobre o fenômeno acabou se restringindo rapidamente aos debates parlamentares Durante tais debates foi frequentemente apontado o perigo de aprovar uma lei semelhante à dos Estados Unidos dado que as mídias apresenta ram as ações judiciais aplicadas nos Estados Unidos para denunciar e san cionar o assédio sexual como práticas exageradas cujo desenvolvimento não seria desejável favorecer no contexto europeu O medo da maioria dos parlamentares de chegar a tal situação portanto infl uenciou o debate e contribuiu para criar um consenso no qual fi nalmente se adotou uma defi nição fundada unicamente no abuso de uma autoridade com a intenção de obter favores sexuais Desse modo o assédio sexual cometido por colegas foi excluído do campo de aplicação da lei atualmente a lei francesa inclui esse tipo de assédio sexual A motivação real dos legisladores visava so bretudo encontrar um consenso para reprimir os principais abusos salva guardando a concepção masculina da sedução e das relações ofensivas ou de dominação que ela supõe Os debates parlamentares também sublinharam que existem formas de assédio sexual qualquer que seja o sexo das pessoas e concluíram portanto pela inadequação da defi nição do assédio sexual como discriminação sexual contra as mulheres Sem dúvida o texto da lei foi considerado insufi ciente pelo menos do ponto de vista do movimento das mulheres Além disso esse meio sucesso teve como efeito perverso esterilizar o debate impedir seu aprofundamento e tornar mais difícil a ação prática A título de exemplo se em muitos paí ses as sindicalistas feministas se esforçaram para introduzir nas convenções coletivas cláusulas sobre o assédio sexual medidas preventivas ou tipos de sanções isso não se produziu na França Na Itália ao contrário a indi ferença do governo em face do problema nem mesmo forneceu à União Europeia estatísticas ou dados sobre a amplitude do fenômeno provocou um maior envolvimento do movimento das mulheres no debate Pesquisas europeias Na Europa as pesquisas realizadas evoluíram no curso do tempo até o fi nal dos anos 80 e se orientaram sobretudo para o conhecimento do pro Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 28 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 28 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 29 blema Diferentes levantamentos realizados na Europa buscaram avaliar sua incidência e atualmente todos os países da União Europeia dispõem de dados que permitem conhecer a situação Variando enormemente segundo os países os tipos de profi ssão e as diversas formas que pode assumir o assédio sexual concerne muito frequentemente mais de 30 das mulheres no trabalho as quais caso se recusem a ceder podem sofrer consequên cias Infelizmente como a metodologia empregada para medir a impor tância do fenômeno não é homogênea não é fácil uma comparação inter nacional Entretanto quando se apresenta às mulheres em todos os países uma lista de fatos incluindo as manifestações e os propósitos e olhares com intenção sexual dirigidos a uma pessoa sem que ela os tenha desejado a porcentagem de mulheres que afi rmam ter sofrido tais ataques atinge em certas pesquisas mais de 60 Ao contrário quando se pede às mulheres que assinalem os comportamentos que elas consideram parte do assédio sexual observase que a taxa de respostas afi rmativas diminui quando se trata de comportamentos de nível mais fraco comentários embaraçosos de natureza sexual sobre o físico ou o vestuário histórias descaradas olhares incômodos Isso mostra que as mulheres minimizam esses fatos e conside ram o assédio sexual de maneira restritiva Essa tendência se confi rma em quinze países da União Europeia Timmerman Alemany 1999 A partir dos anos 90 as pesquisas qualitativas se orientaram para a compreensão da complexidade do problema Algumas utilizaram os testemunhos e as his tórias pessoais de mulheres assediadas Grisendi 1992 Cromer 1994 Na Alemanha na Finlândia e em Portugal foram realizadas pesquisas sobre o assédio sexual contra homens Elas mostraram por um lado que os ho mens se sentem menos atingidos em sua dignidade que as mulheres e que por outro a maioria dos assediadores eram homens Atualmente os debates sobre a questão diminuíram consideravelmente de intensidade exceto na Itália onde ainda se questiona a pertinência de se votar uma lei Condriagnani 1996 Em outros países as associações femi nistas na França a AVFT e as comissões de mulheres dos sindicatos se esforçam para dar apoio jurídico e psicológico às mulheres que denunciam esse tipo de agressão É necessário assinalar enfi m que não há pesquisas que permitam avaliar os efeitos das medidas tomadas contra o assédio se xual no local de trabalho as quais sejam a inclusão na negociação coletiva da proibição do assédio sexual e diversas medidas preventivas tais como a Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 29 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 29 18102009 192531 18102009 192531 30 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER criação de um cargo de conselheira de confi ança ou a inclusão da interdi ção do assédio sexual no regulamento interno de certas empresas Movimentos feministas Sexualidade Trabalho o conceito de Violências Cromer Sylvie AVFT Le harcèlement sexuel La levée du tabou 19851990 Paris La documentation française 1994 228p Democracia e Diritto revista 1993 n2 317p Edição monográfi ca sobre o debate na Itália Louis MarieVictoire Le droit de cuissage en France 18601930 Paris Les Éditions Ou vrières 1994 319p MacKinnon Catharine Sexual Harassment of Working Women A Case of Sex Discrimi nation New Haven Yale University Press 1979 312p Rubenstein Michael La dignité de la femme dans le monde du travail Rapport sur le problème du harcèlement sexuel dans les états membres des communautés européennes Luxemburgo Escritório de publicações de comunidades europeias Document des Commissions des Communautés européennes 1987 161p Timmerman Grejte Alemany Carme Le harcèlement sexuel sur le lieu de travail dans lUnion européenne Comissão europeia Diretriz geral Emploi relations industrielles et affaires sociales 1999 230p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Categorias socioprofi ssionais Pierre CoursSalies Quando se trata de classifi car indivíduos que são semelhantes em função de características comuns estamos perante uma atividade intelectual que sempre enfrentou difi culdades para evitar naturalizações mesmo quando se trata de uma explicitação de cunho sociológico das semelhanças e dife renças A rigor na linguagem cotidiana uma categoria supõe a classifi cação de objetos de mesma natureza Além disso a existência de categorias socioprofi ssionais CSP qualquer que seja a formulação utilizada para descrevêlas tem origem tão distante quanto os primeiros alfabetos e os primeiros sistemas de cálculo que foi pos sível decifrar Linear B de Micenas Síria antiga China incas Egito etc Tratavase de informações numéricas recolhidas e apresentadas pelas admi nistrações vinculadas ao poder político Daí o conceito de estatísticas que Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 30 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 30 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 31 signifi ca o inventário de conhecimentos úteis para um homem de Estado extensão população recursos Um dado isolado permanece sempre menos bem conhecido do que quando é inserido num conjunto que deve na medi da do possível apresentarse como uma nomenclatura em que cada reali dade encontra sua própria denominação ou taxinomia o ordenamento in telectual que permite vislumbrar a diversidade de um domínio da realidade Mais fundamentalmente essa atividade de classifi cação atravessa o con junto da fi losofi a política especialmente quando suscita os movimentos de cidadãos pensemos nos debates entre os sofi stas gregos e Aristóteles a respeito dos escravos das mulheres e dos nobres recordemos também as discussões sobre os direitos dos cidadãos na época da Revolução Francesa com as polêmicas em torno das classifi cações entre aqueles que deveriam ter o direito de voto e os que não deveriam incluindose aí as mulheres ci temos a controvérsia fundadora dos direitos políticos modernos limitados aos que possuíam o sufi ciente para pagar os impostos 1646 no tempo da primeira Revolução Inglesa Macpherson 1971 Nos dias de hoje lidar com categorias socioprofi ssionais não pode se limitar a registrar dados neutros Não há aqui uma descrição objetiva Usar uma nomenclatura signifi ca verse frente a frente com uma concepção sistemática da unidade dos semelhantes diferentes as análises que jus tifi cam as categorias remetem às diferenças concretas mais ou menos iden tifi cadas com os princípios de classifi cação Um bom exemplo é encontrado num texto de Max Weber cap IV p3093151971 O uso francês das categorias socioprofi ssionais do INSEE temse man tido desde 1951 Ele sofreu ajustes passando da sigla CSP até 1982 para PCS Profi ssões e Categorias Sociais em seguida para distinguir as séries relacionadas com a evolução das profi ssões e também com melhores análi ses dos empregos Repertório Francês de Empregos do CEREQ Reper tório Operacional dos Ofícios O esforço de confrontar ramos patronais e sindicatos de trabalhadores ocupou um espaço importante para se chegar à nomenclatura de 1982 Difi culdades e controvérsias O uso das CSP requer uma tripla vigilância Em primeiro lugar para conseguir compreender a história de uma nomenclatura suas evoluções e Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 31 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 31 18102009 192531 18102009 192531 32 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER correções inseparável de momentoschave como 1936 e 19451946 de mudanças culturais e econômicas Nesse ponto Alain Desrosières e Lau rent Thévenot 1988 trouxeram uma grande contribuição Em segundo lugar para atentar às diferenças nacionais Duriez et al 1991 Em terceiro lugar para atualizar os efeitos sociais perversos relativos a certas realida des O estudo crítico da história das estatísticas destacou bem esses desafi os Affi chard 1987 Desrosières 1993 Nos anos 70 Christine Delphy inaugurou na França uma crítica dos pressupostos sexistas dos estudos franceses de estratifi cação Delphy 19771998 Ela apontava o signifi cado de algumas inconsequências meto dológicas por exemplo nas categorias do INSEE como nas orientações do recenseamento geral da população muitas vezes classifi case uma mulher em função da sua profi ssão se ela é solteira e posteriormente abandonase esse critério no dia em que ela se casa Ela insiste na refl exão sobre a utili zação para a classifi cação das mulheres de um critério totalmente alheio à teoria da estratifi cação social chamado de critério de associação pelo casa mento ibidem p161 Destaquemos nesse sentido algumas contribuições Michel Verret comentando o Recenseamento Geral da População feito em 1990 mostra que a sexuação das categorias socioprofi ssionais ocultas pelas regras ad ministrativas e práticas do censo acarreta no mínimo dois efeitos comple mentares afasta a noção de classe operária da relação estrutural capitalista entre os proprietários dos meios de produção e as pessoas que dependem da venda da sua força de trabalho isto é a grande maioria dos assalaria dos e assimilaa a uma simples diferença de categorias entre grupos com estatuto e condições cotidianas de trabalho mais ou menos diferentes ao mesmo tempo a realidade do estatuto das mulheres assalariadas é oculta a maioria estando próxima da situação dos operários Verret 1994 Helena Hirata e Danièle Kergoat 1993 e 1998a Kergoat 1998b revelam que seria possível e necessário articular uma análise em termos de relações de classe e em termos de relações sociais de sexo em que a divisão sexual do trabalho ocupa um espaço primordial na reprodução das relações de dominação ex ploração e alienação Dominique FougeyrollasSchwebel e Maryse Jaspard 1990 propuseram uma crítica feminista das estatísticas e fi xaram mar cos para um cotejo europeu Marie DuruBellat 1994 enfatizou as impli cações teóricas da variável sexo na sociologia da educação contemporânea Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 32 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 32 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 33 Catherine Dutheil e Dominique Loiseau 1997 apresentaram uma síntese dos silêncios criticáveis do INSEE e dos preconceitos sociológicos na área da Educação Outras observações críticas consideram que as CSP funcionam como uma estratifi cação de tipo funcionalista cruzando estatutos e hierarquia profi ssional Boudon e Bourricaud p51823 1982 Alguns preferem uma categorização explicada pela lógica do mercado Esses debates voltaram à tona recentemente Se alguns propuseram uma mudança de categorização inspirada pelos modelos anglosaxões Lemel in Dupoirier 1997 outros insistiram no valor heurístico da técnica das CSP que articula enunciado de profi ssão estatuto e classifi cação profi ssional ligada às convenções coletivas sem entretanto recusarse a aperfeiçoálas Héran in Dupoirier 1997 Usos e melhorias Dois problemas muito diferentes permanecem atuais De um ponto de vista metodológico como não se esquivar da conotação sexista que afeta as mulheres nessas categorizações reproduzindo a divisão sexual do trabalho e as relações sociais de sexo Isso depende sobretudo da passagem de uma utilização acrítica do aparelho estatístico para uma sociologia dos modos de categorização estatística do mundo social que marcou a reformulação das CSP em 1982 e ela ainda merece ser reformu lada para que se possa analisar a divisão sexual do trabalho Chenu 1997 Nesse plano as discussões não tiveram praticamente nenhum efeito sobre o censo de 1999 No entanto estão progredindo conforme atesta um rela tório que destaca a força da nomenclatura a necessidade de fazêla viver proporcionandolhe melhorias Faucheux e Neyret 1999 a eventuali dade de uma categoria socioprofi ssional específi ca para pessoas em extre ma precariedade incapazes de invocar uma identidade profi ssional reco nhecida uma melhor distinção dos dois grandes níveis de qualifi cação dos trabalhadores e da mesma forma um agrupamento em torno dos não assalariados não agrícolas que não fazem parte das profi ssões intelec tuais superiores Para considerar as realidades sexuadas não é necessário um questionamento mas uma melhoria das CSP sobretudo uma cautela a recusa de ocultar a situação pessoal de uma mulher assimilandoa à CSP do seu cônjuge A nomenclatura das CSP seria consolidada por uma ferra Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 33 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 33 18102009 192531 18102009 192531 34 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER menta complementar conforme proposto no relatório já citado uma no menclatura dos domicílios levando em conta o tipo de domicílio com ou sem um cônjuge o estatuto de atividade de ambos os cônjuges ativo por tempo parcial etc o número de fi lhos atualmente dependentes ou não etc Num plano mais teórico devemos claramente recolocar uma questão afastada com demasiada facilidade que diz respeito às relações de produção e sua ligação com as relações sociais de sexo Isto nos convida a retomar uma análise das relações de classe Com certeza podemos ver que as camadas protetoras Schumpeter 1984 mascaram ou atenuam o confronto entre aqueles que possuem o capital e os outros Mas aqui não há nada de novo tratase de uma releitura de Marx que dedica a parte central do Livro III do Capital a esses fenômenos Seria o caso no entanto de incorporar ao presente programa de trabalho as teses de Flora Tristan quando esta defi niu a classe dos proletários como a que engloba todos aqueles e aquelas que possuem apenas a sua força de traba lho para viver sem a sua união a fi m de impor o direito ao trabalho para todos os seres humanos aqueles que dependem do mercado não podem segundo seu apelo de 1843 ser cidadãos Flora Tristan 18431986 Aqui aparece outra questão a das relações de classe no momento muitas vezes confun dida de maneira errada com as noções de categorias socioprofi ssionais Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Ofício profi ssão bico Poderes Precarização social Sindicatos Chenu Alain La descriptibilité statistique des professions Sociétés contemporaines 1997 n26 p10934 Delphy Christine Les femmes dans les études de stratifi cations 1977 Reeditado in Delphy Christine Lennemi principal t1 Économie politique du patriarcat Paris Syl lepse Nouvelles questions féministes 1998 293p Desrosières Alain La politique des grands nombres Histoire de la raison statistique Paris La Découverte 1993 437p Dupoirier Élisabeth Parodi JeanLuc Orgs Les indicateurs sociopolitiques aujourdhui Paris LHarmattan Logiques politiques 1997 364p Duriez Bruno Ion Jacques Pinçon Michel PinçonCharlot Monique Institutions statistiques et nomenclatures socioprofessionnelles Essai comparatif RoyaumeUni Espagne France Revue française de sociologie janeiromarço 1991 XXXII1 p2959 Faucheux Hedda Neyret Guy Évolution de la pertinence des catégories socioprofession nelles CSP Relatório da inspeção geral do INSEE março de 1999 142p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 34 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 34 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 35 Cidadania Bérengère MarquesPereira A Revolução Americana 1776 e a Revolução Francesa 1789 são mo mentos fundamentais para a modernidade política quanto às representa ções da cidadania A primeira traduz uma perspectiva liberal que atribui toda a sua importância à liberdade individual e à igualdade de todos diante da lei Ela reivindica o direito ao voto e a participação no selfgovernment A segunda defende a liberdade a igualdade e a fraternidade em nome da universalidade Condorcet foi o primeiro a reivindicar a admissão das mulheres ao direito à cidade no momento da Revolução Francesa Para ele negar às mulheres os direitos políticos é irracional tendo em vista que o indivíduo é caracterizado por sua aderência à humanidade e pelo uso da razão Ao mes mo tempo e ultrapassando essa óptica Olympe de Gouges julga necessário especifi car o caráter sexuado do avanço político das mulheres na Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã 1791 Por outro lado Mary Wollsto necraft se aproxima mais do pensamento de Condorcet Na sua Defesa dos Direitos da Mulher afi rma que é opressivo e ilógico privar uma parte da humanidade dos direitos que concedemos à outra Uma longa exclusão política A Revolução Francesa confi rmou durante muito tempo a exclusão po lítica das mulheres e em vários casos as antigas mobilizações feministas em favor da igualdade política somente tiveram impacto muito tempo de pois Se a Finlândia 1906 foi o primeiro e a Suíça o último país 1971 a conceder às mulheres o direito de voto nacional as francesas tiveram de aguardar até 1944 para alcançar esse direito Esse atraso guarda relação com o Código de Napoleão 1804 que afi rma a incapacidade jurídica das mu lheres casadas A esse respeito notemos que sua capacidade civil e o direito ao trabalho foram em geral adquiridos antes do direito ao voto Esse foi em especial o caso da França 1938 e da Suíça 1912 A cidadania é vinculada a duas grandes tradições a tradição liberal por exemplo Montesquieu e a tradição do civismo republicano por exemplo Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 35 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 35 18102009 192531 18102009 192531 36 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Rousseau O primeiro sublinha os direitos civis e políticos esses direi tosliberdades que o indivíduo possui face à intervenção do Estado são a garantia da sua autonomia A segunda tradição é vinculada à formação do interesse geral tornada possível graças ao envolvimento do conjunto dos cidadãos numa comunidade de interesses políticos os cidadãos assegu ram suas necessidades muito mais nas relações recíprocas do que na sua autonomia Hoje a noção de cidadania envolve em geral três sentidos a cidadania é um estatuto um conjunto de direitos e deveres é também uma identi dade um sentimento de pertencer a uma comunidade política defi nida pela nacionalidade e por um determinado território e fi nalmente é uma prá tica exercida pela representação e pela participação políticas estas últimas traduzem a capacidade do indivíduo para interferir no espaço público emi tindo um julgamento crítico sobre as escolhas da sociedade e reclamando o direito de ter direitos Até o fi nal dos anos 80 os sociólogos e politólogos não consideravam a cidadania sob o ângulo da problemática das relações sociais de sexo da mesma forma que os estudos feministas não fi zeram da cidadania um tema de pesquisa embora algumas feministas tenham dado contribuições im portantes A segunda onda do feminismo pode ser interpretada hoje como uma luta contra as discriminações de que as mulheres são alvo em matéria de direitos civis políticos e sociais e pela extensão dos direitos de cidadania para a liberdade reprodutiva tema já presente entre as feministas no século XIX Mas a questão do estatuto jurídico e social das mulheres bem como as reivindicações do direito à contracepção e à interrupção voluntária da gra videz aborto eram inicialmente consideradas pelo ângulo da opressão e da exploração nas esferas da produção e da reprodução da democratização das relações sociais cotidianas da justiça e da autonomia do questionamento do Estado patriarcal Ultrapassar o dilema igualdade vs diferença Duas iniciativas importantes devem ser consideradas Jean Elshtain e Carole Pateman questionam a teoria política o caráter neutro da cidadania bem como a separação entre o público e o privado que se supõe defi na o âmbito político A primeira desenvolve uma tese maternalista que valoriza Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 36 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 36 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 37 a ideia de ética da solicitude ou ética do cuidado ethics of care Essa ética permitiria esvaziar a visão participativa e republicana da cidadania de seus aspectos machistas para preenchêla com valores ditos maternais como a preservação e a proteção da vida humana e do meio ambiente a compaixão e a não violência Essa lógica tipicamente feminina oporseia a uma lógica dos direitos tipicamente masculina Uma das críticas mais sistemáticas de tal óptica é a de Mary Dietz Essa autora lembra até que ponto a cidadania não resulta dos pressupostos que regem a relação mãecriança Enquanto esta funciona no registro da intimidade da autoridade e da exclusão a rela ção entre cidadãos envolve a igualdade a distância e a inclusão Carole Pateman por sua vez desenvolve a tese segundo a qual a cidada nia patriarcal é fundada numa universalidade abstrata que coloca o mascu lino como norma de referência Ela mostra que por trás do contrato social desenhase um contrato sexuado Sem dúvida Carole Pateman tem o mé rito de haver desenvolvido aquilo que denomina de dilema de Wollstone craft Com efeito nos sistemas androcêntricos as mulheres são acuadas no melhor dos casos a uma cidadania de segunda classe ou são integradas à cidadania como indivíduos e a igualdade delas as assimila aos homens negando e renegando suas experiências e suas vidas como mulheres ou são incluídas na cidadania como mulheres e a diferença sexual confi rma a sepa ração entre o público e o privado Durante os anos 90 os autores que abordaram a ideia de cidadania e relações sociais de sexo e que se situam no registro da teoria política ten taram ultrapassar o dilema igualdadediferença valorizando a ideia de uma cidadania democrática que reconheça a diversidade e o pluralismo Scott 1998 Entretanto uma pergunta permanece atual é necessário ou não es tabelecer uma representação por grupo Essa pergunta se refere à proble mática das cotas que notemos é diferente da problemática da paridade Enquanto Iris Young exalta uma cidadania diferenciada e Chantal Mouffe uma cidadania pluralista não sexuada Anne Phillips opta por uma cidada nia pluralista e diferenciada Esta última não é favorável a uma representação por grupos embora ad mita a relevância das cotas como política de presença Com efeito para essa autora as cotas não podem ser a expressão de um pluralismo alimen tado por diferentes grupos sociais atentos unicamente a suas próprias preo cupações e interesses particulares Uma representação por grupos como Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 37 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 37 18102009 192531 18102009 192531 38 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER propõe Iris Young correria o risco de reifi car as diferentes identidades pois todo indivíduo é portador de múltiplas identidades sempre em mo vimento às vezes contraditórias Para Iris Young uma representação das perspectivas dos diferentes grupos sociais oprimidos nos processos polí ticos pressupõe o direito de propor políticas fundadas nos seus próprios interesses e até mesmo o direito de veto quando algumas políticas gerais podem afetálos Anne Phillips assim como Chantal Mouffe rejeita tal posição por causa dos riscos de derivas essencialistas e considera o acordo e a negociação políticas entre os diferentes grupos necessários para a cons trução de um pluralismo real Porém aos olhos de Chantal Mouffe o reco nhecimento das diferenças não é o resultado acima de tudo da democracia representativa Pois se é verdade que as identidades se constroem por meio dos processos políticos que os interesses dos grupos não poderiam existir e portanto ser representados a priori também é verdade que a política é em primeiro lugar uma questão de relação de forças o que implica a exclu são de algumas diferenças e de certas identidades em detrimento de outras Inclusive para essa autora um sistema de cotas corre sempre o risco de institucionalizar as diferenças entre homens e mulheres em detrimento de sua igualdade Redefi nir a cidadania A atualidade do debate sobre cidadania e relações sociais de sexo tam bém se deve aos estudos conduzidos pelos politólogos e sociólogos sobre o Estado Providência e as políticas sociais Autoras como Jane Jenson Bir te Siim Alisa Del Re e Jacqueline Heinen usam frequentemente o famoso texto de T H Marshall Class and Citizenship como ponto de partida cri ticando seus aspectos lineares e androcêntricos De acordo com Thomas Humphrey Marshall a plena expressão da cidadania não pode se limitar a suas dimensões civis e políticas e requer a existência de um Estado Providência democrático e liberal que garan ta os direitos sociais conferindo assim a cada membro da comunidade um estatuto que lhe dá o sentimento de ser um verdadeiro cidadão capaz de participar da vida em sociedade e se integrar nela Os direitos e deve res de cidadania são garantidos pelo Estado Por um lado eles envolvem Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 38 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 38 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 39 deveres para com toda pessoa que se benefi cia desses direitos pagamento das contribuições sociais dos impostos etc Por outro lado impõem uma obrigação ao Estado os direitos civis e políticos são direitosliberdades de que o indivíduo desfruta perante o Estado que vê sua autoridade soberana limitada Quanto aos direitos sociais eles são direitoscréditos do indiví duo sobre o Estado prestações em dinheiro ou em espécie que o indivíduo consome na medida que são disponibilizadas pela implementação de po líticas sociais Além de suas abordagens divergentes os trabalhos centrados nas rela ções sociais de sexo e nas políticas sociais buscam ultrapassar os dilemas da cidadania entre universalismo e particularismo igualdade e diferença O desafi o também é articular as dimensões social e política da cidadania Tratase de dar conta da capacidade das mulheres de impor uma defi ni ção de cidadania que integre sua dimensão social Estas se tornam sujeitos políticos tendo os direitos sociais como campo de lutas e de negociações sua capacidade de ter um papel no espaço público e político por sua par ticipação nas instâncias da democracia representativa e nas associações da democracia participativa faz delas atrizes do Estado Providência em vez de de meras clientes Nessa perspectiva podemos apreender a cidadania como uma prática de confl ito ligada ao poder e às lutas para o reconhecimento dos atores considerados protagonistas de reivindicações legítimas Ela é tam bém ligada a uma prática consensual de participação e representação bem como de formação das políticas públicas Igualdade Paridade Políticas sociais e familiares Públicoprivado Universalismo e particularismo Del Re Alisa Heinen Jacqueline Orgs Quelle citoyenneté pour les femmes La crise des Étatsprovidence et de la représentation politique en Europe Paris LHarmattan 1996 320p Lister Ruth Citizenship Feminist Perspectives Londres Macmillan 1997 284p MarquesPereira Bérengère Org Citoyenneté número especial de Sextant 1997 n7 206p Phillips Anne Ed Feminism and Politics Oxford Oxford University Press 1998 471p Scott Joan La citoyenne paradoxale Paris Albin Michel 1998 287p Voet Rian Feminism and Citizenship Londres Sage 1998 182p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 39 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 39 18102009 192531 18102009 192531 40 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Ciências e gênero Ilana Löwy A ideia de uma relação estreita entre as ciências e o gênero implica que a evolução do conhecimento científi co foi moldada pela existência de uma dicotomia fundamental entre o masculino e o feminino na sociedade e pelo fato de que durante a maior parte da História a pesquisa científi ca foi em preendida por e para indivíduos do sexo masculino As pesquisas nesse campo assumem que as defi nições vigentes de neutralidade objetividade racionalidade e universalidade da ciência na verdade frequentemente in corporam a visão de mundo das pessoas que criaram essa ciência homens os machos ocidentais membros das classes dominantes O conhecimento tem um gênero A refl exão sobre a relação entre ciência e gênero começou na década de 1970 em estreita ligação com a ascensão do movimento feminista e com os estudos sociais e culturais da ciência Afi rmar que o gênero é uma variável que intervém no desenvolvimento do saber científi co continua a causar no entanto muita controvérsia O tema ciência e gênero foi desenvolvido por pesquisadores que se declaram adeptos do relativismo metodológico na ciência Essa abordagem sem negar de forma alguma a existência de fenôme nos naturais independentes da vontade humana postula que a compreensão destes é uma atividade social e cultural que como tal não é independente do tempo e do lugar de sua produção Outros pesquisadores em História e Filo sofi a da Ciência argumentam ao contrário que a ciência é a implementação de um método ou seja de um sistema de regras que garantem a aceitabilida de dos enunciados independentemente de quaisquer outras considerações Uma tal percepção da ciência torna difícil a inclusão da variável gênero como elemento constitutivo do saber científi co afi rmar que as leis da natureza evi denciadas por um método científi co correto são universalmente válidas volta a supor ao mesmo tempo que a sua elaboração não deve ser afetada pelas ca racterísticas sexuais ou outras dos indivíduos que estudam esses fenômenos Sem dúvida esse argumento é frequentemente matizado Por um lado é amplamente reconhecido o fato de que a Biologia e a Medicina ou seja Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 40 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 40 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 41 os campos do saber científi co que tratam diretamente dos corpos sexuados podem ter sido infl uenciadas pela percepção social e cultural das diferenças sexuais Essa infl uência pode explicar o longo tempo de sobrevivência de argumentos científi cos sobre a inferioridade intelectual inata das mulhe res Admitese também que as opções feitas pela sociedade podem afetar a determinação dos rumos e das prioridades da investigação científi ca elas podem ser responsabilizadas por exemplo pela inexistência durante tanto tempo de estudos científi cos sobre a contracepção Hoje se aceita que o so cial pode afetar o desenvolvimento do conhecimento científi co mas apenas no sentido da seleção positiva ou negativa dos temas de pesquisa ou da distorção da pesquisa por preconceitos dos cientistas Em compensação a boa ciência aquela que conseguiu se libertar do viés introduzido por variá veis socioculturais é uma visão do nada uma atividade realizada por ob servadores neutros objetivos e permutáveis que constroem coletivamente uma cultura fora de toda cultura um refl exo fi el de leis imutáveis que ordenam o mundo natural As pesquisadoras que estudaram a relação entre gênero e ciência en tre elas Sandra Harding 1996 Ruth Bleier 1988 Ludmilla Jordanova 1993 Evelyn Fox Keller 1992 Helen Longino 1990 e Donna Haraway 1988 desenvolveram uma visão diferente da ciência Elas partem da pre missa de que o nosso conhecimento das leis da natureza provém do tra balho de um grupo bem determinado de humanos os pesquisadores cien tífi cos Entretanto nenhum trabalho coletivo de seres humanos pode ser totalmente dissociado do tempo e do lugar de sua produção não há cultura fora da cultura nem história natural fora da História Essas pesquisado ras enriqueceram as refl exões sobre a história social e cultural das ciências com considerações acerca do papel central da divisão homemmulher na constituição do saber científi co Esta é construída como uma dicotomia na tural rígida mutuamente exclusiva e hierárquica o princípio masculino domina sobre o princípio feminino Dada a relevância fundamental dessa divisão em todas as sociedades humanas e a sua incorporação na cultura e na linguagem é razoável supor que tenha infl uenciado a organização do conhecimento sobre o mundo natural e favorecido o desenvolvimento de visões dicotômicas e hierárquicas apresentadas como equivalentes à ver dadeira estrutura do mundo Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 41 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 41 18102009 192531 18102009 192531 42 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Por uma nova concepção da objetividade científi ca As pesquisadoras feministas têm proposto também uma crítica radi cal das noções de objetividade racionalidade e universalidade da ciência Apresentar os conhecimentos produzidos num dado momento desde a aurora do período moderno num dado local a Europa e mais tarde a América do Norte por indivíduos dotados de uma identidade social espe cífi ca machos membros das classes dominantes como o único saber ob jetivo e universalmente válido de modo a excluir qualquer outro ponto de vista o das mulheres dos pobres das pessoas de cor de países não oci dentais possibilitou que se consolidasse a hegemonia material e ideológica dos dominantes Elaborar uma crítica do uso dos conceitos de universali dade ou objetividade da ciência em determinadas circunstâncias históricas não implica que seja necessário renunciar à aspiração de desenvolver conhe cimentos universalmente válidos e produzir um conhecimento objetivo do mundo natural As pesquisadoras que têm estudado a relação entre ciências e gênero mas também entre ciências e classes sociais etnia ou culturas não ocidentais têm argumentado que a ampliação da base do conhecimento científi co levaria ao desenvolvimento de uma maior objetividade e de uma maior universalidade das ciências Assim Sandra Harding 1996 desenvolveu o conceito de objetividade forte essa que nasce no diálogo e na troca e extrai sua força da ancoragem de atividades defi nidas Os saberes e as práticas baseados nessa perspec tiva não procuram ocultar nem o momento nem o lugar da sua elaboração tampouco o estatuto social dos indivíduos que os produzem Do mesmo modo Donna Haraway 1988 propôs desenvolver conhecimentos situa dos que reivindicam o momento e o local da sua produção O corpus da ciência se constituirá pelas interações entre os múltiplos pontos de vista de algum lugar e por meio de traduções múltiplas ou seja adaptações e mudanças de saberes e práticas produzidas por uma comunidade científi ca constituída por aqueles de dentro e de fora da ciência que utilizam esses conhecimentos e práticas Os conhecimentos situados poderão favorecer o desenvolvimento de um olhar refl exivo crítico cético e irônico sobre a ciência e portanto em última instância contribuir para tornar a ciência frequentemente defi nida como ceticismo organizado ainda mais científi ca Eles também poderão de acordo com Haraway favorecer o desenvolvi Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 42 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 42 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 43 mento de uma defi nição mais rica da objetividade e da universalidade que inclua a paixão a crítica a contestação a solidariedade e a responsabilidade Rumo a um novo estudo das práticas científi cas Finalmente algumas pesquisadoras têm focado sua atenção sobre os di ferentes mecanismos que levaram à exclusão das mulheres da empreitada científi ca quer se tratem de barreiras formais ou mais recentemente do pa pel da imagem sexuada masculina da ciência da orientação preferencial das meninas para os estudos literários ou das difi culdades práticas enfren tadas pelas mulheres pesquisadoras sem acesso a cargos de autoridade Le Doeuff 1998 Outras se interessaram por mulheres muitas vezes desco nhecidas e negligenciadas que trouxeram contribuições signifi cativas para o conhecimento científi co e isso há séculos as esposas dedicadas as téc nicas hábeis as colecionadoras zelosas e outras colaboradoras anôni mas cujos nomes desapareceram da história ofi cial da ciência Os esforços visando restabelecer as contribuições de tais colaboradoras invisíveis e a valorização da continuidade do interesse das mulheres pelas ciências pode parecer uma empreitada muito diferente daquelas que questionam a objeti vidade a racionalidade e a universalidade das ciências Tratase no entanto de dois aspectos inseparáveis do mesmo problema Para Susan Leigh Star 1992 e Ludmilla Jordanova 1993 levar em consideração o trabalho reali zado por técnicos preparadores e amadores geralmente considerado à mar gem da ciência é importante não só para fazer justiça à contribuição concre ta das pessoas que o executaram mas também para mudar a nossa visão da ciência A história da ciência é geralmente apresentada como uma sucessão de obras de grandes homens e de algumas mulheres escolhidas que fi zeram descobertas importantes Incluir nessa história o trabalho oculto de inúmeras pessoas que têm literalmente feito a ciência pode modifi car a nossa percepção da natureza do empreendimento científi co e desestabilizar a imagem da investigação científi ca como uma atividade pura e desencar nada pairando sobre o alarido e a desordem do mundo real Com isso ela pode favorecer o desenvolvimento de conhecimentos e práticas científi cas mais solidamente ancoradas na sociedade e mais engajadas na cidade Diferença dos sexos teorias da Feminilidade masculinidade virilidade Linguagem científi ca sexuação da Técnicas e gênero Universalismo e particularismo Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 43 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 43 18102009 192531 18102009 192531 44 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Fox Keller Evelyn Gender and Science An Update in Evelyn Fox Keller Secrets of Life Secrets of Death Essays on Language Gender and Science Nova YorkLondres Routledge 1992 p1536 Haraway Donna Situated Knowledges The Science Question in Feminism and the Pri vilege of Partial Perspective Feminists Studies 1988 14 3 p57599 Modest Witness Feminist Diffractions in Science Studies in Peter Gali son David J Stump Eds The Disunity of Science Boundaries Contexts and Power Standford Standford University Press 1996 p428525 Harding Sandra Rethinking Standpoint Epistemology What is Strong Objectivity in Evelyn Fox Keller Helen Longino Eds Feminism and Science Oxford University Press 1996 p23548 Jordanova Ludmilla Gender and the Historiography of Science British Journal of the History of Science 1993 n26 p46983 Kerr Anne Faulkner Wendy On Seeing Brockenspectres Sex and Gender in Twentieth Century Science in John Krige Dominique Pestre Science in the Twentieth Century Londres Harwood 1997 p4360 Traduzido por NAIRA PINHEIRO Coexistência dos sexos Sabine Fortino Nas ciências sociais o primeiro nível de defi nição da noção de coexistên cia dos sexos é trazido por Claude Zaidman in Baudoux Zaidman 1992 a partir de suas pesquisas no campo escolar a saber A coexistência dos dois sexos num mesmo espaço social Da noção ao conceito Em razão principalmente da generalização da coeducação em meados dos anos 70 a Psicologia ou as ciências da Educação são as primeiras disci plinas científi cas a introduzir a noção de coexistência dos sexos A questão da identidade sexuada ou da cultura de gênero é central e a escola seu terreno privilegiado Assim a refl exão se organiza em torno de questiona mentos como a presença de meninos na classe muda a maneira como as meninas vivem e se representam como meninas A coexistência dos sexos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 44 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 44 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 45 implica a assimilação da identidade feminina à identidade masculina ou não Mosconi 1989 DurandDelvigne 1995 Os trabalhos de Nicole Mosconi 1992 e de Claude Zaidman 1996 adotam uma abordagem da coeducação em termos de relações sociais de sexo e desenvolvem em torno da coexistência dos sexos aquilo que a pri meira denomina uma sociologia das desigualdades sexuais da educação Tratase a partir de então de compreender por que a coeducação fi nalmen te teve pouco efeito sobre a inserção profi ssional das mulheres mas também em que medida ela pode ser portadora de mudança social Visase então apreender aquilo que se encena e se tece no espaço misto do ponto de vista das relações entre meninos e meninas e perguntase se as crianças dos dois sexos socializadas e formadas na escola mista se tornarão ou não cida dãos diferentes das gerações precedentes preocupados em não reproduzir por sua vez as desigualdades sexuais No campo do trabalho as primeiras pesquisas explicitamente voltadas para o tema da coexistência dos sexos se iniciam nos anos 90 O ponto em comum entre todos esses trabalhos é integrar a noção de coexistência dos sexos a uma refl exão sóciohistórica sobre a divisão sexual do trabalho sua evolução seu deslocamento e até mesmo sua superação Tratase de obser var em que medida a introdução da coeducação em equipes já constituídas ou em via de se constituir se traduz numa verdadeira partilha ou numa nova distribuição do trabalho entre os sexos numa equalização das posi ções ocupadas no desenvolvimento de carreiras de mesmo ritmo e nível no questionamento dos estereótipos sexuados tradicionais Forté et al 1998 sobre empresas do setor privado industrial Fortino 1999 sobre o setor pú blico francês Na mesma época a coexistência dos sexos emerge no campo das pesqui sas sobre a política e mais raramente sobre os movimentos sociais O traba lho de Danièle Kergoat et al 1992 sobre a coordenação de enfermeiras co ordination infi rmière dá conta assim da gestão cotidiana da coexistência dos sexos pelas atrizes e pelos atores sociais engajados num confl ito de longa duração Os questionamentos da socióloga e sua equipe estão próximos das colocações que tratam do trabalho e do emprego há uma partilha efetiva do poder e das tarefas militantes entre enfermeiros e enfermeiras em luta No desenvolvimento das pesquisas a noção de coeducação vai pro gressivamente se libertar de uma abordagem técnica eou contábil A Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 45 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 45 18102009 192531 18102009 192531 46 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER coeducação não é somente um espaço social onde estão lado a lado indiví duos dos dois sexos ela é antes de tudo um processo em diversos sentidos do termo Nenhum espaço social exceto a escola primária conhece uma distribuição sexual equitativa de um ponto de vista numérico na grande maioria dos casos a coexistência entre os sexos é parcial ainda em desen volvimento A coexistência dos sexos é também processo por marcar uma transição a passagem de um espaço social sexualmente segregado para ou tro que registra a coexistência dos dois sexos Essa transição é importante porque diz respeito ao modo como se organizam as relações sociais entre os sexos em nossa sociedade Quando há segregação o confl ito dominantes dominadas se traduz pela exclusão das mulheres das esferas reservadas aos homens ou pela desqualifi cação das dominadas ao passo que num espaço misto o confronto dos dois sexos se faz diretamente no espaço onde eles coexistem Fortino 1999 Ora desse confronto as mulheres não saem ven cedoras o conjunto dos estudos converge sobre esse ponto a coexistência dos sexos não é sinônimo de igualdade É nesse sentido que se pode dizer que a coexistência dos sexos é uma das modalidades de efetivação das relações sociais de sexo Zaidman 1992 e a segregação é uma outra que perdeu sua legitimidade no curso do tempo e da evolução das sociedades ocidentais Isso signifi ca que a coexistência dos sexos está longe de supor um questionamento da dominação masculina a qual se sabe historicamente construída e depois perpetuada segundo o mo delo da separação e da segregação sexuais O estudo da coexistência dos sexos no trabalho na escola nos movimentos sociais etc demonstra dessa forma que há uma evolução bastante relativa das relações entre homens e mulheres que se poderia resumir assim onde termina a exclusão começa a discriminação É necessário promover a coexistência dos sexos Em torno desse último ponto situase uma das controvérsias que emer giram sobre a questão da coexistência dos sexos Devese apesar de tudo desejar e promover a generalização da coexistência social Algumas pes quisadoras norteamericanas não hesitam mais em indicar sua preferência por uma espécie de retorno ao passado Partindo da constatação de que a coexistência dos sexos na escola não protege de modo algum as meninas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 46 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 46 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 47 do sexismo ambiente e seria mesmo responsável por seu fracasso em ma térias mais seletivas elas propõem que a instituição escolar recrie espaços não mistos Forest 1992 Na França essa abordagem não é retomada as pesquisadoras francesas preferem outras soluções como a ativação de uma pedagogia antissexista acompanhada se necessário de medidas de discri minação positiva DurandDelvigne DurutBellat 1998 A segunda controvérsia gira em torno da própria defi nição de coexis tência dos sexos Podese falar de coexistência dos sexos quando não há um estrito equilíbrio numérico entre homens e mulheres A resposta de Michele Le Doeuff 1992 a essa pergunta é negativa é meio a meio ou então não Ela não é a única diante de um espaço social em que o desequi líbrio numérico é particularmente acentuado as pesquisas recusam impli citamente o termo coexistência dos sexos e utilizam profi ssão bastante feminizada ou setor majoritariamente masculino O último tema de controvérsia opõe uma conceituação da coexistência dos sexos em relação à dinâmica das relações sociais de sexo a uma aborda gem sociográfi ca ou descritiva dessa última abordagem desenvolvida prin cipalmente por Michele Forté et al 1998 para os quais a coexistência dos sexos somente exprimiria a consideração das formas concretas de distri buição do trabalho entre homens e mulheres associados em sua atividade Coexistência dos sexos problemas e impasses atuais O estudo da coexistência dos sexos está apenas em seus primórdios e restam muitos setores e aspectos a explorar No campo do trabalho por exemplo podese perguntar como se organizarão ou reorganizarão as rela ções interhierárquicas no espaço misto quais serão os eventuais efeitos da redução do tempo de trabalho na realização da coexistência dos sexos etc Por outro lado a atualidade sociopolítica da coexistência dos sexos no trabalho e na instituição escolar está em pontomorto desde o começo dos anos 90 Podese fazer a mesma observação em se tratando das tímidas me didas adotadas por algumas grandes empresas logo após a aprovação da lei sobre a igualdade profi ssional 1983 visando favorecer a reorientação das mulheres nos setores e profi ssões onde elas estavam tradicionalmente au sentes Depois de alguns raros ensaios como os dos estágios não mistos formando as mulheres do setor terciário em profi ssões técnicas um balanço Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 47 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 47 18102009 192531 18102009 192531 48 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER nunca feito pelas direções das empresas as experiências não foram reno vadas DoniolShaw et al 1989 Meynaud 1992 Em termos mais am plos as políticas de emprego que se sucederam nestes quinze últimos anos não consideram a coexistência dos sexos no trabalho um desafi o a enfrentar Inversamente o tema da coexistência dos sexos nas instâncias de repre sentação política apareceu em primeiro plano no começo dos anos 90 com o debate sobre a paridade Na realidade tanto na pesquisa como no espaço so cial e político é como se a mistura ou a segregação das formações do traba lho e do político fossem situações sociais totalmente ou quase desconec tadas umas das outras quando formam sistema e são juntas um indicador da evolução contemporânea do tratamento social da diferença entre os sexos Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Educação e socialização Igualda de Paridade Sindicatos DurandDelvigne Annick DurutBellat Marie Mixité scolaire et construction du genre in Margaret Maruani Ed Les nouvelles frontières de linégalité Hommes et femmes sur le marché du travail Paris MageLa Découverte Re cherches 1998 p8392 Forté Michèle Niss Myriam Rebeuh MarieClaude Trautmann Jacques Triby Em manuel De la division sexuée au partage du travail Travail et emploi 1998 n74 p5162 Fortino Sabine De la ségrégation sexuelle des postes à la mixité au travail étude dun processus Sociologie du travail 1999 n4 v41 p36384 Kergoat Danièle La gestion de la mixité dans un mouvement social le cas de la coordina tion infi rmière in Claudine Baudoux Claude Zaidman Eds Égalité entre les sexes Mixité et démocratie Paris LHarmattan 1992b p26178 Mosconi Nicole La mixité dans lenseignement secondaire un fauxsemblant Paris PUF 1989 288p Zaidman Claude La mixité à lécole primaire Paris LHarmattan 1996 238p Traduzido por FRANCISCO RIBEIRO SILVA JÚNIOR Desemprego Chantal Rogerat Defi nir o desemprego pressupõe relacionar suas origens históricas e suas transformações ao longo do tempo Hoje em dia o fato de se levar em conta a diferença entre os sexos no mundo do trabalho abre a possibilidade de Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 48 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 48 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 49 uma análise mais profunda desse conceito e dos fenômenos que lhe são as sociados como a marginalidade a precaridade e a exclusão cada um desses termos merece ser debatido em si Em primeiro lugar notemos que há mais de vinte anos as mulheres predominam dentre os desempregados especial mente os de longo prazo e sobretudo entre os jovens Invenção e metamorfoses do desemprego Enquanto no fi nal do século XIX a defi nição de desempregado marcou o surgimento da categoria desemprego involuntário no contexto de um assalariamento frágil em vias de ser criado na sua forma moderna a defi ni ção de desempregada de fi nais do século XX recria sob novas formas a imbricação entre pobre e desempregado Salais et al 1986 Essa categoria foi forjada a partir de diversas experiências de emprego no século XIX em função das regiões e indústrias de grupos operários e dos sexos Ela também mudou ao longo do tempo e foi criada na França entre 1880 e 1910 Topalov 1994 No censo populacional de 1891 existe a categoria população não clas sifi cada nem como ativa nem como inativa e na qual se encontram mas sem que sejam chamadas dessa forma com exceção das mulheres pú blicas as que trabalham inclusive em fábricas mas estão à margem do assalariamento Isso demonstra a dupla dimensão estrutural da sociedade salarial em gestação o trabalho remunerado e o trabalho doméstico Em seguida a noção de desempregado se afi rma gradualmente e corresponde a um contrato trabalhista que vincula patrão e operário ou empregado quanto às mulheres elas continuam sendo frequentemente consideradas dependentes da família O reconhecimento social do desempregado depen de de fato da instauração de procedimentos jurídicos e administrativos de gestão da mão de obra assistência auxílios etc Foi William Beveridge 1904 quem formalizou a ideia de um desemprego relacionado com os con tratempos do sistema de produção um acidente que independe da vontade do trabalhador A defi nição do que poderia ser o estatuto do desempregado conduziu ao mesmo tempo ao esclarecimento de qual pode ser a qualida de do trabalhador As respostas serão fornecidas ao longo do século XX a questão do seguro contra o desemprego desenvolverá os seguros operários que benefi ciarão os trabalhadores estabilizados por um contrato de traba Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 49 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 49 18102009 192532 18102009 192532 50 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER lho vinculados a uma empresa No momento de sua criação concernia mais aos homens do que às mulheres Esta abordagem dos desempregados permanece praticamente idêntica até 1936 apesar de uma situação salarial muito instável Em 1931 surgiu o primeiro estudo sociológico do desemprego Les chômeurs de Marienthal Lazarsfeld et al 1981 Um dos autores é a socióloga Marie Jahoda rara mente citada O arquétipo do desempregado só vai fi nalmente se formar após a Segunda Guerra Mundial Na França a criação de um sistema obrigatório de seguro desemprego UNEDIC em 1958 e a primeira pesquisa de emprego feita pelo INSEE em 1950 homogeinizam as defi nições que têm como base um modelo suposto sustentável de pleno emprego relativo a garantia contra os efeitos passageiros da modernização conceito de desemprego friccional Po rém durante os anos 70 cresce a precariedade o conceito de sem emprego se torna pouco nítido e este já não é o único conceito que convém associar ao desemprego mas também o de subemprego sobretudo para as mulheres tendo em vista que o conceito de emprego referese ao que parece normal isto é um contrato de duração indeterminada e por tempo integral situa ção mais comum para os homens do que para as mulheres Maruani 1993 O sobredesemprego feminino A fl exibilidade e a precarização das condições sociais moldam a forma de reorganização do trabalho contemporâneo A seguinte pergunta reapa rece o que é um desempregado Após correções e redefi nições obtémse uma categorização que ignora muitas das experiências vivenciadas A dis tinção entre os sexos limitase na melhor das hipóteses ao tratamento de uma variável adicional num contexto complexo Entretanto assistese a uma nítida evolução na pesquisa sociológica e histórica Assim na França a afl uência das mulheres ao mercado de trabalho não deixou de se intensifi car nas últimas décadas e o mercado sozinho não pode explicar essa evolução Com efeito o emprego das mulheres mais do que o do seu correlato o desemprego foi objeto há mais de vinte anos de estudos que mostraram que a legitimidade do trabalho das mulheres é problemática para as nossas sociedades contemporâneas Hoje como distinguir a desem pregada do desempregado Na medida em que nos apoiamos no argumento Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 50 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 50 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 51 da diversidade e do caráter evolutivo de desemprego utilizaremos uma abor dagem baseada em tendências As características do desemprego na França permitem aos economistas mostrar a sobrerrepresentação das mulheres Re conhecido como mais estrutural do que o dos homens o desemprego femini no permanece forte até mesmo em períodos de recuperação econômica Fou quet e Rack 1999 as mulheres são a maioria dentre os desempregados de longo prazo as condições de emprego são mais desfavoráveis para as jovens apesar de seu melhor resultado escolar o percurso emprego precáriodesem prego é mais comum para as mulheres Gauvin 1998 Assim as pesquisas anuais do INSEE de 1991 até 1997 questionam a evolução dos empregos precários na direção de empregos estáveis Durante os anos 90 essa possibi lidade diminuiu quatorze pontos para as mulheres na faixa de 30 a 49 anos É geralmente reconhecido que desde os anos 80 a taxa de desemprego das mulheres adultas é quatro pontos superior à masculina Nos últimos meses de 1999 ela foi de 108 para o conjunto da população ativa sendo 92 para os homens e 128 para as mulheres Um homem em cada dez está desempregado e uma mulher em cada sete Porém as fronteiras do desemprego são objeto de polêmicas há vinte anos As mudanças na forma de cálculo e categorizações tornam os dados pouco nítidos Maruani 2000 Por exemplo desde que houve dispensa da obrigação de procura por trabalho em 1984 para evitar contar as pessoas desempregadas com idade superior a 55 anos a reorganização de junho de 1995 criou a categoria 6 para as pessoas desempregadas que trabalharam em regime de tempo parcial durante o mês precedente 80 desses casos são mulheres contadas como desempregadas antes dessa reforma elas não o são mais desde então mas a quantidade delas não deixa de aumentar de 280 mil em 1995 para 508100 no fi nal de 1998 Entre as oito categorias existentes a evolução da categoria 1 é a única divulgada pessoas desem pregadas e imediatamente disponíveis à procura de um emprego de tempo integral e duração indeterminada Ela não considera evidentemente a for te tendência do emprego de tempo parcial cuja maior parte é representada por mulheres assim como os contratos de duração determinada CDD Nós passamos assim da abordagem majoritária destas últimas décadas que não diferenciava a desempregada do desempregado para a necessi dade de um conhecimento mais preciso que num período longo e com base em monografi as relativas à vivência dos desempregados e desempregadas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 51 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 51 18102009 192532 18102009 192532 52 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER tornaria compreensíveis suas estratégias de emprego e suas trajetórias indi viduais relativas ao desemprego Rogerat e Senotier 1994 Esses estudos mostram que o desemprego feminino é frequentemente um desemprego de mulheres pouco ou mal qualifi cadas que obtêm unicamente salários baixos são pobres ou se tornam cada vez mais pobres e encontram às vezes um trabalho mas em condições tão precárias que permanecem re gularmente à margem do assalariamento embora isso necessariamente não signifi que sua exclusão do mundo do trabalho Tal tipo de desemprego indi ca o incremento das desigualdades sociais paralelamente ao forte aumento das mulheres no mercado de trabalho Nesse sentido um dos pontos mais pertinentes a serem estudados é a relação entre a Renda Mínima de Inserção e o salário mínimo As formas de passagem da inatividade para o trabalho sobretudo para as mulheres seriam então mais fáceis de listar Políticas sociais políticas de emprego correções e perversidades A gestão sexualmente diferenciada da mão de obra aparece de maneira mais clara quando examinamos o tipo de emprego sobre o qual falamos como ocorre com a volta ao emprego dos desempregados o destino dos privados de emprego mas capazes de ter um Sabemos que a Renda Mínima de Inserção RMI tornouse um método específi co de compensação para os desempregados um tipo de assistência aos pobres crônicos segundo estudo realizado pelo Ministério do Emprego em 1998 realidade fortemente sexuada dado que 80 deles são mulheres Esse é o fenômeno da tolerância social a que se refere Teresa Torns 1997 O desemprego das mulheres não possui o peso social e político que permitiria chamar atenção Até mesmo o desenvolvimento de atividades ligadas aos movimentos de desempregados mantém ocultas as diferentes vivências de desempregadas e desempregados Dois exemplos podem ilustrar os processos em andamento Por um lado temos os efeitos da introdução a partir de 1995 de um auxílio paren tal para a educação Allocation parentale déducation APE que permite a redução ou interrupção de uma atividade profi ssional até que a criança complete 3 anos de idade Esse auxílio tem encorajado as mulheres menos qualifi cadas a se retirar do mercado de trabalho Ponthieux e Concialdi Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 52 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 52 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 53 1999 Por outro lado temos a tendência previsível de aposentadoria das mulheres trabalhadoras Langevin e Cattaneo 1999 A concentração da mão de obra feminina nos setores de emprego que recorrem à descontinui dade dos tempos assalariados e à rejeição precoce devido ao desgaste de uma grande parte das trabalhadoras ameaça conduzir um grande número de mulheres pensionistas para situações próximas da linha da pobreza A abordagem sociológica do desemprego desenvolvida nos últimos anos permitiu destacar o interesse de estabelecer correlações entre desqua lifi cação baixos salários pobreza e exclusão do emprego em que as mulhe res e as jovens permanecem à margem tratadas de forma diferente sem porém se retirar de forma defi nitiva do mundo do trabalho Divisão sexual do trabalho e relações de sexo Flexibilidade Precarização social Tra balho o conceito de Kergoat Danièle Hirata Helena La division sexuelle du travail revisitée in Maruani Margaret Org Les nouvelles frontières de linégalité Hommes et femmes sur le marché du travail Paris La Découverte 1998 p93104 Lazarsfeld Pierre Jahoda Marie Zeisel Heinz Les chômeurs de marienthal Paris Min uit 1981 146p 1ed 1931 Maruani Margaret Travail et emploi des femmes Paris La Découverte Repères 2000 125p 2ed Rogerat Chantal Senotier Danièle Lenchaînement des emplois précaires et du chômage La construction du leurre in Appay Béatrice ThébaudMony Annie Pré carisation sociale travail et santé Paris IRESCOCNRS Actions scientifi ques fédéra tives 1997 p34155 Topalov Christian Naissance du chômeur Paris Albin Michel 1994 626p Torns Teresa Chômage et tolérance sociale à lexclusion in Les Cahiers du Mage 1997 n34 p4757 Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Desenvolvimento Bruno Lautier O termo desenvolvimento de um país ou sociedade é usado desde o fi nal dos anos 50 É signifi cativo que o termo subdesenvolvimento o pre Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 53 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 53 18102009 192532 18102009 192532 54 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER ceda uma vez que consta do discurso de posse do presidente dos Estados Unidos Truman 1949 Começamos a constatar uma distância entre as sociedades colonizadas ou em vias de independência e os Estados Unidos e a Europa e para nós desenvolvimento é um processo de aproximação Desenvolvimento designa uma mudança social global gerada pela economia e conduzida pelo Estado envolvendo uma multiplicidade de processos econômicos culturais sociais demográfi cos cuja articulação é sempre única A fronteira com noções conexas não é clara crescimento concerne essencialmente à economia modernização principalmente às relações sociais e aos modos de vida desenvolvimento reúne tudo isso O mundo tem milhares de especialistas em desenvolvimento nenhum deles jamais propôs uma defi nição clara aceita coletivamente História e fracassos da noção de desenvolvimento Ao longo dos anos foi um ou outro aspecto que dominou a visão do de senvolvimento a transformação da agricultura a industrialização a urbani zação e mais recentemente a redução da pobreza e a democratização Essa evolução é signifi cativa há dez anos ninguém mais fala de recuperação tratase somente de limitar os efeitos do mau desenvolvimento quais se jam pobreza analfabetismo e corrupção Passamos dos grandes projetos in dustriais hidráulicos aos microprojetos como forma de desenvolvimento privilegiada Uma ambiguidade constitutiva caracteriza o pensamento do desenvol vimento tratase de analisar como uma sociedade se desenvolve ou de emi tir alguns preceitos sobre a maneira de desenvolvêla Na realidade a visão normativa predomina amplamente desenvolver é promover um certo tipo de produção mas é também impor um conjunto de normas a poção seve ra do ajuste econômico que fazemos os países em desenvolvimento enfi ar goela abaixo para seu próprio bem O desenvolvimento é em primeiro lu gar um negócio e uma linguagem de desenvolvimentistas Nem tudo é sombrio nessa história o processo de desenvolvimento foi real em muitos domínios A urbanização em primeiro lugar proporcionou em média um progresso nas condições de vida se encontramos mais pobres urbanos do que pobres rurais os primeiros vivem mais tempo são alfabeti zados bebem água potável e por incrível que pareça comem melhor Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 54 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 54 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 55 Em seguida no que concerne à demografi a a expectativa de vida desde os anos 50 aumentou em mais de quinze anos em todos os países em desen volvimento e frequentemente em mais de 25 anos Apesar da deterioração dos sistemas de saúde há cerca de quinze anos a morbidez com exceção da AIDS diminuiu em todas as áreas E a diminuição da fertilidade ce deu em toda parte embora essa tendência esteja apenas iniciando na África subsaariana A terceira área é a dos investimentos de base certamente os fl uxos de investimentos caíram fortemente há quinze anos mas grande parte das in fraestruturas permanece embora se deteriorem rapidamente A quarta grande área é a alimentação Com excessão das situações de guerra não há mais escassez de alimentos importantes no mundo o au mento da produtividade agrícola desde a revolução verde dos anos 70 anulou os prognósticos catastrófi cos Isso não signifi ca que não se morre mais de fome nem abole as consequências indiretas da desnutrição mas a razão da desnutrição não é agronômica Esse é exatamente o outro lado da moeda a questão das desigualdades Até os anos 80 as desigualdades sociais eram reconhecidas mas enten didas como transitórias a urbanização e a salarização tenderiam mecanica mente a reduzir a pobreza e as desigualdades e as reduziram efetivamente A crise do início dos anos 80 e o ajuste que se seguiu interromperam brutalmente o processo salvo na Ásia oriental As razões disso são sim ples queda do emprego público compressão dos baixos salários em nome da competitividade redução dos preços das matériasprimas e reembolso das dívidas As desigualdades foram redobradas pela limitação do acesso gratuito aos serviços públicos A primeira razão para o crescimento das desigualdades encontrase nas políticas econômicas com a fi nanceirização das economias e o desenvolvi mento da especulação Além disso a salarização está bloqueada e a preca riedade do trabalho ultrapassou bastante o que conhecemos na Europa A principal consequência dessa evolução é a proliferação da economia informal Alguns viram aqui uma incubadora de pequenas empresas ou tros viram uma esponja de empregos éponge à emploi considerando a ausência de segurodesemprego Atualmente devemos admitir que ela não traz a modernidade original que lhe dávamos Nesse setor os rendimentos são baixos as capacidades de inovação e acumulação são bastante fracas e Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 55 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 55 18102009 192532 18102009 192532 56 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER as condições de trabalho são duras a violência principalmente contra mu lheres e crianças é grande e a capacidade de absorção dos desempregados e trabalhadores precários rejeitados pela economia formal está esgotada O problema suscitado pelo crescimento da economia informal vai além disso O não cumprimento da lei por parte dos pobres serve de maneira oportuna de álibi para o não cumprimento do direito trabalhista pelas grandes empresas para a corrupção e para a cumplicidade com os narco trafi cantes a tal ponto que a criminalização do Estado o controle de bairros inteiros de algumas metrópoles pelos trafi cantes e o fi nanciamento de guer ras civis por redes criminosas podem ser considerados apêndices monstruo sos da economia informal No todo a ideia de desenvolvimento perde aos poucos o que a funda mentava a afi rmação de uma unidade em devir de um progresso coletivo conduzido por um sujeito histórico representado pelo Estado O que do mina é a explosão territorial com pequenas ilhas high tech no meio de me trópoles arruinadas social com o crescimento das desigualdades de renda dos estatutos e a expulsão do mercado de alguns enquanto outros estão li gados branchés na mundialização política com suas falas mágicas sobre democracia e cidadania mal mascarando a ausência crescente da garantia de direitos à sua própria segurança assassinatos linchamentos guerras o reinado do clientelismo e a regressão dos direitos sociais O gênero do desenvolvimento Essa questão encobre na realidade outras duas a de saber se a própria noção remete a uma concepção masculina dos fenômenos sociais e a de saber se as mulheres são os atores invisíveis do processo de desenvolvimento A própria noção é masculina A primeira observação que podemos fazer é que esses processos são hegemonicamente dirigidos por homens Quer se trate de chefes de Estado de empresas ou de políticos dos países em desen volvimento as exceções são muito raras e as mulheres chefes de governos mais notáveis na Índia no Paquistão na Turquia parecem ter sido an tes de tudo herdeiras de um clã De tanto a noção de desenvolvimento ser vinculada ao exercício do poder estatal mulheres se tornam excluídas dos mecanismos do poder político O que também é verdadeiro para os res ponsáveis pelas organizações internacionais os especialistas e consultores Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 56 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 56 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 57 e todos aqueles para quem o desenvolvimento e a ajuda são em primeiro lugar um mercado se a constatação é menos brutal nas ONGs uma pes quisa detalhada que necessitaria ser feita mostraria provavelmente que as mulheres só são numerosas no setor humanitário e não nos projetos de desenvolvimento Nesse contexto será que podemos dizer que as mulheres são os ato res invisíveis do desenvolvimento Não obstante sem que possamos real mente falar de estudos feministas sobre o desenvolvimento existe des de o trabalho pioneiro de Esther Boserup 19701983 um conjunto de publicações que emanam de autores e autoras a maioria mulheres tanto do Sul quanto do Norte que vão nesse sentido Os sucessos industriais do Terceiro Mundo das maquiadoras mexicanas às fi rmas de confecção das Ilhas Maurício se baseiam na exploração do trabalho das mulheres ou das meninas como na Índia O trabalho das empregadas domésticas particularmente invisível e que emprega em quase todo o Terceiro Mun do mais mulheres do que o trabalho industrial começa muito timidamen te a ser estudado E sobretudo a capacidade da economia informal e da agricultura familiar absorverem as consequências do ajuste econômico é desmistifi cada a pluriatividade das mulheres a associação de atividades informais a um trabalho doméstico crescente apesar da diminuição da fertilidade busca de água potável ou de madeira para aquecer a mora dia aumento do tempo dedicado às compras etc tudo isso explica em grande parte o milagre diante do qual se espantam constantemente os desenvolvimentistas culpabilizados como fazem para sobreviver As mulheres chefes de família são objeto de alguns estudos recentes Bisilliat 1996 assim como o papel das mulheres nos mecanismos de solidariedade comunitária E todas as instituições de desenvolvimento acabaram criando bem ou mal um departamento de mulheres ou de estudos de gêne ro gender studies A conscientização do papel das mulheres no processo de desenvolvi mento ou melhor na resistência à crise que ele gera permite fundar uma crítica da teoria e das modalidades do fenômeno Mas ela não permitiu até hoje propor um modo alternativo de desenvolvimento A exclusão das mulheres do campo político e dos mecanismos de poder permanece quase geral A valorização do trabalho feminino deve consistir no seu entendi Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 57 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 57 18102009 192532 18102009 192532 58 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER mento estritamente econômico e limitado ao trabalho subqualifi cado e mal remunerado A heterogeneidade crescente entre os polos de modernidade e o resto das sociedades desses países acentua o banimento das mulheres para uma economia de sobrevivência para a qual ninguém possui ne nhum projeto a não ser uma navegação sem radar entre a anomia e a ex plosão social E o aumento da violência urbana tende a reforçar todos esses processos Isso não signifi ca que mudanças importantes não acontecem na esfera privada generalização da contracepção diminuição da poligamia e das violências intrafamiliares ou em nível local associações de mulheres para criação de redes de ajuda mútua Mas tudo isso não desemboca numa visão diferente do desenvolvimento há aqui um tipo de confi rmação de que se trata bem mais de uma visão masculina de mudança social dirigida por cima enquanto as consequências de seu fracasso são sofridas primeiro pelas de baixo Essa conclusão não incita ao otimismo Se três quartos das políticas sociais alvo implantadas pelo Banco Mundial concernem às mulheres idosas chefes de família isso não signifi ca mais que a capaci dade do Banco Mundial para evacuar os problemas e dobrar sua relegação doméstica Enquanto a questão das relações sociais de gênero permanecer um tipo de anexo obrigatório em nome do politicamente correto nos dis cursos sobre o desenvolvimento essa situação prevalecerá Mundialização Políticas sociais e familiares Poderes Precarização social Trabalho doméstico Violências Bisilliat Jeanne Org Face aux changements les femmes du Sud Paris LHarmattan 1997 367p Bisilliat Jeanne Verschuur Christine Cahiers genre et développement 2000 n1 Le genre un outil nécessaire 264p Choquet Catherine Dollfus Olivier Le Roy Étienne Vernières Michel Dir État des savoirs sur le développement Paris Karthala 1993 229p Fontaine JeanMarc Mécanismes et politiques de développement économique Du big push à lajustement structurel Paris Cujas 1994 189p Guichaoua André Goussault Yves Sciences sociales et développement Paris Armand Colin Cursus 1993 190p Joekes Susan Women in the World Economy an INSTRAW Study Nova YorkOxford Oxford University Press 1987 161p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 58 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 58 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 59 Diferença dos sexos teorias da Françoise Collin A expressão diferença dos sexos é utilizada aqui em um sentido amplo e de certo modo préteórico que não prejulga o estatuto da dife rença nem o que ele inclui de redutível ou de irredutível de natural ou de cultural A denominação geral relações dos sexos também poderia preencher essa função ela pertence ao horizonte sociológico mais do que ao horizonte fi losófi co que é o do presente texto Todavia a expressão diferença dos sexos foi o objeto de debates ter minológicos ela foi recusada por algumas autoras devido à potencial in terpretação naturalista ou ontológica à qual ela poderia dar origem Foram preferidos os termos construção social dos sexos ou mesmo classes de sexos que defi nem a priori a diferença dos sexos como uma pura pro dução social e encarnam assim uma das respostas ao problema posto A noção de gender articulada com a de sex importada dos Estados Unidos e traduzida por gênero propõe uma solução para esta alternativa Porém ela não é de uso corrente na França em francês o gênero não é exatamente o equivalente da palavra gender em inglês e o particípio gendered genré em francês não é habitual Toda terminologia é conotada A expressão diferença dos sexos deve ria permitir aqui a delimitação de três grandes correntes teóricas do pensa mento feminista e suas modifi cações no contexto francês Todas elas sendo feministas partem em cada caso da hipótese do caráter transformável das relações entre os sexos e das suas defi nições A questão é saber se e em que medida uma forma de diferença sexual é abolida ou mantida num mundo comum igualitário ou constitui um fator de redefi nição desse mundo A questão na História da Filosofi a A questão do estatuto da diferença dos sexos está presente desde as ori gens da Filosofi a ocidental Na realidade o questionamento dos fi lósofos se refere às mulheres atestando que elas são os outros do sujeito falante e pensante mas também do sujeito desejante e tal questionamento atinge seu papel mais proeminente no fenômeno da geração Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 59 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 59 18102009 192532 18102009 192532 60 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Desde a Grécia antiga duas grandes respostas são esboçadas a primeira encarnada por Aristóteles afi rma a dupla natureza do homem e da mulher a segunda encarnada por Platão sustenta a unicidade da natureza e dos pa péis de um e de outro Porém a distinção dessas duas posições desaparece numa afi rmação comum da hierarquia entre os sexos Seja na unidade ou na dualidade existe o mais e o menos o menos estando sempre do lado das mulheres Sissa 1991 Os pensadores do sujeito moderno precursores da democracia en frentam aqui uma verdadeira aporia e a releitura deles a partir desse ponto de vista é esclarecedora Com efeito defi nindo o homem como indivíduo e elaborando as relações humanas em termos de direitos eles continuam paradoxalmente recorrendo com frequência ao argumento da força quan do se trata de justifi car a dominação do marido do pai sobre a mulher no interior do casamento mesmo quando este último é determinado por um contrato e a exclusão das mulheres da esfera pública Porém alguns fi ló sofos reconhecem como Hobbes que fora do casamento a maternidade é todopoderosa ou confessam como Spinoza que a exclusão das mulheres da esfera política responde a um desejo dos homens A defesa dos direitos privados das mulheres é porém muitas vezes for mulada de maneira a conduzir por exemplo a uma condenação vigorosa do estupro no caso de Fichte ou ao direito de divórcio A defesa das mulheres pelos fi lósofos se fez por meio da acentuação da importância do seu papel específi co Rousseau ou pela reivindicação da assimilação delas aos homens Stuart Mill Oscilase sempre entre duali dade e unidade e parece ser difícil elaborar a via da igualdade na diferen ça que Beauvoir formulou no fi nal de O segundo sexo 1949 Mas se esse motivo atravessa a Filosofi a é a fundação da Psicanálise por Freud no fi nal do século XIX que vai fazer da diferença dos sexos o motivo central da refl exão Aqui podese também observar oscilações complexas entre a afi rmação de um e dos dois sexos o horizonte do mais e do menos a centralidade do falo força ambos os sexos à experiência da castração mas de maneira mais difícil para as mulheres devido por um lado à sua primeira relação desejante da mãe que em seguida deve se voltar para um homem e por outro lado à falta de pênis traduzida como inveja do pênis Mais numerosas do que em todas as outras áreas do conhecimento teóricas como Karen Horney Helen Deutsch Mélanie Klein Françoise Dolto antes de Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 60 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 60 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 61 Luce Irigaray 1974 ou Julia Kristeva 1980 fi zeram correções importan tes nessa estrutura Lacan na França embora se declarando herdeiro de Freud de certa maneira questiona o império exclusivo da lei fálica da lei do pai em seu seminário Encore As reivindicações feministas que precedem o movimento do século XX são acompanhadas de diversas teorizações setoriais A originalidade e o in teresse de O segundo sexo de Simone de Beauvoir está em articular todos os aspectos do problema das relações entre os sexos e de mostrar que suas modalidades sociológicas econômicas psicológicas são o fruto de uma es trutura única Esta última é tributária não de uma realidade ontológica de nominada natural mas de uma relação de dominação que embora pareça não poupar nenhuma sociedade e nenhuma época da História é apresen tada como culturalmente construída e portanto passível de ser superada Se Simone de Beauvoir designa os homens como detentores do univer sal e parece conceber a liberação das mulheres como o acesso a essa posição o tornarse homem das mulheres ela também indica a possibilidade ou até mesmo a necessidade de uma igualdade na diferença Le deuxiè me sexe tomo II 661 Porém ela não chega a interrogar a parcialidade do universal apropriado pelos homens e a necessidade de redefi nilo o que al gumas de suas herdeiras farão As teorias feministas que se desenvolverão vinte anos depois a par tir do evento político do Movimento de Libertação das Mulheres que se propagou internacionalmente têm em comum o fato de afi rmarem que as relações entre os sexos podem ser objeto de uma ação transformadora A persistência geral do invariante Héritier 1996 hierárquico caracteriza do como patriarcal parece contrariar essa hipótese como também já tinha ressaltado Beauvoir embora esse invariante inclua variações culturais e seja fator de historicidade Fraisse 1992 Mas o fato não diz o direito o passado não determina o futuro O feminismo introduziu não uma evolu ção mas uma revolução na concepção da relação entre os sexos revolução que não inclui um modelo factual ou ideológico prévio É uma política do irrepresentável F Collin 1999 A partir dessa hipótese afi rmamse várias posições relativas ao estatuto dos sexos Apresentaremos aqui três delas que de acordo com os países ou as culturas tiveram um desenvolvimento e formas particulares Geralmen te foram caracterizadas como universalistas diferencialistas ou essencialis tas pósmodernas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 61 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 61 18102009 192532 18102009 192532 62 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Em nome da clareza utilizaremos essas classifi cações necessariamente redutoras Tratase apenas de referências em torno das quais transita o pensamento A evolução do feminismo torna seu conteúdo complexo e seus limites porosos como mostrou o debate geral suscitado desde 1996 na França pelo projeto de uma representação política paritária cujosas partidáriosas se apresentavam adeptos de uma ou outra teoria das relações entre os sexos Devese notar que as teorias feministas foram elaboradas no contexto do pensamento e da situação ocidentais embora num segundo momento am pliem sua curiosidade para outras culturas Essa persistência do ocidento centrismo na contestação do falocentrismo foi muitas vezes criticada Universalismo existe o uno A posição universalista se baseia na afi rmação segundo a qual todos os seres humanos são indivíduos do mesmo quilate independentemente das diferenças secundárias relativas às características físicas à raça ao sexo ao idioma etc A diferença que caracteriza homens e mulheres é então em si mesma insignifi cante sua importância determinante e socialmente estruturante é um efeito das relações de poder Não nascemos mulheres tornamonos mulheres Beauvoir 1949 a partir da dominação exercida pelos homens sobre elas quaisquer que sejam as origens ou as formas dessa dominação e as razões que a tornaram possível Não há então sexos mas classes de sexo destinadas a desaparecer Esse desaparecimento permi tiria uma indiferenciação sexuada dentro da categoria geral do ser huma no Nós queremos o acesso ao neutro ao geral Questions féministes n1 1977 ou ainda Um é o outro Lun est lautre Badinter 1986 Aqui a igualdade está acoplada à identidade Não se trata somente de postular os mesmos direitos para homens e mulheres mas sim de dissolver as categorias homens e mulheres como a revolução marxista teria dis solvido as categorias capitalistas e proletários Tratase de pensar cada homem cada ser humano como um sujeito autônomo igual aos outros sujei tos compartilhando a mesma razão Na verdade toda afi rmação de especifi cidade ressuscita o espectro da complementaridade e corre o risco de dar ga rantias à hierarquização a especifi cidade das mulheres é uma produção social destinada a justifi car sua subordinação seja como objetos sexuais através da Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 62 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 62 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 63 longa história da obrigação de heterossexualidade Mathieu 19913 seja como mães relegandoas à esfera doméstica e excluindoas da esfera pública Desse ponto de vista as características sexuais inerentes às mulheres ou aos homens e seus papéis dissimétricos na geração não têm efeitos sociais polí ticos ou simbólicos A razão não tem um sexo E se tem um corpo ela não é esse corpo ela transcende sua imanência pela liberdade Beauvoir 1949 A exigência de igualdade inclui tanto para meninas como para meninos o acesso idêntico e em condição idêntica a todas as formas de exercício da vida humana e cidadã A democracia deve traduzir seus princípios nos fa tos indo além da interpretação restritiva que foi até hoje a sua Homem signifi ca ser humano sem restrições A importância preponderante dessa corrente na formação do feminismo francês vinculase à tradição cultural fi losófi ca e política nacional herdada do racionalismo da Idade das Luzes e a uma concepção das relações entre os sexos extraída do modelo marxista das relações de classe embora o eco nômico não seja aqui a mola exclusiva Ela foi sustentada e desenvolvida principalmente por teóricas formadas em Sociologia ou Etnologia Diferencialismo existe o dois Para a posição diferencialista há dois sexos Fouque 1995 na mes ma humanidade o acesso à igualdade não é o acesso à identidade O de saparecimento da dominação deve abrir espaço para um mundo comum plural enriquecido pelas contribuições das duas formas sexuadas da hu manidade Com efeito a dominação masculina se apropriou do universal truncandoo A libertação das mulheres não é somente a superação de uma injustiça mas também a manifestação de uma dimensão de relação com o mundo omitida até hoje O que caracteriza o feminino nessa óptica é sua resistência ao uno fi gurado pelo fálico próprio ao masculino e que estrutura indevidamente o mundo dito comum Esse sexo que não é um sexo Irigaray 1974 não é uno à simbologia fálica ele opõe uma simbologia uterina polimorfa A ir redutibilidade do feminino ao masculino é morfologicamente representada por um fundamento corporal que não determina uma outra espécie da hu 3 Comentando uma fórmula de Adrienne Rich Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 63 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 63 18102009 192532 18102009 192532 64 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER manidade mas uma variante da humanidade até o presente recalcada Essa variante é inevitável quando confrontamos as respectivas experiências da maternidade e da paternidade Kristeva 1980 Knibielher 1997 Desde então a aparição das mulheres seria a aparição de uma alternativa à organização das relações humanas defi nida até o presente pelos homens e culminando na ordem do domínio própria à modernidade ocidental Às vezes as teóricas dessa corrente vão ao ponto de pensar que esses dois re gistros sexuados da humanidade deveriam poder constituir duas formas de organização não mais hierarquizadas mas iguais e paralelas dentro de um mesmo mundo Existe o dois ou mais precisamente existe o uno e o não uno Essa teoria denominada diferencialista ou às vezes de maneira pejo rativa naturalista ou substancialista foi sobretudo defendida no iní cio por teóricas confrontando a Psicanálise especialmente o pensamento de Lacan em relação ao qual se posicionam de maneira crítica Ela tam bém está presente nas teóricas da escrita e da criação Cixous 1975 Kriste va 1980 Haveria assim um gênio feminino abafado até o presente na constituição de um mundo exclusivamente masculino Pósmodernismo e queer nem um nem dois Se as duas primeiras teorias se desenvolveram no mesmo momento na época da explosão feminista dos anos 70 a teoria pósmoderna foi for mulada um pouco mais tarde Ela teve pouco impacto na França mas por outro lado tornouse um terreno fértil para pesquisas no exterior especial mente nos Estados Unidos onde é qualifi cada de French feminism femi nismo francês e dessa forma identifi cada erroneamente com o feminismo francês Essa confusão vem do fato de ter sido elaborada a partir da obra de fi lósofos como Deleuze Lyotard e especialmente Derrida Jardine 1989 que a difundiram nos Estados Unidos onde as feministas lhe deram um eco considerável As teóricas francesas que encarnam essa posição Cixous 1975 Kofman 1982 1984 foram assimiladas de maneira relativamente imprópria das teóricas Irigaray 1974 Kristeva 1980 que se situam mais na corrente diferencialista pois sustentam a dualidade dos sexos coligada à especifi cidade dos papéis materno e paterno e atribuem unicamente ao sexo feminino um estatuto desconstrutivo Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 64 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 64 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 65 O pósmodernismo ou desconstrucionismo veio da crítica da metafí sica introduzida por Heidegger Ele marca uma ruptura com as formas da modernidade ocidental cujas fontes são gregas defi nida pela categoria do domínio domínio do sujeito sobre o objeto mas também do homem sobre a mulher obedecendo à lógica binária das oposições O logocentris mo é um falocentrismo um falogocentrismo Derrida 1992 A moder nidade é dessa forma identifi cada com o reinado da virilidade O pensamento pósmoderno é nesse sentido um tornarse mulher ou um devir feminino do pensamento e da prática O sexo não pode ser substantifi cado ele não é nem um nem dois mas sim um movimento de diferir que se traduz pelo vocábulo diferença difference Derrida 1992 O feminino como categoria e não como marca de um dos dois se xos é extorsão à lógica binária das oposições emergência de uma verdade de terceiro gênero que recusa a alternativa da exclusão ou ou em prol da inclusão e e Esse feminino pode ser assumido indiferentemente por homens e mulheres pois transcende a alternativa dual do sex e do gender Essa posição induz uma política de desvios e desestabilização uma polí tica de deslocamento no lugar de confrontações vinculada ao pensamento nômade Braidotti 1985 A verdadeira vida sempre é minoritária e a sub versão está em homens e mulheres que se tornam minoritários Deleuze Aqui não há então nem um nem dois Notaremos entretanto que tornarse minoritário não tem o mesmo alcance quando envolve um homem ou uma mulher é difícil fazer a economia do dois social na diferença Tal pensamento conduzirá ao ulterior desenvolvimento da teoria queer vinculada à subversão das identidades sexuais Não se trata apenas de reivin dicar de maneira dual o direito à homossexualidade em paralelo à heterosse xualidade mas de indicar a porosidade das fronteiras como as que separam gays e lésbicas Se as categorias homem e mulher perdem sua pertinência há homossexualidade na heterossexualidade e viceversa O sexo identifi cado social ou morfologicamente não é determinante O sexo é perturbador ou inominável O sexo é dito performático Butler 1990 dizer é fazer O segundo sexo Se relermos atentamente o texto fundador do feminismo do século XX O segundo sexo a partir dos escritos de suas herdeiras constatamos que embora pareça defender a primeira dessas teorias a universalista ele não Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 65 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 65 18102009 192532 18102009 192532 66 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER exclui a persistência de uma diferença de sexos que porém não seria mais a justifi cação de uma hierarquia social e política Ele afi rma simultaneamente a necessidade de acesso ao universal detido pelos homens e levando em conta referências psicanalíticas a realidade de uma diferença que não será suprimida com a libertação Porém o livro permanece tributário do pensa mento dialético póshegeliano do seu tempo que caracteriza o pensamento do sujeito e não aborda a crítica da modernidade que será inseparável de uma corrente ulterior do pensamento feminista Implicações políticas As posições teóricas defi nidas anteriormente não têm apenas um valor especulativo Elas orientam as escolhas políticas O objetivo é fazer que as mulheres sejam reconhecidas da mesma forma que os homens no mundo existente ou introduzir nesse mundo uma dimensão que sem elas ele igno rava Tratase de fazer que as mulheres tenham acesso a estruturas inalte radas mas desde então compartilhadas ou de reformular essas estruturas de acordo com os dois sexos ou vários sexos Teoria e prática interferem constantemente na busca da libertação das mulheres e se questionam mutuamente A oposição entre universalismo diferencialismo e pósmo dernismo deve ser pensada mais além de qualquer lógica dos opostos F Collin 1999 numa forma paradoxal Scott 1998 a fi m de responder aos desafi os concretos e contingentes do avanço das mulheres Os caminhos da liberdade saem de vidas já traçadas sem dúvida escapam a toda ortodo xia A ação sempre faz objeção à ideia Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Dominação Igualdade Materni dade Sexo e gênero Universalismo e particularismo Badinter Élisabeth Lun est lautre des relations entre hommes et femmes Paris Odile Jacob 1986 361p Collin Françoise Le différend des sexes Paris Pleins feux 1999 76p Fraisse Geneviève La raison des femmes Paris Plon 1992 294p Guillaumin Colette Sexe race et pratique de pouvoir Lidée de nature Paris Côté femmes Recherches 1992 241p Irigaray Luce Speculum de lautre femme Paris Minuit Critique 1974 473p Jardine Alice Gynesis confi gurations de la femme et de la modernité Paris PUF Perpec tives critiques 1991 329p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 66 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 66 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 67 Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Danièle Kergoat As condições em que vivem homens e mulheres não são produtos de um destino biológico mas sobretudo construções sociais Homens e mulhe res não são uma coleção ou duas coleções de indivíduos biologicamente diferentes Eles formam dois grupos sociais envolvidos numa relação social específi ca as relações sociais de sexo Estas como todas as relações sociais possuem uma base material no caso o trabalho e se exprimem por meio da divisão social do trabalho entre os sexos chamada concisamente divisão sexual do trabalho A divisão sexual do trabalho Essa noção foi primeiramente utilizada pelos etnólogos para designar uma repartição complementar das tarefas entre homens e mulheres nas sociedades que estudavam LéviStrauss fez dela o mecanismo explicativo da estruturação da sociedade em família Mas as antropólogas feministas foram as primeiras que lhe deram um conteúdo novo demonstrando que traduzia não uma complementaridade de tarefas mas uma relação de poder dos homens sobre as mulheres Mathieu 1991a Tabet 1998 Utilizada em outras disciplinas como a História e a Sociologia a divisão sexual do trabalho adquiriu nessas pesquisas o valor de um conceito analítico A divisão sexual do trabalho é a forma de divisão do trabalho social de corrente das relações sociais de sexo essa forma é historicamente adaptada a cada sociedade Tem por características a destinação prioritária dos ho mens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva e simultanea mente a ocupação pelos homens das funções de forte valor social agregado políticas religiosas militares etc Essa forma de divisão social do trabalho tem dois princípios organiza dores o da separação existem trabalhos de homens e outros de mulheres e o da hierarquização um trabalho de homem vale mais do que um de mulher Eles são válidos para todas as sociedades conhecidas no tempo e no espaço o que permite segundo alguns HéritierAugé 1984 mas não segundo outros Peyre e Wiels 1997 afi rmar que existem dessa forma des Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 67 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 67 18102009 192532 18102009 192532 68 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER de o início da humanidade Esses princípios podem ser aplicados graças a um processo específi co de legitimação a ideologia naturalista que relega o gênero ao sexo biológico e reduz as práticas sociais a papéis sociais se xuados os quais remetem ao destino natural da espécie No sentido oposto a teorização em termos de divisão sexual do trabalho afi rma que as prá ticas sexuadas são construções sociais elas mesmas resultado de relações sociais Portanto não mais que as outras formas de divisão do trabalho a divi são sexual do trabalho não é um dado rígido e imutável Se seus princípios organizadores permanecem os mesmos suas modalidades concepção de trabalho reprodutivo lugar das mulheres no trabalho mercantil etc va riam fortemente no tempo e no espaço Os dados da História e da Antropo logia demonstraramno amplamente uma mesma tarefa especifi camente feminina numa sociedade ou ramo industrial pode ser considerada tipica mente masculina em outros Milkman 1987 Assim problematizar em termos de divisão sexual do trabalho não remete a um pensamento deter minista ao contrário tratase de pensar a dialética entre invariantes e va riações pois se supõe trazer à tona os fenômenos da reprodução social esse raciocínio implica estudar ao mesmo tempo seus deslocamentos e rupturas bem como a emergência de novas confi gurações que tendem a questionar a própria existência dessa divisão Da opressão às relações sociais de sexo A divisão sexual do trabalho foi objeto de trabalhos precursores em vá rios países Madeleine Guilbert Andrée Michel Viviane IsambertJama ti Mas foi no começo dos anos 70 que houve na França sob o impulso do movimento feminista uma onda de trabalhos que geraria rapidamente as bases teóricas desse conceito Para começar lembremos alguns fatos não foi tratando a questão do aborto como usualmente se diz que o movimento feminista começou Foi a partir da tomada de consciência de uma opressão específi ca tornouse coletivamente evidente que uma enorme massa de trabalho era realizada gratuitamente pelas mulheres que esse trabalho era invisível que era feito não para si mas para os outros e sempre em nome da natureza do amor e do dever maternal E a denúncia pensemos no título de um dos primeiros Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 68 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 68 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 69 jornais feministas franceses Le Torchon Brûle4 se desdobra numa dupla dimensão basta5 de executar aquilo que se conviria chamar trabalho é como se sua atribuição às mulheres e somente a elas fosse automática e isso não fosse visto nem reconhecido Muito rapidamente as primeiras análises dessa forma de trabalho apa receram nas Ciências Sociais Para citar apenas dois corpos teóricos temos o modo de produção doméstico Delphy 1998 e o trabalho doméstico ChabaudRychter et al 1985 A conceituação marxista relações de pro dução classes sociais defi nidas pelo antagonismo entre capital e trabalho modo de produção era preponderante na época pois nos situávamos num ambiente de esquerda e sabemos que a maioria das feministas fazia parte da esquerda Picq 1993 Mas pouco a pouco as pesquisas se desligaram dessa referência obriga tória para analisar o trabalho doméstico como atividade com o mesmo peso do trabalho profi ssional Isso permitiu considerar simultaneamente a ativi dade realizada nas esferas doméstica e profi ssional e pudemos raciocinar em termos de uma divisão sexual do trabalho Por uma espécie de efeito bumerangue depois que a família como entidade natural e biológica se desfez para aparecer prioritariamente como lugar de exercício de um trabalho em seguida foi a esfera do trabalho as salariado vista até o momento somente em termos do trabalho produtivo e da fi gura do trabalhador masculino qualifi cado branco que implodiu Delphy e Kergoat 1984 Em muitos países esse duplo movimento deu origem a muitos estudos que utilizam a abordagem da divisão sexual do trabalho para repensar o tra balho e suas categorias suas formas históricas e geográfi cas a interrelação das múltiplas divisões do trabalho socialmente produzido Essas refl exões permitiram trazer a campo conceitos como tempo social Langevin 1997 qualifi cação Kergoat 1982 produtividade Hirata e Kergoat 1988 ou mais recentemente competência A divisão sexual do trabalho no começo tinha o status de articulação de duas esferas como indica o subtítulo Estruturas familiares e sistemas pro 4 O pano de prato está queimando NT 5 A autora utiliza aqui a expressão consagrada no movimento raslebol NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 69 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 69 18102009 192532 18102009 192532 70 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER dutivos de Sexo do trabalho Coletivo 1984 Mas essa noção de articula ção se mostrou rapidamente insufi ciente os dois princípios separação e hierarquia se encontram em toda parte e se aplicam sempre no mesmo sentido era necessário passar a um segundo nível de análise a conceituação dessa relação social recorrente entre o grupo dos homens e o das mulheres A APRE Atelier Production Reproduction Ofi cina Produção Reprodu ção do CNRS Centre National de Recherche Scientifi que funcionou regularmente a partir de 1985 desembocando numa mesaredonda inter nacional intitulada Relações sociais de sexo problemáticas metodologias campos de análise Paris 1987 Paralelamente algumas participantes pu blicaram o estudo A propósito das relações sociais de sexo percursos episte mológicos no contexto da ATP do CNRS Pesquisas feministas e pesquisas sobre as mulheres Battagliola et al 1986 Entretanto junto com esse trabalho de construção teórica despontava o declínio da força subversiva do conceito de divisão sexual do trabalho O termo é agora usual no discurso acadêmico das Ciências Humanas particu larmente na Sociologia Mas na maior parte das vezes é despojado de toda conotação conceitual e retorna a uma abordagem sociográfi ca que descre ve os fatos constata desigualdades mas não organiza esses dados de ma neira coerente O trabalho doméstico que havia sido objeto de numerosos estudos era muito raramente analisado mais precisamente em vez de se utilizar esse conceito para reinterrogar a sociedade salarial Fougeyrollas Schwebel 1998 falase em termos de dupla jornada de acumulação ou de conciliação de tarefas como se fosse somente um apêndice do tra balho assalariado Daí um movimento de deslocamento e focalização sobre esse último as desigualdades no trabalho no salário trabalho em tempo parcial etc e sobre o acesso à política cidadania reivindicação de paridade etc Por sua vez o debate em termos de relações sociais de sexo é bastan te negligenciado Podemos ver aí os efeitos conjugados do desemprego em massa e das novas formas de emprego do crescimento do neoliberalismo do declínio numérico da classe operária tradicional da queda do Muro de Berlim com suas consequências políticas e ideológicas o esvaziamento da análise em termos de relações sociais acima da lógica econômica não poupou nenhum setor das Ciências Sociais Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 70 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 70 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 71 As relações sociais de sexo A noção de relações sociais foi salvo notáveis exceções Godelier 1984 Zarifi an 1997 pouco trabalhada pelas Ciências Sociais na França A relação social é em princípio uma tensão que atravessa o campo so cial Não é alguma coisa passível de reifi cação Essa tensão produz certos fenômenos sociais e em torno do que neles está em jogo constituemse grupos de interesses antagônicos Em nosso caso tratase do grupo social homens e do grupo social mulheres os quais não são em nada passíveis de serem confundidos com a dupla categorização biologizante machosfêmeas Esses grupos estão em tensão permanente em torno de uma questão o trabalho e suas divisões Assim podemos apresentar as seguintes proposi ções as relações sociais de sexo e a divisão sexual do trabalho são expressões indissociáveis que epistemologicamente formam um sistema a divisão se xual do trabalho tem o status de enjeu6 das relações sociais de sexo Estas últimas são caracterizadas pelas seguintes dimensões a relação entre os grupos assim defi nidos é antagônica as diferenças constatadas entre as atividades dos homens e das mu lheres são construções sociais e não provenientes de uma causalida de biológica essa construção social tem uma base material e não é unicamente ideológica em outros termos a mudança de mentalidades jamais acontecerá de forma espontânea se estiver desconectada da divisão de trabalho concreta podemos fazer uma abordagem histórica e pe riodizála essas relações sociais se baseiam antes de tudo numa relação hierár quica entre os sexos tratase de uma relação de poder de dominação Essa relação social tem além disso características singulares como já vimos ela se encontra em todas as sociedades conhecidas além disso é es truturante para o conjunto do campo social e transversal à totalidade desse campo o que não é o caso do conjunto das relações sociais Podemos então considerála um paradigma das relações de dominação 6 O que está em jogo em disputa o desafi o NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 71 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 71 18102009 192532 18102009 192532 72 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Do campo epistemológico ao espaço do político Já vimos que a expressão divisão sexual do trabalho tem sentidos mui to diferentes e que várias vezes remete a uma abordagem descritiva Isso foi e permanece indispensável por exemplo a construção de indicadores con fi áveis para medir a desigualdade profi ssional entre homens e mulheres é um verdadeiro desafi o político na França Mas falar em termos de divisão sexual do trabalho é ir mais além de uma simples constatação de desigualda des é articular a descrição do real com uma refl exão sobre os processos pelos quais a sociedade utiliza a diferenciação para hierarquizar essas atividades O conteúdo da expressão relações sociais de sexo é controverso Para tornar precisos os termos lembremos que o idioma francês tem a vantagem de propor duas palavras rapport e relation7 Uma e outra recobrem dois ní veis de apreensão da sexuação do social tornar o social sexuado A noção de rapport social aborda a tensão antagônica que se desenrola em particular em torno da questão da divisão sexual do trabalho e que termina na criação de grupos sociais com interesses contraditórios A denominação relations sociais remete às relações concretas que os grupos e indivíduos mantêm Assim as formas sociais casal ou família que podemos observar em nossas sociedades são ao mesmo tempo expressão das relações rapports sociais de sexo confi guradas por um sistema patriarcal e também espaços de interação social que vão eles mesmos recriar o social e dinamizar parcial mente o processo de sexuação do social Insistir sobre o antagonismo ou sobre o vínculo corresponde então a duas posturas de pesquisa que se tornam contraditórias quando deixamos o plano da observação para passar ao da epistemologia são as relações sociais que préconfi guram a sociedade Versus é a multiplicidade de interações que no seio de um universo browniano cria pouco a pouco as normas as regras que podemos observar numa dada sociedade É nessa última pers pectiva relativamente hegemônica nas Ciências Sociais da atualidade que somos levadas a falar por exemplo de complementaridade de tarefas e por consequência designar prioritariamente às mulheres com toda legitimi dade o trabalho em tempo parcial Como podemos ver esse debate trata não somente de uma ordem epis temológica mas contém também uma ordem política Tratase 1 de com 7 Em português ambas se traduzem por relação NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 72 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 72 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 73 preender historicamente como as relações sociais tomaram corpo nas insti tuições e legislações o casal a família a fi liação o trabalho o Código Civil etc que têm por função cristalizar tudo legitimando o estado das relações de força entre os grupos num momento dado Scott 1990 e 2 expor as novas tensões geradas na sociedade procurando compreender como elas deslocam as questões e permitem potencialmente deslegitimar as regras normas e representações que apresentam como grupos naturais os gru pos sociais constituídos em torno dessas questões Em síntese é poder pen sar a utopia enquanto se analisa o funcionamento do social Portanto como os grupos de sexo não são mais categorias imutáveis fi xas ahistóricas e asociais podemos periodizar a relação que os constitui um em função do outro graças à análise da evolução das modalidades das questões sociais e podemos então abordar o problema da mudança e não somente do rearranjo do social Esse ponto de vista minoritário nas Ciências Sociais continua no en tanto sendo amplamente compartilhado por aquelesas que trabalham em torno da sexuação do social e reconhecem a opressão de um sexo pelo outro E isso desde o início dos anos 70 na França Entretanto duas questões per manecem em debate 1 É necessário centrar a refl exão somente sobre as relações sociais de sexo ou ao contrário tentar pensar o conjunto das relações sociais em sua simultaneidade A tentação de hegemonizar uma só relação social no caso a relação social de sexo é grande mesmo que fosse só para tentar preencher o vazio quase total na matéria Trabalhos geralmen te brilhantes pensemos por exemplo nos de Delphy Guillaumin Mathieu etc oferecem instrumentos poderosos novos e explicati vos Mas considerar apenas o elo de dominação homemmulher e as lutas contra ele é insufi ciente para tornar inteligíveis a diversidade e a complexidade das práticas sociais masculinas e femininas 2 O segundo debate e aqui passamos da construção do objeto de pes quisa à interpretação dos fatos observados retorna à caracterização da relação social de sexo Em O sexo do trabalho e nos trabalhos cole tivos e individuais que se seguiram exprimiuse um amplo consenso sobre a transversalidade das relações sociais de sexo Mas essa carac terização é insufi ciente se não se soma a ela uma outra dimensão a Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 73 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 73 18102009 192532 18102009 192532 74 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER interpenetração constante das relações sociais Tomemos o exemplo do modo de produção capitalista ele é construído sobre a separação dos lugares e tempos da produção e da reprodução quanto ao que chamamos trabalho doméstico tratase de uma forma histórica particular do trabalho reprodutivo inseparável da sociedade salarial Em outros termos as relações sociais são consubstanciais Esse debate não se reduz a uma querela escolástica ele remete a posições analíticas muito diferentes do ponto de vista tanto científi co como político Assim tornase impossível isolar o trabalho ou o emprego das mulheres tratase ao contrário de operar ao mesmo tempo como elementos centrais explicativos com a evolução das relações de sexo de classe e NorteSul o mesmo vale para a família a explosão de suas formas sociais e suas tenta tivas de enquadramento jurídico ou também para a evolução de formas de virilidade paternidadematernidade ou os debates atuais sobre imigração e agrupamento familiar Essa consubstancialidade das relações sociais permite compreender a natureza das fortes turbulências que hoje incidem sobre a divisão sexual do trabalho Dois exemplos 1 Diante da precarização e da fl exibilização do emprego o aparecimen to e o desenvolvimento dos nomadismos sexuais Kergoat 1998 nomadismos no tempo para as mulheres o grande aumento do tra balho em tempo parcial geralmente associado à concentração de ho ras de trabalho dispersas na jornada ou na semana nomadismos no espaço para os homens temporários canteiros de obras públicas e do nuclear para os operários a banalização e a multiplicação dos deslo camentos profi ssionais dos altos executivos na Europa e no mundo Aqui se vê bem como a divisão sexual do trabalho e do emprego e de maneira recíproca a fl exibilização podem reforçar as formas mais estereotipadas das relações sociais de sexo 2 O segundo exemplo é a dualização do emprego feminino o que ilus tra bem o cruzamento das relações sociais Desde o começo dos anos 80 o número de mulheres contabilizadas pelo INSEE como execu tivas e profi ssionais diplomadas do ensino superior mais do que do brou cerca de 10 das mulheres ativas estão atualmente nessa cate goria Ao lado da precarização e da pobreza de um número crescente Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 74 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 74 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 75 de mulheres que representam 46 da população ativa mas 52 dos desempregados e 79 dos baixos salários assistimos a um aumento dos capitais econômicos culturais e sociais de uma proporção de mu lheres ativas que não pode ser desconsiderada Vemos surgir assim pela primeira vez na história do capitalismo uma camada de mulhe res cujos interesses diretos não mediados como antes pelos homens pais esposos amantes etc se opõem frontalmente aos interesses da quelas abrangidas pela generalização do tempo parcial dos empregos muito mal remunerados e não reconhecidos socialmente e em geral mais atingidas pela precariedade Podemos assim trabalhar em conjunto sobre a totalidade do social sem nos apressar em buscar a boa relação social ou a boa identidade indi vidual ou coletiva Considerar que essas relações sociais não evoluem no mesmo ritmo no tempo e no espaço permitenos perceber ao mesmo tem po a complexidade e a mudança E assim as categorias sociais eviden temente sempre defi nidas pelos dominantes explodirão dando espaço a um conjunto móvel de confi gurações nas quais os grupos sociais se fazem e desfazem e os indivíduos constroem sua vida por meio de práticas sociais muitas vezes ambíguas e contraditórias Desemprego Educação e socialização Família Coexistência dos sexos Movimentos feministas Precarização social Trabalho o conceito de Trabalho doméstico Coletivof Le sexe du travail Structures familiales et système productif Grenoble PUG 1984 320 p DauneRichard AnneMarie Devreux AnneMarie Rapports sociaux de sexe et con ceptualisation sociologique Recherches féministes 1992 v5 n2 p730 Kergoat Danièle À propos des rapports sociaux de sexe Revue M abrilmaio de 1992c n5354 p1620 La division du travail entre les sexes in Jacques Kergoat et al Le monde du travail Paris La Découverte 1998 p31929 Mathieu NicoleClaude Critiques épistémologiques de la problématique des sexes dans le discours ethnoanthropologique 1985a in NC Mathieu Lanatomie politique Ca tégorisations et idéologies du sexe Paris Côté femmes Recherches 1991a p75127 Scott Joan Genre une catégorie utile danalyse historique Les cahiers du GRIF Le genre de lhistoire 1988b n378 p12553 Tabet Paola La construction sociale de linégalité des sexes des outils et des corps Paris LHarmattan Bibliothèque du féminisme 1998 206p Textos de 1979 e 1985 Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 75 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 75 18102009 192532 18102009 192532 76 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Dominação Erika Apfelbaum Toda relação de dominação entre dois grupos ou duas classes de indi víduos impõe limites sujeição e servidão àquelea que se submete Ela introduz uma dissimetria estrutural que é simultaneamente o efeito e o alicerce da dominação um se apresenta como representante da totalidade e o único depositário de valores e normas sociais impostas como universais porque os do outro são explicitamente designados como particulares Em nome da particularidade do outro o grupo dominante exerce sobre ele um controle constante reivindica seus direitos fi xando os limites dos direitos do outro e o mantém num estatuto que retira todo o seu poder contratual Apfelbaum 19791999 A dissimetria constituinte da relação de domi nação aparece não somente nas práticas sociais mas também no campo da consciência e até nas estratégias de identidade O uso frequente conquanto abusivo do termo relação de poder no lugar de relação de dominação faz desta uma relação de força suscetível de ser invertida em certas circunstâncias e permite subestimar os efeitos irredutíveis que lhe são inerentes Perspectiva histórica A dominação no signifi cado que foi determinado anteriormente apare ceu tarde no campo discursivo das Ciências Sociais Dessa forma para Max Weber 1921 que a abordava no contexto de uma análise sociológica dos modos de organização da sociedade e da estratifi cação social ela é uma das formas essenciais do poder Sua legitimidade advém conforme o caso 1 dos costumes e da tradição dominação tradicional 2 da lei constitucional estabelecida por exemplo de modo democrático dominação legal 3 do valor pessoal ou dos talentos excepcionais do chefe dominação carismáti ca Diante da teoria neoclássica segundo a qual toda relação econômica ocorre entre iguais que negociam e fi rmam contratos sem nenhum confl i to alguns economistas em especial os marxistas reconhecem por outro lado a existência de relações assimétricas entre parceiros As relações de dominação foram identifi cadas e denunciadas inicial mente pelos movimentos de emancipação nos anos 60 Além da diversida Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 76 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 76 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 77 de de formas assumida pela implementação de cada opressão em particular observamos uma analogia estrutural comum as relações de dominação e as desigualdades de estatuto estão no coração de toda relação social His toricamente a análise da opressão colonial inaugura essa refl exão cf por exemplo Aimé Césaire Franz Fanon ou ainda Albert Memmi Este úl timo 19681973 descreve seus mecanismos por meio de diversas fi guras de dominados o judeu o negro a mulher o colonizado o proletário o do méstico Enquanto isso Michel Foucault 1976 continua sua análise do poder e desvenda os seus efeitos em particular no domínio da sexualidade Em meados dos anos 70 a problemática da dominação explode literalmen te com o desenvolvimento das interrogações feministas que denunciam a dominação de gênero a materialidade da apropriação da classe das mu lheres pela classe dos homens De maneira quase simultânea na Antro pologia Mathieu 1978 1985b Tabet 1979 na Sociologia Guillaumin 19781992 na Psicologia Social Apfelbaum 19791999 e na Psicologia Weinstein 19681997 aparecem análises convergentes que esclarecem as múltiplas facetas das relações sociais de sexo e da posição de tutela dos do minados pelos dominantes A dominação de gênero e seu alcance epistemológico Essas análises romperam a aparente unidade conceitual do campo teó rico e epistemológico e produziram críticas que obrigaram à realização de uma revisão fundamental de alguns fundamentos das Ciências Sociais até então considerados evidentes A análise da construção histórica social e ideológica da dominação de gênero desestabiliza de modo radical os pres supostos naturalistas que prevalecem nas teorizações das Ciências Sociais e tendem a naturalizar as diferenças entre homens e mulheres ela ques tiona os fundamentos de uma metodologia que trata de modo socialmente homogêneo as duas categorias homens e mulheres Algumas opções teóri cas epistemológicas e metodológicas tornamse então o efeito da domina ção de gênero Instituir uma cisão irredutível uma distinção entre nós e eles ou elas estigmatizar em nome de um conjunto de representações e de normas dadas como verdades naturais e universais para melhor particularizar e espe cialmente excluir do espaço social onde se elaboram as decisões relativas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 77 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 77 18102009 192532 18102009 192532 78 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER ao contrato social faz parte do arsenal dos modos de dominação Tornar o outro invisível tornar crível a ideia de que ele não é mais do que um simples caso particular que por isso mesmo não pode ser considerado um inter locutor válido garante por tabela que o dominante ocupe legitimamente a posição de representante do universal Esse é o preço da prática da do minação a desapropriação do outro posto em situação de tutela como a apropriação do corpo das mulheres A posição estrutural distinta dos homens e das mulheres e mais am plamente dos dominantes e dos dominados introduz além disso uma dissimetria radical no conhecimento e na apreensão da situação de forma que o interesse pela dominação masculina não signifi ca portanto estarmos preocupados com a opressão das mulheres Mathieu 1999 Tal dominação determina o modo segundo o qual os homens e as mulheres se representam constroem e administram as relações que mantêm entre si e mais ampla mente suas relações com o espaço social público e privado Da mesma ma neira a identidade pessoal e a subjetividade e mais geralmente as formas psíquicas de individuação também são a consequência do lugar singular que o sujeito ocupa no funcionamento concreto das relações de dominação e de gênero Mathieu 1985b1991a p14041 Dominação e consentimento Maurice Godelier 1978 considera o consentimento das dominadas à visão masculina das relações entre os sexos mais do que a violência imposta a elas pelos homens o componente decisivo da dominação A controvér sia suscitada por essa posição advém do fato de que ela supõe uma rela ção simétrica entre iguais em que cada um teria o conhecimento ou uma completa consciência das condições estabelecidas no contrato e uma total liberdade de escolha Em outras palavras nessa óptica a oprimida é apre sentada como um ser completo como um agente social mais do que como sujeito objeto da ação sujet agi No entanto opressores e oprimidos não estão no contexto de um contrato entre iguais Pretender que possa existir consentimento dos dominados às condições defi nidas pelos dominantes é então uma contradição de termos Mathieu 1985b1991a p213ss Pierre Bourdieu ressalta a cumplicidade a adesão que o dominado não pode deixar de dar ao dominante ou seja à dominação 1998 p41 na Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 78 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 78 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 79 medida em que ele não dispõe de outras fi guras e formas de pensamento do que as que tem em comum com o dominante que são produto da in corporação das modalidades da relação de dominação Assim instituise a violência simbólica cujos efeitos e condições de efi cácia se inscrevem no corpo de forma duradoura sob a forma de disposições ibidem p45 de modo que as proibições sociais são naturalizadas e resistem ao processo de conscientização O autor fala de submissão encantada fora do controle da consciência Bourdieu cujas refl exões insistem no caráter opaco e inerte da violência simbólica nunca questiona como ele mesmo na qualidade de representan te da classe dos homens e da autoridade científi ca contribui para a repro dução e a perenidade da dominação masculina Nesse sentido assim como Godelier 1978 representa a tradição intelectual ocidental masculina que se recusa a teorizar sobre os privilégios associados ao estatuto dos dominan tes porque isso colocaria em perigo o status quo Hurtado 1996 Para Mathieu diante do que está em jogo como os interesses não são os mesmos de um lado e de outro o conhecimento não será o mesmo em fun ção da posição do locutor no campo das relações de sexo 1985b1991a p140 O conhecimento é portanto a expressão das relações de dominação que perpassam a sociedade Ela se torna um instrumento a serviço da do minação Falar e encontrar as palavras para falar representa para os opri midos uma das modalidades de resistência e de luta contra a dominação Apfelbaum 19791999 Não é por acaso que o reestabelecimento da fala das mulheres foi uma das primeiras reivindicações no âmbito das Ciências Sociais e um dos vetores da retomada dos métodos qualitativos de estu do entrevistas histórias de vida etc A entrada em cena das dominadas pôs na berlinda a fi cção de uma ciência que lida com um sujeito abstrato ahistórico representativo da totalidade da humanidade que reconhece portanto a identidade de todos e consequentemente analisa apenas as re lações simétricas Até certo ponto isso explica a relutância persistente da comunidade científi ca em atribuir aos mecanismos de dominação o estatuto epistemológico que lhes cabe no campo das Ciências Sociais Diferença dos sexos teorias da Educação e socialização Igualdade Poderes Sexo e gênero Violências Apfelbaum Erika Relations on Domination and Movements for Liberation an Analy sis of Power between Groups in Worchel Stephen Austin William G Orgs The Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 79 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 79 18102009 192533 18102009 192533 80 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Social Psychology of Intergroup Relations Monterey Cole 1979 p188204 Reprodu zido em Feminism and Psychology 1999 n3 p26773 Foucault Michel La volonté de savoir Paris Gallimard 1976 211p Guillaumin Colette Pratique du pouvoir et idée de nature Questions féministes 1978 n2 e 3 Reproduzido em Guillaumin C Sexe race et pratique du pouvoir Lidée de nature Paris Côtéfemmes 1992 p1382 Hurtado Aida The Color on Privilege Three Blasphemies on Race and Feminism Ann Arbor University of Michigan Press 1996 203p Mathieu NicoleClaude Quand céder nest pas consentir Des déterminants matériels et psychiques de la conscience dominée des femmes et de quelquesunes de leurs inter prétations en ethnologie in NC Mathieu Org Larraisonnement des femmes Es sai en anthropologie des sexes Paris Éd de lEHESS 1985b p169245 Reproduzido em NC Mathieu Lanatomie politique Paris Côtéfemmes 1991a p131225 Mathieu NicoleClaude Bourdieu ou le pouvoir hypnotique Les temps modernes maiojulho de 1999 n604 p286324 Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Educação e socialização Claude Zaidman A educação consiste em permitir a entrada individual e coletiva de no vos membros numa sociedade Nesse sentido faz parte dos processos de reprodução social A defi nição de Durkheim 19221977 fundador da So ciologia da educação na França associa dois conceitos A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que ainda não estão maduras para a vida social ela consiste numa socialização sistemática da geração jovem que visa constituir o ser social em cada um de nós Segundo o autor tratase antes de tudo do meio pelo qual a sociedade renova perpe tuamente as condições de sua própria existência Opõese frequentemente o caráter intencional da educação que rea liza um ou vários projetos e da socialização que funcionaria mais por osmose no conjunto das interações sociais Um dos problemas suscitados é então o modo de compartilhamento e os sistemas de relações entre as diferentes instâncias de socialização como a escola a família o grupo de pares as mídias os meios profi ssionais etc Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 80 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 80 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 81 A Sociologia da educação e as relações sociais de sexo Nos anos 70 a Sociologia da educação francesa é sobretudo centrada na escola sua estrutura e os fl uxos de entrada e saída de alunos A principal problemática é a das desigualdades sociais do resultado escolar e o debate fundamental é sobre o papel da escola como fator de mobilidade social ou de reprodução Nessa perspectiva as desigualdades de sexo não são levadas em conta Kandel 1975 DuruBellat 1994 e os poucos trabalhos relativos à educação de meninas são o resultado de uma história à parte A generalização das escolas mistas nos anos 70 como aplicação atra sada em termos de gênero do princípio da igualdade de oportunidades para todos os cidadãos perante a educação permite educar juntos meninas e meninos e comparar diretamente os seus desempenhos Depois de ter re cuperado o atraso no que se refere à escolarização as meninas exibem um melhor resultado escolar em número de anos de estudo e essa constatação vai incidir sobre o conceito de reprodução das desigualdades pela escola Porém trabalhos recentes baseados na problemática das relações so ciais de sexo moderam esse otimismo mostrando que se os mecanismos de seleção de classe e sexo diferem em seus princípios a escola permanece um elo importante na manutenção da divisão sexual do trabalho O pon to de vista longitudinal permite analisar os diferentes percursos escolares mediante a observação dos comportamentos diferenciados dos diversos atores escolares na vida cotidiana dos estabelecimentos nos vários níveis de orientação e nos processos de inserção e rentabilização dos diplomas na vida profi ssional Constatamos então que se as meninas têm melhores resultados do que os meninos no ensino primário e no ensino geral o que as leva a serem maioria entre os que realizam o exame fi nal do segundo grau baccalauréat e no ensino superior mesmo assim continuam concentradas num pequeno número de áreas que em geral resultam em profi ssões que representam as formas socializadas de funções tradicionalmente atribuídas à mulher den tro da família como é o caso dos serviços do comércio da educação da saúde enquanto se mantêm as desigualdades de acesso às carreiras cientí fi cas e técnicas A questão se volta então para os processos que expliquem essa má rentabilização da escola pelas meninas Estudos baseados na análise das Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 81 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 81 18102009 192533 18102009 192533 82 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER competências escolares demostraram que para entender os mecanismos de reprodução da divisão sexual do trabalho é preciso se interessar pelos me canismos de orientação mais do que pelas diferentes aptidões naturais Alguns pesquisadores veem acima de tudo nessa desvalorização es colar das meninas no momento da orientação o efeito da socialização pri mária de meninos e meninas reforçado por comportamentos diferenciados dos professores de acordo com o sexo dos alunos Outros interpretam tal resultado como uma escolha racional das meninas um cálculo que an tecipa os problemas postos pela difícil conciliação entre vida familiar e vida profi ssional conciliação cujo peso ainda repousa amplamente sobre as mulheres devido à manutenção da divisão sexual do trabalho Além disso há o debate sobre o papel próprio da escola em relação ao da família ou ainda das estruturas profi ssionais a escola é um fator de emanci pação ou de manutenção das relações de dominação A socialização diferencial dos sexos Outro modo de abordar o problema do papel específi co da escola é uti lizar a noção de socialização Esse conceito é usado em diversas disciplinas como a Antropologia Social a Psicologia Social ou ainda a Economia Na Sociologia esse termo foi inicialmente usado pela abordagem fun cionalista a fi m de descrever como são inculcados os papéis de sexo Nessa perspectiva a sociedade funciona com base num consenso social quanto à dualidade fundamental dos sexos Essa dualidade se basearia numa di ferença natural uma bicategorização de ordem biológica que implica a complementaridade dos papéis sociais Para manter o equilíbrio social os novos membros individuais da sociedade devem interiorizar as normas de comportamentos esperados Uma segunda abordagem critica essa perspectiva e enfatiza o aspecto coercivo e repressivo da transmissão de modelos Uma série de trabalhos feministas denuncia a fabricação de uma diferença hierarquizada dos sexos pela educação e especialmente o processo de produção social dos corpos sexuados desde a infância Em 1914 Madeleine Pelletier destacava esse processo de formação à submissão que se prolonga nas aprendizagens in telectuais Simone de Beauvoir 1949 descreve a educação tradicional que Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 82 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 82 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 83 limita a atividade e a autonomia das meninas impedindoas de se afi rmar como sujeito da mesma forma que os meninos Elena G Belotti 1974 mostra como se constrói a diferença entre os sexos por meio do comporta mento de pais e professores conforme o sexo da criança No contexto do movimento de libertação das mulheres nasce um de bate entre as feministas voltado para a noção da identidade feminina Les temps modernes 1976 debate que se inscreve na oposição entre feminismo da igualdade e feminismo da diferença que marcará os anos 70 Algumas feministas reprovam a abordagem de Elena G Belotti que promove o mo delo masculino como o único modelo universal para a plena realização das qualidades humanas Ora elas dizem por que negar o que a especifi cidade feminina mesmo tendo nascido da opressão poderia nos dar Recentemente as teorias da dominação abrem um novo campo de refl e xão e de debates com respeito às relações sociais de sexo A importância da construção dos corpos sexuados nos mecanismos de socialização é teorizada por Colette Guillaumin 1992 Na sua abordagem materialista da domina ção ela salienta a aprendizagem corporal sexuada que conduz dos jogos infantis ao trabalho das mulheres Para Pierre Bourdieu 1998 a socializa ção como processo de produção dos hábitos passa em primeiro lugar pela produção social do corpo sexuado que se torna assim o lembrete da do minação masculina Sua teoria que convida a grandes polêmicas se apoia na noção da violência simbólica que segundo ele assegura a submissão das mulheres à ordem estabelecida seu consentimento à dominação A produção do gênero Podemos nos referir a trabalhos da Psicologia Social da Antropologia e da Sociologia interacionista de origem anglosaxônica para encontrar no vas abordagens à socialização como processo ativo Tratase de descrever as situações de interação social nas quais a diferença dos sexos o gênero é produzido e reproduzido socialmente A socialização de cada nova ge ração de crianças pela sociedade adulta não é só o resultado do reforço e da repressão diretamente exercidos sobre os indivíduos mas dos materiais a partir dos quais as crianças constroem as categorias de sexo que servem em seguida para guiar seu comportamento Jacoby 1990 Nessa perspectiva Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 83 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 83 18102009 192533 18102009 192533 84 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER acentuamse as situações nas quais as relações sociais de sexo se atualizam como as escolas mistas onde os jovens socializados podem aprender os comportamentos de gênero esperados nas diversas situações e construir respostas consideradas apropriadas Essa abordagem permite considerar as diferentes relações sociais que estruturam uma determinada situação e as relações de gênero podem ser consideradas um protótipo ou uma simples reprodução das relações entre grupos dominantes e dominados Assim na escola a produção de categorizações sexistas ou racistas in tervém de modo complexo nas relações entre adultos e crianças e entre as próprias crianças por meio de comportamentos cotidianos na instituição ou nos confl itos entre indivíduos Na França as novas pesquisas em Sociologia da educação sobre a experiência escolar sobre o currículo oculto e sobre a interação famíliaescola incluem com cada vez mais frequência a variá vel da diferença dos sexos Entretanto ainda existem poucos trabalhos que integram as problemáticas de gênero tais como os que abordam a relação com o saber e o acesso das mulheres a carreiras científi cas as modalidades de escolas mistas em diferentes etapas da escolaridade a visão global das trajetórias escolares em função do sexo e outras características sociais dos alunos tais como a classe social ou a nacionalidade dos pais Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Dominação Igualdade Famí lia Ofício profi ssão bico Coexistência dos sexos Sexo e gênero Transmissões intergeracionais Baudelot Christian Establet Roger Allez les fi lles Seuil 1992 351p DuruBellat Marie La découverte de la variable sexe et ses implications théoriques dans la sociologie de léducation française contemporaine Nouvelles questions féminis tes 1994 v15 n1 p3568 Note de synthèse Filles et garçons à lécole approches psychologiques et psychosociales 1 Des scolarités sexuées refl et de différences daptitudes ou de dif férences dattitudes Revista francesa de pedagogia 1994 n109 p11143 2 La con struction sociale de la différence entre les sexes Revista francesa de pedagogia 1995 n110 p 75111 Manassein Michel de Dir De légalité des sexes Paris CNDP 1995 317p Mosconi Nicole Femmes et rapport au savoir La société lécole et la division sexuelle des savoirs Paris LHarmattan 1994 362p Zaidman Claude La mixité à lécole primaire Paris LHarmattan 1996 238p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 84 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 84 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 85 Emprego Margaret Maruani O que signifi ca emprego O que o diferencia do trabalho Não existe uma defi nição coletiva e admitida por todos Michon e Segrestini 1990 Partimos de uma confusão semântica cuja explicação se torna necessária Na linguagem corrente trabalho e emprego podem ser tanto sinônimos como antônimos Dessa forma quando falamos em mercado trabalho e emprego são sinônimos quando falamos de oferta e demanda trabalho e emprego possuem signifi cados inversos O mercado de trabalho também é mercado de empregos Entretanto oferta de trabalho não signifi ca em nenhuma hipótese oferta de emprego A oferta de trabalho é oriunda dos indivíduos e a oferta de emprego das empresas Assim tornase necessário distinguir o trabalho compreendido como atividade de produção de bens e serviços assim como conjunto das condições de exercício dessa atividade do emprego que é o conjunto das modalidades de entrada e saída do mer cado de trabalho assim como a tradução da atividade laboriosa em termos de estatuto social Decoufl é e Maruani 1987 Do ponto de vista sociológico a passagem do trabalho ao emprego signi fi ca uma tripla reorientação temática da sociologia dos trabalhadores à so ciologia da população ativa do estudo da empresa ao estudo do mercado de trabalho da análise das situações de trabalho à análise dos movimentos de emprego e desemprego Admitindose isso e considerandose previamente essa noção em toda refl exão sobre a utilidade e o uso do conceito de empre go podemos nos referir a dois fi os condutores Inicialmente lembremos que o emprego não é uma questão social entre outras Na realidade tratase de um dos elementos estruturantes do funcionamento da sociedade um dos elementos que dão sentido a outros desafi os sociais Fazer a sociologia do emprego não signifi ca dedicarse à sociografi a de uma área especializada o acesso ao emprego contribui for temente para a construção das hierarquias sociais para a produção de me canismos de diferenciação classifi cação e segregação Pois de fato ter um emprego signifi ca ter trabalho e salário mas signifi ca também ter um espa ço na sociedade Maruani e Reynaud 1993 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 85 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 85 18102009 192533 18102009 192533 86 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Da mesma forma é necessário afi rmar que o mercado de trabalho é um dos lugares onde se constroem de maneira cotidiana diferenças e dispari dades entre homens e mulheres Para quem trabalha com o tema mulheres feminismo e igualdade entre os sexos o conceito de emprego é essencial Analisar a situação das mulheres no mercado de trabalho é questionar seu estatuto social o emprego feminino é um fi o condutor para compreender o espaço das mulheres na sociedade Nesse sentido a divisão sexual dos empregos constrói o gênero Os diferentes estatutos de emprego meio pe ríodo período integral CDD CDI defi nem as posições profi ssionais e so ciais sexualmente diferenciadas Assim há pouco tempo por exemplo o aumento do percentual de trabalho de meio período na população feminina taxa superior a 80 contribuiu para criar novamente uma forma de em prego especifi camente feminina Divisão sexual do trabalho ou do emprego Por muito tempo o conceito de emprego fêznos falta devido ao seu envolvimento à sua diluição no conceito de trabalho Essa mistura de con ceitos se deve a duas razões Em primeiro lugar ela está vinculada à história das divisões disciplina res que por muitos anos funcionaram com uma separação de tarefas im plícita mas marcant aos sociólogos o trabalho aos economistas o emprego Lallement 1999 ErbèsSeguin 1994 Essa divisão do trabalho entre as disciplinas resultou na ocultação das relações sociais de emprego A análise das determinantes sociais presentes na regulação do mercado de trabalho assim como a análise dos processos sociais que contribuem para a constru ção de situações e formas de emprego não era de fato tratada nem por uns nem por outros O emprego não era espontaneamente incluído no campo temático da Sociologia assim como as lógicas sociais não se integravam na turalmente nas análises econômicas Da mesma forma ela está vinculada à história da sociologia das rela ções sociais de sexo e da divisão sexual do trabalho como se desenvolveu na França desde o fi nal dos anos 70 Centrada na análise das evoluções e da reprodução da divisão sexual do trabalho muito mais do que no estudo do acesso das mulheres ao emprego pouco tratou da divisão sexual do merca do de trabalho Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 86 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 86 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 87 Foram amplamente ignorados os mecanismos sociais que produziram a transformação dos comportamentos de atividade femininos Huet 1982 BouillaguetBernard GauvinAyel e Outin 1981 os processos de trans formação da relação com o emprego Essas mutações foram reconhecidas sem que realmente se analisasse como e por que ocorreram Na verdade a noção de divisão social e sexual do trabalho Coletivo 1984 Kergoat 1984 é integralmente construída em torno do conceito de trabalho Sua contri buição consiste em desdobrar esse conceito em duas dimensões profi ssio nal e doméstica ligando as esferas da produção e da reprodução o mundo profi ssional e o universo do trabalho doméstico Entretanto tanto em sua defi nição como em sua utilização a divisão sexual permanece circunscrita ao campo do trabalho centrada nos problemas de qualifi cação organização e condições de trabalho de repartição sexuada das tarefas ofícios e funções O mercado de trabalho o emprego e o desemprego fi caram de fora dessa área de pesquisa focalizada nas modalidades de trabalho femininas nos movimentos de desqualifi cação ou sobrequalifi cação na falta de coexistên cia dos sexos no mundo do trabalho muito mais do que na evolução da relação com o emprego e os comportamentos de atividade femininos Foi preciso aguardar os anos 90 para assistirmos à emergência de uma sociologia do emprego e do desemprego femininos que analisou o espaço das mulheres no mercado de trabalho e não somente sua posição no uni verso profi ssional e que tratou da divisão sexual do mercado de trabalho e não somente da divisão sexual do trabalho A maior parte desses trabalhos situados no cruzamento da Sociologia com a Economia apoiase em com parações internacionais e particularmente europeias A feminização do mercado de trabalho Esses trabalhos evidenciaram as transformações espetaculares que afe taram a atividade feminina e contribuíram para recompor o conjunto do mundo do trabalho a feminização do assalariamento é uma das maiores mutações sociais do fi nal do século XX Essa evolução que data do início dos anos 60 continuou ao longo das décadas seguintes a despeito da crise do emprego e da instalação de um desemprego em massa No espaço de quarenta anos as mulheres se tornaram quase a metade do mundo do trabalho na França conforme o censo de 1962 elas representa Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 87 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 87 18102009 192533 18102009 192533 88 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER vam um terço da população ativa 34 em 1999 esse percentual alcançou 46 Além do aumento quantitativo esses dados revelam o reequilíbrio dos sexos no mercado de trabalho No início dos anos 60 126 milhões de homens e 67 milhões de mulheres eram ativos As mulheres representavam a metade Em 1999 a diferença permanece mas ela se reduz consideravel mente 142 milhões de homens e 121 milhões de mulheres encontramse no mercado de trabalho Entre 1962 e 1999 o número de homens traba lhadores aumentou 15 milhão e o das mulheres 55 milhões Há quatro décadas a renovação da força de trabalho se faz essencialmente por meio do aumento da atividade feminina Esse fenômeno existe em toda a Europa Nos anos 60 as mulheres re presentavam 30 da população ativa europeia No fi nal dos anos 90 esse percentual é de 43 Tal crescimento é sustentado por duas evoluções notá veis o aumento do assalariamento feminino e a continuidade das trajetórias profi ssionais das mulheres O movimento relativo ao aumento do assalariamento que afeta o con junto dos ativos foi mais rápido e mais importante para as mulheres do que para os homens Essa aceleração teve início no começo dos anos 60 Desde 1975 as mulheres são proporcionalmente mais assalariadas do que os ho mens Em 2002 na França 92 das mulheres ativas são assalariadas contra 87 dos homens Na Europa composta então por quinze países 81 dos homens e 89 das mulheres são assalariados A segunda mudança concerne aos comportamentos de atividade femi ninos Desse ponto de vista as coisas mudaram radicalmente desde então a maioria das mulheres na França acumula uma atividade profi ssional e a vida familiar No início dos anos 60 a taxa de atividade das mulheres de 25 a 49 anos era de 40 atualmente é de cerca de 80 Tratase aqui de uma transformação radical da relação com o emprego e além disso da rela ção das mulheres com a organização dos projetos familiares e profi ssionais Atualmente a maioria das mulheres não para de trabalhar quando vêm os fi lhos Dessa forma o fi m da descontinuidade das trajetórias profi ssionais das mulheres marca uma verdadeira ruptura em relação às normas sociais anteriores que testemunha igualmente uma homogenização dos comporta mentos de atividade masculinos e femininos os quais só aumentaram nos últimos anos Entre 15 e 49 anos as taxas de atividade de homens e mulhe res quase se igualam Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 88 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 88 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 89 De forma paradoxal essas evoluções permaneceram sem nenhum efeito sobre as desigualdades profi ssionais permanecem as desigualdades sala riais de carreira de condições de trabalho e as segregações horizontais e verticais No que concerne ao emprego observamos inclusive a emergência de novas modalidades de disparidades a criação de núcleos de sobredesem prego e de subemprego femininos A distinção entre trabalho e emprego permite portanto realizar uma triagem entre os progressos as estagnações e as regressões separando o que avança o que recua e o que estanca Emprego desemprego e inatividade Sendo assim a diferença entre trabalho e emprego não foi útil somente para a sociologia do emprego feminino De maneira geral foi a partir da atividade feminina que se trabalhou a distinção teórica entre trabalho e em prego uma vez que esse é um dos temas que mais do que os outros obri gou a sociologia do trabalho a se abrir para o campo do emprego porque o problema do acesso ao mercado de trabalho é uma das chaves e essa ques tão não é realmente tratada se nos detemos na análise das situações de tra balho stricto sensu embora enriquecida da análise do trabalho doméstico O acesso ao emprego e a capacidade de permanência no mercado de tra balho não são há muito tempo alguns dos pivôs da distinção entre mas culino e feminino A repartição sexuada das formas de emprego não é hoje uma das linhas de clivagens essenciais entre homens e mulheres O estatuto que ter um emprego fornece não é o centro das relações de poder entre ho mens e mulheres Nesse sentido a abertura ao emprego signifi ca uma mudança do epi centro da análise não se trata unicamente de pensar na articulação entre profi ssional e doméstico mas de se deter no estudo das relações entre ativi dade e inatividade e no interior da atividade nas passagens entre emprego e desemprego precariedade e estabilidade emprego de tempo integral e subemprego Rogerat e Senotier 1997 Maruani 2000 Isso contribui para reintroduzir no debate sobre o emprego e o desem prego uma terceira rúbrica que os especialistas em mercado de trabalho tendem a esquecer apagar ou recusar a inatividade E então a reconsi derar um certo número de noções que pensávamos simples e estabelecidas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 89 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 89 18102009 192533 18102009 192533 90 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER O pleno emprego por exemplo dos Trinta Gloriosos não se construiu graças à inatividade feminina O que nos prometem para o século XXI não está se defi nindo em função do um impasse silencioso do subemprego fe minino O desemprego também A taxa de desemprego constitui a úni ca medida do não emprego Onde traçar a fronteira entre desemprego e inatividade forçada Mais do que qualquer outro o desemprego feminino convidanos a uma releitura do conjunto de situações de não trabalho e a uma reconsideração do conceito de desemprego O desemprego é dessa forma uma área como diversas outras nas quais a análise das diferenças de sexo contribui para a reconstrução dos paradig mas das Ciências Humanas Desemprego Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Flexibilidade Pre carização social Trabalho o conceito de BouillaguetBernard Patricia GauvinAyel Annie e Outin JeanLuc Femmes au tra vail prospérité et crise Paris Economica 1981 294p Coletivo Le sexe du travail structures familiales et système productif Grenoble PUG 1984 301p Maruani Margaret Reynaud Emmanuèle Sociologie de lemploi 2ed Paris La Décou verte Repères 1ed 1993 3ed atualizada 2001 122p Maruani Margaret Travail et emploi des femmes Paris La Découverte Repères 1ed 2000 2ed atualizada 2003 124p Michon François Segrestin Denis Coords Lemploi lentreprise et la société Débats EconomieSociologie Economica Paris 1990 301p Rogerat Chantal Senotier Danièle Lenchaînement des emplois précaires et du chômage in Béatrice Appay e Annie ThébaudMony Coords Précarisation sociale travail et santé Paris IRESCOCNRS Actions scientifi ques fédératives de lIRESCO 1997 p34155 Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Etnicidade e nação Danielle Juteau Durante cerca de vinte anos pesquisadoras feministas em sua maioria voltaramse para os debates sobre etnia nação e sexogênero Um duplo objetivo perpassa seus trabalhos 1 examinar a maneira como se entrecru Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 90 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 90 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 91 zam e se articulam o gênero a etnia a nação e também a raça 2 apreen der a relação específi ca das mulheres com o grupo étnico e com a nação Ora esses debates são indissociáveis da defi nição desses conceitos Etnicidade O conceito de etnicidade é recente Remonta a 1942 quando os nor teamericanos Lloyd Warner e Paul Lunt o utilizam em seus célebres tra balhos sobre Yankee City 1941 e 1942 A etnicidade é aqui uma carac terística que a exemplo da idade do sexo e da religião modifi ca todo o sistema social que por sua vez é modifi cado por este último Ao lado dessa defi nição que é inclusiva encontrase uma concepção mais restrita do ter mo pois segundo vários autores o grupo dominante não constitui propria mente um grupo étnico Com efeito o termo grego ethnikos remete etimo logicamente aos gentios aos infi éis e portanto aos outros Foi somente nos séculos XVIII e XIX que o termo étnico reapareceu para designar uma especifi cidade ligada à raça ou à nação Sollors 1986 Se nos países colonizadores como a França e a Inglaterra os cientistas evitavam abordar um objeto que foi por muito tempo racializado lembre mos que o termo etnia no discurso colonial remete à ideia de raça o estudo das relações étnicas experimenta na América do Norte um impulso considerável a partir do começo do século XX Às abordagens primordia listas e frequentemente essencialistas fundamentadas na descrição de tra ços culturais estáticos e imóveis sucederamse a partir do fi m dos anos 60 análises mais centradas no aspecto relacional Estas últimas consideram a etnicidade uma expressão de interesses comuns ou o refl exo de antagonis mos econômicos ou ainda o sistema cultural ou a forma de interação social Poutignat StreiffFenart 1995 A partir de então a etnicidade passa a ser concebida como fl uida e cons truída no interior de relações desiguais é uma relação social que possui uma face externa a relação com outrem e uma face interna a relação com uma história e com uma origem comuns Juteau 1999 Os laços que unem os membros de um grupo étnico servem para fundar a comunidade nacional que se caracteriza pela presença de um Estado ou de um projeto que vise seu estabelecimento Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 91 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 91 18102009 192533 18102009 192533 92 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Nação Há muito tempo o conceito de nação também é objeto de múltiplas con trovérsias teóricas e políticas Se os debates que opõem diversos pensadores de orientação marxista como Otto Bauer e Karl Kautsky pertencem a um outro século a defi nição de nação continua sendo contestada Enquanto perduram os debates entre marxistas e não marxistas a nação segundo os autores supõe acepções diferentes realidade subjetiva ou objetiva forma ideológica ou forma política moderna comunidade de destino comunidade imaginária ou comunidade imaginada Anderson 1991 Os trabalhos mais recentes recusam igualmente toda defi nição substan cialista que faça da nação uma entidade real Rejeitam tanto a abordagem essencialista fundada na crença na existência determinante de raízes e ori gens como as novas concepções modernistas e construtivistas fundamen tadas na industrialização na modernização no desenvolvimento desigual no aumento de redes de comunicação e transporte ou em qualquer outro fator integrativo do Estado moderno que engendre a nação Antes seria ne cessário segundo Rogers Brubaker 1996 debruçarse sobre a nação como categoria cognitiva e sociopolítica nationhood e como evento contingente nationness8 colocando assim a ênfase no próprio contexto relacional Enfi m interrogamonos também sobre o valor dos diversos modelos na cionais naturalista e organicista voluntarista e político Schnapper 1991 aos quais se somou há trinta anos uma concepção pluralista e multicultu ral de Estadonação Gênero e sexo As pesquisas sobre as relações homensmulheres tiveram uma evolução semelhante no sentido de que se deixou o exame de seus atributos distinti vos para se estudar a relação social A análise se deslocou do estudo do sexo como variável independente o sexo biológico como fonte das diferenças observadas entre homens e mulheres e da comparação entre os papéis mas culinos e femininos para se ocupar do gênero como construto social e da 8 Em português as palavras inglesas nationhood e nationness possuem como correspondente mais aproximado nacionalidade que no entanto não apresenta a distinção de sentidos pro porcionada pelos sufi xos ingleses hood e ness NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 92 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 92 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 93 aquisição da masculinidade e da feminilidade Muito utilizado nos meios anglosaxônicos esse conceito se vê retomado por aquelas Butler 1990 que hoje rejeitam a ideia de uma ligação obrigatória entre sexo e gênero em que cada sexo pode escolher o gênero que lhe convém Outras abordagens materialistas examinam a apropriação do trabalho das mulheres de seus corpos e sua individualidade O desnudamento do sexismo Guillaumin 1978 essa relação constitutiva da classe dos homens e da classe das mulheres revela que as categorias de sexo não são dadas mas construídas É o gênero que cria o sexo e não o inverso A heterogeneidade da categoria mulheres Buscando desconstruir a homogeneidade da categoria mulheres e le var em consideração sua diversidade de situações interesses e identidades as teóricas feministas introduzem em suas análises outras dimensões so ciais como classe e raça às quais foram acrescentadas as de etnicidade e nação Se os debates dos anos 70 foram centrados principalmente na França e na GrãBretanha nos interesses divergentes das mulheres da burguesia e do proletariado em seguida se ocuparam principalmente no meio anglófo no da oposição entre mulheres brancas e mulheres de cor A partir dos anos 80 feministas negras e dos países colonizados tacham de essencialismo o feminismo dominante praticado por mulheres brancas Este postularia uma feminilidade partilhada por todas as mulheres mascarando assim as diferenças de estatuto econômico e político e até os antagonismos que as separam O feminismo pósmoderno aprofundou essa crítica no fi m dos anos 80 Ocultando frequentemente as relações sociais fundadoras das ca tegorias de sexo ele reprova tanto nas feministas materialistas como nas diferencialistas o fato de obrigatoriamente basearem a categoria mulhe res no compartilhamento de características biológicas ou culturais A articulação das relações sociais classe gênero etnicidade nação e raça Esses trabalhos examinam entre outros aspectos a articulação do se xismo e do racismo nas sociedades escravagistas e coloniais mas também Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 93 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 93 18102009 192533 18102009 192533 94 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER nas situações muito contemporâneas e desiguais da imigração e do siste mamundo Eles analisam aí as desigualdades que separam as mulheres nos planos econômico político cultural e ideológico Numerosas pesquisas frequentemente do tipo qualitativo comparam o trabalho remunerado e não remunerado de mulheres de cor e imigrantes com o das brancas e nati vas e avaliam suas respectivas trajetórias socioeconômicas Enquanto certos autores se debruçam sobre o próprio processo de catego rização outros como Arthur Brittain e Mary Maynard 1984 lembram que o sexismo o racismo e o classismo são formas de opressão que embora pos suam histórias diferentes nem por isso deixam de agir de forma interdepen dente Também é necessário absterse de traçar paralelos entre essas opres sões e de lhes fazer uma simples soma aritmética para adotar um paradigma multidimensional que enfatiza suas interrelações A dinâmica das relações de sexo num contexto institucional a família por exemplo variaria se gundo se estudem casais brancos e negros da burguesia ou do proletariado Quanto ao que diz respeito às polêmicas entre os que insistem na exis tência de um só sistema de relações sociais que incluam gênero etnicidade e classe Anthias YuvalDavis 1992 e aqueles que defendem a existência de sistemas analiticamente distintos e interdependentes Hall 1986 elas ainda não encontraram resposta Esse debate não deixa de lembrar aquele que opunha sobretudo na França as feministas marxistas às materialistas Enquanto as primeiras davam ênfase principalmente à relação das mulheres com as situações de produção capitalista as segundas procuravam teorizar o fundamento ma terial específi co da opressão e da exploração das mulheres As bases e as consequências dessa diferença teórica são concretas e operam no plano po lítico Quando reconhecemos a existência de sistemas distintos de relações sociais somos levados a procurar o fundamento de cada opressão de classe sexo ou etnicidade Tal tentativa permite entrever os fundamentos mate riais que sustentam as categorias sociais resgatar seus interesses comuns e encarar apesar das diferenças bem reais as bases de uma ação coletiva As coalizões de mulheres em favor do aborto e contra a pobreza da mesma forma que a colaboração de grupos feministas para sustentar mulheres vio lentadas em tempos de guerra de um lado e outro da fronteira étnica reco nhecem implícita ou explicitamente a existência de um sistema distinto de relações sociais que lastreia seus interesses comuns Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 94 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 94 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 95 Seja como for a orientação teórica que se impõe é fundamentada na construção de categorias sociais e engloba a maneira como se imbricam di versos processos de diferenciação e hierarquização sociais Hierarquização e diferenciação sociais O lugar das mulheres nas relações de sexo engendra sua relação especí fi ca na produção e na reprodução da etnicidade Como primeiras respon sáveis pela socialização dos recémnascidos as mulheres contribuem no interior de uma relação de manutenção corporal afetiva e intelectual de se res humanos para a humanização e a etnização destes últimos JuteauLee 1983 A relação das mulheres com a etnicidade passa antes de tudo por sua contribuição específi ca e exigida à reprodução biológica e cultural do gru po étnico ou nacional Essa contribuição da mesma maneira que as sevícias de que são objeto em tempos de paz como em tempos de guerra inscre vese em relações sexistas de modo que a classe dos homens exerce controle sobre a classe das mulheres sobre seu trabalho e sobre seu corpo As moda lidades da relação das mulheres com a etnicidade diferem todavia segundo elas pertençam a um grupo étnico dominante ou dominado A imbricação dessas relações se manifesta diversamente A família e a maternidade são colocadas no centro do discurso nacionalista que defen de a pureza da raça e a homogeneidade do grupo A representação das mulheres que está no coração do imaginário nacional serve para demar car as fronteiras e defi nir a identidade do grupo A questão das mulheres se vê utilizada para comparar e avaliar diversos grupos étnicos Ainda que as mulheres participem das lutas de liberação nacionais elas permanecem frequentemente privadas dos direitos da cidadania Enfi m a concepção da feminilidade é indissociável da construção da identidade étnica ou nacional Varikas 1998 como mostra a defi nição de englishness no período colonial O reconhecimento das relações de sexo funda a crítica da visão andro cêntrica e essencialista que há muito tem caracterizado o campo das relações étnicas Com isso abre caminho para novas refl exões sobre a constituição das coletividades étnicas e nacionais e sobre as relações de aliança entre mu lheres no estabelecimento de uma política dita transversal e transnacional Kaplan Alarcon Moallem 1999 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 95 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 95 18102009 192533 18102009 192533 96 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Diferença dos sexos teorias da Dominação Família Maternidade Movimentos feministas Religiões Sexo e gênero Violências Brubaker Rogers Nationalism reframed Nationhood and the National Question in the New Europe Cambridge Cambridge University Press 1996 202p Guillaumin Colette Sexe race et pratique du pouvoir Lidée de Nature Paris Côté femmes Recherches 1992 241p JuteauLee Danielle La production de lethnicité ou la part réelle de lidéel Sociologie et sociétés 1983 v15 n2 p3954 Sollors Werner Beyond Ethnicity Consent and Descent in American Culture Nova York Oxford Oxford University Press 1986 294p Varikas Eleni Sentiment national genre et ethnicité Tumultes 1998 n11 p8799 YuvalDavis Nira Gender and Nation Londres Sage 1997 157p Traduzido por FRANCISCO RIBEIRO SILVA JÚNIOR Família AnneMarie Devreux Contra o modelo único de família A crítica feita pela sociologia feminista das conceituações de família não conduziu a uma defi nição de família mas antes à contestação da ideia de um modelo único e estático de família Esta é um campo um espaço social cujo funcionamento não se pode compreender a não ser levandose em conta ar ticulações com outros campos em particular a esfera do trabalho profi ssio nal o que inúmeros sociólogos têm feito Todavia convém sublinhar que em seu exame crítico da família a Sociologia é tributária das contribuições de outros trabalhos feministas de historiadoras etnólogas economistas ou ainda da crítica feminista do Direito A problemática das relações sociais de sexo aplicada ao estudo das ar ticulações da família com o resto da sociedade tem permitido encontrar respostas que fazem hoje o objeto família ser certamente estudado pela sociologia das relações sociais de sexo mas também que deixe de ser um objeto a privilegiar mais do que qualquer outro Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 96 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 96 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 97 a contribuição das relações sociais de sexo Nos anos 60 e 70 o modelo do sociólogo norteamericano Talcott Par sons exerceu uma ascendência considerável sobre a Sociologia francesa a despeito da distância que Andrée Michel 1972 toma em relação a ele Para ele a família é uma instituição cuja dupla função é a reprodução e a sociali zação Essa função se organiza por meio de uma divisão de papéis que re pousaria sobre as naturezas masculina e feminina A família conjugal dois cônjuges e seus fi lhos constituiria a única família verdadeira e os outros modelos não seriam mais do que disfunções ou desvios Ora a contribuição das mulheres para a produção econômica e sua pre sença no mercado de trabalho constituem precisamente desvios em relação à norma da repartição entre o papel instrumental masculino do pai pro vedor da renda da família e encarregado das relações desta com a sociedade e o papel expressivo feminino da esposamãe que se consagra à vida do méstica e aos cuidados das pessoas exercendo sua função afetiva no âmbito da família A partir de sua especialização exclusiva em matéria de reprodu ção toda dimensão econômica seria excluída da família As feministas materialistas do começo dos anos 60 apontaram o desafi o econômico e político que há na negação da importância da contribuição so cial das mulheres ao colocar a ênfase na produção doméstica Para Cristine Delphy 1998 esta é assegurada gratuitamente pela exploração econômica da mulher pelo homem e se apoia na instituição do casamento Ela é objeto do modo de produção doméstica que constitui a base econômica do pa triarcado Retomando o caminho aberto por Andrée Michel 1974 pesquisadoras cada vez mais numerosas e organizadas em redes constatam a impossibili dade de se visualizar a verdadeira situação social das mulheres a partir de modelos tradicionais de análise da família Assim elas constroem objetos de pesquisa que levam simultaneamente em conta as dimensões familiar e profi ssional da atividade das mulheres em suas vidas cotidianas como em suas trajetórias profi ssionais Para apreender a dinâmica da mudança social convém fazerse uma comparação entre homens e mulheres e estudar con juntamente as práticas e representações Coletivo 1984 Sob as infl uências cruzadas do estruturalismo nas abordagens etnológi cas do parentesco das teorias da reprodução social das análises marxistas da Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 97 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 97 18102009 192533 18102009 192533 98 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER produção econômica e das relações de classes e das primeiras desconstru ções feministas citadas anteriormente desenhase uma corrente sociológica em torno do projeto de articular produção e reprodução É nesse contexto que se consolida por algum tempo a noção de estruturas familiares que constrói a família como objeto dinamizado pelas relações sociais de classe e de sexo pela consideração das duas dimensões temporais diacrônica e sin crônica e pela ampliação da família além da família conjugal às relações intergeracionais O desafi o é fazer aparecer ao mesmo tempo a contribuição socialmente invisível das mulheres para a vida econômica e a divisão sexual do trabalho que as afeta prioritariamente na esfera da reprodução Herdeira dessa noção de estrutura familiar a abordagem de Marie Agnès BarrèreMaurisson 1992 entende a família como a unidade que permite a regulação do trabalho pela divisão forçada entre trabalho pro fi ssional e doméstico entre os cônjuges em que as formas familiares são as modalidades concretas desse agenciamento famílias com um só membro ativo com dois membros ativos Em Bernadette BawinLegros 1988 Françoise Battagliola 1988 ou Annette Langevin 1982 o tema da arti culação entre estruturas econômicas e estruturas familiares é retomado em particular sob o ângulo das temporalidades da vida familiar Negociação conjugal e negação da opressão das mulheres Se os modelos familiares levam em conta a diversidade das confi gu rações e das práticas familiares e uma relativa regularidade dessas práticas eles são criticados Cahiers de lAPRE n5 1986 por se referirem implici tamente ao padrão da família conjugal parsoniana e porque ao tomar as modalidades de acordo entre os cônjuges sobre um projeto familiar como critério de sua tipologia eles mascaram as relações sociais de sexo Além disso quando a pesquisa sobre essas relações dá ênfase à necessária consi deração simultânea das práticas e das representações vêse aparecer tipolo gias da família centradas essencialmente nos discursos dos atores e em suas interpretações das normas Tornase crucial interrogar as conceituações da realidade ressituandoas no conjunto das relações sociais que as veem nascer uma vez que se trata de desfazer as confusões cientifi camente mantidas entre relação social de sexo e relação conjugal Combes 1989 As teorizações da negociação conjugal Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 98 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 98 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 99 em torno da troca de capitais entre cônjuges partem do princípio implícito de que há uma equivalência de recursos entre homens e mulheres na família e na sociedade De Singly 1987 Decorre que as relações entre os sexos na família são assimiladas a uma busca de poder na qual o poder das mulhe res de escolher as modalidades pelas quais efetuam suas tarefas econômicas teria natureza e peso equivalentes aos dos homens que descarregam sobre elas o trabalho doméstico Ao enfatizar a dimensão contratual das relações conjugais e fazer da família um espaço de livre negociação de capitais es sas teorizações negam a força das relações sociais de sexo e da opressão das mulheres Fazendo eco à ampliação do campo da família para as relações entre ge rações trazendo à luz as solidariedades no seio das linhagens femininas e o estudo das transmissões de modelos de atividades a noção de redes familiares atenua as carências analíticas do conceito de família nuclear Num contexto demográfi co de crescimento das taxas de divórcio e de novas uniões ela adquire todo o seu sentido no momento em que depois das famí lias monoparentais Lefaucheur 1988 impõese o fenômeno das recompo sições familiares MeuldersKlein Théry 1993 e cresce em força na cena sociojurídica o problema das formas de institucionalização da família fora do casamento Théry 1998 Com a inserção do Pacto Civil de Solidarieda de PACS no Direito francês é a própria defi nição de família natureza das ligações e sexo dos parceiros que se encontra novamente em questão Defi nição e políticas da família O contexto de crise econômica e desemprego vem igualmente colocar em questão a família como rede de solidariedades Longe de servir de au xílio infalível ao Estado de bemestar social que se apoia tradicionalmente nela e no trabalho que nela asseguram as mulheres para limitar seus en cargos a família como os indivíduos que a compõem sofre os efeitos da precarização do emprego vendo multiplicaremse as razões para retardar as etapas de constituição do grupo familiar assim como os riscos de sua fragmentação Se as comparações europeias das políticas familiares convidam a relacio nar a questão da evolução das relações entre os sexos na família à da demo cratização das sociedades Commaille Martin 1998 os critérios adotados Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 99 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 99 18102009 192533 18102009 192533 100 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER para defi nir a família constituem verdadeiros desafi os à gestão pelo Estado das relações sociais de sexo e da divisão sexual do trabalho Gauthier Hei nen 1993 Ao utilizar por exemplo o número de crianças para delimi tar o montante das ajudas ou as modalidades de inserção das mulheres no mercado de trabalho a fi m de selecionar as famílias com direito a elas as políticas familiares constituem ao mesmo tempo políticas de emprego que visam regular a participação das mulheres na esfera produtiva sendo que o Auxílio Parental para a Educação APE aparece como um novo avatar de tal interdependência J Martin 1998 Por outro lado a crítica feminista do direito da família iniciada há vin te anos O Dhavernas 1978 pouco a pouco trouxe à luz as contradições inerentes ao estado das relações de força entre os sexos Assim fundamen tandose no interesse da criança e na igualdade de direitos entre pai e mãe a partilha da autoridade parental signifi ca a confi rmação da divisão sexual do trabalho na família enquanto os direitos de cada um não estão ligados à responsabilização cotidiana igualitária dos deveres da parentalidade Com bes e Devreux 1994 Devemos lembrar também que é sob a pressão do movimento feminista que o Direito evoluiu no domínio da vida privada por exemplo pelo reconhecimento do estupro conjugal Sociologia da família ou sociologia das relações sociais de sexo Atualmente no debate científi co temse assistido ao longo dos últimos quinze anos à reemergência da sociologia da família como campo científi co institucionalizado Esse fenômeno pode ser analisado inicialmente como um clássico jogo de poder próprio do campo científi co onde a demarcação de um território em nome de alguns nesse caso os homens constitui uma apropriação simbólica Mas podese também perguntar se não seria uma escolha científi ca a de fundar novos enclausuramentos disciplinares De vreux 1995 Assim a conclusão da obra coletiva La famille létat des sa voirs A família o estado dos saberes De Singly 1991 aparece afi nal como um manifesto em prol dessa nova Sociologia quando François de Singly adianta que negar a utilidade de uma sociologia da família revela da parte dos pesquisadores a nostalgia do fato social total Ora partindose do ponto de vista de que as relações sociais de sexo animando com sua dinâ mica e com seu antagonismo a totalidade dos espaços sociais podem ser Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 100 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 100 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 101 vistas como um fato social total podese então colocar como já o fazia a in trodução do número de LAnée sociologique sobre a família 1987 a ques tão da validade epistemológica da noção de família Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Educação e socialização Materni dade Patriarcado teorias do Políticas sociais e familiares Tecnologias da reprodução humana Trabalho doméstico Violências BawinLegros Bernadette Familles mariage divorce LiègeBruxelas Pierre Mardaga 1988 213p Chabaud Danielle Problématiques de sexes dans les recherches sur le travail et la fa mille Sociologie du travail 1984 n384 p34658 Coletivo Le sexe du travail Structures familiales et système productif Grenoble PUG 1984 320p Commaille Jacques Les stratégies des femmes Travail famille et politique Paris La Dé couverte Textes à lappui série Sociologie 1993 188p Tahon MarieBlanche La famille désinstituée Introduction à la sociologie de la famille Otawa Les Presses de lUniversité dOttawa Sciences sociales 1995 230p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Feminilidade masculinidade virilidade Pascale Molinier e Daniel WelzerLang Na Sociologia e Antropologia dos sexos masculinidade e feminilida de designam as características e as qualidades atribuídas social e cultural mente aos homens e às mulheres Masculinidade e feminilidade existem e se defi nem em sua relação e por meio dela São as relações sociais de sexo marcadas pela dominação masculina que determinam o que é considera do normal e em geral interpretado como natural para mulheres e homens A virilidade se reveste de um duplo sentido 1 os atributos sociais as sociados aos homens e ao masculino a força a coragem a capacidade de combater o direito à violência e aos privilégios associados à dominação daquelas e daqueles que não são e não podem ser viris mulheres crian ças 2 a forma erétil e penetrante da sexualidade masculina A virilidade nas duas acepções do termo é aprendida e imposta aos meninos pelo grupo Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 101 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 101 18102009 192533 18102009 192533 102 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER dos homens durante sua socialização para que eles se distingam hierarqui camente das mulheres A virilidade é a expressão coletiva e individualizada da dominação masculina Virilidade homofobia e dominação das mulheres Nos anos 70 as sociólogas feministas Mathieu 19731991a Guillau min 1978 mostraram que em relação às qualidades físicas sociais e cultu rais os papéis sociais que cada sociedade atribui aos sexos são confundidos com as diferenças ligadas à fi siologia da reprodução quando se fala dos ho mens e do masculino designase o conjunto geral da humanidade o uni versal o normal e dáse um lugar específi co às mulheres e ao feminino As pesquisas feministas retomaram inicialmente a questão da defi nição masculina da feminilidade Disso resultou em seguida que a masculinida de também se tornou um problema Os trabalhos mais recentes mostram como a virilidade se impõe pela educação masculina naquilo que Daniel WelzerLang 1994 retomando os trabalhos do antropólogo Maurice Go delier 1982 chama de a casa dos homens os espaços onde os meninos são educados por seus pares para a violência o pátio da escola os clubes desportivos o Exército bares etc Ela estrutura as relações entre homens de acordo com a imagem hierarquizada das relações homensmulheres Aos verdadeiros homens aqueles que mostram em tudo e sobre tudo uma imagem e comportamentos considerados viris os privilégios da honra do poder da colocação das mulheres à disposição doméstica e sexual Aqueles que não conseguem adotar uma atitude viril ou a quem os outros homens negam a virilidade os fracos os designados como homossexuais os mais jovens etc embora permanecendo dominantes diante das mulheres so frem agressões e violências dos outros homens inclusive violências sexuais A homofobia que se pode defi nir como a discriminação contra as pes soas que mostram ou a quem se atribuem certas qualidades ou defeitos do outro gênero é uma forma de controle social que se exerce sobre todos os homens desde os primeiros passos da educação masculina Homofobia e dominação das mulheres são os componentes da virilidade WelzerLang et al 1994 Para as mulheres a homofobia menos estudada assegura no entanto as mesmas funções a produção e a reprodução das fronteiras de gênero que Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 102 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 102 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 103 reifi cam a dominação masculina e a visão bicategorizada de gênero Sob o pretexto da feminilidade as mulheres devem escolher uma aparência que assinale sua interiorização dos códigos estéticos pensados pelos homens e adotar diante deles uma atitude submissa e não concorrencial quanto ao po der A lesbofobia designa a estigmatização da sexualidade entre mulheres que escapam ao controle masculino Virilidade mulheridade e divisão sexual do trabalho Numa abordagem diferente aquela da psicodinâmica do trabalho con siderase igualmente a virilidade como a alavanca da dominação masculina mas se procura saber como e sob que condições os homens e as mulheres aderem às relações sociais de sexo em vigor ou delas se libertam Partese do princípio de que os homens e as mulheres não interiorizam o gênero de maneira mecânica mas que seus desejos e expectativas estão em confl ito com as determinações sociais da diferença dos sexos Dejours 1988 A análise desse confl ito está centrada na investigação da relação subjetiva com o trabalho Nessa perspectiva masculinidade e feminilidade designam a identidade sexual a capacidade de habitar e amar seu próprio corpo e de desfrutar dele nas relações eróticas enquanto isso virilidade e mulheridade designam o conformismo em relação às condutas sexuadas exigidas pela divisão social e sexual do trabalho A adesão dos homens aos critérios da virilidade é in terpretada antes de tudo como uma defesa contra o sofrimento e o medo engendrados no trabalho Nas profi ssões masculinas os homens ocultam o sofrimento gerado pe las imposições da organização do trabalho graças à efi cácia simbólica de um sistema de condutas e representações centradas na virilidade que associam o pertencimento ao grupo dos homens ao domínio infalível do real As ma nifestações do sofrimento medo dúvida confl ito moral compaixão etc são imputadas às mulheres como a marca da sua inferioridade natural Uma parte da identidade sexual dos homens se constitui portanto no cam po social em detrimento das mulheres Ao aderirem à ideologia defensiva da virilidade os homens têm mais chance de obter sucesso social do que tentando defender sua singularida de masculinidade Mas paradoxalmente o homem virilizado é frágil Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 103 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 103 18102009 192533 18102009 192533 104 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Seu ego carece de espessura e fl exibilidade psíquica não sabendo suportar nem elaborar o sofrimento resiste mal aos remanejamentos de seu status social desemprego aposentadoria feminização da profi ssão assim como aos encontros amorosos Assim a virilidade aparece como uma passa gem obrigada para alcançar o masculino e ao mesmo tempo como um risco maior de fechamento para o desenvolvimento da identidade sexual Dejours 1988 Para as mulheres existe uma forte contradição entre a construção da fe minilidade e a integração no mundo do trabalho Por um lado as mulheres que desejam fazer uma carreira valorizada devem aderir ao sistema de de fesa viril desprezando ao mesmo tempo seu próprio sexo Por outro lado diferentemente dos homens as mulheres não construiriam suas competên cias mas disporiam de um fundo natural de dons e qualidades femininas destreza minúcia paciência empatia etc Assim uma grande parte de sua inteligência deixa de ser reconhecida e os serviços femininos são pres tados pelas mulheres como normais Mulheridade é o neologismo que designa a alienação da subjetividade fe minina no estatuto da submissão A mulheridade inclui o que NicoleClaude Mathieu 1991a designa com a expressão consciência dominada ao lhe atribuir o conteúdo psicológico de uma defesa contra o défi cit crônico de reconhecimento do trabalho feminino Atitudes compulsivas de limpeza entre donas de casa e auxiliares de enfermagem a idealização do dom de si entre as enfermeiras inibição teórica ou superinvestimento do campo entre pesquisadoras A mulheridade não é portanto simétrica à virilida de Enquanto esta pode servir de identidade de empréstimo naquilo que é promessa de valorização a mulheridade remete apenas à depreciação e à negação de si Estudos clínicos Molinier 1997 com coletivos de enfermeiras permiti ram mostrar a positividade da relação entre feminilidade e trabalho numa relação com o mundo diametralmente oposta à da virilidade A feminili dade não se resume ao estatuto de submissão e abnegação graças ao reco nhecimento pelas enfermeiras da compaixão como sofrimento gerado pela atividade de cuidar e como valor moral para orientar e julgar seu trabalho As habilidades discretas qualifi cadas como femininas sorriso paciência etc implicam na verdade uma soma de experiências habilidades astúcia e cooperação entre enfermeiras Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 104 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 104 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 105 Identidade sexual e determinações sociais Hoje a dominação masculina não é mais contestada pelas Ciências So ciais Colocase então com mais acuidade a necessidade de desconstruir as categorias de ação e de pensamento que articulam feminilidade e mas culinidade dominação das mulheres e alienação dos homens virilidade e violência masculinas esfera pública e esfera privada Comparado ao desen volvimento das pesquisas feministas o número reduzido de homens que se defi nem como prófeministas e participam desse trabalho crítico não facilita a necessária pluralidade dos debates e confrontos Os estudos atuais tendem a coligar dominação sobre as mulheres e coações à virilidade impos ta aos homens a situar o lugar das violências masculinas contra as mulheres e o das violências masculinas sofridas pelos homens em sua socialização a ligar dominação masculina contra as mulheres e expressões do heteros sexismo contra aqueles e aquelas que não aceitam a heteronormatividade gays lésbicas bissexuais transgêneros WelzerLang 2000 Enfi m a heterossexualidade poderia parecer uma forma de opressão sui generis o assédio sexual das mulheres no trabalho constituiria uma for ma radicalizada da heteronormatividade Mas seria lamentável reduzir a heterossexualidade à sua captura pela virilidade social Nem as Ciências Sociais nem a Psicanálise têm até o momento uma teoria constituída das relações entre a identidade sexual e suas determinações sociais Molinier 2000 Para a Psicanálise o gênero continua naturalizado na economia erótica De outro lado e salvo exceção Hirata e Kergoat 1988 as teorias sociais tendem a reduzir a identidade sexual ao comportamento imposto pelo gênero deixando de lado o desejo assim como a subjetividade o que implica uma dupla cegueira conduzindo ao mesmo risco o de confundir a alienação das formações sociais do desejo com sua realização singular A desconstrução das ideologias defensivas de sexo abre um novo espaço para pensar a heterossexualidade de outra forma como o espaço enigmático de um corpo a corpo arriscado cujo destino singular feliz ou infeliz está ligado à nossa capacidade coletiva de fazer evoluir as relações sociais de sexo Diferença dos sexos teorias da Dominação Sexo e gênero Técnicas e gênero Violências Dejours Christophe Adolescence le masculin entre sexualité et société Adolescence 1988 n6 p89116 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 105 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 105 18102009 192533 18102009 192533 106 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Guillaumin Colette Sexe race et pratique du pouvoir Lidée de nature Paris Côté femmes Recherches 1992 241p Hirata Helena Kergoat Danièle Rapports sociaux de sexe et psychopathologie du tra vail in Christophe Dejours Dir Plaisir et souffrance dans le travail Éditions de lAOCIP 1988 t2 p13163 Mathieu NicoleClaude Hommeculture et femmenature LHomme 1973 XIII3 p10113 Reed in NC Mathieu Lanatomie politique Catégorisations et idéologies du sexe Paris Côtéfemmes Recherches 1991a p4361 Molinier Pascale Autonomie morale subjective et construction de lidentité sexuelle lapport de la psychodynamique du travail Revue internationale de psychosociologie 1997 vIII n5 p5362 WelzerLang Daniel Dutey Pierre Dorais Michel Dirs Lhomophobie la face ca chée du masculin La peur de lautre en soi du sexisme à lhomophobie MontréalParis VLBLe Jour 1994 p1391 Traduzido por FRANCISCO RIBEIRO SILVA JÚNIOR Flexibilidade Nathalie Cattanéo e Helena Hirata A fl exibilidade é apresentada desde o começo dos anos 80 como uma noção altamente polissêmica em primeiro lugar em referência às mudan ças na organização do trabalho e da produção a fábrica fl exível em se guida em referência ao mercado de trabalho fl exibilidade do emprego e do trabalho enfi m ao tempo de trabalho trabalho de meio período em tempo parcial anualização do tempo de trabalho repartição e redução da jornada de trabalho Ela tem uma conotação ideológica que mascara sob um termo neutro ou mesmo positivo fl exibilidade adaptação organiza ção do tempo práticas de gestão da mão de obra em que fl exibilidade e precariedade andam frequentemente lado a lado no mercado de trabalho Como o termo mundialização ela apresenta uma mistura de descrição prescrição e predição Pollert 1989 p75 e tem infl uenciado desde os anos 80 políticas econômicas e os direitos trabalhistas na Europa ibidem A fl exibilidade do emprego ligada ao desenvolvimento daquilo que se tem chamado desde meados dos anos 70 de formas particulares ou Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 106 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 106 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 107 atípicas de emprego foi obtida inicialmente pelo desenvolvimento de diversas modalidades de trabalho temporário de contratos de duração determinada CDD e da terceirização Em seguida pelo progresso desde os anos 80 do trabalho em tempo parcial desenvolvimento espetacular na França principalmente a partir de 1992 com a instauração de políticas incitativas O tempo parcial envolve em 2003 INSEE pesquisas sobre o emprego mais de 299 das mulheres ativas empregadas tratase de uma modalidade essencialmente feminina de emprego 80 são ocupados por mulheres Os diversos contratos subvencionados pelo governo como o contrato emprego solidário CES atingem também uma mão de obra majoritariamente feminina A fl exibilidade tem permitido reduzir o custo do trabalho e aumentar a competitividade das empresas Organismos como a OCDE distinguem por um lado a fl exibilidade interna ou qualitativa ou funcional a polivalência dos operários no espaço da fábrica sua capacida de de se adaptar a uma produção baseada na variedade e de outro lado a fl exibilidade quantitativa ou numérica interna ou externa que designa a possibilidade de fazer variar o volume do emprego ou a duração do tempo de trabalho A ruptura do espaço de trabalho trabalho em domicílio tele trabalho desenvolvimento da terceirização concorre também para o de senvolvimento da produção dita fl exível Em todos esses casos o emprego da fl exibilidade se apoia na divisão sexual do trabalho Da fábrica fl exível ao trabalhador móvel Em meados dos anos 80 acelerase na Europa o surgimento de novas características da organização e do desenvolvimento industriais chamadas por Michael Piore e Charles Sabel 1984 de especialização fl exível Esse modelo está fundado num máximo de maleabilidade das organizações tec nologias empregos e trabalho O debate sobre a fl exibilidade acompanha os meandros dessas idas e vindas entre mercado de trabalho organização da empresa e resposta dos trabalhadores que caracterizam a implantação de todo novo modelo produtivo Podese periodizar esse debate em dois momentos nos anos 80 a refl e xão sobre a fl exibilidade da produção foi desenvolvida principalmente por economistas considerando aspectos como equipamentos programáveis polivalência da mão de obra formações ditas qualifi cadas integração Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 107 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 107 18102009 192533 18102009 192533 108 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER de tarefas menor divisão do trabalho etc As características propriamente técnicas da produção fl exível chamaram a atenção dos pesquisadores Se aspectos negativos relacionados ao emprego foram evocados foramno principalmente por sociólogos que realizam pesquisas sobre a mão de obra feminina Maruani e Nicole 1988 Nos anos 90 o debate se orientou prin cipalmente para a fl exibilidade dita externa ou quantitativa Pesquisas mais recentes apontaram que a fl exibilidade quantitativa determina a que custo e segundo que modalidades a fl exibilidade funcional poderá se de senvolver nas empresas Jetin 1998 p404 Análises dos novos tipos de emprego que se desenvolveram massivamente a partir desse período con tribuíram para esclarecer pontos como a retomada da questão da legislação do trabalho a desregulação da jornada e do tempo de trabalho a insufi ciên cia dos salários o desenvolvimento do subemprego e o recuo da cobertura social As consequências da fl exibilidade do emprego sobre a saúde dos tra balhadores também têm sido objeto de pesquisas de sociólogos especialis tas em psicodinâmica do trabalho ergonomistas médicos e inspetores do trabalho Appay e ThébaudMony 1997 Hoje a fl exibilidade continua a se estender na Europa a partir das dire trizes do Livro branco da Comissão Europeia 1994 retomadas no Conselho de Essen 1994 na reunião de cúpula de Amsterdã e na primeira reunião de cúpula europeia sobre o emprego em Luxemburgo 1997 cf Meulders in Maruani 1998 Como sublinha Danièle Meulders tudo deve ser fl exí vel nos mercados de trabalho europeus os trabalhadores suas formações seus horários seus tempos de trabalho seus custos salariais e os sistemas produtivos que os ocupam ibidem p239 O Estado e a empresa têm desempenhado um papel maior nesse processo adotando políticas de des regulamentação e a redução de encargos sociais e fi scais Enfi m a redução da jornada de trabalho e a passagem para as 35 horas a divisão do trabalho e a anualização suscitam hoje debates na França mas também em outros países europeus A anualização9 adotada na França a partir da aprovação da lei quinquenal no 931313 de 1993 relativa ao em prego e à formação vincula o cálculo do tempo de trabalho ao ano como referência e permite portanto fazer variar o tempo de trabalho segundo a situação da empresa e o volume da demanda Uma outra modalidade a in 9 Corresponde grosso modo ao banco de horas no Brasil NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 108 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 108 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 109 trodução de horários ditos atípicos que se desenvolvem principalmente em setores feminizados como o comércio ou o trabalho das telefonistas induz a uma perda total do controle do tempo de trabalho no tempo de vida das assalariadas Prévost e Messing 1997 A fl exibilidade é sexuada Um número muito grande de tipologias da fl exibilidade surgiu nos úl timos quinze anos Boyer 1986 Michon 1987 Volkoff 1987 Du Terre 1989 Coriat 1990 J Gadrey e N Gadrey 1991 etc Dossiês importantes foram consagrados regularmente às controvérsias suscitadas por essa ques tão em revistas edições de Travail n12 1987 n20 1990 e do Cahiers français n231 1987 assim como o n2 de Mouvements 1999 etc Uma das tipologias mais exaustivas a de Robert Boyer 1986 p237 já continha as formas de fl exibilidade ligadas à empresa à produção e à qualifi cação e as formas ligadas ao emprego dos trabalhadores sua mobilidade seus sa lários e sua cobertura social No entanto essas tipologias são quase sempre neutras e não consideram as diferenças entre homens e mulheres Ora a fl exibilidade do trabalho repousa sobre níveis variáveis mas sem pre presentes de rigidez nos comportamentos sociais Entre esses fatores de rigidez a divisão sexual do trabalho é central Paradoxalmente ela pos sibilita a organização fl exível do trabalho o trabalho assalariado das mulhe res principalmente sob a forma de trabalho em tempo parcial compulsório e o trabalho assalariado dos homens possibilitado pelo trabalho doméstico das mulheres Pesquisas realizadas desde os anos 80 por Margaret Maruani e Chantal Nicole 1988 e desenvolvidas em seguida por Jane Jenson 1989 Sylvia Walby in Maruani 1998 Danièle Meulders in Maruani 1998 Ra chel Silvera 1999 entre outras têm demonstrado largamente o caráter sexuado da fl exibilidade Danièle Kergoat 1992a p801 mostra que há justaposição entre taylorismo setor feminilizado e fl exibilidade setor masculinizado ou a existência de duas formas de fl exibilidade formações profi ssionais e polivalência para os homens formas de emprego atípicas para as mulheres De fato a fl exibilidade dita interna polivalência rotação integração de tarefas trabalho em equipe está mais relacionada à mão de obra masculina enquanto a fl exibilidade dita externa é obtida sobretudo Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 109 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 109 18102009 192534 18102009 192534 110 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER pelo recurso à mão de obra feminina empregos precários trabalho de tem po parcial horários fl exíveis Esta aumenta as desigualdades nas condições de trabalho emprego e saúde segundo os sexos A implantação dessa divisão sexual é possível na medida em que há uma legitimação social é em nome da conciliação da vida familiar com a vida profi ssional que tais empregos são propostos às mulheres A diferença sa larial também é socialmente legitimada pela representação usual do salário feminino como renda complementar Trabalho fl exível resistências e obstáculos sociais As mulheres são as principais destinatárias das políticas atuais de or ganização do tempo de trabalho e de criação e desenvolvimento de em pregos fl exíveis e precários Assim a questão dos obstáculos ou dos limi tes sociais à busca da fl exibilidade e da reatividade das empresas é central Tratase de obstáculos engendrados pelos movimentos sociais e de limites impostos pelas políticas públicas para controlar as consequências da fl e xibilidade do trabalho sobre o conjunto dos assalariados Por um lado a resistência dos movimentos operário e sindical do movimento social das mulheres por exemplo contra o tempo parcial imposto ou dos desem pregados constitui um obstáculo ao processo de fl exibilização do trabalho De outro a política social e o Direito social e do trabalho podem estabe lecer limites ao desenvolvimento acentuado das práticas de fl exibilidade A expressão formas ilegais da fl exibilidade utilizada na obra Políticas sociais JoinLambert et al 1997 p169 é um bom exemplo dessa con cepção jurídica dos limites a serem adotados pelas políticas públicas que regulamentam práticas de gestão O papel das legislações do trabalho não é signifi cativo quando se examina o trabalho em tempo parcial observase que há uma considerável diversidade de estatutos e graus de valorização desse tipo de emprego segundo a legislação do trabalho em vigor con forme o país escolha reversibilidade proteção de direitos sociais salário etc Essas situações de fl exibilidade controlada contrastam com a implan tação selvagem da fl exibilidade do trabalho em certos países em via de desenvolvimento Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Mundialização Precarização social Saúde no trabalho Trabalho o conceito de Trabalho doméstico Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 110 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 110 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 111 Boyer Robert Ed La fl exibilité du travail en Europe Paris La Découverte 1986 330p Gadrey Jean Gadrey Nicole La gestion des ressources humaines dans les services et le com merce Flexibilité diversité compétitivité Paris LHar mattan 1991 223p Jenson Jane The Talents of Women the Skills of Men Flexible Specialization and Women in Stephen Wood Ed The Transformation of Work Londres Unwin Hy man 1989 p14155 Kergoat Danièle Les absentes de lhistoire Autrement Mutations 1992a n126 p7383 Maruani Margaret Dir Les nouvelles frontières de linégalité Hommes et femmes sur le marché du travail Paris MageLa Découverte 1998 285p cf artigos de Danièle Meulders Rachel Silvera Sylvia Walby Prévost Johanne Messing Karen Quel horaire what schedule La conciliation travail famille et lhoraire de travail irrégulier des téléphonistes in Angelo Soares Dir Stra tégie de résistance et travail des femmes MontréalParis LHarmattan 1997 p25170 Traduzido por FRANCISCO RIBEIRO SILVA JÚNIOR História sexuação da Michelle Perrot Por sexuação da História devese entender a consideração no e pelo relato histórico das relações entre os sexos Como esse relato tem sido or dinariamente escrito no masculino a expressão história das mulheres é a mais frequentemente utilizada para designar essa iniciativa que no entanto se pretende relacional desde o início recusando toda separação em benefício de uma releitura geral muito mais ambiciosa A noção norteamericana de gender gênero surgida desde o fi m dos anos 60 em Antropologia se difundiu na História uma dezena de anos mais tar de O termo se impôs pouco a pouco na França não sem difi culdade ligada sobretudo a razões de vocabulário A partir de então passou a ser emprega do de maneira relativamente corrente pelo menos nos meios científi cos Por oposição ao sexo biológico o gênero designa as relações dos sexos construí das pela cultura e pela História Ele designa a diferença dos sexos em sua historicidade expressão que aliás as fi lósofas Françoise Collin Geneviève Fraisse Michele Le Doeuff etc tendem a preferir tanto a relações sociais de sexos como a gênero Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 111 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 111 18102009 192534 18102009 192534 112 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Da exclusão à visibilidade histórica Lembraremos que contrariamente ao inglês que possui dois termos para designar aquilo que acontece story e o relato que fazemos disso History o francês tem apenas um Histoire História o que complica ainda mais as coisas como se o relato fosse consubstancial às realidades de que ele pretende dar conta e que o transborda por todos os lados De Michel Foucault a Paul Ricoeur a epistemologia contemporânea sublinhou esse ponto O relato histórico é olhar escritura artefato não artifício certamen te mas escolha intimamente ligada ao presente do escritor O esquecimen to de que as mulheres têm sido objeto não é uma simples perda de memó ria acidental e contingente mas o resultado de uma exclusão consecutiva à própria defi nição de História gesto público dos poderes dos eventos e das guerras Excluídas da cena pública pelas funções ditadas pela natureza e pela vontade dos deusesde Deus as mulheres não podiam aparecer nela a não ser como fi gurantes mudas penetrando por arrombamento ou a título de exceção as mulheres excepcionais heroicas santas ou escandalosas relegando à sombra a massa das outras mulheres Na Antiguidade greco romana como na Idade Média cristã o silêncio da História sobre as mulhe res é impressionante Mulheres que sabemos sobre elas interrogase Georges Duby na conclusão de um de seus livros 1991 em que entre nobres e clérigos indaga o destino delas Quando a História se constitui como disciplina acadêmica e saber insti tuído Michelet parece romper esse silêncio Mas ao assimilar as mulheres à natureza e os homens à cultura ao atribuir às mulheres um papel maternal normativo ele reproduz a ideologia dominante aquela que no mesmo mo mento consolida a Antropologia nascente de Morgan e Bachofen O posi tivismo de fi m de século centrado na história política expulsa essas velei dades sexuadas Os fundadores da Escola dos Anais Marc Bloch e Lucien Febvre e em seguida a segunda geração Fernand Braudel Ernest La brousse enfatizam o econômico e o social instâncias assexuadas A classe aparece então como uma categoria de análise das mutações sociais muito mais pertinente e dinâmica que a família instância de reprodução ligada à natureza até mesmo à ordem moral De maneira semelhante trinta anos antes a Sociologia de Émile Durkheim orientada pelo fato social havia suplantado a escola de Frédéric Le Play e as monografi as de família da Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 112 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 112 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 113 Sociedade de Economia Social que tinham o mérito de atribuir grande des taque ao papel das mulheres na vida doméstica Como acontece frequente mente o confl ito das sociologias recobriu escolhas políticas e ideológicas a República contra a Igreja perfeitamente justifi cadas mas que podiam ter igualmente efeitos perversos no domínio da pesquisa Neste caso a classe recalca a família como a produção identifi cada com o único produto físico oculta o doméstico e o operário metalúrgico mineiro da construção civil suplanta a dona de casa no simbolismo do fazer O aparecimento de uma História das mulheres portanto uma História sexuada se produz no início dos anos 70 Três séries de fatores contribuí ram para isso 1 os científi cos principalmente a infl uência da Antropolo gia e da demografi a histórica que reintegram a família e o corpo na trama da História enquanto a crise dos grandes paradigmas explicativos favorece a fragmentação da História falemos de esmigalhamento e a eclosão de uma grande diversidade de objetos a consideração de novos atores a criança os jovens e de novas intrigas a vida privada por exemplo 2 os sociológicos a presença crescente de mulheres na universidade como estu dantes e em seguida como docentes portadoras de interrogações novas 3 os políticos o movimento de liberação das mulheres cuja primeira preocu pação não era fazer a História induziu a curiosidades efeitos até mesmo à vontade de operar uma ruptura epistemológica nas Ciências Humanas e Sociais Todas as disciplinas são de alguma forma atingidas e a História disciplina no entanto viril por sua sociologia e seus valores especialmente na França em razão do forte componente histórico da identidade nacional passa a sêlo a partir do começo dos anos 70 Cursos seminários e coló quios contribuem para isso enquanto mestrados e teses constituem uma acumulação primitiva de que a História das mulheres no Ocidente Duby Perrot 19911992 é uma primeira cristalização e legitimação História das mulheres história do gênero Em 25 anos desenvolveuse um campo multipolar que já tem sua ge nealogia suas evoluções seus debates suas próprias tensões Num primei ro momento dominava uma história no feminino preocupada em tornar as mulheres visíveis em busca de traços perdidos e partindo de seus papéis tradicionais maternidade prostituição vida cotidiana de seus lugares Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 113 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 113 18102009 192534 18102009 192534 114 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER do tanque ao convento e de suas imagens Uma história da cultura das mulheres no sentido pleno do termo em que o corpo e o silêncio ou a pala vra das mulheres eram os epicentros Depois passouse a uma atitude pro blematizada em torno das noções de representações de públicoprivado de poderes de violência de gênero Muitos debates testemunham a vitalidade dessa pesquisa sobretudo em torno da noção de gênero na qual se critica por vezes o fato de dissimu lar sob o pretexto de diferença dos sexos um subreptício abandono das próprias mulheres As historiadoras italianas entre outras por exemplo a equipe da revista Memória são especialmente atentas a essa preocupação de aprofundar uma cultura das mulheres maternidade via mística que está longe de ter desvendado seus segredos Outras ao contrário temem os perigos de um silencioso aprisionamento no entresi das mulheres Um cé lebre artigo dos Annales Dauphin 1986 Cultura e poder das mulheres Ensaio de historiografi a fezse o eco desses debates assim como o colóquio organizado na Sorbonne em 1992 Mulheres e História Duby e Perrot 1993 A historiadora italiana Gianna Pomata se pronunciou na ocasião por uma História das mulheres contra uma História do gênero que lhe parece escapar de seu objeto dando espaço excessivo à análise dos discursos e das representações em detrimento de uma verdadeira História social das mulheres Essa é também a opinião de AnneMarie Sohn 1998 que esti ma que o gênero não acrescenta grande coisa Do lado oposto Christine Fauré ou Michèle RiotSarcey tomam partido de uma História política do gênero Enquanto isso a maioria das historiadoras pensa que os dois pontos de vista não são exclusivos e defende uma História das mulheres visitada constantemente pela preocupação do gênero Como estudar espaços femi ninos convento tanque pensão lojas descrever práticas femininas do enxoval à escrita da correspondência sem recolocálas numa sociedade governada pela diferença dos sexos Entender a historicidade dessa dife rença em todos os níveis de discursos atividades espaços do privado e do público político e doméstico do social e da economia é ou deveria ser a preocupação de uma História das mulheres resoluta e simultaneamente descritiva e problemática social cultural e política Assim também a insistência sobre o poder a dominação masculina Bourdieu 1998 não corre o risco de silenciar sobre os contrapoderes a ação e o pensamento das próprias mulheres as dominadas são capazes dis Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 114 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 114 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 115 so quer se trate de ações individuais espontâneas ou organizadas O feminismo em razão de sua falta de estruturas fi xas não é nem um sindi cato nem um partido e se aproxima mais dos novos movimentos sociais dos quais poderia ser um dos protótipos mas também em razão de sua carga crítica é o alvo de uma depreciação que tenta demonizálo ou ridi cularizálo mas é sobretudo o objeto de um esquecimento que é a forma mais sutil da renegação Tratase de uma maneira de negar que as mulhe res façam parte da mudança de sua condição termo muito passivo que será devido apenas à modernização científi ca técnica política e cultural das relações sociais nas quais as relações entre os sexos seriam em suma apenas uma modalidade enquanto em muitos casos são justamente seus motores A História das mulheres sem dúvida não operou a ruptura epistemo lógica esperada por suas iniciantes entre elas a equipe da História das mulheres no Ocidente Seu reconhecimento acadêmico é frágil e suas es truturas institucionais ainda bastante insufi cientes Sua transmissão par ticularmente no ensino primário e secundário e sua continuação não são asseguradas No entanto ela se impôs e doravante é impossível uma his tória sem as mulheres No seio das Ciências Sociais e Humanas com as quais ela é mais que nenhuma outra profundamente solidária em razão da polissemia do objeto mulheres ela tem contribuído para a renovação das perspectivas e dos questionamentos Perspectivas porque não é pos sível fazer abstração da condição social nem do horizonte geográfi co nem das migrações das mulheres do mundo que de resto desenvolvem sua his tória desde que atinjam certo nível de desenvolvimento e de democracia Questionamentos porque a dimensão sexuada dinamita o universal belo objetivo mas frágil realidade interroga o político o doméstico a criação o poder o valor e no fi nal das contas as próprias bases do pensamento Entre as pistas mais frutuosas constam a refl exão sobre a virilidade que interessa a um número crescente de pesquisadores a história das homossexualida des e principalmente das lésbicas que estão longe de ter na História das mulheres o lugar que deveriam em vista do papel que desempenharam no último terço do século Nos saberes nos poderes na cidade a diferença dos sexos se anuncia como uma das maiores questões do século XXI A História das mulheres sem dúvida se insere nessa perspectiva Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 115 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 115 18102009 192534 18102009 192534 116 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Diferença dos sexos teorias da Família Movimentos feministas Públicoprivado Sexo e gênero Dauphin Cécile et al Culture et pouvoir des femmes Essai dhisto riographie Annales marçoabril 1986 n2 p27193 Fraisse Geneviève Les femmes et leur histoire Paris Gallimard Folio 1998 614p Perrot Michelle Les femmes ou les silences de lHistoire Paris Flammarion 1998 491p Scott Joan Gender and the politics of History Nova York Columbia University Press 1988a 242p O principal artigo da autora foi traduzido nos n3738 do Cahiers du GRIF Le genre de lHistoire apresentado por Françoise Collin com o título Le genre une catégorie utile de lanalyse historique p12555 Sohn AnneMarie Thélamon Françoise Dirs Une histoire sans les femmes estelle pos sible Paris Plon 1998 427p Thébaud Françoise Écrire lhistoire des femmes FontenaySaintCloud ENS Éditions 1998 226p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Igualdade Eleni Varikas Princípio fundador dos sistemas políticos universalistas a igualdade é porém uma das promessas mais inacabadas da modernidade O primeiro artigo da Declaração dos Direitos Humanos os homens nascem e permanecem livres e iguais em seus direitos é simultaneamente um enunciado declarativo que remete a uma compreensão política e um enunciado descritivo que se refere a uma herança natural da humanidade O potencial subversivo da ideia de igualdade seus paradoxos e suas antino mias são relacionados à ambiguidade do direito natural do qual ela é a base Como direito igual de cada um para fazer o que é potencialmente ca paz o direito natural é a hipótese inicial que permite aos seres humanos instituir uma ordem política que possibilite realizar essa aposta Se os direi tos iguais precisam ser declarados é porque não existem fora da vontade hu mana que os declara a igualdade não é uma realidade empírica mas pode vir a sêlo devido a uma ordem política instituída pelos cidadãos e cidadãs que se comprometem a substituir os privilégios de nascimento pelo princípio de uma lei geral para todos conhecida por todos e elaborada por todos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 116 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 116 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 117 Mas ao mesmo tempo o primeiro artigo da Declaração tem uma dimen são descritiva que remete a um dado apresentado como natural e supra histórico Compreendido como um fato mais do que como um imperativo como uma herança natural da humanidade em vez de uma possibilidade a ser realizada pela ação a igualdade tende a se desvincular da construção política que garantiria sua aplicação para se tornar o álibi ideológico de uma nova ordem desigual Situandose no campo prépolítico da natureza a ideia de igualdade aparece desarmada face a uma concepção dos direitos que depende das qualidades naturais de cada indivíduo ou grupo social e se torna um campo privilegiado de legitimação da dominação As antinomias da construção do gênero Encontrando inspiração nas Ciências Naturais o determinismo do pa trimônio biológico reformulou a partir do século XIX a noção aristocrática de herança permitindo conciliar o princípio da abolição dos privilégios de nascimento com a persistência dos privilégios de sexo cor classe e cultura O fato empírico de que alguns indivíduos não nascem livres e iguais assim como seu acesso diferenciado aos direitos poderá ser atribuído a uma nature za diferente reintroduzindo uma incomparabilidade radical entre condições sociais percebidas então não mais como desiguais mas como diferentes Impasse teórico essa construção da igualdade marca profundamente a organização política e social das relações de dominação entre homens e mulheres organização política que desde o século XVII faz da sujeição das mulheres ao chefe de família o fundamento natural de uma ordem po lítica que pretende obter sua legitimidade do consentimento de indivíduos iguais O postulado da superioridade natural de todos os homens sobre todas as mulheres que subentende a instituição da família e a distinção públicoprivado na comunidade política moderna não construiu somente uma categoria de indivíduos inferiores ele reformula a antiga diferencia ção hierárquica dos sexos em termos de diferença antropológica Fato da natureza inacessível à ação humana Locke Rousseau a dominação de sexo não é somente legitimada ela se torna invisível como dominação Essa invisibilidade permite tratar as mulheres como uma categoria homogênea cujos direitos e deveres não obedecem a uma lei geral elaborada para e por todos mas a regras específi cas válidas unicamente para essa categoria Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 117 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 117 18102009 192534 18102009 192534 118 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Este regime de exceção Delphy 1995 que exclui em bloco as mulheres do estatuto de sujeito político tornase por sua vez princípio organizador de uma sociedade fundada e concebida conforme a divisão sexual do trabalho das competências dos espaços e dos poderes As antinomias da construção do gênero nos últimos dois séculos são também as antinomias na concepção histórica de igualdade Antinomia entre o direito natural que fundamenta a comunidade política na igual liberdade de cada um em fazer tudo o que estiver potencialmente ao seu alcance e a lei natural que torna essa liberdade dependente de uma defi nição autoritária da natureza e suas normas Se o primeiro permite conceber a igualdade como a articulação necessária entre a diversidade das necessida des e a multiplicidade das vontades que instituem a comunidade a segunda associa a igualdade à identidade construindo a diferença como desvio de uma norma defi nida pela correlação de forças Como membro de um grupo diferente o sujeito feminino pode ser excluído da igualdade dos direitos em nome da sua diferença que o torna incomparável a todos os outros Como alguém abstratamente semelhante e portanto comparável a todos os outros ela só pode usufruir da igualdade na medida de sua semelhança com o grupo dominante os homens Dilemas da igualdade Construído em oposição à diferença real ou imaginária das mulheres em relação aos homens o princípio da igualdade tem nos últimos séculos pontuado a luta pela libertação das mulheres confrontadas com uma esco lha impossível Por um lado o pleno reconhecimento político e social das mulheres signifi ca que elas devem se adaptar à norma masculina tornar se como homens Por outro lado sua demanda serem admitidas como são numa organização social que leve em conta suas diferenças em relação aos homens por exemplo a maternidade o cuidado das crianças reforça o regime de exceção do qual elas são objeto e as condena a uma incorpora ção específi ca como mulheres ou seja homens imperfeitos Esse paradoxo que Carole Pateman 1988 chama de o dilema de Wollstonecraft está hoje no centro de uma crise da igualdade tanto como modelo conceitual para se pensar a libertação das mulheres quanto como uma estratégia efi caz para defender os seus direitos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 118 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 118 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 119 Tendo o homem como medida e denominador comum de compara ção a concepção liberal da igualdade de tratamento tornase alvo de críticas que destacam as diferenças entre mulheres e homens Para as correntes da diferença sexual que veem entre homens e mulheres uma diferença onto lógica reprimida ou negada pela modernidade ocidental a igualdade dos sexos é um conceito e uma política patriarcal que visa homologar as mu lheres conforme o princípio e a lógica do masculino Irigaray 1989 Cava rero 1990 Mas o princípio liberal de igualdade também é contestado por aqueles que analisam a diferença em termos de dominação ignorando as diferen tes situações nas quais a dominação de sexo situa os homens e as mulheres o tratamento igual tende a perpetuar e até mesmo a reforçar a posição das mulheres como dominadas Isso leva muitas vezes a opor a noção de igualdade à de equidade ou de justiça que exige tratar da mesma maneira os que são semelhantes e de forma diferente os que não o são A equidade é no entanto cheia de ambi guidades tanto quanto ou mais a noção de igualdade A justiça à qual ela se refere é uma justiça natural que depende de uma interpretação do que é naturalmente devido a cada um De Aristóteles a Leibniz passando pelo pensamento medieval sua conotação qualitativa tratar cada um de ma neira específi ca remete à justiça distributiva de um mundo hierárquico a equidade tem por objetivo a felicidade mas uma felicidade que como sublinhava Leibniz corresponde à sorte conferida a cada um dos mortais a sorte do senhor ou do escravo do empresário ou do trabalhador Ao con trário da igualdade que apesar de seu componente quantitativo inclui em seu campo conceitual a utopia de uma abolição das hierarquias a equidade busca a melhoria mais do que a transformação do status quo ela tende a privilegiar a satisfação das necessidades das mulheres como elas surgem de sua posição de dominadas na divisão sexual do trabalho na dependência Reconceituação da polaridade identidadediferença Os debates teóricos e políticos desenvolvidos durante as últimas três dé cadas sobre as estratégias mais convenientes para lutar contra a desigualdade contribuíram para evidenciar a dominação de sexo ao mesmo tempo expu seram os impasses da polaridade identidadediferença na qual fi cou preso Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 119 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 119 18102009 192534 18102009 192534 120 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER o princípio de igualdade As oposições tratamento igualtratamento dife renciado igualdadeequidade fazem parte do problema que se supõe que elas devam resolver na medida em que considerem evidente a validade das categorias e dos conceitos cujos pressupostos implícitos e signifi cados domi nantes se desenvolveram como armas para relações sociais antagônicas A persistência da desigualdade apesar das políticas sociais antidiscriminató rias e de inclusão sua capacidade de se revestir de formas novas e inéditas orientam a refl exão feminista ao reexame crítico das categorias e das ferra mentas conceituais com as quais compreendemos a desigualdade dos sexos Tomando como exemplo a igualdade profi ssional os pressupostos im plícitos das políticas sociais concebem de maneira geral a discriminação e a exclusão como fenômenos que se superpõem à estrutura do trabalho operando como efeitos de barragem que se trata de eliminar com leis an tidiscriminatórias salário igual comparable worth10 ou com medidas que promovem a igualdade de oportunidades ações positivas recrutamento preferencial valorização das qualifi cações femininas e favorecem a parti cipação das mulheres no trabalho assalariado e a dessegregação dos ramos e das qualifi cações valorizadas Se como indicam os processos de feminizaçãodesvalorização e a reor ganização das hierarquias no trabalho a discriminação de sexo simples mente não funciona como efeito de barragem mas sim como princípio organizador da sociedade aqui do trabalho assalariado e doméstico tra tase da mesma lógica sexuada que constrói de modo interdependente os ofícios dos homens como qualifi cados e os das mulheres como subqualifi cados Essa análise não desmerece a importância estratégica das políticas de igualdade ela implica sua reorientação repensando as medidas de não discriminação não somente numa perspectiva de igualdade dos sexos mas ao mesmo tempo de uma perspectiva de transformação das instituições e das estruturas produtoras das hierarquias de sexo Nessa perspectiva a oposição igualdadediferença perde sua pertinên cia tratase de reconceituar essas duas noções não se trata mais de saber se deveríamos adaptar as mulheres a um modelo masculino de trabalho ou criar um modelo feminino adaptado às suas necessidades Esses dois modelos fazem parte da mesma concepção de trabalho que pressupõe 10 Em inglês no texto valor comparável NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 120 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 120 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 121 a existência de um trabalhador sem amarras nem obrigações domésticas dono da sua força e do seu tempo de trabalho que se supõe que ele possa vender livremente porque pressupõese que ele disponha da força e do tempo de trabalho de uma mulher Inserir as políticas de igualdade numa perspectiva de erosão desse mo delo tem uma importância estratégica quando este defi ne o acesso diferen ciado das mulheres aos direitos sociais e assim ao exercício efetivo da cida dania A divisão entre os que têm direitos les ayant droits e os assistidos que esta defi nição do trabalhador implica condena a grande maioria das mulheres a escolher entre depender dos homens ou depender do Estado É a fi m de romper com os automatismos de uma lógica dessa espécie que teó ricas feministas como Carole Pateman propõem separar os direitos sociais do trabalho reinventando um denominador comum que ao satisfazer as necessidades imediatas dos homens e das mulheres favoreça a autonomia das mulheres permitindo que elas mesmas defi nam suas necessidades A integração das estratégias de igualdade numa perspectiva de trans formação reafi rma a dimensão declarativa da igualdade como projeto a ser levado a cabo A igualdade não é mais um princípio formal mas um meio concreto de garantir para cada pessoa a possibilidade de fazer tudo que está potencialmente ao seu alcance o que é devido a cada um se torna um de safi o político desafi o de um combate para a autodefi nição das necessidades e das vontades A igualdade garante tudo simultaneamente a o direito das mulheres em serem pessoas como todas as outras mediante a proibição de qualquer discriminação que as constitua como grupo à parte b a pos sibilidade para as mulheres de serem reconhecidas e aceitas como são isto é com suas diferenças em relação aos homens enfi m e sobretudo o direito de cada mulher de exprimir as particularidades que fazem delas in divíduos diferentes de todos os outros mulheres e homens o acesso à sua dignidade como indivíduo e de sua contribuição única e insubstituível à vida em comum Cidadania Coexistência teorias da os sexos Diferença dos sexos Dominação Edu cação e socialização Movimentos feministas Universalismo e particularismo Bock Gisela James Susan Eds Beyond Equality and Difference Citizenship Feminist Politics and Female Subjectivity LondresNova York Routledge 1992 210p Cavarero Adriana Il modelo democratico nellorizonte della diferenza sessuale Democra zia e diritto 21990 238p Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 121 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 121 18102009 192534 18102009 192534 122 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Collin Françoise Le sujet et lauteur ou lire lautre femme Cahiers du CEDREF 1990 n2 p920 Delphy Christine Égalité équivalence et équité la position de lÉtat français au regard du droit international Nouvelles questions féministes 1995 v16 n1 p558 Irigaray Luce Le temps de la différence Paris Librairie générale française Le livre de poche 1989 123p Pateman Carole The Sexual Contract Stanford University Press 1988 264p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Lesbianismo JulesFrance Falquet A defi nição de lesbianismo é inseparável de um contexto histórico e cultural específi co Com efeito práticas sexuais eou amorosas entre mu lheres provavelmente existiram e existem nas mais diversas culturas Tes temunhamno particularmente as estátuas e os mitos da India prévédica Thadani 1996 assim como a expressão poética na primeira pessoa tanto de Safo na Ilha de Lesbos como de Audre Lorde nos Estados Unidos que se declarava guerreira negra e lésbica Lorde 1982 Entretanto cada sociedade constrói de maneira diferente essas práticas e suas denominações e sua visibilidade varia de maneira considerável Mathieu 1989 1991a O caso das Amazonas erigidas como símbolo mas fora da História mos tra como o sistema de pensamento androcêntrico remete o lesbianismo ao limbo do mito Foi mais recentemente e apenas no mundo ocidental que começamos a atribuir às pessoas uma personalidade específi ca baseada nas suas opções sexuais Algumas historiadoras da homossexualidade citam práticas de tribadismo no início do século XVIII Bonnet 1995 as inter venções da Medicina e da psiquiatria desde a metade do século XIX sobre as invertidas e do terceiro sexo Lhomond 1991 antes que a sexolo gia e a literatura tivessem fi xado o personagem da lésbica na Europa da década de 1920 Tamagne 2000 Na grande maioria dos casos as práticas lésbicas são tanto condenadas como negadas nas culturas patriarcais Dessa forma são pouco estudadas e frequentemente deformadas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 122 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 122 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 123 Na França atualmente é importante distinguir dois termos homosse xualidade e lesbianismo O primeiro diz respeito a um conjunto de prá ticas sexuais amorosas afetivas entre duas ou mais pessoas do mesmo sexo Se essas práticas individuais são de conhecimento público conduzem frequentemente à estigmatização e à repressão Entretanto elas podem se tornar públicas de maneira voluntária quando a pessoa sai do armário resultando em identidades orgulhosamente reivindicadas Assim como o termo gay homossexualidade possui o incoveniente de colocar no mes mo plano as opções dos homens e das mulheres pois os homens e as mulhe res que vivem essas escolhas são estruturalmente situadosas em espaços bastante diferentes no sistema patriarcal Além de poder ser utilizado ou reivindicado para descrever práticas individuais de mulheres o termo lesbianismo se refere também a um conjunto de abordagens teóricas e movimentos sociais que problematizam essas práticas Globalmente no sentido político o lesbianismo pode ser considerado uma crítica em atos e um questionamento do sistema heteros sexual obrigatório de organização social Este se baseia na estrita divisão da humanidade em dois sexos fundamentos de dois gêneros obrigados a man ter relações desiguais de complementaridade no contexto de uma rígida divisão sexual do trabalho Nesse sentido o lesbianismo desestabiliza o sis tema dominante ao representar uma ruptura epistemológica fundamental e incitar uma profunda revolução cultural O movimento lésbico o movimento homossexual e o movimento feminista O lesbianismo como movimento social aparece no fi nal dos anos 60 no mundo ocidental e em diversas metrópoles do Sul numa atmosfera bastante revolucionária Desenvolvese vinculado à segunda onda do feminismo e ao movimento homossexual construído a partir das rebeliões de Sto newall em 1969 como resposta à provocação da polícia em bares homos sexuais hoje mundialmente célebres devido às manifestações de orgulho lésbico e homossexual ao estilo das paradas gay Entretanto as lésbicas não demoraram a criticar a misoginia o funcionamento patriarcal e os ob jetivos falocêntricos do movimento homossexual dominado pelos homens Armadas pela crítica feminista expõem publicamente suas discordâncias Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 123 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 123 18102009 192534 18102009 192534 124 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER e fundam suas próprias organizações como é o caso da Gouines Rouges na França Simultaneamente uma parte das lésbicas contribui de modo ativo para a construção do movimento de liberação das mulheres do qual as or ganizações lésbicas se consideram parte Entretanto diante da reticência do feminismo no momento de reivindicar o lesbianismo certas lésbicas come çam a buscar sua própria via Clef 1989 O fi nal dos anos 70 assiste à multiplicação das análises lésbicas Nos Es tados Unidos Adrienne Rich 1981 num artigo célebre denuncia a hete rossexualidade forçada como norma e a subsequente invisibilização do les bianismo Para ela existe um continuum lésbico entre todas as mulheres que evitam de uma forma ou outra os homens eou o sistema da heteros sexualidade para reforçar seus laços entre elas e partilham suas energias na luta contra o sistema patriarcal Dessa forma Rich se intala no pensamento revisitado e politizado da sororidade feminista Seguindo uma outra ordem de ideias desde 1978 a francesa Monique Wittig radicada nos Estados Unidos há anos afi rma a heterossexualidade como um regime político dotado de um sistema ideológico que ela chama de pensamento straight Wittig 1980 2001 Sua análise é vinculada ao feminismo materialista tendo em vista que ela retoma a noção de clas ses de sexos na qual as mulheres e os homens são considerados categorias políticas que não existiriam uma sem a outra Entretanto para Wittig as lésbicas não são mulheres tendo em vista que elas abandonam a lógica do pensamento straight O elemento central na análise não é tanto o patriar cado mas o sistema heterossexual Com isso Wittig abre espaço para um movimento lésbico autônomo e para um pensamento que sacode o femi nismo pelas bases Na França suas afi rmações alimentarão os confl ituosos debates já acesos no meio lésbico em torno de posições separatistas rela tivas às feministas heterossexuais Isso causará uma cisão política a partir de 1980 especialmente na revista Questions féministes O editorial do no 1 1981 da Nouvelles questions féministes apresenta esses debates Assim o lesbianismo político nasce das diferentes rupturas e das eventuais ten tativas de conciliação com o feminismo razão pela qual ele se apresenta sob formas variadas e às vezes misturadas 1 o lesbianismo feminista que criticando o heterofeminismo insiste na necessária solidariedade da clas se feminina Green 1997 Encontrase aqui a análise da lesbofobia como Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 124 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 124 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 125 uma arma contra todas as mulheres De fato focalizada nas maneiras e na aparência a lesbofobia defende interesses econômicos precisos no contex to de uma divisão sexual do trabalho Ela é utilizada por exemplo contra todas as mulheres de quaisquer opções sexuais que aspiram a profi ssões masculinas melhor remuneradas ou de poder e que podem ser acu sadas a qualquer momento de serem lésbicas e por isso condenadas a um verdadeiro ostracismo social Pharr 1988 2 o lesbianismo radical que retoma os trabalhos da francesa Colette Guillaumin sobre a sexagem Guillaumin 1978 1992 para expor progressivamente uma outra análi se da opressão das mulheres Para esta corrente as lésbicas escapam certa mente da apropriação privada dos homens mas não da apropriação coleti va o que as vincula à classe das mulheres Turcotte 1998 Causse 2000 3 o lesbianismo separatista teorizado desde 1973 nos Estados Unidos por Jill Jonston 1973 que frequentemente se traduz pela implantação de comu nidades lésbicas que ocupam fi sicamente um território Abrange diferentes tendências algumas francamente essencialistas outras atraídas pela devo ção às deusasmães e há ainda as que lutam pela criação de uma cultura lésbica Todos esses diferentes componentes conformarão o movimento das lés bicas em grupos tão diversos como o Oikabeth Mulheres guerreiras que abrem caminho e jogam fl ores nascido em 1977 no México as Les biennes de Jussieu que existem desde 1979 na França ou o coletivo Ayu quelén fundado em 1984 no Chile durante a ditadura Mogrovejo 2000 Esse movimento busca rapidamente formas de articulação internacional dentre os quais a Frente Lésbica Internacional criado em 1974 em Frank furt o ILIS Sistema de Informação Lésbico Internacional criado em 1977 em Amsterdã e desde 1987 todos os encontros lésbicofeministas latino americanos e caribenhos Os anos 80 são marcados pela multiplicação de revistas locais e arquivos lésbicos do México a Moscou passando pela Europa e o Canadá em partiular Québec com a revista Amazones dhier lesbiennes daujourdhui Amazonas de ontem lésbicas de hoje Diversidade das lésbicas De maneira simultânea aparece uma série de críticas à hegemonia do modelo lésbico e feminista branco ocidental e de classe média Enquanto Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 125 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 125 18102009 192534 18102009 192534 126 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER se desenvolvem as pesquisas sobre amizades românticas entre mulheres Fadermann 1981 uma outra história começa a ser escrita para chamar atenção para a contribuição das lésbicas proletárias na construção das co munidades lésbicas desde os anos 50 O papel das butchfem butch se re ferindo às lésbicas masculinas Triton 2000 tinha sido desfeito de uma só vez pelo feminismo que via nele uma reprodução alienada dos papéis masculinos e femininos Aqui ao contrário são reivindicados como uma maneira corajosa de tornarse visível e como uma busca erótica que afi rma a dimensão sexual do lesbianismo Lemoine e Renard 2001 Inclusive certas lésbicas reivindicam o termo dyke não somente para fugir da imagem soft e aceitável das lésbicas mas também por suas conotações populares como no passado fora o caso de Jules Também frequentemente proletárias as lésbicas negras e latinas dos Es tados Unidos começaram a criticar o racismo e o classismo do feminismo desde os anos 70 Algumas dentre elas como Barbara Smith fundam orga nizações autônomas como a Salsa Soul Sisters ou o Combahee River Col lective que misturam lesbianismo e feminismo Suas análises se estendem rapidamente à denúncia do racismo e do classismo no movimento lésbico Moraga e Anzaldúa 1981 Coletivo 1983 Para que suas próprias pala vras não sejam nem recusadas nem apropriadas elas criam suas próprias estruturas editoriais Lésbicas de origem asiática e autóctones integram rapidamente a luta das black lesbians Atualmente diversas lésbicas cri ticam a tendência universalista que projeta no conjunto das lésbicas uma leitura do lesbianismo e dos objetivos de luta tipicamente ocidentais e de classe média Certamente existem práticas sexuais entre pessoas com um corpo sexuado feminino em culturas tão diferentes como a do Zimbábue Lesoto Taiti Peru e Tailândia Wieringa 1999 Entretanto qualifi cálas de fora como práticas lésbicas é frequentemente uma simplifi cação re ducionista à qual se agrega uma legítima suspeita de póscolonialismo Da mesma forma organizações como a ILIS e a ILGA International Lesbian and Gay Association foram criticadas por sua tendência a exportar estraté gias de organização e ação sobretudo institucionais dos países do Norte para diversos países do Sul Mogrovejo 2000 embora tenham se esfor çado para levar em conta a diversidade das lésbicas Enfi m na França o Grupo do 6 de novembro fundado em 1999 reuniu pela primeira vez e Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 126 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 126 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 127 de maneira exclusiva lésbicas provenientes da migração passada ou pre sente da escravidão e da colonização que denunciam veementemente o silêncio ao qual o racismo do movimento lésbico quer condenálas Groupe du 6 novembre 2001 O lugar da sexualidade Enquanto uma parte das feministas norteamericanas se lança à explo ração da temática da sexualidade apresentada simultaneamente como fon te de prazer e de perigo para as mulheres Vance 1984 algumas lésbicas não hesitam em reivindicar um lesbianismo abertamente sadomasoquista pregando uma sexualidade fundada no diferencial de poder entre os dois parceiros Samois 1981 o que é rejeitado por diversas feministas Ou tras entretanto desenvolvem uma nova refl exão sobre a sexualidade que se basearia na hierarquização das sexualidades em que no pico da pirâmi de estaria a heterossexualidade monógama e procriadora Rubin 1984 Para essa perspectiva o objetivo político consiste em estabelecer uma aliança entre todas as sexualidades diferentes das quais o lesbianismo é somente um exemplo A partir de 1990 num clima pósmodernista a norteamericana Judith Butler e a italiana Teresa de Lauretis residente nos Estados Unidos iniciam uma nova leitura do gênero e da heterossexuali dade dando assim uma base teórica ao movimento queer Butler 1990 afi rma que o gênero seria performático fl uido e múltiplo o que permiti ria às mulheres e às lésbicas agir livremente com um registro identitário variado e mutante Os transgêneros travestis transexuais dragskings dragsqueens e até mesmo osas heterossexuais dissidentes viriam romper a trágica bipolaridade dos gêneros Somente após algumas décadas de existência do movimento lésbico é que hoje o lesbianismo afl ui de todas as partes cada vez mais complexo e variado contando mais ou menos abertamente com locais de socia bilidade e de lazer espaços multiculturais e artísticos uma literatura re presentativa e meios de comunicação próprios alguns espaços à margem da instituição universitária e redes políticas que se desenvolveram prin cipalmente no contexto de uma estratégia de visibilidade e identidade Todavia essa tendência comunitária foi criticada devido ao seu lado às Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 127 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 127 18102009 192534 18102009 192534 128 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER vezes enclausurador às vezes como expressão de um modelo gay muito in fl uenciado pelo movimento homossexual masculino e outras vezes como uma política reformista de institucionalização conduzindo à recuperação do movimento e à sua neutralização ou normalização A luta contra o HIV AIDS contribuiu para reforçar a organização das lésbicas aproximandoas do movimento homossexual misto Em pouquíssimos países ou cidades do Norte ou do Sul houve a conquista de legislações progressistas que proíbem a discriminação em função da orientação sexual ou que reconhecem a união entre mulheres e lhes concedem certas vantagens já consagradas nas uniões heterossexuais mesmo se questões relativas à adoção ou à procria ção permanecem problemáticas Na França o PACS foi obtido por meio de uma luta homossexual mista ao passo que a Coordenação Lésbica Na cional propõe uma lei específi ca contra a lesbofobia Realmente podemos falar de conquistas mas também de um progressivo processo de integração bastante distante das primeiras críticas radicais resumidas nos anos 70 pelo slogan das Radicais Lésbicas de Nova York Uma lésbica é o ódio de todas as mulheres concentrado em ponto de explosão Embora o lesbianismo tenha acompanhado a maior parte dos avanços da situação das mulheres essas evoluções não devem nos fazer esquecer que na maior parte dos paí ses e particularmente longe das grandes cidades o lesbianismo permanece um tabu perseguido punido de maneira severa e que pode simplesmente resultar em assassinato Diferença dos sexos teorias da Movimentos feministas Movimentos sociais Patriar cado teorias do Sexo e gênero Sexualidade Bonnet Marie Jo Les relations amoureuses entre femmes du XVIe au XXe siècle Paris Odile Jacob 1995 416p 1ed Un choix sans équivoque Paris Denoël Gonthier 1981 Butler Judith Gender Trouble Feminism and the Subversion of Identité Nova York Rout ledge 1990 172p Groupe du 6 novembre WarriorsGuerrières Paris Nomades Langues Editions 2001 125p Lorde Audre Zami a new spelling of my name Trumansberg Crossing Press 1982 256p Rich Adrienne La contrainte à lhétérosexualité et lexistence lesbienne Nouvelles questions féministes março 1981 n1 p1543 Wittig Monique La pensée straight Paris Balland 2001 157 p 1ed Questions fémi nistes 1980 n7 p4553 Traduzido por FRANCISCO RIBEIRO SILVA JÚNIOR Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 128 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 128 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 129 Linguagem científi ca sexuação da Evelyn Fox Keller Os conceitos científi cos se exprimem em sua maioria numa linguagem natural que não pode ser separada do contexto social em que está inserida As metáforas sexuadas na ciência fornecem um bom exemplo disso elas penetram a linguagem utilizada pelos cientistas e infl uenciam sua maneira de conceituar e construir os fenômenos naturais Em geral inconsciente a sexuação da linguagem científi ca dá forma ao pensamento e às ações dos cientistas e infl uencia suas análises e descrições dos fenômenos naturais E porque regra geral se pensa que essas análises constituem uma descrição neutra e objetiva do mundo natural a integração invisível de pressupostos sexuados na linguagem da ciência pode em contrapartida reforçar esses pressupostos na sociedade Não se trata de eliminar todas as imagens e me táforas da linguagem científi ca nem de tornálas independentes da lingua gem e da cultura um sonho impossível evidentemente mas de fazer compreender como mesmo sexuadas as metáforas podem ter numerosos e frequentes efeitos frutíferos sobre a ciência As metáforas e sua incidência As feministas ressaltaram a utilização de um vocabulário marcado pelas relações de gênero Para ilustrar esse propósito partirei de alguns exem plos cujas implicações são relativamente claras na leitura de textos científi cos para depois chegar a outros de incidência mais indireta Em todos esses exemplos as metáforas do gênero funcionam em duas direções como inva riavelmente é o caso das imagens sociais na ciência elas veiculam pressupos tos em nossas representações da natureza e ao fazer isso servem ao mesmo tempo para reifi car ou naturalizar crenças e práticas culturais Apesar de as dinâmicas desses dois processos serem inseparáveis numerosas femi nistas se concentraram no segundo evidenciando seu impacto habitual mente negativo sobre as mulheres eu me deterei sobre o primeiro pro cesso e a infl uência das metáforas sexuadas no curso da pesquisa científi ca Comecemos pelo lugar em que mulheres sexo e gênero têm todas as chances de se entrecruzar as análises antigas e atuais da Biologia da repro Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 129 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 129 18102009 192534 18102009 192534 130 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER dução e do desenvolvimento A maioria dessas análises identifi ca os erros oriundos do recurso a sinédoques quer dizer à tendência de tomar a parte pelo todo 1 segundo diversos indicadores de diferença sexual cultural mente aceitos como seguros o mundo dos corpos humanos é dividido em dois tipos o masculino e o feminino 2 atributos suplementares extrafísi cos são culturalmente atribuídos a esses corpos por exemplo ativopassi vo independentedependente primáriosecundário em outras palavras o gênero e 3 as mesmas propriedades que foram vinculadas ao conjunto são então atribuídas às subcategorias desses corpos ou aos processos que lhes são associados Frequentemente mas não necessariamente essas análises são elaboradas a partir de um lugar qualifi cado por um saber atual e por tanto implicitamente apresentado como superior Sem dúvida alguma os exemplos mais manifestos nos são dados pela história das teorias da procriação Assim Nancy Tuana 1989 desejou com pletar a literatura existente sobre as teorias reprodutivas de Aristóteles aos préformacionistas mostrando como os pontos de vista dominantes sobre as mulheres passivas fracas e geralmente inferiores infl uem em seu pa pel na reprodução a obra mais convincente de Thomas Laqueur 1990 vai exatamente no mesmo sentido Certos autores se empenharam em analisar da mesma maneira as discussões atuais sobre a fecundação Scott Gilbert e seus alunos Gender and biology study group 1989 encontraram a lingua gem dos ritos do amor cortês em manuais do século XX que descrevem os tratamentos clássicos de fecundação Emily Martin 1991 p500 continuou essa empreitada assinalando a importação pela literatura mais recente de ideias tais como a passividade feminina e o heroísmo masculino para evocar a personalidade dos gametas ibidem p500 Eis seu argumento classica mente o espermatozoide é descrito como ativo vigoroso deslocando se por si mesmo e portanto capaz de romper o invólucro do óvulo e pene trálo ele lhe transmite seus genes e ativa o programa de crescimento Ao contrário o óvulo é transportado levado ou simplesmente escorrega ao longo das trompas de Falópio até sofrer o ataque do espermatozoide ser penetrado e depois fecundado ibidem p48990 Estranhamente os de talhes técnicos que constroem essa imagem não mudaram nos últimos anos fornecemse razões químicas e mecânicas para explicar a mobilidade do es permatozoide sua capacidade de aderir à membrana do óvulo e efetuar a fusão de ambas as membranas A atividade do óvulo postulada como ine xistente não requer portanto nenhum mecanismo Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 130 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 130 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 131 Uma nova imagem muda a nossa compreensão da dinâmica molecular da fecundação Realmente a pesquisa de Alberts et al 1989 p868 reitera sistematicamente que há no óvulo uma atividade que produz as proteínas e as moléculas necessárias à adesão e à penetração do espermatozoide No ma nual mais amplamente utilizado Molecular biology of the cell Biologia mole cular da célula a fecundação é defi nida como o processo pelo qual o óvulo e o espermatozoide se encontram um ao outro e se fundem Alberts et al 1989 p868 Esse exemplo ilustra perfeitamente o modo como a lingua gem pode moldar o pensamento e a atividade dos cientistas enquadrando sua atenção sua percepção e por conseguinte defi nindo os terrenos em que empreendem experiências úteis Bem entendido nem todas as metáforas são igualmente esclarecedoras mas neste caso particular as metáforas têm sido manifestamente produtivas apesar de os efeitos serem diferentes uma con duziu a pesquisas intensivas sobre os mecanismos moleculares da atividade dos espermatozoides enquanto a outra favoreceu pesquisas que permitiam elucidar os mecanismos que nos obrigam a ver no óvulo um elemento ativo Gênero e atividade científi ca No curso dos últimos vinte anos a mudança cultural introduzida pela consideração da incidência do gênero nas Ciências Biológicas teve um im pacto crescente além dos estudos sobre a fecundação em si abrindo toda uma série de perspectivas de pesquisa sobre um amplo leque de fenômenos reunidos na expressão efeitos maternais Estes designam as infl uências de longo prazo sobre a biologia da progenitura e mesmo sobre a evolução da espécie que resultam de certos componentes genéticos mitocôndrias do óvulo da mãe da fi siologia de sua gravidez ou das primeiras infl uên cias comportamentais que o recémnascido recebe Essas infl uências se manifestam na biologia da evolução na ecologia e até na genética do de senvolvimento Nas disciplinas mais próximas dos interesses humanos a linguagem do gênero tem um papel evidente em outras como a genética do desenvolvimento por exemplo é mais sutil Em outras ainda pode não ter nenhum papel Mas isso não é surpreendente Há vinte anos quando os estudos sobre o gênero começaram a se interessar pela ciência tratava se de abrila a uma dimensão silenciada e oculta da História e da Filosofi a das ciências Jamais se havia suposto que o gênero pudesse ser o fator pri Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 131 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 131 18102009 192534 18102009 192534 132 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER mordial do desenvolvimento social ou científi co somente que era um fator largamente negligenciado pela História e pela Filosofi a das ciências e por tanto sua importância se revela frequentemente surpreendente Pesquisar a função simbólica do gênero na ciência se confi rmou extremamente pro dutivo para compreender a maneira como a ciência funciona uma vez que isso esclarece nitidamente os papéis da linguagem da cultura e da ideologia na construção da ciência A análise das metáforas sexuadas no discurso científi co ofereceu os me lhores exemplos da maneira como a linguagem atua para modelar a ativi dade cotidiana dos cientistas Na medida em que esses exemplos mostram que nas produções científi cas a linguagem veicula valores culturais espe cífi cos eles estabelecem precedentes importantes para todos que se inte ressam pela linguagem e pela ciência Mas eles podem ser malvistos pelos cientistas que continuam a acalentar o sonho de uma ciência independente da linguagem e da cultura Contudo trabalhos consideráveis no domínio da História e da Filosofi a das ciências têm revelado atualmente que esse so nho era apenas mais um sabemos que ele pode exprimir uma aspiração ou um desejo mas não pode mais ser tomado como uma descrição da ciência Mesmo os cientistas mais positivistas podem tirar vantagem da produtivi dade das novas metáforas que podem guiar nossa atenção e nossos esforços em novas direções e criar de fato condições que autorizem desenvolvimen tos surpreendentes e inesperados Ciências e gênero Sexo e gênero Técnicas e gênero Alberts Bruce et al Molecular Biology of the Cell Nova York Garland Pub 1989 44p 1ed 1983 Gender and Biology Study Group The Importance of Feminist Critique for Contem porary Cell Biology in Nancy Tuana Feminism and Science Bloomington Indiana University Press 1989 p17287 Fox Keller Evelyn Refi guring Life Metaphors of Twentieth Century Biology Columbia University Press 1995 134p Laqueur Thoma The Making of Sex Body and Gender from the Greeks to Freud Harvard University Press 1990 313p Martin Emily The Egg and the Sperm How Science has constructed a Romance based on Stereotypical MaleFemale Roles Signs 1991 n16 3 p485501 Tuana Nancy Ed Feminism and Science Bloomington Indiana University Press 1989 249p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 132 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 132 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 133 Maternidade Françoise Collin e Françoise Laborie Desde 1970 diferentes trabalhos têm esclarecido a história da criança Ariès dos nascimentos e da infância sob o Antigo Regime Gélis das mulheres desde a Antiguidade Duby Perrot 19901992 das mães da Idade Média aos nossos dias Fouquet Knibielher 1977 e do amor ma terno do século XVII ao século XX Badinter 1980 Esses trabalhos per mitem ressituar a história dos comportamentos face à maternidade na evo lução das relações homensmulheres e dos valores dominantes no que diz respeito aos papéis e direitos respectivos do pai da mãe e da criança Que estatuto atribuir à maternidade Responder a essa questão envolve uma tensão que atravessa a história dos movimentos feministas mas tam bém a de numerosas mulheres que se encontram diante de contradições frequentemente insuperáveis A maternidade constitui ao mesmo tempo uma especifi cidade valorizada o poder de dar a vida uma função social em nome da qual reivindicar direitos políticos ou direitos sociais e uma das fontes da opressão Operadora de divisões ela estrutura as oposições teóricas das feministas A maternidade uma história social Uma controvérsia opõe Catherine Fouquet e Yvonne Knibielher 1977 a Élisabeth Badinter 1980 quanto ao estatuto do amor materno a partir do exame do recurso massivo à ama de leite nos séculos clássicos Limi tado no século XVII à aristocracia e à burguesia o fenômeno se genera lizou no século XVIII a todas as camadas sociais urbanas As primeiras sublinham que o envio das crianças à ama de leite teve a ver com o fato de mulheres ricas poderem pagar ou daquelas que obrigadas a trabalhar não podiam amamentar As pesquisadoras não veem nisso sinal de desinteresse pela criança nem muito menos de ausência de amor materno ainda que tal prática desencadeasse uma mortalidade infantil muito alta Ao contrário constatando que apesar da repetição dos óbitos a prática de adotar amas de leite se generalizava Élisabeth Badinter estima que nem o peso dos fatores econômicos nem o das convenções sociais esgotam as explicações do fenô Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 133 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 133 18102009 192534 18102009 192534 134 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER meno sobretudo do lado das mulheres aristocratas Ela afi rma que estas rejeitavam a maternidade a fi m de poderem viver livres desenvolver sua cultura e seus saberes sem serem impedidas pela criança A indiferença em relação a esta se torna um comportamento dominante No amor materno não há portanto a evidência de um instinto presente por toda a eternidade na natureza feminina o que há é uma história A metade do século XVIII marca uma mudança ideológica importante expressa fortemente por Rousseau e frequentemente retomada em nossos dias são promovidos um novo tipo de mulher a boa mãe e um novo valor o amor materno Desde o fi nal do século XIX em numerosos países europeus as femi nistas buscam assegurar bemestar e proteção social a todas as mães e o re conhecimento da maternidade como uma função social que o Estado deve proteger Apesar da heterogeneidade de suas posições elas utilizam o argu mento da glorifi cação da maternidade para obter novos direitos Pleiteando que os direitos das mães sejam iguais aos dos pais atacam o código civil na poleônico Destacam as insufi ciências das primeiras leis votadas na França em 1909 e 1913 para proteger a maternidade Cova 1999 Esse feminis mo maternalista é fundado na ideia de que a atividade materna e o trabalho doméstico são um verdadeiro trabalho que merece ser subvencionado pelo Estado Hubertine Auclert apresentandose na França durante as eleições legislativas de 1885 e 1910 reivindicou a instauração de um Estadomãe que viria em auxílio das crianças Bock in Duby e Perrot 1992 Contudo enquanto a mãe republicana é o ideal proposto às mulheres na França e nos Estados Unidos na mesma época propagase a fi gura da celibatária au tônoma independente adepta do amor livre repudiando o modelo sagrado da mãeesposa Dauphin in Duby e Perrot 1991 Num contexto que opõe natalistas e malthusianos o tema da livre maternidade está no centro de de bates públicos e privados e aparece em numerosos romances Sagaert 1999 Durante a Primeira Guerra Mundial enquanto as mulheres mesmo mães efetuam o trabalho dos homens as feministas valorizam a efi cácia do trabalho feminino e lutam para que elas possam conciliar trabalho e ma ternidade A partir do fi m do confl ito esperam obter o direito de voto em recompensa por seus bons e leais serviços À exceção da Alemanha nada aconteceu e as mulheres foram mandadas de volta a seus lares Thébaud in Duby e Perrot 1992 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 134 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 134 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 135 Entre as duas guerras mundiais o retorno das mães ao lar e a estigma tização daquelas que trabalham tornamse objeto de campanhas visando a promoção de uma política natalista Sohn in Duby e Perrot 1992 As femi nistas recusam que em nome da maternidade as mulheres sejam impedidas de trabalhar quando representam 36 da população ativa e das quais dois terços têm uma família para sustentar Todavia em 1920 e 1923 a adoção de leis contra a propaganda anticoncepcional e o aborto provocado não acar reta salvo exceções notáveis daquelas que lutavam pela livre maternidade senão poucas críticas da parte das feministas Na década de 1930 diversas iniciativas como o reconhecimento ofi cial da jornada das mães a criação de instituições Alto Comitê da População em que nenhuma feminista foi con vidada a participar e que esteve na origem do Código da Família a aprova ção de leis criação de licençamaternidade de abonos familiares e do salário único reforçam a política natalista do Estado e seu papel de protetor da ma ternidade Thébaud 1999 Pior ainda o regime de Vichy glorifi cou a ma ternidade como o único destino possível das mulheres que devem assegurar uma presença contínua no lar e chegou a fazer disso um dever nacional Eck in Duby e Perrot 1992 Anne Cova 1999 julga que as feministas do pe ríodo entre as duas grandes guerras desempenharam um papel signifi cativo na elaboração de uma legislação em favor da proteção da maternidade e na edifi cação do Estado de bemestar social porém apoiandose na maternida de fracassaram em obter direitos políticos para as mulheres O novo regime da maternidade As aparentemente unânimes militantes do movimento de liberação das mulheres dos anos 70 impõem uma mudança considerável ao reivindicar a obtenção de meios que lhes permitissem recusar a maternidade não deseja da O acesso à contracepção oral a partir de 1967 abre às mulheres a liber dade de poder anular ou limitar sua fecundidade e de escolher ter bebês ou não A legalização do aborto foi obtida não sem difi culdades em 1975 após debates violentos opondo o direito e a autonomia das mulheres ao di reito da criança de nascer Os slogans das feministas pós68 teremos as crianças que quisermos se quisermos e nosso corpo nos pertence tes temunham a vontade coletiva de que a maternidade dependa da liberdade de decisão de cada mulher Contudo a legalização do aborto não resolve o Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 135 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 135 18102009 192534 18102009 192534 136 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER problema daquelas que tendo ou desejando fi lhos recusam a contradição entre sua vontade de autonomia e seu desejo de assumir a maternidade no sentido escolhido por elas do mesmo modo que o acesso à contracepção não evita que as mulheres sejam confrontadas com a complexidade do de sejo de ter um fi lho Les Cahiers du GRIF 1975 1977 Com os métodos modernos de contracepção instalouse aquilo que Nadine Lefaucheur 1992 chama de novo regime da maternidade Na verdade pela primeira vez na História o desejo de paternidade dos homens fi ca na dependência do desejo de maternidade de suas parceiras Além do mais tornase menos fácil para eles negar a paternidade que não desejam assumir Outro exemplo em que se opõem o direito da mãe da criança de conhecer suas origens e do pai e que suscita controvérsias o parto sob X que na França dá a toda mulher o direito de dar à luz no mais com pleto anonimato Em todos os países ocidentais o aumento dos divórcios e nascimentos fora do casamento é acompanhado do desenvolvimento das famílias monoparentais mais geralmente uma mulher com crianças e das maternidades tardias Valabrègue et al 1982 Para Yvonne Knibielher 1977 houve uma mudança entre 1965 e 1980 à geração do babyboom sucedeu a da recusa que militou pela contracepção e pelo aborto depois aquela do desejo de ter um fi lho a qualquer preço A decisão unânime das feministas de lutar antes de tudo pela legalização do aborto baseada na recusa de admitir as mulheres sendo defi nidas apenas pela maternidade havia ocultado suas divergências de posição hoje muito mais patentes Seguindo as teses de Simone de Beauvoir para quem a ma ternidade era o principal obstáculo à liberdade das mulheres as feministas radicais viam nela o elemento central da dominação dos homens sobre as mulheres uma forma de persuasão sujeição e até de escravidão Les Chi mères 1975 Tabet 1985 enquanto a corrente diferencialista minoritária na França valoriza o feminino a maternidade o amor materno verdadei ro suporte sem o qual o edifício social e cultural não poderia existir Kris teva 1983 de Vilaine et al 1986 Recentemente Julia Kristeva e Yvonne Knibielher entraram no debate pela paridade11 empenhandose pelo exer cício ativo da cidadania daquelas que dão à luz e pelo reconhecimento do sentido social da procriação Le Monde 23 de março de 1999 11 Cf verbete paridade neste volume NE Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 136 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 136 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 137 Perturbações recentes e nova lógica social Christine Delphy 1991a se manifesta contra o surgimento da reivin dicação maternal que ela observa em numerosos textos feministas recen tes só se vêm na maternidade condutas e valores positivos identifi camse os interesses das mulheres com os das mães e os interesses das crianças com os das mães Ela descreve essa nova ideologia da maternidade como um corporativismo das mães acompanhado por uma apropriação das crianças Vendo nisso apenas a retomada feminista de velhas ideologias que perduraram desde o século XVIII ela tende a suprimir as posições se melhantes de feministas ao longo da História Para ela por outro lado a reivindicação maternal reforça a tendência das leis recentes de privilegiar o recurso aos critérios biológicos na defi nição das relações de fi liação Lem bremos que desde o Direito romano a mãe é certa o pai é aquele que o casamento designa O estabelecimento das relações de fi liação se efetua portanto de maneira assimétrica cabendo à mãe um critério fi siológico defi nido o parto e ao pai um critério social ser esposo ou companheiro da mãe daí o pai ser denominado putativo As tecnologias da reprodu ção humana introduziram fortes perturbações nas defi nições das relações de fi liação e na distinção entre biológico e simbólico Com a inseminação artifi cial com o esperma de um doador o pai não é o genitor Com o cenário das mães de aluguel o pai é o genitor enquanto a mãe de aluguel embora dando à luz geralmente sob X não será a mãe legal Esta será a esposa do genitor critério social Embora as mães de aluguel tenham quase sem pre manifestado seu apego à criança a plurimaternidade que perturbaria bastante o modelo dominante da maternidade unívoca e certa jamais foi proposta A fecundação in vitro com doação de óvulos abre a possibilidade de distinguir a mãe genética da mãe uterina Juntandose a isso a mãe social aquela que após uma adoção cuida da criança podese doravante defi nir três tipos de mãe a antiga certeza sobre a mãe desaparece Além do mais essas técnicas de reprodução oferecem a possibilidade inédita de conhecer precisamente a origem do esperma fecundante e de permitir assim uma biologização da paternidade Diversas análises feministas têm explorado as formas de exercício do poder médico sobre as mulheres grávidas ou que desejam engravidar en quanto outras têm salientado as dimensões social e política da reprodução Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 137 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 137 18102009 192535 18102009 192535 138 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Buscando pensar o lugar da experiência da maternidade na vida da mulher uma nova lógica social tende a se elaborar a de viverparasiecomas crianças implicando não somente uma verdadeira repartição do trabalho e das responsabilidades domésticas entre pai e mãe mas também a possi bilidade de se afastar do caráter opressor da geração biológica acedendo simultaneamente à geração simbólica Esta ao permitir às mulheres que falem em seu próprio nome e escolham seus modos de parentesco e de fi lia ção pode ser portadora da liberdade F Collin 1986b Aborto e contracepção Diferença dos sexos teorias da Família Movimentos feminis tas Paridade Tecnologias da reprodução humana Trabalho o conceito de Badinter Élisabeth Lamour en plus Histoire de lamour maternel XVIIe XXe siècle Paris Flammarion 1980 372p Fouquet Catherine Knibielher Yvonne Histoire des mères Paris Montalba Pluriel 1977 Reed Paris Hachette Pluriel 1982 359p Knibielher Yvonne Histoire des mères et de la maternité en Occident Paris PUF Que saisje 2000 128p Lefaucheur Nadine Maternité famille État in Georges Duby e Michelle Perrot 1992 t5 p41130 cf Referências bibliográfi cas Les Cahiers du GRIF 1975 n910 Les femmes et les enfants dabord 1977 n1718 Mèresfemmes 1987 n36 De la parenté à leugénisme Tabet Paola Fertilité naturelle reproduction forcée in NicoleClaude Mathieu Larrai sonnement des femmes Essais en anthropologie des sexes Paris EHESS 1985 p61146 Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Migrações Catherine Quiminal A migração não é um estado mas um processo Portanto ser um imi grado ou imigrada não é mais que uma característica geralmente passageira que indica o deslocamento de uma região a outra ou de um Estado a outro imigração transnacional ou internacional As causas da imigração são múl tiplas pessoais familiares sociais econômicas políticas Na maioria dos casos vários fatores interferem nesse processo Assim as migrações de mu lheres sós podem ser motivadas conjuntamente pela preocupação de encon Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 138 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 138 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 139 trar um emprego que corresponda à sua qualifi cação pela recusa do estatuto que lhes é imposto na sociedade de origem por razões políticas Além do mais como sublinhou Abdelmalek Sayad 1984 todo imigrado é também um emigrado cuja história passada e presente deve ser levada em conta A utilização do termo imigrado é portanto redutora Enfi m não se pode confundir o emigradoimigrado com o estrangeiro Há estrangeiros nascidos na França e há imigrados que se tornaram franceses por terem obtido essa nacionalidade após certo tempo de permanência É a mobilidade que faz a migração Na França desde a primeira grande leva de imigração no fi m do século XIX incidentes e enfrentamentos mais ou menos violentos relacionados à mão de obra estrangeira manifestam a existência de uma xenofobia fa cilmente mobilizável e manipulável Podese dar alguns exemplos dessa violência rebeliões contra os operários belgas chamados cloutjes ta mancos ou boyaux rouges tripas vermelhas como as dos porcos no norte da França Liévin e Drocourt 1892 Toucoing 1893 agressividade contra os vagabundos italianos macaroni ou christos que provocou a morte de mais de trinta deles entre 1881 e 1893 sendo o massacre da lo calidade de AiguesMortes o mais tristemente famoso desses eventos Esse gênero de violência se repete nos períodos de crise tanto econômica como social ou política Com o aumento dos fl uxos migratórios provenien tes das antigas colônias a xenofobia se juntou ao racismo Racismo de Es tado perseguições aos norteafricanos dos anos 60 a repressão assassina da manifestação de argelinosas em 1o de outubro de 1960 que fez numerosos mortos cujos corpos foram jogados no Sena o racismo nos fundamentos da Frente Nacional12 Há mais de um século debates atividades e leis dis criminatórias contra os imigrantes ocupam um lugar importante na cena política e social francesa A pesquisa sobre o fenômeno migratório No campo da pesquisa a situação é outra Os juristas demógrafos e geógrafos por razões diferentes foram os primeiros a levar em conta esse fenômeno reconhecido desde o fi m dos anos 60 como fato estrutural das 12 Tratase do partido de extremadireita francês claramente racista e xenófobo NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 139 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 139 18102009 192535 18102009 192535 140 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER sociedades capitalistas Suas preocupações eram diversas lutar contra o baixo índice de natalidade codifi car o estatuto e a condição do estrangeiro contar classifi car identifi car segundo o método da bertillonage ou an tropometria assim chamado em homenagem a seu inventor Bertillon do termo imigração e das técnicas modernas de identifi cação Noiriel 1988 a fi m de redefi nir os contornos da nação e das identidades A Sociologia como a História em parte sob infl uência de Durkheim que quase não duvidava da capacidade de integração da sociedade francesa interessouse apenas tardiamente pela imigração considerada um objeto menor e evanescente e ainda mais tardiamente pelos migrantes cujas ori gens só podiam se dissolver na nação Nos países anglosaxônicos diferentemente do que se passou na França a Sociologia concedeu um lugar importante ao estudo da imigração parti cularmente nos Estados Unidos ligado ao mito do melting pot caldeirão segundo o qual a nação norteamericana era comparada a um vasto caldei rão em cujo bojo se operava a fusão histórica das diversas e sucessivas levas de imigrantes num só povo graças ao poder assimilador do modo de vida norteamericano A escola de Chicago constitui uma referência conceitual e metodológica importante Desde o início do século 1915 sociólogos como Robert Park Ernest Burgess e Roderick McKenzie 1925 William Isaac Thomas e Florian Znaniecki 19271998 além de William Foot White 1943 abordam as modalidades de apropriação de territórios urbanos os fenômenos de segregação e aculturação os problemas de estruturação in terna e da divisão de papéis nas comunidades de migrantes qualifi cadas de minorias étnicas no sentido sociológico da expressão isto é referemse a coletividades dominadas classifi cadas diferenciadas segundo a origem e a cultura e não a coletividades menos numerosas Na França somente nos anos 60 se realizaram estudos sociológicos ou históricos sobre a imigração A fi gura dominante do imigrado é então a de um homem jovem solteiro encarnando uma mão de obra barata pouco qualifi cada móvel simples força de trabalho de preferência originária das antigas colônias Testemunha disso é a expressão trabalhador imigrante bastante utilizada para designar indistintamente o conjunto dos migrantes vindos nos anos 60 quer fossem trabalhadores ou não Os temas abordados são então os de sua exploração ou condições de vida imigrantes e saúde Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 140 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 140 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 141 imigrantes e escolaridade imigrantes e justiça imigrantes e moradia O acoplamento de uma categoria particular de indivíduos e de uma série de problemas sociais atesta a difi culdade de construir a imigração como obje to sociológico Isso contribuiu muitas vezes involuntariamente para uma grande estigmatização das referidas populações imputando à imigração problemas de ordem social descobre os migrantes A imigrante mulher é ainda mais desconhecida posto que a imigração não é concebida como processo de povoamento com vocação para se esta belecer na França mas como migração de trabalho de passagem Além do deslocamento da assalariada a mobilidade é uma qualidade que mesmo os pesquisadores têm difi culdade em reconhecer como feminina Contudo mesmo mulheres sendo invisíveis as mulheres não estavam ausentes do território Representavam 30 da população estrangeira em 1931 na qual se contavam 306000 mulheres ativas INSEE Essas cifras não incluem as numerosas mulheres empregadas nas empresas familiares nem uma parce la das domésticas não declaradas Elas são 382 em 1962 Excepcionais contudo eram as pesquisas que as levavam em conta A obra de Andrée Michel 1955 foi exceção O relativo desenvolvimento de pesquisas sobre as mulheres migrantes data do fi m dos anos 70 e início dos anos 80 enfatizando a dimensão se xuada dos fenômenos migratórios a presença ou ausência das mulheres Taboada 1978 Em sua maioria essas pesquisas tratam das preocupações políticas do momento a saber a integração e a assimilação Como a insti tuição integradora por excelência a escola estava em crise os estudos se centram do lado da família e mais particularmente das mães esposas e fi lhas voltadas aos estudos A imagem da mulher imigrada reclusa que tem por função assegurar as tarefas domésticas e transmitir uma tradição jul gada arcaica oculta seu lugar no mundo do trabalho bem como a presença de mulheres que chegaram sós A socióloga Jeanne Singer 1985 é sem dúvida a primeira a produzir uma análise das estatísticas sobre o emprego de mulheres estrangeiras e Mirjana Morokvasic 1976 a primeira a analisar as dinâmicas que orien tam seus percursos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 141 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 141 18102009 192535 18102009 192535 142 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER A questão das relações sociais de sexo presente na situação migratória não é objeto de nenhum estudo enquanto os processos de aculturação ou seja de trocas culturais entre indivíduos ou grupos têm sem dúvida efeitos signifi cativos sobre a relação de dominação homensmulheres Cada um dos sexos redefi niu seu lugar em função daquele que lhe designa a sociedade re ceptora que reinterpreta sua cultura Desestabilizadores de sólidas tradições os processos de aculturação são também criadores de realidades inéditas Hoje as representações dominantes do imigrante mudaram um pouco Elas oscilam entre aquela do jovem beur13 ou black desempregado delin quente dos subúrbios e aquela do clandestino E continuam fortemente masculinas embora as mulheres representem 45 da população estrangeira Resistências e visibilidade das mulheres na migração Contudo diversos fatores deram mais visibilidade às mulheres imi grantes Por um lado os debates em torno do reagrupamento familiar do direito de viver em família do véu islâmico usado por jovens muçulmanas Gaspard 1995 da poligamia da circuncisão por outro lado a presença afi rmada e ativa das mulheres nas diferentes lutas dos imigrantes marcha pela igualdade lutas por moradia movimentos dos sempapéis Entre es sas mulheres algumas nasceram na França o qualifi cativo imigradas é então indevido apesar de muito utilizado e se torna um estigma transmis sível de uma geração a outra Começam a ser realizadas algumas pesquisas ainda pouco numerosas feitas em sua maioria por mulheres francesas ou estrangeiras quase sempre fi lhas de migrantes Estudamse as relações no seio da família o lugar o papel e o estatuto das mulheres nessa situação de ruptura e mobilidade que caracteriza a migração as relações interétnicas a que se submetem as mu lheres ou que são construídas por elas as interações com o grupo dominan te e suas instituições das quais as mulheres são as protagonistas escola se guridade social agências de habitação social Cahiers du CEDREF 2000 Se o papel das mulheres é importante na reconstrução da cultura de origem estudos antropológicos mostram igualmente sua capacidade de inventar a tradição de ajustála em função de suas aspirações presentes para elas e 13 Jovem magrebino do Magreb região do Norte da África NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 142 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 142 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 143 suas fi lhas Assim elas recolocam em questão a imagem da mulher imigra da originária das antigas colônias guardiã de valores tradicionais incom patíveis com os da modernidade Alguns trabalhos de pesquisadoras norteamericanas inglesas ou cana denses mais uma vez de origem frequentemente estrangeira associam gênero e etnicidade Curiosamente nos Estados Unidos embora de um lado as pesquisas fe ministas e de outro as relativas à imigração sejam mais numerosas e menos depreciadas que na França as mulheres em migração não têm recebido a atenção que merecem Com efeito a situação duplamente minoritária tan to na condição de mulher como na de membro de uma comunidade estran geira minoria entendida aqui também como conceito referente a cole tividades dominadas oferece um campo particularmente dinâmico sobre as relações sociais de gênero Ela permite apreender tanto os processos de dominação dos maridos de grupos sociais e mesmo dos Estados quan to as formas de resistência praticadas e os espaços de autonomia às vezes conquistados pelas mulheres Quiminal 1998 Contudo essas pesquisas comportam difi culdades teóricas e epistemológicas na medida em que se trata de localizar as modalidades de discriminações étnicas e sexistas que se entrecruzam se encobrem e se reforçam umas às outras Desenvolvimento Dominação Educação e socialização Etnicidade e nação Família Transmissões intergeracionais Violências Buijs Gina Migrant Women Crossing Boundaries and Changing Identities Center for CrossCultural Research on Women Queen Elizabeth House Universidade de Ox ford 1998 225p Morokvasic Mirjana Roads to Independence SelfEmployed Immigrants and Minor ity Women in Five European States International Migration 1991 vXXIX n3 p40720 Noiriel Gérard Le creuset français Paris Seuil 1988 425p Simon Gildas Géodynamique des migrations internationales dans le monde Paris PUF 1995 429p Taravella Louis Bibliographie analytique sur les femmes immigrées 19651979 Paris CIEMM 1980 63p Witte Philippe de Dir Immigration et intégration létat des savoirs Paris La Décou verte 1999 438p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 143 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 143 18102009 192535 18102009 192535 144 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Movimentos feministas Dominique FougeyrollasSchwebel O feminismo como movimento coletivo de luta de mulheres só se mani festa como tal na segunda metade do século XX Essas lutas partem do re conhecimento das mulheres como específi ca e sistematicamente oprimidas na certeza de que as relações entre homens e mulheres não estão inscritas na natureza e que existe a possibilidade política de sua transformação A rei vindicação de direitos nasce do descompasso entre a afi rmação dos princípios universais de igualdade e as realidades da divisão desigual dos poderes entre homens e mulheres Nesse sentido a reivindicação política do feminismo só pode emergir em relação a uma conceituação de direitos humanos universais ele se baseia nas teorias dos direitos da pessoa cujas primeiras formulações resultam das revoluções norteamericana e depois a francesa Fraisse 1992 Os movimentos feministas devem ser distinguidos dos movimentos po pulares de mulheres que não expõem frontalmente a exigência de direitos específi cos para as mulheres o serviço de Direitos das Mulheres na França propõe a noção de direitos próprios em contraponto à oposição específi ca que corresponde a mulher versus universal que corresponde a ho mem Todavia alguns movimentos que lutam politicamente pela igual dade entre homens e mulheres as mulheres socialistas da 2a e depois da 3a Internacionais rejeitam a qualifi cação feminista porque a seus olhos está marcada pelos fundamentos burgueses das reivindicações de direitos Assim a associação entre movimentos de mulheres e movimentos feministas assume signifi cações diferentes segundo as representações que se façam das feministas muito burguesas no século XIX e no começo do século XX muito radicais e inimigas dos homens depois dos anos 70 Durante os anos 70 a ex pressão movimento das mulheres é frequentemente utilizada como forma reduzida para movimento de liberação das mulheres por esse fato ela pôde ser associada ao feminismo mais radical Daí às vezes a diversidade e a con fusão na oposição entre movimentos feministas e movimentos de mulheres Falar de movimentos feministas permite designar sob uma mesma denominação as diversas formas de movimentos de mulheres o feminismo liberal ou burguês o feminismo radical as mulheres marxistas ou so cialistas as mulheres lésbicas as mulheres negras e todas as dimensões ca Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 144 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 144 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 145 tegoriais dos movimentos atuais A expressão movimentos de mulheres representa então as mobilizações de mulheres com um objetivo único como os movimentos populares de mulheres na América Latina ou os movimen tos pela paz na Irlanda ou no Oriente Médio Abordagem histórica do movimento feminista Na América do Norte e na Europa historiadores e feministas distingui ram durante muito tempo duas ondas históricas dos movimentos feminis tas a primeira transcorre na segunda metade do século XIX e no começo do século XX a segunda qualifi cada de neofeminismo cobre metade dos anos 60 e começo dos anos 70 cf Duby Perrot t4 e 5 1992 Se a deman da por direitos iguais abrange o conjunto das atividades sociais direitos na família direito do trabalho a primeira onda do feminismo é frequente mente apresentada em torno das reivindicações do direito de voto de fato é a respeito dessas questões que as ações mais espetaculares foram realiza das nos Estados Unidos e no conjunto dos países europeus Inversamente os movimentos feministas dos anos 70 não se fundam na única exigência de igualdade mas no reconhecimento da impossibilidade social de fundar essa igualdade dentro de um sistema patriarcal Mas a oposição entre os dois momentos dos movimentos feministas é hoje descartada por certas historiadoras porque dá mostras de uma historiografi a ainda lacunar dos movimentos feministas que durante muito tempo apagou todo traço deles entre as décadas de 1920 e 1960 O feminismo contemporâneo prolonga as expectativas do feminismo do século XIX a saber a individuação do sujei to democrático e econômico da cidadã e da trabalhadora mas acrescenta fortemente a questão da autonomização da sexualidade feminina a mater nidade não é o único horizonte das mulheres e mais ainda o desejo da não maternidade após o advento da contracepção feminina a pílula começa a ser acessível na metade dos anos 60 começa a se exprimir de maneira positiva e não mais como uma carência FougeyrollasSchwebel 1997 O feminismo dos anos 70 O impacto do feminismo dos anos 70 talvez não seja tanto o de afi rmar novas formas de reivindicações e demandas de direitos mas o de interrogar Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 145 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 145 18102009 192535 18102009 192535 146 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER os domínios do político Prolongando o movimento da contracultura dos anos 60 uma das prioridades dos movimentos de liberação das mulheres é a afi rmação de que o privado é político Freeman 1975 Criticando a noção de vanguarda e considerando às vezes o engaja mento político como um engajamento do conjunto da vida das militantes o feminismo dos anos 70 se caracteriza por grupos não mistos negando aos homens o direito de falar em nome das mulheres Ampliando as reivindica ções dos movimentos negros norteamericanos Black Power Poder Negro e depois Black Panthers Panteras Negras as feministas abrem assim o ca minho aos movimentos multiculturalistas das décadas de 1980 e 1990 ao denunciarem os valores universalistas como aqueles dos grupos dominantes A discussão política é também uma busca de identidade Efetivamen te a maioria das militantes privilegia o grupo de fala groupe de paro le Partisans 1970 O movimento feminista participa dos movimentos antiautoritários e privilegia as formas mais espontâneas de manifestação recusando toda organização hierárquica Pertencer ao movimento repre senta a realização de uma nova ideologia a pesquisa de sentido e de valores comuns A essa nova ideologia denominouse sororidade Sisterhood is Powerful a sororidade é poderosa Mas as questões da identidade racial ou nacional dividem o movimento e a solidariedade comum das mulheres é rapidamente questionada pela suspeita da ignorância dos problemas pró prios de cada grupo identitário pelo temor da criação de novas formas de dominação entre homossexuais e heterossexuais entre burguesas e proletá rias entre as mães e aquelas que não o são entre as mulheres brancas e as mulheres negras sobretudo nos Estados Unidos O feminismo do fi m dos anos 60 e começo dos anos 70 adquire como no século XIX uma amplitude internacional A onda de choque parte dos Estados Unidos e chega muito rapidamente à GrãBretanha e à Alema nha ainda na mesma década A explosão estudantil de 1968 é o terreno da propagação do feminismo e a grande aparição pública do movimento norteamericano em 26 de agosto de 1970 para festejar os cinquenta anos do direito de voto nos Estados Unidos dá força aos movimentos europeus A despeito de seu caráter extraparlamentar o movimento de liberação das mulheres tem a capacidade de suscitar amplas mobilizações entre as mulheres sindicalizadas mulheres dos partidos de esquerda e de direita Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 146 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 146 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 147 ou das associações que lutam pelos direitos das mulheres como o organis mo Planejamento Familiar Inicialmente as campanhas pela liberdade de abortar constituem os eventos mais importantes e mais marcantes Apa recem igualmente mobilizações contra a violência que vitimiza mulheres estupro assédio sexual e a transformação do direito o reconhecimen to do estupro conjugal A conquista de novos direitos para as mulheres na esfera privada é acompanhada por exigências renovadas na esfera pública pela reivindicação de medidas em favor de uma verdadeira igualdade no trabalho mas tal reivindicação só consegue algum resultado quando se es tabelece uma relação com as organizações sindicais e políticas Katzenstein Mueller 1987 As tendências no seio do movimento Três correntes no seio do movimento se opõem quanto à defi nição da opressão das mulheres e suas estratégias políticas feminismo radical so cialista e liberal Segundo abordagens mais detalhadas ocorrem distinções entre feministas marxistas ou socialistas libertárias radicais lésbicas ma terialistas ou essencialistas A oposição politicamente mais frontal recai so bre as feministas liberais de um lado e feministas radicais e socialistas de outro Por corrente liberal devemse entender os movimentos fundados na promoção dos valores individuais com a luta pela total igualdade entre mulheres e homens podese falar de um feminismo reformista que conta por meio de políticas de ação positiva com a prioridade dada às mulheres para reduzir as desigualdades Ao contrário os movimentos de liberação das mulheres querem romper com as estratégias de promoção das mulheres em proveito de uma transformação radical das estruturas sociais existentes Esse movimento será marcado por oposições quanto às estratégias priori tárias entre aquilo que se denomina na França de feministas socialistas ou tendência da luta de classes que afi rmam que a verdadeira liberação das mulheres só poderá advir de um contexto de transformação global e as feministas radicais que sublinham que as lutas são conduzidas antes de tudo contra o sistema patriarcal e as formas diretas e indiretas do poder falocrático Picq 1993 No âmbito do próprio movimento radical os gru pos de lésbicas advogam a necessidade de um separatismo radical para lutar contra toda obrigação à heterossexualidade Clef 1989 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 147 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 147 18102009 192535 18102009 192535 148 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Para os movimentos feministas europeus a relação com os partidos de esquerda é essencial e a dialética de inclusãoexclusão é permanente Nos Estados Unidos a fraqueza das feministas socialistas na esfera de feminismo e a ausência de partidos socialdemocratas fazem que o movimento tenha dado mais ênfase à autonomia individual e à igualdade e que continue pou co ativo em matéria de direitos sociais Inversamente embora não existam nos países europeus organizações feministas tão importantes como nos Es tados Unidos os governos socialistas mesmo moderados têm permitido o acesso a direitos sociais inconcebíveis nos Estados Unidos Threlfall 1996 Algumas organizações internacionais como a ONU agem no sentido da ampliação do acesso à igualdade das mulheres de todos os países Denun ciada como empresa de recuperação pelas feministas dos anos 70 a organi zação sucessiva de conferências internacionais como a de Nairóbi 1985 e depois a de Pequim 1995 suscita uma atenção redobrada das associações feministas que delas participam cada vez mais a título de ONGs Na Eu ropa a União Europeia e o Conselho da Europa são igualmente utilizados pelas associações feministas como bases de pressão pelo acesso à igualdade cf as campanhas pela paridade entre homens e mulheres em política des de 1992 Assim de 1970 até hoje constatase uma evolução contraditória dos movimentos feministas a pressão internacional permite o avanço dos direi tos das mulheres acompanhado de uma atenuação da radicalidade dos mo vimentos feministas que passam a se posicionar como associações a serviço das mulheres Reforçada pela revitalização das correntes reformistas essa evolução do feminismo na direção de uma postura especialista expertise ou de serviço social é talvez uma maneira de reatar com a tradição caritativa tão frequentemente denunciada Enfi m persistem formas mais radicais do movimento feminista as quais se contrapõem a essas tendências e como nos anos 70 continuam capazes de mobilizações mais amplas de mulhe res e homens membros de partidos políticos ou de organizações sindicais e outras como testemunham as lutas contra as violências pela aplicação do direito ou pela abertura de novos direitos Aborto e contracepção História sexuação da Igualdade Maternidade Movimentos sociais Paridade Patriarcado teorias do Sexualidade Violências Centre lyonnais détudes féministes Chronique dune passion Le mouvement de libération des femmes à Lyon Paris LHarmattan 1989 272p Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 148 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 148 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 149 Cohen Yolande Thébaud Françoise Eds Féminisme et identités nationales Les proces sus dintégration des femmes en politique Lyon CNRS Programa plurianual em Ciências humanes RhôneAlpes 1998 306p FougeyrollasSchwebel Dominique Le féminisme des années 1970 in Christine Fau ré Ed Encyclopédie politique et historique des femmes Paris PUF 1997 p72970 Fraisse Geneviève La raison des femmes Paris Plon 1992 294p Picq Françoise Libération des femmes Les annéesmouvement Paris Seuil 1993 380p Threlfall Monica Ed Mapping the Womens Movement Feminist Politics and Social Transformation in the North LondresNova York Verso 1996 VII 312p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Movimentos sociais Josette Trat Os movimentos sociais são ações coletivas realizadas em vista de um objetivo cujo resultado em caso de sucesso como em caso de fracasso trans forma os valores e as instituições da sociedade Castells 1999 A expressão designa realidades distintas junho de 1936 maio de 1968 as greves e mani festações de novembrodezembro de 1995 ou ainda as assim chamadas co ordenações surgidas entre os ferroviários em 1986 entre as enfermeiras em 1988 etc Falase também do movimento operário do movimento dos desempregados do movimento dos homossexuais ou do movimento feminista O termo se refere portanto tanto a períodos de crises políticas como a processos de mobilização duradouros que dão origem a associações redes e organizações além de partidos Tratase então da dinâmica pró pria de um grupo social portador de reivindicações importantes duráveis e confl ituosas Béroud et al 1998 Esses movimentos surgem mais fre quentemente em setores dominados da sociedade o que não signifi ca no entanto que todos eles reclamem para si valores igualitários No plano da pesquisa constatase que os movimentos sociais sob hegemonia masculi na são sempre apreendidos como movimentos neutros Questionando essa perspectiva Daniele Kergoat utilizou a expressão movimento social se xuado para insistir na ideia de que as relações sociais de sexo impregnam permanentemente todos os movimentos e que essa consideração deve estar sempre presente quando se analisam tais movimentos 1992 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 149 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 149 18102009 192535 18102009 192535 150 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Uma longa história conceitual assexuada Segundo François Chazel 1992 Lorenz von Stein foi o pioneiro da sociologia dos movimentos sociais com seus estudos entre 1842 e 1850 sobre o proletariado francês Na segunda metade do século XIX Karl Marx trouxe uma contribuição maior a essa análise com suas obras sobre as lutas de classes No século XX diversos trabalhos sobretudo anglosa xônicos marcaram essa refl exão O modelo proposto por Mancur Olson 19661978 enfatiza o cálculo em termos de custos e benefícios feito pelos indivíduos antes de qualquer possível ação Ao fazer isso ele ignora as dimensões identitária simbólica e política das ações coletivas Anthony Oberschall 1973 e em seguida Charles Tilly 1978 insistem ao contrário no fator político e nas condições sociais subjacentes à emergência dos pro testos Seus estudos sobre diversos movimentos sociais históricos ou con temporâneos ressaltam o peso das redes de sociabilidade e de solidariedade na mobilização dos recursos Na França foram principalmente historiadores e historiadoras do mo vimento operário e mais amplamente dos movimentos populares que alimentaram nosso conhecimento dos movimentos sociais As Ciências Políticas e a Sociologia pouco se interessaram por esse objeto de pesquisa julgado muito subversivo preferindo a sociologia eleitoral ou aquela dos partidos mais conforme a uma defi nição institucional da Política Toda via o grupo de pesquisa liderado por Alain Touraine e pesquisadores como François Chazel contribuíram para enaltecer o estudo dos movimentos so ciais Desde o começo dos anos 90 a pesquisa nesse campo teve desdobra mentos importantes e renovou os debates sobre diversas questões A primeira concerne à defi nição dos movimentos sociais Para Érik Neveu são formas de ação coletiva concertada em favor de uma causa 1996 Essa defi nição se afasta das formulações normativas de Alain Tou raine e equipe para quem um movimento somente pode ser qualifi cado de social se tem atores claramente identifi cados adversários precisamen te designados desafi os expressamente voltados para a direção social da historicidade como um projeto de conjunto para a sociedade Touraine 1978 Para ele nenhum movimento social desde 1868 pôde desempenhar esse papel Também parece mais frutífero defi nir movimento social como um processo Chazel 1993 Na verdade um movimento social evolui Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 150 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 150 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 151 no seu transcorrer Tratase de uma realidade heterogênea social e politi camente atravessada por correntes e projetos diversifi cados Nos movimen tos contra o desemprego por exemplo a solidariedade entre assalariados e desempregados não é automática assim como não o é a solidariedade entre homens e mulheres As solidariedades no mundo do trabalho constituem um ponto central das atividades políticas Aguitton e Corcuff 1999 A segunda questão concerne às molas que acionam os movimentos sociais Para René Mouraux quaisquer que sejam as evoluções do capi talismo contemporâneo e as difi culdades de luta dos assalariados ou dos desempregados nada autoriza os pesquisadores a relativizar a questão da exploração e da luta de classes na análise dos movimentos sociais recentes da centralidade da oposição capitaltrabalho nas sociedades capitalistas contemporâneas Béroud et al 1998 Assim ele toma resolutamente o contrapé da tese desenvolvida por Alain Touraine para quem os confl itos signifi cativos se deslocaram do terreno dos direitos sociais para o dos di reitos culturais 1999 Seria sem dúvida teoricamente mais estimulante pensar uma interligação dessas várias dimensões dos movimentos sociais do que sua oposição Como pensar a diversidade Uma nova abordagem se desenha Ao levar em conta o confl ito capitaltrabalho ela toma igualmente a medida da di versidade dos movimentos sociais e da diferenciação sociocultural que os atravessa Uma tal perspectiva para ser coerente deveria integrar a refl exão das pesquisadoras e dos pesquisadores que integram a questão das relações sociais de sexo à sua análise Ora constatase frequentemente uma sepa ração radical entre de um lado os estudos sobre os movimentos sob hege monia masculina que se conjugam no neutro isto é mais frequentemente no masculino e de outro trabalhos sobre o movimento feminista as lutas de mulheres ou de setores muito feminizados realizados principalmente por pesquisadoras Essa compartimentação da pesquisa tem uma dimensão amplamente internacional Taylor Wittier 1998 O movimento feminista é um movimento social O que permite principalmente caracterizar o movimento feminista como movimento social é a sua duração Quaisquer que sejam as intermitências da mobilização as mulheres não cessaram de lutar coletivamente desde a Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 151 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 151 18102009 192535 18102009 192535 152 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Revolução Francesa Ademais esse movimento se enraíza nas contradições fundamentais da sociedade nascidas tanto do desenvolvimento do capita lismo como da persistência até hoje da dominação masculina que se expri me na divisão social e sexual do trabalho As mulheres se mobilizaram ora em nome da igualdade ora em nome de suas diferenças sempre contra as injustiças de que eram vítimas reclamando ao mesmo tempo o direito ao trabalho à educação ao voto e também à maternidade livre desde o co meço do século XX Elas sempre reivindicaram sua identidade como seres humanos e sua liberdade No período contemporâneo as atrizes desse movimento centraram suas lutas contra as discriminações sexistas contra adversários de diversas formas os homens concebidos como grupo biológico o patriarcado a misoginia ou ainda a divisão sexual e social do trabalho em todas as esferas da sociedade Para algumas o foco dessas lutas é o reconhecimento da diferença sexual Para outras ao contrário tratase de questionar a construção social da diferença dos sexos para muitas a igualdade não está na partilha do poder com os homens na sociedade vigente mas supõe uma transformação global das relações sociais Na França os trabalhos de pesquisadoras sobre o movimento feminista contribuíram ao mesmo tempo para salientar o papel das mulheres como atrizes sociais Picq 1993 e para estimular a refl exão sobre as mutações so ciais e os novos temas de radicalização engendrados pelo desenvolvimento do capitalismo Poucos sociólogos dos dois sexos se interessaram pela ma neira como esse novo movimento social tem interpelado do exterior e do interior o velho movimento operário Uma das primeiras a fazêlo na França foi Margaret Maruani 1979 O movimento social sexuado um instrumento para pensar a dinâmica das mobilizações Pensar em termos de relações sociais de sexo é levar em conta a diver sidade de relações sociais fundamentais que estruturam a sociedade rela ções de classe gênero e raça principalmente É considerar igualmente que todo movimento social é sexuado não somente em função do sexo biológico de seussuas participantes mas antes de tudo porque refl ete e às vezes questiona a divisão social e sexual do trabalho e as relações de Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 152 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 152 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 153 poderes entre homens e mulheres na sociedade A partir de uma pesqui sa coletiva sobre a coordenação das enfermeiras em 19881989 Daniele Kergoat Kergoat et al 1992 mostrou que a reivindicação pelo reconheci mento profi ssional das enfermeiras apontava para a manutenção do estatu to subordinado desse novo assalariamento feminino qualifi cado na divisão sexual e social do trabalho Ela indicou também o impacto específi co de um movimento misto sob hegemonia feminina sobre a organização e a natureza das reivindicações A demanda por reconhecimento profi ssional das enfermeiras tinha uma dupla dimensão tratavase de fazer reconhecer ao mesmo tempo sua competência técnica e relacional que devia se traduzir por um reconhecimento salarial Essa dinâmica foi novamente exemplifi cada ainda que com notáveis diferenças pela coordenação das assistentes sociais em 1991 Trat 1994 Uma outra questão diz respeito à distância observada entre o papel das mulheres como sujeito coletivo de movimentos sociais não mistos ou mistos sob hegemonia feminina e sua invisibilidade nos movimentos sociais mis tos Tais são algumas linhas de refl exão esboçadas na França Heinen e Trat 1997 Para analisar sua própria sociedade marcada por uma forte mobili zação de mulheres de diferentes minorias as pesquisadoras anglosaxônicas aprenderam há muito tempo a cruzar as diferentes relações sociais de gênero classe e raça Taylor Wittier 1998 e 1999 A abordagem em termos de relações sociais de sexo tem o mérito de levar em conta as profundas transfor mações mundiais ocorridas no curso dos últimos trinta anos principalmente a feminização do assalariamento e de ressituálas no conjunto das relações sociais Ela responde ao programa de pesquisas internacionais iniciado por McAdam Tarrow e Tilly 1996 visando ultrapassar a fragmentação das dis ciplinas e comparar os movimentos sociais em suas várias dimensões Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Movimentos feministas Sindicatos Béroud Sophie Mouriaux René Vakaloulis Michel Le mouvement social en France Paris La Dispute 1998 223p Heinen Jacqueline Trat Josette Coords Hommes et femmes dans le mouvement so cial Cahiers du Gedisst 1997 n18 187p Kergoat Danièle Imbert Françoise Le Doaré Hélène Senotier Danièle Les infi rmières et leur coordination 19881989 Paris Lamarre 1992 192p Neveu Érik Sociologie des mouvements sociaux Paris La Découverte Repères 1996 123p Picq Françoise Libération des femmes les annéesmouvement Paris Seuil 1993 380p Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 153 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 153 18102009 192535 18102009 192535 154 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Trat Josette La lutte des assistantes sociales un mouvement de femmes salariées con jugué au masculin Les coordinations de travailleurs dans la confrontation sociale Paris LHarmattan Futur antérieur 1994 p10340 Traduzido por FRANCISCO RIBEIRO SILVA JÚNIOR Mundialização Fatiha Talahite Após a segunda guerra mundial a expansão dos bancos norteamerica nos fora dos Estados Unidos e a autonomização de uma criação monetária em eurodólares marcam a emergência de uma esfera fi nanceira globalizada impondo sua lógica ao conjunto da economia mundial O capitalismo que ultrapassara desde muito tempo os limites do Estadonação não se con tenta mais em contornarlhe os limites Transnacionalização de empresas e mudanças decisivas na organização do trabalho e da produção alteram a efi cácia das políticas públicas questionando as bases do Estado de bem estar social Estados e organizações se reagrupam em escala regional ou internacional para reagir e se adaptar ao novo contexto Mas a mundializa ção não é tanto a extensão do mercado em sentido genérico invariante das sociedades humanas mas de um mercado submetido a um dado sistema normativo porque a lei do mercado não age sozinha ela passa por regras e convenções resultantes de confl itos negociações compromissos Ora o que é mundial não é necessariamente universal Serge Latouche 1988 de nomina essa difusão de normas e padrões de ocidentalização do mundo A mundialização é portanto uma categoria ao mesmo tempo analítica de signando um fenômeno econômico e normativa servindo para prescrever comportamentos defi nir e justifi car o conteúdo de normas e instituições Mundialização e globalização Inicialmente traduzido pelo neologismo globalização do inglês glo balization objeto ultraAtlântico de uma signifi cativa literatura o termo se dissemina na França por volta de meados dos anos 90 Defesa da língua Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 154 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 154 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 155 ou desafi os teóricos e ideológicos Mudouse de paradigma depois das teo rias sobre a economia internacional o capitalismo mundial a globalização fi nanceira Traduzindo uma propensão a padronizar a análise econômica o termo vem sancionar o fi m da competição entre capitalismo e socialismo desde a queda do Muro de Berlim e a tendência à convergência na direção de um só modelo econômico Os estudos econômicos relativos ao gênero só se desenvolveram a partir do início dos anos 80 Essencialmente tais estudos integram a separação entre a esfera doméstica e esferas de produção e troca inserida nas catego rias contábeis com a distinção entre consumo fi nal e produção a primeira é o fato exclusivo dos domicílios e a segunda das empresas Elas incidem particularmente sobre o emprego raro domínio em que os dados estatísti cos apontam a variável sexo Com o esforço de harmonização dos quadros estatísticos e o avanço das bases de dados facilitando as comparações inter nacionais é sobretudo pelo viés do mercado de trabalho das migrações ou da demografi a que a relação entre gênero e mundialização é estudada Na ções Unidas 1995 A extensão às relações de sexo de noções inicialmente forjadas no contexto do Estadonação e depois projetadas na escala da eco nomia mundial passa pela substituição pela analogia pela articulação ou pela superposição das categorias de sexo ou de gênero àquelas de classe povo nação raça ou etnia A partir de 1995 o campo das comparações in ternacionais se amplia com a publicação pelo PNUD de um indicador do desenvolvimento humano baseado especifi camente no sexo ISDH assim como de um índice da participação das mulheres IPF A mundialização horizonte do capitalismo 1 Entre 1950 e 1970 a crítica do imperialismo e do intercâmbio desi gual leva alguns países a adotar estratégias de ruptura com o mercado mundial Mas eles se excluem e se marginalizam O questionamento da divisão internacional do trabalho vem dos países emergentes da Ásia e da América Latina introduzidos na competição internacional aproveitando suas vantagens comparativas baixo custo da mão de obra principalmente e sobretudo das empresas internacionais que mudam os dados da divisão internacional do trabalho organizando mudanças intrarramos e intrafi rmas em escala mundial Nos anos 90 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 155 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 155 18102009 192535 18102009 192535 156 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER ajustando o passo com os países emergentes os países em transi ção se lançam por sua vez no mercado mundial Na visão liberal a mundialização seria um jogo de soma positiva funda do não mais apenas na troca de mercadorias entre nações mas na circulação mundial de bens capitais mão de obra com a multiplicação dos fl uxos au mentando por sua vez a riqueza das nações e aquela globalmente produzi da por uma economia doravante mundializada Outros opõem a essa visão o questionamento das aquisições realizadas no contexto do Estadonação Entre os marxistas a crítica da mundialização como extensão em escala mundial da lei do valor prolonga a crítica do capitalismo Mas o abandono da ideia de algo além do capitalismo leva a não se con siderar outro horizonte que não o espacial para a mundialização O longo tempo da História perde sua pertinência em proveito do espaço que se tor na uma temática recorrente com as noções de território distrito rede 2 Essas controvérsias despontam nas abordagens sobre as mulheres e a mundialização Onde alguns denunciam a intensifi cação através do planeta de relações de exploração e dominação a deterioração do ambiente e suas consequências para as mulheres outros veem a pos sibilidade de ir na direção de um maior bemestar e igualdade entre os sexos Tendese a substituir a visão de um mundo bipolar Norte Sul pela da tríade AméricaEuropaÁsia Mas é inicialmente nas regiões desenvolvidas que os processos de integração regional de sembocam numa convergência das economias Apesar do avanço dos meios de transporte e das tecnologias da comunicação que alimenta uma visão ecumênica da mundialização a distância que as separa de suas periferias se aprofunda Há alguns anos surgiu um movimento antimundialização ATTAC a partir da contestação da AMI da OMC e em torno da reivindicação da taxa Tobin reunindo diversas correntes da sociedade civil entre as quais a Marcha Mundial das Mulheres Denunciando a mundialização neolibe ral o que leva a supor a perspectiva de outra mundialização ele retoma em parte a tradição das ideologias anticapitalistas e antiimperialistas As feministas que participam desse movimento reformulam numa perspec tiva altermundialista a questão já antiga da relação entre a luta das mulhe res e outros embates políticos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 156 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 156 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 157 Uniformização dos mundos e diferença dos sexos 1 A mundialização que é também um processo de unifi cação monetária em torno de duas ou três grandes moedas caminha para a uniformi zação dos mundos sua convergência num só mundo no qual tudo é alinhado sob um mesmo padrão de valor a moeda Homens e mulhe res são colocados em competição e a igualdade formal dos direitos cria as condições dessa competição A avaliação em moeda do desempe nho dos indivíduos faz que toda expressão da diferença entre os sexos que não possa se exprimir assim tenda a desaparecer ou a perder sua signifi cação enquanto as diferenças monetarizadas se acentuam Elas se exprimem especialmente em diferenciais de remuneração 30 em média nos países industrializados revelando uma tenaz desvaloriza ção das mulheres apesar de medidas institucionais corretivas ou com pensatórias A segregação puramente ligada ao sexo seria responsável por 20 a 30 de uma diferença que se pode ser menor nas fases de crescimento 14 na Suécia em 1980 tende a crescer em situações de estagnação e desemprego Em que medida sua diminuição é suscetí vel de se generalizar ou é ligada a uma conjuntura excepcional como a dos Gloriosos Trinta favorecendo a redistribuição As conquistas das mulheres nos países desenvolvidos são um privilégio devido à sua po sição dominante na economia mundial necessitando para serem de fendidas manter essa dominação ou podem se estender às outras mu lheres do mundo graças à difusão de uma norma universal em matéria de direitos femininos O início de uma elite feminina mundializada informada e de alto desempenho que reivindica a paridade e a igual dade entre os sexos e afi rma representar em todo o mundo os ideais do feminismo tem seus prós e contras Atuando como lobby e engajada em estratégias de obtenção de poder empowerment pode ser capaz de se comprometer com os poderes políticos midiáticos ou fi nanceiros 2 A difusão de um modelo de transformação do estatuto das mulheres baseado no trabalho assalariado se generalizou pelos países socialis tas e em menor medida no Terceiro Mundo sob diversas formas segundo os períodos e os tipos de economia Se pôde favorecer a pro moção de um assalariamento estável e qualifi cado hoje tende a tomar o aspecto de uma proletarização brutal precarização do emprego Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 157 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 157 18102009 192535 18102009 192535 158 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER desemprego trabalho informal migrações clandestinas e múltiplas formas de prostituição precipitando as mulheres numa competição em que seu desempenho é avaliado em termos monetários Talahite 1998 Passando para o mercado essa avaliação se faz também segun do normas A competição ocorre num espaço e com regras de jogo cujas defi nição e confi guração são hoje um desafi o da mundialização O resultado é paradoxal enquanto convenções internacionais visam proteger as mulheres da discriminação e da violência o recurso a uma norma mundializada deixa sem voz as mulheres das culturas do minadas Spivak 1988 e os modos de expressão da diferença dos se xos próprios de cada cultura se degradam e se depreciam Ora esta é ambivalente fonte de desigualdades também estrutura as sociedades humanas e dá sentido à existência e à ação Nesse contexto de perda de sentido o domínio de competição entre homens e mulheres se restrin ge o que o torna mais brutal e discriminatório enquanto para uma grande parte existência e ação se desenrolam fora do campo do valor mundializado A outra vertente da mundialização é esse processo de exclusão que faz que a atividade de populações inteiras sujeitas ao in formal e ao não direito não seja reconhecida sua existência medi da pelo critério do valor mundializado fi nalmente não possui valor Desenvolvimento Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Etnicidade e nação Migrações Precarização social Charlier Sophie Ryckman Hélène Coral Namur Rapports de genre et mondialisation des marchés Paris LHarmattan 1999 183p Hirata Helena Le Doaré Hélène Coords Les paradoxes de la mondialisation Cahiers du Gedisst 1998 n21 188p Sparr Pamela Ed Mortgaging Womens Lives Feminist Critique of Structural Adjust ment Londres Atlantic Highlands NJ Zed Books 1994 214p Standing Guy Global Feminisation through Flexible Labour World Development 1989 v17 n7 p107795 Wichterich Christa La femme mondialisée Arles Actes Sud 1998 263p edição em alemão no original 1998 Zein Elabdin Eiman Development Gender and the Environment Theoretical or Con textual Link Toward an Institutional Analysis Journal of Economic Issues dez 1996 vXXX n4 Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 158 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 158 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 159 Ofício profi ssão bico Prisca Kergoat Geneviève Picot e Emmanuelle Lada Ofício Do latim menestier mistier serviço ofício a noção de ofício re mete igualmente a dois conceitos gregos maiores os de métis inteligência prática e de techné inteligência raciocinada Ocorre uma distinção entre o artesão dotado de inteligência prática o que implica qualidades servis de obediência e o de técnico que detém as regras de sua arte Descolonges 1996 Essa dicotomia se encontra nos exemplos encontrados no Le petit Robert 1977 As mãos trabalham mais que a cabeça pequeno ofício pitoresco O ofício abrange com toda evidência a divisão social do traba lho e mais particularmente a divisão entre a ação manual e a intelectual As citações e expressões dos dicionários marcam igualmente a divisão social entre os sexos Ser um homem de ofício o mais velho ofício do mundo o ofício de rei é grande As mulheres seriam essencialmente pouco afeitas tanto ao exercício da técnica como do poder É portanto no cruzamento dessas duas dimensões que se deve problematizar a questão A idade de ouro do ofício faz referência às corporações ao artesanato A aquisição de um ofício demanda uma longa aprendizagem com a obrapri ma como seu produto fi nal É no decorrer do trabalho de historiadores que descobrimos um número sempre crescente de mulheres nas corporações Existiam setores de ofícios feminizados roupeiras tecelãs iluminuristas vendedoras de grãos e até alguns ofícios masculinos em que havia mulheres cirurgiãs alquimistas malabaristas etc Livro dos ofícios 1268 Entretan to a regra continua sendo a da especifi cidade dos ofícios Mesmo sendo ofícios reconhecidos ainda são trabalhos de mulheres entendidos como tarefas tradicionalmente atribuídas a estas últimas Perrot 1978 Essa di visão do trabalho testemunha a precariedade do limite entre as atividades produtivas e as reprodutivas Com a industrialização e a parcelarização do trabalho assistese à ex tinção de inúmeros ofícios Ao contrário dos artesãos a grande maioria dos operários não domina o conjunto dos processos de produção Navil Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 159 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 159 18102009 192535 18102009 192535 160 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER le 1961 Mesmo com o movimento de salarização que dá às mulheres a possibilidade de se esquivar da lojinha ou do domicílio conjugal a divisão do trabalho certamente segundo novas modalidades se desenvolve nas fábricas A noção de ofício de mulher surgida no fi m do século XIX defi niuse em torno de qualidades naturais nas mulheres não reconhecidas como qualifi cação Inúmeras historiografi as ressaltam igualmente a utilização do corpo das mulheres como instrumento de trabalho inúmeras são as prosti tutas amas de leite domésticas etc Gardey 1968 que participam da or ganização econômica e social do trabalho Com a evolução dos direitos da mulher ao longo do século XX as pro blemáticas em Ciências Sociais se reorientam nos anos 80 para análises em termos de feminização ou masculinização de profi ssões ou setores em que a divisão sexual do trabalho está em constante reelaboração As diferentes abordagens sociológicas da noção de ofício referemse a três dimensões que fazem aparecer a necessidade de raciocinar simultanea mente em termos de divisão técnica e social e em termos de divisão sexual do trabalho 1 O ofício está associado ao domínio do conjunto de processos de pro dução a um ato de criação A história industrial marca a oposição estruturante entre a ocupação de um posto de trabalho e de um ofício A primeira remete a uma divi são técnica do trabalho a uma parcialização das tarefas cujo protótipo é a situação taylorista o indivíduo é despossuído de sua autonomia e de sua criatividade Inversamente a noção de ofício remete a regras de ação que se assemelham às regras da arte não se trata de aplicar operações formaliza das e repetitivas mas de assimilar um saber fazer savoirfaire refl etido compreendendo uma longa aprendizagem das regras formais e práticas da matériaprima ao produto fi nal Desses dois modelos resulta uma divisão social e sexual do trabalho as mulheres estão pouco presentes no artesanato e se encontram nos postos de trabalho mais desqualifi cados do setor indus trial Em contrapartida são amplamente representadas nos ofícios ditos de serviço tais como o comércio os cuidados com pessoas e o setor terciá rio onde se dão a fl exibilidade e a parcialização do trabalho Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 160 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 160 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 161 2 O ofício está associado à noção da experiência sancionada por um título ou diploma O nível de formação dos ofícios é amplamente determinado pelo setor e pelo sexo No setor industrial pouco feminizado as formações que preparam para um nível III engenheiro são mais difundidas que no setor terciário Essa distinção de reconhecimento vigente entre ofícios ditos masculi nos e ofícios ditos femininos envolve a separação entre de um lado qua lidades femininas que seriam inatas não adquiridas e por conseguinte não reconhecidas como verdadeiras qualifi cações e de outro qualidades masculinas consagradas por diplomas e portanto reconhecidas como tais Kergoat 1984 Essa lógica que remete ao saber fazer supostamente femi nino minúcia cuidado etc pode ser reforçada pela noção de competência usada pelas empresas o saber fazer paciência discrição generosidade etc é um critério encontrado num certo número de ofícios ditos femininos baseado num saber ser com os outros secretária telefonista enfermeira assistente social cabeleireira etc Um dos perigos dessa noção não seria ao revestir antigos lugarescomuns de uma aparência de modernidade e cientifi cidade cf a construção de referenciais de competências ratifi car e legitimar a diferença sexuada das carreiras graças à dissociação entre as competências supostamente masculinas e as supostamente femininas 3 O ofício é produtor de reconhecimento social Os ofícios supostamente femininos são menos valorizados por nossas sociedades além disso a valorização social pelo ofício é mais forte entre os homens do que entre as mulheres em virtude do lugar atribuído a elas nas esferas da produção e da reprodução Kergoat 1988 Fortino 1995 Mireille Dadoy 1984 observa a existência de uma forte reivindicação so cial do retorno ao ofício noção que se enriquece com uma clara conotação positiva versus desemprego ausência de qualifi cação parcelarização do trabalho decomposição dos coletivos de trabalho emprego instável que não dá acesso a uma carreira nem a um reconhecimento social Entretanto a reabilitação do ofício não parece se fazer em torno doa operárioa dao artesão ou doa empregadoa mas da fi gura do técnico e do engenheiro afi rmando assim a persistência da divisão social e sexual do trabalho Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 161 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 161 18102009 192535 18102009 192535 162 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Dadoy Mireille Le retour au métier Revue française des affaires sociales 1984 n4 p69104 Descolonges Michèle Questce quun métier Paris PUF 1996 259 p Fortino Sabine Le plaisir au coeur des pratiques et stratégies professionnelles férni nines Cahiers du GEDISST 1995 n14 p127147 Gardey Delphine Perspectives historiques in Margaret Maruani dir Les nouvelles frontières de linégalité Hommes et femmes sur le marché du travail Paris MAGELa Découverte Recherches 1998 p2338 Kergoat Danièle Le mêtier in Christophe Dejours dir Plaisir et souffrance dans le travail Éditions de lAOCIP 1988 t2 p191198 Perrot Michelle De la nourrice à lemployée Travaux de femmes dans la France du XIXe siècle Le mouvement social número especial octobrenovembre 1978 n105 p310 Profi ssão O termo profi ssão do latim professio provém do verbo professar que é o ato de proclamar aquilo em que se crê uma crença políticoreligiosa ou uma opinião Na linguagem corrente o termo tem inúmeros sentidos podendo tanto designar uma ocupação determinada da qual se tiram os meios de existência como um ofício que tem relativo prestígio social ou intelectual Le petit Robert 1993 A sociologia das profi ssões nos países anglosaxões opõe as verdadeiras profi ssões às outras atividades de trabalho designadas como ocupações As primeiras são dotadas de direitos específi cos reconhecidos pelo Esta do e pela legislação elas organizam sua formação controlam seu exercí cio têm uma estruturação autônoma comportam uma formação longa e teórica tanto quanto um saber prático As segundas não desfrutam desses direitos particulares Na França a sociologia das profi ssões chamada mais frequentemente de sociologia dos grupos profi ssionais não faz diferença entre verdadeira profi ssão e ocupação os membros de uma profi ssão são aqueles que exercem uma mesma atividade de trabalho o sentido do termo aqui é próximo daquele de corporação Portanto a noção de profi ssão comporta sentidos diferentes segundo os autores e seus pontos de vista so bre o trabalho que podem se formular em termos de identidade posição especialização ou classifi cação profi ssional Dubar Tripier 1998 p123 Historicamente o exercício de uma profi ssão como de todo trabalho que implique uma renda é profundamente marcado pela divisão sexual do trabalho Na França as mulheres foram excluídas do modelo corporativo Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 162 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 162 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 163 estatal um sistema profi ssional hierarquizado que predominou durante o Antigo Regime e permaneceu posteriormente Entretanto durante certos períodos elas puderam ter acesso a algumas corporações particularmente as esposas viúvas ou fi lhas de homens de ofício Roux 1994 p901 A partir do fi m do século XIX e começo do século XX as mulheres passaram a exercer atividades de trabalho como secretárias enfermeiras professo ras que se dizia serem adequadas para uma mulher Cacouault 1987 continuando excluídas de atividades mais prestigiosas como o exercício da Medicina ou do Direito Entre os fundadores da Sociologia enquanto alguns autores analisaram os grupos profi ssionais a fi m de mostrar sua gênese e suas dinâmicas pode se dizer que está ausente toda interrogação em termos da sexuação da ati vidade profi ssional Assim para Émile Durkheim os grupos profi ssionais deviam ser levados a desempenhar um papel central na organização social e moral de nossas sociedades modernas e sobretudo assegurar uma função de regulação social como corpos intermediários entre o indivíduo e o Esta do Max Weber centra sua refl exão nos signifi cados religiosos da atividade profi ssional assim os profi ssionais são no início religiosos o mágico o padre o profeta que encarnam a construção de legitimidades carismáticas ou tradicionais Com a revolução industrial e a racionalização das ativida des aparece uma nova fi gura profi ssional a do especialista expert que é representativa da construção de uma legitimidade legalracional A pesquisa histórica e sociológica se propõe num primeiro momento a ressaltar as características das atividades profi ssionais exercidas por mulhe res A partir do fi m dos anos 60 diante do maior acesso das mulheres ao se tor terciário e aos grupos profi ssionais que lhes eram até então interditados os trabalhos têmse apoiado na feminização de um ofício ou de uma pro fi ssão Estes se interrogam qual o sentido atribuído à noção de feminização Zaidman 1986 que remete tanto ao crescimento do número de mulheres num determinado grupo profi ssional em pequeno ou grande número como aos efeitos desse crescimento numérico em termos de transformação ou reprodução das relações sociais entre os sexos e das práticas profi ssio nais A noção de feminização está associada a diversas representações so ciais Ela pode ser analisada como uma subversão Zaidman 1986 um desregramento do sistema social quando por exemplo mulheres entram em pequeno número nas concentrações masculinas assimiladas a setores de Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 163 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 163 18102009 192535 18102009 192535 164 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER poder Ela pode ser ao contrário interpretada como uma vitória das mu lheres em sua luta pelo acesso à igualdade em direitos e em número no caso de uma entrada massiva das mulheres num grupo profi ssional Em outros casos ainda o processo de feminização pode ser analisado em relação à desvalorização de um exercício profi ssional e a uma perda de prestígio Desde o fi m dos anos 90 algumas pesquisas se orientam mais para o estudo dos mecanismos sociais e econômicos que estão na origem das novas formas de divisão sexual do trabalho levando em conta uma multiplicidade de fatores como a evolução das representações sociais Cacouault 1987 as transformações estruturais Mary 1989 J Collin 1992 a infl uência dos contextos nacionais Cacouault 1987 Mary 1989 Le Feuvre Walters 1993 as transformações da organização do trabalho Cacouault 1987 Picot 1995 assim como as mudanças relacionadas à instituição familiar Estudos sobre a masculinização de grupos profi ssionais permitem predizer uma ampliação dos questionamentos inclusive sobre a noção de feminiza ção CacouaultBitaud 1999 Picot 2000 Na sociologia dos grupos profi ssionais os fenômenos de masculinização e feminização não são sempre levados em conta quando se busca compreen der a evolução de um grupo profi ssional Apesar de sua importância per manecem elementos marginais ou ignorados nas análises Na sociologia das relações sociais de sexo o sentido a ser atribuído ao termo profi ssão no contexto anglosaxão ou francês é um debate teórico ainda por ser feito A novidade desse debate provém do acesso recente das mulheres a meios profi ssionais mais privilegiados e mais valorizados socialmente Cacouault Marlaine Prof cest bien pour une femme Le Mouvement social juillet septembre 1987 n140 p107119 Collin Johanne Les femmes dans la profession phamaceutique au Québec rupture ou continuité Recherches feministes 1992 v5 n2 p3156 Le Feuvre Nicky Walters Patricia Égales en droit La féminisation des professions juridiques en France et en GrandeBretagne Sociétés contemporaines 1993 n 16 p4162 Marry Catherine Femmes ingênieurs une irrésistible ascension Informa tion sur les sciences sociales juin 1989 voto 28 n2 p291344 Picot Geneviève Le rapport entre médecin et personnel infi rmier à lhôpital public con tinuités et changements Cahiers du Genre Paris 2000 n26 Zaidman Claude La notion de féminisation de la description statistique à lanalyse des comportements in Nicole Aubert Eugene Enriquez Vincent de Gaulejac dir Le sexe du pouvoir Femmes hommes et pouvoirs dans les organisations Paris Desclée de Brouwer 1986 p281289 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 164 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 164 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 165 Bico Job Bico job é um termo que nas sociedades ocidentais contemporâneas remete à fragmentação da relação salarial de que a diversifi cação das for mas e dos estatutos de emprego é um dos aspectos Na França a palavra job não remete nem a uma apelação jurídica nem em Ciências Sociais a um conceito ou uma noção diferentemente dos tra balhos anglosaxões é uma categoria resultante da prática pouco usada por pesquisadoras e pesquisadores que preferem a expressão pequenos expedientes petits boulot Se o termo job remete na Inglaterra do século XIV a um pedaço ou uma peça qualquer que possa ser arrastada Sennet 1998 p9 hoje ele faz parte de um linguajar familiar de origem inglesa que se refere desde os anos 50 a um trabalho emprego remunerado consi derado sobretudo em função dos recursos que proporciona e em seguida toda ocupação profi ssional Grand dictionnaire des lettres Larousse 7 vols 1986 Atualmente esse termo não denomina nenhuma realidade de emprego nas representações de jovens de zonas urbanas de ambos os sexos em co meço de vida ativa mas é um espaço intermediário plural de empregos em contraposição a um emprego de tempo integral com duração indetermi nada e com um só empregador inserido para os jovens de sexo masculino num jogo de oposição entre diferentes práticas informais entre as quais o trabalho informal e um emprego de duração indeterminada ele se reveste para as jovens do sexo feminino de uma diferenciação entre trabalho in formal trabalho doméstico e emprego de duração indeterminada Mesmo tornando visível um estatuto o de trabalhador ou trabalhadora não fornece perspectiva de carreira e remete a momentos diferentes das trajetó rias dos jovens de ambos os sexos Para as moças tratase de uma remuneração por um terceiro que trans forma em job tarefas do âmbito da esfera doméstica ensinar crianças versus ser babá temporária cuidar de ascendentes versus auxiliar pessoas idosas Alguns trabalhos que procuraram defi nir os pequenos expedientes a partir de uma abordagem descritiva revelaram uma realidade plural em termos de estatutos condições de emprego e setores de atividade mas sem propor uma defi nição unívoca Assim os bicos dizem respeito a ativi dades declaradas ou não sobretudo no âmbito dos serviços à pessoa Ème Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 165 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 165 18102009 192535 18102009 192535 166 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER e Laville 1988 Para outros estudiosos eles pertencem exclusivamente à esfera do trabalho profi ssional e legal no setor terciário primário ou se cundário Elbaum 1987 Nesse inciso da Divisão Emprego do INSEE que é interessante mencionar pois esse organismo participa na França da elaboração de nomenclaturas é a atividade reduzida caracterizada pelo critério dos horários de trabalho que defi ne os pequenos expedientes Distinguemse quatro tipos Os horários reduzidos e regulares os horá rios reduzidos e instáveis os contratos de trabalho temporário de curta du ração e as atividades episódicas ou marginais O trabalho temporário os estágios e também o trabalho em tempo parcial com contrato de duração indeterminada fazem parte dos pequenos expedientes nessa defi nição Para Chantal NicoleDrancourt 1991 eles têm um carater provisório e amador e dizem mais especifi camente respeito aos primeiros tempos da in serção juvenil É interessante ressaltar esse ponto pois para NicoleDran court as diferentes formas de emprego temporário não são equivalentes em razão principalmente de uma articulação diferente segundo o gênero e o momento biográfi co É nos anos 80 e 90 que se difundem os termos job e pequenos expedien tes nos escritos sociológicos para se referir a uma realidade diferente do em prego estudantil Eles são todavia pouco formalizados e questionados em relação à divisão sexual do trabalho Estamos num contexto de amplas trans formações do aparato produtivo O crescimento do desemprego se mantém A ruptura da norma de emprego construída no pósguerra as mudanças nas políticas públicas de emprego e o desenvolvimento do setor terciário têm consequências sobretudo para as mulheres que se mantêm no mercado de trabalho após uma intensifi cação de sua entrada no assalariamento O termo job pertence ao entrecruzamento de debates sociais e políticos sobre a diversifi cação das formas de emprego a inserção e a precarização Em meados dos anos 80 propõese a ideia de que esses pequenos expe dientes poderiam ser uma nova maneira de articular o econômico e o so cial assim como uma resposta inovadora aos desafi os da precariedade e do desemprego Ème e Laville 1988 Os trabalhos sobre os pequenos expedientes e mais amplamente so bre a diversifi cação das formas de emprego Coletivo 1989 e o trabalho das mulheres Lagrave 1992 sublinham a segmentação sexuada dos mer cados de trabalho e uma sexuação dessas formas de emprego que não supri Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 166 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 166 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 167 mem as lógicas geracionais Assim são principalmente jovens e mulheres que se encontram nesses espaços e nesses períodos que se prolongam para as menos qualifi cadas dentre elas Atualmente num debate sobre as fontes potenciais de empregos as orien tações das políticas públicas de emprego e os discursos empresariais ten dem a um processo de institucionalização desses pequenos expedientes num processo que reproduz a mais tradicional divisão sexual do trabalho O que ainda provoca debate é menos a defi nição dos pequenos expedien tes e bicos e mais a interpretação que deve ser dada a seu desenvolvimento e seus objetivos Um dos desafi os hoje é refl etir sobre a construção social se xuada dos empregos e denunciar a ideologia que sustenta o discurso sobre a repartição do trabalho entre homens e mulheres Hirata Senotier 1996 Categorias socioprofi ssionais Desemprego Divisão sexual do trabalho e relações so ciais de sexo Emprego Flexibilidade Técnicas e gênero Trabalho o conceito de Coletivo Évolution des formes demploi Paris La Documentation française 1989 280p Atas do colóquio da revista Travail et emploi 3 e 4 de novembro de 1988 Elbaum Mireille Les petits boulots Plus dun million dactifs en 1987 Économie et statistiques 1987 n205 p4958 Ème Bernard Laville JeanLouis Les petits boulots en question Paris Syros Alterna tive 1988 231p Hirata Helena Senotier Danièle Dirs Femmes et partage du travail Paris Syros Al ternatives sociologiques 1996 281p Lagrave RoseMarie Une émancipation sous tutelle Éducation et travail des femmes au XXe siècle in George Duby Michelle Perrot dirs Histoire des femmes en Occident 1992 t5 cf Referências bibliográfi cas p43061 Nicole Drancourt Chantal Le labyrinthe de linsertion Paris La Documentation fran çaise 1991 407p Traduzido por FRANCISCO RIBEIRO SILVA JÚNIOR Paridade Hélène Le Doaré O termo paridade designa uma representação igual de mulheres e homens nas instituições da República compostas por meio de eleições O termo está associado a outra noção que torna mais explícita sua vinculação Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 167 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 167 18102009 192536 18102009 192536 168 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER exclusiva ao campo do político a noção de democracia paritária A desigual dade dos sexos nos espaços de representação questiona os fundamentos da democracia representativa a paridade que em sua forma numérica é con cebida como uma modalidade específi ca da igualdade deveria contribuir para reassentar as bases de um sistema democrático que é explicitamente defi ciente uma vez que não foi capaz de integrar metade dos cidadãos Na França essa batalha que recentemente se tornou um preceito legislativo buscou se distinguir da reivindicação por cotas defendida pelos movimen tos de mulheres de numerosos países A noção de paridade do ponto de vista político surgiu no âmbito euro peu de fato foram iniciativas desenvolvidas em escala europeia que favo receram o impulso das mobilizações na França A expressão democracia paritária foi lançada num colóquio organizado em 1989 pelo Conselho da União Europeia em Estrasburgo a questão da igualdade entre homens e mulheres foi colocada como um pressupostoprerrequisito político Mu lheres com experiência de alta responsabilidade política como Simone Veil e Edith Cresson reuniramse em 3 de novembro de 1992 em Atenas a con vite da Comissão Europeia Diante da constatação de um défi cit democrá tico declararam que as mulheres representam mais da metade da popula ção A igualdade impõe a paridade na representação e na administração das nações Finalmente 1992 é o ano em que se difunde na França a palavra paridade com a publicação do livro de Françoise Gaspard Claude Ser vanSchreiber e Anne Le Gall Uma maioria política a partir de uma palavra de ordem feminista contestada A reivindicação da paridade tem uma história relativamente curta pois sua fase de elaboração política se conclui com o voto do Congresso que reúne a Assembleia Nacional e o Senado em Versalhes a 28 de junho de 1999 Sua aplicação na forma de lista paritária nas eleições municipais de 2001 demonstrou ao mesmo tempo a efi cácia de uma imposição legal pois as conselheiras municipais representaram 47 dos eleitos haviam sido 25 em 1995 nos municípios com mais de 3500 habitantes e seus limites Com efeito se levamos em consideração o número de prefeitas eleitas 69 contra 3 em 1995 e a fraca representação de conselheiras nos executivos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 168 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 168 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 169 municipais que em geral recorriam à competência feminina percebe mos que as chaves do poder permanecem na mão dos homens que todavia controlam o acesso a outros escalões do poder político A reivindicação de paridade se desenvolveu inicialmente num ambiente feminista dividido Se essa reivindicação não suscitou uma real mobilização social em seu apoio teve sucesso no entanto ao convergir numa só corrente múltiplas formas de intervenção criação de uma associação de uma rede organização de co lóquios e seminários produção de ações de visibilidade como o Manifesto dos 577 publicado no jornal Le Monde em 10 de novembro de 1993 reivin dicando que a paridade se transformasse em lei Em que termos o movimento pela paridade defendeu seu projeto A rei vindicação da paridade segundo esse movimento integra um princípio e uma aposta O princípio As mulheres foram subtraídas em função de seu sexo do corpo político na origem da democracia e essa exclusão se instituiu como um princípio e é como mulheres numa relação de absoluta igual dade que elas devem estar presentes nas assembleias eleitas Gaspard in Nouvelles questions féministes 1994 p31 As mulheres não constituem uma categoria ou uma minoria mas um dos dois componentes do corpo social o estabelecimento de cotas se contrapõe ao princípio da igualdade A aposta no plano simbólico e no plano concreto É claro que a instau ração de assembleias paritárias subverte a imagem que todas as mulhe res fazem de si e cada uma de si mesma e de sua capacidade para assumir responsabilidades políticas Não há dúvida que essas subversões tornam senão caducas ao menos ilegítimas as discriminações persistentes pro duzindo como refl exo outras mutações apenas por sua força simbólica Viennot Nouvelles questions féministes 1994 p79 É uma aposta em relação às mulheres que supõe a abertura em direção a novos grupos de mulheres e a renúncia a uma aliança a priori com a esquer da Essa estratégia política se situa no interior das instituições existentes na perspectiva de uma mudança possível da vida política e para as mulheres Paralelamente iniciativas pontuais demonstram que a paridade entra pouco a pouco no debate e na cena política em setembro de 1995 Alain Juppé cria o Observatório da Paridade Em junho de 1996 LExpress pu blica o Manifesto das 10 em defesa da paridade no qual mulheres políticas provenientes de horizontes diversos propõem sete medidas para renovar a Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 169 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 169 18102009 192536 18102009 192536 170 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER prática do poder e da democracia Finalmente e principalmente o acesso igual de mulheres e homens aos mandatos e às funções tornase um desa fi o na vida dos partidos que transformam essa questão numa pedra angu lar da modernização das instituições Já nas eleições europeias de 1994 seis listas eram paritárias ou quase É preciso também dizer que a opinião pública parece manifestar sua adesão a essa demanda apesar de sua radi calidade As diversas sondagens revelam que em torno de dois terços das francesas e dos franceses aprovariam uma modifi cação da Constituição com o objetivo de introduzir como princípio geral a paridade homensmulheres Essa adesão majoritária bastante surpreendente pode se explicar pela es perança de uma renovação dos mecanismos da vida política esperança re forçada pela proposta de feminização do governo de Leonel Jospin levada a cabo com sucesso A história da reivindicação da paridade entra numa segunda etapa ao fi nal de 1998 desencadeada pela discussão na Assembleia Nacional e no Senado da lei adotada em junho pelo Conselho de Ministros da União Eu ropeia Após um vaivém entre a Assembleia que a votou por quase una nimidade e o Senado bastante reticente no dia 4 de março chegouse a um acordo entre as duas casas em relação à integração no artigo 3o A lei favorece o igual acesso de homens e mulheres aos mandatos eleitorais e às funções eletivas e no artigo 4o Os partidos políticos contribuem para implementar a paridade As discussões institucionais foram precedidas e posteriormente acom panhadas com repercussão inesperada pela imprensa em que mulheres e alguns homens se exprimem longa e apaixonadamente defendendo po sições teóricas que fundamentam ou invalidam a inserção da paridade no artigo 3o da Constituição De um debate interno à disputa pública A consignação da paridade tem fundamento como projeto político coerente em si Esse conceito de repartição entre homens e mulheres é para mim fi losofi camente insustentável mas é verdadeiro na prática ou seja é efi caz Esse comentário de Geneviève Fraisse no jornal LHumanité em 13 de fevereiro de 1996 evidenciou a existência de um duplo nível que explica a aguda natureza do debate impondo o deslocamento ambíguo de Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 170 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 170 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 171 uma estratégia a um fundamento fi losófi co do exercício compartilhado da cidadania ao pertencimento a uma humanidade única ou dual O debate no interior dos meios feministas é menos a expressão de posições contraditórias sobre a participação das mulheres na esfera política do que a tradução de duas visões da luta feminista O movimento pela paridade agluti na mulheres diversas para quem a participação no poder é um desafi o real ou virtual real para aquelas que aí estão ou almejam entrar e virtual para aque las que pensam que a divisão do poder político é uma das últimas grandes batalhas das mulheres O movimento pela paridade abrange uma estratégia limitada que tampouco se apoia sobre qualquer programa político de conjun to Aquelas que exprimem uma oposição a essa luta difi cilmente podemos evocar a existência de uma corrente antiparidade de fato têm pouco interesse por essa nova forma de contestação Elas se incluem na continuidade da luta feminista ancorada numa visão global da sociedade fundada sobre a crítica a todas as relações sociais e sobre a transformação renovada da divisão sexual do trabalho que está no cerne mesmo da dominação masculina À paridade algumas opõem a coexistência entre os sexos14 como uma estratégia de trans formação das relações sociais de sexo agindo em todos os níveis da sociedade No momento em que a paridade entra na arena das instituições o de bate contraditório La Piège 1999 desenvolvido durante o primeiro pe ríodo entre as militantes feministas que se referenciam em análises políticas diferentes transformase numa dinâmica de tomada de posições situadas em disciplinas científi cas Filosofi a Filosofi a política Psicanálise História etc cujos fundamentos explicariam além das opções políticas as diver gências proclamadas Os discursos e as condições dos discursos mudaram no entanto os temas que são objeto de controvérsia são fundamentalmente os mesmos e podem ser reduzidos a dois a defesa do universalismo e a acu sação de naturalismo O princípio da universalidade fundador da democracia é negado pela representação das mulheres como mulheres e essa negação coloca em risco o potencial igualitário da ideia republicana gerada pela noção de um indi víduo abstrato e da prevalência do interesse geral A subrepresentação das mulheres nada mais é que o exemplo mais fl agrante da subrepresentação 14 Nesta obra traduzimos mixité sem equivalente em português por coexistência entre os sexos A edição espanhola traduziu esse termo por grupos mixtos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 171 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 171 18102009 192536 18102009 192536 172 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER de uma série de grupos sociais Varikas in Nouvelles questions feministes 1995 p9015 todo grupo discriminado teria o direito de reivindicar ser re presentado O espaço democrático não seria mais que a expressão de inte resses particulares Os próparidade defendemse sobretudo de uma acusação de antirre publicanos As pragmáticas defendem como Michelle Perrot a ideia de uma paridade universalista o universal é um objetivo não uma realidade Le Monde 25 fevereiro de 1999 E as fundamentalistas como Sylvia ne Agacinski reivindicam uma humanidade universal dupla Le Monde 6 de fevereiro de 1999 O recurso a desvios linguísticos não contribuiu para que se abrisse um diálogo A paridade é um retorno a uma concepção naturalista das mulheres uma vez que sua presença por si mesma seria naturalmente uma força transformadora das regras do jogo político O pensamento essencialista ligado a Luce Irigaray aparece pouco nesse deba te mas a introdução da diferença entre os sexos defi nida em particular pela maternidade para lastrear uma dualidade da espécie humana é vista como uma regressão intolerável por algumas intelectuais e por numerosas femi nistas que lutaram contra a ideia de uma natureza feminina As defenso ras da paridade como estratégia argumentam que se apoiam na igualdade como horizonte e não sobre a diferença como princípio A inscrição da paridade no artigo 4o da Constituição como uma medida obrigatória aos partidos políticos poria fi m ao debate Mas o compromisso político no sentido próprio do termo signifi cava um alinhamento às posi ções de um Senado sob maioria do RPR Reagrupamento pela República Por sua amplitude midiática o debate possibilitou a entrada de uma nova noção na linguagem comum superou os limites do jogo político e dos círculos de refl exão feministas no mínimo relembrando ao conjunto da so ciedade a existência de desigualdades entre homens e mulheres A solução constitucional marca uma mudança importante na formalidade jurídica mas o consenso majoritário nos faz pensar que ela deixará intactos os meca nismos das relações sociais entre os sexos Cidadania Coexistência dos sexos Diferença dos sexos teorias da Igualdade Movi mentos feministas Poderes Sexo e gênero Universalismo e particularismo 15 Publicado no Brasil em Estudos Feministas v4 11996 p6594 Refundar ou reacomodar a democracia Refl exões críticas acerca da paridade entre os sexos NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 172 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 172 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 173 Cahiers du GEDISST 1996 n17 Principes et enjeux de la parité 96p Gaspard Françoise ServanSchreiber Claude Le Gall Anne Au pouvoir citoyennes Liberté égalité parité Paris Seuil 1992 184p MossuzLavau Janine Femmeshommes pour la parité Paris Presses de Sciences Po 1998 128p Nouvelles questions féministes 1994 v15 n4 La parité pour 90p Nouvelles questions féministes 1995 v16 n2 La parité contre 140p Le piège de la parité Arguments pour un débat Paris Hachette 1999 253p Traduzido por TATAU GODINHO Patriarcado teorias do Christine Delphy Patriarcado é uma palavra muito antiga que mudou de sentido por volta do fi m do século XIX com as primeiras teorias dos estágios da evo lução das sociedades humanas depois novamente no fi m do século XX com a segunda onda do feminismo surgida nos anos 70 no Ocidente Nessa nova acepção feminista o patriarcado designa uma formação social em que os homens detêm o poder ou ainda mais simplesmente o poder é dos homens Ele é assim quase sinônimo de dominação masculina ou de opressão das mulheres Essas expressões contemporâneas dos anos 70 re feremse ao mesmo objeto designado na época precedente pelas expressões subordinação ou sujeição das mulheres ou ainda condição feminina Antes do século XIX e da aparição de um sentido ligado à organização global da sociedade o patriarcado e os patriarcas designavam os dignitários da Igreja seguindo o uso dos autores sagrados para os quais patriarcas são os primeiros chefes de família que viveram seja antes seja depois do Dilú vio Esse sentido ainda é encontrado por exemplo na Igreja Ortodoxa na expressão o patriarca de Constantinopla História semântica Esse sentido religioso é o primeiro a ser citado pelos dicionários fran ceses o sentido social só vai aparecer em segundo ou terceiro lugar Em Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 173 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 173 18102009 192536 18102009 192536 174 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER contrapartida os dicionários ingleses dão o sentido contemporâneo femi nista como primeira acepção Patriarcado vem da combinação das palavras gregas pater pai e arkhe16 origem e comando Essa raiz de duplo sentido se encontra em ar caico e monarquia Para o grego antigo a primazia no tempo e a autoridade são uma só e a mesma coisa Portanto o patriarcado é literalmente a autoridade do pai Como o pai é forçosamente o primeiro e a origem em relação às gerações seguintes a adi ção de pater com arkhe redobra a autoridade da origem considerada uma evidência no termo arqui e evidente na palavra grega archontes descen dentes das primeiras famílias instaladas num lugar e dirigentes da comuni dade Mas a palavra pater em si a mesma em sânscrito grego e latim não designa o pai no sentido contemporâneo Esse papel é preenchido pelo geni tor genitor A palavra pater tinha um outro sentido Na língua do Di reito aplicavase a todo homem que não dependia de nenhum outro e que tinha autoridade sobre uma família e um domínio Fustel de Coulanges 1864 A palavra patriarcado comporta portanto triplamente a noção de autoridade e nenhuma noção de fi liação biológica São Morgan e Bachofen que lhe dão seu segundo sentido histórico aquele que se manterá até os anos 70 Eles postulam a existência de um direito materno que teria sido substituído pelo direito paterno explicita mente chamado por Bachofen de patriarcado Ele é seguido por Engels e depois por Bebel 18931964 Antes das denúncias dos autores socialistas encontrase bastante o ad jetivo patriarcal em autores do século XIX utilizado de maneira elogiosa em expressões como as virtudes patriarcais a saber a simplicidade dos costumes a frugalidade a vida no campo A palavra denota pequenas co munidades agrícolas compostas de unidades familiares de produção cada uma sob o cajado de seu antepassado sendo a vida comunitária regida pela reunião dos ancestrais dos chefes de família Para os autores essa é a ima gem de uma idade de ouro que eles opõem à corrupção e à decadência pro vocadas pela vida na cidade pela indústria e pelo assalariamento A mesma imagem de uma sociedade composta de famílias sob a autori dade de um pater familias e a mesma palavra que evocam para os autores 16 Raiz abonada pelo Dicionário Houaiss versão eletrônica 2003 verbete patriarcado NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 174 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 174 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 175 dos séculos XVIII e XIX uma idade de ouro tornamse uma acusação para as feministas do século XX Atribuise a invenção do terceiro sentido o sentido feminista contem porâneo a Kate Millet em Sexual politics Política sexual 1971 Esse terceiro sentido está em clara continuidade com o segundo Mas diferen temente dos autores socialistas ainda que Engels seja discutido até muito antes nos anos 70 as feministas a exemplo de Simone de Beauvoir não creem na existência de um matriarcado original e a maioria não se interessa pelas teorias evolucionistas desacreditadas pelas atuais Ciências Sociais Pai ou marido é tudo igual diz implicitamente a defi nição feminista E é na verdade o caso de nossas sociedades como da sociedade antiga que criou a palavra Isso é entretanto a fonte de uma das objeções corren tes contra a utilização de patriarcado para designar os sistemas que oprimem as mulheres A palavra exata dizem aqueles e aquelas que le vantam essa objeção deveria ser viriarcado Na verdade em certas socie dades o marido e o pai são distintos é o tio materno que detém a autoridade paterna sobre os fi lhos nas famílias Mas essa objeção se funda num con trassenso etimológico pois assimila o pai ao genitor utilizando pater como pai no sentido moderno O sentido dado pelas feministas prevaleceu e é compreendido que a palavra designa a dominação dos homens quer se jam eles pais biológicos ou não Essa acepção está integrada ao mais recente dos dicionários ingleses usuais Collins Thesaurus 1987 A form of social organization in which a male is the head of the family and descent Uma forma de organização social na qual um macho é o chefe da família e de sua descendência Patriarcado e teorias feministas O patriarcado é rapidamente adotado pelo conjunto dos movimentos feministas militantes nos anos 70 como o termo que designa o conjunto do sistema a ser combatido Em relação a seus quase sinônimos dominação masculina e opressão das mulheres ele apresenta duas características por um lado designa no espírito daquelas que o utilizam um sistema e não relações individuais ou um estado de espírito por outro lado em sua argumentação as feministas opuseram patriarcado a capitalismo o Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 175 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 175 18102009 192536 18102009 192536 176 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER primeiro é diferente do segundo um não se reduz ao outro Isso se reves te de uma grande importância política num momento de reemergência do feminismo em que as militantes são confrontadas a homens e mulheres de organizações políticas para quem a subordinação das mulheres não é mais que uma das consequências do capitalismo Patriarcado ou capitalismo patriarcado e capitalismo tais são os termos dos debates mais importantes entre osas partidáriosas de uma luta fe minista autônoma e osas partidáriosas de uma luta feminista sujeita às organizações políticas anticapitalistas Esses debates perdem seu vigor nos anos 80 por duas razões as organizações de extrema esquerda se resig naram à multiplicidade de frentes e renunciaram à distinção entre luta principal e luta secundária também perderam sua força com a crise do militantismo que terminou por atingir também o movimento feminista no começo dos anos 80 Por conseguinte essas lutas perdem seu impacto até desaparecerem nos anos 90 Os estudos feministas aparecem no fi m dos anos 70 na França e pare cem a expressão da força do movimento feminista mas muito rapidamen te tornase aparente que de fato coincidem com seu enfraquecimento Elas herdam conceitos forjados pelo movimento militante mas sua legí tima vontade de construir um lugar próprio nas esferas do conhecimento levaos frequentemente a eufemizar seu vocabulário para se distinguir do militantismo Nos Estados Unidos e na GrãBretanha em contrapartida os estudos feministas foram menos tímidos porque foram menos combatidos Tam bém se encontra a palavra patriarcado não somente nos panfl etos mi litantes mas também em todas as obras teóricas No entanto as mesmas linhas divisórias entre feministas de sensibilidade mais socialista e fe ministas de sensibilidade mais autônoma são aparentes no uso ou evitação do termo Um livro famoso editado por Zillah Eisenstein tenta tomar uma posição intermediária e conciliar as duas tendências como indica seu título Capitalist patriarchy and the case for socialist feminism Patriarcado capita lista e a defesa do feminismo socialista 1979 Outras feministas socialistas norteamericanas como Heidi Hartmann 1981 não têm escrúpulos em utilizar o termo patriarcado nem em considerálo um sistema distinto do capitalismo Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 176 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 176 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 177 Patriarcado gênero relações sociais de sexo Na França os debates em torno da utilização do termo têm em parte as mesmas razões Às vezes o termo patriarcado levanta objeções frequen temente da parte das mesmas pessoas que se opõem mais tarde ao empre go do conceito de gênero As razões dessas reticências são às vezes claras elas denotam a adesão a uma teoria que privilegia o capitalismo no caso do patriarcado e a uma teoria que privilegia a diferença natural dos sexos no caso do gênero Mas às vezes essas reticências parecem manifestar uma hostilidade irracional contra aquilo que é visto como uma importação do exterior As sociólogas feministas criaram termos como relações sociais de sexo que são unicamente franceses e intraduzíveis em outra língua Esse termo agora o mais utilizado em Sociologia foi inicialmente conce bido como uma alternativa a patriarcado julgado insatisfatório e mais tarde ao termo gênero Uma outra objeção a patriarcado é sua generalidade podese reprová lo por universalizar uma forma de dominação masculina situada no tempo ou no espaço ou então correr o risco de cair na falha inversa de ser transhis tórico e transgeográfi co Alguns autores precisam o tempo e a localização de seu uso Delphy 1998 mas o uso atemporal também é legítimo se não con ceder poder explicativo ao termo e patriarcado for empregado de maneira descritiva Assim numa obra voltada aos feminismos não ocidentais Chan dra Mohanty Ann Russo Lourdes Torres 1991 utilizamno vinte vezes O termo patriarcado continua a ser muito usado na língua inglesa Ele é encontrado abundantemente tanto em obras recentes Walby 1986 1990 como num manual de sociologia da família britânica D Morgan 1985 em francês segundo uma sondagem efetuada sobre a base Francis por Nicole Girard entre 1984 e 1996 ele foi utilizado em 47 revistas di ferentes quase todas francesas com cerca de três exceções de Sociologia Estudos Culturais Antropologia e Arqueologia Parece portanto ampla mente aceito nos anos 80 e 90 Entretanto nos países de língua inglesa compete hoje no domínio dos estudos feministas com o conceito de gênero que tem diferentes acep ções com frequência gênero designa apenas a variável sexo mas possui também a acepção de sistema sistema de gênero Só o contexto da frase Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 177 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 177 18102009 192536 18102009 192536 178 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER ou do parágrafo distingue essas acepções Não mais que outros termos de Ciências Sociais os termos patriarcado gênero ou sistema de gêne ro relações sociais de sexo ou relações sociais de gênero ou qualquer outro termo suscetível de ser empregado em seu lugar não têm defi nição estrita e tampouco uma com a qual todos estejam de acordo Esses três termos ou conceitos têm entretanto em comum o fato de pretenderem descrever não atitudes individuais ou de setores precisos da vida social mas um sistema total que impregna e comanda o conjunto das atividades humanas coletivas e individuais Assim os três termos têm a mesma pretensão à generalidade e a mesma denotação de organização que não é absolutamente casual No conjunto do léxico feminista tanto militante como científi co eles se completam e opõem a termos como sexismo ou machismo que denotam mais o nível das atitudes eou das relações interindividuais São igualmente mais conceituais ou teóricos que dominação masculina ou opressão das mulheres Enquanto estes últimos se contentam em fazer uma constatação uma constatação orientada evidentemente os termos precedentes visam o nível subjacente explicativo implicando no mínimo a existência de um sistema sociopolítico Os termos podem ser tanto opostos como tomados como sinônimos ou ainda como complementares cada um deles quando são todos utilizados esclarecendo e enfatizando de modos um pouco diferentes o mesmo fenômeno Dominação Família Movimentos feministas Poderes Sexo e gênero Bebel August La femme et le socialisme Paris Éditions du Globe 1964 543p Édition originale en allemand 1893 Coulanges Fustel de La Cité antique Paris Hachette 1864 525p Delphy Christine Lennemi principal Économie politique du patriarcat Paris Syllepse Nouvelles questions féministes 1998 293p Hartmann Heidi The Unhappy Marriage of Marxism and Feminism in Lydia Sargent Ed Women and Revolution a Discussion of the Unhappy Marriage of Marxism and Feminism Boston South End Press 1981 p141 Mohanty Chandra Russo Ann Torres Lourdes Third World Women and the Politics of Feminism Bloomington University of Indiana Press 1991 331p Walby Sylvia Theorizing Patriarchy London Blackwell 1990 229p Traduzido por FRANCISCO RIBEIRO SILVA JÚNIOR Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 178 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 178 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 179 Pesquisas de opinião17 HélèneYvonne Meynaud Desde as grandes pesquisas do INSEE18 recenseamento populacional pesquisas setoriais até as pesquisas de opinião realizadas pelos institutos especializados em todos os casos o tratamento dos dados quantitativos re quer uma leitura crítica Esta pode tratar a construção simbólica das de sigualdades entre homens e mulheres e fornecer uma análise das relações sociais sexuadas A palavra sondagens criada por Jean Stoetzel em 1938 Stoetzel 1948 designa um novo método de coleta e tratamento de dados quantitati vos Sua história começa na França com a criação do IFOP Instituto Fran cês de Opinião Pública A sondagem é um dos instrumentos de observação da realidade social a amostra é uma espécie de modelo reduzido da popula ção em questão à qual se pede que dê uma opinião sobre valores atitudes comportamentos práticas A opinião assim condensada é uma construção social dependente das condições sociais nas quais ela se expressa Usos e interpretações sujeitos a controvérsias A pesquisa de opinião principalmente a sondagem eleitoral aproveitou o progresso dos métodos de investigação sociológica e a capacidade cres cente de oferta de serviços efi cientes por parte dos institutos de pesquisa Tornouse relativamente barata manejável rápida e polivalente quanto ao tratamento das respostas de uma população às mais diversas questões Mas continua sendo um instrumento delicado Pode facilmente sofrer desvios de interpretação ou uma simplifi cação escandalosa especialmente se esti ver a serviço de objetivos promocionais de curto prazo A utilização de sondagens ocasiona constantes controvérsias a respeito da coleta dos dados e sua interpretação produção e aplicação dos resultados 17 No original sondages Optamos por utilizar o termo equivalente pesquisas de opinião por ser de uso mais corrente no Brasil NT 18 Referese ao instituto governamental francês INSEE Institut National de la Statistique et des Études Économiques Instituto Nacional de Estatística e Estudos Econômicos equiva lente no Brasil ao IBGE NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 179 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 179 18102009 192536 18102009 192536 180 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER O que suscita debate e polêmica é a pretensão da pesquisa dita de opinião de identifi car e quantifi car opiniões cuja relação com as maneiras reais de pensar muito mais complexas não é esclarecida e nem geralmente ques tionada desempenhando então um papel ativo na formação de uma men sagem ideológica Pierre Bourdieu 1980 salientou que a opinião pública assim apresentada em jornais é um puro e simples artefato cuja função é dissimular que o estado da opinião num dado momento é um sistema de for ças de tensões e que não há nada mais inadequado para representar o estado da opinião do que uma porcentagem Essa abordagem crítica deu lugar a novas pesquisas signifi cativas Champagne 1990 Blondiaux 1998 É analisando com atenção o processo de formação de opiniões que com preendemos como as pesquisas realizadas por meio de questionários são passíveis de destacar um sentido precário e contextual ou ao contrário de propor interpretações que forçam deliberada ou inconscientemente esse sentido Embora já seja costumeiro as pessoas não fi cam indiferentes às pesquisas de opinião um número crescente delas se recusa a respondêlas diversos atores sociais e políticos reagem à publicação de pesquisas reali zadas em período próximo de uma eleição pesquisadores e universitários criticam corrigem e reutilizam as sondagens para fi ns de pesquisa etc A pesquisa de opinião está no cerne dos jogos de poder e de infl uência a ponto de exigir uma melhor regulamentação política nos planos intelectual ético e legal Análise das sondagens e relações sociais de sexo As sondagens utilizadas como atrativo para vender jornais apresentam frequentemente a opinião de um cidadão médio que tem posições media nas Assim Maryse Huet 1987 mostra que o caráter massivo do trabalho das mulheres é ocultado pelas sondagens que em geral apresentam o tra balho das mulheres como algo ocasional uma questão de aspiração indi vidual e aleatória ou mesmo a condenálo pelo seu caráter nocivo para a sociedade e que essas pesquisas são frequentemente realizadas com um propósito de enxugar a estrutura de uma empresa ou de fazer uma gestão ainda mais fl exível da mão de obra feminina Numerosas sondagens têm medido a aspiração de mulheres ao trabalho de tempo parcial construindo em geral uma representação natural dessa modalidade de trabalho Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 180 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 180 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 181 A escolha das palavras na formulação das perguntas é muito importan te porque às vezes permite ocultar estratos e opiniões muito divergentes Por exemplo nas sondagens sobre a guerra na Iugoslávia na primavera de 1999 questionaram as pessoas sobre a intervenção da OTAN e não sobre os bombardeios e foi gerado um só resultado não estratifi cado socialmente O resultado ligeiramente positivo de tais sondagens quase diárias permitiu justifi car dia após dia a continuação da guerra Ao contrário uma son dagem com amostra nacional representativa do LibérationCSA de 67 de abril de 1999 indicava que 54 dos franceses não confi am no governo americano para encontrar uma solução justa e duradoura no Kosovo e que 75 dos altos executivos consideram a infl uência dos Estados Unidos na Europa muito importante Na maioria das pesquisas o indivíduo é questionado como se ele fos se universal Folheando as páginas de uma pesquisa sobre o trabalho nem sempre se pode saber o sexo dos trabalhadores aos quais se faz referência Quanto ao futuro das meninas era outra história A infl uência positiva das mães trabalhadoras sobre o destino das suas fi lhas e fi lhos é hoje igualmente mensurada e a triagem por sexo tornouse mais frequente Assim numa sondagem CSACGT de maio de 1998 se a opinião do francês médio é que na sociedade francesa homens e mulheres são desiguais 62 notase que essa é a opinião de 55 dos homens e de 67 das mulheres de 74 dos altos executivos e de 48 dos agricultores Outra forma insidiosa da presença de uma mensagem ideológica no cer ne de uma sondagem sem que as questões sejam abertamente distorcidas aparece quando reunimos uma série de pesquisas sobre temas próximos e observamos a qual universo de problemas se dá preferência Foi isso que fi zeram num trabalho muito esclarecedor duas pesquisa doras do Boston College HesseBiber e Brustein 1981 Elas examinaram 3361 perguntas feitas nos Estados Unidos entre 1936 e 1973 documenta ção do Roper Public Opinion Research Center Aproximadamente 10 dessas perguntas diziam respeito aos papéis de homens e mulheres Veri fi couse que as questões sobre profi ssões eram feitas basicamente em rela ção aos meninos e muito raramente em relação a meninas e jovens do sexo feminino Da mesma maneira as questões relativas à política e a ações de comando diziam respeito a homens em cerca de 144 casos a mulheres em cerca de sete casos e a ambos os sexos em apenas um caso Simetricamen Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 181 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 181 18102009 192536 18102009 192536 182 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER te as questões relativas a homens associavamnos a posições dominantes eou de prestígio como a política os negócios a educação e a pesquisa ao passo que quando se perguntava sobre o papel das mulheres era para saber se consumiam bebidas alcoólicas se deviam trabalhar como garço netes com pouca roupa se ainda deviam permanecer virgens até o casa mento Não havia estranhamente nenhuma questão desse tipo sobre os homens Além disso o conteúdo das perguntas não parece ter mudado ao longo dos anos quando na realidade os papéis sociais das mulheres ameri canas mudaram signifi cativamente As sondagens continuaram como por inércia a agir como se as mulheres não estivessem trabalhando como se valorizassem sobretudo as atividades domésticas ou ainda como se atuassem apenas em profi ssões subalternas Dessa forma as sondagens contribuíam claramente para retardar o debate social sobre a igualdade profi ssional Tais exemplos existem também na França Eric Dupin 1990 menciona uma série de sondagens IFOP sobre o feminismo A primeira em junho de 1985 IFOPMinistério dos Direitos da Mu lher indicou que os franceses consideram a existência de um Ministério dos Direitos da Mulher totalmente ou de preferência necessário 77 homens 74 mulheres 78 o que não impediria esse Ministério de desaparecer A segunda realizada por LHumanitéDimanche em fevereiro de 1987 respondia à pergunta Quando falamos hoje da liberação da mulher você acha que essa é uma realidade ultrapassada 16 que há ainda muito a fa zer 55 que está conquistada 13 com 13 de sem opinião Quan do haverá uma pergunta para Quando falamos da dominação masculina hoje A terceira em 1988 indica uma adesão em massa à questão Em 2000 você aceitaria ou acharia normal que uma mulher fosse eleita Presidente da República 91 favoráveis Por que jamais perguntar à opinião pública se ela deseja continuar a eleger homens e por que jamais apresentar uma mulher presidenciável Na época das eleições regionais na França em março de 2004 o fenô meno da diferenciação política dos gêneros se afi rma ao passo que as diver gências de opinião política se equalizavam dentro de categorias socioprofi s sionais equivalentes Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 182 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 182 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 183 Por outro lado as sondagens são utilizadas no debate político em tor no das desigualdades entre homens e mulheres Numa sondagem CSA OpinionCGT sobre as mulheres a igualdade na sociedade e o traba lho sondagem nacional representativa realizada entre 20 e 22 de maio de 1998 percebemos que se 49 dos franceses acham que o nível de salários deve ser reequilibrado em favor das mulheres essa é a opinião de 46 dos homens É com base na leitura de tais resultados que os deputados podem adotar com maior rapidez textos da lei sobre a paridade ou a igualdade profi ssional Assim diante de qualquer pesquisa de opinião é preciso perguntar a qual causa política econômica ou científi ca ela serve Categorias sócioprofi ssionais Blondiaux Loïc La fabrique de lopinion Une histoire sociale des sondages aux ÉtatsUnis et en France 19351965 Tese de doutorado IEP 1994 Paris Seuil 1998 601p Bourdieu Pierre Lopinion publique nexiste pas in Questions de sociologie Paris Minuit 1980 p222235 Champagne Patrick Faire lopinion le nouveau jeu politique Paris Minuit 1990 312p HesseBiber Sharlene J Burstein I The Second Sex Womens Place in Polling Language Qualitative Sociology Verão 1981 v4 2 p126144 Huet Maryse Le travail des femmes dans les sondages dopinion un questionnement sous infl uence in La mixité du travail une stratégie pour lentreprise Paris La Docu mentation française Cahiers Entreprises 1987 p4650 Meynaud HélèneYvonne Duclos Denis Les sondages dopinion La Découverte Re pères 1996 3e ed 127p Traduzido por NAIRA PINHEIRO Poderes Michèle RiotSarcey Classicamente o poder é pensado em termos do exercício de governo ou comando Distinto de potência virtude do homem manifestação de sua inteligência que Spinoza defi ne pelo simples esforço de perseverar em seu ser o poder de um então se desdobra até os limites do direito natural do outro Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 183 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 183 18102009 192536 18102009 192536 184 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Do poder como da potência as mulheres são excluídas pelo princípio de sujeição que as liga a seus maridos A liberdade a independência privilé gios masculinos condições de acesso ao poder são igualmente obstáculos para proibir às mulheres o direito de desfrutar naturalmente das virtudes essenciais do homem Como a potência supõe a posse as mulheres sob o poder de seus maridos não podem desfrutar naturalmente de um direito igual ao dos homens Spinoza A ética apud Duroux 1992 p105 Com o advento da era das revoluções é difícil manter as mulheres num estado de dependência sem buscar construir uma simetria compatível com os princípios das declarações de direitos No século XIX sobretudo as mulheres são dotadas de uma potência cuja signifi cação difere do sentido precedente não se trata de uma potência estreitamente vinculada à inteli gência mas de uma potência mais misteriosa mais obscura e até mais per niciosa As mulheres que potência escreveu Michelet Segundo Balzac nas classes inferiores a mulher é não somente superior ao homem mas também ela governa sempre Perrot apud Duby Perrot 1992 t4 p214 A modernidade sem perturbar a hierarquia obriga a repensar o poder Não se trata mais simplesmente de analisar seu exercício do ponto de vista do Príncipe ou do Estado mas de compreender o sistema por meio das rela ções entre parceiros individuais e coletivos de Hegel a Foucault Defi nido como um modo de ação o poder se torna elemento constitutivo das so ciedades que não se pode conceber sem a resistência que ele engendra No entanto a interação entre poder e resistência não é sempre perceptível pois a ordem dominante se reconstitui apagando os traços de sua contestação O que defi ne uma relação de poder é um modo de ação que não atua di reta e imediatamente sobre os outros mas que atua sobre sua própria ação Uma ação sobre a ação sobre ações eventuais ou atuais futuras ou presen tes Foucault 1984 p31213 Um poder político exclusivo O poder sua conquista ou sua conservação estão desde sempre no co ração de todas as lutas que tecem a trama das crises de todas as sociedades humanas nesse sentido a modernidade não constitui exceção RiotSarcey 1993 p9 Engajadas num mesmo desafi o as sociedades democráticas re novaram as regras do sistema de representação da soberania As mulheres Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 184 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 184 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 185 legalmente identifi cadas como minoria pelo Código Civil são afastadas dos espaços decisórios elas foram de fato inferiorizadas na distribuição dos papéis sociais Assim sucessivas autoridades reservaram a exclusividade do exercício do poder político ao sexo masculino Os poderes liberais republicanos ou socialistas elaboraram cada um por sua vez um dispositivo de exclusão compatibilizado com os direitos individuais pela construção de uma diferença supostamente natural Du rante a Revolução a Convenção se pronunciou bastante explicitamente contra a igualdade dos sexos 1 As mulheres podem exercer os direitos políticos e participar ativamente nos negócios do governo 2 Podem elas deliberar reunidas em associações políticas ou sociedades populares Sobre essas duas questões o comitê se decidiu que não Cada sexo é chamado a um tipo de ocupação que lhe é próprio sua ação é circunscrita a esse cír culo que ele não pode romper pois a natureza que colocou seus limites ao homem comanda imperiosamente e não reconhece nenhuma lei Relató rio Amar 30 de outubro de 1793 Num mesmo movimento em 1849 Pierre Joseph Proudhon considera do durante muito tempo um dos fundadores do socialismo contemporâneo descartou a candidatura de Jeanne Deroin às eleições legislativas precisa mente em nome dos interesses do socialismo A igualdade política dos dois sexos isto é a assimilação da mulher ao homem nas funções públicas é um dos sofi smas rejeitados não somente pela lógica mas também pela cons ciência e a natureza das coisas Le Peuple 12 de abril de 1849 É em vão que durante mais de um século e meio mulheres argumentaram em favor da igualdade real e da verdadeira universalidade de Mary Wollstonecraft em 1790 a Jeanne Deroin em 18481849 de Hubertine Auclert em 1879 a Alexandra Kollontaï na década de 1920 Desse ponto de vista não há ne nhuma exceção francesa Os obstáculos ao poder de fazer Todos os democratas esclarecidos consideraram justamente que direitos proclamados por todos sem o poder de exercêlos não eram mais do que engodos Essa questão essencial se apresentou às mulheres quando conse guiram obter o direito de cidadania O sufrágio realmente universal desde abril de 1944 na França por exemplo não permitiu às mulheres o acesso Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 185 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 185 18102009 192536 18102009 192536 186 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER em número signifi cativo ao estatuto de representantes Na medida em que do ponto de vista histórico a dependência de umas foi construída em pro veito da independência de outras as mulheres compreendidas dentro de uma coletividade assujeitada nunca estiveram em condição de agir como sujeitos políticos Sua atribuição ao lar foi a condição da liberdade do povo e o meio pelo qual o cidadão pôde aceder ao direito comum Essa dis simetria entre o poder de uns e a restrição da individualidade das outras foi legitimada pela substituição da universalidade de direito pela universalida de da natureza própria do gênero feminino que assim se tornou inapto às funções públicas As regras da democracia representativa em vigor até os nossos dias foram fundadas sobre essa partição exclusiva A entrada das mulheres na política nada mudou quanto aos mecanismos da representa ção reservada aos profi ssionais do poder que se atribuíram pontualmente algumas representantes O impossível poder de dizer De Rousseau a Kant de Kant a Hegel as mulheres continuam estranhas à elaboração fi losófi ca do pensamento moderno que preside à organização social e política das sociedades No coração desse dispositivo teórico o es tatuto de sujeito lhes escapa Nenhum dos pilares da teoria está nelas Elas são entretanto o pilar como causa do conjunto de todo o movimento dos pensamentos e atos no sentido em que a própria análise não se fomentou de outro modo Granoff 1976 p287 Assim colocadas no centro da fa mília as mulheres são a razão de existência da ordem social mas a própria formação de regras dessa ordem lhes escapa Também cada uma de suas palavras o essencial de seus discursos vis tos pelo crivo das regras do direito à expressão pública é mediada pelo sexo que as comanda Ao confundir o feminino com o materno privase as mulheres do direito e da possibilidade de intervir no campo do simbólico e batizase de feminino tudo aquilo que entre os homens diz respeito ao arcaísmo ao corpo à passividade ao não senso Marini 1992 p295 As palavras das mulheres são em geral encerradas entre o discurso de que elas são objeto e sua necessidade de se afi rmarem diferentes mas semelhantes em suas capacidades a seus homólogos masculinos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 186 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 186 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 187 O poder da língua se exprime pelo jogo de signifi cação de que se reves tem as palavras e os conceitos nos textos formadores de todo um povo A doxa tornase opinião comum apenas ao término de um processo de apro priação das palavras em proveito de uma causa jamais comum mas sempre a serviço de interesses particulares tal foi o destino da palavra liberdade essa palavra nômade que fez todos os ofícios segundo a frase de Paul Valéry O poder de dizer eu A categoria mulher pensada no não idêntico em relação ao universal masculino contém o modo de ser individual de cada mulher assim o singular é subentendido na identidade coletiva Essa forma de poder se exerce na vida cotidiana imediata que classifi ca os indivíduos em categorias designaos por sua individualidade própria ataos à sua identidade impõelhes uma lei de verdade que eles precisam conhecer e que os outros devem reconhecer neles Foucault 1984 p302 A mulher só pode aceder à autonomia transgredindo as normas do grupo por defi nição coercivas A identifi cação de uma às outras passa infalivel mente pelo modelo dominante e portanto pela heteronomia dos valores Entre o indivíduo que é dito e o sujeito responsável que se diz Ri coeur 1987 p556 abrese o caminho da liberdade que autoriza a exis tência do sujeito pelo poder de dizer eu A passagem do sujeito submisso a sujeito livre supõe o questionamento das formas do poder que se exerce sobre cada indivíduo O poder de dizer eu é também uma luta contra as for mas de sujeição contra a submissão da subjetividade de que as mulheres são especialmente vítimas Alcançar o estatuto de sujeito livre faz parte da aprendizagem do poder no respeito por si e pelo outro O poder do feminismo A mulher livre foi por muito tempo identifi cada com a mulher pú blica e portanto objeto de escândalo Anna Wheeler na Inglaterra Claire Demar na França na década de 1830 e muitas outras até Simone de Beau voir em 1949 suscitaram sarcasmo e rejeição porque ousaram questionar a hierarquia de sexo pacientemente enunciada e praticada pelas autoridades Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 187 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 187 18102009 192536 18102009 192536 188 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Filósofos teólogos juristas médicos moralistas pedagogos não ces saram ao longo dos séculos de dizer incansavelmente o que as mulheres deviam ser no interior de um espaço circunscrito por seu lugar e seus de veres Duby Perrot 1991 t1 p3 É por isso que o feminismo que pode se defi nir pelo combate a favor da igualdade é para as mulheres o meio de chegar tanto ao poder da palavra como ao poder da ação No entanto no sistema hierárquico existente na democracia representativa os lugares es tratégicos dos poderes de decisão permanecem nas mãos da elite masculina O feminismo não pode considerar acabada sua luta sem que sejam questio nados os dispositivos políticos existentes na maioria dos países ditos demo cráticos nos quais a igualdade enunciada é compatível com a desigualdade social Desta um dos fundamentos é constituída pela desigualdade de sexo Cidadania Dominação Igualdade Movimentos feministas Universalismo e particularismo Duby Georges Perrot Michelle Dir Histoire des femmes en Occident De lAntiquité à nos jours 5v Paris Plon 19901992 cf Bibliographie générale Duroux Françoise Des passions et de la compétence politique Les Cahiers du GRIF 1992 n46 Provenances de la pensée FemmesPhilosophie p103124 Foucault Michel Deux essais sur le sujet et le pouvoir in Hubert Dreyfus Paul Rabi now Michel Foucault un parcours philosophique Paris Gallimard 1984 366p Granoff Wladimir La pensée et le féminin Paris Minuit 1976 470p Marini Marcelle La place des femmes dans la production culturelle in Georges Duby Michelle Perrot Histoire des femmes en Occident 1992 t5 p275296 RiotSarcey Michèle Dir Femmespouvoirs Paris Kimé 1993 154p Anais do Con gresso Albi 1920 de março de 1992 Centre culturel de lAlbigeois Traduzido por FRANCISCO RIBEIRO SILVA JÚNIOR Políticas sociais e familiares Jacqueline Heinen As políticas sociais e familiares cobrem um espectro muito amplo de campos de ação do Estado indo da demografi a ao emprego passando pela saúde a educação e a moradia Elas implicam uma intervenção dos poderes públicos na esfera do privado Algumas têm um impacto mais específi co nas relações sociais de sexo É o caso entre outras das medidas adotadas no Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 188 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 188 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 189 domínio da reprodução humana aborto anticoncepção monitoramento da gravidez novas técnicas reprodutivas e todas aquelas que tratam do estatuto dos indivíduos e especialmente das mulheres na economia e na sociedade educação dos jovens salários aposentadoria transferências so ciais e serviços para as pessoas dependentes Historicamente ligadas às medidas de proteção social desenvolvidas desde o século XIX nos campos da família da demografi a da saúde e da educação as políticas sociais e familiares constituem uma dimensão essen cial do Estado de bemestar social welfare nos países industrializados so bretudo após a Segunda Guerra Mundial Elas ganharam um impulso espe cial com a generalização da atividade profi ssional e contínua das mulheres assim como a socialização do trabalho de reprodução desenvolvimento de creches e préescolas de residências para os idosos de estabelecimentos especializados para as pessoas com defi ciência etc Esse processo se concretizou em ritmos diversos conforme os países Além disso o próprio conteúdo das políticas colocadas em prática tem in cidências muito variáveis para as populações afetadas Desde o sistema de tipo universalista e igualitário que prevalece nos países escandinavos até o centrado na noção de assistência que caracteriza a GrãBretanha existem múltiplos modelos de welfare que apresentam diferenças perceptíveis Tais diferenças dependem tanto do peso do mercado e da extensão dos serviços mercantis como da participação das famílias em tudo o que se refere à re produção Por todos os lados entretanto fi ca evidente que o trabalho das mulheres permanece determinante nas atividades relativas à esfera familiar seja como profi ssionais assalariadas nas instituições do setor público ou privado ou como companheiras e mães Ao mesmo tempo as redes infor mais continuam a ter um papel primordial nesse campo Abordagens teóricas diferenciadas A posição desigual de homens e mulheres no âmbito dos sistemas de welfare mantevese durante muito tempo invisível nas teorias do Estado de bemestar social Tanto porque a maioria delas a de Marshall 1992 e a de EspingAndersen 1996 para citar apenas as mais conhecidas não refl etiam sobre o conceito de gênero como porque as pesquisas feministas pouco se interessavam pelo tema do Estado A situação mudou no fi nal dos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 189 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 189 18102009 192536 18102009 192536 190 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER anos 80 com o advento inicialmente nos países escandinavos e anglosa xões de trabalhos que acentuaram o papel do Estado na gestão da vida pri vada e na construção das identidades de sexo Sainsbury 1994 Zancarini Fournel 1995 1999 As contribuições das feministas e especialmente das historiadoras consistiram então em demonstrar que as mulheres estavam no coração da criação e depois da ampliação dos Estados de bemestar social Gordon 1990 Lefaucheur 1992 e que as políticas sociais tinham tido um papel decisivo na defi nição da cidadania Del Re e Heinen 1996 Os estudos feitos numa perspectiva internacional como os de Jenson 1986 e Jenson Sineau 1998 por sua vez trouxeram à luz que mais que os fatores eco nômicos são os fatores políticos que desempenharam um papel decisivo no desenvolvimento e na forma dos diversos tipos de sistemas construídos a partir dos anos 30 e 40 o confronto entre os modelos de bemestar euro peus e as políticas americanas é reveladora nesse sentido Esses trabalhos exerceram uma infl uência decisiva para a compreensão do Estado por parte de teóricos até então pouco sensíveis à dimensão do gênero Rosanvallon 1998 EspingAndersen 1996 em especial Contribuíram também para a formação de novos conceitos como o de cuidado care referente às res ponsabilidades para com pessoas dependentes Knijn e Ungerson 1997 Isso posto importantes divergências teóricas separam as abordagens fe ministas nesse âmbito Por seu turno as teorias marxistas e neomarxistas dos anos 70 e 80 Barrett 1980 Brenner 1984 McIntosh 1978 Wilson 1977 enfatizavam sobretudo o papel do Estado como agente do capitalis mo entendendose a família como o lugar da opressão das mulheres Al gumas análises oriundas dessa corrente Burstyn 1983 Eisenstein 1979 concentraramse principalmente na noção de patriarcado e sobre a articu lação entre capitalismo e patriarcado Por seu lado as feministas radicais dos países anglosaxões evitaram teorizar sobre o Estado ou quando o fi ze ram como MacKinnon 1989 foi para desenvolver a ideia de que o Estado é uma instituição masculina que refl ete o ponto de visto dos homens que se apoiam em normas masculinas consagradas como universais Já as análises da corrente pósmoderna prolongando o ponto de vista desenvolvido por Foucault recusam a ideia do caráter central do Estado Aos seus olhos o poder se encontra nas mãos de múltiplos atores em múltiplos lugares en tre os quais o Estado além de muitos outros É importante portanto cha Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 190 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 190 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 191 mar atenção para os mecanismos de poder mais do que para o Estado em si como instância específi ca No período recente mais que endossar esta ou aquela corrente teórica e tentar produzir modelos globalizantes as abordagens feministas têm subli nhado a necessidade de ressituar a emergência dos sistemas de bemestar no seu contexto nacional a fi m de compreender a especifi cidade das políticas estatais num determinado país ao mesmo tempo insistindo em dois pontos De um lado o interesse em compreender o caráter muitas vezes contradi tório das medidas adotadas ao longo de um mesmo período em função de relações de força instáveis e do impacto de um ou outro partido ou corrente política De outro a importância de reconhecer o papel desempenhado pe los movimentos de mulheres entre os atores políticos e institucionais que infl uenciam nas práticas e nas representações Nesse sentido confrontar os casos nos quais esses movimentos realizaram ações e conseguiram mudan ças essenciais em termos de políticas sociais com outros casos nos quais as mulheres atomizadas não conseguiram se fazer ouvir é bastante esclare cedor para entender as evoluções diferenciadas dos sistemas de um país a outro de uma época a outra Gautier et Heinen 1993 No conjunto essas análises deixam transparecer um quadro bastante díspare Percebese que o desenvolvimento do welfare contribuiu para in crementar o poder das mulheres na sociedade na medida em que elas apro veitaram a oportunidade de se expressar sobre questões que as tocam muito diretamente Como mostrou Siim 1996 isso permitiu que elas pudessem infl uenciar a confi guração e o conteúdo de políticas sociais e familiares Mas aparece também como sublinhado nas análises de Lewis 1998 ou Leira 1992 que o Estado muitas vezes preservou quando não acentuou as desigualdades de sexo por meio de sua intervenção ou sua não intervenção em medidas discriminatórias relativas às mulheres como as licenças para a educação de fi lhos defi nidas como licençamaternidade antes de serem reclassifi cadas como licençaparental ou o trabalho em tempo parcial re servado à mão de obra feminina Crise do welfare e desigualdades de tratamento Abordar a questão das políticas sociais e familiares pelo ponto de vista das relações sociais de sexo assume uma importância vital diante da crise Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 191 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 191 18102009 192536 18102009 192536 192 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER do Estado de bemestar social e das restrições orçamentárias que ela acar reta em todos os níveis em relação ao aumento do desemprego e ao im passe nos sistemas de aposentadoria Efetivamente esses retrocessos têm consequências de proporções desiguais para um ou outro sexo Pelo fato de ocuparem o escalão inferior na hierarquia dos salários e das aposentadorias mas também em função das tarefas cotidianas que desempenham no lar as mulheres como grupo pagam o preço mais alto da deterioração dos serviços de bemestar É importante contudo sublinhar que elas são atingidas de forma muito desigual segundo a origem social e o nível de educação As que são assalaria das em empregos terciários ou são executivas em estruturas do Estado ou do setor privado enfrentam difi culdades no que se refere a suas carreiras ou como usuárias de equipamentos coletivos Outras pouco qualifi cadas ou não qualifi cadas muitas vezes tendo perdido o emprego enfrentam obstáculos de uma outra ordem como usuárias das instituições de assistência social para elas e para quem depende delas são problemas de sobrevivência que em ge ral decorrem tanto do rebaixamento das prestações assistenciais como da de sagregação ou privatização dos serviços públicos Trabalhos do fi m dos anos 80 Williams 1998 chamaram a atenção para o aumento das discriminações de ordem étnica as mulheres imigran tes e as mulheres de cor sofrem problemas específi cos dependência em relação ao marido superexploração nos serviços domésticos ou trabalho informal na economia subterrânea Outros estudos têm mostrado as dife renciações sociais e as divergências de interesses que separam as mulheres entre si especialmente quando as de alto nível de escolaridade desejosas de se manter no mercado de trabalho recorrem ao trabalho doméstico de outras mulheres provenientes de categorias mais desfavorecidas Esse úl timo fenômeno tem sido bastante agravado pela mudança das políticas de Estado em relação aos serviços públicos negligenciados ou relativizados parcialmente substituídos pelo emprego doméstico19 Voltar a atenção para esses fenômenos ganha um destaque especial no que diz respeito ao tratamento das desigualdades neste momento em que pela primeira vez o tema das políticas sociais e familiares faz parte da agenda política da União Europeia 19 Aides à la personne modalidade de emprego doméstico na França NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 192 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 192 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 193 Aborto e anticoncepção Cidadania Desemprego Família Movimentos feministas Público privado Trabalho doméstico Gautier Arlette Heinen Jacqueline Eds Le sexe des politiques sociales Paris Côté femmes 1993 188p Gordon Linda Ed Women the State and Welfare Madison The University of Wis consin Press 1990 312p Jenson Jane Sineau Mariette Eds Qui doit garder le jeune enfant Modes daccueil et travail des mères dans lEurope en crise Paris LGDJ 1998 303p Knijn Trudie Ungerson Clare Eds Gender and Care Work in Welfare States numéro spécial de Social Politics International Studies in Gender State and Society 1997 v4 n3 124p Sainsbury Diane Ed Gendering the Welfare States Londres Sage 1994 288p Williams Fiona Genre ethnicité race et migrations ou les défi s de la citoyenneté en Europe Cahiers du Gedisst 1998 n23 p2942 Tradução CELIA ALLDRIDGE Precarização social Béatrice Appay e Annie ThébaudMony Entendese por precarização social um processo de institucionaliza ção da instabilidade caracterizada pelo crescimento de diferentes formas de precariedade e de exclusão Este processo multidimensional corresponde no plano econômico à busca de uma diminuição dos custos de produção e se apoia na fl exibilidade Esta é considerada muito frequentemente uma tendência inevitável das reestruturações contemporâneas para fazer face às novas regras da concorrência internacional Appay e ThébaudMony 1997 A precarização social se apoia na precarização do emprego da qual o desemprego e o trabalho temporário são as dimensões mais visíveis e na precarização do trabalho que consiste em questionar a qualifi cação e o re conhecimento no trabalho inclusive no âmbito de empresas estáveis Direito e precarização social Desde o início dos anos 80 pesquisas principalmente em Sociologia e Direito do trabalho mostram uma certa desagregação dos direitos in Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 193 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 193 18102009 192536 18102009 192536 194 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER dividuais e coletivos dos trabalhadores associada ao desenvolvimento da subcontratação e ao uso do emprego precário Linhart e Maruani 1982 Vacarie 1982 Enquanto as organizações sindicais frequentemente pres sionadas negociavam planos sociais nos ramos da siderurgia e da indústria têxtil ou resistiam ao desmantelamento dos direitos adquiridos como no CEA Comissariado de Energia Atômica as empresas garantiam suas reestruturações por meio dessas novas formas de organização do trabalho Laurent Vogel in Appay e ThébaudMony 1997 evidenciou duas grandes tendências De um lado situações que anteriormente não eram admitidas são agora legalizadas Assim em 1972 na França houve a le galização do trabalho temporário e também da subcontratação em 1975 desafi ando um século de proibição da negociação da mão de obra Por outro lado uma relativa equalização uma aproximação das condições de inúmeras situações atípicas com o emprego típico ibidem p122 tende a se realizar dentro do não exercício de direitos que em geral são reconheci dos A precarização torna assim pouco efi caz um conjunto de instrumen tos jurídicos que supostamente deveriam combater a discriminação contra as mulheres A ideologia da fratura social Durante os anos 70 e 80 o discurso político consagrou a dissociação en tre o econômico e o social como se fossem realidades totalmente separa das Do lado da economia o trabalho de economistas e sociólogos tendeu a louvar o modelo japonês de produção enxuta sem oferecer as chaves para sua compreensão O elemento central da produção enxuta é a fl exibilida de que tem conotações positivas na linguagem da gerência A fl exibilidade é uma expressão abstrata faz desaparecer os fenômenos materiais e reais sobre os quais se apoia como a intensifi cação do trabalho as demissões a instalação do desemprego estrutural o recurso ao trabalho temporário e à subcontratação Robert Castel 1995 esboçou a construção histórica e so cial desse abalo da sociedade industrial ao analisar os processos que fazem desagregar a condição salarial nos últimos vinte anos questiona a fun ção de integração da empresa pela exclusão dos assalariados mais antigos e a precarização na entrada dos jovens dualização do mercado de trabalho desestabilização dos estáveis Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 194 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 194 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 195 No entanto tanto ao nível do discurso político como das problemáticas científi cas a precariedade tende a emergir como calamidade social dos tempos modernos atingindo populações consideradas vulneráveis Como decorrência o olhar se volta para as populações vítimas da precariedade e da exclusão e para suas características Em termos de uma resposta política isto se traduziu na adoção em 1989 na França da RMI Renda Mínima de In serção Revenu minimum dinsertion Estudos e pesquisas apontam as ligações entre desemprego precariedade e problemas de saúde em particular a psico lógica Essa análise sustenta a adoção de políticas de assistência políticas sa nitárias e sociais e também da educação para a inserção no trabalho como se os sujeitos que o sistema produtivo excluiu fossem por sua fragilidade ou suas defi ciências individuais ou coletivas responsáveis por essa exclusão Paugam 1996 Alto Comitê de Saúde Pública 1998 Michel Joubert 2000 O que é separado e desaparece entre esses dois fenômenos o da reestru turação produtiva e o da precariedade é o lugar onde uma e outra estão in dissoluvelmente ligadas a saber a organização social do trabalho Porque na interface entre modernização do sistema produtivo pela fl exibilidade e a precariedade estrutural na qual uma parte crescente das sociedades in dustriais se encontram prisioneiras instalase um processo permanente de precarização social que reforça continuamente a subjugação de homens e mulheres ativos e inativos às necessidade da produtividade e da competi tividade das empresas A legitimidade neoliberal A legitimidade política da precarização social repousa sobre o triunfo da ideologia que faz do crescimento monetário a fi nalidade última do desen volvimento das sociedades Sua legitimidade social e cultural se apoia nas relações sociais de dominação em particular nas relações sociais de sexo Tanto na vertente das reestruturações produtivas como do campo da saúde no trabalho a precarização social encontra sua legitimidade nas formas ins tituídas da divisão do trabalho social isto é do trabalho na produção e na vida familiar social e política entre os homens e as mulheres Uma refl e xão científi ca coletiva realizada no âmbito do IRESCO Instituto de Pes quisa sobre as Sociedades Contemporâneas por iniciativa das equipes do CNRS e do INSERM permitiu elaborar uma análise crítica dos processos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 195 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 195 18102009 192537 18102009 192537 196 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER combinados da reestruturação produtiva e da alteração dos direitos sociais em relação à saúde no trabalho questionando essas formas de legitimidade que levaram à emergência e ao desenvolvimento dos processos de precari zação social Appay e ThébaudMony 1997 O trabalho em tempo parcial foi um dos primeiros instrumentos da fl e xibilização e da desregulação da jornada de trabalho Representou vinte anos antes da lei de Aubry 1998 1999 uma redução do tempo de tra balho das mulheres com redução do salário As mulheres são muito mais afetadas por isso na medida em que representam atualmente 85 das fa mílias monoparentais Lefaucheur 1999 A legitimidade do tempo parcial se assenta no postulado de uma articulação necessária entre vida familiar e vida profi ssional unicamente para as mulheres É imposto às mulheres sem nenhuma negociação salarial Na França20 a precarização do emprego se manifesta de um lado pelo aumento das formas particulares de emprego em 1998 um entre onze as salariados é empregado sob contrato com duração determinada CDD de trabalho temporário estágios ou contratações vinculadas a incentivos públi cos INSEE 1998 p123 Notase que os CDDs constituem no geral mais de 70 dos recrutamentos nos estabelecimentos com cinquenta assalariados ou mais Por outro lado a precarização se manifesta pelo desenvolvimento do trabalho em tempo parcial Em 1998 mais de 17 dos assalariados do setor privado eram empregados em tempo parcial TTP dos quais mais de 40 em situação de subemprego TTP forçado ibidem p16 O trabalho em tempo parcial é feminino as mulheres representam 85 o trabalho tempo rário é masculino representam 75 e operário representam 80 Atual mente os empregos temporários representam mais de 80 das contratações Esses processos de precarização do trabalho e do emprego têm por con sequência questionar o direito do trabalho a proteção social e a modifi cação das formas de representação e de cidadania para todos aqueles que a preca rização social remete ao que os discursos políticos chamam de exclusão As consequências patogênicas sobre a saúde das diversas formas de precari zação do trabalho e do emprego estão atestadas nas estatísticas ofi ciais sobre acidentes do trabalho doenças e riscos profi ssionais e condições de traba lho penosas e perigosas CNAMTS Ministério do Trabalho No entanto 20 Os dados presentes neste artigo são datados e relativamente antigos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 196 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 196 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 197 nenhum movimento social de grande amplitude denuncia as epidemias modernas que são os cânceres profi ssionais as defi ciências defi nitivas ou as sequelas de milhões de acidentes de trabalho a alteração precoce e du radoura na saúde de milhões de assalariados expostos ao barulho ao traba lho repetitivo sob forte pressão de tempo aos produtos tóxicos aos raios ionizantes mas também ao assédio psicológico ou sexual A legitimidade dos riscos do trabalho e a invisibilidade de suas consequências permane cem intactas porque a doença e a morte são fatos privados que as mulheres assumem sozinhas na gestão do cotidiano dentro do espaço doméstico e fa miliar para maridos irmãos pais sogros e para elas mesmas Precarização e divisão internacional do trabalho As palavrassímbolos do pensamento único mundialização glo balização ocultam as formas diferenciadas de precarização social entre os países do Norte e os países do Sul Ora são elas que instituem a concorrên cia com as relações de subcontratação internacionais entre trabalhado res de países do Primeiro Mundo e os do Terceiro Mundo Nos primeiros a precarização social se apoia no recurso às formas precárias de emprego e no desenvolvimento acelerado do trabalho em tempo parcial Contudo permanece em vigor um conjunto de garantias sociais Nos países do Sul é o caráter informal das relações de trabalho que é sobretudo emblemático da precarização no Brasil atualmente 60 dos trabalhos são informais21 Para as empresas engajadas na corrida da competitividade o ideal típico da gestão do assalariamento é a trabalhadora do sudoeste asiático com seu modelo de organização do trabalho à base da submissão total por um salá rio de miséria na ausência de seguridade econômica e de proteção social a inexistência de uma legislação do trabalho e de proteção ambiental com a repressão implacável de toda organização coletiva Essa divisão internacio nal do trabalho é em grande parte dissimulada pela invisibilidade social do trabalho feminino precário por essência e estágio último da subcontratação internacional que é a produção do setor supostamente informal ou da pro dução doméstica ThébaudMony 1991 21 Dados relativos ao fi m da década de 1990 Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNAD para 2007 indica que o Brasil naquele ano tem 507 de contribuintes e 493 de não contribuintes de institutos de previdência em qualquer trabalho NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 197 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 197 18102009 192537 18102009 192537 198 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Desemprego Flexibilidade Mundialização Saúde no trabalho Sindicatos Trabalho o conceito de Appay Béatrice ThébaudMony Annie Dir Précarisation sociale travail et santé Paris IRESCOCNRS Actions scientifi ques fédératives de lIresco 1997 580p Castel Robert Les métamorphoses de la question sociale une chronique du salariat Paris Fayard 1995 490p trad brasil Rio de Janeiro Vozes Haut Comité à la Santé Publique Précarité santé Paris La Documentation française 1998 349p Joubert Michel Dir Précarisation risques et santé Paris INSERM Questions en santé publique 2000 Linhart Danièle Maruani Margaret Précarisation et déstabilisation des emplois ouvri ers quelques hypothèses Travail et emploi 1982 n11 p2140 Paugam Serge Dir Lexclusion létat des savoirs Paris La Découverte 1996 579p Tradução VERA SOARES Prostituição I Claudine Legardinier É comum tentar explicar a prostituição com base nas pessoas prosti tuídas a ponta visível do iceberg Longe de se limitar à pessoa que troca serviços sexuais por remuneração a prostituição é antes de tudo uma or ganização lucrativa nacional e internacional de exploração sexual do outro Há muitos agentes envolvidos no sistema da prostituição clientes cáftens Estados o conjunto de homens e mulheres pois essa instituição está for temente enraizada tanto nas estruturas econômicas como na mentalidade coletiva O conjunto de representações e mitos em torno da prostituição que a encorajam e legitimam é um fator essencial A análise feminista con sidera a prostituição a situação mais extrema da relação de poder entre as categorias de sexo Transformadas em objetos e então sujeitas à violência as mulheres são coisifi cadas em prol da sexualidade irresponsável dos ho mens UnescoFAI Colóquio de Madri 1986 Historicamente a prostituição é reduzida a um clichê Além de não ser verdade que essa é a mais velha profi ssão do mundo poderíamos citar os pastores ou as parteiras esse clichê serve para defender o fatalismo e evitar qualquer questionamento sobre um assunto que provoca malestar Na rea lidade ligada à urbanização massiva e à aparição da sociedade de mercado a Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 198 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 198 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 199 prostituição sempre desconcertou os Estados divididos entre sua proibição ou regulamentação e termina fazendo que o peso do pecado recaia somen te sobre as prostitutas enclausuradas estigmatizadas desprezadas Nesse campo a França da segunda metade do século XIX é a grande teórica do in ternamento Tomado pela obsessão de proteger o corpo social do risco sani tário sífi lis e da desordem sexual adultério o poder burguês fez do pros tíbulo fechado um dos pilares de sua política Corbin 1978 Lançada em 1870 pela inglesa Josephine Butler escandalizada pelo sistema de inspeção policial e médico imposto às prostitutas do outro lado do Canal da Mancha e que faz de toda mulher uma prostituta em potencial a campanha pela abo lição da regulamentação da prostituição adquire repercussão internacional Na virada do século XX o abolicionismo se torna um dos principais objetivos do movimento feminista e essa questão é integrada à luta global pelos direi tos da mulher e pela paz até desaparecer do campo de preocupações sociais nos anos 40 Em 1975 com a organização das prostitutas em defesa de seus direitos a questão recupera seu interesse Tratase de um debate candente Entre as feministas muitas combatem a prostituição como uma violação dos direitos humanos e até mesmo um crime contra as mulheres Barry 1979 A era da banalização Na intimidade a prostituição continua tabu Se a questão reaparece nos anos 80 o faz sob a perspectiva da saúde pública pois o aumento da AIDS reacende medos que lembram os do século XIX em relação à sífi lis Como evidência a intenção de reabertura dos bordéis travestidos com a aparên cia da modernidade Algumas medidas fi nanciadas pela Organização Mundial da Saúde como o Ônibus das Mulheres22 tendem ao reconhe cimento da prostituição como profi ssão segundo denunciam na França o 22 A epidemia de AIDS nos anos 80 incentivou uma prostituta a se associar a pesquisadores e a profi ssionais da área da saúde para realizar ações de prevenção entre as prostitutas parisien ses Estas apesar das ideias preconcebidas em voga estão relativamente pouco contamina das Todavia tais ações têm o mérito de trazer algumas demandas à tona e levam à circulação de um ônibus nos locais de prostituição parisienses O projeto Ônibus das mulheres é lançado em 1990 organizado sob a forma de uma associação de saúde comunitária em 1994 quatro anos após sua criação chamada de Os Amigos do Ônibus das Mulheres Com um conselho de administração constituído paritariamente por prostitutas e não prostitutas a associação trabalha na prevenção da saúde na luta contra as discriminações e pelo acesso aos direitos fundamentais das pessoas prostitutas nota redigida para a edição brasileira por Anaïs Leboeuf doutoranda em Sociologia pela Universidade de Paris 8 SaintDenis Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 199 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 199 18102009 192537 18102009 192537 200 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Mouvement du Nid e associações feministas Tudo converge para uma banalização da prostituição O grande mercado liberal assimila e moneta riza os prazeres a lógica consumista invade todos os domínios da vida e a expressão trabalhadoras do sexo legitima a ideia de que a mercadoria sexo se tornou um dado indiscutível da economia moderna Toda noção ética é então varrida toda relação de dominação é engolfada por uma lógica indivi dualista A prostituição se encontra assim excluída das formas de violência contra as mulheres A presença crescente de rapazes na prostituição acaba por confundir a percepção das relações de desigualdade mesmo se o rapaz prostituído está de fato excluído do status da masculinidade como efemina do travesti ou transexual Pouco a pouco as reivindicações feministas são pervertidas pelo lobby da indústria do sexo o direito de dispor de seu corpo tornase o direito de vendêlo o direito de se prostituir é entendido como expressão de liberdade O mercado do sexo manipula a sexualidade para encorajar a demanda pornografi a turismo sexual buscando agora criar uma demanda feminina O ciclo está então fechado não há mais vítima não há mais carrasco Cada um explora o outro e a igualdade é enfi m realizada Uma violência despercebida A normalização da prostituição no campo social esconde cada vez mais os males vividos pelas pessoas prostituídas Se a violência é difi cilmente denunciada quando é visível tráfi co de mulheres e crianças o ataque aos direitos humanos e os abusos cometidos na relação baseada na prostituição nunca são tratados exceto pelos movimentos feministas ou por associações como o Mouvement du Nid23 anestesia emocional dissociação esqui 23 O Mouvement du Nid nasce em 1937 na França do encontro entre uma prostituta al coolica Germaine Campion e um padre O apartamento desse último acolhe mulheres em difi culdade Ele participa da campanha pública pelo encerramento dos bordéis que culmina com a promulgação da lei de 13 de abril de 1946 conhecida como a Lei Marthe Richard Sua ação é voltada para o auxílio às prostitutas informar a opinião pública agir sobre as causas e consequências da prostituição Ele se transforma em associação em 1946 e se funda sobre a ideia da prostituição como ativi dade incompatível com o respeito da dignidade humana e devendo ser erradicada Nos anos 70 uma cisão divide a associação em duas a Amicale du Nid e o Mouvement du Nid a primeira se especializa no acompanhamento das prostitutas por profi ssionais a segunda milita pela erradicação da prostituição nota redigida para a edição brasileira por Anaïs Le boeuf doutoranda em Sociologia pela Universidade de Paris 8 SaintDenis Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 200 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 200 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 201 zofrênica sentimento de insegurança medo constante insultos desgosto destruição da autoimagem O silêncio recobre a lenta e profunda degrada ção da vida sexual e afetiva das prostitutas A prostituição constitui uma violência despercebida como foram durante muito tempo outras violên cias estupro incesto violência conjugal todas expressões do direito de propriedade dos homens sobre as mulheres O mesmo silêncio protege os clientes historicamente legitimados em seu comportamento devido a mi tos dos quais o mais disseminado é o de evitar estupros O segredo que encobre suas atividades em nome do privado continua fortemente prote gido A dominação masculina como toda dominação é estruturada sobre a falta de transparência das práticas dos dominantes WelzerLang 1996 A quase ausência de estudos e pesquisas o confi rma Entretanto continua sendo essencial medir as consequências do uso da prostituição sobre a vio lência masculina O notável trabalho do sueco Sven Axel Mansson 1986 nesse domínio merece ser destacado A Europa dos cáftens No âmbito europeu os desafi os são cruciais À frente da regulamen tação partidária da prostituição organizada como um serviço público a Holanda conseguiu validar a noção de prostituição forçada nos textos internacionais começando pela declaração fi nal da Conferência Mundial de Pequim 1995 Essa noção subentende a existência de uma prostituição livre a qual se trata de profi ssionalizar como um disfarce para a despe nalização do caftinagem Essa distinção habilmente reduz a escolhas indi viduais a atuação de um gigantesco sistema de exploração e faz o jogo do lenocínio conferindolhe mais legitimidade do que ele jamais pôde sonhar Por conseguinte cabe às vítimas provar a violência de que foram objeto São estabelecidas distinções entre prostituição adulta e infantil prostituição de mulheres estrangeiras e europeias O que é crime aos 16 ou 18 anos menos um dia segundo a idade de maioridade sexual em vigor tornase de um dia para outro um ato comercial banal O que é legítimo em países do Norte deve se combater em países do Sul Todas as diferenciações em matéria de luta contra certas formas de prostituição têm por função legitimar a pros tituição em si MarieVictoire Louis 1997 recusa portanto toda distinção entre prostituição livre e forçada quem ousaria justifi car o apartheid pelo Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 201 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 201 18102009 192537 18102009 192537 202 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER consentimento de alguns à servidão e defende um verdadeiro projeto político de recusa a toda mercantilização do corpo e da sexualidade Aos partidários de uma prostituição livre e profi ssionalizada invocando a dig nidade reencontrada das pessoas prostituídas não poderíamos opor a dig nidade conferida à indústria que as explora Raymond 1995 Ao mesmo tempo a Organização Internacional do Trabalho OIT propõe a entrada da prostituição no mercado de trabalho defendendo a exclusão apenas de seus aspectos mais chocantes como a prostituição infantil Lim 1998 A prostituição tornase assim ofi cialmente reconhecida como uma solução viável para os problemas das mulheres Paralelamente a legitimidade da prostituição como sistema vai sendo aos poucos ratifi cada pelo Direito lei belga de 13 de abril de 1995 o que é perverso é que a lei se concentra so mente sobre casos de extremo abuso ou extrema violência A União Euro peia se organiza para lutar contra o tráfi co ilegal de pessoas abrindo assim caminho para o tráfi co legal e abandonando toda referência à Convenção da ONU de 1949 pela repressão do tráfi co de seres humanos e a explora ção da prostituição do outro Essa Convenção afi rmava em seu preâmbulo que a prostituição era incompatível com a dignidade e o valor da pessoa humana Lembremos que esse é o texto ao qual a França abolicionista se referencia até aqui Por uma terceira via Neste contexto a política sueca é fortemente contrastante Desde 1o de janeiro de 1999 é proibida a compra de serviços sexuais A repressão visa os clientes passíveis de seis meses de prisão e não as pessoas prostituídas essa decisão pertence a um conjunto de medidas de combate à prostituição levadas a cabo há bastante tempo entre quais as mais criativas propõem aos clientes serviços de escuta telefônica ou consultas com psicólogos A Suécia é portanto o único país a declarar que a prostituição é uma violência contra a mulher e a integrála em sua ação política e legislativa pela paz das mu lheres Segundo a ministra da Igualdade dos Sexos Margaretha Wimberg tratar uma pessoa como mercadoria mesmo com seu consentimento é crime Aí está a abertura de uma nova possibilidade Hoje aparece a ideia nova e audaciosa de uma sociedade sem prostituição afi rmada há muito tempo pelo Mouvement du Nid Esse projeto deve se assentar sobre uma Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 202 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 202 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 203 real vontade política com a realização de ações de prevenção e educação a respeito das causas profundas da prostituição sociais econômicas políti cas culturais desarraigando hábitos machistas na luta contra os abusos e maustratos sexuais A prostituição foi por muito tempo uma fatalidade para as mulheres reafi rmando a ideia de que seu corpo é perpetuamente disponível para o prazer do outro de que elas são seres por natureza sub missas a seu sexo condenadas ao serviço e ao desprezo submetidas às as sim chamadas necessidades dos homens excluídas do reino do pensamento e da cultura No limiar do século XXI como lutar pela paridade sem combater a prostituição Sexualidade Violências Barry Kathleen The Prostitution of Sexuality New York University Press 1995 382p Legardinier Claudine La prostitution Toulouse Milan Les Essentiels 1996 64p Louis MarieVictoire À propos des violences de la prostitution de la traite de la sexua lité Chronique féministe maijuin 1997 p1221 Montreynaud Florence La prostitution un droit de lhomme Le Monde diplomatique Manière de voir marsavril 1999 n44 p1921 Raymond Janice Rapport au rapporteur spécial sur la violence contre les femmes Genève ONU 1995 24p UNESCOCoalition against Traffi cking in Women The Penn State Re port 1991 40p Traduzido por MÍRIAM NOBRE Prostituição II Gail Pheterson A troca de serviços sexuais por uma compensação fi nanceira ou material pode ser caracterizada como prostituição mas também pode estar presente em relações como namoros ou o casamento A existência de um continuum nos intercâmbios econômicos e sexuais entre mulheres e homens é um traço recorrente da organização social em distintas culturas e ao longo da história Tabet 1987 Esse tipo de transação é legalmente defi nido como prostitui ção e geralmente como crime de prostituição quando mulheres travestis Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 203 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 203 18102009 192537 18102009 192537 204 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER ou homossexuais solicitam aos homens de forma explícita verbal ou não dinheiro como contrapartida por serviços sexuais específi cos efetuados em espaços públicos privados ou comerciais Os códigos penais ou civis não especifi cam as identidades sexuadas ou sexuais mas as ações policiais têm como alvo invariavelmente os grupos subordinados São quase exclusiva mente homens que pagam por sexo em dinheiro ou bens a mulheres que o provêm Quando são homossexuais ou homens transgênero que fornecem os serviços sexuais isso não muda em nada a relação de sexogênero por que da mesma forma que as mulheres eles servem aos homens Sublinha mos que quem demanda dinheiro em troca de serviços sexuais são defi nidos em função de sua atividade como prostitutosas um estatuto ilegítimo e até mesmo ilegal os que pagam pelo sexo raramente são destacados em meio à população masculina em geral A prostituição é uma instituição que serve à regulação das relações sociais de sexo Assim todo comportamento transgressivo por parte das mulheres num dado contexto pode provocar sua estigmatização como prostituída ou puta e levar a punições que daí decorrem Por exemplo qualquer que seja sua profi ssão ou suas intenções mulheres que trabalham no espaço público ou simplesmente que aí circulam que viajam sozinhas ou com outras mulheres podem ser rotuladas de mulheres públicas ou common women24 mulheres livres e podem ser perseguidas agredidas e eventualmente detidas por prostituição ou inclusive mortas como as acu sadas de violar os códigos sexualmente discriminatórios de regimes matri moniais ou indumentários Pheterson 1996 As descrições mais antigas de prostitutas na Europa moderna são atri buídas ao escritor italiano Pietro Aretino do século XVI que inventou a fórmula de um diálogo satírico entre putas para zombar das convenções e das hipocrisias sociais Tais diálogos dominaram a tradição pornográfi ca europeia até o século XVIII No início do século XIX a pornografi a tinha perdido a maior parte da sua mordacidade política e a literatura abandonou a crítica social para se centrar unicamente na excitação sexual dos homens Um fato revelador é que ao mesmo tempo em que ocorreu uma transfor mação na maneira de retratar as prostitutas que de mulheres cúmplices cheias de espírito e subversivas passaram a simples objetos de luxúria 24 Expressão utilizada no período medieval na Inglaterra NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 204 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 204 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 205 também houve uma mudança nos argumentos da censura que passaram do plano político para o moral Hunt 1996 Um trabalho a ser reconhecido ou uma violência a ser abolida Como a pornografi a a prostituição é tema de controvérsia e de controle Desde as sociedades antigas intermediários manipularam o sistema de re lações sociais de sexo para seu próprio proveito material recrutando mulhe res e vendendoas transportandoas ou oferecendoas como presente aos homens Há séculos políticos reformadores religiosos autoridades médi cas e científi cas discutem se o comércio sexual deve ser legalizado proibido tolerado ou abolido Nesses debates a prostituta serve de símbolo da desor dem social da imoralidade e da doença Corbin 1978 As posições das feministas sobre o assunto são tão divididas quanto as das autoridades Nas últimas décadas do século XIX na Inglaterra e na França surgiu um movimento feminista liderado por Josephine Butler contra a regulamentação estatal da prostituição especialmente contra o assédio policial às prostitutas e outras trabalhadoras No início do século XX esse movimento foi eclipsado por uma campanha de pureza social cujos objetivos eram combater a prostituição em si e ampliar os poderes da polícia em vez de reduzilos O objetivo repressivo era punir os clientes e os exploradores por um lado e por outro salvar ou reabilitar as pros titutas Walkowitz 1980 Durante os anos 70 nos Estados Unidos e na GrãBretanha as prostitu tas partilharam o sentimento feminista de indignação de Butler e retomaram o movimento contra a criminalização pelo Estado e contra o assédio policial às mulheres Politicamente identifi candose como trabalhadoras do sexo exigiram o reconhecimento social e legal da prostituição como trabalho e das pessoas que fornecem serviços sexuais como cidadãs legítimas A posição dessas militantes e suas aliadas feministas se chocou de imediato com a das feministas da corrente abolicionista Estas defi nem o comércio sexual em si como uma violência independentemente das condições de autonomia ou coerção das mulheres que o realizam Desde os anos 80 a tensão ideológica e estratégica entre aquelas que reconhecem a prostituição como trabalho e aquelas que a defi nem como violência contra as mulheres tornouse um Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 205 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 205 18102009 192537 18102009 192537 206 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER ponto de cisão política feroz no âmbito do feminismo internacional En quanto as primeiras lutam ao lado das prostitutas contra as condições de exploração e de violência na indústria do sexo as segundas lutam para que o Estado intervenha de maneira mais rigorosa para proibir essa indústria Na França as prostitutas começaram a se organizar nos anos 70 contra as discriminações policiais e sociais e por seus plenos direitos como cidadãs e trabalhadoras Na época apoiadas pela Igreja de um lado e pelas feministas de outro encontraram seus principais aliados nos anos 80 e 90 fora do país A França é conhecida na Europa como um país fortemente abolicionista Essa reputação se deve sobretudo ao importante Mouvement du Nid25 nasci do no pósguerra na corrente do catolicismo social e que pertence à Federação Europeia pelo Desaparecimento da Prostituição Fedip Esse movimento oferece ajuda concreta às prostitutas esperando leválas a deixar e rejeitar a prostituição posição moral que vai numa direção oposta à política das mili tantes que lutam pelos seus direitos e no sentido da política das abolicionis tas feministas da França Para estas últimas a prostituição não é pecado nem trabalho mas uma violência infl igida pelos homens às mulheres e por isso deve ser reprimida pelo Estado Também as prostitutas exigem a condena ção estatal das violências mas sublinham o fato de que a prostituição assim como a caftinagem são defi nidas na lei unicamente pelo lucro econômico e não pelas condições de coerção A proibição desses fenômenos não signifi ca então para as mulheres uma interrupção da violência mas sim um aumento do controle social e policial do assédio físico e das privações econômicas No plano internacional as Nações Unidas partilham a posição aboli cionista e proibicionista da França interditando a facilitação de transações econômicosexuais de pessoas com ou sem seu consentimento ver so bretudo a Convenção Internacional sobre a Repressão do Tráfi co de Seres Hu manos e da Exploração da Prostituição de Outrem 1949 Um fenômeno nacional e internacional Embora alguns países signatários apelem para essa convenção a fi m de justifi car suas práticas repressivas os governos regulam a indústria do sexo sobretudo em função de seus interesses e neste caso a partir de quatro pon 25 Cf Nota sobre o Mouvement du Nid no verbete anterior Prostituição I Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 206 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 206 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 207 tos a renda nacional a política de imigração a ocupação neocolonial e a saúde pública Mais particularmente a intensifi cação dos controles coincide segundo os desafi os nacionais com 1 a crescente dependência do Estado em relação aos fundos gerados pela indústria do sexo nos próprios países ou pela renda da prostituição enviada do exterior pelas mulheres emigrantes 2 a dependência do Estado em relação ao trabalho das mulheres migrantes nos setores não ofi ciais da economia juntamente com as crescentes restrições à imigração legal 3 a oferta de sexo e lazer a militares e mais recentemente e em larga escala a turistas e homens de negócio 4 as reivindicações públi cas pelo controle das doenças sexualmente transmissíveis especialmente a sífi lis no século XIX e a AIDS hoje Consideradas agentes de propagação da doença as prostitutas são o bode expiatório e servem de alvo dos controles discriminatórios do Estado apesar da lógica científi ca e de evidências histó ricas a respeito do fracasso sanitário desses controles Brandt 1985 As leis sobre a prostituição emergem principalmente do nível nacional mas a realidade da economia contemporânea sexual ou não ganhou desde 1970 um caráter cada vez mais internacional Milhões de mulheres migram cada ano no interior e para outros países em busca de renda para prover suas necessidades e as de suas famílias Esse é frequentemente um meio de fugir da coerção e da exploração que elas sofrem em seus países Na au sência de direitos para viajar trabalhar ou imigrar de maneira autônoma elas precisam com frequência contar com intermediários mais ou menos honestos que organizam o transporte das mulheres e jovens das zonas ru rais para as zonas urbanas e de países mais pobres em direção a países mais ricos principalmente para estabelecêlas como prostitutas domésticas ou esposas em casamentos arranjados Wijers e LapChew 1997 Do lado dos homens no sistema desigual de gênero os viajantes e militares vindos de países industrializados sustentam uma fl orescente indústria do sexo nos países em via de desenvolvimento que chega a produzir de 2 a 14 do produto interno bruto de algumas economias regionais Lim 1998 que se organiza na base A atual expansão das migrações de trabalho e o desenvolvimento cor relato da indústria do sexo aumentaram massivamente os lucros e os abu sos As mulheres que se identifi cam como trabalhadoras do sexo reagiram Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 207 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 207 18102009 192537 18102009 192537 208 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER a essas evoluções da mesma forma que à epidemia mundial de AIDS com organizações de base Em meados dos anos 80 elas denunciam em todos os continentes a violação de seus direitos humanos em colóquios nacionais e internacionais Pheterson 1989 Depois com o apoio de subvenções não governamentais e governamentais para o trabalho de prevenção da AIDS elas mobilizaram milhares de mulheres em reuniões regionais e transregio nais principalmente na América Latina e na Ásia esta é a primeira vez na História que prostitutas se benefi ciam de um estatuto legítimo como educadoras para a saúde Protestando contra a hipocrisia da sociedade e do Estado esses diálogos entre putas dão uma voz política às mulheres que agora falam em seu próprio nome para reivindicar a solidariedade dos organismos responsáveis pelo trabalho e por migrações e dos movimentos feministas exigindo o fi m do assédio sexista racista e colonialista das auto ridades públicas assim como o pleno acesso aos direitos cívicos e humanos Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Migrações Sexualidade Violências Corbin Alain Les fi lles de noce misère sexuelle et prostitution XIXe et XXe siècles Paris Flammarion 1978 571p Rééd Flammarion Champs 1982 494p Lim Lin Lean Ed The Sex Sector The Economic and Social Bases of Prostitution in Southeast Asia Genève Bureau international du travail 1998 232p Pheterson Gail Ed A Vindication of the Rights of Whores Seattle Seal 1989 293p The Prostitution Prism Amsterdam Amsterdam University Press 1996 176p Trad franç Paris LHarmattan 2003 Tabet Paola Du don au tarif Les relations sexuelles impliquant une compensation Les Temps modernes mai 1987 n490 p153 Walkowitz Judith Prostitution and Victorian Society Women Class and the State Cam bridge Cambridge University Press 1980 347p Traduzido por ALESSANDRA CEREGATTI Públicoprivado Diane Lamoureux A distinção entre o domínio público e o domínio privado é ao mesmo tempo fundamental e muito antiga no pensamento político Certamente os contornos do privado e do público variaram de acordo com a época mas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 208 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 208 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 209 ainda assim podemse verifi car algumas constantes o governo é sempre da competência do público enquanto o doméstico faz inevitavelmente parte do privado Às origens do público e do privado Como muitos outros elementos da nossa tradição política a distinção entre a esfera privada e a esfera pública nos é dada pelos gregos notada mente Aristóteles para quem essa distinção reproduz duas outras dicoto mias a primeira entre necessidade e liberdade e a segunda entre relações políticas e relações naturais Na Grécia antiga o capital principal do cidadão era o tempo De fato as exigências da vida com os concidadãos e da ação em grupo implicavam se livrar das necessidades do cotidiano para alcançar a liberdade Os seres pri vados eram aqueles cujos relacionamentos com seus semelhantes passavam pela produção material enquanto os seres públicos estabeleciam relações marcadas pela gratuidade A necessidade caracterizava os relacionamentos humanos centrados na reprodução física e na manutenção material dos se res humanos bem como na produção de objetos economia e arte Esses relacionamentos desenrolavamse sob o signo de uma relativa naturalidade por um lado e de uma privação por outro ou seja de uma invisibilidade social daqueles e daquelas que lhe consagravam o essencial da sua existên cia Em tal contexto ser livre era em primeiro lugar e sobretudo libertarse das necessidades da existência tendo a possibilidade de encarregar disso outras pessoas que não a si próprio ou seja mulheres ou escravos É por isso que o homem livre era um chefe de família mas ele era livre apenas na medida em que pudesse sair da sua família para se juntar aos seus se melhantes na ágora na palestra ou na assembleia para criar um mundo instituído do ekkhon logon um mundo em que a palavra e não as coisas é a mediadora das relações sociais Para Aristóteles as relações políticas são a fi nalidade natural da humanidade uma vez que ele o ser humano é defi nido como um zoon politikon mas a cidade é algo distinto dos agrupa mentos humanos meramente naturais como o casal heterossexual a famí lia e o clã que têm em comum o fato de proverem a manutenção da vida o primeiro pela procriação o segundo pela produção material e o terceiro pela guerra e a divisão do trabalho Mas dado que o homem no sentido mas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 209 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 209 18102009 192537 18102009 192537 210 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER culino do termo não está sobre a terra somente para viver mas para bem viver para atingir o eudaimonia as relações que permitem alcançar essa boa vida são as da cidade que se distinguem dos outros tipos de relações pelo fato de repousarem sobre uma igualdade abstratamente construída A redefi nição moderna dos termos Essa maneira de conceber as relações entre a esfera pública e a esfera pri vada infl uenciaria signifi cativamente a delimitação que os modernos intro duziriam entre esses dois termos Na aurora das revoluções modernas assis tese a uma redefi nição do espaço público a partir da dupla lógica cidadania participação soberania poder público Assim para Rousseau o cidadão moderno se distingue do homem natural em virtude de a cidadania ser uma segunda natureza em certa medida mais verdadeira do que a primeira por que totalmente dependente da razão humana e de sua capacidade criadora O acesso à cidadania reproduz assim a controvérsia natureza x cultura Portanto as teorias modernas do contrato social como destaca Pateman 1988 conduzem a uma defi nição da esfera pública centrada num indiví duo cujas características essenciais são a independência a responsabilidade e a razão Quanto à esfera privada ela se reduz cada vez mais à intimidade e à família uma vez que a economia moderna sai da esfera doméstica para se tornar social mediante o duplo mecanismo do mercado e da divisão social do trabalho Devemos a Rousseau a mais elaborada formulação da divisão entre es fera pública e esfera privada divisão que reproduz exatamente os papéis sociais de sexo Para tanto ele procede a uma completa naturalização das mulheres a uma construção de sua dependência e invisibilidade social por meio da associação entre mulher e mãe Para ele a mãe não pode par ticipar do contrato social uma vez que não pode atingir a imparcialidade necessária à constituição de uma vontade geral É nesse compasso que os pensadores dos séculos XVIII e XIX dentre os quais Hegel Hume Kant Nietzche Proudhon e Schopenhauer desenvol vem a noção de esferas separadas uma separação que tem como funções essenciais interditar o acesso das mulheres ao universo político e introduzir um duplo padrão sexuado no outro domínio público o do mercado de trabalho Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 210 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 210 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 211 Mas mesmo que essas esferas sejam separadas sua impermeabilidade não é perfeita os homens como chefes de família autorizamse um vaie vem entre elas as mulheres são destinadas ao privado e se expõem a diver sos ataques à sua integridade quando saem é por isso que a distinção entre a operária e a prostituta é frequentemente tênue O discurso das esferas se paradas alimenta e se nutre de um discurso da diferença natural entre os sexos que distribui os papéis sociais segundo a fi liação sexual O homem público obtém consideração a mulher pública é objeto de escárnio Grande parte do trabalho das feministas a partir do século XIX con sistiu justamente em romper com o confi namento das mulheres na esfe ra privada e em lhes permitir o acesso seguro à esfera pública por meio da formulação de reivindicações em áreas tão diversas como a da igualdade jurídica do acesso à educação e ao emprego remunerado do direito ao voto ou ainda do direito ao aborto O privado é político slogan do feminismo Podemos afi rmar que em grande parte o feminismo que se recompôs a partir do fi nal dos anos 60 fez um uso no mínimo polissêmico dessa expres são Há de fato um abismo entre os grupos de consciência do feminismo americano e do feminismo italiano centrados sobre a análise do vivido e a compreensão do social a partir das experiências pessoais e das práticas mais ideológicas do movimento francês de libertação das mulheres No en tanto no mundo inteiro os grupos feministas se reconheciam nessa expres são e faziam dela um elemento crucial do seu radicalismo Em primeiro lugar isso faz parte da vontade não exclusiva do femi nismo de afi rmar que tudo é político Uma análise retrospectiva do uso da expressão permite constatar que ela foi adotada para enunciar que toda relação de poder dominação e opressão é de fato política Isso também per mitiu evidenciar que a natureza está longe de fi car em paz no mundo mo derno e que a esfera privada é amplamente marcada pelo político sobretu do na era do EstadoProvidência e do surgimento do social Arendt 1958 enquanto o Estado passa a ser essencialmente um gestor de populações Em segundo lugar essa afi rmação contribuiu para legitimar as reivindi cações das mulheres na esfera política Por exemplo o aborto é uma ques tão política e pode ser formulado sob a forma de um direito não só porque Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 211 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 211 18102009 192537 18102009 192537 212 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER permite pôr fi m a uma gravidez indesejada mas também porque o direito à segurança e à integridade da pessoa que está na base do individualismo moderno passa para as mulheres pela possibilidade de controlar sua fe cundidade Além disso ao insistir sobre a capacidade das mulheres de de cidir tornase visível a sua autonomia moral outra característica central do individualismo moderno Por fi m esse slogan permite criticar o modelo de indivíduo abstrato que está na base das teorias modernas de cidadania Lamoureux 2001 Nós somos necessariamente indivíduos encarnados e é apenas a partir da nossa situação que podemos aparecer no espaço público é importante lembrar a época em que o debate sobre a paridade tomou a forma de uma oposição entre particularistas e universalistas como se só o feminino fosse específi co Enfatizar que não podemos aparecer na esfera pública senão como indiví duos encarnados não signifi ca no entanto que a mediação entre a esfera privada e a esfera pública não é mais necessária ela se faz de outra maneira Neste aspecto é interessante notar a diferença entre temos o direito de e nós queremos No primeiro caso apelase a uma razão comum en quanto no segundo não se faz mais do que projetar necessidades específi cas por defi nição no domínio da competição de interesses No primeiro caso há um alargamento da esfera de inclusão política o direito a ter direitos enquanto no segundo há simplesmente o surgimento de novos atores na esfera de gestão do Estado que assim é colocado no papel de árbitro entre os diversos grupos de interesse Com certeza não há unanimidade entre as feministas quanto ao senti do que se deve dar à relação entre a esfera pública e a esfera privada num contexto de cidadania igualitária para homens e mulheres Algumas optam por insufl ar a esfera política com novos valores que as mulheres puderam desenvolver no calor do privado Gilligan 1982 Irigaray 1989 Ruddick 1989 Outras insistem simultaneamente sobre a importância de uma esfera da intimidade que escapa ao olhar público e sobre a necessidade de uma redefi nição inclusiva tanto do privado como do público F Collin 1986a Jones 1993 Young 1990 Isso evidencia que mesmo que as mulheres tenham acedido à cidadania durante a primeira metade do século XX o discurso sobre a diferença sexual e as esferas separadas não se amenizou Sem querer reduzir a vida humana a um único domínio tal como fi zeram os regimes totalitários trazendo as Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 212 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 212 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 213 consequências que conhecemos de desaparecimento do espaço público de ação e de atomização social resta elaborar novos modos de vida e de organi zação social que permitam a todas e a todos participar plenamente tanto da esfera pública quanto da privada Cidadania Igualdade Família Maternidade Movimentos feministas Políticas sociais e familiares Trabalho o conceito de Universalismo e particularismo Arendt Hannah The Human Condition University of Chicago Press 1958 333p trad franc Condition de lhomme moderne Paris CalmannLévy 1961 Butler Judith Scott Joan W Eds Feminists theorize the Political Nova Iork Routledge 1992 485p Collin Françoise Du privé et du public Cahiers du GRIF 1986a n33 p4767 Jones Kathleen Compassionate Authority Nova Iork Routledge 1993 265p Pateman Carole The Sexual Contract Stanford University Press 1988 264p Young Iris Justice and the Politics of Difference Princeton University Press 1990 286p Traduzido por NAIRA PINHEIRO Religiões Maria José F Rosado Nunes Para as Ciências Sociais as religiões são socialmente construídas As práticas religiosas certas expressões da fé as representações simbólicas e os discursos são reveladores de relações sociais Assim pertencer a uma classe uma raça ou um sexo determina ou delimita as práticas religiosas inclu sive as que são percebidas como as mais íntimas Além disso as crenças práticas e representações religiosas agem sobre a realidade seja reforçando as estruturas sociais seja modifi candoas Compreender as religiões como espaços complexos e portadores de contradições de produção reprodução e transformação das relações sociais em todos os domínios do culto dos símbolos e do saber e não apenas o da organização religiosa é um desafi o teórico Assim é no contexto das relações sociais de sexo de raça e de classe que devem ser analisadas as relações das mulheres com as religiões e das religiões com as mulheres Estas últimas são em parte moldadas pelas crenças e práticas religiosas enquanto as primeiras são em parte moldadas pelas relações sociais Esta tomada de posição teórica e metodológica su Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 213 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 213 18102009 192537 18102009 192537 214 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER põe uma abordagem dinâmica das religiões e da relação das mulheres com as religiões A observação empírica mostra então que elas não funcionam sempre e em todas as sociedades como forças conservadoras de reforço à subordinação das mulheres Em algumas circunstâncias funcionam como forças inovadoras como um catalisador de mudanças sociais e políticas Na condição de fi éis as mulheres podem se sujeitar ao poder disciplinar das re ligiões mas por sua ação podem igualmente contribuir para sua mudança A propósito da Reforma Nancy Roelke cf Zemon Davis 1979 vê nas mulheres huguenotes esposas e viúvas de caráter decidido e extremamente independente que encontraram na causa da Reforma uma chance de am pliar o seu campo de ação Estes diferentes cenários pertencem a situações históricas concretas que não podem ser apreendidas senão por meio de pes quisas de campo A divisão do trabalho religioso Os estudos sobre a relação entre as mulheres e as religiões se desenvol veram paralelamente aos estudos feministas em geral Num primeiro mo mento a crítica das religiões foi desenvolvida no plano político e militante as feministas lançaram então contra elas um anátema radical eram um dos instrumentos mais efi cazes de controle das mulheres e manutenção da sua subordinação Pesquisas posteriores mais analíticas e apoiadas numa base empírica aplicaram nesse campo conceitos e métodos desenvolvidos por pesquisadoras feministas Estas revelaram os vínculos contraditórios e am bíguos que existem entre a organização religiosa e as mulheres como em todas as instituições sociais Teólogas cristãs brancas ocidentais foram as primeiras a empreender uma crítica do judaísmo e do cristianismo segui das por mulheres de religiões orientais hinduísmo budismo islamismo e as africanas Elas teceram críticas sobre o conteúdo da fé monoteísmo imagem masculina da divindade fi gura submissa e virginal de Maria so bre as interpretações dos textos tidos como sagrados a Bíblia o Corão o Talmud os escritos de Buda e sobre a organização masculina e hierárquica das instituições religiosas Essas teólogas questionaram a existência de uma única verdade religiosa contida numa única religião salvadora e porta dora de redenção Tais críticas levaramnas a considerar mudanças em seu próprio credo ou a criar novos grupos religiosos com base em antigas cren Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 214 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 214 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 215 ças recuperando as fi guras femininas de deusas e bruxas bem como rituais considerados pagãos Pesquisadoras feministas questionaram igualmente o campo da socio logia da religião e evidenciaram o sexismo da abordagem clássica Em As formas elementares da vida religiosa Durkheim 1912 propõe uma rígida divisão entre sagrado e profano como algo constitutivo das religiões e da so ciedade De acordo com ele só os homens são portadores do sagrado pro tagonistas das crenças e dos ritos pelos quais são criadas novas relações e a própria sociedade As mulheres por sua vez são relegadas ao profano ao cotidiano repetitivo portanto incapazes de serem portadoras de uma força criadora Ritos e crenças devem contribuir para manter o mundo ideal dos homens separado do mundo das mulheres mesmo nas sociedades moder nas e secularizadas Max Weber 1920 distingue dois tipos de religiões As baseadas no ascetismo no racionalismo defendem a ação no seio da socie dade permitem a existência de heróis líderes carismáticos ou profetas são associadas aos homens Outras têm um caráter mágico extático incorpo rando o erotismo são orientadas para o amor estão distantes da ação e são associadas às mulheres Ao analisar a natureza e o funcionamento do poder religioso as soció logas feministas mostraram como o tratamento abstrato das categorias uti lizadas supostamente neutras quanto às relações de sexo não permitem perceber os elementos fundamentais da realidade das instituições religio sas Elas mostraram que o poder religioso tem por base a divisão sexual do trabalho social A divisão clerolaicato no catolicismo romano por exem plo remete à separação homensmulheres mesmo se as mulheres não são as únicas leigas o poder é monopolizado pelos homens A obrigação do ce libato masculino para o exercício do ministério sacerdotal no catolicismo romano remete as mulheres ao estatuto de profanadoras do sagrado para desempenhar as funções rituais de ligação da comunidade dos fi éis com o sagrado o sacerdote não deve tocar uma mulher Assim a subordinação das mulheres na esfera religiosa não se revela apenas na impossibilidade objetiva de estas chegarem a posições de liderança em igrejas e outras or ganizações religiosas Ela pode ser detectada e analisada mais amplamente no conjunto do espaço religioso e em cada um dos seus componentes os discursos as representações as práticas como a expressão de relações so ciais que estão em ação na sociedade em geral e no campo religioso em par Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 215 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 215 18102009 192537 18102009 192537 216 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER ticular Contudo a complexidade e a ambiguidade do jogo de exclusão e inclusão das mulheres empreendido pelas instituições religiosas permitem o aparecimento de contradições e confl itos que tornam possíveis mudanças favoráveis às mulheres Ambivalência das religiões Uma das mais sérias discussões nesta área concentrouse sobre a exis tência de possibilidades reais de mudança no campo religioso em favor das mulheres podemos destacar duas abordagens distintas Para algumas espe cialistas como Mary Daly 1973 as religiões existentes são lugares de pura dominação das mulheres que sofrem aí a infl uência de grupos religiosos e das igrejas O androcentrismo peculiar às religiões históricas é intrínseco e portanto imutável O investimento da população feminina na religião constituiria então a prova do seu conservadorismo Para outras como a teóloga feminista Elisabeth Schussler Fiorenza 1986 o problema das reli giões institucionalizadas em igrejas foi o de sua apropriação pelos homens O objetivo das pesquisas é assim recuperar as tradições e os fundamentos próprios das religiões de modo que as mulheres encontrem aí o seu lugar Outra abordagem se interessa sobretudo pelo poder institucional e pelos efeitos sociais e políticos da participação religiosa das mulheres Nessa li nha alguns estudos empíricos como os de Carol Drogus 1997 e outros sobre catolicismo no Brasil mostram que as religiões constituem realidades sociais complexas ambivalentes É preciso compreender como as ativida des simbólicas as crenças os ritos e discursos e a organização do poder religioso que parece escapar às relações sociais de sexo são na realidade moldados por elas Pistas para novas pesquisas Apesar do processo de secularização que deu forma às sociedades mo dernas as religiões conservam um grande poder de atração sobre as mu lheres quer seja nas sociedades mais urbanizadas ou naquelas distantes da modernidade As mulheres representam ainda o público mais signifi cativo nas diferentes religiões do mundo e mais recentemente nas novas religiões e nos novos movimentos religiosos Portanto examinar os efeitos desse in Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 216 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 216 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 217 vestimento para as populações femininas continua sendo um tema atual Vários campos abremse à pesquisa feminista para compreender e explicar as relações das mulheres com o fenômeno religioso e o seu lugar nas religiões históricas Quais são os efeitos sobre a vida das mulheres e consequente mente sobre a dos homens das mudanças contemporâneas no campo da religião tanto no Ocidente como no Oriente Qual o signifi cado da prolife ração de grupos fundamentalistas liderados por homens que cada vez mais atingem a vida e o corpo das mulheres Num contexto de reivindicação de direitos sexuais e reprodutivos como as religiões procuram apropriarse do corpo das mulheres e controlar a sua capacidade reprodutiva e a sua sexuali dade Resta analisar as condições de produção de novas práticas discursos e símbolos religiosos pelas mulheres e seus efeitos sobre as religiões e sobre a totalidade de crentes mulheres e homens Finalmente é preciso proceder a pesquisas empíricas que abram novas pistas para compreender a realidade das religiões nas sociedades do terceiro milênio Dominação Poderes Sexualidade Caron Anita Ed Femmes et pouvoir dans lÉglise Montreal VLB 1991 254p Erickson Victoria Lee Where Silence speaks Feminism Social Theory and Religion Mineápolis Fortress Press 1993 219p Gross Rita Feminism and Religion An Introduction Boston Beacon Press 1996 279p Rosado Nunes Maria José F Women Family and Catholicism in Brazil The Issue of Power in Sharon K Houseknecht Jerry G Pankhurst Family Religion and Social Change in Diverse Societies Nova Iork Oxford University Press 2000 p347362 Schussler Fiorenza Élisabeth En mémoire dElle Essai de reconstruction des origines chrétiennes selon la théologie féministe Paris Cerf 1986 482p Sharma Arvind Ed Women in World Religions Albany State University of New York Press 1987 302p Traduzido por NAIRA PINHEIRO Saúde no trabalho Annie ThébaudMony Saúde no trabalho designa dois tipos de realidade o estabelecimento da saúde de homens e mulheres no local de trabalho e o conjunto de dispo Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 217 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 217 18102009 192537 18102009 192537 218 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER sitivos legislativos regulamentares e institucionais com os quais se supõe prevenir e reparar os danos à saúde relacionados ao trabalho Questionar a saúde no trabalho a partir da problemática das relações sociais de sexo nos permite estudar qual o papel que a divisão social do tra balho entre homens e mulheres tem na construção diferencial de sua saúde na articulação da vida produtiva e da vida reprodutiva Permite também desenvolver uma análise crítica da elaboração das leis e regulamentações mas também das práticas institucionais e sindicais em saúde ocupacional Construção diferencial da saúde de homens e mulheres A história da saúde dos homens e das mulheres no trabalho continua a ser escrita principalmente a partir de numerosos trabalhos monográfi cos por vezes muito ricos sobre a experiência das condições de trabalho em diferentes épocas em diferentes países e em tipos de atividades bastante diversifi cados agricultura mineração serviços instituições de cuidados da saúde A problemática das relações sociais de sexo constitui uma chave de interpretação particularmente pertinente para construir essa história e dela extrair lições numa perspectiva da saúde pública Alguns psicólogos do tra balho tentaram utilizála para esclarecer em especial as atitudes diferentes de homens e mulheres diante dos riscos do trabalho Esta abordagem no entanto tende a naturalizar a virilidade como traço psicológico em detri mento de uma abordagem dinâmica da construção social das condições e situações de exposição a riscos profi ssionais e da mobilização diferenciada da saúde no trabalho No entanto esta última permite destacar não apenas os tipos de danos à saúde segundo o lugar das mulheres e dos homens na di visão social do trabalho mas igualmente indicar em especial para as mu lheres as estratégias de resistência aos danos à saúde ligados ao trabalho Na verdade é preciso destacar que desde a recusa do trabalho por produção na indústria têxtil até a rejeição do trabalho por peça na indústria eletrôni ca pelos trabalhadores dos anos 60 verifi case a resistência das mulheres à fadiga nervosa que afeta a sua saúde e acarreta problemas na sua vida extra profi ssional SaurelCubizolles Messing e Lert 1996 A problemática das relações sociais de sexo ocorre em três tipos de trabalhos Numa abordagem sóciohistórica Alain Cottereau 1983 identifi ca dois modelos de deterioração precoce da saúde um masculino mais Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 218 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 218 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 219 ligado a condições de trabalho perigosas e insalubres cujas consequências têm visibilidade social em especial devido aos acidentes de trabalho o ou tro feminino que ele relaciona à sobrecarga de trabalho associada a tarefas repetitivas sob condições de forte restrição de tempo e aos encargos maternos As consequências são marcadas pela invisibilidade Numa leitura sociojurídica crítica da prevenção em saúde do trabalho na Europa Laurent Vogel 1994 dá um amplo destaque à invisibilidade do trabalho feminino e às suas consequências sobre a saúde Ele questiona a tradição científi ca que parte de patologias medicamente constatadas para remetêlas a condições de trabalho não reinseridas nas relações sociais de dominação que asseguram a sua perenização Ele critica essa abordagem dominante que afora os aspectos ligados à reprodução gravidez mater nidade não leva em conta nem a construção diferencial dos percursos profi ssionais nem as modalidades específi cas de alteração e desgaste da saúde das mulheres associadas à sua dupla jornada de trabalho produtivo e reprodutivo Essa análise encontra um eco imediato nos debates sobre o trabalho noturno Proibido às mulheres na França pela lei de 1892 hoje ele é autorizado como nos outros países da União Europeia sob o pretexto da não discriminação entre homens e mulheres no emprego Essa lei que além disso limitava o dia de trabalho das mulheres a 11 horas por dia poderia aparecer como uma forma de discriminação positiva Contudo Michelle ZancariniFournel aponta quanto os argumentos foram indubitavelmente sexistas e cristãos Se vocês desejam que a mãe de família possa preparar a refeição da noite que esta esteja ao forno e à mesa quando o seu marido e as suas crianças retornarem é indispensável que o seu dia de trabalho ter mine o mais tardar às 19 horas Auslander e ZancariFournel 1995 p82 De fato a lei adotada não dizia respeito ao comércio aos escritórios mas à indústria e baseavase numa representação da feminilidade e do papel da mulher casada ligada aos interesses demográfi cos nacionais e a um eugenis mo que visava a preservação da raça Hoje em dia a decisão de suprimir a proibição do trabalho noturno para mulheres depende menos de uma re ferência à regra da igualdade entre homens e mulheres do que do reforço das lógicas de produtividade e competitividade ao possibilitar a utilização permanente dos equipamentos produtivos e a fl exibilização da jornada de trabalho independentemente do setor de atividade Numa perspectiva de proteção à saúde tendo em vista os efeitos patogênicos do trabalho notur Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 219 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 219 18102009 192537 18102009 192537 220 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER no efeitos conhecidos há décadas a única medida legítima teria sido ao contrário a extensão da interdição do trabalho noturno aos homens Tal medida teria tido como efeito dar aos trabalhadores no âmbito das nego ciações de redução da jornada de trabalho a oportunidade de declarar o trabalho noturno como derrogatório em relação a essa interdição e de nego ciar o recurso em posição de força para obter o descanso compensatório na medida do dano sofrido por aqueles constrangidos a aceitálo Por fi m várias pesquisas socioantropológicas evidenciam o papel de sempenhado pelas relações sociais de sexo e sua infl uência sobre a saúde no trabalho no contexto de uma generalização da precarização social Elas permitiram revelar dois processos que se conjugam Por um lado as mu lheres foram as primeiras atingidas pelo trabalho em tempo parcial e pela intermitência dos empregos precários Em ambos os casos a legitimidade do recurso a essas formas específi cas de emprego em relação ao modelo do emprego fi xo de tempo integral para as mulheres teve por base a neces sária articulação entre trabalho produtivo e trabalho reprodutivo Bretin Frigul e ThébaudMony in Appay e ThébuadMony 1997 Não se em preendeu nenhum protesto social contra a redução da jornada de trabalho para as mulheres com redução concomitante de salário Por outro lado a precarização do trabalho dos homens tomou a forma de uma mobilidade e de uma disponibilidade permanentes de acordo com os imprevistos da produção em especial no caso de relações de trabalho estabelecidas por subcontratação ThébaudMony 2000 Essa disponibilidade temporal e espacial dos homens aparece como legítima em relação à divisão sexual do trabalho reprodutivo no qual as mulheres asseguram a continuidade da gestão das tarefas afetivas educativas e domésticas na família Esses dois processos contribuem de forma duradoura para a invisibilidade das conse quências da precariedade do trabalho e do emprego sobre a saúde Essas pesquisas socioantropológicas assentam sobre uma defi nição so ciológica da saúde elaborada pelo grupo de pesquisa que as conduziu a saúde é um processo dinâmico pelo qual o indivíduo caminha um processo que registra no corpo na pessoa as marcas do trabalho das condições de vida das dores do prazer e do sofrimento de tudo aquilo de que é feito uma história individual em sua singularidade mas também coletiva pela infl uência de múltiplas lógicas entre as quais ela se insere A dinâmica das relações sociais de sexo ganha aqui toda a sua relevância Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 220 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 220 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 221 Leis regulamentações práticas institucionais uma análise crítica A gênese e a evolução da legislação sobre saúde no trabalho inseriuse no último século numa lógica de segurança que tende a reduzila apenas à di mensão dos riscos profi ssionais neutros e objetivamente determináveis reconhecidos como passíveis de indenização nos termos das negociações acordadas entre os parceiros sociais A maioria das tabelas de indenização por doenças profi ssionais diz respeito a riscos físicos ou químicos caracte rísticos das indústrias químicas de mineração e metalurgia e de construção Código da Seguridade Social art L 4614 da legislação francesa Nessa perspectiva uma parcela signifi cativa das doenças profi ssionais desaparece do campo de conhecimento dos danos relacionados ao trabalho e das origens sociais dos problemas de saúde As estatísticas administrativas de doenças profi ssionais realizadas anualmente na França pelo Instituto Nacional de Seguro de Saúde não incluem a variável sexo No entanto a pesquisa Con dições de trabalho realizada a cada cinco anos em média pelo Ministério do Trabalho na França com uma amostra representativa de trabalhadores assalariados aponta de modo constante desigualdades signifi cativas entre homens e mulheres Estas mais do que os homens estão sujeitas a trabalhos repetitivos sob severas restrições de tempo e sofrem a insalubre evolução de novas formas da jornada de trabalho tempos parciais instáveis horá rios irregulares banco de horas etc A explosão em âmbito mundial de lesões por esforço repetitivo LER ou dos distúrbios musculoesqueléticos DME que atingem principalmente as mulheres é associada por muitos especialistas à divisão sexual do trabalho Pearson 1998 Esses distúrbios orgânicos são um sintoma da hipersocialização de homens e mulheres no trabalho que se refl ete também em diversas formas de sofrimento psíqui co conforme o demonstram inúmeros estudos de psicoterapia do trabalho GuihoBailly 1996 Davezies Dejours in Coletivo 1997 Uma revisão da literatura realizada no início dos anos 80 relativa à saú de das mulheres destacou a infl uência das relações sociais de sexo tanto na seleção e desenvolvimento de políticas de pesquisa como em matéria de legislação e ações sindicais ThébaudMony e Lert 1982 Lucila Scavone 1997 socióloga brasileira apropriouse de outra pers pectiva complementar à anterior qual seja a da infl uência da divisão sexual Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 221 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 221 18102009 192537 18102009 192537 222 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER do trabalho na construção da invisibilidade social das doenças profi ssionais São as mulheres que assumem por meio do seu trabalho sanitário profano a responsabilidade social pelo cuidado dos homens e das mulheres que sofrem de doenças profi ssionais assim como a gestão de suas consequên cias familiares Para resistir à transformação das consequências do trabalho sobre a saúde em meras defi ciências individuais e privadas o desenvolvi mento de pesquisas sociológicas sobre a saúde no trabalho que levem em conta as relações sociais de sexo pode contribuir para a análise crítica da organização social do trabalho Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Flexibilidade Precarização social Técnica e gênero Trabalho o conceito de Appay Beatrice ThebaudMony Annie Précarisation sociale travail et santé Paris IRESCOCNRS Actions scientifi ques fédératives de lIRESCO 1997 580p Cottereau Alain Usure au travail Destins masculins et destins féminins dans les cul tures ouvrières en France au XIXe siècle Le Mouvement social julset 1983 n124 p71112 Scavone Lucila Invisibilidad social de dolencias profesionales ligadas a la exposición al amianto Cuadernos Mujer Salud 1997 n2 p1437 ThebaudMony Annie Lert France Emploi travail et santé des femmes la législation et les recherches face aux mouvements sociaux Droit social 1982 n12 p78192 Vogel Laurent Lorganisation de la prévention sur les lieux de travail Un premier bilan de la directivecadre communautaire de 1989 Bruxelas Bureau technique syndical euro péen pour la santé et la sécurité 1994 287p Traduzido por NAIRA PINHEIRO Sexo e gênero NicoleClaude Mathieu Diferenciação biológica diferenciação social De modo geral opomos o sexo que é biológico ao gênero gender em inglês que é social Na Biologia diferenciação é a aquisição de proprieda des funcionais diferentes por células semelhantes A diferença é o resultado de uma diferenciação O estudo das sociedades animais incluindo a dos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 222 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 222 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 223 nossos primos primatas revela uma grande variedade indo do maior con traste até a quase similitude de diferenças a assimetria entre fêmeas e machos características sexuais secundárias e comportamentos que asse guram a reprodução a criação dos fi lhotes e a obtenção de alimento cf por exemplo Hrdy 1981 A humanidade faz parte das espécies de reprodução sexuada por isso ela tem dois sexos anatomofi siológicos com uma única função de sua per petuação física a produção de novos indivíduos No entanto sua marca distintiva já detectável nos primatas superiores é a perda do estro coinci dência entre excitação sexual e período fértil nas fêmeas animais Donde para as mulheres há a possibilidade do desejo e de relações sexuais sem risco de gravidez mas também de gravidez sem desejo sexual estupro um ato social parece peculiar ao homem As sociedades humanas com uma notável monotonia sobrevalorizam a diferenciação biológica atribuindo aos dois sexos funções diferentes di vididas separadas e geralmente hierarquizadas no corpo social como um todo Elas lhe aplicam uma gramática um gênero um tipo feminino é culturalmente imposto à fêmea para que se torne uma mulher social e um gênero masculino ao macho para que se torne um homem social O gênero se manifesta materialmente em duas áreas fundamentais 1 na di visão sociossexual do trabalho e dos meios de produção 2 na organização social do trabalho de procriação em que as capacidades reprodutivas das mulheres são transformadas e mais frequentemente exacerbadas por diver sas intervenções sociais Tabet 19851998 Outros aspectos do gênero diferenciação da vestimenta dos comportamentos e atitudes físicas e psico lógicas desigualdade de acesso aos recursos materiais Tabet 19791998 e mentais Mathieu 1985b1991a etc são marcas ou consequências dessa diferenciação social elementar Assim a extensão para a quase totalidade da experiência humana da quilo que é apenas uma diferenciação funcional em uma área leva a maioria dos seres humanos a pensar em termos de diferença entre os sexos como uma divisão ontológica irredutível em que sexo e gênero coincidem e cada um deles é exclusivo em relação ao outro Mas a gramática do gênero ideal e factual ultrapassa por vezes a evidência biológica da bicategorização aliás ela própria problemática conforme o demonstram a complexidade Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 223 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 223 18102009 192538 18102009 192538 224 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER dos mecanismos de determinação do sexo Peyre e Wiels 1997 e os estados interssexuais Algumas sociedades mas não as ocidentais modernas e al guns fenômenos marginais das nossas sociedades modernas mostraram que defi nições de sexo e gênero assim como as fronteiras entre sexos eou entre gêneros não são tão claras Outros sexos e outros gêneros O conceito de sexo parece ser universal Héritier 1996 19ss vê na pró pria diferença anatômica entre os sexos uma barreira última do pensamen to inserindo a oposição entre o idêntico e o diferente na origem dos sistemas conceituais binários No entanto as teorias sobre a origem da sua biparti ção sobre sua função na procriação ou sobre o sexo real de um bebê são muito diferentes desde antes de Aristóteles até os biólogos modernos de um lado a outro do planeta Conforme a sociedade ou sempre houve dois sexos ordem divina ou ordem natural ou primeiro um só sugestivamen te porém já sexuado ou andrógino o que dá no mesmo ou dois seres do mesmo sexo Para a procriação ou só o homem ou só a mulher ou a mulher com a ajuda de um espírito é que contribui para a concepção da criança às vezes o pai é tão necessário quanto a mãe para continuar a produzir bio logicamente a criança após o nascimento etc E às vezes a criança muda de sexo no momento do nascimento ou não pertence ao seu sexo aparente No entanto apesar da diversidade das representações de sexo e da sexualidade as sociedades instauram concretamente por meio de ritos regras de casa mento e prescrições diversas uma diferença entre os sexos e sua comple mentaridade geralmente hierárquica Mathieu 1991b Na maioria das sociedades a bipartição do gênero deve estar calcada na bipartição do sexo realizada sob forma normal e normatizada na heteros sexualidade O gênero traduz o sexo Deve haver uma adequação entre gênero e sexo com uma ênfase neste último Daí a necessidade para os transexuais modernos de mudar de sexo para estar em conformidade com o gênero vivido o do sexo oposto Ou como entre os inuit a necessidade de vestir e criar um bebêmenina como menino travestismo se a pessoa que reencarnou nela era do sexo masculino e viceversa o que cria uma espé cie de terceiro sexo pelo menos até o casamento heterossexual quando a criança retorna ao seu sexogênero biológico Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 224 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 224 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 225 Mas uma segunda maneira de conceber a relação entre sexo e gênero é admitir a sua divergência eventual dando prioridade ao gênero ou seja à bipartição social de funções e atitudes O gênero pode ser um símbolo do sexo e viceversa É uma lógica pragmática mais heterossocial do que heterossexual que permite uma relativa fl exibilidade de comportamentos incluindose o sexual Assim os travestis modernos desprezados ou os berdaches ameríndios indivíduos passando ofi cialmente ao gênero oposto não querem mudar de sexo mas sim marcar sua preferência pelo outro gê nero O caso africano de casamentos institucionais entre homens ou entre mulheres em que as normas de gênero prerrogativas do marido e ser viços da esposa eram respeitadas atestam que o casamento não se defi ne principalmente pela função reprodutiva como bem o havia observado LéviStrauss 1956 mas garante um conjunto de direitos do sexogênero homem sobre o sexogênero mulher As diversas análises da relação entre sexo e gênero Não obstante algumas obras de autores importantes como Friedrich En gels 1884 Margaret Mead 1935 1948 Virginia Woolf 1929 1938 ou Simone de Beauvoir 1949 a questão da construção social das diferenças entre os sexos permaneceu e ainda é marginal nas Ciências Humanas como o demonstra a invisibilidade ou o desprezo que ainda atingem os estudos feministas no mundo acadêmico na França mais do que em outros países ocidentais Antes do ressurgimento dos movimentos feministas no fi nal dos anos 60 a História se interessava eventualmente por algumas mulheres de poder eou célebres a Psicologia e a Psicanálise pelas diferenças entre os sexos na fronteira entre biologia e socialização controvérsia natureza x educação a Psicologia e a Sociologia pelos papéis sexuais esperados ou prescritos o que representava um progresso A Etnologia constatava a complementaridade dos sexos e se questionava às vezes acerca de seus fundamentos controvérsia natureza x cultura Notese que no início dos estudos feministas nos Estados Unidos como noutros países não se falava de gênero mas de mulheres e sua invisibili zação pela sociedade e por uma ciência androcêntrica de sua opressãoex ploração pelos homens e das condições de sua libertação Como mulheres nós pensávamos e reivindicávamos Mas o que é uma mulher Os debates Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 225 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 225 18102009 192538 18102009 192538 226 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER entre tendências dentro do movimento de mulheres revelam diversas concepções subjacentes da relação entre sexo e gênero algumas das quais não diferem muito das duas concepções mencionadas anteriormente Uma tendência francesa inspirada numa dada corrente da Psicanálise está as sociada ao primeiro modo de pensamento baseado no sexo homens e mu lheres são diferentes o problema é que a nossa sociedade não permitiu que a mulher chegasse psicológica e socialmente à sua especifi cidade Mas as opções mais comuns estão no segundo modo de pensamento que abre es paço para a ambiguidade entre sexo e gênero elas abordam as modalidades de construção do gênero concebido como elaboração cultural da diferen ça sexual analisando e denunciando as desigualdades entre os sexos a fi m de rearranjar equitativamente os conteúdos dos dois gêneros Finalmente uma terceira corrente conceitual da relação entre sexo e gênero apresentada na França pelo coletivo da revista Questões feministas 1977 1980 con sidera que os sexos não são simples categorias bissociais mas classes no sentido marxista constituídas por e na relação de poder dos homens sobre as mulheres que é o próprio eixo da defi nição de gênero e de sua primazia sobre o sexo cf Delphy 1991b2001 o gênero constrói o sexo As tendên cias lésbicas políticas próximas desta corrente encaram a heterossexualida de não como um comportamento sexual entre outros mas como o sistema fundador da defi nição de mulheres por uma relação obrigatória de de pendência dos homens Quando Simone de Beauvoir disse Não se nasce mulher tornase mulher Monique Wittig 19802001 acrescentou mulher não tem sentido senão nos sistemas de pensamento e nos sistemas econômicos heterossexuais As lésbicas não são mulheres As críticas feministas das ciências focaram entre outras a naturalização da categoria mulher Dado o amálgama biofi siopsicológico que a defi nia e a ocultação de relações de poder que a constituem faziase necessário in troduzir análises e portanto os termos mostrando claramente o funciona mento social da categorização por sexo Daí o advento na França das no ções de sexo social Mathieu 19711991a de sexagem Guillaumin 19781992 para descrever em relação a certas formas de escravidão e ser vidão um sistema de apropriação das mulheres sexismo mais restrito se referia mais a atitudes e da expressão rapidamente generalizada aos países francófonos relações sociais de sexo correspondente à inglesa gender re lations relações de gênero Nos Estados Unidos o termo gender até então Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 226 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 226 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 227 ocasionalmente utilizado em estudos psicológicos sobre a identidade pes soal por exemplo o trabalho de John Money e Stoller 1968 ganha uma acepção sociológica por exemplo Oakley 1972 E a antropóloga Gayle Rubin 19751999 propôs a expressão sexgender systems para destacar a interdependência sistêmica entre os regimes matrimoniais que oprimem as mulheres nos quais elas não têm sobre si mesmas sobre as outras mulheres e sobre os homens os direitos privilégio de gênero que estes têm sobre elas e sobre a sua sexualidade e os processos econômicos e políticos globais Desvios da noção de gênero Desde os anos 80 notase uma tendência nos escritos em inglês femi nistas ou não e mais recentemente em francês de um uso exclusivo do termo gênero Isso acarreta vários problemas 1 O termo gênero isolado tende a ocultar que o sexo a defi nição ideológica e prática que lhe é dada funciona efetivamente como pa râmetro na variabilidade das relações sociais concretas e das elabora ções simbólicas Quaisquer que sejam os modos de articulação entre sexo e gênero detectase constantemente um funcionamento assimé trico do gênero e de suas transgressões em função do sexo Sem dú vida há os gêneros homemmulher mas na base inferior da escala do gênero há fêmeas sexo social mulher Mathieu 19891991a Como no caso da substituição do termo raça por etnia deixar o sexo fora do campo do gênero implica o risco de manter incontorná vel o seu estatuto de realidade E de realidade imutável esquecendo se de que a biologia e em especial a fi siologia da fecundidade é amplamente dependente do ambiente social 2 Evidentemente as análises feministas mostram que o funciona mento do gênero incluindo as estruturas sociocognitivas Hurtig e Pichevin 1991 é hierárquico Mas o termo continua a ser usado pela maioria das pessoas como uma bicategorização inofensiva Falar de gender studies é então bem menos comum ou particularista do que womens studies ou gay and lesbian studies e parece mais tran quilo ou objetivo do que feminist studies Isso permite estudar os aspectos simbólicos e ideológicos do masculino e do feminino sem referência à opressão do sexo feminino Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 227 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 227 18102009 192538 18102009 192538 228 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER 3 Podese constatar que muitos escritos em inglês inclusive feminis tas utilizam gender em diversos sentidos e principalmente como um eufemismo para sexo o que aumenta a confusão frequente entre sexo e sexualidade Segundo Brigitte Lhomond 1997 o abandono de toda distinção entre sexo e gênero conduz ao risco de naturalizar o gênero 4 A partir dos anos 90 surge nos Estados Unidos um novo desvio do gênero representado em alguns espetáculos da cantora Madonna e promovido por ativistas e alguns universitários com o nome de mo vimento e teoria queer queer bizarro ambíguo insulto usado para designar homossexuais reivindicado aqui para afi rmar e reunir to dos os comportamentos diferentes daquele da heterossexualidade normativa homossexuais lésbicas transexuais travestis bissexuais etc Inspirados por uma forma de pósmodernismo e reprovando os movimentos feministas lésbicos e gays anteriores por terem centra do o seu foco sobre questões relativas às identidades coletivas cons tituídas os queer consideram que as categorias de oposição binária homensmulheres homoheterossexual são ultrapassadas ou mes mo essencialistas enquanto nós havíamos demonstrado que elas são construídas pela opressãoTratase então de ultrapassar o gêne ro transgendering embaralhando desordenando perturbando Butler 1990 as categorias de sexo e sexualidade Eles se interessam pelos gêneros como uma representação quase teatral perfor mance que cada indivíduo poderia desempenhar à sua maneira ver os artigos críticos de F Collin 1994 Charest 1994 Mathieu 1994 Os aspectos simbólicos discursivos e paródicos do gênero são pri vilegiados em detrimento da realidade material histórica das opres sões sofridas pelas mulheres e essa tendência encontra forte oposição entre algumas lésbicas e feministas especialmente as feministas de cor americanas e as do Terceiro Mundo Três debates em torno das categorias de gênero e de sexo A atualidade social tanto conceitual como jurídica das categorias de sexo e gênero é evidenciada nos países ricos por meio de três debates Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 228 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 228 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 229 1 A feminização da linguagem Na maioria das línguas europeias em graus diferentes o gênero gramatical é hierárquico o masculino representa o geral e no plural engloba o feminino O protesto fe minista contra o ocultamento do sexogênero mulher deu lugar muito precocemente a várias criações em romances ensaios carta zes e hoje em fanzines colocar todas as palavras no feminino raro mas chocante ou usar a forma feminina plural acentuada tipogra fi camente para designar um conjunto misto as alunAs as univer sitáriAs ou evitar ao máximo termos que identifi quem o sexo ou encontrar uma palavra neutra e universalizante por exemplo o on Wittig 19851992 e 2001 em francês as pessoas em português ou substituir chairman por chairperson no inglês etc No Quebec o Instituto de Língua Francesa editou há vinte anos recomenda ções para a feminização ou bissexualização dos termos por exemplo uma professora osas alunosas ou em francês une professeure les étudiantes sob os auspícios da feminização dos nomes das profi s sões na França cf HoudebineGravaud 1999 Mas o que subjaz à feminização Claire Michard 1999 revela que os signifi cantes masculinofeminino não possuem signifi cados simétricos humano masculinohumano feminino como pretende a linguística clássica ao falar de gênero natural ou gênero verdadeiro mas sim de humanofêmea A questão então é saber se uma sobressexualização da linguagem não bloqueará toda possibilidade de se avançar em di reção à abolição do gênero 2 A paridade entre homens e mulheres na representação política está na ordem do dia na Europa e alguns países têm quase chegado lá As possibilidades e especialmente as modalidades dessa paridade são fortemente dependentes das tradições políticas Na França um vivo debate opõe as feministas Para todas é o sexogênero mulheres que é inferiorizado mas para algumas é preciso por isso mesmo constituir o sexo como uma categoria jurídica da representação política enquanto outras receiam que isso ratifi que a ideia já muito enraizada de uma natureza diferente entre mulheres e homens de uma especifi cidade sexuada dos valores do pensamento e da ação enquanto a inferiorização das mulheres é uma questão de gênero Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 229 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 229 18102009 192538 18102009 192538 230 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER 3 Mais recentemente os movimentos sociais têm procurado contestar a preeminência da diferença dos sexos num domínio que parecia no entanto ser o seu reduto a família e principalmente a questão central da fi liação e do parentesco Constatase que a família atual já não é mais supondose que o tenha sido alguma vez constituída pela tría de mãepaifi lhos testemunho disso são as ditas famílias monopa rentais na realidade estatística a mãe como única presença parental após abandono divórcio ou estupro as recomposições familiares as famílias adotivas as mulheres que recorrem a métodos artifi ciais de procriação as lésbicas e os homens gays que são também pais bio lógicos eou desejam adotar Estes exigem atualmente a integração ofi cial das homoparentalidades entre essas situações plurais em que nada impediria as crianças de ter mais de dois pais biológicos ou sociais o que não faria mais do que reencontrar as múltiplas formas de família já conhecidas pela Etnologia Em relação direta com essas reivindicações verifi camse demandas de legalização da união de vida entre pessoas do mesmo sexo sob a forma de legítimo casamento civil ou religioso em alguns países ou sob outras for mas como o PACS Pacto Civil de Solidariedade na França A parcela dos movimentos homossexuais que reivindica essa legalização considera que sua luta é contra uma discriminação que atribui apenas aos heterossexuais casados ou em regime de concubinato o reconhecimento social da sua união com as vantagens de segurança social que ela representa Outra parte dos movimentos homossexuais lésbicos e feministas lembra que a família é a expressão do heterossexismo que eles haviam denunciado que ela ra tifi ca além disso a dependência dos socialmente mais fracos e que outra solução seria o estabelecimento de direitos vinculados não ao casal mas à pessoa individual Diferença sexual teorias da Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Dominação Educação e socialização Feminilidade mas culinidade virilidade Família Linguagem científi ca sexuação da Sexualidade Delphy Christine Penser le genre quels problèmes in Marie Claude Hurtig Michèle Kail Hélène Rouch Ed Sexe et genre De la hiérarchie entre les sexes Paris Éditions du CNRS 1991b p89101 Republicado in C Delphy 2001 p243260 Guillaumin Colette Sexe race et pratique du pouvoir Lidée de Nature Paris Côté femmes Recherches 1992 241p Textos de 1977 a 1992 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 230 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 230 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 231 Herdt Gilbert Ed Third sex third gender Beyond sexual dimorphism in culture and his tory Nova York Zone Books 1994 614p Heritier Françoise Masculinféminin La pensée de la différence Paris Odile Jacob 1996 332p Textos de 1978 a 1993 Hurtig MarieClaude Pichevin MarieFrance Ed La difference des sexes Questions de psychologie Paris Tierce Sciences 1986 356p Mathieu NicoleClaude Identité sexuellesexuéede sexe Trois modes de conceptuali sation du rapport entre sexe et genre in AnneMarie DauneRichard MarieClaude Hurtig MarieFrance Pichevin Ed Catégorisation de sexe et constructions scienti fi ques AixenProvence Université de Provence Petite collection CEFUP 1989 Re publicado in Mathieu NicoleClaude LAnatomie politique Catégorisations et idéolo gies du sexe 1991a Rubin Gayle Léconomie politique du sexe Transactions sur les femmes et systèmes de sexegenre Cahiers du CEDREF 1999 n7 82p Ed orig nos Estados Unidos 1975 Tabet Paola La construction sociale de linégalité des sexes Des outils et des corps Paris LHarmattan Bibliothèque du féminisme 1998 206p Textos de 1979 e 1985 Traduzido por NAIRA PINHEIRO Sexualidade Brigitte Lhomond A sexualidade humana diz respeito aos usos do corpo e em particular mas não exclusivamente dos órgãos genitais a fi m de obter prazer físico e mental e cujo ponto mais alto é chamado por alguns de orgasmo Falase de conduta comportamento relações práticas e atos sexuais De uma maneira mais ampla a sexualidade pode ser defi nida como a construção social desses usos a formatação e ordenação dessas atividades que determina um conjunto de regras e normas variáveis de acordo com as épocas e as sociedades Essas regras e normas proíbem uma série de atos se xuais e prescrevem outros e determinam as pessoas com as quais tais atos podem ou não e devem ou não ser praticados Não podemos abordar a se xualidade sem nos referirmos num primeiro momento à fábrica do sexo Laqueur 19901992 ou seja às diversas concepções do sexo antomofi sio lógico e suas respectivas funções bem como às intervenções físicas sobre os Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 231 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 231 18102009 192538 18102009 192538 232 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER órgãos genitais particularmente as mutilações sexuais que atingem atual mente cerca de 130 milhões de mulheres Essas concepções participam da construção numa determinada sociedade de qual é e de qual deve ser o sexo de cada indivíduo defi nição dos machos e fêmeas humanosas assim como do grupo social de sexo ao qual cada uma pertence com caracterís ticas e funções às quais todos devem se conformar a defi nição de homens e de mulheres As regras da aliança ou seja quem pode ou deve se unir com quem conjugadas à instituição da heterossexualidade e à obrigatoriedade de reprodução são os outros elementos que organizam a sexualidade Em to das as sociedades a fertilidade está sujeita a um forte controle pela exposição ao coito e a obrigação de reprodução por um lado em que as mulheres exe cutam o trabalho de reprodução e por outro pela limitação dos nascimen tos proibida ou imposta contracepção aborto infanticídio Tabet 1985 Legislar Nas sociedades ocidentais modernas a sexualidade foi objeto de contro le por parte da Igreja hegemônica até o século XVIII no que a sucederam sem jamais destronála totalmente a Medicina e os Direitos civil e penal Foucault 1976 A lei determina a idade a partir da qual é lícito ter relações sexuais que pode variar dependendo do tipo de relação homo ou heteros sexual bem como a idade na qual se pode casar geralmente menor para as meninas do que para os meninos O Direito regula também as interdições de casamento segundo o grau de parentesco e o sexo O casamento é a ins tituição que legitima e prescreve as relações sexuais Diversas condutas que negam essa norma e a sua condenação legal ou moral variam ao longo do tempo Podese citar por exemplo a masturbação prática sexual solitária extremamente reprovada até meados do século XX o adultério relação sexual fora do casamento cuja penalização era maior para as mulheres a prostituição relação sexual em troca de dinheiro na qual as prostitutas que vendem e são em sua maioria mulheres estão sujeitas a um estigma que não afeta os clientes que compram e são quase exclusivamente homens o estupro e violências sexuais das quais as mulheres qualquer que seja sua idade são as principais vítimas e os homens a quase totalidade dos autores assim como a homossexualidade tratada na lei de formas diversas de acordo com o país As relações sexuais entre homens são punidas com maior Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 232 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 232 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 233 frequência e a condenação legal do lesbianismo seria menos necessária so bretudo em virtude da efi cácia do controle exercido sobre o conjunto das mulheres Classifi car prescrever No fi nal do século XIX a psiquiatria e a sexologia emergentes defi niram como perversão sexual todo uso da sexualidade desviado de seu objetivo coital e nesse período a homossexualidade é construída como uma grande perversão que assim defi nida não deveria mais ser punida pela lei Atos sexuais anteriormente considerados isoladamente e como tal proscritos sodomia safi smo por exemplo são unifi cados numa personalidade parti cular transformandose em seus sinais Essa personalidade é caracterizada por uma mistura dos sexos tanto física como mental e comportamental a homossexualidade tornase uma espécie de terceiro sexo teorias de Hirs chfeld von KrafftEbing e Havelock Ellis para citar apenas os mais conhe cidos Esse trabalho de classifi cação das perversões se dá em paralelo com o desenvolvimento de prescrições para a vida sexual conjugal centradas no coito o número de vezes os momentos as posições a duração o lugar etc Na mesma época a psicanálise coloca a sexualidade no centro da sua teoria Sigmund Freud a concebe como uma força fundamental Submis sa tanto às exigências sociais como às intrapsíquicas a energia sexual ou libido deve ser canalizada da sexualidade infantil descrita como perversa e polimorfa para a genitalidade adulta dita normal Outros médicos ou psicanalistas como Wilhelm Reich por exemplo fi zeram do livre exercício da sexualidade uma condição necessária ao equilíbrio dos indivíduos e ao desenvolvimento de sociedades não autoritárias Precursora da liberação sexual a corrente da reforma sexual muito ativa em nível internacional no início do século XX e que teve o seu apogeu no movimento dos anos 60 e 70 foi uma das alavancas de mudança das normas sexuais A estruturação da família a desigualdade jurídica e social dos sexos dentro e fora do casa mento a homossexualidade masculina e o lesbianismo a reprodução e a limitação de nascimentos a sexualidade préconjugal a violência sexual a mercantilização da sexualidade prostituição pornografi a etc foram trans formadas tanto na maneira como são percebidas quanto na prática Elas constituem questões fundamentais nas lutas políticas e sociais Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 233 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 233 18102009 192538 18102009 192538 234 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Nosso corpo nos pertence Os movimentos feminista e homossexual são a ponta de lança de uma crítica radical das normas sexuais Mudanças na legislação ocorreram sob pressão deles MossuzLavau 1991 O movimento de liberação das mu lheres na França se manifestou em duas lutas fundadoras pelo aborto livre e gratuito a partir de 1970 e contra o estupro e a violência desde 1975 Os primeiros textos relativos à sexualidade no número especial da revista Partisans Libération des femmes année zéro Liberação das Mulheres Ano Zero 1970 falam de orgasmo e frigidez bem como de materni dade aborto e estupro A discussão sobre o orgasmo vaginal até então defi nido como o verdadeiro prazer e o orgasmo clitoriano não depen dente do coito após o trabalho de sexólogos estadunidenses em especial William Masters e Virginia Johnson encontrou subsequentemente pouco eco tanto nas produções teóricas como nas ações do feminismo A questão do prazer sexual e do dever do orgasmo vai se tornar sobretudo o objeto central da sexologia de fi nalidade terapêutica Béjin 1982 Num primeiro momento a crítica feminista cuja característica funda mental é a análise das relações de dominação dos homens sobre as mulheres centrouse no que diz respeito à sexualidade na questão da livre disposição do próprio corpo pelas mulheres O questionamento da heterossexualidade como sistema de apropriação das mulheres foi em seguida desenvolvido por feministas e lésbicas radicais Wittig1980 Outros debates internacionais dão lugar a vívidas polêmicas nos países anglosaxões mas permanecem marginais na França o lugar na opressão das mulheres da pornografi a e do trabalho sexual particularmente a prostituição os tipos de atividades e relações sexuais desejáveis aceitáveis ou a evitar para mulheres ou entre mulheres como as relações butchfem em que a parceira butch se comporta de modo dito masculino enquanto a outra adota uma conduta conside rada feminina além do sadomasoquismo Vance 1984 Os comportamentos sexuais em números Os primeiros dados quantitativos sobre comportamentos sexuais fo ram fornecidos pela demografi a e se centravam na fertilidade mas fala vam também da escolha do cônjuge da coabitação entre jovens da idade Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 234 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 234 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 235 de casamento das práticas de contracepção etc Jaspard 1997 A partir dos trabalhos pioneiros de Alfred Kinsey e seus colaboradores 1948 1954 foram efetuadas pesquisas quantitativas em diversos países para respon der às preocupações sociais relativas à sexualidade Assim na França as questões da contracepção e do aborto deram origem ao Relatório sobre o comportamento sexual dos franceses Simon 1972 e a AIDS suscitou vá rias pesquisas Spira Bajos et al 1994 Lagrange Lhomond et al 1997 O estudo da época em que o jovem se inicia na sexualidade e das práticas sexuais de homens e mulheres refl ete mudanças no comportamento sexual principalmente entre as mulheres Mas o número de parceiros sexuais e as expectativas de cada sexo continuam sendo divergentes Os comportamentos homossexuais dada a importância que esse modo de transmissão do HIV tem nos países desenvolvidos são abordados de forma detalhada em todos os estudos recentes e particularmente naqueles realizados a partir de 1985 sobre homens homossexuais por Michaël Pollak e MarieAnge Schiltz 1991 A sexualidade contemporânea se caracteriza nas sociedades ocidentais por sua possibilidade da prática independente autônoma da reprodução e pela legitimação do seu exercício fora da instituição do casamento Ao mesmo tempo as mudanças das estruturas familiares e o progressivo re conhecimento social e jurídico de certas relações sexuais por exemplo as homossexuais dão lugar a fortes tensões Aborto e contracepção Assédio sexual Feminilidade masculinidade virilidade Movi mentos feministas Prostituição Tecnologias de reprodução humana Violências Foucault Michel La volonté de savoir Paris Gallimard 1976 211p Plummer Kenneth Ed Modern homosexualities Fragments of Lesbian and Gay Expe rience LondresNova York Routledge 1992 282p Tabet Paola Fertilité naturelle reproduction forcée in NicoleClaude Mathieu Ed Larraison nement des femmes Essais en anthropologie des sexes Paris Éd de lehess 1985 p61146 Reeditado in Tabet Paola La construction sociale de linégalité des sexes Des outils et des corps Paris LHarmattan 1998 p77180 Vance S Carol Ed Pleasure and danger Exploring female sexuality Boston London Melbourne Henley Routledge Kegan 1984 462p Wittig Monique La pensée straight Questions féministes 1980 n7 p 4553 Republi cado em inglês in The straight mind and other essays Boston Beacon Press 1992 110p Traduzido por NAIRA PINHEIRO Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 235 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 235 18102009 192538 18102009 192538 236 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Sindicatos Chantal Rogerat e MarieHélène ZylberbergHocquard As origens Em 21 de março de 1884 a lei WaldeckRousseau põe fi m à lei Le Cha pelier 1791 permitindo a formação de sindicatos profi ssionais de operá rios e de trabalhadores de escritório No entanto desde o início do século XIX uma série de sociedades de fundos mútuos autorizadas e às vezes até mesmo incentivadas pelo Estado ou pelos patrões transformaramse por um ato temporário em sociedades de resistência As mulheres mal remu neradas e não podendo portanto arcar com a sua cotização por menor que fosse fi cavam praticamente excluídas ainda mais porque aparentemente suas doenças e partos esvaziavam o fundo comum Ignorando a proibição câmaras sindicais foram fundadas no fi nal do Segundo Império em especial em Paris frequentemente por ocasião de uma greve Elas são mais ou menos toleradas pelas autoridades que em 1864 re tiram a greve da ilegalidade Auzias e Houel 1982 As câmaras sindicais reúnem de início os operários qualifi cados que podem retirar de seus sa lários a quantia necessária para a manutenção da organização muito pou cas mulheres se encontram nessa condição E quando os trabalhadores se sindicalizam tratase sempre basicamente de profi ssões masculinas da construção por exemplo A lei de 1884 que de fato procura instaurar a calma na cidade criando um local de educação social e política para os trabalhadores um órgão regulador fazendo que os litígios entre eles e os patrões se concluíssem pacifi camente vem coroar o edifício republicano das liberdades públicas indispensáveis ao exercício da cidadania A primeira proposta de lei nesse sentido 1876 suscitou o medo dos eleitos isso não seria legalizar a desordem social ao dar aos trabalhadores o direito de se unirem para defender seus interesses profi ssionais A lei de 1884 encontrou relutância também entre os ativistas operários que recea vam um aumento do controle do Estado Com efeito ela enquadra e con trola de forma estrita os sindicatos aos quais proíbe toda atividade política A sua existência deve ser compatível com os grandes princípios individuais da liberdade do trabalho Os nomes daqueles que são responsáveis pela Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 236 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 236 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 237 administração ou pela direção são registrados na Prefeitura A liberdade sindical não se aplica aos funcionários públicos até 1924 enquanto as pro fessoras algumas das quais atuam em grupos feministas no fi nal do século XIX desempenham um papelchave no movimento de sindicalização das trabalhadoras Sohn 1973 Liszek 1994 Se até 1938 o Código Civil proíbe as esposas de terem um emprego sem a permissão dos seus maridos a lei de 1884 não impede sua sindicalização Ela é inteiramente redigida no masculino sem dúvida subentendido como gênero neutro A circular que o Ministério do Interior envia para os prefei tos em 25 de agosto de 1884 especifi ca que os estrangeiros as mulheres em uma palavra todos aqueles que são capazes nos termos do nosso Direi to de constituir convenções regulares podem fazer parte de um sindicato mas curiosamente ela não faz distinção entre as mulheres que devem obe diência a seus maridos e as solteiras Por que os textos são tão vagos Desejo de ver a sociedade construir na prática uma jurisprudência Ou vontade de marginalizar o trabalho assa lariado feminino Enquanto em 1886 especifi case que uma esposa pode aderir livremente a um fundo de pensão e em 1907 que ela pode dispor livremente do seu salário somente em 1920 é aprovada a lei que acha neces sário especifi car que para se sindicalizar ela não necessita da autorização do marido O que estava em questão era o trabalho assalariado das mulhe res não sua sindicalização As trabalhadoras não tomam a iniciativa de criar um sindicato a não ser em caso excepcional especialmente se ele deve ser misto Elas são às vezes organizadas pela Igreja que vê isso como um instrumento de coesão social na maior parte das vezes pelos sindicatos masculinos prontos a acolhêlas quando emerge uma crise numa empresa de mão de obra predominante mente feminina Eles são então confrontados com a questão do lugar das mulheres na sociedade seres que devem permanecer em casa servir de complemento do homem ou cidadãs potencialmente ativas Concorrentes mal remuneradas ou companheiras de trabalho Bouvier 1983 No entanto até a década de 1970 Colin 1975 mais do que uma ques tão de os sindicatos não se adaptarem a elas são elas que têm de se adaptar ao sindicato estruturado num formato masculino As greves dos ferroviá rios do início do século desempenharam um papel fundamental no desen volvimento de uma imagem do trabalhador agente do seu futuro Isso é Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 237 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 237 18102009 192538 18102009 192538 238 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER verdadeiro no sindicalismo revolucionário evidentemente os sindicatos livres criados pela Igreja antes de 1914 são certamente lugares de liber dade feminina liberdade de pensamento liberdade de expressão mas na medida em que se adaptam perfeitamente a uma sociedade patriarcal que pretendem consolidar não são lugares onde se pode construir uma socie dade sexualmente igualitária Chabot 1998 Os breves encontros entre o movimento feminista e o sindicalismo são muito rapidamente interrom pidos ainda mais porque o esquecimento do passado é fato comum Às vésperas de 1914 embora as mulheres constituíssem quase 37 da força de trabalho elas não chegavam a totalizar nem mesmo 10 nos sindicatos Guilbert 1975 O sindicalismo na França é assunto de uma elite o que favorece a ascendência do militante herói sobrecarregado de responsabili dades ameaçado de perseguição até mesmo de prisão como consequência as mulheres difi cilmente encontram aí um lugar senão como esposas de dicadas zelando pela administração Além disso apenas em 1921 é que pela primeira vez uma mulher foi eleita para o cargo de secretária federal CGT Alimentação e só em 1945 é que uma delas se tornou secretária da Confederação CGT Em 1945 as mulheres tanto quanto os homens ar regaçaram as mangas e essa reconstrução obra de todos foi realizada de acordo com um esquema bem sexuado aos homens o mundo do trabalho às mulheres mesmo ativas o da família o do bairro Dubesset e Zancarini Fourniel 1993 Isso levou os sindicatos a não questionar a não ser muito raramente os velhos hábitos em que o trabalhador permanecia idealmente um ser neutro O renascimento do feminismo na França depois de 1968 atravessou o sindicalismo que teve de reagir à afi rmação O privado é po lítico No entanto após um período ativo na CFDT26 e na CGT o movi mento amainou progressivamente Os silêncios e os esquecimentos Passados trinta anos questionase o sindicalismo e o sindicalismo se autoquestiona quanto à sua capacidade de superar a crise da representativi dade de efetivos e de efi cácia no âmbito das lutas sociais 26 Confédération Française Démocratique du Travail Confederação Francesa Democrática do Trabalho NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 238 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 238 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 239 A maior parte dos trabalhos sobre o sindicalismo no entanto deixa na sombra a contribuição que poderia fazer uma abordagem que coloca o gê nero no centro das lógicas econômicas políticas e sociais Quanto aos próprios sindicatos eles não estabeleceram ainda essa liga ção embora o papel das mulheres no sindicalismo tenha sido objeto de de bates internos e de confl itos entre dirigentes sindicais homens e mulheres Se por exemplo a história sabe hoje prestar contas do caso Couriau27 as lutas dos anos 70 e 80 como Grandin ou LIP e o confl ito em 1982 no jornal feminino da CGT Antoinette precisariam ser conhecidas e analisadas É inegável que o sindicalismo antigo bastião masculino continua assim em muitos aspectos no entanto a hostilidade masculinosindical ao trabalho profi ssional das mulheres que sustentava a oposição manifesta à sua sindi calização desaparece ou assume novas formas A força da divisão sexual do trabalho nas suas manifestações contemporâneas marginalização das mu lheres no trabalho remunerado concorrência exacerbada entre homens e mulheres por conta do desemprego e da precarização do trabalho é apesar disso compreendida como devendo estruturar a ação sindical Essa é uma questão atual à qual os sindicatos estão tentando responder sabendo que não pode haver uma só resposta As mulheres conquistaram um lugar no mundo sindical e é pelo estudo do seu estatuto no trabalho assalariado PuydesseauSiwek 1996 que se pode atingir um conhecimento mais re fi nado do sindicalismo nos dias de hoje Essa é uma condição necessária se não sufi ciente A palavra mixité28 que não aparece ainda em nenhum dicionário recente Hetzel et al 1998 é uma orientação reivindicada pela CFDT nos anos 70 e tratada pela CGT após a Conferência de Mulheres Assalariadas em 1977 Rogerat 1978 Ela se tornou hoje o símbolo de uma igualdade profi ssional entre homens e mulheres que falta ainda con quistar Vista às vezes como o equivalente adaptado às situações de traba lho da paridade no plano da política a coexistência entre os sexos29 pode 27 Tratase do caso de Emma Couriau tipógrafa e esposa de tipógrafo que solicita em abril de 1913 a sua admissão ao sindicato da categoria em Lyon França Não só o seu pedido é recu sado como também o nome de seu marido é desarrolado MarieVictoire Louis LAffaire Couriau 1913 wwwmarievictoirelouisnetdocumentphpid542themeid NT 28 Referência à presença conjunta de homens e mulheres num determinado ambiente contexto ou grupo NT 29 A palavra original em francês é mixité para a qual não há um termo equivalente em português pelo que foi aqui traduzida por coexistência entre os sexos NRT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 239 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 239 18102009 192538 18102009 192538 240 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER ser considerada um modo de regulação das relações sociais de sexo uma visibilização do peso das mulheres no aparelho produtivo em suma um elemento desestabilizador da divisão sexual do trabalho Reivindicar tal coexistência tornase então o que Cynthia Cockburn 1999 chama de gen der proofi ng expressão que sintetiza a medida a tomar para submeter todas as políticas sindicais públicas e empresariais a uma análise de gênero a fi m de verifi car quais são as suas consequências para as mulheres No entanto convém notar que essa coexistência entre os sexos não é efetivamente objeto de lutas sociais Os atrasos e os fracassos Analisar as práticas sindicais a partir dessa concepção sexuada do tra balho não explica as condições de entrada das mulheres no sindicalismo A história está aí para nos lembrar disso Liszek 1994 Incluir as mulheres na vida sindical ainda hoje signifi ca mas de forma mais complexa do que an tes integrálas com base no modelo dominante do trabalhador masculino É aí sem dúvida que reside o maior malentendido entre os movimentos feministas e o sindicalismo Não é algo evidente para o sindicalismo que a contribuição das mulheres nas lutas seja fator de progresso social Zylber bergHocquard 1981 Apesar do seu assalariamento acelerado não sa bemos se é preciso categorizar as mulheres ou assimilálas Rogerat 1995 De certa maneira o seu processo de integração no mundo sindical está atrasado frente à sua integração no mundo do trabalho remunerado Do ponto de vista das próprias mulheres o modo de passagem da esfera privada à esfera pública é problemático abordar o que a história contem porânea do movimento social chama às vezes de cidadania do trabalho que pressupõe a prática do sindicalismo cria de fato uma nova relação de poder entre os sexos Ao longo das últimas décadas o sindicalismo exceto nos sindicatos recémcriados onde o lugar das mulheres é tema de uma batalha ideológica constantemente renovada acreditou responder a esse problema recorrendo à noção de complementaridade correspondente nos termos da concepção dominante Denunciada pela CFDT nos anos 70 Laot 1977 essa concepção entra de novo em voga no sindicalismo pelo viés da divisão de poderes No entanto o surgimento de lideranças femininas no sindica Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 240 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 240 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 241 lismo e a sua reconhecida representatividade não são acompanhados por um movimento signifi cativo de sindicalização das mulheres A sua taxa de sindicalização permanece inferior à dos homens Ao paradoxo contemporâneo do duplo fenômeno de afl uxo das mulhe res ao mundo do trabalho e sua maciça marginalização em relação ao mo delo dominante de emprego estável corresponde uma defasagem sempre reativada do estatuto sindical desigual de homens e mulheres Isso afeta sua função social de organização e representação dos assalariados assim como sua credibilidade Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Coexistência entre os sexos Igualdade Movimentos feministas Movimentos sociais Poderes Públicoprivado Cockburn Cynthia Les relations internationales ont un genre Le dialogue social en Eu rope Travail Genre et Sociétés 1999 n2 p11339 Guilbert Madeleine Les femmes dans lorganisation syndicale avant la guerre de 1914 Paris Éditions du CNRS 1966 507p Loiseau Dominique Femmes et militantisme SaintNazaire et sa région 19301980 Pa ris LHarmattan 1996 239p Maruani Margaret Les syndicats à lépreuve du féminisme Paris Syros 1979 271p Rogerat Chantal Femmes et syndicalistes Assimilation ou intégration La dynamique du compromis in Collectif La liberté du travail Paris Syllepse 1995 p 6583 ZylberbergHocquard MarieHélène Féminisme et syndicalisme en France Paris An thropos 1978 326p Traduzido por NAIRA PINHEIRO Técnicas e gênero Danielle ChabaudRychter e Delphine Gardey A relação entre técnicas e gênero baseiase em três considerações 1 as técnicas não têm aspectos sociais mas têm uma constituição social 2 a defi nição de feminino e masculino não é dada mas tem uma história uma sociologia uma antropologia 3 essas duas construções às vezes caminham juntas e é então possível dizer que o gênero e as técnicas se constroem mutuamente Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 241 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 241 18102009 192538 18102009 192538 242 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER As diferenças no trabalho No início da refl exão sobre gênero e tecnologia encontramos uma série de pesquisas sobre o trabalho A sociologia e a história do trabalho até os anos 70 e 80 se interessam pela técnica sob a forma de técnicas de produção principalmente do maquinismo industrial As análises têm por objeto os efeitos dessas técnicas e suas mudanças sobre as relações sociais de produ ção e em particular sobre a divisão do trabalho e a qualifi cação profi ssional Braverman 1976 As feministas destacam então que as relações sociais de sexo não haviam sido levadas em conta nas relações de produção e insistem sobre os efeitos das mudanças nas técnicas sobre a divisão do trabalho en tre os sexos e a qualifi cação As mulheres têm práticas e competências que não são reconhecidas como tais aquelas que desenvolvem continuamente na esfera doméstica e que podem ser reutilizadas no processo produtivo Kergoat 1982 Nesses primeiros trabalhos a análise das técnicas permanece no entan to periférica Entendidas como macroobjetos explicativos as técnicas pa recem com efeito escapar à análise Durante os anos 80 na França surgem análises menos deterministas apoiadas em estudos de caso concretos que apreendem melhor a dinâmica das relações entre trabalho técnica relações sociais de sexo e organização Helena Hirata 1993 por exemplo constata a variedade de confi gurações geográfi cas e sociais das mesmas técnicas Helen Harden Chenut 1987 evidencia na história da indústria de confecção os processos complexos de alocação e realocação da mão de obra feminina e masculina em função das técnicas concluindo que como caracterização do masculino a qualifi cação vem antes da determinação técnica No caso dos ofícios da composição de livros a verdadeira técnica é a dos operários da indústria gráfi ca à moda antiga a realização do trabalho através da informática e pelas mulheres não seria mais um belo ofício nem seria capaz de ser fonte de valor Ma ruani e Nicole 1989 A nobreza da cultura operária masculina opõese à obviedade e simplicidade dos trabalhos das senhoras Durante a década de 1990 alguns estudos consolidam essas duas consta tações 1 o impacto das mudanças tecnológicas sobre o trabalho de homens e mulheres é variável 2 se as mudanças técnicas favorecem e muito a res sexualização do trabalho a análise das relações entre feminização meca Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 242 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 242 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 243 nização e proletarização deve levar em conta que a qualifi cação é uma cons trução social sempre atrelada ao gênero Parece ser mais interessante então falar como no caso da estenografi a de coconstrução de uma prática técnica de uma profi ssão e de uma nova identidade feminina Gardey1999 Paralelamente à análise do trabalho numerosas pesquisas se interessam pela participação desigual das jovens nas áreas técnicas e científi cas Seto res mistos e segregações condicionam as possibilidades das meninas além da eventual atualização da formação científi ca e técnica das mulheres no mercado de trabalho Imbert Ferrand e Marry 2000 Participando da re formulação das questões a história e a sociologia das mulheres engenheiras constituem hoje um promissor campo de pesquisas comparativas Canel e Zachmann 1997 A relação com as técnicas como origem Paola Tabet 1979 foi uma das raras pesquisadoras a questionar a rela ção entre homens mulheres e técnicas extraindo da Antropologia os ele mentos para compreender a sempre reiterada afi rmação da exterioridade das mulheres às técnicas Esse trabalho sobre os imaginários sociais ou a longa duração das formas simbólicas e materiais da dominação teve sequên cia principalmente no artigo de Michelle Perrot Mulheres e maquinismos no século XIX 1983 A audácia de Paola Tabet foi a de formular a hipótese segundo a qual o controle das ferramentas e das armas isto é das técnicas é muito desigual mente distribuído na maioria das sociedades Ela fala de uma subequipa gem tecnológica das mulheres e de um hiato entre os dois sexos que deter minam uma capacidade desigual de ampliar a infl uência sobre a realidade Ela insiste na valorização pela heroicização da realização de numerosas tarefas masculinas Parece por sua função de reprodução que as mulheres seriam para os homens o que a técnica é uma ferramenta uma possível infl uência Algumas proposições de feministas estrangeiras fazem eco à análise de Paola Tabet É o caso por exemplo da tradição crítica escandinava de eco logistas e feministas os grandes sistemas tecnocientífi cos e poluentes da segunda metade do século XX são concebidos como dependentes de uma visão de mundo masculina Essa crítica se faz também nos Estados Unidos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 243 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 243 18102009 192538 18102009 192538 244 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER atribuemse naturalmente as técnicas aos homens isto é as técnicas são os big toys for big boys brinquedos grandes para meninos grandes ou o que os homens brancos ocidentais engenheiros ou cientistas fazem há dé cadas a conquista da lua pontes aviões armas Uma parte da sociologia e da história das técnicas atuais retoma a ideia dessa dominação masculina assentada no domínio dos artefatos atuais Lerman Mohun e Oldenziel 1997 A mútua construção das técnicas e do gênero Sociólogos como Cockburn Wajcman ou Berner analisam a técnica como cultura masculina Ela pode assumir formas diferentes Cockburn 1983 estudou subculturas das profi ssões Berner 1997 a cultura das escolas de engenharia Turkle 1986 a dos hackers em informática No entanto ao ler esses trabalhos a cultura técnica masculina parece ter componentes cons tantes como a submissão de si mesmo a provas e a busca do controle físico e intelectual no confronto com as máquinas As relações entre os homens no trabalho estão baseadas na competição na avaliação mútua da competência técnica e em sua submissão a provas heroicas A cultura técnica é assim um dos elementos constitutivos da identidade masculina Excluídas pelos homens das profi ssões ou dos lugares em que estes fazem técnica as mu lheres o são também porque ali se produz o masculino Então entendemos melhor certos processos pelos quais as mulheres se autoexcluem de práticas técnicas a falta de habilidade técnica das mulheres se torna de fato parte integrante da identidade de gênero feminina ao mesmo tempo em que é um estereótipo de gênero Wajcman 1991 Há não obstante técnicas femini nas mas a cultura masculina da técnica não as reconhece como tais e esse não reconhecimento é retransmitido pelas próprias mulheres Paralelamente a esses trabalhos feministas desenvolvese uma nova sociologia das técnicas fortemente inspirada pela sociologia das ciências Duas tendências representativas ditas construtivistas interessam particu larmente às feministas Tratase do programa SCOT Social Construction of Technology proposto por Wiebe Bijker e Trevor Pinch 1989 e da teoria do atorrede desenvolvida por Michel Callon John Law cf Callon 1989 Bruno Latour 1989 e Madeleine Akrich 1987 Os trabalhos dessas duas escolas estão centrados na concepção e no desenvolvimento de técnicas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 244 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 244 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 245 Um das concepções centrais do programa SCOT é a fl exibilidade inter pretativa Esta aponta para o fato de grupos sociais diferentes terem inter pretações radicalmente diferentes do mesmo objeto técnico O fracasso ou o sucesso de uma inovação depende da convergência de interpretações que se estabelecem entre os grupos sociais envolvidos nas controvérsias e negocia ções surgidas no decorrer do processo de inovação Essa abordagem abre ca minho para se levar em consideração as usuárias e os usuários desse processo Na teoria do atorrede o social e o técnico se constroem conjuntamente Os inovadores implementam estratégias para interessar os seres huma nos e não humanos por sua empresa associandoos em redes sociotécnicas A construção dessas redes híbridas que associam artefatos objetos natu rais atores individuais e coletivos e seus portavozes faz existir transforma e consolida de modo indissociável objetos técnicos e relações sociais As pesquisadoras feministas encontraram numerosas convergências e ao mesmo tempo divergências importantes entre os seus trabalhos e essa teoria Uma das críticas principais é que essa sociologia da inovação adota o ponto de vista dos inovadores e não diz nada acerca dos usuários nem sobre os atores secundários da inovação nem sobre os que são excluídos pe las redes Star 1991 Elas propõem então ampliar o campo de pesquisa às técnicas negligenciadas pela sociologia das técnicas como as domésticas e também estudar não só a inovação mas ainda toda a trajetória seguida pelos objetos técnicos desde sua concepção até o uso ChabaudRychter1994 Além da construção mútua da sociedade e da técnica na teoria do ator rede as pesquisadoras retiveram a possibilidade de abordar a construção mútua das técnicas e do gênero ao longo dos processos de inovação produ ção distribuição e uso das técnicas Tanto quanto as técnicas o gênero e as relações de gênero não são fi xas mas constantemente redefi nidas e recons truídas no decorrer das atividades humanas e as técnicas as atividades técnicas as relações que os homens e as mulheres estabelecem com as téc nicas desempenham um papel importante nas construções e redefi nições do gênero Cockburn e Ormrod1993 ChabaudRychter 1997 Na fronteira entre técnicas e ciências novas pesquisas sobre a medicina e as tecnologias de reprodução apontam para a hibridização das técnicas e dos corpos Aqui a técnica participa da construção dos corpos sexuados questionando assim a distinção entre o gênero social e o sexo biológico Oudshoorn 1998 Akrich e Laborie1999 Gardey e Löwry 2000 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 245 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 245 18102009 192538 18102009 192538 246 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Ciências e gênero Feminilidade masculinidade virilidade Linguagem científi ca sexuação da Ofício profi ssão empre go Trabalho o conceito de Akrich Madeleine Laborie Françoise Coord De la contraception à lenfantement Loffre technologique en question Cahiers du Genre 1999 n25 204p ChabaudRychter Danielle Coord Genre et techniques domestiques Cahiers du Ge disst 1997 n20 162p Cockburn Cynthia Ormrod Susan Gender and technology in the making Londres Thousand Oaks Nova Delhi Sage 1993 185 p Gardey Delphine Mécaniser lécriture et photographier la parole Utopies monde du bureau et histoires de genre et de techniques Annales Histoire Sciences sociales maiojun 1999 n3 p587614 Tabet Paola Les mains les outils les armes LHomme juldez 1979 v19 n34 p561 Wajcman Judy Feminism confronts Technology Cambridge Polity Press 1991 184p Traduzido por NAIRA PINHEIRO Tecnologias da reprodução humana Françoise Laborie Conjunto de técnicas médicas destinadas a princípio a compensar di versas formas de esterilidade possibilitando a concepção de crianças na au sência de relações sexuais e às vezes pelo recurso a terceiros Inventada para contornar a esterilidade masculina a inseminação artifi cial com esperma do futuro pai IAC ou de um doador IAD precedeu o desenvolvimento da fertilização in vitro FIV para compensar a esterilidade feminina de origem tubária assim como o de diversas técnicas derivadas Desenvolvimento exponencial Em 1978 nascia na Inglaterra o primeiro bebê por meio de uma FIV na França isso se deu em 1982 Por toda parte observase um forte desenvolvi mento quase exponencial na França do número de centros e tentativas como se os casos de esterilidade defi nitiva houvessem subitamente se gene ralizado A oferta tecnológica gerou sob um fundo de medo da esterilidade Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 246 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 246 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 247 uma demanda tanto maior quanto o aumento de indicações de esterilidade de origem masculina de esterilidades não explicadas e de hipofertilidades Ora a FIV é uma técnica pesada para as mulheres estimulações hormonais intensivas punção cirúrgica de numerosos óvulos seguida por sua fecun dação por espermatozóides em laboratório Se forem obtidos embriões eles podem ser selecionados transferidos para o útero ou congelados se forem muito numerosos Os insucessos são consideráveis em aproximadamente 25 dos casos a transferência é seguida de uma falsa gravidez Só 10 das tentativas resultam no nascimento de crianças frequentemente múltiplas vivas e saudáveis dentre as quais muitas são prematuras Por causa do aumento de indicações pesadas intervenções são cada vez mais frequen temente realizadas em mulheres férteis de forma que a criança venha de um esperma do cônjuge A invenção do ICSI a FIV cuja etapa de ferti lização é realizada por meio de injeção mecânica forçada de um esperma dentro de um óvulo é destinada assim exclusivamente para contornar a esterilidade masculina defi nitiva O primeiro bebê assim gerado nasceu em 1992 na Bélgica As recentes evoluções injeção de diversos precursores de espermatozóides seguem no mesmo sentido de forma que mesmo sem es permato zóides os homens possam gerar crianças portadoras dos seus genes e que a sua paternidade biológica seja assegurada Além disso o desenvolvimento do DPI Diagnóstico PréImplante de Embriões antes da sua transferência que permite eliminar embriões portadores de muta ções genéticas nocivas estende ainda as indicações de FIV para uma nova população a dos casais que correm o risco de dar à luz crianças portadoras de doenças genéticas Ao todo em 1998 500000 crianças das quais 30000 na França tinham vindo ao mundo após o recurso a uma ou outra dessas tecnologias Ênfase e críticas Os debates sobre as novas tecnologias da reprodução NTRs geral mente muito midiatizados oscilaram entre a ênfase dos médicos e dos pais satisfeitos com esta ou aquela grande première tecnológica e o catastrofi smo de diversas análises Foram frequentemente citados o surgimento de certas demandas de acesso a modos de reprodução que evitam as relações hete rossexuais os riscos de seleção e manipulação dos embriões às vezes da Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 247 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 247 18102009 192538 18102009 192538 248 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER espécie humana o receio de ver as defi nições das relações de fi liação em particular maternas terem de ser repensados Por toda parte as feministas fi caram divididas entre duas posições di vergentes que podem ser esquematicamente resumidas da seguinte forma ao abrir possibilidades inéditas que uma mulher forneça o seu óvulo en quanto outra carregue o embrião as NTRs oferecem novas escolhas às mulheres Ou pelo contrário permitem um maior controle social sobre a reprodução e sobre a vida e a maternidade das mulheres Desde os anos 80 nos Estados Unidos e especialmente a partir de 1985 no cenário internacional muitas feministas começaram a analisar as con sequências sociais do desenvolvimento das NTRs principalmente para as mulheres e a confrontar debater e tornar públicas as suas análises Assim em 1984 houve duas conferências feministas fortemente contraditórias quanto às suas premissas Uma na Inglaterra consoante com as posições de Sulamith Firestone 1970 para quem as futuras NTRs seriam ferramen tas de liberação que permitiriam às mulheres escapar das suas limitações corporais Essa primeira conferência fi xouse nas novas escolhas nos novos direitos disponibilizados às mulheres com o desenvolvimento das NTRs Já a segunda na Holanda levou em 1985 à criação da Rede Internacio nal de Resistência Feminista ao Desenvolvimento das NTRs e das Mani pulações Genéticas FINRRAGE Muito ativa fez circular uma grande quantidade de informações editou vários livros Corea 1985 1987 Spallo ne e Steinberg 1987 e uma revista Reproductive and Genetic Engineering Journal of International Feminist Analysis organizou colóquios debates públicos no Parlamento Europeu em 1986 conferências de imprensa es pecialmente nos Estados Unidos para denunciar a situação das mães porta doras e assegurar a defesa de todas aquelas que queriam fi car com a criança Os textos revelaram as consideráveis taxas de insucesso da FIV e de lucro das empresas farmacêuticas multinacionais Chamaram atenção para até que ponto a tecnologização se faz acompanhar de uma industrialização da produção de seres vivos Isso é feito a partir da matériaprima original até então pouco acessível que constitui os óvulos recolhidos em grandes quantidades de mulheres previamente submetidas a fortes estímulos hor monais num procedimento cujo caráter experimental é perigoso para sua saúde o que foi omitido pelos médicos e tem sido amplamente denunciado e enfatizado pelas pesquisadoras feministas Enquanto médicos e biólogos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 248 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 248 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 249 frequentemente afi rmam se contentar apenas em responder a solicitações dos casais e das mulheres elas são utilizadas como melhores objetos de experimentos diversos reduzidas ao estatuto de provedoras de óvulos ou de incubadoras humanas quando o seu útero se faz necessário às vezes considerado hostil para que se desenvolvam os embriões Nos Estados Unidos a comercialização da procriação é organizada não só mediante a venda de gametas humanos mas também da de mães por tadoras esse cenário cria uma classe de mulheres escolhidas às vezes em catálogo reduzidas a nada mais que instrumentos temporários de produção de crianças destinadas a homens desejosos de assegurar sua descendência genética É por isso dizem as feministas críticas que destacar a afl ição dos casais estéreis ampliar as indicações das NTRs infl ar os índices de suces so minimizar o risco para a saúde das mulheres e das crianças faz parte das estratégias desenvolvidas pelos médicos por toda parte Descrever as NTRs como tratamento da esterilidade mascara efetivamente a parte invisível do iceberg Esta inclui no lado ocidental as biotecnologias de manipulação e seleção do genoma humano assim como do animal e vegetal colocandose como desafi os para as indústrias farmacêuticas veterinárias e agroalimen tares e nos países em desenvolvimento diversas técnicas de controle da população contraceptivos de longa duração esterilizações que assegurem uma geopolítica demográfi ca As feministas diante da oferta tecnológica Na França apesar de uma forte midiatização das NTRs e da importân cia desse desenvolvimento tecnológico realizaramse em 1988 proporcio nalmente oito vezes mais tentativas de FIV na França do que nos Estados Unidos Laborie in Testart 1990 reinava uma relativa indiferença da parte dos grupos de mulheres resultante provavelmente do fato de as aná lises feministas da maternidade centradas na atribuição histórica das mu lheres a essa função haverem reduzido a demanda de liberdade de reprodu ção ao direito de acesso das mulheres à contracepção e ao aborto sem uma refl exão sobre o desejo de ter fi lhos Algumas pesquisadoras francesas e do Quebec majoritariamente críticas diante das NTRs desenvolveram diversas análises publicadas em obras coletivas após terem sido apresen tadas nos colóquios organizados pelo Conselho do Estatuto da Mulher em Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 249 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 249 18102009 192538 18102009 192538 250 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Quebec 1988 pelo Movimento Francês para o Controle da Natalidade 1989 e durante uma conferência internacional de avaliação das NTRs que elas organizaram em Paris em julho de 1990 paralelamente ao VII Con gresso Mundial de Médicos das NTRs O desafi o central das NTRs das quais o corpo materno é o alvo e a permutabilidade dos órgãos a lógica é o de repensar o lugar reservado às mulheres na gestão social da reprodução Braidotti1987 Procurando compreender quais mudanças sociais estão levando numerosas mulheres para os centros que oferecem as NTRs elas analisaram as formas de construção social da esterilidade e de legitimidade das NTRs Gavarini in MFPF 1989 as complexas relações das mulheres com o desejo de ter fi lhos e das feministas com a maternidade F Collin in MFPF 1989 postularam que os médicos desejando controlar a origem das origens em matéria de procriação apresentam a FIV como um modelo ideal porque científi co para toda reprodução Analisando as práticas elas enfatizaram o caráter eugenista até mesmo demiúrgico de intervenções inéditas análise e seleção de embriões em matéria de produção de seres vivos F Collin in MFPF 1989 Mostraram o quão mascarada é a forte diferenciação sexual das técnicas pesadas e im plicando riscos sociais perda de trabalho e à saúde envolvendo principal mente as mulheres mostraram como é promovida a discriminação social entre mulheres quanto ao acesso às NTRs e evidenciaram os meios pelos quais se desenvolvem um mercado da reprodução humana e um campo de pesquisa em expansão Laborie in CSF 1988 in MFPF 1989 in Tes tart 1990 Foram recolhidos dados precisos sobre os efeitos sanitários dos tratamentos sofridos pelas mulheres e sobre aqueles que devido à grande prematuridade incidem sobre a saúde das crianças frequentemente múlti plas e sobre a dos seus pais esgotados pelas extenuantes tarefas de cuidado requeridas pelos bebês Laborie 1994 No plano ideológico e político os discursos e atividades que estruturam as NTRs promovem a recolocação do foco normativo no casal e na família nuclear heterossexual Dhavernas 1990 As NTRs como parte do processo de dominação e exploração da natureza sujeitas às estratégias masculinas de controle político e jurídico sobre sua descendência constroem a invisibilidade das mulheres e a sua coisifi cação Vandelac in CSF 1988 in Testart 1990 A produção e a con servação de numerosos embriões em laboratório redefi nem de formas dife rentes os direitos respectivos do pai da mãe e dos médicos e ao favorecer Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 250 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 250 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 251 a reabertura de debates sobre o estatuto ontológico do embrião abrem o caminho ao questionamento do direito das mulheres ao aborto Novaes e Laborie 1996 A revisão prevista das leis sobre bioética poderá autorizar o diagnós tico préimplante dos embriões DPI depois de têla proibido em 1994 A questão de suma importância dos riscos induzidos por essas técnicas sobre a saúde um dos principais aspectos das críticas feministas nos últimos quin ze anos começa a ser reconhecida ao menos no que diz respeito à saúde das crianças Aborto e contracepção Família Maternidade CSF Conseil du statut de la femme Sortir la maternité du laboratoire Bibliothèque natio nale du Québec 1988 423p Corea Gena Ed Man made women How new reproductive technologies affect women Bloomington Indiana University Press 1987 109p MFPF Mouvement français pour le Planning familial Lovaire dose Les nouvelles mé thodes de procréation Paris Syros 1989 322p Novaes Simone Laborie Françoise Parents et médecins face à lembryon relations de pouvoir et décision in FeuilletLe Mintier Brigitte Dir Lembryon humain Ap proche multidisciplinaire Paris Economica 1996 p185202 Spallone Pat Steinberg Deborah Lynn Eds Made to order The myth of reproductive and genetic progress OxfordNova York Pergamon Press 1987 267p Testart Jacques Dir Le magasin des enfants Paris François Bourin 1990 338p Traduzido por NAIRA PINHEIRO Trabalho conceito de Helena Hirata e Philippe Zarifi an A noção moderna de trabalho como foi formalizada pela economia po lítica clássica nos remete a uma dupla defi nição A primeira se apresenta como uma defi nição antropológica em que o trabalho constitui uma característica geral e genérica da ação humana Para Marx 18671965 o trabalho é essencialmente um ato que se passa entre o homem e a natureza O próprio homem exerce em relação à natureza o papel de uma potência natural específi ca Ele põe em movimento sua inteli Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 251 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 251 18102009 192539 18102009 192539 252 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER gência e suas forças a fi m de transformar matérias e lhes dar uma forma útil à sua vida Ao mesmo tempo em que age por esse movimento sobre a natu reza exterior e a modifi ca ele transforma sua própria natureza e desenvolve suas faculdades aí adormecidas A segunda defi nição reinterpreta a primeira ao considerar que as trocas entre homem e natureza sempre se produzem em condições sociais deter minadas estamos nas condições do artesanato da escravidão ou do assala riamento O trabalho útil é executado sob a chibata do feitor de escravos ou sob o olho interessado do capitalista É a partir desta segunda reinter pretação que o conceito de trabalho assalariado pode ser desenvolvido o assalariado trabalha sob o controle do capitalista ao qual pertence o produto de seu trabalho Essa dupla defi nição tem o mérito de situar a atividade do trabalho no ponto preciso de imbricação de dois tipos de relação homemnatureza e homemhomem porém ela é ainda muito insufi ciente Primeiro porque parte de um modelo assexuado de trabalho O sujeito do trabalho o ho mem é apresentado nessa defi nição como universal de fato é o masculino que é elevado a universal Em segundo lugar ela também é problemática de outro ponto de vista na medida em que as relações suscitadas não são apreendidas de maneira idêntica As relações homemnatureza tendem a ser naturalizadas e fi xadas como uma base imutável da produção da vida humana enquanto as relações sociais as condições sociais do trabalho são historicizadas Sendo assim essa dupla defi nição não pode ser pertinen te se considerarmos as relações historicamente que é o que torna possível considerar o sexo social Se extrairmos todas as consequências da tese do homem como ser so cial não existem trocas genéricas entre o homem e a natureza mas trocas sempre específi cas entre os homens e as naturezas E os próprios homens são os homens e as mulheres assim tornase possível falar de sexo do trabalho Tempo e trabalho À luz de sua etimologia antes de sua acepção moderna o trabalho era si nônimo de sofrimento eou imobilização forçada A defi nição da economia política clássica século XVIII teria de alguma forma enobrecido o traba lho ao lhe conferir a virtude de estar na origem da produção material da vida Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 252 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 252 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 253 humana Tão logo enobrecido esse trabalho recobrou seu antigo sentido pois sob o jugo do assalariamento o trabalho logo se tornaria sinônimo de constrangimento e sofrimento para quem o exercesse Podemos nos perguntar se não existe aí um jogo de ilusão pois o traba lho assalariado no sentido moderno tal como emerge no capitalismo nas cente não tinha de fato nenhuma origem O uso dessa noção emerge sob uma forma inédita a de uma atividade social que podemos objetivar isto é descrever analisar racionalizar prescrever em termos precisos uma se quência de operações consideradas numa abstração generalizante e o tem po mensurável necessário para realizála Esse trabalho moderno disfar çado sob a expressão atividade que pode ser objetifi cada é considerado desde então na relação salarial nascente porque se desenrola em torno da questão doravante central que é a apropriação do tempo do assalariado pelo capitalista A noção moderna de trabalho surgiu então sob o impacto de um verdadeiro golpe de força política e social a separação entre uma sequência de operações que podem ser objetifi cadas e a capacidade humana de realizá las O trabalho de um lado a força de trabalho de outro E entre os dois o tempo referência central de avaliação da produtividade dessa combina ção entre trabalho e trabalhador O nascimento da noção de trabalho assa lariado é a história dessa separação que opõe uma forma objetifi cada a uma potência subjetiva O trabalhador ser de subjetivação tornase prisioneiro daquilo a que ele deve se reportar as operações objetifi cadas Ao contrário a noção de trabalho doméstico é o oposto da objetifi cação ela é ligada às relações afetivas da família e baseada na disponibilidade materna e conjugal das mulheres ChabaudRichter et al 1985 Sendo a forma privilegiada de expressão do amor na esfera dita privada os ges tos repetitivos e os atos cotidianos de manutenção do lar e da educação dos fi lhos são atribuídos exclusivamente às mulheres Os homens podem legiti mamente pretender escapar deles Esse trabalho é refratário à mensuração mesmo que aproximações pelo orçamentotempo tenham sido utilizadas para apreendêlo elas não conseguem esclarecer a natureza desse trabalho Nos debates sobre o tema a existência de uma perpétua hesitação entre o trabalho assalariado exclusivo de um lado e o trabalho doméstico ou útil em geral de outro não é nada mais do que um indicador do fato de que duas questões a captação do tempo e a produção do viver se interpenetram sem no entanto se confundirem Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 253 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 253 18102009 192539 18102009 192539 254 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER As relações sociais de sexo permitem assim lançar sobre esse duplo de safi o um olhar particularmente revelador Pois de um lado a captação do tempo pelo outro não pode mais ser reduzida somente ao tempo de trabalho assalariado Percebese que o tempo do assalariamento é condicionado pelo tempo do trabalho doméstico E quando as mulheres começam a entrar massivamente no assalariamento é sob um status duplo como assalariadas e como portadoras das condições gerais temporais do assalariamento De outro lado a produção do viver por interpelar a dimensão útil do trabalho é levada pelas mulheres além das fronteiras das esferas de vida nas quais os homens estão estabelecidos e excerceram sua dominação Para as mulheres os limites temporais se dobram e multiplicam entre trabalho doméstico e profi ssional opressão e exploração se acumulam e articulam e por isso elas estão em situação de questionar a separação entre as esferas da vida pri vada assalariada política que regem ofi cialmente a sociedade moderna O conceito de trabalho e seu futuro O desenvolvimento histórico do conceito de trabalho foi formalmente questionado nos anos 70 com o desenvolvimento de pesquisas que introdu ziam a dimensão sexuada nas análises do trabalho É a partir da problemá tica da divisão sexual do trabalho que Danièle Kergoat procede a uma des construçãoreconstrução do conceito de trabalho e seus conceitos conexos como o de qualifi cação introduzindo a dimensão do trabalho doméstico e a esfera da reprodução Junto com outras que atuam no mesmo campo no CNRS na universidade mas também fora das instituições algumas pes quisadoras do GEDISST com Kergoat propuseram uma reconceituação do trabalho para incluir o sexo social e o trabalho doméstico no conceito de trabalho Essa reconceituação abrangeu também o trabalho não assalariado não remunerado não mercantil e informal Trabalho profi ssional e trabalho doméstico produção e reprodução assalariamento e família classe social e sexo social são considerados categorias indissociáveis A conjuntura de recessão e desemprego em massa dos anos 90 com o desenvolvimento de formas de trabalho precário tornaram novamente atual o debate sobre o trabalho e sua crise com a proposição de políticas públicas A questão da divisão do trabalho e as leis de redução da jornada de trabalho constituíram uma das principais recorrências do debate teórico Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 254 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 254 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 255 atual sobre o fi m do trabalho o fi m do valor trabalho e a centralidade do trabalho Para clarear esse debate é útil retornar à distinção estabelecida por Hannah Arendt 19581988 entre 1 o trabalho como atividade do animal laborans governado pela necessidade de subsistência humana pro duzindo coisas efêmeras destinadas a serem destruídas pelo consumo 2 a obra como atividade do homo faber produzindo coisas duráveis destinadas a tornar o mundo habitável e engendrando a cultura 3 a ação propria mente dita que não produz coisas separadas do agente e consiste em atos nos quais se condensa a iniciativa humana em face dos outros humanos num espaço privilegiado o da política Essa distinção hierarquiza as atividades humanas e inferioriza aquela de nominada trabalho de maneira que de uma vez só eterniza a separação e encerra cada atividade em sua destinação Ao mesmo tempo a política é hipoteticamente inserida no reino da liberdade e eleita terra privilegiada da autonomia e tudo se passa como se o trabalho moderno reduzido somente à sua dimensão de heteronomia não devesse ser subvertido mas limitado e contornado para encontrar em outras esferas da vida as verdadeiras fontes da emancipação Mas emancipação de quem E em relação a quê O paradoxo das teses sobre o fi m do valor trabalho é que elas eternizam o golpe de força que cons tituiu a imposição da relação assalariada e fazem como se uma relação política libertadora inspirada na cidadania grega como reivindicava Arendt pudesse se desenvolver ao largo e apesar do sistema capitalista deixando subsistir para a maioria o trabalho tal como ocorre hoje A abordagem em termos de relações sociais de sexo mostra claramente que os deslocamentos entre as es feras da vida como hoje se encontram socialmente separadas e contra os quais queremos radicalizar a oposição só trazem uma opressão redobrada Um segundo debate que também tem implicações para o pensamento científi co atual é teorizado por Jurgen Habermas 19811987 O conceito de trabalho prisioneiro de uma visão industrialista da realidade remete a uma ação instrumental sobre a natureza em que o humano é ele mesmo instrumentalizado na ação fi nalizada enquanto a noção de interação remete à defi nição intersubjetiva de normas de ação que uma comunidade humana poderia debater e validar Aí também a hierarquização é clara o trabalho é restrito a uma visão estreitamente instrumental Relegase a esfera econô mica e o trabalho assalariado ao seu triste destino enquanto se busca num hipotético espaço público o engendramento da elevação moral Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 255 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 255 18102009 192539 18102009 192539 256 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Poderíamos tomar esse debate sobre o fi m do trabalho ao pé da letra e dizer fi m do trabalho fi m da defi nição que a economia política instau rou para o trabalho Ou seja fi m do assalariamento Mas um debate não pode se assentar em bases nominalistas Se ele pode ter sentido é justamen te porque existem tendências objetivas e subjetivas De uma parte para questionar o status atual do tempo e então dar ao tempo outro status De outra para tratar a produção do viver não como um efeito secundário da valorização do capital ou como pura satisfação de necessidades vitais mas como um questionamento social que permite estabelecer uma ponte entre as diferentes esferas de atividade Categorias socioprofi ssionais Desemprego Divisão sexual do trabalho e relações so ciais de sexo Ofício profi ssão bico Precarização social Públicoprivado Técnicas e gênero Trabalho doméstico Arendt Hannah Condition de lhomme moderne Paris CalmannLévy Agora 1988 368p Édition originale The Human Condition 1958 ChabaudRychter Danielle FougeyrollasSchwebel Dominique Sonthonnax Fran çoise Espace et temps du travail domestique Paris Librairie des MéridiensKlincksieck Réponses sociologiques 1985 156p Collectif Le sexe du travail Structures familiales et système productif Grenoble PUG 1984 320p DauneRichard AnneMarie Gender relations and female labor a consideration of so ciological categories in Jane Jenson et al Eds Feminization of the Labour Force Paradoxes and Promises Nova York Oxford University Press 1988 p26075 Marx Karl Le Capital livre I in Œuvres Économie I Paris NRF Bibliothèque de la Pleiade 1965 1818p 1re édition 1867 Vandelac Louise Et si le travail tombait enceinte Essai féministe sur le concept de tra vail Sociologies et sociétés out 1981 vXIII n2 p6782 Traduzido por MIRIAM NOBRE Trabalho doméstico Dominique FougeyrollasSchwebel Trabalho doméstico produção doméstica economia doméstica serviço doméstico atividades do lar atividades domésticas cuidadora de pessoas dona de casa esposa mãe todos esses termos têm conotações disciplinares Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 256 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 256 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 257 e conceituais distintas que suscitam controvérsias sobre o signifi cado que se deve dar à expressão trabalho doméstico Defi nimos o trabalho doméstico como um conjunto de tarefas relacio nadas ao cuidado das pessoas e que são executadas no contexto da família domicílio conjugal e parentela trabalho gratuito realizado essencialmente por mulheres Foi incontestavelmente o movimento de liberação das mulheres no fi nal dos anos 60 que na França como no conjunto dos países ocidentais e apoiandose na denúncia da invisibilidade de uma parte do trabalho das mulheres colocou na ordem do dia novas elaborações científi cas e políticas Essa invisibilidade aparece como resultado de dois grandes fatores para todas as correntes de pensamento a família nos anos 60 é defi nida como um lugar de consumo com a industrialização ela teria perdido toda fun ção ou papel produtivo O segundo fator decorre de que as diferenças de funções e atividades entre mulheres e homens são percebidas antes de tudo como naturais Falase de responsabilidades familiares sem aprofundar o questionamento Os únicos estudos demonstrando a relevância das ativi dades das mães de família e também de todas as atividades domésticas são na época as pesquisas sobre o uso do tempo repetidas periodicamente na França pelo INSEE30 desde 1965 Teorização do trabalho doméstico Christine Delphy mostra numa das primeiras publicações feministas na França que o trabalho doméstico determina a condição de todas as mulheres Delphy 1998 O modo de produção familiar regido pelo patriarcado or ganiza as relações sexuais a educação das crianças os serviços domésticos e a produção de certos bens como pequenas produções mercantis Rompen do com a oposição frequentemente asseverada entre produção mercantil e não mercantil a exclusão do trabalho doméstico das mulheres do domínio econômico não decorre da natureza da sua produção Com efeito quando os mesmos bens são produzidos fora da família o trabalho que os produz é remunerado e inversamente o trabalho das mulheres permanece gratuito 30 Referese ao instituto governamental francês INSEE Institut National de la Statistique et des Études Économiques Instituto Nacional de Estatística e Estudos Econômicos NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 257 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 257 18102009 192539 18102009 192539 258 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER até mesmo quando sua produção é objeto de troca no mercado assim o trabalho das mulheres na agricultura no artesanato ou quando o seu ma rido exerce uma profi ssão liberal é naquela época ilustração direta dessa questão A partir dos anos 80 na França as esposas de agricultores arte sãos comerciantes como resultado de uma forte demanda por parte delas podem se benefi ciar do estatuto de colaboradoras com reconhecimento de sua contribuição para a empresa familiar Para Christine Delphy a família permanece o lugar de uma exploração econômica das mulheres ela conclui daí a apropriação material pelos homens da sua força de trabalho qual quer que seja seu estatuto familiar quer sejam elas esposas mães fi lhas ou irmãs No decorrer dos anos 70 essa análise suscitou forte controvérsia devido à preponderância de uma problemática marxista e dos confrontos para sa ber qual peso dar às relações de produção e consequentemente às relações sociais determinantes visando transformações sociais O aspecto impor tante a reter desses debates é o abandono tanto para mulheres como para homens de análises ou representações não historicizadas do trabalho Por outro lado as pesquisas históricas econômicas ou sociológicas des tacam a partir de então que a sociedade salarial não se reduz unicamente à esfera produtiva Elas mostram assim que o desenvolvimento do trabalho assalariado e o fortalecimento da esfera privada são dois processos conco mitantes que contribuem para o processo de autonomização do indivíduo Mas são distintas as modalidades de inserção de homens e mulheres em cada uma dessas esferas conduzindo a processos específi cos de individua ção A confi guração da esfera privada como principal local de exercício do cuidado das pessoas é acompanhada pela do trabalho específi co das mu lheres o ambiente doméstico Danielle ChabaudRychter Dominique FougeyrollasSchwebel Françoise Sonthonnax 1985 analisaram também como o trabalho doméstico ao contrário da esfera econômica em que as mercadorias são trocadas por outras se realiza dentro de uma relação entre pessoas a disponibilidade permanente do tempo das mulheres a serviço da família Essa relação de serviço relação social de sexo que caracteriza o processo de trabalho doméstico não está circunscrita ao núcleo conjugal mas deve ser estudada no âmbito do conjunto da parentela Ligada às mu danças da família e do conjunto da sociedade salarial o conteúdo do tra balho doméstico expressa essa coordenação multifuncional entre a família Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 258 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 258 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 259 e as outras instituições da reprodução É preciso se precaver de qualquer analogia entre o trabalho doméstico e o trabalho assalariado sem contrato de trabalho e muito menos a defi nição de um estatuto fundamento das identidades e da socialização femininas É contra essa redução do trabalho doméstico a um simples fazer e para ressaltar as dimensões intelectuais e emocionais que Monique Haicault 1984 desenvolve o conceito de carga mental Economistas instigados pelos questionamentos feministas têm re considerado as defi nições de consumo e introduzido novas abordagens da família como produtora de serviços efetuando escolhas entre os diversos tempos assalariado doméstico tempo livre Becker 1976 A produção doméstica é então defi nida como o conjunto das atividades dos domicílios que é possível substituir pelas de terceiros em que as atividades de ho mens e mulheres são consideradas dentro de um mesmo conjunto Chadeau e Fouquet 1981 As pesquisas de uso do tempo do INSEE31 Emploi du temps 1975 1986 1999 e de produção doméstica na França Production domestique 1988 mostram como as mulheres e os homens ainda têm papéis domésti cos diferentes as atividades relacionadas com a roupa são quase exclusiva mente realizadas por mulheres mas em termos de tempo gasto a partilha das tarefas está um pouco menos desigual se o volume global de tempo doméstico permaneceu estável as atividades predominantemente mascu linas pequenos trabalhos e reparos aumentaram enquanto as femininas cozinha louça roupa diminuíram As mulheres consagram menos tem po às tarefas estritamente domésticas do que há treze anos meia hora para as inativas e sete minutos para aquelas que exercem uma atividade profi s sional mulheres ativas ocupadas 3h13 em 1986 e 3h06 em 1999 mulhe res inativas 4h26 e 3h59 Quanto aos homens o tempo gasto em atividades domésticas é praticamente estável entre 1986 e 1999 cerca de uma hora para os homens que exercem uma profi ssão e uma hora e meia para os outros Dumontier e Pan Ké Shon 1999 O tamanho da casa o número de crianças suas idades a idade do casal são os principais fatores de variabilidade da produção doméstica as variações nas condições socio 31 Referese ao instituto governamental francês INSEE Institut National de la Statistique et des Études Économiques NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 259 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 259 18102009 192539 18102009 192539 260 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER profi ssionais têm mais infl uência para os homens do que para as mulheres Poucas mulheres qualquer que seja a sua condição social escapam do tra balho doméstico A ideia de que o trabalho remunerado seria reservado exclusivamente ao homem e o trabalho doméstico à mulher é uma norma que não corresponde às práticas sociais a não ser por períodos históricos bem defi nidos A igual dade como modo de regulação do novo contrato entre os sexos é hoje uma norma tão prescritiva que a persistência das desigualdades principalmente no âmbito da família é consequentemente percebida por grande parte da Sociologia como escolha individual e feminina resultante das interações do casal Kaufmann 1992 Porém o exercício de uma atividade profi ssional não questiona as relações de dependência que por outro lado são vivencia das pelas mulheres devido ao fato de que se lhes atribui o trabalho domésti co isso implica maior rigidez na organização dos usos do tempo Instalase assim uma necessidade obsessiva de programação do tempo obsessão exa gerada até a exaustão quando as mulheres procuram responder ao padrão de excelência que se espera delas Portanto para levar adiante seus projetos profi ssionais as mulheres devem dispor de uma rede de substituição infalí vel mais do que o recurso ao cônjuge a organização familiar repousa sobre ajudas externas Políticas sociais e socialização do trabalho doméstico O estudo das mudanças ocorridas nas últimas três décadas evidencia que um número crescente de tarefas do trabalho doméstico está sendo transformado pela ampliação do consumo de mercado ou realizado por instituições públicas privadas e comunitárias a guarda de crianças par ticularmente as mais novas o cuidado de pessoas idosas que as mulheres precisam necessariamente delegar durante o tempo em que estão exercen do uma atividade profi ssional e uma grande parte das outras tarefas será transferida para o fi m de semana ou realizada de acordo com a disponi bilidade fi nanceira por trabalhadorases domésticasos remuneradasos Economistas e sociólogos têm convergido para uma abordagem global das relações de serviços pessoais que vinculam atividades domésticas e serviços domésticos remunerados Para responder aos cortes nos orçamen tos públicos ampliando as condições de acesso à licença parental por um Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 260 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 260 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 261 lado e o trabalho de tempo parcial por outro a França adotou uma política ativa de desenvolvimento de empregos familiares por meio de medidas de redução fi scal Constatando a fragilidade evidente do recurso a emprega das domésticas e outros trabalhadores da casa essas medidas contam com o desenvolvimento potencial desses postos de trabalho uma vez que o seu custo baixaria Flipo e Hourriez 1995 As políticas de promoção dos empregos familiares se inserem numa multiplicidade de lógicas mais comumente contraditórias do que conver gentes reduzir os gastos públicos sem contudo questionar radicalmente o compromisso anteriormente anunciado em termos de justiça social de garantir a todas as mulheres acesso à atividade profi ssional Estas políticas pretendem ser também uma resposta à crise do emprego e a uma demanda cada vez maior pelos serviços de cuidado a pessoas Mas diante dos novos estatutos que propõe para os empregados rumo à extinção do contrato de trabalho e do nível de remuneração que oferece responder às necessidades de custos mais baixos essa promoção de empregos coloca em xeque efe tivamente o reconhecimento social que pretenderia incentivar para esses postos de trabalho A grande proporção de mão de obra imigrante existen te nesses setores testemunha que se trata de tarefas que preferimos deixar para os outros A contratação de trabalhadores domésticos é um fato social antigo mas a novidade está nos desdobramentos desses empregos impli cando a emergência de relações entre empregador e empregado nas classes médias as categorias intermediárias do INSEE e nas classes populares e o aumento de polarizações nos empregos femininos Essa perspectiva de monstra a importância de análises que combinem relações de sexo de classe e de raça Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Educação e socialização Família Movimentos feministas Patriarcado Políticas sociais e familiares Públicoprivado Técnicas e gênero Trabalho o conceito de ChabaudRychter Danielle FougeyrollasSchwebel Dominique Sonthonnax Fran çoise Espace et temps du travail domestique Paris Librairie des MéridiensKlincksieck Réponses sociologiques 1985 156p Chadeau Ann Fouquet Annie Peuton mesurer le travail domestique Économie et statistique 1981 n136 p2942 Delphy Christine Lennemi principal 1 Économie politique du patriarcat Paris Syllepse Nouvelles questions féministes 1998 293p Reedição de artigos publicados desde 1970 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 261 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 261 18102009 192539 18102009 192539 262 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Haicault Monique La gestion ordinaire de la vie en deux Sociologie du travail 1984 n3 p26877 Lemel Yannick Les activités domestiques qui en fait le plus LAnnée sociologique 1993 3 série v43 p23552 Vandelac Louise Belisle Diane Gauthier Anne Pinard Yolande Du travail et de lamour Les dessous de la production domestique Montreal Éditions SaintMartin Femmes 1985 418p Traduzido por NAIRA PINHEIRO Transmissões intergeracionais JeanPierre Terrail Conjunto de atividades essenciais à permanência das formas de vida social além dos limites da existência individual as transmissões interge racionais estão no cerne da reprodução das relações sociais de sexo de sua renovação e transformações Transmissões materiais e transmissões simbólicas A sociologia das transmissões intergeracionais se inte ressa ao mesmo tempo pela circulação material de bens e serviços entre as classes de idade e pelas transferências simbólicas de disposições e valores inerentes à sociali zação das mulheres e dos homens das gerações jovens Ela distingue aquilo que nesse processo é da competência da esfera privada e se articula no seio das linhagens familiares da ação pública que intervém na formação dos jovens redistribui os recursos fi nanciando a escolaridade pelo imposto antecipado sobre os ativos fi xando a idade e o montante das aposentado rias etc Esses dois planos interagem As políticas estatais e institucionais podem completar e reforçar as políticas e as solidariedades privadas Elas podem também ser signifi cativamente diferentes assim enquanto as aju das fi nanceiras familiares se direcionam principalmente dos aposentados para os ativos os auxílios públicos circulam no sentido inverso podem até mesmo ser contrários no caso por exemplo em que a escola difunde valores contraditórios com a ética familiar Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 262 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 262 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 263 O desenvolvimento de políticas sociais não enfraqueceu as solidarieda des privadas cujas formas variam mas cuja importância pode ser averigua da em todos os países desenvolvidos AttiasDonfut 1995 A manutenção de relações com a parentela permanece uma norma importante justifi cada pelo valor do afeto entre parentes sustentada pelas ideias de continuidade da linhagem e da força dos laços de sangue do dever de reconhecimento etc Pitrou 1978 No contexto de uma sociedade maciçamente salarial a adesão ao princípio de herança continua relevante As doações anterio res representam quase o equivalente daquilo que é legado em morte e se refere tanto às fi lhas como aos fi lhos Gotman 1988 Ajudas fi nanceiras e serviços prestados favorecem a instalação dos jovens casais contribuindo nas classes populares sobretudo para a subsistência dos descendentes e nas classes médias e superiores para sua promoção social Pitrou op cit Es sas doações são em parte restituídas com a ajuda destinada aos pais idosos nos momentos difíceis da velhice Por outro lado a dívida é transferida para a geração seguinte As mulheres estão no coração dessa economia de presta ções intergeracionais Insee 1995 Dada sua proximidade da mãe as fi lhas se envolvem mais do que os seus irmãos nas preocupações e responsabilida des para com os pais e elas serão mais frequentemente solicitadas quando estes envelhecerem As mães consagram mais tempo cotidiano à educação e à ajuda nas tarefas escolares das crianças e ajudarão as fi lhas que por sua vez se tornaram mães a conciliar suas atividades familiares com as pro fi ssionais Mais voltados para o ambiente de trabalho a sociabilidade e as preocupações dos homens são também mais limitadas ao horizonte da sua própria geração fato cujo impacto sobre a diferenciação cultural dos sexos certamente não é negligenciável É também por sua participação na correspondência epistolar e em to das as formas de circulação familiar da palavra que as mulheres contribuem mais para manter vivos os elos entre as gerações isso faz delas depositárias privilegiadas do conhecimento genealógico e da memória da linhagem cuja transmissão é um elemento essencial na formação da identidade individual Muxel 1996 Esta última evidencia a recorrência dos empréstimos eles próprios fortemente marcados pela sexualização aos modelos parentais sucesso escolar posição social escolhas profi ssionais parecem ser suscetí veis de transmissão de uma geração a outra tanto na linhagem masculina Thélot 1982 como na feminina da mesma maneira que os hábitos de vida Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 263 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 263 18102009 192539 18102009 192539 264 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER domésticos residenciais modelos conjugais educativos de fecundidade etc e os valores principalmente religiosos mas muitas vezes também os políticos Percheron 1994 Fontes muito variadas Todas as sociologias são afetadas pelas relações entre gerações Prin cipalmente a sociologia da mobilidade social e portanto intergeracional que se constitui nos Estados Unidos no período entre as duas guerras Na França a sociologia da educação é a primeira a colocar a questão das transmissões simbólicas Bourdieu e Passeron 1964 Na década de 1970 a sociologia da família amplia a pesquisa às transmissões materiais Roussel 1976 Pitrou 1978 enquanto a sociologia política por meio do trabalho pioneiro de Annick Percheron aborda o campo dos valores Durante a dé cada seguinte a abordagem biográfi ca e genealógica impulsionada sobre tudo por Daniel Bertaux e Isabelle BertauxWiame 1988 centrase nas transmissões envolvendo várias gerações assim como sobre as condições sociais gerais dos processos intrafamiliares Em outro nível a Sociologia redescobre que há gerações na sociedade e não somente na família Attias Donfut 1988 Os anos 90 viram emergir uma sociologia da mobilidade social interessada especifi camente nos destinos profi ssionais femininos cf Vallet 1991 Eles vão evidenciar sobretudo a preocupação com uma compreensão abrangente das transmissões entre gerações conjugando a abordagem de economistas sociólogos e psicanalistas cf Referências bi bliográfi cas O que signifi ca transmitir A sociologia das transmissões materiais e das transmissões simbólicas se defronta com problemas bastante diferentes A primeira encontra difi cul dades de descrição da complexidade das transferências governamentais da densa teia de benefícios familiares e de compreensão das lógicas que inspiram essas trocas como a do princípio de dom e dos critérios de justiça em vigor na economia e na dívida intrafamiliar A segunda é confrontada com a especifi cidade dos legados simbólicos A metáfora comum que evoca a transmissão do capital cultural como falamos de transmissão do capital Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 264 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 264 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 265 econômico incita a associálo a uma herança material como se a incorpo ração das capacidades disposições e valores que inspiram as gerações mais velhas fosse autoevidente Considerando contudo que os legados simbóli cos supõem uma atividade própria do herdeiro muitos sociólogos preferem falar de apropriação um processo cujos resultados não são jamais previsí veis em vez de interiorização termo que parece se referir ao automatismo de uma pura e simples transferência As heranças mais bem assimiladas não provêm jamais de uma espécie de mimetismo merecendo nesse sentido serem elas próprias questionadas No que diz respeito à continuidade intergeracional das escolhas profi ssio nais Daniel Bertaux e Isabelle BertauxWiame 1988 preferem portanto se referir à mobilização dos recursos legados mais do que à imposição de um modelo e em lugar de aprendizado do comportamento político dos ascen dentes Annick Percheron 1994 prefere falar da aquisição de critérios de avaliação do mundo na base desses comportamentos Se o destino da herança não é previsível em primeiro lugar é porque ele se tece ao longo da história subjetiva do herdeiro segundo suas sucessivas identifi cações A apropriação dos ideais paternos nesse registro próprio da intersubjetividade que medeia o impacto do legado e dos eventos biográfi cos objetivos pode assim ao mesmo tempo permitir transcender a preca riedade dos recursos transmitidos proporcionando a força subjetiva de em preendimentos sociologicamente improváveis tal como o sucesso escolar das meninas de meios populares Terrail 1995 e favorecer a perpetuação intergeracional de comportamentos domésticos marcados pela dominação masculina É também porque herdar é um processo sem fi m aquilo que os teus pais te legaram passe a tua vida adquirindoo Goethe marcado pela ambivalência e a pluralidade das disposições adquiridas disposições que encontrarão ou não como se realizar na confrontação do herdeiro com as condições sempre renovadas de sua ação biográfi ca Questões de equidade As relações entre gerações nas quais se tecem a continuidade assim como as mudanças da vida social representam um desafi o permanente para a pesquisa sociológica A crescente preocupação com o futuro das aposenta dorias ameaçadas pela combinação de desemprego com envelhecimento de Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 265 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 265 18102009 192539 18102009 192539 266 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER muitas gerações destinadas a viver mais tempo também as projetou à fren te da arena pública Os termos do debate que se seguiu principalmente nos Estados Unidos sobre a equidade entre gerações são com frequência abusivamente simplifi cados ocultando os problemas reais de um questio namento do fi nanciamento público das aposentadorias AttiasDonfut 1995 Favorecendo completamente os interesses fi nanceiros inerentes aos sistemas de proteção por capitalização este provocaria um aumento das desigualdades sociais com as solidariedades privadas podendo nos meios populares menos do que em outros compensar as perdas sofridas e acentuaria as desigualdades de sexo pois a aposentadoria do dito Estado Providência penalizaria primeiro as mulheres que estão à frente das soli dariedades familiares o que nos leva a lembrar que elas já representam na França 80 das pessoas com renda igual ou inferior à renda mínima Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Educação e socialização Família Maternidade Ofício profi ssão emprego Trabalho doméstico AttiasDonfut Claudine Dir Les solidarités entre générations Paris Nathan Essais et recherches 1995 352p Muxel Anne Individu et mémoire familiale Paris Nathan Essais et recherches 1996 230p Percheron Annick La socialisation politique Paris Armand Colin U 1994 226p Pitrou Agnès Vivre sans famille Toulouse Privat 1978 235p Singly François de et al Dir La famille en questions État de la recherche Paris Syros 1996 325p Terrail JeanPierre La dynamique des générations Paris LHarmattan 1995 190p Traduzido por NAIRA PINHEIRO Universalismo e particularismo Eleni Varikas O binômio universalismoparticularismo faz parte de uma confi guração política moderna Embora esses termos remontem ao fi m do século XVI a oposição propriamente dita é mais recente Ela pertence à época das revo luções do Direito natural do qual a Revolução Francesa fornece o modelo Essas revoluções foram erigidas contra sociedades feitas de particularidades Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 266 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 266 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 267 hierarquicamente estruturadas sem denominador comum sociedades fun dadas sobre o princípio de liberdades particulares privilégios e de deve res próprios a cada nível da hierarquia social Apresentando a humanidade comum dos indivíduos como uma base de comparação entre as diversas condições particulares essas revoluções fi zeram do conceito abstrato de homem um poderoso fundamento para a pretensão do particular de participar do universal Declarado ilegítimo o princípio das liberdades particulares foi substituído por uma lei geral válida para todos conhecida de todos e elaborada por todos Expressão da vontade geral uma vez que é elaborada por todos a lei tem um caráter universal porque se aplica a todos A sua universalidade é enfi m garantida por sua impessoalidade e pelo caráter geral dos assuntos de que trata O universalismo como relação de força Se o binômio universalismoparticularismo é impensável fora dessa dis tinção entre lei geral e privilégio ele se desenvolve de modo particular no conceito de cidadania e no âmbito do desafi o que o instaura a capacidade do ser humano de subordinar o seu interesse particular ao interesse geral Ora enquanto o conceito abstrato de humanidade em geral fazia a sua entrada triunfal como horizonte da universalidade de direitos os homens aos quais se tratava de aplicála eram indivíduos concretos historicamente situados física cultural e socialmente diferenciados que por suas histórias e posição nas relações sociais tinham necessidades e interesses diferentes bem como diferentes formas de expressálos Sob a infl uência das relações de poder a humanidade como sujeito e fonte de direitos foi geralmente concebida e interpretada como um padrão dominante que confundindo a sua própria particularidade com o universal exclui grupos inteiros de indivíduos da universalidade de direitos Em vez de um processo sempre aberto às particularidades que o compõem o universal tendeu a se identifi car com o mais forte rejeitando o fraco como particular e até mesmo como particularismo A relação problemática das mulheres com o universal tem aqui um va lor paradigmático Substrato de uma subordinação interminável no pla no conceitual de uma submissão sem fi m na realidade prática Adorno e Horkheimer 1974 a posição das mulheres nos sistemas políticos uni Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 267 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 267 18102009 192539 18102009 192539 268 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER versalistas ilustra o duplo processo conceitual e sociopolítico que marca a dinâmica exclusiva do universalismo moderno A exclusão das mulheres remonta de fato às origens da Filosofi a ocidental os conceitos com os quais Platão e Aristóteles representavam o mundo já refl etia com a mesma clareza as leis da física a igualdade dos cidadãos e a inferioridade das mulheres crianças e dos escravos ibidem Mas a intervenção da relação de força na formação das categorias de pensamento se radicaliza com o positivismo cientifi cista e a pretensa imparcialidade da linguagem científi ca moder na que retira de todo aquele que não tem poder a possibilidade de se ex pressar ibidem Privadas dessa possibilidade as mulheres são chamadas a se submeter a uma defi nição de universal da qual não participaram Não só foram excluí das durante muito tempo do sufrágio dito universal uma expressão cujo uso ilustra melhor do que qualquer outro a cumplicidade entre a exclusão política e a exclusão conceitual como também a sua posição na distinção moderna entre público e privado as identifi cou com o interesse particular com o particularismo da família Com efeito enquanto a cidadania demo crática supõe a virtude cívica do homem a sua capacidade de subordinar o seu interesse particular ao interesse geral a virtude feminina exige sobrepor o interesse da família a qualquer outro O particularismo como negação da pluralidade O entendimento político estabelece assim entre privado e público uma relação de negação e constituição recíproca que é também uma relação con traditória entre indivíduo e comunidade particularidade e universalidade Ele suspeita não só do particularismo dos interesses privados mas também da singularidade irredutível do ser humano de sua capacidade de expressar em termos generalizáveis seus desejos e necessidades Ameaçando a unida de do corpo político estes são repelidos para fora daquilo que é da ordem do interesse geral para a esfera privada subtraídos à crítica da autoridade arbi trária Preservar o espaço público da irrupção das paixões incontroláveis das quais o desejo sexual fornece o protótipo conter a desordem das mulhe res que ameaça dividir o eu moral coletivo Rousseau são imperativos que do absolutismo à democracia comandam da mesma forma a separação entre oikos o domínio familiar e polis a cidade as instâncias políticas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 268 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 268 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 269 Mas como foi destacado pela crítica feminista de Olympe de Gouges 1791 e de Mary Wollstonecraft 1790 aos dias de hoje essa distinção se xuada esvazia desde o início a legitimidade do interesse geral que se tor na uma unidade metafísica existente de forma independente da vontade de cada cidadão O lugar aporético das mulheres vocacionadas ao mesmo tempo a obedecer ao interesse particular do chefe de família e a fazer amar a virtude cívica ilustra mais uma vez as aporias de uma tradição que insere a universalidade numa relação contraditória não com o particularismo mas com as particularidades ou especifi cidades Ainda hoje surge o problema do universalismo versus particularismo quando se trata de reivindicações relacionadas com a discriminação ou a do minação sexual O interesse geral está tão associado a uma visão homogênea e uniforme do corpo político que qualquer expressão de particularidades é imediatamente tida como suspeita de um particularismo ameaçador do prin cípio da universalidade dos direitos que fundou a sacrossanta República Oposta quase que automaticamente às reivindicações gerais a expressão reivindicações específi cas das mulheres sugere por si só essa difi culdade histórica de falar em termos universais ou seja como parte do princípio da universalidade dos direitos de desigualdades que atingem metade da população Pelo fato de a exclusão das mulheres do universal ser uma das mais in visíveis e não reconhecidas as lutas pela igualdade entre os sexos e mais tarde as do feminismo foram desde o início confrontadas com o embuste que consistia em ocultar por trás da retórica abstrata dos direitos humanos as desigualdades reais que fundam os sistemas universalistas modernos A Declaração dos direitos da mulher e da cidadã de Olympe de Gouges su geria já em 1791 que esse embuste só pode ser exposto nomeando essas desigualdades e aquelas que são as vítimas Daí a irrupção paradoxal nos artigos gerais e impessoais da sua Declaração de casos particulares que especifi cam os requisitos concretos de uma verdadeira universalidade de direitos A livre comunicação de pensamentos e opiniões é um dos direitos mais preciosos da mulher Toda cidadã pode portanto dizer livremen te eu sou a mãe de uma criança que vos pertence sem que um preconceito bárbaro a force a dissimular a verdade Porque há preconceitos bárbaros que pesam exclusivamente sobre as mulheres porque como diria Flora Tristan no Union Ouvrière 1843 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 269 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 269 18102009 192539 18102009 192539 270 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER estas são tratadas como verdadeiros párias a mesma organização políti ca e social afeta os dois sexos de modo similar e diferente mencionar as mulheres na Declaração dos direitos do homem proclamar a liberdade absoluta do homem e da mulher na Charte de lUnion Universelle des Ou vriers et des Ouvrières Carta do Sindicato Universal dos Trabalhadores e Trabalhadoras é a condição necessária a assegurar os requisitos concretos da universalidade dos direitos Universalidade horizonte ou exigência de uma justiça generalizável Porque o homem em geral não existe em lugar nenhum porque os su jeitos de direitos universais são seres humanos concretos diferentemente situados na hierarquia social e nas relações de poder o princípio da uni versalidade dos direitos só pode se realizar se corresponder à diversidade e à pluralidade de experiências de opressão e de injustiça Se durante os últimos dois séculos as mulheres têm frequentemente lutado e continuam a lutar pelo reconhecimento do seu direito à palavra é porque na ausên cia da garantia desse direito pelo qual comunicamos aos outros as nossas experiências necessidades e desejos é impossível construir regras comuns generalizáveis ou seja suscetíveis de garantir as condições concretas de li berdade e igualdade para todos e para todas A questão do universalismo e do particularismo está portanto inextri cavelmente ligada à da democracia no sentido de que a defi nição das ne cessidades plurais a partir das quais se constrói o alcance universal de uma reivindicação de um objetivo de uma batalha não podem resultar nem de leis da natureza da economia da demografi a etc nem de qualquer visão prévia de interesses objetivos de um grupo social é uma questão de democracia porque exige essa interação recíproca e frequentemente confl i tuosa pela qual se busca o interesse geral na expressão autônoma na con frontação e na reformulação dos pontos de vista e dos desejos de cada um A afi rmação de demandas particulares constitui assim um momento neces sário da construção de qualquer objetivo político com desígnio universal Um momento necessário mas não sufi ciente Porque e este é o grande desafi o que o universalismo lança ao feminismo o critério para julgar o uni versalismo e o particularismo de uma demanda não é o número daqueles e Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 270 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 270 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 271 daquelas que a colocam nem o número daqueles e daquelas aos às quais diz respeito e tampouco o seu caráter particular é a sua capacidade de in vocar um princípio de justiça generalizável que nos permite reformular a reivindicação a mais específi ca a mais particular de maneira que nin guém deve ser tratado assim Cidadania Dominação Igualdade Linguagem científi ca sexuação da Movimentos feministas PúblicoPrivado Adorno Theodor W Horkheimer Max La dialectique de la raison Paris Gallimard 1974 281p De Gouges Olympe Déclaration des droits de la femme et de la citoyenne 1791 in Écrits politiques 17881791 Paris Côtéfemmes 1993 p20415 Rousseau JeanJacques Émile ou de léducation Paris Flammarion 1966 629p Tristan Flora Union ouvrière Paris Des femmes 1843 1986 366p Varikas Eleni Pour avoir oublié les vertus de son sexe Olympe de Gouges et la critique de luniversalisme abstrait Sciences politiques 1993 n45 p1734 Wollstonecraft Mary Vindication of the Rights of Men 1790 in Janet Todd Marilyn Butler Eds The Works of Mary Wollstonecraft London William Pickering 1989 Traduzido por NAIRA PINHEIRO Violências Carme Alemany As violências praticadas contra as mulheres devido ao seu sexo assumem múltiplas formas Elas englobam todos os atos que por meio de ameaça coação ou força lhes infl igem na vida privada ou pública sofrimentos fí sicos sexuais ou psicológicos com a fi nalidade de intimidálas punilas humilhálas atingilas na sua integridade física e na sua subjetividade O sexismo vulgar a pornografi a o assédio sexual no local de trabalho também se incluem aí Trataremos aqui das violências corporais que como expressão de relações entre poder masculino e sexualidade fazem parte da aprendizagem da virilidade e são em geral legitimados socialmente Ferindo diretamente muitas mulheres privandoas da sua liberdade de ir e vir do seu sentimento de segurança da sua autoconfi ança de sua capacidade de construir relacionamentos de seu gosto pela vida essas violências se referem Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 271 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 271 18102009 192539 18102009 192539 272 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER e afetam todas as mulheres que são vítimas potenciais Hanmer 1977 e constituem uma das formas extremas de relação entre os sexos As feministas americanas foram as primeiras que desde o início dos anos 70 denunciaram a violência sexual Destacando que o estupro par ticularmente supõe o não consentimento da vítima elas desenvolvem aná lises teóricas distinguindose dos estudos criminológicos que com seus preconceitos androcêntricos privilegiam as teorias vitimológicas ou inte racionistas que fazem da relação entre a vítima e o autor um elemento ex plicativo fundamental Esses estudos tiveram grande eco em outros países anglosaxões e depois na França Práticas teóricas politizadas e militantes O primeiro trabalho de síntese sobre estupro escrito por Michèle Bor deaux et al numa perspectiva feminista foi publicado em 1990 Lembrando que entre 1970 e 1980 as feministas na França evoluíram da crítica do direi to à reivindicação de leis ela fornece uma análise quantitativa abrangente dos delitos sexuais analisa os dados fornecidos nas denúncias as estraté gias criminais e as reações das vítimas efetua uma abordagem crítica da le gislação e das práticas judiciais e procurando compreender o lugar do estu pro ressitua a vítima no seu relacionamento com a sociedade mais do que com o violador As feministas realizaram ao mesmo tempo estudos sobre a violência doméstica e no trabalho a prostituição o estupro organizaram manifestações iniciaram ações de apoio a mulheres estupradas e levaram o debate para o campo jurídico Surgiram várias associações abrindo cen tros de acolhimento e de abrigo para mulheres vítimas de espancamento ou estupro criando um atendimento telefônico permanente divulgando na mídia as suas ações tudo isso permitiu revelar publicamente a relevância do problema Na França as associações pressionaram os poderes públicos para organizarem campanhas de informação e prevenção da violência con jugal em 1989 e a coleta de dados por sexo Elas denunciaram também a excisão e a infi bulação mutilações sexuais realizadas em milhões de meni nas em diversos países incluindo a França A produção feminista sobre a violência conjugal se ampliou a partir de análises de pesquisadores do sexo masculino que trabalham numa pers pectiva feminista Daniel WelzerLang 1988 1996 estuda os homens vio Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 272 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 272 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 273 lentos e comparando seus discursos com os das mulheres vítimas de espan camento destaca a assimetria de percepções e de posições Ele desconstruiu alguns mitos como o da sua dupla personalidade homens gentis e violentos A teoria feminista ampliou a análise da violência no exercício do poder político e militar estudando a relação entre militarismo nacionalismo vio lência do Estado e diversas formas de violências contra as mulheres duran te as invasões as guerras ou confl itos sociais estupro prostituição forçada torturas Cockburn 1998 Os confl itos na exIugoslávia foram acompa nhados por estupros massivos repetidos e sistemáticos impunes de um grande número de mulheres de todas as idades Véronique NahoumGrappe 1997 mostra que numa cultura da virilidade agressiva na qual se consi dera que o esperma é o único veículo de transmissão da linhagem o estu pro fere a honra e destrói os bens dos homens aos quais a vítima pertence por elos de sangue ou matrimônio Decapitação de homens e estupro de mulheres são crimes análogos que visam o mesmo objeto o elo genealógico de transmissão da linhagem Da realidade e das leis Se fi cou mais difícil negar e escarnecer da violência contra as mulheres o debate parlamentar sobre o novo Código Penal votado em 1992 e no qual não fi gura a expressão violências conjugais mostra que ainda há muito que fazer Louis 1994 A Conferência Mundial sobre Direitos Humanos em Viena 1993 reconheceu que a violência contra as mulheres constitui uma violação dos direitos humanos A IV Conferência Mundial das Nações Unidas sobre as Mulheres em Pequim 1995 conseguiu que os governos dos países representados se comprometessem a fazer um balanço a comba ter as violências contra as mulheres e a desenvolver estruturas de apoio às vítimas Lutas feministas obrigaram a mudar as leis Assim na França foi revo gado em 1975 o artigo 324 do Código Penal que inocentava o cônjuge do assassinato da esposa apanhada em fl agrante delito de adultério no domicí lio conjugal A lei aprovada em 1980 que pela primeira vez dá ao estupro uma defi nição jurídica a de um crime não inclui o estupro conjugal impossível de provar Ora as vítimas não têm de provar as violências so fridas Além disso as mudanças verifi cadas nas leis são acompanhadas de Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 273 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 273 18102009 192539 18102009 192539 274 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER práticas que perpetuam o não reconhecimento das violências sofridas pe las mulheres A pressão internacional relembra aos poderes públicos o seu compromisso de agir contra as violências feitas às mulheres Fougeyrollas Schwebel Houel e Jaspard 2000 Uma ampla pesquisa foi realizada na França Estimase de forma geral que os atos de violência contra as mulheres são muito numerosos e ainda muito pouco denunciados No entanto na França o número de queixas por estupro mais do que duplicou entre 1985 e 1995 mesmo estimandose que apenas um em cada quatro estupros é denuncia do As violências conjugais continuam sendo ocultadas e a sua demonstra ção estatística é difícil porque elas aparecem sob diferentes rubricas golpes e agressões estupros agressões sexuais assassinatos etc Estimativas es tatísticas anglosaxãs indicam frequências diferentes 11 de mulheres nos Estados Unidos 29 no Canadá de acordo com o país Além disso a vio lência conjugal pode ser exercida durante a gravidez ou imediatamente após CubizollesSaurel et al 1998 Estimase que há na França dois milhões de mulheres vítimas de espancamento De acordo com uma pesquisa realizada em 1994 com associações femi ninas e feministas para preparar a Conferência de Pequim Laborie et al 1994 as suas ações embora difi cultadas por obstáculos fi nanceiros e jurí dicos possibilitaram no entanto dar voz às mulheres vitimadas respeita ram suas denúncias de violência e a visibilização da extensão e da gravidade do problema Uma dupla atitude persiste no entanto na esfera da Justiça em sua recusa de levar a sério as denunciantes que têm difi culdade para estabelecer a prova da violência sofrida e em sua indulgência para com os homens autores de violência A abordagem estatística global das violências conjugais ou aquela mais detalhada realizada pelas associações Monnier 1997 é às vezes critica da Nadège Séverac 1997 acusaa de não levar em conta o fenômeno e até mesmo de tornar impossível compreendêlo Isso só seria possível se fosse incluída a questão embaraçosa do consentimento feminino que possibi litaria entender porque tantas mulheres são espancadas As análises das violências exercidas na esfera doméstica são as que têm suscitado mais controvérsias Segundo Daniel WelzerLang 1996 os au tores que analisaram as publicações distinguem além das análises femi nistas três correntes teóricas A corrente psicanalítica procura diferenças Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 274 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 274 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 275 entre os homens agressores e os outros em vez de examinar se a construção social da virilidade não permitiria evidenciar alguns pontos comuns entre eles As teorias da aprendizagem social do masculino infl uenciaram bas tante o tratamento terapêutico da violência masculina no Canadá e nos Estados Unidos A corrente sociocultural fi nalmente demonstrou após o movimento feminista a importância da instituição familiar como lugar de violência e incluiu o peso das desigualdades sociais e das normas cultu rais As feministas alegam que o fato de não levar em conta o sexo social da pessoa violenta tem por efeito fazer que todas as violências pareçam equivalentes Finalmente reaparece nos trabalhos recentes uma crítica endereçada às feministas de terem constituído a violência da mulher em tabu Linda Gordon 1992 já havia dito o mesmo a propósito das análises das violên cias familiares baseadas em estereótipos da violência masculina e da doçura feminina que negam a violência das mulheres principalmente em relação às crianças Conduzidas por historiadoras antropólogas e fi lósofas esses trabalhos Dauphin e Farge 1997 mostram que ao contrário da violên cia masculina a violência das mulheres não é jamais aprendida nem le gitimada socialmente Além disso qualifi camse como violentos com portamentos principalmente verbais que seriam considerados triviais nos homens No que diz respeito à participação ativa das mulheres nas rebeliões parisienses do século XVIII Arlette Farge pergunta em nome de que elas estariam ausentes quando a revolta cresce MarieElizabeth Handman ob serva que em duas aldeias gregas contemporâneas a violência é exercida por ambos os sexos em modalidades e proporções diferentes mas como es capar a ela enquanto for necessário fazer as meninas aceitarem o postulado da superioridade masculina e os meninos a necessidade de perpetuar a ilu são contra todas as evidências Assédio sexual Dominação Movimentos feministas Prostituição Sexualidade Bordeaux Michèle Hazo Bernard Lorvelles Soizic Qualifi é viol Paris Librairie des MéridiensKlincksieck 1990 232p Hanmer Jalna Violence et contrôle social Questions féministes nov 1977 n1 p6990 Louis MarieVictoire Le Nouveau Code pénal français Projets féministes out 1994 n3 p4069 Monnier Viviane Violences conjugales éléments statistiques Les cahiers de la sécurité intérieure 1997 n28 p6973 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 275 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 275 18102009 192539 18102009 192539 276 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER NahoumGrappe Véronique Guerre et différence des sexes les viols systéma tiques ex Yougoslavie 19911995 in Cécile Dauphin Arlette Farge Dir De la violence et des femmes Paris Albin Michel 1997 p15984 WelzerLang Daniel Les hommes violents Paris Indigo Côtéfemmes 1996 367p Traduzido por NAIRA PINHEIRO Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 276 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 276 18102009 192539 18102009 192539 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADORNO T W HORKHEIMER M La dialectique de la raison Paris Gal limard 1974 281p AFFICHARD J coord Pour une histoire de la statistique Paris INSEEEco nomica 1987 t2 969p AGUITTON C CORCUFF P Mouvements sociaux et politique entre an ciens modèles et enjeux nouveaux Mouvements n3 p818 1999 AKRICH M LABORIE F coords De la conception à lenfantement Cahiers du Genre n25 1999 204p Comment décrire les objets techniques Techniques et culture p49 63 janvjuin 1987 ALBERTS B et al Molecular Biology of the Cell New York Garland Pub 1989 1983 44p ANDERMAHR S LOVELL T WOLKOWITZ C A Concise Glossary of Feminist Theory LondonNew YorkSydneyAuckland Arnold 1997 287p ANDERSON B Imagined Communities Refl ections on the Origin and Spread of Nationalism London Verso 1991 224p ANTHIAS F YUVALDAVIS N HARRIET C Racialized Boundaries Race Nation Gender Colour 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Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 279 18102009 192540 18102009 192540 280 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER BOUVIER J Mes mémoires Une syndicaliste féministe 18761935 Paris La DécouverteMaspero 1983 285p BOYER R ed La fl exibilité du travail en Europe Paris La Découverte 1986 330p BRAIDOTTI R Des organes sans corps Les Cahiers du GRIF n36 p732 1987 Utopies des nonlieux postmodernes Les Cahiers du GRIF n30 1985 BRANDT A No Magic Bullet A Social History of Venereal Disease in the United States since 1880 New York Oxford University Press 1985 245p BRAVERMAN H Travail et capitalisme monopoliste La dégradation du travail au XXe siècle Paris Maspero 1976 360p BRENNER J Rethinking Womens Oppression New Left Review n144 p33 71 1984 BRITTAN A MAYNARD M Sexism Racism and Oppression Oxford Basil Blackwell 1984 236p BRUBAKER R Nationalism Reframed Nationhood and the National Question in the New Europe Cambridge Cambridge University Press 1996 202p BUIJS G 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français Paris Éd Ouvrières 1981 223p Féminisme et syndicalisme en France Paris Anthropos 1978 326p Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 308 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 308 18102009 192541 18102009 192541 A Adorno Theodor W 271 Affi chard Joëlle 32 Agacinski Sylviane 172 Akrich Madeleine 246 Alarcon Norma 292 Alberts Bruce 132 Alemany Carme 30 Anderson Benedict 132 Anthias Floya 94 Anzaldúa Gloria 126 Apfelbaum Erika 70 Appay Béatrice 53 198 222 Arendt Hannah 213 256 Ariès Philippe 133 Aristóteles 31 60 119 130 209 224 268 AttiasDonfut Claudine 266 Auslander Leora 219 Auzias Claire 236 B Bachofen Johann Jakob 112 174 Badinter Élisabeth 66 138 Bajos Nathalie 235 BarrèreMaurisson MarieAgnès 98 Barrett Michele 190 Barry Kathleen 203 Battagliola Françoise 98 BawinLegros Bernadette 101 Beauvoir Simone de 82 136 175 187 Bebel August 178 Becker Gary 259 Béjin André 234 Belotti Elena G 83 Berner Boel 244 Béroud Sophie 153 Bertaux Daniel 264 265 BertauxWiame Isabelle 264 265 Bijker Wiebe 244 Bisilliat Jeanne 58 Blayo Chantal 2 5 Bleier Ruth 41 Bloch Marc 112 Blondiaux Loïc 183 Bock Gisela 121 Bonnet Marie Jo128 Bordeaux Michèle 272 275 Boserup Esther 57 Boudon Raymond 33 BouillaguetBernard Patricia 90 Bourdieu Pierre 78 83 180 183 Bourricaud François 33 Boyer Robert 109 111 Braidotti Rosi 65 250 Brandt Allan 207 Braudel Fernand 112 Braverman Harry 242 Brenner Joanna 190 Bretin Hélène 220 Brittan Arthur 280 Brubaker Rogers 92 96 Brustein I 181 Burgess Ernest 140 Burstyn Varda 190 Butler Josephine 199 205 Butler Judith 127 128 213 Butler Marylin 271 C Cacouault Marlaine 164 336 Callon Michel 244 Canel Annie 243 Castel Robert 194 198 Cattanéo Nathalie 106 111 326 337 Causse Michèle 135 Cavarero Adriana 119 121 Césaire Aimé 77 ChabaudRychter Danielle 241246 256 261 326 341 ÍNDICE ONOMÁSTICO Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 309 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 309 18102009 192541 18102009 192541 310 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Chabot Jocelyne 238 Chadeau Ann 261 Champagne Patrick 183 Charest Danielle 228 Chazel François 150 Chenu Alain 34 Cixous Hélène 64 Claudine Baudoux 48 Cockburn Cynthia240 241 244 246 Colin Madeleine 237 Combes Danièle 98 100 Commaille Jacques 101 Concialdi Pierre 53 Condorcet 35 Corbin Alain 199 205 208 Corea Gena 251 Coriat Benjamin 109 Cottereau Alain 218 222 Coulanges Fustel de 174 178 Cova Anne 135 Cromer Sylvie 29 30 D Dadoy Mireille 161 162 Daly Mary 216 Dauphin Cécile 114 116 276 Dejours Christophe 105 Del Re Alisa 2225 38 39 190 327 Deleuze Gilles 64 65 Delphy Christine 32 34 122 137 173178 230 257 261 327 Demar Claire 95 187 Derrida Jacques 65 Descolonges Michèle 159 162 Desrosières Alain 32 34 Deutsch Helen 60 Devreux AnneMarie 75 96101 327 Dhavernas Marie Josèphe 250 Dhavernas Odile 100 Dietz Mary 37 Dolto Françoise 60 DoniolShaw Ghislaine 48 Drogus Carol 216 Dubar Claude 162 Dubesset Mathilde 238 Duby Georges 112 138 167 188 Dumontier Françoise 259 Dupin Éric 182 DurandDelvigne Annick 45 47 48 Duriez Bruno 32 34 Durkheim Émile 113 163 Duroux Françoise 184 188 DuruBellat Marie 32 81 84 Dutheil Catherine 33 E Eisenstein Zillah 176 Elbaum Mireille 167 Elshtain Jean 36 Ème Bernard 167 Engels Friedrich 225 ErbèsSeguin Sabine 86 EspingAndersen Gosta 189 190 F Fadermann Lilian 126 Falquet JulesFrance 122128 328 Fanon Franz 77 Farge Arlette 275 276 Farley Lin 27 Faucheux Hedda 3334 Fauré Christine 114 149 Febvre Lucien 112 Ferrand Michèle 243 Fichte Johann Gottlieb 60 Firestone Sulamith 248 Flipo Anne 261 Forest Louise 47 Forté Michele 47 48 Fortino Sabine 4448 162 328 341 Foucault Michel 77 80 112 188 235 FougeyrollasSchwebel Dominique 32 70 144149 256262 274 326 328 Fouquet Annie 261 Fouquet Catherine 133 138 Fraisse Geneviève 61 66 111 116 149 170 Freeman Jo 146 Freud Sigmund 60 61 233 Frigul Nathalie 220 G Gadrey Jean 109 111 Gadrey Nicole 109 111 Gardey Delphine 162 241246 326 329 340 Gaspard Françoise 142 168 169 173 Gautier Arlette 191 193 Gauvin Annie 51 Gavarini Laurence 250 Gélis Jacques 133 Gilbert Scott 130 Gilligan Carol 212 Godelier Maurice 71 78 79 102 Goethe 265 Gordon Linda 190 193 275 Gotman Anne 263 Gouges Olympe de 35 269 271 Granoff Wladimir 186 188 Green Sarah 124 Grisendi Adele 29 GuihoBailly Marie Pierre 221 Guilbert Madeleine 68 238 241 Guillaumin Colette 66 73 77 80 83 93 96 102 106 125 226 230 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 310 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 310 18102009 192541 18102009 192541 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 311 H Habermas Jurgen 255 Haicault Monique 259 262 Hall Stuart 94 Handman MarieEliza beth 275 Hanmer Jalna 272 275 Haraway Donna 41 42 44 Harden Helen Chenut 242 Harding Sandra 41 42 44 Hartmann Heidi 176 178 Heidegger Martin 65 Heinen Jacqueline 22 25 38 39 100 153 188193 329 341 Héran François 33 Héritier Françoise 61 224 231 HesseBiber Sharlene J 181 183 Hetzel AnneMarie 239 Hirata Helena 9 11 32 53 69 105 106111 167 242 251256 330 331 333 337 338 341 Hobbes Thomas 60 Horkheimer Max 267 271 Horney Karen 60 HoudebineGravaud AnneMarie 229 Houel Annick 236 274 Hourriez JeanMichel 261 Hrdy Sarah Blaffer 223 Huet Maryse 87 180 183 Hume David 210 Hunt Lynn 205 Hurtado Aida 79 80 Hurtig MarieClaude 227 230 231 I Imbert Françoise 153 243 Irigaray Luce 61 63 64 66 119 122 172 212 IsambertJamati Viviane 68 J Jacoby Eleanor E 83 Jahoda Marie 50 53 Jardine Alice 64 66 Jaspard Maryse 32 235 274 Jenson Jane 38 109 111 190 193 256 Jetin Bruno 108 Johnson Virginia 234 JoinLambert Marie Thérèse 110 Jones Kathleen 212 213 Jonston Jill 125 Jordanova Ludmilla 41 43 44 Joubert Michel 195 198 Juteau Danielle 9096 330 K Kandel Liliane 81 Kant Emmanuel 186 210 Kaplan Caren 95 Katzenstein Mary Fainsod 147 Kaufmann JeanClaude 260 Kautsky Karl 92 Keller Evelyn Fox 41 44 129132 329 Kergoat Danièle 32 45 48 53 6775 106 109 111 149 153 162 254 330 341 Kergoat Prisca 159167 331 Kinsey Alfred 235 Klein Mélanie 60 Knibielher Yvonne 64 133 136 138 Knijn Trudie 190 193 Kofman Sarah 64 Kollontaï Alexandra 185 Kristeva Julia 61 64 136 L Laborie Françoise 9 25 133138 274 331 341 Labrousse Ernest 112 Lacan Jacques 61 64 Lagrange Hugues 235 333 Lagrave RoseMarie 166 167 Lallement Michel 86 Lamoureux Diane 208 213 332 339 Langevin Annette 53 69 98 Laot Jeannette 240 LapChew Lin 207 Laqueur Thomas 130 132 231 Latouche Serge 154 Latour Bruno 244 Laville JeanLouis 166 167 Law John 244 Lazarsfeld Pierre 50 53 Le Dœuff Michele 43 47 111 Le Feuvre Nicky 164 Le Gall Anne 168 173 Le Play Frédéric 112 Lefaucheur Nadine 99 136 138 190 196 Leibniz Gottfried Wil hem 119 Leira Arnlaug 191 Lemel Yannick 33 262 Lemoine Christine 126 Lert France 196 LéviStrauss Claude 67 225 Lewis Jane 191 Lhomond Brigitte 122 228 231235 333 Lim Lin Lean 208 Linhart Danièle 194 198 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 311 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 311 18102009 192541 18102009 192541 312 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Liszek Slava 237 240 Locke John 117 Loiseau Dominique 33 241 Longino Helen 41 44 Lorde Audre 122 128 Louis MarieVictoire 30 201 203 239 273 275 Löwy Ilana 4044 333 Lunt Paul 91 Lyotard JeanFrançois 64 M MacKinnon Catharine 26 30 190 MacPherson Crawford Brough 31 Mansson Sven Axel 201 Marini Marcelle 186 188 Marry Catherine 164 243 Marshall Thomas Hum phrey 38 189 Martin Emily 130 132 Martin Jacqueline 100 Maruani Margaret 48 50 51 53 8590 108 109 111 152 162 194 198 241 330 334 337 Marx Karl 34 150 251 256 Masters William 234 Mathieu NicoleClaude 62 67 73 75 77 78 79 80 102 104 106 122 138 222230 235 334 MatuchniakKrasuska Anna 22 25 Maynard Mary 94 McAdam Doug 153 McIntosh Mary 190 McKenzie Roderick 140 Mead Margaret 225 Memmi Albert 77 Messing Karen 109 111 218 Meulders Danièle 108 109 111 MeuldersKlein Marie Thérèse 99 Meynaud HélèneYvonne 48 179183 334 Michard Claire 229 Michel Andrée 68 97 Michelet Jules 112 184 Michon François 85 90 109 Milkman Ruth 68 Mill John Stuart 60 Moallem Minoo 95 Mogrovejo Norma 125 126 Mohanty Chandra 177 178 Molinier Pascale 101106 Monnier Viviane 274 275 Montesquieu 35 Moraga Cherrie 126 Morgan David 112 117 Morokvasic Mirjana 141 143 Mosconi Nicole 45 48 84 MossuzLavau Janine 173 234 337 Mouffe Chantal 37 38 Mouriaux René 153 Mueller Carol McClurg 147 Muxel Anne 263 266 NahoumGrappe Véroni que 273 276 N Neveu Érik 150 153 Newman Karen 23 Neyret Guy 33 34 Noiriel Gérard 140 143 Novaes Simone 251 O Oakley Ann 227 Oberschall Anthony 150 Oldenziel Ruth 244 Olson Mancur 150 Ormrod Susan 245 246 Otto Bauer 92 Oudshoorn Nelly 245 Outin JeanLuc 87 90 P Park Robert 140 Parsons Talcott 97 Passeron JeanClaude 264 Pateman Carole 36 37 118 121 122 210 213 Paugam Serge 195 198 Pelletier Madeleine 82 Percheron Annick 264 265 266 Perrot Michelle 111116 138 162 167 172 188 243 335 Peyre Évelyne 67 224 Pharr Suzanne 125 Pheterson Gail 203208 335 Phillips Anne 37 38 39 Pichevin MarieFrance 227 231 Picot Geneviève 159 162 336 Picq Françoise 69 147 149 152 153 Pietro Aretino 204 Pinch Trevor 244 Piore Michael 107 Pitch Tamar 25 Pitrou Agnès 263 264 266 Platon 326 Pollak Michaël 325 Pollert Anna 106 Pomata Gianna 114 Ponthieux Sophie 53 Poutignat Philippe 91 Prévost Johanne 109 111 Proudhon Pierre Joseph 185 210 Q Quiminal Catherine 138143 336 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 312 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 312 18102009 192541 18102009 192541 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 313 R Rack Claude 51 Raymond Janice 202 203 Reich Wilhelm 233 Renard Ingrid 126 Reynaud Emmanuèle 90 Rich Adrienne 63 124 128 Ricœur Paul 112 187 RiotSarcey Michèle 114 183188 336 Rogerat Chantal 4853 89 90 236241 337 Rosado Nunes Maria José F 213217 337 Rosanvallon Pierre 190 Rousseau JeanJacques 36 60 117 134 186 210 268 271 Roussel Louis 264 Roux Simone 163 Rubenstein Michael 27 30 Rubin Gayle 127 227 231 Ruddick Sara 212 Russo Ann 177 178 S Sabel Charles 107 Sagaert Martine 134 Sainsbury Diane 190 193 Salais Robert 49 SaurelCubizolles Marie Josèphe 218 333 Sayad Abdelmalek 139 Scavone Lucila 221 222 341 Schiltz MarieAnge 235 Schnapper Dominique 92 Schüssler Fiorenza Elisa beth 216 217MM Schumpeter Joseph 34 Scott Joan W 37 39 66 73 75 116 213 Segrestin Denis 85 90 ServanSchreiber Claude 168 173 Séverac Nadège 274 Siim Birte 38 191 Silvera Rachel 109 111 Simon Gildas 143 235 Sineau Mariette 190 193 Singer Jeanne 141 Singly François de 99 100 266 Sissa Giulia 60 Sohn AnneMarie 114 116 135 237 Sollors Werner 91 96 Sonthonnax Françoise 256 258 261 Spallone Pat 248 251 Spinoza Baruch 60 183 184 Spira Alfred 235 Spivak Gayatri Chakra vorty 158 Stanko Elisabeth 27 Star Susan Leigh 43 245 Stein Lorenz von 150 Steinberg Deborah Lynn 248 251 Stoetzel Jean 179 Stoller Robert J 227 StreiffFenart Jocelyne 91 T Tabet Paola 67 75 77 136 138 203 208 223 231 232 235 243 246 Taboada Isabelle 141 Talahite Fatiha 154158 Tamagne Florence 122 Tarrow Sidney 153 Taylor Verta 151 153 Terrail JeanPierre 262 266 338 Testart Jacques 249 250 251 Thadani Giti 122 Thébaud Françoise 116 149 ThébaudMony Annie 53 90 108 193198 217222 326 338339 Thélot Claude 263 Théry Irène 99 Thévenot Laurent 32 Thomas William Isaac 140 Threlfall Monica 148 149 Tilly Charles 150 153 Timmerman Grejte 29 30 Topalov Christian 49 53 Torns Teresa52 53 Torres Lourdes 177 178 Touraine Alain 150 151 Trat Josette 149154 339 341 Tripier Pierre 162 Tristan Flora 34 269 271 Triton Suzette 126 Tuana Nancy 130 132 Turcotte Louise 125 Turkle Sherry 244 U Ungerson Clare 190 193 V Vacarie Isabelle 194 Valabrègue Catherine 136 Valéry Paul 187 Vallet LouisAndré 264 Vance S Carol 127 234 235 Vandelac Louise 250 256 262 Varikas Eleni 95 96 116122 172 266271 339 Verret Michel 32 Viennot Éliane 169 Vilaine AnneMarie de 136 Vogel Laurent 194 219 222 Volkoff Serge 109 W Wajcman Judy 244 246 Walby Sylvia 109 111 177 178 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 313 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 313 18102009 192541 18102009 192541 314 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Walkowitz Judith 205 208 Walters Patricia 164 Warner Lloyd 91 Weber Max 31 76 163 215 Weinstein Naomi 77 WelzerLang Daniel 101106 201 272 274 276 339 Wheeler Anna 187 Wiels Joëlle 67 224 Wieringa Saskia 126 Wijers Marjan 207 Williams Fiona 192 193 Wilson Élisabeth 190 Wittier Nancy 151 153 Wittig Monique 124 128 226 229 234 235 Wollstonecraft Mary 35 37 118 185 269 271 Woolf Virginia 225 Y Young Iris 37 38 212 213 YuvalDavis Nira 94 96 Z Zachmann Karin 243 Zaidman Claude 44 45 46 48 8084 163 164 340 341 ZancariniFournel Mi chelle 190 219 Zemon Davis Natalie 214 Znaniecki Florian 140 ZylberbergHocquard MarieHélène 236241 340 341 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 314 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 314 18102009 192541 18102009 192541 Os termos seguidos de remetem às rubricas do dicionário Aborto e contracepção ver também Maternidade Movimentos feministas Políticas sociais e familiares Públicoprivado Sexualidade Tecnologias da reprodução hu mana 10 11 14 15 16 2125 30 39 58 60 64 66 74 75 77 95 96 101 103 113 114 116 118 121 127 128 133138 144149 152 172 178 181 188 191 192 193 198 200 202 203 208213 219 224 225 227 228 230 231235 246 251 256 261 271 275 Androcentrismo ver Cidadania Diferença sexual Etnicidade e nação Feminilidade masculinidade virilidade Religiões Sexo e gênero 10 14 15 16 3539 43 56 59 65 66 70 74 79 84 9096 101106 115 116 119 121 128 129 130 132 136 143 152 158 171 172 178 185 188 190 196 200 210 212 213 213217 216 218 219 222231 235 236 240 246 255 267 268 271 273 275 Assédio sexual ver também Movimentos feministas Sexualidade Violências 10 14 15 16 21 22 2530 58 75 77 79 96 101 102 103 105 116 121 127 128 133 138 144149 172 175 178 188 193 198 200 201 202 203 206 208 213 217 224 225 227 228 230 231235 271276 Autonomia ver Aborto e contracepção Maternidade movimentos feministas Poderes 10 11 14 15 16 2125 30 34 36 58 60 64 66 74 75 79 83 95 96 113 114 116 118 121 128 133138 143 144149 152 160 172 175 178 183188 191 193 200 205 208 212 213 217 219 225 228 234 235 241 248 249 250 251 255 Bico ver Ofício profi ssão emprego 15 29 32 33 34 47 49 50 51 52 53 55 70 74 84 8590 99 100 104 106 107 108 109 110 139 141 151 155 157 159167 177 188 192 193 194 198 199 204 211 219 220 237 241 246 256 258 259 261 266 Binário pensamento ver Diferença sexual 7 11 14 35 37 43 54 59 62 64 65 66 68 79 105 114 115 119 122 124 129 130 131 152 172 186 197 203 208 212 224 226 229 230 238 255 257 268 269 Biologia ver Feminilidade masculinidade virilidade Linguagem científi ca Ciências e gênero Sexo e gênero Sexualidade Tecnologias da reprodução humana 10 15 16 4044 65 66 74 79 84 93 95 96 101106 115 116 128 129132 137 172 178 218 219 222231 235 246251 268 271 273 275 ÍNDICE REMISSIVO Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 315 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 315 18102009 192541 18102009 192541 316 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Capitalismo ver Categorias socioprofi ssionais Desemprego Desenvolvimento Divi são sexual do trabalho e relações sociais de sexo Mundialização Patriarcado 7 10 14 16 21 22 3034 40 41 42 43 45 46 4853 5358 61 65 66 6775 77 85 87 89 90 92 97 101 104 105 106 107 108 110 115 124 128 130 131 132 136 141 143 148 151 152 153 154158 161 166 167 173178 182 183 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 207 208 221 222 230 233 237 239 241 244 246 247 248 253 254 256 257 258 261 263 265 266 Carga mental ver Trabalho doméstico 10 14 16 49 57 58 69 70 74 75 87 89 99 101 109 110 134 165 192 193 253 254 256262 266 Categorias socioprofi ssionais ver também Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Ofício profi ssão bico32 Poderes Precarização social Sindicatos 10 14 15 16 29 3034 47 48 53 58 66 6775 79 84 90 104 110 153 158 159167 172 178 182 183188 193198 199 204 208 217 220 222 230 236241 242 243 246 256 258 259 261 266 Categorização de sexo ver Diferença sexual Divisão sexual do trabalho e relações so ciais de sexo Sexo e gênero Pesquisas 10 16 24 28 29 37 40 43 44 45 47 48 51 59 64 66 6775 79 84 90 92 93 94 96 102 105 107 108 109 110 116 119 126 128 129 130 131 132 141 142 143 152 153 158 164 167 172 178 179183 189 193 195 201 208 212 214 216 217 220 222231 235 241 242 243 245 246 254 256 257 258 259 261 266 Cidadania ver também Igualdade Paridade Políticas sociais e familiares Públicopriva do Universalismo e particularismo 10 14 15 25 3539 43 48 56 58 66 70 79 84 86 89 95 101 114 116122 136 138 148 157 167173 181 183 185 188 189 190 191 192 196 203 208213 229 236 239 240 241 255 256 261 266271 Classe ver Categorias socioprofi ssionais Etnicidade e nação História Movimentos so ciais Patriarcado Trabalho doméstico 7 10 14 16 17 3034 37 40 41 43 44 45 46 49 54 57 58 59 61 62 63 67 68 69 70 74 75 77 79 81 84 86 87 89 9096 97 98 101 109 110 111116 122 123 124 125 126 128 130 131 132 133 134 136 139 140 143 148 149154 156 158 160 165 167 170 173178 179 182 183 190 192 193 203 208 213 218 220 225 230 239 240 241 242 243 244 249 253 254 256262 265 266 Coexistência entre os sexos ver também Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Educação e socialização Igualdade Paridade Sindicatos 10 14 16 29 31 34 36 37 38 39 46 48 66 6775 79 8084 89 90 101 110 116122 136 138 143 148 153 157 158 167173 183 188 198 203 208 212 213 222 229 230 236241 246 261 266271 Competências ver Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Emprego Fe minilidade masculinidade virilidade Ofício profi ssão emprego Técnicas e gêne ro 10 15 16 29 32 33 34 43 45 47 48 49 50 51 52 53 55 65 66 6775 82 84 8590 99 100 101106 107 108 109 110 115 132 139 141 151 153 155 157 158 159167 177 188 192 193 194 196 198 199 204 208 211 218 219 220 222 230 235 237 241246 256 258 259 261 266 271 273 275 Complementaridade ver Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo 16 48 62 66 6775 72 82 90 110 123 153 158 167 208 222 224 225 230 240 241 246 256 261 266 32 Traduzido do francês job que signifi ca trabalhos precários sem estabilidade sem direitos temporários e corresponde em português a bico Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 316 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 316 18102009 192541 18102009 192541 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 317 Conciliação de papéis ver Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Educa ção e socialização Flexibilidade Maternidade Precarização social Trabalho do méstico 10 11 14 16 24 25 34 48 49 53 57 58 60 64 66 6775 8084 87 89 90 95 99 101 106111 113 114 115 118 121 130 131 132 133138 141 143 145 152 155 158 165 166 167 172 189 190 191 192 193198 207 208 219 220 221 222 230 233 234 237 241 244 246 247 248 249 250 253 254 256262 263 266 Condição feminina ver Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Sexo e gênero 10 16 48 66 6775 79 84 90 93 96 105 110 116 128 129 132 153 158 167 172 173 178 208 222231 241 246 256 261 266 Conhecimento situado ver Ciências e gênero Técnicas e gênero 4044 105 132 167 241246 256 261 Corpo ver Aborto e contracepção Assédio sexual Feminilidade masculinidade viri lidade Lesbianismo Maternidade Saúde no trabalho Sexo e gênero Sexualidade Tecnologias da reprodução humana Violências 10 11 14 15 16 2125 2530 43 58 60 63 64 65 66 73 74 77 78 79 83 84 93 95 96 101106 110 113 114 115 116 118 122128 129 132 133138 143 145 147 148 152 160 169 172 178 186 191 195 196 198 199 200 201 202 203 206 208 217222 222 231 231235 246251 268 269 271276 Democracia ver Cidadania Igualdade Movimentos feministas Paridade Poderes Públicoprivado Universalismo e particularismo 10 14 15 21 24 30 34 3539 43 48 56 58 60 63 66 70 75 79 84 86 89 95 96 114 115 116122 128 133 136 138 144149 157 167173 178 183188 190 193 196 200 203 208213 217 225 228 229 235 236 239 240 241 255 256 261 266271 Desemprego ver também Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Empre go Flexibilidade Políticas sociais e familiares Precarização social 10 14 16 25 34 39 45 4853 55 58 66 6775 8590 99 100 101 104 106111 139 141 151 153 155 157 158 161 165 166 167 177 181 188 189 191 192 193198 208 211 213 219 220 222 230 237 239 241 246 254 256 261 265 266 Desenvolvimento ver também Mundialização Políticas sociais e familiares Poderes Precarização social Trabalho doméstico Violências 7 10 14 15 16 21 22 25 27 30 34 39 40 41 42 43 45 46 49 52 5358 61 65 69 70 74 75 77 79 87 89 90 92 96 99 101 102 104 105 106 107 108 109 110 115 130 131 132 134 136 141 143 148 152 154158 165 166 167 172 178 181 183188 189 190 191 192 193198 201 203 206 207 208 213 217 220 221 222 232 233 235 237 244 246 247 248 249 253 254 256262 263 266 271276 Desigualdades ver Desenvolvimento Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Educação e socialização Igualdade Emprego Etnicidade e nação Convivên cia entre os sexos Pesquisas de opinião Universalismo e particularismo 7 10 14 16 21 22 36 37 38 39 40 41 42 43 45 46 48 49 50 51 52 5358 61 65 66 6775 77 79 8084 8590 9096 99 100 101 104 105 106 107 108 109 110 115 116122 130 131 132 136 139 141 143 147 148 151 152 153 155 157 158 161 165 166 167 172 177 179183 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 207 208 211 213 219 220 221 222 226 230 233 237 241 244 246 247 248 249 254 256 258 260 261 263 266271 275 Diferença sexual ver também Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Dominação Igualdade Lesbianismo Maternidade Sexo e gênero Universalismo e particularismo 10 11 14 16 24 25 28 32 36 37 38 39 43 46 48 59 60 61 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 317 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 317 18102009 192541 18102009 192541 318 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER 62 63 64 66 6775 7680 83 84 90 93 95 96 101 102 103 105 110 113 114 116 122128 129 130 132 133138 142 143 145 146 148 152 153 156 157 158 167 171 172 173 175 177 178 182 188 191 195 200 201 208 211 212 213 216 217 219 222231 233 234 241 243 244 246 248 249 250 254 256 261 265 266271 275 Diferencialismo ver Diferença sexual 37 43 59 63 66 119 130 152 212 226 230 Direito ver Maternidade Precarização social Saúde no trabalho Sindicatos Violên cias 10 11 14 15 16 21 22 23 24 25 27 29 30 31 34 35 36 38 48 53 58 60 61 64 65 66 74 75 79 90 95 96 99 100 101 102 105 110 113 114 116 118 121 133138 142 143 145 146 147 148 152 153 158 163 172 174 183 184 185 186 191 193198 200 201 202 203 206 208 211 212 217222 232 234 235 236241 248 249 250 251 256 266 270 271276 Direitos ver Categorias socioprofi ssionais Cidadania Diferença sexual Igualdade Maternidade Movimentos feministas Movimentos sociais Poderes Público privado Sindicatos Universalismo e particularismo Violências 7 10 11 14 15 16 21 24 25 26 27 29 3034 3539 43 45 46 48 56 58 59 60 62 64 66 70 74 75 76 79 84 95 96 100 101 102 105 106 110 113 114 115 116122 123 128 130 133138 143 144149 149154 157 160 162 164 167 171 172 175 178 182 183188 190 191 193 194 196 198 199 200 201 203 206 207 208213 217 219 225 226 227 228 230 232 234 235 236241 248 249 250 255 256 261 266271 271276 Discriminação ver Educação e socialização Igualdade Assédio sexual Lesbianismo Migrações Coexistência entre os sexos Políticas sociais e familiares Sexo e gênero Universalismo e particularismo 10 14 16 2530 36 37 38 39 43 46 47 48 58 66 70 75 79 8084 86 93 96 101 102 105 116122 122128 129 132 138143 147 148 155 157 158 167173 172 178 181 183 188 189 191 192 194 207 208 213 219 222231 233 235 239 240 241 250 261 266271 275 Disponibilidade permanente ver Família Trabalho doméstico 10 14 16 21 49 57 58 67 69 70 72 73 74 75 80 81 82 84 87 89 94 95 96101 109 110 112 113 116 117 134 135 138 141 142 143 145 165 173 174 175 177 178 186 189 190 192 193 209 210 211 213 220 230 233 238 250 251 253 254 256 262 264 266 268 269 Divisão internacional do trabalho ver Desenvolvimento Flexibilidade Mundialização Precarização social Saúde no trabalho 7 10 14 16 21 22 34 40 41 42 43 45 46 52 5358 61 65 74 75 77 90 92 104 105 106111 115 130 131 132 136 141 143 152 154158 166 167 189 190 191 193198 207 217222 233 237 244 246 247 248 249 254 256 258 261 263 Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo ver também Desemprego Edu cação e socialização Emprego Família Coexistência entre os sexos Movimentos feministas Precarização social Trabalho doméstico 10 14 15 16 21 30 34 45 46 4853 55 57 58 66 6775 8084 8590 94 95 96101 104 106 107 108 109 110 112 113 116 117 121 128 133 134 135 138 139 141 142 143 144 149 151 153 155 157 158 161 165 166 167 171 172 173 174 175 177 178 186 188 189 190 192 193198 200 208 209 210 211 213 219 220 222 225 228 230 233 235 237 238 239 240 241 246 250 251 253 254 256262 264 265 266 268 269 Dominação ver também Diferença sexual Educação e socialização Igualdade Femi nilidade masculinidade virilidade Poderes Sexo e gênero Violências 10 14 15 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 318 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 318 18102009 192541 18102009 192541 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 319 16 27 28 30 32 34 36 37 38 39 43 46 48 58 59 60 61 62 63 65 66 71 73 74 75 7680 8084 93 95 96 101106 114 115 116122 128 129 130 132 136 142 143 146 148 152 156 157 171 172 173 175 177 178 182 183188 195 200 201 203 2065 208 211 212 213 216 217 218 219 222231 232 234 235 241 243 244 246 250 254 261 265 266 269 271276 Economia informal ver Desenvolvimento Migrações Mundialização Precarização so cial 7 14 16 21 22 34 40 41 42 43 45 46 52 5358 61 65 74 75 77 90 92 104 105 106 107 108 110 115 130 131 132 136 138143 152 154158 166 167 189 190 191 193198 207 208 220 221 222 233 237 244 246 247 248 249 254 256 258 261 263 Educação e socialização ver também Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Dominação Igualdade Família Ofício profi ssão Bico Coexistência entre os sexos Sexo e gênero Transmissões intergeracionais 10 15 16 21 28 29 32 33 34 36 37 38 39 46 47 48 49 57 58 60 61 62 63 66 6775 7680 8084 90 93 94 96101 102 103 104 105 110 112 113 114 116122 128 129 132 135 136 138 141 142 143 145 146 148 152 153 156 157 158 159167 171 172 173 174 175 177 178 182 188 189 190 193 195 198 199 200 201 204 208 209 210 211 213 216 217 219 220 222231 233 234 238 239 240 241 242 243 244 246 250 251 253 254 256 257 258 259 260 261 262266 268 269 271 275 Emancipação ver Igualdade Etnicidade e nação Migrações Movimentos feministas Universalismo e particularismo 7 10 14 15 21 30 36 37 38 39 43 48 66 75 76 79 82 84 9096 115 116122 128 133 138143 144149 155 158 172 178 188 193 200 207 208 213 225 228 235 241 255 266271 Emigração ver Migrações 14 115 138143 155 158 207 208 Emprego ver Ofício profi ssão emprego 15 29 32 33 34 45 47 49 50 51 52 53 55 70 74 84 8590 99 100 104 106 107 108 109 110 139 141 151 155 157 159167 177 188 192 193 194 196 198 199 204 211 219 220 237 241 242 243 246 256 258 259 261 266 Emprego ver também Desemprego Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Flexibilidade Ofício profi ssão bico Coexistência entre os sexos Políticas so ciais e familiares Precarização social Técnicas e gênero Trabalho doméstico Tra balho o conceito de 10 14 15 16 25 29 32 34 39 43 46 47 4853 55 57 58 69 70 74 75 84 8590 99 100 101 104 105 106111 121 132 134 139 141 151 155 157 158 159167 171 172 177 181 188 189 191 192 193198 199 204 211 213 219 220 222 237 239 240 241246 253 254 256262 265 266 Epistemologia ver Diferença sexual Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Dominação Linguagem científi ca Patriarcado Ciências e gênero Sexo e gê nero Técnicas e gênero 10 14 16 28 32 37 4044 46 48 59 60 61 62 63 66 6775 7680 82 83 84 90 92 93 96 97 101 102 103 105 110 112 114 116 117 119 121 124 128 129132 136 142 143 146 148 152 153 156 157 158 167 171 172 173183 188 190 195 200 201 208 211 212 216 217 219 222 231 241246 256 261 266 268 271 Equidade ver Igualdade Transmissões intergeracionais 36 37 38 39 48 66 79 84 116122 143 148 172 188 213 241 262266 271 Essencialismo ver Diferença sexual Etnicidade e nação Maternidade Paridade Sexo e gênero 10 11 14 16 24 25 37 39 43 48 59 60 64 66 70 74 79 84 86 89 90 96 105 113 114 116 118 119 128 129 130 132 133138 143 145 148 152 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 319 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 319 18102009 192541 18102009 192541 320 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER 157 158 167173 178 183 191 203 212 219 222231 234 239 248 249 250 Estado ver Cidadania Desenvolvimento Etnicidade e nação Maternidade Mundiali zação Políticas sociais e familiares Públicoprivado 10 11 14 15 16 21 24 25 31 3539 54 56 60 64 66 70 73 74 9096 99 100 108 113 114 118 121 133138 143 145 152 154 155 156 158 162 163 171 172 175 180 184 185 188 189 190 191 192 196 205 206 207 208 210 211 212 213 216 219 234 236 240 248 249 250 255 266 267 268 271 273 Estupro ver Violências 10 14 15 16 27 30 58 60 79 96 100 101 102 105 143 147 148 201 203 206 208 223 230 232 234 271276 Etnicidade e nação ver também Diferença sexual Dominação Família Maternidade Movimentos feministas Religiões Sexo e gênero Violências 10 11 14 15 16 21 24 25 27 28 30 32 37 43 46 49 57 58 59 60 61 62 63 64 66 67 69 71 72 7374 75 7680 81 82 84 90101 102 103 105 112 113 114 116 117 118 119 121 128 129 130 132 133138 141 142 143 144149 152 156 157 158 171 172 173 174 175 177 178 182 186 188 189 190 191 193 195 200 201 203 206 208 209 210 211 212 213217 219 220 222231 232 233 234 235 238 243 244 248 249 250 251 253 254 267 258 259 260 261 264 265 266 268 269 271276 Exclusão ver Desemprego Desenvolvimento Igualdade História Coexistência entre os sexos Poderes Precarização social Religiões Ciências e gênero 7 10 14 15 16 17 21 22 31 32 34 3539 4044 45 46 4853 5358 60 61 62 65 66 67 68 70 74 75 77 79 81 84 86 90 91 92 95 96 104 105 106 107 108 110 111116 116121 122 126 130 131 132 133 134 136 137 139 140 141 143 148 150 152 155 156 158 160 166 167 168 169 170 171 172 173 178 179 183188 189 190 191 193198 202 203 207 208 210 212 213217 218 220 221 222 225 233 236 237 239 240 241 242 243 244 246 247 248 249 253 254 255 256 257 258 261 263 265 267 268 269 271 Exploração ver Categorias socioprofi ssionais Desenvolvimento Etnicidade e nação Patriarcado Trabalho doméstico 7 10 14 16 21 22 3034 40 41 42 43 45 46 49 52 5358 61 65 69 70 74 75 77 87 89 9096 97 99 101 104 105 106 107 108 109 110 115 124 127 128 130 131 132 134 136 140 141 143 148 151 152 155 156 158 165 166 167 173183 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 201 202 206 207 221 222 225 233 237 244 246 247 248 249 250 253 254 256262 263 266 Família ver também Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Educação e socialização Maternidade Patriarcado Políticas sociais e familiares Tecnologias da reprodução humana Trabalho doméstico Violências 10 11 14 15 16 21 24 25 27 30 39 48 49 57 58 60 64 66 6775 79 8084 87 89 94 95 96101 102 105 109 110 112 113 114 116 117 118 121 124 128 133138 141 142 143 145 148 152 153 158 165 167 172 173183 178 181 186 189 190 191 192 193 201 203 206 208 209 210 211 213 219 220 222 230 232 233 234 238 241 246251 253 254 256262 264 266 268 269 271276 Fecundidade ver Aborto e contracepção Maternidade Sexualidade Tecnologias da reprodução humana 10 11 14 15 16 2125 30 60 64 66 74 77 95 101 103 113 114 118 127 128 133138 145 148 152 172 191 198 200 202 203 208 217 219 224 227 228 230 231235 246251 271 275 Feminilidade masculinidade virilidade ver também Diferença sexual Dominação Sexo e gênero Técnicas e gênero Violências 10 14 15 16 27 28 30 32 37 43 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 320 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 320 18102009 192541 18102009 192541 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 321 46 58 59 60 61 62 63 65 66 71 73 74 7680 82 83 84 93 95 96 101106 114 115 116 117 119 121 128 129 130 132 136 142 143 146 148 152 156 157 167 171 172 173 175 177 178 182 188 195 200 201 203 206 208 211 212 216 217 218 219 222231 232 234 235 241246 250 254 256 261 265 269 271276 Feminismo francês ver Diferença sexual 9 10 11 37 43 59 63 64 119 130 152 212 226 230 Feminismo ver Movimentos feministas 7 9 10 11 15 21 30 36 61 62 63 64 65 75 83 86 93 96 116 121 123 124 128 133 134 138 144149 157 172 173 175 176 178 182 188 193 200 208 211 213 225 228 234 235 Feministas teorias ver Diferença sexual Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Patriarcado 9 10 14 16 37 43 48 59 61 62 66 6775 90 97 101 110 119 124 128 130 148 152 153 158 167 173183 190 208 212 222 226 230 241 246 256 257 261 266 Feminização ver Desemprego Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Educação e socialização Flexibilidade Ofício profi ssão bico Coexistência entre os sexos Sexo e gênero Sindicatos 10 14 15 16 29 31 32 33 34 46 47 4853 66 6775 79 8084 85 87 89 90 93 96 99 101 104 105 106111 116 120 121 128 129 132 143 151 153 157 158 159167 170 171 172 178 192 193 194 195 198 199 204 208 222231 236241 242 243 246 254 256 258 259 261 265 266 Filiação ver Maternidade Tecnologias da reprodução humana Transmissões interge racionais 10 11 16 24 25 60 64 66 74 84 95 113 114 118 133138 143 145 152 172 191 219 234 248 249 250 137 246251 262266 Flexibilidade ver também Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Em prego Mundialização Precarização social Saúde no trabalho Trabalho doméstico 10 14 16 34 48 49 50 51 52 53 55 56 57 58 66 6775 8590 99 100 101 106111 134 139 141 151 153 154158 161 165 166 167 177 188 192 193 198 208 211 217222 230 237 241 246 253 254 256262 266 Gênero ver Sexo e gênero 7 9 10 11 14 15 16 26 40 44 56 57 58 59 65 66 68 77 78 79 81 83 84 86 91 93 96 102 103 105 111 114 116 118 127 128 129 130 131 132 139 143 152 155 166 172 177 178 186 189 190 204 207 222231 237 240 242 243 244 245 Gerações ver Educação e socialização Maternidade Ofício profi ssão emprego Trans missões intergeracionais 10 11 15 16 24 25 26 29 32 33 34 45 47 48 49 50 51 52 53 55 60 64 66 70 74 75 79 8084 8590 95 99 100 101 104 106 107 108 109 110 113 114 118 121 133138 139 141 143 145 151 152 155 157 159167 172 174 177 188 191 192 193 194 196 198 204 211 219 220 230 234 237 241 242 243 246 248 249 250 256 258 259 261 262266 Guerra ver Desenvolvimento Etnicidade e nação Sondagens Violências 7 10 14 15 16 21 22 27 30 40 41 42 43 45 46 50 52 5358 61 65 74 77 79 9096 101 102 104 105 106 107 108 110 115 130 131 132 134 136 141 143 148 152 154 155 158 166 167 170 179 180 181 182 183 189 190 191 194 195 196 197 201 203 206 207 208 209 221 222 232 233 235 237 244 246 247 248 249 254 258 261 263 271276 Heterossexualidade ver Feminilidade masculinidade virilidade Lesbianismo Sexo e gênero Sexualidade Violências 10 14 15 16 21 22 25 27 30 43 58 62 65 66 74 77 79 84 93 95 96 101106 115 116 122128 129 132 143 145 147 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 321 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 321 18102009 192541 18102009 192541 322 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER 148 172 178 198 200 201 202 203 206 208 217 218 219 222231 231235 246 271276 História sexuação da ver também Diferença sexual Família Movimentos feministas Públicoprivado Sexo e gênero 10 16 21 37 43 49 57 58 59 66 67 72 73 74 75 79 80 81 82 84 93 94 95 96 105 111 116 119 128 129 130 132 152 172 178 212 222231 Homem ver Diferença sexual Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Sexo e gênero 10 16 27 31 37 41 43 48 51 59 60 62 63 65 66 6775 79 84 90 93 96 97 105 110 116 119 128 129 130 132 140 144 152 153 158 159 167 172 174 178 183 184 185 208 209 210 211 212 222231 237 241 246 251 252 256 260 261 266 267 268 270 Homofobia ver Feminilidade masculinidade virilidade Lesbianismo 10 15 43 65 74 93 95 101106 115 122128 218 219 230 233 235 246 271 273 275 Homossexualidade ver Diferença sexual Lesbianismo Sexo e gênero Sexualidade 10 14 15 16 21 22 25 30 37 43 59 65 66 77 79 84 93 96 101 103 105 116 119 122 123 127 128 129 130 132 145 148 152 172 178 198 200 202 203 208 212 217 222231 231235 271 275 Identidade sexual ver Feminilidade masculinidade virilidade Lesbianismo Sexo e gênero Sexualidade 10 14 15 16 21 22 25 30 43 65 66 74 77 79 84 93 95 101106 115 116 112128 129 132 145 148 172 178 198 200 202 203 208 217 218 219 222231 231235 246 271 273 275 Identidade ver Diferença sexual Dominação Igualdade Etnicidade e nação Migra ções Movimentos feministas 10 14 15 16 21 28 30 32 33 36 37 38 39 42 43 44 45 46 48 59 60 61 62 63 66 71 73 75 7680 82 83 84 87 9096 101 102 103 104 105 114 113 115 116122 121 127 128 130 133 136 138143 144149 152 156 157 158 162 171 172 173 175 177 178 182 187 188 193 195 200 201 207 208 211 212 213 216 217 219 225 226 227 230 234 235 241 243 244 250 254 263 265 269 271 275 Igualdade ver também Cidadania Dominação Educação e socialização Coexistência entre os sexos Movimentos feministas Universalismo e particularismo 10 14 15 16 21 28 30 32 3539 43 46 48 56 60 61 62 63 66 70 71 73 75 7680 8084 95 96 101 102 103 105 116122 128 133 136 138 142 143 144149 152 156 157 171 172 173 175 177 178 182 185 188 190 193 195 196 200 201 208 210 211 212 213 216 217 219 225 228 230 234 235 236 239 240 241 243 244 250 254 255 261 265 266271 275 Imigração ver Migrações 14 74 94 115 138143 155 158 207 208 Indivíduo ver Cidadania Igualdade Movimentos feministas Poderes Universalis mo e particularismo 10 14 15 21 30 34 3539 43 48 56 58 60 66 70 75 79 84 95 96 116122 128 133 136 138 144149 160 163 171 172 175 178 181 183188 190 193 196 200 208 210 212 213 217 220 225 228 232 235 236 240 241 255 258 266271 Invisibilidade das mulheres ver Desenvolvimento História Migrações Mundiali zação Movimentos sociais Poderes Ciências e gênero Pesquisas de opinião33 Trabalho doméstico 7 10 14 16 17 21 22 31 32 34 40 41 42 43 45 46 52 5358 61 62 65 67 68 74 75 77 79 81 86 91 92 104 105 106 107 108 110 111116 123 128 130 131 132 134 136 137 138143 148 149154 154158 33 Pesquisas de opinião é o equivalente usual em português do termo sondage em francês Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 322 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 322 18102009 192541 18102009 192541 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 323 160 166 167 168 170 172 173 178 179 183188 190 191 194 195 196 197 203 207 208 217 218 220 221 222 225 230 233 237 239 240 241 242 243 244 246 247 248 249 250 253 254 256 258 261 263 265 266 Lesbofobia ver Lesbianismo 10 103 122128 233 Liberação das mulheres movimento de ver Movimentos feministas 15 21 30 75 96 113 116 121 124 128 133 135 138 144149 172 178 188 193 200 208 213 225 228 235 237 257 Liberalismo ver Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Mundialização Precarização social 10 14 16 34 48 53 56 58 66 6775 90 106 110 153 154 158 167 193198 208 220 222 230 241 246 256 261 266 Linguagem científi ca sexuação da ver também Ciências e gênero Sexo e gênero Téc nicas e gênero 10 16 4044 66 79 84 93 96 105 116 128 129132 167 172 178 222231 241246 256 261 268 271 Lutas sociais ver Movimentos feministas Movimentos sociais Sindicatos 7 10 14 15 21 29 30 31 34 45 46 48 75 96 110 115 116 121 123 128 133 138 144149 149154 172 175 178 188 193 198 200 208 213 225 228 230 235 236241 Machismo ver Patriarcado 110 14 97 78 101 124 128 148 152 173183 190 257 261 Masculinidade ver Feminilidade masculinidade virilidade 10 15 43 65 74 93 95 101106 115 218 219 230 235 246 271 273 275 Maternidade ver também Aborto e contracepção Diferença sexual Família Movi mentos feministas Tecnologias da reprodução humana 10 11 14 15 16 2125 30 37 43 49 57 58 59 60 64 66 67 69 72 74 75 94 95 96101 112 113 114 116 117 118 119 121 128 130 133138 141 142 143 144149 152 172 173 174 175 177 178 186 188 190 191 193 200 208 209 210 211 212 213 219 220 225 226 228 230 233 234 235 238 246251 253 254 257 258 259 260 261 264 266 268 269 Matriarcado ver Patriarcado 10 14 97 101 124 128 148 152 173183 190 257 261 Metodologia ver Categorias socioprofi ssionais História Pesquisas de opinião 14 17 31 32 29 3034 40 41 43 54 59 61 62 67 67 75 77 81 86 91 111116 122 126 130 131 132 133 134 136 137 139 140 148 150 156 160 167 168 170 173 179183 203 208 218 220 225 239 2240 241 242 243 244 253 256 265 Migrações ver também Desenvolvimento Dominação Educação e socialização Et nicidade e nação Família Transmissões intergeracionais Violências 7 10 14 15 16 21 22 27 28 30 32 40 41 42 43 45 46 48 49 52 5358 60 61 62 63 65 66 69 71 72 73 74 75 7680 81 82 83 84 9096 96101 102 103 104 105 106 107 108 110 112 113 114 115 116 117 119 121 130 131 132 135 136 138143 146 148 152 155 156 157 158 166 167 171 173 174 175 177 178 182 188 189 190 191 193 194 195 196 197 200 201 206 207 208 209 210 211 213 216 217 219 220 221 222 230 232 233 234 235 237 238 243 244 246 247 248 249 250 251 253 254 257 258 259 260 261 262266 268 269 271276 Minoritária ver Diferença sexual Dominação Etnicidade e nação Migrações Univer salismo e particularismo 10 14 16 28 32 37 39 43 46 59 60 61 62 63 65 66 71 73 7680 82 83 84 9096 101 102 103 105 114 115 117 119 121 130 136 138143 146 152 155 156 157 158 171 172 173 175 177 178 182 188 195 200 201 207 208 211 212 213 216 217 219 226 230 234 243 244 250 254 265 266271 275 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 323 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 323 18102009 192541 18102009 192541 324 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Mobilidade social ver Categorias socioprofi ssionais Educação e socialização Trans missões intergeracionais 3034 48 75 79 8084 101 121 143 167 182 183 230 256 261 262266 Monoparentalidade ver Família Maternidade Precarização social 10 11 16 21 24 25 34 49 53 57 58 60 64 66 67 69 72 74 75 80 81 82 84 90 94 95 96 101 110 112 113 114 116 117 118 133138 141 142 143 145 152 158 172 173 174 175 177 178 186 189 190 191 193198 209 210 211 213 219 220 222 230 233 234 238 248 249 250 251 253 254 256 257 258 259 260 261 264 266 268 269 Movimentos feministas ver também Aborto e contracepção Igualdade História Les bianismo Maternidade Movimentos sociais Paridade Patriarcado Sexualidade Violências 7 10 11 14 15 16 17 2125 27 30 31 32 37 39 40 41 43 45 46 48 54 58 59 60 61 62 64 66 67 68 70 74 75 77 79 81 86 89 91 95 96 97 101 102 103 105 111116 118 121 122128 130 131 132 133138 144149 149154 156 157 160 167173 173183 188 190 193 191 1998 200 201 202 203 206 208 212 213 217 218 219 220 224 225 227 228 229 230 231235 239 240 241 242 243 244 248 249 250 251 253 257 261 265 271276 Movimentos sociais ver também Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Lesbianismo Movimentos feministas Sindicatos 7 10 15 16 21 29 30 31 34 45 46 48 66 6775 90 96 110 115 116 121 122128 133 138 144149 149 154 158 167 172 175 178 188 193 198 200 208 213 222 225 230 233 235 236241 246 256 261 266 Mulher ver Diferença sexual Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Sexo e gênero 10 16 23 27 32 33 35 37 41 43 48 51 59 60 65 66 6775 77 79 81 84 90 93 96 97 105 110 116 119 121 128 129 130 132 134 135 136 138 141 143 144 152 153 158 160 163 167 172 178 182 184 185 187 199 202 208 210 211 212 215 219 222231 238 241 246 248 249 256 260 261 266 269 270 Mulheridade ver Feminilidade masculinidade virilidade 10 15 43 65 74 93 95 101106 115 218 219 230 235 246 271 273 275 Mundialização ver também Desenvolvimento Divisão sexual do trabalho e relações so ciais de sexo Etnicidade e nação Migrações Precarização social 7 10 14 16 21 22 34 40 41 42 43 45 46 52 5358 61 65 74 77 75 9096 104 105 106 107 108 110 115 130 131 132 136 138143 152 154158 166 167 189 190 191 193 198 207 208 220 221 222 233 237 244 246 247 248 249 254 256 258 261 263 Nação ver Etnicidade e nação 10 14 9096 140 143 154 155 156 158 Naturezacultura ver Diferença sexual Etnicidade e nação História Sexo e gênero Trabalho doméstico 10 14 16 17 31 32 37 43 49 54 57 58 59 61 62 66 67 68 69 70 74 75 79 81 84 86 87 89 93 9096 99 101 105 109 110 111116 119 122 126 128 129 130 131 132 133 134 136 137 139 140 143 148 150 152 156 158 160 165 170 172 173 178 179 192 193 203 208 212 218 220 222231 239 240 241 242 243 244 253 254 256262 265 266 NorteSul ver Desenvolvimento Etnicidade e nação Lesbianismo Migrações Mun dialização Prostituição 7 10 14 15 16 21 22 40 41 42 43 45 46 52 5358 61 65 74 77 9096 104 105 106 107 108 110 113 115 122128 130 131 132 136 138143 152 154158 166 167 189 190 191 194 195 196 197 198 208 221 222 232 233 234 235 237 244 246 247 248 249 254 258 261 263 272 273 275 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 324 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 324 18102009 192541 18102009 192541 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 325 Objetividade científi ca ver Ciências e gênero 4044 132 246 Ofício profi ssão bico ver também Categorias socioprofi ssionais Desemprego Divi são sexual do trabalho e relações sociais de sexo Emprego Flexibilidade Técnicas e gênero 10 14 15 16 29 3034 43 45 47 4853 55 66 6775 84 8590 99 100 104 105 106111 132 139 141 151 153 155 157 158 159167 177 182 183 188 192 193 194 195 196 198 199 204 208 211 219 220 222 230 237 239 241246 254 256 258 259 261 265 266 Opressão ver Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Etnicidade e nação Lesbianismo Movimentos feministas Patriarcado Públicoprivado Sexo e gêne ro 10 14 15 16 21 30 36 39 48 66 6775 77 78 79 83 84 9096 97 98 99 101 105 110 114 116 121 122128 129 132 133 138 143 144149 152 153 158 172 173183 188 190 193 197 198 200 208213 222231 233 234 235 254 255 256 257 261 270 271 Palavras de mulheres ver História Movimentos feministas Poderes 14 15 17 21 30 31 32 34 40 41 43 54 58 59 61 62 67 68 75 79 81 86 91 96 111116 121 122 126 128 130 131 132 133 134 136 137 138 139 140 144149 150 156 160 168 170 172 173 175 178 179 183188 193 200 203 208 213 217 218 220 225 228 235 239 240 241 242 243 244 253 265 Parentalidade ver Educação e socialização Maternidade Transmissões intergeracio nais 10 11 16 24 25 48 60 64 66 74 75 8084 95 100 101 113 114 118 121 133138 143 145 152 172 191 219 230 234 248 249 250 261 262266 Paridade ver também Cidadania Diferença sexual Igualdade Convivência entre os sexos Movimentos feministas Poderes Sexo e gênero Universalismo e particu larismo 10 14 15 16 3539 43 56 59 66 70 79 84 95 93 96 105 116 119 121 128 129 130 132 136 152 171 172 178185 188 190 196 210 212 213 222231 236 240 255 267 268 271 Parto ver Maternidade Tecnologias da reprodução humana 10 11 16 24 25 60 64 66 74 95 113 114 118 133138 136 137 145 152 172 191 219 234 248 249 246251 Pesquisas de opinião ver também Categorias socioprofi ssionais 3034 167 179183 256 Phallus ver Diferença sexual 37 43 59 119 130 152 212 226 230 Pornografi a ver Prostituição Sexualidade Violências 10 14 15 16 21 22 25 27 30 58 77 79 96 101 102 103 105 113 122128 143 145 148 158 198208 217 224 227 228 231235 271276 Pósmodernismo ver Diferença sexual Etnicidade e nação Lesbianismo 10 14 37 43 59 64 65 66 9096 119 130 143 152 158 212 226 228 230 Privado ver Públicoprivado 14 36 37 39 45 78 114 116 146 188 189 192 196 201 208213 238 256 261 268 271 Procriação ver Aborto e contracepção Maternidade Tecnologias da reprodução huma na 10 11 14 16 2125 60 64 66 74 95 113 114 118 133138 145 148 152 172 191 219 234 235 246251 Profi ssão ver Ofício profi ssão bico 15 29 32 33 34 47 84 104 159167 198 199 204 242 243 246 256 258 259 266 Prostituição ver também Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Migra ções Sexualidade Violências 10 14 15 16 21 22 25 27 30 48 58 66 6775 77 79 90 96 101 102 103 105 110 113 115 127 128 138143 145 148 153 155 158 167 198208 217 222 224 227 228 230 231235 241 246 256 261 266 271276 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 325 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 325 18102009 192541 18102009 192541 326 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Queer teoria ver Diferença sexual Lesbianismo 10 37 43 59 64 65 119 122128 130 152 212 226 228 230 233 Quotas ver Cidadania Igualdade Paridade 10 14 15 3539 48 56 66 70 79 84 86 89 95 116122 136 138 148 157 167173 183 185 188 190 196 203 210 212 213 229 236 239 240 241 255 267 268 271 Racismo ver Etnicidade e nação Migrações 10 14 9096 115 126 127 138143 155 158 207 208 Relações sociais de sexo ver Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo 16 48 66 6775 90 110 153 158 167 208 222 230 241 246 256 261 266 Religiões ver também Dominação Poderes Sexualidade 10 14 15 16 21 22 25 28 30 32 34 46 58 60 61 62 63 66 71 73 7380 82 83 84 96 101 102 103 105 114 117 119 121 127 128 136 142 143 145 146 148 152 156 157 171 172 173 175 177 178 182 183188 195 198 200 201 202 203 208 211 213217 219 224 227 228 230 231235 241 244 250 254 265 269 271 275 Saúde no trabalho ver também Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Fle xibilidade Precarização social Técnicas e gênero 16 34 43 48 53 58 66 6775 90 106111 132 153 158 167 193198 208 217222 230 241246 256 261 266 Segmentação ver Categorias socioprofi ssionais Flexibilidade Precarização social 30 34 53 58 75 90 106111 158 166 167 182 183 193198 220 222 256 Serviço relação de ver Trabalho doméstico 10 14 16 49 57 58 69 70 74 75 87 89 99 101 109 110 134 165 192 193 253 254 256262 266 Sexagem ver Sexo e gênero 10 16 66 79 84 93 96 105 116 125 128 129 132 172 178 222231 Sexismo ver Etnicidade e nação Patriarcado Poderes Sexo e gênero Violências 10 14 15 16 27 30 34 47 58 66 79 84 9096 97 101 102 105 116 124 128 129 132 143 148 152 158 172 173183 183188 190 201 203 206 208 213 217 222231 232 235 241 257 261 271276 Sexo e gênero ver também Diferença sexual Divisão sexual do trabalho e relações so ciais de sexo Dominação Educação e socialização Família Feminilidade mascu linidade virilidade Linguagem científi ca Lesbianismo Sexualidade 10 15 16 37 43 59 65 66 74 79 84 93 95 96 101106 115 116 119 128 129 130 132 152 172 178 212 218 219 222231 235 246 271 273 275 Socialização ver Educação e socialização 48 75 79 8084 95 97 101 102 105 121 143 189 221 225 230 259 260 261 262 266 Sororidade ver Lesbianismo Movimentos feministas 10 15 21 30 75 96 116 121 122128 124 126 128 133 138 144149 172 175 178 188 193 200 208 213 225 228 233 235 Subordinação ver Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Feminilidade masculinidade virilidade Patriarcado Religiões 10 14 15 16 43 48 62 65 66 6775 90 93 95 96 97 101106 110 115 124 128 148 152 153 158 167 173 183 190 208 213217 218 219 222 230 235 241 246 256 257 261 262 266 267 271 273 275 Sujeito ver Movimentos feministas Poderes 14 15 21 30 34 56 58 59 60 62 65 66 75 78 79 83 96 116 118 121 128 133 138 144149 153 172 175 178 183188 193 200 208 213 217 225 228 235 241 252 267 Tecnologias da reprodução humana ver também Aborto e contracepção Família Ma ternidade 10 11 14 16 2125 60 64 66 74 95 113 114 118 133138 145 148 152 172 191 219 234 235 246251 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 326 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 326 18102009 192541 18102009 192541 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 327 Trabalho doméstico ver também Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Educação e socialização Movimentos feministas Patriarcado Políticas sociais e fa miliares Públicoprivado Técnicas e gênero 10 14 15 16 21 25 30 39 43 48 49 57 58 66 6775 79 8084 87 89 90 96 97 99 101 105 109 110 114 116 121 124 128 132 133 134 138 143 144149 152 153 158 165 167 173183 188 189 190 191 192 193 200 208213 222 225 228 230 235 241246 253 254 256262 266 271 Transmissões intergeracionais ver também Divisão sexual do trabalho e relações so ciais de sexo Educação e socialização Maternidade Ofício profi ssão bico Tra balho doméstico 10 11 14 15 16 24 25 29 32 33 34 47 48 49 57 58 60 64 66 6775 79 8084 87 89 90 95 99 101 104 109 110 113 114 118 121 133138 143 145 152 153 158 159167 172 191 192 193 198 199 204 208 219 222 230 234 241 242 243 246 248 249 250 253 254 256262 262266 Universal ver Diferença sexual Poderes Ciências e gênero Pesquisas de opinião 11 14 34 37 4044 58 59 61 63 66 78 79 83 102 115 119 130 132 144 152 154 157 172 179183 183188 212 217 224 226 230 241 246 252 267 268 269 270 Universalismo e particularismo ver também Cidadania Igualdade Linguagem cientí fi ca Públicoprivado 10 14 15 3539 43 48 56 66 70 79 84 95 114 116122 129132 136 137 148 171 172 185 188 190 196 208213 216 230 236 240 241 246251 255 256 261 266271 Vínculo social ver Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo 16 48 66 67 75 90 110 153 158 167 208 222 230 241 246 256 261 266 Violências ver também Dominação Assédio sexual Movimentos feministas Prostitui ção Sexualidade 10 14 15 16 21 22 2530 32 46 58 60 61 62 63 66 71 73 75 7680 82 83 84 96 101 102 103 105 113 114 116 117 119 121 127 128 133 136 138 142 143 144149 152 156 157 158 171 172 173 175 177 178 182 188 193 195 198208 211 213 216 217 219 224 225 227 228 230 231 235 243 244 250 254 265 269 271276 Virilidade ver Feminilidade masculinidade virilidade 10 15 43 65 74 93 95 101 106 115 219 218 230 235 246 271 273 275 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 327 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 327 18102009 192541 18102009 192541 SOBRE OS AUTORES Alisa Del Re é professora na Faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Pádua Itália diretora do CIRSPG Centro interdipartimentale di ricer ca studi sulle politiche di genere e correspondente no exterior dos Cahiers du Genre Suas pesquisas abordam as temáticas de representação política das mulheres e políticas sociais e familiares É autora de La régulation sociale et lÉtat Providence une lecture de genre des politiques sociales en Italie In Parini L BalmerCao TH Durrer S dir Régulation sociale et genre Paris LHarmattan 2006 e dirigiu o número monográfi co 160 2008 da revista In chiesta Donne tra politica e istituzioni questioni di genere e ricerca sociale Publicado no Brasil Práticas políticas e binômios teóricos do feminismo con temporâneo Recife SOSCorpo 1993 AnneMarie Devreux é diretora de pesquisa em sociologia na equipe Culture et sociétés urbaines CSU do CNRS e diretora de publicação dos Cahiers du Genre Suas pesquisas abordam os temas epstemologia das relações sociais de sexo e sociologia dos dominantes Publicou entre outros Des hommes dans la famille Catégories de pensée et pratiques réelles Actuel Marx n 37 Critique de la famille 2005 coordenou o n36 2004 dos Cahiers du Genre Les résistances des hommes au changement Disponível em português A paternidade na França entre igualização dos direitos parentais e lutas ligadas às relações sociais de sexo BuscaLegisccjufscbr wwwbuscalegisufscbr revistas Annie ThébaudMony é socióloga diretora de pesquisa no INSERM e mem bro do IRIS diretora do Groupement dintérêt scientifi que sur les cancers dorigine professionnelle na Universidade de Paris 13 em Bobigny Suas pes quisas abordam trabalho saúde desigualdades organização do trabalho e saúde a construção social dos acidentes de trabalho e das doenças profi ssio nais e a produção do conhecimento em saúde do trabalho Publicou ATM Lindustrie nucléaire Soustraitance et servitude Paris INSERMEDK série Questions en santé publique 2000 ATM Travailler peut nuire gravement à votre santé Soustraitance des risques mise en danger dautrui atteintes à la Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 329 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 329 18102009 192541 18102009 192541 330 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER dignité violences physiques et morales cancers professionnels Paris la Décou verte 2007 Publicações no Brasil A Terceirização e saúde Cadernos do CRH n26 1993 Trabalho e saúde na nova ordem econômica mundial In Scavone e Batista eds Pesquisas de gênero entre o público e o privado Edição Cultura Acadêmica UNESP Araraquara 2000 com Scavone e Brétin Contracepção controle demográfi co e desigualdades sociais análise comparativa francobra sileira Estudos Feministas v2 n2 1994 Béatrice Appay é socióloga pesquisadora no CNRS CERLIS Centre de recher che sur les liens sociaux Temas de pesquisa trabalho e transformações dos sistemas produtivos autonomia controlada individualização e democracia sexuação da organização do trabalho e precarização nos Estados Unidos Foi organizadora das Jornadas Internacionais de Sociologia do Trabalho Lon dres 2007Coordenou juntamente com Annie ThébaudMony a obra Préca risation sociale travail et santé Paris IRESCOCNRS 1997 É autora de La dictature du succès Le paradoxe de lautonomie contrôlée et de la précarisation Paris LHarmattan 2005 Bérengère MarquesPereira é professora de ciência política na Universidade Livre de Bruxelas e correspondente no exterior dos Cahiers du Genre Seus tra balhos abordam a temática de Estado e cidadania Publicou entre outros La citoyenneté politique des femmes Paris Armand Colin 2003 e com Petra Meier dir Genre et politique en Belgique et en francophonie LouvainlaNeuve Aca demia Bruylant 2005 Brigitte Lhomond é socióloga e pesquisadora no CNRS Laboratório Triangle CNRSENSLDHUniversidade de Lyon Suas pesquisas abordam as cons truções sociais da sexualidade e da homosexualidade e os comportamentos sexuais dos jovens Publicou com Marie Josèphe SaurelCubizolles Violence against Women and Suicide Risk The Neglected Impact of SameSex Beha viour Social Science Medicine 2006 n62 e coordenou com H Lagrange Lentrée dans la sexualité Les comportements des jeunes dans le contexte du sida Paris La Découverte 1997 Publicação no Brasil Sexualidade e juventude na França In Sexualidade O olhar das ciências sociais MLHeilborn org RJ Zahar 1999 Bruno Lautier é professor de sociologia no IEDES Institut détudes sur le dé veloppement économique et social Universidade Paris I e membro associado do GTM Suas pesquisas abordam economia informal e políticas de luta contra a pobreza Publicou Léconomie informelle dans le Tiers Monde Paris La Découverte Repères 1994 reeditado em 2004 e com Jaime Marques Pereira dir Brésil Mexique deux trajectoires dans la mondialisation Paris Karthala 2004 Também publicou em particular na revista Tiers Monde e nos Cahiers du genre numerosos artigos sobre as políticas sociais e emprego domés tico nos países do Sul Trabalhos publicados no Brasil Informalidade das rela ções de trabalho e cidadania na América Latina Cadernos CRH 18 janjun 1993 com Marques Pereira Representações sociais e construção do mercado de trabalho empregadas domésticas e operários da construção civil na América Latina Open Journal Systems Brasília DF 721 05 12 2006 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 330 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 330 18102009 192541 18102009 192541 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 331 Carme Alemany é sociológa e dirige o Centro de Estudos Mulher e Sociedade CEDIS de Barcelona É correspondente no exterior para a revista Cahiers du Genre Temas de pesquisa trabalho produtivo e reprodutivo e tecnologias e gênero Ela é autora de O assédio sexual no local de trabalho em cinco países da Europa do Sul In Le harcèlement sexuel sur le lieu de travail dans lUnion eu ropéenne Comissão das Comunidades EuropéiasDGV 2000 e com V Luc e C Mozo Gonzalez El acoso sexual en los lugares de trabajo Madrid Instituto de la Mujer Serie Estudios n70 2001 Catherine Quiminal é antropóloga professora emérita na Universidade de Pa ris VII É membro da Unité de recherche migrations et sociétés URMIS do Centre détudes africaines CEA Suas pesquisas abordam temas como movi mento associativo de homens e de mulheres em migração e migrações e mu dança social Dentre outros publicou com M Azoulay Reconstruction des rapports de genre en situation migratoire Femmes réveillées hommes menacés en milieu soninké VEI Enjeux n128 Rapports de sexe rapports de genre entre domination et émancipation março de 2002 e Du contrôle colonial des femmes unions polygamie sexualité In Nancy L Green e Marie Poinsot Histoire de limmigration et question coloniale en France Paris La Documenta tion française 2008 Chantal Rogerat é socióloga aposentada exmembro do GEDISST membro do conselho científi co da revista Travail genre e sociétés Suas pesquisas abordam principalmente temas como a relação das mulheres e o sindicalismo 1960 1980 e a complexa relação das mulheres operárias eou assalariadas do tercia rio com o trabalho o emprego o desemprego e a precarização Ela publicou em especial com D Senotier De lusage du temps de chômage In H Hirata D Senotier dir Femmes et partage du temps de travail Paris Syros 1996 e em 2004 Les mobilisations sociales à lépreuve du genre In Quand les femmes sen mêlent C Bard C Baudelot et J MossuzLavau dir Paris La Martinière No Brasil Oas maltratadoas do emprego In Hirata e Maruani orgs As novas fronteiras da desigualdade homens e mulheres no mercado de trabalho São Paulo SENAC 2003 Christine Delphy é socióloga diretora de pesquisa emérita no CNRS Doutora em sociologia e fi losofi a da Universidade de Québec em Montréal da Univer sidade de Southwest na Inglaterra e da Universidade de Lausanne na Suíça É diretora e coredatora responsável juntamente com Patrícia Roux da revista Nouvelles questions féministes da qual foi cofundadora em 1980 Dedicase ao temas das relações entre patriarcado e capitalismo construção social do gê nero e feminismo póscolonial e feminismo antirracista Dentre outros pu blicou LEnnemi principal I Économie politique du patriarcat 1998 II Penser le genre 2001 Paris Syllepse e Classer Dominer qui sont les autres Paris La Fabrique 2008 Claude Zaidman falecida em dezembro de 2005 foi professora de sociologia na Universidade de Paris VII e diretora do CEDREF Suas pesquisas abor dam gênero e socialização e coexistência entre os sexos mixité educa ção e democracia Escreveu em especial La mixité à lécole primaire Paris Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 331 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 331 18102009 192542 18102009 192542 332 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER LHarmattan 1996 e coordenou com Madeleine Hersent Genre travail et migrations en Europe Paris CEDREF Publications universitaires DenisDi derot 2003 Publicados no Brasil A administração escolar do regime misto na escola primária e Institucionalização dos estudos feministas na França Revista Estudos Feministas número especial 1994 Claudine Legardinier é jornalista membro do comitê de redação da revista Prostitution et société revista trimestral do Mouvement du Nid Clichy Ela pesquisa sobre prostituição e sobre violências É autora de Les trafi cs du sexe femmes et enfants marchandises Toulouse Milan Les Essentiels 2002 e com Saïd Bouamama Les clients de la prostitution Paris Presses de la Re naissance 2006 Daniel WelzerLang é professor de sociologia na Universidade de ToulouseLe Mirail Seus trabalhos abordam a sexualidade e aidse construções sociais do masculino e relações sociais de sexo É autor de diversas obras Coordenou a publicação Nouvelles approches des hommes et du masculin Toulouse Presses Universitaires du Mirail 2000 e publicou Les hommes aussi changent Paris Payot 2004 Publicações no Brasil A construção do masculino dominação das mulheres e homofobia Revista Estudos Feministas v9 n2 2001 Os homens e o masculino numa perspectiva de relações sociais de sexo In Schpun org Masculinidades SP Boitempo 2004 Danièle ChabaudRychter é socióloga e pesquisadora do GTM Genre travail mobilitésCNRSUniversidade Paris VIII e Paris X Seus trabalhos abordam os temas de inovação industrial e objetos técnicos domésticos bem como técnicas e gênero Publicou Lindustriel et le domestique dans la concep tion dappareils éléctroménagers em Cahiers du Gedisst n20 1997 com D Gardey La neutralité des tecniques à lépreuve de la critique In D Chabaud Rychter e D Gardey org Lengendrement des choses Des hommes des femmes et des techniques Paris Ed des Archives Contemporaines 2002 No Brasil com FougeyrollasSchwebel Sobre a autonomia relativa da produçao e repro dução In KartchenskyBulport et ali O sexo do trabalho Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 cf também Inovação industrial em eletrodomésticos concepção de uso e concepção de produção in Revista Latinoamericana de Estudios del Trabajo ano 4 n7 1998 Danièle Kergoat é socióloga diretora de pesquisa emérita em sociologia no CNRS Foi criadora do GEDISST atualmente GTM Suas pesquisas abor dam temas como as relações sociais de sexo trabalho o conceito de relações sociais movimentos sociais Suas duas últimas obras são com Guenoveva Mi hova Maria Nikolova e Donio Donev Tempo de trabalho condições de trab alho e comportamentos demográfi cos em búlgaro Sofi a Edições acadêmicas 2007 com Yvonne GuichardClaudic e Alain Vilbrod Linversion du genre Quand les métiers masculins se conjuguent au féminin et réciproquement Rennes Presses universitaires de Rennes 2008 Entre seus artigos publicados no Brasil estão Relações sociais de sexo e divisão sexual do trabalho In Lopes Meyer e Waldow orgs Gênero e saúde Porto Alegre Artes Médicas 1996 Em defesa de uma sociologia das relações sociais Da análise crítica das categorias domi Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 332 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 332 18102009 192542 18102009 192542 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 333 nantes à elaboração de uma nova conceituação In Kartchevsky et al O sexo do trabalho RJ Paz e Terra 1986 A relação social de sexo Da reprodução das relações sociais à sua subversão Proposições Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Educação Campinas São Paulo 13 n1 37 jan abr 2002 com H Hirata Novas confi gurações da divisão sexual do trabalho Cadernos de Pesquisa v37 setdez 2007 com Hirata Divisão sexual do trab alho profi ssional e doméstico Brasil França Japão In Costa Sorj Bruschini e Hirata orgs Mercado de trabalho e gênero comparações internacionais RJ FGV 2008 Danièle Senotier é ingénieure détudes engenheira de estudos no CNRS se cretária de redação dos Cahiers du Genre e membro do GTM Até o fi nal dos anos 1990 trabalhou como assistente de pesquisa e produziu com Nathalie Cattanéo o catálogo Sexes et sociétés Répertoire de la recherche en France Paris La Documentation française Droits de femmes 1998 396 p Participou jun tamente com Dominique FougeyrollasSchwebel e Helena Hirata da coorde nação do n35 de 2003 dos Cahiers du Genre La violence les mots le corps Danielle Juteau é professora emérita do departamento de sociologia da Univer sidade de Montreal Quebec Canadá onde foi titular da cátedra de relações étnicas Inscrevendose em uma perspectiva construtivista materialista seus trabalhos abordam a articulação entre as relações sociais étnicas e de sexo e a teorização da etnicidade no sistemamundo É autora de Lethnicité et ses frontières Montréal Presses de lUniversité de Montréal 1999 e Forbidding Ethnicities in French Sociological Thought The Diffi cult Circulation of Kno wledge and Ideas Mobilities v 1 n 3 November 2006 Delphine Gardey é professora na Universidade de Versailles SaintQuentinen Yvelines Historiadora e socióloga especializouse nos estudos de gên ero e teoria feminista e interessase especialmente pelas relações técnicassociedade Também especialista em história das sociedades de informação publicou entre outros La dactylographe et lexpéditionnaire Histoire des employés de bureau 18901930 Paris Belin 2001 e Écrire calculer classer Comment une révolu tion de papier a transformé les sociétés contemporaines 18001940 Paris La Découverte 2008 Diane Lamoureux é professora no departamento de Ciência Política da Univer sidade de Laval Quebec Canadá Suas pesquisas abordam temas como ci dadania e democracia e particularmente as formas atuais de subjetivação política É autora de Citoyennes Femmes droit de vote et démocratie Montreal Éd du Remueménage 1989 e de Lamère patrie Féminisme et nationalisme dans le Québec contemporain Montreal Éd du Remueménage 2001 Dominique FougeyrollasSchwebel é pesquisadora em sociologia no Institut de Recherche Interdisciplinaire en socioéconomie IRISCNRSUniversidade Paris Dauphine e membro do comitê de redação dos Cahiers du Genre Realiza pes quisas sobre relação de serviço transformações do assalariamento e serviços domésticos e sobre feminismo e novas abordagens da violência Publicou Feminism in the 1970s In Ch Fauré ed Political and historical encyclopedia of women New York Routledge 2003 Violences conjugales In M Marzano Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 333 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 333 18102009 192542 18102009 192542 334 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER dir Dictionnaire du corps PUF 2006 Publicado no Brasil As relações so ciais de sexo novas pesquisas ou renovação da pesquisa e Formas de família e socialização Novos desafi os Revista Estudos Feministas número especial 1994 Contabilizar as violências cometidas contra as mulheres Contexto Ins titucional e teórico da pesquisa ENVEFF In Wolff Fáveri e Ramos Leituras em rede gênero e preconceito Forianópolis Editora Mulheres 2007 Trabalho doméstico serviços domésticos In Faria e Nobre Trabalho das mulheres São Paulo SOF 1999 Eleni Varikas é professora de teoria política e estudos de gênero na Universidade de Paris VIII e é membro do GTM Seus trabalhos abordam questões como o gênero na teoria política moderna e cidadania democrática e exclusões e as categorizações hierárquicas Entre suas publicações recentes estão Penser le sexe et le genre Presses Universitaires de France 2006 Les rebuts du monde La fi gure du paria Stock 2007 Publicações no Brasil Gênero experiência e subjetividade a propósito do desacordo TillyScott Cadernos Pagu 3 1994 O pessoal é político desventuras de uma promessa subversiva Tempo Rio de Janeiro v2 n3 1996 Refundar ou reacomodar a democracia Refl exões críticas acerca da paridade entre os sexos Revista Estudos Feministas v4 n 1 1996 Naturalização da dominação e poder legítimo na teoria política clássica Revista Estudos Feministas v11 n1 2003 Emmanuelle Lada é socióloga Professora assistente na Universidade de Lausanne vinculada ao Centre en Études Genre da Universidade de LausanneUNIL e é membro do GTM Seus trabalhos orientados por uma perspectiva de gê nero articulada a uma interrogação sobre as migrações e as dinâmicas a elas relacionadas abordam as formas sociais de inserção no trabalho em meios populares assim como as recomposições dos empregos no nivel inferior da escala de qualifi cações e a organização do trabalho nesses espaços Está volta da atualmente em particular para as imbricações da divisão sexual e étnica do trabalho Publicou entre outros Sélection à lembauche et rapports sociaux de sexe Formation et emploi n91 2005 e coordenou com C Cossée e I Rigoni Faire fi gure détranger regards croisés sur la production de laltérité Paris Ar mand Colin 2004 Erika Apfelbaum é psicosocióloga aposentada foi membro do GERS Genre et rapport sociauxCNRSUniversidade Paris VIII Seus trabalhos concentram se nos temas dominação poderes contrapoderes e identidade e cultu ra memória e transmissão Publicou entre outros Norwegian and French Women in High Leadership Positions The Importance of Cultural Contexts upon Gendered Relations em Psychology of Women Quarterly 17 n4 1993 The impact of Culture in the Face of Genocide Struggling between a Silen ced Home Culture and a Foreign Host Culture In C Squire ed Culture in Psychology 2000 Evelyn Fox Keller é professora emérita de história e fi losofi a da ciência no Mas sachusetts Institute of Technology MIT Cambridge Mass Suas pesquisas abordam temas como história e a fi losofi a da biologia e linguagem e ciên cias Dentre outros publicou The Century of the Gene Harvard University Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 334 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 334 18102009 192542 18102009 192542 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 335 Press 2000 publicado no Brasil O século do gene Crisálida 2001 Making Sense of Life Explaining Biological Development with Models Metaphors and Machines Cambridge Mass Harvard University Press 2002 Fatiha Talahite é economista pesquisadora no CNRS no CEPN Centre déconomie de lUniversité ParisNord XIII Trabalha sobre os temas de re formas e transição econômicas no Magreb e na bacia mediterrânea e sobre normas instituições e convenções econômicas no mundo árabe e muçulma no Entre suas publicações recentes incluise com R BoukliaHassane Mar ché du travail régulation et croissance économique en Algérie Tiers Monde n1942008 Na Maison des Sciences de lHommeMSHParis Nord ela co ordena um grupo de pesquisa chamado Mediter sobre o tema Fluxos inter câmbios e instituições nas relações transmediterrâneas Publicado no Brasil Por uma problemática do processo de trabalho doméstico In Kartchevsky et al O sexo do trabalho RJ Paz e Terra 1986 Françoise Collin é fi lósofa professora em diversas instiuições universitárias em Bruxelas e posteriormente Paris Fundadora e redatora da revista Les Cahiers du GRIF 197396 é membro do comitê científi co dos Cahiers du Genre e do conselho internacional de Recherches féministes Universidade de Laval Qué bec Especialista na obra de Maurice Blanchot e Hannah Arendt suas pesqui sas abordam a questão do simbólico escrita arte ciências e as relações polí ticoprivado Dentre suas numerosas obras destacamos Lhomme estil devenu superfl u Hannah Arendt Paris Odile Jacob 1999 Les femmes de Platon à Derrida Anthologie critique com Pisier e Varikas Paris Plon 2000 Publica ções em italiano e em espanhol No Brasil Textualidade da liberação Liberda de do texto Revista Estudos Feministas número especial 1994 Françoise Laborie é socióloga aposentada exmembro do GERS Suas pesqui sas abordam os desafi os sociais ligados ao desenvolvimento das tecnologias de reprodução humana e técnicas e gênero Entre outros publicou Parents et médecins face à lembryon relations de pouvoir et décisions In B FeuilletLe Mintier dir Lembryon humain Approche multidisciplinaire Paris Economi ca 1996 Construction conjointe des techniques procréatives et du genre Com paraison entre FIV et ICSI In H Dagenais dir La recherche féministe dans la francophonie Montréal Éd du Remueménage 1999 Gail Pheterson é professora de psicologia social na Universidade de PicardieJules Vernes em Amiens e pesquisadora na equipe do CNRSUniversidade de Paris VIII Culturas e sociedades urbanas CSU Seus trabalhos sócioclínicos e só ciopolíticos abordam entre outras questões a regulamentação da prostituição e a gravidez sob o ponto de vista das relações sociais de poder Dentre outros ela publicou The Prostitution Prism Amsterdam University Press 1996 com tra dução espanhola Madrid Talasa 2000 e francesa Paris LHarmattan 2003 e com Yamila Azize o artigo Avortement sécurisé hors la loi dans le NordEst des Caraïbes Sociétés Contemporaines n61 2006 Geneviève Picot é socióloga e pesquisadora na APRACTHHôtel DieuParis Association Pour lAmélioration des Conditions de Travail Hospitalier Suas pesquisas abordam a feminização e masculinização das profi ssões em saúde bem Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 335 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 335 18102009 192542 18102009 192542 336 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER como as transformações do trabalho em hospitais públicos Publicou Cadres de santé un encadrement individualisé à lorigine dun rapport personnalisé avec les infi rmières In Les cadres hospitaliers représentations et pratiques sob a di reção de Ivan Sainsaulieu Éditions Lamarre 2008 com Marlaine Cacouault Bitaud Lintégration des médecins scolaires dans lÉducation Nationale va lorisation dune expertise ou dévalorisation dune profession féminine In Le développement de la sociologie des groupes professionnels en France Didier Dema zière Charles Gadéa dir Paris La Découverte coleção Recherches 2008 Helena Hirata é diretora de pesquisa em sociologia no GTM Seus temas de pes quisa são trabalho e divisão sexual do trabalho e mundialização e divisão in ternacional do trabalho Coordenou com D Senotier a obra Femmes et partage du travail Paris Syros 1996 e publicou Nova divisão sexual do trabalho Um olhar voltado para a empresa e a sociedade São Paulo Boitempo 2002 Entre os diversos artigos publicados no Brasil estão Por quem os sinos dobram Globa lização e divisão sexual do trabalho In Emílio e al orgs Trabalho e cidadania ativa para as mulheres desafi os para as políticas públicas São Paulo Coorde nadoria Especial da Mulher 2003 também coordenou com M Maruani As novas fronteiras da desigualdade homens e mulheres no mercado de trabalho São Paulo SENAC 2003 e com Costa Sorj e Bruschini orgs Mercado de traba lho e gênero comparações internacionais Rio de Janeiro FGV 2008 Hèléne Le Doaré é aposentada exmembro do GERS Seu trabalho investiga as divisões produzidas pela divisão sexual do trabalho e as diversas relações sociais em processos como os movimentos populares na América Latina na guerrilha alemã ou na coordenação das enfermeiras na França Ela publicou Un écrit sur un paradoxe Le terrorisme allemand et la démocratisation du rapport hom mefemme em Les rapports sociaux de sexe problématiques méthodologies champs danalyses Cahiers de lAPRE 1987 n7 v 2 e com H Hirata Les paradoxes de la mondialisation Cahiers du Gedisst no 21 1998 no Brasil Os paradoxos da globalização Cadernos Sempreviva SP SOF 1999 Outros tra balhos publicados no Brasil Divisão sexual e divisão internacional do trabalho refl exões a partir das fábricas subcontratadas de montagem MéxicoHaiti In KartchenskyBulport et ali O sexo do trabalho RJ Paz e Terra 1987 Do po der político e poiético Esquema de um raciocínio Revista Estudos Feministas número especial 1994HèléneYvonne Meynaud é socióloga pesquisado ra em uma empresa privada e membro associado do laboratório GTM Suas pesquisas abordam três temáticas a crítica às metodologias de sondagens e sua utilização sobre o que publicou com Denis Duclos Les sondages dopinion Paris La Découverte coleção Repères 4ed 2007 o estudo das categorias étnicas em trabalho que será publicado em 2009 com o título Les racismes au travail Paris La Dispute coleção Le genre du monde e o estudo da retoma da oportunista de temas feministas mediante um lugar no trabalho em troca de uma adesão incondicional aos valores do sistema fi nanceiro liberal no numero 209 de Cahiers du Genre 2009 Ilana Löwy é historiadora das ciências pesquisadora no INSERM e associada ao CERMESCentre de Recherche Medecine Sciences Santé et Societé IN Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 336 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 336 18102009 192542 18102009 192542 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 337 SERMCNRSEHESS Suas pesquisas abordam a história da biologia e da medicina nos séculos XIX e XX e as relações entre biomedicina e gênero Publi cou Between Bench and Bedside Science Healing and Interleukin2 in a Cancer Ward Cambridge Harvard University Press 1996 também disponível em francês 2002 e de Lemprise du genre Masculinité Féminité Inégalités Pa ris La Dispute coleção Le genre du monde 2006 Publicações no Brasil Universalidade da ciência e conhecimentos situados Cadernos Pagu Cam pinas n15 2000 Vírus mosquitos e modernidade A febre amarela no Brasil entre ciência e política Rio de Janeiro Editora Fiocruz 2006 A ciência como trabalho as contribuições de uma historia das ciências feminista in H Hirata e L Segnini org Organização trabalho e gênero São Paulo editora SENAC 2008 Jacqueline Heinen é professora emérita de sociologia na Universidade de Versail les SaintQuentinenYvelines Foi diretora da revista Cahiers du Genre e presi dente da Conferência Permanente do Conselho Nacional das Universidades da França Suas pesquisas abordam as políticas sociais na Europa do leste e Europa Ocidental e as questões de cidadania É coautora de Gendering citizenship in Western Europe New challenges for citizenship research in a crossnational con text em conjunto com R Lister e al Policy Press 2007 e Genre et politiques sociales en Europe de lEst com S Portet Transitions n1 2004 JeanPierre Terrail é professor emérito de sociologia na Universidade de Ver saillesSaintQuentinenYvelines e membro do laboratório PRINTEMPS CNRS Seus trabalhos abordam os temas de gerações e escolarização É autor de diversas obras entre as quais La dynamique des générations Paris LHarmattan 1995 e École enjeu démocratique Paris La Dispute 2003 Josette Trat é socióloga professora na Universidade de Paris VIII e membro do GTM Seus trabalhos abordam as lutas das mulheres feminismo movi mentos sociais e sindicalismo e teorias da dominação masculina Publicou entre outros Política familiar igualitária e feminista Folha Feminista n35 junho 2002 São Paulo SOF Engels et lémancipation des femmes In G La bica et M Delbraccio dir Friedrich Engels savant et révolutionnaire Paris PUF 1997 e organizou juntamente com D Lamoureux e R Pfefferkorn Lautonomie des femmes en question Antiféminismes et résistances en Amérique et en Europe Paris LHarmattan 2006 JulesFrance Falquet é socióloga professora na Universidade Paris VIII mem bro do CSPRP Centre de sociologie des pratiques et des représentations poli tiques e corresponsável pelo CEDREF Centre détudes de documentation et de recherches pour les études féministes Suas pesquisas abordam os movi mentos sociais na América Latina e no Caribe e as resistências à mundialializa ção movimento zapatista no México movimento dos semterra no Brasil ex revolucionários em El Salvador movimento de mulheres feminista e lésbico do continente Com a perspectiva da imbricação das relações sociais de poder de sexo raça e classe Dentre suas publicações encontramse De gré ou de force Les femmes dans la mondialisation 2008 Paris La Dispute 214 p e com Emmanuelle Lada et Aude Rabaud coord Réarticulation des rapports Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 337 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 337 18102009 192542 18102009 192542 338 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER sociaux de sexe classe et race Repères historiques et contemporains Ca hiers du CEDREF 2006 Paris Université ParisDiderot Publicado no Brasil Três questões aos movimentos sociais progressistas contribuições da teoria feminista à análise dos movimentos sociais Revista Lutas Resistências Lon drina v1 p212225 set 2006 Breve reseña de algunas teorías lésbicas In Lago Grossi Rocha Garcia e Senaorgs Interdisciplinaridade em diálogos de gênero teorias sexualidades religiões Florianópolis Editora Mulheres 2004 Margaret Maruani é socióloga diretora de pesquisa no CNRS vinculada ao CSU Culture et sociétés urbaines Foi fundadora em 1995 da rede européia de pesquisa Marché du travail et genre MAGE e dirige a revista Travail genre et sociétés Dedicase atualmente a comparações européias entre empre gos femininos e masculinos bem como à análise das fronteiras entre desempre go subemprego e inatividade É autora de diversas obras sobre sindicalismo trabalho e emprego na França e na Europa como Les syndicats à lépreuve du féminisme Syros 1979 Travail et emploi des femmes La Découverte 1 edi ção 2000 Publicações no Brasil Emprego desemprego e precariedade uma comparação européia In Costa Sorj Bruschini e Hirata orgs Mercado de trabalho e gênero comparações internacionais Rio de Janeiro FGV 2008 com H Hirata orgs As novas fronteiras da desigualdade homens e mulheres no mercado de trabalho São Paulo SENAC 2003 Maria José F Rosado Nunes é professora da Universidade Católica e da Univer sidade Metodista de São Paulo no Programa de pósgraduação em Ciência das Religiões É pesquisadora do CNPq Seus trabalhos abordam os temas de gê nero e religião mulheres no catolicismo no Brasil e o discurso católico sobre o aborto Trabalhos publicados fora do Brasil Religion and Womens Rights The Fundamentalist Face of Catholicism in Brazil In C H Howland dir Religious Fundamentalism and Human Rights of Women New York St Martins Press 1999 Women Family and Catholicism in Brazil The Issue of Power In S K Houseknecht et J G Pankhurst ed Family Religion Social Change in Diverse Societies NYOxford Oxford University Press 2000 Publicações no Brasil Direitos cidadania das mulheres e religião Tempo Social v20 2008 O impacto do feminismo sobre o estudo das religiões Cadernos Pagu v16 2001 Freiras no Brasil In Del Priore História das mulheres no Brasil SP Contexto 1997 MarieHélène ZylberbergHocquard é professora aposentada de história no ensino preparatório aos cursos superiores Grandes Écoles e exmembro do GERS Seus trabalhos abordam as mulheres no trabalho industrial no sé culo XIX e sindicalismo e feminismo É autora de Femmes et féminisme dans le mouvement ouvrier français Paris Éditions Ouvrières 1981 e publi cou Laiguille outil du féminin In D ChabaudRychter e D Gardey dir Lengendrement des choses Des hommes des femmes et des techniques Paris Éd des Archives contemporaines 2002 Michèle RiotSarcey é professora de história contemporânea na Universidade de Paris VIII e membro associado do GTM Suas pesquisas no interior de uma equipe que trabalha sobre a História intelectual Paris VIII abordam temas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 338 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 338 18102009 192542 18102009 192542 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 339 como a escrita da história política entre continuidade e descontinuidade e o lugar das mulheres na história Ela publicou La démocratie à lépreuve des femmes trois fi gures critiques du pouvoir Désirée Véret Jeanne Deroin et Eugénie Niboyet Paris Albin Michel 1994 et Histoire du féminisme Paris La Décou verte coleção Repères 2002 2éd revue 2008 Publicado no Brasil A de mocracia representativa na ausência das mulheres Revista Estudos Feminista número especial 1994 Michelle Perrot é professora emérita de história na Universidade de Paris VII e membro do comitê científi co da revista Cahiers du Genre Suas áreas de pes quisas são a história das mulheres e a história da delinquência e da prisão Dentre as suas obras se encontram Femmes publiques Paris Textuel 1997 Les femmes ou les silences de lHistoire Paris Flammarion 1998 reedição Flam marion Champs 2001 no Brasil As mulheres ou os silêncios da história Bauru Edusc 2005 Outras publicações no Brasil Os excluídos da história RJ Paz e Terra 1988 Minha história das mulheres SP Contexto 2007 Nathalie Cattanéo é socióloga foi membro do GERS Suas pesquisas abordam a temática do trabalho das mulheres e particularmente o tempo de trabalho Publicou Qui partage et que partageton In H Hirata e D Senotier org Femmes et partage du travail Paris Syros 1996 Le travail à temps partiel entre rêve et cauchemar em Les Cahiers du Mage n2 1997 NicoleClaude Mathieu é professora na École des hautes études en sciences so ciales Paris e membro do comitê científi co dos Cahiers du Genre Suas pes quisas em etnologia e sociologia abordam temas como conceituação de sexo e gênero e opressão das mulheres e sociedades matrilinearesmatrilocais Além de sua obra LAnatomie politique Catégorisations et idéologies du sexe Paris Côtéfemmes 1991 entre seus trabalhos recentes encontrase a publi cação coletiva que ela dirigiu e apresentou Une maison sans fi lle est une maison morte La personne et le genre en sociétés matrilinéaires etou uxorilocales Paris Éditions de la maison des sciences de lhomme 2007 Pascale Moliner é professora de psicologia do trabalho no CNAM Conserva toire national des arts et métiers e membro do Laboratório de psicologia do trabalho e da ação no CNAM É redatorachefe da revista Travailler e mem bro do comitê de leitura dos Cahiers du Genre Ela consagra suas pesquisas às temáticas de psicodinâmica do trabalho e relações sociais de sexo e gênero trabalho e sexualidade Publicou Lénigme de la femme active Paris Payot 2003 et Les enjeux psychiques du travail Paris Payot 2006 Publicações no Brasil Psicodinâmica do trabalho e relações sociais de sexo Um itinerário in terdisciplinar 19882002 Revista Produção v14 n3 setdez 2004 O ódio e o amor caixa preta do feminismo Uma crítica da ética do devotamento Psico logia em Revista Belo Horizonte v10 n16 dez 2004 A dimensão do cuidar no trabalho hospitalar abordagem psicodinâmica do trabalho de enfermagem e dos serviços de manutenção Revista Brasileira de Saúde Ocupacional RBSO v33 n118 2008 Philippe Zarifi an é professor de sociologia na Universidade de MarnelaVallée e membro do GTM Trabalha sobre as transformações dos modelos de orga Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 339 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 339 18102009 192542 18102009 192542 340 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER nização e sobre as relações sociais e disposições éticas É autor de diversas obras em especial Lémergence dun Peuple monde Paris PUF 1999 e de À quoi sert le travail Paris La Dispute 2003 Publicações no Brasil Trabalho e comunicação nas indústrias automatizadas Tempo Social v3 n12 1991 Objetivo competência por uma nova lógica SP Atlas 2001 O modelo da compe tência trajetória histórica desafi os atuais e propostas SP Senac 2003 Pierre CoursSalies é professor de sociologia na Universidade Paris VIII e mem bro do Centre détudes des mutations en Europe CEME Suas pesquisas abordam trabalho e relações de dominação e ação coletiva e movimentos sociais Coordenou com Stéphane Le Lay Le bas de léchelle La construction sociale des situations subalternes Ramonville Érès 2006 Dentre outros publi cou em colaboração com Jean Lojkine et Michel Vakaloulis Nouvelles luttes de classes Paris PUF 2006 Prisca Kergoat é professora na Universidade de Albi e membro da equipe do CER TOP do CNRS Universidade Toulouse le Mirail Suas pesquisas abordam particularmente as políticas de formação profi ssional e a socialização dos jo vens de camadas populares Sobre o tema ela publicou De lindocilité au tra vail dune fraction des jeunesses populaires Les apprentis et la culture ouvr ière em Sociologie du travail 2006 n48 e Une redéfi nition des politiques de formation Le cas de lapprentissage dans les grandes entreprises em Formation Emploi 2007 n99 Sabine Fortino é professora de sociologia na Universidade Paris X e membro do GTM Genre travail mobilité Suas áreas de interesse são especialmente relacionadas a coexistencia entre os sexos mixitésocial no trabalho e a feminizaçãomasculinização dos empregos no setor público francês Dentre outros publicou De fi lles en mères La seconde vague du feminisme et la ma ternité Clio Histoire femmes et sociétés n5 1997 La mixité au travail Paris La Dispute 2002 Vivian Aranha Saboia é economista e pósdoutoranda no GTM Seus trabalhos abordam as políticas públicas de emprego e gênero e informalidade e gêne ro É autora de Les effets ambivalents des politiques de promotion de lemploi des femmes en France dans un contexte internationalune recension de la lit térature de 1970 à nos jours In C Avril C Lomba H Serry Org Formes demploi et pratiques de travail Presses Universitaires de Vincennes 2009 As desigualdades de gênero na previdência social na França e no Brasil Cadernos do CRH UFBA v19 2006 Sobre a prefaciadora Lucila Scavone Professora e pesquisadora UNESPCNPq Especializada na área de Sociologias Contemporâneas com ênfase nas questões de gênero e feministas Publicou os livros Tecnologias Reprodutivas gênero e ciência org SP EDU NESP 1996 Gênero y Salud Reproductiva na América Latina org Cartago Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 340 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 340 18102009 192542 18102009 192542 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 341 LUR 1999 Dar a vida e cuidar da vida feminismo e ciências sociais SP EDU NESP 2004 Artigos recentes Estudos de Gênero uma sociologia feminista Es tudos Feministas Santa Catarina 2008 e Gênero e Políticas Feministas o lado sul Estudos de Sociologia São Paulo 2008 Membros do comitê científi co Erika Apfelbaum Danielle ChabaudRychter Pierre CoursSalies Jacqueline Coutras Sabine Fortino Jacqueline Heinen Helena Hirata Danièle Kergoat Françoise Laborie Hélène Le Doaré Danièle Senotier Josette Trat Claude Zaid man MarieHélène ZylberbergHocquard Grupo de estudos sobre a divisão social e sexual do trabalho GEDISST Gênero e Relações Sociais GERS a partir de 1º de janeiro 2001 e Gênero Trabalho Mobilidades GTM a partir de 1º de janeiro de 2005 GTM é uma equipe do Centro Nacional de Pesquisa Cientí fi ca CNRS e da Universidade Paris VIII Vincennes SaintDenis Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 341 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 341 18102009 192542 18102009 192542 SOBRE O LIVRO Formato 16 x 23 cm Mancha 275 x 490 paicas Tipologia Horley Old Style 1115 Papel Offset 75 gm2 miolo Cartão Supremo 250 gm2 capa 1ª edição 2009 EQUIPE DE REALIZAÇÃO Capa Andrea Yanaguita Coordenação da tradução Vivian Aranha Saboia Revisão técnica Helena Hirata Edição de texto Maria Silvia Mourão Neto Copidesque Monalisa Neves Revisão Editoração Eletrônica Eduardo Seiji Seki Diagramação Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 342 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 342 18102009 192542 18102009 192542
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DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 1 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 1 18102009 192453 18102009 192453 FUNDAÇÃO EDITORA DA UNESP Presidente do Conselho Curador Herman Voorwald DiretorPresidente José Castilho Marques Neto Editor Executivo Jézio Hernani Bomfi m Gutierre Assessor Editorial Antonio Celso Ferreira Conselho Editorial Acadêmico Alberto Tsuyoshi Ikeda Célia Aparecida Ferreira Tolentino Eda Maria Góes Elisabeth Criscuolo Urbinati Ildeberto Muniz de Almeida Luiz Gonzaga Marchezan Nilson Ghirardello Paulo César Corrêa Borges Sérgio Vicente Motta Vicente Pleitez Editores Assistentes Anderson Nobara Arlete Zebber Ligia Cosmo Cantarelli Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 2 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 2 18102009 192530 18102009 192530 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Orgs Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 3 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 3 18102009 192530 18102009 192530 Editora afi liada CIPBrasil Catalogação na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros RJ 2009 Editora UNESP 2000 Presses Universitaires de France 1ª edição 2004 Presses Universitaires de France 2a edição aumentada 2009 da tradução brasileira Título original Dictionnaire critique du féminisme Este livro publicado no âmbito do Ano da França no Brasil e do programa de auxílio à publicação Carlos Drummond de Andrade contou com o apoio do Ministério francês das Relações Exteriores e Européias O Ano da França no Brasil 21 de abril a 15 de novembro é organizado na França pelo Comissariado geral francês pelo Ministério das Relações Exteriores e Europeias pelo Ministério da Cultura e da Comunicação e por Culturesfrance no Brasil pelo Comissariado geral brasileiro pelo Ministério da Cultura e pelo Ministério das Relações Exteriores Direitos de publicação reservados à Fundação Editora da UNESP FEU Praça da Sé 108 01001900 São Paulo SP Tel 0xx11 32427171 Fax 0xx11 32427172 wwweditoraunespcombr wwwlivrariaunespcombr feueditoraunespbr Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 4 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 4 18102009 192530 18102009 192530 SUMÁRIO Apresentação 7 Prefácio à edição brasileira 9 Prefácio à edição francesa 13 Siglas utilizadas 19 VERBETES Aborto e contracepção Alisa Del Re 21 Assédio sexual Carme Alemany 25 Categorias socioprofi ssionais Pierre CoursSalies 30 Cidadania Bérengère MarquesPereira 35 Ciências e gênero Ilana Löwy 40 Coexistência dos sexos Sabine Fortino 44 Desemprego Chantal Rogerat 48 Desenvolvimento Bruno Lautier 53 Diferença dos sexos teorias da Françoise Collin 59 Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Danièle Kergoat 67 Dominação Erika Apfelbaum 76 Educação e socialização Claude Zaidman 80 Emprego Margaret Maruani 85 Etnicidade e nação Danielle Juteau 90 Família AnneMarie Devreux 96 Feminilidade masculinidade virilidade Pascale Molinier e Daniel WelzerLang 101 Flexibilidade Nathalie Cattanéo e Helena Hirata 106 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 5 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 5 18102009 192530 18102009 192530 6 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER História sexuação da Michelle Perrot 111 Igualdade Eleni Varikas 116 Lesbianismo JulesFrance Falquet 122 Linguagem científi ca sexuação da Evelyn Fox Keller 129 Maternidade Françoise Collin et Françoise Laborie 133 Migrações Catherine Quiminal 138 Movimentos feministas Dominique FougeyrollasSchwebel 144 Movimentos sociais Josette Trat 149 Mundialização Fatiha Talahite 154 Ofício profi ssão bico Prisca Kergoat Geneviève Picot e Emmanuelle Lada 159 Paridade Hélène Le Doaré 167 Patriarcado teorias do Christine Delphy 173 Pesquisas de opinião HélèneYvonne Meynaud 179 Poderes Michèle RiotSarcey 183 Políticas sociais e familiares Jacqueline Heinen 188 Precarização social Béatrice Appay e Annie ThébaudMony 193 Prostituição I Claudine Legardinier 198 Prostituição II Gail Pheterson 203 Públicoprivado Diane Lamoureux 208 Religiões Maria José F Rosado Nunes 213 Saúde no trabalho Annie ThébaudMony 217 Sexo e gênero NicoleClaude Mathieu 222 Sexualidade Brigitte Lhomond 231 Sindicatos Chantal Rogerat e MarieHélène Zylberberg Hocquard 236 Técnicas e gênero Danielle ChabaudRychter e Delphine Gardey 241 Tecnologias da reprodução humana Françoise Laborie 246 Trabalho o conceito de Helena Hirata e Philippe Zarifi an 251 Trabalho doméstico Dominique FougeyrollasSchwebel 256 Transmissões intergeracionais JeanPierre Terrail 262 Universalismo e particularismo Eleni Varikas 266 Violências Carme Alemany 271 Referências bibliográfi cas 277 Índice onomástico 309 Índice remissivo 315 Sobre os autores 329 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 6 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 6 18102009 192530 18102009 192530 APRESENTAÇÃO Visando estimular a refl exão crítica sobre a construção social da hie rarquia entre os sexos e dessa forma desenvolver um pensamento críti co feminista que favoreça a emancipação das mulheres e a igualdade na diferença o Dicionário crítico do feminismo traz consigo uma coletânea de rúbricas redigidas por autorases especializadasos em cada uma das temáticas abordadas Como se trata na grande maioria de professorases e pesquisadorases francesases membros do Grupo de Pesquisa Genre travail mobilité GTM Gênero trabalho mobilidade algumas rúbricas possuem referências e características francesas paralelamente às referên cias europeias e mundiais Isso permite sem dúvida integrar uma pequena dimensão nacional num contexto marcado mundialmente pela dominação das mulheres pelos homens que ao longo dos séculos temse transformado e assumido novas formas que se sustentam e se fortalecem por um lado nos códigos sociais estabelecidos há décadas e impostos desde a infância e por outro em algumas políticas públicas sociais familiares de emprego Publicado em diversos países tais como Turquia Japão Bulgária e Espanha sua tradução para o português contou com o apoio fundamen tal da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científi co e Tecnológico do Maranhão FAPEMA e com a colaboração da SOF e da Marcha Mundial das Mulheres Tratase enfi m de uma obra destinada a um público variado que inclui estudantes professores pesquisadores sindicalistas e movimentos sociais em geral Boa leitura Vivian Aranha Saboia Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 7 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 7 18102009 192530 18102009 192530 PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA A publicação do Dicionário crítico do feminismo em português pela EDUNESP uma década após sua primeira edição francesa é bemvinda não só para os estudos de gênero e para o feminismo brasileiros mas tam bém para todosas aquelesas que na ciência ou na própria existência estejam em busca de novos conhecimentos1 Coordenado por Helena Hi rata socióloga brasileira radicada na França e pelas sociólogas e pesquisa doras francesas Françoise Laborie Hélène Doaré e Danièle Senotier este dicionário traz muito mais do que um repertório de conceitos criados pelas teorias feministas para abordar as questões de gênero Ele evidencia como essas teorias introduziram categorias inéditas nas Ciências Sociais ao mo difi carem seus paradigmas fundamentados na dominação masculina O acesso a esta obra em nossa língua é portanto promissor pois possi bilita a ampliação do debate interdisciplinar e pluralista do feminismo crí tico contemporâneo O fato de ter sido concebida com base na experiência acadêmica e política do feminismo francês e europeu amplia seu interesse pois nos traz conceitos ligados a essa realidade social além daqueles que historicamente circulam em nível internacional Em vista disso ela nos abre meios de comparação e diferenciação entre países distintos como a França e o Brasil 1 A primeira edição foi publicada em 2000 e a segunda edição aumentada em 2004 pela PUF Presses Universitaires de France Em espanhol Diccionario critico del feminismo Madri Sinte sis 2002 Em japonês Josei Gaku Tóquio Fujiwara Shoten Coll Jitem Yomu 2002 Deverá ser publicado em turco em Istambul Kanat Kitap em 2009 e também em búlgaro em Sofi a Edições CWSP Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 9 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 9 18102009 192530 18102009 192530 10 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Nos 48 verbetes deste Dicionário entre os quais Aborto e contracep ção Assédio Sexual Cidadania Desemprego Etnicidade e Nação Femini lidade masculinidade virilidade Igualdade Lesbianismo Mundialização Patriarcado Paridade Prostituição Religiões Sexo e Gênero Sexualidade Sindicatos Tecnologias de Reprodução Humana Violências há grosso modo dois tipos de entrada analítica A primeira tem como ponto de partida a análise dos fenômenos sociais gerais sob a perspectiva de gênero o que re sulta numa compreensão acurada da realidade estudada Por esse caminho descobrese literalmente a invisibilidade social das mulheres no trabalho na ciência na política entre outros Ele indica que ao mesmo tempo em que se constroem explicações detalhadas para temas abrangentes dáse visibi lidade às relações de gênero e desconstróise a generalidade ofuscante das análises sociológicas deterministas A segunda entrada parte dos conceitos específi cos derivados ou rea propriados das e pelas experiências feministas e abordagens teóricas dos estudos de gênero A maioria desses conceitos foi paulatinamente integra da ao repertório das Ciências Sociais e se estendeu para outros campos é interessante observar como eles têm um signifi cado sociológico específi co O aborto por exemplo é defi nido sobretudo como um direito das mu lheres de decidirem pela interrupção da gravidez decisão que as remete à apropriação de seus corpos reivindicada pelo feminismo dos anos 70 Em decorrência a maternidade é também uma escolha e uma construção social não mais um determinismo biológico A divisão sexual do trabalho e as relações sociais de sexo são conceitos que estão na base da teoria mate rialista do feminismo francês de inspiração marxista Essa divisão atraves sa todo o tecido social e incide tanto no trabalho doméstico e reprodutivo como no trabalho propriamente produtivo ela é resultante das relações sociais de sexo Ressaltese aqui a particularidade francesa do uso corrente do termo relações sociais de sexo que equivale a uma construção social do sexo da mesma forma que o vocábulo gênero de origem anglófona e inspira ção pósestruturalista utilizado com maior frequência do que o primeiro inclusive no Brasil Este segundo caminho evidencia não só o signifi cativo capital teórico político e conceitual dos estudos de gênero e feministas mas também como ele tem sido absorvido pelas Ciências Humanas e Sociais transformandoas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 10 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 10 18102009 192530 18102009 192530 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 11 Perpassam por todas as análises posições teóricas e políticas divergen tes que são parte do pensamento feminista crítico quais sejam igualdade eou diferença universal eou particular sexo eou gênero Penetrar nes te universo é pois estabelecer contato com o substrato político feminista confrontarse com a pluralidade e diversidade desse pensamento para as quais as organizadoras desse Dicionário souberam atentar A legitimidade científi ca que alguns destes conceitos alcançaram como os de gênero e de divisão sexual do trabalho não encobre nem neutraliza a questão política que lhes é subjacente ao contrário alargamna conforme se verifi ca na lei tura deste livro Os dois caminhos encontrados para a entrada dos verbetes mostraram a interrelação que a crítica feminista e os estudos de gênero estão aptos a fazer para dar visibilidade às questões políticas sociais de gênero e tornálas indispensáveis como categorias de análise científi ca Por fi m é oportuno lembrar um ponto de ligação histórico do feminismo brasileiro com o feminismo francês quando nos anos da ditadura militar no Brasil a França acolheu exiladas políticas e estudantes que criaram em 1976 O Círculo de Mulheres Brasileiras em Paris Naquele período em que as ideias feministas se espalhavam céleres pelo mundo a experiência desse grupo não foi desperdiçada Ao regressarem ao Brasil no começo dos anos 80 ou ao fi carem por lá como Helena Hirata muitas delas continuaram vinculadas ao movimento social ou à produção acadêmica feminista Hoje os estudos de gênero e feministas brasileiros alcançaram uma dimensão inter disciplinar ampla com infl uências e diálogos internacionais diversifi cados embora ainda não tenham produzido nem traduzido uma obra semelhante a esta A originalidade deste Dicionário está posta em toda a sua diversidade teórica sociológica e política Cabenos tão somente usufruíla Lucila Scavone Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 11 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 11 18102009 192530 18102009 192530 PREFÁCIO À EDIÇÃO FRANCESA A característica que deve ter um bom dicionário é a de mudar a forma comum de pensar Diderot E esse é de fato o objetivo deste dicionário um tanto quanto especial De fato esta obra a primeira do tipo na França não visa colocar em ordem alfabética um conjunto de conhecimentos adquiridos ou de elementos do saber com contornos provisoriamente delimitados mas estimular a aber tura a uma problemática e seus métodos O inventário exaustivo de ter mos produzidos por uma disciplina ou um campo de estudos abre espaço à organização de noções que pertencendo a registros científi cos diferentes foram concebidas para permitir a emergência ou consolidação de uma outra visão da sociedade esta que nasce com a percepção da hierarquia entre o masculino e o feminino com a recusa do neutro Em poucas palavras trata se de transmitir uma nova grade de leitura de forma que o senso comum se transforme em senso crítico Daí o seu título Este dicionário é feminista porque coloca como central a problemática da dominação entre os sexos e suas consequências E é duplamente crítico expõe as controvérsias teóricas e políticas que atravessam o pensamento e o movimento feminista e propõe uma desconstrução de certos conceitos clássicos das Ciências Sociais Apre senta também uma série de análises que mostram que a realidade social na sua dinâmica e complexidade não pode ser corretamente apreendida se excluirmos o efeito estruturante das relações sociais entre os homens e as mulheres Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 13 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 13 18102009 192530 18102009 192530 14 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Para tanto escolhemos três tipos de termos 1 Conceitos novos os mais importantes dentre os que são diretamente provenientes da teorização feminista divisão sexual do trabalho gê nero relações sociais de sexo patriarcado 2 Termos advindos dos campos de intervenção das lutas feministas em torno do corpo aborto e contracepção assédio sexual maternidade tecnologias de reprodução humana prostituição sexualidade vio lências da área do trabalho trabalho doméstico e sua articulação com o trabalho profi ssional desemprego fl exibilidade ou do cam po político dominação paridade poderes públicoprivado 3 Enfi m certas noções abrangem termos gerais cujo conteúdo foi re construído reformulado por meio da consideração das divisões so ciais operadas pelas relações entre homens e mulheres Estas rúbri cas cujo número importante provém da Sociologia e da Economia do Trabalho fornecem exemplos da pertinência da problemática femi nista para uma melhor compreensão do social cidadania desempre go igualdade trabalho A particularidade deste dicionário está muito mais em dar sentido ao que queremos dizer do que oferecer palavras para dizer o que queremos Tornando metodicamente visível a sexualização do social e seus efeitos a natureza desta obra possui uma ambição epistemológica já que procura induzir uma sistemática de questionamentos sobre o androcentrismo pre sente na representação dos objetos e na produção das palavras das ideias dos sistemas de pensamento Ela deseja tornar necessária a ideia segundo a qual todos os fenômenos inclusive aqueles aparentemente mais afastados das relações entre homens e mulheres tais como a fi nanceirização da Eco nomia ou a informatização generalizada da comunicação não parecem mais constituídos na neutralidade dos espíritos Sempre que foi possível osas autoresas levaram as disciplinas a dia logar a Antropologia e a Psicologia a História e a Sociologia por exemplo e abriram um grande espaço para a dimensão internacional cf mundia lização desenvolvimento migrações etnicidade e nação etc Se algumas contribuições permanecem centradas na França é porque o tema teria ne cessitado diversos artigos tendo em vista que as realidades sociais as abor dagens e as práticas são diferentes de um país para outro este é o caso por exemplo da rúbrica sindicatos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 14 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 14 18102009 192530 18102009 192530 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 15 Se a introdução de debates e comparações internacionais bem como da dimensão histórica é heterogênea a cidadania necessitava de uma incur são na Antiguidade enquanto a relação social de sexo é um conceito bas tante recente o espaço signifi cativo concedido à apresentação de diversas controvérsias testemunha a vitalidade do campo e a importância dos traba lhos já efetuados desde a emergência dos movimentos feministas no fi nal dos anos 60 Dentre as controvérsias mencionamos duas uma no plano teórico e ou tra no político A primeira concerne às concepções diversas da noção de gênero um termo de origem anglosaxã ou relações sociais de sexo uma formulação elaborada num contexto francófono Se não está imediatamente presente numa forma construída ela subentende diversos textos Com efei to para algunsumas esta noção diz respeito a uma relação contraditória antagônica entre dois grupos ou duas classes relação intrinsecamente liga da às outras relações sociais que fundamentam uma dada sociedade para outrosas ela pode se limitar a designar uma forma desigual de um vínculo e se integrar a conceitos que admitem a negociação a conciliação dos papéis Além disso a articulação das diversas relações sociais classesexoraça se faz de maneira interdependente ou através de um modo hierarquizado em que a relação social de sexo é o fundamento de todas as outras As res postas são divergentes A segunda controvérsia que concerne à prostituição resulta da atua lidade política e social Em função de ser analisada como um trabalho ou uma violência ela induz a reivindicações antagônicas de profi ssionalização ou de abolição Esses dois pontos de vista são atualmente tão irredutíveis na França que nós os apresentamos por meio de duas rúbricas contraditórias Outras rúbricas desta obra tais como Ofício Profi ssão Bico mas também Sexualidade Violências Feminilidade Masculinidade Virilidade trazem esclarecimentos necessários para esse debate Se hoje nós podemos fazer um balanço desses desacordos isto ocorre graças à lenta acumulação desde o início dos anos 70 de trabalhos de pes quisa Desse ponto de vista este dicionário se inscreve num processo his tórico e constitui uma amostra datada da variedade de trabalhos realizados fora e dentro das instituições acadêmicas Iniciada por um grande colóquio Mulheres feminismo pesquisa realizado em 1982 a institucionaliza ção desse movimento se realizou em alguns grupos de pesquisa GEDISST Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 15 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 15 18102009 192530 18102009 192530 16 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER em 1983 CEDREF em 1985 equipe SIMONE em 1986 e na constituição de algumas cátedras de estudos feministas por exemplo Toulouse Paris VII Paris VIII Rennes A forma de rede foi um canal frutuoso de inter câmbios nacionais e internacionais Grupo ad hoc Structures familiales et systèmes productifs em 1982 Ateliê Productionreproduction em 1984 État et rapport sociaux de sexe em 1987 ANEF em 1989 Marché du travail et genre em 1995 RING em 2000 Surgiram diversas revistas algumas con tinuam a ser publicadas regularmente o que permite pela difusão desses trabalhos darlhes visibilidade Na França podemos citar Clio Cahiers du CEDREF Cahiers du féminisme Cahiers du Genre Cahiers du GRIF Nouvelles questions féministes Projets féministes Travail Genre et Sociétés Cada rúbrica contém uma ou várias defi nições da noção traça as etapas do seu desenvolvimento histórico expõe os debates e controvérsias que ela suscitou ou suscita e apresenta sua atualidade tanto social como científi ca Embora a maioria dos textos possua o mesmo tamanho deixamos um espa ço mais importante para três abordagens conceituais fundamentais na área a saber diferença de sexos divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo sexo e gênero Essas rúbricas constituem os elementos teóricos bási cos que permitem compreender os fundamentos das oposições ideológicas e práticas no que concerne à naturalidade ou à dimensão construída da di ferença entre os sexos e o confi namento de um deles à maternidade eou ao trabalho doméstico considerado por exemplo não qualifi cado Correlatos no fi nal do artigo permitem localizar diversas rúbricas do di cionário em que a noção é mencionada ou utilizada Cada artigo contém cinco ou seis referências bibliográfi cas consideradas essenciais para o apro fundamento do tema Uma bibliografi a geral no fi nal do volume reúne essas referências bem como diversas outras mencionadas nos textos Um índice geral permite o acesso imediato às rúbricas do dicionário e seus correlatos e a reiteração de certos termos se explica pela centralidade que ocupam quan do abordamos as relações sociais entre os sexos o conceito de trabalho a divisão sexual do trabalho a dominação o poder ou ainda as violências Por outro lado o índice permite fazer referência a termos que não foram objeto de um artigo como por exemplo Corpo Opressão Este dicionário fruto da atividade do Grupo de Estudos sobre a Divisão Social e Sexual do Trabalho GEDISSTCNRS que se tornou Gênero e Relações Sociais GERSCNRS em 2001 e GTM em 2005 tem como pú Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 16 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 16 18102009 192530 18102009 192530 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 17 blicoalvo todos os estudantes pesquisadores universitários professores jornalistas militantes sindicais e associativos centros de documentação e bibliotecas que encontrarão nele assim o esperamos uma ferramenta de trabalho efi caz A procura de uma linguagem clara visa igualmente atingir um público vasto que se questiona sobre noções que às vezes são aborda das pela mídia sem que sua história ou seus debates sejam apresentados ou explicitados O número limitado de rúbricas e a forma sintética dos artigos visam possibilitar a realização de uma obra de pequeno formato e custo acessível a um vasto público Além disso nós feminizamos os nomes dos ofícios e das funções respeitando as regras fi xadas pelo Centro Nacional da Pesquisa Científi ca e pelo Instituto Nacional de Língua Francesa publica das em 1999 Femme jécris ton nom Paris La Documentation française Enfi m retomamos a metáfora proposta pelosas autoresas de um glossário inglês similar Sonya Andermahr et al a teoria feminista faz parte das teorias nômades que vão de pessoa a pessoa de um período a ou tro transformandose conforme os novos usos e às vezes conforme as dis ciplinas Se este livro pode ser considerado um guia ele não substituirá a viagem Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 17 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 17 18102009 192530 18102009 192530 SIGLAS UTILIZADAS AMI Acordo Multilateral sobre o Investimento AN EF Associação Nacional de Estudos Feministas APE Subsídio Parental para a Educação APRE Ateliê ProduçãoReprodução ATTAC Associação para a Criação de uma Taxa sobre Transações Finan ceiras para Auxílio aos Cidadãos AVFT Associação Europeia contra as Violências Exercidas sobre as Mu lheres no Trabalho OIT Organização Internacional do Trabalho BTP Construção Civil e Obras Públicas CDD Contrato de Duração Determinada CDI Contrato de Duração Indeterminada CEA Comissariado da Energia Atômica CEDREF Centro de Ensino Documentação e Pesquisa sobre Estudos Feministas CEREQ Centro de Estudos e Pesquisas sobre Qualifi cações CES Contrato EmpregoSolidariedade emprego subvencionado pelo governo CFDT Confederação Francesa Democrática do Trabalho CGT Confederação Geral do Trabalho CNRS Centro Nacional de Pesquisa Científi ca CSF Conselho do Estatuto da Mulher CSP Categorias Socioprofi ssionais FIV Fecundação in vitro Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 19 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 19 18102009 192530 18102009 192530 20 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER GEDISST Grupo de Estudos sobre a Divisão Social e Sexual do Trabalho IFOP Instituto Francês da Opinião Pública INSEE Instituto Nacional da Estatística e dos Estudos Econômicos INSERM Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica IRESCO Instituto de Pesquisa sobre as Sociedades Contemporâneas IVG Interrupção voluntária da gravidez MAGE Mercado de Trabalho e Gênero MFPF Movimento Francês pelo Planejamento Familiar MLF Movimento de Libertação das Mulheres NTR Novas Tecnologias da Reprodução Humana OCDE Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico OMC Organização Mundial do Comércio ONG Organização Não Governamental ONU Organização das Nações Unidas OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte PACS Pacto Civil de Solidariedade PCS Profi ssões e Categorias Sociais PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento RING Rede Interuniversitária e Interdisciplinar sobre Gênero RMI Renda Mínima de Inserção SIMONESAGESSE Saberes Gênero e Relações Sociais de Sexo TTP Trabalho em Tempo Parcial UE União Europeia UNEDIC União Nacional para o Emprego na Indústria Comércio e Agricultura UNESCO Organização Educacional Científi ca e Cultural das Nações Unidas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 20 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 20 18102009 192531 18102009 192531 Aborto e contracepção Alisa Del Re O reconhecimento do direito de dispor do seu corpo foi um grande acon tecimento para as mulheres do século XX Desde a greve dos ventres no século XIX essa reivindicação foi objeto de diversas lutas perdidas ou par cialmente ganhas Internacionalmente essa luta é sustentada de maneira unânime pelos movimentos feministas dos anos 70 Quem possui o poder de controle sobre o corpo feminino o Estado as autoridades religiosas as corporações médicas o chefe da família marido ou pai ou as próprias in teressadas É um ponto decisivo pois se trata da autonomia das mulheres Exigindo que estas últimas possam ter o domínio da sua sexualidade e re cusandose a que o debate seja remetido para a esfera privada que tende a culpabilizar os relacionamentos individuais o movimento feminista con feriu uma dimensão política a esta questão que sempre ocupou um espaço primordial nas lutas parlamentares e conduziu a fraturas no interior dos partidos Os limites e as abstrações dos discursos políticos que ignoram a sexuação dos corpos vieram dessa forma à tona Entretanto em diversas regiões do planeta esse direito ainda não foi re conhecido Nos países em vias de desenvolvimento por exemplo as po líticas de planejamento familiar quando existentes repousam sobretudo na coerção esterilização forçada por exemplo ao invés de numa escolha livre Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 21 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 21 18102009 192531 18102009 192531 22 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Limites das legislações adotadas Na Europa Ocidental no que concerne à contracepção e ao acesso aos meios contraceptivos encontramos mais semelhanças do que diferenças Entretanto o contexto legal difere em função de se tratar de países que aboli ram as leis restritivas e as proibições do passado França Irlanda ou de paí ses mais tolerantes que criaram leis para afi rmar o direito ao planejamento familiar e o direito à informação no que concerne a este tema Blayo 1993 As medidas de prevenção desde a educação sexual até as informações sobre os métodos contraceptivos modernos pílula DIU etc são conquis tas importantes para as mulheres E a difusão da contracepção ao mesmo tempo que o desenvolvimento econômico restringiu o controle dos homens sobre o corpo feminino Conferência do Cairo 1994 Todavia isso não tornou a questão do aborto obsoleta Todas as mulhe res em idade fértil podem um dia engravidar sobretudo num contexto do minado pela heterossexualidade masculina pouco responsável Entretanto nem todas desejam se tornar mães ou tornarse nesse momento Por outro lado as práticas de informação e educação sexual permanecem aquém das necessidades na grande maioria dos países conforme mostram os dados alarmantes de adolescentes grávidas A importância do preserva tivo no contexto das campanhas de prevenção do HIVAids fez que muitas jovens esquecessem o fato de que uma vez descartado o risco da doença a contracepção continuaria sendo indispensável Por sua vez o atraso da di fusão da pílula do dia seguinte num país como a França ou a pouca atenção conferida ao desenvolvimento da contracepção masculina testemunham o caráter secundário que a questão da contracepção continua tendo aos olhos do corpo médico e dos poderes públicos No que concerne ao aborto foi somente a partir dos anos 70 que os paí ses da Europa Ocidental adotaram leis autorizando a interrupção voluntá ria da gravidez IVG Hoje a Irlanda onde o aborto não somente é ilegal mas inconstitucional representa uma exceção assim como é o caso na Eu ropa Oriental da Polônia onde o aborto foi praticamente banido em 1993 Heinen e MatuchniakKrasuska 1992 Entretanto na maioria dos casos as mulheres devem justifi car seu pe dido e obter uma autorização médica para poder abortar e com exceção de Dinamarca Suécia e Holanda a interrupção da gravidez se insere no âmbito do Código Penal quando não se cumprem as condições restritivas impostas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 22 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 22 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 23 Essas condições variam de país para país o limite do número de semanas além das quais a gravidez não pode ser interrompida se não houver razões terapêuticas o tempo mínimo de residência no país se a mulher for estran geira consentimento dos pais se ela é menor de idade MFPF 1992 É necessário entretanto distinguir lei e prática Em países com legislação liberal as mulheres podem enfrentar na prática inúmeros obstáculos tais como a presença de um grande número de médicos com objeção de cons ciência Uma lei restritiva no entanto pode ser interpretada de forma mais ou menos liberal Em quase todos os países da Europa empregamse técnicas simples de aborto por aspiração mas a prática da curetagem ainda é frequente mente usada A pílula abortiva ou RU 486 está disponível apenas num número limitado de países Além disso a frequência do recurso ao aborto é muito desigual enquan to as mulheres na Europa Ocidental e do Norte sofrem menos de um aborto durante a vida as frequências são muito mais elevadas nos países do Sul e na Europa Oriental onde o aborto é tido como substituto da contracepção Newman 1993 Abordagens políticas diferenciadas Os argumentos lançados por feministas na década de 1970 para justifi car o direito ao aborto repousavam em vários tipos de expectativas Os pontos comuns residiam na vontade de eliminar o perigo de morte que ameaçava as mulheres que recorriam ao aborto clandestino e na reivindicação da auto nomia reprodutiva das mulheres refl etida no slogan nós teremos os fi lhos que quisermos se quisermos e quando quisermos A posição adotada pela maioria consistia em reivindicar uma lei que as segurasse o aborto livre reembolsado pelo sistema de seguro social público e com assistência médica Ela se baseava na crença de que essa legislação teria não apenas um resultado simbólico mas que daria às mulheres um poder de barganha perante os poderes públicos a respeito de um tema tra dicionalmente visto como da esfera privada Aquelas que defendiam o princípio da descriminalização insistiam an tes de tudo na responsabilidade das mulheres por sua procriação e muitas vezes reclamavam medidas para proteger a saúde das mulheres asseguran do simultaneamente o princípio de sua autonomia Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 23 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 23 18102009 192531 18102009 192531 24 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Em geral a noção de liberdade sexual ocupou um espaço central na ar gumentação das feministas favoráveis ao direito de aborto Diversas pes quisas realizadas após a aprovação de leis que liberalizaram a interrupção da gravidez mostraram que as razões que levam as mulheres a interromper uma gravidez não são apenas materiais porque muitas delas tinham infor mações sobre métodos de contracepção e sentiram no entanto a necessida de de abortar naquele momento Entretanto os partidos políticos apresentaram posições muito mais tradicionais A esquerda viu as mulheres como vítimas de injustiça social e cultural impedindo a maternidade livre e consciente Aos olhos dos ca tólicos e das diferentes organizações de direita as vítimas eram principal mente os fetos identifi cados como bebês De todo modo a grande maioria dos políticos qualifi cava a interrupção da gravidez como um drama uma tragédia e era a maternidade que ocupava o centro das preocupações Apenas algumas correntes laicas defi niam o aborto como um direito civil isto é como uma questão de liberdade individual sobre a qual o Estado não deveria interferir Tal posição não é fácil mesmo que seja apenas devido ao vínculo re clamado pela maioria das feministas e amplamente aceito entre aborto e direitos sociais Além disso se o direito das mulheres em dispor de seus corpos não é questionável a relação entre aborto e direitos civis é complexa na medida em que levanta a questão do direito do parceiro que não pode ser negado a priori Assises pour les droits des femmes 1998 Os obstáculos atuais Nos últimos anos o debate assistiu ao ressurgimento dos discursos das correntes de direita recusandose a ver as mulheres como sujeitos autôno mos O Papa e grande parte da hierarquia católica que tentam impor seu poder sobre as consciências têm reafi rmado insistentemente a sua intran sigência quanto ao tema da vida estabelecendo uma ligação intrínseca entre direito à vida e democracia A encíclica Evangelium Vitae de 1995 nega qualquer validade jurídica às leis que autorizam o aborto A defesa do direito à vida é aí apresenta da como uma nova questão social justifi cando implicitamente as piores condutas fundamentalistas dos comandos antiaborto Nessa óptica é pre Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 24 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 24 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 25 ciso salvar a vida em potencial o feto e não a das mulheres correndo o risco de morrer em consequência de um aborto clandestino Del Re 1997 Além disso o discurso dos médicos e das comissões nacionais de ética sobre as novas tecnologias reprodutivas reforçam esta tendência ao tratar o feto como uma pessoa quase independente favorecendo a emergência do conceito de paciente que assim deixa a mãe em segundo plano Akrich e Laborie 1999 Essa abordagem que instrumentaliza o corpo da mulher rejeita a estreita relação entre o desejo desta última e as condições do desen volvimento físico e mental da futura criança Pitch 1998 Quem defende o direito das mulheres de decidir sobre a sua gravidez insiste ao contrário no fato de que colocar uma criança no mundo é uma escolha de vida uma opção para toda a existência O que conta nesse caso é a situação concreta e as representações das mulheres envolvidas e portanto o respeito por sua autodeterminação e pelo espaço de liberdade que elas conquistaram Maternidade Movimentos feministas Políticas sociais e familiares Públicoprivado Sexualidade Tecnologias da reprodução humana Assises pour le droit des femmes En avant toutes Paris Le temps de cerises 1998 308p Blayo Chantal Régulation de la fécondité en Europe Entre nous La revue européenne de planifi cation familiale 1993 n223 p39 Del Re Alisa Reproducción social y reproducción biológica en la Italia del fi n de milenio Papers 1997 n53 p2536 Heinen Jacqueline MatuchniakKrasuska Anna Lavortement en Pologne la croix et la bannière Paris LHarmattan 1992 240p Mouvement français pour le planning familial Europe elles Le droit de choisir Paris MFPF 1992 228p Pitch Tamar Un diritto per due La costruzione giuridica di genere sesso e sessualità Turim Il Saggiatore 1998 281p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Assédio sexual Carme Alemany As defi nições são extremamente variáveis Certos países Alemanha e Áustria por exemplo dão a essa expressão uma acepção muito ampla incluindo todas as alusões sexistas outros como a França se atêm a uma Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 25 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 25 18102009 192531 18102009 192531 26 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER defi nição legal mais restrita Essa denominação designa todas as condutas de natureza sexual quer sejam de expressão física verbal ou não verbal propostas ou impostas a pessoas contra a sua vontade principalmente em seu local de trabalho e que acarretam um ataque à sua dignidade A maior parte desses comportamentos é dirigida contra as mulheres e constitui uma expressão do poder dos homens sobre elas Uma nova noção para um problema antigo Várias gerações de mulheres têm sido e ainda são submetidas a solici tações de ordem sexual não desejadas Assim o droit de cuissage2 tem sido assinalado por diferentes autores entre eles Leon Richier jurista francês do fi m do século XIX MarieVictoire Louis 1994 analisando a condição das mulheres no momento da aparição do assalariamento escreveu Os direi tos de utilização dos corpos das mulheres aí compreendidos evidentemente em sua dimensão sexual foram perpetuados no seio das relações salariais Foram as feministas americanas da Universidade de Cornell que nos anos 70 designaram pela primeira vez sob o nome de assédio sexual sexual ha rassment esse gênero de condutas masculinas Elas se referiam então mais concretamente às práticas observadas no contexto das relações de trabalho com os homens A partir de 1975 esse conceito se generalizou nos países anglosaxônicos Entretanto e apesar das análises feministas o assédio se xual somente foi considerado um fenômeno importante a partir dos anos 80 No campo jurídico Catharine MacKinnon 1979 nos Estados Unidos foi a primeira a introduzir o conceito de assédio sexual na doutrina legal e a apresentálo como uma forma de discriminação sexual Nos Estados Unidos esse processo conduz ao seu reconhecimento pelos tribunais como discriminação ilegal fundada no sexo e à consideração desse fenômeno na legislação e na regulamentação administrativa Nos países europeus também foi adotado o conceito de assédio sexual Foi em meados dos anos 80 que se reconheceu verdadeiramente a impor tância do problema sobretudo no ambiente de trabalho Segundo uma série de resoluções do Parlamento europeu o assédio sexual constitui ataque à 2 Direito que tinha o senhor na época medieval de colocar a perna no leito da recémcasada na noite de núpcias e em certas regiões de passar essa primeira noite com ela Cf Dicionario Petit Robert NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 26 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 26 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 27 dignidade e aos direitos das mulheres no local de trabalho Em 1987 a Co missão Europeia publicou o primeiro relatório sobre a questão Elaborado por Michael Rubenstein ele defi niu o assédio sexual como uma conduta verbal ou física de natureza sexual cujo autor sabe ou deveria saber que é ofensiva à vítima Esse documento que permitiu divulgar a situação nos diferentes paísesmembros da União Europeia assinala em especial que o assédio sexual entra em confl ito com o objetivo de igualdade de trata mento entre mulheres e homens e mostra que a legislação existente nos Estadosmembros não está adaptada para responder a essa situação Assim ele recomenda a elaboração de uma diretriz comunitária a fi m de prevenir o assédio sexual no mundo do trabalho proteger os trabalhadores desse risco e encorajar os empregadores a instituir e manter um ambiente de trabalho isento de todo assédio sexual Abordagens segundo os países Nem todas as análises coincidem em sua abordagem à questão Algumas feministas americanas recusam limitar o fenômeno às relações de trabalho porque elas o consideram uma forma de relação de poder entre o homem e a mulher exercida igualmente em outras situações Farley 1978 Por ou tro lado há aquelas que se centram no âmbito profi ssional e enfatizam que o assédio sexual é um elemento determinante da segregação feminina no mercado de trabalho Stanko 1988 Na Europa os debates das feministas americanas tiveram eco sobretudo nos países nórdicos e na GrãBretanha Nos demais países da União Eu ropeia a defi nição do conceito de assédio sexual conforme proposto nos textos europeus foi decisiva para fazer explodir o debate no seio do movi mento feminista Certos países entre eles a França centraramse princi palmente na necessidade de uma legislação sobre a matéria enquanto em outros sobretudo na Itália o debate tomou um caráter mais ideológico e teve por objeto as causas do fenômeno a discussão política do conceito utilizado nos textos europeus e a possível utilidade de uma lei Na França as associações feministas entre elas a AVFT Associação Europeia contra as Violências às Mulheres no Trabalho criada em 1985 foram as primeiras a reivindicar a sanção legal contra o assédio sexual Des de a década de 1990 elas propõem uma defi nição inspirada nos textos da Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 27 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 27 18102009 192531 18102009 192531 28 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Comunidade Europeia e nos conceitos norteamericanos que inclua o as sédio sexual exercido por colegas de trabalho e a chantagem sexual de um superior hierárquico A discussão sobre o fenômeno acabou se restringindo rapidamente aos debates parlamentares Durante tais debates foi frequentemente apontado o perigo de aprovar uma lei semelhante à dos Estados Unidos dado que as mídias apresenta ram as ações judiciais aplicadas nos Estados Unidos para denunciar e san cionar o assédio sexual como práticas exageradas cujo desenvolvimento não seria desejável favorecer no contexto europeu O medo da maioria dos parlamentares de chegar a tal situação portanto infl uenciou o debate e contribuiu para criar um consenso no qual fi nalmente se adotou uma defi nição fundada unicamente no abuso de uma autoridade com a intenção de obter favores sexuais Desse modo o assédio sexual cometido por colegas foi excluído do campo de aplicação da lei atualmente a lei francesa inclui esse tipo de assédio sexual A motivação real dos legisladores visava so bretudo encontrar um consenso para reprimir os principais abusos salva guardando a concepção masculina da sedução e das relações ofensivas ou de dominação que ela supõe Os debates parlamentares também sublinharam que existem formas de assédio sexual qualquer que seja o sexo das pessoas e concluíram portanto pela inadequação da defi nição do assédio sexual como discriminação sexual contra as mulheres Sem dúvida o texto da lei foi considerado insufi ciente pelo menos do ponto de vista do movimento das mulheres Além disso esse meio sucesso teve como efeito perverso esterilizar o debate impedir seu aprofundamento e tornar mais difícil a ação prática A título de exemplo se em muitos paí ses as sindicalistas feministas se esforçaram para introduzir nas convenções coletivas cláusulas sobre o assédio sexual medidas preventivas ou tipos de sanções isso não se produziu na França Na Itália ao contrário a indi ferença do governo em face do problema nem mesmo forneceu à União Europeia estatísticas ou dados sobre a amplitude do fenômeno provocou um maior envolvimento do movimento das mulheres no debate Pesquisas europeias Na Europa as pesquisas realizadas evoluíram no curso do tempo até o fi nal dos anos 80 e se orientaram sobretudo para o conhecimento do pro Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 28 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 28 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 29 blema Diferentes levantamentos realizados na Europa buscaram avaliar sua incidência e atualmente todos os países da União Europeia dispõem de dados que permitem conhecer a situação Variando enormemente segundo os países os tipos de profi ssão e as diversas formas que pode assumir o assédio sexual concerne muito frequentemente mais de 30 das mulheres no trabalho as quais caso se recusem a ceder podem sofrer consequên cias Infelizmente como a metodologia empregada para medir a impor tância do fenômeno não é homogênea não é fácil uma comparação inter nacional Entretanto quando se apresenta às mulheres em todos os países uma lista de fatos incluindo as manifestações e os propósitos e olhares com intenção sexual dirigidos a uma pessoa sem que ela os tenha desejado a porcentagem de mulheres que afi rmam ter sofrido tais ataques atinge em certas pesquisas mais de 60 Ao contrário quando se pede às mulheres que assinalem os comportamentos que elas consideram parte do assédio sexual observase que a taxa de respostas afi rmativas diminui quando se trata de comportamentos de nível mais fraco comentários embaraçosos de natureza sexual sobre o físico ou o vestuário histórias descaradas olhares incômodos Isso mostra que as mulheres minimizam esses fatos e conside ram o assédio sexual de maneira restritiva Essa tendência se confi rma em quinze países da União Europeia Timmerman Alemany 1999 A partir dos anos 90 as pesquisas qualitativas se orientaram para a compreensão da complexidade do problema Algumas utilizaram os testemunhos e as his tórias pessoais de mulheres assediadas Grisendi 1992 Cromer 1994 Na Alemanha na Finlândia e em Portugal foram realizadas pesquisas sobre o assédio sexual contra homens Elas mostraram por um lado que os ho mens se sentem menos atingidos em sua dignidade que as mulheres e que por outro a maioria dos assediadores eram homens Atualmente os debates sobre a questão diminuíram consideravelmente de intensidade exceto na Itália onde ainda se questiona a pertinência de se votar uma lei Condriagnani 1996 Em outros países as associações femi nistas na França a AVFT e as comissões de mulheres dos sindicatos se esforçam para dar apoio jurídico e psicológico às mulheres que denunciam esse tipo de agressão É necessário assinalar enfi m que não há pesquisas que permitam avaliar os efeitos das medidas tomadas contra o assédio se xual no local de trabalho as quais sejam a inclusão na negociação coletiva da proibição do assédio sexual e diversas medidas preventivas tais como a Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 29 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 29 18102009 192531 18102009 192531 30 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER criação de um cargo de conselheira de confi ança ou a inclusão da interdi ção do assédio sexual no regulamento interno de certas empresas Movimentos feministas Sexualidade Trabalho o conceito de Violências Cromer Sylvie AVFT Le harcèlement sexuel La levée du tabou 19851990 Paris La documentation française 1994 228p Democracia e Diritto revista 1993 n2 317p Edição monográfi ca sobre o debate na Itália Louis MarieVictoire Le droit de cuissage en France 18601930 Paris Les Éditions Ou vrières 1994 319p MacKinnon Catharine Sexual Harassment of Working Women A Case of Sex Discrimi nation New Haven Yale University Press 1979 312p Rubenstein Michael La dignité de la femme dans le monde du travail Rapport sur le problème du harcèlement sexuel dans les états membres des communautés européennes Luxemburgo Escritório de publicações de comunidades europeias Document des Commissions des Communautés européennes 1987 161p Timmerman Grejte Alemany Carme Le harcèlement sexuel sur le lieu de travail dans lUnion européenne Comissão europeia Diretriz geral Emploi relations industrielles et affaires sociales 1999 230p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Categorias socioprofi ssionais Pierre CoursSalies Quando se trata de classifi car indivíduos que são semelhantes em função de características comuns estamos perante uma atividade intelectual que sempre enfrentou difi culdades para evitar naturalizações mesmo quando se trata de uma explicitação de cunho sociológico das semelhanças e dife renças A rigor na linguagem cotidiana uma categoria supõe a classifi cação de objetos de mesma natureza Além disso a existência de categorias socioprofi ssionais CSP qualquer que seja a formulação utilizada para descrevêlas tem origem tão distante quanto os primeiros alfabetos e os primeiros sistemas de cálculo que foi pos sível decifrar Linear B de Micenas Síria antiga China incas Egito etc Tratavase de informações numéricas recolhidas e apresentadas pelas admi nistrações vinculadas ao poder político Daí o conceito de estatísticas que Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 30 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 30 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 31 signifi ca o inventário de conhecimentos úteis para um homem de Estado extensão população recursos Um dado isolado permanece sempre menos bem conhecido do que quando é inserido num conjunto que deve na medi da do possível apresentarse como uma nomenclatura em que cada reali dade encontra sua própria denominação ou taxinomia o ordenamento in telectual que permite vislumbrar a diversidade de um domínio da realidade Mais fundamentalmente essa atividade de classifi cação atravessa o con junto da fi losofi a política especialmente quando suscita os movimentos de cidadãos pensemos nos debates entre os sofi stas gregos e Aristóteles a respeito dos escravos das mulheres e dos nobres recordemos também as discussões sobre os direitos dos cidadãos na época da Revolução Francesa com as polêmicas em torno das classifi cações entre aqueles que deveriam ter o direito de voto e os que não deveriam incluindose aí as mulheres ci temos a controvérsia fundadora dos direitos políticos modernos limitados aos que possuíam o sufi ciente para pagar os impostos 1646 no tempo da primeira Revolução Inglesa Macpherson 1971 Nos dias de hoje lidar com categorias socioprofi ssionais não pode se limitar a registrar dados neutros Não há aqui uma descrição objetiva Usar uma nomenclatura signifi ca verse frente a frente com uma concepção sistemática da unidade dos semelhantes diferentes as análises que jus tifi cam as categorias remetem às diferenças concretas mais ou menos iden tifi cadas com os princípios de classifi cação Um bom exemplo é encontrado num texto de Max Weber cap IV p3093151971 O uso francês das categorias socioprofi ssionais do INSEE temse man tido desde 1951 Ele sofreu ajustes passando da sigla CSP até 1982 para PCS Profi ssões e Categorias Sociais em seguida para distinguir as séries relacionadas com a evolução das profi ssões e também com melhores análi ses dos empregos Repertório Francês de Empregos do CEREQ Reper tório Operacional dos Ofícios O esforço de confrontar ramos patronais e sindicatos de trabalhadores ocupou um espaço importante para se chegar à nomenclatura de 1982 Difi culdades e controvérsias O uso das CSP requer uma tripla vigilância Em primeiro lugar para conseguir compreender a história de uma nomenclatura suas evoluções e Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 31 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 31 18102009 192531 18102009 192531 32 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER correções inseparável de momentoschave como 1936 e 19451946 de mudanças culturais e econômicas Nesse ponto Alain Desrosières e Lau rent Thévenot 1988 trouxeram uma grande contribuição Em segundo lugar para atentar às diferenças nacionais Duriez et al 1991 Em terceiro lugar para atualizar os efeitos sociais perversos relativos a certas realida des O estudo crítico da história das estatísticas destacou bem esses desafi os Affi chard 1987 Desrosières 1993 Nos anos 70 Christine Delphy inaugurou na França uma crítica dos pressupostos sexistas dos estudos franceses de estratifi cação Delphy 19771998 Ela apontava o signifi cado de algumas inconsequências meto dológicas por exemplo nas categorias do INSEE como nas orientações do recenseamento geral da população muitas vezes classifi case uma mulher em função da sua profi ssão se ela é solteira e posteriormente abandonase esse critério no dia em que ela se casa Ela insiste na refl exão sobre a utili zação para a classifi cação das mulheres de um critério totalmente alheio à teoria da estratifi cação social chamado de critério de associação pelo casa mento ibidem p161 Destaquemos nesse sentido algumas contribuições Michel Verret comentando o Recenseamento Geral da População feito em 1990 mostra que a sexuação das categorias socioprofi ssionais ocultas pelas regras ad ministrativas e práticas do censo acarreta no mínimo dois efeitos comple mentares afasta a noção de classe operária da relação estrutural capitalista entre os proprietários dos meios de produção e as pessoas que dependem da venda da sua força de trabalho isto é a grande maioria dos assalaria dos e assimilaa a uma simples diferença de categorias entre grupos com estatuto e condições cotidianas de trabalho mais ou menos diferentes ao mesmo tempo a realidade do estatuto das mulheres assalariadas é oculta a maioria estando próxima da situação dos operários Verret 1994 Helena Hirata e Danièle Kergoat 1993 e 1998a Kergoat 1998b revelam que seria possível e necessário articular uma análise em termos de relações de classe e em termos de relações sociais de sexo em que a divisão sexual do trabalho ocupa um espaço primordial na reprodução das relações de dominação ex ploração e alienação Dominique FougeyrollasSchwebel e Maryse Jaspard 1990 propuseram uma crítica feminista das estatísticas e fi xaram mar cos para um cotejo europeu Marie DuruBellat 1994 enfatizou as impli cações teóricas da variável sexo na sociologia da educação contemporânea Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 32 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 32 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 33 Catherine Dutheil e Dominique Loiseau 1997 apresentaram uma síntese dos silêncios criticáveis do INSEE e dos preconceitos sociológicos na área da Educação Outras observações críticas consideram que as CSP funcionam como uma estratifi cação de tipo funcionalista cruzando estatutos e hierarquia profi ssional Boudon e Bourricaud p51823 1982 Alguns preferem uma categorização explicada pela lógica do mercado Esses debates voltaram à tona recentemente Se alguns propuseram uma mudança de categorização inspirada pelos modelos anglosaxões Lemel in Dupoirier 1997 outros insistiram no valor heurístico da técnica das CSP que articula enunciado de profi ssão estatuto e classifi cação profi ssional ligada às convenções coletivas sem entretanto recusarse a aperfeiçoálas Héran in Dupoirier 1997 Usos e melhorias Dois problemas muito diferentes permanecem atuais De um ponto de vista metodológico como não se esquivar da conotação sexista que afeta as mulheres nessas categorizações reproduzindo a divisão sexual do trabalho e as relações sociais de sexo Isso depende sobretudo da passagem de uma utilização acrítica do aparelho estatístico para uma sociologia dos modos de categorização estatística do mundo social que marcou a reformulação das CSP em 1982 e ela ainda merece ser reformu lada para que se possa analisar a divisão sexual do trabalho Chenu 1997 Nesse plano as discussões não tiveram praticamente nenhum efeito sobre o censo de 1999 No entanto estão progredindo conforme atesta um rela tório que destaca a força da nomenclatura a necessidade de fazêla viver proporcionandolhe melhorias Faucheux e Neyret 1999 a eventuali dade de uma categoria socioprofi ssional específi ca para pessoas em extre ma precariedade incapazes de invocar uma identidade profi ssional reco nhecida uma melhor distinção dos dois grandes níveis de qualifi cação dos trabalhadores e da mesma forma um agrupamento em torno dos não assalariados não agrícolas que não fazem parte das profi ssões intelec tuais superiores Para considerar as realidades sexuadas não é necessário um questionamento mas uma melhoria das CSP sobretudo uma cautela a recusa de ocultar a situação pessoal de uma mulher assimilandoa à CSP do seu cônjuge A nomenclatura das CSP seria consolidada por uma ferra Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 33 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 33 18102009 192531 18102009 192531 34 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER menta complementar conforme proposto no relatório já citado uma no menclatura dos domicílios levando em conta o tipo de domicílio com ou sem um cônjuge o estatuto de atividade de ambos os cônjuges ativo por tempo parcial etc o número de fi lhos atualmente dependentes ou não etc Num plano mais teórico devemos claramente recolocar uma questão afastada com demasiada facilidade que diz respeito às relações de produção e sua ligação com as relações sociais de sexo Isto nos convida a retomar uma análise das relações de classe Com certeza podemos ver que as camadas protetoras Schumpeter 1984 mascaram ou atenuam o confronto entre aqueles que possuem o capital e os outros Mas aqui não há nada de novo tratase de uma releitura de Marx que dedica a parte central do Livro III do Capital a esses fenômenos Seria o caso no entanto de incorporar ao presente programa de trabalho as teses de Flora Tristan quando esta defi niu a classe dos proletários como a que engloba todos aqueles e aquelas que possuem apenas a sua força de traba lho para viver sem a sua união a fi m de impor o direito ao trabalho para todos os seres humanos aqueles que dependem do mercado não podem segundo seu apelo de 1843 ser cidadãos Flora Tristan 18431986 Aqui aparece outra questão a das relações de classe no momento muitas vezes confun dida de maneira errada com as noções de categorias socioprofi ssionais Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Ofício profi ssão bico Poderes Precarização social Sindicatos Chenu Alain La descriptibilité statistique des professions Sociétés contemporaines 1997 n26 p10934 Delphy Christine Les femmes dans les études de stratifi cations 1977 Reeditado in Delphy Christine Lennemi principal t1 Économie politique du patriarcat Paris Syl lepse Nouvelles questions féministes 1998 293p Desrosières Alain La politique des grands nombres Histoire de la raison statistique Paris La Découverte 1993 437p Dupoirier Élisabeth Parodi JeanLuc Orgs Les indicateurs sociopolitiques aujourdhui Paris LHarmattan Logiques politiques 1997 364p Duriez Bruno Ion Jacques Pinçon Michel PinçonCharlot Monique Institutions statistiques et nomenclatures socioprofessionnelles Essai comparatif RoyaumeUni Espagne France Revue française de sociologie janeiromarço 1991 XXXII1 p2959 Faucheux Hedda Neyret Guy Évolution de la pertinence des catégories socioprofession nelles CSP Relatório da inspeção geral do INSEE março de 1999 142p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 34 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 34 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 35 Cidadania Bérengère MarquesPereira A Revolução Americana 1776 e a Revolução Francesa 1789 são mo mentos fundamentais para a modernidade política quanto às representa ções da cidadania A primeira traduz uma perspectiva liberal que atribui toda a sua importância à liberdade individual e à igualdade de todos diante da lei Ela reivindica o direito ao voto e a participação no selfgovernment A segunda defende a liberdade a igualdade e a fraternidade em nome da universalidade Condorcet foi o primeiro a reivindicar a admissão das mulheres ao direito à cidade no momento da Revolução Francesa Para ele negar às mulheres os direitos políticos é irracional tendo em vista que o indivíduo é caracterizado por sua aderência à humanidade e pelo uso da razão Ao mes mo tempo e ultrapassando essa óptica Olympe de Gouges julga necessário especifi car o caráter sexuado do avanço político das mulheres na Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã 1791 Por outro lado Mary Wollsto necraft se aproxima mais do pensamento de Condorcet Na sua Defesa dos Direitos da Mulher afi rma que é opressivo e ilógico privar uma parte da humanidade dos direitos que concedemos à outra Uma longa exclusão política A Revolução Francesa confi rmou durante muito tempo a exclusão po lítica das mulheres e em vários casos as antigas mobilizações feministas em favor da igualdade política somente tiveram impacto muito tempo de pois Se a Finlândia 1906 foi o primeiro e a Suíça o último país 1971 a conceder às mulheres o direito de voto nacional as francesas tiveram de aguardar até 1944 para alcançar esse direito Esse atraso guarda relação com o Código de Napoleão 1804 que afi rma a incapacidade jurídica das mu lheres casadas A esse respeito notemos que sua capacidade civil e o direito ao trabalho foram em geral adquiridos antes do direito ao voto Esse foi em especial o caso da França 1938 e da Suíça 1912 A cidadania é vinculada a duas grandes tradições a tradição liberal por exemplo Montesquieu e a tradição do civismo republicano por exemplo Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 35 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 35 18102009 192531 18102009 192531 36 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Rousseau O primeiro sublinha os direitos civis e políticos esses direi tosliberdades que o indivíduo possui face à intervenção do Estado são a garantia da sua autonomia A segunda tradição é vinculada à formação do interesse geral tornada possível graças ao envolvimento do conjunto dos cidadãos numa comunidade de interesses políticos os cidadãos assegu ram suas necessidades muito mais nas relações recíprocas do que na sua autonomia Hoje a noção de cidadania envolve em geral três sentidos a cidadania é um estatuto um conjunto de direitos e deveres é também uma identi dade um sentimento de pertencer a uma comunidade política defi nida pela nacionalidade e por um determinado território e fi nalmente é uma prá tica exercida pela representação e pela participação políticas estas últimas traduzem a capacidade do indivíduo para interferir no espaço público emi tindo um julgamento crítico sobre as escolhas da sociedade e reclamando o direito de ter direitos Até o fi nal dos anos 80 os sociólogos e politólogos não consideravam a cidadania sob o ângulo da problemática das relações sociais de sexo da mesma forma que os estudos feministas não fi zeram da cidadania um tema de pesquisa embora algumas feministas tenham dado contribuições im portantes A segunda onda do feminismo pode ser interpretada hoje como uma luta contra as discriminações de que as mulheres são alvo em matéria de direitos civis políticos e sociais e pela extensão dos direitos de cidadania para a liberdade reprodutiva tema já presente entre as feministas no século XIX Mas a questão do estatuto jurídico e social das mulheres bem como as reivindicações do direito à contracepção e à interrupção voluntária da gra videz aborto eram inicialmente consideradas pelo ângulo da opressão e da exploração nas esferas da produção e da reprodução da democratização das relações sociais cotidianas da justiça e da autonomia do questionamento do Estado patriarcal Ultrapassar o dilema igualdade vs diferença Duas iniciativas importantes devem ser consideradas Jean Elshtain e Carole Pateman questionam a teoria política o caráter neutro da cidadania bem como a separação entre o público e o privado que se supõe defi na o âmbito político A primeira desenvolve uma tese maternalista que valoriza Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 36 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 36 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 37 a ideia de ética da solicitude ou ética do cuidado ethics of care Essa ética permitiria esvaziar a visão participativa e republicana da cidadania de seus aspectos machistas para preenchêla com valores ditos maternais como a preservação e a proteção da vida humana e do meio ambiente a compaixão e a não violência Essa lógica tipicamente feminina oporseia a uma lógica dos direitos tipicamente masculina Uma das críticas mais sistemáticas de tal óptica é a de Mary Dietz Essa autora lembra até que ponto a cidadania não resulta dos pressupostos que regem a relação mãecriança Enquanto esta funciona no registro da intimidade da autoridade e da exclusão a rela ção entre cidadãos envolve a igualdade a distância e a inclusão Carole Pateman por sua vez desenvolve a tese segundo a qual a cidada nia patriarcal é fundada numa universalidade abstrata que coloca o mascu lino como norma de referência Ela mostra que por trás do contrato social desenhase um contrato sexuado Sem dúvida Carole Pateman tem o mé rito de haver desenvolvido aquilo que denomina de dilema de Wollstone craft Com efeito nos sistemas androcêntricos as mulheres são acuadas no melhor dos casos a uma cidadania de segunda classe ou são integradas à cidadania como indivíduos e a igualdade delas as assimila aos homens negando e renegando suas experiências e suas vidas como mulheres ou são incluídas na cidadania como mulheres e a diferença sexual confi rma a sepa ração entre o público e o privado Durante os anos 90 os autores que abordaram a ideia de cidadania e relações sociais de sexo e que se situam no registro da teoria política ten taram ultrapassar o dilema igualdadediferença valorizando a ideia de uma cidadania democrática que reconheça a diversidade e o pluralismo Scott 1998 Entretanto uma pergunta permanece atual é necessário ou não es tabelecer uma representação por grupo Essa pergunta se refere à proble mática das cotas que notemos é diferente da problemática da paridade Enquanto Iris Young exalta uma cidadania diferenciada e Chantal Mouffe uma cidadania pluralista não sexuada Anne Phillips opta por uma cidada nia pluralista e diferenciada Esta última não é favorável a uma representação por grupos embora ad mita a relevância das cotas como política de presença Com efeito para essa autora as cotas não podem ser a expressão de um pluralismo alimen tado por diferentes grupos sociais atentos unicamente a suas próprias preo cupações e interesses particulares Uma representação por grupos como Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 37 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 37 18102009 192531 18102009 192531 38 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER propõe Iris Young correria o risco de reifi car as diferentes identidades pois todo indivíduo é portador de múltiplas identidades sempre em mo vimento às vezes contraditórias Para Iris Young uma representação das perspectivas dos diferentes grupos sociais oprimidos nos processos polí ticos pressupõe o direito de propor políticas fundadas nos seus próprios interesses e até mesmo o direito de veto quando algumas políticas gerais podem afetálos Anne Phillips assim como Chantal Mouffe rejeita tal posição por causa dos riscos de derivas essencialistas e considera o acordo e a negociação políticas entre os diferentes grupos necessários para a cons trução de um pluralismo real Porém aos olhos de Chantal Mouffe o reco nhecimento das diferenças não é o resultado acima de tudo da democracia representativa Pois se é verdade que as identidades se constroem por meio dos processos políticos que os interesses dos grupos não poderiam existir e portanto ser representados a priori também é verdade que a política é em primeiro lugar uma questão de relação de forças o que implica a exclu são de algumas diferenças e de certas identidades em detrimento de outras Inclusive para essa autora um sistema de cotas corre sempre o risco de institucionalizar as diferenças entre homens e mulheres em detrimento de sua igualdade Redefi nir a cidadania A atualidade do debate sobre cidadania e relações sociais de sexo tam bém se deve aos estudos conduzidos pelos politólogos e sociólogos sobre o Estado Providência e as políticas sociais Autoras como Jane Jenson Bir te Siim Alisa Del Re e Jacqueline Heinen usam frequentemente o famoso texto de T H Marshall Class and Citizenship como ponto de partida cri ticando seus aspectos lineares e androcêntricos De acordo com Thomas Humphrey Marshall a plena expressão da cidadania não pode se limitar a suas dimensões civis e políticas e requer a existência de um Estado Providência democrático e liberal que garan ta os direitos sociais conferindo assim a cada membro da comunidade um estatuto que lhe dá o sentimento de ser um verdadeiro cidadão capaz de participar da vida em sociedade e se integrar nela Os direitos e deve res de cidadania são garantidos pelo Estado Por um lado eles envolvem Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 38 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 38 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 39 deveres para com toda pessoa que se benefi cia desses direitos pagamento das contribuições sociais dos impostos etc Por outro lado impõem uma obrigação ao Estado os direitos civis e políticos são direitosliberdades de que o indivíduo desfruta perante o Estado que vê sua autoridade soberana limitada Quanto aos direitos sociais eles são direitoscréditos do indiví duo sobre o Estado prestações em dinheiro ou em espécie que o indivíduo consome na medida que são disponibilizadas pela implementação de po líticas sociais Além de suas abordagens divergentes os trabalhos centrados nas rela ções sociais de sexo e nas políticas sociais buscam ultrapassar os dilemas da cidadania entre universalismo e particularismo igualdade e diferença O desafi o também é articular as dimensões social e política da cidadania Tratase de dar conta da capacidade das mulheres de impor uma defi ni ção de cidadania que integre sua dimensão social Estas se tornam sujeitos políticos tendo os direitos sociais como campo de lutas e de negociações sua capacidade de ter um papel no espaço público e político por sua par ticipação nas instâncias da democracia representativa e nas associações da democracia participativa faz delas atrizes do Estado Providência em vez de de meras clientes Nessa perspectiva podemos apreender a cidadania como uma prática de confl ito ligada ao poder e às lutas para o reconhecimento dos atores considerados protagonistas de reivindicações legítimas Ela é tam bém ligada a uma prática consensual de participação e representação bem como de formação das políticas públicas Igualdade Paridade Políticas sociais e familiares Públicoprivado Universalismo e particularismo Del Re Alisa Heinen Jacqueline Orgs Quelle citoyenneté pour les femmes La crise des Étatsprovidence et de la représentation politique en Europe Paris LHarmattan 1996 320p Lister Ruth Citizenship Feminist Perspectives Londres Macmillan 1997 284p MarquesPereira Bérengère Org Citoyenneté número especial de Sextant 1997 n7 206p Phillips Anne Ed Feminism and Politics Oxford Oxford University Press 1998 471p Scott Joan La citoyenne paradoxale Paris Albin Michel 1998 287p Voet Rian Feminism and Citizenship Londres Sage 1998 182p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 39 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 39 18102009 192531 18102009 192531 40 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Ciências e gênero Ilana Löwy A ideia de uma relação estreita entre as ciências e o gênero implica que a evolução do conhecimento científi co foi moldada pela existência de uma dicotomia fundamental entre o masculino e o feminino na sociedade e pelo fato de que durante a maior parte da História a pesquisa científi ca foi em preendida por e para indivíduos do sexo masculino As pesquisas nesse campo assumem que as defi nições vigentes de neutralidade objetividade racionalidade e universalidade da ciência na verdade frequentemente in corporam a visão de mundo das pessoas que criaram essa ciência homens os machos ocidentais membros das classes dominantes O conhecimento tem um gênero A refl exão sobre a relação entre ciência e gênero começou na década de 1970 em estreita ligação com a ascensão do movimento feminista e com os estudos sociais e culturais da ciência Afi rmar que o gênero é uma variável que intervém no desenvolvimento do saber científi co continua a causar no entanto muita controvérsia O tema ciência e gênero foi desenvolvido por pesquisadores que se declaram adeptos do relativismo metodológico na ciência Essa abordagem sem negar de forma alguma a existência de fenôme nos naturais independentes da vontade humana postula que a compreensão destes é uma atividade social e cultural que como tal não é independente do tempo e do lugar de sua produção Outros pesquisadores em História e Filo sofi a da Ciência argumentam ao contrário que a ciência é a implementação de um método ou seja de um sistema de regras que garantem a aceitabilida de dos enunciados independentemente de quaisquer outras considerações Uma tal percepção da ciência torna difícil a inclusão da variável gênero como elemento constitutivo do saber científi co afi rmar que as leis da natureza evi denciadas por um método científi co correto são universalmente válidas volta a supor ao mesmo tempo que a sua elaboração não deve ser afetada pelas ca racterísticas sexuais ou outras dos indivíduos que estudam esses fenômenos Sem dúvida esse argumento é frequentemente matizado Por um lado é amplamente reconhecido o fato de que a Biologia e a Medicina ou seja Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 40 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 40 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 41 os campos do saber científi co que tratam diretamente dos corpos sexuados podem ter sido infl uenciadas pela percepção social e cultural das diferenças sexuais Essa infl uência pode explicar o longo tempo de sobrevivência de argumentos científi cos sobre a inferioridade intelectual inata das mulhe res Admitese também que as opções feitas pela sociedade podem afetar a determinação dos rumos e das prioridades da investigação científi ca elas podem ser responsabilizadas por exemplo pela inexistência durante tanto tempo de estudos científi cos sobre a contracepção Hoje se aceita que o so cial pode afetar o desenvolvimento do conhecimento científi co mas apenas no sentido da seleção positiva ou negativa dos temas de pesquisa ou da distorção da pesquisa por preconceitos dos cientistas Em compensação a boa ciência aquela que conseguiu se libertar do viés introduzido por variá veis socioculturais é uma visão do nada uma atividade realizada por ob servadores neutros objetivos e permutáveis que constroem coletivamente uma cultura fora de toda cultura um refl exo fi el de leis imutáveis que ordenam o mundo natural As pesquisadoras que estudaram a relação entre gênero e ciência en tre elas Sandra Harding 1996 Ruth Bleier 1988 Ludmilla Jordanova 1993 Evelyn Fox Keller 1992 Helen Longino 1990 e Donna Haraway 1988 desenvolveram uma visão diferente da ciência Elas partem da pre missa de que o nosso conhecimento das leis da natureza provém do tra balho de um grupo bem determinado de humanos os pesquisadores cien tífi cos Entretanto nenhum trabalho coletivo de seres humanos pode ser totalmente dissociado do tempo e do lugar de sua produção não há cultura fora da cultura nem história natural fora da História Essas pesquisado ras enriqueceram as refl exões sobre a história social e cultural das ciências com considerações acerca do papel central da divisão homemmulher na constituição do saber científi co Esta é construída como uma dicotomia na tural rígida mutuamente exclusiva e hierárquica o princípio masculino domina sobre o princípio feminino Dada a relevância fundamental dessa divisão em todas as sociedades humanas e a sua incorporação na cultura e na linguagem é razoável supor que tenha infl uenciado a organização do conhecimento sobre o mundo natural e favorecido o desenvolvimento de visões dicotômicas e hierárquicas apresentadas como equivalentes à ver dadeira estrutura do mundo Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 41 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 41 18102009 192531 18102009 192531 42 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Por uma nova concepção da objetividade científi ca As pesquisadoras feministas têm proposto também uma crítica radi cal das noções de objetividade racionalidade e universalidade da ciência Apresentar os conhecimentos produzidos num dado momento desde a aurora do período moderno num dado local a Europa e mais tarde a América do Norte por indivíduos dotados de uma identidade social espe cífi ca machos membros das classes dominantes como o único saber ob jetivo e universalmente válido de modo a excluir qualquer outro ponto de vista o das mulheres dos pobres das pessoas de cor de países não oci dentais possibilitou que se consolidasse a hegemonia material e ideológica dos dominantes Elaborar uma crítica do uso dos conceitos de universali dade ou objetividade da ciência em determinadas circunstâncias históricas não implica que seja necessário renunciar à aspiração de desenvolver conhe cimentos universalmente válidos e produzir um conhecimento objetivo do mundo natural As pesquisadoras que têm estudado a relação entre ciências e gênero mas também entre ciências e classes sociais etnia ou culturas não ocidentais têm argumentado que a ampliação da base do conhecimento científi co levaria ao desenvolvimento de uma maior objetividade e de uma maior universalidade das ciências Assim Sandra Harding 1996 desenvolveu o conceito de objetividade forte essa que nasce no diálogo e na troca e extrai sua força da ancoragem de atividades defi nidas Os saberes e as práticas baseados nessa perspec tiva não procuram ocultar nem o momento nem o lugar da sua elaboração tampouco o estatuto social dos indivíduos que os produzem Do mesmo modo Donna Haraway 1988 propôs desenvolver conhecimentos situa dos que reivindicam o momento e o local da sua produção O corpus da ciência se constituirá pelas interações entre os múltiplos pontos de vista de algum lugar e por meio de traduções múltiplas ou seja adaptações e mudanças de saberes e práticas produzidas por uma comunidade científi ca constituída por aqueles de dentro e de fora da ciência que utilizam esses conhecimentos e práticas Os conhecimentos situados poderão favorecer o desenvolvimento de um olhar refl exivo crítico cético e irônico sobre a ciência e portanto em última instância contribuir para tornar a ciência frequentemente defi nida como ceticismo organizado ainda mais científi ca Eles também poderão de acordo com Haraway favorecer o desenvolvi Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 42 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 42 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 43 mento de uma defi nição mais rica da objetividade e da universalidade que inclua a paixão a crítica a contestação a solidariedade e a responsabilidade Rumo a um novo estudo das práticas científi cas Finalmente algumas pesquisadoras têm focado sua atenção sobre os di ferentes mecanismos que levaram à exclusão das mulheres da empreitada científi ca quer se tratem de barreiras formais ou mais recentemente do pa pel da imagem sexuada masculina da ciência da orientação preferencial das meninas para os estudos literários ou das difi culdades práticas enfren tadas pelas mulheres pesquisadoras sem acesso a cargos de autoridade Le Doeuff 1998 Outras se interessaram por mulheres muitas vezes desco nhecidas e negligenciadas que trouxeram contribuições signifi cativas para o conhecimento científi co e isso há séculos as esposas dedicadas as téc nicas hábeis as colecionadoras zelosas e outras colaboradoras anôni mas cujos nomes desapareceram da história ofi cial da ciência Os esforços visando restabelecer as contribuições de tais colaboradoras invisíveis e a valorização da continuidade do interesse das mulheres pelas ciências pode parecer uma empreitada muito diferente daquelas que questionam a objeti vidade a racionalidade e a universalidade das ciências Tratase no entanto de dois aspectos inseparáveis do mesmo problema Para Susan Leigh Star 1992 e Ludmilla Jordanova 1993 levar em consideração o trabalho reali zado por técnicos preparadores e amadores geralmente considerado à mar gem da ciência é importante não só para fazer justiça à contribuição concre ta das pessoas que o executaram mas também para mudar a nossa visão da ciência A história da ciência é geralmente apresentada como uma sucessão de obras de grandes homens e de algumas mulheres escolhidas que fi zeram descobertas importantes Incluir nessa história o trabalho oculto de inúmeras pessoas que têm literalmente feito a ciência pode modifi car a nossa percepção da natureza do empreendimento científi co e desestabilizar a imagem da investigação científi ca como uma atividade pura e desencar nada pairando sobre o alarido e a desordem do mundo real Com isso ela pode favorecer o desenvolvimento de conhecimentos e práticas científi cas mais solidamente ancoradas na sociedade e mais engajadas na cidade Diferença dos sexos teorias da Feminilidade masculinidade virilidade Linguagem científi ca sexuação da Técnicas e gênero Universalismo e particularismo Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 43 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 43 18102009 192531 18102009 192531 44 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Fox Keller Evelyn Gender and Science An Update in Evelyn Fox Keller Secrets of Life Secrets of Death Essays on Language Gender and Science Nova YorkLondres Routledge 1992 p1536 Haraway Donna Situated Knowledges The Science Question in Feminism and the Pri vilege of Partial Perspective Feminists Studies 1988 14 3 p57599 Modest Witness Feminist Diffractions in Science Studies in Peter Gali son David J Stump Eds The Disunity of Science Boundaries Contexts and Power Standford Standford University Press 1996 p428525 Harding Sandra Rethinking Standpoint Epistemology What is Strong Objectivity in Evelyn Fox Keller Helen Longino Eds Feminism and Science Oxford University Press 1996 p23548 Jordanova Ludmilla Gender and the Historiography of Science British Journal of the History of Science 1993 n26 p46983 Kerr Anne Faulkner Wendy On Seeing Brockenspectres Sex and Gender in Twentieth Century Science in John Krige Dominique Pestre Science in the Twentieth Century Londres Harwood 1997 p4360 Traduzido por NAIRA PINHEIRO Coexistência dos sexos Sabine Fortino Nas ciências sociais o primeiro nível de defi nição da noção de coexistên cia dos sexos é trazido por Claude Zaidman in Baudoux Zaidman 1992 a partir de suas pesquisas no campo escolar a saber A coexistência dos dois sexos num mesmo espaço social Da noção ao conceito Em razão principalmente da generalização da coeducação em meados dos anos 70 a Psicologia ou as ciências da Educação são as primeiras disci plinas científi cas a introduzir a noção de coexistência dos sexos A questão da identidade sexuada ou da cultura de gênero é central e a escola seu terreno privilegiado Assim a refl exão se organiza em torno de questiona mentos como a presença de meninos na classe muda a maneira como as meninas vivem e se representam como meninas A coexistência dos sexos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 44 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 44 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 45 implica a assimilação da identidade feminina à identidade masculina ou não Mosconi 1989 DurandDelvigne 1995 Os trabalhos de Nicole Mosconi 1992 e de Claude Zaidman 1996 adotam uma abordagem da coeducação em termos de relações sociais de sexo e desenvolvem em torno da coexistência dos sexos aquilo que a pri meira denomina uma sociologia das desigualdades sexuais da educação Tratase a partir de então de compreender por que a coeducação fi nalmen te teve pouco efeito sobre a inserção profi ssional das mulheres mas também em que medida ela pode ser portadora de mudança social Visase então apreender aquilo que se encena e se tece no espaço misto do ponto de vista das relações entre meninos e meninas e perguntase se as crianças dos dois sexos socializadas e formadas na escola mista se tornarão ou não cida dãos diferentes das gerações precedentes preocupados em não reproduzir por sua vez as desigualdades sexuais No campo do trabalho as primeiras pesquisas explicitamente voltadas para o tema da coexistência dos sexos se iniciam nos anos 90 O ponto em comum entre todos esses trabalhos é integrar a noção de coexistência dos sexos a uma refl exão sóciohistórica sobre a divisão sexual do trabalho sua evolução seu deslocamento e até mesmo sua superação Tratase de obser var em que medida a introdução da coeducação em equipes já constituídas ou em via de se constituir se traduz numa verdadeira partilha ou numa nova distribuição do trabalho entre os sexos numa equalização das posi ções ocupadas no desenvolvimento de carreiras de mesmo ritmo e nível no questionamento dos estereótipos sexuados tradicionais Forté et al 1998 sobre empresas do setor privado industrial Fortino 1999 sobre o setor pú blico francês Na mesma época a coexistência dos sexos emerge no campo das pesqui sas sobre a política e mais raramente sobre os movimentos sociais O traba lho de Danièle Kergoat et al 1992 sobre a coordenação de enfermeiras co ordination infi rmière dá conta assim da gestão cotidiana da coexistência dos sexos pelas atrizes e pelos atores sociais engajados num confl ito de longa duração Os questionamentos da socióloga e sua equipe estão próximos das colocações que tratam do trabalho e do emprego há uma partilha efetiva do poder e das tarefas militantes entre enfermeiros e enfermeiras em luta No desenvolvimento das pesquisas a noção de coeducação vai pro gressivamente se libertar de uma abordagem técnica eou contábil A Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 45 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 45 18102009 192531 18102009 192531 46 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER coeducação não é somente um espaço social onde estão lado a lado indiví duos dos dois sexos ela é antes de tudo um processo em diversos sentidos do termo Nenhum espaço social exceto a escola primária conhece uma distribuição sexual equitativa de um ponto de vista numérico na grande maioria dos casos a coexistência entre os sexos é parcial ainda em desen volvimento A coexistência dos sexos é também processo por marcar uma transição a passagem de um espaço social sexualmente segregado para ou tro que registra a coexistência dos dois sexos Essa transição é importante porque diz respeito ao modo como se organizam as relações sociais entre os sexos em nossa sociedade Quando há segregação o confl ito dominantes dominadas se traduz pela exclusão das mulheres das esferas reservadas aos homens ou pela desqualifi cação das dominadas ao passo que num espaço misto o confronto dos dois sexos se faz diretamente no espaço onde eles coexistem Fortino 1999 Ora desse confronto as mulheres não saem ven cedoras o conjunto dos estudos converge sobre esse ponto a coexistência dos sexos não é sinônimo de igualdade É nesse sentido que se pode dizer que a coexistência dos sexos é uma das modalidades de efetivação das relações sociais de sexo Zaidman 1992 e a segregação é uma outra que perdeu sua legitimidade no curso do tempo e da evolução das sociedades ocidentais Isso signifi ca que a coexistência dos sexos está longe de supor um questionamento da dominação masculina a qual se sabe historicamente construída e depois perpetuada segundo o mo delo da separação e da segregação sexuais O estudo da coexistência dos sexos no trabalho na escola nos movimentos sociais etc demonstra dessa forma que há uma evolução bastante relativa das relações entre homens e mulheres que se poderia resumir assim onde termina a exclusão começa a discriminação É necessário promover a coexistência dos sexos Em torno desse último ponto situase uma das controvérsias que emer giram sobre a questão da coexistência dos sexos Devese apesar de tudo desejar e promover a generalização da coexistência social Algumas pes quisadoras norteamericanas não hesitam mais em indicar sua preferência por uma espécie de retorno ao passado Partindo da constatação de que a coexistência dos sexos na escola não protege de modo algum as meninas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 46 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 46 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 47 do sexismo ambiente e seria mesmo responsável por seu fracasso em ma térias mais seletivas elas propõem que a instituição escolar recrie espaços não mistos Forest 1992 Na França essa abordagem não é retomada as pesquisadoras francesas preferem outras soluções como a ativação de uma pedagogia antissexista acompanhada se necessário de medidas de discri minação positiva DurandDelvigne DurutBellat 1998 A segunda controvérsia gira em torno da própria defi nição de coexis tência dos sexos Podese falar de coexistência dos sexos quando não há um estrito equilíbrio numérico entre homens e mulheres A resposta de Michele Le Doeuff 1992 a essa pergunta é negativa é meio a meio ou então não Ela não é a única diante de um espaço social em que o desequi líbrio numérico é particularmente acentuado as pesquisas recusam impli citamente o termo coexistência dos sexos e utilizam profi ssão bastante feminizada ou setor majoritariamente masculino O último tema de controvérsia opõe uma conceituação da coexistência dos sexos em relação à dinâmica das relações sociais de sexo a uma aborda gem sociográfi ca ou descritiva dessa última abordagem desenvolvida prin cipalmente por Michele Forté et al 1998 para os quais a coexistência dos sexos somente exprimiria a consideração das formas concretas de distri buição do trabalho entre homens e mulheres associados em sua atividade Coexistência dos sexos problemas e impasses atuais O estudo da coexistência dos sexos está apenas em seus primórdios e restam muitos setores e aspectos a explorar No campo do trabalho por exemplo podese perguntar como se organizarão ou reorganizarão as rela ções interhierárquicas no espaço misto quais serão os eventuais efeitos da redução do tempo de trabalho na realização da coexistência dos sexos etc Por outro lado a atualidade sociopolítica da coexistência dos sexos no trabalho e na instituição escolar está em pontomorto desde o começo dos anos 90 Podese fazer a mesma observação em se tratando das tímidas me didas adotadas por algumas grandes empresas logo após a aprovação da lei sobre a igualdade profi ssional 1983 visando favorecer a reorientação das mulheres nos setores e profi ssões onde elas estavam tradicionalmente au sentes Depois de alguns raros ensaios como os dos estágios não mistos formando as mulheres do setor terciário em profi ssões técnicas um balanço Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 47 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 47 18102009 192531 18102009 192531 48 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER nunca feito pelas direções das empresas as experiências não foram reno vadas DoniolShaw et al 1989 Meynaud 1992 Em termos mais am plos as políticas de emprego que se sucederam nestes quinze últimos anos não consideram a coexistência dos sexos no trabalho um desafi o a enfrentar Inversamente o tema da coexistência dos sexos nas instâncias de repre sentação política apareceu em primeiro plano no começo dos anos 90 com o debate sobre a paridade Na realidade tanto na pesquisa como no espaço so cial e político é como se a mistura ou a segregação das formações do traba lho e do político fossem situações sociais totalmente ou quase desconec tadas umas das outras quando formam sistema e são juntas um indicador da evolução contemporânea do tratamento social da diferença entre os sexos Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Educação e socialização Igualda de Paridade Sindicatos DurandDelvigne Annick DurutBellat Marie Mixité scolaire et construction du genre in Margaret Maruani Ed Les nouvelles frontières de linégalité Hommes et femmes sur le marché du travail Paris MageLa Découverte Re cherches 1998 p8392 Forté Michèle Niss Myriam Rebeuh MarieClaude Trautmann Jacques Triby Em manuel De la division sexuée au partage du travail Travail et emploi 1998 n74 p5162 Fortino Sabine De la ségrégation sexuelle des postes à la mixité au travail étude dun processus Sociologie du travail 1999 n4 v41 p36384 Kergoat Danièle La gestion de la mixité dans un mouvement social le cas de la coordina tion infi rmière in Claudine Baudoux Claude Zaidman Eds Égalité entre les sexes Mixité et démocratie Paris LHarmattan 1992b p26178 Mosconi Nicole La mixité dans lenseignement secondaire un fauxsemblant Paris PUF 1989 288p Zaidman Claude La mixité à lécole primaire Paris LHarmattan 1996 238p Traduzido por FRANCISCO RIBEIRO SILVA JÚNIOR Desemprego Chantal Rogerat Defi nir o desemprego pressupõe relacionar suas origens históricas e suas transformações ao longo do tempo Hoje em dia o fato de se levar em conta a diferença entre os sexos no mundo do trabalho abre a possibilidade de Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 48 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 48 18102009 192531 18102009 192531 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 49 uma análise mais profunda desse conceito e dos fenômenos que lhe são as sociados como a marginalidade a precaridade e a exclusão cada um desses termos merece ser debatido em si Em primeiro lugar notemos que há mais de vinte anos as mulheres predominam dentre os desempregados especial mente os de longo prazo e sobretudo entre os jovens Invenção e metamorfoses do desemprego Enquanto no fi nal do século XIX a defi nição de desempregado marcou o surgimento da categoria desemprego involuntário no contexto de um assalariamento frágil em vias de ser criado na sua forma moderna a defi ni ção de desempregada de fi nais do século XX recria sob novas formas a imbricação entre pobre e desempregado Salais et al 1986 Essa categoria foi forjada a partir de diversas experiências de emprego no século XIX em função das regiões e indústrias de grupos operários e dos sexos Ela também mudou ao longo do tempo e foi criada na França entre 1880 e 1910 Topalov 1994 No censo populacional de 1891 existe a categoria população não clas sifi cada nem como ativa nem como inativa e na qual se encontram mas sem que sejam chamadas dessa forma com exceção das mulheres pú blicas as que trabalham inclusive em fábricas mas estão à margem do assalariamento Isso demonstra a dupla dimensão estrutural da sociedade salarial em gestação o trabalho remunerado e o trabalho doméstico Em seguida a noção de desempregado se afi rma gradualmente e corresponde a um contrato trabalhista que vincula patrão e operário ou empregado quanto às mulheres elas continuam sendo frequentemente consideradas dependentes da família O reconhecimento social do desempregado depen de de fato da instauração de procedimentos jurídicos e administrativos de gestão da mão de obra assistência auxílios etc Foi William Beveridge 1904 quem formalizou a ideia de um desemprego relacionado com os con tratempos do sistema de produção um acidente que independe da vontade do trabalhador A defi nição do que poderia ser o estatuto do desempregado conduziu ao mesmo tempo ao esclarecimento de qual pode ser a qualida de do trabalhador As respostas serão fornecidas ao longo do século XX a questão do seguro contra o desemprego desenvolverá os seguros operários que benefi ciarão os trabalhadores estabilizados por um contrato de traba Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 49 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 49 18102009 192532 18102009 192532 50 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER lho vinculados a uma empresa No momento de sua criação concernia mais aos homens do que às mulheres Esta abordagem dos desempregados permanece praticamente idêntica até 1936 apesar de uma situação salarial muito instável Em 1931 surgiu o primeiro estudo sociológico do desemprego Les chômeurs de Marienthal Lazarsfeld et al 1981 Um dos autores é a socióloga Marie Jahoda rara mente citada O arquétipo do desempregado só vai fi nalmente se formar após a Segunda Guerra Mundial Na França a criação de um sistema obrigatório de seguro desemprego UNEDIC em 1958 e a primeira pesquisa de emprego feita pelo INSEE em 1950 homogeinizam as defi nições que têm como base um modelo suposto sustentável de pleno emprego relativo a garantia contra os efeitos passageiros da modernização conceito de desemprego friccional Po rém durante os anos 70 cresce a precariedade o conceito de sem emprego se torna pouco nítido e este já não é o único conceito que convém associar ao desemprego mas também o de subemprego sobretudo para as mulheres tendo em vista que o conceito de emprego referese ao que parece normal isto é um contrato de duração indeterminada e por tempo integral situa ção mais comum para os homens do que para as mulheres Maruani 1993 O sobredesemprego feminino A fl exibilidade e a precarização das condições sociais moldam a forma de reorganização do trabalho contemporâneo A seguinte pergunta reapa rece o que é um desempregado Após correções e redefi nições obtémse uma categorização que ignora muitas das experiências vivenciadas A dis tinção entre os sexos limitase na melhor das hipóteses ao tratamento de uma variável adicional num contexto complexo Entretanto assistese a uma nítida evolução na pesquisa sociológica e histórica Assim na França a afl uência das mulheres ao mercado de trabalho não deixou de se intensifi car nas últimas décadas e o mercado sozinho não pode explicar essa evolução Com efeito o emprego das mulheres mais do que o do seu correlato o desemprego foi objeto há mais de vinte anos de estudos que mostraram que a legitimidade do trabalho das mulheres é problemática para as nossas sociedades contemporâneas Hoje como distinguir a desem pregada do desempregado Na medida em que nos apoiamos no argumento Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 50 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 50 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 51 da diversidade e do caráter evolutivo de desemprego utilizaremos uma abor dagem baseada em tendências As características do desemprego na França permitem aos economistas mostrar a sobrerrepresentação das mulheres Re conhecido como mais estrutural do que o dos homens o desemprego femini no permanece forte até mesmo em períodos de recuperação econômica Fou quet e Rack 1999 as mulheres são a maioria dentre os desempregados de longo prazo as condições de emprego são mais desfavoráveis para as jovens apesar de seu melhor resultado escolar o percurso emprego precáriodesem prego é mais comum para as mulheres Gauvin 1998 Assim as pesquisas anuais do INSEE de 1991 até 1997 questionam a evolução dos empregos precários na direção de empregos estáveis Durante os anos 90 essa possibi lidade diminuiu quatorze pontos para as mulheres na faixa de 30 a 49 anos É geralmente reconhecido que desde os anos 80 a taxa de desemprego das mulheres adultas é quatro pontos superior à masculina Nos últimos meses de 1999 ela foi de 108 para o conjunto da população ativa sendo 92 para os homens e 128 para as mulheres Um homem em cada dez está desempregado e uma mulher em cada sete Porém as fronteiras do desemprego são objeto de polêmicas há vinte anos As mudanças na forma de cálculo e categorizações tornam os dados pouco nítidos Maruani 2000 Por exemplo desde que houve dispensa da obrigação de procura por trabalho em 1984 para evitar contar as pessoas desempregadas com idade superior a 55 anos a reorganização de junho de 1995 criou a categoria 6 para as pessoas desempregadas que trabalharam em regime de tempo parcial durante o mês precedente 80 desses casos são mulheres contadas como desempregadas antes dessa reforma elas não o são mais desde então mas a quantidade delas não deixa de aumentar de 280 mil em 1995 para 508100 no fi nal de 1998 Entre as oito categorias existentes a evolução da categoria 1 é a única divulgada pessoas desem pregadas e imediatamente disponíveis à procura de um emprego de tempo integral e duração indeterminada Ela não considera evidentemente a for te tendência do emprego de tempo parcial cuja maior parte é representada por mulheres assim como os contratos de duração determinada CDD Nós passamos assim da abordagem majoritária destas últimas décadas que não diferenciava a desempregada do desempregado para a necessi dade de um conhecimento mais preciso que num período longo e com base em monografi as relativas à vivência dos desempregados e desempregadas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 51 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 51 18102009 192532 18102009 192532 52 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER tornaria compreensíveis suas estratégias de emprego e suas trajetórias indi viduais relativas ao desemprego Rogerat e Senotier 1994 Esses estudos mostram que o desemprego feminino é frequentemente um desemprego de mulheres pouco ou mal qualifi cadas que obtêm unicamente salários baixos são pobres ou se tornam cada vez mais pobres e encontram às vezes um trabalho mas em condições tão precárias que permanecem re gularmente à margem do assalariamento embora isso necessariamente não signifi que sua exclusão do mundo do trabalho Tal tipo de desemprego indi ca o incremento das desigualdades sociais paralelamente ao forte aumento das mulheres no mercado de trabalho Nesse sentido um dos pontos mais pertinentes a serem estudados é a relação entre a Renda Mínima de Inserção e o salário mínimo As formas de passagem da inatividade para o trabalho sobretudo para as mulheres seriam então mais fáceis de listar Políticas sociais políticas de emprego correções e perversidades A gestão sexualmente diferenciada da mão de obra aparece de maneira mais clara quando examinamos o tipo de emprego sobre o qual falamos como ocorre com a volta ao emprego dos desempregados o destino dos privados de emprego mas capazes de ter um Sabemos que a Renda Mínima de Inserção RMI tornouse um método específi co de compensação para os desempregados um tipo de assistência aos pobres crônicos segundo estudo realizado pelo Ministério do Emprego em 1998 realidade fortemente sexuada dado que 80 deles são mulheres Esse é o fenômeno da tolerância social a que se refere Teresa Torns 1997 O desemprego das mulheres não possui o peso social e político que permitiria chamar atenção Até mesmo o desenvolvimento de atividades ligadas aos movimentos de desempregados mantém ocultas as diferentes vivências de desempregadas e desempregados Dois exemplos podem ilustrar os processos em andamento Por um lado temos os efeitos da introdução a partir de 1995 de um auxílio paren tal para a educação Allocation parentale déducation APE que permite a redução ou interrupção de uma atividade profi ssional até que a criança complete 3 anos de idade Esse auxílio tem encorajado as mulheres menos qualifi cadas a se retirar do mercado de trabalho Ponthieux e Concialdi Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 52 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 52 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 53 1999 Por outro lado temos a tendência previsível de aposentadoria das mulheres trabalhadoras Langevin e Cattaneo 1999 A concentração da mão de obra feminina nos setores de emprego que recorrem à descontinui dade dos tempos assalariados e à rejeição precoce devido ao desgaste de uma grande parte das trabalhadoras ameaça conduzir um grande número de mulheres pensionistas para situações próximas da linha da pobreza A abordagem sociológica do desemprego desenvolvida nos últimos anos permitiu destacar o interesse de estabelecer correlações entre desqua lifi cação baixos salários pobreza e exclusão do emprego em que as mulhe res e as jovens permanecem à margem tratadas de forma diferente sem porém se retirar de forma defi nitiva do mundo do trabalho Divisão sexual do trabalho e relações de sexo Flexibilidade Precarização social Tra balho o conceito de Kergoat Danièle Hirata Helena La division sexuelle du travail revisitée in Maruani Margaret Org Les nouvelles frontières de linégalité Hommes et femmes sur le marché du travail Paris La Découverte 1998 p93104 Lazarsfeld Pierre Jahoda Marie Zeisel Heinz Les chômeurs de marienthal Paris Min uit 1981 146p 1ed 1931 Maruani Margaret Travail et emploi des femmes Paris La Découverte Repères 2000 125p 2ed Rogerat Chantal Senotier Danièle Lenchaînement des emplois précaires et du chômage La construction du leurre in Appay Béatrice ThébaudMony Annie Pré carisation sociale travail et santé Paris IRESCOCNRS Actions scientifi ques fédéra tives 1997 p34155 Topalov Christian Naissance du chômeur Paris Albin Michel 1994 626p Torns Teresa Chômage et tolérance sociale à lexclusion in Les Cahiers du Mage 1997 n34 p4757 Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Desenvolvimento Bruno Lautier O termo desenvolvimento de um país ou sociedade é usado desde o fi nal dos anos 50 É signifi cativo que o termo subdesenvolvimento o pre Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 53 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 53 18102009 192532 18102009 192532 54 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER ceda uma vez que consta do discurso de posse do presidente dos Estados Unidos Truman 1949 Começamos a constatar uma distância entre as sociedades colonizadas ou em vias de independência e os Estados Unidos e a Europa e para nós desenvolvimento é um processo de aproximação Desenvolvimento designa uma mudança social global gerada pela economia e conduzida pelo Estado envolvendo uma multiplicidade de processos econômicos culturais sociais demográfi cos cuja articulação é sempre única A fronteira com noções conexas não é clara crescimento concerne essencialmente à economia modernização principalmente às relações sociais e aos modos de vida desenvolvimento reúne tudo isso O mundo tem milhares de especialistas em desenvolvimento nenhum deles jamais propôs uma defi nição clara aceita coletivamente História e fracassos da noção de desenvolvimento Ao longo dos anos foi um ou outro aspecto que dominou a visão do de senvolvimento a transformação da agricultura a industrialização a urbani zação e mais recentemente a redução da pobreza e a democratização Essa evolução é signifi cativa há dez anos ninguém mais fala de recuperação tratase somente de limitar os efeitos do mau desenvolvimento quais se jam pobreza analfabetismo e corrupção Passamos dos grandes projetos in dustriais hidráulicos aos microprojetos como forma de desenvolvimento privilegiada Uma ambiguidade constitutiva caracteriza o pensamento do desenvol vimento tratase de analisar como uma sociedade se desenvolve ou de emi tir alguns preceitos sobre a maneira de desenvolvêla Na realidade a visão normativa predomina amplamente desenvolver é promover um certo tipo de produção mas é também impor um conjunto de normas a poção seve ra do ajuste econômico que fazemos os países em desenvolvimento enfi ar goela abaixo para seu próprio bem O desenvolvimento é em primeiro lu gar um negócio e uma linguagem de desenvolvimentistas Nem tudo é sombrio nessa história o processo de desenvolvimento foi real em muitos domínios A urbanização em primeiro lugar proporcionou em média um progresso nas condições de vida se encontramos mais pobres urbanos do que pobres rurais os primeiros vivem mais tempo são alfabeti zados bebem água potável e por incrível que pareça comem melhor Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 54 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 54 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 55 Em seguida no que concerne à demografi a a expectativa de vida desde os anos 50 aumentou em mais de quinze anos em todos os países em desen volvimento e frequentemente em mais de 25 anos Apesar da deterioração dos sistemas de saúde há cerca de quinze anos a morbidez com exceção da AIDS diminuiu em todas as áreas E a diminuição da fertilidade ce deu em toda parte embora essa tendência esteja apenas iniciando na África subsaariana A terceira área é a dos investimentos de base certamente os fl uxos de investimentos caíram fortemente há quinze anos mas grande parte das in fraestruturas permanece embora se deteriorem rapidamente A quarta grande área é a alimentação Com excessão das situações de guerra não há mais escassez de alimentos importantes no mundo o au mento da produtividade agrícola desde a revolução verde dos anos 70 anulou os prognósticos catastrófi cos Isso não signifi ca que não se morre mais de fome nem abole as consequências indiretas da desnutrição mas a razão da desnutrição não é agronômica Esse é exatamente o outro lado da moeda a questão das desigualdades Até os anos 80 as desigualdades sociais eram reconhecidas mas enten didas como transitórias a urbanização e a salarização tenderiam mecanica mente a reduzir a pobreza e as desigualdades e as reduziram efetivamente A crise do início dos anos 80 e o ajuste que se seguiu interromperam brutalmente o processo salvo na Ásia oriental As razões disso são sim ples queda do emprego público compressão dos baixos salários em nome da competitividade redução dos preços das matériasprimas e reembolso das dívidas As desigualdades foram redobradas pela limitação do acesso gratuito aos serviços públicos A primeira razão para o crescimento das desigualdades encontrase nas políticas econômicas com a fi nanceirização das economias e o desenvolvi mento da especulação Além disso a salarização está bloqueada e a preca riedade do trabalho ultrapassou bastante o que conhecemos na Europa A principal consequência dessa evolução é a proliferação da economia informal Alguns viram aqui uma incubadora de pequenas empresas ou tros viram uma esponja de empregos éponge à emploi considerando a ausência de segurodesemprego Atualmente devemos admitir que ela não traz a modernidade original que lhe dávamos Nesse setor os rendimentos são baixos as capacidades de inovação e acumulação são bastante fracas e Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 55 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 55 18102009 192532 18102009 192532 56 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER as condições de trabalho são duras a violência principalmente contra mu lheres e crianças é grande e a capacidade de absorção dos desempregados e trabalhadores precários rejeitados pela economia formal está esgotada O problema suscitado pelo crescimento da economia informal vai além disso O não cumprimento da lei por parte dos pobres serve de maneira oportuna de álibi para o não cumprimento do direito trabalhista pelas grandes empresas para a corrupção e para a cumplicidade com os narco trafi cantes a tal ponto que a criminalização do Estado o controle de bairros inteiros de algumas metrópoles pelos trafi cantes e o fi nanciamento de guer ras civis por redes criminosas podem ser considerados apêndices monstruo sos da economia informal No todo a ideia de desenvolvimento perde aos poucos o que a funda mentava a afi rmação de uma unidade em devir de um progresso coletivo conduzido por um sujeito histórico representado pelo Estado O que do mina é a explosão territorial com pequenas ilhas high tech no meio de me trópoles arruinadas social com o crescimento das desigualdades de renda dos estatutos e a expulsão do mercado de alguns enquanto outros estão li gados branchés na mundialização política com suas falas mágicas sobre democracia e cidadania mal mascarando a ausência crescente da garantia de direitos à sua própria segurança assassinatos linchamentos guerras o reinado do clientelismo e a regressão dos direitos sociais O gênero do desenvolvimento Essa questão encobre na realidade outras duas a de saber se a própria noção remete a uma concepção masculina dos fenômenos sociais e a de saber se as mulheres são os atores invisíveis do processo de desenvolvimento A própria noção é masculina A primeira observação que podemos fazer é que esses processos são hegemonicamente dirigidos por homens Quer se trate de chefes de Estado de empresas ou de políticos dos países em desen volvimento as exceções são muito raras e as mulheres chefes de governos mais notáveis na Índia no Paquistão na Turquia parecem ter sido an tes de tudo herdeiras de um clã De tanto a noção de desenvolvimento ser vinculada ao exercício do poder estatal mulheres se tornam excluídas dos mecanismos do poder político O que também é verdadeiro para os res ponsáveis pelas organizações internacionais os especialistas e consultores Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 56 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 56 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 57 e todos aqueles para quem o desenvolvimento e a ajuda são em primeiro lugar um mercado se a constatação é menos brutal nas ONGs uma pes quisa detalhada que necessitaria ser feita mostraria provavelmente que as mulheres só são numerosas no setor humanitário e não nos projetos de desenvolvimento Nesse contexto será que podemos dizer que as mulheres são os ato res invisíveis do desenvolvimento Não obstante sem que possamos real mente falar de estudos feministas sobre o desenvolvimento existe des de o trabalho pioneiro de Esther Boserup 19701983 um conjunto de publicações que emanam de autores e autoras a maioria mulheres tanto do Sul quanto do Norte que vão nesse sentido Os sucessos industriais do Terceiro Mundo das maquiadoras mexicanas às fi rmas de confecção das Ilhas Maurício se baseiam na exploração do trabalho das mulheres ou das meninas como na Índia O trabalho das empregadas domésticas particularmente invisível e que emprega em quase todo o Terceiro Mun do mais mulheres do que o trabalho industrial começa muito timidamen te a ser estudado E sobretudo a capacidade da economia informal e da agricultura familiar absorverem as consequências do ajuste econômico é desmistifi cada a pluriatividade das mulheres a associação de atividades informais a um trabalho doméstico crescente apesar da diminuição da fertilidade busca de água potável ou de madeira para aquecer a mora dia aumento do tempo dedicado às compras etc tudo isso explica em grande parte o milagre diante do qual se espantam constantemente os desenvolvimentistas culpabilizados como fazem para sobreviver As mulheres chefes de família são objeto de alguns estudos recentes Bisilliat 1996 assim como o papel das mulheres nos mecanismos de solidariedade comunitária E todas as instituições de desenvolvimento acabaram criando bem ou mal um departamento de mulheres ou de estudos de gêne ro gender studies A conscientização do papel das mulheres no processo de desenvolvi mento ou melhor na resistência à crise que ele gera permite fundar uma crítica da teoria e das modalidades do fenômeno Mas ela não permitiu até hoje propor um modo alternativo de desenvolvimento A exclusão das mulheres do campo político e dos mecanismos de poder permanece quase geral A valorização do trabalho feminino deve consistir no seu entendi Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 57 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 57 18102009 192532 18102009 192532 58 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER mento estritamente econômico e limitado ao trabalho subqualifi cado e mal remunerado A heterogeneidade crescente entre os polos de modernidade e o resto das sociedades desses países acentua o banimento das mulheres para uma economia de sobrevivência para a qual ninguém possui ne nhum projeto a não ser uma navegação sem radar entre a anomia e a ex plosão social E o aumento da violência urbana tende a reforçar todos esses processos Isso não signifi ca que mudanças importantes não acontecem na esfera privada generalização da contracepção diminuição da poligamia e das violências intrafamiliares ou em nível local associações de mulheres para criação de redes de ajuda mútua Mas tudo isso não desemboca numa visão diferente do desenvolvimento há aqui um tipo de confi rmação de que se trata bem mais de uma visão masculina de mudança social dirigida por cima enquanto as consequências de seu fracasso são sofridas primeiro pelas de baixo Essa conclusão não incita ao otimismo Se três quartos das políticas sociais alvo implantadas pelo Banco Mundial concernem às mulheres idosas chefes de família isso não signifi ca mais que a capaci dade do Banco Mundial para evacuar os problemas e dobrar sua relegação doméstica Enquanto a questão das relações sociais de gênero permanecer um tipo de anexo obrigatório em nome do politicamente correto nos dis cursos sobre o desenvolvimento essa situação prevalecerá Mundialização Políticas sociais e familiares Poderes Precarização social Trabalho doméstico Violências Bisilliat Jeanne Org Face aux changements les femmes du Sud Paris LHarmattan 1997 367p Bisilliat Jeanne Verschuur Christine Cahiers genre et développement 2000 n1 Le genre un outil nécessaire 264p Choquet Catherine Dollfus Olivier Le Roy Étienne Vernières Michel Dir État des savoirs sur le développement Paris Karthala 1993 229p Fontaine JeanMarc Mécanismes et politiques de développement économique Du big push à lajustement structurel Paris Cujas 1994 189p Guichaoua André Goussault Yves Sciences sociales et développement Paris Armand Colin Cursus 1993 190p Joekes Susan Women in the World Economy an INSTRAW Study Nova YorkOxford Oxford University Press 1987 161p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 58 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 58 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 59 Diferença dos sexos teorias da Françoise Collin A expressão diferença dos sexos é utilizada aqui em um sentido amplo e de certo modo préteórico que não prejulga o estatuto da dife rença nem o que ele inclui de redutível ou de irredutível de natural ou de cultural A denominação geral relações dos sexos também poderia preencher essa função ela pertence ao horizonte sociológico mais do que ao horizonte fi losófi co que é o do presente texto Todavia a expressão diferença dos sexos foi o objeto de debates ter minológicos ela foi recusada por algumas autoras devido à potencial in terpretação naturalista ou ontológica à qual ela poderia dar origem Foram preferidos os termos construção social dos sexos ou mesmo classes de sexos que defi nem a priori a diferença dos sexos como uma pura pro dução social e encarnam assim uma das respostas ao problema posto A noção de gender articulada com a de sex importada dos Estados Unidos e traduzida por gênero propõe uma solução para esta alternativa Porém ela não é de uso corrente na França em francês o gênero não é exatamente o equivalente da palavra gender em inglês e o particípio gendered genré em francês não é habitual Toda terminologia é conotada A expressão diferença dos sexos deve ria permitir aqui a delimitação de três grandes correntes teóricas do pensa mento feminista e suas modifi cações no contexto francês Todas elas sendo feministas partem em cada caso da hipótese do caráter transformável das relações entre os sexos e das suas defi nições A questão é saber se e em que medida uma forma de diferença sexual é abolida ou mantida num mundo comum igualitário ou constitui um fator de redefi nição desse mundo A questão na História da Filosofi a A questão do estatuto da diferença dos sexos está presente desde as ori gens da Filosofi a ocidental Na realidade o questionamento dos fi lósofos se refere às mulheres atestando que elas são os outros do sujeito falante e pensante mas também do sujeito desejante e tal questionamento atinge seu papel mais proeminente no fenômeno da geração Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 59 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 59 18102009 192532 18102009 192532 60 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Desde a Grécia antiga duas grandes respostas são esboçadas a primeira encarnada por Aristóteles afi rma a dupla natureza do homem e da mulher a segunda encarnada por Platão sustenta a unicidade da natureza e dos pa péis de um e de outro Porém a distinção dessas duas posições desaparece numa afi rmação comum da hierarquia entre os sexos Seja na unidade ou na dualidade existe o mais e o menos o menos estando sempre do lado das mulheres Sissa 1991 Os pensadores do sujeito moderno precursores da democracia en frentam aqui uma verdadeira aporia e a releitura deles a partir desse ponto de vista é esclarecedora Com efeito defi nindo o homem como indivíduo e elaborando as relações humanas em termos de direitos eles continuam paradoxalmente recorrendo com frequência ao argumento da força quan do se trata de justifi car a dominação do marido do pai sobre a mulher no interior do casamento mesmo quando este último é determinado por um contrato e a exclusão das mulheres da esfera pública Porém alguns fi ló sofos reconhecem como Hobbes que fora do casamento a maternidade é todopoderosa ou confessam como Spinoza que a exclusão das mulheres da esfera política responde a um desejo dos homens A defesa dos direitos privados das mulheres é porém muitas vezes for mulada de maneira a conduzir por exemplo a uma condenação vigorosa do estupro no caso de Fichte ou ao direito de divórcio A defesa das mulheres pelos fi lósofos se fez por meio da acentuação da importância do seu papel específi co Rousseau ou pela reivindicação da assimilação delas aos homens Stuart Mill Oscilase sempre entre duali dade e unidade e parece ser difícil elaborar a via da igualdade na diferen ça que Beauvoir formulou no fi nal de O segundo sexo 1949 Mas se esse motivo atravessa a Filosofi a é a fundação da Psicanálise por Freud no fi nal do século XIX que vai fazer da diferença dos sexos o motivo central da refl exão Aqui podese também observar oscilações complexas entre a afi rmação de um e dos dois sexos o horizonte do mais e do menos a centralidade do falo força ambos os sexos à experiência da castração mas de maneira mais difícil para as mulheres devido por um lado à sua primeira relação desejante da mãe que em seguida deve se voltar para um homem e por outro lado à falta de pênis traduzida como inveja do pênis Mais numerosas do que em todas as outras áreas do conhecimento teóricas como Karen Horney Helen Deutsch Mélanie Klein Françoise Dolto antes de Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 60 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 60 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 61 Luce Irigaray 1974 ou Julia Kristeva 1980 fi zeram correções importan tes nessa estrutura Lacan na França embora se declarando herdeiro de Freud de certa maneira questiona o império exclusivo da lei fálica da lei do pai em seu seminário Encore As reivindicações feministas que precedem o movimento do século XX são acompanhadas de diversas teorizações setoriais A originalidade e o in teresse de O segundo sexo de Simone de Beauvoir está em articular todos os aspectos do problema das relações entre os sexos e de mostrar que suas modalidades sociológicas econômicas psicológicas são o fruto de uma es trutura única Esta última é tributária não de uma realidade ontológica de nominada natural mas de uma relação de dominação que embora pareça não poupar nenhuma sociedade e nenhuma época da História é apresen tada como culturalmente construída e portanto passível de ser superada Se Simone de Beauvoir designa os homens como detentores do univer sal e parece conceber a liberação das mulheres como o acesso a essa posição o tornarse homem das mulheres ela também indica a possibilidade ou até mesmo a necessidade de uma igualdade na diferença Le deuxiè me sexe tomo II 661 Porém ela não chega a interrogar a parcialidade do universal apropriado pelos homens e a necessidade de redefi nilo o que al gumas de suas herdeiras farão As teorias feministas que se desenvolverão vinte anos depois a par tir do evento político do Movimento de Libertação das Mulheres que se propagou internacionalmente têm em comum o fato de afi rmarem que as relações entre os sexos podem ser objeto de uma ação transformadora A persistência geral do invariante Héritier 1996 hierárquico caracteriza do como patriarcal parece contrariar essa hipótese como também já tinha ressaltado Beauvoir embora esse invariante inclua variações culturais e seja fator de historicidade Fraisse 1992 Mas o fato não diz o direito o passado não determina o futuro O feminismo introduziu não uma evolu ção mas uma revolução na concepção da relação entre os sexos revolução que não inclui um modelo factual ou ideológico prévio É uma política do irrepresentável F Collin 1999 A partir dessa hipótese afi rmamse várias posições relativas ao estatuto dos sexos Apresentaremos aqui três delas que de acordo com os países ou as culturas tiveram um desenvolvimento e formas particulares Geralmen te foram caracterizadas como universalistas diferencialistas ou essencialis tas pósmodernas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 61 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 61 18102009 192532 18102009 192532 62 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Em nome da clareza utilizaremos essas classifi cações necessariamente redutoras Tratase apenas de referências em torno das quais transita o pensamento A evolução do feminismo torna seu conteúdo complexo e seus limites porosos como mostrou o debate geral suscitado desde 1996 na França pelo projeto de uma representação política paritária cujosas partidáriosas se apresentavam adeptos de uma ou outra teoria das relações entre os sexos Devese notar que as teorias feministas foram elaboradas no contexto do pensamento e da situação ocidentais embora num segundo momento am pliem sua curiosidade para outras culturas Essa persistência do ocidento centrismo na contestação do falocentrismo foi muitas vezes criticada Universalismo existe o uno A posição universalista se baseia na afi rmação segundo a qual todos os seres humanos são indivíduos do mesmo quilate independentemente das diferenças secundárias relativas às características físicas à raça ao sexo ao idioma etc A diferença que caracteriza homens e mulheres é então em si mesma insignifi cante sua importância determinante e socialmente estruturante é um efeito das relações de poder Não nascemos mulheres tornamonos mulheres Beauvoir 1949 a partir da dominação exercida pelos homens sobre elas quaisquer que sejam as origens ou as formas dessa dominação e as razões que a tornaram possível Não há então sexos mas classes de sexo destinadas a desaparecer Esse desaparecimento permi tiria uma indiferenciação sexuada dentro da categoria geral do ser huma no Nós queremos o acesso ao neutro ao geral Questions féministes n1 1977 ou ainda Um é o outro Lun est lautre Badinter 1986 Aqui a igualdade está acoplada à identidade Não se trata somente de postular os mesmos direitos para homens e mulheres mas sim de dissolver as categorias homens e mulheres como a revolução marxista teria dis solvido as categorias capitalistas e proletários Tratase de pensar cada homem cada ser humano como um sujeito autônomo igual aos outros sujei tos compartilhando a mesma razão Na verdade toda afi rmação de especifi cidade ressuscita o espectro da complementaridade e corre o risco de dar ga rantias à hierarquização a especifi cidade das mulheres é uma produção social destinada a justifi car sua subordinação seja como objetos sexuais através da Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 62 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 62 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 63 longa história da obrigação de heterossexualidade Mathieu 19913 seja como mães relegandoas à esfera doméstica e excluindoas da esfera pública Desse ponto de vista as características sexuais inerentes às mulheres ou aos homens e seus papéis dissimétricos na geração não têm efeitos sociais polí ticos ou simbólicos A razão não tem um sexo E se tem um corpo ela não é esse corpo ela transcende sua imanência pela liberdade Beauvoir 1949 A exigência de igualdade inclui tanto para meninas como para meninos o acesso idêntico e em condição idêntica a todas as formas de exercício da vida humana e cidadã A democracia deve traduzir seus princípios nos fa tos indo além da interpretação restritiva que foi até hoje a sua Homem signifi ca ser humano sem restrições A importância preponderante dessa corrente na formação do feminismo francês vinculase à tradição cultural fi losófi ca e política nacional herdada do racionalismo da Idade das Luzes e a uma concepção das relações entre os sexos extraída do modelo marxista das relações de classe embora o eco nômico não seja aqui a mola exclusiva Ela foi sustentada e desenvolvida principalmente por teóricas formadas em Sociologia ou Etnologia Diferencialismo existe o dois Para a posição diferencialista há dois sexos Fouque 1995 na mes ma humanidade o acesso à igualdade não é o acesso à identidade O de saparecimento da dominação deve abrir espaço para um mundo comum plural enriquecido pelas contribuições das duas formas sexuadas da hu manidade Com efeito a dominação masculina se apropriou do universal truncandoo A libertação das mulheres não é somente a superação de uma injustiça mas também a manifestação de uma dimensão de relação com o mundo omitida até hoje O que caracteriza o feminino nessa óptica é sua resistência ao uno fi gurado pelo fálico próprio ao masculino e que estrutura indevidamente o mundo dito comum Esse sexo que não é um sexo Irigaray 1974 não é uno à simbologia fálica ele opõe uma simbologia uterina polimorfa A ir redutibilidade do feminino ao masculino é morfologicamente representada por um fundamento corporal que não determina uma outra espécie da hu 3 Comentando uma fórmula de Adrienne Rich Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 63 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 63 18102009 192532 18102009 192532 64 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER manidade mas uma variante da humanidade até o presente recalcada Essa variante é inevitável quando confrontamos as respectivas experiências da maternidade e da paternidade Kristeva 1980 Knibielher 1997 Desde então a aparição das mulheres seria a aparição de uma alternativa à organização das relações humanas defi nida até o presente pelos homens e culminando na ordem do domínio própria à modernidade ocidental Às vezes as teóricas dessa corrente vão ao ponto de pensar que esses dois re gistros sexuados da humanidade deveriam poder constituir duas formas de organização não mais hierarquizadas mas iguais e paralelas dentro de um mesmo mundo Existe o dois ou mais precisamente existe o uno e o não uno Essa teoria denominada diferencialista ou às vezes de maneira pejo rativa naturalista ou substancialista foi sobretudo defendida no iní cio por teóricas confrontando a Psicanálise especialmente o pensamento de Lacan em relação ao qual se posicionam de maneira crítica Ela tam bém está presente nas teóricas da escrita e da criação Cixous 1975 Kriste va 1980 Haveria assim um gênio feminino abafado até o presente na constituição de um mundo exclusivamente masculino Pósmodernismo e queer nem um nem dois Se as duas primeiras teorias se desenvolveram no mesmo momento na época da explosão feminista dos anos 70 a teoria pósmoderna foi for mulada um pouco mais tarde Ela teve pouco impacto na França mas por outro lado tornouse um terreno fértil para pesquisas no exterior especial mente nos Estados Unidos onde é qualifi cada de French feminism femi nismo francês e dessa forma identifi cada erroneamente com o feminismo francês Essa confusão vem do fato de ter sido elaborada a partir da obra de fi lósofos como Deleuze Lyotard e especialmente Derrida Jardine 1989 que a difundiram nos Estados Unidos onde as feministas lhe deram um eco considerável As teóricas francesas que encarnam essa posição Cixous 1975 Kofman 1982 1984 foram assimiladas de maneira relativamente imprópria das teóricas Irigaray 1974 Kristeva 1980 que se situam mais na corrente diferencialista pois sustentam a dualidade dos sexos coligada à especifi cidade dos papéis materno e paterno e atribuem unicamente ao sexo feminino um estatuto desconstrutivo Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 64 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 64 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 65 O pósmodernismo ou desconstrucionismo veio da crítica da metafí sica introduzida por Heidegger Ele marca uma ruptura com as formas da modernidade ocidental cujas fontes são gregas defi nida pela categoria do domínio domínio do sujeito sobre o objeto mas também do homem sobre a mulher obedecendo à lógica binária das oposições O logocentris mo é um falocentrismo um falogocentrismo Derrida 1992 A moder nidade é dessa forma identifi cada com o reinado da virilidade O pensamento pósmoderno é nesse sentido um tornarse mulher ou um devir feminino do pensamento e da prática O sexo não pode ser substantifi cado ele não é nem um nem dois mas sim um movimento de diferir que se traduz pelo vocábulo diferença difference Derrida 1992 O feminino como categoria e não como marca de um dos dois se xos é extorsão à lógica binária das oposições emergência de uma verdade de terceiro gênero que recusa a alternativa da exclusão ou ou em prol da inclusão e e Esse feminino pode ser assumido indiferentemente por homens e mulheres pois transcende a alternativa dual do sex e do gender Essa posição induz uma política de desvios e desestabilização uma polí tica de deslocamento no lugar de confrontações vinculada ao pensamento nômade Braidotti 1985 A verdadeira vida sempre é minoritária e a sub versão está em homens e mulheres que se tornam minoritários Deleuze Aqui não há então nem um nem dois Notaremos entretanto que tornarse minoritário não tem o mesmo alcance quando envolve um homem ou uma mulher é difícil fazer a economia do dois social na diferença Tal pensamento conduzirá ao ulterior desenvolvimento da teoria queer vinculada à subversão das identidades sexuais Não se trata apenas de reivin dicar de maneira dual o direito à homossexualidade em paralelo à heterosse xualidade mas de indicar a porosidade das fronteiras como as que separam gays e lésbicas Se as categorias homem e mulher perdem sua pertinência há homossexualidade na heterossexualidade e viceversa O sexo identifi cado social ou morfologicamente não é determinante O sexo é perturbador ou inominável O sexo é dito performático Butler 1990 dizer é fazer O segundo sexo Se relermos atentamente o texto fundador do feminismo do século XX O segundo sexo a partir dos escritos de suas herdeiras constatamos que embora pareça defender a primeira dessas teorias a universalista ele não Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 65 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 65 18102009 192532 18102009 192532 66 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER exclui a persistência de uma diferença de sexos que porém não seria mais a justifi cação de uma hierarquia social e política Ele afi rma simultaneamente a necessidade de acesso ao universal detido pelos homens e levando em conta referências psicanalíticas a realidade de uma diferença que não será suprimida com a libertação Porém o livro permanece tributário do pensa mento dialético póshegeliano do seu tempo que caracteriza o pensamento do sujeito e não aborda a crítica da modernidade que será inseparável de uma corrente ulterior do pensamento feminista Implicações políticas As posições teóricas defi nidas anteriormente não têm apenas um valor especulativo Elas orientam as escolhas políticas O objetivo é fazer que as mulheres sejam reconhecidas da mesma forma que os homens no mundo existente ou introduzir nesse mundo uma dimensão que sem elas ele igno rava Tratase de fazer que as mulheres tenham acesso a estruturas inalte radas mas desde então compartilhadas ou de reformular essas estruturas de acordo com os dois sexos ou vários sexos Teoria e prática interferem constantemente na busca da libertação das mulheres e se questionam mutuamente A oposição entre universalismo diferencialismo e pósmo dernismo deve ser pensada mais além de qualquer lógica dos opostos F Collin 1999 numa forma paradoxal Scott 1998 a fi m de responder aos desafi os concretos e contingentes do avanço das mulheres Os caminhos da liberdade saem de vidas já traçadas sem dúvida escapam a toda ortodo xia A ação sempre faz objeção à ideia Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Dominação Igualdade Materni dade Sexo e gênero Universalismo e particularismo Badinter Élisabeth Lun est lautre des relations entre hommes et femmes Paris Odile Jacob 1986 361p Collin Françoise Le différend des sexes Paris Pleins feux 1999 76p Fraisse Geneviève La raison des femmes Paris Plon 1992 294p Guillaumin Colette Sexe race et pratique de pouvoir Lidée de nature Paris Côté femmes Recherches 1992 241p Irigaray Luce Speculum de lautre femme Paris Minuit Critique 1974 473p Jardine Alice Gynesis confi gurations de la femme et de la modernité Paris PUF Perpec tives critiques 1991 329p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 66 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 66 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 67 Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Danièle Kergoat As condições em que vivem homens e mulheres não são produtos de um destino biológico mas sobretudo construções sociais Homens e mulhe res não são uma coleção ou duas coleções de indivíduos biologicamente diferentes Eles formam dois grupos sociais envolvidos numa relação social específi ca as relações sociais de sexo Estas como todas as relações sociais possuem uma base material no caso o trabalho e se exprimem por meio da divisão social do trabalho entre os sexos chamada concisamente divisão sexual do trabalho A divisão sexual do trabalho Essa noção foi primeiramente utilizada pelos etnólogos para designar uma repartição complementar das tarefas entre homens e mulheres nas sociedades que estudavam LéviStrauss fez dela o mecanismo explicativo da estruturação da sociedade em família Mas as antropólogas feministas foram as primeiras que lhe deram um conteúdo novo demonstrando que traduzia não uma complementaridade de tarefas mas uma relação de poder dos homens sobre as mulheres Mathieu 1991a Tabet 1998 Utilizada em outras disciplinas como a História e a Sociologia a divisão sexual do trabalho adquiriu nessas pesquisas o valor de um conceito analítico A divisão sexual do trabalho é a forma de divisão do trabalho social de corrente das relações sociais de sexo essa forma é historicamente adaptada a cada sociedade Tem por características a destinação prioritária dos ho mens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva e simultanea mente a ocupação pelos homens das funções de forte valor social agregado políticas religiosas militares etc Essa forma de divisão social do trabalho tem dois princípios organiza dores o da separação existem trabalhos de homens e outros de mulheres e o da hierarquização um trabalho de homem vale mais do que um de mulher Eles são válidos para todas as sociedades conhecidas no tempo e no espaço o que permite segundo alguns HéritierAugé 1984 mas não segundo outros Peyre e Wiels 1997 afi rmar que existem dessa forma des Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 67 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 67 18102009 192532 18102009 192532 68 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER de o início da humanidade Esses princípios podem ser aplicados graças a um processo específi co de legitimação a ideologia naturalista que relega o gênero ao sexo biológico e reduz as práticas sociais a papéis sociais se xuados os quais remetem ao destino natural da espécie No sentido oposto a teorização em termos de divisão sexual do trabalho afi rma que as prá ticas sexuadas são construções sociais elas mesmas resultado de relações sociais Portanto não mais que as outras formas de divisão do trabalho a divi são sexual do trabalho não é um dado rígido e imutável Se seus princípios organizadores permanecem os mesmos suas modalidades concepção de trabalho reprodutivo lugar das mulheres no trabalho mercantil etc va riam fortemente no tempo e no espaço Os dados da História e da Antropo logia demonstraramno amplamente uma mesma tarefa especifi camente feminina numa sociedade ou ramo industrial pode ser considerada tipica mente masculina em outros Milkman 1987 Assim problematizar em termos de divisão sexual do trabalho não remete a um pensamento deter minista ao contrário tratase de pensar a dialética entre invariantes e va riações pois se supõe trazer à tona os fenômenos da reprodução social esse raciocínio implica estudar ao mesmo tempo seus deslocamentos e rupturas bem como a emergência de novas confi gurações que tendem a questionar a própria existência dessa divisão Da opressão às relações sociais de sexo A divisão sexual do trabalho foi objeto de trabalhos precursores em vá rios países Madeleine Guilbert Andrée Michel Viviane IsambertJama ti Mas foi no começo dos anos 70 que houve na França sob o impulso do movimento feminista uma onda de trabalhos que geraria rapidamente as bases teóricas desse conceito Para começar lembremos alguns fatos não foi tratando a questão do aborto como usualmente se diz que o movimento feminista começou Foi a partir da tomada de consciência de uma opressão específi ca tornouse coletivamente evidente que uma enorme massa de trabalho era realizada gratuitamente pelas mulheres que esse trabalho era invisível que era feito não para si mas para os outros e sempre em nome da natureza do amor e do dever maternal E a denúncia pensemos no título de um dos primeiros Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 68 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 68 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 69 jornais feministas franceses Le Torchon Brûle4 se desdobra numa dupla dimensão basta5 de executar aquilo que se conviria chamar trabalho é como se sua atribuição às mulheres e somente a elas fosse automática e isso não fosse visto nem reconhecido Muito rapidamente as primeiras análises dessa forma de trabalho apa receram nas Ciências Sociais Para citar apenas dois corpos teóricos temos o modo de produção doméstico Delphy 1998 e o trabalho doméstico ChabaudRychter et al 1985 A conceituação marxista relações de pro dução classes sociais defi nidas pelo antagonismo entre capital e trabalho modo de produção era preponderante na época pois nos situávamos num ambiente de esquerda e sabemos que a maioria das feministas fazia parte da esquerda Picq 1993 Mas pouco a pouco as pesquisas se desligaram dessa referência obriga tória para analisar o trabalho doméstico como atividade com o mesmo peso do trabalho profi ssional Isso permitiu considerar simultaneamente a ativi dade realizada nas esferas doméstica e profi ssional e pudemos raciocinar em termos de uma divisão sexual do trabalho Por uma espécie de efeito bumerangue depois que a família como entidade natural e biológica se desfez para aparecer prioritariamente como lugar de exercício de um trabalho em seguida foi a esfera do trabalho as salariado vista até o momento somente em termos do trabalho produtivo e da fi gura do trabalhador masculino qualifi cado branco que implodiu Delphy e Kergoat 1984 Em muitos países esse duplo movimento deu origem a muitos estudos que utilizam a abordagem da divisão sexual do trabalho para repensar o tra balho e suas categorias suas formas históricas e geográfi cas a interrelação das múltiplas divisões do trabalho socialmente produzido Essas refl exões permitiram trazer a campo conceitos como tempo social Langevin 1997 qualifi cação Kergoat 1982 produtividade Hirata e Kergoat 1988 ou mais recentemente competência A divisão sexual do trabalho no começo tinha o status de articulação de duas esferas como indica o subtítulo Estruturas familiares e sistemas pro 4 O pano de prato está queimando NT 5 A autora utiliza aqui a expressão consagrada no movimento raslebol NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 69 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 69 18102009 192532 18102009 192532 70 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER dutivos de Sexo do trabalho Coletivo 1984 Mas essa noção de articula ção se mostrou rapidamente insufi ciente os dois princípios separação e hierarquia se encontram em toda parte e se aplicam sempre no mesmo sentido era necessário passar a um segundo nível de análise a conceituação dessa relação social recorrente entre o grupo dos homens e o das mulheres A APRE Atelier Production Reproduction Ofi cina Produção Reprodu ção do CNRS Centre National de Recherche Scientifi que funcionou regularmente a partir de 1985 desembocando numa mesaredonda inter nacional intitulada Relações sociais de sexo problemáticas metodologias campos de análise Paris 1987 Paralelamente algumas participantes pu blicaram o estudo A propósito das relações sociais de sexo percursos episte mológicos no contexto da ATP do CNRS Pesquisas feministas e pesquisas sobre as mulheres Battagliola et al 1986 Entretanto junto com esse trabalho de construção teórica despontava o declínio da força subversiva do conceito de divisão sexual do trabalho O termo é agora usual no discurso acadêmico das Ciências Humanas particu larmente na Sociologia Mas na maior parte das vezes é despojado de toda conotação conceitual e retorna a uma abordagem sociográfi ca que descre ve os fatos constata desigualdades mas não organiza esses dados de ma neira coerente O trabalho doméstico que havia sido objeto de numerosos estudos era muito raramente analisado mais precisamente em vez de se utilizar esse conceito para reinterrogar a sociedade salarial Fougeyrollas Schwebel 1998 falase em termos de dupla jornada de acumulação ou de conciliação de tarefas como se fosse somente um apêndice do tra balho assalariado Daí um movimento de deslocamento e focalização sobre esse último as desigualdades no trabalho no salário trabalho em tempo parcial etc e sobre o acesso à política cidadania reivindicação de paridade etc Por sua vez o debate em termos de relações sociais de sexo é bastan te negligenciado Podemos ver aí os efeitos conjugados do desemprego em massa e das novas formas de emprego do crescimento do neoliberalismo do declínio numérico da classe operária tradicional da queda do Muro de Berlim com suas consequências políticas e ideológicas o esvaziamento da análise em termos de relações sociais acima da lógica econômica não poupou nenhum setor das Ciências Sociais Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 70 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 70 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 71 As relações sociais de sexo A noção de relações sociais foi salvo notáveis exceções Godelier 1984 Zarifi an 1997 pouco trabalhada pelas Ciências Sociais na França A relação social é em princípio uma tensão que atravessa o campo so cial Não é alguma coisa passível de reifi cação Essa tensão produz certos fenômenos sociais e em torno do que neles está em jogo constituemse grupos de interesses antagônicos Em nosso caso tratase do grupo social homens e do grupo social mulheres os quais não são em nada passíveis de serem confundidos com a dupla categorização biologizante machosfêmeas Esses grupos estão em tensão permanente em torno de uma questão o trabalho e suas divisões Assim podemos apresentar as seguintes proposi ções as relações sociais de sexo e a divisão sexual do trabalho são expressões indissociáveis que epistemologicamente formam um sistema a divisão se xual do trabalho tem o status de enjeu6 das relações sociais de sexo Estas últimas são caracterizadas pelas seguintes dimensões a relação entre os grupos assim defi nidos é antagônica as diferenças constatadas entre as atividades dos homens e das mu lheres são construções sociais e não provenientes de uma causalida de biológica essa construção social tem uma base material e não é unicamente ideológica em outros termos a mudança de mentalidades jamais acontecerá de forma espontânea se estiver desconectada da divisão de trabalho concreta podemos fazer uma abordagem histórica e pe riodizála essas relações sociais se baseiam antes de tudo numa relação hierár quica entre os sexos tratase de uma relação de poder de dominação Essa relação social tem além disso características singulares como já vimos ela se encontra em todas as sociedades conhecidas além disso é es truturante para o conjunto do campo social e transversal à totalidade desse campo o que não é o caso do conjunto das relações sociais Podemos então considerála um paradigma das relações de dominação 6 O que está em jogo em disputa o desafi o NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 71 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 71 18102009 192532 18102009 192532 72 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Do campo epistemológico ao espaço do político Já vimos que a expressão divisão sexual do trabalho tem sentidos mui to diferentes e que várias vezes remete a uma abordagem descritiva Isso foi e permanece indispensável por exemplo a construção de indicadores con fi áveis para medir a desigualdade profi ssional entre homens e mulheres é um verdadeiro desafi o político na França Mas falar em termos de divisão sexual do trabalho é ir mais além de uma simples constatação de desigualda des é articular a descrição do real com uma refl exão sobre os processos pelos quais a sociedade utiliza a diferenciação para hierarquizar essas atividades O conteúdo da expressão relações sociais de sexo é controverso Para tornar precisos os termos lembremos que o idioma francês tem a vantagem de propor duas palavras rapport e relation7 Uma e outra recobrem dois ní veis de apreensão da sexuação do social tornar o social sexuado A noção de rapport social aborda a tensão antagônica que se desenrola em particular em torno da questão da divisão sexual do trabalho e que termina na criação de grupos sociais com interesses contraditórios A denominação relations sociais remete às relações concretas que os grupos e indivíduos mantêm Assim as formas sociais casal ou família que podemos observar em nossas sociedades são ao mesmo tempo expressão das relações rapports sociais de sexo confi guradas por um sistema patriarcal e também espaços de interação social que vão eles mesmos recriar o social e dinamizar parcial mente o processo de sexuação do social Insistir sobre o antagonismo ou sobre o vínculo corresponde então a duas posturas de pesquisa que se tornam contraditórias quando deixamos o plano da observação para passar ao da epistemologia são as relações sociais que préconfi guram a sociedade Versus é a multiplicidade de interações que no seio de um universo browniano cria pouco a pouco as normas as regras que podemos observar numa dada sociedade É nessa última pers pectiva relativamente hegemônica nas Ciências Sociais da atualidade que somos levadas a falar por exemplo de complementaridade de tarefas e por consequência designar prioritariamente às mulheres com toda legitimi dade o trabalho em tempo parcial Como podemos ver esse debate trata não somente de uma ordem epis temológica mas contém também uma ordem política Tratase 1 de com 7 Em português ambas se traduzem por relação NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 72 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 72 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 73 preender historicamente como as relações sociais tomaram corpo nas insti tuições e legislações o casal a família a fi liação o trabalho o Código Civil etc que têm por função cristalizar tudo legitimando o estado das relações de força entre os grupos num momento dado Scott 1990 e 2 expor as novas tensões geradas na sociedade procurando compreender como elas deslocam as questões e permitem potencialmente deslegitimar as regras normas e representações que apresentam como grupos naturais os gru pos sociais constituídos em torno dessas questões Em síntese é poder pen sar a utopia enquanto se analisa o funcionamento do social Portanto como os grupos de sexo não são mais categorias imutáveis fi xas ahistóricas e asociais podemos periodizar a relação que os constitui um em função do outro graças à análise da evolução das modalidades das questões sociais e podemos então abordar o problema da mudança e não somente do rearranjo do social Esse ponto de vista minoritário nas Ciências Sociais continua no en tanto sendo amplamente compartilhado por aquelesas que trabalham em torno da sexuação do social e reconhecem a opressão de um sexo pelo outro E isso desde o início dos anos 70 na França Entretanto duas questões per manecem em debate 1 É necessário centrar a refl exão somente sobre as relações sociais de sexo ou ao contrário tentar pensar o conjunto das relações sociais em sua simultaneidade A tentação de hegemonizar uma só relação social no caso a relação social de sexo é grande mesmo que fosse só para tentar preencher o vazio quase total na matéria Trabalhos geralmen te brilhantes pensemos por exemplo nos de Delphy Guillaumin Mathieu etc oferecem instrumentos poderosos novos e explicati vos Mas considerar apenas o elo de dominação homemmulher e as lutas contra ele é insufi ciente para tornar inteligíveis a diversidade e a complexidade das práticas sociais masculinas e femininas 2 O segundo debate e aqui passamos da construção do objeto de pes quisa à interpretação dos fatos observados retorna à caracterização da relação social de sexo Em O sexo do trabalho e nos trabalhos cole tivos e individuais que se seguiram exprimiuse um amplo consenso sobre a transversalidade das relações sociais de sexo Mas essa carac terização é insufi ciente se não se soma a ela uma outra dimensão a Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 73 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 73 18102009 192532 18102009 192532 74 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER interpenetração constante das relações sociais Tomemos o exemplo do modo de produção capitalista ele é construído sobre a separação dos lugares e tempos da produção e da reprodução quanto ao que chamamos trabalho doméstico tratase de uma forma histórica particular do trabalho reprodutivo inseparável da sociedade salarial Em outros termos as relações sociais são consubstanciais Esse debate não se reduz a uma querela escolástica ele remete a posições analíticas muito diferentes do ponto de vista tanto científi co como político Assim tornase impossível isolar o trabalho ou o emprego das mulheres tratase ao contrário de operar ao mesmo tempo como elementos centrais explicativos com a evolução das relações de sexo de classe e NorteSul o mesmo vale para a família a explosão de suas formas sociais e suas tenta tivas de enquadramento jurídico ou também para a evolução de formas de virilidade paternidadematernidade ou os debates atuais sobre imigração e agrupamento familiar Essa consubstancialidade das relações sociais permite compreender a natureza das fortes turbulências que hoje incidem sobre a divisão sexual do trabalho Dois exemplos 1 Diante da precarização e da fl exibilização do emprego o aparecimen to e o desenvolvimento dos nomadismos sexuais Kergoat 1998 nomadismos no tempo para as mulheres o grande aumento do tra balho em tempo parcial geralmente associado à concentração de ho ras de trabalho dispersas na jornada ou na semana nomadismos no espaço para os homens temporários canteiros de obras públicas e do nuclear para os operários a banalização e a multiplicação dos deslo camentos profi ssionais dos altos executivos na Europa e no mundo Aqui se vê bem como a divisão sexual do trabalho e do emprego e de maneira recíproca a fl exibilização podem reforçar as formas mais estereotipadas das relações sociais de sexo 2 O segundo exemplo é a dualização do emprego feminino o que ilus tra bem o cruzamento das relações sociais Desde o começo dos anos 80 o número de mulheres contabilizadas pelo INSEE como execu tivas e profi ssionais diplomadas do ensino superior mais do que do brou cerca de 10 das mulheres ativas estão atualmente nessa cate goria Ao lado da precarização e da pobreza de um número crescente Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 74 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 74 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 75 de mulheres que representam 46 da população ativa mas 52 dos desempregados e 79 dos baixos salários assistimos a um aumento dos capitais econômicos culturais e sociais de uma proporção de mu lheres ativas que não pode ser desconsiderada Vemos surgir assim pela primeira vez na história do capitalismo uma camada de mulhe res cujos interesses diretos não mediados como antes pelos homens pais esposos amantes etc se opõem frontalmente aos interesses da quelas abrangidas pela generalização do tempo parcial dos empregos muito mal remunerados e não reconhecidos socialmente e em geral mais atingidas pela precariedade Podemos assim trabalhar em conjunto sobre a totalidade do social sem nos apressar em buscar a boa relação social ou a boa identidade indi vidual ou coletiva Considerar que essas relações sociais não evoluem no mesmo ritmo no tempo e no espaço permitenos perceber ao mesmo tem po a complexidade e a mudança E assim as categorias sociais eviden temente sempre defi nidas pelos dominantes explodirão dando espaço a um conjunto móvel de confi gurações nas quais os grupos sociais se fazem e desfazem e os indivíduos constroem sua vida por meio de práticas sociais muitas vezes ambíguas e contraditórias Desemprego Educação e socialização Família Coexistência dos sexos Movimentos feministas Precarização social Trabalho o conceito de Trabalho doméstico Coletivof Le sexe du travail Structures familiales et système productif Grenoble PUG 1984 320 p DauneRichard AnneMarie Devreux AnneMarie Rapports sociaux de sexe et con ceptualisation sociologique Recherches féministes 1992 v5 n2 p730 Kergoat Danièle À propos des rapports sociaux de sexe Revue M abrilmaio de 1992c n5354 p1620 La division du travail entre les sexes in Jacques Kergoat et al Le monde du travail Paris La Découverte 1998 p31929 Mathieu NicoleClaude Critiques épistémologiques de la problématique des sexes dans le discours ethnoanthropologique 1985a in NC Mathieu Lanatomie politique Ca tégorisations et idéologies du sexe Paris Côté femmes Recherches 1991a p75127 Scott Joan Genre une catégorie utile danalyse historique Les cahiers du GRIF Le genre de lhistoire 1988b n378 p12553 Tabet Paola La construction sociale de linégalité des sexes des outils et des corps Paris LHarmattan Bibliothèque du féminisme 1998 206p Textos de 1979 e 1985 Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 75 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 75 18102009 192532 18102009 192532 76 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Dominação Erika Apfelbaum Toda relação de dominação entre dois grupos ou duas classes de indi víduos impõe limites sujeição e servidão àquelea que se submete Ela introduz uma dissimetria estrutural que é simultaneamente o efeito e o alicerce da dominação um se apresenta como representante da totalidade e o único depositário de valores e normas sociais impostas como universais porque os do outro são explicitamente designados como particulares Em nome da particularidade do outro o grupo dominante exerce sobre ele um controle constante reivindica seus direitos fi xando os limites dos direitos do outro e o mantém num estatuto que retira todo o seu poder contratual Apfelbaum 19791999 A dissimetria constituinte da relação de domi nação aparece não somente nas práticas sociais mas também no campo da consciência e até nas estratégias de identidade O uso frequente conquanto abusivo do termo relação de poder no lugar de relação de dominação faz desta uma relação de força suscetível de ser invertida em certas circunstâncias e permite subestimar os efeitos irredutíveis que lhe são inerentes Perspectiva histórica A dominação no signifi cado que foi determinado anteriormente apare ceu tarde no campo discursivo das Ciências Sociais Dessa forma para Max Weber 1921 que a abordava no contexto de uma análise sociológica dos modos de organização da sociedade e da estratifi cação social ela é uma das formas essenciais do poder Sua legitimidade advém conforme o caso 1 dos costumes e da tradição dominação tradicional 2 da lei constitucional estabelecida por exemplo de modo democrático dominação legal 3 do valor pessoal ou dos talentos excepcionais do chefe dominação carismáti ca Diante da teoria neoclássica segundo a qual toda relação econômica ocorre entre iguais que negociam e fi rmam contratos sem nenhum confl i to alguns economistas em especial os marxistas reconhecem por outro lado a existência de relações assimétricas entre parceiros As relações de dominação foram identifi cadas e denunciadas inicial mente pelos movimentos de emancipação nos anos 60 Além da diversida Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 76 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 76 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 77 de de formas assumida pela implementação de cada opressão em particular observamos uma analogia estrutural comum as relações de dominação e as desigualdades de estatuto estão no coração de toda relação social His toricamente a análise da opressão colonial inaugura essa refl exão cf por exemplo Aimé Césaire Franz Fanon ou ainda Albert Memmi Este úl timo 19681973 descreve seus mecanismos por meio de diversas fi guras de dominados o judeu o negro a mulher o colonizado o proletário o do méstico Enquanto isso Michel Foucault 1976 continua sua análise do poder e desvenda os seus efeitos em particular no domínio da sexualidade Em meados dos anos 70 a problemática da dominação explode literalmen te com o desenvolvimento das interrogações feministas que denunciam a dominação de gênero a materialidade da apropriação da classe das mu lheres pela classe dos homens De maneira quase simultânea na Antro pologia Mathieu 1978 1985b Tabet 1979 na Sociologia Guillaumin 19781992 na Psicologia Social Apfelbaum 19791999 e na Psicologia Weinstein 19681997 aparecem análises convergentes que esclarecem as múltiplas facetas das relações sociais de sexo e da posição de tutela dos do minados pelos dominantes A dominação de gênero e seu alcance epistemológico Essas análises romperam a aparente unidade conceitual do campo teó rico e epistemológico e produziram críticas que obrigaram à realização de uma revisão fundamental de alguns fundamentos das Ciências Sociais até então considerados evidentes A análise da construção histórica social e ideológica da dominação de gênero desestabiliza de modo radical os pres supostos naturalistas que prevalecem nas teorizações das Ciências Sociais e tendem a naturalizar as diferenças entre homens e mulheres ela ques tiona os fundamentos de uma metodologia que trata de modo socialmente homogêneo as duas categorias homens e mulheres Algumas opções teóri cas epistemológicas e metodológicas tornamse então o efeito da domina ção de gênero Instituir uma cisão irredutível uma distinção entre nós e eles ou elas estigmatizar em nome de um conjunto de representações e de normas dadas como verdades naturais e universais para melhor particularizar e espe cialmente excluir do espaço social onde se elaboram as decisões relativas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 77 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 77 18102009 192532 18102009 192532 78 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER ao contrato social faz parte do arsenal dos modos de dominação Tornar o outro invisível tornar crível a ideia de que ele não é mais do que um simples caso particular que por isso mesmo não pode ser considerado um inter locutor válido garante por tabela que o dominante ocupe legitimamente a posição de representante do universal Esse é o preço da prática da do minação a desapropriação do outro posto em situação de tutela como a apropriação do corpo das mulheres A posição estrutural distinta dos homens e das mulheres e mais am plamente dos dominantes e dos dominados introduz além disso uma dissimetria radical no conhecimento e na apreensão da situação de forma que o interesse pela dominação masculina não signifi ca portanto estarmos preocupados com a opressão das mulheres Mathieu 1999 Tal dominação determina o modo segundo o qual os homens e as mulheres se representam constroem e administram as relações que mantêm entre si e mais ampla mente suas relações com o espaço social público e privado Da mesma ma neira a identidade pessoal e a subjetividade e mais geralmente as formas psíquicas de individuação também são a consequência do lugar singular que o sujeito ocupa no funcionamento concreto das relações de dominação e de gênero Mathieu 1985b1991a p14041 Dominação e consentimento Maurice Godelier 1978 considera o consentimento das dominadas à visão masculina das relações entre os sexos mais do que a violência imposta a elas pelos homens o componente decisivo da dominação A controvér sia suscitada por essa posição advém do fato de que ela supõe uma rela ção simétrica entre iguais em que cada um teria o conhecimento ou uma completa consciência das condições estabelecidas no contrato e uma total liberdade de escolha Em outras palavras nessa óptica a oprimida é apre sentada como um ser completo como um agente social mais do que como sujeito objeto da ação sujet agi No entanto opressores e oprimidos não estão no contexto de um contrato entre iguais Pretender que possa existir consentimento dos dominados às condições defi nidas pelos dominantes é então uma contradição de termos Mathieu 1985b1991a p213ss Pierre Bourdieu ressalta a cumplicidade a adesão que o dominado não pode deixar de dar ao dominante ou seja à dominação 1998 p41 na Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 78 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 78 18102009 192532 18102009 192532 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 79 medida em que ele não dispõe de outras fi guras e formas de pensamento do que as que tem em comum com o dominante que são produto da in corporação das modalidades da relação de dominação Assim instituise a violência simbólica cujos efeitos e condições de efi cácia se inscrevem no corpo de forma duradoura sob a forma de disposições ibidem p45 de modo que as proibições sociais são naturalizadas e resistem ao processo de conscientização O autor fala de submissão encantada fora do controle da consciência Bourdieu cujas refl exões insistem no caráter opaco e inerte da violência simbólica nunca questiona como ele mesmo na qualidade de representan te da classe dos homens e da autoridade científi ca contribui para a repro dução e a perenidade da dominação masculina Nesse sentido assim como Godelier 1978 representa a tradição intelectual ocidental masculina que se recusa a teorizar sobre os privilégios associados ao estatuto dos dominan tes porque isso colocaria em perigo o status quo Hurtado 1996 Para Mathieu diante do que está em jogo como os interesses não são os mesmos de um lado e de outro o conhecimento não será o mesmo em fun ção da posição do locutor no campo das relações de sexo 1985b1991a p140 O conhecimento é portanto a expressão das relações de dominação que perpassam a sociedade Ela se torna um instrumento a serviço da do minação Falar e encontrar as palavras para falar representa para os opri midos uma das modalidades de resistência e de luta contra a dominação Apfelbaum 19791999 Não é por acaso que o reestabelecimento da fala das mulheres foi uma das primeiras reivindicações no âmbito das Ciências Sociais e um dos vetores da retomada dos métodos qualitativos de estu do entrevistas histórias de vida etc A entrada em cena das dominadas pôs na berlinda a fi cção de uma ciência que lida com um sujeito abstrato ahistórico representativo da totalidade da humanidade que reconhece portanto a identidade de todos e consequentemente analisa apenas as re lações simétricas Até certo ponto isso explica a relutância persistente da comunidade científi ca em atribuir aos mecanismos de dominação o estatuto epistemológico que lhes cabe no campo das Ciências Sociais Diferença dos sexos teorias da Educação e socialização Igualdade Poderes Sexo e gênero Violências Apfelbaum Erika Relations on Domination and Movements for Liberation an Analy sis of Power between Groups in Worchel Stephen Austin William G Orgs The Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 79 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 79 18102009 192533 18102009 192533 80 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Social Psychology of Intergroup Relations Monterey Cole 1979 p188204 Reprodu zido em Feminism and Psychology 1999 n3 p26773 Foucault Michel La volonté de savoir Paris Gallimard 1976 211p Guillaumin Colette Pratique du pouvoir et idée de nature Questions féministes 1978 n2 e 3 Reproduzido em Guillaumin C Sexe race et pratique du pouvoir Lidée de nature Paris Côtéfemmes 1992 p1382 Hurtado Aida The Color on Privilege Three Blasphemies on Race and Feminism Ann Arbor University of Michigan Press 1996 203p Mathieu NicoleClaude Quand céder nest pas consentir Des déterminants matériels et psychiques de la conscience dominée des femmes et de quelquesunes de leurs inter prétations en ethnologie in NC Mathieu Org Larraisonnement des femmes Es sai en anthropologie des sexes Paris Éd de lEHESS 1985b p169245 Reproduzido em NC Mathieu Lanatomie politique Paris Côtéfemmes 1991a p131225 Mathieu NicoleClaude Bourdieu ou le pouvoir hypnotique Les temps modernes maiojulho de 1999 n604 p286324 Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Educação e socialização Claude Zaidman A educação consiste em permitir a entrada individual e coletiva de no vos membros numa sociedade Nesse sentido faz parte dos processos de reprodução social A defi nição de Durkheim 19221977 fundador da So ciologia da educação na França associa dois conceitos A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que ainda não estão maduras para a vida social ela consiste numa socialização sistemática da geração jovem que visa constituir o ser social em cada um de nós Segundo o autor tratase antes de tudo do meio pelo qual a sociedade renova perpe tuamente as condições de sua própria existência Opõese frequentemente o caráter intencional da educação que rea liza um ou vários projetos e da socialização que funcionaria mais por osmose no conjunto das interações sociais Um dos problemas suscitados é então o modo de compartilhamento e os sistemas de relações entre as diferentes instâncias de socialização como a escola a família o grupo de pares as mídias os meios profi ssionais etc Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 80 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 80 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 81 A Sociologia da educação e as relações sociais de sexo Nos anos 70 a Sociologia da educação francesa é sobretudo centrada na escola sua estrutura e os fl uxos de entrada e saída de alunos A principal problemática é a das desigualdades sociais do resultado escolar e o debate fundamental é sobre o papel da escola como fator de mobilidade social ou de reprodução Nessa perspectiva as desigualdades de sexo não são levadas em conta Kandel 1975 DuruBellat 1994 e os poucos trabalhos relativos à educação de meninas são o resultado de uma história à parte A generalização das escolas mistas nos anos 70 como aplicação atra sada em termos de gênero do princípio da igualdade de oportunidades para todos os cidadãos perante a educação permite educar juntos meninas e meninos e comparar diretamente os seus desempenhos Depois de ter re cuperado o atraso no que se refere à escolarização as meninas exibem um melhor resultado escolar em número de anos de estudo e essa constatação vai incidir sobre o conceito de reprodução das desigualdades pela escola Porém trabalhos recentes baseados na problemática das relações so ciais de sexo moderam esse otimismo mostrando que se os mecanismos de seleção de classe e sexo diferem em seus princípios a escola permanece um elo importante na manutenção da divisão sexual do trabalho O pon to de vista longitudinal permite analisar os diferentes percursos escolares mediante a observação dos comportamentos diferenciados dos diversos atores escolares na vida cotidiana dos estabelecimentos nos vários níveis de orientação e nos processos de inserção e rentabilização dos diplomas na vida profi ssional Constatamos então que se as meninas têm melhores resultados do que os meninos no ensino primário e no ensino geral o que as leva a serem maioria entre os que realizam o exame fi nal do segundo grau baccalauréat e no ensino superior mesmo assim continuam concentradas num pequeno número de áreas que em geral resultam em profi ssões que representam as formas socializadas de funções tradicionalmente atribuídas à mulher den tro da família como é o caso dos serviços do comércio da educação da saúde enquanto se mantêm as desigualdades de acesso às carreiras cientí fi cas e técnicas A questão se volta então para os processos que expliquem essa má rentabilização da escola pelas meninas Estudos baseados na análise das Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 81 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 81 18102009 192533 18102009 192533 82 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER competências escolares demostraram que para entender os mecanismos de reprodução da divisão sexual do trabalho é preciso se interessar pelos me canismos de orientação mais do que pelas diferentes aptidões naturais Alguns pesquisadores veem acima de tudo nessa desvalorização es colar das meninas no momento da orientação o efeito da socialização pri mária de meninos e meninas reforçado por comportamentos diferenciados dos professores de acordo com o sexo dos alunos Outros interpretam tal resultado como uma escolha racional das meninas um cálculo que an tecipa os problemas postos pela difícil conciliação entre vida familiar e vida profi ssional conciliação cujo peso ainda repousa amplamente sobre as mulheres devido à manutenção da divisão sexual do trabalho Além disso há o debate sobre o papel próprio da escola em relação ao da família ou ainda das estruturas profi ssionais a escola é um fator de emanci pação ou de manutenção das relações de dominação A socialização diferencial dos sexos Outro modo de abordar o problema do papel específi co da escola é uti lizar a noção de socialização Esse conceito é usado em diversas disciplinas como a Antropologia Social a Psicologia Social ou ainda a Economia Na Sociologia esse termo foi inicialmente usado pela abordagem fun cionalista a fi m de descrever como são inculcados os papéis de sexo Nessa perspectiva a sociedade funciona com base num consenso social quanto à dualidade fundamental dos sexos Essa dualidade se basearia numa di ferença natural uma bicategorização de ordem biológica que implica a complementaridade dos papéis sociais Para manter o equilíbrio social os novos membros individuais da sociedade devem interiorizar as normas de comportamentos esperados Uma segunda abordagem critica essa perspectiva e enfatiza o aspecto coercivo e repressivo da transmissão de modelos Uma série de trabalhos feministas denuncia a fabricação de uma diferença hierarquizada dos sexos pela educação e especialmente o processo de produção social dos corpos sexuados desde a infância Em 1914 Madeleine Pelletier destacava esse processo de formação à submissão que se prolonga nas aprendizagens in telectuais Simone de Beauvoir 1949 descreve a educação tradicional que Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 82 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 82 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 83 limita a atividade e a autonomia das meninas impedindoas de se afi rmar como sujeito da mesma forma que os meninos Elena G Belotti 1974 mostra como se constrói a diferença entre os sexos por meio do comporta mento de pais e professores conforme o sexo da criança No contexto do movimento de libertação das mulheres nasce um de bate entre as feministas voltado para a noção da identidade feminina Les temps modernes 1976 debate que se inscreve na oposição entre feminismo da igualdade e feminismo da diferença que marcará os anos 70 Algumas feministas reprovam a abordagem de Elena G Belotti que promove o mo delo masculino como o único modelo universal para a plena realização das qualidades humanas Ora elas dizem por que negar o que a especifi cidade feminina mesmo tendo nascido da opressão poderia nos dar Recentemente as teorias da dominação abrem um novo campo de refl e xão e de debates com respeito às relações sociais de sexo A importância da construção dos corpos sexuados nos mecanismos de socialização é teorizada por Colette Guillaumin 1992 Na sua abordagem materialista da domina ção ela salienta a aprendizagem corporal sexuada que conduz dos jogos infantis ao trabalho das mulheres Para Pierre Bourdieu 1998 a socializa ção como processo de produção dos hábitos passa em primeiro lugar pela produção social do corpo sexuado que se torna assim o lembrete da do minação masculina Sua teoria que convida a grandes polêmicas se apoia na noção da violência simbólica que segundo ele assegura a submissão das mulheres à ordem estabelecida seu consentimento à dominação A produção do gênero Podemos nos referir a trabalhos da Psicologia Social da Antropologia e da Sociologia interacionista de origem anglosaxônica para encontrar no vas abordagens à socialização como processo ativo Tratase de descrever as situações de interação social nas quais a diferença dos sexos o gênero é produzido e reproduzido socialmente A socialização de cada nova ge ração de crianças pela sociedade adulta não é só o resultado do reforço e da repressão diretamente exercidos sobre os indivíduos mas dos materiais a partir dos quais as crianças constroem as categorias de sexo que servem em seguida para guiar seu comportamento Jacoby 1990 Nessa perspectiva Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 83 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 83 18102009 192533 18102009 192533 84 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER acentuamse as situações nas quais as relações sociais de sexo se atualizam como as escolas mistas onde os jovens socializados podem aprender os comportamentos de gênero esperados nas diversas situações e construir respostas consideradas apropriadas Essa abordagem permite considerar as diferentes relações sociais que estruturam uma determinada situação e as relações de gênero podem ser consideradas um protótipo ou uma simples reprodução das relações entre grupos dominantes e dominados Assim na escola a produção de categorizações sexistas ou racistas in tervém de modo complexo nas relações entre adultos e crianças e entre as próprias crianças por meio de comportamentos cotidianos na instituição ou nos confl itos entre indivíduos Na França as novas pesquisas em Sociologia da educação sobre a experiência escolar sobre o currículo oculto e sobre a interação famíliaescola incluem com cada vez mais frequência a variá vel da diferença dos sexos Entretanto ainda existem poucos trabalhos que integram as problemáticas de gênero tais como os que abordam a relação com o saber e o acesso das mulheres a carreiras científi cas as modalidades de escolas mistas em diferentes etapas da escolaridade a visão global das trajetórias escolares em função do sexo e outras características sociais dos alunos tais como a classe social ou a nacionalidade dos pais Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Dominação Igualdade Famí lia Ofício profi ssão bico Coexistência dos sexos Sexo e gênero Transmissões intergeracionais Baudelot Christian Establet Roger Allez les fi lles Seuil 1992 351p DuruBellat Marie La découverte de la variable sexe et ses implications théoriques dans la sociologie de léducation française contemporaine Nouvelles questions féminis tes 1994 v15 n1 p3568 Note de synthèse Filles et garçons à lécole approches psychologiques et psychosociales 1 Des scolarités sexuées refl et de différences daptitudes ou de dif férences dattitudes Revista francesa de pedagogia 1994 n109 p11143 2 La con struction sociale de la différence entre les sexes Revista francesa de pedagogia 1995 n110 p 75111 Manassein Michel de Dir De légalité des sexes Paris CNDP 1995 317p Mosconi Nicole Femmes et rapport au savoir La société lécole et la division sexuelle des savoirs Paris LHarmattan 1994 362p Zaidman Claude La mixité à lécole primaire Paris LHarmattan 1996 238p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 84 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 84 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 85 Emprego Margaret Maruani O que signifi ca emprego O que o diferencia do trabalho Não existe uma defi nição coletiva e admitida por todos Michon e Segrestini 1990 Partimos de uma confusão semântica cuja explicação se torna necessária Na linguagem corrente trabalho e emprego podem ser tanto sinônimos como antônimos Dessa forma quando falamos em mercado trabalho e emprego são sinônimos quando falamos de oferta e demanda trabalho e emprego possuem signifi cados inversos O mercado de trabalho também é mercado de empregos Entretanto oferta de trabalho não signifi ca em nenhuma hipótese oferta de emprego A oferta de trabalho é oriunda dos indivíduos e a oferta de emprego das empresas Assim tornase necessário distinguir o trabalho compreendido como atividade de produção de bens e serviços assim como conjunto das condições de exercício dessa atividade do emprego que é o conjunto das modalidades de entrada e saída do mer cado de trabalho assim como a tradução da atividade laboriosa em termos de estatuto social Decoufl é e Maruani 1987 Do ponto de vista sociológico a passagem do trabalho ao emprego signi fi ca uma tripla reorientação temática da sociologia dos trabalhadores à so ciologia da população ativa do estudo da empresa ao estudo do mercado de trabalho da análise das situações de trabalho à análise dos movimentos de emprego e desemprego Admitindose isso e considerandose previamente essa noção em toda refl exão sobre a utilidade e o uso do conceito de empre go podemos nos referir a dois fi os condutores Inicialmente lembremos que o emprego não é uma questão social entre outras Na realidade tratase de um dos elementos estruturantes do funcionamento da sociedade um dos elementos que dão sentido a outros desafi os sociais Fazer a sociologia do emprego não signifi ca dedicarse à sociografi a de uma área especializada o acesso ao emprego contribui for temente para a construção das hierarquias sociais para a produção de me canismos de diferenciação classifi cação e segregação Pois de fato ter um emprego signifi ca ter trabalho e salário mas signifi ca também ter um espa ço na sociedade Maruani e Reynaud 1993 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 85 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 85 18102009 192533 18102009 192533 86 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Da mesma forma é necessário afi rmar que o mercado de trabalho é um dos lugares onde se constroem de maneira cotidiana diferenças e dispari dades entre homens e mulheres Para quem trabalha com o tema mulheres feminismo e igualdade entre os sexos o conceito de emprego é essencial Analisar a situação das mulheres no mercado de trabalho é questionar seu estatuto social o emprego feminino é um fi o condutor para compreender o espaço das mulheres na sociedade Nesse sentido a divisão sexual dos empregos constrói o gênero Os diferentes estatutos de emprego meio pe ríodo período integral CDD CDI defi nem as posições profi ssionais e so ciais sexualmente diferenciadas Assim há pouco tempo por exemplo o aumento do percentual de trabalho de meio período na população feminina taxa superior a 80 contribuiu para criar novamente uma forma de em prego especifi camente feminina Divisão sexual do trabalho ou do emprego Por muito tempo o conceito de emprego fêznos falta devido ao seu envolvimento à sua diluição no conceito de trabalho Essa mistura de con ceitos se deve a duas razões Em primeiro lugar ela está vinculada à história das divisões disciplina res que por muitos anos funcionaram com uma separação de tarefas im plícita mas marcant aos sociólogos o trabalho aos economistas o emprego Lallement 1999 ErbèsSeguin 1994 Essa divisão do trabalho entre as disciplinas resultou na ocultação das relações sociais de emprego A análise das determinantes sociais presentes na regulação do mercado de trabalho assim como a análise dos processos sociais que contribuem para a constru ção de situações e formas de emprego não era de fato tratada nem por uns nem por outros O emprego não era espontaneamente incluído no campo temático da Sociologia assim como as lógicas sociais não se integravam na turalmente nas análises econômicas Da mesma forma ela está vinculada à história da sociologia das rela ções sociais de sexo e da divisão sexual do trabalho como se desenvolveu na França desde o fi nal dos anos 70 Centrada na análise das evoluções e da reprodução da divisão sexual do trabalho muito mais do que no estudo do acesso das mulheres ao emprego pouco tratou da divisão sexual do merca do de trabalho Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 86 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 86 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 87 Foram amplamente ignorados os mecanismos sociais que produziram a transformação dos comportamentos de atividade femininos Huet 1982 BouillaguetBernard GauvinAyel e Outin 1981 os processos de trans formação da relação com o emprego Essas mutações foram reconhecidas sem que realmente se analisasse como e por que ocorreram Na verdade a noção de divisão social e sexual do trabalho Coletivo 1984 Kergoat 1984 é integralmente construída em torno do conceito de trabalho Sua contri buição consiste em desdobrar esse conceito em duas dimensões profi ssio nal e doméstica ligando as esferas da produção e da reprodução o mundo profi ssional e o universo do trabalho doméstico Entretanto tanto em sua defi nição como em sua utilização a divisão sexual permanece circunscrita ao campo do trabalho centrada nos problemas de qualifi cação organização e condições de trabalho de repartição sexuada das tarefas ofícios e funções O mercado de trabalho o emprego e o desemprego fi caram de fora dessa área de pesquisa focalizada nas modalidades de trabalho femininas nos movimentos de desqualifi cação ou sobrequalifi cação na falta de coexistên cia dos sexos no mundo do trabalho muito mais do que na evolução da relação com o emprego e os comportamentos de atividade femininos Foi preciso aguardar os anos 90 para assistirmos à emergência de uma sociologia do emprego e do desemprego femininos que analisou o espaço das mulheres no mercado de trabalho e não somente sua posição no uni verso profi ssional e que tratou da divisão sexual do mercado de trabalho e não somente da divisão sexual do trabalho A maior parte desses trabalhos situados no cruzamento da Sociologia com a Economia apoiase em com parações internacionais e particularmente europeias A feminização do mercado de trabalho Esses trabalhos evidenciaram as transformações espetaculares que afe taram a atividade feminina e contribuíram para recompor o conjunto do mundo do trabalho a feminização do assalariamento é uma das maiores mutações sociais do fi nal do século XX Essa evolução que data do início dos anos 60 continuou ao longo das décadas seguintes a despeito da crise do emprego e da instalação de um desemprego em massa No espaço de quarenta anos as mulheres se tornaram quase a metade do mundo do trabalho na França conforme o censo de 1962 elas representa Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 87 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 87 18102009 192533 18102009 192533 88 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER vam um terço da população ativa 34 em 1999 esse percentual alcançou 46 Além do aumento quantitativo esses dados revelam o reequilíbrio dos sexos no mercado de trabalho No início dos anos 60 126 milhões de homens e 67 milhões de mulheres eram ativos As mulheres representavam a metade Em 1999 a diferença permanece mas ela se reduz consideravel mente 142 milhões de homens e 121 milhões de mulheres encontramse no mercado de trabalho Entre 1962 e 1999 o número de homens traba lhadores aumentou 15 milhão e o das mulheres 55 milhões Há quatro décadas a renovação da força de trabalho se faz essencialmente por meio do aumento da atividade feminina Esse fenômeno existe em toda a Europa Nos anos 60 as mulheres re presentavam 30 da população ativa europeia No fi nal dos anos 90 esse percentual é de 43 Tal crescimento é sustentado por duas evoluções notá veis o aumento do assalariamento feminino e a continuidade das trajetórias profi ssionais das mulheres O movimento relativo ao aumento do assalariamento que afeta o con junto dos ativos foi mais rápido e mais importante para as mulheres do que para os homens Essa aceleração teve início no começo dos anos 60 Desde 1975 as mulheres são proporcionalmente mais assalariadas do que os ho mens Em 2002 na França 92 das mulheres ativas são assalariadas contra 87 dos homens Na Europa composta então por quinze países 81 dos homens e 89 das mulheres são assalariados A segunda mudança concerne aos comportamentos de atividade femi ninos Desse ponto de vista as coisas mudaram radicalmente desde então a maioria das mulheres na França acumula uma atividade profi ssional e a vida familiar No início dos anos 60 a taxa de atividade das mulheres de 25 a 49 anos era de 40 atualmente é de cerca de 80 Tratase aqui de uma transformação radical da relação com o emprego e além disso da rela ção das mulheres com a organização dos projetos familiares e profi ssionais Atualmente a maioria das mulheres não para de trabalhar quando vêm os fi lhos Dessa forma o fi m da descontinuidade das trajetórias profi ssionais das mulheres marca uma verdadeira ruptura em relação às normas sociais anteriores que testemunha igualmente uma homogenização dos comporta mentos de atividade masculinos e femininos os quais só aumentaram nos últimos anos Entre 15 e 49 anos as taxas de atividade de homens e mulhe res quase se igualam Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 88 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 88 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 89 De forma paradoxal essas evoluções permaneceram sem nenhum efeito sobre as desigualdades profi ssionais permanecem as desigualdades sala riais de carreira de condições de trabalho e as segregações horizontais e verticais No que concerne ao emprego observamos inclusive a emergência de novas modalidades de disparidades a criação de núcleos de sobredesem prego e de subemprego femininos A distinção entre trabalho e emprego permite portanto realizar uma triagem entre os progressos as estagnações e as regressões separando o que avança o que recua e o que estanca Emprego desemprego e inatividade Sendo assim a diferença entre trabalho e emprego não foi útil somente para a sociologia do emprego feminino De maneira geral foi a partir da atividade feminina que se trabalhou a distinção teórica entre trabalho e em prego uma vez que esse é um dos temas que mais do que os outros obri gou a sociologia do trabalho a se abrir para o campo do emprego porque o problema do acesso ao mercado de trabalho é uma das chaves e essa ques tão não é realmente tratada se nos detemos na análise das situações de tra balho stricto sensu embora enriquecida da análise do trabalho doméstico O acesso ao emprego e a capacidade de permanência no mercado de tra balho não são há muito tempo alguns dos pivôs da distinção entre mas culino e feminino A repartição sexuada das formas de emprego não é hoje uma das linhas de clivagens essenciais entre homens e mulheres O estatuto que ter um emprego fornece não é o centro das relações de poder entre ho mens e mulheres Nesse sentido a abertura ao emprego signifi ca uma mudança do epi centro da análise não se trata unicamente de pensar na articulação entre profi ssional e doméstico mas de se deter no estudo das relações entre ativi dade e inatividade e no interior da atividade nas passagens entre emprego e desemprego precariedade e estabilidade emprego de tempo integral e subemprego Rogerat e Senotier 1997 Maruani 2000 Isso contribui para reintroduzir no debate sobre o emprego e o desem prego uma terceira rúbrica que os especialistas em mercado de trabalho tendem a esquecer apagar ou recusar a inatividade E então a reconsi derar um certo número de noções que pensávamos simples e estabelecidas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 89 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 89 18102009 192533 18102009 192533 90 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER O pleno emprego por exemplo dos Trinta Gloriosos não se construiu graças à inatividade feminina O que nos prometem para o século XXI não está se defi nindo em função do um impasse silencioso do subemprego fe minino O desemprego também A taxa de desemprego constitui a úni ca medida do não emprego Onde traçar a fronteira entre desemprego e inatividade forçada Mais do que qualquer outro o desemprego feminino convidanos a uma releitura do conjunto de situações de não trabalho e a uma reconsideração do conceito de desemprego O desemprego é dessa forma uma área como diversas outras nas quais a análise das diferenças de sexo contribui para a reconstrução dos paradig mas das Ciências Humanas Desemprego Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Flexibilidade Pre carização social Trabalho o conceito de BouillaguetBernard Patricia GauvinAyel Annie e Outin JeanLuc Femmes au tra vail prospérité et crise Paris Economica 1981 294p Coletivo Le sexe du travail structures familiales et système productif Grenoble PUG 1984 301p Maruani Margaret Reynaud Emmanuèle Sociologie de lemploi 2ed Paris La Décou verte Repères 1ed 1993 3ed atualizada 2001 122p Maruani Margaret Travail et emploi des femmes Paris La Découverte Repères 1ed 2000 2ed atualizada 2003 124p Michon François Segrestin Denis Coords Lemploi lentreprise et la société Débats EconomieSociologie Economica Paris 1990 301p Rogerat Chantal Senotier Danièle Lenchaînement des emplois précaires et du chômage in Béatrice Appay e Annie ThébaudMony Coords Précarisation sociale travail et santé Paris IRESCOCNRS Actions scientifi ques fédératives de lIRESCO 1997 p34155 Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Etnicidade e nação Danielle Juteau Durante cerca de vinte anos pesquisadoras feministas em sua maioria voltaramse para os debates sobre etnia nação e sexogênero Um duplo objetivo perpassa seus trabalhos 1 examinar a maneira como se entrecru Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 90 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 90 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 91 zam e se articulam o gênero a etnia a nação e também a raça 2 apreen der a relação específi ca das mulheres com o grupo étnico e com a nação Ora esses debates são indissociáveis da defi nição desses conceitos Etnicidade O conceito de etnicidade é recente Remonta a 1942 quando os nor teamericanos Lloyd Warner e Paul Lunt o utilizam em seus célebres tra balhos sobre Yankee City 1941 e 1942 A etnicidade é aqui uma carac terística que a exemplo da idade do sexo e da religião modifi ca todo o sistema social que por sua vez é modifi cado por este último Ao lado dessa defi nição que é inclusiva encontrase uma concepção mais restrita do ter mo pois segundo vários autores o grupo dominante não constitui propria mente um grupo étnico Com efeito o termo grego ethnikos remete etimo logicamente aos gentios aos infi éis e portanto aos outros Foi somente nos séculos XVIII e XIX que o termo étnico reapareceu para designar uma especifi cidade ligada à raça ou à nação Sollors 1986 Se nos países colonizadores como a França e a Inglaterra os cientistas evitavam abordar um objeto que foi por muito tempo racializado lembre mos que o termo etnia no discurso colonial remete à ideia de raça o estudo das relações étnicas experimenta na América do Norte um impulso considerável a partir do começo do século XX Às abordagens primordia listas e frequentemente essencialistas fundamentadas na descrição de tra ços culturais estáticos e imóveis sucederamse a partir do fi m dos anos 60 análises mais centradas no aspecto relacional Estas últimas consideram a etnicidade uma expressão de interesses comuns ou o refl exo de antagonis mos econômicos ou ainda o sistema cultural ou a forma de interação social Poutignat StreiffFenart 1995 A partir de então a etnicidade passa a ser concebida como fl uida e cons truída no interior de relações desiguais é uma relação social que possui uma face externa a relação com outrem e uma face interna a relação com uma história e com uma origem comuns Juteau 1999 Os laços que unem os membros de um grupo étnico servem para fundar a comunidade nacional que se caracteriza pela presença de um Estado ou de um projeto que vise seu estabelecimento Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 91 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 91 18102009 192533 18102009 192533 92 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Nação Há muito tempo o conceito de nação também é objeto de múltiplas con trovérsias teóricas e políticas Se os debates que opõem diversos pensadores de orientação marxista como Otto Bauer e Karl Kautsky pertencem a um outro século a defi nição de nação continua sendo contestada Enquanto perduram os debates entre marxistas e não marxistas a nação segundo os autores supõe acepções diferentes realidade subjetiva ou objetiva forma ideológica ou forma política moderna comunidade de destino comunidade imaginária ou comunidade imaginada Anderson 1991 Os trabalhos mais recentes recusam igualmente toda defi nição substan cialista que faça da nação uma entidade real Rejeitam tanto a abordagem essencialista fundada na crença na existência determinante de raízes e ori gens como as novas concepções modernistas e construtivistas fundamen tadas na industrialização na modernização no desenvolvimento desigual no aumento de redes de comunicação e transporte ou em qualquer outro fator integrativo do Estado moderno que engendre a nação Antes seria ne cessário segundo Rogers Brubaker 1996 debruçarse sobre a nação como categoria cognitiva e sociopolítica nationhood e como evento contingente nationness8 colocando assim a ênfase no próprio contexto relacional Enfi m interrogamonos também sobre o valor dos diversos modelos na cionais naturalista e organicista voluntarista e político Schnapper 1991 aos quais se somou há trinta anos uma concepção pluralista e multicultu ral de Estadonação Gênero e sexo As pesquisas sobre as relações homensmulheres tiveram uma evolução semelhante no sentido de que se deixou o exame de seus atributos distinti vos para se estudar a relação social A análise se deslocou do estudo do sexo como variável independente o sexo biológico como fonte das diferenças observadas entre homens e mulheres e da comparação entre os papéis mas culinos e femininos para se ocupar do gênero como construto social e da 8 Em português as palavras inglesas nationhood e nationness possuem como correspondente mais aproximado nacionalidade que no entanto não apresenta a distinção de sentidos pro porcionada pelos sufi xos ingleses hood e ness NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 92 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 92 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 93 aquisição da masculinidade e da feminilidade Muito utilizado nos meios anglosaxônicos esse conceito se vê retomado por aquelas Butler 1990 que hoje rejeitam a ideia de uma ligação obrigatória entre sexo e gênero em que cada sexo pode escolher o gênero que lhe convém Outras abordagens materialistas examinam a apropriação do trabalho das mulheres de seus corpos e sua individualidade O desnudamento do sexismo Guillaumin 1978 essa relação constitutiva da classe dos homens e da classe das mulheres revela que as categorias de sexo não são dadas mas construídas É o gênero que cria o sexo e não o inverso A heterogeneidade da categoria mulheres Buscando desconstruir a homogeneidade da categoria mulheres e le var em consideração sua diversidade de situações interesses e identidades as teóricas feministas introduzem em suas análises outras dimensões so ciais como classe e raça às quais foram acrescentadas as de etnicidade e nação Se os debates dos anos 70 foram centrados principalmente na França e na GrãBretanha nos interesses divergentes das mulheres da burguesia e do proletariado em seguida se ocuparam principalmente no meio anglófo no da oposição entre mulheres brancas e mulheres de cor A partir dos anos 80 feministas negras e dos países colonizados tacham de essencialismo o feminismo dominante praticado por mulheres brancas Este postularia uma feminilidade partilhada por todas as mulheres mascarando assim as diferenças de estatuto econômico e político e até os antagonismos que as separam O feminismo pósmoderno aprofundou essa crítica no fi m dos anos 80 Ocultando frequentemente as relações sociais fundadoras das ca tegorias de sexo ele reprova tanto nas feministas materialistas como nas diferencialistas o fato de obrigatoriamente basearem a categoria mulhe res no compartilhamento de características biológicas ou culturais A articulação das relações sociais classe gênero etnicidade nação e raça Esses trabalhos examinam entre outros aspectos a articulação do se xismo e do racismo nas sociedades escravagistas e coloniais mas também Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 93 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 93 18102009 192533 18102009 192533 94 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER nas situações muito contemporâneas e desiguais da imigração e do siste mamundo Eles analisam aí as desigualdades que separam as mulheres nos planos econômico político cultural e ideológico Numerosas pesquisas frequentemente do tipo qualitativo comparam o trabalho remunerado e não remunerado de mulheres de cor e imigrantes com o das brancas e nati vas e avaliam suas respectivas trajetórias socioeconômicas Enquanto certos autores se debruçam sobre o próprio processo de catego rização outros como Arthur Brittain e Mary Maynard 1984 lembram que o sexismo o racismo e o classismo são formas de opressão que embora pos suam histórias diferentes nem por isso deixam de agir de forma interdepen dente Também é necessário absterse de traçar paralelos entre essas opres sões e de lhes fazer uma simples soma aritmética para adotar um paradigma multidimensional que enfatiza suas interrelações A dinâmica das relações de sexo num contexto institucional a família por exemplo variaria se gundo se estudem casais brancos e negros da burguesia ou do proletariado Quanto ao que diz respeito às polêmicas entre os que insistem na exis tência de um só sistema de relações sociais que incluam gênero etnicidade e classe Anthias YuvalDavis 1992 e aqueles que defendem a existência de sistemas analiticamente distintos e interdependentes Hall 1986 elas ainda não encontraram resposta Esse debate não deixa de lembrar aquele que opunha sobretudo na França as feministas marxistas às materialistas Enquanto as primeiras davam ênfase principalmente à relação das mulheres com as situações de produção capitalista as segundas procuravam teorizar o fundamento ma terial específi co da opressão e da exploração das mulheres As bases e as consequências dessa diferença teórica são concretas e operam no plano po lítico Quando reconhecemos a existência de sistemas distintos de relações sociais somos levados a procurar o fundamento de cada opressão de classe sexo ou etnicidade Tal tentativa permite entrever os fundamentos mate riais que sustentam as categorias sociais resgatar seus interesses comuns e encarar apesar das diferenças bem reais as bases de uma ação coletiva As coalizões de mulheres em favor do aborto e contra a pobreza da mesma forma que a colaboração de grupos feministas para sustentar mulheres vio lentadas em tempos de guerra de um lado e outro da fronteira étnica reco nhecem implícita ou explicitamente a existência de um sistema distinto de relações sociais que lastreia seus interesses comuns Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 94 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 94 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 95 Seja como for a orientação teórica que se impõe é fundamentada na construção de categorias sociais e engloba a maneira como se imbricam di versos processos de diferenciação e hierarquização sociais Hierarquização e diferenciação sociais O lugar das mulheres nas relações de sexo engendra sua relação especí fi ca na produção e na reprodução da etnicidade Como primeiras respon sáveis pela socialização dos recémnascidos as mulheres contribuem no interior de uma relação de manutenção corporal afetiva e intelectual de se res humanos para a humanização e a etnização destes últimos JuteauLee 1983 A relação das mulheres com a etnicidade passa antes de tudo por sua contribuição específi ca e exigida à reprodução biológica e cultural do gru po étnico ou nacional Essa contribuição da mesma maneira que as sevícias de que são objeto em tempos de paz como em tempos de guerra inscre vese em relações sexistas de modo que a classe dos homens exerce controle sobre a classe das mulheres sobre seu trabalho e sobre seu corpo As moda lidades da relação das mulheres com a etnicidade diferem todavia segundo elas pertençam a um grupo étnico dominante ou dominado A imbricação dessas relações se manifesta diversamente A família e a maternidade são colocadas no centro do discurso nacionalista que defen de a pureza da raça e a homogeneidade do grupo A representação das mulheres que está no coração do imaginário nacional serve para demar car as fronteiras e defi nir a identidade do grupo A questão das mulheres se vê utilizada para comparar e avaliar diversos grupos étnicos Ainda que as mulheres participem das lutas de liberação nacionais elas permanecem frequentemente privadas dos direitos da cidadania Enfi m a concepção da feminilidade é indissociável da construção da identidade étnica ou nacional Varikas 1998 como mostra a defi nição de englishness no período colonial O reconhecimento das relações de sexo funda a crítica da visão andro cêntrica e essencialista que há muito tem caracterizado o campo das relações étnicas Com isso abre caminho para novas refl exões sobre a constituição das coletividades étnicas e nacionais e sobre as relações de aliança entre mu lheres no estabelecimento de uma política dita transversal e transnacional Kaplan Alarcon Moallem 1999 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 95 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 95 18102009 192533 18102009 192533 96 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Diferença dos sexos teorias da Dominação Família Maternidade Movimentos feministas Religiões Sexo e gênero Violências Brubaker Rogers Nationalism reframed Nationhood and the National Question in the New Europe Cambridge Cambridge University Press 1996 202p Guillaumin Colette Sexe race et pratique du pouvoir Lidée de Nature Paris Côté femmes Recherches 1992 241p JuteauLee Danielle La production de lethnicité ou la part réelle de lidéel Sociologie et sociétés 1983 v15 n2 p3954 Sollors Werner Beyond Ethnicity Consent and Descent in American Culture Nova York Oxford Oxford University Press 1986 294p Varikas Eleni Sentiment national genre et ethnicité Tumultes 1998 n11 p8799 YuvalDavis Nira Gender and Nation Londres Sage 1997 157p Traduzido por FRANCISCO RIBEIRO SILVA JÚNIOR Família AnneMarie Devreux Contra o modelo único de família A crítica feita pela sociologia feminista das conceituações de família não conduziu a uma defi nição de família mas antes à contestação da ideia de um modelo único e estático de família Esta é um campo um espaço social cujo funcionamento não se pode compreender a não ser levandose em conta ar ticulações com outros campos em particular a esfera do trabalho profi ssio nal o que inúmeros sociólogos têm feito Todavia convém sublinhar que em seu exame crítico da família a Sociologia é tributária das contribuições de outros trabalhos feministas de historiadoras etnólogas economistas ou ainda da crítica feminista do Direito A problemática das relações sociais de sexo aplicada ao estudo das ar ticulações da família com o resto da sociedade tem permitido encontrar respostas que fazem hoje o objeto família ser certamente estudado pela sociologia das relações sociais de sexo mas também que deixe de ser um objeto a privilegiar mais do que qualquer outro Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 96 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 96 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 97 a contribuição das relações sociais de sexo Nos anos 60 e 70 o modelo do sociólogo norteamericano Talcott Par sons exerceu uma ascendência considerável sobre a Sociologia francesa a despeito da distância que Andrée Michel 1972 toma em relação a ele Para ele a família é uma instituição cuja dupla função é a reprodução e a sociali zação Essa função se organiza por meio de uma divisão de papéis que re pousaria sobre as naturezas masculina e feminina A família conjugal dois cônjuges e seus fi lhos constituiria a única família verdadeira e os outros modelos não seriam mais do que disfunções ou desvios Ora a contribuição das mulheres para a produção econômica e sua pre sença no mercado de trabalho constituem precisamente desvios em relação à norma da repartição entre o papel instrumental masculino do pai pro vedor da renda da família e encarregado das relações desta com a sociedade e o papel expressivo feminino da esposamãe que se consagra à vida do méstica e aos cuidados das pessoas exercendo sua função afetiva no âmbito da família A partir de sua especialização exclusiva em matéria de reprodu ção toda dimensão econômica seria excluída da família As feministas materialistas do começo dos anos 60 apontaram o desafi o econômico e político que há na negação da importância da contribuição so cial das mulheres ao colocar a ênfase na produção doméstica Para Cristine Delphy 1998 esta é assegurada gratuitamente pela exploração econômica da mulher pelo homem e se apoia na instituição do casamento Ela é objeto do modo de produção doméstica que constitui a base econômica do pa triarcado Retomando o caminho aberto por Andrée Michel 1974 pesquisadoras cada vez mais numerosas e organizadas em redes constatam a impossibili dade de se visualizar a verdadeira situação social das mulheres a partir de modelos tradicionais de análise da família Assim elas constroem objetos de pesquisa que levam simultaneamente em conta as dimensões familiar e profi ssional da atividade das mulheres em suas vidas cotidianas como em suas trajetórias profi ssionais Para apreender a dinâmica da mudança social convém fazerse uma comparação entre homens e mulheres e estudar con juntamente as práticas e representações Coletivo 1984 Sob as infl uências cruzadas do estruturalismo nas abordagens etnológi cas do parentesco das teorias da reprodução social das análises marxistas da Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 97 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 97 18102009 192533 18102009 192533 98 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER produção econômica e das relações de classes e das primeiras desconstru ções feministas citadas anteriormente desenhase uma corrente sociológica em torno do projeto de articular produção e reprodução É nesse contexto que se consolida por algum tempo a noção de estruturas familiares que constrói a família como objeto dinamizado pelas relações sociais de classe e de sexo pela consideração das duas dimensões temporais diacrônica e sin crônica e pela ampliação da família além da família conjugal às relações intergeracionais O desafi o é fazer aparecer ao mesmo tempo a contribuição socialmente invisível das mulheres para a vida econômica e a divisão sexual do trabalho que as afeta prioritariamente na esfera da reprodução Herdeira dessa noção de estrutura familiar a abordagem de Marie Agnès BarrèreMaurisson 1992 entende a família como a unidade que permite a regulação do trabalho pela divisão forçada entre trabalho pro fi ssional e doméstico entre os cônjuges em que as formas familiares são as modalidades concretas desse agenciamento famílias com um só membro ativo com dois membros ativos Em Bernadette BawinLegros 1988 Françoise Battagliola 1988 ou Annette Langevin 1982 o tema da arti culação entre estruturas econômicas e estruturas familiares é retomado em particular sob o ângulo das temporalidades da vida familiar Negociação conjugal e negação da opressão das mulheres Se os modelos familiares levam em conta a diversidade das confi gu rações e das práticas familiares e uma relativa regularidade dessas práticas eles são criticados Cahiers de lAPRE n5 1986 por se referirem implici tamente ao padrão da família conjugal parsoniana e porque ao tomar as modalidades de acordo entre os cônjuges sobre um projeto familiar como critério de sua tipologia eles mascaram as relações sociais de sexo Além disso quando a pesquisa sobre essas relações dá ênfase à necessária consi deração simultânea das práticas e das representações vêse aparecer tipolo gias da família centradas essencialmente nos discursos dos atores e em suas interpretações das normas Tornase crucial interrogar as conceituações da realidade ressituandoas no conjunto das relações sociais que as veem nascer uma vez que se trata de desfazer as confusões cientifi camente mantidas entre relação social de sexo e relação conjugal Combes 1989 As teorizações da negociação conjugal Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 98 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 98 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 99 em torno da troca de capitais entre cônjuges partem do princípio implícito de que há uma equivalência de recursos entre homens e mulheres na família e na sociedade De Singly 1987 Decorre que as relações entre os sexos na família são assimiladas a uma busca de poder na qual o poder das mulhe res de escolher as modalidades pelas quais efetuam suas tarefas econômicas teria natureza e peso equivalentes aos dos homens que descarregam sobre elas o trabalho doméstico Ao enfatizar a dimensão contratual das relações conjugais e fazer da família um espaço de livre negociação de capitais es sas teorizações negam a força das relações sociais de sexo e da opressão das mulheres Fazendo eco à ampliação do campo da família para as relações entre ge rações trazendo à luz as solidariedades no seio das linhagens femininas e o estudo das transmissões de modelos de atividades a noção de redes familiares atenua as carências analíticas do conceito de família nuclear Num contexto demográfi co de crescimento das taxas de divórcio e de novas uniões ela adquire todo o seu sentido no momento em que depois das famí lias monoparentais Lefaucheur 1988 impõese o fenômeno das recompo sições familiares MeuldersKlein Théry 1993 e cresce em força na cena sociojurídica o problema das formas de institucionalização da família fora do casamento Théry 1998 Com a inserção do Pacto Civil de Solidarieda de PACS no Direito francês é a própria defi nição de família natureza das ligações e sexo dos parceiros que se encontra novamente em questão Defi nição e políticas da família O contexto de crise econômica e desemprego vem igualmente colocar em questão a família como rede de solidariedades Longe de servir de au xílio infalível ao Estado de bemestar social que se apoia tradicionalmente nela e no trabalho que nela asseguram as mulheres para limitar seus en cargos a família como os indivíduos que a compõem sofre os efeitos da precarização do emprego vendo multiplicaremse as razões para retardar as etapas de constituição do grupo familiar assim como os riscos de sua fragmentação Se as comparações europeias das políticas familiares convidam a relacio nar a questão da evolução das relações entre os sexos na família à da demo cratização das sociedades Commaille Martin 1998 os critérios adotados Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 99 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 99 18102009 192533 18102009 192533 100 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER para defi nir a família constituem verdadeiros desafi os à gestão pelo Estado das relações sociais de sexo e da divisão sexual do trabalho Gauthier Hei nen 1993 Ao utilizar por exemplo o número de crianças para delimi tar o montante das ajudas ou as modalidades de inserção das mulheres no mercado de trabalho a fi m de selecionar as famílias com direito a elas as políticas familiares constituem ao mesmo tempo políticas de emprego que visam regular a participação das mulheres na esfera produtiva sendo que o Auxílio Parental para a Educação APE aparece como um novo avatar de tal interdependência J Martin 1998 Por outro lado a crítica feminista do direito da família iniciada há vin te anos O Dhavernas 1978 pouco a pouco trouxe à luz as contradições inerentes ao estado das relações de força entre os sexos Assim fundamen tandose no interesse da criança e na igualdade de direitos entre pai e mãe a partilha da autoridade parental signifi ca a confi rmação da divisão sexual do trabalho na família enquanto os direitos de cada um não estão ligados à responsabilização cotidiana igualitária dos deveres da parentalidade Com bes e Devreux 1994 Devemos lembrar também que é sob a pressão do movimento feminista que o Direito evoluiu no domínio da vida privada por exemplo pelo reconhecimento do estupro conjugal Sociologia da família ou sociologia das relações sociais de sexo Atualmente no debate científi co temse assistido ao longo dos últimos quinze anos à reemergência da sociologia da família como campo científi co institucionalizado Esse fenômeno pode ser analisado inicialmente como um clássico jogo de poder próprio do campo científi co onde a demarcação de um território em nome de alguns nesse caso os homens constitui uma apropriação simbólica Mas podese também perguntar se não seria uma escolha científi ca a de fundar novos enclausuramentos disciplinares De vreux 1995 Assim a conclusão da obra coletiva La famille létat des sa voirs A família o estado dos saberes De Singly 1991 aparece afi nal como um manifesto em prol dessa nova Sociologia quando François de Singly adianta que negar a utilidade de uma sociologia da família revela da parte dos pesquisadores a nostalgia do fato social total Ora partindose do ponto de vista de que as relações sociais de sexo animando com sua dinâ mica e com seu antagonismo a totalidade dos espaços sociais podem ser Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 100 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 100 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 101 vistas como um fato social total podese então colocar como já o fazia a in trodução do número de LAnée sociologique sobre a família 1987 a ques tão da validade epistemológica da noção de família Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Educação e socialização Materni dade Patriarcado teorias do Políticas sociais e familiares Tecnologias da reprodução humana Trabalho doméstico Violências BawinLegros Bernadette Familles mariage divorce LiègeBruxelas Pierre Mardaga 1988 213p Chabaud Danielle Problématiques de sexes dans les recherches sur le travail et la fa mille Sociologie du travail 1984 n384 p34658 Coletivo Le sexe du travail Structures familiales et système productif Grenoble PUG 1984 320p Commaille Jacques Les stratégies des femmes Travail famille et politique Paris La Dé couverte Textes à lappui série Sociologie 1993 188p Tahon MarieBlanche La famille désinstituée Introduction à la sociologie de la famille Otawa Les Presses de lUniversité dOttawa Sciences sociales 1995 230p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Feminilidade masculinidade virilidade Pascale Molinier e Daniel WelzerLang Na Sociologia e Antropologia dos sexos masculinidade e feminilida de designam as características e as qualidades atribuídas social e cultural mente aos homens e às mulheres Masculinidade e feminilidade existem e se defi nem em sua relação e por meio dela São as relações sociais de sexo marcadas pela dominação masculina que determinam o que é considera do normal e em geral interpretado como natural para mulheres e homens A virilidade se reveste de um duplo sentido 1 os atributos sociais as sociados aos homens e ao masculino a força a coragem a capacidade de combater o direito à violência e aos privilégios associados à dominação daquelas e daqueles que não são e não podem ser viris mulheres crian ças 2 a forma erétil e penetrante da sexualidade masculina A virilidade nas duas acepções do termo é aprendida e imposta aos meninos pelo grupo Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 101 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 101 18102009 192533 18102009 192533 102 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER dos homens durante sua socialização para que eles se distingam hierarqui camente das mulheres A virilidade é a expressão coletiva e individualizada da dominação masculina Virilidade homofobia e dominação das mulheres Nos anos 70 as sociólogas feministas Mathieu 19731991a Guillau min 1978 mostraram que em relação às qualidades físicas sociais e cultu rais os papéis sociais que cada sociedade atribui aos sexos são confundidos com as diferenças ligadas à fi siologia da reprodução quando se fala dos ho mens e do masculino designase o conjunto geral da humanidade o uni versal o normal e dáse um lugar específi co às mulheres e ao feminino As pesquisas feministas retomaram inicialmente a questão da defi nição masculina da feminilidade Disso resultou em seguida que a masculinida de também se tornou um problema Os trabalhos mais recentes mostram como a virilidade se impõe pela educação masculina naquilo que Daniel WelzerLang 1994 retomando os trabalhos do antropólogo Maurice Go delier 1982 chama de a casa dos homens os espaços onde os meninos são educados por seus pares para a violência o pátio da escola os clubes desportivos o Exército bares etc Ela estrutura as relações entre homens de acordo com a imagem hierarquizada das relações homensmulheres Aos verdadeiros homens aqueles que mostram em tudo e sobre tudo uma imagem e comportamentos considerados viris os privilégios da honra do poder da colocação das mulheres à disposição doméstica e sexual Aqueles que não conseguem adotar uma atitude viril ou a quem os outros homens negam a virilidade os fracos os designados como homossexuais os mais jovens etc embora permanecendo dominantes diante das mulheres so frem agressões e violências dos outros homens inclusive violências sexuais A homofobia que se pode defi nir como a discriminação contra as pes soas que mostram ou a quem se atribuem certas qualidades ou defeitos do outro gênero é uma forma de controle social que se exerce sobre todos os homens desde os primeiros passos da educação masculina Homofobia e dominação das mulheres são os componentes da virilidade WelzerLang et al 1994 Para as mulheres a homofobia menos estudada assegura no entanto as mesmas funções a produção e a reprodução das fronteiras de gênero que Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 102 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 102 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 103 reifi cam a dominação masculina e a visão bicategorizada de gênero Sob o pretexto da feminilidade as mulheres devem escolher uma aparência que assinale sua interiorização dos códigos estéticos pensados pelos homens e adotar diante deles uma atitude submissa e não concorrencial quanto ao po der A lesbofobia designa a estigmatização da sexualidade entre mulheres que escapam ao controle masculino Virilidade mulheridade e divisão sexual do trabalho Numa abordagem diferente aquela da psicodinâmica do trabalho con siderase igualmente a virilidade como a alavanca da dominação masculina mas se procura saber como e sob que condições os homens e as mulheres aderem às relações sociais de sexo em vigor ou delas se libertam Partese do princípio de que os homens e as mulheres não interiorizam o gênero de maneira mecânica mas que seus desejos e expectativas estão em confl ito com as determinações sociais da diferença dos sexos Dejours 1988 A análise desse confl ito está centrada na investigação da relação subjetiva com o trabalho Nessa perspectiva masculinidade e feminilidade designam a identidade sexual a capacidade de habitar e amar seu próprio corpo e de desfrutar dele nas relações eróticas enquanto isso virilidade e mulheridade designam o conformismo em relação às condutas sexuadas exigidas pela divisão social e sexual do trabalho A adesão dos homens aos critérios da virilidade é in terpretada antes de tudo como uma defesa contra o sofrimento e o medo engendrados no trabalho Nas profi ssões masculinas os homens ocultam o sofrimento gerado pe las imposições da organização do trabalho graças à efi cácia simbólica de um sistema de condutas e representações centradas na virilidade que associam o pertencimento ao grupo dos homens ao domínio infalível do real As ma nifestações do sofrimento medo dúvida confl ito moral compaixão etc são imputadas às mulheres como a marca da sua inferioridade natural Uma parte da identidade sexual dos homens se constitui portanto no cam po social em detrimento das mulheres Ao aderirem à ideologia defensiva da virilidade os homens têm mais chance de obter sucesso social do que tentando defender sua singularida de masculinidade Mas paradoxalmente o homem virilizado é frágil Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 103 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 103 18102009 192533 18102009 192533 104 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Seu ego carece de espessura e fl exibilidade psíquica não sabendo suportar nem elaborar o sofrimento resiste mal aos remanejamentos de seu status social desemprego aposentadoria feminização da profi ssão assim como aos encontros amorosos Assim a virilidade aparece como uma passa gem obrigada para alcançar o masculino e ao mesmo tempo como um risco maior de fechamento para o desenvolvimento da identidade sexual Dejours 1988 Para as mulheres existe uma forte contradição entre a construção da fe minilidade e a integração no mundo do trabalho Por um lado as mulheres que desejam fazer uma carreira valorizada devem aderir ao sistema de de fesa viril desprezando ao mesmo tempo seu próprio sexo Por outro lado diferentemente dos homens as mulheres não construiriam suas competên cias mas disporiam de um fundo natural de dons e qualidades femininas destreza minúcia paciência empatia etc Assim uma grande parte de sua inteligência deixa de ser reconhecida e os serviços femininos são pres tados pelas mulheres como normais Mulheridade é o neologismo que designa a alienação da subjetividade fe minina no estatuto da submissão A mulheridade inclui o que NicoleClaude Mathieu 1991a designa com a expressão consciência dominada ao lhe atribuir o conteúdo psicológico de uma defesa contra o défi cit crônico de reconhecimento do trabalho feminino Atitudes compulsivas de limpeza entre donas de casa e auxiliares de enfermagem a idealização do dom de si entre as enfermeiras inibição teórica ou superinvestimento do campo entre pesquisadoras A mulheridade não é portanto simétrica à virilida de Enquanto esta pode servir de identidade de empréstimo naquilo que é promessa de valorização a mulheridade remete apenas à depreciação e à negação de si Estudos clínicos Molinier 1997 com coletivos de enfermeiras permiti ram mostrar a positividade da relação entre feminilidade e trabalho numa relação com o mundo diametralmente oposta à da virilidade A feminili dade não se resume ao estatuto de submissão e abnegação graças ao reco nhecimento pelas enfermeiras da compaixão como sofrimento gerado pela atividade de cuidar e como valor moral para orientar e julgar seu trabalho As habilidades discretas qualifi cadas como femininas sorriso paciência etc implicam na verdade uma soma de experiências habilidades astúcia e cooperação entre enfermeiras Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 104 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 104 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 105 Identidade sexual e determinações sociais Hoje a dominação masculina não é mais contestada pelas Ciências So ciais Colocase então com mais acuidade a necessidade de desconstruir as categorias de ação e de pensamento que articulam feminilidade e mas culinidade dominação das mulheres e alienação dos homens virilidade e violência masculinas esfera pública e esfera privada Comparado ao desen volvimento das pesquisas feministas o número reduzido de homens que se defi nem como prófeministas e participam desse trabalho crítico não facilita a necessária pluralidade dos debates e confrontos Os estudos atuais tendem a coligar dominação sobre as mulheres e coações à virilidade impos ta aos homens a situar o lugar das violências masculinas contra as mulheres e o das violências masculinas sofridas pelos homens em sua socialização a ligar dominação masculina contra as mulheres e expressões do heteros sexismo contra aqueles e aquelas que não aceitam a heteronormatividade gays lésbicas bissexuais transgêneros WelzerLang 2000 Enfi m a heterossexualidade poderia parecer uma forma de opressão sui generis o assédio sexual das mulheres no trabalho constituiria uma for ma radicalizada da heteronormatividade Mas seria lamentável reduzir a heterossexualidade à sua captura pela virilidade social Nem as Ciências Sociais nem a Psicanálise têm até o momento uma teoria constituída das relações entre a identidade sexual e suas determinações sociais Molinier 2000 Para a Psicanálise o gênero continua naturalizado na economia erótica De outro lado e salvo exceção Hirata e Kergoat 1988 as teorias sociais tendem a reduzir a identidade sexual ao comportamento imposto pelo gênero deixando de lado o desejo assim como a subjetividade o que implica uma dupla cegueira conduzindo ao mesmo risco o de confundir a alienação das formações sociais do desejo com sua realização singular A desconstrução das ideologias defensivas de sexo abre um novo espaço para pensar a heterossexualidade de outra forma como o espaço enigmático de um corpo a corpo arriscado cujo destino singular feliz ou infeliz está ligado à nossa capacidade coletiva de fazer evoluir as relações sociais de sexo Diferença dos sexos teorias da Dominação Sexo e gênero Técnicas e gênero Violências Dejours Christophe Adolescence le masculin entre sexualité et société Adolescence 1988 n6 p89116 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 105 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 105 18102009 192533 18102009 192533 106 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Guillaumin Colette Sexe race et pratique du pouvoir Lidée de nature Paris Côté femmes Recherches 1992 241p Hirata Helena Kergoat Danièle Rapports sociaux de sexe et psychopathologie du tra vail in Christophe Dejours Dir Plaisir et souffrance dans le travail Éditions de lAOCIP 1988 t2 p13163 Mathieu NicoleClaude Hommeculture et femmenature LHomme 1973 XIII3 p10113 Reed in NC Mathieu Lanatomie politique Catégorisations et idéologies du sexe Paris Côtéfemmes Recherches 1991a p4361 Molinier Pascale Autonomie morale subjective et construction de lidentité sexuelle lapport de la psychodynamique du travail Revue internationale de psychosociologie 1997 vIII n5 p5362 WelzerLang Daniel Dutey Pierre Dorais Michel Dirs Lhomophobie la face ca chée du masculin La peur de lautre en soi du sexisme à lhomophobie MontréalParis VLBLe Jour 1994 p1391 Traduzido por FRANCISCO RIBEIRO SILVA JÚNIOR Flexibilidade Nathalie Cattanéo e Helena Hirata A fl exibilidade é apresentada desde o começo dos anos 80 como uma noção altamente polissêmica em primeiro lugar em referência às mudan ças na organização do trabalho e da produção a fábrica fl exível em se guida em referência ao mercado de trabalho fl exibilidade do emprego e do trabalho enfi m ao tempo de trabalho trabalho de meio período em tempo parcial anualização do tempo de trabalho repartição e redução da jornada de trabalho Ela tem uma conotação ideológica que mascara sob um termo neutro ou mesmo positivo fl exibilidade adaptação organiza ção do tempo práticas de gestão da mão de obra em que fl exibilidade e precariedade andam frequentemente lado a lado no mercado de trabalho Como o termo mundialização ela apresenta uma mistura de descrição prescrição e predição Pollert 1989 p75 e tem infl uenciado desde os anos 80 políticas econômicas e os direitos trabalhistas na Europa ibidem A fl exibilidade do emprego ligada ao desenvolvimento daquilo que se tem chamado desde meados dos anos 70 de formas particulares ou Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 106 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 106 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 107 atípicas de emprego foi obtida inicialmente pelo desenvolvimento de diversas modalidades de trabalho temporário de contratos de duração determinada CDD e da terceirização Em seguida pelo progresso desde os anos 80 do trabalho em tempo parcial desenvolvimento espetacular na França principalmente a partir de 1992 com a instauração de políticas incitativas O tempo parcial envolve em 2003 INSEE pesquisas sobre o emprego mais de 299 das mulheres ativas empregadas tratase de uma modalidade essencialmente feminina de emprego 80 são ocupados por mulheres Os diversos contratos subvencionados pelo governo como o contrato emprego solidário CES atingem também uma mão de obra majoritariamente feminina A fl exibilidade tem permitido reduzir o custo do trabalho e aumentar a competitividade das empresas Organismos como a OCDE distinguem por um lado a fl exibilidade interna ou qualitativa ou funcional a polivalência dos operários no espaço da fábrica sua capacida de de se adaptar a uma produção baseada na variedade e de outro lado a fl exibilidade quantitativa ou numérica interna ou externa que designa a possibilidade de fazer variar o volume do emprego ou a duração do tempo de trabalho A ruptura do espaço de trabalho trabalho em domicílio tele trabalho desenvolvimento da terceirização concorre também para o de senvolvimento da produção dita fl exível Em todos esses casos o emprego da fl exibilidade se apoia na divisão sexual do trabalho Da fábrica fl exível ao trabalhador móvel Em meados dos anos 80 acelerase na Europa o surgimento de novas características da organização e do desenvolvimento industriais chamadas por Michael Piore e Charles Sabel 1984 de especialização fl exível Esse modelo está fundado num máximo de maleabilidade das organizações tec nologias empregos e trabalho O debate sobre a fl exibilidade acompanha os meandros dessas idas e vindas entre mercado de trabalho organização da empresa e resposta dos trabalhadores que caracterizam a implantação de todo novo modelo produtivo Podese periodizar esse debate em dois momentos nos anos 80 a refl e xão sobre a fl exibilidade da produção foi desenvolvida principalmente por economistas considerando aspectos como equipamentos programáveis polivalência da mão de obra formações ditas qualifi cadas integração Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 107 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 107 18102009 192533 18102009 192533 108 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER de tarefas menor divisão do trabalho etc As características propriamente técnicas da produção fl exível chamaram a atenção dos pesquisadores Se aspectos negativos relacionados ao emprego foram evocados foramno principalmente por sociólogos que realizam pesquisas sobre a mão de obra feminina Maruani e Nicole 1988 Nos anos 90 o debate se orientou prin cipalmente para a fl exibilidade dita externa ou quantitativa Pesquisas mais recentes apontaram que a fl exibilidade quantitativa determina a que custo e segundo que modalidades a fl exibilidade funcional poderá se de senvolver nas empresas Jetin 1998 p404 Análises dos novos tipos de emprego que se desenvolveram massivamente a partir desse período con tribuíram para esclarecer pontos como a retomada da questão da legislação do trabalho a desregulação da jornada e do tempo de trabalho a insufi ciên cia dos salários o desenvolvimento do subemprego e o recuo da cobertura social As consequências da fl exibilidade do emprego sobre a saúde dos tra balhadores também têm sido objeto de pesquisas de sociólogos especialis tas em psicodinâmica do trabalho ergonomistas médicos e inspetores do trabalho Appay e ThébaudMony 1997 Hoje a fl exibilidade continua a se estender na Europa a partir das dire trizes do Livro branco da Comissão Europeia 1994 retomadas no Conselho de Essen 1994 na reunião de cúpula de Amsterdã e na primeira reunião de cúpula europeia sobre o emprego em Luxemburgo 1997 cf Meulders in Maruani 1998 Como sublinha Danièle Meulders tudo deve ser fl exí vel nos mercados de trabalho europeus os trabalhadores suas formações seus horários seus tempos de trabalho seus custos salariais e os sistemas produtivos que os ocupam ibidem p239 O Estado e a empresa têm desempenhado um papel maior nesse processo adotando políticas de des regulamentação e a redução de encargos sociais e fi scais Enfi m a redução da jornada de trabalho e a passagem para as 35 horas a divisão do trabalho e a anualização suscitam hoje debates na França mas também em outros países europeus A anualização9 adotada na França a partir da aprovação da lei quinquenal no 931313 de 1993 relativa ao em prego e à formação vincula o cálculo do tempo de trabalho ao ano como referência e permite portanto fazer variar o tempo de trabalho segundo a situação da empresa e o volume da demanda Uma outra modalidade a in 9 Corresponde grosso modo ao banco de horas no Brasil NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 108 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 108 18102009 192533 18102009 192533 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 109 trodução de horários ditos atípicos que se desenvolvem principalmente em setores feminizados como o comércio ou o trabalho das telefonistas induz a uma perda total do controle do tempo de trabalho no tempo de vida das assalariadas Prévost e Messing 1997 A fl exibilidade é sexuada Um número muito grande de tipologias da fl exibilidade surgiu nos úl timos quinze anos Boyer 1986 Michon 1987 Volkoff 1987 Du Terre 1989 Coriat 1990 J Gadrey e N Gadrey 1991 etc Dossiês importantes foram consagrados regularmente às controvérsias suscitadas por essa ques tão em revistas edições de Travail n12 1987 n20 1990 e do Cahiers français n231 1987 assim como o n2 de Mouvements 1999 etc Uma das tipologias mais exaustivas a de Robert Boyer 1986 p237 já continha as formas de fl exibilidade ligadas à empresa à produção e à qualifi cação e as formas ligadas ao emprego dos trabalhadores sua mobilidade seus sa lários e sua cobertura social No entanto essas tipologias são quase sempre neutras e não consideram as diferenças entre homens e mulheres Ora a fl exibilidade do trabalho repousa sobre níveis variáveis mas sem pre presentes de rigidez nos comportamentos sociais Entre esses fatores de rigidez a divisão sexual do trabalho é central Paradoxalmente ela pos sibilita a organização fl exível do trabalho o trabalho assalariado das mulhe res principalmente sob a forma de trabalho em tempo parcial compulsório e o trabalho assalariado dos homens possibilitado pelo trabalho doméstico das mulheres Pesquisas realizadas desde os anos 80 por Margaret Maruani e Chantal Nicole 1988 e desenvolvidas em seguida por Jane Jenson 1989 Sylvia Walby in Maruani 1998 Danièle Meulders in Maruani 1998 Ra chel Silvera 1999 entre outras têm demonstrado largamente o caráter sexuado da fl exibilidade Danièle Kergoat 1992a p801 mostra que há justaposição entre taylorismo setor feminilizado e fl exibilidade setor masculinizado ou a existência de duas formas de fl exibilidade formações profi ssionais e polivalência para os homens formas de emprego atípicas para as mulheres De fato a fl exibilidade dita interna polivalência rotação integração de tarefas trabalho em equipe está mais relacionada à mão de obra masculina enquanto a fl exibilidade dita externa é obtida sobretudo Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 109 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 109 18102009 192534 18102009 192534 110 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER pelo recurso à mão de obra feminina empregos precários trabalho de tem po parcial horários fl exíveis Esta aumenta as desigualdades nas condições de trabalho emprego e saúde segundo os sexos A implantação dessa divisão sexual é possível na medida em que há uma legitimação social é em nome da conciliação da vida familiar com a vida profi ssional que tais empregos são propostos às mulheres A diferença sa larial também é socialmente legitimada pela representação usual do salário feminino como renda complementar Trabalho fl exível resistências e obstáculos sociais As mulheres são as principais destinatárias das políticas atuais de or ganização do tempo de trabalho e de criação e desenvolvimento de em pregos fl exíveis e precários Assim a questão dos obstáculos ou dos limi tes sociais à busca da fl exibilidade e da reatividade das empresas é central Tratase de obstáculos engendrados pelos movimentos sociais e de limites impostos pelas políticas públicas para controlar as consequências da fl e xibilidade do trabalho sobre o conjunto dos assalariados Por um lado a resistência dos movimentos operário e sindical do movimento social das mulheres por exemplo contra o tempo parcial imposto ou dos desem pregados constitui um obstáculo ao processo de fl exibilização do trabalho De outro a política social e o Direito social e do trabalho podem estabe lecer limites ao desenvolvimento acentuado das práticas de fl exibilidade A expressão formas ilegais da fl exibilidade utilizada na obra Políticas sociais JoinLambert et al 1997 p169 é um bom exemplo dessa con cepção jurídica dos limites a serem adotados pelas políticas públicas que regulamentam práticas de gestão O papel das legislações do trabalho não é signifi cativo quando se examina o trabalho em tempo parcial observase que há uma considerável diversidade de estatutos e graus de valorização desse tipo de emprego segundo a legislação do trabalho em vigor con forme o país escolha reversibilidade proteção de direitos sociais salário etc Essas situações de fl exibilidade controlada contrastam com a implan tação selvagem da fl exibilidade do trabalho em certos países em via de desenvolvimento Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Mundialização Precarização social Saúde no trabalho Trabalho o conceito de Trabalho doméstico Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 110 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 110 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 111 Boyer Robert Ed La fl exibilité du travail en Europe Paris La Découverte 1986 330p Gadrey Jean Gadrey Nicole La gestion des ressources humaines dans les services et le com merce Flexibilité diversité compétitivité Paris LHar mattan 1991 223p Jenson Jane The Talents of Women the Skills of Men Flexible Specialization and Women in Stephen Wood Ed The Transformation of Work Londres Unwin Hy man 1989 p14155 Kergoat Danièle Les absentes de lhistoire Autrement Mutations 1992a n126 p7383 Maruani Margaret Dir Les nouvelles frontières de linégalité Hommes et femmes sur le marché du travail Paris MageLa Découverte 1998 285p cf artigos de Danièle Meulders Rachel Silvera Sylvia Walby Prévost Johanne Messing Karen Quel horaire what schedule La conciliation travail famille et lhoraire de travail irrégulier des téléphonistes in Angelo Soares Dir Stra tégie de résistance et travail des femmes MontréalParis LHarmattan 1997 p25170 Traduzido por FRANCISCO RIBEIRO SILVA JÚNIOR História sexuação da Michelle Perrot Por sexuação da História devese entender a consideração no e pelo relato histórico das relações entre os sexos Como esse relato tem sido or dinariamente escrito no masculino a expressão história das mulheres é a mais frequentemente utilizada para designar essa iniciativa que no entanto se pretende relacional desde o início recusando toda separação em benefício de uma releitura geral muito mais ambiciosa A noção norteamericana de gender gênero surgida desde o fi m dos anos 60 em Antropologia se difundiu na História uma dezena de anos mais tar de O termo se impôs pouco a pouco na França não sem difi culdade ligada sobretudo a razões de vocabulário A partir de então passou a ser emprega do de maneira relativamente corrente pelo menos nos meios científi cos Por oposição ao sexo biológico o gênero designa as relações dos sexos construí das pela cultura e pela História Ele designa a diferença dos sexos em sua historicidade expressão que aliás as fi lósofas Françoise Collin Geneviève Fraisse Michele Le Doeuff etc tendem a preferir tanto a relações sociais de sexos como a gênero Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 111 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 111 18102009 192534 18102009 192534 112 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Da exclusão à visibilidade histórica Lembraremos que contrariamente ao inglês que possui dois termos para designar aquilo que acontece story e o relato que fazemos disso History o francês tem apenas um Histoire História o que complica ainda mais as coisas como se o relato fosse consubstancial às realidades de que ele pretende dar conta e que o transborda por todos os lados De Michel Foucault a Paul Ricoeur a epistemologia contemporânea sublinhou esse ponto O relato histórico é olhar escritura artefato não artifício certamen te mas escolha intimamente ligada ao presente do escritor O esquecimen to de que as mulheres têm sido objeto não é uma simples perda de memó ria acidental e contingente mas o resultado de uma exclusão consecutiva à própria defi nição de História gesto público dos poderes dos eventos e das guerras Excluídas da cena pública pelas funções ditadas pela natureza e pela vontade dos deusesde Deus as mulheres não podiam aparecer nela a não ser como fi gurantes mudas penetrando por arrombamento ou a título de exceção as mulheres excepcionais heroicas santas ou escandalosas relegando à sombra a massa das outras mulheres Na Antiguidade greco romana como na Idade Média cristã o silêncio da História sobre as mulhe res é impressionante Mulheres que sabemos sobre elas interrogase Georges Duby na conclusão de um de seus livros 1991 em que entre nobres e clérigos indaga o destino delas Quando a História se constitui como disciplina acadêmica e saber insti tuído Michelet parece romper esse silêncio Mas ao assimilar as mulheres à natureza e os homens à cultura ao atribuir às mulheres um papel maternal normativo ele reproduz a ideologia dominante aquela que no mesmo mo mento consolida a Antropologia nascente de Morgan e Bachofen O posi tivismo de fi m de século centrado na história política expulsa essas velei dades sexuadas Os fundadores da Escola dos Anais Marc Bloch e Lucien Febvre e em seguida a segunda geração Fernand Braudel Ernest La brousse enfatizam o econômico e o social instâncias assexuadas A classe aparece então como uma categoria de análise das mutações sociais muito mais pertinente e dinâmica que a família instância de reprodução ligada à natureza até mesmo à ordem moral De maneira semelhante trinta anos antes a Sociologia de Émile Durkheim orientada pelo fato social havia suplantado a escola de Frédéric Le Play e as monografi as de família da Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 112 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 112 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 113 Sociedade de Economia Social que tinham o mérito de atribuir grande des taque ao papel das mulheres na vida doméstica Como acontece frequente mente o confl ito das sociologias recobriu escolhas políticas e ideológicas a República contra a Igreja perfeitamente justifi cadas mas que podiam ter igualmente efeitos perversos no domínio da pesquisa Neste caso a classe recalca a família como a produção identifi cada com o único produto físico oculta o doméstico e o operário metalúrgico mineiro da construção civil suplanta a dona de casa no simbolismo do fazer O aparecimento de uma História das mulheres portanto uma História sexuada se produz no início dos anos 70 Três séries de fatores contribuí ram para isso 1 os científi cos principalmente a infl uência da Antropolo gia e da demografi a histórica que reintegram a família e o corpo na trama da História enquanto a crise dos grandes paradigmas explicativos favorece a fragmentação da História falemos de esmigalhamento e a eclosão de uma grande diversidade de objetos a consideração de novos atores a criança os jovens e de novas intrigas a vida privada por exemplo 2 os sociológicos a presença crescente de mulheres na universidade como estu dantes e em seguida como docentes portadoras de interrogações novas 3 os políticos o movimento de liberação das mulheres cuja primeira preocu pação não era fazer a História induziu a curiosidades efeitos até mesmo à vontade de operar uma ruptura epistemológica nas Ciências Humanas e Sociais Todas as disciplinas são de alguma forma atingidas e a História disciplina no entanto viril por sua sociologia e seus valores especialmente na França em razão do forte componente histórico da identidade nacional passa a sêlo a partir do começo dos anos 70 Cursos seminários e coló quios contribuem para isso enquanto mestrados e teses constituem uma acumulação primitiva de que a História das mulheres no Ocidente Duby Perrot 19911992 é uma primeira cristalização e legitimação História das mulheres história do gênero Em 25 anos desenvolveuse um campo multipolar que já tem sua ge nealogia suas evoluções seus debates suas próprias tensões Num primei ro momento dominava uma história no feminino preocupada em tornar as mulheres visíveis em busca de traços perdidos e partindo de seus papéis tradicionais maternidade prostituição vida cotidiana de seus lugares Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 113 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 113 18102009 192534 18102009 192534 114 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER do tanque ao convento e de suas imagens Uma história da cultura das mulheres no sentido pleno do termo em que o corpo e o silêncio ou a pala vra das mulheres eram os epicentros Depois passouse a uma atitude pro blematizada em torno das noções de representações de públicoprivado de poderes de violência de gênero Muitos debates testemunham a vitalidade dessa pesquisa sobretudo em torno da noção de gênero na qual se critica por vezes o fato de dissimu lar sob o pretexto de diferença dos sexos um subreptício abandono das próprias mulheres As historiadoras italianas entre outras por exemplo a equipe da revista Memória são especialmente atentas a essa preocupação de aprofundar uma cultura das mulheres maternidade via mística que está longe de ter desvendado seus segredos Outras ao contrário temem os perigos de um silencioso aprisionamento no entresi das mulheres Um cé lebre artigo dos Annales Dauphin 1986 Cultura e poder das mulheres Ensaio de historiografi a fezse o eco desses debates assim como o colóquio organizado na Sorbonne em 1992 Mulheres e História Duby e Perrot 1993 A historiadora italiana Gianna Pomata se pronunciou na ocasião por uma História das mulheres contra uma História do gênero que lhe parece escapar de seu objeto dando espaço excessivo à análise dos discursos e das representações em detrimento de uma verdadeira História social das mulheres Essa é também a opinião de AnneMarie Sohn 1998 que esti ma que o gênero não acrescenta grande coisa Do lado oposto Christine Fauré ou Michèle RiotSarcey tomam partido de uma História política do gênero Enquanto isso a maioria das historiadoras pensa que os dois pontos de vista não são exclusivos e defende uma História das mulheres visitada constantemente pela preocupação do gênero Como estudar espaços femi ninos convento tanque pensão lojas descrever práticas femininas do enxoval à escrita da correspondência sem recolocálas numa sociedade governada pela diferença dos sexos Entender a historicidade dessa dife rença em todos os níveis de discursos atividades espaços do privado e do público político e doméstico do social e da economia é ou deveria ser a preocupação de uma História das mulheres resoluta e simultaneamente descritiva e problemática social cultural e política Assim também a insistência sobre o poder a dominação masculina Bourdieu 1998 não corre o risco de silenciar sobre os contrapoderes a ação e o pensamento das próprias mulheres as dominadas são capazes dis Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 114 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 114 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 115 so quer se trate de ações individuais espontâneas ou organizadas O feminismo em razão de sua falta de estruturas fi xas não é nem um sindi cato nem um partido e se aproxima mais dos novos movimentos sociais dos quais poderia ser um dos protótipos mas também em razão de sua carga crítica é o alvo de uma depreciação que tenta demonizálo ou ridi cularizálo mas é sobretudo o objeto de um esquecimento que é a forma mais sutil da renegação Tratase de uma maneira de negar que as mulhe res façam parte da mudança de sua condição termo muito passivo que será devido apenas à modernização científi ca técnica política e cultural das relações sociais nas quais as relações entre os sexos seriam em suma apenas uma modalidade enquanto em muitos casos são justamente seus motores A História das mulheres sem dúvida não operou a ruptura epistemo lógica esperada por suas iniciantes entre elas a equipe da História das mulheres no Ocidente Seu reconhecimento acadêmico é frágil e suas es truturas institucionais ainda bastante insufi cientes Sua transmissão par ticularmente no ensino primário e secundário e sua continuação não são asseguradas No entanto ela se impôs e doravante é impossível uma his tória sem as mulheres No seio das Ciências Sociais e Humanas com as quais ela é mais que nenhuma outra profundamente solidária em razão da polissemia do objeto mulheres ela tem contribuído para a renovação das perspectivas e dos questionamentos Perspectivas porque não é pos sível fazer abstração da condição social nem do horizonte geográfi co nem das migrações das mulheres do mundo que de resto desenvolvem sua his tória desde que atinjam certo nível de desenvolvimento e de democracia Questionamentos porque a dimensão sexuada dinamita o universal belo objetivo mas frágil realidade interroga o político o doméstico a criação o poder o valor e no fi nal das contas as próprias bases do pensamento Entre as pistas mais frutuosas constam a refl exão sobre a virilidade que interessa a um número crescente de pesquisadores a história das homossexualida des e principalmente das lésbicas que estão longe de ter na História das mulheres o lugar que deveriam em vista do papel que desempenharam no último terço do século Nos saberes nos poderes na cidade a diferença dos sexos se anuncia como uma das maiores questões do século XXI A História das mulheres sem dúvida se insere nessa perspectiva Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 115 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 115 18102009 192534 18102009 192534 116 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Diferença dos sexos teorias da Família Movimentos feministas Públicoprivado Sexo e gênero Dauphin Cécile et al Culture et pouvoir des femmes Essai dhisto riographie Annales marçoabril 1986 n2 p27193 Fraisse Geneviève Les femmes et leur histoire Paris Gallimard Folio 1998 614p Perrot Michelle Les femmes ou les silences de lHistoire Paris Flammarion 1998 491p Scott Joan Gender and the politics of History Nova York Columbia University Press 1988a 242p O principal artigo da autora foi traduzido nos n3738 do Cahiers du GRIF Le genre de lHistoire apresentado por Françoise Collin com o título Le genre une catégorie utile de lanalyse historique p12555 Sohn AnneMarie Thélamon Françoise Dirs Une histoire sans les femmes estelle pos sible Paris Plon 1998 427p Thébaud Françoise Écrire lhistoire des femmes FontenaySaintCloud ENS Éditions 1998 226p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Igualdade Eleni Varikas Princípio fundador dos sistemas políticos universalistas a igualdade é porém uma das promessas mais inacabadas da modernidade O primeiro artigo da Declaração dos Direitos Humanos os homens nascem e permanecem livres e iguais em seus direitos é simultaneamente um enunciado declarativo que remete a uma compreensão política e um enunciado descritivo que se refere a uma herança natural da humanidade O potencial subversivo da ideia de igualdade seus paradoxos e suas antino mias são relacionados à ambiguidade do direito natural do qual ela é a base Como direito igual de cada um para fazer o que é potencialmente ca paz o direito natural é a hipótese inicial que permite aos seres humanos instituir uma ordem política que possibilite realizar essa aposta Se os direi tos iguais precisam ser declarados é porque não existem fora da vontade hu mana que os declara a igualdade não é uma realidade empírica mas pode vir a sêlo devido a uma ordem política instituída pelos cidadãos e cidadãs que se comprometem a substituir os privilégios de nascimento pelo princípio de uma lei geral para todos conhecida por todos e elaborada por todos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 116 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 116 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 117 Mas ao mesmo tempo o primeiro artigo da Declaração tem uma dimen são descritiva que remete a um dado apresentado como natural e supra histórico Compreendido como um fato mais do que como um imperativo como uma herança natural da humanidade em vez de uma possibilidade a ser realizada pela ação a igualdade tende a se desvincular da construção política que garantiria sua aplicação para se tornar o álibi ideológico de uma nova ordem desigual Situandose no campo prépolítico da natureza a ideia de igualdade aparece desarmada face a uma concepção dos direitos que depende das qualidades naturais de cada indivíduo ou grupo social e se torna um campo privilegiado de legitimação da dominação As antinomias da construção do gênero Encontrando inspiração nas Ciências Naturais o determinismo do pa trimônio biológico reformulou a partir do século XIX a noção aristocrática de herança permitindo conciliar o princípio da abolição dos privilégios de nascimento com a persistência dos privilégios de sexo cor classe e cultura O fato empírico de que alguns indivíduos não nascem livres e iguais assim como seu acesso diferenciado aos direitos poderá ser atribuído a uma nature za diferente reintroduzindo uma incomparabilidade radical entre condições sociais percebidas então não mais como desiguais mas como diferentes Impasse teórico essa construção da igualdade marca profundamente a organização política e social das relações de dominação entre homens e mulheres organização política que desde o século XVII faz da sujeição das mulheres ao chefe de família o fundamento natural de uma ordem po lítica que pretende obter sua legitimidade do consentimento de indivíduos iguais O postulado da superioridade natural de todos os homens sobre todas as mulheres que subentende a instituição da família e a distinção públicoprivado na comunidade política moderna não construiu somente uma categoria de indivíduos inferiores ele reformula a antiga diferencia ção hierárquica dos sexos em termos de diferença antropológica Fato da natureza inacessível à ação humana Locke Rousseau a dominação de sexo não é somente legitimada ela se torna invisível como dominação Essa invisibilidade permite tratar as mulheres como uma categoria homogênea cujos direitos e deveres não obedecem a uma lei geral elaborada para e por todos mas a regras específi cas válidas unicamente para essa categoria Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 117 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 117 18102009 192534 18102009 192534 118 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Este regime de exceção Delphy 1995 que exclui em bloco as mulheres do estatuto de sujeito político tornase por sua vez princípio organizador de uma sociedade fundada e concebida conforme a divisão sexual do trabalho das competências dos espaços e dos poderes As antinomias da construção do gênero nos últimos dois séculos são também as antinomias na concepção histórica de igualdade Antinomia entre o direito natural que fundamenta a comunidade política na igual liberdade de cada um em fazer tudo o que estiver potencialmente ao seu alcance e a lei natural que torna essa liberdade dependente de uma defi nição autoritária da natureza e suas normas Se o primeiro permite conceber a igualdade como a articulação necessária entre a diversidade das necessida des e a multiplicidade das vontades que instituem a comunidade a segunda associa a igualdade à identidade construindo a diferença como desvio de uma norma defi nida pela correlação de forças Como membro de um grupo diferente o sujeito feminino pode ser excluído da igualdade dos direitos em nome da sua diferença que o torna incomparável a todos os outros Como alguém abstratamente semelhante e portanto comparável a todos os outros ela só pode usufruir da igualdade na medida de sua semelhança com o grupo dominante os homens Dilemas da igualdade Construído em oposição à diferença real ou imaginária das mulheres em relação aos homens o princípio da igualdade tem nos últimos séculos pontuado a luta pela libertação das mulheres confrontadas com uma esco lha impossível Por um lado o pleno reconhecimento político e social das mulheres signifi ca que elas devem se adaptar à norma masculina tornar se como homens Por outro lado sua demanda serem admitidas como são numa organização social que leve em conta suas diferenças em relação aos homens por exemplo a maternidade o cuidado das crianças reforça o regime de exceção do qual elas são objeto e as condena a uma incorpora ção específi ca como mulheres ou seja homens imperfeitos Esse paradoxo que Carole Pateman 1988 chama de o dilema de Wollstonecraft está hoje no centro de uma crise da igualdade tanto como modelo conceitual para se pensar a libertação das mulheres quanto como uma estratégia efi caz para defender os seus direitos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 118 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 118 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 119 Tendo o homem como medida e denominador comum de compara ção a concepção liberal da igualdade de tratamento tornase alvo de críticas que destacam as diferenças entre mulheres e homens Para as correntes da diferença sexual que veem entre homens e mulheres uma diferença onto lógica reprimida ou negada pela modernidade ocidental a igualdade dos sexos é um conceito e uma política patriarcal que visa homologar as mu lheres conforme o princípio e a lógica do masculino Irigaray 1989 Cava rero 1990 Mas o princípio liberal de igualdade também é contestado por aqueles que analisam a diferença em termos de dominação ignorando as diferen tes situações nas quais a dominação de sexo situa os homens e as mulheres o tratamento igual tende a perpetuar e até mesmo a reforçar a posição das mulheres como dominadas Isso leva muitas vezes a opor a noção de igualdade à de equidade ou de justiça que exige tratar da mesma maneira os que são semelhantes e de forma diferente os que não o são A equidade é no entanto cheia de ambi guidades tanto quanto ou mais a noção de igualdade A justiça à qual ela se refere é uma justiça natural que depende de uma interpretação do que é naturalmente devido a cada um De Aristóteles a Leibniz passando pelo pensamento medieval sua conotação qualitativa tratar cada um de ma neira específi ca remete à justiça distributiva de um mundo hierárquico a equidade tem por objetivo a felicidade mas uma felicidade que como sublinhava Leibniz corresponde à sorte conferida a cada um dos mortais a sorte do senhor ou do escravo do empresário ou do trabalhador Ao con trário da igualdade que apesar de seu componente quantitativo inclui em seu campo conceitual a utopia de uma abolição das hierarquias a equidade busca a melhoria mais do que a transformação do status quo ela tende a privilegiar a satisfação das necessidades das mulheres como elas surgem de sua posição de dominadas na divisão sexual do trabalho na dependência Reconceituação da polaridade identidadediferença Os debates teóricos e políticos desenvolvidos durante as últimas três dé cadas sobre as estratégias mais convenientes para lutar contra a desigualdade contribuíram para evidenciar a dominação de sexo ao mesmo tempo expu seram os impasses da polaridade identidadediferença na qual fi cou preso Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 119 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 119 18102009 192534 18102009 192534 120 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER o princípio de igualdade As oposições tratamento igualtratamento dife renciado igualdadeequidade fazem parte do problema que se supõe que elas devam resolver na medida em que considerem evidente a validade das categorias e dos conceitos cujos pressupostos implícitos e signifi cados domi nantes se desenvolveram como armas para relações sociais antagônicas A persistência da desigualdade apesar das políticas sociais antidiscriminató rias e de inclusão sua capacidade de se revestir de formas novas e inéditas orientam a refl exão feminista ao reexame crítico das categorias e das ferra mentas conceituais com as quais compreendemos a desigualdade dos sexos Tomando como exemplo a igualdade profi ssional os pressupostos im plícitos das políticas sociais concebem de maneira geral a discriminação e a exclusão como fenômenos que se superpõem à estrutura do trabalho operando como efeitos de barragem que se trata de eliminar com leis an tidiscriminatórias salário igual comparable worth10 ou com medidas que promovem a igualdade de oportunidades ações positivas recrutamento preferencial valorização das qualifi cações femininas e favorecem a parti cipação das mulheres no trabalho assalariado e a dessegregação dos ramos e das qualifi cações valorizadas Se como indicam os processos de feminizaçãodesvalorização e a reor ganização das hierarquias no trabalho a discriminação de sexo simples mente não funciona como efeito de barragem mas sim como princípio organizador da sociedade aqui do trabalho assalariado e doméstico tra tase da mesma lógica sexuada que constrói de modo interdependente os ofícios dos homens como qualifi cados e os das mulheres como subqualifi cados Essa análise não desmerece a importância estratégica das políticas de igualdade ela implica sua reorientação repensando as medidas de não discriminação não somente numa perspectiva de igualdade dos sexos mas ao mesmo tempo de uma perspectiva de transformação das instituições e das estruturas produtoras das hierarquias de sexo Nessa perspectiva a oposição igualdadediferença perde sua pertinên cia tratase de reconceituar essas duas noções não se trata mais de saber se deveríamos adaptar as mulheres a um modelo masculino de trabalho ou criar um modelo feminino adaptado às suas necessidades Esses dois modelos fazem parte da mesma concepção de trabalho que pressupõe 10 Em inglês no texto valor comparável NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 120 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 120 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 121 a existência de um trabalhador sem amarras nem obrigações domésticas dono da sua força e do seu tempo de trabalho que se supõe que ele possa vender livremente porque pressupõese que ele disponha da força e do tempo de trabalho de uma mulher Inserir as políticas de igualdade numa perspectiva de erosão desse mo delo tem uma importância estratégica quando este defi ne o acesso diferen ciado das mulheres aos direitos sociais e assim ao exercício efetivo da cida dania A divisão entre os que têm direitos les ayant droits e os assistidos que esta defi nição do trabalhador implica condena a grande maioria das mulheres a escolher entre depender dos homens ou depender do Estado É a fi m de romper com os automatismos de uma lógica dessa espécie que teó ricas feministas como Carole Pateman propõem separar os direitos sociais do trabalho reinventando um denominador comum que ao satisfazer as necessidades imediatas dos homens e das mulheres favoreça a autonomia das mulheres permitindo que elas mesmas defi nam suas necessidades A integração das estratégias de igualdade numa perspectiva de trans formação reafi rma a dimensão declarativa da igualdade como projeto a ser levado a cabo A igualdade não é mais um princípio formal mas um meio concreto de garantir para cada pessoa a possibilidade de fazer tudo que está potencialmente ao seu alcance o que é devido a cada um se torna um de safi o político desafi o de um combate para a autodefi nição das necessidades e das vontades A igualdade garante tudo simultaneamente a o direito das mulheres em serem pessoas como todas as outras mediante a proibição de qualquer discriminação que as constitua como grupo à parte b a pos sibilidade para as mulheres de serem reconhecidas e aceitas como são isto é com suas diferenças em relação aos homens enfi m e sobretudo o direito de cada mulher de exprimir as particularidades que fazem delas in divíduos diferentes de todos os outros mulheres e homens o acesso à sua dignidade como indivíduo e de sua contribuição única e insubstituível à vida em comum Cidadania Coexistência teorias da os sexos Diferença dos sexos Dominação Edu cação e socialização Movimentos feministas Universalismo e particularismo Bock Gisela James Susan Eds Beyond Equality and Difference Citizenship Feminist Politics and Female Subjectivity LondresNova York Routledge 1992 210p Cavarero Adriana Il modelo democratico nellorizonte della diferenza sessuale Democra zia e diritto 21990 238p Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 121 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 121 18102009 192534 18102009 192534 122 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Collin Françoise Le sujet et lauteur ou lire lautre femme Cahiers du CEDREF 1990 n2 p920 Delphy Christine Égalité équivalence et équité la position de lÉtat français au regard du droit international Nouvelles questions féministes 1995 v16 n1 p558 Irigaray Luce Le temps de la différence Paris Librairie générale française Le livre de poche 1989 123p Pateman Carole The Sexual Contract Stanford University Press 1988 264p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Lesbianismo JulesFrance Falquet A defi nição de lesbianismo é inseparável de um contexto histórico e cultural específi co Com efeito práticas sexuais eou amorosas entre mu lheres provavelmente existiram e existem nas mais diversas culturas Tes temunhamno particularmente as estátuas e os mitos da India prévédica Thadani 1996 assim como a expressão poética na primeira pessoa tanto de Safo na Ilha de Lesbos como de Audre Lorde nos Estados Unidos que se declarava guerreira negra e lésbica Lorde 1982 Entretanto cada sociedade constrói de maneira diferente essas práticas e suas denominações e sua visibilidade varia de maneira considerável Mathieu 1989 1991a O caso das Amazonas erigidas como símbolo mas fora da História mos tra como o sistema de pensamento androcêntrico remete o lesbianismo ao limbo do mito Foi mais recentemente e apenas no mundo ocidental que começamos a atribuir às pessoas uma personalidade específi ca baseada nas suas opções sexuais Algumas historiadoras da homossexualidade citam práticas de tribadismo no início do século XVIII Bonnet 1995 as inter venções da Medicina e da psiquiatria desde a metade do século XIX sobre as invertidas e do terceiro sexo Lhomond 1991 antes que a sexolo gia e a literatura tivessem fi xado o personagem da lésbica na Europa da década de 1920 Tamagne 2000 Na grande maioria dos casos as práticas lésbicas são tanto condenadas como negadas nas culturas patriarcais Dessa forma são pouco estudadas e frequentemente deformadas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 122 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 122 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 123 Na França atualmente é importante distinguir dois termos homosse xualidade e lesbianismo O primeiro diz respeito a um conjunto de prá ticas sexuais amorosas afetivas entre duas ou mais pessoas do mesmo sexo Se essas práticas individuais são de conhecimento público conduzem frequentemente à estigmatização e à repressão Entretanto elas podem se tornar públicas de maneira voluntária quando a pessoa sai do armário resultando em identidades orgulhosamente reivindicadas Assim como o termo gay homossexualidade possui o incoveniente de colocar no mes mo plano as opções dos homens e das mulheres pois os homens e as mulhe res que vivem essas escolhas são estruturalmente situadosas em espaços bastante diferentes no sistema patriarcal Além de poder ser utilizado ou reivindicado para descrever práticas individuais de mulheres o termo lesbianismo se refere também a um conjunto de abordagens teóricas e movimentos sociais que problematizam essas práticas Globalmente no sentido político o lesbianismo pode ser considerado uma crítica em atos e um questionamento do sistema heteros sexual obrigatório de organização social Este se baseia na estrita divisão da humanidade em dois sexos fundamentos de dois gêneros obrigados a man ter relações desiguais de complementaridade no contexto de uma rígida divisão sexual do trabalho Nesse sentido o lesbianismo desestabiliza o sis tema dominante ao representar uma ruptura epistemológica fundamental e incitar uma profunda revolução cultural O movimento lésbico o movimento homossexual e o movimento feminista O lesbianismo como movimento social aparece no fi nal dos anos 60 no mundo ocidental e em diversas metrópoles do Sul numa atmosfera bastante revolucionária Desenvolvese vinculado à segunda onda do feminismo e ao movimento homossexual construído a partir das rebeliões de Sto newall em 1969 como resposta à provocação da polícia em bares homos sexuais hoje mundialmente célebres devido às manifestações de orgulho lésbico e homossexual ao estilo das paradas gay Entretanto as lésbicas não demoraram a criticar a misoginia o funcionamento patriarcal e os ob jetivos falocêntricos do movimento homossexual dominado pelos homens Armadas pela crítica feminista expõem publicamente suas discordâncias Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 123 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 123 18102009 192534 18102009 192534 124 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER e fundam suas próprias organizações como é o caso da Gouines Rouges na França Simultaneamente uma parte das lésbicas contribui de modo ativo para a construção do movimento de liberação das mulheres do qual as or ganizações lésbicas se consideram parte Entretanto diante da reticência do feminismo no momento de reivindicar o lesbianismo certas lésbicas come çam a buscar sua própria via Clef 1989 O fi nal dos anos 70 assiste à multiplicação das análises lésbicas Nos Es tados Unidos Adrienne Rich 1981 num artigo célebre denuncia a hete rossexualidade forçada como norma e a subsequente invisibilização do les bianismo Para ela existe um continuum lésbico entre todas as mulheres que evitam de uma forma ou outra os homens eou o sistema da heteros sexualidade para reforçar seus laços entre elas e partilham suas energias na luta contra o sistema patriarcal Dessa forma Rich se intala no pensamento revisitado e politizado da sororidade feminista Seguindo uma outra ordem de ideias desde 1978 a francesa Monique Wittig radicada nos Estados Unidos há anos afi rma a heterossexualidade como um regime político dotado de um sistema ideológico que ela chama de pensamento straight Wittig 1980 2001 Sua análise é vinculada ao feminismo materialista tendo em vista que ela retoma a noção de clas ses de sexos na qual as mulheres e os homens são considerados categorias políticas que não existiriam uma sem a outra Entretanto para Wittig as lésbicas não são mulheres tendo em vista que elas abandonam a lógica do pensamento straight O elemento central na análise não é tanto o patriar cado mas o sistema heterossexual Com isso Wittig abre espaço para um movimento lésbico autônomo e para um pensamento que sacode o femi nismo pelas bases Na França suas afi rmações alimentarão os confl ituosos debates já acesos no meio lésbico em torno de posições separatistas rela tivas às feministas heterossexuais Isso causará uma cisão política a partir de 1980 especialmente na revista Questions féministes O editorial do no 1 1981 da Nouvelles questions féministes apresenta esses debates Assim o lesbianismo político nasce das diferentes rupturas e das eventuais ten tativas de conciliação com o feminismo razão pela qual ele se apresenta sob formas variadas e às vezes misturadas 1 o lesbianismo feminista que criticando o heterofeminismo insiste na necessária solidariedade da clas se feminina Green 1997 Encontrase aqui a análise da lesbofobia como Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 124 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 124 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 125 uma arma contra todas as mulheres De fato focalizada nas maneiras e na aparência a lesbofobia defende interesses econômicos precisos no contex to de uma divisão sexual do trabalho Ela é utilizada por exemplo contra todas as mulheres de quaisquer opções sexuais que aspiram a profi ssões masculinas melhor remuneradas ou de poder e que podem ser acu sadas a qualquer momento de serem lésbicas e por isso condenadas a um verdadeiro ostracismo social Pharr 1988 2 o lesbianismo radical que retoma os trabalhos da francesa Colette Guillaumin sobre a sexagem Guillaumin 1978 1992 para expor progressivamente uma outra análi se da opressão das mulheres Para esta corrente as lésbicas escapam certa mente da apropriação privada dos homens mas não da apropriação coleti va o que as vincula à classe das mulheres Turcotte 1998 Causse 2000 3 o lesbianismo separatista teorizado desde 1973 nos Estados Unidos por Jill Jonston 1973 que frequentemente se traduz pela implantação de comu nidades lésbicas que ocupam fi sicamente um território Abrange diferentes tendências algumas francamente essencialistas outras atraídas pela devo ção às deusasmães e há ainda as que lutam pela criação de uma cultura lésbica Todos esses diferentes componentes conformarão o movimento das lés bicas em grupos tão diversos como o Oikabeth Mulheres guerreiras que abrem caminho e jogam fl ores nascido em 1977 no México as Les biennes de Jussieu que existem desde 1979 na França ou o coletivo Ayu quelén fundado em 1984 no Chile durante a ditadura Mogrovejo 2000 Esse movimento busca rapidamente formas de articulação internacional dentre os quais a Frente Lésbica Internacional criado em 1974 em Frank furt o ILIS Sistema de Informação Lésbico Internacional criado em 1977 em Amsterdã e desde 1987 todos os encontros lésbicofeministas latino americanos e caribenhos Os anos 80 são marcados pela multiplicação de revistas locais e arquivos lésbicos do México a Moscou passando pela Europa e o Canadá em partiular Québec com a revista Amazones dhier lesbiennes daujourdhui Amazonas de ontem lésbicas de hoje Diversidade das lésbicas De maneira simultânea aparece uma série de críticas à hegemonia do modelo lésbico e feminista branco ocidental e de classe média Enquanto Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 125 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 125 18102009 192534 18102009 192534 126 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER se desenvolvem as pesquisas sobre amizades românticas entre mulheres Fadermann 1981 uma outra história começa a ser escrita para chamar atenção para a contribuição das lésbicas proletárias na construção das co munidades lésbicas desde os anos 50 O papel das butchfem butch se re ferindo às lésbicas masculinas Triton 2000 tinha sido desfeito de uma só vez pelo feminismo que via nele uma reprodução alienada dos papéis masculinos e femininos Aqui ao contrário são reivindicados como uma maneira corajosa de tornarse visível e como uma busca erótica que afi rma a dimensão sexual do lesbianismo Lemoine e Renard 2001 Inclusive certas lésbicas reivindicam o termo dyke não somente para fugir da imagem soft e aceitável das lésbicas mas também por suas conotações populares como no passado fora o caso de Jules Também frequentemente proletárias as lésbicas negras e latinas dos Es tados Unidos começaram a criticar o racismo e o classismo do feminismo desde os anos 70 Algumas dentre elas como Barbara Smith fundam orga nizações autônomas como a Salsa Soul Sisters ou o Combahee River Col lective que misturam lesbianismo e feminismo Suas análises se estendem rapidamente à denúncia do racismo e do classismo no movimento lésbico Moraga e Anzaldúa 1981 Coletivo 1983 Para que suas próprias pala vras não sejam nem recusadas nem apropriadas elas criam suas próprias estruturas editoriais Lésbicas de origem asiática e autóctones integram rapidamente a luta das black lesbians Atualmente diversas lésbicas cri ticam a tendência universalista que projeta no conjunto das lésbicas uma leitura do lesbianismo e dos objetivos de luta tipicamente ocidentais e de classe média Certamente existem práticas sexuais entre pessoas com um corpo sexuado feminino em culturas tão diferentes como a do Zimbábue Lesoto Taiti Peru e Tailândia Wieringa 1999 Entretanto qualifi cálas de fora como práticas lésbicas é frequentemente uma simplifi cação re ducionista à qual se agrega uma legítima suspeita de póscolonialismo Da mesma forma organizações como a ILIS e a ILGA International Lesbian and Gay Association foram criticadas por sua tendência a exportar estraté gias de organização e ação sobretudo institucionais dos países do Norte para diversos países do Sul Mogrovejo 2000 embora tenham se esfor çado para levar em conta a diversidade das lésbicas Enfi m na França o Grupo do 6 de novembro fundado em 1999 reuniu pela primeira vez e Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 126 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 126 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 127 de maneira exclusiva lésbicas provenientes da migração passada ou pre sente da escravidão e da colonização que denunciam veementemente o silêncio ao qual o racismo do movimento lésbico quer condenálas Groupe du 6 novembre 2001 O lugar da sexualidade Enquanto uma parte das feministas norteamericanas se lança à explo ração da temática da sexualidade apresentada simultaneamente como fon te de prazer e de perigo para as mulheres Vance 1984 algumas lésbicas não hesitam em reivindicar um lesbianismo abertamente sadomasoquista pregando uma sexualidade fundada no diferencial de poder entre os dois parceiros Samois 1981 o que é rejeitado por diversas feministas Ou tras entretanto desenvolvem uma nova refl exão sobre a sexualidade que se basearia na hierarquização das sexualidades em que no pico da pirâmi de estaria a heterossexualidade monógama e procriadora Rubin 1984 Para essa perspectiva o objetivo político consiste em estabelecer uma aliança entre todas as sexualidades diferentes das quais o lesbianismo é somente um exemplo A partir de 1990 num clima pósmodernista a norteamericana Judith Butler e a italiana Teresa de Lauretis residente nos Estados Unidos iniciam uma nova leitura do gênero e da heterossexuali dade dando assim uma base teórica ao movimento queer Butler 1990 afi rma que o gênero seria performático fl uido e múltiplo o que permiti ria às mulheres e às lésbicas agir livremente com um registro identitário variado e mutante Os transgêneros travestis transexuais dragskings dragsqueens e até mesmo osas heterossexuais dissidentes viriam romper a trágica bipolaridade dos gêneros Somente após algumas décadas de existência do movimento lésbico é que hoje o lesbianismo afl ui de todas as partes cada vez mais complexo e variado contando mais ou menos abertamente com locais de socia bilidade e de lazer espaços multiculturais e artísticos uma literatura re presentativa e meios de comunicação próprios alguns espaços à margem da instituição universitária e redes políticas que se desenvolveram prin cipalmente no contexto de uma estratégia de visibilidade e identidade Todavia essa tendência comunitária foi criticada devido ao seu lado às Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 127 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 127 18102009 192534 18102009 192534 128 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER vezes enclausurador às vezes como expressão de um modelo gay muito in fl uenciado pelo movimento homossexual masculino e outras vezes como uma política reformista de institucionalização conduzindo à recuperação do movimento e à sua neutralização ou normalização A luta contra o HIV AIDS contribuiu para reforçar a organização das lésbicas aproximandoas do movimento homossexual misto Em pouquíssimos países ou cidades do Norte ou do Sul houve a conquista de legislações progressistas que proíbem a discriminação em função da orientação sexual ou que reconhecem a união entre mulheres e lhes concedem certas vantagens já consagradas nas uniões heterossexuais mesmo se questões relativas à adoção ou à procria ção permanecem problemáticas Na França o PACS foi obtido por meio de uma luta homossexual mista ao passo que a Coordenação Lésbica Na cional propõe uma lei específi ca contra a lesbofobia Realmente podemos falar de conquistas mas também de um progressivo processo de integração bastante distante das primeiras críticas radicais resumidas nos anos 70 pelo slogan das Radicais Lésbicas de Nova York Uma lésbica é o ódio de todas as mulheres concentrado em ponto de explosão Embora o lesbianismo tenha acompanhado a maior parte dos avanços da situação das mulheres essas evoluções não devem nos fazer esquecer que na maior parte dos paí ses e particularmente longe das grandes cidades o lesbianismo permanece um tabu perseguido punido de maneira severa e que pode simplesmente resultar em assassinato Diferença dos sexos teorias da Movimentos feministas Movimentos sociais Patriar cado teorias do Sexo e gênero Sexualidade Bonnet Marie Jo Les relations amoureuses entre femmes du XVIe au XXe siècle Paris Odile Jacob 1995 416p 1ed Un choix sans équivoque Paris Denoël Gonthier 1981 Butler Judith Gender Trouble Feminism and the Subversion of Identité Nova York Rout ledge 1990 172p Groupe du 6 novembre WarriorsGuerrières Paris Nomades Langues Editions 2001 125p Lorde Audre Zami a new spelling of my name Trumansberg Crossing Press 1982 256p Rich Adrienne La contrainte à lhétérosexualité et lexistence lesbienne Nouvelles questions féministes março 1981 n1 p1543 Wittig Monique La pensée straight Paris Balland 2001 157 p 1ed Questions fémi nistes 1980 n7 p4553 Traduzido por FRANCISCO RIBEIRO SILVA JÚNIOR Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 128 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 128 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 129 Linguagem científi ca sexuação da Evelyn Fox Keller Os conceitos científi cos se exprimem em sua maioria numa linguagem natural que não pode ser separada do contexto social em que está inserida As metáforas sexuadas na ciência fornecem um bom exemplo disso elas penetram a linguagem utilizada pelos cientistas e infl uenciam sua maneira de conceituar e construir os fenômenos naturais Em geral inconsciente a sexuação da linguagem científi ca dá forma ao pensamento e às ações dos cientistas e infl uencia suas análises e descrições dos fenômenos naturais E porque regra geral se pensa que essas análises constituem uma descrição neutra e objetiva do mundo natural a integração invisível de pressupostos sexuados na linguagem da ciência pode em contrapartida reforçar esses pressupostos na sociedade Não se trata de eliminar todas as imagens e me táforas da linguagem científi ca nem de tornálas independentes da lingua gem e da cultura um sonho impossível evidentemente mas de fazer compreender como mesmo sexuadas as metáforas podem ter numerosos e frequentes efeitos frutíferos sobre a ciência As metáforas e sua incidência As feministas ressaltaram a utilização de um vocabulário marcado pelas relações de gênero Para ilustrar esse propósito partirei de alguns exem plos cujas implicações são relativamente claras na leitura de textos científi cos para depois chegar a outros de incidência mais indireta Em todos esses exemplos as metáforas do gênero funcionam em duas direções como inva riavelmente é o caso das imagens sociais na ciência elas veiculam pressupos tos em nossas representações da natureza e ao fazer isso servem ao mesmo tempo para reifi car ou naturalizar crenças e práticas culturais Apesar de as dinâmicas desses dois processos serem inseparáveis numerosas femi nistas se concentraram no segundo evidenciando seu impacto habitual mente negativo sobre as mulheres eu me deterei sobre o primeiro pro cesso e a infl uência das metáforas sexuadas no curso da pesquisa científi ca Comecemos pelo lugar em que mulheres sexo e gênero têm todas as chances de se entrecruzar as análises antigas e atuais da Biologia da repro Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 129 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 129 18102009 192534 18102009 192534 130 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER dução e do desenvolvimento A maioria dessas análises identifi ca os erros oriundos do recurso a sinédoques quer dizer à tendência de tomar a parte pelo todo 1 segundo diversos indicadores de diferença sexual cultural mente aceitos como seguros o mundo dos corpos humanos é dividido em dois tipos o masculino e o feminino 2 atributos suplementares extrafísi cos são culturalmente atribuídos a esses corpos por exemplo ativopassi vo independentedependente primáriosecundário em outras palavras o gênero e 3 as mesmas propriedades que foram vinculadas ao conjunto são então atribuídas às subcategorias desses corpos ou aos processos que lhes são associados Frequentemente mas não necessariamente essas análises são elaboradas a partir de um lugar qualifi cado por um saber atual e por tanto implicitamente apresentado como superior Sem dúvida alguma os exemplos mais manifestos nos são dados pela história das teorias da procriação Assim Nancy Tuana 1989 desejou com pletar a literatura existente sobre as teorias reprodutivas de Aristóteles aos préformacionistas mostrando como os pontos de vista dominantes sobre as mulheres passivas fracas e geralmente inferiores infl uem em seu pa pel na reprodução a obra mais convincente de Thomas Laqueur 1990 vai exatamente no mesmo sentido Certos autores se empenharam em analisar da mesma maneira as discussões atuais sobre a fecundação Scott Gilbert e seus alunos Gender and biology study group 1989 encontraram a lingua gem dos ritos do amor cortês em manuais do século XX que descrevem os tratamentos clássicos de fecundação Emily Martin 1991 p500 continuou essa empreitada assinalando a importação pela literatura mais recente de ideias tais como a passividade feminina e o heroísmo masculino para evocar a personalidade dos gametas ibidem p500 Eis seu argumento classica mente o espermatozoide é descrito como ativo vigoroso deslocando se por si mesmo e portanto capaz de romper o invólucro do óvulo e pene trálo ele lhe transmite seus genes e ativa o programa de crescimento Ao contrário o óvulo é transportado levado ou simplesmente escorrega ao longo das trompas de Falópio até sofrer o ataque do espermatozoide ser penetrado e depois fecundado ibidem p48990 Estranhamente os de talhes técnicos que constroem essa imagem não mudaram nos últimos anos fornecemse razões químicas e mecânicas para explicar a mobilidade do es permatozoide sua capacidade de aderir à membrana do óvulo e efetuar a fusão de ambas as membranas A atividade do óvulo postulada como ine xistente não requer portanto nenhum mecanismo Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 130 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 130 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 131 Uma nova imagem muda a nossa compreensão da dinâmica molecular da fecundação Realmente a pesquisa de Alberts et al 1989 p868 reitera sistematicamente que há no óvulo uma atividade que produz as proteínas e as moléculas necessárias à adesão e à penetração do espermatozoide No ma nual mais amplamente utilizado Molecular biology of the cell Biologia mole cular da célula a fecundação é defi nida como o processo pelo qual o óvulo e o espermatozoide se encontram um ao outro e se fundem Alberts et al 1989 p868 Esse exemplo ilustra perfeitamente o modo como a lingua gem pode moldar o pensamento e a atividade dos cientistas enquadrando sua atenção sua percepção e por conseguinte defi nindo os terrenos em que empreendem experiências úteis Bem entendido nem todas as metáforas são igualmente esclarecedoras mas neste caso particular as metáforas têm sido manifestamente produtivas apesar de os efeitos serem diferentes uma con duziu a pesquisas intensivas sobre os mecanismos moleculares da atividade dos espermatozoides enquanto a outra favoreceu pesquisas que permitiam elucidar os mecanismos que nos obrigam a ver no óvulo um elemento ativo Gênero e atividade científi ca No curso dos últimos vinte anos a mudança cultural introduzida pela consideração da incidência do gênero nas Ciências Biológicas teve um im pacto crescente além dos estudos sobre a fecundação em si abrindo toda uma série de perspectivas de pesquisa sobre um amplo leque de fenômenos reunidos na expressão efeitos maternais Estes designam as infl uências de longo prazo sobre a biologia da progenitura e mesmo sobre a evolução da espécie que resultam de certos componentes genéticos mitocôndrias do óvulo da mãe da fi siologia de sua gravidez ou das primeiras infl uên cias comportamentais que o recémnascido recebe Essas infl uências se manifestam na biologia da evolução na ecologia e até na genética do de senvolvimento Nas disciplinas mais próximas dos interesses humanos a linguagem do gênero tem um papel evidente em outras como a genética do desenvolvimento por exemplo é mais sutil Em outras ainda pode não ter nenhum papel Mas isso não é surpreendente Há vinte anos quando os estudos sobre o gênero começaram a se interessar pela ciência tratava se de abrila a uma dimensão silenciada e oculta da História e da Filosofi a das ciências Jamais se havia suposto que o gênero pudesse ser o fator pri Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 131 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 131 18102009 192534 18102009 192534 132 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER mordial do desenvolvimento social ou científi co somente que era um fator largamente negligenciado pela História e pela Filosofi a das ciências e por tanto sua importância se revela frequentemente surpreendente Pesquisar a função simbólica do gênero na ciência se confi rmou extremamente pro dutivo para compreender a maneira como a ciência funciona uma vez que isso esclarece nitidamente os papéis da linguagem da cultura e da ideologia na construção da ciência A análise das metáforas sexuadas no discurso científi co ofereceu os me lhores exemplos da maneira como a linguagem atua para modelar a ativi dade cotidiana dos cientistas Na medida em que esses exemplos mostram que nas produções científi cas a linguagem veicula valores culturais espe cífi cos eles estabelecem precedentes importantes para todos que se inte ressam pela linguagem e pela ciência Mas eles podem ser malvistos pelos cientistas que continuam a acalentar o sonho de uma ciência independente da linguagem e da cultura Contudo trabalhos consideráveis no domínio da História e da Filosofi a das ciências têm revelado atualmente que esse so nho era apenas mais um sabemos que ele pode exprimir uma aspiração ou um desejo mas não pode mais ser tomado como uma descrição da ciência Mesmo os cientistas mais positivistas podem tirar vantagem da produtivi dade das novas metáforas que podem guiar nossa atenção e nossos esforços em novas direções e criar de fato condições que autorizem desenvolvimen tos surpreendentes e inesperados Ciências e gênero Sexo e gênero Técnicas e gênero Alberts Bruce et al Molecular Biology of the Cell Nova York Garland Pub 1989 44p 1ed 1983 Gender and Biology Study Group The Importance of Feminist Critique for Contem porary Cell Biology in Nancy Tuana Feminism and Science Bloomington Indiana University Press 1989 p17287 Fox Keller Evelyn Refi guring Life Metaphors of Twentieth Century Biology Columbia University Press 1995 134p Laqueur Thoma The Making of Sex Body and Gender from the Greeks to Freud Harvard University Press 1990 313p Martin Emily The Egg and the Sperm How Science has constructed a Romance based on Stereotypical MaleFemale Roles Signs 1991 n16 3 p485501 Tuana Nancy Ed Feminism and Science Bloomington Indiana University Press 1989 249p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 132 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 132 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 133 Maternidade Françoise Collin e Françoise Laborie Desde 1970 diferentes trabalhos têm esclarecido a história da criança Ariès dos nascimentos e da infância sob o Antigo Regime Gélis das mulheres desde a Antiguidade Duby Perrot 19901992 das mães da Idade Média aos nossos dias Fouquet Knibielher 1977 e do amor ma terno do século XVII ao século XX Badinter 1980 Esses trabalhos per mitem ressituar a história dos comportamentos face à maternidade na evo lução das relações homensmulheres e dos valores dominantes no que diz respeito aos papéis e direitos respectivos do pai da mãe e da criança Que estatuto atribuir à maternidade Responder a essa questão envolve uma tensão que atravessa a história dos movimentos feministas mas tam bém a de numerosas mulheres que se encontram diante de contradições frequentemente insuperáveis A maternidade constitui ao mesmo tempo uma especifi cidade valorizada o poder de dar a vida uma função social em nome da qual reivindicar direitos políticos ou direitos sociais e uma das fontes da opressão Operadora de divisões ela estrutura as oposições teóricas das feministas A maternidade uma história social Uma controvérsia opõe Catherine Fouquet e Yvonne Knibielher 1977 a Élisabeth Badinter 1980 quanto ao estatuto do amor materno a partir do exame do recurso massivo à ama de leite nos séculos clássicos Limi tado no século XVII à aristocracia e à burguesia o fenômeno se genera lizou no século XVIII a todas as camadas sociais urbanas As primeiras sublinham que o envio das crianças à ama de leite teve a ver com o fato de mulheres ricas poderem pagar ou daquelas que obrigadas a trabalhar não podiam amamentar As pesquisadoras não veem nisso sinal de desinteresse pela criança nem muito menos de ausência de amor materno ainda que tal prática desencadeasse uma mortalidade infantil muito alta Ao contrário constatando que apesar da repetição dos óbitos a prática de adotar amas de leite se generalizava Élisabeth Badinter estima que nem o peso dos fatores econômicos nem o das convenções sociais esgotam as explicações do fenô Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 133 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 133 18102009 192534 18102009 192534 134 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER meno sobretudo do lado das mulheres aristocratas Ela afi rma que estas rejeitavam a maternidade a fi m de poderem viver livres desenvolver sua cultura e seus saberes sem serem impedidas pela criança A indiferença em relação a esta se torna um comportamento dominante No amor materno não há portanto a evidência de um instinto presente por toda a eternidade na natureza feminina o que há é uma história A metade do século XVIII marca uma mudança ideológica importante expressa fortemente por Rousseau e frequentemente retomada em nossos dias são promovidos um novo tipo de mulher a boa mãe e um novo valor o amor materno Desde o fi nal do século XIX em numerosos países europeus as femi nistas buscam assegurar bemestar e proteção social a todas as mães e o re conhecimento da maternidade como uma função social que o Estado deve proteger Apesar da heterogeneidade de suas posições elas utilizam o argu mento da glorifi cação da maternidade para obter novos direitos Pleiteando que os direitos das mães sejam iguais aos dos pais atacam o código civil na poleônico Destacam as insufi ciências das primeiras leis votadas na França em 1909 e 1913 para proteger a maternidade Cova 1999 Esse feminis mo maternalista é fundado na ideia de que a atividade materna e o trabalho doméstico são um verdadeiro trabalho que merece ser subvencionado pelo Estado Hubertine Auclert apresentandose na França durante as eleições legislativas de 1885 e 1910 reivindicou a instauração de um Estadomãe que viria em auxílio das crianças Bock in Duby e Perrot 1992 Contudo enquanto a mãe republicana é o ideal proposto às mulheres na França e nos Estados Unidos na mesma época propagase a fi gura da celibatária au tônoma independente adepta do amor livre repudiando o modelo sagrado da mãeesposa Dauphin in Duby e Perrot 1991 Num contexto que opõe natalistas e malthusianos o tema da livre maternidade está no centro de de bates públicos e privados e aparece em numerosos romances Sagaert 1999 Durante a Primeira Guerra Mundial enquanto as mulheres mesmo mães efetuam o trabalho dos homens as feministas valorizam a efi cácia do trabalho feminino e lutam para que elas possam conciliar trabalho e ma ternidade A partir do fi m do confl ito esperam obter o direito de voto em recompensa por seus bons e leais serviços À exceção da Alemanha nada aconteceu e as mulheres foram mandadas de volta a seus lares Thébaud in Duby e Perrot 1992 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 134 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 134 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 135 Entre as duas guerras mundiais o retorno das mães ao lar e a estigma tização daquelas que trabalham tornamse objeto de campanhas visando a promoção de uma política natalista Sohn in Duby e Perrot 1992 As femi nistas recusam que em nome da maternidade as mulheres sejam impedidas de trabalhar quando representam 36 da população ativa e das quais dois terços têm uma família para sustentar Todavia em 1920 e 1923 a adoção de leis contra a propaganda anticoncepcional e o aborto provocado não acar reta salvo exceções notáveis daquelas que lutavam pela livre maternidade senão poucas críticas da parte das feministas Na década de 1930 diversas iniciativas como o reconhecimento ofi cial da jornada das mães a criação de instituições Alto Comitê da População em que nenhuma feminista foi con vidada a participar e que esteve na origem do Código da Família a aprova ção de leis criação de licençamaternidade de abonos familiares e do salário único reforçam a política natalista do Estado e seu papel de protetor da ma ternidade Thébaud 1999 Pior ainda o regime de Vichy glorifi cou a ma ternidade como o único destino possível das mulheres que devem assegurar uma presença contínua no lar e chegou a fazer disso um dever nacional Eck in Duby e Perrot 1992 Anne Cova 1999 julga que as feministas do pe ríodo entre as duas grandes guerras desempenharam um papel signifi cativo na elaboração de uma legislação em favor da proteção da maternidade e na edifi cação do Estado de bemestar social porém apoiandose na maternida de fracassaram em obter direitos políticos para as mulheres O novo regime da maternidade As aparentemente unânimes militantes do movimento de liberação das mulheres dos anos 70 impõem uma mudança considerável ao reivindicar a obtenção de meios que lhes permitissem recusar a maternidade não deseja da O acesso à contracepção oral a partir de 1967 abre às mulheres a liber dade de poder anular ou limitar sua fecundidade e de escolher ter bebês ou não A legalização do aborto foi obtida não sem difi culdades em 1975 após debates violentos opondo o direito e a autonomia das mulheres ao di reito da criança de nascer Os slogans das feministas pós68 teremos as crianças que quisermos se quisermos e nosso corpo nos pertence tes temunham a vontade coletiva de que a maternidade dependa da liberdade de decisão de cada mulher Contudo a legalização do aborto não resolve o Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 135 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 135 18102009 192534 18102009 192534 136 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER problema daquelas que tendo ou desejando fi lhos recusam a contradição entre sua vontade de autonomia e seu desejo de assumir a maternidade no sentido escolhido por elas do mesmo modo que o acesso à contracepção não evita que as mulheres sejam confrontadas com a complexidade do de sejo de ter um fi lho Les Cahiers du GRIF 1975 1977 Com os métodos modernos de contracepção instalouse aquilo que Nadine Lefaucheur 1992 chama de novo regime da maternidade Na verdade pela primeira vez na História o desejo de paternidade dos homens fi ca na dependência do desejo de maternidade de suas parceiras Além do mais tornase menos fácil para eles negar a paternidade que não desejam assumir Outro exemplo em que se opõem o direito da mãe da criança de conhecer suas origens e do pai e que suscita controvérsias o parto sob X que na França dá a toda mulher o direito de dar à luz no mais com pleto anonimato Em todos os países ocidentais o aumento dos divórcios e nascimentos fora do casamento é acompanhado do desenvolvimento das famílias monoparentais mais geralmente uma mulher com crianças e das maternidades tardias Valabrègue et al 1982 Para Yvonne Knibielher 1977 houve uma mudança entre 1965 e 1980 à geração do babyboom sucedeu a da recusa que militou pela contracepção e pelo aborto depois aquela do desejo de ter um fi lho a qualquer preço A decisão unânime das feministas de lutar antes de tudo pela legalização do aborto baseada na recusa de admitir as mulheres sendo defi nidas apenas pela maternidade havia ocultado suas divergências de posição hoje muito mais patentes Seguindo as teses de Simone de Beauvoir para quem a ma ternidade era o principal obstáculo à liberdade das mulheres as feministas radicais viam nela o elemento central da dominação dos homens sobre as mulheres uma forma de persuasão sujeição e até de escravidão Les Chi mères 1975 Tabet 1985 enquanto a corrente diferencialista minoritária na França valoriza o feminino a maternidade o amor materno verdadei ro suporte sem o qual o edifício social e cultural não poderia existir Kris teva 1983 de Vilaine et al 1986 Recentemente Julia Kristeva e Yvonne Knibielher entraram no debate pela paridade11 empenhandose pelo exer cício ativo da cidadania daquelas que dão à luz e pelo reconhecimento do sentido social da procriação Le Monde 23 de março de 1999 11 Cf verbete paridade neste volume NE Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 136 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 136 18102009 192534 18102009 192534 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 137 Perturbações recentes e nova lógica social Christine Delphy 1991a se manifesta contra o surgimento da reivin dicação maternal que ela observa em numerosos textos feministas recen tes só se vêm na maternidade condutas e valores positivos identifi camse os interesses das mulheres com os das mães e os interesses das crianças com os das mães Ela descreve essa nova ideologia da maternidade como um corporativismo das mães acompanhado por uma apropriação das crianças Vendo nisso apenas a retomada feminista de velhas ideologias que perduraram desde o século XVIII ela tende a suprimir as posições se melhantes de feministas ao longo da História Para ela por outro lado a reivindicação maternal reforça a tendência das leis recentes de privilegiar o recurso aos critérios biológicos na defi nição das relações de fi liação Lem bremos que desde o Direito romano a mãe é certa o pai é aquele que o casamento designa O estabelecimento das relações de fi liação se efetua portanto de maneira assimétrica cabendo à mãe um critério fi siológico defi nido o parto e ao pai um critério social ser esposo ou companheiro da mãe daí o pai ser denominado putativo As tecnologias da reprodu ção humana introduziram fortes perturbações nas defi nições das relações de fi liação e na distinção entre biológico e simbólico Com a inseminação artifi cial com o esperma de um doador o pai não é o genitor Com o cenário das mães de aluguel o pai é o genitor enquanto a mãe de aluguel embora dando à luz geralmente sob X não será a mãe legal Esta será a esposa do genitor critério social Embora as mães de aluguel tenham quase sem pre manifestado seu apego à criança a plurimaternidade que perturbaria bastante o modelo dominante da maternidade unívoca e certa jamais foi proposta A fecundação in vitro com doação de óvulos abre a possibilidade de distinguir a mãe genética da mãe uterina Juntandose a isso a mãe social aquela que após uma adoção cuida da criança podese doravante defi nir três tipos de mãe a antiga certeza sobre a mãe desaparece Além do mais essas técnicas de reprodução oferecem a possibilidade inédita de conhecer precisamente a origem do esperma fecundante e de permitir assim uma biologização da paternidade Diversas análises feministas têm explorado as formas de exercício do poder médico sobre as mulheres grávidas ou que desejam engravidar en quanto outras têm salientado as dimensões social e política da reprodução Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 137 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 137 18102009 192535 18102009 192535 138 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Buscando pensar o lugar da experiência da maternidade na vida da mulher uma nova lógica social tende a se elaborar a de viverparasiecomas crianças implicando não somente uma verdadeira repartição do trabalho e das responsabilidades domésticas entre pai e mãe mas também a possi bilidade de se afastar do caráter opressor da geração biológica acedendo simultaneamente à geração simbólica Esta ao permitir às mulheres que falem em seu próprio nome e escolham seus modos de parentesco e de fi lia ção pode ser portadora da liberdade F Collin 1986b Aborto e contracepção Diferença dos sexos teorias da Família Movimentos feminis tas Paridade Tecnologias da reprodução humana Trabalho o conceito de Badinter Élisabeth Lamour en plus Histoire de lamour maternel XVIIe XXe siècle Paris Flammarion 1980 372p Fouquet Catherine Knibielher Yvonne Histoire des mères Paris Montalba Pluriel 1977 Reed Paris Hachette Pluriel 1982 359p Knibielher Yvonne Histoire des mères et de la maternité en Occident Paris PUF Que saisje 2000 128p Lefaucheur Nadine Maternité famille État in Georges Duby e Michelle Perrot 1992 t5 p41130 cf Referências bibliográfi cas Les Cahiers du GRIF 1975 n910 Les femmes et les enfants dabord 1977 n1718 Mèresfemmes 1987 n36 De la parenté à leugénisme Tabet Paola Fertilité naturelle reproduction forcée in NicoleClaude Mathieu Larrai sonnement des femmes Essais en anthropologie des sexes Paris EHESS 1985 p61146 Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Migrações Catherine Quiminal A migração não é um estado mas um processo Portanto ser um imi grado ou imigrada não é mais que uma característica geralmente passageira que indica o deslocamento de uma região a outra ou de um Estado a outro imigração transnacional ou internacional As causas da imigração são múl tiplas pessoais familiares sociais econômicas políticas Na maioria dos casos vários fatores interferem nesse processo Assim as migrações de mu lheres sós podem ser motivadas conjuntamente pela preocupação de encon Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 138 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 138 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 139 trar um emprego que corresponda à sua qualifi cação pela recusa do estatuto que lhes é imposto na sociedade de origem por razões políticas Além do mais como sublinhou Abdelmalek Sayad 1984 todo imigrado é também um emigrado cuja história passada e presente deve ser levada em conta A utilização do termo imigrado é portanto redutora Enfi m não se pode confundir o emigradoimigrado com o estrangeiro Há estrangeiros nascidos na França e há imigrados que se tornaram franceses por terem obtido essa nacionalidade após certo tempo de permanência É a mobilidade que faz a migração Na França desde a primeira grande leva de imigração no fi m do século XIX incidentes e enfrentamentos mais ou menos violentos relacionados à mão de obra estrangeira manifestam a existência de uma xenofobia fa cilmente mobilizável e manipulável Podese dar alguns exemplos dessa violência rebeliões contra os operários belgas chamados cloutjes ta mancos ou boyaux rouges tripas vermelhas como as dos porcos no norte da França Liévin e Drocourt 1892 Toucoing 1893 agressividade contra os vagabundos italianos macaroni ou christos que provocou a morte de mais de trinta deles entre 1881 e 1893 sendo o massacre da lo calidade de AiguesMortes o mais tristemente famoso desses eventos Esse gênero de violência se repete nos períodos de crise tanto econômica como social ou política Com o aumento dos fl uxos migratórios provenien tes das antigas colônias a xenofobia se juntou ao racismo Racismo de Es tado perseguições aos norteafricanos dos anos 60 a repressão assassina da manifestação de argelinosas em 1o de outubro de 1960 que fez numerosos mortos cujos corpos foram jogados no Sena o racismo nos fundamentos da Frente Nacional12 Há mais de um século debates atividades e leis dis criminatórias contra os imigrantes ocupam um lugar importante na cena política e social francesa A pesquisa sobre o fenômeno migratório No campo da pesquisa a situação é outra Os juristas demógrafos e geógrafos por razões diferentes foram os primeiros a levar em conta esse fenômeno reconhecido desde o fi m dos anos 60 como fato estrutural das 12 Tratase do partido de extremadireita francês claramente racista e xenófobo NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 139 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 139 18102009 192535 18102009 192535 140 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER sociedades capitalistas Suas preocupações eram diversas lutar contra o baixo índice de natalidade codifi car o estatuto e a condição do estrangeiro contar classifi car identifi car segundo o método da bertillonage ou an tropometria assim chamado em homenagem a seu inventor Bertillon do termo imigração e das técnicas modernas de identifi cação Noiriel 1988 a fi m de redefi nir os contornos da nação e das identidades A Sociologia como a História em parte sob infl uência de Durkheim que quase não duvidava da capacidade de integração da sociedade francesa interessouse apenas tardiamente pela imigração considerada um objeto menor e evanescente e ainda mais tardiamente pelos migrantes cujas ori gens só podiam se dissolver na nação Nos países anglosaxônicos diferentemente do que se passou na França a Sociologia concedeu um lugar importante ao estudo da imigração parti cularmente nos Estados Unidos ligado ao mito do melting pot caldeirão segundo o qual a nação norteamericana era comparada a um vasto caldei rão em cujo bojo se operava a fusão histórica das diversas e sucessivas levas de imigrantes num só povo graças ao poder assimilador do modo de vida norteamericano A escola de Chicago constitui uma referência conceitual e metodológica importante Desde o início do século 1915 sociólogos como Robert Park Ernest Burgess e Roderick McKenzie 1925 William Isaac Thomas e Florian Znaniecki 19271998 além de William Foot White 1943 abordam as modalidades de apropriação de territórios urbanos os fenômenos de segregação e aculturação os problemas de estruturação in terna e da divisão de papéis nas comunidades de migrantes qualifi cadas de minorias étnicas no sentido sociológico da expressão isto é referemse a coletividades dominadas classifi cadas diferenciadas segundo a origem e a cultura e não a coletividades menos numerosas Na França somente nos anos 60 se realizaram estudos sociológicos ou históricos sobre a imigração A fi gura dominante do imigrado é então a de um homem jovem solteiro encarnando uma mão de obra barata pouco qualifi cada móvel simples força de trabalho de preferência originária das antigas colônias Testemunha disso é a expressão trabalhador imigrante bastante utilizada para designar indistintamente o conjunto dos migrantes vindos nos anos 60 quer fossem trabalhadores ou não Os temas abordados são então os de sua exploração ou condições de vida imigrantes e saúde Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 140 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 140 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 141 imigrantes e escolaridade imigrantes e justiça imigrantes e moradia O acoplamento de uma categoria particular de indivíduos e de uma série de problemas sociais atesta a difi culdade de construir a imigração como obje to sociológico Isso contribuiu muitas vezes involuntariamente para uma grande estigmatização das referidas populações imputando à imigração problemas de ordem social descobre os migrantes A imigrante mulher é ainda mais desconhecida posto que a imigração não é concebida como processo de povoamento com vocação para se esta belecer na França mas como migração de trabalho de passagem Além do deslocamento da assalariada a mobilidade é uma qualidade que mesmo os pesquisadores têm difi culdade em reconhecer como feminina Contudo mesmo mulheres sendo invisíveis as mulheres não estavam ausentes do território Representavam 30 da população estrangeira em 1931 na qual se contavam 306000 mulheres ativas INSEE Essas cifras não incluem as numerosas mulheres empregadas nas empresas familiares nem uma parce la das domésticas não declaradas Elas são 382 em 1962 Excepcionais contudo eram as pesquisas que as levavam em conta A obra de Andrée Michel 1955 foi exceção O relativo desenvolvimento de pesquisas sobre as mulheres migrantes data do fi m dos anos 70 e início dos anos 80 enfatizando a dimensão se xuada dos fenômenos migratórios a presença ou ausência das mulheres Taboada 1978 Em sua maioria essas pesquisas tratam das preocupações políticas do momento a saber a integração e a assimilação Como a insti tuição integradora por excelência a escola estava em crise os estudos se centram do lado da família e mais particularmente das mães esposas e fi lhas voltadas aos estudos A imagem da mulher imigrada reclusa que tem por função assegurar as tarefas domésticas e transmitir uma tradição jul gada arcaica oculta seu lugar no mundo do trabalho bem como a presença de mulheres que chegaram sós A socióloga Jeanne Singer 1985 é sem dúvida a primeira a produzir uma análise das estatísticas sobre o emprego de mulheres estrangeiras e Mirjana Morokvasic 1976 a primeira a analisar as dinâmicas que orien tam seus percursos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 141 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 141 18102009 192535 18102009 192535 142 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER A questão das relações sociais de sexo presente na situação migratória não é objeto de nenhum estudo enquanto os processos de aculturação ou seja de trocas culturais entre indivíduos ou grupos têm sem dúvida efeitos signifi cativos sobre a relação de dominação homensmulheres Cada um dos sexos redefi niu seu lugar em função daquele que lhe designa a sociedade re ceptora que reinterpreta sua cultura Desestabilizadores de sólidas tradições os processos de aculturação são também criadores de realidades inéditas Hoje as representações dominantes do imigrante mudaram um pouco Elas oscilam entre aquela do jovem beur13 ou black desempregado delin quente dos subúrbios e aquela do clandestino E continuam fortemente masculinas embora as mulheres representem 45 da população estrangeira Resistências e visibilidade das mulheres na migração Contudo diversos fatores deram mais visibilidade às mulheres imi grantes Por um lado os debates em torno do reagrupamento familiar do direito de viver em família do véu islâmico usado por jovens muçulmanas Gaspard 1995 da poligamia da circuncisão por outro lado a presença afi rmada e ativa das mulheres nas diferentes lutas dos imigrantes marcha pela igualdade lutas por moradia movimentos dos sempapéis Entre es sas mulheres algumas nasceram na França o qualifi cativo imigradas é então indevido apesar de muito utilizado e se torna um estigma transmis sível de uma geração a outra Começam a ser realizadas algumas pesquisas ainda pouco numerosas feitas em sua maioria por mulheres francesas ou estrangeiras quase sempre fi lhas de migrantes Estudamse as relações no seio da família o lugar o papel e o estatuto das mulheres nessa situação de ruptura e mobilidade que caracteriza a migração as relações interétnicas a que se submetem as mu lheres ou que são construídas por elas as interações com o grupo dominan te e suas instituições das quais as mulheres são as protagonistas escola se guridade social agências de habitação social Cahiers du CEDREF 2000 Se o papel das mulheres é importante na reconstrução da cultura de origem estudos antropológicos mostram igualmente sua capacidade de inventar a tradição de ajustála em função de suas aspirações presentes para elas e 13 Jovem magrebino do Magreb região do Norte da África NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 142 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 142 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 143 suas fi lhas Assim elas recolocam em questão a imagem da mulher imigra da originária das antigas colônias guardiã de valores tradicionais incom patíveis com os da modernidade Alguns trabalhos de pesquisadoras norteamericanas inglesas ou cana denses mais uma vez de origem frequentemente estrangeira associam gênero e etnicidade Curiosamente nos Estados Unidos embora de um lado as pesquisas fe ministas e de outro as relativas à imigração sejam mais numerosas e menos depreciadas que na França as mulheres em migração não têm recebido a atenção que merecem Com efeito a situação duplamente minoritária tan to na condição de mulher como na de membro de uma comunidade estran geira minoria entendida aqui também como conceito referente a cole tividades dominadas oferece um campo particularmente dinâmico sobre as relações sociais de gênero Ela permite apreender tanto os processos de dominação dos maridos de grupos sociais e mesmo dos Estados quan to as formas de resistência praticadas e os espaços de autonomia às vezes conquistados pelas mulheres Quiminal 1998 Contudo essas pesquisas comportam difi culdades teóricas e epistemológicas na medida em que se trata de localizar as modalidades de discriminações étnicas e sexistas que se entrecruzam se encobrem e se reforçam umas às outras Desenvolvimento Dominação Educação e socialização Etnicidade e nação Família Transmissões intergeracionais Violências Buijs Gina Migrant Women Crossing Boundaries and Changing Identities Center for CrossCultural Research on Women Queen Elizabeth House Universidade de Ox ford 1998 225p Morokvasic Mirjana Roads to Independence SelfEmployed Immigrants and Minor ity Women in Five European States International Migration 1991 vXXIX n3 p40720 Noiriel Gérard Le creuset français Paris Seuil 1988 425p Simon Gildas Géodynamique des migrations internationales dans le monde Paris PUF 1995 429p Taravella Louis Bibliographie analytique sur les femmes immigrées 19651979 Paris CIEMM 1980 63p Witte Philippe de Dir Immigration et intégration létat des savoirs Paris La Décou verte 1999 438p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 143 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 143 18102009 192535 18102009 192535 144 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Movimentos feministas Dominique FougeyrollasSchwebel O feminismo como movimento coletivo de luta de mulheres só se mani festa como tal na segunda metade do século XX Essas lutas partem do re conhecimento das mulheres como específi ca e sistematicamente oprimidas na certeza de que as relações entre homens e mulheres não estão inscritas na natureza e que existe a possibilidade política de sua transformação A rei vindicação de direitos nasce do descompasso entre a afi rmação dos princípios universais de igualdade e as realidades da divisão desigual dos poderes entre homens e mulheres Nesse sentido a reivindicação política do feminismo só pode emergir em relação a uma conceituação de direitos humanos universais ele se baseia nas teorias dos direitos da pessoa cujas primeiras formulações resultam das revoluções norteamericana e depois a francesa Fraisse 1992 Os movimentos feministas devem ser distinguidos dos movimentos po pulares de mulheres que não expõem frontalmente a exigência de direitos específi cos para as mulheres o serviço de Direitos das Mulheres na França propõe a noção de direitos próprios em contraponto à oposição específi ca que corresponde a mulher versus universal que corresponde a ho mem Todavia alguns movimentos que lutam politicamente pela igual dade entre homens e mulheres as mulheres socialistas da 2a e depois da 3a Internacionais rejeitam a qualifi cação feminista porque a seus olhos está marcada pelos fundamentos burgueses das reivindicações de direitos Assim a associação entre movimentos de mulheres e movimentos feministas assume signifi cações diferentes segundo as representações que se façam das feministas muito burguesas no século XIX e no começo do século XX muito radicais e inimigas dos homens depois dos anos 70 Durante os anos 70 a ex pressão movimento das mulheres é frequentemente utilizada como forma reduzida para movimento de liberação das mulheres por esse fato ela pôde ser associada ao feminismo mais radical Daí às vezes a diversidade e a con fusão na oposição entre movimentos feministas e movimentos de mulheres Falar de movimentos feministas permite designar sob uma mesma denominação as diversas formas de movimentos de mulheres o feminismo liberal ou burguês o feminismo radical as mulheres marxistas ou so cialistas as mulheres lésbicas as mulheres negras e todas as dimensões ca Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 144 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 144 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 145 tegoriais dos movimentos atuais A expressão movimentos de mulheres representa então as mobilizações de mulheres com um objetivo único como os movimentos populares de mulheres na América Latina ou os movimen tos pela paz na Irlanda ou no Oriente Médio Abordagem histórica do movimento feminista Na América do Norte e na Europa historiadores e feministas distingui ram durante muito tempo duas ondas históricas dos movimentos feminis tas a primeira transcorre na segunda metade do século XIX e no começo do século XX a segunda qualifi cada de neofeminismo cobre metade dos anos 60 e começo dos anos 70 cf Duby Perrot t4 e 5 1992 Se a deman da por direitos iguais abrange o conjunto das atividades sociais direitos na família direito do trabalho a primeira onda do feminismo é frequente mente apresentada em torno das reivindicações do direito de voto de fato é a respeito dessas questões que as ações mais espetaculares foram realiza das nos Estados Unidos e no conjunto dos países europeus Inversamente os movimentos feministas dos anos 70 não se fundam na única exigência de igualdade mas no reconhecimento da impossibilidade social de fundar essa igualdade dentro de um sistema patriarcal Mas a oposição entre os dois momentos dos movimentos feministas é hoje descartada por certas historiadoras porque dá mostras de uma historiografi a ainda lacunar dos movimentos feministas que durante muito tempo apagou todo traço deles entre as décadas de 1920 e 1960 O feminismo contemporâneo prolonga as expectativas do feminismo do século XIX a saber a individuação do sujei to democrático e econômico da cidadã e da trabalhadora mas acrescenta fortemente a questão da autonomização da sexualidade feminina a mater nidade não é o único horizonte das mulheres e mais ainda o desejo da não maternidade após o advento da contracepção feminina a pílula começa a ser acessível na metade dos anos 60 começa a se exprimir de maneira positiva e não mais como uma carência FougeyrollasSchwebel 1997 O feminismo dos anos 70 O impacto do feminismo dos anos 70 talvez não seja tanto o de afi rmar novas formas de reivindicações e demandas de direitos mas o de interrogar Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 145 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 145 18102009 192535 18102009 192535 146 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER os domínios do político Prolongando o movimento da contracultura dos anos 60 uma das prioridades dos movimentos de liberação das mulheres é a afi rmação de que o privado é político Freeman 1975 Criticando a noção de vanguarda e considerando às vezes o engaja mento político como um engajamento do conjunto da vida das militantes o feminismo dos anos 70 se caracteriza por grupos não mistos negando aos homens o direito de falar em nome das mulheres Ampliando as reivindica ções dos movimentos negros norteamericanos Black Power Poder Negro e depois Black Panthers Panteras Negras as feministas abrem assim o ca minho aos movimentos multiculturalistas das décadas de 1980 e 1990 ao denunciarem os valores universalistas como aqueles dos grupos dominantes A discussão política é também uma busca de identidade Efetivamen te a maioria das militantes privilegia o grupo de fala groupe de paro le Partisans 1970 O movimento feminista participa dos movimentos antiautoritários e privilegia as formas mais espontâneas de manifestação recusando toda organização hierárquica Pertencer ao movimento repre senta a realização de uma nova ideologia a pesquisa de sentido e de valores comuns A essa nova ideologia denominouse sororidade Sisterhood is Powerful a sororidade é poderosa Mas as questões da identidade racial ou nacional dividem o movimento e a solidariedade comum das mulheres é rapidamente questionada pela suspeita da ignorância dos problemas pró prios de cada grupo identitário pelo temor da criação de novas formas de dominação entre homossexuais e heterossexuais entre burguesas e proletá rias entre as mães e aquelas que não o são entre as mulheres brancas e as mulheres negras sobretudo nos Estados Unidos O feminismo do fi m dos anos 60 e começo dos anos 70 adquire como no século XIX uma amplitude internacional A onda de choque parte dos Estados Unidos e chega muito rapidamente à GrãBretanha e à Alema nha ainda na mesma década A explosão estudantil de 1968 é o terreno da propagação do feminismo e a grande aparição pública do movimento norteamericano em 26 de agosto de 1970 para festejar os cinquenta anos do direito de voto nos Estados Unidos dá força aos movimentos europeus A despeito de seu caráter extraparlamentar o movimento de liberação das mulheres tem a capacidade de suscitar amplas mobilizações entre as mulheres sindicalizadas mulheres dos partidos de esquerda e de direita Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 146 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 146 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 147 ou das associações que lutam pelos direitos das mulheres como o organis mo Planejamento Familiar Inicialmente as campanhas pela liberdade de abortar constituem os eventos mais importantes e mais marcantes Apa recem igualmente mobilizações contra a violência que vitimiza mulheres estupro assédio sexual e a transformação do direito o reconhecimen to do estupro conjugal A conquista de novos direitos para as mulheres na esfera privada é acompanhada por exigências renovadas na esfera pública pela reivindicação de medidas em favor de uma verdadeira igualdade no trabalho mas tal reivindicação só consegue algum resultado quando se es tabelece uma relação com as organizações sindicais e políticas Katzenstein Mueller 1987 As tendências no seio do movimento Três correntes no seio do movimento se opõem quanto à defi nição da opressão das mulheres e suas estratégias políticas feminismo radical so cialista e liberal Segundo abordagens mais detalhadas ocorrem distinções entre feministas marxistas ou socialistas libertárias radicais lésbicas ma terialistas ou essencialistas A oposição politicamente mais frontal recai so bre as feministas liberais de um lado e feministas radicais e socialistas de outro Por corrente liberal devemse entender os movimentos fundados na promoção dos valores individuais com a luta pela total igualdade entre mulheres e homens podese falar de um feminismo reformista que conta por meio de políticas de ação positiva com a prioridade dada às mulheres para reduzir as desigualdades Ao contrário os movimentos de liberação das mulheres querem romper com as estratégias de promoção das mulheres em proveito de uma transformação radical das estruturas sociais existentes Esse movimento será marcado por oposições quanto às estratégias priori tárias entre aquilo que se denomina na França de feministas socialistas ou tendência da luta de classes que afi rmam que a verdadeira liberação das mulheres só poderá advir de um contexto de transformação global e as feministas radicais que sublinham que as lutas são conduzidas antes de tudo contra o sistema patriarcal e as formas diretas e indiretas do poder falocrático Picq 1993 No âmbito do próprio movimento radical os gru pos de lésbicas advogam a necessidade de um separatismo radical para lutar contra toda obrigação à heterossexualidade Clef 1989 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 147 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 147 18102009 192535 18102009 192535 148 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Para os movimentos feministas europeus a relação com os partidos de esquerda é essencial e a dialética de inclusãoexclusão é permanente Nos Estados Unidos a fraqueza das feministas socialistas na esfera de feminismo e a ausência de partidos socialdemocratas fazem que o movimento tenha dado mais ênfase à autonomia individual e à igualdade e que continue pou co ativo em matéria de direitos sociais Inversamente embora não existam nos países europeus organizações feministas tão importantes como nos Es tados Unidos os governos socialistas mesmo moderados têm permitido o acesso a direitos sociais inconcebíveis nos Estados Unidos Threlfall 1996 Algumas organizações internacionais como a ONU agem no sentido da ampliação do acesso à igualdade das mulheres de todos os países Denun ciada como empresa de recuperação pelas feministas dos anos 70 a organi zação sucessiva de conferências internacionais como a de Nairóbi 1985 e depois a de Pequim 1995 suscita uma atenção redobrada das associações feministas que delas participam cada vez mais a título de ONGs Na Eu ropa a União Europeia e o Conselho da Europa são igualmente utilizados pelas associações feministas como bases de pressão pelo acesso à igualdade cf as campanhas pela paridade entre homens e mulheres em política des de 1992 Assim de 1970 até hoje constatase uma evolução contraditória dos movimentos feministas a pressão internacional permite o avanço dos direi tos das mulheres acompanhado de uma atenuação da radicalidade dos mo vimentos feministas que passam a se posicionar como associações a serviço das mulheres Reforçada pela revitalização das correntes reformistas essa evolução do feminismo na direção de uma postura especialista expertise ou de serviço social é talvez uma maneira de reatar com a tradição caritativa tão frequentemente denunciada Enfi m persistem formas mais radicais do movimento feminista as quais se contrapõem a essas tendências e como nos anos 70 continuam capazes de mobilizações mais amplas de mulhe res e homens membros de partidos políticos ou de organizações sindicais e outras como testemunham as lutas contra as violências pela aplicação do direito ou pela abertura de novos direitos Aborto e contracepção História sexuação da Igualdade Maternidade Movimentos sociais Paridade Patriarcado teorias do Sexualidade Violências Centre lyonnais détudes féministes Chronique dune passion Le mouvement de libération des femmes à Lyon Paris LHarmattan 1989 272p Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 148 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 148 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 149 Cohen Yolande Thébaud Françoise Eds Féminisme et identités nationales Les proces sus dintégration des femmes en politique Lyon CNRS Programa plurianual em Ciências humanes RhôneAlpes 1998 306p FougeyrollasSchwebel Dominique Le féminisme des années 1970 in Christine Fau ré Ed Encyclopédie politique et historique des femmes Paris PUF 1997 p72970 Fraisse Geneviève La raison des femmes Paris Plon 1992 294p Picq Françoise Libération des femmes Les annéesmouvement Paris Seuil 1993 380p Threlfall Monica Ed Mapping the Womens Movement Feminist Politics and Social Transformation in the North LondresNova York Verso 1996 VII 312p Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Movimentos sociais Josette Trat Os movimentos sociais são ações coletivas realizadas em vista de um objetivo cujo resultado em caso de sucesso como em caso de fracasso trans forma os valores e as instituições da sociedade Castells 1999 A expressão designa realidades distintas junho de 1936 maio de 1968 as greves e mani festações de novembrodezembro de 1995 ou ainda as assim chamadas co ordenações surgidas entre os ferroviários em 1986 entre as enfermeiras em 1988 etc Falase também do movimento operário do movimento dos desempregados do movimento dos homossexuais ou do movimento feminista O termo se refere portanto tanto a períodos de crises políticas como a processos de mobilização duradouros que dão origem a associações redes e organizações além de partidos Tratase então da dinâmica pró pria de um grupo social portador de reivindicações importantes duráveis e confl ituosas Béroud et al 1998 Esses movimentos surgem mais fre quentemente em setores dominados da sociedade o que não signifi ca no entanto que todos eles reclamem para si valores igualitários No plano da pesquisa constatase que os movimentos sociais sob hegemonia masculi na são sempre apreendidos como movimentos neutros Questionando essa perspectiva Daniele Kergoat utilizou a expressão movimento social se xuado para insistir na ideia de que as relações sociais de sexo impregnam permanentemente todos os movimentos e que essa consideração deve estar sempre presente quando se analisam tais movimentos 1992 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 149 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 149 18102009 192535 18102009 192535 150 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Uma longa história conceitual assexuada Segundo François Chazel 1992 Lorenz von Stein foi o pioneiro da sociologia dos movimentos sociais com seus estudos entre 1842 e 1850 sobre o proletariado francês Na segunda metade do século XIX Karl Marx trouxe uma contribuição maior a essa análise com suas obras sobre as lutas de classes No século XX diversos trabalhos sobretudo anglosa xônicos marcaram essa refl exão O modelo proposto por Mancur Olson 19661978 enfatiza o cálculo em termos de custos e benefícios feito pelos indivíduos antes de qualquer possível ação Ao fazer isso ele ignora as dimensões identitária simbólica e política das ações coletivas Anthony Oberschall 1973 e em seguida Charles Tilly 1978 insistem ao contrário no fator político e nas condições sociais subjacentes à emergência dos pro testos Seus estudos sobre diversos movimentos sociais históricos ou con temporâneos ressaltam o peso das redes de sociabilidade e de solidariedade na mobilização dos recursos Na França foram principalmente historiadores e historiadoras do mo vimento operário e mais amplamente dos movimentos populares que alimentaram nosso conhecimento dos movimentos sociais As Ciências Políticas e a Sociologia pouco se interessaram por esse objeto de pesquisa julgado muito subversivo preferindo a sociologia eleitoral ou aquela dos partidos mais conforme a uma defi nição institucional da Política Toda via o grupo de pesquisa liderado por Alain Touraine e pesquisadores como François Chazel contribuíram para enaltecer o estudo dos movimentos so ciais Desde o começo dos anos 90 a pesquisa nesse campo teve desdobra mentos importantes e renovou os debates sobre diversas questões A primeira concerne à defi nição dos movimentos sociais Para Érik Neveu são formas de ação coletiva concertada em favor de uma causa 1996 Essa defi nição se afasta das formulações normativas de Alain Tou raine e equipe para quem um movimento somente pode ser qualifi cado de social se tem atores claramente identifi cados adversários precisamen te designados desafi os expressamente voltados para a direção social da historicidade como um projeto de conjunto para a sociedade Touraine 1978 Para ele nenhum movimento social desde 1868 pôde desempenhar esse papel Também parece mais frutífero defi nir movimento social como um processo Chazel 1993 Na verdade um movimento social evolui Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 150 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 150 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 151 no seu transcorrer Tratase de uma realidade heterogênea social e politi camente atravessada por correntes e projetos diversifi cados Nos movimen tos contra o desemprego por exemplo a solidariedade entre assalariados e desempregados não é automática assim como não o é a solidariedade entre homens e mulheres As solidariedades no mundo do trabalho constituem um ponto central das atividades políticas Aguitton e Corcuff 1999 A segunda questão concerne às molas que acionam os movimentos sociais Para René Mouraux quaisquer que sejam as evoluções do capi talismo contemporâneo e as difi culdades de luta dos assalariados ou dos desempregados nada autoriza os pesquisadores a relativizar a questão da exploração e da luta de classes na análise dos movimentos sociais recentes da centralidade da oposição capitaltrabalho nas sociedades capitalistas contemporâneas Béroud et al 1998 Assim ele toma resolutamente o contrapé da tese desenvolvida por Alain Touraine para quem os confl itos signifi cativos se deslocaram do terreno dos direitos sociais para o dos di reitos culturais 1999 Seria sem dúvida teoricamente mais estimulante pensar uma interligação dessas várias dimensões dos movimentos sociais do que sua oposição Como pensar a diversidade Uma nova abordagem se desenha Ao levar em conta o confl ito capitaltrabalho ela toma igualmente a medida da di versidade dos movimentos sociais e da diferenciação sociocultural que os atravessa Uma tal perspectiva para ser coerente deveria integrar a refl exão das pesquisadoras e dos pesquisadores que integram a questão das relações sociais de sexo à sua análise Ora constatase frequentemente uma sepa ração radical entre de um lado os estudos sobre os movimentos sob hege monia masculina que se conjugam no neutro isto é mais frequentemente no masculino e de outro trabalhos sobre o movimento feminista as lutas de mulheres ou de setores muito feminizados realizados principalmente por pesquisadoras Essa compartimentação da pesquisa tem uma dimensão amplamente internacional Taylor Wittier 1998 O movimento feminista é um movimento social O que permite principalmente caracterizar o movimento feminista como movimento social é a sua duração Quaisquer que sejam as intermitências da mobilização as mulheres não cessaram de lutar coletivamente desde a Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 151 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 151 18102009 192535 18102009 192535 152 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Revolução Francesa Ademais esse movimento se enraíza nas contradições fundamentais da sociedade nascidas tanto do desenvolvimento do capita lismo como da persistência até hoje da dominação masculina que se expri me na divisão social e sexual do trabalho As mulheres se mobilizaram ora em nome da igualdade ora em nome de suas diferenças sempre contra as injustiças de que eram vítimas reclamando ao mesmo tempo o direito ao trabalho à educação ao voto e também à maternidade livre desde o co meço do século XX Elas sempre reivindicaram sua identidade como seres humanos e sua liberdade No período contemporâneo as atrizes desse movimento centraram suas lutas contra as discriminações sexistas contra adversários de diversas formas os homens concebidos como grupo biológico o patriarcado a misoginia ou ainda a divisão sexual e social do trabalho em todas as esferas da sociedade Para algumas o foco dessas lutas é o reconhecimento da diferença sexual Para outras ao contrário tratase de questionar a construção social da diferença dos sexos para muitas a igualdade não está na partilha do poder com os homens na sociedade vigente mas supõe uma transformação global das relações sociais Na França os trabalhos de pesquisadoras sobre o movimento feminista contribuíram ao mesmo tempo para salientar o papel das mulheres como atrizes sociais Picq 1993 e para estimular a refl exão sobre as mutações so ciais e os novos temas de radicalização engendrados pelo desenvolvimento do capitalismo Poucos sociólogos dos dois sexos se interessaram pela ma neira como esse novo movimento social tem interpelado do exterior e do interior o velho movimento operário Uma das primeiras a fazêlo na França foi Margaret Maruani 1979 O movimento social sexuado um instrumento para pensar a dinâmica das mobilizações Pensar em termos de relações sociais de sexo é levar em conta a diver sidade de relações sociais fundamentais que estruturam a sociedade rela ções de classe gênero e raça principalmente É considerar igualmente que todo movimento social é sexuado não somente em função do sexo biológico de seussuas participantes mas antes de tudo porque refl ete e às vezes questiona a divisão social e sexual do trabalho e as relações de Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 152 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 152 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 153 poderes entre homens e mulheres na sociedade A partir de uma pesqui sa coletiva sobre a coordenação das enfermeiras em 19881989 Daniele Kergoat Kergoat et al 1992 mostrou que a reivindicação pelo reconheci mento profi ssional das enfermeiras apontava para a manutenção do estatu to subordinado desse novo assalariamento feminino qualifi cado na divisão sexual e social do trabalho Ela indicou também o impacto específi co de um movimento misto sob hegemonia feminina sobre a organização e a natureza das reivindicações A demanda por reconhecimento profi ssional das enfermeiras tinha uma dupla dimensão tratavase de fazer reconhecer ao mesmo tempo sua competência técnica e relacional que devia se traduzir por um reconhecimento salarial Essa dinâmica foi novamente exemplifi cada ainda que com notáveis diferenças pela coordenação das assistentes sociais em 1991 Trat 1994 Uma outra questão diz respeito à distância observada entre o papel das mulheres como sujeito coletivo de movimentos sociais não mistos ou mistos sob hegemonia feminina e sua invisibilidade nos movimentos sociais mis tos Tais são algumas linhas de refl exão esboçadas na França Heinen e Trat 1997 Para analisar sua própria sociedade marcada por uma forte mobili zação de mulheres de diferentes minorias as pesquisadoras anglosaxônicas aprenderam há muito tempo a cruzar as diferentes relações sociais de gênero classe e raça Taylor Wittier 1998 e 1999 A abordagem em termos de relações sociais de sexo tem o mérito de levar em conta as profundas transfor mações mundiais ocorridas no curso dos últimos trinta anos principalmente a feminização do assalariamento e de ressituálas no conjunto das relações sociais Ela responde ao programa de pesquisas internacionais iniciado por McAdam Tarrow e Tilly 1996 visando ultrapassar a fragmentação das dis ciplinas e comparar os movimentos sociais em suas várias dimensões Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Movimentos feministas Sindicatos Béroud Sophie Mouriaux René Vakaloulis Michel Le mouvement social en France Paris La Dispute 1998 223p Heinen Jacqueline Trat Josette Coords Hommes et femmes dans le mouvement so cial Cahiers du Gedisst 1997 n18 187p Kergoat Danièle Imbert Françoise Le Doaré Hélène Senotier Danièle Les infi rmières et leur coordination 19881989 Paris Lamarre 1992 192p Neveu Érik Sociologie des mouvements sociaux Paris La Découverte Repères 1996 123p Picq Françoise Libération des femmes les annéesmouvement Paris Seuil 1993 380p Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 153 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 153 18102009 192535 18102009 192535 154 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Trat Josette La lutte des assistantes sociales un mouvement de femmes salariées con jugué au masculin Les coordinations de travailleurs dans la confrontation sociale Paris LHarmattan Futur antérieur 1994 p10340 Traduzido por FRANCISCO RIBEIRO SILVA JÚNIOR Mundialização Fatiha Talahite Após a segunda guerra mundial a expansão dos bancos norteamerica nos fora dos Estados Unidos e a autonomização de uma criação monetária em eurodólares marcam a emergência de uma esfera fi nanceira globalizada impondo sua lógica ao conjunto da economia mundial O capitalismo que ultrapassara desde muito tempo os limites do Estadonação não se con tenta mais em contornarlhe os limites Transnacionalização de empresas e mudanças decisivas na organização do trabalho e da produção alteram a efi cácia das políticas públicas questionando as bases do Estado de bem estar social Estados e organizações se reagrupam em escala regional ou internacional para reagir e se adaptar ao novo contexto Mas a mundializa ção não é tanto a extensão do mercado em sentido genérico invariante das sociedades humanas mas de um mercado submetido a um dado sistema normativo porque a lei do mercado não age sozinha ela passa por regras e convenções resultantes de confl itos negociações compromissos Ora o que é mundial não é necessariamente universal Serge Latouche 1988 de nomina essa difusão de normas e padrões de ocidentalização do mundo A mundialização é portanto uma categoria ao mesmo tempo analítica de signando um fenômeno econômico e normativa servindo para prescrever comportamentos defi nir e justifi car o conteúdo de normas e instituições Mundialização e globalização Inicialmente traduzido pelo neologismo globalização do inglês glo balization objeto ultraAtlântico de uma signifi cativa literatura o termo se dissemina na França por volta de meados dos anos 90 Defesa da língua Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 154 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 154 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 155 ou desafi os teóricos e ideológicos Mudouse de paradigma depois das teo rias sobre a economia internacional o capitalismo mundial a globalização fi nanceira Traduzindo uma propensão a padronizar a análise econômica o termo vem sancionar o fi m da competição entre capitalismo e socialismo desde a queda do Muro de Berlim e a tendência à convergência na direção de um só modelo econômico Os estudos econômicos relativos ao gênero só se desenvolveram a partir do início dos anos 80 Essencialmente tais estudos integram a separação entre a esfera doméstica e esferas de produção e troca inserida nas catego rias contábeis com a distinção entre consumo fi nal e produção a primeira é o fato exclusivo dos domicílios e a segunda das empresas Elas incidem particularmente sobre o emprego raro domínio em que os dados estatísti cos apontam a variável sexo Com o esforço de harmonização dos quadros estatísticos e o avanço das bases de dados facilitando as comparações inter nacionais é sobretudo pelo viés do mercado de trabalho das migrações ou da demografi a que a relação entre gênero e mundialização é estudada Na ções Unidas 1995 A extensão às relações de sexo de noções inicialmente forjadas no contexto do Estadonação e depois projetadas na escala da eco nomia mundial passa pela substituição pela analogia pela articulação ou pela superposição das categorias de sexo ou de gênero àquelas de classe povo nação raça ou etnia A partir de 1995 o campo das comparações in ternacionais se amplia com a publicação pelo PNUD de um indicador do desenvolvimento humano baseado especifi camente no sexo ISDH assim como de um índice da participação das mulheres IPF A mundialização horizonte do capitalismo 1 Entre 1950 e 1970 a crítica do imperialismo e do intercâmbio desi gual leva alguns países a adotar estratégias de ruptura com o mercado mundial Mas eles se excluem e se marginalizam O questionamento da divisão internacional do trabalho vem dos países emergentes da Ásia e da América Latina introduzidos na competição internacional aproveitando suas vantagens comparativas baixo custo da mão de obra principalmente e sobretudo das empresas internacionais que mudam os dados da divisão internacional do trabalho organizando mudanças intrarramos e intrafi rmas em escala mundial Nos anos 90 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 155 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 155 18102009 192535 18102009 192535 156 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER ajustando o passo com os países emergentes os países em transi ção se lançam por sua vez no mercado mundial Na visão liberal a mundialização seria um jogo de soma positiva funda do não mais apenas na troca de mercadorias entre nações mas na circulação mundial de bens capitais mão de obra com a multiplicação dos fl uxos au mentando por sua vez a riqueza das nações e aquela globalmente produzi da por uma economia doravante mundializada Outros opõem a essa visão o questionamento das aquisições realizadas no contexto do Estadonação Entre os marxistas a crítica da mundialização como extensão em escala mundial da lei do valor prolonga a crítica do capitalismo Mas o abandono da ideia de algo além do capitalismo leva a não se con siderar outro horizonte que não o espacial para a mundialização O longo tempo da História perde sua pertinência em proveito do espaço que se tor na uma temática recorrente com as noções de território distrito rede 2 Essas controvérsias despontam nas abordagens sobre as mulheres e a mundialização Onde alguns denunciam a intensifi cação através do planeta de relações de exploração e dominação a deterioração do ambiente e suas consequências para as mulheres outros veem a pos sibilidade de ir na direção de um maior bemestar e igualdade entre os sexos Tendese a substituir a visão de um mundo bipolar Norte Sul pela da tríade AméricaEuropaÁsia Mas é inicialmente nas regiões desenvolvidas que os processos de integração regional de sembocam numa convergência das economias Apesar do avanço dos meios de transporte e das tecnologias da comunicação que alimenta uma visão ecumênica da mundialização a distância que as separa de suas periferias se aprofunda Há alguns anos surgiu um movimento antimundialização ATTAC a partir da contestação da AMI da OMC e em torno da reivindicação da taxa Tobin reunindo diversas correntes da sociedade civil entre as quais a Marcha Mundial das Mulheres Denunciando a mundialização neolibe ral o que leva a supor a perspectiva de outra mundialização ele retoma em parte a tradição das ideologias anticapitalistas e antiimperialistas As feministas que participam desse movimento reformulam numa perspec tiva altermundialista a questão já antiga da relação entre a luta das mulhe res e outros embates políticos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 156 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 156 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 157 Uniformização dos mundos e diferença dos sexos 1 A mundialização que é também um processo de unifi cação monetária em torno de duas ou três grandes moedas caminha para a uniformi zação dos mundos sua convergência num só mundo no qual tudo é alinhado sob um mesmo padrão de valor a moeda Homens e mulhe res são colocados em competição e a igualdade formal dos direitos cria as condições dessa competição A avaliação em moeda do desempe nho dos indivíduos faz que toda expressão da diferença entre os sexos que não possa se exprimir assim tenda a desaparecer ou a perder sua signifi cação enquanto as diferenças monetarizadas se acentuam Elas se exprimem especialmente em diferenciais de remuneração 30 em média nos países industrializados revelando uma tenaz desvaloriza ção das mulheres apesar de medidas institucionais corretivas ou com pensatórias A segregação puramente ligada ao sexo seria responsável por 20 a 30 de uma diferença que se pode ser menor nas fases de crescimento 14 na Suécia em 1980 tende a crescer em situações de estagnação e desemprego Em que medida sua diminuição é suscetí vel de se generalizar ou é ligada a uma conjuntura excepcional como a dos Gloriosos Trinta favorecendo a redistribuição As conquistas das mulheres nos países desenvolvidos são um privilégio devido à sua po sição dominante na economia mundial necessitando para serem de fendidas manter essa dominação ou podem se estender às outras mu lheres do mundo graças à difusão de uma norma universal em matéria de direitos femininos O início de uma elite feminina mundializada informada e de alto desempenho que reivindica a paridade e a igual dade entre os sexos e afi rma representar em todo o mundo os ideais do feminismo tem seus prós e contras Atuando como lobby e engajada em estratégias de obtenção de poder empowerment pode ser capaz de se comprometer com os poderes políticos midiáticos ou fi nanceiros 2 A difusão de um modelo de transformação do estatuto das mulheres baseado no trabalho assalariado se generalizou pelos países socialis tas e em menor medida no Terceiro Mundo sob diversas formas segundo os períodos e os tipos de economia Se pôde favorecer a pro moção de um assalariamento estável e qualifi cado hoje tende a tomar o aspecto de uma proletarização brutal precarização do emprego Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 157 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 157 18102009 192535 18102009 192535 158 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER desemprego trabalho informal migrações clandestinas e múltiplas formas de prostituição precipitando as mulheres numa competição em que seu desempenho é avaliado em termos monetários Talahite 1998 Passando para o mercado essa avaliação se faz também segun do normas A competição ocorre num espaço e com regras de jogo cujas defi nição e confi guração são hoje um desafi o da mundialização O resultado é paradoxal enquanto convenções internacionais visam proteger as mulheres da discriminação e da violência o recurso a uma norma mundializada deixa sem voz as mulheres das culturas do minadas Spivak 1988 e os modos de expressão da diferença dos se xos próprios de cada cultura se degradam e se depreciam Ora esta é ambivalente fonte de desigualdades também estrutura as sociedades humanas e dá sentido à existência e à ação Nesse contexto de perda de sentido o domínio de competição entre homens e mulheres se restrin ge o que o torna mais brutal e discriminatório enquanto para uma grande parte existência e ação se desenrolam fora do campo do valor mundializado A outra vertente da mundialização é esse processo de exclusão que faz que a atividade de populações inteiras sujeitas ao in formal e ao não direito não seja reconhecida sua existência medi da pelo critério do valor mundializado fi nalmente não possui valor Desenvolvimento Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Etnicidade e nação Migrações Precarização social Charlier Sophie Ryckman Hélène Coral Namur Rapports de genre et mondialisation des marchés Paris LHarmattan 1999 183p Hirata Helena Le Doaré Hélène Coords Les paradoxes de la mondialisation Cahiers du Gedisst 1998 n21 188p Sparr Pamela Ed Mortgaging Womens Lives Feminist Critique of Structural Adjust ment Londres Atlantic Highlands NJ Zed Books 1994 214p Standing Guy Global Feminisation through Flexible Labour World Development 1989 v17 n7 p107795 Wichterich Christa La femme mondialisée Arles Actes Sud 1998 263p edição em alemão no original 1998 Zein Elabdin Eiman Development Gender and the Environment Theoretical or Con textual Link Toward an Institutional Analysis Journal of Economic Issues dez 1996 vXXX n4 Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 158 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 158 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 159 Ofício profi ssão bico Prisca Kergoat Geneviève Picot e Emmanuelle Lada Ofício Do latim menestier mistier serviço ofício a noção de ofício re mete igualmente a dois conceitos gregos maiores os de métis inteligência prática e de techné inteligência raciocinada Ocorre uma distinção entre o artesão dotado de inteligência prática o que implica qualidades servis de obediência e o de técnico que detém as regras de sua arte Descolonges 1996 Essa dicotomia se encontra nos exemplos encontrados no Le petit Robert 1977 As mãos trabalham mais que a cabeça pequeno ofício pitoresco O ofício abrange com toda evidência a divisão social do traba lho e mais particularmente a divisão entre a ação manual e a intelectual As citações e expressões dos dicionários marcam igualmente a divisão social entre os sexos Ser um homem de ofício o mais velho ofício do mundo o ofício de rei é grande As mulheres seriam essencialmente pouco afeitas tanto ao exercício da técnica como do poder É portanto no cruzamento dessas duas dimensões que se deve problematizar a questão A idade de ouro do ofício faz referência às corporações ao artesanato A aquisição de um ofício demanda uma longa aprendizagem com a obrapri ma como seu produto fi nal É no decorrer do trabalho de historiadores que descobrimos um número sempre crescente de mulheres nas corporações Existiam setores de ofícios feminizados roupeiras tecelãs iluminuristas vendedoras de grãos e até alguns ofícios masculinos em que havia mulheres cirurgiãs alquimistas malabaristas etc Livro dos ofícios 1268 Entretan to a regra continua sendo a da especifi cidade dos ofícios Mesmo sendo ofícios reconhecidos ainda são trabalhos de mulheres entendidos como tarefas tradicionalmente atribuídas a estas últimas Perrot 1978 Essa di visão do trabalho testemunha a precariedade do limite entre as atividades produtivas e as reprodutivas Com a industrialização e a parcelarização do trabalho assistese à ex tinção de inúmeros ofícios Ao contrário dos artesãos a grande maioria dos operários não domina o conjunto dos processos de produção Navil Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 159 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 159 18102009 192535 18102009 192535 160 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER le 1961 Mesmo com o movimento de salarização que dá às mulheres a possibilidade de se esquivar da lojinha ou do domicílio conjugal a divisão do trabalho certamente segundo novas modalidades se desenvolve nas fábricas A noção de ofício de mulher surgida no fi m do século XIX defi niuse em torno de qualidades naturais nas mulheres não reconhecidas como qualifi cação Inúmeras historiografi as ressaltam igualmente a utilização do corpo das mulheres como instrumento de trabalho inúmeras são as prosti tutas amas de leite domésticas etc Gardey 1968 que participam da or ganização econômica e social do trabalho Com a evolução dos direitos da mulher ao longo do século XX as pro blemáticas em Ciências Sociais se reorientam nos anos 80 para análises em termos de feminização ou masculinização de profi ssões ou setores em que a divisão sexual do trabalho está em constante reelaboração As diferentes abordagens sociológicas da noção de ofício referemse a três dimensões que fazem aparecer a necessidade de raciocinar simultanea mente em termos de divisão técnica e social e em termos de divisão sexual do trabalho 1 O ofício está associado ao domínio do conjunto de processos de pro dução a um ato de criação A história industrial marca a oposição estruturante entre a ocupação de um posto de trabalho e de um ofício A primeira remete a uma divi são técnica do trabalho a uma parcialização das tarefas cujo protótipo é a situação taylorista o indivíduo é despossuído de sua autonomia e de sua criatividade Inversamente a noção de ofício remete a regras de ação que se assemelham às regras da arte não se trata de aplicar operações formaliza das e repetitivas mas de assimilar um saber fazer savoirfaire refl etido compreendendo uma longa aprendizagem das regras formais e práticas da matériaprima ao produto fi nal Desses dois modelos resulta uma divisão social e sexual do trabalho as mulheres estão pouco presentes no artesanato e se encontram nos postos de trabalho mais desqualifi cados do setor indus trial Em contrapartida são amplamente representadas nos ofícios ditos de serviço tais como o comércio os cuidados com pessoas e o setor terciá rio onde se dão a fl exibilidade e a parcialização do trabalho Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 160 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 160 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 161 2 O ofício está associado à noção da experiência sancionada por um título ou diploma O nível de formação dos ofícios é amplamente determinado pelo setor e pelo sexo No setor industrial pouco feminizado as formações que preparam para um nível III engenheiro são mais difundidas que no setor terciário Essa distinção de reconhecimento vigente entre ofícios ditos masculi nos e ofícios ditos femininos envolve a separação entre de um lado qua lidades femininas que seriam inatas não adquiridas e por conseguinte não reconhecidas como verdadeiras qualifi cações e de outro qualidades masculinas consagradas por diplomas e portanto reconhecidas como tais Kergoat 1984 Essa lógica que remete ao saber fazer supostamente femi nino minúcia cuidado etc pode ser reforçada pela noção de competência usada pelas empresas o saber fazer paciência discrição generosidade etc é um critério encontrado num certo número de ofícios ditos femininos baseado num saber ser com os outros secretária telefonista enfermeira assistente social cabeleireira etc Um dos perigos dessa noção não seria ao revestir antigos lugarescomuns de uma aparência de modernidade e cientifi cidade cf a construção de referenciais de competências ratifi car e legitimar a diferença sexuada das carreiras graças à dissociação entre as competências supostamente masculinas e as supostamente femininas 3 O ofício é produtor de reconhecimento social Os ofícios supostamente femininos são menos valorizados por nossas sociedades além disso a valorização social pelo ofício é mais forte entre os homens do que entre as mulheres em virtude do lugar atribuído a elas nas esferas da produção e da reprodução Kergoat 1988 Fortino 1995 Mireille Dadoy 1984 observa a existência de uma forte reivindicação so cial do retorno ao ofício noção que se enriquece com uma clara conotação positiva versus desemprego ausência de qualifi cação parcelarização do trabalho decomposição dos coletivos de trabalho emprego instável que não dá acesso a uma carreira nem a um reconhecimento social Entretanto a reabilitação do ofício não parece se fazer em torno doa operárioa dao artesão ou doa empregadoa mas da fi gura do técnico e do engenheiro afi rmando assim a persistência da divisão social e sexual do trabalho Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 161 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 161 18102009 192535 18102009 192535 162 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Dadoy Mireille Le retour au métier Revue française des affaires sociales 1984 n4 p69104 Descolonges Michèle Questce quun métier Paris PUF 1996 259 p Fortino Sabine Le plaisir au coeur des pratiques et stratégies professionnelles férni nines Cahiers du GEDISST 1995 n14 p127147 Gardey Delphine Perspectives historiques in Margaret Maruani dir Les nouvelles frontières de linégalité Hommes et femmes sur le marché du travail Paris MAGELa Découverte Recherches 1998 p2338 Kergoat Danièle Le mêtier in Christophe Dejours dir Plaisir et souffrance dans le travail Éditions de lAOCIP 1988 t2 p191198 Perrot Michelle De la nourrice à lemployée Travaux de femmes dans la France du XIXe siècle Le mouvement social número especial octobrenovembre 1978 n105 p310 Profi ssão O termo profi ssão do latim professio provém do verbo professar que é o ato de proclamar aquilo em que se crê uma crença políticoreligiosa ou uma opinião Na linguagem corrente o termo tem inúmeros sentidos podendo tanto designar uma ocupação determinada da qual se tiram os meios de existência como um ofício que tem relativo prestígio social ou intelectual Le petit Robert 1993 A sociologia das profi ssões nos países anglosaxões opõe as verdadeiras profi ssões às outras atividades de trabalho designadas como ocupações As primeiras são dotadas de direitos específi cos reconhecidos pelo Esta do e pela legislação elas organizam sua formação controlam seu exercí cio têm uma estruturação autônoma comportam uma formação longa e teórica tanto quanto um saber prático As segundas não desfrutam desses direitos particulares Na França a sociologia das profi ssões chamada mais frequentemente de sociologia dos grupos profi ssionais não faz diferença entre verdadeira profi ssão e ocupação os membros de uma profi ssão são aqueles que exercem uma mesma atividade de trabalho o sentido do termo aqui é próximo daquele de corporação Portanto a noção de profi ssão comporta sentidos diferentes segundo os autores e seus pontos de vista so bre o trabalho que podem se formular em termos de identidade posição especialização ou classifi cação profi ssional Dubar Tripier 1998 p123 Historicamente o exercício de uma profi ssão como de todo trabalho que implique uma renda é profundamente marcado pela divisão sexual do trabalho Na França as mulheres foram excluídas do modelo corporativo Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 162 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 162 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 163 estatal um sistema profi ssional hierarquizado que predominou durante o Antigo Regime e permaneceu posteriormente Entretanto durante certos períodos elas puderam ter acesso a algumas corporações particularmente as esposas viúvas ou fi lhas de homens de ofício Roux 1994 p901 A partir do fi m do século XIX e começo do século XX as mulheres passaram a exercer atividades de trabalho como secretárias enfermeiras professo ras que se dizia serem adequadas para uma mulher Cacouault 1987 continuando excluídas de atividades mais prestigiosas como o exercício da Medicina ou do Direito Entre os fundadores da Sociologia enquanto alguns autores analisaram os grupos profi ssionais a fi m de mostrar sua gênese e suas dinâmicas pode se dizer que está ausente toda interrogação em termos da sexuação da ati vidade profi ssional Assim para Émile Durkheim os grupos profi ssionais deviam ser levados a desempenhar um papel central na organização social e moral de nossas sociedades modernas e sobretudo assegurar uma função de regulação social como corpos intermediários entre o indivíduo e o Esta do Max Weber centra sua refl exão nos signifi cados religiosos da atividade profi ssional assim os profi ssionais são no início religiosos o mágico o padre o profeta que encarnam a construção de legitimidades carismáticas ou tradicionais Com a revolução industrial e a racionalização das ativida des aparece uma nova fi gura profi ssional a do especialista expert que é representativa da construção de uma legitimidade legalracional A pesquisa histórica e sociológica se propõe num primeiro momento a ressaltar as características das atividades profi ssionais exercidas por mulhe res A partir do fi m dos anos 60 diante do maior acesso das mulheres ao se tor terciário e aos grupos profi ssionais que lhes eram até então interditados os trabalhos têmse apoiado na feminização de um ofício ou de uma pro fi ssão Estes se interrogam qual o sentido atribuído à noção de feminização Zaidman 1986 que remete tanto ao crescimento do número de mulheres num determinado grupo profi ssional em pequeno ou grande número como aos efeitos desse crescimento numérico em termos de transformação ou reprodução das relações sociais entre os sexos e das práticas profi ssio nais A noção de feminização está associada a diversas representações so ciais Ela pode ser analisada como uma subversão Zaidman 1986 um desregramento do sistema social quando por exemplo mulheres entram em pequeno número nas concentrações masculinas assimiladas a setores de Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 163 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 163 18102009 192535 18102009 192535 164 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER poder Ela pode ser ao contrário interpretada como uma vitória das mu lheres em sua luta pelo acesso à igualdade em direitos e em número no caso de uma entrada massiva das mulheres num grupo profi ssional Em outros casos ainda o processo de feminização pode ser analisado em relação à desvalorização de um exercício profi ssional e a uma perda de prestígio Desde o fi m dos anos 90 algumas pesquisas se orientam mais para o estudo dos mecanismos sociais e econômicos que estão na origem das novas formas de divisão sexual do trabalho levando em conta uma multiplicidade de fatores como a evolução das representações sociais Cacouault 1987 as transformações estruturais Mary 1989 J Collin 1992 a infl uência dos contextos nacionais Cacouault 1987 Mary 1989 Le Feuvre Walters 1993 as transformações da organização do trabalho Cacouault 1987 Picot 1995 assim como as mudanças relacionadas à instituição familiar Estudos sobre a masculinização de grupos profi ssionais permitem predizer uma ampliação dos questionamentos inclusive sobre a noção de feminiza ção CacouaultBitaud 1999 Picot 2000 Na sociologia dos grupos profi ssionais os fenômenos de masculinização e feminização não são sempre levados em conta quando se busca compreen der a evolução de um grupo profi ssional Apesar de sua importância per manecem elementos marginais ou ignorados nas análises Na sociologia das relações sociais de sexo o sentido a ser atribuído ao termo profi ssão no contexto anglosaxão ou francês é um debate teórico ainda por ser feito A novidade desse debate provém do acesso recente das mulheres a meios profi ssionais mais privilegiados e mais valorizados socialmente Cacouault Marlaine Prof cest bien pour une femme Le Mouvement social juillet septembre 1987 n140 p107119 Collin Johanne Les femmes dans la profession phamaceutique au Québec rupture ou continuité Recherches feministes 1992 v5 n2 p3156 Le Feuvre Nicky Walters Patricia Égales en droit La féminisation des professions juridiques en France et en GrandeBretagne Sociétés contemporaines 1993 n 16 p4162 Marry Catherine Femmes ingênieurs une irrésistible ascension Informa tion sur les sciences sociales juin 1989 voto 28 n2 p291344 Picot Geneviève Le rapport entre médecin et personnel infi rmier à lhôpital public con tinuités et changements Cahiers du Genre Paris 2000 n26 Zaidman Claude La notion de féminisation de la description statistique à lanalyse des comportements in Nicole Aubert Eugene Enriquez Vincent de Gaulejac dir Le sexe du pouvoir Femmes hommes et pouvoirs dans les organisations Paris Desclée de Brouwer 1986 p281289 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 164 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 164 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 165 Bico Job Bico job é um termo que nas sociedades ocidentais contemporâneas remete à fragmentação da relação salarial de que a diversifi cação das for mas e dos estatutos de emprego é um dos aspectos Na França a palavra job não remete nem a uma apelação jurídica nem em Ciências Sociais a um conceito ou uma noção diferentemente dos tra balhos anglosaxões é uma categoria resultante da prática pouco usada por pesquisadoras e pesquisadores que preferem a expressão pequenos expedientes petits boulot Se o termo job remete na Inglaterra do século XIV a um pedaço ou uma peça qualquer que possa ser arrastada Sennet 1998 p9 hoje ele faz parte de um linguajar familiar de origem inglesa que se refere desde os anos 50 a um trabalho emprego remunerado consi derado sobretudo em função dos recursos que proporciona e em seguida toda ocupação profi ssional Grand dictionnaire des lettres Larousse 7 vols 1986 Atualmente esse termo não denomina nenhuma realidade de emprego nas representações de jovens de zonas urbanas de ambos os sexos em co meço de vida ativa mas é um espaço intermediário plural de empregos em contraposição a um emprego de tempo integral com duração indetermi nada e com um só empregador inserido para os jovens de sexo masculino num jogo de oposição entre diferentes práticas informais entre as quais o trabalho informal e um emprego de duração indeterminada ele se reveste para as jovens do sexo feminino de uma diferenciação entre trabalho in formal trabalho doméstico e emprego de duração indeterminada Mesmo tornando visível um estatuto o de trabalhador ou trabalhadora não fornece perspectiva de carreira e remete a momentos diferentes das trajetó rias dos jovens de ambos os sexos Para as moças tratase de uma remuneração por um terceiro que trans forma em job tarefas do âmbito da esfera doméstica ensinar crianças versus ser babá temporária cuidar de ascendentes versus auxiliar pessoas idosas Alguns trabalhos que procuraram defi nir os pequenos expedientes a partir de uma abordagem descritiva revelaram uma realidade plural em termos de estatutos condições de emprego e setores de atividade mas sem propor uma defi nição unívoca Assim os bicos dizem respeito a ativi dades declaradas ou não sobretudo no âmbito dos serviços à pessoa Ème Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 165 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 165 18102009 192535 18102009 192535 166 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER e Laville 1988 Para outros estudiosos eles pertencem exclusivamente à esfera do trabalho profi ssional e legal no setor terciário primário ou se cundário Elbaum 1987 Nesse inciso da Divisão Emprego do INSEE que é interessante mencionar pois esse organismo participa na França da elaboração de nomenclaturas é a atividade reduzida caracterizada pelo critério dos horários de trabalho que defi ne os pequenos expedientes Distinguemse quatro tipos Os horários reduzidos e regulares os horá rios reduzidos e instáveis os contratos de trabalho temporário de curta du ração e as atividades episódicas ou marginais O trabalho temporário os estágios e também o trabalho em tempo parcial com contrato de duração indeterminada fazem parte dos pequenos expedientes nessa defi nição Para Chantal NicoleDrancourt 1991 eles têm um carater provisório e amador e dizem mais especifi camente respeito aos primeiros tempos da in serção juvenil É interessante ressaltar esse ponto pois para NicoleDran court as diferentes formas de emprego temporário não são equivalentes em razão principalmente de uma articulação diferente segundo o gênero e o momento biográfi co É nos anos 80 e 90 que se difundem os termos job e pequenos expedien tes nos escritos sociológicos para se referir a uma realidade diferente do em prego estudantil Eles são todavia pouco formalizados e questionados em relação à divisão sexual do trabalho Estamos num contexto de amplas trans formações do aparato produtivo O crescimento do desemprego se mantém A ruptura da norma de emprego construída no pósguerra as mudanças nas políticas públicas de emprego e o desenvolvimento do setor terciário têm consequências sobretudo para as mulheres que se mantêm no mercado de trabalho após uma intensifi cação de sua entrada no assalariamento O termo job pertence ao entrecruzamento de debates sociais e políticos sobre a diversifi cação das formas de emprego a inserção e a precarização Em meados dos anos 80 propõese a ideia de que esses pequenos expe dientes poderiam ser uma nova maneira de articular o econômico e o so cial assim como uma resposta inovadora aos desafi os da precariedade e do desemprego Ème e Laville 1988 Os trabalhos sobre os pequenos expedientes e mais amplamente so bre a diversifi cação das formas de emprego Coletivo 1989 e o trabalho das mulheres Lagrave 1992 sublinham a segmentação sexuada dos mer cados de trabalho e uma sexuação dessas formas de emprego que não supri Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 166 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 166 18102009 192535 18102009 192535 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 167 mem as lógicas geracionais Assim são principalmente jovens e mulheres que se encontram nesses espaços e nesses períodos que se prolongam para as menos qualifi cadas dentre elas Atualmente num debate sobre as fontes potenciais de empregos as orien tações das políticas públicas de emprego e os discursos empresariais ten dem a um processo de institucionalização desses pequenos expedientes num processo que reproduz a mais tradicional divisão sexual do trabalho O que ainda provoca debate é menos a defi nição dos pequenos expedien tes e bicos e mais a interpretação que deve ser dada a seu desenvolvimento e seus objetivos Um dos desafi os hoje é refl etir sobre a construção social se xuada dos empregos e denunciar a ideologia que sustenta o discurso sobre a repartição do trabalho entre homens e mulheres Hirata Senotier 1996 Categorias socioprofi ssionais Desemprego Divisão sexual do trabalho e relações so ciais de sexo Emprego Flexibilidade Técnicas e gênero Trabalho o conceito de Coletivo Évolution des formes demploi Paris La Documentation française 1989 280p Atas do colóquio da revista Travail et emploi 3 e 4 de novembro de 1988 Elbaum Mireille Les petits boulots Plus dun million dactifs en 1987 Économie et statistiques 1987 n205 p4958 Ème Bernard Laville JeanLouis Les petits boulots en question Paris Syros Alterna tive 1988 231p Hirata Helena Senotier Danièle Dirs Femmes et partage du travail Paris Syros Al ternatives sociologiques 1996 281p Lagrave RoseMarie Une émancipation sous tutelle Éducation et travail des femmes au XXe siècle in George Duby Michelle Perrot dirs Histoire des femmes en Occident 1992 t5 cf Referências bibliográfi cas p43061 Nicole Drancourt Chantal Le labyrinthe de linsertion Paris La Documentation fran çaise 1991 407p Traduzido por FRANCISCO RIBEIRO SILVA JÚNIOR Paridade Hélène Le Doaré O termo paridade designa uma representação igual de mulheres e homens nas instituições da República compostas por meio de eleições O termo está associado a outra noção que torna mais explícita sua vinculação Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 167 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 167 18102009 192536 18102009 192536 168 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER exclusiva ao campo do político a noção de democracia paritária A desigual dade dos sexos nos espaços de representação questiona os fundamentos da democracia representativa a paridade que em sua forma numérica é con cebida como uma modalidade específi ca da igualdade deveria contribuir para reassentar as bases de um sistema democrático que é explicitamente defi ciente uma vez que não foi capaz de integrar metade dos cidadãos Na França essa batalha que recentemente se tornou um preceito legislativo buscou se distinguir da reivindicação por cotas defendida pelos movimen tos de mulheres de numerosos países A noção de paridade do ponto de vista político surgiu no âmbito euro peu de fato foram iniciativas desenvolvidas em escala europeia que favo receram o impulso das mobilizações na França A expressão democracia paritária foi lançada num colóquio organizado em 1989 pelo Conselho da União Europeia em Estrasburgo a questão da igualdade entre homens e mulheres foi colocada como um pressupostoprerrequisito político Mu lheres com experiência de alta responsabilidade política como Simone Veil e Edith Cresson reuniramse em 3 de novembro de 1992 em Atenas a con vite da Comissão Europeia Diante da constatação de um défi cit democrá tico declararam que as mulheres representam mais da metade da popula ção A igualdade impõe a paridade na representação e na administração das nações Finalmente 1992 é o ano em que se difunde na França a palavra paridade com a publicação do livro de Françoise Gaspard Claude Ser vanSchreiber e Anne Le Gall Uma maioria política a partir de uma palavra de ordem feminista contestada A reivindicação da paridade tem uma história relativamente curta pois sua fase de elaboração política se conclui com o voto do Congresso que reúne a Assembleia Nacional e o Senado em Versalhes a 28 de junho de 1999 Sua aplicação na forma de lista paritária nas eleições municipais de 2001 demonstrou ao mesmo tempo a efi cácia de uma imposição legal pois as conselheiras municipais representaram 47 dos eleitos haviam sido 25 em 1995 nos municípios com mais de 3500 habitantes e seus limites Com efeito se levamos em consideração o número de prefeitas eleitas 69 contra 3 em 1995 e a fraca representação de conselheiras nos executivos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 168 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 168 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 169 municipais que em geral recorriam à competência feminina percebe mos que as chaves do poder permanecem na mão dos homens que todavia controlam o acesso a outros escalões do poder político A reivindicação de paridade se desenvolveu inicialmente num ambiente feminista dividido Se essa reivindicação não suscitou uma real mobilização social em seu apoio teve sucesso no entanto ao convergir numa só corrente múltiplas formas de intervenção criação de uma associação de uma rede organização de co lóquios e seminários produção de ações de visibilidade como o Manifesto dos 577 publicado no jornal Le Monde em 10 de novembro de 1993 reivin dicando que a paridade se transformasse em lei Em que termos o movimento pela paridade defendeu seu projeto A rei vindicação da paridade segundo esse movimento integra um princípio e uma aposta O princípio As mulheres foram subtraídas em função de seu sexo do corpo político na origem da democracia e essa exclusão se instituiu como um princípio e é como mulheres numa relação de absoluta igual dade que elas devem estar presentes nas assembleias eleitas Gaspard in Nouvelles questions féministes 1994 p31 As mulheres não constituem uma categoria ou uma minoria mas um dos dois componentes do corpo social o estabelecimento de cotas se contrapõe ao princípio da igualdade A aposta no plano simbólico e no plano concreto É claro que a instau ração de assembleias paritárias subverte a imagem que todas as mulhe res fazem de si e cada uma de si mesma e de sua capacidade para assumir responsabilidades políticas Não há dúvida que essas subversões tornam senão caducas ao menos ilegítimas as discriminações persistentes pro duzindo como refl exo outras mutações apenas por sua força simbólica Viennot Nouvelles questions féministes 1994 p79 É uma aposta em relação às mulheres que supõe a abertura em direção a novos grupos de mulheres e a renúncia a uma aliança a priori com a esquer da Essa estratégia política se situa no interior das instituições existentes na perspectiva de uma mudança possível da vida política e para as mulheres Paralelamente iniciativas pontuais demonstram que a paridade entra pouco a pouco no debate e na cena política em setembro de 1995 Alain Juppé cria o Observatório da Paridade Em junho de 1996 LExpress pu blica o Manifesto das 10 em defesa da paridade no qual mulheres políticas provenientes de horizontes diversos propõem sete medidas para renovar a Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 169 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 169 18102009 192536 18102009 192536 170 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER prática do poder e da democracia Finalmente e principalmente o acesso igual de mulheres e homens aos mandatos e às funções tornase um desa fi o na vida dos partidos que transformam essa questão numa pedra angu lar da modernização das instituições Já nas eleições europeias de 1994 seis listas eram paritárias ou quase É preciso também dizer que a opinião pública parece manifestar sua adesão a essa demanda apesar de sua radi calidade As diversas sondagens revelam que em torno de dois terços das francesas e dos franceses aprovariam uma modifi cação da Constituição com o objetivo de introduzir como princípio geral a paridade homensmulheres Essa adesão majoritária bastante surpreendente pode se explicar pela es perança de uma renovação dos mecanismos da vida política esperança re forçada pela proposta de feminização do governo de Leonel Jospin levada a cabo com sucesso A história da reivindicação da paridade entra numa segunda etapa ao fi nal de 1998 desencadeada pela discussão na Assembleia Nacional e no Senado da lei adotada em junho pelo Conselho de Ministros da União Eu ropeia Após um vaivém entre a Assembleia que a votou por quase una nimidade e o Senado bastante reticente no dia 4 de março chegouse a um acordo entre as duas casas em relação à integração no artigo 3o A lei favorece o igual acesso de homens e mulheres aos mandatos eleitorais e às funções eletivas e no artigo 4o Os partidos políticos contribuem para implementar a paridade As discussões institucionais foram precedidas e posteriormente acom panhadas com repercussão inesperada pela imprensa em que mulheres e alguns homens se exprimem longa e apaixonadamente defendendo po sições teóricas que fundamentam ou invalidam a inserção da paridade no artigo 3o da Constituição De um debate interno à disputa pública A consignação da paridade tem fundamento como projeto político coerente em si Esse conceito de repartição entre homens e mulheres é para mim fi losofi camente insustentável mas é verdadeiro na prática ou seja é efi caz Esse comentário de Geneviève Fraisse no jornal LHumanité em 13 de fevereiro de 1996 evidenciou a existência de um duplo nível que explica a aguda natureza do debate impondo o deslocamento ambíguo de Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 170 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 170 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 171 uma estratégia a um fundamento fi losófi co do exercício compartilhado da cidadania ao pertencimento a uma humanidade única ou dual O debate no interior dos meios feministas é menos a expressão de posições contraditórias sobre a participação das mulheres na esfera política do que a tradução de duas visões da luta feminista O movimento pela paridade agluti na mulheres diversas para quem a participação no poder é um desafi o real ou virtual real para aquelas que aí estão ou almejam entrar e virtual para aque las que pensam que a divisão do poder político é uma das últimas grandes batalhas das mulheres O movimento pela paridade abrange uma estratégia limitada que tampouco se apoia sobre qualquer programa político de conjun to Aquelas que exprimem uma oposição a essa luta difi cilmente podemos evocar a existência de uma corrente antiparidade de fato têm pouco interesse por essa nova forma de contestação Elas se incluem na continuidade da luta feminista ancorada numa visão global da sociedade fundada sobre a crítica a todas as relações sociais e sobre a transformação renovada da divisão sexual do trabalho que está no cerne mesmo da dominação masculina À paridade algumas opõem a coexistência entre os sexos14 como uma estratégia de trans formação das relações sociais de sexo agindo em todos os níveis da sociedade No momento em que a paridade entra na arena das instituições o de bate contraditório La Piège 1999 desenvolvido durante o primeiro pe ríodo entre as militantes feministas que se referenciam em análises políticas diferentes transformase numa dinâmica de tomada de posições situadas em disciplinas científi cas Filosofi a Filosofi a política Psicanálise História etc cujos fundamentos explicariam além das opções políticas as diver gências proclamadas Os discursos e as condições dos discursos mudaram no entanto os temas que são objeto de controvérsia são fundamentalmente os mesmos e podem ser reduzidos a dois a defesa do universalismo e a acu sação de naturalismo O princípio da universalidade fundador da democracia é negado pela representação das mulheres como mulheres e essa negação coloca em risco o potencial igualitário da ideia republicana gerada pela noção de um indi víduo abstrato e da prevalência do interesse geral A subrepresentação das mulheres nada mais é que o exemplo mais fl agrante da subrepresentação 14 Nesta obra traduzimos mixité sem equivalente em português por coexistência entre os sexos A edição espanhola traduziu esse termo por grupos mixtos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 171 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 171 18102009 192536 18102009 192536 172 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER de uma série de grupos sociais Varikas in Nouvelles questions feministes 1995 p9015 todo grupo discriminado teria o direito de reivindicar ser re presentado O espaço democrático não seria mais que a expressão de inte resses particulares Os próparidade defendemse sobretudo de uma acusação de antirre publicanos As pragmáticas defendem como Michelle Perrot a ideia de uma paridade universalista o universal é um objetivo não uma realidade Le Monde 25 fevereiro de 1999 E as fundamentalistas como Sylvia ne Agacinski reivindicam uma humanidade universal dupla Le Monde 6 de fevereiro de 1999 O recurso a desvios linguísticos não contribuiu para que se abrisse um diálogo A paridade é um retorno a uma concepção naturalista das mulheres uma vez que sua presença por si mesma seria naturalmente uma força transformadora das regras do jogo político O pensamento essencialista ligado a Luce Irigaray aparece pouco nesse deba te mas a introdução da diferença entre os sexos defi nida em particular pela maternidade para lastrear uma dualidade da espécie humana é vista como uma regressão intolerável por algumas intelectuais e por numerosas femi nistas que lutaram contra a ideia de uma natureza feminina As defenso ras da paridade como estratégia argumentam que se apoiam na igualdade como horizonte e não sobre a diferença como princípio A inscrição da paridade no artigo 4o da Constituição como uma medida obrigatória aos partidos políticos poria fi m ao debate Mas o compromisso político no sentido próprio do termo signifi cava um alinhamento às posi ções de um Senado sob maioria do RPR Reagrupamento pela República Por sua amplitude midiática o debate possibilitou a entrada de uma nova noção na linguagem comum superou os limites do jogo político e dos círculos de refl exão feministas no mínimo relembrando ao conjunto da so ciedade a existência de desigualdades entre homens e mulheres A solução constitucional marca uma mudança importante na formalidade jurídica mas o consenso majoritário nos faz pensar que ela deixará intactos os meca nismos das relações sociais entre os sexos Cidadania Coexistência dos sexos Diferença dos sexos teorias da Igualdade Movi mentos feministas Poderes Sexo e gênero Universalismo e particularismo 15 Publicado no Brasil em Estudos Feministas v4 11996 p6594 Refundar ou reacomodar a democracia Refl exões críticas acerca da paridade entre os sexos NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 172 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 172 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 173 Cahiers du GEDISST 1996 n17 Principes et enjeux de la parité 96p Gaspard Françoise ServanSchreiber Claude Le Gall Anne Au pouvoir citoyennes Liberté égalité parité Paris Seuil 1992 184p MossuzLavau Janine Femmeshommes pour la parité Paris Presses de Sciences Po 1998 128p Nouvelles questions féministes 1994 v15 n4 La parité pour 90p Nouvelles questions féministes 1995 v16 n2 La parité contre 140p Le piège de la parité Arguments pour un débat Paris Hachette 1999 253p Traduzido por TATAU GODINHO Patriarcado teorias do Christine Delphy Patriarcado é uma palavra muito antiga que mudou de sentido por volta do fi m do século XIX com as primeiras teorias dos estágios da evo lução das sociedades humanas depois novamente no fi m do século XX com a segunda onda do feminismo surgida nos anos 70 no Ocidente Nessa nova acepção feminista o patriarcado designa uma formação social em que os homens detêm o poder ou ainda mais simplesmente o poder é dos homens Ele é assim quase sinônimo de dominação masculina ou de opressão das mulheres Essas expressões contemporâneas dos anos 70 re feremse ao mesmo objeto designado na época precedente pelas expressões subordinação ou sujeição das mulheres ou ainda condição feminina Antes do século XIX e da aparição de um sentido ligado à organização global da sociedade o patriarcado e os patriarcas designavam os dignitários da Igreja seguindo o uso dos autores sagrados para os quais patriarcas são os primeiros chefes de família que viveram seja antes seja depois do Dilú vio Esse sentido ainda é encontrado por exemplo na Igreja Ortodoxa na expressão o patriarca de Constantinopla História semântica Esse sentido religioso é o primeiro a ser citado pelos dicionários fran ceses o sentido social só vai aparecer em segundo ou terceiro lugar Em Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 173 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 173 18102009 192536 18102009 192536 174 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER contrapartida os dicionários ingleses dão o sentido contemporâneo femi nista como primeira acepção Patriarcado vem da combinação das palavras gregas pater pai e arkhe16 origem e comando Essa raiz de duplo sentido se encontra em ar caico e monarquia Para o grego antigo a primazia no tempo e a autoridade são uma só e a mesma coisa Portanto o patriarcado é literalmente a autoridade do pai Como o pai é forçosamente o primeiro e a origem em relação às gerações seguintes a adi ção de pater com arkhe redobra a autoridade da origem considerada uma evidência no termo arqui e evidente na palavra grega archontes descen dentes das primeiras famílias instaladas num lugar e dirigentes da comuni dade Mas a palavra pater em si a mesma em sânscrito grego e latim não designa o pai no sentido contemporâneo Esse papel é preenchido pelo geni tor genitor A palavra pater tinha um outro sentido Na língua do Di reito aplicavase a todo homem que não dependia de nenhum outro e que tinha autoridade sobre uma família e um domínio Fustel de Coulanges 1864 A palavra patriarcado comporta portanto triplamente a noção de autoridade e nenhuma noção de fi liação biológica São Morgan e Bachofen que lhe dão seu segundo sentido histórico aquele que se manterá até os anos 70 Eles postulam a existência de um direito materno que teria sido substituído pelo direito paterno explicita mente chamado por Bachofen de patriarcado Ele é seguido por Engels e depois por Bebel 18931964 Antes das denúncias dos autores socialistas encontrase bastante o ad jetivo patriarcal em autores do século XIX utilizado de maneira elogiosa em expressões como as virtudes patriarcais a saber a simplicidade dos costumes a frugalidade a vida no campo A palavra denota pequenas co munidades agrícolas compostas de unidades familiares de produção cada uma sob o cajado de seu antepassado sendo a vida comunitária regida pela reunião dos ancestrais dos chefes de família Para os autores essa é a ima gem de uma idade de ouro que eles opõem à corrupção e à decadência pro vocadas pela vida na cidade pela indústria e pelo assalariamento A mesma imagem de uma sociedade composta de famílias sob a autori dade de um pater familias e a mesma palavra que evocam para os autores 16 Raiz abonada pelo Dicionário Houaiss versão eletrônica 2003 verbete patriarcado NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 174 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 174 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 175 dos séculos XVIII e XIX uma idade de ouro tornamse uma acusação para as feministas do século XX Atribuise a invenção do terceiro sentido o sentido feminista contem porâneo a Kate Millet em Sexual politics Política sexual 1971 Esse terceiro sentido está em clara continuidade com o segundo Mas diferen temente dos autores socialistas ainda que Engels seja discutido até muito antes nos anos 70 as feministas a exemplo de Simone de Beauvoir não creem na existência de um matriarcado original e a maioria não se interessa pelas teorias evolucionistas desacreditadas pelas atuais Ciências Sociais Pai ou marido é tudo igual diz implicitamente a defi nição feminista E é na verdade o caso de nossas sociedades como da sociedade antiga que criou a palavra Isso é entretanto a fonte de uma das objeções corren tes contra a utilização de patriarcado para designar os sistemas que oprimem as mulheres A palavra exata dizem aqueles e aquelas que le vantam essa objeção deveria ser viriarcado Na verdade em certas socie dades o marido e o pai são distintos é o tio materno que detém a autoridade paterna sobre os fi lhos nas famílias Mas essa objeção se funda num con trassenso etimológico pois assimila o pai ao genitor utilizando pater como pai no sentido moderno O sentido dado pelas feministas prevaleceu e é compreendido que a palavra designa a dominação dos homens quer se jam eles pais biológicos ou não Essa acepção está integrada ao mais recente dos dicionários ingleses usuais Collins Thesaurus 1987 A form of social organization in which a male is the head of the family and descent Uma forma de organização social na qual um macho é o chefe da família e de sua descendência Patriarcado e teorias feministas O patriarcado é rapidamente adotado pelo conjunto dos movimentos feministas militantes nos anos 70 como o termo que designa o conjunto do sistema a ser combatido Em relação a seus quase sinônimos dominação masculina e opressão das mulheres ele apresenta duas características por um lado designa no espírito daquelas que o utilizam um sistema e não relações individuais ou um estado de espírito por outro lado em sua argumentação as feministas opuseram patriarcado a capitalismo o Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 175 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 175 18102009 192536 18102009 192536 176 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER primeiro é diferente do segundo um não se reduz ao outro Isso se reves te de uma grande importância política num momento de reemergência do feminismo em que as militantes são confrontadas a homens e mulheres de organizações políticas para quem a subordinação das mulheres não é mais que uma das consequências do capitalismo Patriarcado ou capitalismo patriarcado e capitalismo tais são os termos dos debates mais importantes entre osas partidáriosas de uma luta fe minista autônoma e osas partidáriosas de uma luta feminista sujeita às organizações políticas anticapitalistas Esses debates perdem seu vigor nos anos 80 por duas razões as organizações de extrema esquerda se resig naram à multiplicidade de frentes e renunciaram à distinção entre luta principal e luta secundária também perderam sua força com a crise do militantismo que terminou por atingir também o movimento feminista no começo dos anos 80 Por conseguinte essas lutas perdem seu impacto até desaparecerem nos anos 90 Os estudos feministas aparecem no fi m dos anos 70 na França e pare cem a expressão da força do movimento feminista mas muito rapidamen te tornase aparente que de fato coincidem com seu enfraquecimento Elas herdam conceitos forjados pelo movimento militante mas sua legí tima vontade de construir um lugar próprio nas esferas do conhecimento levaos frequentemente a eufemizar seu vocabulário para se distinguir do militantismo Nos Estados Unidos e na GrãBretanha em contrapartida os estudos feministas foram menos tímidos porque foram menos combatidos Tam bém se encontra a palavra patriarcado não somente nos panfl etos mi litantes mas também em todas as obras teóricas No entanto as mesmas linhas divisórias entre feministas de sensibilidade mais socialista e fe ministas de sensibilidade mais autônoma são aparentes no uso ou evitação do termo Um livro famoso editado por Zillah Eisenstein tenta tomar uma posição intermediária e conciliar as duas tendências como indica seu título Capitalist patriarchy and the case for socialist feminism Patriarcado capita lista e a defesa do feminismo socialista 1979 Outras feministas socialistas norteamericanas como Heidi Hartmann 1981 não têm escrúpulos em utilizar o termo patriarcado nem em considerálo um sistema distinto do capitalismo Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 176 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 176 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 177 Patriarcado gênero relações sociais de sexo Na França os debates em torno da utilização do termo têm em parte as mesmas razões Às vezes o termo patriarcado levanta objeções frequen temente da parte das mesmas pessoas que se opõem mais tarde ao empre go do conceito de gênero As razões dessas reticências são às vezes claras elas denotam a adesão a uma teoria que privilegia o capitalismo no caso do patriarcado e a uma teoria que privilegia a diferença natural dos sexos no caso do gênero Mas às vezes essas reticências parecem manifestar uma hostilidade irracional contra aquilo que é visto como uma importação do exterior As sociólogas feministas criaram termos como relações sociais de sexo que são unicamente franceses e intraduzíveis em outra língua Esse termo agora o mais utilizado em Sociologia foi inicialmente conce bido como uma alternativa a patriarcado julgado insatisfatório e mais tarde ao termo gênero Uma outra objeção a patriarcado é sua generalidade podese reprová lo por universalizar uma forma de dominação masculina situada no tempo ou no espaço ou então correr o risco de cair na falha inversa de ser transhis tórico e transgeográfi co Alguns autores precisam o tempo e a localização de seu uso Delphy 1998 mas o uso atemporal também é legítimo se não con ceder poder explicativo ao termo e patriarcado for empregado de maneira descritiva Assim numa obra voltada aos feminismos não ocidentais Chan dra Mohanty Ann Russo Lourdes Torres 1991 utilizamno vinte vezes O termo patriarcado continua a ser muito usado na língua inglesa Ele é encontrado abundantemente tanto em obras recentes Walby 1986 1990 como num manual de sociologia da família britânica D Morgan 1985 em francês segundo uma sondagem efetuada sobre a base Francis por Nicole Girard entre 1984 e 1996 ele foi utilizado em 47 revistas di ferentes quase todas francesas com cerca de três exceções de Sociologia Estudos Culturais Antropologia e Arqueologia Parece portanto ampla mente aceito nos anos 80 e 90 Entretanto nos países de língua inglesa compete hoje no domínio dos estudos feministas com o conceito de gênero que tem diferentes acep ções com frequência gênero designa apenas a variável sexo mas possui também a acepção de sistema sistema de gênero Só o contexto da frase Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 177 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 177 18102009 192536 18102009 192536 178 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER ou do parágrafo distingue essas acepções Não mais que outros termos de Ciências Sociais os termos patriarcado gênero ou sistema de gêne ro relações sociais de sexo ou relações sociais de gênero ou qualquer outro termo suscetível de ser empregado em seu lugar não têm defi nição estrita e tampouco uma com a qual todos estejam de acordo Esses três termos ou conceitos têm entretanto em comum o fato de pretenderem descrever não atitudes individuais ou de setores precisos da vida social mas um sistema total que impregna e comanda o conjunto das atividades humanas coletivas e individuais Assim os três termos têm a mesma pretensão à generalidade e a mesma denotação de organização que não é absolutamente casual No conjunto do léxico feminista tanto militante como científi co eles se completam e opõem a termos como sexismo ou machismo que denotam mais o nível das atitudes eou das relações interindividuais São igualmente mais conceituais ou teóricos que dominação masculina ou opressão das mulheres Enquanto estes últimos se contentam em fazer uma constatação uma constatação orientada evidentemente os termos precedentes visam o nível subjacente explicativo implicando no mínimo a existência de um sistema sociopolítico Os termos podem ser tanto opostos como tomados como sinônimos ou ainda como complementares cada um deles quando são todos utilizados esclarecendo e enfatizando de modos um pouco diferentes o mesmo fenômeno Dominação Família Movimentos feministas Poderes Sexo e gênero Bebel August La femme et le socialisme Paris Éditions du Globe 1964 543p Édition originale en allemand 1893 Coulanges Fustel de La Cité antique Paris Hachette 1864 525p Delphy Christine Lennemi principal Économie politique du patriarcat Paris Syllepse Nouvelles questions féministes 1998 293p Hartmann Heidi The Unhappy Marriage of Marxism and Feminism in Lydia Sargent Ed Women and Revolution a Discussion of the Unhappy Marriage of Marxism and Feminism Boston South End Press 1981 p141 Mohanty Chandra Russo Ann Torres Lourdes Third World Women and the Politics of Feminism Bloomington University of Indiana Press 1991 331p Walby Sylvia Theorizing Patriarchy London Blackwell 1990 229p Traduzido por FRANCISCO RIBEIRO SILVA JÚNIOR Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 178 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 178 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 179 Pesquisas de opinião17 HélèneYvonne Meynaud Desde as grandes pesquisas do INSEE18 recenseamento populacional pesquisas setoriais até as pesquisas de opinião realizadas pelos institutos especializados em todos os casos o tratamento dos dados quantitativos re quer uma leitura crítica Esta pode tratar a construção simbólica das de sigualdades entre homens e mulheres e fornecer uma análise das relações sociais sexuadas A palavra sondagens criada por Jean Stoetzel em 1938 Stoetzel 1948 designa um novo método de coleta e tratamento de dados quantitati vos Sua história começa na França com a criação do IFOP Instituto Fran cês de Opinião Pública A sondagem é um dos instrumentos de observação da realidade social a amostra é uma espécie de modelo reduzido da popula ção em questão à qual se pede que dê uma opinião sobre valores atitudes comportamentos práticas A opinião assim condensada é uma construção social dependente das condições sociais nas quais ela se expressa Usos e interpretações sujeitos a controvérsias A pesquisa de opinião principalmente a sondagem eleitoral aproveitou o progresso dos métodos de investigação sociológica e a capacidade cres cente de oferta de serviços efi cientes por parte dos institutos de pesquisa Tornouse relativamente barata manejável rápida e polivalente quanto ao tratamento das respostas de uma população às mais diversas questões Mas continua sendo um instrumento delicado Pode facilmente sofrer desvios de interpretação ou uma simplifi cação escandalosa especialmente se esti ver a serviço de objetivos promocionais de curto prazo A utilização de sondagens ocasiona constantes controvérsias a respeito da coleta dos dados e sua interpretação produção e aplicação dos resultados 17 No original sondages Optamos por utilizar o termo equivalente pesquisas de opinião por ser de uso mais corrente no Brasil NT 18 Referese ao instituto governamental francês INSEE Institut National de la Statistique et des Études Économiques Instituto Nacional de Estatística e Estudos Econômicos equiva lente no Brasil ao IBGE NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 179 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 179 18102009 192536 18102009 192536 180 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER O que suscita debate e polêmica é a pretensão da pesquisa dita de opinião de identifi car e quantifi car opiniões cuja relação com as maneiras reais de pensar muito mais complexas não é esclarecida e nem geralmente ques tionada desempenhando então um papel ativo na formação de uma men sagem ideológica Pierre Bourdieu 1980 salientou que a opinião pública assim apresentada em jornais é um puro e simples artefato cuja função é dissimular que o estado da opinião num dado momento é um sistema de for ças de tensões e que não há nada mais inadequado para representar o estado da opinião do que uma porcentagem Essa abordagem crítica deu lugar a novas pesquisas signifi cativas Champagne 1990 Blondiaux 1998 É analisando com atenção o processo de formação de opiniões que com preendemos como as pesquisas realizadas por meio de questionários são passíveis de destacar um sentido precário e contextual ou ao contrário de propor interpretações que forçam deliberada ou inconscientemente esse sentido Embora já seja costumeiro as pessoas não fi cam indiferentes às pesquisas de opinião um número crescente delas se recusa a respondêlas diversos atores sociais e políticos reagem à publicação de pesquisas reali zadas em período próximo de uma eleição pesquisadores e universitários criticam corrigem e reutilizam as sondagens para fi ns de pesquisa etc A pesquisa de opinião está no cerne dos jogos de poder e de infl uência a ponto de exigir uma melhor regulamentação política nos planos intelectual ético e legal Análise das sondagens e relações sociais de sexo As sondagens utilizadas como atrativo para vender jornais apresentam frequentemente a opinião de um cidadão médio que tem posições media nas Assim Maryse Huet 1987 mostra que o caráter massivo do trabalho das mulheres é ocultado pelas sondagens que em geral apresentam o tra balho das mulheres como algo ocasional uma questão de aspiração indi vidual e aleatória ou mesmo a condenálo pelo seu caráter nocivo para a sociedade e que essas pesquisas são frequentemente realizadas com um propósito de enxugar a estrutura de uma empresa ou de fazer uma gestão ainda mais fl exível da mão de obra feminina Numerosas sondagens têm medido a aspiração de mulheres ao trabalho de tempo parcial construindo em geral uma representação natural dessa modalidade de trabalho Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 180 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 180 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 181 A escolha das palavras na formulação das perguntas é muito importan te porque às vezes permite ocultar estratos e opiniões muito divergentes Por exemplo nas sondagens sobre a guerra na Iugoslávia na primavera de 1999 questionaram as pessoas sobre a intervenção da OTAN e não sobre os bombardeios e foi gerado um só resultado não estratifi cado socialmente O resultado ligeiramente positivo de tais sondagens quase diárias permitiu justifi car dia após dia a continuação da guerra Ao contrário uma son dagem com amostra nacional representativa do LibérationCSA de 67 de abril de 1999 indicava que 54 dos franceses não confi am no governo americano para encontrar uma solução justa e duradoura no Kosovo e que 75 dos altos executivos consideram a infl uência dos Estados Unidos na Europa muito importante Na maioria das pesquisas o indivíduo é questionado como se ele fos se universal Folheando as páginas de uma pesquisa sobre o trabalho nem sempre se pode saber o sexo dos trabalhadores aos quais se faz referência Quanto ao futuro das meninas era outra história A infl uência positiva das mães trabalhadoras sobre o destino das suas fi lhas e fi lhos é hoje igualmente mensurada e a triagem por sexo tornouse mais frequente Assim numa sondagem CSACGT de maio de 1998 se a opinião do francês médio é que na sociedade francesa homens e mulheres são desiguais 62 notase que essa é a opinião de 55 dos homens e de 67 das mulheres de 74 dos altos executivos e de 48 dos agricultores Outra forma insidiosa da presença de uma mensagem ideológica no cer ne de uma sondagem sem que as questões sejam abertamente distorcidas aparece quando reunimos uma série de pesquisas sobre temas próximos e observamos a qual universo de problemas se dá preferência Foi isso que fi zeram num trabalho muito esclarecedor duas pesquisa doras do Boston College HesseBiber e Brustein 1981 Elas examinaram 3361 perguntas feitas nos Estados Unidos entre 1936 e 1973 documenta ção do Roper Public Opinion Research Center Aproximadamente 10 dessas perguntas diziam respeito aos papéis de homens e mulheres Veri fi couse que as questões sobre profi ssões eram feitas basicamente em rela ção aos meninos e muito raramente em relação a meninas e jovens do sexo feminino Da mesma maneira as questões relativas à política e a ações de comando diziam respeito a homens em cerca de 144 casos a mulheres em cerca de sete casos e a ambos os sexos em apenas um caso Simetricamen Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 181 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 181 18102009 192536 18102009 192536 182 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER te as questões relativas a homens associavamnos a posições dominantes eou de prestígio como a política os negócios a educação e a pesquisa ao passo que quando se perguntava sobre o papel das mulheres era para saber se consumiam bebidas alcoólicas se deviam trabalhar como garço netes com pouca roupa se ainda deviam permanecer virgens até o casa mento Não havia estranhamente nenhuma questão desse tipo sobre os homens Além disso o conteúdo das perguntas não parece ter mudado ao longo dos anos quando na realidade os papéis sociais das mulheres ameri canas mudaram signifi cativamente As sondagens continuaram como por inércia a agir como se as mulheres não estivessem trabalhando como se valorizassem sobretudo as atividades domésticas ou ainda como se atuassem apenas em profi ssões subalternas Dessa forma as sondagens contribuíam claramente para retardar o debate social sobre a igualdade profi ssional Tais exemplos existem também na França Eric Dupin 1990 menciona uma série de sondagens IFOP sobre o feminismo A primeira em junho de 1985 IFOPMinistério dos Direitos da Mu lher indicou que os franceses consideram a existência de um Ministério dos Direitos da Mulher totalmente ou de preferência necessário 77 homens 74 mulheres 78 o que não impediria esse Ministério de desaparecer A segunda realizada por LHumanitéDimanche em fevereiro de 1987 respondia à pergunta Quando falamos hoje da liberação da mulher você acha que essa é uma realidade ultrapassada 16 que há ainda muito a fa zer 55 que está conquistada 13 com 13 de sem opinião Quan do haverá uma pergunta para Quando falamos da dominação masculina hoje A terceira em 1988 indica uma adesão em massa à questão Em 2000 você aceitaria ou acharia normal que uma mulher fosse eleita Presidente da República 91 favoráveis Por que jamais perguntar à opinião pública se ela deseja continuar a eleger homens e por que jamais apresentar uma mulher presidenciável Na época das eleições regionais na França em março de 2004 o fenô meno da diferenciação política dos gêneros se afi rma ao passo que as diver gências de opinião política se equalizavam dentro de categorias socioprofi s sionais equivalentes Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 182 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 182 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 183 Por outro lado as sondagens são utilizadas no debate político em tor no das desigualdades entre homens e mulheres Numa sondagem CSA OpinionCGT sobre as mulheres a igualdade na sociedade e o traba lho sondagem nacional representativa realizada entre 20 e 22 de maio de 1998 percebemos que se 49 dos franceses acham que o nível de salários deve ser reequilibrado em favor das mulheres essa é a opinião de 46 dos homens É com base na leitura de tais resultados que os deputados podem adotar com maior rapidez textos da lei sobre a paridade ou a igualdade profi ssional Assim diante de qualquer pesquisa de opinião é preciso perguntar a qual causa política econômica ou científi ca ela serve Categorias sócioprofi ssionais Blondiaux Loïc La fabrique de lopinion Une histoire sociale des sondages aux ÉtatsUnis et en France 19351965 Tese de doutorado IEP 1994 Paris Seuil 1998 601p Bourdieu Pierre Lopinion publique nexiste pas in Questions de sociologie Paris Minuit 1980 p222235 Champagne Patrick Faire lopinion le nouveau jeu politique Paris Minuit 1990 312p HesseBiber Sharlene J Burstein I The Second Sex Womens Place in Polling Language Qualitative Sociology Verão 1981 v4 2 p126144 Huet Maryse Le travail des femmes dans les sondages dopinion un questionnement sous infl uence in La mixité du travail une stratégie pour lentreprise Paris La Docu mentation française Cahiers Entreprises 1987 p4650 Meynaud HélèneYvonne Duclos Denis Les sondages dopinion La Découverte Re pères 1996 3e ed 127p Traduzido por NAIRA PINHEIRO Poderes Michèle RiotSarcey Classicamente o poder é pensado em termos do exercício de governo ou comando Distinto de potência virtude do homem manifestação de sua inteligência que Spinoza defi ne pelo simples esforço de perseverar em seu ser o poder de um então se desdobra até os limites do direito natural do outro Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 183 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 183 18102009 192536 18102009 192536 184 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Do poder como da potência as mulheres são excluídas pelo princípio de sujeição que as liga a seus maridos A liberdade a independência privilé gios masculinos condições de acesso ao poder são igualmente obstáculos para proibir às mulheres o direito de desfrutar naturalmente das virtudes essenciais do homem Como a potência supõe a posse as mulheres sob o poder de seus maridos não podem desfrutar naturalmente de um direito igual ao dos homens Spinoza A ética apud Duroux 1992 p105 Com o advento da era das revoluções é difícil manter as mulheres num estado de dependência sem buscar construir uma simetria compatível com os princípios das declarações de direitos No século XIX sobretudo as mulheres são dotadas de uma potência cuja signifi cação difere do sentido precedente não se trata de uma potência estreitamente vinculada à inteli gência mas de uma potência mais misteriosa mais obscura e até mais per niciosa As mulheres que potência escreveu Michelet Segundo Balzac nas classes inferiores a mulher é não somente superior ao homem mas também ela governa sempre Perrot apud Duby Perrot 1992 t4 p214 A modernidade sem perturbar a hierarquia obriga a repensar o poder Não se trata mais simplesmente de analisar seu exercício do ponto de vista do Príncipe ou do Estado mas de compreender o sistema por meio das rela ções entre parceiros individuais e coletivos de Hegel a Foucault Defi nido como um modo de ação o poder se torna elemento constitutivo das so ciedades que não se pode conceber sem a resistência que ele engendra No entanto a interação entre poder e resistência não é sempre perceptível pois a ordem dominante se reconstitui apagando os traços de sua contestação O que defi ne uma relação de poder é um modo de ação que não atua di reta e imediatamente sobre os outros mas que atua sobre sua própria ação Uma ação sobre a ação sobre ações eventuais ou atuais futuras ou presen tes Foucault 1984 p31213 Um poder político exclusivo O poder sua conquista ou sua conservação estão desde sempre no co ração de todas as lutas que tecem a trama das crises de todas as sociedades humanas nesse sentido a modernidade não constitui exceção RiotSarcey 1993 p9 Engajadas num mesmo desafi o as sociedades democráticas re novaram as regras do sistema de representação da soberania As mulheres Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 184 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 184 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 185 legalmente identifi cadas como minoria pelo Código Civil são afastadas dos espaços decisórios elas foram de fato inferiorizadas na distribuição dos papéis sociais Assim sucessivas autoridades reservaram a exclusividade do exercício do poder político ao sexo masculino Os poderes liberais republicanos ou socialistas elaboraram cada um por sua vez um dispositivo de exclusão compatibilizado com os direitos individuais pela construção de uma diferença supostamente natural Du rante a Revolução a Convenção se pronunciou bastante explicitamente contra a igualdade dos sexos 1 As mulheres podem exercer os direitos políticos e participar ativamente nos negócios do governo 2 Podem elas deliberar reunidas em associações políticas ou sociedades populares Sobre essas duas questões o comitê se decidiu que não Cada sexo é chamado a um tipo de ocupação que lhe é próprio sua ação é circunscrita a esse cír culo que ele não pode romper pois a natureza que colocou seus limites ao homem comanda imperiosamente e não reconhece nenhuma lei Relató rio Amar 30 de outubro de 1793 Num mesmo movimento em 1849 Pierre Joseph Proudhon considera do durante muito tempo um dos fundadores do socialismo contemporâneo descartou a candidatura de Jeanne Deroin às eleições legislativas precisa mente em nome dos interesses do socialismo A igualdade política dos dois sexos isto é a assimilação da mulher ao homem nas funções públicas é um dos sofi smas rejeitados não somente pela lógica mas também pela cons ciência e a natureza das coisas Le Peuple 12 de abril de 1849 É em vão que durante mais de um século e meio mulheres argumentaram em favor da igualdade real e da verdadeira universalidade de Mary Wollstonecraft em 1790 a Jeanne Deroin em 18481849 de Hubertine Auclert em 1879 a Alexandra Kollontaï na década de 1920 Desse ponto de vista não há ne nhuma exceção francesa Os obstáculos ao poder de fazer Todos os democratas esclarecidos consideraram justamente que direitos proclamados por todos sem o poder de exercêlos não eram mais do que engodos Essa questão essencial se apresentou às mulheres quando conse guiram obter o direito de cidadania O sufrágio realmente universal desde abril de 1944 na França por exemplo não permitiu às mulheres o acesso Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 185 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 185 18102009 192536 18102009 192536 186 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER em número signifi cativo ao estatuto de representantes Na medida em que do ponto de vista histórico a dependência de umas foi construída em pro veito da independência de outras as mulheres compreendidas dentro de uma coletividade assujeitada nunca estiveram em condição de agir como sujeitos políticos Sua atribuição ao lar foi a condição da liberdade do povo e o meio pelo qual o cidadão pôde aceder ao direito comum Essa dis simetria entre o poder de uns e a restrição da individualidade das outras foi legitimada pela substituição da universalidade de direito pela universalida de da natureza própria do gênero feminino que assim se tornou inapto às funções públicas As regras da democracia representativa em vigor até os nossos dias foram fundadas sobre essa partição exclusiva A entrada das mulheres na política nada mudou quanto aos mecanismos da representa ção reservada aos profi ssionais do poder que se atribuíram pontualmente algumas representantes O impossível poder de dizer De Rousseau a Kant de Kant a Hegel as mulheres continuam estranhas à elaboração fi losófi ca do pensamento moderno que preside à organização social e política das sociedades No coração desse dispositivo teórico o es tatuto de sujeito lhes escapa Nenhum dos pilares da teoria está nelas Elas são entretanto o pilar como causa do conjunto de todo o movimento dos pensamentos e atos no sentido em que a própria análise não se fomentou de outro modo Granoff 1976 p287 Assim colocadas no centro da fa mília as mulheres são a razão de existência da ordem social mas a própria formação de regras dessa ordem lhes escapa Também cada uma de suas palavras o essencial de seus discursos vis tos pelo crivo das regras do direito à expressão pública é mediada pelo sexo que as comanda Ao confundir o feminino com o materno privase as mulheres do direito e da possibilidade de intervir no campo do simbólico e batizase de feminino tudo aquilo que entre os homens diz respeito ao arcaísmo ao corpo à passividade ao não senso Marini 1992 p295 As palavras das mulheres são em geral encerradas entre o discurso de que elas são objeto e sua necessidade de se afi rmarem diferentes mas semelhantes em suas capacidades a seus homólogos masculinos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 186 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 186 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 187 O poder da língua se exprime pelo jogo de signifi cação de que se reves tem as palavras e os conceitos nos textos formadores de todo um povo A doxa tornase opinião comum apenas ao término de um processo de apro priação das palavras em proveito de uma causa jamais comum mas sempre a serviço de interesses particulares tal foi o destino da palavra liberdade essa palavra nômade que fez todos os ofícios segundo a frase de Paul Valéry O poder de dizer eu A categoria mulher pensada no não idêntico em relação ao universal masculino contém o modo de ser individual de cada mulher assim o singular é subentendido na identidade coletiva Essa forma de poder se exerce na vida cotidiana imediata que classifi ca os indivíduos em categorias designaos por sua individualidade própria ataos à sua identidade impõelhes uma lei de verdade que eles precisam conhecer e que os outros devem reconhecer neles Foucault 1984 p302 A mulher só pode aceder à autonomia transgredindo as normas do grupo por defi nição coercivas A identifi cação de uma às outras passa infalivel mente pelo modelo dominante e portanto pela heteronomia dos valores Entre o indivíduo que é dito e o sujeito responsável que se diz Ri coeur 1987 p556 abrese o caminho da liberdade que autoriza a exis tência do sujeito pelo poder de dizer eu A passagem do sujeito submisso a sujeito livre supõe o questionamento das formas do poder que se exerce sobre cada indivíduo O poder de dizer eu é também uma luta contra as for mas de sujeição contra a submissão da subjetividade de que as mulheres são especialmente vítimas Alcançar o estatuto de sujeito livre faz parte da aprendizagem do poder no respeito por si e pelo outro O poder do feminismo A mulher livre foi por muito tempo identifi cada com a mulher pú blica e portanto objeto de escândalo Anna Wheeler na Inglaterra Claire Demar na França na década de 1830 e muitas outras até Simone de Beau voir em 1949 suscitaram sarcasmo e rejeição porque ousaram questionar a hierarquia de sexo pacientemente enunciada e praticada pelas autoridades Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 187 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 187 18102009 192536 18102009 192536 188 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Filósofos teólogos juristas médicos moralistas pedagogos não ces saram ao longo dos séculos de dizer incansavelmente o que as mulheres deviam ser no interior de um espaço circunscrito por seu lugar e seus de veres Duby Perrot 1991 t1 p3 É por isso que o feminismo que pode se defi nir pelo combate a favor da igualdade é para as mulheres o meio de chegar tanto ao poder da palavra como ao poder da ação No entanto no sistema hierárquico existente na democracia representativa os lugares es tratégicos dos poderes de decisão permanecem nas mãos da elite masculina O feminismo não pode considerar acabada sua luta sem que sejam questio nados os dispositivos políticos existentes na maioria dos países ditos demo cráticos nos quais a igualdade enunciada é compatível com a desigualdade social Desta um dos fundamentos é constituída pela desigualdade de sexo Cidadania Dominação Igualdade Movimentos feministas Universalismo e particularismo Duby Georges Perrot Michelle Dir Histoire des femmes en Occident De lAntiquité à nos jours 5v Paris Plon 19901992 cf Bibliographie générale Duroux Françoise Des passions et de la compétence politique Les Cahiers du GRIF 1992 n46 Provenances de la pensée FemmesPhilosophie p103124 Foucault Michel Deux essais sur le sujet et le pouvoir in Hubert Dreyfus Paul Rabi now Michel Foucault un parcours philosophique Paris Gallimard 1984 366p Granoff Wladimir La pensée et le féminin Paris Minuit 1976 470p Marini Marcelle La place des femmes dans la production culturelle in Georges Duby Michelle Perrot Histoire des femmes en Occident 1992 t5 p275296 RiotSarcey Michèle Dir Femmespouvoirs Paris Kimé 1993 154p Anais do Con gresso Albi 1920 de março de 1992 Centre culturel de lAlbigeois Traduzido por FRANCISCO RIBEIRO SILVA JÚNIOR Políticas sociais e familiares Jacqueline Heinen As políticas sociais e familiares cobrem um espectro muito amplo de campos de ação do Estado indo da demografi a ao emprego passando pela saúde a educação e a moradia Elas implicam uma intervenção dos poderes públicos na esfera do privado Algumas têm um impacto mais específi co nas relações sociais de sexo É o caso entre outras das medidas adotadas no Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 188 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 188 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 189 domínio da reprodução humana aborto anticoncepção monitoramento da gravidez novas técnicas reprodutivas e todas aquelas que tratam do estatuto dos indivíduos e especialmente das mulheres na economia e na sociedade educação dos jovens salários aposentadoria transferências so ciais e serviços para as pessoas dependentes Historicamente ligadas às medidas de proteção social desenvolvidas desde o século XIX nos campos da família da demografi a da saúde e da educação as políticas sociais e familiares constituem uma dimensão essen cial do Estado de bemestar social welfare nos países industrializados so bretudo após a Segunda Guerra Mundial Elas ganharam um impulso espe cial com a generalização da atividade profi ssional e contínua das mulheres assim como a socialização do trabalho de reprodução desenvolvimento de creches e préescolas de residências para os idosos de estabelecimentos especializados para as pessoas com defi ciência etc Esse processo se concretizou em ritmos diversos conforme os países Além disso o próprio conteúdo das políticas colocadas em prática tem in cidências muito variáveis para as populações afetadas Desde o sistema de tipo universalista e igualitário que prevalece nos países escandinavos até o centrado na noção de assistência que caracteriza a GrãBretanha existem múltiplos modelos de welfare que apresentam diferenças perceptíveis Tais diferenças dependem tanto do peso do mercado e da extensão dos serviços mercantis como da participação das famílias em tudo o que se refere à re produção Por todos os lados entretanto fi ca evidente que o trabalho das mulheres permanece determinante nas atividades relativas à esfera familiar seja como profi ssionais assalariadas nas instituições do setor público ou privado ou como companheiras e mães Ao mesmo tempo as redes infor mais continuam a ter um papel primordial nesse campo Abordagens teóricas diferenciadas A posição desigual de homens e mulheres no âmbito dos sistemas de welfare mantevese durante muito tempo invisível nas teorias do Estado de bemestar social Tanto porque a maioria delas a de Marshall 1992 e a de EspingAndersen 1996 para citar apenas as mais conhecidas não refl etiam sobre o conceito de gênero como porque as pesquisas feministas pouco se interessavam pelo tema do Estado A situação mudou no fi nal dos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 189 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 189 18102009 192536 18102009 192536 190 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER anos 80 com o advento inicialmente nos países escandinavos e anglosa xões de trabalhos que acentuaram o papel do Estado na gestão da vida pri vada e na construção das identidades de sexo Sainsbury 1994 Zancarini Fournel 1995 1999 As contribuições das feministas e especialmente das historiadoras consistiram então em demonstrar que as mulheres estavam no coração da criação e depois da ampliação dos Estados de bemestar social Gordon 1990 Lefaucheur 1992 e que as políticas sociais tinham tido um papel decisivo na defi nição da cidadania Del Re e Heinen 1996 Os estudos feitos numa perspectiva internacional como os de Jenson 1986 e Jenson Sineau 1998 por sua vez trouxeram à luz que mais que os fatores eco nômicos são os fatores políticos que desempenharam um papel decisivo no desenvolvimento e na forma dos diversos tipos de sistemas construídos a partir dos anos 30 e 40 o confronto entre os modelos de bemestar euro peus e as políticas americanas é reveladora nesse sentido Esses trabalhos exerceram uma infl uência decisiva para a compreensão do Estado por parte de teóricos até então pouco sensíveis à dimensão do gênero Rosanvallon 1998 EspingAndersen 1996 em especial Contribuíram também para a formação de novos conceitos como o de cuidado care referente às res ponsabilidades para com pessoas dependentes Knijn e Ungerson 1997 Isso posto importantes divergências teóricas separam as abordagens fe ministas nesse âmbito Por seu turno as teorias marxistas e neomarxistas dos anos 70 e 80 Barrett 1980 Brenner 1984 McIntosh 1978 Wilson 1977 enfatizavam sobretudo o papel do Estado como agente do capitalis mo entendendose a família como o lugar da opressão das mulheres Al gumas análises oriundas dessa corrente Burstyn 1983 Eisenstein 1979 concentraramse principalmente na noção de patriarcado e sobre a articu lação entre capitalismo e patriarcado Por seu lado as feministas radicais dos países anglosaxões evitaram teorizar sobre o Estado ou quando o fi ze ram como MacKinnon 1989 foi para desenvolver a ideia de que o Estado é uma instituição masculina que refl ete o ponto de visto dos homens que se apoiam em normas masculinas consagradas como universais Já as análises da corrente pósmoderna prolongando o ponto de vista desenvolvido por Foucault recusam a ideia do caráter central do Estado Aos seus olhos o poder se encontra nas mãos de múltiplos atores em múltiplos lugares en tre os quais o Estado além de muitos outros É importante portanto cha Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 190 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 190 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 191 mar atenção para os mecanismos de poder mais do que para o Estado em si como instância específi ca No período recente mais que endossar esta ou aquela corrente teórica e tentar produzir modelos globalizantes as abordagens feministas têm subli nhado a necessidade de ressituar a emergência dos sistemas de bemestar no seu contexto nacional a fi m de compreender a especifi cidade das políticas estatais num determinado país ao mesmo tempo insistindo em dois pontos De um lado o interesse em compreender o caráter muitas vezes contradi tório das medidas adotadas ao longo de um mesmo período em função de relações de força instáveis e do impacto de um ou outro partido ou corrente política De outro a importância de reconhecer o papel desempenhado pe los movimentos de mulheres entre os atores políticos e institucionais que infl uenciam nas práticas e nas representações Nesse sentido confrontar os casos nos quais esses movimentos realizaram ações e conseguiram mudan ças essenciais em termos de políticas sociais com outros casos nos quais as mulheres atomizadas não conseguiram se fazer ouvir é bastante esclare cedor para entender as evoluções diferenciadas dos sistemas de um país a outro de uma época a outra Gautier et Heinen 1993 No conjunto essas análises deixam transparecer um quadro bastante díspare Percebese que o desenvolvimento do welfare contribuiu para in crementar o poder das mulheres na sociedade na medida em que elas apro veitaram a oportunidade de se expressar sobre questões que as tocam muito diretamente Como mostrou Siim 1996 isso permitiu que elas pudessem infl uenciar a confi guração e o conteúdo de políticas sociais e familiares Mas aparece também como sublinhado nas análises de Lewis 1998 ou Leira 1992 que o Estado muitas vezes preservou quando não acentuou as desigualdades de sexo por meio de sua intervenção ou sua não intervenção em medidas discriminatórias relativas às mulheres como as licenças para a educação de fi lhos defi nidas como licençamaternidade antes de serem reclassifi cadas como licençaparental ou o trabalho em tempo parcial re servado à mão de obra feminina Crise do welfare e desigualdades de tratamento Abordar a questão das políticas sociais e familiares pelo ponto de vista das relações sociais de sexo assume uma importância vital diante da crise Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 191 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 191 18102009 192536 18102009 192536 192 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER do Estado de bemestar social e das restrições orçamentárias que ela acar reta em todos os níveis em relação ao aumento do desemprego e ao im passe nos sistemas de aposentadoria Efetivamente esses retrocessos têm consequências de proporções desiguais para um ou outro sexo Pelo fato de ocuparem o escalão inferior na hierarquia dos salários e das aposentadorias mas também em função das tarefas cotidianas que desempenham no lar as mulheres como grupo pagam o preço mais alto da deterioração dos serviços de bemestar É importante contudo sublinhar que elas são atingidas de forma muito desigual segundo a origem social e o nível de educação As que são assalaria das em empregos terciários ou são executivas em estruturas do Estado ou do setor privado enfrentam difi culdades no que se refere a suas carreiras ou como usuárias de equipamentos coletivos Outras pouco qualifi cadas ou não qualifi cadas muitas vezes tendo perdido o emprego enfrentam obstáculos de uma outra ordem como usuárias das instituições de assistência social para elas e para quem depende delas são problemas de sobrevivência que em ge ral decorrem tanto do rebaixamento das prestações assistenciais como da de sagregação ou privatização dos serviços públicos Trabalhos do fi m dos anos 80 Williams 1998 chamaram a atenção para o aumento das discriminações de ordem étnica as mulheres imigran tes e as mulheres de cor sofrem problemas específi cos dependência em relação ao marido superexploração nos serviços domésticos ou trabalho informal na economia subterrânea Outros estudos têm mostrado as dife renciações sociais e as divergências de interesses que separam as mulheres entre si especialmente quando as de alto nível de escolaridade desejosas de se manter no mercado de trabalho recorrem ao trabalho doméstico de outras mulheres provenientes de categorias mais desfavorecidas Esse úl timo fenômeno tem sido bastante agravado pela mudança das políticas de Estado em relação aos serviços públicos negligenciados ou relativizados parcialmente substituídos pelo emprego doméstico19 Voltar a atenção para esses fenômenos ganha um destaque especial no que diz respeito ao tratamento das desigualdades neste momento em que pela primeira vez o tema das políticas sociais e familiares faz parte da agenda política da União Europeia 19 Aides à la personne modalidade de emprego doméstico na França NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 192 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 192 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 193 Aborto e anticoncepção Cidadania Desemprego Família Movimentos feministas Público privado Trabalho doméstico Gautier Arlette Heinen Jacqueline Eds Le sexe des politiques sociales Paris Côté femmes 1993 188p Gordon Linda Ed Women the State and Welfare Madison The University of Wis consin Press 1990 312p Jenson Jane Sineau Mariette Eds Qui doit garder le jeune enfant Modes daccueil et travail des mères dans lEurope en crise Paris LGDJ 1998 303p Knijn Trudie Ungerson Clare Eds Gender and Care Work in Welfare States numéro spécial de Social Politics International Studies in Gender State and Society 1997 v4 n3 124p Sainsbury Diane Ed Gendering the Welfare States Londres Sage 1994 288p Williams Fiona Genre ethnicité race et migrations ou les défi s de la citoyenneté en Europe Cahiers du Gedisst 1998 n23 p2942 Tradução CELIA ALLDRIDGE Precarização social Béatrice Appay e Annie ThébaudMony Entendese por precarização social um processo de institucionaliza ção da instabilidade caracterizada pelo crescimento de diferentes formas de precariedade e de exclusão Este processo multidimensional corresponde no plano econômico à busca de uma diminuição dos custos de produção e se apoia na fl exibilidade Esta é considerada muito frequentemente uma tendência inevitável das reestruturações contemporâneas para fazer face às novas regras da concorrência internacional Appay e ThébaudMony 1997 A precarização social se apoia na precarização do emprego da qual o desemprego e o trabalho temporário são as dimensões mais visíveis e na precarização do trabalho que consiste em questionar a qualifi cação e o re conhecimento no trabalho inclusive no âmbito de empresas estáveis Direito e precarização social Desde o início dos anos 80 pesquisas principalmente em Sociologia e Direito do trabalho mostram uma certa desagregação dos direitos in Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 193 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 193 18102009 192536 18102009 192536 194 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER dividuais e coletivos dos trabalhadores associada ao desenvolvimento da subcontratação e ao uso do emprego precário Linhart e Maruani 1982 Vacarie 1982 Enquanto as organizações sindicais frequentemente pres sionadas negociavam planos sociais nos ramos da siderurgia e da indústria têxtil ou resistiam ao desmantelamento dos direitos adquiridos como no CEA Comissariado de Energia Atômica as empresas garantiam suas reestruturações por meio dessas novas formas de organização do trabalho Laurent Vogel in Appay e ThébaudMony 1997 evidenciou duas grandes tendências De um lado situações que anteriormente não eram admitidas são agora legalizadas Assim em 1972 na França houve a le galização do trabalho temporário e também da subcontratação em 1975 desafi ando um século de proibição da negociação da mão de obra Por outro lado uma relativa equalização uma aproximação das condições de inúmeras situações atípicas com o emprego típico ibidem p122 tende a se realizar dentro do não exercício de direitos que em geral são reconheci dos A precarização torna assim pouco efi caz um conjunto de instrumen tos jurídicos que supostamente deveriam combater a discriminação contra as mulheres A ideologia da fratura social Durante os anos 70 e 80 o discurso político consagrou a dissociação en tre o econômico e o social como se fossem realidades totalmente separa das Do lado da economia o trabalho de economistas e sociólogos tendeu a louvar o modelo japonês de produção enxuta sem oferecer as chaves para sua compreensão O elemento central da produção enxuta é a fl exibilida de que tem conotações positivas na linguagem da gerência A fl exibilidade é uma expressão abstrata faz desaparecer os fenômenos materiais e reais sobre os quais se apoia como a intensifi cação do trabalho as demissões a instalação do desemprego estrutural o recurso ao trabalho temporário e à subcontratação Robert Castel 1995 esboçou a construção histórica e so cial desse abalo da sociedade industrial ao analisar os processos que fazem desagregar a condição salarial nos últimos vinte anos questiona a fun ção de integração da empresa pela exclusão dos assalariados mais antigos e a precarização na entrada dos jovens dualização do mercado de trabalho desestabilização dos estáveis Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 194 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 194 18102009 192536 18102009 192536 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 195 No entanto tanto ao nível do discurso político como das problemáticas científi cas a precariedade tende a emergir como calamidade social dos tempos modernos atingindo populações consideradas vulneráveis Como decorrência o olhar se volta para as populações vítimas da precariedade e da exclusão e para suas características Em termos de uma resposta política isto se traduziu na adoção em 1989 na França da RMI Renda Mínima de In serção Revenu minimum dinsertion Estudos e pesquisas apontam as ligações entre desemprego precariedade e problemas de saúde em particular a psico lógica Essa análise sustenta a adoção de políticas de assistência políticas sa nitárias e sociais e também da educação para a inserção no trabalho como se os sujeitos que o sistema produtivo excluiu fossem por sua fragilidade ou suas defi ciências individuais ou coletivas responsáveis por essa exclusão Paugam 1996 Alto Comitê de Saúde Pública 1998 Michel Joubert 2000 O que é separado e desaparece entre esses dois fenômenos o da reestru turação produtiva e o da precariedade é o lugar onde uma e outra estão in dissoluvelmente ligadas a saber a organização social do trabalho Porque na interface entre modernização do sistema produtivo pela fl exibilidade e a precariedade estrutural na qual uma parte crescente das sociedades in dustriais se encontram prisioneiras instalase um processo permanente de precarização social que reforça continuamente a subjugação de homens e mulheres ativos e inativos às necessidade da produtividade e da competi tividade das empresas A legitimidade neoliberal A legitimidade política da precarização social repousa sobre o triunfo da ideologia que faz do crescimento monetário a fi nalidade última do desen volvimento das sociedades Sua legitimidade social e cultural se apoia nas relações sociais de dominação em particular nas relações sociais de sexo Tanto na vertente das reestruturações produtivas como do campo da saúde no trabalho a precarização social encontra sua legitimidade nas formas ins tituídas da divisão do trabalho social isto é do trabalho na produção e na vida familiar social e política entre os homens e as mulheres Uma refl e xão científi ca coletiva realizada no âmbito do IRESCO Instituto de Pes quisa sobre as Sociedades Contemporâneas por iniciativa das equipes do CNRS e do INSERM permitiu elaborar uma análise crítica dos processos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 195 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 195 18102009 192537 18102009 192537 196 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER combinados da reestruturação produtiva e da alteração dos direitos sociais em relação à saúde no trabalho questionando essas formas de legitimidade que levaram à emergência e ao desenvolvimento dos processos de precari zação social Appay e ThébaudMony 1997 O trabalho em tempo parcial foi um dos primeiros instrumentos da fl e xibilização e da desregulação da jornada de trabalho Representou vinte anos antes da lei de Aubry 1998 1999 uma redução do tempo de tra balho das mulheres com redução do salário As mulheres são muito mais afetadas por isso na medida em que representam atualmente 85 das fa mílias monoparentais Lefaucheur 1999 A legitimidade do tempo parcial se assenta no postulado de uma articulação necessária entre vida familiar e vida profi ssional unicamente para as mulheres É imposto às mulheres sem nenhuma negociação salarial Na França20 a precarização do emprego se manifesta de um lado pelo aumento das formas particulares de emprego em 1998 um entre onze as salariados é empregado sob contrato com duração determinada CDD de trabalho temporário estágios ou contratações vinculadas a incentivos públi cos INSEE 1998 p123 Notase que os CDDs constituem no geral mais de 70 dos recrutamentos nos estabelecimentos com cinquenta assalariados ou mais Por outro lado a precarização se manifesta pelo desenvolvimento do trabalho em tempo parcial Em 1998 mais de 17 dos assalariados do setor privado eram empregados em tempo parcial TTP dos quais mais de 40 em situação de subemprego TTP forçado ibidem p16 O trabalho em tempo parcial é feminino as mulheres representam 85 o trabalho tempo rário é masculino representam 75 e operário representam 80 Atual mente os empregos temporários representam mais de 80 das contratações Esses processos de precarização do trabalho e do emprego têm por con sequência questionar o direito do trabalho a proteção social e a modifi cação das formas de representação e de cidadania para todos aqueles que a preca rização social remete ao que os discursos políticos chamam de exclusão As consequências patogênicas sobre a saúde das diversas formas de precari zação do trabalho e do emprego estão atestadas nas estatísticas ofi ciais sobre acidentes do trabalho doenças e riscos profi ssionais e condições de traba lho penosas e perigosas CNAMTS Ministério do Trabalho No entanto 20 Os dados presentes neste artigo são datados e relativamente antigos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 196 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 196 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 197 nenhum movimento social de grande amplitude denuncia as epidemias modernas que são os cânceres profi ssionais as defi ciências defi nitivas ou as sequelas de milhões de acidentes de trabalho a alteração precoce e du radoura na saúde de milhões de assalariados expostos ao barulho ao traba lho repetitivo sob forte pressão de tempo aos produtos tóxicos aos raios ionizantes mas também ao assédio psicológico ou sexual A legitimidade dos riscos do trabalho e a invisibilidade de suas consequências permane cem intactas porque a doença e a morte são fatos privados que as mulheres assumem sozinhas na gestão do cotidiano dentro do espaço doméstico e fa miliar para maridos irmãos pais sogros e para elas mesmas Precarização e divisão internacional do trabalho As palavrassímbolos do pensamento único mundialização glo balização ocultam as formas diferenciadas de precarização social entre os países do Norte e os países do Sul Ora são elas que instituem a concorrên cia com as relações de subcontratação internacionais entre trabalhado res de países do Primeiro Mundo e os do Terceiro Mundo Nos primeiros a precarização social se apoia no recurso às formas precárias de emprego e no desenvolvimento acelerado do trabalho em tempo parcial Contudo permanece em vigor um conjunto de garantias sociais Nos países do Sul é o caráter informal das relações de trabalho que é sobretudo emblemático da precarização no Brasil atualmente 60 dos trabalhos são informais21 Para as empresas engajadas na corrida da competitividade o ideal típico da gestão do assalariamento é a trabalhadora do sudoeste asiático com seu modelo de organização do trabalho à base da submissão total por um salá rio de miséria na ausência de seguridade econômica e de proteção social a inexistência de uma legislação do trabalho e de proteção ambiental com a repressão implacável de toda organização coletiva Essa divisão internacio nal do trabalho é em grande parte dissimulada pela invisibilidade social do trabalho feminino precário por essência e estágio último da subcontratação internacional que é a produção do setor supostamente informal ou da pro dução doméstica ThébaudMony 1991 21 Dados relativos ao fi m da década de 1990 Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNAD para 2007 indica que o Brasil naquele ano tem 507 de contribuintes e 493 de não contribuintes de institutos de previdência em qualquer trabalho NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 197 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 197 18102009 192537 18102009 192537 198 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Desemprego Flexibilidade Mundialização Saúde no trabalho Sindicatos Trabalho o conceito de Appay Béatrice ThébaudMony Annie Dir Précarisation sociale travail et santé Paris IRESCOCNRS Actions scientifi ques fédératives de lIresco 1997 580p Castel Robert Les métamorphoses de la question sociale une chronique du salariat Paris Fayard 1995 490p trad brasil Rio de Janeiro Vozes Haut Comité à la Santé Publique Précarité santé Paris La Documentation française 1998 349p Joubert Michel Dir Précarisation risques et santé Paris INSERM Questions en santé publique 2000 Linhart Danièle Maruani Margaret Précarisation et déstabilisation des emplois ouvri ers quelques hypothèses Travail et emploi 1982 n11 p2140 Paugam Serge Dir Lexclusion létat des savoirs Paris La Découverte 1996 579p Tradução VERA SOARES Prostituição I Claudine Legardinier É comum tentar explicar a prostituição com base nas pessoas prosti tuídas a ponta visível do iceberg Longe de se limitar à pessoa que troca serviços sexuais por remuneração a prostituição é antes de tudo uma or ganização lucrativa nacional e internacional de exploração sexual do outro Há muitos agentes envolvidos no sistema da prostituição clientes cáftens Estados o conjunto de homens e mulheres pois essa instituição está for temente enraizada tanto nas estruturas econômicas como na mentalidade coletiva O conjunto de representações e mitos em torno da prostituição que a encorajam e legitimam é um fator essencial A análise feminista con sidera a prostituição a situação mais extrema da relação de poder entre as categorias de sexo Transformadas em objetos e então sujeitas à violência as mulheres são coisifi cadas em prol da sexualidade irresponsável dos ho mens UnescoFAI Colóquio de Madri 1986 Historicamente a prostituição é reduzida a um clichê Além de não ser verdade que essa é a mais velha profi ssão do mundo poderíamos citar os pastores ou as parteiras esse clichê serve para defender o fatalismo e evitar qualquer questionamento sobre um assunto que provoca malestar Na rea lidade ligada à urbanização massiva e à aparição da sociedade de mercado a Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 198 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 198 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 199 prostituição sempre desconcertou os Estados divididos entre sua proibição ou regulamentação e termina fazendo que o peso do pecado recaia somen te sobre as prostitutas enclausuradas estigmatizadas desprezadas Nesse campo a França da segunda metade do século XIX é a grande teórica do in ternamento Tomado pela obsessão de proteger o corpo social do risco sani tário sífi lis e da desordem sexual adultério o poder burguês fez do pros tíbulo fechado um dos pilares de sua política Corbin 1978 Lançada em 1870 pela inglesa Josephine Butler escandalizada pelo sistema de inspeção policial e médico imposto às prostitutas do outro lado do Canal da Mancha e que faz de toda mulher uma prostituta em potencial a campanha pela abo lição da regulamentação da prostituição adquire repercussão internacional Na virada do século XX o abolicionismo se torna um dos principais objetivos do movimento feminista e essa questão é integrada à luta global pelos direi tos da mulher e pela paz até desaparecer do campo de preocupações sociais nos anos 40 Em 1975 com a organização das prostitutas em defesa de seus direitos a questão recupera seu interesse Tratase de um debate candente Entre as feministas muitas combatem a prostituição como uma violação dos direitos humanos e até mesmo um crime contra as mulheres Barry 1979 A era da banalização Na intimidade a prostituição continua tabu Se a questão reaparece nos anos 80 o faz sob a perspectiva da saúde pública pois o aumento da AIDS reacende medos que lembram os do século XIX em relação à sífi lis Como evidência a intenção de reabertura dos bordéis travestidos com a aparên cia da modernidade Algumas medidas fi nanciadas pela Organização Mundial da Saúde como o Ônibus das Mulheres22 tendem ao reconhe cimento da prostituição como profi ssão segundo denunciam na França o 22 A epidemia de AIDS nos anos 80 incentivou uma prostituta a se associar a pesquisadores e a profi ssionais da área da saúde para realizar ações de prevenção entre as prostitutas parisien ses Estas apesar das ideias preconcebidas em voga estão relativamente pouco contamina das Todavia tais ações têm o mérito de trazer algumas demandas à tona e levam à circulação de um ônibus nos locais de prostituição parisienses O projeto Ônibus das mulheres é lançado em 1990 organizado sob a forma de uma associação de saúde comunitária em 1994 quatro anos após sua criação chamada de Os Amigos do Ônibus das Mulheres Com um conselho de administração constituído paritariamente por prostitutas e não prostitutas a associação trabalha na prevenção da saúde na luta contra as discriminações e pelo acesso aos direitos fundamentais das pessoas prostitutas nota redigida para a edição brasileira por Anaïs Leboeuf doutoranda em Sociologia pela Universidade de Paris 8 SaintDenis Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 199 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 199 18102009 192537 18102009 192537 200 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Mouvement du Nid e associações feministas Tudo converge para uma banalização da prostituição O grande mercado liberal assimila e moneta riza os prazeres a lógica consumista invade todos os domínios da vida e a expressão trabalhadoras do sexo legitima a ideia de que a mercadoria sexo se tornou um dado indiscutível da economia moderna Toda noção ética é então varrida toda relação de dominação é engolfada por uma lógica indivi dualista A prostituição se encontra assim excluída das formas de violência contra as mulheres A presença crescente de rapazes na prostituição acaba por confundir a percepção das relações de desigualdade mesmo se o rapaz prostituído está de fato excluído do status da masculinidade como efemina do travesti ou transexual Pouco a pouco as reivindicações feministas são pervertidas pelo lobby da indústria do sexo o direito de dispor de seu corpo tornase o direito de vendêlo o direito de se prostituir é entendido como expressão de liberdade O mercado do sexo manipula a sexualidade para encorajar a demanda pornografi a turismo sexual buscando agora criar uma demanda feminina O ciclo está então fechado não há mais vítima não há mais carrasco Cada um explora o outro e a igualdade é enfi m realizada Uma violência despercebida A normalização da prostituição no campo social esconde cada vez mais os males vividos pelas pessoas prostituídas Se a violência é difi cilmente denunciada quando é visível tráfi co de mulheres e crianças o ataque aos direitos humanos e os abusos cometidos na relação baseada na prostituição nunca são tratados exceto pelos movimentos feministas ou por associações como o Mouvement du Nid23 anestesia emocional dissociação esqui 23 O Mouvement du Nid nasce em 1937 na França do encontro entre uma prostituta al coolica Germaine Campion e um padre O apartamento desse último acolhe mulheres em difi culdade Ele participa da campanha pública pelo encerramento dos bordéis que culmina com a promulgação da lei de 13 de abril de 1946 conhecida como a Lei Marthe Richard Sua ação é voltada para o auxílio às prostitutas informar a opinião pública agir sobre as causas e consequências da prostituição Ele se transforma em associação em 1946 e se funda sobre a ideia da prostituição como ativi dade incompatível com o respeito da dignidade humana e devendo ser erradicada Nos anos 70 uma cisão divide a associação em duas a Amicale du Nid e o Mouvement du Nid a primeira se especializa no acompanhamento das prostitutas por profi ssionais a segunda milita pela erradicação da prostituição nota redigida para a edição brasileira por Anaïs Le boeuf doutoranda em Sociologia pela Universidade de Paris 8 SaintDenis Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 200 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 200 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 201 zofrênica sentimento de insegurança medo constante insultos desgosto destruição da autoimagem O silêncio recobre a lenta e profunda degrada ção da vida sexual e afetiva das prostitutas A prostituição constitui uma violência despercebida como foram durante muito tempo outras violên cias estupro incesto violência conjugal todas expressões do direito de propriedade dos homens sobre as mulheres O mesmo silêncio protege os clientes historicamente legitimados em seu comportamento devido a mi tos dos quais o mais disseminado é o de evitar estupros O segredo que encobre suas atividades em nome do privado continua fortemente prote gido A dominação masculina como toda dominação é estruturada sobre a falta de transparência das práticas dos dominantes WelzerLang 1996 A quase ausência de estudos e pesquisas o confi rma Entretanto continua sendo essencial medir as consequências do uso da prostituição sobre a vio lência masculina O notável trabalho do sueco Sven Axel Mansson 1986 nesse domínio merece ser destacado A Europa dos cáftens No âmbito europeu os desafi os são cruciais À frente da regulamen tação partidária da prostituição organizada como um serviço público a Holanda conseguiu validar a noção de prostituição forçada nos textos internacionais começando pela declaração fi nal da Conferência Mundial de Pequim 1995 Essa noção subentende a existência de uma prostituição livre a qual se trata de profi ssionalizar como um disfarce para a despe nalização do caftinagem Essa distinção habilmente reduz a escolhas indi viduais a atuação de um gigantesco sistema de exploração e faz o jogo do lenocínio conferindolhe mais legitimidade do que ele jamais pôde sonhar Por conseguinte cabe às vítimas provar a violência de que foram objeto São estabelecidas distinções entre prostituição adulta e infantil prostituição de mulheres estrangeiras e europeias O que é crime aos 16 ou 18 anos menos um dia segundo a idade de maioridade sexual em vigor tornase de um dia para outro um ato comercial banal O que é legítimo em países do Norte deve se combater em países do Sul Todas as diferenciações em matéria de luta contra certas formas de prostituição têm por função legitimar a pros tituição em si MarieVictoire Louis 1997 recusa portanto toda distinção entre prostituição livre e forçada quem ousaria justifi car o apartheid pelo Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 201 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 201 18102009 192537 18102009 192537 202 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER consentimento de alguns à servidão e defende um verdadeiro projeto político de recusa a toda mercantilização do corpo e da sexualidade Aos partidários de uma prostituição livre e profi ssionalizada invocando a dig nidade reencontrada das pessoas prostituídas não poderíamos opor a dig nidade conferida à indústria que as explora Raymond 1995 Ao mesmo tempo a Organização Internacional do Trabalho OIT propõe a entrada da prostituição no mercado de trabalho defendendo a exclusão apenas de seus aspectos mais chocantes como a prostituição infantil Lim 1998 A prostituição tornase assim ofi cialmente reconhecida como uma solução viável para os problemas das mulheres Paralelamente a legitimidade da prostituição como sistema vai sendo aos poucos ratifi cada pelo Direito lei belga de 13 de abril de 1995 o que é perverso é que a lei se concentra so mente sobre casos de extremo abuso ou extrema violência A União Euro peia se organiza para lutar contra o tráfi co ilegal de pessoas abrindo assim caminho para o tráfi co legal e abandonando toda referência à Convenção da ONU de 1949 pela repressão do tráfi co de seres humanos e a explora ção da prostituição do outro Essa Convenção afi rmava em seu preâmbulo que a prostituição era incompatível com a dignidade e o valor da pessoa humana Lembremos que esse é o texto ao qual a França abolicionista se referencia até aqui Por uma terceira via Neste contexto a política sueca é fortemente contrastante Desde 1o de janeiro de 1999 é proibida a compra de serviços sexuais A repressão visa os clientes passíveis de seis meses de prisão e não as pessoas prostituídas essa decisão pertence a um conjunto de medidas de combate à prostituição levadas a cabo há bastante tempo entre quais as mais criativas propõem aos clientes serviços de escuta telefônica ou consultas com psicólogos A Suécia é portanto o único país a declarar que a prostituição é uma violência contra a mulher e a integrála em sua ação política e legislativa pela paz das mu lheres Segundo a ministra da Igualdade dos Sexos Margaretha Wimberg tratar uma pessoa como mercadoria mesmo com seu consentimento é crime Aí está a abertura de uma nova possibilidade Hoje aparece a ideia nova e audaciosa de uma sociedade sem prostituição afi rmada há muito tempo pelo Mouvement du Nid Esse projeto deve se assentar sobre uma Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 202 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 202 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 203 real vontade política com a realização de ações de prevenção e educação a respeito das causas profundas da prostituição sociais econômicas políti cas culturais desarraigando hábitos machistas na luta contra os abusos e maustratos sexuais A prostituição foi por muito tempo uma fatalidade para as mulheres reafi rmando a ideia de que seu corpo é perpetuamente disponível para o prazer do outro de que elas são seres por natureza sub missas a seu sexo condenadas ao serviço e ao desprezo submetidas às as sim chamadas necessidades dos homens excluídas do reino do pensamento e da cultura No limiar do século XXI como lutar pela paridade sem combater a prostituição Sexualidade Violências Barry Kathleen The Prostitution of Sexuality New York University Press 1995 382p Legardinier Claudine La prostitution Toulouse Milan Les Essentiels 1996 64p Louis MarieVictoire À propos des violences de la prostitution de la traite de la sexua lité Chronique féministe maijuin 1997 p1221 Montreynaud Florence La prostitution un droit de lhomme Le Monde diplomatique Manière de voir marsavril 1999 n44 p1921 Raymond Janice Rapport au rapporteur spécial sur la violence contre les femmes Genève ONU 1995 24p UNESCOCoalition against Traffi cking in Women The Penn State Re port 1991 40p Traduzido por MÍRIAM NOBRE Prostituição II Gail Pheterson A troca de serviços sexuais por uma compensação fi nanceira ou material pode ser caracterizada como prostituição mas também pode estar presente em relações como namoros ou o casamento A existência de um continuum nos intercâmbios econômicos e sexuais entre mulheres e homens é um traço recorrente da organização social em distintas culturas e ao longo da história Tabet 1987 Esse tipo de transação é legalmente defi nido como prostitui ção e geralmente como crime de prostituição quando mulheres travestis Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 203 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 203 18102009 192537 18102009 192537 204 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER ou homossexuais solicitam aos homens de forma explícita verbal ou não dinheiro como contrapartida por serviços sexuais específi cos efetuados em espaços públicos privados ou comerciais Os códigos penais ou civis não especifi cam as identidades sexuadas ou sexuais mas as ações policiais têm como alvo invariavelmente os grupos subordinados São quase exclusiva mente homens que pagam por sexo em dinheiro ou bens a mulheres que o provêm Quando são homossexuais ou homens transgênero que fornecem os serviços sexuais isso não muda em nada a relação de sexogênero por que da mesma forma que as mulheres eles servem aos homens Sublinha mos que quem demanda dinheiro em troca de serviços sexuais são defi nidos em função de sua atividade como prostitutosas um estatuto ilegítimo e até mesmo ilegal os que pagam pelo sexo raramente são destacados em meio à população masculina em geral A prostituição é uma instituição que serve à regulação das relações sociais de sexo Assim todo comportamento transgressivo por parte das mulheres num dado contexto pode provocar sua estigmatização como prostituída ou puta e levar a punições que daí decorrem Por exemplo qualquer que seja sua profi ssão ou suas intenções mulheres que trabalham no espaço público ou simplesmente que aí circulam que viajam sozinhas ou com outras mulheres podem ser rotuladas de mulheres públicas ou common women24 mulheres livres e podem ser perseguidas agredidas e eventualmente detidas por prostituição ou inclusive mortas como as acu sadas de violar os códigos sexualmente discriminatórios de regimes matri moniais ou indumentários Pheterson 1996 As descrições mais antigas de prostitutas na Europa moderna são atri buídas ao escritor italiano Pietro Aretino do século XVI que inventou a fórmula de um diálogo satírico entre putas para zombar das convenções e das hipocrisias sociais Tais diálogos dominaram a tradição pornográfi ca europeia até o século XVIII No início do século XIX a pornografi a tinha perdido a maior parte da sua mordacidade política e a literatura abandonou a crítica social para se centrar unicamente na excitação sexual dos homens Um fato revelador é que ao mesmo tempo em que ocorreu uma transfor mação na maneira de retratar as prostitutas que de mulheres cúmplices cheias de espírito e subversivas passaram a simples objetos de luxúria 24 Expressão utilizada no período medieval na Inglaterra NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 204 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 204 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 205 também houve uma mudança nos argumentos da censura que passaram do plano político para o moral Hunt 1996 Um trabalho a ser reconhecido ou uma violência a ser abolida Como a pornografi a a prostituição é tema de controvérsia e de controle Desde as sociedades antigas intermediários manipularam o sistema de re lações sociais de sexo para seu próprio proveito material recrutando mulhe res e vendendoas transportandoas ou oferecendoas como presente aos homens Há séculos políticos reformadores religiosos autoridades médi cas e científi cas discutem se o comércio sexual deve ser legalizado proibido tolerado ou abolido Nesses debates a prostituta serve de símbolo da desor dem social da imoralidade e da doença Corbin 1978 As posições das feministas sobre o assunto são tão divididas quanto as das autoridades Nas últimas décadas do século XIX na Inglaterra e na França surgiu um movimento feminista liderado por Josephine Butler contra a regulamentação estatal da prostituição especialmente contra o assédio policial às prostitutas e outras trabalhadoras No início do século XX esse movimento foi eclipsado por uma campanha de pureza social cujos objetivos eram combater a prostituição em si e ampliar os poderes da polícia em vez de reduzilos O objetivo repressivo era punir os clientes e os exploradores por um lado e por outro salvar ou reabilitar as pros titutas Walkowitz 1980 Durante os anos 70 nos Estados Unidos e na GrãBretanha as prostitu tas partilharam o sentimento feminista de indignação de Butler e retomaram o movimento contra a criminalização pelo Estado e contra o assédio policial às mulheres Politicamente identifi candose como trabalhadoras do sexo exigiram o reconhecimento social e legal da prostituição como trabalho e das pessoas que fornecem serviços sexuais como cidadãs legítimas A posição dessas militantes e suas aliadas feministas se chocou de imediato com a das feministas da corrente abolicionista Estas defi nem o comércio sexual em si como uma violência independentemente das condições de autonomia ou coerção das mulheres que o realizam Desde os anos 80 a tensão ideológica e estratégica entre aquelas que reconhecem a prostituição como trabalho e aquelas que a defi nem como violência contra as mulheres tornouse um Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 205 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 205 18102009 192537 18102009 192537 206 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER ponto de cisão política feroz no âmbito do feminismo internacional En quanto as primeiras lutam ao lado das prostitutas contra as condições de exploração e de violência na indústria do sexo as segundas lutam para que o Estado intervenha de maneira mais rigorosa para proibir essa indústria Na França as prostitutas começaram a se organizar nos anos 70 contra as discriminações policiais e sociais e por seus plenos direitos como cidadãs e trabalhadoras Na época apoiadas pela Igreja de um lado e pelas feministas de outro encontraram seus principais aliados nos anos 80 e 90 fora do país A França é conhecida na Europa como um país fortemente abolicionista Essa reputação se deve sobretudo ao importante Mouvement du Nid25 nasci do no pósguerra na corrente do catolicismo social e que pertence à Federação Europeia pelo Desaparecimento da Prostituição Fedip Esse movimento oferece ajuda concreta às prostitutas esperando leválas a deixar e rejeitar a prostituição posição moral que vai numa direção oposta à política das mili tantes que lutam pelos seus direitos e no sentido da política das abolicionis tas feministas da França Para estas últimas a prostituição não é pecado nem trabalho mas uma violência infl igida pelos homens às mulheres e por isso deve ser reprimida pelo Estado Também as prostitutas exigem a condena ção estatal das violências mas sublinham o fato de que a prostituição assim como a caftinagem são defi nidas na lei unicamente pelo lucro econômico e não pelas condições de coerção A proibição desses fenômenos não signifi ca então para as mulheres uma interrupção da violência mas sim um aumento do controle social e policial do assédio físico e das privações econômicas No plano internacional as Nações Unidas partilham a posição aboli cionista e proibicionista da França interditando a facilitação de transações econômicosexuais de pessoas com ou sem seu consentimento ver so bretudo a Convenção Internacional sobre a Repressão do Tráfi co de Seres Hu manos e da Exploração da Prostituição de Outrem 1949 Um fenômeno nacional e internacional Embora alguns países signatários apelem para essa convenção a fi m de justifi car suas práticas repressivas os governos regulam a indústria do sexo sobretudo em função de seus interesses e neste caso a partir de quatro pon 25 Cf Nota sobre o Mouvement du Nid no verbete anterior Prostituição I Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 206 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 206 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 207 tos a renda nacional a política de imigração a ocupação neocolonial e a saúde pública Mais particularmente a intensifi cação dos controles coincide segundo os desafi os nacionais com 1 a crescente dependência do Estado em relação aos fundos gerados pela indústria do sexo nos próprios países ou pela renda da prostituição enviada do exterior pelas mulheres emigrantes 2 a dependência do Estado em relação ao trabalho das mulheres migrantes nos setores não ofi ciais da economia juntamente com as crescentes restrições à imigração legal 3 a oferta de sexo e lazer a militares e mais recentemente e em larga escala a turistas e homens de negócio 4 as reivindicações públi cas pelo controle das doenças sexualmente transmissíveis especialmente a sífi lis no século XIX e a AIDS hoje Consideradas agentes de propagação da doença as prostitutas são o bode expiatório e servem de alvo dos controles discriminatórios do Estado apesar da lógica científi ca e de evidências histó ricas a respeito do fracasso sanitário desses controles Brandt 1985 As leis sobre a prostituição emergem principalmente do nível nacional mas a realidade da economia contemporânea sexual ou não ganhou desde 1970 um caráter cada vez mais internacional Milhões de mulheres migram cada ano no interior e para outros países em busca de renda para prover suas necessidades e as de suas famílias Esse é frequentemente um meio de fugir da coerção e da exploração que elas sofrem em seus países Na au sência de direitos para viajar trabalhar ou imigrar de maneira autônoma elas precisam com frequência contar com intermediários mais ou menos honestos que organizam o transporte das mulheres e jovens das zonas ru rais para as zonas urbanas e de países mais pobres em direção a países mais ricos principalmente para estabelecêlas como prostitutas domésticas ou esposas em casamentos arranjados Wijers e LapChew 1997 Do lado dos homens no sistema desigual de gênero os viajantes e militares vindos de países industrializados sustentam uma fl orescente indústria do sexo nos países em via de desenvolvimento que chega a produzir de 2 a 14 do produto interno bruto de algumas economias regionais Lim 1998 que se organiza na base A atual expansão das migrações de trabalho e o desenvolvimento cor relato da indústria do sexo aumentaram massivamente os lucros e os abu sos As mulheres que se identifi cam como trabalhadoras do sexo reagiram Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 207 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 207 18102009 192537 18102009 192537 208 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER a essas evoluções da mesma forma que à epidemia mundial de AIDS com organizações de base Em meados dos anos 80 elas denunciam em todos os continentes a violação de seus direitos humanos em colóquios nacionais e internacionais Pheterson 1989 Depois com o apoio de subvenções não governamentais e governamentais para o trabalho de prevenção da AIDS elas mobilizaram milhares de mulheres em reuniões regionais e transregio nais principalmente na América Latina e na Ásia esta é a primeira vez na História que prostitutas se benefi ciam de um estatuto legítimo como educadoras para a saúde Protestando contra a hipocrisia da sociedade e do Estado esses diálogos entre putas dão uma voz política às mulheres que agora falam em seu próprio nome para reivindicar a solidariedade dos organismos responsáveis pelo trabalho e por migrações e dos movimentos feministas exigindo o fi m do assédio sexista racista e colonialista das auto ridades públicas assim como o pleno acesso aos direitos cívicos e humanos Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Migrações Sexualidade Violências Corbin Alain Les fi lles de noce misère sexuelle et prostitution XIXe et XXe siècles Paris Flammarion 1978 571p Rééd Flammarion Champs 1982 494p Lim Lin Lean Ed The Sex Sector The Economic and Social Bases of Prostitution in Southeast Asia Genève Bureau international du travail 1998 232p Pheterson Gail Ed A Vindication of the Rights of Whores Seattle Seal 1989 293p The Prostitution Prism Amsterdam Amsterdam University Press 1996 176p Trad franç Paris LHarmattan 2003 Tabet Paola Du don au tarif Les relations sexuelles impliquant une compensation Les Temps modernes mai 1987 n490 p153 Walkowitz Judith Prostitution and Victorian Society Women Class and the State Cam bridge Cambridge University Press 1980 347p Traduzido por ALESSANDRA CEREGATTI Públicoprivado Diane Lamoureux A distinção entre o domínio público e o domínio privado é ao mesmo tempo fundamental e muito antiga no pensamento político Certamente os contornos do privado e do público variaram de acordo com a época mas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 208 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 208 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 209 ainda assim podemse verifi car algumas constantes o governo é sempre da competência do público enquanto o doméstico faz inevitavelmente parte do privado Às origens do público e do privado Como muitos outros elementos da nossa tradição política a distinção entre a esfera privada e a esfera pública nos é dada pelos gregos notada mente Aristóteles para quem essa distinção reproduz duas outras dicoto mias a primeira entre necessidade e liberdade e a segunda entre relações políticas e relações naturais Na Grécia antiga o capital principal do cidadão era o tempo De fato as exigências da vida com os concidadãos e da ação em grupo implicavam se livrar das necessidades do cotidiano para alcançar a liberdade Os seres pri vados eram aqueles cujos relacionamentos com seus semelhantes passavam pela produção material enquanto os seres públicos estabeleciam relações marcadas pela gratuidade A necessidade caracterizava os relacionamentos humanos centrados na reprodução física e na manutenção material dos se res humanos bem como na produção de objetos economia e arte Esses relacionamentos desenrolavamse sob o signo de uma relativa naturalidade por um lado e de uma privação por outro ou seja de uma invisibilidade social daqueles e daquelas que lhe consagravam o essencial da sua existên cia Em tal contexto ser livre era em primeiro lugar e sobretudo libertarse das necessidades da existência tendo a possibilidade de encarregar disso outras pessoas que não a si próprio ou seja mulheres ou escravos É por isso que o homem livre era um chefe de família mas ele era livre apenas na medida em que pudesse sair da sua família para se juntar aos seus se melhantes na ágora na palestra ou na assembleia para criar um mundo instituído do ekkhon logon um mundo em que a palavra e não as coisas é a mediadora das relações sociais Para Aristóteles as relações políticas são a fi nalidade natural da humanidade uma vez que ele o ser humano é defi nido como um zoon politikon mas a cidade é algo distinto dos agrupa mentos humanos meramente naturais como o casal heterossexual a famí lia e o clã que têm em comum o fato de proverem a manutenção da vida o primeiro pela procriação o segundo pela produção material e o terceiro pela guerra e a divisão do trabalho Mas dado que o homem no sentido mas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 209 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 209 18102009 192537 18102009 192537 210 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER culino do termo não está sobre a terra somente para viver mas para bem viver para atingir o eudaimonia as relações que permitem alcançar essa boa vida são as da cidade que se distinguem dos outros tipos de relações pelo fato de repousarem sobre uma igualdade abstratamente construída A redefi nição moderna dos termos Essa maneira de conceber as relações entre a esfera pública e a esfera pri vada infl uenciaria signifi cativamente a delimitação que os modernos intro duziriam entre esses dois termos Na aurora das revoluções modernas assis tese a uma redefi nição do espaço público a partir da dupla lógica cidadania participação soberania poder público Assim para Rousseau o cidadão moderno se distingue do homem natural em virtude de a cidadania ser uma segunda natureza em certa medida mais verdadeira do que a primeira por que totalmente dependente da razão humana e de sua capacidade criadora O acesso à cidadania reproduz assim a controvérsia natureza x cultura Portanto as teorias modernas do contrato social como destaca Pateman 1988 conduzem a uma defi nição da esfera pública centrada num indiví duo cujas características essenciais são a independência a responsabilidade e a razão Quanto à esfera privada ela se reduz cada vez mais à intimidade e à família uma vez que a economia moderna sai da esfera doméstica para se tornar social mediante o duplo mecanismo do mercado e da divisão social do trabalho Devemos a Rousseau a mais elaborada formulação da divisão entre es fera pública e esfera privada divisão que reproduz exatamente os papéis sociais de sexo Para tanto ele procede a uma completa naturalização das mulheres a uma construção de sua dependência e invisibilidade social por meio da associação entre mulher e mãe Para ele a mãe não pode par ticipar do contrato social uma vez que não pode atingir a imparcialidade necessária à constituição de uma vontade geral É nesse compasso que os pensadores dos séculos XVIII e XIX dentre os quais Hegel Hume Kant Nietzche Proudhon e Schopenhauer desenvol vem a noção de esferas separadas uma separação que tem como funções essenciais interditar o acesso das mulheres ao universo político e introduzir um duplo padrão sexuado no outro domínio público o do mercado de trabalho Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 210 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 210 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 211 Mas mesmo que essas esferas sejam separadas sua impermeabilidade não é perfeita os homens como chefes de família autorizamse um vaie vem entre elas as mulheres são destinadas ao privado e se expõem a diver sos ataques à sua integridade quando saem é por isso que a distinção entre a operária e a prostituta é frequentemente tênue O discurso das esferas se paradas alimenta e se nutre de um discurso da diferença natural entre os sexos que distribui os papéis sociais segundo a fi liação sexual O homem público obtém consideração a mulher pública é objeto de escárnio Grande parte do trabalho das feministas a partir do século XIX con sistiu justamente em romper com o confi namento das mulheres na esfe ra privada e em lhes permitir o acesso seguro à esfera pública por meio da formulação de reivindicações em áreas tão diversas como a da igualdade jurídica do acesso à educação e ao emprego remunerado do direito ao voto ou ainda do direito ao aborto O privado é político slogan do feminismo Podemos afi rmar que em grande parte o feminismo que se recompôs a partir do fi nal dos anos 60 fez um uso no mínimo polissêmico dessa expres são Há de fato um abismo entre os grupos de consciência do feminismo americano e do feminismo italiano centrados sobre a análise do vivido e a compreensão do social a partir das experiências pessoais e das práticas mais ideológicas do movimento francês de libertação das mulheres No en tanto no mundo inteiro os grupos feministas se reconheciam nessa expres são e faziam dela um elemento crucial do seu radicalismo Em primeiro lugar isso faz parte da vontade não exclusiva do femi nismo de afi rmar que tudo é político Uma análise retrospectiva do uso da expressão permite constatar que ela foi adotada para enunciar que toda relação de poder dominação e opressão é de fato política Isso também per mitiu evidenciar que a natureza está longe de fi car em paz no mundo mo derno e que a esfera privada é amplamente marcada pelo político sobretu do na era do EstadoProvidência e do surgimento do social Arendt 1958 enquanto o Estado passa a ser essencialmente um gestor de populações Em segundo lugar essa afi rmação contribuiu para legitimar as reivindi cações das mulheres na esfera política Por exemplo o aborto é uma ques tão política e pode ser formulado sob a forma de um direito não só porque Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 211 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 211 18102009 192537 18102009 192537 212 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER permite pôr fi m a uma gravidez indesejada mas também porque o direito à segurança e à integridade da pessoa que está na base do individualismo moderno passa para as mulheres pela possibilidade de controlar sua fe cundidade Além disso ao insistir sobre a capacidade das mulheres de de cidir tornase visível a sua autonomia moral outra característica central do individualismo moderno Por fi m esse slogan permite criticar o modelo de indivíduo abstrato que está na base das teorias modernas de cidadania Lamoureux 2001 Nós somos necessariamente indivíduos encarnados e é apenas a partir da nossa situação que podemos aparecer no espaço público é importante lembrar a época em que o debate sobre a paridade tomou a forma de uma oposição entre particularistas e universalistas como se só o feminino fosse específi co Enfatizar que não podemos aparecer na esfera pública senão como indiví duos encarnados não signifi ca no entanto que a mediação entre a esfera privada e a esfera pública não é mais necessária ela se faz de outra maneira Neste aspecto é interessante notar a diferença entre temos o direito de e nós queremos No primeiro caso apelase a uma razão comum en quanto no segundo não se faz mais do que projetar necessidades específi cas por defi nição no domínio da competição de interesses No primeiro caso há um alargamento da esfera de inclusão política o direito a ter direitos enquanto no segundo há simplesmente o surgimento de novos atores na esfera de gestão do Estado que assim é colocado no papel de árbitro entre os diversos grupos de interesse Com certeza não há unanimidade entre as feministas quanto ao senti do que se deve dar à relação entre a esfera pública e a esfera privada num contexto de cidadania igualitária para homens e mulheres Algumas optam por insufl ar a esfera política com novos valores que as mulheres puderam desenvolver no calor do privado Gilligan 1982 Irigaray 1989 Ruddick 1989 Outras insistem simultaneamente sobre a importância de uma esfera da intimidade que escapa ao olhar público e sobre a necessidade de uma redefi nição inclusiva tanto do privado como do público F Collin 1986a Jones 1993 Young 1990 Isso evidencia que mesmo que as mulheres tenham acedido à cidadania durante a primeira metade do século XX o discurso sobre a diferença sexual e as esferas separadas não se amenizou Sem querer reduzir a vida humana a um único domínio tal como fi zeram os regimes totalitários trazendo as Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 212 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 212 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 213 consequências que conhecemos de desaparecimento do espaço público de ação e de atomização social resta elaborar novos modos de vida e de organi zação social que permitam a todas e a todos participar plenamente tanto da esfera pública quanto da privada Cidadania Igualdade Família Maternidade Movimentos feministas Políticas sociais e familiares Trabalho o conceito de Universalismo e particularismo Arendt Hannah The Human Condition University of Chicago Press 1958 333p trad franc Condition de lhomme moderne Paris CalmannLévy 1961 Butler Judith Scott Joan W Eds Feminists theorize the Political Nova Iork Routledge 1992 485p Collin Françoise Du privé et du public Cahiers du GRIF 1986a n33 p4767 Jones Kathleen Compassionate Authority Nova Iork Routledge 1993 265p Pateman Carole The Sexual Contract Stanford University Press 1988 264p Young Iris Justice and the Politics of Difference Princeton University Press 1990 286p Traduzido por NAIRA PINHEIRO Religiões Maria José F Rosado Nunes Para as Ciências Sociais as religiões são socialmente construídas As práticas religiosas certas expressões da fé as representações simbólicas e os discursos são reveladores de relações sociais Assim pertencer a uma classe uma raça ou um sexo determina ou delimita as práticas religiosas inclu sive as que são percebidas como as mais íntimas Além disso as crenças práticas e representações religiosas agem sobre a realidade seja reforçando as estruturas sociais seja modifi candoas Compreender as religiões como espaços complexos e portadores de contradições de produção reprodução e transformação das relações sociais em todos os domínios do culto dos símbolos e do saber e não apenas o da organização religiosa é um desafi o teórico Assim é no contexto das relações sociais de sexo de raça e de classe que devem ser analisadas as relações das mulheres com as religiões e das religiões com as mulheres Estas últimas são em parte moldadas pelas crenças e práticas religiosas enquanto as primeiras são em parte moldadas pelas relações sociais Esta tomada de posição teórica e metodológica su Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 213 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 213 18102009 192537 18102009 192537 214 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER põe uma abordagem dinâmica das religiões e da relação das mulheres com as religiões A observação empírica mostra então que elas não funcionam sempre e em todas as sociedades como forças conservadoras de reforço à subordinação das mulheres Em algumas circunstâncias funcionam como forças inovadoras como um catalisador de mudanças sociais e políticas Na condição de fi éis as mulheres podem se sujeitar ao poder disciplinar das re ligiões mas por sua ação podem igualmente contribuir para sua mudança A propósito da Reforma Nancy Roelke cf Zemon Davis 1979 vê nas mulheres huguenotes esposas e viúvas de caráter decidido e extremamente independente que encontraram na causa da Reforma uma chance de am pliar o seu campo de ação Estes diferentes cenários pertencem a situações históricas concretas que não podem ser apreendidas senão por meio de pes quisas de campo A divisão do trabalho religioso Os estudos sobre a relação entre as mulheres e as religiões se desenvol veram paralelamente aos estudos feministas em geral Num primeiro mo mento a crítica das religiões foi desenvolvida no plano político e militante as feministas lançaram então contra elas um anátema radical eram um dos instrumentos mais efi cazes de controle das mulheres e manutenção da sua subordinação Pesquisas posteriores mais analíticas e apoiadas numa base empírica aplicaram nesse campo conceitos e métodos desenvolvidos por pesquisadoras feministas Estas revelaram os vínculos contraditórios e am bíguos que existem entre a organização religiosa e as mulheres como em todas as instituições sociais Teólogas cristãs brancas ocidentais foram as primeiras a empreender uma crítica do judaísmo e do cristianismo segui das por mulheres de religiões orientais hinduísmo budismo islamismo e as africanas Elas teceram críticas sobre o conteúdo da fé monoteísmo imagem masculina da divindade fi gura submissa e virginal de Maria so bre as interpretações dos textos tidos como sagrados a Bíblia o Corão o Talmud os escritos de Buda e sobre a organização masculina e hierárquica das instituições religiosas Essas teólogas questionaram a existência de uma única verdade religiosa contida numa única religião salvadora e porta dora de redenção Tais críticas levaramnas a considerar mudanças em seu próprio credo ou a criar novos grupos religiosos com base em antigas cren Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 214 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 214 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 215 ças recuperando as fi guras femininas de deusas e bruxas bem como rituais considerados pagãos Pesquisadoras feministas questionaram igualmente o campo da socio logia da religião e evidenciaram o sexismo da abordagem clássica Em As formas elementares da vida religiosa Durkheim 1912 propõe uma rígida divisão entre sagrado e profano como algo constitutivo das religiões e da so ciedade De acordo com ele só os homens são portadores do sagrado pro tagonistas das crenças e dos ritos pelos quais são criadas novas relações e a própria sociedade As mulheres por sua vez são relegadas ao profano ao cotidiano repetitivo portanto incapazes de serem portadoras de uma força criadora Ritos e crenças devem contribuir para manter o mundo ideal dos homens separado do mundo das mulheres mesmo nas sociedades moder nas e secularizadas Max Weber 1920 distingue dois tipos de religiões As baseadas no ascetismo no racionalismo defendem a ação no seio da socie dade permitem a existência de heróis líderes carismáticos ou profetas são associadas aos homens Outras têm um caráter mágico extático incorpo rando o erotismo são orientadas para o amor estão distantes da ação e são associadas às mulheres Ao analisar a natureza e o funcionamento do poder religioso as soció logas feministas mostraram como o tratamento abstrato das categorias uti lizadas supostamente neutras quanto às relações de sexo não permitem perceber os elementos fundamentais da realidade das instituições religio sas Elas mostraram que o poder religioso tem por base a divisão sexual do trabalho social A divisão clerolaicato no catolicismo romano por exem plo remete à separação homensmulheres mesmo se as mulheres não são as únicas leigas o poder é monopolizado pelos homens A obrigação do ce libato masculino para o exercício do ministério sacerdotal no catolicismo romano remete as mulheres ao estatuto de profanadoras do sagrado para desempenhar as funções rituais de ligação da comunidade dos fi éis com o sagrado o sacerdote não deve tocar uma mulher Assim a subordinação das mulheres na esfera religiosa não se revela apenas na impossibilidade objetiva de estas chegarem a posições de liderança em igrejas e outras or ganizações religiosas Ela pode ser detectada e analisada mais amplamente no conjunto do espaço religioso e em cada um dos seus componentes os discursos as representações as práticas como a expressão de relações so ciais que estão em ação na sociedade em geral e no campo religioso em par Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 215 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 215 18102009 192537 18102009 192537 216 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER ticular Contudo a complexidade e a ambiguidade do jogo de exclusão e inclusão das mulheres empreendido pelas instituições religiosas permitem o aparecimento de contradições e confl itos que tornam possíveis mudanças favoráveis às mulheres Ambivalência das religiões Uma das mais sérias discussões nesta área concentrouse sobre a exis tência de possibilidades reais de mudança no campo religioso em favor das mulheres podemos destacar duas abordagens distintas Para algumas espe cialistas como Mary Daly 1973 as religiões existentes são lugares de pura dominação das mulheres que sofrem aí a infl uência de grupos religiosos e das igrejas O androcentrismo peculiar às religiões históricas é intrínseco e portanto imutável O investimento da população feminina na religião constituiria então a prova do seu conservadorismo Para outras como a teóloga feminista Elisabeth Schussler Fiorenza 1986 o problema das reli giões institucionalizadas em igrejas foi o de sua apropriação pelos homens O objetivo das pesquisas é assim recuperar as tradições e os fundamentos próprios das religiões de modo que as mulheres encontrem aí o seu lugar Outra abordagem se interessa sobretudo pelo poder institucional e pelos efeitos sociais e políticos da participação religiosa das mulheres Nessa li nha alguns estudos empíricos como os de Carol Drogus 1997 e outros sobre catolicismo no Brasil mostram que as religiões constituem realidades sociais complexas ambivalentes É preciso compreender como as ativida des simbólicas as crenças os ritos e discursos e a organização do poder religioso que parece escapar às relações sociais de sexo são na realidade moldados por elas Pistas para novas pesquisas Apesar do processo de secularização que deu forma às sociedades mo dernas as religiões conservam um grande poder de atração sobre as mu lheres quer seja nas sociedades mais urbanizadas ou naquelas distantes da modernidade As mulheres representam ainda o público mais signifi cativo nas diferentes religiões do mundo e mais recentemente nas novas religiões e nos novos movimentos religiosos Portanto examinar os efeitos desse in Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 216 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 216 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 217 vestimento para as populações femininas continua sendo um tema atual Vários campos abremse à pesquisa feminista para compreender e explicar as relações das mulheres com o fenômeno religioso e o seu lugar nas religiões históricas Quais são os efeitos sobre a vida das mulheres e consequente mente sobre a dos homens das mudanças contemporâneas no campo da religião tanto no Ocidente como no Oriente Qual o signifi cado da prolife ração de grupos fundamentalistas liderados por homens que cada vez mais atingem a vida e o corpo das mulheres Num contexto de reivindicação de direitos sexuais e reprodutivos como as religiões procuram apropriarse do corpo das mulheres e controlar a sua capacidade reprodutiva e a sua sexuali dade Resta analisar as condições de produção de novas práticas discursos e símbolos religiosos pelas mulheres e seus efeitos sobre as religiões e sobre a totalidade de crentes mulheres e homens Finalmente é preciso proceder a pesquisas empíricas que abram novas pistas para compreender a realidade das religiões nas sociedades do terceiro milênio Dominação Poderes Sexualidade Caron Anita Ed Femmes et pouvoir dans lÉglise Montreal VLB 1991 254p Erickson Victoria Lee Where Silence speaks Feminism Social Theory and Religion Mineápolis Fortress Press 1993 219p Gross Rita Feminism and Religion An Introduction Boston Beacon Press 1996 279p Rosado Nunes Maria José F Women Family and Catholicism in Brazil The Issue of Power in Sharon K Houseknecht Jerry G Pankhurst Family Religion and Social Change in Diverse Societies Nova Iork Oxford University Press 2000 p347362 Schussler Fiorenza Élisabeth En mémoire dElle Essai de reconstruction des origines chrétiennes selon la théologie féministe Paris Cerf 1986 482p Sharma Arvind Ed Women in World Religions Albany State University of New York Press 1987 302p Traduzido por NAIRA PINHEIRO Saúde no trabalho Annie ThébaudMony Saúde no trabalho designa dois tipos de realidade o estabelecimento da saúde de homens e mulheres no local de trabalho e o conjunto de dispo Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 217 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 217 18102009 192537 18102009 192537 218 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER sitivos legislativos regulamentares e institucionais com os quais se supõe prevenir e reparar os danos à saúde relacionados ao trabalho Questionar a saúde no trabalho a partir da problemática das relações sociais de sexo nos permite estudar qual o papel que a divisão social do tra balho entre homens e mulheres tem na construção diferencial de sua saúde na articulação da vida produtiva e da vida reprodutiva Permite também desenvolver uma análise crítica da elaboração das leis e regulamentações mas também das práticas institucionais e sindicais em saúde ocupacional Construção diferencial da saúde de homens e mulheres A história da saúde dos homens e das mulheres no trabalho continua a ser escrita principalmente a partir de numerosos trabalhos monográfi cos por vezes muito ricos sobre a experiência das condições de trabalho em diferentes épocas em diferentes países e em tipos de atividades bastante diversifi cados agricultura mineração serviços instituições de cuidados da saúde A problemática das relações sociais de sexo constitui uma chave de interpretação particularmente pertinente para construir essa história e dela extrair lições numa perspectiva da saúde pública Alguns psicólogos do tra balho tentaram utilizála para esclarecer em especial as atitudes diferentes de homens e mulheres diante dos riscos do trabalho Esta abordagem no entanto tende a naturalizar a virilidade como traço psicológico em detri mento de uma abordagem dinâmica da construção social das condições e situações de exposição a riscos profi ssionais e da mobilização diferenciada da saúde no trabalho No entanto esta última permite destacar não apenas os tipos de danos à saúde segundo o lugar das mulheres e dos homens na di visão social do trabalho mas igualmente indicar em especial para as mu lheres as estratégias de resistência aos danos à saúde ligados ao trabalho Na verdade é preciso destacar que desde a recusa do trabalho por produção na indústria têxtil até a rejeição do trabalho por peça na indústria eletrôni ca pelos trabalhadores dos anos 60 verifi case a resistência das mulheres à fadiga nervosa que afeta a sua saúde e acarreta problemas na sua vida extra profi ssional SaurelCubizolles Messing e Lert 1996 A problemática das relações sociais de sexo ocorre em três tipos de trabalhos Numa abordagem sóciohistórica Alain Cottereau 1983 identifi ca dois modelos de deterioração precoce da saúde um masculino mais Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 218 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 218 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 219 ligado a condições de trabalho perigosas e insalubres cujas consequências têm visibilidade social em especial devido aos acidentes de trabalho o ou tro feminino que ele relaciona à sobrecarga de trabalho associada a tarefas repetitivas sob condições de forte restrição de tempo e aos encargos maternos As consequências são marcadas pela invisibilidade Numa leitura sociojurídica crítica da prevenção em saúde do trabalho na Europa Laurent Vogel 1994 dá um amplo destaque à invisibilidade do trabalho feminino e às suas consequências sobre a saúde Ele questiona a tradição científi ca que parte de patologias medicamente constatadas para remetêlas a condições de trabalho não reinseridas nas relações sociais de dominação que asseguram a sua perenização Ele critica essa abordagem dominante que afora os aspectos ligados à reprodução gravidez mater nidade não leva em conta nem a construção diferencial dos percursos profi ssionais nem as modalidades específi cas de alteração e desgaste da saúde das mulheres associadas à sua dupla jornada de trabalho produtivo e reprodutivo Essa análise encontra um eco imediato nos debates sobre o trabalho noturno Proibido às mulheres na França pela lei de 1892 hoje ele é autorizado como nos outros países da União Europeia sob o pretexto da não discriminação entre homens e mulheres no emprego Essa lei que além disso limitava o dia de trabalho das mulheres a 11 horas por dia poderia aparecer como uma forma de discriminação positiva Contudo Michelle ZancariniFournel aponta quanto os argumentos foram indubitavelmente sexistas e cristãos Se vocês desejam que a mãe de família possa preparar a refeição da noite que esta esteja ao forno e à mesa quando o seu marido e as suas crianças retornarem é indispensável que o seu dia de trabalho ter mine o mais tardar às 19 horas Auslander e ZancariFournel 1995 p82 De fato a lei adotada não dizia respeito ao comércio aos escritórios mas à indústria e baseavase numa representação da feminilidade e do papel da mulher casada ligada aos interesses demográfi cos nacionais e a um eugenis mo que visava a preservação da raça Hoje em dia a decisão de suprimir a proibição do trabalho noturno para mulheres depende menos de uma re ferência à regra da igualdade entre homens e mulheres do que do reforço das lógicas de produtividade e competitividade ao possibilitar a utilização permanente dos equipamentos produtivos e a fl exibilização da jornada de trabalho independentemente do setor de atividade Numa perspectiva de proteção à saúde tendo em vista os efeitos patogênicos do trabalho notur Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 219 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 219 18102009 192537 18102009 192537 220 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER no efeitos conhecidos há décadas a única medida legítima teria sido ao contrário a extensão da interdição do trabalho noturno aos homens Tal medida teria tido como efeito dar aos trabalhadores no âmbito das nego ciações de redução da jornada de trabalho a oportunidade de declarar o trabalho noturno como derrogatório em relação a essa interdição e de nego ciar o recurso em posição de força para obter o descanso compensatório na medida do dano sofrido por aqueles constrangidos a aceitálo Por fi m várias pesquisas socioantropológicas evidenciam o papel de sempenhado pelas relações sociais de sexo e sua infl uência sobre a saúde no trabalho no contexto de uma generalização da precarização social Elas permitiram revelar dois processos que se conjugam Por um lado as mu lheres foram as primeiras atingidas pelo trabalho em tempo parcial e pela intermitência dos empregos precários Em ambos os casos a legitimidade do recurso a essas formas específi cas de emprego em relação ao modelo do emprego fi xo de tempo integral para as mulheres teve por base a neces sária articulação entre trabalho produtivo e trabalho reprodutivo Bretin Frigul e ThébaudMony in Appay e ThébuadMony 1997 Não se em preendeu nenhum protesto social contra a redução da jornada de trabalho para as mulheres com redução concomitante de salário Por outro lado a precarização do trabalho dos homens tomou a forma de uma mobilidade e de uma disponibilidade permanentes de acordo com os imprevistos da produção em especial no caso de relações de trabalho estabelecidas por subcontratação ThébaudMony 2000 Essa disponibilidade temporal e espacial dos homens aparece como legítima em relação à divisão sexual do trabalho reprodutivo no qual as mulheres asseguram a continuidade da gestão das tarefas afetivas educativas e domésticas na família Esses dois processos contribuem de forma duradoura para a invisibilidade das conse quências da precariedade do trabalho e do emprego sobre a saúde Essas pesquisas socioantropológicas assentam sobre uma defi nição so ciológica da saúde elaborada pelo grupo de pesquisa que as conduziu a saúde é um processo dinâmico pelo qual o indivíduo caminha um processo que registra no corpo na pessoa as marcas do trabalho das condições de vida das dores do prazer e do sofrimento de tudo aquilo de que é feito uma história individual em sua singularidade mas também coletiva pela infl uência de múltiplas lógicas entre as quais ela se insere A dinâmica das relações sociais de sexo ganha aqui toda a sua relevância Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 220 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 220 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 221 Leis regulamentações práticas institucionais uma análise crítica A gênese e a evolução da legislação sobre saúde no trabalho inseriuse no último século numa lógica de segurança que tende a reduzila apenas à di mensão dos riscos profi ssionais neutros e objetivamente determináveis reconhecidos como passíveis de indenização nos termos das negociações acordadas entre os parceiros sociais A maioria das tabelas de indenização por doenças profi ssionais diz respeito a riscos físicos ou químicos caracte rísticos das indústrias químicas de mineração e metalurgia e de construção Código da Seguridade Social art L 4614 da legislação francesa Nessa perspectiva uma parcela signifi cativa das doenças profi ssionais desaparece do campo de conhecimento dos danos relacionados ao trabalho e das origens sociais dos problemas de saúde As estatísticas administrativas de doenças profi ssionais realizadas anualmente na França pelo Instituto Nacional de Seguro de Saúde não incluem a variável sexo No entanto a pesquisa Con dições de trabalho realizada a cada cinco anos em média pelo Ministério do Trabalho na França com uma amostra representativa de trabalhadores assalariados aponta de modo constante desigualdades signifi cativas entre homens e mulheres Estas mais do que os homens estão sujeitas a trabalhos repetitivos sob severas restrições de tempo e sofrem a insalubre evolução de novas formas da jornada de trabalho tempos parciais instáveis horá rios irregulares banco de horas etc A explosão em âmbito mundial de lesões por esforço repetitivo LER ou dos distúrbios musculoesqueléticos DME que atingem principalmente as mulheres é associada por muitos especialistas à divisão sexual do trabalho Pearson 1998 Esses distúrbios orgânicos são um sintoma da hipersocialização de homens e mulheres no trabalho que se refl ete também em diversas formas de sofrimento psíqui co conforme o demonstram inúmeros estudos de psicoterapia do trabalho GuihoBailly 1996 Davezies Dejours in Coletivo 1997 Uma revisão da literatura realizada no início dos anos 80 relativa à saú de das mulheres destacou a infl uência das relações sociais de sexo tanto na seleção e desenvolvimento de políticas de pesquisa como em matéria de legislação e ações sindicais ThébaudMony e Lert 1982 Lucila Scavone 1997 socióloga brasileira apropriouse de outra pers pectiva complementar à anterior qual seja a da infl uência da divisão sexual Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 221 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 221 18102009 192537 18102009 192537 222 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER do trabalho na construção da invisibilidade social das doenças profi ssionais São as mulheres que assumem por meio do seu trabalho sanitário profano a responsabilidade social pelo cuidado dos homens e das mulheres que sofrem de doenças profi ssionais assim como a gestão de suas consequên cias familiares Para resistir à transformação das consequências do trabalho sobre a saúde em meras defi ciências individuais e privadas o desenvolvi mento de pesquisas sociológicas sobre a saúde no trabalho que levem em conta as relações sociais de sexo pode contribuir para a análise crítica da organização social do trabalho Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Flexibilidade Precarização social Técnica e gênero Trabalho o conceito de Appay Beatrice ThebaudMony Annie Précarisation sociale travail et santé Paris IRESCOCNRS Actions scientifi ques fédératives de lIRESCO 1997 580p Cottereau Alain Usure au travail Destins masculins et destins féminins dans les cul tures ouvrières en France au XIXe siècle Le Mouvement social julset 1983 n124 p71112 Scavone Lucila Invisibilidad social de dolencias profesionales ligadas a la exposición al amianto Cuadernos Mujer Salud 1997 n2 p1437 ThebaudMony Annie Lert France Emploi travail et santé des femmes la législation et les recherches face aux mouvements sociaux Droit social 1982 n12 p78192 Vogel Laurent Lorganisation de la prévention sur les lieux de travail Un premier bilan de la directivecadre communautaire de 1989 Bruxelas Bureau technique syndical euro péen pour la santé et la sécurité 1994 287p Traduzido por NAIRA PINHEIRO Sexo e gênero NicoleClaude Mathieu Diferenciação biológica diferenciação social De modo geral opomos o sexo que é biológico ao gênero gender em inglês que é social Na Biologia diferenciação é a aquisição de proprieda des funcionais diferentes por células semelhantes A diferença é o resultado de uma diferenciação O estudo das sociedades animais incluindo a dos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 222 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 222 18102009 192537 18102009 192537 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 223 nossos primos primatas revela uma grande variedade indo do maior con traste até a quase similitude de diferenças a assimetria entre fêmeas e machos características sexuais secundárias e comportamentos que asse guram a reprodução a criação dos fi lhotes e a obtenção de alimento cf por exemplo Hrdy 1981 A humanidade faz parte das espécies de reprodução sexuada por isso ela tem dois sexos anatomofi siológicos com uma única função de sua per petuação física a produção de novos indivíduos No entanto sua marca distintiva já detectável nos primatas superiores é a perda do estro coinci dência entre excitação sexual e período fértil nas fêmeas animais Donde para as mulheres há a possibilidade do desejo e de relações sexuais sem risco de gravidez mas também de gravidez sem desejo sexual estupro um ato social parece peculiar ao homem As sociedades humanas com uma notável monotonia sobrevalorizam a diferenciação biológica atribuindo aos dois sexos funções diferentes di vididas separadas e geralmente hierarquizadas no corpo social como um todo Elas lhe aplicam uma gramática um gênero um tipo feminino é culturalmente imposto à fêmea para que se torne uma mulher social e um gênero masculino ao macho para que se torne um homem social O gênero se manifesta materialmente em duas áreas fundamentais 1 na di visão sociossexual do trabalho e dos meios de produção 2 na organização social do trabalho de procriação em que as capacidades reprodutivas das mulheres são transformadas e mais frequentemente exacerbadas por diver sas intervenções sociais Tabet 19851998 Outros aspectos do gênero diferenciação da vestimenta dos comportamentos e atitudes físicas e psico lógicas desigualdade de acesso aos recursos materiais Tabet 19791998 e mentais Mathieu 1985b1991a etc são marcas ou consequências dessa diferenciação social elementar Assim a extensão para a quase totalidade da experiência humana da quilo que é apenas uma diferenciação funcional em uma área leva a maioria dos seres humanos a pensar em termos de diferença entre os sexos como uma divisão ontológica irredutível em que sexo e gênero coincidem e cada um deles é exclusivo em relação ao outro Mas a gramática do gênero ideal e factual ultrapassa por vezes a evidência biológica da bicategorização aliás ela própria problemática conforme o demonstram a complexidade Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 223 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 223 18102009 192538 18102009 192538 224 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER dos mecanismos de determinação do sexo Peyre e Wiels 1997 e os estados interssexuais Algumas sociedades mas não as ocidentais modernas e al guns fenômenos marginais das nossas sociedades modernas mostraram que defi nições de sexo e gênero assim como as fronteiras entre sexos eou entre gêneros não são tão claras Outros sexos e outros gêneros O conceito de sexo parece ser universal Héritier 1996 19ss vê na pró pria diferença anatômica entre os sexos uma barreira última do pensamen to inserindo a oposição entre o idêntico e o diferente na origem dos sistemas conceituais binários No entanto as teorias sobre a origem da sua biparti ção sobre sua função na procriação ou sobre o sexo real de um bebê são muito diferentes desde antes de Aristóteles até os biólogos modernos de um lado a outro do planeta Conforme a sociedade ou sempre houve dois sexos ordem divina ou ordem natural ou primeiro um só sugestivamen te porém já sexuado ou andrógino o que dá no mesmo ou dois seres do mesmo sexo Para a procriação ou só o homem ou só a mulher ou a mulher com a ajuda de um espírito é que contribui para a concepção da criança às vezes o pai é tão necessário quanto a mãe para continuar a produzir bio logicamente a criança após o nascimento etc E às vezes a criança muda de sexo no momento do nascimento ou não pertence ao seu sexo aparente No entanto apesar da diversidade das representações de sexo e da sexualidade as sociedades instauram concretamente por meio de ritos regras de casa mento e prescrições diversas uma diferença entre os sexos e sua comple mentaridade geralmente hierárquica Mathieu 1991b Na maioria das sociedades a bipartição do gênero deve estar calcada na bipartição do sexo realizada sob forma normal e normatizada na heteros sexualidade O gênero traduz o sexo Deve haver uma adequação entre gênero e sexo com uma ênfase neste último Daí a necessidade para os transexuais modernos de mudar de sexo para estar em conformidade com o gênero vivido o do sexo oposto Ou como entre os inuit a necessidade de vestir e criar um bebêmenina como menino travestismo se a pessoa que reencarnou nela era do sexo masculino e viceversa o que cria uma espé cie de terceiro sexo pelo menos até o casamento heterossexual quando a criança retorna ao seu sexogênero biológico Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 224 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 224 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 225 Mas uma segunda maneira de conceber a relação entre sexo e gênero é admitir a sua divergência eventual dando prioridade ao gênero ou seja à bipartição social de funções e atitudes O gênero pode ser um símbolo do sexo e viceversa É uma lógica pragmática mais heterossocial do que heterossexual que permite uma relativa fl exibilidade de comportamentos incluindose o sexual Assim os travestis modernos desprezados ou os berdaches ameríndios indivíduos passando ofi cialmente ao gênero oposto não querem mudar de sexo mas sim marcar sua preferência pelo outro gê nero O caso africano de casamentos institucionais entre homens ou entre mulheres em que as normas de gênero prerrogativas do marido e ser viços da esposa eram respeitadas atestam que o casamento não se defi ne principalmente pela função reprodutiva como bem o havia observado LéviStrauss 1956 mas garante um conjunto de direitos do sexogênero homem sobre o sexogênero mulher As diversas análises da relação entre sexo e gênero Não obstante algumas obras de autores importantes como Friedrich En gels 1884 Margaret Mead 1935 1948 Virginia Woolf 1929 1938 ou Simone de Beauvoir 1949 a questão da construção social das diferenças entre os sexos permaneceu e ainda é marginal nas Ciências Humanas como o demonstra a invisibilidade ou o desprezo que ainda atingem os estudos feministas no mundo acadêmico na França mais do que em outros países ocidentais Antes do ressurgimento dos movimentos feministas no fi nal dos anos 60 a História se interessava eventualmente por algumas mulheres de poder eou célebres a Psicologia e a Psicanálise pelas diferenças entre os sexos na fronteira entre biologia e socialização controvérsia natureza x educação a Psicologia e a Sociologia pelos papéis sexuais esperados ou prescritos o que representava um progresso A Etnologia constatava a complementaridade dos sexos e se questionava às vezes acerca de seus fundamentos controvérsia natureza x cultura Notese que no início dos estudos feministas nos Estados Unidos como noutros países não se falava de gênero mas de mulheres e sua invisibili zação pela sociedade e por uma ciência androcêntrica de sua opressãoex ploração pelos homens e das condições de sua libertação Como mulheres nós pensávamos e reivindicávamos Mas o que é uma mulher Os debates Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 225 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 225 18102009 192538 18102009 192538 226 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER entre tendências dentro do movimento de mulheres revelam diversas concepções subjacentes da relação entre sexo e gênero algumas das quais não diferem muito das duas concepções mencionadas anteriormente Uma tendência francesa inspirada numa dada corrente da Psicanálise está as sociada ao primeiro modo de pensamento baseado no sexo homens e mu lheres são diferentes o problema é que a nossa sociedade não permitiu que a mulher chegasse psicológica e socialmente à sua especifi cidade Mas as opções mais comuns estão no segundo modo de pensamento que abre es paço para a ambiguidade entre sexo e gênero elas abordam as modalidades de construção do gênero concebido como elaboração cultural da diferen ça sexual analisando e denunciando as desigualdades entre os sexos a fi m de rearranjar equitativamente os conteúdos dos dois gêneros Finalmente uma terceira corrente conceitual da relação entre sexo e gênero apresentada na França pelo coletivo da revista Questões feministas 1977 1980 con sidera que os sexos não são simples categorias bissociais mas classes no sentido marxista constituídas por e na relação de poder dos homens sobre as mulheres que é o próprio eixo da defi nição de gênero e de sua primazia sobre o sexo cf Delphy 1991b2001 o gênero constrói o sexo As tendên cias lésbicas políticas próximas desta corrente encaram a heterossexualida de não como um comportamento sexual entre outros mas como o sistema fundador da defi nição de mulheres por uma relação obrigatória de de pendência dos homens Quando Simone de Beauvoir disse Não se nasce mulher tornase mulher Monique Wittig 19802001 acrescentou mulher não tem sentido senão nos sistemas de pensamento e nos sistemas econômicos heterossexuais As lésbicas não são mulheres As críticas feministas das ciências focaram entre outras a naturalização da categoria mulher Dado o amálgama biofi siopsicológico que a defi nia e a ocultação de relações de poder que a constituem faziase necessário in troduzir análises e portanto os termos mostrando claramente o funciona mento social da categorização por sexo Daí o advento na França das no ções de sexo social Mathieu 19711991a de sexagem Guillaumin 19781992 para descrever em relação a certas formas de escravidão e ser vidão um sistema de apropriação das mulheres sexismo mais restrito se referia mais a atitudes e da expressão rapidamente generalizada aos países francófonos relações sociais de sexo correspondente à inglesa gender re lations relações de gênero Nos Estados Unidos o termo gender até então Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 226 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 226 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 227 ocasionalmente utilizado em estudos psicológicos sobre a identidade pes soal por exemplo o trabalho de John Money e Stoller 1968 ganha uma acepção sociológica por exemplo Oakley 1972 E a antropóloga Gayle Rubin 19751999 propôs a expressão sexgender systems para destacar a interdependência sistêmica entre os regimes matrimoniais que oprimem as mulheres nos quais elas não têm sobre si mesmas sobre as outras mulheres e sobre os homens os direitos privilégio de gênero que estes têm sobre elas e sobre a sua sexualidade e os processos econômicos e políticos globais Desvios da noção de gênero Desde os anos 80 notase uma tendência nos escritos em inglês femi nistas ou não e mais recentemente em francês de um uso exclusivo do termo gênero Isso acarreta vários problemas 1 O termo gênero isolado tende a ocultar que o sexo a defi nição ideológica e prática que lhe é dada funciona efetivamente como pa râmetro na variabilidade das relações sociais concretas e das elabora ções simbólicas Quaisquer que sejam os modos de articulação entre sexo e gênero detectase constantemente um funcionamento assimé trico do gênero e de suas transgressões em função do sexo Sem dú vida há os gêneros homemmulher mas na base inferior da escala do gênero há fêmeas sexo social mulher Mathieu 19891991a Como no caso da substituição do termo raça por etnia deixar o sexo fora do campo do gênero implica o risco de manter incontorná vel o seu estatuto de realidade E de realidade imutável esquecendo se de que a biologia e em especial a fi siologia da fecundidade é amplamente dependente do ambiente social 2 Evidentemente as análises feministas mostram que o funciona mento do gênero incluindo as estruturas sociocognitivas Hurtig e Pichevin 1991 é hierárquico Mas o termo continua a ser usado pela maioria das pessoas como uma bicategorização inofensiva Falar de gender studies é então bem menos comum ou particularista do que womens studies ou gay and lesbian studies e parece mais tran quilo ou objetivo do que feminist studies Isso permite estudar os aspectos simbólicos e ideológicos do masculino e do feminino sem referência à opressão do sexo feminino Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 227 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 227 18102009 192538 18102009 192538 228 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER 3 Podese constatar que muitos escritos em inglês inclusive feminis tas utilizam gender em diversos sentidos e principalmente como um eufemismo para sexo o que aumenta a confusão frequente entre sexo e sexualidade Segundo Brigitte Lhomond 1997 o abandono de toda distinção entre sexo e gênero conduz ao risco de naturalizar o gênero 4 A partir dos anos 90 surge nos Estados Unidos um novo desvio do gênero representado em alguns espetáculos da cantora Madonna e promovido por ativistas e alguns universitários com o nome de mo vimento e teoria queer queer bizarro ambíguo insulto usado para designar homossexuais reivindicado aqui para afi rmar e reunir to dos os comportamentos diferentes daquele da heterossexualidade normativa homossexuais lésbicas transexuais travestis bissexuais etc Inspirados por uma forma de pósmodernismo e reprovando os movimentos feministas lésbicos e gays anteriores por terem centra do o seu foco sobre questões relativas às identidades coletivas cons tituídas os queer consideram que as categorias de oposição binária homensmulheres homoheterossexual são ultrapassadas ou mes mo essencialistas enquanto nós havíamos demonstrado que elas são construídas pela opressãoTratase então de ultrapassar o gêne ro transgendering embaralhando desordenando perturbando Butler 1990 as categorias de sexo e sexualidade Eles se interessam pelos gêneros como uma representação quase teatral perfor mance que cada indivíduo poderia desempenhar à sua maneira ver os artigos críticos de F Collin 1994 Charest 1994 Mathieu 1994 Os aspectos simbólicos discursivos e paródicos do gênero são pri vilegiados em detrimento da realidade material histórica das opres sões sofridas pelas mulheres e essa tendência encontra forte oposição entre algumas lésbicas e feministas especialmente as feministas de cor americanas e as do Terceiro Mundo Três debates em torno das categorias de gênero e de sexo A atualidade social tanto conceitual como jurídica das categorias de sexo e gênero é evidenciada nos países ricos por meio de três debates Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 228 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 228 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 229 1 A feminização da linguagem Na maioria das línguas europeias em graus diferentes o gênero gramatical é hierárquico o masculino representa o geral e no plural engloba o feminino O protesto fe minista contra o ocultamento do sexogênero mulher deu lugar muito precocemente a várias criações em romances ensaios carta zes e hoje em fanzines colocar todas as palavras no feminino raro mas chocante ou usar a forma feminina plural acentuada tipogra fi camente para designar um conjunto misto as alunAs as univer sitáriAs ou evitar ao máximo termos que identifi quem o sexo ou encontrar uma palavra neutra e universalizante por exemplo o on Wittig 19851992 e 2001 em francês as pessoas em português ou substituir chairman por chairperson no inglês etc No Quebec o Instituto de Língua Francesa editou há vinte anos recomenda ções para a feminização ou bissexualização dos termos por exemplo uma professora osas alunosas ou em francês une professeure les étudiantes sob os auspícios da feminização dos nomes das profi s sões na França cf HoudebineGravaud 1999 Mas o que subjaz à feminização Claire Michard 1999 revela que os signifi cantes masculinofeminino não possuem signifi cados simétricos humano masculinohumano feminino como pretende a linguística clássica ao falar de gênero natural ou gênero verdadeiro mas sim de humanofêmea A questão então é saber se uma sobressexualização da linguagem não bloqueará toda possibilidade de se avançar em di reção à abolição do gênero 2 A paridade entre homens e mulheres na representação política está na ordem do dia na Europa e alguns países têm quase chegado lá As possibilidades e especialmente as modalidades dessa paridade são fortemente dependentes das tradições políticas Na França um vivo debate opõe as feministas Para todas é o sexogênero mulheres que é inferiorizado mas para algumas é preciso por isso mesmo constituir o sexo como uma categoria jurídica da representação política enquanto outras receiam que isso ratifi que a ideia já muito enraizada de uma natureza diferente entre mulheres e homens de uma especifi cidade sexuada dos valores do pensamento e da ação enquanto a inferiorização das mulheres é uma questão de gênero Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 229 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 229 18102009 192538 18102009 192538 230 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER 3 Mais recentemente os movimentos sociais têm procurado contestar a preeminência da diferença dos sexos num domínio que parecia no entanto ser o seu reduto a família e principalmente a questão central da fi liação e do parentesco Constatase que a família atual já não é mais supondose que o tenha sido alguma vez constituída pela tría de mãepaifi lhos testemunho disso são as ditas famílias monopa rentais na realidade estatística a mãe como única presença parental após abandono divórcio ou estupro as recomposições familiares as famílias adotivas as mulheres que recorrem a métodos artifi ciais de procriação as lésbicas e os homens gays que são também pais bio lógicos eou desejam adotar Estes exigem atualmente a integração ofi cial das homoparentalidades entre essas situações plurais em que nada impediria as crianças de ter mais de dois pais biológicos ou sociais o que não faria mais do que reencontrar as múltiplas formas de família já conhecidas pela Etnologia Em relação direta com essas reivindicações verifi camse demandas de legalização da união de vida entre pessoas do mesmo sexo sob a forma de legítimo casamento civil ou religioso em alguns países ou sob outras for mas como o PACS Pacto Civil de Solidariedade na França A parcela dos movimentos homossexuais que reivindica essa legalização considera que sua luta é contra uma discriminação que atribui apenas aos heterossexuais casados ou em regime de concubinato o reconhecimento social da sua união com as vantagens de segurança social que ela representa Outra parte dos movimentos homossexuais lésbicos e feministas lembra que a família é a expressão do heterossexismo que eles haviam denunciado que ela ra tifi ca além disso a dependência dos socialmente mais fracos e que outra solução seria o estabelecimento de direitos vinculados não ao casal mas à pessoa individual Diferença sexual teorias da Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Dominação Educação e socialização Feminilidade mas culinidade virilidade Família Linguagem científi ca sexuação da Sexualidade Delphy Christine Penser le genre quels problèmes in Marie Claude Hurtig Michèle Kail Hélène Rouch Ed Sexe et genre De la hiérarchie entre les sexes Paris Éditions du CNRS 1991b p89101 Republicado in C Delphy 2001 p243260 Guillaumin Colette Sexe race et pratique du pouvoir Lidée de Nature Paris Côté femmes Recherches 1992 241p Textos de 1977 a 1992 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 230 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 230 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 231 Herdt Gilbert Ed Third sex third gender Beyond sexual dimorphism in culture and his tory Nova York Zone Books 1994 614p Heritier Françoise Masculinféminin La pensée de la différence Paris Odile Jacob 1996 332p Textos de 1978 a 1993 Hurtig MarieClaude Pichevin MarieFrance Ed La difference des sexes Questions de psychologie Paris Tierce Sciences 1986 356p Mathieu NicoleClaude Identité sexuellesexuéede sexe Trois modes de conceptuali sation du rapport entre sexe et genre in AnneMarie DauneRichard MarieClaude Hurtig MarieFrance Pichevin Ed Catégorisation de sexe et constructions scienti fi ques AixenProvence Université de Provence Petite collection CEFUP 1989 Re publicado in Mathieu NicoleClaude LAnatomie politique Catégorisations et idéolo gies du sexe 1991a Rubin Gayle Léconomie politique du sexe Transactions sur les femmes et systèmes de sexegenre Cahiers du CEDREF 1999 n7 82p Ed orig nos Estados Unidos 1975 Tabet Paola La construction sociale de linégalité des sexes Des outils et des corps Paris LHarmattan Bibliothèque du féminisme 1998 206p Textos de 1979 e 1985 Traduzido por NAIRA PINHEIRO Sexualidade Brigitte Lhomond A sexualidade humana diz respeito aos usos do corpo e em particular mas não exclusivamente dos órgãos genitais a fi m de obter prazer físico e mental e cujo ponto mais alto é chamado por alguns de orgasmo Falase de conduta comportamento relações práticas e atos sexuais De uma maneira mais ampla a sexualidade pode ser defi nida como a construção social desses usos a formatação e ordenação dessas atividades que determina um conjunto de regras e normas variáveis de acordo com as épocas e as sociedades Essas regras e normas proíbem uma série de atos se xuais e prescrevem outros e determinam as pessoas com as quais tais atos podem ou não e devem ou não ser praticados Não podemos abordar a se xualidade sem nos referirmos num primeiro momento à fábrica do sexo Laqueur 19901992 ou seja às diversas concepções do sexo antomofi sio lógico e suas respectivas funções bem como às intervenções físicas sobre os Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 231 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 231 18102009 192538 18102009 192538 232 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER órgãos genitais particularmente as mutilações sexuais que atingem atual mente cerca de 130 milhões de mulheres Essas concepções participam da construção numa determinada sociedade de qual é e de qual deve ser o sexo de cada indivíduo defi nição dos machos e fêmeas humanosas assim como do grupo social de sexo ao qual cada uma pertence com caracterís ticas e funções às quais todos devem se conformar a defi nição de homens e de mulheres As regras da aliança ou seja quem pode ou deve se unir com quem conjugadas à instituição da heterossexualidade e à obrigatoriedade de reprodução são os outros elementos que organizam a sexualidade Em to das as sociedades a fertilidade está sujeita a um forte controle pela exposição ao coito e a obrigação de reprodução por um lado em que as mulheres exe cutam o trabalho de reprodução e por outro pela limitação dos nascimen tos proibida ou imposta contracepção aborto infanticídio Tabet 1985 Legislar Nas sociedades ocidentais modernas a sexualidade foi objeto de contro le por parte da Igreja hegemônica até o século XVIII no que a sucederam sem jamais destronála totalmente a Medicina e os Direitos civil e penal Foucault 1976 A lei determina a idade a partir da qual é lícito ter relações sexuais que pode variar dependendo do tipo de relação homo ou heteros sexual bem como a idade na qual se pode casar geralmente menor para as meninas do que para os meninos O Direito regula também as interdições de casamento segundo o grau de parentesco e o sexo O casamento é a ins tituição que legitima e prescreve as relações sexuais Diversas condutas que negam essa norma e a sua condenação legal ou moral variam ao longo do tempo Podese citar por exemplo a masturbação prática sexual solitária extremamente reprovada até meados do século XX o adultério relação sexual fora do casamento cuja penalização era maior para as mulheres a prostituição relação sexual em troca de dinheiro na qual as prostitutas que vendem e são em sua maioria mulheres estão sujeitas a um estigma que não afeta os clientes que compram e são quase exclusivamente homens o estupro e violências sexuais das quais as mulheres qualquer que seja sua idade são as principais vítimas e os homens a quase totalidade dos autores assim como a homossexualidade tratada na lei de formas diversas de acordo com o país As relações sexuais entre homens são punidas com maior Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 232 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 232 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 233 frequência e a condenação legal do lesbianismo seria menos necessária so bretudo em virtude da efi cácia do controle exercido sobre o conjunto das mulheres Classifi car prescrever No fi nal do século XIX a psiquiatria e a sexologia emergentes defi niram como perversão sexual todo uso da sexualidade desviado de seu objetivo coital e nesse período a homossexualidade é construída como uma grande perversão que assim defi nida não deveria mais ser punida pela lei Atos sexuais anteriormente considerados isoladamente e como tal proscritos sodomia safi smo por exemplo são unifi cados numa personalidade parti cular transformandose em seus sinais Essa personalidade é caracterizada por uma mistura dos sexos tanto física como mental e comportamental a homossexualidade tornase uma espécie de terceiro sexo teorias de Hirs chfeld von KrafftEbing e Havelock Ellis para citar apenas os mais conhe cidos Esse trabalho de classifi cação das perversões se dá em paralelo com o desenvolvimento de prescrições para a vida sexual conjugal centradas no coito o número de vezes os momentos as posições a duração o lugar etc Na mesma época a psicanálise coloca a sexualidade no centro da sua teoria Sigmund Freud a concebe como uma força fundamental Submis sa tanto às exigências sociais como às intrapsíquicas a energia sexual ou libido deve ser canalizada da sexualidade infantil descrita como perversa e polimorfa para a genitalidade adulta dita normal Outros médicos ou psicanalistas como Wilhelm Reich por exemplo fi zeram do livre exercício da sexualidade uma condição necessária ao equilíbrio dos indivíduos e ao desenvolvimento de sociedades não autoritárias Precursora da liberação sexual a corrente da reforma sexual muito ativa em nível internacional no início do século XX e que teve o seu apogeu no movimento dos anos 60 e 70 foi uma das alavancas de mudança das normas sexuais A estruturação da família a desigualdade jurídica e social dos sexos dentro e fora do casa mento a homossexualidade masculina e o lesbianismo a reprodução e a limitação de nascimentos a sexualidade préconjugal a violência sexual a mercantilização da sexualidade prostituição pornografi a etc foram trans formadas tanto na maneira como são percebidas quanto na prática Elas constituem questões fundamentais nas lutas políticas e sociais Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 233 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 233 18102009 192538 18102009 192538 234 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Nosso corpo nos pertence Os movimentos feminista e homossexual são a ponta de lança de uma crítica radical das normas sexuais Mudanças na legislação ocorreram sob pressão deles MossuzLavau 1991 O movimento de liberação das mu lheres na França se manifestou em duas lutas fundadoras pelo aborto livre e gratuito a partir de 1970 e contra o estupro e a violência desde 1975 Os primeiros textos relativos à sexualidade no número especial da revista Partisans Libération des femmes année zéro Liberação das Mulheres Ano Zero 1970 falam de orgasmo e frigidez bem como de materni dade aborto e estupro A discussão sobre o orgasmo vaginal até então defi nido como o verdadeiro prazer e o orgasmo clitoriano não depen dente do coito após o trabalho de sexólogos estadunidenses em especial William Masters e Virginia Johnson encontrou subsequentemente pouco eco tanto nas produções teóricas como nas ações do feminismo A questão do prazer sexual e do dever do orgasmo vai se tornar sobretudo o objeto central da sexologia de fi nalidade terapêutica Béjin 1982 Num primeiro momento a crítica feminista cuja característica funda mental é a análise das relações de dominação dos homens sobre as mulheres centrouse no que diz respeito à sexualidade na questão da livre disposição do próprio corpo pelas mulheres O questionamento da heterossexualidade como sistema de apropriação das mulheres foi em seguida desenvolvido por feministas e lésbicas radicais Wittig1980 Outros debates internacionais dão lugar a vívidas polêmicas nos países anglosaxões mas permanecem marginais na França o lugar na opressão das mulheres da pornografi a e do trabalho sexual particularmente a prostituição os tipos de atividades e relações sexuais desejáveis aceitáveis ou a evitar para mulheres ou entre mulheres como as relações butchfem em que a parceira butch se comporta de modo dito masculino enquanto a outra adota uma conduta conside rada feminina além do sadomasoquismo Vance 1984 Os comportamentos sexuais em números Os primeiros dados quantitativos sobre comportamentos sexuais fo ram fornecidos pela demografi a e se centravam na fertilidade mas fala vam também da escolha do cônjuge da coabitação entre jovens da idade Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 234 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 234 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 235 de casamento das práticas de contracepção etc Jaspard 1997 A partir dos trabalhos pioneiros de Alfred Kinsey e seus colaboradores 1948 1954 foram efetuadas pesquisas quantitativas em diversos países para respon der às preocupações sociais relativas à sexualidade Assim na França as questões da contracepção e do aborto deram origem ao Relatório sobre o comportamento sexual dos franceses Simon 1972 e a AIDS suscitou vá rias pesquisas Spira Bajos et al 1994 Lagrange Lhomond et al 1997 O estudo da época em que o jovem se inicia na sexualidade e das práticas sexuais de homens e mulheres refl ete mudanças no comportamento sexual principalmente entre as mulheres Mas o número de parceiros sexuais e as expectativas de cada sexo continuam sendo divergentes Os comportamentos homossexuais dada a importância que esse modo de transmissão do HIV tem nos países desenvolvidos são abordados de forma detalhada em todos os estudos recentes e particularmente naqueles realizados a partir de 1985 sobre homens homossexuais por Michaël Pollak e MarieAnge Schiltz 1991 A sexualidade contemporânea se caracteriza nas sociedades ocidentais por sua possibilidade da prática independente autônoma da reprodução e pela legitimação do seu exercício fora da instituição do casamento Ao mesmo tempo as mudanças das estruturas familiares e o progressivo re conhecimento social e jurídico de certas relações sexuais por exemplo as homossexuais dão lugar a fortes tensões Aborto e contracepção Assédio sexual Feminilidade masculinidade virilidade Movi mentos feministas Prostituição Tecnologias de reprodução humana Violências Foucault Michel La volonté de savoir Paris Gallimard 1976 211p Plummer Kenneth Ed Modern homosexualities Fragments of Lesbian and Gay Expe rience LondresNova York Routledge 1992 282p Tabet Paola Fertilité naturelle reproduction forcée in NicoleClaude Mathieu Ed Larraison nement des femmes Essais en anthropologie des sexes Paris Éd de lehess 1985 p61146 Reeditado in Tabet Paola La construction sociale de linégalité des sexes Des outils et des corps Paris LHarmattan 1998 p77180 Vance S Carol Ed Pleasure and danger Exploring female sexuality Boston London Melbourne Henley Routledge Kegan 1984 462p Wittig Monique La pensée straight Questions féministes 1980 n7 p 4553 Republi cado em inglês in The straight mind and other essays Boston Beacon Press 1992 110p Traduzido por NAIRA PINHEIRO Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 235 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 235 18102009 192538 18102009 192538 236 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Sindicatos Chantal Rogerat e MarieHélène ZylberbergHocquard As origens Em 21 de março de 1884 a lei WaldeckRousseau põe fi m à lei Le Cha pelier 1791 permitindo a formação de sindicatos profi ssionais de operá rios e de trabalhadores de escritório No entanto desde o início do século XIX uma série de sociedades de fundos mútuos autorizadas e às vezes até mesmo incentivadas pelo Estado ou pelos patrões transformaramse por um ato temporário em sociedades de resistência As mulheres mal remu neradas e não podendo portanto arcar com a sua cotização por menor que fosse fi cavam praticamente excluídas ainda mais porque aparentemente suas doenças e partos esvaziavam o fundo comum Ignorando a proibição câmaras sindicais foram fundadas no fi nal do Segundo Império em especial em Paris frequentemente por ocasião de uma greve Elas são mais ou menos toleradas pelas autoridades que em 1864 re tiram a greve da ilegalidade Auzias e Houel 1982 As câmaras sindicais reúnem de início os operários qualifi cados que podem retirar de seus sa lários a quantia necessária para a manutenção da organização muito pou cas mulheres se encontram nessa condição E quando os trabalhadores se sindicalizam tratase sempre basicamente de profi ssões masculinas da construção por exemplo A lei de 1884 que de fato procura instaurar a calma na cidade criando um local de educação social e política para os trabalhadores um órgão regulador fazendo que os litígios entre eles e os patrões se concluíssem pacifi camente vem coroar o edifício republicano das liberdades públicas indispensáveis ao exercício da cidadania A primeira proposta de lei nesse sentido 1876 suscitou o medo dos eleitos isso não seria legalizar a desordem social ao dar aos trabalhadores o direito de se unirem para defender seus interesses profi ssionais A lei de 1884 encontrou relutância também entre os ativistas operários que recea vam um aumento do controle do Estado Com efeito ela enquadra e con trola de forma estrita os sindicatos aos quais proíbe toda atividade política A sua existência deve ser compatível com os grandes princípios individuais da liberdade do trabalho Os nomes daqueles que são responsáveis pela Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 236 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 236 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 237 administração ou pela direção são registrados na Prefeitura A liberdade sindical não se aplica aos funcionários públicos até 1924 enquanto as pro fessoras algumas das quais atuam em grupos feministas no fi nal do século XIX desempenham um papelchave no movimento de sindicalização das trabalhadoras Sohn 1973 Liszek 1994 Se até 1938 o Código Civil proíbe as esposas de terem um emprego sem a permissão dos seus maridos a lei de 1884 não impede sua sindicalização Ela é inteiramente redigida no masculino sem dúvida subentendido como gênero neutro A circular que o Ministério do Interior envia para os prefei tos em 25 de agosto de 1884 especifi ca que os estrangeiros as mulheres em uma palavra todos aqueles que são capazes nos termos do nosso Direi to de constituir convenções regulares podem fazer parte de um sindicato mas curiosamente ela não faz distinção entre as mulheres que devem obe diência a seus maridos e as solteiras Por que os textos são tão vagos Desejo de ver a sociedade construir na prática uma jurisprudência Ou vontade de marginalizar o trabalho assa lariado feminino Enquanto em 1886 especifi case que uma esposa pode aderir livremente a um fundo de pensão e em 1907 que ela pode dispor livremente do seu salário somente em 1920 é aprovada a lei que acha neces sário especifi car que para se sindicalizar ela não necessita da autorização do marido O que estava em questão era o trabalho assalariado das mulhe res não sua sindicalização As trabalhadoras não tomam a iniciativa de criar um sindicato a não ser em caso excepcional especialmente se ele deve ser misto Elas são às vezes organizadas pela Igreja que vê isso como um instrumento de coesão social na maior parte das vezes pelos sindicatos masculinos prontos a acolhêlas quando emerge uma crise numa empresa de mão de obra predominante mente feminina Eles são então confrontados com a questão do lugar das mulheres na sociedade seres que devem permanecer em casa servir de complemento do homem ou cidadãs potencialmente ativas Concorrentes mal remuneradas ou companheiras de trabalho Bouvier 1983 No entanto até a década de 1970 Colin 1975 mais do que uma ques tão de os sindicatos não se adaptarem a elas são elas que têm de se adaptar ao sindicato estruturado num formato masculino As greves dos ferroviá rios do início do século desempenharam um papel fundamental no desen volvimento de uma imagem do trabalhador agente do seu futuro Isso é Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 237 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 237 18102009 192538 18102009 192538 238 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER verdadeiro no sindicalismo revolucionário evidentemente os sindicatos livres criados pela Igreja antes de 1914 são certamente lugares de liber dade feminina liberdade de pensamento liberdade de expressão mas na medida em que se adaptam perfeitamente a uma sociedade patriarcal que pretendem consolidar não são lugares onde se pode construir uma socie dade sexualmente igualitária Chabot 1998 Os breves encontros entre o movimento feminista e o sindicalismo são muito rapidamente interrom pidos ainda mais porque o esquecimento do passado é fato comum Às vésperas de 1914 embora as mulheres constituíssem quase 37 da força de trabalho elas não chegavam a totalizar nem mesmo 10 nos sindicatos Guilbert 1975 O sindicalismo na França é assunto de uma elite o que favorece a ascendência do militante herói sobrecarregado de responsabili dades ameaçado de perseguição até mesmo de prisão como consequência as mulheres difi cilmente encontram aí um lugar senão como esposas de dicadas zelando pela administração Além disso apenas em 1921 é que pela primeira vez uma mulher foi eleita para o cargo de secretária federal CGT Alimentação e só em 1945 é que uma delas se tornou secretária da Confederação CGT Em 1945 as mulheres tanto quanto os homens ar regaçaram as mangas e essa reconstrução obra de todos foi realizada de acordo com um esquema bem sexuado aos homens o mundo do trabalho às mulheres mesmo ativas o da família o do bairro Dubesset e Zancarini Fourniel 1993 Isso levou os sindicatos a não questionar a não ser muito raramente os velhos hábitos em que o trabalhador permanecia idealmente um ser neutro O renascimento do feminismo na França depois de 1968 atravessou o sindicalismo que teve de reagir à afi rmação O privado é po lítico No entanto após um período ativo na CFDT26 e na CGT o movi mento amainou progressivamente Os silêncios e os esquecimentos Passados trinta anos questionase o sindicalismo e o sindicalismo se autoquestiona quanto à sua capacidade de superar a crise da representativi dade de efetivos e de efi cácia no âmbito das lutas sociais 26 Confédération Française Démocratique du Travail Confederação Francesa Democrática do Trabalho NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 238 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 238 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 239 A maior parte dos trabalhos sobre o sindicalismo no entanto deixa na sombra a contribuição que poderia fazer uma abordagem que coloca o gê nero no centro das lógicas econômicas políticas e sociais Quanto aos próprios sindicatos eles não estabeleceram ainda essa liga ção embora o papel das mulheres no sindicalismo tenha sido objeto de de bates internos e de confl itos entre dirigentes sindicais homens e mulheres Se por exemplo a história sabe hoje prestar contas do caso Couriau27 as lutas dos anos 70 e 80 como Grandin ou LIP e o confl ito em 1982 no jornal feminino da CGT Antoinette precisariam ser conhecidas e analisadas É inegável que o sindicalismo antigo bastião masculino continua assim em muitos aspectos no entanto a hostilidade masculinosindical ao trabalho profi ssional das mulheres que sustentava a oposição manifesta à sua sindi calização desaparece ou assume novas formas A força da divisão sexual do trabalho nas suas manifestações contemporâneas marginalização das mu lheres no trabalho remunerado concorrência exacerbada entre homens e mulheres por conta do desemprego e da precarização do trabalho é apesar disso compreendida como devendo estruturar a ação sindical Essa é uma questão atual à qual os sindicatos estão tentando responder sabendo que não pode haver uma só resposta As mulheres conquistaram um lugar no mundo sindical e é pelo estudo do seu estatuto no trabalho assalariado PuydesseauSiwek 1996 que se pode atingir um conhecimento mais re fi nado do sindicalismo nos dias de hoje Essa é uma condição necessária se não sufi ciente A palavra mixité28 que não aparece ainda em nenhum dicionário recente Hetzel et al 1998 é uma orientação reivindicada pela CFDT nos anos 70 e tratada pela CGT após a Conferência de Mulheres Assalariadas em 1977 Rogerat 1978 Ela se tornou hoje o símbolo de uma igualdade profi ssional entre homens e mulheres que falta ainda con quistar Vista às vezes como o equivalente adaptado às situações de traba lho da paridade no plano da política a coexistência entre os sexos29 pode 27 Tratase do caso de Emma Couriau tipógrafa e esposa de tipógrafo que solicita em abril de 1913 a sua admissão ao sindicato da categoria em Lyon França Não só o seu pedido é recu sado como também o nome de seu marido é desarrolado MarieVictoire Louis LAffaire Couriau 1913 wwwmarievictoirelouisnetdocumentphpid542themeid NT 28 Referência à presença conjunta de homens e mulheres num determinado ambiente contexto ou grupo NT 29 A palavra original em francês é mixité para a qual não há um termo equivalente em português pelo que foi aqui traduzida por coexistência entre os sexos NRT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 239 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 239 18102009 192538 18102009 192538 240 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER ser considerada um modo de regulação das relações sociais de sexo uma visibilização do peso das mulheres no aparelho produtivo em suma um elemento desestabilizador da divisão sexual do trabalho Reivindicar tal coexistência tornase então o que Cynthia Cockburn 1999 chama de gen der proofi ng expressão que sintetiza a medida a tomar para submeter todas as políticas sindicais públicas e empresariais a uma análise de gênero a fi m de verifi car quais são as suas consequências para as mulheres No entanto convém notar que essa coexistência entre os sexos não é efetivamente objeto de lutas sociais Os atrasos e os fracassos Analisar as práticas sindicais a partir dessa concepção sexuada do tra balho não explica as condições de entrada das mulheres no sindicalismo A história está aí para nos lembrar disso Liszek 1994 Incluir as mulheres na vida sindical ainda hoje signifi ca mas de forma mais complexa do que an tes integrálas com base no modelo dominante do trabalhador masculino É aí sem dúvida que reside o maior malentendido entre os movimentos feministas e o sindicalismo Não é algo evidente para o sindicalismo que a contribuição das mulheres nas lutas seja fator de progresso social Zylber bergHocquard 1981 Apesar do seu assalariamento acelerado não sa bemos se é preciso categorizar as mulheres ou assimilálas Rogerat 1995 De certa maneira o seu processo de integração no mundo sindical está atrasado frente à sua integração no mundo do trabalho remunerado Do ponto de vista das próprias mulheres o modo de passagem da esfera privada à esfera pública é problemático abordar o que a história contem porânea do movimento social chama às vezes de cidadania do trabalho que pressupõe a prática do sindicalismo cria de fato uma nova relação de poder entre os sexos Ao longo das últimas décadas o sindicalismo exceto nos sindicatos recémcriados onde o lugar das mulheres é tema de uma batalha ideológica constantemente renovada acreditou responder a esse problema recorrendo à noção de complementaridade correspondente nos termos da concepção dominante Denunciada pela CFDT nos anos 70 Laot 1977 essa concepção entra de novo em voga no sindicalismo pelo viés da divisão de poderes No entanto o surgimento de lideranças femininas no sindica Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 240 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 240 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 241 lismo e a sua reconhecida representatividade não são acompanhados por um movimento signifi cativo de sindicalização das mulheres A sua taxa de sindicalização permanece inferior à dos homens Ao paradoxo contemporâneo do duplo fenômeno de afl uxo das mulhe res ao mundo do trabalho e sua maciça marginalização em relação ao mo delo dominante de emprego estável corresponde uma defasagem sempre reativada do estatuto sindical desigual de homens e mulheres Isso afeta sua função social de organização e representação dos assalariados assim como sua credibilidade Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Coexistência entre os sexos Igualdade Movimentos feministas Movimentos sociais Poderes Públicoprivado Cockburn Cynthia Les relations internationales ont un genre Le dialogue social en Eu rope Travail Genre et Sociétés 1999 n2 p11339 Guilbert Madeleine Les femmes dans lorganisation syndicale avant la guerre de 1914 Paris Éditions du CNRS 1966 507p Loiseau Dominique Femmes et militantisme SaintNazaire et sa région 19301980 Pa ris LHarmattan 1996 239p Maruani Margaret Les syndicats à lépreuve du féminisme Paris Syros 1979 271p Rogerat Chantal Femmes et syndicalistes Assimilation ou intégration La dynamique du compromis in Collectif La liberté du travail Paris Syllepse 1995 p 6583 ZylberbergHocquard MarieHélène Féminisme et syndicalisme en France Paris An thropos 1978 326p Traduzido por NAIRA PINHEIRO Técnicas e gênero Danielle ChabaudRychter e Delphine Gardey A relação entre técnicas e gênero baseiase em três considerações 1 as técnicas não têm aspectos sociais mas têm uma constituição social 2 a defi nição de feminino e masculino não é dada mas tem uma história uma sociologia uma antropologia 3 essas duas construções às vezes caminham juntas e é então possível dizer que o gênero e as técnicas se constroem mutuamente Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 241 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 241 18102009 192538 18102009 192538 242 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER As diferenças no trabalho No início da refl exão sobre gênero e tecnologia encontramos uma série de pesquisas sobre o trabalho A sociologia e a história do trabalho até os anos 70 e 80 se interessam pela técnica sob a forma de técnicas de produção principalmente do maquinismo industrial As análises têm por objeto os efeitos dessas técnicas e suas mudanças sobre as relações sociais de produ ção e em particular sobre a divisão do trabalho e a qualifi cação profi ssional Braverman 1976 As feministas destacam então que as relações sociais de sexo não haviam sido levadas em conta nas relações de produção e insistem sobre os efeitos das mudanças nas técnicas sobre a divisão do trabalho en tre os sexos e a qualifi cação As mulheres têm práticas e competências que não são reconhecidas como tais aquelas que desenvolvem continuamente na esfera doméstica e que podem ser reutilizadas no processo produtivo Kergoat 1982 Nesses primeiros trabalhos a análise das técnicas permanece no entan to periférica Entendidas como macroobjetos explicativos as técnicas pa recem com efeito escapar à análise Durante os anos 80 na França surgem análises menos deterministas apoiadas em estudos de caso concretos que apreendem melhor a dinâmica das relações entre trabalho técnica relações sociais de sexo e organização Helena Hirata 1993 por exemplo constata a variedade de confi gurações geográfi cas e sociais das mesmas técnicas Helen Harden Chenut 1987 evidencia na história da indústria de confecção os processos complexos de alocação e realocação da mão de obra feminina e masculina em função das técnicas concluindo que como caracterização do masculino a qualifi cação vem antes da determinação técnica No caso dos ofícios da composição de livros a verdadeira técnica é a dos operários da indústria gráfi ca à moda antiga a realização do trabalho através da informática e pelas mulheres não seria mais um belo ofício nem seria capaz de ser fonte de valor Ma ruani e Nicole 1989 A nobreza da cultura operária masculina opõese à obviedade e simplicidade dos trabalhos das senhoras Durante a década de 1990 alguns estudos consolidam essas duas consta tações 1 o impacto das mudanças tecnológicas sobre o trabalho de homens e mulheres é variável 2 se as mudanças técnicas favorecem e muito a res sexualização do trabalho a análise das relações entre feminização meca Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 242 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 242 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 243 nização e proletarização deve levar em conta que a qualifi cação é uma cons trução social sempre atrelada ao gênero Parece ser mais interessante então falar como no caso da estenografi a de coconstrução de uma prática técnica de uma profi ssão e de uma nova identidade feminina Gardey1999 Paralelamente à análise do trabalho numerosas pesquisas se interessam pela participação desigual das jovens nas áreas técnicas e científi cas Seto res mistos e segregações condicionam as possibilidades das meninas além da eventual atualização da formação científi ca e técnica das mulheres no mercado de trabalho Imbert Ferrand e Marry 2000 Participando da re formulação das questões a história e a sociologia das mulheres engenheiras constituem hoje um promissor campo de pesquisas comparativas Canel e Zachmann 1997 A relação com as técnicas como origem Paola Tabet 1979 foi uma das raras pesquisadoras a questionar a rela ção entre homens mulheres e técnicas extraindo da Antropologia os ele mentos para compreender a sempre reiterada afi rmação da exterioridade das mulheres às técnicas Esse trabalho sobre os imaginários sociais ou a longa duração das formas simbólicas e materiais da dominação teve sequên cia principalmente no artigo de Michelle Perrot Mulheres e maquinismos no século XIX 1983 A audácia de Paola Tabet foi a de formular a hipótese segundo a qual o controle das ferramentas e das armas isto é das técnicas é muito desigual mente distribuído na maioria das sociedades Ela fala de uma subequipa gem tecnológica das mulheres e de um hiato entre os dois sexos que deter minam uma capacidade desigual de ampliar a infl uência sobre a realidade Ela insiste na valorização pela heroicização da realização de numerosas tarefas masculinas Parece por sua função de reprodução que as mulheres seriam para os homens o que a técnica é uma ferramenta uma possível infl uência Algumas proposições de feministas estrangeiras fazem eco à análise de Paola Tabet É o caso por exemplo da tradição crítica escandinava de eco logistas e feministas os grandes sistemas tecnocientífi cos e poluentes da segunda metade do século XX são concebidos como dependentes de uma visão de mundo masculina Essa crítica se faz também nos Estados Unidos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 243 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 243 18102009 192538 18102009 192538 244 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER atribuemse naturalmente as técnicas aos homens isto é as técnicas são os big toys for big boys brinquedos grandes para meninos grandes ou o que os homens brancos ocidentais engenheiros ou cientistas fazem há dé cadas a conquista da lua pontes aviões armas Uma parte da sociologia e da história das técnicas atuais retoma a ideia dessa dominação masculina assentada no domínio dos artefatos atuais Lerman Mohun e Oldenziel 1997 A mútua construção das técnicas e do gênero Sociólogos como Cockburn Wajcman ou Berner analisam a técnica como cultura masculina Ela pode assumir formas diferentes Cockburn 1983 estudou subculturas das profi ssões Berner 1997 a cultura das escolas de engenharia Turkle 1986 a dos hackers em informática No entanto ao ler esses trabalhos a cultura técnica masculina parece ter componentes cons tantes como a submissão de si mesmo a provas e a busca do controle físico e intelectual no confronto com as máquinas As relações entre os homens no trabalho estão baseadas na competição na avaliação mútua da competência técnica e em sua submissão a provas heroicas A cultura técnica é assim um dos elementos constitutivos da identidade masculina Excluídas pelos homens das profi ssões ou dos lugares em que estes fazem técnica as mu lheres o são também porque ali se produz o masculino Então entendemos melhor certos processos pelos quais as mulheres se autoexcluem de práticas técnicas a falta de habilidade técnica das mulheres se torna de fato parte integrante da identidade de gênero feminina ao mesmo tempo em que é um estereótipo de gênero Wajcman 1991 Há não obstante técnicas femini nas mas a cultura masculina da técnica não as reconhece como tais e esse não reconhecimento é retransmitido pelas próprias mulheres Paralelamente a esses trabalhos feministas desenvolvese uma nova sociologia das técnicas fortemente inspirada pela sociologia das ciências Duas tendências representativas ditas construtivistas interessam particu larmente às feministas Tratase do programa SCOT Social Construction of Technology proposto por Wiebe Bijker e Trevor Pinch 1989 e da teoria do atorrede desenvolvida por Michel Callon John Law cf Callon 1989 Bruno Latour 1989 e Madeleine Akrich 1987 Os trabalhos dessas duas escolas estão centrados na concepção e no desenvolvimento de técnicas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 244 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 244 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 245 Um das concepções centrais do programa SCOT é a fl exibilidade inter pretativa Esta aponta para o fato de grupos sociais diferentes terem inter pretações radicalmente diferentes do mesmo objeto técnico O fracasso ou o sucesso de uma inovação depende da convergência de interpretações que se estabelecem entre os grupos sociais envolvidos nas controvérsias e negocia ções surgidas no decorrer do processo de inovação Essa abordagem abre ca minho para se levar em consideração as usuárias e os usuários desse processo Na teoria do atorrede o social e o técnico se constroem conjuntamente Os inovadores implementam estratégias para interessar os seres huma nos e não humanos por sua empresa associandoos em redes sociotécnicas A construção dessas redes híbridas que associam artefatos objetos natu rais atores individuais e coletivos e seus portavozes faz existir transforma e consolida de modo indissociável objetos técnicos e relações sociais As pesquisadoras feministas encontraram numerosas convergências e ao mesmo tempo divergências importantes entre os seus trabalhos e essa teoria Uma das críticas principais é que essa sociologia da inovação adota o ponto de vista dos inovadores e não diz nada acerca dos usuários nem sobre os atores secundários da inovação nem sobre os que são excluídos pe las redes Star 1991 Elas propõem então ampliar o campo de pesquisa às técnicas negligenciadas pela sociologia das técnicas como as domésticas e também estudar não só a inovação mas ainda toda a trajetória seguida pelos objetos técnicos desde sua concepção até o uso ChabaudRychter1994 Além da construção mútua da sociedade e da técnica na teoria do ator rede as pesquisadoras retiveram a possibilidade de abordar a construção mútua das técnicas e do gênero ao longo dos processos de inovação produ ção distribuição e uso das técnicas Tanto quanto as técnicas o gênero e as relações de gênero não são fi xas mas constantemente redefi nidas e recons truídas no decorrer das atividades humanas e as técnicas as atividades técnicas as relações que os homens e as mulheres estabelecem com as téc nicas desempenham um papel importante nas construções e redefi nições do gênero Cockburn e Ormrod1993 ChabaudRychter 1997 Na fronteira entre técnicas e ciências novas pesquisas sobre a medicina e as tecnologias de reprodução apontam para a hibridização das técnicas e dos corpos Aqui a técnica participa da construção dos corpos sexuados questionando assim a distinção entre o gênero social e o sexo biológico Oudshoorn 1998 Akrich e Laborie1999 Gardey e Löwry 2000 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 245 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 245 18102009 192538 18102009 192538 246 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Ciências e gênero Feminilidade masculinidade virilidade Linguagem científi ca sexuação da Ofício profi ssão empre go Trabalho o conceito de Akrich Madeleine Laborie Françoise Coord De la contraception à lenfantement Loffre technologique en question Cahiers du Genre 1999 n25 204p ChabaudRychter Danielle Coord Genre et techniques domestiques Cahiers du Ge disst 1997 n20 162p Cockburn Cynthia Ormrod Susan Gender and technology in the making Londres Thousand Oaks Nova Delhi Sage 1993 185 p Gardey Delphine Mécaniser lécriture et photographier la parole Utopies monde du bureau et histoires de genre et de techniques Annales Histoire Sciences sociales maiojun 1999 n3 p587614 Tabet Paola Les mains les outils les armes LHomme juldez 1979 v19 n34 p561 Wajcman Judy Feminism confronts Technology Cambridge Polity Press 1991 184p Traduzido por NAIRA PINHEIRO Tecnologias da reprodução humana Françoise Laborie Conjunto de técnicas médicas destinadas a princípio a compensar di versas formas de esterilidade possibilitando a concepção de crianças na au sência de relações sexuais e às vezes pelo recurso a terceiros Inventada para contornar a esterilidade masculina a inseminação artifi cial com esperma do futuro pai IAC ou de um doador IAD precedeu o desenvolvimento da fertilização in vitro FIV para compensar a esterilidade feminina de origem tubária assim como o de diversas técnicas derivadas Desenvolvimento exponencial Em 1978 nascia na Inglaterra o primeiro bebê por meio de uma FIV na França isso se deu em 1982 Por toda parte observase um forte desenvolvi mento quase exponencial na França do número de centros e tentativas como se os casos de esterilidade defi nitiva houvessem subitamente se gene ralizado A oferta tecnológica gerou sob um fundo de medo da esterilidade Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 246 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 246 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 247 uma demanda tanto maior quanto o aumento de indicações de esterilidade de origem masculina de esterilidades não explicadas e de hipofertilidades Ora a FIV é uma técnica pesada para as mulheres estimulações hormonais intensivas punção cirúrgica de numerosos óvulos seguida por sua fecun dação por espermatozóides em laboratório Se forem obtidos embriões eles podem ser selecionados transferidos para o útero ou congelados se forem muito numerosos Os insucessos são consideráveis em aproximadamente 25 dos casos a transferência é seguida de uma falsa gravidez Só 10 das tentativas resultam no nascimento de crianças frequentemente múltiplas vivas e saudáveis dentre as quais muitas são prematuras Por causa do aumento de indicações pesadas intervenções são cada vez mais frequen temente realizadas em mulheres férteis de forma que a criança venha de um esperma do cônjuge A invenção do ICSI a FIV cuja etapa de ferti lização é realizada por meio de injeção mecânica forçada de um esperma dentro de um óvulo é destinada assim exclusivamente para contornar a esterilidade masculina defi nitiva O primeiro bebê assim gerado nasceu em 1992 na Bélgica As recentes evoluções injeção de diversos precursores de espermatozóides seguem no mesmo sentido de forma que mesmo sem es permato zóides os homens possam gerar crianças portadoras dos seus genes e que a sua paternidade biológica seja assegurada Além disso o desenvolvimento do DPI Diagnóstico PréImplante de Embriões antes da sua transferência que permite eliminar embriões portadores de muta ções genéticas nocivas estende ainda as indicações de FIV para uma nova população a dos casais que correm o risco de dar à luz crianças portadoras de doenças genéticas Ao todo em 1998 500000 crianças das quais 30000 na França tinham vindo ao mundo após o recurso a uma ou outra dessas tecnologias Ênfase e críticas Os debates sobre as novas tecnologias da reprodução NTRs geral mente muito midiatizados oscilaram entre a ênfase dos médicos e dos pais satisfeitos com esta ou aquela grande première tecnológica e o catastrofi smo de diversas análises Foram frequentemente citados o surgimento de certas demandas de acesso a modos de reprodução que evitam as relações hete rossexuais os riscos de seleção e manipulação dos embriões às vezes da Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 247 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 247 18102009 192538 18102009 192538 248 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER espécie humana o receio de ver as defi nições das relações de fi liação em particular maternas terem de ser repensados Por toda parte as feministas fi caram divididas entre duas posições di vergentes que podem ser esquematicamente resumidas da seguinte forma ao abrir possibilidades inéditas que uma mulher forneça o seu óvulo en quanto outra carregue o embrião as NTRs oferecem novas escolhas às mulheres Ou pelo contrário permitem um maior controle social sobre a reprodução e sobre a vida e a maternidade das mulheres Desde os anos 80 nos Estados Unidos e especialmente a partir de 1985 no cenário internacional muitas feministas começaram a analisar as con sequências sociais do desenvolvimento das NTRs principalmente para as mulheres e a confrontar debater e tornar públicas as suas análises Assim em 1984 houve duas conferências feministas fortemente contraditórias quanto às suas premissas Uma na Inglaterra consoante com as posições de Sulamith Firestone 1970 para quem as futuras NTRs seriam ferramen tas de liberação que permitiriam às mulheres escapar das suas limitações corporais Essa primeira conferência fi xouse nas novas escolhas nos novos direitos disponibilizados às mulheres com o desenvolvimento das NTRs Já a segunda na Holanda levou em 1985 à criação da Rede Internacio nal de Resistência Feminista ao Desenvolvimento das NTRs e das Mani pulações Genéticas FINRRAGE Muito ativa fez circular uma grande quantidade de informações editou vários livros Corea 1985 1987 Spallo ne e Steinberg 1987 e uma revista Reproductive and Genetic Engineering Journal of International Feminist Analysis organizou colóquios debates públicos no Parlamento Europeu em 1986 conferências de imprensa es pecialmente nos Estados Unidos para denunciar a situação das mães porta doras e assegurar a defesa de todas aquelas que queriam fi car com a criança Os textos revelaram as consideráveis taxas de insucesso da FIV e de lucro das empresas farmacêuticas multinacionais Chamaram atenção para até que ponto a tecnologização se faz acompanhar de uma industrialização da produção de seres vivos Isso é feito a partir da matériaprima original até então pouco acessível que constitui os óvulos recolhidos em grandes quantidades de mulheres previamente submetidas a fortes estímulos hor monais num procedimento cujo caráter experimental é perigoso para sua saúde o que foi omitido pelos médicos e tem sido amplamente denunciado e enfatizado pelas pesquisadoras feministas Enquanto médicos e biólogos Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 248 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 248 18102009 192538 18102009 192538 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 249 frequentemente afi rmam se contentar apenas em responder a solicitações dos casais e das mulheres elas são utilizadas como melhores objetos de experimentos diversos reduzidas ao estatuto de provedoras de óvulos ou de incubadoras humanas quando o seu útero se faz necessário às vezes considerado hostil para que se desenvolvam os embriões Nos Estados Unidos a comercialização da procriação é organizada não só mediante a venda de gametas humanos mas também da de mães por tadoras esse cenário cria uma classe de mulheres escolhidas às vezes em catálogo reduzidas a nada mais que instrumentos temporários de produção de crianças destinadas a homens desejosos de assegurar sua descendência genética É por isso dizem as feministas críticas que destacar a afl ição dos casais estéreis ampliar as indicações das NTRs infl ar os índices de suces so minimizar o risco para a saúde das mulheres e das crianças faz parte das estratégias desenvolvidas pelos médicos por toda parte Descrever as NTRs como tratamento da esterilidade mascara efetivamente a parte invisível do iceberg Esta inclui no lado ocidental as biotecnologias de manipulação e seleção do genoma humano assim como do animal e vegetal colocandose como desafi os para as indústrias farmacêuticas veterinárias e agroalimen tares e nos países em desenvolvimento diversas técnicas de controle da população contraceptivos de longa duração esterilizações que assegurem uma geopolítica demográfi ca As feministas diante da oferta tecnológica Na França apesar de uma forte midiatização das NTRs e da importân cia desse desenvolvimento tecnológico realizaramse em 1988 proporcio nalmente oito vezes mais tentativas de FIV na França do que nos Estados Unidos Laborie in Testart 1990 reinava uma relativa indiferença da parte dos grupos de mulheres resultante provavelmente do fato de as aná lises feministas da maternidade centradas na atribuição histórica das mu lheres a essa função haverem reduzido a demanda de liberdade de reprodu ção ao direito de acesso das mulheres à contracepção e ao aborto sem uma refl exão sobre o desejo de ter fi lhos Algumas pesquisadoras francesas e do Quebec majoritariamente críticas diante das NTRs desenvolveram diversas análises publicadas em obras coletivas após terem sido apresen tadas nos colóquios organizados pelo Conselho do Estatuto da Mulher em Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 249 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 249 18102009 192538 18102009 192538 250 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Quebec 1988 pelo Movimento Francês para o Controle da Natalidade 1989 e durante uma conferência internacional de avaliação das NTRs que elas organizaram em Paris em julho de 1990 paralelamente ao VII Con gresso Mundial de Médicos das NTRs O desafi o central das NTRs das quais o corpo materno é o alvo e a permutabilidade dos órgãos a lógica é o de repensar o lugar reservado às mulheres na gestão social da reprodução Braidotti1987 Procurando compreender quais mudanças sociais estão levando numerosas mulheres para os centros que oferecem as NTRs elas analisaram as formas de construção social da esterilidade e de legitimidade das NTRs Gavarini in MFPF 1989 as complexas relações das mulheres com o desejo de ter fi lhos e das feministas com a maternidade F Collin in MFPF 1989 postularam que os médicos desejando controlar a origem das origens em matéria de procriação apresentam a FIV como um modelo ideal porque científi co para toda reprodução Analisando as práticas elas enfatizaram o caráter eugenista até mesmo demiúrgico de intervenções inéditas análise e seleção de embriões em matéria de produção de seres vivos F Collin in MFPF 1989 Mostraram o quão mascarada é a forte diferenciação sexual das técnicas pesadas e im plicando riscos sociais perda de trabalho e à saúde envolvendo principal mente as mulheres mostraram como é promovida a discriminação social entre mulheres quanto ao acesso às NTRs e evidenciaram os meios pelos quais se desenvolvem um mercado da reprodução humana e um campo de pesquisa em expansão Laborie in CSF 1988 in MFPF 1989 in Tes tart 1990 Foram recolhidos dados precisos sobre os efeitos sanitários dos tratamentos sofridos pelas mulheres e sobre aqueles que devido à grande prematuridade incidem sobre a saúde das crianças frequentemente múlti plas e sobre a dos seus pais esgotados pelas extenuantes tarefas de cuidado requeridas pelos bebês Laborie 1994 No plano ideológico e político os discursos e atividades que estruturam as NTRs promovem a recolocação do foco normativo no casal e na família nuclear heterossexual Dhavernas 1990 As NTRs como parte do processo de dominação e exploração da natureza sujeitas às estratégias masculinas de controle político e jurídico sobre sua descendência constroem a invisibilidade das mulheres e a sua coisifi cação Vandelac in CSF 1988 in Testart 1990 A produção e a con servação de numerosos embriões em laboratório redefi nem de formas dife rentes os direitos respectivos do pai da mãe e dos médicos e ao favorecer Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 250 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 250 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 251 a reabertura de debates sobre o estatuto ontológico do embrião abrem o caminho ao questionamento do direito das mulheres ao aborto Novaes e Laborie 1996 A revisão prevista das leis sobre bioética poderá autorizar o diagnós tico préimplante dos embriões DPI depois de têla proibido em 1994 A questão de suma importância dos riscos induzidos por essas técnicas sobre a saúde um dos principais aspectos das críticas feministas nos últimos quin ze anos começa a ser reconhecida ao menos no que diz respeito à saúde das crianças Aborto e contracepção Família Maternidade CSF Conseil du statut de la femme Sortir la maternité du laboratoire Bibliothèque natio nale du Québec 1988 423p Corea Gena Ed Man made women How new reproductive technologies affect women Bloomington Indiana University Press 1987 109p MFPF Mouvement français pour le Planning familial Lovaire dose Les nouvelles mé thodes de procréation Paris Syros 1989 322p Novaes Simone Laborie Françoise Parents et médecins face à lembryon relations de pouvoir et décision in FeuilletLe Mintier Brigitte Dir Lembryon humain Ap proche multidisciplinaire Paris Economica 1996 p185202 Spallone Pat Steinberg Deborah Lynn Eds Made to order The myth of reproductive and genetic progress OxfordNova York Pergamon Press 1987 267p Testart Jacques Dir Le magasin des enfants Paris François Bourin 1990 338p Traduzido por NAIRA PINHEIRO Trabalho conceito de Helena Hirata e Philippe Zarifi an A noção moderna de trabalho como foi formalizada pela economia po lítica clássica nos remete a uma dupla defi nição A primeira se apresenta como uma defi nição antropológica em que o trabalho constitui uma característica geral e genérica da ação humana Para Marx 18671965 o trabalho é essencialmente um ato que se passa entre o homem e a natureza O próprio homem exerce em relação à natureza o papel de uma potência natural específi ca Ele põe em movimento sua inteli Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 251 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 251 18102009 192539 18102009 192539 252 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER gência e suas forças a fi m de transformar matérias e lhes dar uma forma útil à sua vida Ao mesmo tempo em que age por esse movimento sobre a natu reza exterior e a modifi ca ele transforma sua própria natureza e desenvolve suas faculdades aí adormecidas A segunda defi nição reinterpreta a primeira ao considerar que as trocas entre homem e natureza sempre se produzem em condições sociais deter minadas estamos nas condições do artesanato da escravidão ou do assala riamento O trabalho útil é executado sob a chibata do feitor de escravos ou sob o olho interessado do capitalista É a partir desta segunda reinter pretação que o conceito de trabalho assalariado pode ser desenvolvido o assalariado trabalha sob o controle do capitalista ao qual pertence o produto de seu trabalho Essa dupla defi nição tem o mérito de situar a atividade do trabalho no ponto preciso de imbricação de dois tipos de relação homemnatureza e homemhomem porém ela é ainda muito insufi ciente Primeiro porque parte de um modelo assexuado de trabalho O sujeito do trabalho o ho mem é apresentado nessa defi nição como universal de fato é o masculino que é elevado a universal Em segundo lugar ela também é problemática de outro ponto de vista na medida em que as relações suscitadas não são apreendidas de maneira idêntica As relações homemnatureza tendem a ser naturalizadas e fi xadas como uma base imutável da produção da vida humana enquanto as relações sociais as condições sociais do trabalho são historicizadas Sendo assim essa dupla defi nição não pode ser pertinen te se considerarmos as relações historicamente que é o que torna possível considerar o sexo social Se extrairmos todas as consequências da tese do homem como ser so cial não existem trocas genéricas entre o homem e a natureza mas trocas sempre específi cas entre os homens e as naturezas E os próprios homens são os homens e as mulheres assim tornase possível falar de sexo do trabalho Tempo e trabalho À luz de sua etimologia antes de sua acepção moderna o trabalho era si nônimo de sofrimento eou imobilização forçada A defi nição da economia política clássica século XVIII teria de alguma forma enobrecido o traba lho ao lhe conferir a virtude de estar na origem da produção material da vida Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 252 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 252 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 253 humana Tão logo enobrecido esse trabalho recobrou seu antigo sentido pois sob o jugo do assalariamento o trabalho logo se tornaria sinônimo de constrangimento e sofrimento para quem o exercesse Podemos nos perguntar se não existe aí um jogo de ilusão pois o traba lho assalariado no sentido moderno tal como emerge no capitalismo nas cente não tinha de fato nenhuma origem O uso dessa noção emerge sob uma forma inédita a de uma atividade social que podemos objetivar isto é descrever analisar racionalizar prescrever em termos precisos uma se quência de operações consideradas numa abstração generalizante e o tem po mensurável necessário para realizála Esse trabalho moderno disfar çado sob a expressão atividade que pode ser objetifi cada é considerado desde então na relação salarial nascente porque se desenrola em torno da questão doravante central que é a apropriação do tempo do assalariado pelo capitalista A noção moderna de trabalho surgiu então sob o impacto de um verdadeiro golpe de força política e social a separação entre uma sequência de operações que podem ser objetifi cadas e a capacidade humana de realizá las O trabalho de um lado a força de trabalho de outro E entre os dois o tempo referência central de avaliação da produtividade dessa combina ção entre trabalho e trabalhador O nascimento da noção de trabalho assa lariado é a história dessa separação que opõe uma forma objetifi cada a uma potência subjetiva O trabalhador ser de subjetivação tornase prisioneiro daquilo a que ele deve se reportar as operações objetifi cadas Ao contrário a noção de trabalho doméstico é o oposto da objetifi cação ela é ligada às relações afetivas da família e baseada na disponibilidade materna e conjugal das mulheres ChabaudRichter et al 1985 Sendo a forma privilegiada de expressão do amor na esfera dita privada os ges tos repetitivos e os atos cotidianos de manutenção do lar e da educação dos fi lhos são atribuídos exclusivamente às mulheres Os homens podem legiti mamente pretender escapar deles Esse trabalho é refratário à mensuração mesmo que aproximações pelo orçamentotempo tenham sido utilizadas para apreendêlo elas não conseguem esclarecer a natureza desse trabalho Nos debates sobre o tema a existência de uma perpétua hesitação entre o trabalho assalariado exclusivo de um lado e o trabalho doméstico ou útil em geral de outro não é nada mais do que um indicador do fato de que duas questões a captação do tempo e a produção do viver se interpenetram sem no entanto se confundirem Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 253 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 253 18102009 192539 18102009 192539 254 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER As relações sociais de sexo permitem assim lançar sobre esse duplo de safi o um olhar particularmente revelador Pois de um lado a captação do tempo pelo outro não pode mais ser reduzida somente ao tempo de trabalho assalariado Percebese que o tempo do assalariamento é condicionado pelo tempo do trabalho doméstico E quando as mulheres começam a entrar massivamente no assalariamento é sob um status duplo como assalariadas e como portadoras das condições gerais temporais do assalariamento De outro lado a produção do viver por interpelar a dimensão útil do trabalho é levada pelas mulheres além das fronteiras das esferas de vida nas quais os homens estão estabelecidos e excerceram sua dominação Para as mulheres os limites temporais se dobram e multiplicam entre trabalho doméstico e profi ssional opressão e exploração se acumulam e articulam e por isso elas estão em situação de questionar a separação entre as esferas da vida pri vada assalariada política que regem ofi cialmente a sociedade moderna O conceito de trabalho e seu futuro O desenvolvimento histórico do conceito de trabalho foi formalmente questionado nos anos 70 com o desenvolvimento de pesquisas que introdu ziam a dimensão sexuada nas análises do trabalho É a partir da problemá tica da divisão sexual do trabalho que Danièle Kergoat procede a uma des construçãoreconstrução do conceito de trabalho e seus conceitos conexos como o de qualifi cação introduzindo a dimensão do trabalho doméstico e a esfera da reprodução Junto com outras que atuam no mesmo campo no CNRS na universidade mas também fora das instituições algumas pes quisadoras do GEDISST com Kergoat propuseram uma reconceituação do trabalho para incluir o sexo social e o trabalho doméstico no conceito de trabalho Essa reconceituação abrangeu também o trabalho não assalariado não remunerado não mercantil e informal Trabalho profi ssional e trabalho doméstico produção e reprodução assalariamento e família classe social e sexo social são considerados categorias indissociáveis A conjuntura de recessão e desemprego em massa dos anos 90 com o desenvolvimento de formas de trabalho precário tornaram novamente atual o debate sobre o trabalho e sua crise com a proposição de políticas públicas A questão da divisão do trabalho e as leis de redução da jornada de trabalho constituíram uma das principais recorrências do debate teórico Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 254 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 254 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 255 atual sobre o fi m do trabalho o fi m do valor trabalho e a centralidade do trabalho Para clarear esse debate é útil retornar à distinção estabelecida por Hannah Arendt 19581988 entre 1 o trabalho como atividade do animal laborans governado pela necessidade de subsistência humana pro duzindo coisas efêmeras destinadas a serem destruídas pelo consumo 2 a obra como atividade do homo faber produzindo coisas duráveis destinadas a tornar o mundo habitável e engendrando a cultura 3 a ação propria mente dita que não produz coisas separadas do agente e consiste em atos nos quais se condensa a iniciativa humana em face dos outros humanos num espaço privilegiado o da política Essa distinção hierarquiza as atividades humanas e inferioriza aquela de nominada trabalho de maneira que de uma vez só eterniza a separação e encerra cada atividade em sua destinação Ao mesmo tempo a política é hipoteticamente inserida no reino da liberdade e eleita terra privilegiada da autonomia e tudo se passa como se o trabalho moderno reduzido somente à sua dimensão de heteronomia não devesse ser subvertido mas limitado e contornado para encontrar em outras esferas da vida as verdadeiras fontes da emancipação Mas emancipação de quem E em relação a quê O paradoxo das teses sobre o fi m do valor trabalho é que elas eternizam o golpe de força que cons tituiu a imposição da relação assalariada e fazem como se uma relação política libertadora inspirada na cidadania grega como reivindicava Arendt pudesse se desenvolver ao largo e apesar do sistema capitalista deixando subsistir para a maioria o trabalho tal como ocorre hoje A abordagem em termos de relações sociais de sexo mostra claramente que os deslocamentos entre as es feras da vida como hoje se encontram socialmente separadas e contra os quais queremos radicalizar a oposição só trazem uma opressão redobrada Um segundo debate que também tem implicações para o pensamento científi co atual é teorizado por Jurgen Habermas 19811987 O conceito de trabalho prisioneiro de uma visão industrialista da realidade remete a uma ação instrumental sobre a natureza em que o humano é ele mesmo instrumentalizado na ação fi nalizada enquanto a noção de interação remete à defi nição intersubjetiva de normas de ação que uma comunidade humana poderia debater e validar Aí também a hierarquização é clara o trabalho é restrito a uma visão estreitamente instrumental Relegase a esfera econô mica e o trabalho assalariado ao seu triste destino enquanto se busca num hipotético espaço público o engendramento da elevação moral Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 255 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 255 18102009 192539 18102009 192539 256 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Poderíamos tomar esse debate sobre o fi m do trabalho ao pé da letra e dizer fi m do trabalho fi m da defi nição que a economia política instau rou para o trabalho Ou seja fi m do assalariamento Mas um debate não pode se assentar em bases nominalistas Se ele pode ter sentido é justamen te porque existem tendências objetivas e subjetivas De uma parte para questionar o status atual do tempo e então dar ao tempo outro status De outra para tratar a produção do viver não como um efeito secundário da valorização do capital ou como pura satisfação de necessidades vitais mas como um questionamento social que permite estabelecer uma ponte entre as diferentes esferas de atividade Categorias socioprofi ssionais Desemprego Divisão sexual do trabalho e relações so ciais de sexo Ofício profi ssão bico Precarização social Públicoprivado Técnicas e gênero Trabalho doméstico Arendt Hannah Condition de lhomme moderne Paris CalmannLévy Agora 1988 368p Édition originale The Human Condition 1958 ChabaudRychter Danielle FougeyrollasSchwebel Dominique Sonthonnax Fran çoise Espace et temps du travail domestique Paris Librairie des MéridiensKlincksieck Réponses sociologiques 1985 156p Collectif Le sexe du travail Structures familiales et système productif Grenoble PUG 1984 320p DauneRichard AnneMarie Gender relations and female labor a consideration of so ciological categories in Jane Jenson et al Eds Feminization of the Labour Force Paradoxes and Promises Nova York Oxford University Press 1988 p26075 Marx Karl Le Capital livre I in Œuvres Économie I Paris NRF Bibliothèque de la Pleiade 1965 1818p 1re édition 1867 Vandelac Louise Et si le travail tombait enceinte Essai féministe sur le concept de tra vail Sociologies et sociétés out 1981 vXIII n2 p6782 Traduzido por MIRIAM NOBRE Trabalho doméstico Dominique FougeyrollasSchwebel Trabalho doméstico produção doméstica economia doméstica serviço doméstico atividades do lar atividades domésticas cuidadora de pessoas dona de casa esposa mãe todos esses termos têm conotações disciplinares Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 256 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 256 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 257 e conceituais distintas que suscitam controvérsias sobre o signifi cado que se deve dar à expressão trabalho doméstico Defi nimos o trabalho doméstico como um conjunto de tarefas relacio nadas ao cuidado das pessoas e que são executadas no contexto da família domicílio conjugal e parentela trabalho gratuito realizado essencialmente por mulheres Foi incontestavelmente o movimento de liberação das mulheres no fi nal dos anos 60 que na França como no conjunto dos países ocidentais e apoiandose na denúncia da invisibilidade de uma parte do trabalho das mulheres colocou na ordem do dia novas elaborações científi cas e políticas Essa invisibilidade aparece como resultado de dois grandes fatores para todas as correntes de pensamento a família nos anos 60 é defi nida como um lugar de consumo com a industrialização ela teria perdido toda fun ção ou papel produtivo O segundo fator decorre de que as diferenças de funções e atividades entre mulheres e homens são percebidas antes de tudo como naturais Falase de responsabilidades familiares sem aprofundar o questionamento Os únicos estudos demonstrando a relevância das ativi dades das mães de família e também de todas as atividades domésticas são na época as pesquisas sobre o uso do tempo repetidas periodicamente na França pelo INSEE30 desde 1965 Teorização do trabalho doméstico Christine Delphy mostra numa das primeiras publicações feministas na França que o trabalho doméstico determina a condição de todas as mulheres Delphy 1998 O modo de produção familiar regido pelo patriarcado or ganiza as relações sexuais a educação das crianças os serviços domésticos e a produção de certos bens como pequenas produções mercantis Rompen do com a oposição frequentemente asseverada entre produção mercantil e não mercantil a exclusão do trabalho doméstico das mulheres do domínio econômico não decorre da natureza da sua produção Com efeito quando os mesmos bens são produzidos fora da família o trabalho que os produz é remunerado e inversamente o trabalho das mulheres permanece gratuito 30 Referese ao instituto governamental francês INSEE Institut National de la Statistique et des Études Économiques Instituto Nacional de Estatística e Estudos Econômicos NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 257 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 257 18102009 192539 18102009 192539 258 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER até mesmo quando sua produção é objeto de troca no mercado assim o trabalho das mulheres na agricultura no artesanato ou quando o seu ma rido exerce uma profi ssão liberal é naquela época ilustração direta dessa questão A partir dos anos 80 na França as esposas de agricultores arte sãos comerciantes como resultado de uma forte demanda por parte delas podem se benefi ciar do estatuto de colaboradoras com reconhecimento de sua contribuição para a empresa familiar Para Christine Delphy a família permanece o lugar de uma exploração econômica das mulheres ela conclui daí a apropriação material pelos homens da sua força de trabalho qual quer que seja seu estatuto familiar quer sejam elas esposas mães fi lhas ou irmãs No decorrer dos anos 70 essa análise suscitou forte controvérsia devido à preponderância de uma problemática marxista e dos confrontos para sa ber qual peso dar às relações de produção e consequentemente às relações sociais determinantes visando transformações sociais O aspecto impor tante a reter desses debates é o abandono tanto para mulheres como para homens de análises ou representações não historicizadas do trabalho Por outro lado as pesquisas históricas econômicas ou sociológicas des tacam a partir de então que a sociedade salarial não se reduz unicamente à esfera produtiva Elas mostram assim que o desenvolvimento do trabalho assalariado e o fortalecimento da esfera privada são dois processos conco mitantes que contribuem para o processo de autonomização do indivíduo Mas são distintas as modalidades de inserção de homens e mulheres em cada uma dessas esferas conduzindo a processos específi cos de individua ção A confi guração da esfera privada como principal local de exercício do cuidado das pessoas é acompanhada pela do trabalho específi co das mu lheres o ambiente doméstico Danielle ChabaudRychter Dominique FougeyrollasSchwebel Françoise Sonthonnax 1985 analisaram também como o trabalho doméstico ao contrário da esfera econômica em que as mercadorias são trocadas por outras se realiza dentro de uma relação entre pessoas a disponibilidade permanente do tempo das mulheres a serviço da família Essa relação de serviço relação social de sexo que caracteriza o processo de trabalho doméstico não está circunscrita ao núcleo conjugal mas deve ser estudada no âmbito do conjunto da parentela Ligada às mu danças da família e do conjunto da sociedade salarial o conteúdo do tra balho doméstico expressa essa coordenação multifuncional entre a família Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 258 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 258 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 259 e as outras instituições da reprodução É preciso se precaver de qualquer analogia entre o trabalho doméstico e o trabalho assalariado sem contrato de trabalho e muito menos a defi nição de um estatuto fundamento das identidades e da socialização femininas É contra essa redução do trabalho doméstico a um simples fazer e para ressaltar as dimensões intelectuais e emocionais que Monique Haicault 1984 desenvolve o conceito de carga mental Economistas instigados pelos questionamentos feministas têm re considerado as defi nições de consumo e introduzido novas abordagens da família como produtora de serviços efetuando escolhas entre os diversos tempos assalariado doméstico tempo livre Becker 1976 A produção doméstica é então defi nida como o conjunto das atividades dos domicílios que é possível substituir pelas de terceiros em que as atividades de ho mens e mulheres são consideradas dentro de um mesmo conjunto Chadeau e Fouquet 1981 As pesquisas de uso do tempo do INSEE31 Emploi du temps 1975 1986 1999 e de produção doméstica na França Production domestique 1988 mostram como as mulheres e os homens ainda têm papéis domésti cos diferentes as atividades relacionadas com a roupa são quase exclusiva mente realizadas por mulheres mas em termos de tempo gasto a partilha das tarefas está um pouco menos desigual se o volume global de tempo doméstico permaneceu estável as atividades predominantemente mascu linas pequenos trabalhos e reparos aumentaram enquanto as femininas cozinha louça roupa diminuíram As mulheres consagram menos tem po às tarefas estritamente domésticas do que há treze anos meia hora para as inativas e sete minutos para aquelas que exercem uma atividade profi s sional mulheres ativas ocupadas 3h13 em 1986 e 3h06 em 1999 mulhe res inativas 4h26 e 3h59 Quanto aos homens o tempo gasto em atividades domésticas é praticamente estável entre 1986 e 1999 cerca de uma hora para os homens que exercem uma profi ssão e uma hora e meia para os outros Dumontier e Pan Ké Shon 1999 O tamanho da casa o número de crianças suas idades a idade do casal são os principais fatores de variabilidade da produção doméstica as variações nas condições socio 31 Referese ao instituto governamental francês INSEE Institut National de la Statistique et des Études Économiques NT Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 259 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 259 18102009 192539 18102009 192539 260 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER profi ssionais têm mais infl uência para os homens do que para as mulheres Poucas mulheres qualquer que seja a sua condição social escapam do tra balho doméstico A ideia de que o trabalho remunerado seria reservado exclusivamente ao homem e o trabalho doméstico à mulher é uma norma que não corresponde às práticas sociais a não ser por períodos históricos bem defi nidos A igual dade como modo de regulação do novo contrato entre os sexos é hoje uma norma tão prescritiva que a persistência das desigualdades principalmente no âmbito da família é consequentemente percebida por grande parte da Sociologia como escolha individual e feminina resultante das interações do casal Kaufmann 1992 Porém o exercício de uma atividade profi ssional não questiona as relações de dependência que por outro lado são vivencia das pelas mulheres devido ao fato de que se lhes atribui o trabalho domésti co isso implica maior rigidez na organização dos usos do tempo Instalase assim uma necessidade obsessiva de programação do tempo obsessão exa gerada até a exaustão quando as mulheres procuram responder ao padrão de excelência que se espera delas Portanto para levar adiante seus projetos profi ssionais as mulheres devem dispor de uma rede de substituição infalí vel mais do que o recurso ao cônjuge a organização familiar repousa sobre ajudas externas Políticas sociais e socialização do trabalho doméstico O estudo das mudanças ocorridas nas últimas três décadas evidencia que um número crescente de tarefas do trabalho doméstico está sendo transformado pela ampliação do consumo de mercado ou realizado por instituições públicas privadas e comunitárias a guarda de crianças par ticularmente as mais novas o cuidado de pessoas idosas que as mulheres precisam necessariamente delegar durante o tempo em que estão exercen do uma atividade profi ssional e uma grande parte das outras tarefas será transferida para o fi m de semana ou realizada de acordo com a disponi bilidade fi nanceira por trabalhadorases domésticasos remuneradasos Economistas e sociólogos têm convergido para uma abordagem global das relações de serviços pessoais que vinculam atividades domésticas e serviços domésticos remunerados Para responder aos cortes nos orçamen tos públicos ampliando as condições de acesso à licença parental por um Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 260 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 260 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 261 lado e o trabalho de tempo parcial por outro a França adotou uma política ativa de desenvolvimento de empregos familiares por meio de medidas de redução fi scal Constatando a fragilidade evidente do recurso a emprega das domésticas e outros trabalhadores da casa essas medidas contam com o desenvolvimento potencial desses postos de trabalho uma vez que o seu custo baixaria Flipo e Hourriez 1995 As políticas de promoção dos empregos familiares se inserem numa multiplicidade de lógicas mais comumente contraditórias do que conver gentes reduzir os gastos públicos sem contudo questionar radicalmente o compromisso anteriormente anunciado em termos de justiça social de garantir a todas as mulheres acesso à atividade profi ssional Estas políticas pretendem ser também uma resposta à crise do emprego e a uma demanda cada vez maior pelos serviços de cuidado a pessoas Mas diante dos novos estatutos que propõe para os empregados rumo à extinção do contrato de trabalho e do nível de remuneração que oferece responder às necessidades de custos mais baixos essa promoção de empregos coloca em xeque efe tivamente o reconhecimento social que pretenderia incentivar para esses postos de trabalho A grande proporção de mão de obra imigrante existen te nesses setores testemunha que se trata de tarefas que preferimos deixar para os outros A contratação de trabalhadores domésticos é um fato social antigo mas a novidade está nos desdobramentos desses empregos impli cando a emergência de relações entre empregador e empregado nas classes médias as categorias intermediárias do INSEE e nas classes populares e o aumento de polarizações nos empregos femininos Essa perspectiva de monstra a importância de análises que combinem relações de sexo de classe e de raça Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Educação e socialização Família Movimentos feministas Patriarcado Políticas sociais e familiares Públicoprivado Técnicas e gênero Trabalho o conceito de ChabaudRychter Danielle FougeyrollasSchwebel Dominique Sonthonnax Fran çoise Espace et temps du travail domestique Paris Librairie des MéridiensKlincksieck Réponses sociologiques 1985 156p Chadeau Ann Fouquet Annie Peuton mesurer le travail domestique Économie et statistique 1981 n136 p2942 Delphy Christine Lennemi principal 1 Économie politique du patriarcat Paris Syllepse Nouvelles questions féministes 1998 293p Reedição de artigos publicados desde 1970 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 261 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 261 18102009 192539 18102009 192539 262 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Haicault Monique La gestion ordinaire de la vie en deux Sociologie du travail 1984 n3 p26877 Lemel Yannick Les activités domestiques qui en fait le plus LAnnée sociologique 1993 3 série v43 p23552 Vandelac Louise Belisle Diane Gauthier Anne Pinard Yolande Du travail et de lamour Les dessous de la production domestique Montreal Éditions SaintMartin Femmes 1985 418p Traduzido por NAIRA PINHEIRO Transmissões intergeracionais JeanPierre Terrail Conjunto de atividades essenciais à permanência das formas de vida social além dos limites da existência individual as transmissões interge racionais estão no cerne da reprodução das relações sociais de sexo de sua renovação e transformações Transmissões materiais e transmissões simbólicas A sociologia das transmissões intergeracionais se inte ressa ao mesmo tempo pela circulação material de bens e serviços entre as classes de idade e pelas transferências simbólicas de disposições e valores inerentes à sociali zação das mulheres e dos homens das gerações jovens Ela distingue aquilo que nesse processo é da competência da esfera privada e se articula no seio das linhagens familiares da ação pública que intervém na formação dos jovens redistribui os recursos fi nanciando a escolaridade pelo imposto antecipado sobre os ativos fi xando a idade e o montante das aposentado rias etc Esses dois planos interagem As políticas estatais e institucionais podem completar e reforçar as políticas e as solidariedades privadas Elas podem também ser signifi cativamente diferentes assim enquanto as aju das fi nanceiras familiares se direcionam principalmente dos aposentados para os ativos os auxílios públicos circulam no sentido inverso podem até mesmo ser contrários no caso por exemplo em que a escola difunde valores contraditórios com a ética familiar Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 262 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 262 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 263 O desenvolvimento de políticas sociais não enfraqueceu as solidarieda des privadas cujas formas variam mas cuja importância pode ser averigua da em todos os países desenvolvidos AttiasDonfut 1995 A manutenção de relações com a parentela permanece uma norma importante justifi cada pelo valor do afeto entre parentes sustentada pelas ideias de continuidade da linhagem e da força dos laços de sangue do dever de reconhecimento etc Pitrou 1978 No contexto de uma sociedade maciçamente salarial a adesão ao princípio de herança continua relevante As doações anterio res representam quase o equivalente daquilo que é legado em morte e se refere tanto às fi lhas como aos fi lhos Gotman 1988 Ajudas fi nanceiras e serviços prestados favorecem a instalação dos jovens casais contribuindo nas classes populares sobretudo para a subsistência dos descendentes e nas classes médias e superiores para sua promoção social Pitrou op cit Es sas doações são em parte restituídas com a ajuda destinada aos pais idosos nos momentos difíceis da velhice Por outro lado a dívida é transferida para a geração seguinte As mulheres estão no coração dessa economia de presta ções intergeracionais Insee 1995 Dada sua proximidade da mãe as fi lhas se envolvem mais do que os seus irmãos nas preocupações e responsabilida des para com os pais e elas serão mais frequentemente solicitadas quando estes envelhecerem As mães consagram mais tempo cotidiano à educação e à ajuda nas tarefas escolares das crianças e ajudarão as fi lhas que por sua vez se tornaram mães a conciliar suas atividades familiares com as pro fi ssionais Mais voltados para o ambiente de trabalho a sociabilidade e as preocupações dos homens são também mais limitadas ao horizonte da sua própria geração fato cujo impacto sobre a diferenciação cultural dos sexos certamente não é negligenciável É também por sua participação na correspondência epistolar e em to das as formas de circulação familiar da palavra que as mulheres contribuem mais para manter vivos os elos entre as gerações isso faz delas depositárias privilegiadas do conhecimento genealógico e da memória da linhagem cuja transmissão é um elemento essencial na formação da identidade individual Muxel 1996 Esta última evidencia a recorrência dos empréstimos eles próprios fortemente marcados pela sexualização aos modelos parentais sucesso escolar posição social escolhas profi ssionais parecem ser suscetí veis de transmissão de uma geração a outra tanto na linhagem masculina Thélot 1982 como na feminina da mesma maneira que os hábitos de vida Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 263 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 263 18102009 192539 18102009 192539 264 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER domésticos residenciais modelos conjugais educativos de fecundidade etc e os valores principalmente religiosos mas muitas vezes também os políticos Percheron 1994 Fontes muito variadas Todas as sociologias são afetadas pelas relações entre gerações Prin cipalmente a sociologia da mobilidade social e portanto intergeracional que se constitui nos Estados Unidos no período entre as duas guerras Na França a sociologia da educação é a primeira a colocar a questão das transmissões simbólicas Bourdieu e Passeron 1964 Na década de 1970 a sociologia da família amplia a pesquisa às transmissões materiais Roussel 1976 Pitrou 1978 enquanto a sociologia política por meio do trabalho pioneiro de Annick Percheron aborda o campo dos valores Durante a dé cada seguinte a abordagem biográfi ca e genealógica impulsionada sobre tudo por Daniel Bertaux e Isabelle BertauxWiame 1988 centrase nas transmissões envolvendo várias gerações assim como sobre as condições sociais gerais dos processos intrafamiliares Em outro nível a Sociologia redescobre que há gerações na sociedade e não somente na família Attias Donfut 1988 Os anos 90 viram emergir uma sociologia da mobilidade social interessada especifi camente nos destinos profi ssionais femininos cf Vallet 1991 Eles vão evidenciar sobretudo a preocupação com uma compreensão abrangente das transmissões entre gerações conjugando a abordagem de economistas sociólogos e psicanalistas cf Referências bi bliográfi cas O que signifi ca transmitir A sociologia das transmissões materiais e das transmissões simbólicas se defronta com problemas bastante diferentes A primeira encontra difi cul dades de descrição da complexidade das transferências governamentais da densa teia de benefícios familiares e de compreensão das lógicas que inspiram essas trocas como a do princípio de dom e dos critérios de justiça em vigor na economia e na dívida intrafamiliar A segunda é confrontada com a especifi cidade dos legados simbólicos A metáfora comum que evoca a transmissão do capital cultural como falamos de transmissão do capital Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 264 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 264 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 265 econômico incita a associálo a uma herança material como se a incorpo ração das capacidades disposições e valores que inspiram as gerações mais velhas fosse autoevidente Considerando contudo que os legados simbóli cos supõem uma atividade própria do herdeiro muitos sociólogos preferem falar de apropriação um processo cujos resultados não são jamais previsí veis em vez de interiorização termo que parece se referir ao automatismo de uma pura e simples transferência As heranças mais bem assimiladas não provêm jamais de uma espécie de mimetismo merecendo nesse sentido serem elas próprias questionadas No que diz respeito à continuidade intergeracional das escolhas profi ssio nais Daniel Bertaux e Isabelle BertauxWiame 1988 preferem portanto se referir à mobilização dos recursos legados mais do que à imposição de um modelo e em lugar de aprendizado do comportamento político dos ascen dentes Annick Percheron 1994 prefere falar da aquisição de critérios de avaliação do mundo na base desses comportamentos Se o destino da herança não é previsível em primeiro lugar é porque ele se tece ao longo da história subjetiva do herdeiro segundo suas sucessivas identifi cações A apropriação dos ideais paternos nesse registro próprio da intersubjetividade que medeia o impacto do legado e dos eventos biográfi cos objetivos pode assim ao mesmo tempo permitir transcender a preca riedade dos recursos transmitidos proporcionando a força subjetiva de em preendimentos sociologicamente improváveis tal como o sucesso escolar das meninas de meios populares Terrail 1995 e favorecer a perpetuação intergeracional de comportamentos domésticos marcados pela dominação masculina É também porque herdar é um processo sem fi m aquilo que os teus pais te legaram passe a tua vida adquirindoo Goethe marcado pela ambivalência e a pluralidade das disposições adquiridas disposições que encontrarão ou não como se realizar na confrontação do herdeiro com as condições sempre renovadas de sua ação biográfi ca Questões de equidade As relações entre gerações nas quais se tecem a continuidade assim como as mudanças da vida social representam um desafi o permanente para a pesquisa sociológica A crescente preocupação com o futuro das aposenta dorias ameaçadas pela combinação de desemprego com envelhecimento de Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 265 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 265 18102009 192539 18102009 192539 266 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER muitas gerações destinadas a viver mais tempo também as projetou à fren te da arena pública Os termos do debate que se seguiu principalmente nos Estados Unidos sobre a equidade entre gerações são com frequência abusivamente simplifi cados ocultando os problemas reais de um questio namento do fi nanciamento público das aposentadorias AttiasDonfut 1995 Favorecendo completamente os interesses fi nanceiros inerentes aos sistemas de proteção por capitalização este provocaria um aumento das desigualdades sociais com as solidariedades privadas podendo nos meios populares menos do que em outros compensar as perdas sofridas e acentuaria as desigualdades de sexo pois a aposentadoria do dito Estado Providência penalizaria primeiro as mulheres que estão à frente das soli dariedades familiares o que nos leva a lembrar que elas já representam na França 80 das pessoas com renda igual ou inferior à renda mínima Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Educação e socialização Família Maternidade Ofício profi ssão emprego Trabalho doméstico AttiasDonfut Claudine Dir Les solidarités entre générations Paris Nathan Essais et recherches 1995 352p Muxel Anne Individu et mémoire familiale Paris Nathan Essais et recherches 1996 230p Percheron Annick La socialisation politique Paris Armand Colin U 1994 226p Pitrou Agnès Vivre sans famille Toulouse Privat 1978 235p Singly François de et al Dir La famille en questions État de la recherche Paris Syros 1996 325p Terrail JeanPierre La dynamique des générations Paris LHarmattan 1995 190p Traduzido por NAIRA PINHEIRO Universalismo e particularismo Eleni Varikas O binômio universalismoparticularismo faz parte de uma confi guração política moderna Embora esses termos remontem ao fi m do século XVI a oposição propriamente dita é mais recente Ela pertence à época das revo luções do Direito natural do qual a Revolução Francesa fornece o modelo Essas revoluções foram erigidas contra sociedades feitas de particularidades Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 266 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 266 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 267 hierarquicamente estruturadas sem denominador comum sociedades fun dadas sobre o princípio de liberdades particulares privilégios e de deve res próprios a cada nível da hierarquia social Apresentando a humanidade comum dos indivíduos como uma base de comparação entre as diversas condições particulares essas revoluções fi zeram do conceito abstrato de homem um poderoso fundamento para a pretensão do particular de participar do universal Declarado ilegítimo o princípio das liberdades particulares foi substituído por uma lei geral válida para todos conhecida de todos e elaborada por todos Expressão da vontade geral uma vez que é elaborada por todos a lei tem um caráter universal porque se aplica a todos A sua universalidade é enfi m garantida por sua impessoalidade e pelo caráter geral dos assuntos de que trata O universalismo como relação de força Se o binômio universalismoparticularismo é impensável fora dessa dis tinção entre lei geral e privilégio ele se desenvolve de modo particular no conceito de cidadania e no âmbito do desafi o que o instaura a capacidade do ser humano de subordinar o seu interesse particular ao interesse geral Ora enquanto o conceito abstrato de humanidade em geral fazia a sua entrada triunfal como horizonte da universalidade de direitos os homens aos quais se tratava de aplicála eram indivíduos concretos historicamente situados física cultural e socialmente diferenciados que por suas histórias e posição nas relações sociais tinham necessidades e interesses diferentes bem como diferentes formas de expressálos Sob a infl uência das relações de poder a humanidade como sujeito e fonte de direitos foi geralmente concebida e interpretada como um padrão dominante que confundindo a sua própria particularidade com o universal exclui grupos inteiros de indivíduos da universalidade de direitos Em vez de um processo sempre aberto às particularidades que o compõem o universal tendeu a se identifi car com o mais forte rejeitando o fraco como particular e até mesmo como particularismo A relação problemática das mulheres com o universal tem aqui um va lor paradigmático Substrato de uma subordinação interminável no pla no conceitual de uma submissão sem fi m na realidade prática Adorno e Horkheimer 1974 a posição das mulheres nos sistemas políticos uni Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 267 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 267 18102009 192539 18102009 192539 268 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER versalistas ilustra o duplo processo conceitual e sociopolítico que marca a dinâmica exclusiva do universalismo moderno A exclusão das mulheres remonta de fato às origens da Filosofi a ocidental os conceitos com os quais Platão e Aristóteles representavam o mundo já refl etia com a mesma clareza as leis da física a igualdade dos cidadãos e a inferioridade das mulheres crianças e dos escravos ibidem Mas a intervenção da relação de força na formação das categorias de pensamento se radicaliza com o positivismo cientifi cista e a pretensa imparcialidade da linguagem científi ca moder na que retira de todo aquele que não tem poder a possibilidade de se ex pressar ibidem Privadas dessa possibilidade as mulheres são chamadas a se submeter a uma defi nição de universal da qual não participaram Não só foram excluí das durante muito tempo do sufrágio dito universal uma expressão cujo uso ilustra melhor do que qualquer outro a cumplicidade entre a exclusão política e a exclusão conceitual como também a sua posição na distinção moderna entre público e privado as identifi cou com o interesse particular com o particularismo da família Com efeito enquanto a cidadania demo crática supõe a virtude cívica do homem a sua capacidade de subordinar o seu interesse particular ao interesse geral a virtude feminina exige sobrepor o interesse da família a qualquer outro O particularismo como negação da pluralidade O entendimento político estabelece assim entre privado e público uma relação de negação e constituição recíproca que é também uma relação con traditória entre indivíduo e comunidade particularidade e universalidade Ele suspeita não só do particularismo dos interesses privados mas também da singularidade irredutível do ser humano de sua capacidade de expressar em termos generalizáveis seus desejos e necessidades Ameaçando a unida de do corpo político estes são repelidos para fora daquilo que é da ordem do interesse geral para a esfera privada subtraídos à crítica da autoridade arbi trária Preservar o espaço público da irrupção das paixões incontroláveis das quais o desejo sexual fornece o protótipo conter a desordem das mulhe res que ameaça dividir o eu moral coletivo Rousseau são imperativos que do absolutismo à democracia comandam da mesma forma a separação entre oikos o domínio familiar e polis a cidade as instâncias políticas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 268 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 268 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 269 Mas como foi destacado pela crítica feminista de Olympe de Gouges 1791 e de Mary Wollstonecraft 1790 aos dias de hoje essa distinção se xuada esvazia desde o início a legitimidade do interesse geral que se tor na uma unidade metafísica existente de forma independente da vontade de cada cidadão O lugar aporético das mulheres vocacionadas ao mesmo tempo a obedecer ao interesse particular do chefe de família e a fazer amar a virtude cívica ilustra mais uma vez as aporias de uma tradição que insere a universalidade numa relação contraditória não com o particularismo mas com as particularidades ou especifi cidades Ainda hoje surge o problema do universalismo versus particularismo quando se trata de reivindicações relacionadas com a discriminação ou a do minação sexual O interesse geral está tão associado a uma visão homogênea e uniforme do corpo político que qualquer expressão de particularidades é imediatamente tida como suspeita de um particularismo ameaçador do prin cípio da universalidade dos direitos que fundou a sacrossanta República Oposta quase que automaticamente às reivindicações gerais a expressão reivindicações específi cas das mulheres sugere por si só essa difi culdade histórica de falar em termos universais ou seja como parte do princípio da universalidade dos direitos de desigualdades que atingem metade da população Pelo fato de a exclusão das mulheres do universal ser uma das mais in visíveis e não reconhecidas as lutas pela igualdade entre os sexos e mais tarde as do feminismo foram desde o início confrontadas com o embuste que consistia em ocultar por trás da retórica abstrata dos direitos humanos as desigualdades reais que fundam os sistemas universalistas modernos A Declaração dos direitos da mulher e da cidadã de Olympe de Gouges su geria já em 1791 que esse embuste só pode ser exposto nomeando essas desigualdades e aquelas que são as vítimas Daí a irrupção paradoxal nos artigos gerais e impessoais da sua Declaração de casos particulares que especifi cam os requisitos concretos de uma verdadeira universalidade de direitos A livre comunicação de pensamentos e opiniões é um dos direitos mais preciosos da mulher Toda cidadã pode portanto dizer livremen te eu sou a mãe de uma criança que vos pertence sem que um preconceito bárbaro a force a dissimular a verdade Porque há preconceitos bárbaros que pesam exclusivamente sobre as mulheres porque como diria Flora Tristan no Union Ouvrière 1843 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 269 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 269 18102009 192539 18102009 192539 270 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER estas são tratadas como verdadeiros párias a mesma organização políti ca e social afeta os dois sexos de modo similar e diferente mencionar as mulheres na Declaração dos direitos do homem proclamar a liberdade absoluta do homem e da mulher na Charte de lUnion Universelle des Ou vriers et des Ouvrières Carta do Sindicato Universal dos Trabalhadores e Trabalhadoras é a condição necessária a assegurar os requisitos concretos da universalidade dos direitos Universalidade horizonte ou exigência de uma justiça generalizável Porque o homem em geral não existe em lugar nenhum porque os su jeitos de direitos universais são seres humanos concretos diferentemente situados na hierarquia social e nas relações de poder o princípio da uni versalidade dos direitos só pode se realizar se corresponder à diversidade e à pluralidade de experiências de opressão e de injustiça Se durante os últimos dois séculos as mulheres têm frequentemente lutado e continuam a lutar pelo reconhecimento do seu direito à palavra é porque na ausên cia da garantia desse direito pelo qual comunicamos aos outros as nossas experiências necessidades e desejos é impossível construir regras comuns generalizáveis ou seja suscetíveis de garantir as condições concretas de li berdade e igualdade para todos e para todas A questão do universalismo e do particularismo está portanto inextri cavelmente ligada à da democracia no sentido de que a defi nição das ne cessidades plurais a partir das quais se constrói o alcance universal de uma reivindicação de um objetivo de uma batalha não podem resultar nem de leis da natureza da economia da demografi a etc nem de qualquer visão prévia de interesses objetivos de um grupo social é uma questão de democracia porque exige essa interação recíproca e frequentemente confl i tuosa pela qual se busca o interesse geral na expressão autônoma na con frontação e na reformulação dos pontos de vista e dos desejos de cada um A afi rmação de demandas particulares constitui assim um momento neces sário da construção de qualquer objetivo político com desígnio universal Um momento necessário mas não sufi ciente Porque e este é o grande desafi o que o universalismo lança ao feminismo o critério para julgar o uni versalismo e o particularismo de uma demanda não é o número daqueles e Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 270 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 270 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 271 daquelas que a colocam nem o número daqueles e daquelas aos às quais diz respeito e tampouco o seu caráter particular é a sua capacidade de in vocar um princípio de justiça generalizável que nos permite reformular a reivindicação a mais específi ca a mais particular de maneira que nin guém deve ser tratado assim Cidadania Dominação Igualdade Linguagem científi ca sexuação da Movimentos feministas PúblicoPrivado Adorno Theodor W Horkheimer Max La dialectique de la raison Paris Gallimard 1974 281p De Gouges Olympe Déclaration des droits de la femme et de la citoyenne 1791 in Écrits politiques 17881791 Paris Côtéfemmes 1993 p20415 Rousseau JeanJacques Émile ou de léducation Paris Flammarion 1966 629p Tristan Flora Union ouvrière Paris Des femmes 1843 1986 366p Varikas Eleni Pour avoir oublié les vertus de son sexe Olympe de Gouges et la critique de luniversalisme abstrait Sciences politiques 1993 n45 p1734 Wollstonecraft Mary Vindication of the Rights of Men 1790 in Janet Todd Marilyn Butler Eds The Works of Mary Wollstonecraft London William Pickering 1989 Traduzido por NAIRA PINHEIRO Violências Carme Alemany As violências praticadas contra as mulheres devido ao seu sexo assumem múltiplas formas Elas englobam todos os atos que por meio de ameaça coação ou força lhes infl igem na vida privada ou pública sofrimentos fí sicos sexuais ou psicológicos com a fi nalidade de intimidálas punilas humilhálas atingilas na sua integridade física e na sua subjetividade O sexismo vulgar a pornografi a o assédio sexual no local de trabalho também se incluem aí Trataremos aqui das violências corporais que como expressão de relações entre poder masculino e sexualidade fazem parte da aprendizagem da virilidade e são em geral legitimados socialmente Ferindo diretamente muitas mulheres privandoas da sua liberdade de ir e vir do seu sentimento de segurança da sua autoconfi ança de sua capacidade de construir relacionamentos de seu gosto pela vida essas violências se referem Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 271 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 271 18102009 192539 18102009 192539 272 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER e afetam todas as mulheres que são vítimas potenciais Hanmer 1977 e constituem uma das formas extremas de relação entre os sexos As feministas americanas foram as primeiras que desde o início dos anos 70 denunciaram a violência sexual Destacando que o estupro par ticularmente supõe o não consentimento da vítima elas desenvolvem aná lises teóricas distinguindose dos estudos criminológicos que com seus preconceitos androcêntricos privilegiam as teorias vitimológicas ou inte racionistas que fazem da relação entre a vítima e o autor um elemento ex plicativo fundamental Esses estudos tiveram grande eco em outros países anglosaxões e depois na França Práticas teóricas politizadas e militantes O primeiro trabalho de síntese sobre estupro escrito por Michèle Bor deaux et al numa perspectiva feminista foi publicado em 1990 Lembrando que entre 1970 e 1980 as feministas na França evoluíram da crítica do direi to à reivindicação de leis ela fornece uma análise quantitativa abrangente dos delitos sexuais analisa os dados fornecidos nas denúncias as estraté gias criminais e as reações das vítimas efetua uma abordagem crítica da le gislação e das práticas judiciais e procurando compreender o lugar do estu pro ressitua a vítima no seu relacionamento com a sociedade mais do que com o violador As feministas realizaram ao mesmo tempo estudos sobre a violência doméstica e no trabalho a prostituição o estupro organizaram manifestações iniciaram ações de apoio a mulheres estupradas e levaram o debate para o campo jurídico Surgiram várias associações abrindo cen tros de acolhimento e de abrigo para mulheres vítimas de espancamento ou estupro criando um atendimento telefônico permanente divulgando na mídia as suas ações tudo isso permitiu revelar publicamente a relevância do problema Na França as associações pressionaram os poderes públicos para organizarem campanhas de informação e prevenção da violência con jugal em 1989 e a coleta de dados por sexo Elas denunciaram também a excisão e a infi bulação mutilações sexuais realizadas em milhões de meni nas em diversos países incluindo a França A produção feminista sobre a violência conjugal se ampliou a partir de análises de pesquisadores do sexo masculino que trabalham numa pers pectiva feminista Daniel WelzerLang 1988 1996 estuda os homens vio Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 272 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 272 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 273 lentos e comparando seus discursos com os das mulheres vítimas de espan camento destaca a assimetria de percepções e de posições Ele desconstruiu alguns mitos como o da sua dupla personalidade homens gentis e violentos A teoria feminista ampliou a análise da violência no exercício do poder político e militar estudando a relação entre militarismo nacionalismo vio lência do Estado e diversas formas de violências contra as mulheres duran te as invasões as guerras ou confl itos sociais estupro prostituição forçada torturas Cockburn 1998 Os confl itos na exIugoslávia foram acompa nhados por estupros massivos repetidos e sistemáticos impunes de um grande número de mulheres de todas as idades Véronique NahoumGrappe 1997 mostra que numa cultura da virilidade agressiva na qual se consi dera que o esperma é o único veículo de transmissão da linhagem o estu pro fere a honra e destrói os bens dos homens aos quais a vítima pertence por elos de sangue ou matrimônio Decapitação de homens e estupro de mulheres são crimes análogos que visam o mesmo objeto o elo genealógico de transmissão da linhagem Da realidade e das leis Se fi cou mais difícil negar e escarnecer da violência contra as mulheres o debate parlamentar sobre o novo Código Penal votado em 1992 e no qual não fi gura a expressão violências conjugais mostra que ainda há muito que fazer Louis 1994 A Conferência Mundial sobre Direitos Humanos em Viena 1993 reconheceu que a violência contra as mulheres constitui uma violação dos direitos humanos A IV Conferência Mundial das Nações Unidas sobre as Mulheres em Pequim 1995 conseguiu que os governos dos países representados se comprometessem a fazer um balanço a comba ter as violências contra as mulheres e a desenvolver estruturas de apoio às vítimas Lutas feministas obrigaram a mudar as leis Assim na França foi revo gado em 1975 o artigo 324 do Código Penal que inocentava o cônjuge do assassinato da esposa apanhada em fl agrante delito de adultério no domicí lio conjugal A lei aprovada em 1980 que pela primeira vez dá ao estupro uma defi nição jurídica a de um crime não inclui o estupro conjugal impossível de provar Ora as vítimas não têm de provar as violências so fridas Além disso as mudanças verifi cadas nas leis são acompanhadas de Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 273 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 273 18102009 192539 18102009 192539 274 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER práticas que perpetuam o não reconhecimento das violências sofridas pe las mulheres A pressão internacional relembra aos poderes públicos o seu compromisso de agir contra as violências feitas às mulheres Fougeyrollas Schwebel Houel e Jaspard 2000 Uma ampla pesquisa foi realizada na França Estimase de forma geral que os atos de violência contra as mulheres são muito numerosos e ainda muito pouco denunciados No entanto na França o número de queixas por estupro mais do que duplicou entre 1985 e 1995 mesmo estimandose que apenas um em cada quatro estupros é denuncia do As violências conjugais continuam sendo ocultadas e a sua demonstra ção estatística é difícil porque elas aparecem sob diferentes rubricas golpes e agressões estupros agressões sexuais assassinatos etc Estimativas es tatísticas anglosaxãs indicam frequências diferentes 11 de mulheres nos Estados Unidos 29 no Canadá de acordo com o país Além disso a vio lência conjugal pode ser exercida durante a gravidez ou imediatamente após CubizollesSaurel et al 1998 Estimase que há na França dois milhões de mulheres vítimas de espancamento De acordo com uma pesquisa realizada em 1994 com associações femi ninas e feministas para preparar a Conferência de Pequim Laborie et al 1994 as suas ações embora difi cultadas por obstáculos fi nanceiros e jurí dicos possibilitaram no entanto dar voz às mulheres vitimadas respeita ram suas denúncias de violência e a visibilização da extensão e da gravidade do problema Uma dupla atitude persiste no entanto na esfera da Justiça em sua recusa de levar a sério as denunciantes que têm difi culdade para estabelecer a prova da violência sofrida e em sua indulgência para com os homens autores de violência A abordagem estatística global das violências conjugais ou aquela mais detalhada realizada pelas associações Monnier 1997 é às vezes critica da Nadège Séverac 1997 acusaa de não levar em conta o fenômeno e até mesmo de tornar impossível compreendêlo Isso só seria possível se fosse incluída a questão embaraçosa do consentimento feminino que possibi litaria entender porque tantas mulheres são espancadas As análises das violências exercidas na esfera doméstica são as que têm suscitado mais controvérsias Segundo Daniel WelzerLang 1996 os au tores que analisaram as publicações distinguem além das análises femi nistas três correntes teóricas A corrente psicanalítica procura diferenças Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 274 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 274 18102009 192539 18102009 192539 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 275 entre os homens agressores e os outros em vez de examinar se a construção social da virilidade não permitiria evidenciar alguns pontos comuns entre eles As teorias da aprendizagem social do masculino infl uenciaram bas tante o tratamento terapêutico da violência masculina no Canadá e nos Estados Unidos A corrente sociocultural fi nalmente demonstrou após o movimento feminista a importância da instituição familiar como lugar de violência e incluiu o peso das desigualdades sociais e das normas cultu rais As feministas alegam que o fato de não levar em conta o sexo social da pessoa violenta tem por efeito fazer que todas as violências pareçam equivalentes Finalmente reaparece nos trabalhos recentes uma crítica endereçada às feministas de terem constituído a violência da mulher em tabu Linda Gordon 1992 já havia dito o mesmo a propósito das análises das violên cias familiares baseadas em estereótipos da violência masculina e da doçura feminina que negam a violência das mulheres principalmente em relação às crianças Conduzidas por historiadoras antropólogas e fi lósofas esses trabalhos Dauphin e Farge 1997 mostram que ao contrário da violên cia masculina a violência das mulheres não é jamais aprendida nem le gitimada socialmente Além disso qualifi camse como violentos com portamentos principalmente verbais que seriam considerados triviais nos homens No que diz respeito à participação ativa das mulheres nas rebeliões parisienses do século XVIII Arlette Farge pergunta em nome de que elas estariam ausentes quando a revolta cresce MarieElizabeth Handman ob serva que em duas aldeias gregas contemporâneas a violência é exercida por ambos os sexos em modalidades e proporções diferentes mas como es capar a ela enquanto for necessário fazer as meninas aceitarem o postulado da superioridade masculina e os meninos a necessidade de perpetuar a ilu são contra todas as evidências Assédio sexual Dominação Movimentos feministas Prostituição Sexualidade Bordeaux Michèle Hazo Bernard Lorvelles Soizic Qualifi é viol Paris Librairie des MéridiensKlincksieck 1990 232p Hanmer Jalna Violence et contrôle social Questions féministes nov 1977 n1 p6990 Louis MarieVictoire Le Nouveau Code pénal français Projets féministes out 1994 n3 p4069 Monnier Viviane Violences conjugales éléments statistiques Les cahiers de la sécurité intérieure 1997 n28 p6973 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 275 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 275 18102009 192539 18102009 192539 276 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER NahoumGrappe Véronique Guerre et différence des sexes les viols systéma tiques ex Yougoslavie 19911995 in Cécile Dauphin Arlette Farge Dir De la violence et des femmes Paris Albin Michel 1997 p15984 WelzerLang Daniel Les hommes violents Paris Indigo Côtéfemmes 1996 367p Traduzido por NAIRA PINHEIRO Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 276 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 276 18102009 192539 18102009 192539 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADORNO T W HORKHEIMER M La dialectique de la raison Paris Gal limard 1974 281p AFFICHARD J coord Pour une histoire de la statistique Paris INSEEEco nomica 1987 t2 969p AGUITTON C CORCUFF P Mouvements sociaux et politique entre an ciens modèles et enjeux nouveaux Mouvements n3 p818 1999 AKRICH M LABORIE F coords De la conception à lenfantement Cahiers du Genre n25 1999 204p Comment décrire les objets techniques Techniques et culture p49 63 janvjuin 1987 ALBERTS B et al Molecular Biology of the Cell New York Garland Pub 1989 1983 44p ANDERMAHR S LOVELL T WOLKOWITZ C A Concise Glossary of Feminist Theory LondonNew YorkSydneyAuckland Arnold 1997 287p ANDERSON B Imagined Communities Refl ections on the Origin and Spread of Nationalism London Verso 1991 224p ANTHIAS F YUVALDAVIS N HARRIET C Racialized Boundaries Race Nation Gender Colour 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Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 279 18102009 192540 18102009 192540 280 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER BOUVIER J Mes mémoires Une syndicaliste féministe 18761935 Paris La DécouverteMaspero 1983 285p BOYER R ed La fl exibilité du travail en Europe Paris La Découverte 1986 330p BRAIDOTTI R Des organes sans corps Les Cahiers du GRIF n36 p732 1987 Utopies des nonlieux postmodernes Les Cahiers du GRIF n30 1985 BRANDT A No Magic Bullet A Social History of Venereal Disease in the United States since 1880 New York Oxford University Press 1985 245p BRAVERMAN H Travail et capitalisme monopoliste La dégradation du travail au XXe siècle Paris Maspero 1976 360p BRENNER J Rethinking Womens Oppression New Left Review n144 p33 71 1984 BRITTAN A MAYNARD M Sexism Racism and Oppression Oxford Basil Blackwell 1984 236p BRUBAKER R Nationalism Reframed Nationhood and the National Question in the New Europe Cambridge Cambridge University Press 1996 202p BUIJS G 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Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 285 18102009 192540 18102009 192540 286 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER DUTHEIL C LOISEAU D Petite contribution à la question des femmes dans lanalyse sociologique Utinam n24 p14972 1997 EISENSTEIN Z Capitalist Patriarchy and the Case for Socialist Feminism New YorkLondon Monthly Review Press 1979 394p ELBAUM M Les petits boulots Plus dun million dactifs en 1987 Économie et statistiques n205 p4958 1987 ELSHTAIN J Public Man Private Woman Women in Social and Political Thought Princeton Princeton University Press 1981 378p ÈME B LAVILLE JL Les petits boulots en question Paris Syros 1988 231p Alternative ENGELS F Lorigine de la famille de la propriété privée et de lÉtat Paris Éd Sociales 1974 1884 p15191 EPHESIA La place des femmes Les enjeux de lidentité et de légalité au regard des sciences sociales Paris La Découverte 1995 740p Recherches ERBÈSSEGUIN S dir Lemploi dissonances et défi s Paris LHarmattan 1994 327p 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Bijker Wiebe 244 Bisilliat Jeanne 58 Blayo Chantal 2 5 Bleier Ruth 41 Bloch Marc 112 Blondiaux Loïc 183 Bock Gisela 121 Bonnet Marie Jo128 Bordeaux Michèle 272 275 Boserup Esther 57 Boudon Raymond 33 BouillaguetBernard Patricia 90 Bourdieu Pierre 78 83 180 183 Bourricaud François 33 Boyer Robert 109 111 Braidotti Rosi 65 250 Brandt Allan 207 Braudel Fernand 112 Braverman Harry 242 Brenner Joanna 190 Bretin Hélène 220 Brittan Arthur 280 Brubaker Rogers 92 96 Brustein I 181 Burgess Ernest 140 Burstyn Varda 190 Butler Josephine 199 205 Butler Judith 127 128 213 Butler Marylin 271 C Cacouault Marlaine 164 336 Callon Michel 244 Canel Annie 243 Castel Robert 194 198 Cattanéo Nathalie 106 111 326 337 Causse Michèle 135 Cavarero Adriana 119 121 Césaire Aimé 77 ChabaudRychter Danielle 241246 256 261 326 341 ÍNDICE ONOMÁSTICO Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 309 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 309 18102009 192541 18102009 192541 310 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Chabot Jocelyne 238 Chadeau Ann 261 Champagne Patrick 183 Charest Danielle 228 Chazel François 150 Chenu Alain 34 Cixous Hélène 64 Claudine Baudoux 48 Cockburn Cynthia240 241 244 246 Colin Madeleine 237 Combes Danièle 98 100 Commaille Jacques 101 Concialdi Pierre 53 Condorcet 35 Corbin Alain 199 205 208 Corea Gena 251 Coriat Benjamin 109 Cottereau Alain 218 222 Coulanges Fustel de 174 178 Cova Anne 135 Cromer Sylvie 29 30 D Dadoy Mireille 161 162 Daly Mary 216 Dauphin Cécile 114 116 276 Dejours Christophe 105 Del Re Alisa 2225 38 39 190 327 Deleuze Gilles 64 65 Delphy Christine 32 34 122 137 173178 230 257 261 327 Demar Claire 95 187 Derrida Jacques 65 Descolonges Michèle 159 162 Desrosières Alain 32 34 Deutsch Helen 60 Devreux AnneMarie 75 96101 327 Dhavernas Marie Josèphe 250 Dhavernas Odile 100 Dietz Mary 37 Dolto Françoise 60 DoniolShaw Ghislaine 48 Drogus Carol 216 Dubar Claude 162 Dubesset Mathilde 238 Duby Georges 112 138 167 188 Dumontier Françoise 259 Dupin Éric 182 DurandDelvigne Annick 45 47 48 Duriez Bruno 32 34 Durkheim Émile 113 163 Duroux Françoise 184 188 DuruBellat Marie 32 81 84 Dutheil Catherine 33 E Eisenstein Zillah 176 Elbaum Mireille 167 Elshtain Jean 36 Ème Bernard 167 Engels Friedrich 225 ErbèsSeguin Sabine 86 EspingAndersen Gosta 189 190 F Fadermann Lilian 126 Falquet JulesFrance 122128 328 Fanon Franz 77 Farge Arlette 275 276 Farley Lin 27 Faucheux Hedda 3334 Fauré Christine 114 149 Febvre Lucien 112 Ferrand Michèle 243 Fichte Johann Gottlieb 60 Firestone Sulamith 248 Flipo Anne 261 Forest Louise 47 Forté Michele 47 48 Fortino Sabine 4448 162 328 341 Foucault Michel 77 80 112 188 235 FougeyrollasSchwebel Dominique 32 70 144149 256262 274 326 328 Fouquet Annie 261 Fouquet Catherine 133 138 Fraisse Geneviève 61 66 111 116 149 170 Freeman Jo 146 Freud Sigmund 60 61 233 Frigul Nathalie 220 G Gadrey Jean 109 111 Gadrey Nicole 109 111 Gardey Delphine 162 241246 326 329 340 Gaspard Françoise 142 168 169 173 Gautier Arlette 191 193 Gauvin Annie 51 Gavarini Laurence 250 Gélis Jacques 133 Gilbert Scott 130 Gilligan Carol 212 Godelier Maurice 71 78 79 102 Goethe 265 Gordon Linda 190 193 275 Gotman Anne 263 Gouges Olympe de 35 269 271 Granoff Wladimir 186 188 Green Sarah 124 Grisendi Adele 29 GuihoBailly Marie Pierre 221 Guilbert Madeleine 68 238 241 Guillaumin Colette 66 73 77 80 83 93 96 102 106 125 226 230 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 310 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 310 18102009 192541 18102009 192541 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 311 H Habermas Jurgen 255 Haicault Monique 259 262 Hall Stuart 94 Handman MarieEliza beth 275 Hanmer Jalna 272 275 Haraway Donna 41 42 44 Harden Helen Chenut 242 Harding Sandra 41 42 44 Hartmann Heidi 176 178 Heidegger Martin 65 Heinen Jacqueline 22 25 38 39 100 153 188193 329 341 Héran François 33 Héritier Françoise 61 224 231 HesseBiber Sharlene J 181 183 Hetzel AnneMarie 239 Hirata Helena 9 11 32 53 69 105 106111 167 242 251256 330 331 333 337 338 341 Hobbes Thomas 60 Horkheimer Max 267 271 Horney Karen 60 HoudebineGravaud AnneMarie 229 Houel Annick 236 274 Hourriez JeanMichel 261 Hrdy Sarah Blaffer 223 Huet Maryse 87 180 183 Hume David 210 Hunt Lynn 205 Hurtado Aida 79 80 Hurtig MarieClaude 227 230 231 I Imbert Françoise 153 243 Irigaray Luce 61 63 64 66 119 122 172 212 IsambertJamati Viviane 68 J Jacoby Eleanor E 83 Jahoda Marie 50 53 Jardine Alice 64 66 Jaspard Maryse 32 235 274 Jenson Jane 38 109 111 190 193 256 Jetin Bruno 108 Johnson Virginia 234 JoinLambert Marie Thérèse 110 Jones Kathleen 212 213 Jonston Jill 125 Jordanova Ludmilla 41 43 44 Joubert Michel 195 198 Juteau Danielle 9096 330 K Kandel Liliane 81 Kant Emmanuel 186 210 Kaplan Caren 95 Katzenstein Mary Fainsod 147 Kaufmann JeanClaude 260 Kautsky Karl 92 Keller Evelyn Fox 41 44 129132 329 Kergoat Danièle 32 45 48 53 6775 106 109 111 149 153 162 254 330 341 Kergoat Prisca 159167 331 Kinsey Alfred 235 Klein Mélanie 60 Knibielher Yvonne 64 133 136 138 Knijn Trudie 190 193 Kofman Sarah 64 Kollontaï Alexandra 185 Kristeva Julia 61 64 136 L Laborie Françoise 9 25 133138 274 331 341 Labrousse Ernest 112 Lacan Jacques 61 64 Lagrange Hugues 235 333 Lagrave RoseMarie 166 167 Lallement Michel 86 Lamoureux Diane 208 213 332 339 Langevin Annette 53 69 98 Laot Jeannette 240 LapChew Lin 207 Laqueur Thomas 130 132 231 Latouche Serge 154 Latour Bruno 244 Laville JeanLouis 166 167 Law John 244 Lazarsfeld Pierre 50 53 Le Dœuff Michele 43 47 111 Le Feuvre Nicky 164 Le Gall Anne 168 173 Le Play Frédéric 112 Lefaucheur Nadine 99 136 138 190 196 Leibniz Gottfried Wil hem 119 Leira Arnlaug 191 Lemel Yannick 33 262 Lemoine Christine 126 Lert France 196 LéviStrauss Claude 67 225 Lewis Jane 191 Lhomond Brigitte 122 228 231235 333 Lim Lin Lean 208 Linhart Danièle 194 198 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 311 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 311 18102009 192541 18102009 192541 312 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Liszek Slava 237 240 Locke John 117 Loiseau Dominique 33 241 Longino Helen 41 44 Lorde Audre 122 128 Louis MarieVictoire 30 201 203 239 273 275 Löwy Ilana 4044 333 Lunt Paul 91 Lyotard JeanFrançois 64 M MacKinnon Catharine 26 30 190 MacPherson Crawford Brough 31 Mansson Sven Axel 201 Marini Marcelle 186 188 Marry Catherine 164 243 Marshall Thomas Hum phrey 38 189 Martin Emily 130 132 Martin Jacqueline 100 Maruani Margaret 48 50 51 53 8590 108 109 111 152 162 194 198 241 330 334 337 Marx Karl 34 150 251 256 Masters William 234 Mathieu NicoleClaude 62 67 73 75 77 78 79 80 102 104 106 122 138 222230 235 334 MatuchniakKrasuska Anna 22 25 Maynard Mary 94 McAdam Doug 153 McIntosh Mary 190 McKenzie Roderick 140 Mead Margaret 225 Memmi Albert 77 Messing Karen 109 111 218 Meulders Danièle 108 109 111 MeuldersKlein Marie Thérèse 99 Meynaud HélèneYvonne 48 179183 334 Michard Claire 229 Michel Andrée 68 97 Michelet Jules 112 184 Michon François 85 90 109 Milkman Ruth 68 Mill John Stuart 60 Moallem Minoo 95 Mogrovejo Norma 125 126 Mohanty Chandra 177 178 Molinier Pascale 101106 Monnier Viviane 274 275 Montesquieu 35 Moraga Cherrie 126 Morgan David 112 117 Morokvasic Mirjana 141 143 Mosconi Nicole 45 48 84 MossuzLavau Janine 173 234 337 Mouffe Chantal 37 38 Mouriaux René 153 Mueller Carol McClurg 147 Muxel Anne 263 266 NahoumGrappe Véroni que 273 276 N Neveu Érik 150 153 Newman Karen 23 Neyret Guy 33 34 Noiriel Gérard 140 143 Novaes Simone 251 O Oakley Ann 227 Oberschall Anthony 150 Oldenziel Ruth 244 Olson Mancur 150 Ormrod Susan 245 246 Otto Bauer 92 Oudshoorn Nelly 245 Outin JeanLuc 87 90 P Park Robert 140 Parsons Talcott 97 Passeron JeanClaude 264 Pateman Carole 36 37 118 121 122 210 213 Paugam Serge 195 198 Pelletier Madeleine 82 Percheron Annick 264 265 266 Perrot Michelle 111116 138 162 167 172 188 243 335 Peyre Évelyne 67 224 Pharr Suzanne 125 Pheterson Gail 203208 335 Phillips Anne 37 38 39 Pichevin MarieFrance 227 231 Picot Geneviève 159 162 336 Picq Françoise 69 147 149 152 153 Pietro Aretino 204 Pinch Trevor 244 Piore Michael 107 Pitch Tamar 25 Pitrou Agnès 263 264 266 Platon 326 Pollak Michaël 325 Pollert Anna 106 Pomata Gianna 114 Ponthieux Sophie 53 Poutignat Philippe 91 Prévost Johanne 109 111 Proudhon Pierre Joseph 185 210 Q Quiminal Catherine 138143 336 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 312 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 312 18102009 192541 18102009 192541 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 313 R Rack Claude 51 Raymond Janice 202 203 Reich Wilhelm 233 Renard Ingrid 126 Reynaud Emmanuèle 90 Rich Adrienne 63 124 128 Ricœur Paul 112 187 RiotSarcey Michèle 114 183188 336 Rogerat Chantal 4853 89 90 236241 337 Rosado Nunes Maria José F 213217 337 Rosanvallon Pierre 190 Rousseau JeanJacques 36 60 117 134 186 210 268 271 Roussel Louis 264 Roux Simone 163 Rubenstein Michael 27 30 Rubin Gayle 127 227 231 Ruddick Sara 212 Russo Ann 177 178 S Sabel Charles 107 Sagaert Martine 134 Sainsbury Diane 190 193 Salais Robert 49 SaurelCubizolles Marie Josèphe 218 333 Sayad Abdelmalek 139 Scavone Lucila 221 222 341 Schiltz MarieAnge 235 Schnapper Dominique 92 Schüssler Fiorenza Elisa beth 216 217MM Schumpeter Joseph 34 Scott Joan W 37 39 66 73 75 116 213 Segrestin Denis 85 90 ServanSchreiber Claude 168 173 Séverac Nadège 274 Siim Birte 38 191 Silvera Rachel 109 111 Simon Gildas 143 235 Sineau Mariette 190 193 Singer Jeanne 141 Singly François de 99 100 266 Sissa Giulia 60 Sohn AnneMarie 114 116 135 237 Sollors Werner 91 96 Sonthonnax Françoise 256 258 261 Spallone Pat 248 251 Spinoza Baruch 60 183 184 Spira Alfred 235 Spivak Gayatri Chakra vorty 158 Stanko Elisabeth 27 Star Susan Leigh 43 245 Stein Lorenz von 150 Steinberg Deborah Lynn 248 251 Stoetzel Jean 179 Stoller Robert J 227 StreiffFenart Jocelyne 91 T Tabet Paola 67 75 77 136 138 203 208 223 231 232 235 243 246 Taboada Isabelle 141 Talahite Fatiha 154158 Tamagne Florence 122 Tarrow Sidney 153 Taylor Verta 151 153 Terrail JeanPierre 262 266 338 Testart Jacques 249 250 251 Thadani Giti 122 Thébaud Françoise 116 149 ThébaudMony Annie 53 90 108 193198 217222 326 338339 Thélot Claude 263 Théry Irène 99 Thévenot Laurent 32 Thomas William Isaac 140 Threlfall Monica 148 149 Tilly Charles 150 153 Timmerman Grejte 29 30 Topalov Christian 49 53 Torns Teresa52 53 Torres Lourdes 177 178 Touraine Alain 150 151 Trat Josette 149154 339 341 Tripier Pierre 162 Tristan Flora 34 269 271 Triton Suzette 126 Tuana Nancy 130 132 Turcotte Louise 125 Turkle Sherry 244 U Ungerson Clare 190 193 V Vacarie Isabelle 194 Valabrègue Catherine 136 Valéry Paul 187 Vallet LouisAndré 264 Vance S Carol 127 234 235 Vandelac Louise 250 256 262 Varikas Eleni 95 96 116122 172 266271 339 Verret Michel 32 Viennot Éliane 169 Vilaine AnneMarie de 136 Vogel Laurent 194 219 222 Volkoff Serge 109 W Wajcman Judy 244 246 Walby Sylvia 109 111 177 178 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 313 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 313 18102009 192541 18102009 192541 314 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Walkowitz Judith 205 208 Walters Patricia 164 Warner Lloyd 91 Weber Max 31 76 163 215 Weinstein Naomi 77 WelzerLang Daniel 101106 201 272 274 276 339 Wheeler Anna 187 Wiels Joëlle 67 224 Wieringa Saskia 126 Wijers Marjan 207 Williams Fiona 192 193 Wilson Élisabeth 190 Wittier Nancy 151 153 Wittig Monique 124 128 226 229 234 235 Wollstonecraft Mary 35 37 118 185 269 271 Woolf Virginia 225 Y Young Iris 37 38 212 213 YuvalDavis Nira 94 96 Z Zachmann Karin 243 Zaidman Claude 44 45 46 48 8084 163 164 340 341 ZancariniFournel Mi chelle 190 219 Zemon Davis Natalie 214 Znaniecki Florian 140 ZylberbergHocquard MarieHélène 236241 340 341 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 314 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 314 18102009 192541 18102009 192541 Os termos seguidos de remetem às rubricas do dicionário Aborto e contracepção ver também Maternidade Movimentos feministas Políticas sociais e familiares Públicoprivado Sexualidade Tecnologias da reprodução hu mana 10 11 14 15 16 2125 30 39 58 60 64 66 74 75 77 95 96 101 103 113 114 116 118 121 127 128 133138 144149 152 172 178 181 188 191 192 193 198 200 202 203 208213 219 224 225 227 228 230 231235 246 251 256 261 271 275 Androcentrismo ver Cidadania Diferença sexual Etnicidade e nação Feminilidade masculinidade virilidade Religiões Sexo e gênero 10 14 15 16 3539 43 56 59 65 66 70 74 79 84 9096 101106 115 116 119 121 128 129 130 132 136 143 152 158 171 172 178 185 188 190 196 200 210 212 213 213217 216 218 219 222231 235 236 240 246 255 267 268 271 273 275 Assédio sexual ver também Movimentos feministas Sexualidade Violências 10 14 15 16 21 22 2530 58 75 77 79 96 101 102 103 105 116 121 127 128 133 138 144149 172 175 178 188 193 198 200 201 202 203 206 208 213 217 224 225 227 228 230 231235 271276 Autonomia ver Aborto e contracepção Maternidade movimentos feministas Poderes 10 11 14 15 16 2125 30 34 36 58 60 64 66 74 75 79 83 95 96 113 114 116 118 121 128 133138 143 144149 152 160 172 175 178 183188 191 193 200 205 208 212 213 217 219 225 228 234 235 241 248 249 250 251 255 Bico ver Ofício profi ssão emprego 15 29 32 33 34 47 49 50 51 52 53 55 70 74 84 8590 99 100 104 106 107 108 109 110 139 141 151 155 157 159167 177 188 192 193 194 198 199 204 211 219 220 237 241 246 256 258 259 261 266 Binário pensamento ver Diferença sexual 7 11 14 35 37 43 54 59 62 64 65 66 68 79 105 114 115 119 122 124 129 130 131 152 172 186 197 203 208 212 224 226 229 230 238 255 257 268 269 Biologia ver Feminilidade masculinidade virilidade Linguagem científi ca Ciências e gênero Sexo e gênero Sexualidade Tecnologias da reprodução humana 10 15 16 4044 65 66 74 79 84 93 95 96 101106 115 116 128 129132 137 172 178 218 219 222231 235 246251 268 271 273 275 ÍNDICE REMISSIVO Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 315 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 315 18102009 192541 18102009 192541 316 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Capitalismo ver Categorias socioprofi ssionais Desemprego Desenvolvimento Divi são sexual do trabalho e relações sociais de sexo Mundialização Patriarcado 7 10 14 16 21 22 3034 40 41 42 43 45 46 4853 5358 61 65 66 6775 77 85 87 89 90 92 97 101 104 105 106 107 108 110 115 124 128 130 131 132 136 141 143 148 151 152 153 154158 161 166 167 173178 182 183 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 207 208 221 222 230 233 237 239 241 244 246 247 248 253 254 256 257 258 261 263 265 266 Carga mental ver Trabalho doméstico 10 14 16 49 57 58 69 70 74 75 87 89 99 101 109 110 134 165 192 193 253 254 256262 266 Categorias socioprofi ssionais ver também Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Ofício profi ssão bico32 Poderes Precarização social Sindicatos 10 14 15 16 29 3034 47 48 53 58 66 6775 79 84 90 104 110 153 158 159167 172 178 182 183188 193198 199 204 208 217 220 222 230 236241 242 243 246 256 258 259 261 266 Categorização de sexo ver Diferença sexual Divisão sexual do trabalho e relações so ciais de sexo Sexo e gênero Pesquisas 10 16 24 28 29 37 40 43 44 45 47 48 51 59 64 66 6775 79 84 90 92 93 94 96 102 105 107 108 109 110 116 119 126 128 129 130 131 132 141 142 143 152 153 158 164 167 172 178 179183 189 193 195 201 208 212 214 216 217 220 222231 235 241 242 243 245 246 254 256 257 258 259 261 266 Cidadania ver também Igualdade Paridade Políticas sociais e familiares Públicopriva do Universalismo e particularismo 10 14 15 25 3539 43 48 56 58 66 70 79 84 86 89 95 101 114 116122 136 138 148 157 167173 181 183 185 188 189 190 191 192 196 203 208213 229 236 239 240 241 255 256 261 266271 Classe ver Categorias socioprofi ssionais Etnicidade e nação História Movimentos so ciais Patriarcado Trabalho doméstico 7 10 14 16 17 3034 37 40 41 43 44 45 46 49 54 57 58 59 61 62 63 67 68 69 70 74 75 77 79 81 84 86 87 89 9096 97 98 101 109 110 111116 122 123 124 125 126 128 130 131 132 133 134 136 139 140 143 148 149154 156 158 160 165 167 170 173178 179 182 183 190 192 193 203 208 213 218 220 225 230 239 240 241 242 243 244 249 253 254 256262 265 266 Coexistência entre os sexos ver também Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Educação e socialização Igualdade Paridade Sindicatos 10 14 16 29 31 34 36 37 38 39 46 48 66 6775 79 8084 89 90 101 110 116122 136 138 143 148 153 157 158 167173 183 188 198 203 208 212 213 222 229 230 236241 246 261 266271 Competências ver Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Emprego Fe minilidade masculinidade virilidade Ofício profi ssão emprego Técnicas e gêne ro 10 15 16 29 32 33 34 43 45 47 48 49 50 51 52 53 55 65 66 6775 82 84 8590 99 100 101106 107 108 109 110 115 132 139 141 151 153 155 157 158 159167 177 188 192 193 194 196 198 199 204 208 211 218 219 220 222 230 235 237 241246 256 258 259 261 266 271 273 275 Complementaridade ver Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo 16 48 62 66 6775 72 82 90 110 123 153 158 167 208 222 224 225 230 240 241 246 256 261 266 32 Traduzido do francês job que signifi ca trabalhos precários sem estabilidade sem direitos temporários e corresponde em português a bico Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 316 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 316 18102009 192541 18102009 192541 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 317 Conciliação de papéis ver Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Educa ção e socialização Flexibilidade Maternidade Precarização social Trabalho do méstico 10 11 14 16 24 25 34 48 49 53 57 58 60 64 66 6775 8084 87 89 90 95 99 101 106111 113 114 115 118 121 130 131 132 133138 141 143 145 152 155 158 165 166 167 172 189 190 191 192 193198 207 208 219 220 221 222 230 233 234 237 241 244 246 247 248 249 250 253 254 256262 263 266 Condição feminina ver Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Sexo e gênero 10 16 48 66 6775 79 84 90 93 96 105 110 116 128 129 132 153 158 167 172 173 178 208 222231 241 246 256 261 266 Conhecimento situado ver Ciências e gênero Técnicas e gênero 4044 105 132 167 241246 256 261 Corpo ver Aborto e contracepção Assédio sexual Feminilidade masculinidade viri lidade Lesbianismo Maternidade Saúde no trabalho Sexo e gênero Sexualidade Tecnologias da reprodução humana Violências 10 11 14 15 16 2125 2530 43 58 60 63 64 65 66 73 74 77 78 79 83 84 93 95 96 101106 110 113 114 115 116 118 122128 129 132 133138 143 145 147 148 152 160 169 172 178 186 191 195 196 198 199 200 201 202 203 206 208 217222 222 231 231235 246251 268 269 271276 Democracia ver Cidadania Igualdade Movimentos feministas Paridade Poderes Públicoprivado Universalismo e particularismo 10 14 15 21 24 30 34 3539 43 48 56 58 60 63 66 70 75 79 84 86 89 95 96 114 115 116122 128 133 136 138 144149 157 167173 178 183188 190 193 196 200 203 208213 217 225 228 229 235 236 239 240 241 255 256 261 266271 Desemprego ver também Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Empre go Flexibilidade Políticas sociais e familiares Precarização social 10 14 16 25 34 39 45 4853 55 58 66 6775 8590 99 100 101 104 106111 139 141 151 153 155 157 158 161 165 166 167 177 181 188 189 191 192 193198 208 211 213 219 220 222 230 237 239 241 246 254 256 261 265 266 Desenvolvimento ver também Mundialização Políticas sociais e familiares Poderes Precarização social Trabalho doméstico Violências 7 10 14 15 16 21 22 25 27 30 34 39 40 41 42 43 45 46 49 52 5358 61 65 69 70 74 75 77 79 87 89 90 92 96 99 101 102 104 105 106 107 108 109 110 115 130 131 132 134 136 141 143 148 152 154158 165 166 167 172 178 181 183188 189 190 191 192 193198 201 203 206 207 208 213 217 220 221 222 232 233 235 237 244 246 247 248 249 253 254 256262 263 266 271276 Desigualdades ver Desenvolvimento Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Educação e socialização Igualdade Emprego Etnicidade e nação Convivên cia entre os sexos Pesquisas de opinião Universalismo e particularismo 7 10 14 16 21 22 36 37 38 39 40 41 42 43 45 46 48 49 50 51 52 5358 61 65 66 6775 77 79 8084 8590 9096 99 100 101 104 105 106 107 108 109 110 115 116122 130 131 132 136 139 141 143 147 148 151 152 153 155 157 158 161 165 166 167 172 177 179183 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 207 208 211 213 219 220 221 222 226 230 233 237 241 244 246 247 248 249 254 256 258 260 261 263 266271 275 Diferença sexual ver também Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Dominação Igualdade Lesbianismo Maternidade Sexo e gênero Universalismo e particularismo 10 11 14 16 24 25 28 32 36 37 38 39 43 46 48 59 60 61 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 317 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 317 18102009 192541 18102009 192541 318 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER 62 63 64 66 6775 7680 83 84 90 93 95 96 101 102 103 105 110 113 114 116 122128 129 130 132 133138 142 143 145 146 148 152 153 156 157 158 167 171 172 173 175 177 178 182 188 191 195 200 201 208 211 212 213 216 217 219 222231 233 234 241 243 244 246 248 249 250 254 256 261 265 266271 275 Diferencialismo ver Diferença sexual 37 43 59 63 66 119 130 152 212 226 230 Direito ver Maternidade Precarização social Saúde no trabalho Sindicatos Violên cias 10 11 14 15 16 21 22 23 24 25 27 29 30 31 34 35 36 38 48 53 58 60 61 64 65 66 74 75 79 90 95 96 99 100 101 102 105 110 113 114 116 118 121 133138 142 143 145 146 147 148 152 153 158 163 172 174 183 184 185 186 191 193198 200 201 202 203 206 208 211 212 217222 232 234 235 236241 248 249 250 251 256 266 270 271276 Direitos ver Categorias socioprofi ssionais Cidadania Diferença sexual Igualdade Maternidade Movimentos feministas Movimentos sociais Poderes Público privado Sindicatos Universalismo e particularismo Violências 7 10 11 14 15 16 21 24 25 26 27 29 3034 3539 43 45 46 48 56 58 59 60 62 64 66 70 74 75 76 79 84 95 96 100 101 102 105 106 110 113 114 115 116122 123 128 130 133138 143 144149 149154 157 160 162 164 167 171 172 175 178 182 183188 190 191 193 194 196 198 199 200 201 203 206 207 208213 217 219 225 226 227 228 230 232 234 235 236241 248 249 250 255 256 261 266271 271276 Discriminação ver Educação e socialização Igualdade Assédio sexual Lesbianismo Migrações Coexistência entre os sexos Políticas sociais e familiares Sexo e gênero Universalismo e particularismo 10 14 16 2530 36 37 38 39 43 46 47 48 58 66 70 75 79 8084 86 93 96 101 102 105 116122 122128 129 132 138143 147 148 155 157 158 167173 172 178 181 183 188 189 191 192 194 207 208 213 219 222231 233 235 239 240 241 250 261 266271 275 Disponibilidade permanente ver Família Trabalho doméstico 10 14 16 21 49 57 58 67 69 70 72 73 74 75 80 81 82 84 87 89 94 95 96101 109 110 112 113 116 117 134 135 138 141 142 143 145 165 173 174 175 177 178 186 189 190 192 193 209 210 211 213 220 230 233 238 250 251 253 254 256 262 264 266 268 269 Divisão internacional do trabalho ver Desenvolvimento Flexibilidade Mundialização Precarização social Saúde no trabalho 7 10 14 16 21 22 34 40 41 42 43 45 46 52 5358 61 65 74 75 77 90 92 104 105 106111 115 130 131 132 136 141 143 152 154158 166 167 189 190 191 193198 207 217222 233 237 244 246 247 248 249 254 256 258 261 263 Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo ver também Desemprego Edu cação e socialização Emprego Família Coexistência entre os sexos Movimentos feministas Precarização social Trabalho doméstico 10 14 15 16 21 30 34 45 46 4853 55 57 58 66 6775 8084 8590 94 95 96101 104 106 107 108 109 110 112 113 116 117 121 128 133 134 135 138 139 141 142 143 144 149 151 153 155 157 158 161 165 166 167 171 172 173 174 175 177 178 186 188 189 190 192 193198 200 208 209 210 211 213 219 220 222 225 228 230 233 235 237 238 239 240 241 246 250 251 253 254 256262 264 265 266 268 269 Dominação ver também Diferença sexual Educação e socialização Igualdade Femi nilidade masculinidade virilidade Poderes Sexo e gênero Violências 10 14 15 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 318 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 318 18102009 192541 18102009 192541 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 319 16 27 28 30 32 34 36 37 38 39 43 46 48 58 59 60 61 62 63 65 66 71 73 74 75 7680 8084 93 95 96 101106 114 115 116122 128 129 130 132 136 142 143 146 148 152 156 157 171 172 173 175 177 178 182 183188 195 200 201 203 2065 208 211 212 213 216 217 218 219 222231 232 234 235 241 243 244 246 250 254 261 265 266 269 271276 Economia informal ver Desenvolvimento Migrações Mundialização Precarização so cial 7 14 16 21 22 34 40 41 42 43 45 46 52 5358 61 65 74 75 77 90 92 104 105 106 107 108 110 115 130 131 132 136 138143 152 154158 166 167 189 190 191 193198 207 208 220 221 222 233 237 244 246 247 248 249 254 256 258 261 263 Educação e socialização ver também Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Dominação Igualdade Família Ofício profi ssão Bico Coexistência entre os sexos Sexo e gênero Transmissões intergeracionais 10 15 16 21 28 29 32 33 34 36 37 38 39 46 47 48 49 57 58 60 61 62 63 66 6775 7680 8084 90 93 94 96101 102 103 104 105 110 112 113 114 116122 128 129 132 135 136 138 141 142 143 145 146 148 152 153 156 157 158 159167 171 172 173 174 175 177 178 182 188 189 190 193 195 198 199 200 201 204 208 209 210 211 213 216 217 219 220 222231 233 234 238 239 240 241 242 243 244 246 250 251 253 254 256 257 258 259 260 261 262266 268 269 271 275 Emancipação ver Igualdade Etnicidade e nação Migrações Movimentos feministas Universalismo e particularismo 7 10 14 15 21 30 36 37 38 39 43 48 66 75 76 79 82 84 9096 115 116122 128 133 138143 144149 155 158 172 178 188 193 200 207 208 213 225 228 235 241 255 266271 Emigração ver Migrações 14 115 138143 155 158 207 208 Emprego ver Ofício profi ssão emprego 15 29 32 33 34 45 47 49 50 51 52 53 55 70 74 84 8590 99 100 104 106 107 108 109 110 139 141 151 155 157 159167 177 188 192 193 194 196 198 199 204 211 219 220 237 241 242 243 246 256 258 259 261 266 Emprego ver também Desemprego Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Flexibilidade Ofício profi ssão bico Coexistência entre os sexos Políticas so ciais e familiares Precarização social Técnicas e gênero Trabalho doméstico Tra balho o conceito de 10 14 15 16 25 29 32 34 39 43 46 47 4853 55 57 58 69 70 74 75 84 8590 99 100 101 104 105 106111 121 132 134 139 141 151 155 157 158 159167 171 172 177 181 188 189 191 192 193198 199 204 211 213 219 220 222 237 239 240 241246 253 254 256262 265 266 Epistemologia ver Diferença sexual Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Dominação Linguagem científi ca Patriarcado Ciências e gênero Sexo e gê nero Técnicas e gênero 10 14 16 28 32 37 4044 46 48 59 60 61 62 63 66 6775 7680 82 83 84 90 92 93 96 97 101 102 103 105 110 112 114 116 117 119 121 124 128 129132 136 142 143 146 148 152 153 156 157 158 167 171 172 173183 188 190 195 200 201 208 211 212 216 217 219 222 231 241246 256 261 266 268 271 Equidade ver Igualdade Transmissões intergeracionais 36 37 38 39 48 66 79 84 116122 143 148 172 188 213 241 262266 271 Essencialismo ver Diferença sexual Etnicidade e nação Maternidade Paridade Sexo e gênero 10 11 14 16 24 25 37 39 43 48 59 60 64 66 70 74 79 84 86 89 90 96 105 113 114 116 118 119 128 129 130 132 133138 143 145 148 152 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 319 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 319 18102009 192541 18102009 192541 320 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER 157 158 167173 178 183 191 203 212 219 222231 234 239 248 249 250 Estado ver Cidadania Desenvolvimento Etnicidade e nação Maternidade Mundiali zação Políticas sociais e familiares Públicoprivado 10 11 14 15 16 21 24 25 31 3539 54 56 60 64 66 70 73 74 9096 99 100 108 113 114 118 121 133138 143 145 152 154 155 156 158 162 163 171 172 175 180 184 185 188 189 190 191 192 196 205 206 207 208 210 211 212 213 216 219 234 236 240 248 249 250 255 266 267 268 271 273 Estupro ver Violências 10 14 15 16 27 30 58 60 79 96 100 101 102 105 143 147 148 201 203 206 208 223 230 232 234 271276 Etnicidade e nação ver também Diferença sexual Dominação Família Maternidade Movimentos feministas Religiões Sexo e gênero Violências 10 11 14 15 16 21 24 25 27 28 30 32 37 43 46 49 57 58 59 60 61 62 63 64 66 67 69 71 72 7374 75 7680 81 82 84 90101 102 103 105 112 113 114 116 117 118 119 121 128 129 130 132 133138 141 142 143 144149 152 156 157 158 171 172 173 174 175 177 178 182 186 188 189 190 191 193 195 200 201 203 206 208 209 210 211 212 213217 219 220 222231 232 233 234 235 238 243 244 248 249 250 251 253 254 267 258 259 260 261 264 265 266 268 269 271276 Exclusão ver Desemprego Desenvolvimento Igualdade História Coexistência entre os sexos Poderes Precarização social Religiões Ciências e gênero 7 10 14 15 16 17 21 22 31 32 34 3539 4044 45 46 4853 5358 60 61 62 65 66 67 68 70 74 75 77 79 81 84 86 90 91 92 95 96 104 105 106 107 108 110 111116 116121 122 126 130 131 132 133 134 136 137 139 140 141 143 148 150 152 155 156 158 160 166 167 168 169 170 171 172 173 178 179 183188 189 190 191 193198 202 203 207 208 210 212 213217 218 220 221 222 225 233 236 237 239 240 241 242 243 244 246 247 248 249 253 254 255 256 257 258 261 263 265 267 268 269 271 Exploração ver Categorias socioprofi ssionais Desenvolvimento Etnicidade e nação Patriarcado Trabalho doméstico 7 10 14 16 21 22 3034 40 41 42 43 45 46 49 52 5358 61 65 69 70 74 75 77 87 89 9096 97 99 101 104 105 106 107 108 109 110 115 124 127 128 130 131 132 134 136 140 141 143 148 151 152 155 156 158 165 166 167 173183 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 201 202 206 207 221 222 225 233 237 244 246 247 248 249 250 253 254 256262 263 266 Família ver também Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Educação e socialização Maternidade Patriarcado Políticas sociais e familiares Tecnologias da reprodução humana Trabalho doméstico Violências 10 11 14 15 16 21 24 25 27 30 39 48 49 57 58 60 64 66 6775 79 8084 87 89 94 95 96101 102 105 109 110 112 113 114 116 117 118 121 124 128 133138 141 142 143 145 148 152 153 158 165 167 172 173183 178 181 186 189 190 191 192 193 201 203 206 208 209 210 211 213 219 220 222 230 232 233 234 238 241 246251 253 254 256262 264 266 268 269 271276 Fecundidade ver Aborto e contracepção Maternidade Sexualidade Tecnologias da reprodução humana 10 11 14 15 16 2125 30 60 64 66 74 77 95 101 103 113 114 118 127 128 133138 145 148 152 172 191 198 200 202 203 208 217 219 224 227 228 230 231235 246251 271 275 Feminilidade masculinidade virilidade ver também Diferença sexual Dominação Sexo e gênero Técnicas e gênero Violências 10 14 15 16 27 28 30 32 37 43 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 320 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 320 18102009 192541 18102009 192541 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 321 46 58 59 60 61 62 63 65 66 71 73 74 7680 82 83 84 93 95 96 101106 114 115 116 117 119 121 128 129 130 132 136 142 143 146 148 152 156 157 167 171 172 173 175 177 178 182 188 195 200 201 203 206 208 211 212 216 217 218 219 222231 232 234 235 241246 250 254 256 261 265 269 271276 Feminismo francês ver Diferença sexual 9 10 11 37 43 59 63 64 119 130 152 212 226 230 Feminismo ver Movimentos feministas 7 9 10 11 15 21 30 36 61 62 63 64 65 75 83 86 93 96 116 121 123 124 128 133 134 138 144149 157 172 173 175 176 178 182 188 193 200 208 211 213 225 228 234 235 Feministas teorias ver Diferença sexual Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Patriarcado 9 10 14 16 37 43 48 59 61 62 66 6775 90 97 101 110 119 124 128 130 148 152 153 158 167 173183 190 208 212 222 226 230 241 246 256 257 261 266 Feminização ver Desemprego Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Educação e socialização Flexibilidade Ofício profi ssão bico Coexistência entre os sexos Sexo e gênero Sindicatos 10 14 15 16 29 31 32 33 34 46 47 4853 66 6775 79 8084 85 87 89 90 93 96 99 101 104 105 106111 116 120 121 128 129 132 143 151 153 157 158 159167 170 171 172 178 192 193 194 195 198 199 204 208 222231 236241 242 243 246 254 256 258 259 261 265 266 Filiação ver Maternidade Tecnologias da reprodução humana Transmissões interge racionais 10 11 16 24 25 60 64 66 74 84 95 113 114 118 133138 143 145 152 172 191 219 234 248 249 250 137 246251 262266 Flexibilidade ver também Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Em prego Mundialização Precarização social Saúde no trabalho Trabalho doméstico 10 14 16 34 48 49 50 51 52 53 55 56 57 58 66 6775 8590 99 100 101 106111 134 139 141 151 153 154158 161 165 166 167 177 188 192 193 198 208 211 217222 230 237 241 246 253 254 256262 266 Gênero ver Sexo e gênero 7 9 10 11 14 15 16 26 40 44 56 57 58 59 65 66 68 77 78 79 81 83 84 86 91 93 96 102 103 105 111 114 116 118 127 128 129 130 131 132 139 143 152 155 166 172 177 178 186 189 190 204 207 222231 237 240 242 243 244 245 Gerações ver Educação e socialização Maternidade Ofício profi ssão emprego Trans missões intergeracionais 10 11 15 16 24 25 26 29 32 33 34 45 47 48 49 50 51 52 53 55 60 64 66 70 74 75 79 8084 8590 95 99 100 101 104 106 107 108 109 110 113 114 118 121 133138 139 141 143 145 151 152 155 157 159167 172 174 177 188 191 192 193 194 196 198 204 211 219 220 230 234 237 241 242 243 246 248 249 250 256 258 259 261 262266 Guerra ver Desenvolvimento Etnicidade e nação Sondagens Violências 7 10 14 15 16 21 22 27 30 40 41 42 43 45 46 50 52 5358 61 65 74 77 79 9096 101 102 104 105 106 107 108 110 115 130 131 132 134 136 141 143 148 152 154 155 158 166 167 170 179 180 181 182 183 189 190 191 194 195 196 197 201 203 206 207 208 209 221 222 232 233 235 237 244 246 247 248 249 254 258 261 263 271276 Heterossexualidade ver Feminilidade masculinidade virilidade Lesbianismo Sexo e gênero Sexualidade Violências 10 14 15 16 21 22 25 27 30 43 58 62 65 66 74 77 79 84 93 95 96 101106 115 116 122128 129 132 143 145 147 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 321 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 321 18102009 192541 18102009 192541 322 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER 148 172 178 198 200 201 202 203 206 208 217 218 219 222231 231235 246 271276 História sexuação da ver também Diferença sexual Família Movimentos feministas Públicoprivado Sexo e gênero 10 16 21 37 43 49 57 58 59 66 67 72 73 74 75 79 80 81 82 84 93 94 95 96 105 111 116 119 128 129 130 132 152 172 178 212 222231 Homem ver Diferença sexual Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Sexo e gênero 10 16 27 31 37 41 43 48 51 59 60 62 63 65 66 6775 79 84 90 93 96 97 105 110 116 119 128 129 130 132 140 144 152 153 158 159 167 172 174 178 183 184 185 208 209 210 211 212 222231 237 241 246 251 252 256 260 261 266 267 268 270 Homofobia ver Feminilidade masculinidade virilidade Lesbianismo 10 15 43 65 74 93 95 101106 115 122128 218 219 230 233 235 246 271 273 275 Homossexualidade ver Diferença sexual Lesbianismo Sexo e gênero Sexualidade 10 14 15 16 21 22 25 30 37 43 59 65 66 77 79 84 93 96 101 103 105 116 119 122 123 127 128 129 130 132 145 148 152 172 178 198 200 202 203 208 212 217 222231 231235 271 275 Identidade sexual ver Feminilidade masculinidade virilidade Lesbianismo Sexo e gênero Sexualidade 10 14 15 16 21 22 25 30 43 65 66 74 77 79 84 93 95 101106 115 116 112128 129 132 145 148 172 178 198 200 202 203 208 217 218 219 222231 231235 246 271 273 275 Identidade ver Diferença sexual Dominação Igualdade Etnicidade e nação Migra ções Movimentos feministas 10 14 15 16 21 28 30 32 33 36 37 38 39 42 43 44 45 46 48 59 60 61 62 63 66 71 73 75 7680 82 83 84 87 9096 101 102 103 104 105 114 113 115 116122 121 127 128 130 133 136 138143 144149 152 156 157 158 162 171 172 173 175 177 178 182 187 188 193 195 200 201 207 208 211 212 213 216 217 219 225 226 227 230 234 235 241 243 244 250 254 263 265 269 271 275 Igualdade ver também Cidadania Dominação Educação e socialização Coexistência entre os sexos Movimentos feministas Universalismo e particularismo 10 14 15 16 21 28 30 32 3539 43 46 48 56 60 61 62 63 66 70 71 73 75 7680 8084 95 96 101 102 103 105 116122 128 133 136 138 142 143 144149 152 156 157 171 172 173 175 177 178 182 185 188 190 193 195 196 200 201 208 210 211 212 213 216 217 219 225 228 230 234 235 236 239 240 241 243 244 250 254 255 261 265 266271 275 Imigração ver Migrações 14 74 94 115 138143 155 158 207 208 Indivíduo ver Cidadania Igualdade Movimentos feministas Poderes Universalis mo e particularismo 10 14 15 21 30 34 3539 43 48 56 58 60 66 70 75 79 84 95 96 116122 128 133 136 138 144149 160 163 171 172 175 178 181 183188 190 193 196 200 208 210 212 213 217 220 225 228 232 235 236 240 241 255 258 266271 Invisibilidade das mulheres ver Desenvolvimento História Migrações Mundiali zação Movimentos sociais Poderes Ciências e gênero Pesquisas de opinião33 Trabalho doméstico 7 10 14 16 17 21 22 31 32 34 40 41 42 43 45 46 52 5358 61 62 65 67 68 74 75 77 79 81 86 91 92 104 105 106 107 108 110 111116 123 128 130 131 132 134 136 137 138143 148 149154 154158 33 Pesquisas de opinião é o equivalente usual em português do termo sondage em francês Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 322 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 322 18102009 192541 18102009 192541 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 323 160 166 167 168 170 172 173 178 179 183188 190 191 194 195 196 197 203 207 208 217 218 220 221 222 225 230 233 237 239 240 241 242 243 244 246 247 248 249 250 253 254 256 258 261 263 265 266 Lesbofobia ver Lesbianismo 10 103 122128 233 Liberação das mulheres movimento de ver Movimentos feministas 15 21 30 75 96 113 116 121 124 128 133 135 138 144149 172 178 188 193 200 208 213 225 228 235 237 257 Liberalismo ver Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Mundialização Precarização social 10 14 16 34 48 53 56 58 66 6775 90 106 110 153 154 158 167 193198 208 220 222 230 241 246 256 261 266 Linguagem científi ca sexuação da ver também Ciências e gênero Sexo e gênero Téc nicas e gênero 10 16 4044 66 79 84 93 96 105 116 128 129132 167 172 178 222231 241246 256 261 268 271 Lutas sociais ver Movimentos feministas Movimentos sociais Sindicatos 7 10 14 15 21 29 30 31 34 45 46 48 75 96 110 115 116 121 123 128 133 138 144149 149154 172 175 178 188 193 198 200 208 213 225 228 230 235 236241 Machismo ver Patriarcado 110 14 97 78 101 124 128 148 152 173183 190 257 261 Masculinidade ver Feminilidade masculinidade virilidade 10 15 43 65 74 93 95 101106 115 218 219 230 235 246 271 273 275 Maternidade ver também Aborto e contracepção Diferença sexual Família Movi mentos feministas Tecnologias da reprodução humana 10 11 14 15 16 2125 30 37 43 49 57 58 59 60 64 66 67 69 72 74 75 94 95 96101 112 113 114 116 117 118 119 121 128 130 133138 141 142 143 144149 152 172 173 174 175 177 178 186 188 190 191 193 200 208 209 210 211 212 213 219 220 225 226 228 230 233 234 235 238 246251 253 254 257 258 259 260 261 264 266 268 269 Matriarcado ver Patriarcado 10 14 97 101 124 128 148 152 173183 190 257 261 Metodologia ver Categorias socioprofi ssionais História Pesquisas de opinião 14 17 31 32 29 3034 40 41 43 54 59 61 62 67 67 75 77 81 86 91 111116 122 126 130 131 132 133 134 136 137 139 140 148 150 156 160 167 168 170 173 179183 203 208 218 220 225 239 2240 241 242 243 244 253 256 265 Migrações ver também Desenvolvimento Dominação Educação e socialização Et nicidade e nação Família Transmissões intergeracionais Violências 7 10 14 15 16 21 22 27 28 30 32 40 41 42 43 45 46 48 49 52 5358 60 61 62 63 65 66 69 71 72 73 74 75 7680 81 82 83 84 9096 96101 102 103 104 105 106 107 108 110 112 113 114 115 116 117 119 121 130 131 132 135 136 138143 146 148 152 155 156 157 158 166 167 171 173 174 175 177 178 182 188 189 190 191 193 194 195 196 197 200 201 206 207 208 209 210 211 213 216 217 219 220 221 222 230 232 233 234 235 237 238 243 244 246 247 248 249 250 251 253 254 257 258 259 260 261 262266 268 269 271276 Minoritária ver Diferença sexual Dominação Etnicidade e nação Migrações Univer salismo e particularismo 10 14 16 28 32 37 39 43 46 59 60 61 62 63 65 66 71 73 7680 82 83 84 9096 101 102 103 105 114 115 117 119 121 130 136 138143 146 152 155 156 157 158 171 172 173 175 177 178 182 188 195 200 201 207 208 211 212 213 216 217 219 226 230 234 243 244 250 254 265 266271 275 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 323 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 323 18102009 192541 18102009 192541 324 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Mobilidade social ver Categorias socioprofi ssionais Educação e socialização Trans missões intergeracionais 3034 48 75 79 8084 101 121 143 167 182 183 230 256 261 262266 Monoparentalidade ver Família Maternidade Precarização social 10 11 16 21 24 25 34 49 53 57 58 60 64 66 67 69 72 74 75 80 81 82 84 90 94 95 96 101 110 112 113 114 116 117 118 133138 141 142 143 145 152 158 172 173 174 175 177 178 186 189 190 191 193198 209 210 211 213 219 220 222 230 233 234 238 248 249 250 251 253 254 256 257 258 259 260 261 264 266 268 269 Movimentos feministas ver também Aborto e contracepção Igualdade História Les bianismo Maternidade Movimentos sociais Paridade Patriarcado Sexualidade Violências 7 10 11 14 15 16 17 2125 27 30 31 32 37 39 40 41 43 45 46 48 54 58 59 60 61 62 64 66 67 68 70 74 75 77 79 81 86 89 91 95 96 97 101 102 103 105 111116 118 121 122128 130 131 132 133138 144149 149154 156 157 160 167173 173183 188 190 193 191 1998 200 201 202 203 206 208 212 213 217 218 219 220 224 225 227 228 229 230 231235 239 240 241 242 243 244 248 249 250 251 253 257 261 265 271276 Movimentos sociais ver também Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Lesbianismo Movimentos feministas Sindicatos 7 10 15 16 21 29 30 31 34 45 46 48 66 6775 90 96 110 115 116 121 122128 133 138 144149 149 154 158 167 172 175 178 188 193 198 200 208 213 222 225 230 233 235 236241 246 256 261 266 Mulher ver Diferença sexual Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Sexo e gênero 10 16 23 27 32 33 35 37 41 43 48 51 59 60 65 66 6775 77 79 81 84 90 93 96 97 105 110 116 119 121 128 129 130 132 134 135 136 138 141 143 144 152 153 158 160 163 167 172 178 182 184 185 187 199 202 208 210 211 212 215 219 222231 238 241 246 248 249 256 260 261 266 269 270 Mulheridade ver Feminilidade masculinidade virilidade 10 15 43 65 74 93 95 101106 115 218 219 230 235 246 271 273 275 Mundialização ver também Desenvolvimento Divisão sexual do trabalho e relações so ciais de sexo Etnicidade e nação Migrações Precarização social 7 10 14 16 21 22 34 40 41 42 43 45 46 52 5358 61 65 74 77 75 9096 104 105 106 107 108 110 115 130 131 132 136 138143 152 154158 166 167 189 190 191 193 198 207 208 220 221 222 233 237 244 246 247 248 249 254 256 258 261 263 Nação ver Etnicidade e nação 10 14 9096 140 143 154 155 156 158 Naturezacultura ver Diferença sexual Etnicidade e nação História Sexo e gênero Trabalho doméstico 10 14 16 17 31 32 37 43 49 54 57 58 59 61 62 66 67 68 69 70 74 75 79 81 84 86 87 89 93 9096 99 101 105 109 110 111116 119 122 126 128 129 130 131 132 133 134 136 137 139 140 143 148 150 152 156 158 160 165 170 172 173 178 179 192 193 203 208 212 218 220 222231 239 240 241 242 243 244 253 254 256262 265 266 NorteSul ver Desenvolvimento Etnicidade e nação Lesbianismo Migrações Mun dialização Prostituição 7 10 14 15 16 21 22 40 41 42 43 45 46 52 5358 61 65 74 77 9096 104 105 106 107 108 110 113 115 122128 130 131 132 136 138143 152 154158 166 167 189 190 191 194 195 196 197 198 208 221 222 232 233 234 235 237 244 246 247 248 249 254 258 261 263 272 273 275 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 324 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 324 18102009 192541 18102009 192541 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 325 Objetividade científi ca ver Ciências e gênero 4044 132 246 Ofício profi ssão bico ver também Categorias socioprofi ssionais Desemprego Divi são sexual do trabalho e relações sociais de sexo Emprego Flexibilidade Técnicas e gênero 10 14 15 16 29 3034 43 45 47 4853 55 66 6775 84 8590 99 100 104 105 106111 132 139 141 151 153 155 157 158 159167 177 182 183 188 192 193 194 195 196 198 199 204 208 211 219 220 222 230 237 239 241246 254 256 258 259 261 265 266 Opressão ver Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Etnicidade e nação Lesbianismo Movimentos feministas Patriarcado Públicoprivado Sexo e gêne ro 10 14 15 16 21 30 36 39 48 66 6775 77 78 79 83 84 9096 97 98 99 101 105 110 114 116 121 122128 129 132 133 138 143 144149 152 153 158 172 173183 188 190 193 197 198 200 208213 222231 233 234 235 254 255 256 257 261 270 271 Palavras de mulheres ver História Movimentos feministas Poderes 14 15 17 21 30 31 32 34 40 41 43 54 58 59 61 62 67 68 75 79 81 86 91 96 111116 121 122 126 128 130 131 132 133 134 136 137 138 139 140 144149 150 156 160 168 170 172 173 175 178 179 183188 193 200 203 208 213 217 218 220 225 228 235 239 240 241 242 243 244 253 265 Parentalidade ver Educação e socialização Maternidade Transmissões intergeracio nais 10 11 16 24 25 48 60 64 66 74 75 8084 95 100 101 113 114 118 121 133138 143 145 152 172 191 219 230 234 248 249 250 261 262266 Paridade ver também Cidadania Diferença sexual Igualdade Convivência entre os sexos Movimentos feministas Poderes Sexo e gênero Universalismo e particu larismo 10 14 15 16 3539 43 56 59 66 70 79 84 95 93 96 105 116 119 121 128 129 130 132 136 152 171 172 178185 188 190 196 210 212 213 222231 236 240 255 267 268 271 Parto ver Maternidade Tecnologias da reprodução humana 10 11 16 24 25 60 64 66 74 95 113 114 118 133138 136 137 145 152 172 191 219 234 248 249 246251 Pesquisas de opinião ver também Categorias socioprofi ssionais 3034 167 179183 256 Phallus ver Diferença sexual 37 43 59 119 130 152 212 226 230 Pornografi a ver Prostituição Sexualidade Violências 10 14 15 16 21 22 25 27 30 58 77 79 96 101 102 103 105 113 122128 143 145 148 158 198208 217 224 227 228 231235 271276 Pósmodernismo ver Diferença sexual Etnicidade e nação Lesbianismo 10 14 37 43 59 64 65 66 9096 119 130 143 152 158 212 226 228 230 Privado ver Públicoprivado 14 36 37 39 45 78 114 116 146 188 189 192 196 201 208213 238 256 261 268 271 Procriação ver Aborto e contracepção Maternidade Tecnologias da reprodução huma na 10 11 14 16 2125 60 64 66 74 95 113 114 118 133138 145 148 152 172 191 219 234 235 246251 Profi ssão ver Ofício profi ssão bico 15 29 32 33 34 47 84 104 159167 198 199 204 242 243 246 256 258 259 266 Prostituição ver também Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Migra ções Sexualidade Violências 10 14 15 16 21 22 25 27 30 48 58 66 6775 77 79 90 96 101 102 103 105 110 113 115 127 128 138143 145 148 153 155 158 167 198208 217 222 224 227 228 230 231235 241 246 256 261 266 271276 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 325 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 325 18102009 192541 18102009 192541 326 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER Queer teoria ver Diferença sexual Lesbianismo 10 37 43 59 64 65 119 122128 130 152 212 226 228 230 233 Quotas ver Cidadania Igualdade Paridade 10 14 15 3539 48 56 66 70 79 84 86 89 95 116122 136 138 148 157 167173 183 185 188 190 196 203 210 212 213 229 236 239 240 241 255 267 268 271 Racismo ver Etnicidade e nação Migrações 10 14 9096 115 126 127 138143 155 158 207 208 Relações sociais de sexo ver Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo 16 48 66 6775 90 110 153 158 167 208 222 230 241 246 256 261 266 Religiões ver também Dominação Poderes Sexualidade 10 14 15 16 21 22 25 28 30 32 34 46 58 60 61 62 63 66 71 73 7380 82 83 84 96 101 102 103 105 114 117 119 121 127 128 136 142 143 145 146 148 152 156 157 171 172 173 175 177 178 182 183188 195 198 200 201 202 203 208 211 213217 219 224 227 228 230 231235 241 244 250 254 265 269 271 275 Saúde no trabalho ver também Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Fle xibilidade Precarização social Técnicas e gênero 16 34 43 48 53 58 66 6775 90 106111 132 153 158 167 193198 208 217222 230 241246 256 261 266 Segmentação ver Categorias socioprofi ssionais Flexibilidade Precarização social 30 34 53 58 75 90 106111 158 166 167 182 183 193198 220 222 256 Serviço relação de ver Trabalho doméstico 10 14 16 49 57 58 69 70 74 75 87 89 99 101 109 110 134 165 192 193 253 254 256262 266 Sexagem ver Sexo e gênero 10 16 66 79 84 93 96 105 116 125 128 129 132 172 178 222231 Sexismo ver Etnicidade e nação Patriarcado Poderes Sexo e gênero Violências 10 14 15 16 27 30 34 47 58 66 79 84 9096 97 101 102 105 116 124 128 129 132 143 148 152 158 172 173183 183188 190 201 203 206 208 213 217 222231 232 235 241 257 261 271276 Sexo e gênero ver também Diferença sexual Divisão sexual do trabalho e relações so ciais de sexo Dominação Educação e socialização Família Feminilidade mascu linidade virilidade Linguagem científi ca Lesbianismo Sexualidade 10 15 16 37 43 59 65 66 74 79 84 93 95 96 101106 115 116 119 128 129 130 132 152 172 178 212 218 219 222231 235 246 271 273 275 Socialização ver Educação e socialização 48 75 79 8084 95 97 101 102 105 121 143 189 221 225 230 259 260 261 262 266 Sororidade ver Lesbianismo Movimentos feministas 10 15 21 30 75 96 116 121 122128 124 126 128 133 138 144149 172 175 178 188 193 200 208 213 225 228 233 235 Subordinação ver Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Feminilidade masculinidade virilidade Patriarcado Religiões 10 14 15 16 43 48 62 65 66 6775 90 93 95 96 97 101106 110 115 124 128 148 152 153 158 167 173 183 190 208 213217 218 219 222 230 235 241 246 256 257 261 262 266 267 271 273 275 Sujeito ver Movimentos feministas Poderes 14 15 21 30 34 56 58 59 60 62 65 66 75 78 79 83 96 116 118 121 128 133 138 144149 153 172 175 178 183188 193 200 208 213 217 225 228 235 241 252 267 Tecnologias da reprodução humana ver também Aborto e contracepção Família Ma ternidade 10 11 14 16 2125 60 64 66 74 95 113 114 118 133138 145 148 152 172 191 219 234 235 246251 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 326 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 326 18102009 192541 18102009 192541 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 327 Trabalho doméstico ver também Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo Educação e socialização Movimentos feministas Patriarcado Políticas sociais e fa miliares Públicoprivado Técnicas e gênero 10 14 15 16 21 25 30 39 43 48 49 57 58 66 6775 79 8084 87 89 90 96 97 99 101 105 109 110 114 116 121 124 128 132 133 134 138 143 144149 152 153 158 165 167 173183 188 189 190 191 192 193 200 208213 222 225 228 230 235 241246 253 254 256262 266 271 Transmissões intergeracionais ver também Divisão sexual do trabalho e relações so ciais de sexo Educação e socialização Maternidade Ofício profi ssão bico Tra balho doméstico 10 11 14 15 16 24 25 29 32 33 34 47 48 49 57 58 60 64 66 6775 79 8084 87 89 90 95 99 101 104 109 110 113 114 118 121 133138 143 145 152 153 158 159167 172 191 192 193 198 199 204 208 219 222 230 234 241 242 243 246 248 249 250 253 254 256262 262266 Universal ver Diferença sexual Poderes Ciências e gênero Pesquisas de opinião 11 14 34 37 4044 58 59 61 63 66 78 79 83 102 115 119 130 132 144 152 154 157 172 179183 183188 212 217 224 226 230 241 246 252 267 268 269 270 Universalismo e particularismo ver também Cidadania Igualdade Linguagem cientí fi ca Públicoprivado 10 14 15 3539 43 48 56 66 70 79 84 95 114 116122 129132 136 137 148 171 172 185 188 190 196 208213 216 230 236 240 241 246251 255 256 261 266271 Vínculo social ver Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo 16 48 66 67 75 90 110 153 158 167 208 222 230 241 246 256 261 266 Violências ver também Dominação Assédio sexual Movimentos feministas Prostitui ção Sexualidade 10 14 15 16 21 22 2530 32 46 58 60 61 62 63 66 71 73 75 7680 82 83 84 96 101 102 103 105 113 114 116 117 119 121 127 128 133 136 138 142 143 144149 152 156 157 158 171 172 173 175 177 178 182 188 193 195 198208 211 213 216 217 219 224 225 227 228 230 231 235 243 244 250 254 265 269 271276 Virilidade ver Feminilidade masculinidade virilidade 10 15 43 65 74 93 95 101 106 115 219 218 230 235 246 271 273 275 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 327 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 327 18102009 192541 18102009 192541 SOBRE OS AUTORES Alisa Del Re é professora na Faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Pádua Itália diretora do CIRSPG Centro interdipartimentale di ricer ca studi sulle politiche di genere e correspondente no exterior dos Cahiers du Genre Suas pesquisas abordam as temáticas de representação política das mulheres e políticas sociais e familiares É autora de La régulation sociale et lÉtat Providence une lecture de genre des politiques sociales en Italie In Parini L BalmerCao TH Durrer S dir Régulation sociale et genre Paris LHarmattan 2006 e dirigiu o número monográfi co 160 2008 da revista In chiesta Donne tra politica e istituzioni questioni di genere e ricerca sociale Publicado no Brasil Práticas políticas e binômios teóricos do feminismo con temporâneo Recife SOSCorpo 1993 AnneMarie Devreux é diretora de pesquisa em sociologia na equipe Culture et sociétés urbaines CSU do CNRS e diretora de publicação dos Cahiers du Genre Suas pesquisas abordam os temas epstemologia das relações sociais de sexo e sociologia dos dominantes Publicou entre outros Des hommes dans la famille Catégories de pensée et pratiques réelles Actuel Marx n 37 Critique de la famille 2005 coordenou o n36 2004 dos Cahiers du Genre Les résistances des hommes au changement Disponível em português A paternidade na França entre igualização dos direitos parentais e lutas ligadas às relações sociais de sexo BuscaLegisccjufscbr wwwbuscalegisufscbr revistas Annie ThébaudMony é socióloga diretora de pesquisa no INSERM e mem bro do IRIS diretora do Groupement dintérêt scientifi que sur les cancers dorigine professionnelle na Universidade de Paris 13 em Bobigny Suas pes quisas abordam trabalho saúde desigualdades organização do trabalho e saúde a construção social dos acidentes de trabalho e das doenças profi ssio nais e a produção do conhecimento em saúde do trabalho Publicou ATM Lindustrie nucléaire Soustraitance et servitude Paris INSERMEDK série Questions en santé publique 2000 ATM Travailler peut nuire gravement à votre santé Soustraitance des risques mise en danger dautrui atteintes à la Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 329 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 329 18102009 192541 18102009 192541 330 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER dignité violences physiques et morales cancers professionnels Paris la Décou verte 2007 Publicações no Brasil A Terceirização e saúde Cadernos do CRH n26 1993 Trabalho e saúde na nova ordem econômica mundial In Scavone e Batista eds Pesquisas de gênero entre o público e o privado Edição Cultura Acadêmica UNESP Araraquara 2000 com Scavone e Brétin Contracepção controle demográfi co e desigualdades sociais análise comparativa francobra sileira Estudos Feministas v2 n2 1994 Béatrice Appay é socióloga pesquisadora no CNRS CERLIS Centre de recher che sur les liens sociaux Temas de pesquisa trabalho e transformações dos sistemas produtivos autonomia controlada individualização e democracia sexuação da organização do trabalho e precarização nos Estados Unidos Foi organizadora das Jornadas Internacionais de Sociologia do Trabalho Lon dres 2007Coordenou juntamente com Annie ThébaudMony a obra Préca risation sociale travail et santé Paris IRESCOCNRS 1997 É autora de La dictature du succès Le paradoxe de lautonomie contrôlée et de la précarisation Paris LHarmattan 2005 Bérengère MarquesPereira é professora de ciência política na Universidade Livre de Bruxelas e correspondente no exterior dos Cahiers du Genre Seus tra balhos abordam a temática de Estado e cidadania Publicou entre outros La citoyenneté politique des femmes Paris Armand Colin 2003 e com Petra Meier dir Genre et politique en Belgique et en francophonie LouvainlaNeuve Aca demia Bruylant 2005 Brigitte Lhomond é socióloga e pesquisadora no CNRS Laboratório Triangle CNRSENSLDHUniversidade de Lyon Suas pesquisas abordam as cons truções sociais da sexualidade e da homosexualidade e os comportamentos sexuais dos jovens Publicou com Marie Josèphe SaurelCubizolles Violence against Women and Suicide Risk The Neglected Impact of SameSex Beha viour Social Science Medicine 2006 n62 e coordenou com H Lagrange Lentrée dans la sexualité Les comportements des jeunes dans le contexte du sida Paris La Découverte 1997 Publicação no Brasil Sexualidade e juventude na França In Sexualidade O olhar das ciências sociais MLHeilborn org RJ Zahar 1999 Bruno Lautier é professor de sociologia no IEDES Institut détudes sur le dé veloppement économique et social Universidade Paris I e membro associado do GTM Suas pesquisas abordam economia informal e políticas de luta contra a pobreza Publicou Léconomie informelle dans le Tiers Monde Paris La Découverte Repères 1994 reeditado em 2004 e com Jaime Marques Pereira dir Brésil Mexique deux trajectoires dans la mondialisation Paris Karthala 2004 Também publicou em particular na revista Tiers Monde e nos Cahiers du genre numerosos artigos sobre as políticas sociais e emprego domés tico nos países do Sul Trabalhos publicados no Brasil Informalidade das rela ções de trabalho e cidadania na América Latina Cadernos CRH 18 janjun 1993 com Marques Pereira Representações sociais e construção do mercado de trabalho empregadas domésticas e operários da construção civil na América Latina Open Journal Systems Brasília DF 721 05 12 2006 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 330 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 330 18102009 192541 18102009 192541 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 331 Carme Alemany é sociológa e dirige o Centro de Estudos Mulher e Sociedade CEDIS de Barcelona É correspondente no exterior para a revista Cahiers du Genre Temas de pesquisa trabalho produtivo e reprodutivo e tecnologias e gênero Ela é autora de O assédio sexual no local de trabalho em cinco países da Europa do Sul In Le harcèlement sexuel sur le lieu de travail dans lUnion eu ropéenne Comissão das Comunidades EuropéiasDGV 2000 e com V Luc e C Mozo Gonzalez El acoso sexual en los lugares de trabajo Madrid Instituto de la Mujer Serie Estudios n70 2001 Catherine Quiminal é antropóloga professora emérita na Universidade de Pa ris VII É membro da Unité de recherche migrations et sociétés URMIS do Centre détudes africaines CEA Suas pesquisas abordam temas como movi mento associativo de homens e de mulheres em migração e migrações e mu dança social Dentre outros publicou com M Azoulay Reconstruction des rapports de genre en situation migratoire Femmes réveillées hommes menacés en milieu soninké VEI Enjeux n128 Rapports de sexe rapports de genre entre domination et émancipation março de 2002 e Du contrôle colonial des femmes unions polygamie sexualité In Nancy L Green e Marie Poinsot Histoire de limmigration et question coloniale en France Paris La Documenta tion française 2008 Chantal Rogerat é socióloga aposentada exmembro do GEDISST membro do conselho científi co da revista Travail genre e sociétés Suas pesquisas abordam principalmente temas como a relação das mulheres e o sindicalismo 1960 1980 e a complexa relação das mulheres operárias eou assalariadas do tercia rio com o trabalho o emprego o desemprego e a precarização Ela publicou em especial com D Senotier De lusage du temps de chômage In H Hirata D Senotier dir Femmes et partage du temps de travail Paris Syros 1996 e em 2004 Les mobilisations sociales à lépreuve du genre In Quand les femmes sen mêlent C Bard C Baudelot et J MossuzLavau dir Paris La Martinière No Brasil Oas maltratadoas do emprego In Hirata e Maruani orgs As novas fronteiras da desigualdade homens e mulheres no mercado de trabalho São Paulo SENAC 2003 Christine Delphy é socióloga diretora de pesquisa emérita no CNRS Doutora em sociologia e fi losofi a da Universidade de Québec em Montréal da Univer sidade de Southwest na Inglaterra e da Universidade de Lausanne na Suíça É diretora e coredatora responsável juntamente com Patrícia Roux da revista Nouvelles questions féministes da qual foi cofundadora em 1980 Dedicase ao temas das relações entre patriarcado e capitalismo construção social do gê nero e feminismo póscolonial e feminismo antirracista Dentre outros pu blicou LEnnemi principal I Économie politique du patriarcat 1998 II Penser le genre 2001 Paris Syllepse e Classer Dominer qui sont les autres Paris La Fabrique 2008 Claude Zaidman falecida em dezembro de 2005 foi professora de sociologia na Universidade de Paris VII e diretora do CEDREF Suas pesquisas abor dam gênero e socialização e coexistência entre os sexos mixité educa ção e democracia Escreveu em especial La mixité à lécole primaire Paris Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 331 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 331 18102009 192542 18102009 192542 332 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER LHarmattan 1996 e coordenou com Madeleine Hersent Genre travail et migrations en Europe Paris CEDREF Publications universitaires DenisDi derot 2003 Publicados no Brasil A administração escolar do regime misto na escola primária e Institucionalização dos estudos feministas na França Revista Estudos Feministas número especial 1994 Claudine Legardinier é jornalista membro do comitê de redação da revista Prostitution et société revista trimestral do Mouvement du Nid Clichy Ela pesquisa sobre prostituição e sobre violências É autora de Les trafi cs du sexe femmes et enfants marchandises Toulouse Milan Les Essentiels 2002 e com Saïd Bouamama Les clients de la prostitution Paris Presses de la Re naissance 2006 Daniel WelzerLang é professor de sociologia na Universidade de ToulouseLe Mirail Seus trabalhos abordam a sexualidade e aidse construções sociais do masculino e relações sociais de sexo É autor de diversas obras Coordenou a publicação Nouvelles approches des hommes et du masculin Toulouse Presses Universitaires du Mirail 2000 e publicou Les hommes aussi changent Paris Payot 2004 Publicações no Brasil A construção do masculino dominação das mulheres e homofobia Revista Estudos Feministas v9 n2 2001 Os homens e o masculino numa perspectiva de relações sociais de sexo In Schpun org Masculinidades SP Boitempo 2004 Danièle ChabaudRychter é socióloga e pesquisadora do GTM Genre travail mobilitésCNRSUniversidade Paris VIII e Paris X Seus trabalhos abordam os temas de inovação industrial e objetos técnicos domésticos bem como técnicas e gênero Publicou Lindustriel et le domestique dans la concep tion dappareils éléctroménagers em Cahiers du Gedisst n20 1997 com D Gardey La neutralité des tecniques à lépreuve de la critique In D Chabaud Rychter e D Gardey org Lengendrement des choses Des hommes des femmes et des techniques Paris Ed des Archives Contemporaines 2002 No Brasil com FougeyrollasSchwebel Sobre a autonomia relativa da produçao e repro dução In KartchenskyBulport et ali O sexo do trabalho Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 cf também Inovação industrial em eletrodomésticos concepção de uso e concepção de produção in Revista Latinoamericana de Estudios del Trabajo ano 4 n7 1998 Danièle Kergoat é socióloga diretora de pesquisa emérita em sociologia no CNRS Foi criadora do GEDISST atualmente GTM Suas pesquisas abor dam temas como as relações sociais de sexo trabalho o conceito de relações sociais movimentos sociais Suas duas últimas obras são com Guenoveva Mi hova Maria Nikolova e Donio Donev Tempo de trabalho condições de trab alho e comportamentos demográfi cos em búlgaro Sofi a Edições acadêmicas 2007 com Yvonne GuichardClaudic e Alain Vilbrod Linversion du genre Quand les métiers masculins se conjuguent au féminin et réciproquement Rennes Presses universitaires de Rennes 2008 Entre seus artigos publicados no Brasil estão Relações sociais de sexo e divisão sexual do trabalho In Lopes Meyer e Waldow orgs Gênero e saúde Porto Alegre Artes Médicas 1996 Em defesa de uma sociologia das relações sociais Da análise crítica das categorias domi Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 332 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 332 18102009 192542 18102009 192542 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 333 nantes à elaboração de uma nova conceituação In Kartchevsky et al O sexo do trabalho RJ Paz e Terra 1986 A relação social de sexo Da reprodução das relações sociais à sua subversão Proposições Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Educação Campinas São Paulo 13 n1 37 jan abr 2002 com H Hirata Novas confi gurações da divisão sexual do trabalho Cadernos de Pesquisa v37 setdez 2007 com Hirata Divisão sexual do trab alho profi ssional e doméstico Brasil França Japão In Costa Sorj Bruschini e Hirata orgs Mercado de trabalho e gênero comparações internacionais RJ FGV 2008 Danièle Senotier é ingénieure détudes engenheira de estudos no CNRS se cretária de redação dos Cahiers du Genre e membro do GTM Até o fi nal dos anos 1990 trabalhou como assistente de pesquisa e produziu com Nathalie Cattanéo o catálogo Sexes et sociétés Répertoire de la recherche en France Paris La Documentation française Droits de femmes 1998 396 p Participou jun tamente com Dominique FougeyrollasSchwebel e Helena Hirata da coorde nação do n35 de 2003 dos Cahiers du Genre La violence les mots le corps Danielle Juteau é professora emérita do departamento de sociologia da Univer sidade de Montreal Quebec Canadá onde foi titular da cátedra de relações étnicas Inscrevendose em uma perspectiva construtivista materialista seus trabalhos abordam a articulação entre as relações sociais étnicas e de sexo e a teorização da etnicidade no sistemamundo É autora de Lethnicité et ses frontières Montréal Presses de lUniversité de Montréal 1999 e Forbidding Ethnicities in French Sociological Thought The Diffi cult Circulation of Kno wledge and Ideas Mobilities v 1 n 3 November 2006 Delphine Gardey é professora na Universidade de Versailles SaintQuentinen Yvelines Historiadora e socióloga especializouse nos estudos de gên ero e teoria feminista e interessase especialmente pelas relações técnicassociedade Também especialista em história das sociedades de informação publicou entre outros La dactylographe et lexpéditionnaire Histoire des employés de bureau 18901930 Paris Belin 2001 e Écrire calculer classer Comment une révolu tion de papier a transformé les sociétés contemporaines 18001940 Paris La Découverte 2008 Diane Lamoureux é professora no departamento de Ciência Política da Univer sidade de Laval Quebec Canadá Suas pesquisas abordam temas como ci dadania e democracia e particularmente as formas atuais de subjetivação política É autora de Citoyennes Femmes droit de vote et démocratie Montreal Éd du Remueménage 1989 e de Lamère patrie Féminisme et nationalisme dans le Québec contemporain Montreal Éd du Remueménage 2001 Dominique FougeyrollasSchwebel é pesquisadora em sociologia no Institut de Recherche Interdisciplinaire en socioéconomie IRISCNRSUniversidade Paris Dauphine e membro do comitê de redação dos Cahiers du Genre Realiza pes quisas sobre relação de serviço transformações do assalariamento e serviços domésticos e sobre feminismo e novas abordagens da violência Publicou Feminism in the 1970s In Ch Fauré ed Political and historical encyclopedia of women New York Routledge 2003 Violences conjugales In M Marzano Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 333 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 333 18102009 192542 18102009 192542 334 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER dir Dictionnaire du corps PUF 2006 Publicado no Brasil As relações so ciais de sexo novas pesquisas ou renovação da pesquisa e Formas de família e socialização Novos desafi os Revista Estudos Feministas número especial 1994 Contabilizar as violências cometidas contra as mulheres Contexto Ins titucional e teórico da pesquisa ENVEFF In Wolff Fáveri e Ramos Leituras em rede gênero e preconceito Forianópolis Editora Mulheres 2007 Trabalho doméstico serviços domésticos In Faria e Nobre Trabalho das mulheres São Paulo SOF 1999 Eleni Varikas é professora de teoria política e estudos de gênero na Universidade de Paris VIII e é membro do GTM Seus trabalhos abordam questões como o gênero na teoria política moderna e cidadania democrática e exclusões e as categorizações hierárquicas Entre suas publicações recentes estão Penser le sexe et le genre Presses Universitaires de France 2006 Les rebuts du monde La fi gure du paria Stock 2007 Publicações no Brasil Gênero experiência e subjetividade a propósito do desacordo TillyScott Cadernos Pagu 3 1994 O pessoal é político desventuras de uma promessa subversiva Tempo Rio de Janeiro v2 n3 1996 Refundar ou reacomodar a democracia Refl exões críticas acerca da paridade entre os sexos Revista Estudos Feministas v4 n 1 1996 Naturalização da dominação e poder legítimo na teoria política clássica Revista Estudos Feministas v11 n1 2003 Emmanuelle Lada é socióloga Professora assistente na Universidade de Lausanne vinculada ao Centre en Études Genre da Universidade de LausanneUNIL e é membro do GTM Seus trabalhos orientados por uma perspectiva de gê nero articulada a uma interrogação sobre as migrações e as dinâmicas a elas relacionadas abordam as formas sociais de inserção no trabalho em meios populares assim como as recomposições dos empregos no nivel inferior da escala de qualifi cações e a organização do trabalho nesses espaços Está volta da atualmente em particular para as imbricações da divisão sexual e étnica do trabalho Publicou entre outros Sélection à lembauche et rapports sociaux de sexe Formation et emploi n91 2005 e coordenou com C Cossée e I Rigoni Faire fi gure détranger regards croisés sur la production de laltérité Paris Ar mand Colin 2004 Erika Apfelbaum é psicosocióloga aposentada foi membro do GERS Genre et rapport sociauxCNRSUniversidade Paris VIII Seus trabalhos concentram se nos temas dominação poderes contrapoderes e identidade e cultu ra memória e transmissão Publicou entre outros Norwegian and French Women in High Leadership Positions The Importance of Cultural Contexts upon Gendered Relations em Psychology of Women Quarterly 17 n4 1993 The impact of Culture in the Face of Genocide Struggling between a Silen ced Home Culture and a Foreign Host Culture In C Squire ed Culture in Psychology 2000 Evelyn Fox Keller é professora emérita de história e fi losofi a da ciência no Mas sachusetts Institute of Technology MIT Cambridge Mass Suas pesquisas abordam temas como história e a fi losofi a da biologia e linguagem e ciên cias Dentre outros publicou The Century of the Gene Harvard University Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 334 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 334 18102009 192542 18102009 192542 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 335 Press 2000 publicado no Brasil O século do gene Crisálida 2001 Making Sense of Life Explaining Biological Development with Models Metaphors and Machines Cambridge Mass Harvard University Press 2002 Fatiha Talahite é economista pesquisadora no CNRS no CEPN Centre déconomie de lUniversité ParisNord XIII Trabalha sobre os temas de re formas e transição econômicas no Magreb e na bacia mediterrânea e sobre normas instituições e convenções econômicas no mundo árabe e muçulma no Entre suas publicações recentes incluise com R BoukliaHassane Mar ché du travail régulation et croissance économique en Algérie Tiers Monde n1942008 Na Maison des Sciences de lHommeMSHParis Nord ela co ordena um grupo de pesquisa chamado Mediter sobre o tema Fluxos inter câmbios e instituições nas relações transmediterrâneas Publicado no Brasil Por uma problemática do processo de trabalho doméstico In Kartchevsky et al O sexo do trabalho RJ Paz e Terra 1986 Françoise Collin é fi lósofa professora em diversas instiuições universitárias em Bruxelas e posteriormente Paris Fundadora e redatora da revista Les Cahiers du GRIF 197396 é membro do comitê científi co dos Cahiers du Genre e do conselho internacional de Recherches féministes Universidade de Laval Qué bec Especialista na obra de Maurice Blanchot e Hannah Arendt suas pesqui sas abordam a questão do simbólico escrita arte ciências e as relações polí ticoprivado Dentre suas numerosas obras destacamos Lhomme estil devenu superfl u Hannah Arendt Paris Odile Jacob 1999 Les femmes de Platon à Derrida Anthologie critique com Pisier e Varikas Paris Plon 2000 Publica ções em italiano e em espanhol No Brasil Textualidade da liberação Liberda de do texto Revista Estudos Feministas número especial 1994 Françoise Laborie é socióloga aposentada exmembro do GERS Suas pesqui sas abordam os desafi os sociais ligados ao desenvolvimento das tecnologias de reprodução humana e técnicas e gênero Entre outros publicou Parents et médecins face à lembryon relations de pouvoir et décisions In B FeuilletLe Mintier dir Lembryon humain Approche multidisciplinaire Paris Economi ca 1996 Construction conjointe des techniques procréatives et du genre Com paraison entre FIV et ICSI In H Dagenais dir La recherche féministe dans la francophonie Montréal Éd du Remueménage 1999 Gail Pheterson é professora de psicologia social na Universidade de PicardieJules Vernes em Amiens e pesquisadora na equipe do CNRSUniversidade de Paris VIII Culturas e sociedades urbanas CSU Seus trabalhos sócioclínicos e só ciopolíticos abordam entre outras questões a regulamentação da prostituição e a gravidez sob o ponto de vista das relações sociais de poder Dentre outros ela publicou The Prostitution Prism Amsterdam University Press 1996 com tra dução espanhola Madrid Talasa 2000 e francesa Paris LHarmattan 2003 e com Yamila Azize o artigo Avortement sécurisé hors la loi dans le NordEst des Caraïbes Sociétés Contemporaines n61 2006 Geneviève Picot é socióloga e pesquisadora na APRACTHHôtel DieuParis Association Pour lAmélioration des Conditions de Travail Hospitalier Suas pesquisas abordam a feminização e masculinização das profi ssões em saúde bem Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 335 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 335 18102009 192542 18102009 192542 336 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER como as transformações do trabalho em hospitais públicos Publicou Cadres de santé un encadrement individualisé à lorigine dun rapport personnalisé avec les infi rmières In Les cadres hospitaliers représentations et pratiques sob a di reção de Ivan Sainsaulieu Éditions Lamarre 2008 com Marlaine Cacouault Bitaud Lintégration des médecins scolaires dans lÉducation Nationale va lorisation dune expertise ou dévalorisation dune profession féminine In Le développement de la sociologie des groupes professionnels en France Didier Dema zière Charles Gadéa dir Paris La Découverte coleção Recherches 2008 Helena Hirata é diretora de pesquisa em sociologia no GTM Seus temas de pes quisa são trabalho e divisão sexual do trabalho e mundialização e divisão in ternacional do trabalho Coordenou com D Senotier a obra Femmes et partage du travail Paris Syros 1996 e publicou Nova divisão sexual do trabalho Um olhar voltado para a empresa e a sociedade São Paulo Boitempo 2002 Entre os diversos artigos publicados no Brasil estão Por quem os sinos dobram Globa lização e divisão sexual do trabalho In Emílio e al orgs Trabalho e cidadania ativa para as mulheres desafi os para as políticas públicas São Paulo Coorde nadoria Especial da Mulher 2003 também coordenou com M Maruani As novas fronteiras da desigualdade homens e mulheres no mercado de trabalho São Paulo SENAC 2003 e com Costa Sorj e Bruschini orgs Mercado de traba lho e gênero comparações internacionais Rio de Janeiro FGV 2008 Hèléne Le Doaré é aposentada exmembro do GERS Seu trabalho investiga as divisões produzidas pela divisão sexual do trabalho e as diversas relações sociais em processos como os movimentos populares na América Latina na guerrilha alemã ou na coordenação das enfermeiras na França Ela publicou Un écrit sur un paradoxe Le terrorisme allemand et la démocratisation du rapport hom mefemme em Les rapports sociaux de sexe problématiques méthodologies champs danalyses Cahiers de lAPRE 1987 n7 v 2 e com H Hirata Les paradoxes de la mondialisation Cahiers du Gedisst no 21 1998 no Brasil Os paradoxos da globalização Cadernos Sempreviva SP SOF 1999 Outros tra balhos publicados no Brasil Divisão sexual e divisão internacional do trabalho refl exões a partir das fábricas subcontratadas de montagem MéxicoHaiti In KartchenskyBulport et ali O sexo do trabalho RJ Paz e Terra 1987 Do po der político e poiético Esquema de um raciocínio Revista Estudos Feministas número especial 1994HèléneYvonne Meynaud é socióloga pesquisado ra em uma empresa privada e membro associado do laboratório GTM Suas pesquisas abordam três temáticas a crítica às metodologias de sondagens e sua utilização sobre o que publicou com Denis Duclos Les sondages dopinion Paris La Découverte coleção Repères 4ed 2007 o estudo das categorias étnicas em trabalho que será publicado em 2009 com o título Les racismes au travail Paris La Dispute coleção Le genre du monde e o estudo da retoma da oportunista de temas feministas mediante um lugar no trabalho em troca de uma adesão incondicional aos valores do sistema fi nanceiro liberal no numero 209 de Cahiers du Genre 2009 Ilana Löwy é historiadora das ciências pesquisadora no INSERM e associada ao CERMESCentre de Recherche Medecine Sciences Santé et Societé IN Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 336 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 336 18102009 192542 18102009 192542 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 337 SERMCNRSEHESS Suas pesquisas abordam a história da biologia e da medicina nos séculos XIX e XX e as relações entre biomedicina e gênero Publi cou Between Bench and Bedside Science Healing and Interleukin2 in a Cancer Ward Cambridge Harvard University Press 1996 também disponível em francês 2002 e de Lemprise du genre Masculinité Féminité Inégalités Pa ris La Dispute coleção Le genre du monde 2006 Publicações no Brasil Universalidade da ciência e conhecimentos situados Cadernos Pagu Cam pinas n15 2000 Vírus mosquitos e modernidade A febre amarela no Brasil entre ciência e política Rio de Janeiro Editora Fiocruz 2006 A ciência como trabalho as contribuições de uma historia das ciências feminista in H Hirata e L Segnini org Organização trabalho e gênero São Paulo editora SENAC 2008 Jacqueline Heinen é professora emérita de sociologia na Universidade de Versail les SaintQuentinenYvelines Foi diretora da revista Cahiers du Genre e presi dente da Conferência Permanente do Conselho Nacional das Universidades da França Suas pesquisas abordam as políticas sociais na Europa do leste e Europa Ocidental e as questões de cidadania É coautora de Gendering citizenship in Western Europe New challenges for citizenship research in a crossnational con text em conjunto com R Lister e al Policy Press 2007 e Genre et politiques sociales en Europe de lEst com S Portet Transitions n1 2004 JeanPierre Terrail é professor emérito de sociologia na Universidade de Ver saillesSaintQuentinenYvelines e membro do laboratório PRINTEMPS CNRS Seus trabalhos abordam os temas de gerações e escolarização É autor de diversas obras entre as quais La dynamique des générations Paris LHarmattan 1995 e École enjeu démocratique Paris La Dispute 2003 Josette Trat é socióloga professora na Universidade de Paris VIII e membro do GTM Seus trabalhos abordam as lutas das mulheres feminismo movi mentos sociais e sindicalismo e teorias da dominação masculina Publicou entre outros Política familiar igualitária e feminista Folha Feminista n35 junho 2002 São Paulo SOF Engels et lémancipation des femmes In G La bica et M Delbraccio dir Friedrich Engels savant et révolutionnaire Paris PUF 1997 e organizou juntamente com D Lamoureux e R Pfefferkorn Lautonomie des femmes en question Antiféminismes et résistances en Amérique et en Europe Paris LHarmattan 2006 JulesFrance Falquet é socióloga professora na Universidade Paris VIII mem bro do CSPRP Centre de sociologie des pratiques et des représentations poli tiques e corresponsável pelo CEDREF Centre détudes de documentation et de recherches pour les études féministes Suas pesquisas abordam os movi mentos sociais na América Latina e no Caribe e as resistências à mundialializa ção movimento zapatista no México movimento dos semterra no Brasil ex revolucionários em El Salvador movimento de mulheres feminista e lésbico do continente Com a perspectiva da imbricação das relações sociais de poder de sexo raça e classe Dentre suas publicações encontramse De gré ou de force Les femmes dans la mondialisation 2008 Paris La Dispute 214 p e com Emmanuelle Lada et Aude Rabaud coord Réarticulation des rapports Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 337 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 337 18102009 192542 18102009 192542 338 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER sociaux de sexe classe et race Repères historiques et contemporains Ca hiers du CEDREF 2006 Paris Université ParisDiderot Publicado no Brasil Três questões aos movimentos sociais progressistas contribuições da teoria feminista à análise dos movimentos sociais Revista Lutas Resistências Lon drina v1 p212225 set 2006 Breve reseña de algunas teorías lésbicas In Lago Grossi Rocha Garcia e Senaorgs Interdisciplinaridade em diálogos de gênero teorias sexualidades religiões Florianópolis Editora Mulheres 2004 Margaret Maruani é socióloga diretora de pesquisa no CNRS vinculada ao CSU Culture et sociétés urbaines Foi fundadora em 1995 da rede européia de pesquisa Marché du travail et genre MAGE e dirige a revista Travail genre et sociétés Dedicase atualmente a comparações européias entre empre gos femininos e masculinos bem como à análise das fronteiras entre desempre go subemprego e inatividade É autora de diversas obras sobre sindicalismo trabalho e emprego na França e na Europa como Les syndicats à lépreuve du féminisme Syros 1979 Travail et emploi des femmes La Découverte 1 edi ção 2000 Publicações no Brasil Emprego desemprego e precariedade uma comparação européia In Costa Sorj Bruschini e Hirata orgs Mercado de trabalho e gênero comparações internacionais Rio de Janeiro FGV 2008 com H Hirata orgs As novas fronteiras da desigualdade homens e mulheres no mercado de trabalho São Paulo SENAC 2003 Maria José F Rosado Nunes é professora da Universidade Católica e da Univer sidade Metodista de São Paulo no Programa de pósgraduação em Ciência das Religiões É pesquisadora do CNPq Seus trabalhos abordam os temas de gê nero e religião mulheres no catolicismo no Brasil e o discurso católico sobre o aborto Trabalhos publicados fora do Brasil Religion and Womens Rights The Fundamentalist Face of Catholicism in Brazil In C H Howland dir Religious Fundamentalism and Human Rights of Women New York St Martins Press 1999 Women Family and Catholicism in Brazil The Issue of Power In S K Houseknecht et J G Pankhurst ed Family Religion Social Change in Diverse Societies NYOxford Oxford University Press 2000 Publicações no Brasil Direitos cidadania das mulheres e religião Tempo Social v20 2008 O impacto do feminismo sobre o estudo das religiões Cadernos Pagu v16 2001 Freiras no Brasil In Del Priore História das mulheres no Brasil SP Contexto 1997 MarieHélène ZylberbergHocquard é professora aposentada de história no ensino preparatório aos cursos superiores Grandes Écoles e exmembro do GERS Seus trabalhos abordam as mulheres no trabalho industrial no sé culo XIX e sindicalismo e feminismo É autora de Femmes et féminisme dans le mouvement ouvrier français Paris Éditions Ouvrières 1981 e publi cou Laiguille outil du féminin In D ChabaudRychter e D Gardey dir Lengendrement des choses Des hommes des femmes et des techniques Paris Éd des Archives contemporaines 2002 Michèle RiotSarcey é professora de história contemporânea na Universidade de Paris VIII e membro associado do GTM Suas pesquisas no interior de uma equipe que trabalha sobre a História intelectual Paris VIII abordam temas Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 338 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 338 18102009 192542 18102009 192542 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 339 como a escrita da história política entre continuidade e descontinuidade e o lugar das mulheres na história Ela publicou La démocratie à lépreuve des femmes trois fi gures critiques du pouvoir Désirée Véret Jeanne Deroin et Eugénie Niboyet Paris Albin Michel 1994 et Histoire du féminisme Paris La Décou verte coleção Repères 2002 2éd revue 2008 Publicado no Brasil A de mocracia representativa na ausência das mulheres Revista Estudos Feminista número especial 1994 Michelle Perrot é professora emérita de história na Universidade de Paris VII e membro do comitê científi co da revista Cahiers du Genre Suas áreas de pes quisas são a história das mulheres e a história da delinquência e da prisão Dentre as suas obras se encontram Femmes publiques Paris Textuel 1997 Les femmes ou les silences de lHistoire Paris Flammarion 1998 reedição Flam marion Champs 2001 no Brasil As mulheres ou os silêncios da história Bauru Edusc 2005 Outras publicações no Brasil Os excluídos da história RJ Paz e Terra 1988 Minha história das mulheres SP Contexto 2007 Nathalie Cattanéo é socióloga foi membro do GERS Suas pesquisas abordam a temática do trabalho das mulheres e particularmente o tempo de trabalho Publicou Qui partage et que partageton In H Hirata e D Senotier org Femmes et partage du travail Paris Syros 1996 Le travail à temps partiel entre rêve et cauchemar em Les Cahiers du Mage n2 1997 NicoleClaude Mathieu é professora na École des hautes études en sciences so ciales Paris e membro do comitê científi co dos Cahiers du Genre Suas pes quisas em etnologia e sociologia abordam temas como conceituação de sexo e gênero e opressão das mulheres e sociedades matrilinearesmatrilocais Além de sua obra LAnatomie politique Catégorisations et idéologies du sexe Paris Côtéfemmes 1991 entre seus trabalhos recentes encontrase a publi cação coletiva que ela dirigiu e apresentou Une maison sans fi lle est une maison morte La personne et le genre en sociétés matrilinéaires etou uxorilocales Paris Éditions de la maison des sciences de lhomme 2007 Pascale Moliner é professora de psicologia do trabalho no CNAM Conserva toire national des arts et métiers e membro do Laboratório de psicologia do trabalho e da ação no CNAM É redatorachefe da revista Travailler e mem bro do comitê de leitura dos Cahiers du Genre Ela consagra suas pesquisas às temáticas de psicodinâmica do trabalho e relações sociais de sexo e gênero trabalho e sexualidade Publicou Lénigme de la femme active Paris Payot 2003 et Les enjeux psychiques du travail Paris Payot 2006 Publicações no Brasil Psicodinâmica do trabalho e relações sociais de sexo Um itinerário in terdisciplinar 19882002 Revista Produção v14 n3 setdez 2004 O ódio e o amor caixa preta do feminismo Uma crítica da ética do devotamento Psico logia em Revista Belo Horizonte v10 n16 dez 2004 A dimensão do cuidar no trabalho hospitalar abordagem psicodinâmica do trabalho de enfermagem e dos serviços de manutenção Revista Brasileira de Saúde Ocupacional RBSO v33 n118 2008 Philippe Zarifi an é professor de sociologia na Universidade de MarnelaVallée e membro do GTM Trabalha sobre as transformações dos modelos de orga Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 339 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 339 18102009 192542 18102009 192542 340 HELENA HIRATA FRANÇOISE LABORIE HÉLÈNE LE DOARÉ DANIÈLE SENOTIER nização e sobre as relações sociais e disposições éticas É autor de diversas obras em especial Lémergence dun Peuple monde Paris PUF 1999 e de À quoi sert le travail Paris La Dispute 2003 Publicações no Brasil Trabalho e comunicação nas indústrias automatizadas Tempo Social v3 n12 1991 Objetivo competência por uma nova lógica SP Atlas 2001 O modelo da compe tência trajetória histórica desafi os atuais e propostas SP Senac 2003 Pierre CoursSalies é professor de sociologia na Universidade Paris VIII e mem bro do Centre détudes des mutations en Europe CEME Suas pesquisas abordam trabalho e relações de dominação e ação coletiva e movimentos sociais Coordenou com Stéphane Le Lay Le bas de léchelle La construction sociale des situations subalternes Ramonville Érès 2006 Dentre outros publi cou em colaboração com Jean Lojkine et Michel Vakaloulis Nouvelles luttes de classes Paris PUF 2006 Prisca Kergoat é professora na Universidade de Albi e membro da equipe do CER TOP do CNRS Universidade Toulouse le Mirail Suas pesquisas abordam particularmente as políticas de formação profi ssional e a socialização dos jo vens de camadas populares Sobre o tema ela publicou De lindocilité au tra vail dune fraction des jeunesses populaires Les apprentis et la culture ouvr ière em Sociologie du travail 2006 n48 e Une redéfi nition des politiques de formation Le cas de lapprentissage dans les grandes entreprises em Formation Emploi 2007 n99 Sabine Fortino é professora de sociologia na Universidade Paris X e membro do GTM Genre travail mobilité Suas áreas de interesse são especialmente relacionadas a coexistencia entre os sexos mixitésocial no trabalho e a feminizaçãomasculinização dos empregos no setor público francês Dentre outros publicou De fi lles en mères La seconde vague du feminisme et la ma ternité Clio Histoire femmes et sociétés n5 1997 La mixité au travail Paris La Dispute 2002 Vivian Aranha Saboia é economista e pósdoutoranda no GTM Seus trabalhos abordam as políticas públicas de emprego e gênero e informalidade e gêne ro É autora de Les effets ambivalents des politiques de promotion de lemploi des femmes en France dans un contexte internationalune recension de la lit térature de 1970 à nos jours In C Avril C Lomba H Serry Org Formes demploi et pratiques de travail Presses Universitaires de Vincennes 2009 As desigualdades de gênero na previdência social na França e no Brasil Cadernos do CRH UFBA v19 2006 Sobre a prefaciadora Lucila Scavone Professora e pesquisadora UNESPCNPq Especializada na área de Sociologias Contemporâneas com ênfase nas questões de gênero e feministas Publicou os livros Tecnologias Reprodutivas gênero e ciência org SP EDU NESP 1996 Gênero y Salud Reproductiva na América Latina org Cartago Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 340 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 340 18102009 192542 18102009 192542 DICIONÁRIO CRÍTICO DO FEMINISMO 341 LUR 1999 Dar a vida e cuidar da vida feminismo e ciências sociais SP EDU NESP 2004 Artigos recentes Estudos de Gênero uma sociologia feminista Es tudos Feministas Santa Catarina 2008 e Gênero e Políticas Feministas o lado sul Estudos de Sociologia São Paulo 2008 Membros do comitê científi co Erika Apfelbaum Danielle ChabaudRychter Pierre CoursSalies Jacqueline Coutras Sabine Fortino Jacqueline Heinen Helena Hirata Danièle Kergoat Françoise Laborie Hélène Le Doaré Danièle Senotier Josette Trat Claude Zaid man MarieHélène ZylberbergHocquard Grupo de estudos sobre a divisão social e sexual do trabalho GEDISST Gênero e Relações Sociais GERS a partir de 1º de janeiro 2001 e Gênero Trabalho Mobilidades GTM a partir de 1º de janeiro de 2005 GTM é uma equipe do Centro Nacional de Pesquisa Cientí fi ca CNRS e da Universidade Paris VIII Vincennes SaintDenis Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 341 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 341 18102009 192542 18102009 192542 SOBRE O LIVRO Formato 16 x 23 cm Mancha 275 x 490 paicas Tipologia Horley Old Style 1115 Papel Offset 75 gm2 miolo Cartão Supremo 250 gm2 capa 1ª edição 2009 EQUIPE DE REALIZAÇÃO Capa Andrea Yanaguita Coordenação da tradução Vivian Aranha Saboia Revisão técnica Helena Hirata Edição de texto Maria Silvia Mourão Neto Copidesque Monalisa Neves Revisão Editoração Eletrônica Eduardo Seiji Seki Diagramação Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 342 Dicionariocriticodofeminismo2ªPROVAindd 342 18102009 192542 18102009 192542