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1 FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA 2 FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA DÚVIDAS E ORIENTAÇÕES Segunda a Sexta das 0900 as 1800 ATENDIMENTO AO ALUNO editorafamartfamartedubr 3 Sumário CORRENTES FILOSÓFICAS DA MODERNIDADE 4 O RACIONALISMO DE RENÉ DESCARTES 4 O EMPIRISMO DE FRANCIS BACON JOHN LOCKE E DAVID HUME 6 A PROVA ONTOLÓGICA DA EXISTÊNCIA DE DEUS 6 REVOLUÇÃO FRANCESA 9 RACIONALISMO OU EMPIRISMO 10 PRAGMATISMO 21 Pensamento Filosófico no Brasil 29 Referências 38 4 CORRENTES FILOSÓFICAS DA MODERNIDADE Filosofia Moderna do Racionalismo ao Empirismo Caro a acadêmico a a sociedade mudou muito durante a Modernidade Essas mudanças e especialmente a revolução científica empreendida nos mais variados campos do conhecimento quebraram o modelo de inteligibilidade baseado na filosofia aristotélica muito próprio da filosofia medieval O modelo explicativo baseado na lógica dedutiva não era mais suficiente para dar conta das novas descobertas científicas Diante dessa nova realidade surgiu a pergunta ou mais precisamente o receio de que haveria a possibilidade de se cair em novos enganos Por essa razão uma pergunta chave para a filosofia na modernidade assentouse sobre a questão do método como seria possível a construção de conhecimentos e de novas teorias e como garantir a sua autenticidade Em última análise a grande dúvida continua sendo a questão da verdade que sempre foi o alvo da filosofia O RACIONALISMO DE RENÉ DESCARTES RENÉ DESCARTES O principal expoente do Racionalismo é o filósofo René Descartes 15961650 Ele também é conhecido pelo seu nome latino Cartesius razão pela qual também se chama o seu pensamento de cartesiano Dos seus estudos de matemática deriva o plano cartesiano 5 A preocupação de Descartes foi encontrar uma verdade inicial que não pudesse ser posta em dúvida e sobre a qual todos os demais conhecimentos poderiam ser assentados Como partiu do pressuposto de que tudo poderia em princípio ser posto em dúvida fez da própria dúvida o seu método investigativo Descartes Começa duvidando de tudo das afirmações do senso comum dos argumentos da autoridade do testemunho dos sentidos das informações da consciência das verdades deduzidas pelo raciocínio da realidade do mundo exterior e da realidade do seu próprio corpo ARANHA MARTINS 2003 p 131 Segundo esse raciocínio praticamente tudo podia ser posto em dúvida pois de nada se tinha garantias que assegurassem a realidade do que se apresentava Após gigantesco esforço intelectual Descartes concluiu haver apenas uma única coisa da qual não se podia duvidar A única coisa de que não podemos duvidar é que estamos aqui fazendo tais questionamentos Portanto o indivíduo que duvida é o ponto de partida para a construção do conhecimento Desse princípio vem a afirmação de Descartes segundo a qual penso logo existo Em latim ela é escrita da seguinte forma cogito ergo sum ou seja o ser que pensa é verdadeiro caso contrário toda a existência perde a sua consistência nada faria sentido Porém até esse momento Descartes não conseguiu a garantia de que o seu pensamento efetivamente corresponda à realidade Ele se perguntava como poderíamos ter certeza de que a nossa vida e o mundo como um todo não seriam apenas um sonho O que garante que o meu raciocínio corresponde à realidade ou que as coisas de nossa mente têm existência e não são mera imaginação Para resolver esse problema e provar que o mundo tem realidade lançou mão do que ficou conhecido como prova ontológica da existência de Deus Como Descartes queria demonstrar que a razão humana tem uma capacidade gigantesca propôsse a provar com ela a existência de Deus sendo a coisa mais difícil de ser provada Se pudesse provar a existência de Deus com o uso da simples razão então todas as outras coisas poderiam ser explicadas com a razão da mesma forma 6 Como se pode perceber a partir de Descartes há uma gigantesca valorização da razão A partir dela podese entender e explicar a realidade e assim não se precisa mais de crenças sobrenaturais O EMPIRISMO DE FRANCIS BACON JOHN LOCKE E DAVID HUME A PROVA ONTOLÓGICA DA EXISTÊNCIA DE DEUS FRANCIS BACON No Empirismo os filósofos ressaltaram o valor da experiência como ponto de partida do pensamento e elemento essencial na formação do conhecimento A valorização da experiência para a constituição do conhecimento era algo radicalmente novo pois até então ela era vista com maus olhos principalmente pela Igreja e Teologia mais tradicionais Nesse sentido segundo Trigo 2009 p 127 experimentar podia significar duvidar e a dúvida era a porta de entrada da heresia do pecado e da condenação pelos tribunais civis e religiosos da época Para a Teologia da Idade Média todas as verdades já haviam sido reveladas pela Bíblia e por isso não havia necessidade de experimentos para fazer novas descobertas Também o dualismo psicofísico resultante da teoria cartesiana via a experiência feita pelos sentidos do corpo com ressalvas pois elas poderiam ser enganosas 7 Vamos analisar brevemente o pensamento dos três principais representantes do Empirismo Francis Bacon John Locke e David Hume Francis Bacon Francis Bacon 15611626 valorizava o saber instrumental o qual segundo ele possibilitava a dominação da natureza Também ele assim como Descartes estava interessado no método da ciência O seu pensamento se caracteriza por uma forte crítica à lógica aristotélica visto que a considerava extremamente limitante para a investigação científica Lembrando que na lógica aristotélica as conclusões nunca poderiam extrapolar os termos do argumento não havia espaço para inovação Por isso enfatizou em sua obra o valor da indução como método científico válido Na indução permitiase a generalização a partir de estudos determinados ARANHA MARTINS 2003 Para entender melhor as teorias de Bacon vamos pensar em dois exemplos Exemplo 1 no âmbito da medicina constantemente são descobertas novas técnicas de tratamento de doenças novos procedimentos cirúrgicos e novos medicamentos Segundo a ciência embasada na lógica aristotélica os novos procedimentos poderiam ser considerados válidos somente depois de testados em todos os humanos da face da terra pois do contrário as conclusões estariam extrapolando os pressupostos Não é o que acontece na área da saúde já que nessa área é empregado o método indutivo depois de desenvolvido um novo procedimento ele é testado em um conjunto limitado de indivíduo e tendose sucesso em percentual significativo ele passa a ser adotado como método de tratamento válido Exemplo 2 nas áreas de gestão e marketing é comum o uso de pesquisas de mercado antes da introdução de um novo produto no mercado Essas pesquisas não contemplam todas as pessoas que podem ser potenciais compradores do novo produto no entanto fazse uma estimativa a partir de entrevista com uma amostra da população A partir dos resultados obtidos através da amostra induzse que o restante da população irá se comportar de forma parecida Criouse assim com o método indutivo uma possibilidade enorme para a ciência a qual estava se desenvolvendo Por outro lado a indução é menos precisa 8 do que a dedução Sempre haverá uma possibilidade de a solução não ser eficaz para alguns indivíduos A partir do desenvolvimento do método indutivo desenvolveuse o ramo da ciência do conhecimento chamada de análise estatística John Locke 16321704 ressaltou o valor da experiência para a formação do conhecimento seguindo uma via mais psicológica Ele distinguiu duas fontes possíveis para a formação das ideias no ser humano a sensação e a reflexão A sensação resulta das transformações ocorridas em nossa mente a partir da experiência dos sentidos Quando estamos em contato com a realidade do mundo de alguma forma essas imagens são gravadas em nossa mente na forma de ideias simples Assim através da sensação formase no indivíduo um leque considerável de ideias simples A reflexão por sua vez consiste na associação de ideias simples que fazemos em nossas mentes formando ideias complexas As ideias complexas conforme Locke não possuem uma existência e validade objetiva são nomes de que nos servimos para denominar e ordenar as coisas ARANHA MARTINS 2003 p 133 9 Assim a contribuição de John Locke para a filosofia consiste na teoria de que o ser humano acumulando ideias simples em sua mente a partir da experiência concreta procede a uma associação destas para a formação de ideias complexas Portanto quanto maior o número de ideias simples acumuladas tanto maior é a probabilidade de se formarem ideias complexas em nossas mentes REVOLUÇÃO FRANCESA DAVID HUME David Hume 17111776 aprofundou as teorias de Francis Bacon e John Locke Hume aceita o princípio de Locke de que a partir da experiência ideias simples são formadas em nossas mentes Entretanto não aceita a teoria de que as ideias complexas resultam da associação de ideias simples no interior da nossa mente Segundo ele somente a experiência é válida para o conhecimento e como não podemos observar o processo de associação de ideias em nosso interior essa não poderia ser uma conclusão científica válida Mas de onde viriam então os pensamentos mais complexos e as teorias filosóficas Para David Hume as ideias complexas se formam com o hábito que é criado nos indivíduos a partir da experiência repetida Quando observamos muitas vezes os mesmos acontecimentos ou fatos parecidos começamos a perceber os princípios de causalidade as semelhanças e dessa forma progressivamente formamse em nossas mentes os traços que delimitam as teorias Por outro lado Hume chamou a atenção para o fato de que nem sempre os fatos observados estão relacionados Com isso ele negou a validade universal do princípio de causalidade e da noção de necessidade a ele associada Em outras 10 palavras Hume acentuou que a realidade poderia ser diferente daquilo que se tornou Ela não é resultado necessário da história que a antecedeu A relação de causa e efeito é um princípio válido para a investigação científica mas ela não é universal válida para todos os fenômenos pois existem fatos não decorrentes necessariamente do que havia antes Dessa forma a observação da sucessão de acontecimentos nos leva a crer que um determinado fato se comportará de forma análoga no futuro sem contudo termos recursos para assegurar isso de modo inquestionável A teoria de David Hume foi revolucionária para a sua época principalmente se considerada sob o prisma da organização política Quando negou o princípio universal da causalidade e necessidade estava ao mesmo tempo dizendo que a organização política do Estado de seu tempo não era uma realidade fruto de um desenvolvimento histórico necessário ou seja que não havia possibilidade de ser de outra forma Dito de outro modo Hume afirmava que a história poderia ser outra pois não há necessariamente uma lógica na sucessão dos acontecimentos RACIONALISMO OU EMPIRISMO Prezado a estudante quem estava certo os racionalistas ou os empiristas O que é mais importante para a formação do conhecimento a razão ou a experiência Poderíamos falar também em teoria e prática O que é mais importante para o aprendizado a teoria ou a prática Essa foi a discussão entre os filósofos empiristas e racionalistas Os racionalistas enfatizavam a centralidade da razão na formação do conhecimento que estava associada principalmente às capacidades inatas do ser humano Já para os empiristas a experiência do mundo era mais fundamental De qualquer forma todos concordavam na centralidade do ser humano no processo do conhecimento Este não é mais visto como tendo uma origem sobrenatural O ser humano é o sujeito da ciência e da história Por extensão podemos afirmar também que temos um papel determinante na reflexão teológica embora confessemos a ação do Espírito de Deus no teologar Em nossa formação profissional na universidade é constante o atrito entre as duas tendências a teoria e a prática Muitas vezes pensamos que a formação precisa ser totalmente voltada para a prática e por conseguinte não gostamos de aulas 11 teóricas Por outro lado ocorre muitas vezes que estudantes se formam no ensino superior e lhes falta justamente o conhecimento teórico o qual lhes pouparia muitos esforços e erros ao longo da vida profissional A formação teológica também é alvo desses questionamentos Filosofia moderna de Kant à Comte Caríssimo a acadêmico a denominase de filosofia contemporânea as correntes de pensamento surgidas entre os séculos XIX e XX O marco inicial do período é a Revolução Francesa 1789 A fase inicial da filosofia contemporânea foimarcada pela atuação dos filósofos iluministas que aliás forneceram as bases que levariam à revolução Os iluministas empreenderam uma crítica profunda à sociedade moderna e a todos os seus alicerces entre os quais estavam a religião e o sistema de governo monárquico Além de abalarem a estrutura política da sociedade com as suas reflexões os iluministas e os pensadores que os sucederam contribuíram para uma mudança muito profunda na forma de pensar a filosofia As ciências não foram mais as mesmas após esse período Também a Teologia passou por transformações profundas tendo boa parte dos seus alicerces reformulados Sendo assim analisaremos os sistemas filosóficos de alguns autores da filosofia contemporânea compreendendo mesmo que de forma resumida os principais pontos de seus sistemas filosóficos Os filósofos a serem estudados são Kant Hegel Feuerbach Marx e Comte 12 IMMANUEL KANT Immanuel Kant 17241804 é o principal representante do Iluminismo na Alemanha cujo movimento ali é conhecido como aufklärung esclarecimento Geralmente o pensamento de Kant é dividido em duas fases primeira a fase pré crítica indo até a obra Dissertação sobre a forma e os princípios do mundo sensível e inteligível 1770 e segunda a fase crítica a partir da publicação da obra Crítica da razão pura 1781 Em sua fase précrítica Kant pode ser considerado como um típico representante do racionalismo dogmático caracterizado pela forte influência da filosofia racionalista inspirada em Leibniz e desenvolvida e sistematizada por Christian Wolff 16791754 MARCONDES 2001 p 207 Kant era forte defensor do racionalismo e contra o empirismo cético Todavia a partir da leitura realizada de Hume Kant percebeu a importância das questões levantadas pelos empiristas particularmente as questões levantadas por Hume Segundo Marcondes 2001 a partir disso Kant elaborou uma filosofia caracterizada por ele como racionalismo crítico pretendendo superar a dicotomia entre racionalismo e empirismo Kant define a filosofia como sendo a ciência da relação de todo o conhecimento e de todo o uso da razão com o fim último da razão humana KANT 1993 apud MARCONDES 2001 p 207 Assim para Kant a filosofia caracterizase pelo tratamento de quatro questões fundamentais O que posso saber Diz respeito às condições e legitimidade do conhecimento O que devo fazer A resposta a essa pergunta é dada pela moral 13 O que posso esperar O problema da esperança de que trata a religião MARCONDES 2001 p 207 O que é o homem Referese ao objeto da antropologia Conforme Marcondes 2001 essa é a mais importante e em última análise todas as outras três questões se reduzem a ela Partindo dessas questões o filósofo deve determinar 1 as fontes do saber humano 2 a extensão do uso e da utilidade do saber e 3 os limites da razão Vale ressaltar que para Kant embora seja o mais difícil esse último item é o mais necessário No prefácio da segunda edição da obra Crítica da razão pura 1787 Kant referese às disputas das grandes correntes filosóficas de sua época afirmando que essas disputas só poderiam ser superadas pela introdução da crítica Um dos objetivos fundamentais da filosofia na obra Crítica da razão pura é estabelecer critérios demarcados entre o que podemos conhecer legitimamente e as falsas pretensões de conhecimento Sendo assim ao se opor ao dogmatismo A tarefa da crítica consiste assim em examinar os limites da razão teórica e estabelecer os critérios de um conhecimento legítimo MARCONDES 2001 p 208 Kant argumenta ser o conhecimento constituído de matéria e forma A matéria é composta pelas próprias coisas de modo que para conhecer precisamos da experiência sensível como defendiam os empiristas A forma por sua vez somos nós mesmos A partir das estruturas de pensamento inatas somos capazes de entender e organizar a realidade Segundo Aranha e Martins 2003 p 136 para Kant O nosso conhecimento experimental é composto do que percebemos por impressões e do que a nossa própria faculdade de conhecer de simesma tira por ocasião de tais impressões Por isso concluiu ainda não termos a capacidade de conhecer a realidade em si mas somente na medida em que ela aparece para nós Para isso Kant emprega o conceito de fenômeno que quer dizer o que aparece Então se tudo o que dispomos para conhecer o mundo é o que aparece para nós também de algum modo 14 participamos da construção do conhecimento desse mundo Não obstante há uma diferença entre os objetos em si e aquilo que pensamos sobre eles a partir das nossas experiências e estruturas inatas Em resumo a filosofia kantiana redunda em idealismo pois em última análise a construção do conhecimento depende das estruturas inatas do ser humano ILUMINISMO ALEMÃO CHRISTIAN WOLFF 15 GEORG WILHELM FRIEDRICH HEGEL Georg Wilhelm Friedrich Hegel 17701831 introduziu uma noção nova na filosofia a de que a razão é histórica Como ressalta Koyré 2011 a teoria hegeliana é extremamente difícil porém influenciou o pensamento filosófico posterior como nenhuma outra A sua grande preocupação foi a construção de um sistema filosófico que desse conta de explicar toda a realidade A sua intenção primordial não é mudar o mundo mas em dizer como ele funciona Na medida em que ofereceu essa resposta criou também a ferramenta a ser utilizada por muitos de seus discípulos que almejaram mudálo tais como Marx Hegel viveu em um momento histórico conturbado de profundas transformações na sociedade Essa experiência da contradição foi fundamental para a constituição do pensamento hegeliano Na percepção de Hegel o avanço científico protagonizado pela racionalidade não havia produzido os efeitos desejados ou seja a superação de todos os problemas Entendia ele que se a razão é produtora do conhecimento verdadeiro então a sua aplicação em escalas progressivamente crescentes deveria levar à superação de todos os males da sociedade Contudo não era o que acontecia na prática Antes de produzir soluções o avanço da razão produzia novos problemas e novas contradições KOYRÉ 2011 De acordo com Aranha e Martins 2003 o pensamento hegeliano pode ser sintetizado da seguinte forma Partindo da noção kantiana de que a consciência ou o sujeito interfere ativamente na construção da realidade propõe o que se chama de 16 filosofia do devir do ser como processo como movimento como vir a ser Desse ponto de vista o ser está em constante transformação donde surge a necessidade de fundar uma lógica que não parta do princípio de identidade estático mas do princípio de contradição para dar conta da dinâmica do real a que chama de dialética ARANHAMARTINS 2003 p 143 Nesse sentido Hegel interpreta a história não como acumulação e justaposição de acontecimentos todavia como o resultado de um processo cujo motor interno é a contradição dialética ARANHA MARTINS 2003 p 143 Até então a história humana era vista como a soma dos acontecimentos entretanto a partir da dialética hegeliana ela passou a ser vista como resultado de um processo de conflitos e contradições Assim os reinos não eram frutos da evolução dos seus antecessores mas resultado dos seus problemas crises e acontecimentos provocadores da sua ruína O Império Romano somente conseguiu se tornar poderoso em virtude da queda dos impérios grego egípcio persa e outros A dialética de Hegel realizase em três momentos a tese a antítese e a síntese Todas as coisas são em princípio uma tese Todas as coisas são o que são mas elas não o serão para sempre Essa é a diferença do pensamento de Hegel pois antes se pensava em termos estáticos uma coisa era o que era para sempre Para Hegel as coisas não serão as mesmas para sempre porque elas possuem o germe da mudança e da contradição Em outras palavras o filósofo nos diz que todas as coisas possuem em si mesmas algo que as faz mudar fazendo com que deixem de ser o que são para se tornarem outra coisa Para deixar as ideias de Hegel mais claras vamos pensar em um exemplo Imagine o banco de uma praça Segundo Hegel esse banco pode ser tomado do ponto de vista filosófico como sendo uma tese O que causará a transformação desse banco de praça Qual é a antítese de um banco Podemos pensar em várias coisas As pessoas sentadas sobre ele mesmo não tendo a intenção de danificálo acabam gerando algum desgaste Haverá também as pessoas que podem querer danificálo intencionalmente Talvez não sejamos capazes de perceber a mudança de um dia para o outro ou mesmo de uma semana para a outra ao sentarmos sobre o banco no entanto ele está em constante processo de transformação A própria ação do tempo 17 sobre os materiais faz com que ele lentamente deixe de ser um banco Após anos de contradição já não existe mais um banco O que restou Restou a síntese da tese o banco e da antítese ação dos usuários e a ação do tempo Contudo o movimento não termina com a síntese Segundo Hegel cada síntese é por sua vez uma nova tese a qual terá as suas próprias contradições produzindo novas sínteses e assim sucessivamente até que todas as contradições sejam superadas A mesma coisa valeria para as nossas ideias para os sistemas filosóficos enfim para toda a realidade A superação de todas as contradições é chamada por Hegel de Espírito Absoluto Logo nós nos encontramos entre dois extremos No princípio segundo o filósofo estaria a pura ideia geradora da contradição para poder se realizar plenamente A contradição da pura ideia é a matéria o mundo concreto Somente quando todas as contradições da pura ideia forem superadas é que se alcançará o espírito absoluto sendo o fim da história Por ter colocado a ideia no princípio do seu sistema filosófico Hegel é chamado de idealista e podemos nos referir a seu sistema como idealismo hegeliano RECEPÇÃO DE HEGEL LUDWIG FEUERBACH O filósofo Ludwig Feuerbach 18041872 foi aluno de Hegel porém desde muito cedo empreendeu críticas ao seu mestre principalmente no âmbito da religião O extremismo e radicalismo fi zeram com que a carreira acadêmica dele terminasse 18 prematuramente todavia isso lhe possibilitou dedicar mais tempo ao aprofundamento de suas teorias As críticas de Feuerbach ao idealismo de Hegel foram decisivas para a reformulação materialista do pensamento hegeliano MONDIN 1983 A principal obra de Feuerbach foi o livro A Essência do Cristianismo no qual afirma contra Hegel que o verdadeiro papel da filosofia seria por o infinito no finito e não o finito no infinito ou seja A tarefa da filosofia não é provar que o homem é produzido por Deus mas inversamente que Deus é produzido pelo homem não foi a idéia Deus que criou o homem mas o homem que criou a idéia Deus MONDIN 1983 p 93 O princípio fundamental do materialismo é portanto que a matéria gera o pensamento quando atinge o seu mais alto estágio de desenvolvimento Feuerbach afirma que o ser humano criou a ideia de Deus como uma projeção daquilo que considera perfeito em vista da incapacidade de alcançálo por conta própria MONDIN 1983 As ideias de Feuerbach influenciaram profundamente o pensamento de Karl Marx KARL MARX Karl Marx 18181883 escreveu muitas de suas obras a dois punhos com o amigo Friedrich Engels 18201895 A filosofia de Marx e Engels não é produto de trabalho realizado atrás de uma escrivaninha de universidade mas resultado de sua militância nos movimentos proletários de seu tempo Dois pensadores ofereceram contribuições decisivas para o pensamento marxista Hegel e Feuerbach Do sistema hegeliano Marx adotou a lógica dialética pois estava convencido do seu poder explicativo Entretanto discordava de Hegel na questão do idealismo para Marx no princípio da realidade não está a pura ideia mas ao contrário o princípio da realidade está na vida material Essa por sua vez foi uma ideia assimilada de Feuerbach Dessa maneira Marx procede a uma inversão do sistema hegeliano colocandoo de cabeça para baixo Portanto no marxismo o mundo material antecede o mundo das ideias Em outras palavras as teorias não são produtoras da realidade antes são frutos dessa SELL 2009 19 Assim a história não é fruto do espírito absoluto mas é produto do trabalho humano As pessoas na medida em que interagem para suprirem as suas necessidades desencadeiam os processos históricos Isso levara Marx a afirmar que o modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social política e intelectual em geral MARX apud SELL 2009 p 50 E foi com base nesse pressuposto fundamental que Marx se propôs a analisar a sociedade de seu tempo KARL MARX AUGUSTO COMTE AUGUSTO COMTE No século anterior os iluministas haviam se dedicado com afinco para derrubar o antigo regime Contudo por terem se dedicado de forma tão entusiasmada e abnegada para derrubarem o feudalismo e a monarquia acabaram criando uma 20 mentalidade de revolução tão intensa que mesmo depois da tomada do poder pela burguesia e queda dos antigos senhores feudais a sociedade foi tomada por um constante caos A sociedade passou a sofrer com constantes revoluções greves manifestações e desordem A mentalidade de busca por mudança igualdade de direitos e superação de opressão havia sido propagada de tal forma pelos iluministas que depois deles terem se tornado o poder oficial não conseguiram conter a revolta daqueles que se tornaram os seus oprimidos Desde então alguns intelectuais também provenientes em grande parte da mesma burguesia passaram a se ocupar com a organização da nova sociedade que estava se constituindo Depois de a revolução colocar a burguesia no poder os detentores do capital era preciso criar mecanismos que aquietassem as massas principalmente de operários e trabalhadores que continuavam com o espírito revolucionário Essa nova classe de pensadores não se ocupou mais em criticar o antigo sistema não mantinha mais uma atitude negativa diante do sistema todavia passou a defender o novo sistema que estava se instalando o sistema capitalista Eles viam o capitalismo ascendente como algo positivo e benéfico o qual levaria à superação de todos os problemas da sociedade A atitude positiva desse novo grupo de pensadores levou à caracterização da sua linha de pensamento positivismo Basicamente esses pensadores precisaram responder a três questões fundamentais para a compreensão das transformações sociais em curso 1 Identificar quais as causas das transformações 2 Apontar as características da sociedade moderna 3 Discutir o que fazer diante dos problemas sociais Foi para tentar responder a esse conjunto de questões que em 1830 Augusto Comte 17981857 apresentou no seu livro chamado Curso de Filosofia Positiva a ideia de fundar uma física social que seria um saber encarregado de aplicar o método científico para o estudo da sociedade De acordo com ele com uma ciência a nos mostrar as leis de funcionamento da sociedade saberíamos como enfrentar os 21 problemas do mundo moderno pois a tarefa da ciência era justamente prever para prover MARTINS 2006 Em 1839 Augusto Comte alterou o nome dessa ciência para sociologia do latim socius e do grego logos que significa estudo do social nome que perdura até hoje Augusto Comte é considerado comumente como o fundador da Sociologia MARTINS 2006 A evolução teórica de Comte pode ser dividida em duas fases SELL 2009 A fase positiva que vai até 1845 quando ocorre a morte de Clotilde de Vaux por quem ele era apaixonado A obra fundamental desse período é o Curso de Filosofia Positiva A partir daí começa a fase mística de sua obra centrada no objetivo de criar a religião da humanidade cuja deusa razão lembra diretamente a figura feminina de Clotilde As obras fundamentais desse período são O Catecismo Positivista e o Sistema de Política Positiva Apesar da característica religiosa da fase final de sua vida Augusto Comte pode ser considerado um dos mais destacados representantes do movimento iluminista ou seja daquela concepção de que a razão ou a ciência devem ocupar o lugar da religião na organização da sociedade Entre as influências recebidas por Comte do Iluminismo está a ideia de aplicar a precisão do cálculo aos estudos dos fenômenos sociais Filosofia Contemporânea do Pragmatismo à Teoria da Ação Comunicativa Caríssimo a acadêmico a continuaremos a refletir sobre a filosofia contemporânea Todavia dedicarnosemos a estudar os sistemas filosóficos próprios do século XX Sendo assim falaremos de Pragmatismo Filosofia da Linguagem Hermenêutica Filosófica e Teoria da Ação Comunicativa propostas filosóficas que tentam responder à crise filosófica dos grandes sistemas produzidos nos séculos anteriores PRAGMATISMO 22 O Pragmatismo foi uma corrente filosófica surgida nos Estados Unidos no final do século XIX Conforme Martins Filho o pragmatismo É a vertente lógica do utilitarismo a verdade seria medida por sua utilidade MARTINS FILHO 2000 p 290 grifos no original Portanto a principal ideia do Pragmatismo é a de que o conhecimento é uma atividade participativa não impessoal e consiste de explicações válidas sendo o instrumento mais importante para nossa sobrevivência TRIGO 2009 p 175 Por conseguinte para os pragmáticos o conhecimento válido é aquele que tem uma aplicação prática ou então que funciona ARANHA MARTINS 2003 Entre os principais expoentes do Pragmatismo estão Charles Sanders Peirce 18391914 William James 18421910 e John Dewey 18591952 Charles Sanders Peirce Charles Sanders Peirce 18391914 é considerado o pai do pragmatismo americano Duas proposições feitas por ele foram discutidas por gerações e são fundamentais na história do pragmatismo a A questão da validade do conhecimento pode ser discutida e resolvida indutivamente como um problema científico b A verificação experimental se baseia no exame das consequências sic práticas de um conhecimento dado MONDIN 1983 p 153 Peirce também contribuiu significativamente para a linguística a partir de sua teoria dos signos semiótica Para Peirce todo pensamento é sinal e participa Figura CHARLES SANDERS PEIRCE 23 essencialmente da natureza da linguagem MARTINS FILHO 2000 p 291 grifos no original Dessa forma por ser o pensamento de natureza linguística não se pensa sem sinais A estrutura do pensamento possui três termos o sinal o objeto e o intérprete William James Figura William James William James 18421910 foi um professor de medicina em Harvard Foi o difusor do pragmatismo como filosofia que foge das abstrações apriorismos princípios e dogmas para se voltar para o concreto preocupandose apenas com os resultados das concepções que seriam sempre superáveis MARTINS FILHO 2000 p 292 grifos no original O pragmatismo de James é considerado como sinônimo de relativismo absoluto no que diz respeito à metafísica e à ética MARTINS FILHO 2000 James entendia a verdade a partir de uma concepção instrumental as ideias só seriam verdadeiras enquanto nos favorecerem na relação com o ambiente circundante Por esse viés ter posse da verdade é um meio e não um fim Logo não existe uma verdade objetiva MARTINS FILHO 2000 24 John Dewey John Dewey 18591952 transformou o pragmatismo em instrumentalismo Fundou um colégio experimental baseado nesses princípios MARTINS FILHO 2000 Através de Dewey o pragmatismo exerceu forte influência no campo da educação Os métodos educativos por ele influenciados enfatizarão a efetividade do aprendizado TRIGO 2009 Dewey também foi precursor do método aprender fazendo utilizado até hoje em escolas do mundo inteiro A escola tradicional era baseada no método unidirecional em que o professor ensinava e os alunos aprendiam Dewey defendia uma escola em que os próprios alunos eram sujeitos ativos do seu aprendizado Segundo ele a experiência escolar é aspecto essencial da educação ARANHA MARTINS 2003 FILOSOFIA DA LINGUAGEM A Filosofia da Linguagem ou Filosofia Analítica representa o esforço de alguns pensadores no sentido de rever o conceito de verdade Embora várias correntes filosóficas tentaram realizar o mesmo empreendimento a Filosofia Analítica concentra sua crítica na tentativa tradicional de conceber a verdade na relação sujeito e objeto Assim essa corrente de pensamento desloca sua reflexão para a linguagem Tal corrente de pensamento desenvolveuse sobretudo em países de língua inglesa como Inglaterra Estados Unidos e Austrália embora tenha vertentes na Alemanha Áustria e Polônia Em resumo a Filosofia da Linguagem considera que o tratamento e a solução de problemas filosóficos devem ser feitos através da análise lógica da linguagem No entanto ao falar de linguagem os filósofos da linguagem não se referem por exemplo à língua portuguesa inglesa espanhola etc mas da linguagem como estrutura Figura John Dewey 25 lógica subjacente a todas as formas de representação linguísticas e mentais MARCONDES 2001 p 261 nesse sentido a questão fundamental para a Filosofia da Linguagem é como um juízo algo que eu afirmo ou nego sobre o mundo pode ter significado e como podemos afirmar que esses juízos são verdadeiros ou falsos Bertrand Russel Bertrand Russel 18721970 foi professor no Trinity College de Cambridge Combateu o idealismo embora inicialmente o tenha adotado Em busca de rigor científico para a Filosofia retorna ao empirismo Russel diferencia a linguagem comum da linguagem filosófica afirmando ser a linguagem comum inexata Russel chama sua filosofia de Atomismo Lógico considerando que ela seria uma associação entre o empirismo e a lógica MARTINS FILHO 2000 Ludwig Wittgenstein 26 Ludwig Wittgenstein 18891951 foi o principal representante da Filosofia da Linguagem Geralmente falase de dois Wittgenstein A obra Tractatus Logico Philosophicus marca o 1º Wittgenstein Segundo Martins Filho 2000 essa obra tornouse a bíblia dos neopositivistas Já o 2º Wittgenstein renegou todas as suas teses neopositivistas anteriores Se na primeira fase de seu pensamento Wittgenstein entendia a linguagem como tendo uma estrutura básica e uma lógica formal na segunda fase de seu pensamento essas ideias desaparecem dando lugar à ideia de jogos de linguagem MARCONDES 2001 HERMENÊUTICA Podemos definir a hermenêutica de forma genérica como teoria ou filosofia da interpretação do sentido A percepção de que as expressões humanas contêm um elemento significativo querem dizer alguma coisa deu origem ao problema hermenêutico O problema hermenêutico trabalha com a seguinte problemática como se dá o processo de significação das expressões humanas Ou em outras palavras com elas ganham algum significado BLEICHER 2002 A hermenêutica tem longa história Originalmente o termo hermenêutica era teológico designando o método de interpretação da Bíblia Com o passar do tempo o termo passou a designar todo o esforço científico de interpretação de um texto difícil de compreender e que por conseguinte exigira uma explicação No século XIX Dilthey relacionou o termo hermenêutica à sua filosofia da compreensão vital Conforme Japiassú e Marcondes 1996 p 126 as formas da cultura no curso 27 da história devem ser apreendidas através da experiência íntima de um sujeito cada produção espiritual é somente o reflexo de uma cosmovisão e toda filosofia é uma filosofia de vida Por isso Dilthey estabeleceu a hermenêutica como alicerce de todo o edifício das ciências do espírito das ciências que tinham o ser humano e o seu comportamento como objeto de estudo REALE ANTISERI 1991 Contudo com Heidegger a hermenêutica foiconcebida não como um instrumento à disposição do ser humano mas como uma forma de ser do ser humano Nas palavras de Reale e Antiseri 1991 p 628 O homem cresce sobre simesmo é um novelo de experiências E cada nova experiência é uma experiência que nasce sobre o fundo das anteriores e as reinterpreta Em outras palavras o ser humano é constitutivamente intérprete de si e do seu mundo Entre os principais representantes da Filosofia Hermenêutica podemos destacar Hans Georg Gadamer 19002002 FILOSOFIA HERMENÊUTICA HANS GEORG GADAMER Hans Georg Gadamer 19002002 foi o fundador da hermenêutica contemporânea Gadamer definia a hermenêutica como a ciência da interpretação de textos em que se busca o sentido exato desses Entretanto Gadamer afirmava que o intérprete ao ler um texto não o lê com mente vazia mas o lê com sua pré compreensão e com seus préjuízos A essa précompreensão e a esse préjuízo Gadamer chamava de memória cultural do intérprete A memória cultural influenciará no modo como o intérprete entenderá o texto MARTINS FILHO 2000 28 Segundo Gadamer a partir da análise do texto com os preconceitos do intérprete temse como resultado um primeiro significado devendo ser sempre revisto a começar por uma inserção mais profunda no texto com o passar do tempo a melhor compreensão do contexto histórico em que foi escrito e dos conhecimentos sobre as questões que aborda leva à descoberta de novos sentidos e significados para o texto MARTINS FILHO 2000 p 310 Desta maneira os antigos sentidos e significados atribuídos ao texto tornamse insustentáveis A esse processo Gadamer chama de círculo hermenêutico Gadamer também fala da alteridade do texto ao lermos um texto devemos deixar que ele nos diga algo Não devemos querer a sua adaptação aos nossos próprios interesses Todavia isso não supõe neutralidade na interpretação porém que ao interpretar devemos tomar conta de nossos preconceitos De acordo com Martins Filho Gadamer Reconhece a necessidade de superar os preconceitos mas sua postura cética quanto à possiblidade concreta de se chegar as verdades objetivas e definitivas dá o tom de relativismo à sua concepção exegética MARTINS FILHO 2000 p 310 TEORIA DA AÇÃO COMUNICATIVA A Teoria da Ação Comunicativa é desenvolvida pelo filósofo alemão Jürgen Habermas Na Teoria da Ação Comunicativa Habermas critica a filosofia da consciência tradicional por estar fundamentada em uma reflexão solitária centrada no sujeito Em oposição a esse modelo Habermas propõe que a razão não deve ser monológica no entanto dialógica Para Aranha e Martins 2003 p 152 são os sujeitos situados historicamente que pela fala estabelecem uma relação interpessoal numa comunidade comunicativa Por conseguinte a verdade não resulta de uma reflexão isolada feita por uma única pessoa pelo contrário ela é fruto do diálogo orientado por regras estabelecidas pelos membros do grupo numa situação dialógica ideal ARANHA MARTINS 2003 p 153 Ao falar de uma situação dialógica ideal pressupõese que devam existir condições a possibilitarem a todos os sujeitos participantes do discurso falarem 29 De acordo com Habermas na sociedade moderna há dois elementos fundamentais a o poder político e o poder econômico b mundo da vida com as relações sociais a cultura e a personalidade No sistema a ação comunicativa pode se apresentar como ação estratégica que visa obter sucesso resultados Já no mundo da vida há a ação comunicativa que visa ao entendimento entres os indivíduos e comunidades O fundamento disso é a argumentação baseada em princípios racionais Pensamento Filosófico no Brasil Caríssimo a acadêmico a dedicaremos um espaço para refletirmos sobre a filosofia brasileira Por isso faremos um breve percurso histórico sobre algumas correntes filosóficas que influenciaram o desenvolvimento da filosofia em solo brasileiro Todavia nossa intenção neste estudo não é elaborar um cronograma histórico e detalhado deste desenvolvimento filosófico Pelo contrário a intenção primária é lhe dar um panorama geral da filosofia produzida em solo brasileiro Para tanto demarcaremos nossa reflexão em quatro momentos principais No primeiro momento refletiremos sobre a filosofia produzida na época do Brasil colônia No segundo momento trataremos dos desenvolvimentos filosóficos na época do Brasil Império No terceiro momento nos concentraremos na produção filosófica da época da República E no último momento refletiremos rapidamente sobre a filosofia brasileira na atualidade Antes de adentrarmos em nossas reflexões vale observar que disponibilizaremos com o intuito de fixação do conteúdo tratado na seção sobre a filosofia brasileira na atualidade um texto na Leitura Complementar o qual tratará de forma mais esclarecedora as questões pontuadas por nós nesta última seção FILOSOFIA NO BRASIL COLÔNIA Segundo Cerqueira 2011 em 1555 o rei de Portugal D João III entregou aos jesuítas o Colégio de Artes fundado pelo próprio rei em 1548 na Universidade de 30 Coimbra A partir desse momento os jesuítas assumiram o controle do ensino público em todo o reino de Portugal o que perdurou até as reformas realizadas na segunda metade do século XVIII CERQUEIRA 2011 p 164 À vista disso quando o Brasil foi colonizado pelos portugueses o ensino de Filosofia se deu sob a tutela dos padres jesuítas que em 1580 começaram a ensinar Filosofia no Colégio de Olinda MARTINS FILHO 2000 Conforme relata Cretella Júnior 1976 p 200 Nos três primeiros séculos de nossa história mal se pode falar em filosofia no Brasil porque além da civilização aqui encontrada e da civilização para aqui trazida em missão servil o elemento religioso agrupando em ordens com predominância jesuítica está mais preocupado com a forma do que com o conteúdo dedicandose e praticando a retórica e a eloquência em primeiro lugar e entregandose à cogitação filosófica apenas como elemento acessório para fundamentar de vez em quando a explicação de teses de natureza teológica No século XVI afirma Cretella Júnior 1976 por causa da orientação humanística predominante nas escolas jesuítas a Filosofia é em sua totalidade didática Só no século seguinte que a preocupação tanto nas escolas eclesiásticas como em elaborações filosóficas leigas será voltada para questões mais abstratas preocupandose com as grandes teses da Escolástica No entanto no final do século XVIII com a expulsão dos jesuítas determinada pelo Marquês de Pombal começa um processo de emancipação filosófica em solo brasileiro CERQUEIRA 2011 CRETELLA 1976 MARTINS FILHO 2000 31 Principais correntes filosóficas Entre as principais correntes filosóficas desse período podemos citar a Segunda Escolástica e o Empirismo Mitigado Segunda Escolástica Caracterizase como o início da Filosofia no Brasil no período da Colônia A Segunda Escolástica como o próprio nome já diz preservava a tradição tomista medieval Entre os principais representantes da Segunda Escolástica podemos citar os padres Manoel da Nóbrega e Antônio Vieira Manoel da Nóbrega Manoel da Nóbrega 15171570 foi um padre jesuíta doutor em Filosofia e Direito Canônico pela Universidade de Coimbra Foi fundador de São Paulo juntamente com José de Anchieta Dedicouse com afinco na catequização dos índios brasileiros MARTINS FILHO 2000 Em 1556 escreve um estudo sobre a natureza humana a partir de uma dupla vertente a natural e a cristã intitulada de Diálogo sobre a conversão do Gentio A obra trata da liberdade do índio defende a liberdade do índio na medida em que o nativo participa da natureza humana haja vista que os colonizadores negavam a condição de humanidade aos índios MARTINS FILHO 2000 Martins Filho 2000 p 374 atesta sobre Manoel da Nóbrega Procura adaptar a catequese aos costumes nativos em vez de impor os valores europeus Combate no entanto a poligamia e a antropofagia praticadas entre os indígenas a par de recordar aos colonizadores europeus que o fato de haverem cruzado o oceano não os colocava fora das limitações da moral e do direito Antônio Vieira 32 Antônio Vieira 16081697 notabilizouse pelos seus sermões Em seus sermões unia a beleza da forma com o conteúdo Chegou a ter rixas com algumas autoridades portuguesas por não defender a escravidão dos indígenas brasileiros Escreveu um Curso de Filosofia MARTINS FILHO 2000 Empirismo Mitigado A partir da segunda metade do século XVIII surge um movimento filosófico chamado de empirismo mitigado Essa corrente filosófica é caracterizada por uma oposição ao tomismo disseminado pelas companhias jesuítas O empirismo mitigado propunha por influência do Marquês de Pombal Sebastião José de Carvalho e Melo a redução do conhecimento filosófico a um empirismo cientificista Entre os principais representantes do empirismo mitigado podemos citar Matias Aires da Silva Eça Matias Aires da Silva Eça Matias Aires da Silva Eça 17071763 nascido em São Paulo estudou Filosofia em Coimbra e Ciências Naturais em Paris Em sua obra Reflexões sobre a Vaidade dos Homens parte de uma concepção de que a natureza humana é irremediável e completamente corrupta Constata assim a vaidade como traço característico de todas as realizações sociais cabendo à Providência através da Natureza o aproveitamento benéfico desse defeito generalizado MARTINS FILHO 2000 p 376 Assim sua exposição tem tom fortemente moralista Figura Brasil Imperial 33 VICTOR COUSIN Já em sua obra Problemas de Arquitetura Civil parte em busca de um método seguro a possibilitar o conhecimento e o domínio da Natureza MARTINS FILHO 2000 A FILOSOFIA NO BRASIL IMPÉRIO De acordo com Cretella Júnior 1976 a vinda da família real para o Brasil trouxe significativas vantagens para a evolução do pensamento Nesse período Já se pensa na criação de Institutos de uma Universidade dáse importância ao mundo da cultura CRETELLA JÚNIOR 1976 p 201 Acrescentase a isso a emancipação política do Brasil que vai promover novos rumos ao pensamento filosófico embora ainda dominado pela retórica e pela eloquência CRETELLA JÚNIOR 1976 34 Santos 2016 discorre que nesse período o pensamento filosófico devido às mudanças culturais e políticas pelas quais passa o Brasil preocupase principalmente com questões relacionadas à liberdade e consciência até que ponto havia liberdade havia de fato consciência de liberdade nacional SANTOS 2016 p 117 Principais correntes filosóficas Entre as principais correntes filosóficas desse período podemos citar Ecletismo e o Positivismo Ecletismo A corrente eclética do pensamento filosófico desenvolveuse no Brasil especialmente no século XIX Teve como grande influenciador as obras de Victor Cousin dado ao seu caráter sincrético muito adaptável à natureza conciliatória do brasileiro Para Martins Filho a partir dessa perspectiva os vários elementos considerados mais perfeitos nas distintas doutrinas filosóficas eram selecionados e aglutinados num todo que se pretendia harmônico MARTINS FILHO 2000 p 380 Como consequência do programa imposto pelo Colégio de D Pedro II o ecletismo passou a ser a doutrina filosófica oficial do Brasil entre os anos de 1840 e 1880 MARTINS FILHO 2000 Entre os principais representantes dessa corrente filosófica podemos destacar Eduardo Ferreira França Eduardo Ferreira França Eduardo Ferreira França 18091857 era um médico baiano Escreveu a obra Investigações sobre Psicologia Suas reflexões passaram do sensualismo de Condilac para o espiritualismo de Biran passando pela escola escocesa do senso comum de Reid e o ecletismo de Cousin Em suas reflexões sobre psicologia racional 35 reflete as concepções em voga na Europa espiritualiza todos os fenômenos psíquicos subjetiva o conhecimento e afirma o inatismo das ideias MARTINS FILHO 2000 Positivismo A mentalidade democrática adquirida pelo Brasil permeia na Escola Militar que passa a ser um reduto muito produtivo de conhecimento filosófico divulgando a doutrina positivista de Augusto Comte Segundo Martins Filho MARTINS FILHO 2000 é essa influência positivista que norteará a Proclamação da República 1822 Nesse sentido na segunda metade do século XIX o positivismo modela o ideário brasileiro em quatro vertentes 1 a ortodoxa com Miguel Lemos e Teixeira Mendes 2 a ilustrada com Pereira Barreta e Pedro Lessa 3 a política com Júlio de Castilhos e 4 a militar com Benjamim Constant MARTINS FILHO 2000 Na esteira do positivismo comtiano os positivistas brasileiros professam uma confi ança ilimitada na Ciência tomandoa como único critério de verdade Por conseguinte dado ao esforço positivista de afastar a influência da religião na sociedade brasileira temse o embate entre Estado e Igreja MARTINS FILHO 2000 Escola do Recife Como oposição ao positivismo e ao ecletismo desenvolvese na Faculdade de Direito do Recife uma verdadeira escola de pensamento calcada numa reflexão imanentista de inspiração germânica Kant cuja síntese constituise numa concepção monista e mecanicista do mundo e da sociedade na qual a cultura é a obra especificamente humana em contraposição à Natureza MARTINS FILHO 2000 p 388 A FILOSOFIA NA REPÚBLICA Nos últimos anos do segundo império e durante a eclosão do republicanismo em solo brasileiro o pensamento filosófico adquire grande notoriedade A filosofia é 36 cultivada principalmente por sujeitos envolvidos com a vida pública e cultural do país Podemos juntar a isso a transição do século XIX para o século XX coincidindo com a passagem de um regime político a outro e isso segundo Cretella Júnior 1976 p 204 é importante para o estudioso da filosofia Principais correntes filosóficas Martins Filho atesta a corrente culturalista parte do pressuposto da existência de uma pluralidade de perspectivas filosóficas MARTINS FILHO 2000 p 412 grifos no original Essas várias perspectivas existentes afirma a corrente culturalista devem ser respeitadas e compreendidas tendo em vista que tanto no campo das ciências naturais quanto no campo das ciências humanas não há a possibilidade de fundamentação de um discurso universal válido MARTINS FILHO 2000 Portanto o culturalismo estuda o homem sob o ponto de vista das causas finais a partir dos objetivos que ele se propõe a atingir ao invés do estudo das causas eficientes a partir de um determinismo Exemplo o homem é assim devido a fatores históricos que o condicionam Logo a evolução da cultura constituise como objeto de estudos da corrente culturalista considerando que as várias civilizações são diferentes modos de hierarquização de valores MARTINS FILHO 2000 p 412 grifos no original O PENSAMENTO FILOSÓFICO BRASILEIRO NA ATUALIDADE Uma análise profunda dos pensadores brasileiros demonstra a ausência de um pensamento filosófico podendo se chamar de brasileiro Nesse contexto é bem verdadeira a afirmação de Cretella Júnior ao dizer que Não criamos mas importamos E importamos quase sempre o melhor CRETELLA JÚNIOR 1976 p 205 Se na época em que Cretella Júnior escreveu esse fato era uma condição da 37 reflexão filosófica praticada em solo brasileiro ainda hoje tal realidade é mais do que perceptível Nas palavras de Cretella Júnior No campo filosófico se não atingimos ainda a altura de artistas criadores daqueles que elaboram sistemas completos que nada mais são do que atitudes diante da vida expressas de maneira global podemos reivindicar a característica de professores modernos atualizados que dominam as grandes coordenadas do pensamento antigo e moderno aceitando a construção do pensamento antigo e moderno por inteiro ou passandoa pelo crivo de percuciente análise CRETELLA JÚNIOR 1976 p 207 grifos no original É nesse sentido que Santos 2016 declara que falar de originalidade na filosofia brasileira é bem problemática haja vista que tal originalidade no sentido estrito da palavra talvez não exista O interesse dos filósofos brasileiros resumese à História da Filosofia isto é repetir em tom professoral os grandes sistemas filosóficos do passado De acordo com Silveira 2016 a filosofia brasileira vive em uma espécie de estufa e esse ambiente artificial talvez afirma ele tenha sido elaborado desde o início da reflexão filosófica no contexto brasileiro Por essa razão a filosofia se fecha num círculo hermético de tal forma que não são deixadas zonas de contato com o restante da cultura brasileira ou portas para o ambiente exterior SILVEIRA 2016 p 262 Assim para Silveira O cultivo da história da tradição filosófica desenvolvido como objeto exclusivo de estudo nos cursos de formação do Brasil consolidou essa situação SILVEIRA 2016 p 262 Portanto Silveira 2016 insiste na urgência de que a filosofia brasileira precisa levar em conta a realidade brasileira principalmente a realidade desigual e pobre de nosso país Em suas palavras SILVEIRA 2016 p 277 A partir dessa perspectiva Silveira 2016 aconselha que essa não é uma necessidade direcionada ao futuro pelo contrário essa é uma necessidade para tornar a filosofia pertinente à realidade brasileira e isso deve ser feito agora 38 Referências ARANHA Maria Lúcia Arruda MARTINS Maria Helena Pires Filosofando introdução à filosofia 3 ed São Paulo Moderna 2003 Curso de filosofia os filósofos do ocidente 6 ed São Paulo Paulus 1983 v 3 Coleção filosofia 3 Curso de filosofia os filósofos do ocidente 7 ed São Paulo Paulus 1981 v 2 Coleção filosofia 3 Introdução à filosofia problemas sistemas autores obras São Paulo Paulus 1980 v1 Introdução à filosofia problemas sistemas autores obras São Paulo Paulus 1983 v3 CAMELLO J O Maurílio A questão da verdade na filosofia Theoria Revista Eletrônica de Filosofia vol 1 2009 CHAUÍ Marilena Convite à filosofia 13 ed São Paulo Ática 2008 CRETELLA JÚNIOR José Novíssima história da filosofia 3 ed Rio de Janeiro ForenseUniversitária 1976 DESCARTES René Discurso do método 2 ed São Paulo Martins Fontes 1996 Clássicos JAPIASSÚ Hilton MARCONDES Danilo Dicionário de filosofia 3 ed rev e ampliada Rio de Janeiro Jorge Zahar 1996 JASPERS Karl Introdução ao pensamento filosófico São Paulo Cultrix 2010 KANT Emmanuel Crítica da razão pura Versão para eBook Disponível em httpswwwmarxistsorg portugueskant1781mespurapdf MARCONDES Danilo Iniciação à história da filosofia dos présocráticos a Wittgenstein 6 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed 2001 MARTINS FILHO Ives Gandra Manual esquemático de história da filosofia 2 ed São Paulo LTr 2000 MONDIN Battista Curso de filosofia os filósofos do ocidenteSão Paulo Paulus 1981 v 1 Coleção filosofia MORAIS M M Emilia A natureza do filósofo kriterion Belo Horizonte nº 122 Dez2010 p 473488 PERUCA Eric Sobre a filosofia pósmetafísica Disponível em httpericperucablogspotcombr201203 sobrefilosofiaposmetafisicahtml 39 REALE Giovanni ANTISERI Dario História da filosofia do romantismo até nossos dias 2 ed São Paulo Paulus 1991 v3 Coleção filosofia REZENDE Antonio Org Curso de filosofia para professores e alunos dos cursos de segundo grau e de graduação 9 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed SEAF 1998 SANTOS Thiago Ferreira Panorama histórico da filosofia no Brasil da chegada dos jesuítas ao lugar da filosofia na atualidade Seara Filosófica Brasil de Pelotas n12 v6 p 113127 2016 ZANONI P Ana BITENCOURT Luciano FARINA Erich A lógica aristotélica Revista Pandora Brasil Nº 75 Outubro 2016
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1 FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA 2 FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA DÚVIDAS E ORIENTAÇÕES Segunda a Sexta das 0900 as 1800 ATENDIMENTO AO ALUNO editorafamartfamartedubr 3 Sumário CORRENTES FILOSÓFICAS DA MODERNIDADE 4 O RACIONALISMO DE RENÉ DESCARTES 4 O EMPIRISMO DE FRANCIS BACON JOHN LOCKE E DAVID HUME 6 A PROVA ONTOLÓGICA DA EXISTÊNCIA DE DEUS 6 REVOLUÇÃO FRANCESA 9 RACIONALISMO OU EMPIRISMO 10 PRAGMATISMO 21 Pensamento Filosófico no Brasil 29 Referências 38 4 CORRENTES FILOSÓFICAS DA MODERNIDADE Filosofia Moderna do Racionalismo ao Empirismo Caro a acadêmico a a sociedade mudou muito durante a Modernidade Essas mudanças e especialmente a revolução científica empreendida nos mais variados campos do conhecimento quebraram o modelo de inteligibilidade baseado na filosofia aristotélica muito próprio da filosofia medieval O modelo explicativo baseado na lógica dedutiva não era mais suficiente para dar conta das novas descobertas científicas Diante dessa nova realidade surgiu a pergunta ou mais precisamente o receio de que haveria a possibilidade de se cair em novos enganos Por essa razão uma pergunta chave para a filosofia na modernidade assentouse sobre a questão do método como seria possível a construção de conhecimentos e de novas teorias e como garantir a sua autenticidade Em última análise a grande dúvida continua sendo a questão da verdade que sempre foi o alvo da filosofia O RACIONALISMO DE RENÉ DESCARTES RENÉ DESCARTES O principal expoente do Racionalismo é o filósofo René Descartes 15961650 Ele também é conhecido pelo seu nome latino Cartesius razão pela qual também se chama o seu pensamento de cartesiano Dos seus estudos de matemática deriva o plano cartesiano 5 A preocupação de Descartes foi encontrar uma verdade inicial que não pudesse ser posta em dúvida e sobre a qual todos os demais conhecimentos poderiam ser assentados Como partiu do pressuposto de que tudo poderia em princípio ser posto em dúvida fez da própria dúvida o seu método investigativo Descartes Começa duvidando de tudo das afirmações do senso comum dos argumentos da autoridade do testemunho dos sentidos das informações da consciência das verdades deduzidas pelo raciocínio da realidade do mundo exterior e da realidade do seu próprio corpo ARANHA MARTINS 2003 p 131 Segundo esse raciocínio praticamente tudo podia ser posto em dúvida pois de nada se tinha garantias que assegurassem a realidade do que se apresentava Após gigantesco esforço intelectual Descartes concluiu haver apenas uma única coisa da qual não se podia duvidar A única coisa de que não podemos duvidar é que estamos aqui fazendo tais questionamentos Portanto o indivíduo que duvida é o ponto de partida para a construção do conhecimento Desse princípio vem a afirmação de Descartes segundo a qual penso logo existo Em latim ela é escrita da seguinte forma cogito ergo sum ou seja o ser que pensa é verdadeiro caso contrário toda a existência perde a sua consistência nada faria sentido Porém até esse momento Descartes não conseguiu a garantia de que o seu pensamento efetivamente corresponda à realidade Ele se perguntava como poderíamos ter certeza de que a nossa vida e o mundo como um todo não seriam apenas um sonho O que garante que o meu raciocínio corresponde à realidade ou que as coisas de nossa mente têm existência e não são mera imaginação Para resolver esse problema e provar que o mundo tem realidade lançou mão do que ficou conhecido como prova ontológica da existência de Deus Como Descartes queria demonstrar que a razão humana tem uma capacidade gigantesca propôsse a provar com ela a existência de Deus sendo a coisa mais difícil de ser provada Se pudesse provar a existência de Deus com o uso da simples razão então todas as outras coisas poderiam ser explicadas com a razão da mesma forma 6 Como se pode perceber a partir de Descartes há uma gigantesca valorização da razão A partir dela podese entender e explicar a realidade e assim não se precisa mais de crenças sobrenaturais O EMPIRISMO DE FRANCIS BACON JOHN LOCKE E DAVID HUME A PROVA ONTOLÓGICA DA EXISTÊNCIA DE DEUS FRANCIS BACON No Empirismo os filósofos ressaltaram o valor da experiência como ponto de partida do pensamento e elemento essencial na formação do conhecimento A valorização da experiência para a constituição do conhecimento era algo radicalmente novo pois até então ela era vista com maus olhos principalmente pela Igreja e Teologia mais tradicionais Nesse sentido segundo Trigo 2009 p 127 experimentar podia significar duvidar e a dúvida era a porta de entrada da heresia do pecado e da condenação pelos tribunais civis e religiosos da época Para a Teologia da Idade Média todas as verdades já haviam sido reveladas pela Bíblia e por isso não havia necessidade de experimentos para fazer novas descobertas Também o dualismo psicofísico resultante da teoria cartesiana via a experiência feita pelos sentidos do corpo com ressalvas pois elas poderiam ser enganosas 7 Vamos analisar brevemente o pensamento dos três principais representantes do Empirismo Francis Bacon John Locke e David Hume Francis Bacon Francis Bacon 15611626 valorizava o saber instrumental o qual segundo ele possibilitava a dominação da natureza Também ele assim como Descartes estava interessado no método da ciência O seu pensamento se caracteriza por uma forte crítica à lógica aristotélica visto que a considerava extremamente limitante para a investigação científica Lembrando que na lógica aristotélica as conclusões nunca poderiam extrapolar os termos do argumento não havia espaço para inovação Por isso enfatizou em sua obra o valor da indução como método científico válido Na indução permitiase a generalização a partir de estudos determinados ARANHA MARTINS 2003 Para entender melhor as teorias de Bacon vamos pensar em dois exemplos Exemplo 1 no âmbito da medicina constantemente são descobertas novas técnicas de tratamento de doenças novos procedimentos cirúrgicos e novos medicamentos Segundo a ciência embasada na lógica aristotélica os novos procedimentos poderiam ser considerados válidos somente depois de testados em todos os humanos da face da terra pois do contrário as conclusões estariam extrapolando os pressupostos Não é o que acontece na área da saúde já que nessa área é empregado o método indutivo depois de desenvolvido um novo procedimento ele é testado em um conjunto limitado de indivíduo e tendose sucesso em percentual significativo ele passa a ser adotado como método de tratamento válido Exemplo 2 nas áreas de gestão e marketing é comum o uso de pesquisas de mercado antes da introdução de um novo produto no mercado Essas pesquisas não contemplam todas as pessoas que podem ser potenciais compradores do novo produto no entanto fazse uma estimativa a partir de entrevista com uma amostra da população A partir dos resultados obtidos através da amostra induzse que o restante da população irá se comportar de forma parecida Criouse assim com o método indutivo uma possibilidade enorme para a ciência a qual estava se desenvolvendo Por outro lado a indução é menos precisa 8 do que a dedução Sempre haverá uma possibilidade de a solução não ser eficaz para alguns indivíduos A partir do desenvolvimento do método indutivo desenvolveuse o ramo da ciência do conhecimento chamada de análise estatística John Locke 16321704 ressaltou o valor da experiência para a formação do conhecimento seguindo uma via mais psicológica Ele distinguiu duas fontes possíveis para a formação das ideias no ser humano a sensação e a reflexão A sensação resulta das transformações ocorridas em nossa mente a partir da experiência dos sentidos Quando estamos em contato com a realidade do mundo de alguma forma essas imagens são gravadas em nossa mente na forma de ideias simples Assim através da sensação formase no indivíduo um leque considerável de ideias simples A reflexão por sua vez consiste na associação de ideias simples que fazemos em nossas mentes formando ideias complexas As ideias complexas conforme Locke não possuem uma existência e validade objetiva são nomes de que nos servimos para denominar e ordenar as coisas ARANHA MARTINS 2003 p 133 9 Assim a contribuição de John Locke para a filosofia consiste na teoria de que o ser humano acumulando ideias simples em sua mente a partir da experiência concreta procede a uma associação destas para a formação de ideias complexas Portanto quanto maior o número de ideias simples acumuladas tanto maior é a probabilidade de se formarem ideias complexas em nossas mentes REVOLUÇÃO FRANCESA DAVID HUME David Hume 17111776 aprofundou as teorias de Francis Bacon e John Locke Hume aceita o princípio de Locke de que a partir da experiência ideias simples são formadas em nossas mentes Entretanto não aceita a teoria de que as ideias complexas resultam da associação de ideias simples no interior da nossa mente Segundo ele somente a experiência é válida para o conhecimento e como não podemos observar o processo de associação de ideias em nosso interior essa não poderia ser uma conclusão científica válida Mas de onde viriam então os pensamentos mais complexos e as teorias filosóficas Para David Hume as ideias complexas se formam com o hábito que é criado nos indivíduos a partir da experiência repetida Quando observamos muitas vezes os mesmos acontecimentos ou fatos parecidos começamos a perceber os princípios de causalidade as semelhanças e dessa forma progressivamente formamse em nossas mentes os traços que delimitam as teorias Por outro lado Hume chamou a atenção para o fato de que nem sempre os fatos observados estão relacionados Com isso ele negou a validade universal do princípio de causalidade e da noção de necessidade a ele associada Em outras 10 palavras Hume acentuou que a realidade poderia ser diferente daquilo que se tornou Ela não é resultado necessário da história que a antecedeu A relação de causa e efeito é um princípio válido para a investigação científica mas ela não é universal válida para todos os fenômenos pois existem fatos não decorrentes necessariamente do que havia antes Dessa forma a observação da sucessão de acontecimentos nos leva a crer que um determinado fato se comportará de forma análoga no futuro sem contudo termos recursos para assegurar isso de modo inquestionável A teoria de David Hume foi revolucionária para a sua época principalmente se considerada sob o prisma da organização política Quando negou o princípio universal da causalidade e necessidade estava ao mesmo tempo dizendo que a organização política do Estado de seu tempo não era uma realidade fruto de um desenvolvimento histórico necessário ou seja que não havia possibilidade de ser de outra forma Dito de outro modo Hume afirmava que a história poderia ser outra pois não há necessariamente uma lógica na sucessão dos acontecimentos RACIONALISMO OU EMPIRISMO Prezado a estudante quem estava certo os racionalistas ou os empiristas O que é mais importante para a formação do conhecimento a razão ou a experiência Poderíamos falar também em teoria e prática O que é mais importante para o aprendizado a teoria ou a prática Essa foi a discussão entre os filósofos empiristas e racionalistas Os racionalistas enfatizavam a centralidade da razão na formação do conhecimento que estava associada principalmente às capacidades inatas do ser humano Já para os empiristas a experiência do mundo era mais fundamental De qualquer forma todos concordavam na centralidade do ser humano no processo do conhecimento Este não é mais visto como tendo uma origem sobrenatural O ser humano é o sujeito da ciência e da história Por extensão podemos afirmar também que temos um papel determinante na reflexão teológica embora confessemos a ação do Espírito de Deus no teologar Em nossa formação profissional na universidade é constante o atrito entre as duas tendências a teoria e a prática Muitas vezes pensamos que a formação precisa ser totalmente voltada para a prática e por conseguinte não gostamos de aulas 11 teóricas Por outro lado ocorre muitas vezes que estudantes se formam no ensino superior e lhes falta justamente o conhecimento teórico o qual lhes pouparia muitos esforços e erros ao longo da vida profissional A formação teológica também é alvo desses questionamentos Filosofia moderna de Kant à Comte Caríssimo a acadêmico a denominase de filosofia contemporânea as correntes de pensamento surgidas entre os séculos XIX e XX O marco inicial do período é a Revolução Francesa 1789 A fase inicial da filosofia contemporânea foimarcada pela atuação dos filósofos iluministas que aliás forneceram as bases que levariam à revolução Os iluministas empreenderam uma crítica profunda à sociedade moderna e a todos os seus alicerces entre os quais estavam a religião e o sistema de governo monárquico Além de abalarem a estrutura política da sociedade com as suas reflexões os iluministas e os pensadores que os sucederam contribuíram para uma mudança muito profunda na forma de pensar a filosofia As ciências não foram mais as mesmas após esse período Também a Teologia passou por transformações profundas tendo boa parte dos seus alicerces reformulados Sendo assim analisaremos os sistemas filosóficos de alguns autores da filosofia contemporânea compreendendo mesmo que de forma resumida os principais pontos de seus sistemas filosóficos Os filósofos a serem estudados são Kant Hegel Feuerbach Marx e Comte 12 IMMANUEL KANT Immanuel Kant 17241804 é o principal representante do Iluminismo na Alemanha cujo movimento ali é conhecido como aufklärung esclarecimento Geralmente o pensamento de Kant é dividido em duas fases primeira a fase pré crítica indo até a obra Dissertação sobre a forma e os princípios do mundo sensível e inteligível 1770 e segunda a fase crítica a partir da publicação da obra Crítica da razão pura 1781 Em sua fase précrítica Kant pode ser considerado como um típico representante do racionalismo dogmático caracterizado pela forte influência da filosofia racionalista inspirada em Leibniz e desenvolvida e sistematizada por Christian Wolff 16791754 MARCONDES 2001 p 207 Kant era forte defensor do racionalismo e contra o empirismo cético Todavia a partir da leitura realizada de Hume Kant percebeu a importância das questões levantadas pelos empiristas particularmente as questões levantadas por Hume Segundo Marcondes 2001 a partir disso Kant elaborou uma filosofia caracterizada por ele como racionalismo crítico pretendendo superar a dicotomia entre racionalismo e empirismo Kant define a filosofia como sendo a ciência da relação de todo o conhecimento e de todo o uso da razão com o fim último da razão humana KANT 1993 apud MARCONDES 2001 p 207 Assim para Kant a filosofia caracterizase pelo tratamento de quatro questões fundamentais O que posso saber Diz respeito às condições e legitimidade do conhecimento O que devo fazer A resposta a essa pergunta é dada pela moral 13 O que posso esperar O problema da esperança de que trata a religião MARCONDES 2001 p 207 O que é o homem Referese ao objeto da antropologia Conforme Marcondes 2001 essa é a mais importante e em última análise todas as outras três questões se reduzem a ela Partindo dessas questões o filósofo deve determinar 1 as fontes do saber humano 2 a extensão do uso e da utilidade do saber e 3 os limites da razão Vale ressaltar que para Kant embora seja o mais difícil esse último item é o mais necessário No prefácio da segunda edição da obra Crítica da razão pura 1787 Kant referese às disputas das grandes correntes filosóficas de sua época afirmando que essas disputas só poderiam ser superadas pela introdução da crítica Um dos objetivos fundamentais da filosofia na obra Crítica da razão pura é estabelecer critérios demarcados entre o que podemos conhecer legitimamente e as falsas pretensões de conhecimento Sendo assim ao se opor ao dogmatismo A tarefa da crítica consiste assim em examinar os limites da razão teórica e estabelecer os critérios de um conhecimento legítimo MARCONDES 2001 p 208 Kant argumenta ser o conhecimento constituído de matéria e forma A matéria é composta pelas próprias coisas de modo que para conhecer precisamos da experiência sensível como defendiam os empiristas A forma por sua vez somos nós mesmos A partir das estruturas de pensamento inatas somos capazes de entender e organizar a realidade Segundo Aranha e Martins 2003 p 136 para Kant O nosso conhecimento experimental é composto do que percebemos por impressões e do que a nossa própria faculdade de conhecer de simesma tira por ocasião de tais impressões Por isso concluiu ainda não termos a capacidade de conhecer a realidade em si mas somente na medida em que ela aparece para nós Para isso Kant emprega o conceito de fenômeno que quer dizer o que aparece Então se tudo o que dispomos para conhecer o mundo é o que aparece para nós também de algum modo 14 participamos da construção do conhecimento desse mundo Não obstante há uma diferença entre os objetos em si e aquilo que pensamos sobre eles a partir das nossas experiências e estruturas inatas Em resumo a filosofia kantiana redunda em idealismo pois em última análise a construção do conhecimento depende das estruturas inatas do ser humano ILUMINISMO ALEMÃO CHRISTIAN WOLFF 15 GEORG WILHELM FRIEDRICH HEGEL Georg Wilhelm Friedrich Hegel 17701831 introduziu uma noção nova na filosofia a de que a razão é histórica Como ressalta Koyré 2011 a teoria hegeliana é extremamente difícil porém influenciou o pensamento filosófico posterior como nenhuma outra A sua grande preocupação foi a construção de um sistema filosófico que desse conta de explicar toda a realidade A sua intenção primordial não é mudar o mundo mas em dizer como ele funciona Na medida em que ofereceu essa resposta criou também a ferramenta a ser utilizada por muitos de seus discípulos que almejaram mudálo tais como Marx Hegel viveu em um momento histórico conturbado de profundas transformações na sociedade Essa experiência da contradição foi fundamental para a constituição do pensamento hegeliano Na percepção de Hegel o avanço científico protagonizado pela racionalidade não havia produzido os efeitos desejados ou seja a superação de todos os problemas Entendia ele que se a razão é produtora do conhecimento verdadeiro então a sua aplicação em escalas progressivamente crescentes deveria levar à superação de todos os males da sociedade Contudo não era o que acontecia na prática Antes de produzir soluções o avanço da razão produzia novos problemas e novas contradições KOYRÉ 2011 De acordo com Aranha e Martins 2003 o pensamento hegeliano pode ser sintetizado da seguinte forma Partindo da noção kantiana de que a consciência ou o sujeito interfere ativamente na construção da realidade propõe o que se chama de 16 filosofia do devir do ser como processo como movimento como vir a ser Desse ponto de vista o ser está em constante transformação donde surge a necessidade de fundar uma lógica que não parta do princípio de identidade estático mas do princípio de contradição para dar conta da dinâmica do real a que chama de dialética ARANHAMARTINS 2003 p 143 Nesse sentido Hegel interpreta a história não como acumulação e justaposição de acontecimentos todavia como o resultado de um processo cujo motor interno é a contradição dialética ARANHA MARTINS 2003 p 143 Até então a história humana era vista como a soma dos acontecimentos entretanto a partir da dialética hegeliana ela passou a ser vista como resultado de um processo de conflitos e contradições Assim os reinos não eram frutos da evolução dos seus antecessores mas resultado dos seus problemas crises e acontecimentos provocadores da sua ruína O Império Romano somente conseguiu se tornar poderoso em virtude da queda dos impérios grego egípcio persa e outros A dialética de Hegel realizase em três momentos a tese a antítese e a síntese Todas as coisas são em princípio uma tese Todas as coisas são o que são mas elas não o serão para sempre Essa é a diferença do pensamento de Hegel pois antes se pensava em termos estáticos uma coisa era o que era para sempre Para Hegel as coisas não serão as mesmas para sempre porque elas possuem o germe da mudança e da contradição Em outras palavras o filósofo nos diz que todas as coisas possuem em si mesmas algo que as faz mudar fazendo com que deixem de ser o que são para se tornarem outra coisa Para deixar as ideias de Hegel mais claras vamos pensar em um exemplo Imagine o banco de uma praça Segundo Hegel esse banco pode ser tomado do ponto de vista filosófico como sendo uma tese O que causará a transformação desse banco de praça Qual é a antítese de um banco Podemos pensar em várias coisas As pessoas sentadas sobre ele mesmo não tendo a intenção de danificálo acabam gerando algum desgaste Haverá também as pessoas que podem querer danificálo intencionalmente Talvez não sejamos capazes de perceber a mudança de um dia para o outro ou mesmo de uma semana para a outra ao sentarmos sobre o banco no entanto ele está em constante processo de transformação A própria ação do tempo 17 sobre os materiais faz com que ele lentamente deixe de ser um banco Após anos de contradição já não existe mais um banco O que restou Restou a síntese da tese o banco e da antítese ação dos usuários e a ação do tempo Contudo o movimento não termina com a síntese Segundo Hegel cada síntese é por sua vez uma nova tese a qual terá as suas próprias contradições produzindo novas sínteses e assim sucessivamente até que todas as contradições sejam superadas A mesma coisa valeria para as nossas ideias para os sistemas filosóficos enfim para toda a realidade A superação de todas as contradições é chamada por Hegel de Espírito Absoluto Logo nós nos encontramos entre dois extremos No princípio segundo o filósofo estaria a pura ideia geradora da contradição para poder se realizar plenamente A contradição da pura ideia é a matéria o mundo concreto Somente quando todas as contradições da pura ideia forem superadas é que se alcançará o espírito absoluto sendo o fim da história Por ter colocado a ideia no princípio do seu sistema filosófico Hegel é chamado de idealista e podemos nos referir a seu sistema como idealismo hegeliano RECEPÇÃO DE HEGEL LUDWIG FEUERBACH O filósofo Ludwig Feuerbach 18041872 foi aluno de Hegel porém desde muito cedo empreendeu críticas ao seu mestre principalmente no âmbito da religião O extremismo e radicalismo fi zeram com que a carreira acadêmica dele terminasse 18 prematuramente todavia isso lhe possibilitou dedicar mais tempo ao aprofundamento de suas teorias As críticas de Feuerbach ao idealismo de Hegel foram decisivas para a reformulação materialista do pensamento hegeliano MONDIN 1983 A principal obra de Feuerbach foi o livro A Essência do Cristianismo no qual afirma contra Hegel que o verdadeiro papel da filosofia seria por o infinito no finito e não o finito no infinito ou seja A tarefa da filosofia não é provar que o homem é produzido por Deus mas inversamente que Deus é produzido pelo homem não foi a idéia Deus que criou o homem mas o homem que criou a idéia Deus MONDIN 1983 p 93 O princípio fundamental do materialismo é portanto que a matéria gera o pensamento quando atinge o seu mais alto estágio de desenvolvimento Feuerbach afirma que o ser humano criou a ideia de Deus como uma projeção daquilo que considera perfeito em vista da incapacidade de alcançálo por conta própria MONDIN 1983 As ideias de Feuerbach influenciaram profundamente o pensamento de Karl Marx KARL MARX Karl Marx 18181883 escreveu muitas de suas obras a dois punhos com o amigo Friedrich Engels 18201895 A filosofia de Marx e Engels não é produto de trabalho realizado atrás de uma escrivaninha de universidade mas resultado de sua militância nos movimentos proletários de seu tempo Dois pensadores ofereceram contribuições decisivas para o pensamento marxista Hegel e Feuerbach Do sistema hegeliano Marx adotou a lógica dialética pois estava convencido do seu poder explicativo Entretanto discordava de Hegel na questão do idealismo para Marx no princípio da realidade não está a pura ideia mas ao contrário o princípio da realidade está na vida material Essa por sua vez foi uma ideia assimilada de Feuerbach Dessa maneira Marx procede a uma inversão do sistema hegeliano colocandoo de cabeça para baixo Portanto no marxismo o mundo material antecede o mundo das ideias Em outras palavras as teorias não são produtoras da realidade antes são frutos dessa SELL 2009 19 Assim a história não é fruto do espírito absoluto mas é produto do trabalho humano As pessoas na medida em que interagem para suprirem as suas necessidades desencadeiam os processos históricos Isso levara Marx a afirmar que o modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social política e intelectual em geral MARX apud SELL 2009 p 50 E foi com base nesse pressuposto fundamental que Marx se propôs a analisar a sociedade de seu tempo KARL MARX AUGUSTO COMTE AUGUSTO COMTE No século anterior os iluministas haviam se dedicado com afinco para derrubar o antigo regime Contudo por terem se dedicado de forma tão entusiasmada e abnegada para derrubarem o feudalismo e a monarquia acabaram criando uma 20 mentalidade de revolução tão intensa que mesmo depois da tomada do poder pela burguesia e queda dos antigos senhores feudais a sociedade foi tomada por um constante caos A sociedade passou a sofrer com constantes revoluções greves manifestações e desordem A mentalidade de busca por mudança igualdade de direitos e superação de opressão havia sido propagada de tal forma pelos iluministas que depois deles terem se tornado o poder oficial não conseguiram conter a revolta daqueles que se tornaram os seus oprimidos Desde então alguns intelectuais também provenientes em grande parte da mesma burguesia passaram a se ocupar com a organização da nova sociedade que estava se constituindo Depois de a revolução colocar a burguesia no poder os detentores do capital era preciso criar mecanismos que aquietassem as massas principalmente de operários e trabalhadores que continuavam com o espírito revolucionário Essa nova classe de pensadores não se ocupou mais em criticar o antigo sistema não mantinha mais uma atitude negativa diante do sistema todavia passou a defender o novo sistema que estava se instalando o sistema capitalista Eles viam o capitalismo ascendente como algo positivo e benéfico o qual levaria à superação de todos os problemas da sociedade A atitude positiva desse novo grupo de pensadores levou à caracterização da sua linha de pensamento positivismo Basicamente esses pensadores precisaram responder a três questões fundamentais para a compreensão das transformações sociais em curso 1 Identificar quais as causas das transformações 2 Apontar as características da sociedade moderna 3 Discutir o que fazer diante dos problemas sociais Foi para tentar responder a esse conjunto de questões que em 1830 Augusto Comte 17981857 apresentou no seu livro chamado Curso de Filosofia Positiva a ideia de fundar uma física social que seria um saber encarregado de aplicar o método científico para o estudo da sociedade De acordo com ele com uma ciência a nos mostrar as leis de funcionamento da sociedade saberíamos como enfrentar os 21 problemas do mundo moderno pois a tarefa da ciência era justamente prever para prover MARTINS 2006 Em 1839 Augusto Comte alterou o nome dessa ciência para sociologia do latim socius e do grego logos que significa estudo do social nome que perdura até hoje Augusto Comte é considerado comumente como o fundador da Sociologia MARTINS 2006 A evolução teórica de Comte pode ser dividida em duas fases SELL 2009 A fase positiva que vai até 1845 quando ocorre a morte de Clotilde de Vaux por quem ele era apaixonado A obra fundamental desse período é o Curso de Filosofia Positiva A partir daí começa a fase mística de sua obra centrada no objetivo de criar a religião da humanidade cuja deusa razão lembra diretamente a figura feminina de Clotilde As obras fundamentais desse período são O Catecismo Positivista e o Sistema de Política Positiva Apesar da característica religiosa da fase final de sua vida Augusto Comte pode ser considerado um dos mais destacados representantes do movimento iluminista ou seja daquela concepção de que a razão ou a ciência devem ocupar o lugar da religião na organização da sociedade Entre as influências recebidas por Comte do Iluminismo está a ideia de aplicar a precisão do cálculo aos estudos dos fenômenos sociais Filosofia Contemporânea do Pragmatismo à Teoria da Ação Comunicativa Caríssimo a acadêmico a continuaremos a refletir sobre a filosofia contemporânea Todavia dedicarnosemos a estudar os sistemas filosóficos próprios do século XX Sendo assim falaremos de Pragmatismo Filosofia da Linguagem Hermenêutica Filosófica e Teoria da Ação Comunicativa propostas filosóficas que tentam responder à crise filosófica dos grandes sistemas produzidos nos séculos anteriores PRAGMATISMO 22 O Pragmatismo foi uma corrente filosófica surgida nos Estados Unidos no final do século XIX Conforme Martins Filho o pragmatismo É a vertente lógica do utilitarismo a verdade seria medida por sua utilidade MARTINS FILHO 2000 p 290 grifos no original Portanto a principal ideia do Pragmatismo é a de que o conhecimento é uma atividade participativa não impessoal e consiste de explicações válidas sendo o instrumento mais importante para nossa sobrevivência TRIGO 2009 p 175 Por conseguinte para os pragmáticos o conhecimento válido é aquele que tem uma aplicação prática ou então que funciona ARANHA MARTINS 2003 Entre os principais expoentes do Pragmatismo estão Charles Sanders Peirce 18391914 William James 18421910 e John Dewey 18591952 Charles Sanders Peirce Charles Sanders Peirce 18391914 é considerado o pai do pragmatismo americano Duas proposições feitas por ele foram discutidas por gerações e são fundamentais na história do pragmatismo a A questão da validade do conhecimento pode ser discutida e resolvida indutivamente como um problema científico b A verificação experimental se baseia no exame das consequências sic práticas de um conhecimento dado MONDIN 1983 p 153 Peirce também contribuiu significativamente para a linguística a partir de sua teoria dos signos semiótica Para Peirce todo pensamento é sinal e participa Figura CHARLES SANDERS PEIRCE 23 essencialmente da natureza da linguagem MARTINS FILHO 2000 p 291 grifos no original Dessa forma por ser o pensamento de natureza linguística não se pensa sem sinais A estrutura do pensamento possui três termos o sinal o objeto e o intérprete William James Figura William James William James 18421910 foi um professor de medicina em Harvard Foi o difusor do pragmatismo como filosofia que foge das abstrações apriorismos princípios e dogmas para se voltar para o concreto preocupandose apenas com os resultados das concepções que seriam sempre superáveis MARTINS FILHO 2000 p 292 grifos no original O pragmatismo de James é considerado como sinônimo de relativismo absoluto no que diz respeito à metafísica e à ética MARTINS FILHO 2000 James entendia a verdade a partir de uma concepção instrumental as ideias só seriam verdadeiras enquanto nos favorecerem na relação com o ambiente circundante Por esse viés ter posse da verdade é um meio e não um fim Logo não existe uma verdade objetiva MARTINS FILHO 2000 24 John Dewey John Dewey 18591952 transformou o pragmatismo em instrumentalismo Fundou um colégio experimental baseado nesses princípios MARTINS FILHO 2000 Através de Dewey o pragmatismo exerceu forte influência no campo da educação Os métodos educativos por ele influenciados enfatizarão a efetividade do aprendizado TRIGO 2009 Dewey também foi precursor do método aprender fazendo utilizado até hoje em escolas do mundo inteiro A escola tradicional era baseada no método unidirecional em que o professor ensinava e os alunos aprendiam Dewey defendia uma escola em que os próprios alunos eram sujeitos ativos do seu aprendizado Segundo ele a experiência escolar é aspecto essencial da educação ARANHA MARTINS 2003 FILOSOFIA DA LINGUAGEM A Filosofia da Linguagem ou Filosofia Analítica representa o esforço de alguns pensadores no sentido de rever o conceito de verdade Embora várias correntes filosóficas tentaram realizar o mesmo empreendimento a Filosofia Analítica concentra sua crítica na tentativa tradicional de conceber a verdade na relação sujeito e objeto Assim essa corrente de pensamento desloca sua reflexão para a linguagem Tal corrente de pensamento desenvolveuse sobretudo em países de língua inglesa como Inglaterra Estados Unidos e Austrália embora tenha vertentes na Alemanha Áustria e Polônia Em resumo a Filosofia da Linguagem considera que o tratamento e a solução de problemas filosóficos devem ser feitos através da análise lógica da linguagem No entanto ao falar de linguagem os filósofos da linguagem não se referem por exemplo à língua portuguesa inglesa espanhola etc mas da linguagem como estrutura Figura John Dewey 25 lógica subjacente a todas as formas de representação linguísticas e mentais MARCONDES 2001 p 261 nesse sentido a questão fundamental para a Filosofia da Linguagem é como um juízo algo que eu afirmo ou nego sobre o mundo pode ter significado e como podemos afirmar que esses juízos são verdadeiros ou falsos Bertrand Russel Bertrand Russel 18721970 foi professor no Trinity College de Cambridge Combateu o idealismo embora inicialmente o tenha adotado Em busca de rigor científico para a Filosofia retorna ao empirismo Russel diferencia a linguagem comum da linguagem filosófica afirmando ser a linguagem comum inexata Russel chama sua filosofia de Atomismo Lógico considerando que ela seria uma associação entre o empirismo e a lógica MARTINS FILHO 2000 Ludwig Wittgenstein 26 Ludwig Wittgenstein 18891951 foi o principal representante da Filosofia da Linguagem Geralmente falase de dois Wittgenstein A obra Tractatus Logico Philosophicus marca o 1º Wittgenstein Segundo Martins Filho 2000 essa obra tornouse a bíblia dos neopositivistas Já o 2º Wittgenstein renegou todas as suas teses neopositivistas anteriores Se na primeira fase de seu pensamento Wittgenstein entendia a linguagem como tendo uma estrutura básica e uma lógica formal na segunda fase de seu pensamento essas ideias desaparecem dando lugar à ideia de jogos de linguagem MARCONDES 2001 HERMENÊUTICA Podemos definir a hermenêutica de forma genérica como teoria ou filosofia da interpretação do sentido A percepção de que as expressões humanas contêm um elemento significativo querem dizer alguma coisa deu origem ao problema hermenêutico O problema hermenêutico trabalha com a seguinte problemática como se dá o processo de significação das expressões humanas Ou em outras palavras com elas ganham algum significado BLEICHER 2002 A hermenêutica tem longa história Originalmente o termo hermenêutica era teológico designando o método de interpretação da Bíblia Com o passar do tempo o termo passou a designar todo o esforço científico de interpretação de um texto difícil de compreender e que por conseguinte exigira uma explicação No século XIX Dilthey relacionou o termo hermenêutica à sua filosofia da compreensão vital Conforme Japiassú e Marcondes 1996 p 126 as formas da cultura no curso 27 da história devem ser apreendidas através da experiência íntima de um sujeito cada produção espiritual é somente o reflexo de uma cosmovisão e toda filosofia é uma filosofia de vida Por isso Dilthey estabeleceu a hermenêutica como alicerce de todo o edifício das ciências do espírito das ciências que tinham o ser humano e o seu comportamento como objeto de estudo REALE ANTISERI 1991 Contudo com Heidegger a hermenêutica foiconcebida não como um instrumento à disposição do ser humano mas como uma forma de ser do ser humano Nas palavras de Reale e Antiseri 1991 p 628 O homem cresce sobre simesmo é um novelo de experiências E cada nova experiência é uma experiência que nasce sobre o fundo das anteriores e as reinterpreta Em outras palavras o ser humano é constitutivamente intérprete de si e do seu mundo Entre os principais representantes da Filosofia Hermenêutica podemos destacar Hans Georg Gadamer 19002002 FILOSOFIA HERMENÊUTICA HANS GEORG GADAMER Hans Georg Gadamer 19002002 foi o fundador da hermenêutica contemporânea Gadamer definia a hermenêutica como a ciência da interpretação de textos em que se busca o sentido exato desses Entretanto Gadamer afirmava que o intérprete ao ler um texto não o lê com mente vazia mas o lê com sua pré compreensão e com seus préjuízos A essa précompreensão e a esse préjuízo Gadamer chamava de memória cultural do intérprete A memória cultural influenciará no modo como o intérprete entenderá o texto MARTINS FILHO 2000 28 Segundo Gadamer a partir da análise do texto com os preconceitos do intérprete temse como resultado um primeiro significado devendo ser sempre revisto a começar por uma inserção mais profunda no texto com o passar do tempo a melhor compreensão do contexto histórico em que foi escrito e dos conhecimentos sobre as questões que aborda leva à descoberta de novos sentidos e significados para o texto MARTINS FILHO 2000 p 310 Desta maneira os antigos sentidos e significados atribuídos ao texto tornamse insustentáveis A esse processo Gadamer chama de círculo hermenêutico Gadamer também fala da alteridade do texto ao lermos um texto devemos deixar que ele nos diga algo Não devemos querer a sua adaptação aos nossos próprios interesses Todavia isso não supõe neutralidade na interpretação porém que ao interpretar devemos tomar conta de nossos preconceitos De acordo com Martins Filho Gadamer Reconhece a necessidade de superar os preconceitos mas sua postura cética quanto à possiblidade concreta de se chegar as verdades objetivas e definitivas dá o tom de relativismo à sua concepção exegética MARTINS FILHO 2000 p 310 TEORIA DA AÇÃO COMUNICATIVA A Teoria da Ação Comunicativa é desenvolvida pelo filósofo alemão Jürgen Habermas Na Teoria da Ação Comunicativa Habermas critica a filosofia da consciência tradicional por estar fundamentada em uma reflexão solitária centrada no sujeito Em oposição a esse modelo Habermas propõe que a razão não deve ser monológica no entanto dialógica Para Aranha e Martins 2003 p 152 são os sujeitos situados historicamente que pela fala estabelecem uma relação interpessoal numa comunidade comunicativa Por conseguinte a verdade não resulta de uma reflexão isolada feita por uma única pessoa pelo contrário ela é fruto do diálogo orientado por regras estabelecidas pelos membros do grupo numa situação dialógica ideal ARANHA MARTINS 2003 p 153 Ao falar de uma situação dialógica ideal pressupõese que devam existir condições a possibilitarem a todos os sujeitos participantes do discurso falarem 29 De acordo com Habermas na sociedade moderna há dois elementos fundamentais a o poder político e o poder econômico b mundo da vida com as relações sociais a cultura e a personalidade No sistema a ação comunicativa pode se apresentar como ação estratégica que visa obter sucesso resultados Já no mundo da vida há a ação comunicativa que visa ao entendimento entres os indivíduos e comunidades O fundamento disso é a argumentação baseada em princípios racionais Pensamento Filosófico no Brasil Caríssimo a acadêmico a dedicaremos um espaço para refletirmos sobre a filosofia brasileira Por isso faremos um breve percurso histórico sobre algumas correntes filosóficas que influenciaram o desenvolvimento da filosofia em solo brasileiro Todavia nossa intenção neste estudo não é elaborar um cronograma histórico e detalhado deste desenvolvimento filosófico Pelo contrário a intenção primária é lhe dar um panorama geral da filosofia produzida em solo brasileiro Para tanto demarcaremos nossa reflexão em quatro momentos principais No primeiro momento refletiremos sobre a filosofia produzida na época do Brasil colônia No segundo momento trataremos dos desenvolvimentos filosóficos na época do Brasil Império No terceiro momento nos concentraremos na produção filosófica da época da República E no último momento refletiremos rapidamente sobre a filosofia brasileira na atualidade Antes de adentrarmos em nossas reflexões vale observar que disponibilizaremos com o intuito de fixação do conteúdo tratado na seção sobre a filosofia brasileira na atualidade um texto na Leitura Complementar o qual tratará de forma mais esclarecedora as questões pontuadas por nós nesta última seção FILOSOFIA NO BRASIL COLÔNIA Segundo Cerqueira 2011 em 1555 o rei de Portugal D João III entregou aos jesuítas o Colégio de Artes fundado pelo próprio rei em 1548 na Universidade de 30 Coimbra A partir desse momento os jesuítas assumiram o controle do ensino público em todo o reino de Portugal o que perdurou até as reformas realizadas na segunda metade do século XVIII CERQUEIRA 2011 p 164 À vista disso quando o Brasil foi colonizado pelos portugueses o ensino de Filosofia se deu sob a tutela dos padres jesuítas que em 1580 começaram a ensinar Filosofia no Colégio de Olinda MARTINS FILHO 2000 Conforme relata Cretella Júnior 1976 p 200 Nos três primeiros séculos de nossa história mal se pode falar em filosofia no Brasil porque além da civilização aqui encontrada e da civilização para aqui trazida em missão servil o elemento religioso agrupando em ordens com predominância jesuítica está mais preocupado com a forma do que com o conteúdo dedicandose e praticando a retórica e a eloquência em primeiro lugar e entregandose à cogitação filosófica apenas como elemento acessório para fundamentar de vez em quando a explicação de teses de natureza teológica No século XVI afirma Cretella Júnior 1976 por causa da orientação humanística predominante nas escolas jesuítas a Filosofia é em sua totalidade didática Só no século seguinte que a preocupação tanto nas escolas eclesiásticas como em elaborações filosóficas leigas será voltada para questões mais abstratas preocupandose com as grandes teses da Escolástica No entanto no final do século XVIII com a expulsão dos jesuítas determinada pelo Marquês de Pombal começa um processo de emancipação filosófica em solo brasileiro CERQUEIRA 2011 CRETELLA 1976 MARTINS FILHO 2000 31 Principais correntes filosóficas Entre as principais correntes filosóficas desse período podemos citar a Segunda Escolástica e o Empirismo Mitigado Segunda Escolástica Caracterizase como o início da Filosofia no Brasil no período da Colônia A Segunda Escolástica como o próprio nome já diz preservava a tradição tomista medieval Entre os principais representantes da Segunda Escolástica podemos citar os padres Manoel da Nóbrega e Antônio Vieira Manoel da Nóbrega Manoel da Nóbrega 15171570 foi um padre jesuíta doutor em Filosofia e Direito Canônico pela Universidade de Coimbra Foi fundador de São Paulo juntamente com José de Anchieta Dedicouse com afinco na catequização dos índios brasileiros MARTINS FILHO 2000 Em 1556 escreve um estudo sobre a natureza humana a partir de uma dupla vertente a natural e a cristã intitulada de Diálogo sobre a conversão do Gentio A obra trata da liberdade do índio defende a liberdade do índio na medida em que o nativo participa da natureza humana haja vista que os colonizadores negavam a condição de humanidade aos índios MARTINS FILHO 2000 Martins Filho 2000 p 374 atesta sobre Manoel da Nóbrega Procura adaptar a catequese aos costumes nativos em vez de impor os valores europeus Combate no entanto a poligamia e a antropofagia praticadas entre os indígenas a par de recordar aos colonizadores europeus que o fato de haverem cruzado o oceano não os colocava fora das limitações da moral e do direito Antônio Vieira 32 Antônio Vieira 16081697 notabilizouse pelos seus sermões Em seus sermões unia a beleza da forma com o conteúdo Chegou a ter rixas com algumas autoridades portuguesas por não defender a escravidão dos indígenas brasileiros Escreveu um Curso de Filosofia MARTINS FILHO 2000 Empirismo Mitigado A partir da segunda metade do século XVIII surge um movimento filosófico chamado de empirismo mitigado Essa corrente filosófica é caracterizada por uma oposição ao tomismo disseminado pelas companhias jesuítas O empirismo mitigado propunha por influência do Marquês de Pombal Sebastião José de Carvalho e Melo a redução do conhecimento filosófico a um empirismo cientificista Entre os principais representantes do empirismo mitigado podemos citar Matias Aires da Silva Eça Matias Aires da Silva Eça Matias Aires da Silva Eça 17071763 nascido em São Paulo estudou Filosofia em Coimbra e Ciências Naturais em Paris Em sua obra Reflexões sobre a Vaidade dos Homens parte de uma concepção de que a natureza humana é irremediável e completamente corrupta Constata assim a vaidade como traço característico de todas as realizações sociais cabendo à Providência através da Natureza o aproveitamento benéfico desse defeito generalizado MARTINS FILHO 2000 p 376 Assim sua exposição tem tom fortemente moralista Figura Brasil Imperial 33 VICTOR COUSIN Já em sua obra Problemas de Arquitetura Civil parte em busca de um método seguro a possibilitar o conhecimento e o domínio da Natureza MARTINS FILHO 2000 A FILOSOFIA NO BRASIL IMPÉRIO De acordo com Cretella Júnior 1976 a vinda da família real para o Brasil trouxe significativas vantagens para a evolução do pensamento Nesse período Já se pensa na criação de Institutos de uma Universidade dáse importância ao mundo da cultura CRETELLA JÚNIOR 1976 p 201 Acrescentase a isso a emancipação política do Brasil que vai promover novos rumos ao pensamento filosófico embora ainda dominado pela retórica e pela eloquência CRETELLA JÚNIOR 1976 34 Santos 2016 discorre que nesse período o pensamento filosófico devido às mudanças culturais e políticas pelas quais passa o Brasil preocupase principalmente com questões relacionadas à liberdade e consciência até que ponto havia liberdade havia de fato consciência de liberdade nacional SANTOS 2016 p 117 Principais correntes filosóficas Entre as principais correntes filosóficas desse período podemos citar Ecletismo e o Positivismo Ecletismo A corrente eclética do pensamento filosófico desenvolveuse no Brasil especialmente no século XIX Teve como grande influenciador as obras de Victor Cousin dado ao seu caráter sincrético muito adaptável à natureza conciliatória do brasileiro Para Martins Filho a partir dessa perspectiva os vários elementos considerados mais perfeitos nas distintas doutrinas filosóficas eram selecionados e aglutinados num todo que se pretendia harmônico MARTINS FILHO 2000 p 380 Como consequência do programa imposto pelo Colégio de D Pedro II o ecletismo passou a ser a doutrina filosófica oficial do Brasil entre os anos de 1840 e 1880 MARTINS FILHO 2000 Entre os principais representantes dessa corrente filosófica podemos destacar Eduardo Ferreira França Eduardo Ferreira França Eduardo Ferreira França 18091857 era um médico baiano Escreveu a obra Investigações sobre Psicologia Suas reflexões passaram do sensualismo de Condilac para o espiritualismo de Biran passando pela escola escocesa do senso comum de Reid e o ecletismo de Cousin Em suas reflexões sobre psicologia racional 35 reflete as concepções em voga na Europa espiritualiza todos os fenômenos psíquicos subjetiva o conhecimento e afirma o inatismo das ideias MARTINS FILHO 2000 Positivismo A mentalidade democrática adquirida pelo Brasil permeia na Escola Militar que passa a ser um reduto muito produtivo de conhecimento filosófico divulgando a doutrina positivista de Augusto Comte Segundo Martins Filho MARTINS FILHO 2000 é essa influência positivista que norteará a Proclamação da República 1822 Nesse sentido na segunda metade do século XIX o positivismo modela o ideário brasileiro em quatro vertentes 1 a ortodoxa com Miguel Lemos e Teixeira Mendes 2 a ilustrada com Pereira Barreta e Pedro Lessa 3 a política com Júlio de Castilhos e 4 a militar com Benjamim Constant MARTINS FILHO 2000 Na esteira do positivismo comtiano os positivistas brasileiros professam uma confi ança ilimitada na Ciência tomandoa como único critério de verdade Por conseguinte dado ao esforço positivista de afastar a influência da religião na sociedade brasileira temse o embate entre Estado e Igreja MARTINS FILHO 2000 Escola do Recife Como oposição ao positivismo e ao ecletismo desenvolvese na Faculdade de Direito do Recife uma verdadeira escola de pensamento calcada numa reflexão imanentista de inspiração germânica Kant cuja síntese constituise numa concepção monista e mecanicista do mundo e da sociedade na qual a cultura é a obra especificamente humana em contraposição à Natureza MARTINS FILHO 2000 p 388 A FILOSOFIA NA REPÚBLICA Nos últimos anos do segundo império e durante a eclosão do republicanismo em solo brasileiro o pensamento filosófico adquire grande notoriedade A filosofia é 36 cultivada principalmente por sujeitos envolvidos com a vida pública e cultural do país Podemos juntar a isso a transição do século XIX para o século XX coincidindo com a passagem de um regime político a outro e isso segundo Cretella Júnior 1976 p 204 é importante para o estudioso da filosofia Principais correntes filosóficas Martins Filho atesta a corrente culturalista parte do pressuposto da existência de uma pluralidade de perspectivas filosóficas MARTINS FILHO 2000 p 412 grifos no original Essas várias perspectivas existentes afirma a corrente culturalista devem ser respeitadas e compreendidas tendo em vista que tanto no campo das ciências naturais quanto no campo das ciências humanas não há a possibilidade de fundamentação de um discurso universal válido MARTINS FILHO 2000 Portanto o culturalismo estuda o homem sob o ponto de vista das causas finais a partir dos objetivos que ele se propõe a atingir ao invés do estudo das causas eficientes a partir de um determinismo Exemplo o homem é assim devido a fatores históricos que o condicionam Logo a evolução da cultura constituise como objeto de estudos da corrente culturalista considerando que as várias civilizações são diferentes modos de hierarquização de valores MARTINS FILHO 2000 p 412 grifos no original O PENSAMENTO FILOSÓFICO BRASILEIRO NA ATUALIDADE Uma análise profunda dos pensadores brasileiros demonstra a ausência de um pensamento filosófico podendo se chamar de brasileiro Nesse contexto é bem verdadeira a afirmação de Cretella Júnior ao dizer que Não criamos mas importamos E importamos quase sempre o melhor CRETELLA JÚNIOR 1976 p 205 Se na época em que Cretella Júnior escreveu esse fato era uma condição da 37 reflexão filosófica praticada em solo brasileiro ainda hoje tal realidade é mais do que perceptível Nas palavras de Cretella Júnior No campo filosófico se não atingimos ainda a altura de artistas criadores daqueles que elaboram sistemas completos que nada mais são do que atitudes diante da vida expressas de maneira global podemos reivindicar a característica de professores modernos atualizados que dominam as grandes coordenadas do pensamento antigo e moderno aceitando a construção do pensamento antigo e moderno por inteiro ou passandoa pelo crivo de percuciente análise CRETELLA JÚNIOR 1976 p 207 grifos no original É nesse sentido que Santos 2016 declara que falar de originalidade na filosofia brasileira é bem problemática haja vista que tal originalidade no sentido estrito da palavra talvez não exista O interesse dos filósofos brasileiros resumese à História da Filosofia isto é repetir em tom professoral os grandes sistemas filosóficos do passado De acordo com Silveira 2016 a filosofia brasileira vive em uma espécie de estufa e esse ambiente artificial talvez afirma ele tenha sido elaborado desde o início da reflexão filosófica no contexto brasileiro Por essa razão a filosofia se fecha num círculo hermético de tal forma que não são deixadas zonas de contato com o restante da cultura brasileira ou portas para o ambiente exterior SILVEIRA 2016 p 262 Assim para Silveira O cultivo da história da tradição filosófica desenvolvido como objeto exclusivo de estudo nos cursos de formação do Brasil consolidou essa situação SILVEIRA 2016 p 262 Portanto Silveira 2016 insiste na urgência de que a filosofia brasileira precisa levar em conta a realidade brasileira principalmente a realidade desigual e pobre de nosso país Em suas palavras SILVEIRA 2016 p 277 A partir dessa perspectiva Silveira 2016 aconselha que essa não é uma necessidade direcionada ao futuro pelo contrário essa é uma necessidade para tornar a filosofia pertinente à realidade brasileira e isso deve ser feito agora 38 Referências ARANHA Maria Lúcia Arruda MARTINS Maria Helena Pires Filosofando introdução à filosofia 3 ed São Paulo Moderna 2003 Curso de filosofia os filósofos do ocidente 6 ed São Paulo Paulus 1983 v 3 Coleção filosofia 3 Curso de filosofia os filósofos do ocidente 7 ed São Paulo Paulus 1981 v 2 Coleção filosofia 3 Introdução à filosofia problemas sistemas autores obras São Paulo Paulus 1980 v1 Introdução à filosofia problemas sistemas autores obras São Paulo Paulus 1983 v3 CAMELLO J O Maurílio A questão da verdade na filosofia Theoria Revista Eletrônica de Filosofia vol 1 2009 CHAUÍ Marilena Convite à filosofia 13 ed São Paulo Ática 2008 CRETELLA JÚNIOR José Novíssima história da filosofia 3 ed Rio de Janeiro ForenseUniversitária 1976 DESCARTES René Discurso do método 2 ed São Paulo Martins Fontes 1996 Clássicos JAPIASSÚ Hilton MARCONDES Danilo Dicionário de filosofia 3 ed rev e ampliada Rio de Janeiro Jorge Zahar 1996 JASPERS Karl Introdução ao pensamento filosófico São Paulo Cultrix 2010 KANT Emmanuel Crítica da razão pura Versão para eBook Disponível em httpswwwmarxistsorg portugueskant1781mespurapdf MARCONDES Danilo Iniciação à história da filosofia dos présocráticos a Wittgenstein 6 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed 2001 MARTINS FILHO Ives Gandra Manual esquemático de história da filosofia 2 ed São Paulo LTr 2000 MONDIN Battista Curso de filosofia os filósofos do ocidenteSão Paulo Paulus 1981 v 1 Coleção filosofia MORAIS M M Emilia A natureza do filósofo kriterion Belo Horizonte nº 122 Dez2010 p 473488 PERUCA Eric Sobre a filosofia pósmetafísica Disponível em httpericperucablogspotcombr201203 sobrefilosofiaposmetafisicahtml 39 REALE Giovanni ANTISERI Dario História da filosofia do romantismo até nossos dias 2 ed São Paulo Paulus 1991 v3 Coleção filosofia REZENDE Antonio Org Curso de filosofia para professores e alunos dos cursos de segundo grau e de graduação 9 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed SEAF 1998 SANTOS Thiago Ferreira Panorama histórico da filosofia no Brasil da chegada dos jesuítas ao lugar da filosofia na atualidade Seara Filosófica Brasil de Pelotas n12 v6 p 113127 2016 ZANONI P Ana BITENCOURT Luciano FARINA Erich A lógica aristotélica Revista Pandora Brasil Nº 75 Outubro 2016