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perguntas: como olhamos as imagens? Quem olhamos nelas? O espectador de imagens é tomado não como um mero observador, mas como alguém que, ao estar diante de uma imagem, estabelece com ela uma relação comprometida. Trata-se de um incansável documento, talvez o seu derradeiro pelo humanista, sobre as possibilidades da fotografia como documento histórico ligado às atrocidades cometidas pelo homem contra o próprio homem. Queremos que o fotógrafo seja um espelho na casa do amor e da morte e as pessoas fotografadas não estejam conscientes da câmera, estejam “desprevenidas”. O fluxo incessante de imagens (televisão, vídeo, cinema) constituiu a nossa mão circundante, mas quando se trata de recordar, a fotografia é muito mais fundo. A memória colapso o quadro; sua unidade básica é a imagem isolada. Numa era sobrecarregada de informação, a fotografia oferece um modo rápido de apreender algo e uma forma compacta de memorizá-la. A foto é como uma atacada ou uma máxima do proverbial. Nesta busca, muito se perdeu da ética. Fotografar passou a ser uma atividade cruel e olhar estas fotos uma co-participação passa nesta crueldade. Apesar disso, foram muitas as discussões sobre o que seria digno ou não de ser mostrado por uma fotografia relativa a uma guerra ou ao sofrimento alheio. O protocolo do \"bom gosto\", leia-se: a preocupação do choque causado por uma imagem, foi uma preocupação quando de algumas atores gêmeas, por exemplo. Para Sontag, há um imperativo etnocêntrico que serve de intermediação entre o ver e o mostrar, assim como entre o que mostrar, pois com relação aos nossos mortos, sempre vigorou uma proibição energética contra mostrar o rostos descobertos. Porém, quando se trata dos outros, essa dignidade não é tida como necessária. \n\nA África pós-colonial é um exemplo: proliferam imagens sobre a fome em Biafra, em 1960 – ou sobre os sobreviventes do genocídio em Ruanda, em 1994 – ou de pessoas com braços e pernas amputados, inclusive crianças, em Serra Leoa pela campanha de terror da RUF. Fotografias como estas são para Sontag um reforço da discórdia do domínio dos países ricos, como se estivesse a dizer que estas crueldades podem parecer menor e, por outro, mesmo quando não se trata de um inimigo, só é visto como alguém para ver visto, e não como alguém (como nós) que também vê. E com este mesmo tipo de argumento que as fotografias de Sebastião Salgado são criticadas por Sontag. Não necessariamente pela estetização da miséria, como é comum às críticas a respeito dele, mas pelo desespero que permanecem em suas imagens na categoria de anônimos ou, se quisermos ser mais benjaminianos na categoria dos sem nome - Namenlos. Como se deles não se fizesse outra coisa senão colifrá-los uma vez mais, usurpando-lhes de modo quase vampiresco o único bem que possuem, o seu corpo, através da imagem.\n\nAs fotos de linchamento ou dos condenados à morte são, na visão de Sontag, as mais cruéis a respeito da violência humana, chegando a ser um desafio fotografá-las, assim como olhá-las. Ela remete às fotos sobre linchamentos de negros por brancos nos EUA, entre 1890 e 1930, mostradas numa galeria de NY em 2000. Os negros jazem pendurados em árvores, enquanto seus algozes brancos comemoram a sua morte como se o evento se tratasse de ato de animais perigosos. Esta mesma sensação de profunda revolta e tristeza perpassa as gravuras de Goya Os desastres da guerra, - série feita pelo artista espanhol entre 1810 e 1820 como denúncia contra as guerras napoleônicas, - da qual Sontag retira a capa de seu último livro como tentativa de metaforizar o lugar ético das imagens. Goya mostra o massacre promovido pelo exército de Napoleão na Espanha, sempre convidando o espectador a ter a consciência de que aquele tipo de atrocidade efetivamente acontece, através de palavras que funcionam como legendas acrescentadas às suas 83 gravuras. Há aí um trabalho de reposição da memória pelo artista espanhol. A preocupação de relacionar a imagem fotográfica com o fato histórico faz do último livro de Sontag uma homenagem clara ao fotojornalismo dos pioneiros. Sobretudo em sua capacidade hercúlea de monitorar de perto as grandes injustiças que circundam a história da humanidade, engajando-se em conflitos cuja discussão é de plena interesse civil e está fora das manipulações e apelos nacionalistas que brincam com a dignidade humana. Os mártires do ofício, como Robert Capa (morto na Indochina em 1954), Eugene Smith (gravemente ferido com sequelas definitivas por capas da Chisso Corporation quando fazia um dossiê fotográfico sobre poluição de um rio em Minamata, no Japão) ou Larry Burrows (morto no Vietnam em 1971, sobrevoando num helicóptero as Forças Armadas Americanas o campo de Ho Chi Minh) são lembrados com emoção pelo seu papel ético frente à história e pelos riscos que correram nesses destinos, resultando dos quais foram vítimas.\n\nCom os equipamentos fotográficos de pequeno porte (Leica na Guerra Civil Espanhola) e a cobertura da televisão (Guerra do Vietnã) houve uma entrada mais plena da guerra em nossa intimidade. Muitas vezes estas imagens foram precoces, como se o puro vislumbre da atrocidade fosse responsável automaticamente pela criação da consciência pacifista. E contra esta posição ingênua que se insurge o livro de Sontag. Afirma o que olha imagens de horror? Qual o nosso papel nesta aventura? Por outro lado, estaríamos, efetivamente, anestesiados contra este tipo de representação da violência, contra estas \"incidências\", como Sontag qualifica as imagens da dor veiculadas pela mídia. Diante do olhar dos outros é uma revira das teorias que caminhavam num sentido intelectualidade francesa - Guy Debord e sua sociedade do espetáculo, Jean Baudrillard e suas teorias do simulacro, ou ainda André Glucksmann, que teria declarado, segundo Sontag, durante uma visita rápida de um dia em Sarajevo, que a Guerra da Bósnia não seria vencida ou perdida por nada que acontecesse, mas em função do que acontecesse na mídia, ao que a ensaísta retruca:\n\n\"Declarações de morte da realidade - como da morte da razão, da morte do intelectual, da morte da literatura séria - parecem ter sido aceitas sem maior reflexo por muitos que tentam compreender o que há de errado ou de vazio, ou de estupidificante triunfante, na política contemporânea. Dizer que a realidade se transformou em espetacular é um provincialismo assombroso. Universaliza o modo de ver habitual de uma pequena população que vive na parte rica do mundo, onde as notíciasPrecisam ser transformadas em entretenimento - esse estilo maduro de ver as coisas, que constitui uma aquisição supérflua do \"moderno\" e um pré-requisito para desmantelar as formas tradicionais de política fundidas em partidos que propiciam discórdia e debate genuínos súbditos que todos sejam espectadores. De modo impertinente e sem seriedade, sugere que não existe sofrimento no mundo. Mas é um absurdo identificar o mundo a essas regiões de países afastados onde as pessoas gozam o óbvio privilégio de ser espectadores ou furtar-se a ser espectadores de dor um outro povo, assim como é absurdo fazer generalizações acerca da capacidade de se mostrar sensível ao sofrimento de outros corpos, esta atitude desses consumidores de notícias, que não conhecem, na própria pele, nada a respeito da guerra, da injustiça em massa de terror?\"\n\nEntão, qual seria o sentido de olhar este tipo de imagens de atrocidades? Ao frequenta-las estamos confirmando o fato delas ainda exercerem uma função essencial: a função epistemica da imagem, ou seja, de não nos deixar indiferentes! De nos conduzir à atividade de reposição frequente da memória em nosso escaninho pessoal. E a memória, enquanto produção de sentido histórico para as épocas, deve ser encarada como um ato ético. A frustração de olhar imagens da dor alheia sem nada poder fazer pode se traduzir numa acusação contra a indecência de vê-las de modo tão disseminado, ou vê-las de modo banalizado, ao lado de publicidades de cremes, analgésicos ou automóveis caríssimos. Entretanto, não podemos chegar ao ridículo de acusar a nossa visão de cumplicidade com o horror mostrado por imagens da violência pelo simples fato de buscar ou olhar como lhe é natural. Seria uma inversão de valores renegar o legado dos gregos, para quem a visão era o mais importante dos sentidos. Esta percepção aproxima Sontag do mesmo desafio trazido à baila por Didi-Huberman e faz com que aprendamos uma ligação que vai muito além do olhar desconcertado: a agressão ao bombardeio via imagens ao qual estamos submetidos pode ser uma experiência cotidiana que convide à reflexão. E como diz Sontag, não há nada de errado em pôr-se a parte e pensar. Não se pode pensar e bater em alguém ao mesmo tempo. REVISTA PORTO ARTE: PORTO ALEGRE, V. 13, N° 22, MAIO/2005\n\nDEATH IN SPAIN: THE CIVIL WAR HAS TAKEN 500,000 LIVES IN ONE YEAR\n\nPágina da Revista Life, com foto de soldado morrendo. Por Robert Capa, 1937.\n\nALEXANDRE SANTOS Historiador e Crítico de Arte, Pesquisador de História da Fotografia — Professor de História da Arte da Arquitetura na UNISINOS e ESPM e educador em Artes Visuais com ênfase em História, Teoria e Crítica de Arte pela UFRGS. Recentemente co-organizou o livro A fotografia nos processos artísticos contemporâneos. Porto Alegre: SMC/Editora da UFRGS, 2004.
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Como se deles não se fizesse outra coisa senão colifrá-los uma vez mais, usurpando-lhes de modo quase vampiresco o único bem que possuem, o seu corpo, através da imagem.\n\nAs fotos de linchamento ou dos condenados à morte são, na visão de Sontag, as mais cruéis a respeito da violência humana, chegando a ser um desafio fotografá-las, assim como olhá-las. Ela remete às fotos sobre linchamentos de negros por brancos nos EUA, entre 1890 e 1930, mostradas numa galeria de NY em 2000. Os negros jazem pendurados em árvores, enquanto seus algozes brancos comemoram a sua morte como se o evento se tratasse de ato de animais perigosos. Esta mesma sensação de profunda revolta e tristeza perpassa as gravuras de Goya Os desastres da guerra, - série feita pelo artista espanhol entre 1810 e 1820 como denúncia contra as guerras napoleônicas, - da qual Sontag retira a capa de seu último livro como tentativa de metaforizar o lugar ético das imagens. Goya mostra o massacre promovido pelo exército de Napoleão na Espanha, sempre convidando o espectador a ter a consciência de que aquele tipo de atrocidade efetivamente acontece, através de palavras que funcionam como legendas acrescentadas às suas 83 gravuras. Há aí um trabalho de reposição da memória pelo artista espanhol. A preocupação de relacionar a imagem fotográfica com o fato histórico faz do último livro de Sontag uma homenagem clara ao fotojornalismo dos pioneiros. Sobretudo em sua capacidade hercúlea de monitorar de perto as grandes injustiças que circundam a história da humanidade, engajando-se em conflitos cuja discussão é de plena interesse civil e está fora das manipulações e apelos nacionalistas que brincam com a dignidade humana. 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