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Biblioteca Breve SÉRIE LITERATURA LITERATURAS AFRICANAS DE EXPRESSÃO PORTUGUESA I COMISSÃO CONSULTIVA JACINTO DO PRADO COELHO Prof da Universidade de Lisboa JOÃO DE FREITAS BRANCO Historiador e crítico musical JOSÉAUGUSTO FRANÇA Prof da Universidade Nova de Lisboa DIRECTOR DA PUBLICAÇÃO ÁLVARO SALEMA MANUEL FERREIRA Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa I INTRODUÇÃO GERAL CABO VERDE S TOMÉ E PRÍNCIPE GUINÉBISSAU MEIC SECRETARIA DE ESTADO DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA Título Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa I Biblioteca Breve Volume 6 Instituto de Cultura Portuguesa Secretaria de Estado da Investigação Científica Ministério da Educação e Investigação Científica Instituto de Cultura Portuguesa Direitos de tradução reprodução e adaptação reservados para todos os países 1ª edição 1977 Composto e impresso nas Oficinas Gráficas da Livraria Bertrand Venda Nova Amadora Portugal Maio de 1977 ÍNDICE INTRODUÇÃO GERAL Pág 1 Descobertas e expansão 7 2 Literatura colonial 9 3 Século XIX Sentimento nacional14 Angola 14 Cabo Verde19 Moçambique26 GuinéBissau27 S Tomé e Príncipe28 Perspectiva Geral32 CABO VERDE 1 Lírica 34 2 Narrativa60 3 Drama69 4 Bilinguismo caboverdiano 69 Raízes nota final73 S TOMÉ E PRÍNCIPE 1 Lírica 76 2 Narrativa82 3 A expressão em crioulo 82 GUINÉBISSAU 1 Lírica 85 2 A expressão em crioulo 91 Notas 92 Bibliografia114 Índice de autores obras e temas126 7 DESCOBERTAS E EXPANSÃO A literatura africana de expressão portuguesa nasce de uma situação histórica originada no século XV época em que os portugueses iniciaram a rota da África polarizada depois pela Ásia Oceania Américas A historiografia e a literatura portuguesas sob a óptica expansionista testemunham o esforço lusíada da época renascentista Cronistas poetas historiadores escritores de viagem homens de ciência pensadores missionários viajantes exploradores enobreceram a cultura portuguesa e em muitos aspectos colocaramna ao nível da ciência e das grandes literaturas europeias Gomes Eanes de Zurara João de Barros Diogo do Couto Camões Fernão Mendes Pinto Damião de Góis Garcia de Orta Duarte Pacheco Pereira são alguns dos nomes cujo discurso é alimentado do saber de experiência feito alcançado a partir do século XV em declínio já no século XVII e esgotado no século XVII A obra de um Gil Vicente ou embora escassamente a de poetas do Cancioneiro ao lado das coisas de folgar foram marcadas pela Expansão ao longo dos bárbaros reinos Estamos assim a referir uma literatura feita por portugueses fruto da aventura no AlémMar no 8 período renascentista Hernâni Cidade e outros glorificamna no espírito da dilatação da Fé e o Império A literatura portuguesa e a expansão ultramarina 1963 e 1964 2 vols Chamemoslhe a literatura das Descobertas e Expansão É evidente que esta literatura nascida de uma experiência planetária numa época em que o mundo cristão reconhecia o direito à dominação à depredação e até à barbárie a cruz numa mão e a espada noutra nada tem a ver com a literatura africana de expressão portuguesa Este registo destinase apenas ou sobretudo a retermos factos longinquamente relacionados com o quadro cultural e político que séculos depois havia de surgir e é a razão primeira destas páginas Quando e como surgiu a literatura africana de expressão portuguesa E como se desenvolveu Os portugueses chegaram à Foz do Zaire em 1482 e em 1575 1 fundaram a primeira povoação portuguesa São Paulo de Assunção de Loanda hoje capital de Angola Dos primeiros contactos com o Reino do Congo dános testemunho a correspondência trocada entre os reis do Congo e os reis de Portugal além de documentos como os relatórios dos padres jesuítas de Angola Mas o aparecimento de uma actividade cultural regular na África associase intimamente à criação e desenvolvimento do ensino oficial e ao alargamento do ensino particular ou oficializado 2 à liberdade de expressão e à instalação do prelo que se registam a partir dos anos quarenta do século XIX 3 9 LITERATURA COLONIAL Com efeito quatro anos apenas após a instalação do prelo em Angola ocorre a publicação do livro Espontaneidades da minha alma 1849 do angolano mestiço ao que parece José da Silva Maia Ferreira o primeiro livro impresso na África lusófona 4 O primeiro livro impresso mas não a mais antiga obra literária de autor africano Por pesquisas que recentemente levámos a cabo é anterior àquele pelo menos o poemeto da caboverdiana Antónia Gertrudes Pusich Elegia à memória das infelizes victimas assassinadas por Francisco de Mattos Lobo na noute de 25 de Junho de 1844 publicado em Lisboa no mesmo ano Entretanto não será deslocado citarmos o Tratado breve dos reinos ou rios da Guiné escrito em 1594 da autoria do caboverdiano André Alvares de Almada e de origem caboverdiana se supõe ser André Dornelas autor do século XVI que assina uma descrição da Guiné 5 E até nós chegou também pela pena do historiador António Oliveira Cadornega o eco de um poeta satírico o capitão angolano António Dias Macedo que tinha sua veya de Poeta 10 Se a Deos chamão por tu e a el Rey chamão por vós como chamaremos nós a três que não fazem hum que o povo indiscreto e nú falto de experiência fez em lugar de hum três que com toda a Cortezia tú nem vós nem Senhoria merecem suas mercês 6 Tal porém não nos autoriza a remontarmos as origens da poesia angolana a tão recuados tempos como já com alguma intemperança se quis insinuar Repondo por isso a questão com certa objectividade pode afirmarse que a literatura africana chama a si mais de um século de existência Este longo período de mais de um século de actividade literária está porém contido em duas grandes linhas a literatura colonial e a literatura africana de expressão portuguesa A primeira a literatura colonial definese essencialmente pelo facto de o centro do universo narrativo ou poético se vincular ao homem europeu e não ao homem africano No contexto da literatura colonial por décadas exaltada o homem negro aparece como que por acidente por vezes visto paternalisticamente e quando tal acontece é já um avanço porque a norma é a sua animalização ou coisificação O branco é elevado à categoria de herói mítico o desbravador das terras inóspitas o portador de uma cultura superior Exemplo o único país que pode explorar seriamente a África é Portugal prefácio de Manuel Pinheiro Chagas a Os sertões dÁfrica 1880 de Alfredo de Sarmento onde aliás se pode ler sobre o negro É um homem na forma mas os instintos são de 11 fera p 87 Paradoxalmente o branco é eleito como o grande sacrificado A aplicação do ponto de vista colonialista tem no europeu o agente dinâmico e não o opressor Fiel aos nossos deveres de dominador grata ao nosso orgulho útil às populações escrevia um homem antifascista Augusto Casimiro Nova largada 1929 Predominavam então as ideias da inferioridade do homem negro que teóricos racistas como Gobineau haviam derramado e para as quais teria contribuido o filósofo LévyBruhl com a sua tese da mentalidade prelógica sendo certo embora que a renunciou pouco antes de morrer Logo no último quartel do século XIX se encontram os pioneiros desta literatura Mas é no período 2030 do século XX que ela vai atingir o ponto maior na quantidade na marca colonialista na aceitação do público que esgota algumas edições concerteza motivado pelo exótico Aí se destaca um naipe todo ele incapaz de apreender o homem africano no seu contexto real e na sua complexa personalidade É certo que justo será destacar pela qualidade de sua escrita João de Lemos Almas negras 1937 porque nele apesar de uma deficiente visão se denota um meritório esforço de análise e intenção humanística Mas escritor português manietado pela distanciação colonialista por norma dá ao seu discurso um sentido racista hoje de inconcebível aceitação Henrique Galvão A sua face negra de beiçola carnuda tinha reflexos demoníacos O vélo doiro 4ª ed 1936 p 122 ou Era um negro esguio o Mandobe que dava a impressão dum excelente animal de corrida p 34 Hipólito Raposo Ana a Kalunga 1926 na glorificação mística imperial Queimados no ardor silencioso de Golfo em todo o 12 peito português vai estremecendo o marulhar heróico dos Lusíadas p 21 e outros muitos como António Gonçalves Videira João Teixeira das Neves irmão de Teixeira de Pascoaes Brito Camacho Contos selvagens 1934 Prolongase este tipo de literatura até aos nossos dias com tendência no entanto para reflectir os efeitos de uma perspectiva humana ajustada à evolução das condições históricas e políticas porventura o caso de Maria da Graça Freire A primeira viagem 1952 e noutro aspecto na actualização de uma linha que vem de Hipólito Raposo citaríamos António Pires Sangue Cuanhama 1949 Essa incapacidade de penetrar no mundo africano terminou por se instalar na consciência de um ou outro poucos mais atentos mais apetrechados do ponto de vista teórico como é o caso de José Osório de Oliveira que se interroga a si próprio Conseguirei escutar nesta viagem a voz da raça negra Roteiro de África 1936 p 55 O tempo histórico o tempo cultural para quem ideologicamente era incapaz de se furtar à insidiosa instauração do fascismo em Portugal e à inscrição legal do assimilacionismo aí vinha já o célebre Acto Colonial de 1930 não permitia ou não ajudava a uma tarefa de tal monta que rejeita meros propósitos e exige uma reformulação da mentalidade do europeu Hoje não há lugar para dúvidas muitas dessas obras estão condenadas ao esquecimento salvandose aquelas que apesar de prejudicadas pelas contigências de uma época e de uma mentalidade coloniais evidenciam contudo um certo esforço humanístico e uma real qualidade estética Mas no conjunto a história vai ser de uma severidade implacável e arrumará a quase totalidade desta literatura no discurso da acção 13 colonizadora ou no nacionalismo imperial saudosista e deslumbrado 7 14 SÉCULO XIX SENTIMENTO NACIONAL 1 ANGOLA É interessante notar porém que já na segunda metade do século XIX paralelamente a uma literatura colonial surgem textos de alguns escritores que não poderão ser genericamente catalogados de autores de literatura colonial Se por um lado na representação do universo africano lhes falece uma perspectiva real e coerente por outro enjeitam a exaltação do homem branco embora possam como é natural no contexto da época não assumir uma atitude de oposição típica daquilo que viria a ser a autêntica literatura africana de expressão portuguesa Mas irrealista seria exigir isso de homens que viveram num período em que a institucionalização do regime colonial dificultava uma consciência anticolonialista ou outra atitude que não fosse a de aceitála como consequência fatal da história Manifestar nessa época recuada um sentimento africano ou uma sensibilidade voltada já para os dados do mundo africano constitui hoje a nossos olhos um acto de novidade e de pioneirismo Eles são com efeito e neste 15 quadro os antecessores de uma negritude ou de uma africanidade O mais remoto desses escritores em Angola é José da Silva Maia Ferreira africano de nascimento e de cor que em páginas anteriores já referimos O seu livro de poemas Espontaneidades da minha alma 1849 marca assim o início da literatura angolana de língua portuguesa Tessitura poética frágil é certo mas que cumpre mesmo assim mencionálo até porque de um modo geral a poesia angolana desse século acusa toda ela um certo rudimentarismo A tónica deste discurso é o lirismo vasado sobretudo no amor mas também na fraternidade na gratidão na recordação familiar na amizade no enlevo rústico ou paisagístico E neste campo semântico variado e não muito complexo nem profundo palpita ainda e isto é importante a ternura romântica de um sentimento pátrio Foi ali que por voz suave e santa Ouvi e cri em Deos É minha pátria 8 subscreve José da Silva Maia Ferreira no poema A minha terra datado do Rio de Janeiro 1849 Cerca de quinze anos depois outros poetas dão sinal de si em Luanda Porém esta participação com excepção para Cordeiro da Matta devese a portugueses radicados É o caso de Eduardo Neves c 1865 séc XX apenas com obra dispersa Ou o de J Cândido Furtado séc XIX 1905 também poeta que viveu por largos anos em Angola Parte da sua poesia também dispersa pode considerarse tal como a de outros indiciadora de representação do tópico da cor 16 Quimporta a côr se as graças se a candura Se as fórmas divinaes do corpo teu Se escondem se adivinhão se apercebem Sob esse tão subtil ligeiro véu 9 Ou então Ernesto Marecos 18361879 que viveu em Luanda desde 1850 um dos fundadores da revista A Aurora adiante citada terminando por falecer em Moçambique Autor de Juca a Matumbolla 1865 o seu discurso é uma narração poética trabalhada sobre uma lenda africana que o autor situa na região da Lunda O tema central é o crime que por amor se pratica e se redime também na morte heróica E buscou perdão na morteQual cumpria ao moço forteAo leonino caçador e o milagre do amor vai assumirse em ressurreição juncto ao triste cemitérioQue a bella Juca escondeu 10 No domínio da narrativa impõese o nome de Alfredo Troni 18451904 em Luanda desde 1873 onde faleceu Jornalista combativo e prestigiado assina o romancinho Nga Mutúri publicado em folhetins nos jornais lisboetas Diário da Manhã e Jornal do Comércio e das Colónias em 1882 e agora reeditado 1973 Centrada na área mestiça da cidade de Luanda da segunda metade do século XIX os dons revelados em Nga Mutúri não são de somenos antes pelo contrário Desde o momento em que sendo ainda criança o tio é obrigado a vendêla por força do quituxi instituição jurídica africana passando pela fase em que se transforma na mulher do branco que a comprou depois pela viuvez Nga Mutúri Senhora Viúva até ao momento em que o narrador dá o corte final da história longo é o percurso da personagem principal Através de vários sucessos e pequenas histórias encaixadas o leque social de Luanda 17 vaise abrindo a nossos olhos relações familiares justiça hábitos sociais religiosos culinária tradições africanas de algum modo reelaboradas conceitos de vida conceitos morais etc Alfredo Troni revelando um conhecimento concreto da sociedade luandense numa linguagem depurada cingida ao real faz gala de uma segurança organizativa invulgar e cuidada utilização de um estilo que vai à ironia repousada a uma certa malícia subtil buscar o tom geral da narração mas com tal ciência que salvo uma ou outra rara excepção se defende de uma eventual distanciação que fatalmente empobreceria o texto No toque de relevo da crítica de costumes sobressai a alienação trazida pela assimilação cultural e a transparência da coisificação do homem negro na estrutura instável colonizadocolonizador Em resumo texto de prazer e texto de conhecimento Já terá de se atribuir menos importância ao Romance íntimo 1892 2ª ed da série Scenas dÁfrica de Pedro Félix Machado ao que parece nascido em Angola c 1860 séc XX Começamos por nos convencer de que a narrativa cuja acção se reparte por Angola e Lisboa só a muito custo se liberta do âmbito de uma literatura colonial mau grado a manipulação de personagens da burguesia de duvidosa honorabilidade Incluíla aqui é um tanto pela meia dúzia de páginas que aludem a um importante embarque de negros que interessava muitos dos principaes negociantes daquella praça p 28 e tal embarque projectado era de oito centas cabeças de alcatrão diziam os entendidos as quaes nessa épocha deviam render livres para os carregadores uns seis centos contos p 30 Como quer que seja para um juizo definitivo seria necessário conhecermos a série completa 11 18 O contributo de autores de origem africana os filhos do país encontra em Joaquim Dias Cordeiro da Matta Jaquim Ria Matta 1857 1894 uma fonte preciosa Estimulado pelo missionário suiço Héli Chatelain antropólogo ao serviço do governo americano mais de uma vez desembarcado em Luanda a quem se deve não só uma estimulante influência junto dos intelectuais angolanos como também um trabalho importante no domínio da pesquisa linguística e etnográfica de que se destaca Folk Tales of Angola 1897 em edição portuguesa com o título Contos populares de Angola 1964 J Cordeiro da Matta figura destacada da chamada geração de 1880 e um dos valores de maior evidência do século XIX incitava os seus compatriotas a dedicarem algumas horas de lazer para a fundação da nossa literatura o sublinhado é de quem assina este trabalho in Philosophia popular em proverbios angolenses Lisboa 1891 Filólogo etnólogo jornalista e poeta parte da sua obra alguns manuscritos como os 114 contos angolanos perdeuse 12 O seu livro de versos Delirios 1857 1887 Luanda 1887 que se considera também desaparecido mas de que se conhecem algumas das suas poesias avança na contribuição do tópico da cor como no capítulo seguinte nos é dado comentar Outros mais se afirmam por essa época como Jorge Eduardo Rosa e Lourenço do Carmo Ferreira mas a maioria militando no jornalismo em grande parte político e interveniente não raro denunciador de prepotências e abusos da administração colonial ou de desmandos e repressões de sectores políticos e económicos O Echo de Angola por exemplo houve outros fundado em 1881 era dirigido apenas por mestiços e negros os filhos do país Inclusive 19 assinalase a existência por regra efémera de jornais e revistas como A Aurora Luanda 1856 O Sertão 1886 Ensaios Literários Luanda 1901 ao que parece todas desaparecidas e Luz e Crença Luanda 1902 1903 para além de outras não propriamente literárias como é o caso dO Comércio de Luanda 1867 mas que mantinham secções pelo menos literárias E refirase ainda a existência de associações literárias e culturais havendo conhecimento concreto da Associação Literaria Angolana 13 É de igual modo um jornalismo daquele teor o que em certa medida existiu no arquipélago do Cabo Verde e em Moçambique 14 2 CABO VERDE De qualquer modo será de admitir ter sido menos resistente e organizada a vida cultural em Moçambique do que em Angola e Cabo Verde 15 É certo que de uma maneira geral os intelectuais caboverdianos de origem europeia terminaram por emigrar para Portugal na maioria dos casos por motivos familiares e foi em Lisboa que muitos se fizeram escritores naturalmente desenraizados dos problemas da TerraMãe alguns deles acabando por alcançar lugar de prestígio nos meios literários lisboetas deixando obras de mérito como Antónia Gertrudes Pusich 1805 1883 e Henrique de Vasconcelos 1875 1924 autor de uma vasta obra 16 No entanto criado e accionado pelo cónego António Manuel Teixeira o Almanach Luso Africano 2 vols 1894 e 1899 regista colaboração de natureza literária Porventura período ainda mal estudado afirmações definitivas podem induzirnos em erro No entanto 20 cada vez mais se nos enraiza esta convição não houve em Cabo Verde uma verdadeira literatura colonial por muito insólita que possa parecer esta afirmação O período colonial não implica forçosamente a existência de uma literatura colonial nos termos em que para trás a designámos A colonização a partir da segunda metade do século XIX havia já adquirido no Arquipélago uma feição própria Pelo visto a posse da terra e postos da Administração a pouco e pouco transitavam para as mãos de uma burguesia caboverdiana mestiça branca ou negra Isto que não condiciona a exploração pode condicionar as relações da exploração e alterar assim a natureza da oposição em vez de colonizadocolonizador flectiria em grande parte para exploradoexplorador tal como sucede nas sociedades de tipo capitalista salvaguardando claro e sempre os aspectos de uma situação especificamente colonial notadamente nas relações entre o poder político e as populações Um exemplo elucidativo do que acabamos de afirmar entre outros é a narrativa de José Evaristo de Almeida por nós há alguns anos referenciado O escravo cuja acção decorre na primeira metade do século XIX e se situa na ilha de Santiago com incidências através de flashbacks na ilha de Santo Antão e referências a Lisboa e a Bissau 17 Marcado como é óbvio pelas características da literatura do período romântico nos segmentos da intriga ganham realce a exacerbação dos sentimentos de amor ou de fraternidade o amor platónico a trama dramática das relações familiares no jogo do imprevisto chegando a esboçarse o incesto e de sequência em sequência na acumulação dos acontecimentos a 21 tragédia desencadeiase alargase intensificase Uma das virtudes deste texto está em que a quase totalidade das personagens manipuladas são africanas negros mestiços mulatos E o espaço é o da escravidão abrindosenos à compreensão de um mundo longínquo no tempo permitindo uma perspectiva diacrónica de largo alcance Assim e em termos de escrita ficamos a saber ao vivo que senhores de escravos havia que eram africanos pelo menos mulatos Romance libertador procurando redimir a humilhação escrava e compreender e valorizar o homem africano em geral organização romanesca equilibrada a linguagem dO escravo suporta o confronto com autores mais do que minimamente dotados com ressalva para os diálogos demasiadamente retóricos desajustados à capacidade expressiva dos protagonistas mas esse é também um senão que se pode endossar a muitos escritores de valimento da época romântica e não apenas Ora este texto de José Evaristo dAlmeida na verdade vem ao encontro daquilo que nos andava até há pouco no domínio da suspeição o não ter havido em Cabo Verde uma literatura colonial O escravo é um exemplo acabado ao qual podemos juntar também por localização recente outros textos e estes agora de autores caboverdianos António de Arteaga Amores de uma creoula 1911 18 e Vinte anos depois 1911 19 Guilherme A da Cunha Dantas século XIX 1888 Bosquejos dum passeio ao interior da ilha de S Thiago 1912 20 Contos singelos Nhô José Pedro ou Scenas da ilha Brava 1913 21 e Memória de um rapaz pobre romance 1913 22 Eugénio Tavares 1867 1936 Vida creoula na 22 América 1912 1913 23 A virgem e o menino mortos de fome 1913 24 Dramas da pesca da baleia 1913 25 E com este registo que ora se faz ao que julgamos pela primeira vez se começa a preencher a grande lacuna que vinha envolvendo o quadro histórico da literatura cabo verdiana no século XIX e começos do século XX De um modo geral estes autores procedem às suas abordagens colocandose dentro do universo cabo verdiano e o seu registo é dominado pelo concurso de algumas das contradições do sistema social donde uma mensagem criticamente positiva e esclarecedora Cedo em Cabo Verde se teria criado e desenvolvido o ensino primário particular e depois o secundário Há notícia assinalamolo em nota da criação de bibliotecas como a da Praia de associações culturais entre outras O padre António Vieira numa das suas derrotas para o Brasil de passagem pela que é hoje cidade da Praia capital de Cabo Verde dános uma ajuda para visionarmos um tanto melhor esse grau de desenvolvimento e saber havido já no recuado século XVII São todos pretos mas sómente neste accidente se distinguem dos europeus Tem grande juizo e habilidade e toda a politica que cabe em gente sem fé e sem muitas riquezas que vem a ser o que ensina a natureza Adiantava ainda que havia ali clerigos e conegos tão negros como azeviche mas tão compostos tão auctorizados tão doutos tão grandes musicos tão discretos e bem morigerados que podem fazer invejas aos que lá vemos nas nossas cathedraes 26 Por outro lado ali se vai reestruturando uma cultura caldeada nos valores africanos e europeus tendendo para uma univalência cultural e construindo uma 23 harmonia racial que contrasta por exemplo com o caso antilhano e isto para referirmos um fenómeno de aculturação também de natureza insular O sentimento da cor da pele tão diluído é que a literatura cabo verdiana não chega a denunciar a cor das personagens E se tal acontece a distinção vem envolvida de uma carga afectiva 27 Tudo quanto vem de dizerse pressupõe não só a existência de condições propícias ao aparecimento de produtores de textos como também à formação de uma literatura de características especiais no seio do próprio século XIX A maioria sem livro publicado é certo Aos nomes já referidos ajuntamos mais os de poetas como Luiz Theodoro de Freitas e Costa 1908 Séc XX José Maria de Sousa Monteiro Junior 1846 1909 e Custódio José Duarte 1841 1893 este último possivelmente sem livro publicado E a estes há que agrupar figuras esquecidas por jornais revistas e almanaques como Manuel Alves de Figueiredo de Barros 1895 séc XX António Corsino Lopes da Silva 1893 séc XX João Mariano 1891 séc XX já citado Gertrudes Ferreira Lima séc XIX séc XX todos poetas Como poetas são Joaquim Maria Augusto Barreto 1850 séc XIX Luis Medina Vasconcelos séc XIX séc XX Rodrigo Aleixo ou com obra publicada João José Nunes 1885 c 19656 Mário Duarte Pinto 1887 1958 28 A partir da década de vinte o nome que se impõe à consideração pública é o de José Lopes 1872 1962 de par com o de Eugénio Tavares 1867 1930 este essencialmente de expressão dialectal e o do poeta bilingue Pedro Cardoso c 1890 1942 também autor do estudo 24 Folclore caboverdiano 1933 finalmente Januário Leite 1865 1930 Foi todo este percurso de quase um século que funcionou como fermento da original explosão trazida pela Claridade como um longo processus subterrâneo de consciencialização cultural Jaime de Figueiredo in Introdução à antologia Poetas modernos caboverdianos 1961 p XVI Mas perguntase José Lopes ou Pedro Cardoso este enquanto poeta de língua portuguesa ou Januário Leite trouxeram ou não uma contribuição válida para a moderna poesia Considerase a autêntica literatura caboverdiana aquela que exprime a caboverdianidade ou seja o conjunto de textos cujo enunciado reflecte o real caboverdiano Com frequência e alguma veemência a partir de década de trinta a questão ficou devidamente clarificada e demarcada embora nem sempre isenta de excessos como quase sempre acontece em momentos de ruptura e a parte de responsabilidade que nisso nos cabe não a queremos enjeitar 29 Mas importa averiguar por que razão estes escritores com especial relevo para José Lopes sofreram o ataque e depois a marginalização das gerações que lhes sucederam Os intelectuais e escritores a partir da Claridade como adiante teremos ocasião de verificar projectaram o seu esforço criador nos grandes segmentos que representavam ou simbolizavam a parte viva da sua pátria ou seja aquela que não adoptava os critérios e os padrões que serviam o colonialismo e assim aberta ou implicitamente condenavam tudo quanto vivesse fora deste projecto nacional Simplesmente acontece que o arquipélago de Cabo Verde é hoje uma República independente A sua 25 realidade política é por essência outra bem diferente A sua realidade histórica outra é Com isto se conjuga também uma nova realidade cultural A este período logicamente corresponderá uma nova literatura ou uma nova fase da sua literatura Subjacente ou emergente a tudo isto está uma consciência nacional Está a formação de um profundo sentimento nacional que há de alimentarse nas raízes da longa história do processo social e político de Cabo Verde não a partir da data em que a luta foi desencadeada pelo P A I G C não a partir da data das teses de Amilcar Cabral embora por via de tudo isto mesmo mas a partir da remota origem caboverdiana E esta começa quando os portugueses fizeram desembarcar nas ilhas os primeiros colonos e os primeiros escravos Este será o caminho para a busca de uma totalidade histórica política social económica e cultural Concomitantemente o mesmo sucederá para a sua literatura Com isto queremos dizer que estamos convencidos só aos caboverdianos competirá fazer o que julgarem por bem que os futuros historiadores da literatura os futuros estudiosos do processo cultural caboverdiano terminarão por considerar a globalidade da actividade literária levada a cabo ao longo das décadas ou de séculos pelo homem caboverdiano E deste modo todos aqueles que foram considerados antecessores ou precursores terão o seu lugar próprio na história da literatura caboverdiana Se este critério vier a ser considerado correcto naturalmente ele se há de aplicar a Angola Moçambique S Tomé e Príncipe e GuinéBissau As futuras histórias da literatura e da cultura dos novos países africanos terminarão por recuperar aqueles autores naquilo que na sua obra 26 houver de significação nacional Não foi outra coisa o que aconteceu no Brasil e difícil se nos afigura que possa ser de outro modo nos casos vertentes É evidente que ao referirmos o Brasil estamos a considerar sobretudo o período colonial encerrado com a independência do Brasil em 1822 Isto não invalida que para além das eventuais ou possíveis subdivisões não venha a considerarse a literatura caboverdiana em duas grandes fases antes e depois da Claridade 3 MOÇAMBIQUE Em Moçambique com um índice menor de europeus do que em Angola com uma fixação de população branca mais instável não deveriam ter sido criadas as condições culturais suficientes para o desenvolvimento de uma actividade literária cujo eco chegasse até aos nossos dias 30 Nem se dá pela presença do notável poeta português Tomás António Gonzaga 1744 1810 degredado do Brasil para a ilha de Moçambique cerca de 1792 onde faleceria Não obstante a imprensa da época fazse eco de críticas ao poder e à administração e a literatura através de poemas publicados de quando em quando ensaia os primeiros passos da sua existência Destacamse os semanários O Africano 1877 O vigilante 1882 Clamor Africano 1892 que não usavam desencadear denúncias e ataques à corrupção e ao desumano tratamento dado às populações africanas embora por vezes revelando uma perspectiva contraditória na análise global dos problemas Contributo para a história da Imprensa em Moçambique Vide Bibliografia Jornalistas 27 prestigiados a partir da primeira década do século XX são os irmãos mestiços José e João Abasini que fundam O Africano 19081920 e vão continuar a sua acção política e pedagógica em O Brado Africano 1918 A estes dois nomes se junta o do seu compatriota Estácio Dias Todavia não há até agora conhecimento de haver sido publicado em Moçambique qualquer romance ou livro de poemas antes do Livro da dor 1925 contos de João Albasini o que não significa de maneira nenhuma a hipótese ainda que remota da existência de qualquer obra que não tenha sido ainda detectada Como quer que seja para a formulação de uma correcta ideia dos valores que povoam a última parte do século XIX e a primeira do século XX em relação a qualquer destes países é necessário ter em conta a colaboração dada aos almanaques com especial atenção ao Almanach de Lembranças 1851 1932 publicado em Lisboa mas para onde convergiam muitos poetas africanos da língua portuguesa 4 GUINÉ BISSAU Conforme adiante procuraremos desenvolver não foram criadas na GuinéBissau condições sócioculturais propícias à revelação de valores literários Basta termos presente que o primeiro jornal dessa excolónia o Pró Guiné foi fundado em 1924 Há no entanto que destacar uma figura de relevo a solicitar as atenções da investigação o cónego Marcelino Marques de Barros 1843 1929 que no campo da etnografia Literatura dos Negros 1900 desenvolveu grande aplicação 28 sintonizandose em qualidade com os especialistas portugueses coevos que frizese eram de nível europeu Para além da obra citada deixou colaboração dispersa inclusivamente no Almanach LusoAfricano para 1899 Cabo Verde na Revista Lusitana A Tribuna Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa Anais das Missões Ultramarinas Voz da Pátria na qual publicou canções e contos dois dos quais republicados por J Leite de Vasconcelos em Contos populares e lendas vol 1 1964 Finalmente parece ter deixado um manuscrito Contos e cantares africanos por certo da GuinéBissau 5 S TOMÉ E PRÍNCIPE A evolução social de São Tomé e Príncipe teria sido paralela em muitos aspectos à de Cabo Verde 31 Mas em meados do século XIX implantandose o sistema de monocultura a burguesia negra e mestiça vai ser violentamente substituída pelos monopólios portugueses o processo social do Arquipélago alterado e travada a miscigenação étnica e cultural Mesmo assim não podem deixar de ser considerados os efeitos do contacto de culturas A sua poesia de um modo geral exprime exactamente isso mas na essência é genuinamente africana A primeira obra literária de que se tem conhecimento relacionada com S Tomé e Príncipe é o modesto livrinho de poemas Equatoriaes 1896 do português António Almada Negreiros 1868 1939 que ali viveu muitos anos e terminou por falecer em França A última é a de um moderno poeta português crítico e professor universitário em Cardiff Alexandre Pinheiro Torres 29 cujo título A Terra de meu pai 1972 nos fornece uma pista memorialismo bebido na ilha por artes superiores de criação literária metamorfoseada na ilha que todos éramos neste país solitário Sem uma revista literária sem uma actividade cultural própria sem uma imprensa significativa apesar do seu primeiro periódico O Equador ter sido fundado em 1869 com uma escolaridade mais do que carencial os reduzidos quadros literários do Arquipélago naturalmente só em Portugal encontraram o ambiente propício à revelação das suas potencialidades criadoras O primeiro caso acontece logo nos fins do século XIX com Caetano da Costa Alegre 1864 1890 Versos 1916 cuja obra foi deixada inédita desde o século passado Cabe aqui todavia uma referência particular ao teatro a que poderemos chamar popular pelas características e relevância que assume no arquipélago de S Tomé e Príncipe Tratase em especial de duas peças O tchiloli ou A tragédia do Marquês de Mântua e de Carloto Magno e do Auto de Floripes mas com preferência para a primeira A segunda oriunda da tradição popular portuguesa e O tchiloli supõese ser o auto do dramaturgo português do século XVI de origem madeirense Baltasar Dias levado tudo leva a crer pelos colonos medeirenses na época da ocupação e povoamento Reapropriados pela população de S Tomé e do Príncipe estão profundamente institucionalizados no Arquipélago principalmente O tchiloli mercê da actuação de vários grupos teatrais populares que continuadamente se dão à sua representação enriquecida por uma readaptação do texto e encenação cenografia e ilustração musical notáveis 30 Parece ter sido um homem infeliz em Lisboa o autor de Versos Costa Alegre Tu tens horror de mim bem sei Aurora Tu és dia eu sou a noite espessa 32 Aurora aqui é um ente humano e não um fenómeno cósmico A ambiguidade resolvese na leitura completa do poema Caetano da Costa Alegre utiliza este signo polissémico com a intenção ao cabo de ele traduzir a cor branca És a luz eu a sombra pavorosa Eu sou a tua antítese frisante 33 A poesia de Caetano da Costa Alegre na quase totalidade funciona espartilhada num mecanismo antitético Exprime a situação desencantada do homem negro numa cidade europeia neste caso Lisboa Versos é porventura a mais acabada confissão que se conhece quiçá mesmo nas outras literaturas africanas de expressão europeia do negro alienado Costa Alegre não se dando conta impossível diríamos no século XIX e no tempo cultural e político da área lusófona das contradições que o bloqueavam fazse cativo da sua condição de humilhado A minha côr é negra Indica luto e pena És luz que nos alegra A tua côr morena É negra a minha raça A tua raça é branca Todo eu sou um defeito 34 31 Como tenta Costa Alegre desbloquearse desta situação Porque negra é a sua raça todo ele é um defeito Como pode ele reencontrar o seu equilíbrio psíquico Alienado inconsciencializado batido no deserto social em que se movimenta então cura libertar se através de uma compensação Revoltandose Clamando contra a injustiça que o atinge Não Contrapondo atributos morais Ah pálida mulher se tu és bela Ama o belo também nesta aparência 35 Amiúde as relacionações antinómicas vai buscálas ao Cosmo Só explendor por fóra Só trevas é no centro Ó Sol és meu inverso Negro por fóra eu tenho amor cá dentro 36 Com efeito a sua poesia é a de um homem infelicitado Amiúde recorrendo à comparação e à antítese as figuras mais pertinentes são as que significam ou simbolizam as cores negro e branco Da erosão da sua alma transita para a obsessão infeliz lutando por restabelecer a sua dignidade no refúgio do apelo à evidência moralizante por norma em poemas líricosentimentais ou de amor Versos fica como o primeiro e único texto onde o problema da cor da pele actua como motivo e de uma forma obsessivamente dramática Consideramolo o caso mais evidente de negrismo da literatura africana de expressão portuguesa Alguns autores angolanos coevos de Costa Alegre deram também uma contribuição para este fenómeno mas percorrendo um espaço menos significativo 32 Perspectiva Geral Temos deste jeito e em resumo o seguinte cedo se esboça uma linha africana irrompendo de um sentimento regional e em certos casos de um sentimento racial fundo mas postulado ainda em formas incipientes que tenazmente abre um sulco profundo por entre a literatura colonial De sentimento regional se transita para sentimento nacional que vai dar lugar entretanto a uma literatura alimentada já por uma verdadeira consciência nacional e daí uma literatura africana caracterizada pelos pressupostos de intervenção Ora os fundamentos irrecusáveis de uma literatura africana de expressão portuguesa vão definirse com precisão deste modo a em Cabo Verde a partir do revista Claridade 1936 1960 b em S Tomé e Príncipe com o livro de poemas Ilha de nome Santo 1943 de Francisco José Tenreiro c em Angola com a revista Mensagem 19511952 d em Moçambique com a revista Msaho 1952 e na GuinéBissau com a antologia Mantenhas para quem luta 1977 34 1 LÍRICA Interessa desde já reter bem este facto a partir do início da década de trinta e mercê de circunstâncias de natureza política social histórica e literária algo ocorreu nas ilhas caboverdianas a que não é alheia a influência da literatura brasileira Ora aconteceu que por aquelas alturas nos caíram nas mãos fraternalmente juntas em sistema de empréstimo alguns livros que consideramos essenciais pro domo nostra É Baltasar Lopes quem isto afirma citando autores como José Lins do Rego Jorge Amado Amando Fontes Marques Rebelo E diz que em poesia foi um alumbramento a Evocação do Recife de Manuel Bandeira Revelação foi ainda um magnífico livro a Casa grande e senzala de Gilberto Freyre ao lado dos volumes densos de investigação e interpretação do malogrado Artur Ramos in Cabo Verde visto por Gilberto Freyre 1956 Ou pode até admitir se também a influência da Presença no que nela se propunha de libertação da linguagem Uma tomada de consciência regional muito nítida se instala nos 35 escritores de Cabo Verde que decidem romper com os arquétipos europeus e orientar a sua actividade criadora para as motivações de raiz caboverdiana Não é ainda uma posição anticolonial Não é ainda nem nada que se pareça algo que tenha a ver com a ideia de independência política ou nacional Porventura o problema não se poria também nestes termos assim precisos logo de início ao menos generalizadamente aos escritores do movimento parisiense da negritude Mas era em Cabo Verde em dados de literatura uma viragem de cento e oitenta graus as costas voltadas aos modelos temáticos europeus e os olhos pela primeira vez vigilantes e deslumbrados no chão crioulo De tal facto podem ser pontuações inequívocas não só a citada revista Claridade como a que se lhe seguiu em 1944 Certeza esta sob a directa influência no neorealismo português o Suplemento Cultural 1958 37 e ainda o suplemento Sèló ou inclusive o boletim Cabo Verde 1949 1965 órgão oficial mas no que ele possui de mais autêntico e digno e no campo da literatura bastante é dado que nele colaboraram quase todos os escritores caboverdianos Aliás em 1935 um ano antes da publicação de Claridade Jorge Barbosa um dos responsáveis por aquela revista abre a estrada larga do realismo cabo verdiano Ai o drama da chuva ai o desalento o tormento da estiagem Ai a voragem da fome 36 levando vidas a tristeza das sementeiras perdidas Ai o drama da chuva 38 Os sinais da mudança são vários O abandono dos temas obrigatoriamente europeus como vinha acontecendo até aí a renúncia das estruturas poéticas tradicionais rima métrica e outras e a penetração definitiva no contexto humano do Arquipélago o drama desalento tormento fome tristeza Nos seus dois primeiros livros Arquipélago 1935 e Ambiente 1941 e ainda em Caderno de um ilhéu 1956 Jorge Barbosa procede a uma radiografia do drama social do homem caboverdiano a seca a fome a emigração o isolamento a insularidade e o mar como estrada mítica da aventura da pesca da baleianessas viagens para a Américade onde às vezes os navios não voltam mais 39 Assim O teu destino O teu destino Sei lá Viver sempre vergado sobre a terra a nossa terra pobre ingrata querida Ou outro fim qualquer humilde anónimo 37 Ó caboverdiano anónimo meu irmão 40 Via de regra cada verso uma palavra ou cada verso um sintagma uma cadência ritmada sincopadamente para que a dor e o sofrimento se grave e avive dentro de nós E mais o processo porventura invulgar para a época da imanência de um tu logo associado a um nós no envolvimento da comunhão intensa de um discurso dramático De resto Jorge Barbosa é a voz plural que amiúde recorre a expressões como esta voz da nossa gente a transformar o seu discurso na voz colectiva A enumeração repetitiva no caso presente adjectivada mas noutros substantivada aliada à evocação ou ao apelo afectivo num recurso continuado à função expressiva confere à poesia de Jorge Barbosa características dramáticas novas trazidas pela intimidade a denúncia a epopeia do homem isleno vivendo no drama de querer partir e ter que ficar Enfim no dizer de Jorge de Sena um poeta que nos seus grandes momentos é uma das melhores vozes da poesia contemporânea 41 E se ele foi o primeiro a romper a tradição de uma poesia que vinha marcando o espaço caboverdiano foi também ainda o primeiro poeta das áreas africanas da língua portuguesa a lançar os fundamentos de uma nova poesia tecida numa situação colonial A poesia de Jorge Barbosa vai dominar o panorama poético caboverdiano por várias décadas de uma ou de outra maneira e com tal intensidade que só recentemente alguns poetas modernos libertaram de vez a poesia caboverdiana do peso estrutural barbosiano como adiante se verá 38 Jorge Barbosa teve uma ajuda pelo menos Nada nasce do nada Essa ajuda tudo leva a crer veio dos poetas brasileiros como assinalámos Mas o desencadeamento catártico deuse com a presença de António Pedro 19091965 um caboverdiano de nascimento que em 1928 aos vinte anos de idade visitou CaboVerde e ali publicou o livro de poemas Diário 1929 Era então um jovem poeta virado para o modernismo português Sensibilizado para um certo vanguardismo a sua poesia caboverdiana é um abanão nas estruturas tradicionais poéticas do Arquipélago Por exemplo sobre a Morna Reminiscência dum fado que dançado num maxixe tem a tristeza postiça dum cansaço Um semicivilizado lasso balanço embalado sobre o ventre dum fetiche 42 Era a primeira vez que alguém glosava em nova linguagem o tema da morna e outros Manuel Bandeira Jorge de Lima Ribeiro Couto de um lado António Pedro de outro os dados estavam lançados Nítida a semelhança da estrutura externa das estrofes de Jorge Barbosa e António Pedro Cotejese o excerto de António Pedro com este de Jorge Barbosa sobre o poema A Morna 39 Canto que evoca coisas distantes que só existem além do pensamento e deixam vagos instantes de nostalgia num impreciso tormento dentro das nossa almas Morna desassossego voz da nossa gente reflexo subconsciente em nós 43 Mas se os pontos de contacto no espaço externo dos poemas de António Pedro e Jorge Barbosa são evidentes já o mesmo não se dá na estrutura profunda da poesia de um e de outro Em António Pedro é um pretexto a voz distanciada tristeza postiça dum cansaço em Jorge Barbosa um percurso interiorizado para uma enunciação colectiva dentrodas nossas almas o desassossego a vozda nossa gente Os demais poetas da primeira fase da Claridade 19351937 são Manuel Lopes Osvaldo Alcântara i e Baltasar Lopes e Pedro Corsino Azevedo Destes será Manuel Lopes o vizinho mais próximo de Jorge Não que se fale de influências O sinal de Manuel Lopes vem simultaneamente com o de Jorge Barbosa Mas um dos pontos em que a poesia de Manuel Lopes se afasta da de 40 J Barbosa será no tom filosofante no por vezes solilóquio interrogativo Que importa o caminho da garrafa que atirei ao mar Que importa o gesto que a colheu Que importa a mão que a tocou se foi a criança ou o ladrão ou filósofo quem libertou a sua mensagem e a leu para si ou para os outros 44 O verso é mais longo a linguagem mais discursiva a interpretação do mundo real caboverdiano mais individualizado O tu em Manuel Lopes tende a ser personalizado Mochinhoteu destino é seres espantalho de corvostocar lata e mandar fundade desamparinho a desamparinhona mèrada de milho a arder 45 e o diálogo mais do que admirativo é interrogativo ainda quando a sua proposta poética se situa ao nível da indagação colectiva Que disse a Esfinge aos homens mestiços de cara chupada Esta encruzilhada de caminhos e de raças onde vai ter Por que virgens paragens se prolonga Que significa para eles o amanhecer 46 Em Pedro Corsino Azevedo sem livro publicado e de escassa produção poética pelo menos a conhecida 41 até agora referese um original perdido Era de ouro é legítimo falarmos em dois mundos Um diríamos existencial equacionando os sonhos e os desenganos superando o sentido trágico da vida Sou o atleta vencidoRenascido 47 Outro o da radicação de motivações populares como no poema muito difundido TerraLonge Terralonge terralonge Oh mãe que me embalasteOh meu querer bipartido 48 ou em Galinha branca Galinha branca O espectro da morte A sorte De todos Olha pra mim Assim Canivetinho Canivetão Vá Té França A única esperança49 Com este poema ele ganha o direito a ser considerado o primeiro poeta da modernidade caboverdiana uma vez que nos parece ter sido escrito por volta de 1930 50 Osvaldo Alcântara i e Baltasar Lopes é de todos os poetas de Claridade aquele que vem produzindo uma poesia mais intelectualizada Mas nem por isso Osvaldo Alcântara deixa de ser um poeta par e passo preocupado e identificado com o seu mundo colectivo como em Recordai do desterro no dia de S Silvestre de 1957 42 O inefável invade docemente a minha tristezaSei que a tua espada háde fulgurar nas batalhas necessáriase Nicolau nunca mais voltará a ser moedadas riquezas de Caim 51 E nos seus recursos imagéticos no seu discurso não raro metafórico ou metonímico Osvaldo Alcântara marca a sua linguagem de uma exigência estética nem sempre alcançada por outros Poesia habitada por uma consciência dialéctica num permanente apelo às forças da reprodução mutativa Recobre um espaço entretecido do cósmico do social da tradição popular das forças criadoras da vida e da acção de tal modo interiorizado e fundido no impulso poético mas redimido pela racionalização Quem me dera ser estereoscópio para disciplinar as minhas sensações Um dos seus últimos poemas publicado em 1973 sagrase pelo registo da esperança ao ritmo de uma pulsação radiosa e nele e com ele Osvaldo Alcântara firmase no chão real do espaço e do tempo caboverdianos Onde há o Tântalo de todas as recusas e tudo gerou nada e o tempo desembocou no presente e no chão podre de húmus malditos o presente só tem para ti uma colheita clandestina esperança esperança esperança 52 À Claridade sucede a geração de a Certeza 1944 Nem sempre o conceito de geração corresponde a uma demarcação estética ou ideológica Mas neste caso corresponde O grupo de Certeza todo ele perfilha o ponto de vista neorealista São portanto marxistas Quando os componentes do grupo tomaram conhecimento de Claridade e logo a seguir da proposta 43 dos neorealistas portugueses abandonaram os possíveis liames com um passado e assumem na ilha o drama colectivo que feria grande parte da humanidade a Segunda Grande Guerra Mundial E é já no entendimento do que ela significa que Guilherme Rocheteau diz Ao longena distância da manhã por vira indecisão das camuflagense do rumor da guerrahá agonias esbatidas no negrofumoda pólvorados homens que se batemAquem é a luta na rectaguarda 53 Mas esta visão dialéctica exprimea também Tomaz Martins aliás autor de uns escassos três poemas tal como aquele seu companheiro de jornada Eu quero ver tecompreendendo o fogo do camarada irmãonesta luta incerta que é a sua certeza 54 Nuno Miranda Cais dever partir 1960 Cancioneiro da ilha 1964 foi nessa altura uma esperança Então ele na ufania de si próprio revelavase com o pseudónio de Manuel Alvarez Numa noite qualquer tombaram um por um os falsos deuses 55 para entretanto vinte anos depois se carpir no mundo confuso em que se deixou mergulhar e com a consciência da crise que o destruía a nave tomba de leve no arquejodas cousas caladas da noute 56 Arnaldo França um dos mais dotados poetas da Certeza teima em continuar ignorado escrevendo pouco julgamos e publicando nada depois do seu breve e útil ensaio Notas sobre poesia e ficção caboverdianas Sep Cabo Verde nova fase nº 157 Praia Cabo Verde 1962 Mas o rastro por ele deixado é o de um lírico com a consciência do peso real das palavras e ciente dos caminhos difíceis da aprendizagem poética Há muros altamente inacessíveis no trânsito para a conquista da poesia 44 Era um castelo erguido na montanha da paisagem deserta submarina tinha muros altamente inacessíveis ao salto imaginário do meu pensamentos 57 Poeta lírico mas que preenche a sua mensagem de conotações ideológicas precisas evidentes até em títulos de poemas como Paz é preciso lembrar o contexto 1960 e exigir a paz era é combater a opressão era efectuar o registo do testamento para o dia claro O seu discurso semeado de sonhos encantamentos vigília silêncio distância pétalas dispersas ou a alma que se desprende em luz ganha um relevo a um tempo tranquilo Meus sonhos quem os fez nascer tranquilosserenos e inquieto que lhe sobe da voz desperta Há nele uma sabedoria que préanuncia um futuro na esperança nova porque a felicidade só na comum seara se renova Mas no horizonte lívido do dia Recuam quando passa a nuvem fria Os pássaros metálicos da noite E na amplidão da luz que resplandece É de ti que surgiu a mão que tece A esperança nova à humana sortes 58 Colocaríamos agora o nome de António Nunes Devaneios 1938 Poemas de longe 1945 que em 1944 mandava de Lisboa para o nº 2 de Certeza o Poema de amanhã Poema de intencionalidade unívoca com ele António Nunes se impunha como o primeiro poeta neorealista caboverdiano a estabelecer a oposição 45 colonizadocolonizador Com efeito nesse poema o tu é Mamãe a terra caboverdiana mas subjacente está um ele o outro que dispõe dos homens o colonizador Mamãe sonho que um dia estas leiras de terra que se estendem quer seja Mato Engenho Dàcabalaio ou Santana filhas do nosso esforço frutos do nosso suor serão nossas E então O barulho das máquinas cortando águas correndo por levadas enormes plantas a apontar trapiches pilando cheiro de melaço estonteando quente revigorando os sonhos e remoçando as ânsias novas seivas brotaram da terra dura e seca 59 Aqui António Nunes apartase de Jorge Barbosa e de várias maneiras na estrutura externa e no ponto de vista Mais tarde em Ritmo de pilão davanos a complementaridade desta proposta e mais se distanciava de Jorge Barbosa que em vincado acento dorido falava do nosso drama e até da nossa revolta Mas que revolta da nossa silenciosa revolta melancólica E António Nunes Este em 1958 abria a sua área temática em Ritmo de pilão Bate pilão bateque o teu som é o mesmodesde o tempo antigodos navios negreiros 60 Ao sonho de que as terras serão nossas se junta agora o incitamento a uma luta continuada O sentido da sua mensagem encerra a visão dialéctica da mudança e a necessidade de acção 46 A década de cinquenta abre com Linha do horizonte 1951 de Aguinaldo Fonseca quando já se encontrava em Portugal e havia publicado alguns poemas soltos Poesia marcada em muitos lances pela angústia da secura calada na garganta e daí o avanço para a denúncia do drama caboverdiano entendido não só no presente como que ainda diacronicamente enquanto grava com insistência o seu grito um grito imperfeito porque não saido poço desta angústia amordaçada A novidade de Aguinaldo Fonseca está em ter sido ele o primeiro a utilizar a África como substância poética caboverdiana facto inédito se dermos à expressão de Pedro Cardoso África minha das Esfinges berçoJá foste grande poderosa e livre61 uma conotação sentimental e não necessariamente política No texto de A Fonseca há pelo menos duas alusões a África Uma delas em Magia negra Das estrelas e dos grilos Arrastase o vão lamento Da África dos meus Avós Do coração desta noite Ferido sangrando ainda Entre suores e chicotes 62 Do vão lamentoDa África de meus avós instalado no coração ferido que ainda sangra entre suores e chicotes se procede a um enunciado de sofrimento inculpado a uma situação colonial É um tanto nesta linha que vai prosseguir com todas as variantes possíveis a produção poética daqueles que tal corno A Fonseca se associaram ao Suplemento Cultural 1958 Gabriel Mariano Ovídio Martins Terêncio Anahory Yolanda Morazzo Todos ou quase todos 47 bem como os elementos do grupo da Certeza terminaram por colaborar na Claridade O projecto da geração da Claridade descolase pela transgressão pelo deslocamento da visão europeia para uma visão caboverdiana Daí o rompimento com os modelos temáticos europeus e uma radical consciência regional O ideário de Certeza enriquece a tomada de posição de Claridade pela introdução de uma visão dialéctica dada pelo marxismo Este grupo do Suplemento Cultural mercê da participação de alguns dos seus membros enceta a substituição do conceito regional pelo conceito nacional É assim que uma nova perspectiva em relação à situação colonial surge já próxima da década de sessenta e nesta se vai prolongar e aprofundar Acentuese menos nuns que noutros ou antes evidente nuns e não em todos Mas no que à maioria é comum será o travo amargo da dominação Vejamos em Gabriel Mariano 12 poemas de circunstância 1965 Não Amigos já vos disse não Mais uma vez minha resposta é Não Não insistam mais Que me importa o doce que só a mim me dais Nada me separa dos meus companheiros 63 Onésimo Silveira Hora grande 1962 um dos que primeiro ensaiaram o convívio linguístico Cabá vapor caba carvom Restam praias vazias e botes agonizantes Cabá vapor cabá carvomNos campos dantescos de S Vicente 64 no propósito da eficaz expressão de uma sofrida realidade caboverdiana 48 demarcase também dos poetas da Claridade pelo carácter de intervenção poética ao jeito vocativo imperativo Atrás dos ferros da prisão É preciso levantar os braços algemados Contra a prepotência 65 Ou na forma interrogativa mas ainda subjacentemente a recusa Para quê chorar Se as suas mãos são limpas A sua culpa inocente E a nudez das suas vozes Bandeiras desfraldadas 66 E o mais determinado dos poetas caboverdianos aquele que desde cedo envolveu o seu verbo de signos directamente combatidos Ovídio Martins Caminhada 1962 Gritarei berrarei matareiNão vou para Pasárgada 1973 partidário consciente e obstinado de uma poesia de confrontação empenhase na contestação do chamado evasionismo Não vou para Pasárgada e ironiza Mordaças A um Poeta Não me façam rir Experimentem primeiro Deixar de respirar Ou rimar mordaças Com Liberdade 67 49 dandose numa entrega cerrada ao tempo cabo verdiano tempo de se entupirde raivade explodir em raiva Ainda quando da sua linguagem se verte um lirismo amorável e isto aplicase à quase totalidade dos poetas não só caboverdianos como angolanos ou moçambicanos o poema se organiza numa intencionalidade desmistificadora Bem iríamos sublinhando aqui o signo poemático é o grito quotidiano de quem se assume ao nível da escrita como militante No meu grito quotidiano canto a madrugada a mim mesmo renovado na terra renovada pela nossa luta 68 Diríamos então que à poesia declamatória veemente de Ovídio Martins ou de um Onésimo Silveira responde Gabriel Mariano com um exercício de linguagem repousada mas com um amplo efeito sugestivo às vezes no lanço da insinuação Depois ninguém me acuse de ter sido misterioso Apenas guardei comigo a calma verde da terra e a certa repetição das madrugadas sem sono 69 50 Mesmo quando o seu discurso penetra no espaço declamativo aí ainda o retórico se disciplina Como no Capitão Ambrósio longo poema épico em que por transferência dissimuladora o Ambrósio herói popular em tempo de fome personifica o libertador que háde ser festejado em mãos seguras erguidasEm trilhos verdeluzindoLuzindo a negra bandeiraClara bandeira na frenteNa frente segue o AmbrósioMeu pai manda o povo cantarManda o povo cantar na madrugada limpaManda o povo cantar com tambores e búziosQuando Ambrósio chegar 70 A presença feminina na moderna poesia cabo verdiana é preenchida por Yolanda Morazzo que aparece integrada no grupo do Suplemento Cultural A sua lírica de então tende a enraizarse numa poética caracterizadamente caboverdiana Mas a uma estadia em Lisboa sucedese uma longa permanência diríamos mesmo uma radicação em Angola E o seu discurso tende a diversificarse em jeito de velas soltas título de um livro inédito velas brancas soltas no vento a galope numa ansiosa determinação que alias já estava inscrita em poemas seus dos anos cinquenta Amanhã será uma nova Aurora 71 Mas é agora em Cântico de ferro 1976 que reúne alguns dos seus versos que vão desde 1956 a 1975 onde o espaço angolano é a semântica por excelência Um dia se escreverá nas tuas veiasuma história de sangue triste tristehistória de ódio dos algozescadastro rasgando o útero fértildo café do algodão e do sisaltentáculos de manhas e de garrasunhas envenenadas unhas verdes 72 Ficouse pelo caminho parece um destes poetas Terêncio Anahory Caminho longe 1962 na época dramática do trânsito glorioso do seu povo ele que em 51 1962 se havia associado ao juntamom no meio da baía um galo canta a sua canção de aurora 73 O discurso da revolta prolongase e generalizase com o grupo dos poetas do suplemento Sèló 1962 do Notícias de Cabo Verde nascidos entre 1937 a 1941 Arménio Vieira Jorge Miranda Alfama Mário Fonseca Osvaldo Osório Rolando VeraCruz Martins todos ainda sem livro publicado com excepção para Oswaldo Osório como adiante se regista O universo da poesia destes poetas continua a ser o espaço caboverdiano Mas à medida que o tempo avança a tendência é para a interpretação dialéctica da situação social marcada pelo colonialismo e a transparência de uma sistemática recusa Falase de Ilhas renascidasnuvens libertasTalvez um continenteÀ medida dos nossos desejos Arménio Vieira 74 Falase de Quando a vida nascer e então Rasgarei as gradesRasgarei os açaimesEnterrarei a dorGritarei bem altoA minha sede de viver Mário Fonseca in Cabo Verde nº 126 1960 Parte deste grupo durante anos silencioso ou silenciado ressurge mais tarde com poemas construídos no recato enganoso e publicados na revista Vértice Coimbra O caso de Arménio Vieira que aí inicia em cruel ironia o ciclo da animalização Pensamos lá fora Isto é que fazem de nós quando nos inquirem estais vivos E em nós as galinhas respondem 52 dormimos ISTO É QUE FAZEM DE NÓS in Vértice nº 334345 1971 p 845 Estamos em 1971 em África o derradeiro império apodrece Os homens no reino da clandestinidade a vida cresce e está prestes a romper na manhã inflor ao sopro de uma coragem renovada de todos nós na veemente ressurreição Osvaldo Osório Os poetas sentem o halo próximo da aurora de vitórias e um deles Rolando VeraCruz pode num gesto colectivo afirmar Ah Que reflorir de sorrisos ocultos no tempoUm outro gestocálido como vontade de criançaum outro quererveemente de ressurreição Ou Jorge Miranda Alfama Eu me semeei na argilacom sangue e tempo para florir Sèló nº1 1962 75 É na verdade o tempo da ressurreição E com a ressurreição que é a da liberdade a da libertação se organiza um novo espaço o de uma nova escrita o de uma nova língua várias gramáticas Os primeiros indícios vêm de Claridade avolumamse na poética das gerações seguintes com Gabriel Mariano Ovídio Martins Onésimo Silveira mas ainda aqui a presença de Jorge Barbosa a influência do grupo da Claridade é soberana O primeiro sinal dessa libertação definitiva vem com Timóteo Tio Tiofe heterónimo de João Manuel Varela a ajuntar ao de João Vário 76 com fragmentos de poemas que faria publicar no jornal Letras e Artes 1963 e 1964 e Nôs Vida Roterdão 1972 depois incorporados em O primeiro livro de Notcha 1975 no qual Timóteo recorta o destino histórico do arquipélago O nosso destino o destino político do 53 arquipélago é inconcebível fora do contexto africano palavras da sua introdução Longo poema de oitenta e nove páginas seccionado em três partes as partes em discursos recorrendo à intertextualidade à convivência linguística aos dados da história da botânica da economia da geografia evocando os vultos da literatura caboverdiana os heróis populares os heróis nacionais africanos afrontando a enumeração estatística inserindo dezenas e dezenas de palavras do espaço caboverdiano até então ignoradas pela poética caboverdiana caldeando grandezas e misérias mitos revoltas fomes esperanças ao modo de evocação e narração bíblica Timóteo Tio Tiofe abala as estruturas poéticas tradicionais do Arquipélago e organiza um discurso sereno veemente ao ritmo caudaloso e assim reconstroe a gesta caboverdiana a narrativa poética da epopeia histórica do ser caboverdiano desde as origens até aos nossos dias Mas que não venham mais fomes sobre nós sobre nossas casas nossos estábulos e apriscos sobre nossas escolas e asilos Que não venham corvos gafanhotos lestados nordeste harmatão ou tempestades marés bravas chuvas que danifiquem estes cereais estas oleaginosas estas árvores de fruta Que não venha fogo sobre nossos leitos de madeira nossos colchões de palha nossos lençóis de linho sobre nossos campos de cultivo e nossas alfaias agrícolas Nem varíola ou cólera ou epidemias de outro teor sobre nossos pais nossas mulheres nossas crianças E estes canavais estas aves de criação estes porcos de ceva oh que tenhamos o gozo deles ou a alegria da sua multiplicação 77 54 Corsino Fortes após a estreia no Boletim dos Alunos do Liceu Gil Eanes 1959 a seguir participa na Claridade e no Cabo Verde mas ainda aqui a estrutura da sua poesia é símile da dos claridosos O salto qualitativo e significativo vem com Pão fonema 1975 que objectiva a ruptura total com a tradição jorge barbosiana São próximas no tempo embora de características diferentes as experiências de um e de outro de Corsino e Timóteo Encontro natural no tempo histórico e cultural Influências de um no outro ou recíprocas já que ambos parece teriam vivido em comum anseios novos Do ponto de vista da poesia caboverdiana isso não será importante Importante é fazer o registo destas duas perspectivas inéditas e ao cabo marcadas por características poéticas próprias até porque no domínio da gramática tão afastados estão um do outro A um certo discursivismo a um certo barroquismo se contrapõe uma contenção visivelmente trabalhada de Corsino Neste numa elaboração verso a verso cingida ao tropo também à convivência linguística estrutura da linguagem ao nível mítico metabolizada no recurso metonímico estrofe a estrofe a sua proposta é a de uma grande parábola a terra do sofrimento engravidou e a sua dor agora é a dor da parturiente a vida nova vai surgir Ritmo repousado na feição de lengalenga popular intelectualizada a espessura de poema ganha um brilho inusitado Ouveme primogénito da ilha Ontem fui lenha e lastro para navio Hoje sol semente para sementeira 55 Devolvo às ondas A evocação de ser viagem E fico pão à porta das padarias Onde o bolor da terra é sangue e trigo E o milho que amamos É nosso irmão uterino Onde os corvos sangram do alto bibliotecas de tantas sílabas Onde o osso é cada vez mais espiga a espiga cada vez mais osso Aqui Ergo a minha aliança De pão fonema Enquanto o vento bebe E o vento bebe meu sangue a barlavento 78 Outro companheiro de jornada é Oswaldo Osório Caboverdeamadamente construção meu amor 1975 Porque desmontámos os mitos e no regresso à pureza originalpossuídos nos achamos de amor e construção são dois versos do poema Batuque 79 E neles se contém um projecto que se adequa à fala de Oswaldo Osório Desmontados são por ele os mitos da linguagem esgotada possuído ou achado está o poeta no amor da construção de uma linguagem descartada através de rupturas morfológicas neologismos justaposições de que o próprio título pode dar uma 56 ideia Caboverdeamadamente construção meu amor Por amor se constroe uma vida nova e essa vida nova só poderá ser expressa poeticamente através de uma escrita nova cantalutando caboverdeamamos caboverdeamadamente construímos a nossa terra cantalutando caboverdeano os nossos sonhos descem às mãos a esse acto caboverdeamor cantaluta cantaluta cantaluta caboverdeamadamente 80 Poetas de recursos estilísticos diferentes mas todos apostados num corte definitivo se é possível cônscios de que a primeira condição para a poesia exercer a sua função social terá que começar por sêlo Procedem a uma destruição da língua para reconstruir outras e cada um com a sua gramática própria integrandose assim num processo de reactualização de pesquisa e invenção desbloqueando a poesia de CaboVerde de um certo percurso repetitivo Deixa de ser íntima exclamativa interrogativa tornase irónica mordaz epopeia À saga quotidiana sucede a saga histórica A este respeito o do enriquecimento estilístico não se pode dizer que os mais jovens poetas como Armando Lima Júnior Tacalhe ou mesmo Dante Mariano todos sem livro publicado ou Sukre DSal Horizonte aberto 1976 Amdjers 1977 ou Kwame Kondé Kordá Kaoberdi 1974 tivessem trazido qualquer novidade A poesia deste grupo de um modo geral surge sob o signo da véspera de amanhã na inscrição de Dante Mariano de quem tarda o livro prometido A notícia que trará o povo inteiropara as ruas em avalancheEsta simHÁ MUITO QUE CHEGOU 81 Ou nas palavras de 57 Kwame Kondé por largos anos exilado De mãos vazias te deixei terra amadaO coração de dor sangrando 82 para quem a Revolução se alastra viva majestosa e rebelde como o desejo dominando o gesto o olhar e a vida 83 O ponto de encontro é na África África independente na terra rica que herdámos mãe do futuroirradiando felicidade 84 Sukre DSal O espaço caboverdiano de Tacalhe o Lar por ele concebido é também e só na luta armada É aqui meu amorÉ aqui que ficaO lar do nosso sonhoNa boca vermelha desta espingarda 85 O tempo nos dirá do futuro de cada um deles Tacalhe no entanto persistentemente vem colaborando na página Cultura da Voz di Povo diversificando a sua poesia com a consciência de que as palavras são loucas na busca do sentido 86 Seja como for de Arménio Vieira Mário Fonseca impublicados em livro deles se aguarda e há notícia concreta uma palavra já que justamente com Oswaldo Osório Corsino Fortes e Timóteo Tio Tiofe são dos que possuem o fôlego necessário para dar à actual poesia caboverdiana uma solidez indiscutível E alguns dos mais novos que neles atentem E agora e isto não significa nenhum juízo de valor é uma arrumação sempre tão difícil diríamos uma leitura histórica como outras que admitimos chamamos a atenção para um certo grupo de poetas os poetas da diáspora cabo verdiana Suponhamos António Mendes Cardoso Jorge Pedro Virgílio Pires sem livro publicado e de escassíssima produção poética dando mesmo a impressão de a terem abandonado Luís Romano Clima 1963 revelandose no Brasil e aí tornado autor bilingue defendendo nos 58 últimos anos com persistência uma literatura de língua nacional o dialecto há nele um olhar enternecido lançado sobre o homem crioulo um gesto de solidariedade com o homem negro e um apelo ao Irmão branco Brancoescutame um momentoainda é tempoporque te falo de irmão para irmãoNo mistério daquilo que nos formou considerame Só isso nos bastaSó issoe estende me tua mão 87 Teobaldo Virgínio Poemas caboverdianas 1960 Viagem para além da fronteira 1973 estreandose em Cabo Verde mas desde há muito vivendo em Angola repensase num lirismo algo cristão e num impulso alado na solidariedade caboverdiana numa visão universalista Sejam ferramentas solitáriascada boca fale seu gritoreprimidocada braço corteseu caminho livre e cada olhar reflicta seu caminho claro Um fulgor de esperança em cada humilde 88 Daniel Filipe consagrado autor repartido entre duas poéticas inicialmente a caboverdiana e depois a portuguesa o seu nome retémse aqui como um acto de justiça Caboverdiano de origem de nascimento e etnicamente apesar da sua radicação em Portugal desde criança três livros pelo menos são de motivação cabo verdiana Missiva 1946 Marinheiro em terra 1949 e A ilha e a solidão 1957 Se quisermos encontrarlhe um ponto de encontro devemos buscálo ao grupo de Claridade a insularidade da terra pequena metida nas 59 grades das suas contradições avara ao futuro dos homens e úbere aos sonhos e anseios Ah esta ânsia de partir de ser Um barco mais na imensidão do mar De ir sempre além sem saber A rota certa para regressar 89 Com excepção de Virgílio Pires e Jorge Pedro todos os outros se revelaram poetas fora da sua terra ou então ausentes dela foi que se confirmaram como tal Em 1961 organizada e prefaciada com inteligência por Jaime de Figueiredo é publicada em Cabo Verde a antologia Modernos poetas caboverdianos e com ela nesse tempo se dá o panorama essencial da moderna poesia de Cabo Verde Por motivos metodológicos ou outros ficaram de fora apenas António Pedro e Daniel Filipe ambos e de longe profundamente radicados em Portugal e o seu nome ligado à literatura portuguesa No entanto afigurasenos e atrás quisemos justificálo que Daniel Filipe exige a sua recuperação caboverdiana Estes dois poetas terminaram depois por ser incluídos bem como outros juntamente com os seleccionados por Jaime de Figueiredo no primeiro volume de No reino de Caliban antologia panorâmica da poesia africana de expressão portuguesa 1975 que o autor destas linhas organizou anotou e prefaciou A rematar citamos o nome de Amílcar Cabral fundador do P A I G C e um dos ideólogos mais prestigiosos da revolução africana Dos poemas que dele agora conhecemos dois aspectos da sua personalidade se podem enunciar o de uma comunhão telúrica e simultaneamente o de uma adesão colectiva ao destino trágico do seu povo mas o afago da esperança 60 germinando como no poema Regresso Venha Comigo Mamãe Velha venharecobre a força e cheguese só ao portãoA chuva amiga já falou mantenhae bate dentro do meu coração 90 ou como em Ilha Rochas escarpadas tapando os horizontes mar aos quatro cantos prendendo as nossas ânsias in Ilha ano VII Ponta Delgada 2261946 republicado noutros inclusive Seara Nova dezembro 1974 A outra atitude o outro ponto de vista é o da representação duma consciência dialéctica da vida como em Segue o teu rumo Irmão Que amanhã na planície conquistadada terra redimidalibertadaos Homens irmanados colherãoo saboroso Pão 91 Ou em Quem é que não se lembra Meu grito de revolta ecoou pelos vales mais longínquos da Terraatravessou os mares e osoceanos 92 Tudo leva a crer que não haverá razão para se optar pela existência de duas fases correspondendo a escrita dos poemas a um mesmo período e assim uns e outros se completam dando a globalidade poética de Amílcar Cabral 93 2 NARRATIVA Embora o primeiro texto ficcional da moderna literatura caboverdiana se deva a Manuel Lopes Um galo que cantou na baía in Claridade nº 2 excerto do conto mais tarde inserido no livro sensivelmente com o mesmo título 1959 é com o romance Chiquinho 1947 de Baltazar Lopes que se abre a série da ficção cabo verdiana Narrativa a todos os títulos importante como expressão do mundo insular e ainda pela reinvenção da escrita que se organiza em parte a partir da 61 incorporação na linguagem de signos expressões ou formas sintácticas dialectais Longe é certo da ruptura abissal que o brasileiro Guimarães Rosa ou o angolano Luandino Vieira mais tarde levariam às últimas consequências É legítimo no entanto considerálo pioneiro na busca de processos para a construção de novas línguas no espaço africano de expressão portuguesa e para melhor se poder avaliar deste mérito há que ter em conta que a sua experiência data de 1938 altura em que aquele romance foi acabado Isto se pode aplicar enquanto contista disperso por revistas incluindo Claridade E se é legítimo adiantarse que a ruptura iniciada por este narrador é ponto corrente em quase toda a narrativa caboverdiana não menos legítimo é dizer que nenhum outro autor logrou ir tão longe nem tão conseguida pesquisa foi obtida em qualquer outro como em Baltazar Lopes Alguns mesmo preferiram a utilização do português fundamental com o recurso normal a signos dialectais embora os diálogos das personagens de extracção social popular são a maioria se construam de harmonia com a sua fala e neste caso as interferências do dialecto crioulo sejam notáveis e constantes Não nos esqueçamos de que se trata de um espaço bilingue e que o dialecto crioulo pode ser considerado uma língua novilatina a língua caboverdiana de léxico na sua quase totalidade noventa e sete por cento oriundo da língua portuguesa e naturalmente a reapropriação com tudo quanto a palavra implica reelaboração fonética morfológica sintáctica e semântica continuada de palavras sintagmas portuguesas por parte do dialecto crioulo que são depois devolvidas já modificadas à escrita em português Eis assim um português cabo 62 verdianizado onde inclusive por vezes o eixo sintagmático é alterado Quer a narrativa quer a lírica se enriquecem pelos mais variados processos de reconstrução linguística convivência hibridismo neologismos e daí a novidade a invenção permanentemente revelada do insupeitado lastro de uma linguagem de recursos inesgotáveis Com obra ficcional publicada além dos autores assinalados são António Aurélio Gonçalves Teixeira de Sousa Teobaldo Virgínio Luís Romano Gabriel Mariano Ovídio Martins Onésimo Silveira Nuno Miranda João Rodrigues Montes VerdeCabo 1974 Artur Carvalho Um natal em S Miguel 1975 Orlanda Amarilis Isto sem a exclusão de outros nomes como Virgílio Pires estreado em 1958 nº 8 de Claridade e tido como revelação incontestável Maria Margarida Mascarenhas que participou em Sèló e com larga colaboração no CaboVerde e Presença crioula Lisboa evidenciando qualidades de mérito real Pedro Duarte Francisco Lopes Manuel Serra Leitão Graça Aydeia Avelino Pires mas estes últimos quase episodicamente através do Cabo Verde sem terem dado a medida exacta do seu talento e também a recente amostra de Oswaldo Osório vide excertos de romance in Voz di Povo 1976 demasiado exígua para que possamos formular um juízo consciente Já há largos anos Óscar Lopes a propósito da Antologia de ficção caboverdiana contemporânea 1960 94 e de outras obras da ficção caboverdiana pronunciavase nestes termos Eu agradeço à literatura de autoria ou temática caboverdianas umas horas de leitura vivamente interessada o prazer de tantas pequenas ou 63 grandes obras refirome a dimensões gráficas surpreendentemente bem consumadas 95 Com efeito os narradores caboverdianos a partir de Claridade souberam centrarse no mundo específico insular e procederam a uma denúncia muito viva da sociedade a que pertenciam Nesta primeira fase era natural que estivessem todos eles sensíveis aos dramáticos problemas do Arquipélago a seca a fome a emigração Pode mesmo dizerse que a fome é a grande personagem da narrativa caboverdiana São elas algumas das grandes linhas temáticas da ficção cabo verdiana Mas na certeza de que a partir dessas motivações se desencadearia e por vezes de modo seguramente logrado o tratamento de muitos dados e aspectos da vida social económica cultural Níveis de vida níveis de língua níveis de cultura personagens várias populares ou não de miséria ou grandeza ali se fixaram mercê da capacidade de análise social e psicológica capacidade criadora diríamos invulgar Se a uma literatura do terceiro mundo buscarmos a expressão da sua própria mundividência a expressão do seu universo específico a resposta caboverdiana é positiva Baltazar Lopes abriu o caminho e como que muitas das propostas dos escritores que vieram depois por ele tinham já sido postuladas Mas os segmentos sociais foramse alargando desenvolvendo enriquecendo Ao mundo da fome da tragédia de germinação da consciência política e da miséria social à emigração por exemplo e ao mundo mítico que a envolve com incidência na ilha de São Nicolau da parte de Baltazar Lopes sucede o mundo epopaico de Manuel Lopes Chuva brava 1956 os contos O galo que cantou na baía 64 1959 Os flagelados do vento leste 1960 na ilha de Santo Antão atravessado também pela fome mas colocando o grande dilema de ter necessidade de partir querendo ficar terminando por ficar o que contraria a tese da radicalização do evasionismo atribuído a Claridade 96 Pretendeuse infundadamente acusar de paisagística e de muitas outras coisas más a ficção caboverdiana subscrita pelos claridosos não sabemos se em grande parte com o pensamento em Manuel Lopes Acusação estranha e injusta chegando a dar a impressão de que Onésimo Silveira autor de Consciencialização na literatura caboverdiana 1963 onde o fenómeno foi desencadeado teria falado daquilo que não conhecia ou conhecia mal pelo menos naquela altura Os romances de Manuel Lopes constituem uma inserção vigorosa no real caboverdiano profundamente desagregado em tempo de fome provocada pela estiagem Podemos lamentar que aos seus romances faleça uma perspectiva aberta ao futuro O drama cabo verdiano surge por assim dizer como uma fatalidade e por isso limitado na visão estática do autornarrador Mas de um ou de outro modo é inegável a sua significação literária e a importância capital que preenche na ficção caboverdiana Luís Romano Famintos 1962 vem situar a acção também na ilha de Santo Antão juntando ao mundo destruído pela fome o mundo da repressão administrativa e laboral Pensamos no entanto que um certo verbalismo na fala das personagens funciona como interferências longas do narrador que prejudica o equilíbrio da estrutura romanesca Documento generoso e libelo acusatório virtude é certeza o largo recurso do léxico dialectal inesgotável em Luís Romano Onésimo 65 Silveira da sua permanência em S Tomé trouxe a experiência do homem caboverdiano em tempo de fome emigrado para as roças daquele Arquipélago de que e testemunho o conto longo Toda a gente fala sim senhor 1960 Teobaldo Virgínio irmão de Luís Romano situando o desenvolvimento das suas narrativas no espaço social da mesma ilha de Santo Antão primeiro em Distância 1963 e Beira do Cais 1963 inclui naquele uma expressão telúrica sensual em que os elementos líricos e romantizados se fundem na coexistência de um humor irreverente ao mesmo tempo que uma aderência ao drama real do homem caboverdiano se desenvolve no dom da invenção de uma linguagem de carácter poético muito viva Em Vida crioula 1967 escrito em Luanda transita para uma visão de apelo teórico e sentimental às raízes da crioulidade e para a adesão universal um tanto como aconteceu com a sua última poesia Ovídio Martins Tchuchinha 1962 procede à abordagem da amorabilidade e do sentimento profundo do envolvimento lírico e social da terra abandonando depois pelos vistos a narrativa Gabriel Mariano O rapaz doente 1963 acaba porém de reunir em volume Vida e morte de João Cabafume 1977 a quase totalidade dos seus contos dispersos por várias publicações com relevo para o Cabo Verde Agora sujeitos a cuidada revisão dãonos a medida inteira de um contador de histórias grudado ao real significativo do homem caboverdiano Narrador personagens ambientes se identificam através de uma linguagem caboverdianizada sabiamente estruturada para a expressão da epopeia quotidiana feita de sofrimentos anseios frustrações desencontros e grandezas e onde 66 também o drama da subalimentação crónica tem a sua fala expressiva Avança por vezes na exploração de comportamentos sociais diversificados incluindo a pequena burguesia caboverdiana residindo em Lisboa O picaresco se introduz neste espaço textual não como intenção gratuita mas relevando de um campo semântico autêntico Além do mais o drama da emigração para S Tomé a tradução oral colada à intimidade social caboverdiana figuras moduladas na corajosa dignidade de afrontar os abusos e as prepotências Com este Vida e morte de João Cabafume um título e raiz de Gabriel Mariano a narrativa cabo verdiana continua a revelarse na sua inegável originalidade Em Nuno Miranda Gente da ilha 1961 Caminho longe romance sd 1975 de há muito radicado em Lisboa a escrita verte uma certa nostalgia da terra de origem e do passado Mas ele é um exemplo acabado de como um autor à partida dotado não alcança ultrapassar o jogo de contradições que ele em si próprio criou e assumiu Isto se aplica sobretudo em relação a alguns contos e se insinua em muitas páginas do romance que reflectem a angústia do desencontro numa identificação do narrador com o autor No romance de estrutura um tanto ou quanto desequilibrada há momentos de real interesse que são aqueles em que o narrador se concilia numa linguagem adequada Mas certos diálogos por demais artificiosos sobretudo quando se pontua filosoficamente empobrecem o texto caracterizado por um estilo pretensioso e visivelmente untuoso que torna a leitura penosa É nossa convicção que o autor pode se quiser no futuro vencer as debilidades através de uma severa autocrítica de autor e de narrador Ao cabo o 67 que é preciso é coragem como diz o narrador no fechamento do romance Teixeira de Sousa nos anos quarenta ligado aos neo realistas portugueses e deste modo um dos pioneiros da ficção caboverdiana só recentemente reuniu os seus contos em Contra mar e vento 1972 Histórias centradas no quadro da ilha do Fogo lá onde se tornaram resistentes conflitos e tensões decorrentes de uma estrutura social sedimentada sob o signo do latifúndio A infância certos aspectos da confrontação social de classes a desesperada luta pela sobrevivência o heroísmo quotidiano a honradez ressonâncias da labuta aventurosa do caboverdiano pela América são alguns dos segmentos incisivos que estruturaram esta obra Pícaras dramáticas poéticas ou impregnadas de um certo humor ou de uma certa ironia ou ainda às vezes de uma fina melancolia mas sempre profundamente significativas num estilo caracterizado pela limpidez incisivo com este discurso Teixeira de Sousa dános um dos enunciados mais equilibrados e autênticos da narrativa caboverdiana revelando um fôlego de narrador excepcional Em meio deste panorama encontramos o nome de António Aurélio Gonçalves Uma espécie de outsider De um tempo anterior aos homens de Claridade uma larga permanência em Lisboa onde conviveu com alguns intelectuais africanos Castro Soromenho Viana de Almeida e portugueses Castelo Branco Chaves e Álvaro Salema que tem dedicado através do seu longo exercício da crítica entusiastas e excelentes palavras à literatura caboverdiana regressa à ilha de S Vicente e aí partilha da aventura do grupo de Claridade na qual se estrearia como novelista Alguns dos seus textos que faz 68 e refaz e sempre arrancados das suas mãos à força aparecem no Cabo Verde e entretanto espaçadamente sãolhe editadas quatro noveletas a designação é sua Pródiga 1956 O enterro de nha Candinha Sena 1957 Noite de vento 1970Virgens loucas 1971 O tempo histórico é o dos nossos dias o espaço exclusivamente o da ilha de S Vicente Dotado de uma capacidade notável para a análise subjectiva e elaboração dos diálogos organiza o seu espaço literário numa relação muito íntima entre o aprofundamento psicológico e o meio social em que as personagens estão concretamente inseridas Com um conhecimento firme e atento do microuniverso da cidade do Mindelo revela um raro dom de manipulação de ingredientes aparentemente ínfimos para uma significação larga desse real não raro num trajecto mítico No gosto da exploração de parábolas bíblicas filho pródigo Pródiga virgens imprudentes Virgens loucas sóbrio e sucinto o texto toca o lírico o dramático e o trágico apresentando uma galeria de tipos caboverdianos que nos chegaram cheios de vida e de verdade nas palavras de Maria Lúcia Lepecki 97 Textos abertos que surpreendem e fazem o leitor participar e continuar o desenvolvimento do seu processo inventivo A última revelação vem com o livro de contos Caesdo Sodré té Salamansa 1974 de Orlanda Amarilis que esteve ligada ao grupo de Certeza Orlanda Amarilis sagrase como a primeira narradora caboverdiana com livro publicado Histórias tecidas de uma experiência cabo verdiana e ecuménica o espaço literário repartido entre a ilha de S Vicente e a cidade de Lisboa é assim um pouco também sobre a diáspora caboverdiana De um lado um certo desencanto título de um dos contos ou a mal contida amargura ou a nostalgia no exílio em 69 terra onde aos protagonistas fazem sentir que são estranhos por outra a inserção no mundo de carências da terra natal ou o reencontro possível com as raízes e uma penetração no fantástico adequado a certos níveis mentais do arquipélago Texto de excelentes recursos estilísticos uma reapropriação do lastro dialectal de inegável rigor e sugestivo efeito eisnos na fruição barthiana de uma linguagem caboverdianizada das mais bem conseguidas da ficção crioula Sensibilidade marcadamente feminina cativa dos gestos das falas das apetências quotidianas o seu discurso alarga o tecido de análise social e psicológica e aprofunda a perspectiva do drama na narrativa caboverdiana 3 DRAMA Uma das formas menos expressivas desta literatura é a área do teatro O que não deixa de encontrar um correspondente histórico na formação da literatura portuguesa e também brasileira Isto de uma maneira geral aplicase a todas as excolónias portuguesas Pode dizerse que em Cabo Verde no domínio da arte teatral há apenas Terra de sôdade argumento para bailado folclórico de Jaime de Figueiredo publicado na revista Atlântico em 1946 98 até hoje à espera de merecer as atenções de uma encenação 4 BILINGUISMO CABOVERDIANO É bilingue o povo caboverdiano já anteriormente o dissemos Além da língua portuguesa exprimese 70 também através do seu dialecto ou da língua crioula que no plano das relações quotidianas possui uma total implantação que falece à língua portuguesa E se foi longo o tempo necessário para o escritor caboverdiano alcançar uma consciência regional enquanto autor de língua portuguesa cedo porém ele a revelou intuitivamente enquanto autor dialectal facto que o distingue dos outros povos dos novos países africanos Vem de tempos recuados e desenvolvese no século XIX paralelamente às criações em língua portuguesa a produção popular em dialecto crioulo sobretudo veiculada através da morna mais de dois séculos de existência a grande expressão artística do homem crioulo das canções populares das finançons canções de batuque do curcutiçans canções de desafio ilha do Fogo de que se podem encontrar alguns exemplos na revista Claridade Há assim um importante substracto dialectal popular que estimularia a produção literária hoje também enriquecida com a recente exploração da coladeira Um dos pioneiros o cónego António Manuel Teixeira do SeminárioLiceu da ilha de S Nicolau responsável pelo Almanach LusoAfricano 2 volumes 1894 e 1899 neste fez publicar algumas tentativas literárias dialectais Em 1910 José Bernardo Alfama publica Canções crioulas Salientese no entanto um Eugénio Tavares Mornas cantigas crioulas 1932 um Pedro Cardoso poeta bilingue Folcolore caboverdeano 1933 de facto dos primeiros a elegerem o crioulo à dignidade de língua literária Mais perto do nosso tempo apontamse Sérgio Frusoni 19011975 um caso interessante de aculturação já que é filho de italianos Mário Macedo Barbosa Jorge Pedro Ovídio Martins Caminhada 1962 parte em dialecto crioulo 71 Luís Romano LzimparimNegrume 1973 Gabriel Mariano Kaoberdiano Dambará Noti sd 1968 Artur Vieira Sukre Dsal Tacalhe Oswaldo Osório Corsino Fortes Arménio Vieira etc Instrumento essencialmente afeiçoado à recriação de manifestações de índole lírica o caso de Beleza um dos mais populares troveiros do Arquipélago nestes últimos anos é notório o esforço para a sua utilização cada vez mais ampla No fundo a produção literária em crioulo do ponto de vista ideológico descreve sensivelmente uma curva evolutiva próxima da língua portuguesa a uma fase lírica e por vezes de conotação social sucede uma fase marcadamente ideológica protesto e intervenção política Ca tem nada na es bidaMás grande que amor 99 diz Eugénio Tavares Ou Pedro Cardoso na apropriação de raiz popular com intencionalidade social Coitado quem dixâ sê terraSêl dixâ nél sê coraçam 100 Sérgio Frusoni uma voz apaixonada do quotidiano ínfimo adensado por recursos de subtil ironia Êxe spancadura que bo tita uvica ê roncadura de pómba nem vôo de pardal in Claridade nº 9 1960 p 77 Com Ovídio Martins o corte ideológico é de vez Hora tita tchgánhas gente que Kaoberdiano Dambará persegue em Noti num deliberado apelo à revolução e vamos encontrar ainda em Kwame Kondá Kordá Kaobardi 1974 Veiculando quase exclusivamente a poesia cabe a Luís Romano um dos que de modo apaixonado reclamam a integral cidadania do dialecto ensaiar com pertinácia a primeira experiência de tomo LzimparimNegrume 1973 já citado que reúne não só poesias como vários contos em crioulo de Santo Antão acompanhados da tradução livre em português 72 Acrescentaríamos ainda que apesar de tudo quanto dissemos sobre o que aproxima ou afasta Claridade e Certeza enquanto a primeira logo no seu primeiro número abre a primeira página com uma canção de Beleza numa evidente preocupação de consagrar o dialecto crioulo e em números posteriores essa preocupação ganha volume Certeza desconhece o dialecto crioulo Travado e combatido pelas entidades coloniais nem por isso esta raiz vivaz feneceu Acreditamos estarlhe reservado no futuro papel de relevo na representação de muitos aspectos do homem caboverdiano E mais estamos de consciência convictos de que a longa e radiosa caminhada do dialecto crioulo com ou sem escolaridade irá provocar uma correcção nos domínios da sociolinguística e da psicolinguística que parecem admitir ou predizer o desaparecimento de uma língua quando ela não sendo ensinada tem de suportar a concorrência falada de outra ou outras que o são 101 Se o dialecto crioulo é como se sabe a línguamãe do caboverdiano e a língua portuguesa em muitos casos a língua aprendida supletivamente seria de admitir que ao nível da competência o escritor caboverdiano se sentisse mais seguro na expressão literária dialectal Porém isso só acontece em termos gerais e com algumas excepções Eugénio Tavares e Sérgio Frusoni podem ser dois exemplos no plano da poesia popular Tal paradoxo aparente ou provisório provém não só da carência de organização estrutural teórica da língua caboverdiana como também de uma prolongada e fecunda tradição literária escrita sem a qual uma língua não alcança a maleabilidade e a ductilidade que a autêntica criação literária exige 102 73 RAÍZES nota final Por fim uma palavra para a revista Raízes 1977 E porque se trata de um acontecimento na vida cultural do Cabo Verde libertado se transcreve a nota de abertura De um encontro de intelectuais caboverdianos irmanados pelo ideal da libertação da independência e do progresso da sua Pátria e vivificados pela seiva haurida de raízes comuns aprofundadas no seu chão nasceu a ideia da publicação que hoje se apresenta limitada pelo condicionalismo do meio mas aberta pelo espírito generoso dos seus colaboradores vindos das tendências mais díspares mas unidos pelo ideal comum que da revista é signo uma condição caboverdiana africana e de cidadania do Mundo uma autenticidade nascida da liberdade dessa condição uma independência assente nas comuns RAÍZES A novidade está em que o ideário de Raízes se cumpre na isotopia de uma longa jornada já nossa conhecida Claridade Certeza Suplemento Cultural Sèló Os cabo verdianos que neste número se inscrevem com excepção para Tacalhe e Jorge Carlos da Fonseca foram colaboradores de uma ou de outra daquelas publicações Neste espaço breve diremos em jeito de síntese que tudo quanto enunciámos de um modo geral se confirma em relação aos autores agora presentes em Raízes e de novo chamamos a atenção para Arménio Vieira e Mário Fonseca Que a Revolução obviamente é enunciado de muitos textos Que Ovídio Martins atento à mudança da situação de discurso transfere a prática poética que se centrava no contexto violentado e repressivo para a reconstrução nacional Devagar a reconstrução nacional avança Ilha a ilha Dor a dor 74 Amor a amor na opção de uma prática pedagógica Guillén do após a revolução cubana é o nome que nos ocorre Que Osvaldo Alcântara nos parece ter agora a seu lado um companheiro de jornada estética Jorge Carlos da Fonseca pelo menos um certo Osvaldo Alcântara e um certo J Carlos da Fonseca Que um novo poeta se anuncia Pedro Duarte e um novo narrador se vai confirmando Osvaldo Osório Que o drama continua à espera de dramaturgos Que dos vinte e três poemas publicados apenas um é em crioulo Que Raízes sendo um acto de qualidade e inteligência é também uma decisão revolucionária Cheganos às mãos em cima da revisão das provas deste trabalho Editada na cidade da Praia ilha de Santiago dirigida por Arnaldo França tem como colaboradores ensaio Mário de Andrade e Arnaldo França Jaime de Figueiredo ficção António Aurélio Gonçalves Baltasar Lopes Oswaldo Alcântara Ovídio Martins Corsino Fortes Mário Fonseca Tacalhe Arménio Vieira Jorge Carlos da Fonseca Pedro Duarte e Jorge Miranda Alfama Ilustração de Manuel Figueira e Osvaldo Azevedo Capa de Pedro Gregório 76 1 LÍRICA Em capítulo anterior assinalámos que Caetano da Costa Alegre poeta oitocentista sãotomense fora o primeiro em todo o espaço africano de língua portuguesa a dar ao tópico da cor um tratamento poético embora numa visão marcadamente alienatória constituindose como produtor de uma expressão de negrismo Curiosamente é também sãotomense o poeta que primeiro em língua portuguesa chamou a si a expressão da negritude Tratase de Francisco José Tenreiro 1921 1966 que irá assumir uma posição inversa à de Costa Alegre Desalienado liberto dos mitos da inferioridade social identificase com a dor do homem negro e repõe no no quadro que lhe cabe da sabedoria universal Mãos mãos negras que em vós estou sentido Mãos pretas e sábias que nem inventaram a escrita nem a rosadosventos mas que da terra da árvore da água e da música das nuvens beberam as palavras dos corás dos quissanges e das timbila 77 que é o mesmo dizer palavras telegrafadas e recebidas de coração em coração 103 A sua voz é a voz real do homem africano uma voz que vem das origens e ressoa no tempo cantando nós não nascemos num dia sem sol e aí vamos com essa raça humilhada percorrendo a estrada da escravatura mas entretanto iluminada por um rio que vem correndo e cantandodesde St Louis e Mississipi Obra poética de Francisco José Tenreiro 1967 p 100 Poeta bivalente Nasci do negro e do brancoe quem olhar para mimé como que se olhassepara um tabuleiro de xadrez 104 na sua vocação para exprimir o mulato que ele era e o negro que ele era fundindose assim no poeta africano que ele foi guindase à categoria de poeta da negritude de expressão portuguesa e tão lucidamente que o surto da literatura angolana e moçambicana que se impôs a partir de cinquenta e muito lhe deve o não teria ultrapassado na pertinência e na genuinidade dos temas Interessante notar que a estrutura externa da poesia de F J Tenreiro adquire características diferentes consoante a substância manipulada poemas longos de longos versos para a negritude poemas curtos de curtos versos enquanto poeta mestiço Dona Jóia dona dona de lindo nome tem um piano alemão desafinando de calor 105 Ou então 78 De coração em África com o grito seiva bruta dos poemas de Guillén de coração em África com a impetuosidade viril de I too am American de coração em África contigo amigo Joaquim 106 quando em versos incendiários cantaste a África distante do Congo da minha saudade do Congo de coração em África 107 Há uma distância solar como se vê entre a humilhação da Costa Alegre e a glorificação dos valores culturais africanos por parte de Francisco Tenreiro que obviamente corresponde à amplitude consciencializadora que vai do século XIX ao século XX O discurso de Alda do Espírito Santo descrevese entre o relato quotidiano da ilha impregnado de alusões simbólicas de esperança ou do registo de anseios de transparência política uma história bela para os homens de todas as terrasciciando em coro canções melodiosasnuma toada universal 108 até ao clamor da revolta de um povo oprimido como em Onde estão os homens caçados neste vento de loucura Que fizeste do meu povo Que respondeis Onde está o meu povo E eu respondo no silêncio das vozes erguidas clamando justiça Um a um todos em fila Para vós carrascos o perdão não tem nome 109 79 O mesmo clamor da revolta percorre o discurso de Maria Manuela Margarido A noite sangra no mato ferida por uma lança de cólera 110 A cólera A revolta Duas constantes que associadas ao movimento dialéctico da vida que tudo destrói e reconstrói trazem a esperança Na beira do mar nas águasestão acesas a esperançao movimentoa revoltado homem social do homem integral e é ainda o verbo de Maria Manuela Margarido Daí a certeza inscrita no devir histórico No céu perpassa a angústia austera da revolta com suas garras suas ânsias suas certezas 111 Em meio da denúncia do cheiro da morte da acusação eu te pergunto Europa eu te pergunto AGORA 112 perpassa a certeza Ou a esperança Não mera esperança idealista A esperança concretizada na dialéctica do real Tomaz Medeiros Amanhã Quando as chuvas caírem As folhas gritarem desperança Nos braços das árvores Irei Desafiar os mais trágicos destinos à campa de Nhana ressuscitar o meu amor Irei 113 80 Poesia vinculada à sedimentação de uma consciência anticolonialista mais do que a fala de cada poeta ela se consubstancia na voz colectiva do homem sãotomense Mas não só poesia de signos de símbolos de imagística protestatária aliás de descodificação facilitada Não só poesia de anunciação e assunção Não só Poesia tocada pelo afago lírico das coisas da Ilha Verde rubra de sangue As palmeiras e cacoeiros o aroma dos mamoeiros o cajueiro as modinhas da terra os murmúrios doces dos silêncios as canoas balouçando no mar o sòcòpé os deuses e os mitos orações dos ocás os cazumbis Por derradeiro Marcelo Veiga Numa ordem cronológica Marcelo Veiga 18921976 deveria ter sido considerado logo após Costa Alegre Marcelo Veiga pequeno proprietário da ilha do Príncipe estudou no liceu em Lisboa aqui viveu por períodos intermitentes foi amigo de AlmadaNegreiros Mário Eloy Mário Domingues José Monteiro de Castro Hernâni Cidade Passou despercebido até ao momento em que Alfredo Margarido o incluiu na antologia por ele organizada e publicada da Casa dos Estudantes do Império Poetas de S Tomé e Príncipe 1963 Ultimamente obtivemos alguns poemas seus inéditos datados a partir de 1920 cedidos pelo poeta pouco antes de falecer na sua ilha Ele dá assim antes de F J Tenreiro o sinal do regresso do homem negro o sinal da negritude não só em S Tomé e Príncipe como em toda a área africana da língua portuguesa África não é terra de ninguémDe qualquer que sabe de onde vem A África é nossaÉ nossa é nossa 114 Eis nítida e insofismável a consciência da revolta 81 Filhos a pé a pé que é já manhã Esta África em que quem quer dá coo pé Esta negra África escarumba olé Não a qremos mais sob jugo de alguém Ela é nossa mãe 115 Irónico mordaz a língua destravada e rebelde associada ao veneno lúcido da desafronta Sou preto o que ninguém escuta O que não tem socorro O olá tu rapaz O ó meu merda Ó cachorro O ó seu filho da puta E outros mimos mais 116 Ou O preto é bola É pimpampum Vem um Zás na cachola Outro um chut bum 117 A terminar diríamos que a poesia de S Tomé e Príncipe constitui uma expressão africana mais uniforme do que a de Moçambique ou mesmo de Angola ainda considerando a franja de mestiçagem que a percorre Construída apenas por negros ou mestiços este punhado de poetas baliza a área temática no centro do universo das suas ilhas e organiza um signo cuja polissemia é de uma África violentada inchada de cólera a esperança feita revolta 82 2 NARRATIVA Modestíssima quantitativa e qualitativamente é a narrativa de S Tomé e Príncipe As esporádicas experiências de Viana de Almeida Maiá Pòçon contos 1937 e de Mário Domingues O menino entre gigantes 1960 não chegam a ser uma contribuição relevante O primeiro nesse tempo prejudicado ainda por um ponto de vista subsidiário de uma época colonial o segundo também natural de S Tomé e Príncipe mas tornado escritor português pela obra e pela radicação talvez pela carência da dramatização da personagem principal o mulato Zezinho nado e criado em Lisboa De acaso teria sido o conto Os sapatos da irmã sem qualquer relação com S Tomé que Francisco José Tenreiro em 1962 publicou na colectânea Modernos Autores Portugueses Lisboa Acidentais ainda mas já com uma visão ajustada a um real africano foram também as experiências de Alves Preto limitada cremos a dois contos Um homem igual a tantos e Aconteceu no morro 118 E ainda o caso de Sum Marky i e José Ferreira Marques branco nascido em S Tomé autor de vários romances de importância discutível alguns no entanto parcialmente com interesse valendo citar Vila flogá 1963 como testemunho acusatório da exploração colonialista 3 A EXPRESSÃO EM CRIOULO Não obstante ser bilingue visto que a população utiliza além da língua portuguesa o crioulo de S Tomé 83 a criação literária é reduzida em dialecto domínio que a tradição oral vem monopolizando com substancial interesse Praticamente conheciamse as composições poéticas de Francisco Stockler e uma experiência de Tomaz Medeiros No entanto após a independência nacional parece haver sintomas de uma revitalização no uso literário do crioulo ao nível popular pelo menos a partir de agrupamentos musicais Exemplo são os casos dos caderninhos de Sangazuza e o caderno do Agrupamento da Ilha 1976 compostos de músicas revolucionárias e de um modo geral vertidos em rumbas sambas marchas valsas boleros e sòcòpés 85 1 LÍRICA Estamos perante o capítulo menos expressivo do espaço literário africano de expressão portuguesa Praticamente até antes da independência nacional não foi possível ultrapassar a fase da literatura colonial E esta mesmo de reduzida extensão Um homem que ali viveu por largos anos Artur Augusto escritor dotado de origem caboverdiana colaborador do primeiro número de Claridade em Portugal e com larga vivência na GuinéBissau ficouse ao que sabemos por escassos contos publicados nO Mundo Português 1935 a 1936 A obra romanesca de Fausto Duarte 19031955 Auá 1934 O negro um alma 1935 Rumo ao degredo 1939 A revolta 1945 Foram estes os vencidos 1945 caboverdiano por dilatados anos radicado na GuinéBissau merece uma palavra especial Mas é difícil não obstante o seu empenhamento humanístico e de certa objectividade social libertálo do peso colonial e credenciálo como verdadeiro escritor guineense Deixou um romance inédito sobre caboverdianos Testemunhará ele uma nova face da romanesca de Fausto Duarte Benjamin PintoBull defendeu ultimamente na Sorbonne tese de 86 doutoramento que desconhecemos sobre Fausto Duarte Com efeito da GuinéBissau durante a dominação portuguesa não veio um poeta ou um romancista de mérito Ali foram edificadas durante esse período as condições suficientes ao entrave do desenvolvimento criativo Com um índice altíssimo de analfabetismo até há cerca de duas décadas sem ensino secundário e só nos últimos anos abrangendo o sétimo ano dos liceus o seu primeiro jornal PróGuiné surgido apenas em 1924 as suas infraestruturas não possibilitaram o aparecimento de gerações letradas de onde poderiam ter saído vocações capazes de se responsabilizarem pelo surto de uma literatura guineense de expressão portuguesa num país de cerca de meio milhão de habitantes Nas duas últimas décadas do domínio colonial apenas uma actividade cultural oficial se fez sentir orientada porém para os sectores da investigação histórica e etnográfica Boletim Cultural da Guiné Portuguesa 1946 1973 e sempre marcada é evidente pelo espírito oficial Em nada ou pouco alteram este quadro empobrecido O livro de Carlos Semedo Poemas 1963 também não modifica os dados desta análise até porque se trata de obra de modesta qualidade estética Amilcar Cabral o fundador da nacionalidade autor de alguns poemas mas de substância caboverdiana optámos por incluílo na parte dedicada a Cabo Verde 119 Ainda em plena guerra colonial tinha surgido no ano de 1973 em português o folheto de poesia Poilão iniciativa do Grupo Desportivo e Cultural do Banco Nacional Ultramarino Alguns dos poetas incluídos são 87 guineenses As suas vozes necessariamente resguardadas ou desviadas ficam insignificativas Embora durante a guerra colonial nas áreas libertadas pelo P A I G C se tivesse procedido a uma profunda alfabetização compreendese que a sua juventude essencialmente empenhada na luta da libertação nacional ou então retraída que vivia na capital Poilão em certa medida pode ser um exemplo só agora encontre os meios necessários para se revelar no plano da criação e construir a autêntica literatura do seu país O primeiro sinal é dado em Janeiro de 1977 com Mantenhas para quem luta a nova poesia da Guiné Bissau Livrinho de cento e três páginas que reúne catorze jovens poetas onde o mais novo tem dezanove anos e o mais velho trinta Acompanhao um breve prefácio onde se diz Hoje somos jovens trabalhadores no campo da poesia esta não se define para nós em termos puramente estéticos A forma destinandose a garantir a eficácia da obra a fazêla atingir os objectivos visados impõese como elemento manifestamente importante mas o que lhe determina a qualidade é a função pelo valor social que possa representar A seguir uma questão que tem a ver com o espaço linguístico da GuinéBissau povoado pelas línguasmãe pelo crioulo e ainda pela língua oficial o português Se é verdade que esta poesia se escreve actualmente em crioulo e em português cabenos a tarefa da sua fixação nas línguas nacionais enquanto depositárias dos verdadeiros valores africanos Agnelo Augusto Regalla desenvolve um tema comum a outros poetas africanos como por exemplo Costa Andrade e Henrique Guerra o tema do assimilado Fui levadoA conhecer a nona SinfoniaBeethoven e 88 MozartNa músicaDante Petrarca e BocácioNa literaturaFui levado a conhecerA sua cultura para depois colocar a interrogação Mas ti Mãe África Que conheço eu de ti Que conheço eu de ti A não ser o que me impingiram E a fome e a miséria Como complementos 120 António Cabral Morés Djassy o tema de constância revolucionária Somos crianças do tempo da Revolução Frutos das sementes de séculos de angústias Somos crianças da luta Restos da soma do napalm Restos da soma do napalm e fósforo 121 Hélder Proença o da identidade poetapovo Poema que será a arma dos oprimidos Poema que confunde com os anseios do povo O MEU POEMA SERÁ A VOZ DO POVO 122 E deste modo se definem algumas das linhas essenciais que nesta jovem poesia guineense se contêm Por um lado os poetas reencontramse como cidadãos verdadeiramente africanos por outro a Revolução está em marcha e a poesia a arte arma dos oprimidos voz do povo vai assumirse como parte integrante da Revolução 89 Daí a denúncia a determinada acusação Para onde vãoEstes troncos de carvãoestendidos em caixotesComo se fossem cargas de porão António Sérgio Maria Davyes Tony Davyes 123 Pelo colonialistaFui chamado TerroristaComo Digno Defensor da minha existência mas Pela históriao colonialista é o terroristaEis a crua verdade e realidade Jorge Ampla Cumelerbo Jorge António da Costa 124 Não sei quando começaste a batermeEm que idadeEm que eternidadeEm que revolução astralTalvez no ventre da minha mãe Kôte Norberto Tavares de Carvalho 125 Ou em Tomás Paquete A fome torciase como as velasdos barcosOnde os pais por um punhado de peixeDeixavam viúvasAs jovens mães solteirasOnde os irmãos por uma sorte de ilusãodeixavam orfãosos sobrinhos 126 Acusação que tem como alvo imediato o colonialismo a longa era da escravidão feita de dor e lágrimas como diz António Lopes Jr Prisões SacrifíciosO peso da fomeDa subalimentaçãoO peso da HistóriaHistória de dor e lágrimasImposta pela violência repressiva 127 Ao contrário do que acontece não só com a poesia de Cabo Verde de S Tomé e Príncipe como também com a de Angola e Moçambique esta poesia da GuinéBissau toda ela nasce em pleno período da luta armada ou então já no período póslibertação nacional É natural portanto que alguns destes poetas se reencontrem na exaltação da ÁFRICA MÁRTIR dos chefes revolucionários e sobretudo de Amilcar Cabral E daí também um profundo sentido gregário uma real consciência colectiva como em José Pedro Sequeira 90 Encontramonos em toda a parte Em toda a parte irmãos Nos arrozais e no dendém Nas savanas e nas hortas Na tabanca e nos pântanos 128 Ou ainda um largo sentido ecuménico universal na voz de Nagib Said Quando o som do tamtamLevar o grito dÁfricaAo cume mais alto das consciênciasE os processos mentais superiores se conjugaremTraduzidos no código puro da fraternidade então O eco da revolução propagarseá Através das mil montanhas do Mundo 129 Ou em Carlos Almada Porque o sol que hoje ardeBrilha pra todos nósE pra toda a África 130 Numa luta de libertação fatalmente há os que hesitam ou se destróem mas a história o registará Será isso mesmo que o verbo repousado mas liricamente impressivo de José Carlos significa E vi na tabanca queimada devastadaAs mesmas botas calcar o sangue o corpo a morte inocenteDe crianças da tua cor do teu credo perdidoE soube que na terra em pranto pela tua afrontaTu terias uma morte desenraizada 131 Contribuição militante a todo um processo de desenvolvimento cultural que decorre no nosso País como se afirma no Prefácio ela não podia deixar de ser também a expressão da libertação da esperança de uma colagem ao futuro e aqui vem a propósito citar dois nomes Armando Salvaterra Quimporta que eu não venhaA saborear os frutos da própria árvoreQue é 91 issoAo pé da inabalável certeza desse dia admirável 132 E Justino Nunes Monteiro Justen Libertar a África Libertar o Homem Libertar o tamtam e o Korá Libertar o canto das crianças e o grito sufocado da esperança Uma esperança vermelhosangue Temperada na luta e na morte Abrindo um caminho novo 133 Em resumo arma de combate ferramenta de construção ela a poesia forjase no quotidiano árduo mas exaltante da Nação emergente contribuição modesta no património da Humanidade por uma Revolução Cultural são ainda palavras do citado Prefácio 2 A EXPRESSÃO EM CRIOULO Entre as várias etnias circula o dialecto crioulo semelhante ao de Cabo Verde criado na Guiné ou levado para lá 133 e parece cada vez mais a esse nível tender a funcionar como língua de contacto sobrepondose às línguas de várias etnias até porque progressivamente aumenta o seu número de utentes Só recentemente as tentativas poéticas em dialecto crioulo começam a ganhar o espaço textual Não só nas canções nos cantos revolucionários gravados em disco como também na lírica que desponta Curiosamente no entanto em Mantenhas para quem luta há apenas duas poesias em crioulo e subscreveas José Carlos 93 DESCOBERTAS E EXPANSÃO 1 A ordem de chegada dos portugueses ao continente africano foi esta Cabo Verde 1460 S Tomé e Príncipe 1470 Foz do Zaire 1482 Moçambique 1498 2 As primeiras iniciativas do Governo da metrópole relacionadas com a ensino datam de 1740 Outras se seguiram mas ineficazes Só a partir dos meados do século XIX o Governo Central procede a uma série de medidas tendentes ao desenvolvimento do ensino em Cabo Verde Vide José Conrado Carlos de Chelmichi Corografia cabo verdiana ou Descripção GeograficoHistorica da Provincia das Ilhas de CaboVerde e Guiné 1841 Compulsando os Boletins Oficiais de Cabo Verde damos conta de várias providências ou diligências levadas a cabo nos fins do segundo quartel do século XIX sobre a instrução pública no Ultramar como por exemplo e além de outras Em 1845 se procede à organização da instrução primária nas províncias ultramarinas abrangendo as escolas principaes materiaes de ensino provimento vencimentos jubilação e aposentação dos professores creação dos conselhos inspectores de instrução primária sua composição e deveres Dec de 14 agosto e P R 2 setembro 1845 o que pressupõe a existência de um ensino público em fase adiantada pelo menos em Cabo Verde Tanto assim que Em 1860 é creado e estabelecido na cidade da Praia um liceu com a denominação de Lyceu Nacional de Província de Cabo Verde P circular nº 313A de 15 dezembro 1860 B nº 83 A título de exemplo entre outras importantes medidas e por curiosidade se regista o seguinte 94 Em 1875 efectuouse a remessa de exemplares da Cartilha Nacional de Caldas Aulete para serem distribuídos pelas escolas de Cabo Verde pedindose informação aos responsáveis pelo ensino sobre os efeitos produzidos P R nº 32 19 março 1878 B nº 16 Em 1866 é creado o Seminário eclesiástico da diocese de Cabo Verde Dec 3 setembro 1866 B nº 44 cuja abertura ocorreu no ano de 1867 Off 18 janeiro 1967 B nº 9 Na segunda metade do século XIX existiu uma biblioteca e um museu nacional cremos que na cidade da Praia P nº 15 14 janeiro 1871 B nº 10 Anteriormente a 1871 havia sido extinta a Sociedade Gabinete de Leitura cuja biblioteca transitou para a Biblioteca da cidade da Praia P nº 157 10 maio 1871 Inclusivamente a biblioteca foi mandada abrir ao público em todos os dias não santificados e feriados das seis às oito horas da tarde P nº 45 9 fevereiro 1893 B 6 No entanto por alvará de 12 de Janeiro de 1740 foi para S Thiago um mestre de gramática com 5000 reis annuaes segundo Christiano José de Sernna Barcellos in Subsídios para a história de Cabo Verde e Guiné Parte II Lisboa Academia Real das Ciências de Lisboa 1900 p 281 3 O prelo foi instalado nas excolónias portuguesas nas seguintes datas Cabo Verde 1842 Angola 1845 Moçambique 1854 S Tomé e Príncipe 1857 GuinéBissau 1879 95 LITERATURA COLONIAL 4 Só recentemente se teve conhecimento da existência desta obra Devese à descoberta cerca de 1966 de um exemplar na New York Public Library pelo lusófilo americano Prof Gerald Moser Um segundo exemplar encontrase agora na posse da Biblioteca da Companhia de Diamantes de Angola Lisboa Janheinz Jahn noticia que o dramaturgo português Afonso Álvares mestiço contemporâneo de Gil Vicente nascido e educado no palácio de D Afonso de Portugal bispo de Évora é o primeiro escritor africano de uma língua europeia embora os seus autos não tenham relação com a África in Manuel de littérature neoafricaine Paris Editions Resma 1969 pp 78 5 A Teixeira da Mota Dois escritores quinhentistas de Cabo Verde André Álvares de Almada e André Dornelas Lisboa Junta de Investigações do Ultramar 1971 p 39 6 António de Oliveira Cadornega dános notícia do facto nestes termos succedeu ir hum dia o Capitão António Dias de Macedo neste tempo Sargento mór da guerra com huma sua petição sobre certo requerimento e dizerlhe o Secretário do Governo Sebastião Rodrigues que emendasse sua Mercê a petição porque estando em Governo se lhe devia dar Senhoria o Capitão tinha sua veya de Poeta entrando ali perto em huma Caza pedio tinta e papel e escreveo o seguinte seguese a poesia que transcrevêramos in História geral das guerras angolanas primeiro tomo escrito Anno de 1968 Lisboa edição facsimilada da edição de 1940 1972 p 515 7 Constituída por um volumoso número de obras a literatura colonial se estudada em separado obrigaria a subdivisões Alguns autores ou certas obras de alguns autores pediriam um tratamento especial Seriam as que a uma 96 perspectiva europeizada juntam uma visão humanística mas em que o travo paternalístico que as percorre impediria a sua inclusão na literatura africana de expressão portuguesa É evidente que as obras de Alexandre Cabral Terra quente 1953 e os contos de Histórias do Zaire 1956 produto da sua experiência no Congo ou os Três pequenos contos incluídos em Despedida breve 1958 de José Augusto França ou ainda o seu excelente romance Natureza morta 1949 de motivação angolana por todas as razões embora diferentes para cada um dos autores citados estão para lá destes comentários SÉCULO XIX SENTIMENTO NACIONAL 1 ANGOLA 8 José da Silva Maia Ferreira Espontaneidades da minha alma 1849 p 17 9 J Cândido Furtado No álbum de uma africana in Almanach de Lembranças 1864 p 116 também in M Ferreira No reino de Caliban 2º vol 1976 pp 2425 10 Ernesto Marecos Juca a Matumbolla Lisboa 1865 pp 40 41 42 11 Pedro Félix Machado autor de uma obra repartida pela ficção e pela poesia Sorrisos e desalentos colecção de sonetos Uma teima monólogo e os romances da série Scenas dÁfrica Romance íntimo 3ª edição com uma carta de F A Pinto isto é Francisco António Pinto Lisboa Ferin 1892 2 volumes de 24213 pp 1461 pp srosto Cada vol como uma parte independente Parte I O Dr Duprat Parte II O Filho adulterino O autor na 2ª edição de O filho adulterino informa ainda que estava no prelo o 2º vol da II 97 Parte Antonias ou o caso do bairro Estephania e anunciava uma III Parte em preparação Na Biblioteca Nacional segundo as nossas buscas apenas se encontra O filho adulterino 2ª edição Carlos Ervendosa in Itinerário da literatura angolana 1972 pp 3435 afirma que Cenas dÁfrica numa 2ª edição foi publicado em folhetins na Gazeta de Portugal 12 Joaquim Dias Cordeiro da Matta Jaquim Ria Matta publicou ainda as seguintes obras Ensaios de dicionário kimbundo português O luandense da alta e da baixa esfera estudo crítico e analítico Cartilha racional para se aprender o kimbundo escrito segundo a Cartilha Maternal do Dr João de Deus Cronologia de Angola manuscrito 13 Teófilo José da Costa Augusto Silvério Ferreira Perfil biográfico e alguns aspectos da sua vida In Jornal de Angola nº 111 Luanda 1961 Tratase de um artigo de uma série que o autor publicou no citado Jornal de Angola desde o nº 108 3181961 ao nº 119 agosto 1962 com bastante interesse para o conhecimento da actividade jornalística e cultural do século XIX em Angola 14 Os primeiros periódicos não oficiais excluindo portanto os Boletins Oficiais foram Angola A Civilização da África Portuguesa 1866 Moçambique O Progresso 1868 S Tomé e Príncipe O Equador 1869 Cabo Verde O Independente 1877 GuinéBissau PróGuiné 1924 Os primeiros Boletins Oficiais foram publicados nas seguintes datas Cabo Verde 1843 Angola 1845 Moçambique 1854 S Tomé e Príncipe 1857 GuinéBissau 1880 De 1843 a 1879 a GuinéBissau e Cabo Verde constituíam um todo administrativamente e por isso o Boletim Oficial era comum Vem ainda a propósito dizer que os Boletins Oficiais para além da matéria governativa mantinham secções de anúncios avisos denúncia de credores etc e ainda colaboração literária 98 2 CABO VERDE 15 Segundo Gabriel Mariano de 1853 a 1892 fundaramse na cidade da Praia Cabo Verde treze associações recreativas e culturais como por exemplo a Dramática Associação Igualdade Sociedade Gabinete de Leitura Associação Literária Grémio CaboVerdiano Entrevista ao Diário Popular suplemento literário 23 de maio de 1963 16 Henrique de Vasconcelos caboverdiano de nascimento cremos que desde cedo radicado em Portugal enquanto vivo desfrutou de prestígio literário em Portugal É autor pelo menos das seguintes obras Flores cinzentas p Coimbra 1893 Os esotéricos p Lisboa 1894 A harpa do Vanadio p Coimbra 1895 Amor perfeito p Lisboa 1895 A mentira vital c Coimbra 1897 Contos novos c Lisboa 1903 Flirts p Lisboa 1905 Circe p Coimbra 1908 O sangue das rosas p Lisboa 1912 De temática europeia qual das histórias da literatura o irá recuperar A portuguesa ou a caboverdiana 17 Não existe nenhum exemplar na Biblioteca Nacional de Lisboa do romance O escravo 1856 de José Evaristo dAlmeida O único exemplar conhecido encontrase na posse dos descendentes do autor residentes em Cabo Verde Foi por informação de um deles Amiro Faria que o registámos em A aventura crioula 2ª edição 1973 Possuímos uma fotocópia No entanto foi republicado in A Voz de Cabo Verde desde o nº 244 22 de maio de 1916 ao nº 294 de maio de 1917 18 António de Arteaga Amores de uma creoula in A Voz de Cabo Verde Praia Cabo Verde ano I nº 1 março de 1951 até ao nº 17 10 de maio de 1911 99 19 Idem Vinte anos depois idem nº 19 25 de dezembro de 1911 20 Guilherme A Cunha Dantas Bosquejos dum passeio ao interior da ilha de S Thiago idem nº 22 15 de janeiro de 1912 ao nº 63 28 de setembro de 1912 21 Idem Contos singelos Nhô José Pedro ou scenas da ilha Brava idem nº 78 10 de Dezembro de 1913 ao nº 96 16 de junho de 1913 22 Idem Memória de um rapaz pobre idem nº 106 25 de agosto de 1913 23 Eugénio Tavares Vida creoula na América idem nº 68 12 de dezembro de 1912 e nº 70 10 de dezembro de 1913 O autor Eugénio Tavares faleceu em 1888 Logo a publicação desta novela é póstuma E das duas uma ou se aproveitou um inédito depositado nas mãos de familiares ou amigos ou então terá de se admitir a utilização de um exemplar de cuja existência não se sabe o paradeiro O mesmo se aplica às suas novelas registadas 24 Idem A virgem e o menino mortos de fome idem nº 73 6 de janeiro de 1913 ao nº 77 3 de fevereiro de 1913 25 Idem Drama da pesca da baleia idem nº 101 21 de julho de 1913 ao nº 104 11 de agosto de 1913 26 Carta do Padre António Vieira escripta de Cabo Verde ao padre confessor de sua alteza indo arribado aquelle Estado Datada de 25 de dezembro de 1652 in Cabo Verde Praia Cabo Verde ano II nº 23 pp 1112 27 Vide Baltasar Lopes Cabo Verde visto por Gilberto Freyre Sep boletim Cabo Verde nº 8486 Praia Cabo Verde 1956 Gabriel Mariano Do funco ao sobrado ou o mundo que o 100 mulato criou in Colóquios caboverdianos Lisboa Junta de Investigações do Ultramar 1959 Manuel Ferreira A aventura crioula 2ª ed Lisboa Plátano Editora 1973 António Carreira Cabo Verde formação e extinção de uma sociedade escravocrata 14601878 Porto 1972 28 A este respeito José Lopes fornece elementos de interesse em Os esquecidos in Cabo Verde ano III nº 35 Praia Cabo Verde agosto de 1952 pp 2932 Ainda os nossos poetas idem nº 36 pp 910 e sobretudo em Vida colonial in Vida Contemporânea ano II nº 15 Lisboa Julho de 1935 pp 196204 idem nº 18 outubro de 1935 pp 725 731 e nº 20 dezembro de 1935 pp 876882 Vide também Nuno Catarino Cardoso Poetisas portuguesas Lisboa 1917 Sonetistas portugueses e lusobrasileiros Lisboa 1918 Cancioneiro da saudade e da morte Lisboa 1920 29 José Lopes apesar de uma ou outra alusão aos seus Irmãos hespertanos ou aos seus bons irmãos de Dakar entendase caboverdianos lá residentes ou ao seu Lameirão a nossa antiga horta de São Nicolau ou de chorar a sua desolação quando por lapso de um ano se viu obrigado a emigrar para Angola Longe de Cabo Verde em terra estranha chorarei minha mágoa confidente No desolado exílio deste mato apesar de tudo isso o momento em que o poeta partilha do destino do seu próprio povo é na poesia A catástrofe da Praia escrita em 1949 quando um grupo numeroso de esfomeados que recebia assistência na capital ficou soterrado num barracão que desabou por força de um temporal Não bastavam as fomes A MisériaProlongada de tantos anostantosSem uma luz na escuridão cimériaTantas angústias tanta Dor e prantos Mas nem esta longa poesia de quarenta e quatro quadras enformadas de referências mitológicas e conceitos mítico religiosos pode autorizarnos a incluir o nome de José Lopes no capítulo da moderna poesia caboverdiana 101 Por sua vez a poesia de Januário Leite 18651930 é a viva conotação do drama individual de um desadaptado morbidamente incompreendido e infeliz As minhas horas sombriasSão horas do meu prazerQuem nunca teve alegriasAfeiçoase ao sofrer Pedro Cardoso c 18901942 autor de Crioula Crioula divinae moça e menina É lírio ébano e coral de Morna Flor de duas raças tristesVindas da Selva e do MarQue a nós se acharam um diaNa mesma praia ao luar de Cabo Verde Cabo Verde que ironia bruta e negra perdidaToda aberta em ígneo algarpor sobre a verde campinhaDas ondas verdes do mar e de outros poemas tendo como ponto de partida o vulcão do Fogo sua ilha natal Vesúvio caboverdiano Padrão imenso sobre o mar erguido simbolizando o futuro talvez de um grande povo assim poesia de ambiência regional com relevo para a VI do livro Hespérides sobre as estiagens citando inclusive a fome crónica e dura apesar de toda esta preocupação humana que lhe dá o natural direito de ter alcançado maior grau de autenticidade regional do que o próprio José Lopes mesmo assim por muito respeitável que tenha sido a actividade poética destes autores eles ficarão como antecessores e não como precursores Eles serão o primeiro termo de uma relação Eles antecedem mas não anunciam não predizem Justificam mas dificilmente deixam adivinhar ou perceber a natureza do termo consequente 3 MOÇAMBIQUE 30 Aqui nos cumpre esclarecer se para tanto houver necessidade Quando ao longo das nossas intervenções nos referimos a uma maior ou menor presença europeia ou a um maior ou menor índice de mestiçagem como fundamento de uma maior ou menor actividade cultural ou literária é evidente que não pretendemos emprestar a estas afirmações 102 um carácter racial mas sim cultural e político Os alicerces de uma literatura neoafricana do período colonial construíram se a partir de uma burguesia europeia europeizada ou africana O povo o homem africano esse continuando analfabeto longe das influências culturais de raiz europeia mantevese alheio ao processo literário Os jornalistas os poetas os ficcionistas teriam forçosamente de ser recrutados nos estratos sociais de onde emergiam normalmente aqueles que teriam acesso à escola à instrução à cultura 4 S TOMÉ E PRÍNCIPE 31 Francisco José Tenreiro Cabo Verde e S Tomé e Príncipe Esquema de uma evolução conjunta Sep do Cabo Verde ano III nº 76 Praia Cabo Verde 1956 pp 1217 32 Caetano da Costa Alegre Versos 1916 p 26 33 Idem p 26 34 Idem p 47 35 Idem p 61 36 Idem p 100 CABO VERDE 1 LÍRICA 37 Suplemento Cultural do boletim Cabo Verde ano nº Praia Cabo Verde 1958 103 38 Jorge Barbosa Arquipélago 1935 p 24 39 Idem Ambiente 1941 p 17 40 Idem p 20 41 Jorge de Sena Líricas portuguesas 3ª série 1958 p 123 42 António Pedro Diário 1929 p 20 43 Jorge Barbosa Arquipélago 1935 p 30 44 Manuel Lopes Crioulo e outros poemas 1964 p 31 45 Idem idem p 83 46 Idem p 59 47 Pedro Corsino Azevedo Renascença in Claridade nº 5 1947 p 16 também in M Ferreira No reino de Caliban 1º vol 1975 p 121 48 Idem TerraLonge in Claridade nº 4 1947 p 12 49 Idem Galinha branca in M Ferreira No reino de Caliban 1º vol Lisboa 1975 pp 124125 50 Devese a Pedro da Silveira a publicação deste poema acompanhado de uma nota em Mensagem Lisboa Casa dos Estudantes do Império ano XVI nº 1 julho de 1964 pp 10 1112 Falase de um original perdido de Pedro Corsino de Azevedo Era de Ouro 51 Baltasar Lopes Recordai do desterrado no dia de S Silvestre de 1957 in Claridade nº 8 1958 p 39 104 52 Idem Menino de outro gongon COLÓQUIOLetras nº 14 1973 p 58 53 Guilherme Rocheteau Panorama in Certeza nº 1 1944 54 Tomaz Martins Poema para tu decorares in Claridade nº 4 1947 p 37 55 Nuno Miranda Revelação in Certeza nº 1 1944 56 Idem Cancioneiro da ilha 1964 p 42 57 Arnaldo França A conquista da poesia in Claridade nº 5 1947 p 33 58 Idem Paz3 in Claridade nº 8 1958 pp 2728 59 António Nunes Poemas de longe 1945 p 32 60 Idem Ritmo de pilão in Cabo Verde Praia Cabo Verde nº 108 1958 p 15 61 Pedro Cardoso Jardim das Hespérides 1926 p 11 62 Aguinaldo Fonseca Linha do horizonte 1951 p 61 63 Gabriel Mariano Nada nos separa in Cabo Verde nº 109 p 19 64 Onésimo Silveira Saga in Claridade nº 8 1958 p 70 65 Idem Hora grande 1962 p 41 66 Idem p 26 67 Ovídio Martins Caminhada 1962 p 12 105 68 Idem Gritarei berrarei matareiNão vou para Pasárgada sd 1973 p 76 69 Gabriel Mariano Cantiga da minha ilha in Mário Pinto de Andrade Antologia da poesia africana de expressão portuguesa 1968 p 6 70 Idem Capitão Ambrósio 1975 p 13 71 Yolanda Morazzo Cântico de ferro 1977 p 63 72 Idem idem p 11 73 Terêncio Anahory Caminho longe 1962 p 19 74 Arménio Vieira Poema in Mákua 1 1962 p 22 75 Rolando VeraCruz Poema sem tempo in Vértice nºs 334335 1971 p 849 76 João Vário é autor de quatro livros o primeiro dos quais Horas sem carne 1958 retirado da sua bibliografia pelo próprio Os outros são Exemplo geral 1966 Exemplo relativo 1968 Exemplo dúbio 1975 João Vário participou também na iniciativa coimbrã Êxodo 1961 77 Timóteo Tio Tiofe O primeiro livro de Notcha 1975 pp 8889 78 Corsino Fortes Pão fonema 1974 p 60 79 Osvaldo Osório Caboverdeamadamente construção meu amor 1975 p 43 80 Idem idem 1975 p 46 106 81 Dante Mariano Comunicado nº 1 in M Ferreira No reino de Caliban 1º vol 1975 p 252 82 Kwame Kondé Kordá kaoberdi 1974 p 59 83 Idem idem p 83 84 Sukre DSal Horizonte aberto 1976 p 29 85 Tacalhe Lar in M Ferreira No reino de Caliban 1º vol 1975 p 258 86 Idem Poema para depois in Cultura de Voz di Povo Praia Cabo Verde 29II1977 p 8 87 Luís Romano Clima 1963 p 236 88 Teobaldo Virgínio Viagem para além da fronteira 1973 P 39 89 Daniel Filipe Missiva 1946 p 43 90 Amílcar Cabral Ilha in Cabo Verde ano I nº 2 1949 p 11 91 Idem Segue o teu rumo irmão in Vozes nº 1 1974 p 19 92 Idem Quem é que não se lembra idem p 19 93 Amílcar Cabral na sua juventude pelo menos mesmo antes de assumir as responsabilidades políticas que veio a assumir andou pelas lides literárias Escreveu um ou outro ensaio Apontamentos sobre a poesia caboverdiana in Cabo Verde ano nº 28 1952 e publicou escassos poemas Ouvimolo inclusive ler um conto em 1943 ou 1944 em S Vicente de Cabo Verde apresentado ao grupo da Academia 107 Cultivar de onde saiu o projecto da Certeza Acentuese que até há bem pouco tempo sabíamos da existência de uns três poemas Ilha publicado no jornal Ilha ano VII Ponta Delgada Açores 22VI1946 Regresso no Cabo Verde ano I nº 2 Praia Cabo Verde 1949 e posteriormente Para ti mãe Iva publicado no seu livro de curso republicado depois do seu assassinato no jornal Expresso Lisboa Após a independência da GuinéBissau e Cabo Verde Luís Romano junta sete poemas ao seu artigo Amílcar Cabral Apontamentos sobre a poesia caboverdiana in Vozes nº 1 Brasil 1976 pp 1521 Mais recentemente Mário Pinto de Andrade reúne três poemas ao artigo Amílcar Cabral e a reafricanização dos espíritos publicado em Nô Pintcha Bissau 12IX76 aquando das comemorações do XX aniversário do P A I G C Entretanto Mário de Andrade e Arnaldo França transcrevem um novo poema sem título no ensaio A cultura na problemática da libertação nacional e do desenvolvimento à luz do pensamento de Amílcar Cabral in Raízes ano I nº 1 Praia Cabo Verde 1977 p 4 Alguns destes poemas repetemse nas publicações que referimos e assim do nosso conhecimento são ao todo dez poemas Os três poemas publicados por M Andrade vêm acompanhados da indicação da fonte Mensagem Boletim da Casa dos Estudantes do Império ano II maio a dezembro nº 11 desconhecendose o ano e se é a fonte apenas do último poema se dos três 2 NARRATIVA 94 Antologia da ficção caboverdiana contemporânea selecção e notas de Baltasar Lopes introdução de Manuel Ferreira e comentário de António Aurélio Gonçalves Praia Cabo Verde 1960 108 95 Óscar Lopes Ler e depois Porto Editorial Inova 1969 Recolha de críticas publicadas no suplemento Cultura e Arte de O Comércio do Porto 96 Um dos tópicos da literatura caboverdiana é a partida Teria cabido a Eugénio Tavares glosar pela primeira vez o drama da emigração no poema Hora di bai hora da partida hora da despedida hora di dor Partida que é uma consequência da seca da fome emigração Paralelamente há uma outra atitude que se insinua e depois se define o desejo de partir pela necessidade de ver outras terras outras gentes Necessidade de compensar em meios de acentuado desenvolvimento social e intelectual a vida estreita das ilhas Estado de espírito este de natureza cultural e sentimental E às vezes mais literário do que real A isto se chamou depois evasionismo Querendose significar a fuga o abandono a desresponsabilização O nosso esquema seria este emigração origem económica motivação real Terralongismo evasionismo origem intelectual motivação real ou não Onésimo da Silveira no ensaio citado desencadeou um ataque directo à literatura caboverdiana subscrita pelos homens da Claridade e de alguns outros que vieram depois acusandoa de vários males e um deles seria o de evasionismo Isto levarnosia longe Mas desejaríamos aqui deixar consignado o seguinte a Nos anos 3040 de um modo geral os escritores sentiam a necessidade de alargar os seus horizontes e isso não pressupunha de modo nenhum um desenraizamento b No discurso da evasão não estava explícito o abandono e sim implícito o regresso c Se virtude possui a literatura caboverdiana dessa época é exactamente a do elevado grau de responsabilização que os autores demonstraram no empenhamento de se inserirem no 109 centro do universo crioulo rompendo de vez com um passado de alienação literária 97 Maria Lúcia Lepecki crítica a Virgens loucas in COLÓQUIOLetras nº 11 Lisboa janeiro de 1975 p 77 3 DRAMA 98 Jaime de Figueiredo Terra de sôdade argumento para bailado folclórico em quatro quadros in Atlântico nova série nº 3 Lisboa 1946 pp 2442 4 BILINGUISMO CABOVERDIANO 99 Eugénio Tavares Mornas cantigas crioulas 1932 p 27 100 Pedro Cardoso Folclore caboverdiano 1933 p 71 101 Os principais trabalhos de autores caboverdianos sobre o dialecto crioulo são Baltasar Lopes Uma experiência românica nos trópicos I e II in Claridade nº 4 1947 pp 15 22 e nº 5 1947 pp 110 O dialecto crioulo de Cabo Verde 1957 Maria Dulce de Oliveira Almada Cabo Verde Contribuição para o estudo do dialecto falado no seu Arquipélago 1961 102 Após a independência nos dois actuais jornais cabo verdianos Voz di Povo Santiago e Nossa Terra Fogo para além de inúmeros versos em dialecto vêm sendo publicados vários textos em prosa deixandonos a impressão de subscritos uns e outros na generalidade por quem pela primeira vez experimenta a mão De qualquer modo o facto surpreende e exige ser acompanhado com atenção Surpreende mas relativamente claro Deverá terse em conta 110 a circunstância de anteriormente à independência o mensário Repique do Sino ilha da Brava ter sido durante muito tempo repositório de textos dialectais sobretudo em verso S TOMÉ E PRÍNCIPE 1 LÍRICA 103 Francisco José Tenreiro Obra poética de Francisco José Tenreiro 1967 p 90 104 Idem idem p 48 105 Idem idem p 120 106 Tratase de Joaquim Namorado Autor do poema África publicado nO Diabo nº 309 24 de agosto de 1940 a primeira expressão literária duma visão dialéctica de África enquanto continente explorado por parte de um poeta português que nunca viveu no continente africano 107 Francisco José Tenreiro Obra poética de Francisco José Tenreiro 1967 p 11 108 Alda do Espírito Santo Em torno da minha baía in A Margarido Poetas de S Tomé e Príncipe 1963 p 64 Tem como referência o massacre de Batepá ocorrido em S Tomé em fevereiro de 1953 sendo governador o tenentecoronel Gorgulho 109 Idem Onde estão os homens caçados neste vento de loucura idem pp 6566 110 Maria Manuela Margarido Roça in A Margarido Poetas de S Tomé e Príncipe 1963 p 81 111 111 Idem Paisagem idem p 81 112 Tomaz Medeiros Meu canto Europa in A Margarido Poetas de S Tomé e Príncipe 1963 p 76 113 Idem Caminhos in Cultura II nºs 910 Luanda dezembro de 1959 114 Marcelo Veiga África é nossa in M Ferreira No reino de Caliban 2º vol 1976 pp 466467 115 Idem idem p 466 116 Idem Regresso do homem negro in A Margarido Poetas de S Tomé e Príncipe 1964 p 87 117 Idem A João Santa Rosa idem p 89 2 NARRATIVA 118 Alves Preto Um homem igual a tantos in Mensagem Lisboa Casa dos Estudantes de Lisboa ano II nº 2 fevereiro de 1959 pp 2123 Aconteceu no morro idem ano II nºs 56 1960 pp 26 GUINÉBISSAU 1 LÍRICA 119 Amílcar Cabral nasceu na GuinéBissau filho de pais caboverdianos Viveu em Cabo Verde desde criança e ali 112 concluiu o curso dos liceus Isto explica a natureza da sua poesia 120 Agnelo Augusto Regalla Poema de um assimilado in Conselho Nacional de Cultura GuinéBissau Mantenhas para quem luta 1977 p 15 121 António Cabral Somos crianças idem p 22 122 Hélder Proença Escreverei mais um poema idem p 51 123 Tony Davyes Desespero idem p 26 124 Jorge Ampla Cumelerbo O julgar pertence à história idem p 55 125 Kôte Sôba Quinty idem p 86 126 Tomás Paquete Ao acaso no mar idem p 93 127 António Simões Lopes Jr Abusivamente idem pp 2930 128 José Pedro Sequeira A vida real dos homens nossos irmãos idem p 67 129 Nagib Said A agonia dos impérios idem p 80 130 Carlos Almada Geba idem p 46 131 José Carlos Morte desenraizada idem p 61 132 Armando Salvaterra Depois de mim idem p 39 133 Justen Poema idem p 73 113 2 A EXPRESSÃO EM CRIOULO 134 Foi sempre considerável a comunidade caboverdiana na GuinéBissau Tenhamos presente que esta excolónia portuguesa esteve administrativamente vinculada a Cabo Verde até 1879 114 BIBLIOGRAFIA PASSIVA selectiva Nota Dada a impossibilidade de irmos além de uma bibliografia selectiva aceitamos correr o risco de qualquer omissão discutível ou involuntária Aconselhamos porém aos que estiverem interessados a consulta dos prefácios às antologias citadas no vol I ou II com destaque para os de Alfredo Margarido Mário Pinto de Andrade Jaime de Figueiredo António Aurélio Gonçalves Mário António Pires Laranjeira Serafim Ferreira e Manuel Ferreira Útil poderá ser também a leitura de prefácios a algumas das obras mencionadas como as de Agostinho Neto Costa Andrade Manuel Rui BobellaMota Por certo que a Bibliografia africana de expressão portuguesa de Gerald Moser e de Manuel Ferreira no prelo será um guia indispensável 115 GERAL BURNESS Donald Fire Six Writers from Angola Mozambique and Cape Verde Prof Manuel Ferreira Washington Three Continents Press 1977 CABRAL Amilcar O papel da cultura na luta pela independência Texto apresentado à UNESCO em Paris na reunião de 37 de julho de 1972 Também in Obras escolhidas de Amílcar Cabral vol 1 A arma da teoriaunidade e luta I textos coordenados por Mário de Andrade Lisboa Seara Nova 1976 p 234 247 CÉSAR Amândio Parágrafos de literatura ultramarina Lisboa 1967 346 p Novos parágrafos de literatura ultramarina Lisboa 1971 511 p HAMILTON Russel G Voices from an Empire A History of AfroPortuguese Literature University of Minnesota Press 1975 450 p 116 HERDECK Donald E African Authors a campanion to black African writing vol 1 13001973 Washington Black Orpheus Press 1973 XII605 p Inclui a biografia de 58 escritores africanos de língua portuguesa MARGARIDO Alfredo Incidences socioéconomiques sur la poésie noire dexpression portugaise In Diogène nº 37 Paris janeiromarço 1962 pp 5380 Panorama In C Barreto Estrada larga vol 3 Porto 1962 pp 482491 Sobre a poesia de S Tomé Angola e Moçambique integrada no tema geral A poesia postOrpheu Negritude e humanismo Lisboa Casa dos Estudantes do Império 1964 44 p MOISÉS Massaud Literatura portuguesa moderna Guia biográfico crítico e bibliográfico Ed Cultrix S Paulo Universidade de S Paulo 1973 202 p Contém a bibliografia de vários autores africanos e o cap Literatura do Ultramar p 102105 MOSER Gerald Essays in PortugueseAfrican Literature Col The Pennsylvania State University Studies 26 University Park Pensilvania Universidade do Estado da Pensilvânia 1969 8 88 p Contém um ensaio sobre Castro Soromenho 117 A tentative PortugueseAfrican bibliography Portuguese literature in Africa and African literature in the Portuguese language University Park Pennsylvania The Pennsylvania State University Libraries 1970 XI 148 psuplemento de 2 p 11 folha de err L How African is the African literature written in portuguese In Black African Review of National Literature vol 2 nº 2 Jamaica Long Island Estados Unidos outono 1971 pp 148166 NEVES João Alves das Vários artigos e críticas literárias in suplemento literário do Estado de S Paulo Brasil e na revista Anhembi cerca de 1960 a 1968 PINTO BULL Benjamim Regards sur la poésie africaine dexpression portugaise In LAfrique nº 2 Universidade de Dakar 1972 p 79117 PRETORODAS Richard A Negritude as a theme in the poetry of the PortugueseSpeaking World Col Humanities Monographs 3 Gainnsville University of Florida Press 1970 85 p RIÁUSOVA Helena A O papel das tradições estrangeiras na formação das literaturas africanas de expressão portuguesa In Problemas actuais do estudo das literaturas dÁfrica Moscovo 1969 p 10615 118 Formação das literaturas africanas de expressão portuguesa Moscovo Academia das Ciências da U R S S Instituto de Literatura Mundial Gorki 1970 20 p Acerca da literatura negra In Mensagem ano XV Estrada larga nº 3 Porto Porto Editora 1962 As literaturas da África de expressão portuguesa Moscovo Ed Nauka 1972 263 p Academia das Ciências da U R S S Instituto de Literatura Mundial Gorki Bibliografia TENREIRO Francisco Acerca da literatura negra In Mensagem ano XV nº 1 Lisboa Casa dos Estudantes do Império 1963 p 916 3233 e depois in Costa Barreto Estrada larga vol 3 Porto Editora 1962 Processo poesia In Mensagem ano XV nº 1 Lisboa Casa dos Estudantes do Império Abril 1963 p 410 TORRES Alexandre Pinheiro O neorealismo literário português Lisboa Moraes Editores 1976 226 p CABO VERDE ALMADA Maria Dulce de Oliveira Cabo Verde Contribuição para o estudo do dialecto falado no seu arquipélago Lisboa Junta de Investigações do Ultramar 1961 166 p Il 119 ARAÚJO Norman A study of Cape Verdean literature Boston Boston College 1966 225 p BARCELLOS Christiano José de Scena Subsídios para a história de Cabo Verde e Guiné Lisboa tip da Academia Real das Ciências de Lisboa 1899 a 1912 CABRAL Amilcar Apontamentos sobre a poesia caboverdiana In Cabo Verde ano III nº 28 Praia Cabo Verde janeiro 1952 p 58 CARDOSO Pedro Folclore caboverdeano Porto Edições Maranus 1933 120 p CARREIRA António Cabo Verde Formação e extinção de uma sociedade escravocrata 14601878 Lisboa Centro de Estudos da Guiné Portuguesa 1972 580 p Extensa bibliografia Il DUARTE Manuel Caboverdianidade e africanidade in Vértice XII nº 134 Coimbra 1954 p 639644 O primeiro ensaio sobre este tema FERREIRA Manuel As ilhas crioulas na sua poesia moderna In C Barreto Estrada larga vol 3 Porto Porto Editora 1962 pp 448454 120 A aventura crioula 2ª ed Lisboa Plátano Editora 1973 XXIX 442 p Extensa bibliografia Jorge Barbosa In J J Cochofel Grande dicionário da literatura portuguesa e de teoria literária em curso de publicação desde 1971 p 601604 O círculo do mar e o terralongismo em Chiquinho de Baltasar Lopes In COLÓQUIOLetras nº 5 Lisboa janeiro 1972 pp 6670 FRANÇA Arnaldo Notas sobre poesia e ficção caboverdianas Praia Cabo Verde 1962 23 p Sep Cabo Verde nova fase nº 1 157 outubro 1962 GÉRARD Albert S The literature of Cape Verde In African ArtsArts dAfrique vol 1 nº 2 Los Angeles inverno 1968 p 6670 GONÇALVES António Aurélio Alguns poemas de Osvaldo Alcântara In Cabo Verde nº 80 maio 1956 pp 913 Tratase de Baltasar Lopes Bases para uma cultura de Cabo Verde In Diário da viagem presidencial às províncias da Guiné e Cabo Verde Lisboa AgênciaGeral do Ultramar 1956 pp 159 177 121 LINA Mesquitela Pão fonema ou a odisseia de um povo Estudo analítico de um poema de Corsino Fortes Luanda Comité de Acção do PAIGC ANGOLA Casa Amílcar Cabral 1974 52 p LOPES Baltasar O dialecto crioulo de Cabo Verde Lisboa Imprensa Nacional de Lisboa 1957 391 p Cabo Verde visto por Gilberto Freyre Apontamentos lidos ao microfone de Rádio Barlavento Praia Cabo Verde Imprensa Nacional 1956 52 p Sep do Cabo Verde nº 84 a 86 Uma experiência românica nos trópicos I II In Claridade S Vicente Cabo Verde nº 4 1947 pp 15 22 e nº 5 1947 pp 110 LOPES Manuel Reflexões sobre a literatura caboverdiana ou a literatura nos meios pequenos In Colóquios cabo verdianos Lisboa Junta de Investigações do Ultramar 1959 p 122 LOPES Óscar Ficção caboverdiana In Modo de ler Porto Editorial Inova 1969 p 135147 MARIANO Gabriel Negritude e caboverdianidade In Cabo Verde ano IX nº 104 Praia Cabo Verde 1958 p 78 122 Em torno do crioulo In Cabo Verde ano IX nº 107 Praia Cabo Verde 1958 p 78 A mestiçagem seu papel na formação da sociedade caboverdiana In Cabo Verde nº 109 Praia Cabo Verde 1958 Do funco ao sobrado ou o mundo que o mulato criou In Colóquios caboverdianos Lisboa Junta de Investigações do Ultramar 1959 p 2349 Inquietação e serenidade Aspectos da insularidade na poesia caboverdiana In Estudos ultramarinos nº 3 Lisboa 1959 p 5579 Convergência lírica portuguesa num poeta cabo verdiano na língua crioula do séc XIX In II Congresso das comunidades de cultura portuguesa vol 2 Moçambique 1967 p 497510 Sobre Eugénio Tavares Uma introdução à poesia de Jorge Barbosa Praia Cabo Verde 1964 70 p MONTEIRO Félix Bandeiras da ilha do Fogo O senhor e o escravo divertemse In Claridade nº 8 S Vicente Cabo Verde 1958 pp 922 Cantigas de Ana Procópio In Claridade nº 9 S Vicente Cabo Verde 1960 pp 1523 123 NUNES Maria Luisa NUNES Mary Louise The phonologie of Cape Verdean dialects of portuguese Sep do Boletim de Filologia tomo XX Lisboa Centro de Estudos Filológicos 1963 56 p OLIVEIRA José Osório de Poesia de Cabo Verde Lisboa AgênciaGeral do Ultramar 1944 50 p não num RIÁUSOVA Helena A As literaturas das Ilhas de Cabo Verde e São Tomé In vários autores Literaturas contemporâneas da África Oriental e Meridional cap VI pp 224258 Moscovo Idotelstvo Nauk 1974 ROMANO Luís Literatura caboverdiana In Ocidente vol 70 nº 335 Lisboa março 1966 p 105116 Cabo Verde Renascença de uma civilização no Atlântico Médio Sep Ocidente Lisboa 1975 212 p SILVEIRA Onésimo Consciencialização na literatura caboverdiana Lisboa Casa dos Estudantes do Império 1963 32 p SILVEIRA Pedro da Relance da literatura caboverdiana I II III In Cultura e Arte dO Comércio do Porto Porto 24 dezembro 1953 27 abril 1954 e 13 julho 1954 SOUSA Teixeira de A estrutura social da ilha do Fogo em 1940 In Claridade nº 5 S Vicente Cabo Verde 1974 pp 42 44 124 Sobrados lojas e funcos In Claridade nº 8 S Vicente Cabo Verde 1958 pp 28 TENREIRO Francisco José Cabo Verde e S Tomé e Príncipe Esquema de uma evolução conjunta In Cabo Verde ano VII nº 76 Praia Cabo Verde janeiro 1956 p 1217 VALKHOFF Marius F Textos crioulos caboverdianos por Sérgio Frusoni Lisboa Silvas C T G scarl 1975 Sep Miscelânea Luso Africana Junta de Investigações do Ultramar pp 165 203 Contém algumas poesias e um conto em crioulo com tradução em português de M Valkhoff que prefaciou a obra S TOMÉ E PRÍNCIPE MARGARIDO Maria Manuel De Costa Alegre a Francisco José Tenreiro In Estudos Ultramarinos nº 3 Lisboa Instituto Superior dos Estudos Ultramarinos 1959 p 93107 RIÁUSOVA Helena A As literaturas das Ilhas de Cabo Verde e São Tomé Vide Cabo Verde SANTO Alda do Espírito Algumas notas sobre o falar dos nativos da ilha de S Tomé In Conferência Internacional dos Africanos Ocidentais S Tomé 1956 125 REIS Fernando Povô flogá O povo brinca Folclore de São Tomé e Príncipe Edição da Câmara Municipal de São Tomé e Príncipe Lisboa Tip Bertrand Irmão Lda 1969 241 p Além do mais contém as peças O Tchiloli ou a tragédia do Marquês de Mântua e do imperador Carloto Magno e o Auto de Floripes RIBAS Tomaz O tchiloli ou as tragédias de São Tomé e Príncipe In Espiral vol 1 nº 67 Lisboa 1965 p 7077 GUINÉ BISSAU BARROS Marcelino Marques de O Guineense In Revista Lusitana vol II pp 166 e 268 vol V pp 174 e 271 vol VI p 300 vol X pp 306310 PINTO BULL Benjamim Le créole de la GuinéBissau Structures grammaticales philosophie et sagesse à travers ses surnoms ses proverbes et ses expressions Université de Dakar Centre de Hautes Études AfroIberoAmericaines Faculté des Lettres Sciences Humaines 1975 55 p1 folha err TENDEIRO João Aspectos marginais da literatura da Guiné Portuguesa In Estudos Ultramarinos nº 3 Lisboa Instituto Superior dos Estudos Ultramarinos 1959 93107 126 ÍNDICE DE AUTORES OBRAS E TEMAS 127 A A tentative PortugueseAfrican bibliography Portuguese literature in Africa and African literature in the Portuguese language 117 A terra de meu pai 29 A Tribuna 28 A vida real dos homens nossos irmãos 112 A virgem e o menino mortos de fome 22 29 A Voz de Cabo Verde 98 A culturação caboverdiana 22 A agonia dos impérios 112 A Aurora 16 19 Acto Colonial 12 A aventura crioula 98 100 120 A Civilização da África Portuguesa 97 A conquista da poesia 43 104 A cultura na problemática da libertação nacional e do desenvolvimento à luz do pensamento de Amílcar Cabral 107 A estrutura social da ilha do Fogo 123 A harpa de Vanadio 98 A João Santa Rosa 111 A ilha e a solidão 58 A literatura africana de expressão portuguesa 7 8 10 A literatura portuguesa e a expansão ultramarina 8 A mentira vital 98 A mestiçagem Seu papel na formação da sociedade cabo verdiana 122 A partida 108 A primeira viagem 12 A revolta 85 A study of Cape Verdean literature 119 Abusivamente 112 Academia Cultivar 106 Àcerca da literatura negra 118 Aconteceu no morro 82 111 128 África 7 8 9 46 52 81 95 110 África é nossa 111 African ArtsArts dAfrique 120 African Authors 116 Africanidade 15 Agrupamento da ilha 83 Ainda os nossos poetas 100 Albasini João 27 Alcântara Osvaldo 39 41 42 74 120 Alegre Caetano da Costa 29 30 31 76 78 80 102 Aleixo Rodrigo 23 Alfama Jorge Miranda 51 52 74 Alfama José Bernardo 70 Algumas notas sobre o falar dos nativos da ilha de S Tomé 124 Almada Carlos 90 112 Almada Maria Dulce de Oliveira 109 118 AlmadaNegreiros 80 Almanach de Lembranças 27 Almanach Luso Africano 19 28 70 Amarilis Orlanda 62 68 Almas negras 11 Almeida José Evaristo d 20 21 98 Almeida Viana de 67 82 Álvares Afonso 95 Alvarez Manuel Vide Nuno de Miranda Amado Jorge 43 Amilcar Cabral e a reafricanização dos espíritos 107 Amilcar Cabral Apontamentos sobre a poesia cabo verdiana 107 Ambiente 36 103 América 7 67 Amor perfeito 98 Amores de urna creoula 21 98 Ana a Kalunga 11 Anahory Terêncio 46 50 105 Anais das Missões Ultramarinas 28 Andrade Costa 87 114 129 Andrade Mário 74 107 114 Andrade Mário Pinto de Vide Mário de Andrade Alcântara Oswaldo Vide Baltasar Lopes Angola 8 9 14 15 17 19 25 26 32 50 58 81 89 94 96 97 100 António M 114 Antologia da ficção caboverdiana contemporânea 62 107 Antologia da poesia africana de expressão portuguesa 105 Antonias ou o caso do bairro Estephania 97 Araújo Norman 119 Ao caso no mar 112 Aparecimento de uma actividade cultural regular em Angola 8 Apontamentos sobre a poesia caboverdiana 106 107 119 Arquipélago 36 103 Arteaga António de 21 98 As ilhas crioulas na sua poesia moderna 119 As literaturas da África de expressão portuguesa 118 As literaturas das ilhas de Cabo Verde e São Tomé 123 124 Aspectos marginais da literatura da Guiné Portuguesa 125 Ásia 7 Associação Literária Angolana 19 Associação Literária Grémio Caboverdiano 98 Atlântico 69 109 Auá 85 Augusto Artur 85 Augusto Silvério Ferreira Perfil biográfico e alguns aspectos da sua vida 97 Aulete Caldas 94 Auto de Floripes 29 Azevedo Osvaldo 74 Azevedo Pedro Corsino 39 40 103 B 130 Bandeira Manuel 38 Barbosa Jorge 35 36 37 38 39 40 45 52 103 Barbosa Mário Macedo 70 Barcelos Christiano José de Senna 94 119 Barros João de 7 Barros Manuel Alves de Figueiredo 23 Barros Marcelino Marques de 27 125 Barreto Joaquim Augusto Maria 23 Beira Caes 65 Bibliografia passiva selectiva 114 Biblioteca da cidade da Praia C Verde 94 Biblioteca da Companhia de Diamantes de Angola Lisboa 95 Biblioteca Nacional de Lisboa 97 98 Bilinguismo caboverdiano 69 109 Bobella Mota 114 Boletim Cultural da Guiné Portuguesa 86 Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa 28 Boletim de Filologia 123 Boletim dos Alunos do Liceu Gil Eanes 54 Boletins Oficiais Cabo Verde 93 97 Angola 97 Moçambique 97 S Tomé e Príncipe 97 GuinéBissau 97 Bosquejo dum passeio ao interior da ilha de S Thiago 21 99 Brasil 22 26 57 Bruhl Levy 11 C Cabo Verde 19 20 21 22 24 25 28 32 35 43 58 59 69 73 86 89 91 93 94 97 98 99 100 102 104 106 107 111 113 118 119 120 121 122 123 124 Caboverdeamadamente construção meu amor 55 56 105 Cabo Verde Contribuição para o estudo do dialecto crioulo 117 118 131 Cabo Verde Contribuição para o estudo do dialecto falado no seu arquipélago 109 118 Cabo Verde e S Tomé e Príncipe 121 122 Cabo Verde e S Tomé e Príncipe Esquema de uma evolução conjunta 102 Cabo Verde formação e extensão de uma sociedade escravocrata 16401878 100 119 Cabo Verde Renascença de uma civilização no Atlântico Médio 123 Cabo Verde visto por Gilberto Freyre 34 99 121 Caboverdianidade 24 Caboverdianidade e africanidade 119 Cabral Alexandre 96 Cabral Amilcar 25 59 60 86 89 106 111 115 119 Cabral António 88 112 Caderno de um ilhéu 36 Cadornega António de Oliveira 9 95 Caes de ver partir 43 CaesdoSodré té Salamansa 68 Camacho Brito 12 Caminhada 48 70 104 Caminho longe 50 66 105 Caminhos 111 Camões 7 Cancioneiro 7 Cancioneiro da ilha 43 104 Cancioneiro da saudade e da morte 100 Canções crioulas 70 Cântico de ferro 50 105 Cantiga da minha ilha 105 Capitão Ambrósio 50 105 Cardoso António Mendes 57 Cardoso Nuno Catarino 100 Cardoso Pedro 23 24 46 70 71 101 104 109 119 Carlos José 90 91 112 Carreira António 100 119 132 Carta do padre António Vieira escrita de Cabo Verde ao padre confessor de sua alteza indo arribado aquelle Estado 99 Casimiro Augusto 11 Cartilha Nacional 94 Cartilha racional para se aprender o kimbundo escrito segundo a Cartilha Maternal do Dr João de Deus 97 Carvalho Norberto Tavares Vide Kôte Castro José Monteiro 80 Casagrande e senzala 34 Casa dos Estudantes do Império 80 103 114 contos angolanos 18 Certeza 35 42 43 44 47 68 72 73 104 107 César Amândio 115 Chagas Manuel Pinheiro 10 Chatelain Héli 18 Chaves Castelo Branco 67 Chelmichi José Conrado Carlos de 93 Chiquinho 60 Chuva brava 63 Cidade Hernâni 8 80 Circe 98 Clamor Africano 26 Claridade 24 26 32 35 39 41 42 47 48 52 54 58 60 61 62 63 64 67 70 71 72 73 85 103 104 108 109 121 122 123 124 Clima 57 106 Cochofel João José 120 Coisificação do homem negro 17 Coladeira 70 COLÓQUIOLetras 104 109 120 Colóquios caboverdianos 100 121 122 Comunicado 106 Conferência Internacional dos Africanos Ocidentais 124 Congo 96 Conselho Nacional de Cultura da GuinéBissau 112 Consciência regional Cabo Verde 34 133 Consciencialização na literatura caboverdiana 64 123 Contos e cantares africanos 28 Contos novos 98 Contos populares e lendas 28 Contos populares de Angola 18 Contos selvagens 12 Contos singelos Nhô José Pedro ou Scenas da ilha Brava 21 99 Contra mar e vento 67 Contributo para a história da Imprensa em Moçambique 26 Convergência lírica portuguesa num poeta caboverdiano na língua crioula do séc XIX 122 Corografia caboverdiana ou Descripção GeográficaHistórica da Província das ilhas de CaboVerde e Guiné 93 Costa Jorge António da Vide Jorge Ampla Cumelerbo Costa Luiz Theodoro de Freitas e 23 Costa Teófilo José da 97 Couto Diogo do 7 Couto Ribeiro 38 Crioulo e outros poemas 103 Cronologia de Angola manuscrito 97 Cultura II 111 Cultura e Arte do Comércio do Porto 108 123 Cultura de Voz di Povo 106 Cumelerbo Jorge Ampla 89 112 Curcutiçans 70 D D Afonso de Portugal 95 Dambará Kaoberdiano 71 Dantas Guilherme A da Cunha 21 99 Davyes Tony Vide António Sérgio Maria De Costa Alegre a Francisco José Tenreiro 124 Delírios 18 134 Depois de mim 112 Desalentos 96 Descobertas e expansão 7 8 93 Despedida breve 96 Desespero 112 Diário da Manhã 16 38 103 Diário Popular 98 Dias Estácio 27 Diogène 116 Discurso da acção colonizadora 12 13 Distância 65 Do fundo ao sobrado ou o mundo que o mulato criou 99 100 Dois escritores quinhentistas de Cabo Verde André Álvares de Almada e André Dornelas 95 Domingues Mário 80 82 Dornelas André 9 12 poemas de circunstância 47 Drama 69 109 Dramas da pesca da baleia 22 99 Dramática Associação Igualdade 98 Duarte Fausto 85 86 Duarte Pedro 62 74 Duarte Custódio José 23 Duarte Manuel 119 E Elegia à memória das infelizes victimas assassinadas por Francisco de Mattos Lobo na noute de 25 de junho de 1844 9 Eloy Mário 80 Em torno da minha baía 110 Emigração 108 Ensaios literários 19 Ensino oficial 8 135 Ensino particular 8 Equathoriais 28 Era de ouro 41 103 Escreverei mais um poema 112 Espiral 125 Espontaneidades da minha alma 9 15 96 Estrada larga 116 118 119 Essays PortugueseAfrican Literature 116 Estudos Ultramarinos 122 124 125 Evocação do Recife 34 Ensaio de dicionário kimbundoportuguês 97 Ensino 93 Ervedosa Carlos 97 Expressão em crioulo 82 91 113 Exemplo dúbio 105 Exemplo geral 105 Exemplo relativo 105 Expresso 107 Evasionismo 64 108 F Famintos 64 Ferreira José da Silva Maia 9 15 96 Ferreira Lourenço do Carmo 18 Ferreira Serafim 114 Ficção caboverdiana 121 Figueira Manuel 74 96 100 103 106 107 111 114 115 119 Figueiredo Jaime de 24 59 69 74 109 114 Filipe Daniel 58 59 106 Finançons 70 Flirts 98 Flores cinzentas 98 Fogo ilha 67 136 Folclore caboverdeano 24 109 119 FolkTales of Angola 18 Fonseca Aguinaldo 46 104 Fonseca Jorge Carlos da 73 74 Fonseca Mário 51 57 73 74 Fontes Amândio 34 Foram estes os vencidos 85 Formação das literaturas africanas de expressão portuguesa 117 118 Fortes Corsino 54 57 71 74 105 121 Foz do Zaire 8 93 França Arnaldo 43 74 104 107 120 França JoséAugusto 96 Freire Maria da Graça 12 Freyre Gilberto 34 Frusoni Sérgio 70 71 72 Furtado J Cândido 15 96 G Galinha branca 41 103 Galvão Henrique 11 Gazeta de Portugal 97 Geba 112 Gente da ilha 66 Gérard Albert S 120 Góis Damião de 7 Gobineau 11 Gonçalves António Aurélio 62 67 74 107 114 120 Gonzaga Tomás António 26 Gorgulho governador 110 Graça Leitão 62 Grande dicionário da literatura portuguesa e de teoria literária 120 Gregório Pedro 74 Gritarei berrarei matareiNão Vou para Pasárgada 48 105 137 Grupo Desportivo e Cultural do Banco Nacional Ultramarino 86 Guerra Henrique 87 Guillén Nicolás 74 78 Guiné 9 GuinéBissau 25 27 28 32 85 86 87 89 94 97 107 111 112 113 125 H Hamilton Russel G 115 Herdeck Donald E 116 Hespérides 101 Histórias do Zaire 96 História geral das guerras angolanas 95 Hora di bai partida 108 Hora grande 47 104 Horas sem carne 105 Horizonte aberto 56 106 How African is the African literature written in portuguese 117 I Ilha 60 106 107 Ilha de Santiago 20 74 Ilha do Príncipe 80 Incidences socioéconomiques sur la poésie noire dexpression portugaise 116 Influência brasileira 34 Inquietação e serenidade Aspectos da insularidade na poesia caboverdiana 122 Irmão branco 58 Itinerário da literatura angolana 97 138 J Jahn Janheinz 95 Matta Jaquim Ria Vide Joaquim Dias Cordeiro da Mata Jardim das Hespérides 104 Jorge Barbosa 120 Jornal de Angola 97 Jornal do Comércio e das Colónias 16 Jornalismo 18 19 ver para trás Joaquim Vide Joaquim Namorado Juca a Matumbolla 16 96 Justen Vide Justino Nunes Monteiro K Kondé Kwams 56 57 106 Kordá Kaoberdi 56 71 106 Kôte 89 112 L Lar 57 106 Laranjeira Pires 114 Le créole de la GuinéBissau 125 Leite Januário 24 101 Lemos João de 11 Lepecki Maria Lúcia 68 109 Ler e depois 108 Letras e Artes 52 Liberdade de expressão 8 Lima Gertrudes Ferreira 23 Lima Júnior Armando 56 139 Lima Jorge de 38 Linha do horizonte 46 104 Língua caboverdiana 61 72 Lírica 34 76 85 102 110 111 Líricas portuguesas 103 Lisboa 9 17 18 19 20 27 30 44 50 62 66 67 68 8082 Literatura angolana 15 77 Literatura caboverdiana 123 Literatura colonial 9 10 14 17 20 21 32 85 95 Literatura contemporânea da África Oriental e Meridional 123 Literatura dos negros 27 Literatura moçambicana 77 Literatura portuguesa moderna 116 Livro da dor 27 Lopes Baltasar 34 39 41 60 61 63 74 99 103 107 109 120 121 Lopes Francisco 62 Lopes José 23 24 100 101 Lopes Jr António 89 112 Lopes Manuel 39 40 60 63 64 103 121 Lopes Óscar 63 108 121 Luanda 15 16 18 19 65 Lusíadas 12 Luz e Crença 19 Lyceu Nacional da Província de Cabo Verde 93 LzimparimNegrume 71 M Macedo António Dias 9 95 Maiá Póçon 82 Machado Pedro Félix 17 96 Magia negra 46 Mákuà 105 Mamãe 45 140 Manuel de littérature néofricaine 95 Mantenhas para quem luta 32 87 91 112 Marecos Ernesto 16 96 Mariano João 23 Marky Sum 82 Margarido Maria Manuela 79 110 124 Margarido Alfredo 80 110 111 114 116 Maria António Sérgio 89 Mariano Dante 56 106 Mariano Gabriel 46 47 49 52 62 65 66 71 98 99 104 105 121 Marinheiro em terra 58 Marques José Ferreira Vide Sum Marky Martins Ovídio 46 48 49 52 62 65 70 71 73 74 104 Martins Rolando VeraCruz 51 52 105 Martins Tomaz 43 104 Mascarenhas Maria Margarida 62 Massacre de Batepá S Tomé 110 Matta J Dias Cordeiro da 15 18 97 Medeiros Tomaz 79 83 111 Memórias de um rapaz pobre 21 99 Mensagem Angola 32 Mensagem Casa dos Estudantes do Império 103 107 111 Mentalidade prélogica 11 Mestre de gramática S Tiago C Verde 94 Meu canto Europa 111 Miranda Nuno 43 62 66 104 Missiva 58 106 Moçambique 16 19 25 26 27 32 81 89 93 94 97 101 122 Modernos autores portugueses 82 Modernos poetas caboverdianos 59 Modo de ler 121 Moisés Massaud 116 Monteiro Justino Nunes 91 Monteiro Júnior José Maria de Sousa 23 Morazzo Yolanda 46 50 105 141 Morna 38 70 Mornas Cantigas crioulas 70 109 Morte desenraizada 112 Moser Gerald 95 114 116 Mota A Teixeira da 95 Msaho 32 Museu Nacional da cidade da Praia C Verde 94 N Nacionalismo imperial 13 Nada nos separa 104 Namorado Joaquim 110 Narrativa 60 82 107 111 Natureza morta 96 Nga Mutúri 16 Negreiros António Almada 28 Negrismo 31 Negritude 15 35 76 77 80 Negritude as a theme in tbe poetry of the Portuguese Speaking World 117 Negritude e caboverdianidade 121 Negritude e humanismo 116 Neorealismo 35 Neto Agostinho 114 Neves Eduardo 15 Neves João Teixeira das 12 New York Public Library 95 No reino de Caliban 59 96 103 106 111 Nô Pintcha 107 Noite de vento 68 Nôs Vida 52 Nossa terra 109 Notas sobre poesia e ficção caboverdianas 43 120 Notícias de Cabo Verde 51 142 Nova largada 11 Noti 71 Nunes António 44 45 104 Nunes João José 23 Nunes Maria Luísa 123 Nunes Mary Louise Vide Maria Luísa Nunes O O Brado Africano 27 O Africano 26 27 O Comércio de Luanda 19 O círculo do mar e o terralongismo em Chiquinho de Baltasar Lopes 120 O Diabo 110 O dialecto crioulo de Cabo Verde 109 121 O Dr Duprat 96 O Echo de Angola 18 O Equador 29 97 O enterro de nha Candinha Sena 68 O escravo 20 21 98 O filho adulterino 96 97 O galo que cantou na baía 63 O Guineense 125 O Independente 97 O julgar pertence à história 112 O luandense da alta e da baixa esfera estudo crítico e analítico 97 O menino entre gigantes 82 O Mundo Português 85 O negro sem alma 85 O papel da cultura na luta pela independência 115 O papel das tradições estrangeiras na formação das literaturas africanas de expressão portuguesa 117 O primeiro livro de Notcha 52 105 O Progresso 97 143 O rapaz doente 65 O sangue das rosas 98 O sertão 19 O tchiloli ou A tragédia do Marquês de Mântua e de Carloto Magno 29 O tchiloli ou as tragédias de São Tomé e Príncipe 125 O vélo doiro 11 O vigilante 26 Obra poética de Francisco José Tenreiro 77 110 Oceania 7 Ocidente 123 Oliveira José Osório de 12 123 Onde estão os homens caçados neste vento de loucura 78 110 Origem da poesia angolana 9 Orta Garcia de 7 Os esotéricos 98 Os flagelados do vento leste 64 Osório Oswaldo 51 52 55 57 62 71 74 105 Os sertões dAfrica 10 P PAIGC 25 59 87 107 Padres Jesuítas de Angola 8 Paisagem 111 Paquete Tomás 89 112 Panorama 104 116 Pão fonema 54 105 Para ti Mãe Iva 107 Paz 44 Paz 3 104 Pascoaes Teixeira de 12 Pedro António 38 39 59 103 Pedro Jorge 57 59 70 144 Pereira Duarte Pacheco 7 Philosophia popular em provérbios angolenses 18 Pinto Fernão Mendes 7 Pinto Francisco António 96 Pinto Mário Duarte 23 Pinto Bull Benjamim 85 117 125 Pires António 12 Pires Aydeia Avelino 62 Pires Virgílio 57 59 62 Poema 105 Poema 112 Poema de amanhã 44 Poema de um assimilado 112 Poema para depois 106 Poemas 86 Poemas de longe 44 104 Poemas caboverdianos 58 Poema para tu decorares 104 Poema sem tempo 105 Poesia de Cabo Verde 123 Poetas de S Tomé e Príncipe 80 110 111 Poetas modernos caboverdianos 24 Poilão 86 87 Poetisas portugueses 100 Prelo nas excolónias 8 9 94 96 114 Presença 34 Presença crioula 62 Preto Alves 82 111 PretoRodas Richard A 117 Primeiro escritor africano de língua europeia 95 Primeiros periódicos não oficiais 97 Poetas de S Tomé e Príncipe 80 110 111 Povô flogá 125 Processo poesia 118 Pródigo 68 PróGuiné 27 86 97 Proença Helder 88 112 145 Pusich Antónia Gertrudes 9 19 Q Quem é que não se lembra 60 106 Quituxi 16 R Raízes 73 74 107 Ramos Artur 34 Raposo Hipó1ito 11 12 Recordai do desterro no dia de S Silvestre de 1957 41 Rebelo Marques 34 Reino do Congo 8 Reis Fernando 125 Reflexões sobre a literatura caboverdiana ou a literatura nos meios pequenos 121 Regalla Agnelo Augusto 87 112 Regards sur la poesie africaine dexpression portugaise 117 Rego José Lins do 34 Regresso 107 Regresso do homem negro 111 Relance da literatura caboverdiana 123 Renascença 103 Repique do sino 110 Revelação 104 Revista Lusitana 28 125 Revolução 57 73 88 Riáusova Helena A 117 123 124 Ribas Tomaz 125 Ritmo de pilão 45 104 Rocheteau Guilherme 43 104 Roça 110 146 Rodrigues João 62 Rodrigues Sebastião 95 Romance íntimo 17 96 Romano Luís 57 62 64 65 71 106 107 123 Rosa Guimarães 61 Rosa Jorge Eduardo 18 Roteiro de África 12 Rui Manuel 114 Rumo ao degredo 85 S S Tomé 66 82 S Tomé e Príncipe 25 28 29 32 80 81 82 89 93 94 97 102 110 111 124 S Vicente Cabo Verde 67 68 106 Saga 104 Said Nagib 90 112 Salvaterra Armando 90 112 Salema Álvaro 67 Sangazuza 83 Sangue cuanhama 12 S Paulo de Assunção de Luanda 117 Sarmento Alfredo de 10 Santo Alda do Espírito 78 110 124 Santo Antão C Verde 20 64 65 71 Scenas dÁfrica 17 96 Seara Nova 60 Segue o teu rumo irmão 60 106 II Congresso das comunidades de cultura portuguesa 122 Semedo Carlos 86 Sequeira José Pedro 89 112 Sèló 35 51 52 62 73 Seminário Liceu da ilha de S Nicolau 70 Seminário eclesiástico da diocese de Cabo Verde 94 147 Sena Jorge de 37 103 Sentimento de cor na literatura caboverdiana 23 Sentimento nacional 14 25 32 96 Serra Manuel 62 Silva António Corsino Lopes da 23 Silveira Onésimo 47 49 52 62 64 65 104 108 123 Silveira Pedro da 103 123 Sobrados lojas e funcos 124 Sociedade Gabinete de Leitura Praia C Verde 94 98 Soba Quinty 112 Socopé 83 Somos crianças 112 Sonetistas portugueses e lusobrasileiros 100 Sorbonne 85 Soromenho Castro 67 Sorrisos 96 Sousa Teixeira de 62 67 123 Stockler Francisco 83 Subsídios para a história de Cabo Verde e Guiné 94 Suplemento Cultural 35 46 47 50 73 102 Sukre DSal 56 57 71 106 T Tacalhe 56 57 71 73 74 106 Tavares Eugénio 21 23 70 71 72 99 108 109 122 Tchuchinha 65 Teixeira António Manuel 19 70 Tendeiro João 125 Tenreiro Francisco José 32 76 77 78 80 82 102 110 118 124 Terra de sôdade argumento para bailado folclórico 69 109 Terra quente 96 Terralongismo 108 The phonologie of Cape Verdean dialects of portuguese 123 148 The literature of Cape Verde 120 Tiofe Timóteo Tio 52 53 57 105 Toda a gente fala sim senhor 65 Torres Alexandre Pinheiro 28 118 Tratado breve dos reinos ou rios da Guiné 9 Troni Alfredo 16 17 U Uma experiência romântica nos trópicos 109 121 Um homem igual a tantos 82 111 Uma introdução à poesia de Jorg Barbosa 122 Uma teima 96 UNESCO 115 V Varela João Manuel Vide Timóteo Tio Tiofe Vário João Vide Timóteo Tio Tiofe Vasconcelos Henrique de 19 98 Vasconcelos J Leite 28 Vasconcelos Medina 23 Veiga Marcelo 80 111 VeraCruz Rolando Vide Rolando VeraCruz Martins Versos 29 30 31 102 Vértice 51 52 105 119 Viagem para além da fronteira 58 106 Vicente Gil 7 95 Vida Colonial 100 Vida Contemporânea 100 Vida crioula 65 Vida e morte de João Cabafume 65 66 Videira António Gonçalves 12 Vida creoula na América 21 99 149 Vieira António 22 99 Vieira Arménio 51 57 71 73 74 105 Vieira José Luandino 61 Vila flogá 82 Vinte anos depois 21 99 Virgens loucas 68 109 Virgínio Teobaldo 58 62 65 106 Voices from an Empire A History of AfroPortuguese Literature 115 Voz da Pátria 28 Voz di Povo 57 62 106 109 Vozes 106 107 Z Zurara Gomes Eanes de 7
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Biblioteca Breve SÉRIE LITERATURA LITERATURAS AFRICANAS DE EXPRESSÃO PORTUGUESA I COMISSÃO CONSULTIVA JACINTO DO PRADO COELHO Prof da Universidade de Lisboa JOÃO DE FREITAS BRANCO Historiador e crítico musical JOSÉAUGUSTO FRANÇA Prof da Universidade Nova de Lisboa DIRECTOR DA PUBLICAÇÃO ÁLVARO SALEMA MANUEL FERREIRA Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa I INTRODUÇÃO GERAL CABO VERDE S TOMÉ E PRÍNCIPE GUINÉBISSAU MEIC SECRETARIA DE ESTADO DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA Título Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa I Biblioteca Breve Volume 6 Instituto de Cultura Portuguesa Secretaria de Estado da Investigação Científica Ministério da Educação e Investigação Científica Instituto de Cultura Portuguesa Direitos de tradução reprodução e adaptação reservados para todos os países 1ª edição 1977 Composto e impresso nas Oficinas Gráficas da Livraria Bertrand Venda Nova Amadora Portugal Maio de 1977 ÍNDICE INTRODUÇÃO GERAL Pág 1 Descobertas e expansão 7 2 Literatura colonial 9 3 Século XIX Sentimento nacional14 Angola 14 Cabo Verde19 Moçambique26 GuinéBissau27 S Tomé e Príncipe28 Perspectiva Geral32 CABO VERDE 1 Lírica 34 2 Narrativa60 3 Drama69 4 Bilinguismo caboverdiano 69 Raízes nota final73 S TOMÉ E PRÍNCIPE 1 Lírica 76 2 Narrativa82 3 A expressão em crioulo 82 GUINÉBISSAU 1 Lírica 85 2 A expressão em crioulo 91 Notas 92 Bibliografia114 Índice de autores obras e temas126 7 DESCOBERTAS E EXPANSÃO A literatura africana de expressão portuguesa nasce de uma situação histórica originada no século XV época em que os portugueses iniciaram a rota da África polarizada depois pela Ásia Oceania Américas A historiografia e a literatura portuguesas sob a óptica expansionista testemunham o esforço lusíada da época renascentista Cronistas poetas historiadores escritores de viagem homens de ciência pensadores missionários viajantes exploradores enobreceram a cultura portuguesa e em muitos aspectos colocaramna ao nível da ciência e das grandes literaturas europeias Gomes Eanes de Zurara João de Barros Diogo do Couto Camões Fernão Mendes Pinto Damião de Góis Garcia de Orta Duarte Pacheco Pereira são alguns dos nomes cujo discurso é alimentado do saber de experiência feito alcançado a partir do século XV em declínio já no século XVII e esgotado no século XVII A obra de um Gil Vicente ou embora escassamente a de poetas do Cancioneiro ao lado das coisas de folgar foram marcadas pela Expansão ao longo dos bárbaros reinos Estamos assim a referir uma literatura feita por portugueses fruto da aventura no AlémMar no 8 período renascentista Hernâni Cidade e outros glorificamna no espírito da dilatação da Fé e o Império A literatura portuguesa e a expansão ultramarina 1963 e 1964 2 vols Chamemoslhe a literatura das Descobertas e Expansão É evidente que esta literatura nascida de uma experiência planetária numa época em que o mundo cristão reconhecia o direito à dominação à depredação e até à barbárie a cruz numa mão e a espada noutra nada tem a ver com a literatura africana de expressão portuguesa Este registo destinase apenas ou sobretudo a retermos factos longinquamente relacionados com o quadro cultural e político que séculos depois havia de surgir e é a razão primeira destas páginas Quando e como surgiu a literatura africana de expressão portuguesa E como se desenvolveu Os portugueses chegaram à Foz do Zaire em 1482 e em 1575 1 fundaram a primeira povoação portuguesa São Paulo de Assunção de Loanda hoje capital de Angola Dos primeiros contactos com o Reino do Congo dános testemunho a correspondência trocada entre os reis do Congo e os reis de Portugal além de documentos como os relatórios dos padres jesuítas de Angola Mas o aparecimento de uma actividade cultural regular na África associase intimamente à criação e desenvolvimento do ensino oficial e ao alargamento do ensino particular ou oficializado 2 à liberdade de expressão e à instalação do prelo que se registam a partir dos anos quarenta do século XIX 3 9 LITERATURA COLONIAL Com efeito quatro anos apenas após a instalação do prelo em Angola ocorre a publicação do livro Espontaneidades da minha alma 1849 do angolano mestiço ao que parece José da Silva Maia Ferreira o primeiro livro impresso na África lusófona 4 O primeiro livro impresso mas não a mais antiga obra literária de autor africano Por pesquisas que recentemente levámos a cabo é anterior àquele pelo menos o poemeto da caboverdiana Antónia Gertrudes Pusich Elegia à memória das infelizes victimas assassinadas por Francisco de Mattos Lobo na noute de 25 de Junho de 1844 publicado em Lisboa no mesmo ano Entretanto não será deslocado citarmos o Tratado breve dos reinos ou rios da Guiné escrito em 1594 da autoria do caboverdiano André Alvares de Almada e de origem caboverdiana se supõe ser André Dornelas autor do século XVI que assina uma descrição da Guiné 5 E até nós chegou também pela pena do historiador António Oliveira Cadornega o eco de um poeta satírico o capitão angolano António Dias Macedo que tinha sua veya de Poeta 10 Se a Deos chamão por tu e a el Rey chamão por vós como chamaremos nós a três que não fazem hum que o povo indiscreto e nú falto de experiência fez em lugar de hum três que com toda a Cortezia tú nem vós nem Senhoria merecem suas mercês 6 Tal porém não nos autoriza a remontarmos as origens da poesia angolana a tão recuados tempos como já com alguma intemperança se quis insinuar Repondo por isso a questão com certa objectividade pode afirmarse que a literatura africana chama a si mais de um século de existência Este longo período de mais de um século de actividade literária está porém contido em duas grandes linhas a literatura colonial e a literatura africana de expressão portuguesa A primeira a literatura colonial definese essencialmente pelo facto de o centro do universo narrativo ou poético se vincular ao homem europeu e não ao homem africano No contexto da literatura colonial por décadas exaltada o homem negro aparece como que por acidente por vezes visto paternalisticamente e quando tal acontece é já um avanço porque a norma é a sua animalização ou coisificação O branco é elevado à categoria de herói mítico o desbravador das terras inóspitas o portador de uma cultura superior Exemplo o único país que pode explorar seriamente a África é Portugal prefácio de Manuel Pinheiro Chagas a Os sertões dÁfrica 1880 de Alfredo de Sarmento onde aliás se pode ler sobre o negro É um homem na forma mas os instintos são de 11 fera p 87 Paradoxalmente o branco é eleito como o grande sacrificado A aplicação do ponto de vista colonialista tem no europeu o agente dinâmico e não o opressor Fiel aos nossos deveres de dominador grata ao nosso orgulho útil às populações escrevia um homem antifascista Augusto Casimiro Nova largada 1929 Predominavam então as ideias da inferioridade do homem negro que teóricos racistas como Gobineau haviam derramado e para as quais teria contribuido o filósofo LévyBruhl com a sua tese da mentalidade prelógica sendo certo embora que a renunciou pouco antes de morrer Logo no último quartel do século XIX se encontram os pioneiros desta literatura Mas é no período 2030 do século XX que ela vai atingir o ponto maior na quantidade na marca colonialista na aceitação do público que esgota algumas edições concerteza motivado pelo exótico Aí se destaca um naipe todo ele incapaz de apreender o homem africano no seu contexto real e na sua complexa personalidade É certo que justo será destacar pela qualidade de sua escrita João de Lemos Almas negras 1937 porque nele apesar de uma deficiente visão se denota um meritório esforço de análise e intenção humanística Mas escritor português manietado pela distanciação colonialista por norma dá ao seu discurso um sentido racista hoje de inconcebível aceitação Henrique Galvão A sua face negra de beiçola carnuda tinha reflexos demoníacos O vélo doiro 4ª ed 1936 p 122 ou Era um negro esguio o Mandobe que dava a impressão dum excelente animal de corrida p 34 Hipólito Raposo Ana a Kalunga 1926 na glorificação mística imperial Queimados no ardor silencioso de Golfo em todo o 12 peito português vai estremecendo o marulhar heróico dos Lusíadas p 21 e outros muitos como António Gonçalves Videira João Teixeira das Neves irmão de Teixeira de Pascoaes Brito Camacho Contos selvagens 1934 Prolongase este tipo de literatura até aos nossos dias com tendência no entanto para reflectir os efeitos de uma perspectiva humana ajustada à evolução das condições históricas e políticas porventura o caso de Maria da Graça Freire A primeira viagem 1952 e noutro aspecto na actualização de uma linha que vem de Hipólito Raposo citaríamos António Pires Sangue Cuanhama 1949 Essa incapacidade de penetrar no mundo africano terminou por se instalar na consciência de um ou outro poucos mais atentos mais apetrechados do ponto de vista teórico como é o caso de José Osório de Oliveira que se interroga a si próprio Conseguirei escutar nesta viagem a voz da raça negra Roteiro de África 1936 p 55 O tempo histórico o tempo cultural para quem ideologicamente era incapaz de se furtar à insidiosa instauração do fascismo em Portugal e à inscrição legal do assimilacionismo aí vinha já o célebre Acto Colonial de 1930 não permitia ou não ajudava a uma tarefa de tal monta que rejeita meros propósitos e exige uma reformulação da mentalidade do europeu Hoje não há lugar para dúvidas muitas dessas obras estão condenadas ao esquecimento salvandose aquelas que apesar de prejudicadas pelas contigências de uma época e de uma mentalidade coloniais evidenciam contudo um certo esforço humanístico e uma real qualidade estética Mas no conjunto a história vai ser de uma severidade implacável e arrumará a quase totalidade desta literatura no discurso da acção 13 colonizadora ou no nacionalismo imperial saudosista e deslumbrado 7 14 SÉCULO XIX SENTIMENTO NACIONAL 1 ANGOLA É interessante notar porém que já na segunda metade do século XIX paralelamente a uma literatura colonial surgem textos de alguns escritores que não poderão ser genericamente catalogados de autores de literatura colonial Se por um lado na representação do universo africano lhes falece uma perspectiva real e coerente por outro enjeitam a exaltação do homem branco embora possam como é natural no contexto da época não assumir uma atitude de oposição típica daquilo que viria a ser a autêntica literatura africana de expressão portuguesa Mas irrealista seria exigir isso de homens que viveram num período em que a institucionalização do regime colonial dificultava uma consciência anticolonialista ou outra atitude que não fosse a de aceitála como consequência fatal da história Manifestar nessa época recuada um sentimento africano ou uma sensibilidade voltada já para os dados do mundo africano constitui hoje a nossos olhos um acto de novidade e de pioneirismo Eles são com efeito e neste 15 quadro os antecessores de uma negritude ou de uma africanidade O mais remoto desses escritores em Angola é José da Silva Maia Ferreira africano de nascimento e de cor que em páginas anteriores já referimos O seu livro de poemas Espontaneidades da minha alma 1849 marca assim o início da literatura angolana de língua portuguesa Tessitura poética frágil é certo mas que cumpre mesmo assim mencionálo até porque de um modo geral a poesia angolana desse século acusa toda ela um certo rudimentarismo A tónica deste discurso é o lirismo vasado sobretudo no amor mas também na fraternidade na gratidão na recordação familiar na amizade no enlevo rústico ou paisagístico E neste campo semântico variado e não muito complexo nem profundo palpita ainda e isto é importante a ternura romântica de um sentimento pátrio Foi ali que por voz suave e santa Ouvi e cri em Deos É minha pátria 8 subscreve José da Silva Maia Ferreira no poema A minha terra datado do Rio de Janeiro 1849 Cerca de quinze anos depois outros poetas dão sinal de si em Luanda Porém esta participação com excepção para Cordeiro da Matta devese a portugueses radicados É o caso de Eduardo Neves c 1865 séc XX apenas com obra dispersa Ou o de J Cândido Furtado séc XIX 1905 também poeta que viveu por largos anos em Angola Parte da sua poesia também dispersa pode considerarse tal como a de outros indiciadora de representação do tópico da cor 16 Quimporta a côr se as graças se a candura Se as fórmas divinaes do corpo teu Se escondem se adivinhão se apercebem Sob esse tão subtil ligeiro véu 9 Ou então Ernesto Marecos 18361879 que viveu em Luanda desde 1850 um dos fundadores da revista A Aurora adiante citada terminando por falecer em Moçambique Autor de Juca a Matumbolla 1865 o seu discurso é uma narração poética trabalhada sobre uma lenda africana que o autor situa na região da Lunda O tema central é o crime que por amor se pratica e se redime também na morte heróica E buscou perdão na morteQual cumpria ao moço forteAo leonino caçador e o milagre do amor vai assumirse em ressurreição juncto ao triste cemitérioQue a bella Juca escondeu 10 No domínio da narrativa impõese o nome de Alfredo Troni 18451904 em Luanda desde 1873 onde faleceu Jornalista combativo e prestigiado assina o romancinho Nga Mutúri publicado em folhetins nos jornais lisboetas Diário da Manhã e Jornal do Comércio e das Colónias em 1882 e agora reeditado 1973 Centrada na área mestiça da cidade de Luanda da segunda metade do século XIX os dons revelados em Nga Mutúri não são de somenos antes pelo contrário Desde o momento em que sendo ainda criança o tio é obrigado a vendêla por força do quituxi instituição jurídica africana passando pela fase em que se transforma na mulher do branco que a comprou depois pela viuvez Nga Mutúri Senhora Viúva até ao momento em que o narrador dá o corte final da história longo é o percurso da personagem principal Através de vários sucessos e pequenas histórias encaixadas o leque social de Luanda 17 vaise abrindo a nossos olhos relações familiares justiça hábitos sociais religiosos culinária tradições africanas de algum modo reelaboradas conceitos de vida conceitos morais etc Alfredo Troni revelando um conhecimento concreto da sociedade luandense numa linguagem depurada cingida ao real faz gala de uma segurança organizativa invulgar e cuidada utilização de um estilo que vai à ironia repousada a uma certa malícia subtil buscar o tom geral da narração mas com tal ciência que salvo uma ou outra rara excepção se defende de uma eventual distanciação que fatalmente empobreceria o texto No toque de relevo da crítica de costumes sobressai a alienação trazida pela assimilação cultural e a transparência da coisificação do homem negro na estrutura instável colonizadocolonizador Em resumo texto de prazer e texto de conhecimento Já terá de se atribuir menos importância ao Romance íntimo 1892 2ª ed da série Scenas dÁfrica de Pedro Félix Machado ao que parece nascido em Angola c 1860 séc XX Começamos por nos convencer de que a narrativa cuja acção se reparte por Angola e Lisboa só a muito custo se liberta do âmbito de uma literatura colonial mau grado a manipulação de personagens da burguesia de duvidosa honorabilidade Incluíla aqui é um tanto pela meia dúzia de páginas que aludem a um importante embarque de negros que interessava muitos dos principaes negociantes daquella praça p 28 e tal embarque projectado era de oito centas cabeças de alcatrão diziam os entendidos as quaes nessa épocha deviam render livres para os carregadores uns seis centos contos p 30 Como quer que seja para um juizo definitivo seria necessário conhecermos a série completa 11 18 O contributo de autores de origem africana os filhos do país encontra em Joaquim Dias Cordeiro da Matta Jaquim Ria Matta 1857 1894 uma fonte preciosa Estimulado pelo missionário suiço Héli Chatelain antropólogo ao serviço do governo americano mais de uma vez desembarcado em Luanda a quem se deve não só uma estimulante influência junto dos intelectuais angolanos como também um trabalho importante no domínio da pesquisa linguística e etnográfica de que se destaca Folk Tales of Angola 1897 em edição portuguesa com o título Contos populares de Angola 1964 J Cordeiro da Matta figura destacada da chamada geração de 1880 e um dos valores de maior evidência do século XIX incitava os seus compatriotas a dedicarem algumas horas de lazer para a fundação da nossa literatura o sublinhado é de quem assina este trabalho in Philosophia popular em proverbios angolenses Lisboa 1891 Filólogo etnólogo jornalista e poeta parte da sua obra alguns manuscritos como os 114 contos angolanos perdeuse 12 O seu livro de versos Delirios 1857 1887 Luanda 1887 que se considera também desaparecido mas de que se conhecem algumas das suas poesias avança na contribuição do tópico da cor como no capítulo seguinte nos é dado comentar Outros mais se afirmam por essa época como Jorge Eduardo Rosa e Lourenço do Carmo Ferreira mas a maioria militando no jornalismo em grande parte político e interveniente não raro denunciador de prepotências e abusos da administração colonial ou de desmandos e repressões de sectores políticos e económicos O Echo de Angola por exemplo houve outros fundado em 1881 era dirigido apenas por mestiços e negros os filhos do país Inclusive 19 assinalase a existência por regra efémera de jornais e revistas como A Aurora Luanda 1856 O Sertão 1886 Ensaios Literários Luanda 1901 ao que parece todas desaparecidas e Luz e Crença Luanda 1902 1903 para além de outras não propriamente literárias como é o caso dO Comércio de Luanda 1867 mas que mantinham secções pelo menos literárias E refirase ainda a existência de associações literárias e culturais havendo conhecimento concreto da Associação Literaria Angolana 13 É de igual modo um jornalismo daquele teor o que em certa medida existiu no arquipélago do Cabo Verde e em Moçambique 14 2 CABO VERDE De qualquer modo será de admitir ter sido menos resistente e organizada a vida cultural em Moçambique do que em Angola e Cabo Verde 15 É certo que de uma maneira geral os intelectuais caboverdianos de origem europeia terminaram por emigrar para Portugal na maioria dos casos por motivos familiares e foi em Lisboa que muitos se fizeram escritores naturalmente desenraizados dos problemas da TerraMãe alguns deles acabando por alcançar lugar de prestígio nos meios literários lisboetas deixando obras de mérito como Antónia Gertrudes Pusich 1805 1883 e Henrique de Vasconcelos 1875 1924 autor de uma vasta obra 16 No entanto criado e accionado pelo cónego António Manuel Teixeira o Almanach Luso Africano 2 vols 1894 e 1899 regista colaboração de natureza literária Porventura período ainda mal estudado afirmações definitivas podem induzirnos em erro No entanto 20 cada vez mais se nos enraiza esta convição não houve em Cabo Verde uma verdadeira literatura colonial por muito insólita que possa parecer esta afirmação O período colonial não implica forçosamente a existência de uma literatura colonial nos termos em que para trás a designámos A colonização a partir da segunda metade do século XIX havia já adquirido no Arquipélago uma feição própria Pelo visto a posse da terra e postos da Administração a pouco e pouco transitavam para as mãos de uma burguesia caboverdiana mestiça branca ou negra Isto que não condiciona a exploração pode condicionar as relações da exploração e alterar assim a natureza da oposição em vez de colonizadocolonizador flectiria em grande parte para exploradoexplorador tal como sucede nas sociedades de tipo capitalista salvaguardando claro e sempre os aspectos de uma situação especificamente colonial notadamente nas relações entre o poder político e as populações Um exemplo elucidativo do que acabamos de afirmar entre outros é a narrativa de José Evaristo de Almeida por nós há alguns anos referenciado O escravo cuja acção decorre na primeira metade do século XIX e se situa na ilha de Santiago com incidências através de flashbacks na ilha de Santo Antão e referências a Lisboa e a Bissau 17 Marcado como é óbvio pelas características da literatura do período romântico nos segmentos da intriga ganham realce a exacerbação dos sentimentos de amor ou de fraternidade o amor platónico a trama dramática das relações familiares no jogo do imprevisto chegando a esboçarse o incesto e de sequência em sequência na acumulação dos acontecimentos a 21 tragédia desencadeiase alargase intensificase Uma das virtudes deste texto está em que a quase totalidade das personagens manipuladas são africanas negros mestiços mulatos E o espaço é o da escravidão abrindosenos à compreensão de um mundo longínquo no tempo permitindo uma perspectiva diacrónica de largo alcance Assim e em termos de escrita ficamos a saber ao vivo que senhores de escravos havia que eram africanos pelo menos mulatos Romance libertador procurando redimir a humilhação escrava e compreender e valorizar o homem africano em geral organização romanesca equilibrada a linguagem dO escravo suporta o confronto com autores mais do que minimamente dotados com ressalva para os diálogos demasiadamente retóricos desajustados à capacidade expressiva dos protagonistas mas esse é também um senão que se pode endossar a muitos escritores de valimento da época romântica e não apenas Ora este texto de José Evaristo dAlmeida na verdade vem ao encontro daquilo que nos andava até há pouco no domínio da suspeição o não ter havido em Cabo Verde uma literatura colonial O escravo é um exemplo acabado ao qual podemos juntar também por localização recente outros textos e estes agora de autores caboverdianos António de Arteaga Amores de uma creoula 1911 18 e Vinte anos depois 1911 19 Guilherme A da Cunha Dantas século XIX 1888 Bosquejos dum passeio ao interior da ilha de S Thiago 1912 20 Contos singelos Nhô José Pedro ou Scenas da ilha Brava 1913 21 e Memória de um rapaz pobre romance 1913 22 Eugénio Tavares 1867 1936 Vida creoula na 22 América 1912 1913 23 A virgem e o menino mortos de fome 1913 24 Dramas da pesca da baleia 1913 25 E com este registo que ora se faz ao que julgamos pela primeira vez se começa a preencher a grande lacuna que vinha envolvendo o quadro histórico da literatura cabo verdiana no século XIX e começos do século XX De um modo geral estes autores procedem às suas abordagens colocandose dentro do universo cabo verdiano e o seu registo é dominado pelo concurso de algumas das contradições do sistema social donde uma mensagem criticamente positiva e esclarecedora Cedo em Cabo Verde se teria criado e desenvolvido o ensino primário particular e depois o secundário Há notícia assinalamolo em nota da criação de bibliotecas como a da Praia de associações culturais entre outras O padre António Vieira numa das suas derrotas para o Brasil de passagem pela que é hoje cidade da Praia capital de Cabo Verde dános uma ajuda para visionarmos um tanto melhor esse grau de desenvolvimento e saber havido já no recuado século XVII São todos pretos mas sómente neste accidente se distinguem dos europeus Tem grande juizo e habilidade e toda a politica que cabe em gente sem fé e sem muitas riquezas que vem a ser o que ensina a natureza Adiantava ainda que havia ali clerigos e conegos tão negros como azeviche mas tão compostos tão auctorizados tão doutos tão grandes musicos tão discretos e bem morigerados que podem fazer invejas aos que lá vemos nas nossas cathedraes 26 Por outro lado ali se vai reestruturando uma cultura caldeada nos valores africanos e europeus tendendo para uma univalência cultural e construindo uma 23 harmonia racial que contrasta por exemplo com o caso antilhano e isto para referirmos um fenómeno de aculturação também de natureza insular O sentimento da cor da pele tão diluído é que a literatura cabo verdiana não chega a denunciar a cor das personagens E se tal acontece a distinção vem envolvida de uma carga afectiva 27 Tudo quanto vem de dizerse pressupõe não só a existência de condições propícias ao aparecimento de produtores de textos como também à formação de uma literatura de características especiais no seio do próprio século XIX A maioria sem livro publicado é certo Aos nomes já referidos ajuntamos mais os de poetas como Luiz Theodoro de Freitas e Costa 1908 Séc XX José Maria de Sousa Monteiro Junior 1846 1909 e Custódio José Duarte 1841 1893 este último possivelmente sem livro publicado E a estes há que agrupar figuras esquecidas por jornais revistas e almanaques como Manuel Alves de Figueiredo de Barros 1895 séc XX António Corsino Lopes da Silva 1893 séc XX João Mariano 1891 séc XX já citado Gertrudes Ferreira Lima séc XIX séc XX todos poetas Como poetas são Joaquim Maria Augusto Barreto 1850 séc XIX Luis Medina Vasconcelos séc XIX séc XX Rodrigo Aleixo ou com obra publicada João José Nunes 1885 c 19656 Mário Duarte Pinto 1887 1958 28 A partir da década de vinte o nome que se impõe à consideração pública é o de José Lopes 1872 1962 de par com o de Eugénio Tavares 1867 1930 este essencialmente de expressão dialectal e o do poeta bilingue Pedro Cardoso c 1890 1942 também autor do estudo 24 Folclore caboverdiano 1933 finalmente Januário Leite 1865 1930 Foi todo este percurso de quase um século que funcionou como fermento da original explosão trazida pela Claridade como um longo processus subterrâneo de consciencialização cultural Jaime de Figueiredo in Introdução à antologia Poetas modernos caboverdianos 1961 p XVI Mas perguntase José Lopes ou Pedro Cardoso este enquanto poeta de língua portuguesa ou Januário Leite trouxeram ou não uma contribuição válida para a moderna poesia Considerase a autêntica literatura caboverdiana aquela que exprime a caboverdianidade ou seja o conjunto de textos cujo enunciado reflecte o real caboverdiano Com frequência e alguma veemência a partir de década de trinta a questão ficou devidamente clarificada e demarcada embora nem sempre isenta de excessos como quase sempre acontece em momentos de ruptura e a parte de responsabilidade que nisso nos cabe não a queremos enjeitar 29 Mas importa averiguar por que razão estes escritores com especial relevo para José Lopes sofreram o ataque e depois a marginalização das gerações que lhes sucederam Os intelectuais e escritores a partir da Claridade como adiante teremos ocasião de verificar projectaram o seu esforço criador nos grandes segmentos que representavam ou simbolizavam a parte viva da sua pátria ou seja aquela que não adoptava os critérios e os padrões que serviam o colonialismo e assim aberta ou implicitamente condenavam tudo quanto vivesse fora deste projecto nacional Simplesmente acontece que o arquipélago de Cabo Verde é hoje uma República independente A sua 25 realidade política é por essência outra bem diferente A sua realidade histórica outra é Com isto se conjuga também uma nova realidade cultural A este período logicamente corresponderá uma nova literatura ou uma nova fase da sua literatura Subjacente ou emergente a tudo isto está uma consciência nacional Está a formação de um profundo sentimento nacional que há de alimentarse nas raízes da longa história do processo social e político de Cabo Verde não a partir da data em que a luta foi desencadeada pelo P A I G C não a partir da data das teses de Amilcar Cabral embora por via de tudo isto mesmo mas a partir da remota origem caboverdiana E esta começa quando os portugueses fizeram desembarcar nas ilhas os primeiros colonos e os primeiros escravos Este será o caminho para a busca de uma totalidade histórica política social económica e cultural Concomitantemente o mesmo sucederá para a sua literatura Com isto queremos dizer que estamos convencidos só aos caboverdianos competirá fazer o que julgarem por bem que os futuros historiadores da literatura os futuros estudiosos do processo cultural caboverdiano terminarão por considerar a globalidade da actividade literária levada a cabo ao longo das décadas ou de séculos pelo homem caboverdiano E deste modo todos aqueles que foram considerados antecessores ou precursores terão o seu lugar próprio na história da literatura caboverdiana Se este critério vier a ser considerado correcto naturalmente ele se há de aplicar a Angola Moçambique S Tomé e Príncipe e GuinéBissau As futuras histórias da literatura e da cultura dos novos países africanos terminarão por recuperar aqueles autores naquilo que na sua obra 26 houver de significação nacional Não foi outra coisa o que aconteceu no Brasil e difícil se nos afigura que possa ser de outro modo nos casos vertentes É evidente que ao referirmos o Brasil estamos a considerar sobretudo o período colonial encerrado com a independência do Brasil em 1822 Isto não invalida que para além das eventuais ou possíveis subdivisões não venha a considerarse a literatura caboverdiana em duas grandes fases antes e depois da Claridade 3 MOÇAMBIQUE Em Moçambique com um índice menor de europeus do que em Angola com uma fixação de população branca mais instável não deveriam ter sido criadas as condições culturais suficientes para o desenvolvimento de uma actividade literária cujo eco chegasse até aos nossos dias 30 Nem se dá pela presença do notável poeta português Tomás António Gonzaga 1744 1810 degredado do Brasil para a ilha de Moçambique cerca de 1792 onde faleceria Não obstante a imprensa da época fazse eco de críticas ao poder e à administração e a literatura através de poemas publicados de quando em quando ensaia os primeiros passos da sua existência Destacamse os semanários O Africano 1877 O vigilante 1882 Clamor Africano 1892 que não usavam desencadear denúncias e ataques à corrupção e ao desumano tratamento dado às populações africanas embora por vezes revelando uma perspectiva contraditória na análise global dos problemas Contributo para a história da Imprensa em Moçambique Vide Bibliografia Jornalistas 27 prestigiados a partir da primeira década do século XX são os irmãos mestiços José e João Abasini que fundam O Africano 19081920 e vão continuar a sua acção política e pedagógica em O Brado Africano 1918 A estes dois nomes se junta o do seu compatriota Estácio Dias Todavia não há até agora conhecimento de haver sido publicado em Moçambique qualquer romance ou livro de poemas antes do Livro da dor 1925 contos de João Albasini o que não significa de maneira nenhuma a hipótese ainda que remota da existência de qualquer obra que não tenha sido ainda detectada Como quer que seja para a formulação de uma correcta ideia dos valores que povoam a última parte do século XIX e a primeira do século XX em relação a qualquer destes países é necessário ter em conta a colaboração dada aos almanaques com especial atenção ao Almanach de Lembranças 1851 1932 publicado em Lisboa mas para onde convergiam muitos poetas africanos da língua portuguesa 4 GUINÉ BISSAU Conforme adiante procuraremos desenvolver não foram criadas na GuinéBissau condições sócioculturais propícias à revelação de valores literários Basta termos presente que o primeiro jornal dessa excolónia o Pró Guiné foi fundado em 1924 Há no entanto que destacar uma figura de relevo a solicitar as atenções da investigação o cónego Marcelino Marques de Barros 1843 1929 que no campo da etnografia Literatura dos Negros 1900 desenvolveu grande aplicação 28 sintonizandose em qualidade com os especialistas portugueses coevos que frizese eram de nível europeu Para além da obra citada deixou colaboração dispersa inclusivamente no Almanach LusoAfricano para 1899 Cabo Verde na Revista Lusitana A Tribuna Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa Anais das Missões Ultramarinas Voz da Pátria na qual publicou canções e contos dois dos quais republicados por J Leite de Vasconcelos em Contos populares e lendas vol 1 1964 Finalmente parece ter deixado um manuscrito Contos e cantares africanos por certo da GuinéBissau 5 S TOMÉ E PRÍNCIPE A evolução social de São Tomé e Príncipe teria sido paralela em muitos aspectos à de Cabo Verde 31 Mas em meados do século XIX implantandose o sistema de monocultura a burguesia negra e mestiça vai ser violentamente substituída pelos monopólios portugueses o processo social do Arquipélago alterado e travada a miscigenação étnica e cultural Mesmo assim não podem deixar de ser considerados os efeitos do contacto de culturas A sua poesia de um modo geral exprime exactamente isso mas na essência é genuinamente africana A primeira obra literária de que se tem conhecimento relacionada com S Tomé e Príncipe é o modesto livrinho de poemas Equatoriaes 1896 do português António Almada Negreiros 1868 1939 que ali viveu muitos anos e terminou por falecer em França A última é a de um moderno poeta português crítico e professor universitário em Cardiff Alexandre Pinheiro Torres 29 cujo título A Terra de meu pai 1972 nos fornece uma pista memorialismo bebido na ilha por artes superiores de criação literária metamorfoseada na ilha que todos éramos neste país solitário Sem uma revista literária sem uma actividade cultural própria sem uma imprensa significativa apesar do seu primeiro periódico O Equador ter sido fundado em 1869 com uma escolaridade mais do que carencial os reduzidos quadros literários do Arquipélago naturalmente só em Portugal encontraram o ambiente propício à revelação das suas potencialidades criadoras O primeiro caso acontece logo nos fins do século XIX com Caetano da Costa Alegre 1864 1890 Versos 1916 cuja obra foi deixada inédita desde o século passado Cabe aqui todavia uma referência particular ao teatro a que poderemos chamar popular pelas características e relevância que assume no arquipélago de S Tomé e Príncipe Tratase em especial de duas peças O tchiloli ou A tragédia do Marquês de Mântua e de Carloto Magno e do Auto de Floripes mas com preferência para a primeira A segunda oriunda da tradição popular portuguesa e O tchiloli supõese ser o auto do dramaturgo português do século XVI de origem madeirense Baltasar Dias levado tudo leva a crer pelos colonos medeirenses na época da ocupação e povoamento Reapropriados pela população de S Tomé e do Príncipe estão profundamente institucionalizados no Arquipélago principalmente O tchiloli mercê da actuação de vários grupos teatrais populares que continuadamente se dão à sua representação enriquecida por uma readaptação do texto e encenação cenografia e ilustração musical notáveis 30 Parece ter sido um homem infeliz em Lisboa o autor de Versos Costa Alegre Tu tens horror de mim bem sei Aurora Tu és dia eu sou a noite espessa 32 Aurora aqui é um ente humano e não um fenómeno cósmico A ambiguidade resolvese na leitura completa do poema Caetano da Costa Alegre utiliza este signo polissémico com a intenção ao cabo de ele traduzir a cor branca És a luz eu a sombra pavorosa Eu sou a tua antítese frisante 33 A poesia de Caetano da Costa Alegre na quase totalidade funciona espartilhada num mecanismo antitético Exprime a situação desencantada do homem negro numa cidade europeia neste caso Lisboa Versos é porventura a mais acabada confissão que se conhece quiçá mesmo nas outras literaturas africanas de expressão europeia do negro alienado Costa Alegre não se dando conta impossível diríamos no século XIX e no tempo cultural e político da área lusófona das contradições que o bloqueavam fazse cativo da sua condição de humilhado A minha côr é negra Indica luto e pena És luz que nos alegra A tua côr morena É negra a minha raça A tua raça é branca Todo eu sou um defeito 34 31 Como tenta Costa Alegre desbloquearse desta situação Porque negra é a sua raça todo ele é um defeito Como pode ele reencontrar o seu equilíbrio psíquico Alienado inconsciencializado batido no deserto social em que se movimenta então cura libertar se através de uma compensação Revoltandose Clamando contra a injustiça que o atinge Não Contrapondo atributos morais Ah pálida mulher se tu és bela Ama o belo também nesta aparência 35 Amiúde as relacionações antinómicas vai buscálas ao Cosmo Só explendor por fóra Só trevas é no centro Ó Sol és meu inverso Negro por fóra eu tenho amor cá dentro 36 Com efeito a sua poesia é a de um homem infelicitado Amiúde recorrendo à comparação e à antítese as figuras mais pertinentes são as que significam ou simbolizam as cores negro e branco Da erosão da sua alma transita para a obsessão infeliz lutando por restabelecer a sua dignidade no refúgio do apelo à evidência moralizante por norma em poemas líricosentimentais ou de amor Versos fica como o primeiro e único texto onde o problema da cor da pele actua como motivo e de uma forma obsessivamente dramática Consideramolo o caso mais evidente de negrismo da literatura africana de expressão portuguesa Alguns autores angolanos coevos de Costa Alegre deram também uma contribuição para este fenómeno mas percorrendo um espaço menos significativo 32 Perspectiva Geral Temos deste jeito e em resumo o seguinte cedo se esboça uma linha africana irrompendo de um sentimento regional e em certos casos de um sentimento racial fundo mas postulado ainda em formas incipientes que tenazmente abre um sulco profundo por entre a literatura colonial De sentimento regional se transita para sentimento nacional que vai dar lugar entretanto a uma literatura alimentada já por uma verdadeira consciência nacional e daí uma literatura africana caracterizada pelos pressupostos de intervenção Ora os fundamentos irrecusáveis de uma literatura africana de expressão portuguesa vão definirse com precisão deste modo a em Cabo Verde a partir do revista Claridade 1936 1960 b em S Tomé e Príncipe com o livro de poemas Ilha de nome Santo 1943 de Francisco José Tenreiro c em Angola com a revista Mensagem 19511952 d em Moçambique com a revista Msaho 1952 e na GuinéBissau com a antologia Mantenhas para quem luta 1977 34 1 LÍRICA Interessa desde já reter bem este facto a partir do início da década de trinta e mercê de circunstâncias de natureza política social histórica e literária algo ocorreu nas ilhas caboverdianas a que não é alheia a influência da literatura brasileira Ora aconteceu que por aquelas alturas nos caíram nas mãos fraternalmente juntas em sistema de empréstimo alguns livros que consideramos essenciais pro domo nostra É Baltasar Lopes quem isto afirma citando autores como José Lins do Rego Jorge Amado Amando Fontes Marques Rebelo E diz que em poesia foi um alumbramento a Evocação do Recife de Manuel Bandeira Revelação foi ainda um magnífico livro a Casa grande e senzala de Gilberto Freyre ao lado dos volumes densos de investigação e interpretação do malogrado Artur Ramos in Cabo Verde visto por Gilberto Freyre 1956 Ou pode até admitir se também a influência da Presença no que nela se propunha de libertação da linguagem Uma tomada de consciência regional muito nítida se instala nos 35 escritores de Cabo Verde que decidem romper com os arquétipos europeus e orientar a sua actividade criadora para as motivações de raiz caboverdiana Não é ainda uma posição anticolonial Não é ainda nem nada que se pareça algo que tenha a ver com a ideia de independência política ou nacional Porventura o problema não se poria também nestes termos assim precisos logo de início ao menos generalizadamente aos escritores do movimento parisiense da negritude Mas era em Cabo Verde em dados de literatura uma viragem de cento e oitenta graus as costas voltadas aos modelos temáticos europeus e os olhos pela primeira vez vigilantes e deslumbrados no chão crioulo De tal facto podem ser pontuações inequívocas não só a citada revista Claridade como a que se lhe seguiu em 1944 Certeza esta sob a directa influência no neorealismo português o Suplemento Cultural 1958 37 e ainda o suplemento Sèló ou inclusive o boletim Cabo Verde 1949 1965 órgão oficial mas no que ele possui de mais autêntico e digno e no campo da literatura bastante é dado que nele colaboraram quase todos os escritores caboverdianos Aliás em 1935 um ano antes da publicação de Claridade Jorge Barbosa um dos responsáveis por aquela revista abre a estrada larga do realismo cabo verdiano Ai o drama da chuva ai o desalento o tormento da estiagem Ai a voragem da fome 36 levando vidas a tristeza das sementeiras perdidas Ai o drama da chuva 38 Os sinais da mudança são vários O abandono dos temas obrigatoriamente europeus como vinha acontecendo até aí a renúncia das estruturas poéticas tradicionais rima métrica e outras e a penetração definitiva no contexto humano do Arquipélago o drama desalento tormento fome tristeza Nos seus dois primeiros livros Arquipélago 1935 e Ambiente 1941 e ainda em Caderno de um ilhéu 1956 Jorge Barbosa procede a uma radiografia do drama social do homem caboverdiano a seca a fome a emigração o isolamento a insularidade e o mar como estrada mítica da aventura da pesca da baleianessas viagens para a Américade onde às vezes os navios não voltam mais 39 Assim O teu destino O teu destino Sei lá Viver sempre vergado sobre a terra a nossa terra pobre ingrata querida Ou outro fim qualquer humilde anónimo 37 Ó caboverdiano anónimo meu irmão 40 Via de regra cada verso uma palavra ou cada verso um sintagma uma cadência ritmada sincopadamente para que a dor e o sofrimento se grave e avive dentro de nós E mais o processo porventura invulgar para a época da imanência de um tu logo associado a um nós no envolvimento da comunhão intensa de um discurso dramático De resto Jorge Barbosa é a voz plural que amiúde recorre a expressões como esta voz da nossa gente a transformar o seu discurso na voz colectiva A enumeração repetitiva no caso presente adjectivada mas noutros substantivada aliada à evocação ou ao apelo afectivo num recurso continuado à função expressiva confere à poesia de Jorge Barbosa características dramáticas novas trazidas pela intimidade a denúncia a epopeia do homem isleno vivendo no drama de querer partir e ter que ficar Enfim no dizer de Jorge de Sena um poeta que nos seus grandes momentos é uma das melhores vozes da poesia contemporânea 41 E se ele foi o primeiro a romper a tradição de uma poesia que vinha marcando o espaço caboverdiano foi também ainda o primeiro poeta das áreas africanas da língua portuguesa a lançar os fundamentos de uma nova poesia tecida numa situação colonial A poesia de Jorge Barbosa vai dominar o panorama poético caboverdiano por várias décadas de uma ou de outra maneira e com tal intensidade que só recentemente alguns poetas modernos libertaram de vez a poesia caboverdiana do peso estrutural barbosiano como adiante se verá 38 Jorge Barbosa teve uma ajuda pelo menos Nada nasce do nada Essa ajuda tudo leva a crer veio dos poetas brasileiros como assinalámos Mas o desencadeamento catártico deuse com a presença de António Pedro 19091965 um caboverdiano de nascimento que em 1928 aos vinte anos de idade visitou CaboVerde e ali publicou o livro de poemas Diário 1929 Era então um jovem poeta virado para o modernismo português Sensibilizado para um certo vanguardismo a sua poesia caboverdiana é um abanão nas estruturas tradicionais poéticas do Arquipélago Por exemplo sobre a Morna Reminiscência dum fado que dançado num maxixe tem a tristeza postiça dum cansaço Um semicivilizado lasso balanço embalado sobre o ventre dum fetiche 42 Era a primeira vez que alguém glosava em nova linguagem o tema da morna e outros Manuel Bandeira Jorge de Lima Ribeiro Couto de um lado António Pedro de outro os dados estavam lançados Nítida a semelhança da estrutura externa das estrofes de Jorge Barbosa e António Pedro Cotejese o excerto de António Pedro com este de Jorge Barbosa sobre o poema A Morna 39 Canto que evoca coisas distantes que só existem além do pensamento e deixam vagos instantes de nostalgia num impreciso tormento dentro das nossa almas Morna desassossego voz da nossa gente reflexo subconsciente em nós 43 Mas se os pontos de contacto no espaço externo dos poemas de António Pedro e Jorge Barbosa são evidentes já o mesmo não se dá na estrutura profunda da poesia de um e de outro Em António Pedro é um pretexto a voz distanciada tristeza postiça dum cansaço em Jorge Barbosa um percurso interiorizado para uma enunciação colectiva dentrodas nossas almas o desassossego a vozda nossa gente Os demais poetas da primeira fase da Claridade 19351937 são Manuel Lopes Osvaldo Alcântara i e Baltasar Lopes e Pedro Corsino Azevedo Destes será Manuel Lopes o vizinho mais próximo de Jorge Não que se fale de influências O sinal de Manuel Lopes vem simultaneamente com o de Jorge Barbosa Mas um dos pontos em que a poesia de Manuel Lopes se afasta da de 40 J Barbosa será no tom filosofante no por vezes solilóquio interrogativo Que importa o caminho da garrafa que atirei ao mar Que importa o gesto que a colheu Que importa a mão que a tocou se foi a criança ou o ladrão ou filósofo quem libertou a sua mensagem e a leu para si ou para os outros 44 O verso é mais longo a linguagem mais discursiva a interpretação do mundo real caboverdiano mais individualizado O tu em Manuel Lopes tende a ser personalizado Mochinhoteu destino é seres espantalho de corvostocar lata e mandar fundade desamparinho a desamparinhona mèrada de milho a arder 45 e o diálogo mais do que admirativo é interrogativo ainda quando a sua proposta poética se situa ao nível da indagação colectiva Que disse a Esfinge aos homens mestiços de cara chupada Esta encruzilhada de caminhos e de raças onde vai ter Por que virgens paragens se prolonga Que significa para eles o amanhecer 46 Em Pedro Corsino Azevedo sem livro publicado e de escassa produção poética pelo menos a conhecida 41 até agora referese um original perdido Era de ouro é legítimo falarmos em dois mundos Um diríamos existencial equacionando os sonhos e os desenganos superando o sentido trágico da vida Sou o atleta vencidoRenascido 47 Outro o da radicação de motivações populares como no poema muito difundido TerraLonge Terralonge terralonge Oh mãe que me embalasteOh meu querer bipartido 48 ou em Galinha branca Galinha branca O espectro da morte A sorte De todos Olha pra mim Assim Canivetinho Canivetão Vá Té França A única esperança49 Com este poema ele ganha o direito a ser considerado o primeiro poeta da modernidade caboverdiana uma vez que nos parece ter sido escrito por volta de 1930 50 Osvaldo Alcântara i e Baltasar Lopes é de todos os poetas de Claridade aquele que vem produzindo uma poesia mais intelectualizada Mas nem por isso Osvaldo Alcântara deixa de ser um poeta par e passo preocupado e identificado com o seu mundo colectivo como em Recordai do desterro no dia de S Silvestre de 1957 42 O inefável invade docemente a minha tristezaSei que a tua espada háde fulgurar nas batalhas necessáriase Nicolau nunca mais voltará a ser moedadas riquezas de Caim 51 E nos seus recursos imagéticos no seu discurso não raro metafórico ou metonímico Osvaldo Alcântara marca a sua linguagem de uma exigência estética nem sempre alcançada por outros Poesia habitada por uma consciência dialéctica num permanente apelo às forças da reprodução mutativa Recobre um espaço entretecido do cósmico do social da tradição popular das forças criadoras da vida e da acção de tal modo interiorizado e fundido no impulso poético mas redimido pela racionalização Quem me dera ser estereoscópio para disciplinar as minhas sensações Um dos seus últimos poemas publicado em 1973 sagrase pelo registo da esperança ao ritmo de uma pulsação radiosa e nele e com ele Osvaldo Alcântara firmase no chão real do espaço e do tempo caboverdianos Onde há o Tântalo de todas as recusas e tudo gerou nada e o tempo desembocou no presente e no chão podre de húmus malditos o presente só tem para ti uma colheita clandestina esperança esperança esperança 52 À Claridade sucede a geração de a Certeza 1944 Nem sempre o conceito de geração corresponde a uma demarcação estética ou ideológica Mas neste caso corresponde O grupo de Certeza todo ele perfilha o ponto de vista neorealista São portanto marxistas Quando os componentes do grupo tomaram conhecimento de Claridade e logo a seguir da proposta 43 dos neorealistas portugueses abandonaram os possíveis liames com um passado e assumem na ilha o drama colectivo que feria grande parte da humanidade a Segunda Grande Guerra Mundial E é já no entendimento do que ela significa que Guilherme Rocheteau diz Ao longena distância da manhã por vira indecisão das camuflagense do rumor da guerrahá agonias esbatidas no negrofumoda pólvorados homens que se batemAquem é a luta na rectaguarda 53 Mas esta visão dialéctica exprimea também Tomaz Martins aliás autor de uns escassos três poemas tal como aquele seu companheiro de jornada Eu quero ver tecompreendendo o fogo do camarada irmãonesta luta incerta que é a sua certeza 54 Nuno Miranda Cais dever partir 1960 Cancioneiro da ilha 1964 foi nessa altura uma esperança Então ele na ufania de si próprio revelavase com o pseudónio de Manuel Alvarez Numa noite qualquer tombaram um por um os falsos deuses 55 para entretanto vinte anos depois se carpir no mundo confuso em que se deixou mergulhar e com a consciência da crise que o destruía a nave tomba de leve no arquejodas cousas caladas da noute 56 Arnaldo França um dos mais dotados poetas da Certeza teima em continuar ignorado escrevendo pouco julgamos e publicando nada depois do seu breve e útil ensaio Notas sobre poesia e ficção caboverdianas Sep Cabo Verde nova fase nº 157 Praia Cabo Verde 1962 Mas o rastro por ele deixado é o de um lírico com a consciência do peso real das palavras e ciente dos caminhos difíceis da aprendizagem poética Há muros altamente inacessíveis no trânsito para a conquista da poesia 44 Era um castelo erguido na montanha da paisagem deserta submarina tinha muros altamente inacessíveis ao salto imaginário do meu pensamentos 57 Poeta lírico mas que preenche a sua mensagem de conotações ideológicas precisas evidentes até em títulos de poemas como Paz é preciso lembrar o contexto 1960 e exigir a paz era é combater a opressão era efectuar o registo do testamento para o dia claro O seu discurso semeado de sonhos encantamentos vigília silêncio distância pétalas dispersas ou a alma que se desprende em luz ganha um relevo a um tempo tranquilo Meus sonhos quem os fez nascer tranquilosserenos e inquieto que lhe sobe da voz desperta Há nele uma sabedoria que préanuncia um futuro na esperança nova porque a felicidade só na comum seara se renova Mas no horizonte lívido do dia Recuam quando passa a nuvem fria Os pássaros metálicos da noite E na amplidão da luz que resplandece É de ti que surgiu a mão que tece A esperança nova à humana sortes 58 Colocaríamos agora o nome de António Nunes Devaneios 1938 Poemas de longe 1945 que em 1944 mandava de Lisboa para o nº 2 de Certeza o Poema de amanhã Poema de intencionalidade unívoca com ele António Nunes se impunha como o primeiro poeta neorealista caboverdiano a estabelecer a oposição 45 colonizadocolonizador Com efeito nesse poema o tu é Mamãe a terra caboverdiana mas subjacente está um ele o outro que dispõe dos homens o colonizador Mamãe sonho que um dia estas leiras de terra que se estendem quer seja Mato Engenho Dàcabalaio ou Santana filhas do nosso esforço frutos do nosso suor serão nossas E então O barulho das máquinas cortando águas correndo por levadas enormes plantas a apontar trapiches pilando cheiro de melaço estonteando quente revigorando os sonhos e remoçando as ânsias novas seivas brotaram da terra dura e seca 59 Aqui António Nunes apartase de Jorge Barbosa e de várias maneiras na estrutura externa e no ponto de vista Mais tarde em Ritmo de pilão davanos a complementaridade desta proposta e mais se distanciava de Jorge Barbosa que em vincado acento dorido falava do nosso drama e até da nossa revolta Mas que revolta da nossa silenciosa revolta melancólica E António Nunes Este em 1958 abria a sua área temática em Ritmo de pilão Bate pilão bateque o teu som é o mesmodesde o tempo antigodos navios negreiros 60 Ao sonho de que as terras serão nossas se junta agora o incitamento a uma luta continuada O sentido da sua mensagem encerra a visão dialéctica da mudança e a necessidade de acção 46 A década de cinquenta abre com Linha do horizonte 1951 de Aguinaldo Fonseca quando já se encontrava em Portugal e havia publicado alguns poemas soltos Poesia marcada em muitos lances pela angústia da secura calada na garganta e daí o avanço para a denúncia do drama caboverdiano entendido não só no presente como que ainda diacronicamente enquanto grava com insistência o seu grito um grito imperfeito porque não saido poço desta angústia amordaçada A novidade de Aguinaldo Fonseca está em ter sido ele o primeiro a utilizar a África como substância poética caboverdiana facto inédito se dermos à expressão de Pedro Cardoso África minha das Esfinges berçoJá foste grande poderosa e livre61 uma conotação sentimental e não necessariamente política No texto de A Fonseca há pelo menos duas alusões a África Uma delas em Magia negra Das estrelas e dos grilos Arrastase o vão lamento Da África dos meus Avós Do coração desta noite Ferido sangrando ainda Entre suores e chicotes 62 Do vão lamentoDa África de meus avós instalado no coração ferido que ainda sangra entre suores e chicotes se procede a um enunciado de sofrimento inculpado a uma situação colonial É um tanto nesta linha que vai prosseguir com todas as variantes possíveis a produção poética daqueles que tal corno A Fonseca se associaram ao Suplemento Cultural 1958 Gabriel Mariano Ovídio Martins Terêncio Anahory Yolanda Morazzo Todos ou quase todos 47 bem como os elementos do grupo da Certeza terminaram por colaborar na Claridade O projecto da geração da Claridade descolase pela transgressão pelo deslocamento da visão europeia para uma visão caboverdiana Daí o rompimento com os modelos temáticos europeus e uma radical consciência regional O ideário de Certeza enriquece a tomada de posição de Claridade pela introdução de uma visão dialéctica dada pelo marxismo Este grupo do Suplemento Cultural mercê da participação de alguns dos seus membros enceta a substituição do conceito regional pelo conceito nacional É assim que uma nova perspectiva em relação à situação colonial surge já próxima da década de sessenta e nesta se vai prolongar e aprofundar Acentuese menos nuns que noutros ou antes evidente nuns e não em todos Mas no que à maioria é comum será o travo amargo da dominação Vejamos em Gabriel Mariano 12 poemas de circunstância 1965 Não Amigos já vos disse não Mais uma vez minha resposta é Não Não insistam mais Que me importa o doce que só a mim me dais Nada me separa dos meus companheiros 63 Onésimo Silveira Hora grande 1962 um dos que primeiro ensaiaram o convívio linguístico Cabá vapor caba carvom Restam praias vazias e botes agonizantes Cabá vapor cabá carvomNos campos dantescos de S Vicente 64 no propósito da eficaz expressão de uma sofrida realidade caboverdiana 48 demarcase também dos poetas da Claridade pelo carácter de intervenção poética ao jeito vocativo imperativo Atrás dos ferros da prisão É preciso levantar os braços algemados Contra a prepotência 65 Ou na forma interrogativa mas ainda subjacentemente a recusa Para quê chorar Se as suas mãos são limpas A sua culpa inocente E a nudez das suas vozes Bandeiras desfraldadas 66 E o mais determinado dos poetas caboverdianos aquele que desde cedo envolveu o seu verbo de signos directamente combatidos Ovídio Martins Caminhada 1962 Gritarei berrarei matareiNão vou para Pasárgada 1973 partidário consciente e obstinado de uma poesia de confrontação empenhase na contestação do chamado evasionismo Não vou para Pasárgada e ironiza Mordaças A um Poeta Não me façam rir Experimentem primeiro Deixar de respirar Ou rimar mordaças Com Liberdade 67 49 dandose numa entrega cerrada ao tempo cabo verdiano tempo de se entupirde raivade explodir em raiva Ainda quando da sua linguagem se verte um lirismo amorável e isto aplicase à quase totalidade dos poetas não só caboverdianos como angolanos ou moçambicanos o poema se organiza numa intencionalidade desmistificadora Bem iríamos sublinhando aqui o signo poemático é o grito quotidiano de quem se assume ao nível da escrita como militante No meu grito quotidiano canto a madrugada a mim mesmo renovado na terra renovada pela nossa luta 68 Diríamos então que à poesia declamatória veemente de Ovídio Martins ou de um Onésimo Silveira responde Gabriel Mariano com um exercício de linguagem repousada mas com um amplo efeito sugestivo às vezes no lanço da insinuação Depois ninguém me acuse de ter sido misterioso Apenas guardei comigo a calma verde da terra e a certa repetição das madrugadas sem sono 69 50 Mesmo quando o seu discurso penetra no espaço declamativo aí ainda o retórico se disciplina Como no Capitão Ambrósio longo poema épico em que por transferência dissimuladora o Ambrósio herói popular em tempo de fome personifica o libertador que háde ser festejado em mãos seguras erguidasEm trilhos verdeluzindoLuzindo a negra bandeiraClara bandeira na frenteNa frente segue o AmbrósioMeu pai manda o povo cantarManda o povo cantar na madrugada limpaManda o povo cantar com tambores e búziosQuando Ambrósio chegar 70 A presença feminina na moderna poesia cabo verdiana é preenchida por Yolanda Morazzo que aparece integrada no grupo do Suplemento Cultural A sua lírica de então tende a enraizarse numa poética caracterizadamente caboverdiana Mas a uma estadia em Lisboa sucedese uma longa permanência diríamos mesmo uma radicação em Angola E o seu discurso tende a diversificarse em jeito de velas soltas título de um livro inédito velas brancas soltas no vento a galope numa ansiosa determinação que alias já estava inscrita em poemas seus dos anos cinquenta Amanhã será uma nova Aurora 71 Mas é agora em Cântico de ferro 1976 que reúne alguns dos seus versos que vão desde 1956 a 1975 onde o espaço angolano é a semântica por excelência Um dia se escreverá nas tuas veiasuma história de sangue triste tristehistória de ódio dos algozescadastro rasgando o útero fértildo café do algodão e do sisaltentáculos de manhas e de garrasunhas envenenadas unhas verdes 72 Ficouse pelo caminho parece um destes poetas Terêncio Anahory Caminho longe 1962 na época dramática do trânsito glorioso do seu povo ele que em 51 1962 se havia associado ao juntamom no meio da baía um galo canta a sua canção de aurora 73 O discurso da revolta prolongase e generalizase com o grupo dos poetas do suplemento Sèló 1962 do Notícias de Cabo Verde nascidos entre 1937 a 1941 Arménio Vieira Jorge Miranda Alfama Mário Fonseca Osvaldo Osório Rolando VeraCruz Martins todos ainda sem livro publicado com excepção para Oswaldo Osório como adiante se regista O universo da poesia destes poetas continua a ser o espaço caboverdiano Mas à medida que o tempo avança a tendência é para a interpretação dialéctica da situação social marcada pelo colonialismo e a transparência de uma sistemática recusa Falase de Ilhas renascidasnuvens libertasTalvez um continenteÀ medida dos nossos desejos Arménio Vieira 74 Falase de Quando a vida nascer e então Rasgarei as gradesRasgarei os açaimesEnterrarei a dorGritarei bem altoA minha sede de viver Mário Fonseca in Cabo Verde nº 126 1960 Parte deste grupo durante anos silencioso ou silenciado ressurge mais tarde com poemas construídos no recato enganoso e publicados na revista Vértice Coimbra O caso de Arménio Vieira que aí inicia em cruel ironia o ciclo da animalização Pensamos lá fora Isto é que fazem de nós quando nos inquirem estais vivos E em nós as galinhas respondem 52 dormimos ISTO É QUE FAZEM DE NÓS in Vértice nº 334345 1971 p 845 Estamos em 1971 em África o derradeiro império apodrece Os homens no reino da clandestinidade a vida cresce e está prestes a romper na manhã inflor ao sopro de uma coragem renovada de todos nós na veemente ressurreição Osvaldo Osório Os poetas sentem o halo próximo da aurora de vitórias e um deles Rolando VeraCruz pode num gesto colectivo afirmar Ah Que reflorir de sorrisos ocultos no tempoUm outro gestocálido como vontade de criançaum outro quererveemente de ressurreição Ou Jorge Miranda Alfama Eu me semeei na argilacom sangue e tempo para florir Sèló nº1 1962 75 É na verdade o tempo da ressurreição E com a ressurreição que é a da liberdade a da libertação se organiza um novo espaço o de uma nova escrita o de uma nova língua várias gramáticas Os primeiros indícios vêm de Claridade avolumamse na poética das gerações seguintes com Gabriel Mariano Ovídio Martins Onésimo Silveira mas ainda aqui a presença de Jorge Barbosa a influência do grupo da Claridade é soberana O primeiro sinal dessa libertação definitiva vem com Timóteo Tio Tiofe heterónimo de João Manuel Varela a ajuntar ao de João Vário 76 com fragmentos de poemas que faria publicar no jornal Letras e Artes 1963 e 1964 e Nôs Vida Roterdão 1972 depois incorporados em O primeiro livro de Notcha 1975 no qual Timóteo recorta o destino histórico do arquipélago O nosso destino o destino político do 53 arquipélago é inconcebível fora do contexto africano palavras da sua introdução Longo poema de oitenta e nove páginas seccionado em três partes as partes em discursos recorrendo à intertextualidade à convivência linguística aos dados da história da botânica da economia da geografia evocando os vultos da literatura caboverdiana os heróis populares os heróis nacionais africanos afrontando a enumeração estatística inserindo dezenas e dezenas de palavras do espaço caboverdiano até então ignoradas pela poética caboverdiana caldeando grandezas e misérias mitos revoltas fomes esperanças ao modo de evocação e narração bíblica Timóteo Tio Tiofe abala as estruturas poéticas tradicionais do Arquipélago e organiza um discurso sereno veemente ao ritmo caudaloso e assim reconstroe a gesta caboverdiana a narrativa poética da epopeia histórica do ser caboverdiano desde as origens até aos nossos dias Mas que não venham mais fomes sobre nós sobre nossas casas nossos estábulos e apriscos sobre nossas escolas e asilos Que não venham corvos gafanhotos lestados nordeste harmatão ou tempestades marés bravas chuvas que danifiquem estes cereais estas oleaginosas estas árvores de fruta Que não venha fogo sobre nossos leitos de madeira nossos colchões de palha nossos lençóis de linho sobre nossos campos de cultivo e nossas alfaias agrícolas Nem varíola ou cólera ou epidemias de outro teor sobre nossos pais nossas mulheres nossas crianças E estes canavais estas aves de criação estes porcos de ceva oh que tenhamos o gozo deles ou a alegria da sua multiplicação 77 54 Corsino Fortes após a estreia no Boletim dos Alunos do Liceu Gil Eanes 1959 a seguir participa na Claridade e no Cabo Verde mas ainda aqui a estrutura da sua poesia é símile da dos claridosos O salto qualitativo e significativo vem com Pão fonema 1975 que objectiva a ruptura total com a tradição jorge barbosiana São próximas no tempo embora de características diferentes as experiências de um e de outro de Corsino e Timóteo Encontro natural no tempo histórico e cultural Influências de um no outro ou recíprocas já que ambos parece teriam vivido em comum anseios novos Do ponto de vista da poesia caboverdiana isso não será importante Importante é fazer o registo destas duas perspectivas inéditas e ao cabo marcadas por características poéticas próprias até porque no domínio da gramática tão afastados estão um do outro A um certo discursivismo a um certo barroquismo se contrapõe uma contenção visivelmente trabalhada de Corsino Neste numa elaboração verso a verso cingida ao tropo também à convivência linguística estrutura da linguagem ao nível mítico metabolizada no recurso metonímico estrofe a estrofe a sua proposta é a de uma grande parábola a terra do sofrimento engravidou e a sua dor agora é a dor da parturiente a vida nova vai surgir Ritmo repousado na feição de lengalenga popular intelectualizada a espessura de poema ganha um brilho inusitado Ouveme primogénito da ilha Ontem fui lenha e lastro para navio Hoje sol semente para sementeira 55 Devolvo às ondas A evocação de ser viagem E fico pão à porta das padarias Onde o bolor da terra é sangue e trigo E o milho que amamos É nosso irmão uterino Onde os corvos sangram do alto bibliotecas de tantas sílabas Onde o osso é cada vez mais espiga a espiga cada vez mais osso Aqui Ergo a minha aliança De pão fonema Enquanto o vento bebe E o vento bebe meu sangue a barlavento 78 Outro companheiro de jornada é Oswaldo Osório Caboverdeamadamente construção meu amor 1975 Porque desmontámos os mitos e no regresso à pureza originalpossuídos nos achamos de amor e construção são dois versos do poema Batuque 79 E neles se contém um projecto que se adequa à fala de Oswaldo Osório Desmontados são por ele os mitos da linguagem esgotada possuído ou achado está o poeta no amor da construção de uma linguagem descartada através de rupturas morfológicas neologismos justaposições de que o próprio título pode dar uma 56 ideia Caboverdeamadamente construção meu amor Por amor se constroe uma vida nova e essa vida nova só poderá ser expressa poeticamente através de uma escrita nova cantalutando caboverdeamamos caboverdeamadamente construímos a nossa terra cantalutando caboverdeano os nossos sonhos descem às mãos a esse acto caboverdeamor cantaluta cantaluta cantaluta caboverdeamadamente 80 Poetas de recursos estilísticos diferentes mas todos apostados num corte definitivo se é possível cônscios de que a primeira condição para a poesia exercer a sua função social terá que começar por sêlo Procedem a uma destruição da língua para reconstruir outras e cada um com a sua gramática própria integrandose assim num processo de reactualização de pesquisa e invenção desbloqueando a poesia de CaboVerde de um certo percurso repetitivo Deixa de ser íntima exclamativa interrogativa tornase irónica mordaz epopeia À saga quotidiana sucede a saga histórica A este respeito o do enriquecimento estilístico não se pode dizer que os mais jovens poetas como Armando Lima Júnior Tacalhe ou mesmo Dante Mariano todos sem livro publicado ou Sukre DSal Horizonte aberto 1976 Amdjers 1977 ou Kwame Kondé Kordá Kaoberdi 1974 tivessem trazido qualquer novidade A poesia deste grupo de um modo geral surge sob o signo da véspera de amanhã na inscrição de Dante Mariano de quem tarda o livro prometido A notícia que trará o povo inteiropara as ruas em avalancheEsta simHÁ MUITO QUE CHEGOU 81 Ou nas palavras de 57 Kwame Kondé por largos anos exilado De mãos vazias te deixei terra amadaO coração de dor sangrando 82 para quem a Revolução se alastra viva majestosa e rebelde como o desejo dominando o gesto o olhar e a vida 83 O ponto de encontro é na África África independente na terra rica que herdámos mãe do futuroirradiando felicidade 84 Sukre DSal O espaço caboverdiano de Tacalhe o Lar por ele concebido é também e só na luta armada É aqui meu amorÉ aqui que ficaO lar do nosso sonhoNa boca vermelha desta espingarda 85 O tempo nos dirá do futuro de cada um deles Tacalhe no entanto persistentemente vem colaborando na página Cultura da Voz di Povo diversificando a sua poesia com a consciência de que as palavras são loucas na busca do sentido 86 Seja como for de Arménio Vieira Mário Fonseca impublicados em livro deles se aguarda e há notícia concreta uma palavra já que justamente com Oswaldo Osório Corsino Fortes e Timóteo Tio Tiofe são dos que possuem o fôlego necessário para dar à actual poesia caboverdiana uma solidez indiscutível E alguns dos mais novos que neles atentem E agora e isto não significa nenhum juízo de valor é uma arrumação sempre tão difícil diríamos uma leitura histórica como outras que admitimos chamamos a atenção para um certo grupo de poetas os poetas da diáspora cabo verdiana Suponhamos António Mendes Cardoso Jorge Pedro Virgílio Pires sem livro publicado e de escassíssima produção poética dando mesmo a impressão de a terem abandonado Luís Romano Clima 1963 revelandose no Brasil e aí tornado autor bilingue defendendo nos 58 últimos anos com persistência uma literatura de língua nacional o dialecto há nele um olhar enternecido lançado sobre o homem crioulo um gesto de solidariedade com o homem negro e um apelo ao Irmão branco Brancoescutame um momentoainda é tempoporque te falo de irmão para irmãoNo mistério daquilo que nos formou considerame Só isso nos bastaSó issoe estende me tua mão 87 Teobaldo Virgínio Poemas caboverdianas 1960 Viagem para além da fronteira 1973 estreandose em Cabo Verde mas desde há muito vivendo em Angola repensase num lirismo algo cristão e num impulso alado na solidariedade caboverdiana numa visão universalista Sejam ferramentas solitáriascada boca fale seu gritoreprimidocada braço corteseu caminho livre e cada olhar reflicta seu caminho claro Um fulgor de esperança em cada humilde 88 Daniel Filipe consagrado autor repartido entre duas poéticas inicialmente a caboverdiana e depois a portuguesa o seu nome retémse aqui como um acto de justiça Caboverdiano de origem de nascimento e etnicamente apesar da sua radicação em Portugal desde criança três livros pelo menos são de motivação cabo verdiana Missiva 1946 Marinheiro em terra 1949 e A ilha e a solidão 1957 Se quisermos encontrarlhe um ponto de encontro devemos buscálo ao grupo de Claridade a insularidade da terra pequena metida nas 59 grades das suas contradições avara ao futuro dos homens e úbere aos sonhos e anseios Ah esta ânsia de partir de ser Um barco mais na imensidão do mar De ir sempre além sem saber A rota certa para regressar 89 Com excepção de Virgílio Pires e Jorge Pedro todos os outros se revelaram poetas fora da sua terra ou então ausentes dela foi que se confirmaram como tal Em 1961 organizada e prefaciada com inteligência por Jaime de Figueiredo é publicada em Cabo Verde a antologia Modernos poetas caboverdianos e com ela nesse tempo se dá o panorama essencial da moderna poesia de Cabo Verde Por motivos metodológicos ou outros ficaram de fora apenas António Pedro e Daniel Filipe ambos e de longe profundamente radicados em Portugal e o seu nome ligado à literatura portuguesa No entanto afigurasenos e atrás quisemos justificálo que Daniel Filipe exige a sua recuperação caboverdiana Estes dois poetas terminaram depois por ser incluídos bem como outros juntamente com os seleccionados por Jaime de Figueiredo no primeiro volume de No reino de Caliban antologia panorâmica da poesia africana de expressão portuguesa 1975 que o autor destas linhas organizou anotou e prefaciou A rematar citamos o nome de Amílcar Cabral fundador do P A I G C e um dos ideólogos mais prestigiosos da revolução africana Dos poemas que dele agora conhecemos dois aspectos da sua personalidade se podem enunciar o de uma comunhão telúrica e simultaneamente o de uma adesão colectiva ao destino trágico do seu povo mas o afago da esperança 60 germinando como no poema Regresso Venha Comigo Mamãe Velha venharecobre a força e cheguese só ao portãoA chuva amiga já falou mantenhae bate dentro do meu coração 90 ou como em Ilha Rochas escarpadas tapando os horizontes mar aos quatro cantos prendendo as nossas ânsias in Ilha ano VII Ponta Delgada 2261946 republicado noutros inclusive Seara Nova dezembro 1974 A outra atitude o outro ponto de vista é o da representação duma consciência dialéctica da vida como em Segue o teu rumo Irmão Que amanhã na planície conquistadada terra redimidalibertadaos Homens irmanados colherãoo saboroso Pão 91 Ou em Quem é que não se lembra Meu grito de revolta ecoou pelos vales mais longínquos da Terraatravessou os mares e osoceanos 92 Tudo leva a crer que não haverá razão para se optar pela existência de duas fases correspondendo a escrita dos poemas a um mesmo período e assim uns e outros se completam dando a globalidade poética de Amílcar Cabral 93 2 NARRATIVA Embora o primeiro texto ficcional da moderna literatura caboverdiana se deva a Manuel Lopes Um galo que cantou na baía in Claridade nº 2 excerto do conto mais tarde inserido no livro sensivelmente com o mesmo título 1959 é com o romance Chiquinho 1947 de Baltazar Lopes que se abre a série da ficção cabo verdiana Narrativa a todos os títulos importante como expressão do mundo insular e ainda pela reinvenção da escrita que se organiza em parte a partir da 61 incorporação na linguagem de signos expressões ou formas sintácticas dialectais Longe é certo da ruptura abissal que o brasileiro Guimarães Rosa ou o angolano Luandino Vieira mais tarde levariam às últimas consequências É legítimo no entanto considerálo pioneiro na busca de processos para a construção de novas línguas no espaço africano de expressão portuguesa e para melhor se poder avaliar deste mérito há que ter em conta que a sua experiência data de 1938 altura em que aquele romance foi acabado Isto se pode aplicar enquanto contista disperso por revistas incluindo Claridade E se é legítimo adiantarse que a ruptura iniciada por este narrador é ponto corrente em quase toda a narrativa caboverdiana não menos legítimo é dizer que nenhum outro autor logrou ir tão longe nem tão conseguida pesquisa foi obtida em qualquer outro como em Baltazar Lopes Alguns mesmo preferiram a utilização do português fundamental com o recurso normal a signos dialectais embora os diálogos das personagens de extracção social popular são a maioria se construam de harmonia com a sua fala e neste caso as interferências do dialecto crioulo sejam notáveis e constantes Não nos esqueçamos de que se trata de um espaço bilingue e que o dialecto crioulo pode ser considerado uma língua novilatina a língua caboverdiana de léxico na sua quase totalidade noventa e sete por cento oriundo da língua portuguesa e naturalmente a reapropriação com tudo quanto a palavra implica reelaboração fonética morfológica sintáctica e semântica continuada de palavras sintagmas portuguesas por parte do dialecto crioulo que são depois devolvidas já modificadas à escrita em português Eis assim um português cabo 62 verdianizado onde inclusive por vezes o eixo sintagmático é alterado Quer a narrativa quer a lírica se enriquecem pelos mais variados processos de reconstrução linguística convivência hibridismo neologismos e daí a novidade a invenção permanentemente revelada do insupeitado lastro de uma linguagem de recursos inesgotáveis Com obra ficcional publicada além dos autores assinalados são António Aurélio Gonçalves Teixeira de Sousa Teobaldo Virgínio Luís Romano Gabriel Mariano Ovídio Martins Onésimo Silveira Nuno Miranda João Rodrigues Montes VerdeCabo 1974 Artur Carvalho Um natal em S Miguel 1975 Orlanda Amarilis Isto sem a exclusão de outros nomes como Virgílio Pires estreado em 1958 nº 8 de Claridade e tido como revelação incontestável Maria Margarida Mascarenhas que participou em Sèló e com larga colaboração no CaboVerde e Presença crioula Lisboa evidenciando qualidades de mérito real Pedro Duarte Francisco Lopes Manuel Serra Leitão Graça Aydeia Avelino Pires mas estes últimos quase episodicamente através do Cabo Verde sem terem dado a medida exacta do seu talento e também a recente amostra de Oswaldo Osório vide excertos de romance in Voz di Povo 1976 demasiado exígua para que possamos formular um juízo consciente Já há largos anos Óscar Lopes a propósito da Antologia de ficção caboverdiana contemporânea 1960 94 e de outras obras da ficção caboverdiana pronunciavase nestes termos Eu agradeço à literatura de autoria ou temática caboverdianas umas horas de leitura vivamente interessada o prazer de tantas pequenas ou 63 grandes obras refirome a dimensões gráficas surpreendentemente bem consumadas 95 Com efeito os narradores caboverdianos a partir de Claridade souberam centrarse no mundo específico insular e procederam a uma denúncia muito viva da sociedade a que pertenciam Nesta primeira fase era natural que estivessem todos eles sensíveis aos dramáticos problemas do Arquipélago a seca a fome a emigração Pode mesmo dizerse que a fome é a grande personagem da narrativa caboverdiana São elas algumas das grandes linhas temáticas da ficção cabo verdiana Mas na certeza de que a partir dessas motivações se desencadearia e por vezes de modo seguramente logrado o tratamento de muitos dados e aspectos da vida social económica cultural Níveis de vida níveis de língua níveis de cultura personagens várias populares ou não de miséria ou grandeza ali se fixaram mercê da capacidade de análise social e psicológica capacidade criadora diríamos invulgar Se a uma literatura do terceiro mundo buscarmos a expressão da sua própria mundividência a expressão do seu universo específico a resposta caboverdiana é positiva Baltazar Lopes abriu o caminho e como que muitas das propostas dos escritores que vieram depois por ele tinham já sido postuladas Mas os segmentos sociais foramse alargando desenvolvendo enriquecendo Ao mundo da fome da tragédia de germinação da consciência política e da miséria social à emigração por exemplo e ao mundo mítico que a envolve com incidência na ilha de São Nicolau da parte de Baltazar Lopes sucede o mundo epopaico de Manuel Lopes Chuva brava 1956 os contos O galo que cantou na baía 64 1959 Os flagelados do vento leste 1960 na ilha de Santo Antão atravessado também pela fome mas colocando o grande dilema de ter necessidade de partir querendo ficar terminando por ficar o que contraria a tese da radicalização do evasionismo atribuído a Claridade 96 Pretendeuse infundadamente acusar de paisagística e de muitas outras coisas más a ficção caboverdiana subscrita pelos claridosos não sabemos se em grande parte com o pensamento em Manuel Lopes Acusação estranha e injusta chegando a dar a impressão de que Onésimo Silveira autor de Consciencialização na literatura caboverdiana 1963 onde o fenómeno foi desencadeado teria falado daquilo que não conhecia ou conhecia mal pelo menos naquela altura Os romances de Manuel Lopes constituem uma inserção vigorosa no real caboverdiano profundamente desagregado em tempo de fome provocada pela estiagem Podemos lamentar que aos seus romances faleça uma perspectiva aberta ao futuro O drama cabo verdiano surge por assim dizer como uma fatalidade e por isso limitado na visão estática do autornarrador Mas de um ou de outro modo é inegável a sua significação literária e a importância capital que preenche na ficção caboverdiana Luís Romano Famintos 1962 vem situar a acção também na ilha de Santo Antão juntando ao mundo destruído pela fome o mundo da repressão administrativa e laboral Pensamos no entanto que um certo verbalismo na fala das personagens funciona como interferências longas do narrador que prejudica o equilíbrio da estrutura romanesca Documento generoso e libelo acusatório virtude é certeza o largo recurso do léxico dialectal inesgotável em Luís Romano Onésimo 65 Silveira da sua permanência em S Tomé trouxe a experiência do homem caboverdiano em tempo de fome emigrado para as roças daquele Arquipélago de que e testemunho o conto longo Toda a gente fala sim senhor 1960 Teobaldo Virgínio irmão de Luís Romano situando o desenvolvimento das suas narrativas no espaço social da mesma ilha de Santo Antão primeiro em Distância 1963 e Beira do Cais 1963 inclui naquele uma expressão telúrica sensual em que os elementos líricos e romantizados se fundem na coexistência de um humor irreverente ao mesmo tempo que uma aderência ao drama real do homem caboverdiano se desenvolve no dom da invenção de uma linguagem de carácter poético muito viva Em Vida crioula 1967 escrito em Luanda transita para uma visão de apelo teórico e sentimental às raízes da crioulidade e para a adesão universal um tanto como aconteceu com a sua última poesia Ovídio Martins Tchuchinha 1962 procede à abordagem da amorabilidade e do sentimento profundo do envolvimento lírico e social da terra abandonando depois pelos vistos a narrativa Gabriel Mariano O rapaz doente 1963 acaba porém de reunir em volume Vida e morte de João Cabafume 1977 a quase totalidade dos seus contos dispersos por várias publicações com relevo para o Cabo Verde Agora sujeitos a cuidada revisão dãonos a medida inteira de um contador de histórias grudado ao real significativo do homem caboverdiano Narrador personagens ambientes se identificam através de uma linguagem caboverdianizada sabiamente estruturada para a expressão da epopeia quotidiana feita de sofrimentos anseios frustrações desencontros e grandezas e onde 66 também o drama da subalimentação crónica tem a sua fala expressiva Avança por vezes na exploração de comportamentos sociais diversificados incluindo a pequena burguesia caboverdiana residindo em Lisboa O picaresco se introduz neste espaço textual não como intenção gratuita mas relevando de um campo semântico autêntico Além do mais o drama da emigração para S Tomé a tradução oral colada à intimidade social caboverdiana figuras moduladas na corajosa dignidade de afrontar os abusos e as prepotências Com este Vida e morte de João Cabafume um título e raiz de Gabriel Mariano a narrativa cabo verdiana continua a revelarse na sua inegável originalidade Em Nuno Miranda Gente da ilha 1961 Caminho longe romance sd 1975 de há muito radicado em Lisboa a escrita verte uma certa nostalgia da terra de origem e do passado Mas ele é um exemplo acabado de como um autor à partida dotado não alcança ultrapassar o jogo de contradições que ele em si próprio criou e assumiu Isto se aplica sobretudo em relação a alguns contos e se insinua em muitas páginas do romance que reflectem a angústia do desencontro numa identificação do narrador com o autor No romance de estrutura um tanto ou quanto desequilibrada há momentos de real interesse que são aqueles em que o narrador se concilia numa linguagem adequada Mas certos diálogos por demais artificiosos sobretudo quando se pontua filosoficamente empobrecem o texto caracterizado por um estilo pretensioso e visivelmente untuoso que torna a leitura penosa É nossa convicção que o autor pode se quiser no futuro vencer as debilidades através de uma severa autocrítica de autor e de narrador Ao cabo o 67 que é preciso é coragem como diz o narrador no fechamento do romance Teixeira de Sousa nos anos quarenta ligado aos neo realistas portugueses e deste modo um dos pioneiros da ficção caboverdiana só recentemente reuniu os seus contos em Contra mar e vento 1972 Histórias centradas no quadro da ilha do Fogo lá onde se tornaram resistentes conflitos e tensões decorrentes de uma estrutura social sedimentada sob o signo do latifúndio A infância certos aspectos da confrontação social de classes a desesperada luta pela sobrevivência o heroísmo quotidiano a honradez ressonâncias da labuta aventurosa do caboverdiano pela América são alguns dos segmentos incisivos que estruturaram esta obra Pícaras dramáticas poéticas ou impregnadas de um certo humor ou de uma certa ironia ou ainda às vezes de uma fina melancolia mas sempre profundamente significativas num estilo caracterizado pela limpidez incisivo com este discurso Teixeira de Sousa dános um dos enunciados mais equilibrados e autênticos da narrativa caboverdiana revelando um fôlego de narrador excepcional Em meio deste panorama encontramos o nome de António Aurélio Gonçalves Uma espécie de outsider De um tempo anterior aos homens de Claridade uma larga permanência em Lisboa onde conviveu com alguns intelectuais africanos Castro Soromenho Viana de Almeida e portugueses Castelo Branco Chaves e Álvaro Salema que tem dedicado através do seu longo exercício da crítica entusiastas e excelentes palavras à literatura caboverdiana regressa à ilha de S Vicente e aí partilha da aventura do grupo de Claridade na qual se estrearia como novelista Alguns dos seus textos que faz 68 e refaz e sempre arrancados das suas mãos à força aparecem no Cabo Verde e entretanto espaçadamente sãolhe editadas quatro noveletas a designação é sua Pródiga 1956 O enterro de nha Candinha Sena 1957 Noite de vento 1970Virgens loucas 1971 O tempo histórico é o dos nossos dias o espaço exclusivamente o da ilha de S Vicente Dotado de uma capacidade notável para a análise subjectiva e elaboração dos diálogos organiza o seu espaço literário numa relação muito íntima entre o aprofundamento psicológico e o meio social em que as personagens estão concretamente inseridas Com um conhecimento firme e atento do microuniverso da cidade do Mindelo revela um raro dom de manipulação de ingredientes aparentemente ínfimos para uma significação larga desse real não raro num trajecto mítico No gosto da exploração de parábolas bíblicas filho pródigo Pródiga virgens imprudentes Virgens loucas sóbrio e sucinto o texto toca o lírico o dramático e o trágico apresentando uma galeria de tipos caboverdianos que nos chegaram cheios de vida e de verdade nas palavras de Maria Lúcia Lepecki 97 Textos abertos que surpreendem e fazem o leitor participar e continuar o desenvolvimento do seu processo inventivo A última revelação vem com o livro de contos Caesdo Sodré té Salamansa 1974 de Orlanda Amarilis que esteve ligada ao grupo de Certeza Orlanda Amarilis sagrase como a primeira narradora caboverdiana com livro publicado Histórias tecidas de uma experiência cabo verdiana e ecuménica o espaço literário repartido entre a ilha de S Vicente e a cidade de Lisboa é assim um pouco também sobre a diáspora caboverdiana De um lado um certo desencanto título de um dos contos ou a mal contida amargura ou a nostalgia no exílio em 69 terra onde aos protagonistas fazem sentir que são estranhos por outra a inserção no mundo de carências da terra natal ou o reencontro possível com as raízes e uma penetração no fantástico adequado a certos níveis mentais do arquipélago Texto de excelentes recursos estilísticos uma reapropriação do lastro dialectal de inegável rigor e sugestivo efeito eisnos na fruição barthiana de uma linguagem caboverdianizada das mais bem conseguidas da ficção crioula Sensibilidade marcadamente feminina cativa dos gestos das falas das apetências quotidianas o seu discurso alarga o tecido de análise social e psicológica e aprofunda a perspectiva do drama na narrativa caboverdiana 3 DRAMA Uma das formas menos expressivas desta literatura é a área do teatro O que não deixa de encontrar um correspondente histórico na formação da literatura portuguesa e também brasileira Isto de uma maneira geral aplicase a todas as excolónias portuguesas Pode dizerse que em Cabo Verde no domínio da arte teatral há apenas Terra de sôdade argumento para bailado folclórico de Jaime de Figueiredo publicado na revista Atlântico em 1946 98 até hoje à espera de merecer as atenções de uma encenação 4 BILINGUISMO CABOVERDIANO É bilingue o povo caboverdiano já anteriormente o dissemos Além da língua portuguesa exprimese 70 também através do seu dialecto ou da língua crioula que no plano das relações quotidianas possui uma total implantação que falece à língua portuguesa E se foi longo o tempo necessário para o escritor caboverdiano alcançar uma consciência regional enquanto autor de língua portuguesa cedo porém ele a revelou intuitivamente enquanto autor dialectal facto que o distingue dos outros povos dos novos países africanos Vem de tempos recuados e desenvolvese no século XIX paralelamente às criações em língua portuguesa a produção popular em dialecto crioulo sobretudo veiculada através da morna mais de dois séculos de existência a grande expressão artística do homem crioulo das canções populares das finançons canções de batuque do curcutiçans canções de desafio ilha do Fogo de que se podem encontrar alguns exemplos na revista Claridade Há assim um importante substracto dialectal popular que estimularia a produção literária hoje também enriquecida com a recente exploração da coladeira Um dos pioneiros o cónego António Manuel Teixeira do SeminárioLiceu da ilha de S Nicolau responsável pelo Almanach LusoAfricano 2 volumes 1894 e 1899 neste fez publicar algumas tentativas literárias dialectais Em 1910 José Bernardo Alfama publica Canções crioulas Salientese no entanto um Eugénio Tavares Mornas cantigas crioulas 1932 um Pedro Cardoso poeta bilingue Folcolore caboverdeano 1933 de facto dos primeiros a elegerem o crioulo à dignidade de língua literária Mais perto do nosso tempo apontamse Sérgio Frusoni 19011975 um caso interessante de aculturação já que é filho de italianos Mário Macedo Barbosa Jorge Pedro Ovídio Martins Caminhada 1962 parte em dialecto crioulo 71 Luís Romano LzimparimNegrume 1973 Gabriel Mariano Kaoberdiano Dambará Noti sd 1968 Artur Vieira Sukre Dsal Tacalhe Oswaldo Osório Corsino Fortes Arménio Vieira etc Instrumento essencialmente afeiçoado à recriação de manifestações de índole lírica o caso de Beleza um dos mais populares troveiros do Arquipélago nestes últimos anos é notório o esforço para a sua utilização cada vez mais ampla No fundo a produção literária em crioulo do ponto de vista ideológico descreve sensivelmente uma curva evolutiva próxima da língua portuguesa a uma fase lírica e por vezes de conotação social sucede uma fase marcadamente ideológica protesto e intervenção política Ca tem nada na es bidaMás grande que amor 99 diz Eugénio Tavares Ou Pedro Cardoso na apropriação de raiz popular com intencionalidade social Coitado quem dixâ sê terraSêl dixâ nél sê coraçam 100 Sérgio Frusoni uma voz apaixonada do quotidiano ínfimo adensado por recursos de subtil ironia Êxe spancadura que bo tita uvica ê roncadura de pómba nem vôo de pardal in Claridade nº 9 1960 p 77 Com Ovídio Martins o corte ideológico é de vez Hora tita tchgánhas gente que Kaoberdiano Dambará persegue em Noti num deliberado apelo à revolução e vamos encontrar ainda em Kwame Kondá Kordá Kaobardi 1974 Veiculando quase exclusivamente a poesia cabe a Luís Romano um dos que de modo apaixonado reclamam a integral cidadania do dialecto ensaiar com pertinácia a primeira experiência de tomo LzimparimNegrume 1973 já citado que reúne não só poesias como vários contos em crioulo de Santo Antão acompanhados da tradução livre em português 72 Acrescentaríamos ainda que apesar de tudo quanto dissemos sobre o que aproxima ou afasta Claridade e Certeza enquanto a primeira logo no seu primeiro número abre a primeira página com uma canção de Beleza numa evidente preocupação de consagrar o dialecto crioulo e em números posteriores essa preocupação ganha volume Certeza desconhece o dialecto crioulo Travado e combatido pelas entidades coloniais nem por isso esta raiz vivaz feneceu Acreditamos estarlhe reservado no futuro papel de relevo na representação de muitos aspectos do homem caboverdiano E mais estamos de consciência convictos de que a longa e radiosa caminhada do dialecto crioulo com ou sem escolaridade irá provocar uma correcção nos domínios da sociolinguística e da psicolinguística que parecem admitir ou predizer o desaparecimento de uma língua quando ela não sendo ensinada tem de suportar a concorrência falada de outra ou outras que o são 101 Se o dialecto crioulo é como se sabe a línguamãe do caboverdiano e a língua portuguesa em muitos casos a língua aprendida supletivamente seria de admitir que ao nível da competência o escritor caboverdiano se sentisse mais seguro na expressão literária dialectal Porém isso só acontece em termos gerais e com algumas excepções Eugénio Tavares e Sérgio Frusoni podem ser dois exemplos no plano da poesia popular Tal paradoxo aparente ou provisório provém não só da carência de organização estrutural teórica da língua caboverdiana como também de uma prolongada e fecunda tradição literária escrita sem a qual uma língua não alcança a maleabilidade e a ductilidade que a autêntica criação literária exige 102 73 RAÍZES nota final Por fim uma palavra para a revista Raízes 1977 E porque se trata de um acontecimento na vida cultural do Cabo Verde libertado se transcreve a nota de abertura De um encontro de intelectuais caboverdianos irmanados pelo ideal da libertação da independência e do progresso da sua Pátria e vivificados pela seiva haurida de raízes comuns aprofundadas no seu chão nasceu a ideia da publicação que hoje se apresenta limitada pelo condicionalismo do meio mas aberta pelo espírito generoso dos seus colaboradores vindos das tendências mais díspares mas unidos pelo ideal comum que da revista é signo uma condição caboverdiana africana e de cidadania do Mundo uma autenticidade nascida da liberdade dessa condição uma independência assente nas comuns RAÍZES A novidade está em que o ideário de Raízes se cumpre na isotopia de uma longa jornada já nossa conhecida Claridade Certeza Suplemento Cultural Sèló Os cabo verdianos que neste número se inscrevem com excepção para Tacalhe e Jorge Carlos da Fonseca foram colaboradores de uma ou de outra daquelas publicações Neste espaço breve diremos em jeito de síntese que tudo quanto enunciámos de um modo geral se confirma em relação aos autores agora presentes em Raízes e de novo chamamos a atenção para Arménio Vieira e Mário Fonseca Que a Revolução obviamente é enunciado de muitos textos Que Ovídio Martins atento à mudança da situação de discurso transfere a prática poética que se centrava no contexto violentado e repressivo para a reconstrução nacional Devagar a reconstrução nacional avança Ilha a ilha Dor a dor 74 Amor a amor na opção de uma prática pedagógica Guillén do após a revolução cubana é o nome que nos ocorre Que Osvaldo Alcântara nos parece ter agora a seu lado um companheiro de jornada estética Jorge Carlos da Fonseca pelo menos um certo Osvaldo Alcântara e um certo J Carlos da Fonseca Que um novo poeta se anuncia Pedro Duarte e um novo narrador se vai confirmando Osvaldo Osório Que o drama continua à espera de dramaturgos Que dos vinte e três poemas publicados apenas um é em crioulo Que Raízes sendo um acto de qualidade e inteligência é também uma decisão revolucionária Cheganos às mãos em cima da revisão das provas deste trabalho Editada na cidade da Praia ilha de Santiago dirigida por Arnaldo França tem como colaboradores ensaio Mário de Andrade e Arnaldo França Jaime de Figueiredo ficção António Aurélio Gonçalves Baltasar Lopes Oswaldo Alcântara Ovídio Martins Corsino Fortes Mário Fonseca Tacalhe Arménio Vieira Jorge Carlos da Fonseca Pedro Duarte e Jorge Miranda Alfama Ilustração de Manuel Figueira e Osvaldo Azevedo Capa de Pedro Gregório 76 1 LÍRICA Em capítulo anterior assinalámos que Caetano da Costa Alegre poeta oitocentista sãotomense fora o primeiro em todo o espaço africano de língua portuguesa a dar ao tópico da cor um tratamento poético embora numa visão marcadamente alienatória constituindose como produtor de uma expressão de negrismo Curiosamente é também sãotomense o poeta que primeiro em língua portuguesa chamou a si a expressão da negritude Tratase de Francisco José Tenreiro 1921 1966 que irá assumir uma posição inversa à de Costa Alegre Desalienado liberto dos mitos da inferioridade social identificase com a dor do homem negro e repõe no no quadro que lhe cabe da sabedoria universal Mãos mãos negras que em vós estou sentido Mãos pretas e sábias que nem inventaram a escrita nem a rosadosventos mas que da terra da árvore da água e da música das nuvens beberam as palavras dos corás dos quissanges e das timbila 77 que é o mesmo dizer palavras telegrafadas e recebidas de coração em coração 103 A sua voz é a voz real do homem africano uma voz que vem das origens e ressoa no tempo cantando nós não nascemos num dia sem sol e aí vamos com essa raça humilhada percorrendo a estrada da escravatura mas entretanto iluminada por um rio que vem correndo e cantandodesde St Louis e Mississipi Obra poética de Francisco José Tenreiro 1967 p 100 Poeta bivalente Nasci do negro e do brancoe quem olhar para mimé como que se olhassepara um tabuleiro de xadrez 104 na sua vocação para exprimir o mulato que ele era e o negro que ele era fundindose assim no poeta africano que ele foi guindase à categoria de poeta da negritude de expressão portuguesa e tão lucidamente que o surto da literatura angolana e moçambicana que se impôs a partir de cinquenta e muito lhe deve o não teria ultrapassado na pertinência e na genuinidade dos temas Interessante notar que a estrutura externa da poesia de F J Tenreiro adquire características diferentes consoante a substância manipulada poemas longos de longos versos para a negritude poemas curtos de curtos versos enquanto poeta mestiço Dona Jóia dona dona de lindo nome tem um piano alemão desafinando de calor 105 Ou então 78 De coração em África com o grito seiva bruta dos poemas de Guillén de coração em África com a impetuosidade viril de I too am American de coração em África contigo amigo Joaquim 106 quando em versos incendiários cantaste a África distante do Congo da minha saudade do Congo de coração em África 107 Há uma distância solar como se vê entre a humilhação da Costa Alegre e a glorificação dos valores culturais africanos por parte de Francisco Tenreiro que obviamente corresponde à amplitude consciencializadora que vai do século XIX ao século XX O discurso de Alda do Espírito Santo descrevese entre o relato quotidiano da ilha impregnado de alusões simbólicas de esperança ou do registo de anseios de transparência política uma história bela para os homens de todas as terrasciciando em coro canções melodiosasnuma toada universal 108 até ao clamor da revolta de um povo oprimido como em Onde estão os homens caçados neste vento de loucura Que fizeste do meu povo Que respondeis Onde está o meu povo E eu respondo no silêncio das vozes erguidas clamando justiça Um a um todos em fila Para vós carrascos o perdão não tem nome 109 79 O mesmo clamor da revolta percorre o discurso de Maria Manuela Margarido A noite sangra no mato ferida por uma lança de cólera 110 A cólera A revolta Duas constantes que associadas ao movimento dialéctico da vida que tudo destrói e reconstrói trazem a esperança Na beira do mar nas águasestão acesas a esperançao movimentoa revoltado homem social do homem integral e é ainda o verbo de Maria Manuela Margarido Daí a certeza inscrita no devir histórico No céu perpassa a angústia austera da revolta com suas garras suas ânsias suas certezas 111 Em meio da denúncia do cheiro da morte da acusação eu te pergunto Europa eu te pergunto AGORA 112 perpassa a certeza Ou a esperança Não mera esperança idealista A esperança concretizada na dialéctica do real Tomaz Medeiros Amanhã Quando as chuvas caírem As folhas gritarem desperança Nos braços das árvores Irei Desafiar os mais trágicos destinos à campa de Nhana ressuscitar o meu amor Irei 113 80 Poesia vinculada à sedimentação de uma consciência anticolonialista mais do que a fala de cada poeta ela se consubstancia na voz colectiva do homem sãotomense Mas não só poesia de signos de símbolos de imagística protestatária aliás de descodificação facilitada Não só poesia de anunciação e assunção Não só Poesia tocada pelo afago lírico das coisas da Ilha Verde rubra de sangue As palmeiras e cacoeiros o aroma dos mamoeiros o cajueiro as modinhas da terra os murmúrios doces dos silêncios as canoas balouçando no mar o sòcòpé os deuses e os mitos orações dos ocás os cazumbis Por derradeiro Marcelo Veiga Numa ordem cronológica Marcelo Veiga 18921976 deveria ter sido considerado logo após Costa Alegre Marcelo Veiga pequeno proprietário da ilha do Príncipe estudou no liceu em Lisboa aqui viveu por períodos intermitentes foi amigo de AlmadaNegreiros Mário Eloy Mário Domingues José Monteiro de Castro Hernâni Cidade Passou despercebido até ao momento em que Alfredo Margarido o incluiu na antologia por ele organizada e publicada da Casa dos Estudantes do Império Poetas de S Tomé e Príncipe 1963 Ultimamente obtivemos alguns poemas seus inéditos datados a partir de 1920 cedidos pelo poeta pouco antes de falecer na sua ilha Ele dá assim antes de F J Tenreiro o sinal do regresso do homem negro o sinal da negritude não só em S Tomé e Príncipe como em toda a área africana da língua portuguesa África não é terra de ninguémDe qualquer que sabe de onde vem A África é nossaÉ nossa é nossa 114 Eis nítida e insofismável a consciência da revolta 81 Filhos a pé a pé que é já manhã Esta África em que quem quer dá coo pé Esta negra África escarumba olé Não a qremos mais sob jugo de alguém Ela é nossa mãe 115 Irónico mordaz a língua destravada e rebelde associada ao veneno lúcido da desafronta Sou preto o que ninguém escuta O que não tem socorro O olá tu rapaz O ó meu merda Ó cachorro O ó seu filho da puta E outros mimos mais 116 Ou O preto é bola É pimpampum Vem um Zás na cachola Outro um chut bum 117 A terminar diríamos que a poesia de S Tomé e Príncipe constitui uma expressão africana mais uniforme do que a de Moçambique ou mesmo de Angola ainda considerando a franja de mestiçagem que a percorre Construída apenas por negros ou mestiços este punhado de poetas baliza a área temática no centro do universo das suas ilhas e organiza um signo cuja polissemia é de uma África violentada inchada de cólera a esperança feita revolta 82 2 NARRATIVA Modestíssima quantitativa e qualitativamente é a narrativa de S Tomé e Príncipe As esporádicas experiências de Viana de Almeida Maiá Pòçon contos 1937 e de Mário Domingues O menino entre gigantes 1960 não chegam a ser uma contribuição relevante O primeiro nesse tempo prejudicado ainda por um ponto de vista subsidiário de uma época colonial o segundo também natural de S Tomé e Príncipe mas tornado escritor português pela obra e pela radicação talvez pela carência da dramatização da personagem principal o mulato Zezinho nado e criado em Lisboa De acaso teria sido o conto Os sapatos da irmã sem qualquer relação com S Tomé que Francisco José Tenreiro em 1962 publicou na colectânea Modernos Autores Portugueses Lisboa Acidentais ainda mas já com uma visão ajustada a um real africano foram também as experiências de Alves Preto limitada cremos a dois contos Um homem igual a tantos e Aconteceu no morro 118 E ainda o caso de Sum Marky i e José Ferreira Marques branco nascido em S Tomé autor de vários romances de importância discutível alguns no entanto parcialmente com interesse valendo citar Vila flogá 1963 como testemunho acusatório da exploração colonialista 3 A EXPRESSÃO EM CRIOULO Não obstante ser bilingue visto que a população utiliza além da língua portuguesa o crioulo de S Tomé 83 a criação literária é reduzida em dialecto domínio que a tradição oral vem monopolizando com substancial interesse Praticamente conheciamse as composições poéticas de Francisco Stockler e uma experiência de Tomaz Medeiros No entanto após a independência nacional parece haver sintomas de uma revitalização no uso literário do crioulo ao nível popular pelo menos a partir de agrupamentos musicais Exemplo são os casos dos caderninhos de Sangazuza e o caderno do Agrupamento da Ilha 1976 compostos de músicas revolucionárias e de um modo geral vertidos em rumbas sambas marchas valsas boleros e sòcòpés 85 1 LÍRICA Estamos perante o capítulo menos expressivo do espaço literário africano de expressão portuguesa Praticamente até antes da independência nacional não foi possível ultrapassar a fase da literatura colonial E esta mesmo de reduzida extensão Um homem que ali viveu por largos anos Artur Augusto escritor dotado de origem caboverdiana colaborador do primeiro número de Claridade em Portugal e com larga vivência na GuinéBissau ficouse ao que sabemos por escassos contos publicados nO Mundo Português 1935 a 1936 A obra romanesca de Fausto Duarte 19031955 Auá 1934 O negro um alma 1935 Rumo ao degredo 1939 A revolta 1945 Foram estes os vencidos 1945 caboverdiano por dilatados anos radicado na GuinéBissau merece uma palavra especial Mas é difícil não obstante o seu empenhamento humanístico e de certa objectividade social libertálo do peso colonial e credenciálo como verdadeiro escritor guineense Deixou um romance inédito sobre caboverdianos Testemunhará ele uma nova face da romanesca de Fausto Duarte Benjamin PintoBull defendeu ultimamente na Sorbonne tese de 86 doutoramento que desconhecemos sobre Fausto Duarte Com efeito da GuinéBissau durante a dominação portuguesa não veio um poeta ou um romancista de mérito Ali foram edificadas durante esse período as condições suficientes ao entrave do desenvolvimento criativo Com um índice altíssimo de analfabetismo até há cerca de duas décadas sem ensino secundário e só nos últimos anos abrangendo o sétimo ano dos liceus o seu primeiro jornal PróGuiné surgido apenas em 1924 as suas infraestruturas não possibilitaram o aparecimento de gerações letradas de onde poderiam ter saído vocações capazes de se responsabilizarem pelo surto de uma literatura guineense de expressão portuguesa num país de cerca de meio milhão de habitantes Nas duas últimas décadas do domínio colonial apenas uma actividade cultural oficial se fez sentir orientada porém para os sectores da investigação histórica e etnográfica Boletim Cultural da Guiné Portuguesa 1946 1973 e sempre marcada é evidente pelo espírito oficial Em nada ou pouco alteram este quadro empobrecido O livro de Carlos Semedo Poemas 1963 também não modifica os dados desta análise até porque se trata de obra de modesta qualidade estética Amilcar Cabral o fundador da nacionalidade autor de alguns poemas mas de substância caboverdiana optámos por incluílo na parte dedicada a Cabo Verde 119 Ainda em plena guerra colonial tinha surgido no ano de 1973 em português o folheto de poesia Poilão iniciativa do Grupo Desportivo e Cultural do Banco Nacional Ultramarino Alguns dos poetas incluídos são 87 guineenses As suas vozes necessariamente resguardadas ou desviadas ficam insignificativas Embora durante a guerra colonial nas áreas libertadas pelo P A I G C se tivesse procedido a uma profunda alfabetização compreendese que a sua juventude essencialmente empenhada na luta da libertação nacional ou então retraída que vivia na capital Poilão em certa medida pode ser um exemplo só agora encontre os meios necessários para se revelar no plano da criação e construir a autêntica literatura do seu país O primeiro sinal é dado em Janeiro de 1977 com Mantenhas para quem luta a nova poesia da Guiné Bissau Livrinho de cento e três páginas que reúne catorze jovens poetas onde o mais novo tem dezanove anos e o mais velho trinta Acompanhao um breve prefácio onde se diz Hoje somos jovens trabalhadores no campo da poesia esta não se define para nós em termos puramente estéticos A forma destinandose a garantir a eficácia da obra a fazêla atingir os objectivos visados impõese como elemento manifestamente importante mas o que lhe determina a qualidade é a função pelo valor social que possa representar A seguir uma questão que tem a ver com o espaço linguístico da GuinéBissau povoado pelas línguasmãe pelo crioulo e ainda pela língua oficial o português Se é verdade que esta poesia se escreve actualmente em crioulo e em português cabenos a tarefa da sua fixação nas línguas nacionais enquanto depositárias dos verdadeiros valores africanos Agnelo Augusto Regalla desenvolve um tema comum a outros poetas africanos como por exemplo Costa Andrade e Henrique Guerra o tema do assimilado Fui levadoA conhecer a nona SinfoniaBeethoven e 88 MozartNa músicaDante Petrarca e BocácioNa literaturaFui levado a conhecerA sua cultura para depois colocar a interrogação Mas ti Mãe África Que conheço eu de ti Que conheço eu de ti A não ser o que me impingiram E a fome e a miséria Como complementos 120 António Cabral Morés Djassy o tema de constância revolucionária Somos crianças do tempo da Revolução Frutos das sementes de séculos de angústias Somos crianças da luta Restos da soma do napalm Restos da soma do napalm e fósforo 121 Hélder Proença o da identidade poetapovo Poema que será a arma dos oprimidos Poema que confunde com os anseios do povo O MEU POEMA SERÁ A VOZ DO POVO 122 E deste modo se definem algumas das linhas essenciais que nesta jovem poesia guineense se contêm Por um lado os poetas reencontramse como cidadãos verdadeiramente africanos por outro a Revolução está em marcha e a poesia a arte arma dos oprimidos voz do povo vai assumirse como parte integrante da Revolução 89 Daí a denúncia a determinada acusação Para onde vãoEstes troncos de carvãoestendidos em caixotesComo se fossem cargas de porão António Sérgio Maria Davyes Tony Davyes 123 Pelo colonialistaFui chamado TerroristaComo Digno Defensor da minha existência mas Pela históriao colonialista é o terroristaEis a crua verdade e realidade Jorge Ampla Cumelerbo Jorge António da Costa 124 Não sei quando começaste a batermeEm que idadeEm que eternidadeEm que revolução astralTalvez no ventre da minha mãe Kôte Norberto Tavares de Carvalho 125 Ou em Tomás Paquete A fome torciase como as velasdos barcosOnde os pais por um punhado de peixeDeixavam viúvasAs jovens mães solteirasOnde os irmãos por uma sorte de ilusãodeixavam orfãosos sobrinhos 126 Acusação que tem como alvo imediato o colonialismo a longa era da escravidão feita de dor e lágrimas como diz António Lopes Jr Prisões SacrifíciosO peso da fomeDa subalimentaçãoO peso da HistóriaHistória de dor e lágrimasImposta pela violência repressiva 127 Ao contrário do que acontece não só com a poesia de Cabo Verde de S Tomé e Príncipe como também com a de Angola e Moçambique esta poesia da GuinéBissau toda ela nasce em pleno período da luta armada ou então já no período póslibertação nacional É natural portanto que alguns destes poetas se reencontrem na exaltação da ÁFRICA MÁRTIR dos chefes revolucionários e sobretudo de Amilcar Cabral E daí também um profundo sentido gregário uma real consciência colectiva como em José Pedro Sequeira 90 Encontramonos em toda a parte Em toda a parte irmãos Nos arrozais e no dendém Nas savanas e nas hortas Na tabanca e nos pântanos 128 Ou ainda um largo sentido ecuménico universal na voz de Nagib Said Quando o som do tamtamLevar o grito dÁfricaAo cume mais alto das consciênciasE os processos mentais superiores se conjugaremTraduzidos no código puro da fraternidade então O eco da revolução propagarseá Através das mil montanhas do Mundo 129 Ou em Carlos Almada Porque o sol que hoje ardeBrilha pra todos nósE pra toda a África 130 Numa luta de libertação fatalmente há os que hesitam ou se destróem mas a história o registará Será isso mesmo que o verbo repousado mas liricamente impressivo de José Carlos significa E vi na tabanca queimada devastadaAs mesmas botas calcar o sangue o corpo a morte inocenteDe crianças da tua cor do teu credo perdidoE soube que na terra em pranto pela tua afrontaTu terias uma morte desenraizada 131 Contribuição militante a todo um processo de desenvolvimento cultural que decorre no nosso País como se afirma no Prefácio ela não podia deixar de ser também a expressão da libertação da esperança de uma colagem ao futuro e aqui vem a propósito citar dois nomes Armando Salvaterra Quimporta que eu não venhaA saborear os frutos da própria árvoreQue é 91 issoAo pé da inabalável certeza desse dia admirável 132 E Justino Nunes Monteiro Justen Libertar a África Libertar o Homem Libertar o tamtam e o Korá Libertar o canto das crianças e o grito sufocado da esperança Uma esperança vermelhosangue Temperada na luta e na morte Abrindo um caminho novo 133 Em resumo arma de combate ferramenta de construção ela a poesia forjase no quotidiano árduo mas exaltante da Nação emergente contribuição modesta no património da Humanidade por uma Revolução Cultural são ainda palavras do citado Prefácio 2 A EXPRESSÃO EM CRIOULO Entre as várias etnias circula o dialecto crioulo semelhante ao de Cabo Verde criado na Guiné ou levado para lá 133 e parece cada vez mais a esse nível tender a funcionar como língua de contacto sobrepondose às línguas de várias etnias até porque progressivamente aumenta o seu número de utentes Só recentemente as tentativas poéticas em dialecto crioulo começam a ganhar o espaço textual Não só nas canções nos cantos revolucionários gravados em disco como também na lírica que desponta Curiosamente no entanto em Mantenhas para quem luta há apenas duas poesias em crioulo e subscreveas José Carlos 93 DESCOBERTAS E EXPANSÃO 1 A ordem de chegada dos portugueses ao continente africano foi esta Cabo Verde 1460 S Tomé e Príncipe 1470 Foz do Zaire 1482 Moçambique 1498 2 As primeiras iniciativas do Governo da metrópole relacionadas com a ensino datam de 1740 Outras se seguiram mas ineficazes Só a partir dos meados do século XIX o Governo Central procede a uma série de medidas tendentes ao desenvolvimento do ensino em Cabo Verde Vide José Conrado Carlos de Chelmichi Corografia cabo verdiana ou Descripção GeograficoHistorica da Provincia das Ilhas de CaboVerde e Guiné 1841 Compulsando os Boletins Oficiais de Cabo Verde damos conta de várias providências ou diligências levadas a cabo nos fins do segundo quartel do século XIX sobre a instrução pública no Ultramar como por exemplo e além de outras Em 1845 se procede à organização da instrução primária nas províncias ultramarinas abrangendo as escolas principaes materiaes de ensino provimento vencimentos jubilação e aposentação dos professores creação dos conselhos inspectores de instrução primária sua composição e deveres Dec de 14 agosto e P R 2 setembro 1845 o que pressupõe a existência de um ensino público em fase adiantada pelo menos em Cabo Verde Tanto assim que Em 1860 é creado e estabelecido na cidade da Praia um liceu com a denominação de Lyceu Nacional de Província de Cabo Verde P circular nº 313A de 15 dezembro 1860 B nº 83 A título de exemplo entre outras importantes medidas e por curiosidade se regista o seguinte 94 Em 1875 efectuouse a remessa de exemplares da Cartilha Nacional de Caldas Aulete para serem distribuídos pelas escolas de Cabo Verde pedindose informação aos responsáveis pelo ensino sobre os efeitos produzidos P R nº 32 19 março 1878 B nº 16 Em 1866 é creado o Seminário eclesiástico da diocese de Cabo Verde Dec 3 setembro 1866 B nº 44 cuja abertura ocorreu no ano de 1867 Off 18 janeiro 1967 B nº 9 Na segunda metade do século XIX existiu uma biblioteca e um museu nacional cremos que na cidade da Praia P nº 15 14 janeiro 1871 B nº 10 Anteriormente a 1871 havia sido extinta a Sociedade Gabinete de Leitura cuja biblioteca transitou para a Biblioteca da cidade da Praia P nº 157 10 maio 1871 Inclusivamente a biblioteca foi mandada abrir ao público em todos os dias não santificados e feriados das seis às oito horas da tarde P nº 45 9 fevereiro 1893 B 6 No entanto por alvará de 12 de Janeiro de 1740 foi para S Thiago um mestre de gramática com 5000 reis annuaes segundo Christiano José de Sernna Barcellos in Subsídios para a história de Cabo Verde e Guiné Parte II Lisboa Academia Real das Ciências de Lisboa 1900 p 281 3 O prelo foi instalado nas excolónias portuguesas nas seguintes datas Cabo Verde 1842 Angola 1845 Moçambique 1854 S Tomé e Príncipe 1857 GuinéBissau 1879 95 LITERATURA COLONIAL 4 Só recentemente se teve conhecimento da existência desta obra Devese à descoberta cerca de 1966 de um exemplar na New York Public Library pelo lusófilo americano Prof Gerald Moser Um segundo exemplar encontrase agora na posse da Biblioteca da Companhia de Diamantes de Angola Lisboa Janheinz Jahn noticia que o dramaturgo português Afonso Álvares mestiço contemporâneo de Gil Vicente nascido e educado no palácio de D Afonso de Portugal bispo de Évora é o primeiro escritor africano de uma língua europeia embora os seus autos não tenham relação com a África in Manuel de littérature neoafricaine Paris Editions Resma 1969 pp 78 5 A Teixeira da Mota Dois escritores quinhentistas de Cabo Verde André Álvares de Almada e André Dornelas Lisboa Junta de Investigações do Ultramar 1971 p 39 6 António de Oliveira Cadornega dános notícia do facto nestes termos succedeu ir hum dia o Capitão António Dias de Macedo neste tempo Sargento mór da guerra com huma sua petição sobre certo requerimento e dizerlhe o Secretário do Governo Sebastião Rodrigues que emendasse sua Mercê a petição porque estando em Governo se lhe devia dar Senhoria o Capitão tinha sua veya de Poeta entrando ali perto em huma Caza pedio tinta e papel e escreveo o seguinte seguese a poesia que transcrevêramos in História geral das guerras angolanas primeiro tomo escrito Anno de 1968 Lisboa edição facsimilada da edição de 1940 1972 p 515 7 Constituída por um volumoso número de obras a literatura colonial se estudada em separado obrigaria a subdivisões Alguns autores ou certas obras de alguns autores pediriam um tratamento especial Seriam as que a uma 96 perspectiva europeizada juntam uma visão humanística mas em que o travo paternalístico que as percorre impediria a sua inclusão na literatura africana de expressão portuguesa É evidente que as obras de Alexandre Cabral Terra quente 1953 e os contos de Histórias do Zaire 1956 produto da sua experiência no Congo ou os Três pequenos contos incluídos em Despedida breve 1958 de José Augusto França ou ainda o seu excelente romance Natureza morta 1949 de motivação angolana por todas as razões embora diferentes para cada um dos autores citados estão para lá destes comentários SÉCULO XIX SENTIMENTO NACIONAL 1 ANGOLA 8 José da Silva Maia Ferreira Espontaneidades da minha alma 1849 p 17 9 J Cândido Furtado No álbum de uma africana in Almanach de Lembranças 1864 p 116 também in M Ferreira No reino de Caliban 2º vol 1976 pp 2425 10 Ernesto Marecos Juca a Matumbolla Lisboa 1865 pp 40 41 42 11 Pedro Félix Machado autor de uma obra repartida pela ficção e pela poesia Sorrisos e desalentos colecção de sonetos Uma teima monólogo e os romances da série Scenas dÁfrica Romance íntimo 3ª edição com uma carta de F A Pinto isto é Francisco António Pinto Lisboa Ferin 1892 2 volumes de 24213 pp 1461 pp srosto Cada vol como uma parte independente Parte I O Dr Duprat Parte II O Filho adulterino O autor na 2ª edição de O filho adulterino informa ainda que estava no prelo o 2º vol da II 97 Parte Antonias ou o caso do bairro Estephania e anunciava uma III Parte em preparação Na Biblioteca Nacional segundo as nossas buscas apenas se encontra O filho adulterino 2ª edição Carlos Ervendosa in Itinerário da literatura angolana 1972 pp 3435 afirma que Cenas dÁfrica numa 2ª edição foi publicado em folhetins na Gazeta de Portugal 12 Joaquim Dias Cordeiro da Matta Jaquim Ria Matta publicou ainda as seguintes obras Ensaios de dicionário kimbundo português O luandense da alta e da baixa esfera estudo crítico e analítico Cartilha racional para se aprender o kimbundo escrito segundo a Cartilha Maternal do Dr João de Deus Cronologia de Angola manuscrito 13 Teófilo José da Costa Augusto Silvério Ferreira Perfil biográfico e alguns aspectos da sua vida In Jornal de Angola nº 111 Luanda 1961 Tratase de um artigo de uma série que o autor publicou no citado Jornal de Angola desde o nº 108 3181961 ao nº 119 agosto 1962 com bastante interesse para o conhecimento da actividade jornalística e cultural do século XIX em Angola 14 Os primeiros periódicos não oficiais excluindo portanto os Boletins Oficiais foram Angola A Civilização da África Portuguesa 1866 Moçambique O Progresso 1868 S Tomé e Príncipe O Equador 1869 Cabo Verde O Independente 1877 GuinéBissau PróGuiné 1924 Os primeiros Boletins Oficiais foram publicados nas seguintes datas Cabo Verde 1843 Angola 1845 Moçambique 1854 S Tomé e Príncipe 1857 GuinéBissau 1880 De 1843 a 1879 a GuinéBissau e Cabo Verde constituíam um todo administrativamente e por isso o Boletim Oficial era comum Vem ainda a propósito dizer que os Boletins Oficiais para além da matéria governativa mantinham secções de anúncios avisos denúncia de credores etc e ainda colaboração literária 98 2 CABO VERDE 15 Segundo Gabriel Mariano de 1853 a 1892 fundaramse na cidade da Praia Cabo Verde treze associações recreativas e culturais como por exemplo a Dramática Associação Igualdade Sociedade Gabinete de Leitura Associação Literária Grémio CaboVerdiano Entrevista ao Diário Popular suplemento literário 23 de maio de 1963 16 Henrique de Vasconcelos caboverdiano de nascimento cremos que desde cedo radicado em Portugal enquanto vivo desfrutou de prestígio literário em Portugal É autor pelo menos das seguintes obras Flores cinzentas p Coimbra 1893 Os esotéricos p Lisboa 1894 A harpa do Vanadio p Coimbra 1895 Amor perfeito p Lisboa 1895 A mentira vital c Coimbra 1897 Contos novos c Lisboa 1903 Flirts p Lisboa 1905 Circe p Coimbra 1908 O sangue das rosas p Lisboa 1912 De temática europeia qual das histórias da literatura o irá recuperar A portuguesa ou a caboverdiana 17 Não existe nenhum exemplar na Biblioteca Nacional de Lisboa do romance O escravo 1856 de José Evaristo dAlmeida O único exemplar conhecido encontrase na posse dos descendentes do autor residentes em Cabo Verde Foi por informação de um deles Amiro Faria que o registámos em A aventura crioula 2ª edição 1973 Possuímos uma fotocópia No entanto foi republicado in A Voz de Cabo Verde desde o nº 244 22 de maio de 1916 ao nº 294 de maio de 1917 18 António de Arteaga Amores de uma creoula in A Voz de Cabo Verde Praia Cabo Verde ano I nº 1 março de 1951 até ao nº 17 10 de maio de 1911 99 19 Idem Vinte anos depois idem nº 19 25 de dezembro de 1911 20 Guilherme A Cunha Dantas Bosquejos dum passeio ao interior da ilha de S Thiago idem nº 22 15 de janeiro de 1912 ao nº 63 28 de setembro de 1912 21 Idem Contos singelos Nhô José Pedro ou scenas da ilha Brava idem nº 78 10 de Dezembro de 1913 ao nº 96 16 de junho de 1913 22 Idem Memória de um rapaz pobre idem nº 106 25 de agosto de 1913 23 Eugénio Tavares Vida creoula na América idem nº 68 12 de dezembro de 1912 e nº 70 10 de dezembro de 1913 O autor Eugénio Tavares faleceu em 1888 Logo a publicação desta novela é póstuma E das duas uma ou se aproveitou um inédito depositado nas mãos de familiares ou amigos ou então terá de se admitir a utilização de um exemplar de cuja existência não se sabe o paradeiro O mesmo se aplica às suas novelas registadas 24 Idem A virgem e o menino mortos de fome idem nº 73 6 de janeiro de 1913 ao nº 77 3 de fevereiro de 1913 25 Idem Drama da pesca da baleia idem nº 101 21 de julho de 1913 ao nº 104 11 de agosto de 1913 26 Carta do Padre António Vieira escripta de Cabo Verde ao padre confessor de sua alteza indo arribado aquelle Estado Datada de 25 de dezembro de 1652 in Cabo Verde Praia Cabo Verde ano II nº 23 pp 1112 27 Vide Baltasar Lopes Cabo Verde visto por Gilberto Freyre Sep boletim Cabo Verde nº 8486 Praia Cabo Verde 1956 Gabriel Mariano Do funco ao sobrado ou o mundo que o 100 mulato criou in Colóquios caboverdianos Lisboa Junta de Investigações do Ultramar 1959 Manuel Ferreira A aventura crioula 2ª ed Lisboa Plátano Editora 1973 António Carreira Cabo Verde formação e extinção de uma sociedade escravocrata 14601878 Porto 1972 28 A este respeito José Lopes fornece elementos de interesse em Os esquecidos in Cabo Verde ano III nº 35 Praia Cabo Verde agosto de 1952 pp 2932 Ainda os nossos poetas idem nº 36 pp 910 e sobretudo em Vida colonial in Vida Contemporânea ano II nº 15 Lisboa Julho de 1935 pp 196204 idem nº 18 outubro de 1935 pp 725 731 e nº 20 dezembro de 1935 pp 876882 Vide também Nuno Catarino Cardoso Poetisas portuguesas Lisboa 1917 Sonetistas portugueses e lusobrasileiros Lisboa 1918 Cancioneiro da saudade e da morte Lisboa 1920 29 José Lopes apesar de uma ou outra alusão aos seus Irmãos hespertanos ou aos seus bons irmãos de Dakar entendase caboverdianos lá residentes ou ao seu Lameirão a nossa antiga horta de São Nicolau ou de chorar a sua desolação quando por lapso de um ano se viu obrigado a emigrar para Angola Longe de Cabo Verde em terra estranha chorarei minha mágoa confidente No desolado exílio deste mato apesar de tudo isso o momento em que o poeta partilha do destino do seu próprio povo é na poesia A catástrofe da Praia escrita em 1949 quando um grupo numeroso de esfomeados que recebia assistência na capital ficou soterrado num barracão que desabou por força de um temporal Não bastavam as fomes A MisériaProlongada de tantos anostantosSem uma luz na escuridão cimériaTantas angústias tanta Dor e prantos Mas nem esta longa poesia de quarenta e quatro quadras enformadas de referências mitológicas e conceitos mítico religiosos pode autorizarnos a incluir o nome de José Lopes no capítulo da moderna poesia caboverdiana 101 Por sua vez a poesia de Januário Leite 18651930 é a viva conotação do drama individual de um desadaptado morbidamente incompreendido e infeliz As minhas horas sombriasSão horas do meu prazerQuem nunca teve alegriasAfeiçoase ao sofrer Pedro Cardoso c 18901942 autor de Crioula Crioula divinae moça e menina É lírio ébano e coral de Morna Flor de duas raças tristesVindas da Selva e do MarQue a nós se acharam um diaNa mesma praia ao luar de Cabo Verde Cabo Verde que ironia bruta e negra perdidaToda aberta em ígneo algarpor sobre a verde campinhaDas ondas verdes do mar e de outros poemas tendo como ponto de partida o vulcão do Fogo sua ilha natal Vesúvio caboverdiano Padrão imenso sobre o mar erguido simbolizando o futuro talvez de um grande povo assim poesia de ambiência regional com relevo para a VI do livro Hespérides sobre as estiagens citando inclusive a fome crónica e dura apesar de toda esta preocupação humana que lhe dá o natural direito de ter alcançado maior grau de autenticidade regional do que o próprio José Lopes mesmo assim por muito respeitável que tenha sido a actividade poética destes autores eles ficarão como antecessores e não como precursores Eles serão o primeiro termo de uma relação Eles antecedem mas não anunciam não predizem Justificam mas dificilmente deixam adivinhar ou perceber a natureza do termo consequente 3 MOÇAMBIQUE 30 Aqui nos cumpre esclarecer se para tanto houver necessidade Quando ao longo das nossas intervenções nos referimos a uma maior ou menor presença europeia ou a um maior ou menor índice de mestiçagem como fundamento de uma maior ou menor actividade cultural ou literária é evidente que não pretendemos emprestar a estas afirmações 102 um carácter racial mas sim cultural e político Os alicerces de uma literatura neoafricana do período colonial construíram se a partir de uma burguesia europeia europeizada ou africana O povo o homem africano esse continuando analfabeto longe das influências culturais de raiz europeia mantevese alheio ao processo literário Os jornalistas os poetas os ficcionistas teriam forçosamente de ser recrutados nos estratos sociais de onde emergiam normalmente aqueles que teriam acesso à escola à instrução à cultura 4 S TOMÉ E PRÍNCIPE 31 Francisco José Tenreiro Cabo Verde e S Tomé e Príncipe Esquema de uma evolução conjunta Sep do Cabo Verde ano III nº 76 Praia Cabo Verde 1956 pp 1217 32 Caetano da Costa Alegre Versos 1916 p 26 33 Idem p 26 34 Idem p 47 35 Idem p 61 36 Idem p 100 CABO VERDE 1 LÍRICA 37 Suplemento Cultural do boletim Cabo Verde ano nº Praia Cabo Verde 1958 103 38 Jorge Barbosa Arquipélago 1935 p 24 39 Idem Ambiente 1941 p 17 40 Idem p 20 41 Jorge de Sena Líricas portuguesas 3ª série 1958 p 123 42 António Pedro Diário 1929 p 20 43 Jorge Barbosa Arquipélago 1935 p 30 44 Manuel Lopes Crioulo e outros poemas 1964 p 31 45 Idem idem p 83 46 Idem p 59 47 Pedro Corsino Azevedo Renascença in Claridade nº 5 1947 p 16 também in M Ferreira No reino de Caliban 1º vol 1975 p 121 48 Idem TerraLonge in Claridade nº 4 1947 p 12 49 Idem Galinha branca in M Ferreira No reino de Caliban 1º vol Lisboa 1975 pp 124125 50 Devese a Pedro da Silveira a publicação deste poema acompanhado de uma nota em Mensagem Lisboa Casa dos Estudantes do Império ano XVI nº 1 julho de 1964 pp 10 1112 Falase de um original perdido de Pedro Corsino de Azevedo Era de Ouro 51 Baltasar Lopes Recordai do desterrado no dia de S Silvestre de 1957 in Claridade nº 8 1958 p 39 104 52 Idem Menino de outro gongon COLÓQUIOLetras nº 14 1973 p 58 53 Guilherme Rocheteau Panorama in Certeza nº 1 1944 54 Tomaz Martins Poema para tu decorares in Claridade nº 4 1947 p 37 55 Nuno Miranda Revelação in Certeza nº 1 1944 56 Idem Cancioneiro da ilha 1964 p 42 57 Arnaldo França A conquista da poesia in Claridade nº 5 1947 p 33 58 Idem Paz3 in Claridade nº 8 1958 pp 2728 59 António Nunes Poemas de longe 1945 p 32 60 Idem Ritmo de pilão in Cabo Verde Praia Cabo Verde nº 108 1958 p 15 61 Pedro Cardoso Jardim das Hespérides 1926 p 11 62 Aguinaldo Fonseca Linha do horizonte 1951 p 61 63 Gabriel Mariano Nada nos separa in Cabo Verde nº 109 p 19 64 Onésimo Silveira Saga in Claridade nº 8 1958 p 70 65 Idem Hora grande 1962 p 41 66 Idem p 26 67 Ovídio Martins Caminhada 1962 p 12 105 68 Idem Gritarei berrarei matareiNão vou para Pasárgada sd 1973 p 76 69 Gabriel Mariano Cantiga da minha ilha in Mário Pinto de Andrade Antologia da poesia africana de expressão portuguesa 1968 p 6 70 Idem Capitão Ambrósio 1975 p 13 71 Yolanda Morazzo Cântico de ferro 1977 p 63 72 Idem idem p 11 73 Terêncio Anahory Caminho longe 1962 p 19 74 Arménio Vieira Poema in Mákua 1 1962 p 22 75 Rolando VeraCruz Poema sem tempo in Vértice nºs 334335 1971 p 849 76 João Vário é autor de quatro livros o primeiro dos quais Horas sem carne 1958 retirado da sua bibliografia pelo próprio Os outros são Exemplo geral 1966 Exemplo relativo 1968 Exemplo dúbio 1975 João Vário participou também na iniciativa coimbrã Êxodo 1961 77 Timóteo Tio Tiofe O primeiro livro de Notcha 1975 pp 8889 78 Corsino Fortes Pão fonema 1974 p 60 79 Osvaldo Osório Caboverdeamadamente construção meu amor 1975 p 43 80 Idem idem 1975 p 46 106 81 Dante Mariano Comunicado nº 1 in M Ferreira No reino de Caliban 1º vol 1975 p 252 82 Kwame Kondé Kordá kaoberdi 1974 p 59 83 Idem idem p 83 84 Sukre DSal Horizonte aberto 1976 p 29 85 Tacalhe Lar in M Ferreira No reino de Caliban 1º vol 1975 p 258 86 Idem Poema para depois in Cultura de Voz di Povo Praia Cabo Verde 29II1977 p 8 87 Luís Romano Clima 1963 p 236 88 Teobaldo Virgínio Viagem para além da fronteira 1973 P 39 89 Daniel Filipe Missiva 1946 p 43 90 Amílcar Cabral Ilha in Cabo Verde ano I nº 2 1949 p 11 91 Idem Segue o teu rumo irmão in Vozes nº 1 1974 p 19 92 Idem Quem é que não se lembra idem p 19 93 Amílcar Cabral na sua juventude pelo menos mesmo antes de assumir as responsabilidades políticas que veio a assumir andou pelas lides literárias Escreveu um ou outro ensaio Apontamentos sobre a poesia caboverdiana in Cabo Verde ano nº 28 1952 e publicou escassos poemas Ouvimolo inclusive ler um conto em 1943 ou 1944 em S Vicente de Cabo Verde apresentado ao grupo da Academia 107 Cultivar de onde saiu o projecto da Certeza Acentuese que até há bem pouco tempo sabíamos da existência de uns três poemas Ilha publicado no jornal Ilha ano VII Ponta Delgada Açores 22VI1946 Regresso no Cabo Verde ano I nº 2 Praia Cabo Verde 1949 e posteriormente Para ti mãe Iva publicado no seu livro de curso republicado depois do seu assassinato no jornal Expresso Lisboa Após a independência da GuinéBissau e Cabo Verde Luís Romano junta sete poemas ao seu artigo Amílcar Cabral Apontamentos sobre a poesia caboverdiana in Vozes nº 1 Brasil 1976 pp 1521 Mais recentemente Mário Pinto de Andrade reúne três poemas ao artigo Amílcar Cabral e a reafricanização dos espíritos publicado em Nô Pintcha Bissau 12IX76 aquando das comemorações do XX aniversário do P A I G C Entretanto Mário de Andrade e Arnaldo França transcrevem um novo poema sem título no ensaio A cultura na problemática da libertação nacional e do desenvolvimento à luz do pensamento de Amílcar Cabral in Raízes ano I nº 1 Praia Cabo Verde 1977 p 4 Alguns destes poemas repetemse nas publicações que referimos e assim do nosso conhecimento são ao todo dez poemas Os três poemas publicados por M Andrade vêm acompanhados da indicação da fonte Mensagem Boletim da Casa dos Estudantes do Império ano II maio a dezembro nº 11 desconhecendose o ano e se é a fonte apenas do último poema se dos três 2 NARRATIVA 94 Antologia da ficção caboverdiana contemporânea selecção e notas de Baltasar Lopes introdução de Manuel Ferreira e comentário de António Aurélio Gonçalves Praia Cabo Verde 1960 108 95 Óscar Lopes Ler e depois Porto Editorial Inova 1969 Recolha de críticas publicadas no suplemento Cultura e Arte de O Comércio do Porto 96 Um dos tópicos da literatura caboverdiana é a partida Teria cabido a Eugénio Tavares glosar pela primeira vez o drama da emigração no poema Hora di bai hora da partida hora da despedida hora di dor Partida que é uma consequência da seca da fome emigração Paralelamente há uma outra atitude que se insinua e depois se define o desejo de partir pela necessidade de ver outras terras outras gentes Necessidade de compensar em meios de acentuado desenvolvimento social e intelectual a vida estreita das ilhas Estado de espírito este de natureza cultural e sentimental E às vezes mais literário do que real A isto se chamou depois evasionismo Querendose significar a fuga o abandono a desresponsabilização O nosso esquema seria este emigração origem económica motivação real Terralongismo evasionismo origem intelectual motivação real ou não Onésimo da Silveira no ensaio citado desencadeou um ataque directo à literatura caboverdiana subscrita pelos homens da Claridade e de alguns outros que vieram depois acusandoa de vários males e um deles seria o de evasionismo Isto levarnosia longe Mas desejaríamos aqui deixar consignado o seguinte a Nos anos 3040 de um modo geral os escritores sentiam a necessidade de alargar os seus horizontes e isso não pressupunha de modo nenhum um desenraizamento b No discurso da evasão não estava explícito o abandono e sim implícito o regresso c Se virtude possui a literatura caboverdiana dessa época é exactamente a do elevado grau de responsabilização que os autores demonstraram no empenhamento de se inserirem no 109 centro do universo crioulo rompendo de vez com um passado de alienação literária 97 Maria Lúcia Lepecki crítica a Virgens loucas in COLÓQUIOLetras nº 11 Lisboa janeiro de 1975 p 77 3 DRAMA 98 Jaime de Figueiredo Terra de sôdade argumento para bailado folclórico em quatro quadros in Atlântico nova série nº 3 Lisboa 1946 pp 2442 4 BILINGUISMO CABOVERDIANO 99 Eugénio Tavares Mornas cantigas crioulas 1932 p 27 100 Pedro Cardoso Folclore caboverdiano 1933 p 71 101 Os principais trabalhos de autores caboverdianos sobre o dialecto crioulo são Baltasar Lopes Uma experiência românica nos trópicos I e II in Claridade nº 4 1947 pp 15 22 e nº 5 1947 pp 110 O dialecto crioulo de Cabo Verde 1957 Maria Dulce de Oliveira Almada Cabo Verde Contribuição para o estudo do dialecto falado no seu Arquipélago 1961 102 Após a independência nos dois actuais jornais cabo verdianos Voz di Povo Santiago e Nossa Terra Fogo para além de inúmeros versos em dialecto vêm sendo publicados vários textos em prosa deixandonos a impressão de subscritos uns e outros na generalidade por quem pela primeira vez experimenta a mão De qualquer modo o facto surpreende e exige ser acompanhado com atenção Surpreende mas relativamente claro Deverá terse em conta 110 a circunstância de anteriormente à independência o mensário Repique do Sino ilha da Brava ter sido durante muito tempo repositório de textos dialectais sobretudo em verso S TOMÉ E PRÍNCIPE 1 LÍRICA 103 Francisco José Tenreiro Obra poética de Francisco José Tenreiro 1967 p 90 104 Idem idem p 48 105 Idem idem p 120 106 Tratase de Joaquim Namorado Autor do poema África publicado nO Diabo nº 309 24 de agosto de 1940 a primeira expressão literária duma visão dialéctica de África enquanto continente explorado por parte de um poeta português que nunca viveu no continente africano 107 Francisco José Tenreiro Obra poética de Francisco José Tenreiro 1967 p 11 108 Alda do Espírito Santo Em torno da minha baía in A Margarido Poetas de S Tomé e Príncipe 1963 p 64 Tem como referência o massacre de Batepá ocorrido em S Tomé em fevereiro de 1953 sendo governador o tenentecoronel Gorgulho 109 Idem Onde estão os homens caçados neste vento de loucura idem pp 6566 110 Maria Manuela Margarido Roça in A Margarido Poetas de S Tomé e Príncipe 1963 p 81 111 111 Idem Paisagem idem p 81 112 Tomaz Medeiros Meu canto Europa in A Margarido Poetas de S Tomé e Príncipe 1963 p 76 113 Idem Caminhos in Cultura II nºs 910 Luanda dezembro de 1959 114 Marcelo Veiga África é nossa in M Ferreira No reino de Caliban 2º vol 1976 pp 466467 115 Idem idem p 466 116 Idem Regresso do homem negro in A Margarido Poetas de S Tomé e Príncipe 1964 p 87 117 Idem A João Santa Rosa idem p 89 2 NARRATIVA 118 Alves Preto Um homem igual a tantos in Mensagem Lisboa Casa dos Estudantes de Lisboa ano II nº 2 fevereiro de 1959 pp 2123 Aconteceu no morro idem ano II nºs 56 1960 pp 26 GUINÉBISSAU 1 LÍRICA 119 Amílcar Cabral nasceu na GuinéBissau filho de pais caboverdianos Viveu em Cabo Verde desde criança e ali 112 concluiu o curso dos liceus Isto explica a natureza da sua poesia 120 Agnelo Augusto Regalla Poema de um assimilado in Conselho Nacional de Cultura GuinéBissau Mantenhas para quem luta 1977 p 15 121 António Cabral Somos crianças idem p 22 122 Hélder Proença Escreverei mais um poema idem p 51 123 Tony Davyes Desespero idem p 26 124 Jorge Ampla Cumelerbo O julgar pertence à história idem p 55 125 Kôte Sôba Quinty idem p 86 126 Tomás Paquete Ao acaso no mar idem p 93 127 António Simões Lopes Jr Abusivamente idem pp 2930 128 José Pedro Sequeira A vida real dos homens nossos irmãos idem p 67 129 Nagib Said A agonia dos impérios idem p 80 130 Carlos Almada Geba idem p 46 131 José Carlos Morte desenraizada idem p 61 132 Armando Salvaterra Depois de mim idem p 39 133 Justen Poema idem p 73 113 2 A EXPRESSÃO EM CRIOULO 134 Foi sempre considerável a comunidade caboverdiana na GuinéBissau Tenhamos presente que esta excolónia portuguesa esteve administrativamente vinculada a Cabo Verde até 1879 114 BIBLIOGRAFIA PASSIVA selectiva Nota Dada a impossibilidade de irmos além de uma bibliografia selectiva aceitamos correr o risco de qualquer omissão discutível ou involuntária Aconselhamos porém aos que estiverem interessados a consulta dos prefácios às antologias citadas no vol I ou II com destaque para os de Alfredo Margarido Mário Pinto de Andrade Jaime de Figueiredo António Aurélio Gonçalves Mário António Pires Laranjeira Serafim Ferreira e Manuel Ferreira Útil poderá ser também a leitura de prefácios a algumas das obras mencionadas como as de Agostinho Neto Costa Andrade Manuel Rui BobellaMota Por certo que a Bibliografia africana de expressão portuguesa de Gerald Moser e de Manuel Ferreira no prelo será um guia indispensável 115 GERAL BURNESS Donald Fire Six Writers from Angola Mozambique and Cape Verde Prof Manuel Ferreira Washington Three Continents Press 1977 CABRAL Amilcar O papel da cultura na luta pela independência Texto apresentado à UNESCO em Paris na reunião de 37 de julho de 1972 Também in Obras escolhidas de Amílcar Cabral vol 1 A arma da teoriaunidade e luta I textos coordenados por Mário de Andrade Lisboa Seara Nova 1976 p 234 247 CÉSAR Amândio Parágrafos de literatura ultramarina Lisboa 1967 346 p Novos parágrafos de literatura ultramarina Lisboa 1971 511 p HAMILTON Russel G Voices from an Empire A History of AfroPortuguese Literature University of Minnesota Press 1975 450 p 116 HERDECK Donald E African Authors a campanion to black African writing vol 1 13001973 Washington Black Orpheus Press 1973 XII605 p Inclui a biografia de 58 escritores africanos de língua portuguesa MARGARIDO Alfredo Incidences socioéconomiques sur la poésie noire dexpression portugaise In Diogène nº 37 Paris janeiromarço 1962 pp 5380 Panorama In C Barreto Estrada larga vol 3 Porto 1962 pp 482491 Sobre a poesia de S Tomé Angola e Moçambique integrada no tema geral A poesia postOrpheu Negritude e humanismo Lisboa Casa dos Estudantes do Império 1964 44 p MOISÉS Massaud Literatura portuguesa moderna Guia biográfico crítico e bibliográfico Ed Cultrix S Paulo Universidade de S Paulo 1973 202 p Contém a bibliografia de vários autores africanos e o cap Literatura do Ultramar p 102105 MOSER Gerald Essays in PortugueseAfrican Literature Col The Pennsylvania State University Studies 26 University Park Pensilvania Universidade do Estado da Pensilvânia 1969 8 88 p Contém um ensaio sobre Castro Soromenho 117 A tentative PortugueseAfrican bibliography Portuguese literature in Africa and African literature in the Portuguese language University Park Pennsylvania The Pennsylvania State University Libraries 1970 XI 148 psuplemento de 2 p 11 folha de err L How African is the African literature written in portuguese In Black African Review of National Literature vol 2 nº 2 Jamaica Long Island Estados Unidos outono 1971 pp 148166 NEVES João Alves das Vários artigos e críticas literárias in suplemento literário do Estado de S Paulo Brasil e na revista Anhembi cerca de 1960 a 1968 PINTO BULL Benjamim Regards sur la poésie africaine dexpression portugaise In LAfrique nº 2 Universidade de Dakar 1972 p 79117 PRETORODAS Richard A Negritude as a theme in the poetry of the PortugueseSpeaking World Col Humanities Monographs 3 Gainnsville University of Florida Press 1970 85 p RIÁUSOVA Helena A O papel das tradições estrangeiras na formação das literaturas africanas de expressão portuguesa In Problemas actuais do estudo das literaturas dÁfrica Moscovo 1969 p 10615 118 Formação das literaturas africanas de expressão portuguesa Moscovo Academia das Ciências da U R S S Instituto de Literatura Mundial Gorki 1970 20 p Acerca da literatura negra In Mensagem ano XV Estrada larga nº 3 Porto Porto Editora 1962 As literaturas da África de expressão portuguesa Moscovo Ed Nauka 1972 263 p Academia das Ciências da U R S S Instituto de Literatura Mundial Gorki Bibliografia TENREIRO Francisco Acerca da literatura negra In Mensagem ano XV nº 1 Lisboa Casa dos Estudantes do Império 1963 p 916 3233 e depois in Costa Barreto Estrada larga vol 3 Porto Editora 1962 Processo poesia In Mensagem ano XV nº 1 Lisboa Casa dos Estudantes do Império Abril 1963 p 410 TORRES Alexandre Pinheiro O neorealismo literário português Lisboa Moraes Editores 1976 226 p CABO VERDE ALMADA Maria Dulce de Oliveira Cabo Verde Contribuição para o estudo do dialecto falado no seu arquipélago Lisboa Junta de Investigações do Ultramar 1961 166 p Il 119 ARAÚJO Norman A study of Cape Verdean literature Boston Boston College 1966 225 p BARCELLOS Christiano José de Scena Subsídios para a história de Cabo Verde e Guiné Lisboa tip da Academia Real das Ciências de Lisboa 1899 a 1912 CABRAL Amilcar Apontamentos sobre a poesia caboverdiana In Cabo Verde ano III nº 28 Praia Cabo Verde janeiro 1952 p 58 CARDOSO Pedro Folclore caboverdeano Porto Edições Maranus 1933 120 p CARREIRA António Cabo Verde Formação e extinção de uma sociedade escravocrata 14601878 Lisboa Centro de Estudos da Guiné Portuguesa 1972 580 p Extensa bibliografia Il DUARTE Manuel Caboverdianidade e africanidade in Vértice XII nº 134 Coimbra 1954 p 639644 O primeiro ensaio sobre este tema FERREIRA Manuel As ilhas crioulas na sua poesia moderna In C Barreto Estrada larga vol 3 Porto Porto Editora 1962 pp 448454 120 A aventura crioula 2ª ed Lisboa Plátano Editora 1973 XXIX 442 p Extensa bibliografia Jorge Barbosa In J J Cochofel Grande dicionário da literatura portuguesa e de teoria literária em curso de publicação desde 1971 p 601604 O círculo do mar e o terralongismo em Chiquinho de Baltasar Lopes In COLÓQUIOLetras nº 5 Lisboa janeiro 1972 pp 6670 FRANÇA Arnaldo Notas sobre poesia e ficção caboverdianas Praia Cabo Verde 1962 23 p Sep Cabo Verde nova fase nº 1 157 outubro 1962 GÉRARD Albert S The literature of Cape Verde In African ArtsArts dAfrique vol 1 nº 2 Los Angeles inverno 1968 p 6670 GONÇALVES António Aurélio Alguns poemas de Osvaldo Alcântara In Cabo Verde nº 80 maio 1956 pp 913 Tratase de Baltasar Lopes Bases para uma cultura de Cabo Verde In Diário da viagem presidencial às províncias da Guiné e Cabo Verde Lisboa AgênciaGeral do Ultramar 1956 pp 159 177 121 LINA Mesquitela Pão fonema ou a odisseia de um povo Estudo analítico de um poema de Corsino Fortes Luanda Comité de Acção do PAIGC ANGOLA Casa Amílcar Cabral 1974 52 p LOPES Baltasar O dialecto crioulo de Cabo Verde Lisboa Imprensa Nacional de Lisboa 1957 391 p Cabo Verde visto por Gilberto Freyre Apontamentos lidos ao microfone de Rádio Barlavento Praia Cabo Verde Imprensa Nacional 1956 52 p Sep do Cabo Verde nº 84 a 86 Uma experiência românica nos trópicos I II In Claridade S Vicente Cabo Verde nº 4 1947 pp 15 22 e nº 5 1947 pp 110 LOPES Manuel Reflexões sobre a literatura caboverdiana ou a literatura nos meios pequenos In Colóquios cabo verdianos Lisboa Junta de Investigações do Ultramar 1959 p 122 LOPES Óscar Ficção caboverdiana In Modo de ler Porto Editorial Inova 1969 p 135147 MARIANO Gabriel Negritude e caboverdianidade In Cabo Verde ano IX nº 104 Praia Cabo Verde 1958 p 78 122 Em torno do crioulo In Cabo Verde ano IX nº 107 Praia Cabo Verde 1958 p 78 A mestiçagem seu papel na formação da sociedade caboverdiana In Cabo Verde nº 109 Praia Cabo Verde 1958 Do funco ao sobrado ou o mundo que o mulato criou In Colóquios caboverdianos Lisboa Junta de Investigações do Ultramar 1959 p 2349 Inquietação e serenidade Aspectos da insularidade na poesia caboverdiana In Estudos ultramarinos nº 3 Lisboa 1959 p 5579 Convergência lírica portuguesa num poeta cabo verdiano na língua crioula do séc XIX In II Congresso das comunidades de cultura portuguesa vol 2 Moçambique 1967 p 497510 Sobre Eugénio Tavares Uma introdução à poesia de Jorge Barbosa Praia Cabo Verde 1964 70 p MONTEIRO Félix Bandeiras da ilha do Fogo O senhor e o escravo divertemse In Claridade nº 8 S Vicente Cabo Verde 1958 pp 922 Cantigas de Ana Procópio In Claridade nº 9 S Vicente Cabo Verde 1960 pp 1523 123 NUNES Maria Luisa NUNES Mary Louise The phonologie of Cape Verdean dialects of portuguese Sep do Boletim de Filologia tomo XX Lisboa Centro de Estudos Filológicos 1963 56 p OLIVEIRA José Osório de Poesia de Cabo Verde Lisboa AgênciaGeral do Ultramar 1944 50 p não num RIÁUSOVA Helena A As literaturas das Ilhas de Cabo Verde e São Tomé In vários autores Literaturas contemporâneas da África Oriental e Meridional cap VI pp 224258 Moscovo Idotelstvo Nauk 1974 ROMANO Luís Literatura caboverdiana In Ocidente vol 70 nº 335 Lisboa março 1966 p 105116 Cabo Verde Renascença de uma civilização no Atlântico Médio Sep Ocidente Lisboa 1975 212 p SILVEIRA Onésimo Consciencialização na literatura caboverdiana Lisboa Casa dos Estudantes do Império 1963 32 p SILVEIRA Pedro da Relance da literatura caboverdiana I II III In Cultura e Arte dO Comércio do Porto Porto 24 dezembro 1953 27 abril 1954 e 13 julho 1954 SOUSA Teixeira de A estrutura social da ilha do Fogo em 1940 In Claridade nº 5 S Vicente Cabo Verde 1974 pp 42 44 124 Sobrados lojas e funcos In Claridade nº 8 S Vicente Cabo Verde 1958 pp 28 TENREIRO Francisco José Cabo Verde e S Tomé e Príncipe Esquema de uma evolução conjunta In Cabo Verde ano VII nº 76 Praia Cabo Verde janeiro 1956 p 1217 VALKHOFF Marius F Textos crioulos caboverdianos por Sérgio Frusoni Lisboa Silvas C T G scarl 1975 Sep Miscelânea Luso Africana Junta de Investigações do Ultramar pp 165 203 Contém algumas poesias e um conto em crioulo com tradução em português de M Valkhoff que prefaciou a obra S TOMÉ E PRÍNCIPE MARGARIDO Maria Manuel De Costa Alegre a Francisco José Tenreiro In Estudos Ultramarinos nº 3 Lisboa Instituto Superior dos Estudos Ultramarinos 1959 p 93107 RIÁUSOVA Helena A As literaturas das Ilhas de Cabo Verde e São Tomé Vide Cabo Verde SANTO Alda do Espírito Algumas notas sobre o falar dos nativos da ilha de S Tomé In Conferência Internacional dos Africanos Ocidentais S Tomé 1956 125 REIS Fernando Povô flogá O povo brinca Folclore de São Tomé e Príncipe Edição da Câmara Municipal de São Tomé e Príncipe Lisboa Tip Bertrand Irmão Lda 1969 241 p Além do mais contém as peças O Tchiloli ou a tragédia do Marquês de Mântua e do imperador Carloto Magno e o Auto de Floripes RIBAS Tomaz O tchiloli ou as tragédias de São Tomé e Príncipe In Espiral vol 1 nº 67 Lisboa 1965 p 7077 GUINÉ BISSAU BARROS Marcelino Marques de O Guineense In Revista Lusitana vol II pp 166 e 268 vol V pp 174 e 271 vol VI p 300 vol X pp 306310 PINTO BULL Benjamim Le créole de la GuinéBissau Structures grammaticales philosophie et sagesse à travers ses surnoms ses proverbes et ses expressions Université de Dakar Centre de Hautes Études AfroIberoAmericaines Faculté des Lettres Sciences Humaines 1975 55 p1 folha err TENDEIRO João Aspectos marginais da literatura da Guiné Portuguesa In Estudos Ultramarinos nº 3 Lisboa Instituto Superior dos Estudos Ultramarinos 1959 93107 126 ÍNDICE DE AUTORES OBRAS E TEMAS 127 A A tentative PortugueseAfrican bibliography Portuguese literature in Africa and African literature in the Portuguese language 117 A terra de meu pai 29 A Tribuna 28 A vida real dos homens nossos irmãos 112 A virgem e o menino mortos de fome 22 29 A Voz de Cabo Verde 98 A culturação caboverdiana 22 A agonia dos impérios 112 A Aurora 16 19 Acto Colonial 12 A aventura crioula 98 100 120 A Civilização da África Portuguesa 97 A conquista da poesia 43 104 A cultura na problemática da libertação nacional e do desenvolvimento à luz do pensamento de Amílcar Cabral 107 A estrutura social da ilha do Fogo 123 A harpa de Vanadio 98 A João Santa Rosa 111 A ilha e a solidão 58 A literatura africana de expressão portuguesa 7 8 10 A literatura portuguesa e a expansão ultramarina 8 A mentira vital 98 A mestiçagem Seu papel na formação da sociedade cabo verdiana 122 A partida 108 A primeira viagem 12 A revolta 85 A study of Cape Verdean literature 119 Abusivamente 112 Academia Cultivar 106 Àcerca da literatura negra 118 Aconteceu no morro 82 111 128 África 7 8 9 46 52 81 95 110 África é nossa 111 African ArtsArts dAfrique 120 African Authors 116 Africanidade 15 Agrupamento da ilha 83 Ainda os nossos poetas 100 Albasini João 27 Alcântara Osvaldo 39 41 42 74 120 Alegre Caetano da Costa 29 30 31 76 78 80 102 Aleixo Rodrigo 23 Alfama Jorge Miranda 51 52 74 Alfama José Bernardo 70 Algumas notas sobre o falar dos nativos da ilha de S Tomé 124 Almada Carlos 90 112 Almada Maria Dulce de Oliveira 109 118 AlmadaNegreiros 80 Almanach de Lembranças 27 Almanach Luso Africano 19 28 70 Amarilis Orlanda 62 68 Almas negras 11 Almeida José Evaristo d 20 21 98 Almeida Viana de 67 82 Álvares Afonso 95 Alvarez Manuel Vide Nuno de Miranda Amado Jorge 43 Amilcar Cabral e a reafricanização dos espíritos 107 Amilcar Cabral Apontamentos sobre a poesia cabo verdiana 107 Ambiente 36 103 América 7 67 Amor perfeito 98 Amores de urna creoula 21 98 Ana a Kalunga 11 Anahory Terêncio 46 50 105 Anais das Missões Ultramarinas 28 Andrade Costa 87 114 129 Andrade Mário 74 107 114 Andrade Mário Pinto de Vide Mário de Andrade Alcântara Oswaldo Vide Baltasar Lopes Angola 8 9 14 15 17 19 25 26 32 50 58 81 89 94 96 97 100 António M 114 Antologia da ficção caboverdiana contemporânea 62 107 Antologia da poesia africana de expressão portuguesa 105 Antonias ou o caso do bairro Estephania 97 Araújo Norman 119 Ao caso no mar 112 Aparecimento de uma actividade cultural regular em Angola 8 Apontamentos sobre a poesia caboverdiana 106 107 119 Arquipélago 36 103 Arteaga António de 21 98 As ilhas crioulas na sua poesia moderna 119 As literaturas da África de expressão portuguesa 118 As literaturas das ilhas de Cabo Verde e São Tomé 123 124 Aspectos marginais da literatura da Guiné Portuguesa 125 Ásia 7 Associação Literária Angolana 19 Associação Literária Grémio Caboverdiano 98 Atlântico 69 109 Auá 85 Augusto Artur 85 Augusto Silvério Ferreira Perfil biográfico e alguns aspectos da sua vida 97 Aulete Caldas 94 Auto de Floripes 29 Azevedo Osvaldo 74 Azevedo Pedro Corsino 39 40 103 B 130 Bandeira Manuel 38 Barbosa Jorge 35 36 37 38 39 40 45 52 103 Barbosa Mário Macedo 70 Barcelos Christiano José de Senna 94 119 Barros João de 7 Barros Manuel Alves de Figueiredo 23 Barros Marcelino Marques de 27 125 Barreto Joaquim Augusto Maria 23 Beira Caes 65 Bibliografia passiva selectiva 114 Biblioteca da cidade da Praia C Verde 94 Biblioteca da Companhia de Diamantes de Angola Lisboa 95 Biblioteca Nacional de Lisboa 97 98 Bilinguismo caboverdiano 69 109 Bobella Mota 114 Boletim Cultural da Guiné Portuguesa 86 Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa 28 Boletim de Filologia 123 Boletim dos Alunos do Liceu Gil Eanes 54 Boletins Oficiais Cabo Verde 93 97 Angola 97 Moçambique 97 S Tomé e Príncipe 97 GuinéBissau 97 Bosquejo dum passeio ao interior da ilha de S Thiago 21 99 Brasil 22 26 57 Bruhl Levy 11 C Cabo Verde 19 20 21 22 24 25 28 32 35 43 58 59 69 73 86 89 91 93 94 97 98 99 100 102 104 106 107 111 113 118 119 120 121 122 123 124 Caboverdeamadamente construção meu amor 55 56 105 Cabo Verde Contribuição para o estudo do dialecto crioulo 117 118 131 Cabo Verde Contribuição para o estudo do dialecto falado no seu arquipélago 109 118 Cabo Verde e S Tomé e Príncipe 121 122 Cabo Verde e S Tomé e Príncipe Esquema de uma evolução conjunta 102 Cabo Verde formação e extensão de uma sociedade escravocrata 16401878 100 119 Cabo Verde Renascença de uma civilização no Atlântico Médio 123 Cabo Verde visto por Gilberto Freyre 34 99 121 Caboverdianidade 24 Caboverdianidade e africanidade 119 Cabral Alexandre 96 Cabral Amilcar 25 59 60 86 89 106 111 115 119 Cabral António 88 112 Caderno de um ilhéu 36 Cadornega António de Oliveira 9 95 Caes de ver partir 43 CaesdoSodré té Salamansa 68 Camacho Brito 12 Caminhada 48 70 104 Caminho longe 50 66 105 Caminhos 111 Camões 7 Cancioneiro 7 Cancioneiro da ilha 43 104 Cancioneiro da saudade e da morte 100 Canções crioulas 70 Cântico de ferro 50 105 Cantiga da minha ilha 105 Capitão Ambrósio 50 105 Cardoso António Mendes 57 Cardoso Nuno Catarino 100 Cardoso Pedro 23 24 46 70 71 101 104 109 119 Carlos José 90 91 112 Carreira António 100 119 132 Carta do padre António Vieira escrita de Cabo Verde ao padre confessor de sua alteza indo arribado aquelle Estado 99 Casimiro Augusto 11 Cartilha Nacional 94 Cartilha racional para se aprender o kimbundo escrito segundo a Cartilha Maternal do Dr João de Deus 97 Carvalho Norberto Tavares Vide Kôte Castro José Monteiro 80 Casagrande e senzala 34 Casa dos Estudantes do Império 80 103 114 contos angolanos 18 Certeza 35 42 43 44 47 68 72 73 104 107 César Amândio 115 Chagas Manuel Pinheiro 10 Chatelain Héli 18 Chaves Castelo Branco 67 Chelmichi José Conrado Carlos de 93 Chiquinho 60 Chuva brava 63 Cidade Hernâni 8 80 Circe 98 Clamor Africano 26 Claridade 24 26 32 35 39 41 42 47 48 52 54 58 60 61 62 63 64 67 70 71 72 73 85 103 104 108 109 121 122 123 124 Clima 57 106 Cochofel João José 120 Coisificação do homem negro 17 Coladeira 70 COLÓQUIOLetras 104 109 120 Colóquios caboverdianos 100 121 122 Comunicado 106 Conferência Internacional dos Africanos Ocidentais 124 Congo 96 Conselho Nacional de Cultura da GuinéBissau 112 Consciência regional Cabo Verde 34 133 Consciencialização na literatura caboverdiana 64 123 Contos e cantares africanos 28 Contos novos 98 Contos populares e lendas 28 Contos populares de Angola 18 Contos selvagens 12 Contos singelos Nhô José Pedro ou Scenas da ilha Brava 21 99 Contra mar e vento 67 Contributo para a história da Imprensa em Moçambique 26 Convergência lírica portuguesa num poeta caboverdiano na língua crioula do séc XIX 122 Corografia caboverdiana ou Descripção GeográficaHistórica da Província das ilhas de CaboVerde e Guiné 93 Costa Jorge António da Vide Jorge Ampla Cumelerbo Costa Luiz Theodoro de Freitas e 23 Costa Teófilo José da 97 Couto Diogo do 7 Couto Ribeiro 38 Crioulo e outros poemas 103 Cronologia de Angola manuscrito 97 Cultura II 111 Cultura e Arte do Comércio do Porto 108 123 Cultura de Voz di Povo 106 Cumelerbo Jorge Ampla 89 112 Curcutiçans 70 D D Afonso de Portugal 95 Dambará Kaoberdiano 71 Dantas Guilherme A da Cunha 21 99 Davyes Tony Vide António Sérgio Maria De Costa Alegre a Francisco José Tenreiro 124 Delírios 18 134 Depois de mim 112 Desalentos 96 Descobertas e expansão 7 8 93 Despedida breve 96 Desespero 112 Diário da Manhã 16 38 103 Diário Popular 98 Dias Estácio 27 Diogène 116 Discurso da acção colonizadora 12 13 Distância 65 Do fundo ao sobrado ou o mundo que o mulato criou 99 100 Dois escritores quinhentistas de Cabo Verde André Álvares de Almada e André Dornelas 95 Domingues Mário 80 82 Dornelas André 9 12 poemas de circunstância 47 Drama 69 109 Dramas da pesca da baleia 22 99 Dramática Associação Igualdade 98 Duarte Fausto 85 86 Duarte Pedro 62 74 Duarte Custódio José 23 Duarte Manuel 119 E Elegia à memória das infelizes victimas assassinadas por Francisco de Mattos Lobo na noute de 25 de junho de 1844 9 Eloy Mário 80 Em torno da minha baía 110 Emigração 108 Ensaios literários 19 Ensino oficial 8 135 Ensino particular 8 Equathoriais 28 Era de ouro 41 103 Escreverei mais um poema 112 Espiral 125 Espontaneidades da minha alma 9 15 96 Estrada larga 116 118 119 Essays PortugueseAfrican Literature 116 Estudos Ultramarinos 122 124 125 Evocação do Recife 34 Ensaio de dicionário kimbundoportuguês 97 Ensino 93 Ervedosa Carlos 97 Expressão em crioulo 82 91 113 Exemplo dúbio 105 Exemplo geral 105 Exemplo relativo 105 Expresso 107 Evasionismo 64 108 F Famintos 64 Ferreira José da Silva Maia 9 15 96 Ferreira Lourenço do Carmo 18 Ferreira Serafim 114 Ficção caboverdiana 121 Figueira Manuel 74 96 100 103 106 107 111 114 115 119 Figueiredo Jaime de 24 59 69 74 109 114 Filipe Daniel 58 59 106 Finançons 70 Flirts 98 Flores cinzentas 98 Fogo ilha 67 136 Folclore caboverdeano 24 109 119 FolkTales of Angola 18 Fonseca Aguinaldo 46 104 Fonseca Jorge Carlos da 73 74 Fonseca Mário 51 57 73 74 Fontes Amândio 34 Foram estes os vencidos 85 Formação das literaturas africanas de expressão portuguesa 117 118 Fortes Corsino 54 57 71 74 105 121 Foz do Zaire 8 93 França Arnaldo 43 74 104 107 120 França JoséAugusto 96 Freire Maria da Graça 12 Freyre Gilberto 34 Frusoni Sérgio 70 71 72 Furtado J Cândido 15 96 G Galinha branca 41 103 Galvão Henrique 11 Gazeta de Portugal 97 Geba 112 Gente da ilha 66 Gérard Albert S 120 Góis Damião de 7 Gobineau 11 Gonçalves António Aurélio 62 67 74 107 114 120 Gonzaga Tomás António 26 Gorgulho governador 110 Graça Leitão 62 Grande dicionário da literatura portuguesa e de teoria literária 120 Gregório Pedro 74 Gritarei berrarei matareiNão Vou para Pasárgada 48 105 137 Grupo Desportivo e Cultural do Banco Nacional Ultramarino 86 Guerra Henrique 87 Guillén Nicolás 74 78 Guiné 9 GuinéBissau 25 27 28 32 85 86 87 89 94 97 107 111 112 113 125 H Hamilton Russel G 115 Herdeck Donald E 116 Hespérides 101 Histórias do Zaire 96 História geral das guerras angolanas 95 Hora di bai partida 108 Hora grande 47 104 Horas sem carne 105 Horizonte aberto 56 106 How African is the African literature written in portuguese 117 I Ilha 60 106 107 Ilha de Santiago 20 74 Ilha do Príncipe 80 Incidences socioéconomiques sur la poésie noire dexpression portugaise 116 Influência brasileira 34 Inquietação e serenidade Aspectos da insularidade na poesia caboverdiana 122 Irmão branco 58 Itinerário da literatura angolana 97 138 J Jahn Janheinz 95 Matta Jaquim Ria Vide Joaquim Dias Cordeiro da Mata Jardim das Hespérides 104 Jorge Barbosa 120 Jornal de Angola 97 Jornal do Comércio e das Colónias 16 Jornalismo 18 19 ver para trás Joaquim Vide Joaquim Namorado Juca a Matumbolla 16 96 Justen Vide Justino Nunes Monteiro K Kondé Kwams 56 57 106 Kordá Kaoberdi 56 71 106 Kôte 89 112 L Lar 57 106 Laranjeira Pires 114 Le créole de la GuinéBissau 125 Leite Januário 24 101 Lemos João de 11 Lepecki Maria Lúcia 68 109 Ler e depois 108 Letras e Artes 52 Liberdade de expressão 8 Lima Gertrudes Ferreira 23 Lima Júnior Armando 56 139 Lima Jorge de 38 Linha do horizonte 46 104 Língua caboverdiana 61 72 Lírica 34 76 85 102 110 111 Líricas portuguesas 103 Lisboa 9 17 18 19 20 27 30 44 50 62 66 67 68 8082 Literatura angolana 15 77 Literatura caboverdiana 123 Literatura colonial 9 10 14 17 20 21 32 85 95 Literatura contemporânea da África Oriental e Meridional 123 Literatura dos negros 27 Literatura moçambicana 77 Literatura portuguesa moderna 116 Livro da dor 27 Lopes Baltasar 34 39 41 60 61 63 74 99 103 107 109 120 121 Lopes Francisco 62 Lopes José 23 24 100 101 Lopes Jr António 89 112 Lopes Manuel 39 40 60 63 64 103 121 Lopes Óscar 63 108 121 Luanda 15 16 18 19 65 Lusíadas 12 Luz e Crença 19 Lyceu Nacional da Província de Cabo Verde 93 LzimparimNegrume 71 M Macedo António Dias 9 95 Maiá Póçon 82 Machado Pedro Félix 17 96 Magia negra 46 Mákuà 105 Mamãe 45 140 Manuel de littérature néofricaine 95 Mantenhas para quem luta 32 87 91 112 Marecos Ernesto 16 96 Mariano João 23 Marky Sum 82 Margarido Maria Manuela 79 110 124 Margarido Alfredo 80 110 111 114 116 Maria António Sérgio 89 Mariano Dante 56 106 Mariano Gabriel 46 47 49 52 62 65 66 71 98 99 104 105 121 Marinheiro em terra 58 Marques José Ferreira Vide Sum Marky Martins Ovídio 46 48 49 52 62 65 70 71 73 74 104 Martins Rolando VeraCruz 51 52 105 Martins Tomaz 43 104 Mascarenhas Maria Margarida 62 Massacre de Batepá S Tomé 110 Matta J Dias Cordeiro da 15 18 97 Medeiros Tomaz 79 83 111 Memórias de um rapaz pobre 21 99 Mensagem Angola 32 Mensagem Casa dos Estudantes do Império 103 107 111 Mentalidade prélogica 11 Mestre de gramática S Tiago C Verde 94 Meu canto Europa 111 Miranda Nuno 43 62 66 104 Missiva 58 106 Moçambique 16 19 25 26 27 32 81 89 93 94 97 101 122 Modernos autores portugueses 82 Modernos poetas caboverdianos 59 Modo de ler 121 Moisés Massaud 116 Monteiro Justino Nunes 91 Monteiro Júnior José Maria de Sousa 23 Morazzo Yolanda 46 50 105 141 Morna 38 70 Mornas Cantigas crioulas 70 109 Morte desenraizada 112 Moser Gerald 95 114 116 Mota A Teixeira da 95 Msaho 32 Museu Nacional da cidade da Praia C Verde 94 N Nacionalismo imperial 13 Nada nos separa 104 Namorado Joaquim 110 Narrativa 60 82 107 111 Natureza morta 96 Nga Mutúri 16 Negreiros António Almada 28 Negrismo 31 Negritude 15 35 76 77 80 Negritude as a theme in tbe poetry of the Portuguese Speaking World 117 Negritude e caboverdianidade 121 Negritude e humanismo 116 Neorealismo 35 Neto Agostinho 114 Neves Eduardo 15 Neves João Teixeira das 12 New York Public Library 95 No reino de Caliban 59 96 103 106 111 Nô Pintcha 107 Noite de vento 68 Nôs Vida 52 Nossa terra 109 Notas sobre poesia e ficção caboverdianas 43 120 Notícias de Cabo Verde 51 142 Nova largada 11 Noti 71 Nunes António 44 45 104 Nunes João José 23 Nunes Maria Luísa 123 Nunes Mary Louise Vide Maria Luísa Nunes O O Brado Africano 27 O Africano 26 27 O Comércio de Luanda 19 O círculo do mar e o terralongismo em Chiquinho de Baltasar Lopes 120 O Diabo 110 O dialecto crioulo de Cabo Verde 109 121 O Dr Duprat 96 O Echo de Angola 18 O Equador 29 97 O enterro de nha Candinha Sena 68 O escravo 20 21 98 O filho adulterino 96 97 O galo que cantou na baía 63 O Guineense 125 O Independente 97 O julgar pertence à história 112 O luandense da alta e da baixa esfera estudo crítico e analítico 97 O menino entre gigantes 82 O Mundo Português 85 O negro sem alma 85 O papel da cultura na luta pela independência 115 O papel das tradições estrangeiras na formação das literaturas africanas de expressão portuguesa 117 O primeiro livro de Notcha 52 105 O Progresso 97 143 O rapaz doente 65 O sangue das rosas 98 O sertão 19 O tchiloli ou A tragédia do Marquês de Mântua e de Carloto Magno 29 O tchiloli ou as tragédias de São Tomé e Príncipe 125 O vélo doiro 11 O vigilante 26 Obra poética de Francisco José Tenreiro 77 110 Oceania 7 Ocidente 123 Oliveira José Osório de 12 123 Onde estão os homens caçados neste vento de loucura 78 110 Origem da poesia angolana 9 Orta Garcia de 7 Os esotéricos 98 Os flagelados do vento leste 64 Osório Oswaldo 51 52 55 57 62 71 74 105 Os sertões dAfrica 10 P PAIGC 25 59 87 107 Padres Jesuítas de Angola 8 Paisagem 111 Paquete Tomás 89 112 Panorama 104 116 Pão fonema 54 105 Para ti Mãe Iva 107 Paz 44 Paz 3 104 Pascoaes Teixeira de 12 Pedro António 38 39 59 103 Pedro Jorge 57 59 70 144 Pereira Duarte Pacheco 7 Philosophia popular em provérbios angolenses 18 Pinto Fernão Mendes 7 Pinto Francisco António 96 Pinto Mário Duarte 23 Pinto Bull Benjamim 85 117 125 Pires António 12 Pires Aydeia Avelino 62 Pires Virgílio 57 59 62 Poema 105 Poema 112 Poema de amanhã 44 Poema de um assimilado 112 Poema para depois 106 Poemas 86 Poemas de longe 44 104 Poemas caboverdianos 58 Poema para tu decorares 104 Poema sem tempo 105 Poesia de Cabo Verde 123 Poetas de S Tomé e Príncipe 80 110 111 Poetas modernos caboverdianos 24 Poilão 86 87 Poetisas portugueses 100 Prelo nas excolónias 8 9 94 96 114 Presença 34 Presença crioula 62 Preto Alves 82 111 PretoRodas Richard A 117 Primeiro escritor africano de língua europeia 95 Primeiros periódicos não oficiais 97 Poetas de S Tomé e Príncipe 80 110 111 Povô flogá 125 Processo poesia 118 Pródigo 68 PróGuiné 27 86 97 Proença Helder 88 112 145 Pusich Antónia Gertrudes 9 19 Q Quem é que não se lembra 60 106 Quituxi 16 R Raízes 73 74 107 Ramos Artur 34 Raposo Hipó1ito 11 12 Recordai do desterro no dia de S Silvestre de 1957 41 Rebelo Marques 34 Reino do Congo 8 Reis Fernando 125 Reflexões sobre a literatura caboverdiana ou a literatura nos meios pequenos 121 Regalla Agnelo Augusto 87 112 Regards sur la poesie africaine dexpression portugaise 117 Rego José Lins do 34 Regresso 107 Regresso do homem negro 111 Relance da literatura caboverdiana 123 Renascença 103 Repique do sino 110 Revelação 104 Revista Lusitana 28 125 Revolução 57 73 88 Riáusova Helena A 117 123 124 Ribas Tomaz 125 Ritmo de pilão 45 104 Rocheteau Guilherme 43 104 Roça 110 146 Rodrigues João 62 Rodrigues Sebastião 95 Romance íntimo 17 96 Romano Luís 57 62 64 65 71 106 107 123 Rosa Guimarães 61 Rosa Jorge Eduardo 18 Roteiro de África 12 Rui Manuel 114 Rumo ao degredo 85 S S Tomé 66 82 S Tomé e Príncipe 25 28 29 32 80 81 82 89 93 94 97 102 110 111 124 S Vicente Cabo Verde 67 68 106 Saga 104 Said Nagib 90 112 Salvaterra Armando 90 112 Salema Álvaro 67 Sangazuza 83 Sangue cuanhama 12 S Paulo de Assunção de Luanda 117 Sarmento Alfredo de 10 Santo Alda do Espírito 78 110 124 Santo Antão C Verde 20 64 65 71 Scenas dÁfrica 17 96 Seara Nova 60 Segue o teu rumo irmão 60 106 II Congresso das comunidades de cultura portuguesa 122 Semedo Carlos 86 Sequeira José Pedro 89 112 Sèló 35 51 52 62 73 Seminário Liceu da ilha de S Nicolau 70 Seminário eclesiástico da diocese de Cabo Verde 94 147 Sena Jorge de 37 103 Sentimento de cor na literatura caboverdiana 23 Sentimento nacional 14 25 32 96 Serra Manuel 62 Silva António Corsino Lopes da 23 Silveira Onésimo 47 49 52 62 64 65 104 108 123 Silveira Pedro da 103 123 Sobrados lojas e funcos 124 Sociedade Gabinete de Leitura Praia C Verde 94 98 Soba Quinty 112 Socopé 83 Somos crianças 112 Sonetistas portugueses e lusobrasileiros 100 Sorbonne 85 Soromenho Castro 67 Sorrisos 96 Sousa Teixeira de 62 67 123 Stockler Francisco 83 Subsídios para a história de Cabo Verde e Guiné 94 Suplemento Cultural 35 46 47 50 73 102 Sukre DSal 56 57 71 106 T Tacalhe 56 57 71 73 74 106 Tavares Eugénio 21 23 70 71 72 99 108 109 122 Tchuchinha 65 Teixeira António Manuel 19 70 Tendeiro João 125 Tenreiro Francisco José 32 76 77 78 80 82 102 110 118 124 Terra de sôdade argumento para bailado folclórico 69 109 Terra quente 96 Terralongismo 108 The phonologie of Cape Verdean dialects of portuguese 123 148 The literature of Cape Verde 120 Tiofe Timóteo Tio 52 53 57 105 Toda a gente fala sim senhor 65 Torres Alexandre Pinheiro 28 118 Tratado breve dos reinos ou rios da Guiné 9 Troni Alfredo 16 17 U Uma experiência romântica nos trópicos 109 121 Um homem igual a tantos 82 111 Uma introdução à poesia de Jorg Barbosa 122 Uma teima 96 UNESCO 115 V Varela João Manuel Vide Timóteo Tio Tiofe Vário João Vide Timóteo Tio Tiofe Vasconcelos Henrique de 19 98 Vasconcelos J Leite 28 Vasconcelos Medina 23 Veiga Marcelo 80 111 VeraCruz Rolando Vide Rolando VeraCruz Martins Versos 29 30 31 102 Vértice 51 52 105 119 Viagem para além da fronteira 58 106 Vicente Gil 7 95 Vida Colonial 100 Vida Contemporânea 100 Vida crioula 65 Vida e morte de João Cabafume 65 66 Videira António Gonçalves 12 Vida creoula na América 21 99 149 Vieira António 22 99 Vieira Arménio 51 57 71 73 74 105 Vieira José Luandino 61 Vila flogá 82 Vinte anos depois 21 99 Virgens loucas 68 109 Virgínio Teobaldo 58 62 65 106 Voices from an Empire A History of AfroPortuguese Literature 115 Voz da Pátria 28 Voz di Povo 57 62 106 109 Vozes 106 107 Z Zurara Gomes Eanes de 7