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Capítulo I O OURO DA GUINÉ E O PRESTE JOÃO 14151499 As viagens de descobrimento dos Portugueses no oceano Atlântico parecem ter começado por volta de 1419 quatro anos depois da conquista de Ceuta aos Mouros Por motivos de ordem prática pode considerarse que a primeira etapa da expansão marítima europeia se iniciou numa destas datas Pode considerarse igualmente que esta etapa terminou com o regresso de Vasco da Gama a Lisboa em Julho de 1499 seis anos depois da realização por Cristóvão Colombo da épica viagem de descoberta das Antilhas Os Portugueses e os Espanhóis tinham tido precursões mais ou menos isolados na conquista do Atlântico e do Pacífico mas os esforços desses notáveis aventureiros não tinham alterado o curso da história mundial Foram encontradas moedas cartaginesas do século IV a c nos Açores e moedas romanas de datas posteriores na Venezuela em circunstâncias que sugeriam a possibilidade de para aí terem sido levados por barcos arrastados por tempestades nos tempos clássicos mas assim foi não há nada que nos garanta que esses barcos regressariam a Europa com as notícias Os Viquingues viajaram da Noruega e Islândia para a América do Norte várias vezes na Baixa Idade Média mas as suas últimas colônias deixadas ao abandono na Groenlândia haviam sucumbido aos rigores do tempo e aos ataques dos Esquimós no fim do século XV Algumas galeras mediterrânicas italianas e catalãs tinhamse aventurado em viagens de descobrimento no Atlântico nos séculos XIII e XIV Mas se bem que tivessem provavelmente avistado algumas ilhas dos Açores e da Madeira e redescoberto as Canárias as ilhas Afortunadas dos geógrafos romanos essas viagens isoladas não tiveram um prosseguimento sistemático Ficou apenas uma vaga lembrança dos irmãos Vivaldi uns genoveses que partiram em 1291 com a firme intenção de dobrar o continente africano pelo Sul e atingir a Índia por mar mas que desapareceram depois de passa rem o cabo Não na costa marroquina De igual modo se bem que juntos chinenses e japoneses arrastados por tempestades ocasionais possam ter alcançado involuntariamente a costa americana e embarcar em alguns locais do Pacífico polinésios do Havai colonizassem ilhas tão distantes como a Nova Zelândia esses fatos não alteraram o seu papel básico na América e da Austrália em relação aos outros continentes Nas terras euroasiáticas do mundo medieval Marco Pólo e outros exploradores quase todos italianos tinham viajado por terra desde as costas do mar Negro até ao mar da China no período 12401500 em que os Khans mongóis impunham a sua Pax Tartarica por toda a Ásia Central e ainda mais além Mas os relatos destes viajantes europeus dos prodígios e maravilhas do Oriente eram demusidos coloridos e fragmentários para darem ao mundo ocidental uma ideia precisa da Ásia E por de mais significativo que a fabulosa corte do Preste João e as viagens fantásticas do não existente sir John Mandeville tinham tido muito mais popularidade entre o público europeu do que as narrativas de Marco Pólo e de Frei Odorico de Pordenone embora houvesse também nestas muiexagere e confusões Alguns maias catalãs e miniurquinos do século XIV como o que foi desenhado para Carlos V de França em 1375 demonstraram uma convencimento surpreendentemente exato da região ocidental do Sudão e das rotas seguidas pelas caravanas de mercadores vindas do Norte da África e da sua passagem pelo Sara em direção à terra dos negros da Guiné Estas informações geográficas eram obtidas por mercadores judeus que podiam viajar com uma liberdade relativa através dos territórios islâmicos Não eram baseadas em conhecimento direto de cristãos europeus nem continham qualquer informação acerca da costa ocidental africana a sul do golfo da Guiné Grosso modo a maior parte dos mapas medievais refletia quer a concepção ptolomaica de que o oceano Índico era um mar interior quer a concepção macrochiana de um caminho aberto até ao Índico circumnavegando uma África Meridional muito distorcida Só depois de os Portugueses terem contornado a costa ocidental africana dobrado o cabo da Boa Esperança atravessado o oceano Índico e se terem fixado nas ilhas das especiarias da Indonésia e na costa do mar da China Meridional só depois de os Espanhóis terem atingido o mesmo objetivo através da Patagônia do Pacífico e das Filipinas nessa altura e só nessa altura é que uma ligação marítima regular e duradoura se iniciou entre os quatro grandes continentes CR BOXER O IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS 14151825 De 1402 em diante alguns monges e enviados étíopes chegaram à Europa via Jerusalém vindos do seu antigo e isolado reino cristão copta nas montanhas existentes entre o Nilo e o mar Vermelho Pelo menos um desses enviados conseguiu chegar a Lisboa em 1452 mas acontecimentos posteriores provaram que os Portugueses como outros europeus os conseguiram obter um conhecimento vago de como era onde se situava este país As versões mais extravagantes da lenda do Preste João como por exemplo a afirmação de que comiam à sua mesa de esmeraldas 30000 pessoas sentandose ao seu lado direito trinta arcebispos e ao seu lado esquerdo vinte bispos parece não terem circulado tanto em Portugal como noutros países europeus Mas em Portugal como em toda a parte acreditavase indubitavelmente que esse misterioso reisacerdote uma vez localizado em definitivo seria um aliado inestimável contra os muçulmanos quer fossem eles Turcos Egípcios Árabes ou Mouros No que diz respeito aos Portugueses esperavam encontrálo numa região africana onde poderia ajudálos contra os Mouros As múltiplas motivações impulsionadoras dos Descobrimentos portugueses estão claramente expressas nas bulas papais promulgadas ainda em vida do Infante D Henrique e no tempo dos seus O impulso de cruzada que no que diz respeito aos Portugueses era exclusivamente dirigido contra os muçulmanos de Marrocos e a procura do rei João de Gante foram bem depressa reforçados pela antiga lenda do Preste João Este potente mítico foi originalmente repovoado nas lendas pelo Europeus como o governante de um reino poderoso nas Índias um termo elástico e vago que incluía muitas vezes a Etiópia e a África Oriental bem como aquilo que era conhecido da Ásia Mais especificamente a Índia Próxima ou Menor significava aproximadamente a região Norte do subcontinente a Índia Distante do Maior a região Sul entre os costas de Malabar e de Coromandel e a Índia Média a Etiópia ou Abissínia Mas no princípio do século XV muito pouco gente possuía uma definição lida nítida das Índias e o termo Índias ou Índias da maior ou estas aplicava vagamente a qualquer regiões desconhecidas e misteriosas a este suleste do Mediterrâneo que num futuro próximo populações nativas inteiras ou pelo menos grandes peregrinas dessas possam ser livremente convertidas Desta modo a Coroa portuguesa tornouse senhora dum extenso domínio marítimo e estava animosa por manter o monopólio da navegação comércio e pesca nessas regiões que outros não aparecemse para colher o que os Portugueses tinham semeado nem os tentassem impedilas de alcançar o ponto culminante da sua obra Uma vez que esse abrirse interesses de Deus e da cristiandade o papa Nicolau V aqui decretou e declarou movi próprio que este monopólio de respeito não só a Ceuta e as regiões já conquistadas no futuro a sul dos cabos Bojador e Não até a Índia A legitimidade de quaisquer medidas tomadas pela Coroa portuguesa para salvaguardar este monopólio só explicitamente reconhecidas pelo papa Mais tarde os Portugueses recebem autorização papal para começarem com os Sarracenos nos locais onde julgarem oportuno fazêlo desde que não vendam as armas ou material de guerra aos inimigos da Fé O rei D Afonso V o Infante D Henrique e os seus sucessores são autorizados a construir igrejas mosteiros e pra loca e a enviar sacerdotes para administrarem os sacramentos nessas regiões não existe no entanto nenhuma referência explícita ao envio de missionários para pregarem o Evangelho aos pagãos Em qualquer lugar todas as práticas estão estritamente proibidas de infringir ou de interferir de qualquer maneira no monopólio português da descoberta conquista e comércio A importância desta última cláusula foi sublinhada pela proclamação solene desta bula na Sé de Lisboa em 5 de Outubro de 1455 na versão latina original e na tradução portuguesa e permitiram uma assistência em que se encontravam representantes das comunidades estrangeiras na capital portuguesa franceses ingleses castelhanos galegos e bascos convidandoos especialmente para a ocasião Na bula Iner caetera de 13 de Março de 1456 o papa Calixto III confirmava o que fora estabelecido pela Romanus Pontifex e a pedido de D Afonso V e do seu tio o Infante D Henrique concedia a Ordem de Cristo da qual este último era administrador e mestre a jurisdição espiritual sobre todas as regiões conquistadas pelos Portugueses no presente ou no futuro todos cabos Bojador e Não por via da Guiné e mais além para o Sul até às índias A bula determinava que o grãomestre da Ordem fundada em 1319 após a supressão dos Templários teria plenos poderes para nomear os delegados de todos os benefícios eclesiáticos quer do clero secular quer do clero regular impor censuras e outras penas eclesiásticas Todas estas regiões foram declaradas nullius diœcesis ie como não pertencentes a qualquer diocese Mais uma vez no anos mais tarde foi construído um castelo onde os Portugueses trocavam cavalos ledos objetos de cobre e trigo por pó de ouro escravos e fruta Assim tornouse assim o protótipo da cadeia de futuras fortificações que os Portugueses edificaram mais tarde ao longo de toda a costa africana a sul até às Molucas Com a chegada de ouro escravos e marfim em quantidades consideráveis a Portugal as expedições à África Ocidental organizadas pelo Infante começaram a tornarse lucrativas se não para o próprio Infante pelo menos para alguns dos participantes nessas viagens Os mercadores e armadores de Lisboa e do Porto que tinham demonstrado muito pouco interesse pelas viagens às costas áridos do Sara estavam agora ansiosos por participar nas expedições à Senegâmbia e às regiões a sul da Senegâmbia Alguns mercadores e nobres de destacada importância bem como membros da corte do Infante foram autorizados a fazêlo com uma licença concedida pelo Infante eu pelo Coroa Talvez seja útil lembrar muito resumidamente nesta altura em que consistia a obra de descoberta levada a cabo durante a vida do Infante D Henrique Quando estas viagens começaram por volta de 1419 o que era considerado limite sul do oceano Atlântico e da costa ocidental africana situavase na região do cabo Bojador exatamente a sul do paralelo 27 de hemisfério norte naquilo que é hoje o território espanhol do Rio do Ouro Este cabo projetase a vinte e cinco milhas a ocidente da costa A violência das viagens e das correntes na sua face norte os baixos existentes na proximidade a frequência do neveiro e da neblina em redor a dificuldade em voltar para o Norte por causa dos ventos predominantes foram no conjunto considerados como confirmação das histórias do qual segundo crença popular não havia possibilidade de regresso Uma vez doravante o temido cabo o prosseguimento foi relativamente rápido se bem que interrompido parcialmente devido ao entusiasmo do Infante pelas expedições guerreiras em Marrocos Essas expedições desviavam por vezes a sua atenção os seus homens e os seus navios para lá com resultados desastrosos pelo menos uma ocasião Uma expedição contra Tânger comandada por ele em 1437 foi cercada pelos Mouros e só foi autorizada a retirar dia pelos Portugueses no Atlântico permitiulhes também lançar as bases da moderna ciência náutica europeia Nos finais do século XV os melhores navegadores portugueses sabiam calcular com bastante precisão a sua posição no mar pela combinação da latitude observada com a cálcula e possuíam excelentes guias práticos de navegação roteiros para a costa ocidental africana Os seus principais instrumentos eram a bússola provavelmente de origem chinesa e conhecida por intermédio dos marinheiros árabes e mediterrânicos o astrolábio e o quadrante nas suas versões mais simples O chamado planisfério de Cantino de 1502 copiado por ou para um espólio italiano de original português que se perdeu prova um conhecimento extraordinariamente preciso da costa de África especialmente da costa ocidental a norte do rio Congo Mas muitos dos pilotos portugueses de alto mar continuavam sobre modo a confiar no conhecimento que tinham das Sinais da Natureza conhecimentos a cor e a corrente da água as espécies de peixes e de aves marinhas observadas em diferentes latitudes e posições as variedades de algas que encontravam etc Embora nada se saiba ainda ao certo até que ponto a procura de ouro foi um dos motivos que desde o início impulsionaram as viagens para o Sul ao longo da costa africana a atração pelo metal luzente desempenhou sem dúvida um papel importante na continuação dessas viagens a partir de 1442 Os Portugueses não conseguiram nunca descobrir a enganosa fonte do ouro oesteafricano à sudeste que como sabemos hoje era extraído sobretudo na região de Bambuk na Alto Senegal no Mali no Alto Níger e em Lohi na região central do Alto Volta Este ouro quase todo sob a forma de ouro em pó era originariamente transportado através dos reinos do Mali e do Gana sem qualquer relação com a república actual do mesmo nome até Túngubutu Aí era comerciado com mercadores árabes e mouros que transportavam em caravanas as camels através do Sara até aos Estados islâmicos do Norte de África cujos portos eram frequentados por comerciantes judeus genoveses venezianos e outros Na segunda metade do século XV através da sua feitoria fortificada de Arguim e de outras feitorias não fortificadas situadas na região costeira da Senegambia os Portugueses conseguiram desviar uma percentagem considerável deste comércio transariano para os seus próprios barcos e postos comerciais costeiros Este desvio do comércio transariano foi intensificado quando D João II ordenou a construção do castelo de São Jorge da Mina Elmina na Costa do Ouro em 1482 São Jorge da Mina cujo comércio ultrapassou rapidamente o de Arguim pôde dominar o comércio do ouro não só do Sudão Ocidental como também dos afluentes dos rios da própria Costa do Ouro A este castelo foi acrescido um outro mais pequeno erigido cerca de vinte anos mais tarde em Axim Nesse período os Portugueses mantinham um esforço ininterrupto e sistemático para desviar o comércio do ouro para a costa e os seus emissários tinham já ainda que passageiramente penetrado no interior até Túngubutu Nunca conseguiram estabelecer nenhuma das suas feitorias no interior e viramse obrigados a confiar a intermediários árabes o fornecimento do ouro que não conseguiam eles próprios extrair Mas a luta das caravelas portuguesas contra as caravanas mouros de camelos do Sarai teve como resultado a predominância das primeiras nos comércio do ouro por um período de cerca de 100 anos de 1450 a 1550 Durante o reinado de D Manuel I 14961521 importouse só de São Jorge da Mina um valor médio anual de 170 000 obras de ouro e em alguns anos a quantia foi ainda superior Se bem que os principais produtos que os Portugueses procuravam na Senegambia e na Guiné continuassem a ser os escravos e o ouro outros produtos oesteafricanos como a malaqueta ou grãosdoparaiso uma especiaria apreciada com a pimenta macacos e papagaio encontravam também um mercado lucrativo em Portugal Por altura da sua morte em 1460 o Infante D Henrique era a personificação de todo o comércio ao longo da costa ocidental africana mas isto não significa que se encarecesse ele próprio todo o comércio Pelo contrário podia e foio muitas vezes autorizar comerciantes privados e aventureiros a fazer viagens com a condição de pagarem um quinto dos lucros ou outra percentagem combinada Não se conhecem bem as condições em que foi continuado o comércio na década que se seguiu a norte do Infante mas em 1469 isso foi concedido numa base de contrato monopolista a um rico mercador de Lisboa Fernão Gomes reservandose a Coroa o direito de monopolizar umas quantas mercadorias valiosas Gomes obteve um óptimo lucro com base neste contrato e descobriu também cerca de 2000 milhas mais da costa africana para a Coroa Quando o contrato expirou em 1475 D Afonso V deu a direcção do comércio ao seu filho e herdeiro o infante D João e aquela tornouse e permaneceu um monopólio directamente administrado pela Coroa após a subida de D João ao trono em 1481 D João II o Príncipe Perfeito era um imperialista entusiástico e de vistas largas que tinha uma verdadeira paixão por África e pelos seus produtos fossem eles de natureza humana animal vegetal ou mineral Interessouse pessoalmente duma modo muito perspicaz pela direcção do comércio reservando para a Coroa o monopólio na importação de ouro escravos especiarias e marfim e a exportação de cavalos tapetes têxteis ingleses e irlandeses cobre cabedal utensílios de latão contas e pulseiras Os comerciantes privados desde que pagassem uma licença eram autorizados a importar artigos menos valiosos como por exemplo papagaios focas macacos têxteis de algodão e de rami etc Posteriormente a Coroa cedeu os direitos de importação de escravos e marfim a certos indivíduos especialmente favorecidos mas conservou sempre um monopólio estrito do ouro Claro que na realidade este monopólio não era de modo nenhum tão rígido e efectivo como aparece no papel Era impossível impedir as tripulações de comerciante por sua própria conta para já não falar dos oficiais e agentes reais e dos habitantes de Cabo Verde Este comércio oesteafricano tinha originariamente sido realizado com barcos equipados sobretudo em Lagos e noutros portos algarvios No fim do século XV encontravase em Lisboa onde era escorado pela Casa da Mina Esta Casa era um escritório e armazém da Coroa localizado no résdochão do palácio real junto ao estuário do Tejo de onde o rei podia vigiar pessoalmente o carregamento e o descarregamento dos navios As mercadorias com as quais os Portugueses compravam os escravos e o ouro africanos eram sobretudo de origem estrangeira o trigo vinha frequentemente de Marrocos das ilhas atlânticas da Europa Ocidental Os panos e os têxteis eram importados de Inglaterra da Irlanda da França e da Flandres se bem que também fossem utilizados têxteis fabricados em Portugal Os utensílios de latão e os estojos de vidro eram importados da Alemanha de Flandres e da Itália e as ostras das Canárias Muitos dos produtos importados da África Ocidental eram também reexportados por Portugal Uma grande quantidade de malaqueta ia para a Flandres e um grande número de escravos para a Espanha e para a Itália antes da descoberta e exploração da América ter deslocado para outra margem do Atlântico a quase totalidade do comércio de escravos O que teve talvez consequências mais importantes foi o facto de uma grande quantidade do ouro trazido da Guiné para Lisboa ter sido cunhado em cruzados e reexportado para pagar os cerais e os produtos manufacturados de que Portugal precisava Assim o ouro português vindo da África Ocidental ajudou por assim dizer a colocar Portugal no mapa de circulação monetária europeia Durante séculos certos tipos de moedas de ouro que circulavam na Europa Ocidental foram denominados portuguesas se bem que se tratasse de moedas cunhadas por exemplo em Zwolle e Hamburgo É mais difícil avaliar o efeito que este comércio teve na África Ocidental Cerca de 150 000 escravos negros foram provavelmente capturados pelos Portugueses no período que vai de 1450 a 1500 e como estes escravos eram frequentemente obtidos nas guerras interioranas no aumento do comércio esclavagista acentuou presumivelmente o estado de violência e de insegurança ou pelo menos não contribuiu em nada para a diminuir Os chefes e dirigentes africanos eram aqueles que mais beneficiavam das relações comerciais estabelecidas com os Portugueses e como já ora se o relatório de Pêro da Covilhãivesse chegado a Lisboa os Portugueses disporiam de ampla informação acerca dessas regiões Do mesmo modo Gama quando chegou a Calecute foi incapaz de distinguir os templos hindus das igrejas cristãs coisa que Covilhã deve seguramente ter sabido fazer e ter relatado depois das suas prolongadas visitas aos portos comerciais da costa de Malabar Por fim Vasco da Gama levava presentes sem nenhum valor para o governador de Calecut e os produtos comerciais menos adequados tecidos utensílios de latão contas e coisas do gênero para trocar por pimenta e outras especiarias que procurava ora Covilhã deve certamente ter afirmado que as especiarias só poderiam ser trocadas por ouro e prata Quer o rei de Portugal tenha ou não recebido o relatório o facto é que foi apenas a partir da década de 80 que os Portugueses começaram a ficar seriamente interessados na possibilidade de obterem o comércio de especiarias nas origens ou pelo menos muito para que preferiam viver no seu próprio país a viver em terras estranhas Acrescentou que os Portugueses e os Negros se davam melhor sendose a intervalos regulares de que vivendo como vizinhos muito próximos e que portanto era muito melhor que o comércio fosse continuado por navios visitantes como até então Azambuja que tinha ordenado D João II para construir o castelo com ou sem o consentimento do chefe persistiu no seu pedido e conseguiu extorquirlhe uma aceitação relutante Mas os chefes das tribos costeiras se não eram suficientemente fortes par impedir os corpos de construírem fortes na costa tinham força suficiente para os impedir de penetrar no interior em busca do ouro cobiçado Os Portugueses tal como os seus sucessores Holandeses e Ingleses tiveram de ficar nos seus fortes trocando tigelas de latão pulseiras contas tecidos e outros produtos comerciais por ouro marfim e escravos trazidos do interior por comerciantes africanos atraídos Na Costa do Ouro da Baixa Guiné os Portugueses utilizavam não só contactos pacíficos mas também demonstrações de poder e força como provam por exemplo os castelos de Mina 1482 e de Axím 1503 Foram construídos com o duplo objectivo de defenderem o comércio do ouro dos intrusos espanhóis e de outros europeus e de intimidar os tribos negras da costa por intermédio das quais era adquirido o ouro Este último objectivo não escapou a iniciativa do chefe negro local quando Diogo de Azambuja desembarcou com uma comitiva ricamente vestida e bem armada para colocar a primeira pedra do castelo da Mina em Janeiro de 1482 Este chefe dizia que os únicos portugueses que encontrava até então eram os que vinham todos os anos em caravelas para trocar mercadorias por ouro Esses marinheiros dizia ele eram indivíduos andrajosos e mal vestidos que ficavam satisfeitos com qualquer coisa que se lhes enregasse em troca das mercadorias que traziam Essa era a única razão da sua vinda àquelas regiões e o seu maior desejo era fazerem negócio depressa e voltarem para a sua terra da costa meridional africana voltou a Portugal com a notícia de que a rota matutina para as Índias estava com toda a evidência aberta A maioria dos emissários enviados por terra parece terse perdido mas um deles um escudeiro que sabia falar árabe chamado Pêro da Covilhã que partiu de Lisboa no mesmo ano que Bartolomeu Dias ainda estava ocidental da Índia em 1488 Visitou então o golfo Pérsico e a costa saúda da África Oriental provavelmente de Sofala Esta viagem aventureiros que durou mais de dois anos deulhe uma óptima visão do comércio do Índico em geral e do comércio de especiarias em particular Durante a viagem de regresso a Portugal nos fins de 1490 encontrou no Cairo um mensageiro do rei que lhe transmitiu a ordem de continuar até ao reino da Abissínia Pêro da Covilhã obedeceu enviando primeiro ao Cairo um relatório pormenorizado de todas as suas descobertas ao rei Foi recebido com todas as honras pelo imperador da Etiópia ou negus da Abissínia mas não foi autorizado a sair do país foilhe dada um monte de terras e teve de ficar no país até a sua morte que ocorreu cerca de trinta anos mais tarde Não se sabe ao certo o que se passou com Pêro da Covilhã de 14901491 chegou a Portugal proporcionando as informações que dispomos sobre este assunto são muito controversas Se é que chegou então D João II ficou a DISPODE um relatório em primeira mão acerca do comércio de especiarias do Índico e isso pode ajudar a explicar a razão pela qual foi dada a ordem de Vasco da Gama para se dirigir a Calecute na altura o empreendimento indiano mais importante do comércio de especiarias aquando sua viagem à Índia cerca de sete anos mais tarde No entanto Gama e os seus homens ficaram muito admirados com o elevado grau de civilização atingido pelas cidadesestados sulistas de Moçambique Mombaca e Melinde que visitaram durante a expedição até então a sua procura relativamente modesta de especiarias asiáticas tinha sido satisfeita pelas que conseguiam além como os outros europeus por intermédio dos Venezianos que as compravam a mercadores muçulmanos do império mameluco do grupo da Síria Dispomos de informação insuficiente acerca dos preços destas especiarias na segunda metade do século XV para sabermos exatamente quando e porque projectou D João II acabar com o monopólio venezianomameluco de especiarias mas o facto é que o fez As instruções dadas a Pêro da Covilhã em 1487 e a Vasco da Gama em 1497 são uma prova clara dessa sua intenção Pareceu provocarlhe que uma vez convencido de que podia descobrir o caminho marítimo para a Índia devia muito naturalmente ter considerado a possibilidade de desviar pelo menos parte do comércio de especiarias asiáticas das anteriores rotas terrestres para o oceano Atlântico não menos da mesma maneira que o comércio de ouro da Guiné tinha sido desviado dos camelos do Sara para as cavaleiras de São Jorge da Mina Seja como for que isso se tenha passado as palavras do discurso do debute proferido pelo enviado português Vasco Fernandes de Lucena ao papa em Dezembro de 1485 mostram que D João II estava a pensar alturas antes da viagem de Bartolomeu Dias e de Pêro da Covilhã convencido de que o descobrimento do caminho marítimo para a Índia era virtualmente seguro num futuro muito próximo Nesse discurso o enviado informa o papa no intereseque seu senhor de que se esperava que os navios portugueses chegassem brevemente ao Índico e estabelecessem contactos com o Preste João e com outros reis ou povos cristãos que se acreditava curiosamente existirem nas regiões muito obscuremente conhecidas obscurissima fama Não se fazia nenhuma referência às especiarias o que era aliás bastante natural Mesmo que D João II estivesse a planejar um ataque ao monopólio venezianomameluco teria sido uma temeridade loucura advertir de facto uma audiência papal tão concorrida em Roma O interesse de longa data de D João II pelo Preste João e o seu recente interesse pelas especiarias asiáticas foram herdados pelo seu sucessor D Manuel I Quando Vasco da Gama partiu para a sua famosa viagem em Julho de 1497 levava credenciais dirigidas ao Preste João e ao raja de Calecut juntamente com mostras de especiarias ouro e aljofar Tinha ordens para mostrar essas mercadorias aos habitantes de todas as regiões desconhecidas que pudesse visitar ao longo da costa de África na esperança de que esses povos pudessem reconhecer estes produtos preciosos e indicar por meio de sinais ou de intérpretes locais onde eles existissem
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narrativas de Marco Pólo e de Frei Odorico de Pordenone embora houvesse também nestas muiexagere e confusões Alguns maias catalãs e miniurquinos do século XIV como o que foi desenhado para Carlos V de França em 1375 demonstraram uma convencimento surpreendentemente exato da região ocidental do Sudão e das rotas seguidas pelas caravanas de mercadores vindas do Norte da África e da sua passagem pelo Sara em direção à terra dos negros da Guiné Estas informações geográficas eram obtidas por mercadores judeus que podiam viajar com uma liberdade relativa através dos territórios islâmicos Não eram baseadas em conhecimento direto de cristãos europeus nem continham qualquer informação acerca da costa ocidental africana a sul do golfo da Guiné Grosso modo a maior parte dos mapas medievais refletia quer a concepção ptolomaica de que o oceano Índico era um mar interior quer a concepção macrochiana de um caminho aberto até ao Índico circumnavegando uma África Meridional muito distorcida Só depois de os Portugueses terem contornado a costa ocidental africana dobrado o cabo da Boa Esperança atravessado o oceano Índico e se terem fixado nas ilhas das especiarias da Indonésia e na costa do mar da China Meridional só depois de os Espanhóis terem atingido o mesmo objetivo através da Patagônia do Pacífico e das Filipinas nessa altura e só nessa altura é que uma ligação marítima regular e duradoura se iniciou entre os quatro grandes continentes CR BOXER O IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS 14151825 De 1402 em diante alguns monges e enviados étíopes chegaram à Europa via Jerusalém vindos do seu antigo e isolado reino cristão copta nas montanhas existentes entre o Nilo e o mar Vermelho Pelo menos um desses enviados conseguiu chegar a Lisboa em 1452 mas acontecimentos posteriores provaram que os Portugueses como outros europeus os conseguiram obter um conhecimento vago de como era onde se situava este país As versões mais extravagantes da lenda do Preste João como por exemplo a afirmação de que comiam à sua mesa de esmeraldas 30000 pessoas sentandose ao seu lado direito trinta arcebispos e ao seu lado esquerdo vinte bispos parece não terem circulado tanto em Portugal como noutros países europeus Mas em Portugal como em toda a parte acreditavase indubitavelmente que esse misterioso reisacerdote uma vez localizado em definitivo seria um aliado inestimável contra os muçulmanos quer fossem eles Turcos Egípcios Árabes ou Mouros No que diz respeito aos Portugueses esperavam encontrálo numa região africana onde poderia ajudálos contra os Mouros As múltiplas motivações impulsionadoras dos Descobrimentos portugueses estão claramente expressas nas bulas papais promulgadas ainda em vida do Infante D Henrique e no tempo dos seus O impulso de cruzada que no que diz respeito aos Portugueses era exclusivamente dirigido contra os muçulmanos de Marrocos e a procura do rei João de Gante foram bem depressa reforçados pela antiga lenda do Preste João Este potente mítico foi originalmente repovoado nas lendas pelo Europeus como o governante de um reino poderoso nas Índias um termo elástico e vago que incluía muitas vezes a Etiópia e a África Oriental bem como aquilo que era conhecido da Ásia Mais especificamente a Índia Próxima ou Menor significava aproximadamente a região Norte do subcontinente a Índia Distante do Maior a região Sul entre os costas de Malabar e de Coromandel e a Índia Média a Etiópia ou Abissínia Mas no princípio do século XV muito pouco gente possuía uma definição lida nítida das Índias e o termo Índias ou Índias da maior ou estas aplicava vagamente a qualquer regiões desconhecidas e misteriosas a este suleste do Mediterrâneo que num futuro próximo populações nativas inteiras ou pelo menos grandes peregrinas dessas possam ser livremente convertidas Desta modo a Coroa portuguesa tornouse senhora dum extenso domínio marítimo e estava animosa por manter o monopólio da navegação comércio e pesca nessas regiões que outros não aparecemse para colher o que os Portugueses tinham semeado nem os tentassem impedilas de alcançar o ponto culminante da sua obra Uma vez que esse abrirse interesses de Deus e da cristiandade o papa Nicolau V aqui decretou e declarou movi próprio que este monopólio de respeito não só a Ceuta e as regiões já conquistadas no futuro a sul dos cabos Bojador e Não até a Índia A legitimidade de quaisquer medidas tomadas pela Coroa portuguesa para salvaguardar este monopólio só explicitamente reconhecidas pelo papa Mais tarde os Portugueses recebem autorização papal para começarem com os Sarracenos nos locais onde julgarem oportuno fazêlo desde que não vendam as armas ou material de guerra aos inimigos da Fé O rei D Afonso V o Infante D Henrique e os seus sucessores são autorizados a construir igrejas mosteiros e pra loca e a enviar sacerdotes para administrarem os sacramentos nessas regiões não existe no entanto nenhuma referência explícita ao envio de missionários para pregarem o Evangelho aos pagãos Em qualquer lugar todas as práticas estão estritamente proibidas de infringir ou de interferir de qualquer maneira no monopólio português da descoberta conquista e comércio A importância desta última cláusula foi sublinhada pela proclamação solene desta bula na Sé de Lisboa em 5 de Outubro de 1455 na versão latina original e na tradução portuguesa e permitiram uma assistência em que se encontravam representantes das comunidades estrangeiras na capital portuguesa franceses ingleses castelhanos galegos e bascos convidandoos especialmente para a ocasião Na bula Iner caetera de 13 de Março de 1456 o papa Calixto III confirmava o que fora estabelecido pela Romanus Pontifex e a pedido de D Afonso V e do seu tio o Infante D Henrique concedia a Ordem de Cristo da qual este último era administrador e mestre a jurisdição espiritual sobre todas as regiões conquistadas pelos Portugueses no presente ou no futuro todos cabos Bojador e Não por via da Guiné e mais além para o Sul até às índias A bula determinava que o grãomestre da Ordem fundada em 1319 após a supressão dos Templários teria plenos poderes para nomear os delegados de todos os benefícios eclesiáticos quer do clero secular quer do clero regular impor censuras e outras penas eclesiásticas Todas estas regiões foram declaradas nullius diœcesis ie como não pertencentes a qualquer diocese Mais uma vez no anos mais tarde foi construído um castelo onde os Portugueses trocavam cavalos ledos objetos de cobre e trigo por pó de ouro escravos e fruta Assim tornouse assim o protótipo da cadeia de futuras fortificações que os Portugueses edificaram mais tarde ao longo de toda a costa africana a sul até às Molucas Com a chegada de ouro escravos e marfim em quantidades consideráveis a Portugal as expedições à África Ocidental organizadas pelo Infante começaram a tornarse lucrativas se não para o próprio Infante pelo menos para alguns dos participantes nessas viagens Os mercadores e armadores de Lisboa e do Porto que tinham demonstrado muito pouco interesse pelas viagens às costas áridos do Sara estavam agora ansiosos por participar nas expedições à Senegâmbia e às regiões a sul da Senegâmbia Alguns mercadores e nobres de destacada importância bem como membros da corte do Infante foram autorizados a fazêlo com uma licença concedida pelo Infante eu pelo Coroa Talvez seja útil lembrar muito resumidamente nesta altura em que consistia a obra de descoberta levada a cabo durante a vida do Infante D Henrique Quando estas viagens começaram por volta de 1419 o que era considerado limite sul do oceano Atlântico e da costa ocidental africana situavase na região do cabo Bojador exatamente a sul do paralelo 27 de hemisfério norte naquilo que é hoje o território espanhol do Rio do Ouro Este cabo projetase a vinte e cinco milhas a ocidente da costa A violência das viagens e das correntes na sua face norte os baixos existentes na proximidade a frequência do neveiro e da neblina em redor a dificuldade em voltar para o Norte por causa dos ventos predominantes foram no conjunto considerados como confirmação das histórias do qual segundo crença popular não havia possibilidade de regresso Uma vez doravante o temido cabo o prosseguimento foi relativamente rápido se bem que interrompido parcialmente devido ao entusiasmo do Infante pelas expedições guerreiras em Marrocos Essas expedições desviavam por vezes a sua atenção os seus homens e os seus navios para lá com resultados desastrosos pelo menos uma ocasião Uma expedição contra Tânger comandada por ele em 1437 foi cercada pelos Mouros e só foi autorizada a retirar dia pelos Portugueses no Atlântico permitiulhes também lançar as bases da moderna ciência náutica europeia Nos finais do século XV os melhores navegadores portugueses sabiam calcular com bastante precisão a sua posição no mar pela combinação da latitude observada com a cálcula e possuíam excelentes guias práticos de navegação roteiros para a costa ocidental africana Os seus principais instrumentos eram a bússola provavelmente de origem chinesa e conhecida por intermédio dos marinheiros árabes e mediterrânicos o astrolábio e o quadrante nas suas versões mais simples O chamado planisfério de Cantino de 1502 copiado por ou para um espólio italiano de original português que se perdeu prova um conhecimento extraordinariamente preciso da costa de África especialmente da costa ocidental a norte do rio Congo Mas muitos dos pilotos portugueses de alto mar continuavam sobre modo a confiar no conhecimento que tinham das Sinais da Natureza conhecimentos a cor e a corrente da água as espécies de peixes e de aves marinhas observadas em diferentes latitudes e posições as variedades de algas que encontravam etc Embora nada se saiba ainda ao certo até que ponto a procura de ouro foi um dos motivos que desde o início impulsionaram as viagens para o Sul ao longo da costa africana a atração pelo metal luzente desempenhou sem dúvida um papel importante na continuação dessas viagens a partir de 1442 Os Portugueses não conseguiram nunca descobrir a enganosa fonte do ouro oesteafricano à sudeste que como sabemos hoje era extraído sobretudo na região de Bambuk na Alto Senegal no Mali no Alto Níger e em Lohi na região central do Alto Volta Este ouro quase todo sob a forma de ouro em pó era originariamente transportado através dos reinos do Mali e do Gana sem qualquer relação com a república actual do mesmo nome até Túngubutu Aí era comerciado com mercadores árabes e mouros que transportavam em caravanas as camels através do Sara até aos Estados islâmicos do Norte de África cujos portos eram frequentados por comerciantes judeus genoveses venezianos e outros Na segunda metade do século XV através da sua feitoria fortificada de Arguim e de outras feitorias não fortificadas situadas na região costeira da Senegambia os Portugueses conseguiram desviar uma percentagem considerável deste comércio transariano para os seus próprios barcos e postos comerciais costeiros Este desvio do comércio transariano foi intensificado quando D João II ordenou a construção do castelo de São Jorge da Mina Elmina na Costa do Ouro em 1482 São Jorge da Mina cujo comércio ultrapassou rapidamente o de Arguim pôde dominar o comércio do ouro não só do Sudão Ocidental como também dos afluentes dos rios da própria Costa do Ouro A este castelo foi acrescido um outro mais pequeno erigido cerca de vinte anos mais tarde em Axim Nesse período os Portugueses mantinham um esforço ininterrupto e sistemático para desviar o comércio do ouro para a costa e os seus emissários tinham já ainda que passageiramente penetrado no interior até Túngubutu Nunca conseguiram estabelecer nenhuma das suas feitorias no interior e viramse obrigados a confiar a intermediários árabes o fornecimento do ouro que não conseguiam eles próprios extrair Mas a luta das caravelas portuguesas contra as caravanas mouros de camelos do Sarai teve como resultado a predominância das primeiras nos comércio do ouro por um período de cerca de 100 anos de 1450 a 1550 Durante o reinado de D Manuel I 14961521 importouse só de São Jorge da Mina um valor médio anual de 170 000 obras de ouro e em alguns anos a quantia foi ainda superior Se bem que os principais produtos que os Portugueses procuravam na Senegambia e na Guiné continuassem a ser os escravos e o ouro outros produtos oesteafricanos como a malaqueta ou grãosdoparaiso uma especiaria apreciada com a pimenta macacos e papagaio encontravam também um mercado lucrativo em Portugal Por altura da sua morte em 1460 o Infante D Henrique era a personificação de todo o comércio ao longo da costa ocidental africana mas isto não significa que se encarecesse ele próprio todo o comércio Pelo contrário podia e foio muitas vezes autorizar comerciantes privados e aventureiros a fazer viagens com a condição de pagarem um quinto dos lucros ou outra percentagem combinada Não se conhecem bem as condições em que foi continuado o comércio na década que se seguiu a norte do Infante mas em 1469 isso foi concedido numa base de contrato monopolista a um rico mercador de Lisboa Fernão Gomes reservandose a Coroa o direito de monopolizar umas quantas mercadorias valiosas Gomes obteve um óptimo lucro com base neste contrato e descobriu também cerca de 2000 milhas mais da costa africana para a Coroa Quando o contrato expirou em 1475 D Afonso V deu a direcção do comércio ao seu filho e herdeiro o infante D João e aquela tornouse e permaneceu um monopólio directamente administrado pela Coroa após a subida de D João ao trono em 1481 D João II o Príncipe Perfeito era um imperialista entusiástico e de vistas largas que tinha uma verdadeira paixão por África e pelos seus produtos fossem eles de natureza humana animal vegetal ou mineral Interessouse pessoalmente duma modo muito perspicaz pela direcção do comércio reservando para a Coroa o monopólio na importação de ouro escravos especiarias e marfim e a exportação de cavalos tapetes têxteis ingleses e irlandeses cobre cabedal utensílios de latão contas e pulseiras Os comerciantes privados desde que pagassem uma licença eram autorizados a importar artigos menos valiosos como por exemplo papagaios focas macacos têxteis de algodão e de rami etc Posteriormente a Coroa cedeu os direitos de importação de escravos e marfim a certos indivíduos especialmente favorecidos mas conservou sempre um monopólio estrito do ouro Claro que na realidade este monopólio não era de modo nenhum tão rígido e efectivo como aparece no papel Era impossível impedir as tripulações de comerciante por sua própria conta para já não falar dos oficiais e agentes reais e dos habitantes de Cabo Verde Este comércio oesteafricano tinha originariamente sido realizado com barcos equipados sobretudo em Lagos e noutros portos algarvios No fim do século XV encontravase em Lisboa onde era escorado pela Casa da Mina Esta Casa era um escritório e armazém da Coroa localizado no résdochão do palácio real junto ao estuário do Tejo de onde o rei podia vigiar pessoalmente o carregamento e o descarregamento dos navios As mercadorias com as quais os Portugueses compravam os escravos e o ouro africanos eram sobretudo de origem estrangeira o trigo vinha frequentemente de Marrocos das ilhas atlânticas da Europa Ocidental Os panos e os têxteis eram importados de Inglaterra da Irlanda da França e da Flandres se bem que também fossem utilizados têxteis fabricados em Portugal Os utensílios de latão e os estojos de vidro eram importados da Alemanha de Flandres e da Itália e as ostras das Canárias Muitos dos produtos importados da África Ocidental eram também reexportados por Portugal Uma grande quantidade de malaqueta ia para a Flandres e um grande número de escravos para a Espanha e para a Itália antes da descoberta e exploração da América ter deslocado para outra margem do Atlântico a quase totalidade do comércio de escravos O que teve talvez consequências mais importantes foi o facto de uma grande quantidade do ouro trazido da Guiné para Lisboa ter sido cunhado em cruzados e reexportado para pagar os cerais e os produtos manufacturados de que Portugal precisava Assim o ouro português vindo da África Ocidental ajudou por assim dizer a colocar Portugal no mapa de circulação monetária europeia Durante séculos certos tipos de moedas de ouro que circulavam na Europa Ocidental foram denominados portuguesas se bem que se tratasse de moedas cunhadas por exemplo em Zwolle e Hamburgo É mais difícil avaliar o efeito que este comércio teve na África Ocidental Cerca de 150 000 escravos negros foram provavelmente capturados pelos Portugueses no período que vai de 1450 a 1500 e como estes escravos eram frequentemente obtidos nas guerras interioranas no aumento do comércio esclavagista acentuou presumivelmente o estado de violência e de insegurança ou pelo menos não contribuiu em nada para a diminuir Os chefes e dirigentes africanos eram aqueles que mais beneficiavam das relações comerciais estabelecidas com os Portugueses e como já ora se o relatório de Pêro da Covilhãivesse chegado a Lisboa os Portugueses disporiam de ampla informação acerca dessas regiões Do mesmo modo Gama quando chegou a Calecute foi incapaz de distinguir os templos hindus das igrejas cristãs coisa que Covilhã deve seguramente ter sabido fazer e ter relatado depois das suas prolongadas visitas aos portos comerciais da costa de Malabar Por fim Vasco da Gama levava presentes sem nenhum valor para o governador de Calecut e os produtos comerciais menos adequados tecidos utensílios de latão contas e coisas do gênero para trocar por pimenta e outras especiarias que procurava ora Covilhã deve certamente ter afirmado que as especiarias só poderiam ser trocadas por ouro e prata Quer o rei de Portugal tenha ou não recebido o relatório o facto é que foi apenas a partir da década de 80 que os Portugueses começaram a ficar seriamente interessados na possibilidade de obterem o comércio de especiarias nas origens ou pelo menos muito para que preferiam viver no seu próprio país a viver em terras estranhas Acrescentou que os Portugueses e os Negros se davam melhor sendose a intervalos regulares de que vivendo como vizinhos muito próximos e que portanto era muito melhor que o comércio fosse continuado por navios visitantes como até então Azambuja que tinha ordenado D João II para construir o castelo com ou sem o consentimento do chefe persistiu no seu pedido e conseguiu extorquirlhe uma aceitação relutante Mas os chefes das tribos costeiras se não eram suficientemente fortes par impedir os corpos de construírem fortes na costa tinham força suficiente para os impedir de penetrar no interior em busca do ouro cobiçado Os Portugueses tal como os seus sucessores Holandeses e Ingleses tiveram de ficar nos seus fortes trocando tigelas de latão pulseiras contas tecidos e outros produtos comerciais por ouro marfim e escravos trazidos do interior por comerciantes africanos atraídos Na Costa do Ouro da Baixa Guiné os Portugueses utilizavam não só contactos pacíficos mas também demonstrações de poder e força como provam por exemplo os castelos de Mina 1482 e de Axím 1503 Foram construídos com o duplo objectivo de defenderem o comércio do ouro dos intrusos espanhóis e de outros europeus e de intimidar os tribos negras da costa por intermédio das quais era adquirido o ouro Este último objectivo não escapou a iniciativa do chefe negro local quando Diogo de Azambuja desembarcou com uma comitiva ricamente vestida e bem armada para colocar a primeira pedra do castelo da Mina em Janeiro de 1482 Este chefe dizia que os únicos portugueses que encontrava até então eram os que vinham todos os anos em caravelas para trocar mercadorias por ouro Esses marinheiros dizia ele eram indivíduos andrajosos e mal vestidos que ficavam satisfeitos com qualquer coisa que se lhes enregasse em troca das mercadorias que traziam Essa era a única razão da sua vinda àquelas regiões e o seu maior desejo era fazerem negócio depressa e voltarem para a sua terra da costa meridional africana voltou a Portugal com a notícia de que a rota matutina para as Índias estava com toda a evidência aberta A maioria dos emissários enviados por terra parece terse perdido mas um deles um escudeiro que sabia falar árabe chamado Pêro da Covilhã que partiu de Lisboa no mesmo ano que Bartolomeu Dias ainda estava ocidental da Índia em 1488 Visitou então o golfo Pérsico e a costa saúda da África Oriental provavelmente de Sofala Esta viagem aventureiros que durou mais de dois anos deulhe uma óptima visão do comércio do Índico em geral e do comércio de especiarias em particular Durante a viagem de regresso a Portugal nos fins de 1490 encontrou no Cairo um mensageiro do rei que lhe transmitiu a ordem de continuar até ao reino da Abissínia Pêro da Covilhã obedeceu enviando primeiro ao Cairo um relatório pormenorizado de todas as suas descobertas ao rei Foi recebido com todas as honras pelo imperador da Etiópia ou negus da Abissínia mas não foi autorizado a sair do país foilhe dada um monte de terras e teve de ficar no país até a sua morte que ocorreu cerca de trinta anos mais tarde Não se sabe ao certo o que se passou com Pêro da Covilhã de 14901491 chegou a Portugal proporcionando as informações que dispomos sobre este assunto são muito controversas Se é que chegou então D João II ficou a DISPODE um relatório em primeira mão acerca do comércio de especiarias do Índico e isso pode ajudar a explicar a razão pela qual foi dada a ordem de Vasco da Gama para se dirigir a Calecute na altura o empreendimento indiano mais importante do comércio de especiarias aquando sua viagem à Índia cerca de sete anos mais tarde No entanto Gama e os seus homens ficaram muito admirados com o elevado grau de civilização atingido pelas cidadesestados sulistas de Moçambique Mombaca e Melinde que visitaram durante a expedição até então a sua procura relativamente modesta de especiarias asiáticas tinha sido satisfeita pelas que conseguiam além como os outros europeus por intermédio dos Venezianos que as compravam a mercadores muçulmanos do império mameluco do grupo da Síria Dispomos de informação insuficiente acerca dos preços destas especiarias na segunda metade do século XV para sabermos exatamente quando e porque projectou D João II acabar com o monopólio venezianomameluco de especiarias mas o facto é que o fez As instruções dadas a Pêro da Covilhã em 1487 e a Vasco da Gama em 1497 são uma prova clara dessa sua intenção Pareceu provocarlhe que uma vez convencido de que podia descobrir o caminho marítimo para a Índia devia muito naturalmente ter considerado a possibilidade de desviar pelo menos parte do comércio de especiarias asiáticas das anteriores rotas terrestres para o oceano Atlântico não menos da mesma maneira que o comércio de ouro da Guiné tinha sido desviado dos camelos do Sara para as cavaleiras de São Jorge da Mina Seja como for que isso se tenha passado as palavras do discurso do debute proferido pelo enviado português Vasco Fernandes de Lucena ao papa em Dezembro de 1485 mostram que D João II estava a pensar alturas antes da viagem de Bartolomeu Dias e de Pêro da Covilhã convencido de que o descobrimento do caminho marítimo para a Índia era virtualmente seguro num futuro muito próximo Nesse discurso o enviado informa o papa no intereseque seu senhor de que se esperava que os navios portugueses chegassem brevemente ao Índico e estabelecessem contactos com o Preste João e com outros reis ou povos cristãos que se acreditava curiosamente existirem nas regiões muito obscuremente conhecidas obscurissima fama Não se fazia nenhuma referência às especiarias o que era aliás bastante natural Mesmo que D João II estivesse a planejar um ataque ao monopólio venezianomameluco teria sido uma temeridade loucura advertir de facto uma audiência papal tão concorrida em Roma O interesse de longa data de D João II pelo Preste João e o seu recente interesse pelas especiarias asiáticas foram herdados pelo seu sucessor D Manuel I Quando Vasco da Gama partiu para a sua famosa viagem em Julho de 1497 levava credenciais dirigidas ao Preste João e ao raja de Calecut juntamente com mostras de especiarias ouro e aljofar Tinha ordens para mostrar essas mercadorias aos habitantes de todas as regiões desconhecidas que pudesse visitar ao longo da costa de África na esperança de que esses povos pudessem reconhecer estes produtos preciosos e indicar por meio de sinais ou de intérpretes locais onde eles existissem