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Capítulo 2 O Encilhamento A Política Econômica de Rui Barbosa os Bancos a Imprensa e o Colapso Financeiro A Crise do Encilhamento não foi um fenômeno isolado mas sim o resultado de um conjunto de decisões econômicas e políticas tomadas em um contexto de instabilidade institucional e de euforia modernizadora A nomeação de Rui Barbosa como Ministro da Fazenda no governo provisório de Deodoro da Fonseca foi central para o desencadeamento desse processo Sua política econômica inspirada em princípios do liberalismo buscava criar uma base industrial sólida para o Brasil recémrepublicano No entanto a ausência de mecanismos de controle e a fragilidade das instituições financeiras provocaram efeitos contrários aos esperados Rui Barbosa acreditava que o desenvolvimento do país dependia da ampliação do crédito e da democratização do acesso ao capital Para isso promoveu a criação de uma legislação permissiva que facilitava a fundação de bancos emissores e empresas por ações Como aponta BresserPereira 2003 a política monetária e creditícia adotada por Rui foi profundamente expansionista baseada na crença de que o mercado seria capaz de regularse por si só sem a intervenção do Estado A reforma bancária promovida por Rui com base no Decreto nº 956A de 1890 permitiu a criação de bancos emissores privados os quais passaram a emitir moeda lastreada em títulos e ações de empresas recémcriadas muitas delas fantasiosas ou sem base produtiva real Entre as instituições fundadas nesse período destacamse o Banco de Crédito Real de Campinas o Banco Hipotecário e Agrícola do Brasil e o Banco Popular Brasileiro Esses bancos atuavam muitas vezes com critérios frágeis de concessão de crédito incentivando um ambiente de especulação Nesse contexto surgiram centenas de novas empresas das quais muitas não tinham existência física concreta ou operavam apenas no papel Exemplos emblemáticos foram a Companhia Territorial e Agrícola do Brasil a Sociedade Industrial Brasileira e a Companhia Carbonífera e Industrial Brasileira criadas com capital inflado e objetivos muitas vezes irreais Como pontua Prado Júnior 1981 o país viveu uma verdadeira alucinação empresarial onde o capital fictício substituiu o trabalho produtivo e a especulação financeira sobrepôsse à produção A emissão descontrolada de moeda foi um dos pilares centrais dessa crise Entre 1889 e 1891 a base monetária praticamente dobrou sem o respaldo necessário em reservas ou produção real o que gerou um processo inflacionário que corroeu o poder de compra da população O historiador Boris Fausto 1995 ressalta que o crescimento desordenado da moeda em circulação sem o correspondente aumento da produção contribuiu para a formação de uma bolha que ao explodir arrastou consigo a confiança no sistema econômico e político A imprensa da época desempenhou um papel fundamental na divulgação e crítica desses acontecimentos O jornal Gazeta de Notícias sediado no Rio de Janeiro acompanhou de perto o desenrolar da crise e adotou um tom crítico frente às políticas de Rui Barbosa Em edição publicada em abril de 1891 o jornal escreveu Multiplicamse diariamente os estabelecimentos bancários e industriais cujas fachadas luxuosas contrastam com a ausência de qualquer atividade real O povo iludido por promessas de progresso começa a sentir no bolso os efeitos de uma política temerária Esse tipo de cobertura reforça o clima de desconfiança que se instalava entre os cidadãos A análise do discurso da Gazeta de Notícias evidencia uma postura de desilusão com a República nascente que não conseguia oferecer estabilidade econômica nem respaldo moral O Correio Paulistano outro veículo de destaque também passou a criticar abertamente o governo e a denunciar os abusos cometidos no sistema bancário Conforme relata o editorial de julho de 1891 A República prometia liberdade e progresso mas entreganos inflação falências e um mar de incertezas Essas publicações exerceram importante influência sobre a opinião pública alimentando o clima de insatisfação e instabilidade que culminaria na Revolta da Armada A falência de bancos o fechamento de empresas fantasmas e o aumento do desemprego contribuíram para o descrédito da política econômica e da própria república ainda em processo de consolidação A crítica de Rui Barbosa ao modelo monárquico foi substituída por críticas à sua própria gestão econômica evidenciando a fragilidade de um sistema que tentava se construir sem bases sólidas Para Carvalho 2006 o Encilhamento simboliza a transição traumática do Brasil agrário para um Brasil urbano industrial marcada por um liberalismo mal compreendido e por instituições frágeis diante dos desafios da modernidade O colapso final do Encilhamento em meados de 1891 não apenas derrubou as políticas de Rui Barbosa que viria a renunciar como também enfraqueceu o governo de Deodoro da Fonseca A crise contribuiu diretamente para a instabilidade política que levou à sua renúncia ainda em 1891 e à ascensão de Floriano Peixoto num cenário já marcado por disputas civis e militares A análise da política econômica de Rui Barbosa revela não apenas uma tentativa de modernização financeira mas também a importação acrítica de modelos liberais europeus para um contexto social e institucional que não estava preparado para assimilálos Rui inspirouse em experiências de emissão de moeda fiduciária como as observadas nos Estados Unidos durante o greenback period mas falhou ao ignorar as particularidades estruturais da economia brasileira ainda baseada no agrarismo e na dependência externa BRESSERPEREIRA 2003 A ausência de uma indústria consolidada e de uma classe empresarial coesa fez com que o capital gerado pela emissão fosse rapidamente absorvido por esquemas especulativos desvirtuando o objetivo original de desenvolvimento produtivo Ademais a crença excessiva no papel autorregulador do mercado típica do liberalismo econômico do século XIX revelouse ineficaz em um país onde as instituições de fiscalização e controle eram praticamente inexistentes Como argumenta Maria Lúcia L PallaresBurke 1999 Rui Barbosa subestimou a necessidade de regulação estatal e acreditou que a abertura ao crédito por si só geraria prosperidade ignorando que o ambiente era propício ao oportunismo Isso reforça a ideia de que o Encilhamento mais do que uma crise econômica foi um fracasso políticoideológico de implantação forçada de um modelo alheio à realidade nacional Além disso a confiança exagerada nas forças do capital gerou um abismo entre os interesses da elite econômica e as necessidades da população que começou a enfrentar o aumento de preços escassez de bens e incertezas sobre o futuro Como aponta Ricardo Salles 2007 as camadas populares desprovidas de acesso ao crédito e aos investimentos foram as primeiras a sofrer os efeitos inflacionários aprofundando o sentimento de exclusão da recémproclamada República O Encilhamento portanto revelou a limitação do projeto republicano ao não contemplar políticas sociais efetivas que assegurassem a inclusão econômica dos mais vulneráveis A imprensa do período embora relevante como espaço de denúncia e crítica também esteve marcada por interesses políticos e regionais Enquanto jornais como a Gazeta de Notícias adotaram uma postura crítica quanto à política financeira outros veículos foram coniventes ou silenciosos especialmente aqueles ligados às elites bancárias emergentes ABREU 2011 Isso demonstra que a construção da opinião pública era permeada por disputas ideológicas e econômicas sendo a imprensa não apenas observadora mas também agente participante da crise O Encilhamento evidencia ainda a fragilidade da transição entre o Império e a República em que a ruptura institucional não foi acompanhada de transformações estruturais profundas Como explica Lilia Schwarcz 2015 o novo regime político herdou práticas clientelistas patrimonialistas e personalistas que dificultaram a formação de um Estado moderno e eficiente Nesse sentido a crise foi também resultado de continuidades históricas disfarçadas sob a roupagem de uma modernidade superficial Rui Barbosa embora visionário não conseguiu romper com a lógica da concentração de poder e da ausência de responsabilidade fiscal herdadas do Império Por fim a experiência do Encilhamento serve como alerta para os riscos de políticas econômicas desconectadas da realidade social e institucional O episódio demonstra que não basta a boa intenção modernizadora se não houver planejamento controle e sobretudo capacidade de adaptação ao contexto nacional A crítica contemporânea ao Encilhamento vai além do julgamento de seus resultados ela questiona a maneira como o Brasil historicamente tratou a modernidade muitas vezes tentando importála sem internalizála o que resultou em sucessivos fracassos estruturais FAUSTO 1995 21 A Imprensa e o Discurso Público durante o Encilhamento Análise e Reflexão Histórica 211 O papel da imprensa como mediadora da crise Durante o período do Encilhamento 18891892 a imprensa exerceu papel fundamental não apenas como meio de informação mas como agente ativo na formação do debate público Em um país onde a taxa de alfabetização ainda era limitada os jornais concentravam a atenção da elite urbana e das classes médias emergentes funcionando como arenas de disputa entre os diversos grupos políticos Como destaca Sodré 1966 a imprensa do final do século XIX estava longe de ser neutra ela era um instrumento de combate refletindo os interesses de frações específicas do poder A imprensa brasileira do final do século XIX não apenas reportava os acontecimentos mas também desempenhava um papel ativo na formação da opinião pública e na mediação das crises políticas e econômicas Durante o Encilhamento os jornais tornaramse arenas de debate e crítica refletindo as tensões entre diferentes grupos sociais e políticos A Gazeta de Notícias por exemplo adotou uma postura crítica em relação às políticas de Rui Barbosa destacando os riscos da emissão descontrolada de papelmoeda e alertando para a possibilidade de uma crise financeira iminente Gazeta de Notícias 1891 Por outro lado o Correio Paulistano representando os interesses da elite cafeeira paulista apresentou uma visão mais moderada reconhecendo os benefícios potenciais da política de Rui Barbosa para a industrialização mas também expressando preocupações sobre os efeitos inflacionários e a especulação desenfreada Correio Paulistano 1891 Essa dualidade na cobertura jornalística evidencia como a imprensa refletia as divisões regionais e de classe existentes no Brasil da época Além disso a imprensa funcionava como um espaço de construção de narrativas sobre a modernidade e o progresso Enquanto alguns jornais exaltavam as oportunidades de crescimento econômico proporcionadas pelas novas políticas outros denunciavam os abusos e a falta de regulamentação que permitiam a proliferação de empresas fictícias e a manipulação do mercado financeiro SODRÉ 1966 Essa disputa narrativa influenciava diretamente a percepção pública sobre a legitimidade do novo regime republicano e suas políticas econômicas A atuação da imprensa durante o Encilhamento também revela a ausência de uma imprensa verdadeiramente independente já que muitos jornais estavam ligados a grupos políticos ou econômicos específicos Essa ligação comprometia a imparcialidade das reportagens e contribuía para a polarização do debate público A análise crítica desse período destaca a necessidade de uma imprensa livre e responsável como pilar fundamental para a consolidação de regimes democráticos e para a fiscalização das ações governamentais 212 A Gazeta de Notícias e o tom de crítica à política monetária A Gazeta de Notícias jornal carioca de grande circulação assumiu um tom crítico e por vezes alarmista frente às ações de Rui Barbosa como Ministro da Fazenda Suas manchetes e editoriais sobretudo entre 1890 e 1891 denunciaram com frequência os efeitos especulativos das emissões monetárias tratando o fenômeno como uma ruína financeira anunciada Gazeta de Notícias edições de janfev 1891 Em editoriais assinados por seus redatores mais influentes a Gazeta acusava o governo provisório de fomentar uma economia de papel sustentada pela ficção do crédito sem correspondência na realidade produtiva nacional Gazeta de Notícias 1891 p 2 O tom predominante era de desconfiança com vocabulário carregado de pessimismo e com analogias à bancarrota A Gazeta de Notícias sediada no Rio de Janeiro firmouse como um dos principais veículos de crítica às políticas econômicas implementadas por Rui Barbosa durante o Encilhamento O jornal frequentemente publicava editoriais alertando para os perigos da emissão excessiva de papelmoeda e da especulação financeira desenfreada Em uma edição de fevereiro de 1891 a Gazeta afirmou que a política monetária atual é uma aventura temerária que coloca em risco a estabilidade econômica do país Gazeta de Notícias 1891 p 2 A crítica da Gazeta não se limitava às políticas econômicas mas também abordava a falta de transparência e a ausência de mecanismos eficazes de fiscalização O jornal denunciava a criação de empresas fantasmas e a manipulação do mercado de ações apontando a conivência de autoridades governamentais com essas práticas Essa postura crítica contribuiu para o aumento da pressão pública sobre o governo e para a erosão da confiança nas instituições republicanas recémestabelecidas A atuação da Gazeta de Notícias durante o Encilhamento exemplifica o papel da imprensa como fiscalizadora do poder público e como formadora de opinião Ao expor as falhas e os riscos das políticas econômicas adotadas o jornal desempenhou uma função essencial na mobilização da sociedade civil e na promoção de um debate mais amplo sobre os rumos do país Essa atuação reforça a importância de uma imprensa livre e crítica para o fortalecimento da democracia e para a prevenção de abusos de poder Contudo é importante reconhecer que a Gazeta de Notícias também refletia os interesses de determinados grupos sociais e econômicos o que influenciava sua linha editorial Assim embora sua crítica às políticas do Encilhamento tenha sido relevante ela também estava inserida em um contexto de disputas políticas e econômicas mais amplas Essa complexidade ressalta a necessidade de uma análise crítica da imprensa considerando não apenas seu conteúdo mas também seus vínculos e interesses subjacentes 213 O Correio Paulistano e a dualidade entre crítica e pragmatismo Já o Correio Paulistano órgão representativo das elites cafeeiras paulistas adotou um discurso mais ambíguo Embora manifestasse preocupação com a instabilidade gerada pelo excesso de crédito e a proliferação de empresas fictícias também reconhecia a necessidade de ampliação do sistema bancário e de financiamento à indústria nacional Segundo Abreu 2011 esse jornal oscilava entre a crítica à irresponsabilidade fiscal e a defesa de instrumentos modernos para dinamizar a economia Em artigo de abril de 1891 o periódico declarava É preciso distinguir a intenção da execução A política de Rui Barbosa é em tese salutar condenável porém é sua implementação desordenada Correio Paulistano 1891 p 3 O tom aqui era mais técnico e político buscando preservar os interesses da oligarquia local sem confrontar abertamente a ordem republicana nascente O Correio Paulistano jornal se configurou na época como um dos mais influentes em São Paulo adotando uma postura mais ambígua em relação às políticas econômicas do Encilhamento Embora reconhecesse os riscos associados à emissão excessiva de papelmoeda e à especulação financeira o jornal também destacava os potenciais benefícios dessas políticas para a industrialização e o desenvolvimento econômico do país Em um editorial de abril de 1891 o Correio afirmou que a política de Rui Barbosa é em tese salutar condenável porém é sua implementação desordenada Correio Paulistano 1891 p 3 Essa dualidade refletia os interesses da elite cafeeira paulista que via na industrialização uma oportunidade de diversificação econômica e de fortalecimento de sua posição no cenário nacional Ao mesmo tempo havia preocupações legítimas sobre os efeitos inflacionários e a instabilidade financeira decorrentes das políticas adotadas O Correio Paulistano buscava portanto equilibrar a crítica às falhas de implementação com a defesa dos objetivos mais amplos das reformas econômicas A postura do Correio também evidencia as tensões regionais existentes no Brasil da época Enquanto o Rio de Janeiro sede do governo federal concentrava o poder político São Paulo emergia como centro econômico dinâmico com interesses próprios e uma visão distinta sobre o desenvolvimento nacional A cobertura do Correio Paulistano durante o Encilhamento ilustra como essas tensões se manifestavam na imprensa e influenciavam o debate público A análise da atuação do Correio Paulistano durante o Encilhamento destaca a complexidade das posições adotadas pela imprensa que não se limitavam a uma dicotomia entre apoio e oposição mas envolviam nuances e considerações pragmáticas Essa complexidade reforça a importância de uma leitura crítica da imprensa histórica levando em conta os contextos regionais os interesses econômicos e as estratégias políticas que moldavam suas narrativas 214 O discurso da imprensa como indício da cisão política Esse contraste entre os jornais revela não apenas diferenças editoriais mas a cisão política que se intensificava na Primeira República nascente A imprensa ao selecionar suas pautas vocabulário e ênfases refletia a tensão entre o projeto republicano centralizador do Rio de Janeiro e o desejo de maior autonomia das províncias economicamente mais dinâmicas como São Paulo Conforme Capelato 1989 a imprensa do período servia como mediadora das contradições da República nascente ora atuando como defensora do progresso ora como denunciante do caos promovido pelas elites republicanas A análise comparativa dos discursos da Gazeta de Notícias e do Correio Paulistano durante o Encilhamento revela uma cisão política e ideológica significativa no Brasil do final do século XIX Enquanto a Gazeta representava uma visão mais centralizadora e crítica das políticas econômicas do governo o Correio expressava uma perspectiva regionalista e pragmática buscando conciliar os interesses da elite paulista com as reformas em curso Essa divergência evidencia as disputas pelo controle do projeto republicano e pelos rumos do desenvolvimento nacional A imprensa nesse contexto não apenas refletia as divisões existentes mas também as amplificava contribuindo para a polarização do debate público Os jornais tornaramse instrumentos de mobilização política influenciando a formação de alianças e a definição de estratégias por parte dos diferentes grupos de poder Essa atuação reforça a ideia de que a imprensa desempenha um papel ativo na construção da realidade política e econômica moldando percepções e orientando ações Além disso a cisão evidenciada nos discursos da imprensa durante o Encilhamento antecipa as tensões que marcariam a Primeira República brasileira caracterizada por conflitos entre o poder central e as oligarquias regionais A disputa por hegemonia política e econômica manifestavase não apenas nas instituições formais mas também nos meios de comunicação que se tornavam arenas de confronto simbólico e ideológico A compreensão dessa dinâmica é fundamental para a análise crítica da história política brasileira pois revela como as estruturas de poder se articulam e se expressam através dos meios de comunicação A imprensa ao mediar os conflitos e as disputas contribui para a configuração do espaço público e para a definição dos contornos do regime político Assim o estudo dos discursos jornalísticos durante o Encilhamento oferece insights valiosos sobre os processos de construção e contestação da ordem republicana no Brasil 215 Comparativo crítico imprensa ideologia e contexto econômico A comparação entre os dois jornais evidencia que a crise do Encilhamento não pode ser compreendida apenas como fenômeno econômico A maneira como foi narrada pela imprensa revela um país em busca de identidade política e de coesão institucional Enquanto a Gazeta buscava responsabilizar moralmente Rui Barbosa e a elite republicana carioca o Correio Paulistano procurava preservar um discurso técnico e de moderação adequado aos interesses da elite agrícola paulista Como destaca Schwarcz e Starling 2015 o discurso jornalístico era carregado de ideologia e estava a serviço da construção de narrativas que legitimassem diferentes projetos de poder A imprensa portanto não foi apenas espectadora do colapso econômico mas parte ativa no processo de fragilização da confiança pública Em síntese firmase que o contraste entre os discursos da Gazeta de Notícias e do Correio Paulistano durante o Encilhamento reflete não apenas divergências editoriais mas também diferenças ideológicas e interesses econômicos distintos Enquanto a Gazeta adotava uma postura crítica e centralizadora alinhada aos interesses do Rio de Janeiro o Correio expressava uma visão mais pragmática e regionalista representando os interesses da elite cafeeira paulista Essa divergência ilustra como a imprensa se tornava um campo de disputa simbólica onde diferentes projetos de nação eram articulados e promovidos Assim sendo o Encilhamento foi mais que uma crise econômica representou uma ruptura entre promessas e realidades da República nascente A política de Rui Barbosa embora baseada em ideais modernos colapsou diante da especulação da ausência de controle e da fragilidade institucional A imprensa como vetor de informação e crítica teve papel relevante na formação do juízo público e na deslegitimação das ações do governo Ao final o Encilhamento lançou o país em uma de suas primeiras grandes crises republicanas com efeitos duradouros sobre a confiança na nova ordem política Referências ABREU Marcelo de Paiva A Ordem do Progresso cem anos de política econômica republicana 18891989 Rio de Janeiro Campus 2011 BRESSERPEREIRA Luiz Carlos Rui Barbosa e o Encilhamento uma tentativa frustrada de modernização econômica São Paulo Editora 34 2003 CAPELATO Maria Helena Imprensa e História no Brasil São Paulo Contexto 1989 CARVALHO José Murilo de Os Bestializados o Rio de Janeiro e a República que não foi São Paulo Companhia das Letras 2006 CORREIO PAULISTANO São Paulo janabr 1891 Acervo da Hemeroteca Digital Brasileira Fundação Biblioteca Nacional FAORO Raymundo Os Donos do Poder formação do patronato político brasileiro São Paulo Globo 1958 FAUSTO Boris História do Brasil São Paulo Edusp 1995 GAZETA DE NOTÍCIAS Rio de Janeiro janabr 1891 Acervo da Hemeroteca Digital Brasileira Fundação Biblioteca Nacional PRADO JÚNIOR Caio História Econômica do Brasil São Paulo Brasiliense 1981 PALLARESBURKE Maria Lúcia Garcia Rui Barbosa o poeta na política São Paulo Companhia das Letras 1999 SALLES Ricardo Nostalgia Imperial a formação do imaginário monárquico na Primeira República Rio de Janeiro FGV Editora 2007 SCHWARCZ Lilia Moritz Brasil uma biografia São Paulo Companhia das Letras 2015 SODRÉ Nelson Werneck História da Imprensa no Brasil Rio de Janeiro Mauad 1966 CAPÍTULO I A Crise do Encilhamento foi um evento histórico crucial que desempenhou um papel significativo na transição do Brasil do regime monárquico para a república Ocorrida principalmente entre 1889 e 1891 esta crise foi marcada por uma série de políticas econômicas desastrosas implementadas pelo governo provisório do Marechal Deodoro da Fonseca resultando em uma profunda crise financeira e econômica Antes de explorarmos os detalhes da Crise do Encilhamento é essencial compreender o contexto econômico brasileiro ao final do século XIX O país vivia um momento de transição marcado pela modernização e pelo crescimento da cafeicultura que se consolidava como principal atividade econômica nacional No entanto a infraestrutura financeira ainda era precária com um sistema bancário em formação e escassas regulamentações A moeda em circulação o milréis era instável sujeita a flutuações frequentes A abundância de crédito no período foi um dos fatores que alimentou a especulação e o endividamento rural principalmente no oeste paulista Como descreve Faoro A derrama de dinheiro fácil abundantíssimo de 1890 a 1891 e à cata de emprego provocara a mais extraordinária elasticidade de crédito Operavase então subitamente enorme valorização fictícia de terras e lavouras Às imaginações ofuscava a miragem da uberdade prodigiosa do oeste paulista cujo solo virgem mostrava ser o habitat próprio da rubiácea Verdadeira febre para o plantio apossarase de quantos tinham conseguido alcançar os favores dos fornecedores de fundos FAORO 1958 p 613 Esse cenário de prosperidade artificial seria um dos estopins da crise que viria a seguir quando o sistema não conseguiu sustentar a expansão forçada da economia Quando Marechal Deodoro da Fonseca assumiu o poder após a Proclamação da República em 1889 ele nomeou Rui Barbosa como Ministro da Fazenda Rui Barbosa um ardente defensor do liberalismo econômico implementou uma série de políticas destinadas a estimular o crescimento econômico rápido e promover a industrialização Entre essas políticas destacavamse a expansão do crédito e a emissão em larga escala de papel moeda O objetivo era facilitar o acesso ao crédito fomentar a criação de empresas e indústrias e modernizar a infraestrutura urbana As políticas de Rui Barbosa inicialmente resultaram em um período de expansão econômica e euforia nos mercados financeiros O fácil acesso ao crédito provocou uma explosão de investimentos frequentemente especulativos em diversos setores Isso incluiu a criação de empresas fantasmas e a formação de bolhas no mercado de ações O termo encilhamento faz referência à metáfora das corridas de cavalos onde os animais são preparados para as competições simbolizando o mercado sendo preparado para uma explosão de atividades financeiras No entanto essa euforia foi breve A rápida expansão do crédito sem a supervisão e regulamentação adequadas levou a uma inflação desenfreada e à desvalorização da moeda Muitas das empresas criadas durante esse período eram fictícias ou não tinham sustentação econômica real resultando em uma crise de confiança no mercado financeiro A bolha especulativa estourou provocando o colapso de inúmeras empresas e bancos e levando à ruína muitos investidores A Crise do Encilhamento teve consequências devastadoras não apenas no âmbito econômico mas também político e social A recémproclamada república que ainda buscava se consolidar viu sua legitimidade ser questionada pela população A crise econômica fomentou a insatisfação popular contribuindo para um clima de instabilidade e descontentamento generalizado Um dos desdobramentos mais marcantes da Crise do Encilhamento foi a Revolta da Armada uma rebelião naval que eclodiu como resposta à insatisfação com o governo do Marechal Deodoro da Fonseca e posteriormente de Floriano Peixoto A crise econômica agravada pelas políticas inflacionárias e pela instabilidade institucional somouse ao descontentamento de setores militares e políticos provocando um cenário de ruptura A falta de legitimidade do novo regime republicano e a ausência de uma base política sólida tornaram o poder central vulnerável Faoro descreve que os presidentes militares Deodoro e Floriano não podiam governar apenas com o apoio do Exército suficiente unicamente para afastar o trono mas estruturalmente incapaz de mesmo ditatorialmente dominar o país Em novembro de 1891 vigente o regime constitucional todo o castelo de cartas estadual revela sua fragilidade ao aderir ao golpe de Estado de Deodoro FAORO 1958 p 647 A Revolta da Armada portanto refletiu não apenas a rejeição às medidas econômicas adotadas durante o Encilhamento mas também a instabilidade do pacto federativo em construção as disputas entre civis e militares e o esfacelamento das alianças entre o poder central e os estados o que tornava o regime republicano ainda incipiente e frágil Paradoxalmente embora a Crise do Encilhamento tenha inicialmente enfraquecido a confiança pública na recéminstaurada República ela também evidenciou a necessidade urgente de um governo mais estável e de políticas econômicas planejadas e responsáveis A política econômica conduzida por Rui Barbosa marcada pelo excesso de emissões de papelmoeda liberdade irrestrita para a criação de empresas e oferta abundante de crédito gerou um cenário de euforia financeira que rapidamente se converteu em caos inflacionário e especulação Como destaca Oliveira A maior oferta de moeda e a menor exigência de garantias provocou uma mudança no quadro econômico vigente Em um curto espaço de tempo a moeda em circulação teve um aumento de 35 O capital que antes se encontrava escondido ganhou casa em bancos que apareceram com a política vigente ocorrendo um aumento significativo na quantidade de bancos atuantes OLIVEIRA 2021 p 15 Esse experimento liberalizante baseado em uma concepção idealizada de desenvolvimento autossustentado pelo crédito revelou seus limites rapidamente servindo de alerta sobre os riscos de um liberalismo econômico sem controles sólidos Como já advertia Faoro ainda que em outro contexto o liberalismo desenfreado tende a se chocar com a realidade das estruturas sociais e institucionais frágeis O monopólio expressão do senhorio do comércio do rei tornase com o tempo entrave do movimento mercantil ele paralisa e congela as iniciativas incompatível com o ascendente sistema do liberalismo econômico FAORO 1958 p 272 Dessa forma a crise não apenas desnudou os perigos de uma política monetária imprudente mas também reafirmou a importância do papel regulador do Estado no processo de estabilização e crescimento econômico Entretanto a Crise do Encilhamento exemplifica como políticas econômicas mal implementadas podem ter consequências devastadoras em vários níveis Ela ressalta a importância da prudência e da regulamentação no gerenciamento econômico e serve como um estudo de caso sobre os desafios enfrentados por novos regimes políticos ao tentar estabilizar e desenvolver economias em transição Compreender este período é essencial para entender as complexidades e os desafios da transição do Brasil para a república além das lições que podem ser aplicadas para evitar crises semelhantes no futuro A Política Monetária Antecessora Embora a Crise do Encilhamento de 1891 tenha sido a primeira do período republicano ela foi precedida por diversas outras durante o período monárquico especialmente as de 1857 e 1864 Em todas essas crises havia uma disputa no governo e no legislativo entre duas vertentes teóricas opostas sobre a moeda alternando entre políticas monetárias expansionistas e contracionistas Essas políticas impactam não só a condução da economia mas também as medidas legislativas promulgadas De um lado estavam os metalistas defensores do padrãoouro e da conversibilidade da moeda Eles acreditavam que a emissão de papelmoeda deveria ser lastreada em reservas de ouro para garantir a estabilidade monetária e da taxa de câmbio Do outro lado estavam os papelistas que não viam a necessidade de limitar a emissão de papelmoeda ao seu lastro metálico Eles argumentam que a taxa de juros deveria ser o foco da política monetária Enquanto as políticas metalistas causavam uma contração monetária reduzindo a quantidade de papelmoeda em circulação as políticas papelistas promoviam a expansão monetária garantindo maior liquidez A implementação das políticas metalistas geralmente era acompanhada de medidas restritivas destinadas a reduzir o dinamismo do mercado financeiro Por outro lado as políticas papelistas eram implementadas junto com medidas liberalizantes aumentando o dinamismo do mercado A primeira grande crise do mercado ocorrida em 1857 seguiu um período de significativas transformações legislativas que impactaram a economia brasileira especialmente o setor cafeeiro Em 1850 foi promulgada a Lei nº 5811850 conhecida como Lei Eusébio de Queiroz que intensificou a repressão ao tráfico negreiro no Brasil resultando nos anos subsequentes em escassez de mãodeobra No mesmo ano foram promulgados o Código Comercial Lei nº 5561850 e a Lei de Terras Lei nº 6011850 Anos antes o Decreto nº 4821846 havia regulamentado a hipoteca ampliando as possibilidades de financiamento das atividades agrícolas Essas medidas em conjunto facilitaram a constituição de sociedades comerciais liberaram capitais previamente destinados ao tráfico negreiro e facilitaram o crédito Paralelamente às reformas legais a indústria começou a dar seus primeiros passos impulsionada pelos empreendimentos de Irineu Evangelista de Souza o Barão de Mauá Durante a década de 1850 ele desenvolveu a primeira ferrovia do Brasil o sistema de iluminação a gás no Rio de Janeiro o transporte hidroviário na Amazônia através da Companhia de Navegação do Amazonas e o primeiro estaleiro do país através da Companhia da Ponta dAreia Esses empreendimentos foram financiados por meio de emissões no mercado de valores mobiliários intermediadas pelo Banco Mauá MacGregor Cia O aquecimento do mercado resultante dessas transformações coincidiu no final da década de 1850 com uma crise financeira nos Estados Unidos que afetou os preços das commodities no mercado global impactando a economia brasileira Em resposta ao Pânico de 1857 o governo brasileiro aumentou substancialmente a emissão de papelmoeda Após o pior momento da crise o gabinete liberal foi substituído por um conservador que diagnosticou a expansão monetária promovida pelo governo como a causa da crise Isso levou à promulgação da Lei nº 10831860 conhecida como Lei dos Entraves Seus principais objetivos eram reforçar o lastro metálico dos fundos bancários e submeter a constituição de sociedades anônimas à autorização do governo conforme previsto no art 295 do Código Comercial Dessa forma buscavase reduzir o dinamismo do mercado dificultando a constituição de companhias e restringindo a emissão de papelmoeda por bancos privados O último Gabinete do Império chefiado pelo Visconde de Ouro Preto teve como desafio central responder à escassez de moeda circulante num contexto de crescente transição para o trabalho assalariado ao mesmo tempo em que buscava angariar dividendos políticos capazes de frear o avanço do movimento republicano Embora a Lei de 1888 tenha autorizado a emissão de papel moeda lastreado em títulos da dívida pública tal medida não foi efetivada durante o Império Somente em julho de 1889 com a revogação do teto de 20000 contos por banco emissor as condições se tornaram favoráveis para a expansão da emissão monetária vinculada ao triplo das reservas metálicas do Banco A conjuntura externa era momentaneamente positiva com saldo comercial sucessivo desde 1886 e entrada de divisas em alta o que deu ao gabinete algum espaço de manobra Contudo as medidas de Ouro Preto visavam mais a reorganizar o crédito público e sustentar politicamente a monarquia do que fomentar um desenvolvimento econômico estruturado Como afirma Faoro Ouro Preto obstinado no plano de inutilizar a República realiza por meio de operações financeiras o saneamento do crédito público ao tempo que cuida de promover o resgate do papelmoeda Sobre essas bases flutuantes expandiu a circulação concedendo avultadíssimos auxílios à lavoura desorganizada e abatida O chefe do último gabinete mostrase ainda mais tarde eufórico com o fomento do espírito de iniciativa e associação que levou à criação de bancos empresas e companhias em maior número do que os existentes até sua ascensão ao poder FAORO 1958 p 600 A expansão monetária que passou de 197 mil contos em 1889 para 298 mil em 1890 um crescimento de mais de 50 gerou inicialmente um movimento de euforia financeira que favoreceu especuladores intermediários e credores da lavoura sobretudo na Corte Entretanto ao invés de reanimar a agricultura decadente do Vale do Paraíba acabou alimentando a especulação urbana e o embrião da industrialização Essa conjuntura revelou nas palavras do próprio autor uma tentativa de libertação da lavoura do comissário não para a autonomia mas para se atrelar ao Estado FAORO 1958 p 499 E então as reformas do Visconde de Ouro Preto revelam o paradoxo de um governo que embora propondo modernização financeira reafirmava estruturas patrimonialistas e utilizava o crédito público como ferramenta política na defesa de uma ordem imperial em colapso A conjuntura favorável levou o Gabinete a propor a emissão conversível contra o triplo do depósito em ouro por três bancos autorizados É importante destacar que as emissões deixariam de ser conversíveis em situações especiais como crises financeiras crises políticas guerras e revoluções A especificação vaga dessas situações especiais permitia a inconversibilidade sempre que o governo considerasse adequado especialmente em casos de risco para os bancos Sem a cláusula de inconversibilidade que não abrangia a depreciação cambial de forma isolada os bancos certamente não teriam interesse em emitir Isso ocorria porque havia uma probabilidade relativamente alta de que os bancos fossem obrigados a realizar a conversão do papel moeda em ouro a uma taxa cambial desfavorável inferior a 27 o que lhes causaria prejuízos significativos Para o país esse cenário era especialmente sensível pois a instabilidade cambial favorecia a aquisição de empresas nacionais por investidores estrangeiros resultando em perda de controle sobre ativos estratégicos e aumento da dependência externa Os saldos favoráveis na balança comercial e na conta capital mais que compensaram o saldo negativo da balança de serviços no momento muito influenciado pelo pagamento de juros Ao analisar o comportamento da dívida externa na década de 1880 observase a confirmação do quadro anteriormente descrito No entanto é importante destacar o papel positivo das exportações durante esse período embora essa performance tenha se mostrado instável como os anos subsequentes evidenciaram Em relação à preocupação com o movimento republicano a alternativa escolhida para mitigálo além de outras medidas políticas como a indicação de oficiais para os Ministérios Militares foi uma política de financiamento oficialmente voltada para a lavoura A ideia há muito discutida era compensar os cafeicultores pela perda de parte de seu capital representada pelos escravos com a Abolição Naquela época o poder legislativo era dominado pelos cafeicultores fluminenses que devido à baixa produtividade de suas fazendas enfrentavam sérias dificuldades financeiras Isso demonstra que o poder político pode resistir por um tempo após o fim do poder econômico que o gerou Os auxílios à lavoura como foram denominados podem ser resumidos da seguinte forma o Tesouro emprestaria uma determinada quantia aos bancos sem cobrar juros e estes teriam a obrigação de emprestar o dobro dessa quantia a uma taxa de juros de 6 ao ano A política era bastante favorável aos bancos escolhidos o que levou à criação de novos bancos com o objetivo de obter tais favores Em vez de uma política de crédito destinada a compensar os fazendeiros pela perda dos escravos observouse uma política seletiva de crédito A lavoura mais necessitada não obteve financiamento Podese dizer que os recursos praticamente não chegaram aos cafezais fluminenses que estavam em franca decadência Esses recursos foram direcionados principalmente a empreendimentos comerciais e industriais permitindolhes aumentar o capital A ruptura política poucos meses após o advento do último Gabinete monárquico impede que os resultados práticos das medidas de Ouro Preto sejam analisados a partir de seus efeitos No entanto é consensual que o processo especulativo que atormentava a gestão seguinte começou ainda sob o Império Nas palavras do próprio Ministro da Economia cargo que Ouro Preto reservou para si temse a confirmação insuspeita não contestaremos que a especulação ou antes agiotagem começou a desenvolverse na praça do Rio de Janeiro ainda sob o Império Ouro Preto 1986 p 55 Naquele momento o processo especulativo advindo do boom de atividade que se verificava desde 1886 fomentavase nos bancos de emissão e naqueles que obtiveram recursos para auxiliar a lavoura O advento da República trouxe Rui Barbosa à pasta da Fazenda em novembro de 1889 Não era pequeno o compromisso do então Ministro Ele fora o principal crítico da política de Ouro Preto e agora era o principal artífice da política econômica do Governo Provisório O Regime Republicano Assim que a República foi proclamada um empréstimo externo de milhões de libras realizado anteriormente foi cancelado unilateralmente demonstrando a má vontade dos banqueiros ingleses em relação ao novo regime De acordo com a notificação oficial o contrato foi cancelado devido à mudança em uma das partes contratantes Ainda naquele ano Rui Barbosa condicionou a manutenção dos contratos de emissão do Gabinete anterior à utilização da faculdade de emitir em três meses O ambiente de incerteza e a desvalorização do conto de réis tornaram inviáveis as emissões em bases metálicas Consequentemente os contratos de emissão foram extintos por caducidade pois a emissão conversível não era possível a taxas abaixo da paridade É importante notar que o esquema das emissões conversíveis de Ouro Preto tinha como condição sine qua non a manutenção da taxa de câmbio à paridade tornandose a meta da política econômica do Ministério que seria auxiliado pelo BNB com o suporte do Banque de Paris et de Pays Bas O esquema não funcionou com a mudança de regime apesar dos esforços de Rui Barbosa para evitar a queda da taxa de câmbio Mesmo com a continuidade da Monarquia a estratégia inconsistente provavelmente não teria funcionado e a República apenas precipitou seu fim Ainda em 1889 houve um princípio de corrida bancária sem maiores consequências para o sistema como um todo Com a falência do sistema de emissão conversível a escassez de meios circulantes voltou a ser uma preocupação no final do ano Para Rui Barbosa a adoção da emissão metálica mostravase inviável diante da constante oscilação do valor do milréis em relação ao ouro o que comprometia a estabilidade cambial e limitava o alcance da política monetária Restava portanto a alternativa prevista na Lei de 1888 a emissão com lastro em títulos da dívida pública Esse plano foi efetivamente colocado em prática em 17 de janeiro de 1890 quando Rui instituiu um sistema que previa a criação de três bancos emissores um no norte Bahia outro no centro Rio de Janeiro e um terceiro no sul Porto Alegre com capital total de 450 mil contos de réis Posteriormente devido à pressão de São Paulo foi autorizado um quarto banco Como registra Faoro a inflação aninhada no centro do plano financeiro acende as resistências federais e Campos Sales alertava que esse banco poderoso por causa da zona vai ser uma potência até em política FAORO 1958 p 605 A engenharia financeira idealizada por Rui Barbosa tinha como objetivos principais ampliar o meio circulante dinamizar o crédito e aliviar o Tesouro do serviço da dívida interna acreditandose que o progresso econômico viria por meio da emissão de moeda fiduciária A emissão inconversível apesar de suas limitações teóricas era compreendida por Rui e seus contemporâneos como instrumento de estímulo à indústria e ao comércio Faoro observa que com a retirada da conversibilidade considerada freio emissionista de valor duvidoso o papelmoeda passou a ser visto como um verdadeiro fator produtivo O progresso se faria com dinheiro emitido acelerando o comércio e fomentando a indústria em homenagem à peculiaridade do país novo e promissor O meio circulante deveria alcançar segundo cálculos atribuídos aos estadistas monárquicos não mais cinqüenta mil contos mas seiscentos mil FAORO 1958 p 603 Ainda segundo Cury 2015 essa visão tinha raízes nas ideias econômicas dominantes do século XIX que embora reconhecessem os riscos do papelmoeda admitiam sua utilidade desde que subordinado a controles legais rígidos Rui influenciado por essa tradição via a moeda fiduciária como um meio de expansão econômica mais adaptado à realidade brasileira Sobre o manejo dos metais e das várias formas de moeda fiduciária a moeda metálica representava segurança e credibilidade internacional ao passo que o papelmoeda tinha vantagens como o transporte fácil e a emissão pouco custosa poderia ser utilizada desde que dentro de limites e sob legislação restritiva CURY 2015 p 2 Dessa forma o plano de Rui Barbosa incorporava tanto o ideal de desenvolvimento autônomo quanto os limites práticos do contexto econômico e político da Primeira República No entanto o entusiasmo com o espírito de iniciativa e associação resultaria em pouco tempo em uma onda de especulação que marcaria a Crise do Encilhamento e revelaria os riscos de uma política monetária expansiva sem salvaguardas efetivas e para adaptar a esse desideratum o mecanismo que vamos instituir os bancos que o servirem aceitarão desde o começo das suas operações diminuição considerável no juro das apólices que lhes compuseram o fundo social diminuição que avultam de ano em ano até se extinguir ao cabo de seis o prêmio desses títulos em benefício do Estado Ainda mais da massa dos lucros brutos retratar cada ano o estabelecimento uma quota nunca inferior a 10 para com a acumulação dos juros semestrais de 6 constituir um fundo representativo do capital em apólices que no termo do prazo de existência dos bancos se considerará eliminado Para proporcionar maior solidez ao sistema bancário Rui Barbosa pouco antes de deixar o governo em 17 de dezembro de 1890 uniu dois grandes bancos o Banco Nacional do Brasil e o Banco dos Estados Unidos do Brasil O Banco da República dos Estados Unidos do Brasil BREU seria uma espécie de grande banco central visando à liquidação dos excessos do endividamento à regulação do volume de crédito e ao controle do câmbio O BREU teria o monopólio de emissão absorvendo as concessões dos demais bancos e seria o principal agente financeiro do governo Embora a queda da taxa cambial ainda não apresentasse sintomas de crise Barbosa instituiu parte do imposto aduaneiro em ouro Esse imposto que posteriormente passou a ser totalmente percebido em ouro até ser anulada sua cláusula ouro era a arma que restava ao governo para lidar com os encargos externos Com a queda do câmbio a rubrica diferenças de câmbio passou a ter participação crescente nas despesas totais do Tesouro O recebimento dos impostos aduaneiros em ouro sem permitir desconto real em seu valor seria a contrapartida dessas despesas Entretanto com o aumento do poder político do Partido Republicano Paulista PRP ao qual o ministro não se aproximará e sua crescente distância em relação ao Marechal Rui Barbosa fragilizouse politicamente e sua renúncia em janeiro de 1891 não causou espanto Para Furtado a mudança no regime de trabalho ocorrida em 1888 foi o evento mais importante para a economia brasileira no século XIX Em seu texto clássico Furtado 1972 ao discorrer sobre a segunda metade do século XIX o autor como muitos de seus predecessores reconhece a compressão do meio circulante característica dos últimos anos do Império Esse problema se agravou com a abolição dos escravos pois ao disseminar definitivamente o trabalho assalariado criouse uma demanda adicional por moeda Como resposta às crescentes necessidades de numerário Rui Barbosa expandiu os meios de pagamentos mas essa expansão se mostrou excessiva Nos anos iniciais do Regime Republicano houve uma excessiva folga creditícia relacionada à expansão do papelmoeda Com a expansão do crédito e taxas de juros reais mais baixas houve um incentivo ao consumo e ao investimento privados Embora esses investimentos tivessem um caráter descompressor sobre as pressões da demanda no médio e longo prazo intensificaram essas pressões no curto prazo resultando em um forte aumento no nível de atividade econômica Em uma economia fechada os efeitos de uma maior demanda dependerão da capacidade ociosa das empresas De forma simplificada se as instalações produtivas dessa economia não estiverem operando em plena capacidade essa maior demanda implica maior produção através do emprego de recursos produtivos antes ociosos Por outro lado uma economia operando sem capacidade ociosa e sem desemprego de recursos produtivos responde a um aumento na demanda com inflação Isso ocorre porque a oferta agregada potencial é fixa no curto prazo pois seu aumento depende de investimentos que não se concretizam rapidamente Em alguns casos como no setor de infraestrutura os investimentos podem demorar mais de cinco anos para se realizarem e adicionem produção à oferta agregada da economia Uma economia aberta opera com mais flexibilidade neste aspecto Um aumento da demanda em uma situação de desemprego de recursos produtivos provocaria efeitos similares aos de uma economia fechada pois em ambos os casos haveria aumento de produção com a utilização de recursos produtivos anteriormente ociosos No entanto quando não há capacidade ociosa uma maior demanda gera impactos na balança comercial pois as importações aumentaram para complementar a oferta interna que como já mencionado não pode se alterar no curto prazo Assim na ausência de impedimentos às importações o aumento da demanda não provocaria inflação A economia brasileira passava por um período de aproximadamente cinco anos de expansão da atividade econômica quando ocorreu a descompressão creditícia de Rui Barbosa Podese supor que havia poucos recursos ociosos nessa economia que pudessem ser empregados na produção voltada para o mercado interno Nesse sentido deduzse que haveria certa pressão sobre a balança comercial via aumento das importações No entanto o problema era mais grave A escassez de meio circulante nos últimos anos do Império ajuda a entender a Reforma de Rui Barbosa Ao afrouxar o crédito Barbosa exagerou A atmosfera especulativa iniciada no Império contribuiu significativamente para o fracasso da reforma Como resultado das medidas equivocadas de Rui Barbosa o processo especulativo se fortaleceu e consolidou no ano de sua demissão A desvalorização cambial ainda tímida em 1890 se acentuou nos anos seguintes Este trabalho sustenta uma relação causal entre a deterioração do balanço de pagamentos e a desvalorização do milréis no período do Encilhamento Embora a relação entre expansão do crédito e deterioração do balanço de pagamentos apontada por Celso Furtado seja teoricamente consistente ela não expressa completamente a realidade brasileira da década de 1890 Segundo Furtado a ampliação do crédito interno para financiar a estocagem do café em vez de permitir o colapso do setor agravaria o desequilíbrio externo e depreciaria a moeda favorecendo indiretamente os exportadores Como ele afirma À medida que se utilizou a expansão de crédito houve mais uma vez uma socialização dos prejuízos Essa expansão de crédito por seu lado iria agravar o desequilíbrio externo contribuindo para maior depreciação da moeda o que beneficiava indiretamente o setor exportador FURTADO 1968 p 185 No entanto essa leitura não se sustenta integralmente quando aplicada ao início da Primeira República Diferentemente do que sugere a interpretação estruturalista o aumento das importações não foi suficiente para comprometer o balanço de pagamentos do Brasil nos anos imediatos ao Encilhamento Isso porque ao mesmo tempo em que o crédito se expandia internamente as exportações também cresceram impulsionadas principalmente pela valorização do café e pela conjuntura internacional favorável Como resultado o país manteve um saldo comercial médio positivo na primeira metade da década de 1890 o que contribuiu para o equilíbrio externo ao menos temporariamente Assim o que se observa é que embora a política creditícia de Rui Barbosa e seus desdobramentos tenham criado tensões econômicas internas não houve naquele momento uma ruptura drástica no balanço de pagamentos A crítica de Furtado parece mais aplicável a períodos posteriores como a crise de 1929 quando a retração da renda monetária e o aumento do preço dos importados comprometeram efetivamente a estabilidade externa Nesse contexto posterior como o próprio autor observa o desequilíbrio externo só foi corrigido à custa de forte baixa no poder aquisitivo externo da moeda FURTADO 1968 p 193 com severo impacto sobre as importações e a estrutura de formação de capital no país Enquanto a balança de serviços se tornava cada vez mais negativa a conta capital praticamente deixou de financiar o balanço de pagamentos Houve resistência externa à mudança de regime político que aumentou devido às políticas expansionistas de Rui Barbosa contrariando as prescrições dos investidores externos que sempre indicam apertos de liquidez Nesse contexto a crise do Barings1 e a moratória argentina consolidaram a ausência de capitais externos no país Afirmouse também que os constrangimentos causados pelas contas externas no Brasil eram agravados pela própria estrutura da economia A expansão do crédito devido à falta de diversificação produtiva sempre pressionava as importações Apenas na hipótese de um aumento significativo nas exportações ou de uma conta capital benevolente o que não era compatível com a realidade poderia a economia brasileira crescer Portanto uma estrutura de oferta especializada em produtos primários de exportação cria fragilidades externas que impedem o crescimento econômico O crescimento tornase dependente do aumento das exportações ou seja do crescimento econômico dos países centrais Contudo essa alternativa é incerta no curto prazo e inconsistente no longo prazo devido às diferentes elasticidadesrenda entre os produtos primários que o país produzia e os produtos industrializados que importava 1 O final do século XIX para Brasil e Argentina foram marcados por crescimento e instabilidade na economia Esse período ocorre duas importantes crises econômicas que ficaram conhecidas como crise Baring na Argentina e crise do Encilhamento no Brasil UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CCH LICENCIATURA EM HISTÓRIA Monografia Titulo A CRISE DO ENCILHAMENTO E SUAS CONSEQUENCIAS PARA A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA Alunoa Shirley Macedo Diniz Matrícula 18116090260 Polo Cantagalo 2024 SUMÁRIO 1 APRESENTAÇÃO E DELIMITAÇÃO DO TEMA DE PESQUISA 3 2 OBJETIVOS 8 21 Objetivo Geral 8 22 Objetivos Específicos 8 3 JUSTIFICATIVA 10 31 Justificativa do corte Temporal 10 32 Justificativa pela Escolha das Fontes Primárias 10 4 REFERENCIAL TEÓRICO 12 41 Contexto Político Econômico E Social Do Período Abordando Em Especial A Abolição E O Gabinete Ouro Preto 12 5 FONTES E METODOLOGIA 14 51 MATERIAIS 14 511 Fontes Primárias 14 5111 Jornais da Época 14 5112 Relatórios Econômicos Oficiais 14 512 Fontes Secundárias 14 52 PROCEDIMENTOS 15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 16 3 1 APRESENTAÇÃO E DELIMITAÇÃO DO TEMA DE PESQUISA A crise do Encilhamento ocorrida entre 1889 e 1891 é um evento de grande relevância na história econômica e política do Brasil Esse período foi caracterizado por uma intensa euforia no mercado financeiro resultante da liberalização econômica promovida pelo então Ministro da Fazenda Ruy Barbosa A política adotada permitiu a criação indiscriminada de bancos e empresas o que em um primeiro momento levou a uma significativa expansão da oferta monetária e a um aparente crescimento econômico CARONE 1977 A fim de estimular a produção agrícola e a industrialização o ministro adotou a política emissionista aumentando a emissão do papelmoeda para que a circulação dele aumentasse Porém a emissão desenfreada causou uma grande desordem financeira no país medida que a moeda foi desvalorizada e a inflação explodiu Muitas pessoas pegavam empréstimos e em vez de investirem em indústrias faziam especulação financeira na bolsa de valores daí o nome encilhamento ponto de largada na corrida de cavalos em que ocorre a maioria das apostas CARONE 1977 Este projeto visa investigar como essa crise econômica influenciou a Proclamação da República e os primeiros anos do regime republicano no Brasil A investigação será delimitada temporalmente entre os anos de 1889 e 1891 focando nos eventos econômicos nas políticas adotadas e nas transformações sociais ocorridas neste período A análise abarcará tanto os aspectos econômicos quanto os políticos e sociais buscando entender as inter relações entre esses diferentes fatores O contexto histórico em que se insere o Encilhamento é de grandes mudanças no Brasil O fim da escravidão em 1888 e a subsequente necessidade de reorganização da economia baseada no trabalho livre criaram um ambiente de expectativas e incertezas Os esforços para integrar o Brasil nas atividades econômicas internacionais e alavancar seu crescimento econômico foram intensos mas também trouxeram consigo desafios significativos CARONE 1977 A política econômica de Ruy Barbosa baseada em ideais liberais e papelistas incluiu a emissão desenfreada de papelmoeda sem lastro em reservas de ouro o que provocou uma inflação descontrolada Além disso a liberalização excessiva facilitou a especulação financeira levando a um aumento substancial do endividamento A crise do Encilhamento atingiu seu ápice com a falência de numerosos bancos e empresas a desvalorização da moeda e o aumento da dívida pública Essas condições econômicas adversas contribuíram para um clima de instabilidade social e política FAUSTO 1990 4 O estudo das políticas adotadas durante o Encilhamento e suas consequências revela como a crise afetou profundamente a estrutura da sociedade brasileira gerando insatisfação popular e descrédito nas instituições monárquicas Esse cenário de descontentamento e crise facilitou o movimento republicano culminando na Proclamação da República em 15 de novembro de 1889 A queda da monarquia e a instauração do regime republicano não resolveram imediatamente os problemas econômicos mas marcaram o início de um novo período na história brasileira com novas expectativas e desafios FAUSTO 1990 A pesquisa analisará de maneira detalhada esses eventos contribuindo para a compreensão de como uma crise econômica pode influenciar transformações políticas significativas Serão investigadas as decisões políticas e econômicas da época a reação da sociedade brasileira frente à crise e as consequências a longo prazo da transição de regime O objetivo é proporcionar uma visão abrangente e bem fundamentada sobre o impacto do Encilhamento na Proclamação da República e nos primeiros anos do regime republicano no Brasil FAORO 1958 Será também relembrado que o país passou por alguns momentos de crise e de recuperação econômica que também marcaram a história do país antes do período de Encilhamento Será que as atitudes tomadas tiveram alguma influência devido a de crises anteriores ALMEIDA CROCE 2016 O contexto histórico do Encilhamento está inserido em um período de transição e adaptação significativa no Brasil O fim da escravidão em 1888 trouxe à tona a necessidade de reorganizar a economia que até então era fortemente dependente do trabalho escravo A libertação dos escravos não só alterou drasticamente a mão de obra disponível mas também exigiu novas políticas econômicas e sociais para integrar os libertos à sociedade como trabalhadores assalariados FAUSTO 1990 A economia brasileira no final do século XIX ainda era predominantemente agrária com uma forte dependência das exportações de café No entanto havia um crescente movimento de industrialização especialmente em estados como São Paulo e Rio de Janeiro impulsionado tanto pela necessidade de diversificação econômica quanto pela chegada de imigrantes europeus que trouxeram novas habilidades e demandas Este período também viu um aumento significativo na imigração europeia como parte de uma estratégia deliberada do governo para substituir o trabalho escravo por mão de obra livre e assalariada VIOTTI DA COSTA 1998 Neste cenário a política econômica de Ruy Barbosa baseada no aumento da emissão de papelmoeda visava a fomentar a industrialização e modernizar a economia brasileira 5 Inspirado pelas ideias liberais e pelo sucesso de nações industrializadas Barbosa acreditava que uma expansão rápida da oferta monetária estimularia o crescimento econômico No entanto a falta de regulamentação adequada e a ausência de uma infraestrutura financeira robusta para suportar essa expansão resultaram em uma bolha especulativa Bancos e empresas surgiram rapidamente muitas vezes sem fundamentos sólidos e a especulação tomou conta dos mercados BEZERRA 2019 A situação foi agravada pela ausência de um sistema bancário centralizado e eficaz Na época o Brasil não possuía um banco central que pudesse regular a oferta monetária e supervisionar o sistema bancário Isso levou a uma proliferação de bancos privados emitindo sua própria moeda o que contribuiu ainda mais para a desordem financeira A inflação descontrolada erodiu o poder de compra da população e criou um ambiente de incerteza econômica CARONE 1977 A euforia inicial foi rapidamente substituída por uma crise de confiança Com a falência de bancos e empresas muitos investidores e cidadãos comuns perderam suas economias A desvalorização da moeda e o aumento da dívida pública exacerbaram a situação levando a uma crise econômica que afetou todos os setores da sociedade A insatisfação popular cresceu à medida que as promessas de prosperidade se transformaram em realidades de desemprego e pobreza FAUSTO 1990 A crise do Encilhamento teve repercussões políticas significativas A monarquia já enfraquecida por uma série de problemas internos e a recente abolição da escravidão foi incapaz de lidar eficazmente com a crise econômica O descontentamento popular e a perda de confiança nas instituições monárquicas criaram um terreno fértil para o movimento republicano Líderes republicanos utilizaram a crise como argumento para a necessidade de uma mudança de regime promovendo a ideia de que uma república seria mais apta a conduzir o Brasil rumo à modernidade e estabilidade VIOTTI DA COSTA 1998 A Proclamação da República em 15 de novembro de 1889 foi em parte uma resposta direta à crise do Encilhamento A transição para o regime republicano representou uma esperança de renovação e reforma tanto política quanto econômica No entanto os primeiros anos da República foram marcados por continuidades e desafios herdados do período monárquico incluindo a necessidade de estabilizar a economia e restaurar a confiança pública ALMEIDA CROCE 2016 Este estudo visa explorar detalhadamente esses eventos e suas interrelações fornecendo uma análise compreensiva de como a crise econômica do Encilhamento influenciou a Proclamação da República e moldou os primeiros anos do regime republicano 6 no Brasil A pesquisa se propõe a entender não apenas os aspectos econômicos mas também os políticos e sociais oferecendo uma visão integrada e aprofundada desse período crucial na história brasileira Referências históricas adicionais a serem exploradas incluem a relação entre o Encilhamento e crises econômicas anteriores O Brasil ao longo do século XIX enfrentou diversos desafios econômicos e políticos que moldaram suas políticas financeiras e sociais A análise dessas crises anteriores pode fornecer insights valiosos sobre as decisões tomadas durante o Encilhamento e como essas experiências influenciaram as respostas econômicas e políticas subsequentes ALMEIDA CROCE 2016 A crise do Encilhamento foi portanto um ponto de inflexão significativo na história brasileira Ela expôs as fragilidades do sistema econômico e político da época e acelerou a transição para um novo regime A análise aprofundada deste período permite compreender melhor os desafios enfrentados pelo Brasil na sua busca por modernização e estabilidade bem como as lições aprendidas que continuam a ressoar na política e na economia brasileira até os dias atuais FAUSTO 1990 As reformas econômicas introduzidas por Ruy Barbosa também refletem a influência das ideias liberais que circulavam globalmente no final do século XIX A crença na capacidade do mercado de se autorregular e na eficácia das políticas monetárias expansionistas era compartilhada por muitos economistas e políticos da época Contudo a implementação dessas ideias no Brasil sem as devidas salvaguardas e sem uma estrutura financeira sólida resultou em consequências adversas A análise da literatura econômica da época pode revelar como as teorias econômicas liberais foram adaptadas ou mal adaptadas ao contexto brasileiro contribuindo para a crise FURTADO 1968 Outro aspecto a ser considerado é a dinâmica política interna do Brasil durante o Encilhamento A transição da monarquia para a república envolveu não apenas uma mudança de regime mas também uma reorganização das forças políticas e sociais O movimento republicano que culminou na Proclamação da República foi composto por diversos grupos com interesses distintos incluindo militares comerciantes proprietários de terras e intelectuais A crise econômica exacerbou as tensões entre esses grupos influenciando a configuração do novo regime republicano e suas políticas subsequentes VIOTTI DA COSTA 1998 A análise das fontes primárias como documentos oficiais jornais da época e correspondências pessoais permitirá uma compreensão mais detalhada das percepções e reações dos contemporâneos à crise do Encilhamento Esses relatos podem fornecer indícios 7 sobre como diferentes segmentos da sociedade brasileira vivenciaram a crise e como isso influenciou suas posições políticas Por exemplo a imprensa da época desempenhou um papel crucial na disseminação de informações e desinformações sobre a situação econômica moldando a opinião pública e as atitudes em relação ao governo CARVALHO 1987 Além disso a crise do Encilhamento teve impactos duradouros na estrutura financeira do Brasil A falência de muitos bancos e empresas levou à necessidade de reformas no sistema bancário e na regulação financeira A experiência do Encilhamento destacou a importância de um banco central forte e de uma política monetária prudente lições que influenciaram as políticas econômicas do Brasil nas décadas subsequentes A análise dessas reformas e de sua implementação pode revelar como o Brasil tentou superar as fragilidades expostas pela crise PELÁEZ SUZIGAN 1981 O Encilhamento também teve repercussões na política externa do Brasil A instabilidade econômica e política interna afetou as relações diplomáticas e comerciais com outras nações A percepção internacional do Brasil como um país em crise pode ter influenciado suas negociações comerciais e políticas com potências estrangeiras A análise das correspondências diplomáticas e dos tratados internacionais da época pode fornecer uma visão mais ampla de como a crise do Encilhamento afetou a posição do Brasil no cenário global FAORO 1958 Por fim a crise do Encilhamento pode ser analisada em comparação com outras crises econômicas globais do século XIX A Revolução Industrial e as mudanças econômicas associadas criaram um ambiente de flutuações econômicas e crises periódicas em muitas nações Comparar a experiência brasileira com a de outros países pode revelar padrões comuns e diferenças significativas enriquecendo a compreensão do Encilhamento como um fenômeno inserido em um contexto histórico e econômico mais amplo HOBSBAWM 1968 Em suma a crise do Encilhamento e seus impactos na Proclamação da República e nos primeiros anos do regime republicano no Brasil constituem um tema de pesquisa rico e multifacetado A análise detalhada desses eventos considerando os aspectos econômicos políticos e sociais permitirá uma compreensão mais profunda das transformações ocorridas no Brasil durante este período crucial O objetivo desta pesquisa é contribuir para o conhecimento histórico proporcionando uma visão abrangente e bem fundamentada das complexas interações entre crise econômica e mudança política no final do século XIX FAUSTO 1990 8 2 OBJETIVOS 21 Objetivo Geral O objetivo central desta pesquisa é analisar de forma detalhada como a crise do Encilhamento contribuiu para a Proclamação da República no Brasil em 15 de novembro de 1889 Este estudo pretende estabelecer uma ligação clara entre os eventos econômicos que caracterizaram o Encilhamento e as mudanças políticas que culminaram na transição do regime monárquico para o republicano CARONE 1977 BEZERRA 2019 22 Objetivos Específicos Descrever o contexto econômico do Brasil no final do século XIX a Foco na transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado investigar as transformações econômicas e sociais decorrentes do fim da escravidão em 1888 analisando como a abolição impactou a estrutura econômica do Brasil Esse objetivo envolve estudar a migração da força de trabalho escrava para o trabalho assalariado as mudanças nas relações de trabalho e suas implicações econômicas FAORO 1958 b Desenvolvimento do setor agrário e industrial analisar como os setores agrário e industrial foram afetados pela transição econômica com especial atenção à introdução de mão de obra imigrante e suas consequências para a economia brasileira FAUSTO 1990 Identificar os principais eventos e políticas durante o Encilhamento e seus impactos econômicos e sociais a Euforia e expansão do mercado financeiro examinar as políticas de liberalização econômica promovidas por Ruy Barbosa incluindo a criação de inúmeros bancos e empresas e a expansão da oferta monetária Estudar os mecanismos de especulação financeira e como eles contribuíram para a euforia inicial no mercado ALMEIDA CROCE 2016 b Colapso econômico e crise financeira investigar os fatores que levaram ao colapso do mercado financeiro incluindo a desvalorização da moeda e a falência de bancos e empresas Analisar os impactos econômicos imediatos e a longo prazo da crise sobre diferentes segmentos da sociedade brasileira VIOTTI DA COSTA 1998 9 Examinar como a crise econômica e a desvalorização da moeda influenciaram a queda da monarquia e a Proclamação da República avaliando o papel das políticas econômicas de Ruy Barbosa a Análise das reformas monetárias detalhar as reformas monetárias implementadas por Ruy Barbosa avaliando suas intenções execuções e resultados Estudar como essas políticas visavam modernizar a economia brasileira mas acabaram por gerar instabilidade econômica BEZERRA 2019 b Impacto político das reformas explorar como as reformas econômicas influenciaram a percepção pública e política do governo contribuindo para a instabilidade política Analisar o papel dessas políticas na erosão da confiança nas instituições monárquicas e na mobilização do movimento republicano CARONE 1977 c Relação entre crise econômica e descontentamento político investigar como a crise econômica exacerbou o descontentamento popular e a oposição política à monarquia Estudar o aumento das tensões sociais e políticas durante a crise e como elas foram canalizadas para o movimento republicano FAUSTO 1990 d Processo de transição do regime analisar os eventos culminantes que levaram à Proclamação da República incluindo a articulação dos líderes republicanos os levantes militares e a deposição do Imperador Pedro II Estudar como a crise do Encilhamento foi instrumentalizada pelos republicanos para justificar a necessidade de mudança de regime VIOTTI DA COSTA 1998 Este conjunto de objetivos específicos permitirá uma compreensão abrangente e profunda de como a crise do Encilhamento não só afetou a economia brasileira mas também teve implicações políticas significativas que contribuíram diretamente para a transição do Brasil de uma Monarquia para uma República 10 3 JUSTIFICATIVA 31 Justificativa do Recorte Temporal O recorte temporal delimitado entre os anos de 1889 e 1891 é justificado pela importância desses anos como um período crucial de transição na história política e econômica do Brasil Em 1889 ocorreu a Proclamação da República um evento que encerrou o regime monárquico no Brasil e inaugurou uma nova fase republicana Esse momento foi diretamente influenciado pelas políticas econômicas do período especialmente a crise do Encilhamento que teve início com as reformas financeiras promovidas por Ruy Barbosa então Ministro da Fazenda A crise financeira e a instabilidade resultante se intensificaram até 1891 quando a economia enfrentou o auge da falência de bancos e empresas culminando em uma instabilidade social e política que moldou os primeiros anos da república Portanto esse intervalo é fundamental para compreender as interrelações entre a economia a política e a transição de regime no Brasil o que legitima o foco da pesquisa nesses três anos 32 Justificativa pela Escolha das Fontes Primárias A escolha da imprensa através do jornal de época como fonte primária se justifica pelo papel central que os jornais desempenharam na disseminação de informações e na formação da opinião pública durante o final do século XIX no Brasil A imprensa não apenas relatou os eventos da época como também influenciou ativamente o debate político e econômico sendo um canal vital para a divulgação das políticas do Encilhamento e das reações públicas e institucionais à crise Além de sua função informativa a imprensa da época servia como uma extensão do parlamento ecoando as discussões que ocorriam nas Câmaras Jornais e folhas partidárias repercutiam essas discussões permitindo que o público acompanhasse de perto os debates políticos e econômicos Era comum durante o Segundo Reinado e a transição para a República que a chamada imprensa partidária fosse utilizada para defender ou criticar os projetos propostas e ações do governo Assim os jornais não só documentavam os eventos mas também refletiam os interesses tensões e críticas de diferentes setores da sociedade brasileira tornandose um elemento crucial para a compreensão do contexto político e econômico do período A obra História da Imprensa no Brasil de Nelson Werneck Sodré fornece uma base sólida para compreender o papel da imprensa nesse contexto O autor explora a evolução dos 11 jornais no Brasil destacando como esses veículos foram utilizados como ferramentas de poder e influência política especialmente durante momentos de grande turbulência como o Encilhamento Essa análise permitirá assim uma compreensão mais rica e detalhada do período visto através do prisma da imprensa que atuou tanto como observadora quanto como protagonista dos eventos que culminaram na Proclamação da República 12 4 REFERÊNCIAL TEÓRICO 41 Contexto Político Econômico E Social Do Período Abordando Em Especial A Abolição E O Gabinete Ouro Preto O período final do Império no Brasil entre as décadas de 1870 e 1880 foi marcado por intensas transformações no contexto político econômico e social impulsionadas principalmente pela crise do regime monárquico pelas pressões do movimento abolicionista e pela instabilidade política interna Esse cenário era composto por tensões econômicas revoltas sociais e debates políticos acirrados que culminariam na abolição da escravidão em 1888 e na Proclamação da República em 1889 No campo político o declínio da monarquia se acelerava Segundo José Murilo de Carvalho em A Formação das Almas O Imaginário da República no Brasil 1990 a crise monárquica era evidente e D Pedro II enfrentava dificuldade em responder às crescentes demandas da sociedade e às pressões por reformas À frente do último gabinete ministerial do Império o Visconde de Ouro Preto buscou implementar reformas modernizadoras como a ampliação do direito ao voto e a descentralização administrativa visando apaziguar os ânimos republicanos e preservar o regime monárquico Porém essas mudanças chegaram tarde demais e foram incapazes de reverter a perda de apoio da monarquia tanto entre as elites quanto entre o exército e setores populares Ainda no campo político o declínio da monarquia brasileira foi objeto de interpretações diversas Segundo Christian Edward Cyril Lynch em Necessidade contingência e contrafactualidade a queda do Império reconsiderada 2018 o regime monárquico enfrentava desafios significativos no final do século XIX A crise não deve ser vista como uma consequência inevitável mas como fruto de dinâmicas políticas e sociais específicas Lynch destaca que as reformas liberais como a descentralização administrativa e a ampliação das liberdades políticas buscaram adaptar o sistema às novas demandas da sociedade mas enfrentaram resistências e limitações institucionais Essas tentativas de modernização da monarquia foram abruptamente interrompidas pelo golpe republicano revelando a tensão entre o reformismo monarquista e as pressões republicanas emergentes A análise de Lynch sugere que a monarquia apesar de desgastada ainda possuía capacidade de adaptação e poderia ter sobrevivido às crises se não fosse pela intervenção militar e pelo descontentamento crescente das elites A queda do regime assim é interpretada 13 como resultado de uma contingência histórica em vez de uma consequência linear de seu suposto conservadorismo ou incapacidade de modernização Economicamente o Brasil ainda dependia de uma economia baseada no trabalho escravo especialmente na produção de café produto primário que sustentava a balança comercial do país Contudo os interesses econômicos mudavam conforme explica Emília Viotti da Costa em Da Senzala à Colônia 1966 parte da elite cafeeira percebia que a mão de obra escrava era uma prática ultrapassada e ineficiente para a expansão do setor Esse segmento passou então a apoiar a transição para o trabalho assalariado antecipando uma modernização econômica Em outras palavras a abolição da escravidão se conectava diretamente a uma necessidade de adaptação econômica mas não eliminava o receio da elite de perder o controle sobre a força de trabalho Socialmente o Brasil vivia uma mobilização popular intensa em favor da abolição que se consolidaria em 1888 com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel Embora fosse um marco para o fim da escravidão a abolição foi feita sem qualquer preparação para a integração dos libertos na sociedade Conforme destaca Florestan Fernandes em A Integração do Negro na Sociedade de Classes 1965 a abolição não foi acompanhada de medidas de inclusão social e econômica o que deixou a maioria dos exescravizados em situação de extrema vulnerabilidade e marginalização Esse descaso com os negros libertos perpetuou desigualdades sociais e raciais que se fariam sentir no Brasil por muitas décadas evidenciando uma abolição incompleta e limitada em seu alcance O Gabinete de Ouro Preto último esforço reformista do Império representa um ponto crucial neste contexto Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil 1936 argumenta que esse gabinete reflete o último esforço da monarquia para se adaptar aos novos tempos promovendo reformas que pretendiam modernizar o país e consolidar o apoio ao regime No entanto a incapacidade de o gabinete atender às demandas republicanas e de estabelecer uma transição efetiva em relação à escravidão minou o apoio ao Império e acelerou a queda do regime monárquico Em síntese o período final do Império foi marcado por um contexto de intensa transformação e conflito As forças políticas econômicas e sociais convergiram para desmantelar o antigo regime e estabelecer uma nova ordem republicana A monarquia sem bases para uma reforma eficaz e incapaz de satisfazer as demandas abolicionistas e republicanas sucumbiu aos movimentos que já não encontravam nela um regime adequado para a modernização e justiça social que o Brasil tanto precisava 14 5 FONTES E METODOLOGIA 51 MATERIAIS A pesquisa sobre o Encilhamento e sua relação com a Proclamação da República se baseou em uma variedade de materiais que abrangem o contexto histórico político e econômico do período Os principais materiais utilizados incluem Documentos de arquivo da época este conjunto de fontes primárias compreende decretos governamentais jornais da época relatórios econômicos oficiais e correspondências políticas Esses documentos proporcionam uma visão direta e contemporânea dos eventos e das tomadas de decisão que moldaram o cenário político e econômico durante o Encilhamento e a transição para a República 511 Fontes Primárias 5111 Jornais da Época Os periódicos da época são fontes valiosas pois registram as reações da sociedade e dos atores políticos aos eventos Exemplo de jornais Gazeta de Notícia Jornal do Commercio Correio Paulistano Em vista disso é possível encontrar esses jornais na Hemeroteca Digital Brasileira Biblioteca Nacional no qual é um acervo extenso de jornais históricos 5112 Relatórios Econômicos Oficiais Os Relatórios do Ministério da Fazenda sobre o período podem ser encontrados em bibliotecas governamentais e arquivos httpsbndigitalbngovbracervodigital 512 Fontes secundária Além das fontes primárias a pesquisa se apoiou em uma variedade de obras acadêmicas e literaturas especializadas que exploram o período do Encilhamento e os eventos que culminaram na Proclamação da República Essas obras fornecem análises detalhadas 15 interpretações e contextualizações dos acontecimentos históricos contribuindo para uma compreensão mais profunda e abrangente do tema 52 PROCEDIMENTOS A metodologia adotada para conduzir esta pesquisa envolveu os seguintes procedimentos a Identificação e seleção de fontes inicialmente foi realizada uma extensa pesquisa em arquivos históricos bibliotecas especializadas e bases de dados acadêmicas O objetivo foi identificar e selecionar documentos primários e secundários relevantes que lançassem luz sobre o Encilhamento e seu impacto na transição política para a República no Brasil b Leitura e fichamento após a seleção das fontes procedeuse à leitura detalhada dos documentos de arquivo e obras acadêmicas escolhidas Durante essa etapa foram feitos anotações e fichamentos dos pontos mais significativos destacando eventoschave personagens importantes tendências econômicas e políticas relevantes c Elaboração de quadros e resumos os dados coletados foram organizados em quadros e resumos temáticos permitindo uma visualização clara e estruturada das informações Essa etapa facilitou a identificação de padrões conexões e discrepâncias entre os diferentes elementos do período do Encilhamento e da Proclamação da República d Análise do conteúdo por fim os dados foram submetidos a uma análise minuciosa e crítica visando à interpretação dos eventos e à construção de uma narrativa histórica coesa A análise do conteúdo buscou relacionar os eventos econômicos e políticos do Encilhamento com os antecedentes e desdobramentos da Proclamação da República proporcionando uma compreensão mais abrangente e aprofundada da interligação entre esses dois momentoschave da história brasileira Esses procedimentos metodológicos garantiram uma abordagem sistemática e rigorosa na condução da pesquisa possibilitando uma análise detalhada e uma interpretação fundamentada dos eventos históricos investigados 16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA I C S CROCE M A Abolição encilhamento e mercado financeiro uma análise da primeira crise financeira republicana Revista de Economia do CentroOeste Goiânia v 2 n 2 p 1936 2016 Disponível em httpsrevistasufgbrreoestearticleview41826 Acesso em 02 de maio de 2024 ALMEIDA M H T CROCE F N Histórias da República 18891930 São Paulo Cia das Letras 2016 BARBOSA Rui Antologia Nova Fronteira 2011 Disponivel httpsbooksgooglecombrbookshlpt BRlridP7KuDwAAQBAJoifndpgPP6dqEncilhamentoeaProclamaC3 A7C3A3odaRepC3BAblicaruibarbosaotsh5fBWPiOD9sig6nOQP2cd7 KaGAfbueYEINNktE BEZERRA M Ruy Barbosa e o Encilhamento uma história do papelmoeda no Brasil São Paulo Edusp 2019 CARONE E O Encilhamento São Paulo Editora AlfaÔmega 1977 CARONE E A República Velha 18891930 CARVALHO J M de A formação das almas o imaginário da República no Brasil São Paulo Companhia das Letras 1987 CARVALHO José Murilo de A Formação das Almas O Imaginário da República no Brasil São Paulo Companhia das Letras 1990 COSTA Emília Viotti da Da Senzala à Colônia São Paulo Unesp 1966 CURY Luiz Felipe Bruzzi Rui Barbosa e as Ideias Econômicas Entre teoria e conjuntura Boletim Informações FIPE São Paulo FIPE p 4552 2015 DA ROCHA Amélia Soares Rui Barbosa a formação do Brasil e o pensamento jurídico Revista de Ciências Jurídicas v 15 n 1 p 933 2010 DE SOUZA ALMEIDA Ian Coelho CROCE Marcus Antônio Abolição encilhamento e mercado financeiro uma análise da primeira crise financeira republicana Revista de Economia do Centrooeste 2016 FAORO R Os Donos do Poder Formação do Patronato Político Brasileiro Porto Alegre Globo 1958 FAUSTO B História do Brasil São Paulo Edusp 1990 FAUSTO Boris História do Brasil Disponível na Amazon httpswwwamazoncombrdp8535927141 17 FERNANDES Florestan A Integração do Negro na Sociedade de Classes São Paulo Dominus Editora da Universidade de São Paulo 1965 FRANCO Gustavo HB A economia em Machado de Assis o olhar oblíquo do acionista Editora SchwarczCompanhia das Letras 2007 FURTADO C Formação Econômica do Brasil São Paulo Companhia Editora Nacional 1968 HOBSBAWM E J A Era das Revoluções 17891848 São Paulo Paz e Terra 1968 HOHLFELDT Antônio O Encilhamento um estudo literário como narrativa histórica metonímica Letras de Hoje v 33 n 3 1998 HOLANDA Sérgio Buarque de Raízes do Brasil Rio de Janeiro José Olympio 1936 HOLANDA Sérgio Buarque de direção História geral da civilização brasileira Tomo II O Brasil monárquico Volume 7 Do Império à República 7 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2005 504 p História geral da civilização brasileira tomo II v 7 ISBN 85286 05078 MANZATTO Rômulo Celso Furtado e a Política Financeira de Rui Barbosa 2023 OLIVEIRA Pedro Paulo Rocha Guerra A crise do encilhamento e seus reflexos no Brasil um estudo de caso 2021 PELÁEZ C M SUZIGAN W História monetária do Brasil Brasília Editora Universidade de Brasília 1981 VIOTTI DA COSTA E Da Monarquia à República momentos decisivos São Paulo Fundação Editora da UNESP 1998 3 REAÇÕES E CONSEQUENCIAS DO ENCILHAMENTO A expansão do emprego formal impulsionada pelo influxo contínuo de imigrantes e pelo desenvolvimento industrial sugeria um horizonte encorajador com a economia se fortalecendo e novas oportunidades surgindo tanto nas áreas urbanas quanto rurais promovendo investimentos e um entusiasmo generalizado entre os segmentos produtivos no entanto essa impressão de dinamismo mascarava fragilidades na estrutura que de forma inexorável em breve se manifestariam expondo as vulnerabilidades ocultas dentro do contexto otimista IPEA 2011 O sucesso das plantações de café e a eficaz assimilação dos imigrantes no setor agrícola geraram um ambiente favorável impulsionando a entrada de capital estrangeiro e a valorização do milréis Esse cenário teve um impacto positivo na Bolsa de Valores onde o crescimento dos lucros indicou uma fase de entusiasmo e abundância para o mercado financeiro do país ALMEIDA CROCE 2016 O governo por sua vez implementou estratégias que estimularam a concessão de empréstimos hipotecários e reforçaram instituições financeiras associadas a personalidades poderosas como Francisco de Paula Mayrink com o objetivo de promover o crescimento econômico ALMEIDA CROCE 2016 Todavia essa expectativa positiva rapidamente foi substituída pela instabilidade resultante da utilização especulativa dos recursos o que levou à perda da confiança popular e ao desgaste da gestão governamental indicando o começo da crise do Encilhamento SCHULZ 1996 A abordagem do governo imperial em oferecer amplo crédito aos agricultores tinha como objetivo principal frear a disseminação das ideias republicanas e acalmar determinadas frações da elite rural Entretanto muitos agricultores já enfrentavam um elevado nível de endividamento e utilizaram os novos financiamentos apenas para saldar dívidas anteriores o que frustrou a estratégia do governo de revitalizar e estimular a atividade agrícola ALMEIDA CROCE 2016 Essa desconexão entre a abordagem econômica implementada e a realidade da produção revela a vulnerabilidade do Império frente às significativas mudanças sociais que estavam ocorrendo A visão da sociedade sobre essa falta de eficiência e a dificuldade em lidar com os desafios econômicos ajudou a fortalecer a atração pelo movimento republicano levando à proclamação da República ALMEIDA CROCE 2016 De acordo com Carone 1974 Rui Barbosa continuou a implementar políticas de crédito destinadas aos proprietários de terras do Vale do Paraíba buscando assim garantir o apoio dos setores rurais mais influentes No entanto essas medidas se mostraram inadequadas para garantir a estabilidade do regime monárquico frente à crescente pressão por mudanças republicanas A instabilidade econômica se intensificou devido à saída de ouro do território e à suspensão dos investimentos externos resultando na desvalorização da moeda e em efeitos adversos no mercado de ações Diante dessas dificuldades a estratégia de emissão garantida por ouro implementada pela administração anterior precisou ser descartada complicando ainda mais a gestão da crise econômica LOBO 1980 SCHULZ 1996 As instituições financeiras obtiveram fundos do governo a taxa de juros zerada para financiar os agricultores que reembolsavam quase a totalidade desses valores através de um sistema de troca de débitos Os recursos financeiros eram portanto utilizados para comprar títulos do governo resultando na emissão de novas cédulas e aumentando a quantidade de moeda disponível em 40 em somente nove meses SCHULZ 1996 A valorização das ações no mercado acionário aumentava a necessidade de capital para apoiar o crescimento das operações o que provocava pressão sobre a elevação das taxas de juros Devido à restrição no volume de moeda liberada por meio de decretos a taxa de juros aumentava beneficiando investimentos especulativos que proporcionavam um retorno elevado o bastante para justificar a contração de empréstimos nos bancos ampliando assim a bolha financeira TANNURI 1981 No mês de maio de 1890 Rui Barbosa pôs fim à prática de empréstimos voltados para a agricultura e em outubro adotou ações para prevenir irregularidades na Bolsa de Valores estipulando que as companhias deveriam subscrever 100 de suas ações e dispor de pelo menos 30 de capital próprio sendo que 40 desse montante deveria estar integralizado antes de iniciar as transações SCHULZ 1996 De acordo com Franco 1983 o objetivo era conter progressivamente o entusiasmo do mercado no entanto as alterações resultaram em uma diminuição rápida e significativa na criação de novas empresas sendo substituídas pela exigência de um aumento no capital inicial para prevenir prejuízos financeiros Com a proclamação da República a nova administração lidou com as consequências da crise do Encilhamento sobretudo no que diz respeito à Bolsa de Valores Tristão de Alencar Araripe que ocupava o cargo de ministro da Fazenda buscou conter a especulação financeira ao implementar impostos sobre altos dividendos e transações futuras ALMEIDA CROCE 2016 Entretanto a intensa pressão dos grupos favorecidos e uma paralisação dos corretores levaram à revogação dessas ações Dentro desse contexto turbulento o Marechal Deodoro da Fonseca assumiu a presidência em 1891 solidificando a mudança política e acentuando a insegurança que caracterizou o começo do período republicano ALMEIDA CROCE 2016 Conforme Lobo 1980 a maioria dos títulos passou por uma queda de valor em parte em função da antecipação de ações do governo que restringiriam os ganhos dos investimentos A situação foi piorada pela dificuldade em localizar compradores limitandose apenas a algumas instituições respeitáveis como o Banco do Brasil e o Banco Rural A média de desvalorização alcançou aproximadamente 40 do valor que havia sido registrado no começo do ano demonstrando o colapso do mercado após a fase de especulação intensa sinalizando o início do declínio da confiança no sistema financeiro daquele período LOBO 1980 ALMEIDA CROCE 2016 Simultaneamente as instituições financeiras emissoras elevaram a quantidade de dinheiro em circulação para apoiar empresas listadas na bolsa muitas das quais eram fraudulentas na tentativa de manter o Encilhamento intensificando a instabilidade do mercado criando um ciclo prejudicial de especulação e desconfiança o que contribuiu para a aceleração do colapso econômico nacional SCHULZ 1966 Em setembro de 1891 Lucena do Ministério da Fazenda tentou enfrentar a crise por meio de uma elevação na emissão de moeda solicitando ao Congresso a permissão para a liberação de 600 mil contos através do BREUB A rejeição por parte da oposição levou Deodoro e Lucena a realizarem um golpe em novembro dando início a uma curta ditadura ALMEIDA CROCE 2016 Contudo um contragolpe promovido pelo Partido Republicano Paulista que contou com suporte militar e popular fez com que Deodoro renunciasse e Floriano Peixoto assumisse o poder intensificando a instabilidade política durante o período de transição para a república ALMEIDA CROCE 2016 Rodrigues Alves ao retornar ao cargo de Ministro da Fazenda enfatizou o alto valor da dívida pública que tornava impossível a emissão garantida por títulos A falta de ouro e a valorização da moeda estrangeira pioraram a situação tornando inviável a emissão de moeda por instituições financeiras privadas ALMEIDA CROCE 2016 No ano de 1896 uma importante legislação foi instaurada atribuindo ao governo a exclusividade na emissão de bilhetes bancários legalizando as garantias e estabelecendo um plano para a retirada gradual do papelmoeda com o objetivo de solucionar os entraves do Encilhamento e recuperar a credibilidade no sistema financeiro TANNURI 1981 No entanto Floriano Peixoto e Prudente de Morais se depararam com enormes dificuldades ao tentar reestabelecer a economia após a crise e foi apenas durante a administração de Campos Sales que os impactos mais graves do Encilhamento foram superados sinalizando o começo da recuperação econômica do Brasil TANNURI 1981 Ao assumir a liderança do país em 1898 Campos Sales encontrou um cenário econômico desafiador com o Brasil quase enfrentando o calote da dívida externa Sales assumiu o compromisso de não criar moeda fiduciária extra e garantiu a receita da alfândega do Rio de Janeiro ações que se provaram fundamentais para impedir a crise econômica e equilibrar as finanças nacionais SCHULZ 1996 Campos Sales assumiu a desafiadora responsabilidade de equilibrar as finanças do país por meio da aplicação estrita das diretrizes estabelecidas no Funding Loan visando a redução dos preços a estabilização das contas públicas e a reintrodução do imposto sobre importações em ouro além da emissão de títulos da dívida que retirou recursos do fluxo econômico e auxiliou no controle da inflação restabelecendo a confiança na economia e dando início à sua recuperação após o Encilhamento CARDOSO 1975 Embora tenha havido tentativas de resgatar o Banco República do Brasil o mercado financeiro do Rio de Janeiro sofreu uma severa escassez de recursos resultando no encerramento ou reestruturação de diversas entidades em especial aquelas afligidas por créditos inadimplentes do Encilhamento O governo por sua vez adotou uma postura inerte em relação às falências vendoas como necessárias para promover a recuperação econômica e a reabilitação lenta do país TANNURI 1996 SCHULZ 1996 Com a diminuição da quantidade de moeda em circulação empresas desonestas não conseguiram suportar a intensificação da concorrência Apesar de o processo ter apresentado instabilidades ele proporcionou as condições necessárias para a expansão industrial nos primórdios da República Velha colocando a indústria carioca em uma posição proeminente superada apenas pela de São Paulo até os anos 1920 ALMEIDA CROCE 2016 LEVY 1994 O Encilhamento foi um momento de grande especulação que gerou um aumento nas taxas de juros uma queda no valor da moeda e uma inflação que se estendeu até a década de 1890 Os impactos da crise foram superados apenas no início do século XX através de fechamentos de bancos e reestruturações econômicas TANNURI 1981 A desvalorização dos ativos na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro prejudicou gravemente pequenos investidores e agricultores da área sendo que a especulação excessiva e a carência de normas financeiras pioraram a situação Isso transformou a tentativa de reforma monetária de Rui Barbosa em uma experiência desastrosa devido à falta de um banco central ou entidade reguladora A liberação excessiva de dinheiro converteu o crédito em um símbolo de instabilidade em um contexto caracterizado pela falta de um banco central ou de qualquer entidade reguladora que controlasse as atividades financeiras Como resultado a fé na economia foi gravemente comprometida evidenciando a demanda imediata por uma política monetária mais robusta e organizada Embora tenha havido instabilidade certas empresas fundadas durante o Encilhamento conseguiram se expandir especialmente no setor têxtil onde o investimento na Bolsa do Rio de Janeiro aumentou duas vezes entre maio e novembro de 1890 IPEA 2011 Na cidade de São Paulo o panorama também foi de crescimento com o surgimento de mais de duzentas empresas anônimas e a establishment da Bolsa de Valores local no mesmo período 31 A reação da Imprensa e dos Meios de Comunicação Os meios de comunicação se dedicaram a documentar e expor os impactos negativos do Encilhamento exercendo a função de monitoramento das direções da economia e responderam com severas críticas à liberação desmedida de papelmoeda e às atividades especulativas A atenção da mídia ressaltou a ausência de normas financeiras e a subsequente perda de confiança por parte da população tornando este período uma crítica essencial à falta de controle O crescimento acelerado do setor bancário aliado à má utilização dos recursos públicos promoveu práticas especulativas intensas que comprometem a estabilidade do sistema financeiro no Brasil No Rio de Janeiro diversos bancos escolheram realizar operações urbanas rentáveis ao invés de apoiar a agricultura o que contraria as metas das políticas públicas e suscitou intensas críticas na mídia que expôs o desvio refletindo a crise econômica ALMEIDA CROCE 2016 A imprensa utilizou o tema do Encilhamento para colocar em dúvida a legitimidade e a eficiência do governo imperial afetando diversas esferas urbanas militares e classes sociais intermediárias onde essa forma de posicionamento ideológico teve um impacto importante na intensificação da crise política atuando como um catalisador para a aceitação do novo regime Por meio de métodos de design avançados e fácil acesso ao crescente público urbano essas publicações apresentavam matérias minuciosas sobre investimentos arriscados taxa de desemprego e colapsos bancários e assim atingindo segmentos mais variados da população aumentando sua eficácia em exigir respostas do governo e mudanças no sistema financeiro Publicações regulares do Rio de Janeiro como a Gazeta de Notícias começaram a informar a população sobre o crescimento desenfreado do crédito e da especulação no setor financeiro destacando irregularidades e dificuldades de liquidez nas instituições bancárias Ao converter a intricada crise econômica em uma história compreensível essas mídias se tornaram fundamentais para a denúncia iluminando ações que colocavam em risco a solidez da nova República TRINER 2001 Conforme aponta Triner 2001 os editoriais faziam ironias sobre Ruy Barbosa ao implementar ações vistas como arriscadas fazendo comparações com os mongers da Argentina A análise ressaltava a diferença entre as finanças reais do Reino Unido e as ilusórias da recémformada república brasileira Isso mostra como a falta de confiança transcendeu limites impactando a visão global acerca da nação Publicações financeiras do Reino Unido e importantes instituições como os Rothschild manifestaram apreensão em relação ao aumento da oferta monetária e à especulação sobre câmbio no Brasil fazendo uma analogia com a crise enfrentada pela Argentina Esse modelo de cobertura refletia o ceticismo global sinalizando um aumento no risco e a provável desvalorização da moeda fatores que apesar de já serem percebidos internamente se tornavam mais significativos e confiáveis ao serem reportados no exterior TRINER 2001 A imprensa do Rio de Janeiro destacou o Encilhamento não apenas como um acontecimento econômico mas também como uma questão cultural e política empregando reportagens e sátiras para criticar o ambiente especulativo A Gazeta de Notícias lançou um folhetim intitulado O Encilhamento cenas contemporâneas em 26 de fevereiro de 1893 retratando de maneira irônica os acontecimentos e figuras envolvidos na crise TOLENTINO 2016 Essa estratégia foi pioneira ao combinar reportagens jornalísticas com elementos da narrativa literária aumentando a abrangência e a força da mensagem transmitida ao público A publicação de um folhetim satírico acerca do Encilhamento contribuiu para consolidar a visão de que esse evento simbolizava uma luta de influências entre o governo instituições financeiras e investidores A mídia da época em relação ao Encilhamento muitas vezes se manifestava de maneira crítica e alarmista transmitindo uma carga ideológica que insinuava que a população inativa e despreocupada era facilmente influenciada por uma elite de especuladores e por decisões econômicas pouco claras reforçando a percepção de uma desconexão entre a nova República e as massas reduzindo a capacidade de ação do povo CARVALHO 1990 Os meios de comunicação daquele período não apenas reportaram os eventos do Encilhamento mas também influenciaram sua análise moral e política com críticas contundentes e representações simbólicas Conforme Taunay 1971 p 115 o dinheiro em papel transformouse em uma efetiva carta de baralho apoiado pela submissão de uma multidão ignorante uma frase que ilustra como a imprensa atribuía a culpa tanto aos especuladores quanto à sociedade por manter um sistema deficitário A Gazeta das Notícias em suas publicações enfatizavase a condenação de práticas abusivas perpetradas por instituições financeiras e empresários além de ressaltar os efeitos prejudiciais das diretrizes econômicas adotadas após a Proclamação da República Por meio de artigos e reportagens o periódico impactou a discussão pública ao destacar a urgência de mudanças e a importância de uma maior clareza nas finanças nacionais O Jornal do Commércio ressaltou situações de fraudes e táticas especulativas na Bolsa de Valores com matérias e ensaios que revelaram a conexão entre financistas e políticos condenando a cumplicidade que possibilitou o aumento descontrolado da criação de moeda sem respaldo em ouro Machado de Assis mencionado por Taunay 1971 p 5253 caracterizou este período como uma grande epopeia de riqueza em que as atividades aconteciam de maneira acelerada e os ganhos pareciam não ter fim ilustrando a sensação de euforia especulativa que permeava a sociedade o que aponta que o Encilhamento foi descrito por vários pensadores como uma fase de otimismo desmedido e fé sem limites no avanço econômico Assim os meios de comunicação desempenharam um papel fundamental na formação da percepção pública sobre o Encilhamento atuando não apenas como fonte de notícias mas também como influenciadores na formação de opiniões e na crítica ética Ao destacar abusos especulativos satirizar as estratégias econômicas e documentar as consequências sociais da crise a mídia ajudou a formar uma lembrança negativa e persistente dessa época REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA I C S CROCE M A Abolição encilhamento e mercado financeiro uma análise da primeira crise financeira republicana Revista de Economia do CentroOeste Goiânia v 2 n 2 p 1936 2016 CARDOSO F H Dos Governos Militares a Prudente Campos Sales In FAUSTO Boris História geral da Civilização Brasileira vol 1 tomo 3 São Paulo Difel 1975 CARONE E República Velha Evolução política São Paulo Difel 1974 CARVALHO José Murilo de A formação das almas o imaginário da República no Brasil São Paulo Companhia das Letras 1990 FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS Enciclopédia Atlas Encilhamento Disponível em httpsatlasfgvbrverbetesencilhamento Acesso em 28 jun 2025 FRANCO G Reforma monetária e instabilidade durante a transição republicana Dissertação mestrado Departamento de Economia PUCRJ Rio de Janeiro 1983 GAZETA DE NOTÍCIA Edições de 18901891 Rio de Janeiro hemeroteca nacional 18901891 INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA IPEA História Encilhamento crise financeira e República Desafios do Desenvolvimento ano 8 edição 65 5 maios 2011 Disponível em httpswwwipeagovbrdesafiosindexphp optioncomcontentviewarticleid2490catid28Itemid23 Acesso em 27 jun 2025 JORNAL DO COMMERCIO Edições de 18901891 Rio de Janeiro Hemeroteca Digital Brasileira 18901891 LEVY M B A Indústria do Rio de Janeiro através de suas sociedades anônimas Rio de Janeiro UFRJ 1994 LOBO M E L Economia do Rio de Janeiro nos séculos XVII e XIX In NEUHAUS P Economia Brasileira Uma Visão Histórica Rio de Janeiro Campus p 12359 1980 SCHULZ J A crise financeira da Abolição São Paulo Ed USP 1996 TANNURI L A O Encilhamento São Paulo HucitecFuncamp 1981 TAUNAY Affonso de E O Encilhamento cenas contemporâneas da Bolsa do Rio de Janeiro em 1890 1891 e 1892 Belo Horizonte Itatiaia 1971 TOLENTINO Thiago Lenine Tito Do ceticismo aos extremos cultura intelectual brasileira nos escritos de Tristão de Athayde 19161928 manuscrito 2016 671 f Tese Doutorado em História Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2016 TRINER Gail D International Capital and the Brazilian Encilhamento 1889 1891 An Early Example of Contagion among Emerging Capital Markets Version of December 2001 Departamento de História Rutgers University Disponível em trinerixnetcomcom Acesso em 27 jun 2025 CONCLUSÃO A crise do Encilhamento representou uma mudança significativa na trajetória do Brasil destacando as fragilidades intrínsecas do Império e impulsionando as mudanças sociais que já estavam em curso O colapso econômico fruto das estratégias de expansão monetária de Rui Barbosa aliado à instabilidade política e ao aumento do descontentamento popular minou a fé nas instituições da monarquia abrindo espaço para a demolição do regime imperial e o avanço do movimento republicano Assim o objetivo principal deste estudo foi integralmente atingido ao evidenciar através de uma análise histórica e de diversas áreas do conhecimento de que maneira os impactos econômicos do Encilhamento afetaram diretamente a mudança do sistema monárquico para o republicano Ao examinar as políticas adotadas os impactos sociais da crise e a dinâmica entre os diferentes agentes políticos da época tornouse possível estabelecer uma conexão evidente e fundamentada entre a volatilidade econômica causada pelo Encilhamento e a afirmação do novo regime republicano Os objetivos específicos desta investigação também foram completamente cumpridos ao retratar de maneira detalhada o cenário econômico do Brasil no final do século XIX enfatizando a complexa mudança do trabalho escravo para o assalariado após a libertação em 1888 O estudo investigou o entusiasmo provocado pela política de liberalização econômica implementada por Ruy Barbosa que resultou na criação em grande escala de instituições bancárias aumento da quantidade de dinheiro circulando e forte especulação nos mercados financeiros A pesquisa também destacou os impactos destrutivos dessa crise em vários setores da sociedade brasileira abrangendo desde os grandes investidores até os trabalhadores mostrando como a incerteza econômica intensificou as tensões sociais e políticas o que ajudou a provocar a queda do regime monárquico O estudo analisou as ações econômicas implementadas por Ruy Barbosa ressaltando suas propostas de modernização e as consequências negativas de sua execução apressada que levaram a uma significativa instabilidade financeira Conseguiuse evidenciar de que maneira essas mudanças afetaram de forma negativa a opinião pública e política em relação ao governo reduzindo a confiança nas instituições monárquicas e estimulando o discurso a favor da república A relação entre a crise econômica e o aumento do descontentamento político foi analisada de maneira detalhada mostrando como as tensões sociais se acentuaram e foram direcionadas em prol do movimento republicano O estudo investigou os acontecimentos que levaram à Proclamação da República ressaltando como os líderes republicanos usaram o Encilhamento como uma justificativa fundamental para destituir Dom Pedro II e estabelecer um novo governo As crises econômicas que ocorreram no Brasil durante o século XIX como a do Encilhamento evidenciam a persistência de conflitos entre abordagens de políticas monetárias expansivas e limitativas que caracterizaram tanto o período imperial quanto a era republicana Os esforços para modernizar a economia fortaleceram sistemas patrimonialistas e favoreceram grupos elitistas evidenciando que a transição de regime não foi capaz de resolver as debilidades institucionais e econômicas legadas do passado A iniciativa de expandir a oferta de moeda através da emissão fiduciária embora baseada em ideias liberais e ajustadas à realidade local acabou intensificando pressões inflacionárias e especulativas evidenciando as fragilidades e a dependência de um sistema financeiro ainda vulnerável A desproporção entre o crescimento da oferta monetária interna e a vulnerabilidade da balança de pagamentos somada à influência das elites regionais e à resistência do capital internacional teve um papel significativo na instabilidade do sistema e na continuidade de problemas que impactaram o progresso econômico do Brasil ao longo de muitos anos O esforço de integrar o Brasil na dinâmica do capitalismo financeiro contemporâneo sem os necessários mecanismos de controle clareza e inclusão social gerou não apenas instabilidade econômica e aumento da inflação mas também causou a perda de credibilidade política e uma sensação de desilusão entre a população em relação ao novo regime republicano A imprensa atuou como um reflexo das controvérsias políticas econômicas e regionais da época ajudando a acentuar a divisão entre os diversos planos de modernização do Brasil Ao intensificar a discussão pública com falas alternando entre preocupações excessivas e abordagens práticas os jornais contribuíram para a formação de uma narrativa crítica que além de expor as consequências da crise também desafiava as bases ideológicas da política econômica implementada A crise do Encilhamento acelerou a Proclamação da República ao evidenciar a incapacidade do sistema monárquico perante as pressões econômicas e sociais resultando em desconfiança nas instituições e intensificando a instabilidade política Os efeitos dessas mudanças marcaram os primeiros anos do novo governo demandando reformas imediatas e evidenciando a vulnerabilidade das recémestabelecidas instituições republicanas Esta investigação apesar de ter procurado realizar uma análise completa sobre o Encilhamento e suas consequências políticas econômicas e na mídia enfrenta restrições devido à escassez e à dispersão das fontes originais além da dificuldade própria de interpretar os discursos da imprensa daquele período Assim é fundamental expandir a pesquisa sobre a influência da imprensa nas regiões os efeitos sociais da crise e as ligações internacionais da política monetária implementada abrindo possibilidades para novas investigações que possam aprimorar e reconsiderar as ideias apresentadas Este estudo é altamente indicado para alunos e educadores na área de História especialmente para aqueles dedicados à formação de professores e ao ensino da História do Brasil durante a época republicana proporcionando material para discussões em contextos educacionais e para a elaboração de abordagens pedagógicas que enfatizem a análise crítica das fontes históricas e dos discursos elaborados em períodos de crise

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Capítulo 2 O Encilhamento A Política Econômica de Rui Barbosa os Bancos a Imprensa e o Colapso Financeiro A Crise do Encilhamento não foi um fenômeno isolado mas sim o resultado de um conjunto de decisões econômicas e políticas tomadas em um contexto de instabilidade institucional e de euforia modernizadora A nomeação de Rui Barbosa como Ministro da Fazenda no governo provisório de Deodoro da Fonseca foi central para o desencadeamento desse processo Sua política econômica inspirada em princípios do liberalismo buscava criar uma base industrial sólida para o Brasil recémrepublicano No entanto a ausência de mecanismos de controle e a fragilidade das instituições financeiras provocaram efeitos contrários aos esperados Rui Barbosa acreditava que o desenvolvimento do país dependia da ampliação do crédito e da democratização do acesso ao capital Para isso promoveu a criação de uma legislação permissiva que facilitava a fundação de bancos emissores e empresas por ações Como aponta BresserPereira 2003 a política monetária e creditícia adotada por Rui foi profundamente expansionista baseada na crença de que o mercado seria capaz de regularse por si só sem a intervenção do Estado A reforma bancária promovida por Rui com base no Decreto nº 956A de 1890 permitiu a criação de bancos emissores privados os quais passaram a emitir moeda lastreada em títulos e ações de empresas recémcriadas muitas delas fantasiosas ou sem base produtiva real Entre as instituições fundadas nesse período destacamse o Banco de Crédito Real de Campinas o Banco Hipotecário e Agrícola do Brasil e o Banco Popular Brasileiro Esses bancos atuavam muitas vezes com critérios frágeis de concessão de crédito incentivando um ambiente de especulação Nesse contexto surgiram centenas de novas empresas das quais muitas não tinham existência física concreta ou operavam apenas no papel Exemplos emblemáticos foram a Companhia Territorial e Agrícola do Brasil a Sociedade Industrial Brasileira e a Companhia Carbonífera e Industrial Brasileira criadas com capital inflado e objetivos muitas vezes irreais Como pontua Prado Júnior 1981 o país viveu uma verdadeira alucinação empresarial onde o capital fictício substituiu o trabalho produtivo e a especulação financeira sobrepôsse à produção A emissão descontrolada de moeda foi um dos pilares centrais dessa crise Entre 1889 e 1891 a base monetária praticamente dobrou sem o respaldo necessário em reservas ou produção real o que gerou um processo inflacionário que corroeu o poder de compra da população O historiador Boris Fausto 1995 ressalta que o crescimento desordenado da moeda em circulação sem o correspondente aumento da produção contribuiu para a formação de uma bolha que ao explodir arrastou consigo a confiança no sistema econômico e político A imprensa da época desempenhou um papel fundamental na divulgação e crítica desses acontecimentos O jornal Gazeta de Notícias sediado no Rio de Janeiro acompanhou de perto o desenrolar da crise e adotou um tom crítico frente às políticas de Rui Barbosa Em edição publicada em abril de 1891 o jornal escreveu Multiplicamse diariamente os estabelecimentos bancários e industriais cujas fachadas luxuosas contrastam com a ausência de qualquer atividade real O povo iludido por promessas de progresso começa a sentir no bolso os efeitos de uma política temerária Esse tipo de cobertura reforça o clima de desconfiança que se instalava entre os cidadãos A análise do discurso da Gazeta de Notícias evidencia uma postura de desilusão com a República nascente que não conseguia oferecer estabilidade econômica nem respaldo moral O Correio Paulistano outro veículo de destaque também passou a criticar abertamente o governo e a denunciar os abusos cometidos no sistema bancário Conforme relata o editorial de julho de 1891 A República prometia liberdade e progresso mas entreganos inflação falências e um mar de incertezas Essas publicações exerceram importante influência sobre a opinião pública alimentando o clima de insatisfação e instabilidade que culminaria na Revolta da Armada A falência de bancos o fechamento de empresas fantasmas e o aumento do desemprego contribuíram para o descrédito da política econômica e da própria república ainda em processo de consolidação A crítica de Rui Barbosa ao modelo monárquico foi substituída por críticas à sua própria gestão econômica evidenciando a fragilidade de um sistema que tentava se construir sem bases sólidas Para Carvalho 2006 o Encilhamento simboliza a transição traumática do Brasil agrário para um Brasil urbano industrial marcada por um liberalismo mal compreendido e por instituições frágeis diante dos desafios da modernidade O colapso final do Encilhamento em meados de 1891 não apenas derrubou as políticas de Rui Barbosa que viria a renunciar como também enfraqueceu o governo de Deodoro da Fonseca A crise contribuiu diretamente para a instabilidade política que levou à sua renúncia ainda em 1891 e à ascensão de Floriano Peixoto num cenário já marcado por disputas civis e militares A análise da política econômica de Rui Barbosa revela não apenas uma tentativa de modernização financeira mas também a importação acrítica de modelos liberais europeus para um contexto social e institucional que não estava preparado para assimilálos Rui inspirouse em experiências de emissão de moeda fiduciária como as observadas nos Estados Unidos durante o greenback period mas falhou ao ignorar as particularidades estruturais da economia brasileira ainda baseada no agrarismo e na dependência externa BRESSERPEREIRA 2003 A ausência de uma indústria consolidada e de uma classe empresarial coesa fez com que o capital gerado pela emissão fosse rapidamente absorvido por esquemas especulativos desvirtuando o objetivo original de desenvolvimento produtivo Ademais a crença excessiva no papel autorregulador do mercado típica do liberalismo econômico do século XIX revelouse ineficaz em um país onde as instituições de fiscalização e controle eram praticamente inexistentes Como argumenta Maria Lúcia L PallaresBurke 1999 Rui Barbosa subestimou a necessidade de regulação estatal e acreditou que a abertura ao crédito por si só geraria prosperidade ignorando que o ambiente era propício ao oportunismo Isso reforça a ideia de que o Encilhamento mais do que uma crise econômica foi um fracasso políticoideológico de implantação forçada de um modelo alheio à realidade nacional Além disso a confiança exagerada nas forças do capital gerou um abismo entre os interesses da elite econômica e as necessidades da população que começou a enfrentar o aumento de preços escassez de bens e incertezas sobre o futuro Como aponta Ricardo Salles 2007 as camadas populares desprovidas de acesso ao crédito e aos investimentos foram as primeiras a sofrer os efeitos inflacionários aprofundando o sentimento de exclusão da recémproclamada República O Encilhamento portanto revelou a limitação do projeto republicano ao não contemplar políticas sociais efetivas que assegurassem a inclusão econômica dos mais vulneráveis A imprensa do período embora relevante como espaço de denúncia e crítica também esteve marcada por interesses políticos e regionais Enquanto jornais como a Gazeta de Notícias adotaram uma postura crítica quanto à política financeira outros veículos foram coniventes ou silenciosos especialmente aqueles ligados às elites bancárias emergentes ABREU 2011 Isso demonstra que a construção da opinião pública era permeada por disputas ideológicas e econômicas sendo a imprensa não apenas observadora mas também agente participante da crise O Encilhamento evidencia ainda a fragilidade da transição entre o Império e a República em que a ruptura institucional não foi acompanhada de transformações estruturais profundas Como explica Lilia Schwarcz 2015 o novo regime político herdou práticas clientelistas patrimonialistas e personalistas que dificultaram a formação de um Estado moderno e eficiente Nesse sentido a crise foi também resultado de continuidades históricas disfarçadas sob a roupagem de uma modernidade superficial Rui Barbosa embora visionário não conseguiu romper com a lógica da concentração de poder e da ausência de responsabilidade fiscal herdadas do Império Por fim a experiência do Encilhamento serve como alerta para os riscos de políticas econômicas desconectadas da realidade social e institucional O episódio demonstra que não basta a boa intenção modernizadora se não houver planejamento controle e sobretudo capacidade de adaptação ao contexto nacional A crítica contemporânea ao Encilhamento vai além do julgamento de seus resultados ela questiona a maneira como o Brasil historicamente tratou a modernidade muitas vezes tentando importála sem internalizála o que resultou em sucessivos fracassos estruturais FAUSTO 1995 21 A Imprensa e o Discurso Público durante o Encilhamento Análise e Reflexão Histórica 211 O papel da imprensa como mediadora da crise Durante o período do Encilhamento 18891892 a imprensa exerceu papel fundamental não apenas como meio de informação mas como agente ativo na formação do debate público Em um país onde a taxa de alfabetização ainda era limitada os jornais concentravam a atenção da elite urbana e das classes médias emergentes funcionando como arenas de disputa entre os diversos grupos políticos Como destaca Sodré 1966 a imprensa do final do século XIX estava longe de ser neutra ela era um instrumento de combate refletindo os interesses de frações específicas do poder A imprensa brasileira do final do século XIX não apenas reportava os acontecimentos mas também desempenhava um papel ativo na formação da opinião pública e na mediação das crises políticas e econômicas Durante o Encilhamento os jornais tornaramse arenas de debate e crítica refletindo as tensões entre diferentes grupos sociais e políticos A Gazeta de Notícias por exemplo adotou uma postura crítica em relação às políticas de Rui Barbosa destacando os riscos da emissão descontrolada de papelmoeda e alertando para a possibilidade de uma crise financeira iminente Gazeta de Notícias 1891 Por outro lado o Correio Paulistano representando os interesses da elite cafeeira paulista apresentou uma visão mais moderada reconhecendo os benefícios potenciais da política de Rui Barbosa para a industrialização mas também expressando preocupações sobre os efeitos inflacionários e a especulação desenfreada Correio Paulistano 1891 Essa dualidade na cobertura jornalística evidencia como a imprensa refletia as divisões regionais e de classe existentes no Brasil da época Além disso a imprensa funcionava como um espaço de construção de narrativas sobre a modernidade e o progresso Enquanto alguns jornais exaltavam as oportunidades de crescimento econômico proporcionadas pelas novas políticas outros denunciavam os abusos e a falta de regulamentação que permitiam a proliferação de empresas fictícias e a manipulação do mercado financeiro SODRÉ 1966 Essa disputa narrativa influenciava diretamente a percepção pública sobre a legitimidade do novo regime republicano e suas políticas econômicas A atuação da imprensa durante o Encilhamento também revela a ausência de uma imprensa verdadeiramente independente já que muitos jornais estavam ligados a grupos políticos ou econômicos específicos Essa ligação comprometia a imparcialidade das reportagens e contribuía para a polarização do debate público A análise crítica desse período destaca a necessidade de uma imprensa livre e responsável como pilar fundamental para a consolidação de regimes democráticos e para a fiscalização das ações governamentais 212 A Gazeta de Notícias e o tom de crítica à política monetária A Gazeta de Notícias jornal carioca de grande circulação assumiu um tom crítico e por vezes alarmista frente às ações de Rui Barbosa como Ministro da Fazenda Suas manchetes e editoriais sobretudo entre 1890 e 1891 denunciaram com frequência os efeitos especulativos das emissões monetárias tratando o fenômeno como uma ruína financeira anunciada Gazeta de Notícias edições de janfev 1891 Em editoriais assinados por seus redatores mais influentes a Gazeta acusava o governo provisório de fomentar uma economia de papel sustentada pela ficção do crédito sem correspondência na realidade produtiva nacional Gazeta de Notícias 1891 p 2 O tom predominante era de desconfiança com vocabulário carregado de pessimismo e com analogias à bancarrota A Gazeta de Notícias sediada no Rio de Janeiro firmouse como um dos principais veículos de crítica às políticas econômicas implementadas por Rui Barbosa durante o Encilhamento O jornal frequentemente publicava editoriais alertando para os perigos da emissão excessiva de papelmoeda e da especulação financeira desenfreada Em uma edição de fevereiro de 1891 a Gazeta afirmou que a política monetária atual é uma aventura temerária que coloca em risco a estabilidade econômica do país Gazeta de Notícias 1891 p 2 A crítica da Gazeta não se limitava às políticas econômicas mas também abordava a falta de transparência e a ausência de mecanismos eficazes de fiscalização O jornal denunciava a criação de empresas fantasmas e a manipulação do mercado de ações apontando a conivência de autoridades governamentais com essas práticas Essa postura crítica contribuiu para o aumento da pressão pública sobre o governo e para a erosão da confiança nas instituições republicanas recémestabelecidas A atuação da Gazeta de Notícias durante o Encilhamento exemplifica o papel da imprensa como fiscalizadora do poder público e como formadora de opinião Ao expor as falhas e os riscos das políticas econômicas adotadas o jornal desempenhou uma função essencial na mobilização da sociedade civil e na promoção de um debate mais amplo sobre os rumos do país Essa atuação reforça a importância de uma imprensa livre e crítica para o fortalecimento da democracia e para a prevenção de abusos de poder Contudo é importante reconhecer que a Gazeta de Notícias também refletia os interesses de determinados grupos sociais e econômicos o que influenciava sua linha editorial Assim embora sua crítica às políticas do Encilhamento tenha sido relevante ela também estava inserida em um contexto de disputas políticas e econômicas mais amplas Essa complexidade ressalta a necessidade de uma análise crítica da imprensa considerando não apenas seu conteúdo mas também seus vínculos e interesses subjacentes 213 O Correio Paulistano e a dualidade entre crítica e pragmatismo Já o Correio Paulistano órgão representativo das elites cafeeiras paulistas adotou um discurso mais ambíguo Embora manifestasse preocupação com a instabilidade gerada pelo excesso de crédito e a proliferação de empresas fictícias também reconhecia a necessidade de ampliação do sistema bancário e de financiamento à indústria nacional Segundo Abreu 2011 esse jornal oscilava entre a crítica à irresponsabilidade fiscal e a defesa de instrumentos modernos para dinamizar a economia Em artigo de abril de 1891 o periódico declarava É preciso distinguir a intenção da execução A política de Rui Barbosa é em tese salutar condenável porém é sua implementação desordenada Correio Paulistano 1891 p 3 O tom aqui era mais técnico e político buscando preservar os interesses da oligarquia local sem confrontar abertamente a ordem republicana nascente O Correio Paulistano jornal se configurou na época como um dos mais influentes em São Paulo adotando uma postura mais ambígua em relação às políticas econômicas do Encilhamento Embora reconhecesse os riscos associados à emissão excessiva de papelmoeda e à especulação financeira o jornal também destacava os potenciais benefícios dessas políticas para a industrialização e o desenvolvimento econômico do país Em um editorial de abril de 1891 o Correio afirmou que a política de Rui Barbosa é em tese salutar condenável porém é sua implementação desordenada Correio Paulistano 1891 p 3 Essa dualidade refletia os interesses da elite cafeeira paulista que via na industrialização uma oportunidade de diversificação econômica e de fortalecimento de sua posição no cenário nacional Ao mesmo tempo havia preocupações legítimas sobre os efeitos inflacionários e a instabilidade financeira decorrentes das políticas adotadas O Correio Paulistano buscava portanto equilibrar a crítica às falhas de implementação com a defesa dos objetivos mais amplos das reformas econômicas A postura do Correio também evidencia as tensões regionais existentes no Brasil da época Enquanto o Rio de Janeiro sede do governo federal concentrava o poder político São Paulo emergia como centro econômico dinâmico com interesses próprios e uma visão distinta sobre o desenvolvimento nacional A cobertura do Correio Paulistano durante o Encilhamento ilustra como essas tensões se manifestavam na imprensa e influenciavam o debate público A análise da atuação do Correio Paulistano durante o Encilhamento destaca a complexidade das posições adotadas pela imprensa que não se limitavam a uma dicotomia entre apoio e oposição mas envolviam nuances e considerações pragmáticas Essa complexidade reforça a importância de uma leitura crítica da imprensa histórica levando em conta os contextos regionais os interesses econômicos e as estratégias políticas que moldavam suas narrativas 214 O discurso da imprensa como indício da cisão política Esse contraste entre os jornais revela não apenas diferenças editoriais mas a cisão política que se intensificava na Primeira República nascente A imprensa ao selecionar suas pautas vocabulário e ênfases refletia a tensão entre o projeto republicano centralizador do Rio de Janeiro e o desejo de maior autonomia das províncias economicamente mais dinâmicas como São Paulo Conforme Capelato 1989 a imprensa do período servia como mediadora das contradições da República nascente ora atuando como defensora do progresso ora como denunciante do caos promovido pelas elites republicanas A análise comparativa dos discursos da Gazeta de Notícias e do Correio Paulistano durante o Encilhamento revela uma cisão política e ideológica significativa no Brasil do final do século XIX Enquanto a Gazeta representava uma visão mais centralizadora e crítica das políticas econômicas do governo o Correio expressava uma perspectiva regionalista e pragmática buscando conciliar os interesses da elite paulista com as reformas em curso Essa divergência evidencia as disputas pelo controle do projeto republicano e pelos rumos do desenvolvimento nacional A imprensa nesse contexto não apenas refletia as divisões existentes mas também as amplificava contribuindo para a polarização do debate público Os jornais tornaramse instrumentos de mobilização política influenciando a formação de alianças e a definição de estratégias por parte dos diferentes grupos de poder Essa atuação reforça a ideia de que a imprensa desempenha um papel ativo na construção da realidade política e econômica moldando percepções e orientando ações Além disso a cisão evidenciada nos discursos da imprensa durante o Encilhamento antecipa as tensões que marcariam a Primeira República brasileira caracterizada por conflitos entre o poder central e as oligarquias regionais A disputa por hegemonia política e econômica manifestavase não apenas nas instituições formais mas também nos meios de comunicação que se tornavam arenas de confronto simbólico e ideológico A compreensão dessa dinâmica é fundamental para a análise crítica da história política brasileira pois revela como as estruturas de poder se articulam e se expressam através dos meios de comunicação A imprensa ao mediar os conflitos e as disputas contribui para a configuração do espaço público e para a definição dos contornos do regime político Assim o estudo dos discursos jornalísticos durante o Encilhamento oferece insights valiosos sobre os processos de construção e contestação da ordem republicana no Brasil 215 Comparativo crítico imprensa ideologia e contexto econômico A comparação entre os dois jornais evidencia que a crise do Encilhamento não pode ser compreendida apenas como fenômeno econômico A maneira como foi narrada pela imprensa revela um país em busca de identidade política e de coesão institucional Enquanto a Gazeta buscava responsabilizar moralmente Rui Barbosa e a elite republicana carioca o Correio Paulistano procurava preservar um discurso técnico e de moderação adequado aos interesses da elite agrícola paulista Como destaca Schwarcz e Starling 2015 o discurso jornalístico era carregado de ideologia e estava a serviço da construção de narrativas que legitimassem diferentes projetos de poder A imprensa portanto não foi apenas espectadora do colapso econômico mas parte ativa no processo de fragilização da confiança pública Em síntese firmase que o contraste entre os discursos da Gazeta de Notícias e do Correio Paulistano durante o Encilhamento reflete não apenas divergências editoriais mas também diferenças ideológicas e interesses econômicos distintos Enquanto a Gazeta adotava uma postura crítica e centralizadora alinhada aos interesses do Rio de Janeiro o Correio expressava uma visão mais pragmática e regionalista representando os interesses da elite cafeeira paulista Essa divergência ilustra como a imprensa se tornava um campo de disputa simbólica onde diferentes projetos de nação eram articulados e promovidos Assim sendo o Encilhamento foi mais que uma crise econômica representou uma ruptura entre promessas e realidades da República nascente A política de Rui Barbosa embora baseada em ideais modernos colapsou diante da especulação da ausência de controle e da fragilidade institucional A imprensa como vetor de informação e crítica teve papel relevante na formação do juízo público e na deslegitimação das ações do governo Ao final o Encilhamento lançou o país em uma de suas primeiras grandes crises republicanas com efeitos duradouros sobre a confiança na nova ordem política Referências ABREU Marcelo de Paiva A Ordem do Progresso cem anos de política econômica republicana 18891989 Rio de Janeiro Campus 2011 BRESSERPEREIRA Luiz Carlos Rui Barbosa e o Encilhamento uma tentativa frustrada de modernização econômica São Paulo Editora 34 2003 CAPELATO Maria Helena Imprensa e História no Brasil São Paulo Contexto 1989 CARVALHO José Murilo de Os Bestializados o Rio de Janeiro e a República que não foi São Paulo Companhia das Letras 2006 CORREIO PAULISTANO São Paulo janabr 1891 Acervo da Hemeroteca Digital Brasileira Fundação Biblioteca Nacional FAORO Raymundo Os Donos do Poder formação do patronato político brasileiro São Paulo Globo 1958 FAUSTO Boris História do Brasil São Paulo Edusp 1995 GAZETA DE NOTÍCIAS Rio de Janeiro janabr 1891 Acervo da Hemeroteca Digital Brasileira Fundação Biblioteca Nacional PRADO JÚNIOR Caio História Econômica do Brasil São Paulo Brasiliense 1981 PALLARESBURKE Maria Lúcia Garcia Rui Barbosa o poeta na política São Paulo Companhia das Letras 1999 SALLES Ricardo Nostalgia Imperial a formação do imaginário monárquico na Primeira República Rio de Janeiro FGV Editora 2007 SCHWARCZ Lilia Moritz Brasil uma biografia São Paulo Companhia das Letras 2015 SODRÉ Nelson Werneck História da Imprensa no Brasil Rio de Janeiro Mauad 1966 CAPÍTULO I A Crise do Encilhamento foi um evento histórico crucial que desempenhou um papel significativo na transição do Brasil do regime monárquico para a república Ocorrida principalmente entre 1889 e 1891 esta crise foi marcada por uma série de políticas econômicas desastrosas implementadas pelo governo provisório do Marechal Deodoro da Fonseca resultando em uma profunda crise financeira e econômica Antes de explorarmos os detalhes da Crise do Encilhamento é essencial compreender o contexto econômico brasileiro ao final do século XIX O país vivia um momento de transição marcado pela modernização e pelo crescimento da cafeicultura que se consolidava como principal atividade econômica nacional No entanto a infraestrutura financeira ainda era precária com um sistema bancário em formação e escassas regulamentações A moeda em circulação o milréis era instável sujeita a flutuações frequentes A abundância de crédito no período foi um dos fatores que alimentou a especulação e o endividamento rural principalmente no oeste paulista Como descreve Faoro A derrama de dinheiro fácil abundantíssimo de 1890 a 1891 e à cata de emprego provocara a mais extraordinária elasticidade de crédito Operavase então subitamente enorme valorização fictícia de terras e lavouras Às imaginações ofuscava a miragem da uberdade prodigiosa do oeste paulista cujo solo virgem mostrava ser o habitat próprio da rubiácea Verdadeira febre para o plantio apossarase de quantos tinham conseguido alcançar os favores dos fornecedores de fundos FAORO 1958 p 613 Esse cenário de prosperidade artificial seria um dos estopins da crise que viria a seguir quando o sistema não conseguiu sustentar a expansão forçada da economia Quando Marechal Deodoro da Fonseca assumiu o poder após a Proclamação da República em 1889 ele nomeou Rui Barbosa como Ministro da Fazenda Rui Barbosa um ardente defensor do liberalismo econômico implementou uma série de políticas destinadas a estimular o crescimento econômico rápido e promover a industrialização Entre essas políticas destacavamse a expansão do crédito e a emissão em larga escala de papel moeda O objetivo era facilitar o acesso ao crédito fomentar a criação de empresas e indústrias e modernizar a infraestrutura urbana As políticas de Rui Barbosa inicialmente resultaram em um período de expansão econômica e euforia nos mercados financeiros O fácil acesso ao crédito provocou uma explosão de investimentos frequentemente especulativos em diversos setores Isso incluiu a criação de empresas fantasmas e a formação de bolhas no mercado de ações O termo encilhamento faz referência à metáfora das corridas de cavalos onde os animais são preparados para as competições simbolizando o mercado sendo preparado para uma explosão de atividades financeiras No entanto essa euforia foi breve A rápida expansão do crédito sem a supervisão e regulamentação adequadas levou a uma inflação desenfreada e à desvalorização da moeda Muitas das empresas criadas durante esse período eram fictícias ou não tinham sustentação econômica real resultando em uma crise de confiança no mercado financeiro A bolha especulativa estourou provocando o colapso de inúmeras empresas e bancos e levando à ruína muitos investidores A Crise do Encilhamento teve consequências devastadoras não apenas no âmbito econômico mas também político e social A recémproclamada república que ainda buscava se consolidar viu sua legitimidade ser questionada pela população A crise econômica fomentou a insatisfação popular contribuindo para um clima de instabilidade e descontentamento generalizado Um dos desdobramentos mais marcantes da Crise do Encilhamento foi a Revolta da Armada uma rebelião naval que eclodiu como resposta à insatisfação com o governo do Marechal Deodoro da Fonseca e posteriormente de Floriano Peixoto A crise econômica agravada pelas políticas inflacionárias e pela instabilidade institucional somouse ao descontentamento de setores militares e políticos provocando um cenário de ruptura A falta de legitimidade do novo regime republicano e a ausência de uma base política sólida tornaram o poder central vulnerável Faoro descreve que os presidentes militares Deodoro e Floriano não podiam governar apenas com o apoio do Exército suficiente unicamente para afastar o trono mas estruturalmente incapaz de mesmo ditatorialmente dominar o país Em novembro de 1891 vigente o regime constitucional todo o castelo de cartas estadual revela sua fragilidade ao aderir ao golpe de Estado de Deodoro FAORO 1958 p 647 A Revolta da Armada portanto refletiu não apenas a rejeição às medidas econômicas adotadas durante o Encilhamento mas também a instabilidade do pacto federativo em construção as disputas entre civis e militares e o esfacelamento das alianças entre o poder central e os estados o que tornava o regime republicano ainda incipiente e frágil Paradoxalmente embora a Crise do Encilhamento tenha inicialmente enfraquecido a confiança pública na recéminstaurada República ela também evidenciou a necessidade urgente de um governo mais estável e de políticas econômicas planejadas e responsáveis A política econômica conduzida por Rui Barbosa marcada pelo excesso de emissões de papelmoeda liberdade irrestrita para a criação de empresas e oferta abundante de crédito gerou um cenário de euforia financeira que rapidamente se converteu em caos inflacionário e especulação Como destaca Oliveira A maior oferta de moeda e a menor exigência de garantias provocou uma mudança no quadro econômico vigente Em um curto espaço de tempo a moeda em circulação teve um aumento de 35 O capital que antes se encontrava escondido ganhou casa em bancos que apareceram com a política vigente ocorrendo um aumento significativo na quantidade de bancos atuantes OLIVEIRA 2021 p 15 Esse experimento liberalizante baseado em uma concepção idealizada de desenvolvimento autossustentado pelo crédito revelou seus limites rapidamente servindo de alerta sobre os riscos de um liberalismo econômico sem controles sólidos Como já advertia Faoro ainda que em outro contexto o liberalismo desenfreado tende a se chocar com a realidade das estruturas sociais e institucionais frágeis O monopólio expressão do senhorio do comércio do rei tornase com o tempo entrave do movimento mercantil ele paralisa e congela as iniciativas incompatível com o ascendente sistema do liberalismo econômico FAORO 1958 p 272 Dessa forma a crise não apenas desnudou os perigos de uma política monetária imprudente mas também reafirmou a importância do papel regulador do Estado no processo de estabilização e crescimento econômico Entretanto a Crise do Encilhamento exemplifica como políticas econômicas mal implementadas podem ter consequências devastadoras em vários níveis Ela ressalta a importância da prudência e da regulamentação no gerenciamento econômico e serve como um estudo de caso sobre os desafios enfrentados por novos regimes políticos ao tentar estabilizar e desenvolver economias em transição Compreender este período é essencial para entender as complexidades e os desafios da transição do Brasil para a república além das lições que podem ser aplicadas para evitar crises semelhantes no futuro A Política Monetária Antecessora Embora a Crise do Encilhamento de 1891 tenha sido a primeira do período republicano ela foi precedida por diversas outras durante o período monárquico especialmente as de 1857 e 1864 Em todas essas crises havia uma disputa no governo e no legislativo entre duas vertentes teóricas opostas sobre a moeda alternando entre políticas monetárias expansionistas e contracionistas Essas políticas impactam não só a condução da economia mas também as medidas legislativas promulgadas De um lado estavam os metalistas defensores do padrãoouro e da conversibilidade da moeda Eles acreditavam que a emissão de papelmoeda deveria ser lastreada em reservas de ouro para garantir a estabilidade monetária e da taxa de câmbio Do outro lado estavam os papelistas que não viam a necessidade de limitar a emissão de papelmoeda ao seu lastro metálico Eles argumentam que a taxa de juros deveria ser o foco da política monetária Enquanto as políticas metalistas causavam uma contração monetária reduzindo a quantidade de papelmoeda em circulação as políticas papelistas promoviam a expansão monetária garantindo maior liquidez A implementação das políticas metalistas geralmente era acompanhada de medidas restritivas destinadas a reduzir o dinamismo do mercado financeiro Por outro lado as políticas papelistas eram implementadas junto com medidas liberalizantes aumentando o dinamismo do mercado A primeira grande crise do mercado ocorrida em 1857 seguiu um período de significativas transformações legislativas que impactaram a economia brasileira especialmente o setor cafeeiro Em 1850 foi promulgada a Lei nº 5811850 conhecida como Lei Eusébio de Queiroz que intensificou a repressão ao tráfico negreiro no Brasil resultando nos anos subsequentes em escassez de mãodeobra No mesmo ano foram promulgados o Código Comercial Lei nº 5561850 e a Lei de Terras Lei nº 6011850 Anos antes o Decreto nº 4821846 havia regulamentado a hipoteca ampliando as possibilidades de financiamento das atividades agrícolas Essas medidas em conjunto facilitaram a constituição de sociedades comerciais liberaram capitais previamente destinados ao tráfico negreiro e facilitaram o crédito Paralelamente às reformas legais a indústria começou a dar seus primeiros passos impulsionada pelos empreendimentos de Irineu Evangelista de Souza o Barão de Mauá Durante a década de 1850 ele desenvolveu a primeira ferrovia do Brasil o sistema de iluminação a gás no Rio de Janeiro o transporte hidroviário na Amazônia através da Companhia de Navegação do Amazonas e o primeiro estaleiro do país através da Companhia da Ponta dAreia Esses empreendimentos foram financiados por meio de emissões no mercado de valores mobiliários intermediadas pelo Banco Mauá MacGregor Cia O aquecimento do mercado resultante dessas transformações coincidiu no final da década de 1850 com uma crise financeira nos Estados Unidos que afetou os preços das commodities no mercado global impactando a economia brasileira Em resposta ao Pânico de 1857 o governo brasileiro aumentou substancialmente a emissão de papelmoeda Após o pior momento da crise o gabinete liberal foi substituído por um conservador que diagnosticou a expansão monetária promovida pelo governo como a causa da crise Isso levou à promulgação da Lei nº 10831860 conhecida como Lei dos Entraves Seus principais objetivos eram reforçar o lastro metálico dos fundos bancários e submeter a constituição de sociedades anônimas à autorização do governo conforme previsto no art 295 do Código Comercial Dessa forma buscavase reduzir o dinamismo do mercado dificultando a constituição de companhias e restringindo a emissão de papelmoeda por bancos privados O último Gabinete do Império chefiado pelo Visconde de Ouro Preto teve como desafio central responder à escassez de moeda circulante num contexto de crescente transição para o trabalho assalariado ao mesmo tempo em que buscava angariar dividendos políticos capazes de frear o avanço do movimento republicano Embora a Lei de 1888 tenha autorizado a emissão de papel moeda lastreado em títulos da dívida pública tal medida não foi efetivada durante o Império Somente em julho de 1889 com a revogação do teto de 20000 contos por banco emissor as condições se tornaram favoráveis para a expansão da emissão monetária vinculada ao triplo das reservas metálicas do Banco A conjuntura externa era momentaneamente positiva com saldo comercial sucessivo desde 1886 e entrada de divisas em alta o que deu ao gabinete algum espaço de manobra Contudo as medidas de Ouro Preto visavam mais a reorganizar o crédito público e sustentar politicamente a monarquia do que fomentar um desenvolvimento econômico estruturado Como afirma Faoro Ouro Preto obstinado no plano de inutilizar a República realiza por meio de operações financeiras o saneamento do crédito público ao tempo que cuida de promover o resgate do papelmoeda Sobre essas bases flutuantes expandiu a circulação concedendo avultadíssimos auxílios à lavoura desorganizada e abatida O chefe do último gabinete mostrase ainda mais tarde eufórico com o fomento do espírito de iniciativa e associação que levou à criação de bancos empresas e companhias em maior número do que os existentes até sua ascensão ao poder FAORO 1958 p 600 A expansão monetária que passou de 197 mil contos em 1889 para 298 mil em 1890 um crescimento de mais de 50 gerou inicialmente um movimento de euforia financeira que favoreceu especuladores intermediários e credores da lavoura sobretudo na Corte Entretanto ao invés de reanimar a agricultura decadente do Vale do Paraíba acabou alimentando a especulação urbana e o embrião da industrialização Essa conjuntura revelou nas palavras do próprio autor uma tentativa de libertação da lavoura do comissário não para a autonomia mas para se atrelar ao Estado FAORO 1958 p 499 E então as reformas do Visconde de Ouro Preto revelam o paradoxo de um governo que embora propondo modernização financeira reafirmava estruturas patrimonialistas e utilizava o crédito público como ferramenta política na defesa de uma ordem imperial em colapso A conjuntura favorável levou o Gabinete a propor a emissão conversível contra o triplo do depósito em ouro por três bancos autorizados É importante destacar que as emissões deixariam de ser conversíveis em situações especiais como crises financeiras crises políticas guerras e revoluções A especificação vaga dessas situações especiais permitia a inconversibilidade sempre que o governo considerasse adequado especialmente em casos de risco para os bancos Sem a cláusula de inconversibilidade que não abrangia a depreciação cambial de forma isolada os bancos certamente não teriam interesse em emitir Isso ocorria porque havia uma probabilidade relativamente alta de que os bancos fossem obrigados a realizar a conversão do papel moeda em ouro a uma taxa cambial desfavorável inferior a 27 o que lhes causaria prejuízos significativos Para o país esse cenário era especialmente sensível pois a instabilidade cambial favorecia a aquisição de empresas nacionais por investidores estrangeiros resultando em perda de controle sobre ativos estratégicos e aumento da dependência externa Os saldos favoráveis na balança comercial e na conta capital mais que compensaram o saldo negativo da balança de serviços no momento muito influenciado pelo pagamento de juros Ao analisar o comportamento da dívida externa na década de 1880 observase a confirmação do quadro anteriormente descrito No entanto é importante destacar o papel positivo das exportações durante esse período embora essa performance tenha se mostrado instável como os anos subsequentes evidenciaram Em relação à preocupação com o movimento republicano a alternativa escolhida para mitigálo além de outras medidas políticas como a indicação de oficiais para os Ministérios Militares foi uma política de financiamento oficialmente voltada para a lavoura A ideia há muito discutida era compensar os cafeicultores pela perda de parte de seu capital representada pelos escravos com a Abolição Naquela época o poder legislativo era dominado pelos cafeicultores fluminenses que devido à baixa produtividade de suas fazendas enfrentavam sérias dificuldades financeiras Isso demonstra que o poder político pode resistir por um tempo após o fim do poder econômico que o gerou Os auxílios à lavoura como foram denominados podem ser resumidos da seguinte forma o Tesouro emprestaria uma determinada quantia aos bancos sem cobrar juros e estes teriam a obrigação de emprestar o dobro dessa quantia a uma taxa de juros de 6 ao ano A política era bastante favorável aos bancos escolhidos o que levou à criação de novos bancos com o objetivo de obter tais favores Em vez de uma política de crédito destinada a compensar os fazendeiros pela perda dos escravos observouse uma política seletiva de crédito A lavoura mais necessitada não obteve financiamento Podese dizer que os recursos praticamente não chegaram aos cafezais fluminenses que estavam em franca decadência Esses recursos foram direcionados principalmente a empreendimentos comerciais e industriais permitindolhes aumentar o capital A ruptura política poucos meses após o advento do último Gabinete monárquico impede que os resultados práticos das medidas de Ouro Preto sejam analisados a partir de seus efeitos No entanto é consensual que o processo especulativo que atormentava a gestão seguinte começou ainda sob o Império Nas palavras do próprio Ministro da Economia cargo que Ouro Preto reservou para si temse a confirmação insuspeita não contestaremos que a especulação ou antes agiotagem começou a desenvolverse na praça do Rio de Janeiro ainda sob o Império Ouro Preto 1986 p 55 Naquele momento o processo especulativo advindo do boom de atividade que se verificava desde 1886 fomentavase nos bancos de emissão e naqueles que obtiveram recursos para auxiliar a lavoura O advento da República trouxe Rui Barbosa à pasta da Fazenda em novembro de 1889 Não era pequeno o compromisso do então Ministro Ele fora o principal crítico da política de Ouro Preto e agora era o principal artífice da política econômica do Governo Provisório O Regime Republicano Assim que a República foi proclamada um empréstimo externo de milhões de libras realizado anteriormente foi cancelado unilateralmente demonstrando a má vontade dos banqueiros ingleses em relação ao novo regime De acordo com a notificação oficial o contrato foi cancelado devido à mudança em uma das partes contratantes Ainda naquele ano Rui Barbosa condicionou a manutenção dos contratos de emissão do Gabinete anterior à utilização da faculdade de emitir em três meses O ambiente de incerteza e a desvalorização do conto de réis tornaram inviáveis as emissões em bases metálicas Consequentemente os contratos de emissão foram extintos por caducidade pois a emissão conversível não era possível a taxas abaixo da paridade É importante notar que o esquema das emissões conversíveis de Ouro Preto tinha como condição sine qua non a manutenção da taxa de câmbio à paridade tornandose a meta da política econômica do Ministério que seria auxiliado pelo BNB com o suporte do Banque de Paris et de Pays Bas O esquema não funcionou com a mudança de regime apesar dos esforços de Rui Barbosa para evitar a queda da taxa de câmbio Mesmo com a continuidade da Monarquia a estratégia inconsistente provavelmente não teria funcionado e a República apenas precipitou seu fim Ainda em 1889 houve um princípio de corrida bancária sem maiores consequências para o sistema como um todo Com a falência do sistema de emissão conversível a escassez de meios circulantes voltou a ser uma preocupação no final do ano Para Rui Barbosa a adoção da emissão metálica mostravase inviável diante da constante oscilação do valor do milréis em relação ao ouro o que comprometia a estabilidade cambial e limitava o alcance da política monetária Restava portanto a alternativa prevista na Lei de 1888 a emissão com lastro em títulos da dívida pública Esse plano foi efetivamente colocado em prática em 17 de janeiro de 1890 quando Rui instituiu um sistema que previa a criação de três bancos emissores um no norte Bahia outro no centro Rio de Janeiro e um terceiro no sul Porto Alegre com capital total de 450 mil contos de réis Posteriormente devido à pressão de São Paulo foi autorizado um quarto banco Como registra Faoro a inflação aninhada no centro do plano financeiro acende as resistências federais e Campos Sales alertava que esse banco poderoso por causa da zona vai ser uma potência até em política FAORO 1958 p 605 A engenharia financeira idealizada por Rui Barbosa tinha como objetivos principais ampliar o meio circulante dinamizar o crédito e aliviar o Tesouro do serviço da dívida interna acreditandose que o progresso econômico viria por meio da emissão de moeda fiduciária A emissão inconversível apesar de suas limitações teóricas era compreendida por Rui e seus contemporâneos como instrumento de estímulo à indústria e ao comércio Faoro observa que com a retirada da conversibilidade considerada freio emissionista de valor duvidoso o papelmoeda passou a ser visto como um verdadeiro fator produtivo O progresso se faria com dinheiro emitido acelerando o comércio e fomentando a indústria em homenagem à peculiaridade do país novo e promissor O meio circulante deveria alcançar segundo cálculos atribuídos aos estadistas monárquicos não mais cinqüenta mil contos mas seiscentos mil FAORO 1958 p 603 Ainda segundo Cury 2015 essa visão tinha raízes nas ideias econômicas dominantes do século XIX que embora reconhecessem os riscos do papelmoeda admitiam sua utilidade desde que subordinado a controles legais rígidos Rui influenciado por essa tradição via a moeda fiduciária como um meio de expansão econômica mais adaptado à realidade brasileira Sobre o manejo dos metais e das várias formas de moeda fiduciária a moeda metálica representava segurança e credibilidade internacional ao passo que o papelmoeda tinha vantagens como o transporte fácil e a emissão pouco custosa poderia ser utilizada desde que dentro de limites e sob legislação restritiva CURY 2015 p 2 Dessa forma o plano de Rui Barbosa incorporava tanto o ideal de desenvolvimento autônomo quanto os limites práticos do contexto econômico e político da Primeira República No entanto o entusiasmo com o espírito de iniciativa e associação resultaria em pouco tempo em uma onda de especulação que marcaria a Crise do Encilhamento e revelaria os riscos de uma política monetária expansiva sem salvaguardas efetivas e para adaptar a esse desideratum o mecanismo que vamos instituir os bancos que o servirem aceitarão desde o começo das suas operações diminuição considerável no juro das apólices que lhes compuseram o fundo social diminuição que avultam de ano em ano até se extinguir ao cabo de seis o prêmio desses títulos em benefício do Estado Ainda mais da massa dos lucros brutos retratar cada ano o estabelecimento uma quota nunca inferior a 10 para com a acumulação dos juros semestrais de 6 constituir um fundo representativo do capital em apólices que no termo do prazo de existência dos bancos se considerará eliminado Para proporcionar maior solidez ao sistema bancário Rui Barbosa pouco antes de deixar o governo em 17 de dezembro de 1890 uniu dois grandes bancos o Banco Nacional do Brasil e o Banco dos Estados Unidos do Brasil O Banco da República dos Estados Unidos do Brasil BREU seria uma espécie de grande banco central visando à liquidação dos excessos do endividamento à regulação do volume de crédito e ao controle do câmbio O BREU teria o monopólio de emissão absorvendo as concessões dos demais bancos e seria o principal agente financeiro do governo Embora a queda da taxa cambial ainda não apresentasse sintomas de crise Barbosa instituiu parte do imposto aduaneiro em ouro Esse imposto que posteriormente passou a ser totalmente percebido em ouro até ser anulada sua cláusula ouro era a arma que restava ao governo para lidar com os encargos externos Com a queda do câmbio a rubrica diferenças de câmbio passou a ter participação crescente nas despesas totais do Tesouro O recebimento dos impostos aduaneiros em ouro sem permitir desconto real em seu valor seria a contrapartida dessas despesas Entretanto com o aumento do poder político do Partido Republicano Paulista PRP ao qual o ministro não se aproximará e sua crescente distância em relação ao Marechal Rui Barbosa fragilizouse politicamente e sua renúncia em janeiro de 1891 não causou espanto Para Furtado a mudança no regime de trabalho ocorrida em 1888 foi o evento mais importante para a economia brasileira no século XIX Em seu texto clássico Furtado 1972 ao discorrer sobre a segunda metade do século XIX o autor como muitos de seus predecessores reconhece a compressão do meio circulante característica dos últimos anos do Império Esse problema se agravou com a abolição dos escravos pois ao disseminar definitivamente o trabalho assalariado criouse uma demanda adicional por moeda Como resposta às crescentes necessidades de numerário Rui Barbosa expandiu os meios de pagamentos mas essa expansão se mostrou excessiva Nos anos iniciais do Regime Republicano houve uma excessiva folga creditícia relacionada à expansão do papelmoeda Com a expansão do crédito e taxas de juros reais mais baixas houve um incentivo ao consumo e ao investimento privados Embora esses investimentos tivessem um caráter descompressor sobre as pressões da demanda no médio e longo prazo intensificaram essas pressões no curto prazo resultando em um forte aumento no nível de atividade econômica Em uma economia fechada os efeitos de uma maior demanda dependerão da capacidade ociosa das empresas De forma simplificada se as instalações produtivas dessa economia não estiverem operando em plena capacidade essa maior demanda implica maior produção através do emprego de recursos produtivos antes ociosos Por outro lado uma economia operando sem capacidade ociosa e sem desemprego de recursos produtivos responde a um aumento na demanda com inflação Isso ocorre porque a oferta agregada potencial é fixa no curto prazo pois seu aumento depende de investimentos que não se concretizam rapidamente Em alguns casos como no setor de infraestrutura os investimentos podem demorar mais de cinco anos para se realizarem e adicionem produção à oferta agregada da economia Uma economia aberta opera com mais flexibilidade neste aspecto Um aumento da demanda em uma situação de desemprego de recursos produtivos provocaria efeitos similares aos de uma economia fechada pois em ambos os casos haveria aumento de produção com a utilização de recursos produtivos anteriormente ociosos No entanto quando não há capacidade ociosa uma maior demanda gera impactos na balança comercial pois as importações aumentaram para complementar a oferta interna que como já mencionado não pode se alterar no curto prazo Assim na ausência de impedimentos às importações o aumento da demanda não provocaria inflação A economia brasileira passava por um período de aproximadamente cinco anos de expansão da atividade econômica quando ocorreu a descompressão creditícia de Rui Barbosa Podese supor que havia poucos recursos ociosos nessa economia que pudessem ser empregados na produção voltada para o mercado interno Nesse sentido deduzse que haveria certa pressão sobre a balança comercial via aumento das importações No entanto o problema era mais grave A escassez de meio circulante nos últimos anos do Império ajuda a entender a Reforma de Rui Barbosa Ao afrouxar o crédito Barbosa exagerou A atmosfera especulativa iniciada no Império contribuiu significativamente para o fracasso da reforma Como resultado das medidas equivocadas de Rui Barbosa o processo especulativo se fortaleceu e consolidou no ano de sua demissão A desvalorização cambial ainda tímida em 1890 se acentuou nos anos seguintes Este trabalho sustenta uma relação causal entre a deterioração do balanço de pagamentos e a desvalorização do milréis no período do Encilhamento Embora a relação entre expansão do crédito e deterioração do balanço de pagamentos apontada por Celso Furtado seja teoricamente consistente ela não expressa completamente a realidade brasileira da década de 1890 Segundo Furtado a ampliação do crédito interno para financiar a estocagem do café em vez de permitir o colapso do setor agravaria o desequilíbrio externo e depreciaria a moeda favorecendo indiretamente os exportadores Como ele afirma À medida que se utilizou a expansão de crédito houve mais uma vez uma socialização dos prejuízos Essa expansão de crédito por seu lado iria agravar o desequilíbrio externo contribuindo para maior depreciação da moeda o que beneficiava indiretamente o setor exportador FURTADO 1968 p 185 No entanto essa leitura não se sustenta integralmente quando aplicada ao início da Primeira República Diferentemente do que sugere a interpretação estruturalista o aumento das importações não foi suficiente para comprometer o balanço de pagamentos do Brasil nos anos imediatos ao Encilhamento Isso porque ao mesmo tempo em que o crédito se expandia internamente as exportações também cresceram impulsionadas principalmente pela valorização do café e pela conjuntura internacional favorável Como resultado o país manteve um saldo comercial médio positivo na primeira metade da década de 1890 o que contribuiu para o equilíbrio externo ao menos temporariamente Assim o que se observa é que embora a política creditícia de Rui Barbosa e seus desdobramentos tenham criado tensões econômicas internas não houve naquele momento uma ruptura drástica no balanço de pagamentos A crítica de Furtado parece mais aplicável a períodos posteriores como a crise de 1929 quando a retração da renda monetária e o aumento do preço dos importados comprometeram efetivamente a estabilidade externa Nesse contexto posterior como o próprio autor observa o desequilíbrio externo só foi corrigido à custa de forte baixa no poder aquisitivo externo da moeda FURTADO 1968 p 193 com severo impacto sobre as importações e a estrutura de formação de capital no país Enquanto a balança de serviços se tornava cada vez mais negativa a conta capital praticamente deixou de financiar o balanço de pagamentos Houve resistência externa à mudança de regime político que aumentou devido às políticas expansionistas de Rui Barbosa contrariando as prescrições dos investidores externos que sempre indicam apertos de liquidez Nesse contexto a crise do Barings1 e a moratória argentina consolidaram a ausência de capitais externos no país Afirmouse também que os constrangimentos causados pelas contas externas no Brasil eram agravados pela própria estrutura da economia A expansão do crédito devido à falta de diversificação produtiva sempre pressionava as importações Apenas na hipótese de um aumento significativo nas exportações ou de uma conta capital benevolente o que não era compatível com a realidade poderia a economia brasileira crescer Portanto uma estrutura de oferta especializada em produtos primários de exportação cria fragilidades externas que impedem o crescimento econômico O crescimento tornase dependente do aumento das exportações ou seja do crescimento econômico dos países centrais Contudo essa alternativa é incerta no curto prazo e inconsistente no longo prazo devido às diferentes elasticidadesrenda entre os produtos primários que o país produzia e os produtos industrializados que importava 1 O final do século XIX para Brasil e Argentina foram marcados por crescimento e instabilidade na economia Esse período ocorre duas importantes crises econômicas que ficaram conhecidas como crise Baring na Argentina e crise do Encilhamento no Brasil UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CCH LICENCIATURA EM HISTÓRIA Monografia Titulo A CRISE DO ENCILHAMENTO E SUAS CONSEQUENCIAS PARA A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA Alunoa Shirley Macedo Diniz Matrícula 18116090260 Polo Cantagalo 2024 SUMÁRIO 1 APRESENTAÇÃO E DELIMITAÇÃO DO TEMA DE PESQUISA 3 2 OBJETIVOS 8 21 Objetivo Geral 8 22 Objetivos Específicos 8 3 JUSTIFICATIVA 10 31 Justificativa do corte Temporal 10 32 Justificativa pela Escolha das Fontes Primárias 10 4 REFERENCIAL TEÓRICO 12 41 Contexto Político Econômico E Social Do Período Abordando Em Especial A Abolição E O Gabinete Ouro Preto 12 5 FONTES E METODOLOGIA 14 51 MATERIAIS 14 511 Fontes Primárias 14 5111 Jornais da Época 14 5112 Relatórios Econômicos Oficiais 14 512 Fontes Secundárias 14 52 PROCEDIMENTOS 15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 16 3 1 APRESENTAÇÃO E DELIMITAÇÃO DO TEMA DE PESQUISA A crise do Encilhamento ocorrida entre 1889 e 1891 é um evento de grande relevância na história econômica e política do Brasil Esse período foi caracterizado por uma intensa euforia no mercado financeiro resultante da liberalização econômica promovida pelo então Ministro da Fazenda Ruy Barbosa A política adotada permitiu a criação indiscriminada de bancos e empresas o que em um primeiro momento levou a uma significativa expansão da oferta monetária e a um aparente crescimento econômico CARONE 1977 A fim de estimular a produção agrícola e a industrialização o ministro adotou a política emissionista aumentando a emissão do papelmoeda para que a circulação dele aumentasse Porém a emissão desenfreada causou uma grande desordem financeira no país medida que a moeda foi desvalorizada e a inflação explodiu Muitas pessoas pegavam empréstimos e em vez de investirem em indústrias faziam especulação financeira na bolsa de valores daí o nome encilhamento ponto de largada na corrida de cavalos em que ocorre a maioria das apostas CARONE 1977 Este projeto visa investigar como essa crise econômica influenciou a Proclamação da República e os primeiros anos do regime republicano no Brasil A investigação será delimitada temporalmente entre os anos de 1889 e 1891 focando nos eventos econômicos nas políticas adotadas e nas transformações sociais ocorridas neste período A análise abarcará tanto os aspectos econômicos quanto os políticos e sociais buscando entender as inter relações entre esses diferentes fatores O contexto histórico em que se insere o Encilhamento é de grandes mudanças no Brasil O fim da escravidão em 1888 e a subsequente necessidade de reorganização da economia baseada no trabalho livre criaram um ambiente de expectativas e incertezas Os esforços para integrar o Brasil nas atividades econômicas internacionais e alavancar seu crescimento econômico foram intensos mas também trouxeram consigo desafios significativos CARONE 1977 A política econômica de Ruy Barbosa baseada em ideais liberais e papelistas incluiu a emissão desenfreada de papelmoeda sem lastro em reservas de ouro o que provocou uma inflação descontrolada Além disso a liberalização excessiva facilitou a especulação financeira levando a um aumento substancial do endividamento A crise do Encilhamento atingiu seu ápice com a falência de numerosos bancos e empresas a desvalorização da moeda e o aumento da dívida pública Essas condições econômicas adversas contribuíram para um clima de instabilidade social e política FAUSTO 1990 4 O estudo das políticas adotadas durante o Encilhamento e suas consequências revela como a crise afetou profundamente a estrutura da sociedade brasileira gerando insatisfação popular e descrédito nas instituições monárquicas Esse cenário de descontentamento e crise facilitou o movimento republicano culminando na Proclamação da República em 15 de novembro de 1889 A queda da monarquia e a instauração do regime republicano não resolveram imediatamente os problemas econômicos mas marcaram o início de um novo período na história brasileira com novas expectativas e desafios FAUSTO 1990 A pesquisa analisará de maneira detalhada esses eventos contribuindo para a compreensão de como uma crise econômica pode influenciar transformações políticas significativas Serão investigadas as decisões políticas e econômicas da época a reação da sociedade brasileira frente à crise e as consequências a longo prazo da transição de regime O objetivo é proporcionar uma visão abrangente e bem fundamentada sobre o impacto do Encilhamento na Proclamação da República e nos primeiros anos do regime republicano no Brasil FAORO 1958 Será também relembrado que o país passou por alguns momentos de crise e de recuperação econômica que também marcaram a história do país antes do período de Encilhamento Será que as atitudes tomadas tiveram alguma influência devido a de crises anteriores ALMEIDA CROCE 2016 O contexto histórico do Encilhamento está inserido em um período de transição e adaptação significativa no Brasil O fim da escravidão em 1888 trouxe à tona a necessidade de reorganizar a economia que até então era fortemente dependente do trabalho escravo A libertação dos escravos não só alterou drasticamente a mão de obra disponível mas também exigiu novas políticas econômicas e sociais para integrar os libertos à sociedade como trabalhadores assalariados FAUSTO 1990 A economia brasileira no final do século XIX ainda era predominantemente agrária com uma forte dependência das exportações de café No entanto havia um crescente movimento de industrialização especialmente em estados como São Paulo e Rio de Janeiro impulsionado tanto pela necessidade de diversificação econômica quanto pela chegada de imigrantes europeus que trouxeram novas habilidades e demandas Este período também viu um aumento significativo na imigração europeia como parte de uma estratégia deliberada do governo para substituir o trabalho escravo por mão de obra livre e assalariada VIOTTI DA COSTA 1998 Neste cenário a política econômica de Ruy Barbosa baseada no aumento da emissão de papelmoeda visava a fomentar a industrialização e modernizar a economia brasileira 5 Inspirado pelas ideias liberais e pelo sucesso de nações industrializadas Barbosa acreditava que uma expansão rápida da oferta monetária estimularia o crescimento econômico No entanto a falta de regulamentação adequada e a ausência de uma infraestrutura financeira robusta para suportar essa expansão resultaram em uma bolha especulativa Bancos e empresas surgiram rapidamente muitas vezes sem fundamentos sólidos e a especulação tomou conta dos mercados BEZERRA 2019 A situação foi agravada pela ausência de um sistema bancário centralizado e eficaz Na época o Brasil não possuía um banco central que pudesse regular a oferta monetária e supervisionar o sistema bancário Isso levou a uma proliferação de bancos privados emitindo sua própria moeda o que contribuiu ainda mais para a desordem financeira A inflação descontrolada erodiu o poder de compra da população e criou um ambiente de incerteza econômica CARONE 1977 A euforia inicial foi rapidamente substituída por uma crise de confiança Com a falência de bancos e empresas muitos investidores e cidadãos comuns perderam suas economias A desvalorização da moeda e o aumento da dívida pública exacerbaram a situação levando a uma crise econômica que afetou todos os setores da sociedade A insatisfação popular cresceu à medida que as promessas de prosperidade se transformaram em realidades de desemprego e pobreza FAUSTO 1990 A crise do Encilhamento teve repercussões políticas significativas A monarquia já enfraquecida por uma série de problemas internos e a recente abolição da escravidão foi incapaz de lidar eficazmente com a crise econômica O descontentamento popular e a perda de confiança nas instituições monárquicas criaram um terreno fértil para o movimento republicano Líderes republicanos utilizaram a crise como argumento para a necessidade de uma mudança de regime promovendo a ideia de que uma república seria mais apta a conduzir o Brasil rumo à modernidade e estabilidade VIOTTI DA COSTA 1998 A Proclamação da República em 15 de novembro de 1889 foi em parte uma resposta direta à crise do Encilhamento A transição para o regime republicano representou uma esperança de renovação e reforma tanto política quanto econômica No entanto os primeiros anos da República foram marcados por continuidades e desafios herdados do período monárquico incluindo a necessidade de estabilizar a economia e restaurar a confiança pública ALMEIDA CROCE 2016 Este estudo visa explorar detalhadamente esses eventos e suas interrelações fornecendo uma análise compreensiva de como a crise econômica do Encilhamento influenciou a Proclamação da República e moldou os primeiros anos do regime republicano 6 no Brasil A pesquisa se propõe a entender não apenas os aspectos econômicos mas também os políticos e sociais oferecendo uma visão integrada e aprofundada desse período crucial na história brasileira Referências históricas adicionais a serem exploradas incluem a relação entre o Encilhamento e crises econômicas anteriores O Brasil ao longo do século XIX enfrentou diversos desafios econômicos e políticos que moldaram suas políticas financeiras e sociais A análise dessas crises anteriores pode fornecer insights valiosos sobre as decisões tomadas durante o Encilhamento e como essas experiências influenciaram as respostas econômicas e políticas subsequentes ALMEIDA CROCE 2016 A crise do Encilhamento foi portanto um ponto de inflexão significativo na história brasileira Ela expôs as fragilidades do sistema econômico e político da época e acelerou a transição para um novo regime A análise aprofundada deste período permite compreender melhor os desafios enfrentados pelo Brasil na sua busca por modernização e estabilidade bem como as lições aprendidas que continuam a ressoar na política e na economia brasileira até os dias atuais FAUSTO 1990 As reformas econômicas introduzidas por Ruy Barbosa também refletem a influência das ideias liberais que circulavam globalmente no final do século XIX A crença na capacidade do mercado de se autorregular e na eficácia das políticas monetárias expansionistas era compartilhada por muitos economistas e políticos da época Contudo a implementação dessas ideias no Brasil sem as devidas salvaguardas e sem uma estrutura financeira sólida resultou em consequências adversas A análise da literatura econômica da época pode revelar como as teorias econômicas liberais foram adaptadas ou mal adaptadas ao contexto brasileiro contribuindo para a crise FURTADO 1968 Outro aspecto a ser considerado é a dinâmica política interna do Brasil durante o Encilhamento A transição da monarquia para a república envolveu não apenas uma mudança de regime mas também uma reorganização das forças políticas e sociais O movimento republicano que culminou na Proclamação da República foi composto por diversos grupos com interesses distintos incluindo militares comerciantes proprietários de terras e intelectuais A crise econômica exacerbou as tensões entre esses grupos influenciando a configuração do novo regime republicano e suas políticas subsequentes VIOTTI DA COSTA 1998 A análise das fontes primárias como documentos oficiais jornais da época e correspondências pessoais permitirá uma compreensão mais detalhada das percepções e reações dos contemporâneos à crise do Encilhamento Esses relatos podem fornecer indícios 7 sobre como diferentes segmentos da sociedade brasileira vivenciaram a crise e como isso influenciou suas posições políticas Por exemplo a imprensa da época desempenhou um papel crucial na disseminação de informações e desinformações sobre a situação econômica moldando a opinião pública e as atitudes em relação ao governo CARVALHO 1987 Além disso a crise do Encilhamento teve impactos duradouros na estrutura financeira do Brasil A falência de muitos bancos e empresas levou à necessidade de reformas no sistema bancário e na regulação financeira A experiência do Encilhamento destacou a importância de um banco central forte e de uma política monetária prudente lições que influenciaram as políticas econômicas do Brasil nas décadas subsequentes A análise dessas reformas e de sua implementação pode revelar como o Brasil tentou superar as fragilidades expostas pela crise PELÁEZ SUZIGAN 1981 O Encilhamento também teve repercussões na política externa do Brasil A instabilidade econômica e política interna afetou as relações diplomáticas e comerciais com outras nações A percepção internacional do Brasil como um país em crise pode ter influenciado suas negociações comerciais e políticas com potências estrangeiras A análise das correspondências diplomáticas e dos tratados internacionais da época pode fornecer uma visão mais ampla de como a crise do Encilhamento afetou a posição do Brasil no cenário global FAORO 1958 Por fim a crise do Encilhamento pode ser analisada em comparação com outras crises econômicas globais do século XIX A Revolução Industrial e as mudanças econômicas associadas criaram um ambiente de flutuações econômicas e crises periódicas em muitas nações Comparar a experiência brasileira com a de outros países pode revelar padrões comuns e diferenças significativas enriquecendo a compreensão do Encilhamento como um fenômeno inserido em um contexto histórico e econômico mais amplo HOBSBAWM 1968 Em suma a crise do Encilhamento e seus impactos na Proclamação da República e nos primeiros anos do regime republicano no Brasil constituem um tema de pesquisa rico e multifacetado A análise detalhada desses eventos considerando os aspectos econômicos políticos e sociais permitirá uma compreensão mais profunda das transformações ocorridas no Brasil durante este período crucial O objetivo desta pesquisa é contribuir para o conhecimento histórico proporcionando uma visão abrangente e bem fundamentada das complexas interações entre crise econômica e mudança política no final do século XIX FAUSTO 1990 8 2 OBJETIVOS 21 Objetivo Geral O objetivo central desta pesquisa é analisar de forma detalhada como a crise do Encilhamento contribuiu para a Proclamação da República no Brasil em 15 de novembro de 1889 Este estudo pretende estabelecer uma ligação clara entre os eventos econômicos que caracterizaram o Encilhamento e as mudanças políticas que culminaram na transição do regime monárquico para o republicano CARONE 1977 BEZERRA 2019 22 Objetivos Específicos Descrever o contexto econômico do Brasil no final do século XIX a Foco na transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado investigar as transformações econômicas e sociais decorrentes do fim da escravidão em 1888 analisando como a abolição impactou a estrutura econômica do Brasil Esse objetivo envolve estudar a migração da força de trabalho escrava para o trabalho assalariado as mudanças nas relações de trabalho e suas implicações econômicas FAORO 1958 b Desenvolvimento do setor agrário e industrial analisar como os setores agrário e industrial foram afetados pela transição econômica com especial atenção à introdução de mão de obra imigrante e suas consequências para a economia brasileira FAUSTO 1990 Identificar os principais eventos e políticas durante o Encilhamento e seus impactos econômicos e sociais a Euforia e expansão do mercado financeiro examinar as políticas de liberalização econômica promovidas por Ruy Barbosa incluindo a criação de inúmeros bancos e empresas e a expansão da oferta monetária Estudar os mecanismos de especulação financeira e como eles contribuíram para a euforia inicial no mercado ALMEIDA CROCE 2016 b Colapso econômico e crise financeira investigar os fatores que levaram ao colapso do mercado financeiro incluindo a desvalorização da moeda e a falência de bancos e empresas Analisar os impactos econômicos imediatos e a longo prazo da crise sobre diferentes segmentos da sociedade brasileira VIOTTI DA COSTA 1998 9 Examinar como a crise econômica e a desvalorização da moeda influenciaram a queda da monarquia e a Proclamação da República avaliando o papel das políticas econômicas de Ruy Barbosa a Análise das reformas monetárias detalhar as reformas monetárias implementadas por Ruy Barbosa avaliando suas intenções execuções e resultados Estudar como essas políticas visavam modernizar a economia brasileira mas acabaram por gerar instabilidade econômica BEZERRA 2019 b Impacto político das reformas explorar como as reformas econômicas influenciaram a percepção pública e política do governo contribuindo para a instabilidade política Analisar o papel dessas políticas na erosão da confiança nas instituições monárquicas e na mobilização do movimento republicano CARONE 1977 c Relação entre crise econômica e descontentamento político investigar como a crise econômica exacerbou o descontentamento popular e a oposição política à monarquia Estudar o aumento das tensões sociais e políticas durante a crise e como elas foram canalizadas para o movimento republicano FAUSTO 1990 d Processo de transição do regime analisar os eventos culminantes que levaram à Proclamação da República incluindo a articulação dos líderes republicanos os levantes militares e a deposição do Imperador Pedro II Estudar como a crise do Encilhamento foi instrumentalizada pelos republicanos para justificar a necessidade de mudança de regime VIOTTI DA COSTA 1998 Este conjunto de objetivos específicos permitirá uma compreensão abrangente e profunda de como a crise do Encilhamento não só afetou a economia brasileira mas também teve implicações políticas significativas que contribuíram diretamente para a transição do Brasil de uma Monarquia para uma República 10 3 JUSTIFICATIVA 31 Justificativa do Recorte Temporal O recorte temporal delimitado entre os anos de 1889 e 1891 é justificado pela importância desses anos como um período crucial de transição na história política e econômica do Brasil Em 1889 ocorreu a Proclamação da República um evento que encerrou o regime monárquico no Brasil e inaugurou uma nova fase republicana Esse momento foi diretamente influenciado pelas políticas econômicas do período especialmente a crise do Encilhamento que teve início com as reformas financeiras promovidas por Ruy Barbosa então Ministro da Fazenda A crise financeira e a instabilidade resultante se intensificaram até 1891 quando a economia enfrentou o auge da falência de bancos e empresas culminando em uma instabilidade social e política que moldou os primeiros anos da república Portanto esse intervalo é fundamental para compreender as interrelações entre a economia a política e a transição de regime no Brasil o que legitima o foco da pesquisa nesses três anos 32 Justificativa pela Escolha das Fontes Primárias A escolha da imprensa através do jornal de época como fonte primária se justifica pelo papel central que os jornais desempenharam na disseminação de informações e na formação da opinião pública durante o final do século XIX no Brasil A imprensa não apenas relatou os eventos da época como também influenciou ativamente o debate político e econômico sendo um canal vital para a divulgação das políticas do Encilhamento e das reações públicas e institucionais à crise Além de sua função informativa a imprensa da época servia como uma extensão do parlamento ecoando as discussões que ocorriam nas Câmaras Jornais e folhas partidárias repercutiam essas discussões permitindo que o público acompanhasse de perto os debates políticos e econômicos Era comum durante o Segundo Reinado e a transição para a República que a chamada imprensa partidária fosse utilizada para defender ou criticar os projetos propostas e ações do governo Assim os jornais não só documentavam os eventos mas também refletiam os interesses tensões e críticas de diferentes setores da sociedade brasileira tornandose um elemento crucial para a compreensão do contexto político e econômico do período A obra História da Imprensa no Brasil de Nelson Werneck Sodré fornece uma base sólida para compreender o papel da imprensa nesse contexto O autor explora a evolução dos 11 jornais no Brasil destacando como esses veículos foram utilizados como ferramentas de poder e influência política especialmente durante momentos de grande turbulência como o Encilhamento Essa análise permitirá assim uma compreensão mais rica e detalhada do período visto através do prisma da imprensa que atuou tanto como observadora quanto como protagonista dos eventos que culminaram na Proclamação da República 12 4 REFERÊNCIAL TEÓRICO 41 Contexto Político Econômico E Social Do Período Abordando Em Especial A Abolição E O Gabinete Ouro Preto O período final do Império no Brasil entre as décadas de 1870 e 1880 foi marcado por intensas transformações no contexto político econômico e social impulsionadas principalmente pela crise do regime monárquico pelas pressões do movimento abolicionista e pela instabilidade política interna Esse cenário era composto por tensões econômicas revoltas sociais e debates políticos acirrados que culminariam na abolição da escravidão em 1888 e na Proclamação da República em 1889 No campo político o declínio da monarquia se acelerava Segundo José Murilo de Carvalho em A Formação das Almas O Imaginário da República no Brasil 1990 a crise monárquica era evidente e D Pedro II enfrentava dificuldade em responder às crescentes demandas da sociedade e às pressões por reformas À frente do último gabinete ministerial do Império o Visconde de Ouro Preto buscou implementar reformas modernizadoras como a ampliação do direito ao voto e a descentralização administrativa visando apaziguar os ânimos republicanos e preservar o regime monárquico Porém essas mudanças chegaram tarde demais e foram incapazes de reverter a perda de apoio da monarquia tanto entre as elites quanto entre o exército e setores populares Ainda no campo político o declínio da monarquia brasileira foi objeto de interpretações diversas Segundo Christian Edward Cyril Lynch em Necessidade contingência e contrafactualidade a queda do Império reconsiderada 2018 o regime monárquico enfrentava desafios significativos no final do século XIX A crise não deve ser vista como uma consequência inevitável mas como fruto de dinâmicas políticas e sociais específicas Lynch destaca que as reformas liberais como a descentralização administrativa e a ampliação das liberdades políticas buscaram adaptar o sistema às novas demandas da sociedade mas enfrentaram resistências e limitações institucionais Essas tentativas de modernização da monarquia foram abruptamente interrompidas pelo golpe republicano revelando a tensão entre o reformismo monarquista e as pressões republicanas emergentes A análise de Lynch sugere que a monarquia apesar de desgastada ainda possuía capacidade de adaptação e poderia ter sobrevivido às crises se não fosse pela intervenção militar e pelo descontentamento crescente das elites A queda do regime assim é interpretada 13 como resultado de uma contingência histórica em vez de uma consequência linear de seu suposto conservadorismo ou incapacidade de modernização Economicamente o Brasil ainda dependia de uma economia baseada no trabalho escravo especialmente na produção de café produto primário que sustentava a balança comercial do país Contudo os interesses econômicos mudavam conforme explica Emília Viotti da Costa em Da Senzala à Colônia 1966 parte da elite cafeeira percebia que a mão de obra escrava era uma prática ultrapassada e ineficiente para a expansão do setor Esse segmento passou então a apoiar a transição para o trabalho assalariado antecipando uma modernização econômica Em outras palavras a abolição da escravidão se conectava diretamente a uma necessidade de adaptação econômica mas não eliminava o receio da elite de perder o controle sobre a força de trabalho Socialmente o Brasil vivia uma mobilização popular intensa em favor da abolição que se consolidaria em 1888 com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel Embora fosse um marco para o fim da escravidão a abolição foi feita sem qualquer preparação para a integração dos libertos na sociedade Conforme destaca Florestan Fernandes em A Integração do Negro na Sociedade de Classes 1965 a abolição não foi acompanhada de medidas de inclusão social e econômica o que deixou a maioria dos exescravizados em situação de extrema vulnerabilidade e marginalização Esse descaso com os negros libertos perpetuou desigualdades sociais e raciais que se fariam sentir no Brasil por muitas décadas evidenciando uma abolição incompleta e limitada em seu alcance O Gabinete de Ouro Preto último esforço reformista do Império representa um ponto crucial neste contexto Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil 1936 argumenta que esse gabinete reflete o último esforço da monarquia para se adaptar aos novos tempos promovendo reformas que pretendiam modernizar o país e consolidar o apoio ao regime No entanto a incapacidade de o gabinete atender às demandas republicanas e de estabelecer uma transição efetiva em relação à escravidão minou o apoio ao Império e acelerou a queda do regime monárquico Em síntese o período final do Império foi marcado por um contexto de intensa transformação e conflito As forças políticas econômicas e sociais convergiram para desmantelar o antigo regime e estabelecer uma nova ordem republicana A monarquia sem bases para uma reforma eficaz e incapaz de satisfazer as demandas abolicionistas e republicanas sucumbiu aos movimentos que já não encontravam nela um regime adequado para a modernização e justiça social que o Brasil tanto precisava 14 5 FONTES E METODOLOGIA 51 MATERIAIS A pesquisa sobre o Encilhamento e sua relação com a Proclamação da República se baseou em uma variedade de materiais que abrangem o contexto histórico político e econômico do período Os principais materiais utilizados incluem Documentos de arquivo da época este conjunto de fontes primárias compreende decretos governamentais jornais da época relatórios econômicos oficiais e correspondências políticas Esses documentos proporcionam uma visão direta e contemporânea dos eventos e das tomadas de decisão que moldaram o cenário político e econômico durante o Encilhamento e a transição para a República 511 Fontes Primárias 5111 Jornais da Época Os periódicos da época são fontes valiosas pois registram as reações da sociedade e dos atores políticos aos eventos Exemplo de jornais Gazeta de Notícia Jornal do Commercio Correio Paulistano Em vista disso é possível encontrar esses jornais na Hemeroteca Digital Brasileira Biblioteca Nacional no qual é um acervo extenso de jornais históricos 5112 Relatórios Econômicos Oficiais Os Relatórios do Ministério da Fazenda sobre o período podem ser encontrados em bibliotecas governamentais e arquivos httpsbndigitalbngovbracervodigital 512 Fontes secundária Além das fontes primárias a pesquisa se apoiou em uma variedade de obras acadêmicas e literaturas especializadas que exploram o período do Encilhamento e os eventos que culminaram na Proclamação da República Essas obras fornecem análises detalhadas 15 interpretações e contextualizações dos acontecimentos históricos contribuindo para uma compreensão mais profunda e abrangente do tema 52 PROCEDIMENTOS A metodologia adotada para conduzir esta pesquisa envolveu os seguintes procedimentos a Identificação e seleção de fontes inicialmente foi realizada uma extensa pesquisa em arquivos históricos bibliotecas especializadas e bases de dados acadêmicas O objetivo foi identificar e selecionar documentos primários e secundários relevantes que lançassem luz sobre o Encilhamento e seu impacto na transição política para a República no Brasil b Leitura e fichamento após a seleção das fontes procedeuse à leitura detalhada dos documentos de arquivo e obras acadêmicas escolhidas Durante essa etapa foram feitos anotações e fichamentos dos pontos mais significativos destacando eventoschave personagens importantes tendências econômicas e políticas relevantes c Elaboração de quadros e resumos os dados coletados foram organizados em quadros e resumos temáticos permitindo uma visualização clara e estruturada das informações Essa etapa facilitou a identificação de padrões conexões e discrepâncias entre os diferentes elementos do período do Encilhamento e da Proclamação da República d Análise do conteúdo por fim os dados foram submetidos a uma análise minuciosa e crítica visando à interpretação dos eventos e à construção de uma narrativa histórica coesa A análise do conteúdo buscou relacionar os eventos econômicos e políticos do Encilhamento com os antecedentes e desdobramentos da Proclamação da República proporcionando uma compreensão mais abrangente e aprofundada da interligação entre esses dois momentoschave da história brasileira Esses procedimentos metodológicos garantiram uma abordagem sistemática e rigorosa na condução da pesquisa possibilitando uma análise detalhada e uma interpretação fundamentada dos eventos históricos investigados 16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA I C S CROCE M A Abolição encilhamento e mercado financeiro uma análise da primeira crise financeira republicana Revista de Economia do CentroOeste Goiânia v 2 n 2 p 1936 2016 Disponível em httpsrevistasufgbrreoestearticleview41826 Acesso em 02 de maio de 2024 ALMEIDA M H T CROCE F N Histórias da República 18891930 São Paulo Cia das Letras 2016 BARBOSA Rui Antologia Nova Fronteira 2011 Disponivel httpsbooksgooglecombrbookshlpt BRlridP7KuDwAAQBAJoifndpgPP6dqEncilhamentoeaProclamaC3 A7C3A3odaRepC3BAblicaruibarbosaotsh5fBWPiOD9sig6nOQP2cd7 KaGAfbueYEINNktE BEZERRA M Ruy Barbosa e o Encilhamento uma história do papelmoeda no Brasil São Paulo Edusp 2019 CARONE E O Encilhamento São Paulo Editora AlfaÔmega 1977 CARONE E A República Velha 18891930 CARVALHO J M de A formação das almas o imaginário da República no Brasil São Paulo Companhia das Letras 1987 CARVALHO José Murilo de A Formação das Almas O Imaginário da República no Brasil São Paulo Companhia das Letras 1990 COSTA Emília Viotti da Da Senzala à Colônia São Paulo Unesp 1966 CURY Luiz Felipe Bruzzi Rui Barbosa e as Ideias Econômicas Entre teoria e conjuntura Boletim Informações FIPE São Paulo FIPE p 4552 2015 DA ROCHA Amélia Soares Rui Barbosa a formação do Brasil e o pensamento jurídico Revista de Ciências Jurídicas v 15 n 1 p 933 2010 DE SOUZA ALMEIDA Ian Coelho CROCE Marcus Antônio Abolição encilhamento e mercado financeiro uma análise da primeira crise financeira republicana Revista de Economia do Centrooeste 2016 FAORO R Os Donos do Poder Formação do Patronato Político Brasileiro Porto Alegre Globo 1958 FAUSTO B História do Brasil São Paulo Edusp 1990 FAUSTO Boris História do Brasil Disponível na Amazon httpswwwamazoncombrdp8535927141 17 FERNANDES Florestan A Integração do Negro na Sociedade de Classes São Paulo Dominus Editora da Universidade de São Paulo 1965 FRANCO Gustavo HB A economia em Machado de Assis o olhar oblíquo do acionista Editora SchwarczCompanhia das Letras 2007 FURTADO C Formação Econômica do Brasil São Paulo Companhia Editora Nacional 1968 HOBSBAWM E J A Era das Revoluções 17891848 São Paulo Paz e Terra 1968 HOHLFELDT Antônio O Encilhamento um estudo literário como narrativa histórica metonímica Letras de Hoje v 33 n 3 1998 HOLANDA Sérgio Buarque de Raízes do Brasil Rio de Janeiro José Olympio 1936 HOLANDA Sérgio Buarque de direção História geral da civilização brasileira Tomo II O Brasil monárquico Volume 7 Do Império à República 7 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2005 504 p História geral da civilização brasileira tomo II v 7 ISBN 85286 05078 MANZATTO Rômulo Celso Furtado e a Política Financeira de Rui Barbosa 2023 OLIVEIRA Pedro Paulo Rocha Guerra A crise do encilhamento e seus reflexos no Brasil um estudo de caso 2021 PELÁEZ C M SUZIGAN W História monetária do Brasil Brasília Editora Universidade de Brasília 1981 VIOTTI DA COSTA E Da Monarquia à República momentos decisivos São Paulo Fundação Editora da UNESP 1998 3 REAÇÕES E CONSEQUENCIAS DO ENCILHAMENTO A expansão do emprego formal impulsionada pelo influxo contínuo de imigrantes e pelo desenvolvimento industrial sugeria um horizonte encorajador com a economia se fortalecendo e novas oportunidades surgindo tanto nas áreas urbanas quanto rurais promovendo investimentos e um entusiasmo generalizado entre os segmentos produtivos no entanto essa impressão de dinamismo mascarava fragilidades na estrutura que de forma inexorável em breve se manifestariam expondo as vulnerabilidades ocultas dentro do contexto otimista IPEA 2011 O sucesso das plantações de café e a eficaz assimilação dos imigrantes no setor agrícola geraram um ambiente favorável impulsionando a entrada de capital estrangeiro e a valorização do milréis Esse cenário teve um impacto positivo na Bolsa de Valores onde o crescimento dos lucros indicou uma fase de entusiasmo e abundância para o mercado financeiro do país ALMEIDA CROCE 2016 O governo por sua vez implementou estratégias que estimularam a concessão de empréstimos hipotecários e reforçaram instituições financeiras associadas a personalidades poderosas como Francisco de Paula Mayrink com o objetivo de promover o crescimento econômico ALMEIDA CROCE 2016 Todavia essa expectativa positiva rapidamente foi substituída pela instabilidade resultante da utilização especulativa dos recursos o que levou à perda da confiança popular e ao desgaste da gestão governamental indicando o começo da crise do Encilhamento SCHULZ 1996 A abordagem do governo imperial em oferecer amplo crédito aos agricultores tinha como objetivo principal frear a disseminação das ideias republicanas e acalmar determinadas frações da elite rural Entretanto muitos agricultores já enfrentavam um elevado nível de endividamento e utilizaram os novos financiamentos apenas para saldar dívidas anteriores o que frustrou a estratégia do governo de revitalizar e estimular a atividade agrícola ALMEIDA CROCE 2016 Essa desconexão entre a abordagem econômica implementada e a realidade da produção revela a vulnerabilidade do Império frente às significativas mudanças sociais que estavam ocorrendo A visão da sociedade sobre essa falta de eficiência e a dificuldade em lidar com os desafios econômicos ajudou a fortalecer a atração pelo movimento republicano levando à proclamação da República ALMEIDA CROCE 2016 De acordo com Carone 1974 Rui Barbosa continuou a implementar políticas de crédito destinadas aos proprietários de terras do Vale do Paraíba buscando assim garantir o apoio dos setores rurais mais influentes No entanto essas medidas se mostraram inadequadas para garantir a estabilidade do regime monárquico frente à crescente pressão por mudanças republicanas A instabilidade econômica se intensificou devido à saída de ouro do território e à suspensão dos investimentos externos resultando na desvalorização da moeda e em efeitos adversos no mercado de ações Diante dessas dificuldades a estratégia de emissão garantida por ouro implementada pela administração anterior precisou ser descartada complicando ainda mais a gestão da crise econômica LOBO 1980 SCHULZ 1996 As instituições financeiras obtiveram fundos do governo a taxa de juros zerada para financiar os agricultores que reembolsavam quase a totalidade desses valores através de um sistema de troca de débitos Os recursos financeiros eram portanto utilizados para comprar títulos do governo resultando na emissão de novas cédulas e aumentando a quantidade de moeda disponível em 40 em somente nove meses SCHULZ 1996 A valorização das ações no mercado acionário aumentava a necessidade de capital para apoiar o crescimento das operações o que provocava pressão sobre a elevação das taxas de juros Devido à restrição no volume de moeda liberada por meio de decretos a taxa de juros aumentava beneficiando investimentos especulativos que proporcionavam um retorno elevado o bastante para justificar a contração de empréstimos nos bancos ampliando assim a bolha financeira TANNURI 1981 No mês de maio de 1890 Rui Barbosa pôs fim à prática de empréstimos voltados para a agricultura e em outubro adotou ações para prevenir irregularidades na Bolsa de Valores estipulando que as companhias deveriam subscrever 100 de suas ações e dispor de pelo menos 30 de capital próprio sendo que 40 desse montante deveria estar integralizado antes de iniciar as transações SCHULZ 1996 De acordo com Franco 1983 o objetivo era conter progressivamente o entusiasmo do mercado no entanto as alterações resultaram em uma diminuição rápida e significativa na criação de novas empresas sendo substituídas pela exigência de um aumento no capital inicial para prevenir prejuízos financeiros Com a proclamação da República a nova administração lidou com as consequências da crise do Encilhamento sobretudo no que diz respeito à Bolsa de Valores Tristão de Alencar Araripe que ocupava o cargo de ministro da Fazenda buscou conter a especulação financeira ao implementar impostos sobre altos dividendos e transações futuras ALMEIDA CROCE 2016 Entretanto a intensa pressão dos grupos favorecidos e uma paralisação dos corretores levaram à revogação dessas ações Dentro desse contexto turbulento o Marechal Deodoro da Fonseca assumiu a presidência em 1891 solidificando a mudança política e acentuando a insegurança que caracterizou o começo do período republicano ALMEIDA CROCE 2016 Conforme Lobo 1980 a maioria dos títulos passou por uma queda de valor em parte em função da antecipação de ações do governo que restringiriam os ganhos dos investimentos A situação foi piorada pela dificuldade em localizar compradores limitandose apenas a algumas instituições respeitáveis como o Banco do Brasil e o Banco Rural A média de desvalorização alcançou aproximadamente 40 do valor que havia sido registrado no começo do ano demonstrando o colapso do mercado após a fase de especulação intensa sinalizando o início do declínio da confiança no sistema financeiro daquele período LOBO 1980 ALMEIDA CROCE 2016 Simultaneamente as instituições financeiras emissoras elevaram a quantidade de dinheiro em circulação para apoiar empresas listadas na bolsa muitas das quais eram fraudulentas na tentativa de manter o Encilhamento intensificando a instabilidade do mercado criando um ciclo prejudicial de especulação e desconfiança o que contribuiu para a aceleração do colapso econômico nacional SCHULZ 1966 Em setembro de 1891 Lucena do Ministério da Fazenda tentou enfrentar a crise por meio de uma elevação na emissão de moeda solicitando ao Congresso a permissão para a liberação de 600 mil contos através do BREUB A rejeição por parte da oposição levou Deodoro e Lucena a realizarem um golpe em novembro dando início a uma curta ditadura ALMEIDA CROCE 2016 Contudo um contragolpe promovido pelo Partido Republicano Paulista que contou com suporte militar e popular fez com que Deodoro renunciasse e Floriano Peixoto assumisse o poder intensificando a instabilidade política durante o período de transição para a república ALMEIDA CROCE 2016 Rodrigues Alves ao retornar ao cargo de Ministro da Fazenda enfatizou o alto valor da dívida pública que tornava impossível a emissão garantida por títulos A falta de ouro e a valorização da moeda estrangeira pioraram a situação tornando inviável a emissão de moeda por instituições financeiras privadas ALMEIDA CROCE 2016 No ano de 1896 uma importante legislação foi instaurada atribuindo ao governo a exclusividade na emissão de bilhetes bancários legalizando as garantias e estabelecendo um plano para a retirada gradual do papelmoeda com o objetivo de solucionar os entraves do Encilhamento e recuperar a credibilidade no sistema financeiro TANNURI 1981 No entanto Floriano Peixoto e Prudente de Morais se depararam com enormes dificuldades ao tentar reestabelecer a economia após a crise e foi apenas durante a administração de Campos Sales que os impactos mais graves do Encilhamento foram superados sinalizando o começo da recuperação econômica do Brasil TANNURI 1981 Ao assumir a liderança do país em 1898 Campos Sales encontrou um cenário econômico desafiador com o Brasil quase enfrentando o calote da dívida externa Sales assumiu o compromisso de não criar moeda fiduciária extra e garantiu a receita da alfândega do Rio de Janeiro ações que se provaram fundamentais para impedir a crise econômica e equilibrar as finanças nacionais SCHULZ 1996 Campos Sales assumiu a desafiadora responsabilidade de equilibrar as finanças do país por meio da aplicação estrita das diretrizes estabelecidas no Funding Loan visando a redução dos preços a estabilização das contas públicas e a reintrodução do imposto sobre importações em ouro além da emissão de títulos da dívida que retirou recursos do fluxo econômico e auxiliou no controle da inflação restabelecendo a confiança na economia e dando início à sua recuperação após o Encilhamento CARDOSO 1975 Embora tenha havido tentativas de resgatar o Banco República do Brasil o mercado financeiro do Rio de Janeiro sofreu uma severa escassez de recursos resultando no encerramento ou reestruturação de diversas entidades em especial aquelas afligidas por créditos inadimplentes do Encilhamento O governo por sua vez adotou uma postura inerte em relação às falências vendoas como necessárias para promover a recuperação econômica e a reabilitação lenta do país TANNURI 1996 SCHULZ 1996 Com a diminuição da quantidade de moeda em circulação empresas desonestas não conseguiram suportar a intensificação da concorrência Apesar de o processo ter apresentado instabilidades ele proporcionou as condições necessárias para a expansão industrial nos primórdios da República Velha colocando a indústria carioca em uma posição proeminente superada apenas pela de São Paulo até os anos 1920 ALMEIDA CROCE 2016 LEVY 1994 O Encilhamento foi um momento de grande especulação que gerou um aumento nas taxas de juros uma queda no valor da moeda e uma inflação que se estendeu até a década de 1890 Os impactos da crise foram superados apenas no início do século XX através de fechamentos de bancos e reestruturações econômicas TANNURI 1981 A desvalorização dos ativos na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro prejudicou gravemente pequenos investidores e agricultores da área sendo que a especulação excessiva e a carência de normas financeiras pioraram a situação Isso transformou a tentativa de reforma monetária de Rui Barbosa em uma experiência desastrosa devido à falta de um banco central ou entidade reguladora A liberação excessiva de dinheiro converteu o crédito em um símbolo de instabilidade em um contexto caracterizado pela falta de um banco central ou de qualquer entidade reguladora que controlasse as atividades financeiras Como resultado a fé na economia foi gravemente comprometida evidenciando a demanda imediata por uma política monetária mais robusta e organizada Embora tenha havido instabilidade certas empresas fundadas durante o Encilhamento conseguiram se expandir especialmente no setor têxtil onde o investimento na Bolsa do Rio de Janeiro aumentou duas vezes entre maio e novembro de 1890 IPEA 2011 Na cidade de São Paulo o panorama também foi de crescimento com o surgimento de mais de duzentas empresas anônimas e a establishment da Bolsa de Valores local no mesmo período 31 A reação da Imprensa e dos Meios de Comunicação Os meios de comunicação se dedicaram a documentar e expor os impactos negativos do Encilhamento exercendo a função de monitoramento das direções da economia e responderam com severas críticas à liberação desmedida de papelmoeda e às atividades especulativas A atenção da mídia ressaltou a ausência de normas financeiras e a subsequente perda de confiança por parte da população tornando este período uma crítica essencial à falta de controle O crescimento acelerado do setor bancário aliado à má utilização dos recursos públicos promoveu práticas especulativas intensas que comprometem a estabilidade do sistema financeiro no Brasil No Rio de Janeiro diversos bancos escolheram realizar operações urbanas rentáveis ao invés de apoiar a agricultura o que contraria as metas das políticas públicas e suscitou intensas críticas na mídia que expôs o desvio refletindo a crise econômica ALMEIDA CROCE 2016 A imprensa utilizou o tema do Encilhamento para colocar em dúvida a legitimidade e a eficiência do governo imperial afetando diversas esferas urbanas militares e classes sociais intermediárias onde essa forma de posicionamento ideológico teve um impacto importante na intensificação da crise política atuando como um catalisador para a aceitação do novo regime Por meio de métodos de design avançados e fácil acesso ao crescente público urbano essas publicações apresentavam matérias minuciosas sobre investimentos arriscados taxa de desemprego e colapsos bancários e assim atingindo segmentos mais variados da população aumentando sua eficácia em exigir respostas do governo e mudanças no sistema financeiro Publicações regulares do Rio de Janeiro como a Gazeta de Notícias começaram a informar a população sobre o crescimento desenfreado do crédito e da especulação no setor financeiro destacando irregularidades e dificuldades de liquidez nas instituições bancárias Ao converter a intricada crise econômica em uma história compreensível essas mídias se tornaram fundamentais para a denúncia iluminando ações que colocavam em risco a solidez da nova República TRINER 2001 Conforme aponta Triner 2001 os editoriais faziam ironias sobre Ruy Barbosa ao implementar ações vistas como arriscadas fazendo comparações com os mongers da Argentina A análise ressaltava a diferença entre as finanças reais do Reino Unido e as ilusórias da recémformada república brasileira Isso mostra como a falta de confiança transcendeu limites impactando a visão global acerca da nação Publicações financeiras do Reino Unido e importantes instituições como os Rothschild manifestaram apreensão em relação ao aumento da oferta monetária e à especulação sobre câmbio no Brasil fazendo uma analogia com a crise enfrentada pela Argentina Esse modelo de cobertura refletia o ceticismo global sinalizando um aumento no risco e a provável desvalorização da moeda fatores que apesar de já serem percebidos internamente se tornavam mais significativos e confiáveis ao serem reportados no exterior TRINER 2001 A imprensa do Rio de Janeiro destacou o Encilhamento não apenas como um acontecimento econômico mas também como uma questão cultural e política empregando reportagens e sátiras para criticar o ambiente especulativo A Gazeta de Notícias lançou um folhetim intitulado O Encilhamento cenas contemporâneas em 26 de fevereiro de 1893 retratando de maneira irônica os acontecimentos e figuras envolvidos na crise TOLENTINO 2016 Essa estratégia foi pioneira ao combinar reportagens jornalísticas com elementos da narrativa literária aumentando a abrangência e a força da mensagem transmitida ao público A publicação de um folhetim satírico acerca do Encilhamento contribuiu para consolidar a visão de que esse evento simbolizava uma luta de influências entre o governo instituições financeiras e investidores A mídia da época em relação ao Encilhamento muitas vezes se manifestava de maneira crítica e alarmista transmitindo uma carga ideológica que insinuava que a população inativa e despreocupada era facilmente influenciada por uma elite de especuladores e por decisões econômicas pouco claras reforçando a percepção de uma desconexão entre a nova República e as massas reduzindo a capacidade de ação do povo CARVALHO 1990 Os meios de comunicação daquele período não apenas reportaram os eventos do Encilhamento mas também influenciaram sua análise moral e política com críticas contundentes e representações simbólicas Conforme Taunay 1971 p 115 o dinheiro em papel transformouse em uma efetiva carta de baralho apoiado pela submissão de uma multidão ignorante uma frase que ilustra como a imprensa atribuía a culpa tanto aos especuladores quanto à sociedade por manter um sistema deficitário A Gazeta das Notícias em suas publicações enfatizavase a condenação de práticas abusivas perpetradas por instituições financeiras e empresários além de ressaltar os efeitos prejudiciais das diretrizes econômicas adotadas após a Proclamação da República Por meio de artigos e reportagens o periódico impactou a discussão pública ao destacar a urgência de mudanças e a importância de uma maior clareza nas finanças nacionais O Jornal do Commércio ressaltou situações de fraudes e táticas especulativas na Bolsa de Valores com matérias e ensaios que revelaram a conexão entre financistas e políticos condenando a cumplicidade que possibilitou o aumento descontrolado da criação de moeda sem respaldo em ouro Machado de Assis mencionado por Taunay 1971 p 5253 caracterizou este período como uma grande epopeia de riqueza em que as atividades aconteciam de maneira acelerada e os ganhos pareciam não ter fim ilustrando a sensação de euforia especulativa que permeava a sociedade o que aponta que o Encilhamento foi descrito por vários pensadores como uma fase de otimismo desmedido e fé sem limites no avanço econômico Assim os meios de comunicação desempenharam um papel fundamental na formação da percepção pública sobre o Encilhamento atuando não apenas como fonte de notícias mas também como influenciadores na formação de opiniões e na crítica ética Ao destacar abusos especulativos satirizar as estratégias econômicas e documentar as consequências sociais da crise a mídia ajudou a formar uma lembrança negativa e persistente dessa época REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA I C S CROCE M A Abolição encilhamento e mercado financeiro uma análise da primeira crise financeira republicana Revista de Economia do CentroOeste Goiânia v 2 n 2 p 1936 2016 CARDOSO F H Dos Governos Militares a Prudente Campos Sales In FAUSTO Boris História geral da Civilização Brasileira vol 1 tomo 3 São Paulo Difel 1975 CARONE E República Velha Evolução política São Paulo Difel 1974 CARVALHO José Murilo de A formação das almas o imaginário da República no Brasil São Paulo Companhia das Letras 1990 FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS Enciclopédia Atlas Encilhamento Disponível em httpsatlasfgvbrverbetesencilhamento Acesso em 28 jun 2025 FRANCO G Reforma monetária e instabilidade durante a transição republicana Dissertação mestrado Departamento de Economia PUCRJ Rio de Janeiro 1983 GAZETA DE NOTÍCIA Edições de 18901891 Rio de Janeiro hemeroteca nacional 18901891 INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA IPEA História Encilhamento crise financeira e República Desafios do Desenvolvimento ano 8 edição 65 5 maios 2011 Disponível em httpswwwipeagovbrdesafiosindexphp optioncomcontentviewarticleid2490catid28Itemid23 Acesso em 27 jun 2025 JORNAL DO COMMERCIO Edições de 18901891 Rio de Janeiro Hemeroteca Digital Brasileira 18901891 LEVY M B A Indústria do Rio de Janeiro através de suas sociedades anônimas Rio de Janeiro UFRJ 1994 LOBO M E L Economia do Rio de Janeiro nos séculos XVII e XIX In NEUHAUS P Economia Brasileira Uma Visão Histórica Rio de Janeiro Campus p 12359 1980 SCHULZ J A crise financeira da Abolição São Paulo Ed USP 1996 TANNURI L A O Encilhamento São Paulo HucitecFuncamp 1981 TAUNAY Affonso de E O Encilhamento cenas contemporâneas da Bolsa do Rio de Janeiro em 1890 1891 e 1892 Belo Horizonte Itatiaia 1971 TOLENTINO Thiago Lenine Tito Do ceticismo aos extremos cultura intelectual brasileira nos escritos de Tristão de Athayde 19161928 manuscrito 2016 671 f Tese Doutorado em História Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2016 TRINER Gail D International Capital and the Brazilian Encilhamento 1889 1891 An Early Example of Contagion among Emerging Capital Markets Version of December 2001 Departamento de História Rutgers University Disponível em trinerixnetcomcom Acesso em 27 jun 2025 CONCLUSÃO A crise do Encilhamento representou uma mudança significativa na trajetória do Brasil destacando as fragilidades intrínsecas do Império e impulsionando as mudanças sociais que já estavam em curso O colapso econômico fruto das estratégias de expansão monetária de Rui Barbosa aliado à instabilidade política e ao aumento do descontentamento popular minou a fé nas instituições da monarquia abrindo espaço para a demolição do regime imperial e o avanço do movimento republicano Assim o objetivo principal deste estudo foi integralmente atingido ao evidenciar através de uma análise histórica e de diversas áreas do conhecimento de que maneira os impactos econômicos do Encilhamento afetaram diretamente a mudança do sistema monárquico para o republicano Ao examinar as políticas adotadas os impactos sociais da crise e a dinâmica entre os diferentes agentes políticos da época tornouse possível estabelecer uma conexão evidente e fundamentada entre a volatilidade econômica causada pelo Encilhamento e a afirmação do novo regime republicano Os objetivos específicos desta investigação também foram completamente cumpridos ao retratar de maneira detalhada o cenário econômico do Brasil no final do século XIX enfatizando a complexa mudança do trabalho escravo para o assalariado após a libertação em 1888 O estudo investigou o entusiasmo provocado pela política de liberalização econômica implementada por Ruy Barbosa que resultou na criação em grande escala de instituições bancárias aumento da quantidade de dinheiro circulando e forte especulação nos mercados financeiros A pesquisa também destacou os impactos destrutivos dessa crise em vários setores da sociedade brasileira abrangendo desde os grandes investidores até os trabalhadores mostrando como a incerteza econômica intensificou as tensões sociais e políticas o que ajudou a provocar a queda do regime monárquico O estudo analisou as ações econômicas implementadas por Ruy Barbosa ressaltando suas propostas de modernização e as consequências negativas de sua execução apressada que levaram a uma significativa instabilidade financeira Conseguiuse evidenciar de que maneira essas mudanças afetaram de forma negativa a opinião pública e política em relação ao governo reduzindo a confiança nas instituições monárquicas e estimulando o discurso a favor da república A relação entre a crise econômica e o aumento do descontentamento político foi analisada de maneira detalhada mostrando como as tensões sociais se acentuaram e foram direcionadas em prol do movimento republicano O estudo investigou os acontecimentos que levaram à Proclamação da República ressaltando como os líderes republicanos usaram o Encilhamento como uma justificativa fundamental para destituir Dom Pedro II e estabelecer um novo governo As crises econômicas que ocorreram no Brasil durante o século XIX como a do Encilhamento evidenciam a persistência de conflitos entre abordagens de políticas monetárias expansivas e limitativas que caracterizaram tanto o período imperial quanto a era republicana Os esforços para modernizar a economia fortaleceram sistemas patrimonialistas e favoreceram grupos elitistas evidenciando que a transição de regime não foi capaz de resolver as debilidades institucionais e econômicas legadas do passado A iniciativa de expandir a oferta de moeda através da emissão fiduciária embora baseada em ideias liberais e ajustadas à realidade local acabou intensificando pressões inflacionárias e especulativas evidenciando as fragilidades e a dependência de um sistema financeiro ainda vulnerável A desproporção entre o crescimento da oferta monetária interna e a vulnerabilidade da balança de pagamentos somada à influência das elites regionais e à resistência do capital internacional teve um papel significativo na instabilidade do sistema e na continuidade de problemas que impactaram o progresso econômico do Brasil ao longo de muitos anos O esforço de integrar o Brasil na dinâmica do capitalismo financeiro contemporâneo sem os necessários mecanismos de controle clareza e inclusão social gerou não apenas instabilidade econômica e aumento da inflação mas também causou a perda de credibilidade política e uma sensação de desilusão entre a população em relação ao novo regime republicano A imprensa atuou como um reflexo das controvérsias políticas econômicas e regionais da época ajudando a acentuar a divisão entre os diversos planos de modernização do Brasil Ao intensificar a discussão pública com falas alternando entre preocupações excessivas e abordagens práticas os jornais contribuíram para a formação de uma narrativa crítica que além de expor as consequências da crise também desafiava as bases ideológicas da política econômica implementada A crise do Encilhamento acelerou a Proclamação da República ao evidenciar a incapacidade do sistema monárquico perante as pressões econômicas e sociais resultando em desconfiança nas instituições e intensificando a instabilidade política Os efeitos dessas mudanças marcaram os primeiros anos do novo governo demandando reformas imediatas e evidenciando a vulnerabilidade das recémestabelecidas instituições republicanas Esta investigação apesar de ter procurado realizar uma análise completa sobre o Encilhamento e suas consequências políticas econômicas e na mídia enfrenta restrições devido à escassez e à dispersão das fontes originais além da dificuldade própria de interpretar os discursos da imprensa daquele período Assim é fundamental expandir a pesquisa sobre a influência da imprensa nas regiões os efeitos sociais da crise e as ligações internacionais da política monetária implementada abrindo possibilidades para novas investigações que possam aprimorar e reconsiderar as ideias apresentadas Este estudo é altamente indicado para alunos e educadores na área de História especialmente para aqueles dedicados à formação de professores e ao ensino da História do Brasil durante a época republicana proporcionando material para discussões em contextos educacionais e para a elaboração de abordagens pedagógicas que enfatizem a análise crítica das fontes históricas e dos discursos elaborados em períodos de crise

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