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INSTRUMENTOS BÁSICOS PARA O CUIDAR Um Desafio para a Qualidade de Assistência Tamara Iwanow Cianciarullo Atheneu Instrumentos Básicos para o Cuidar Um Desafio para a Qualidade de Assistência TAMARA IWANOW CIANCIARULLO EnfermeiraDoutora em Ciências Sociais LivreDocente e Professor Titular pela Universidade de São Paulo Professora do Curso de PósGraduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo Atheneu EDITORA ATHENEU São Paulo Rua Jesuíno Pascoal 30 Tels 11 33319186 2230143 2222199 R 25 26 28 e 30 Fax 11 2235313 Email edatheterracombr Rio de Janeiro Rua Bambina 74 Tel 21 25391295 Fax 21 25381284 Email atheneuatheneucombr Ribeirão Preto Rua Barão do Amazonas 1435 Tel 16 6368950 6365422 Fax 16 6363889 Belo Horizonte Rua Domingos Vieira 319 Conj I104 PLANEJAMENTO GRÁFICOCAPA Equipe Atheneu Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP Câmara Brasileira do Livro SP Brasil Instrumentos básicos para o cuidar um desafio para a qualidade de assistência Tamara Iwanow Cianciarullo organizadora São Paulo Editora Atheneu 2003 Vários autores 1 Enfermagem Teoria 2 Horta Wanda de Aguiar 1 Cianciarullo Tamara Iwanow 962469 CDD61073 NLMWY 100 índices para catálogo sistemático 1 Enfermagem Cuidados básicos Ciências médicas 61073 2 Enfermagem Instrumentos básicos Ciências médicas 61073 CIANCIARULLO TI Instrumentos Básicos para o Cuidar Um Desafio para a Qualidade de Assistência 1ª edição 3ª reimpressão Direitos reservados à EDITORA ATHENEU São Paulo Rio de Janeiro Belo Horizonte 2003 Colaboradores MARIA CLARA CASSULI MATHEUS EnfermeiraMestre em Enfermagem Professor Assistente do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo NAZARÉ PELLIZETTI EnfermeiraMestranda da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo OLGA GUILHERMINA DIAS FARAH EnfermeiraMestranda da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo Docente da Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein ROSALI ISABEL BARDUCHI OHL EnfermeiraMestre em Enfermagem Professor Assistente da Disciplina de Fundamentos de Enfermagem e Enfermagem MédicoCirúrgica do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo ROSE MEIRE IMANICHE FUGITA EnfermeiraMestranda em Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo Docente da Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein SUELI SUEKO VISIT ZANEL EnfermeiraMestranda da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo Docente da Disciplina de Fundamentos de Enfermagem e Enfermagem MédicoCirúrgica do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo TAMARA IWANOW CIANCIARULLO EnfermeiraDoutora em Ciências Sociais LivreDocente e Professor Titular pela Universidade de São Paulo Professora do Curso de PósGraduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo YEDA APARECIDA DE OLIVEIRA DUARTE EnfermeiraMestre em Enfermagem Professor Assistente da Disciplina de Fundamentos de Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo Apresentação Há mais de vinte anos a Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo vem desenvolvendo processos de ensinoaprendizagem em nível de graduação e de pósgraduação fundamentados nos instrumentos básicos de enfermagem precionizados por Wanda de Aguiar Horta A subárea de concentração do curso de pósgraduação em nível de mestrado iniciada em 1973 mantém ainda hoje os pressupostos estabelecidos pela professora que idealizou formas diferenciadas de visualização da enfermagem brasileira colocando à nossa disposição novas maneiras de fazer e pensar em enfermagem Conscientes deste legado os alunos de dois grupos distintos desta subárea resolveram atender a uma demanda que eles próprios definiram como importante para o ensino de fundamentos de enfermagem no Brasil e produziram em conjunto esta obra Cada um dos instrumentos foi exaustivamente analisado em sala de aula e a seguir apresentado sob a forma escrita objetivando críticas e sugestões dos colegas e da professora gerando um conjunto de capítulos sugeridos que por si só constituíram em elo de ligação entre o que se definiu como instrumentos básicos de enfermagem e o que a literatura correlata apresentava sob diferentes óticas de diferentes profissionais O resultado me parece que será um ponto de partida para novas formas de usar aplicar estudar e validar ou não o que hoje na literatura brasileira de enfermagem chamamos de instrumentos básicos de enfermagem A cada um dos autores dos capítulos desta obra o meu reconhecimento pelo esforço e dedicação tendo em vista que a sua finalização deuse após o término dos créditos de mestrado exigindo um empenho extraordinário por parte de cada um em se dispor a reescrever revisar e rediscutir suas ideias Cabe ainda destacar que esperase a contribuição dos usuários professores alunos e enfermeiros para as sugestões que se caracterizarem como necessárias para uma melhor utilização desta obra na assistência e na educação Tamara Iwanow Cianciarullo Sumário 1 Instrumentos Básicos Como Usálos na Enfermagem 1 Tamara Iwanow Cianciarullo 2 Observação em Enfermagem 5 Maria Clara Cassul Matheus Rose Meire Imanichi Fugita Ana Cristina de Sá 3 Método Científico Instrumento Básico da Enfermeira 25 Lucimar Aparecida Barrense Nogueira Sampaio Nazareth Pellizzetti 4 Princípios Científicos como Instrumento Básico de Enfermagem 39 Arthur Bites Junior Fernanda Carneiro Mussi Rosali Isabel Barduch Ohl Yeda Aparecida de Oliveira Duarte 5 A Criatividade como Instrumento Básico em Enfermagem 47 Ana Cristina de Sá Rose Meire Imanichi Fugita 6 Comunicação como Instrumento Básico em Enfermagem 61 Arthur Bites Júnior Maria Clara Cassul Matheus 7 Trabalho em Equipe Instrumento Básico de Enfermagem 75 Ana Aparecida Sánchez Bersusa Grazia Maria Guerra Riccio 8 O Planejamento como Instrumento Básico do Enfermeiro 99 Olga Guilhermina Dias Farah Rose Meire Imanichi Fugita 9 Avaliação Um Instrumento Básico de Enfermagem 111 Suely Sueko Visk Zanei Consuelo Garcia Silva Grazia Maria Guerra Riccio Nazareth Pellizzetti 10 Destreza Manual Habilidade Psicomotora Um Instrumento Básico de Enfermagem 137 Yeda Aparecida de Oliveira Duarte Fernanda Carneiro Mussi Suely Sueko Visk Zanei 11 Os Instrumentos Básicos no Desenvolvimento do Processo Cuidativo Aprendizagem e Aplicação 151 Tamara Iwanow Cianciarullo Instrumentos Básicos Como Usálos na Enfermagem Tamara Iwanow Cianciarrullo Não há dúvidas de que os instrumentos básicos de enfermagem IBE preconizados por Wanda de Aguiar Horta em sua concepção sobre as atividades das enfermeiras ao executarem os cuidados de enfermagem constituem um enfoque atual e central da enfermagem Apesar dos poucos estudos realizados nas últimas décadas sobre os instrumentos básicos no Brasil destacase a importância deste no contexto das disciplinas de enfermagem fundamental que representam em quase todas as escolas de enfermagem as bases para a prática profissional Além deste fato alguns professores da área caracterizam e classificam o desenvolvimento do aluno em função da utilização de alguns instrumentos básicos específicos como por exemplo a observação a comunicação os princípios científicos a destreza manual entre outros Percebendose pelas publicações existentes sobre o assunto uma preocupação relacionada à inserção dos instrumentos básicos no contexto do corpo de conhecimentos específicos da enfermagem o início de qualquer estudo sobre o tema deve darse no âmbito de sua conceituação Nesta ótica a análise do termo e de sua utilização passa a ser importante como base para o desenvolvimento do conhecimento orientado da prática da enfermagem Instrumentos são recursos empregados para se alcançar um objetivo ou conseguir um resultado Na enfermagem esta palavra associada ao termo básico referese ao conjunto de conhecimentos e habilidades fundamentais para o exercício das atividades profissionais mental da realidade sob a ótica perceptual do autor a partir de sua experiência suas crenças e seus valores O termo instrumento básico tem sido usado na enfermagem para caracterizar alguns conhecimentos e habilidades como específicos no âmbito profissional e constitui parte importante do conteúdo programático de algumas disciplinas como Fundamentos de Enfermagem Enfermagem Psiquiátrica e Administração Aplicada à Enfermagem entre outras As disciplinas de iniciação à enfermagem como Enfermagem Fundamental e Introdução à Enfermagem têm a ensinar o conjunto dos instrumentos básicos A observação e a comunicação constituem um forte componente das disciplinas com enfoque no relacionamento terapêutico e o planejamento e o trabalho em equipe são parte do conteúdo programático das disciplinas de administração aplicada à enfermagem A prescrição de enfermagem caracteriza uma definição dos diagnósticos de enfermagem prioritários por parte do enfermeiro e uma subsequente determinação das intervenções ou ações de enfermagem necessárias para a solução dos problemas definindo o uso do planejamento em relação às prioridades a avaliação das ações ou intervenções mais adequadas aos diagnósticos identificados e a comunicação como instrumento de divulgação dos processos definidos pelas instruções propostas 2 Observação em Enfermagem Maria Clara Cassuli Matheus Rose Meire Imanichi Fugita Ana Cristina de Sá INTRODUÇÃO O ato de observar é indispensável para que nos tornemos conscientes do nosso cotidiano da realidade em que estamos inseridos do mundo em que vivemos A enfermagem a partir de Florence Nightingale em 1859 começou a ter um cunho científico A observação foi então valorizada pois tornava a prática profissional mais que um simples cumprimento de tarefas A observação é o primeiro passo para a execução de todos os cuidados de enfermagem Assim fica evidente que a habilidade de observar vai decidir o sucesso ou fracasso do processo curativo pois é a observação que nos dará subsídios para a construção deste processo Mas o que é observar Segundo Horta observação é a ação ou efeito de observar isto é olhar com atenção para examinar com minúcia atenção que se dá a certas coisas Olhar com atenção implica a utilização da percepção visual Porém entendemos que observamos o mundo através de todos os órgãos dos sentidos olfato audição visão gustação e tato Desta forma observar e perceber com todos os órgãos dos sentidos o mundo que nos rodeia Nas nossas percepções podem sofrer influências de experiências expectativas motivações e emoções podendo alterar o resultado de nossas observações Tabela 21 Classificação dos Tipos de Observação Meios Utilizados Participação do Observador Número de Observadores Lugar onde se Realiza Sistemaática Assistemática Participante NãoParticpante Individual Em Equipe Vida Real Laboratório OBSERVAÇÃO ASSISTEMÁTICA As observações assistemáticas ou não estruturadas são aquelas que realizamos espontaneamente sem utilizarmos meios técnicos especiais roteiros ou perguntas específicas Aquilo que caracteriza a observação assistematica é o fato de o conhecimento ser obtido através de uma experiência casual sem que se tenha determinado de antemão quais os aspectos relevantes a serem observados e que meios utilizar para observálos O êxito desta técnica vai depender da atenção e perspicácia do observador ou melhor da sua capacidade de perceber todos os detalhes de uma situação ou fenômeno Esta técnica de observação pode ser mais apropriada quando queremos compreender de maneira mais profunda a conduta e as situações sociais humanas pois a observação assistemática é mais flexível permitindo uma maior liberdade para percebermos todos os aspectos envolvidos A quantidade de dados que podemos colher com este tipo de observação pode ser imensa Se por um lado isto a torna mais rica e completa por outro pode haver dificuldades no momento em que precisamos organizar esses dados Podemos citar como exemplo os roteiros de entrevista e exame físico que utilizamos para coletar dados do paciente Esses instrumentos são elaborados contendo os itens a serem observados e como deve ser classificado cada detalhe da observação Assim este roteiro utilizado na observação sistematizada pode ter a forma de um quadro check list escala etc A grande vantagem da observação sistematizada é que os dados já são colhidos de forma organizada além do que o mesmo roteiro pode ser utilizado por diversos observadores desde que eles compreendam as situações e os detalhes da mesma forma Mas é importante alertar que falarse a mesma língua não só não exclui que existam grandes diferenças no vocabulário mas que significados e interpretações diferentes podem ser dados a palavras categorias escalas e expressões aparentemente idênticas OBSERVAÇÃO NÃO PARTICIPANTE Como o próprio nome diz na observação não participante o observador é um espectador O observado toma contato com a realidade a ser observada mas não se integra a ela não participa Cabe ressaltar ainda que os diversos tipos de observação podem coexistir Isto quer dizer que uma observação não participante pode ser também sistemática ou assistemática Lembremos que a escolha do tipo de observação utilizada ficará na dependência do fenômeno ou situação que queremos estudar OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE A observação participante é aquela que acontece quando o observador propositadamente ou não integrase ao grupo ou ao contexto que está observando Nesta situação o observador e o observado estão lado a lado tornandose o observador um membro do grupo de modo a vivenciar o que eles vivenciam e trabalhar dentro do sistema de referência deles Este tipo de observação pode ser apropriado quando queremos estudar os valores de um grupo qual a dinâmica dos relacionamentos etc Na observação participante podemse obter respostas ou dados sem ter que fazer perguntas pois o observador convive com o observado O nível de participação num dado contexto que desejamos observar pode variar com a fase do estudo Assim se no início é necessário mais observação que participação até para ganhar a confiança do grupo com o decorrer do tempo a profundidade das observações irá depender das relações pessoais e da participação do observador OBSERVAÇÃO INDIVIDUAL Como o próprio nome indica a observação individual é aquela feita por uma única pessoa Nesse caso os dados colhidos são decorrentes da personalidade do observer que se projeta sobre o observado Se esse fato assegura uma certa objetividade sobre o observado por outro lado corremos o risco de fazermos distorções e inferências pessoais Mas esse aspecto pode ser contornado se ao anotar os dados indicamos quais são os eventos reais e quais nossas interpretações OBSERVAÇÃO EM EQUIPE Este termo observação em equipe é utilizado quando nos referimos à observação feita por diversas pessoas e cada qual observa um aspecto da mesma situação Todos os componentes da equipe de enfermagem fazem observações do paciente cada qual dentro de seu âmbito profissional e legal Estas observações são organizadas pelo enfermeiro que então faz o planejamento da assistência de enfermagem a ser prestada ao paciente Outros autores dizem que a observação em equipe pode assumir diferentes formas cada observador utiliza uma técnica para observar cada um observa um aspecto diferente ou todos observam a mesma situação e confrontam suas observações OBSERVAÇÃO NA VIDA REAL Quando a observação é feita e registrada no momento em que ocorre denominase observação na vida real O fato de registrar um dado simultaneamente à observação reduz a tendência que temos em selecionar detalhes ou mesmo de esquecêlos Mas além da rapidez e destreza em observar e anotar ao mesmo tempo é necessário estabelecer as ocasiões delimitar o tempo e a possibilidade de estarmos presentes no momento em que ocorre o fenômeno que queremos observar As anotações de enfermagem são um exemplo deste tipo de observação pois são feitas no momento que ocorre uma intercrência com o paciente ao checarmos uma medicação que foi administrada OBSERVAÇÃO EM LABORATÓRIO A observação em laboratório é aquela realizada dentro de condições estabelecidas onde os fatores que podem interferir na ocorrência de um fato ou fenômeno são controlados Quando regulamos um respirador artificial estabelecendo limites de padrões respiratórios que farão soar alarmes estamos estabelecendo os fatores que desencadearão ações de enfermagem Normalmente o observador utiliza além de seus órgãos dos sentidos instrumentos que permitem colher dados mais refinados Porém muitos aspectos da vida humana não podem ser observados sob condições idealizadas no laboratório A HABILIDADE DE OBSERVAR Qualquer que seja o tipo de observação utilizada ele é em si mesmo o método de colher dados mais sucessível a erro As pessoas que observam devem então se tornar bons instrumentos para colher dados Essas autoras propõem que o observador tenha de modo claro o que ele quer observar Desta forma mesmo nas observações assistemáticas o observador sabe o que procura Também o observador deve ser capaz de manter a atenção concentrada em estado de alerta para perceber com todos os órgãos dos sentidos a situação observada A habilidade para observar também depende do conhecimento do observador Quem nada aprendeu nada pode observar Em uma situação de enfermagem por exemplo Quais os cuidados que daríamos a um paciente que está com edema agudo de pulmão se não soubermos observar e detectar quais seus sinais e sintomas O conhecimento do observador pode ser visto sob outro ângulo e está relacionado à peculiaridade Que o fato pessoa ou fenômeno a ser observado possui Existem dificuldades em observarmos aquilo que nos é familiar quando comparadas às dificuldades em se observar o exótico Estaremos frente a um fenômeno que sempre vemos ou encontramos não assegura que este seja conhecido Ou seja estar habituado a um fato não implica que conheçamos todos os seus aspectos Continuando no mesmo exemplo citado sabermos os sinais e sintomas do edema agudo de pulmão não quer dizer que todos os pacientes quando estiverem entrando neste quadro apresentarão todos os mesmos sinais e sintomas Com certeza somos capazes de descrever uma observação de uma situação correria para nós em nos atermos a detalhes às vezes decisivos para a compreensão daquela situação Outro aspecto que pode garantir a qualidade da observação é o que alguns autores chamam de meios para verificar se o observador se envolveu a ponto de ter uma visão tendenciosa do fenômeno Para isto propõem que o observador confronte o que está percebendo da realidade com aquilo que esperava encontrar ou então comparar as primeiras anotações do que observou com as que surgiram mais tarde Se as percepções e anotações forem muito parecidas ele deve desconfiar de si mesmo pois pode estar querendo confirmar ideias preconcebidas de desenvolvimento do ser humano física e mentalmente através da observação e da memória O desenvolvimento por outro lado nos proporciona a atribuição de certas qualidades afetivas aos objetos percebidos Assim certos objetos podem mudar em nossa percepção quase como numa distorção quanto a seu sentido Por exemplo um pedaço de tubo metálico inicialmente percebido como sem utilidade pode ser percebido pelo enfermeiro da área cirúrgica como um respiro de um frasco de drenagem torácica um foco de luz percebido como um objeto de mobiliá pode vir a ser percebido como um meio de aplicar calor de forma terapêutica e assim por diante O que ocorre é que os sentidos percebidos dos mesmos objetos que constituem as percepções iniciais e finais podem ser tão diferentes que às vezes parecem objetos inteiramente diversos para a pessoa Portanto a observação necessita de treino para que a percepção dos objetos sofra o mínimo possível de distorções pelo que denominamos sentimentos e emoções no nosso caso os objetos de observação se constituem no pacientecliente e demais fenômenos que se inserem no mundo perceptual do enfermiero Há diferenças individuais no entanto que são características nas respostas aos estímulos internos e externos ao indivíduo que devem ser consideradas Porém podese motivar e treinar o ser humano a habituarse e a treinar sua observação com um objetivo definido através do experienciar de padrões de estímulo e da atenção seletiva Esse treinamento deve ocorrer desde a formação educacional do enfermeiro para que esse possa desenvolver sua capacidade de observador conforme a necessidade de seu fazer profissional IMAGEM E PERCEPÇÃO Há diferentes tipos de imagens em nosso campo perceptual Assim como podemos ver ouvir cheirar degustar ou palpar objetos fisicamente presentes podemos ver objetos que não estão no meio físico Por exemplo podemos sentir o odor de éter nesse momento sem que haja essa substância por perto podemos ouvir o barulho de um aspirador sem que haja algum sendo utilizado Basta lembrarmonos dessas sensações Os indivíduos diferem ainda em sua capacidade perceptual quanto a preferências alguns têm preferência visual outros auditiva Um indivíduo predominantemente auditivo por exemplo ao lembrarse de alguém pensa primeiramente no som da voz dessa pessoa A maioria das pessoas parece se enquadrar num tipo misto porém sempre com uma tendência maior a um ou outro tipo O que pretendemos deixar claro é que imagens são mais fluídas e menos intensas que percepções diretas do objeto real o que é fundamental para determinar a fidelidade da observação realizada Imagens são muito mais ligadas a emoções do que as percepções imagens são mais subjetivas e percepções são fenômenos mais objetivos exceto quando são distorcidas por problemas de ordem orgânica e psicológica Reafirmamos portanto que a percepção pode ser treinada a partir de estímulos que envolvam os diversos órgãos dos sentidos aguçando a capacidade e a eficiência da observação Podese estimular a memória tátil sensação térmica aspereza maciez relevo etc visual para cores formas etc gustativa ácido dor etc auditiva sons vibrantes suaves ritmos rápidos lentos etc As variáveis simples que compõem o ambiente possuem segundo a gestalt uma lei de combinação ou seja uma forma de arranjar o todo harmoniosamente Aquilo que destoa da harmonia do todo da cena observada gera no observador uma sensação de incômodo O ser humano e o ambiente estão em constante interação e em troca contínua de energia através de padrões rítmicos Dessa forma um padrão energético diferente gera uma percepção diferenciada do todo Clarividência é algo racional se vista sob o ângulo da interação simultânea entre os campos humano e ambiental assim como eventos como a psicometria o toque terapêutico a telepatia e uma infinidade de fenômenos Rogers Tais colocações nos levam a refletir a fenomenologia tão forte na gestalt e na Teoria de enfermagem de Rogers não seria um caminho para se repensar o fenômeno da observação na Enfermagem e em sua importância como instrumento básico na arte de cuidar do ser humano com vistas a ampliarmos nosso campo perceptual e nossa visão de mundo Sendo a observação um ato humano certos fatores como o estado emocional valores pessoais envolvimento interesse preconceitos podem contribuir positiva ou negativamente durante uma observação A observação na assistência de enfermagem a observação é um ato hábito ou poder de ver notar e perceber é a faculdade de observar é prestar atenção para aprender alguma coisa é examinar contemplar e notar algo através da atenção dirigida A observação permeia toda e qualquer atividade humana inclusive como sendo um instrumento essencial para o desenvolvimento da ciência A observação é um dos instrumentos básicos que o enfermeiro necessita para planejar e executar sua assistência especializada Afinal é a partir da observação treinada e sistematizada que esse profissional coletará dados que lhe permitirão chegar a um diagnóstico da situação que se apresenta a sua frente Assim poderá escolher qual o método mais adequado que deverá utilizar objetivando resultados positivos na arte da ciência cuidadativa A observação aguçase com a prática contínua da enfermagem A vida profissional vai nos proporcionando o lapidar dos sentidos de forma a perceber e imperceptível Observamos comportamentos colorações de pele padrões respiratórios ritmos cardíacos expressões faciais odores aspectos de incisões alterações em níveis de consciência exsudatos secreções etc Portanto a fazer da enfermagem depende de um observar constante cuja consequência é o direcionamento das ações do enfermeiro e equipe em prol da assistência do ser humano A consequência natural da observação é uma decisão para atuar ou não em relação ao que é observado Orlando IJ pelo enfermeiro e que lhe confere pela prática constante um elevado grau de capacidade para avaliação clínica A identificação da natureza e da provável causa do problema de um paciente exige que o enfermeiro mantenhase como um sistema aberto a receber informações através da observação Um sistema aberto é aquele que proporciona condições para receber e trocar muito mais informações com os demais sistemas que o cercam ampliando sua capacidade perceptual Perguntamos a alguns enfermeiros assistenciais se gostariam de nos dar algum depoimento sobre o Instrumento Básico observação Um deles nos fala da observação como ponto de partida para o assistir Observar é para mim o instrumento mais importante do ponto de vista do enfermeiro que está na assistência direta A observação permeia tudo para planejar para resolver problemas para criar ou improvisar nas horas mais agitadas É a partir da observação que você vai tomar consciência de como dividirá o seu tempo num dia de trabalho e vai detectar o que precisará priorizar ou mudar para que tudo corra bem A 15 anos como enfermeira assistencial Outro nos dá um alerta creio que o enfermeiro precisa dar importância ao que observa em seu trabalho diário pois pode incorrer no erro de olhar e não querer Muitas vezes vemos um problema mas não o enxergamos e ele acaba se tornando rotina deixando de ser percebido como problema Por isso colocar a observação como uma ferramenta básica de reflexão e melhoria do nosso trabalho D cinco anos de experiência profissional Bujack et al e Polit e Hungler afirmam que o exercício da observação nos traz a possibilidade de aprendizado inovação e do desenvolvimento de estratégias de planejamento da assistência de enfermagem O que se pode concluir na realidade é que a eficiência clínica e administrativa do enfermeiro muito dependerá de sua capacidade de observação Este instrumento básico está diretamente ligado a uma melhor performance desse profissional no planejamento e execução das ações de enfermagem Talvez até se possa colocar esse o mais importante instrumento básico necessário à prática da enfermagem pois é um dos únicos que se interrelaciona com todos os outros instrumentos levandonos a colocálo como o primeiro a ser abordado neste livro A lição prática mais importante que pode ser dada a enfermeiras é ensinarlhes o que observar como observar os sinais e sintomas que indicam melhora do estado do doente os que indicam o contrário quais são os de importância os de nenhuma importância quais as evidências de negligência e que tipo de negligência Nightingale RELAÇÕES DA OBSERVAÇÃO COM O ENSINO DA ENFERMAGEM Antes de colocarmos as relações da observação com o ensino da Enfermagem vale explicitar algumas informações sobre como se dá a observação e consequentemente a percepção em qualquer situação do nosso cotidiano A partir destas informações tentaremos ir clareando como se dá o processo ensino aprendizado enfocando o papel da observação Não podemos negar que grande parte do que aprendemos se dá através da observação Desde o início de nossas vidas observando uns aos outros aprendemos regras tipos de comportamentos estilos de discurso vocabulário Ou seja grande parte do que aprendemos o fazemos observando como os outros fazem dizem ou falam Mas não queremos dizer com isto que aquilo que aprendemos por observação é simples e pura imitação Como já enfatizamos no início do capítulo cada um observará um fato segundo seus valores visão de mundo permitindo ir além do que vemos ou ouvimos Como percebemos o mundo dependerá de nossas experiências expectativas emoções e motivações além de fatores externos como o meio ambiente e a cultura Porém perceber implica uma série de atividades cognitivas como atenção consciência e memória Estas atividades também estão relacionadas à capacidade fisiológica que cada pessoa possui em detectar um estímulo o fato a ser observado converter este estímulo transmitilo ao cérebro e processar esta informação ou estímulo Todos estes fatos nos permitem afirmar que para um estudante inclusive o de enfermagem aprender a observar e aprender pela observação depende dele mesmo e das condições que o professor lhe possibilitar para que o processo ensinoaprendizagem ocorra Quando utilizamos as demonstrações práticas de um procedimento de enfermagem estemos propiciando ao aluno aprender por observação A vantagem desta estratégia é que o aluno pode manipular materiais memorizar a sequência das etapas de um procedimento errar e acertar longe da presença de um paciente o que poderia aumentar a dificuldade de aprender Mas em campo clínico no ambiente natural do exercício da profissão que o aluno completará seu aprendizado Neste momento o aluno em um ambiente novo para ele estará enfrentando um verdadeiro bombardeio de estímulos isto é fatos que devem ser observados e processados para que a aprendizagem ocorra Nesta situação é muito comum o aluno não enxergar tudo pois como dissemos no início do capítulo são inúmeras as dificuldades para se diferenciar aquilo que para nós é exótico Assim a nosso ver cabe ao professor propiciar um tempo respeitando as diferenças individuais para que o aluno se habitue ao ambiente e vá mostrando a ele o que como e para que observar até que o aluno consiga enxergar o paciente como um todo Mas com o andamento da prática o aluno vai adquirindo conhecimentos que possibilitarão observar sinais e sintomas alterações de comportamentos e maneiras de agir de um paciente E através destas observações e conhecimentos que o aluno vai aprendendo a cuidar de um paciente por inteiro Por outro lado já vimos que existem vários tipos de observações e que cada uma é mais apropriada em uma dada situação Por isso cabe lembrarmos que o professor independentemente de sua concepção de mundo de seus valores deve estimular o desenvolvimento de todos os tipos de observação e mais validando a percepção do aluno Desta forma estaremos dando a oportunidade para que o aluno desenvolva suas potencialidades como ser humano e por consequência como futuro enfermeiro A observação também está relacionada ao cotidiano do professor Ele se vale de sua habilidade em observar para adequar estratégias de ensino planejar os conteúdos programáticos e para avaliar o aluno Hickman e Vaughan mostram como a análise dos dados de observações feitas por alunos de enfermagem subsidiaram mudanças em suas estratégias de ensino Para exemplificar como utilizar a observação no contexto do ensino da enfermagem propomos algumas situações que podem ser observadas pelo aluno e pelo professor É importante também que tanto o professor quanto o aluno reflitam sobre qual o melhor tipo de observação que poderá utilizar para cada situação PROPOSTAS DE SITUAÇÕES QUE O ALUNO PODE OBSERVAR O que eu como aluno de enfermagem posso fazer para que o paciente se sinta à vontade em conversar comigo Quais as atividades que a enfermeira da unidade que estou estagiando desenvolve Embasada em que dados consigo planejar a assistência de enfermagem para o paciente que está sob meus cuidados Quanto tempo levo para prestar cuidados de higiene a um paciente acamado Que fatores aumentam o tempo para prestar estes cuidados PROPOSTAS DE SITUAÇÕES QUE OS PROFESSORES PODEM OBSERVAR Que tipo de pacientes os alunos de enfermagem mais tocam Quantas vezes o aluno de enfermagem deve treinar a passagem de sonda vesical em laboratório de enfermagem para que na prática não contamine a sonda vesical Qual a relação que existe entre o valor de notas que uma aluna alcança durante o curso e sua expectativa de realização profissional Em relação à avaliação cabe relembrar e alertar também que o professor deve ser capaz de observar um comportamento com o propósito de descrever um evento unido à disposição mental sabendo que esta altera o modo como ele vê o comportamento do aluno algumas vezes alterando sua percepção 26 Assim para avaliar um aluno é conveniente que o professor utilize mais do que uma forma de observar e que as observações ocorram em momentos diferentes para que ele possa enxergar o aluno por todos os lados Além disto gostaríamos de frisar que a utilização do Instrumento Básico Observação pode nos mostrar o grau de envolvimento de conhecimento de sensibilidade e de percepção seja o professor aluno ou enfermeiro tem com seu meio O ensino e o desenvolvimento da habilidade de observar influencia na prestação de cuidados de enfermagem que o aluno vai prestar como futuro profissional A ênfase na noção de observação terá como conseqüência a formação de um profissional mais atento e mais apto na prática de enfermagem Desta forma a atitude do enfermeiro frente às noções fundamentais que sustentam a enfermagem terá maior possibilidade de ser bem estabelecida Dias8 A UTILIZAÇÃO DA OBSERVAÇÃO NA PESQUISA EM ENFERMAGEM A observação é um instrumento essencial ao pesquisador pois constituise no principal recurso utilizado para se coletar dados Uma observação científica envolve a seleção sistemática a observação e o registro de comportamentos e situações relevantes para um problema sob investigação 20 Ao utilizarmos a observação para compreensão do fenômeno estudado evitamos que os resultados obtidos sejam meras suposições e conjecturas O pesquisador deve observar diretamente os fatos exatamente como estão ocorrendo na natureza Assim sendo é necessário que saiba o que observar tendo um foco que o direcione um problema específico ou hipóteses a serem testadas Outro aspecto importante é como o pesquisador observa o que implica a adequação de sua forma de observar caso contrário poderá perder dados significativos para a pesquisa As observações do pesquisador devem ser feitas com atenção utilizando todos os órgãos dos sentidos exatas e completas descrever fielmente a realidade encontrada precisas quantificando os dados sempre que possível e sucessivas e metódicas permitindo maior exatidão na observação de certos aspectos do fenômeno Devemos mencionar também que o pesquisador deve conferir importância a tudo que está sendo observado não descartando dados que possam vir a ser significativos para a compreensão do fenômeno A observação na pesquisa implica que os dados não são obtidos apenas por meio de entrevistas e questionários onde as respostas verbal eou escrita constituemse no foco principal ou apenas pela mensuração dos resultados de uma pesquisa experimental O significado das ações dos sujeitos e o contexto em que ocorrem surgem como dados significativos para a compreensão do pesquisador O tipo de pesquisa irá determinar o grau de estrutura da observação e o grau de participação do pesquisador As pesquisas quantitativas são relacionadas à mensuração do fenômeno características conceitos ou coisas e buscam descrever o quanto de uma característica está presente 23 Neste tipo de pesquisa utilizamse geralmente observações estruturadas Estas observações podem ocorrer em situações de campo ou em experimentos controlados em laboratório O pesquisador pode fazer inferências e exercer julgamentos porém restringese ao fenômeno que será observado e registrado deve formular um sistema para categorizar registrar e codificar as observações e amostras do objeto de estudo 20 Nas observações estruturadas o pesquisador está ciente dos aspectos significativos para seus objetivos de pesquisa e portanto elabora previamente um plano para a coleta de dados e para a realização e registro das observações 22 Nas pesquisas quantitativas o pesquisador não participa não se envolve na comunidade estudada Este limitase a registrar os eventos e comportase como uma pessoa neutra Como exemplo na enfermagem podemos citar a pesquisa de Watanabe 29 Watanabe 1989 analisou o teor residual de óxido de etileno etilenocloridrina e etilenglicol em sondas endotraqueais Verificou sondas de diversos diâmetros internos em função dos tipos de embalagens e colocações nas diversas posições no interior da câmara esterilizadora Os teores residuais foram observados através de cromatógrafo gasoso Neste estudo a pesquisadora utilizouse da observação em laboratório fazendo uso de um instrumento o cromatógrafo para refinar a coleta de dados Quanto às pesquisas qualitativas estas têm o ambiente natural como fonte direta dos dados e o pesquisador como instrumentochave É descritiva com análise indutiva dos dados e valoriza o processo e não simplesmente os resultados e o produto O objetivo dessa pesquisa de campo é entender o comportamento e experiências de pessoas conforme estas realmente ocorram nos ambientes naturais Portanto as observações e registros de dados ocorrem com o mínimo de estrutura e interferência do pesquisador Segundo Politt e Hungler nestas pesquisas conhecidas como observação participante o investigador participa das atividades do grupo investigado o que permite a observação e registro de informações dentro do contexto estrutura e símbolos relevantes para os membros do grupo A pesquisa de Gualda é um exemplo desta abordagem qualitativa Gualda 1992 estudou o cuidado as crenças valores e significados atribuídos à experiência do parte de um grupo de mulheres faveladas Durante um ano a pesquisadora manteve contato com mulheres que tiveram experiência em parto domiciliar ou hospitalar que prestaram ajuda em parto domiciliar com representantes leigos religiosos funcionários da prefeitura e líderes comunitários Os dados foram coletados por meio de observação participante do contexto onde vivem estas mulheres entrevistas abertas semiestruturadas e conversas informais com informantes Para a coleta foram utilizadas máquinas fotográficas e gravadores mas o principal meio utilizado foram as notas de campo resumidas e complementadas posteriormente ao final de cada período de observação Eram anotados também dados referentes à subjetividade da pesquisadora Muitas vezes observamos na nossa prática profissional diária fatos e situações que nos trazem inquietações Estas inquietações podem constituirse em nosso foco de indagação a partir do qual iremos proceder às nossas pesquisas em enfermagem Dessa forma a observação contribui para o crescimento científico da enfermagem CONSIDERAÇÕES FINAIS Observar significa trazer o mundo para dentro de nós Percebêlo para entendêlo Cada tipo de observação será mais apropriada dependendo da situação que queremos estudar perceber Assim cada pessoa cada enfermeiro procurará as situações a serem observadas segundo a concepção de mundo de homem e de seus valores e experiências de vida É o somatório destas observações que permitirá construir através do método científico e formar o conjunto de conhecimentos de nossa profissão BIBLIOGRAFIA 1 Ander Egg E Introducción a las técnicas de investigación social 4 ed Buenos Aires Humanitas cap 8 pp 95108 1974 2 Beland I Passos I Enfermagem clínica São Paulo EPUEDUSP 1980 3 Bujack L et al Assessing comprehensive nursing performance the objective structured clinical assessment OSCA Part 2 report of the evaluation project Nurs Ed Today v 20 p 24855 1992 Carvalho DV Observação científica um instrumento básico de enfermagem Rev Gaúcha Enf Porto Alegre v 3 n 1 pp 16 1981 5 Cervo AL Bervian PA Metodologia científica São Paulo McGrawHill Brasil Ltda 1973 cap 2 pp 3364 o método científico 6 Daniel LF A enfermagem planejada São Paulo EPUEDUSP 1989 7 Davidson LL Introdução à psicologia São Paulo MacGrawHill do Brasil 1983 8 cap 6 pp 21054 A percepção 9 Dias CBG Observação em enfermagem A necessidade de um conceito Ribeirão Preto 1990 Dissertação Mestrado Escola de Enfermagem Universidade de São Paulo 10 Girot E Assessment of competence in clinical practice a review of the literature Nurs Ed Today n 13 pp 8390 1993 11 Gualda DMR Eu conheço minha natureza um estudo etnográfico da vivência no parto São Paulo 1992 Tese Doutorado Escola de Enfermagem Universidade de São Paulo 3 Método Científico Instrumento Básico da Enfermeira Lucimar Aparecida Barrense Nogueira Sampaio Nazaré Pellizzetti INTRODUÇÃO Em suas múltiplas atribuições o enfermeiro está constantemente avaliando problemas de enfermagem e buscando solucionálos A natureza dos problemas de enfermagem será influenciada pela filosofia teoria valores crenças e metas da instituição e da equipe de enfermagem Compete ao enfermeiro identificar julgar e resolver os problemas de enfermagem A qualidade da enfermagem como um todo está na dependência da tomada de decisão do enfermeiro Problema pode ser caracterizado como uma necessidade do ser humano diante de um fato e buscar meios de resolução constitui a própria essência do problema ressaltando a importância da exatidão quanto aos resultados que se pretende obter A enfermagem tendo o cuidado como o seu foco principal não pode ser analisada isoladamente de suas raízes históricas Ao contrário deve resgatálas e construir uma nova disciplina baseada em sua condição e tendo como sustentáculo o cuidado humano É tempo para a enfermagem tentar encontrar seu espaço sua identidade participar enfrentar riscos e tomar decisões Ao se reportar ao diagnóstico da situação de enfermagem em 1970 Ribeiro aponta entre os problemas relativos ao serviço de enfermagem a falta de modelos organizacionais padrões brasileiros para cálculo de pessoal modelos para supervisão e avaliação do trabalho das diferentes categorias de enfermagem padrões mínimos de assistência enfermeiros qualificados para a realização de pesquisas de enfermagem e métodos de assistência para a prática 25 Podemos relacionar a resolução de todos os problemas de enfermagem citados por Ribeiro com a necessidade de utilização do método científico de resolução de problemas O enfermeiro constantemente busca alternativas para a resolução de problemas de enfermagem A utilização do método científico requer o desenvolvimento do pensamento crítico O ato de imaginar alternativas é um ato libertador no sentido de que os fatos não são fixos mas podem ser modificados de acordo com a conscientização de cada um sobre os valores do mundo que podem e devem ser questionados A enfermagem existe para atender às necessidades de saúde E à medida que se alteram essas necessidades também deve modificarse seu tratamento As alterações na estrutura social nos estilos de vida nos progressos científicos e tecnológicos provocam também uma alteração nas tradicionais abordagens terapêuticas nos conceitos envolvidos e nas expectativas da sociedade sobre saúde A importância da utilização de um método científico ou de resolução de problemas na enfermagem é evidenciada por Brunner e Suddarth quando comentam que apesar do interesse e esforços de setores públicos e privados da sociedade o sistema de prestação de cuidados de saúde permanece fragmentado Existe duplicação de serviços há coordenação mínima dos esforços de vários membros da equipe de saúde e metas de cuidados nem sempre é alcançada e esforços contínuos são desperdiçados Percebese claramente que a utilização de um método científico ou de resolução de problemas influencia os resultados das ações de enfermagem em todas as áreas de atuação O propósito deste capítulo é caracterizar o método científico de resolução de problemas como um instrumento básico de enfermagem 26 CONCEITOS ENVOLVIDOS A palavra método derivada do grego métodos significa caminho para chegar a um fim Nas científicas métodos são instrumentos básicos que ordenam os pensamentos em sistemas traçando o modo de proceder do cientista ao longo de uma investigação para alcançar um objetivo predeterminado A investigação científica produziu um corpo de conhecimentos que possibilita ao homem um melhor controle do ambiente e um conjunto de procedimentos Desse modo permite ao investigador aprimorar as formas de aumentar o seu corpo de conhecimentos de modo progressivo Os procedimentos da investigação científica são constituídos por implemento técnica e método Implemento Constitui qualquer instrumento físico ou conceitual utilizado na pesquisa com o propósito de ampliar o alcance a precisão e o suprir até certo ponto os próprios sentidos do investigador Exemplos símbolos matemáticos computadores microscópios entre outros Técnica Inclui todos os modos de utilização dos instrumentos representa a forma de atingir objetivos o modo de agir A técnica é um meio específico usado em uma determinada ciência ou um aspecto desta é um sinônimo de processo e consiste na aplicação específica do método científico de resolução de problemas Método Científico Constitui um procedimento geral sistemático baseado em princípios lógicos Implica usar de forma adequada os processos mentais de indução e dedução análise e síntese servindo de instrumento para alcançar os objetivos da investigação científica O desenvolvimento do processo do método científico de solução de problemas envolve diferentes estratégias de pensamento como raciocínio julgamento e tomada de decisão os quais serão dissertados a seguir Raciocínio É um processo mental ordenado coerente e lógico que utiliza argumentações indutivas ou dedutivas Para o autor a indução e a dedução são processos que se complementam Kelly refere que indução é um processo de descoberta formando a base para o estabelecimento de hipóteses Por sua vez a dedução é um processo de demonstração ou comprovação formal fornecendo um meio para o exame das hipóteses permitindo a eliminação daquelas consideradas inconsistentes com as evidências Para Cajal este é o momento amadurecido do pensamento que fornece bases sólidas para a argumentação do método científico Julgamento É geralmente realizado com base nas evidências ou crenças Seu exercício consiste na formação de opinião ou estabeleciment 27 como dados clínicos conhecimentos experiências e habilidades dos enfermeiros Tomada de Decisão Pinnell e Meneses referem que o investigador depois de levantar e analisar os dados julgar sua significância de modo acurado e suficiente escolhe então uma alternativa de resposta ou ação Este ato constituiu o processo de tomada de decisão e envolve o desenvolvimento do método científico Nas situações de enfermagem em processo mais sistemático é por exemplo listar todas as ações e consequências possíveis predizer as probabilidades de cada resultado e selecionar a melhor ação CONCEITO PROPOSTO Método científico é um meio que conduz a formação de um corpo de conhecimento através da elaboração organizada e formal de uma determinada questão com verificação e análise dos resultados do fenômeno observado frente aos objetivos da investigação científica Portanto podese dizer que o método científico é para a enfermagem um instrumento básico para o desenvolvimento da profissão enquanto ciência cuja essência é o cuidar Sendo assim a utilização do método científico na enfermagem pode ser representada através da figura geométrica de um prisma Fig 31 A base do prisma é constituída pelo sistema referencial do profissional composto por suas crenças e valores pelo seu corpo de conhecimentos e pelo contexto históricocultural no qual se encontra Os demais lados são constituídos respectivamente pelo processo do método científico decodificado para a enfermagem processo de enfermagem pelos processos mentais de raciocínio lógico julgamento e tomada de decisão e pelo conjunto dos demais instrumentos básicos de enfermagem Os fenômenos incidem sobre a figura como um feixe de luz Em seu interior são processados através da interação de todos os componentes O resultado é refletido como a luz na área de concentração em que se encontra seja na assistência ensino ou pesquisa Qualquer alteração num dos componentes do prisma pode alterar os resultados produzindo efeitos comparados ao fenômeno de refração da luz Para melhor compreensão desta estrutura dinâmica serão abordados a seguir o processo do método científico e sua relação com a enfermagem no âmbito da assistência ensino e pesquisa Fig 31 Representação do método científico na enfermagem 1 Sistema referencial do profissional 2 Processo do método científico 3 Raciocínio lógico julgamento e tomada de decisão 4 Instrumentos básicos de enfermagem PROCESSO DO MÉTODO CIENTÍFICO O método científico se concretiza nas diversas etapas ou passos executados na busca da solução para um problema O conjunto dessas etapas é denominado de processo Alguns autores concordam que o método não é simplesmente uma invenção e depende diretamente do objeto da investigação Podese compreender o refinamento dos métodos e técnicas de investigação científica como uma validação e aperfeiçoamento dos processos anteriormente descritos Em relação ao método científico de solução de problemas observase entre os autores uma variação quanto ao número de etapas que é composto variando entre quatro a seis etapas Basicamente o processo de investigação é desenvolvido do seguinte modo COMPREENSÃO DO PROBLEMA Esta etapa corresponde ao reconhecimento definição e limitação do problema Geralmente um problema é reconhecido quando se descobre uma contradição entre o conhecimento existente e os fatos observados Segundo Koche o conhecimento prévio influenciado pelas teorias existentes crenças valores ideologias e pelo contexto cultural em que vive o indivíduo é que facultam a percepção de dúvidas O pesquisador em algumas situações pode experimentar uma frustração ao reconhecer que há uma barreira que o impede de alcançar um determinado objetivo A definição do problema significa que o pesquisador tem localizado ou isolado o que está causando a frustração ou barreira COLETA DE DADOS Uma vez delimitado o problema o investigador pode observar qualquer parte de informação isolada e decidir se aquela informação é ou não relevante Os dados irrelevantes são descartados FORMULAÇÃO DE HIPÓTESES Identificado o problema o investigador passa para a elaboração das hipóteses Este procedimento é definido como tentativa de proposições sugeridas como explicações de um fenômeno abstrato gerando tantas possibilidades de respostas ao problema quantas forem possíveis Quanto mais tentativas de explicações forem selecionadas mais substancial será a solução do problema Esta etapa depende principalmente da competência do investigador do domínio das teorias relacionadas à dúvida e de sua capacidade criativa ELABORAÇÃO DE UM PLANO PARA TESTAGEM DA HIPÓTESE Proposta a hipótese através de enunciados claros que possibilitem a testagem então as mesmas são submetidas à experimentação Dependendo da natureza do problema da base de conhecimentos e experiência do investigador o plano poderá ser simples ou complexo Uma hipótese considerada falsa também é científica Nesta etapa deve explicarse quais os possíveis resultados incompatíveis com a hipótese formulada TESTAGEM DA HIPÓTESE Esta etapa envolve a implementação do plano O período de testagem é variável Nenhum plano é valioso a menos que possa ser implementado com êxito Quando as ações especificadas no plano são desempenhadas o investigador está testando sua utilidade e pode avaliar sua efetividade real Uma vez testada a hipótese devese confirmar ou não a sua rejeição refutação ou corrobor ação INTERPRETAÇÃO E AVALIAÇÃO DE RESULTADOS Nesta última etapa é tomada a decisão verificandose a efetividade do plano na resolução do problema cuja avaliação pode ser realizada diária ou periodicamente PROCESSO DE ENFERMAGEM UM MÉTODO DE SOLUÇÃO DE PROBLEMAS Muitas modificações têm sido implementadas ao método científico de modo a atender as necessidades de diferentes disciplinas Com a expansão da base teórica em enfermagem a profissão necessitou de um método sistemático para resolução de problemas de seus clientes apropriandose do método científico como instrumento básico desenvolveu o processo de enfermagem COMPARAÇÃO ENTRE MÉTODO CIENTÍFICO E PROCESSO DE ENFERMAGEM Na Tabela 31 segundo a proposta de Pinnell e Meneses apresentase uma comparação entre os elementos do método científico de solução de problemas e algumas etapas do processo de enfermagem histórico diagnóstico prescrição e evolução de enfermagem Tanto o método científico quanto o processo de enfermagem constituem sistemas abertos e dinâmicos Há uma entrada de informações um processamento e uma saída Em cada etapa estão envolvidos os processos de raciocínio lógico julgamento e tomada de decisão que determinam o avanço de uma etapa para outra Uma vez completadas as etapas ambos processos possuem uma retroalimentação que possibilita receber novas informações ao mesmo tempo em que cria uma mudança nas informações existentes Estes processos também contam com uma base de conhecimentos que quanto mais forte mais efetiva será a habilidade de solucionar problemas O processo de enfermagem torna possível uma variedade de estratégias para buscar a solução de problemas A utilização de um instrumento teórico específico é o que direciona o desenvolvimento das fases do processo Pinnell e Meneses detalham benefícios e limitações do processo de enfermagem como 1 Permite ao enfermeiro a vantagem de geração de hipóteses antes do planejamento do cuidado 2 Traduz um meio conceitual e cognitivo de pensamento centrado no cliente intervenções de enfermagem com ações orientadas 3 Requer uma certa soma de conhecimentos e habilidades para ser usado eficientemente 4 Consome tempo e tornase opressivo para enfermeiros que trabalham em unidades com poucos funcionários A prática mostra que falta ao enfermeiro um corpo de conhecimentos específicos relacionados ao cuidado de enfermagem que lhe permitam conhecer e desenvolver melhores alternativas para solução de problemas e consequentemente obter melhores resultados como emprego do processo de enfermagem Tabela 31 Comparação entre as Etapas do Método Científico e do Processo de Enfermagem São Paulo 1994 Método Científico Processo de Enfermagem Compreensão do Problema e Coleta de Dados Reconhecimento definição delimitação e descrição do problema Coleta de dados a partir de todos os aspectos relevantes Formulação de Hipóteses Elaboração de Um Plano para Teste de Hipótese Teste de Hipótese Execução do plano de testagem da hipótese Interpretação e Avaliação de Resultados Interpretação dos resultados dos testes e avaliação das hipóteses Histórico de Enfermagem Levantamento dos problemas de enfermagem do cliente Levantamento da história de saúde do cliente Julgamento profissional relativo ao problema do cliente Exame físico Revisão de resultados de exames laboratoriais e de estudos diagnósticos Revisão de literatura Diagnóstico de Enfermagem Julgamento clínico das respostas do indivíduo família ou comunidade ao processo vital e ao problema de saúde atual ou potencial os quais fornecem a base para a seleção das intervenções de enfermagem CarrolJohnson Determinação do conjunto de condutas de enfermagem Benco e Castilho Execução da Prescrição de Enfermagem Implementação do plano de cuidados Registro dos cuidados de enfermagem prestados Administração e supervisão dos cuidados de enfermagem Orientações ao cliente Avaliação do estado geral do paciente frente aos resultados dos cuidados prescritos e novos problemas identificados Benco e Castilho Modificação no plano de cuidados com base nos resultados observados O método científico e a pesquisa em enfermagem representam um compromisso profissional para fortalecer a profissão como ciência Método Científico e Ensino de Enfermagem Uma vez admitido como instrumento básico de enfermagem o ensino do método científico precisa necessariamente ser abordado no ensino de graduação de enfermagem Desde modo o processo ensinoaprendizagem deve envolver elementos científicos e humanísticos visando a uma intervenção de enfermagem teoricamente embasada e questionadora A partir do embasamento na literatura nacional e internacional é que o enfermeiro irá fortalecer condutas anteriores ou construir novas con dutas com exaustiva análise crítica e instauração no uso do método científico O verbo de impacto das ações de enfermagem é pesquisar pesquisar pesquisar BIBLIOGRAFIA 1 Ackoff R Scientific method N York Wiley 1962 2 Alves R Filosofia da ciência Introdução ao jogo e suas regras 15 ed São Paulo Brasiliense Cap 9 1992 3 AstiVera A Metodologia da pesquisa científica Porto Alegre Globo Cap 1 a 3 1974 4 Benko MA Castilho V Operacionalização de um sistema de assistência de enfermagem In Processo de enfermagem na prática São Paulo Atena Cap 7 pp 967 1989 5 Brink PJ Wood MJ Advanced design in nursing research Newburg Park Sage 1989 Apud Koizume MS Fundamentos metodológicos da pesquisa em enfermagem Rev Esc Enf USP 26 1992 3347 Número Especial 6 Brookfield SD Developing critical thinkers São Francisco Jossey Bass 1987 7 Agud Pereira RCI Desenvolvendo o pensamento crítico nas questões do ensino e da prática da enfermagem Rev Gaúcha Enf 131 1992 246 8 Brunner LS Suddarth DS Enfermagem médicocirúrgica 3 ed Rio de Janeiro Interamericana 1977 Cap 1 pp 14 do paciente e seus problemas 9 Cajal SRY Investigação científica 3 ed São Paulo EDUSP 1979 Cap VII pp 1216 10 Marra A Metodologia científica 3 ed São Paulo McGrawHill 1983 11 Costa LB et al Relato de uma experiência na aplicação da metodologia científica na assistência de enfermagem à família Rev Bras Enf 311 1978 146 12 Dailey RC Strengthening Hospital Nursing How to use problemsolving teams effectively JONA 20 78 julaug 1990 2429 13 Daniel LF A enfermagem planejada São Paulo EPUEDUSP 1977 14 Demo P Introdução à metodologia da ciência São Paulo Atlas 1988 15 Farias JN et al Diagnóstico de enfermagem uma abordagem conceitual e prática João Pessoa Santa Marta pp 617 1990 16 Ferrari AT Metodologia da ciência 3 ed Rio de Janeiro Kennedy 1974 17 FrotaPessoa O O manual de biologia 2 ed Rio de Janeiro Fundo de Cultura 1960 18 Hixon JK Every nurse must be a problem solver Aorn Journal 41 6 june 1985 37 19 Horta WA Processo de enfermagem São Paulo EPUEDUSP 1979 20 Horta WA Kamiyama Y Paula NS O ensino dos instrumentos básicos de enfermagem Rev Esc Enf USP 411 520 1970 21 Kelly MA Nursing diagnosis source book guidelines for clinical aplication AppletonCenturyCrofts Cap 3 1985 22 Koche JC Fundamentos de metodologia científica 12 ed P Alegre Vozes 1988 Cap 3 23 Koizume MS Fundamentos metodológicos da pesquisa em enfermagem Rev Esc Enf USP 26 1992 3347 Número Especial 24 Perrone O Metodologia da pesquisa em ciências da Saúde Rio de Janeiro sn 1980 25 Pinnell NN e Meneses M The nursing process Theory aplication and related processes USA AppletonCenturyCrofts 1986 Cap 2 26 Ribeiro CM Organização de serviço de enfermagem Rev Bras Enf 263 1973 12147 27 Roy SC Introdution to nursing an adaptation model 2 ed USA PrenticeHall Inc Englewood Cliffs 1984 28 Rutkowski B The perennial problem of problem solving Nursing feb 1985 2931 29 Severino AJ Metodologia do Trabalho Científico 14 ed São Paulo Cortez 1986 pp 21529 30 Wladlow VR Cuidado uma revisão teórica Rev Gaúcha Enf 132 2935 1992 31 Vidal F Problemsolving São Paulo Beststeller 1973 38 4 Princípios Científicos como Instrumento Básico de Enfermagem Arthur Bittes Junior Fernando Carneiro Mussi Rosali Isabel Barduch Ohl Yeda Aparecida de Oliveira Duarte A caracterização de uma profissão é dada por um corpo de conhecimentos específicos que a instrumentaliza de modo a permitir seu desempenho com independência competência e responsabilidade A análise de tal abordagem evidencia a juventude da profissão e de nosso compromisso para favorecer seu desenvolvimento O saber específico da enfermagem desenvolveuse historicamente em alguns momentos distintos Até a década de 50 a prática de enfermagem baseavase em ações intuitivas caracterizandose por sua nãocientificidade Em 1959 publicouse pela primeira vez um trabalho abordando como tema os princípios científicos aplicados à enfermagem elaborado por educadores de enfermagem da Escola de Enfermagem de Washington Estes princípios buscavam explorar e ampliar as ações de enfermagem direcionandoas a tomadas de decisões mais adequadas Uma grande diversidade de conhecimentos de outras ciências foi trazida para construir o corpo de conhecimentos próprios da enfermagem Assim conhecimentos das ciências sociais físicas e biológicas passaram a ser parte do saber de enfermagem com especial participação das áreas de psicologia sociologia antropologia química física anatomia fisiologia e microbiologia sendo os três últimos de maior importância inicialmente As técnicas de enfermagem obtiveram sua fundamentação científica nas chamadas ciências naturais anatomia microbiologia fisiologia e patologia e também nas ciências sociais e portanto aproximaramse do saber médico incorporando também sua autoridade A prática deste saber era desenvolvida de forma fragmentada com a concepção separada da execução Os profissionais de enfermagem atendentes e auxiliares prestavam assistência ao paciente e informavam à 39 enfermagem a evolução do mesmo de forma a subsidiála na elaboração do plano assistencial Observase assim que o trabalho em equipe não se concretizava Esta prática obteve como resultado o domínio das técnicas de enfermagem pelos auxiliares e atendentes e consequentemente o questionamento do enfermeiro quanto às suas reais competências e responsabilidades Tal problemática direcionou o pensamento da categoria a refletir sobre a necessidade de elaboração de princípios científicos que fundamentassem as ações de enfermagem O desenvolvimento deste saber cobre os enfermeiros nas escolas de formação Estes continua Almeida eram formados para gerenciar o cuidado e não executálo Este saber portanto possibilita sua legitimação de poder e os qualifica a controlar este poder na prestação do cuidado seguindo a influência dos princípios administrativos de Taylor e Fayol que estabeleciam o trabalho autoritário por via direta ou seja a concentração de capital e através da administração dita científica preconizadas por Elton Mayo onde a exploração indireta se concretizava pela manipulação do operário por especialistas sem considerar o conflito entre indivíduos e grupos A fundamentação deste saber baseouse quase que exclusivamente na medicina agregando alguns conhecimentos das áreas de psicologia e sociologia Sendo assim a primeira metade do século caracterizouse por uma enfermagem que buscava conhecimentos em outras áreas para construir seu saber próprio e organizar sua prática Retratam portanto uma visão limitada e estática da atuação da enfermagem embora ainda hoje se encontre este modelo de atuação ou seja a preponderância das normas e rotinas e dos procedimentos embasados cientificamente Posteriormente a enfermagem buscou criar um corpo de conhecimentos próprios com a elaboração de conceitos pertinentes a sua própria área de atuação A prática tentou modificarse buscando através do desenvolvimento do trabalho em equipe negar o trabalho por modalidades funcionais e darlhe cunho científico com a humanização do cuidado ao paciente Nesta nova concepção da prática de enfermagem tendo como essência o cuidado a aplicação dos princípios científicos não se restringe a procedimentos técnicos mas abrange outras esferas do processo de cuidar Assim podese afirmar que Princípio Científico constitui um Instrumento Básico de Enfermagem pois caracterizase por ser o fio condutor da ação da enfermagem e aplicase tanto em suas ações expressivas como instrumentais Sua aplicação racional o transforma em grupo para a ação porém ainda é escasso o referencial literário que descreva estratégias e bases para reflexão e análise levando a seu ensino e adequada utilização Estudos vêm sendo desenvolvidos com o objetivo de definir diagnóstico de enfermagem Em 1982 formalizouse a North American Nurses Diagnosis Association NANDA propondo a partir dos diagnósticos de enfermagem a formulação de uma terminologia única para o saber do enfermeiro no desenvolvimento de suas atividades assistenciais Para tanto o diagnóstico foi definido como um julgamento clínico das respostas do indivíduo da família ou da comunidade aos processos vitais ou aos problemas de saúde atuais ou potenciais os quais fornecem a base para a seleção das intervenções de enfermagem para atingir resultados pelos quais o enfermeiro é responsável Em consequência disto esperase o desenvolvimento de princípios científicos específicos a partir dos diagnósticos invertendo desta forma a construção do saber até então utilizado formando um corpo de conhecimentos próprios que instrumentalizem a prática e fortaleçam a profissão através de sua estruturação conceitualmente determinada A Fig 41 representa o desenvolvimento do saber de enfermagem sob influência das ciências naturais e sociais e o saber médico PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS NO CONTEXTO DA ASSISTÊNCIA ENSINO E PESQUISA DE ENFERMAGEM A capacidade de tomada de decisões relativas às ações curativas e cuidativas permeia todo o contexto da prática de enfermagem no que tange ao atendimento das necessidades básicas do indivíduo família e comunidade Santos relata que a manifestação das necessidades e a maneira de satisfazêlas variam de uma pessoa para outra tornandose indispensável ao enfermeiro adequar suas decisões a estas diferentes manifestações e às diversas formas de atendimento dessas necessidades A utilização do processo criativo eou do método de resolução de problemas favorece a formulação análise compreensão e aplicação de princípios permitindo ao enfermeiro deliberar sobre a melhor alternativa A execução de procedimentos técnicos exige o desenvolvimento de habilidades psicomotoras específicas as quais por sua vez implicam o respeito e a observação de princípios científicos A atuação do enfermeiro no entanto perpetuase ainda hoje essencialmente centrada na execução de procedimentos e estagnada a uma padronização de condutas Baseadas nos resultados destas duas experiências partiram para uma terceira tentativa desta vez analisando os princípios que regem as necessidades humanas básicas Neste sentido alcançaram pleno sucesso e elaboraram um livrotexto denominado Os princípios científicos da enfermagem atualmente muito utilizado nos cursos de graduação em enfermagem CONSIDERAÇÕES FINAIS A utilização dos Princípios Científicos enquanto Instrumento Básico de Enfermagem visa ao embasamento da profissão enquanto ciência uma vez que subsidiam as ações realizadas a partir de um princípio ou seja de uma verdade desenvolvida após investigação adequada diferenciandoas assim das desenvolvidas empiricamente 2 Angerami ELS Mendes IAC O saber a saúde e a investigação em enfermagem Rev Gaúcha Enf Porto Alegre v 19 n 1 pp 2833 1989 5 A Criatividade como Instrumento Básico em Enfermagem Ana Cristina de Sá Rose Meire Imanichi Fugita INTRODUÇÃO Conforme pudemos constatar no decorrer dos capítulos anteriores as atividades profissionais do ser humano exigem que este utilize um conjunto de conhecimentos e habilidades fundamentais que caracterizam seu fazer profissional que denominamos Instrumentos Básicos O enfermeiro faz uso de tais ferramentas ou instrumentos no desempenho de suas atividades com a finalidade de alcançar metas Constatamos ainda a necessidade de se empregar um método científico de resolução de problemas para que tais metas sejam alcançadas A criatividade objeto de estudo deste capítulo participa desse e de outros processos constituindose em uma das ferramentas essenciais das quais o enfermeiro lança mão no desenvolvimento de atividades assistenciais de ensino e de pesquisa em enfermagem Este capítulo pretende portanto explorar a utilização da criatividade como Instrumento Básico em enfermagem nos diversos ramos que compõem seu saberfazer CONCEITUANDO CRIATIVIDADE A criatividade faz parte de uma das 125 capacidades produtivas do intelecto humano conhecidas até a elaboração deste capítulo Conceituar tal capacidade no entanto esbarra numa série de controvérsias Sabese que a questão da criatividade como conceito separado de um determinado contexto mais amplo começou a atrair a atenção de cientistas do comportamento psicólogos e neurologistas a partir da década de 50 Alguns a conceituam como um processo resultante de uma obra pessoal aceita como útil ou satisfatória por um grupo social ou indivíduo numa determinada época outros a colocam como uma função inventiva da imaginação criadora dissociada da inteligência Ainda é referida como a disposição para criar comum a todos os seres humanos porém em estado latente independentemente de raça sexo ou idade mas estreitamente dependente de um ambiente sociocultural que propicie condições favoráveis à liberdade de expressão Guilford concebe o intelecto como um modelo tridimensional onde se encontram as funções operações produtos e conteúdos A função operações reúne memória cognição produção convergente produção divergente e julgamento A função produtos constituise na capacidade do indivíduo em reconhecer classes relações sistemas transformações e implicações A última função conteúdos compõese de elementos figurativos simbólicos semânticos e comportamentais O autor refere que as três funções são interrelacionadas porém o pensamento criador estaria mais bem localizado no domínio das operações mais precisamente na atitude de produção convergente ou divergente a pensamento produtivo convergente exige acionado pelo pensamento se ativa para encontrar uma resposta convencional através de um certo padrão de resolução e será empregado na busca da solução para uma determinada situação ou problema b pensamento produtivo divergente exige que o pensamento se mova em várias direções em busca de uma resposta a um determinado problema ou situação cuja solução exige do pensador fluência verbal fluência de ideias flexibilidade originalidade percepção e reconstrução de esquemas prévios de adaptação Na fluência verbal e de ideias o indivíduo denota sua produtividade através da associação de ideias classificação da problemática e sistematização da situação A flexibilidade ocorre na facilidade com que o sujeito pula de uma categoria a outra de ideias descrevendo o maior número de usos em que se possa pensar uma situação considerandose o maior número de respostas pertinentes A originalidade é produzida no momento em que o indivíduo busca propostas de soluções convencionais ou não para resolver problemas não conhecidos anteriormente por ele ou seja na ausência de paradigmas que o orientem A percepção de problemas ocorre quando o indivíduo é colocado diante de situações novas para ele A reconstrução consiste na reestruturação de situações objetos e estruturas cognitivas preexistentes mas que o indivíduo reorganiza para produzir uma resposta satisfatória à resolução do problema ou à satisfação de uma necessidade Husserl e Capra afirmam que o ato de criar ocorre intermitentemente a cada instante da constante evolução do ciclo vital do ser humano Para os autores cada momento é a criatividade expressa em si pois o continuum tempoespaço é um fato e cada minuto jamais é igual a outro A cada segundo mudamos afirmam quer seja em idade cronológica ritmo cardíacoprodução intelectual aprendizado padrão respiratório etc o que torna a criatividade interna ou externa uma constante que nos atualiza e renova CONCEITO PROPOSTO O que parece ser fato aceito por todos aqueles que estudam a criatividade além da questão da convergência e da divergência do pensamento produtivo numa visão comportamentalista é que esta é uma atividade intelectual distinta da inteligência sem graduação maior ou menor quanto ao sexo ou raça com intensidade variável na criação e no adulto e que não se limita a atividades artísticas e literárias como suponho o senso comum É uma capacidade intelectual encontrada em todas as atividades humanas quer sejam elas técnicas econômicas ou científicas e que ocorre no continuum do ciclo vital interrompida externa ou internamente numa visão holística A criatividade portanto não é algo reservado a uma elite de criadores Concerne ao conjunto da população e é pois uma necessidade humana e social cuja utilização gera o progresso o desenvolvimento e a evolução da humanidade nos mais variados campos o que a torna essencial para o desenvolvimento da enfermagem A criatividade é uma tendência natural que impele o indivíduo à autorealização Este ao encontrar condições adequadas para se expressar repele o medo de errar e o inconformismo social estimula o crescimento individual e coletivo impulsiona a humanidade rumo a novas descobertas confere ao ser humano a capacidade de associar ideias que estimulem seu ajustamento ao ambiente que o cerca como o intuito de aperfeiçoálo frente a situações emergentes e principalmente nãorotineiras 49 A CRIATIVIDADE COMO INSTRUMENTO BÁSICO EM ENFERMAGEM Horta considera como instrumentos básicos em enfermagem os conhecimentos e habilidades fundamentais para o exercício das atividades profissionais da área Podese depender portanto que o pensamento criador passa a ser um instrumento básico das atividades do enfermeiro pois dele dependem a a percepção do problema necessidade ou situação b a influência de ideias e a flexibilidade de pensamento para tentar solucionálos c a originalidade e a estruturação ou reestruturação das soluções encontradas e d das ações a serem elaboradas e desempenhadas para resolvêlos Tais passos conectamse com as fases do planejamento das atividades de enfermagem coordenadas pelo enfermeiro em seus diversos campos de trabalho A criatividade no entanto não se constituiu num instrumento básico que o enfermeiro deva utilizar somente na busca de soluções de problemas Ele pode criar o hábito de utilizar seu potencial criativo através de associações de ideias a partir da reflexão diária de sua prática o que poderá leválo a compreenderse e a criar novas alternativas em prol de seu desenvolvimento pessoal e profissional A estimulação do potencial criador é uma atividade intelectual que pode em jogo a imaginação e favorece inovações de toda espécie culminando muitas vezes na produção de obras e ideias importantes na evolução do saberfazer da enfermagem A criatividade tornase uma ferramenta básica do enfermeiro na busca da resolução de problemas de enfermagem o que torna seu fazer profissional mais estimulante Essa satisfação no uso do potencial criador pode proporcionar ao enfermeiro um fazer independente com o desenvolvimento de intervenções criativas o que será explorado a seguir Um produto criativo reestrutura nosso universo de compreensão Taylor CW 50 O USO DA CRIATIVIDADE NA ÁREA ASSISTENCIAL Além dos aspectos abordados anteriormente devido a seu caráter dinâmico a criatividade é um Instrumento Básico essencial à prática da enfermagem no planejamento e execução dos cuidados de enfermagem no hábito da reflexão sobre a prática diária de atividades de enfermagem visando ao estudo exploratório em campo de linhas teóricas que constroem o saber próprio da profissão contribuindo para seu progresso técnicocientífico e implementando alternativas em seu fazer profissional no domínio do saberfazer da enfermagem que muito depende da criatividade frente a cada situação inerente a atividade profissional do enfermeiro aliada a conhecimentos prévios e curiosidade científica O desempenhar do processo de enfermagem envolve a utilização do potencial criador do enfermeiro de forma a firmarse como uma prática estimulante e asse profissional Sandler referese a criatividade uma capacidade essencial ao enfermeiro na busca da resolução de problemas de enfermagem Propõe que o profissional 1 estude os problemas de enfermagem que enfrenta em seu diaadia com intensidade e profundidade 2 utilize parte de seu tempo para esse estudo reflexivo com dedicação e interesse pois estará construindo o saber em enfermagem 3 busque recursos em outras ciências o que lhe proporcionará um caminho para o surgimento de novas ideias 4 crie condições para realizar associações de ideias o que culminará na estimulação de seu potencial criador Rogers refere que o processo metodológico de enfermagem é uma das fontes de estimulação do potencial criador do enfermeiro em seu fazer profissional pois essa prática acaba por ampliar sua visão de mundo mantendoo como um sistema aberto a novas alternativas e explorações Tal fato dinamiza o desenvolvimento da enfermagem como ciência e confere ao ser humano a possibilidade de crescimento constante A recomença portanto pelo desenvolvimento de intervenções criativas e pertinentes pelo enfermeiro em seu fazer profissional poderá leválo ao crescimento interior e à prestação de cuidados de enfermagem ao pacientecliente com vistas à melhoria da qualidade dessa assistência 51 para explorar suas ideias já que novas ideias não costumam ter espaço imediato quanto à sua aceitação Afirma no entanto que o ser humano criativo alcança um alto grau de satisfação pessoal e de crescimento interior ao produzir alternativas novas válidas ou aperfeiçoar as existentes em prol de uma maior qualidade de vida Um fator importante no desenvolvimento do potencial criador se acha na busca por informações externas ao meio profissional do indivíduo Diversos autores propõem que a pessoa procure ampliar seus horizontes no âmbito cultural de forma a não limitar sua visão de mundo Tal processo ocorre através do acesso a informações diversas que ampliem sua cultura geral e que lhe permitam participar da vida como um todo conferindo ao indivíduo a sensação de estar inserido em contextos muito amplos e cheios de oportunidades e possibilidades O planejamento execução e avaliação dos cuidados de enfermagem exige dos enfermeiros o uso do pensamento divergente na busca de alternativas apropriadas para se abordar os problemas do paciente respeitando sua individualidade Quando o enfermeiro possui uma visão global das condições do paciente pode interpretálas usando sua intuição e pensamento criativo aliando a um senso crítico como o intuito de determinar ações de enfermagem mais apropriadas A utilização de estratégias como discussões e seminários acerca dos casos dos pacientes estimula os enfermeiros a pensar e a abordar cada aspecto necessário ao cuidado do paciente Além desse fator compartilhar tais experiências e buscar soluções criativas para resolvêlas leva a uma maior valorização da assistência de enfermagem Podemos considerar que o pensamento criativo libera os enfermeiros para elaborar novas soluções para problemas tidos geralmente como rotineiros O cuidado de enfermagem criativo tem um objetivo dinâmico e não apenas a busca de resolução de problemas tal qual já havíamos colocado anteriormente Este valoriza também o conhecimento natural do enfermeiro de intuição e senso comum além de promover o desenvolvimento pessoal do enfermeiro exercitando suas habilidades inovadoras interpessoais e criativas USO DA CRIATIVIDADE NO ENSINO Uma das funções inerentes às atividades do enfermeiro é a de ensinar Seu aluno pode ser pacientecliente o colega de equipe o acadêmico a família e assim por diante A partir de tal consideração surge a questão da utilização da criatividade pelo enfermeiro que assume o papel de professor e como este pode propiciar a expressão da criatividade do educando Algumas estratégias podem ser sugeridas Não Sufocar a Criatividade No papel de professor o enfermeiro assume uma atitude de respeito frente aos questionamentos do educando procurando leválo a encontrar a resposta a partir de seus próprios referenciais estimulandoo a descobrir o valor de ideias originais desde que adequadas Podese então em conjunto adotar as ideias que puderem ser aproveitadas sem que o valor do resultado alcançado se transforme em ameaça ou crítica destrutiva mas sim em um julgamento justificado pela explicação de causas e consequências Estimular a Criatividade O treino constante de associação de ideias e a articulação de fatos aparentemente isolados assim como o estímulo à descrição espontânea de soluções de problemas através do exemplo de papéis em simulações de situaçõesproblema são recursos que o enfermeiroeducador pode incluir na ação Podese ainda utilizar técnicas construtivas em sala de aula para se debater sobre os mais variados assuntos quer em gem quer em situações de ensino formal de enfermagem Os meios que o enfermeiro na função de professor dispõe incluem o tempo o espaço objetos e pessoas incluindo o próprio professor como por exemplo em demonstrações Tais meios propiciam aos alunos individualmente ou em grupo a oportunidade de terem acesso a informações e experiências novas convidandoos à pesquisa e à experimentação A criatividade no ensino pode ser avaliada pela qualidade de oportunidades efetivas que o professor proporciona ao aluno no desenvolvimento de experiências educativas Ensinar é um processo dinâmico e variado Dois grupos de alunos nunca são iguais nem uma classe é a mesma de um dia para outro o próprio professor muda constantemente assim como o universo à sua volta Essa mutabilidade constante acaba por exigir o uso do potencial criativo do professor Caso contrário este poderá incorrer na manutenção de hábitos e rotinas sem reflexões mais profundas tomando decisões mediadas baseadas em conceitos estáticos e sem examinar e correlacionar os fatos velhos e novos presentes numa dada situação Tais condições são opostas ao que se denomina processo criativo A estimulação do potencial criativo do aluno de enfermagem propicia o desenvolvimento de uma maior capacidade dos estudantes em apontar soluções para problemas de enfermagem implicados no processo de cuidar No entanto há certa dificuldade do docente em aceitar os atributos da personalidade criativa ver anexo características da personalidade dos indivíduos conforme o potencial criador Portanto ao mesmo tempo em que os docentes estimulam o despertar da curiosidade e independência no criar do estudante de enfermagem estes não aceitam muito bem o aluno efetivamente criativo Esse é um ponto para reflexão na prática do ensino de enfermagem pois urge encontrar espaços efetivos para o desenvolvimento do potencial criador do estudante de enfermagem a partir da revisão dos currículos dos cursos da área Certamente seria praticamente impossível ao enfermeiro no papel de professor estimular o potencial criativo dos educandos ou mesmo ensinar criativamente e tempo todo de que dispõe nessa atividade É preciso que se planeje tal atividade Além do planejamento tornase necessário que o enfermeiroprofessor discipline e treine o árduo trabalho de dar polimento a novos estilos de ensino por constantes mudanças testando estratégias mantendose atuando e trabalhando com os educandos numa visão mais holística e menos fragmentada Por exemplo você é o enfermeiro responsável pelas orientações de um grupo de pacientes diabéticos em um ambulatório Rotineiramente você ministra aulas sobre cuidados com os pés e autoaplicação de insulina Após algumas semanas você percebe que a frequência de participantes caiu drasticamente sem motivos aparentes na sua opinião Será que sua estratégia de ensino tem sido adequada Como você poderia utilizar seu potencial criativo para resolver o problema Você tem refletido sobre sua prática Você tem colhido sugestões do grupoalvo a respeito dos temas a serem abordados nas reuniões