·

Ciências Econômicas ·

Macroeconomia 1

· 2022/2

Envie sua pergunta para a IA e receba a resposta na hora

Fazer Pergunta

Texto de pré-visualização

1 TÓPICO 3: MODELO DE OFERTA E DEMANDA AGREGADA NO CURTO PRAZO Roteiro: 1. Introdução 2. A função demanda agregada 2.1. Derivação 2.2. Propriedades 3. Formação de preços e a função oferta agregada 3.1. Inclinação e o debate macroeconômico 3.2. A função de oferta agregada no curto prazo 4. Determinação simultânea da produção e dos preços: o equilíbrio no curto prazo 5. Exercícios de estática comparativa 5.1. Variação da demanda agregada 5.2. Choque de oferta 6. Debate: Inflação de demanda versus inflação de custos 7. Conclusão 8. Apêndice 1. INTRODUÇÃO  Contexto histórico: desde final 2a. G.M. ao final dos anos 60  inflação relativa- mente baixa a nível mundial, exceto na Guerra da Coréia (início 50’s);  Variações de preços não eram consideradas como problema importante;  Resultado: nível de preços em segundo plano:  Nos modelos macroeconômicos;  Inflação não era objeto de preocupação das políticas macroeconômicas.  2a. metade dos anos 60 volta da inflação como fenômeno importante;  Manuais de Macroeconomia começam a incluir capítulos onde o índice de pre- ços varia endogenamente;  Anos 70→ choques do petróleo:  Ondas inflacionárias e de “estagflação” (inflação + recessão);  Modelos monetaristas e novos clássicos questionam a validade dos modelos “keynesianos”. 2. A FUNÇÃO DEMANDA AGREGADA  Conceito: Formada pelos pontos de equilíbrio no plano nível geral de preços (P) x produção real (Q). 2  Portanto, cada ponto da função de demanda agregada corresponde a um ponto de equilíbrio no modelo IS-LM. Ou seja, cada ponto da função demanda agre- gada representa um ponto de equilíbrio simultâneo dos mercados de bens e fi- nanceiros (ou de moeda).  Obs.: Cuidado! É um conceito diferente da função de demanda agregada do modelo “keynesiano” simples (que era desenhada no plano D x Q). 2.1 DERIVAÇÃO  Graficamente: 2.2 PROPRIEDADES  A função demanda agregada é negativamente inclinada, pois P e Q movem-se em sentidos contrários ao longo dela.  Isto acontece, como vimos no tópico anterior, devido ao efeito Keynes.  Nenhuma relação com a inclinação similar das curvas microeconômicas de demanda.  Deslocam a função demanda agregada no “caso normal”:  Políticas monetárias (expansionistas e contracionistas);  Políticas fiscais (expansionistas e contracionistas);  Choques de demanda (favoráveis e desfavoráveis);  Choques financeiros (favoráveis e desfavoráveis)1. 1 Mudanças em c e t também deslocam a função: quanto maior c e menor t, maior a demanda agregada, e vice-versa. Função Demanda Agregada (DA) Q2 P2 Q2 i1 LM2(P2>P0) P1 Q1 Q1 LM0(P0) P0 Q0 i0 Q0 IS Q P Q i LM1(P1<P0) i2 Pp *Contracao demanda agregada: Expansao demanda agregada: Politica monetaria con- Politica monetaria expansionista (tMs); tracionista (| Ms); Politica fiscal expansionista (TG;TR); | Politica fiscal contracit Choques de demanda favoraveis (TC; TI); onista ({G;|R); Choques financeiros favoraveis (|k) Choques de demanda desfavoraveis ({C; |I); Choques financeiros desfavoraveis (tk) DA Q = Matematicamente: ~ rn _ Ct+cR+I-bi+G. > Funcao IS: Q= eae > Funcao LM: Ms/P =kQ — hi > Para obter a fungao de demanda agregada DA: 1) Escrever a fungao LM isolando a taxa nominal de juros 1: Ms/P = kQ — hi Ms/P + hi=kQ hi=kQ-M/P i= “ee ou i = (k/h)Q — (1/h)(Ms/P) 2) Substituir a expressao obtida para i na fun¢ao IS o- C+cR+1+6-b|(F)o-G&| 1-—c(1-t) Q [1-c(1-+t)] =C +cR+ I+ G — (bk/h)Q + (b/h)(Ms/P) Q [1-c(1-t)] + (ok/h)Q = C+ cR+1+ G+ (b/h)(Ms/P) Q[1-c(1-t)+(bk/h)] = C + cR +1 + G+ (b/h)(Ms/P); ou Funcao demanda agregada: 3 > Simplificagdes na formula: > SejiaA=C+cR+1+G; > A édenominado “absorcao interna (ou doméstica) aut6noma”, e engloba tanto variaveis de politica fiscal (G, R) quanto variaveis que representam choques au- t6nomos de demanda privada (C, I): @ TA: pode ser provocado por politicas fiscais expansionistas (TG e/ou R) ou choques favoraveis de demanda (fC e/ou c e/ou I); @ |A: pode ser provocado por politicas fiscais contracionistas (|G e/ou R) ou choques desfavoraveis de demanda (|C e/ou c e/ou I). > Seja: 1 a= bk 1-c(1-t)+ (=) h b B= a bk 1-c(1-t) + (+) h @ Entao a fungao de demanda agregada pode ser representada como: @ Onde’: =" a €0chamado “multiplicador de politica fiscal”, e representa a intensi- dade com que mudangas na absorcao doméstica aut6noma A (isto é, mu- dangas de politica fiscal e choques de demanda) afetam a demanda agre- gada e, portanto, o nivel de produc¢ao/renda real Q; = £8 é 0 chamado “multiplicador de politica monetaria’, e representa a in- tensidade com que mudangas na oferta monetaria real Ms/P (isto 6, na politica monetaria e no nivel de precos) afetam a demanda agregada e, : ~ 3 portanto, o nivel de producgao/renda real Q’. * Repare que a funcio resultante é hiperbolica, e portanto nado convém separar mudangas de inclinacdo das de intercep- to. > Da formula acima, deduz-se facilmente as seguintes propriedades: a) se b = 0, a politica monetaria se torna ineficaz (B=0) e o multiplicador da politica fiscal (a) assume o mesmo valor do multiplicador do modelo “keynesiano” simples; b) se h > o (armadilha da liquidez), ocorre o mesmo que o descrito no caso anterior; e c) se h — 0, a politica fiscal se torna ineficaz (a=0) e se retorna ao resultado basico da versao classica da Teoria Quantitativa da Moeda (f = 1/k). 4 5 3. FORMAÇÃO DE PREÇOS E OFERTA AGREGADA 3.1. INCLINAÇÃO E O DEBATE MACROECONÔMICO  Conceito: a função de oferta agregada estabelece o quanto será produzido, a nível agregado (Q), para cada valor do nível geral de preços (P) no curto prazo macroe- conômico. Representa o processo de fixação de preços e as decisões de produção por parte das empresas.  Diferentes versões dessa curva, representando diferentes inclinações, têm papel crucial do debate macroeconômico contemporâneo.  Imagine que a curva de demanda agregada se desloque, por choques ou por mu- danças nas políticas fiscal e/ou monetária. Como podemos ver abaixo, o efeito so- bre os níveis de produção (e portanto emprego) e preços depende crucialmente da inclinação da curva de oferta agregada.  Graficamente:  No primeiro caso (curtíssimo prazo), a curva de oferta é considerada horizontal até Qp.  Isto significa que, até Qp, as empresas não alterariam seus preços em resposta a variações da demanda agregada. Modificações da demanda agregada afetariam apenas os níveis de produção e emprego, sem qualquer impacto sobre o nível de preços, enquanto a economia estivesse à esquerda de Qp (recursos ociosos); no ponto Qp, deslocamentos da demanda agregada afetariam apenas os preços, sem impacto sobre os níveis de produção/renda real e emprego;  No segundo caso (curto prazo), considera-se que a inclinação da curva de oferta agregada é crescente no plano P x Q.  Isto significa que as empresas alterariam seus preços em resposta a variações da demanda agregada. Modificações da demanda agregada afetam tanto os ní- veis de produção e emprego quanto o nível geral de preços:  Aumentos da demanda agregada aumentam produção e emprego, mas cau- sam aumentos de preços; OA DA1 DA0 Q1 Q0 P0 Qp P Q Curtíssimo prazo: OA horizontal até Qp P1 Curto prazo: OA crescente OA DA1 DA0 Q1 Q0 P0 Qp P Q P1 Longo prazo: OA vertical OA DA1 DA0 P0 Qp P Q 6  Reduções da demanda agregada reduzem os preços, mas causam redução também dos níveis de produção e emprego;  No terceiro caso (longo prazo), considera-se que a curva de oferta agregada é ver- tical no plano P x Q ao nível de produção Qp.  Isto significa que as empresas alterariam apenas seus preços em resposta a va- riações da demanda agregada. Modificações da demanda agregada afetariam apenas o nível geral de preços, sem impacto sobre os níveis de produção e emprego:  Aumentos da demanda agregada afetariam apenas os preços, sem impacto sobre os níveis de produção (que permaneceria no nível ótimo Qp) e (pleno) emprego (Np);  Reduções da demanda agregada reduziriam apenas os preços, sem impacto sobre os níveis de produção (= Qp) e (pleno) emprego (Np); 3.2 FORMAÇÃO DE PREÇOS: A OFERTA AGREGADA NO CURTO PRA- ZO  Hipótese geral: os preços são formados pelas empresas, que, em um contexto de concorrência imperfeita, atuam como formadoras de preços, aplicando um mark up4 sobre os custos variáveis unitários (ou marginais) de produção.  Em uma economia fechada, apenas dois tipos de custos variáveis unitários preci- sam ser considerados5:  Custos salariais variáveis unitários; e  Custos tributários (inclusive preços e tarifas públicas)6.  Todos os demais custos decorrentes de insumos podem ser desconsiderados, já que se desdobram em lucros ou salários dos demais setores, ou preços e tarifas públicas; portanto, seus efeitos sobre a economia já estão descritos no item referente às margens de lucro, ou nos demais, que serão tratados abaixo.  A regra de formação de preços P das empresas segue a fórmula geral: P = (1+)(W/a), onde  > 0 é o mark up médio da economia, W é o salário nominal médio e “a” > 0 é a produtividade média do trabalho, definida como: 4 A rigor, a nomenclatura mais correta seria “margem bruta de lucro”, mas, para evitar confusões conceituais, usaremos o termo mais impreciso. 5 Em uma economia aberta, como se verá em Macro 3, há que se levar em conta os custos dos insumos importados e o efeito da concorrência das empresas que operam no exterior. Ambos são influenciados pela taxa de câmbio. 6 Federais, estaduais ou municipais. Q aN > E esta a formula que gera a curva de oferta agregada, sao estes trés elementos que determinam os pre¢os. Portanto, os precos serao maiores quanto: > Maior a margem bruta de lucro u; > Maior o salario nominal médio W; > Menor a produtividade média do trabalho “a’”’; e vice-versa. = Duas perguntas importantes: > Quais sao os determinantes desses 3 fatores? > Como variacoes no nivel de producao Q afetam esses trés fatores e, portanto, Os precos? Isto permite entender a inclinagao da curva OA. > Determinantes do mark up médio (y) 1. “grau de monopolio” médio ou grau de concorréncia médio da economia (dos diversos setores que a compoe): quanto maior o grau de monopdlio médio (menor o de concorréncia), maior 0 mark up, e vice-versa; 2. Politicas e instituig¢des governamentais e sociais de “defesa da concorréncia” (Brasil: CADE, Procons, etc.) e leis anti-monopolio, anti-cartel, etc.; quanto mais fortes e rigorosas tais institui¢des, menores os mark ups, e vice-versa; 3. Nos setores flex, os mark ups sao sensiveis 4 demanda (e portanto aos niveis de producao/renda real Q): quanto maior a demanda (e portanto Q) maior o mark up médio; e vice-versa’; 4. Custos tributarios (federais, estaduais ou municipais): como constituem cus- tos para as empresas, tendem a ser repassados aos precos através de mark ups mais altos; portanto, quanto mais altos tais custos, maiores os mark ups mé- dios; e vice-versa; e€ 5. Custos fixos unitarios: quanto maior o produto Q, menor 0 custo fixo unitario® e portanto menor 0 mark up médio. e Resumindo: 0 mark up médio (1) sera considerado independente da quan- tidade demandada. e Estamos supondo, em linha com a literatura convencional contemporanea, que as causas de variacao 3 e 5 mais ou menos se compensem’. e Mudangas nos demais fatores serao considerados causadores de variagdes ex0- genas no mark up: H=H TA rigor, como visto em Macro 1, 0 termo mark up so se aplica aos setores fix. O termo equivalente correto para seto- res flex seria margem de lucro bruta. Para evitar confus6es conceituais, porém, manteremos a mesma denominagao. 8 Na faixa economicamente eficiente de producio, isto é, para niveis de produgdo menores do que ou iguais a Qp. ° O resultado obtido por Kalecki (1954), porém, de que o efeito 5 seja em média um pouco superior ao 3 para a maioria das economias, implicando margens brutas de lucro anticiclicas, parece respaldada por parte da literatura econométrica. 7 > Determinantes do salario nominal (médio) (W) 1. Taxa de desemprego (u): quanto menor a taxa de desemprego, maior o poder de barganha dos trabalhadores em relacao aos empregadores, e maior o salario nominal médio; e vice-versa (lembre-se quanto maior o nivel de producao, maior o nivel de emprego e, dado o tamanho da Populagéo Economicamente Ativa (PEA), menor a taxa de desemprego); 2. Fatores institucionais, legais e organizacionais (1): em cada pais, o Estado interfere nas negociagoes entre patroes e empregados através de uma série de mecanismos institucionais que afetam o poder de barganha dessas partes nas negocia¢oes, tais como: grau de prote¢ao aos trabalhadores na legislagao traba- lhista; valor do salario-minimo; valor e periodo de pagamento do seguro- desemprego; valor e cobertura de programas tipo bolsa-familia; grau de orga- nizacao dos sindicatos trabalhistas e patronais; etc. Em geral, quanto mais fa- voravel aos trabalhadores forem tais fatores institucionais (1), maior 0 poder de barganha dos trabalhadores nas negocia¢oes salariais e, portanto, maior o sala- rio nominal médio; e vice-versa; 3. Precos esperados no futuro (P*): o que interessa tanto para os capitalistas quanto para os trabalhadores as partes em negociagao nao é propriamente o sa- lario nominal, mas o real; por outro lado, no momento em que o contrato sala- rial € assinado, nao se sabe ao certo 0 que acontecera com os precos no futuro, ha apenas expectativas; portanto, de modo geral, quanto maior a expectativa de precos para o futuro, maior o salario nominal médio; e vice-versa; 4. Produtividade média do trabalho (a): quando a produtividade do trabalho aumenta, os empregados dispdem de mais poder de barganha para demandar aumentos salariais dos empregadores. Estes, por sua vez, podem aumentar sa- larios em linha com os aumentos de produtividade, sem alterar portanto os cus- tos salariais unitarios e sem pressionar seus precos. e Sintetizando todos esses fatores, 0 salario sera determinado pela expressao: W = (W, — W,w)aP*l, em que Wo, W; > 0 sao parametros, 0 ultimo mede a sensibilidade dos salarios nominais a alteracdes na taxa de desemprego’’. e Resumindo: os salarios nominais (W) serao considerados funcao direta: o Do nivel de produto Q; o Dos precos esperados P*; e o Dos fatores institucionais que aumentam o poder de barganha dos trabalhadores (1). > Determinantes da produtividade média do trabalho (a = Q/N) '0 Para que W > 0, é preciso que Wy — W,u > 0, ou que Wy > Wyu. Como o valor maximo concebivel de u é 1, segue-se que Wy > Wj. 8 > Fatores estruturais: grau de avanco tecnologico; qualificagaéo média da mao-de- obra; estoque de capital; etc.; quanto maiores tais fatores, maior sera a produti- vidade média do trabalho, e vice-versa; contudo, sao todos exdégenos no curto prazo marshalliano em que estamos trabalhando; > Fatores naturais e politicos: variagdes climaticas (secas, geadas, etc.) disponibi- lidade de recursos naturais; estrutura regulatoria, que pode gerar “apagdes’”, de- va . ll ficiéncias de infraestrutura, etc. °. > Resumindo: a produtividade média do trabalho (a) sera considerada inde- pendente da quantidade produzida. > Mudangas em fatores naturais, etc., serao tratadas como exogenas. a=a > Para uma sintese dos fatores que determinam o processo de formagao de precos, vide 0 arquivo auxiliar “Formacao de pre¢cos = lado da oferta agregada”’. = Como variacoes no nivel de produc¢ao (Q) afetam o mark up médio (1), 0 salario nominal médio (W), a produtividade do trabalho (a) e, portanto, 0 nivel geral de precos (P)? Vimos que quando Q aumenta: >» A margem de lucro bruta nao apresenta clara tendéncia de aumento ou dimi- nuicao; > Os salarios nominais tendem a subir, pois 0 nivel de emprego aumenta e a taxa de desemprego cai, aumentando o poder de barganha dos trabalhadores; > A produtividade média do trabalho também nao apresenta clara tendéncia de aumento ou diminuicao; > Portanto, a funcao oferta agregada é assumida como positivamente inclinada: os salarios médios tendem a aumentar conforme producao e emprego crescem (a taxa de desemprego cai), aumentando o custo salarial das empresas, que tendem a elevar precos para recompor seus mark ups. => Matematicamente: _ aPe] (Wo —_ W, u) P = [1 + pf] |} ——_- a ou ll _ Frequentemente a literatura convencional identifica fatores conjunturais como também capazes de afetar a produtivi- dade em resposta a variagdes do nivel de producao Q, como: a) a lei neoclassica da produtividade fisica marginal de- crescente do trabalho no curto prazo (criticada por Sraffa); b) o fato dos trabalhadores serem contratados em ordem decrescente de qualificacaéo, das terras serem usadas em ordem decrescente de fertilidade, e das maquinas serem empe- gadas em ordem decrescente de idade/safra tecnologica; c) o fato de aumentar o numero de setores da economia que apresentam “gargalos” ou “estrangulamentos” (dificuldade em aumentar a producao sem diminuir a produtividade) devido a escassez de insumos ou equipamentos especializados, quando a producgao aumenta. Todos esses fatores suge- rem que a produtividade pode reagir negativamente ao crescimento da producao. Contudo, estimativas empiricas suge- rem que esses efeitos, ao menos em uma economia moderna, nao parecem significativos, do que resulta uma tendéncia contemporanea a se trabalhar com produtividade marginal constante no curto prazo. 9 P = [1+ ][Pel(Wo — W,u)] e Podemos ainda alterar essa expressao, estabelecendo-a diretamente como uma re- lacgao entre P e Q. Basta lembrar que: Np-—N N u = ——_ = 1 -—- — Np Np em que Np € a Populacao Economicamente Ativa (ou tamanho da forga de trabalho) e N € 0 nivel de emprego. Substituindo essa expressao na formula anterior, resulta: p= c+ {af —w,(1-©)f = ee 0 1 Np e Aplicando agora a definicao de produtividade anteriormente utilizada, chegaremos a expressao que representa nossa fungao oferta agregada de curto prazo: __Q Q Qp BN OP ES Q P = {1+ p}4Pel]W, —W, | 1-— { [} 0 1 Qp a ** Inclinacao: oP (1+ p)W,PE®l —_ = (+ WW,Pel > 0 dQ Qp “* Coeficiente linear = P(Q=0) = [1 + f][Wo — W,(1 — 0)]P¢l P(Q=0) = (1 + 1) (Wy — W,)P Pl > Repare que, como Wo > Wj, 0 coeficiente linear é sempre positivo. > Repare também que pt, W,, P* e | afetam tanto a inclinacéo quanto o coeficiente linear, tornando a distin¢ao entre eles secundaria. No que segue, portanto, fala- remos dos termos exdgenos que ampliam ou reduzem a oferta agregada, sem nos preocuparmos em distinguir fatores que mudam a inclinacao dos que alte- ram 0 coeficiente linear. 10 11 4. DETERMINAÇÃO SIMULTÂNEA DA PRODUÇÃO E DOS PREÇOS: O EQUILÍBRIO NO CURTO PRAZO  Equilíbrio no curto prazo: curva de oferta “keynesiana convencional”:  Mercados financeiros (de moeda) e de bens em equilíbrio, mas não o mercado de trabalho;  Ponto de equilíbrio referente ao nível de produção, que determina o nível de emprego, pode localizar-se tanto na região em que há excesso de oferta de tra- balho (Q < Qp) quanto naquela em que há excesso de demanda por trabalho (Q > Qp).  Graficamente:  Para a estrutura lógica do modelo, vide arquivo auxiliar “Estrutura lógica OA- DA”.  Para sua solução matemática, vide arquivo auxiliar “Solução matemática OADA”. 5. EXERCÍCIOS DE ESTÁTICA COMPARATIVA 5.1. VARIAÇÃO DA DEMANDA AGREGADA  Efeitos dos deslocamentos da curva de demanda agregada sobre o equilíbrio:  Se a curva de demanda agregada DA deslocar-se para cima e para a direita (ex- pansão da demanda agregada):  A demanda agregada aumenta12, desencadeando aumento das vendas, redução dos estoques e aumento da produção/renda real. Este, por sua vez, retroalimen- 12 Conforme o fator que dá início à expansão da demanda, o processo pode ser diferente, mas esses detalhes foram tra- tados no modelo IS-LM. Aqui estamos particularmente preocupados com os efeitos sobre produção e preços. P0 Q0 Qp Q P OA DA DA0 DA1 Q Q1 Q0 P0 P1 P OA 12 ta a expansão inicial da demanda agregada através do consumo (efeito multi- plicador).  O aumento da produção leva as empresas a contratar maior quantidade de tra- balhadores, acarretando a elevação do nível de emprego. Dado o tamanho da População Economicamente Ativa (PEA), ocorre queda da taxa de desempre- go.  A queda da taxa de desemprego amplia o poder de barganha dos trabalhadores vis-à-vis os empresários, acarretando aumento de salários nominais. Contudo, como esses representam custos das empresas, o aumento dos custos levará as empresas a repassar tal aumento aos preços, elevando-os para preservar seus mark ups.  Repare que o aumento dos preços reduz o ímpeto da expansão, na medida em que o consequente aumento da demanda por moeda13 eleva a taxa de ju- ros, reduzindo o investimento e amortecendo o efeito inicial de expansão da demanda agregada.  Em suma, o choque em questão promove aumento da produção, mas ela é acompanhada por aumento dos preços.  Perceba, portanto, que tanto a política monetária quanto a fiscal (e também os choques de demanda) são mais fracos neste modelo do que nos anteriores, já que agora parte de sua potência se dispersa em aumento de preços. 5.2. CHOQUE DE OFERTA  Definição: Considera-se choque de oferta qualquer mudança em variáveis econô- micas exógenas (exceto Pe) que provoquem deslocamentos na curva de oferta agregada.  Graficamente:  Choques de oferta favoráveis deslocam a curva de oferta agregada de curto prazo para a direita e para baixo, e vice-versa.  Observação: os choques de oferta estudados neste modelo são temporários. No tópico seguinte serão tratados os efeitos de choques de oferta permanen- tes. 13 Também como no modelo IS-LM, o próprio aumento da renda real ajuda a compor esse efeito. Choque de oferta desfavorável ou ↑Pe OA2 OA1 OA0 Choque de oferta favorável ou ↓Pe Q P 13  Fatores que provocam choques de oferta neste modelo:  Favoráveis ou positivos:  Redução dos mark ups:  Por motivos estruturais, como por exemplo devido ao aumento do grau médio de concorrência no país, e conseqüente queda do poder de merca- do (ou “monopólio”) das empresas nele instaladas;  Por políticas governamentais mais ativas de defesa da concorrência;  Pela redução de impostos cobrados de empresas e/ou tarifas públicas e/ou preços públicos;  “Choque salarial” favorável, isto é, redução dos salários nominais não de- corrente de mudanças na taxa de desemprego nem em Pe, mas provocado pela redução exógena do salário mínimo, do salário-desemprego ou do va- lor das “bolsas” e de outros fatores institucionais (l);  Aumento da produtividade através de seus componentes estrutural e/ou naturais e políticos:  Avanços tecnológicos, aumento na qualificação dos trabalhadores e ou- tros fatores que afetem o componente estrutural da produtividade;  Melhoria de fatores naturais e/ou melhoria de aspectos regulatórios:  Exemplos: ano meteorologicamente excepcional para a agricultura provoca supersafra agrícola e queda de preços; normalização da ofer- ta de energia provoca fim do “apagão”; etc.  Simetricamente, provocam choques de oferta desfavoráveis ou negativos os fa- tores contrários.  Exemplo: efeitos de um choque de oferta desfavorável sobre o equilíbrio de curto prazo:  Suponha que, por qualquer destes vários motivos exógenos, ocorra um choque de oferta desfavorável. O consequente aumento dos preços coloca em operação uma sequência de eventos que explica a queda do produto:  Aumenta a demanda por moeda, a qual, dada a oferta da mesma, provoca au- mento da taxa de juros. Este, por sua vez, reduz os investimentos, desencade- ando redução da demanda agregada e das vendas, com o consequente aumento de estoques e redução de produção/renda real. OA1 OA0 DA Q0 Q1 P0 P1 Q P 14  O efeito multiplicador, operando no sentido recessivo, reforça o efeito inicial da contração14.  A economia passa então pela chamada “estagflação”: queda da produção e do emprego acompanhada por aumento dos preços.  Mudanças exógenas no nível de preços esperado Pe provocam efeitos sobre a eco- nomia (produção, emprego, preços, etc.) similares aos choques de oferta, mas não são denominados propriamente “choques de oferta”. Veremos no próximo tópico que, no longo prazo, Pe varia endogenamente. No curto prazo, pode-se referir a suas variações como “choques expectacionais”.  Observação: o modelo em questão não considera o impacto de variações dos salá- rios nominais diretamente sobre a demanda agregada, apenas sobre a oferta agre- gada. Mais adiante veremos que este aspecto terá impactos importantes sobre a forma de interpretar o funcionamento da economia15. 6. DEBATE: INFLAÇÃO DE DEMANDA VERSUS INFLAÇÃO DE CUSTOS  Em princípio, um aumento de preços no modelo de oferta e demanda agregada pode ser causada por:  Aumentos da demanda agregada, isto é, deslocamentos da curva de demanda agregada para cima e para a direita, originária de:  Políticas monetárias expansionistas;  Políticas fiscais expansionistas;  Choques de demanda favoráveis;  Choques financeiros favoráveis.  Reduções da oferta agregada, isto é, deslocamentos da curva de oferta agregada para a esquerda e para cima, originária de:  Choques de oferta desfavoráveis;  Aumento dos preços esperados para o futuro (↑Pe).  Há agora portanto duas possíveis fontes de pressões inflacionárias. Quando as pressões inflacionárias eram decorrentes de excesso de demanda agregada (Q > Qp), como nos modelos anteriores, a prescrição de política econômica era simples: reduzir a demanda agregada, mediante políticas monetárias e/ou fiscais contracio- nistas, até trazer a economia de volta a Qp. A lógica é a mesma demonstrada abai- xo: 14 A gravidade da crise pode ser amenizada por dois fatores: 1) a queda da renda real reduz a demanda por moeda, ame- nizando a elevação da taxa de juros; 2) a queda da produção reduz o emprego e eleva a taxa de desemprego, reduzindo salários nominais (custos), amenizando as pressões estagflacionárias. 15 Este aspecto do modelo é defendido com base em um trabalho empírico do economista Robert Solow. Em estudo aplicado à economia estadunidense, este autor chegou à conclusão de que, no período estudado, o efeito de uma varia- ção dos salários nominais sobre o consumo era estatisticamente insignificante. Outros economistas contestam tal resul- tado. 15  Se a economia encontra-se inicialmente no ponto 0 (P0, Qp) e sofre um desloca- mento da demanda agregada de DA0 para DA1 – em consequência, digamos, de um choque “favorável” de demanda -, ela superaquecerá, e seu equilíbrio de curto pra- zo passará a ocorrer no ponto 1 (P1, Q1). Neste caso, indubitavelmente, a terapia correta consiste em trazer a economia de volta para o ponto 0 através de uma polí- tica contracionista – digamos, uma política monetária contracionista (↓Ms).  Considere, porém, a possibilidade de que a pressão sobre os preços seja originária de um choque de oferta desfavorável, ou seja, de um deslocamento da função ofer- ta agregada para cima e para a esquerda, de OA0 para OA1 – digamos, em conse- quência de um “choque do petróleo” ou mesmo de um aumento do salário mínimo. O resultado é o abaixo ilustrado: o choque de oferta desfavorável tem efeitos “es- tagflacionários” sobre a economia, fazendo com que ela simultaneamente eleve os preços e reduza produção/renda real, transitando do ponto A (P0, Q0) para o ponto B (P1, Q1). Trata-se agora de “inflação de custos” (ou de oferta), e não de demanda.  Suponha que se tente tratar tal fenômeno como se fosse uma inflação de demanda, aplicando, como no caso anterior, uma política monetária contracionista destinada a trazer de volta os preços a P0. Como se pode perceber no gráfico abaixo, o trata- mento, se adequadamente dimensionado, realmente é capaz de fazer com que o ní- vel de preços volte a P0 (ponto C). Perceba, porém, que o resultado no curto prazo é piorar ainda mais o desemprego, na medida em que a referida política reduz ain- da mais o nível de produção/renda real (de Q1 para Q2) e portanto o emprego. 1 0 P1 P0 Qp Q1 Q P OA DA0= DA2(↓Ms) DA1(↑A) B A OA1 DA0 P1 P0 Q1 Qp Q P OA0 16  Assim, a tentativa de tratar uma inflação de custos com instrumentos desenvolvi- dos para o tratamento da inflação de demanda pode dar resultados muito ruins. Uma alternativa consistiria em tentar reconduzir a economia ao ponto Qp mediante políticas expansionistas, que desloquem o equilíbrio para o ponto D (P2, Qp) ao in- vés de C. Como se pode perceber no gráfico abaixo, o tratamento, se adequada- mente dimensionado, realmente é capaz de fazer com que o nível de produ- ção/renda real volte a Qp, deslocando a curva de demanda de DA0 para DA1 medi- ante, digamos, uma política monetária expansionista (↑Ms). Perceba, porém, que o resultado no curto prazo é aumentar ainda mais as pressões inflacionárias, na me- dida em que a referida política eleva o nível geral de preços de P1 para P2:  Economistas mais keynesianos argumentam que esta solução é melhor – ou menos ruim – que a anterior, na medida em que o aumento de preços seja considerado um “mal menor” que o desemprego do ponto de vista social.  Tal argumento é combatido com base nas seguintes ideias: 1) o choque de oferta pode ter também impactos sobre o ponto Qp – como veremos no próximo tópico; 2) a política em questão só funcionará se não for esperada; se os trabalhadores es- tiverem esperando o aumento de preços (aumentarem antecipadamente Pe) e por- tanto de salários nominais, poderia desencadear-se um novo deslocamento da fun- ção oferta agregada e um círculo vicioso do tipo: os preços aumentam, os salários aumentam, os preços aumentam novamente, e assim por diante; este é o argumento das expectativas racionais, que também examinaremos nos próximos tópicos. Q2 C B A DA1(↓Ms) OA1 DA0 P1 P0 Q1 Qp Q P OA0 D B A P2 DA1(↑Ms) OA1 DA0 P1 P0 Q1 Qp Q P OA0 17  Em tese, a solução correta para o choque de oferta desfavorável consistiria em ten- tar deslocar a curva de oferta agregada de volta ao ponto de partida A, como mos- tra o gráfico abaixo:  A solução permitiria, se adequadamente dimensionada, reduzir o nível de preços de volta a P0 e, ao mesmo tempo, reconduzir o nível de produção/renda real a Qp. Contudo, intervenções de política econômica sobre a curva de oferta agregada são consideravelmente mais complicadas de conceber e executar que mudanças na de- manda agregada. 7. CONCLUSÕES  O presente modelo avança bastante no sentido da interpretação dos fenômenos ma- croeconômicos da economia.  Em especial, ele permite um estudo razoável das complexidades do processo de formação de preços e sua relação com o processo de determinação da produ- ção/renda real e emprego.  Contudo, o modelo ainda deixa sem resposta uma série de questões da maior im- portância para sua completa compreensão.  Em primeiro lugar, as expectativas de preços Pe são tratadas como exógenas, o que é uma simplificação. Se os preços aumentam, não é provável que as expec- tativas de preço não mudem em resposta ou mesmo em antecipação a esse au- mento.  Em segundo lugar, o modelo supõe que não haja emissão continuada de moeda e, portanto, inflação continuada. O modelo é compatível apenas com aumentos únicos de preços por período (“choques de preços”). A interpretação correta do modelo – aumentos ou reduções de preços em relação ao preço esperado Pe – é difícil de visualizar.  Em terceiro lugar, ainda não examinamos os fatores que podem afetar Qp, nem os mecanismos de reequilíbrio automático da economia ao produto potencial, nem o que acontece com a economia no longo prazo macroeconômico.  Tentaremos cobrir tais questões nos próximos tópicos. B A OA1 DA0 P1 P0 Q1 Qp Q P OA0 = OA2 18  Além disso, várias vertentes heterodoxas questionam aspectos desse modelo:  Se, ao contrário do suposto no modelo IS-LM, a variável de controle da política monetária for a taxa de juros básica ao invés da quantidade de moeda, e os spreads forem insensíveis ao produto, os efeitos Keynes e Pigou não funcionariam.  A curva de demanda agregada se tornaria vertical.  Além disso, é preciso considerar o fato de que a taxa de juros também representa um custo, e como tal, pode afetar os preços da forma inversa à prevista pelo mode- lo: uma elevação da taxa de juros (resultante de uma política monetária contracio- nista) poderia, sob certas circunstâncias, elevar os preços, e não reduzi-los!  Se a função consumo incluísse a distribuição de renda entre trabalhadores e empre- sários (através do salário real) como parâmetro, a função demanda agregada seria negativamente inclinada por motivos (heterodoxos) diferentes dos motivos Keynes e Pigou: aumentos de preços provocariam queda de salários reais, cortando o con- sumo dos trabalhadores, a demanda agregada e os níveis de produção e emprego.  Ademais, neste caso mudanças nos salários nominais poderiam também afetar a função demanda agregada.  Como veremos no Tópico 6, contudo, a introdução do efeito do salário real sobre o consumo gera resultados diferentes (e importantes) do modelo hetero- doxo em relação ao ortodoxo no que concerne à transição do curto para o lon- go prazo.