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DIFERENÇAS CULTURAIS INTERCULTURALIDADE E EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS VERA MARIA FERRÃO CANDAU RESUMO As questões relativas às diferenças culturais vêm se multiplicando na nossa sociedade e a consciência dessa realidade é cada vez mais forte entre educadoresas Entretanto inúmeras têm sido as pesquisas que identificam descrevem e denunciam situações em que alunosas com determinadas marcas identitárias são rejeitadosas objeto de discriminações e excluídos no cotidiano escolar Essa realidade nos obriga a afirmar a urgência de se trabalhar as questões relativas ao reconhecimento e à valorização das diferenças culturais nos contextos escolares Neste sentido o presente trabalho pretende analisar os diferentes sentidos atribuídos pelos professores aos termos igualdade e diferença apresentar a perspectiva sobre educação intercultural que vimos construindo nos últimos anos e evidenciar a interrelação entre essas questões e a educação em direitos humanos Palavraschave Diferenças culturais Educação intercultural Igualdadediferença Educação em direitos humanos CULTURAL DIFFERENCES INTERCULTURALITY AND EDUCATION IN HUMAN RIGHTS ABSTRACT Questions that concern cultural differences are multiplying in our society and more and more educators are getting aware of this reality and its importance At the same time there are host of researches which identify describe and denounce situations where students are rejected discriminated and excluded in the daily school for having particular identitary signs This reality let us to pronounce the urgency of thinking over the recognition and valorization of cultural differences in school contexts This paper intends to analyze the various meanings given by teachers to the words equality and difference and also to present the perspective about intercultural education elaborated over the last years and to demonstrate the interrelation between these questions and the education in human rights Key words Cultural differences Intercultural education Equalitydifference Education in human rights Doutora e pósdoutora em Educação e professora titular do Departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro PUCRio Email vmfcpucriobr Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 235 Diferenças culturais interculturalidade e educação em direitos humanos DIFFÉRENCES CULTURELLES RÉALITÉ INTERCULTURELLE ET ÉDUCATION POUR LES DROITS HUMAINS RÉSUMÉ Les questions concernant la diversité culturelle se sont multipliées dans notre société et la conscience de cette réalité est chaque fois plus forte chez les enseignants Par ailleurs de nombreuses recherches permettent didentifier de décrire et de dénoncer des situations dans lesquelles des étudiants avec des marques didentité bien déterminées sont rejetés ils sont lobjet de discrimination et se trouvent même exclus dans le quotidien scolaire Cette réalité nous oblige à souligner lurgence de lapprofondissement des questions relatives à la reconnaissance et à la valorisation positive des différences culturelles dans les contextes scolaires Cet article se propose tout dabord danalyser les différentes significations attribuées par les enseignants aux termes égalité et différence pour ensuite présenter la perspective dune éducation interculturelle telle que nous lavons conçue pendant ces dernières années de recherche et finalement nous essayons de mettre en évidence linterrelation entre les questions étudiées et léducation pour les droits de lhomme Motsclés Différences culturelles Éducation interculturelle Égalitédifférence Éducation pour les droits humains Introdução A presença de grupos socioculturais diversos nos cenários públicos tanto no âmbito internacional como no Brasil tem provocado tensões conflitos diálogos e negociações orientadas à construção de políticas públicas que focalizem estas questões Em cada contexto esta problemática adquire uma configuração específica articulada com as diversas construções históricas e políticoculturais de cada realidade A afirmação das diferenças étnicas de gênero orientação sexual religiosas entre outras manifestase de modos plurais assumindo diversas expressões e linguagens As problemáticas são múltiplas visibilizadas especialmente pelos movimentos sociais que denunciam injustiças desigualdades e discriminações reivindicando igualdade de acesso a bens e serviços e reconhecimento político e cultural Diferentes manifestações de preconceito discriminação diversas formas de violência física simbólica bullying homofobia intolerância religiosa estereótipos de gênero exclusão de pessoas deficientes entre outras estão presentes na nossa sociedade assim como no cotidiano das escolas A consciência desta realidade é cada vez mais forte entre educadores e educadoras Como afirmou um professor numa das pesquisas que realizamos recentemente as diferenças estão bombando na escola Entretanto inúmeros têm sido os estudos e as pesquisas que identificam descrevem e denunciam situações em que alunosas com determinadas marcas 236 Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr Vera Maria Ferrão Candau Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 237 identitárias são rejeitadosas objeto de discriminações e inferiorizados no dia a dia das nossas escolas Neste sentido gostaria de fazer referência aos resultados da pesquisa Pre conceito e discriminação no ambiente escolar Mazzon 2009 realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Fipe vinculada à Universidade de São Paulo e apoiada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixei ra Inep A referida investigação foi coordenada pelo professor José Afonso Mazzon e teve por objetivo analisar de maneira global a incidência de preconceito e discri minação nas escolas públicas de forma que descrevesse um quadro consolidado que servisse de base para a elaboração de ações globais no campo da promoção da pluralidade cultural O trabalho compreendeu um estudo quantitativo por meio de um survey aplicado em 500 escolas de todo o país junto a estudantes professoresas do ensino fundamental e médio diretoresas profi ssionais de educação que atuam nas escolas e pais mães e responsáveis por alunosas que fossem membros do Conselho Escolar ou da Associação de Pais e Mestres Entre os resultados obtidos é importante assinalar os altos índices de discriminação e preconceito nas escolas investigadas entre todos os atores e além disso o fato que considero de especial relevância para este trabalho que as escolas nas quais os escores que expressam os níveis de preconceito e práticas discriminatórias apresentam valores mais elevados tendem a apresentar médias mais baixas na Prova Brasil Esta realidade obriga a que se quisermos potencializar os processos de apren dizagem escolar na perspectiva da garantia a todosas do direito à educação tere mos de afi rmar a urgência de se trabalhar as questões relativas ao reconhecimento e à valorização das diferenças culturais nos contextos escolares Esta proposta supõe na linha de pesquisa que venho desenvolvendo incorporar a perspectiva intercul tural nos diferentes âmbitos educativos Esta preocupação não é algo secundário ou que se justapõe às fi nalidades básicas da escola mas é inerente a elas Neste sentido o presente trabalho pretende analisar os diferentes sentidos atribuídos pelos professores aos termos igualdade e diferença apresentar a concepção de educação intercultural que vimos construindo nos últimos anos e evidenciar a interrelação entre estas questões e a educação em direitos humanos Quer oferecer elementos que colaborem para a construção de práticas pedagó gicas comprometidas com a equidade a democracia e a afi rmação do direito à educação e à aprendizagem de toda criança de todo adolescente de toda pessoa humana Parte da tese de que superar as situações acima mencionadas exige um processo contínuo de desconstrução de aspectos fortemente confi guradores da cultura escolar vigente e a promoção de uma educação em direitos humanos na perspectiva intercultural Diferenças culturais interculturalidade e educação em direitos humanos Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 238 Igualdade Diferença Como se situam os professoresas Nos trabalhos de pesquisa que tenho desenvolvido nos últimos anos a relação entre igualdade e diferença tem sido um foco central Muitos foram os estudos rea lizados por diversos membros do grupo de pesquisa desde 1996 Nesses trabalhos uma questão se revelou especialmente presente a polissemia dos termos igualda de e diferença detectada em entrevistas individuais grupos focais observações e narrativas plurais de diferentes educadores e educadoras do ensino fundamental Sem dúvida a afi rmação de uma professora aqui são todos iguais resposta à pergunta como você lida com as diferenças na sua sala de aula é recorrente e expressão de uma cultura escolar construída sobre a afi rmação da igualdade legado da lógica da modernidade que impregna os processos educacionais A conhecida pesquisadora argentina Emilia Ferreiro 2001 se expressa sobre esta questão e se referindo ao contexto latinoamericano bem como à difi culdade da escola pública dos nossos países desde o início de sua institucionalização de trabalhar com as diferenças afi rma A escola pública gratuita e obrigatória do século XX é herdeira da do século anterior encarregada de missões históricas de grande importância criar um único povo uma única nação anulando as diferenças entre os cidadãos considerados como iguais diante da lei A tendência principal foi equiparar igualdade à homogeneidade Se os cidadãos eram iguais diante da lei a escola devia contribuir para gerar estes cidadãos homoge neizando as crianças independentemente de suas diferentes origens Encarregada de homogeneizar de igualar esta escola mal podia apreciar as diferenças apud Lerner 2007 p 7 De fato nas narrativas dos professores e professoras no contexto das pesqui sas realizadas predominavam depoimentos em que esta equivalência entre igualda de e homogeneização era recorrente A igualdade era concebida como um processo de uniformização homogeneização padronização orientado à afi rmação de uma cultura comum a que todos e todas têm direito a ter acesso Desde o uniforme até os processos de ensinoaprendizagem os materiais didáticos a avaliação tudo parece contribuir para construir algo que seja igual isto é o mesmo para todos os alunos e alunas Nesta perspectiva certamente impossível de ser alcançada as diferenças são invisibilizadas negadas e silenciadas apresentando os processos pe dagógicos um caráter monocultural marcado pelo que Luisa Cortesão Cortesão Stoer 1999 intitula de daltonismo cultural isto é a impossibilidade de reconhe cer as diferenças culturais presentes no dia a dia das salas de aula A articulação da afi rmação da igualdade com a de sujeito de direitos básica para o desenvolvimento de processos de educação em direitos humanos está praticamente ausente das nar rativas dos professores entrevistados Vera Maria Ferrão Candau Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 239 Quanto ao termo diferença nos depoimentos dos educadores é frequen temente associado a um problema a ser resolvido à defi ciência ao défi cit cultural e à desigualdade Diferentes são aqueles que apresentam baixo rendimento são oriundos de comunidades de risco de famílias com condições de vida de grande vulnerabilidade que têm comportamentos que apresentam níveis diversos de vio lência e incivilidade osas que possuem características identitárias que são asso ciadas à anormalidade eou a um baixo capital cultural Enfi m os diferentes são um problema que a escola e os educadores têm de enfrentar e esta situação vem se agravando e não sabemos como lidar com ela Esta é a tônica que predomina nos relatos dos educadores Somente em poucos depoimentos a diferença é articulada a identidades plurais que enriquecem os processos pedagógicos e devem ser reco nhecidas e valorizadas Igualdade e diferença constituem assim em geral nas narrativas analisa das universos semânticos polissêmicos que se contrapõem explícita ou implici tamente No entanto considero importante afi rmar que a articulação entre igualdade e diferença constitui uma questão que permeia todo o trabalho de pesquisa que ve nho promovendo assim como a busca de construção de processos educativos que a tenham no centro de sua dinâmica Considero que hoje não é possível se trabalhar questões relacionadas à igualdade sem incluir a questão da diferença nem se pode abordar a questão da diferença dissociada da afi rmação da igualdade De fato a igualdade não está oposta à diferença e sim à desigualdade e diferença não se opõe à igualdade e sim à padronização à produção em série à uniformização O que estou querendo trabalhar é ao mesmo tempo desconstruir a padroni zação e lutar contra todas as formas de desigualdade presentes na nossa sociedade Nem padronização nem desigualdade A igualdade que quero construir assume o reconhecimento de direitos básicos de todos No entanto esses todos não são padro nizados não são os mesmos Devem ter as suas diferenças reconhecidas como ele mento de construção da igualdade Diferenças que como já afi rmei são construções históricas e sociais Silva 2000 p 42 e estão atravessadas por relações de poder Esta articulação não é simples nem do ponto de vista teórico nem das práticas socioedu cativas e está no centro do debate contemporâneo sobre direitos humanos Direitos humanos o debate contemporâneo O discurso sobre os direitos humanos tem uma longa trajetória histórica e está intimamente relacionado com as lutas sociais No entanto a confi guração que adquiriu está fortemente marcada por referenciais da modernidade tendo no centro Diferenças culturais interculturalidade e educação em direitos humanos Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 240 de sua construção a questão da igualdade da liberdade e da universalidade Hoje vários grupos questionam a pertinência desta construção e se perguntam se esta pode ser referência para se reconhecer as diferenças culturais os diversos modos de situar se diante da vida dos valores as várias lógicas de produção de conhecimento práticas e visões de mundo O professor Antônio Flávio Pierucci no seu instigante livro Ciladas da diferença 1999 assim sintetiza esta tensão Somos todos iguais ou somos todos diferentes Queremos ser iguais ou queremos ser diferentes Houve um tempo que a resposta se abrigava segura de si no primeiro termo da disjuntiva Já faz um quarto de século porém que a resposta se deslocou A começar da segunda metade dos anos 70 passamos a nos ver envoltos numa atmosfera cultural e ideológica inteiramente nova na qual parece generalizarse em ritmo acelerado e perturbador a consciência de que nós os humanos somos diferentes de fato mas somos também diferentes de direito É o chamado direito à diferença o direito à di ferença cultural o direito de ser sendo diferente The right to be diff erent como se diz em inglês o direito à diferença Não queremos mais a igualdade parece Ou a queremos menos motivanos muito mais em nossa conduta em nossas expectativas de futuro e projetos de vida compartilhada o direito de sermos pessoal e coletivamente diferentes uns dos outros Pierucci 1999 p 7 O autor parece colocar a questão em termos alternativos somos iguais ou so mos diferentes Sua tese é a de que até recentemente praticamente nossas lutas ti nham como referência fundamental a afi rmação da igualdade O direito à diferença não tinha ainda aparecido com a força que ele tem hoje No entanto atualmente a questão da diferença assume uma importância especial e se transforma num direito não só o direito dos diferentes a serem iguais mas o direito de afi rmar a diferença em suas diversas especifi cidades Pessoalmente me inclino a defender que certamente há uma mudança de ênfase e uma questão de articulação Não se trata de afi rmar um polo e negar o outro mas de articulálos de tal modo que um nos remeta ao outro Assumo a posição que afi rma a atualidade e a relevância dos direitos humanos mas acredito em sintonia com o sociólogo Boaventura Sousa Santos professor da Universidade de Coimbra que é necessária uma ressignifi cação destes direitos na contemporaneidade Sua tese é de que enquanto forem concebidos como direitos humanos universais em abstrato os Di reitos Humanos tenderão a operar como um localismo globalizado e portanto como uma forma de globalização hegemônica Para poderem operar como forma de cosmo politismo insurgente como globalização contrahegemônica os Direitos Humanos têm de ser reconceitualizados como interculturais Santos 2006 p 441442 Para Santos no contexto da globalização ou melhor das globalizações tra tase de um fenômeno plural é possível identifi car diferentes movimentos que Vera Maria Ferrão Candau Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 241 afetam a construção dos direitos humanos Distingue quatro formas de globalização localismo globalizado processo pelo qual determinada realidade local é globaliza da com sucesso globalismo localizado impacto nas condições locais das práticas transnacionais cosmopolitismo insurgente e subalterno resistência organizada transnacionalmente contra os localismos globalizados e os globalismos localizados e o patrimônio comum da humanidade emergência das lutas transnacionais por valores ou recursos que são tão globais como o próprio planeta Ele caracteriza os dois primeiros movimentos como globalização hegemônica de cima para baixo e os dois últimos como globalização contrahegemônica ou a partir de baixo idem ibid p 417421 A construção dos direitos humanos tem sido feita segundo o autor tradicio nal e hegemonicamente a partir da perspectiva do localismo globalizado Esta constitui a matriz hegemônica própria da modernidade claramente presente no expansionis mo europeu portador da civilização e das luzes É esta a ótica que tem predo minado até hoje com diferentes versões No entanto o desafi o atual é reconceitualizálos a partir da perspectiva do cosmopolitismo insurgente e subalterno um dos processos como já afi rmei que caracte rizam a globalização que nasce de baixo para cima Essa globalização surge dos gru pos locais das organizações da sociedade civil nos movimentos sociais dos temas que nascem verdadeiramente das inquietudes dos diferentes atores sociais Nesse processo de reconceitualização não se negam as raízes históricas da construção dos direitos humanos mas se pretende trazêlos para dialogar com a problemática atual e neste processo o diálogo intercultural é imprescindível Esse diálogo vai exigir o desenvolvimento do que ele denomina uma hermenêutica diatópica A hermenêutica diatópica baseiase na ideia de que os topoi para o autor os topoi são os lugares comuns retóricos mas abrangentes de determinada cultura funcionam como premissas de argumentação que por não se discutirem dada a sua evidência tornam possível a produção e a troca de argumentos 2005 p 447 de uma dada cultura por mais fortes que sejam são tão incompletos quanto a própria cultura a que pertencem O objetivo da hermenêutica diatópica não é porém atingir a completude um ob jetivo inatingível mas pelo contrário ampliar ao máximo a consciência de incomple tude mútua por meio de um diálogo que se desenrola por assim dizer com um pé numa cultura e outro noutra Nisto reside seu caráter diatópico Santos op cit p 448 Para o desenvolvimento do presente trabalho o que me parece importante assinalar é que a afi rmação dos direitos humanos hoje passa pela necessidade de uma ressignifi cação desses direitos em que a articulação entre igualdade e diferença e o diálogo intercultural são aspectos fundamentais Nesta perspectiva os processos educacionais são de especial relevância Diferenças culturais interculturalidade e educação em direitos humanos Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 242 Educação intercultural construindo um mapa conceitual A educação intercultural tem tido nos últimos anos no continente latinoame ricano um amplo desenvolvimento tanto do ponto de vista dos movimentos sociais quanto das políticas públicas e da produção acadêmica Na revisão bibliográfi ca que venho realizando sobre o tema fi ca evidente que a expressão educação intercultu ral admite diversas leituras tendo por ancoragem múltiplos referenciais teóricos LopezHurtado Quiroz 2007 p 2122 especialista nesta temática faz a se guinte síntese da trajetória de incorporação da educação intercultural na agenda latinoamericana Nestes 30 anos desde que o termo foi acunhado na região a aceitação da noção trans cendeu o âmbito dos programas e projetos referidos aos indígenas e hoje um número importante de países do México à Terra do Fogo vêm nela uma possibilidade de trans formar tanto a sociedade em seu conjunto como também os sistemas educativos nacio nais no sentido de uma articulação mais democrática das diferentes sociedades e povos que integram um determinado país Desde este ponto de vista a interculturalidade su põe agora também abertura diante das diferenças étnicas culturais e linguísticas acei tação positiva da diversidade respeito mútuo busca de consenso e ao mesmo tempo reconhecimento e aceitação do dissenso e na atualidade construção de novos modos de relação social e maior democracia Certamente a educação intercultural tem tido uma trajetória original e plural nos países do continente Por meio desta citação fi ca claro que de um âmbito res trito a educação escolar indígena a educação intercultural é concebida hoje como um elemento fundamental na construção de sistemas educativos e sociedades que se comprometem com a construção democrática a equidade e o reconhecimento dos diferentes grupos socioculturais que os integram Tendo presente esta realidade uma primeira questão que é necessário abor dar é a da relação entre multiculturalismo e interculturalidade Para alguns autores estes termos se contrapõem o multiculturalismo sendo visto como a afi rmação dos diferentes grupos culturais na sua diferença e o interculturalismo pondo o acento nas interrelações entre os diversos grupos culturais Há também aqueles que usam estas palavras praticamente como sinônimos o termo multiculturalismo sendo mais próprio da produção acadêmica do mundo anglosaxão e a interculturalidade da dos países de línguas neolatinas particularmente o espanhol e o francês Em diferentes trabalhos venho afi rmando que a palavra multiculturalismo é polissêmica admitindo pluralidade de signifi cados A necessidade de adjetivála evidencia esta realidade Expressões como multiculturalismo conservador liberal celebratório crítico emancipador revolucionário podem ser encontradas na produção sobre o tema e se multiplicam continuamente No entanto é possível reduzir a Vera Maria Ferrão Candau Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 243 diversidade de sentidos atribuídos ao termo multiculturalismo a três fundamen tais que denomino multiculturalismo assimilacionista multiculturalismo diferen cialista e multiculturalismo interativo também denominado interculturalidade O primeiro parte do reconhecimento de que nas sociedades em que vivemos todos os cidadãos e cidadãs não têm as mesmas oportunidades não existe igualdade de oportunidades Há grupos como indígenas negros homossexuais defi cientes pessoas oriundas de determinadas regiões geográfi cas do próprio país ou de ou tros países e de classes populares que não têm o mesmo acesso a determinados serviços bens direitos fundamentais que outros grupos sociais em geral de classe média ou alta brancos e pertencentes a grupos com altos níveis de escolarização Uma política assimilacionista vai favorecer que todos se integrem na sociedade e sejam incorporados à cultura hegemônica No entanto não se mexe na matriz da sociedade procurase assimilar os grupos marginalizados e discriminados a valo res mentalidades conhecimentos socialmente valorizados pela cultura hegemôni ca No caso da educação promovese uma política de universalização da escolari zação todos chamados a participar do sistema escolar mas sem que se coloque em questão o caráter monocultural presente na sua dinâmica tanto no que se refere aos conteúdos do currículo quanto às relações entre os diferentes atores às estra tégias utilizadas nas salas de aula aos valores privilegiados etc Quanto ao mul ticulturalismo diferencialista ou segundo Amartya Sen 2006 monocultura plural parte da afi rmação de que quando se enfatiza a assimilação terminase por negar a diferença ou por silenciála Propõe então colocar a ênfase no reconhecimento da diferença e para garantir a expressão das diferentes identidades culturais presen tes num determinado contexto garantir espaços em que estas se possam expressar Afi rmase que somente assim os diferentes grupos socioculturais poderão manter suas matrizes culturais de base No entanto situome na terceira perspectiva que propõe um multicultura lismo aberto e interativo que acentua a interculturalidade por considerála a mais adequada para a construção de sociedades democráticas que articulem políticas de igualdade com políticas de identidade e reconhecimento dos diferentes grupos culturais Em recente trabalho apresentado no XII Congresso da Association pour la Re cherche Interculturelle ARIC realizado em Florianópolis em 2009 Catherine Walsh professora da Universidad Andina Simon Bolívar sede do Equador e especialista no tema em sua palestra de abertura do evento distingue três concepções princi pais de educação intercultural hoje presentes no continente latinoamericano A pri meira intitula de relacional e referese basicamente ao contacto e intercâmbio entre culturas e sujeitos socioculturais Esta concepção tende a reduzir as relações inter culturais ao âmbito das relações interpessoais e minimiza os confl itos e a assimetria Diferenças culturais interculturalidade e educação em direitos humanos Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 244 de poder entre pessoas e grupos pertencentes a culturas diversas No que diz res peito às outras duas posições baseandose no fi lósofo peruano Fidel Tubino 2005 a referida autora descreve e discute a interculturalidade funcional e a crítica Parte da afi rmação de que a crescente incorporação da interculturalidade no discurso ofi cial dos estados e organismos internacionais tem por fundamento um enfoque que não questiona o modelo sociopolítico vigente na maior parte dos países marcado pela lógica neoliberal excludente e concentradora de bens e poder Neste sentido a interculturalidade é assumida como estratégia para favorecer a coesão social assi milando os grupos socioculturais subalternizados à cultura hegemônica Este cons titui o interculturalismo que qualifi ca de funcional orientado a diminuir as áreas de tensão e confl ito entre os diversos grupos e movimentos sociais que focalizam questões socioidentitárias sem afetar a estrutura e as relações de poder vigentes No entanto colocar estas relações em questão é exatamente o foco da perspectiva da interculturalidade crítica Tratase de questionar as diferenças e desigualdades construídas ao longo da História entre diferentes grupos socioculturais étnicora ciais de gênero orientação sexual entre outros Partese da afi rmação de que a interculturalidade aponta à construção de sociedades que assumam as diferenças como constitutivas da democracia e sejam capazes de construir relações novas ver dadeiramente igualitárias entre os diferentes grupos socioculturais o que supõe empoderar aqueles que foram historicamente inferiorizados Situome na perspectiva da interculturalidade crítica Tendo esta como ponto de partida para os trabalhos que venho realizando considerei necessário construir de modo coletivo no espaço do grupo de pesquisa que coordeno uma concepção de educação intercultural que servisse de referência comum para os trabalhos da equipe e com este objetivo optei pela utilização da perspectiva dos mapas conceituais Esta teoria teve sua origem nos anos de 1970 com os trabalhos de Joseph Novak pesquisador estadunidense especialista em psicologia cognitiva Tem por base a teoria da aprendizagem signifi cativa de David Ausubel Novak concebe os mapas conceituais como ferramentas cujo principal objetivo é organizar e repre sentar o conhecimento Os mapas conceituais têm sido utilizados para diferentes fi nalidades organização de sequências de aprendizagem estratégias de estudo construção de instrumentos de avaliação escolar realização de pesquisas educa cionais entre outras Segundo Novak e Cañas 2004 os mapas conceituais são estruturados a partir de conceitos fundamentais e suas relações Usualmente os conceitos são destacados em caixas de texto A relação entre dois conceitos é representada por uma linha ou seta contendo uma palavra ou frase de ligação Esta ferramenta está orientada a reduzir e concentrar a estrutura cognitiva subjacente a um dado Vera Maria Ferrão Candau Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 245 conhecimento visibilizando os elementos básicos dessa estrutura e permitindo analisar seus elementos fundamentais Tendo esta perspectiva como referência contruímos coletivamente um mapa conceitual da expressão educação intercultural A questão focal que orientou nos sos trabalhos foi em que consiste a educação intercultural Com este ponto de parti da e a concepção crítica como referência durante o primeiro semestre de 2009 rea lizamos encontros semanais em que fomos trabalhando coletivamente as diferentes etapas do desenvolvimento do mapa conceitual O passo fundamental consistiu em defi nir as categorias básicas Depois de vá rios encontros chegamos a assumir consensualmente que eram as seguintes sujeitos e atores saberes e conhecimentos práticas socioeducativas e políticas públicas A primeira categoria sujeitos e atores referese à promoção de relações tanto entre sujeitos individuais quanto entre grupos sociais integrantes de diferentes cul turas A interculturalidade fortalece a construção de identidades dinâmicas aber tas e plurais assim como questiona uma visão essencializada de sua constituição Potencializa os processos de empoderamento principalmente de sujeitos e atores inferiorizados e subalternizados e a construção da autoestima assim como estimula os processos de construção da autonomia num horizonte de emancipação social de construção de sociedades onde sejam possíveis relações igualitárias entre diferentes sujeitos e atores socioculturais Quanto à categoria de saberes e conhecimentos convém ter presente que há auto res que empregam estes termos como sinônimos ao passo que outros os diferenciam e problematizam a relação entre eles O que denominam conhecimentos está constituído por conceitos ideias e refl exões sistemáticas que guardam vínculos com as diferentes ciências Esses conhecimentos tendem a ser considerados universais e científi cos as sim como a apresentar um caráter monocultural Quanto aos saberes são produções dos diferentes grupos socioculturais estão referidos às suas práticas cotidianas tra dições e visões de mundo São concebidos como particulares e assistemáticos Com Koff 2009 p 61 considero que na discussão se os termos saber e co nhecimento são sinônimos ou não podem ou não ser usados indistintamente o mais importante é considerar a existência de diferentes saberes e conhecimentos e descar tar qualquer tentativa de hierarquizálos Neste sentido a perspectiva intercultural procura estimular o diálogo entre os diferentes saberes e conhecimentos e trabalha a tensão entre universalismo e relativismo no plano epistemológico assumindo os confl itos que emergem deste debate A categoria práticas socioeducativas referida à interculturalidade exige colocar em questão as dinâmicas habituais dos processos educativos muitas vezes padro nizadores e uniformes desvinculados dos contextos socioculturais dos sujeitos que Diferenças culturais interculturalidade e educação em direitos humanos Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 246 deles participam e baseados no modelo frontal de ensinoaprendizagem Favore cem dinâmicas participativas processos de diferenciação pedagógica a utilização de múltiplas linguagens e estimulam a construção coletiva A quarta categoria políticas públicas aponta para as relações dos processos educacionais com o contexto políticosocial em que se inserem A perspectiva inter cultural crítica reconhece os diferentes movimentos sociais que vêm se organizando afi rmando e visibilizando questões identitárias Defende a articulação entre políticas de reconhecimento e de redistribuição não desvinculando as questões socioeconô micas das culturais e apoia políticas de ação afi rmativa orientadas a fortalecer pro cessos de construção democrática que atravessem todas as relações sociais do micro ao macro na perspectiva de uma democracia radical Tendo presente as categorias básicas do mapa conceitual e as subcategorias propostas para cada uma delas passouse a propor palavras de ligação entre elas Uma vez construídas as categorias e subcategorias foi montada a síntese do mapa conceitual que apresento em anexo Certamente o mapa conceitual elaborado pode ser expandido discutido e complexifi cado Educação intercultural e direitos humanos construindo caminhos Estamos como educadores e educadoras desafi adosas a promover proces sos de desconstrução e de desnaturalização de preconceitos e discriminações que impregnam muitas vezes com caráter difuso fl uido e sutil as relações sociais e educacionais que confi guram os contextos em que vivemos A naturalização é um componente que faz em grande parte invisível e especialmente complexa esta pro blemática que invade e povoa nossos imaginários individuais e sociais em relação aos diferentes grupos socioculturais Tratase de questionar esta realidade Também é fundamental desvelar e questionar os sentidos de igualdade e diferença que per meiam os discursos educativos Outro aspecto imprescindível é problematizar o caráter monocultural e o etnocentrismo que explícita ou implicitamente estão pre sentes na escola e impregnam os currículos escolares Perguntarnos pelos critérios utilizados para selecionar e justifi car os conteúdos escolares Desestabilizar a preten sa universalidade dos conhecimentos valores e práticas que confi guram as ações educativas e promover o diálogo entre diversos conhecimentos e saberes Estamos desafi ados também a reconhecer e valorizar as diferenças culturais os diversos sabe res e práticas e a afi rmar sua relação com o direito à educação de todos Reconstruir o que consideramos comum a todos e todas garantindo que nele os diferentes sujeitos socioculturais se reconheçam possibilitando assim que a igualdade se ex plicite nas diferenças que são assumidas como comum referência rompendo dessa forma com o caráter monocultural da cultura escolar Outro aspecto que considero Vera Maria Ferrão Candau fundamental se relaciona com o resgate dos processos de construção das identidades culturais tanto no nível pessoal como coletivo Um elemento importante nesta perspectiva são as histórias de vida dos sujeitos e das diferentes comunidades socioculturais É importante que se opere com um conceito dinâmico e histórico de cultura capaz de integrar as raízes históricas e as novas configurações evitandose uma visão das culturas como universos fechados e em busca do puro do autêntico e do genuíno como uma essência preestabelecida e um dado que não está em contínuo movimento Um último núcleo de desafios que gostaria de assinalar tem como eixo fundamental promover experiências de interação sistemática com os outros para sermos capazes de relativizar nossa própria maneira de situarmonos diante do mundo e atribuirlhe sentido é necessário que experimentemos uma intensa interação com diferentes modos de viver e se expressar Não se trata de momentos pontuais mas da capacidade de desenvolver projetos que suponham uma dinâmica sistemática de diálogo e construção conjunta entre diferentes pessoas eou grupos de diversas procedências sociais étnicas religiosas culturais etc Também estamos chamados a favorecer processos de empoderamento tendo como ponto de partida liberar a possibilidade o poder a potência que cada pessoa cada aluno cada aluna tem para que possa ser sujeito de sua vida e ator social O empoderamento tem também uma dimensão coletiva apoia grupos sociais minoritários discriminados marginalizados etc favorecendo sua organização e participação ativa em movimentos da sociedade civil As ações afirmativas são estratégias que se situam nesta perspectiva Visam a melhores condições de vida para os grupos marginalizados à superação do racismo da discriminação de gênero de orientação sexual e religiosa assim como das desigualdades sociais Considerações finais Retomo o início do nosso trabalho Manifestações de preconceito discriminação e violência se multiplicam em número crescente em muitas de nossas escolas Desafiam as práticas habituais do cotidiano escolar Como educadores e educadoras ficamos perplexosas e muitas vezes nos sentimos impotentes Algumas iniciativas são tomadas de caráter pontual dirigidas a grupos determinados em momentos específicos do ano escolar projetos que abordam temas concretos são implementados Mas os desafios permanecem e em muitos casos se agravam Neste texto defendo a tese de que é a lógica que configura a cultura escolar que temos de desconstruir e reconstruir se queremos trabalhar em profundidade esta problemática Tratase de promover uma educação em direitos humanos na perspectiva intercultural crítica que afete todos os atores e as dimensões do processo educativo assim como os diferentes âmbitos em que ele se desenvolve Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 247 Tratase de uma tarefa de longo prazo mas ao mesmo tempo podemos colocála em prática hoje no nosso contexto educacional específico De fato já existem muitos educadores e educadoras comprometidosas com ela Estamos convidadosas a fortalecer esta ação coletiva na nossa escola e nos movimentos sociais Sabemos que a escola não é onipotente Mas acredito que articulando suas ações com as de outros atores sociais muito poderemos contribuir para a construção de uma educação e de uma sociedade mais igualitárias e democráticas Referências CORTESÃO L STOER S Levantando a pedra da pedagogia intermulticultural às políticas educacionais numa época de transnacionalização Porto Afrontamento 1999 KOFF AMNS Escolas conhecimentos e culturas trabalhando com projetos de investigação Rio de Janeiro 7 letras 2009 LERNER D Enseñar en la diversidad conferencia dictada en las Primeras Jornadas de Educación Intercultural de la Provincia de Buenos Aires La Plata 28 de junio de 2007 Lectura y Vida Buenos Aires v 26 n 4 p 617 dez 2007 LOPEZHURTADO QUIROZ LE Trece claves para entender la interculturalidad en la educación latinoamericana In PRATS E Coord Multiculturalismo y educación para la equidad Barcelona OctaedroOEI 2007 p 1344 MAZZON JA Coord Preconceito e discriminação no ambiente escolar São Paulo FIPEUSP Brasília DF Inep 2009 NOVAK J CAÑAS A Building on new constructivist ideas and map tools to create a new model for education In NOVAK J CAÑAS A GONZÁLES FM Ed Proceedings of the First International Conference on Concept Mapping Pamplona Universidad Publica de Navarra 2004 Disponível em httpcmcihmcuspapers20040285 Acesso em 7 jan 2009 PIERUCCI AF Ciladas da diferença São Paulo Editora 34 1999 SANTOS BS Org A gramática do tempo para uma nova cultura política São Paulo Cortez 2006 SEN A O racha do multiculturalismo Folha de S Paulo São Paulo 17 set 2006 Caderno Mais SILVA TT Teoria cultural e educação Belo Horizonte Autêntica 2000 248 Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr TUBINO F La interculturalidad crítica como proyecto éticopolítico In ENCUENTRO CONTINENTAL DE EDUCADORES AGUSTINOS 2005 Lima Anais eletrônicos Disponível em httpoalavillanovaeducongresoseducaciónlimaponen02html Acesso em 15 out 2009 WALSH C Interculturalidad y decolonialidad perspectivas críticas y políticas In CONGRESO DA ASSOCIATION POUR LA RECHERCHE INTERCULTURELLE 12 2009 Florianópolis Anais Florianópolis UFSC 2009 Recebido em 7 de fevereiro de 2011 Aprovado em 17 de maio de 2011 Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 249 Disponível em httpwwwcedesunicampbr Diferenças culturais interculturalidade e educação em direitos humanos Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 250 ANEXO Educação intercultural mapa conceitual
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DIFERENÇAS CULTURAIS INTERCULTURALIDADE E EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS VERA MARIA FERRÃO CANDAU RESUMO As questões relativas às diferenças culturais vêm se multiplicando na nossa sociedade e a consciência dessa realidade é cada vez mais forte entre educadoresas Entretanto inúmeras têm sido as pesquisas que identificam descrevem e denunciam situações em que alunosas com determinadas marcas identitárias são rejeitadosas objeto de discriminações e excluídos no cotidiano escolar Essa realidade nos obriga a afirmar a urgência de se trabalhar as questões relativas ao reconhecimento e à valorização das diferenças culturais nos contextos escolares Neste sentido o presente trabalho pretende analisar os diferentes sentidos atribuídos pelos professores aos termos igualdade e diferença apresentar a perspectiva sobre educação intercultural que vimos construindo nos últimos anos e evidenciar a interrelação entre essas questões e a educação em direitos humanos Palavraschave Diferenças culturais Educação intercultural Igualdadediferença Educação em direitos humanos CULTURAL DIFFERENCES INTERCULTURALITY AND EDUCATION IN HUMAN RIGHTS ABSTRACT Questions that concern cultural differences are multiplying in our society and more and more educators are getting aware of this reality and its importance At the same time there are host of researches which identify describe and denounce situations where students are rejected discriminated and excluded in the daily school for having particular identitary signs This reality let us to pronounce the urgency of thinking over the recognition and valorization of cultural differences in school contexts This paper intends to analyze the various meanings given by teachers to the words equality and difference and also to present the perspective about intercultural education elaborated over the last years and to demonstrate the interrelation between these questions and the education in human rights Key words Cultural differences Intercultural education Equalitydifference Education in human rights Doutora e pósdoutora em Educação e professora titular do Departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro PUCRio Email vmfcpucriobr Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 235 Diferenças culturais interculturalidade e educação em direitos humanos DIFFÉRENCES CULTURELLES RÉALITÉ INTERCULTURELLE ET ÉDUCATION POUR LES DROITS HUMAINS RÉSUMÉ Les questions concernant la diversité culturelle se sont multipliées dans notre société et la conscience de cette réalité est chaque fois plus forte chez les enseignants Par ailleurs de nombreuses recherches permettent didentifier de décrire et de dénoncer des situations dans lesquelles des étudiants avec des marques didentité bien déterminées sont rejetés ils sont lobjet de discrimination et se trouvent même exclus dans le quotidien scolaire Cette réalité nous oblige à souligner lurgence de lapprofondissement des questions relatives à la reconnaissance et à la valorisation positive des différences culturelles dans les contextes scolaires Cet article se propose tout dabord danalyser les différentes significations attribuées par les enseignants aux termes égalité et différence pour ensuite présenter la perspective dune éducation interculturelle telle que nous lavons conçue pendant ces dernières années de recherche et finalement nous essayons de mettre en évidence linterrelation entre les questions étudiées et léducation pour les droits de lhomme Motsclés Différences culturelles Éducation interculturelle Égalitédifférence Éducation pour les droits humains Introdução A presença de grupos socioculturais diversos nos cenários públicos tanto no âmbito internacional como no Brasil tem provocado tensões conflitos diálogos e negociações orientadas à construção de políticas públicas que focalizem estas questões Em cada contexto esta problemática adquire uma configuração específica articulada com as diversas construções históricas e políticoculturais de cada realidade A afirmação das diferenças étnicas de gênero orientação sexual religiosas entre outras manifestase de modos plurais assumindo diversas expressões e linguagens As problemáticas são múltiplas visibilizadas especialmente pelos movimentos sociais que denunciam injustiças desigualdades e discriminações reivindicando igualdade de acesso a bens e serviços e reconhecimento político e cultural Diferentes manifestações de preconceito discriminação diversas formas de violência física simbólica bullying homofobia intolerância religiosa estereótipos de gênero exclusão de pessoas deficientes entre outras estão presentes na nossa sociedade assim como no cotidiano das escolas A consciência desta realidade é cada vez mais forte entre educadores e educadoras Como afirmou um professor numa das pesquisas que realizamos recentemente as diferenças estão bombando na escola Entretanto inúmeros têm sido os estudos e as pesquisas que identificam descrevem e denunciam situações em que alunosas com determinadas marcas 236 Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr Vera Maria Ferrão Candau Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 237 identitárias são rejeitadosas objeto de discriminações e inferiorizados no dia a dia das nossas escolas Neste sentido gostaria de fazer referência aos resultados da pesquisa Pre conceito e discriminação no ambiente escolar Mazzon 2009 realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Fipe vinculada à Universidade de São Paulo e apoiada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixei ra Inep A referida investigação foi coordenada pelo professor José Afonso Mazzon e teve por objetivo analisar de maneira global a incidência de preconceito e discri minação nas escolas públicas de forma que descrevesse um quadro consolidado que servisse de base para a elaboração de ações globais no campo da promoção da pluralidade cultural O trabalho compreendeu um estudo quantitativo por meio de um survey aplicado em 500 escolas de todo o país junto a estudantes professoresas do ensino fundamental e médio diretoresas profi ssionais de educação que atuam nas escolas e pais mães e responsáveis por alunosas que fossem membros do Conselho Escolar ou da Associação de Pais e Mestres Entre os resultados obtidos é importante assinalar os altos índices de discriminação e preconceito nas escolas investigadas entre todos os atores e além disso o fato que considero de especial relevância para este trabalho que as escolas nas quais os escores que expressam os níveis de preconceito e práticas discriminatórias apresentam valores mais elevados tendem a apresentar médias mais baixas na Prova Brasil Esta realidade obriga a que se quisermos potencializar os processos de apren dizagem escolar na perspectiva da garantia a todosas do direito à educação tere mos de afi rmar a urgência de se trabalhar as questões relativas ao reconhecimento e à valorização das diferenças culturais nos contextos escolares Esta proposta supõe na linha de pesquisa que venho desenvolvendo incorporar a perspectiva intercul tural nos diferentes âmbitos educativos Esta preocupação não é algo secundário ou que se justapõe às fi nalidades básicas da escola mas é inerente a elas Neste sentido o presente trabalho pretende analisar os diferentes sentidos atribuídos pelos professores aos termos igualdade e diferença apresentar a concepção de educação intercultural que vimos construindo nos últimos anos e evidenciar a interrelação entre estas questões e a educação em direitos humanos Quer oferecer elementos que colaborem para a construção de práticas pedagó gicas comprometidas com a equidade a democracia e a afi rmação do direito à educação e à aprendizagem de toda criança de todo adolescente de toda pessoa humana Parte da tese de que superar as situações acima mencionadas exige um processo contínuo de desconstrução de aspectos fortemente confi guradores da cultura escolar vigente e a promoção de uma educação em direitos humanos na perspectiva intercultural Diferenças culturais interculturalidade e educação em direitos humanos Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 238 Igualdade Diferença Como se situam os professoresas Nos trabalhos de pesquisa que tenho desenvolvido nos últimos anos a relação entre igualdade e diferença tem sido um foco central Muitos foram os estudos rea lizados por diversos membros do grupo de pesquisa desde 1996 Nesses trabalhos uma questão se revelou especialmente presente a polissemia dos termos igualda de e diferença detectada em entrevistas individuais grupos focais observações e narrativas plurais de diferentes educadores e educadoras do ensino fundamental Sem dúvida a afi rmação de uma professora aqui são todos iguais resposta à pergunta como você lida com as diferenças na sua sala de aula é recorrente e expressão de uma cultura escolar construída sobre a afi rmação da igualdade legado da lógica da modernidade que impregna os processos educacionais A conhecida pesquisadora argentina Emilia Ferreiro 2001 se expressa sobre esta questão e se referindo ao contexto latinoamericano bem como à difi culdade da escola pública dos nossos países desde o início de sua institucionalização de trabalhar com as diferenças afi rma A escola pública gratuita e obrigatória do século XX é herdeira da do século anterior encarregada de missões históricas de grande importância criar um único povo uma única nação anulando as diferenças entre os cidadãos considerados como iguais diante da lei A tendência principal foi equiparar igualdade à homogeneidade Se os cidadãos eram iguais diante da lei a escola devia contribuir para gerar estes cidadãos homoge neizando as crianças independentemente de suas diferentes origens Encarregada de homogeneizar de igualar esta escola mal podia apreciar as diferenças apud Lerner 2007 p 7 De fato nas narrativas dos professores e professoras no contexto das pesqui sas realizadas predominavam depoimentos em que esta equivalência entre igualda de e homogeneização era recorrente A igualdade era concebida como um processo de uniformização homogeneização padronização orientado à afi rmação de uma cultura comum a que todos e todas têm direito a ter acesso Desde o uniforme até os processos de ensinoaprendizagem os materiais didáticos a avaliação tudo parece contribuir para construir algo que seja igual isto é o mesmo para todos os alunos e alunas Nesta perspectiva certamente impossível de ser alcançada as diferenças são invisibilizadas negadas e silenciadas apresentando os processos pe dagógicos um caráter monocultural marcado pelo que Luisa Cortesão Cortesão Stoer 1999 intitula de daltonismo cultural isto é a impossibilidade de reconhe cer as diferenças culturais presentes no dia a dia das salas de aula A articulação da afi rmação da igualdade com a de sujeito de direitos básica para o desenvolvimento de processos de educação em direitos humanos está praticamente ausente das nar rativas dos professores entrevistados Vera Maria Ferrão Candau Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 239 Quanto ao termo diferença nos depoimentos dos educadores é frequen temente associado a um problema a ser resolvido à defi ciência ao défi cit cultural e à desigualdade Diferentes são aqueles que apresentam baixo rendimento são oriundos de comunidades de risco de famílias com condições de vida de grande vulnerabilidade que têm comportamentos que apresentam níveis diversos de vio lência e incivilidade osas que possuem características identitárias que são asso ciadas à anormalidade eou a um baixo capital cultural Enfi m os diferentes são um problema que a escola e os educadores têm de enfrentar e esta situação vem se agravando e não sabemos como lidar com ela Esta é a tônica que predomina nos relatos dos educadores Somente em poucos depoimentos a diferença é articulada a identidades plurais que enriquecem os processos pedagógicos e devem ser reco nhecidas e valorizadas Igualdade e diferença constituem assim em geral nas narrativas analisa das universos semânticos polissêmicos que se contrapõem explícita ou implici tamente No entanto considero importante afi rmar que a articulação entre igualdade e diferença constitui uma questão que permeia todo o trabalho de pesquisa que ve nho promovendo assim como a busca de construção de processos educativos que a tenham no centro de sua dinâmica Considero que hoje não é possível se trabalhar questões relacionadas à igualdade sem incluir a questão da diferença nem se pode abordar a questão da diferença dissociada da afi rmação da igualdade De fato a igualdade não está oposta à diferença e sim à desigualdade e diferença não se opõe à igualdade e sim à padronização à produção em série à uniformização O que estou querendo trabalhar é ao mesmo tempo desconstruir a padroni zação e lutar contra todas as formas de desigualdade presentes na nossa sociedade Nem padronização nem desigualdade A igualdade que quero construir assume o reconhecimento de direitos básicos de todos No entanto esses todos não são padro nizados não são os mesmos Devem ter as suas diferenças reconhecidas como ele mento de construção da igualdade Diferenças que como já afi rmei são construções históricas e sociais Silva 2000 p 42 e estão atravessadas por relações de poder Esta articulação não é simples nem do ponto de vista teórico nem das práticas socioedu cativas e está no centro do debate contemporâneo sobre direitos humanos Direitos humanos o debate contemporâneo O discurso sobre os direitos humanos tem uma longa trajetória histórica e está intimamente relacionado com as lutas sociais No entanto a confi guração que adquiriu está fortemente marcada por referenciais da modernidade tendo no centro Diferenças culturais interculturalidade e educação em direitos humanos Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 240 de sua construção a questão da igualdade da liberdade e da universalidade Hoje vários grupos questionam a pertinência desta construção e se perguntam se esta pode ser referência para se reconhecer as diferenças culturais os diversos modos de situar se diante da vida dos valores as várias lógicas de produção de conhecimento práticas e visões de mundo O professor Antônio Flávio Pierucci no seu instigante livro Ciladas da diferença 1999 assim sintetiza esta tensão Somos todos iguais ou somos todos diferentes Queremos ser iguais ou queremos ser diferentes Houve um tempo que a resposta se abrigava segura de si no primeiro termo da disjuntiva Já faz um quarto de século porém que a resposta se deslocou A começar da segunda metade dos anos 70 passamos a nos ver envoltos numa atmosfera cultural e ideológica inteiramente nova na qual parece generalizarse em ritmo acelerado e perturbador a consciência de que nós os humanos somos diferentes de fato mas somos também diferentes de direito É o chamado direito à diferença o direito à di ferença cultural o direito de ser sendo diferente The right to be diff erent como se diz em inglês o direito à diferença Não queremos mais a igualdade parece Ou a queremos menos motivanos muito mais em nossa conduta em nossas expectativas de futuro e projetos de vida compartilhada o direito de sermos pessoal e coletivamente diferentes uns dos outros Pierucci 1999 p 7 O autor parece colocar a questão em termos alternativos somos iguais ou so mos diferentes Sua tese é a de que até recentemente praticamente nossas lutas ti nham como referência fundamental a afi rmação da igualdade O direito à diferença não tinha ainda aparecido com a força que ele tem hoje No entanto atualmente a questão da diferença assume uma importância especial e se transforma num direito não só o direito dos diferentes a serem iguais mas o direito de afi rmar a diferença em suas diversas especifi cidades Pessoalmente me inclino a defender que certamente há uma mudança de ênfase e uma questão de articulação Não se trata de afi rmar um polo e negar o outro mas de articulálos de tal modo que um nos remeta ao outro Assumo a posição que afi rma a atualidade e a relevância dos direitos humanos mas acredito em sintonia com o sociólogo Boaventura Sousa Santos professor da Universidade de Coimbra que é necessária uma ressignifi cação destes direitos na contemporaneidade Sua tese é de que enquanto forem concebidos como direitos humanos universais em abstrato os Di reitos Humanos tenderão a operar como um localismo globalizado e portanto como uma forma de globalização hegemônica Para poderem operar como forma de cosmo politismo insurgente como globalização contrahegemônica os Direitos Humanos têm de ser reconceitualizados como interculturais Santos 2006 p 441442 Para Santos no contexto da globalização ou melhor das globalizações tra tase de um fenômeno plural é possível identifi car diferentes movimentos que Vera Maria Ferrão Candau Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 241 afetam a construção dos direitos humanos Distingue quatro formas de globalização localismo globalizado processo pelo qual determinada realidade local é globaliza da com sucesso globalismo localizado impacto nas condições locais das práticas transnacionais cosmopolitismo insurgente e subalterno resistência organizada transnacionalmente contra os localismos globalizados e os globalismos localizados e o patrimônio comum da humanidade emergência das lutas transnacionais por valores ou recursos que são tão globais como o próprio planeta Ele caracteriza os dois primeiros movimentos como globalização hegemônica de cima para baixo e os dois últimos como globalização contrahegemônica ou a partir de baixo idem ibid p 417421 A construção dos direitos humanos tem sido feita segundo o autor tradicio nal e hegemonicamente a partir da perspectiva do localismo globalizado Esta constitui a matriz hegemônica própria da modernidade claramente presente no expansionis mo europeu portador da civilização e das luzes É esta a ótica que tem predo minado até hoje com diferentes versões No entanto o desafi o atual é reconceitualizálos a partir da perspectiva do cosmopolitismo insurgente e subalterno um dos processos como já afi rmei que caracte rizam a globalização que nasce de baixo para cima Essa globalização surge dos gru pos locais das organizações da sociedade civil nos movimentos sociais dos temas que nascem verdadeiramente das inquietudes dos diferentes atores sociais Nesse processo de reconceitualização não se negam as raízes históricas da construção dos direitos humanos mas se pretende trazêlos para dialogar com a problemática atual e neste processo o diálogo intercultural é imprescindível Esse diálogo vai exigir o desenvolvimento do que ele denomina uma hermenêutica diatópica A hermenêutica diatópica baseiase na ideia de que os topoi para o autor os topoi são os lugares comuns retóricos mas abrangentes de determinada cultura funcionam como premissas de argumentação que por não se discutirem dada a sua evidência tornam possível a produção e a troca de argumentos 2005 p 447 de uma dada cultura por mais fortes que sejam são tão incompletos quanto a própria cultura a que pertencem O objetivo da hermenêutica diatópica não é porém atingir a completude um ob jetivo inatingível mas pelo contrário ampliar ao máximo a consciência de incomple tude mútua por meio de um diálogo que se desenrola por assim dizer com um pé numa cultura e outro noutra Nisto reside seu caráter diatópico Santos op cit p 448 Para o desenvolvimento do presente trabalho o que me parece importante assinalar é que a afi rmação dos direitos humanos hoje passa pela necessidade de uma ressignifi cação desses direitos em que a articulação entre igualdade e diferença e o diálogo intercultural são aspectos fundamentais Nesta perspectiva os processos educacionais são de especial relevância Diferenças culturais interculturalidade e educação em direitos humanos Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 242 Educação intercultural construindo um mapa conceitual A educação intercultural tem tido nos últimos anos no continente latinoame ricano um amplo desenvolvimento tanto do ponto de vista dos movimentos sociais quanto das políticas públicas e da produção acadêmica Na revisão bibliográfi ca que venho realizando sobre o tema fi ca evidente que a expressão educação intercultu ral admite diversas leituras tendo por ancoragem múltiplos referenciais teóricos LopezHurtado Quiroz 2007 p 2122 especialista nesta temática faz a se guinte síntese da trajetória de incorporação da educação intercultural na agenda latinoamericana Nestes 30 anos desde que o termo foi acunhado na região a aceitação da noção trans cendeu o âmbito dos programas e projetos referidos aos indígenas e hoje um número importante de países do México à Terra do Fogo vêm nela uma possibilidade de trans formar tanto a sociedade em seu conjunto como também os sistemas educativos nacio nais no sentido de uma articulação mais democrática das diferentes sociedades e povos que integram um determinado país Desde este ponto de vista a interculturalidade su põe agora também abertura diante das diferenças étnicas culturais e linguísticas acei tação positiva da diversidade respeito mútuo busca de consenso e ao mesmo tempo reconhecimento e aceitação do dissenso e na atualidade construção de novos modos de relação social e maior democracia Certamente a educação intercultural tem tido uma trajetória original e plural nos países do continente Por meio desta citação fi ca claro que de um âmbito res trito a educação escolar indígena a educação intercultural é concebida hoje como um elemento fundamental na construção de sistemas educativos e sociedades que se comprometem com a construção democrática a equidade e o reconhecimento dos diferentes grupos socioculturais que os integram Tendo presente esta realidade uma primeira questão que é necessário abor dar é a da relação entre multiculturalismo e interculturalidade Para alguns autores estes termos se contrapõem o multiculturalismo sendo visto como a afi rmação dos diferentes grupos culturais na sua diferença e o interculturalismo pondo o acento nas interrelações entre os diversos grupos culturais Há também aqueles que usam estas palavras praticamente como sinônimos o termo multiculturalismo sendo mais próprio da produção acadêmica do mundo anglosaxão e a interculturalidade da dos países de línguas neolatinas particularmente o espanhol e o francês Em diferentes trabalhos venho afi rmando que a palavra multiculturalismo é polissêmica admitindo pluralidade de signifi cados A necessidade de adjetivála evidencia esta realidade Expressões como multiculturalismo conservador liberal celebratório crítico emancipador revolucionário podem ser encontradas na produção sobre o tema e se multiplicam continuamente No entanto é possível reduzir a Vera Maria Ferrão Candau Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 243 diversidade de sentidos atribuídos ao termo multiculturalismo a três fundamen tais que denomino multiculturalismo assimilacionista multiculturalismo diferen cialista e multiculturalismo interativo também denominado interculturalidade O primeiro parte do reconhecimento de que nas sociedades em que vivemos todos os cidadãos e cidadãs não têm as mesmas oportunidades não existe igualdade de oportunidades Há grupos como indígenas negros homossexuais defi cientes pessoas oriundas de determinadas regiões geográfi cas do próprio país ou de ou tros países e de classes populares que não têm o mesmo acesso a determinados serviços bens direitos fundamentais que outros grupos sociais em geral de classe média ou alta brancos e pertencentes a grupos com altos níveis de escolarização Uma política assimilacionista vai favorecer que todos se integrem na sociedade e sejam incorporados à cultura hegemônica No entanto não se mexe na matriz da sociedade procurase assimilar os grupos marginalizados e discriminados a valo res mentalidades conhecimentos socialmente valorizados pela cultura hegemôni ca No caso da educação promovese uma política de universalização da escolari zação todos chamados a participar do sistema escolar mas sem que se coloque em questão o caráter monocultural presente na sua dinâmica tanto no que se refere aos conteúdos do currículo quanto às relações entre os diferentes atores às estra tégias utilizadas nas salas de aula aos valores privilegiados etc Quanto ao mul ticulturalismo diferencialista ou segundo Amartya Sen 2006 monocultura plural parte da afi rmação de que quando se enfatiza a assimilação terminase por negar a diferença ou por silenciála Propõe então colocar a ênfase no reconhecimento da diferença e para garantir a expressão das diferentes identidades culturais presen tes num determinado contexto garantir espaços em que estas se possam expressar Afi rmase que somente assim os diferentes grupos socioculturais poderão manter suas matrizes culturais de base No entanto situome na terceira perspectiva que propõe um multicultura lismo aberto e interativo que acentua a interculturalidade por considerála a mais adequada para a construção de sociedades democráticas que articulem políticas de igualdade com políticas de identidade e reconhecimento dos diferentes grupos culturais Em recente trabalho apresentado no XII Congresso da Association pour la Re cherche Interculturelle ARIC realizado em Florianópolis em 2009 Catherine Walsh professora da Universidad Andina Simon Bolívar sede do Equador e especialista no tema em sua palestra de abertura do evento distingue três concepções princi pais de educação intercultural hoje presentes no continente latinoamericano A pri meira intitula de relacional e referese basicamente ao contacto e intercâmbio entre culturas e sujeitos socioculturais Esta concepção tende a reduzir as relações inter culturais ao âmbito das relações interpessoais e minimiza os confl itos e a assimetria Diferenças culturais interculturalidade e educação em direitos humanos Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 244 de poder entre pessoas e grupos pertencentes a culturas diversas No que diz res peito às outras duas posições baseandose no fi lósofo peruano Fidel Tubino 2005 a referida autora descreve e discute a interculturalidade funcional e a crítica Parte da afi rmação de que a crescente incorporação da interculturalidade no discurso ofi cial dos estados e organismos internacionais tem por fundamento um enfoque que não questiona o modelo sociopolítico vigente na maior parte dos países marcado pela lógica neoliberal excludente e concentradora de bens e poder Neste sentido a interculturalidade é assumida como estratégia para favorecer a coesão social assi milando os grupos socioculturais subalternizados à cultura hegemônica Este cons titui o interculturalismo que qualifi ca de funcional orientado a diminuir as áreas de tensão e confl ito entre os diversos grupos e movimentos sociais que focalizam questões socioidentitárias sem afetar a estrutura e as relações de poder vigentes No entanto colocar estas relações em questão é exatamente o foco da perspectiva da interculturalidade crítica Tratase de questionar as diferenças e desigualdades construídas ao longo da História entre diferentes grupos socioculturais étnicora ciais de gênero orientação sexual entre outros Partese da afi rmação de que a interculturalidade aponta à construção de sociedades que assumam as diferenças como constitutivas da democracia e sejam capazes de construir relações novas ver dadeiramente igualitárias entre os diferentes grupos socioculturais o que supõe empoderar aqueles que foram historicamente inferiorizados Situome na perspectiva da interculturalidade crítica Tendo esta como ponto de partida para os trabalhos que venho realizando considerei necessário construir de modo coletivo no espaço do grupo de pesquisa que coordeno uma concepção de educação intercultural que servisse de referência comum para os trabalhos da equipe e com este objetivo optei pela utilização da perspectiva dos mapas conceituais Esta teoria teve sua origem nos anos de 1970 com os trabalhos de Joseph Novak pesquisador estadunidense especialista em psicologia cognitiva Tem por base a teoria da aprendizagem signifi cativa de David Ausubel Novak concebe os mapas conceituais como ferramentas cujo principal objetivo é organizar e repre sentar o conhecimento Os mapas conceituais têm sido utilizados para diferentes fi nalidades organização de sequências de aprendizagem estratégias de estudo construção de instrumentos de avaliação escolar realização de pesquisas educa cionais entre outras Segundo Novak e Cañas 2004 os mapas conceituais são estruturados a partir de conceitos fundamentais e suas relações Usualmente os conceitos são destacados em caixas de texto A relação entre dois conceitos é representada por uma linha ou seta contendo uma palavra ou frase de ligação Esta ferramenta está orientada a reduzir e concentrar a estrutura cognitiva subjacente a um dado Vera Maria Ferrão Candau Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 245 conhecimento visibilizando os elementos básicos dessa estrutura e permitindo analisar seus elementos fundamentais Tendo esta perspectiva como referência contruímos coletivamente um mapa conceitual da expressão educação intercultural A questão focal que orientou nos sos trabalhos foi em que consiste a educação intercultural Com este ponto de parti da e a concepção crítica como referência durante o primeiro semestre de 2009 rea lizamos encontros semanais em que fomos trabalhando coletivamente as diferentes etapas do desenvolvimento do mapa conceitual O passo fundamental consistiu em defi nir as categorias básicas Depois de vá rios encontros chegamos a assumir consensualmente que eram as seguintes sujeitos e atores saberes e conhecimentos práticas socioeducativas e políticas públicas A primeira categoria sujeitos e atores referese à promoção de relações tanto entre sujeitos individuais quanto entre grupos sociais integrantes de diferentes cul turas A interculturalidade fortalece a construção de identidades dinâmicas aber tas e plurais assim como questiona uma visão essencializada de sua constituição Potencializa os processos de empoderamento principalmente de sujeitos e atores inferiorizados e subalternizados e a construção da autoestima assim como estimula os processos de construção da autonomia num horizonte de emancipação social de construção de sociedades onde sejam possíveis relações igualitárias entre diferentes sujeitos e atores socioculturais Quanto à categoria de saberes e conhecimentos convém ter presente que há auto res que empregam estes termos como sinônimos ao passo que outros os diferenciam e problematizam a relação entre eles O que denominam conhecimentos está constituído por conceitos ideias e refl exões sistemáticas que guardam vínculos com as diferentes ciências Esses conhecimentos tendem a ser considerados universais e científi cos as sim como a apresentar um caráter monocultural Quanto aos saberes são produções dos diferentes grupos socioculturais estão referidos às suas práticas cotidianas tra dições e visões de mundo São concebidos como particulares e assistemáticos Com Koff 2009 p 61 considero que na discussão se os termos saber e co nhecimento são sinônimos ou não podem ou não ser usados indistintamente o mais importante é considerar a existência de diferentes saberes e conhecimentos e descar tar qualquer tentativa de hierarquizálos Neste sentido a perspectiva intercultural procura estimular o diálogo entre os diferentes saberes e conhecimentos e trabalha a tensão entre universalismo e relativismo no plano epistemológico assumindo os confl itos que emergem deste debate A categoria práticas socioeducativas referida à interculturalidade exige colocar em questão as dinâmicas habituais dos processos educativos muitas vezes padro nizadores e uniformes desvinculados dos contextos socioculturais dos sujeitos que Diferenças culturais interculturalidade e educação em direitos humanos Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 246 deles participam e baseados no modelo frontal de ensinoaprendizagem Favore cem dinâmicas participativas processos de diferenciação pedagógica a utilização de múltiplas linguagens e estimulam a construção coletiva A quarta categoria políticas públicas aponta para as relações dos processos educacionais com o contexto políticosocial em que se inserem A perspectiva inter cultural crítica reconhece os diferentes movimentos sociais que vêm se organizando afi rmando e visibilizando questões identitárias Defende a articulação entre políticas de reconhecimento e de redistribuição não desvinculando as questões socioeconô micas das culturais e apoia políticas de ação afi rmativa orientadas a fortalecer pro cessos de construção democrática que atravessem todas as relações sociais do micro ao macro na perspectiva de uma democracia radical Tendo presente as categorias básicas do mapa conceitual e as subcategorias propostas para cada uma delas passouse a propor palavras de ligação entre elas Uma vez construídas as categorias e subcategorias foi montada a síntese do mapa conceitual que apresento em anexo Certamente o mapa conceitual elaborado pode ser expandido discutido e complexifi cado Educação intercultural e direitos humanos construindo caminhos Estamos como educadores e educadoras desafi adosas a promover proces sos de desconstrução e de desnaturalização de preconceitos e discriminações que impregnam muitas vezes com caráter difuso fl uido e sutil as relações sociais e educacionais que confi guram os contextos em que vivemos A naturalização é um componente que faz em grande parte invisível e especialmente complexa esta pro blemática que invade e povoa nossos imaginários individuais e sociais em relação aos diferentes grupos socioculturais Tratase de questionar esta realidade Também é fundamental desvelar e questionar os sentidos de igualdade e diferença que per meiam os discursos educativos Outro aspecto imprescindível é problematizar o caráter monocultural e o etnocentrismo que explícita ou implicitamente estão pre sentes na escola e impregnam os currículos escolares Perguntarnos pelos critérios utilizados para selecionar e justifi car os conteúdos escolares Desestabilizar a preten sa universalidade dos conhecimentos valores e práticas que confi guram as ações educativas e promover o diálogo entre diversos conhecimentos e saberes Estamos desafi ados também a reconhecer e valorizar as diferenças culturais os diversos sabe res e práticas e a afi rmar sua relação com o direito à educação de todos Reconstruir o que consideramos comum a todos e todas garantindo que nele os diferentes sujeitos socioculturais se reconheçam possibilitando assim que a igualdade se ex plicite nas diferenças que são assumidas como comum referência rompendo dessa forma com o caráter monocultural da cultura escolar Outro aspecto que considero Vera Maria Ferrão Candau fundamental se relaciona com o resgate dos processos de construção das identidades culturais tanto no nível pessoal como coletivo Um elemento importante nesta perspectiva são as histórias de vida dos sujeitos e das diferentes comunidades socioculturais É importante que se opere com um conceito dinâmico e histórico de cultura capaz de integrar as raízes históricas e as novas configurações evitandose uma visão das culturas como universos fechados e em busca do puro do autêntico e do genuíno como uma essência preestabelecida e um dado que não está em contínuo movimento Um último núcleo de desafios que gostaria de assinalar tem como eixo fundamental promover experiências de interação sistemática com os outros para sermos capazes de relativizar nossa própria maneira de situarmonos diante do mundo e atribuirlhe sentido é necessário que experimentemos uma intensa interação com diferentes modos de viver e se expressar Não se trata de momentos pontuais mas da capacidade de desenvolver projetos que suponham uma dinâmica sistemática de diálogo e construção conjunta entre diferentes pessoas eou grupos de diversas procedências sociais étnicas religiosas culturais etc Também estamos chamados a favorecer processos de empoderamento tendo como ponto de partida liberar a possibilidade o poder a potência que cada pessoa cada aluno cada aluna tem para que possa ser sujeito de sua vida e ator social O empoderamento tem também uma dimensão coletiva apoia grupos sociais minoritários discriminados marginalizados etc favorecendo sua organização e participação ativa em movimentos da sociedade civil As ações afirmativas são estratégias que se situam nesta perspectiva Visam a melhores condições de vida para os grupos marginalizados à superação do racismo da discriminação de gênero de orientação sexual e religiosa assim como das desigualdades sociais Considerações finais Retomo o início do nosso trabalho Manifestações de preconceito discriminação e violência se multiplicam em número crescente em muitas de nossas escolas Desafiam as práticas habituais do cotidiano escolar Como educadores e educadoras ficamos perplexosas e muitas vezes nos sentimos impotentes Algumas iniciativas são tomadas de caráter pontual dirigidas a grupos determinados em momentos específicos do ano escolar projetos que abordam temas concretos são implementados Mas os desafios permanecem e em muitos casos se agravam Neste texto defendo a tese de que é a lógica que configura a cultura escolar que temos de desconstruir e reconstruir se queremos trabalhar em profundidade esta problemática Tratase de promover uma educação em direitos humanos na perspectiva intercultural crítica que afete todos os atores e as dimensões do processo educativo assim como os diferentes âmbitos em que ele se desenvolve Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 247 Tratase de uma tarefa de longo prazo mas ao mesmo tempo podemos colocála em prática hoje no nosso contexto educacional específico De fato já existem muitos educadores e educadoras comprometidosas com ela Estamos convidadosas a fortalecer esta ação coletiva na nossa escola e nos movimentos sociais Sabemos que a escola não é onipotente Mas acredito que articulando suas ações com as de outros atores sociais muito poderemos contribuir para a construção de uma educação e de uma sociedade mais igualitárias e democráticas Referências CORTESÃO L STOER S Levantando a pedra da pedagogia intermulticultural às políticas educacionais numa época de transnacionalização Porto Afrontamento 1999 KOFF AMNS Escolas conhecimentos e culturas trabalhando com projetos de investigação Rio de Janeiro 7 letras 2009 LERNER D Enseñar en la diversidad conferencia dictada en las Primeras Jornadas de Educación Intercultural de la Provincia de Buenos Aires La Plata 28 de junio de 2007 Lectura y Vida Buenos Aires v 26 n 4 p 617 dez 2007 LOPEZHURTADO QUIROZ LE Trece claves para entender la interculturalidad en la educación latinoamericana In PRATS E Coord Multiculturalismo y educación para la equidad Barcelona OctaedroOEI 2007 p 1344 MAZZON JA Coord Preconceito e discriminação no ambiente escolar São Paulo FIPEUSP Brasília DF Inep 2009 NOVAK J CAÑAS A Building on new constructivist ideas and map tools to create a new model for education In NOVAK J CAÑAS A GONZÁLES FM Ed Proceedings of the First International Conference on Concept Mapping Pamplona Universidad Publica de Navarra 2004 Disponível em httpcmcihmcuspapers20040285 Acesso em 7 jan 2009 PIERUCCI AF Ciladas da diferença São Paulo Editora 34 1999 SANTOS BS Org A gramática do tempo para uma nova cultura política São Paulo Cortez 2006 SEN A O racha do multiculturalismo Folha de S Paulo São Paulo 17 set 2006 Caderno Mais SILVA TT Teoria cultural e educação Belo Horizonte Autêntica 2000 248 Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr TUBINO F La interculturalidad crítica como proyecto éticopolítico In ENCUENTRO CONTINENTAL DE EDUCADORES AGUSTINOS 2005 Lima Anais eletrônicos Disponível em httpoalavillanovaeducongresoseducaciónlimaponen02html Acesso em 15 out 2009 WALSH C Interculturalidad y decolonialidad perspectivas críticas y políticas In CONGRESO DA ASSOCIATION POUR LA RECHERCHE INTERCULTURELLE 12 2009 Florianópolis Anais Florianópolis UFSC 2009 Recebido em 7 de fevereiro de 2011 Aprovado em 17 de maio de 2011 Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 249 Disponível em httpwwwcedesunicampbr Diferenças culturais interculturalidade e educação em direitos humanos Educ Soc Campinas v 33 n 118 p 235250 janmar 2012 Disponível em httpwwwcedesunicampbr 250 ANEXO Educação intercultural mapa conceitual