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Texto de pré-visualização

Vilson J Leffa organizador 2ª edição Produção de materiais de ensino prática e teoria EDUCAT PRODUÇÃO DE MATERIAIS DE ENSINO TEORIA E PRÁTICA Universidade Católica de Pelotas UCPel Chanceler D Jayme Henrique Chemello Reitor Alencar Mello Proença PróReitora de Graduação Myriam Siqueira da Cunha PróReitor Administrativo Carlos Ricardo Gass Sinnott PróReitora de PósGraduação Pesquisa e Extensão Vini Rabassa da Silva Diretor da Escola de Educação Pedro Ernesto Andreazza Coordenadora do Programa de PósGraduação em Letras Carmen Lúcia Barreto Matzenauer EDUCAT Editora da UCPel Editor Wallney Joelmir Hammes Conselho Editorial Wallney Joelmir Hammes Presidente Lino de Jesus Soares Luciano Vitória Barboza Luiz Roberto Bitar Real Vilson José Leffa Rua Félix da Cunha 412 96010000 Pelotas RS Fone 53 21288297 Fax 53 32253105 Email educatphoenixucpeltchebr PRODUÇÃO DE MATERIAIS DE ENSINO TEORIA E PRÁTICA 2ª edição Pelotas EDUCAT Editora da Universidade Católica de Pelotas 2007 2007 Editora da Universidade Católica de Pelotas Impresso no Brasil Printed in Brazil Todos os direitos reservados à EDUCAT Rua Félix da Cunha 412 96010000 Pelotas RS Brasil Fone 53 21288297 Fax 53 32253105 Email educatphoenixucpeltchebr httpeducatucpeltchebr Tiragem 500 exemplares ISBN Capa e projeto gráfico Daniel Clós Cesar danielclosterracombr Editoração Jaqueline da Silva Oliveira jackieoterracombr P964 Produção de materiais de ensino teoria e prática organizado por Vilson J Leffa 2ed rev Pelotas Educat 2007 206p 1 Línguas estudo e ensino 2 Línguas métodos de ensino 3 Materiais de ensino produção I Leffa Vilson J org CDD 3713 Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Cristiane de Freitas Chim CRB 101233 Sumário Apresentação da segunda edição 7 Introdução 9 1 Como produzir materiais para o ensino de línguas 15 Vilson J Leffa 2 Autonomia critérios para escolha de material didático e suas implicações 43 Christine Nicolaides Vera Fernandes 3 Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário em sala de aula 69 Teresinha dos Santos Brandão Luiz Gustavo Ribeiro Araújo 4 Uma proposta para o ensino de línguas próximas 97 Cristina Pureza Duarte Boéssio 5 Produção de materiais para o ensino de pronúncia por meio de músicas 109 Denize NobreOliveira 6 Regras práticas para a criação de transparências com mídias eletrônicas 125 Adriano Nobre Oliveira 7 O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas sobre a produção de materiais para a aprendizagem via web ou mediada por computador 145 Rafael VetromilleCastro 8 Produção de livros da prática à teoria 173 Nara Widholzer Daniel Clós Cesar APRESENTAÇÃO DA SEGUNDA EDIÇÃO O que mudar ou manter é sempre um desafio quando se lança a edição nova de um livro Há o pressuposto de que o livro de algum modo tenha agradado ao público o que poderia significar que ele deveria permanecer como está partindose aí da premissa de que não se mexe em time que está ganhando Por outro lado sabemos que o mundo está num processo acele rado de mudança o que significa que uma segunda edição deve não só refletir essas mudanças mas até antecipálas O que es peramos ter conseguido com esta edição é ter mudado o que poderia ser melhorado e ter mantido como estava aquilo que 8 não tinha a mínima possibilidade de mudança sem prejuízo do resultado final O que mudou no livro e o que mudou no mundo As mu danças no livro são mais de ordem estrutural tanto em termos de apresentação gráfica como em termos de conteúdo Muda mos o design substituindo a capa e alterando a editoração mas mudamos também o conteúdo dos capítulos uns mais do que outros As mudanças no mundo já são de intensidade mais do que estruturais O que houve foi um crescimento muito grande do interesse pela produção de materiais didáticos Esse interesse ampliouse em vários lugares envolvendo órgãos governamen tais através de inúmeros projetos de desenvolvimento e de ins tituições de ensino superior através de projetos de pesquisa oferta de disciplinas e até de cursos sobre produção de ma teriais Exemplos desse aumento de interesse podem ser notados por exemplo na iniciativa da FUNAI com a criação da Comis são de Apoio e Incentivo à Produção e Edição de Material Di dático Específico Indígena no Programa de Incentivo à Produ ção de Material Didático da USP no Laboratório de Produção de Material Didático na UFMG na oferta de disciplinas para a produção de materiais na graduação e pósgraduação além de cursos de especialização voltados especificamente para a área Foi sem dúvida esse aumento de interesse que contribuiu para o lançamento desta segunda edição Esperamos de nossa parte poder também contribuir para a área realimentando esse interesse Pelotas março de 2007 Vilson J Leffa Organizador INTRODUÇÃO Este livro é de professores para professores Nasceu de uma turma criativa de alunos do Curso de Mestrado em Letras da Universidade Católica de Pelotas na disciplina de Produção e Avaliação de Materiais Depois que nasceu se me permitem uma metáfora não tão criativa cresceu robusto e forte e incorporou mais dois professores da própria universidade Aí cresceu mais e saiu de casa reunindo mais dois autores Antes de ser lançado já estava ficando famoso e começou a atrair mais autores com a oferta de mais doações mas então resolvi exercer meu autoritarismo e dar um basta o livro não podia crescer mais já estava adulto e precisava sair de casa Com mais autores perde ríamos o controle da situação e poderíamos até chegar ao ponto 10 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática de nem saber mais quem era o pai da criança Afinal queríamos um livro e não uma enciclopédia Um livro que fosse prático fácil de usar e extremamente útil para os professores reunindo num só lugar informações que não só estão espalhadas pelo mundo mas que também são muitas vezes difíceis de serem encontradas Este livro é filho do Século XXI Nasceu para atender às necessidades de hoje usando os recursos de hoje O professor atualmente tem nas mãos acesso a um mundo de informações e recursos que seriam impensáveis há alguns anos Na década de 1980 por exemplo a editora Collins em convênio com a Uni versidade de Birmingham investiu milhões de libras esterlinas para construir uma base de dados lingüísticos que seria usada para a produção de material didático e de dicionários Hoje esse investimento milionário equivale em termos de acervo a uma fração do que está disponível ao professor através principal mente da Internet Estamos no meio de um oceano de informa ções e como diria Casimiro de Abreu o que é maior do que o oceano minha mãe Maior do que o oceano meu filho é a idéia Glauber Rocha se estivesse vivo talvez dissesse que ninguém segura um professor com uma idéia na cabeça e um computador em algum lugar Emily Dickinson provavelmente acrescentasse que se não tivesse o computador bastaria a idéia Isso como se percebe deixa o professor sem opção de reclamar Pode até di zer que não tem recursos o que talvez seja uma meia verdade mas não pode dizer que não tem uma idéia na cabeça O poten cial para a produção de materiais de ensino está disponível ao professor este livro vai dar algumas dicas de como usar esse potencial Seu pressuposto teórico básico é de que o trabalho do pro fessor na escola é mediado por artefatos culturais entre os quais se incluem como os mais relevantes os materiais didáticos Introdução 11 preparados pelo próprio professor A elaboração do material di dático atende a dois objetivos principais que se complementam de um lado visa a tornar o professor mais presente no seu traba lho pedagógico de outro tem o objetivo de assistir o desempe nho do aluno na aquisição das competências desejadas A idéia é de que pela mediação do material produzido a interação entre o professor e o aluno fique mais intensa e produza melhores resultados em termos de aprendizagem Partindo desse pressuposto de que o material preparado pelo professor amplia sua atuação procurase através dos oito capítulos que compõem este livro responder a algumas ques tões práticas e pontuais Quais são os passos que devem ser se guidos para se elaborar um material de ensino Qual é a relação entre material produzido e a autonomia do aluno De que modo as questões ideológicas podem ser apresentadas no ensino da língua materna Que aspectos destacar no ensino de uma língua estrangeira que pode ser considerada muito semelhante à língua materna Como motivar o aluno na aprendizagem de aspectos difíceis da língua estrangeira Como preparar material para uma apresentação oral Como montar uma página para ser hospeda da na Internet Como preparar os originais de um livro O livro começa definindo o que normalmente se entende por produção de materiais e sugere os passos que devem ser seguidos na sua elaboração É o que tento fazer no meu capítu lo Como Produzir Materiais para o Ensino de Línguas onde ofereço uma retrospectiva da produção de materiais desde os objetivos de Bloom até os recursos da Internet passando pela questão da motivação das abordagens para o ensino de línguas e das idéias clássicas de Cagné Procuro definir produção de materiais como um processo que se inicia com uma análise das necessidades dos alunos continua com o planejamento e desenvolvimento do material propriamente dito segue com a implementação desse 12 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática material junto aos alunos e termina com sua avaliação Entendo que quando se fala em produção de materiais a ênfase não deva estar nem no professor nem no aluno mas na tarefa A relação entre produção de materiais e autonomia do alu no é feita por Christine Nicolaides e Vera Fernandes no capítulo Autonomia critérios para a escolha de material didático e suas implica ções onde as autoras falam de sua experiência no Centro de Aprendizagem Autônoma de Línguas CAAL na Universidade Católica de Pelotas Além de apresentarem um relato circuns tanciado de experiências bemsucedidas incluindo a preparação de materiais pelos próprios alunos fazem um balanço da impor tância da autonomia na aprendizagem quer por seus aspectos econômicos já que a sociedade não tem recursos para oferecer instrução personalizada a cada um de seus cidadãos quer por seus aspectos didáticos em que a ênfase não está necessaria mente no aluno mas no processo de aprendizagem No terceiro capítulo Teresinha dos Santos Brandão e Luiz Gustavo Ribeiro Araújo com Uma releitura do politicamente corre to no gênero anúncio publicitário em sala de aula oferecem sugestões de como o professor pode explorar anúncios de publicidade para desenvolver a leitura crítica em seus alunos Para isso buscam suporte teórico nas idéias de Bakhtin mas apóiamse também na prática da publicidade não só mostrando as estratégias de persuasão usadas pelos publicitários mas também fornecendo sugestões didáticas de como analisar criticamente um anúncio Cristina Pureza Duarte Boéssio em Uma Proposta para o Ensino de Línguas Próximas mostra que a proximidade entre a língua materna do aluno e a língua estrangeira embora seja um fator facilitador da aprendizagem pode também esconder arma dilhas para o professor como ocorre muitas vezes no ensino do espanhol para alunos brasileiros A autora toma como exemplo o problema do infinitivo flexionado que existe em português Introdução 13 mas não em espanhol Defende para esses casos o uso de tra dução com ênfase na aprendizagem consciente alertando o alu no para as diferenças que existem entre um idioma e outro Denize NobreOliveira em Produção de Materiais para o Ensino de Pronúncia por meio de Músicas analisa as dificuldades que o aluno apresenta na produção daqueles sons que não exis tem em sua língua materna Para tratar esse problema de modo interessante e motivador para o aluno propõe o uso de músicas estabelecendo critérios que o professor deve usar para selecio nar o que vai usar em suas aulas e dando um exemplo de como determinados fonemas podem ser trabalhados Defende também a necessidade da aprendizagem consciente em que o aluno pre cisa ser chamado à atenção para que se dê conta da existência do problema A questão da preparação de materiais para comunicações orais é abordada por Adriano Nobre Oliveira em Regras Práticas para a Criação de Transparências com Mídias Eletrônicas O autor dá uma série de sugestões extremamente úteis de como preparar uma apresentação quer usando um retroprojetor ou recursos de multimídia Uma comparação entre o que diz o autor neste capí tulo e o que se vê nas inúmeras apresentações agora cada vez mais com recursos de multimídia mostra quão oportunas são as sugestões apresentadas Um livro que se propõe a ajudar o professor na preparação de seus próprios materiais de ensino nesta época de conheci mento em rede não poderia ignorar os recursos da Internet O capítulo de Rafael VetromilleCastro O Professor como Facilitador Virtual considerações teóricopráticas sobre a produção de materiais para a aprendizagem via Web ou mediada por computador trata justamente dessa questão O autor começa com uma reflexão sobre alguns princípios da prática pedagógica presencial e a distância que devem ser contemplados na elaboração de atividades Descreve 14 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática algumas ferramentas de autoria que podem ser utilizadas pelo professor e mostra como produzir um site educacional Fechando o livro Nara Widholzer e Daniel Clós Cesar em Produção de livros da prática à teoria não só caracterizam com pre cisão o que é um livro mas também mostram os benefícios que o conhecimento da editoração podem trazer para o professor Seguindo o que promete no título de seu capítulo reúnem em seu texto informações de diversas fontes e principalmente de sua experiência como editores São sugestões que vão desde o uso adequado do equipamento e de softwares disponíveis até re comendações sobre o uso de folhas de estilo inserção de ima gens no texto e instruções para a obtenção do número de ISBN Concluindo a apresentação e retomando a metáfora do fi lho gostaria de dizer que este livro foi gerado com muito cari nho e cuidado Durante todo o período de gestação foi sempre o centro da atenção de toda a família composta pelos alunos da turma de Produção e Avaliação de Materiais Como nasceu da práti ca da sala de aula acreditamos que será útil a professores que queiram fugir de aulas padronizadas e oferecer a seus alunos um tratamento personalizado produzindo materiais que realmente atendam a seus interesses e necessidades Vilson J Leffa Organizador COMO PRODUZIR MATERIAIS PARA O ENSINO DE LÍNGUAS Vilson J Leffa 11 Introdução A produção de materiais de ensino é uma seqüência de atividades que tem por objetivo criar um instrumento de aprendi zagem Essa seqüência de atividades pode ser descrita de várias maneiras envolvendo um número maior ou menor de eta pas Minimamente deve envolver pelo menos quatro momen tos 1 análise 2 desenvolvimento 3 implementação e Professor da Universidade Católica de Pelotas leffavgmailcom 1 16 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática 4 avaliação Idealmente essas quatro etapas devem formar um ciclo recursivo onde a avaliação leve a uma nova análise reiniciando um novo ciclo A produção de materiais é também um processo sistemáti co e de complexidade variada Na extremidade mais simples está por exemplo o resumo esquemático distribuído durante uma palestra para acompanhar o que diz o palestrante Na extremi dade superior da escala podem ser listados projetos envolvendo o uso de vídeo ou de multimídia interativa o que pela sua com plexidade exige um planejamento mais detalhado Falta de pla nejamento nesse nível pode resultar em perda de tempo di nheiro e esforço Fardouly 2002 12 Análise A análise parte de um exame das necessidades dos alunos incluindo seu nível de adiantamento e o que eles precisam apren der As necessidades são geralmente mais bem atendidas quan do levam em consideração as características pessoais dos alu nos seus anseios e expectativas preferência por um ou outro estilo de aprendizagem Para que a aprendizagem ocorra é tam bém necessário que o material entregue ao aluno esteja adequa do ao nível de conhecimento do conteúdo a ser desenvolvido O que aluno já sabe deve servir de andaime para que ele alcance o que ainda não sabe Ninguém aprende algo que é totalmente conhecido e nem algo que seja totalmente novo A capacidade de acionar o conhecimento prévio do aluno é uma condição ne cessária para o sucesso de um determinado material O que o aluno precisa aprender portanto não é determi nado apenas pela soma de competências exigida por uma deter minada circunstância seja ela originada pela escola pela comu nidade ou mesmo pelo mercado de trabalho Uma determinada Como produzir materiais para o ensino de línguas 17 circunstância pode exigir do aluno por exemplo que ele seja capaz de escrever cartas comerciais numa língua estrangeira envolvendo uma série de competências como domínio de uma terminologia específica o uso correto das normas sintáticas da língua disposição gráfica do texto na página conhecimento do gênero epistolar etc Isso não significa no entanto que o aluno precisa aprender num determinado momento todas essas com petências o que o aluno precisa aprender vai depender do que ele já sabe O material a ser produzido deve oferecer ao aluno a ajuda que ele precisa no grau exato de seu adiantamento e de suas necessidades preenchendo possíveis lacunas A análise ini cial das necessidades deve ser capaz não só de estabelecer o total das competências a serem desenvolvidas mas também des contar dessas competências o que o aluno já domina O saldo dessa operação é o que o aluno precisa aprender 13 Desenvolvimento A etapa do desenvolvimento parte dos objetivos que são definidos depois da análise das necessidades A definição clara dos objetivos dá uma direção à atividade que está sendo desen volvida com o uso do material Ajuda a quem aprende porque fica sabendo o que é esperado dele Ajuda a quem elabora o material porque permite ver se a aprendizagem está sendo eficiente facilitando assim a avaliação A definição dos objetivos Os objetivos podem ser gerais ou específicos Objetivos gerais são elaborados para períodos maiores de aprendizagem como o planejamento de um curso os objetivos específicos para períodos menores envolvendo por exemplo uma aula ou 18 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática atividade Ambos devem começar com um verbo que descreva o comportamento final desejado para o aluno Para os objetivos gerais usamse geralmente verbos que denotam comportamentos não diretamente observáveis Entre esses verbos os seguintes têm sido usados com mais freqüência saber compreender interpretar aplicar analisar integrar jul gar aceitar apreciar criar etc Para os objetivos específicos usamse verbos de ação en volvendo comportamentos que podem ser diretamente obser vados Entre eles destacamse identificar definir nomear re lacionar destacar afirmar distinguir escrever recitar selecio nar combinar localizar usar responder detectar etc Verbos que denotam processo aprender desenvolver memorizar adquirir etc não podem ser usados para elaborar objetivos educacionais eles não descrevem o resultado da apren dizagem O objetivo de aprendizagem tem três componentes essen ciais 1 as condições de desempenho 2 o comportamento que o aluno deve demonstrar expresso por um verbo 3 o critério de execução da tarefa No modelo clássico de Bloom Anderson Krathwohl 2001 o objetivo é sempre apresentado em termos do que o aluno deve alcançar sob a perspectiva do próprio aluno não do material desenvolvido A ênfase está na aprendizagem naquilo que o aluno deve adquirir e no compor tamento que ele deve demonstrar não no ensino não no mate rial que vai ser usado para levar o aluno a atingir o objetivo É objetivo de aprendizagem É objetivo de aprendizagem É objetivo de aprendizagem É objetivo de aprendizagem É objetivo de aprendizagem ao ler um texto o aluno deverá ser capaz de identificar três idéias principais Como produzir materiais para o ensino de línguas 19 Não é um objetivo de aprendizagem Não é um objetivo de aprendizagem Não é um objetivo de aprendizagem Não é um objetivo de aprendizagem Não é um objetivo de aprendizagem Ensinar a diferença entre idéia principal e idéia secundária As condições de desempenho especificam as circunstân cias sob as quais o comportamento deve ser demonstrado Po dem e devem ser expressas de modo simples através de uma afirmação Alguns exemplos Ao assistir o vídeo de um comercial o aluno deverá Ao ouvir a gravação de uma música o aluno deverá O comportamento que o aluno deve demonstrar deve ser expresso por meio de um verbo que denota uma ação direta mente observável Os critérios de execução da tarefa podem ser expressos em termos de velocidade grau de correção ou qualidade O cri tério estabelecido no objetivo é visto como o mínimo que o alu no deve atingir Se a atividade pede por exemplo que o aluno responda a dez perguntas com 70 de acertos critério o obje tivo será atingido com qualquer percentual igual ou acima de 70 É possível traçar os objetivos do material a ser produzido não só no domínio cognitivo envolvendo conhecimento mas também no domínio afetivo envolvendo atitudes e mesmo no domínio psicomotor envolvendo habilidades A definição des ses objetivos leva em consideração não só a análise das necessi dades mas também o tempo disponível sendo às vezes muito difícil adequar os objetivos ao tempo de que se dispõe 20 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática A seguir apresentamos uma lista de exemplos em cada um desses objetivos nos três domínios aplicado ao ensino de lín guas cada objetivo geral é seguido de objetivos específicos Taxionomia de objetivos para o ensino de línguas Domínio cognitivo 1 Conhece o vocabulário relacionado a um determinado tópico 11 identifica sinônimos 12 relaciona antônimos 13 define palavras 14 nomeia objetos 15 soletra palavras 16 deduz o significado de palavras desconhecidas através do contexto 2 Compreende a estrutura gramatical 21 substitui palavras numa frase 22 transforma frases interrogação negação 23 identifica anomalias gramaticais 24 fornece o tempo verbal correto 25 identifica sentenças completas 26 identifica sinonímia estrutural 3 Aplica regras gramaticais 31 constrói frases 32 responde oralmente 33 responde por escrito 34 traduz para o português 35 traduz para a língua estrangeira Como produzir materiais para o ensino de línguas 21 36 apresenta alguém 37 cumprimenta 38 atende a um pedido 4 Analisa textos escritos 41 infere emoção 42 identifica estereótipos culturais 43 deduz conseqüências 44 descreve personagens 45 esquematiza enredo 46 descreve contexto 47 identifica tema 48 relaciona informação textual com informação extratextual 5 Integra conhecimentos de diferentes áreas 51 usa mecanismos adequados para iniciar e encer rar turnos de conversação 52 resume extraindo as idéias principais de um texto 53 usa o sumário e índice remissivo de um livro para encontrar a informação desejada 54 escreve um parágrafo bem organizado 55 completa exercícios de cloze 56 expressa relações entre partes do texto através de conectores 57 organiza adequadamente a informação num tex to dissertativo 58 faz o mapa conceitual de um texto 59 transforma um mapa conceitual em texto 6 Julga o valor de material escrito 61 explica a finalidade de um mecanismo retórico 22 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática 62 justifica o uso da linguagem figurada 63 relaciona estilo com objetivo 64 identifica níveis de formalidade Domínio afetivo 1 Aceita diferenças culturais 11 olha com atenção para fotos 12 faz perguntas sobre ilustrações 13 aponta para detalhes das ilustrações 14 faz comentários sobre fotos 2 Demonstra interesse no tópico 21 oferecese como voluntário para responder per guntas 22 faz atividades além do que é solicitado 23 traz material extra para a aula 24 pergunta sobre cursos na comunidade 25 cumprimenta o professor na LE 3 Aprecia obras literárias 31 tira livros emprestado da biblioteca 32 lê além do que pede o professor por prazer 33 discute diferentes autores 34 elogia algumas obras literárias 4 Integra conhecimento da língua em seu plano de vida 41 justifica a importância de conhecer a língua em sua futura profissão 42 lê revistas especializadas 43 busca na Internet tópicos tratados em aula Como produzir materiais para o ensino de línguas 23 5 Demonstra consistência na prática da língua estrangeira 51 aproveita todas as oportunidades para praticar a LE 52 participa de salas de batepapo na LE na Internet 53 procura ouvir e ler a LE diariamente Domínio psicomotor 1 Reconhece vogais na língua estrangeira 11 discrimina vogais em pares mínimos 12 identifica a vogal numa sentença 2 Sabe a posição dos órgãos da fala para os diferentes fonemas 21 pronuncia corretamente seqüências de fonemas inexistentes na língua materna slow 22 explica a posição da língua para uma determina da vogal 23 mostra a posição correta dos lábios 24 abre a boca corretamente 3 Imita sentenças que ouve 31 repete adequadamente o modelo 32 executa exercícios simples de expansão 33 executa substituições em exercícios orais 4 Fala naturalmente 41 pronuncia sentenças em velocidade normal 42 usa a entonação adequada para perguntas 43 acentua adequadamente palavras em uma frase 24 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática 5 Fala fluentemente 51 fala sem hesitação 52 produz frases no ritmo adequado da língua 53 usa pausas corretamente 6 Ajusta a fala à situação 61 fala mais rápido quando tem menos tempo 62 articula as palavras com mais cuidado quando diante de um auditório maior 7 Muda a pronúncia 71 imita sotaques regionais 72 imita a fala de pessoas famosas A definição da abordagem Uma vez definidos os objetivos de aprendizagem é neces sário selecionar os conteúdos pelos quais os objetivos serão al cançados Se o objetivo por exemplo for levar o aluno a com preender um texto de uma determinada área de conhecimento o conteúdo selecionado pode ser um texto uma amostra do léxico típico da área uma lista de determinados mecanismos retóricos ou uma integração de diferentes conteúdos A opção por um desses aspectos é determinada pela filosofia de aprendizagem a que se filia o professor Tradicionalmente no ensino de línguas há seis grandes abordagens Krahnke 1987 que ampliamos abaixo incluindo aspectos da língua materna Abordagem estrutural O que o aluno precisa aprender são o léxico e as estruturas gramaticais da língua Deve saber expres sarse dentro de um vocabulário adequado e com correção gra matical Pode haver uma tolerância maior ou menor para com os Como produzir materiais para o ensino de línguas 25 vícios de linguagem incluindo estrangeirismos problemas de regência mas geralmente não são aceitos A preocupação é mais com a forma do que com o conteúdo Abordagem nocionalfuncional A ênfase está no objetivo para o qual se usa a língua na realidade mais na função do que na noção No caso da língua estrangeira parte de uma taxionomia das funções como discordar apresentar alguém pedir descul pas etc Também pode ser aplicado ao ensino da língua mater na como escrever uma carta de pedido de emprego como rejei tar um convite educadamente como solicitar ao auditório que se levante para cantar o hino nacional etc Abordagem situacional O conteúdo a ser ensinado parte de uma situação em que a língua é usada visita ao médico check in no aeroporto abertura de uma reunião de negócios etc O pres suposto é de que nessas situações há uma seqüência típica de funções que ocorrem sempre da mesma maneira usando sempre o mesmo tipo de linguagem e que pode portanto ser predeter minado Abordagem baseada em competências Parte do princípio de que a linguagem usada numa determinada situação é relativamente independente da situação dependendo mais de competências e processos lingüísticos domínio dos aspectos fonológicos lexicais sintáticos discursivos capacidade em detectar a idéia principal em fazer uma apresentação oral etc que perpassam diferentes situações Abordagem baseada em tarefa Caracterizase por subordinar a aprendizagem da língua à execução de uma determinada tare fa É a execução da tarefa que vai determinar que conteúdo lingüístico precisa ser aprendido Diferenciase da abordagem situacional por não predeterminar esse conteúdo que pode sur gir de modo imprevisível durante o desempenho da tarefa 26 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Abordagem baseada em conteúdo Põe a ênfase no conteúdo usando a língua que o aluno precisa aprender O pressuposto é de que enquanto o aluno presta atenção no conteúdo acaba ad quirindo a língua incidentalmente O material portanto não é desenvolvido a partir de tópicos lingüísticos mas de tópicos do próprio conteúdo Ainda que seja possível desenvolver material de ensino ri gorosamente dentro de uma única abordagem a prática sugere a integração de duas ou mais É também aconselhável levar em consideração os objetivos de aprendizagem e a partir daí esco lher a abordagem mais adequada A definição do conteúdo O conteúdo na produção de um determinado material pode ser definido de várias maneiras dependendo da concepção que se tem de língua Se entendo por exemplo que língua é um con junto de palavras ligadas por regras gramaticais faço um recorte do léxico e da sintaxe se vejo a língua como um conjunto de eventos comunicativos incluo outros aspectos como regras de formalidade os lugares sociais de onde falam os interlocutores os efeitos de sentido que suas falas podem provocar etc se entendo a língua como um meio para desempenho de determi nadas atividades posso selecionar uma lista de tarefas que de vem ser executadas pelos alunos como escrever uma carta co mercial elaborar um currículo fazer uma homepage etc Quando se fala em produção de materiais temse privile giado o ensino baseado na tarefa Nesse caso há uma preocupa ção maior com o mundo real e o uso de dados lingüísticos autên ticos A idéia é de que o aluno não deve passar por um curso sem conhecer a língua como ela é realmente usada fora da sala de Como produzir materiais para o ensino de línguas 27 aula Muitas vezes os alunos têm dificuldade de transferir para o mundo real aquilo que aprendem na escola Não vendo aplica ção prática para o conhecimento adquirido achamse muitas vezes donos de um conhecimento inútil O uso de material au têntico pode ser uma maneira de facilitar essa transferência de aprendizagem A transferência no entanto parece estar apoiada em um paradoxo de difícil solução 1 para sobreviver no mundo real o aluno precisa ser preparado pela escola 2 para ser preparado de modo que a aprendizagem faça sentido o aluno precisa co nhecer o mundo real O desafio aqui usando uma metáfora freqüentemente citada na educação Weininger 2001 é como levar o aluno do ambiente protegido do aquário para os perigos do mar aberto A solução proposta por alguns usando ainda a mesma metáfora é jogar o aluno no mar puxandoo de vez em quando para que respire Wilson Jonassen Cole 1993 A idéia é de que o tempo entre o investimento inicial do aluno na apren dizagem e o retorno pelo esforço despendido seja o mais breve possível o que pode ser facilitado à medida que o aluno seja solicitado desde o início a realizar tarefas significativas e próxi mas do mundo real Carroll 1990 Na definição do conteúdo a preocupação está em definir da maneira mais clara possível o que exatamente o aluno precisa aprender para atingir os objetivos definidos anteriormente 28 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática A definição das atividades A produção de materiais de ensino é uma área essencial mente prática A teoria é importante na medida em que fornece o suporte teórico necessário para justificar cada atividade pro posta mas subjaz à atividade podendo ou não ser explicitada Quem prepara o material precisa ter uma noção bem clara da fundamentação sobre a qual se baseia mas vai concentrar todo seu esforço em mostrar a prática não a teoria A teoria trabalha nos bastidores a prática é o que aparece no palco Um bom tra balho de bastidores dá segurança ao que é apresentado permi tindo inovações e até ousadias As atividades propostas para o ensino de línguas têm sido tradicionalmente classificadas em quatro grandes áreas 1 fala 2 escuta 3 leitura e 4 escrita Os materiais podem ser pre parados para cada uma dessas habilidades em separado ou de modo integrado incluindo duas ou mais habilidades A Figura 1 mostra o recorte de uma atividade que pode ser usada para a prática da leitura de tabelas produção oral e escuta A definição dos recursos A definição dos recursos envolve basicamente o suporte sobre o qual a língua vai ser apresentada ao aluno Tradicional mente o suporte mais comum tem sido o papel que por sua vez pode ser subdividido em muitos outros livro jornal revista re vista em quadrinhos revista acadêmica etc Com o desenvol vimento e barateamento das tecnologias de comunicação ou tros suportes tornaramse populares incluindo fitas de áudio fitas de vídeo e mais recentemente o computador e a Internet Como produzir materiais para o ensino de línguas 29 Partida horário Porto Alegre 0645 Porto Alegre 1615 Porto Alegre 1930 Porto Alegre 0700 SPCongonhas 0905 Porto Alegre 0630 SPGuarulhos 0850 Porto Alegre 0700 SPCongonhas 0948 Chegada horário Brasília 0905 Brasília 1840 Brasília 2330 SPCongonhas 0834 Brasília 1040 SPGuarulhos 0805 Brasília 1026 SPCongonhas 0834 Brasília 1119 Escala 0 0 1 0 0 0 0 0 0 Vôo JJ 3070 JJ 8021 JJ 3180 JJ 3048 JJ 3722 JJ 3150 JJ 3464 JJ 3048 JJ 3470 Você é funcionário da TAM no Aeroporto Salgado filho em Porto Alegre Tente responder com base no horário acima às perguntas de um cliente 1 Que horas sai o primeiro vôo para Brasília 2 Este vôo é direto ou tem escalas 3 Que horas sai o primeiro vôo com escalas 4 Que horas chega a Brasília 5 Que horas sai o primeiro vôo com escalas sem trocar de avião 6 Quantas escalas têm esse vôo Figura 1 Exemplo de material para ensino de Português como LE 30 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática A introdução do computador parece demandar uma nova alfabetização ou literacia com a exigência de novas competên cias incluindo a capacidade de trabalhar com arquivos eletrôni cos saber como salvar um arquivo copiálo de um computador para outro compactálo e descompactálo enviálo pela Internet navegar na rede localizar arquivos em qualquer ponto do plane ta instalar e desinstalar programas usar antivírus etc O com putador na realidade representa uma convergência de diferen tes tecnologias incluindo textos imagens sons e movimentos Para quem possui as competências pressupostas pela nova literacia os recursos que podem ser usados para o desenvolvi mento de materiais de aprendizagem nunca foram tantos tão fáceis de usar e tão disponíveis Muitos recursos que há alguns anos só estavam disponibilizados para grandes empresas com altos custos de produção agora podem ser acessados por prati camente por qualquer indivíduo a um custo irrisório ou inexistente A Figura 2 por exemplo mostra o resultado de uma pesquisa usando o Google onde o objeto procurado era a ima gem de pessoas produzindo um texto escrito Em menos de um segundo o sistema conseguiu localizar milhares de arquivos con tendo ilustrações com essas duas características Após acessado um arquivo eletrônico por sua natureza líquida altamente mutável pode ser modificado e reformulado de inúmeras maneiras Maley 1998 Uma imagem pode ser não só ampliada reduzida alongada distorcida etc mas também inserida num determinado texto que o professor tenha selecio nado para um grupo de alunos Seja qual for o texto é sempre possível ilustrálo com uma foto ou desenho rigorosamente ade quado a um determinado conteúdo ou objetivo de uma aula Como produzir materiais para o ensino de línguas 31 Figura 2 Imagens selecionadas do Google com as palavraschave writing e gif de um universo de milhares de imagens Ordenamento das atividades Os dois critérios básicos para o ordenamento das ativida des são facilidade e necessidade Pelo primeiro critério iniciase pelo que é mais fácil e simples para o aluno progredindo gradativamente para o que é mais difícil e complexo O retorno pelo investimento feito na aprendizagem pode às vezes demorar um pouco até produzir algo útil Pelo critério da necessidade começase pelo que é mais necessário e útil para o aluno com retorno mais imediato A situação ideal é aquela em que se possa unir os dois critérios quando isso não for possível a 32 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática tendência tem sido sacrificar pelo menos parte da facilidade em benefício da utilidade antecipada Uma maneira mais ampla e geral de ordenar as atividades baseiase nos nove eventos instrucionais de Gagné assim descritos Garanta atenção Inicie despertando a curiosidade do aluno para o tópico da atividade Conte uma história mostre uma ilus tração faça uma analogia conte uma anedota cite um pensa mento interessante Informe os objetivos Deixe claro para os alunos o que eles vão aprender No fim dessa atividade vocês vão saber como Crie uma expectativa através dos objetivos Acione o conhecimento prévio Faça os alunos pensar sobre o que eles já sabem Relacione a atividade nova a situações e co nhecimento que lhe são familiares Apresente o conteúdo Mostre os pontos mais importantes use técnicas variadas para manter a atenção e aumentar a compre ensão Use ilustrações fotos objetos Facilite a aprendizagem Ajude os alunos a seguir no processo de aprendizagem orientando esclarecendo dando exemplos Solicite desempenho Mantenha participação ativa dos alunos Peça para que executem tarefas relacionadas ao que estejam aprendendo Envolvaos perguntando discutindo demonstran do Forneça feedback Deixe claro para seus alunos de como eles estão acompanhando a atividade ajudando com mais esclareci mento quando necessário Tente produzir o material de aprendi zagem de modo a poder inserir feedback Avalie o desempenho Verifique a aprendizagem dos alunos pela observação perguntas Na produção de materiais abra es paço para avaliação contínua Como produzir materiais para o ensino de línguas 33 Ajude na retenção e transferência Faça com que os alunos lem brem o que estão aprendendo e ajudeos a aplicar seus novos conhecimentos A questão da motivação Manter a motivação durante e após a atividade de ensino tem sido uma das grandes metas da educação e é uma das preo cupações básicas na produção de materiais A atividade deve ser prazerosa para o aluno despertar sua curiosidade e mantêlo in teressado no assunto mesmo depois que tenha terminado O modelo mais conhecido para incorporar técnicas de motivação em atividades de ensino é o ARCS sigla para Atenção Relevân cia Confiança e Satisfação desenvolvido por John Keller na Universidade do Estado da Flórida A teoria básica sobre a qual se apóia o modelo é a chamada expectativa de valor segundo a qual a motivação é medida pelo esforço demonstrado na execução de uma tarefa Para que haja esforço duas condições são necessárias 1 a pessoa deve acre ditar que a tarefa seja importante 2 a pessoa deve acreditar que é capaz de executar a tarefa Vroom 1964 Porter Lawler 1968 Tomlinson 1998 O modelo ARCS identifica quatro estratégicas básicas para sustentar a motivação Estratégias de atenção A para despertar e manter a curiosidade e o interesse Pense em maneiras pela qual se pode introduzir uma novidade surpresa ou incerteza no início de uma atividade Como fazer perguntas e apresentar problemas que possam estimular a curiosidade Como introduzir variação na atividade que está sendo proposta Estratégias de relevância R para mostrar a utilidade de uma tarefa quais são seus objetivos e quais são os métodos 34 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática que podem ser usados para chegar aos objetivos mostrando tam bém a importância que a tarefa pode ter na vida dos alunos Permitir que os alunos exponham seus interesses e necessida des Relacionar a tarefa à experiência e valores apreciados pelos alunos Expor a tarefa de maneira clara e compreensível para os alunos Estratégias de confiança C que ajudem os alunos a desenvolver uma expectativa positiva de sucesso Informar aos alunos quais são os critérios de avaliação o que se espera deles em termos de trabalhos a serem executados Oferecer oportuni dades de sucesso através de projeto menores que preparem os alunos para os projetos maiores Reconhecer o esforço pessoal do aluno e seus acertos em cada atividade proposta Estratégias de satisfação S que mostre reconhecimen to pelo esforço intrínseco e extrínseco do aluno Exemplos de esforço intrínseco envolvem a satisfação pela própria aprendi zagem possivelmente mostrando o exemplo de pessoas conhe cidas que possuem a habilidade em questão Exemplos extrínsecos incluem feedback diplomas homenagens etc 14 Implementação A etapa da implementação pode receber um cuidado maior ou menor dependendo via de regra da maior ou menor presen ça de quem preparou o material Há três situações básicas 1 o material vai ser usado pelo próprio professor 2 o material vai ser usado por outro professor 3 o material vai ser usado dire tamente pelo aluno sem presença de um professor Cada um des ses casos requer uma estratégia diferente de implementação Quando o próprio professor prepara o material para os seus alunos a implementação dáse de modo intuitivo complemen tada pelo professor que oralmente explica aos alunos o que Como produzir materiais para o ensino de línguas 35 dever ser feito Normalmente o material pressupõe essa inter venção oral funcionando em distribuição complementar com o professor Erros maiores e malentendidos que atrapalharam na implementação podem ser anotados e reformulados para uma próxima apresentação A Figura 3 mostra um exemplo desse tipo de atividade Quando o material vai ser usado por um outro professor há necessidade de instruções de como o material deve ser apre sentado e trabalhado pelos alunos Usando ainda como exemplo a Figura 3 o autor teria que explicar o objetivo da atividade o tipo de conhecimento que está sendo construído como a ativi dade deve ser conduzida junto com os alunos as possíveis res postas para as questões que estão sendo colocadas como certas respostas dadas pelos alunos deveriam ser trabalhadas etc A situação mais difícil e que requer maior cuidado é aquela em que o material vai ser usado sem a presença do professor Há dois grandes desafios aqui O primeiro é estabelecer contato com o aluno idealmente oferecendo nem menos nem mais do que ele precisa descendo ao seu nível de conhecimento mas sem distorcer a complexidade do saber que precisa ser apreendido O segundo desafio é tentar prever o que pode acontecer Como o professor não estará presente durante a execução da tarefa é preciso ter uma idéia das possíveis dúvidas do aluno Prever no entanto é partir do préconstruído sem espaço para a criatividade e o ines perado Tudo o que o aluno fizer além do que estiver previsto no material ficará sem retorno de modo que quanto mais criativo for o aluno mais abandonado ele ficará 36 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática 1 Trabalhando em grupo complete as lacunas do pseudopoema abaixo usando sem repetir uma consoante de cada vez PSEUDOPOEMA DIGITAL É uma arma mas não tem ala Às vezes não salva e me ala Outras vezes fica mudo e ala Com um disco se acende e ala Se a festa for de ala Ele se destaca na ala Quando se quebra não leva ala Se fica velho jogase na ala É antireflexivo e não usa ala O computador que levo na ala 2 Que fontes de conhecimento o leitor deve acionar para apreciar o significado de cada uma das frases abaixo Mais vale um pássaro voando do que dois na mão Dizem que Pedro morreu como um passarinho deve ter sido de estilingue Quando bebia ficava falando com todos na rua dizia que preferia ser um bêbado conhecido a um alcoólatra anônimo Todo mundo acreditou na história do sapo que virou príncipe menos a mãe da princesa Era do tempo em que a filha apresentava o namorado à mãe hoje é a mãe que apresenta o namorado à filha Anúncio de linha no ZH classificado É o menor barato Figura 3 Exemplo de material sem instruções de uso para o professor Alguns exemplos tradicionais de material produzido para ensino sem a presença do professor são os livros com chaves de respostas cursos de línguas com fitas de áudio às vezes incluin do perguntas com tempo de espera para a resposta do aluno Como produzir materiais para o ensino de línguas 37 seguida da gravação da resposta correta para que o aluno possa escutar e comparar seu desempenho Com a informatização e a possibilidade da tomada de de cisão pela máquina a aprendizagem sem a presença do profes sor pode ser melhorada em termos de gerenciamento uma ajuda automática pode ser apresentada para o aluno em caso de erro a avaliação do desempenho pode ser dada logo após a resposta solicitada uma estratégia de leitura pode ser sugerida no mo mento em que o aluno demonstrar precisar dela etc A aprendizagem independente sem a ajuda do professor parece ter duas grandes limitações 1 Necessidade de alta motivação A aprendizagem só ocorre se o aluno demonstrar o empenho suficiente para vencer todos os obstáculos que podem ocorrer durante a execução das tarefas Será preciso muitas vezes refazer o trabalho buscar aju da em outros materiais usando diferentes estratégias para resol ver os inúmeros problemas que surgem Sem essa motivação constante que perdure além do entusiasmo inicial não há pos sibilidade de manter o envolvimento necessário com o conteú do para que a aprendizagem ocorra 2 Falta de uma avaliação externa O aluno é o juiz de seu próprio desempenho Como seu desempenho não é assistido haverá erros e desvios em sua aprendizagem que passarão desa percebidos e poderão ficar automatizados Mesmo em ambiente informatizado não há possibilidade de captar todos os desvios que podem ser produzidos pelo aluno e que afetarão negativa mente sua aprendizagem É possível que com a distribuição do conhecimento em rede não apenas informação que se observa do lado de fora mas conhecimento que se compartilha o aluno tenha oportu nidade de testar seus conhecimentos comparandoo com o co nhecimento dos outros Algumas hipóteses já construídas serão 38 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática rejeitadas outras serão confirmadas e uma validação mais pre cisa da aprendizagem será possível A aprendizagem autônoma não será a utopia prometida em muitos livros populares que apa recem nos jornaleiros com títulos chamativos do tipo Aprenda a falar em público sozinho Francês sem mestre Inglês em 30 dias etc mas poderá ser mais viável por uma razão muito simples Num mundo em que se distribui a inteligência e a cognição a distribuição do conhecimento parece uma hipótese razoável A própria autonomia como a cognição a inteligência e o conhecimento deixa também de ser individualizada para ser coletiva e distribuída 15 Avaliação A avaliação de materiais pode ser feita de modo informal geralmente quando envolve o trabalho de um único professor que prepara uma folha de exercícios usa uma vez vê como fun ciona reformula para usar uma segunda vez e assim indefinida mente com diferentes grupos de alunos sem chegar a uma ver são definitiva Em outras situações o material é preparado por um grupo de professores para uso próprio eou de outros cole gas da mesma instituição Nesses casos a avaliação assume um caráter mais formal e pode ser feita por consultoria de um espe cialista ou por questionários e entrevistas com os alunos Em escala maior como no caso da publicação de um livro os mate riais são normalmente pilotados Donovan 1998 A avaliação formal pode também ser feita através de pro tocolos onde os alunos ao fazerem as tarefas solicitadas pelo material procuram expressar o que estão pensando demonstran do assim os tipos de raciocínio em que estão envolvidos as es tratégias de aprendizagem que estão usando e as atitudes que estão desenvolvendo Como produzir materiais para o ensino de línguas 39 Os questionários entrevistas e mesmo a análise de proto colos têm sido criticados por não serem muito confiáveis Por questões de respeito e ameaça à face do professor o aluno po derá dizer não exatamente o que pensa mas o que acha que o professor gostaria de ouvir Por isso muitos pesquisadores pre ferem a observação direta do trabalho do aluno com o material mais importante do que o que os alunos respondem ou dizem é o que eles realmente fazem Isso só se consegue pela observa ção A pilotagem mostra basicamente o que pode permanecer como está e o que precisa ser melhorado Isso só é possível quando o material é testado com os alunos para o qual se destina quan do então se pode constatar se houve ou não o ponto de contato entre o nível de conhecimento pressuposto pelo material e o nível real do aluno 16 Conclusão Em termos de teoria principalmente no que concerne os papéis do professor e do aluno a produção de materiais diverge tanto da abordagem tradicional que põe o professor no centro do processo de aprendizagem como da abordagem mais recen te que salienta o papel do aluno Produção de materiais não está centrada nem no professor nem no aluno está centrada na tare fa É importante não confundir produto com tarefa O produ to é o artefato produzido a folha de exercício a fita de áudio o programa de computador A tarefa é a atividade que resulta do encontro desse artefato com o aluno Em outras palavras o ar tefato é o instrumento pelo qual a tarefa se realiza Ensino centrado na tarefa realça obviamente a tarefa e não o artefato 40 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Referências ANDERSON L KRATHWOHL D A taxonomy for learning teaching and assessing a revision of Blooms Taxonomy of Educational Objectives New York Longman 2001 BROWN J D The elements of language curriculum a systematic approach to program development Boston MA Heinle Heinle 1995 CARROLL J M The Nurnberg Funnel designing minimalist instruction for practical computer skill Cambridge MA MIT Press 1990 DONOVAN P Piloting a publishers view In TOMLINSON B Org Materials development in language teaching Cambridge Cambridge University Press 1998 p149189 FARDOULY N Instructional design of learning materials Disponível em httpwwwfbeunsweduaulearning instructionaldesignmaterialshtm Acesso em mar 2002 GRAVES K Org Teachers as course developers New York Cambridge University Press 1996 KELLER J M Motivational design of instruction In REIGELUTH C M Org Instructional design theories and models an overview of their current status Hillsdale NJ Erlbaum 1983 KRAHNKE K Approaches to syllabus design for foreign language teaching Englewood Cliffs NJ Regents Prentice Hall 1987 MALEY A Squaring the circle reconciling materials as constraints with materials as empowerment In TOMLINSON B Org Materials development in language teaching Cambridge Cambridge University Press 1998 p179294 Como produzir materiais para o ensino de línguas 41 PORTER L W LAWLER E E Managerial attitudes and performance Homewood IL Dorsey Press 1968 STOLLER F L Making the most of a newsmagazine passage for readingskills development English Teaching Forum v32 n1 p27 1994 TOMLINSON B Introduction In Org Materials development in language teaching Cambridge Cambridge University Press 1998 p124 VIERA F Languagelearning objectives do make a difference English Teaching Forum v 31 n 2 p1011 1993 VROOM V H Work and motivation New York Wiley 1964 WEININGER M J Do aquário em direção ao mar aberto mudanças no papel do professor e do aluno In LEFFA V J Org O professor de línguas estrangeiras construindo a profissão Pelotas Educat 2001 p4168 WILSON B G JONASSEN D H COLE P Cognitive approaches to instructional design In PISKURICH G M Ed The ASTD handbook of instructional technology New York McGrawHil 1993 p211212 AUTONOMIA CRITÉRIOS PARA ESCOLHA DE MATERIAL DIDÁTICO E SUAS IMPLICAÇÕES Christine Nicolaides Vera Fernandes 21 Introdução As rápidas modificações pelas quais passa o mundo atual mente fazem com que se veja a vida como um processo contínuo 2 Universidade Católica de Pelotas nicolaiatlasucpeltchebr Universidade Católica de Pelotas veraucpeltchebr 44 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática de educação O pensador Carl Rogers em sua obra Freedom to Learn em 1969 já chamava a atenção para a necessidade de facilitar a mudança e o aprendizado como requisitos básicos para a sobrevivência considerando como o único homem educado aquele que aprendeu a se adaptar e a mudar Esse é na realida de o único conhecimento seguro o saber procurar conheci mento Assim a preocupação com autonomia na aprendizagem parece ser uma meta coerente e indispensável Embora seu conceito tenha origem anglosaxônica e ne cessite ser adaptado ao nosso modus vivendi há sinais de que o ensino de língua estrangeira esteja se movendo em direção ao holístico à globalização e conseqüentemente à autonomia Quando se pensa em materiais para o ensino de língua es trangeira o desenvolvimento do aprendizado autônomo deve ser um de seus componentes É importante então ter em mente duas situações distintas Uma é aquela em que o professor ou o responsável pelo curso adota materiais préproduzidos ou os ela bora especificamente para um determinado contexto de apren dizagem Outra situação é aquela em que materiais didáticos ficam disponibilizados por exemplo em um centro de autoacesso para satisfazer a alunos oriundos de diferentes contextos liga dos ou não formalmente a um determinado curso Nesse caso os materiais são variados na tentativa de atender às suas dife rentes necessidades preferências e estilos de aprendizagem Este capítulo tem por objetivo assim em uma primeira seção trazer e discutir alguns conceitos de autonomia na apren dizagem de línguas Esses conceitos servirão para advogar a fa vor de seu estímulo quando da escolha ou elaboração de ma terial didático e decidir entre essas duas opções Logo após apon taremos alguns critérios que auxiliam o professor em caso de adoção de material préproduzido a selecionar material que pre conize o aprendizado autônomo Uma quarta seção será dedicada Autonomia critérios para escolha de material didático 45 a considerações relevantes quando o professor opta por elaborar seu próprio material A quinta tratará da alternativa em que os alunos são responsáveis por sua confecção Finalizando abor daremos a situação de criação de materiais desenhados para diferentes níveis e interesses de aprendizagem os de auto acesso 22 Conceitos e concepções de autonomia Antes de definir autonomia é preciso esclarecer que há outros termos que são utilizados por estudiosos na área Con forme Dickinson 1987 p11 alguns desses termos são auto instrução autodireção semiautonomia materiais de autoacesso apren dizagem de autoacesso e instrução individualizada Segundo o autor autoinstrução referese a situações nas quais o aprendiz está trabalhando sem o controle direto do professor1 autodireção descreve uma atitude em particular à tarefa de aprendizagem em que o aprendiz aceita responsabilidade por todas as decisões que dizem respeito a sua aprendizagem mas não necessariamente assume a implementação dessas decisões semiautonomia con venientemente rotula o estágio no qual os aprendizes estão se preparando para a autonomia materiais de autoacesso são materiais apropriados e disponíveis para a autoinstrução apren dizagem de autoacesso é a autoinstrução usando esses mate riais e instrução individualizada apud Chaix ONeil 1978 é um processo de aprendizagem que no que diz respeito a conteúdo metodologia e ritmo é adaptado a um indivíduo par ticular levando as características desse indivíduo em considera ção 1 As traduções de citações que aparecem neste trabalho são de responsabilidade das autoras 46 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Benson 1999 em seu site What is autonomy dedicado à autonomia esclarece ainda que paralelo à autonomia podese encontrar o termo independência De acordo com ele ambos os termos implicam os alunos tomarem um maior controle dos con teúdos e métodos de aprendizagem O mais clássico dos conceitos de autonomia pode ser con siderado o proposto por Holec 1981 p3 um dos responsáveis pela implementação do CRAPEL Centre de Recherches et dApplications Pédagogiques em Langues Universidade de Nancy França que a define como a habilidade de encarregar se de sua própria aprendizagem A partir desse vários autores têm lançado outros concei tos e principalmente abordado o tema sob diferentes perspecti vas En passant podemos mencionar uma definição em uma pers pectiva mais pessoal e sob nosso ponto de vista crucial aquela proposta por Kenny 1993 p436 em que autonomia não é apenas a liberdade para aprender mas também a oportunidade de tornarse uma pessoa Essa idéia entra em consonância com a de Littlewood 1996 p429 que argumenta podemos olhar a capacidade geral de uma pessoa para independência ao longo de uma variedade de situações que ela encontra Alternativamente podemos olhar para a capacidade de um indivíduo em agir autonomamente no desempenho de tarefas específicas Em uma perspectiva um tanto diferente autonomia é en contrada na literatura associada à idéia de responsabilidade Scharle e Szabó 2000 p4 afirmam o seguinte Teoricamente podemos definir autonomia como a liberdade e a habilidade de se gerenciar as próprias questões que também dão o direito de se tomar decisões Responsabilidade também pode ser entendida Autonomia critérios para escolha de material didático 47 como ser encarregado de algo mas com a implicação de lidar com as conseqüências de suas próprias ações Autonomia e responsabilidade ambas requerem envolvimento ativo e parecem estar muito inter relacionadas Independentemente do conceito em questão o mais im portante é que se esteja disposto a fazer uma profunda e cons tante reflexão sobre que real significado tem autonomia no con texto no qual estamos inseridos Estabelecer autonomia como meta educacional requer principalmente uma mudança de pa péis em que o professor deixa de ser o tomador de todas as deci sões sobre o ato pedagógico e abre espaço para que seu apren diz gradualmente assuma responsabilidade por sua aprendiza gem Esse fato tem uma série de implicações em especial polí ticas Só para mencionar uma já que esse não é o fulcro deste capítulo há a questão do provável surgimento de um número maior de conflitos na sala de aula Afinal quando se dão oportu nidade e estímulo para mais de uma voz se fazer valer além da do professor provavelmente se terá um cenário com pontos de vista diversos e muitas vezes mais difíceis de serem concilia dos Entretanto ajudar o aprendiz e o próprio professor a lidar com vozes diferentes das suas sem ser abafado e respeitando as individualidades do outro faz também parte do processo de de senvolvimento da autonomia 23 A presença da autonomia no material didático McGarry 1995 p1 é um dos autores que defende na ela boração do material pedagógico a construção de uma ponte para promover autonomia pois o aprendizado será mais bem sucedi do à medida que o aprendiz tenha mais controle sobre seu pró prio trabalho tornandose ativamente envolvido no processo de 48 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática aprendizagem e desenvolvendo por conseqüência a habilidade de trabalhar independentemente Essa preocupação com o de senvolvimento do aprendizado autônomo é particularmente importante considerando que estaremos desenvolvendo então o aprender a aprender suporte para um melhor resultado da aprendizagem não só na área de línguas mas em diferentes cam pos do conhecimento A seleção ou produção de materiais didáticos para o ato pedagógico é com certeza uma das maiores preocupações seja do professor seja da instituição educacional A primeira decisão que se deve tomar diz respeito à elaboração do próprio material ou simplesmente a opção por algo pronto préproduzido As vantagens de uma e de outra alternativa devem ser cuidadosa mente examinadas e entre elas devemos considerar fatores como tempo e habilidade para preparar material didático é prefe rível adotarse um material didático que não tenha um perfil exatamente adequado às necessidades e preferên cias dos aprendizes em questão e fazerse uma adapta ção ao longo do curso a elaborarse um material ineficiente pouco atrativo que atinja apenas as metas do professor ou do sistema escolar e que não desenvol va o pensamento críticoreflexivo do aprendiz realidade com a qual se está lidando obviamente uma das primeiras limitações ao se adotar um livro didático é a do recurso financeiro disponível É sabido que em muitas regiões brasileiras a escola pública tem como norma não adotar livro didático norma essa justificada pela falta de recursos tanto do Estado como dos alunos para adquirirem material Além disso é preciso que se leve em consideração o contexto social em questão Simplesmente importarmos modelos planejados para atender às necessidades de um outro contexto pode Autonomia critérios para escolha de material didático 49 resultar em fracasso na aprendizagem já que diferentes realidades requerem diferentes tratamentos Assim uma vez tomada a decisão de adotar material didá tico préproduzido pensamos que a promoção da autonomia do aluno na aprendizagem de línguas tem que ser levada em consi deração Uma das maneiras de constatar a presença de autono mia nos objetivos do material didático que se pretende utilizar é pela análise dos pontos indicados por Nicolaides e Marx no pre lo explanação dos objetivos da unidade essa é uma peculiari dade de suma importância para o material didático que deve trazer proposta de objetivos e ao mesmo tempo permitir flexibilidade para negociação entre professor e aprendizes de forma que possam melhor se envolver no processo dando espaço às suas necessidades e pre ferências explicitação de estratégias de aprendizagem essa é uma se gunda característica aliás pouco encontrada nos livros didáticos em geral a conscientização do aprendiz do processo de aprendizagem por meio da explicitação de estratégias Todavia a simples presença de uma seção sobre explicitação de estratégia não é suficiente para que aconteça essa conscientização Urge que o profes sor esteja preparado para desenvolver esse processo de forma a poder auxiliar seu aprendiz e alertálo para a importância desse passo Em outras palavras de nada adianta o material didático trazer seções sobre estraté gias de aprendizagem se o professor ao abordálas o faz simplesmente de forma automática sem uma maior reflexão sobre suas implicações foco na forma reconhecendo a importância de auxiliar o aprendiz a deduzir regras sobre a forma de como a língua 50 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática funciona um bom material deve dedicar espaço para a gramática especialmente quando se trata da aquisição de uma segunda língua em que o aprendiz tende a com parar o sistema da nova língua com aquele da língua em que já é competente No entanto as autoras salien tam que igualmente importante é a exploração do sig nificado semântico a intenção dos falantes e os aspec tos culturais visíveis ou não propostos nos textos do material autoavaliação e automonitoramento esses são processos indispensáveis para complementar o aprendizado au tônomo em que o aprendiz deve ser capaz de avaliar seus conhecimentos e verificar quais os aspectos de cuja melhoria depende para aprimorar seu desempenho Aqui além do material o professor mais uma vez pos sui um papel fundamental estimulando e abrindo es paços ao aluno para sua autoavaliação e automonito ramento Material didático que pretenda desenvolver autonomia deve fomentar essa idéia em especial no manual do professor alternativas de opções para execução de tarefas essas op ções também devem fazer parte de um material didáti co que estimule o desenvolvimento autônomo Muitos materiais trazem diferentes sugestões de como uma ou outra atividade pode ser executada porém são raros os que apresentam opções também para os alunos em que eles possam escolher conforme suas preferências ou grau de dificuldade Tarefas que apresentam diferentes graus de dificuldade por exemplo podem facilitar o problema enfrentado pelo professor que trabalha com alunos em diferentes níveis de conhecimento da lín guaalvo Autonomia critérios para escolha de material didático 51 24 Elaboração de material didático pelo professor para contextos específicos Quando se tem como meta educacional a autonomia é óbvio que as diferenças individuais as necessidades as prefe rências e os estilos de aprendizagem devem ser na medida do possível respeitados Como ensina Nunan 1992 p3 devido a coações exis tentes na maioria dos contextos de aprendizagem é impossível ensinar aos alunos tudo que eles necessitam O autor propõe então que os objetivos de ensino da línguaalvo se relacionem com o desenvolvimento de estratégias de aprendizagem São pois exemplos de objetivos fornecer aos alunos estratégias efi cientes e ajudálos a identificar suas maneiras preferidas de apren dizagem desenvolver nos aprendizes habilidades para negociar currículo orientandoos a estabelecer seus próprios objetivos de forma realista determinando tempo para sua realização e estimulálos à autoavaliação Uma forma de tentar manter a presença de todos esses re quisitos ou pelo menos da maior parte deles é a consulta direta aos alunos Nicolaides 1996 em sua dissertação de mestrado na tentativa de garantir a participação dos alunos na elaboração eou seleção de materiais de ensino bem como na preparação de aulas utilizadas em seu estudo elaborou dois questionários aplicados no final do semestre anterior ao início das aulas O primeiro objetivava apresentar aos aprendizes funções para o desenvolvimento de uma competência limiar Os alunos em grupos de três ou quatro discutiram e escolheram os itens lingüísticos que acreditavam lhes seriam mais úteis O segundo questionário aplicado individualmente visava a traçar o perfil dos alunos Esse documento permitiu a constatação de caracte rísticas relativas à maneira como passavam seu tempo livre a 52 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática hábitos de leitura e escritura e estímulo fornecido para a família para o aprendizado de LE por exemplo O estudo concluiu que esse tipo de abordagem atinge o objetivo de engajar o aluno no processo de aprendizagem No entanto é curiosa a constatação nessa mesma pesquisa do fato de um dos participantes terse manifestado a favor da adoção de material didático préproduzido A sua falta gerava dificuldades para seus estudos impedindo inclusive a opção de estudar sozi nho uma vez que não conseguia organizar seu material suficien temente 25 Elaboração de material didático pelo próprio aluno Uma outra forma de promover a autonomia no caso de o professor ou responsável por um determinado curso optar pela utilização de material não préproduzido é o aluno elaborar ou compilar o próprio material Uma maneira de se fazer isso é por meio de projetos como propõem FriedBooth 1986 e Haines 1989 Esses projetos consistem basicamente em o aluno ou o grupo delinear um plano de trabalho com o objetivo de con cretizar um produto final como por exemplo um comercial em vídeo ou um roteiro para turistas Esse procedimento de elabo ração de projetos autônomos é utilizado no Centro de Aprendi zagem Autônoma de Línguas CAAL na Universidade Católi ca de Pelotas Na primeira vez em que esse procedimento foi adotado 20011 resultados positivos foram constatados Dos 21 alu nos acompanhados seis deles desenvolveram seu próprio plano de trabalho Um deles preparouse para fazer o Cambridge First Certificate e para tal requisitou orientação do Centro para mon tar seu plano de trabalho diferenciado Outro aluno propôsse a no lugar de preencher atividades preestabelecidas elaborar e Autonomia critérios para escolha de material didático 53 organizar um pequeno banco de filmes em inglês com as respec tivas sinopses e atividades para serem realizadas por futuros freqüentadores do CAAL Já um terceiro dispôsse à elaboração de uma pasta com roteiros turísticos em dez cidades famosas também acompanhados de tarefas Ainda dois alunos de Espa nhol prepararamse para a prova de proficiência DELE Di ploma de Espanhol como Língua Estrangeira oferecido pela Universidade de Salamanca No semestre subseqüente quando os dados foram coletados os resultados foram ainda melhores principalmente no que diz respeito à motivação daqueles aprendizes que de fato se envolveram com suas metas Especificamente no caso do inglês os alunos de segundo período tinham a opção de tra balhar com projetos diferenciados ou com atividades pré selecionadas pelos pesquisadores e bolsistas do Centro Dos tre ze alunos que estavam matriculados na disciplina de Língua In glesa II seis optaram por trabalhar com projetos diferenciados seis com pacotes atividades elaboradas pela equipe do CAAL e um deles trabalhou com um conjunto de atividades especiais para suas dificuldades esse mesmo ainda participou de um pro jeto juntamente com os colegas cujo objetivo era selecionar aplicar e analisar tópicos escolhidos pelos próprios alunos para utilização em sala de aula em uma escola da rede municipal Em relação aos alunos do quarto período dos nove matri culados na disciplina de Língua Inglesa IV que tinham como alternativas a realização de projeto como explicado anterior mente ou a elaboração de pacote conjunto de atividades selecionadas pelo aluno quatro deles de fato conseguiram le var o projeto a cabo Os outros cinco trabalharam com material que considerava suas necessidades e preferências em relação à aprendizagem da línguaalvo 54 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Os resultados dos trabalhos desenvolvidos pelos aprendi zes tanto de segundo como de quarto período ao final do se mestre foram apresentados durante um pequeno evento que denominamos de Mostra de Projetos Autônomos dos Alunos do Curso de Letras Nesse evento estavam presentes além dos apresenta dores dos trabalhos colegas de outros semestres e alguns dos professores de línguas estrangeiras As apresentações em sua grande parte foram feitas com o auxílio do programa PowerPoint alguns mostraram os principais resultados de suas pesquisas outros o produto final de seu projeto e ainda outros fizeram um depoimento sobre quais tinham sido os aspectos positivos e negativos do trabalho realizado em termos de desenvolvimen to de sua competência lingüística com o auxílio dos conjuntos de atividades Assim parece que uma vez que o aluno esteja mais familiarizado com suas preferências necessidades e estilo de aprendizagem tem mais condições de fazer algumas de suas próprias escolhas Servimonos ainda da opinião de McGarry 1995 p6 para corroborar a validade do trabalho por meio de projetos para o desenvolvimento do aprendizado autônomo Segundo o autor o trabalho com projetos é particularmente valioso porque fornece ao aluno oportunidades gerenciáveis para adquirir experiência em revisar os planos conforme o estabelecimento de metas a elaboração e o acompanhamento de cronogramas a monitoração e avaliação do progresso Dessa forma o professor aproveita a oportunidade para que os aprendizes utilizemse de sua própria experiência para seu aprendizado facilitando o desenvolvimento da autonomia uma vez que com o trabalho por meio de projetos o aprendiz terá oportunidade de desenvolver uma atividade na qual se engaje Autonomia critérios para escolha de material didático 55 voluntariamente pois é sua a escolha do tópico que pretende trabalhar Além disso quanto mais variadas forem as escolhas me nos centrado será o ato pedagógico no professor e sim surgirá a tendência de o foco da sala recair sobre o processo de aprendi zagem Dizemos que o ato pedagógico será centrado no processo de aprendizagem e não no aluno guiadas pelo argumento de Auerbach 2000 p144145 ao abordar a pedagogia participativa Ela salienta que se por um lado os aprendizes têm suas metas e diferenças individuais os professores têm seus próprios objetivos sua própria compreensão da pedagogia mais eficiente para LE e também o poder para essas determinações Segundo a autora esse é um pressuposto freqüentemente desconsiderado por pesquisadores de LA que focalizam apenas o aprendiz individualmente e seus processos mentais deixando de lado o contexto social porque defendem um ensino de LE centrado no aluno No entanto Auerbach afirma que a pedago gia participativa prega a necessidade de se focar o contexto social da aquisição da L2 e que relações de poder nele estão inseridas uma vez que ele é compartilhado por aprendizes 26 Contextos fora de sala de aula Uma das maneiras de se introduzir autonomia no aprendi zado é criando um espaço físico para que o aprendiz possa desenvolvêla o centro de autoacesso é um exemplo Podería mos dizer que os chamados Centros de Autoacesso SAC self access centers ou Centros de Aprendizagem Independente ILC Independent Learning Centers são frutos evoluídos dos conhe cidos Laboratórios de Línguas amplamente difundidos a partir da década de 60 Os laboratórios foram uma conseqüência da abor dagem behaviorista empregada na época em que se acreditava 56 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática que a aprendizagem de línguas ocorre por meio da fixação de estruturas formação de novos hábitos e um dos objetivos alme jados era uma fluência próxima a do falante nativo Assim os ditos laboratórios serviam para a prática de exercícios estrutu rais muitas vezes descontextualizados e sem enfocar a comuni cação Com o surgimento da abordagem comunicativa os labora tórios caíram em desuso e há cerca de duas décadas quando autonomia começou a ocupar espaço nas discussões sobre edu cação os SACs começaram a ser implementados Os centros de autoacesso têm como meta principal colocar mais insumos à disposição do aprendiz por meio de recursos tais como compu tadores com programas específicos em LE Internet trabalhos de compreensão oral com gravadores vídeos livros textos revis tas e jornais para trabalhos de compreensão escrita e conjuntos de atividades em diferentes níveis de complexidade entre ou tros aos quais o aluno recorre conforme suas expectativas aspi rações de aprendizagem suas necessidades ou dificuldades em seu próprio tempo disponível Cumpre esclarecer aqui que os centros de autoacesso po dem ser dos mais variados tipos dos mais simples aos mais so fisticados Entre os mais simples Gardner e Milller 1999 p59 63 listam o tipo banca de mercado cuja operacionalização se dá em alguns dias ou horas do dia Os materiais são guardados em um armário em uma sala de aula e em um determinado dia e hora o professor abre e exibe o material para a escolha dos alu nos A vantagem que esse tipo apresenta é o fato de ele poder ser programado para a situação de aprendizagem com que se depara o professor e a desvantagem é a restrição da escolha do material ao espaço Vídeolocadora é um tipo cuja vantagem reside no fato de ser altamente motivador embora os objetivos possam não ser Autonomia critérios para escolha de material didático 57 claros para os aprendizes A ênfase está na diversão uma vez que os aprendizes vêem um filme com o propósito de imergirem na língua Gardner e Miller também mencionam tipos muito sofisti cados como a loja de tecnologia Baseiase em tecnologia vídeo áudio computador Esse centro é comumente encontrado em universidades com recursos abundantes É útil para todo tipo de aprendiz Sua principal desvantagem é ser caro para instalar manter e atualizar sua grande vantagem é a atração que o apren dizado de línguas via tecnologia apresenta para alguns aprendi zes Convém salientar que embora haja uma variada tipologia de centros de autoacesso possíveis de serem implementados dificilmente um centro se enquadra perfeitamente em uma das classificações Os mais comuns são centros com parte das ca racterísticas de uma ou mais classificações Também é impor tante lembrar que todo centro está constrangido pelo contexto institucional e cultural no qual está inserido No que tange ao institucional podemos considerar fatores como o sistema edu cacional adotado verbas e recursos destinados a esse tipo de projeto principalmente em relação a espaço físico e pessoal es pecializado Em relação ao contexto cultural é preciso lembrar as crenças e atitudes dos participantes do cenário educacional ou seja aprendizes professores elaboradores de política educa cional e administradores que influenciam positivamente ou não no estabelecimento de um projeto dessa natureza Os insumos disponíveis em um centro como esse são de nominados materiais de autoacesso Sheerin 1991 p143 define autoacesso como uma maneira de descrever materiais que são desenhados e organizados de modo que os aprendizes possam escolher o que fazer e trabalhar as tarefas como quiserem Já Gardner e Miller 1999 p917 expandem essa definição e 58 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática enfatizam que embora o termo autoacesso seja por vezes en tendido como um conjunto de materiais e por outras como um sistema de organização de recursos vêem o autoacesso como integração de vários elementos que se combinam para fornecer um ambiente único de aprendizado uma vez que cada aprendiz interage com o ambiente de sua própria maneira No entanto o oferecimento de uma estrutura da mais singela a mais bem con templada tecnologicamente não garante per se o desenvolvi mento da autonomia É Braga 1999 p7172 quem constata isso ao acompa nhar alunos adquirindo a leitura em uma língua estrangeira Es ses alunos se beneficiaram de materiais de autoacesso cujo foco foi o treinamento na conscientização da tarefa Os resultados mostram que esse treinamento pode não ter resultados positivos devido à interferência de variáveis subjetivas como fatores de personalidade por exemplo O fato de um aprendiz ser muito extrovertido é benéfico para o aprendizado quando ele se en contra em uma situação real de comunicação em que há interação com falantes da línguaalvo Isso no entanto não influi do mes mo modo quando se trata do uso de estratégias para desenvol vimento da compreensão escrita Muitas vezes materiais de autoacesso pressupõem que todos os aprendizes possuam autonomia Segundo Braga leito res inseguros podem desistir de aprender se não lhes for dada afirmação permanente e fornecido o feedback afetivo de que ne cessitam É importante levar esse fator em consideração quan do se opta por trabalhar com materiais de autoacesso Com fre qüência o fracasso na aprendizagem decorre não da qualidade do material mas sim da falta de preparo do aprendiz para a au tonomia Uma outra limitação do material de auto acesso por nós constatada diz respeito ao feedback que deve ser dado ao aluno Autonomia critérios para escolha de material didático 59 Esse material normalmente é formado por exercícios que admi tem apenas uma alternativa correta Isso no entanto é uma con tradição quando se pretende estimular autonomia Para que se possibilite o desenvolvimento de um pensamento crítico reflexivo fazse mister que o aprendiz tenha possibilidades de escolha que lhe sejam dadas oportunidades de fornecer suas próprias respostas dentro do possível com suas justificativas pessoais Quando isso não acontece a responsabilidade da cor reção continua fora do controle do aprendiz transferida do pro fessor para por exemplo o gabarito Na tentativa de solver esse problema tornar o aprendiza do mais personalizado e simultaneamente satisfazer às necessi dades individuais é interessante que o processo conte com a orientação de alguém mais experiente na aprendizagem de lín guas Esse alguém não deve ser considerado como o dono do conhecimento ou da verdade absoluta que por conseguinte sabe o que é melhor para o aprendiz Esse alguém deve ter o papel de mediador ou facilitador que auxilia o aluno a aprender a apren der Uma figura comumente encontrada nos centros de auto acesso é o chamado conselheiro cujo papel é acompanhar os apren dizes de maneira que consigam cumprir as metas por eles estabelecidas e nas eventuais dificuldades sugerir alternativas estimulandoos a buscar seu próprio conhecimento O conse lheiro orienta e procura facilitar a aprendizagem autônoma des ses alunos Alinhado a esse pensamento é oportuno rever o que Riley 1997 p122 propõe como papéis do conselheiro 1 elicitar informação sobre metas necessidades e dese jos 2 fornecer informação esclarecer por que para quê como por quanto tempo sugerindo materiais sugerindo ou tras fontes 60 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática 3 sugerir procedimentos organizacionais 4 sugerir metodologia 5 ouvir responder 6 interpretar informação 7 sugerir procedimentos de manutenção de registros e planejamento 8 apresentar materiais 9 analisar técnicas 10 oferecer procedimentos alternativos 11 sugerir ferramentas e técnicas de autoacesso 12 dar feedback no autoacesso 13 ser positivo 14 apoiar Esses papéis do conselheiro acabam por estabelecer uma relação intersubjetiva entre ele e o aprendiz nesse contexto De um lado o aprendiz vem imbuído de crenças oriundas da sua cultura de aprendizagem que acabam por influenciar suas atitu des durante o ato pedagógico Por outro está o conselheiro que por sua vez também traz consigo um conjunto de representa ções valores e crenças que incluem conhecimento especializa do sobre o processo de aprendizagem de línguas bem como so bre a operacionalização do sistema de autoacesso O resultado desse encontro deve ser o estabelecimento da intersubjetividade em que aprendiz e conselheiro exercem seus papéis de forma a chegarem a um senso comum Riley chama atenção para a ques tão da assimetria de poder presente em uma situação como essa em que se incorre no risco de repetir a tradicional relação pro fessoraluno reforçando o papel centralizador do professor como único tomador de decisões Assim é preciso que se instigue o aluno a buscar seu co nhecimento conforme as metas por ele estabelecidas dando Autonomia critérios para escolha de material didático 61 oportunidades para que se encarregue de sua aprendizagem des de o planejamento e execução até a avaliação de seu projeto de trabalho Essa orientação pode ser dada de forma individual ou em grupo periodicamente ou conforme a necessidade do pró prio aprendiz Nesses encontros também é aconselhável a apli cação de diferentes questionários e testes com o objetivo de verificar estilos Scharle Szabó 2000 p1721 Gardner Miller 1999 p159160 e estratégias de aprendizagem SILL Strategic Inventory Language Learning Oxford 1989 p293297 que melhor convenham ao aprendiz estimulando dessa forma a aprendizagem autônoma Quando o conselheiro e o professor da sala de aula não são a mesma pessoa é relevante haver um contato regular entre ambos para que haja reflexão sobre o processo e para que o professor exponha sua visão do aprendiz Isso porque devido a várias razões o comportamento do aprendiz pode variar de um contexto para outro Uma vez cientes dessas limitações cabe refletirmos sobre as razões pelas quais os materiais para autoacesso podem con tribuir para uma aprendizagem bem sucedida Sheerin 1991 p7 é uma das autoras que defende a manutenção de materiais de autoacesso Ela os considera como a solução para vários pro blemas que ocorrem no ensino de línguas entre eles salas de aula com alunos em diferentes níveis de competência na língua alvo alunos com variadas necessidades diferenças psicológicas estilos de aprendizagem e diferenças de personalidade extroversão introversão aptidão etc Essa mesma autora posteriormente em sua obra 1997 p5465 expõe duas razões que pretendem justificar o auto acesso Uma em nível pragmático a individualização e a outra em nível ideológico a promoção da independência do apren diz No que se refere à individualização Sheerin lembra que a 62 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática organização de materiais de autoacesso é para atender à de manda dos aprendizes satisfazendo às suas necessidades espe cíficas Essas necessidades incluem estilos de aprendizagem e preferências e tipos de atividades requisitos oriundos da ocupa ção profissional ou da vida acadêmica do aprendiz Também abarcam limitações peculiares a cada indivíduo que podem fa zer com que queiram trabalhar de forma individual ou não Cita ainda restrições temporais decorrentes de compromissos assu midos pelo aprendiz No entanto a própria autora diz não serem essas razões suficientes para justificar o autoacesso Ela aduz a idéia da promoção do aprendizado independente em nível filo sófico e psicológico conseqüentemente mais difícil de ser ob servado mas já de senso comum entre educadores Na mesma linha de pensamento Crabbe 1993 p441452 argumenta que o indivíduo deve ser livre para fazer suas pró prias escolhas em qualquer área Educadores como Freire 1978 p36 mostram que o indivíduo não deve ser objeto de escolhas alheias aprendese melhor quando se é responsável pelo pró prio aprendizado há mais motivação e freqüentemente mais sucesso O aprendizado é assim mais significativo e mais per manente Crabbe ensina ainda que essa significação e perma nência baseiamse no trabalho da psicologia cognitiva como um processo de solução de problemas O aprendizado é influencia do por muitas variáveis e não pode ser garantido simplesmente pelo estabelecimento de tarefas em sala de aula O autor mostra finalmente que a sociedade não tem re cursos que lhe permitam oferecer um nível de instrução perso nalizada a cada um de seus cidadãos o indivíduo deve ser ca paz de suprir suas próprias necessidades de aprendizado Esse é um argumento muito importante se considerarmos o gradual aumento na demanda pelo aprendizado de línguas estrangeiras e o grande número de pessoas às quais é negado o acesso a ele O Autonomia critérios para escolha de material didático 63 autor salienta o fato de que onde há aulas elas com freqüência têm um número demasiadamente grande de alunos para o pro fessor poder de forma equânime dividir sua atenção O mesmo ocorre quando as aulas terminam o aprendizado precisa conti nuar e uma vez desenvolvida a autonomia essa transição não é traumática Entre todos os argumentos mencionados o psicológico que é trazido tanto por Sheerin 1997 como por Crabbe 1993 é o que tem o maior peso para os educadores pois coloca o controle do aprendizado onde ele ocorre na mente do aluno Fernandes 1996 p37 Concluindo esta seção é interessante lembrar algumas ca racterísticas mencionadas por Dickinson 1987 p8087 que devem estar presentes em material de autoacesso São elas interesse variedade e clareza determinação clara de objetivos insumos lingüísticos significativos exercícios e atividades flexibilidade de materiais instruções de aprendizagem aconselhamento sobre aprendizagem de línguas feedback e testes estímulo à manutenção de anotações sobre o progresso da aprendizagem materiais para consulta catalogação de materiais para consulta fatores motivacionais para o uso de materiais como apresentação profissional com ilustrações e colorido fácil acesso unidades de trabalho relativamente curtas considerando um aluno de rendimento médio 64 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática encorajamento ao aluno por meio de lembretes coloca dos no próprio material aconselhamento sobre o progresso na aprendizagem Muitas dessas características previamente abordadas pre cisam estar perceptíveis em outros materiais que não os de auto acesso como já mencionamos durante este capítulo 27 Comentários finais Neste capítulo pretendemos levantar algumas questões teóricas e práticas sobre materiais didáticos Para tanto procu ramos expor algumas concepções de autonomia relacionandoas com o material didático que pode ser comercialmente produzi do ou elaborado para um contexto específico tendo como uma meta a promoção do aprendizado autônomo Apresentamos as sim alguns critérios que pensamos devem ser analisados no caso da opção por um material préproduzido Nesse caso fazse ne cessária a ajuda e a direção de um professor hábil e experiente o que provavelmente inclui alguns procedimentos bastante centrados no professor Em optando pela produção de materiais ela pode ser feita pelo próprio professor ou pelos alunos Na primeira alternativa é mister uma consulta prévia aos aprendizes para que o profes sor saiba quais seus interesses Assim o aprendizado é centrado no grupo em que acontecem procedimentos como negociação de conteúdos e planejamento de aulas Quando os alunos são os responsáveis pela elaboração de materiais ilustramos com os projetos que incluem planejamento execução e avaliação por eles realizada Por último relatamos o trabalho desenvolvido no CAAL um centro de autoacesso Em um tipo de centro como esse os Autonomia critérios para escolha de material didático 65 alunos podem usar os materiais para minorar suas dificuldades tanto individuais como do grupo O que queremos deixar todavia ao leitor é nosso pensa mento que independentemente de o professor ou responsável por um determinado contexto de aprendizagem optar por mate rial préproduzido ou por elaborar seu próprio material dirigido a um contexto específico ou ainda simplesmente disponibilizar aos aprendizes materiais para autoacesso ele deve ter em men te a preocupação com o desenvolvimento da aprendizagem au tônoma É necessário que a autonomia ocupe um lugar maior na educação só assim ocorre educação Quando se reprime ou ignora autonomia o que ocorre é apenas a imposição da opinião dominante Referências AUERBACH E R Creating participatory learning communities paradoxes and possibilities In HALL J K EGGINGTON W G Org The sociopolitics of English language teaching Clevedon Multilingual Matters 2000 BENSON P What is autonomy Disponível em httpechkuhkautonomywhathtml Acesso em 1999 BOUD D Moving towards autonomy In BOUD D Ed Developing student autonomy in learning 2 ed London Kogan Page 1988 BRAGA D Selftutoring processes the role of subjective factors in readiness for autonomous learning of foreignlanguage reading The Specialist São Paulo Educ v 20 n1 1999 66 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática CRABBE D Fostering autonomy from within the classroom the teachers responsibility System Great Britain Pergamon Press v 21 n 4 1993 DICKINSON L Selfinstruction in language learning Cambridge Cambridge University Press 1987 FERNANDES V A busca da autonomia na aprendizagem de LE a experiência do ensino concentrado na UCPel Dissertação Mestrado em Letras Universidade Católica de Pelotas Pelotas 1996 FREIRE P Pedagogia do oprimido Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 FRIEDBOOTH D L Project work New York Oxford University Press 1986 GARDNER D MILLER L Establishing selfaccess from theory to practice Cambridge Cambridge University Press 1999 HAINES S Projects for the EFL classroom Edinburgh Thomas Nelson and Sons 1989 HOLEC H Autonomy in foreign language learning Oxford Pergamon 1981 KENNY B For more autonomy System Great Britain Pergamon v 24 n 4 1993 LITTLEWOOD W Autonomy an anatomy and a framework System Great Britain v 24 n 4 1996 McGARRY D Leaner autonomy the role of authentic text Dublin Authentik Language Learning Resources 1995 v4 Autonomia critérios para escolha de material didático 67 NICOLAIDES C Interação em sala de aula de língua estrangeira uma experiência na escola de ensino de primeiro grau Dissertação Mestrado em Letras Universidade Católica de Pelotas Pelotas 1996 NICOLAIDES C MARX F O papel do material didático na promoção do aprendizado autônomo No prelo NUNAN D The learnercentred curriculum Cambridge Cambridge University Press 1992 OXFORD R Language learning strategies what every teacher should know Boston Heinle Heinle Publishers 1989 RILEY P The guru and the conjurer aspects of counseling for self access In BENSON P VOLLER P Autonomy and independence in language learning London Longman 1997 ROGERS C R Freedom to learn Columbus Charles E Merrill Publishing Co 1969 SCHARLE A SZABÓ A Learner autonomy a guide to developing learner responsibility Cambridge Cambridge University Press 2000 SHEERIN S Selfaccess Oxford Oxford University Press 1991 UMA RELEITURA DO POLITICAMENTE CORRETO NO GÊNERO ANÚNCIO PUBLICITÁRIO EM SALA DE AULA Teresinha dos Santos Brandão Luiz Gustavo Ribeiro Araújo Este capítulo aponta para dois aspectos que nos interes sam como docentes preocupados com a elaboração de material didático ancorarmonos em um referencial teórico para subsidiar a análise do anúncio publicitário concebido como um gênero do 3 Professora da Universidade Federal de Pelotas RS tisabrandaobolcombr ViceDiretor do Colégio São José Pelotas RS ribeiroaraujobrturbocombr 70 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática discurso e articular esse referencial a uma proposta didática voltada especificamente a alunos iniciantes nos cursos de gra duação os quais estejam freqüentando disciplinas direcionadas à leitura e à produção textual Convém desde já esclarecer que ler tanto quanto escrever envolve um processo o qual não pode estar desvinculado de suas condições de produção mas deter minado por aspectos sociais históricos econômicos políticos e culturais Não é sem motivo portanto que recorremos a Bakhtin 1992 1997 Em Marxismo e filosofia da linguagem 1992 o au tor rompe com as teorias formalistas e afirma ser o signo es sencialmente ideológico e mais sem signos não há ideologia Bakhtin 1992 p 31 Parecenos ideal trabalhar com uma no ção tal de signo uma vez que ao nos debruçarmos sobre uma leitura do politicamente correto necessariamente a ideologia insurgirá porém não como fator acessório mas como elemento constitutivo da linguagem sem o qual não é possível nos ocu parmos do discurso senão da língua sistema abstrato formal voltado ao seu próprio interior Igualmente nos servimos de Bakthin 1992 porque o au tor parece nos responder a questionamentos que nos inquietam em se tratando da análise e produção de textos como a palavra alheia chega até nós O que fazemos com ela quando a incorpo ramos ao nosso discurso O discurso de outrem a partir do momento em que é reto mado não é mais o mesmo sofre alterações no entanto ao mes mo tempo em que se altera pode ser reconhecido como já enun ciado por outra pessoa Em síntese o que ocorre é uma semantização desse discurso um processo de interpretação valorativa em que o conteúdo ideológico passa a ser julgado e assim não pode ser entendido como uma mera transposição do discurso alheio Concordamos pois com Bakhtin 1992 p 31 Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 71 quando explica que o signo reflete e refrata uma outra realida de que lhe é exterior ou seja essa outra realidade é a ideolo gia Passemoslhe a palavra Conseqüentemente em todo signo ideológico confrontamse índices de valor contraditórios O signo se torna a arena onde se desenvolve a luta de classes Bakhtin 1992 p 46 grifos do autor Essas noções poderão nos auxiliar na interpretação dos diálogos que se processam no interior do gênero analisado assim como daqueles que lhe são exteriores e também dialogam com ele Já em Os gêneros do discurso 1997 Bakhtin afirma que não há comunicação senão por meio de gêneros e os define como um conjunto de tipos relativamente estáveis de enunciados Bakhtin 1997 p279 grifos do autor Sobre a estabilidade dos gêneros assim se manifesta Se não existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos se tivéssemos de criálos pela primeira vez no processo da fala se tivéssemos de construir cada um de nossos enunciados a comunicação verbal seria quase impossível Bakhtin 1997 p 302 Da mesma forma preocupase em analisar o que denomi na relativamente Segundo o teórico os gêneros devem ser entendidos como fenômenos e práticas de ação social únicos e concretos pois determinados por suas condições de produção em sua essência variáveis No início do capítulo Bakhtin ibid ressalta estarem as atividades humanas relacionadas à utilização da língua e se ma nifestarem em determinadas esferas sociais ideologicamente marcadas Nestas destaca três elementos fundamentais o con teúdo temático o estilo e a forma composicional Examinaremos neste capítulo a esfera publicitária cujos atores envolvidos serão detalhados no decorrer da análise bem 72 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática como os interesses em jogo O gênero em circulação nessa esfera objeto de nosso estudo será o anúncio publicitário Considera mos que especialmente nesse gênero cuja empresa anuncian te é considerada socialmente responsável subjazem elemen tos de uma política de leitura incorporada a uma postura a qual se convencionou chamar de politicamente correta que impõe ao leitor menos desavisado e crítico uma prática de leitura com a qual não concordamos Por conseqüência arriscaremos expor o porquê dessa discordância e convidamos aos docentes que de sejarem acolher nossa análise para produzirem seus materiais de ensino que assim o façam É comum e freqüentemente aceita a idéia de que em se tratando de publicidade ser criativo é sinônimo de genialidade fruto de uma inspiração digna de alguns publicitários privilegia dos No entanto nesse universo é fundamental planejamento um anúncio publicitário é pois um processo de construção que envolve ao menos dois objetivos específicos a venda do produto como constituinte de trocas de mercado e a venda de valores e normas socioculturais partilhadas por uma comunidade Go mes 1999 p 209 grifos nossos Para a autora o anúncio pu blicitário tornase então um grande produtor de imagens da civilização imagens de estilo de vida social política econômica e cultural de um país idem Dessa forma acrescenta o pú blico é levado não apenas a comprar produtos mas a adotar comportamentos hábitos modos divulgados pelas entidades que se movimenta no espaço público através das reconstituições de cenas da realidade ibid p 210 A publicidade envolve um vasto universo delimitado por objetivos e sujeitos específicos marcado por um funcionamen to próprio relacionado a um contexto de produção sóciohistó rico econômico e cultural que lhe é característico Nesse con texto de produção a imagem que se tem do consumidorleitor Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 73 das empresas anunciantes e das empresas concorrentes no mercado é decisiva para que a publicidade atinja sua princi pal função a de incitar o consumidor a agir Isso requer o apelo à manipulação Vale dizer ao publicitário cabe saber fazer usar artifícios e recursos vários adequados a fim de despertar um de sejo uma necessidade uma falta no consumidor para fazer crer comprovar que é possível suprir essa falta ou saciar um desejo apresentando vantagens ou razões para se consumir um produto ou adotar um estilo de comportamento e assim dever fazer pro vocar no consumidor a vontade de se apropriar do produto ou a adotar valores que atendam a essa necessidade preencham essa falta saciem seus desejos mais inconscientes Desse modo conforme Carrascoza 2003 p 32 a mensagem da publi cidade se dirige ao mundo dos sonhos no qual a realização do consumo não só é possível mas também desejável Nesse mundo de sonhos possuir objetos adotar estilos de vida e comportamentos seguir os padrões de beleza e inteligên cia equivale a alcançar o bemestar e a felicidade Para tanto segundo se afirmou o apelo à manipulação e à persuasão como estratégias de publicidade são fundamentais Entre as mais co nhecidas destacamse as seguintes a Tentação Manipulação por meio de uma recompensa Exemplo Se você lavar meu carro ganhará um presente é uma surpresa Neste caso o manipulado quer fazer algo é levado a para obter um prêmio b Intimidação Manipulação por meio de uma ameaça Exemplo Se tu não lavares meu carro nunca mais te levo para passear 74 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática O exemplo evidencia que o manipulado deve fazer algo é obrigado a Se não o fizer haverá uma punição c Provocação Manipulação por meio de um desafio ressal tamse as características negativas do manipulado Exemplo Duvido que quando eu tiver voltado do traba lho tu já tenhas lavado meu carro Duvido Neste exemplo o manipulado deve fazer algo é obrigado a para obter uma recompensa pode ser até mesmo a aprovação pelo que fez d Sedução Manipulação por meio de um desafio salientam se as características positivas do manipulado Exemplo Tu és tão querido tão gentil Eu acho que quan do eu chegar do trabalho vou encontrar meu carro lavadinho né O manipulado neste caso quer fazer algo para obter uma recompensa Como critérios para a análise do anúncio publicitário en quanto instrumento didático serão considerados os itens a se guir 1 Descrição A descrição constitui etapa importante neste gênero so bretudo quando se trata de material colorido e o leitor só tem acesso a ele em cores preto e branco Além disso na descrição podemse ressaltar alguns elementos do material tamanho se for construído só por linguagem verbal até a forma da letra e a maneira como está disposta se for produzido com linguagem nãoverbal ou ambas frisar detalhes que podem passar desper cebidos ao leitor etc Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 75 2 Sujeitos envolvidos Este item mostrase relevante para se delimitar o perfil dos sujeitos envolvidos a imagem que estes têm de si mesmos e um do outro das empresas anunciantes das empresas concorrentes no mercado e que estas têm de si mesmas e da anunciante e por fim da imagem que os quatro elementos têm de si e entre si 3 Aspectos temáticos O tema anúncio publicitário diz respeito às informações sobre o produto a ser vendido ou ao estilo de vida a ser adotado pelo consumidorleitor Somente depois de delimitado o tema De que trata o anúncio é possível encontrar meios recur sos estratégias procedimentos a fim de valorizar o produto ou o estilo de vida em questão 4 Interesses em jogo Quem anuncia o faz com determinados objetivos tais como reconhecer as necessidades e os desejos do consumidor ou ain da tais necessidades influenciálo de tal modo que mesmo não havendo tais necessidades de fato o consumidor passe a senti las como reais Em outros termos embora ele não tenha uma falta é preciso fazêlo crer que a tem e desse modo a empresa anunciante deve provarlhe que é capaz de suprila Mostrarlhe essa capacidade comprovandoa é uma forma de levar o consu midor à ação incitálo a um deverfazer comprar o produto ou adotar determinados comportamentos Este item encontrase intimamente ligado ao 2 uma vez que numa peça publicitária o jogo de imagens é vital para traçar um perfil dos interesses da empresa anunciante 76 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática 5 Estrutura Via de regra é comum o anúncio publicitário ser estruturado conforme os subitens explicitados a seguir No entanto em se tratando de publicidade as variações são muitas Devese por tanto ter o cuidado de não tornar generalizante o que pode ser particular específico 51 Título O título é parte significativa na estrutura do anúncio A fim de que desperte a curiosidade do leitorconsumidor deve ser atrativo o suficiente para o anúncio ser lido até o final No título os aspectos temáticos são expressos de forma ampla 52 Corpo do texto Nesta parte a informação contida no título é ampliada e os objetivos explicitados ou pressupostos Aconselhase além de salientar a importância do produto a ser consumido também demonstrar a relevância por meio de provas que assegurem o quanto o produto é valioso ao consumidor ou seja se este o adquirir preencherá a faltasobre a qual comentamos 53 Epílogo Além de ratificar a importância de adquirir produtos no vos hábitos de vida etc nesta parte convidase o consumidor à ação utilizandose um enunciado conciso mas que incons cientemente induzao a comprar tais produtos A assinatura logotipo ou marca do anunciante costumam aparecer no epílo go Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 77 Agora leia o texto a seguir e acompanhe a análise posterior Figura 1 Anúncio da AMBEV 1 Descrição O anúncio publicitário ocupa duas páginas abertas da re vista IstoÉ publicada em 19082004 em cujo fundo mesclam se as cores verde escuro e verde mais claro Nesse fundo perce bemse marcas de impressões digitais nas bordas o dizer Re pública Federativa do Brasil na borda de cima seguido em linhas separadas de Estado de São Paulo e Secretaria de Se gurança Pública Já Carteira de identidade está escrito na borda de baixo À esquerda na parte de cima próximo à borda lateral es querda há um símbolo do estado de São Paulo da República Federativa do Brasil 78 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática A página esquerda é ocupada quase integralmente com a figura de uma adolescente maquiada em exagero usando seu cabelo preso em forma de um coque penteado muito comum em senhoras de um modo geral e não em adolescentes Ela usa óculos grandes de um modelo já ultrapassado ou seja fora de moda Traja uma blusa bem comportada com decote conhe cido popularmente por goladepadre sugerindo recato As bijuterias não são adequadas à sua idade pelo contrário são apropriadas a uma mulher de meiaidade e não a uma adoles cente O sorriso é leve suave Em síntese vemos uma adoles cente disfarçada de senhora Na parte de cima próximo à borda lateral direita ocupan do um espaço significativo com tamanho maior do que o sím bolo do estado de São Paulo talvez assim disposto para legiti mar seu poder mesmo não sendo um poder estatal encontra se um logotipo em forma de círculo dividido por letras grandes e azuis contendo a sigla AMBEV Nas bordas do logotipo podese ler PROGRAMA AMBEV DE CONSUMO RESPONSÁVEL enunciado escri to em azul e com letras pouco menores do que a da sigla AMBEV Na parte de baixo próximo à borda lateral direita notase ainda que de forma não muito nítida um RG em miniatura de uma cidadã interessante o RG mostrar a fotografia de uma mu lher e não de um homem Há junto ao RG um logotipo menor do que o descrito anteriormente disposto sob a forma de cruzamento como se o RG ratificasse a existência do logotipo menor como se um dialogasse com o outro É criativa a brincadeira feita pela agência publicitária em relação a esse logotipo ilustrado em tamanho menor mas nem por isso menos importante mostra o número 18 em posição inclinada o número 8 simboliza dois olhos e o 1 Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 79 igualmente inclinado manifesta um sorriso Os números assim dispostos encontramse dentro de um círculo amarelo submersos em um líquido semelhante à cor de uma cerveja inclusive no tamse algumas pequenas bolhas na tentativa de representar o mais fielmente possível as características dessa bebida O logotipo além de ter como fundo a representação de um líquido que lembra uma cerveja é construído em forma de círculo como descrito e apresenta bordas que acompanham esse desenho cir cular Podese ler nas bordas azuis o enunciado escrito em le tras brancas PEDIMOS RG CERVEJA SÓ PARA MAIOR A página é ocupada no centro com os seguintes enuncia dos e nesta disposição NÃO ADIANTA DISFARÇAR em cor verde CERVEJA SÓ DEPOIS DOS 18 ANOS em cor azul CAMPANHA PEÇA O RG DA AMBEV em cor preta e tonalidade forte AJUDANDO A REDUZIR O CONSUMO ENTRE MENORES DE 18 ANOS Mais de 250 mil bares e restaurantes do Brasil assumiram um compromisso com a AmBev exigir o RG antes de vender cerveja aos jovens Porque mais importante do que vender cerveja é vender cerveja com responsabilidade em cor preta com letras menores e tonalidade mais fraca Este anúncio valese não só da linguagem verbal mas tam bém da nãoverbal Nesse sentido cumpre lembrar que na 80 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática publicidade o apelo a imagens fotos desenhos o próprio design do anúncio etc é recurso freqüente É por isso que muitos publicitários justificam esse largo uso da linguagem nãoverbal servindose da célebre frase Uma imagem vale por mil pala vras mesmo que é claro para comprovar tal afirmação usem palavras Por design gráfico compreendese o projeto gráfico formado por todos os elementos que compõem a página impressa diagramação fotos ilustrações tipografias e efeitos computadorizados combinados e tratados de maneira que fi quem bem distribuídos e tenham sentido Cesar 2000 p 115 Outro recurso comum de que lançam mão muitos publici tários diz respeito às figuras de linguagem mas quando o fazem não limitam seu uso apenas à linguagem verbal Sobre isso Carrascoza 2003 p 149 assim se manifesta As figuras de lin guagem ampliam a expressividade da mensagem E as figu ras de linguagem são exploradas não unicamente na esfera ver bal mas também nos códigos visuais de uma peça publicitária E Simões 1999 reportandose ao diálogo possível para além dos elementos nãoverbais explica a linguagem ver bal e a visual travam diálogos intensos e imemoráveis entre si e provocam outros tantos entre seus autores e leitores Assim não é de se estranhar o diálogo estabelecido no anúncio da AMBEV entre esta empresa e a figura da adolescente disfarçada Abaixo seguem alguns exemplos do uso de figura de lin guagens utilizado na linguagem nãoverbal tão comuns na pu blicidade a Metonímia Tratase da substituição de uma imagem por outra em virtude de haver entre elas algum relacionamento de Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 81 contigüidade por exemplo Esse processo pode ocorrer de vá rias formas No anúncio a seguir extraído de um anúncio das sandálias Havaianas1 tomase a parte pelo todo com o intuito de chamar a atenção em especial para o produto anunciado focandoo de perto No caso o pé representa toda a população brasileira No Mundial este é nosso esquema tático 11 com chuteira na frente e 186 milhões com Havaianas atrás Figura 2 Anúncio das sandálias Havaianas b Metáfora A metáfora é uma figura de linguagem em que por um processo de analogia uma imagem passa a se referir a outro objeto fato fenômeno etc 1 Disponível em httpwwwalmapbbdocombr Acesso em 11 dez 2006 82 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Figura 3 Propaganda produzida para a RBS No anúncio que faz parte do Balanço Social RBS uma em presa considerada socialmente responsável porque números são feitos de pessoas publicado pela Fundação Maurício Sirotzky Sobrinho 2000 p 15 também uma empresa carac terizada como socialmente responsável há uma relação de semelhanças entre esperançagravideznascimento A mulher Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 83 grávida é o processo de esperança uma vontade que nasce cresce e faz você se sentir realizado c Antítese Na antítese ocorre o uso de imagens contrastantes apontando para sentidos opostos Figura 4 Anúncio do sabonete Dove 84 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática No anúncio do sabonete Dove extraído de IstoÉ 1818 de 11082004 ressaltase a qualidade do produto O único com ¼ de creme firmador daí o nome Dove firming Em relação às cores o verde suave do sabonete contrasta com o cinza lembrando o tom chumbo do instrumento da aca demia Quanto ao peso com Dove levantamse apenas 100 gra mas com o instrumento o consumidor tem que levantar mui to peso para manter a pele firme Esquematizandose obtémse Dove x instrumento da academia 100 gramas x muito peso Assim como esses exemplos muitos outros poderiam ser citados a fim de evidenciar a relação entre figuras de linguagem linguagem nãoverbalpublicidade Eles foram selecionados a título de ilustração 2 Sujeitos envolvidos AMBEV empresa anunciante e aliadas a ela poder judi ciário poder executivo públicoalvo agência publicitária ado lescente disfarçada IstoÉ Instituto Ethos entre outros No que diz respeito aos sujeitos envolvidos a fim de me lhor analisarmos o anúncio fazemse necessárias as considera ções abaixo a A AMBEV2 foi criada em 100799 inicialmente com a associação das cervejarias Brahma e Antarctica fusão aprova da em 30032000 pelo Conselho de Defesa Econômica 2 Ver outras informações em wwwambevcombr Acesso em 11 dez 2006 Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 85 Posteriormente passou a incorporar a Skol e Bohemia e em 03032004 a companhia passou a manter operações com paí ses da América do Norte tornandose a Cervejaria das Améri cas A AMBEV é hoje a maior indústria de bens de consumo do Brasil e a maior cervejaria da América Latina b O poder judiciário no anúncio está representado pela presença do RG e do enunciado Secretaria de Segurança Públi ca e o executivo pelo símbolo do estado de São Paulo Repú blica Federativa do Brasil c Quanto ao públicoalvo embora haja adolescentes que leiam a revista IstoÉ o público adulto é mais numeroso e tal vez mais crítico Essa informação sugere que o anúncio é antes de tudo destinado aos pais de adolescentes ou de adultos em geral d A adolescente disfarçada é figura central na peça pu blicitária assim como o logotipo da AMBEV o de tamanho maior ou melhor o que ele neste caso representa no contexto 3 Aspectos temáticos Como temáticas centrais desenvolvidas citamse a venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos a educação pela permissividade X educação pela responsabilidade a importân cia do papel a ser desempenhado pelas empresas socialmente responsáveis a postura politicamente correta etc 4 Interesses em jogo Conforme se pode perceber na leitura do anúncio quem se opõe ao comportamento da adolescente é uma empresa renomada nacional e internacionalmente e entende dos produtos que 86 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática fabrica sobretudo em relação às bebidas alcoólicas rever item 2 sujeitos envolvidos a A AMBEV como empresa socialmente responsável as sumiu um compromisso em parceria com o Instituto Ethos3 de Empresas e Responsabilidade Social um dos mais respeitados institutos dessa natureza no Brasil de se relacionar eticamen te com seus colaboradores fornecedores clientes e comunidade em geral b A empresa no anúncio em questão ao usar como pano de fundo um RG aliase por legitimidade ao poder executivo República Federativa do Brasil e ao judiciário é ilegal se gundo a legislação brasileira vender bebidas alcoólicas a meno res de 18 anos Somese a essas observações um outro aspecto absoluta mente indispensável de se mencionar em relação ao anúncio a AMBEV é o que se convencionou denominar modernamente empresa socialmente responsável Tal como qualquer empresa desse porte e natureza a fim de atingir suas metas gerar lucros e garantir uma imagem de respeitabilidade no mercado deve consolidarse com base no mínimo em quatro objetivos a saber 3 O UniEthos Educação para a Responsabilidade Social e Desenvolvimento Sustentável é uma instituição sem fins lucrativos voltada à pesquisa produção de conhecimento instrumentalização e capacitação para o meio empresarial e acadêmico nos termos de Responsabilidade Social Empresarial SER e Desenvolvimento Sustentável DS Tem como objetivo oferecer soluções educacionais para o meio empresarial nos temas da SER e do DS vinculadas à gestão estratégica e operacional das empresas além de atuar com a comunidade acadêmica que desempenha papel fundamental na capacitação e formação os gestores e futuros gestores de empresas Disponível em httpwwwuniethosorgbr Acesso em 11 fev 2006 Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 87 1 gerar lucros 2 lidar com a competitividade assegurando um alto pa drão e qualidade ao produto e serviços oferecidos ao consumidor agora mais crítico e exigente 3 adotar um modelo de gestão voltado ao novo cenário que se viu emergir já nos anos noventa do século pas sado o de abertura à concorrência nacional e inter nacional em decorrência das privatizações de muitas estatais notadamente em nosso país o fortalecimento de uma imagem de empresa centrada na comunidade com a qual lida 4 cumprir com suas obrigações fiscais e legais Esse cenário é muito bem descrito por Leo Voigt em seu artigo As empresas e a responsabilidade social obrigatoriedade com promisso ou negócio publicado no Diário Popular Pelotas RS em 2 e 3 de novembro de 2003 Assim empresas devem gerar lucro assegurar sua competitividade e perenidade e dar retorno ao investimento dos seus acionistas ou cotistas Se não há lucro não se justifica a empresa Não se tem a fonte geradora da obrigação fiscal nem muito menos se justifica a sua ação social É justamente da busca do lucro e da competitividade respaldados no respeito aos princípios éticos que nasce essa nova mentalidade empresarial e essa nova estratégia de gestão de negócios denominada responsabilidade social empresarial Uma gestão dos negócios socialmente responsável preconiza que não basta promover o crescimento da empresa É preciso que haja respeito ao desenvolvimento dos seres humanos dos cidadãos sejam eles colaboradores diretos como 88 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática os funcionários ou membros da comunidade onde a corporação atua Esse modo de gestão já existia nos anos 80 principalmen te nos EUA mas no Brasil com a criação da Constituição de 1988 de caráter democrático e voltada a princípios como os de estímulo à participação da sociedade civil organizada vêse pro liferar o surgimento de ONGs fundações institutos projetos comunitários empresas como as descritas etc 5 Estrutura a Título No anúncio em questão diante do tamanho e da expressividade da figura da adolescente esta tornase mais im portante do que o título Não adianta disfarçar que neste caso acaba por passar quase despercebido pelo leitor cujo olhar fixase mais intensamente na figura b Corpo do texto A estrutura e o funcionamento do anún cio ancoramse em uma antítese a saber de um lado a adoles cente disfarçada de outro o logotipo e o RG da AMBEV manifestando posicionamentos contrários acerca da venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos Diante de uma figura cuja expressividade é bastante signi ficativa o tamanho que ocupa na página os traços fortes de maquiagem os acessórios os óculos cuja armação é despropor cional ao rosto a vestimenta e marcadamente o fato de não se ver naquele rosto as nuanças de uma adulta não haveria outra hipótese senão a de lançar mão de um discurso autoritário proibitivo assumido pela AMBEV e aliados sobre o termo em aspas considerar os itens 4 e 2 sublinhados e assim desmascarar tal figura Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 89 Talvez em razão desses posicionamentos contrários e do conflito decorrente deles Carrascoza referese à criação de ini migos no âmbito da publicidade quando se quer que essa força persuasiva estabelecida entre os dois pólos seja acirrada ameni zada ou até mesmo suprimida Não há portanto como ignorar que uma das técnicas mais comuns é que haja no discurso um inimigo a quem se quer combater A criação de inimigos é um dos elementos argumentativos mais utilizados pelo discurso religioso e igualmente pela publicidade o que nos mostra mais uma semelhança entre ambos Assim como o Diabo se opõe a Deus há sempre um adversário explícito ou culto que a publicidade deve atacar a sujeira os ácaros a falta de tempo etc Carrascoza 2003 p46 Por um lado mesmo que literalmente a adolescente não fale e o silêncio muito significa defende um discurso ba seado na educação pela permissividade e falta de limite tudo pode ser feito É proibido proibir slogan muito difundido na dé cada de 1960 A tal discurso aliase a idéia de muitos jovens e seus pais segundo quem a onipotência e a negação da realidade são tidas como características próprias da adolescência Eu pos so Eles não sabem de nada Comigo nunca vai acontecer Eu tiro essa de letra etc Na via oposta explicitase um discurso baseado na educa ção com responsabilidade Percebese então a presença de inimi gos a que Carrascoza se reportou a adolescente disfarçada de uma mulher maior de 18 anos X AMBEV armada pronta para combater a inimiga O termo entre aspas marcado fortemente para se reportar à grave infração da adolescente remete a uma outra expressão qual seja o adjetivo polêmico cujo objetivo segundo 90 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Maingueneau deve centrarse na refutação O autor para me lhor ilustrar sua afirmação cita KerbratOrecchioni para quem O discurso polêmico é um discurso desqualificador o que quer dizer que ele ata um alvo e põe a serviço desse objetivo pragmático dominante todo o arsenal de seus procedimentos retóricos e argumentativos KerbratOrecchioni 1980c p13 apud Charaudeau Maingueneau 2004 p380 grifos do autor Nessa polêmica é interessante o deslocamento feito entre duas esferas uma voltada à intimidade a outra ao público Na primeira vista pelo olhar de outros adolescentes ser transgressora é ser heroína pelo olhar da AMBEV unicamente transgressora Essa transgressão na esfera da intimidade por mais que provo que indignação não é tão grave quanto na esfera pública na qual há punições legais referentes ao não cumprimento da legis lação Merecem destaque ainda as formas de manipulação En quanto a adolescente agiu sob provocação a empresa sob inti midação Convém realçar que há uma questão implícita nesses mo vimentos de tensão os quais perpassam todo o anúncio Assim é pertinente indagarse as empresas que fabricam e vendem dro gas lícitas como o caso da AMBEV e das indústrias tabagistas podem ser consideradas apesar da aparente contradição social mente responsáveis e politicamente corretas Antes de respon der a essa pergunta cabe esclarecer o termo politicamente cor reto na PósModernidade Como característica de nosso tempo temos um processo em que o universal o homogêneo o absoluto cedem espaço à fragmentação à heterogeneidade às estruturas de poder Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 91 localizado Por conseqüência surgem estilos de vida convencio nalmente chamados de politicamente corretos Courtine4 ao cri ticar esse estilo de vida explica que o politicamente correto é uma das conseqüências discursivas de uma transformação do modelo de cidadania americano que ocorre sob nossos olhos Courtine 2004 p 26 grifos nossos Na mesma obra salienta que o poder que se exerce entretanto não é de modo algum um poder total mas bem mais um poder local detalhista que regulamenta e é voluntariamente anônimo ibid p 27 grifos nos sos Numa postura com aparência de politicamente correta as empresas Philip Morris e Reynolds foram obrigadas a assumir após uma batalha judicial e por pressão das seguradoras de pla nos privados de saúde processos indenizatórios de vítimas do tabagismo atitude legitimada pelo governo norteamericano que fumar faz mal à saúde A AMBEV como mantém acordos comerciais e portanto políticos com empresas do mercado americano teve de adotar também essa postura Logo tanto as empresas tabagistas quan to a AMBEV direcionaram o seu marketing com a finalidade de os adultos consumirem os seus produtos já que segundo elas são os melhores do mercado mas não as crianças e os adoles centes Abaixo citaremos algumas passagens do site da Philip Morris5 muito semelhantes às do tipo de marketing desenvolvido pela AMBEV Nosso marketing encoraja fumantes adultos a escolher nossas marcas Não buscamos atingir as crianças com 4 Tradução livre 5 Disponível em httpwwwphilipmorrisinternacionalcombr Acesso em 30 jan 2006 92 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática nosso marketing crianças não devem fumar Mas sabemos que algumas crianças fumam e é por isso que apoiamos programas de prevenção do hábito de fumar entre os jovens no mundo todo Mas fazer publicidade de cigarro com responsabilidade tem mais impacto do que a prevenção do consumo de cigarros entre os jovens apesar de essa última ser prioridade Vários países já restringiram o marketing do tabaco Apoiamos inteiramente leis feitas para reduzir a exposição das crianças à propaganda de tabaco mas que nos permitam continuar nos dirigindo a fumantes adultos Reconhecemos que fabricamos e comercializamos um produto que causa dependência e graves doenças e que há uma intensa vigilância do que fazemos e do modo como fazemos Mas isso não significa que não podemos ser bons cidadãos corporativos Na verdade nossa meta é sermos os mais responsáveis cidadãos corporativos c Epílogo O leitor fixado a princípio na figura da adolescente per corre todo o caminho do anúncio e quando chega ao epílogo constrói o entendimento de que há uma neutralização na polê mica a adolescente se disfarça aos olhos da AMBEV para trans gredir Porém há de se ressaltar a frase de efeito Porque mais importante do que vender cerveja é vender cerveja com respon sabilidade pois esta dissimula o seu desejo para também disfarçar e poder continuar vendendo seus produtos e manter a imagem de uma empresa socialmente responsável em conformi dade com os padrões do politicamente correto Nesse sentido Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 93 o olhar da AMBEV que recai sobre a adolescente é de um fazer silenciar É curiosa a relação entre ser e parecer no anúncio A adoles cente parece ser transgressora mas diante das considerações que seguem também a Ambev acaba por privilegiar o parecer e não o ser Aliás a uma empresa tão preocupada em identificar os que parecem ser mas não o são deveria levar em conta a história bastante conhecida que envolveu o imperador César e sua espo sa suspeita de manter relações adulterinas César a repudiou mesmo sem ter conhecimento concreto sobre os fatos para po der acusála durante o processo de interrogatório em que lhe indagaram Por que então a repudiou Porque ela não deveria ser suspeita A mulher de César não pode apenas ser honesta precisa parecer respondeu Essa tensão entre ser e parecer encontrase presente em todo o texto e tentar desfazêla não é nosso objetivo Deseja mos ao contrário fazêla emergir Todo discurso apresenta lacunas falhas que fazem vir à tona justamente o que se quer esconder Provavelmente o que Maingueneau denomina de diálogo de surdos e pode ser me lhor detalhado próprio autor Como um posicionamento não é uma doutrina fechada em si mesma mas um trabalho de reconstrução de sua identidade que passa por colocações em relações com outros posicionamentos a discussão longe de ser a ocasião de acabar com os conflitos é na maior parte dos casos o lugar em que a divergência se reafirma e se fortalece Cada um procura particularmente salvar a sua face Maingueneau Charaudeau 2004 p 319 grifos nossos 94 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Portanto o fazer silenciar presente no olhar da AMBEV apóiase no senso comum no dito resignificado As apa rências não enganam Neste capítulo apresentamos alguns anúncios publicitá rios como exemplos de como esse gênero textual pode ser traba lhado em sala de aula Com base na análise desenvolvida o pro fessor poderá junto com os estudantes construir outros mode los interpretativos buscando a formação de leitores cada vez mais proficientes É relevante acrescentar que dada a natureza do material os sujeitos envolvidos poderão ser atuantes desde a seleção dos textos coautores portanto do que venha a ser pro duzido para a utilização em sala de aula não meramente repro duzindo fórmulas mas interagindo no processo de construção de sentidos Referências BAKHTIN M Marxismo e filosofia da linguagem 6 ed São Paulo Hucitec 1992 Os Gêneros do discurso In Estética da criação verbal 2 ed São Paulo Martins Fontes 1997 p 277358 CARRASCOZA J A Redação publicitária estudos sobre a retórica do consumo São Paulo Futura 2003 CESAR N Direção de arte em propaganda 4 ed São Paulo Futura 2000 CHARAUDEAU P MAINGUENEAU D Dicionário de análise do discurso São Paulo Contexto 2004 COURTINE JJ La prohibition des mots L écriture des manuels scolaires en Amérique du Nord Cahiers de LISSL n 17 p 1932 2004 Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 95 DIONÍSIO A P Org Gêneros textuais e ensino Rio de Janeiro Lucerna 2003 DISCINI N A comunicação nos textos São Paulo Contexto 2005 GOMES M C A O texto publicitário em sala de aula In LEFFA J V ERNST A O ensino da produção textual alternativas de renovação Pelotas EDUCAT 1999 KARWOSKI A T GAYDECZA B BRITO K S Gêneros textuais reflexões e ensino Paraná Kaygangue 2005 SIMÕES D Semiótica aplicada à leitura de textos verbais e não verbais In LEFFA V J ERNST A Org O ensino da leitura e produção textual alternativas de renovação Pelotas EDUCAT 1999 UMA PROPOSTA PARA O ENSINO DE LÍNGUAS PRÓXIMAS Cristina Pureza Duarte Boéssio Amparado pela Lei Federal 569271 o ensino de língua estrangeira LE em escolas públicas brasileiras até o final de 1996 era apenas recomendado na grade curricular e privilegia va por influência americana o idioma inglês Com a aprovação da Lei 939496 a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que no artigo 26 parágrafo 5º garante a obrigatoriedade do ensino de pelo menos uma LE a partir da 5ª série do Ensino Fundamental e com o advento do 4 Universidade Federal de Pelotas cristinapdbbolcombr 98 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática MERCOSUL surge o interesse cada vez maior pelo ensino aprendizagem do espanhol Desnecessário dizer que o aprendizado de uma LE possi bilita um melhor nível de conhecimento não só de si mesmo e de sua própria cultura mas também da cultura do outro Aumenta o conhecimento da língua materna por meio de comparações com o idioma estrangeiro além de promover a aceitação das diferenças tanto no modo de expressão como no comportamen to Em busca do melhor método diversas correntes surgiram na tentativa de encontrar um modelo pronto que garantisse o sucesso do ensino de LE Assim foram criados entre outros o método clássico ainda tão presente em salas de aula em que se privilegiava a tradução o audiolingual estímulo resposta reforço o audiovisual estimulando a audição e a visão e a abordagem comunicativa simuladora de situações reais Inde pendente do método constatouse que o mais importante é fa zer com que o aluno aprenda a usar o que aprendeu num pro cesso dinâmico de acordo com a realidade Dependendo dos objetivos que se pretende atingir uma ou outra abordagem pode ser privilegiada ou até mesmo um método eclético em que são aproveitadas diversas metodologias de acordo com as características dos alunos e seu nível de co nhecimento Entendese que num curso de formação de profes sores os futuros mestres devem dominar a LE em que irão tra balhar não só para adquirirem confiança em si mesmos mas e sobretudo para construírem o novo conhecimento com seus alu nos predizendo suas dificuldades e propondo alternativas para sanálas Pela proximidade do espanhol com o português muitas transferências ocorrem de uma língua para outra Ora se uma das metas que se pretende com o ensino de LE é aumentar Uma proposta para o ensino de línguas próximas 99 também o conhecimento de língua materna por meio de compa rações em diversos níveis indispensável se torna o professor de LE dominar profundamente sua própria língua não só para en tender os equívocos cometidos pelos alunos como também para através da reflexão e da consciência dos fatos lingüísticos levá los à verdadeira aprendizagem do fenômeno em questão Ressentemse os Cursos de Letras habilitação em Espa nhol de um estudo aprofundado e sistemático de Língua Portu guesa o que acreditamos seria facilitador ao futuro docente de Língua Espanhola Essa lacuna refletese na problemática cen tral desta investigação a flexão do infinitivo Exclusivo do português o infinitivo flexionado ou pes soal como é denominado por alguns autores é uma das trans ferências realizadas por aprendizes brasileiros de espanhol como LE Em relação às demais línguas neolatinas a língua portugue sa apresenta essa particularidade que para Rui Barbosa apud Almeida 1962 é um maravilhoso lusitanismo um dos privilé gios mais invejáveis do nosso idioma Os outros idiomas não se ressentem de tais formas flexionais encontradas aliás nos mais antigos documentos da literatura lusa Gil Vicente apud Almeida 1962 cometeu o erro de escrever em espanhol Tenéis gran razón de llorardes vuestro mal O que mais surpreende no entanto é que apesar do ínti mo parentesco do português com o castelhano ficasse este des provido do infinitivo pessoal e apesar do contato da nossa lite ratura com o castelhano e mais tarde com o francês e outros idiomas nenhuma língua absolutamente nenhuma influencias se o português no sentido de restringirlhe de algum modo o uso do infinitivo flexionado Pelo contrário esta forma resistiu a to das as influências estranhas desde que apareceu e o seu uso quando muito temse ampliado nos escritores modernos 100 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Fato significativo registrado por Frederico Diez apud Almeida 1962 dá conta de que num determinado tempo em Portugal os poetas escreviam suas obras parte em português e parte em espanhol língua que lhes era bastante familiar Todos eles no entanto excetuando unicamente Camões cometeram o erro de empregar o infinitivo flexionado em espanhol como se também o castelhano conhecesse semelhante forma Apesar de ser um fenômeno lingüístico inexistente no es panhol o infinitivo flexionado mereceu a atenção de alguns gramáticos interessados no ensino de língua espanhola para bra sileiros Milane 2000 p218 sob o título Observação importante alerta O estudante brasileiro deve tomar muito cuidado para não flexionar o infinitivo no Espanhol e não usar o futuro do subjuntivo em subordinadas temporais introduzidas por cuando ou condicionais introduzidas por si como o faz em Português Ainda sobre essa questão Durão 1999 p123124 comenta A diferencia del español el portugués presenta dos formas para el infinitivo una no flexionada y otra flexionada La lengua portuguesa es la única entre las lenguas neolatinas que presenta un infinitivo flexionado aunque hay evidencias de su utilización en textos arcaicos en napolitano Su uso no ha desaparecido pese al contacto que mantuvo a lo largo de su historia con las otras lenguas románicas Los estudiosos no están totalmente de acuerdo sobre su origen por lo que algunos consideran que se derivó del imperfecto de subjuntivo latino y otros creen que su punto de partida fue la utilización del pronombre dialectal mos junto al infinitivo Uma proposta para o ensino de línguas próximas 101 Também observa a alta freqüência em que ocorre esta flexão no português havendo a flexão no morfema de pessoa e núme ro que pode ou não vir precedido de preposição enquanto que no espanhol estas formas aparecem no infinitivo ou se expres sam mediante tempos precedidos por que Alguns exemplos des sa flexão obtidos por meio das observações realizadas em sala de aula os alunos estavam em um mesmo nível intermediário de aprendizado foram entre outros obtenermos no lugar de para que obtengamos irmos no lugar de para ir ou para que vayamos haceren no lugar de para que hicieran podermos no lugar de para poder ou para que pudiéramos hablarmos no lugar de para hablar ou para que habláramos lograrmos no lugar de para lograr ou para que lográramos O professor de espanhol como LE nativo desta mesma língua corrige o erro sem saber o porquê da ocorrência Por sua vez o professor nativo de português comete muitas vezes essa transferência por desconhecimento de sua língua materna con forme se pôde observar em contato com as diferentes situações de aprendizagem Ainda há os que não cometem a flexão na LE mas nem por isso sabem explicar de forma concreta este fato aos alunos O aprendiz que recebe este input negativo do pro fessor certamente cometerá esta transferência para o resto de sua vida Defendese neste caso a importância da consciência lin güística isto é da reflexão sobre as similaridades e as diferenças estruturais entre LM e LE para minimizar tais ocorrências Após trabalhar as diversas habilidades necessárias a uma comunica ção razoável o professor deve por meio de exercícios espe cíficos conduzir o aluno a refletir sobre os fatos lingüísticos 102 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática principalmente em se tratando como já referido de um curso de formação de professores Acreditamos que mais verdadeiro e autêntico será aquele aprendizado construído sobre bases sólidas de conhecimentos préadquiridos isto é a partir da LM pois é nela que o aluno pensa e se estrutura para depois comunicarse em LE Assim sendo concordamos com Vandresen 1988 quando diz que é indiscutível a importância da lingüística contrastiva para o ensi no de línguas estrangeiras Como uma subárea da lingüística ge ral seu interesse está em apontar similaridades e diferenças es truturais entre a língua materna e a língua estrangeira objeto de estudos de um determinado grupo Nessa perspectiva a corre ção de erros é um assunto muito controvertido no ensino de línguas Apesar de se mostrar cético a respeito de sua eficácia Krashen apud Bohn Vandresen 1988 indica quatro princípios pelos quais deve nortearse essa prática a correção é válida quando o foco da aprendizagem está na conscientização da forma e não quando a aquisição é a meta A aquisição processase só quando os alunos recebem suficiente input compreensível e procuram entendêlo visando à mensagem à comunicação o momento oportuno da correção não deve ser a sala de aula durante um exercício comunicativo ou uma con versação A correção deve ser realizada em condições que permitam ao aluno tempo suficiente para corrigir se através de exercícios gramaticais ou mesmo compo sições os erros a serem corrigidos devem ser aqueles formais já ensinados mas não aprendidos erros que interferem na comunicação impedindo que ela se efetue mas não de modo a cortar o fluxo comunicativo Uma proposta para o ensino de línguas próximas 103 os dois métodos mais empregados para a correção de erros são dar a forma correta e o método indutivo da descoberta não há comprovações da superioridade de um método sobre o outro Ainda sobre a questão do erro Durão 1999 apresenta uma nova perspectiva para seu tratamento no contexto da sala de aula Segundo a lingüista o erro deixou de ser um mal a ser evi tado para revestirse de características positivas Por meio dele é possível fazer a análise da competência transitória dos sujeitos em estudo proporcionar ao investigador evidências das estraté gias que os alunos estão utilizando para aprender a LE e alertar os estudantes para que tenham consciência de que cometer er ros é um mecanismo que todos utilizam para aprender e é um modo de que dispõem para testar diferentes hipóteses acerca da natureza da língua que estão aprendendo Diante dessas constatações enfatizase a necessidade de material didático ade quado à realidade do aluno brasileiro estudante de espanhol como LE Nossa proposta é dar continuidade a essas investigações no sentido de apresentar alternativas facilitadoras ao processo de ensinoaprendizagem da língua espanhola Tendose em vista as armadilhas que são comuns ao aluno brasileiro devido à pro ximidade das duas línguas principalmente no que diz respeito ao emprego do infinitivo flexionado e à sua correção acreditase na importância de trabalhar esse tópico gramatical de maneira a evitar problemas de fossilização e até mesmo de discriminação por parte de um falante nativo de espanhol Para isso no caso de os alunos já estarem em um nível avançado de conhecimento a abordagem da gramática e da tradução AGT apesar das críti cas que tem recebido ao longo do tempo é digna de crédito uma vez que consiste no ensino da segunda língua pela primeira 104 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática metodologia que se entende positiva em se tratando de línguas próximas Entre os passos essenciais para a aprendizagem da língua propostos por essa abordagem aquele que nos parece mais eficaz diz respeito a exercícios de tradução e versão os quais dando ênfase à forma escrita da língua permite uma maior conscientização do tópico gramatical em estudo através de re flexão e comparação das duas línguas As sugestões de exercícios aqui desenvolvidos são bastan te estruturais devido à necessidade de um enfrentamento mais efetivo dessa questão A partir da ênfase dada a este aspecto acreditase no despertar de uma nova visão isto é de uma nova consciência na qual o aprendiz mesmo que continue flexionando o infinitivo perceberá que algo não está correto tendo então que refletir e buscar solução reformulando assim o enunciado Apresentamos a seguir alguns exemplos de exercícios den tro dessa linha de argumentação O primeiro tem como objetivo proporcionar a produção escrita espontânea do aprendiz verifi cando se há ou não a ocorrência da flexão do infinitivo ou mes mo do futuro do subjuntivo dado que essas formas coincidem pelo menos com os verbos regulares Já o segundo apresenta como opção de preenchimento das lacunas duas formas a correta e a transferência comum realiza da por aprendizes brasileiros O objetivo é no momento da cor reção conjunta verificar se o aluno consciente ou in consciente utilizou a forma e se a utilizou investigar se foi por real conhecimento do aspecto gramatical ou somente por intuição partindo daí para explicações mais estruturalistas e reflexivas sobre a estrutura da língua O último exercício de cunho bastante estruturalista como o anterior busca reforçar o conhecimento em nível de consciên cia isto é por meio da tradução aproveitando os aspectos Uma proposta para o ensino de línguas próximas 105 positivos que possui o método da AGT já que se acredita na Análise Contrastiva no ensino de línguas próximas Actividad 1 Actividad 1 Actividad 1 Actividad 1 Actividad 1 Su grupo va a hacer un viaje y está invitando al otro grupo Haz la invitación rellenando el recuadro INVITACIÓN Mensaje Nosotros Dirección Fecha Hora Retorno Deben aparecer los siguientes datos en el mensaje Cuál es la propuesta Por qué les gustaría invitarles La importancia del sentido de equipo Esta invitación será cambiada con la del otro grupo a partir de ahí deberán apuntar todos los verbos que aparecen decir el tiempo y modo bien como si están bien empleados Apareciendo la flexión del infinitivo las reflexiones serán trabajadas en equipo los alumnos buscarán las soluciones 106 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Actividad 2 Actividad 2 Actividad 2 Actividad 2 Actividad 2 Completa el texto con las alternativas que te parezcan más adecuadas Necesidades de alumnos Queríamos que fueras nuestra profesora muy atenciosa y siempre lista a ayudarnos esta asignatura tan difícil es necesário mucha atención y mucha dedicación por parte del alumno y del profesor bien como hay la necesidad siempre dispuestos a aprender Además de esto a nuestros colegas debemos trabajar en equipo juntos hasta el final del curso porque eres para irmos para que sepamos para acompanharmos porque estás de estarmos por seres para que vayamos para sabermos para que acompañemos por estares de que estemos Uma proposta para o ensino de línguas próximas 107 Actividad 3 Actividad 3 Actividad 3 Actividad 3 Actividad 3 Completa el recuadro VERBO COMER JUGAR COMPRAR PODER SER HACER TENER ESPAÑOL Yo veo a mis hijos jugar al fútbol Para que podamos trabajar juntos debemos aceptar nuestras diferencias Para que hicieran bien el trabajo estudiaron muchas horas PORTUGUÊS Por comeres bem estás forte Comprei este microfone para cantarmos As vantagens de sermos alunos deste curso são muitas Não os culpo por não terem vontade de estudar 108 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Referências DURÃO A B de A B Análisis de errores de interlengua de brasileños aprendices de español y de españoles aprendices de portugués Londrina UEL 1999 FERNÁNDEZ S Interlengua y análisis de errores en el aprendizage el español como lengua extranjera España Edelsa Grupo Didascalia 1997 LEFFA V J O ensino de línguas estrangeiras no contexto nacional Contexturas São Paulo v4 n4 p1324 1999 MILANI E M Gramática del español para brasileiros 2 ed São Paulo Saraiva 2000 VANDRESEN P Lingüística contrastiva e ensino de línguas estrangeiras In BOHN H VANDRESEN P Org Tópicos de lingüística aplicada o ensino de línguas estrangeiras Florianópolis Ed da UFSC 1998 p7594 5 PRODUÇÃO DE MATERIAIS PARA O ENSINO DE PRONÚNCIA POR MEIO DE MÚSICAS Denize NobreOliveira Introdução Após alguns anos trabalhando como professora de Inglês como Língua Estrangeira EFL tenho observado que a pro núncia é um aspecto freqüentemente negligenciado pelos profissionais da área Esse fato é um tanto preocupante uma vez que uma produção oral inadequada pode potencialmente Universidade Federal de Santa Catarina denizenobreyahoocombr 110 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática comprometer a inteligibilidade no processo comunicativo po dendo até gerar malentendidos no discurso das partes envolvi das O aluno brasileiro ao estudar o inglês como língua estran geira LE apresenta certa dificuldade para adquirir os sons que não fazem parte do inventário fonético de sua língua materna LM Como posto anteriormente a nãoaquisição ou a difi culdade de aquisição desses sons podese dever a uma produ ção ineficiente por parte dos próprios professores que às vezes nem chamam a atenção dos aprendizes para tal aspecto lingüístico Ora se os alunos não percebem a diferença entre sons da LM e sons da LE eles muito provavelmente não fazem essa distinção no momento da produção oral Esse assunto referente às diferenças paramétricas entre línguas tem sido extensivamente abordado até os dias de hoje mas aparente mente tal literatura não tem sido aplicada à sala de aula ou porque os próprios professores não lêem sobre o assunto ou porque não dão o devido valor a ele ou ainda por não saberem como tratar o problema na sala de aula Neste capítulo escrevo sobre a importância da consciên cia fonética e do treinamento da produção apropriada dos sons da língua inglesa por parte dos professores e as conseqüências advindas das trocas fonéticas Em seguida aponto alguns as pectos que devem ser considerados durante a produção dos materiais para o ensino da pronúncia de inglês como LE Final mente sugiro algumas atividades que podem ser desenvolvidas e utilizadas para o ensino desse aspecto lingüístico por meio de músicas Produção de materiais para o ensino de pronúncia por meio de músicas 111 51 O ensino de pronúncia na sala de aula de EFL A consciência fonética ou seja o conhecimento da maneira como o aparelho fonador deve ser articulado para a produção adequada dos sons das línguas em conjunto com a atenção seleti va isto é a focalização em determinados aspectos que muitas vezes passam despercebidos pelo ouvinte são dois fatores cruciais para se realizar um processo de ensinoaprendizagem de pronúncia eficiente na sala de aula de LE em termos de pro dução e de percepção dos sons Pisoni et al 1994 Além de funcionar como estratégia catalisadora para a percepção dos sons da línguaalvo que não existem na língua materna dos aprendi zes a consciência fonética e a atenção seletiva tornam este pro cesso perceptivo e produtivo mais eficaz Argumentos con trários postulam que a consciência fonética não seria necessá ria uma vez que o aprendiz de sua língua materna LM não recorre a tal expediente Contudo há que se considerar que se trata de momentos distintos de aprendizagem ocupando inclu sive áreas cerebrais diferentes Além disso mesmo o aprendiza do de LM envolve certa consciência fonética a exemplo do que apontam estudos sobre processamento fonológico e aquisição de LM como os de Stampe 1973 e Yavas Hernandorena Lamprecht 1991 É fato que crianças mesmo nas fases iniciais de aquisição têm consciência dos segmentos integrantes das palavras e apesar de elas não conseguirem produzilos elas os têm em sua subjacência Um outro argumento contrário à prática da pronúncia em sala de aula é a questão da fossilização lingüística Alguns pes quisadores acreditam que a capacidade produtiva e perceptual dos aprendizes de uma LE é comprometida após a puberdade devido à perda da plasticidade cerebral e muitos professores utilizamse desse argumento para não dar a devida atenção ao 112 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática ensino de pronúncia Porém diversos estudos já comprovaram que o treinamento juntamente com a atenção seletiva é um meio eficaz para a superação das limitações cognitivas póspu berdade Afinal foi comprovado que a plasticidade cerebral é limitada com o passar dos anos porém não é totalmente inibida e um esforço extra tanto de alunos quanto de professores aliado a um programa de treinamento fonético bem planejado e desen volvido pode levar à superação dessa limitação Pisoni Lively Logan 1994 Hawkins 1998 De fato em termos de pronúncia dificilmente um falante nãonativo de uma LE conseguirá adquirir uma pronúncia idên tica à de falantes nativos mas essa não é a questão O que pro fessores e alunos devem buscar é a inteligibilidade na comunica ção e não a eliminação total de sotaque Afinal uma pronúncia com um pouco de sotaque pode ser até charmosa É preciso ter em mente que se o aluno não perceber de terminado fonema provavelmente ele não o produzirá O input lingüístico fornecido pelo professor também é portanto um ponto bastante relevante já que é um dos modelos disponíveis para os alunos caso o professor possua limitações quanto à pronúncia adequada dos sonsalvo é preciso que outros modelos sejam providenciados como gravações feitas por falantes nativos por exemplo É notável como aprendizes de EFL foneticamente conscientes adquirem o sistema de sons da línguaalvo de modo mais rápido Vários pesquisadores Dickerson 1977 Pisoni et al 1994 AkahaneYamada et al 1999 Callan et al 2003 en tre outros já atestaram tal fato Um outro fator bastante importante é conhecer as diferen ças paramétricas que se verificam entre línguas assim o que é menos marcado isto é de mais simples produçãopercepção na língua portuguesa pode ser mais marcado ou seja de mais difícil produçãopercepção na línguaalvo e viceversa Dessa forma Produção de materiais para o ensino de pronúncia por meio de músicas 113 fonemas consonantais como T e D da língua inglesa são mais marcados para aprendizes brasileiros de EFL sendo por tanto sob os aspectos acústico e articulatório mais problemáti cos de ser adquiridos e a estratégia utilizada por aprendizes bra sileiros é a substituição do que é mais difícil por algo de mais fácil em termos de produção Isso significa por exemplo que os alunos tenderão a produzir three como tree ou free já que t e f são fonemas menos marcados do que T ou seja são mais simples de serem produzidos por falantes nativos de língua por tuguesa Esse aspecto canônico é bastante relevante pois co nhecendose a língua materna do aprendiz é possível preverem se as dificuldades potenciais que ele poderá apresentar durante o processo de aquisição de uma língua estrangeira 52 Seleção do material O uso de músicas como fontes de input autêntico compõe um recurso bastante atraente para professores e aprendizes de línguas estrangeiras especialmente de EFL Os alunos só têm acesso ao input do professor durante as poucas horas em que estão em sala de aula entretanto esses mesmos alunos estão constantemente ouvindo músicas em casa no carro na acade mia de ginástica nas ruas em seus momentos de lazer Além disso muitos alunos especialmente os adolescentes atribuem à música a motivação por estarem aprendendo uma língua estran geira Além de praticar aspectos perceptuais por meio de ativi dades de listening e produtivos ao cantar as músicas fica a critério do professor a prática de atividades de transcrição foné tica Também fica a critério do professor desenvolver ativida des de identificação e de discriminação fonética seja no nível segmental ou suprasegmental Neste capítulo proponho 114 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática atividades abrangendo apenas segmentos mas que podem facil mente ser adaptadas para a prática de aspectos prosódicos da língua É importante enfatizar que o uso de músicas para a elabo ração de materiais para o ensino de pronúncia só será eficiente se algumas variáveis extralingüísticas apresentadas a seguir forem controladas uma vez que elas podem afetar negativamente o bom funcionamento das atividades que serão desenvolvidas Primeiramente é necessário considerarse a clareza do input ao qual o aprendiz será exposto Ruídos de fundo como o som dos instrumentos musicais muito alto ou a voz muito baixa ou muito rouca do intérprete da canção como é o caso de algumas can ções de Eric Clapton são fatores que podem comprometer o processo de percepção dos alunos Dependendo do objetivo da aula é preciso descartar ma teriais que apesar de estarem na moda são problemáticos Numa aula sobre tonicidade de palavras word stress da língua inglesa por exemplo recomendo evitar a música Youre beautiful de James Blunt já que o intérprete insiste em acentuar a sílaba incorreta da palavra beautiful A velocidade de produção também deve ser observada Há artistas como Alanis Morrisette em seu álbum Jagged little pill que cantam de forma atropelada numa velocidade tão rápida que faz com que a canção tornese quase incompreensí vel e frustante para os alunos que não conseguem acompanhá la Por fim é necessário observarse se o intérprete possui um sotaque muito forte Atualmente está muito em voga a idéia de que se deve falar um inglês mais neutro sem fortes influências de dialetos específicos a fim de poder compreender e ser com preendido por um maior número de falantes independentemen te de seu dialeto ou idioma original Produção de materiais para o ensino de pronúncia por meio de músicas 115 53 Proposta de atividades Vamos supor que o assunto da aula sejam as vogais fron tais do inglês Como atividade introdutória ao tópico da aula o professor pode selecionar palavras da canção que contenham as vogaisalvo ou seja i I eI E e Q É nesse momen to que se deve chamar a atenção do aluno à diferença entre es ses fonemas explicando de que forma eles devem ser produzi dos Na atividade seguinte o professor distribuirá a letra da música com as palavras que apresentam os fonemas em questão destacadas das demais em negrito ou sublinhadas como em 1 1 Losing my religion REM Life is bigger Its bigger than you And you are not me The lengths that I will go to The distance in your eyes Oh no Ive said too much I set it up Thats me in the corner Thats me in the spotlight Losing my religion Trying to keep up with you And I dont know if I can do it Oh no Ive said too much 116 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática I havent said enough I thought that I heard you laughing I thought that I heard you sing I think I thought I saw you try Every whisper of every waking hour Im choosing my confessions Trying to keep an eye on you Like a hurt lost and blinded fool Oh no Ive said too much I set it up Consider this The hint of the century Consider this the slip That brought me to my knees failed What if all these fantasies Come flailing around Now Ive said too much I thought that I heard you laughing I thought that I heard you sing I think I thought I saw you try But that was just a dream That was just a dream Os alunos deverão ao ouvir a música distribuir essas pa lavras nas colunas adequadas como em 2 Produção de materiais para o ensino de pronúncia por meio de músicas 117 2 i I eI E me is waking said knees bigger dream it Em seguida os alunos repetirão uma palavra de cada colu na após o professor conferindo a distribuição das palavras ao mesmo tempo em que praticam os sons da LE Esta atividade pode ser adaptada para diversos níveis de proficiência O exercício a seguir é uma variação dessa primeira atividade Para que os alunos possam praticálo de forma efi ciente é necessário que eles já conheçam o alfabeto fonético internacional IPA Após selecionar uma música o professor deve transcrever apenas as palavras que contenham o segmen toalvo como em 3 3 Losing my religion REM Life IzbIgr ItsbIgr than you And you are not mi The leNTs that I wIl go to The dIstns in your eyes Oh no Ive sEd too much I sEt It up 118 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Será pedido aos alunos que escrevam as palavras ou fra ses transcritas foneticamente como em 4 4 Losing my religion REM Life IzbIgr is bigger ItsbIgr than you its bigger And you are not mi me The leNTs that I wIl go to lengths will The dIstns in your eyes distance Oh no Ive sEd too much said I sEt It up set it Com esse exercício de transcrição os alunos poderão visualizar não só as diferenças acústicas e articulatórias mas também as diferenças gráficas entre fonemas O grau de dificul dade das atividades é estabelecido pelo professor que pode de talhar em maior ou em menor grau a transcrição fornecida aos alunos fica a seu critério trabalhar apenas contrastes fonêmicos atividade mais simples ou incluir diacríticos em sua transcri ção a fim de sinalizar detalhes de pronúncia como a aspiração e a velarização de determinadas consoantes atividade mais com plexa Uma atividade de grau intermediário pode incluir a trans crição de uma música completa mas sem sinais diacríticos exceto representações da tonicidade de palavras polissílabas como está representado em 5 Produção de materiais para o ensino de pronúncia por meio de músicas 119 5 Love Generation Bob Sinclar 1 wAI mst AUr tSIldrn pleI In D strits 1 2 broUkn hArts End feIdId drims 2 3 pis End lv t EvrIwn DQt ju mit 3 4 doUnt ju wrI It kUd bi soU swit 4 5 dZst lUk t D reInboU ju wIl si 5 6 sn wIl SAIn tIl ItnIti 6 7 AIv gAt soU mtS lv In mI hArt 7 8 noU wn kQn tE It pArt 8 Yeah 9 fil D lv dZEnreISn 9 Yeah yeah yeah yeah 10 fil D lv dZEnreISn 10 Cmon cmon cmon cmon Dont worry about a thing Its gonna be alright 120 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Uma atividade que pode ser praticada pelos alunos ao final da aula como uma atividade follow up é a proposta em 6 O professor distribui uma tabela constituída por categorias lexicais na primeira coluna e os sons da LE que estão sendo trabalhados A tarefa dos alunos é preencher os campos da tabela com o vo cábulo correspondente ao som designado Assim os aprendizes têm a possibilidade de literalmente visualizar que as diferenças de pronúncia podem acarretar diferenças lexicais 6 i I eI E Name Geena Bill Kate Meg Country Sweden Chile Maine Mexico Verb seen been Bake Bet Noun pin sin Cake Laughter Com essa atividade além de praticarem a pronúncia os alunos também têm a oportunidade de exercitar seu vocabulário e ortografia Uma variação para esta atividade seria colocarem se na primeira coluna os vocábulos grifados na música traba lhada Os alunos teriam então que marcar a coluna que conti vesse o som correspondente ao das palavras em cada linha como em 7 Tratase de uma atividade semelhante àquela ilustrada em 2 Produção de materiais para o ensino de pronúncia por meio de músicas 121 7 i I eI E It Laughing Dream Said Waking Bigger Essas são sugestões de atividades que podem servir de modelo para o desenvolvimento de tantas outras 54 Conclusão Neste capítulo apontei alguns aspectos importantes para a produção de materiais para o ensino de pronúncia e sugeri ativi dades que podem ser desenvolvidas para esse fim Não quero com isso fornecer receitas para serem copiadas meu objetivo é que os professores façam um plágio das minhas idéias e não das atividades baseandose nas sugestões para produzirem seus pró prios materiais de acordo com as necessidades de seus alunos As músicas são ótimos instrumentos de trabalho e há inú meras atividades que podem ser desenvolvidas tomandoas como base Os graus de atratividade e de eficiência da atividade de penderão da criatividade do professor 122 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Referências AKAHANEYAMADA R TOHKURA Y BRADLOW A PISONI D Does training in speech perception modify speech production Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences San Francisco 17 August 1999 p117120 1999 CALLAN D TAJIMA K CALLAN A KUBO R MASAKI S AKAHANEYAMADA R Learninginduced neural plasticity associated with improved identification performance after training of a difficult secondlanguage phonetic contrast NeuroImage n 19 p113124 2003 DICKERSON W Explicit rules and the developing interlanguage phonology In JAMES A LEATHER J Sound patterns in second language acquisition Dordrecht Foris 1986 HAWKINS S Auditory capacities and phonological development animal baby and foreign listeners In PICKETT J M The acoustics of speech communication fundamentals speech perception theory and technology Needham Heights MA Allyn Bacon 1999 p183197 MORISSETTE A Jagged little pill USA Maverick Recording Company 1995 1 CD PISONI D B LIVELY S E LOGAN J S Perceptual learning of nonnative speech contrasts implications for theories of speech perception In GOODMAN J C NUSBAUM H C Ed The transition from speech sounds to spoken words Cambridge MA MIT Press 1994 p 121166 REM Losing my religion In Out of time USA Athens 1991 1 CD SINCLAR B Love generation In Love generation England Tommy Boy 2005 Single CD Produção de materiais para o ensino de pronúncia por meio de músicas 123 STAMPE D A dissertation on natural phonology 1973 Tese Doutorado Universidade de Chicago Chicago 1973 YAVAS M HERNANDORENA C L M LAMPRECHT R R Avaliação fonológica da criança Porto Alegre Artes Médicas 1991 REGRAS PRÁTICAS PARA A CRIAÇÃO DE TRANSPARÊNCIAS COM MÍDIAS ELETRÔNICAS Adriano Nobre Oliveira 61 Introdução A decisão de se utilizarem transparências ou algum tipo de mídia eletrônica como suportes a uma apresentação pode aumentar substancialmente a qualidade do trabalho fazendo cres cer o interesse do público e o nível de retenção do assunto dis cutido O simples emprego de uma mídia de suporte porém 6 O autor agradece a colaboração de Denize NobreOliveira e Nara Widholzer Universidade Federal do Ceará nobreadrianoyahooca 126 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática não é garantia de sucesso para uma apresentação uma vez que a má utilização de material de apoio pode arruinar a exposição até mesmo de um excelente apresentador provocando desconcentração e desinteresse na platéia Nesse sentido du rante minha vivência tanto no Brasil quanto no exterior pude assistir a inúmeras apresentações e palestras e se por um lado constatei o poder das exposições que exibiram materiais de su porte bem planejados e equilibrados por outro observei em diversos casos outras que poderiam ter obtido um grande su cesso mas que foram malsucedidas devido ao emprego de ma terial de suporte inadequado A necessidade de se obedecer a certas regras básicas na construção de transparências e apresen tações eletrônicas fazse dessa forma evidente Nas próximas páginas você encontrará uma compilação de orientações práti cas e uma metodologia de construção de apresentações que o guiarão na criação de materiais de suporte eficientes 62 Importância de uma mídia de suporte visual Uma análise do modo como o ser humano assimila infor mações deixa clara a importância de um material de suporte bem elaborado considerandose que as pessoas retêm 10 das palavras que ouvem 40 da forma como as palavras são ditas 50 daquilo que vêem Dessa forma podese perceber que para o aprendizado do público a maneira da qual uma apresentação é feita pode ser até mais importante que o próprio conteúdo exposto ao contrário do que muitos poderiam pensar A esse respeito é interessante Regras práticas para a criação de transparências com mídias eletrônicas 127 referir o que escreve Widholzer nesta mesma obra a respeito do discurso gráfico Somado a isso no caso de exposições orais são determinantes a capacidade de o apresentador exprimirse bem por meio de gestos de impor um tom de voz adequado ou mesmo de exibir um olhar firme e confiante ao público Uma mídia de suporte pode logo aumentar enormemente a retenção do assunto pela audiência atuando como um elemento de con centração para o público e reforço do conteúdo e de melhora da performance da pessoa que realiza a apresentação 63 Aspectos gerais da apresentação 631 Definição das características do público Antes de se começar o processo de criação de uma apre sentação é essencial que se conheça bem o público Informa ções sobre seu perfil e seu nível de domínio do assunto a ser exposto devem ser previamente anotadas e ficarem acessíveis durante todas as fases de planejamento da apresentação Algumas perguntas devem ser respondidas antes de se pros seguir a criação da exposição a saber Quem é minha platéia idade sexo profissão nível cul tural hábitos etc Qual o nível de entendimento dessas pessoas sobre o assunto da apresentação O que elas pensam e qual sua opinião a respeito do assunto O que a platéia espera obter da apresentação Existem barreiras ou preconceitos sobre o assunto ex posto entre essas pessoas Quais são 128 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática O grupo tem um perfil homogêneo Se a resposta a essa pergunta for negativa devese fazer um levanta mento dos pontos que essas pessoas tenham em co mum os quais devem ser explorados e dos pontos di vergentes que devem ser evitados sempre que possível 632 Objetivo da apresentação Uma vez que o seu público e suas principais características já sejam conhecidos chega o momento de se estabelecerem os objetivos da apresentação O que você pretende conseguir edu car motivar informar O que as pessoas da platéia deverão sentir saber ou fazer de modo diferente após a apresentação Você quer que a platéia lembrese de detalhes específicos ou a idéia geral é realmente o mais importante na sua exposição Por exem plo na preparação de uma apresentação de um estudo científico sobre uma nova teoria de ensino é mais importante que o espec tador lembrese dos detalhes de realização da pesquisa e dos resultados estatísticos ou você quer transmitir uma visão geral da aplicação dessa teoria em sala de aula Novamente as res postas a essas perguntas dependerão de quem for a platéia Caso ela seja formada por um grupo de professores do ensino médio você não estaria prestandolhes nenhum serviço centrando sua apresentação em detalhes como os passos da metodologia cien tífica utilizada seria melhor focalizar por exemplo que a nova teoria aumenta a interação em sala de aula ou que contribui para a construção de sentido por parte dos alunos durante o proces so de leitura de determinado gênero textual1 1 Exemplo baseado em Solé 1998 Regras práticas para a criação de transparências com mídias eletrônicas 129 Assim como o perfil da platéia o objetivo da apresentação deve estar sempre presente guiandoa durante todo o processo de construção da exposição 64 Conhecendo os aspectos gerais do formato de uma apresentação Agora que você já estabeleceu A QUEM você falar e O QUE você quer comunicar é necessário conhecer alguns aspec tos práticos da criação de slides e apresentações para decidir como você vai realizar a comunicação Dessa forma as próxi mas seções trazem orientações básicas sobre os vários elemen tos de um material de suporte visual as quais se aplicam tanto a apresentações que utilizam recursos de informática quanto àque las que se valem de transparências 641 Objetivo uma idéia geral ou detalhes pontuais Em função dos objetivos estabelecidos há duas maneiras de se elaborar uma apresentação Se você definiu que o objetivo principal da sua apresentação é deixar o espectador com um con ceito um sentimento ou uma idéia use fotografias e no caso de apresentações eletrônicas produza vídeos animados reduza a quantidade de texto na tela ou transparência mostre pessoas aplicando a idéia ou usando o produto mostre pessoas que pareçam satisfeitas enfatize o que está sendo feito mais do que como está sendo feito 130 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Se seu objetivo for o de comunicar detalhes factuais empregue texto e quadros não use mais do que seis linhas por slide declare e reforce as idéias usando métodos e termos diferentes simplifique as telas ou transparências utilize fotografias ou arte para ajudar o espectador a ligar os dados brutos ao mundo real 642 Recomendações gerais para confecção de slides ou telas Independente do tipo de apresentação que você estiver construindo as seguintes orientações são sempre válidas cada tela ou slide deve abordar um único conceito ou idéia as transparências devem seguir uma progressão lógica cada uma complementando a outra em geral o melhor é um projeto simples o espectador deve ser capaz de processar cada tela de maneira rápida e fácil no caso de telas de texto o ideal é empregarse um máximo de seis linhas na maior parte do texto usamse letras maiúsculas e minúsculas e nunca TODAS MAIÚSCULAS os títu los e os cabeçalhos podem ser definidos em maiúscu las a cor deve se harmonizar com o tema da exposição devese evitar o uso de muitas cores é recomendado um máximo de quatro por tela Regras práticas para a criação de transparências com mídias eletrônicas 131 o contraste entre as cores utilizadas de fundo e texto por exemplo deve permitir uma leitura fácil essa ve rificação deve ser realizada na mídia que será utilizada durante a apresentação quando possível devem ser empregadas ilustrações é necessário muito cuidado com os efeitos especiais em apresentações eletrônicas animações ruídos etc Eles devem ser utilizados com parcimônia e somente se contribuírem de fato para o objetivo da apresenta ção 643 Varredura da tela pelo olho humano Além dos aspectos citados anteriormente é importante ter se consciência do modo como a maioria das pessoas vê uma página tela ou fotografia A varredura de uma superfície pelo olho humano segue aproximadamente a forma de Z entrada e saída da página tela ou slide Ela começa no canto superior esquerdo entrada vai para o meio na direção do lado direito dá um salto para a esquerda até cerca de três quartos para baixo e sai pelo canto direito inferior Dessa forma os itens que você deseja enfatizar devem ser colocados ao longo do padrão de var redura do Z como ilustrado na Figura 1 Outros recursos e técnicas podem ser utilizados para se chamar a atenção do espectador para um ponto determinado da tela mesmo que ele não esteja sob o Z Animações curtas por exemplo fazem com que o olho se mova para uma direção específica da tela Essa animação não tem que ser necessaria mente feita a partir de desenhos podendo ser empregado qual quer tipo de elemento dinâmico Mesmo cores que pisquem ou caracteres que se modifiquem farão o espectador olhar para cer ta área 132 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Figura 1 Varredura da tela pelo olho 644 Perfeita combinação entre a narração e o visual O equilíbrio entre o que se vê e o que se ouve é essencial para uma boa assimilação do assunto pela platéia Às vezes a exibição de muito material para se ler ao mesmo tempo em que alguém esteja falando pode ser dispersiva ou até irritante Ou as pessoas sintonizamse nas palavras ou se concentram no visual ou então examinam superficialmente ou ignoram o visual a fim de ouvir o que está sendo dito Quando acompanha a narração ou o material falado o material visual deve ser particularmente breve Ele deve ser exi bido primeiro seguido da fala do palestrante ou deve ser exibi do após a exposição oral 645 Utilização de listas e marcadores Visando manter o máximo de simplicidade nos textos de uma transparência você pode ignorar certas regras gramaticais básicas na construção de frases Uma lista com marcadores por exemplo nem sempre exige um sujeito e um verbo Assim em vez de escrever A computação exige habilidades em matemática e lógica a computação exige uma boa capacidade de abstração você pode escrever A computação requer matemática lógica capacidade de abstração Dessa forma as palavraschave da transparência ficam evidenciadas ajudando a platéia a focalizar o ponto principal da exposição e facilitando a lembrança da mensagem Em marcadores convém usaremse símbolos que atraiam a atenção do público e que tornem a apresentação mais visual 646 Utilização de fontes Nas apresentações o formato escolhido para as fontes constitui um detalhe essencial pois elas devem assegurar a legibilidade do texto considerandose ainda que elas desempenham um relevante papel na forma pela qual a mensagem será percebida Os caracteres podem ser classificados de acordo com os seguintes atributos 133 134 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática sombreado estilo e peso do tipo negrito itálico sublinhado sombreado itálico negrito etc fonte Times New Roman Helvetica Bookman Old Style Arial etc serifas tipo com serifas que inclui traços no final dos traços principais e tipo sem serifas Times New Roman é um tipo com serifa Helvetica é um tipo sem serifa tamanho do ponto ou corpo do tipo o tamanho do tipo é medido em pontos Um ponto é igual a 172 de uma polegada de modo que 72 pontos têm cerca de uma polegada Na maior parte dos casos um corpo do texto com tamanho entre 18 e 28 pontos é legível numa transparência ou tela Para títulos e cabeçalhos con vém utilizarse um tamanho entre 24 e 40 pontos Em cada apresentação você deve procurar utilizar no máximo três tipos de fonte diferentes Além disso os títulos os textos principais e outros objetos devem obedecer sempre à mesma disposição e padrão em todas as transparências Por exem plo se você tiver uma série de slides que inclua um título ou uma linha título em cada um em todos esses slides deverá ser utiliza da a mesma fonte e em geral o mesmo tamanho de fonte além de esses elementos estarem situados na mesma região de tela Como regra geral para apresentações são recomendadas as fon tes sem serifa pois elas proporcionam um visual mais contem porâneo e limpo ao passo que as serifas tendem a desaparecer ou borrar sobretudo se você estiver projetando imagens Regras práticas para a criação de transparências com mídias eletrônicas 135 Em relação ao tamanho a regra de ouro neste caso é que os textos sejam facilmente legíveis Assim sendo se você não tiver certeza sobre a aparência de determinado tamanho de fon te convém testar a apresentação com um grupo de amigos ou colegas num ambiente semelhante ou idêntico àquele que será utilizado para a apresentação Finalmente devese limitar o uso de fontes em itálico usan doas somente para citação de termos ou palavras estrangeiras 647 Utilização de fotografias e de imagens gráficas Conforme referido anteriormente o uso de fotografias deve ser feito sempre que possível para ajudar os espectadores a asso ciar ao mundo real as informações que estejam sendo apresenta das Quando expomos uma lista com um fundo fotográfico mesmo que este faça referência a um só item da lista ajuda mos a tornar o texto menos abstrato para a platéia Esses recur sos também contribuem para que a audiência retenha as infor mações pois quanto mais visual for a apresentação mais eficaz ela será quanto a esse aspecto Na falta de fotografias imagens gráficas podem ser utiliza das Além disso esses dois recursos podem ser empregados em uma mesma exposição O importante mais uma vez é apresen taremse as informações da forma o mais visual possível 65 Construindo o roteiro da apresentação Agora que os aspectos gerais que envolvem o formato de slides e transparências são conhecidos podemos passar à defini ção da estrutura da apresentação Ao fim dessa etapa teremos um roteiro completo de todos os slides da apresentação restando apenas construílos 136 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática 651 Resumo da apresentação Neste ponto devemos voltar nossa atenção novamente para a definição do público e do contexto da apresentação É impor tante que você reserve o tempo necessário para refletir profun damente sobre as seguintes interrogações Quem O quê Quando Onde Por quê Como Essas perguntas genéricas podem ser reformuladas de ma neira mais específica conforme propõem Badgett e Sandler 1994 Quem é a minha platéia O que ela pensa do meu assunto O que ela espera obter da minha apresentação O que eu pretendo conseguir educar motivar infor mar O que as pessoas deverão sentir saber ou fazer de modo diferente após a apresentação Sob quais condições minha apresentação será realiza da Quando e com que freqüência a apresentação será rea lizada Onde a apresentação ocorrerá Por que eu estou fazendo esta apresentação Regras práticas para a criação de transparências com mídias eletrônicas 137 Qual a importância de atingir os objetivos de minha apresentação Como posso atingir meus objetivos da forma mais efe tiva com os recursos disponíveis Uma vez que você tenha respondido com segurança a es ses questionamentos poderá passar à criação do resumo da apre sentação Esse resumo tem por objetivos cf Badgett Sandler 1994 ajudar a organizar a exposição destacar áreas mais importantes que outras destacar idéias ou conceitos que possam ser abordados superficialmente descobrir idéias ou conceitos que possam ser esqueci dos Não existe uma regra fixa a ser seguida quanto ao formato do resumo no entanto sugiro que ele se assemelhe à estrutura dos slides com títulos tópicos e subtópicos a fim de facilitar a criação do storyboard da apresentação A seguir apresento um exemplo de resumo de uma apresentação multimídia sobre a evolução da Internet 138 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Resumo preliminar Apresentação da evolução da Internet I Título A A evolução da Internet B Gráfico de quadro único Tema O mundo ligado pela Internet II O início ARPANET A Contexto histórico B O funcionamento da ARPANET e as bases da Internet atual C Animação com mapamúndi mostrando as conexões da ARPANET III Os primeiros passos da Internet A Perfil dos utilizadores cientistas B Principal serviço email IV A Internet e a World Wide Web WWW A Lista animada com os fatos e conceitos que originaram a WWW B Lista animada com as principais personalidades com fotos envolvidas no desenvolvimento da WWW C Gráfico com o crescimento do número de usuários da Internet V Como a Internet afeta as nossas vidas A Gráficos e botões de vídeo animado 1 Comportamento social e relacionamentos 2 Busca de informações 3 Compra de produtos e serviços 4 Comunicação B Série de slides ligados a cada botão 1 Figura com telas de programas relacionados a cada item 2 Tabela antes x depois da Internet VI Perspectivas de futuro A Previsão de crescimento da rede B Novas áreas de aplicação C Slide convidando o público a expor suas opiniões Regras práticas para a criação de transparências com mídias eletrônicas 139 A prática demonstra que a zona de conforto em relação ao número de itens que o ser humano pode processar situase entre um e seis Dessa forma você deve tentar limitar o número de tópicos principais da sua apresentação no máximo a esse número 652 Storyboard Partindo do resumo você irá construir a representação grá fica da apresentação ou seja o storyboard que é o esboço dos slides que serão exibidos Ele pode ser construído a mão sobre folhas de papel comum e sua função é permitir que se façam as primeiras simulações testes e ajustes à apresentação Além dis so à medida que trabalhar em seu storyboard você estará tam bém realizando algumas coisas importantes como cf Badgett Sandler 1994 estabelecimento da ordem dos slides determinação do número de slides definição do projeto geral de cada slide decisão dos efeitos especiais som vídeo etc que se rão usados no caso de apresentações multimídia determinação dos recursos necessários para a produ ção dos slides fornecimento aos outros membros da equipe de um veículo para examinarem a apresentação com vistas às modificações que se fizerem necessárias Quanto à forma de organização das informações da apre sentação de trabalhos há cinco principais que merecem ser men cionadas Note que as duas primeiras relacionamse aos modelos de leitura conforme descritos em Moita Lopes 1996 São elas 140 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática organização dedutiva ou topdown vai do geral para o espe cífico organização indutiva ou bottomup vai do específico para o geral organização cronológica descreve uma seqüência de even tos na ordem em que tenham ocorrido organização de processo apresenta as etapas envolvidas num processo ou procedimento no qual cada uma de las deve ocorrer conforme uma seqüência organização de agenda apresenta as informações em uma ordem aleatória freqüentemente sem lógica aparente alguma Neste caso para o expositor ter sucesso a pla téia deve saber qual será a ordem de apresentação des de o início Cabe salientar que é raro observaremse apresentações em que as informações sigam estritamente apenas um desses tipos de organização Na maior parte dos casos a organização das informações resulta da combinação entre duas ou mais formas A escolha de um tipo de organização não é óbvia deven dose ter em mente que o modo correto de se organizarem as informações é aquele que permitirá à apresentação atingir seus objetivos É importante destacar que essa fase existe para se experimentar e simular processo durante o qual o storyboard pode passar por várias modificações até que se chegue a um modelo ideal Via de regra é importante que o slide introdutório da apresentação mostre a lista de tópicos que serão desenvolvidos para que o público tenha uma visão geral da apresentação assim como a noção do ponto em que você está Como foi dito na seção anterior o número de tópicos deve ser de no máximo seis Regras práticas para a criação de transparências com mídias eletrônicas 141 653 Script O script é um roteiro para a apresentação no qual consta um texto indicando como cada slide será exibido Esse texto deve ser escrito de forma clara e concisa Dependendo do tipo de apresentação e dos recursos nela utilizados o script deve trazer para cada slide a descrição de elementos como duração tempo real de execução no caso de apresentações multimídia aspectos a serem comentados pelo apresentador efeitos de som no caso de apresentações multimídia música elementos gráficos vídeo animado no caso de apresentações multimídia Um detalhe que pode parecer óbvio mas que é bastante esquecido é que o apresentador deve evitar ler simplesmente os slides O que aparece nos slides deve ser complementado ou desenvolvido oralmente e não apenas repetido 66 Testando e depurando a apresentação Se nas fases anteriores o trabalho foi realizado de manei ra individual para o teste da apresentação é extremamente re comendável que se conte com a colaboração de terceiros Esse teste deve ser feito diante de uma platéia composta por amigos colegas etc para que se possa ter uma idéia do efeito da apre sentação sobre o público É importante que a platéia de teste sintase à vontade para fazer críticas e dizer honestamente como 142 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática reagiriam ao trabalho sem medo de ferir os sentimentos do ex positor ou de sofrer conseqüências É muito importante que se estabeleça um questionário de avaliação o qual ajudará os espectadores de teste a expressarem suas opiniões após a apresentação Esse questionário deve tra zer perguntas objetivas do tipo simnão que induzam a audi ência a mostrar aquilo que realmente sinta Todas as informa ções recolhidas devem ser levadas em consideração quando dos eventuais ajustes efetuados antes de a apresentação ser levada ao seu públicoalvo Sobretudo nos casos de utilização de computadores e canhões projetores os testes devem ser feitos nos locais onde a apresentação será efetivamente realizada ou pelo menos com os mesmos equipamentos disponíveis ao apresentador durante a apresentação de fato Isso evita que se utilizem transparências que na tela do computador são perfeitas mas que durante a apresentação ao serem projetadas mostremse ilegíveis para a platéia 67 Erros comuns A lista que segue baseiase em minha experiência pessoal e relaciona alguns erros que pude observar com certa freqüência em apresentações Esses erros possuem graus variados de gravi dade mas todos devem ser evitados ao se realizar uma exposi ção São eles emprego de cores muitos fortes o que causa descon forto visual no público Regras práticas para a criação de transparências com mídias eletrônicas 143 confecção de transparências ilegíveis devido à má se leção de tamanhos e tipos de fontes cores etc utilização de animações sons ou outros recursos não relacionados ao assunto discutido e sem papel algum dentro da apresentação disposição de textos longos por slide com mais de seis linhas projeção de uma lista de itens na qual para exibição de cada item seja necessário um clique de mouse é prefe rível que seja apresentada a lista completa por meio de um clique ou então que seja automática a apresentação de item por item falta de sincronia entre o orador e a pessoa que estiver controlando a mudança de slides 68 Conclusão O poder de suportes visuais como elementos de geração de interesse e de retenção da mensagem pela platéia é incontes tável Os efeitos de um bom material de suporte fazemse sentir imediatamente durante e após uma apresentação contudo observase em vários casos que a construção desse material implica evitaremse várias armadilhas que podem levar a expo sições sofríveis Este capítulo procurou desse modo fornecer um guia para a construção de apresentações realmente eficazes Além de servir como roteiro para o desenvolvimento de apresentações isoladas vários aspectos contidos neste texto podem subsidiar uma metodologia para a criação de seminários e mesmo de cursos inteiros Finalmente cabe destacar que a construção de material de suporte a apresentações seja ele composto por slides ou filmes multimídia não é uma ciência exata ainda que se baseie em 144 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática princípios do design A prática e a observação das reações do público continuam sendo os maiores aliados do apresentador no refinamento e aperfeiçoamento de suas exposições Referências AZEVEDO W O que é design São Paulo Brasiliense 1988 BADGETT T SANDLER C Criando multimídia em seu PC São Paulo Makron Books 1994 MOITA LOPES L P Leitura e ensino de línguas clássicas In Oficina de Lingüística Aplicada a natureza social e educacional dos processos de ensinoaprendizagem de línguas Campinas SP Mercado de Letras 1996 p147163 SOLÉ I Estratégias de leitura 6 ed Porto Alegre ArtMed 1998 7 O PROFESSOR COMO FACILITADOR VIRTUAL CONSIDERAÇÕES TEÓRICOPRÁTICAS SOBRE A PRODUÇÃO DE MATERIAIS PARA A APRENDIZAGEM VIA WEB OU MEDIADA POR COMPUTADOR Rafael VetromilleCastro 71 Introdução Sabemos que os professores sejam eles de língua estran geira LE ou materna LM têm muitas atribuições pedagógicas Professor de Língua Inglesa vetroterracombr 146 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática preparação de planos de ensino e de curso elaboração e corre ção de provas o ensino propriamente dito a reflexão sobre as atividades docentes sem falar nos casos em que o professor de sempenha atividades administrativas direção e coordenação pedagógica por exemplo Além disso dentro de uma perspecti va autônoma e crítica a elaboração de materiais de ensino para suas próprias aulas também ocupa espaço na agenda docente Contudo materiais preparados pelo próprio professor levando em conta o ambiente de aprendizagem e principalmente os alu nos aos quais esses materiais se destinam são mais motivadores na aprendizagem de línguas Falando mais sobre o número de atribuições do professor sabemos que um dos problemas enfrentados quando na elabora ção do material é a proposta de atividades que por uma série de fatores não geram o efeito desejado deixando a sensação de perda de tempo Tais fatores podem ser a desconsideração sobre quem é o aluno quais são seus interesses ou ainda sobre onde usarei a atividade criada entre outros Nos próximos pará grafos trataremos desses aspectos e apresentaremos outros que devem ser considerados durante a elaboração de materiais para o ensino a distância EaD mediado por computador 72 Os alunos Quem freqüenta ou freqüentou nos últimos anos as salas de aula tanto no papel de estudante como no de professor pode perceber que a clientela discente não é mais a mesma A atenção é mais fragmentada e orientada por imagens e há uma rebel dia que revela a insatisfação quanto ao modo de ensinar que tem sido utilizado nas escolas Não é nosso objetivo aqui julgar tal comportamento mas apontar que os modelos de ensino es tão desgastados e além de não funcionarem na construção do O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 147 conhecimento reforçam práticas de aprendizagem ineficazes uma vez que os alunos percebem que aquilo que a escola prega está cada vez mais distante do que a realidade extramuros esco lares exige Partindo da premissa de que essa distância não deve exis tir sugerimos que o professor entre no ritmo do novo aluno e proponha atividades que motivem o aprendiz prendendo sua atenção sejam relevantes para sua atuação no mundo que façam com que ele sinta que é capaz de executálas e conse qüentemente dêem satisfação ao aluno na conclusão da pro posta1 Acreditamos que atividades via Internet sejam capazes de apresentar tais características uma vez que o número de hyperlinks pode acelerar a atuação dos aprendizes o uso de ima gens prende a atenção e a navegação para pesquisa ou o uso de emails são atividades presentes no diaadia de nossa sociedade sendo portanto procedimentos relevantes Esses são alguns exemplos de ações mediadas por computador que podem ser adaptadas para fins pedagógicos e desencadear um processo de mudança nas atuações docente e discente 73 O novo ambiente de ensino e aprendizagem Dentro de uma nova perspectiva pedagógica incluindo o ensino a distância e a aprendizagem de línguas mediada por com putador fazse necessária a mudança nas formas de ensinar e de aprender Moran 2000 No entanto muitas vezes encontra mos no ambiente virtual a transferência direta de atividades típicas do ambiente presencial Vemos atividades em papel sim plesmente digitalizadas desconsiderando as características do 1 Modelo de design motivacional ARCS Keller 1983 Atenção Relevância Confiança e Satisfação 148 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática novo meio Tal transferência resulta em desmotivação dos alu nos e ineficácia das atividades A utilização das novas tecnologias demanda uma nova pedagogia ou uma pedagogia reciclada que avalie o novo meio de aprendizado e aproveite eou modi fique as práticas típicas da sala de aula presencial Outro aspecto que precisa ser levado em conta no ensino a distância e muitas vezes na aprendizagem mediada por compu tador é a questão da ausência do professor e de colegas Essa ausência pode se traduzir em desorientação e dificuldade de de senvolvimento das tarefas pelos alunos principalmente quando tratamos da aprendizagem de língua estrangeira Sem dúvida defendemos a construção do aluno e cidadão autônomo mas acreditamos que autonomia não é solidão Tendo como alicerce a abordagem sócioconstrutivista de Vygotsky é fundamental em alguns momentos durante a aprendizagem a presença de um facilitador orientador no processo Muitos cursos a distância não tornam o professor presente no ambiente virtual aumentando mais uma vez a desmotivação dos aprendizes Acreditamos que na elaboração de seus materiais de ensino a distância o profes sor deva tentar tornarse presente ou menos ausente tarefa que pode ser cumprida por meio da exploração de recursos de interatividade Estes são dois pontos que podem ser determinantes de bons resultados na elaboração de materiais de EaD a consideração de que a Internet é um novo meio e que em função disso deve mos apresentar uma pedagogia diferenciada da do ambiente presencial sendo inclusive capaz de modificar o que fazemos presencialmente e a exploração de recursos de interatividade do novo meio com o objetivo de dar apoio ao aprendiz durante a execução das atividades em um ambiente muitas vezes de isolamento e desorientação No entanto fica a questão como contemplar tais pontos na elaboração de materiais Não O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 149 pretendemos ser definitivos principalmente devido ao fato de que à medida que o usuário de computadores fica mais familiarizado com a ferramenta é freqüente a impressão de que os recursos disponíveis na nova tecnologia são ilimitáveis O que faremos é apontar alguns caminhos já traçados e outros que parecem ser adequados a fim de demonstrar como modificar a atuação do cente e discente e explorar satisfatoriamente o novo meio É necessário antes de tratarmos da modificação da atua ção docente e discente por meio do ensino a distância determi nar qual é a prática presencial ineficaz a qual nos referimos Notadamente encontramos salas de aula nas quais o professor centraliza o desenvolvimento e as decisões sobre as atividades abordagem centrada no professor ao passo que os alunos por comodismo ou impossibilidade assumem uma postura mais pas siva receptora e nãoconstrutivista Há muitas críticas a esse modelo mas sabemos que os alunos podem aprender apesar da abordagem Entretanto o ensino centrado no professor tem pouco espaço na Web por uma série de razões a começar pela distância Esse fator torna os alunos mais livres longe da auto ridade do professor A distância permite a manifestação de alu nos de perfil mais inibido e possivelmente a insatisfação com alguma atividade proposta será revelada no ambiente virtual ao contrário do presencial Outro fator é a assincronia Uma das vantagens pedagógi cas mais alardeadas do novo meio é a possibilidade de se fazer um curso em horários nos quais as escolas tradicionais não estão abertas Os alunos portanto fazem as atividades quando é mais conveniente e não quando o professor manda Em outras pala vras a aula começa quando o aluno chega e não quando o pro fessor entra na sala Um exemplo dessa necessidade de readaptação docente e discente ao novo meio foi relatado por Rezende 2002 Nesse caso o professor propôs uma série de 150 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática atividades aos seus alunos sem considerálos no planejamento da proposta Como resultado não houve participação na forma esperada mas muitas reclamações e sugestões sobre tarefas Após a reflexão e a discussão sobre os novos caminhos a serem trilha dos o professor abandonou o papel de centralizador e assumiu o de facilitador deixando os alunos no centro das atividades A motivação discente e os resultados foram extremamente positi vos É claro que o professor como especialista é quem deve traçar os objetivos das atividades No entanto a forma pela qual os objetivos serão alcançados pode ser discutida e escolhida de maneira colaborativa É importante deixar em destaque a figura do professor como facilitador do processo de aprendizagem aque le que conhece as formas de ensinar e de aprender mais adequa das aos alunos e ao meio no qual a aprendizagem se desenrola Nossa idéia de que essa deve ser a postura do professor que utiliza o computador na sua prática vai ao encontro do que Menezes 2001 defendeu em Aprendendo Inglês no Ciberespaço em função da nova perspectiva da interação virtual o modelo de transmissão de conhecimento do professor para os alunos deve dar espaço para a construção social e colaborativa do co nhecimento Muito tem sido dito no nosso trabalho sobre o potencial da Internet para modificar as formas desgastadas de ensinar e de aprender É possível que o professor mencionado no trabalho de Rezende 2002 tenha revisado sua forma de ensinar presencialmente a partir da sua experiência em EaD No entan to gostaríamos de fazer o caminho inverso agora observando quais aspectos tipicamente presenciais precisam ser levados para o ambiente virtual em nome do bom aprendizado Falamos anteriormente que a Internet pode levar ao isola mento e desorientação Também mencionamos o fato de que os O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 151 alunos de hoje não são os mesmos de alguns anos atrás pois possuem atenção mais fragmentada entre outras características Esse aluno quando está insatisfeito com o que vê na sala de aula presencial tem que ficar sentado no seu lugar e não pode sair de lá por inúmeros motivos Na sala virtual ao contrário ele pode estar em vários lugares ao mesmo tempo abrindo múlti plas janelas do seu navegador Como prender a atenção do apren diz Como orientálo em um ambiente que não é familiar Como o professor pode desempenhar o papel de facilitador Acredita mos que essas perguntas encontram resposta na exploração dos recursos de interação e de interatividade permitidos pelo meio Há algumas experiências nas quais além das atividades propos tas e em horários predeterminados é disponibilizado um mo mento síncrono de encontro e discussão a distância os chats ou salas de batepapo Nesses encontros os alunos podem tirar dúvidas com os colegas e o professor discutir temas referentes às atividades e se conhecer melhor Outra forma de interação é a troca assíncrona de mensagens eletrônicas os emails ou as listas de discussão Tanto por meio dos chats como dos emails o professor pode se afastar do centro das atividades e ter uma vi são panorâmica do que acontece com os aprendizes o que per mite um melhor desempenho do papel de facilitador da aprendi zagem Entretanto às vezes as atividades propostas não podem contemplar o uso dos recursos de interação mencionados ou ainda em função do tipo de proposta tais recursos não se mos tram eficientes Nesses casos o professorelaborador de materi ais tem como alternativa a exploração de recursos de interatividade nos quais nos concentraremos a partir de agora Com o objetivo de tornar mais claro nosso ponto de vista anali saremos alguns desses recursos em uma atividade para o ensino de leitura em Inglês como LE 152 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Ainda buscando alicerce teórico para nosso trabalho em Vygotsky e Bruner retomamos a idéia do professorfacilitador No ensino de leitura em língua inglesa Inglês Instrumental ou ESP English for Specific Purposes de acordo com a nossa experiência docente é grande o número de alunos que têm pou co ou nenhum conhecimento sobre a línguaalvo Em função disso o apoio no código escrito é insuficiente e fazemse neces sários o desenvolvimento e a aplicação de estratégias de leitura Durante as atividades na sala de aula presencial notamos a im portância do professor e dos demais colegas ou da interação na construção da competência leitora mediante perguntas confir mações indicações de estratégias mais adequadas a determina dos objetivos feedback estratégico e o incentivo que serve de motivação para o aluno feedback individualizado Ao final de um curso nesses moldes percebemos que tais atitudes são posi tivas com base nos resultados obtidos pelos aprendizes Na pas sagem do presencial para o virtual precisamos manter ou subs tituir esses andaimes scaffolding Bruner 1985 para que o aluno continue encontrando apoio A seguir mostraremos um exem plo de atividade para o ensino de leitura em Inglês como LE e como tais andaimes foram fornecidos Na Figura 1 temos a abertura da atividade que é também a atividade de préleitura O objetivo aqui é fazer com que o aluno crie hipóteses que podem ou não ser confirmadas pelo texto ativando o seu conhecimento prévio e dando um motivo para a leitura confirmar as hipóteses Outro detalhe importan te a ser salientado é que há uma animação nessa página na qual as palavras vão surgindo uma a uma na tela Esse efeito além de explorar um recurso do meio também faz com que o aprendiz tenha a sua atenção voltada para cada uma das palavras o que pode facilitar a criação de hipóteses na préleitura Ao clicar no O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 153 botão confira abrirá a página com o texto e as atividades de compreensão mostrada na Figura 2 Figura 1 Página de abertura da atividade Na tela da atividade2 da Figura 2 o aprendiz encontra três frames À esquerda o frame onde aparecem perguntas feedback individualizado e estratégico para respostas dadas e definições de um dicionário acoplado3 No frame inferior o aluno controla a atividade avançando e recuando questões pedindo dicas e 2 A atividade mostrada nas figuras 2 3 4 5 e 6 está disponível em http wwwvetromillecastrohpgigcombraula1ahtml 3 O dicionário acoplado às palavras do texto é uma ferramenta disponibilizada pelo software de autoria ELO que não será discutida em nosso trabalho Mais informações em httpatlasucpeltchebrelo 154 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática ajuda acompanhando seu desempenho e respondendo às per guntas No frame maior e mais à direita está o texto e na caixa mais escura algumas dicas sobre como desenvolver a tarefa pro posta Note que o suporte dado ao aprendiz ao qual nos referi mos anteriormente será encontrado no frame da esquerda É nele que o professor se fará presente não somente perguntando mas também orientando o desenvolvimento da atividade por meio do feedback dado Esse papel de facilitador desempenhado medi ante recursos de interatividade será mostrado nas figuras a se guir Figura 2 Tela da atividade de compreensão textual em língua inglesa O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 155 Figura 3 Demonstração de feedback estratégico para uma resposta incorreta Diante de uma resposta incorreta o professor não se limita a denunciar o erro Há também a indicação de uma estratégia de leitura nesse caso a releitura de um trecho no frame da esquer da Caso o erro persista o recurso de interatividade indica outra estratégia a observação de palavras cognatas por exemplo de acordo com a intenção do professor quando da elaboração da atividade Dessa forma o professor mesmo a distância faz com panhia ao aluno e o auxilia quando necessário 156 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Figura 4 Demonstração de feedback individualizado para uma resposta correta Na Figura 4 percebemos que no frame da esquerda é dado um feedback individualizado Exatamente Porque o estudante tinha ingredientes e instruções para fazer e usar uma bomba Da mesma forma como o que foi mostrado na Figura 3 o recur so de interatividade não dá ao aluno apenas as respostas certo ou errado mas também orienta e tenta motivar o aprendiz quando ele acerta uma resposta Aqui está mais um exemplo do caminho inverso ao qual nos referimos em parágrafos anteriores É o professorelaborador transferindo e adaptando abordagens eficientes do ambiente presencial para o virtual Nesse tipo de atividade é importante observar o papel do feedback individualizado e do estratégico Leffa 2002 São es ses dois recursos de interatividade que vão orientar e motivar o aluno ao longo da atividade além de tornar o professor presen O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 157 te O aprendiz não recebe respostas binárias de uma máquina mas vê o professor guiálo ao longo da tarefa respondendo com a imprevisibilidade das interações humanas Ainda vale salien tar que a ação pedagógica virtual representada aqui pelos dois tipos de feedback poderia ser incorporada e possivelmente já está inserida na atuação presencial do professor dando suporte aos alunos na aprendizagem de língua estrangeira 74 Criando uma disciplina para a Web Por meio do exemplo da atividade para o ensino de leitura em língua inglesa via Internet buscamos apontar alguns fatores que precisam ser considerados quando o professor decide elabo rar atividades para Internet eou aprendizagem mediada por computador Centrando nossa discussão na modificação neces sária nas formas de ensinar e de aprender abordamos algumas potencialidades e limitações dos ambientes presencial e virtual para o ensino Defendemos que atitudes pedagógicas típicas de um ambiente podem ter influência positiva quando utilizadas devidamente no outro meio ex a atuação do professor como facilitador ou negativas ex professor como centralizador das decisões e das atividades No entanto mesmo que o professor leve em consideração os vários aspectos já apontados após a finalização dos materiais ainda não podemos afirmar que as ati vidades seduzirão nosso aluno ou o ajudarão a atingir nossos do aluno e do professor objetivos do aprendizado Ao con trário corremos o risco de propor atividades que produzam nenhum ou pouco resultado além de termos perdido tempo con siderável na construção do material Como o professorelaborador pode resolver essa questão Kessler e Plakans 2001 no desenvolvimento de um livro tex to virtual em CDROM para o desenvolvimento de habilidades 158 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática orais em língua inglesa levaram em consideração a opinião de alunos sobre esse material Como resultado constataram que as contribuições dos aprendizes em algumas horas de testagem e entrevistas foram mais significativas do que as de professores e as advindas dos próprios pesquisadores em atividades de revi são ao longo de um ano O que Kessler e Plakans fizeram foi aplicar um teste de usabilidade usability testing no material que estavam desenvolvendo Conceito em voga na Ciência da Com putação o teste de usabilidade foi definido por Dumas Redish 1993 apud Kessler Plakans 2001 como o método de obser var como um usuário experimenta e interage com materiais com o objetivo de identificar aquelas características que simplificam ou confundem o uso dos materiais4 Em outras palavras o que Kessler e Plakans observaram foi o grau de orientação dos aprendizes no uso do material Com a aplicação de testes de usabilidade antes da disponibilização do material para uma par cela mais ampla do públicoalvo utilizando um número reduzi do de alunos é possível detectar falhas e pontos que podem ser melhorados para o alcance dos objetivos de aprendizagem Vários estudos têm sido feitos sobre a usabilidade de ma teriais de EaD como os de Kessler e Plakans 2001 e de VetromilleCastro 2002 Tendo como ponto de partida o tra balho dos primeiros temos como proposta a consideração de dois tipos de usabilidade na elaboração de materiais de EaD a usabilidade de design que trata principalmente da superfície do material o nível de orientação proporcionado pelo design por exemplo e a usabilidade pedagógica que abarca aspectos mais ligados à pedagogia ao ensino propriamente dito às adaptações 4 Tradução livre de Usability testing is a method of observing how a user interacts with and experiences materials in order to identify those characteristics that simplify or confound the use O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 159 que devem ser feitas no aprendizado a distância e ao potencial de aprendizagem das atividades Ainda podemos definir a últi ma como a medida de quanto o aluno pode aprender em uma atividade por meio de recursos de interatividade ou interação Acreditamos que nenhuma das duas usabilidades seja mais im portante do que a outra mas que ambas sejam complementares Por maior que seja o grau de usabilidade de design de uma ativi dade ela ainda será considerada ineficiente caso não possua um grande potencial de aprendizagem alto grau de usabilidade pe dagógica e viceversa 75 Ferramentas úteis e sistemas de autoria Inicialmente vale dizer que a Internet trabalha sobretudo com um tipo de arquivo o HTML Hypertext Markup Language Existem numerosas ferramentas para a criação desse tipo de ar quivo ou páginas da Internet e sites o Microsoft FrontPage o Macromedia Dreamweaver e até mesmo o editor de textos Microsoft Word Os três são softwares mais abrangentes volta dos não necessariamente ao ensino e são amplamente utiliza dos na criação de sites e páginas Apontamos esses programas pelas seguintes razões os dois produtos da Microsoft são am plamente difundidos vindo já instalados em muitos computa dores que operam na plataforma Windows Além disso foi no FrontPage que começamos a desenvolver as primeiras pági nas para a Web Já o Dreamweaver embora exija um pouco mais de conhecimento do usuário oferece mais recursos e um acabamento melhor além de entregar páginas que apresen tam menos problemas de transição entre navegadores Internet Explorer e Netscape Navigator por exemplo Outros programas chamados de sistemas de autoria são capazes de fornecer atividades com fins educacionais em 160 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática formato html prontas para serem enviadas para a rede sem que o professor necessite de conhecimentos de programação Entre esses programas podemos citar o Hot Potatoes5 desenvolvido pelo Humanities Computing and Media Centre da Universidade de Victoria no Canadá e o ELO Ensino de Línguas Online6 elaborado pelo professor Dr Vilson J Leffa da Universidade Católica de Pelotas Sobre o último falaremos um pouco mais observando alguns de seus recursos com base no que já foi apre sentado sobre usabilidade pedagógica e de design Primeiramente é necessário apontar que a atividade mos trada nas figuras 2 3 e 4 foi elaborada por meio do sistema de autoria ELO e teve seu design basicamente cores e fontes mo dificado pelo Macromedia Dreamweaver 4 Esse sistema de au toria permite ao professor a construção de vários tipos de ativi dades como cloze lacunamento tradicional eclipse o aluno ten ta reconstruir um texto oculto seqüência o aluno monta um tex to a partir de suas partes e texto com dicionário acoplado às palavras com perguntas de respostas dissertativas a atividade mais próxima da aula tradicional ou de múltipla escolha o tradicional teste no qual o aluno escolhe a melhor resposta Em nossa prática pedagógica temos trabalhado com o ELO elaborando principalmente atividades com texto e per guntas Pesquisas estão sendo desenvolvidas para avaliar essas atividades e conseqüentemente o sistema de autoria sob a ótica da usabilidade pedagógica e de design já havendo resulta dos preliminares VetromilleCastro 2002 dos quais alguns mostraremos aqui Quanto ao design do material entregue pelo programa a divisão da tela em três frames confere um alto grau de usabilidade ao material uma vez que o texto é colocado no 5 Mais informações podem ser obtidas em httpwebuviccahrdhotpot 6 Mais informações são encontradas em httpeloucpeltchebr O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 161 maior espaço frame maior à direita e o aluno atua no frame inferior deixando o professor à margem da atividade frame es querdo como podemos perceber na Figura 5 Figura 5 Tela com atividade do sistema de autoria ELO Ainda sobre o design registramos que inicialmente os alu nos não compreendem a função dos botões de controle no seu espaço o frame inferior Mesmo havendo o botão ajuda ne nhum aprendiz recorreu a ele adotando o método de tentativa e erro o que aponta para a necessidade de um esclarecimento prévio a esse respeito dado em uma página anterior por exem plo Essa falta de esclarecimento na nossa interpretação confe re baixo grau de usabilidade aos comandos do material Sobre a usabilidade pedagógica o ELO permite ao profes sor elaborar atividades com alto potencial de aprendizagem uma 162 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática vez que é possível desempenhar o papel de facilitador mediante a exploração de alguns recursos de interatividade como o feedback individualizado FIG 4 e o estratégico FIG 3 Além disso a existência de um dicionário acoplado às palavras do texto tam bém contribui para um alto grau de usabilidade do material por que apóia o aluno no momento da dúvida sem interromper a leitura da mesma forma que a consulta a um dicionário conven cional conforme ilustra a Figura 6 Figura 6 Tela com demonstração de consulta ao dicionário Contudo a apresentação no frame esquerdo do significado das palavras consultadas tem se mostrado de baixa usabilidade pedagógica já que é nesse mesmo espaço onde aparecem as per guntas e o feedback das respostas Acreditamos que o grau de usabilidade desse fator pode aumentar se houver o esclareci mento prévio sobre os botões pois o usuário deve clicar em O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 163 questão para ter acesso à pergunta após a consulta ou ainda se o aluno for exposto a um número maior de aulas Há ainda a possibilidade de se disponibilizar outro frame mas cremos que o procedimento diminuirá o grau de usabilidade de design por apre sentar mais uma seção para disputar a atenção do aprendiz Ain da sobre o dicionário vale dizer que o sistema de autoria ELO permite que o professor crie seu próprio dicionário ou edite o material incluindo ou retirando entradas e significados Outro item importante para a criação de páginas e sites é a sua hospedagem ou seja em que endereço da Internet colocare mos nosso trabalho no ar Além dos serviços de hospedagem pagos que teoricamente oferecem garantias de que o site estará sempre à disposição dos usuários há também muitos sites de hospedagem gratuita Intermega Geocities Hpg entre outros7 e ainda instituições de ensino que disponibilizam espaço para que os professores coloquem suas páginas na Web 76 Mais usabilidade as metáforas e a orientação do alunousuário Na tentativa de entregar aos alunos materiais de EaD que facilitem sua orientação durante o uso é importante que o mate rial tenha certo de grau de previsibilidade Esse traço faz com que os aprendizes possam se sentir mais seguros sabendo o que podem encontrar na atividade via Web Faustini 2001 Acredi tamos que o uso de metáforas pode emprestar um alto grau de previsibilidade aos materiais aumentando conseqüentemente o grau de usabilidade 7 Intermega httpintermegaglobocom Geocities httpbrgeocitiesyahoocom HPG httpwwwhpgigcombr 164 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Tendo em vista as considerações feitas partiremos para a sugestão de construção de um site de apoio educacional na Web Essa sugestão girará em torno da criação de uma biblioteca vir tual8 na qual o professor poderá disponibilizar textos que serão utilizados ao longo de um curso No entanto é importante frisar que trataremos de um caso um tanto restrito uma vez que preci saríamos de muito espaço para tratar da criação de uma série de atividades Além disso tal exemplo parecenos mais útil aos pro fessores interessados em começar a elaborar atividades para EaD pois não trata do ensino de uma língua eou habilidade específi ca No que diz respeito à usabilidade em função da generalida de da proposta concentraremos nossa demonstração em aspec tos mais ligados à usabilidade de design do que à pedagógica Tomemos então o nosso exemplo da biblioteca virtual Em primeiro lugar fazse importante detectar a relevância do mate rial para os aprendizes Como já foi dito os alunos têm que per ceber o que significa ter acesso aos textos nessa biblioteca Deve ser evidente o fato de que o material será útil para o desenvolvi mento de uma tarefa ou de um curso bem como o fato de que o acesso aos textos em uma biblioteca virtual pode ser feito du rante as 24 horas do dia sete dias por semana diferente do que acontece em outras bibliotecas Da mesma forma os textos já estão préselecionados diminuindo o tempo de procura pelos exemplares Por último mas não menos importante deve haver a consideração por parte do professor do perfil dos seus alunos Os aprendizes possuem computador com acesso à Internet em suas casas A escola disponibiliza acesso à rede para os alunos em laboratórios Há motivação intrínseca para o uso de novas tecnologias na aprendizagem ou é preciso motiválos para esse tipo de atividade Todas essas perguntas devem ser respondidas 8 Disponível em httpwwwvetromillecastrohpgigcombrbiblivirhtm O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 165 antes da elaboração do material além de haver a preocupação de se fornecerem suporte e material com alto grau de usabilidade para os alunos que tenham pouca experiência no uso das novas tecnologias Em função dessas considerações poderíamos ter como abertura da nossa biblioteca a seguinte tela Figura 7 Tela de abertura da Biblioteca Virtual Como podemos perceber na Figura 7 o processo de orien tação tem início na abertura do material Olá O objetivo desta biblioteca é auxiliar ao longo do curso No texto à es querda é colocado o objetivo do material bem como uma das vantagens decorrentes da utilização da biblioteca virtual dispo nível durante as 24 horas do dia À direita o usuário encontra instruções iniciais simples e diretas sobre o uso do material Bas ta clicar na porta abaixo e escolher um texto É importante 166 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática que o alunousuário tenha informações claras diretas e sucin tas uma vez que o objetivo é a leitura de textos e não de instru ções longas e detalhadas que possam confundilo e conseqüen temente desmotiválo Ainda nesse trecho o aluno é informado sobre como entrar em contato com o professor o que pode lhe dar um sentimento de confiança e orientação por saber que terá a quem recorrer em caso de dúvida É só clicar nas caixas de correio em cada uma das páginas Tanto a objetividade quan to a simplicidade das instruções bem como a sua clareza con ferem um alto grau de usabilidade ao material Outro ponto a ser ressaltado é a utilização da metáfora da biblioteca Importante para a motivação pois remete o usuário a uma experiência nova de um serviço conhecido a metáfora também orienta o usuário por meio da ativação do conhecimen to de mundo levandoo a ter expectativas sobre o que poderá encontrar e como agir No nosso exemplo esperase que a entra da em uma biblioteca seja através de uma porta FIG 7 e que a procura de livros ocorra em prateleiras FIG 8 Além disso usar metáforas é explorar as potencialidades do novo ambiente en tregando materiais com valor estético maior pelo uso de figu ras e cores e pela subversão da diagramação convencional do texto ao de uma folha de papel transferida da sala de aula presencial e digitalizada com hyperlinks para a Web Novamente a usabilidade de design é explorada mediante os recursos permiti dos pelo meio neste caso o uso de metáforas Após a entrada na biblioteca o aluno encontrará a tela mostrada na FIG 8 Veja que a idéia da metáfora continua pre sente na imagem maior bem como nas três imagens de corredo res com prateleiras abaixo Além disso no centro da tela próxi mo ao salão principal de nossa biblioteca há mais uma instru ção clara e direta sobre como encontrar os textos de interesse que indica que o aluno já entrou no prédio e que basta esco O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 167 lher um dos corredores mostrados na parte inferior Também há uma caixa de correio à direita para que o aluno entre em conta to com o professor conforme havia sido indicado na tela de abertura FIG 7 e a mesma porta da entrada com uma dimen são menor indicando a saída da biblioteca A orientação é feita por meio da palavra escrita e pelo uso de imagens levando em consideração o que Babin 1989 escreve sobre a geração imagética sendo uma o complemento da outra no ambiente virtual Figura 8 Tela de navegação inicial para seleção de textos 168 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Figura 9 Tela com a lista de textos de uma seção da biblioteca Analisando as figuras 9 e 10 notamos mais uma vez o fornecimento de informações e instruções breves nas partes cen tral e superior da tela e dentro do possível também há a tenta tiva de se manter o design a disposição de elementos uniforme em todas as páginas Na parte inferior continuam sendo disponibilizados os corredores ou as seções da biblioteca e a porta de saída e a caixa de correio mantêm a mesma posição Dessa forma o aprendizusuário terá condições de se familiari zar com o material tendo um sentido de orientação maior Essa familiarização ainda traz como ponto positivo a economia de tempo do aluno durante a atividade na medida em que ele sabe automaticamente quais caminhos percorrer para chegar em determinada seção ou texto Outro detalhe relevante é a inclu são de um painel com uma tonalidade de cor diferente para a O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 169 exposição dos títulos encontrados em cada corredor e dos tex tos A função dos painéis é chamar a atenção do aluno para o que ele pode escolher ou vai ler além de contribuir para uma melhor leitura uma vez que há um nível de contraste maior en tre texto e fundo porém sem ser tão agressivo à visão como o do fundo branco com letras pretas Figura 10 Tela com um dos textos da biblioteca 77 Considerações finais Neste capítulo buscamos trazer para discussão aspectos que consideramos relevantes para a elaboração de materiais de ensino de língua estrangeira via Internet ou mediada por compu tador Com o que foi escrito na introdução tentamos mostrar que o novo meio de aprendizado e a ferramenta computador não resolverão problemas de ordem pedagógica simplesmente 170 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática pelo seu uso em nossas aulas O professor precisa saber se a ferramenta é adequada a sua proposta A utilização da Internet deve ter um objetivo de aprendizagem da mesma forma que o uso de um filme ou de uma música no ensino de línguas A refle xão sobre a prática pedagógica não pode deixar de existir na nova sala de aula Igualmente o professor precisa conhecer os aprendizes e a relação entre eles e as novas tecnologias Precisamos conhecer até onde nosso aluno já avançou em termos de ciberespaço para saber como encaminhar nossas propostas A partir daí podere mos aproveitar o conhecimento prévio de alguns alunos para inserir os demais na nova pedagogia Ou então daremos opor tunidades para que o grupo seja inserido nas práticas do novo meio para que haja bons resultados na aprendizagem O aluno deve estar no centro das nossas reflexões quando na construção do material para ensino via Web e não somente a proposta ou o professor Ainda sobre o mesmo tema a elaboração e o uso de ativi dades mediadas por computador não podem ser desencadeados e passar a ser parte da docência apenas por nos parecer impor tante o uso da nova tecnologia em nossa sociedade Temos a impressão um tanto arriscada talvez de que há um senso comum a respeito dessa importância mas pouca ação pedagógi ca reflexiva Mais significativo do que levar os alunos a um labo ratório de computação é proporcionarlhes uma atividade de aprendizagem relevante para a sua atuação em sociedade seja ela virtual ou presencial Também tentamos apresentar algumas ferramentas que podem ser utilizadas pelos professores que desejam começar a elaborar materiais para a aprendizagem mediada por computa dor Gostemos ou não esses instrumentos já estão incorporados em nossas vidas de maneira direta ou indireta Cabe ao profes O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 171 sor conhecer tais instrumentos para incorporálos de modo pro veitoso em seu trabalho da mesma forma que sabe consultar um dicionário usar um gravador ou CD operar um videocassete folhear um livro didático ou escrever com giz no quadronegro Talvez não estejamos dizendo muita coisa nova quando falamos em propor atividades relevantes e motivadoras refletir antes durante e depois sobre a elaboração e o desenvolvi mento de atividades ou sobre a necessidade de o professor bus car o domínio de novos recursos para sua prática Sabemos que tais posturas são desejáveis na sala de aula presencial e são de fendidas há tempos embora por inúmeros motivos não sejam as mais adotadas O que buscamos é mostrar ser possível e ne cessário fazer tais considerações em frente ao novo ambiente e ferramentas que se apresentam em nome de um bom aprendiza do para que os aprendizes possam construir não somente sua cidadania mas também a cibercidadania Referências BABIN P Os novos modos de compreender a geração do audiovisual e do computador São Paulo Edições Paulinas 1989 BRUNER J V Vygotsky a historical and conceptual perspectives In WERTSCH J V Ed Culture communication and cognition Vygotskian perspectives Cambridge Cambridge University Press 1985 KELLER J M Motivational design of instruction In REIGELUTH C M Ed Instructional design theories and models an overview of their current status Hillsdale NJ Erlbaum 1983 KESSLER G PLAKANS L Incorporating ESOL learners feedback and usability testing in instructordeveloped CALL materials TESOL Journal Virginia USA v10 n1 Spring 2001 172 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática LEFFA V J Ensino de línguas online Disponível em http atlasucpeltchebreloadministraProjELOUCPELhtm Acesso em jul 2002 MENEZES V L Aprendendo Inglês no ciberespaço In Org Interação e aprendizagem em ambiente virtual Belo Horizonte Faculdade de Letras UFMG 2001 MORÁN J M Mudar a forma de ensinar e de aprender com tecnologias Transformar as aulas em pesquisa e comunicação presencialvirtual Disponível em httpwwwecauspbrprofmorantextoshtm 2000 REZENDE P S Reflexão e reconstrução da prática docente on line InPLA São Paulo PUCSP v12 2002 SMALL R V Motivation in Instructional Design ERIC Digest Disponível em httpwwwedgovdatabasesERICDigests ed409895html Acesso em 1997 VETROMILLECASTRO R A usabilidade pedagógica e de design de materiais para o ensino a distância de Inglês para leitura InPLA PUCSP São Paulo v 12 2002 Painel de projetos integrados 8 PRODUÇÃO DE LIVROS DA PRÁTICA À TEORIA Nara Widholzer1 Daniel Clós Cesar2 Confúcio disse que uma imagem vale mais que mil palavras Só que ele teve que usar palavras para dizer isso Allen Hurlburt 1 UFRGS e UCPel narawidholzerufrgsbr 2 Design Development httpdanielcloscesarwordpresscom danielclosterracombr 174 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática 81 Introdução Há muitos anos vimos acompanhando o trabalho de elaboração de livros seja atuando em editoras ou birôs seja trabalhando como free lance ou ainda produzindo nossos pró prios materiais para ensino Nesse tempo observamos que as dificuldades apresentadas pelosas autoresas sobretudo osas iniciantes e os independentes apresentam similaridades obede cendo a certa taxionomia Este capítulo é o resultado de parte de nossas pesquisas acertos e percalços visando atender as ques tões levantadas por essesas autoresas Buscamos transmitir uma idéia geral do trabalho de editoração sobretudo registrando pequenos porém imprescindíveis detalhes esparsamente anota dos ou simplesmente omitidos nos livros voltados à matéria Dado o caráter interdisciplinar do assunto aproximamos textos técni cos a escritos acadêmicos que pudessem fornecer ainda que in diretamente subsídios ao trabalho doa professoraeditora de livros relacionando normas técnicas Lingüística e Design pro curando estabelecer um diálogo entre essas grandes áreas Diversas tecnologias têm sido desenvolvidas com vistas à sua aplicação ao ensino evidenciandose nos últimos anos aque las relacionadas aos meios eletrônicos De modo geral porém o livro impresso tem permanecido como o recurso mais popular e acessível destacandose por sua fácil portabilidade e relativo baixo custo Nesse sentido o Governo Federal mantém três pro gramas voltados ao livro didático o Programa Nacional do Li vro Didático PNLD iniciado em 1929 o Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio PNLEM implantado em 2004 e o Programa Nacional do Livro Didático para a Alfa betização de Jovens e Adultos PNLA criado em 2007 Brasil 2007d Em nível estadual por exemplo o Governo gaúcho san cionou em setembro de 2001 a Lei nº 11670 estabelecendo a Produção de livros da prática à teoria 175 Política Estadual do Livro O objetivo da Lei é promover a leitura e em especial facilitar o acesso ao livro tendo entre suas diretrizes estimular a produção dos autores gaúchos Como conseqüência dessa lei foi estabelecido o Plano Anual de Difusão do Livro também em vigor a partir daquele ano Rio Grande do Sul 2007 A despeito da grande oferta de títulos no mercado é cada vez mais comum a iniciativa de professoras e professores no sentido de produzirem materiais de ensino adequados e acessí veis à realidade de sua sala de aula os quais muitas vezes se tornam livros didáticos Particularmente no meio acadêmico faz parte de sua dinâmica a publicação dos resultados das investiga ções levadas a efeito por pesquisadoreas e a organização de obras paradidáticas A essas realidades os custos apresentamse como fatores limitantes além de conforme aponta Souza 1999 p28 oa autora ter sua autonomia restrita aos espaços conce didos pelas editoras as quais são ao mesmo tempo agentes de controle e de censura Há que se considerarem ainda os parâmetros impostos pelas grandes distribuidoras e os orçamen tos reduzidos das editoras universitárias geralmente inferiores à demanda A disseminação dos computadores pessoais o desenvolvi mento de softwares para editoração eletrônica de textos as im pressoras digitais de grande porte e a expansão das chamadas editoras alternativas entre outros fatores têm se apresentado como opções para autoresas de obras de pequenas tiragens Tais recursos permitem que oa autora tenha mais controle sobre a produção de seu livro em um sentido amplo uma vez iniciadoa no mundo informático e tendo o conhecimento de certos prin cípios de editoração elea pode se apropriar de quase todas as etapas desse trabalho desde a escrita a editoração eletrônica a publicação e a distribuição No caso das editoras universitárias 176 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática a entrega do material já editorado pode poupar oa autora de boa parte da fila de espera ou mesmo reduzir o custo final da publicação visto que em algumas instituições esse trabalho é terceirizado Conforme Smith Jr 1990 p19 para serem realmente úteis os livros precisam responder às necessidades e interesses reais dos leitores No caso do livro didático este ao ser adapta do à realidade da sala de aula e impresso sob demanda não neces sita mais ser encarado como o lugar do saber definido pron to acabado cf Souza 1999 p27 para ser continuamente reconstruído na interação entre professor e aluno É possível então aoà professora conciliar duas das atitudes cabíveis diante do livro didático adotálo como recurso de apoio ou não adotálo preferindo elaborar seus próprios materiais para aula cf Coracini 1999 p23 Além disso ao assumir o papel de editora oa autora não só rompe com o jugo das grandes casas editoras mas também pode se desvencilhar das apostilas escolares as quais apenas substituem o aparato editorial pela orientação de um estabelecimento de ensino Este capítulo é dedicado a essesas editoresas principiantes explicando pas so a passo as etapas de editoração de um livro em computado res pessoais ou personal computers PCs 82 Alguns conceitos A editoração de livros é uma atividade complexa envol vendo preparo dos originais revisão planejamento visual sele ção de equipamento e materiais composição impressão finalização depósito de direitos autorais e distribuição cf Smith Jr 1990 Ainda que não atue empresarialmente mesmo oa professora autora independente necessita familiarizarse não só com todas essas etapas mas também com as normas técnicas Produção de livros da prática à teoria 177 e vários procedimentos que antecedem a montagem da obra os quais denominamos operações de préeditoração Há ótimos livros que abordam parte ou o conjunto desse processo alguns deles relacionados nas referências deste capítulo além das próprias normas da ABNT e sendo assim retomar a matéria por inteiro seria reinventar a roda Contudo em termos práticos essas orientações de cunhos mais técnico ou legal mostramse insufi cientes para oa organizadora ou editora principiantes ao se depararem com pilhas de disquetes ou CDs contendo arquivos gravados em softwares programas diversos apresentando formatações das mais variadas mas que devem se transformar em um livro coeso e coerente não só em conteúdo mas também em forma A exemplo do que ocorre no âmbito de outras atividades há palavras e termos que são peculiares ao trabalho de editoração assim como há vocábulos que adquirem um sentido diferente daquele corriqueiramente empregado É recomendável logo que oa autora editora iniciante familiarizese também com tais termos o que lhe será bastante útil quando buscar informações adicionais sobre essa atividade ou ao dialogar com os demais agentes envolvidos na produção de um livro impressora dese nhista capista etc Nesta seção são introduzidas apenas as definições que consideramos chave para oa editora iniciante outras são explanadas ao longo deste capítulo quando pertinen te e ao final no glossário são listados mais alguns dos conceitos comumente empregados no trabalho de editoração Uma lista mais exaustiva desses termos pode ser encontrada na NBR 6029 Associação 2006 e no dicionário de Guilherme 1996 Primeiramente adotamos uma acepção bastante ampla para texto definindoo como qualquer produto de linguagem falada ou escrita Fairclough 2001 p 23 independente de sua exten são caracterizandose por constituir uma totalidade à qual se 178 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática possa atribuir sentido Ampliando esse conceito apontamos que o termo linguagem atualmente não mais pode se restringir a lín gua compreendendo também a linguagem das imagens e o discurso gráfico conforme procuramos demonstrar adiante Não desejan do nos deter na discussão acerca da finalidade social ou não do texto adotamos um critério pragmático considerando o livro como um único texto heterogêneo e polifônico delimitado fisi camente e concebendo como seqüências dessa unidade maior aqueles textos lingüísticos ou imagéticos de autoria diversa que normalmente se fazem presentes no interior de livros ordena dos de modo a criarem um sentido almejado peloa autora da obra A respeito da delimitação física reportamonos a Collaro 2000 p136 para quem o livro é a preservação de fatos de qualquer natureza através da comunicação gráfica impressa independente de formato cor ou assunto3 Por sua vez a NBR 6029 dispõe que o livro é uma Publicação nãoperiódica que contém acima de 49 páginas excluídas as capas e que é objeto de Número Internacional Normalizado para Livro ISBN As sociação 2006 p3 De modo semelhante a UNESCO United Nations Educational Scientific and Cultural Organization es tabelece em 48 esse número mínimo de páginas cf Guilherme 1996 p25 ficando então a critério doa autora optar por uma ou outra orientação devendo considerar para tanto a finalida de do material a ser produzido Quanto à estrutura do livro no Brasil seus elementos obrigatórios e opcionais estão definidos na NBR 6029 da ABNT op cit conforme expomos adiante 3 Dado o foco deste capítulo mantemos a definição de comunicação gráfica impressa registrada por Collaro a despeito de estarmos cientes dos tantos outros suportes disponíveis para a publicação de livros Produção de livros da prática à teoria 179 Por seu turno a palavra design vem do inglês e tecnicamen te significa projetar compor algo visualmente ou colocar em prática determinado plano ou projeto cf Azevedo 1988 O design não se direciona apenas aos artefatos ou à arquitetura por exemplo mas também se aplica a qualquer material impresso e aí se in clui o livro tornado produto na sociedade industrial Assim o layout ou leiaute pode ser entendido como o design gráfico ou o projeto visual básico de todos os elementos que deverão inte grar esse material A partir dos anos 1980 o trabalho tipográfico foi adaptado à tecnologia informática e assim grande parte do processamento de textos e composição de páginas para posterior publicação migrou para o sistema desktop publishing ou editoração eletrôni ca que combina microcomputador hardware programas de com putação softwares e impressora laser cf Smith Jr 1990 p96 7 sistema que tem contribuído para o barateamento e agilidade do processo de publicação Na seqüência abordamos as princi pais etapas da editoração eletrônica de livros 83 O caminho das pedras 831 Revisão do trabalho Vamos partir do pressuposto de que oa autora já tenha selecionado as teorias norteadoras de seu livro os escritos as imagens e os exercícios que o integrarão e elaborado seu próprio texto que dê coesão e coerência à futura publicação em suma que já tenha redigido e digitado todo o trabalho e inserido as imagens que o comporão tendo montado uma seqüência ao menos semelhante àquela que será a final Isso se aplica também ao caso de obras coletivas com mais de uma autora Na etapa seguinte independente da área do conhecimento na qual se 180 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática insira o trabalho ele deve ser encaminhado para revisão quanto à legibilidade consistência gramática clareza estilo e precisão factual cf Smith Jr 1990 p68 Isso porque entre outros mo tivos simplesmente por estar envolvidoa emocionalmente com sua obra ou por já têla lido por diversas vezes oa autora poderá deixar de perceber falhas as mais óbvias as quais salta rão aos olhos após a publicação do trabalho causandolhe cons trangimento não é àtoa que como sabemos mesmo o escritor Machado de Assis submetia seus escritos à revisão de Carolina Novais Machado de Assis cf Miguel Pereira 1988 p2534 Além disso a revisão e as atualizações no arquivo dela decor rentes devem ser anteriores à aplicação do layout ao livro uma vez que após mesmo pequenas modificações podem implicar alterações em toda a estrutura da página As casas editoras geralmente dispõem de profissionais fi xos ou contratados como free lance especificamente para revisão de publicações No caso de obras de autoria coletiva é comum que oa organizadora ou editora tome a si essa tarefa ou que encaminhe os escritos a uma profissional de Letras contudo para oa autora independente a terceirização pode se tornar dispendiosa e assim a colaboração de uma colega pode ser um recurso viável Não se pode esquecer que a editoração de obras seja ela comercial ou independente envolve trabalho de equipe pois dificilmente um indivíduo poderá levar a efeito sozinho a publicação de um trabalho Apesar de via de regra osas educadoresas formarem um grupo razoavelmente colaborativo e solidário o trabalho docente acarreta grande nú mero de atividades sendo interessante logo que oa autora ofereça algum tipo de contrapartida a seuua colega como auxí lio na preparação de aulas ou correção de trabalhos de alunos não esquecendo ainda de incluir o nome dessea colaboradora Produção de livros da prática à teoria 181 na ficha técnica do livro e quando houver na lista de agradeci mentos 832 Impressão de todo o trabalho Feitos os acertos após a revisão é importante que o arqui vo contendo o trabalho seja novamente impresso Caso o livro venha a ser produzido via meio digital essa impressão deverá ocorrer preferencialmente utilizandose o mesmo software em pregado para digitálo e igual driver de impressora que tenha per manecido ativo durante esse processo Isso evita alguns proble mas como alteração de fontes tipo e tamanho dos caracteres perda de partes do texto mudança de estilos atributos de formatação do texto etc além de documentar o layout inicial do arquivo o que poderá ser muito útil quando de sua destrui ção conforme explicamos adiante Esse será o primeiro boneco do livro indispensável sobretudo quando a obra for coletiva ou quando oa autora não for oa editora da publicação 833 Backup cópia de segurança e verificação do suporte Mesmo que oa próprioa autora vá editorar seu livro é necessário que sejam feitas ao menos duas cópias de segurança do arquivo de trabalho uma em outra área do winchester disco rígido e outra em meio externo ao computador outro computa dor disquete CD zipdisk etc Essas cópias devem ser atualizadas periodicamente ao longo do desenvolvimento de toda a editoração Isso salvaguarda o trabalho de perdas voluntárias ou involuntárias de dados infestação por vírus e danos no ar quivo causados por insuficiência de memória RAM queda ou falta de energia interferência de terceiros e acidentes com o equi pamento só para se citarem alguns exemplos a lista de Murphy 182 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática é extensa sobretudo para iniciantes Feitas as cópias deve ser conferida a integridade dos arquivos e do meio no qual elas este jam armazenadas Aliás essa verificação da integridade do su porte assim como a prevenção contra infestações por vírus deve ser prévia quando se tratar de arquivo gerado por terceiros 834 Verificação da memória RAM Quando o material do futuro livro está todo digitado e com as ilustrações inseridas já é possível terse uma idéia bem apro ximada da extensão final do arquivo em bites ou bytes É neces sário então verificarse se o equipamento no qual a obra será editorada possui memória RAM virtual para leitura e grava ção suficiente para o trabalho Há que se considerar ainda que alguns softwares são muito pesados ou seja eles próprios ocupam muita memória RAM Se o usuário não tiver condições de fazer tal avaliação deverá consultar alguém que possa ajudá lo pois insuficiência de memória do computador assim como de espaço no winchester podem ocasionar por exemplo conge lamento da tela apagamento total ou parcial do arquivo e eli minação de imagens as quais são substituídas por um fatídico X em vermelho Isso tudo via de regra naturalmente quando o trabalho já está quase concluído os prazos para publicação es tão se esgotando etc etc 835 Definição do equipamento e da forma de impressão Ao contrário do que muitos pensam a definição do equi pamento e da forma de impressão do livro não é a última deci são a ser tomada mas uma das primeiras Isso porque ela está diretamente relacionada aos custos tiragem número de exem plares e layout da obra escolha do tipo de papel tamanho da Produção de livros da prática à teoria 183 página e da mancha e forma de reprodução das ilustrações Smith Jr 1990 p93 escreve que os editores têm obrigação de aprender alguma coisa sobre os processos de impressão e encadernação e sobre o que é e o que não é fisicamente possível num planejamento gráfico Quanto mais aprenderem mais serão capazes de se protegerem de impressores descuidados e desonestos Para aprender então além de ler um pouco a respeito e se possível consultar profissionais de sua confiança oa edi tora necessita ir a campo comparando preços e tecnologias oferecidas para impressão Apesar da possibilidade de se enviarem via correio eletrô nico os arquivos para impressão de trabalhos é recomendável que essa etapa seja executada em local de fácil acesso aoà edi tora podendo ser mais de perto por elea acompanhada Atualmente há duas principais modalidades para impressão de livros offset ou ofsete e impressão digital laser No primeiro caso após editorado o texto é impresso em um papel especial ou em um filme a partir dos quais mediante processos quími cos e fotográficos são confeccionadas chapas para reprodução do livro em impressora offset No segundo caso o arquivo con tendo o texto é transferido diretamente ao servidor de uma im pressora digital laser pela qual é impresso não sendo necessária portanto a confecção de chapas É ainda empregado um tercei ro tipo de impressão intermediário entre os dois anteriores o qual dispensa o uso de fotolitos sendo a chapa gravada eletro magneticamente A escolha do meio de impressão relacionase sobretudo a custos tiragem qualidade pretendida e prazos A impressão em offset oferece mais opções quanto ao tamanho cor e textura do 184 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática papel além de as tintas empregadas serem mais duráveis possi bilitando ainda a reprodução de imagens coloridas contudo devido à necessidade de confecção das chapas esse método é econômico apenas para grandes tiragens sendo seus custos ele vados para edições de aproximadamente até 500 exemplares Muitas impressoras a laser também imprimem em cores porém os custos finais são maiores Se o equipamento digital a laser apresenta limitações quan to à impressão em cores tamanho e tipo do papel isso não ocor re com respeito ao número de exemplares sendo ele recomen dável para obras de baixa tiragem Essas máquinas permitem que seja impresso qualquer número de exemplares viabilizando assim as edições por demanda Uma vez que esse processo utili zase de uma impressora eletrônica é necessário que já durante a editoração do texto permaneça ativo o driver apropriado no microcomputador onde o trabalho estiver sendo realizado caso contrário posteriormente ao ser transferido para o equipamen to de impressão o livro poderá sofrer alterações de layout Com pletada a fase de editoração outra medida de segurança é o fe chamento do arquivo antes de seu envio para impressão utili zandose softwares que gerem extensões eps ou pdf o que evita alterações de fontes ou layout Algumas gráficas inclusive não aceitam arquivos fora de um desses formatos os quais pos sibilitam a troca universal de documentos No manual da Adobe 1999 lêse que os arquivos em pdf conservam a mesma aparência e conteúdo do original inclusive fontes e gráficos podendo ser distribuídos por correio eletrônico ou armazenados na word wide web na Internet em um sistema de arquivos ou em um CD Produção de livros da prática à teoria 185 As exigências quanto ao fechamento de arquivos variam entre os birôs portanto recomendamos que os profissionais res ponsáveis pela finalização do livro sejam contatados antes des se procedimento Horie Pereira 2005 apresentam detalhes importantes cuja observância poderá adiantar bastante o traba lho 836 Préeditoração destruição do arquivo e preparação para aplicação do layout Independente de quem tenha digitado o trabalho o arqui vo necessita ser completamente limpo antes que se inicie a editoração eletrônica a fim de que se possam aplicar os estilos planejados para o livro sem a interferência de comandos indese jáveis Esse procedimento pode acarretar alterações no arquivo inicial e aí está a importância do boneco mencionado no item 832 Os processadores de textos possuem recursos cuja utiliza ção requer o emprego dos comandos adequados e assim o melhor software é aquele sobre o qual se tenha um bom domínio A despeito da grande semelhança entre a disposição dos caracteres no teclado das máquinas de escrever e no dos compu tadores ela pára por aí sendo que a transferência da lógica de utilização do equipamento mecânico para o eletrônico é uma das maiores causadoras de poluição nos arquivos a qual pre cisa ser inegociavelmente removida Geralmente os softwares para processamento de texto oferecem recursos para a realização au tomática de todas as operações envolvidas nessa limpeza pré via 186 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Em primeiro lugar devem ser eliminados os estilos que porventura tenham sido aplicados ao arquivo tanto pelo digitador como pelo próprio software já que alguns deles trazem opção para estilização automática a qual deve ser desabilitada Na seqüência excluemse todos os espaços excedentes a saber espaço duplo entre as palavras espaço antes dos sinais de pon tuação espaços antes e depois das marcas de parágrafos e espa ços após a abertura e antes do fechamento de parênteses e de aspas Também devem ser apagadas as entradas duplas de pará grafo e as tabulações empregadas para recuo de parágrafo uma vez que todos os espaços entre os elementos do livro são obti dos por meio da aplicação de estilos e que o recuo de parágrafo é dado pelo deslocamento dos marcadores da régua horizontal disposta na parte superior da tela do computador Por último o texto deve ser submetido a um bom corretor ortográfico sempre sob o olhar atento doa autora ou editora estando após isso pronto para a aplicação do layout 837 Definição do layout do livro Toda obra seja ela publicada por uma casa editora ou por uma pessoa física que atue como editora independente deve ser projetada por um designer gráfico que no segundo caso pode ser oa próprioa autora ou organizadora do livro contudo ainda que elea se sinta habilitadoa a desenvolver essa etapa do trabalho de editoração é interessante que recorra ao auxílio de uma colega da área de Design ou de Artes tanto nas escolas como nas universidades Outra alternativa é o trabalho colaborativo com uma ou mais alunosas sobretudo em esta belecimentos onde elesas necessitem elaborar seu portfolio ou portafólio ao longo do curso Geralmente o resultado da ativi dade conjunta é muito bom Produção de livros da prática à teoria 187 É importante terse o cuidado de não transformar a capa do livro em uma profusão desnecessária de imagens Essa parte material da obra é de cunho artístico devendo sobretudo ex pressar um conceito sendo desaconselhável buscar transformá la em um resumo do conteúdo Muitas capas de livros premiadas nas bienais do Designer Gráfico no Brasil primam pela simpli cidade e equilíbrio de elementos O layout de um trabalho deve ser coeso compatibilizando assunto capa ilustrações e fontes empregadas para as distintas partes do livro comportando recursos que aproximem forma e conteúdo como um modo de despertar o interesse do leitor e de facilitar sua leitura dos textos escritos4 O projeto visual de um livro compreende no mínimo tamanho da página e mancha considerandose os limi tes impostos pelo equipamento impressor cor gramatura e tipo de papel tamanho e tipo das fontes escolha das ilustrações e de sua forma de inserção capa Tendo já definido o modo de impressão e lembrando que os atributos do papel são determinantes para a construção do layout da obra oa designer deverá conversar com oa profissio nal responsável pela impressão dos exemplares informandose sobre o material que será empregado podendo assim melhor ela borar seu projeto em termos de mancha e número de páginas Não raro as gráficas possuem lotes de papel encalhados que poderão ser negociados a um custo mais baixo tendo ainda seus profissionais condições de indicar a gramatura e o tipo de papel mais apropriados a cada tipo de impressão 4 Uma vez que todo este livro aborda a produção de materiais para ensino por meio dele próprio objetivamos fornecer um exemplo de layout bem como dos elementos que devem constituir esse tipo de publicação 188 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Um dos problemas de se trabalhar em projetos para livros de pequena tiragem é que raramente se podem empregar cores o que torna ainda maior o desafio do designer sobretudo em se tratando de livros didáticos Resta assim o recurso do movi mento obtido com a disposição dinâmica de textos e ilustra ções na página E muita imaginação É bom lembrar que atual mente sobretudo os jovens estão bastante familiarizados com o design de páginas da Internet5 podese então aplicar semelhan tes recursos ao layout do livro a despeito das limitações impos tas pela monocromia e pela imagem estática O passo seguinte é a definição dos estilos do layout que pode ser por exemplo mais formal ou informal ornamentado ou despojado clássico ou contemporâneo escolha também rela cionada à natureza da publicação a qual pode ser acadêmica técnica ou didática apenas para se citarem alguns exemplos da segmentação do mercado A seleção de fontes constitui um dos principais recursos para a composição do estilo do layout e sen do assim fontes serifadas com traços em suas hastes podem ser mais apropriadas a determinadas obras enquanto as de tra ços retos podem melhor se adequar a outras No geral as fontes serifadas são mais aplicáveis a textos longos ao passo que as fontes sem serifas permitem melhores resultados nos títulos Fontes fantasia que apresentam traços artísticos também não se aplicam a trechos extensos por dificultarem a leitura Quando um software é instalado no computador há fontes que o acompanham entre as quais algumas já estarão devida mente licenciadas se o programa for registrado Fontes adicio nais podem ser adquiridas e instaladas separadamente mas assim como qualquer outro software elas são protegidas por 5 A respeito da geração imagética ver o capítulo O Professor como Facilitador Virtual de Rafael VetromilleCastro nesta obra Produção de livros da prática à teoria 189 direitos autorais a menos que sejam de domínio público como a Times New Roman ou a Arial Sites especializados oferecem arquivos de fontes licenciadas para download cuja utilização é livre desde que citada a procedência O site http wwwdafontcom por exemplo oferece 7624 fontes dividi das em famílias além de instruções para instalálas Consideran dose que o nome das fontes utilizadas na composição de uma obra deve constar no colofão é recomendável que esses míni mos cuidados sejam observados para que se evitem transtornos futuros Particularmente o livro didático permite que se empregue maior variedade de fontes devendose evitar porém que isso se transforme em uma profusão desnecessária Um bom método de trabalho é criarse uma identidade visual entre os elementos do livro empregandose fontes de um mesmo estilo por exem plo para todos os títulos Esse recurso serve ainda para se des tacarem os textos doa autora da obra textos extraídos de outras publicações transcrição de textos de alunosas comen tários legendas títulos subtítulos exercícios notas etc Selecionadas as fontes que comporão a obra partese en tão para a criação dos estilos os quais facilitam não só a editoração mas também possibilitam a geração automática de sumários lis tas e índices no caso de aplicativos domésticos Cada software oferece recursos próprios para a definição de estilos e assim é recomendável que oa editora familiarizese com eles Todos os blocos de texto devem ser estilizados desde o número de página às notas de rodapé no mínimo quanto a fonte recuos espaçamento entre linhas controle de linhas órfãs e viúvas e idioma adicionalmente podese definir tabulação borda mol dura e numeração de linhas entre outros As normas técnicas para estilização podem ser encontradas por exemplo nas NBR 190 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática 6024 6029 e 10520 da Associação Brasileira de Normas Técni cas 2003 2006 2002b respectivamente Finalizado o projeto é importante que ele seja aplicado a algumas páginas do livro para que se faça um teste de impres são o que irá indicar as alterações necessárias Esse teste deve ser feito preferencialmente no mesmo equipamento no qual o livro ou suas matrizes serão impressos ou ao menos por uma impressora que propicie resultado semelhante 838 Aplicação do layout Antes de se dar início à aplicação do layout é importante que se insiram no arquivo todas as partes que deverão compor o futuro livro a fim de que sejam evitados esquecimentos De acordo com a NBR 6029 Associação 2006 a parte interna do livro é formada por elementos prétextuais textuais e pós textuais O detalhamento de cada um desses itens encontrase na referida norma cuja consulta recomendamos aosàs edito resas e dessa forma segue apenas a relação dos tópicos que integram cada uma dessas partes Os elementos prétextuais compreendem falsa folha de rosto opcional folha de rosto obrigatória errata opcional dedicatórias opcional agradecimentos opcional epígrafe opcional lista de ilustrações opcional lista de tabelas opcional lista de abreviaturas e siglas opcional lista de símbolos opcional sumário obrigatório não confundir com índice Produção de livros da prática à teoria 191 prefácio opcional geralmente escrito por terceiros a convite doa autora ou da casa editora da obra e apresentação opcional Os elementos textuais constituem os capítulos e seções do livro divididos conforme o modo de abordagem da matéria Os elementos póstextuais são posfácio opcional referências obrigatórias lista das obras efetivamente citadas no livro eou bibliografia obras que serviram de apoio à elaboração do livro mas que não tenham sido citadas glossário opcional apêndices opcional documentos complementares pro duzidos peloa autora da obra anexos opcional documentos de autoria diversa índices opcional remissão a autores temas ou ou tros tópicos abordados no livro e colofão obrigatório especificação dos elementos grá ficos utilizados na composição do livro e do estabeleci mento onde ela tenha sido impressa Para aplicação dos estilos oa editora pode se guiar pelo trabalho impresso anteriormente conforme indicado no item 832 Nesse processo alguns cuidados devem ser tomados sen do alguns deles a o título deve sempre acompanhar pelo menos o início do texto que lhe segue não podendo assim ocupar sozinho o final de uma página b não deve haver separação silábica nas palavras que for mam o título c a segmentação do título em duas ou mais linhas é orientada por normas específicas havendo a necessi dade de se preservarem sintagmas e de se evitar a 192 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática formação de cacófatos e de vocábulos chulos cf Widholzer 2002 d do mesmo modo devese evitar a formação de cacófatos e de vocábulos inadequados quando da separação das sílabas nos demais textos e ao final e início das páginas não deve haver linhas ór fãs ou viúvas ou seja linhas únicas isoladas do restan te do parágrafo f devese evitar a disposição das citações longas desta cadas do texto em mais de uma página Há muitos outros cuidados a serem observados que em sua maioria contudo dizem respeito a normas técnicas as quais podem ser consultadas nos devidos documentos Terminada a editoração deve ser impressa uma prova com pleta do trabalho já em seu formato definitivo novamente no mesmo equipamento onde será feita a impressão dos exempla res ou em impressora que possibilite resultado semelhante De posse dessa prova uma bibliotecárioa devidamente registra doa no Conselho Regional de Biblioteconomia CBR poderá elaborar a ficha catalográfica do livro A obra deverá então ser encaminhada para a Biblioteca Nacional para fins de atribuição do ISBN International Standard Book Number e posterior de pósito legal dos direitos autorais após a publicação do livro Antes da impressão do total da tiragem se possível reco mendase que oa autora solicite a confecção de uns poucos exemplares que servirão como piloto em uma turma de estu dantes Esse trabalho em conjunto com alunosas permite que melhor se achem os furos do livro e se testem os exercícios propostos Produção de livros da prática à teoria 193 839 Capa A capa é a embalagem ou seja o revestimento externo do miolo do livro devendo harmonizarse com o conteúdo da obra Se oa autora não puder contar com os serviços de uma designer contratado elea poderá novamente solicitar a colabo ração de colegas das áreas de Design ou Artes Gráficas ou ainda de seusuas alunosas sob a supervisão dos primeiros que se sentirão valorizadosas pela participação no trabalho No caso de imagens já publicadas geralmente protegidas por direito autoral de reprodução de obras de outrosas autoresas ou de fotografias que retratem pessoas oa autora do livro necessi tará obter por escrito autorização de todos os agentes envolvi dos a fim de que possa utilizar esse material na capa de seu livro Assim como o miolo o design da capa deve levar em consi deração os custos ainda que neste caso as possibilidades sejam muito superiores àquelas disponíveis para o corpo do livro sem que isso implique necessariamente elevação do preço depen dendo da combinação entre tipo e gramatura do papel e proces so de impressão Apenas para se citarem alguns exemplos a gramatura do papel varia entre 230g e 300g as quatro cores bá sicas para a impressão quando sobrepostas podem ser infinitas além de haver grande diversidade de cores prontas especiais a proteção pode ser obtida por meio da sobreposição de verniz ou de plastificação e o miolo pode ser costurado colado espiralado ou grampeado dependendo do número de páginas e do design Em linhas gerais a capa pode ser flexível brochura ou rígida capa dura de material cartonado ou encadernado Cabe lem brar que o tipo de papel também influenciará o resultado final da criação 194 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática A capa dividese em primeira e quarta capas as faces ex ternas da publicação e segunda e terceira capas as faces inter nas da primeira e quarta capas respectivamente A primeira capa deve conter o nome doas autoraesas organizador aesas ou editoraesas título e subtítulo da obra e nome e ou logomarca da editora podendo ainda ser acrescentadas ilus trações A segunda e terceira preferencialmente não registram qualquer informação ou publicidade Na quarta capa ou contracapa imprimemse o número e o código de barras do ISBN podendo ela conter ainda o resumo do livro e o endereço da editora Em livros e folhetos encadernados com materiais rígidos são ainda obrigatórias as folhas de guarda coladas no começo e no fim da obra para prender o miolo às capas Essas folhas são opcionais para livros encadernados com materiais flexíveis As orelhas ou abas são opcionais e constituem cada uma das extremidades da sobrecapa ou da capa do livro dobradas para dentro As orelhas devem trazer dados biográficos doas autoraes e comentários sobre a obra sendo opcionais outras informações como o público ao qual se destina Assim como a quarta capa a orelha pode conter uma ilustração dando conti nuidade à primeira capa A lombada ou dorso é a parte da capa que reúne as mar gens internas de um livro ou folheto sendo obrigatória quando a publicação comportála Nela são impressos o nome doas autoras e da obra a identificação do volume quando perti nente e a logomarca da editora A disposição desses elementos na lombada é descrita na NBR 12225 da ABNT Associação 2004 Produção de livros da prática à teoria 195 8 4 Imagens Dada sua importância a inserção de imagens no corpo do livro merece uma seção à parte Diferente do que ocorre em relação à capa do livro a reprodução de gravuras de autoria di versa no corpo da publicação assim como de textos escritos não constitui ofensa aos direitos autorais desde que relaciona das ao contexto do trabalho e que seja citada a respectiva fonte cf Brasil 2002e Sempre que possível contudo devese evi tar que a cópia seja o único recurso para a ilustração da obra sendo recomendável a produção de estampas originais elabora das diretamente sobre suportes materiais diversos para poste rior digitalização ou mediante a utilização de softwares apropria dos a tal fim Dependendo do orçamento disponível a impressão de ilus trações pode ser monocromática em matizes de uma mesma cor ou em um número variado de cores Em qualquer um dos casos devese verificar qual a melhor resolução em número de dpi pontos por polegada para a digitalização de imagens levando se em consideração o software que será utilizado para editoração do livro e o meio de impressão Geralmente a resolução mínima requerida para ilustrações em preto e branco é de 200 dpi e para as coloridas é de 300 dpi A inserção de imagens junto aos textos requer certa noção de equilíbrio evitandose carregar a página De preferência as ilustrações devem acompanhar a entrada área principal ou a saída da página área secundária6 ou ainda localizarem se no centro óptico pouco acima do centro geométrico de modo a não interferirem negativamente no processo de leitura mas a 6 A respeito da varredura de uma superfície pelo olho humano ver o capítulo Regras Práticas para a Criação de Transparências e de Apresentações com Mídias Eletrônicas de Adriano Nobre Oliveira nesta obra 196 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática contribuírem para a harmonização do discurso gráfico O canto superior direito e o inferior esquerdo são as áreas mortas da página onde poderão se situar estampas menos importantes A reserva ou não de áreas privilegiadas às ilustrações dependerá de sua importância no contexto da obra projeto gráfico público leitor etc À medida que há a sofisticação dos sistemas de composi ção gráfica segundo Silva 1985 maior é a dependência da cul tura letrada ocidental com relação a fatores visuais apontando o autor para a existência de um discurso gráfico resultado do con junto de elementos visuais de qualquer material impresso Esse discurso é produzido pela diagramação harmonizando tipos e mensagens Embora seja imprescindível o aprimoramento do texto não se deve desprezar o valor da parte gráfica como ins trumento de persuasão na leitura id p14 Para o autor a decodificação de uma página dáse em dois níveis primeiramente oa leitora observa o conjunto do impresso identificando ilus trações títulos subtítulos espaços em branco gráficos etc So mente após elea se detém nos detalhes de cada uma dessas subáreas Azevedo 1988 p37 escreve que os recentes avan ços tecnológicos têm permitido que o material impresso torne se mais sofisticado fazendo com que o público não apenas leia os textos mas leia as imagens e até mesmo certos espaços que são deixados em branco Do mesmo modo para Kress e van Leeuwen 1988 as imagens também comunicam significado por meio de elementos formais e das estruturas do design cor pers pectiva enquadramento e composição Collaro 2000 faz uma aproximação bastante categórica entre diagramação e conteúdo do texto destacando ainda a necessidade de se alinharem co nhecimentos estético e técnico Fairclough 2001 p51 registra que para designar a abordagem desse cruzamento de códigos diversos autores como Hodge Kress e Threadgold empregam o Produção de livros da prática à teoria 197 termo semiótica social Assinala o autor que Em oposição à lin güística crítica há preocupação com uma variedade de sistemas semióticos como a linguagem e com a interrelação entre lin guagem e semiose visual id Expõe Orlandi 1996 p3940 que a linguagem verbal não é o único meio de que oa leitora dispõe para se relacionar com o universo simbólico já que o mundo está povoado de diversas outras formas de linguagem que se articulam entre si as quais podem ser exploradas no ensino da leitura contribuindo para a formação do sujeitoleitor Nessas outras linguagens incluí mos a imagética recurso visual que pode contribuir para que oa leitora seja um cúmplice do livro didático não seuua ad versárioa cf ibid p7 facilitando o estabelecimento de um diálogo entre elea e oa autora do livro Em pesquisa sobre a utilização do livro didático no ensino fundamental Moysés e Aquino 1987 p9 constataram entre outras a crítica de alunosas a incoerências entre o texto e a ilustração Vêse então a importância de se utilizarem ilustra ções que contribuam efetivamente para a construção de sentido do texto escrito aliandose à mera reprodução a produção de material visual específico Uma vez que a contratação de artis tas implica custos oa autora da obra poderá novamente so licitar a colaboração de colegas eou de alunosas sem nunca esquecer de registrar devidamente os créditos na ficha técnica do livro 85 Direito autoral e ISBN Por compartilhar seus escritos oa autora detém os direi tos autorais copirraite reconhecidos na maior parte dos países do mundo A proteção dos direitos do autor sob este princí pio geral é o objetivo das leis de direitos autorais e de muitas 198 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática práticas do comércio livreiro mesmo que não exigidos por lei Smith Jr 1990 p23 Tal garantia diz respeito a pessoas física ou jurídica abrangendo produções intelectual científica técni ca cultural ou artística Ao contrário do registro de patentes os direitos autorais são válidos em todo o mundo Tais direitos foram idealizados há cerca de 400 anos após a invenção dos tipos móveis por Gutenberg mas apenas em 1886 com a Convenção de Berna convocada mediante a intervenção do escritor Vitor Hugo foram firmados acordos internacionais nesse sentido Alguns países resistiram a aderir a esse pacto internacional por enten derem que ele ia de encontro a suas legislações nacionais Os Estados Unidos da América por exemplo tornaramse parte da Convenção de Berna somente em 1989 ao passo que no Brasil já em 1898 funcionava o Serviço de Direitos Autorais EDA para o registro de obras intelectuais Brasil 2007b As deliberações contidas na Convenção de Berna foram revistas no âmbito de outros encontros internacionais tendo o mais recente ocorrido em Paris em 1971 Desde 1967 a Con venção é administrada pela Organização Mundial da Proprieda de Intelectual órgão das Nações Unidas situado em Genebra que tem por objetivo promover a proteção da propriedade inte lectual e do direito doa autora Os atuais cerca de 180 Esta dos signatários da Convenção estabeleceram que os direitos au torais para uma obra permanecem no mínimo durante todo o tempo de vida doa autora mais cinqüenta anos após sua mor te A lei brasileira nº 5988 de 14 de dezembro de 1973 dispõe sobre o registro de obras intelectuais em território nacional O registro permite o reconhecimento da autoria especifica direitos morais e patrimoniais e estabelece prazos de proteção tanto para o titular quanto para seus sucessores Além de imperar nas questões Produção de livros da prática à teoria 199 referentes à cessão dos direitos contribui para a preservação da memória nacional uma das missões da Fundação Biblioteca Nacional através da Lei do Depósito Legal Brasil 2007b No Brasil os direitos autorais foram consolidados pela Lei nº 9610 de 19 de fevereiro de 1998 pela qual estes permane cem em vigor por até setenta anos após a morte doas autoras da obra contados a partir de 1o de janeiro do ano subseqüente ao falecimento doa últimoa coautora quando for o caso Não havendo sucessoresas a obra passa imediatamente ao domínio público Brasil 2007e Estabelecidos os direitos autorais editores de diversos países reunidos em Berlim em novembro de 1966 apontaram a necessidade de criação de um número único e simples para iden tificação de cada item publicado visando ao controle computadorizado de produção e distribuição de livros Funda ção 2002 p9 Nesse sentido em 1967 editores ingleses criaram o International Standard Book Number ISBN o qual identifica um livro e sua edição O código passou a ser ampla mente empregado tanto pelos comerciantes de livros quanto pelas bibliotecas até ser oficializado em 1972 como norma interna cional pela International Standard Organization ISO 2108 1972 Brasil 2007c Atualmente o ISBN é utilizado por cerca de 150 países sob a supervisão da Agência Internacional do ISBN No Brasil desde 1978 a Fundação Biblioteca Nacional foi designada como a Agência Nacional de ISBN havendo livra rias que não aceitam a comercialização de livros que não este jam catalogados dentro desse padrão internacional A Lei do Livro Lei no 10753 de 30 de outubro de 2003 tornou a obrigatória a adoção do ISBN assim como a ficha catalográfica da obra Bra sil 2007c 200 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Todas as publicações impressas que tenham a partir de cinco páginas devem receber ISBN assim como softwares e livros ele trônicos No caso de obras compostas por mais de um volume recebem ISBN o conjunto e os volumes separadamente A cada edição é atribuído novo código à obra A fim de requerer ISBN para suas publicações a casa edi tora deve se cadastrar junto à Biblioteca Nacional Consideran do os fins a que se propõe este capítulo cabe salientar que tam bém oa autora independente pode solicitar o número exclusi vamente para obras de sua autoria Para tanto é obrigatório en viar o formulário de cadastro juntamente com o requerimento de ISBN Após publicada obra que tenha recebido ISBN deve ser feito depósito legal de um de seus exemplares junto à Biblioteca Nacional A Lei do Depósito Legal Lei no 10994 de 14 de dezembro de 2004 dispõe sobre esse procedimento obrigatório cuja inobservância é sujeita a multa O depósito legal que não deve ser confundido com o registro de obras intelectuais tem por objetivo assegurar o assento e a guarda da produção intelec tual nacional além de possibilitar o controle a elaboração e a divulgação da bibliografia brasileira corrente bem como a defe sa e a preservação da língua e cultura pátrias Neste capítulo registramos em linhas gerais as etapas que podem ser seguidas para a produção de um livro assim como apontamos algumas fontes bibliográficas relacionadas a essa ati vidade Dada a limitação do espaço não nos ativemos a orienta ções mais minuciosas sobretudo àquelas relacionadas a norma lização as quais são facilmente encontradas em publicações es pecíficas Munidoa dessas indicações oa professora encon trará o melhor caminho para a publicação de seu trabalho va lendose da criatividade que aliás é uma das características co muns à docência e à editoração de livros Produção de livros da prática à teoria 201 Referências ADOBE SYSTEMS INCORPORATED Guia do usuário do Adobe Acrobat 40 EUA 1999 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 10521 numeração internacional para livro ISBN Rio de Janeiro 1988a NBR 10524 preparação de folhaderosto de livro Rio de Janeiro 1988b NBR 6023 informação e documentação referências elaboração Rio de Janeiro 2002a NBR 10520 citações em documentos apresentação Rio de Janeiro 2002b NBR 6024 numeração progressiva das seções de um documento Rio de Janeiro 2003 NBR 12225 títulos de lombada Rio de Janeiro 2004 NBR 6034 preparação de índice de publicações Rio de Janeiro 2005 NBR 6029 informação e documentação livros e folhetos apresentação Rio de Janeiro 2006 AZEVEDO W O que é design São Paulo Brasiliense 1988 Coleção Primeiros Passos 211 BRASIL Ministério da Cultura Fundação Biblioteca Nacional Depósito legal Disponível em httpwwwfbnbrsite defaulthtm Acesso em 29 abr 2007a 202 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática BRASIL Ministério da Cultura Fundação Biblioteca Nacional Escritório de Direitos Autorais Disponível em httpwwwfbnbr sitedefaulthtm Acesso em 29 abr 2007b Ministério da Cultura Fundação Biblioteca Nacional O que é ISBN Disponível em httpwwwfbnbrsitedefaulthtm Acesso em 29 abr 2007c Ministério da Educação Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação FNDE Livro didático Disponível em httpwww1fndegovbrhomeindexjsparquivo livrodidaticolivrodidaticohtmlpnld Acesso em 30 abr 2007d Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos Lei n 9610 de 19 de fevereiro de 1998 Altera atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências Disponível em httpwwwculturagovbr legislacaoleisindexphpp36more1c1pb1 Acesso em 15 fev 2007e COLLARO A C Livros In Projeto gráfico teoria e prática da diagramação São Paulo Sumus 2000 CORACINI M J Org Interpretação autoria e legitimação do livro didático São Paulo Pontes 1999 FAIRCLOUGH N Discurso e mudança social Brasília Editora Universidade de Brasília 2001 FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL Manual dos usuários do ISBN International Standard Book Number Rio de Janeiro FBN 2002 GUILHERME H F Pequeno dicionário de editoração Fortaleza EUFC 1996 Produção de livros da prática à teoria 203 HORIE R M PEREIRA R P 300 superdicas de editoração design e artes gráricas 5 ed São Paulo SENAC 2005 HURLBURT A Layout o design da página impressa 2 ed São Paulo Nobel 1999 KRESS G VAN LEEUWEN T Reading images the grammar of visual design London New York Routledge 1998 MIGUEL PEREIRA L Machado de Assis Belo Horizonte Itatiaia 1988 MOYSÉS L M M AQUINO L M G T de As características do livro didático e os alunos Cadernos CEDES Campinas SP n 18 p5 14 1987 ORLANDI E P Discurso leitura 3 ed São Paulo Cortez 1996 RIO GRANDE DO SUL Contadoria e AuditoriaGeral do Estado Lei no 11670 de 19 de setembro de 2001 Estabelece a Política Estadual do Livro e dá outras providências Porto Alegre Rio Grande do Sul 19 set 2001 Disponível em http wwwlegislacaosefazrsgovbrsite DocumentaspxinpKey104109inpDtTimeTunnel Acesso em 21 maio 2007 SILVA R S Diagramação o planejamento visual gráfico na comunicação impressa 5 ed São Paulo Sumus 1985 SMITH JR D C Guia para editoração de livros Florianópolis UFSC 1990 SOUZA D M de Autoridade autoria e livro didático In CORACINI M J Org Interpretação autoria e legitimação do livro didático São Paulo Pontes 1999 p2731 204 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática WIDHOLZER N R S Fonologia e editoração a segmentação de títulos em publicações In ENCONTRO DO CELSUL 5 2002 Curitiba Glossário Acabamento Uma das etapas finais da confecção de um livro constituindose na junção das páginas que formam o miolo o que pode ser feito por colagem costura ou grampeamento e posterior capeamento ou inserção desse miolo em uma capa Artefinal Finalização de um trabalho artístico já esboçado como a arte da capa ou das ilustrações internas do livro Para impressão offset por exemplo a arte final deve conter especificações técnicas com vistas à reprodução do material Autora Pessoa física que criou a obra Birô Empresa que reúne profissionais habilitados a oferecer serviços de editoração eletrônica Byte bite ou dígito binário Em Informática uma das unidades de medida de informação Boneco ou boneca Esquematização da seqüência das páginas de uma publicação Ainda que esse trabalho seja dispensável para impressos a laser ele é útil para que oa autora tenha uma idéia do encadeamento dos textos de seu livro e do número de páginas que ele terá Em caso de impressão offset divida o boneco em cadernos de quatro páginas montagem usualmente empregada com essa tecnologia Recomendase que o total das páginas seja um múltiplo de quatro Colofão Conjunto de informações disposto de preferência na última página ímpar do livro ou folheto contendo nome das fontes utilizadas nome e endereço da gráfica e local e data de impressão Capa Cobertura rígida ou flexível de material variado do miolo de um trabalho impresso Produção de livros da prática à teoria 205 Copyright ou copirraite Indicado pelo símbolo confere a uma pessoa física ou jurídica o direito exclusivo de editar ou fazer editar imprimir reproduzir ou vender obra literária artística ou científica Crédito Registro do nome colaboradores da obra e de autores de textos ou ilustrações Diagramação Determinação prévia da disposição dos espaços a serem ocupados por todos os elementos de uma publicação textos ilustrações legendas etc assim como dos tipos medidas de colunas etc Driver Software que controla um dispositivo de hardware ou comandos de software que permitem que o computador comuniquese com um periférico específico como uma impressora Cada periférico exige um driver específico Edição Conjunto dos exemplares de uma obra impressos em determinado espaço de tempo Todas as impressões reimpressões e tiragens da obra pertencem à mesma edição desde que não haja modificações significativas Editoração Conjunto das etapas para publicação de uma obra envolvendo preparo do original composição impressão acabamento distribuição e comercialização Exemplares Cada unidade impressa do livro Família Conjunto de caracteres tipográficos que possuam as mesmas características fundamentais Fonte Conjunto das características de um tipo pessoa física ou jurídica cuja obra tenha sido referida ou reproduzida em uma publicação Fotolito Negativo ou diapositivo fotográfico contendo a reprodução do material a ser impresso utilizado para gravação da imagem na chapa para reprodução em offset Gramatura Um dos atributos do papel indica o peso em gramas do metro quadrado da folha ou bobina de papel Mancha Área impressa em uma página Miolo Conjunto das páginas internas de uma publicação desconsiderandose a capa 206 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Página Cada face de uma folha de papel contenha ela ou não material impresso ou manuscrito Portfolio ou portafólio Conjunto da produção artística de um indivíduo grupo ou empresa geralmente organizado em uma pasta de cartão Programação visual Planejamento artístico ou visual de um material para impressão Prova Exemplar impresso para fins de revisão ou avaliação de um material já editorado ou diagramado antes de sua impressão final Retícula Em offset chapa em que são gravados pontos traços ou outros elementos gráficos cuja quantidade varia por centímetro quadrado assim podese trabalhar com apenas uma cor obtendose meiostons a partir do fechamento ou da abertura das retículas Efeito semelhante pode ser obtido em editoração eletrônica Ex diversos tons de azul ou cinza Tiragem Total de exemplares impressos abrangidos por uma edição da publicação Este livro foi impresso pela gráfica XXX para a EDUCAT em fontes Garamond SILdoulos IPA Verdana papel XXX off set Pelotas dezembro de 2007 Aprendizado Baseado em Projetos e Tecnologias Impactos no Envolvimento dos Alunos e na Motivação para a Aprendizagem A educação tem passado por profundas transformações nas últimas décadas impulsionadas pelo avanço tecnológico e uma compreensão cada vez mais ampla do processo de ensinoaprendizagem Nesse contexto o Aprendizado Baseado em Projetos ABP e o uso de tecnologias educacionais têm se destacado como abordagens eficazes para promover o envolvimento dos alunos e motiválos em suas jornadas de aprendizagem O Aprendizado Baseado em Projetos é uma metodologia que envolve os alunos na resolução de problemas reais por meio de projetos que exploram questões significativas e desafiadoras Em vez de aprender conteúdos de forma isolada os alunos adquirem conhecimento de maneira contextualizada aplicandoo em situações práticas Isso permite uma compreensão mais profunda e duradoura dos conceitos tornando a aprendizagem mais significativa A motivação é um elementochave na aprendizagem Quando os alunos estão engajados e motivados o processo de aprendizado se torna mais eficaz O ABP promove a motivação dos alunos pois eles se sentem ativos e responsáveis pelo seu próprio aprendizado A possibilidade de escolher projetos alinhados com seus interesses pessoais aumenta a motivação intrínseca que é um fator determinante no engajamento dos estudantes A tecnologia desempenha um papel fundamental no contexto do ABP Plataformas educacionais softwares aplicativos e recursos digitais fornecem ferramentas para a pesquisa colaboração e apresentação de projetos A tecnologia também possibilita a conexão com especialistas o acesso a informações em tempo real e a exploração de ambientes virtuais de aprendizagem ampliando as possibilidades de investigação e inovação Autores como José Armando Valente em seu livro Tecnologias e Ensino Presencial e a Distância destacam que as tecnologias têm o potencial de tornar a aprendizagem mais flexível e personalizada Isso é especialmente importante quando se fala em projetos pois os alunos podem utilizar recursos tecnológicos para adaptar seus projetos de acordo com seus interesses e ritmos de aprendizado A interatividade proporcionada pelas tecnologias também aumenta o envolvimento dos alunos tornando o processo de aprendizado mais dinâmico e atraente César Coll em sua obra Psicologia e Educação Aprender e Ensinar com Sentido destaca que a motivação está intrinsecamente ligada ao sentido atribuído à aprendizagem As tecnologias educacionais quando bem integradas ao ABP contribuem para a construção desse sentido Os alunos podem utilizar a tecnologia para pesquisar criar comunicar e resolver problemas reais o que gera um propósito claro para a aprendizagem e consequentemente motivação O Aprendizado Baseado em Projetos aliado ao uso de tecnologias educacionais apresenta um potencial significativo para melhorar o envolvimento dos alunos e a motivação na aprendizagem À medida que a tecnologia continua a avançar é fundamental explorar ainda mais como essas ferramentas podem ser integradas de maneira eficaz no contexto do ABP proporcionando uma educação mais relevante e motivadora para os alunos Um dos principais fatores que tornam o ABP eficaz é a motivação intrínseca dos alunos A teoria da autodeterminação apresentada por Deci e Ryan em Motivação e Personalidade 2017 destaca a importância da motivação intrínseca que surge quando os alunos percebem a atividade como significativa e alinhada com seus interesses e valores No ABP os alunos têm a oportunidade de escolher projetos que os cativem aumentando sua motivação intrínseca para aprender A integração de tecnologias educacionais no ABP amplia as oportunidades de aprendizado e colaboração Autores como Marcelo Borba em Tecnologias Informáticas na Educação Matemática 2005 destacam como as tecnologias podem ser usadas para aprimorar o ensino e a aprendizagem fornecendo ferramentas interativas simulações e recursos online que enriquecem a experiência educacional A tecnologia permite que os alunos acessem informações em tempo real colaborem de maneira eficaz e explorem recursos que não estariam disponíveis de outra forma tornando o processo de aprendizado mais envolvente A combinação de Aprendizado Baseado em Projetos e tecnologias educacionais tem o potencial de transformar a educação tornandoa mais motivadora e envolvente A motivação intrínseca dos alunos é estimulada pela oportunidade de escolher projetos alinhados com seus interesses enquanto as tecnologias oferecem recursos interativos e colaborativos que enriquecem o processo de aprendizado À medida que continuamos a explorar o potencial da tecnologia na educação é essencial reconhecer como ela pode ser integrada de maneira eficaz no contexto do ABP preparando os alunos para um mundo cada vez mais tecnológico e dinâmico Referências Bibliográficas Valente J A Tecnologias e Ensino Presencial e a Distância Coll C Psicologia e Educação Aprender e Ensinar com Sentido Deci E L Ryan R M 2017 Motivação e Personalidade Borba M C 2005 Tecnologias Informáticas na Educação Matemática

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Metodologia de Projetos: Aprender e Ensinar na Producao do Conhecimento - Visao Complexa

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Metodologia de Projetos: Aprender e Ensinar na Producao do Conhecimento - Visao Complexa

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Metodologia de Projetos: Aprender e Ensinar na Producao do Conhecimento - Visao Complexa

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Metodologia de Projetos: Aprender e Ensinar na Producao do Conhecimento - Visao Complexa

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Pesquisa Educacional Conhecimentos Politicas e Praticas - Analise da Revista Brasileira de Educacao

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Pesquisa Educacional Conhecimentos Politicas e Praticas - Analise da Revista Brasileira de Educacao

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Epistemologias Feministas Musica Criativa e Educacao-Artigo Academico

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Epistemologias Feministas Musica Criativa e Educacao-Artigo Academico

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Cultura Nigeriana, Instituto Geledés, Valorização Capilar, Livros Infantis e Documentário Guerra Particular - Resumo

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Cultura Nigeriana, Instituto Geledés, Valorização Capilar, Livros Infantis e Documentário Guerra Particular - Resumo

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Epistemologias Feministas Musica Processos Criativos e Educacao - Artigo Academico

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Epistemologias Feministas Musica Processos Criativos e Educacao - Artigo Academico

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Modelos Pedagógicos - Diretivo Não Diretivo e Relacional

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Modelos Pedagógicos - Diretivo Não Diretivo e Relacional

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Texto de pré-visualização

Vilson J Leffa organizador 2ª edição Produção de materiais de ensino prática e teoria EDUCAT PRODUÇÃO DE MATERIAIS DE ENSINO TEORIA E PRÁTICA Universidade Católica de Pelotas UCPel Chanceler D Jayme Henrique Chemello Reitor Alencar Mello Proença PróReitora de Graduação Myriam Siqueira da Cunha PróReitor Administrativo Carlos Ricardo Gass Sinnott PróReitora de PósGraduação Pesquisa e Extensão Vini Rabassa da Silva Diretor da Escola de Educação Pedro Ernesto Andreazza Coordenadora do Programa de PósGraduação em Letras Carmen Lúcia Barreto Matzenauer EDUCAT Editora da UCPel Editor Wallney Joelmir Hammes Conselho Editorial Wallney Joelmir Hammes Presidente Lino de Jesus Soares Luciano Vitória Barboza Luiz Roberto Bitar Real Vilson José Leffa Rua Félix da Cunha 412 96010000 Pelotas RS Fone 53 21288297 Fax 53 32253105 Email educatphoenixucpeltchebr PRODUÇÃO DE MATERIAIS DE ENSINO TEORIA E PRÁTICA 2ª edição Pelotas EDUCAT Editora da Universidade Católica de Pelotas 2007 2007 Editora da Universidade Católica de Pelotas Impresso no Brasil Printed in Brazil Todos os direitos reservados à EDUCAT Rua Félix da Cunha 412 96010000 Pelotas RS Brasil Fone 53 21288297 Fax 53 32253105 Email educatphoenixucpeltchebr httpeducatucpeltchebr Tiragem 500 exemplares ISBN Capa e projeto gráfico Daniel Clós Cesar danielclosterracombr Editoração Jaqueline da Silva Oliveira jackieoterracombr P964 Produção de materiais de ensino teoria e prática organizado por Vilson J Leffa 2ed rev Pelotas Educat 2007 206p 1 Línguas estudo e ensino 2 Línguas métodos de ensino 3 Materiais de ensino produção I Leffa Vilson J org CDD 3713 Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Cristiane de Freitas Chim CRB 101233 Sumário Apresentação da segunda edição 7 Introdução 9 1 Como produzir materiais para o ensino de línguas 15 Vilson J Leffa 2 Autonomia critérios para escolha de material didático e suas implicações 43 Christine Nicolaides Vera Fernandes 3 Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário em sala de aula 69 Teresinha dos Santos Brandão Luiz Gustavo Ribeiro Araújo 4 Uma proposta para o ensino de línguas próximas 97 Cristina Pureza Duarte Boéssio 5 Produção de materiais para o ensino de pronúncia por meio de músicas 109 Denize NobreOliveira 6 Regras práticas para a criação de transparências com mídias eletrônicas 125 Adriano Nobre Oliveira 7 O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas sobre a produção de materiais para a aprendizagem via web ou mediada por computador 145 Rafael VetromilleCastro 8 Produção de livros da prática à teoria 173 Nara Widholzer Daniel Clós Cesar APRESENTAÇÃO DA SEGUNDA EDIÇÃO O que mudar ou manter é sempre um desafio quando se lança a edição nova de um livro Há o pressuposto de que o livro de algum modo tenha agradado ao público o que poderia significar que ele deveria permanecer como está partindose aí da premissa de que não se mexe em time que está ganhando Por outro lado sabemos que o mundo está num processo acele rado de mudança o que significa que uma segunda edição deve não só refletir essas mudanças mas até antecipálas O que es peramos ter conseguido com esta edição é ter mudado o que poderia ser melhorado e ter mantido como estava aquilo que 8 não tinha a mínima possibilidade de mudança sem prejuízo do resultado final O que mudou no livro e o que mudou no mundo As mu danças no livro são mais de ordem estrutural tanto em termos de apresentação gráfica como em termos de conteúdo Muda mos o design substituindo a capa e alterando a editoração mas mudamos também o conteúdo dos capítulos uns mais do que outros As mudanças no mundo já são de intensidade mais do que estruturais O que houve foi um crescimento muito grande do interesse pela produção de materiais didáticos Esse interesse ampliouse em vários lugares envolvendo órgãos governamen tais através de inúmeros projetos de desenvolvimento e de ins tituições de ensino superior através de projetos de pesquisa oferta de disciplinas e até de cursos sobre produção de ma teriais Exemplos desse aumento de interesse podem ser notados por exemplo na iniciativa da FUNAI com a criação da Comis são de Apoio e Incentivo à Produção e Edição de Material Di dático Específico Indígena no Programa de Incentivo à Produ ção de Material Didático da USP no Laboratório de Produção de Material Didático na UFMG na oferta de disciplinas para a produção de materiais na graduação e pósgraduação além de cursos de especialização voltados especificamente para a área Foi sem dúvida esse aumento de interesse que contribuiu para o lançamento desta segunda edição Esperamos de nossa parte poder também contribuir para a área realimentando esse interesse Pelotas março de 2007 Vilson J Leffa Organizador INTRODUÇÃO Este livro é de professores para professores Nasceu de uma turma criativa de alunos do Curso de Mestrado em Letras da Universidade Católica de Pelotas na disciplina de Produção e Avaliação de Materiais Depois que nasceu se me permitem uma metáfora não tão criativa cresceu robusto e forte e incorporou mais dois professores da própria universidade Aí cresceu mais e saiu de casa reunindo mais dois autores Antes de ser lançado já estava ficando famoso e começou a atrair mais autores com a oferta de mais doações mas então resolvi exercer meu autoritarismo e dar um basta o livro não podia crescer mais já estava adulto e precisava sair de casa Com mais autores perde ríamos o controle da situação e poderíamos até chegar ao ponto 10 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática de nem saber mais quem era o pai da criança Afinal queríamos um livro e não uma enciclopédia Um livro que fosse prático fácil de usar e extremamente útil para os professores reunindo num só lugar informações que não só estão espalhadas pelo mundo mas que também são muitas vezes difíceis de serem encontradas Este livro é filho do Século XXI Nasceu para atender às necessidades de hoje usando os recursos de hoje O professor atualmente tem nas mãos acesso a um mundo de informações e recursos que seriam impensáveis há alguns anos Na década de 1980 por exemplo a editora Collins em convênio com a Uni versidade de Birmingham investiu milhões de libras esterlinas para construir uma base de dados lingüísticos que seria usada para a produção de material didático e de dicionários Hoje esse investimento milionário equivale em termos de acervo a uma fração do que está disponível ao professor através principal mente da Internet Estamos no meio de um oceano de informa ções e como diria Casimiro de Abreu o que é maior do que o oceano minha mãe Maior do que o oceano meu filho é a idéia Glauber Rocha se estivesse vivo talvez dissesse que ninguém segura um professor com uma idéia na cabeça e um computador em algum lugar Emily Dickinson provavelmente acrescentasse que se não tivesse o computador bastaria a idéia Isso como se percebe deixa o professor sem opção de reclamar Pode até di zer que não tem recursos o que talvez seja uma meia verdade mas não pode dizer que não tem uma idéia na cabeça O poten cial para a produção de materiais de ensino está disponível ao professor este livro vai dar algumas dicas de como usar esse potencial Seu pressuposto teórico básico é de que o trabalho do pro fessor na escola é mediado por artefatos culturais entre os quais se incluem como os mais relevantes os materiais didáticos Introdução 11 preparados pelo próprio professor A elaboração do material di dático atende a dois objetivos principais que se complementam de um lado visa a tornar o professor mais presente no seu traba lho pedagógico de outro tem o objetivo de assistir o desempe nho do aluno na aquisição das competências desejadas A idéia é de que pela mediação do material produzido a interação entre o professor e o aluno fique mais intensa e produza melhores resultados em termos de aprendizagem Partindo desse pressuposto de que o material preparado pelo professor amplia sua atuação procurase através dos oito capítulos que compõem este livro responder a algumas ques tões práticas e pontuais Quais são os passos que devem ser se guidos para se elaborar um material de ensino Qual é a relação entre material produzido e a autonomia do aluno De que modo as questões ideológicas podem ser apresentadas no ensino da língua materna Que aspectos destacar no ensino de uma língua estrangeira que pode ser considerada muito semelhante à língua materna Como motivar o aluno na aprendizagem de aspectos difíceis da língua estrangeira Como preparar material para uma apresentação oral Como montar uma página para ser hospeda da na Internet Como preparar os originais de um livro O livro começa definindo o que normalmente se entende por produção de materiais e sugere os passos que devem ser seguidos na sua elaboração É o que tento fazer no meu capítu lo Como Produzir Materiais para o Ensino de Línguas onde ofereço uma retrospectiva da produção de materiais desde os objetivos de Bloom até os recursos da Internet passando pela questão da motivação das abordagens para o ensino de línguas e das idéias clássicas de Cagné Procuro definir produção de materiais como um processo que se inicia com uma análise das necessidades dos alunos continua com o planejamento e desenvolvimento do material propriamente dito segue com a implementação desse 12 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática material junto aos alunos e termina com sua avaliação Entendo que quando se fala em produção de materiais a ênfase não deva estar nem no professor nem no aluno mas na tarefa A relação entre produção de materiais e autonomia do alu no é feita por Christine Nicolaides e Vera Fernandes no capítulo Autonomia critérios para a escolha de material didático e suas implica ções onde as autoras falam de sua experiência no Centro de Aprendizagem Autônoma de Línguas CAAL na Universidade Católica de Pelotas Além de apresentarem um relato circuns tanciado de experiências bemsucedidas incluindo a preparação de materiais pelos próprios alunos fazem um balanço da impor tância da autonomia na aprendizagem quer por seus aspectos econômicos já que a sociedade não tem recursos para oferecer instrução personalizada a cada um de seus cidadãos quer por seus aspectos didáticos em que a ênfase não está necessaria mente no aluno mas no processo de aprendizagem No terceiro capítulo Teresinha dos Santos Brandão e Luiz Gustavo Ribeiro Araújo com Uma releitura do politicamente corre to no gênero anúncio publicitário em sala de aula oferecem sugestões de como o professor pode explorar anúncios de publicidade para desenvolver a leitura crítica em seus alunos Para isso buscam suporte teórico nas idéias de Bakhtin mas apóiamse também na prática da publicidade não só mostrando as estratégias de persuasão usadas pelos publicitários mas também fornecendo sugestões didáticas de como analisar criticamente um anúncio Cristina Pureza Duarte Boéssio em Uma Proposta para o Ensino de Línguas Próximas mostra que a proximidade entre a língua materna do aluno e a língua estrangeira embora seja um fator facilitador da aprendizagem pode também esconder arma dilhas para o professor como ocorre muitas vezes no ensino do espanhol para alunos brasileiros A autora toma como exemplo o problema do infinitivo flexionado que existe em português Introdução 13 mas não em espanhol Defende para esses casos o uso de tra dução com ênfase na aprendizagem consciente alertando o alu no para as diferenças que existem entre um idioma e outro Denize NobreOliveira em Produção de Materiais para o Ensino de Pronúncia por meio de Músicas analisa as dificuldades que o aluno apresenta na produção daqueles sons que não exis tem em sua língua materna Para tratar esse problema de modo interessante e motivador para o aluno propõe o uso de músicas estabelecendo critérios que o professor deve usar para selecio nar o que vai usar em suas aulas e dando um exemplo de como determinados fonemas podem ser trabalhados Defende também a necessidade da aprendizagem consciente em que o aluno pre cisa ser chamado à atenção para que se dê conta da existência do problema A questão da preparação de materiais para comunicações orais é abordada por Adriano Nobre Oliveira em Regras Práticas para a Criação de Transparências com Mídias Eletrônicas O autor dá uma série de sugestões extremamente úteis de como preparar uma apresentação quer usando um retroprojetor ou recursos de multimídia Uma comparação entre o que diz o autor neste capí tulo e o que se vê nas inúmeras apresentações agora cada vez mais com recursos de multimídia mostra quão oportunas são as sugestões apresentadas Um livro que se propõe a ajudar o professor na preparação de seus próprios materiais de ensino nesta época de conheci mento em rede não poderia ignorar os recursos da Internet O capítulo de Rafael VetromilleCastro O Professor como Facilitador Virtual considerações teóricopráticas sobre a produção de materiais para a aprendizagem via Web ou mediada por computador trata justamente dessa questão O autor começa com uma reflexão sobre alguns princípios da prática pedagógica presencial e a distância que devem ser contemplados na elaboração de atividades Descreve 14 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática algumas ferramentas de autoria que podem ser utilizadas pelo professor e mostra como produzir um site educacional Fechando o livro Nara Widholzer e Daniel Clós Cesar em Produção de livros da prática à teoria não só caracterizam com pre cisão o que é um livro mas também mostram os benefícios que o conhecimento da editoração podem trazer para o professor Seguindo o que promete no título de seu capítulo reúnem em seu texto informações de diversas fontes e principalmente de sua experiência como editores São sugestões que vão desde o uso adequado do equipamento e de softwares disponíveis até re comendações sobre o uso de folhas de estilo inserção de ima gens no texto e instruções para a obtenção do número de ISBN Concluindo a apresentação e retomando a metáfora do fi lho gostaria de dizer que este livro foi gerado com muito cari nho e cuidado Durante todo o período de gestação foi sempre o centro da atenção de toda a família composta pelos alunos da turma de Produção e Avaliação de Materiais Como nasceu da práti ca da sala de aula acreditamos que será útil a professores que queiram fugir de aulas padronizadas e oferecer a seus alunos um tratamento personalizado produzindo materiais que realmente atendam a seus interesses e necessidades Vilson J Leffa Organizador COMO PRODUZIR MATERIAIS PARA O ENSINO DE LÍNGUAS Vilson J Leffa 11 Introdução A produção de materiais de ensino é uma seqüência de atividades que tem por objetivo criar um instrumento de aprendi zagem Essa seqüência de atividades pode ser descrita de várias maneiras envolvendo um número maior ou menor de eta pas Minimamente deve envolver pelo menos quatro momen tos 1 análise 2 desenvolvimento 3 implementação e Professor da Universidade Católica de Pelotas leffavgmailcom 1 16 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática 4 avaliação Idealmente essas quatro etapas devem formar um ciclo recursivo onde a avaliação leve a uma nova análise reiniciando um novo ciclo A produção de materiais é também um processo sistemáti co e de complexidade variada Na extremidade mais simples está por exemplo o resumo esquemático distribuído durante uma palestra para acompanhar o que diz o palestrante Na extremi dade superior da escala podem ser listados projetos envolvendo o uso de vídeo ou de multimídia interativa o que pela sua com plexidade exige um planejamento mais detalhado Falta de pla nejamento nesse nível pode resultar em perda de tempo di nheiro e esforço Fardouly 2002 12 Análise A análise parte de um exame das necessidades dos alunos incluindo seu nível de adiantamento e o que eles precisam apren der As necessidades são geralmente mais bem atendidas quan do levam em consideração as características pessoais dos alu nos seus anseios e expectativas preferência por um ou outro estilo de aprendizagem Para que a aprendizagem ocorra é tam bém necessário que o material entregue ao aluno esteja adequa do ao nível de conhecimento do conteúdo a ser desenvolvido O que aluno já sabe deve servir de andaime para que ele alcance o que ainda não sabe Ninguém aprende algo que é totalmente conhecido e nem algo que seja totalmente novo A capacidade de acionar o conhecimento prévio do aluno é uma condição ne cessária para o sucesso de um determinado material O que o aluno precisa aprender portanto não é determi nado apenas pela soma de competências exigida por uma deter minada circunstância seja ela originada pela escola pela comu nidade ou mesmo pelo mercado de trabalho Uma determinada Como produzir materiais para o ensino de línguas 17 circunstância pode exigir do aluno por exemplo que ele seja capaz de escrever cartas comerciais numa língua estrangeira envolvendo uma série de competências como domínio de uma terminologia específica o uso correto das normas sintáticas da língua disposição gráfica do texto na página conhecimento do gênero epistolar etc Isso não significa no entanto que o aluno precisa aprender num determinado momento todas essas com petências o que o aluno precisa aprender vai depender do que ele já sabe O material a ser produzido deve oferecer ao aluno a ajuda que ele precisa no grau exato de seu adiantamento e de suas necessidades preenchendo possíveis lacunas A análise ini cial das necessidades deve ser capaz não só de estabelecer o total das competências a serem desenvolvidas mas também des contar dessas competências o que o aluno já domina O saldo dessa operação é o que o aluno precisa aprender 13 Desenvolvimento A etapa do desenvolvimento parte dos objetivos que são definidos depois da análise das necessidades A definição clara dos objetivos dá uma direção à atividade que está sendo desen volvida com o uso do material Ajuda a quem aprende porque fica sabendo o que é esperado dele Ajuda a quem elabora o material porque permite ver se a aprendizagem está sendo eficiente facilitando assim a avaliação A definição dos objetivos Os objetivos podem ser gerais ou específicos Objetivos gerais são elaborados para períodos maiores de aprendizagem como o planejamento de um curso os objetivos específicos para períodos menores envolvendo por exemplo uma aula ou 18 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática atividade Ambos devem começar com um verbo que descreva o comportamento final desejado para o aluno Para os objetivos gerais usamse geralmente verbos que denotam comportamentos não diretamente observáveis Entre esses verbos os seguintes têm sido usados com mais freqüência saber compreender interpretar aplicar analisar integrar jul gar aceitar apreciar criar etc Para os objetivos específicos usamse verbos de ação en volvendo comportamentos que podem ser diretamente obser vados Entre eles destacamse identificar definir nomear re lacionar destacar afirmar distinguir escrever recitar selecio nar combinar localizar usar responder detectar etc Verbos que denotam processo aprender desenvolver memorizar adquirir etc não podem ser usados para elaborar objetivos educacionais eles não descrevem o resultado da apren dizagem O objetivo de aprendizagem tem três componentes essen ciais 1 as condições de desempenho 2 o comportamento que o aluno deve demonstrar expresso por um verbo 3 o critério de execução da tarefa No modelo clássico de Bloom Anderson Krathwohl 2001 o objetivo é sempre apresentado em termos do que o aluno deve alcançar sob a perspectiva do próprio aluno não do material desenvolvido A ênfase está na aprendizagem naquilo que o aluno deve adquirir e no compor tamento que ele deve demonstrar não no ensino não no mate rial que vai ser usado para levar o aluno a atingir o objetivo É objetivo de aprendizagem É objetivo de aprendizagem É objetivo de aprendizagem É objetivo de aprendizagem É objetivo de aprendizagem ao ler um texto o aluno deverá ser capaz de identificar três idéias principais Como produzir materiais para o ensino de línguas 19 Não é um objetivo de aprendizagem Não é um objetivo de aprendizagem Não é um objetivo de aprendizagem Não é um objetivo de aprendizagem Não é um objetivo de aprendizagem Ensinar a diferença entre idéia principal e idéia secundária As condições de desempenho especificam as circunstân cias sob as quais o comportamento deve ser demonstrado Po dem e devem ser expressas de modo simples através de uma afirmação Alguns exemplos Ao assistir o vídeo de um comercial o aluno deverá Ao ouvir a gravação de uma música o aluno deverá O comportamento que o aluno deve demonstrar deve ser expresso por meio de um verbo que denota uma ação direta mente observável Os critérios de execução da tarefa podem ser expressos em termos de velocidade grau de correção ou qualidade O cri tério estabelecido no objetivo é visto como o mínimo que o alu no deve atingir Se a atividade pede por exemplo que o aluno responda a dez perguntas com 70 de acertos critério o obje tivo será atingido com qualquer percentual igual ou acima de 70 É possível traçar os objetivos do material a ser produzido não só no domínio cognitivo envolvendo conhecimento mas também no domínio afetivo envolvendo atitudes e mesmo no domínio psicomotor envolvendo habilidades A definição des ses objetivos leva em consideração não só a análise das necessi dades mas também o tempo disponível sendo às vezes muito difícil adequar os objetivos ao tempo de que se dispõe 20 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática A seguir apresentamos uma lista de exemplos em cada um desses objetivos nos três domínios aplicado ao ensino de lín guas cada objetivo geral é seguido de objetivos específicos Taxionomia de objetivos para o ensino de línguas Domínio cognitivo 1 Conhece o vocabulário relacionado a um determinado tópico 11 identifica sinônimos 12 relaciona antônimos 13 define palavras 14 nomeia objetos 15 soletra palavras 16 deduz o significado de palavras desconhecidas através do contexto 2 Compreende a estrutura gramatical 21 substitui palavras numa frase 22 transforma frases interrogação negação 23 identifica anomalias gramaticais 24 fornece o tempo verbal correto 25 identifica sentenças completas 26 identifica sinonímia estrutural 3 Aplica regras gramaticais 31 constrói frases 32 responde oralmente 33 responde por escrito 34 traduz para o português 35 traduz para a língua estrangeira Como produzir materiais para o ensino de línguas 21 36 apresenta alguém 37 cumprimenta 38 atende a um pedido 4 Analisa textos escritos 41 infere emoção 42 identifica estereótipos culturais 43 deduz conseqüências 44 descreve personagens 45 esquematiza enredo 46 descreve contexto 47 identifica tema 48 relaciona informação textual com informação extratextual 5 Integra conhecimentos de diferentes áreas 51 usa mecanismos adequados para iniciar e encer rar turnos de conversação 52 resume extraindo as idéias principais de um texto 53 usa o sumário e índice remissivo de um livro para encontrar a informação desejada 54 escreve um parágrafo bem organizado 55 completa exercícios de cloze 56 expressa relações entre partes do texto através de conectores 57 organiza adequadamente a informação num tex to dissertativo 58 faz o mapa conceitual de um texto 59 transforma um mapa conceitual em texto 6 Julga o valor de material escrito 61 explica a finalidade de um mecanismo retórico 22 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática 62 justifica o uso da linguagem figurada 63 relaciona estilo com objetivo 64 identifica níveis de formalidade Domínio afetivo 1 Aceita diferenças culturais 11 olha com atenção para fotos 12 faz perguntas sobre ilustrações 13 aponta para detalhes das ilustrações 14 faz comentários sobre fotos 2 Demonstra interesse no tópico 21 oferecese como voluntário para responder per guntas 22 faz atividades além do que é solicitado 23 traz material extra para a aula 24 pergunta sobre cursos na comunidade 25 cumprimenta o professor na LE 3 Aprecia obras literárias 31 tira livros emprestado da biblioteca 32 lê além do que pede o professor por prazer 33 discute diferentes autores 34 elogia algumas obras literárias 4 Integra conhecimento da língua em seu plano de vida 41 justifica a importância de conhecer a língua em sua futura profissão 42 lê revistas especializadas 43 busca na Internet tópicos tratados em aula Como produzir materiais para o ensino de línguas 23 5 Demonstra consistência na prática da língua estrangeira 51 aproveita todas as oportunidades para praticar a LE 52 participa de salas de batepapo na LE na Internet 53 procura ouvir e ler a LE diariamente Domínio psicomotor 1 Reconhece vogais na língua estrangeira 11 discrimina vogais em pares mínimos 12 identifica a vogal numa sentença 2 Sabe a posição dos órgãos da fala para os diferentes fonemas 21 pronuncia corretamente seqüências de fonemas inexistentes na língua materna slow 22 explica a posição da língua para uma determina da vogal 23 mostra a posição correta dos lábios 24 abre a boca corretamente 3 Imita sentenças que ouve 31 repete adequadamente o modelo 32 executa exercícios simples de expansão 33 executa substituições em exercícios orais 4 Fala naturalmente 41 pronuncia sentenças em velocidade normal 42 usa a entonação adequada para perguntas 43 acentua adequadamente palavras em uma frase 24 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática 5 Fala fluentemente 51 fala sem hesitação 52 produz frases no ritmo adequado da língua 53 usa pausas corretamente 6 Ajusta a fala à situação 61 fala mais rápido quando tem menos tempo 62 articula as palavras com mais cuidado quando diante de um auditório maior 7 Muda a pronúncia 71 imita sotaques regionais 72 imita a fala de pessoas famosas A definição da abordagem Uma vez definidos os objetivos de aprendizagem é neces sário selecionar os conteúdos pelos quais os objetivos serão al cançados Se o objetivo por exemplo for levar o aluno a com preender um texto de uma determinada área de conhecimento o conteúdo selecionado pode ser um texto uma amostra do léxico típico da área uma lista de determinados mecanismos retóricos ou uma integração de diferentes conteúdos A opção por um desses aspectos é determinada pela filosofia de aprendizagem a que se filia o professor Tradicionalmente no ensino de línguas há seis grandes abordagens Krahnke 1987 que ampliamos abaixo incluindo aspectos da língua materna Abordagem estrutural O que o aluno precisa aprender são o léxico e as estruturas gramaticais da língua Deve saber expres sarse dentro de um vocabulário adequado e com correção gra matical Pode haver uma tolerância maior ou menor para com os Como produzir materiais para o ensino de línguas 25 vícios de linguagem incluindo estrangeirismos problemas de regência mas geralmente não são aceitos A preocupação é mais com a forma do que com o conteúdo Abordagem nocionalfuncional A ênfase está no objetivo para o qual se usa a língua na realidade mais na função do que na noção No caso da língua estrangeira parte de uma taxionomia das funções como discordar apresentar alguém pedir descul pas etc Também pode ser aplicado ao ensino da língua mater na como escrever uma carta de pedido de emprego como rejei tar um convite educadamente como solicitar ao auditório que se levante para cantar o hino nacional etc Abordagem situacional O conteúdo a ser ensinado parte de uma situação em que a língua é usada visita ao médico check in no aeroporto abertura de uma reunião de negócios etc O pres suposto é de que nessas situações há uma seqüência típica de funções que ocorrem sempre da mesma maneira usando sempre o mesmo tipo de linguagem e que pode portanto ser predeter minado Abordagem baseada em competências Parte do princípio de que a linguagem usada numa determinada situação é relativamente independente da situação dependendo mais de competências e processos lingüísticos domínio dos aspectos fonológicos lexicais sintáticos discursivos capacidade em detectar a idéia principal em fazer uma apresentação oral etc que perpassam diferentes situações Abordagem baseada em tarefa Caracterizase por subordinar a aprendizagem da língua à execução de uma determinada tare fa É a execução da tarefa que vai determinar que conteúdo lingüístico precisa ser aprendido Diferenciase da abordagem situacional por não predeterminar esse conteúdo que pode sur gir de modo imprevisível durante o desempenho da tarefa 26 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Abordagem baseada em conteúdo Põe a ênfase no conteúdo usando a língua que o aluno precisa aprender O pressuposto é de que enquanto o aluno presta atenção no conteúdo acaba ad quirindo a língua incidentalmente O material portanto não é desenvolvido a partir de tópicos lingüísticos mas de tópicos do próprio conteúdo Ainda que seja possível desenvolver material de ensino ri gorosamente dentro de uma única abordagem a prática sugere a integração de duas ou mais É também aconselhável levar em consideração os objetivos de aprendizagem e a partir daí esco lher a abordagem mais adequada A definição do conteúdo O conteúdo na produção de um determinado material pode ser definido de várias maneiras dependendo da concepção que se tem de língua Se entendo por exemplo que língua é um con junto de palavras ligadas por regras gramaticais faço um recorte do léxico e da sintaxe se vejo a língua como um conjunto de eventos comunicativos incluo outros aspectos como regras de formalidade os lugares sociais de onde falam os interlocutores os efeitos de sentido que suas falas podem provocar etc se entendo a língua como um meio para desempenho de determi nadas atividades posso selecionar uma lista de tarefas que de vem ser executadas pelos alunos como escrever uma carta co mercial elaborar um currículo fazer uma homepage etc Quando se fala em produção de materiais temse privile giado o ensino baseado na tarefa Nesse caso há uma preocupa ção maior com o mundo real e o uso de dados lingüísticos autên ticos A idéia é de que o aluno não deve passar por um curso sem conhecer a língua como ela é realmente usada fora da sala de Como produzir materiais para o ensino de línguas 27 aula Muitas vezes os alunos têm dificuldade de transferir para o mundo real aquilo que aprendem na escola Não vendo aplica ção prática para o conhecimento adquirido achamse muitas vezes donos de um conhecimento inútil O uso de material au têntico pode ser uma maneira de facilitar essa transferência de aprendizagem A transferência no entanto parece estar apoiada em um paradoxo de difícil solução 1 para sobreviver no mundo real o aluno precisa ser preparado pela escola 2 para ser preparado de modo que a aprendizagem faça sentido o aluno precisa co nhecer o mundo real O desafio aqui usando uma metáfora freqüentemente citada na educação Weininger 2001 é como levar o aluno do ambiente protegido do aquário para os perigos do mar aberto A solução proposta por alguns usando ainda a mesma metáfora é jogar o aluno no mar puxandoo de vez em quando para que respire Wilson Jonassen Cole 1993 A idéia é de que o tempo entre o investimento inicial do aluno na apren dizagem e o retorno pelo esforço despendido seja o mais breve possível o que pode ser facilitado à medida que o aluno seja solicitado desde o início a realizar tarefas significativas e próxi mas do mundo real Carroll 1990 Na definição do conteúdo a preocupação está em definir da maneira mais clara possível o que exatamente o aluno precisa aprender para atingir os objetivos definidos anteriormente 28 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática A definição das atividades A produção de materiais de ensino é uma área essencial mente prática A teoria é importante na medida em que fornece o suporte teórico necessário para justificar cada atividade pro posta mas subjaz à atividade podendo ou não ser explicitada Quem prepara o material precisa ter uma noção bem clara da fundamentação sobre a qual se baseia mas vai concentrar todo seu esforço em mostrar a prática não a teoria A teoria trabalha nos bastidores a prática é o que aparece no palco Um bom tra balho de bastidores dá segurança ao que é apresentado permi tindo inovações e até ousadias As atividades propostas para o ensino de línguas têm sido tradicionalmente classificadas em quatro grandes áreas 1 fala 2 escuta 3 leitura e 4 escrita Os materiais podem ser pre parados para cada uma dessas habilidades em separado ou de modo integrado incluindo duas ou mais habilidades A Figura 1 mostra o recorte de uma atividade que pode ser usada para a prática da leitura de tabelas produção oral e escuta A definição dos recursos A definição dos recursos envolve basicamente o suporte sobre o qual a língua vai ser apresentada ao aluno Tradicional mente o suporte mais comum tem sido o papel que por sua vez pode ser subdividido em muitos outros livro jornal revista re vista em quadrinhos revista acadêmica etc Com o desenvol vimento e barateamento das tecnologias de comunicação ou tros suportes tornaramse populares incluindo fitas de áudio fitas de vídeo e mais recentemente o computador e a Internet Como produzir materiais para o ensino de línguas 29 Partida horário Porto Alegre 0645 Porto Alegre 1615 Porto Alegre 1930 Porto Alegre 0700 SPCongonhas 0905 Porto Alegre 0630 SPGuarulhos 0850 Porto Alegre 0700 SPCongonhas 0948 Chegada horário Brasília 0905 Brasília 1840 Brasília 2330 SPCongonhas 0834 Brasília 1040 SPGuarulhos 0805 Brasília 1026 SPCongonhas 0834 Brasília 1119 Escala 0 0 1 0 0 0 0 0 0 Vôo JJ 3070 JJ 8021 JJ 3180 JJ 3048 JJ 3722 JJ 3150 JJ 3464 JJ 3048 JJ 3470 Você é funcionário da TAM no Aeroporto Salgado filho em Porto Alegre Tente responder com base no horário acima às perguntas de um cliente 1 Que horas sai o primeiro vôo para Brasília 2 Este vôo é direto ou tem escalas 3 Que horas sai o primeiro vôo com escalas 4 Que horas chega a Brasília 5 Que horas sai o primeiro vôo com escalas sem trocar de avião 6 Quantas escalas têm esse vôo Figura 1 Exemplo de material para ensino de Português como LE 30 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática A introdução do computador parece demandar uma nova alfabetização ou literacia com a exigência de novas competên cias incluindo a capacidade de trabalhar com arquivos eletrôni cos saber como salvar um arquivo copiálo de um computador para outro compactálo e descompactálo enviálo pela Internet navegar na rede localizar arquivos em qualquer ponto do plane ta instalar e desinstalar programas usar antivírus etc O com putador na realidade representa uma convergência de diferen tes tecnologias incluindo textos imagens sons e movimentos Para quem possui as competências pressupostas pela nova literacia os recursos que podem ser usados para o desenvolvi mento de materiais de aprendizagem nunca foram tantos tão fáceis de usar e tão disponíveis Muitos recursos que há alguns anos só estavam disponibilizados para grandes empresas com altos custos de produção agora podem ser acessados por prati camente por qualquer indivíduo a um custo irrisório ou inexistente A Figura 2 por exemplo mostra o resultado de uma pesquisa usando o Google onde o objeto procurado era a ima gem de pessoas produzindo um texto escrito Em menos de um segundo o sistema conseguiu localizar milhares de arquivos con tendo ilustrações com essas duas características Após acessado um arquivo eletrônico por sua natureza líquida altamente mutável pode ser modificado e reformulado de inúmeras maneiras Maley 1998 Uma imagem pode ser não só ampliada reduzida alongada distorcida etc mas também inserida num determinado texto que o professor tenha selecio nado para um grupo de alunos Seja qual for o texto é sempre possível ilustrálo com uma foto ou desenho rigorosamente ade quado a um determinado conteúdo ou objetivo de uma aula Como produzir materiais para o ensino de línguas 31 Figura 2 Imagens selecionadas do Google com as palavraschave writing e gif de um universo de milhares de imagens Ordenamento das atividades Os dois critérios básicos para o ordenamento das ativida des são facilidade e necessidade Pelo primeiro critério iniciase pelo que é mais fácil e simples para o aluno progredindo gradativamente para o que é mais difícil e complexo O retorno pelo investimento feito na aprendizagem pode às vezes demorar um pouco até produzir algo útil Pelo critério da necessidade começase pelo que é mais necessário e útil para o aluno com retorno mais imediato A situação ideal é aquela em que se possa unir os dois critérios quando isso não for possível a 32 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática tendência tem sido sacrificar pelo menos parte da facilidade em benefício da utilidade antecipada Uma maneira mais ampla e geral de ordenar as atividades baseiase nos nove eventos instrucionais de Gagné assim descritos Garanta atenção Inicie despertando a curiosidade do aluno para o tópico da atividade Conte uma história mostre uma ilus tração faça uma analogia conte uma anedota cite um pensa mento interessante Informe os objetivos Deixe claro para os alunos o que eles vão aprender No fim dessa atividade vocês vão saber como Crie uma expectativa através dos objetivos Acione o conhecimento prévio Faça os alunos pensar sobre o que eles já sabem Relacione a atividade nova a situações e co nhecimento que lhe são familiares Apresente o conteúdo Mostre os pontos mais importantes use técnicas variadas para manter a atenção e aumentar a compre ensão Use ilustrações fotos objetos Facilite a aprendizagem Ajude os alunos a seguir no processo de aprendizagem orientando esclarecendo dando exemplos Solicite desempenho Mantenha participação ativa dos alunos Peça para que executem tarefas relacionadas ao que estejam aprendendo Envolvaos perguntando discutindo demonstran do Forneça feedback Deixe claro para seus alunos de como eles estão acompanhando a atividade ajudando com mais esclareci mento quando necessário Tente produzir o material de aprendi zagem de modo a poder inserir feedback Avalie o desempenho Verifique a aprendizagem dos alunos pela observação perguntas Na produção de materiais abra es paço para avaliação contínua Como produzir materiais para o ensino de línguas 33 Ajude na retenção e transferência Faça com que os alunos lem brem o que estão aprendendo e ajudeos a aplicar seus novos conhecimentos A questão da motivação Manter a motivação durante e após a atividade de ensino tem sido uma das grandes metas da educação e é uma das preo cupações básicas na produção de materiais A atividade deve ser prazerosa para o aluno despertar sua curiosidade e mantêlo in teressado no assunto mesmo depois que tenha terminado O modelo mais conhecido para incorporar técnicas de motivação em atividades de ensino é o ARCS sigla para Atenção Relevân cia Confiança e Satisfação desenvolvido por John Keller na Universidade do Estado da Flórida A teoria básica sobre a qual se apóia o modelo é a chamada expectativa de valor segundo a qual a motivação é medida pelo esforço demonstrado na execução de uma tarefa Para que haja esforço duas condições são necessárias 1 a pessoa deve acre ditar que a tarefa seja importante 2 a pessoa deve acreditar que é capaz de executar a tarefa Vroom 1964 Porter Lawler 1968 Tomlinson 1998 O modelo ARCS identifica quatro estratégicas básicas para sustentar a motivação Estratégias de atenção A para despertar e manter a curiosidade e o interesse Pense em maneiras pela qual se pode introduzir uma novidade surpresa ou incerteza no início de uma atividade Como fazer perguntas e apresentar problemas que possam estimular a curiosidade Como introduzir variação na atividade que está sendo proposta Estratégias de relevância R para mostrar a utilidade de uma tarefa quais são seus objetivos e quais são os métodos 34 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática que podem ser usados para chegar aos objetivos mostrando tam bém a importância que a tarefa pode ter na vida dos alunos Permitir que os alunos exponham seus interesses e necessida des Relacionar a tarefa à experiência e valores apreciados pelos alunos Expor a tarefa de maneira clara e compreensível para os alunos Estratégias de confiança C que ajudem os alunos a desenvolver uma expectativa positiva de sucesso Informar aos alunos quais são os critérios de avaliação o que se espera deles em termos de trabalhos a serem executados Oferecer oportuni dades de sucesso através de projeto menores que preparem os alunos para os projetos maiores Reconhecer o esforço pessoal do aluno e seus acertos em cada atividade proposta Estratégias de satisfação S que mostre reconhecimen to pelo esforço intrínseco e extrínseco do aluno Exemplos de esforço intrínseco envolvem a satisfação pela própria aprendi zagem possivelmente mostrando o exemplo de pessoas conhe cidas que possuem a habilidade em questão Exemplos extrínsecos incluem feedback diplomas homenagens etc 14 Implementação A etapa da implementação pode receber um cuidado maior ou menor dependendo via de regra da maior ou menor presen ça de quem preparou o material Há três situações básicas 1 o material vai ser usado pelo próprio professor 2 o material vai ser usado por outro professor 3 o material vai ser usado dire tamente pelo aluno sem presença de um professor Cada um des ses casos requer uma estratégia diferente de implementação Quando o próprio professor prepara o material para os seus alunos a implementação dáse de modo intuitivo complemen tada pelo professor que oralmente explica aos alunos o que Como produzir materiais para o ensino de línguas 35 dever ser feito Normalmente o material pressupõe essa inter venção oral funcionando em distribuição complementar com o professor Erros maiores e malentendidos que atrapalharam na implementação podem ser anotados e reformulados para uma próxima apresentação A Figura 3 mostra um exemplo desse tipo de atividade Quando o material vai ser usado por um outro professor há necessidade de instruções de como o material deve ser apre sentado e trabalhado pelos alunos Usando ainda como exemplo a Figura 3 o autor teria que explicar o objetivo da atividade o tipo de conhecimento que está sendo construído como a ativi dade deve ser conduzida junto com os alunos as possíveis res postas para as questões que estão sendo colocadas como certas respostas dadas pelos alunos deveriam ser trabalhadas etc A situação mais difícil e que requer maior cuidado é aquela em que o material vai ser usado sem a presença do professor Há dois grandes desafios aqui O primeiro é estabelecer contato com o aluno idealmente oferecendo nem menos nem mais do que ele precisa descendo ao seu nível de conhecimento mas sem distorcer a complexidade do saber que precisa ser apreendido O segundo desafio é tentar prever o que pode acontecer Como o professor não estará presente durante a execução da tarefa é preciso ter uma idéia das possíveis dúvidas do aluno Prever no entanto é partir do préconstruído sem espaço para a criatividade e o ines perado Tudo o que o aluno fizer além do que estiver previsto no material ficará sem retorno de modo que quanto mais criativo for o aluno mais abandonado ele ficará 36 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática 1 Trabalhando em grupo complete as lacunas do pseudopoema abaixo usando sem repetir uma consoante de cada vez PSEUDOPOEMA DIGITAL É uma arma mas não tem ala Às vezes não salva e me ala Outras vezes fica mudo e ala Com um disco se acende e ala Se a festa for de ala Ele se destaca na ala Quando se quebra não leva ala Se fica velho jogase na ala É antireflexivo e não usa ala O computador que levo na ala 2 Que fontes de conhecimento o leitor deve acionar para apreciar o significado de cada uma das frases abaixo Mais vale um pássaro voando do que dois na mão Dizem que Pedro morreu como um passarinho deve ter sido de estilingue Quando bebia ficava falando com todos na rua dizia que preferia ser um bêbado conhecido a um alcoólatra anônimo Todo mundo acreditou na história do sapo que virou príncipe menos a mãe da princesa Era do tempo em que a filha apresentava o namorado à mãe hoje é a mãe que apresenta o namorado à filha Anúncio de linha no ZH classificado É o menor barato Figura 3 Exemplo de material sem instruções de uso para o professor Alguns exemplos tradicionais de material produzido para ensino sem a presença do professor são os livros com chaves de respostas cursos de línguas com fitas de áudio às vezes incluin do perguntas com tempo de espera para a resposta do aluno Como produzir materiais para o ensino de línguas 37 seguida da gravação da resposta correta para que o aluno possa escutar e comparar seu desempenho Com a informatização e a possibilidade da tomada de de cisão pela máquina a aprendizagem sem a presença do profes sor pode ser melhorada em termos de gerenciamento uma ajuda automática pode ser apresentada para o aluno em caso de erro a avaliação do desempenho pode ser dada logo após a resposta solicitada uma estratégia de leitura pode ser sugerida no mo mento em que o aluno demonstrar precisar dela etc A aprendizagem independente sem a ajuda do professor parece ter duas grandes limitações 1 Necessidade de alta motivação A aprendizagem só ocorre se o aluno demonstrar o empenho suficiente para vencer todos os obstáculos que podem ocorrer durante a execução das tarefas Será preciso muitas vezes refazer o trabalho buscar aju da em outros materiais usando diferentes estratégias para resol ver os inúmeros problemas que surgem Sem essa motivação constante que perdure além do entusiasmo inicial não há pos sibilidade de manter o envolvimento necessário com o conteú do para que a aprendizagem ocorra 2 Falta de uma avaliação externa O aluno é o juiz de seu próprio desempenho Como seu desempenho não é assistido haverá erros e desvios em sua aprendizagem que passarão desa percebidos e poderão ficar automatizados Mesmo em ambiente informatizado não há possibilidade de captar todos os desvios que podem ser produzidos pelo aluno e que afetarão negativa mente sua aprendizagem É possível que com a distribuição do conhecimento em rede não apenas informação que se observa do lado de fora mas conhecimento que se compartilha o aluno tenha oportu nidade de testar seus conhecimentos comparandoo com o co nhecimento dos outros Algumas hipóteses já construídas serão 38 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática rejeitadas outras serão confirmadas e uma validação mais pre cisa da aprendizagem será possível A aprendizagem autônoma não será a utopia prometida em muitos livros populares que apa recem nos jornaleiros com títulos chamativos do tipo Aprenda a falar em público sozinho Francês sem mestre Inglês em 30 dias etc mas poderá ser mais viável por uma razão muito simples Num mundo em que se distribui a inteligência e a cognição a distribuição do conhecimento parece uma hipótese razoável A própria autonomia como a cognição a inteligência e o conhecimento deixa também de ser individualizada para ser coletiva e distribuída 15 Avaliação A avaliação de materiais pode ser feita de modo informal geralmente quando envolve o trabalho de um único professor que prepara uma folha de exercícios usa uma vez vê como fun ciona reformula para usar uma segunda vez e assim indefinida mente com diferentes grupos de alunos sem chegar a uma ver são definitiva Em outras situações o material é preparado por um grupo de professores para uso próprio eou de outros cole gas da mesma instituição Nesses casos a avaliação assume um caráter mais formal e pode ser feita por consultoria de um espe cialista ou por questionários e entrevistas com os alunos Em escala maior como no caso da publicação de um livro os mate riais são normalmente pilotados Donovan 1998 A avaliação formal pode também ser feita através de pro tocolos onde os alunos ao fazerem as tarefas solicitadas pelo material procuram expressar o que estão pensando demonstran do assim os tipos de raciocínio em que estão envolvidos as es tratégias de aprendizagem que estão usando e as atitudes que estão desenvolvendo Como produzir materiais para o ensino de línguas 39 Os questionários entrevistas e mesmo a análise de proto colos têm sido criticados por não serem muito confiáveis Por questões de respeito e ameaça à face do professor o aluno po derá dizer não exatamente o que pensa mas o que acha que o professor gostaria de ouvir Por isso muitos pesquisadores pre ferem a observação direta do trabalho do aluno com o material mais importante do que o que os alunos respondem ou dizem é o que eles realmente fazem Isso só se consegue pela observa ção A pilotagem mostra basicamente o que pode permanecer como está e o que precisa ser melhorado Isso só é possível quando o material é testado com os alunos para o qual se destina quan do então se pode constatar se houve ou não o ponto de contato entre o nível de conhecimento pressuposto pelo material e o nível real do aluno 16 Conclusão Em termos de teoria principalmente no que concerne os papéis do professor e do aluno a produção de materiais diverge tanto da abordagem tradicional que põe o professor no centro do processo de aprendizagem como da abordagem mais recen te que salienta o papel do aluno Produção de materiais não está centrada nem no professor nem no aluno está centrada na tare fa É importante não confundir produto com tarefa O produ to é o artefato produzido a folha de exercício a fita de áudio o programa de computador A tarefa é a atividade que resulta do encontro desse artefato com o aluno Em outras palavras o ar tefato é o instrumento pelo qual a tarefa se realiza Ensino centrado na tarefa realça obviamente a tarefa e não o artefato 40 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Referências ANDERSON L KRATHWOHL D A taxonomy for learning teaching and assessing a revision of Blooms Taxonomy of Educational Objectives New York Longman 2001 BROWN J D The elements of language curriculum a systematic approach to program development Boston MA Heinle Heinle 1995 CARROLL J M The Nurnberg Funnel designing minimalist instruction for practical computer skill Cambridge MA MIT Press 1990 DONOVAN P Piloting a publishers view In TOMLINSON B Org Materials development in language teaching Cambridge Cambridge University Press 1998 p149189 FARDOULY N Instructional design of learning materials Disponível em httpwwwfbeunsweduaulearning instructionaldesignmaterialshtm Acesso em mar 2002 GRAVES K Org Teachers as course developers New York Cambridge University Press 1996 KELLER J M Motivational design of instruction In REIGELUTH C M Org Instructional design theories and models an overview of their current status Hillsdale NJ Erlbaum 1983 KRAHNKE K Approaches to syllabus design for foreign language teaching Englewood Cliffs NJ Regents Prentice Hall 1987 MALEY A Squaring the circle reconciling materials as constraints with materials as empowerment In TOMLINSON B Org Materials development in language teaching Cambridge Cambridge University Press 1998 p179294 Como produzir materiais para o ensino de línguas 41 PORTER L W LAWLER E E Managerial attitudes and performance Homewood IL Dorsey Press 1968 STOLLER F L Making the most of a newsmagazine passage for readingskills development English Teaching Forum v32 n1 p27 1994 TOMLINSON B Introduction In Org Materials development in language teaching Cambridge Cambridge University Press 1998 p124 VIERA F Languagelearning objectives do make a difference English Teaching Forum v 31 n 2 p1011 1993 VROOM V H Work and motivation New York Wiley 1964 WEININGER M J Do aquário em direção ao mar aberto mudanças no papel do professor e do aluno In LEFFA V J Org O professor de línguas estrangeiras construindo a profissão Pelotas Educat 2001 p4168 WILSON B G JONASSEN D H COLE P Cognitive approaches to instructional design In PISKURICH G M Ed The ASTD handbook of instructional technology New York McGrawHil 1993 p211212 AUTONOMIA CRITÉRIOS PARA ESCOLHA DE MATERIAL DIDÁTICO E SUAS IMPLICAÇÕES Christine Nicolaides Vera Fernandes 21 Introdução As rápidas modificações pelas quais passa o mundo atual mente fazem com que se veja a vida como um processo contínuo 2 Universidade Católica de Pelotas nicolaiatlasucpeltchebr Universidade Católica de Pelotas veraucpeltchebr 44 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática de educação O pensador Carl Rogers em sua obra Freedom to Learn em 1969 já chamava a atenção para a necessidade de facilitar a mudança e o aprendizado como requisitos básicos para a sobrevivência considerando como o único homem educado aquele que aprendeu a se adaptar e a mudar Esse é na realida de o único conhecimento seguro o saber procurar conheci mento Assim a preocupação com autonomia na aprendizagem parece ser uma meta coerente e indispensável Embora seu conceito tenha origem anglosaxônica e ne cessite ser adaptado ao nosso modus vivendi há sinais de que o ensino de língua estrangeira esteja se movendo em direção ao holístico à globalização e conseqüentemente à autonomia Quando se pensa em materiais para o ensino de língua es trangeira o desenvolvimento do aprendizado autônomo deve ser um de seus componentes É importante então ter em mente duas situações distintas Uma é aquela em que o professor ou o responsável pelo curso adota materiais préproduzidos ou os ela bora especificamente para um determinado contexto de apren dizagem Outra situação é aquela em que materiais didáticos ficam disponibilizados por exemplo em um centro de autoacesso para satisfazer a alunos oriundos de diferentes contextos liga dos ou não formalmente a um determinado curso Nesse caso os materiais são variados na tentativa de atender às suas dife rentes necessidades preferências e estilos de aprendizagem Este capítulo tem por objetivo assim em uma primeira seção trazer e discutir alguns conceitos de autonomia na apren dizagem de línguas Esses conceitos servirão para advogar a fa vor de seu estímulo quando da escolha ou elaboração de ma terial didático e decidir entre essas duas opções Logo após apon taremos alguns critérios que auxiliam o professor em caso de adoção de material préproduzido a selecionar material que pre conize o aprendizado autônomo Uma quarta seção será dedicada Autonomia critérios para escolha de material didático 45 a considerações relevantes quando o professor opta por elaborar seu próprio material A quinta tratará da alternativa em que os alunos são responsáveis por sua confecção Finalizando abor daremos a situação de criação de materiais desenhados para diferentes níveis e interesses de aprendizagem os de auto acesso 22 Conceitos e concepções de autonomia Antes de definir autonomia é preciso esclarecer que há outros termos que são utilizados por estudiosos na área Con forme Dickinson 1987 p11 alguns desses termos são auto instrução autodireção semiautonomia materiais de autoacesso apren dizagem de autoacesso e instrução individualizada Segundo o autor autoinstrução referese a situações nas quais o aprendiz está trabalhando sem o controle direto do professor1 autodireção descreve uma atitude em particular à tarefa de aprendizagem em que o aprendiz aceita responsabilidade por todas as decisões que dizem respeito a sua aprendizagem mas não necessariamente assume a implementação dessas decisões semiautonomia con venientemente rotula o estágio no qual os aprendizes estão se preparando para a autonomia materiais de autoacesso são materiais apropriados e disponíveis para a autoinstrução apren dizagem de autoacesso é a autoinstrução usando esses mate riais e instrução individualizada apud Chaix ONeil 1978 é um processo de aprendizagem que no que diz respeito a conteúdo metodologia e ritmo é adaptado a um indivíduo par ticular levando as características desse indivíduo em considera ção 1 As traduções de citações que aparecem neste trabalho são de responsabilidade das autoras 46 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Benson 1999 em seu site What is autonomy dedicado à autonomia esclarece ainda que paralelo à autonomia podese encontrar o termo independência De acordo com ele ambos os termos implicam os alunos tomarem um maior controle dos con teúdos e métodos de aprendizagem O mais clássico dos conceitos de autonomia pode ser con siderado o proposto por Holec 1981 p3 um dos responsáveis pela implementação do CRAPEL Centre de Recherches et dApplications Pédagogiques em Langues Universidade de Nancy França que a define como a habilidade de encarregar se de sua própria aprendizagem A partir desse vários autores têm lançado outros concei tos e principalmente abordado o tema sob diferentes perspecti vas En passant podemos mencionar uma definição em uma pers pectiva mais pessoal e sob nosso ponto de vista crucial aquela proposta por Kenny 1993 p436 em que autonomia não é apenas a liberdade para aprender mas também a oportunidade de tornarse uma pessoa Essa idéia entra em consonância com a de Littlewood 1996 p429 que argumenta podemos olhar a capacidade geral de uma pessoa para independência ao longo de uma variedade de situações que ela encontra Alternativamente podemos olhar para a capacidade de um indivíduo em agir autonomamente no desempenho de tarefas específicas Em uma perspectiva um tanto diferente autonomia é en contrada na literatura associada à idéia de responsabilidade Scharle e Szabó 2000 p4 afirmam o seguinte Teoricamente podemos definir autonomia como a liberdade e a habilidade de se gerenciar as próprias questões que também dão o direito de se tomar decisões Responsabilidade também pode ser entendida Autonomia critérios para escolha de material didático 47 como ser encarregado de algo mas com a implicação de lidar com as conseqüências de suas próprias ações Autonomia e responsabilidade ambas requerem envolvimento ativo e parecem estar muito inter relacionadas Independentemente do conceito em questão o mais im portante é que se esteja disposto a fazer uma profunda e cons tante reflexão sobre que real significado tem autonomia no con texto no qual estamos inseridos Estabelecer autonomia como meta educacional requer principalmente uma mudança de pa péis em que o professor deixa de ser o tomador de todas as deci sões sobre o ato pedagógico e abre espaço para que seu apren diz gradualmente assuma responsabilidade por sua aprendiza gem Esse fato tem uma série de implicações em especial polí ticas Só para mencionar uma já que esse não é o fulcro deste capítulo há a questão do provável surgimento de um número maior de conflitos na sala de aula Afinal quando se dão oportu nidade e estímulo para mais de uma voz se fazer valer além da do professor provavelmente se terá um cenário com pontos de vista diversos e muitas vezes mais difíceis de serem concilia dos Entretanto ajudar o aprendiz e o próprio professor a lidar com vozes diferentes das suas sem ser abafado e respeitando as individualidades do outro faz também parte do processo de de senvolvimento da autonomia 23 A presença da autonomia no material didático McGarry 1995 p1 é um dos autores que defende na ela boração do material pedagógico a construção de uma ponte para promover autonomia pois o aprendizado será mais bem sucedi do à medida que o aprendiz tenha mais controle sobre seu pró prio trabalho tornandose ativamente envolvido no processo de 48 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática aprendizagem e desenvolvendo por conseqüência a habilidade de trabalhar independentemente Essa preocupação com o de senvolvimento do aprendizado autônomo é particularmente importante considerando que estaremos desenvolvendo então o aprender a aprender suporte para um melhor resultado da aprendizagem não só na área de línguas mas em diferentes cam pos do conhecimento A seleção ou produção de materiais didáticos para o ato pedagógico é com certeza uma das maiores preocupações seja do professor seja da instituição educacional A primeira decisão que se deve tomar diz respeito à elaboração do próprio material ou simplesmente a opção por algo pronto préproduzido As vantagens de uma e de outra alternativa devem ser cuidadosa mente examinadas e entre elas devemos considerar fatores como tempo e habilidade para preparar material didático é prefe rível adotarse um material didático que não tenha um perfil exatamente adequado às necessidades e preferên cias dos aprendizes em questão e fazerse uma adapta ção ao longo do curso a elaborarse um material ineficiente pouco atrativo que atinja apenas as metas do professor ou do sistema escolar e que não desenvol va o pensamento críticoreflexivo do aprendiz realidade com a qual se está lidando obviamente uma das primeiras limitações ao se adotar um livro didático é a do recurso financeiro disponível É sabido que em muitas regiões brasileiras a escola pública tem como norma não adotar livro didático norma essa justificada pela falta de recursos tanto do Estado como dos alunos para adquirirem material Além disso é preciso que se leve em consideração o contexto social em questão Simplesmente importarmos modelos planejados para atender às necessidades de um outro contexto pode Autonomia critérios para escolha de material didático 49 resultar em fracasso na aprendizagem já que diferentes realidades requerem diferentes tratamentos Assim uma vez tomada a decisão de adotar material didá tico préproduzido pensamos que a promoção da autonomia do aluno na aprendizagem de línguas tem que ser levada em consi deração Uma das maneiras de constatar a presença de autono mia nos objetivos do material didático que se pretende utilizar é pela análise dos pontos indicados por Nicolaides e Marx no pre lo explanação dos objetivos da unidade essa é uma peculiari dade de suma importância para o material didático que deve trazer proposta de objetivos e ao mesmo tempo permitir flexibilidade para negociação entre professor e aprendizes de forma que possam melhor se envolver no processo dando espaço às suas necessidades e pre ferências explicitação de estratégias de aprendizagem essa é uma se gunda característica aliás pouco encontrada nos livros didáticos em geral a conscientização do aprendiz do processo de aprendizagem por meio da explicitação de estratégias Todavia a simples presença de uma seção sobre explicitação de estratégia não é suficiente para que aconteça essa conscientização Urge que o profes sor esteja preparado para desenvolver esse processo de forma a poder auxiliar seu aprendiz e alertálo para a importância desse passo Em outras palavras de nada adianta o material didático trazer seções sobre estraté gias de aprendizagem se o professor ao abordálas o faz simplesmente de forma automática sem uma maior reflexão sobre suas implicações foco na forma reconhecendo a importância de auxiliar o aprendiz a deduzir regras sobre a forma de como a língua 50 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática funciona um bom material deve dedicar espaço para a gramática especialmente quando se trata da aquisição de uma segunda língua em que o aprendiz tende a com parar o sistema da nova língua com aquele da língua em que já é competente No entanto as autoras salien tam que igualmente importante é a exploração do sig nificado semântico a intenção dos falantes e os aspec tos culturais visíveis ou não propostos nos textos do material autoavaliação e automonitoramento esses são processos indispensáveis para complementar o aprendizado au tônomo em que o aprendiz deve ser capaz de avaliar seus conhecimentos e verificar quais os aspectos de cuja melhoria depende para aprimorar seu desempenho Aqui além do material o professor mais uma vez pos sui um papel fundamental estimulando e abrindo es paços ao aluno para sua autoavaliação e automonito ramento Material didático que pretenda desenvolver autonomia deve fomentar essa idéia em especial no manual do professor alternativas de opções para execução de tarefas essas op ções também devem fazer parte de um material didáti co que estimule o desenvolvimento autônomo Muitos materiais trazem diferentes sugestões de como uma ou outra atividade pode ser executada porém são raros os que apresentam opções também para os alunos em que eles possam escolher conforme suas preferências ou grau de dificuldade Tarefas que apresentam diferentes graus de dificuldade por exemplo podem facilitar o problema enfrentado pelo professor que trabalha com alunos em diferentes níveis de conhecimento da lín guaalvo Autonomia critérios para escolha de material didático 51 24 Elaboração de material didático pelo professor para contextos específicos Quando se tem como meta educacional a autonomia é óbvio que as diferenças individuais as necessidades as prefe rências e os estilos de aprendizagem devem ser na medida do possível respeitados Como ensina Nunan 1992 p3 devido a coações exis tentes na maioria dos contextos de aprendizagem é impossível ensinar aos alunos tudo que eles necessitam O autor propõe então que os objetivos de ensino da línguaalvo se relacionem com o desenvolvimento de estratégias de aprendizagem São pois exemplos de objetivos fornecer aos alunos estratégias efi cientes e ajudálos a identificar suas maneiras preferidas de apren dizagem desenvolver nos aprendizes habilidades para negociar currículo orientandoos a estabelecer seus próprios objetivos de forma realista determinando tempo para sua realização e estimulálos à autoavaliação Uma forma de tentar manter a presença de todos esses re quisitos ou pelo menos da maior parte deles é a consulta direta aos alunos Nicolaides 1996 em sua dissertação de mestrado na tentativa de garantir a participação dos alunos na elaboração eou seleção de materiais de ensino bem como na preparação de aulas utilizadas em seu estudo elaborou dois questionários aplicados no final do semestre anterior ao início das aulas O primeiro objetivava apresentar aos aprendizes funções para o desenvolvimento de uma competência limiar Os alunos em grupos de três ou quatro discutiram e escolheram os itens lingüísticos que acreditavam lhes seriam mais úteis O segundo questionário aplicado individualmente visava a traçar o perfil dos alunos Esse documento permitiu a constatação de caracte rísticas relativas à maneira como passavam seu tempo livre a 52 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática hábitos de leitura e escritura e estímulo fornecido para a família para o aprendizado de LE por exemplo O estudo concluiu que esse tipo de abordagem atinge o objetivo de engajar o aluno no processo de aprendizagem No entanto é curiosa a constatação nessa mesma pesquisa do fato de um dos participantes terse manifestado a favor da adoção de material didático préproduzido A sua falta gerava dificuldades para seus estudos impedindo inclusive a opção de estudar sozi nho uma vez que não conseguia organizar seu material suficien temente 25 Elaboração de material didático pelo próprio aluno Uma outra forma de promover a autonomia no caso de o professor ou responsável por um determinado curso optar pela utilização de material não préproduzido é o aluno elaborar ou compilar o próprio material Uma maneira de se fazer isso é por meio de projetos como propõem FriedBooth 1986 e Haines 1989 Esses projetos consistem basicamente em o aluno ou o grupo delinear um plano de trabalho com o objetivo de con cretizar um produto final como por exemplo um comercial em vídeo ou um roteiro para turistas Esse procedimento de elabo ração de projetos autônomos é utilizado no Centro de Aprendi zagem Autônoma de Línguas CAAL na Universidade Católi ca de Pelotas Na primeira vez em que esse procedimento foi adotado 20011 resultados positivos foram constatados Dos 21 alu nos acompanhados seis deles desenvolveram seu próprio plano de trabalho Um deles preparouse para fazer o Cambridge First Certificate e para tal requisitou orientação do Centro para mon tar seu plano de trabalho diferenciado Outro aluno propôsse a no lugar de preencher atividades preestabelecidas elaborar e Autonomia critérios para escolha de material didático 53 organizar um pequeno banco de filmes em inglês com as respec tivas sinopses e atividades para serem realizadas por futuros freqüentadores do CAAL Já um terceiro dispôsse à elaboração de uma pasta com roteiros turísticos em dez cidades famosas também acompanhados de tarefas Ainda dois alunos de Espa nhol prepararamse para a prova de proficiência DELE Di ploma de Espanhol como Língua Estrangeira oferecido pela Universidade de Salamanca No semestre subseqüente quando os dados foram coletados os resultados foram ainda melhores principalmente no que diz respeito à motivação daqueles aprendizes que de fato se envolveram com suas metas Especificamente no caso do inglês os alunos de segundo período tinham a opção de tra balhar com projetos diferenciados ou com atividades pré selecionadas pelos pesquisadores e bolsistas do Centro Dos tre ze alunos que estavam matriculados na disciplina de Língua In glesa II seis optaram por trabalhar com projetos diferenciados seis com pacotes atividades elaboradas pela equipe do CAAL e um deles trabalhou com um conjunto de atividades especiais para suas dificuldades esse mesmo ainda participou de um pro jeto juntamente com os colegas cujo objetivo era selecionar aplicar e analisar tópicos escolhidos pelos próprios alunos para utilização em sala de aula em uma escola da rede municipal Em relação aos alunos do quarto período dos nove matri culados na disciplina de Língua Inglesa IV que tinham como alternativas a realização de projeto como explicado anterior mente ou a elaboração de pacote conjunto de atividades selecionadas pelo aluno quatro deles de fato conseguiram le var o projeto a cabo Os outros cinco trabalharam com material que considerava suas necessidades e preferências em relação à aprendizagem da línguaalvo 54 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Os resultados dos trabalhos desenvolvidos pelos aprendi zes tanto de segundo como de quarto período ao final do se mestre foram apresentados durante um pequeno evento que denominamos de Mostra de Projetos Autônomos dos Alunos do Curso de Letras Nesse evento estavam presentes além dos apresenta dores dos trabalhos colegas de outros semestres e alguns dos professores de línguas estrangeiras As apresentações em sua grande parte foram feitas com o auxílio do programa PowerPoint alguns mostraram os principais resultados de suas pesquisas outros o produto final de seu projeto e ainda outros fizeram um depoimento sobre quais tinham sido os aspectos positivos e negativos do trabalho realizado em termos de desenvolvimen to de sua competência lingüística com o auxílio dos conjuntos de atividades Assim parece que uma vez que o aluno esteja mais familiarizado com suas preferências necessidades e estilo de aprendizagem tem mais condições de fazer algumas de suas próprias escolhas Servimonos ainda da opinião de McGarry 1995 p6 para corroborar a validade do trabalho por meio de projetos para o desenvolvimento do aprendizado autônomo Segundo o autor o trabalho com projetos é particularmente valioso porque fornece ao aluno oportunidades gerenciáveis para adquirir experiência em revisar os planos conforme o estabelecimento de metas a elaboração e o acompanhamento de cronogramas a monitoração e avaliação do progresso Dessa forma o professor aproveita a oportunidade para que os aprendizes utilizemse de sua própria experiência para seu aprendizado facilitando o desenvolvimento da autonomia uma vez que com o trabalho por meio de projetos o aprendiz terá oportunidade de desenvolver uma atividade na qual se engaje Autonomia critérios para escolha de material didático 55 voluntariamente pois é sua a escolha do tópico que pretende trabalhar Além disso quanto mais variadas forem as escolhas me nos centrado será o ato pedagógico no professor e sim surgirá a tendência de o foco da sala recair sobre o processo de aprendi zagem Dizemos que o ato pedagógico será centrado no processo de aprendizagem e não no aluno guiadas pelo argumento de Auerbach 2000 p144145 ao abordar a pedagogia participativa Ela salienta que se por um lado os aprendizes têm suas metas e diferenças individuais os professores têm seus próprios objetivos sua própria compreensão da pedagogia mais eficiente para LE e também o poder para essas determinações Segundo a autora esse é um pressuposto freqüentemente desconsiderado por pesquisadores de LA que focalizam apenas o aprendiz individualmente e seus processos mentais deixando de lado o contexto social porque defendem um ensino de LE centrado no aluno No entanto Auerbach afirma que a pedago gia participativa prega a necessidade de se focar o contexto social da aquisição da L2 e que relações de poder nele estão inseridas uma vez que ele é compartilhado por aprendizes 26 Contextos fora de sala de aula Uma das maneiras de se introduzir autonomia no aprendi zado é criando um espaço físico para que o aprendiz possa desenvolvêla o centro de autoacesso é um exemplo Podería mos dizer que os chamados Centros de Autoacesso SAC self access centers ou Centros de Aprendizagem Independente ILC Independent Learning Centers são frutos evoluídos dos conhe cidos Laboratórios de Línguas amplamente difundidos a partir da década de 60 Os laboratórios foram uma conseqüência da abor dagem behaviorista empregada na época em que se acreditava 56 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática que a aprendizagem de línguas ocorre por meio da fixação de estruturas formação de novos hábitos e um dos objetivos alme jados era uma fluência próxima a do falante nativo Assim os ditos laboratórios serviam para a prática de exercícios estrutu rais muitas vezes descontextualizados e sem enfocar a comuni cação Com o surgimento da abordagem comunicativa os labora tórios caíram em desuso e há cerca de duas décadas quando autonomia começou a ocupar espaço nas discussões sobre edu cação os SACs começaram a ser implementados Os centros de autoacesso têm como meta principal colocar mais insumos à disposição do aprendiz por meio de recursos tais como compu tadores com programas específicos em LE Internet trabalhos de compreensão oral com gravadores vídeos livros textos revis tas e jornais para trabalhos de compreensão escrita e conjuntos de atividades em diferentes níveis de complexidade entre ou tros aos quais o aluno recorre conforme suas expectativas aspi rações de aprendizagem suas necessidades ou dificuldades em seu próprio tempo disponível Cumpre esclarecer aqui que os centros de autoacesso po dem ser dos mais variados tipos dos mais simples aos mais so fisticados Entre os mais simples Gardner e Milller 1999 p59 63 listam o tipo banca de mercado cuja operacionalização se dá em alguns dias ou horas do dia Os materiais são guardados em um armário em uma sala de aula e em um determinado dia e hora o professor abre e exibe o material para a escolha dos alu nos A vantagem que esse tipo apresenta é o fato de ele poder ser programado para a situação de aprendizagem com que se depara o professor e a desvantagem é a restrição da escolha do material ao espaço Vídeolocadora é um tipo cuja vantagem reside no fato de ser altamente motivador embora os objetivos possam não ser Autonomia critérios para escolha de material didático 57 claros para os aprendizes A ênfase está na diversão uma vez que os aprendizes vêem um filme com o propósito de imergirem na língua Gardner e Miller também mencionam tipos muito sofisti cados como a loja de tecnologia Baseiase em tecnologia vídeo áudio computador Esse centro é comumente encontrado em universidades com recursos abundantes É útil para todo tipo de aprendiz Sua principal desvantagem é ser caro para instalar manter e atualizar sua grande vantagem é a atração que o apren dizado de línguas via tecnologia apresenta para alguns aprendi zes Convém salientar que embora haja uma variada tipologia de centros de autoacesso possíveis de serem implementados dificilmente um centro se enquadra perfeitamente em uma das classificações Os mais comuns são centros com parte das ca racterísticas de uma ou mais classificações Também é impor tante lembrar que todo centro está constrangido pelo contexto institucional e cultural no qual está inserido No que tange ao institucional podemos considerar fatores como o sistema edu cacional adotado verbas e recursos destinados a esse tipo de projeto principalmente em relação a espaço físico e pessoal es pecializado Em relação ao contexto cultural é preciso lembrar as crenças e atitudes dos participantes do cenário educacional ou seja aprendizes professores elaboradores de política educa cional e administradores que influenciam positivamente ou não no estabelecimento de um projeto dessa natureza Os insumos disponíveis em um centro como esse são de nominados materiais de autoacesso Sheerin 1991 p143 define autoacesso como uma maneira de descrever materiais que são desenhados e organizados de modo que os aprendizes possam escolher o que fazer e trabalhar as tarefas como quiserem Já Gardner e Miller 1999 p917 expandem essa definição e 58 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática enfatizam que embora o termo autoacesso seja por vezes en tendido como um conjunto de materiais e por outras como um sistema de organização de recursos vêem o autoacesso como integração de vários elementos que se combinam para fornecer um ambiente único de aprendizado uma vez que cada aprendiz interage com o ambiente de sua própria maneira No entanto o oferecimento de uma estrutura da mais singela a mais bem con templada tecnologicamente não garante per se o desenvolvi mento da autonomia É Braga 1999 p7172 quem constata isso ao acompa nhar alunos adquirindo a leitura em uma língua estrangeira Es ses alunos se beneficiaram de materiais de autoacesso cujo foco foi o treinamento na conscientização da tarefa Os resultados mostram que esse treinamento pode não ter resultados positivos devido à interferência de variáveis subjetivas como fatores de personalidade por exemplo O fato de um aprendiz ser muito extrovertido é benéfico para o aprendizado quando ele se en contra em uma situação real de comunicação em que há interação com falantes da línguaalvo Isso no entanto não influi do mes mo modo quando se trata do uso de estratégias para desenvol vimento da compreensão escrita Muitas vezes materiais de autoacesso pressupõem que todos os aprendizes possuam autonomia Segundo Braga leito res inseguros podem desistir de aprender se não lhes for dada afirmação permanente e fornecido o feedback afetivo de que ne cessitam É importante levar esse fator em consideração quan do se opta por trabalhar com materiais de autoacesso Com fre qüência o fracasso na aprendizagem decorre não da qualidade do material mas sim da falta de preparo do aprendiz para a au tonomia Uma outra limitação do material de auto acesso por nós constatada diz respeito ao feedback que deve ser dado ao aluno Autonomia critérios para escolha de material didático 59 Esse material normalmente é formado por exercícios que admi tem apenas uma alternativa correta Isso no entanto é uma con tradição quando se pretende estimular autonomia Para que se possibilite o desenvolvimento de um pensamento crítico reflexivo fazse mister que o aprendiz tenha possibilidades de escolha que lhe sejam dadas oportunidades de fornecer suas próprias respostas dentro do possível com suas justificativas pessoais Quando isso não acontece a responsabilidade da cor reção continua fora do controle do aprendiz transferida do pro fessor para por exemplo o gabarito Na tentativa de solver esse problema tornar o aprendiza do mais personalizado e simultaneamente satisfazer às necessi dades individuais é interessante que o processo conte com a orientação de alguém mais experiente na aprendizagem de lín guas Esse alguém não deve ser considerado como o dono do conhecimento ou da verdade absoluta que por conseguinte sabe o que é melhor para o aprendiz Esse alguém deve ter o papel de mediador ou facilitador que auxilia o aluno a aprender a apren der Uma figura comumente encontrada nos centros de auto acesso é o chamado conselheiro cujo papel é acompanhar os apren dizes de maneira que consigam cumprir as metas por eles estabelecidas e nas eventuais dificuldades sugerir alternativas estimulandoos a buscar seu próprio conhecimento O conse lheiro orienta e procura facilitar a aprendizagem autônoma des ses alunos Alinhado a esse pensamento é oportuno rever o que Riley 1997 p122 propõe como papéis do conselheiro 1 elicitar informação sobre metas necessidades e dese jos 2 fornecer informação esclarecer por que para quê como por quanto tempo sugerindo materiais sugerindo ou tras fontes 60 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática 3 sugerir procedimentos organizacionais 4 sugerir metodologia 5 ouvir responder 6 interpretar informação 7 sugerir procedimentos de manutenção de registros e planejamento 8 apresentar materiais 9 analisar técnicas 10 oferecer procedimentos alternativos 11 sugerir ferramentas e técnicas de autoacesso 12 dar feedback no autoacesso 13 ser positivo 14 apoiar Esses papéis do conselheiro acabam por estabelecer uma relação intersubjetiva entre ele e o aprendiz nesse contexto De um lado o aprendiz vem imbuído de crenças oriundas da sua cultura de aprendizagem que acabam por influenciar suas atitu des durante o ato pedagógico Por outro está o conselheiro que por sua vez também traz consigo um conjunto de representa ções valores e crenças que incluem conhecimento especializa do sobre o processo de aprendizagem de línguas bem como so bre a operacionalização do sistema de autoacesso O resultado desse encontro deve ser o estabelecimento da intersubjetividade em que aprendiz e conselheiro exercem seus papéis de forma a chegarem a um senso comum Riley chama atenção para a ques tão da assimetria de poder presente em uma situação como essa em que se incorre no risco de repetir a tradicional relação pro fessoraluno reforçando o papel centralizador do professor como único tomador de decisões Assim é preciso que se instigue o aluno a buscar seu co nhecimento conforme as metas por ele estabelecidas dando Autonomia critérios para escolha de material didático 61 oportunidades para que se encarregue de sua aprendizagem des de o planejamento e execução até a avaliação de seu projeto de trabalho Essa orientação pode ser dada de forma individual ou em grupo periodicamente ou conforme a necessidade do pró prio aprendiz Nesses encontros também é aconselhável a apli cação de diferentes questionários e testes com o objetivo de verificar estilos Scharle Szabó 2000 p1721 Gardner Miller 1999 p159160 e estratégias de aprendizagem SILL Strategic Inventory Language Learning Oxford 1989 p293297 que melhor convenham ao aprendiz estimulando dessa forma a aprendizagem autônoma Quando o conselheiro e o professor da sala de aula não são a mesma pessoa é relevante haver um contato regular entre ambos para que haja reflexão sobre o processo e para que o professor exponha sua visão do aprendiz Isso porque devido a várias razões o comportamento do aprendiz pode variar de um contexto para outro Uma vez cientes dessas limitações cabe refletirmos sobre as razões pelas quais os materiais para autoacesso podem con tribuir para uma aprendizagem bem sucedida Sheerin 1991 p7 é uma das autoras que defende a manutenção de materiais de autoacesso Ela os considera como a solução para vários pro blemas que ocorrem no ensino de línguas entre eles salas de aula com alunos em diferentes níveis de competência na língua alvo alunos com variadas necessidades diferenças psicológicas estilos de aprendizagem e diferenças de personalidade extroversão introversão aptidão etc Essa mesma autora posteriormente em sua obra 1997 p5465 expõe duas razões que pretendem justificar o auto acesso Uma em nível pragmático a individualização e a outra em nível ideológico a promoção da independência do apren diz No que se refere à individualização Sheerin lembra que a 62 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática organização de materiais de autoacesso é para atender à de manda dos aprendizes satisfazendo às suas necessidades espe cíficas Essas necessidades incluem estilos de aprendizagem e preferências e tipos de atividades requisitos oriundos da ocupa ção profissional ou da vida acadêmica do aprendiz Também abarcam limitações peculiares a cada indivíduo que podem fa zer com que queiram trabalhar de forma individual ou não Cita ainda restrições temporais decorrentes de compromissos assu midos pelo aprendiz No entanto a própria autora diz não serem essas razões suficientes para justificar o autoacesso Ela aduz a idéia da promoção do aprendizado independente em nível filo sófico e psicológico conseqüentemente mais difícil de ser ob servado mas já de senso comum entre educadores Na mesma linha de pensamento Crabbe 1993 p441452 argumenta que o indivíduo deve ser livre para fazer suas pró prias escolhas em qualquer área Educadores como Freire 1978 p36 mostram que o indivíduo não deve ser objeto de escolhas alheias aprendese melhor quando se é responsável pelo pró prio aprendizado há mais motivação e freqüentemente mais sucesso O aprendizado é assim mais significativo e mais per manente Crabbe ensina ainda que essa significação e perma nência baseiamse no trabalho da psicologia cognitiva como um processo de solução de problemas O aprendizado é influencia do por muitas variáveis e não pode ser garantido simplesmente pelo estabelecimento de tarefas em sala de aula O autor mostra finalmente que a sociedade não tem re cursos que lhe permitam oferecer um nível de instrução perso nalizada a cada um de seus cidadãos o indivíduo deve ser ca paz de suprir suas próprias necessidades de aprendizado Esse é um argumento muito importante se considerarmos o gradual aumento na demanda pelo aprendizado de línguas estrangeiras e o grande número de pessoas às quais é negado o acesso a ele O Autonomia critérios para escolha de material didático 63 autor salienta o fato de que onde há aulas elas com freqüência têm um número demasiadamente grande de alunos para o pro fessor poder de forma equânime dividir sua atenção O mesmo ocorre quando as aulas terminam o aprendizado precisa conti nuar e uma vez desenvolvida a autonomia essa transição não é traumática Entre todos os argumentos mencionados o psicológico que é trazido tanto por Sheerin 1997 como por Crabbe 1993 é o que tem o maior peso para os educadores pois coloca o controle do aprendizado onde ele ocorre na mente do aluno Fernandes 1996 p37 Concluindo esta seção é interessante lembrar algumas ca racterísticas mencionadas por Dickinson 1987 p8087 que devem estar presentes em material de autoacesso São elas interesse variedade e clareza determinação clara de objetivos insumos lingüísticos significativos exercícios e atividades flexibilidade de materiais instruções de aprendizagem aconselhamento sobre aprendizagem de línguas feedback e testes estímulo à manutenção de anotações sobre o progresso da aprendizagem materiais para consulta catalogação de materiais para consulta fatores motivacionais para o uso de materiais como apresentação profissional com ilustrações e colorido fácil acesso unidades de trabalho relativamente curtas considerando um aluno de rendimento médio 64 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática encorajamento ao aluno por meio de lembretes coloca dos no próprio material aconselhamento sobre o progresso na aprendizagem Muitas dessas características previamente abordadas pre cisam estar perceptíveis em outros materiais que não os de auto acesso como já mencionamos durante este capítulo 27 Comentários finais Neste capítulo pretendemos levantar algumas questões teóricas e práticas sobre materiais didáticos Para tanto procu ramos expor algumas concepções de autonomia relacionandoas com o material didático que pode ser comercialmente produzi do ou elaborado para um contexto específico tendo como uma meta a promoção do aprendizado autônomo Apresentamos as sim alguns critérios que pensamos devem ser analisados no caso da opção por um material préproduzido Nesse caso fazse ne cessária a ajuda e a direção de um professor hábil e experiente o que provavelmente inclui alguns procedimentos bastante centrados no professor Em optando pela produção de materiais ela pode ser feita pelo próprio professor ou pelos alunos Na primeira alternativa é mister uma consulta prévia aos aprendizes para que o profes sor saiba quais seus interesses Assim o aprendizado é centrado no grupo em que acontecem procedimentos como negociação de conteúdos e planejamento de aulas Quando os alunos são os responsáveis pela elaboração de materiais ilustramos com os projetos que incluem planejamento execução e avaliação por eles realizada Por último relatamos o trabalho desenvolvido no CAAL um centro de autoacesso Em um tipo de centro como esse os Autonomia critérios para escolha de material didático 65 alunos podem usar os materiais para minorar suas dificuldades tanto individuais como do grupo O que queremos deixar todavia ao leitor é nosso pensa mento que independentemente de o professor ou responsável por um determinado contexto de aprendizagem optar por mate rial préproduzido ou por elaborar seu próprio material dirigido a um contexto específico ou ainda simplesmente disponibilizar aos aprendizes materiais para autoacesso ele deve ter em men te a preocupação com o desenvolvimento da aprendizagem au tônoma É necessário que a autonomia ocupe um lugar maior na educação só assim ocorre educação Quando se reprime ou ignora autonomia o que ocorre é apenas a imposição da opinião dominante Referências AUERBACH E R Creating participatory learning communities paradoxes and possibilities In HALL J K EGGINGTON W G Org The sociopolitics of English language teaching Clevedon Multilingual Matters 2000 BENSON P What is autonomy Disponível em httpechkuhkautonomywhathtml Acesso em 1999 BOUD D Moving towards autonomy In BOUD D Ed Developing student autonomy in learning 2 ed London Kogan Page 1988 BRAGA D Selftutoring processes the role of subjective factors in readiness for autonomous learning of foreignlanguage reading The Specialist São Paulo Educ v 20 n1 1999 66 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática CRABBE D Fostering autonomy from within the classroom the teachers responsibility System Great Britain Pergamon Press v 21 n 4 1993 DICKINSON L Selfinstruction in language learning Cambridge Cambridge University Press 1987 FERNANDES V A busca da autonomia na aprendizagem de LE a experiência do ensino concentrado na UCPel Dissertação Mestrado em Letras Universidade Católica de Pelotas Pelotas 1996 FREIRE P Pedagogia do oprimido Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 FRIEDBOOTH D L Project work New York Oxford University Press 1986 GARDNER D MILLER L Establishing selfaccess from theory to practice Cambridge Cambridge University Press 1999 HAINES S Projects for the EFL classroom Edinburgh Thomas Nelson and Sons 1989 HOLEC H Autonomy in foreign language learning Oxford Pergamon 1981 KENNY B For more autonomy System Great Britain Pergamon v 24 n 4 1993 LITTLEWOOD W Autonomy an anatomy and a framework System Great Britain v 24 n 4 1996 McGARRY D Leaner autonomy the role of authentic text Dublin Authentik Language Learning Resources 1995 v4 Autonomia critérios para escolha de material didático 67 NICOLAIDES C Interação em sala de aula de língua estrangeira uma experiência na escola de ensino de primeiro grau Dissertação Mestrado em Letras Universidade Católica de Pelotas Pelotas 1996 NICOLAIDES C MARX F O papel do material didático na promoção do aprendizado autônomo No prelo NUNAN D The learnercentred curriculum Cambridge Cambridge University Press 1992 OXFORD R Language learning strategies what every teacher should know Boston Heinle Heinle Publishers 1989 RILEY P The guru and the conjurer aspects of counseling for self access In BENSON P VOLLER P Autonomy and independence in language learning London Longman 1997 ROGERS C R Freedom to learn Columbus Charles E Merrill Publishing Co 1969 SCHARLE A SZABÓ A Learner autonomy a guide to developing learner responsibility Cambridge Cambridge University Press 2000 SHEERIN S Selfaccess Oxford Oxford University Press 1991 UMA RELEITURA DO POLITICAMENTE CORRETO NO GÊNERO ANÚNCIO PUBLICITÁRIO EM SALA DE AULA Teresinha dos Santos Brandão Luiz Gustavo Ribeiro Araújo Este capítulo aponta para dois aspectos que nos interes sam como docentes preocupados com a elaboração de material didático ancorarmonos em um referencial teórico para subsidiar a análise do anúncio publicitário concebido como um gênero do 3 Professora da Universidade Federal de Pelotas RS tisabrandaobolcombr ViceDiretor do Colégio São José Pelotas RS ribeiroaraujobrturbocombr 70 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática discurso e articular esse referencial a uma proposta didática voltada especificamente a alunos iniciantes nos cursos de gra duação os quais estejam freqüentando disciplinas direcionadas à leitura e à produção textual Convém desde já esclarecer que ler tanto quanto escrever envolve um processo o qual não pode estar desvinculado de suas condições de produção mas deter minado por aspectos sociais históricos econômicos políticos e culturais Não é sem motivo portanto que recorremos a Bakhtin 1992 1997 Em Marxismo e filosofia da linguagem 1992 o au tor rompe com as teorias formalistas e afirma ser o signo es sencialmente ideológico e mais sem signos não há ideologia Bakhtin 1992 p 31 Parecenos ideal trabalhar com uma no ção tal de signo uma vez que ao nos debruçarmos sobre uma leitura do politicamente correto necessariamente a ideologia insurgirá porém não como fator acessório mas como elemento constitutivo da linguagem sem o qual não é possível nos ocu parmos do discurso senão da língua sistema abstrato formal voltado ao seu próprio interior Igualmente nos servimos de Bakthin 1992 porque o au tor parece nos responder a questionamentos que nos inquietam em se tratando da análise e produção de textos como a palavra alheia chega até nós O que fazemos com ela quando a incorpo ramos ao nosso discurso O discurso de outrem a partir do momento em que é reto mado não é mais o mesmo sofre alterações no entanto ao mes mo tempo em que se altera pode ser reconhecido como já enun ciado por outra pessoa Em síntese o que ocorre é uma semantização desse discurso um processo de interpretação valorativa em que o conteúdo ideológico passa a ser julgado e assim não pode ser entendido como uma mera transposição do discurso alheio Concordamos pois com Bakhtin 1992 p 31 Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 71 quando explica que o signo reflete e refrata uma outra realida de que lhe é exterior ou seja essa outra realidade é a ideolo gia Passemoslhe a palavra Conseqüentemente em todo signo ideológico confrontamse índices de valor contraditórios O signo se torna a arena onde se desenvolve a luta de classes Bakhtin 1992 p 46 grifos do autor Essas noções poderão nos auxiliar na interpretação dos diálogos que se processam no interior do gênero analisado assim como daqueles que lhe são exteriores e também dialogam com ele Já em Os gêneros do discurso 1997 Bakhtin afirma que não há comunicação senão por meio de gêneros e os define como um conjunto de tipos relativamente estáveis de enunciados Bakhtin 1997 p279 grifos do autor Sobre a estabilidade dos gêneros assim se manifesta Se não existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos se tivéssemos de criálos pela primeira vez no processo da fala se tivéssemos de construir cada um de nossos enunciados a comunicação verbal seria quase impossível Bakhtin 1997 p 302 Da mesma forma preocupase em analisar o que denomi na relativamente Segundo o teórico os gêneros devem ser entendidos como fenômenos e práticas de ação social únicos e concretos pois determinados por suas condições de produção em sua essência variáveis No início do capítulo Bakhtin ibid ressalta estarem as atividades humanas relacionadas à utilização da língua e se ma nifestarem em determinadas esferas sociais ideologicamente marcadas Nestas destaca três elementos fundamentais o con teúdo temático o estilo e a forma composicional Examinaremos neste capítulo a esfera publicitária cujos atores envolvidos serão detalhados no decorrer da análise bem 72 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática como os interesses em jogo O gênero em circulação nessa esfera objeto de nosso estudo será o anúncio publicitário Considera mos que especialmente nesse gênero cuja empresa anuncian te é considerada socialmente responsável subjazem elemen tos de uma política de leitura incorporada a uma postura a qual se convencionou chamar de politicamente correta que impõe ao leitor menos desavisado e crítico uma prática de leitura com a qual não concordamos Por conseqüência arriscaremos expor o porquê dessa discordância e convidamos aos docentes que de sejarem acolher nossa análise para produzirem seus materiais de ensino que assim o façam É comum e freqüentemente aceita a idéia de que em se tratando de publicidade ser criativo é sinônimo de genialidade fruto de uma inspiração digna de alguns publicitários privilegia dos No entanto nesse universo é fundamental planejamento um anúncio publicitário é pois um processo de construção que envolve ao menos dois objetivos específicos a venda do produto como constituinte de trocas de mercado e a venda de valores e normas socioculturais partilhadas por uma comunidade Go mes 1999 p 209 grifos nossos Para a autora o anúncio pu blicitário tornase então um grande produtor de imagens da civilização imagens de estilo de vida social política econômica e cultural de um país idem Dessa forma acrescenta o pú blico é levado não apenas a comprar produtos mas a adotar comportamentos hábitos modos divulgados pelas entidades que se movimenta no espaço público através das reconstituições de cenas da realidade ibid p 210 A publicidade envolve um vasto universo delimitado por objetivos e sujeitos específicos marcado por um funcionamen to próprio relacionado a um contexto de produção sóciohistó rico econômico e cultural que lhe é característico Nesse con texto de produção a imagem que se tem do consumidorleitor Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 73 das empresas anunciantes e das empresas concorrentes no mercado é decisiva para que a publicidade atinja sua princi pal função a de incitar o consumidor a agir Isso requer o apelo à manipulação Vale dizer ao publicitário cabe saber fazer usar artifícios e recursos vários adequados a fim de despertar um de sejo uma necessidade uma falta no consumidor para fazer crer comprovar que é possível suprir essa falta ou saciar um desejo apresentando vantagens ou razões para se consumir um produto ou adotar um estilo de comportamento e assim dever fazer pro vocar no consumidor a vontade de se apropriar do produto ou a adotar valores que atendam a essa necessidade preencham essa falta saciem seus desejos mais inconscientes Desse modo conforme Carrascoza 2003 p 32 a mensagem da publi cidade se dirige ao mundo dos sonhos no qual a realização do consumo não só é possível mas também desejável Nesse mundo de sonhos possuir objetos adotar estilos de vida e comportamentos seguir os padrões de beleza e inteligên cia equivale a alcançar o bemestar e a felicidade Para tanto segundo se afirmou o apelo à manipulação e à persuasão como estratégias de publicidade são fundamentais Entre as mais co nhecidas destacamse as seguintes a Tentação Manipulação por meio de uma recompensa Exemplo Se você lavar meu carro ganhará um presente é uma surpresa Neste caso o manipulado quer fazer algo é levado a para obter um prêmio b Intimidação Manipulação por meio de uma ameaça Exemplo Se tu não lavares meu carro nunca mais te levo para passear 74 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática O exemplo evidencia que o manipulado deve fazer algo é obrigado a Se não o fizer haverá uma punição c Provocação Manipulação por meio de um desafio ressal tamse as características negativas do manipulado Exemplo Duvido que quando eu tiver voltado do traba lho tu já tenhas lavado meu carro Duvido Neste exemplo o manipulado deve fazer algo é obrigado a para obter uma recompensa pode ser até mesmo a aprovação pelo que fez d Sedução Manipulação por meio de um desafio salientam se as características positivas do manipulado Exemplo Tu és tão querido tão gentil Eu acho que quan do eu chegar do trabalho vou encontrar meu carro lavadinho né O manipulado neste caso quer fazer algo para obter uma recompensa Como critérios para a análise do anúncio publicitário en quanto instrumento didático serão considerados os itens a se guir 1 Descrição A descrição constitui etapa importante neste gênero so bretudo quando se trata de material colorido e o leitor só tem acesso a ele em cores preto e branco Além disso na descrição podemse ressaltar alguns elementos do material tamanho se for construído só por linguagem verbal até a forma da letra e a maneira como está disposta se for produzido com linguagem nãoverbal ou ambas frisar detalhes que podem passar desper cebidos ao leitor etc Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 75 2 Sujeitos envolvidos Este item mostrase relevante para se delimitar o perfil dos sujeitos envolvidos a imagem que estes têm de si mesmos e um do outro das empresas anunciantes das empresas concorrentes no mercado e que estas têm de si mesmas e da anunciante e por fim da imagem que os quatro elementos têm de si e entre si 3 Aspectos temáticos O tema anúncio publicitário diz respeito às informações sobre o produto a ser vendido ou ao estilo de vida a ser adotado pelo consumidorleitor Somente depois de delimitado o tema De que trata o anúncio é possível encontrar meios recur sos estratégias procedimentos a fim de valorizar o produto ou o estilo de vida em questão 4 Interesses em jogo Quem anuncia o faz com determinados objetivos tais como reconhecer as necessidades e os desejos do consumidor ou ain da tais necessidades influenciálo de tal modo que mesmo não havendo tais necessidades de fato o consumidor passe a senti las como reais Em outros termos embora ele não tenha uma falta é preciso fazêlo crer que a tem e desse modo a empresa anunciante deve provarlhe que é capaz de suprila Mostrarlhe essa capacidade comprovandoa é uma forma de levar o consu midor à ação incitálo a um deverfazer comprar o produto ou adotar determinados comportamentos Este item encontrase intimamente ligado ao 2 uma vez que numa peça publicitária o jogo de imagens é vital para traçar um perfil dos interesses da empresa anunciante 76 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática 5 Estrutura Via de regra é comum o anúncio publicitário ser estruturado conforme os subitens explicitados a seguir No entanto em se tratando de publicidade as variações são muitas Devese por tanto ter o cuidado de não tornar generalizante o que pode ser particular específico 51 Título O título é parte significativa na estrutura do anúncio A fim de que desperte a curiosidade do leitorconsumidor deve ser atrativo o suficiente para o anúncio ser lido até o final No título os aspectos temáticos são expressos de forma ampla 52 Corpo do texto Nesta parte a informação contida no título é ampliada e os objetivos explicitados ou pressupostos Aconselhase além de salientar a importância do produto a ser consumido também demonstrar a relevância por meio de provas que assegurem o quanto o produto é valioso ao consumidor ou seja se este o adquirir preencherá a faltasobre a qual comentamos 53 Epílogo Além de ratificar a importância de adquirir produtos no vos hábitos de vida etc nesta parte convidase o consumidor à ação utilizandose um enunciado conciso mas que incons cientemente induzao a comprar tais produtos A assinatura logotipo ou marca do anunciante costumam aparecer no epílo go Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 77 Agora leia o texto a seguir e acompanhe a análise posterior Figura 1 Anúncio da AMBEV 1 Descrição O anúncio publicitário ocupa duas páginas abertas da re vista IstoÉ publicada em 19082004 em cujo fundo mesclam se as cores verde escuro e verde mais claro Nesse fundo perce bemse marcas de impressões digitais nas bordas o dizer Re pública Federativa do Brasil na borda de cima seguido em linhas separadas de Estado de São Paulo e Secretaria de Se gurança Pública Já Carteira de identidade está escrito na borda de baixo À esquerda na parte de cima próximo à borda lateral es querda há um símbolo do estado de São Paulo da República Federativa do Brasil 78 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática A página esquerda é ocupada quase integralmente com a figura de uma adolescente maquiada em exagero usando seu cabelo preso em forma de um coque penteado muito comum em senhoras de um modo geral e não em adolescentes Ela usa óculos grandes de um modelo já ultrapassado ou seja fora de moda Traja uma blusa bem comportada com decote conhe cido popularmente por goladepadre sugerindo recato As bijuterias não são adequadas à sua idade pelo contrário são apropriadas a uma mulher de meiaidade e não a uma adoles cente O sorriso é leve suave Em síntese vemos uma adoles cente disfarçada de senhora Na parte de cima próximo à borda lateral direita ocupan do um espaço significativo com tamanho maior do que o sím bolo do estado de São Paulo talvez assim disposto para legiti mar seu poder mesmo não sendo um poder estatal encontra se um logotipo em forma de círculo dividido por letras grandes e azuis contendo a sigla AMBEV Nas bordas do logotipo podese ler PROGRAMA AMBEV DE CONSUMO RESPONSÁVEL enunciado escri to em azul e com letras pouco menores do que a da sigla AMBEV Na parte de baixo próximo à borda lateral direita notase ainda que de forma não muito nítida um RG em miniatura de uma cidadã interessante o RG mostrar a fotografia de uma mu lher e não de um homem Há junto ao RG um logotipo menor do que o descrito anteriormente disposto sob a forma de cruzamento como se o RG ratificasse a existência do logotipo menor como se um dialogasse com o outro É criativa a brincadeira feita pela agência publicitária em relação a esse logotipo ilustrado em tamanho menor mas nem por isso menos importante mostra o número 18 em posição inclinada o número 8 simboliza dois olhos e o 1 Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 79 igualmente inclinado manifesta um sorriso Os números assim dispostos encontramse dentro de um círculo amarelo submersos em um líquido semelhante à cor de uma cerveja inclusive no tamse algumas pequenas bolhas na tentativa de representar o mais fielmente possível as características dessa bebida O logotipo além de ter como fundo a representação de um líquido que lembra uma cerveja é construído em forma de círculo como descrito e apresenta bordas que acompanham esse desenho cir cular Podese ler nas bordas azuis o enunciado escrito em le tras brancas PEDIMOS RG CERVEJA SÓ PARA MAIOR A página é ocupada no centro com os seguintes enuncia dos e nesta disposição NÃO ADIANTA DISFARÇAR em cor verde CERVEJA SÓ DEPOIS DOS 18 ANOS em cor azul CAMPANHA PEÇA O RG DA AMBEV em cor preta e tonalidade forte AJUDANDO A REDUZIR O CONSUMO ENTRE MENORES DE 18 ANOS Mais de 250 mil bares e restaurantes do Brasil assumiram um compromisso com a AmBev exigir o RG antes de vender cerveja aos jovens Porque mais importante do que vender cerveja é vender cerveja com responsabilidade em cor preta com letras menores e tonalidade mais fraca Este anúncio valese não só da linguagem verbal mas tam bém da nãoverbal Nesse sentido cumpre lembrar que na 80 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática publicidade o apelo a imagens fotos desenhos o próprio design do anúncio etc é recurso freqüente É por isso que muitos publicitários justificam esse largo uso da linguagem nãoverbal servindose da célebre frase Uma imagem vale por mil pala vras mesmo que é claro para comprovar tal afirmação usem palavras Por design gráfico compreendese o projeto gráfico formado por todos os elementos que compõem a página impressa diagramação fotos ilustrações tipografias e efeitos computadorizados combinados e tratados de maneira que fi quem bem distribuídos e tenham sentido Cesar 2000 p 115 Outro recurso comum de que lançam mão muitos publici tários diz respeito às figuras de linguagem mas quando o fazem não limitam seu uso apenas à linguagem verbal Sobre isso Carrascoza 2003 p 149 assim se manifesta As figuras de lin guagem ampliam a expressividade da mensagem E as figu ras de linguagem são exploradas não unicamente na esfera ver bal mas também nos códigos visuais de uma peça publicitária E Simões 1999 reportandose ao diálogo possível para além dos elementos nãoverbais explica a linguagem ver bal e a visual travam diálogos intensos e imemoráveis entre si e provocam outros tantos entre seus autores e leitores Assim não é de se estranhar o diálogo estabelecido no anúncio da AMBEV entre esta empresa e a figura da adolescente disfarçada Abaixo seguem alguns exemplos do uso de figura de lin guagens utilizado na linguagem nãoverbal tão comuns na pu blicidade a Metonímia Tratase da substituição de uma imagem por outra em virtude de haver entre elas algum relacionamento de Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 81 contigüidade por exemplo Esse processo pode ocorrer de vá rias formas No anúncio a seguir extraído de um anúncio das sandálias Havaianas1 tomase a parte pelo todo com o intuito de chamar a atenção em especial para o produto anunciado focandoo de perto No caso o pé representa toda a população brasileira No Mundial este é nosso esquema tático 11 com chuteira na frente e 186 milhões com Havaianas atrás Figura 2 Anúncio das sandálias Havaianas b Metáfora A metáfora é uma figura de linguagem em que por um processo de analogia uma imagem passa a se referir a outro objeto fato fenômeno etc 1 Disponível em httpwwwalmapbbdocombr Acesso em 11 dez 2006 82 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Figura 3 Propaganda produzida para a RBS No anúncio que faz parte do Balanço Social RBS uma em presa considerada socialmente responsável porque números são feitos de pessoas publicado pela Fundação Maurício Sirotzky Sobrinho 2000 p 15 também uma empresa carac terizada como socialmente responsável há uma relação de semelhanças entre esperançagravideznascimento A mulher Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 83 grávida é o processo de esperança uma vontade que nasce cresce e faz você se sentir realizado c Antítese Na antítese ocorre o uso de imagens contrastantes apontando para sentidos opostos Figura 4 Anúncio do sabonete Dove 84 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática No anúncio do sabonete Dove extraído de IstoÉ 1818 de 11082004 ressaltase a qualidade do produto O único com ¼ de creme firmador daí o nome Dove firming Em relação às cores o verde suave do sabonete contrasta com o cinza lembrando o tom chumbo do instrumento da aca demia Quanto ao peso com Dove levantamse apenas 100 gra mas com o instrumento o consumidor tem que levantar mui to peso para manter a pele firme Esquematizandose obtémse Dove x instrumento da academia 100 gramas x muito peso Assim como esses exemplos muitos outros poderiam ser citados a fim de evidenciar a relação entre figuras de linguagem linguagem nãoverbalpublicidade Eles foram selecionados a título de ilustração 2 Sujeitos envolvidos AMBEV empresa anunciante e aliadas a ela poder judi ciário poder executivo públicoalvo agência publicitária ado lescente disfarçada IstoÉ Instituto Ethos entre outros No que diz respeito aos sujeitos envolvidos a fim de me lhor analisarmos o anúncio fazemse necessárias as considera ções abaixo a A AMBEV2 foi criada em 100799 inicialmente com a associação das cervejarias Brahma e Antarctica fusão aprova da em 30032000 pelo Conselho de Defesa Econômica 2 Ver outras informações em wwwambevcombr Acesso em 11 dez 2006 Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 85 Posteriormente passou a incorporar a Skol e Bohemia e em 03032004 a companhia passou a manter operações com paí ses da América do Norte tornandose a Cervejaria das Améri cas A AMBEV é hoje a maior indústria de bens de consumo do Brasil e a maior cervejaria da América Latina b O poder judiciário no anúncio está representado pela presença do RG e do enunciado Secretaria de Segurança Públi ca e o executivo pelo símbolo do estado de São Paulo Repú blica Federativa do Brasil c Quanto ao públicoalvo embora haja adolescentes que leiam a revista IstoÉ o público adulto é mais numeroso e tal vez mais crítico Essa informação sugere que o anúncio é antes de tudo destinado aos pais de adolescentes ou de adultos em geral d A adolescente disfarçada é figura central na peça pu blicitária assim como o logotipo da AMBEV o de tamanho maior ou melhor o que ele neste caso representa no contexto 3 Aspectos temáticos Como temáticas centrais desenvolvidas citamse a venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos a educação pela permissividade X educação pela responsabilidade a importân cia do papel a ser desempenhado pelas empresas socialmente responsáveis a postura politicamente correta etc 4 Interesses em jogo Conforme se pode perceber na leitura do anúncio quem se opõe ao comportamento da adolescente é uma empresa renomada nacional e internacionalmente e entende dos produtos que 86 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática fabrica sobretudo em relação às bebidas alcoólicas rever item 2 sujeitos envolvidos a A AMBEV como empresa socialmente responsável as sumiu um compromisso em parceria com o Instituto Ethos3 de Empresas e Responsabilidade Social um dos mais respeitados institutos dessa natureza no Brasil de se relacionar eticamen te com seus colaboradores fornecedores clientes e comunidade em geral b A empresa no anúncio em questão ao usar como pano de fundo um RG aliase por legitimidade ao poder executivo República Federativa do Brasil e ao judiciário é ilegal se gundo a legislação brasileira vender bebidas alcoólicas a meno res de 18 anos Somese a essas observações um outro aspecto absoluta mente indispensável de se mencionar em relação ao anúncio a AMBEV é o que se convencionou denominar modernamente empresa socialmente responsável Tal como qualquer empresa desse porte e natureza a fim de atingir suas metas gerar lucros e garantir uma imagem de respeitabilidade no mercado deve consolidarse com base no mínimo em quatro objetivos a saber 3 O UniEthos Educação para a Responsabilidade Social e Desenvolvimento Sustentável é uma instituição sem fins lucrativos voltada à pesquisa produção de conhecimento instrumentalização e capacitação para o meio empresarial e acadêmico nos termos de Responsabilidade Social Empresarial SER e Desenvolvimento Sustentável DS Tem como objetivo oferecer soluções educacionais para o meio empresarial nos temas da SER e do DS vinculadas à gestão estratégica e operacional das empresas além de atuar com a comunidade acadêmica que desempenha papel fundamental na capacitação e formação os gestores e futuros gestores de empresas Disponível em httpwwwuniethosorgbr Acesso em 11 fev 2006 Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 87 1 gerar lucros 2 lidar com a competitividade assegurando um alto pa drão e qualidade ao produto e serviços oferecidos ao consumidor agora mais crítico e exigente 3 adotar um modelo de gestão voltado ao novo cenário que se viu emergir já nos anos noventa do século pas sado o de abertura à concorrência nacional e inter nacional em decorrência das privatizações de muitas estatais notadamente em nosso país o fortalecimento de uma imagem de empresa centrada na comunidade com a qual lida 4 cumprir com suas obrigações fiscais e legais Esse cenário é muito bem descrito por Leo Voigt em seu artigo As empresas e a responsabilidade social obrigatoriedade com promisso ou negócio publicado no Diário Popular Pelotas RS em 2 e 3 de novembro de 2003 Assim empresas devem gerar lucro assegurar sua competitividade e perenidade e dar retorno ao investimento dos seus acionistas ou cotistas Se não há lucro não se justifica a empresa Não se tem a fonte geradora da obrigação fiscal nem muito menos se justifica a sua ação social É justamente da busca do lucro e da competitividade respaldados no respeito aos princípios éticos que nasce essa nova mentalidade empresarial e essa nova estratégia de gestão de negócios denominada responsabilidade social empresarial Uma gestão dos negócios socialmente responsável preconiza que não basta promover o crescimento da empresa É preciso que haja respeito ao desenvolvimento dos seres humanos dos cidadãos sejam eles colaboradores diretos como 88 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática os funcionários ou membros da comunidade onde a corporação atua Esse modo de gestão já existia nos anos 80 principalmen te nos EUA mas no Brasil com a criação da Constituição de 1988 de caráter democrático e voltada a princípios como os de estímulo à participação da sociedade civil organizada vêse pro liferar o surgimento de ONGs fundações institutos projetos comunitários empresas como as descritas etc 5 Estrutura a Título No anúncio em questão diante do tamanho e da expressividade da figura da adolescente esta tornase mais im portante do que o título Não adianta disfarçar que neste caso acaba por passar quase despercebido pelo leitor cujo olhar fixase mais intensamente na figura b Corpo do texto A estrutura e o funcionamento do anún cio ancoramse em uma antítese a saber de um lado a adoles cente disfarçada de outro o logotipo e o RG da AMBEV manifestando posicionamentos contrários acerca da venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos Diante de uma figura cuja expressividade é bastante signi ficativa o tamanho que ocupa na página os traços fortes de maquiagem os acessórios os óculos cuja armação é despropor cional ao rosto a vestimenta e marcadamente o fato de não se ver naquele rosto as nuanças de uma adulta não haveria outra hipótese senão a de lançar mão de um discurso autoritário proibitivo assumido pela AMBEV e aliados sobre o termo em aspas considerar os itens 4 e 2 sublinhados e assim desmascarar tal figura Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 89 Talvez em razão desses posicionamentos contrários e do conflito decorrente deles Carrascoza referese à criação de ini migos no âmbito da publicidade quando se quer que essa força persuasiva estabelecida entre os dois pólos seja acirrada ameni zada ou até mesmo suprimida Não há portanto como ignorar que uma das técnicas mais comuns é que haja no discurso um inimigo a quem se quer combater A criação de inimigos é um dos elementos argumentativos mais utilizados pelo discurso religioso e igualmente pela publicidade o que nos mostra mais uma semelhança entre ambos Assim como o Diabo se opõe a Deus há sempre um adversário explícito ou culto que a publicidade deve atacar a sujeira os ácaros a falta de tempo etc Carrascoza 2003 p46 Por um lado mesmo que literalmente a adolescente não fale e o silêncio muito significa defende um discurso ba seado na educação pela permissividade e falta de limite tudo pode ser feito É proibido proibir slogan muito difundido na dé cada de 1960 A tal discurso aliase a idéia de muitos jovens e seus pais segundo quem a onipotência e a negação da realidade são tidas como características próprias da adolescência Eu pos so Eles não sabem de nada Comigo nunca vai acontecer Eu tiro essa de letra etc Na via oposta explicitase um discurso baseado na educa ção com responsabilidade Percebese então a presença de inimi gos a que Carrascoza se reportou a adolescente disfarçada de uma mulher maior de 18 anos X AMBEV armada pronta para combater a inimiga O termo entre aspas marcado fortemente para se reportar à grave infração da adolescente remete a uma outra expressão qual seja o adjetivo polêmico cujo objetivo segundo 90 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Maingueneau deve centrarse na refutação O autor para me lhor ilustrar sua afirmação cita KerbratOrecchioni para quem O discurso polêmico é um discurso desqualificador o que quer dizer que ele ata um alvo e põe a serviço desse objetivo pragmático dominante todo o arsenal de seus procedimentos retóricos e argumentativos KerbratOrecchioni 1980c p13 apud Charaudeau Maingueneau 2004 p380 grifos do autor Nessa polêmica é interessante o deslocamento feito entre duas esferas uma voltada à intimidade a outra ao público Na primeira vista pelo olhar de outros adolescentes ser transgressora é ser heroína pelo olhar da AMBEV unicamente transgressora Essa transgressão na esfera da intimidade por mais que provo que indignação não é tão grave quanto na esfera pública na qual há punições legais referentes ao não cumprimento da legis lação Merecem destaque ainda as formas de manipulação En quanto a adolescente agiu sob provocação a empresa sob inti midação Convém realçar que há uma questão implícita nesses mo vimentos de tensão os quais perpassam todo o anúncio Assim é pertinente indagarse as empresas que fabricam e vendem dro gas lícitas como o caso da AMBEV e das indústrias tabagistas podem ser consideradas apesar da aparente contradição social mente responsáveis e politicamente corretas Antes de respon der a essa pergunta cabe esclarecer o termo politicamente cor reto na PósModernidade Como característica de nosso tempo temos um processo em que o universal o homogêneo o absoluto cedem espaço à fragmentação à heterogeneidade às estruturas de poder Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 91 localizado Por conseqüência surgem estilos de vida convencio nalmente chamados de politicamente corretos Courtine4 ao cri ticar esse estilo de vida explica que o politicamente correto é uma das conseqüências discursivas de uma transformação do modelo de cidadania americano que ocorre sob nossos olhos Courtine 2004 p 26 grifos nossos Na mesma obra salienta que o poder que se exerce entretanto não é de modo algum um poder total mas bem mais um poder local detalhista que regulamenta e é voluntariamente anônimo ibid p 27 grifos nos sos Numa postura com aparência de politicamente correta as empresas Philip Morris e Reynolds foram obrigadas a assumir após uma batalha judicial e por pressão das seguradoras de pla nos privados de saúde processos indenizatórios de vítimas do tabagismo atitude legitimada pelo governo norteamericano que fumar faz mal à saúde A AMBEV como mantém acordos comerciais e portanto políticos com empresas do mercado americano teve de adotar também essa postura Logo tanto as empresas tabagistas quan to a AMBEV direcionaram o seu marketing com a finalidade de os adultos consumirem os seus produtos já que segundo elas são os melhores do mercado mas não as crianças e os adoles centes Abaixo citaremos algumas passagens do site da Philip Morris5 muito semelhantes às do tipo de marketing desenvolvido pela AMBEV Nosso marketing encoraja fumantes adultos a escolher nossas marcas Não buscamos atingir as crianças com 4 Tradução livre 5 Disponível em httpwwwphilipmorrisinternacionalcombr Acesso em 30 jan 2006 92 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática nosso marketing crianças não devem fumar Mas sabemos que algumas crianças fumam e é por isso que apoiamos programas de prevenção do hábito de fumar entre os jovens no mundo todo Mas fazer publicidade de cigarro com responsabilidade tem mais impacto do que a prevenção do consumo de cigarros entre os jovens apesar de essa última ser prioridade Vários países já restringiram o marketing do tabaco Apoiamos inteiramente leis feitas para reduzir a exposição das crianças à propaganda de tabaco mas que nos permitam continuar nos dirigindo a fumantes adultos Reconhecemos que fabricamos e comercializamos um produto que causa dependência e graves doenças e que há uma intensa vigilância do que fazemos e do modo como fazemos Mas isso não significa que não podemos ser bons cidadãos corporativos Na verdade nossa meta é sermos os mais responsáveis cidadãos corporativos c Epílogo O leitor fixado a princípio na figura da adolescente per corre todo o caminho do anúncio e quando chega ao epílogo constrói o entendimento de que há uma neutralização na polê mica a adolescente se disfarça aos olhos da AMBEV para trans gredir Porém há de se ressaltar a frase de efeito Porque mais importante do que vender cerveja é vender cerveja com respon sabilidade pois esta dissimula o seu desejo para também disfarçar e poder continuar vendendo seus produtos e manter a imagem de uma empresa socialmente responsável em conformi dade com os padrões do politicamente correto Nesse sentido Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 93 o olhar da AMBEV que recai sobre a adolescente é de um fazer silenciar É curiosa a relação entre ser e parecer no anúncio A adoles cente parece ser transgressora mas diante das considerações que seguem também a Ambev acaba por privilegiar o parecer e não o ser Aliás a uma empresa tão preocupada em identificar os que parecem ser mas não o são deveria levar em conta a história bastante conhecida que envolveu o imperador César e sua espo sa suspeita de manter relações adulterinas César a repudiou mesmo sem ter conhecimento concreto sobre os fatos para po der acusála durante o processo de interrogatório em que lhe indagaram Por que então a repudiou Porque ela não deveria ser suspeita A mulher de César não pode apenas ser honesta precisa parecer respondeu Essa tensão entre ser e parecer encontrase presente em todo o texto e tentar desfazêla não é nosso objetivo Deseja mos ao contrário fazêla emergir Todo discurso apresenta lacunas falhas que fazem vir à tona justamente o que se quer esconder Provavelmente o que Maingueneau denomina de diálogo de surdos e pode ser me lhor detalhado próprio autor Como um posicionamento não é uma doutrina fechada em si mesma mas um trabalho de reconstrução de sua identidade que passa por colocações em relações com outros posicionamentos a discussão longe de ser a ocasião de acabar com os conflitos é na maior parte dos casos o lugar em que a divergência se reafirma e se fortalece Cada um procura particularmente salvar a sua face Maingueneau Charaudeau 2004 p 319 grifos nossos 94 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Portanto o fazer silenciar presente no olhar da AMBEV apóiase no senso comum no dito resignificado As apa rências não enganam Neste capítulo apresentamos alguns anúncios publicitá rios como exemplos de como esse gênero textual pode ser traba lhado em sala de aula Com base na análise desenvolvida o pro fessor poderá junto com os estudantes construir outros mode los interpretativos buscando a formação de leitores cada vez mais proficientes É relevante acrescentar que dada a natureza do material os sujeitos envolvidos poderão ser atuantes desde a seleção dos textos coautores portanto do que venha a ser pro duzido para a utilização em sala de aula não meramente repro duzindo fórmulas mas interagindo no processo de construção de sentidos Referências BAKHTIN M Marxismo e filosofia da linguagem 6 ed São Paulo Hucitec 1992 Os Gêneros do discurso In Estética da criação verbal 2 ed São Paulo Martins Fontes 1997 p 277358 CARRASCOZA J A Redação publicitária estudos sobre a retórica do consumo São Paulo Futura 2003 CESAR N Direção de arte em propaganda 4 ed São Paulo Futura 2000 CHARAUDEAU P MAINGUENEAU D Dicionário de análise do discurso São Paulo Contexto 2004 COURTINE JJ La prohibition des mots L écriture des manuels scolaires en Amérique du Nord Cahiers de LISSL n 17 p 1932 2004 Uma releitura do politicamente correto no gênero anúncio publicitário 95 DIONÍSIO A P Org Gêneros textuais e ensino Rio de Janeiro Lucerna 2003 DISCINI N A comunicação nos textos São Paulo Contexto 2005 GOMES M C A O texto publicitário em sala de aula In LEFFA J V ERNST A O ensino da produção textual alternativas de renovação Pelotas EDUCAT 1999 KARWOSKI A T GAYDECZA B BRITO K S Gêneros textuais reflexões e ensino Paraná Kaygangue 2005 SIMÕES D Semiótica aplicada à leitura de textos verbais e não verbais In LEFFA V J ERNST A Org O ensino da leitura e produção textual alternativas de renovação Pelotas EDUCAT 1999 UMA PROPOSTA PARA O ENSINO DE LÍNGUAS PRÓXIMAS Cristina Pureza Duarte Boéssio Amparado pela Lei Federal 569271 o ensino de língua estrangeira LE em escolas públicas brasileiras até o final de 1996 era apenas recomendado na grade curricular e privilegia va por influência americana o idioma inglês Com a aprovação da Lei 939496 a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que no artigo 26 parágrafo 5º garante a obrigatoriedade do ensino de pelo menos uma LE a partir da 5ª série do Ensino Fundamental e com o advento do 4 Universidade Federal de Pelotas cristinapdbbolcombr 98 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática MERCOSUL surge o interesse cada vez maior pelo ensino aprendizagem do espanhol Desnecessário dizer que o aprendizado de uma LE possi bilita um melhor nível de conhecimento não só de si mesmo e de sua própria cultura mas também da cultura do outro Aumenta o conhecimento da língua materna por meio de comparações com o idioma estrangeiro além de promover a aceitação das diferenças tanto no modo de expressão como no comportamen to Em busca do melhor método diversas correntes surgiram na tentativa de encontrar um modelo pronto que garantisse o sucesso do ensino de LE Assim foram criados entre outros o método clássico ainda tão presente em salas de aula em que se privilegiava a tradução o audiolingual estímulo resposta reforço o audiovisual estimulando a audição e a visão e a abordagem comunicativa simuladora de situações reais Inde pendente do método constatouse que o mais importante é fa zer com que o aluno aprenda a usar o que aprendeu num pro cesso dinâmico de acordo com a realidade Dependendo dos objetivos que se pretende atingir uma ou outra abordagem pode ser privilegiada ou até mesmo um método eclético em que são aproveitadas diversas metodologias de acordo com as características dos alunos e seu nível de co nhecimento Entendese que num curso de formação de profes sores os futuros mestres devem dominar a LE em que irão tra balhar não só para adquirirem confiança em si mesmos mas e sobretudo para construírem o novo conhecimento com seus alu nos predizendo suas dificuldades e propondo alternativas para sanálas Pela proximidade do espanhol com o português muitas transferências ocorrem de uma língua para outra Ora se uma das metas que se pretende com o ensino de LE é aumentar Uma proposta para o ensino de línguas próximas 99 também o conhecimento de língua materna por meio de compa rações em diversos níveis indispensável se torna o professor de LE dominar profundamente sua própria língua não só para en tender os equívocos cometidos pelos alunos como também para através da reflexão e da consciência dos fatos lingüísticos levá los à verdadeira aprendizagem do fenômeno em questão Ressentemse os Cursos de Letras habilitação em Espa nhol de um estudo aprofundado e sistemático de Língua Portu guesa o que acreditamos seria facilitador ao futuro docente de Língua Espanhola Essa lacuna refletese na problemática cen tral desta investigação a flexão do infinitivo Exclusivo do português o infinitivo flexionado ou pes soal como é denominado por alguns autores é uma das trans ferências realizadas por aprendizes brasileiros de espanhol como LE Em relação às demais línguas neolatinas a língua portugue sa apresenta essa particularidade que para Rui Barbosa apud Almeida 1962 é um maravilhoso lusitanismo um dos privilé gios mais invejáveis do nosso idioma Os outros idiomas não se ressentem de tais formas flexionais encontradas aliás nos mais antigos documentos da literatura lusa Gil Vicente apud Almeida 1962 cometeu o erro de escrever em espanhol Tenéis gran razón de llorardes vuestro mal O que mais surpreende no entanto é que apesar do ínti mo parentesco do português com o castelhano ficasse este des provido do infinitivo pessoal e apesar do contato da nossa lite ratura com o castelhano e mais tarde com o francês e outros idiomas nenhuma língua absolutamente nenhuma influencias se o português no sentido de restringirlhe de algum modo o uso do infinitivo flexionado Pelo contrário esta forma resistiu a to das as influências estranhas desde que apareceu e o seu uso quando muito temse ampliado nos escritores modernos 100 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Fato significativo registrado por Frederico Diez apud Almeida 1962 dá conta de que num determinado tempo em Portugal os poetas escreviam suas obras parte em português e parte em espanhol língua que lhes era bastante familiar Todos eles no entanto excetuando unicamente Camões cometeram o erro de empregar o infinitivo flexionado em espanhol como se também o castelhano conhecesse semelhante forma Apesar de ser um fenômeno lingüístico inexistente no es panhol o infinitivo flexionado mereceu a atenção de alguns gramáticos interessados no ensino de língua espanhola para bra sileiros Milane 2000 p218 sob o título Observação importante alerta O estudante brasileiro deve tomar muito cuidado para não flexionar o infinitivo no Espanhol e não usar o futuro do subjuntivo em subordinadas temporais introduzidas por cuando ou condicionais introduzidas por si como o faz em Português Ainda sobre essa questão Durão 1999 p123124 comenta A diferencia del español el portugués presenta dos formas para el infinitivo una no flexionada y otra flexionada La lengua portuguesa es la única entre las lenguas neolatinas que presenta un infinitivo flexionado aunque hay evidencias de su utilización en textos arcaicos en napolitano Su uso no ha desaparecido pese al contacto que mantuvo a lo largo de su historia con las otras lenguas románicas Los estudiosos no están totalmente de acuerdo sobre su origen por lo que algunos consideran que se derivó del imperfecto de subjuntivo latino y otros creen que su punto de partida fue la utilización del pronombre dialectal mos junto al infinitivo Uma proposta para o ensino de línguas próximas 101 Também observa a alta freqüência em que ocorre esta flexão no português havendo a flexão no morfema de pessoa e núme ro que pode ou não vir precedido de preposição enquanto que no espanhol estas formas aparecem no infinitivo ou se expres sam mediante tempos precedidos por que Alguns exemplos des sa flexão obtidos por meio das observações realizadas em sala de aula os alunos estavam em um mesmo nível intermediário de aprendizado foram entre outros obtenermos no lugar de para que obtengamos irmos no lugar de para ir ou para que vayamos haceren no lugar de para que hicieran podermos no lugar de para poder ou para que pudiéramos hablarmos no lugar de para hablar ou para que habláramos lograrmos no lugar de para lograr ou para que lográramos O professor de espanhol como LE nativo desta mesma língua corrige o erro sem saber o porquê da ocorrência Por sua vez o professor nativo de português comete muitas vezes essa transferência por desconhecimento de sua língua materna con forme se pôde observar em contato com as diferentes situações de aprendizagem Ainda há os que não cometem a flexão na LE mas nem por isso sabem explicar de forma concreta este fato aos alunos O aprendiz que recebe este input negativo do pro fessor certamente cometerá esta transferência para o resto de sua vida Defendese neste caso a importância da consciência lin güística isto é da reflexão sobre as similaridades e as diferenças estruturais entre LM e LE para minimizar tais ocorrências Após trabalhar as diversas habilidades necessárias a uma comunica ção razoável o professor deve por meio de exercícios espe cíficos conduzir o aluno a refletir sobre os fatos lingüísticos 102 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática principalmente em se tratando como já referido de um curso de formação de professores Acreditamos que mais verdadeiro e autêntico será aquele aprendizado construído sobre bases sólidas de conhecimentos préadquiridos isto é a partir da LM pois é nela que o aluno pensa e se estrutura para depois comunicarse em LE Assim sendo concordamos com Vandresen 1988 quando diz que é indiscutível a importância da lingüística contrastiva para o ensi no de línguas estrangeiras Como uma subárea da lingüística ge ral seu interesse está em apontar similaridades e diferenças es truturais entre a língua materna e a língua estrangeira objeto de estudos de um determinado grupo Nessa perspectiva a corre ção de erros é um assunto muito controvertido no ensino de línguas Apesar de se mostrar cético a respeito de sua eficácia Krashen apud Bohn Vandresen 1988 indica quatro princípios pelos quais deve nortearse essa prática a correção é válida quando o foco da aprendizagem está na conscientização da forma e não quando a aquisição é a meta A aquisição processase só quando os alunos recebem suficiente input compreensível e procuram entendêlo visando à mensagem à comunicação o momento oportuno da correção não deve ser a sala de aula durante um exercício comunicativo ou uma con versação A correção deve ser realizada em condições que permitam ao aluno tempo suficiente para corrigir se através de exercícios gramaticais ou mesmo compo sições os erros a serem corrigidos devem ser aqueles formais já ensinados mas não aprendidos erros que interferem na comunicação impedindo que ela se efetue mas não de modo a cortar o fluxo comunicativo Uma proposta para o ensino de línguas próximas 103 os dois métodos mais empregados para a correção de erros são dar a forma correta e o método indutivo da descoberta não há comprovações da superioridade de um método sobre o outro Ainda sobre a questão do erro Durão 1999 apresenta uma nova perspectiva para seu tratamento no contexto da sala de aula Segundo a lingüista o erro deixou de ser um mal a ser evi tado para revestirse de características positivas Por meio dele é possível fazer a análise da competência transitória dos sujeitos em estudo proporcionar ao investigador evidências das estraté gias que os alunos estão utilizando para aprender a LE e alertar os estudantes para que tenham consciência de que cometer er ros é um mecanismo que todos utilizam para aprender e é um modo de que dispõem para testar diferentes hipóteses acerca da natureza da língua que estão aprendendo Diante dessas constatações enfatizase a necessidade de material didático ade quado à realidade do aluno brasileiro estudante de espanhol como LE Nossa proposta é dar continuidade a essas investigações no sentido de apresentar alternativas facilitadoras ao processo de ensinoaprendizagem da língua espanhola Tendose em vista as armadilhas que são comuns ao aluno brasileiro devido à pro ximidade das duas línguas principalmente no que diz respeito ao emprego do infinitivo flexionado e à sua correção acreditase na importância de trabalhar esse tópico gramatical de maneira a evitar problemas de fossilização e até mesmo de discriminação por parte de um falante nativo de espanhol Para isso no caso de os alunos já estarem em um nível avançado de conhecimento a abordagem da gramática e da tradução AGT apesar das críti cas que tem recebido ao longo do tempo é digna de crédito uma vez que consiste no ensino da segunda língua pela primeira 104 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática metodologia que se entende positiva em se tratando de línguas próximas Entre os passos essenciais para a aprendizagem da língua propostos por essa abordagem aquele que nos parece mais eficaz diz respeito a exercícios de tradução e versão os quais dando ênfase à forma escrita da língua permite uma maior conscientização do tópico gramatical em estudo através de re flexão e comparação das duas línguas As sugestões de exercícios aqui desenvolvidos são bastan te estruturais devido à necessidade de um enfrentamento mais efetivo dessa questão A partir da ênfase dada a este aspecto acreditase no despertar de uma nova visão isto é de uma nova consciência na qual o aprendiz mesmo que continue flexionando o infinitivo perceberá que algo não está correto tendo então que refletir e buscar solução reformulando assim o enunciado Apresentamos a seguir alguns exemplos de exercícios den tro dessa linha de argumentação O primeiro tem como objetivo proporcionar a produção escrita espontânea do aprendiz verifi cando se há ou não a ocorrência da flexão do infinitivo ou mes mo do futuro do subjuntivo dado que essas formas coincidem pelo menos com os verbos regulares Já o segundo apresenta como opção de preenchimento das lacunas duas formas a correta e a transferência comum realiza da por aprendizes brasileiros O objetivo é no momento da cor reção conjunta verificar se o aluno consciente ou in consciente utilizou a forma e se a utilizou investigar se foi por real conhecimento do aspecto gramatical ou somente por intuição partindo daí para explicações mais estruturalistas e reflexivas sobre a estrutura da língua O último exercício de cunho bastante estruturalista como o anterior busca reforçar o conhecimento em nível de consciên cia isto é por meio da tradução aproveitando os aspectos Uma proposta para o ensino de línguas próximas 105 positivos que possui o método da AGT já que se acredita na Análise Contrastiva no ensino de línguas próximas Actividad 1 Actividad 1 Actividad 1 Actividad 1 Actividad 1 Su grupo va a hacer un viaje y está invitando al otro grupo Haz la invitación rellenando el recuadro INVITACIÓN Mensaje Nosotros Dirección Fecha Hora Retorno Deben aparecer los siguientes datos en el mensaje Cuál es la propuesta Por qué les gustaría invitarles La importancia del sentido de equipo Esta invitación será cambiada con la del otro grupo a partir de ahí deberán apuntar todos los verbos que aparecen decir el tiempo y modo bien como si están bien empleados Apareciendo la flexión del infinitivo las reflexiones serán trabajadas en equipo los alumnos buscarán las soluciones 106 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Actividad 2 Actividad 2 Actividad 2 Actividad 2 Actividad 2 Completa el texto con las alternativas que te parezcan más adecuadas Necesidades de alumnos Queríamos que fueras nuestra profesora muy atenciosa y siempre lista a ayudarnos esta asignatura tan difícil es necesário mucha atención y mucha dedicación por parte del alumno y del profesor bien como hay la necesidad siempre dispuestos a aprender Además de esto a nuestros colegas debemos trabajar en equipo juntos hasta el final del curso porque eres para irmos para que sepamos para acompanharmos porque estás de estarmos por seres para que vayamos para sabermos para que acompañemos por estares de que estemos Uma proposta para o ensino de línguas próximas 107 Actividad 3 Actividad 3 Actividad 3 Actividad 3 Actividad 3 Completa el recuadro VERBO COMER JUGAR COMPRAR PODER SER HACER TENER ESPAÑOL Yo veo a mis hijos jugar al fútbol Para que podamos trabajar juntos debemos aceptar nuestras diferencias Para que hicieran bien el trabajo estudiaron muchas horas PORTUGUÊS Por comeres bem estás forte Comprei este microfone para cantarmos As vantagens de sermos alunos deste curso são muitas Não os culpo por não terem vontade de estudar 108 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Referências DURÃO A B de A B Análisis de errores de interlengua de brasileños aprendices de español y de españoles aprendices de portugués Londrina UEL 1999 FERNÁNDEZ S Interlengua y análisis de errores en el aprendizage el español como lengua extranjera España Edelsa Grupo Didascalia 1997 LEFFA V J O ensino de línguas estrangeiras no contexto nacional Contexturas São Paulo v4 n4 p1324 1999 MILANI E M Gramática del español para brasileiros 2 ed São Paulo Saraiva 2000 VANDRESEN P Lingüística contrastiva e ensino de línguas estrangeiras In BOHN H VANDRESEN P Org Tópicos de lingüística aplicada o ensino de línguas estrangeiras Florianópolis Ed da UFSC 1998 p7594 5 PRODUÇÃO DE MATERIAIS PARA O ENSINO DE PRONÚNCIA POR MEIO DE MÚSICAS Denize NobreOliveira Introdução Após alguns anos trabalhando como professora de Inglês como Língua Estrangeira EFL tenho observado que a pro núncia é um aspecto freqüentemente negligenciado pelos profissionais da área Esse fato é um tanto preocupante uma vez que uma produção oral inadequada pode potencialmente Universidade Federal de Santa Catarina denizenobreyahoocombr 110 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática comprometer a inteligibilidade no processo comunicativo po dendo até gerar malentendidos no discurso das partes envolvi das O aluno brasileiro ao estudar o inglês como língua estran geira LE apresenta certa dificuldade para adquirir os sons que não fazem parte do inventário fonético de sua língua materna LM Como posto anteriormente a nãoaquisição ou a difi culdade de aquisição desses sons podese dever a uma produ ção ineficiente por parte dos próprios professores que às vezes nem chamam a atenção dos aprendizes para tal aspecto lingüístico Ora se os alunos não percebem a diferença entre sons da LM e sons da LE eles muito provavelmente não fazem essa distinção no momento da produção oral Esse assunto referente às diferenças paramétricas entre línguas tem sido extensivamente abordado até os dias de hoje mas aparente mente tal literatura não tem sido aplicada à sala de aula ou porque os próprios professores não lêem sobre o assunto ou porque não dão o devido valor a ele ou ainda por não saberem como tratar o problema na sala de aula Neste capítulo escrevo sobre a importância da consciên cia fonética e do treinamento da produção apropriada dos sons da língua inglesa por parte dos professores e as conseqüências advindas das trocas fonéticas Em seguida aponto alguns as pectos que devem ser considerados durante a produção dos materiais para o ensino da pronúncia de inglês como LE Final mente sugiro algumas atividades que podem ser desenvolvidas e utilizadas para o ensino desse aspecto lingüístico por meio de músicas Produção de materiais para o ensino de pronúncia por meio de músicas 111 51 O ensino de pronúncia na sala de aula de EFL A consciência fonética ou seja o conhecimento da maneira como o aparelho fonador deve ser articulado para a produção adequada dos sons das línguas em conjunto com a atenção seleti va isto é a focalização em determinados aspectos que muitas vezes passam despercebidos pelo ouvinte são dois fatores cruciais para se realizar um processo de ensinoaprendizagem de pronúncia eficiente na sala de aula de LE em termos de pro dução e de percepção dos sons Pisoni et al 1994 Além de funcionar como estratégia catalisadora para a percepção dos sons da línguaalvo que não existem na língua materna dos aprendi zes a consciência fonética e a atenção seletiva tornam este pro cesso perceptivo e produtivo mais eficaz Argumentos con trários postulam que a consciência fonética não seria necessá ria uma vez que o aprendiz de sua língua materna LM não recorre a tal expediente Contudo há que se considerar que se trata de momentos distintos de aprendizagem ocupando inclu sive áreas cerebrais diferentes Além disso mesmo o aprendiza do de LM envolve certa consciência fonética a exemplo do que apontam estudos sobre processamento fonológico e aquisição de LM como os de Stampe 1973 e Yavas Hernandorena Lamprecht 1991 É fato que crianças mesmo nas fases iniciais de aquisição têm consciência dos segmentos integrantes das palavras e apesar de elas não conseguirem produzilos elas os têm em sua subjacência Um outro argumento contrário à prática da pronúncia em sala de aula é a questão da fossilização lingüística Alguns pes quisadores acreditam que a capacidade produtiva e perceptual dos aprendizes de uma LE é comprometida após a puberdade devido à perda da plasticidade cerebral e muitos professores utilizamse desse argumento para não dar a devida atenção ao 112 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática ensino de pronúncia Porém diversos estudos já comprovaram que o treinamento juntamente com a atenção seletiva é um meio eficaz para a superação das limitações cognitivas póspu berdade Afinal foi comprovado que a plasticidade cerebral é limitada com o passar dos anos porém não é totalmente inibida e um esforço extra tanto de alunos quanto de professores aliado a um programa de treinamento fonético bem planejado e desen volvido pode levar à superação dessa limitação Pisoni Lively Logan 1994 Hawkins 1998 De fato em termos de pronúncia dificilmente um falante nãonativo de uma LE conseguirá adquirir uma pronúncia idên tica à de falantes nativos mas essa não é a questão O que pro fessores e alunos devem buscar é a inteligibilidade na comunica ção e não a eliminação total de sotaque Afinal uma pronúncia com um pouco de sotaque pode ser até charmosa É preciso ter em mente que se o aluno não perceber de terminado fonema provavelmente ele não o produzirá O input lingüístico fornecido pelo professor também é portanto um ponto bastante relevante já que é um dos modelos disponíveis para os alunos caso o professor possua limitações quanto à pronúncia adequada dos sonsalvo é preciso que outros modelos sejam providenciados como gravações feitas por falantes nativos por exemplo É notável como aprendizes de EFL foneticamente conscientes adquirem o sistema de sons da línguaalvo de modo mais rápido Vários pesquisadores Dickerson 1977 Pisoni et al 1994 AkahaneYamada et al 1999 Callan et al 2003 en tre outros já atestaram tal fato Um outro fator bastante importante é conhecer as diferen ças paramétricas que se verificam entre línguas assim o que é menos marcado isto é de mais simples produçãopercepção na língua portuguesa pode ser mais marcado ou seja de mais difícil produçãopercepção na línguaalvo e viceversa Dessa forma Produção de materiais para o ensino de pronúncia por meio de músicas 113 fonemas consonantais como T e D da língua inglesa são mais marcados para aprendizes brasileiros de EFL sendo por tanto sob os aspectos acústico e articulatório mais problemáti cos de ser adquiridos e a estratégia utilizada por aprendizes bra sileiros é a substituição do que é mais difícil por algo de mais fácil em termos de produção Isso significa por exemplo que os alunos tenderão a produzir three como tree ou free já que t e f são fonemas menos marcados do que T ou seja são mais simples de serem produzidos por falantes nativos de língua por tuguesa Esse aspecto canônico é bastante relevante pois co nhecendose a língua materna do aprendiz é possível preverem se as dificuldades potenciais que ele poderá apresentar durante o processo de aquisição de uma língua estrangeira 52 Seleção do material O uso de músicas como fontes de input autêntico compõe um recurso bastante atraente para professores e aprendizes de línguas estrangeiras especialmente de EFL Os alunos só têm acesso ao input do professor durante as poucas horas em que estão em sala de aula entretanto esses mesmos alunos estão constantemente ouvindo músicas em casa no carro na acade mia de ginástica nas ruas em seus momentos de lazer Além disso muitos alunos especialmente os adolescentes atribuem à música a motivação por estarem aprendendo uma língua estran geira Além de praticar aspectos perceptuais por meio de ativi dades de listening e produtivos ao cantar as músicas fica a critério do professor a prática de atividades de transcrição foné tica Também fica a critério do professor desenvolver ativida des de identificação e de discriminação fonética seja no nível segmental ou suprasegmental Neste capítulo proponho 114 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática atividades abrangendo apenas segmentos mas que podem facil mente ser adaptadas para a prática de aspectos prosódicos da língua É importante enfatizar que o uso de músicas para a elabo ração de materiais para o ensino de pronúncia só será eficiente se algumas variáveis extralingüísticas apresentadas a seguir forem controladas uma vez que elas podem afetar negativamente o bom funcionamento das atividades que serão desenvolvidas Primeiramente é necessário considerarse a clareza do input ao qual o aprendiz será exposto Ruídos de fundo como o som dos instrumentos musicais muito alto ou a voz muito baixa ou muito rouca do intérprete da canção como é o caso de algumas can ções de Eric Clapton são fatores que podem comprometer o processo de percepção dos alunos Dependendo do objetivo da aula é preciso descartar ma teriais que apesar de estarem na moda são problemáticos Numa aula sobre tonicidade de palavras word stress da língua inglesa por exemplo recomendo evitar a música Youre beautiful de James Blunt já que o intérprete insiste em acentuar a sílaba incorreta da palavra beautiful A velocidade de produção também deve ser observada Há artistas como Alanis Morrisette em seu álbum Jagged little pill que cantam de forma atropelada numa velocidade tão rápida que faz com que a canção tornese quase incompreensí vel e frustante para os alunos que não conseguem acompanhá la Por fim é necessário observarse se o intérprete possui um sotaque muito forte Atualmente está muito em voga a idéia de que se deve falar um inglês mais neutro sem fortes influências de dialetos específicos a fim de poder compreender e ser com preendido por um maior número de falantes independentemen te de seu dialeto ou idioma original Produção de materiais para o ensino de pronúncia por meio de músicas 115 53 Proposta de atividades Vamos supor que o assunto da aula sejam as vogais fron tais do inglês Como atividade introdutória ao tópico da aula o professor pode selecionar palavras da canção que contenham as vogaisalvo ou seja i I eI E e Q É nesse momen to que se deve chamar a atenção do aluno à diferença entre es ses fonemas explicando de que forma eles devem ser produzi dos Na atividade seguinte o professor distribuirá a letra da música com as palavras que apresentam os fonemas em questão destacadas das demais em negrito ou sublinhadas como em 1 1 Losing my religion REM Life is bigger Its bigger than you And you are not me The lengths that I will go to The distance in your eyes Oh no Ive said too much I set it up Thats me in the corner Thats me in the spotlight Losing my religion Trying to keep up with you And I dont know if I can do it Oh no Ive said too much 116 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática I havent said enough I thought that I heard you laughing I thought that I heard you sing I think I thought I saw you try Every whisper of every waking hour Im choosing my confessions Trying to keep an eye on you Like a hurt lost and blinded fool Oh no Ive said too much I set it up Consider this The hint of the century Consider this the slip That brought me to my knees failed What if all these fantasies Come flailing around Now Ive said too much I thought that I heard you laughing I thought that I heard you sing I think I thought I saw you try But that was just a dream That was just a dream Os alunos deverão ao ouvir a música distribuir essas pa lavras nas colunas adequadas como em 2 Produção de materiais para o ensino de pronúncia por meio de músicas 117 2 i I eI E me is waking said knees bigger dream it Em seguida os alunos repetirão uma palavra de cada colu na após o professor conferindo a distribuição das palavras ao mesmo tempo em que praticam os sons da LE Esta atividade pode ser adaptada para diversos níveis de proficiência O exercício a seguir é uma variação dessa primeira atividade Para que os alunos possam praticálo de forma efi ciente é necessário que eles já conheçam o alfabeto fonético internacional IPA Após selecionar uma música o professor deve transcrever apenas as palavras que contenham o segmen toalvo como em 3 3 Losing my religion REM Life IzbIgr ItsbIgr than you And you are not mi The leNTs that I wIl go to The dIstns in your eyes Oh no Ive sEd too much I sEt It up 118 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Será pedido aos alunos que escrevam as palavras ou fra ses transcritas foneticamente como em 4 4 Losing my religion REM Life IzbIgr is bigger ItsbIgr than you its bigger And you are not mi me The leNTs that I wIl go to lengths will The dIstns in your eyes distance Oh no Ive sEd too much said I sEt It up set it Com esse exercício de transcrição os alunos poderão visualizar não só as diferenças acústicas e articulatórias mas também as diferenças gráficas entre fonemas O grau de dificul dade das atividades é estabelecido pelo professor que pode de talhar em maior ou em menor grau a transcrição fornecida aos alunos fica a seu critério trabalhar apenas contrastes fonêmicos atividade mais simples ou incluir diacríticos em sua transcri ção a fim de sinalizar detalhes de pronúncia como a aspiração e a velarização de determinadas consoantes atividade mais com plexa Uma atividade de grau intermediário pode incluir a trans crição de uma música completa mas sem sinais diacríticos exceto representações da tonicidade de palavras polissílabas como está representado em 5 Produção de materiais para o ensino de pronúncia por meio de músicas 119 5 Love Generation Bob Sinclar 1 wAI mst AUr tSIldrn pleI In D strits 1 2 broUkn hArts End feIdId drims 2 3 pis End lv t EvrIwn DQt ju mit 3 4 doUnt ju wrI It kUd bi soU swit 4 5 dZst lUk t D reInboU ju wIl si 5 6 sn wIl SAIn tIl ItnIti 6 7 AIv gAt soU mtS lv In mI hArt 7 8 noU wn kQn tE It pArt 8 Yeah 9 fil D lv dZEnreISn 9 Yeah yeah yeah yeah 10 fil D lv dZEnreISn 10 Cmon cmon cmon cmon Dont worry about a thing Its gonna be alright 120 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Uma atividade que pode ser praticada pelos alunos ao final da aula como uma atividade follow up é a proposta em 6 O professor distribui uma tabela constituída por categorias lexicais na primeira coluna e os sons da LE que estão sendo trabalhados A tarefa dos alunos é preencher os campos da tabela com o vo cábulo correspondente ao som designado Assim os aprendizes têm a possibilidade de literalmente visualizar que as diferenças de pronúncia podem acarretar diferenças lexicais 6 i I eI E Name Geena Bill Kate Meg Country Sweden Chile Maine Mexico Verb seen been Bake Bet Noun pin sin Cake Laughter Com essa atividade além de praticarem a pronúncia os alunos também têm a oportunidade de exercitar seu vocabulário e ortografia Uma variação para esta atividade seria colocarem se na primeira coluna os vocábulos grifados na música traba lhada Os alunos teriam então que marcar a coluna que conti vesse o som correspondente ao das palavras em cada linha como em 7 Tratase de uma atividade semelhante àquela ilustrada em 2 Produção de materiais para o ensino de pronúncia por meio de músicas 121 7 i I eI E It Laughing Dream Said Waking Bigger Essas são sugestões de atividades que podem servir de modelo para o desenvolvimento de tantas outras 54 Conclusão Neste capítulo apontei alguns aspectos importantes para a produção de materiais para o ensino de pronúncia e sugeri ativi dades que podem ser desenvolvidas para esse fim Não quero com isso fornecer receitas para serem copiadas meu objetivo é que os professores façam um plágio das minhas idéias e não das atividades baseandose nas sugestões para produzirem seus pró prios materiais de acordo com as necessidades de seus alunos As músicas são ótimos instrumentos de trabalho e há inú meras atividades que podem ser desenvolvidas tomandoas como base Os graus de atratividade e de eficiência da atividade de penderão da criatividade do professor 122 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Referências AKAHANEYAMADA R TOHKURA Y BRADLOW A PISONI D Does training in speech perception modify speech production Proceedings of the International Congress of Phonetic Sciences San Francisco 17 August 1999 p117120 1999 CALLAN D TAJIMA K CALLAN A KUBO R MASAKI S AKAHANEYAMADA R Learninginduced neural plasticity associated with improved identification performance after training of a difficult secondlanguage phonetic contrast NeuroImage n 19 p113124 2003 DICKERSON W Explicit rules and the developing interlanguage phonology In JAMES A LEATHER J Sound patterns in second language acquisition Dordrecht Foris 1986 HAWKINS S Auditory capacities and phonological development animal baby and foreign listeners In PICKETT J M The acoustics of speech communication fundamentals speech perception theory and technology Needham Heights MA Allyn Bacon 1999 p183197 MORISSETTE A Jagged little pill USA Maverick Recording Company 1995 1 CD PISONI D B LIVELY S E LOGAN J S Perceptual learning of nonnative speech contrasts implications for theories of speech perception In GOODMAN J C NUSBAUM H C Ed The transition from speech sounds to spoken words Cambridge MA MIT Press 1994 p 121166 REM Losing my religion In Out of time USA Athens 1991 1 CD SINCLAR B Love generation In Love generation England Tommy Boy 2005 Single CD Produção de materiais para o ensino de pronúncia por meio de músicas 123 STAMPE D A dissertation on natural phonology 1973 Tese Doutorado Universidade de Chicago Chicago 1973 YAVAS M HERNANDORENA C L M LAMPRECHT R R Avaliação fonológica da criança Porto Alegre Artes Médicas 1991 REGRAS PRÁTICAS PARA A CRIAÇÃO DE TRANSPARÊNCIAS COM MÍDIAS ELETRÔNICAS Adriano Nobre Oliveira 61 Introdução A decisão de se utilizarem transparências ou algum tipo de mídia eletrônica como suportes a uma apresentação pode aumentar substancialmente a qualidade do trabalho fazendo cres cer o interesse do público e o nível de retenção do assunto dis cutido O simples emprego de uma mídia de suporte porém 6 O autor agradece a colaboração de Denize NobreOliveira e Nara Widholzer Universidade Federal do Ceará nobreadrianoyahooca 126 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática não é garantia de sucesso para uma apresentação uma vez que a má utilização de material de apoio pode arruinar a exposição até mesmo de um excelente apresentador provocando desconcentração e desinteresse na platéia Nesse sentido du rante minha vivência tanto no Brasil quanto no exterior pude assistir a inúmeras apresentações e palestras e se por um lado constatei o poder das exposições que exibiram materiais de su porte bem planejados e equilibrados por outro observei em diversos casos outras que poderiam ter obtido um grande su cesso mas que foram malsucedidas devido ao emprego de ma terial de suporte inadequado A necessidade de se obedecer a certas regras básicas na construção de transparências e apresen tações eletrônicas fazse dessa forma evidente Nas próximas páginas você encontrará uma compilação de orientações práti cas e uma metodologia de construção de apresentações que o guiarão na criação de materiais de suporte eficientes 62 Importância de uma mídia de suporte visual Uma análise do modo como o ser humano assimila infor mações deixa clara a importância de um material de suporte bem elaborado considerandose que as pessoas retêm 10 das palavras que ouvem 40 da forma como as palavras são ditas 50 daquilo que vêem Dessa forma podese perceber que para o aprendizado do público a maneira da qual uma apresentação é feita pode ser até mais importante que o próprio conteúdo exposto ao contrário do que muitos poderiam pensar A esse respeito é interessante Regras práticas para a criação de transparências com mídias eletrônicas 127 referir o que escreve Widholzer nesta mesma obra a respeito do discurso gráfico Somado a isso no caso de exposições orais são determinantes a capacidade de o apresentador exprimirse bem por meio de gestos de impor um tom de voz adequado ou mesmo de exibir um olhar firme e confiante ao público Uma mídia de suporte pode logo aumentar enormemente a retenção do assunto pela audiência atuando como um elemento de con centração para o público e reforço do conteúdo e de melhora da performance da pessoa que realiza a apresentação 63 Aspectos gerais da apresentação 631 Definição das características do público Antes de se começar o processo de criação de uma apre sentação é essencial que se conheça bem o público Informa ções sobre seu perfil e seu nível de domínio do assunto a ser exposto devem ser previamente anotadas e ficarem acessíveis durante todas as fases de planejamento da apresentação Algumas perguntas devem ser respondidas antes de se pros seguir a criação da exposição a saber Quem é minha platéia idade sexo profissão nível cul tural hábitos etc Qual o nível de entendimento dessas pessoas sobre o assunto da apresentação O que elas pensam e qual sua opinião a respeito do assunto O que a platéia espera obter da apresentação Existem barreiras ou preconceitos sobre o assunto ex posto entre essas pessoas Quais são 128 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática O grupo tem um perfil homogêneo Se a resposta a essa pergunta for negativa devese fazer um levanta mento dos pontos que essas pessoas tenham em co mum os quais devem ser explorados e dos pontos di vergentes que devem ser evitados sempre que possível 632 Objetivo da apresentação Uma vez que o seu público e suas principais características já sejam conhecidos chega o momento de se estabelecerem os objetivos da apresentação O que você pretende conseguir edu car motivar informar O que as pessoas da platéia deverão sentir saber ou fazer de modo diferente após a apresentação Você quer que a platéia lembrese de detalhes específicos ou a idéia geral é realmente o mais importante na sua exposição Por exem plo na preparação de uma apresentação de um estudo científico sobre uma nova teoria de ensino é mais importante que o espec tador lembrese dos detalhes de realização da pesquisa e dos resultados estatísticos ou você quer transmitir uma visão geral da aplicação dessa teoria em sala de aula Novamente as res postas a essas perguntas dependerão de quem for a platéia Caso ela seja formada por um grupo de professores do ensino médio você não estaria prestandolhes nenhum serviço centrando sua apresentação em detalhes como os passos da metodologia cien tífica utilizada seria melhor focalizar por exemplo que a nova teoria aumenta a interação em sala de aula ou que contribui para a construção de sentido por parte dos alunos durante o proces so de leitura de determinado gênero textual1 1 Exemplo baseado em Solé 1998 Regras práticas para a criação de transparências com mídias eletrônicas 129 Assim como o perfil da platéia o objetivo da apresentação deve estar sempre presente guiandoa durante todo o processo de construção da exposição 64 Conhecendo os aspectos gerais do formato de uma apresentação Agora que você já estabeleceu A QUEM você falar e O QUE você quer comunicar é necessário conhecer alguns aspec tos práticos da criação de slides e apresentações para decidir como você vai realizar a comunicação Dessa forma as próxi mas seções trazem orientações básicas sobre os vários elemen tos de um material de suporte visual as quais se aplicam tanto a apresentações que utilizam recursos de informática quanto àque las que se valem de transparências 641 Objetivo uma idéia geral ou detalhes pontuais Em função dos objetivos estabelecidos há duas maneiras de se elaborar uma apresentação Se você definiu que o objetivo principal da sua apresentação é deixar o espectador com um con ceito um sentimento ou uma idéia use fotografias e no caso de apresentações eletrônicas produza vídeos animados reduza a quantidade de texto na tela ou transparência mostre pessoas aplicando a idéia ou usando o produto mostre pessoas que pareçam satisfeitas enfatize o que está sendo feito mais do que como está sendo feito 130 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Se seu objetivo for o de comunicar detalhes factuais empregue texto e quadros não use mais do que seis linhas por slide declare e reforce as idéias usando métodos e termos diferentes simplifique as telas ou transparências utilize fotografias ou arte para ajudar o espectador a ligar os dados brutos ao mundo real 642 Recomendações gerais para confecção de slides ou telas Independente do tipo de apresentação que você estiver construindo as seguintes orientações são sempre válidas cada tela ou slide deve abordar um único conceito ou idéia as transparências devem seguir uma progressão lógica cada uma complementando a outra em geral o melhor é um projeto simples o espectador deve ser capaz de processar cada tela de maneira rápida e fácil no caso de telas de texto o ideal é empregarse um máximo de seis linhas na maior parte do texto usamse letras maiúsculas e minúsculas e nunca TODAS MAIÚSCULAS os títu los e os cabeçalhos podem ser definidos em maiúscu las a cor deve se harmonizar com o tema da exposição devese evitar o uso de muitas cores é recomendado um máximo de quatro por tela Regras práticas para a criação de transparências com mídias eletrônicas 131 o contraste entre as cores utilizadas de fundo e texto por exemplo deve permitir uma leitura fácil essa ve rificação deve ser realizada na mídia que será utilizada durante a apresentação quando possível devem ser empregadas ilustrações é necessário muito cuidado com os efeitos especiais em apresentações eletrônicas animações ruídos etc Eles devem ser utilizados com parcimônia e somente se contribuírem de fato para o objetivo da apresenta ção 643 Varredura da tela pelo olho humano Além dos aspectos citados anteriormente é importante ter se consciência do modo como a maioria das pessoas vê uma página tela ou fotografia A varredura de uma superfície pelo olho humano segue aproximadamente a forma de Z entrada e saída da página tela ou slide Ela começa no canto superior esquerdo entrada vai para o meio na direção do lado direito dá um salto para a esquerda até cerca de três quartos para baixo e sai pelo canto direito inferior Dessa forma os itens que você deseja enfatizar devem ser colocados ao longo do padrão de var redura do Z como ilustrado na Figura 1 Outros recursos e técnicas podem ser utilizados para se chamar a atenção do espectador para um ponto determinado da tela mesmo que ele não esteja sob o Z Animações curtas por exemplo fazem com que o olho se mova para uma direção específica da tela Essa animação não tem que ser necessaria mente feita a partir de desenhos podendo ser empregado qual quer tipo de elemento dinâmico Mesmo cores que pisquem ou caracteres que se modifiquem farão o espectador olhar para cer ta área 132 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Figura 1 Varredura da tela pelo olho 644 Perfeita combinação entre a narração e o visual O equilíbrio entre o que se vê e o que se ouve é essencial para uma boa assimilação do assunto pela platéia Às vezes a exibição de muito material para se ler ao mesmo tempo em que alguém esteja falando pode ser dispersiva ou até irritante Ou as pessoas sintonizamse nas palavras ou se concentram no visual ou então examinam superficialmente ou ignoram o visual a fim de ouvir o que está sendo dito Quando acompanha a narração ou o material falado o material visual deve ser particularmente breve Ele deve ser exi bido primeiro seguido da fala do palestrante ou deve ser exibi do após a exposição oral 645 Utilização de listas e marcadores Visando manter o máximo de simplicidade nos textos de uma transparência você pode ignorar certas regras gramaticais básicas na construção de frases Uma lista com marcadores por exemplo nem sempre exige um sujeito e um verbo Assim em vez de escrever A computação exige habilidades em matemática e lógica a computação exige uma boa capacidade de abstração você pode escrever A computação requer matemática lógica capacidade de abstração Dessa forma as palavraschave da transparência ficam evidenciadas ajudando a platéia a focalizar o ponto principal da exposição e facilitando a lembrança da mensagem Em marcadores convém usaremse símbolos que atraiam a atenção do público e que tornem a apresentação mais visual 646 Utilização de fontes Nas apresentações o formato escolhido para as fontes constitui um detalhe essencial pois elas devem assegurar a legibilidade do texto considerandose ainda que elas desempenham um relevante papel na forma pela qual a mensagem será percebida Os caracteres podem ser classificados de acordo com os seguintes atributos 133 134 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática sombreado estilo e peso do tipo negrito itálico sublinhado sombreado itálico negrito etc fonte Times New Roman Helvetica Bookman Old Style Arial etc serifas tipo com serifas que inclui traços no final dos traços principais e tipo sem serifas Times New Roman é um tipo com serifa Helvetica é um tipo sem serifa tamanho do ponto ou corpo do tipo o tamanho do tipo é medido em pontos Um ponto é igual a 172 de uma polegada de modo que 72 pontos têm cerca de uma polegada Na maior parte dos casos um corpo do texto com tamanho entre 18 e 28 pontos é legível numa transparência ou tela Para títulos e cabeçalhos con vém utilizarse um tamanho entre 24 e 40 pontos Em cada apresentação você deve procurar utilizar no máximo três tipos de fonte diferentes Além disso os títulos os textos principais e outros objetos devem obedecer sempre à mesma disposição e padrão em todas as transparências Por exem plo se você tiver uma série de slides que inclua um título ou uma linha título em cada um em todos esses slides deverá ser utiliza da a mesma fonte e em geral o mesmo tamanho de fonte além de esses elementos estarem situados na mesma região de tela Como regra geral para apresentações são recomendadas as fon tes sem serifa pois elas proporcionam um visual mais contem porâneo e limpo ao passo que as serifas tendem a desaparecer ou borrar sobretudo se você estiver projetando imagens Regras práticas para a criação de transparências com mídias eletrônicas 135 Em relação ao tamanho a regra de ouro neste caso é que os textos sejam facilmente legíveis Assim sendo se você não tiver certeza sobre a aparência de determinado tamanho de fon te convém testar a apresentação com um grupo de amigos ou colegas num ambiente semelhante ou idêntico àquele que será utilizado para a apresentação Finalmente devese limitar o uso de fontes em itálico usan doas somente para citação de termos ou palavras estrangeiras 647 Utilização de fotografias e de imagens gráficas Conforme referido anteriormente o uso de fotografias deve ser feito sempre que possível para ajudar os espectadores a asso ciar ao mundo real as informações que estejam sendo apresenta das Quando expomos uma lista com um fundo fotográfico mesmo que este faça referência a um só item da lista ajuda mos a tornar o texto menos abstrato para a platéia Esses recur sos também contribuem para que a audiência retenha as infor mações pois quanto mais visual for a apresentação mais eficaz ela será quanto a esse aspecto Na falta de fotografias imagens gráficas podem ser utiliza das Além disso esses dois recursos podem ser empregados em uma mesma exposição O importante mais uma vez é apresen taremse as informações da forma o mais visual possível 65 Construindo o roteiro da apresentação Agora que os aspectos gerais que envolvem o formato de slides e transparências são conhecidos podemos passar à defini ção da estrutura da apresentação Ao fim dessa etapa teremos um roteiro completo de todos os slides da apresentação restando apenas construílos 136 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática 651 Resumo da apresentação Neste ponto devemos voltar nossa atenção novamente para a definição do público e do contexto da apresentação É impor tante que você reserve o tempo necessário para refletir profun damente sobre as seguintes interrogações Quem O quê Quando Onde Por quê Como Essas perguntas genéricas podem ser reformuladas de ma neira mais específica conforme propõem Badgett e Sandler 1994 Quem é a minha platéia O que ela pensa do meu assunto O que ela espera obter da minha apresentação O que eu pretendo conseguir educar motivar infor mar O que as pessoas deverão sentir saber ou fazer de modo diferente após a apresentação Sob quais condições minha apresentação será realiza da Quando e com que freqüência a apresentação será rea lizada Onde a apresentação ocorrerá Por que eu estou fazendo esta apresentação Regras práticas para a criação de transparências com mídias eletrônicas 137 Qual a importância de atingir os objetivos de minha apresentação Como posso atingir meus objetivos da forma mais efe tiva com os recursos disponíveis Uma vez que você tenha respondido com segurança a es ses questionamentos poderá passar à criação do resumo da apre sentação Esse resumo tem por objetivos cf Badgett Sandler 1994 ajudar a organizar a exposição destacar áreas mais importantes que outras destacar idéias ou conceitos que possam ser abordados superficialmente descobrir idéias ou conceitos que possam ser esqueci dos Não existe uma regra fixa a ser seguida quanto ao formato do resumo no entanto sugiro que ele se assemelhe à estrutura dos slides com títulos tópicos e subtópicos a fim de facilitar a criação do storyboard da apresentação A seguir apresento um exemplo de resumo de uma apresentação multimídia sobre a evolução da Internet 138 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Resumo preliminar Apresentação da evolução da Internet I Título A A evolução da Internet B Gráfico de quadro único Tema O mundo ligado pela Internet II O início ARPANET A Contexto histórico B O funcionamento da ARPANET e as bases da Internet atual C Animação com mapamúndi mostrando as conexões da ARPANET III Os primeiros passos da Internet A Perfil dos utilizadores cientistas B Principal serviço email IV A Internet e a World Wide Web WWW A Lista animada com os fatos e conceitos que originaram a WWW B Lista animada com as principais personalidades com fotos envolvidas no desenvolvimento da WWW C Gráfico com o crescimento do número de usuários da Internet V Como a Internet afeta as nossas vidas A Gráficos e botões de vídeo animado 1 Comportamento social e relacionamentos 2 Busca de informações 3 Compra de produtos e serviços 4 Comunicação B Série de slides ligados a cada botão 1 Figura com telas de programas relacionados a cada item 2 Tabela antes x depois da Internet VI Perspectivas de futuro A Previsão de crescimento da rede B Novas áreas de aplicação C Slide convidando o público a expor suas opiniões Regras práticas para a criação de transparências com mídias eletrônicas 139 A prática demonstra que a zona de conforto em relação ao número de itens que o ser humano pode processar situase entre um e seis Dessa forma você deve tentar limitar o número de tópicos principais da sua apresentação no máximo a esse número 652 Storyboard Partindo do resumo você irá construir a representação grá fica da apresentação ou seja o storyboard que é o esboço dos slides que serão exibidos Ele pode ser construído a mão sobre folhas de papel comum e sua função é permitir que se façam as primeiras simulações testes e ajustes à apresentação Além dis so à medida que trabalhar em seu storyboard você estará tam bém realizando algumas coisas importantes como cf Badgett Sandler 1994 estabelecimento da ordem dos slides determinação do número de slides definição do projeto geral de cada slide decisão dos efeitos especiais som vídeo etc que se rão usados no caso de apresentações multimídia determinação dos recursos necessários para a produ ção dos slides fornecimento aos outros membros da equipe de um veículo para examinarem a apresentação com vistas às modificações que se fizerem necessárias Quanto à forma de organização das informações da apre sentação de trabalhos há cinco principais que merecem ser men cionadas Note que as duas primeiras relacionamse aos modelos de leitura conforme descritos em Moita Lopes 1996 São elas 140 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática organização dedutiva ou topdown vai do geral para o espe cífico organização indutiva ou bottomup vai do específico para o geral organização cronológica descreve uma seqüência de even tos na ordem em que tenham ocorrido organização de processo apresenta as etapas envolvidas num processo ou procedimento no qual cada uma de las deve ocorrer conforme uma seqüência organização de agenda apresenta as informações em uma ordem aleatória freqüentemente sem lógica aparente alguma Neste caso para o expositor ter sucesso a pla téia deve saber qual será a ordem de apresentação des de o início Cabe salientar que é raro observaremse apresentações em que as informações sigam estritamente apenas um desses tipos de organização Na maior parte dos casos a organização das informações resulta da combinação entre duas ou mais formas A escolha de um tipo de organização não é óbvia deven dose ter em mente que o modo correto de se organizarem as informações é aquele que permitirá à apresentação atingir seus objetivos É importante destacar que essa fase existe para se experimentar e simular processo durante o qual o storyboard pode passar por várias modificações até que se chegue a um modelo ideal Via de regra é importante que o slide introdutório da apresentação mostre a lista de tópicos que serão desenvolvidos para que o público tenha uma visão geral da apresentação assim como a noção do ponto em que você está Como foi dito na seção anterior o número de tópicos deve ser de no máximo seis Regras práticas para a criação de transparências com mídias eletrônicas 141 653 Script O script é um roteiro para a apresentação no qual consta um texto indicando como cada slide será exibido Esse texto deve ser escrito de forma clara e concisa Dependendo do tipo de apresentação e dos recursos nela utilizados o script deve trazer para cada slide a descrição de elementos como duração tempo real de execução no caso de apresentações multimídia aspectos a serem comentados pelo apresentador efeitos de som no caso de apresentações multimídia música elementos gráficos vídeo animado no caso de apresentações multimídia Um detalhe que pode parecer óbvio mas que é bastante esquecido é que o apresentador deve evitar ler simplesmente os slides O que aparece nos slides deve ser complementado ou desenvolvido oralmente e não apenas repetido 66 Testando e depurando a apresentação Se nas fases anteriores o trabalho foi realizado de manei ra individual para o teste da apresentação é extremamente re comendável que se conte com a colaboração de terceiros Esse teste deve ser feito diante de uma platéia composta por amigos colegas etc para que se possa ter uma idéia do efeito da apre sentação sobre o público É importante que a platéia de teste sintase à vontade para fazer críticas e dizer honestamente como 142 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática reagiriam ao trabalho sem medo de ferir os sentimentos do ex positor ou de sofrer conseqüências É muito importante que se estabeleça um questionário de avaliação o qual ajudará os espectadores de teste a expressarem suas opiniões após a apresentação Esse questionário deve tra zer perguntas objetivas do tipo simnão que induzam a audi ência a mostrar aquilo que realmente sinta Todas as informa ções recolhidas devem ser levadas em consideração quando dos eventuais ajustes efetuados antes de a apresentação ser levada ao seu públicoalvo Sobretudo nos casos de utilização de computadores e canhões projetores os testes devem ser feitos nos locais onde a apresentação será efetivamente realizada ou pelo menos com os mesmos equipamentos disponíveis ao apresentador durante a apresentação de fato Isso evita que se utilizem transparências que na tela do computador são perfeitas mas que durante a apresentação ao serem projetadas mostremse ilegíveis para a platéia 67 Erros comuns A lista que segue baseiase em minha experiência pessoal e relaciona alguns erros que pude observar com certa freqüência em apresentações Esses erros possuem graus variados de gravi dade mas todos devem ser evitados ao se realizar uma exposi ção São eles emprego de cores muitos fortes o que causa descon forto visual no público Regras práticas para a criação de transparências com mídias eletrônicas 143 confecção de transparências ilegíveis devido à má se leção de tamanhos e tipos de fontes cores etc utilização de animações sons ou outros recursos não relacionados ao assunto discutido e sem papel algum dentro da apresentação disposição de textos longos por slide com mais de seis linhas projeção de uma lista de itens na qual para exibição de cada item seja necessário um clique de mouse é prefe rível que seja apresentada a lista completa por meio de um clique ou então que seja automática a apresentação de item por item falta de sincronia entre o orador e a pessoa que estiver controlando a mudança de slides 68 Conclusão O poder de suportes visuais como elementos de geração de interesse e de retenção da mensagem pela platéia é incontes tável Os efeitos de um bom material de suporte fazemse sentir imediatamente durante e após uma apresentação contudo observase em vários casos que a construção desse material implica evitaremse várias armadilhas que podem levar a expo sições sofríveis Este capítulo procurou desse modo fornecer um guia para a construção de apresentações realmente eficazes Além de servir como roteiro para o desenvolvimento de apresentações isoladas vários aspectos contidos neste texto podem subsidiar uma metodologia para a criação de seminários e mesmo de cursos inteiros Finalmente cabe destacar que a construção de material de suporte a apresentações seja ele composto por slides ou filmes multimídia não é uma ciência exata ainda que se baseie em 144 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática princípios do design A prática e a observação das reações do público continuam sendo os maiores aliados do apresentador no refinamento e aperfeiçoamento de suas exposições Referências AZEVEDO W O que é design São Paulo Brasiliense 1988 BADGETT T SANDLER C Criando multimídia em seu PC São Paulo Makron Books 1994 MOITA LOPES L P Leitura e ensino de línguas clássicas In Oficina de Lingüística Aplicada a natureza social e educacional dos processos de ensinoaprendizagem de línguas Campinas SP Mercado de Letras 1996 p147163 SOLÉ I Estratégias de leitura 6 ed Porto Alegre ArtMed 1998 7 O PROFESSOR COMO FACILITADOR VIRTUAL CONSIDERAÇÕES TEÓRICOPRÁTICAS SOBRE A PRODUÇÃO DE MATERIAIS PARA A APRENDIZAGEM VIA WEB OU MEDIADA POR COMPUTADOR Rafael VetromilleCastro 71 Introdução Sabemos que os professores sejam eles de língua estran geira LE ou materna LM têm muitas atribuições pedagógicas Professor de Língua Inglesa vetroterracombr 146 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática preparação de planos de ensino e de curso elaboração e corre ção de provas o ensino propriamente dito a reflexão sobre as atividades docentes sem falar nos casos em que o professor de sempenha atividades administrativas direção e coordenação pedagógica por exemplo Além disso dentro de uma perspecti va autônoma e crítica a elaboração de materiais de ensino para suas próprias aulas também ocupa espaço na agenda docente Contudo materiais preparados pelo próprio professor levando em conta o ambiente de aprendizagem e principalmente os alu nos aos quais esses materiais se destinam são mais motivadores na aprendizagem de línguas Falando mais sobre o número de atribuições do professor sabemos que um dos problemas enfrentados quando na elabora ção do material é a proposta de atividades que por uma série de fatores não geram o efeito desejado deixando a sensação de perda de tempo Tais fatores podem ser a desconsideração sobre quem é o aluno quais são seus interesses ou ainda sobre onde usarei a atividade criada entre outros Nos próximos pará grafos trataremos desses aspectos e apresentaremos outros que devem ser considerados durante a elaboração de materiais para o ensino a distância EaD mediado por computador 72 Os alunos Quem freqüenta ou freqüentou nos últimos anos as salas de aula tanto no papel de estudante como no de professor pode perceber que a clientela discente não é mais a mesma A atenção é mais fragmentada e orientada por imagens e há uma rebel dia que revela a insatisfação quanto ao modo de ensinar que tem sido utilizado nas escolas Não é nosso objetivo aqui julgar tal comportamento mas apontar que os modelos de ensino es tão desgastados e além de não funcionarem na construção do O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 147 conhecimento reforçam práticas de aprendizagem ineficazes uma vez que os alunos percebem que aquilo que a escola prega está cada vez mais distante do que a realidade extramuros esco lares exige Partindo da premissa de que essa distância não deve exis tir sugerimos que o professor entre no ritmo do novo aluno e proponha atividades que motivem o aprendiz prendendo sua atenção sejam relevantes para sua atuação no mundo que façam com que ele sinta que é capaz de executálas e conse qüentemente dêem satisfação ao aluno na conclusão da pro posta1 Acreditamos que atividades via Internet sejam capazes de apresentar tais características uma vez que o número de hyperlinks pode acelerar a atuação dos aprendizes o uso de ima gens prende a atenção e a navegação para pesquisa ou o uso de emails são atividades presentes no diaadia de nossa sociedade sendo portanto procedimentos relevantes Esses são alguns exemplos de ações mediadas por computador que podem ser adaptadas para fins pedagógicos e desencadear um processo de mudança nas atuações docente e discente 73 O novo ambiente de ensino e aprendizagem Dentro de uma nova perspectiva pedagógica incluindo o ensino a distância e a aprendizagem de línguas mediada por com putador fazse necessária a mudança nas formas de ensinar e de aprender Moran 2000 No entanto muitas vezes encontra mos no ambiente virtual a transferência direta de atividades típicas do ambiente presencial Vemos atividades em papel sim plesmente digitalizadas desconsiderando as características do 1 Modelo de design motivacional ARCS Keller 1983 Atenção Relevância Confiança e Satisfação 148 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática novo meio Tal transferência resulta em desmotivação dos alu nos e ineficácia das atividades A utilização das novas tecnologias demanda uma nova pedagogia ou uma pedagogia reciclada que avalie o novo meio de aprendizado e aproveite eou modi fique as práticas típicas da sala de aula presencial Outro aspecto que precisa ser levado em conta no ensino a distância e muitas vezes na aprendizagem mediada por compu tador é a questão da ausência do professor e de colegas Essa ausência pode se traduzir em desorientação e dificuldade de de senvolvimento das tarefas pelos alunos principalmente quando tratamos da aprendizagem de língua estrangeira Sem dúvida defendemos a construção do aluno e cidadão autônomo mas acreditamos que autonomia não é solidão Tendo como alicerce a abordagem sócioconstrutivista de Vygotsky é fundamental em alguns momentos durante a aprendizagem a presença de um facilitador orientador no processo Muitos cursos a distância não tornam o professor presente no ambiente virtual aumentando mais uma vez a desmotivação dos aprendizes Acreditamos que na elaboração de seus materiais de ensino a distância o profes sor deva tentar tornarse presente ou menos ausente tarefa que pode ser cumprida por meio da exploração de recursos de interatividade Estes são dois pontos que podem ser determinantes de bons resultados na elaboração de materiais de EaD a consideração de que a Internet é um novo meio e que em função disso deve mos apresentar uma pedagogia diferenciada da do ambiente presencial sendo inclusive capaz de modificar o que fazemos presencialmente e a exploração de recursos de interatividade do novo meio com o objetivo de dar apoio ao aprendiz durante a execução das atividades em um ambiente muitas vezes de isolamento e desorientação No entanto fica a questão como contemplar tais pontos na elaboração de materiais Não O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 149 pretendemos ser definitivos principalmente devido ao fato de que à medida que o usuário de computadores fica mais familiarizado com a ferramenta é freqüente a impressão de que os recursos disponíveis na nova tecnologia são ilimitáveis O que faremos é apontar alguns caminhos já traçados e outros que parecem ser adequados a fim de demonstrar como modificar a atuação do cente e discente e explorar satisfatoriamente o novo meio É necessário antes de tratarmos da modificação da atua ção docente e discente por meio do ensino a distância determi nar qual é a prática presencial ineficaz a qual nos referimos Notadamente encontramos salas de aula nas quais o professor centraliza o desenvolvimento e as decisões sobre as atividades abordagem centrada no professor ao passo que os alunos por comodismo ou impossibilidade assumem uma postura mais pas siva receptora e nãoconstrutivista Há muitas críticas a esse modelo mas sabemos que os alunos podem aprender apesar da abordagem Entretanto o ensino centrado no professor tem pouco espaço na Web por uma série de razões a começar pela distância Esse fator torna os alunos mais livres longe da auto ridade do professor A distância permite a manifestação de alu nos de perfil mais inibido e possivelmente a insatisfação com alguma atividade proposta será revelada no ambiente virtual ao contrário do presencial Outro fator é a assincronia Uma das vantagens pedagógi cas mais alardeadas do novo meio é a possibilidade de se fazer um curso em horários nos quais as escolas tradicionais não estão abertas Os alunos portanto fazem as atividades quando é mais conveniente e não quando o professor manda Em outras pala vras a aula começa quando o aluno chega e não quando o pro fessor entra na sala Um exemplo dessa necessidade de readaptação docente e discente ao novo meio foi relatado por Rezende 2002 Nesse caso o professor propôs uma série de 150 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática atividades aos seus alunos sem considerálos no planejamento da proposta Como resultado não houve participação na forma esperada mas muitas reclamações e sugestões sobre tarefas Após a reflexão e a discussão sobre os novos caminhos a serem trilha dos o professor abandonou o papel de centralizador e assumiu o de facilitador deixando os alunos no centro das atividades A motivação discente e os resultados foram extremamente positi vos É claro que o professor como especialista é quem deve traçar os objetivos das atividades No entanto a forma pela qual os objetivos serão alcançados pode ser discutida e escolhida de maneira colaborativa É importante deixar em destaque a figura do professor como facilitador do processo de aprendizagem aque le que conhece as formas de ensinar e de aprender mais adequa das aos alunos e ao meio no qual a aprendizagem se desenrola Nossa idéia de que essa deve ser a postura do professor que utiliza o computador na sua prática vai ao encontro do que Menezes 2001 defendeu em Aprendendo Inglês no Ciberespaço em função da nova perspectiva da interação virtual o modelo de transmissão de conhecimento do professor para os alunos deve dar espaço para a construção social e colaborativa do co nhecimento Muito tem sido dito no nosso trabalho sobre o potencial da Internet para modificar as formas desgastadas de ensinar e de aprender É possível que o professor mencionado no trabalho de Rezende 2002 tenha revisado sua forma de ensinar presencialmente a partir da sua experiência em EaD No entan to gostaríamos de fazer o caminho inverso agora observando quais aspectos tipicamente presenciais precisam ser levados para o ambiente virtual em nome do bom aprendizado Falamos anteriormente que a Internet pode levar ao isola mento e desorientação Também mencionamos o fato de que os O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 151 alunos de hoje não são os mesmos de alguns anos atrás pois possuem atenção mais fragmentada entre outras características Esse aluno quando está insatisfeito com o que vê na sala de aula presencial tem que ficar sentado no seu lugar e não pode sair de lá por inúmeros motivos Na sala virtual ao contrário ele pode estar em vários lugares ao mesmo tempo abrindo múlti plas janelas do seu navegador Como prender a atenção do apren diz Como orientálo em um ambiente que não é familiar Como o professor pode desempenhar o papel de facilitador Acredita mos que essas perguntas encontram resposta na exploração dos recursos de interação e de interatividade permitidos pelo meio Há algumas experiências nas quais além das atividades propos tas e em horários predeterminados é disponibilizado um mo mento síncrono de encontro e discussão a distância os chats ou salas de batepapo Nesses encontros os alunos podem tirar dúvidas com os colegas e o professor discutir temas referentes às atividades e se conhecer melhor Outra forma de interação é a troca assíncrona de mensagens eletrônicas os emails ou as listas de discussão Tanto por meio dos chats como dos emails o professor pode se afastar do centro das atividades e ter uma vi são panorâmica do que acontece com os aprendizes o que per mite um melhor desempenho do papel de facilitador da aprendi zagem Entretanto às vezes as atividades propostas não podem contemplar o uso dos recursos de interação mencionados ou ainda em função do tipo de proposta tais recursos não se mos tram eficientes Nesses casos o professorelaborador de materi ais tem como alternativa a exploração de recursos de interatividade nos quais nos concentraremos a partir de agora Com o objetivo de tornar mais claro nosso ponto de vista anali saremos alguns desses recursos em uma atividade para o ensino de leitura em Inglês como LE 152 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Ainda buscando alicerce teórico para nosso trabalho em Vygotsky e Bruner retomamos a idéia do professorfacilitador No ensino de leitura em língua inglesa Inglês Instrumental ou ESP English for Specific Purposes de acordo com a nossa experiência docente é grande o número de alunos que têm pou co ou nenhum conhecimento sobre a línguaalvo Em função disso o apoio no código escrito é insuficiente e fazemse neces sários o desenvolvimento e a aplicação de estratégias de leitura Durante as atividades na sala de aula presencial notamos a im portância do professor e dos demais colegas ou da interação na construção da competência leitora mediante perguntas confir mações indicações de estratégias mais adequadas a determina dos objetivos feedback estratégico e o incentivo que serve de motivação para o aluno feedback individualizado Ao final de um curso nesses moldes percebemos que tais atitudes são posi tivas com base nos resultados obtidos pelos aprendizes Na pas sagem do presencial para o virtual precisamos manter ou subs tituir esses andaimes scaffolding Bruner 1985 para que o aluno continue encontrando apoio A seguir mostraremos um exem plo de atividade para o ensino de leitura em Inglês como LE e como tais andaimes foram fornecidos Na Figura 1 temos a abertura da atividade que é também a atividade de préleitura O objetivo aqui é fazer com que o aluno crie hipóteses que podem ou não ser confirmadas pelo texto ativando o seu conhecimento prévio e dando um motivo para a leitura confirmar as hipóteses Outro detalhe importan te a ser salientado é que há uma animação nessa página na qual as palavras vão surgindo uma a uma na tela Esse efeito além de explorar um recurso do meio também faz com que o aprendiz tenha a sua atenção voltada para cada uma das palavras o que pode facilitar a criação de hipóteses na préleitura Ao clicar no O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 153 botão confira abrirá a página com o texto e as atividades de compreensão mostrada na Figura 2 Figura 1 Página de abertura da atividade Na tela da atividade2 da Figura 2 o aprendiz encontra três frames À esquerda o frame onde aparecem perguntas feedback individualizado e estratégico para respostas dadas e definições de um dicionário acoplado3 No frame inferior o aluno controla a atividade avançando e recuando questões pedindo dicas e 2 A atividade mostrada nas figuras 2 3 4 5 e 6 está disponível em http wwwvetromillecastrohpgigcombraula1ahtml 3 O dicionário acoplado às palavras do texto é uma ferramenta disponibilizada pelo software de autoria ELO que não será discutida em nosso trabalho Mais informações em httpatlasucpeltchebrelo 154 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática ajuda acompanhando seu desempenho e respondendo às per guntas No frame maior e mais à direita está o texto e na caixa mais escura algumas dicas sobre como desenvolver a tarefa pro posta Note que o suporte dado ao aprendiz ao qual nos referi mos anteriormente será encontrado no frame da esquerda É nele que o professor se fará presente não somente perguntando mas também orientando o desenvolvimento da atividade por meio do feedback dado Esse papel de facilitador desempenhado medi ante recursos de interatividade será mostrado nas figuras a se guir Figura 2 Tela da atividade de compreensão textual em língua inglesa O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 155 Figura 3 Demonstração de feedback estratégico para uma resposta incorreta Diante de uma resposta incorreta o professor não se limita a denunciar o erro Há também a indicação de uma estratégia de leitura nesse caso a releitura de um trecho no frame da esquer da Caso o erro persista o recurso de interatividade indica outra estratégia a observação de palavras cognatas por exemplo de acordo com a intenção do professor quando da elaboração da atividade Dessa forma o professor mesmo a distância faz com panhia ao aluno e o auxilia quando necessário 156 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Figura 4 Demonstração de feedback individualizado para uma resposta correta Na Figura 4 percebemos que no frame da esquerda é dado um feedback individualizado Exatamente Porque o estudante tinha ingredientes e instruções para fazer e usar uma bomba Da mesma forma como o que foi mostrado na Figura 3 o recur so de interatividade não dá ao aluno apenas as respostas certo ou errado mas também orienta e tenta motivar o aprendiz quando ele acerta uma resposta Aqui está mais um exemplo do caminho inverso ao qual nos referimos em parágrafos anteriores É o professorelaborador transferindo e adaptando abordagens eficientes do ambiente presencial para o virtual Nesse tipo de atividade é importante observar o papel do feedback individualizado e do estratégico Leffa 2002 São es ses dois recursos de interatividade que vão orientar e motivar o aluno ao longo da atividade além de tornar o professor presen O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 157 te O aprendiz não recebe respostas binárias de uma máquina mas vê o professor guiálo ao longo da tarefa respondendo com a imprevisibilidade das interações humanas Ainda vale salien tar que a ação pedagógica virtual representada aqui pelos dois tipos de feedback poderia ser incorporada e possivelmente já está inserida na atuação presencial do professor dando suporte aos alunos na aprendizagem de língua estrangeira 74 Criando uma disciplina para a Web Por meio do exemplo da atividade para o ensino de leitura em língua inglesa via Internet buscamos apontar alguns fatores que precisam ser considerados quando o professor decide elabo rar atividades para Internet eou aprendizagem mediada por computador Centrando nossa discussão na modificação neces sária nas formas de ensinar e de aprender abordamos algumas potencialidades e limitações dos ambientes presencial e virtual para o ensino Defendemos que atitudes pedagógicas típicas de um ambiente podem ter influência positiva quando utilizadas devidamente no outro meio ex a atuação do professor como facilitador ou negativas ex professor como centralizador das decisões e das atividades No entanto mesmo que o professor leve em consideração os vários aspectos já apontados após a finalização dos materiais ainda não podemos afirmar que as ati vidades seduzirão nosso aluno ou o ajudarão a atingir nossos do aluno e do professor objetivos do aprendizado Ao con trário corremos o risco de propor atividades que produzam nenhum ou pouco resultado além de termos perdido tempo con siderável na construção do material Como o professorelaborador pode resolver essa questão Kessler e Plakans 2001 no desenvolvimento de um livro tex to virtual em CDROM para o desenvolvimento de habilidades 158 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática orais em língua inglesa levaram em consideração a opinião de alunos sobre esse material Como resultado constataram que as contribuições dos aprendizes em algumas horas de testagem e entrevistas foram mais significativas do que as de professores e as advindas dos próprios pesquisadores em atividades de revi são ao longo de um ano O que Kessler e Plakans fizeram foi aplicar um teste de usabilidade usability testing no material que estavam desenvolvendo Conceito em voga na Ciência da Com putação o teste de usabilidade foi definido por Dumas Redish 1993 apud Kessler Plakans 2001 como o método de obser var como um usuário experimenta e interage com materiais com o objetivo de identificar aquelas características que simplificam ou confundem o uso dos materiais4 Em outras palavras o que Kessler e Plakans observaram foi o grau de orientação dos aprendizes no uso do material Com a aplicação de testes de usabilidade antes da disponibilização do material para uma par cela mais ampla do públicoalvo utilizando um número reduzi do de alunos é possível detectar falhas e pontos que podem ser melhorados para o alcance dos objetivos de aprendizagem Vários estudos têm sido feitos sobre a usabilidade de ma teriais de EaD como os de Kessler e Plakans 2001 e de VetromilleCastro 2002 Tendo como ponto de partida o tra balho dos primeiros temos como proposta a consideração de dois tipos de usabilidade na elaboração de materiais de EaD a usabilidade de design que trata principalmente da superfície do material o nível de orientação proporcionado pelo design por exemplo e a usabilidade pedagógica que abarca aspectos mais ligados à pedagogia ao ensino propriamente dito às adaptações 4 Tradução livre de Usability testing is a method of observing how a user interacts with and experiences materials in order to identify those characteristics that simplify or confound the use O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 159 que devem ser feitas no aprendizado a distância e ao potencial de aprendizagem das atividades Ainda podemos definir a últi ma como a medida de quanto o aluno pode aprender em uma atividade por meio de recursos de interatividade ou interação Acreditamos que nenhuma das duas usabilidades seja mais im portante do que a outra mas que ambas sejam complementares Por maior que seja o grau de usabilidade de design de uma ativi dade ela ainda será considerada ineficiente caso não possua um grande potencial de aprendizagem alto grau de usabilidade pe dagógica e viceversa 75 Ferramentas úteis e sistemas de autoria Inicialmente vale dizer que a Internet trabalha sobretudo com um tipo de arquivo o HTML Hypertext Markup Language Existem numerosas ferramentas para a criação desse tipo de ar quivo ou páginas da Internet e sites o Microsoft FrontPage o Macromedia Dreamweaver e até mesmo o editor de textos Microsoft Word Os três são softwares mais abrangentes volta dos não necessariamente ao ensino e são amplamente utiliza dos na criação de sites e páginas Apontamos esses programas pelas seguintes razões os dois produtos da Microsoft são am plamente difundidos vindo já instalados em muitos computa dores que operam na plataforma Windows Além disso foi no FrontPage que começamos a desenvolver as primeiras pági nas para a Web Já o Dreamweaver embora exija um pouco mais de conhecimento do usuário oferece mais recursos e um acabamento melhor além de entregar páginas que apresen tam menos problemas de transição entre navegadores Internet Explorer e Netscape Navigator por exemplo Outros programas chamados de sistemas de autoria são capazes de fornecer atividades com fins educacionais em 160 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática formato html prontas para serem enviadas para a rede sem que o professor necessite de conhecimentos de programação Entre esses programas podemos citar o Hot Potatoes5 desenvolvido pelo Humanities Computing and Media Centre da Universidade de Victoria no Canadá e o ELO Ensino de Línguas Online6 elaborado pelo professor Dr Vilson J Leffa da Universidade Católica de Pelotas Sobre o último falaremos um pouco mais observando alguns de seus recursos com base no que já foi apre sentado sobre usabilidade pedagógica e de design Primeiramente é necessário apontar que a atividade mos trada nas figuras 2 3 e 4 foi elaborada por meio do sistema de autoria ELO e teve seu design basicamente cores e fontes mo dificado pelo Macromedia Dreamweaver 4 Esse sistema de au toria permite ao professor a construção de vários tipos de ativi dades como cloze lacunamento tradicional eclipse o aluno ten ta reconstruir um texto oculto seqüência o aluno monta um tex to a partir de suas partes e texto com dicionário acoplado às palavras com perguntas de respostas dissertativas a atividade mais próxima da aula tradicional ou de múltipla escolha o tradicional teste no qual o aluno escolhe a melhor resposta Em nossa prática pedagógica temos trabalhado com o ELO elaborando principalmente atividades com texto e per guntas Pesquisas estão sendo desenvolvidas para avaliar essas atividades e conseqüentemente o sistema de autoria sob a ótica da usabilidade pedagógica e de design já havendo resulta dos preliminares VetromilleCastro 2002 dos quais alguns mostraremos aqui Quanto ao design do material entregue pelo programa a divisão da tela em três frames confere um alto grau de usabilidade ao material uma vez que o texto é colocado no 5 Mais informações podem ser obtidas em httpwebuviccahrdhotpot 6 Mais informações são encontradas em httpeloucpeltchebr O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 161 maior espaço frame maior à direita e o aluno atua no frame inferior deixando o professor à margem da atividade frame es querdo como podemos perceber na Figura 5 Figura 5 Tela com atividade do sistema de autoria ELO Ainda sobre o design registramos que inicialmente os alu nos não compreendem a função dos botões de controle no seu espaço o frame inferior Mesmo havendo o botão ajuda ne nhum aprendiz recorreu a ele adotando o método de tentativa e erro o que aponta para a necessidade de um esclarecimento prévio a esse respeito dado em uma página anterior por exem plo Essa falta de esclarecimento na nossa interpretação confe re baixo grau de usabilidade aos comandos do material Sobre a usabilidade pedagógica o ELO permite ao profes sor elaborar atividades com alto potencial de aprendizagem uma 162 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática vez que é possível desempenhar o papel de facilitador mediante a exploração de alguns recursos de interatividade como o feedback individualizado FIG 4 e o estratégico FIG 3 Além disso a existência de um dicionário acoplado às palavras do texto tam bém contribui para um alto grau de usabilidade do material por que apóia o aluno no momento da dúvida sem interromper a leitura da mesma forma que a consulta a um dicionário conven cional conforme ilustra a Figura 6 Figura 6 Tela com demonstração de consulta ao dicionário Contudo a apresentação no frame esquerdo do significado das palavras consultadas tem se mostrado de baixa usabilidade pedagógica já que é nesse mesmo espaço onde aparecem as per guntas e o feedback das respostas Acreditamos que o grau de usabilidade desse fator pode aumentar se houver o esclareci mento prévio sobre os botões pois o usuário deve clicar em O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 163 questão para ter acesso à pergunta após a consulta ou ainda se o aluno for exposto a um número maior de aulas Há ainda a possibilidade de se disponibilizar outro frame mas cremos que o procedimento diminuirá o grau de usabilidade de design por apre sentar mais uma seção para disputar a atenção do aprendiz Ain da sobre o dicionário vale dizer que o sistema de autoria ELO permite que o professor crie seu próprio dicionário ou edite o material incluindo ou retirando entradas e significados Outro item importante para a criação de páginas e sites é a sua hospedagem ou seja em que endereço da Internet colocare mos nosso trabalho no ar Além dos serviços de hospedagem pagos que teoricamente oferecem garantias de que o site estará sempre à disposição dos usuários há também muitos sites de hospedagem gratuita Intermega Geocities Hpg entre outros7 e ainda instituições de ensino que disponibilizam espaço para que os professores coloquem suas páginas na Web 76 Mais usabilidade as metáforas e a orientação do alunousuário Na tentativa de entregar aos alunos materiais de EaD que facilitem sua orientação durante o uso é importante que o mate rial tenha certo de grau de previsibilidade Esse traço faz com que os aprendizes possam se sentir mais seguros sabendo o que podem encontrar na atividade via Web Faustini 2001 Acredi tamos que o uso de metáforas pode emprestar um alto grau de previsibilidade aos materiais aumentando conseqüentemente o grau de usabilidade 7 Intermega httpintermegaglobocom Geocities httpbrgeocitiesyahoocom HPG httpwwwhpgigcombr 164 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Tendo em vista as considerações feitas partiremos para a sugestão de construção de um site de apoio educacional na Web Essa sugestão girará em torno da criação de uma biblioteca vir tual8 na qual o professor poderá disponibilizar textos que serão utilizados ao longo de um curso No entanto é importante frisar que trataremos de um caso um tanto restrito uma vez que preci saríamos de muito espaço para tratar da criação de uma série de atividades Além disso tal exemplo parecenos mais útil aos pro fessores interessados em começar a elaborar atividades para EaD pois não trata do ensino de uma língua eou habilidade específi ca No que diz respeito à usabilidade em função da generalida de da proposta concentraremos nossa demonstração em aspec tos mais ligados à usabilidade de design do que à pedagógica Tomemos então o nosso exemplo da biblioteca virtual Em primeiro lugar fazse importante detectar a relevância do mate rial para os aprendizes Como já foi dito os alunos têm que per ceber o que significa ter acesso aos textos nessa biblioteca Deve ser evidente o fato de que o material será útil para o desenvolvi mento de uma tarefa ou de um curso bem como o fato de que o acesso aos textos em uma biblioteca virtual pode ser feito du rante as 24 horas do dia sete dias por semana diferente do que acontece em outras bibliotecas Da mesma forma os textos já estão préselecionados diminuindo o tempo de procura pelos exemplares Por último mas não menos importante deve haver a consideração por parte do professor do perfil dos seus alunos Os aprendizes possuem computador com acesso à Internet em suas casas A escola disponibiliza acesso à rede para os alunos em laboratórios Há motivação intrínseca para o uso de novas tecnologias na aprendizagem ou é preciso motiválos para esse tipo de atividade Todas essas perguntas devem ser respondidas 8 Disponível em httpwwwvetromillecastrohpgigcombrbiblivirhtm O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 165 antes da elaboração do material além de haver a preocupação de se fornecerem suporte e material com alto grau de usabilidade para os alunos que tenham pouca experiência no uso das novas tecnologias Em função dessas considerações poderíamos ter como abertura da nossa biblioteca a seguinte tela Figura 7 Tela de abertura da Biblioteca Virtual Como podemos perceber na Figura 7 o processo de orien tação tem início na abertura do material Olá O objetivo desta biblioteca é auxiliar ao longo do curso No texto à es querda é colocado o objetivo do material bem como uma das vantagens decorrentes da utilização da biblioteca virtual dispo nível durante as 24 horas do dia À direita o usuário encontra instruções iniciais simples e diretas sobre o uso do material Bas ta clicar na porta abaixo e escolher um texto É importante 166 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática que o alunousuário tenha informações claras diretas e sucin tas uma vez que o objetivo é a leitura de textos e não de instru ções longas e detalhadas que possam confundilo e conseqüen temente desmotiválo Ainda nesse trecho o aluno é informado sobre como entrar em contato com o professor o que pode lhe dar um sentimento de confiança e orientação por saber que terá a quem recorrer em caso de dúvida É só clicar nas caixas de correio em cada uma das páginas Tanto a objetividade quan to a simplicidade das instruções bem como a sua clareza con ferem um alto grau de usabilidade ao material Outro ponto a ser ressaltado é a utilização da metáfora da biblioteca Importante para a motivação pois remete o usuário a uma experiência nova de um serviço conhecido a metáfora também orienta o usuário por meio da ativação do conhecimen to de mundo levandoo a ter expectativas sobre o que poderá encontrar e como agir No nosso exemplo esperase que a entra da em uma biblioteca seja através de uma porta FIG 7 e que a procura de livros ocorra em prateleiras FIG 8 Além disso usar metáforas é explorar as potencialidades do novo ambiente en tregando materiais com valor estético maior pelo uso de figu ras e cores e pela subversão da diagramação convencional do texto ao de uma folha de papel transferida da sala de aula presencial e digitalizada com hyperlinks para a Web Novamente a usabilidade de design é explorada mediante os recursos permiti dos pelo meio neste caso o uso de metáforas Após a entrada na biblioteca o aluno encontrará a tela mostrada na FIG 8 Veja que a idéia da metáfora continua pre sente na imagem maior bem como nas três imagens de corredo res com prateleiras abaixo Além disso no centro da tela próxi mo ao salão principal de nossa biblioteca há mais uma instru ção clara e direta sobre como encontrar os textos de interesse que indica que o aluno já entrou no prédio e que basta esco O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 167 lher um dos corredores mostrados na parte inferior Também há uma caixa de correio à direita para que o aluno entre em conta to com o professor conforme havia sido indicado na tela de abertura FIG 7 e a mesma porta da entrada com uma dimen são menor indicando a saída da biblioteca A orientação é feita por meio da palavra escrita e pelo uso de imagens levando em consideração o que Babin 1989 escreve sobre a geração imagética sendo uma o complemento da outra no ambiente virtual Figura 8 Tela de navegação inicial para seleção de textos 168 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Figura 9 Tela com a lista de textos de uma seção da biblioteca Analisando as figuras 9 e 10 notamos mais uma vez o fornecimento de informações e instruções breves nas partes cen tral e superior da tela e dentro do possível também há a tenta tiva de se manter o design a disposição de elementos uniforme em todas as páginas Na parte inferior continuam sendo disponibilizados os corredores ou as seções da biblioteca e a porta de saída e a caixa de correio mantêm a mesma posição Dessa forma o aprendizusuário terá condições de se familiari zar com o material tendo um sentido de orientação maior Essa familiarização ainda traz como ponto positivo a economia de tempo do aluno durante a atividade na medida em que ele sabe automaticamente quais caminhos percorrer para chegar em determinada seção ou texto Outro detalhe relevante é a inclu são de um painel com uma tonalidade de cor diferente para a O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 169 exposição dos títulos encontrados em cada corredor e dos tex tos A função dos painéis é chamar a atenção do aluno para o que ele pode escolher ou vai ler além de contribuir para uma melhor leitura uma vez que há um nível de contraste maior en tre texto e fundo porém sem ser tão agressivo à visão como o do fundo branco com letras pretas Figura 10 Tela com um dos textos da biblioteca 77 Considerações finais Neste capítulo buscamos trazer para discussão aspectos que consideramos relevantes para a elaboração de materiais de ensino de língua estrangeira via Internet ou mediada por compu tador Com o que foi escrito na introdução tentamos mostrar que o novo meio de aprendizado e a ferramenta computador não resolverão problemas de ordem pedagógica simplesmente 170 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática pelo seu uso em nossas aulas O professor precisa saber se a ferramenta é adequada a sua proposta A utilização da Internet deve ter um objetivo de aprendizagem da mesma forma que o uso de um filme ou de uma música no ensino de línguas A refle xão sobre a prática pedagógica não pode deixar de existir na nova sala de aula Igualmente o professor precisa conhecer os aprendizes e a relação entre eles e as novas tecnologias Precisamos conhecer até onde nosso aluno já avançou em termos de ciberespaço para saber como encaminhar nossas propostas A partir daí podere mos aproveitar o conhecimento prévio de alguns alunos para inserir os demais na nova pedagogia Ou então daremos opor tunidades para que o grupo seja inserido nas práticas do novo meio para que haja bons resultados na aprendizagem O aluno deve estar no centro das nossas reflexões quando na construção do material para ensino via Web e não somente a proposta ou o professor Ainda sobre o mesmo tema a elaboração e o uso de ativi dades mediadas por computador não podem ser desencadeados e passar a ser parte da docência apenas por nos parecer impor tante o uso da nova tecnologia em nossa sociedade Temos a impressão um tanto arriscada talvez de que há um senso comum a respeito dessa importância mas pouca ação pedagógi ca reflexiva Mais significativo do que levar os alunos a um labo ratório de computação é proporcionarlhes uma atividade de aprendizagem relevante para a sua atuação em sociedade seja ela virtual ou presencial Também tentamos apresentar algumas ferramentas que podem ser utilizadas pelos professores que desejam começar a elaborar materiais para a aprendizagem mediada por computa dor Gostemos ou não esses instrumentos já estão incorporados em nossas vidas de maneira direta ou indireta Cabe ao profes O professor como facilitador virtual considerações teóricopráticas 171 sor conhecer tais instrumentos para incorporálos de modo pro veitoso em seu trabalho da mesma forma que sabe consultar um dicionário usar um gravador ou CD operar um videocassete folhear um livro didático ou escrever com giz no quadronegro Talvez não estejamos dizendo muita coisa nova quando falamos em propor atividades relevantes e motivadoras refletir antes durante e depois sobre a elaboração e o desenvolvi mento de atividades ou sobre a necessidade de o professor bus car o domínio de novos recursos para sua prática Sabemos que tais posturas são desejáveis na sala de aula presencial e são de fendidas há tempos embora por inúmeros motivos não sejam as mais adotadas O que buscamos é mostrar ser possível e ne cessário fazer tais considerações em frente ao novo ambiente e ferramentas que se apresentam em nome de um bom aprendiza do para que os aprendizes possam construir não somente sua cidadania mas também a cibercidadania Referências BABIN P Os novos modos de compreender a geração do audiovisual e do computador São Paulo Edições Paulinas 1989 BRUNER J V Vygotsky a historical and conceptual perspectives In WERTSCH J V Ed Culture communication and cognition Vygotskian perspectives Cambridge Cambridge University Press 1985 KELLER J M Motivational design of instruction In REIGELUTH C M Ed Instructional design theories and models an overview of their current status Hillsdale NJ Erlbaum 1983 KESSLER G PLAKANS L Incorporating ESOL learners feedback and usability testing in instructordeveloped CALL materials TESOL Journal Virginia USA v10 n1 Spring 2001 172 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática LEFFA V J Ensino de línguas online Disponível em http atlasucpeltchebreloadministraProjELOUCPELhtm Acesso em jul 2002 MENEZES V L Aprendendo Inglês no ciberespaço In Org Interação e aprendizagem em ambiente virtual Belo Horizonte Faculdade de Letras UFMG 2001 MORÁN J M Mudar a forma de ensinar e de aprender com tecnologias Transformar as aulas em pesquisa e comunicação presencialvirtual Disponível em httpwwwecauspbrprofmorantextoshtm 2000 REZENDE P S Reflexão e reconstrução da prática docente on line InPLA São Paulo PUCSP v12 2002 SMALL R V Motivation in Instructional Design ERIC Digest Disponível em httpwwwedgovdatabasesERICDigests ed409895html Acesso em 1997 VETROMILLECASTRO R A usabilidade pedagógica e de design de materiais para o ensino a distância de Inglês para leitura InPLA PUCSP São Paulo v 12 2002 Painel de projetos integrados 8 PRODUÇÃO DE LIVROS DA PRÁTICA À TEORIA Nara Widholzer1 Daniel Clós Cesar2 Confúcio disse que uma imagem vale mais que mil palavras Só que ele teve que usar palavras para dizer isso Allen Hurlburt 1 UFRGS e UCPel narawidholzerufrgsbr 2 Design Development httpdanielcloscesarwordpresscom danielclosterracombr 174 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática 81 Introdução Há muitos anos vimos acompanhando o trabalho de elaboração de livros seja atuando em editoras ou birôs seja trabalhando como free lance ou ainda produzindo nossos pró prios materiais para ensino Nesse tempo observamos que as dificuldades apresentadas pelosas autoresas sobretudo osas iniciantes e os independentes apresentam similaridades obede cendo a certa taxionomia Este capítulo é o resultado de parte de nossas pesquisas acertos e percalços visando atender as ques tões levantadas por essesas autoresas Buscamos transmitir uma idéia geral do trabalho de editoração sobretudo registrando pequenos porém imprescindíveis detalhes esparsamente anota dos ou simplesmente omitidos nos livros voltados à matéria Dado o caráter interdisciplinar do assunto aproximamos textos técni cos a escritos acadêmicos que pudessem fornecer ainda que in diretamente subsídios ao trabalho doa professoraeditora de livros relacionando normas técnicas Lingüística e Design pro curando estabelecer um diálogo entre essas grandes áreas Diversas tecnologias têm sido desenvolvidas com vistas à sua aplicação ao ensino evidenciandose nos últimos anos aque las relacionadas aos meios eletrônicos De modo geral porém o livro impresso tem permanecido como o recurso mais popular e acessível destacandose por sua fácil portabilidade e relativo baixo custo Nesse sentido o Governo Federal mantém três pro gramas voltados ao livro didático o Programa Nacional do Li vro Didático PNLD iniciado em 1929 o Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio PNLEM implantado em 2004 e o Programa Nacional do Livro Didático para a Alfa betização de Jovens e Adultos PNLA criado em 2007 Brasil 2007d Em nível estadual por exemplo o Governo gaúcho san cionou em setembro de 2001 a Lei nº 11670 estabelecendo a Produção de livros da prática à teoria 175 Política Estadual do Livro O objetivo da Lei é promover a leitura e em especial facilitar o acesso ao livro tendo entre suas diretrizes estimular a produção dos autores gaúchos Como conseqüência dessa lei foi estabelecido o Plano Anual de Difusão do Livro também em vigor a partir daquele ano Rio Grande do Sul 2007 A despeito da grande oferta de títulos no mercado é cada vez mais comum a iniciativa de professoras e professores no sentido de produzirem materiais de ensino adequados e acessí veis à realidade de sua sala de aula os quais muitas vezes se tornam livros didáticos Particularmente no meio acadêmico faz parte de sua dinâmica a publicação dos resultados das investiga ções levadas a efeito por pesquisadoreas e a organização de obras paradidáticas A essas realidades os custos apresentamse como fatores limitantes além de conforme aponta Souza 1999 p28 oa autora ter sua autonomia restrita aos espaços conce didos pelas editoras as quais são ao mesmo tempo agentes de controle e de censura Há que se considerarem ainda os parâmetros impostos pelas grandes distribuidoras e os orçamen tos reduzidos das editoras universitárias geralmente inferiores à demanda A disseminação dos computadores pessoais o desenvolvi mento de softwares para editoração eletrônica de textos as im pressoras digitais de grande porte e a expansão das chamadas editoras alternativas entre outros fatores têm se apresentado como opções para autoresas de obras de pequenas tiragens Tais recursos permitem que oa autora tenha mais controle sobre a produção de seu livro em um sentido amplo uma vez iniciadoa no mundo informático e tendo o conhecimento de certos prin cípios de editoração elea pode se apropriar de quase todas as etapas desse trabalho desde a escrita a editoração eletrônica a publicação e a distribuição No caso das editoras universitárias 176 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática a entrega do material já editorado pode poupar oa autora de boa parte da fila de espera ou mesmo reduzir o custo final da publicação visto que em algumas instituições esse trabalho é terceirizado Conforme Smith Jr 1990 p19 para serem realmente úteis os livros precisam responder às necessidades e interesses reais dos leitores No caso do livro didático este ao ser adapta do à realidade da sala de aula e impresso sob demanda não neces sita mais ser encarado como o lugar do saber definido pron to acabado cf Souza 1999 p27 para ser continuamente reconstruído na interação entre professor e aluno É possível então aoà professora conciliar duas das atitudes cabíveis diante do livro didático adotálo como recurso de apoio ou não adotálo preferindo elaborar seus próprios materiais para aula cf Coracini 1999 p23 Além disso ao assumir o papel de editora oa autora não só rompe com o jugo das grandes casas editoras mas também pode se desvencilhar das apostilas escolares as quais apenas substituem o aparato editorial pela orientação de um estabelecimento de ensino Este capítulo é dedicado a essesas editoresas principiantes explicando pas so a passo as etapas de editoração de um livro em computado res pessoais ou personal computers PCs 82 Alguns conceitos A editoração de livros é uma atividade complexa envol vendo preparo dos originais revisão planejamento visual sele ção de equipamento e materiais composição impressão finalização depósito de direitos autorais e distribuição cf Smith Jr 1990 Ainda que não atue empresarialmente mesmo oa professora autora independente necessita familiarizarse não só com todas essas etapas mas também com as normas técnicas Produção de livros da prática à teoria 177 e vários procedimentos que antecedem a montagem da obra os quais denominamos operações de préeditoração Há ótimos livros que abordam parte ou o conjunto desse processo alguns deles relacionados nas referências deste capítulo além das próprias normas da ABNT e sendo assim retomar a matéria por inteiro seria reinventar a roda Contudo em termos práticos essas orientações de cunhos mais técnico ou legal mostramse insufi cientes para oa organizadora ou editora principiantes ao se depararem com pilhas de disquetes ou CDs contendo arquivos gravados em softwares programas diversos apresentando formatações das mais variadas mas que devem se transformar em um livro coeso e coerente não só em conteúdo mas também em forma A exemplo do que ocorre no âmbito de outras atividades há palavras e termos que são peculiares ao trabalho de editoração assim como há vocábulos que adquirem um sentido diferente daquele corriqueiramente empregado É recomendável logo que oa autora editora iniciante familiarizese também com tais termos o que lhe será bastante útil quando buscar informações adicionais sobre essa atividade ou ao dialogar com os demais agentes envolvidos na produção de um livro impressora dese nhista capista etc Nesta seção são introduzidas apenas as definições que consideramos chave para oa editora iniciante outras são explanadas ao longo deste capítulo quando pertinen te e ao final no glossário são listados mais alguns dos conceitos comumente empregados no trabalho de editoração Uma lista mais exaustiva desses termos pode ser encontrada na NBR 6029 Associação 2006 e no dicionário de Guilherme 1996 Primeiramente adotamos uma acepção bastante ampla para texto definindoo como qualquer produto de linguagem falada ou escrita Fairclough 2001 p 23 independente de sua exten são caracterizandose por constituir uma totalidade à qual se 178 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática possa atribuir sentido Ampliando esse conceito apontamos que o termo linguagem atualmente não mais pode se restringir a lín gua compreendendo também a linguagem das imagens e o discurso gráfico conforme procuramos demonstrar adiante Não desejan do nos deter na discussão acerca da finalidade social ou não do texto adotamos um critério pragmático considerando o livro como um único texto heterogêneo e polifônico delimitado fisi camente e concebendo como seqüências dessa unidade maior aqueles textos lingüísticos ou imagéticos de autoria diversa que normalmente se fazem presentes no interior de livros ordena dos de modo a criarem um sentido almejado peloa autora da obra A respeito da delimitação física reportamonos a Collaro 2000 p136 para quem o livro é a preservação de fatos de qualquer natureza através da comunicação gráfica impressa independente de formato cor ou assunto3 Por sua vez a NBR 6029 dispõe que o livro é uma Publicação nãoperiódica que contém acima de 49 páginas excluídas as capas e que é objeto de Número Internacional Normalizado para Livro ISBN As sociação 2006 p3 De modo semelhante a UNESCO United Nations Educational Scientific and Cultural Organization es tabelece em 48 esse número mínimo de páginas cf Guilherme 1996 p25 ficando então a critério doa autora optar por uma ou outra orientação devendo considerar para tanto a finalida de do material a ser produzido Quanto à estrutura do livro no Brasil seus elementos obrigatórios e opcionais estão definidos na NBR 6029 da ABNT op cit conforme expomos adiante 3 Dado o foco deste capítulo mantemos a definição de comunicação gráfica impressa registrada por Collaro a despeito de estarmos cientes dos tantos outros suportes disponíveis para a publicação de livros Produção de livros da prática à teoria 179 Por seu turno a palavra design vem do inglês e tecnicamen te significa projetar compor algo visualmente ou colocar em prática determinado plano ou projeto cf Azevedo 1988 O design não se direciona apenas aos artefatos ou à arquitetura por exemplo mas também se aplica a qualquer material impresso e aí se in clui o livro tornado produto na sociedade industrial Assim o layout ou leiaute pode ser entendido como o design gráfico ou o projeto visual básico de todos os elementos que deverão inte grar esse material A partir dos anos 1980 o trabalho tipográfico foi adaptado à tecnologia informática e assim grande parte do processamento de textos e composição de páginas para posterior publicação migrou para o sistema desktop publishing ou editoração eletrôni ca que combina microcomputador hardware programas de com putação softwares e impressora laser cf Smith Jr 1990 p96 7 sistema que tem contribuído para o barateamento e agilidade do processo de publicação Na seqüência abordamos as princi pais etapas da editoração eletrônica de livros 83 O caminho das pedras 831 Revisão do trabalho Vamos partir do pressuposto de que oa autora já tenha selecionado as teorias norteadoras de seu livro os escritos as imagens e os exercícios que o integrarão e elaborado seu próprio texto que dê coesão e coerência à futura publicação em suma que já tenha redigido e digitado todo o trabalho e inserido as imagens que o comporão tendo montado uma seqüência ao menos semelhante àquela que será a final Isso se aplica também ao caso de obras coletivas com mais de uma autora Na etapa seguinte independente da área do conhecimento na qual se 180 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática insira o trabalho ele deve ser encaminhado para revisão quanto à legibilidade consistência gramática clareza estilo e precisão factual cf Smith Jr 1990 p68 Isso porque entre outros mo tivos simplesmente por estar envolvidoa emocionalmente com sua obra ou por já têla lido por diversas vezes oa autora poderá deixar de perceber falhas as mais óbvias as quais salta rão aos olhos após a publicação do trabalho causandolhe cons trangimento não é àtoa que como sabemos mesmo o escritor Machado de Assis submetia seus escritos à revisão de Carolina Novais Machado de Assis cf Miguel Pereira 1988 p2534 Além disso a revisão e as atualizações no arquivo dela decor rentes devem ser anteriores à aplicação do layout ao livro uma vez que após mesmo pequenas modificações podem implicar alterações em toda a estrutura da página As casas editoras geralmente dispõem de profissionais fi xos ou contratados como free lance especificamente para revisão de publicações No caso de obras de autoria coletiva é comum que oa organizadora ou editora tome a si essa tarefa ou que encaminhe os escritos a uma profissional de Letras contudo para oa autora independente a terceirização pode se tornar dispendiosa e assim a colaboração de uma colega pode ser um recurso viável Não se pode esquecer que a editoração de obras seja ela comercial ou independente envolve trabalho de equipe pois dificilmente um indivíduo poderá levar a efeito sozinho a publicação de um trabalho Apesar de via de regra osas educadoresas formarem um grupo razoavelmente colaborativo e solidário o trabalho docente acarreta grande nú mero de atividades sendo interessante logo que oa autora ofereça algum tipo de contrapartida a seuua colega como auxí lio na preparação de aulas ou correção de trabalhos de alunos não esquecendo ainda de incluir o nome dessea colaboradora Produção de livros da prática à teoria 181 na ficha técnica do livro e quando houver na lista de agradeci mentos 832 Impressão de todo o trabalho Feitos os acertos após a revisão é importante que o arqui vo contendo o trabalho seja novamente impresso Caso o livro venha a ser produzido via meio digital essa impressão deverá ocorrer preferencialmente utilizandose o mesmo software em pregado para digitálo e igual driver de impressora que tenha per manecido ativo durante esse processo Isso evita alguns proble mas como alteração de fontes tipo e tamanho dos caracteres perda de partes do texto mudança de estilos atributos de formatação do texto etc além de documentar o layout inicial do arquivo o que poderá ser muito útil quando de sua destrui ção conforme explicamos adiante Esse será o primeiro boneco do livro indispensável sobretudo quando a obra for coletiva ou quando oa autora não for oa editora da publicação 833 Backup cópia de segurança e verificação do suporte Mesmo que oa próprioa autora vá editorar seu livro é necessário que sejam feitas ao menos duas cópias de segurança do arquivo de trabalho uma em outra área do winchester disco rígido e outra em meio externo ao computador outro computa dor disquete CD zipdisk etc Essas cópias devem ser atualizadas periodicamente ao longo do desenvolvimento de toda a editoração Isso salvaguarda o trabalho de perdas voluntárias ou involuntárias de dados infestação por vírus e danos no ar quivo causados por insuficiência de memória RAM queda ou falta de energia interferência de terceiros e acidentes com o equi pamento só para se citarem alguns exemplos a lista de Murphy 182 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática é extensa sobretudo para iniciantes Feitas as cópias deve ser conferida a integridade dos arquivos e do meio no qual elas este jam armazenadas Aliás essa verificação da integridade do su porte assim como a prevenção contra infestações por vírus deve ser prévia quando se tratar de arquivo gerado por terceiros 834 Verificação da memória RAM Quando o material do futuro livro está todo digitado e com as ilustrações inseridas já é possível terse uma idéia bem apro ximada da extensão final do arquivo em bites ou bytes É neces sário então verificarse se o equipamento no qual a obra será editorada possui memória RAM virtual para leitura e grava ção suficiente para o trabalho Há que se considerar ainda que alguns softwares são muito pesados ou seja eles próprios ocupam muita memória RAM Se o usuário não tiver condições de fazer tal avaliação deverá consultar alguém que possa ajudá lo pois insuficiência de memória do computador assim como de espaço no winchester podem ocasionar por exemplo conge lamento da tela apagamento total ou parcial do arquivo e eli minação de imagens as quais são substituídas por um fatídico X em vermelho Isso tudo via de regra naturalmente quando o trabalho já está quase concluído os prazos para publicação es tão se esgotando etc etc 835 Definição do equipamento e da forma de impressão Ao contrário do que muitos pensam a definição do equi pamento e da forma de impressão do livro não é a última deci são a ser tomada mas uma das primeiras Isso porque ela está diretamente relacionada aos custos tiragem número de exem plares e layout da obra escolha do tipo de papel tamanho da Produção de livros da prática à teoria 183 página e da mancha e forma de reprodução das ilustrações Smith Jr 1990 p93 escreve que os editores têm obrigação de aprender alguma coisa sobre os processos de impressão e encadernação e sobre o que é e o que não é fisicamente possível num planejamento gráfico Quanto mais aprenderem mais serão capazes de se protegerem de impressores descuidados e desonestos Para aprender então além de ler um pouco a respeito e se possível consultar profissionais de sua confiança oa edi tora necessita ir a campo comparando preços e tecnologias oferecidas para impressão Apesar da possibilidade de se enviarem via correio eletrô nico os arquivos para impressão de trabalhos é recomendável que essa etapa seja executada em local de fácil acesso aoà edi tora podendo ser mais de perto por elea acompanhada Atualmente há duas principais modalidades para impressão de livros offset ou ofsete e impressão digital laser No primeiro caso após editorado o texto é impresso em um papel especial ou em um filme a partir dos quais mediante processos quími cos e fotográficos são confeccionadas chapas para reprodução do livro em impressora offset No segundo caso o arquivo con tendo o texto é transferido diretamente ao servidor de uma im pressora digital laser pela qual é impresso não sendo necessária portanto a confecção de chapas É ainda empregado um tercei ro tipo de impressão intermediário entre os dois anteriores o qual dispensa o uso de fotolitos sendo a chapa gravada eletro magneticamente A escolha do meio de impressão relacionase sobretudo a custos tiragem qualidade pretendida e prazos A impressão em offset oferece mais opções quanto ao tamanho cor e textura do 184 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática papel além de as tintas empregadas serem mais duráveis possi bilitando ainda a reprodução de imagens coloridas contudo devido à necessidade de confecção das chapas esse método é econômico apenas para grandes tiragens sendo seus custos ele vados para edições de aproximadamente até 500 exemplares Muitas impressoras a laser também imprimem em cores porém os custos finais são maiores Se o equipamento digital a laser apresenta limitações quan to à impressão em cores tamanho e tipo do papel isso não ocor re com respeito ao número de exemplares sendo ele recomen dável para obras de baixa tiragem Essas máquinas permitem que seja impresso qualquer número de exemplares viabilizando assim as edições por demanda Uma vez que esse processo utili zase de uma impressora eletrônica é necessário que já durante a editoração do texto permaneça ativo o driver apropriado no microcomputador onde o trabalho estiver sendo realizado caso contrário posteriormente ao ser transferido para o equipamen to de impressão o livro poderá sofrer alterações de layout Com pletada a fase de editoração outra medida de segurança é o fe chamento do arquivo antes de seu envio para impressão utili zandose softwares que gerem extensões eps ou pdf o que evita alterações de fontes ou layout Algumas gráficas inclusive não aceitam arquivos fora de um desses formatos os quais pos sibilitam a troca universal de documentos No manual da Adobe 1999 lêse que os arquivos em pdf conservam a mesma aparência e conteúdo do original inclusive fontes e gráficos podendo ser distribuídos por correio eletrônico ou armazenados na word wide web na Internet em um sistema de arquivos ou em um CD Produção de livros da prática à teoria 185 As exigências quanto ao fechamento de arquivos variam entre os birôs portanto recomendamos que os profissionais res ponsáveis pela finalização do livro sejam contatados antes des se procedimento Horie Pereira 2005 apresentam detalhes importantes cuja observância poderá adiantar bastante o traba lho 836 Préeditoração destruição do arquivo e preparação para aplicação do layout Independente de quem tenha digitado o trabalho o arqui vo necessita ser completamente limpo antes que se inicie a editoração eletrônica a fim de que se possam aplicar os estilos planejados para o livro sem a interferência de comandos indese jáveis Esse procedimento pode acarretar alterações no arquivo inicial e aí está a importância do boneco mencionado no item 832 Os processadores de textos possuem recursos cuja utiliza ção requer o emprego dos comandos adequados e assim o melhor software é aquele sobre o qual se tenha um bom domínio A despeito da grande semelhança entre a disposição dos caracteres no teclado das máquinas de escrever e no dos compu tadores ela pára por aí sendo que a transferência da lógica de utilização do equipamento mecânico para o eletrônico é uma das maiores causadoras de poluição nos arquivos a qual pre cisa ser inegociavelmente removida Geralmente os softwares para processamento de texto oferecem recursos para a realização au tomática de todas as operações envolvidas nessa limpeza pré via 186 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Em primeiro lugar devem ser eliminados os estilos que porventura tenham sido aplicados ao arquivo tanto pelo digitador como pelo próprio software já que alguns deles trazem opção para estilização automática a qual deve ser desabilitada Na seqüência excluemse todos os espaços excedentes a saber espaço duplo entre as palavras espaço antes dos sinais de pon tuação espaços antes e depois das marcas de parágrafos e espa ços após a abertura e antes do fechamento de parênteses e de aspas Também devem ser apagadas as entradas duplas de pará grafo e as tabulações empregadas para recuo de parágrafo uma vez que todos os espaços entre os elementos do livro são obti dos por meio da aplicação de estilos e que o recuo de parágrafo é dado pelo deslocamento dos marcadores da régua horizontal disposta na parte superior da tela do computador Por último o texto deve ser submetido a um bom corretor ortográfico sempre sob o olhar atento doa autora ou editora estando após isso pronto para a aplicação do layout 837 Definição do layout do livro Toda obra seja ela publicada por uma casa editora ou por uma pessoa física que atue como editora independente deve ser projetada por um designer gráfico que no segundo caso pode ser oa próprioa autora ou organizadora do livro contudo ainda que elea se sinta habilitadoa a desenvolver essa etapa do trabalho de editoração é interessante que recorra ao auxílio de uma colega da área de Design ou de Artes tanto nas escolas como nas universidades Outra alternativa é o trabalho colaborativo com uma ou mais alunosas sobretudo em esta belecimentos onde elesas necessitem elaborar seu portfolio ou portafólio ao longo do curso Geralmente o resultado da ativi dade conjunta é muito bom Produção de livros da prática à teoria 187 É importante terse o cuidado de não transformar a capa do livro em uma profusão desnecessária de imagens Essa parte material da obra é de cunho artístico devendo sobretudo ex pressar um conceito sendo desaconselhável buscar transformá la em um resumo do conteúdo Muitas capas de livros premiadas nas bienais do Designer Gráfico no Brasil primam pela simpli cidade e equilíbrio de elementos O layout de um trabalho deve ser coeso compatibilizando assunto capa ilustrações e fontes empregadas para as distintas partes do livro comportando recursos que aproximem forma e conteúdo como um modo de despertar o interesse do leitor e de facilitar sua leitura dos textos escritos4 O projeto visual de um livro compreende no mínimo tamanho da página e mancha considerandose os limi tes impostos pelo equipamento impressor cor gramatura e tipo de papel tamanho e tipo das fontes escolha das ilustrações e de sua forma de inserção capa Tendo já definido o modo de impressão e lembrando que os atributos do papel são determinantes para a construção do layout da obra oa designer deverá conversar com oa profissio nal responsável pela impressão dos exemplares informandose sobre o material que será empregado podendo assim melhor ela borar seu projeto em termos de mancha e número de páginas Não raro as gráficas possuem lotes de papel encalhados que poderão ser negociados a um custo mais baixo tendo ainda seus profissionais condições de indicar a gramatura e o tipo de papel mais apropriados a cada tipo de impressão 4 Uma vez que todo este livro aborda a produção de materiais para ensino por meio dele próprio objetivamos fornecer um exemplo de layout bem como dos elementos que devem constituir esse tipo de publicação 188 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Um dos problemas de se trabalhar em projetos para livros de pequena tiragem é que raramente se podem empregar cores o que torna ainda maior o desafio do designer sobretudo em se tratando de livros didáticos Resta assim o recurso do movi mento obtido com a disposição dinâmica de textos e ilustra ções na página E muita imaginação É bom lembrar que atual mente sobretudo os jovens estão bastante familiarizados com o design de páginas da Internet5 podese então aplicar semelhan tes recursos ao layout do livro a despeito das limitações impos tas pela monocromia e pela imagem estática O passo seguinte é a definição dos estilos do layout que pode ser por exemplo mais formal ou informal ornamentado ou despojado clássico ou contemporâneo escolha também rela cionada à natureza da publicação a qual pode ser acadêmica técnica ou didática apenas para se citarem alguns exemplos da segmentação do mercado A seleção de fontes constitui um dos principais recursos para a composição do estilo do layout e sen do assim fontes serifadas com traços em suas hastes podem ser mais apropriadas a determinadas obras enquanto as de tra ços retos podem melhor se adequar a outras No geral as fontes serifadas são mais aplicáveis a textos longos ao passo que as fontes sem serifas permitem melhores resultados nos títulos Fontes fantasia que apresentam traços artísticos também não se aplicam a trechos extensos por dificultarem a leitura Quando um software é instalado no computador há fontes que o acompanham entre as quais algumas já estarão devida mente licenciadas se o programa for registrado Fontes adicio nais podem ser adquiridas e instaladas separadamente mas assim como qualquer outro software elas são protegidas por 5 A respeito da geração imagética ver o capítulo O Professor como Facilitador Virtual de Rafael VetromilleCastro nesta obra Produção de livros da prática à teoria 189 direitos autorais a menos que sejam de domínio público como a Times New Roman ou a Arial Sites especializados oferecem arquivos de fontes licenciadas para download cuja utilização é livre desde que citada a procedência O site http wwwdafontcom por exemplo oferece 7624 fontes dividi das em famílias além de instruções para instalálas Consideran dose que o nome das fontes utilizadas na composição de uma obra deve constar no colofão é recomendável que esses míni mos cuidados sejam observados para que se evitem transtornos futuros Particularmente o livro didático permite que se empregue maior variedade de fontes devendose evitar porém que isso se transforme em uma profusão desnecessária Um bom método de trabalho é criarse uma identidade visual entre os elementos do livro empregandose fontes de um mesmo estilo por exem plo para todos os títulos Esse recurso serve ainda para se des tacarem os textos doa autora da obra textos extraídos de outras publicações transcrição de textos de alunosas comen tários legendas títulos subtítulos exercícios notas etc Selecionadas as fontes que comporão a obra partese en tão para a criação dos estilos os quais facilitam não só a editoração mas também possibilitam a geração automática de sumários lis tas e índices no caso de aplicativos domésticos Cada software oferece recursos próprios para a definição de estilos e assim é recomendável que oa editora familiarizese com eles Todos os blocos de texto devem ser estilizados desde o número de página às notas de rodapé no mínimo quanto a fonte recuos espaçamento entre linhas controle de linhas órfãs e viúvas e idioma adicionalmente podese definir tabulação borda mol dura e numeração de linhas entre outros As normas técnicas para estilização podem ser encontradas por exemplo nas NBR 190 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática 6024 6029 e 10520 da Associação Brasileira de Normas Técni cas 2003 2006 2002b respectivamente Finalizado o projeto é importante que ele seja aplicado a algumas páginas do livro para que se faça um teste de impres são o que irá indicar as alterações necessárias Esse teste deve ser feito preferencialmente no mesmo equipamento no qual o livro ou suas matrizes serão impressos ou ao menos por uma impressora que propicie resultado semelhante 838 Aplicação do layout Antes de se dar início à aplicação do layout é importante que se insiram no arquivo todas as partes que deverão compor o futuro livro a fim de que sejam evitados esquecimentos De acordo com a NBR 6029 Associação 2006 a parte interna do livro é formada por elementos prétextuais textuais e pós textuais O detalhamento de cada um desses itens encontrase na referida norma cuja consulta recomendamos aosàs edito resas e dessa forma segue apenas a relação dos tópicos que integram cada uma dessas partes Os elementos prétextuais compreendem falsa folha de rosto opcional folha de rosto obrigatória errata opcional dedicatórias opcional agradecimentos opcional epígrafe opcional lista de ilustrações opcional lista de tabelas opcional lista de abreviaturas e siglas opcional lista de símbolos opcional sumário obrigatório não confundir com índice Produção de livros da prática à teoria 191 prefácio opcional geralmente escrito por terceiros a convite doa autora ou da casa editora da obra e apresentação opcional Os elementos textuais constituem os capítulos e seções do livro divididos conforme o modo de abordagem da matéria Os elementos póstextuais são posfácio opcional referências obrigatórias lista das obras efetivamente citadas no livro eou bibliografia obras que serviram de apoio à elaboração do livro mas que não tenham sido citadas glossário opcional apêndices opcional documentos complementares pro duzidos peloa autora da obra anexos opcional documentos de autoria diversa índices opcional remissão a autores temas ou ou tros tópicos abordados no livro e colofão obrigatório especificação dos elementos grá ficos utilizados na composição do livro e do estabeleci mento onde ela tenha sido impressa Para aplicação dos estilos oa editora pode se guiar pelo trabalho impresso anteriormente conforme indicado no item 832 Nesse processo alguns cuidados devem ser tomados sen do alguns deles a o título deve sempre acompanhar pelo menos o início do texto que lhe segue não podendo assim ocupar sozinho o final de uma página b não deve haver separação silábica nas palavras que for mam o título c a segmentação do título em duas ou mais linhas é orientada por normas específicas havendo a necessi dade de se preservarem sintagmas e de se evitar a 192 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática formação de cacófatos e de vocábulos chulos cf Widholzer 2002 d do mesmo modo devese evitar a formação de cacófatos e de vocábulos inadequados quando da separação das sílabas nos demais textos e ao final e início das páginas não deve haver linhas ór fãs ou viúvas ou seja linhas únicas isoladas do restan te do parágrafo f devese evitar a disposição das citações longas desta cadas do texto em mais de uma página Há muitos outros cuidados a serem observados que em sua maioria contudo dizem respeito a normas técnicas as quais podem ser consultadas nos devidos documentos Terminada a editoração deve ser impressa uma prova com pleta do trabalho já em seu formato definitivo novamente no mesmo equipamento onde será feita a impressão dos exempla res ou em impressora que possibilite resultado semelhante De posse dessa prova uma bibliotecárioa devidamente registra doa no Conselho Regional de Biblioteconomia CBR poderá elaborar a ficha catalográfica do livro A obra deverá então ser encaminhada para a Biblioteca Nacional para fins de atribuição do ISBN International Standard Book Number e posterior de pósito legal dos direitos autorais após a publicação do livro Antes da impressão do total da tiragem se possível reco mendase que oa autora solicite a confecção de uns poucos exemplares que servirão como piloto em uma turma de estu dantes Esse trabalho em conjunto com alunosas permite que melhor se achem os furos do livro e se testem os exercícios propostos Produção de livros da prática à teoria 193 839 Capa A capa é a embalagem ou seja o revestimento externo do miolo do livro devendo harmonizarse com o conteúdo da obra Se oa autora não puder contar com os serviços de uma designer contratado elea poderá novamente solicitar a colabo ração de colegas das áreas de Design ou Artes Gráficas ou ainda de seusuas alunosas sob a supervisão dos primeiros que se sentirão valorizadosas pela participação no trabalho No caso de imagens já publicadas geralmente protegidas por direito autoral de reprodução de obras de outrosas autoresas ou de fotografias que retratem pessoas oa autora do livro necessi tará obter por escrito autorização de todos os agentes envolvi dos a fim de que possa utilizar esse material na capa de seu livro Assim como o miolo o design da capa deve levar em consi deração os custos ainda que neste caso as possibilidades sejam muito superiores àquelas disponíveis para o corpo do livro sem que isso implique necessariamente elevação do preço depen dendo da combinação entre tipo e gramatura do papel e proces so de impressão Apenas para se citarem alguns exemplos a gramatura do papel varia entre 230g e 300g as quatro cores bá sicas para a impressão quando sobrepostas podem ser infinitas além de haver grande diversidade de cores prontas especiais a proteção pode ser obtida por meio da sobreposição de verniz ou de plastificação e o miolo pode ser costurado colado espiralado ou grampeado dependendo do número de páginas e do design Em linhas gerais a capa pode ser flexível brochura ou rígida capa dura de material cartonado ou encadernado Cabe lem brar que o tipo de papel também influenciará o resultado final da criação 194 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática A capa dividese em primeira e quarta capas as faces ex ternas da publicação e segunda e terceira capas as faces inter nas da primeira e quarta capas respectivamente A primeira capa deve conter o nome doas autoraesas organizador aesas ou editoraesas título e subtítulo da obra e nome e ou logomarca da editora podendo ainda ser acrescentadas ilus trações A segunda e terceira preferencialmente não registram qualquer informação ou publicidade Na quarta capa ou contracapa imprimemse o número e o código de barras do ISBN podendo ela conter ainda o resumo do livro e o endereço da editora Em livros e folhetos encadernados com materiais rígidos são ainda obrigatórias as folhas de guarda coladas no começo e no fim da obra para prender o miolo às capas Essas folhas são opcionais para livros encadernados com materiais flexíveis As orelhas ou abas são opcionais e constituem cada uma das extremidades da sobrecapa ou da capa do livro dobradas para dentro As orelhas devem trazer dados biográficos doas autoraes e comentários sobre a obra sendo opcionais outras informações como o público ao qual se destina Assim como a quarta capa a orelha pode conter uma ilustração dando conti nuidade à primeira capa A lombada ou dorso é a parte da capa que reúne as mar gens internas de um livro ou folheto sendo obrigatória quando a publicação comportála Nela são impressos o nome doas autoras e da obra a identificação do volume quando perti nente e a logomarca da editora A disposição desses elementos na lombada é descrita na NBR 12225 da ABNT Associação 2004 Produção de livros da prática à teoria 195 8 4 Imagens Dada sua importância a inserção de imagens no corpo do livro merece uma seção à parte Diferente do que ocorre em relação à capa do livro a reprodução de gravuras de autoria di versa no corpo da publicação assim como de textos escritos não constitui ofensa aos direitos autorais desde que relaciona das ao contexto do trabalho e que seja citada a respectiva fonte cf Brasil 2002e Sempre que possível contudo devese evi tar que a cópia seja o único recurso para a ilustração da obra sendo recomendável a produção de estampas originais elabora das diretamente sobre suportes materiais diversos para poste rior digitalização ou mediante a utilização de softwares apropria dos a tal fim Dependendo do orçamento disponível a impressão de ilus trações pode ser monocromática em matizes de uma mesma cor ou em um número variado de cores Em qualquer um dos casos devese verificar qual a melhor resolução em número de dpi pontos por polegada para a digitalização de imagens levando se em consideração o software que será utilizado para editoração do livro e o meio de impressão Geralmente a resolução mínima requerida para ilustrações em preto e branco é de 200 dpi e para as coloridas é de 300 dpi A inserção de imagens junto aos textos requer certa noção de equilíbrio evitandose carregar a página De preferência as ilustrações devem acompanhar a entrada área principal ou a saída da página área secundária6 ou ainda localizarem se no centro óptico pouco acima do centro geométrico de modo a não interferirem negativamente no processo de leitura mas a 6 A respeito da varredura de uma superfície pelo olho humano ver o capítulo Regras Práticas para a Criação de Transparências e de Apresentações com Mídias Eletrônicas de Adriano Nobre Oliveira nesta obra 196 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática contribuírem para a harmonização do discurso gráfico O canto superior direito e o inferior esquerdo são as áreas mortas da página onde poderão se situar estampas menos importantes A reserva ou não de áreas privilegiadas às ilustrações dependerá de sua importância no contexto da obra projeto gráfico público leitor etc À medida que há a sofisticação dos sistemas de composi ção gráfica segundo Silva 1985 maior é a dependência da cul tura letrada ocidental com relação a fatores visuais apontando o autor para a existência de um discurso gráfico resultado do con junto de elementos visuais de qualquer material impresso Esse discurso é produzido pela diagramação harmonizando tipos e mensagens Embora seja imprescindível o aprimoramento do texto não se deve desprezar o valor da parte gráfica como ins trumento de persuasão na leitura id p14 Para o autor a decodificação de uma página dáse em dois níveis primeiramente oa leitora observa o conjunto do impresso identificando ilus trações títulos subtítulos espaços em branco gráficos etc So mente após elea se detém nos detalhes de cada uma dessas subáreas Azevedo 1988 p37 escreve que os recentes avan ços tecnológicos têm permitido que o material impresso torne se mais sofisticado fazendo com que o público não apenas leia os textos mas leia as imagens e até mesmo certos espaços que são deixados em branco Do mesmo modo para Kress e van Leeuwen 1988 as imagens também comunicam significado por meio de elementos formais e das estruturas do design cor pers pectiva enquadramento e composição Collaro 2000 faz uma aproximação bastante categórica entre diagramação e conteúdo do texto destacando ainda a necessidade de se alinharem co nhecimentos estético e técnico Fairclough 2001 p51 registra que para designar a abordagem desse cruzamento de códigos diversos autores como Hodge Kress e Threadgold empregam o Produção de livros da prática à teoria 197 termo semiótica social Assinala o autor que Em oposição à lin güística crítica há preocupação com uma variedade de sistemas semióticos como a linguagem e com a interrelação entre lin guagem e semiose visual id Expõe Orlandi 1996 p3940 que a linguagem verbal não é o único meio de que oa leitora dispõe para se relacionar com o universo simbólico já que o mundo está povoado de diversas outras formas de linguagem que se articulam entre si as quais podem ser exploradas no ensino da leitura contribuindo para a formação do sujeitoleitor Nessas outras linguagens incluí mos a imagética recurso visual que pode contribuir para que oa leitora seja um cúmplice do livro didático não seuua ad versárioa cf ibid p7 facilitando o estabelecimento de um diálogo entre elea e oa autora do livro Em pesquisa sobre a utilização do livro didático no ensino fundamental Moysés e Aquino 1987 p9 constataram entre outras a crítica de alunosas a incoerências entre o texto e a ilustração Vêse então a importância de se utilizarem ilustra ções que contribuam efetivamente para a construção de sentido do texto escrito aliandose à mera reprodução a produção de material visual específico Uma vez que a contratação de artis tas implica custos oa autora da obra poderá novamente so licitar a colaboração de colegas eou de alunosas sem nunca esquecer de registrar devidamente os créditos na ficha técnica do livro 85 Direito autoral e ISBN Por compartilhar seus escritos oa autora detém os direi tos autorais copirraite reconhecidos na maior parte dos países do mundo A proteção dos direitos do autor sob este princí pio geral é o objetivo das leis de direitos autorais e de muitas 198 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática práticas do comércio livreiro mesmo que não exigidos por lei Smith Jr 1990 p23 Tal garantia diz respeito a pessoas física ou jurídica abrangendo produções intelectual científica técni ca cultural ou artística Ao contrário do registro de patentes os direitos autorais são válidos em todo o mundo Tais direitos foram idealizados há cerca de 400 anos após a invenção dos tipos móveis por Gutenberg mas apenas em 1886 com a Convenção de Berna convocada mediante a intervenção do escritor Vitor Hugo foram firmados acordos internacionais nesse sentido Alguns países resistiram a aderir a esse pacto internacional por enten derem que ele ia de encontro a suas legislações nacionais Os Estados Unidos da América por exemplo tornaramse parte da Convenção de Berna somente em 1989 ao passo que no Brasil já em 1898 funcionava o Serviço de Direitos Autorais EDA para o registro de obras intelectuais Brasil 2007b As deliberações contidas na Convenção de Berna foram revistas no âmbito de outros encontros internacionais tendo o mais recente ocorrido em Paris em 1971 Desde 1967 a Con venção é administrada pela Organização Mundial da Proprieda de Intelectual órgão das Nações Unidas situado em Genebra que tem por objetivo promover a proteção da propriedade inte lectual e do direito doa autora Os atuais cerca de 180 Esta dos signatários da Convenção estabeleceram que os direitos au torais para uma obra permanecem no mínimo durante todo o tempo de vida doa autora mais cinqüenta anos após sua mor te A lei brasileira nº 5988 de 14 de dezembro de 1973 dispõe sobre o registro de obras intelectuais em território nacional O registro permite o reconhecimento da autoria especifica direitos morais e patrimoniais e estabelece prazos de proteção tanto para o titular quanto para seus sucessores Além de imperar nas questões Produção de livros da prática à teoria 199 referentes à cessão dos direitos contribui para a preservação da memória nacional uma das missões da Fundação Biblioteca Nacional através da Lei do Depósito Legal Brasil 2007b No Brasil os direitos autorais foram consolidados pela Lei nº 9610 de 19 de fevereiro de 1998 pela qual estes permane cem em vigor por até setenta anos após a morte doas autoras da obra contados a partir de 1o de janeiro do ano subseqüente ao falecimento doa últimoa coautora quando for o caso Não havendo sucessoresas a obra passa imediatamente ao domínio público Brasil 2007e Estabelecidos os direitos autorais editores de diversos países reunidos em Berlim em novembro de 1966 apontaram a necessidade de criação de um número único e simples para iden tificação de cada item publicado visando ao controle computadorizado de produção e distribuição de livros Funda ção 2002 p9 Nesse sentido em 1967 editores ingleses criaram o International Standard Book Number ISBN o qual identifica um livro e sua edição O código passou a ser ampla mente empregado tanto pelos comerciantes de livros quanto pelas bibliotecas até ser oficializado em 1972 como norma interna cional pela International Standard Organization ISO 2108 1972 Brasil 2007c Atualmente o ISBN é utilizado por cerca de 150 países sob a supervisão da Agência Internacional do ISBN No Brasil desde 1978 a Fundação Biblioteca Nacional foi designada como a Agência Nacional de ISBN havendo livra rias que não aceitam a comercialização de livros que não este jam catalogados dentro desse padrão internacional A Lei do Livro Lei no 10753 de 30 de outubro de 2003 tornou a obrigatória a adoção do ISBN assim como a ficha catalográfica da obra Bra sil 2007c 200 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Todas as publicações impressas que tenham a partir de cinco páginas devem receber ISBN assim como softwares e livros ele trônicos No caso de obras compostas por mais de um volume recebem ISBN o conjunto e os volumes separadamente A cada edição é atribuído novo código à obra A fim de requerer ISBN para suas publicações a casa edi tora deve se cadastrar junto à Biblioteca Nacional Consideran do os fins a que se propõe este capítulo cabe salientar que tam bém oa autora independente pode solicitar o número exclusi vamente para obras de sua autoria Para tanto é obrigatório en viar o formulário de cadastro juntamente com o requerimento de ISBN Após publicada obra que tenha recebido ISBN deve ser feito depósito legal de um de seus exemplares junto à Biblioteca Nacional A Lei do Depósito Legal Lei no 10994 de 14 de dezembro de 2004 dispõe sobre esse procedimento obrigatório cuja inobservância é sujeita a multa O depósito legal que não deve ser confundido com o registro de obras intelectuais tem por objetivo assegurar o assento e a guarda da produção intelec tual nacional além de possibilitar o controle a elaboração e a divulgação da bibliografia brasileira corrente bem como a defe sa e a preservação da língua e cultura pátrias Neste capítulo registramos em linhas gerais as etapas que podem ser seguidas para a produção de um livro assim como apontamos algumas fontes bibliográficas relacionadas a essa ati vidade Dada a limitação do espaço não nos ativemos a orienta ções mais minuciosas sobretudo àquelas relacionadas a norma lização as quais são facilmente encontradas em publicações es pecíficas Munidoa dessas indicações oa professora encon trará o melhor caminho para a publicação de seu trabalho va lendose da criatividade que aliás é uma das características co muns à docência e à editoração de livros Produção de livros da prática à teoria 201 Referências ADOBE SYSTEMS INCORPORATED Guia do usuário do Adobe Acrobat 40 EUA 1999 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 10521 numeração internacional para livro ISBN Rio de Janeiro 1988a NBR 10524 preparação de folhaderosto de livro Rio de Janeiro 1988b NBR 6023 informação e documentação referências elaboração Rio de Janeiro 2002a NBR 10520 citações em documentos apresentação Rio de Janeiro 2002b NBR 6024 numeração progressiva das seções de um documento Rio de Janeiro 2003 NBR 12225 títulos de lombada Rio de Janeiro 2004 NBR 6034 preparação de índice de publicações Rio de Janeiro 2005 NBR 6029 informação e documentação livros e folhetos apresentação Rio de Janeiro 2006 AZEVEDO W O que é design São Paulo Brasiliense 1988 Coleção Primeiros Passos 211 BRASIL Ministério da Cultura Fundação Biblioteca Nacional Depósito legal Disponível em httpwwwfbnbrsite defaulthtm Acesso em 29 abr 2007a 202 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática BRASIL Ministério da Cultura Fundação Biblioteca Nacional Escritório de Direitos Autorais Disponível em httpwwwfbnbr sitedefaulthtm Acesso em 29 abr 2007b Ministério da Cultura Fundação Biblioteca Nacional O que é ISBN Disponível em httpwwwfbnbrsitedefaulthtm Acesso em 29 abr 2007c Ministério da Educação Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação FNDE Livro didático Disponível em httpwww1fndegovbrhomeindexjsparquivo livrodidaticolivrodidaticohtmlpnld Acesso em 30 abr 2007d Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos Lei n 9610 de 19 de fevereiro de 1998 Altera atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências Disponível em httpwwwculturagovbr legislacaoleisindexphpp36more1c1pb1 Acesso em 15 fev 2007e COLLARO A C Livros In Projeto gráfico teoria e prática da diagramação São Paulo Sumus 2000 CORACINI M J Org Interpretação autoria e legitimação do livro didático São Paulo Pontes 1999 FAIRCLOUGH N Discurso e mudança social Brasília Editora Universidade de Brasília 2001 FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL Manual dos usuários do ISBN International Standard Book Number Rio de Janeiro FBN 2002 GUILHERME H F Pequeno dicionário de editoração Fortaleza EUFC 1996 Produção de livros da prática à teoria 203 HORIE R M PEREIRA R P 300 superdicas de editoração design e artes gráricas 5 ed São Paulo SENAC 2005 HURLBURT A Layout o design da página impressa 2 ed São Paulo Nobel 1999 KRESS G VAN LEEUWEN T Reading images the grammar of visual design London New York Routledge 1998 MIGUEL PEREIRA L Machado de Assis Belo Horizonte Itatiaia 1988 MOYSÉS L M M AQUINO L M G T de As características do livro didático e os alunos Cadernos CEDES Campinas SP n 18 p5 14 1987 ORLANDI E P Discurso leitura 3 ed São Paulo Cortez 1996 RIO GRANDE DO SUL Contadoria e AuditoriaGeral do Estado Lei no 11670 de 19 de setembro de 2001 Estabelece a Política Estadual do Livro e dá outras providências Porto Alegre Rio Grande do Sul 19 set 2001 Disponível em http wwwlegislacaosefazrsgovbrsite DocumentaspxinpKey104109inpDtTimeTunnel Acesso em 21 maio 2007 SILVA R S Diagramação o planejamento visual gráfico na comunicação impressa 5 ed São Paulo Sumus 1985 SMITH JR D C Guia para editoração de livros Florianópolis UFSC 1990 SOUZA D M de Autoridade autoria e livro didático In CORACINI M J Org Interpretação autoria e legitimação do livro didático São Paulo Pontes 1999 p2731 204 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática WIDHOLZER N R S Fonologia e editoração a segmentação de títulos em publicações In ENCONTRO DO CELSUL 5 2002 Curitiba Glossário Acabamento Uma das etapas finais da confecção de um livro constituindose na junção das páginas que formam o miolo o que pode ser feito por colagem costura ou grampeamento e posterior capeamento ou inserção desse miolo em uma capa Artefinal Finalização de um trabalho artístico já esboçado como a arte da capa ou das ilustrações internas do livro Para impressão offset por exemplo a arte final deve conter especificações técnicas com vistas à reprodução do material Autora Pessoa física que criou a obra Birô Empresa que reúne profissionais habilitados a oferecer serviços de editoração eletrônica Byte bite ou dígito binário Em Informática uma das unidades de medida de informação Boneco ou boneca Esquematização da seqüência das páginas de uma publicação Ainda que esse trabalho seja dispensável para impressos a laser ele é útil para que oa autora tenha uma idéia do encadeamento dos textos de seu livro e do número de páginas que ele terá Em caso de impressão offset divida o boneco em cadernos de quatro páginas montagem usualmente empregada com essa tecnologia Recomendase que o total das páginas seja um múltiplo de quatro Colofão Conjunto de informações disposto de preferência na última página ímpar do livro ou folheto contendo nome das fontes utilizadas nome e endereço da gráfica e local e data de impressão Capa Cobertura rígida ou flexível de material variado do miolo de um trabalho impresso Produção de livros da prática à teoria 205 Copyright ou copirraite Indicado pelo símbolo confere a uma pessoa física ou jurídica o direito exclusivo de editar ou fazer editar imprimir reproduzir ou vender obra literária artística ou científica Crédito Registro do nome colaboradores da obra e de autores de textos ou ilustrações Diagramação Determinação prévia da disposição dos espaços a serem ocupados por todos os elementos de uma publicação textos ilustrações legendas etc assim como dos tipos medidas de colunas etc Driver Software que controla um dispositivo de hardware ou comandos de software que permitem que o computador comuniquese com um periférico específico como uma impressora Cada periférico exige um driver específico Edição Conjunto dos exemplares de uma obra impressos em determinado espaço de tempo Todas as impressões reimpressões e tiragens da obra pertencem à mesma edição desde que não haja modificações significativas Editoração Conjunto das etapas para publicação de uma obra envolvendo preparo do original composição impressão acabamento distribuição e comercialização Exemplares Cada unidade impressa do livro Família Conjunto de caracteres tipográficos que possuam as mesmas características fundamentais Fonte Conjunto das características de um tipo pessoa física ou jurídica cuja obra tenha sido referida ou reproduzida em uma publicação Fotolito Negativo ou diapositivo fotográfico contendo a reprodução do material a ser impresso utilizado para gravação da imagem na chapa para reprodução em offset Gramatura Um dos atributos do papel indica o peso em gramas do metro quadrado da folha ou bobina de papel Mancha Área impressa em uma página Miolo Conjunto das páginas internas de uma publicação desconsiderandose a capa 206 Produção de Materiais de Ensino teoria e prática Página Cada face de uma folha de papel contenha ela ou não material impresso ou manuscrito Portfolio ou portafólio Conjunto da produção artística de um indivíduo grupo ou empresa geralmente organizado em uma pasta de cartão Programação visual Planejamento artístico ou visual de um material para impressão Prova Exemplar impresso para fins de revisão ou avaliação de um material já editorado ou diagramado antes de sua impressão final Retícula Em offset chapa em que são gravados pontos traços ou outros elementos gráficos cuja quantidade varia por centímetro quadrado assim podese trabalhar com apenas uma cor obtendose meiostons a partir do fechamento ou da abertura das retículas Efeito semelhante pode ser obtido em editoração eletrônica Ex diversos tons de azul ou cinza Tiragem Total de exemplares impressos abrangidos por uma edição da publicação Este livro foi impresso pela gráfica XXX para a EDUCAT em fontes Garamond SILdoulos IPA Verdana papel XXX off set Pelotas dezembro de 2007 Aprendizado Baseado em Projetos e Tecnologias Impactos no Envolvimento dos Alunos e na Motivação para a Aprendizagem A educação tem passado por profundas transformações nas últimas décadas impulsionadas pelo avanço tecnológico e uma compreensão cada vez mais ampla do processo de ensinoaprendizagem Nesse contexto o Aprendizado Baseado em Projetos ABP e o uso de tecnologias educacionais têm se destacado como abordagens eficazes para promover o envolvimento dos alunos e motiválos em suas jornadas de aprendizagem O Aprendizado Baseado em Projetos é uma metodologia que envolve os alunos na resolução de problemas reais por meio de projetos que exploram questões significativas e desafiadoras Em vez de aprender conteúdos de forma isolada os alunos adquirem conhecimento de maneira contextualizada aplicandoo em situações práticas Isso permite uma compreensão mais profunda e duradoura dos conceitos tornando a aprendizagem mais significativa A motivação é um elementochave na aprendizagem Quando os alunos estão engajados e motivados o processo de aprendizado se torna mais eficaz O ABP promove a motivação dos alunos pois eles se sentem ativos e responsáveis pelo seu próprio aprendizado A possibilidade de escolher projetos alinhados com seus interesses pessoais aumenta a motivação intrínseca que é um fator determinante no engajamento dos estudantes A tecnologia desempenha um papel fundamental no contexto do ABP Plataformas educacionais softwares aplicativos e recursos digitais fornecem ferramentas para a pesquisa colaboração e apresentação de projetos A tecnologia também possibilita a conexão com especialistas o acesso a informações em tempo real e a exploração de ambientes virtuais de aprendizagem ampliando as possibilidades de investigação e inovação Autores como José Armando Valente em seu livro Tecnologias e Ensino Presencial e a Distância destacam que as tecnologias têm o potencial de tornar a aprendizagem mais flexível e personalizada Isso é especialmente importante quando se fala em projetos pois os alunos podem utilizar recursos tecnológicos para adaptar seus projetos de acordo com seus interesses e ritmos de aprendizado A interatividade proporcionada pelas tecnologias também aumenta o envolvimento dos alunos tornando o processo de aprendizado mais dinâmico e atraente César Coll em sua obra Psicologia e Educação Aprender e Ensinar com Sentido destaca que a motivação está intrinsecamente ligada ao sentido atribuído à aprendizagem As tecnologias educacionais quando bem integradas ao ABP contribuem para a construção desse sentido Os alunos podem utilizar a tecnologia para pesquisar criar comunicar e resolver problemas reais o que gera um propósito claro para a aprendizagem e consequentemente motivação O Aprendizado Baseado em Projetos aliado ao uso de tecnologias educacionais apresenta um potencial significativo para melhorar o envolvimento dos alunos e a motivação na aprendizagem À medida que a tecnologia continua a avançar é fundamental explorar ainda mais como essas ferramentas podem ser integradas de maneira eficaz no contexto do ABP proporcionando uma educação mais relevante e motivadora para os alunos Um dos principais fatores que tornam o ABP eficaz é a motivação intrínseca dos alunos A teoria da autodeterminação apresentada por Deci e Ryan em Motivação e Personalidade 2017 destaca a importância da motivação intrínseca que surge quando os alunos percebem a atividade como significativa e alinhada com seus interesses e valores No ABP os alunos têm a oportunidade de escolher projetos que os cativem aumentando sua motivação intrínseca para aprender A integração de tecnologias educacionais no ABP amplia as oportunidades de aprendizado e colaboração Autores como Marcelo Borba em Tecnologias Informáticas na Educação Matemática 2005 destacam como as tecnologias podem ser usadas para aprimorar o ensino e a aprendizagem fornecendo ferramentas interativas simulações e recursos online que enriquecem a experiência educacional A tecnologia permite que os alunos acessem informações em tempo real colaborem de maneira eficaz e explorem recursos que não estariam disponíveis de outra forma tornando o processo de aprendizado mais envolvente A combinação de Aprendizado Baseado em Projetos e tecnologias educacionais tem o potencial de transformar a educação tornandoa mais motivadora e envolvente A motivação intrínseca dos alunos é estimulada pela oportunidade de escolher projetos alinhados com seus interesses enquanto as tecnologias oferecem recursos interativos e colaborativos que enriquecem o processo de aprendizado À medida que continuamos a explorar o potencial da tecnologia na educação é essencial reconhecer como ela pode ser integrada de maneira eficaz no contexto do ABP preparando os alunos para um mundo cada vez mais tecnológico e dinâmico Referências Bibliográficas Valente J A Tecnologias e Ensino Presencial e a Distância Coll C Psicologia e Educação Aprender e Ensinar com Sentido Deci E L Ryan R M 2017 Motivação e Personalidade Borba M C 2005 Tecnologias Informáticas na Educação Matemática

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