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Poucos intelectuais estudiosos ou professores voltados para estudos da língua em seus diversos aspectos ou em algum aspecto particular têm conseguido praticamente o reconhecimento unânime de seu talento e da importância de seu trabalho como o Prof Manuel Said Ali Ao lado de títulos conhecidos como os das obras gramaticais das Dificuldades da Língua Portuguesa dos Meios de Expressão e Alterações Semânticas outros há que não tiveram a mesma sorte e merecem no entanto a mesma atenção como este Versificação Portuguesa que mais divulgado agora com esta edição da Edusp poderá também prestar serviço como os demais Seus trabalhos sempre tiveram preocupação didática buscaram a simplicidade de expressão a clareza Esse cuidado não lhe tirou nenhum mérito não lhe roubou nenhum elogio Tornouo seguramente mais admirado A leitura desta obra com certeza aumentará o número dos que estudam suas obras e ainda mais o dos que as aproveitam O H L C O Professor Manuel Said Ali Ida 21101861 2751953 em sua longa vida dedicada à cultura e ao ensino exerceu reconhecida influência na formação intelectual de várias personalidades brasileiras encontradas em mais de uma geração de colegas alunos aprendizes discípulos nas disciplinas que ministrou nas áreas de conhecimento a que se dedicou com devoção pedagógica e competência científica Os títulos em numero razoável que publicou todos de qualidade deixaram a marca de seus cuidados de sua preocupação com o rigor do levantemento e com o método de exposição e análise dos fatos estudados Suas obras especialmente as de matéria linguística quer sincrônica quer diacrônica são de leitura obrigatória para quem se interessa pelo estudo da língua portuguesa Em todos os seus estudos Said Ali revela uma face nova do objeto de interesse apresenta uma contribuição original Se não foi pioneiro no tratamento de um assunto mostrou dele sempre um novo ângulo para se observar Esse traço inovador de suas obras tornanas sempre atuais E o que ocorre com a Versificação Portuguesa que ocupa um lugar muito especial entre todas Exibe a sensibilidade e a argúcia do Professor Manuel Said Ali atento às questões linguísticas com implicações estéticas e literárias concretizadas na poesia da língua portuguesa de Portugal e do Brasil Não é um tratado antes um manual ou compêndio como o denominou Manuel Bandeira claro rico de exemplos como se vieram a tornar as suas obras coerente e seguro que obriga entretanto VERSIFICAÇÃO PORTUGUESA VERSIFICAÇÃO PORTUGUESA SUMÁRIO Préfácio Manuel Bandeira No sexto verso a última sílaba de pálida pertence na realidade ao verso seguinte Rosa que tem uma sílaba a menos como em da necessidade sem o que se quebraria o ritmo uniforme do poema Basta esse único exemplo para mostrar que o número de sílabas como a rima a aliteraçã V E R S I F I C A Ç Ã O P O R T U G U E S A No Brasil os compêndios anteriores a este não passavam de um declaque com pequenas variantes do Tratado de Metrificação Portuguesa de A F de Castilho A sistematização de Castilho como a de Malherbe na França se por um lado prestou grandes serviços no sentido de policiar a técnica poética por outro lado teve como conseqüência um empobrecimento da expressão Os nossos parnasianos ainda agravavam o defeito No caso dos h Nas línguas românicas a especificação e denominação dos versos regulamse pelo número de sílabas contadas segundo regras métricas algo diferentes do que a usual análise fonética nos ensina Adotase um só critério de contagem para as linhas com diferença de uma ou duas sílabas por terminarem em palavra oxítona paroxítona ou proparoxítona Dizse então que o verso é agudo grave ou esdrúxulo sem prejudicar a especificação de pentassílabo hexassílabo etc O verso esdrúxulo nada influi na contagem visto que segundo convenção antiga que prevalece tanto para o português como para o espanhol e o italiano em proparoxítono posto no fim da linha contam por sílaba única as duas que se seguem a tônica O verso esdrúxulo é tratado como se fosse verso grave Em língua francesa finalizam os versos de acordo com a acentuação própria do idioma ou em sílaba tônica ou em tônica seguida de mudo possibilidades essas que se designam com os nomes de rimas masculinas e rimas femininas É de regra alternada podendo o estrofe conter umas e outras em igual número E os versos franceses classificamse segundo as de primeira espécie As outras línguas românicas de prosódia tão diferente regulamse pelo verso grave forma preponderante como em geral são mais numerosos os vocábulos de final átona É por isso que o alexandrino verso de doze sílabas para os franceses introduzido na poesia castelhana adquire nova definição Verso aleijandrino à la francesa verso que consta de treze sílabas Em espanhol como em italiano consideramse formadas de 5 7 11 sílabas linhas que para os franceses não teriam senão 4 6 10 Diante em De Vulgari Eloquentia chama pentassílabo heptassílabo e hendecassílabos aos versos graves que contêm respectivamente 5 7 11 incluindo a átona final Não faz conta do verso agudo Compõe a Divina Comédia como o soberbo hendecassílabos desdobrando ao conhecer em duas linhas a de ai oi ei ou quando se acham no fim das linhas a undécima na mesma posição final como o intento perder uma undécima as formas tre ê fue guie puie em lugar de tre e fui gui puí unidas empregadas no intervalo e no começo dos versos Em todo o poema havia de mais de 32 linhas com terminação aonde hendecassílabos reduzidos Retraçar não é menos favorável ao verso grave Em suas composições não chegam a meia dúzia os versos oxítonos então recomendarlhe em outra página que lhes dê ampla preferência Em segundo lugar porque é absurdo qualificar de hendecassílabos o verso que tem somente dez sílabas E será menos absurdo chamar por sua vez decassilabos aos versos largamente preponderantes que constam de onde sílabas bem contadas Provavelmente não foram bem as razões alegadas que induziramno a propor a novidade mas antes o sistema arbitrário que usou de dividir as linhas em metros devendo estes fechar sempre em sílaba tônica Claro é que desta maneira cada verso acusa uma sobra que fica suspensa no ar sem fazer parte de metro algum sobre a que se pretende fazer vista grossa com a nova contagem Sabemos que os poetas muitas vezes compõem estrofes que encerram linhas destinadas do tipo geral pelo número menor das sílabas com o propósito de dar impressão estacada da parada prematura mas não compreendemos a ficção do eclipsamento da átona terminal justamente nos versos mais sonoros e considerados capitais nem a consistência anomálica da metrificação a um sistema forçado contrário à índole da poesia portuguesa como espanhola e italiana Na contagem das sílabas do interior do verso fundemse frequentemente em sílaba única a terminação vocálica átona e o início vocálico da palavra imediata Costumase dizer que houve absorção ou elisão exigida pela técnica versificatória como se o fenômeno fosse alheio ao falar de todos os dias Se absorver elidir significam eliminar suprir ou incorporar uma coisa em outra não se dará isso senão em caso de serem as vogais em contato iguais ou parecidas Não há com quamor lede cego porquas mãos senão por hipótese Ninguém lê verso diferentemente da prosa comum absorvendo vogais em cada linha Nem há jeito de dar sumiço a algum dos fonemas em já a luz no assento e os barões etc E apesar de tudo isso sem fazermos violência à expressão usual os versos soam com o número exato de sílabas e o desejado movimento rítmico Examinemos o caso à luz da moderna fônica Duas ou mais vogais sucessivas proferidas destacadamente é fixe fazendo vibrar de novo as cordas vocais para cada qual valem por outras tantas sílabas ou elementos silabificados Proferidas porém com um só emissão de voz portanto ligadas produzem ditongos descendentes ou ascendentes e tritongos combinações que valem por uma sílaba ou parte de uma sílaba É este o nosso caso Achamonos em face do fenômeno de ditongação ou tritongação resultantes do contraste e pronúncia rápida de vogais pertencentes a palavras distintas Uá uá como em qual ritual quanto alvoroço alto prado amplo ué ué suelto doente em do arioso etc É tônico que se aproxima de i tônico pode combinarse com outra vogal formando ditongo descendente como em fréó ou ascendente it idá ou talvez passará é tônico a semivogal de um dím e os ús ou yás O gênio poético de Camões sentiu por vezes ser necessário sobreporse à usual e mecanizada contagem de sílabas O lento ou adágio que requerem os versos Ela por onde passa o ar e o vento Sereno faz com brando movimento IX 24 estendese ao verso imediato Já sobre os Idálios montes pende A segunda linha de Um Brame pessoa proeminente Pera o Gama vem com passo brando escreveuo poeta para ser lida com andamento lento em harmonia com os passos vagarosos dados no ato solene Seria de meu gosto recitar apressadamente a descrição do fenômeno crepuscular em que o sol pouco a pouco se vai sumindo no horizonte Dai o lento em Levava aos antípodas do dia Contraste de pensamentos e contraste na maneira de ler os versos em Lusíadas 5758 Ao alegro Abrolhos férreos mil passos estreitos Tranquilas balaurates lanças setas Tudo fico que rompas e sometas Às vezes oh sim derramam tão fraco Ritmo é o que nos impressiona quer a vista quer o ouvido pela sua repetição frequente com intervalos regulares Condição essencial deste conceito é que os nossos sentidos possam perceber com facilidade a reiteração A noção de ritmo não abrange fatos de cuja periodicidade regular ou por muito espaçada ou por demasiado rápida só nos certificamos a custa de reflexão e esforço intelectual Os olhos notam ritmo no andamento do pêndulo na marcha de um batalhão e não o percebem na carreira vez no rastejar O ouvido sente o toquetaque do relógio nas pancadas das horas no ruído da locomotiva e não o nota no tilintar do tímpano exterior no zunir dos motores em sons que se repetam com intervalos certos de horas ou dias O movimento chamado dactílico do tipo a pode aplicarse ao verso de oito sílabas até a pentâmila I A até a pentâmila do antigo dodecassílabo reduzido ou verso de onze largamente documentado nos Autos de Devoção de Gil Vicente Com a introdução do hendecassílabo segundo o modelo italiano a alternância ternária do tipo a não pode ir além da quarta sílaba rápida e declamatória e leitura não dão sempre o mesmo resultado Aplicamos aos grupos rítmicos de diversificação usada nas línguas modernas as denominações antigas de iam bo troque dáctilo etc sem pensar de modo algum em identificálos com os chamados pés da metrificação grecolatina Nomes não muito recomendáveis nem familiares a todos os leitores mas preferíveis a uma terminologia nova que seria ainda mais embarcante Os versos não deixariam de subsistir como movimento rítmico se se escrevessem seguidamente do mes mo modo que qualquer trecho em prosa Demandariam pois em caso de haver rima certo esforço para percebermos onde terminam uns e começam outros A genial ideia de os dispor em linhas não só acabou com esse inconveniente mas ainda obriga ao breve silêncio que se separa igual ao tempo que os olhos gastam em correr do fim a linha ao início de outra É rítmico este descanso da voz entre as unidades da estrofe descansando que o cavalgar de enjambem pode impedir Se a poesia recitada em viva voz ou cantada com acompanhamento de instrumento músico nasceu como parece antes da poesia escrita ela também se originou o sentimento de que não basta compor versos se melhantes em métrica uns aos outros mas que é essencial demandálos por um como a pausa que o ouvinte deve sentir A rima veio por delimitação em evidência A determinação das fortes e fracas depende do acen to vocabular da união das palavras em grupos expirató rios e do acento oracional e subordinação de uns vocá bulos a outros Toda palavra não proclítica nem enclítica tem uma sílaba de acentuação forte em relação à qual são fracas as restantes Posto que pareçam à primeira vista nivela das quanto à escassez de intensidade é certo que há vá rias gradações nas sílabas fracas Apurase o exame foné tico e o ouvido leigo prestando atenção distingue em geral uma tendência alternante de fraca e semiforte qualidade monumento proporcional Na própria pala vra esdrúxula varia a intensidade das duas últimas tépi do magnífico Sabe também dar vida com clemência A quem para perdêla não fez erro Em fez claro dar vida fez erro outra razão influi ain da no atenuamento evitar a colisão de duas sílabas igual mente fortes A regra falharia com formas verbais mais longas fariamos dissemos etc Duas sílabas fortes consecutivas porém pertencen tes a palavras diversas conservam o acento normal em qualquer hipótese desde que medeie entre elas uma pausa Que co braço dos seus Cristo peleja C Alves Caminho da virtude alto e fragoso Mas no fim doce e alegre IDEM Albatroz albatroz dáme estas asas C Alves Stamos em pleno mar Doido no espaço IDEM Nas combinações sem pausa de substantivo e adje tivo ou adjetivo e substantivo o movimento rítmico não suporta a colisão de duas sílabas fortes proferidas com intensidade rigorosamente igual Ou há ênfase no segu ndo vocábulo logo disparidade de pronúncia rei MOURO lei CERTA mar ALTO ou recuo por liberdade poética da acentuação final da primeira palavra para uma ou duas sílabas atrás conforme as exigências do ritmo Este fenô meno pode darse em combinações de várias espécies Dante recuou o acento em pur li justamente ali Contra o princípio geralmente observado de rematar o verso com fraca forte fraca iria o seguinte trecho dos Lusíadas se o acento de nação não se desloçasse sendo a linha composta segundo o esquema O lugar naturalmente indicado para a divisão em duas partes é sem dúvida o centro do verso mas a tradição menos rigorosa pode terse contentando em fixar a cesura em ponto mais ou menos próximo do centro O poeta desprezará por vezes a regra estabelecida O sentimento rítmico impedeo de abusar dessa liberdade Às duas partes nem sempre iguais em que o verso fica dividido pela cesura dáse o nome de hemistíquios A denominação cavalgamento é preferível não somente por ser portuguesa mas ainda porque nos permite fazer uso do verbo derivante em harmonia com o nome como sucede em francês com enjamben enjambement Dissemos que um verso cavalga por cima de outro quando o sentido da frase se interrompe no primeiro e se completa no segundo Eram já neste tempo meus irmãos Venci Linhas excessivamente curtas de uma duas sílabas A possibilidade de formar estrofes apreciáveis Que cansa Voavas Coas faces Em rosas Formosas De vivo Lascivo Carmim Na Valsa Tão falsa Corrias Fugias Ardente Contente Tranquila Serena Sem pena De mim Se delira E só por motivo seu GONZAGA Terra de pão e de vinho Quem a fez com seu sour Sua dor Seu carinho Sangue do seu coração A CORREIA DE OLIVEIRA Ó que saudades tamanhas Das montanhas Daqueles campos natais Daquele céu de sáfira Que se mira Que se mira nos cristais CASIMIRO DE ABREU Não se compõem poemas empregando somente o verso de quatro sílabas Alguns poetas como Espronceda entre os espanhóis chegam às vezes a formar estâncias inteiras com o tetrassílabo subordinadas todavia à textura geral do poema em versos de oito sílabas Marília bela Foi quem lha deu GONZAGA Foramlhe algozes Os seus extremos Mortais amemos Mas não assim GARÇÃO Se o peito morto Doce conforto Sentisse agora Na sua dor Talvez nestora Viver quisesse Na primavera De casto amor C DE ABREU Virgem das Dores Vem darme alento Neste momento De agor sofrer C ALVES Folha revolta Que anda no chão Lágrima solta Do coração Corpo sem vida Haste sem flor Folha caída Do meu amor J DE DEUS Deixai pesares Cantai louvores Ornai de flores Os seus altares IDEM O poeta ao compor versos de seis sílabas pode lançar mão de qualquer destas três formas a b c Esta última dá mais prazer ao ouvido já pelo movimento acentuadamente ondulatório já pela separação mais espaçada dos ictos Isto explica o vermos muitos poemas compostos unicamente com este ritmo anfíbráquico Exemplos das diversas espécies de hexassílabos Saudade e suspeitas A torto e a direito Não sereis desfeitas Quando eu for desfeito Inda o frio peito Inda a língua fria Por vós bradaria SÁ DE MIR A verdura amena Gados que pasceis Sabéis que a deveis Aos olhos de Helena Os ventos serena Faz flores de abrolhos O ar de seus olhos CAM A vista furtiva O riso imperfeito Fizeram a chaga Que abriste no peito Mais funda e maior GONZAGA João de Deus na graciosa poesia Amor e na humorística Amores amores não usou senão o ritmo anfíbráquico Lembrai de uma e outra apenas Não vês como eu sigo Teus passos não vês O cão do mendigo Não é mais amigo A vida é combate Que os fracos abate Que os fortes os bravos Só pode exaltar E assim por diante nas 10 estrofes dessa linda berceuse que exprime sentimentos e esperanças do valente Tamoio Sá de Miranda Camões e outros poetas admiradores e imitadores da versificação italiana ensinaramnos a empregar o verso de sete sílabas associado ao de onze em estâncias não isossilábicas Não importa que as linhas de sete sejam poucas ou muitas contanto que na estrofe figurem também linhas de onze O verso de sete em tais condições é um hendecassílabo quebrado Já na Canzone e na Ballata de Petrarca figuraram os versos de sete como hendecassílabos inacabados próprios para avivar a atenção do leitor e em harmonia rítmica com os hendecassílabos inteiros Modernamente João de Deus Castro Alves e outros empregam o verso de sete sílabas não somente em função secundária conforme a tradição mas ainda como Ofreu as cordas fere GONZAGA Como é fundo o sentir IDEM Ama um canto o pescador CASTRO ALVES Seja grande embora o crime IDEM Quando escuto o triste mocho A gemer no meu telhado Qualquer mal excogitado Não me deve algum temor Só receio que me agoure Mau sucesso ao meu amor GONZAGA III Gostavam do sol brilhante GONÇALVES DIAS Gostavam das vivas cores IDEM Desertos de branca areia IDEM As aves que aqui gorjeiam IDEM Não quero palavras falsas Não quero um olhar que minta IDEM Não há de mudar o mundo SÁ DE MIR Quem diz o que viu não mente IDEM A terra de aromas cheia As ondas beijando a areia E a lua beijando o mar CASIMIRO DE ABREU Envolta nas simples galas Cantando canções formosas IDEM Eu quero marchar com os ventos Ginte dos pensamentos CASTRO ALVES Em espanhol Recé con amor ardiente CAMPOAMOR Descansa perpetuamente IDEM Recuerdos del bien que huyó ESPRONCEDA Dobra a procela no céu CASTRO ALVES E erguese as lâminas frias Saltam bradando os heróis IDEM Pelas pedrinhas saltando CASIMIRO DE ABREU Segue depois seu caminho IDEM Vinha fitar as estrelas IDEM Deixa correr teu batel IDEM Deulhe o divino esplendor GUERRA JUNQUEIRO Em espanhol Muestran sus garras feroces CAMPOAMOR Siguen cantando las aves IDEM Vagan los aires suaves IDEM O verso de nove sílabas é o pariá das nossas formas poéticas Fazendo abstração do seu emprego na poesia cortês da Idade Média poesia calçada em moldes provençais sabemos que até meados do século findo e ainda depois os poetas de Portugal e do Brasil geralmente não o consideraram digno de ser contemplado em suas composições As tentativas de um ou dois escritores para vulgarizálo não encontraram imitadores Modernamente empenhamse os poetas em cultivar com carinho o alexandrino dos franceses a par do octossílabo e do hendecassílabo mas ninguém morre de amores pelo verso de nove sílabas Se o vemos usado com firmeza em algumas composições é que o autor Quer provar destreza em manejar versos tanto deste espécie como das outras mais I Tipo alternante fundamental comum a versos de qualquer extensão Não quero o Zeus Capitolino BILAC No verso de ouro engastado a rima IDEM O infante dorme o infante sonha RAIMUNDO CORREIA Demônios mil que ouvindoas digam IDEM Verás num longo rosto humano MACHADO DE ASSIS II Movimento anapéstico até a 6ª sílaba Sabes tu de um poeta enorme MACHADO DE ASSIS Com o riso de um deus enfermo IDEM Toda casta de bestas feras IDEM III A freqüente pausa depois da 4ª dá idéia de um tetrasílabo a que se acrescentasse um pentassílabo Vive às vezes na solidão MACHADO DE ASSIS Poupa a raiva do furacão IDEM Vagalumes e borboletas Roxas brancas rajadas pretas IDEM IV Difere do esquema precedente em ser forte a 4ª em vez da 3ª Alto porém tão alto soa RAIMUNDO CORREIA Que outro não eu a pedra corte BILAC O alvo cristal a pedra rara IDEM Corre desenha enfeita a imagem IDEM A forma clássica do decassílabo obedece ao esquema movimento anapéstico até a penúltima do verso grave Compreendo esse amargo sorriso Sobre as ondas correr eu quiser E de pé sobre a rocha indeciso Eu lhe brado não fujas espera Mas o vento já leva ligeiro Esse sonho querido dum dia Essa virgem de rosto fugueiro Esse rosto de tanta poesia CASIMIRO DE ABREU Essa regularidade rítmica em todas as linhas da estrofe permite utilizarse o decassílabo na poesia imitativa No Hino do Trabalho composto por A F de Castilho as palavras parecem acompanhar o ritmo das pancadas do martelo na bigorna Trabalhai meus irmãos que o trabalho É riqueza é virtude é vigor Dentro a orquestra da serra e do malho Brotando vida cidades amor A acentuação da sílaba terminal de cada grupo rítmico 3ª 6ª e 9ª do verso sobrepõese consideravelmente a ponto de soarem como relativamente fracas as antecedentes embora consideradas fora do verso tenham valor de sílabas fortes Exemplos bastantes no Canto do Piaga de Gonçalves Dias Ó guerreiros da taba sagrada Ó guerreiros do tribo tupí Falam deuses nos cantos do piaga Ó guerreiros meus cantos ouvi Esta noite era lua já morta Anhanhã me devera sonhar Eis na horrível caverna que habito Rouca voz começoume a chamar Abro os olhos inquieto medroso Manitós que prodígios que vi 83 A literatura portuguesa conhece três espécies de hendecassílabos o provençal o ibérico e o italiano O verso da primeira espécie foi como o de nove sílabas novidade introduzida na versificação portuguesa pela poesia cortesã imitadora do provençal Floresceu com essa poesia e com ela desapareceu não chegando a popularizarse Faltalhe feição característica o que também sucede com o hendecassílabo provençal tomado por modelo O hendecassílabo ibérico é forma resultante da omissão de uma sílaba fraca no verso de doze chamado de arte maior verso muito cultivado na Espanha nos séculos XIV e XV Linhas de onze sílabas podem usarse com bastante liberalidade entremeadas nas dominantes de doze Não se compunham poemas exclusivamente com versos de onze sílabas Consiste a redução principalmente em omitir no primeiro hemistíquio do decassílabo ou a inacentuada inicial ou a terminal Raras vezes recebia a eliminação no começo do segundo hemistíquio O movimento anfíbraco ou mais usado nos versos de doze dava portanto linhas deenze geralmente seguindo estes esquemas a Gil Vicente na poesia portuguesa nos oferece exemplos abundantes Destacando alguns do contexto apontaremos a Coisas que há de ser feitas per manha Como dormia debaixo da lousa Junto do termo de Vila Real Seguese logo se Cristo é Messias Não está estima nem dá nem promete Câmara cheia de Spiritó Santo Ser esta feira de maus compradores Fazem as compras na feira de Deus 86 Sejam notórias a Vossas Altezas Feito de nada por tanto compasso b Têm pés e não andam mãos e não palpam O sol escurece e a terra tremeu Pois só de levar a cruz tão pesada Chacota na mão fender os ouvidos A troco de cousas que há de trazer Aqui achareis as chaves dos céus Não vinha a faltar os corpos de mel Em outros poetas quinhtentistas deparamsenos apenas reminiscências dessas estruturas Dentro tão altas tão grossas paredes SÁ DE MIR Posto que todos Étiopes eram CAMÕES Quando daqueles que César mataram IDEM 87 Julgam por falsos ou mal entendidos IDEM Confrontemse estes versos com outros semelhantes em espanhol e italiano IDEM Del alma que consagro en tu memoria CAMPOAMOR Sus metalicos timbres dan al viento CAMPOAMOR III Variante do esquema III A primeira será tónica se se forçar a voz em atenção ao acento vocabular Carregandoa porém na terceira em leitura mais acelerada o que parece corresponder à intenção do poeta fica prejudicada a tonalidade inicial e o movimento rítmico destes versos identificase ao tipo III Alma minha gentil que te partiste CAMÕES Roja a Deus que teus anos encurtou IDEM Vendo o triste pastor que com enganos IDEM Di e notte chiammando il vostro nome PETRARCA IV Seguem este esquema os versos seguintes Mordemme sem cessar as bravas serpentes GONZAGA Desteme de beber da fonte eterna BILAC V Os versos desta espécie têm pausa depois da 4ª ou 5ª terminações respectivas de palavra oxítona ou paroxítona Talhas lhe punham duma e doutra banda CAMÕES Certo não tinhas um melhor amigo MACHADO DE ASSIS Quis alcançar os cimos elevados IDEM Sonhos talvez palácios encantados GONÇALVES DIAS Lança teu grito ao vento da procela CASTRO ALVES Ganhe um momento o que perderam anos Saiba morrer o que viver não soube BOCAGE Peça clarão ao sol perfume às flores GONÇALVES DIAS Nunca entrarei jamais o teu recinto BILAC Comparemse Vidi quel Bruto che cacciò Tarquinо DANTE Tenne la terra che il Soldan corregge IDEM VII O segundo hemistíquio é igual ao do tipo VI O primeiro começa por iambo em vez de troque Ameí outra com amor bem santo Os negros olhos de gentil donzela CASIMIRO DE ABREU O vento geme no feral cipreste O mocho pia na marmórea cruz S DE PASSOS Sacode as asas Levidade do espaço CASTRO ALVES Em manto impuro de bacante fria IDEM O grande nada dos heróis que tombam Do vasto pampa no funéreo chão IDEM O verso de doze sílabas obedece na sua forma tradicional de alternância ternária fixa a um movimento uniforme de extraordinária beleza Não se ajusta com a versificação atual que em matéria de versos longos prefere a variedade que lhe proporcionam o hendecassílab o e o alexandrino Poetas notáveis do século passado menos afeitos dos que os de hoje ao alexandrino cultivaram com amor e carinho o verso de doze sílabas e nos legaram no gênero composições lindas e insequenciais Tais são De precação Seus Olhos Sonho Se Eu Fosse Querido Gigante de Pedra em parte JIucaPirama em parte Marabá e outras de Gonçalves Dias Minha Mãe Na Rede Segredos de Casimiro de Abreu Crepúsculo Sertanejo O Flor na Flor de Castro Alves O Mendigo de Soares de Passos Desprezouse de todo o processo outro muito estimado como se vê no Cancioneiro de Beana e nas Obras de Devoção de Gil Vicente de inserir nas linhas de doze ou onze no verso agudo outras diminuídas ou aumentadas de uma duas e às vezes três sílabas Resulta o nosso verso do decassílabo do movimento anfíbraco duplicação do hexassílabo como este o do trissílabo O movimento prossegue por todos os versos das estrofes sem dar lugar a ritmos de outra espécie A agradável sonoridade pode ser razão bastante para o emprego desta forma poética muitas vezes porém era ela sugerida por alguma frase ou combinação de palavras com a cadência leitmotiv ou p ont de partida das ideias que se desenvolvem no poema hermis ticío inicial da primeira estrofe e que se reiteran em estrofes subsequentes O rima da expressão Gigante de pedra em parte daí originam os decassílabos das séries I III V da célebre composição do nosso Gonçalves Dias Em outra poesia do mesmo autor foi a frase Seus olhos tão negros de igual cadência índice da primeira estrofe a repetir nos estrofes 2ª 3ª 5ª e 11ª que motivou o uso desse ritmo em todas as linhas Semelhantemente sugere a Castro Alves o leitmotiv A Tarde morri o emprego de decassílabos na composição Crepúsculo Sertanejo Que belas as margens do rio possante Que ao largo espumante campeia sem parl Ali das bromélias nas flores douradas Há sílfos e fadas que fazem seu lar E em lindos cardumes Sutis vagalumes Acendem os lumes Pra o baile na flor E então nas arcadas Das pétlas douradas Os grilos em festa Começam na orquestra Febris a tocar E as breves Falenas Vão leves Serenas Em bando Girando Valsando Voando No art Poetas de tempos mais chegados a nós que ainda compõem versos de doze sílabas não se julgam obrigados a usar o metro clássico Guerra Junqueiro em A moleirinha imitando o ritmo de trotear miúdo e acelera do jumento a que segue em igual passo a moleira O verso de 13 sílabas segundo nossa contagem também chamado alexandrino nasceu em França e é na literatura desse país há muitos séculos o mais estimado de todos os versos Os poetas de Portugal e do Brasil deramlhe acolhida por meados do século findo e não tardaram em cultiválo com grande amor reconhecendolhe predicados que o tornam apto a rivalizar com o hendecássilabo e até excedelo em força e riqueza de expressão Sonetos já se fazem em versos de 13 como de 11 sílabas Nossas composições timbram os poetas em mostrar por meio de versos numerosos habilidade e segurança em manejar o alexandrino Muitas se apreciam e admiram pela pompa do estilo outras menos aparatosas fulguram entre as mais soberbas idéias da poesia objetiva Distinguemse nos poemas em alexandrinos o tipo clássico e o tipo romântico O verso na forma clássica tem acentuação forte não somente na 12ª sílaba mas também na 6ª sílaba terminando do primeiro hemistíquio O movimento rítmico até a última tônica obedece em qualquer dos hemistíquios a um destes quatro esquemas a b c d Formamse o alexandrinoquer pela repetição de um destes tipos quer pela combinação de dois diferentes O segundo hemistíquio abrange ou pode abranger mais uma sílaba átona que constituiu a 13ª do alexandrino A escola romântica faz uso de todas as combinações clássicas reage porém contra o rigorismo antigo deslocando muitas vezes a cesura central para outro ponto e fazendo largo emprego do cavalamento Tais versos por muito que se admirem pelo estilo elevado e pela genialidade do poeta perturbar um sentimento rítmico do leitor habituado a composições regulares quer em alexandrinos quer em versos de outra espécie Exemplificamos as combinações acima indicadas com que se forma o alexandrino clássico I Quebrouse a meditar as magras mãos cruzando BILAC Da saudade que punge e do amor que lacera IDEM Como o ar para o som como a luz para a cor RAIMUNDO CORREIA Há safras sem conta e brilhantes sem par GUERRA JUNQUEIRO Os impérios dos reis e os navios do mar IDEM Comparemse Son bonheur consistait aux beautés dun jardin LA FONTAINE Des ses arbres à fruit retranchait linutile IDEM La splendeur de son sort doit hâter sa ruine RACINE Mais je sens que bientôt ma douceur à bout IDEM Les sapins résineux que son bras a ployés CHÉNIER Il revient en dansant il ramène lamour IDEM Indompté dans la guerre opulent dans la paix IDEM Exemplos da literatura francesa Ne sait par cœur ce chant des amants adoré MUSSET Jaiime et je veux pâlir jaime et je veux souffrir IDEM Confrontemse Ombre des temps passés tu nes pas de cet âge MUSSET Mère de mes aieux ma nourrice et ma mère IDEM Pâle au milieu des morts un scalpel à la main IDEM Viens dun baiser de paix rassurer la douleur IDEM Sent de sa tête énorme éclater les débris CHENIER VIII Tua alma de mulher deve de palpit ar MACHADO DE ASSIS Perdera de uma vez numa só noite tudo IDEM Em torno a cada ninho anda bailando uma asa BILAC IX Neste fundo sentir nesta fascinação MACHADO DE ASSIS Vês com olhos do céu cousas que são do mundo IDEM Não lhes pede ilusões pedelhes só ternura IDEM Não conheço eu também esse cruel penar IDEM X Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora MACHADO DE ASSIS Que entre as flores brotou de uma rosa encarnada IDEM XI Casa rico jardim servas de toda a parte MACHADO DE ASSIS XII Berço em que se empr umou o meu primeiro idílio Terra em que floresceu o meu primeiro beijo BILAC Prends et puise bientôt changer ta destinée CHENIER Morto tendo no lábio um riso de criança G CRESPO XIII Hommes femmes enfants les rameaux à la main CHENIER Passa um velho judeu avarento e mesquinho GUERRA JUNQUEIRO A rima sendo cousa diferente de ritmo deve entretanto considerarse como seu complemento Num caso repetese a acentuação de espaço a espaço no mesmo verso n outro reiteramse sons do fim das linhas Poetas gregos e latinos da Antiguidade desconhecendo ainda o efeito maravilhoso da rima não a podiam empregar conscientemente Como intencional documentase pela primeira vez na Europa sob a forma de rima interna na literatura monástica medieval Reconhecida a vantagem de dar maior prazer ao ouvido com a transposição da homofonia para o fim dos versos introduziuse a rima final em cânticos e hinos da Igreja ideia estéticos dos clássicos modernos Mais profundidade e conexão mais íntima dos pensamentos requeriam variedade e outra disposição dos finais homófonos Nem as linhas emparelhadas diferentes de duas em duas realizavam perfeitamente o desideratum Davam a impressão de uma sua sucessiva frouxa de dísticos Preferiramse outros processos de rima o cruzamento abab o abraçamento abba e outras combinações em que a expectativa da rima se suspende pela interposição de uma ou mais linhas diferentes entre as quais podem ocorrer como no caso do abraçamento rimas sucessivas É dentro destas modalidades que modernamente se costumam compor as estrofes Ultrapassa a definição vulgar do termo rima mas resultam do mesmo motivo psicológico dar prazer ao ouvido pela repetição periódica o retorno a frases inteiras a pensamentos completos com o estribilho ou refrão e as linhas ou partes de linhas retomadas de estrofes anteriores e seguidas de novo desenvolvimento Aparecem algumas vezes na poesia lírica como outro elemento de beleza a par da rima habitual Na Europa da Idade Média compunhamse poesias vernáculas caracterizadas ora pela alteração rima das consoantes iniciais ora pela assonância ora pela rima final No século XIV vigorava por toda a parte somente esta última forma menos na Espanha onde a assonância resistiu ainda durante bastante tempo O gosto pelos estudos humanistas fez crer a alguns poetas que o ideal da métrica estaria nos antigos versos latinos Não há rimas em Horácio nem em Virgílio Logo condenavam eles tal escravidão Invertiam esses anseios de independência à ordem cronológica Os latinos não usaram isto é intencionalmente nem podiam discutir coisa de invenção posterior Fascinados pelos modelos clássicos os renovadores da poesia moderna trataram de libertála das cadeias en As composições poéticas apresentamse nos ora como uma série de versos longa e sem limite certo repartida às vezes em sub séries do mesmo gênero ora sob a forma de grupos de poucas linhas grupos geralmente semelhantes entre si pela estrutura e pela disposição das rimas Dáselhes o nome de estrofes estâncias e nas canções populares coplas As mais usadas contêm desde dois até dez doze versos ou pouco acima Estâncias muito compridas revelam talento e destreza invulgar dificultam todavia ao leitor a percepção nítida dos limites e correlação de estrutura entre umas e outras Podem imporse a admiração agradam porém geralmente mais os poemas compostos em estâncias menores não excedentes a oito dez versos As estrofes tomam nomes correspondentes ao número de linhas dístico do grego distichon dois versos ou parelha terceto quadrão ou quarteto sextilha oitava décima Faltam denominações especiais para as de sete e nove versos para as de onze e daí para cima O dístico largamente conhecido pelos adágios populares máximas epigramas etc em forma rimada tem aplicação em composições de maior fôlego Guerra Junqueiro rima aos pares e separa as linhas duas a duas em A Lágrima de que citamos Manhã de junho ardente Uma encosta escalvada Seca deserta e nua à beira duma estrada Terra ingrata onde a urze a custo desabrocha Bebendo o sol comendo o pó mordendo a rocha Sobre uma folha hostil duma figueira brava Mendiga que se nutre a pedregulho e lava A aurora desperdende compassiva e divina Uma lágrima etérea enorme e cristalina Láraima tão ideal tão límpida ao vêla De perto era um diamante de longe uma estrela Onde nada se perde nem se esquece E no dorso dos séculos trazido O nome de Anchieta resplandecendo Ao vivo nome do Brasil unido MACHADO DE ASSIS O terceto em italiano terzina foi provavelmente criado por Dante cuja Divina Comédia consiste em estrofes desta espécie Canteões compõe com este verso as elegias e em parte as eclogas António Ferreira e Diogo Bernardes escrevem em tercetos elegias eclogas em partes e cartas Hoje o horizonte poético é outro Raramente as composições em estrofes de três linhas salvo no só não terem obrigatoriamente por dois tercetos com as rimas dispostas do modo diferente dos poemas de maior fôlego cdc dcd cde ccd eed A QUADRA ou quartetto denominação erudita consta como o nome indica de quatro versos Tem sobre o dístico a vantagem de não deixar sombra de monotonia No quarteto se fundam estrofes mais longas A quadra comporta duas rimas diferentes mas pode limitarse a uma só que recairá nas linhas segunda e quarta Simbolizando as primeiras letras do alfabeto as linhas rimantes e as nãorimantes com a letra a a estrofe regular terá duas estas disposições a b a b rima alternada ou cruzada a b a b rima abraçada n a n a Podem também ser maiores os três primeiros versos e menor somente o último E o que era o teu amor que me embala Mais do que meios sons de megira lira Um dia do ofício não mais que um dia Fingimento e mentira GONÇALVES DIAS O número ímpar dos versos que compõem a quintilha obriga a deixar um deles geralmente o primeiro como verso solto ou a darlhe terminação igual à de outra linha Fómulas n a b a b n a b b a ou substituição nas mesmas de n por a ou b Estrofes de seis versos ou sextilhas compunhamse nas cantigas populares antigas com a homofonia final de menor esforço rima única e alternante que abrangia os versos 2 4 e 6 e 2 é variável de estrofe em estrofe As Sextilhas de Frei Antão por Gonçalves Dias dãonos excelente ideia da linguagem forma e estilo antigos Basta lembrar as seguintes Era aly na pedra raza O senhor rey Dom João Ante o velho sacerdote Fazia a sua oração As mãos em cruz sobre o peito Golhos postos no chão Quando tu passas naldeia Diz o povo a boca cheia Mulher mais linda não há Ai vejam como é bonita Coas tranças presa na fita Coas flores no samburá CASIMIRO DE ABREU A tua cor é mimosa Brilha mais da face a rosa Tem mais graça a boca breve O teu sorriso é delírio És alva da cor do lírio És clara da cor da neve CASTRO ALVES Muito estimada é a sextilha do mesmo tipo a a b c c b composta de versos de onze a a e c c e versos de sete sílabas b e b Os versos longos são geralmente graves os menores são de preferência agudos Um dia a taba do Tupi selvagem Tocava calma embaixo da folhagem Rangerra estranho pé O caboclo da rede ao chão saltava A seta ervada o barecuvava Estrugia o boré CASTRO ALVES À roda da bandeira sacrossanta Um povo esperança se levanta Infante e a sorrir A nação do letargo se desperta E livre marcha pela estrada aberta Às glorias do porvir CASIMIRO DE ABREU Em sextilhas de rima a a b c c b formadas de versos de oito e versos de quatro a ordem pode ser 8 8 4 8 8 8 4 ou 8 4 8 4 8 8 8 Que pequei eu bem conheço Mas castigo eu não mereço Por pecar Pois tu queres chamar crime Renderme à chama sublime Dum olhar CASIMIRO DE ABREU Eu nasci além dos mares Os meus lares Meus amores ficam lá Onde canta nos retiros Seus suspiros Suspiros o sabia IDEM Estrofes de sete versos não se empregam como frequência Faltalhes feição característica Casimiro de