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Cursos Gerais ·
Formação Econômica do Brasil
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CAIO PRADO JR FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO COLÔNIA ENTREVISTA FERNANDO NOVAIS POSFÁCIO BERNARDO RICUPERO COMPANHIA DAS LETRAS Copyright 2011 by herdeiros de Caio da Silva Prado Jr Copyright do Posfácio 2011 by Bernardo Ricupero Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 que entrou em vigor no Brasil em 2009 Grupo curador Coleção Caio Prado Jr André Botelho Bernardo Ricupero Lilia Moritz Schwarcz Luiz Schwarcz Otávio Marques da Costa Capa e projeto gráfico Elisa v Randow Pesquisa iconográfica Bernardo Ricupero Otávio Marques da Costa Fotografias Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo IEBUSP Fundo Caio Prado Jr Reprodução de Rômulo Fialdini Preparação Osvaldo Tagliavini Filho Índice remissivo Luciano Marchiori Revisão Marise Leal Carmen S da Costa Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP Câmara Brasileira do Livro SP Brasil Prado Jr Caio Formação do Brasil contemporâneo colônia Caio Prado Jr entrevista Fernando Novais posfácio Bernardo Ricupero São Paulo Companhia das Letras 2011 Bibliografia ISBN 9788535919622 1 Brasil História Período colonial 2 Entrevistas 1 Novais Fernando 11 Ricupero Bernardo 111 Título 1109444 CDD981021 Índice para catálogo sistemático 1 Período colonial História do Brasil 981021 2011 Todos os direitos desta edição reservados à EDITORA SCHWARCZ LTDA Rua Bandeira Paulista 702 cj 32 04532002 São Paulo SP Telefone 11 37073500 Fax 11 37073501 wwwcompanhiasletrascombr wwwblogdacompanhiacombr Sumário Introdução 7 SENTIDO DA COLONIZAÇÃO 13 POVOAMENTO Povoamento 33 Povoamento interior 55 Correntes de povoamento 73 Raças 88 VIDA MATERIAL Economia 123 Grande lavoura 135 Agricultura de subsistência 164 Mineração 177 Pecuária 195 Produções extrativas 222 Artes e indústria 232 Comércio 241 Vias de comunicação e transporte 251 vida social Organização social 285 Administração 316 Vida social e política 362 Bibliografia e referências 401 Entrevista Fernando Novais 411 Posfácio Bernardo Ricupero 419 Sobre o autor 431 Índice remissivo 435 sentido da colonização Todo povo tem na sua evolução vista à distância um certo sentido Este se percebe não nos pormenores de sua história mas no conjunto dos fatos e acontecimentos essenciais que a constituem num largo período de tempo Quem observa aquele conjunto desbastandoo do cipoal de incidentes secundários que o acompanham sempre e o fazem muitas vezes confuso e incompreensível não deixará de perceber que ele se forma de uma linha mestra e ininterrupta de acontecimentos que se sucedem em ordem rigorosa e dirigida sempre numa determinada orientação É isso que se deve antes de mais nada procurar quando se aborda a análise da história de um povo seja aliás qual for o momento ou o aspecto dela que interessa porque todos os momentos e aspectos não são senão partes por si só incompletas de um todo que deve ser sempre o objetivo último do historiador por mais particularista que seja Tal indagação é tanto mais importante e essencial que é por ela que se define tanto no tempo como no espaço a individualidade da parcela de humanidade que interessa ao pesquisador povo país nação sociedade seja qual for a designação apropriada no caso É somente aí que ele encontrará aquela unidade que lhe permite destacar uma tal parcela humana para estudála à parte O sentido da evolução de um povo pode variar acontecimentos estranhos a ele transformações internas profundas do seu equilíbrio ou estrutura ou mesmo ambas essas circunstâncias conjuntamente poderão intervir desviandoo para outras vias até então ignoradas Portugal nos traz disso um exemplo frisante que para nós é quase doméstico Até fins do século xiv e desde a constituição da monarquia a história portuguesa se define pela formação de uma nova nação europeia e articulase na evolução geral da civilização do Ocidente de que faz parte no plano da luta que teve de sustentar para se constituir contra a invasão árabe que ameaçou num certo momento todo o continente e sua civilização No alvorecer do século xv a história portuguesa muda de rumo Integrado nas fronteiras geográficas naturais que seriam definitivamente as suas constituído territorialmente o reino Portugal se vai transformar num país marítimo desligase por assim dizer do continente e voltase para o oceano que se abria para o outro lado não tardará com suas empresas e conquistas no ultramar em se tornar uma grande potência colonial Vista deste ângulo geral e amplo a evolução de um povo se torna explicável Os pormenores e incidentes mais ou menos complexos que constituem a trama de sua história e que ameaçam por vezes nublar o que verdadeiramente forma a linha mestra que a define passam para o segundo plano e só então nos é dado alcançar o sentido daquela evolução compreendêla explicála É isso que precisamos começar por fazer com relação ao Brasil Não nos interessa aqui é certo o conjunto da história brasileira pois partimos de um momento preciso já muito adiantado dela e que é o final do período de colônia Mas esse momento embora o possamos circunscrever com relativa precisão não é senão um elo da mesma cadeia que nos traz desde o nosso mais remoto passado Não sofremos nenhuma descontinuidade no correr da história da colônia E se escolhi um momento dela apenas a sua última página foi tão somente porque já me expliquei na Introdução aquele momento se apresenta como um termo final e a resultante de toda nossa evolução anterior A sua síntese Não se compreende por isso se desprezarmos inteiramente aquela evolução o que nela houve de fundamental e permanente Numa palavra o seu sentido Isso nos leva infelizmente para um passado relativamente longínquo e que não interessa diretamente ao nosso assunto Não podemos contudo dis pensálo e precisamos reconstituir o conjunto da nossa formação colocandoa no amplo quadro com seus antecedentes desses três séculos de atividade colonizadora que caracterizam a história dos países europeus a partir do século xv atividade que integrou um novo continente na sua órbita paralelamente aliás ao que se realizava embora em moldes diversos em outros continentes a África e a Ásia Processo que acabaria por integrar o Universo todo em uma nova ordem que é a do mundo moderno em que a Europa ou antes a sua civilização se estenderia dominadora por toda parte Todos esses acontecimentos são correlatos e a ocupação e povoamento do território que constituiria o Brasil não é senão um episódio um pequeno detalhe daquele quadro imenso Realmente a colonização portuguesa na América não é um fato isolado a aventura sem precedente e sem seguimento de uma determinada nação empreendedora ou mesmo uma ordem de acontecimentos paralela a outras semelhantes mas independente delas É apenas a parte de um todo incompleto sem a visão desse todo Incompleto que se disfarça muitas vezes sob noções que damos como claras e que dispensam explicações mas que não resultam na verdade senão de hábitos viciados de pensamento Estamos tão acostumados em nos ocupar com o fato da colonização brasileira que a iniciativa dela os motivos que a inspiraram e determinaram os rumos que tomou em virtude daqueles impulsos iniciais se perdem de vista Ela aparece como um acontecimento fatal e necessário derivado natural e espontaneamente do simples fato do descobrimento E os rumos que tomou também se afiguram como resultados exclusivos daquele fato Esquecemos aí os antecedentes que se acumulam atrás de tais ocorrências e o grande número de circunstâncias particulares que ditaram as normas a seguir A consideração de tudo isso no caso vertente é tanto mais necessária que os efeitos de todas aquelas circunstâncias iniciais e remotas do caráter que Portugal impelido por elas dará à sua obra colonizadora e que se gravarão profunda e indelevelmente na formação e evolução do país A expansão marítima dos países da Europa depois do século xv expansão de que o descobrimento e a colonização da América constituem o capítulo que particularmente nos interessa aqui se origina de simples empresas comerciais levadas a efeito pelos navegadores daqueles países Deriva do desenvolvimento do comércio continental europeu que até o século xiv é quase unicamente terrestre e limitado por via marítima a uma mesquinha navegação costeira e de cabotagem Como se sabe a grande rota comercial do mundo europeu que sai do esfacelamento do Império do Ocidente é a que liga por terra o Mediterrâneo ao mar do Norte desde as repúblicas italianas através dos Alpes os cantões suíços os grandes empórios do Reno até o estuário do rio onde estão as cidades flamengas No século xiv mercê de uma verdadeira revolução na arte de navegar e nos meios de transporte por mar outra rota ligará aqueles dois polos do comércio europeu será a marítima que contorna o continente pelo estreito de Gibraltar Rota que subsidiária a princípio substituirá afinal a primitiva no grande lugar que ela ocupava O primeiro reflexo dessa transformação a princípio imperceptível mas que se revelará profunda e revolucionará todo o equilíbrio europeu foi deslocar a primazia comercial dos territórios centrais do continente por onde passava a antiga rota para aqueles que formam a sua fachada oceânica a Holanda a Inglaterra a Normandia a Bretanha e a península Ibérica Esse novo equilíbrio firmase desde o princípio do século xv Dele derivará não só todo um novo sistema de relações internas do continente como nas suas consequências mais afastadas a expansão europeia ultramarina O primeiro passo estava dado e a Europa deixará de viver recolhida sobre si mesma para enfrentar o oceano O papel de pioneiro nessa nova etapa caberá aos portugueses os melhores situados geograficamente no extremo dessa península que avança pelo mar Enquanto holandeses ingleses normandos e bretões se ocupam na via comercial recémaberta e que bordeja e envolve pelo mar o ocidente europeu os portugueses vão mais longe procurando empresas em que não encontrassem concorrentes mais antigos e já instalados e para que contavam com vantagens geográficas apreciáveis buscarão a costa ocidental da África traficando aí com os mouros que dominavam as populações indígenas Nessa avançada pelo oceano descobrirão as ilhas Cabo Verde Madeira Açores e continuarão prolongando o continente negro para o sul Tudo isso se passa ainda na primeira metade do século xv Lá por meados dele começa a se desenhar um plano mais amplo atingir o Oriente contornando a África Seria abrir para seu proveito uma rota que os poria em contato direto com as opulentas Índias das preciosas especiarias cujo comércio fazia a riqueza das repúblicas italianas e dos mouros por cujas mãos transitavam até o Mediterrâneo Não é preciso repetir aqui o que foi o périplo africano realizado afinal depois de tenazes e sistemáticos esforços de meio século Atrás dos portugueses lançamse os espanhóis Escolherão outra rota pelo Ocidente em vez do Oriente Descobrirão a América seguidos aliás de perto pelos portugueses que também toparão com o novo continente Virão depois dos países peninsulares os franceses ingleses holandeses até dinamarqueses e suecos A grande navegação oceânica estava aberta e todos procuravam tirar partido dela Só ficarão atrás aqueles que dominavam no antigo sistema comercial terrestre ou mediterrâneo e cujas rotas iam passando para o segundo plano mal situados geograficamente com relação às novas rotas e presos a um passado que ainda pesava sobre eles serão os retardatários da nova ordem A Alemanha e a Itália passarão para um plano secundário a par dos novos astros que se levantavam no horizonte os países ibéricos a Inglaterra a França a Holanda Em suma e no essencial todos os grandes acontecimentos desta era que se convencionou com razão chamar dos descobrimentos articulamse num conjunto que não é senão um capítulo da história do comércio europeu Tudo que se passa são incidentes da imensa empresa comercial a que se dedicam os países da Europa a partir do século XV e que lhes alargará o horizonte pelo oceano afora Não têm outro caráter a exploração da costa africana e o descobrimento e colonização das ilhas pelos portugueses o roteiro das Índias o descobrimento da América a exploração e ocupação de seus vários setores É esse último o capítulo que mais nos interessa aqui mas não será em sua essência diferente dos outros É sempre como traficantes que os vários povos da Europa abordarão cada uma daquelas empresas que lhes proporcionarão sua iniciativa seus esforços o acaso e as circunstâncias do momento em que se achavam Os portugueses traficarão na costa africana com marfim ouro escravos na Índia irão buscar especiarias Para concorrer com eles os espanhóis seguidos de perto pelos ingleses franceses e demais procurarão outro caminho para o Oriente a América com que toparam nessa pesquisa não foi para eles a princípio senão um obstáculo oposto à realização de seus planos e que devia ser contornado Todos os esforços se orientam então no sentido de encontrar uma passagem cuja existência se admitiu a priori Os espanhóis situados nas Antilhas desde o descobrimento de Colombo exploram a parte central do continente descobrirão o México Balboa avistará o Pacífico mas a passagem não será encontrada Procurase então mais para o sul as viagens de Sólis de que resultará o descobrimento do rio da Prata não tiveram outro objetivo Magalhães será seu continuador e encontrará o estreito que conservou o seu nome e que constituiu afinal a famosa passagem tão procurada mas ela se revelará pouco praticável e se desprezará Enquanto isto se passava no sul as pesquisas se ativam para o norte a iniciativa cabe aí aos ingleses embora to massem para isso o serviço de estrangeiros pois não contavam ainda com pilotos nacionais bastante práticos para empresas de tamanho vulto As primeiras pesquisas serão empregadas pelos italianos João Cabôto e seu filho Sebastião Os portugueses também figurarão nesta exploração do extremo Norte americano com os irmãos Côrte Real que descobrirão o Labrador Os franceses encarregarão o florentino Verazzano de iguais objetivos Outros mais se sucedem e embora tudo isso servisse para explorar e tornar conhecido o Novo Mundo firmando a sua posse pelos vários países da Europa não se encontrava a almejada passagem que hoje sabemos não existir1 Ainda em princípios do século XVII a Virginia Company of London incluía entre seus principais objetivos o descobrimento da brecha para o Pacífico que se esperava encontrar no continente Tudo isso lança muita luz sobre o espírito com que os povos da Europa abordam a América A ideia de povoar não ocorre inicialmente a nenhum É o comércio que os interessa e daí o relativo desprezo por este território primitivo e vazio que é a América e inversamente o prestígio do Oriente onde não faltava objeto para atividades mercantis A ideia de ocupar não como se fizera até então em terras estranhas apenas como agentes comerciais funcionários e militares para a defesa organizados em simples feitorias destinadas a mercadear com os nativos e servir de articulação entre as rotas marítimas e os territórios ocupados mas ocupar com povoamento efetivo isso só surgiu como contingência necessidade imposta por circunstâncias novas e imprevistas Aliás nenhum povo da Europa estava em condições naquele momento de suportar sangrias na sua população que no século XVI ainda não se refizera de todo das tremendas devastações da peste que assolou o continente nos dois séculos precedentes Na falta de censos precisos as melhores probabilidades indicam que em 1500 a população da Europa ocidental não ultrapassava a do milênio anterior Nessas condições colonização ainda era entendida como aquilo que dantes se praticava falase em colonização mas o que o termo envolve não é mais que o estabelecimento de feitorias comerciais como os italianos vinham 1 Também se tentou a partir de meados do século XVI a passagem para o Oriente pelas regiões árticas da Europa e Ásia A iniciativa cabe ao mesmo Sebastião Cabôto que já encontramos na América e mais uma vez a serviço dos ingleses 1553 de longa data praticando no Mediterrâneo a Liga Hanseática no Báltico mais recentemente os ingleses holandeses e outros no extremo Norte da Europa e no Levante como os portugueses fizeram na África e na Índia Na América a situação se apresenta de forma inteiramente diversa um território primitivo habitado por rala população indígena incapaz de fornecer qualquer coisa de realmente aproveitável Para os fins mercantis que se tinham em vista a ocupação não se podia fazer como nas simples feitorias com um reduzido pessoal incumbido apenas do negócio sua administração e defesa armada era preciso ampliar essas bases criar um povoamento capaz de abastecer e manter as feitorias que se fundassem e organizar a produção dos gêneros que interessassem ao seu comércio A ideia de povoar surge daí e só daí Aqui ainda Portugal foi um pioneiro Seus primeiros passos neste terreno são nas ilhas do Atlântico postos avançados pela identidade de condições para os fins visados do continente americano e isso ainda no século XV Era preciso povoar e organizar a produção Portugal realizou esses objetivos brilhantemente Em todos os problemas que se propõem desde que uma nova ordem econômica se começa a desenhar aos povos da Europa a partir do século XV os portugueses sempre aparecem como pioneiros Elaboram todas as soluções até seus menores detalhes Espanhóis depois ingleses franceses e os demais não fizeram outra coisa durante muito tempo que navegar em suas águas mas navegaram tão bem que acabaram suplantando os iniciadores e arrebatandolhes a maior parte se não praticamente todas as realizações e empresas ultramarinas Os problemas do novo sistema de colonização envolvendo a ocupação de territórios quase desertos e primitivos terão feição variada dependendo em cada caso das circunstâncias particulares com que se apresentam A primeira delas será a natureza dos gêneros aproveitáveis que cada um daqueles territórios proporcionará A princípio naturalmente ninguém cogitará de outra coisa que produtos espontâneos extrativos É ainda quase o antigo sistema das feitorias puramente comerciais Serão as madeiras de construção ou tintoriais como o paubrasil entre nós na maior parte deles também as peles de animais e a pesca no extremo Norte como na Nova Inglaterra a pesca será particularmente ativa nos bancos da Terra Nova onde desde os primeiros anos do século XVI possivelmente até antes se reúnem ingleses normandos vasconcelos Os es Bascos N E panhóis serão os mais felizes toparão desde logo nas áreas que lhes couberam com os metais preciosos a prata e o ouro do México e Peru Mas os metais incentivo e base suficiente para o sucesso de qualquer empresa colonizadora não ocupam na formação da América senão um lugar relativamente pequeno Impulsionarão o estabelecimento e ocupação das colônias espanholas citadas mais tarde já no século XVIII intensificarão a colonização portuguesa na América do Sul e a levarão para o centro do continente Mas é só Os metais que a imaginação escaldante dos primeiros exploradores pensava encontrar em qualquer território novo esperança reforçada pelas prematuras descobertas castelhanas não se revelaram tão disseminados como se esperava Na maior extensão da América ficouse a princípio exclusivamente nas madeiras nas peles na pesca e a ocupação de territórios seus progressos e flutuações subordinamse por muito tempo ao maior ou menor sucesso daquelas atividades Viria depois em substituição uma base econômica mais estável mais ampla seria a agricultura Não é meu intuito entrar aqui nos pormenores e vicissitudes da colonização europeia na América Mas podemos e isso muito interessa ao nosso assunto distinguir duas áreas diversas além daquela onde se verificou a ocorrência de metais preciosos em que a colonização toma rumos inteiramente diversos São elas as que correspondem respectivamente às zonas temperada de um lado tropical e subtropical do outro A primeira que compreende grosseiramente o território americano ao norte da baía de Delaware a outra extremidade temperada do continente hoje países platinos e Chile esperará muito tempo para tomar forma e significar alguma coisa não ofereceu realmente nada de muito interessante e permanecerá ainda por muito tempo adstrita à exploração de produtos espontâneos madeiras peles pesca Na Nova Inglaterra nos primeiros anos da colonização viamse até com maus olhos quaisquer tentativas de agricultura que desviavam das feitorias de peles e pesca as atividades dos poucos colonos presentes2 Se se povou essa área temperada o que aliás só ocorreu depois do século XVII foi por circunstâncias muito especiais É a situação interna da Europa em particular da Inglaterra as suas lutas políticoreligiosas que desviam para a América as atenções de populações que não se sentem à vontade e vão procurar ali abrigo e paz para suas convicções 2 Marcus Lee Hansen The Atlantic Migration 16071860 p 13 22
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vantagens geográficas apreciáveis buscarão a costa ocidental da África traficando aí com os mouros que dominavam as populações indígenas Nessa avançada pelo oceano descobrirão as ilhas Cabo Verde Madeira Açores e continuarão prolongando o continente negro para o sul Tudo isso se passa ainda na primeira metade do século xv Lá por meados dele começa a se desenhar um plano mais amplo atingir o Oriente contornando a África Seria abrir para seu proveito uma rota que os poria em contato direto com as opulentas Índias das preciosas especiarias cujo comércio fazia a riqueza das repúblicas italianas e dos mouros por cujas mãos transitavam até o Mediterrâneo Não é preciso repetir aqui o que foi o périplo africano realizado afinal depois de tenazes e sistemáticos esforços de meio século Atrás dos portugueses lançamse os espanhóis Escolherão outra rota pelo Ocidente em vez do Oriente Descobrirão a América seguidos aliás de perto pelos portugueses que também toparão com o novo continente Virão depois dos países peninsulares os franceses ingleses holandeses até dinamarqueses e suecos A grande navegação oceânica estava aberta e todos procuravam tirar partido dela Só ficarão atrás aqueles que dominavam no antigo sistema comercial terrestre ou mediterrâneo e cujas rotas iam passando para o segundo plano mal situados geograficamente com relação às novas rotas e presos a um passado que ainda pesava sobre eles serão os retardatários da nova ordem A Alemanha e a Itália passarão para um plano secundário a par dos novos astros que se levantavam no horizonte os países ibéricos a Inglaterra a França a Holanda Em suma e no essencial todos os grandes acontecimentos desta era que se convencionou com razão chamar dos descobrimentos articulamse num conjunto que não é senão um capítulo da história do comércio europeu Tudo que se passa são incidentes da imensa empresa comercial a que se dedicam os países da Europa a partir do século XV e que lhes alargará o horizonte pelo oceano afora Não têm outro caráter a exploração da costa africana e o descobrimento e colonização das ilhas pelos portugueses o roteiro das Índias o descobrimento da América a exploração e ocupação de seus vários setores É esse último o capítulo que mais nos interessa aqui mas não será em sua essência diferente dos outros É sempre como traficantes que os vários povos da Europa abordarão cada uma daquelas empresas que lhes proporcionarão sua iniciativa seus esforços o acaso e as circunstâncias do momento em que se achavam Os portugueses traficarão na costa africana com marfim ouro escravos na Índia irão buscar especiarias Para concorrer com eles os espanhóis seguidos de perto pelos ingleses franceses e demais procurarão outro caminho para o Oriente a América com que toparam nessa pesquisa não foi para eles a princípio senão um obstáculo oposto à realização de seus planos e que devia ser contornado Todos os esforços se orientam então no sentido de encontrar uma passagem cuja existência se admitiu a priori Os espanhóis situados nas Antilhas desde o descobrimento de Colombo exploram a parte central do continente descobrirão o México Balboa avistará o Pacífico mas a passagem não será encontrada Procurase então mais para o sul as viagens de Sólis de que resultará o descobrimento do rio da Prata não tiveram outro objetivo Magalhães será seu continuador e encontrará o estreito que conservou o seu nome e que constituiu afinal a famosa passagem tão procurada mas ela se revelará pouco praticável e se desprezará Enquanto isto se passava no sul as pesquisas se ativam para o norte a iniciativa cabe aí aos ingleses embora to massem para isso o serviço de estrangeiros pois não contavam ainda com pilotos nacionais bastante práticos para empresas de tamanho vulto As primeiras pesquisas serão empregadas pelos italianos João Cabôto e seu filho Sebastião Os portugueses também figurarão nesta exploração do extremo Norte americano com os irmãos Côrte Real que descobrirão o Labrador Os franceses encarregarão o florentino Verazzano de iguais objetivos Outros mais se sucedem e embora tudo isso servisse para explorar e tornar conhecido o Novo Mundo firmando a sua posse pelos vários países da Europa não se encontrava a almejada passagem que hoje sabemos não existir1 Ainda em princípios do século XVII a Virginia Company of London incluía entre seus principais objetivos o descobrimento da brecha para o Pacífico que se esperava encontrar no continente Tudo isso lança muita luz sobre o espírito com que os povos da Europa abordam a América A ideia de povoar não ocorre inicialmente a nenhum É o comércio que os interessa e daí o relativo desprezo por este território primitivo e vazio que é a América e inversamente o prestígio do Oriente onde não faltava objeto para atividades mercantis A ideia de ocupar não como se fizera até então em terras estranhas apenas como agentes comerciais funcionários e militares para a defesa organizados em simples feitorias destinadas a mercadear com os nativos e servir de articulação entre as rotas marítimas e os territórios ocupados mas ocupar com povoamento efetivo isso só surgiu como contingência necessidade imposta por circunstâncias novas e imprevistas Aliás nenhum povo da Europa estava em condições naquele momento de suportar sangrias na sua população que no século XVI ainda não se refizera de todo das tremendas devastações da peste que assolou o continente nos dois séculos precedentes Na falta de censos precisos as melhores probabilidades indicam que em 1500 a população da Europa ocidental não ultrapassava a do milênio anterior Nessas condições colonização ainda era entendida como aquilo que dantes se praticava falase em colonização mas o que o termo envolve não é mais que o estabelecimento de feitorias comerciais como os italianos vinham 1 Também se tentou a partir de meados do século XVI a passagem para o Oriente pelas regiões árticas da Europa e Ásia A iniciativa cabe ao mesmo Sebastião Cabôto que já encontramos na América e mais uma vez a serviço dos ingleses 1553 de longa data praticando no Mediterrâneo a Liga Hanseática no Báltico mais recentemente os ingleses holandeses e outros no extremo Norte da Europa e no Levante como os portugueses fizeram na África e na Índia Na América a situação se apresenta de forma inteiramente diversa um território primitivo habitado por rala população indígena incapaz de fornecer qualquer coisa de realmente aproveitável Para os fins mercantis que se tinham em vista a ocupação não se podia fazer como nas simples feitorias com um reduzido pessoal incumbido apenas do negócio sua administração e defesa armada era preciso ampliar essas bases criar um povoamento capaz de abastecer e manter as feitorias que se fundassem e organizar a produção dos gêneros que interessassem ao seu comércio A ideia de povoar surge daí e só daí Aqui ainda Portugal foi um pioneiro Seus primeiros passos neste terreno são nas ilhas do Atlântico postos avançados pela identidade de condições para os fins visados do continente americano e isso ainda no século XV Era preciso povoar e organizar a produção Portugal realizou esses objetivos brilhantemente Em todos os problemas que se propõem desde que uma nova ordem econômica se começa a desenhar aos povos da Europa a partir do século XV os portugueses sempre aparecem como pioneiros Elaboram todas as soluções até seus menores detalhes Espanhóis depois ingleses franceses e os demais não fizeram outra coisa durante muito tempo que navegar em suas águas mas navegaram tão bem que acabaram suplantando os iniciadores e arrebatandolhes a maior parte se não praticamente todas as realizações e empresas ultramarinas Os problemas do novo sistema de colonização envolvendo a ocupação de territórios quase desertos e primitivos terão feição variada dependendo em cada caso das circunstâncias particulares com que se apresentam A primeira delas será a natureza dos gêneros aproveitáveis que cada um daqueles territórios proporcionará A princípio naturalmente ninguém cogitará de outra coisa que produtos espontâneos extrativos É ainda quase o antigo sistema das feitorias puramente comerciais Serão as madeiras de construção ou tintoriais como o paubrasil entre nós na maior parte deles também as peles de animais e a pesca no extremo Norte como na Nova Inglaterra a pesca será particularmente ativa nos bancos da Terra Nova onde desde os primeiros anos do século XVI possivelmente até antes se reúnem ingleses normandos vasconcelos Os es Bascos N E panhóis serão os mais felizes toparão desde logo nas áreas que lhes couberam com os metais preciosos a prata e o ouro do México e Peru Mas os metais incentivo e base suficiente para o sucesso de qualquer empresa colonizadora não ocupam na formação da América senão um lugar relativamente pequeno Impulsionarão o estabelecimento e ocupação das colônias espanholas citadas mais tarde já no século XVIII intensificarão a colonização portuguesa na América do Sul e a levarão para o centro do continente Mas é só Os metais que a imaginação escaldante dos primeiros exploradores pensava encontrar em qualquer território novo esperança reforçada pelas prematuras descobertas castelhanas não se revelaram tão disseminados como se esperava Na maior extensão da América ficouse a princípio exclusivamente nas madeiras nas peles na pesca e a ocupação de territórios seus progressos e flutuações subordinamse por muito tempo ao maior ou menor sucesso daquelas atividades Viria depois em substituição uma base econômica mais estável mais ampla seria a agricultura Não é meu intuito entrar aqui nos pormenores e vicissitudes da colonização europeia na América Mas podemos e isso muito interessa ao nosso assunto distinguir duas áreas diversas além daquela onde se verificou a ocorrência de metais preciosos em que a colonização toma rumos inteiramente diversos São elas as que correspondem respectivamente às zonas temperada de um lado tropical e subtropical do outro A primeira que compreende grosseiramente o território americano ao norte da baía de Delaware a outra extremidade temperada do continente hoje países platinos e Chile esperará muito tempo para tomar forma e significar alguma coisa não ofereceu realmente nada de muito interessante e permanecerá ainda por muito tempo adstrita à exploração de produtos espontâneos madeiras peles pesca Na Nova Inglaterra nos primeiros anos da colonização viamse até com maus olhos quaisquer tentativas de agricultura que desviavam das feitorias de peles e pesca as atividades dos poucos colonos presentes2 Se se povou essa área temperada o que aliás só ocorreu depois do século XVII foi por circunstâncias muito especiais É a situação interna da Europa em particular da Inglaterra as suas lutas políticoreligiosas que desviam para a América as atenções de populações que não se sentem à vontade e vão procurar ali abrigo e paz para suas convicções 2 Marcus Lee Hansen The Atlantic Migration 16071860 p 13 22