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Ciências Biológicas ·

Filosofia da Educação

· 2023/2

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1 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Instituto de Educação IE 383 – Filosofia da Educação (2023.2) Prof. Fernando Bonadia de Oliveira Turma 8 AVALIAÇÃO ESCRITA Atenção: Escolha, das cinco questões, duas para responder. Na resposta, identifique o arquivo (em .doc e .pdf) com nome completo, curso e turma. Envie as respostas, por favor, até o dia 22/11/2023 às 23:59 para o e-mail fernandobonadia@hmail.com Questão 01: Estabeleça um comentário ao texto II a partir do texto I, levando em consideração as bibliografias e os temas tratados na Unidade 2 do curso. O núcleo do comentário deve abordar o problema da educação. Texto I: Quanto ao Tales, considerado como o primeiro filósofo, teria declinado o qualificativo “sophos” (sábio) por lhe considerar pretencioso, preferiu um mais adequado, o de “philo-sophos”, aquele que ama a sabedoria, amigo do conhecimento. Para além disso, o termo “sophos/shophia” não tem etimologia em língua grega. Tratar-se-ia então de uma raiz emprestada do egípcio “seba”, cujo significado é “instruir, ensinar, educar”. [...] O mesmo historiador da filosofia, Diógenes Laércio, ensina-nos que, segundo Anaxágoras de Clazômenas, no princípio, “as coisas estavam no caos; a inteligência surgindo fez dele um mundo organizado. É por isso que ela recebeu o nome de inteligência”. Essa “inteligência” responsável por fazer o caos primordial em um mundo organizado recebera denominação de Nous, uma palavra que não tem nenhuma raiz grega e que seria então a simples repetição do conceito egípcio de Nun (o oceano primordial de onde brotará o demiurgo) (Somet, Toporeka. O Egito Antigo: as origens do monoteísmo, da filosofia e do Estado. Tradução: C. de Oliveira Amaral; Revisão técnica: Alain Pascal Kaly, s/d, p. 10 – levemente modificado). Texto II: [...] Antes dos gregos havia homens: mas não havia género humano; pois só na Grécia emerge uma consciência do humano como tal, ou, mais justamente, só na Grécia emerge uma cons- ciência do humano como precisamente um gênero. E a verdade é que, se para nós próprios existe género humano “antes” da Grécia, é porque também nós olhamos para esse passado de um modo grego, isto é, é porque também nós somos partícipes de uma herança que é grega. [...]. Numa palavra, pois, também para nós a Grécia é origem “não só da filosofia, mas do próprio género humano”. [...] A história antes dos gregos é para nós, em sentido forte, uma pré-história, na acepção do que fica para trás de uma ruptura inaugural e com o qual o que então começa não possui nenhuma ligação, nenhum reconhecimento de afinidade, nenhuma filiação, nenhuma solução de continuidade” (Mesquita, Antônio Pedro. Há filosofia antes dos gregos? Archai, n. 13, jul. – dez. 2014, p. 14). Questão 2: Em seu comentário ao Alcibíades I de Platão, Foucault reconhece que isolou três temas: 1) “a relação entre o cuidado de si e a preocupação com a vida política”; 2) “a relação entre o cuidado de si e a ideia de uma educação defeituosa”; 3) “a relação entre o cuidado de si e o conhecimento de si”. Em seguida, ele afirma: 2 Esses três temas os encontramos em Platão, mas também ao longo de todo o período helenístico e, quatro ou cinco séculos mais tarde, em Sêneca, Plutarco, Epíteto e outros. Se os problemas permanecem os mesmos, as soluções propostas e os temas desenvolvidos diferem dos significados platônicos, e muitas vezes se opõem. Primeiramente, ocupar-se de si na época helenística e sob o Império não constitui somente uma preparação para a vida política. Ocupar-se consigo tornou-se um princípio universal. Deve-se afastar da política para melhor ocupar-se consigo mesmo. Em segundo lugar, cuidar de si mesmo não é simplesmente uma obrigação da qual se incumbem as pessoas jovens preocupadas com sua educação; é uma maneira de viver, da qual cada um deve se incumbir ao longo de sua vida. Em terceiro lugar, mesmo se o conhecimento de si tem um papel importante no cuidado de si, outros tipos de relações estão também envolvidos (Foucault, M. As técnicas de si. In: Dits et Écrits. Paris: Gallimard, 1994, levemente modificado, grifos do professor). Em certo sentido do pensamento antigo (conforme concebido por Foucault), cuidar ou se ocupar de si é um aprendizado fundamental na formação do cidadão. Por outro lado, é uma tarefa fundamental de todo ser humano. Em aula, vimos como o cuidado de si pode ser pensado na formação de professores. Comente a respeito do papel ou da dimensão da educação nas práticas de cuidado de si. Questão 03: Seguem abaixo dois textos sobre a infância na história. Texto I A visão platônica da infância se enquadra, então, em uma análise educativa com intencionalidades políticas. Platão não faz da infância um objeto de estudo em si mesmo relevante. (...) A infância não é, enquanto infância, um problema filosófico relevante para Platão. Não há em seus diálogos uma particular atenção em retratar as características psicológicas da infância (...). A infância é um problema filosoficamente relevante na medida em que se tenha de educá-la de maneira específica para possibilitar que a pólis atual se aproxime o mais possível da idealizada. Dessa maneira, Platão inventa uma política (no sentido mais próximo de sua etimologia) da infância, situa a infância em uma problemática política e a inscreve no jogo político que dará lugar, em sua escrita, a uma pólis mais justa, mais bela, melhor. (KOHAN, Walter. Infância e educação em Platão. Educação & Pesquisa, v. 29, n. 1, jan./jun. 2003, p. 14). Texto II Embora as condições demográficas não tenham mudado muito do século XII ao XVII, embora a mortalidade infantil se tenha mantido num nível muito elevado, uma nova sensibilidade atribuiu a esses seres frágeis e ameaçados [as crianças] uma particularidade que antes ninguém se importava em reconhecer: foi como se a consciência comum só então descobrisse que a alma da criança também era imortal. (ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981, p. 61). A partir dos conhecimentos veiculados no curso e das bibliografias disponíveis, compare a concepção antiga e a concepção moderna da infância, articulando as diferentes formas de conceber a escola em cada um desses momentos. Questão 04: No início do curso discutimos sobre a educabilidade do ser humano. Aponte ao menos duas semelhanças entre as visões abaixo sobre o fundamento da educação do ser humano. Posicione-se em favor de uma delas, defendendo-o como a mais realista do ponto de vista da prática educativa. 3 Texto I “A educação é ela própria uma tarefa impossível. Ela é, segundo Rousseau, uma arte – não uma ciência! – cujo êxito é improvável, porque jamais seremos capazes de controlar o concurso de todos os mestres. Mas isso não a torna menos relevante. O ser humano nasce fraco, carente de tudo, e só a educação faz com que ele desenvolva os meios para a sobrevivência. ‘Tudo o que não temos as nascer e de que precisamos quando grandes nos é dado pela educação’ (Rousseau). Uma situação paradoxal e que reflete bem o estado permanente da educação: ela nunca será capaz de cumprir plenamente o que dela se espera ou o que ela promete. Mais do que isso, quanto melhor sucedida ela for, mais ela correrá o risco de fazer do ser humano o que ele talvez nunca deveria ser” (Streck, Danilo. O(s) sentido(s) da educação. In: ________. Rousseau & a educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2008, p. 30). Texto II “Educar é formar adultos, isto é, seres livres, responsáveis por si mesmos; a educação deve, pois, excluir todo o constrangimento do educador sobre o educando. Mas uma educação sem constrangimento, longe de libertar a criança, entrega-a a todas as influências e deixa-a desarmada perante as suas pulsões. Será então preciso admitir que o adulto se forma não pela educação que recebe, mas contra ela?” (Oliver Reboul, citado em Furtado, Rita Marcia Magalhães. A antinomia disciplina/liberdade na concepção kantiana de educação. In: Proceedings of the 4. Colóquio do LEPSI IP/FE-USP, 2002.). Questão 05: Nos dois textos abaixo a infância é considerada. Sêneca, filósofo estoico, aponta quais devem ser os cuidados com o crescimento da criança. Agostinho, pensador cristão, explica certa medida pedagógica que a geração adulta tomava durante sua própria educação. Relacione a citação de Sêneca a algum princípio da filosofia estoica, e a citação de Agostinho a alguma tese da doutrina filosófica cristã. Finalmente, compare as duas formas de pensar a infância que estão anunciadas nos textos. Texto I Será de grande proveito, afirmo-te, que as crianças tenham desde logo uma educação saudável. É difícil, porém, conduzi-las, porque devemos ter cuidado para não nutrirmos nelas a ira ou não abatermos sua índole. (...) Cresce, na liberdade, o espírito; na servidão, ele se abate; eleva-se quando recebe elogio e é levado a ter confiança em si, mas essas mesmas ações geram insolência e iracúndia. Assim, é preciso conduzir o espírito da criança entre um e outro procedimento, de tal maneira que ora utilizemos os freios, ora as esporas. Não se lhe permita nada que seja humilhante ou servil. Nunca lhe seja necessário suplicar, nem lhe seja útil pedir; antes se faça concessão a uma de suas demandas em vista não só de suas ações anteriores, mas de suas boas promessas para o futuro (SÊNECA. Sobre a ira. São Paulo: CIA das Letras, 2004). Texto II Ó Deus, meu Deus, que sofrimentos e desilusões padeci, quando ao menino que eu era propunham que o ideal da vida era obedecer aos mestres para prosperar neste mundo. (...) Fui enviado à escola para aprender as primeiras letras. Para minha infelicidade não entendi a utilidade desse trabalho; mas, se me mostrava preguiçoso, era castigado à vara. Era um sistema recomendado por adultos, e muitas crianças antes de nós, que tiveram essa experiência, haviam aberto o doloroso caminho que agora éramos obrigados a percorrer (...). Assim, ainda menino, comecei a dirigir-me a ti, como a meu rochedo e meu refúgio; rompiam em mim os nós da língua ao invocar-te; eu era pequeno ainda, mas era grande o fervor com que te implorava para que me evitasses os castigos escolares. E quando não me atendias, o que era para o meu bem, os adultos e até os meus próprios pais, que não me desejavam o menor mal, riam-se dos açoites, o que constituía então para mim grande e profundo suplício (AGOSTINHO. Confissões [Livro I]. São Paulo: Paulinas, 1984).