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Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 3 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA PERFIS DOS CONTROLLERS AUTONOMIA E ENVOLVIMENTO DOS PROFISSIONAIS DE CONTROLADORIA Gustavo Henrique Costa Souza1 Cláudio de Araújo Wanderley2 Kate Horton3 Resumo Objetivo Partindo de dois perfis específicos bean counters e business partners o estudo possui três objetivos primeiro identificar quais as principais atividades desempenhadas por controllers atuantes no Brasil segundo discernir qual destes perfis destacados é predominante e terceiro identificar se a autonomia e o envolvimento dos controllers estão associados ao tamanho e à descentralização da organização em que atuam Método A coleta de dados se deu por meio da aplicação de um questionário o qual foi remetido por email aos controllers membros da Associação Nacional dos Executivos de Finanças ANEFAC Resultados Foram validamente respondidos 111 questionários taxa de resposta de 1862 os quais evidenciaram que entre as atividades dos controllers predominam análise de relatórios financeiros controle de desempenho gerencial escrituração e monitoramento fiscal apontando para uma prevalência do perfil bean counter 745 da amostra A descentralização também se mostrou positiva e significante tanto em relação à autonomia quanto em relação ao envolvimento Contribuição A identificação da descentralização como um fator organizacional associado à autonomia e envolvimento dos controllers contribui com o entendimento acerca dos direcionadores da atuação destes profissionais A identificação de suas tarefas e a caracterização do seu perfil oferecem um pano de fundo para investigações futuras sobre o processo de redefinição de papéis e atribuições dos controllers Palavraschave Controller Controladoria Contabilidade Gerencial Envolvimento Autonomia 1 gugahcsgmailcom Universidade Federal de Pernambuco RecifePE Brasil httpsorcidorg0000000315361629 2 claudiowanderleyufpebr Universidade Federal de Pernambuco RecifePE Brasil Brasil httpsorcidorg000000024559176X 3 khortonrsmnl Universidade Federal de Pernambuco RecifePE Brasil Brasil httpsorcidorg0000000255420569 DOI httpdxdoiorg1014392asaa2020130301 Artigo submetido em 16042020 Revisões requeridas em 16062020 Aceito em 20082020 Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 4 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA CONTROLLERS PROFILES AUTONOMY AND INVOLVEMENT IN THE MANAGEMENT ACCOUNTING PROFESSION Abstract Objective Focusing on two specific controllers profiles bean counters and business partners the study has three objectives first to identify the main activities carried out by Brazilian controllers second to discern which of these highlighted profiles is predominant in the Brazilian context and third to identify whether the autonomy and involvement of the controllers is associated with the size and level of decentralization of the organization Method Data collection was based on a questionnaire survey The questionnaires were sent by email to controllers who are members of the Brazilian Association of Finance Executives ANEFAC Results Our final sample consisted of 111 controllersmanagement accountants which represented a response rate of 1862 The responses showed that the main activities carried out by the controllers were analysis of financial reports performance management bookkeeping and fiscal monitoring with a majority of accountants enacting the bean counter profile 745 of the sample Our study also shows that the level of organizational decentralization was significantly positively associated with controllers autonomy and business involvement Contribution In general our study contributes to further shed light on the relationship between important organizational factors eg decentralization and autonomy and business involvement in the management accounting profession We believe that by identifying controllers tasks and profiles we can offer interesting future avenues for new investigations on the process of reshaping and reframing management accountants roles and activities Keywords Controller Controllership Management Accounting Involvement Autonomy Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 5 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA INTRODUÇÃO A o delinear a estrutura de competências requerida dos controllers o Chartered Global Management Accountant CGMA afirma nos seus Princípios Globais que tanto as habilidades técnicas relacio nadas a finanças contabilidade e gerência de negócios quanto as sociais relacionadas à liderança e à capacidade de influenciar pessoas são componentes importantes na formação destes profissionais Após apontar estes atributos porém o CGMA 2014 p 14 reconhece que o papel dos controllers está mudando de modo que eles estão cada vez mais exercendo sua influência sobre as decisões da organização e gerando com isto mais impacto sobre o negócio Isto sinaliza que embora haja uma tentativa por parte do CGMA de definir um perfil específico para os controllers o mercado tem uma dinâmica própria que está conduzindo estes profissionais a uma mudança de papéis com consequente transição de perfis Assim em um ambiente de modificações que clama e impõe a reconfiguração dos controllers emerge o desejo e a oportunidade de explorar a essência desta profissão e do seu exercício Seis anos antes desta iniciativa do CGMA Brewer 2008 p 36 discutia uma redefinição da controla doria que passava necessariamente por repensar o papel dos controllers dentro do que ele chamou de uma nova estrutura Segundo Brewer 2008 p 36 a controladoria se assenta sobre quatro pilares quais sejam liderança gestão estratégica alinhamento operacional melhoria e aprendizado contínuos e em última instância a responsabilidade dos controllers é gerar valor para os acionistas Esta perspectiva aliás destoa um pouco da estrutura proposta pelo Chartered Global Management Accountants pois Brewer 2008 utiliza a expressão geração de valor ao passo que o CGMA 2014 adoto um termo mais abrangente geração de impacto Outrossim a dimensão de melhoria e aprendizado contínuos presente em Brewer 2008 não consta no material do CGMA 2014 embora seja razoável crer que ela é um componente natural e importante quando se pensa no processo de formação dos controllers Assim o que se percebe com estes paralelos é a existência de um movimento de aprimora mento conceitual uns componentes são modificados outros excluídos e outros inseridos Mas sempre na perspectiva de melhor definir um escopo para as funções ainda controversas do controller e da controladoria Retrocedendo um pouco mais percebese que a International Federation of Accountants IFAC já segregava a atuação do controller em duas funções distintas a função financeira e a gerencial Sendo que a função financeira correspondia às atividades contábeis e à preparação de demonstrações finan ceiras direcionadas a usuários externos e a função gerencial tinha o seu foco em fornecer informação à gerência da organização para a tomada de decisões internas IFAC 2005 p 12 Esta visão bifuncional é ainda hoje um componente importante para que se compreenda a mudança nos papéis desempe nhados pelos controllers Na sequência após traçar uma perspectiva histórica da evolução da controladoria o IFAC 2005 p 13 afirmou que a tendência é um reposicionamento do papel dos controllers eles têm passado do acompanhamento de informações a papéis mais estratégicos ligados a planejamento e controle Àquela época determinadas áreas já requeriam do controller uma postura diferenciada o Institute of Chartered Accountants in England and Wales ICAEW por exemplo em um relatório intitulado Sustainability The Role of Accountants publicado em 2004 anunciou uma ampliação do papel dos contadores no que diz respeito ao desenvolvimento da controladoria para uso nos relatórios internos de impactos sociais Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 6 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA e ambientais mensuração de performance interpretação da informação e subsequente tomada de decisão ICAEW 2004 p 81 Estas mudanças na controladoria têm sido percebidas e apontadas por diversos estudiosos Fried man Lyne 2001 Lambert Sponem 2012 Vaivio Kokko 2006 Estes estudiosos afirmam que elas impactam naturalmente naqueles que trabalham nesta área tanto nas funções que desempenham quanto nos perfis que adotam Burns e Baldvinsdottir 2007 p 117 por exemplo asseveram que estas transformações consistem sobretudo em passar do enfadonho e tedioso papel de registrador ao ex citante e proativo papel de consultor de negócios Youssef 2012 p 1000 por sua vez complementa destacando que a ênfase atual está sendo colocada em papéis de estratégia e tomada de decisões mais que nas áreas mais tradicionais de custeio e análise financeira Embora a literatura aponte neste sentido de transição e de um maior envolvimento do controller com o negócio e com a estratégia empresarial há indícios de que este processo não é uniforme em todas as organizações e nem sequer acontece em todas elas Lambert e Sponem 2012 por exemplo afirmam que não é tão comum encontrar controllers que atuem efetivamente como parceiros do negócio Rahman e Ahmed 2012 por seu turno relatam que a mudança que se tem verificado no papel do controller ocorre predominantemente em grandes empresas com recursos abundantes para impulsionar esta dinâmica As pequenas empresas segundo estes autores ainda resistem por razões diversas a instigar e instrumentalizar este tipo de modificação A literatura acadêmica enfatiza ainda que os indivíduos podem adotar uma postura mais tradicional que na língua inglesa é identificada pela expressão bean counters a qual tipicamente está associada às atividades de registro e acumulação de dados elaboração de demonstrações financeiras análise controle e fiscalização da performance dos gestores operacionais por meio do uso de indicadores finan ceiros Burns Baldvinsdottir 2005 Emsley 2005 ou uma postura mais orientada para estratégia a qual usualmente está ligada a um alto nível de envolvimento com o negócio e um alto grau de cooperação com outras funções da empresa com o objetivo de integrar informações contábeis com indicadores financeiros Burns Baldvinsdottir 2005 Neste caso os controllers são chamados de business partners Embora já algum tempo pesquisas internacionais Byrne Pierce 2007 Gibson 2002 Siegel Sorensen 1999 apontem para uma modificação do papel do controller marcada por uma transição do bean counter para o business partner ainda se faz necessário depreender o modo como determinados fatores externos e internos se relacionam com essa transição da profissão e ainda mais especifica mente como ela se dá em países em desenvolvimento como o Brasil A literatura nacional Palomino 2013 Cardoso Mendonça Neto Oyadomari 2010 Lunkes Gasparet to Schnorrenberger 2010 na esteira de estudos internacionais Lambert Sponem 2012 Verstegen De Loo Mol Slagter Geerkens 2007 tem apontado para um paradoxo entre o perfil de controller que a academia e as associações de classe apresentam e a práxis cotidiana nas organizações embora sejam classificados com business partners os controllers continuam a executar atividades próprias dos bean counters Estudos nacionais também relatam as exigências do mercado quanto ao perfil profissional do con troller Calijuri 2004 Duque 2011 Ferrari Cunha Lunkes Borgert 2013 Mas não arrematam sobre se estas exigências têm sido satisfeitas isto é se o perfil que o mercado espera é de fato o que os control lers demonstram Tampouco se sabe quequais características destas organizações poderiam impactar ou mesmo moldar este perfil Tais contradições e lacunas endossam a necessidade de estudos sobre o assunto e justificam a realização da presente pesquisa aplicada ao contexto brasileiro Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 7 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA Assim uma vez expostas as razões da problemática esta pesquisa busca responder ao seguinte ques tionamento De que forma o tamanho e o grau de descentralização das organizações estão associados com o envolvimento e autonomia características associadas ao perfil business partner dos Controllers 2 CARACTERIZAÇÃO DO CONTROLLER No contexto da profissão contábil o termo perfil foi definido como um conjunto de habilidades maneiras de agir e atuar de um profissional em um determinado contexto Nogueira Fari 2007 p 118 119 Partir desta noção é importante para que se possa avançar na identificação dos perfis de controller que serão apresentados neste estudo A este respeito Byrne e Pierce 2007 empreenderam uma consolidação na qual foram identificadas uma série de competências individuais e de atividades relacionadas ao perfil e à atuação do controller ver Tabela 1 Tabela 1 Competências e atividades do controller Competências Individuais Atividades Conhecimento do negócio Fornecer e interpretar informação Habilidades interpessoais e comunicacionais Apoiar decisões Habilidade com tecnologia da informação Relatar e planejar informações periódicas Flexibilidade Elaborar projetos Qualidades pessoais Fazer análises pontuais Habilidades técnicas Administrar Capacidade de monitoramento Usar técnicas Influência na organização Instruir gerentes de operações Fonte adaptada de Byrne e Pierce 2007 p 488 A partir da identificação destas competências e as atividades se pode estabelecer perfis de controller Notese que o uso aqui sempre será da palavra perfil O emprego do termo identidade foi evitado em consideração à complexidade deste conceito amplamente estudado na psicologia trabalhar com este elemento seria desviar os propósitos deste estudo Pela mesma razão as expressões autoimagem auto percepção foram evitadas no presente texto Em lugar disso optouse por utilizar a expressão perfil cujo sentido foi definido no início desta seção Assim partindo da análise da literatura internacional disponível é possível relacionar uma série de per fis associados ao controller ver Tabela 2 Alguns se assemelham bastante outros soam um tanto quanto pejorativos e outros ainda são tão genéricos que poderiam ser aplicados sem prejuízo de sentido nem confusão de funções a diversos profissionais que atuam na organização e não apenas aos controllers Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 8 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA Tabela 2 Perfis dos controllers segundo a literatura internacional Perfil Referências Característica Predominante Bookkeeper Hopper 1980 Lambert e Sponem 2012 Rahman e Ahmed 2012 e Sathe 1984 Manutenção dos registros contábeis Business consultant Burns e Baldvinsdottir 2005 2007 Assessoria a gestores Decision making facilitator Lambert e Sponem 2012 Habilidade com negociações Hybrid accountant Burns e Baldvinsdottir 2007 e Burns e Scapens 2000 Execução de atividades operacionais e financeiros Moderator Ahrens e Chapman 2000 Mediação entre gestores operacionais e financeiros Scorekeeper Burns e Baldvinsdottir 2007 Capacidade de avaliar desempenho Strategic management consultant Holtzman 2004 Apoio à formulação e execução do planejamento estratégico Corporate policeman Byrne 2010 Supervisão e administração de regras e procedimentos Fonte elaborada pelos autores A este respeito aliás é interessante destacar que alguns autores realizaram comparações entre perfis de controller Assim é que Hopper 1980 contrapõe o perfil que ele chama de bookkeeper a um outro por ele batizado serviceaid cuja descrição se assemelha à do decisionmaking facilitator Também nesta linha comparativa Burns e Baldvinsdottir 2005 comparam o papel de business consultant ao de scorekeeping Além destes há outros autores que vão nomear de modo particular o perfil do controller strate gic partner Ahid Augustine 2012 internal business consultant Burns Vaivio 2001 e modern businessoriented accountant Granlund Lukka 1998 são exemplos disso Houve até quem os cha masse de watchdogs Abernethy Brownell 1999 Järvenpää 2007 Pierce Odea 2003 Rahman Ahmed 2012 Importante ressalvar que a presente pesquisa optou por não aprofundar as colocações destes autores por entender que suas concepções já estão representadas dentro de perfis relacionados na Tabela 2 o internal business consultant citado por Burns e Vaivio 2001 por exemplo já está contemplado dentro do conceito business consultant o modern businessoriented accountant de Granlund e Lukka 1998 pode ser compreendido como equivalente ao decision making facilitator e watchdog citado por tantos autores encontrase espelhado no corporate policeman de Byrne 2010 Burns e Scapens 2000 por sua vez identificaram um perfil muito peculiar de controller os chamados hybrid accountants Mais tarde Burns e Baldvinsdottir 2005 explicaram tratarse de um perfil surgido a partir de 1995 momento em que em algumas organizações multinacionais do ramo farmacêutico os controllers foram alocados junto à linha de produção Eles eram vistos como pessoaschave para impulsionar as mudanças naquela área e também como a representação de uma autoridade capaz de ajudar a manter a estrutura de funcionamento da empresa em linha com sua estratégia Estes contadores híbridos foram didaticamente divididos em dois grupos o dos gestores financei ros híbridos e o dos analistas financeiros híbridos Burns Baldsvindottir 2005 p 739 Esta distinção por si já sinaliza uma segregação entre aqueles que efetivamente atuam sobre o processo de tomada de decisões e aqueles que apenas produzem a analisam informações Os primeiros têm mais ligação com a estratégia do negócio e os últimos estão mais ligados a um papel de mensuração conferência e acompanhamento Burns e Baldvinsdottir 2007 p 177 descreveram o surgimento e a atuação de contadores híbridos que aconselhavam os líderes da produção em questões estratégicas bem como auxiliavam outros gestores com decisões do dia a dia e medição de desempenho A afinidade entre os diferentes perfis se dá pelo tipo de atividade que desempenham dentro da organização As atividades ligadas a suporte estratégico consultoria e tomada de decisões por exem plo são usualmente associadas ao papel dos business partners ao passo que as atividades ligadas a Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 9 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA registro e conformidade procedimental costumam se alinhar mais ao papel dos bean counters Portanto embora a literatura elenque e nomeie uma plêiade de perfis eles podem ser agrupados nestes dois grandes grupos bussiness partners e bean counters com base na descrição que a literatura faz das suas atividades A Tabela 3 apresenta o lastro teórico que permitiu por similaridade das atividades realizar o agrupamento dos perfis Tabela 3 Agrupamento de perfis dos controllers Grupo Referências Perfis Abrangidos Bean Counters Burns e Baldvinsdottir 2005 2007 Byrne e Pierce 2007 De Loo Verstegen e Swargerman 2011 Gibson 2002 Granlund e Lukka 1998 Lambert e Sponem 2012 Mistry Sharma e Low 2014 Sunarni 2013 Rahman e Ahmed 2012 Vaivio e Kokko 2006 e Verstegen et al 2007 Bookkeeper scorekeeper corporate policeman Business partners Burns e Baldvinsdottir 2005 2007 De Loo et al 2011 Järvenpää 2007 Lambert e Sponem 2012 Mistry et al 2014 Siegel e Sorensen 1999 e Sunarni 2013 Decision making facilitator business consultant strategic management consultant Fonte elaborada pelos autores Os perfis hybrid accoutant e moderator não foram enquadrados em nenhum dos grupos por não apresentarem semelhanças com os demais perfis e por representarem tentativas de conciliação ou equilíbrio entre estes dois grupos meiostermos No presente estudo o foco dos questionamentos e análises está nos perfis bean counter e business partner A este respeito é oportuno observar o trabalho de Granlund e Lukka 1998 que sistematizaram sua análise para traçar com clareza quais as características do perfil bean counter Järvenpää 2007 por sua vez apresenta um perfil de controller focado nos negócios da empresa e não nos seus próprios processos e rotinas ao qual chama de business partners Uma vez estabelecidos estes dois grupos o dos bean counters e o dos business partners foi pos sível ainda na fase de prépesquisa tipificar a atuação deles E em decorrência desta tipificação foi possível comparálos A Tabela 4 apresenta esta comparação Tabela 4 Comparativo bean counters x business partners Bean Counters Business Partners Mensuração de itens financeiros Mensuração de itens nãofinanceiros Registro de dados Análise de informações Foco em execução Foco em planejamento Indiferença perante outros departamentos Interação com outros departamentos Fornecimento de relatórios aos gestores Prestação de consultoria aos gestores Controle de processos Aprimoramento do negócio Fonte elaborada pelos autores Esta dualidade representada por bean counters e business partners é que subsidia a argumentação deste estudo A predominância de um ou outro perfil juntamente com o seu grau de envolvimento e autonomia é aqui o elemento caracterizador da atuação dos controllers 3 DESENVOLVIMENTO DAS HIPÓTESES 31 Tamanho da organização Pesquisas mostram que o tamanho de uma organização pode afetar o seu funcionamento sob diversos aspectos Laforet 2008 por exemplo relacionou este elemento à orientação estratégica da empresa à sua capacidade de inovar e às suas diretrizes de marketing Hamdan 2011 por sua vez Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 10 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA demonstrou que o tamanho da companhia é uma das variáveis que afeta o grau de conservadorismo na preparação dos relatórios financeiros Outros tantos estudos em administração mas também em psicologia organizacional e até mesmo em engenharia poderiam ser mencionados para justificar que o componente tamanho da empresa provoca múltiplos efeitos sobre os resultados da empresa sobre a sua cultura sobre o comportamento de seus funcionários e gestores etc Ahlgren Engel 2011 Chen Taylor 2012 Dayanti Prihatiningtias 2013 No que tange ao controller especificamente Oliveira 1998 atesta que o tamanho é uma variável capaz de afetar as funções e as atividades deste profissional o que por conseguinte pode contribuir para a modificação ou redefinição do perfil do controller Corroborando este pensamento Monteiro 2014 p 32 refere que organizações de maior porte estão associadas com maior diversidade de operações formalização de procedimentos e especialização de funções Além disso estas organizações em geral talvez porque têm mais departamentos apresentam ferramentas de controle mais aprimoradas e dão maior importância às questões orçamentárias Nesta perspectiva Calijuri Santos e Santos 2005 realizaram uma survey e obtiveram quarenta questionários respondidos por controllers de grandes e médias empresas apenas dois trabalhavam em empresas consideradas pequenas Os autores concluíram que os controllers estavam exercendo naquelas organizações um papel diferente e descreveram em seus achados que estavam se tornando um legítimo parceiro nos negócios Calijuri et al 2005 p 10 Do mesmo modo Schnorrenberger Ribeiro Lunkes Gasparetto 2007 p 14 estudando o perfil do controller em empresas de médio e grande porte em Florianópolis constataram que além de um conhecimento profundo de contabilidade as duas habilidades mais frequentemente requeridas destes profissionais e consideradas pelos respondentes daquele estudo como muito importantes são iniciativa e liderança Tais competências não parecem se coadunar com o perfil bean counter voltado para a satisfação de exigências técnicas e execução de procedimentos mas apontam nitidamente para o perfil business partner mais direcionado à ação estratégica proativa à condução dos negócios e às habilidades com pessoas como preconizado pelo CGMA 2014 Estudos como estes fornecem indícios de que nas empresas maiores o controller tipo business partner é mais facilmente requisitado e encontrado Porém por se tratarem de recortes locais feitos já há alguns anos os resultados destes estudos não oferecem uma resposta sobre o perfil atual dos controllers a nível nacional Há trabalhos porém como o de Oro Dittadi Carpes e Benoit 2009 que mostram que de acordo com o porte as empresas demandam diferentes perfis de controller as menores querem que o profissional de controladoria exerça um papel mais operacional ao passo que as maiores requerem alguém mais voltado à esfera estratégica Ademais Singer 2004 sugere que os avanços da tecnologia proporcionaram a reestruturação das empresas e afetaram entre outras coisas o seu tamanho A consequência disso para cada organização segundo o autor é que em vez de ser hierárquica e burocrática passou a ser em rede portanto muito mais horizontal e os operários ganharam autonomia e poder de decisão Singer 2004 p 14 Assim sabendo que o tamanho da organização é uma variável positivamente relacionada à sua orientação estratégica Laforet 2008 que os controllers estão se envolvendo cada vez mais com o negócio Calijuri et al 2005 isto é tornandose business partners e que o porte das empresas re configurado a partir das mudanças tecnológicas conferiu mais autonomia aos empregados Singer 2004 foi estabelecida a primeira hipótese deste estudo Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 11 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA H1 Controllers de empresas de maior porte apresentam mais envolvimento com o negócio e mais autonomia 32 Descentralização A essência da descentralização é a autonomia aos gestores das unidades de negócios Pinto 1997 p 6 Este pensamento condensa e traduz com clareza o que vem a ser a descentralização e por analogia a centralização Há bastantes pesquisas sobre este assunto no tocante ao setor público Guimarães 2014 Motta BresserPereira 2004 Vieira 2012 Em diversos estudo o cerne da questão diz respeito a como construir o fluxo de um processo decisório uns defendem uma administração centralizada outros primam por um comando descentralizado Contudo essa temática não se restringe à esfera governamental onde quer que haja a necessidade de tomar decisões dentro uma estrutura de governança se discutirá em algum momento se estas deci sões devem ser isoladas ou colegiadas se é mais benéfico para a entidade centralizar o poder decisório ou compartilhálo com os componentes da pirâmide hierárquica Estes temas vêm sendo discutidos já há algumas décadas Jennergren 1981 Mansfield 1973 Marsh 1992 e recentemente vem sendo abordados a partir de outros enfoques associados a modismos e a desempenho Malone 1997 Wong Ormiston Tetlock 2011 No fundo a questão é delegar ou não Em outras palavras podese dizer que discussão é sobre a tensão que existe entre conferir autonomia e controlar entre permitir a participação nas decisões e ao mesmo tempo limitála Malone 1997 Waterhouse e Tiessen 1978 p 68 já haviam abordado esta temática evocando uma estrutura de autoridade e controle e distinguindo a autoridade centralizada da descentralizada Logo percebese a íntima conexão entre centralização e autonomia dizse que onde há mais centralização há menos autonomia e por conseguinte onde há menos centralização há mais autonomia Horngren Sundem Stratton Teall Gekas 2006 No plano pragmático Hopper 1980 resolveu estudar como os controllers se percebiam e eram percebidos tanto nas organizações centralizadas quanto nas descentralizadas Ele encontrou que nas empresas onde havia um maior nível de descentralização o controller estava mais próximo dos gestores e que nesta situação estes gestores percebiam a informação contábil fornecida pelos controllers como sendo mais pertinente achavamna mais adequada às necessidades gerenciais Deste modo o estudo de Hopper 1980 sinalizou que a descentralização era um fator capaz de trazer o controller para mais próximo das demandas do negócio e daqueles que o gerenciam Em outros termos a descentralização estimulava um perfil de controller mais afinado ao modelo business partner Posteriormente Gul e Chia 1994 descobriram que em ambientes com alto grau de incerteza pro mover a descentralização proporcionava uma melhoria no desempenho dos gestores A descentralização portanto sob certas condições teria um efeito sobre a performance das pessoas inclusive do controller Dez anos depois Jermias e Gani 2004 ratificaram as conclusões do estudo de Gul e Chia 1994 p 187 e afirmaram que um alto degrau de autonomia é uma resposta apropriada ao aumento da incer teza É importante entender a ideia subjacente a esta argumentação em ambientes eou situações de grande incerteza como por exemplo no lançamento de um novo produto o grau de liberdade para tomar decisões isto é autonomia proporciona uma melhor adaptação do negócio ao meio Por outro Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 12 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA lado se o ambiente não oferece tantos riscos ou seja em clima de baixa incerteza a organização tende a reduzir a autonomia dos gestores e centralizar o poder decisório em uma instância única Todos estes argumentos e estudos oferecem suficientes indícios para que se suponha que o perfil business partner reiteradamente destacado pela literatura acadêmica é o que se adapta mais facilmente a ambientes descentralizados e ao clima de incertezas Talvez por isso Jordan Neves e Rodrigues 2003 p 431 ao falarem da evolução da profissão do controller se referem ao novo controller como o respon sável pela animação e coordenação de atividades em estruturas descentralizadas Ahid e Augustine 2012 afirmaram que a descentralização e a delegação de autoridade de fato resultaram em um incremento de responsabilidade para os controllers Quando descentralizado o poder os gestores delegados precisam envolverse mais com o negócio aprender os detalhes da operação a fim de saber exatamente sobre o que estão decidindo Este envolvimento é visto como positivo por Palomino 2013 que o considera uma característica do controller e um fruto da descentralização No que diz respeito a este tópico portanto foi testada a seguinte hipótese H2 Em empresas mais descentralizadas os controllers apresentam mais envolvimento com o negócio e mais autonomia 4 MÉTODOS A pesquisa foi realizada em parceria com a Associação Nacional dos Executivos de Finanças ANEFAC em cuja base de associados constavam 596 controllers A coleta de dados se deu entre os meses de maio e dezembro de 2015 período em que vigorou a mencionada parceria tendo em vista que a proposta visava apresentar já no início de 2016 um panorama dos controllers associados àquela entidade O instrumento de pesquisa utilizado consistiu em um questionário subdivido em três partes remetido aos respondentes por email Neste email indicavase um link da plataforma virtual gratuita Survey Monkey para que o controller pudesse acessar e responder à pesquisa Antes porém o questionário foi remetido como piloto a um controller e dois acadêmicos da área de controladoria para que se testasse a clareza e a compreensibilidade das questões Assim se necessário a partir das críticas eventualmente recebidas seria possível aprimorar o instrumento de modo a eliminar dubiedades eou imprecisões nas questões Além disso foi elaborada uma breve carta introdutória ao questionário na qual foi feita uma breve explanação da questãoproblema que motivou o estudo e se destacou a confidencialidade das respostas Ainda nesta carta introdutória foi disponibilizado um email para servir como canal de contato com o pesquisador Assim diante de quaisquer dúvidas os respondentes poderiam contatar o pesquisador a fim de sanálas Ao finalizar a coleta de dados foram obtidos um total de 114 questionários respondidos Destes dois respondentes foram descartados da amostra tendo em vista que declararam estar exercendo a função de docentes e não mais a de controllers Além disso um dos respondentes precisou ser excluído do grupo amostral porque respondeu uma única questão e mesmo assim parcialmente sua permanência na composição da amostra poderia levar a distorções nos resultados das estatísticas descritivas e conse quente interpretação equivocada dos achados Assim com 111 questionários validamente respondidos a taxa de resposta obtida pelo pesquisador foi de 1862 Todas as variáveis foram medidas através de escalas préestabelecidas e devidamente validadas Todas as variáveis originalmente na língua inglesa foram traduzidas para o português através do processo de back translation As respostas foram medidas através da escala de Likert de 5 pontos com exceção da pergunta a respeito da descrição das funções dos controllers Para que se tenha um entendimento mais claro acerca das medias utilizadas no questionário foi construído a Tabela 5 Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 13 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA Tabela 5 Medidas Medidas Fonte Descrição de funções dos business partners e dos bean counters Burns e Baldvinsdottir 2005 2007 Envolvimento Emsley 2005 Autonomia Morgeson e Humphrey 2006 Descentralização Gordon e Narayanan 1984 Fonte elaborada pelos autores Descrição de funções dos business partners e dos bean counters No questionário foram dispo nibilizados cinco campos para que os respondentes elencassem as cinco principais tarefasatividades que eles realizavam Deste modo seguindo uma lógica de codificação foi possível segregar com mais clareza os perfis que estão sob investigação nesta pesquisa posto que há atividades mais próximas do perfil bean counters e outras mais próximas do perfil business partner Envolvimento O questionário visou identificar dentro de uma escala Likert de 5 pontos qual o grau de envolvimento dos controllers com a função contábil isto é com as atribuições próprias de um contador tradicional e com a função de suporte à gestão em outros termos o quanto eles assessoram prestam apoio direto aos gestores encarregados da estratégia organizacional A ideia é que o envolvimento mais intenso com a função contábil indica predominância do perfil bean counter ao passo que envolverse mais com a função de apoio à gestão revela preponderância do perfil business partner A média obtida da medida de envolvimento foi de 319 e a confiabilidade da escala Alfa de Cronbach foi de 076 Autonomia O questionário buscou medir a autonomia dos controllers dentro de uma escala Likert de 5 pontos Essa medida possui três itens meu trabalho me permite tomar minhas próprias decisões sobre o cronograma de execução do meu trabalho meu trabalho permite que eu tome muitas decisões por conta própria e meu trabalho fornece autonomia para tomada de decisões A média obtida da medida de autonomia foi de 378 e a confiabilidade da escala Alfa de Cronbach foi de 088 Descentralização Os respondentes também classificaram dentro de uma escala Likert de 5 pontos qual o grau de descentralização existente na organização em que atuam no que se refere a algumas decisões específicas Esta pergunta visou identificar o nível de liberdade influência e delegação existente na companhia As decisões foram sobre desenvolvimento de novos produtos contratação e demissão de pessoal investimentos de grande vulto orçamento precificação Seguindo esta lógica o valor 1 significou nenhuma autonomia ao passo que o valor 5 indicou total autonomia A média obtida da medida de descentralização foi de 281 e a confiabilidade da escala Alfa de Cronbach foi de 086 O número de funcionários foi adotado como determinante do tamanho porte da empresa através de uma pergunta direta Quantos empregados a sua organização possui Para melhor visualização das tarefas e atividades que caracterizam a atuação do controller e pos sibilitam sua classificação entre bean counters ou business partners foi utilizada uma word cloud em português nuvem de palavras Esta ferramenta possibilita a visualização das palavraschave identi ficadas de tal forma que o espaço que estes termos ocupam na word cloud gerada é proporcional à quantidade de vezes que eles apareceram nos relatos dos respondentes A elaboração da word cloud se deu mediante a ferramenta disponibilizada gratuitamente no sítio eletrônico wwwworditoutcom 5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Inicialmente convém apresentar algumas características descritivas do perfil dos controllers da amostra a 77 dos respondentes se declararam do sexo masculino b a média de idade foi de 43 Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 14 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA anos c 64 dos respondentes disseramse pósgraduados ou seja têm especialização lato sensu ou fizeram algum curso do tipo Master Business Administration MBA A este perfil prevalente composto por homens pósgraduados e de meia idade acrescentese um outro dado obtido a partir das respostas colhidas a média de experiência dos controllers na área de controladoria foi de 68 anos Se esta informação for comparada à média de idade que se apurou intuise que em geral a atuação dos profissionais da amostra neste ramo deve ter se iniciado após os 35 anos Feita esta caracterização geral convém debruçarse sobre a descrição que os controllers fizeram de seu próprio papelfunção no primeiro quesito da parte A A partir destes relatos foram identificadas 59 palavraschave as quais descrevem não só as tarefas que eles afirmaram desempenhar mas também atividades e outros elementos presentes em seu cotidiano Como exemplos de tarefas podemse citar cálculos cobrança análise etc a título de atividades é possível mencionar auditoria consultoria gestão etc e como outros elementos presentes na rea lidade profissional dos controllers foram identificados por exemplo arquivos dados fornecedores etc Somando o total de ocorrências destas 59 palavraschave foram constatadas 485 referências a estes termos Isto posto a word cloud obtida foi a constante na Figura 1 a seguir Figura 1 Word cloud das atividades dos controllers Fonte elaborada pelos autores Ao visualizar a word cloud construída é possível perceber que a palavra Contabilizações ocupa a região central do mosaico e se destaca também por apresentar a maior fonte no emaranhado de expressões Tal observação é pertinente porque denota que a escrituração o processo de comandar lançamentos contábeis para registrar transações é bastante presente nas rotinas de muitos controllers de forma que o envolvimento deles com os negócios empresariais a sua parceria com as demais áreas da empresa o seu papel estratégico e as suas atribuições gerenciais não os desobrigaram de realizar ou supervisionar este procedimento contábil clássico que representa a base de qualquer peça da contabilidade e o fundamento de qualquer interpretação sobre os eventos ocorridos na empresa Em Contabilizações estão contidas as rotinas próprias da contabilidade chamada financeira o que sugere que o controller está ainda muito atrelado às atribuições do bean counter Assim tendo em vista que Contabilizações Gestão Tributos Finanças e Informações foram as palavras que sobressaíram na word cloud cada uma delas com mais de 30 ocorrências o que indica Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 15 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA mais de 5 de representatividade em relação ao total de palavraschave identificadas podese dizer que tais elementos compõem o cerne da atuação dos controllers no Brasil Mesmo em seus variados contextos os controllers parecem unidos por estas atividades que lhes são comuns Portanto considerando as 5 tarefas que cada um dos 111 respondentes foi convidado a elencar foi possível organizálas em atividades e distribuílas da seguinte maneira Tabela 6 Tabela 6 Distribuição das atividades dos controllers Atividade Classificação Frequência Percentual 1 Monitoramento fiscal Bean counter 58 105 2 Controle de custos 39 70 3 Escrituração 66 119 4 Análise de dadosrelatórios financeiros 117 211 5 Controle de desempenho gerencial com base nos principais indicadores financeiros 68 123 6 Outras atividades de bean counter 2 04 7 Integração da informação contábil com indicadores de desempenho não financeiros Business partner 21 38 8 Formulação de estratégia 26 47 9 Desenvolvimento de sistemas 13 23 10 Redesenho organizacional 16 29 11 Gestão de mudanças 17 31 12 Outras atividades de business partner 6 11 13 Atividades burocráticoadministrativas Não classificáveis 29 52 14 Atividades não relacionadas à contabilidade controladoria 10 18 14 Outras atividades 26 46 16 Não responderam 41 73 Total 555 1000 Fonte elaborada pelos autores Alguns respondentes destoando do que fora solicitado não fizeram a indicação de cinco tarefas optaram por relacionar três ou quatro razão pela qual houve 41 ocorrências de ausência de resposta Além disso como muitos respondentes relacionaram atividades de ambos os perfis tendo alguns inclu sive optado por indicar menos de cinco atividades o que se obteve por fim foi um perfil predominante estabelecendo como critério de predominância que quem indicasse executar duas ou mais atividades de business partner seria classificado como tal O resultado deste procedimento foi o constante na Tabela 7 Tabela 7 Distribuição das atividades dos controllers Perfil Frequência Percentual Válido Cumulativo Bean counters 76 685 745 745 Business partners 26 234 255 1000 Total 102 919 1000 Sem classificação 9 81 Total 111 1000 Fonte elaborada pelos autores Os respondentes que não foram classificados como sendo bean counter ou business partners são aqueles cujas atividades foram marcadas pela predominância dos itens 13 14 e 15 vide Tabela 6 Entre os demais respondentes porém como se pode observar o perfil predominante apurado foi o do bean counter Palomino 2013 endossa o entendimento segundo o qual os controllers apresentam uma variabi lidade de funções e atividades a depender do tamanho e da estrutura específica da empresa em que atuam A argumentação que embasa esta ideia alude ao fato de que o porte e o modo como a empresa Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 16 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA está desenhada exige do controller diferentes competências e posturas e em consequência isto se reflete em suas funções e atividades Assim em teoria o tamanho da organização desempenharia um papel significativo no envolvimento do controller com o negócio e na sua autonomia dentro da organização Entretanto o que se constatou a partir dos dados da presente pesquisa divergiu deste entendimento Em primeiro lugar o tamanho médio das companhias foi de 2432 funcionários Esta média livre do viés dos outliers não é compatível com a realidade de empresas pequenas e aponta para o contexto das organizações de grande porte enquanto nas primeiras o controle pode ser e muitas vezes é exercido por um funcionário de confiança ou pelo próprio empresário nas últimas a figura do controller desponta para satisfazer a necessidade de profissionalizar e instrumentalizar a gestão de uma entidade que em razão de sua complexidade já não admite mais amadorismos Ademais à revelia da argumentação de alguns autores e utilizando a técnica da regressão linear percebeuse que não houve relação significante entre o tamanho da empresa e o envolvimento do controller no negócio β 12 t 114 p 26 Uma possível explicação para isto pode residir no fato de que nas organizações menores o controller tem condições de conhecer o negócio com mais proximidade e inteireza Isto faz com que ele esteja pessoal e integralmente envolvido Ao passo que em grandes organizações ante um rol de atribuições tão extenso e cercado por tantas demandas muitas delas burocráticas eou legais o controller não tem condições oportunidade e tempo de se envolver A regressão linear também apontou que a relação entre o tamanho da companhia e a autonomia do controller não foi significante β 07 t 63 p 53 Estes números refletem a lógica segundo a qual o fato de a empresa ser de maior porte não implica necessariamente num maior grau de autonomia para o controller Da mesma forma também não se pode assegurar que em empresas menores ele tem menos autonomia Destacase que nas empresas de maior porte o controller também é um dos itens passíveis de controle e por isso de fato sua autonomia é limitada em contextos onde se fala de governança não há espaço para amplos poderes Logo mesmo não permitindo a associação entre porte e autonomia ou envolvimento os dados trazem uma outra vertente lógica de argumentação igualmente válida e consistente com a realidade Portanto hipótese H1 foi rejeitada o que significa que os controllers de empresas de maior porte isto é com maior número de funcionários não apresentam maior grau de autonomia ou envolvimento com o negócio Em relação a hipótese H2 identificouse que a descentralização está positivamente associada ao envolvimento o que significa que quanto mais descentralizada a empresa maior o nível de envolvimento do controller no negócio β 21 t 202 p 054 Com base neste resultado parece que a estrutura descentralizada impele o controller a estar mais próximo do negócio talvez para que ele não perca o controle e possa exercer sua função em consonân cia com as outras partes da engrenagemempresa Monteiro 2014 p 32 comenta Descentralização está associada com um Sistema de Controle Gerencial com características de agregação e integração Diante de tal afirmação e tendo em conta os achados da presente pesquisa a este respeito surge uma provocação se nas estruturas descentralizadas há como insinua Monteiro 2014 mais proximidade e interação entre os personagens que exercem o poder então pode haver entre eles troca de experi 4 Foram realizados todos os testes de pressupostos do modelo de regressão teste de normalidade dos resíduos ausência de autocorrelação dos resíduos ho mocedasticidade e linearidade Todos os pressupostos foram adequados O teste de DurbinWatson teste para autocorrelação foi de 201 esse valor significa que os resíduos não estão correlacionados Valores inferiores a 1 ou superiores a 3 são motivo de preocupação Portanto isso indica que a premissa foi atendida Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 17 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA ências compartilhamento de dificuldades comunicação de saberes etc O envolvimento do controller no negócio portanto é somente o reflexo deste movimento Ahid e Augustine 2012 indicam que o incremento nas atividades do controller é um dos frutos da descentralização das organizações O presente estudo prossegue nesta mesma linha de raciocínio mas avança ao apontar que o envolvimento do controller nestas atividades que lhe são atribuídas também é fruto da descentralização Os achados da presente pesquisa avançam ainda em relação ao estudo de Wong et al 2011 tendo em vista que tais autores examinaram os efeitos da descentralização fazendo relação com o que chamaram de complexidade interativa mas sem descer esta complexidade ao nível da especificação de tarefas e prescindindo do envolvimento dos controllers na execução delas Byrne 2010 faz menção ao envolvimento dos controllers com o negócio mas sem associar isto em momento algum ao fator descentralização Desta forma a relação entre estes dois elementos aqui encontrada e comprovada contribui para aprofundar o conhecimento dos antecedentes características e consequências associados ao papel dos controllers a que Byrne 2010 fez referência no título de sua pesquisa Os achados decorrentes do questionário que foi aplicado aos 111 respondentes desta pesquisa su gerem a este respeito que nas organizações onde o poder decisório é descentralizado os controllers envolvemse mais Neste sentido a descentralização incrementa a responsabilidade destes profissionais sobre as tarefas e atividades que lhes foram confiadas e os impele a envolverse mais com tudo quanto realizam e com a dinâmica da própria entidade em que atuam Foi identificada ainda a existência de uma relação significante entre descentralização e autonomia β 35 t 359 p 015 A lógica subjacente à descentralização é a de compartilhamento do poder de mando Logo é natural que esta pulverização do poder incremente a autonomia dos profissionais que de alguma forma o exercem Convém notar que o binômio autonomiacontrole é por natureza paradoxal onde o controle é mais forte há menos autonomia e onde o controle é menos rigoroso há mais espaço para posições e decisões autônomas Isto posto é compreensível que sendo o controle menor porque fragmentado com a descentralização haja uma maior dose de autonomia Nesta perspectiva por exemplo situase o estudo de Sbors Schafer e Gasparetto 2017 segundo os quais a existência de divisões descentralizadas permite que haja mais autonomia Mas esta autonomia alertaram Ferreira e Angotti 2016 precisa estar integrada ao sistema de controle gerencial como um todo para que não fique incongruente em relação aos objetivos da com panhia Portanto a discussão sobre descentralização e autonomia ao perpassar dimensões estratégicas e envolver diretamente a área de controle alça os profissionais de controladoria a um papel mais amplo e elevado de mais colaboração com o negócio Com a descentralização quem nunca teve poder pode passar a têlo E ao receber por delegação uma fatia de poder se lhes exige simultaneamente que suas decisões autônomas estejam alinhadas aos interesses da organização e sejam frutuosas para a mesma Os achados da presente pesquisa dão conta de uma dimensão que não vem sendo suficientemente tratada a existência de um gatilho a descentralização para a autonomia dos controllers O estudo de Kalbers e Cenker 2008 por exemplo assinala a existência de uma associação entre a autonomia e a 5 Foram realizados todos os testes de pressupostos do modelo de regressão teste de normalidade dos resíduos ausência de autocorrelação dos resíduos homoce dasticidade e linearidade Todos os pressupostos foram adequados O teste de DurbinWatson teste para autocorrelação foi de 213 esse valor significa que os resíduos não estão correlacionados Portanto isso indica que a premissa foi atendida Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 18 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA performance dos contadores certificados mas não elucida os elementos catalisadores desta autonomia e ignora a descentralização como sua mola propulsora Enfim os achados levam à aceitação da hipótese H2 Em outras palavras a descentralização em uma organização está associada positivamente à autonomia dos controllers e também guarda relação positiva com o envolvimento destes no negócio 6 CONCLUSÃO Nosso estudo possui três objetivos identificar as principais atividades exercidas pelos controllers discernir qual o seu perfil predominante considerando as variantes que a literatura aponta notada mente bean counters e business partners e entender como o tamanho e grau de descentralização das organizações se relacionam com a autonomia e o envolvimento destes controllers com os negócios da empresa em que trabalham Como resultado desta investigação entre as principais atividades executadas pelos controllers des tacaramse a análise de dados e relatórios financeiros o controle de desempenho gerencial com base nos principais indicadores financeiros a escrituração e o monitoramento fiscal Como complemento deste achado e corroborandoo a word cloud construída demonstrou que as palavras Contabilizações Gestão Tributos e Finanças foram as que sobressaíram na descrição que os respondentes fizeram de suas próprias tarefas A averiguação do perfil dos controllers da amostra revelou uma predominância do perfil bean counter 745 dos respondentes foram assim classificados enquanto apenas 255 foram associados ao perfil business partner Corroborando esta predominância temse que as tarefas e atividades executadas e apontadas pelos respondentes mostramse consistentes com a descrição de afazeres que a literatura acadêmica atribui aos bean counters A presente pesquisa também analisou se o Tamanho da Organização e o grau de Descentralização do poder decisório estariam associados com o envolvimento e a autonomia do controller A hipótese H1 relação tamanho da empresa versus envolvimento e autonomia foi rejeitada A hipótese H2 relação descentralização versus envolvimento e autonomia se mostrou significante e por isso foi aceita Estes achados contribuem com o entendimento sobre os reflexos que determinados componentes organizacionais como tamanho e descentralização geram sobre certas dimensões da atuação dos controllers Compreender a existênciainexistência destas relações oferece um pano de fundo e um subsídio para que estudos posteriores possam explicar por que alguns aspectos internos e externos à organização que podem levar à consolidaçãoredefinição de perfis profissionais e atividades laborais Não é demais salientar que este resultado bem como todos os demais achados elencados nesta conclusão dizem respeito apenas à amostra pesquisada a qual embora represente adequadamente a população de controllers não reflete evidentemente todas as possibilidades e características destes profissionais Contudo o que aqui foi exposto inobstante as limitações já apresentadas traz indícios que reforçam e lastreiam o debate sobre a transição de perfil que os controllers têm vivenciado Esta pesquisa como já referido no item que tratou da metodologia teve uma abordagem quantitativa Sugerese que outros estudos abordem a problemática relativa ao perfil dos controllers sob uma ótica qualitativa quiçá realizando entrevistas com ele a fim de entender melhor certos aspectos caracterizado res de seu perfil Além disso podese estudar o impacto de fatores como o setor empresarial em que o controller trabalha e a cultura da organização na definição ou consolidação de perfil deste profissional Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 19 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA Este estudo contribuiu para elucidar a atuação dos controllers mediante uma descrição de suas tarefas e atividades incrementando a discussão sobre a mudança de perfil dos controllers a transição de bean counters para business partners verificada em outras partes do mundo não se mostrou consistente com o perfil da amostra aqui utilizada de acordo com os dados obtidos para cada controller do tipo business partner há cerca de três bean counters Este achado por sua vez também representa uma contribuição relevante para o debate sobre quais são exatamente os direcionadores desta mudança de perfil REFERÊNCIAS Abernethy M A Brownell P 1999 The role of budgets in organizations facing strategic change an exploratory study Accounting 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Iquiapaza Hudson Fernandes Amaral Aureliano Angel Bressan Resumo objetivo deste artigo consiste em analisar a evolução teóricometodológica da área de finanças ressaltando as etapas importantes e assim assinalar suas contribui ções e contradições com especial ênfase no paradigma dominante e na crítica da pósmodernidade Tratase de uma reflexão teórica com revisão ad hoc da literatu ra Observouse que entre os anos cinqüenta e sessenta do século XX existiu uma espécie de revolução teóricometodológica na pesquisa em finanças que pela adoção dos funda mentos do funcionalismo positivista levoua a ser mais normativa quantitativa e próxima das ciências naturais Com isso essa área perde suas características clássicas de ser positiva e o reconhecimento de sua capacidade de afetar seu objeto de estudo o compor tamento financeiro de indivíduos e empresas Só nas duas últimas décadas emergiram algumas propostas alternativas entre elas estudos de finanças comportamentais Essa abordagem tem feito contribuições interessantes aos estudos de finanças apesar de ser fortemente questionada pelo paradigma dominante Palavraschave Pesquisa em finanças Epistemologia Paradigmas Finanças modernas Finanças comportamentais ABSTRACT he objective of this article was to analyze the theoreticalmethodological evolution in the finance area emphasizing the important stages marking their contributions and contradictions with special emphasis in the dominant paradigm and the post modern critics It is a theoretical reflection with an ad hoc revision of the literature It is observed that around the fifties and sixties of the twentieth century there was a methodological and theoretical revolution in finance research that due to the adoption of the foundations of the positivist functionalism took this to be more normative quantitative and close to the natural sciences losing their classic characteristics of being positive and the recognition of its capacity of affecting the research object the individuals and companies financial behavior Only in the last two decades there seems to be some alternative proposals among them behavioral finance studies That approach had shown important contributions to finance studies even though is being hardly challenged by the dominant paradigm Key words Finance research Epistemology Paradigm Modern finance Behavioral finance O T Doutorando em Administração Finanças do Centro de PósGraduação e Pesquisas em Administra ção da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais CEPEADFACE UFMG Bolsista do CNPq Pesquisador do Núcleo de Ensino Pesquisa e Consultoria em Finanças e Contabilidade NUFI do CEPEADFACEUFMG Endereço Av Antônio Carlos 6627 Prédio FACE sala 4120 Pampulha Belo HorizonteMG CEP 31270901 Email riquiapazagmailcom Prof Associado do Departamento de Ciências Administrativas da FACEUFMG Coordenador do CEPEAD e do Núcleo de Ensino Pesquisa e Consultoria em Finanças e Contabilidade NUFI da FACE UFMG Email hfamaralfaceufmgbr Prof Adjunto do CEPEADFACEUFMG Coordenador do Colegiado de Graduação em Administra ção da FACEUFMG e do Laboratório de Finanças da UFMG Email bressanfaceufmgbr EVOLUTION IN FINANCE RESEARCH EPISTEMOLOGY PARADIGM AND CRITICS os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 352 Robert Aldo Iquiapaza Hudson Fernandes Amaral Aureliano Angel Bressan Introdução s anos cinqüenta são normalmente assinalados como o começo da revo lução em finanças Os conceitos básicos de tomada de decisões financeiras foram completamente reescritos o que levou ao desenvolvimento da mo derna teoria financeira nas décadas seguintes Essa teoria moderna tem gradual e logicamente resultado no desenvolvimento de inúmeras ferramentas usadas nos processos de tomada de decisões de investimento e financiamento Entretanto antes dessa revolução somente existiam os pesquisadores e práticos tradicionais na área de finanças que se baseavam nas experiências práticas para descrever o comportamento do investidor e das empresas e assim sugerir o que poderiam ser as decisões certas de investimento e financiamento Nessa época os pesquisadores não tratavam seus resultados e sugestões como universalmente aplicáveis o que permite definir a abordagem como baseada em uma aproximação positiva e não universal Por outro lado os pesquisadores modernos confiam na teoria econômica neoclássica e na matematização para derivar o que agora é conhecido como mo derna teoria financeira O homo economicus da teoria neoclássica se tornou o foco de todas as suposições sobre como os seres humanos tomam decisões Assim a moderna teoria financeira busca se assemelhar às ciências naturais tornandose mais normativa universal e exata Mramor e Lonèarski 2002 indicam que com o tempo surge a pergunta sobre a utilidade da moderna teoria financeira Os pesquisadores começaram a olhar suas suposições para descobrir o óbvio as mesmas não estavam contidas na realidade A partir de então começou a emergir uma nova aproximação nas finanças Tratase de reconhecer que o ser humano não é um maximizador mecâ nico da riqueza onisciente e egoísta mas sim um ser complexo com comporta mento balizado pelo ambiente social e político em que se insere Dessa forma o que aceitamos como verdadeiro no princípio notase que pode ter um impacto importante no que percebemos e logo também na pesqui sa sobre a verdade e o conhecimento É também um exemplo sobre a importân cia da epistemologia da teoria ou atitude sobre a realidade as fontes e limita ções de conhecimento A epistemologia cria uma estrutura que visa transformar a intuição em conhecimento e fazendo isso cria expressões que são geralmente verdadeiras Porém há uma fase prévia na qual é preciso definir o que existe e o que é necessário para poder desenvolver uma teoria Este seria um problema ontológico ou seja uma teoria das coisas que precisam existir ou as condições que precisam ser preenchidas para que a teoria seja provada seja verdadeira Talvez essas definições não sejam devidamente consideradas em finanças por serem um pouco difíceis mas elas também são muito importantes para o pesqui sador ou o gerente que está interessado em trabalhar com ciência ou compreen são da realidade Assim o objetivo do presente artigo é analisar a evolução teórico metodológica na área de finanças ressaltando cada etapa importante e assina lar suas contribuições e contradições com especial ênfase no paradigma domi nante e na crítica da pósmodernidade em finanças Para tanto a abordagem utilizada é a de um ensaio teórico reflexivo fazendo uma revisão ad hoc porém não exaustiva da literatura relacionada ao tema Abordagem Tradicional em Finanças A transformação do mundo acadêmico de finanças foi analisada por Bernstein 1992 já as interações entre esta transformação a evolução das escolas empre sariais nos Estados Unidos e as mudanças importantes nos mercados de capitais foram tratadas por Whitley 1986 Contudo essas análises concentramse pre dominantemente no período após a década de 1950 De acordo com McLean e O 353 os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 Evolução da Pesquisa em Finanças epistemologia paradigma e críticas Jones 2007 as finanças de negócios realmente emergiram como um campo de estudo muito antes na virada do século XX Naquele tempo era essencialmente um ramo aplicado da economia institucional estudado e ensinado por economistas Mramor e Lonèarski 2002 mostram que os pesquisadores e práticos tra dicionais na área de finanças confiaram nas experiências da prática para descre ver o comportamento do investidor e das empresas e assim sugerir o que pode riam ser as decisões certas de investimentos a serem empreendidas pelos inves tidores e decisões corretas a serem tomadas pelas empresas Os pesquisadores não reivindicaram seus resultados e sugestões como universalmente aplicáveis A natureza da aproximação tradicional nas finanças era positiva e não universal ie esta representou uma tentativa para explicar por que as coisas são como elas são tendo em vista que a mesma foi mais uma coleção ou revisão de regras usadas pelos investidores e gerentes no processo de tomada de decisões do que uma explicação consistente e completa de razões que conduzem e das conseqüên cias que se seguem às decisões financeiras Portanto o objetivo da aproximação tradicional nas finanças era descobrir e revelar as decisões financeiras que prova ram ser importantes na prática em períodos longos de tempo e depois estabele cer as características dos ativos escolhidos ou das companhias que tomaram as mesmas decisões Naquele tempo esta parecia ser uma forma de construir alguma classe de regras de tomada de decisões em finanças A regra ou melhor a sugestão sobre como escolher eficazmente entre ativos financeiros era comprar os ativos que estivessem subavaliados e vender aqueles que estivessem sobreavaliados sendo que o ponto central consistia em identificar esta sobre ou subavaliação dos ati vos no tempo Em relação às decisões de financiamento e estrutura de capital a aproxima ção tradicional tinha a convicção que cada companhia possuía algum tipo de capa cidade de endividamento normal baseado em suas características DONALDSON 1961 Tal capacidade referese à quantia de dívida da companhia que poderia baixar seu custo de capital desde que o custo da dívida fosse relativamente baixo e inalterado até o ponto que caracteriza uma obrigação normal Considerando que não era possível determinar qual é a capacidade de endividamento normal o processo de tomada de decisão estava baseado na experiência e sentimento interno de gerentes financeiros da companhia Esse sentimento interno esta va em parte baseado em certas regras de ouro de financiamento por exemplo emparelhar o vencimento de passivos e ativos e em parte no valor dos ativos de companhia principalmente bens imóveis habilidade futura esperada para reem bolsar a dívida o modo como a companhia administrou sua dívida no passado etc A aproximação tradicional para a política de dividendos estava muito clara as companhias deveriam distribuir os lucros da melhor forma possível na forma de dividendos em dinheiro desde que os investidores prefiram dividendos a ganhos futuros de capital Como assinalado por Gordon 1959 os investidores acreditam que os ganhos futuros de capital são mais incertos que os dividendos tendo portanto um valor mais baixo Lintner 1956 baseado em resultados de pesqui sas de campo montou um modelo teórico do comportamento dos dividendos corporativos e testou sua suficiência e confiabilidade O autor considerou que os gerentes consideram seriamente as percepções dos acionistas e só mudam a taxa de distribuição de dividendos depois que estão convencidos que tal mudança é positiva e desejável para os acionistas A análise de Lintner coincide com a de Gordon ao concluir que a maioria dos gerentes acredita que os acionistas prefe rem uma taxa de dividendos razoavelmente estável que é refletida no prêmio pago no preço da ação ou no crescimento gradual da taxa de dividendos Com respeito às decisões de orçamento de capital a aproximação tradicio nal favoreceu o período de reembolso e a taxa interna de retorno como critérios de tomada de decisão O critério do período de reembolso está baseado na lógica simples de que quanto mais cedo é recuperado o investimento inicial mais cedo se materializa o retorno sobre o capital investido e certamente menos incerto será o resultado financeiro da decisão de investimento porque o futuro os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 354 Robert Aldo Iquiapaza Hudson Fernandes Amaral Aureliano Angel Bressan próximo é mais previsível Parece que os pesquisadores tradicionais e práticos estavam cientes que seus resultados não eram universalmente aplicáveis e estavam sujeitos a variá veis relacionadas ao espaço e tempo como também muitos outros fatores que são prováveis de mudar dentro do espaço e tempo Na opinião de Mramor e Lonèarski 2002 o comentário feito por Lintner 1956 estabelece claramente que estes estudiosos estavam cientes da divisão entre método e metodologia demonstrando a aproximação positiva na pesquisa tradicional em finanças as companhias não foram selecionadas como uma amostra da qual obter conclu sões estatísticas elas foram selecionadas deliberadamente para cercar uma am pla variedade de situações e introduzir oportunidades para contrastes sugestivos e significantes entre as políticas de companhias semelhantes em vários aspectos mas diferindo em outras importantes características LINTNER 1956 p80 Conseqüentemente a aproximação tradicional estava baseada principal mente no comportamento atual de investidores e gerentes Tentouse definir ca racterísticas dos ativos financeiros e das companhias que afetam o comportamen to e o processo de tomada de decisões como também o modo como eles os afetam Não se assumiu nenhum tipo de comportamento racional universal das pessoas a abordagem não era normativa em sua natureza mas a mesma ex traiu as melhores práticas sendo assim positiva em sua natureza com respei to aos processos de tomada de decisões observando o comportamento atual das pessoas em determinado ambiente e tempo Mclean e Jones 2007 documentaram a carreira de um dos primeiros pro fessores de Finanças nos Estados Unidos Edward Mead De acordo com os auto res Mead foi o primeiro a especializarse no ensino de Finanças na Wharton Business School a primeira faculdade universitária de negócios naquele país e escreveu um dos primeiros livros se não o primeiro sobre Finanças Corporativas A aproximação ao objeto de estudo utilizada nesse livro foi do ponto de vista prático predominantemente descritivo ao invés de teórico A Modernidade em Finanças Adotando o paradigma A literatura de finanças antes dos anos 50 era em grande parte descritiva e detalhada no conteúdo institucional Nos anos cinqüenta mudanças fundamen tais começaram a aparecer contribuindo para que as finanças modernas desen volvessem um arcabouço teórico formalizado Ardalan 2004 2008 concorda com McGoun 1992 e outros autores em relação à mudança de paradigma nas Finan ças nesse período adotando o paradigma funcionalista de acordo com a classifi cação de Burrell e Morgan 1979 Ainda Ardalan 2007 2008 considera que a pesquisa em finanças já utilizou os quatro paradigmas sendo que algumas das mais importantes contribuições da abordagem tradicional corresponderiam se gundo esse autor ao paradigma interpretativo Os filósofos da ciência têm mostrado que mais de uma teoria pode explicar um determinado conjunto de dados Isto porque as teorias científicas estão basea das em paradigmas Um paradigma é tão essencial quanto a observação e o expe rimento para o desenvolvimento da ciência Para Domingues 2004 p52 um paradigma comporta uma dimensão teórica em cujo interior se formula o problema a ser pesquisado se postula algo sobre a realidade e se escolhe um segmento do real como princípio explicativo e uma dimensão metódica instalada e guiada pela teoria a qual se encarregará de contrastar a teoria em relação à realidade Se gundo Ardalan 2004 o estudo histórico de mudança de paradigma indica carac terísticas semelhantes no desenvolvimento das ciências Mas o papel dos 355 os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 Evolução da Pesquisa em Finanças epistemologia paradigma e críticas paradigmas na escolha paradigmática é circular Cada paradigma usa suas próprias suposições para discutir em sua própria defesa Assim o argumento circular só pode ser usado para persuasão Segundo Burrell e Morgan 1979 uma característica importante dos paradigmas é sua incomensurabilidade Esses autores seguem a idéia de Kuhn 1970 ao afirmarem que os quatro paradigmas por eles identificados são mutua mente exclusivos Muitos autores concordaram com a idéia de incomensurabilidade especialmente na década de 1980 mas outros aceitaram o pluralismo refletindo em uma evolução simultânea de vários paradigmas Corcuff 2001 ainda que em nível teórico da sociologia chega a questionar a maneira como as ciências sociais utilizando pares de conceitos opostos como idealismomaterialismo sujeitoob jeto ou coletivoindividual como no esquema utilizado por Burrell e Morgan 1979 fazem ver o mundo social de maneira dicotômica Essa forma de pensamento segundo Corcuff poderia ser até prejudicial para a compreensão dos fenômenos complexos dos dias atuais No caso da Teoria de Finanças McGoun 1992 p166167 provê uma expli cação da mudança de paradigma no campo acadêmico dessa área com a publica ção do artigo de Modigliani e Miller 1958 indicando que este seria certamente um forte candidato por ter efetuado uma espécie de revolução acadêmica na eco nomia financeira De acordo com Ross 1988 p127 se a visão do progresso da ciência que interpreta este como um dos paradigmas que tem mérito então se guramente o trabalho de Miller e Modigliani fornece um exemplo de laboratório de uma violenta mudança de paradigma McGoun 1992 p167 acrescenta que o processo de simplificação matematização e o esquema da arbitragem nas suas provas teve um profundo impacto no modo como os economistas financeiros têm procedido desde então Segundo Burrell e Morgan 1979 o paradigma funcionalista assume que a sociedade tem existência concreta e segue uma ordem determinada Essas supo sições conduzem à existência de uma ciência social objetiva e livre de valor que pode produzir explicações verossímeis e conhecimento para predizer a realidade Assumese então que as teorias científicas podem ser avaliadas objetivamente a partir de sua referência à evidência empírica Os cientistas não vêem nenhum papel para eles dentro do fenômeno que analisam pelo rigor e a técnica do méto do científico Atribuise assim a independência do observador em relação ao ob servado isto é o observador tem a habilidade de observar sem afetar o objeto Assumese então a exixtência de padrões universais da ciência os quais determi nam o que constitui uma explicação adequada do que é observado Assumese ainda que há regras externas e regulamentos que governam o mundo exterior O objetivo dos cientistas passa a ser então o de descobrir as ordens que prevale cem dentro daquele fenômeno O paradigma funcionalista busca prover explicações racionais aos assuntos sociais e gerar uma sociologia da regulação Enfatiza a importância de entender a ordem equilíbrio e estabilidade da sociedade e o modo pelo qual todos estes podem ser mantidos A ciência provê a base para estruturar a ordem do mundo social semelhante à estrutura e ordem do mundo natural São usados os méto dos das ciências naturais para gerar explicações do mundo social A sua aproxima ção para a ciência social está arraigada na tradição do positivismo de Durkheim Os funcionalistas são individualistas ou seja as propriedades do conjunto são determinadas pelas propriedades de suas unidades O paradigma funcionalista permaneceu dominante na sociologia acadêmica na teoria organizacional e nas pesquisas acadêmicas de finanças O mundo de finanças é tratado então como um lugar de realidade concre ta o indivíduo é considerado como assumindo um papel passivo ou seja o seu comportamento é determinado pelo ambiente econômico A partir de então se gundo Ardalan 2004 as finanças modernas procedem como se houvesse um comportamento financeiro externo e testam empiricamente declarações teóricas considerando tal comportamento financeiro para determinar sua verdade As li os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 356 Robert Aldo Iquiapaza Hudson Fernandes Amaral Aureliano Angel Bressan nhas comuns entre as teorias e políticas em Finanças QUADRO 1 levam à conclu são que as teorias atuais em finanças estão claramente baseadas no paradigma funcionalista Quadro 1 Quatro Linhas Comuns entre as Teorias e Políticas em Finanças 1 há um mecanismo de causa e efeito que está por baixo de toda a natu reza e atividade humana ontologia 2 é conhecida por meio do conjunto de conexões nomológicas entre con dições iniciais e resultados finais epistemologia 3 os seres humanos interagem entre si em conformidade com este meca nismo natureza humana 4 as informações relacionadas com toda a atividade natural e humana podem ser adquiridas por meio de observações e medidas não afetadas pelas diferenças de percepção individuais metodologia Fonte adaptado de Ardalan 2004 687 Dentro do paradigma funcionalista McGoun 1992 p161 em sua reflexão sobre o conhecimento em finanças indica que o comportamento da maioria dos cien tistas implica na sua escolha de certas suposições tácitas da atividade científica 1 há um ambiente externo real independente de ciência 2 é possível pelo menos em princípio determinar a verdade de uma declaração científica relativa ao ambiente externo 3 os cientistas nunca declararão todas as verdades relativas ao ambi ente externo 4 com o passar do tempo os cientistas revelam verdades mais precisas relativas ao ambiente externo O começo da moderna teoria financeira foi marcado pelas contribuições fei tas por Markowitz 1952 Kendall 1953 Modigliani e Miller 1958 e Sharpe 1964 Os fundamentos sobre os quais a moderna teoria financeira foi desenvolvida fo ram importados da teoria econômica neoclássica que assume como racional o comportamento dos indivíduos Segundo Statman 2005 p1 nesse extraordiná rio momento professores universitários e profissionais das finanças foram alte rando as suas mentes mudando de um quadro em que os investidores são nor mais para uma em que os investidores são racionais A evolução teórica Por outro lado dada a natureza estabelecida historicamente e a importân cia de mercados de valores particularmente nos Estados Unidos e Grã Bretanha não é surpreendente que muitos dos primeiros trabalhos teóricos de finanças nos anos cinqüenta e sessenta tenham focalizado a análise do comportamento dos preços das ações e os princípios de seleção racional de portfólios de ações A chave desse desenvolvimento foi o modelo de passeio aleatório dos preços de ações que segundo Fama 1965 o caminho futuro do nível de preço de um título não é mais previsível do que o caminho de uma série acumulada de números aleatórios isto insinua que a série de mudanças de preço não tem memória o passado não pode ser usado para predizer o futuro de modo significativo FAMA 1965 p34 Firmemente unido ao modelo de passeio aleatório e sua generalização no modelo martingal está a hipótese de mercados eficientes QUADRO 2 que afir ma que a natureza de mercados de capitais maduros como os dos Estados Uni dos tornaos eficientes no sentido que neles os preços sempre refletem com pletamente a informação disponível FAMA 1970 383 A ligação entre as duas idéias é que se o preço atual de uma ação refletir toda a informação disponível 357 os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 Evolução da Pesquisa em Finanças epistemologia paradigma e críticas então seus movimentos de preços futuros só serão ajustados por meio de nova informação que em função disso é por definição imprevisível Ao lado desses desenvolvimentos estava a teoria de seleção de portfólios originalmente desenvolvida por Harry Markowitz 1952 O estudante de Markowitz William Sharpe junto com John Lintner e Jack Treynor desenvolveram o que foi conhecido como o Modelo de Avaliação de Ativos Financeiros Capital Asset Pricing Model no qual a determinante chave da taxa esperada de retorno de uma ação é o coeficiente ß beta da ação definido pela covariância de seu preço com o nível global do mercado SHARPE 1964 O pressuposto fundamental foi o da diversifi cação o risco idiossincrático específico de uma ação particular poderia ser diver sificado mas não o risco genérico de flutuações globais do mercado sistêmico Os investidores racionais requererem então lucros esperados mais altos para manter ações com um ß alto em contraposição a ações de ß baixo O aparecimento da moderna teoria de finanças fez parte de uma revolução que teve um impacto fundamental sobre a velha área de finanças largamente préteórica e freqüentemente baseada em um mundo de relações explícitas Quadro 2 Teorias e Políticas em Finanças desde 1950 Teoria de mercado eficiente Fama 1970 1976 1991 revisa a teoria e evidên cia empírica Jensen 1978 provê uma revisão de algumas anomalias Schwert 1983 pesquisa as anomalias relacionadas ao tamanho e Moy e Lee 1991 compilam a bibliografia de diferentes anomalias do mercado de valores Ball 2005 atualiza a revisão de literatura Teoria de portfólios Markowitz 1952 1959 enfatiza o benefício de diversifi cação de portfólios e fundamenta a formulação da Teoria de Avaliação de Ati vos de Capital Teoria de avaliação de ativos de capital Jensen 1972 pesquisa e discute a literatura Roll 1977 critica os testes do modelo Teoria de avaliação de opções Black e Scholes 1972 e Merton 1973 a desen volvem Cox e Ross 1976 e Smith 1976 1979 proporcionam uma revisão da teoria e de suas aplicações Teoria de agência Jensen e Ruback 1983 e Jensen e Smith 1985 provêem revisões dessa literatura Garvey e Swan 1994 revisam a literatura sobre governança corporativa Teoria de avaliação por arbitragem Ross 1976 prova a determinação de K fatores na avaliação de ativos Política de orçamento de capital Aggarwal 1993 provê uma avaliação de or çamento de capital sob incerteza Política de estrutura de capital Modigliani e Miller 1958 e Fama 1978 revi sam e discutem a literatura Política de dividendos Black 1976 provê um resumo dos assuntos Allen e Michaely 1995 fazem uma revisão Fonte adaptado de Ardalan 2004 p686687 Para Bernstein e outros a teoria acadêmica de mercados financeiros que tinha começado a ser desenvolvida nos anos 1950s e 1960s parecia estranha e pouco atrativa abstrata e difícil de entender BERNSTEIN 1992 p10 13 Inicialmente por exemplo os defensores do modelo de passeio aleatório foram recebidos com escasso entusiasmo Gradualmente porém os modelos de pas seio aleatório de seleção de portfólio e o Modelo de Avaliação de Ativos Financei ros foram adotados por uma variedade ampla de empíricos BERNSTEIN 1992 p233306 O indicador mais revelador da aceitação da teoria de finanças pelos participantes do mercado foi o aparecimento nos anos setenta de fundos indexados nos quais o esforço para superar o retorno do mercado escolhendo os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 358 Robert Aldo Iquiapaza Hudson Fernandes Amaral Aureliano Angel Bressan ações promissoras foi abandonado em favor de manter todas as ações repli cando um índice de mercado como o SP500 da Standard and Poors A adoção pelos praticantes do mercado da Teoria de Avaliação de Opções desenvolvida por Fischer Black e Myron Scholes 1972 e Robert C Merton 1973 foi muito mais rápida Estes mostraram que se os retornos do ativo subjacente seguis sem um passeio aleatório de tempo contínuo então o padrão de retornos de uma opção poderia ser reproduzido exatamente por um portfólio continuamente ajustado do ativo e o título do governo ou em dinheiro Em um mercado eficiente então o preço de uma opção teria que ser o custo da replicação do portfólio Se seus preços divergissem existiria uma oportunidade de arbitragem em outras palavras haveria um lucro sem risco que pode ser feito comprando o mais barato e vendendo o mais valorizado dos dois Como os arbitradores fazem isto suas compras aumentariam o preço mais baixo e suas vendas abaixariam o preço mais alto eliminando qualquer diferença entre o preço de uma opção e o custo de replicação do portfólio Ao começo dos anos setenta as opções eram ativos financeiros especializados e relativamente sem importância MERTON 1973 p141 seu mer cado estava limitado em volume e com negociações ad hoc Uma demarcação definitiva Segundo MacKenzie 2001 foram três as demarcaçõeschave para o de senvolvimento da moderna teoria de finanças e dos mercados financeiros A primeira é relacionada aos limites da economia como disciplina Na maior parte do século vinte o mercado de valores era um tópico de pesquisa de legitimida de duvidosa dentro da economia John Maynard Keynes 1936 1964 em uma famosa e sarcástica comparação associou o investimento no mercado de valores a uma competição de jornal na qual os concorrentes ganham prêmios se seu julgamento da atratividade de um semblante está de acordo com o julgamento comum de todos os concorrentes O desenvolvimento de Markowitz 1952 de uma teoria da alocação ótima de investimentos foi considerado como uma tese de doutorado que não se encaixa na área de economia O artigo de avaliação de opções de Black e Scholes 1972 depois agraciado com o prêmio Nobel em Economia foi rejeitado duas vezes em periódicos de renome em eco nomia por ser muito especializado Peter Bernstein 1992 p46 comenta que a área de Finanças era e é predominantemente uma especialização dentro das escolas de negócios não de departamentos de economia e na maioria das universidades o corpo docente das escolas empresariais e de economia se cumprimentam um ao outro apenas na rua Algumas exceções como a Univer sidade de Chicago e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts MIT se torna ram os locais fundamentais para o desenvolvimento da moderna teoria de fi nanças Até mesmo quando a área de finanças ganhou legitimidade dentro da economia com os principais teóricos de finanças sendo indicados para o prêmio Nobel alguns rastros de divisão permanecem Assim o corpo enorme de pes quisa acadêmica em finanças nos últimos quarenta anos se distribui natural mente em dois eixos a aproximação das Escolas de Negócios para Finanças e a aproximação dos Departamentos de Economia Com o mercado de valores sendo um tópico marginal em economia não é surpreendente que as origens do modelo de passeio aleatório caíssem fora da área como a estatística e a física por exemplo Aparentemente esse fato se justificava em parte segundo Roberts 1959 p3 pela existência de uma tradici onal suspeita acadêmica sobre o mercado de valores como objeto de pesquisa já que o mercado de valores esteve no centro da Grande Depressão de 1930 e depois durante décadas foi visto como investimento arriscado Mas dos anos cinqüenta para frente cresceu a legitimidade do mercado de valores e grandes quantidades de dados sobre os movimentos dos preços das ações ficaram dispo níveis como também o poder necessário dos computadores para analisálos Em bora a separação institucional de grande parte da teoria de finanças dos depar 359 os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 Evolução da Pesquisa em Finanças epistemologia paradigma e críticas tamentos de economia tenha permanecido para MacKenzie 2001 a área de finanças gradualmente tornouse um tópico central talvez questionável como uma das jóias da coroa da economia neoclássica Após a matematização e maior influência da teoria de finanças na administra ção e economia segundo Mramor e Lonèarski 2002 pensavase que a teoria fosse muito próxima das ciências naturais e então universalmente aplicável em economias de mercado com diferentes graus de desenvolvimento Como resultado a teoria e seus produtos estavam sendo exportados dos Estados Unidos onde eles se originaram para outras economias de mercado menos desenvolvidas A segunda demarcação importante à recuperação de sua legitimidade foi relativa aos mercados em si em lugar de sua análise teórica a distinção entre o conhecimento público e privado Que aquele comércio utilizando informação privi legiada insider trading deva do ponto de vista econômico ser ilegal está longe de ficar claro e já foi assunto de muito debate Alguns argumentam por exemplo que com o insider trading os preços acionários refletem melhor a informação e naquele sentido os mercados são mais eficientes Não obstante o senso que um mercado justo de ações requer uma proibição de comércio com informações pri vilegiadas ganhou sustentação nos Estados Unidos e espalhouse gradualmen te aos outros países e por conseguinte o delicado trabalho necessário para manter e policiar a distinção entre conhecimento privado e público através da maior transparência e padrões apropriados de governança corporativa A terceira demarcação crucial está entre comércio legítimo e jogo Em 1936 Keynes 1964 p159 escreveu é normalmente aceito que os cassinos devem no interesse público ser inacessíveis e caros E talvez o mesmo é verdade para as bolsas de valores Que um mercado financeiro não seja compreendido como um cassino é preceito fundamental à reivindicação anterior de legitimidade mas há muito mais em jogo do que a manutenção do limite de aceitabilidade cultural Um aspecto crítico para a viabilidade prática dos mercados financeiros é que as ativi dades neles realizadas sejam legalmente distinguíveis de qualquer jogo de azar Assim inicialmente foram criados obstáculos significativos para o aparecimento dos mercados de derivativos financeiros pela forma tradicionalmente desenhada para a distinção entre jogar e comerciar futuros sobre ativos físicos Com a demar cação legal entre comerciar e jogar os mecanismos tiveram que ser redesenhados as barreiras para a liquidação de contratos desapareceram e os contratos de futuros e de opções sobre ativos abstratos como índices tornaramse menos pro blemáticos Porém considerando condições culturais mais amplas não desapare ceu completamente o assunto do limite entre jogar e comerciar especialmente em países menos desenvolvidos Para Mramor e Lonèarski 2002 com o tempo surgiu o questionamento sobre a utilidade da moderna teoria financeira Os pesquisadores começaram a olhar suas suposições para descobrir o que deveria ter sido óbvio desde o princí pio as suposições não estão contidas na realidade Existem diferentes tentativas de contornar esse problema alguns autores propõem uma evolução atualizando os pressupostos e métodos do paradigma funcionalista dominante Outros pro põem iniciar a construção de um novo arcabouço teóricometodológico nas finan ças neste caso tratase de reconhecer que o ser humano não é um maximizador mecânico da riqueza onisciente e egoísta investidor racional mas preferentemente um ser que é complexo social político e estocástico em sua natureza investidor normal A Crítica da PósModernidade em Finanças A questão performativa Para Ardalan 2004 a realidade no mundo das finanças vem sendo forma da entre outros aspectos pela própria teoria de finanças Sustentando a idéia de os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 360 Robert Aldo Iquiapaza Hudson Fernandes Amaral Aureliano Angel Bressan que o comportamento financeiro não é independente da teoria de finanças as teorias programas de pósgraduação especialmente de doutorado periódicos e conferências acadêmicas em finanças aderem quase exclusivamente a certo modo de ver o mundo que está relacionado ao chamado paradigma funcionalista Segundo MacKenzie 2003 não é surpreendente que uma ciência social como os estudos em finanças tenha o potencial para alterar seus objetos de estudo o assunto mais difícil é especificar com precisão os modos nãotriviais nos quais as ciências naturais são também performativas Que uma ciência social como a psicologia por exemplo tenha um caráter necessariamente reflexivo e que os psicólogos influenciem como também descrevam as vidas psicológicas de suas sociedades anfitriãs são temas que foram amplamente discutidos Para esse au tor a área de finanças é um domínio do que Barnes 1983 chamou condições de tiposocial Stype completamente diferentes das do tiponatural Ntype ou isso que Hacking 1995 chamou de tipos humanos com seus efeitos de reali mentação entre o conhecimento e seus objetos Por causa da invisibilidade freqüente dos efeitosS de ida e volta Sloops e devido ao domínio do que se poderia chamar epistemologia dos termosN natural terms segundo MacKenzie 2001 as posições influentes dentro de teoria socioló gica freqüentemente ignoraram as cadeias de egoreferência e egovalidação o tratamento durkheimiano dos fatos sociais seria um exemplo disso Uma das pou cas exceções dentro da sociologia e antes dos anos sessenta é o artigo clássico de Robert K Merton 1949 sobre a profecia autorealizada no qual descreve o fracasso de um banco causado por um rumor de que o banco estava insolvente fazendo com que os depositantes retirassem seu dinheiro e outros ao observa rem essas retiradas fizeram o mesmo assim o rumor se faz verdadeiro MacKenzie 2001 considera evidente que o campo das finanças é um domí nio de termosS porque nele há um domínio do dinheiro que é essencialmente um termoS ou uma criação social Porém a avaliação da potencial ida e volta continuada entre teoria de finanças e seu objeto de estudo é uma tarefa que raramente foi realizada com exceção de Merton 1949 A maioria da discussão da teoria de finanças é moldada implicitamente pela epistemologiaN No caso da hipótese de mercado eficiente por exemplo até mesmo as contribuições mais sofisticadas para o debate sobre sua validez usualmente colocam a pergunta no âmbito do grau de ajuste entre os mercados como entidades empíricas e a hipóte se como padrão SHLEIFER 2000 O fato de os mercados serem entidades histo ricamente variáveis e de suas características poderem ser influenciadas pela fre qüência da convicção na hipótese normalmente não é considerado Por exemplo o impulso comercial dos investidores de um dia daytrade que implicitamente sinalizam sua descrença no passeio aleatório pode criar tendências nos preços de mercado das ações quando esses investidores formam uma parte significativa do mercado as compras destes que pensam que os preços subirão em uma ten dência ascendente podem fazer os preços continuarem subindo Se este fosse o caso constituiria uma realimentação positiva descrença na hipótese de mercado eficiente criando fenômenos na variância dele Não obstante parece plausível que o padrão predominante é o da realimentação negativa A procura por avaliar anomalias com as quais ganhar dinheiro faz essas anomalias desaparecerem em outras palavras as atividades desses que acreditam que o mercado não é eficien te ajuda a este a ser eficiente Ou seja em princípio é claramente possível que a teoria de finanças moder na seja performativa em lugar de simplesmente descritiva MAcKENZIE 2001 Porém isso não remove a necessidade de análise empírica Que a teoria possa ser performativa não insinua que foi performativa Nesse caso o conceito performativo de Austin 1990 parte do pressuposto de que o dizer realmente faz ou gera os resultados propostos Para MacKenzie 2001 durante as últimas três décadas as suposições típi cas da teoria de finanças ficaram empiricamente mais realistas Alguns dos pro cessos envolvidos não têm diretamente nenhuma relação com a teoria de finan 361 os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 Evolução da Pesquisa em Finanças epistemologia paradigma e críticas ças O desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação aumentou a velocidade com que as transações podem ser executadas e reduziu extremamen te seu custo O clima político de livremercado dos anos oitenta nos Estados Unidos e no Reino Unido e nos anos posteriores em outros países fez seu papel abrindo a competição e diminuindo fortemente os custos de transação Por outro lado a própria teoria de finanças teve um papel importante para suas suposições tornaremse mais realistas Por exemplo o crescimento da arbitra gem foi grandemente encorajado pelo sucesso enorme de algumas companhias e bancos de investimentos como o Salomon Brothers em alguns casos tendo o su porte de acadêmicos identificando e explorando oportunidades de arbitragem Esse sucesso notável espalhouse rapidamente e o número de arbitradores e o capital disponível cresceram na mesma medida Devido ao fato de que a arbitragem é o mecanismo fundamental da teoria de finanças pelo qual as discrepâncias de preço são eliminadas este é um claro exemplo do aspecto performativo da teoria Segundo MacKenzie 2003 outro exemplo dessa ação performativa é o de senvolvimento da Teoria de Avaliação de Opções financeiras proposta por Black e Scholes 1972 e sua aplicação prática Essa teoria parece ter tido um forte sentido performativo porque esta simplesmente não descreveu um mundo preexistente mas ajudou a criar um mundo do qual a teoria era o reflexo mais verdadeiro Da mesma forma Ardalan 2004 aponta que além das teorias programas de doutorado periódicos e conferências em finanças acadêmicas a educação dos diplomados também afeta a formação de suas percepções atitudes convicções comportamentos e conseqüentemente a prática de finanças Todos eles têm assim um importante papel na construção social da realidade de finanças Contudo segundo MacKenzie 2003 a ação performativa da teoria de ava liação de opções é incompleta e historicamente específica não se fez completa ou permanentemente verdadeira A adoção da equação pelo mundo financeiro foi resultado de ambos em parte porque esse mundo estava mudando e em parte porque a equação modificou o mundo Neste último caso MacKenzie 2003 iden tificou quatro sentidos 1 a equação parece ter alterado os padrões de preços das opções possivelmente associados à maior negociação com a utilização da teoria para identificar opções com preços sub ou sobre avaliados 2 os pressu postos ficaram mais realistas com a introdução de mudanças estruturais no siste ma financeiro aproximandose das condições ideais de eficiência e ausência de fricções 3 a solução para o problema de avaliação de opções tornouse paradigmática no sentido de solução exemplar KUHN 1970 de uma forma mais profunda do que o conhecido Modelo de Avaliação de Ativos Financeiros de Sharpe 1964 permitindo que outros ativos financeiros sejam avaliados como opções e 4 ainda possibilitou a reconceituação do risco envolvendo opções implícitas e sua aplicação a opções reais presentes em diversos ativos físicos que vão desde o investimento de empresas até inovações farmacêuticas A teoria de avaliação de opções alterou o modo como o risco é conceituado pelos usuários na prática como também pelos teóricos O comprometimento teórico foi importante no desenvolvimento das teorias mas não era nenhum compromisso à verdade literal dos modelos econômicos Um modelo deve ser simples o bastante e ser matematicamente tratável contudo rico o bastante para capturar os aspectos economicamente mais importantes da situação modelada Os modelos são recursos não representações modos de entender e argumentar sobre os processos econômicos não descrições válidas da realidade Se este último é o critério de verdade todos os economistas finan ceiros concordariam com Eugene Fama o qual alega que qualquer modelo é com certeza falso FAMA 1991 p1590 Para MacKenzie 2001 quase tudo escrito sobre teoria de finanças está discutido em termosN falhando em reconhecer os aspectos performativosS A exceção principal é Robert C Merton o filho do teórico da profecia autorealizada Robert K Merton Nesse caso Robert C Merton considerando a sensibilidade dialética do mundo social e o conhecimento daquele mundo está ciente que a os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 362 Robert Aldo Iquiapaza Hudson Fernandes Amaral Aureliano Angel Bressan matemática de tempo contínuo é só uma aproximação à realidade dos mercados até mesmo no século atual ainda há um intervalo de tempo finito entre a decisão para revisar um portfólio e a implementação da revisão Mas esta e outras suposi ções da teoria de finanças estão ficando mais realistas Para Merton 1992 p470 a espiral de inovação financeira de novos produtos novos mercados maior per feição volume elevado e baixos custos de transação estão empurrando para o caso teoricamente limite de custo marginal de transação nulo e completando dina micamente os mercados Conforme a espiral evolui a realidade eventualmente imitará a teoria A questão epistemológica Segundo MacKenzie 2003 859 a adoção das teorias da economia finan ceira pelos profissionais do mercado não teve como resultado uma economia performativa generalizada subjacente do pressuposto de egoísmo racional Isso significa que o homo economicus não foi em geral materializado completamente em um ser Mas o que até o presente não tem sido enfocado no debate sobre a performatividade da economia é a existência de uma prova razoavelmente precisa de se os atores foram ou não configurados em homines economici da ação coleti va em outras palavras ações que visam o interesse de um grupo inteiro mas com respeito ao qual o egoísta racional desfrutará sem contribuir com esforço freerider Nesse caso Olson 1980 mostrou que se todos os atores são homines economici todos eles vão desfrutar sem esforço em tal situação e a ação coletiva seria então impossível Porém para MacKenzie 2003 os participantes em mercados financeiros têm pelo menos até certo ponto retido a capacidade de ação coletiva Por exem plo a criação da bolsa Chicago Board Options Exchange CBOE nos Estados Uni dos envolveu importantes doações sem contraprestação mas iniciou os proces sos fundamentais que fizeram performativa a teoria de opções A análise clássica de redes sociais de avaliação de opções de Baker 1984 pode mostrar a persis tência da ação coletiva pelo menos nos grupos menores de comércio da CBOE e a distorção na volatilidade de opções pode também ser interpretada pelo me nos tentativamente como ação coletiva Isto significa que a teoria atual não apresenta todas as imagens da realida de Se nós olharmos para o mundo com óculos tingidos de rosa o mundo parecerá ser rosa Isto é o que nós realmente observamos não é a realidade Um par de óculos azuis daria a idéia e também se observaria que o mundo é azul E isso também não é correto Os filósofos de ciência estão interessados na correta re presentação do mundo mas também cada gerente ou teórico de finanças está na procura de uma correta representação do comportamento dos mercados A metáfora dos óculos mostra que a escolha feita no começo da pesquisa determina o que nós vemos e achamos na pesquisa Cada pessoa tem pela sua educação sua instrução e cultura uma visão sobre como pesquisar e mais am plamente sobre o que seria verdade Logo o modo que observamos realmente é até mesmo mais importante As escolhas filosóficas têm impacto no modo como realizamos pesquisa determinam o modo de observar por exemplo a companhia ou seus processos de administração As diferentes imagens da realidade financeira permanecem freqüentemente muito subexpostas ou ainda pior muitas pessoas nem mesmo estão cientes dessas diferenças Então seria muito difícil comparar pesquisas diferentes dado que estas podem ter sido empreendidas dentro de diferentes marcos de referên cia que às vezes poderiam ser radicalmente diferentes considerando por exem plo os paradigmas de Burrell e Morgan 1979 Para Ardalan 2007 2008 cada um dos paradigmas implica uma forma diferente de teorização social em geral e das finanças e dos mercados em particular 363 os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 Evolução da Pesquisa em Finanças epistemologia paradigma e críticas Um pesquisador precisa trabalhar em harmonia com o ambiente o contexto como se este fosse conhecido pelo investigador e como este parece estar na sociedade O pesquisador em finanças faz parte de um processo de socialização dentro de uma rede de semelhantes dentro de valores e normas sociais inte lectuais e tradições políticas Assim o par de óculos que utiliza as escolhas que faz determinará o que esse pesquisador pode ver e conseqüentemente o que vai achar como resultado de sua pesquisa Finanças comportamentais um novo paradigma Para Keasey e Hudson 2007 a teoria de finanças moderna é análoga a uma casa sem janelas que para se manter viva utiliza novos fatos do mundo exterior para criar enigmas ou quebracabeças e então impulsionar novas ativi dades dos pesquisadores no âmbito do templo ou seja sob seu próprio paradigma e isolados do exterior Para esses autores uma abordagem mais aber ta e óbvia seria se engajar com os diversos participantes do mercado o que pode ria levar a uma maior percepção e compreensão dos fatos já que isto não ignora ria as complexidades do contexto Assim como a crítica anterior existem muitas outras que foram sendo formu ladas no percorrer do tempo As primeiras visões contrárias à teoria financeira moderna apareceram durante os anos oitenta Os questionamentos mais sérios ao paradigma dominante começaram quando a Prospect Theory de Kahneman e Tversky 1979 foi importada aos estudos de avaliação de ativos Essa teoria foi estabelecida sobre o resultado de numerosos estudos psicológicos experimen tais como uma alternativa à maximização da utilidade esperada de Von Neuman e Morgenstern 1967 um dos fundamentos das finanças modernas Segundo a teoria do prospecto em vez de se atribuírem valores aos resultados finais eles são atribuídos aos ganhos e às perdas e as probabilidades são substituídas por pesos ou ponderações na tomada de decisões KAHNEMAN e TVERSKY 1979 Isto é a teoria do prospecto usa duas funções para caracterizar as escolhas a função de valor que substitui a função utilidade da teoria da utilidade esperada e a fun ção peso da decisão que transforma probabilidades em ponderações das deci sões GAVA e VIEIRA 2006 Assim nasceu uma nova abordagem em finanças chamada de finanças comportamentais do inglês behavioral finance doravante BF também ocasionalmente apontada por seus oponentes de literatura de anomalias como um modo de marginalizála Como as razões da mudança para a BF foram as inexplicáveis respostas de mercado encontradas testando a Hipótese de Eficiência do Mercado EMH e o Modelo de Avaliação de Ativos Financeiros CAPM reuniramse resultados psico lógicos como explicações da sobrereação ou subreação dos investidores às novas informações disponíveis aos investidores A hipótese de sobrereação de DeBondt e Thaler 1985 foi uma das aplicações importantes da BF à solução da crise na EMHCAPM Isto é o argumento central da crítica recai no pressuposto de comporta mento racional dos seres humanos Segundo Statman 2005 p6 os investidores consideravamse normais antes de serem descritos como racionais no início dos anos 1960 e eles permanecem normais hoje Os investidores normais são afeta dos por vieses cognitivos e emoções enquanto os investidores racionais não Investidores racionais consideram apenas o risco e o retorno esperado de seus portfólios globais enquanto os investidores normais se preocupam com mais do que só isso Uma revisão atualizada sobre as principais anomalias identificadas pela lite ratura de BF especialmente as relacionadas com preços de mercado é apresenta da em Stracca 2004 e Aldrighi e Milanez 2005 Dependendo dos autores as anomalias podem ser agrupadas em diferentes categorias como heurística de decisões ou regras de bolso fatores emocionais como autoconfiança excessiva e exageros quanto ao otimismo e pessimismo subordinação à forma ou depen os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 364 Robert Aldo Iquiapaza Hudson Fernandes Amaral Aureliano Angel Bressan dência do contexto escolha de atalhos choice bracketing desconhecimento das preferências que levaria a ponderações errôneas e dependência de referentes ou padrões históricos tais como nos estudos de Halfeld e Torres 2001 Barberis e Thaler2003 Lima 2003 Stracca 2004 Aldrighi e Milanez 2005 Kimura Basso e Krauter 2006 e Byrne e Brooks 2008 Outro dos principais argumentos em finanças comportamentais está relacio nado com as limitações à arbitragem as quais impedem a exploração racional pelos investidores no curto prazo das oportunidades de precificação errônea Segundo Barberis e Thaler 2003 Rabelo e Ikeda 2004 e Byrne e Brooks 2008 limitações relacionadas com a falta de ativos substitutos interferência de noise traders e custos significativos de coleta e processamento de informações podem persistir impossibilitando assim que os preços voltem para o seu valor conside rado fundamental Segundo Aldrighi e Milanez 2005 p64 as operações de arbi tragem fracassam em suprimir os vieses de comportamento que levam às anoma lias porque a atuação dos noise traders cria o risco de as distorções que geram poderem se ampliar com o tempo Sendo os arbitradores predominantemente administradores de fundos de investimentos avaliados sobretudo pelo seu de sempenho no curto prazo os mesmos não podem manter operações de arbitra gem cujos ganhos demoram a aparecer Em relação às descobertas empíricas a diversidade de metodologias apli cadas conduz algumas vezes a resultados contraditórios dentro da própria abordagem de finanças comportamentais Por exemplo os resultados de Brown e Kagel 2009 utilizando experimentos de laboratório dão suporte às predi ções do viés de statusquo mas não ao efeito ostrich que consiste em evitar informações negativas nem ao efeito disposição no qual segundo a teoria do prospecto o investidor prefere vender seus investimentos ganhadores e man ter os perdedores Mas essas contradições podem ser ao mesmo tempo posi tivas quando se considera a idéia de Barberis e Thaler 2003 de que no futuro sempre encontraremos que as atuais proposições teóricas racionais e comportamentais estão erradas e então propostas teóricas substancialmente melhores irão emergir entre elas Já existem algumas evidências empíricas sobre o tema no Brasil Costa Jr 1994 analisou a ocorrência de sobrereação de acordo com a hipótese apresen tada por DeBondt e Thaler 1985 O estudo foi conduzido com base no desempe nho mensal de duas carteiras de investimento teóricas definidas como perdedora e vencedora sendo ambas formadas por ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo no período de 1970 a 1989 Os resultados obtidos apontaram não só que o efeito da sobrereação é sentido no mercado brasileiro mas também que sua magnitude é maior que a observada no mercado norteamericano Entre alguns estudos mais recentes Rogers Securato e Ribeiro 2007 concluem que os agentes econômicos tomam decisões muitas vezes incompatíveis com atitudes baseadas no comportamento racional e corroboram conceitos fundamentais da teoria do prospecto efeito certeza efeito reflexão e efeito isolamento Os resul tados empíricos de Kimura Basso e Krauter 2006 mostram que se mantêm as evidências de diversos vieses de percepção em decisões independentemente de aspectos relacionados com a evolução do mercado e com a cultura ou nacionalida de dos indivíduos Na mesma direção os resultados de Aguiar Sales e Sousa 2008 apontam para influências das heurísticas de representatividade e ancoramento no comportamento do mercado de ações brasileiro relacionada aos fenômenos de sobrereação ou subreação dos preços das ações Os resultados empíricos da literatura de BF deram origem a estratégias de investimento que sistematicamente exploram os fatos onde o mercado não é tão eficiente quanto prediz a EMH levando a tomada de posições contrárias ao que a eficiência recomendaria o que resulta na realização de ganhos expressivos Segun do Frankfurter e McGoun 2002 embora certamente sugestiva e talvez até mes mo remunerativa a BF tem suas limitações É uma mistura de numerosos efeitos psicológicos freqüentemente contraditórios Não importa o que acontece no merca do há um efeito psicológico que pode ser reunido para explicar tal acontecimento 365 os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 Evolução da Pesquisa em Finanças epistemologia paradigma e críticas Frankfurter e McGoun 2002 analisam mais amplamente o conflito entre as finanças modernas de fato o paradigma dominante e as finanças comportamentais Porém assinalam que até mesmo os supostos proponentes desta corrente de BF estão se marginalizando ao adotarem as doutrinas formas e métodos subjacentes ao paradigma dominante ver por exemplo o artigo de Shefrin e Statman 1994 Dessa forma permitiram que o paradigma funcionalista fixasse as condições do debate e fizeram dele o ponto de referência contra o qual todas as teorias alternativas de finanças são não somente julgadas mas também assim etiquetadas de finanças A mesma pesquisa de Finanças está sujeita aos mesmos erros que BF atribui aos empíricos e para Frankfurter e McGoun 2002 são estes mesmos enganos talvez mais do que os ferozes ataques dos partidá rios da doutrina governante que estão impedindo a emergência de BF como um novo paradigma Possivelmente o que falta é uma delimitação das finanças comportamentais que adote o paradigma Interpretativo de Burrell e Morgan 1979 o qual poderia favorecer sua consolidação e dessa forma deixar de ser mais uma corrente dentro do próprio paradigma funcionalista Entretanto o debate entre BF e as finanças modernas continua com cada uma delas tentando desacreditar a outra mas aos poucos vem se formando um conjunto de princípios de economia psicologia e sociologia que dá lugar a uma corrente de pensamento sólida Existe ainda um grupo de pesquisadores com a idéia de conciliar os conceitos contrastantes das duas correntes De acordo com Halfeld e Torres 2001 p71 e Kimura Basso e Krauter 2006 p57 essa idéia supõe a evolução dos sofisticados modelos matemáticos atuais que devem ser aperfeiçoados incorporando estudos sobre a irracionalidade do investidor e con siderando inclusive aspectos de estudos tradicionalmente conduzidos no ramo da psicologia Todavia autores como Lo 2004 2005 e Frankfurter 2006 pro põem uma evolução no paradigma atual cujo objetivo principal do comportamento não seja o benefício econômico Considerações Finais A diferença entre as ciências naturais e sociais é fundamentada nas suas respectivas relações com os fenômenos que elas estudam Para Ardalan 2004 nas ciências sociais as pesquisas podem afetar e causar mudanças nos fenômenos investigados mais do que nas pesquisas em ciências naturais O comportamento social é condicionado por marcos de referência compartilhados culturalmente de compreensão conceitual o qual é o produto principal da ciência social Então como os conceitos e as teorias são comunicados e filtrados à vida diária estes reconstituem a mesma realidade que eles buscam investigar Isto é especialmente verdadeiro nas ciências da administração empresarial inclusive nas finanças em que algumas teorias funcionam como instrumentos de controle administrativo Segundo Ardalan 2004 as ciências orientadas à prática provêem sugestões relativas a intervenções potenciais no fazer diário dos negócios Tal fato foi tam bém apontado por Merton 1992 pxiii ao assinalar que a teoria de finanças tem tido uma influência direta e significativa na prática administrativa Assim a relação entre teoria de finanças e a prática administrativa é dialética em razão de que a teoria não só reflete mas também estrutura seu próprio assunto de estudo ARDALAN 2004 p685 Para Ardalan 2004 este é o motivo por que o padrão científico natural para avaliação teórica isto é a objetividade não é relevante para as ciên cias sociais O padrão de objetividade pressupõe estabilidade nos fenômenos sob pesquisa e a aplicação desse critério para o fluxo constante de interação entre o pesquisador e o objeto estudado não é possível Por outro lado a análise da performatividade da economia aponta para um terreno contestado David Durand 1968 p848 uma figura principal da abordagem tradicional do estudo acadêmico de finanças ao examinar os mo delos matemáticos que estavam começando a transformar seu campo comen os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 366 Robert Aldo Iquiapaza Hudson Fernandes Amaral Aureliano Angel Bressan tou que os novos homens de finanças perderam virtualmente todo con tato com a terra firme No entanto desde as décadas 1950 e 1960 se verifica que o mundo das finanças mudou de tal forma que aparentemente os mode los espaciais que horrorizaram Durand têm se configurado como mais reais devido a estes terem sido incorporados nas estruturas e práticas dos merca dos MACKENZIE 2003 ARDALAN 2004 Porém segundo MacKenzie 2003 os mercados financeiros permanecem e sempre permanecerão sendo um mundo parcialmente configurado com diferentes forças lutando para compor e distorcer essa configuração A análise de Weston 1994 provendo uma história breve das idéias em finanças revela as transformações e fornece uma explicação geral declarando A revisão e análise da história financeira sugerem cinco generalizações Primei ra os desenvolvimentos de cada período histórico e os criadores destes desen volvimentos estavam respondendo às pressões dos problemas econômicos fi nanceiros e sóciopolíticos do período Segunda o pensamento financeiro tam bém respondeu ao amadurecimento dos mercados financeiros internacionalização e aumento da competição Terceira o desenvolvimento eou usos de novas ferramentas modelos matemáticos novos e metodologias novas facilitaram a criação de teorias para explicar comportamento financeiro Quarta a prática refletiu a nova aprendizagem com tempos variados de defasagem mas também estimulou o desenvolvimento teórico para entender explicar e predizer o com portamento financeiro Quinta as novas idéias foram construídas acima das idéias providas pelo conhecimento prévio WESTON 1994 p7 Em relação aos questionamentos ao paradigma dominante Jensen e Meckling 1994 mesmo sendo expoentes desse paradigma reconhecem que nas organizações sejam elas com ou sem fins lucrativos os agentes não agem guiados plenamente pela motivação que serve como pedra angular do paradigma da economia financeira Assim os autores sugerem a adoção de uma visão mais abrangente para análise dos agentes e do mercado financeiro Ao invés de considerálos como sendo movidos unicamente por um comportamento racional visando objetivos estritamente econômicos Jensen e Meckling sugerem que a teoria financeira deveria considerar que tais agentes são movidos por uma racionalidade de múltiplas facetas afetadas por elementos ligados a crenças hábitos normas sociais entre outros que desempenhariam um papel relevante na orientação das ações dos indivíduos e organizações Dessa forma é válido pensar na proposta de Mramor e Lonèarski 2002 de que a nova aproximação nas finanças deveria ser em princípio positiva e não universal em sua natureza quase da mesma forma como era na aproximação tradicional A discussão na literatura de que a abordagem das finanças comportamentais satisfaz essas exigências é ainda uma questão em aberto prin cipalmente porque a fundamentação de suas propostas teóricas oscila entre o paradigma funcionalista e interpretativo de Burrell e Morgan 1979 Ou seja com pete à proposta de finanças comportamentais consolidarse para superar o paradigma dominante como referência na compreensão dos fenômenos observa dos na realidade ou então lograr uma fusão com o mesmo Essa abordagem começará a se consolidar quando as implicações práticas das suas pesquisas ori ginem mudanças na regulamentação dos mercados no financiamento de empre sas e nos mecanismos de governança confrontando nesses aspectos à teoria dominante de eficiência informacional dos mercados ALDRIGHI e MILANEZ 2005 Por fim Ardalan 2007 955 acrescenta que os conhecimentos de finanças e dos mercados em última instância são produto da abordagem paradigmática do pesquisador para um fenômeno multidimensional Visto a partir deste prisma a busca do conhecimento das finanças e dos mercados é considerada tanto uma atividade ética moral social ideológica e política quanto uma técnica em si Ou seja para compreender melhor os fenômenos de finanças é necessário estar ci ente das contribuições feitas considerando as perspectivas dos outros paradigmas 367 os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 Evolução da Pesquisa em Finanças epistemologia paradigma e críticas Referências AGGARWAL R A brief overview of capital budgeting under uncertainty In Aggarwal R Ed Capital budgeting under uncertainty Englewood Cliffs NJ PrenticeHall 1993 AGUIAR R A SALES R M SOUSA L A Um modelo fuzzy comportamental para análise de sobrereação e subreação no mercado de ações brasileiro RAE Re vista de Administração de Empresas São Paulo v 48 n 3 p 822 julset 2008 ALDRIGHI D M MILANEZ D Y Finança comportamental e a hipótese dos mer cados eficientes Revista Economia Contemporânea Rio de Janeiro v 9 n 1 p 4172 janabr 2005 ALLEN F MICHAELY R Dividend policy In 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Departamento de Administração da FEAUSP Email andresaitouolcombr José Roberto Ferreira Savoia Professor Doutor do Departamento de Administração da FEAUSP Email jrsavoiauspbr Rubens Famá Professor Doutor do Departamento de Administração da FEAUSP Email rfamauspbr RESUMO Este artigo discute as mudanças no papel da função financeira a partir da bibliografia sobre o tema Ele se inicia pela análise dos clássicos sobre o assunto e apresenta a evolução da teoria ao longo das últimas décadas Há uma preocupação em relatar as implicações da ética no campo das finanças e também os impactos da responsabilidade social e ambiental no valor da empresa para o acionista O texto aborda ainda as contribuições da Psicologia e da Neurociência para a evolução da literatura de Finanças Palavraschave Função financeira Evolução da literatura Maximização do valor da empresa EVOLUTION OF THE FINANCIAL FUNCTION ABSTRACT Changes in the role of the financial function were discussed based upon literature reviewed Evolution of the theory over recent decades was presented after analysis of pertinent classics Included also were contributions of Psychology and Neuroscience to the evolution of finance literature The implications of ethics in Finance were stressed as well as the impacts of social and environmental responsibility on the value of the company for the shareholder Key words Finance Evolution of finance literature Corporate value maximization André Taue Saito José Roberto Ferreira Savoia e Rubens Famá Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 32 1 INTRODUÇÃO O objetivo do presente trabalho é discutir as mudanças no papel da função financeira cuja importância consiste no seu envolvimento direto com a maximização do valor da empresa para o acionista e com o atendimento dos interesses dos demais stakeholders buscando um equilíbrio nas relações existentes entre a empresa e esses agentes Realizar uma discussão dessa natureza requer cuidado caso não se considere que os conceitos predominantes atualmente são resultado do acúmulo de conhecimentos e de experiências anteriores Por isso há necessidade de revisar o estadoda arte e para isso de acordo com Brennan 1995 é recomendável reconhecer a influência das limitações dos paradigmas de cada época Enfim entendese que o papel da função financeira evolui e se relaciona com os fatos históricos Para que isso seja compreendido melhor Weston 1975 recomenda a aceitação de três pressupostos O primeiro afirma que a evolução do pensamento econômico reflete os problemas prementes existentes em cada época op cit 37 Analogamente essa concepção pode ser adotada no estudo da função financeira uma vez que novas soluções são desenvolvidas em resposta às dificuldades do cotidiano O segundo destaca que os avanços em Finanças relacionamse ao desenvolvimento de teorias e instrumentos em campos correlacionados op cit 37 de forma que o acúmulo de conhecimentos e técnicas em áreas correlatas é um fator de grande importância para a inovação da função financeira O terceiro menciona que no desenvolvimento da Teoria Financeira a constante transformação sofrida pelas circunstâncias econômicas e administrativas possibilitou darse pouca atenção a certos aspectos de seu conteúdo em umas épocas e leválos na devida consideração em outras op cit 38 Desse modo abrese o trabalho com uma revisão bibliográfica da evolução da função financeira do início do século XX até o início do século XXI relacionandoa com os fatos históricos que caracterizaram cada período A seguir desenvolve se uma discussão sobre a mudança de seu papel incluindo as influências do debate ético E finalmente apresentamse as considerações finais mencionandose algumas tendências do estudo sobre Finanças como a mensuração dos impactos da responsabilidade social e ambiental no valor da empresa para o acionista e a inclusão de conceitos da Psicologia Humana e da Neurociência em Finanças 2 EVOLUÇÃO DA FUNÇÃO FINANCEIRA Inicialmente pretendese por meio deste tópico realizar uma revisão bibliográfica da evolução da função financeira do início do século XX até o início do século XXI relacionandoa com os acontecimentos históricos de cada época Esta seção se baseia nos trabalhos de Archer e D Ambrosio 1969 Weston 1975 Famá e Galdão 1996 e Smith 1984 Contribuições de outros autores são mencionadas ao longo do texto de forma oportuna O Quadro 1 demonstrado a seguir resume o que é discorrido na presente seção A evolução da função financeira Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 33 Quadro 1 Resumo da Evolução da Função Financeira Abordagem Archer e DAmbrosio Smith Período Fatos Históricos Influência para o Conteúdo de Finanças Início do século XX Movimento de consolidação das empresas Destaque para a estrutura de capital e os principais episódios financeiros Expansão de novas indústrias Processo de fusões Preocupação com a estrutura financeira Considerações sobre a liquidez Discussão incipiente sobre planejamento e controle Recessão econômica e falências Crise de 1929 Importância da solvêncialiquidez e recuperação financeira das empresas Tradicional Normativa Segunda Guerra Mundial Relevância do financiamento Administrativa Temor de recessão pós guerra Ênfase no fluxo de caixa Destaque para os controles administrativos internos contas a receber contas a pagar e estoques Década de 1920 Década de 1960 Desenvolvimento tecnológico computação Crescimento do comércio internacional Modigliani e Miller 1958 e a irrelevância da estrutura de capital Análise do custo de capital para determinar obstáculos ao investimento Compreensão das características da economia internacional Década de 1970 Desenvolvimento tecnológico computação Rompimento do Acordo de Bretton Woods Crise na Bolsa de Valores nos Estados Unidos 1974 Choque do Petróleo e crise inflacionária nos Estados Unidos Interesse nas teorias de Markowitz de Tobin e de Sharpe bem como na eficiência dos mercados Utilização do CAPM e dos conceitos de risco sistemático e nãosistemático Econômica Positiva Década de 1980 Moratória dos países em desenvolvimento e crise no setor financeiro Desintermediação financeira Acordo da Basiléia 1988 Interesse maior pela Fórmula de Black Scholes para o cálculo do valor de uma opção Desenvolvimento de estratégias complexas de derivativos para limitar o risco André Taue Saito José Roberto Ferreira Savoia e Rubens Famá Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 34 Econômica e Comportamental Década de 1990 Início do século XXI Globalização da Economia e intensificação do volume das transações financeiras Interdependência maior entre as economias O Bank for International Settlements BIS criou o Committee on Payment and Settlement Systems CPSS Reformulação do Acordo da Basiléia 1998 Casos Mettalgesellschaft Barings Bank e Long Term Capital Management Escândalos contábeis nos Estados Unidos exemplos Casos Enron Tyco WordCom Importância maior das estratégias de hedging por meio de opções e mercado futuro Gestão de riscos se destaca Preocupação pela redução do risco sistêmico e foco na mitigação do risco de liquidação e de crédito dos sistemas de pagamento Atenção maior à criação de valor Maior importância da Governança Corporativa e da transparência das informações Incremento da preocupação com a responsabilidade social e ambiental importante no relacionamento com os demais stakeholders Discussão da Ética Empresarial em Finanças Finanças Comportamentais ganham destaque Fonte Adaptado com base nos trabalhos de ARCHER e DAMBROSIO 1969 WESTON 1975 FAMÁ e GALDÃO 1996 SMITH 1984 DUARTE JR 2003 e GARCIA 2003 Essa abordagem que não é mencionada por ARCHER e DAMBROSIO 1969 foi caracterizada pelos autores do presente trabalho 21 O início do século XX Para Archer e D Ambrosio 1969 nesse período as obras de Finanças foram caracterizadas pela abordagem tradicional focando os principais acontecimentos da vida financeira das empresas ao invés dos problemas administrativos rotineiros op cit 20 De qualquer maneira houve um desenvolvimento da função financeira nessa fase de forma que Weston 1975 considera o início do século XX como o marco do princípio do estudo sistemático em Finanças ocorrido em decorrência do processo de consolidação das empresas e do crescimento do mercado interno norteamericano ambos resultado da construção das grandes redes ferroviárias realizada no final da década de 1880 Em relação ao surgimento de grupos industriais demandantes de recursos financeiros para financiar as suas operações Weston 1975 afirma que os gestores passaram a enfrentar problemas na estrutura de capital das empresas Além disso menciona a relevância do estudo de Dewing 1914 apud WESTON 1975 relativo ao processo de financiamento e à definição da estrutura de capital intitulado Corporate Promotions and Reorganizations no qual o autor constatou a forte relação entre o desequilíbrio da estrutura de capital das empresas e suas respectivas falências a insuficiente geração de lucros não lhes permitiu honrar o crescente pagamento de dividendos e de juros provenientes de dívidas Diante disso esse autor concluiu ser o foco do administrador financeiro em ambiente de crise econômica a proteção da empresa contra a falência e a promoção de sua reorganização 22 Da década de 1920 à década de 1960 De acordo com Weston 1975 a década de 1920 foi caracterizada pelos seguintes fatos a expansão de novas indústrias e o processo de fusões das empresas para completar as linhas de comercialização Embora fosse um período de apuração de grandes margens de lucro a flutuação dos preços dos produtos e a escassez de recursos financeiros se constituíam em motivos de preocupação WESTON 1975 Isso reforçou a importância da estrutura financeira da empresa dos estudos referentes à liquidez das empresas e das A evolução da função financeira Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 35 técnicas de elaboração de orçamentos WESTON 1975 A década de 1930 foi marcada pela profunda recessão econômica decorrente da Crise de 1929 Estudos sobre solvência liquidez e recuperação financeira das empresas se destacaram WESTON 1975 Na década de 1940 houve a 2ª Guerra Mundial e a função financeira deu ênfase à obtenção de recursos para financiar a produção de bens adequados ao período de guerra e ao pósguerra WESTON 1975 Dessa forma observase a predominância da abordagem tradicional até o final da 2ª Guerra Mundial evidenciada no interesse pelos assuntos referentes à estrutura de capital e ao processo de financiamento ARCHER e D AMBROSIO 1969 No início da década de 1950 ocorreu uma rápida expansão econômica Havia porém o receio de uma possível recessão econômica no pósguerra e diante do crescimento dos custos de mãodeobra e das dificuldades de captação de recursos ganharam uma maior relevância os orçamentos de caixa bem como os controles administrativos internos contas a receber contas a pagar e estoques WESTON 1975 No pósguerra houve uma mudança de foco do estudo de Finanças que passou a enfatizar as rotinas internas e a estrutura organizacional abordagem definida por Archer e D Ambrosio 1969 como administrativa Segundo Weston 1975 no período compreendido entre o final da década de 1950 e o início da década de 1960 a rentabilidade das empresas consolidadas começou a diminuir O crescimento do preço de mercado das ações de novas indústrias e de novos segmentos implicou escassez de recursos para as empresas tradicionais de forma que o estudo do custo de capital para visualizar os limites adequados para os investimentos ganhou importância Além disso a busca por novos mercados implicou o processo de internacionalização das empresas em um momento de grande desenvolvimento tecnológico Diante disso tornouse necessária uma maior compreensão das características da economia internacional WESTON 1975 Assim para Archer e D Ambrosio 1969 uma nova abordagem da função financeira ganhou relevância com a utilização da Teoria Econômica cujo maior impulsionador foi Keynes embora o sentido mais prático dos conceitos econômicos só tenha surgido na década de 1950 Ressaltase que na opinião de Smith 1984 o estudo da função financeira permaneceu estagnado até a década de 1950 nesse período a teoria de Finanças era inconsistente e normativa concentrandose na definição de melhores políticas de investimento de financiamento e de dividendos sem enfatizar efeitos destas sobre o valor da empresa Esse autor considera que somente após a década de 1950 verificouse uma mudança no foco da literatura financeira para uma abordagem positiva ao se compreender as conseqüências das decisões financeiras ou seja das políticas de investimento de financiamento e de dividendos no comportamento do fluxo de caixa das empresas no seu nível de risco e no seu valor 23 Finanças Modernas Na década de 1950 surgiram duas correntes que se tornaram as bases das Finanças Modernas Uma foi inaugurada por Modigliani e Miller 1958 denominada Finanças Corporativas e a outra que foca os estudos de portfólio e de risco e retorno foi lançada por Markowitz 1952 tendo como seguidores autores como Tobin 1952 e Sharpe 1964 mas sua importância somente foi reconhecida a partir da década de 1970 231 Finanças Corporativas e a contribuição de Modigliani e Miller No final da década de 1950 Modigliani e Miller 1958 desenvolveram a concepção de que o valor da empresa independe de sua estrutura de capital Dado o caráter inovador dessa concepção Chew sd apontouos como os fundadores das Finanças Modernas De fato Modigliani e Miller 1958 lançaram uma nova corrente sobre o assunto que era caracterizado pela polarização de dois pensamentos um defendia a idéia de que a distribuição de dividendos maximizava o valor da empresa para o acionista e o outro entendia que essa distribuição impossibilitava a empresa de investir em projetos rentáveis impedindo a maximização de seu valor André Taue Saito José Roberto Ferreira Savoia e Rubens Famá Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 36 Embora os pressupostos que embasaram a proposição de Modigliani e Miller 1958 como a ausência de impostos não possam ser ratificados integralmente no mundo real permitem que sejam estudados os fatores capazes de afetar a definição de uma adequada estrutura de capital da empresa AMARO DE MATOS 2001 232 A Teoria de Portfólios de Markowitz Markowitz por sua vez apresentou em The Journal of Finance em 1952 o artigo Portfolio Selection que difundiu a noção de que um investidor deve formar um portfólio com base em seu retorno esperado desejável e na variância dos retornos indesejável de modo a maximizar o primeiro e minimizar o último por meio da diversificação de ativos com reduzido nível de co variância Markowitz 1952 rejeitou a idéia de que os investidores devam formar o seu portfólio embasados somente no maior retorno esperado pois segundo o autor a adoção desse critério pode implicar a possibilidade de que dois ativos de retornos similares possam ser alocados na carteira de investimentos sem que seja analisada a sua contribuição para o risco De forma complementar explicou que um portfólio com o máximo retorno esperado não necessariamente tem o menor risco e destacou que uma carteira diversificada ingenuamente sem analisar o relacionamento existente entre os ativos ações e considerando somente a quantidade de ativos não mitiga obrigatoriamente os riscos Para Markowitz 1952 embora a diversificação permita reduzir o risco dos portfólios esse processo não resulta na eliminação de toda a variância de um portfólio ou seja a diversificação não acarreta a extinção de todo o risco de uma carteira de investimento Podese dizer que Markowitz 1952 colaborou de forma implícita para a compreensão dos conceitos de risco sistêmico nãodiversificável e risco nãosistêmico diversificável explorados explícita e posteriormente por Sharpe 1964 O modelo de Markowitz 1952 portanto foi importante pois permitiu a propagação do entendimento de que a diversificação por meio de ativos com reduzido nível de relacionamento co variância consiste em um importante processo para a mitigação da variância da carteira em relação ao seu retorno esperado risco No desenvolvimento de seu artigo Markowitz 1952 explicou que a combinação de todos os ativos com risco permite que de um conjunto de todos os portfólios possíveis seja factível identificar aqueles que possuem um maior nível de retorno para um determinado grau de risco o que foi denominado de Fronteira Eficiente 233 O Teorema da Separação de Tobin Tobin 1952 colaborou para a ampliação das concepções apresentadas por Markowitz 1952 Partindo da Teoria Keynesiana Tobin 1952 argumentou que os investidores optam por situações que se encontram entre um estado de total liquidez e um ponto em que há o investimento total em ativos de risco Em seu trabalho Tobin 1952 defendeu que os investidores possuem uma preferência por liquidez em decorrência de dois aspectos um relacionado à inelasticidade dos indivíduos quanto à taxa de juros esperada e o outro relativo à incerteza sobre o futuro das taxas de juros Em outras palavras pode se dizer que os investidores são inclinados a evitar o risco de perda da riqueza de seu capital em conseqüência das oscilações imprevisíveis dos preços dos ativos risco de mercado Além disso Tobin 1952 desenvolveu a percepção de que o investidor toma as suas decisões combinando um ativo livre de risco com o portfólio situado na Fronteira Eficiente elaborado por Markowitz 1952 que resulta no Teorema da Separação o qual afirma que as duas decisões de investimento realizadas pelos indivíduos são independentes e separadas Essas decisões consistem em Determinação do portfólio de ativos de risco mais eficiente Definição da proporção de recursos a ser alocada aos ativos livres de risco e aos ativos de risco Esse Teorema da Separação foi a maior contribuição de Tobin ao estudo da função financeira 1952 Por meio dele o autor demonstrou que o portfólio com ativos de risco mais eficiente independe das preferências individuais em relação ao risco de modo que a diferenciação entre investidores com maior ou menor tolerância ao risco é a proporção de ativos livre de risco que mantêm em sua carteira DIMSON e A evolução da função financeira Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 37 MUSSAVIAN 1999 FAMÁ e GALDÃO 1996 ELTON e GRUBER 1997 234 Sharpe e o CAPM No que se refere a Sharpe destacase a elaboração do modelo Capital Asset Pricing Model CAPM que ao simplificar o modelo de Markowitz permitiu visualizar que o risco total do ativo é composto do risco sistêmico e do risco não sistêmico ou diversificável ampliando a compreensão sobre esse assunto O entendimento de que o risco sistemático afeta os ativos foi de extrema importância pois como explica Assaf Neto 2003 o investidor não pode mitigálo por meio da estratégia de diversificação de ativos Sharpe 1964 esclareceu que diante de uma mesma taxa de juros livre de risco para captações ou para investimentos há um ponto na Fronteira Eficiente de Markowitz no qual está situado um portfólio que todos os investidores manterão independentemente de seu perfil de risco O CAPM explica que o portfólio supereficiente a ser obtido pela combinação entre um ativo livre de risco e ativos com risco se situa no mesmo ponto em que a Linha do Mercado de Capitais LMC tangencia a Fronteira Eficiente de Markowitz A LMC representa um conjunto de combinações entre o ativo livre de risco e os ativos com risco o qual todos os investidores irão considerar expectativas homogêneas e o ponto de encontro entre a LMC e a Fronteira Eficiente de Markowitz é denominado de Equilíbrio de Mercado Nesse sentido Sharpe 1964 concluiu que o portfólio supereficiente é o próprio mercado e que os investidores não poderiam manter retornos superiores ao portfólio do mercado de forma consistente pois o mercado se comporta para atingir o seu estágio de equilíbrio considerandose a premissa de que todos os investidores estão sujeitos a uma mesma taxa de juros livre de risco Ressaltase que o CAPM introduziu o conceito de beta que mensura o nível de relação covariância existente entre o retorno de um ativo e o mercado e se configura no risco sistêmico não diversificável do ativo representando a sua contribuição para o risco de uma carteira diversificada Portanto Sharpe menciona de forma explícita o conceito de risco sistêmico diferentemente de Markowitz 1952 Por fim vale comentar que outros modelos mais robustos que o CAPM foram desenvolvidos e também ganharam relevância como a Arbitrage Pricing Theory APT formulada em 1976 por Ross que oferece uma alternativa ao modelo CAPM relacionando uma quantidade k de fatores ao retorno do ativo além do beta COPELAND WESTON e SHASTRI 2005 24 A década de 1970 Foi caracterizada pela recessão econômica mundial provocada pelo esgotamento do modelo de crescimento adotado no pósguerra Diante da grave situação da economia norte americana houve o rompimento do Acordo de Bretton Woods o que não impediu que a pressão inflacionária interna provocasse reflexos no âmbito internacional Para agravar o cenário econômico mundial enfrentou a crise do petróleo em 1973 e em 1979 com um expressivo aumento nas cotações do barril do petróleo pois os paísesmembros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo OPEP reduziram o nível de sua produção Cabe destacar que paralelamente a esses fatos a Bolsa de Nova York entrou em crise em 1974 ampliando ainda mais o ambiente de risco e de incertezas Diante desse panorama houve a retomada dos modelos quantitativos criados antes da década de 1970 por Markowitz Tobin e Sharpe FAMÁ e GALDÃO 1996 facilitada até mesmo pela sua praticidade principalmente no caso do CAPM e pelo desenvolvimento tecnológico computacional o qual possibilitou o processamento de uma gama extensa de dados econômicofinanceiros Em 1970 a teoria da Eficiência dos Mercados ganhou relevância com Eugene Fama constituindo uma das mais importantes contribuições à teoria de Finanças desenvolvidas nesse período Ela explica que em mercados eficientes os preços dos ativos financeiros refletem o conjunto de informações relevantes e disponíveis FAMÁ e GALDÃO 1996 25 A década de 1980 Nesse período o crescimento da economia norte americana foi caracterizado pela manutenção de André Taue Saito José Roberto Ferreira Savoia e Rubens Famá Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 38 déficits orçamentários importação generalizada de produtos europeus e japoneses e adoção de uma política monetária restritiva Isso provocou o aumento das taxas de juros internacionais fato que aliado à redução do preço das commodities fez com que os países em desenvolvimento tivessem dificuldades para honrar os empréstimos adquiridos na década de 1970 quando a excessiva liquidez no sistema financeiro mundial oriunda dos excedentes dos países exportadores de petróleo incentivou os bancos internacionais a concederem expressivos financiamentos aos projetos de investimentos dos países em desenvolvimento Esse período foi marcado pela moratória dos países em desenvolvimento incluindo a do Brasil ocorrida em 1987 FAUSTO 2006 Paralelamente os países exportadores de petróleo procuraram resgatar os seus investimentos e os bancos internacionais ficaram em uma situação desconfortável Desse modo o mercado iniciou um processo de desintermediação financeira e a securitização foi um importante instrumento para transformar dívidas de difícil negociação em ativos financeiros atrativos para o mercado de capitais FAMÁ e GALDÃO 1996 Nesse contexto o estudo de risco ganhou maior relevância e os trabalhos envolvendo os mercados futuro e de opções se destacaram Merton 1997 menciona que na década de 1980 a utilização de modelos matemáticos expandiuse ainda mais sendo feita por bancos comerciais e de investimentos bem como por investidores institucionais Entende que o modelo de precificação de Black e Sholes apresentado em The Pricing of Options and Corporate Liabilities em 1973 foi o que teve maior influência na época Famá e Galdão 1996 explicam que nesse trabalho foi desenvolvida uma fórmula para avaliar as opções de compra a qual demonstra que o seu valor é influenciado pelo preço de exercício pelo tempo até a data de exercício pelo preço spot pela taxa de juros livre de risco e pela variância do preço da ação Nessa década foram desenvolvidas novas e complexas estratégias de mitigação de riscos por meio de derivativos Ressaltase além disso a importância do Comitê da Basiléia que em 1988 produziu o Acordo da Basiléia que estabeleceu uma estrutura de cálculo de capital regulamentar mínimo para as instituições financeiras a qual se tornou referência para a supervisão bancária GARCIA 2003 26 Da década de 1990 até o início do século XXI Na década de 1990 o processo de globalização se intensificou incrementando o fluxo internacional de capitais de produtos e de serviços Franco 1996 considera que o processo de globalização nos leva a identificálo com o crescimento dos fluxos de comércio de bens e serviços e do investimento internacional em níveis consistentemente superiores aos do crescimento da produção op cit 3 Por isso a intensificação do fluxo internacional de capitais de produtos e de serviços levou a uma interdependência maior entre as economias dos países implicando aumento da possibilidade de que um eventual colapso econômico de um determinado país resulte no contágio dos demais Diante desses aspectos ampliouse a preocupação com os riscos e a utilização de estratégias de hedging por meio de opções e do mercado futuro adquiriu maior destaque Houve ainda difusão do conceito de value at risk VAR a partir de 1993 pelos países do G30 JORION 2003 preocupados em discutir princípios ótimos de administração de risco op cit 20 O VAR sintetiza a maior ou pior perda esperada dentro de determinados períodos de tempo e intervalo de confiança op cit 19 No que tange à mitigação do risco sistemático o setor financeiro deu ênfase aos estudos referentes aos sistemas de pagamentos O Bank for International Settlements BIS criou em 1990 o Committee on Payment and Settlement Systems CPSS do qual participam os bancos centrais dos países do chamado G10 O seu foco é direcionado à realização de estudos e de recomendações referentes à mitigação principalmente dos riscos de liquidação e de crédito que caracterizam as estruturas dos sistemas de pagamentos De forma complementar ressaltase que esse comitê vem ampliando o seu papel atuando nos países em desenvolvimento BIS 2005 A evolução da função financeira Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 39 Em 1998 o Comitê da Basiléia reformulou o Acordo de 1988 aperfeiçoando o cálculo do capital regulamentar mínimo e incluindo aspectos ligados à disciplina do mercado e à sua transparência bem como à explicitação do papel da supervisão bancária e das instituições financeiras no estabelecimento dos níveis mínimos de capital GARCIA 2003 Portanto como afirmam Famá e Galdão 1996 o processo de globalização dos mercados levou na década de 1990 a uma preocupação maior com a gestão de riscos influenciada também pelos casos mencionados abaixo por Duarte Jr 2003 que demonstram a necessidade de gerir os riscos corporativos Mettalgesellschaft conglomerado alemão cuja subsidiária adotou uma estratégia errônea de hedge por meio de contratos futuros de petróleo de curto prazo para proteger os contratos de venda de longo prazo Barings Bank banco britânico que entrou em colapso em decorrência da estratégia equivocada de um de seus principais executivos que operava sem respaldo de controles operacionais Long Term Capital Management fundo de hedge norteamericano que não oferecia transparência para os investidores não era obrigado a oferecer garantias nas linhas de crédito que possuía e operava fortemente alavancado sem o amparo de sistemas computacionais de gestão de risco de mercado embora tivesse entre seus administradores os acadêmicos Robert Merton e Myron Scholes Quanto à década de 1990 Famá e Galdão 1996 mencionam além da importância da administração de riscos novas técnicas de custeio como o Activity Based Cost que foram importantes no momento de reestruturação pela qual passaram as empresas e explicam que o processo de mensuração de criação de valor para o acionista tornouse mais relevante razão pela qual formulouse o conceito de Economic Value Added EVA No início do século XXI ocorreram escândalos contábeis nos Estados Unidos envolvendo empresas reconhecidas como Enron WorldCom Xerox Tyco Arthur Andersen e Merck tornando evidente a existência de severos conflitos de interesse nas organizações e a necessidade de ampliar os mecanismos de controle Diante disso a concepção de Governança Corporativa e de maior transparência nas relações entre gestores e acionistas ganhou destaque Paralelamente em meados de 2002 foi aprovada pelo Congresso norteamericano a lei Sarbanes Oxley SOX com a finalidade de oferecer maior proteção aos investidores Na relação entre empresa e demais stakeholders discussões sobre ética empresarial e transparência também se tornaram freqüentes Temas relacionados à Governança Corporativa e à responsabilidade social e ambiental influenciaram a função financeira A teoria de stakeholders foi ressaltada favorecendo a expansão do Balanced Scorecard BSC desenvolvido por Kaplan e Norton em 1990 KAPLAN e NORTON 1997 por meio do qual as empresas podem alinhar a sua estratégia com medidas de desempenho sob a perspectiva financeira do cliente dos processos internos e de aprendizagem e crescimento possibilitando o atendimento da demanda dos acionistas e dos demais stakeholders A partir da década de 1990 começaram a ganhar destaque as correntes que discutem a validade do CAPM e da Hipótese de Eficiência do Mercado Trabalhos como os de Fama e French 1992 questionando o modelo de Sharpe e de Haugen 1995 criticando a noção de que os mercados são eficientes são exemplos de idéias que estão provocando debates no meio acadêmico Destacase que as críticas ao CAPM já ocorriam desde a década de 1970 como a de Roll 1977 apud COPELAND WESTON e SHASTRI 2005 que o questionou mas não o considerou inválido ressaltando que pelo fato de o portfólio de mercado não ser observável na prática os resultados dos testes empíricos devem ser analisados com ponderações Adicionalmente vêm ganhando relevância os estudos que procuram relacionar o comportamento humano com os conceitos econômicos de forma a compreender a influência do fator humano nas decisões financeiras Formase assim um novo ramo de pesquisa conhecido como Finanças Comportamentais fundado por Richard Thaler Para ilustrar a relevância desse assunto cabe mencionar que Daniel Kahneman foi premiado com o Nobel de Economia em 2002 por sua contribuição à ciência econômica com conceitos da psicologia André Taue Saito José Roberto Ferreira Savoia e Rubens Famá Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 40 para a compreensão das decisões dos indivíduos em condições de incerteza 27 Comentários sobre o Brasil No Brasil de acordo com Nicolini 2000 o ensino de Administração de Empresas é relativamente recente e marcado pela transferência de tecnologia desenvolvida nos Estados Unidos Nesse contexto o desenvolvimento da função financeira no Brasil é determinado pela forte influência do conhecimento gerado no exterior especificamente dos modelos norteamericanos como se observa na literatura Em Famá e Krauter 2005 notase que praticamente não há impacto relevante dos fatos brasileiros na evolução da teoria financeira Lima e Matias 2003 por sua vez avaliam que a literatura financeira no Brasil é focada nos acontecimentos econômicos como a inflação e a troca de moeda por exemplo e que os livros de finanças tiveram de se adaptar às novas situações do mercado brasileiro Em outras palavras podese dizer que a função financeira no Brasil depende dos modelos e práticas desenvolvidos no exterior os quais por sua vez são aplicados e adequados à realidade brasileira Se fatos nacionais tiveram pouco impacto no desenvolvimento da teoria e da prática financeira acontecimentos no exterior provocaram reflexos internos como A lei SOX provocou impactos nas empresas brasileiras que lançaram ações no mercado de capital norteamericano pois essas organizações tiveram de se adaptar às exigências desse mercado Além disso as empresas brasileiras que ainda não lançaram ações no mercado norte americano estão procurando se adaptar a essa lei almejando um maior diferencial no mercado de capitais Na relação entre empresa e demais stakeholders discussões sobre ética empresarial e transparência também se tornaram freqüentes Balanços Sociais passaram a ser divulgados podendose destacar no Brasil os modelos propostos pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Ambientais IBASE pela Global Reporting Initiative GRI e pelo Instituto Ethos SCHARF 2004 No que se refere à redução do risco sistêmico o Banco Central do Brasil BACEN promoveu em 2002 a reestruturação do Sistema de Pagamentos Brasileiro SPB Foi observado o aumento da liquidez do setor financeiro nacional o que minimizou os riscos de crédito e de liquidação 3 DISCUSSÃO SOBRE A MUDANÇA DE CONCEPÇÕES DA FUNÇÃO FINANCEIRA Feita uma apresentação de como ocorreu a evolução da função financeira pretendese neste tópico discorrer sobre as mudanças que aconteceram ao longo do tempo e apresentar uma definição do seu papel Se inicialmente a função financeira era caracterizada pela ênfase nos principais fatos da vida financeira de uma empresa e a sua finalidade era protegêla em um ambiente de crise de uma eventual falência ou em uma fase de reestruturação por meio de corretas políticas de financiamento e de estrutura de capital com o decorrer do tempo passou a incluir conceitos relativos à estrutura organizacional da empresa e à Teoria Econômica O uso de modelos matemáticos mais complexos intensificouse diante da necessidade de subsidiar os gestores para a análise de uma gama crescente de informações provenientes de um ambiente de maior nível de incerteza e de riscos sobretudo em decorrência do avanço do processo de globalização Aliás os conceitos de risco e de retorno vêm ganhando destaque na definição das estratégias financeiras em especial a diferenciação feita pelo CAPM sobre o conceito de risco sistemático e não sistemático O primeiro pode ser reduzido por investimentos em ativos diversificados e com fraca correlação quanto ao último os bancos centrais vêm procurando mitigálo com reformas nos sistemas de pagamentos Uma crescente preocupação com os riscos levou ao desenvolvimento de estratégias complexas de hedging por meio de opções e do mercado futuro Houve também um destaque na gestão de risco em bancos e instituições financeiras em 1998 o Comitê da Basiléia reformulou o Acordo de 1988 ao aperfeiçoar o cálculo do capital regulamentar mínimo além de incluir aspectos relacionados à disciplina do mercado e à sua transparência e explicitar o papel da supervisão bancária e das instituições financeiras no estabelecimento dos níveis mínimos de capital GARCIA 2003 A evolução da função financeira Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 41 Casos mencionados por Duarte Jr 2003 como o Mettalgesellschaft o Barings Bank e o Long Term Capital Management demonstraram a importância de gerir riscos corporativos nas instituições financeiras De forma complementar o controle dos orçamentos de resultado e de caixa o entendimento da influência das políticas de investimento de financiamento e de dividendos sobre o valor da empresa e o questionamento da ética e da transparência das relações das empresas com seus acionistas e demais stakeholders foram acrescentados No que diz respeito à transparência e às discussões éticas destacase que são itens cada vez mais freqüentes no relacionamento entre as empresas seus acionistas e demais stakeholders tendose em vista o objetivo desses grupos de proteger seus interesses Por isso assuntos envolvendo Governança Corporativa e responsabilidade social e ambiental vêm se sobressaindo De acordo com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico OCDE os princípios para a adequada prática de Governança Corporativa devem promover a transparência das informações e a defesa dos interesses dos acionistas incluindo os minoritários bem como dos demais stakeholders além de definir claramente a responsabilidade dos conselhos de administração OCDE 2004 Nesse contexto percebese que a pressão social até mesmo de grupos organizados por maior transparência das informações e pela implantação de mecanismos de defesa de interesses dos acionistas e demais stakeholders vem se intensificando Para a função financeira isso se configura um desafio pois implica a adoção de políticas de natureza social e ambiental cujos impactos no valor da empresa são de difícil mensuração Ressaltase que a responsabilidade social e ambiental que responde às exigências dos demais stakeholders gera confusão quanto ao papel da função financeira originando a seguinte pergunta a empresa deve maximizar o valor para os acionistas ou para todos os stakeholders De acordo com Jensen 2001 a função financeira ao adotar a abordagem de maximizar o valor da empresa para os acionistas e para os demais stakeholders utilizandose de métodos como o Balanced Scorecard ou conceitos similares pode provocar na realidade uma destruição do valor da empresa pois não é possível atender integralmente a grupos heterogêneos cujos interesses podem ser divergentes e excludentes Para o autor essa concepção uma vez que não permite uma visualização clara do quanto cada decisão pode afetar o valor da empresa abre espaço para os gestores tomarem decisões com base nas preferências pessoais ou para evitar pressões dos grupos de interesses sem que isso implique algo favorável para o valor da empresa Percebese portanto o conflito de agência que pode ocorrer Por outro lado Jensen 2001 releva que a função financeira tem que satisfazer aos demais stakeholders porque estes são importantes para a empresa mas respeitando o objetivo principal da maximização do valor da empresa para o acionista Em outras palavras defende que uma determinada política que satisfaça às necessidades dos demais stakeholders somente pode ser adotada caso agregue valor para o acionista Em suma a função financeira deve maximizar o valor da empresa para o acionista Isso é mais condizente com a lógica do capitalismo fundamentado na existência do capital de risco em um ambiente competitivo Nesse sentido pelo fato de os acionistas serem os agentes que investem e incorrem em riscos maiores pois seus direitos são subordinados aos dos demais stakeholders o papel da função financeira é o de maximizar o valor da empresa para os acionistas Caso isso não ocorra não haverá estímulo para novos investimentos e conseqüentemente não serão gerados riqueza e empregos por exemplo Ou seja a empresa não poderá atender às necessidades dos demais stakeholders Diante disso observase que o papel da função financeira está inserido em um ambiente marcado pelo conflito entre a moral da integridade e a moral da parceria A primeira é caracterizada exclusivamente pelo comportamento considerado decente e virtuoso SROUR 2003 257 aceito como correto pela moral oficial e a segunda se orienta pelo impacto que as decisões e ações terão sobre a empresa bem como pelo André Taue Saito José Roberto Ferreira Savoia e Rubens Famá Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 42 fortalecimento de laços mutuamente vantajosos entre empresa e stakeholders de forma a tornar o negócio perene SROUR 2003 Para ilustrar a existência desse conflito no Brasil podese mencionar o resultado da pesquisa encomendada pela Revista Exame ao instituto Vox Populi na qual se constatou que 93 dos brasileiros consideram que o principal objetivo da empresa é a geração de empregos enquanto apenas 10 entendem que ela deva gerar lucros para os acionistas GUROVITZ e BLECHER 2005 Esse conflito para a função financeira implica optar seja pela adoção de políticas que maximizem o valor da empresa para todos os stakeholders moral da integridade seja pela maximização do valor da empresa para os acionistas satisfazendo às necessidades dos demais grupos de interesse porque estes são importantes para a empresa desde que aquele objetivo principal não seja prejudicado moral da parceria Em outras palavras percebese que a moral da parceria caracterizada por uma visão pragmática é a mais adequada para a função financeira e sua adoção já que a continuidade da empresa depende em primeiro lugar da maximização de seu valor para o acionista é fundamental para que os demais stakeholders possam ter as suas necessidades atendidas Desse modo os acionistas e demais stakeholders precisam estabelecer uma relação virtuosa de longo prazo Cabe mencionar que a visão de que o papel da função financeira é o de maximizar o valor da empresa para o acionista buscando concomitantemente o equilíbrio na relação com os demais stakeholders é salutar pois não sobrepõe o elemento social demais stakeholders ao elemento individual livre iniciativa dos investidores De certa forma procura contrabalançar os interesses desses dois grupos Na visão de Romano 2006 quando há a predominância do social sobre o individual caminhase para o pensamento totalitário e único responsável pela destruição do indivíduo para satisfazer à coletividade Esse raciocínio faz sentido para a função financeira porque a empresa é criada pelos acionistas e receberá deles aporte de recursos caso seja um agente que agregue valor ou seja que maximize a sua riqueza Desse modo se a função financeira procurar satisfazer a todos os stakeholders indiscriminadamente a empresa poderá ter o seu valor destruído Assim a predominância do social atender aos interesses de todos os stakeholders sem critério será responsável pela destruição do indivíduo iniciativa privadaempresa Para finalizar esta seção é importante assinalar que o papel da função financeira reflete os problemas e desafios de cada época Conceitos foram a ele acrescentados e atualmente há uma importância crescente dos aspectos relacionados ao risco em resposta a um ambiente mais volátil decorrente do processo de globalização Questões referentes à transparência nas relações com acionistas e demais stakeholders bem como à Governança Corporativa e à responsabilidade social e ambiental são ressaltadas uma vez que há uma pressão social maior para que isso seja realizado com seriedade Considerandose o exposto podese dizer que a função financeira evoluiu e que o seu papel é alcançar a maximização do valor da empresa para o acionista por meio de políticas de investimento de financiamento e de dividendos avaliando constantemente os fatores que envolvem risco e retorno custos de capital e o equilíbrio no relacionamento com investidores e demais stakeholders sob o contexto de Governança Corporativa e de responsabilidade social e ambiental 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho discutiu a mudança na concepção do papel da função financeira o que requer cuidado porque se deve considerar que os conceitos predominantes atualmente são resultado do acúmulo de conhecimentos e de experiências anteriores Por isso optouse por iniciar o estudo com uma revisão bibliográfica sobre a evolução da função financeira procurandose relacionála com fatos históricos pois de acordo com Brennan 1995 é importante reconhecer que as concepções são influenciadas pelas limitações dos paradigmas de cada época Constatouse que inicialmente a função financeira era caracterizada pela ênfase nos A evolução da função financeira Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 43 principais fatos da vida financeira de uma empresa e sua finalidade era protegêla de uma eventual falência ou em uma fase de reestruturação por meio da adoção de corretas políticas de financiamento e de estrutura de capital com o decorrer do tempo conceitos relativos à estrutura organizacional da empresa e à Teoria Econômica foram incluídos na visão do seu papel na empresa O uso de modelos matemáticos cada vez mais complexos intensificouse diante da necessidade de analisar uma gama crescente de informações provenientes de um ambiente de maior nível de incerteza e de riscos sobretudo em decorrência do avanço do processo de globalização Conceitos de risco e de retorno ganharam destaque na definição das estratégias financeiras dentre os quais ressaltase a diferenciação feita pelo CAPM entre risco sistemático e nãosistemático Devem ser apontadas a importância da gestão do risco sistêmico que vem sendo fomentada pelo BIS e a relevância da administração dos riscos corporativos no ambiente atual De forma complementar o controle dos orçamentos de resultado e de caixa o entendimento da influência das políticas de investimento de financiamento e de dividendos sobre o valor da empresa e o questionamento da ética e da transparência das relações das empresas com seus acionistas e demais stakeholders foram acrescentados Como resultado do processo histórico podese afirmar que a função financeira evoluiu e atualmente a sua finalidade é alcançar a maximização do valor da empresa para o acionista por meio de políticas de investimento de financiamento e de dividendos avaliando constantemente os fatores que envolvem risco e retorno custos de capital e o equilíbrio no relacionamento com investidores e demais stakeholders sob o contexto de Governança Corporativa e de responsabilidade social e ambiental Destacase que a evolução da função financeira não está finalizada Estudos estão em andamento e novos pontos de vista estão sendo explorados Estudos para avaliar os impactos da responsabilidade socioambiental no valor da empresa para o acionista serão importantes E para finalizar trabalhos combinando a Teoria Econômica Clássica os estudos de Psicologia Humana e a Neurociência com o objetivo de desenvolver novos métodos que auxiliem na compreensão e previsibilidade do comportamento dos agentes financeiros merecerão maiores aprofundamentos 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARO DE MATOS J Theoretical foundations of corporate finance USA Princeton University Press 2001 ARCHER S H DAMBROSIO E C Administração financeira teoria e aplicação São Paulo Atlas 1969 ASSAF NETO A Finanças corporativas e valor São Paulo Atlas 2003 BANK FOR INTERNATIONAL SETTLEMENTS BIS CPSS background information BIS 2005 Disponível em httpwwwbisorgcpsscpssinfopdf Acesso em mar 2006 BRENNAN M J Corporate Finance over the Past 25 Years Financial Management v 24 n 2 p 9 22 1995 CHEW Jr D H Introduction financial innovation in the 1980s s d COPELAND T E WESTON J F SHASTRI K Financial theory and corporate policy USA Pearson Addison Wesley 2005 DIMSON E MUSSAVIAN M Three Centuries of Asset Pricing Journal of Banking and Finance v 23 p 17451769 1999 DUARTE JR A M A importância do gerenciamento de riscos corporativos em bancos In DUARTE JR A M VARGA G Orgs 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da Função Financeira 2006 tende a evoluir com base no contexto histórico vivenciado pelas empresas Sobre isto cabe apresentar o apontamento de Weston 1975 o qual afirma que a evolução do pensamento econômico reflete os problemas presentes em cada época que por conseguinte influenciam nas teorias e ferramentas utilizadas por setores financeiros WESTON 1975 apud SAITO SAVOIA FAMÁ 2006 Assim percebese que a função financeira acompanha os movimentos socioeconômicos ocorridos no transcorrer da história e adaptase aos desafios préexistentes No início do século XX conforme perspectiva institucional predominavase a abordagem Tradicional conceito defendido por Archer e D Ambrosio 1969 a qual focava nos principais acontecimentos da vida financeira das empresas e seu objetivo era protegêlas de possíveis falências e promover reorganizações administrativas Weston 1975 aponta que essa fase foi o marco do princípio do estudo sistemático em Finanças ocorrido em decorrência do processo de consolidação das empresas e do crescimento do mercado interno norteamericano Essa visão protetiva ganha força a partir dos momentos de crise vivenciados entre a década de 1920 a 1960 Nesse contexto estudos sobre solvência liquidez e recuperação financeira das empresas se destacaram WESTON 1975 Cabe ressaltar que na década de 1950 os estudos de finanças passaram a enfatizar as rotinas internas e a estrutura organizacional Isso demonstra a preocupação com possíveis repressões pósguerra O desenvolvimento tecnológico computação e o crescimento do mercado internacional a partir da década de 1950 contribuíram para o surgimento de duas correntes teóricas das finanças modernas as Finanças Corporativas e as finanças com foco nos estudos de portfólio e de risco e retorno No campo das Finanças Corporativas Modigliani e Miller 1958 desenvolveram a maior contribuição teórica que foi a concepção de que o valor da empresa independe de sua estrutura de capital Não menos importante Markowitz 1952 traz a noção de que um investidor deve formar um portfólio com base em seu retorno esperado desejável e na variância dos retornos indesejável de modo a maximizar o primeiro e minimizar o último por meio da diversificação de ativos com reduzido nível de covariância Concepções estas ampliadas por autores como Tobin 1952 e Sharpe 1964 Assim percebese que as mudanças ocorridas no campo das Finanças a partir dos anos 50 promoveram um conteúdo mais descritivo e detalhado institucionalmente permitindo a construção de um aporte teórico mais formalizado É importante salientar o papel da globalização nas postulações teóricas e nas preocupações empresariais entre 1990 até o século XXI uma vez que com a intensificação desse processo aumentouse a preocupação com a gestão de riscos e a procura por novas técnicas de custeio Nesse ínterim notase que as finanças modernas procedem como se houvesse um comportamento financeiro externo e testam empiricamente declarações teóricas considerando tal comportamento financeiro para determinar sua verdade ADARLAN 2004 apud IQUIAPAZA AMARAL BRESSAN 2009 Em outras palavras o ramo das finanças é fortemente influenciado por comportamentos estabelecidos pelo ambiente econômico de uma determinada época e a maioria das críticas associadas à sua realidade empresarial são em decorrência disso Entre as principais críticas ao mundo das finanças destacamse o conflito entre a moral da integridade e a moral da parceria SROUR 2003 apud SAITO SAVOIA FAMÁ 2006 e a predominância do social sobre o individual ROMANO 2006 apud SAITO SAVOIA FAMÁ 2006 A primeira está relacionada aos comportamentos decentes e virtuosos do membro de uma empresa e aos impactos que as decisões e ações provocam dentro de uma organização Essa faz repensar sobre os laços estabelecidos entre a empresa e stakeholders uma vez que a maioria das empresas priorizam a geração de empregos do que a obtenção de lucros para acionistas Uma solução viável para esse problema seria a adoção de políticas que equilibrem os interesses de ambas as partes envolvidas A segunda crítica referese ao conflito de interesses sociais e individuais dentro de uma empresa o que pode ser relacionado com o supracitado acima Isso porque muitos empresários procuram satisfazer os desejos da minoria fazendo com que o valor da empresa seja rebaixado Mas esse aspecto pode ser facilmente resolvido com a tomada de decisões mais imparciais Concluise assim que a função financeira é um ramo de conhecimento que vem se mudando no decorrer dos anos e aprimorase com base no contexto histórico Inicialmente a função financeira preocupavase mais com os acontecimentos da vida financeira de uma empresa e buscava protegêla de eventuais perigosos Com o momento de crise a partir da década de 1920 começouse uma fase reformulação dessa área apoiada em conceitos teóricos e que beneficiam os estudos do tempo presente e a administração de empresas atualmente REFERÊNCIAS IQUIAPAZA R A AMARAL H F BRESSAN A A Evolução da pesquisa em Finanças Epistemologia Paradigma e Críticas os Salvador v16 n49 p 351 370 AbrilJunho 2009 SAITO A T SAVOIA J R F FAMÁ R A Evolução da Função Financeira Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 ARCHER S H DAMBROSIO E C Administração financeira teoria e aplicação São Paulo Atlas 1969 ROMANO R Primeira Leitura n 48 p 2233 fev 2006 Entrevista concedida para a reportagem Ética da Barbárie SROUR R H Ética empresarial a gestão da reputação 2 ed Rio de Janeiro Campus 2003 WESTON J F Finanças de empresas São Paulo Atlas 1975
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Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 3 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA PERFIS DOS CONTROLLERS AUTONOMIA E ENVOLVIMENTO DOS PROFISSIONAIS DE CONTROLADORIA Gustavo Henrique Costa Souza1 Cláudio de Araújo Wanderley2 Kate Horton3 Resumo Objetivo Partindo de dois perfis específicos bean counters e business partners o estudo possui três objetivos primeiro identificar quais as principais atividades desempenhadas por controllers atuantes no Brasil segundo discernir qual destes perfis destacados é predominante e terceiro identificar se a autonomia e o envolvimento dos controllers estão associados ao tamanho e à descentralização da organização em que atuam Método A coleta de dados se deu por meio da aplicação de um questionário o qual foi remetido por email aos controllers membros da Associação Nacional dos Executivos de Finanças ANEFAC Resultados Foram validamente respondidos 111 questionários taxa de resposta de 1862 os quais evidenciaram que entre as atividades dos controllers predominam análise de relatórios financeiros controle de desempenho gerencial escrituração e monitoramento fiscal apontando para uma prevalência do perfil bean counter 745 da amostra A descentralização também se mostrou positiva e significante tanto em relação à autonomia quanto em relação ao envolvimento Contribuição A identificação da descentralização como um fator organizacional associado à autonomia e envolvimento dos controllers contribui com o entendimento acerca dos direcionadores da atuação destes profissionais A identificação de suas tarefas e a caracterização do seu perfil oferecem um pano de fundo para investigações futuras sobre o processo de redefinição de papéis e atribuições dos controllers Palavraschave Controller Controladoria Contabilidade Gerencial Envolvimento Autonomia 1 gugahcsgmailcom Universidade Federal de Pernambuco RecifePE Brasil httpsorcidorg0000000315361629 2 claudiowanderleyufpebr Universidade Federal de Pernambuco RecifePE Brasil Brasil httpsorcidorg000000024559176X 3 khortonrsmnl Universidade Federal de Pernambuco RecifePE Brasil Brasil httpsorcidorg0000000255420569 DOI httpdxdoiorg1014392asaa2020130301 Artigo submetido em 16042020 Revisões requeridas em 16062020 Aceito em 20082020 Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 4 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA CONTROLLERS PROFILES AUTONOMY AND INVOLVEMENT IN THE MANAGEMENT ACCOUNTING PROFESSION Abstract Objective Focusing on two specific controllers profiles bean counters and business partners the study has three objectives first to identify the main activities carried out by Brazilian controllers second to discern which of these highlighted profiles is predominant in the Brazilian context and third to identify whether the autonomy and involvement of the controllers is associated with the size and level of decentralization of the organization Method Data collection was based on a questionnaire survey The questionnaires were sent by email to controllers who are members of the Brazilian Association of Finance Executives ANEFAC Results Our final sample consisted of 111 controllersmanagement accountants which represented a response rate of 1862 The responses showed that the main activities carried out by the controllers were analysis of financial reports performance management bookkeeping and fiscal monitoring with a majority of accountants enacting the bean counter profile 745 of the sample Our study also shows that the level of organizational decentralization was significantly positively associated with controllers autonomy and business involvement Contribution In general our study contributes to further shed light on the relationship between important organizational factors eg decentralization and autonomy and business involvement in the management accounting profession We believe that by identifying controllers tasks and profiles we can offer interesting future avenues for new investigations on the process of reshaping and reframing management accountants roles and activities Keywords Controller Controllership Management Accounting Involvement Autonomy Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 5 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA INTRODUÇÃO A o delinear a estrutura de competências requerida dos controllers o Chartered Global Management Accountant CGMA afirma nos seus Princípios Globais que tanto as habilidades técnicas relacio nadas a finanças contabilidade e gerência de negócios quanto as sociais relacionadas à liderança e à capacidade de influenciar pessoas são componentes importantes na formação destes profissionais Após apontar estes atributos porém o CGMA 2014 p 14 reconhece que o papel dos controllers está mudando de modo que eles estão cada vez mais exercendo sua influência sobre as decisões da organização e gerando com isto mais impacto sobre o negócio Isto sinaliza que embora haja uma tentativa por parte do CGMA de definir um perfil específico para os controllers o mercado tem uma dinâmica própria que está conduzindo estes profissionais a uma mudança de papéis com consequente transição de perfis Assim em um ambiente de modificações que clama e impõe a reconfiguração dos controllers emerge o desejo e a oportunidade de explorar a essência desta profissão e do seu exercício Seis anos antes desta iniciativa do CGMA Brewer 2008 p 36 discutia uma redefinição da controla doria que passava necessariamente por repensar o papel dos controllers dentro do que ele chamou de uma nova estrutura Segundo Brewer 2008 p 36 a controladoria se assenta sobre quatro pilares quais sejam liderança gestão estratégica alinhamento operacional melhoria e aprendizado contínuos e em última instância a responsabilidade dos controllers é gerar valor para os acionistas Esta perspectiva aliás destoa um pouco da estrutura proposta pelo Chartered Global Management Accountants pois Brewer 2008 utiliza a expressão geração de valor ao passo que o CGMA 2014 adoto um termo mais abrangente geração de impacto Outrossim a dimensão de melhoria e aprendizado contínuos presente em Brewer 2008 não consta no material do CGMA 2014 embora seja razoável crer que ela é um componente natural e importante quando se pensa no processo de formação dos controllers Assim o que se percebe com estes paralelos é a existência de um movimento de aprimora mento conceitual uns componentes são modificados outros excluídos e outros inseridos Mas sempre na perspectiva de melhor definir um escopo para as funções ainda controversas do controller e da controladoria Retrocedendo um pouco mais percebese que a International Federation of Accountants IFAC já segregava a atuação do controller em duas funções distintas a função financeira e a gerencial Sendo que a função financeira correspondia às atividades contábeis e à preparação de demonstrações finan ceiras direcionadas a usuários externos e a função gerencial tinha o seu foco em fornecer informação à gerência da organização para a tomada de decisões internas IFAC 2005 p 12 Esta visão bifuncional é ainda hoje um componente importante para que se compreenda a mudança nos papéis desempe nhados pelos controllers Na sequência após traçar uma perspectiva histórica da evolução da controladoria o IFAC 2005 p 13 afirmou que a tendência é um reposicionamento do papel dos controllers eles têm passado do acompanhamento de informações a papéis mais estratégicos ligados a planejamento e controle Àquela época determinadas áreas já requeriam do controller uma postura diferenciada o Institute of Chartered Accountants in England and Wales ICAEW por exemplo em um relatório intitulado Sustainability The Role of Accountants publicado em 2004 anunciou uma ampliação do papel dos contadores no que diz respeito ao desenvolvimento da controladoria para uso nos relatórios internos de impactos sociais Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 6 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA e ambientais mensuração de performance interpretação da informação e subsequente tomada de decisão ICAEW 2004 p 81 Estas mudanças na controladoria têm sido percebidas e apontadas por diversos estudiosos Fried man Lyne 2001 Lambert Sponem 2012 Vaivio Kokko 2006 Estes estudiosos afirmam que elas impactam naturalmente naqueles que trabalham nesta área tanto nas funções que desempenham quanto nos perfis que adotam Burns e Baldvinsdottir 2007 p 117 por exemplo asseveram que estas transformações consistem sobretudo em passar do enfadonho e tedioso papel de registrador ao ex citante e proativo papel de consultor de negócios Youssef 2012 p 1000 por sua vez complementa destacando que a ênfase atual está sendo colocada em papéis de estratégia e tomada de decisões mais que nas áreas mais tradicionais de custeio e análise financeira Embora a literatura aponte neste sentido de transição e de um maior envolvimento do controller com o negócio e com a estratégia empresarial há indícios de que este processo não é uniforme em todas as organizações e nem sequer acontece em todas elas Lambert e Sponem 2012 por exemplo afirmam que não é tão comum encontrar controllers que atuem efetivamente como parceiros do negócio Rahman e Ahmed 2012 por seu turno relatam que a mudança que se tem verificado no papel do controller ocorre predominantemente em grandes empresas com recursos abundantes para impulsionar esta dinâmica As pequenas empresas segundo estes autores ainda resistem por razões diversas a instigar e instrumentalizar este tipo de modificação A literatura acadêmica enfatiza ainda que os indivíduos podem adotar uma postura mais tradicional que na língua inglesa é identificada pela expressão bean counters a qual tipicamente está associada às atividades de registro e acumulação de dados elaboração de demonstrações financeiras análise controle e fiscalização da performance dos gestores operacionais por meio do uso de indicadores finan ceiros Burns Baldvinsdottir 2005 Emsley 2005 ou uma postura mais orientada para estratégia a qual usualmente está ligada a um alto nível de envolvimento com o negócio e um alto grau de cooperação com outras funções da empresa com o objetivo de integrar informações contábeis com indicadores financeiros Burns Baldvinsdottir 2005 Neste caso os controllers são chamados de business partners Embora já algum tempo pesquisas internacionais Byrne Pierce 2007 Gibson 2002 Siegel Sorensen 1999 apontem para uma modificação do papel do controller marcada por uma transição do bean counter para o business partner ainda se faz necessário depreender o modo como determinados fatores externos e internos se relacionam com essa transição da profissão e ainda mais especifica mente como ela se dá em países em desenvolvimento como o Brasil A literatura nacional Palomino 2013 Cardoso Mendonça Neto Oyadomari 2010 Lunkes Gasparet to Schnorrenberger 2010 na esteira de estudos internacionais Lambert Sponem 2012 Verstegen De Loo Mol Slagter Geerkens 2007 tem apontado para um paradoxo entre o perfil de controller que a academia e as associações de classe apresentam e a práxis cotidiana nas organizações embora sejam classificados com business partners os controllers continuam a executar atividades próprias dos bean counters Estudos nacionais também relatam as exigências do mercado quanto ao perfil profissional do con troller Calijuri 2004 Duque 2011 Ferrari Cunha Lunkes Borgert 2013 Mas não arrematam sobre se estas exigências têm sido satisfeitas isto é se o perfil que o mercado espera é de fato o que os control lers demonstram Tampouco se sabe quequais características destas organizações poderiam impactar ou mesmo moldar este perfil Tais contradições e lacunas endossam a necessidade de estudos sobre o assunto e justificam a realização da presente pesquisa aplicada ao contexto brasileiro Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 7 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA Assim uma vez expostas as razões da problemática esta pesquisa busca responder ao seguinte ques tionamento De que forma o tamanho e o grau de descentralização das organizações estão associados com o envolvimento e autonomia características associadas ao perfil business partner dos Controllers 2 CARACTERIZAÇÃO DO CONTROLLER No contexto da profissão contábil o termo perfil foi definido como um conjunto de habilidades maneiras de agir e atuar de um profissional em um determinado contexto Nogueira Fari 2007 p 118 119 Partir desta noção é importante para que se possa avançar na identificação dos perfis de controller que serão apresentados neste estudo A este respeito Byrne e Pierce 2007 empreenderam uma consolidação na qual foram identificadas uma série de competências individuais e de atividades relacionadas ao perfil e à atuação do controller ver Tabela 1 Tabela 1 Competências e atividades do controller Competências Individuais Atividades Conhecimento do negócio Fornecer e interpretar informação Habilidades interpessoais e comunicacionais Apoiar decisões Habilidade com tecnologia da informação Relatar e planejar informações periódicas Flexibilidade Elaborar projetos Qualidades pessoais Fazer análises pontuais Habilidades técnicas Administrar Capacidade de monitoramento Usar técnicas Influência na organização Instruir gerentes de operações Fonte adaptada de Byrne e Pierce 2007 p 488 A partir da identificação destas competências e as atividades se pode estabelecer perfis de controller Notese que o uso aqui sempre será da palavra perfil O emprego do termo identidade foi evitado em consideração à complexidade deste conceito amplamente estudado na psicologia trabalhar com este elemento seria desviar os propósitos deste estudo Pela mesma razão as expressões autoimagem auto percepção foram evitadas no presente texto Em lugar disso optouse por utilizar a expressão perfil cujo sentido foi definido no início desta seção Assim partindo da análise da literatura internacional disponível é possível relacionar uma série de per fis associados ao controller ver Tabela 2 Alguns se assemelham bastante outros soam um tanto quanto pejorativos e outros ainda são tão genéricos que poderiam ser aplicados sem prejuízo de sentido nem confusão de funções a diversos profissionais que atuam na organização e não apenas aos controllers Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 8 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA Tabela 2 Perfis dos controllers segundo a literatura internacional Perfil Referências Característica Predominante Bookkeeper Hopper 1980 Lambert e Sponem 2012 Rahman e Ahmed 2012 e Sathe 1984 Manutenção dos registros contábeis Business consultant Burns e Baldvinsdottir 2005 2007 Assessoria a gestores Decision making facilitator Lambert e Sponem 2012 Habilidade com negociações Hybrid accountant Burns e Baldvinsdottir 2007 e Burns e Scapens 2000 Execução de atividades operacionais e financeiros Moderator Ahrens e Chapman 2000 Mediação entre gestores operacionais e financeiros Scorekeeper Burns e Baldvinsdottir 2007 Capacidade de avaliar desempenho Strategic management consultant Holtzman 2004 Apoio à formulação e execução do planejamento estratégico Corporate policeman Byrne 2010 Supervisão e administração de regras e procedimentos Fonte elaborada pelos autores A este respeito aliás é interessante destacar que alguns autores realizaram comparações entre perfis de controller Assim é que Hopper 1980 contrapõe o perfil que ele chama de bookkeeper a um outro por ele batizado serviceaid cuja descrição se assemelha à do decisionmaking facilitator Também nesta linha comparativa Burns e Baldvinsdottir 2005 comparam o papel de business consultant ao de scorekeeping Além destes há outros autores que vão nomear de modo particular o perfil do controller strate gic partner Ahid Augustine 2012 internal business consultant Burns Vaivio 2001 e modern businessoriented accountant Granlund Lukka 1998 são exemplos disso Houve até quem os cha masse de watchdogs Abernethy Brownell 1999 Järvenpää 2007 Pierce Odea 2003 Rahman Ahmed 2012 Importante ressalvar que a presente pesquisa optou por não aprofundar as colocações destes autores por entender que suas concepções já estão representadas dentro de perfis relacionados na Tabela 2 o internal business consultant citado por Burns e Vaivio 2001 por exemplo já está contemplado dentro do conceito business consultant o modern businessoriented accountant de Granlund e Lukka 1998 pode ser compreendido como equivalente ao decision making facilitator e watchdog citado por tantos autores encontrase espelhado no corporate policeman de Byrne 2010 Burns e Scapens 2000 por sua vez identificaram um perfil muito peculiar de controller os chamados hybrid accountants Mais tarde Burns e Baldvinsdottir 2005 explicaram tratarse de um perfil surgido a partir de 1995 momento em que em algumas organizações multinacionais do ramo farmacêutico os controllers foram alocados junto à linha de produção Eles eram vistos como pessoaschave para impulsionar as mudanças naquela área e também como a representação de uma autoridade capaz de ajudar a manter a estrutura de funcionamento da empresa em linha com sua estratégia Estes contadores híbridos foram didaticamente divididos em dois grupos o dos gestores financei ros híbridos e o dos analistas financeiros híbridos Burns Baldsvindottir 2005 p 739 Esta distinção por si já sinaliza uma segregação entre aqueles que efetivamente atuam sobre o processo de tomada de decisões e aqueles que apenas produzem a analisam informações Os primeiros têm mais ligação com a estratégia do negócio e os últimos estão mais ligados a um papel de mensuração conferência e acompanhamento Burns e Baldvinsdottir 2007 p 177 descreveram o surgimento e a atuação de contadores híbridos que aconselhavam os líderes da produção em questões estratégicas bem como auxiliavam outros gestores com decisões do dia a dia e medição de desempenho A afinidade entre os diferentes perfis se dá pelo tipo de atividade que desempenham dentro da organização As atividades ligadas a suporte estratégico consultoria e tomada de decisões por exem plo são usualmente associadas ao papel dos business partners ao passo que as atividades ligadas a Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 9 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA registro e conformidade procedimental costumam se alinhar mais ao papel dos bean counters Portanto embora a literatura elenque e nomeie uma plêiade de perfis eles podem ser agrupados nestes dois grandes grupos bussiness partners e bean counters com base na descrição que a literatura faz das suas atividades A Tabela 3 apresenta o lastro teórico que permitiu por similaridade das atividades realizar o agrupamento dos perfis Tabela 3 Agrupamento de perfis dos controllers Grupo Referências Perfis Abrangidos Bean Counters Burns e Baldvinsdottir 2005 2007 Byrne e Pierce 2007 De Loo Verstegen e Swargerman 2011 Gibson 2002 Granlund e Lukka 1998 Lambert e Sponem 2012 Mistry Sharma e Low 2014 Sunarni 2013 Rahman e Ahmed 2012 Vaivio e Kokko 2006 e Verstegen et al 2007 Bookkeeper scorekeeper corporate policeman Business partners Burns e Baldvinsdottir 2005 2007 De Loo et al 2011 Järvenpää 2007 Lambert e Sponem 2012 Mistry et al 2014 Siegel e Sorensen 1999 e Sunarni 2013 Decision making facilitator business consultant strategic management consultant Fonte elaborada pelos autores Os perfis hybrid accoutant e moderator não foram enquadrados em nenhum dos grupos por não apresentarem semelhanças com os demais perfis e por representarem tentativas de conciliação ou equilíbrio entre estes dois grupos meiostermos No presente estudo o foco dos questionamentos e análises está nos perfis bean counter e business partner A este respeito é oportuno observar o trabalho de Granlund e Lukka 1998 que sistematizaram sua análise para traçar com clareza quais as características do perfil bean counter Järvenpää 2007 por sua vez apresenta um perfil de controller focado nos negócios da empresa e não nos seus próprios processos e rotinas ao qual chama de business partners Uma vez estabelecidos estes dois grupos o dos bean counters e o dos business partners foi pos sível ainda na fase de prépesquisa tipificar a atuação deles E em decorrência desta tipificação foi possível comparálos A Tabela 4 apresenta esta comparação Tabela 4 Comparativo bean counters x business partners Bean Counters Business Partners Mensuração de itens financeiros Mensuração de itens nãofinanceiros Registro de dados Análise de informações Foco em execução Foco em planejamento Indiferença perante outros departamentos Interação com outros departamentos Fornecimento de relatórios aos gestores Prestação de consultoria aos gestores Controle de processos Aprimoramento do negócio Fonte elaborada pelos autores Esta dualidade representada por bean counters e business partners é que subsidia a argumentação deste estudo A predominância de um ou outro perfil juntamente com o seu grau de envolvimento e autonomia é aqui o elemento caracterizador da atuação dos controllers 3 DESENVOLVIMENTO DAS HIPÓTESES 31 Tamanho da organização Pesquisas mostram que o tamanho de uma organização pode afetar o seu funcionamento sob diversos aspectos Laforet 2008 por exemplo relacionou este elemento à orientação estratégica da empresa à sua capacidade de inovar e às suas diretrizes de marketing Hamdan 2011 por sua vez Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 10 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA demonstrou que o tamanho da companhia é uma das variáveis que afeta o grau de conservadorismo na preparação dos relatórios financeiros Outros tantos estudos em administração mas também em psicologia organizacional e até mesmo em engenharia poderiam ser mencionados para justificar que o componente tamanho da empresa provoca múltiplos efeitos sobre os resultados da empresa sobre a sua cultura sobre o comportamento de seus funcionários e gestores etc Ahlgren Engel 2011 Chen Taylor 2012 Dayanti Prihatiningtias 2013 No que tange ao controller especificamente Oliveira 1998 atesta que o tamanho é uma variável capaz de afetar as funções e as atividades deste profissional o que por conseguinte pode contribuir para a modificação ou redefinição do perfil do controller Corroborando este pensamento Monteiro 2014 p 32 refere que organizações de maior porte estão associadas com maior diversidade de operações formalização de procedimentos e especialização de funções Além disso estas organizações em geral talvez porque têm mais departamentos apresentam ferramentas de controle mais aprimoradas e dão maior importância às questões orçamentárias Nesta perspectiva Calijuri Santos e Santos 2005 realizaram uma survey e obtiveram quarenta questionários respondidos por controllers de grandes e médias empresas apenas dois trabalhavam em empresas consideradas pequenas Os autores concluíram que os controllers estavam exercendo naquelas organizações um papel diferente e descreveram em seus achados que estavam se tornando um legítimo parceiro nos negócios Calijuri et al 2005 p 10 Do mesmo modo Schnorrenberger Ribeiro Lunkes Gasparetto 2007 p 14 estudando o perfil do controller em empresas de médio e grande porte em Florianópolis constataram que além de um conhecimento profundo de contabilidade as duas habilidades mais frequentemente requeridas destes profissionais e consideradas pelos respondentes daquele estudo como muito importantes são iniciativa e liderança Tais competências não parecem se coadunar com o perfil bean counter voltado para a satisfação de exigências técnicas e execução de procedimentos mas apontam nitidamente para o perfil business partner mais direcionado à ação estratégica proativa à condução dos negócios e às habilidades com pessoas como preconizado pelo CGMA 2014 Estudos como estes fornecem indícios de que nas empresas maiores o controller tipo business partner é mais facilmente requisitado e encontrado Porém por se tratarem de recortes locais feitos já há alguns anos os resultados destes estudos não oferecem uma resposta sobre o perfil atual dos controllers a nível nacional Há trabalhos porém como o de Oro Dittadi Carpes e Benoit 2009 que mostram que de acordo com o porte as empresas demandam diferentes perfis de controller as menores querem que o profissional de controladoria exerça um papel mais operacional ao passo que as maiores requerem alguém mais voltado à esfera estratégica Ademais Singer 2004 sugere que os avanços da tecnologia proporcionaram a reestruturação das empresas e afetaram entre outras coisas o seu tamanho A consequência disso para cada organização segundo o autor é que em vez de ser hierárquica e burocrática passou a ser em rede portanto muito mais horizontal e os operários ganharam autonomia e poder de decisão Singer 2004 p 14 Assim sabendo que o tamanho da organização é uma variável positivamente relacionada à sua orientação estratégica Laforet 2008 que os controllers estão se envolvendo cada vez mais com o negócio Calijuri et al 2005 isto é tornandose business partners e que o porte das empresas re configurado a partir das mudanças tecnológicas conferiu mais autonomia aos empregados Singer 2004 foi estabelecida a primeira hipótese deste estudo Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 11 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA H1 Controllers de empresas de maior porte apresentam mais envolvimento com o negócio e mais autonomia 32 Descentralização A essência da descentralização é a autonomia aos gestores das unidades de negócios Pinto 1997 p 6 Este pensamento condensa e traduz com clareza o que vem a ser a descentralização e por analogia a centralização Há bastantes pesquisas sobre este assunto no tocante ao setor público Guimarães 2014 Motta BresserPereira 2004 Vieira 2012 Em diversos estudo o cerne da questão diz respeito a como construir o fluxo de um processo decisório uns defendem uma administração centralizada outros primam por um comando descentralizado Contudo essa temática não se restringe à esfera governamental onde quer que haja a necessidade de tomar decisões dentro uma estrutura de governança se discutirá em algum momento se estas deci sões devem ser isoladas ou colegiadas se é mais benéfico para a entidade centralizar o poder decisório ou compartilhálo com os componentes da pirâmide hierárquica Estes temas vêm sendo discutidos já há algumas décadas Jennergren 1981 Mansfield 1973 Marsh 1992 e recentemente vem sendo abordados a partir de outros enfoques associados a modismos e a desempenho Malone 1997 Wong Ormiston Tetlock 2011 No fundo a questão é delegar ou não Em outras palavras podese dizer que discussão é sobre a tensão que existe entre conferir autonomia e controlar entre permitir a participação nas decisões e ao mesmo tempo limitála Malone 1997 Waterhouse e Tiessen 1978 p 68 já haviam abordado esta temática evocando uma estrutura de autoridade e controle e distinguindo a autoridade centralizada da descentralizada Logo percebese a íntima conexão entre centralização e autonomia dizse que onde há mais centralização há menos autonomia e por conseguinte onde há menos centralização há mais autonomia Horngren Sundem Stratton Teall Gekas 2006 No plano pragmático Hopper 1980 resolveu estudar como os controllers se percebiam e eram percebidos tanto nas organizações centralizadas quanto nas descentralizadas Ele encontrou que nas empresas onde havia um maior nível de descentralização o controller estava mais próximo dos gestores e que nesta situação estes gestores percebiam a informação contábil fornecida pelos controllers como sendo mais pertinente achavamna mais adequada às necessidades gerenciais Deste modo o estudo de Hopper 1980 sinalizou que a descentralização era um fator capaz de trazer o controller para mais próximo das demandas do negócio e daqueles que o gerenciam Em outros termos a descentralização estimulava um perfil de controller mais afinado ao modelo business partner Posteriormente Gul e Chia 1994 descobriram que em ambientes com alto grau de incerteza pro mover a descentralização proporcionava uma melhoria no desempenho dos gestores A descentralização portanto sob certas condições teria um efeito sobre a performance das pessoas inclusive do controller Dez anos depois Jermias e Gani 2004 ratificaram as conclusões do estudo de Gul e Chia 1994 p 187 e afirmaram que um alto degrau de autonomia é uma resposta apropriada ao aumento da incer teza É importante entender a ideia subjacente a esta argumentação em ambientes eou situações de grande incerteza como por exemplo no lançamento de um novo produto o grau de liberdade para tomar decisões isto é autonomia proporciona uma melhor adaptação do negócio ao meio Por outro Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 12 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA lado se o ambiente não oferece tantos riscos ou seja em clima de baixa incerteza a organização tende a reduzir a autonomia dos gestores e centralizar o poder decisório em uma instância única Todos estes argumentos e estudos oferecem suficientes indícios para que se suponha que o perfil business partner reiteradamente destacado pela literatura acadêmica é o que se adapta mais facilmente a ambientes descentralizados e ao clima de incertezas Talvez por isso Jordan Neves e Rodrigues 2003 p 431 ao falarem da evolução da profissão do controller se referem ao novo controller como o respon sável pela animação e coordenação de atividades em estruturas descentralizadas Ahid e Augustine 2012 afirmaram que a descentralização e a delegação de autoridade de fato resultaram em um incremento de responsabilidade para os controllers Quando descentralizado o poder os gestores delegados precisam envolverse mais com o negócio aprender os detalhes da operação a fim de saber exatamente sobre o que estão decidindo Este envolvimento é visto como positivo por Palomino 2013 que o considera uma característica do controller e um fruto da descentralização No que diz respeito a este tópico portanto foi testada a seguinte hipótese H2 Em empresas mais descentralizadas os controllers apresentam mais envolvimento com o negócio e mais autonomia 4 MÉTODOS A pesquisa foi realizada em parceria com a Associação Nacional dos Executivos de Finanças ANEFAC em cuja base de associados constavam 596 controllers A coleta de dados se deu entre os meses de maio e dezembro de 2015 período em que vigorou a mencionada parceria tendo em vista que a proposta visava apresentar já no início de 2016 um panorama dos controllers associados àquela entidade O instrumento de pesquisa utilizado consistiu em um questionário subdivido em três partes remetido aos respondentes por email Neste email indicavase um link da plataforma virtual gratuita Survey Monkey para que o controller pudesse acessar e responder à pesquisa Antes porém o questionário foi remetido como piloto a um controller e dois acadêmicos da área de controladoria para que se testasse a clareza e a compreensibilidade das questões Assim se necessário a partir das críticas eventualmente recebidas seria possível aprimorar o instrumento de modo a eliminar dubiedades eou imprecisões nas questões Além disso foi elaborada uma breve carta introdutória ao questionário na qual foi feita uma breve explanação da questãoproblema que motivou o estudo e se destacou a confidencialidade das respostas Ainda nesta carta introdutória foi disponibilizado um email para servir como canal de contato com o pesquisador Assim diante de quaisquer dúvidas os respondentes poderiam contatar o pesquisador a fim de sanálas Ao finalizar a coleta de dados foram obtidos um total de 114 questionários respondidos Destes dois respondentes foram descartados da amostra tendo em vista que declararam estar exercendo a função de docentes e não mais a de controllers Além disso um dos respondentes precisou ser excluído do grupo amostral porque respondeu uma única questão e mesmo assim parcialmente sua permanência na composição da amostra poderia levar a distorções nos resultados das estatísticas descritivas e conse quente interpretação equivocada dos achados Assim com 111 questionários validamente respondidos a taxa de resposta obtida pelo pesquisador foi de 1862 Todas as variáveis foram medidas através de escalas préestabelecidas e devidamente validadas Todas as variáveis originalmente na língua inglesa foram traduzidas para o português através do processo de back translation As respostas foram medidas através da escala de Likert de 5 pontos com exceção da pergunta a respeito da descrição das funções dos controllers Para que se tenha um entendimento mais claro acerca das medias utilizadas no questionário foi construído a Tabela 5 Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 13 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA Tabela 5 Medidas Medidas Fonte Descrição de funções dos business partners e dos bean counters Burns e Baldvinsdottir 2005 2007 Envolvimento Emsley 2005 Autonomia Morgeson e Humphrey 2006 Descentralização Gordon e Narayanan 1984 Fonte elaborada pelos autores Descrição de funções dos business partners e dos bean counters No questionário foram dispo nibilizados cinco campos para que os respondentes elencassem as cinco principais tarefasatividades que eles realizavam Deste modo seguindo uma lógica de codificação foi possível segregar com mais clareza os perfis que estão sob investigação nesta pesquisa posto que há atividades mais próximas do perfil bean counters e outras mais próximas do perfil business partner Envolvimento O questionário visou identificar dentro de uma escala Likert de 5 pontos qual o grau de envolvimento dos controllers com a função contábil isto é com as atribuições próprias de um contador tradicional e com a função de suporte à gestão em outros termos o quanto eles assessoram prestam apoio direto aos gestores encarregados da estratégia organizacional A ideia é que o envolvimento mais intenso com a função contábil indica predominância do perfil bean counter ao passo que envolverse mais com a função de apoio à gestão revela preponderância do perfil business partner A média obtida da medida de envolvimento foi de 319 e a confiabilidade da escala Alfa de Cronbach foi de 076 Autonomia O questionário buscou medir a autonomia dos controllers dentro de uma escala Likert de 5 pontos Essa medida possui três itens meu trabalho me permite tomar minhas próprias decisões sobre o cronograma de execução do meu trabalho meu trabalho permite que eu tome muitas decisões por conta própria e meu trabalho fornece autonomia para tomada de decisões A média obtida da medida de autonomia foi de 378 e a confiabilidade da escala Alfa de Cronbach foi de 088 Descentralização Os respondentes também classificaram dentro de uma escala Likert de 5 pontos qual o grau de descentralização existente na organização em que atuam no que se refere a algumas decisões específicas Esta pergunta visou identificar o nível de liberdade influência e delegação existente na companhia As decisões foram sobre desenvolvimento de novos produtos contratação e demissão de pessoal investimentos de grande vulto orçamento precificação Seguindo esta lógica o valor 1 significou nenhuma autonomia ao passo que o valor 5 indicou total autonomia A média obtida da medida de descentralização foi de 281 e a confiabilidade da escala Alfa de Cronbach foi de 086 O número de funcionários foi adotado como determinante do tamanho porte da empresa através de uma pergunta direta Quantos empregados a sua organização possui Para melhor visualização das tarefas e atividades que caracterizam a atuação do controller e pos sibilitam sua classificação entre bean counters ou business partners foi utilizada uma word cloud em português nuvem de palavras Esta ferramenta possibilita a visualização das palavraschave identi ficadas de tal forma que o espaço que estes termos ocupam na word cloud gerada é proporcional à quantidade de vezes que eles apareceram nos relatos dos respondentes A elaboração da word cloud se deu mediante a ferramenta disponibilizada gratuitamente no sítio eletrônico wwwworditoutcom 5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Inicialmente convém apresentar algumas características descritivas do perfil dos controllers da amostra a 77 dos respondentes se declararam do sexo masculino b a média de idade foi de 43 Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 14 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA anos c 64 dos respondentes disseramse pósgraduados ou seja têm especialização lato sensu ou fizeram algum curso do tipo Master Business Administration MBA A este perfil prevalente composto por homens pósgraduados e de meia idade acrescentese um outro dado obtido a partir das respostas colhidas a média de experiência dos controllers na área de controladoria foi de 68 anos Se esta informação for comparada à média de idade que se apurou intuise que em geral a atuação dos profissionais da amostra neste ramo deve ter se iniciado após os 35 anos Feita esta caracterização geral convém debruçarse sobre a descrição que os controllers fizeram de seu próprio papelfunção no primeiro quesito da parte A A partir destes relatos foram identificadas 59 palavraschave as quais descrevem não só as tarefas que eles afirmaram desempenhar mas também atividades e outros elementos presentes em seu cotidiano Como exemplos de tarefas podemse citar cálculos cobrança análise etc a título de atividades é possível mencionar auditoria consultoria gestão etc e como outros elementos presentes na rea lidade profissional dos controllers foram identificados por exemplo arquivos dados fornecedores etc Somando o total de ocorrências destas 59 palavraschave foram constatadas 485 referências a estes termos Isto posto a word cloud obtida foi a constante na Figura 1 a seguir Figura 1 Word cloud das atividades dos controllers Fonte elaborada pelos autores Ao visualizar a word cloud construída é possível perceber que a palavra Contabilizações ocupa a região central do mosaico e se destaca também por apresentar a maior fonte no emaranhado de expressões Tal observação é pertinente porque denota que a escrituração o processo de comandar lançamentos contábeis para registrar transações é bastante presente nas rotinas de muitos controllers de forma que o envolvimento deles com os negócios empresariais a sua parceria com as demais áreas da empresa o seu papel estratégico e as suas atribuições gerenciais não os desobrigaram de realizar ou supervisionar este procedimento contábil clássico que representa a base de qualquer peça da contabilidade e o fundamento de qualquer interpretação sobre os eventos ocorridos na empresa Em Contabilizações estão contidas as rotinas próprias da contabilidade chamada financeira o que sugere que o controller está ainda muito atrelado às atribuições do bean counter Assim tendo em vista que Contabilizações Gestão Tributos Finanças e Informações foram as palavras que sobressaíram na word cloud cada uma delas com mais de 30 ocorrências o que indica Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 15 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA mais de 5 de representatividade em relação ao total de palavraschave identificadas podese dizer que tais elementos compõem o cerne da atuação dos controllers no Brasil Mesmo em seus variados contextos os controllers parecem unidos por estas atividades que lhes são comuns Portanto considerando as 5 tarefas que cada um dos 111 respondentes foi convidado a elencar foi possível organizálas em atividades e distribuílas da seguinte maneira Tabela 6 Tabela 6 Distribuição das atividades dos controllers Atividade Classificação Frequência Percentual 1 Monitoramento fiscal Bean counter 58 105 2 Controle de custos 39 70 3 Escrituração 66 119 4 Análise de dadosrelatórios financeiros 117 211 5 Controle de desempenho gerencial com base nos principais indicadores financeiros 68 123 6 Outras atividades de bean counter 2 04 7 Integração da informação contábil com indicadores de desempenho não financeiros Business partner 21 38 8 Formulação de estratégia 26 47 9 Desenvolvimento de sistemas 13 23 10 Redesenho organizacional 16 29 11 Gestão de mudanças 17 31 12 Outras atividades de business partner 6 11 13 Atividades burocráticoadministrativas Não classificáveis 29 52 14 Atividades não relacionadas à contabilidade controladoria 10 18 14 Outras atividades 26 46 16 Não responderam 41 73 Total 555 1000 Fonte elaborada pelos autores Alguns respondentes destoando do que fora solicitado não fizeram a indicação de cinco tarefas optaram por relacionar três ou quatro razão pela qual houve 41 ocorrências de ausência de resposta Além disso como muitos respondentes relacionaram atividades de ambos os perfis tendo alguns inclu sive optado por indicar menos de cinco atividades o que se obteve por fim foi um perfil predominante estabelecendo como critério de predominância que quem indicasse executar duas ou mais atividades de business partner seria classificado como tal O resultado deste procedimento foi o constante na Tabela 7 Tabela 7 Distribuição das atividades dos controllers Perfil Frequência Percentual Válido Cumulativo Bean counters 76 685 745 745 Business partners 26 234 255 1000 Total 102 919 1000 Sem classificação 9 81 Total 111 1000 Fonte elaborada pelos autores Os respondentes que não foram classificados como sendo bean counter ou business partners são aqueles cujas atividades foram marcadas pela predominância dos itens 13 14 e 15 vide Tabela 6 Entre os demais respondentes porém como se pode observar o perfil predominante apurado foi o do bean counter Palomino 2013 endossa o entendimento segundo o qual os controllers apresentam uma variabi lidade de funções e atividades a depender do tamanho e da estrutura específica da empresa em que atuam A argumentação que embasa esta ideia alude ao fato de que o porte e o modo como a empresa Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 16 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA está desenhada exige do controller diferentes competências e posturas e em consequência isto se reflete em suas funções e atividades Assim em teoria o tamanho da organização desempenharia um papel significativo no envolvimento do controller com o negócio e na sua autonomia dentro da organização Entretanto o que se constatou a partir dos dados da presente pesquisa divergiu deste entendimento Em primeiro lugar o tamanho médio das companhias foi de 2432 funcionários Esta média livre do viés dos outliers não é compatível com a realidade de empresas pequenas e aponta para o contexto das organizações de grande porte enquanto nas primeiras o controle pode ser e muitas vezes é exercido por um funcionário de confiança ou pelo próprio empresário nas últimas a figura do controller desponta para satisfazer a necessidade de profissionalizar e instrumentalizar a gestão de uma entidade que em razão de sua complexidade já não admite mais amadorismos Ademais à revelia da argumentação de alguns autores e utilizando a técnica da regressão linear percebeuse que não houve relação significante entre o tamanho da empresa e o envolvimento do controller no negócio β 12 t 114 p 26 Uma possível explicação para isto pode residir no fato de que nas organizações menores o controller tem condições de conhecer o negócio com mais proximidade e inteireza Isto faz com que ele esteja pessoal e integralmente envolvido Ao passo que em grandes organizações ante um rol de atribuições tão extenso e cercado por tantas demandas muitas delas burocráticas eou legais o controller não tem condições oportunidade e tempo de se envolver A regressão linear também apontou que a relação entre o tamanho da companhia e a autonomia do controller não foi significante β 07 t 63 p 53 Estes números refletem a lógica segundo a qual o fato de a empresa ser de maior porte não implica necessariamente num maior grau de autonomia para o controller Da mesma forma também não se pode assegurar que em empresas menores ele tem menos autonomia Destacase que nas empresas de maior porte o controller também é um dos itens passíveis de controle e por isso de fato sua autonomia é limitada em contextos onde se fala de governança não há espaço para amplos poderes Logo mesmo não permitindo a associação entre porte e autonomia ou envolvimento os dados trazem uma outra vertente lógica de argumentação igualmente válida e consistente com a realidade Portanto hipótese H1 foi rejeitada o que significa que os controllers de empresas de maior porte isto é com maior número de funcionários não apresentam maior grau de autonomia ou envolvimento com o negócio Em relação a hipótese H2 identificouse que a descentralização está positivamente associada ao envolvimento o que significa que quanto mais descentralizada a empresa maior o nível de envolvimento do controller no negócio β 21 t 202 p 054 Com base neste resultado parece que a estrutura descentralizada impele o controller a estar mais próximo do negócio talvez para que ele não perca o controle e possa exercer sua função em consonân cia com as outras partes da engrenagemempresa Monteiro 2014 p 32 comenta Descentralização está associada com um Sistema de Controle Gerencial com características de agregação e integração Diante de tal afirmação e tendo em conta os achados da presente pesquisa a este respeito surge uma provocação se nas estruturas descentralizadas há como insinua Monteiro 2014 mais proximidade e interação entre os personagens que exercem o poder então pode haver entre eles troca de experi 4 Foram realizados todos os testes de pressupostos do modelo de regressão teste de normalidade dos resíduos ausência de autocorrelação dos resíduos ho mocedasticidade e linearidade Todos os pressupostos foram adequados O teste de DurbinWatson teste para autocorrelação foi de 201 esse valor significa que os resíduos não estão correlacionados Valores inferiores a 1 ou superiores a 3 são motivo de preocupação Portanto isso indica que a premissa foi atendida Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 17 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA ências compartilhamento de dificuldades comunicação de saberes etc O envolvimento do controller no negócio portanto é somente o reflexo deste movimento Ahid e Augustine 2012 indicam que o incremento nas atividades do controller é um dos frutos da descentralização das organizações O presente estudo prossegue nesta mesma linha de raciocínio mas avança ao apontar que o envolvimento do controller nestas atividades que lhe são atribuídas também é fruto da descentralização Os achados da presente pesquisa avançam ainda em relação ao estudo de Wong et al 2011 tendo em vista que tais autores examinaram os efeitos da descentralização fazendo relação com o que chamaram de complexidade interativa mas sem descer esta complexidade ao nível da especificação de tarefas e prescindindo do envolvimento dos controllers na execução delas Byrne 2010 faz menção ao envolvimento dos controllers com o negócio mas sem associar isto em momento algum ao fator descentralização Desta forma a relação entre estes dois elementos aqui encontrada e comprovada contribui para aprofundar o conhecimento dos antecedentes características e consequências associados ao papel dos controllers a que Byrne 2010 fez referência no título de sua pesquisa Os achados decorrentes do questionário que foi aplicado aos 111 respondentes desta pesquisa su gerem a este respeito que nas organizações onde o poder decisório é descentralizado os controllers envolvemse mais Neste sentido a descentralização incrementa a responsabilidade destes profissionais sobre as tarefas e atividades que lhes foram confiadas e os impele a envolverse mais com tudo quanto realizam e com a dinâmica da própria entidade em que atuam Foi identificada ainda a existência de uma relação significante entre descentralização e autonomia β 35 t 359 p 015 A lógica subjacente à descentralização é a de compartilhamento do poder de mando Logo é natural que esta pulverização do poder incremente a autonomia dos profissionais que de alguma forma o exercem Convém notar que o binômio autonomiacontrole é por natureza paradoxal onde o controle é mais forte há menos autonomia e onde o controle é menos rigoroso há mais espaço para posições e decisões autônomas Isto posto é compreensível que sendo o controle menor porque fragmentado com a descentralização haja uma maior dose de autonomia Nesta perspectiva por exemplo situase o estudo de Sbors Schafer e Gasparetto 2017 segundo os quais a existência de divisões descentralizadas permite que haja mais autonomia Mas esta autonomia alertaram Ferreira e Angotti 2016 precisa estar integrada ao sistema de controle gerencial como um todo para que não fique incongruente em relação aos objetivos da com panhia Portanto a discussão sobre descentralização e autonomia ao perpassar dimensões estratégicas e envolver diretamente a área de controle alça os profissionais de controladoria a um papel mais amplo e elevado de mais colaboração com o negócio Com a descentralização quem nunca teve poder pode passar a têlo E ao receber por delegação uma fatia de poder se lhes exige simultaneamente que suas decisões autônomas estejam alinhadas aos interesses da organização e sejam frutuosas para a mesma Os achados da presente pesquisa dão conta de uma dimensão que não vem sendo suficientemente tratada a existência de um gatilho a descentralização para a autonomia dos controllers O estudo de Kalbers e Cenker 2008 por exemplo assinala a existência de uma associação entre a autonomia e a 5 Foram realizados todos os testes de pressupostos do modelo de regressão teste de normalidade dos resíduos ausência de autocorrelação dos resíduos homoce dasticidade e linearidade Todos os pressupostos foram adequados O teste de DurbinWatson teste para autocorrelação foi de 213 esse valor significa que os resíduos não estão correlacionados Portanto isso indica que a premissa foi atendida Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 18 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA performance dos contadores certificados mas não elucida os elementos catalisadores desta autonomia e ignora a descentralização como sua mola propulsora Enfim os achados levam à aceitação da hipótese H2 Em outras palavras a descentralização em uma organização está associada positivamente à autonomia dos controllers e também guarda relação positiva com o envolvimento destes no negócio 6 CONCLUSÃO Nosso estudo possui três objetivos identificar as principais atividades exercidas pelos controllers discernir qual o seu perfil predominante considerando as variantes que a literatura aponta notada mente bean counters e business partners e entender como o tamanho e grau de descentralização das organizações se relacionam com a autonomia e o envolvimento destes controllers com os negócios da empresa em que trabalham Como resultado desta investigação entre as principais atividades executadas pelos controllers des tacaramse a análise de dados e relatórios financeiros o controle de desempenho gerencial com base nos principais indicadores financeiros a escrituração e o monitoramento fiscal Como complemento deste achado e corroborandoo a word cloud construída demonstrou que as palavras Contabilizações Gestão Tributos e Finanças foram as que sobressaíram na descrição que os respondentes fizeram de suas próprias tarefas A averiguação do perfil dos controllers da amostra revelou uma predominância do perfil bean counter 745 dos respondentes foram assim classificados enquanto apenas 255 foram associados ao perfil business partner Corroborando esta predominância temse que as tarefas e atividades executadas e apontadas pelos respondentes mostramse consistentes com a descrição de afazeres que a literatura acadêmica atribui aos bean counters A presente pesquisa também analisou se o Tamanho da Organização e o grau de Descentralização do poder decisório estariam associados com o envolvimento e a autonomia do controller A hipótese H1 relação tamanho da empresa versus envolvimento e autonomia foi rejeitada A hipótese H2 relação descentralização versus envolvimento e autonomia se mostrou significante e por isso foi aceita Estes achados contribuem com o entendimento sobre os reflexos que determinados componentes organizacionais como tamanho e descentralização geram sobre certas dimensões da atuação dos controllers Compreender a existênciainexistência destas relações oferece um pano de fundo e um subsídio para que estudos posteriores possam explicar por que alguns aspectos internos e externos à organização que podem levar à consolidaçãoredefinição de perfis profissionais e atividades laborais Não é demais salientar que este resultado bem como todos os demais achados elencados nesta conclusão dizem respeito apenas à amostra pesquisada a qual embora represente adequadamente a população de controllers não reflete evidentemente todas as possibilidades e características destes profissionais Contudo o que aqui foi exposto inobstante as limitações já apresentadas traz indícios que reforçam e lastreiam o debate sobre a transição de perfil que os controllers têm vivenciado Esta pesquisa como já referido no item que tratou da metodologia teve uma abordagem quantitativa Sugerese que outros estudos abordem a problemática relativa ao perfil dos controllers sob uma ótica qualitativa quiçá realizando entrevistas com ele a fim de entender melhor certos aspectos caracterizado res de seu perfil Além disso podese estudar o impacto de fatores como o setor empresarial em que o controller trabalha e a cultura da organização na definição ou consolidação de perfil deste profissional Perfis dos controllers autonomia e envolvimento dos Profissionais de controladoria 19 Advances in Scientific and Applied Accounting ISSN 19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA Este estudo contribuiu para elucidar a atuação dos controllers mediante uma descrição de suas tarefas e atividades incrementando a discussão sobre a mudança de perfil dos controllers a transição de bean counters para business partners verificada em outras partes do mundo não se mostrou consistente com o perfil da amostra aqui utilizada de acordo com os dados obtidos para cada controller do tipo business partner há cerca de três bean counters Este achado por sua vez também representa uma contribuição relevante para o debate sobre quais são exatamente os direcionadores desta mudança de perfil REFERÊNCIAS Abernethy M A Brownell P 1999 The role of budgets in organizations facing strategic change an exploratory study Accounting 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19838611 São Paulo v13 n3 p 003022 Set Dez de 2020 ASAA Pierce Bernard Odea T 2003 Management accounting information and the needs of managers perceptions of managers and accountants compared The British Accounting Review 353 257290 DOI httpsdoiorg101016s0890838903000295 Pinto J R A 1997 Descentralização e controle gerencial estudo de cinco casos brasileiros Dissertação de Mestrado em Administração Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rahman S Ahmed J U 2012 An evaluation of the changing role of management accountants in recent years Indus Journal of Management Social Science IJMSS 61 1830 Sathe V 1984 The controllers role in management Organizational Dynamics 113 3148 DOI https doiorg1010160090261683900049 Sbors R Schafer J D Gasparetto V 2017 Divisionalização e Contabilidade por Responsabilidade em Operações Comerciais e de Serviços Revista Gestão Tecnologia 171 232257DOI httpsdoi org1020397217766522017v17i11002 Schnorrenberger D Ribeiro L M S Lunkes R J Gasparetto V 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activities an exploratory study Journal of Applied Management Accounting Research 52 932 Vieira P R 2012 Em busca de uma teoria de descentralização Revista de Administração Pública 465 14091425 DOI httpsdoiorg101590s003476122012000500011 Waterhouse J H Tiessen P 1978 A contingency framework for management accounting sys tems research Accounting Organizations and Society 31 6576 DOI httpsdoiorg1010160361 368278900077 Wong E M Ormiston M E Tetlock P E 2011 The effects of top management team integrative com plexity and decentralized decision making on corporate social performance Academy of Management Journal 546 12071228 DOI httpsdoiorg105465amj20080762 Youssef M A 2012 Management accounting change in developing countries Journal of Accounting Marketing 31 DOI httpsdoiorg104172216896011000e123 351 os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 Evolução da Pesquisa em Finanças epistemologia paradigma e críticas EVOLUÇÃO DA PESQUISA EM FINANÇAS EPISTEMOLOGIA PARADIGMA E CRÍTICAS Robert Aldo Iquiapaza Hudson Fernandes Amaral Aureliano Angel Bressan Resumo objetivo deste artigo consiste em analisar a evolução teóricometodológica da área de finanças ressaltando as etapas importantes e assim assinalar suas contribui ções e contradições com especial ênfase no paradigma dominante e na crítica da pósmodernidade Tratase de uma reflexão teórica com revisão ad hoc da literatu ra Observouse que entre os anos cinqüenta e sessenta do século XX existiu uma espécie de revolução teóricometodológica na pesquisa em finanças que pela adoção dos funda mentos do funcionalismo positivista levoua a ser mais normativa quantitativa e próxima das ciências naturais Com isso essa área perde suas características clássicas de ser positiva e o reconhecimento de sua capacidade de afetar seu objeto de estudo o compor tamento financeiro de indivíduos e empresas Só nas duas últimas décadas emergiram algumas propostas alternativas entre elas estudos de finanças comportamentais Essa abordagem tem feito contribuições interessantes aos estudos de finanças apesar de ser fortemente questionada pelo paradigma dominante Palavraschave Pesquisa em finanças Epistemologia Paradigmas Finanças modernas Finanças comportamentais ABSTRACT he objective of this article was to analyze the theoreticalmethodological evolution in the finance area emphasizing the important stages marking their contributions and contradictions with special emphasis in the dominant paradigm and the post modern critics It is a theoretical reflection with an ad hoc revision of the literature It is observed that around the fifties and sixties of the twentieth century there was a methodological and theoretical revolution in finance research that due to the adoption of the foundations of the positivist functionalism took this to be more normative quantitative and close to the natural sciences losing their classic characteristics of being positive and the recognition of its capacity of affecting the research object the individuals and companies financial behavior Only in the last two decades there seems to be some alternative proposals among them behavioral finance studies That approach had shown important contributions to finance studies even though is being hardly challenged by the dominant paradigm Key words Finance research Epistemology Paradigm Modern finance Behavioral finance O T Doutorando em Administração Finanças do Centro de PósGraduação e Pesquisas em Administra ção da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais CEPEADFACE UFMG Bolsista do CNPq Pesquisador do Núcleo de Ensino Pesquisa e Consultoria em Finanças e Contabilidade NUFI do CEPEADFACEUFMG Endereço Av Antônio Carlos 6627 Prédio FACE sala 4120 Pampulha Belo HorizonteMG CEP 31270901 Email riquiapazagmailcom Prof Associado do Departamento de Ciências Administrativas da FACEUFMG Coordenador do CEPEAD e do Núcleo de Ensino Pesquisa e Consultoria em Finanças e Contabilidade NUFI da FACE UFMG Email hfamaralfaceufmgbr Prof Adjunto do CEPEADFACEUFMG Coordenador do Colegiado de Graduação em Administra ção da FACEUFMG e do Laboratório de Finanças da UFMG Email bressanfaceufmgbr EVOLUTION IN FINANCE RESEARCH EPISTEMOLOGY PARADIGM AND CRITICS os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 352 Robert Aldo Iquiapaza Hudson Fernandes Amaral Aureliano Angel Bressan Introdução s anos cinqüenta são normalmente assinalados como o começo da revo lução em finanças Os conceitos básicos de tomada de decisões financeiras foram completamente reescritos o que levou ao desenvolvimento da mo derna teoria financeira nas décadas seguintes Essa teoria moderna tem gradual e logicamente resultado no desenvolvimento de inúmeras ferramentas usadas nos processos de tomada de decisões de investimento e financiamento Entretanto antes dessa revolução somente existiam os pesquisadores e práticos tradicionais na área de finanças que se baseavam nas experiências práticas para descrever o comportamento do investidor e das empresas e assim sugerir o que poderiam ser as decisões certas de investimento e financiamento Nessa época os pesquisadores não tratavam seus resultados e sugestões como universalmente aplicáveis o que permite definir a abordagem como baseada em uma aproximação positiva e não universal Por outro lado os pesquisadores modernos confiam na teoria econômica neoclássica e na matematização para derivar o que agora é conhecido como mo derna teoria financeira O homo economicus da teoria neoclássica se tornou o foco de todas as suposições sobre como os seres humanos tomam decisões Assim a moderna teoria financeira busca se assemelhar às ciências naturais tornandose mais normativa universal e exata Mramor e Lonèarski 2002 indicam que com o tempo surge a pergunta sobre a utilidade da moderna teoria financeira Os pesquisadores começaram a olhar suas suposições para descobrir o óbvio as mesmas não estavam contidas na realidade A partir de então começou a emergir uma nova aproximação nas finanças Tratase de reconhecer que o ser humano não é um maximizador mecâ nico da riqueza onisciente e egoísta mas sim um ser complexo com comporta mento balizado pelo ambiente social e político em que se insere Dessa forma o que aceitamos como verdadeiro no princípio notase que pode ter um impacto importante no que percebemos e logo também na pesqui sa sobre a verdade e o conhecimento É também um exemplo sobre a importân cia da epistemologia da teoria ou atitude sobre a realidade as fontes e limita ções de conhecimento A epistemologia cria uma estrutura que visa transformar a intuição em conhecimento e fazendo isso cria expressões que são geralmente verdadeiras Porém há uma fase prévia na qual é preciso definir o que existe e o que é necessário para poder desenvolver uma teoria Este seria um problema ontológico ou seja uma teoria das coisas que precisam existir ou as condições que precisam ser preenchidas para que a teoria seja provada seja verdadeira Talvez essas definições não sejam devidamente consideradas em finanças por serem um pouco difíceis mas elas também são muito importantes para o pesqui sador ou o gerente que está interessado em trabalhar com ciência ou compreen são da realidade Assim o objetivo do presente artigo é analisar a evolução teórico metodológica na área de finanças ressaltando cada etapa importante e assina lar suas contribuições e contradições com especial ênfase no paradigma domi nante e na crítica da pósmodernidade em finanças Para tanto a abordagem utilizada é a de um ensaio teórico reflexivo fazendo uma revisão ad hoc porém não exaustiva da literatura relacionada ao tema Abordagem Tradicional em Finanças A transformação do mundo acadêmico de finanças foi analisada por Bernstein 1992 já as interações entre esta transformação a evolução das escolas empre sariais nos Estados Unidos e as mudanças importantes nos mercados de capitais foram tratadas por Whitley 1986 Contudo essas análises concentramse pre dominantemente no período após a década de 1950 De acordo com McLean e O 353 os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 Evolução da Pesquisa em Finanças epistemologia paradigma e críticas Jones 2007 as finanças de negócios realmente emergiram como um campo de estudo muito antes na virada do século XX Naquele tempo era essencialmente um ramo aplicado da economia institucional estudado e ensinado por economistas Mramor e Lonèarski 2002 mostram que os pesquisadores e práticos tra dicionais na área de finanças confiaram nas experiências da prática para descre ver o comportamento do investidor e das empresas e assim sugerir o que pode riam ser as decisões certas de investimentos a serem empreendidas pelos inves tidores e decisões corretas a serem tomadas pelas empresas Os pesquisadores não reivindicaram seus resultados e sugestões como universalmente aplicáveis A natureza da aproximação tradicional nas finanças era positiva e não universal ie esta representou uma tentativa para explicar por que as coisas são como elas são tendo em vista que a mesma foi mais uma coleção ou revisão de regras usadas pelos investidores e gerentes no processo de tomada de decisões do que uma explicação consistente e completa de razões que conduzem e das conseqüên cias que se seguem às decisões financeiras Portanto o objetivo da aproximação tradicional nas finanças era descobrir e revelar as decisões financeiras que prova ram ser importantes na prática em períodos longos de tempo e depois estabele cer as características dos ativos escolhidos ou das companhias que tomaram as mesmas decisões Naquele tempo esta parecia ser uma forma de construir alguma classe de regras de tomada de decisões em finanças A regra ou melhor a sugestão sobre como escolher eficazmente entre ativos financeiros era comprar os ativos que estivessem subavaliados e vender aqueles que estivessem sobreavaliados sendo que o ponto central consistia em identificar esta sobre ou subavaliação dos ati vos no tempo Em relação às decisões de financiamento e estrutura de capital a aproxima ção tradicional tinha a convicção que cada companhia possuía algum tipo de capa cidade de endividamento normal baseado em suas características DONALDSON 1961 Tal capacidade referese à quantia de dívida da companhia que poderia baixar seu custo de capital desde que o custo da dívida fosse relativamente baixo e inalterado até o ponto que caracteriza uma obrigação normal Considerando que não era possível determinar qual é a capacidade de endividamento normal o processo de tomada de decisão estava baseado na experiência e sentimento interno de gerentes financeiros da companhia Esse sentimento interno esta va em parte baseado em certas regras de ouro de financiamento por exemplo emparelhar o vencimento de passivos e ativos e em parte no valor dos ativos de companhia principalmente bens imóveis habilidade futura esperada para reem bolsar a dívida o modo como a companhia administrou sua dívida no passado etc A aproximação tradicional para a política de dividendos estava muito clara as companhias deveriam distribuir os lucros da melhor forma possível na forma de dividendos em dinheiro desde que os investidores prefiram dividendos a ganhos futuros de capital Como assinalado por Gordon 1959 os investidores acreditam que os ganhos futuros de capital são mais incertos que os dividendos tendo portanto um valor mais baixo Lintner 1956 baseado em resultados de pesqui sas de campo montou um modelo teórico do comportamento dos dividendos corporativos e testou sua suficiência e confiabilidade O autor considerou que os gerentes consideram seriamente as percepções dos acionistas e só mudam a taxa de distribuição de dividendos depois que estão convencidos que tal mudança é positiva e desejável para os acionistas A análise de Lintner coincide com a de Gordon ao concluir que a maioria dos gerentes acredita que os acionistas prefe rem uma taxa de dividendos razoavelmente estável que é refletida no prêmio pago no preço da ação ou no crescimento gradual da taxa de dividendos Com respeito às decisões de orçamento de capital a aproximação tradicio nal favoreceu o período de reembolso e a taxa interna de retorno como critérios de tomada de decisão O critério do período de reembolso está baseado na lógica simples de que quanto mais cedo é recuperado o investimento inicial mais cedo se materializa o retorno sobre o capital investido e certamente menos incerto será o resultado financeiro da decisão de investimento porque o futuro os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 354 Robert Aldo Iquiapaza Hudson Fernandes Amaral Aureliano Angel Bressan próximo é mais previsível Parece que os pesquisadores tradicionais e práticos estavam cientes que seus resultados não eram universalmente aplicáveis e estavam sujeitos a variá veis relacionadas ao espaço e tempo como também muitos outros fatores que são prováveis de mudar dentro do espaço e tempo Na opinião de Mramor e Lonèarski 2002 o comentário feito por Lintner 1956 estabelece claramente que estes estudiosos estavam cientes da divisão entre método e metodologia demonstrando a aproximação positiva na pesquisa tradicional em finanças as companhias não foram selecionadas como uma amostra da qual obter conclu sões estatísticas elas foram selecionadas deliberadamente para cercar uma am pla variedade de situações e introduzir oportunidades para contrastes sugestivos e significantes entre as políticas de companhias semelhantes em vários aspectos mas diferindo em outras importantes características LINTNER 1956 p80 Conseqüentemente a aproximação tradicional estava baseada principal mente no comportamento atual de investidores e gerentes Tentouse definir ca racterísticas dos ativos financeiros e das companhias que afetam o comportamen to e o processo de tomada de decisões como também o modo como eles os afetam Não se assumiu nenhum tipo de comportamento racional universal das pessoas a abordagem não era normativa em sua natureza mas a mesma ex traiu as melhores práticas sendo assim positiva em sua natureza com respei to aos processos de tomada de decisões observando o comportamento atual das pessoas em determinado ambiente e tempo Mclean e Jones 2007 documentaram a carreira de um dos primeiros pro fessores de Finanças nos Estados Unidos Edward Mead De acordo com os auto res Mead foi o primeiro a especializarse no ensino de Finanças na Wharton Business School a primeira faculdade universitária de negócios naquele país e escreveu um dos primeiros livros se não o primeiro sobre Finanças Corporativas A aproximação ao objeto de estudo utilizada nesse livro foi do ponto de vista prático predominantemente descritivo ao invés de teórico A Modernidade em Finanças Adotando o paradigma A literatura de finanças antes dos anos 50 era em grande parte descritiva e detalhada no conteúdo institucional Nos anos cinqüenta mudanças fundamen tais começaram a aparecer contribuindo para que as finanças modernas desen volvessem um arcabouço teórico formalizado Ardalan 2004 2008 concorda com McGoun 1992 e outros autores em relação à mudança de paradigma nas Finan ças nesse período adotando o paradigma funcionalista de acordo com a classifi cação de Burrell e Morgan 1979 Ainda Ardalan 2007 2008 considera que a pesquisa em finanças já utilizou os quatro paradigmas sendo que algumas das mais importantes contribuições da abordagem tradicional corresponderiam se gundo esse autor ao paradigma interpretativo Os filósofos da ciência têm mostrado que mais de uma teoria pode explicar um determinado conjunto de dados Isto porque as teorias científicas estão basea das em paradigmas Um paradigma é tão essencial quanto a observação e o expe rimento para o desenvolvimento da ciência Para Domingues 2004 p52 um paradigma comporta uma dimensão teórica em cujo interior se formula o problema a ser pesquisado se postula algo sobre a realidade e se escolhe um segmento do real como princípio explicativo e uma dimensão metódica instalada e guiada pela teoria a qual se encarregará de contrastar a teoria em relação à realidade Se gundo Ardalan 2004 o estudo histórico de mudança de paradigma indica carac terísticas semelhantes no desenvolvimento das ciências Mas o papel dos 355 os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 Evolução da Pesquisa em Finanças epistemologia paradigma e críticas paradigmas na escolha paradigmática é circular Cada paradigma usa suas próprias suposições para discutir em sua própria defesa Assim o argumento circular só pode ser usado para persuasão Segundo Burrell e Morgan 1979 uma característica importante dos paradigmas é sua incomensurabilidade Esses autores seguem a idéia de Kuhn 1970 ao afirmarem que os quatro paradigmas por eles identificados são mutua mente exclusivos Muitos autores concordaram com a idéia de incomensurabilidade especialmente na década de 1980 mas outros aceitaram o pluralismo refletindo em uma evolução simultânea de vários paradigmas Corcuff 2001 ainda que em nível teórico da sociologia chega a questionar a maneira como as ciências sociais utilizando pares de conceitos opostos como idealismomaterialismo sujeitoob jeto ou coletivoindividual como no esquema utilizado por Burrell e Morgan 1979 fazem ver o mundo social de maneira dicotômica Essa forma de pensamento segundo Corcuff poderia ser até prejudicial para a compreensão dos fenômenos complexos dos dias atuais No caso da Teoria de Finanças McGoun 1992 p166167 provê uma expli cação da mudança de paradigma no campo acadêmico dessa área com a publica ção do artigo de Modigliani e Miller 1958 indicando que este seria certamente um forte candidato por ter efetuado uma espécie de revolução acadêmica na eco nomia financeira De acordo com Ross 1988 p127 se a visão do progresso da ciência que interpreta este como um dos paradigmas que tem mérito então se guramente o trabalho de Miller e Modigliani fornece um exemplo de laboratório de uma violenta mudança de paradigma McGoun 1992 p167 acrescenta que o processo de simplificação matematização e o esquema da arbitragem nas suas provas teve um profundo impacto no modo como os economistas financeiros têm procedido desde então Segundo Burrell e Morgan 1979 o paradigma funcionalista assume que a sociedade tem existência concreta e segue uma ordem determinada Essas supo sições conduzem à existência de uma ciência social objetiva e livre de valor que pode produzir explicações verossímeis e conhecimento para predizer a realidade Assumese então que as teorias científicas podem ser avaliadas objetivamente a partir de sua referência à evidência empírica Os cientistas não vêem nenhum papel para eles dentro do fenômeno que analisam pelo rigor e a técnica do méto do científico Atribuise assim a independência do observador em relação ao ob servado isto é o observador tem a habilidade de observar sem afetar o objeto Assumese então a exixtência de padrões universais da ciência os quais determi nam o que constitui uma explicação adequada do que é observado Assumese ainda que há regras externas e regulamentos que governam o mundo exterior O objetivo dos cientistas passa a ser então o de descobrir as ordens que prevale cem dentro daquele fenômeno O paradigma funcionalista busca prover explicações racionais aos assuntos sociais e gerar uma sociologia da regulação Enfatiza a importância de entender a ordem equilíbrio e estabilidade da sociedade e o modo pelo qual todos estes podem ser mantidos A ciência provê a base para estruturar a ordem do mundo social semelhante à estrutura e ordem do mundo natural São usados os méto dos das ciências naturais para gerar explicações do mundo social A sua aproxima ção para a ciência social está arraigada na tradição do positivismo de Durkheim Os funcionalistas são individualistas ou seja as propriedades do conjunto são determinadas pelas propriedades de suas unidades O paradigma funcionalista permaneceu dominante na sociologia acadêmica na teoria organizacional e nas pesquisas acadêmicas de finanças O mundo de finanças é tratado então como um lugar de realidade concre ta o indivíduo é considerado como assumindo um papel passivo ou seja o seu comportamento é determinado pelo ambiente econômico A partir de então se gundo Ardalan 2004 as finanças modernas procedem como se houvesse um comportamento financeiro externo e testam empiricamente declarações teóricas considerando tal comportamento financeiro para determinar sua verdade As li os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 356 Robert Aldo Iquiapaza Hudson Fernandes Amaral Aureliano Angel Bressan nhas comuns entre as teorias e políticas em Finanças QUADRO 1 levam à conclu são que as teorias atuais em finanças estão claramente baseadas no paradigma funcionalista Quadro 1 Quatro Linhas Comuns entre as Teorias e Políticas em Finanças 1 há um mecanismo de causa e efeito que está por baixo de toda a natu reza e atividade humana ontologia 2 é conhecida por meio do conjunto de conexões nomológicas entre con dições iniciais e resultados finais epistemologia 3 os seres humanos interagem entre si em conformidade com este meca nismo natureza humana 4 as informações relacionadas com toda a atividade natural e humana podem ser adquiridas por meio de observações e medidas não afetadas pelas diferenças de percepção individuais metodologia Fonte adaptado de Ardalan 2004 687 Dentro do paradigma funcionalista McGoun 1992 p161 em sua reflexão sobre o conhecimento em finanças indica que o comportamento da maioria dos cien tistas implica na sua escolha de certas suposições tácitas da atividade científica 1 há um ambiente externo real independente de ciência 2 é possível pelo menos em princípio determinar a verdade de uma declaração científica relativa ao ambiente externo 3 os cientistas nunca declararão todas as verdades relativas ao ambi ente externo 4 com o passar do tempo os cientistas revelam verdades mais precisas relativas ao ambiente externo O começo da moderna teoria financeira foi marcado pelas contribuições fei tas por Markowitz 1952 Kendall 1953 Modigliani e Miller 1958 e Sharpe 1964 Os fundamentos sobre os quais a moderna teoria financeira foi desenvolvida fo ram importados da teoria econômica neoclássica que assume como racional o comportamento dos indivíduos Segundo Statman 2005 p1 nesse extraordiná rio momento professores universitários e profissionais das finanças foram alte rando as suas mentes mudando de um quadro em que os investidores são nor mais para uma em que os investidores são racionais A evolução teórica Por outro lado dada a natureza estabelecida historicamente e a importân cia de mercados de valores particularmente nos Estados Unidos e Grã Bretanha não é surpreendente que muitos dos primeiros trabalhos teóricos de finanças nos anos cinqüenta e sessenta tenham focalizado a análise do comportamento dos preços das ações e os princípios de seleção racional de portfólios de ações A chave desse desenvolvimento foi o modelo de passeio aleatório dos preços de ações que segundo Fama 1965 o caminho futuro do nível de preço de um título não é mais previsível do que o caminho de uma série acumulada de números aleatórios isto insinua que a série de mudanças de preço não tem memória o passado não pode ser usado para predizer o futuro de modo significativo FAMA 1965 p34 Firmemente unido ao modelo de passeio aleatório e sua generalização no modelo martingal está a hipótese de mercados eficientes QUADRO 2 que afir ma que a natureza de mercados de capitais maduros como os dos Estados Uni dos tornaos eficientes no sentido que neles os preços sempre refletem com pletamente a informação disponível FAMA 1970 383 A ligação entre as duas idéias é que se o preço atual de uma ação refletir toda a informação disponível 357 os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 Evolução da Pesquisa em Finanças epistemologia paradigma e críticas então seus movimentos de preços futuros só serão ajustados por meio de nova informação que em função disso é por definição imprevisível Ao lado desses desenvolvimentos estava a teoria de seleção de portfólios originalmente desenvolvida por Harry Markowitz 1952 O estudante de Markowitz William Sharpe junto com John Lintner e Jack Treynor desenvolveram o que foi conhecido como o Modelo de Avaliação de Ativos Financeiros Capital Asset Pricing Model no qual a determinante chave da taxa esperada de retorno de uma ação é o coeficiente ß beta da ação definido pela covariância de seu preço com o nível global do mercado SHARPE 1964 O pressuposto fundamental foi o da diversifi cação o risco idiossincrático específico de uma ação particular poderia ser diver sificado mas não o risco genérico de flutuações globais do mercado sistêmico Os investidores racionais requererem então lucros esperados mais altos para manter ações com um ß alto em contraposição a ações de ß baixo O aparecimento da moderna teoria de finanças fez parte de uma revolução que teve um impacto fundamental sobre a velha área de finanças largamente préteórica e freqüentemente baseada em um mundo de relações explícitas Quadro 2 Teorias e Políticas em Finanças desde 1950 Teoria de mercado eficiente Fama 1970 1976 1991 revisa a teoria e evidên cia empírica Jensen 1978 provê uma revisão de algumas anomalias Schwert 1983 pesquisa as anomalias relacionadas ao tamanho e Moy e Lee 1991 compilam a bibliografia de diferentes anomalias do mercado de valores Ball 2005 atualiza a revisão de literatura Teoria de portfólios Markowitz 1952 1959 enfatiza o benefício de diversifi cação de portfólios e fundamenta a formulação da Teoria de Avaliação de Ati vos de Capital Teoria de avaliação de ativos de capital Jensen 1972 pesquisa e discute a literatura Roll 1977 critica os testes do modelo Teoria de avaliação de opções Black e Scholes 1972 e Merton 1973 a desen volvem Cox e Ross 1976 e Smith 1976 1979 proporcionam uma revisão da teoria e de suas aplicações Teoria de agência Jensen e Ruback 1983 e Jensen e Smith 1985 provêem revisões dessa literatura Garvey e Swan 1994 revisam a literatura sobre governança corporativa Teoria de avaliação por arbitragem Ross 1976 prova a determinação de K fatores na avaliação de ativos Política de orçamento de capital Aggarwal 1993 provê uma avaliação de or çamento de capital sob incerteza Política de estrutura de capital Modigliani e Miller 1958 e Fama 1978 revi sam e discutem a literatura Política de dividendos Black 1976 provê um resumo dos assuntos Allen e Michaely 1995 fazem uma revisão Fonte adaptado de Ardalan 2004 p686687 Para Bernstein e outros a teoria acadêmica de mercados financeiros que tinha começado a ser desenvolvida nos anos 1950s e 1960s parecia estranha e pouco atrativa abstrata e difícil de entender BERNSTEIN 1992 p10 13 Inicialmente por exemplo os defensores do modelo de passeio aleatório foram recebidos com escasso entusiasmo Gradualmente porém os modelos de pas seio aleatório de seleção de portfólio e o Modelo de Avaliação de Ativos Financei ros foram adotados por uma variedade ampla de empíricos BERNSTEIN 1992 p233306 O indicador mais revelador da aceitação da teoria de finanças pelos participantes do mercado foi o aparecimento nos anos setenta de fundos indexados nos quais o esforço para superar o retorno do mercado escolhendo os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 358 Robert Aldo Iquiapaza Hudson Fernandes Amaral Aureliano Angel Bressan ações promissoras foi abandonado em favor de manter todas as ações repli cando um índice de mercado como o SP500 da Standard and Poors A adoção pelos praticantes do mercado da Teoria de Avaliação de Opções desenvolvida por Fischer Black e Myron Scholes 1972 e Robert C Merton 1973 foi muito mais rápida Estes mostraram que se os retornos do ativo subjacente seguis sem um passeio aleatório de tempo contínuo então o padrão de retornos de uma opção poderia ser reproduzido exatamente por um portfólio continuamente ajustado do ativo e o título do governo ou em dinheiro Em um mercado eficiente então o preço de uma opção teria que ser o custo da replicação do portfólio Se seus preços divergissem existiria uma oportunidade de arbitragem em outras palavras haveria um lucro sem risco que pode ser feito comprando o mais barato e vendendo o mais valorizado dos dois Como os arbitradores fazem isto suas compras aumentariam o preço mais baixo e suas vendas abaixariam o preço mais alto eliminando qualquer diferença entre o preço de uma opção e o custo de replicação do portfólio Ao começo dos anos setenta as opções eram ativos financeiros especializados e relativamente sem importância MERTON 1973 p141 seu mer cado estava limitado em volume e com negociações ad hoc Uma demarcação definitiva Segundo MacKenzie 2001 foram três as demarcaçõeschave para o de senvolvimento da moderna teoria de finanças e dos mercados financeiros A primeira é relacionada aos limites da economia como disciplina Na maior parte do século vinte o mercado de valores era um tópico de pesquisa de legitimida de duvidosa dentro da economia John Maynard Keynes 1936 1964 em uma famosa e sarcástica comparação associou o investimento no mercado de valores a uma competição de jornal na qual os concorrentes ganham prêmios se seu julgamento da atratividade de um semblante está de acordo com o julgamento comum de todos os concorrentes O desenvolvimento de Markowitz 1952 de uma teoria da alocação ótima de investimentos foi considerado como uma tese de doutorado que não se encaixa na área de economia O artigo de avaliação de opções de Black e Scholes 1972 depois agraciado com o prêmio Nobel em Economia foi rejeitado duas vezes em periódicos de renome em eco nomia por ser muito especializado Peter Bernstein 1992 p46 comenta que a área de Finanças era e é predominantemente uma especialização dentro das escolas de negócios não de departamentos de economia e na maioria das universidades o corpo docente das escolas empresariais e de economia se cumprimentam um ao outro apenas na rua Algumas exceções como a Univer sidade de Chicago e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts MIT se torna ram os locais fundamentais para o desenvolvimento da moderna teoria de fi nanças Até mesmo quando a área de finanças ganhou legitimidade dentro da economia com os principais teóricos de finanças sendo indicados para o prêmio Nobel alguns rastros de divisão permanecem Assim o corpo enorme de pes quisa acadêmica em finanças nos últimos quarenta anos se distribui natural mente em dois eixos a aproximação das Escolas de Negócios para Finanças e a aproximação dos Departamentos de Economia Com o mercado de valores sendo um tópico marginal em economia não é surpreendente que as origens do modelo de passeio aleatório caíssem fora da área como a estatística e a física por exemplo Aparentemente esse fato se justificava em parte segundo Roberts 1959 p3 pela existência de uma tradici onal suspeita acadêmica sobre o mercado de valores como objeto de pesquisa já que o mercado de valores esteve no centro da Grande Depressão de 1930 e depois durante décadas foi visto como investimento arriscado Mas dos anos cinqüenta para frente cresceu a legitimidade do mercado de valores e grandes quantidades de dados sobre os movimentos dos preços das ações ficaram dispo níveis como também o poder necessário dos computadores para analisálos Em bora a separação institucional de grande parte da teoria de finanças dos depar 359 os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 Evolução da Pesquisa em Finanças epistemologia paradigma e críticas tamentos de economia tenha permanecido para MacKenzie 2001 a área de finanças gradualmente tornouse um tópico central talvez questionável como uma das jóias da coroa da economia neoclássica Após a matematização e maior influência da teoria de finanças na administra ção e economia segundo Mramor e Lonèarski 2002 pensavase que a teoria fosse muito próxima das ciências naturais e então universalmente aplicável em economias de mercado com diferentes graus de desenvolvimento Como resultado a teoria e seus produtos estavam sendo exportados dos Estados Unidos onde eles se originaram para outras economias de mercado menos desenvolvidas A segunda demarcação importante à recuperação de sua legitimidade foi relativa aos mercados em si em lugar de sua análise teórica a distinção entre o conhecimento público e privado Que aquele comércio utilizando informação privi legiada insider trading deva do ponto de vista econômico ser ilegal está longe de ficar claro e já foi assunto de muito debate Alguns argumentam por exemplo que com o insider trading os preços acionários refletem melhor a informação e naquele sentido os mercados são mais eficientes Não obstante o senso que um mercado justo de ações requer uma proibição de comércio com informações pri vilegiadas ganhou sustentação nos Estados Unidos e espalhouse gradualmen te aos outros países e por conseguinte o delicado trabalho necessário para manter e policiar a distinção entre conhecimento privado e público através da maior transparência e padrões apropriados de governança corporativa A terceira demarcação crucial está entre comércio legítimo e jogo Em 1936 Keynes 1964 p159 escreveu é normalmente aceito que os cassinos devem no interesse público ser inacessíveis e caros E talvez o mesmo é verdade para as bolsas de valores Que um mercado financeiro não seja compreendido como um cassino é preceito fundamental à reivindicação anterior de legitimidade mas há muito mais em jogo do que a manutenção do limite de aceitabilidade cultural Um aspecto crítico para a viabilidade prática dos mercados financeiros é que as ativi dades neles realizadas sejam legalmente distinguíveis de qualquer jogo de azar Assim inicialmente foram criados obstáculos significativos para o aparecimento dos mercados de derivativos financeiros pela forma tradicionalmente desenhada para a distinção entre jogar e comerciar futuros sobre ativos físicos Com a demar cação legal entre comerciar e jogar os mecanismos tiveram que ser redesenhados as barreiras para a liquidação de contratos desapareceram e os contratos de futuros e de opções sobre ativos abstratos como índices tornaramse menos pro blemáticos Porém considerando condições culturais mais amplas não desapare ceu completamente o assunto do limite entre jogar e comerciar especialmente em países menos desenvolvidos Para Mramor e Lonèarski 2002 com o tempo surgiu o questionamento sobre a utilidade da moderna teoria financeira Os pesquisadores começaram a olhar suas suposições para descobrir o que deveria ter sido óbvio desde o princí pio as suposições não estão contidas na realidade Existem diferentes tentativas de contornar esse problema alguns autores propõem uma evolução atualizando os pressupostos e métodos do paradigma funcionalista dominante Outros pro põem iniciar a construção de um novo arcabouço teóricometodológico nas finan ças neste caso tratase de reconhecer que o ser humano não é um maximizador mecânico da riqueza onisciente e egoísta investidor racional mas preferentemente um ser que é complexo social político e estocástico em sua natureza investidor normal A Crítica da PósModernidade em Finanças A questão performativa Para Ardalan 2004 a realidade no mundo das finanças vem sendo forma da entre outros aspectos pela própria teoria de finanças Sustentando a idéia de os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 360 Robert Aldo Iquiapaza Hudson Fernandes Amaral Aureliano Angel Bressan que o comportamento financeiro não é independente da teoria de finanças as teorias programas de pósgraduação especialmente de doutorado periódicos e conferências acadêmicas em finanças aderem quase exclusivamente a certo modo de ver o mundo que está relacionado ao chamado paradigma funcionalista Segundo MacKenzie 2003 não é surpreendente que uma ciência social como os estudos em finanças tenha o potencial para alterar seus objetos de estudo o assunto mais difícil é especificar com precisão os modos nãotriviais nos quais as ciências naturais são também performativas Que uma ciência social como a psicologia por exemplo tenha um caráter necessariamente reflexivo e que os psicólogos influenciem como também descrevam as vidas psicológicas de suas sociedades anfitriãs são temas que foram amplamente discutidos Para esse au tor a área de finanças é um domínio do que Barnes 1983 chamou condições de tiposocial Stype completamente diferentes das do tiponatural Ntype ou isso que Hacking 1995 chamou de tipos humanos com seus efeitos de reali mentação entre o conhecimento e seus objetos Por causa da invisibilidade freqüente dos efeitosS de ida e volta Sloops e devido ao domínio do que se poderia chamar epistemologia dos termosN natural terms segundo MacKenzie 2001 as posições influentes dentro de teoria socioló gica freqüentemente ignoraram as cadeias de egoreferência e egovalidação o tratamento durkheimiano dos fatos sociais seria um exemplo disso Uma das pou cas exceções dentro da sociologia e antes dos anos sessenta é o artigo clássico de Robert K Merton 1949 sobre a profecia autorealizada no qual descreve o fracasso de um banco causado por um rumor de que o banco estava insolvente fazendo com que os depositantes retirassem seu dinheiro e outros ao observa rem essas retiradas fizeram o mesmo assim o rumor se faz verdadeiro MacKenzie 2001 considera evidente que o campo das finanças é um domí nio de termosS porque nele há um domínio do dinheiro que é essencialmente um termoS ou uma criação social Porém a avaliação da potencial ida e volta continuada entre teoria de finanças e seu objeto de estudo é uma tarefa que raramente foi realizada com exceção de Merton 1949 A maioria da discussão da teoria de finanças é moldada implicitamente pela epistemologiaN No caso da hipótese de mercado eficiente por exemplo até mesmo as contribuições mais sofisticadas para o debate sobre sua validez usualmente colocam a pergunta no âmbito do grau de ajuste entre os mercados como entidades empíricas e a hipóte se como padrão SHLEIFER 2000 O fato de os mercados serem entidades histo ricamente variáveis e de suas características poderem ser influenciadas pela fre qüência da convicção na hipótese normalmente não é considerado Por exemplo o impulso comercial dos investidores de um dia daytrade que implicitamente sinalizam sua descrença no passeio aleatório pode criar tendências nos preços de mercado das ações quando esses investidores formam uma parte significativa do mercado as compras destes que pensam que os preços subirão em uma ten dência ascendente podem fazer os preços continuarem subindo Se este fosse o caso constituiria uma realimentação positiva descrença na hipótese de mercado eficiente criando fenômenos na variância dele Não obstante parece plausível que o padrão predominante é o da realimentação negativa A procura por avaliar anomalias com as quais ganhar dinheiro faz essas anomalias desaparecerem em outras palavras as atividades desses que acreditam que o mercado não é eficien te ajuda a este a ser eficiente Ou seja em princípio é claramente possível que a teoria de finanças moder na seja performativa em lugar de simplesmente descritiva MAcKENZIE 2001 Porém isso não remove a necessidade de análise empírica Que a teoria possa ser performativa não insinua que foi performativa Nesse caso o conceito performativo de Austin 1990 parte do pressuposto de que o dizer realmente faz ou gera os resultados propostos Para MacKenzie 2001 durante as últimas três décadas as suposições típi cas da teoria de finanças ficaram empiricamente mais realistas Alguns dos pro cessos envolvidos não têm diretamente nenhuma relação com a teoria de finan 361 os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 Evolução da Pesquisa em Finanças epistemologia paradigma e críticas ças O desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação aumentou a velocidade com que as transações podem ser executadas e reduziu extremamen te seu custo O clima político de livremercado dos anos oitenta nos Estados Unidos e no Reino Unido e nos anos posteriores em outros países fez seu papel abrindo a competição e diminuindo fortemente os custos de transação Por outro lado a própria teoria de finanças teve um papel importante para suas suposições tornaremse mais realistas Por exemplo o crescimento da arbitra gem foi grandemente encorajado pelo sucesso enorme de algumas companhias e bancos de investimentos como o Salomon Brothers em alguns casos tendo o su porte de acadêmicos identificando e explorando oportunidades de arbitragem Esse sucesso notável espalhouse rapidamente e o número de arbitradores e o capital disponível cresceram na mesma medida Devido ao fato de que a arbitragem é o mecanismo fundamental da teoria de finanças pelo qual as discrepâncias de preço são eliminadas este é um claro exemplo do aspecto performativo da teoria Segundo MacKenzie 2003 outro exemplo dessa ação performativa é o de senvolvimento da Teoria de Avaliação de Opções financeiras proposta por Black e Scholes 1972 e sua aplicação prática Essa teoria parece ter tido um forte sentido performativo porque esta simplesmente não descreveu um mundo preexistente mas ajudou a criar um mundo do qual a teoria era o reflexo mais verdadeiro Da mesma forma Ardalan 2004 aponta que além das teorias programas de doutorado periódicos e conferências em finanças acadêmicas a educação dos diplomados também afeta a formação de suas percepções atitudes convicções comportamentos e conseqüentemente a prática de finanças Todos eles têm assim um importante papel na construção social da realidade de finanças Contudo segundo MacKenzie 2003 a ação performativa da teoria de ava liação de opções é incompleta e historicamente específica não se fez completa ou permanentemente verdadeira A adoção da equação pelo mundo financeiro foi resultado de ambos em parte porque esse mundo estava mudando e em parte porque a equação modificou o mundo Neste último caso MacKenzie 2003 iden tificou quatro sentidos 1 a equação parece ter alterado os padrões de preços das opções possivelmente associados à maior negociação com a utilização da teoria para identificar opções com preços sub ou sobre avaliados 2 os pressu postos ficaram mais realistas com a introdução de mudanças estruturais no siste ma financeiro aproximandose das condições ideais de eficiência e ausência de fricções 3 a solução para o problema de avaliação de opções tornouse paradigmática no sentido de solução exemplar KUHN 1970 de uma forma mais profunda do que o conhecido Modelo de Avaliação de Ativos Financeiros de Sharpe 1964 permitindo que outros ativos financeiros sejam avaliados como opções e 4 ainda possibilitou a reconceituação do risco envolvendo opções implícitas e sua aplicação a opções reais presentes em diversos ativos físicos que vão desde o investimento de empresas até inovações farmacêuticas A teoria de avaliação de opções alterou o modo como o risco é conceituado pelos usuários na prática como também pelos teóricos O comprometimento teórico foi importante no desenvolvimento das teorias mas não era nenhum compromisso à verdade literal dos modelos econômicos Um modelo deve ser simples o bastante e ser matematicamente tratável contudo rico o bastante para capturar os aspectos economicamente mais importantes da situação modelada Os modelos são recursos não representações modos de entender e argumentar sobre os processos econômicos não descrições válidas da realidade Se este último é o critério de verdade todos os economistas finan ceiros concordariam com Eugene Fama o qual alega que qualquer modelo é com certeza falso FAMA 1991 p1590 Para MacKenzie 2001 quase tudo escrito sobre teoria de finanças está discutido em termosN falhando em reconhecer os aspectos performativosS A exceção principal é Robert C Merton o filho do teórico da profecia autorealizada Robert K Merton Nesse caso Robert C Merton considerando a sensibilidade dialética do mundo social e o conhecimento daquele mundo está ciente que a os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 362 Robert Aldo Iquiapaza Hudson Fernandes Amaral Aureliano Angel Bressan matemática de tempo contínuo é só uma aproximação à realidade dos mercados até mesmo no século atual ainda há um intervalo de tempo finito entre a decisão para revisar um portfólio e a implementação da revisão Mas esta e outras suposi ções da teoria de finanças estão ficando mais realistas Para Merton 1992 p470 a espiral de inovação financeira de novos produtos novos mercados maior per feição volume elevado e baixos custos de transação estão empurrando para o caso teoricamente limite de custo marginal de transação nulo e completando dina micamente os mercados Conforme a espiral evolui a realidade eventualmente imitará a teoria A questão epistemológica Segundo MacKenzie 2003 859 a adoção das teorias da economia finan ceira pelos profissionais do mercado não teve como resultado uma economia performativa generalizada subjacente do pressuposto de egoísmo racional Isso significa que o homo economicus não foi em geral materializado completamente em um ser Mas o que até o presente não tem sido enfocado no debate sobre a performatividade da economia é a existência de uma prova razoavelmente precisa de se os atores foram ou não configurados em homines economici da ação coleti va em outras palavras ações que visam o interesse de um grupo inteiro mas com respeito ao qual o egoísta racional desfrutará sem contribuir com esforço freerider Nesse caso Olson 1980 mostrou que se todos os atores são homines economici todos eles vão desfrutar sem esforço em tal situação e a ação coletiva seria então impossível Porém para MacKenzie 2003 os participantes em mercados financeiros têm pelo menos até certo ponto retido a capacidade de ação coletiva Por exem plo a criação da bolsa Chicago Board Options Exchange CBOE nos Estados Uni dos envolveu importantes doações sem contraprestação mas iniciou os proces sos fundamentais que fizeram performativa a teoria de opções A análise clássica de redes sociais de avaliação de opções de Baker 1984 pode mostrar a persis tência da ação coletiva pelo menos nos grupos menores de comércio da CBOE e a distorção na volatilidade de opções pode também ser interpretada pelo me nos tentativamente como ação coletiva Isto significa que a teoria atual não apresenta todas as imagens da realida de Se nós olharmos para o mundo com óculos tingidos de rosa o mundo parecerá ser rosa Isto é o que nós realmente observamos não é a realidade Um par de óculos azuis daria a idéia e também se observaria que o mundo é azul E isso também não é correto Os filósofos de ciência estão interessados na correta re presentação do mundo mas também cada gerente ou teórico de finanças está na procura de uma correta representação do comportamento dos mercados A metáfora dos óculos mostra que a escolha feita no começo da pesquisa determina o que nós vemos e achamos na pesquisa Cada pessoa tem pela sua educação sua instrução e cultura uma visão sobre como pesquisar e mais am plamente sobre o que seria verdade Logo o modo que observamos realmente é até mesmo mais importante As escolhas filosóficas têm impacto no modo como realizamos pesquisa determinam o modo de observar por exemplo a companhia ou seus processos de administração As diferentes imagens da realidade financeira permanecem freqüentemente muito subexpostas ou ainda pior muitas pessoas nem mesmo estão cientes dessas diferenças Então seria muito difícil comparar pesquisas diferentes dado que estas podem ter sido empreendidas dentro de diferentes marcos de referên cia que às vezes poderiam ser radicalmente diferentes considerando por exem plo os paradigmas de Burrell e Morgan 1979 Para Ardalan 2007 2008 cada um dos paradigmas implica uma forma diferente de teorização social em geral e das finanças e dos mercados em particular 363 os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 Evolução da Pesquisa em Finanças epistemologia paradigma e críticas Um pesquisador precisa trabalhar em harmonia com o ambiente o contexto como se este fosse conhecido pelo investigador e como este parece estar na sociedade O pesquisador em finanças faz parte de um processo de socialização dentro de uma rede de semelhantes dentro de valores e normas sociais inte lectuais e tradições políticas Assim o par de óculos que utiliza as escolhas que faz determinará o que esse pesquisador pode ver e conseqüentemente o que vai achar como resultado de sua pesquisa Finanças comportamentais um novo paradigma Para Keasey e Hudson 2007 a teoria de finanças moderna é análoga a uma casa sem janelas que para se manter viva utiliza novos fatos do mundo exterior para criar enigmas ou quebracabeças e então impulsionar novas ativi dades dos pesquisadores no âmbito do templo ou seja sob seu próprio paradigma e isolados do exterior Para esses autores uma abordagem mais aber ta e óbvia seria se engajar com os diversos participantes do mercado o que pode ria levar a uma maior percepção e compreensão dos fatos já que isto não ignora ria as complexidades do contexto Assim como a crítica anterior existem muitas outras que foram sendo formu ladas no percorrer do tempo As primeiras visões contrárias à teoria financeira moderna apareceram durante os anos oitenta Os questionamentos mais sérios ao paradigma dominante começaram quando a Prospect Theory de Kahneman e Tversky 1979 foi importada aos estudos de avaliação de ativos Essa teoria foi estabelecida sobre o resultado de numerosos estudos psicológicos experimen tais como uma alternativa à maximização da utilidade esperada de Von Neuman e Morgenstern 1967 um dos fundamentos das finanças modernas Segundo a teoria do prospecto em vez de se atribuírem valores aos resultados finais eles são atribuídos aos ganhos e às perdas e as probabilidades são substituídas por pesos ou ponderações na tomada de decisões KAHNEMAN e TVERSKY 1979 Isto é a teoria do prospecto usa duas funções para caracterizar as escolhas a função de valor que substitui a função utilidade da teoria da utilidade esperada e a fun ção peso da decisão que transforma probabilidades em ponderações das deci sões GAVA e VIEIRA 2006 Assim nasceu uma nova abordagem em finanças chamada de finanças comportamentais do inglês behavioral finance doravante BF também ocasionalmente apontada por seus oponentes de literatura de anomalias como um modo de marginalizála Como as razões da mudança para a BF foram as inexplicáveis respostas de mercado encontradas testando a Hipótese de Eficiência do Mercado EMH e o Modelo de Avaliação de Ativos Financeiros CAPM reuniramse resultados psico lógicos como explicações da sobrereação ou subreação dos investidores às novas informações disponíveis aos investidores A hipótese de sobrereação de DeBondt e Thaler 1985 foi uma das aplicações importantes da BF à solução da crise na EMHCAPM Isto é o argumento central da crítica recai no pressuposto de comporta mento racional dos seres humanos Segundo Statman 2005 p6 os investidores consideravamse normais antes de serem descritos como racionais no início dos anos 1960 e eles permanecem normais hoje Os investidores normais são afeta dos por vieses cognitivos e emoções enquanto os investidores racionais não Investidores racionais consideram apenas o risco e o retorno esperado de seus portfólios globais enquanto os investidores normais se preocupam com mais do que só isso Uma revisão atualizada sobre as principais anomalias identificadas pela lite ratura de BF especialmente as relacionadas com preços de mercado é apresenta da em Stracca 2004 e Aldrighi e Milanez 2005 Dependendo dos autores as anomalias podem ser agrupadas em diferentes categorias como heurística de decisões ou regras de bolso fatores emocionais como autoconfiança excessiva e exageros quanto ao otimismo e pessimismo subordinação à forma ou depen os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 364 Robert Aldo Iquiapaza Hudson Fernandes Amaral Aureliano Angel Bressan dência do contexto escolha de atalhos choice bracketing desconhecimento das preferências que levaria a ponderações errôneas e dependência de referentes ou padrões históricos tais como nos estudos de Halfeld e Torres 2001 Barberis e Thaler2003 Lima 2003 Stracca 2004 Aldrighi e Milanez 2005 Kimura Basso e Krauter 2006 e Byrne e Brooks 2008 Outro dos principais argumentos em finanças comportamentais está relacio nado com as limitações à arbitragem as quais impedem a exploração racional pelos investidores no curto prazo das oportunidades de precificação errônea Segundo Barberis e Thaler 2003 Rabelo e Ikeda 2004 e Byrne e Brooks 2008 limitações relacionadas com a falta de ativos substitutos interferência de noise traders e custos significativos de coleta e processamento de informações podem persistir impossibilitando assim que os preços voltem para o seu valor conside rado fundamental Segundo Aldrighi e Milanez 2005 p64 as operações de arbi tragem fracassam em suprimir os vieses de comportamento que levam às anoma lias porque a atuação dos noise traders cria o risco de as distorções que geram poderem se ampliar com o tempo Sendo os arbitradores predominantemente administradores de fundos de investimentos avaliados sobretudo pelo seu de sempenho no curto prazo os mesmos não podem manter operações de arbitra gem cujos ganhos demoram a aparecer Em relação às descobertas empíricas a diversidade de metodologias apli cadas conduz algumas vezes a resultados contraditórios dentro da própria abordagem de finanças comportamentais Por exemplo os resultados de Brown e Kagel 2009 utilizando experimentos de laboratório dão suporte às predi ções do viés de statusquo mas não ao efeito ostrich que consiste em evitar informações negativas nem ao efeito disposição no qual segundo a teoria do prospecto o investidor prefere vender seus investimentos ganhadores e man ter os perdedores Mas essas contradições podem ser ao mesmo tempo posi tivas quando se considera a idéia de Barberis e Thaler 2003 de que no futuro sempre encontraremos que as atuais proposições teóricas racionais e comportamentais estão erradas e então propostas teóricas substancialmente melhores irão emergir entre elas Já existem algumas evidências empíricas sobre o tema no Brasil Costa Jr 1994 analisou a ocorrência de sobrereação de acordo com a hipótese apresen tada por DeBondt e Thaler 1985 O estudo foi conduzido com base no desempe nho mensal de duas carteiras de investimento teóricas definidas como perdedora e vencedora sendo ambas formadas por ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo no período de 1970 a 1989 Os resultados obtidos apontaram não só que o efeito da sobrereação é sentido no mercado brasileiro mas também que sua magnitude é maior que a observada no mercado norteamericano Entre alguns estudos mais recentes Rogers Securato e Ribeiro 2007 concluem que os agentes econômicos tomam decisões muitas vezes incompatíveis com atitudes baseadas no comportamento racional e corroboram conceitos fundamentais da teoria do prospecto efeito certeza efeito reflexão e efeito isolamento Os resul tados empíricos de Kimura Basso e Krauter 2006 mostram que se mantêm as evidências de diversos vieses de percepção em decisões independentemente de aspectos relacionados com a evolução do mercado e com a cultura ou nacionalida de dos indivíduos Na mesma direção os resultados de Aguiar Sales e Sousa 2008 apontam para influências das heurísticas de representatividade e ancoramento no comportamento do mercado de ações brasileiro relacionada aos fenômenos de sobrereação ou subreação dos preços das ações Os resultados empíricos da literatura de BF deram origem a estratégias de investimento que sistematicamente exploram os fatos onde o mercado não é tão eficiente quanto prediz a EMH levando a tomada de posições contrárias ao que a eficiência recomendaria o que resulta na realização de ganhos expressivos Segun do Frankfurter e McGoun 2002 embora certamente sugestiva e talvez até mes mo remunerativa a BF tem suas limitações É uma mistura de numerosos efeitos psicológicos freqüentemente contraditórios Não importa o que acontece no merca do há um efeito psicológico que pode ser reunido para explicar tal acontecimento 365 os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 Evolução da Pesquisa em Finanças epistemologia paradigma e críticas Frankfurter e McGoun 2002 analisam mais amplamente o conflito entre as finanças modernas de fato o paradigma dominante e as finanças comportamentais Porém assinalam que até mesmo os supostos proponentes desta corrente de BF estão se marginalizando ao adotarem as doutrinas formas e métodos subjacentes ao paradigma dominante ver por exemplo o artigo de Shefrin e Statman 1994 Dessa forma permitiram que o paradigma funcionalista fixasse as condições do debate e fizeram dele o ponto de referência contra o qual todas as teorias alternativas de finanças são não somente julgadas mas também assim etiquetadas de finanças A mesma pesquisa de Finanças está sujeita aos mesmos erros que BF atribui aos empíricos e para Frankfurter e McGoun 2002 são estes mesmos enganos talvez mais do que os ferozes ataques dos partidá rios da doutrina governante que estão impedindo a emergência de BF como um novo paradigma Possivelmente o que falta é uma delimitação das finanças comportamentais que adote o paradigma Interpretativo de Burrell e Morgan 1979 o qual poderia favorecer sua consolidação e dessa forma deixar de ser mais uma corrente dentro do próprio paradigma funcionalista Entretanto o debate entre BF e as finanças modernas continua com cada uma delas tentando desacreditar a outra mas aos poucos vem se formando um conjunto de princípios de economia psicologia e sociologia que dá lugar a uma corrente de pensamento sólida Existe ainda um grupo de pesquisadores com a idéia de conciliar os conceitos contrastantes das duas correntes De acordo com Halfeld e Torres 2001 p71 e Kimura Basso e Krauter 2006 p57 essa idéia supõe a evolução dos sofisticados modelos matemáticos atuais que devem ser aperfeiçoados incorporando estudos sobre a irracionalidade do investidor e con siderando inclusive aspectos de estudos tradicionalmente conduzidos no ramo da psicologia Todavia autores como Lo 2004 2005 e Frankfurter 2006 pro põem uma evolução no paradigma atual cujo objetivo principal do comportamento não seja o benefício econômico Considerações Finais A diferença entre as ciências naturais e sociais é fundamentada nas suas respectivas relações com os fenômenos que elas estudam Para Ardalan 2004 nas ciências sociais as pesquisas podem afetar e causar mudanças nos fenômenos investigados mais do que nas pesquisas em ciências naturais O comportamento social é condicionado por marcos de referência compartilhados culturalmente de compreensão conceitual o qual é o produto principal da ciência social Então como os conceitos e as teorias são comunicados e filtrados à vida diária estes reconstituem a mesma realidade que eles buscam investigar Isto é especialmente verdadeiro nas ciências da administração empresarial inclusive nas finanças em que algumas teorias funcionam como instrumentos de controle administrativo Segundo Ardalan 2004 as ciências orientadas à prática provêem sugestões relativas a intervenções potenciais no fazer diário dos negócios Tal fato foi tam bém apontado por Merton 1992 pxiii ao assinalar que a teoria de finanças tem tido uma influência direta e significativa na prática administrativa Assim a relação entre teoria de finanças e a prática administrativa é dialética em razão de que a teoria não só reflete mas também estrutura seu próprio assunto de estudo ARDALAN 2004 p685 Para Ardalan 2004 este é o motivo por que o padrão científico natural para avaliação teórica isto é a objetividade não é relevante para as ciên cias sociais O padrão de objetividade pressupõe estabilidade nos fenômenos sob pesquisa e a aplicação desse critério para o fluxo constante de interação entre o pesquisador e o objeto estudado não é possível Por outro lado a análise da performatividade da economia aponta para um terreno contestado David Durand 1968 p848 uma figura principal da abordagem tradicional do estudo acadêmico de finanças ao examinar os mo delos matemáticos que estavam começando a transformar seu campo comen os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 366 Robert Aldo Iquiapaza Hudson Fernandes Amaral Aureliano Angel Bressan tou que os novos homens de finanças perderam virtualmente todo con tato com a terra firme No entanto desde as décadas 1950 e 1960 se verifica que o mundo das finanças mudou de tal forma que aparentemente os mode los espaciais que horrorizaram Durand têm se configurado como mais reais devido a estes terem sido incorporados nas estruturas e práticas dos merca dos MACKENZIE 2003 ARDALAN 2004 Porém segundo MacKenzie 2003 os mercados financeiros permanecem e sempre permanecerão sendo um mundo parcialmente configurado com diferentes forças lutando para compor e distorcer essa configuração A análise de Weston 1994 provendo uma história breve das idéias em finanças revela as transformações e fornece uma explicação geral declarando A revisão e análise da história financeira sugerem cinco generalizações Primei ra os desenvolvimentos de cada período histórico e os criadores destes desen volvimentos estavam respondendo às pressões dos problemas econômicos fi nanceiros e sóciopolíticos do período Segunda o pensamento financeiro tam bém respondeu ao amadurecimento dos mercados financeiros internacionalização e aumento da competição Terceira o desenvolvimento eou usos de novas ferramentas modelos matemáticos novos e metodologias novas facilitaram a criação de teorias para explicar comportamento financeiro Quarta a prática refletiu a nova aprendizagem com tempos variados de defasagem mas também estimulou o desenvolvimento teórico para entender explicar e predizer o com portamento financeiro Quinta as novas idéias foram construídas acima das idéias providas pelo conhecimento prévio WESTON 1994 p7 Em relação aos questionamentos ao paradigma dominante Jensen e Meckling 1994 mesmo sendo expoentes desse paradigma reconhecem que nas organizações sejam elas com ou sem fins lucrativos os agentes não agem guiados plenamente pela motivação que serve como pedra angular do paradigma da economia financeira Assim os autores sugerem a adoção de uma visão mais abrangente para análise dos agentes e do mercado financeiro Ao invés de considerálos como sendo movidos unicamente por um comportamento racional visando objetivos estritamente econômicos Jensen e Meckling sugerem que a teoria financeira deveria considerar que tais agentes são movidos por uma racionalidade de múltiplas facetas afetadas por elementos ligados a crenças hábitos normas sociais entre outros que desempenhariam um papel relevante na orientação das ações dos indivíduos e organizações Dessa forma é válido pensar na proposta de Mramor e Lonèarski 2002 de que a nova aproximação nas finanças deveria ser em princípio positiva e não universal em sua natureza quase da mesma forma como era na aproximação tradicional A discussão na literatura de que a abordagem das finanças comportamentais satisfaz essas exigências é ainda uma questão em aberto prin cipalmente porque a fundamentação de suas propostas teóricas oscila entre o paradigma funcionalista e interpretativo de Burrell e Morgan 1979 Ou seja com pete à proposta de finanças comportamentais consolidarse para superar o paradigma dominante como referência na compreensão dos fenômenos observa dos na realidade ou então lograr uma fusão com o mesmo Essa abordagem começará a se consolidar quando as implicações práticas das suas pesquisas ori ginem mudanças na regulamentação dos mercados no financiamento de empre sas e nos mecanismos de governança confrontando nesses aspectos à teoria dominante de eficiência informacional dos mercados ALDRIGHI e MILANEZ 2005 Por fim Ardalan 2007 955 acrescenta que os conhecimentos de finanças e dos mercados em última instância são produto da abordagem paradigmática do pesquisador para um fenômeno multidimensional Visto a partir deste prisma a busca do conhecimento das finanças e dos mercados é considerada tanto uma atividade ética moral social ideológica e política quanto uma técnica em si Ou seja para compreender melhor os fenômenos de finanças é necessário estar ci ente das contribuições feitas considerando as perspectivas dos outros paradigmas 367 os Salvador v16 n49 p 351370 AbrilJunho 2009 Evolução da Pesquisa em Finanças epistemologia paradigma e críticas Referências AGGARWAL R A brief overview of capital budgeting under uncertainty In Aggarwal R Ed Capital budgeting under uncertainty Englewood Cliffs NJ PrenticeHall 1993 AGUIAR R A SALES R M SOUSA L A Um modelo fuzzy comportamental para análise de sobrereação e subreação no mercado de ações brasileiro RAE Re vista de Administração de Empresas São Paulo v 48 n 3 p 822 julset 2008 ALDRIGHI D M MILANEZ D Y Finança comportamental e a hipótese dos mer cados eficientes Revista Economia Contemporânea Rio de Janeiro v 9 n 1 p 4172 janabr 2005 ALLEN F MICHAELY R Dividend policy In 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Departamento de Administração da FEAUSP Email andresaitouolcombr José Roberto Ferreira Savoia Professor Doutor do Departamento de Administração da FEAUSP Email jrsavoiauspbr Rubens Famá Professor Doutor do Departamento de Administração da FEAUSP Email rfamauspbr RESUMO Este artigo discute as mudanças no papel da função financeira a partir da bibliografia sobre o tema Ele se inicia pela análise dos clássicos sobre o assunto e apresenta a evolução da teoria ao longo das últimas décadas Há uma preocupação em relatar as implicações da ética no campo das finanças e também os impactos da responsabilidade social e ambiental no valor da empresa para o acionista O texto aborda ainda as contribuições da Psicologia e da Neurociência para a evolução da literatura de Finanças Palavraschave Função financeira Evolução da literatura Maximização do valor da empresa EVOLUTION OF THE FINANCIAL FUNCTION ABSTRACT Changes in the role of the financial function were discussed based upon literature reviewed Evolution of the theory over recent decades was presented after analysis of pertinent classics Included also were contributions of Psychology and Neuroscience to the evolution of finance literature The implications of ethics in Finance were stressed as well as the impacts of social and environmental responsibility on the value of the company for the shareholder Key words Finance Evolution of finance literature Corporate value maximization André Taue Saito José Roberto Ferreira Savoia e Rubens Famá Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 32 1 INTRODUÇÃO O objetivo do presente trabalho é discutir as mudanças no papel da função financeira cuja importância consiste no seu envolvimento direto com a maximização do valor da empresa para o acionista e com o atendimento dos interesses dos demais stakeholders buscando um equilíbrio nas relações existentes entre a empresa e esses agentes Realizar uma discussão dessa natureza requer cuidado caso não se considere que os conceitos predominantes atualmente são resultado do acúmulo de conhecimentos e de experiências anteriores Por isso há necessidade de revisar o estadoda arte e para isso de acordo com Brennan 1995 é recomendável reconhecer a influência das limitações dos paradigmas de cada época Enfim entendese que o papel da função financeira evolui e se relaciona com os fatos históricos Para que isso seja compreendido melhor Weston 1975 recomenda a aceitação de três pressupostos O primeiro afirma que a evolução do pensamento econômico reflete os problemas prementes existentes em cada época op cit 37 Analogamente essa concepção pode ser adotada no estudo da função financeira uma vez que novas soluções são desenvolvidas em resposta às dificuldades do cotidiano O segundo destaca que os avanços em Finanças relacionamse ao desenvolvimento de teorias e instrumentos em campos correlacionados op cit 37 de forma que o acúmulo de conhecimentos e técnicas em áreas correlatas é um fator de grande importância para a inovação da função financeira O terceiro menciona que no desenvolvimento da Teoria Financeira a constante transformação sofrida pelas circunstâncias econômicas e administrativas possibilitou darse pouca atenção a certos aspectos de seu conteúdo em umas épocas e leválos na devida consideração em outras op cit 38 Desse modo abrese o trabalho com uma revisão bibliográfica da evolução da função financeira do início do século XX até o início do século XXI relacionandoa com os fatos históricos que caracterizaram cada período A seguir desenvolve se uma discussão sobre a mudança de seu papel incluindo as influências do debate ético E finalmente apresentamse as considerações finais mencionandose algumas tendências do estudo sobre Finanças como a mensuração dos impactos da responsabilidade social e ambiental no valor da empresa para o acionista e a inclusão de conceitos da Psicologia Humana e da Neurociência em Finanças 2 EVOLUÇÃO DA FUNÇÃO FINANCEIRA Inicialmente pretendese por meio deste tópico realizar uma revisão bibliográfica da evolução da função financeira do início do século XX até o início do século XXI relacionandoa com os acontecimentos históricos de cada época Esta seção se baseia nos trabalhos de Archer e D Ambrosio 1969 Weston 1975 Famá e Galdão 1996 e Smith 1984 Contribuições de outros autores são mencionadas ao longo do texto de forma oportuna O Quadro 1 demonstrado a seguir resume o que é discorrido na presente seção A evolução da função financeira Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 33 Quadro 1 Resumo da Evolução da Função Financeira Abordagem Archer e DAmbrosio Smith Período Fatos Históricos Influência para o Conteúdo de Finanças Início do século XX Movimento de consolidação das empresas Destaque para a estrutura de capital e os principais episódios financeiros Expansão de novas indústrias Processo de fusões Preocupação com a estrutura financeira Considerações sobre a liquidez Discussão incipiente sobre planejamento e controle Recessão econômica e falências Crise de 1929 Importância da solvêncialiquidez e recuperação financeira das empresas Tradicional Normativa Segunda Guerra Mundial Relevância do financiamento Administrativa Temor de recessão pós guerra Ênfase no fluxo de caixa Destaque para os controles administrativos internos contas a receber contas a pagar e estoques Década de 1920 Década de 1960 Desenvolvimento tecnológico computação Crescimento do comércio internacional Modigliani e Miller 1958 e a irrelevância da estrutura de capital Análise do custo de capital para determinar obstáculos ao investimento Compreensão das características da economia internacional Década de 1970 Desenvolvimento tecnológico computação Rompimento do Acordo de Bretton Woods Crise na Bolsa de Valores nos Estados Unidos 1974 Choque do Petróleo e crise inflacionária nos Estados Unidos Interesse nas teorias de Markowitz de Tobin e de Sharpe bem como na eficiência dos mercados Utilização do CAPM e dos conceitos de risco sistemático e nãosistemático Econômica Positiva Década de 1980 Moratória dos países em desenvolvimento e crise no setor financeiro Desintermediação financeira Acordo da Basiléia 1988 Interesse maior pela Fórmula de Black Scholes para o cálculo do valor de uma opção Desenvolvimento de estratégias complexas de derivativos para limitar o risco André Taue Saito José Roberto Ferreira Savoia e Rubens Famá Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 34 Econômica e Comportamental Década de 1990 Início do século XXI Globalização da Economia e intensificação do volume das transações financeiras Interdependência maior entre as economias O Bank for International Settlements BIS criou o Committee on Payment and Settlement Systems CPSS Reformulação do Acordo da Basiléia 1998 Casos Mettalgesellschaft Barings Bank e Long Term Capital Management Escândalos contábeis nos Estados Unidos exemplos Casos Enron Tyco WordCom Importância maior das estratégias de hedging por meio de opções e mercado futuro Gestão de riscos se destaca Preocupação pela redução do risco sistêmico e foco na mitigação do risco de liquidação e de crédito dos sistemas de pagamento Atenção maior à criação de valor Maior importância da Governança Corporativa e da transparência das informações Incremento da preocupação com a responsabilidade social e ambiental importante no relacionamento com os demais stakeholders Discussão da Ética Empresarial em Finanças Finanças Comportamentais ganham destaque Fonte Adaptado com base nos trabalhos de ARCHER e DAMBROSIO 1969 WESTON 1975 FAMÁ e GALDÃO 1996 SMITH 1984 DUARTE JR 2003 e GARCIA 2003 Essa abordagem que não é mencionada por ARCHER e DAMBROSIO 1969 foi caracterizada pelos autores do presente trabalho 21 O início do século XX Para Archer e D Ambrosio 1969 nesse período as obras de Finanças foram caracterizadas pela abordagem tradicional focando os principais acontecimentos da vida financeira das empresas ao invés dos problemas administrativos rotineiros op cit 20 De qualquer maneira houve um desenvolvimento da função financeira nessa fase de forma que Weston 1975 considera o início do século XX como o marco do princípio do estudo sistemático em Finanças ocorrido em decorrência do processo de consolidação das empresas e do crescimento do mercado interno norteamericano ambos resultado da construção das grandes redes ferroviárias realizada no final da década de 1880 Em relação ao surgimento de grupos industriais demandantes de recursos financeiros para financiar as suas operações Weston 1975 afirma que os gestores passaram a enfrentar problemas na estrutura de capital das empresas Além disso menciona a relevância do estudo de Dewing 1914 apud WESTON 1975 relativo ao processo de financiamento e à definição da estrutura de capital intitulado Corporate Promotions and Reorganizations no qual o autor constatou a forte relação entre o desequilíbrio da estrutura de capital das empresas e suas respectivas falências a insuficiente geração de lucros não lhes permitiu honrar o crescente pagamento de dividendos e de juros provenientes de dívidas Diante disso esse autor concluiu ser o foco do administrador financeiro em ambiente de crise econômica a proteção da empresa contra a falência e a promoção de sua reorganização 22 Da década de 1920 à década de 1960 De acordo com Weston 1975 a década de 1920 foi caracterizada pelos seguintes fatos a expansão de novas indústrias e o processo de fusões das empresas para completar as linhas de comercialização Embora fosse um período de apuração de grandes margens de lucro a flutuação dos preços dos produtos e a escassez de recursos financeiros se constituíam em motivos de preocupação WESTON 1975 Isso reforçou a importância da estrutura financeira da empresa dos estudos referentes à liquidez das empresas e das A evolução da função financeira Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 35 técnicas de elaboração de orçamentos WESTON 1975 A década de 1930 foi marcada pela profunda recessão econômica decorrente da Crise de 1929 Estudos sobre solvência liquidez e recuperação financeira das empresas se destacaram WESTON 1975 Na década de 1940 houve a 2ª Guerra Mundial e a função financeira deu ênfase à obtenção de recursos para financiar a produção de bens adequados ao período de guerra e ao pósguerra WESTON 1975 Dessa forma observase a predominância da abordagem tradicional até o final da 2ª Guerra Mundial evidenciada no interesse pelos assuntos referentes à estrutura de capital e ao processo de financiamento ARCHER e D AMBROSIO 1969 No início da década de 1950 ocorreu uma rápida expansão econômica Havia porém o receio de uma possível recessão econômica no pósguerra e diante do crescimento dos custos de mãodeobra e das dificuldades de captação de recursos ganharam uma maior relevância os orçamentos de caixa bem como os controles administrativos internos contas a receber contas a pagar e estoques WESTON 1975 No pósguerra houve uma mudança de foco do estudo de Finanças que passou a enfatizar as rotinas internas e a estrutura organizacional abordagem definida por Archer e D Ambrosio 1969 como administrativa Segundo Weston 1975 no período compreendido entre o final da década de 1950 e o início da década de 1960 a rentabilidade das empresas consolidadas começou a diminuir O crescimento do preço de mercado das ações de novas indústrias e de novos segmentos implicou escassez de recursos para as empresas tradicionais de forma que o estudo do custo de capital para visualizar os limites adequados para os investimentos ganhou importância Além disso a busca por novos mercados implicou o processo de internacionalização das empresas em um momento de grande desenvolvimento tecnológico Diante disso tornouse necessária uma maior compreensão das características da economia internacional WESTON 1975 Assim para Archer e D Ambrosio 1969 uma nova abordagem da função financeira ganhou relevância com a utilização da Teoria Econômica cujo maior impulsionador foi Keynes embora o sentido mais prático dos conceitos econômicos só tenha surgido na década de 1950 Ressaltase que na opinião de Smith 1984 o estudo da função financeira permaneceu estagnado até a década de 1950 nesse período a teoria de Finanças era inconsistente e normativa concentrandose na definição de melhores políticas de investimento de financiamento e de dividendos sem enfatizar efeitos destas sobre o valor da empresa Esse autor considera que somente após a década de 1950 verificouse uma mudança no foco da literatura financeira para uma abordagem positiva ao se compreender as conseqüências das decisões financeiras ou seja das políticas de investimento de financiamento e de dividendos no comportamento do fluxo de caixa das empresas no seu nível de risco e no seu valor 23 Finanças Modernas Na década de 1950 surgiram duas correntes que se tornaram as bases das Finanças Modernas Uma foi inaugurada por Modigliani e Miller 1958 denominada Finanças Corporativas e a outra que foca os estudos de portfólio e de risco e retorno foi lançada por Markowitz 1952 tendo como seguidores autores como Tobin 1952 e Sharpe 1964 mas sua importância somente foi reconhecida a partir da década de 1970 231 Finanças Corporativas e a contribuição de Modigliani e Miller No final da década de 1950 Modigliani e Miller 1958 desenvolveram a concepção de que o valor da empresa independe de sua estrutura de capital Dado o caráter inovador dessa concepção Chew sd apontouos como os fundadores das Finanças Modernas De fato Modigliani e Miller 1958 lançaram uma nova corrente sobre o assunto que era caracterizado pela polarização de dois pensamentos um defendia a idéia de que a distribuição de dividendos maximizava o valor da empresa para o acionista e o outro entendia que essa distribuição impossibilitava a empresa de investir em projetos rentáveis impedindo a maximização de seu valor André Taue Saito José Roberto Ferreira Savoia e Rubens Famá Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 36 Embora os pressupostos que embasaram a proposição de Modigliani e Miller 1958 como a ausência de impostos não possam ser ratificados integralmente no mundo real permitem que sejam estudados os fatores capazes de afetar a definição de uma adequada estrutura de capital da empresa AMARO DE MATOS 2001 232 A Teoria de Portfólios de Markowitz Markowitz por sua vez apresentou em The Journal of Finance em 1952 o artigo Portfolio Selection que difundiu a noção de que um investidor deve formar um portfólio com base em seu retorno esperado desejável e na variância dos retornos indesejável de modo a maximizar o primeiro e minimizar o último por meio da diversificação de ativos com reduzido nível de co variância Markowitz 1952 rejeitou a idéia de que os investidores devam formar o seu portfólio embasados somente no maior retorno esperado pois segundo o autor a adoção desse critério pode implicar a possibilidade de que dois ativos de retornos similares possam ser alocados na carteira de investimentos sem que seja analisada a sua contribuição para o risco De forma complementar explicou que um portfólio com o máximo retorno esperado não necessariamente tem o menor risco e destacou que uma carteira diversificada ingenuamente sem analisar o relacionamento existente entre os ativos ações e considerando somente a quantidade de ativos não mitiga obrigatoriamente os riscos Para Markowitz 1952 embora a diversificação permita reduzir o risco dos portfólios esse processo não resulta na eliminação de toda a variância de um portfólio ou seja a diversificação não acarreta a extinção de todo o risco de uma carteira de investimento Podese dizer que Markowitz 1952 colaborou de forma implícita para a compreensão dos conceitos de risco sistêmico nãodiversificável e risco nãosistêmico diversificável explorados explícita e posteriormente por Sharpe 1964 O modelo de Markowitz 1952 portanto foi importante pois permitiu a propagação do entendimento de que a diversificação por meio de ativos com reduzido nível de relacionamento co variância consiste em um importante processo para a mitigação da variância da carteira em relação ao seu retorno esperado risco No desenvolvimento de seu artigo Markowitz 1952 explicou que a combinação de todos os ativos com risco permite que de um conjunto de todos os portfólios possíveis seja factível identificar aqueles que possuem um maior nível de retorno para um determinado grau de risco o que foi denominado de Fronteira Eficiente 233 O Teorema da Separação de Tobin Tobin 1952 colaborou para a ampliação das concepções apresentadas por Markowitz 1952 Partindo da Teoria Keynesiana Tobin 1952 argumentou que os investidores optam por situações que se encontram entre um estado de total liquidez e um ponto em que há o investimento total em ativos de risco Em seu trabalho Tobin 1952 defendeu que os investidores possuem uma preferência por liquidez em decorrência de dois aspectos um relacionado à inelasticidade dos indivíduos quanto à taxa de juros esperada e o outro relativo à incerteza sobre o futuro das taxas de juros Em outras palavras pode se dizer que os investidores são inclinados a evitar o risco de perda da riqueza de seu capital em conseqüência das oscilações imprevisíveis dos preços dos ativos risco de mercado Além disso Tobin 1952 desenvolveu a percepção de que o investidor toma as suas decisões combinando um ativo livre de risco com o portfólio situado na Fronteira Eficiente elaborado por Markowitz 1952 que resulta no Teorema da Separação o qual afirma que as duas decisões de investimento realizadas pelos indivíduos são independentes e separadas Essas decisões consistem em Determinação do portfólio de ativos de risco mais eficiente Definição da proporção de recursos a ser alocada aos ativos livres de risco e aos ativos de risco Esse Teorema da Separação foi a maior contribuição de Tobin ao estudo da função financeira 1952 Por meio dele o autor demonstrou que o portfólio com ativos de risco mais eficiente independe das preferências individuais em relação ao risco de modo que a diferenciação entre investidores com maior ou menor tolerância ao risco é a proporção de ativos livre de risco que mantêm em sua carteira DIMSON e A evolução da função financeira Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 37 MUSSAVIAN 1999 FAMÁ e GALDÃO 1996 ELTON e GRUBER 1997 234 Sharpe e o CAPM No que se refere a Sharpe destacase a elaboração do modelo Capital Asset Pricing Model CAPM que ao simplificar o modelo de Markowitz permitiu visualizar que o risco total do ativo é composto do risco sistêmico e do risco não sistêmico ou diversificável ampliando a compreensão sobre esse assunto O entendimento de que o risco sistemático afeta os ativos foi de extrema importância pois como explica Assaf Neto 2003 o investidor não pode mitigálo por meio da estratégia de diversificação de ativos Sharpe 1964 esclareceu que diante de uma mesma taxa de juros livre de risco para captações ou para investimentos há um ponto na Fronteira Eficiente de Markowitz no qual está situado um portfólio que todos os investidores manterão independentemente de seu perfil de risco O CAPM explica que o portfólio supereficiente a ser obtido pela combinação entre um ativo livre de risco e ativos com risco se situa no mesmo ponto em que a Linha do Mercado de Capitais LMC tangencia a Fronteira Eficiente de Markowitz A LMC representa um conjunto de combinações entre o ativo livre de risco e os ativos com risco o qual todos os investidores irão considerar expectativas homogêneas e o ponto de encontro entre a LMC e a Fronteira Eficiente de Markowitz é denominado de Equilíbrio de Mercado Nesse sentido Sharpe 1964 concluiu que o portfólio supereficiente é o próprio mercado e que os investidores não poderiam manter retornos superiores ao portfólio do mercado de forma consistente pois o mercado se comporta para atingir o seu estágio de equilíbrio considerandose a premissa de que todos os investidores estão sujeitos a uma mesma taxa de juros livre de risco Ressaltase que o CAPM introduziu o conceito de beta que mensura o nível de relação covariância existente entre o retorno de um ativo e o mercado e se configura no risco sistêmico não diversificável do ativo representando a sua contribuição para o risco de uma carteira diversificada Portanto Sharpe menciona de forma explícita o conceito de risco sistêmico diferentemente de Markowitz 1952 Por fim vale comentar que outros modelos mais robustos que o CAPM foram desenvolvidos e também ganharam relevância como a Arbitrage Pricing Theory APT formulada em 1976 por Ross que oferece uma alternativa ao modelo CAPM relacionando uma quantidade k de fatores ao retorno do ativo além do beta COPELAND WESTON e SHASTRI 2005 24 A década de 1970 Foi caracterizada pela recessão econômica mundial provocada pelo esgotamento do modelo de crescimento adotado no pósguerra Diante da grave situação da economia norte americana houve o rompimento do Acordo de Bretton Woods o que não impediu que a pressão inflacionária interna provocasse reflexos no âmbito internacional Para agravar o cenário econômico mundial enfrentou a crise do petróleo em 1973 e em 1979 com um expressivo aumento nas cotações do barril do petróleo pois os paísesmembros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo OPEP reduziram o nível de sua produção Cabe destacar que paralelamente a esses fatos a Bolsa de Nova York entrou em crise em 1974 ampliando ainda mais o ambiente de risco e de incertezas Diante desse panorama houve a retomada dos modelos quantitativos criados antes da década de 1970 por Markowitz Tobin e Sharpe FAMÁ e GALDÃO 1996 facilitada até mesmo pela sua praticidade principalmente no caso do CAPM e pelo desenvolvimento tecnológico computacional o qual possibilitou o processamento de uma gama extensa de dados econômicofinanceiros Em 1970 a teoria da Eficiência dos Mercados ganhou relevância com Eugene Fama constituindo uma das mais importantes contribuições à teoria de Finanças desenvolvidas nesse período Ela explica que em mercados eficientes os preços dos ativos financeiros refletem o conjunto de informações relevantes e disponíveis FAMÁ e GALDÃO 1996 25 A década de 1980 Nesse período o crescimento da economia norte americana foi caracterizado pela manutenção de André Taue Saito José Roberto Ferreira Savoia e Rubens Famá Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 38 déficits orçamentários importação generalizada de produtos europeus e japoneses e adoção de uma política monetária restritiva Isso provocou o aumento das taxas de juros internacionais fato que aliado à redução do preço das commodities fez com que os países em desenvolvimento tivessem dificuldades para honrar os empréstimos adquiridos na década de 1970 quando a excessiva liquidez no sistema financeiro mundial oriunda dos excedentes dos países exportadores de petróleo incentivou os bancos internacionais a concederem expressivos financiamentos aos projetos de investimentos dos países em desenvolvimento Esse período foi marcado pela moratória dos países em desenvolvimento incluindo a do Brasil ocorrida em 1987 FAUSTO 2006 Paralelamente os países exportadores de petróleo procuraram resgatar os seus investimentos e os bancos internacionais ficaram em uma situação desconfortável Desse modo o mercado iniciou um processo de desintermediação financeira e a securitização foi um importante instrumento para transformar dívidas de difícil negociação em ativos financeiros atrativos para o mercado de capitais FAMÁ e GALDÃO 1996 Nesse contexto o estudo de risco ganhou maior relevância e os trabalhos envolvendo os mercados futuro e de opções se destacaram Merton 1997 menciona que na década de 1980 a utilização de modelos matemáticos expandiuse ainda mais sendo feita por bancos comerciais e de investimentos bem como por investidores institucionais Entende que o modelo de precificação de Black e Sholes apresentado em The Pricing of Options and Corporate Liabilities em 1973 foi o que teve maior influência na época Famá e Galdão 1996 explicam que nesse trabalho foi desenvolvida uma fórmula para avaliar as opções de compra a qual demonstra que o seu valor é influenciado pelo preço de exercício pelo tempo até a data de exercício pelo preço spot pela taxa de juros livre de risco e pela variância do preço da ação Nessa década foram desenvolvidas novas e complexas estratégias de mitigação de riscos por meio de derivativos Ressaltase além disso a importância do Comitê da Basiléia que em 1988 produziu o Acordo da Basiléia que estabeleceu uma estrutura de cálculo de capital regulamentar mínimo para as instituições financeiras a qual se tornou referência para a supervisão bancária GARCIA 2003 26 Da década de 1990 até o início do século XXI Na década de 1990 o processo de globalização se intensificou incrementando o fluxo internacional de capitais de produtos e de serviços Franco 1996 considera que o processo de globalização nos leva a identificálo com o crescimento dos fluxos de comércio de bens e serviços e do investimento internacional em níveis consistentemente superiores aos do crescimento da produção op cit 3 Por isso a intensificação do fluxo internacional de capitais de produtos e de serviços levou a uma interdependência maior entre as economias dos países implicando aumento da possibilidade de que um eventual colapso econômico de um determinado país resulte no contágio dos demais Diante desses aspectos ampliouse a preocupação com os riscos e a utilização de estratégias de hedging por meio de opções e do mercado futuro adquiriu maior destaque Houve ainda difusão do conceito de value at risk VAR a partir de 1993 pelos países do G30 JORION 2003 preocupados em discutir princípios ótimos de administração de risco op cit 20 O VAR sintetiza a maior ou pior perda esperada dentro de determinados períodos de tempo e intervalo de confiança op cit 19 No que tange à mitigação do risco sistemático o setor financeiro deu ênfase aos estudos referentes aos sistemas de pagamentos O Bank for International Settlements BIS criou em 1990 o Committee on Payment and Settlement Systems CPSS do qual participam os bancos centrais dos países do chamado G10 O seu foco é direcionado à realização de estudos e de recomendações referentes à mitigação principalmente dos riscos de liquidação e de crédito que caracterizam as estruturas dos sistemas de pagamentos De forma complementar ressaltase que esse comitê vem ampliando o seu papel atuando nos países em desenvolvimento BIS 2005 A evolução da função financeira Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 39 Em 1998 o Comitê da Basiléia reformulou o Acordo de 1988 aperfeiçoando o cálculo do capital regulamentar mínimo e incluindo aspectos ligados à disciplina do mercado e à sua transparência bem como à explicitação do papel da supervisão bancária e das instituições financeiras no estabelecimento dos níveis mínimos de capital GARCIA 2003 Portanto como afirmam Famá e Galdão 1996 o processo de globalização dos mercados levou na década de 1990 a uma preocupação maior com a gestão de riscos influenciada também pelos casos mencionados abaixo por Duarte Jr 2003 que demonstram a necessidade de gerir os riscos corporativos Mettalgesellschaft conglomerado alemão cuja subsidiária adotou uma estratégia errônea de hedge por meio de contratos futuros de petróleo de curto prazo para proteger os contratos de venda de longo prazo Barings Bank banco britânico que entrou em colapso em decorrência da estratégia equivocada de um de seus principais executivos que operava sem respaldo de controles operacionais Long Term Capital Management fundo de hedge norteamericano que não oferecia transparência para os investidores não era obrigado a oferecer garantias nas linhas de crédito que possuía e operava fortemente alavancado sem o amparo de sistemas computacionais de gestão de risco de mercado embora tivesse entre seus administradores os acadêmicos Robert Merton e Myron Scholes Quanto à década de 1990 Famá e Galdão 1996 mencionam além da importância da administração de riscos novas técnicas de custeio como o Activity Based Cost que foram importantes no momento de reestruturação pela qual passaram as empresas e explicam que o processo de mensuração de criação de valor para o acionista tornouse mais relevante razão pela qual formulouse o conceito de Economic Value Added EVA No início do século XXI ocorreram escândalos contábeis nos Estados Unidos envolvendo empresas reconhecidas como Enron WorldCom Xerox Tyco Arthur Andersen e Merck tornando evidente a existência de severos conflitos de interesse nas organizações e a necessidade de ampliar os mecanismos de controle Diante disso a concepção de Governança Corporativa e de maior transparência nas relações entre gestores e acionistas ganhou destaque Paralelamente em meados de 2002 foi aprovada pelo Congresso norteamericano a lei Sarbanes Oxley SOX com a finalidade de oferecer maior proteção aos investidores Na relação entre empresa e demais stakeholders discussões sobre ética empresarial e transparência também se tornaram freqüentes Temas relacionados à Governança Corporativa e à responsabilidade social e ambiental influenciaram a função financeira A teoria de stakeholders foi ressaltada favorecendo a expansão do Balanced Scorecard BSC desenvolvido por Kaplan e Norton em 1990 KAPLAN e NORTON 1997 por meio do qual as empresas podem alinhar a sua estratégia com medidas de desempenho sob a perspectiva financeira do cliente dos processos internos e de aprendizagem e crescimento possibilitando o atendimento da demanda dos acionistas e dos demais stakeholders A partir da década de 1990 começaram a ganhar destaque as correntes que discutem a validade do CAPM e da Hipótese de Eficiência do Mercado Trabalhos como os de Fama e French 1992 questionando o modelo de Sharpe e de Haugen 1995 criticando a noção de que os mercados são eficientes são exemplos de idéias que estão provocando debates no meio acadêmico Destacase que as críticas ao CAPM já ocorriam desde a década de 1970 como a de Roll 1977 apud COPELAND WESTON e SHASTRI 2005 que o questionou mas não o considerou inválido ressaltando que pelo fato de o portfólio de mercado não ser observável na prática os resultados dos testes empíricos devem ser analisados com ponderações Adicionalmente vêm ganhando relevância os estudos que procuram relacionar o comportamento humano com os conceitos econômicos de forma a compreender a influência do fator humano nas decisões financeiras Formase assim um novo ramo de pesquisa conhecido como Finanças Comportamentais fundado por Richard Thaler Para ilustrar a relevância desse assunto cabe mencionar que Daniel Kahneman foi premiado com o Nobel de Economia em 2002 por sua contribuição à ciência econômica com conceitos da psicologia André Taue Saito José Roberto Ferreira Savoia e Rubens Famá Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 40 para a compreensão das decisões dos indivíduos em condições de incerteza 27 Comentários sobre o Brasil No Brasil de acordo com Nicolini 2000 o ensino de Administração de Empresas é relativamente recente e marcado pela transferência de tecnologia desenvolvida nos Estados Unidos Nesse contexto o desenvolvimento da função financeira no Brasil é determinado pela forte influência do conhecimento gerado no exterior especificamente dos modelos norteamericanos como se observa na literatura Em Famá e Krauter 2005 notase que praticamente não há impacto relevante dos fatos brasileiros na evolução da teoria financeira Lima e Matias 2003 por sua vez avaliam que a literatura financeira no Brasil é focada nos acontecimentos econômicos como a inflação e a troca de moeda por exemplo e que os livros de finanças tiveram de se adaptar às novas situações do mercado brasileiro Em outras palavras podese dizer que a função financeira no Brasil depende dos modelos e práticas desenvolvidos no exterior os quais por sua vez são aplicados e adequados à realidade brasileira Se fatos nacionais tiveram pouco impacto no desenvolvimento da teoria e da prática financeira acontecimentos no exterior provocaram reflexos internos como A lei SOX provocou impactos nas empresas brasileiras que lançaram ações no mercado de capital norteamericano pois essas organizações tiveram de se adaptar às exigências desse mercado Além disso as empresas brasileiras que ainda não lançaram ações no mercado norte americano estão procurando se adaptar a essa lei almejando um maior diferencial no mercado de capitais Na relação entre empresa e demais stakeholders discussões sobre ética empresarial e transparência também se tornaram freqüentes Balanços Sociais passaram a ser divulgados podendose destacar no Brasil os modelos propostos pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Ambientais IBASE pela Global Reporting Initiative GRI e pelo Instituto Ethos SCHARF 2004 No que se refere à redução do risco sistêmico o Banco Central do Brasil BACEN promoveu em 2002 a reestruturação do Sistema de Pagamentos Brasileiro SPB Foi observado o aumento da liquidez do setor financeiro nacional o que minimizou os riscos de crédito e de liquidação 3 DISCUSSÃO SOBRE A MUDANÇA DE CONCEPÇÕES DA FUNÇÃO FINANCEIRA Feita uma apresentação de como ocorreu a evolução da função financeira pretendese neste tópico discorrer sobre as mudanças que aconteceram ao longo do tempo e apresentar uma definição do seu papel Se inicialmente a função financeira era caracterizada pela ênfase nos principais fatos da vida financeira de uma empresa e a sua finalidade era protegêla em um ambiente de crise de uma eventual falência ou em uma fase de reestruturação por meio de corretas políticas de financiamento e de estrutura de capital com o decorrer do tempo passou a incluir conceitos relativos à estrutura organizacional da empresa e à Teoria Econômica O uso de modelos matemáticos mais complexos intensificouse diante da necessidade de subsidiar os gestores para a análise de uma gama crescente de informações provenientes de um ambiente de maior nível de incerteza e de riscos sobretudo em decorrência do avanço do processo de globalização Aliás os conceitos de risco e de retorno vêm ganhando destaque na definição das estratégias financeiras em especial a diferenciação feita pelo CAPM sobre o conceito de risco sistemático e não sistemático O primeiro pode ser reduzido por investimentos em ativos diversificados e com fraca correlação quanto ao último os bancos centrais vêm procurando mitigálo com reformas nos sistemas de pagamentos Uma crescente preocupação com os riscos levou ao desenvolvimento de estratégias complexas de hedging por meio de opções e do mercado futuro Houve também um destaque na gestão de risco em bancos e instituições financeiras em 1998 o Comitê da Basiléia reformulou o Acordo de 1988 ao aperfeiçoar o cálculo do capital regulamentar mínimo além de incluir aspectos relacionados à disciplina do mercado e à sua transparência e explicitar o papel da supervisão bancária e das instituições financeiras no estabelecimento dos níveis mínimos de capital GARCIA 2003 A evolução da função financeira Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 41 Casos mencionados por Duarte Jr 2003 como o Mettalgesellschaft o Barings Bank e o Long Term Capital Management demonstraram a importância de gerir riscos corporativos nas instituições financeiras De forma complementar o controle dos orçamentos de resultado e de caixa o entendimento da influência das políticas de investimento de financiamento e de dividendos sobre o valor da empresa e o questionamento da ética e da transparência das relações das empresas com seus acionistas e demais stakeholders foram acrescentados No que diz respeito à transparência e às discussões éticas destacase que são itens cada vez mais freqüentes no relacionamento entre as empresas seus acionistas e demais stakeholders tendose em vista o objetivo desses grupos de proteger seus interesses Por isso assuntos envolvendo Governança Corporativa e responsabilidade social e ambiental vêm se sobressaindo De acordo com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico OCDE os princípios para a adequada prática de Governança Corporativa devem promover a transparência das informações e a defesa dos interesses dos acionistas incluindo os minoritários bem como dos demais stakeholders além de definir claramente a responsabilidade dos conselhos de administração OCDE 2004 Nesse contexto percebese que a pressão social até mesmo de grupos organizados por maior transparência das informações e pela implantação de mecanismos de defesa de interesses dos acionistas e demais stakeholders vem se intensificando Para a função financeira isso se configura um desafio pois implica a adoção de políticas de natureza social e ambiental cujos impactos no valor da empresa são de difícil mensuração Ressaltase que a responsabilidade social e ambiental que responde às exigências dos demais stakeholders gera confusão quanto ao papel da função financeira originando a seguinte pergunta a empresa deve maximizar o valor para os acionistas ou para todos os stakeholders De acordo com Jensen 2001 a função financeira ao adotar a abordagem de maximizar o valor da empresa para os acionistas e para os demais stakeholders utilizandose de métodos como o Balanced Scorecard ou conceitos similares pode provocar na realidade uma destruição do valor da empresa pois não é possível atender integralmente a grupos heterogêneos cujos interesses podem ser divergentes e excludentes Para o autor essa concepção uma vez que não permite uma visualização clara do quanto cada decisão pode afetar o valor da empresa abre espaço para os gestores tomarem decisões com base nas preferências pessoais ou para evitar pressões dos grupos de interesses sem que isso implique algo favorável para o valor da empresa Percebese portanto o conflito de agência que pode ocorrer Por outro lado Jensen 2001 releva que a função financeira tem que satisfazer aos demais stakeholders porque estes são importantes para a empresa mas respeitando o objetivo principal da maximização do valor da empresa para o acionista Em outras palavras defende que uma determinada política que satisfaça às necessidades dos demais stakeholders somente pode ser adotada caso agregue valor para o acionista Em suma a função financeira deve maximizar o valor da empresa para o acionista Isso é mais condizente com a lógica do capitalismo fundamentado na existência do capital de risco em um ambiente competitivo Nesse sentido pelo fato de os acionistas serem os agentes que investem e incorrem em riscos maiores pois seus direitos são subordinados aos dos demais stakeholders o papel da função financeira é o de maximizar o valor da empresa para os acionistas Caso isso não ocorra não haverá estímulo para novos investimentos e conseqüentemente não serão gerados riqueza e empregos por exemplo Ou seja a empresa não poderá atender às necessidades dos demais stakeholders Diante disso observase que o papel da função financeira está inserido em um ambiente marcado pelo conflito entre a moral da integridade e a moral da parceria A primeira é caracterizada exclusivamente pelo comportamento considerado decente e virtuoso SROUR 2003 257 aceito como correto pela moral oficial e a segunda se orienta pelo impacto que as decisões e ações terão sobre a empresa bem como pelo André Taue Saito José Roberto Ferreira Savoia e Rubens Famá Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 42 fortalecimento de laços mutuamente vantajosos entre empresa e stakeholders de forma a tornar o negócio perene SROUR 2003 Para ilustrar a existência desse conflito no Brasil podese mencionar o resultado da pesquisa encomendada pela Revista Exame ao instituto Vox Populi na qual se constatou que 93 dos brasileiros consideram que o principal objetivo da empresa é a geração de empregos enquanto apenas 10 entendem que ela deva gerar lucros para os acionistas GUROVITZ e BLECHER 2005 Esse conflito para a função financeira implica optar seja pela adoção de políticas que maximizem o valor da empresa para todos os stakeholders moral da integridade seja pela maximização do valor da empresa para os acionistas satisfazendo às necessidades dos demais grupos de interesse porque estes são importantes para a empresa desde que aquele objetivo principal não seja prejudicado moral da parceria Em outras palavras percebese que a moral da parceria caracterizada por uma visão pragmática é a mais adequada para a função financeira e sua adoção já que a continuidade da empresa depende em primeiro lugar da maximização de seu valor para o acionista é fundamental para que os demais stakeholders possam ter as suas necessidades atendidas Desse modo os acionistas e demais stakeholders precisam estabelecer uma relação virtuosa de longo prazo Cabe mencionar que a visão de que o papel da função financeira é o de maximizar o valor da empresa para o acionista buscando concomitantemente o equilíbrio na relação com os demais stakeholders é salutar pois não sobrepõe o elemento social demais stakeholders ao elemento individual livre iniciativa dos investidores De certa forma procura contrabalançar os interesses desses dois grupos Na visão de Romano 2006 quando há a predominância do social sobre o individual caminhase para o pensamento totalitário e único responsável pela destruição do indivíduo para satisfazer à coletividade Esse raciocínio faz sentido para a função financeira porque a empresa é criada pelos acionistas e receberá deles aporte de recursos caso seja um agente que agregue valor ou seja que maximize a sua riqueza Desse modo se a função financeira procurar satisfazer a todos os stakeholders indiscriminadamente a empresa poderá ter o seu valor destruído Assim a predominância do social atender aos interesses de todos os stakeholders sem critério será responsável pela destruição do indivíduo iniciativa privadaempresa Para finalizar esta seção é importante assinalar que o papel da função financeira reflete os problemas e desafios de cada época Conceitos foram a ele acrescentados e atualmente há uma importância crescente dos aspectos relacionados ao risco em resposta a um ambiente mais volátil decorrente do processo de globalização Questões referentes à transparência nas relações com acionistas e demais stakeholders bem como à Governança Corporativa e à responsabilidade social e ambiental são ressaltadas uma vez que há uma pressão social maior para que isso seja realizado com seriedade Considerandose o exposto podese dizer que a função financeira evoluiu e que o seu papel é alcançar a maximização do valor da empresa para o acionista por meio de políticas de investimento de financiamento e de dividendos avaliando constantemente os fatores que envolvem risco e retorno custos de capital e o equilíbrio no relacionamento com investidores e demais stakeholders sob o contexto de Governança Corporativa e de responsabilidade social e ambiental 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho discutiu a mudança na concepção do papel da função financeira o que requer cuidado porque se deve considerar que os conceitos predominantes atualmente são resultado do acúmulo de conhecimentos e de experiências anteriores Por isso optouse por iniciar o estudo com uma revisão bibliográfica sobre a evolução da função financeira procurandose relacionála com fatos históricos pois de acordo com Brennan 1995 é importante reconhecer que as concepções são influenciadas pelas limitações dos paradigmas de cada época Constatouse que inicialmente a função financeira era caracterizada pela ênfase nos A evolução da função financeira Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 43 principais fatos da vida financeira de uma empresa e sua finalidade era protegêla de uma eventual falência ou em uma fase de reestruturação por meio da adoção de corretas políticas de financiamento e de estrutura de capital com o decorrer do tempo conceitos relativos à estrutura organizacional da empresa e à Teoria Econômica foram incluídos na visão do seu papel na empresa O uso de modelos matemáticos cada vez mais complexos intensificouse diante da necessidade de analisar uma gama crescente de informações provenientes de um ambiente de maior nível de incerteza e de riscos sobretudo em decorrência do avanço do processo de globalização Conceitos de risco e de retorno ganharam destaque na definição das estratégias financeiras dentre os quais ressaltase a diferenciação feita pelo CAPM entre risco sistemático e nãosistemático Devem ser apontadas a importância da gestão do risco sistêmico que vem sendo fomentada pelo BIS e a relevância da administração dos riscos corporativos no ambiente atual De forma complementar o controle dos orçamentos de resultado e de caixa o entendimento da influência das políticas de investimento de financiamento e de dividendos sobre o valor da empresa e o questionamento da ética e da transparência das relações das empresas com seus acionistas e demais stakeholders foram acrescentados Como resultado do processo histórico podese afirmar que a função financeira evoluiu e atualmente a sua finalidade é alcançar a maximização do valor da empresa para o acionista por meio de políticas de investimento de financiamento e de dividendos avaliando constantemente os fatores que envolvem risco e retorno custos de capital e o equilíbrio no relacionamento com investidores e demais stakeholders sob o contexto de Governança Corporativa e de responsabilidade social e ambiental Destacase que a evolução da função financeira não está finalizada Estudos estão em andamento e novos pontos de vista estão sendo explorados Estudos para avaliar os impactos da responsabilidade socioambiental no valor da empresa para o acionista serão importantes E para finalizar trabalhos combinando a Teoria Econômica Clássica os estudos de Psicologia Humana e a Neurociência com o objetivo de desenvolver novos métodos que auxiliem na compreensão e previsibilidade do comportamento dos agentes financeiros merecerão maiores aprofundamentos 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARO DE MATOS J Theoretical foundations of corporate finance USA Princeton University Press 2001 ARCHER S H DAMBROSIO E C Administração financeira teoria e aplicação São Paulo Atlas 1969 ASSAF NETO A Finanças corporativas e valor São Paulo Atlas 2003 BANK FOR INTERNATIONAL SETTLEMENTS BIS CPSS background information BIS 2005 Disponível em httpwwwbisorgcpsscpssinfopdf Acesso em mar 2006 BRENNAN M J Corporate Finance over the Past 25 Years Financial Management v 24 n 2 p 9 22 1995 CHEW Jr D H Introduction financial innovation in the 1980s s d COPELAND T E WESTON J F SHASTRI K Financial theory and corporate policy USA Pearson Addison Wesley 2005 DIMSON E MUSSAVIAN M Three Centuries of Asset Pricing Journal of Banking and Finance v 23 p 17451769 1999 DUARTE JR A M A importância do gerenciamento de riscos corporativos em bancos In DUARTE JR A M VARGA G Orgs 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da Função Financeira 2006 tende a evoluir com base no contexto histórico vivenciado pelas empresas Sobre isto cabe apresentar o apontamento de Weston 1975 o qual afirma que a evolução do pensamento econômico reflete os problemas presentes em cada época que por conseguinte influenciam nas teorias e ferramentas utilizadas por setores financeiros WESTON 1975 apud SAITO SAVOIA FAMÁ 2006 Assim percebese que a função financeira acompanha os movimentos socioeconômicos ocorridos no transcorrer da história e adaptase aos desafios préexistentes No início do século XX conforme perspectiva institucional predominavase a abordagem Tradicional conceito defendido por Archer e D Ambrosio 1969 a qual focava nos principais acontecimentos da vida financeira das empresas e seu objetivo era protegêlas de possíveis falências e promover reorganizações administrativas Weston 1975 aponta que essa fase foi o marco do princípio do estudo sistemático em Finanças ocorrido em decorrência do processo de consolidação das empresas e do crescimento do mercado interno norteamericano Essa visão protetiva ganha força a partir dos momentos de crise vivenciados entre a década de 1920 a 1960 Nesse contexto estudos sobre solvência liquidez e recuperação financeira das empresas se destacaram WESTON 1975 Cabe ressaltar que na década de 1950 os estudos de finanças passaram a enfatizar as rotinas internas e a estrutura organizacional Isso demonstra a preocupação com possíveis repressões pósguerra O desenvolvimento tecnológico computação e o crescimento do mercado internacional a partir da década de 1950 contribuíram para o surgimento de duas correntes teóricas das finanças modernas as Finanças Corporativas e as finanças com foco nos estudos de portfólio e de risco e retorno No campo das Finanças Corporativas Modigliani e Miller 1958 desenvolveram a maior contribuição teórica que foi a concepção de que o valor da empresa independe de sua estrutura de capital Não menos importante Markowitz 1952 traz a noção de que um investidor deve formar um portfólio com base em seu retorno esperado desejável e na variância dos retornos indesejável de modo a maximizar o primeiro e minimizar o último por meio da diversificação de ativos com reduzido nível de covariância Concepções estas ampliadas por autores como Tobin 1952 e Sharpe 1964 Assim percebese que as mudanças ocorridas no campo das Finanças a partir dos anos 50 promoveram um conteúdo mais descritivo e detalhado institucionalmente permitindo a construção de um aporte teórico mais formalizado É importante salientar o papel da globalização nas postulações teóricas e nas preocupações empresariais entre 1990 até o século XXI uma vez que com a intensificação desse processo aumentouse a preocupação com a gestão de riscos e a procura por novas técnicas de custeio Nesse ínterim notase que as finanças modernas procedem como se houvesse um comportamento financeiro externo e testam empiricamente declarações teóricas considerando tal comportamento financeiro para determinar sua verdade ADARLAN 2004 apud IQUIAPAZA AMARAL BRESSAN 2009 Em outras palavras o ramo das finanças é fortemente influenciado por comportamentos estabelecidos pelo ambiente econômico de uma determinada época e a maioria das críticas associadas à sua realidade empresarial são em decorrência disso Entre as principais críticas ao mundo das finanças destacamse o conflito entre a moral da integridade e a moral da parceria SROUR 2003 apud SAITO SAVOIA FAMÁ 2006 e a predominância do social sobre o individual ROMANO 2006 apud SAITO SAVOIA FAMÁ 2006 A primeira está relacionada aos comportamentos decentes e virtuosos do membro de uma empresa e aos impactos que as decisões e ações provocam dentro de uma organização Essa faz repensar sobre os laços estabelecidos entre a empresa e stakeholders uma vez que a maioria das empresas priorizam a geração de empregos do que a obtenção de lucros para acionistas Uma solução viável para esse problema seria a adoção de políticas que equilibrem os interesses de ambas as partes envolvidas A segunda crítica referese ao conflito de interesses sociais e individuais dentro de uma empresa o que pode ser relacionado com o supracitado acima Isso porque muitos empresários procuram satisfazer os desejos da minoria fazendo com que o valor da empresa seja rebaixado Mas esse aspecto pode ser facilmente resolvido com a tomada de decisões mais imparciais Concluise assim que a função financeira é um ramo de conhecimento que vem se mudando no decorrer dos anos e aprimorase com base no contexto histórico Inicialmente a função financeira preocupavase mais com os acontecimentos da vida financeira de uma empresa e buscava protegêla de eventuais perigosos Com o momento de crise a partir da década de 1920 começouse uma fase reformulação dessa área apoiada em conceitos teóricos e que beneficiam os estudos do tempo presente e a administração de empresas atualmente REFERÊNCIAS IQUIAPAZA R A AMARAL H F BRESSAN A A Evolução da pesquisa em Finanças Epistemologia Paradigma e Críticas os Salvador v16 n49 p 351 370 AbrilJunho 2009 SAITO A T SAVOIA J R F FAMÁ R A Evolução da Função Financeira Revista de Gestão USP São Paulo v 13 n especial p 3144 2006 ARCHER S H DAMBROSIO E C Administração financeira teoria e aplicação São Paulo Atlas 1969 ROMANO R Primeira Leitura n 48 p 2233 fev 2006 Entrevista concedida para a reportagem Ética da Barbárie SROUR R H Ética empresarial a gestão da reputação 2 ed Rio de Janeiro Campus 2003 WESTON J F Finanças de empresas São Paulo Atlas 1975