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Psicologia Social
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Psicologia Ciência e Profissão OutDez 2017 v 37 n4 883896 httpsdoiorg10159019823703000832017 Disponível em wwwscielobrpcp Atuação do Psicólogo na Atenção Básica do SUS e a Psicologia Social Marcela Spinardi Cintra Pontifícia Universidade Católica de Campinas SP Brasil Marcia Hespanhol Bernardo Pontifícia Universidade Católica de Campinas SP Brasil Resumo A visão de que o fazer dos psicólogos é clínico pautado no modelo biomédico se apresenta ainda muito enraizada no discurso de muitos profissionais Parecem compreender que essa atuação é a principal senão a única forma de a Psicologia contribuir com os usuários do sistema de saúde e com a comunidade Porém alguns profissionais procuram atuar de acordo com os princípios do SUS baseandose em abordagens críticas da Psicologia Eles se aproximam das comunidades e apresentam uma prática diferenciada com relação à tradicional Assim o objetivo desta pesquisa é conhecer práticas de alguns psicólogos inseridos na Atenção Básica buscando identificar as bases que as fundamentam e se estão em consonância com a Psicologia Social Crítica A pesquisa teve caráter qualitativo usando a pesquisa participante como estratégia metodológica juntamente com a realização de entrevistas abertas Os participantes são três psicólogos que atuam em Unidades Básicas de Saúde de Campinas Os resultados da pesquisa indicam que o posicionamento éticopolítico do profissional e uma formação voltada para a atuação no SUS são fundamentais para uma atuação crítica e contextualizada Mostra se que o trabalho realizado para além dos muros dos Centros de Saúde tem grande relevância e é nele que as relações estabelecidas com os conceitos da Psicologia Social Crítica ficam mais evidentes Considerase a importância da reflexão dos psicólogos sobre suas próprias ações além da busca por práticas inovadoras que possam ser incluídas nas políticas públicas de saúde e entendese que os princípios da Psicologia Social Crítica fornecem subsídios para tal Palavraschave Psicologia Social Crítica SUS Atenção básica Pesquisa participante 884 Psicologia Ciência e Profissão OutDez 2017 v 37 n4 883896 Psychologists Performance in the Primary Health Care of SUS and Social Psychology Abstract The idea that what psychologists do is clinical based on the biomedical model is still very much rooted in their own and other professionals discourse They seem to understand that this action is the main if not the only way for psychology to contribute to the users of the health system SUS and to the community However there are professionals who seek to act according to the principles of SUS relying on critical approaches to psychology These professionals approach the communities and present a differentiated practice in relation to the traditional one Therefore the objective of this research is to know the practices of some psychologists inserted in Primary Health Care seeking to identify the bases that underlie them and if they are in consonance with Critical Social Psychology This research has a qualitative character using participatory research as a method together with the conduction of openended questions interviews Three psychologists who work in Health Centers of Campinas participated in the study In the research results it can be observed that the professionals ethical and political views as well as the fact of their training being shaped to perform at SUS are fundamental to have a critical and contextualized performance There are also considerations about the practices of these professionals such as the work performed beyond the walls of the Health Centers and it also brings the relations established with the concepts of Critical Social Psychology Thus it is considered the importance of the reflection by psychologists on their own practices as well as the search for innovative practices that can be included in public health policies Keywords Critical Social Psychology SUS Primary Health Care Participatory research Actuación del Psicólogo en la Atención Básica del SUS y la Psicología Social Resumen La visión de que la actuación del psicólogo es clínica pautada en el modelo biomédico se encuentra bastante arraigada en el discurso de muchos profesionales Así parecen entender que dicha actuación es la principal o quizás la única forma en que la psicología contribuye con los usuarios del sistema de salud y con la comunidad Sin embargo existen profesionales que buscan ejercer de acuerdo con los principios del SUS apoyándose en posturas críticas de la psicología Estos profesionales se acercan a las comunidades y presentan una práctica diferente comparada con la tradicional De esta forma el objetivo de esta investigación es conocer las prácticas de algunos psicólogos que hacen parte de la Atención Básica buscando identificar las bases que las fundamentan y si están en consonancia con la Psicología Social Crítica Esta investigación es de carácter cualitativa utilizando el método de la investigación participante junto con la realización de entrevistas abiertas En la investigación participaron tres psicólogos que ejercen en Unidades Básicas de Salud de Campinas En los resultados se puede observar que la posición ética y política del profesional es fundamental para tener una actuación crítica y contextualizada así como una formación volcada hacia el ejercicio profesional en el SUS También se muestran consideraciones sobre las prácticas de estos profesionales como el trabajo realizado fuera de los muros de los Centros de Salud y también se exponen las relaciones establecidas con los conceptos de la Psicología Social Crítica Se considera por lo tanto la importancia de la reflexión de los psicólogos sobre sus propias prácticas y la búsqueda de prácticas innovadoras que se pueden incluir en las políticas de salud pública y se entiende que los principios de la Psicología Social Crítica proporcionan subsidios para tal Palabras claves Psicología Social Crítica SUS Atención básica Investigación participante 885 Cintra M S Bernardo M H 2017 Título Curto Apresentação Este artigo nasceu a partir de uma pesquisa de Mestrado Acadêmico concluída em 2016 A opção pelo tema surge de uma experiência anterior na área da Psicologia vivenciada por uma das autoras em uma Unidade Básica de Saúde do Sistema Único de Saúde SUS da cidade de Campinas SP A partir dessa experiência pôdese perceber que ainda exis tem muitas dificuldades no campo da Saúde Pública principalmente quando se aborda a Saúde Mental e a atuação de psicólogos Ainda hoje a visão de que o fazer desse profissional é majoritariamente clínico pautado no modelo biomédico se apresenta muito enraizada em discursos de psicólogos e demais traba lhadores Assim muitos parecem compreender que essa é a principal senão a única forma de atender aos preceitos da profissão Porém é importante des tacar que alguns psicólogos buscam maneiras mais condizentes de atuar valendose de práticas que se embasam em conceitos e princípios do SUS se apro ximando da comunidade e também apresentando um saber crítico em relação à sua própria atuação Considerando as dificuldades enfrentadas no campo da Saúde Pública e o fato de o número de psi cólogos contratados ter mais que dobrado de 2005 até 2011 como apontam Macedo e Dimenstein 2011 sentiuse a necessidade de explorar outras possibili dades de ação do psicólogo na Atenção Básica que vão além do atendimento clínico individual embasado na lógica privatista e liberal Mas o que se define neste artigo como uma atu ação contextualizada Para explicar essa denomina ção adotada utilizase o texto de Dimenstein 1998 em que a autora explica que atuar dessa forma é pro piciar uma prática transformadora e reflexiva sempre condizente com a realidade da comunidade em que se está inserido buscando novas formas de deixar emergir o novo Acrescentase aqui também que uma atuação contextualizada deve promover conscientiza ção e empoderamento Dessa forma a pergunta que guiou essa investi gação foi quais são as bases que fundamentam uma atuação mais contextualizada do psicólogo na aten ção básica do SUS Partiuse do pressuposto de que a aqui chamada Psicologia Social Crítica desenvolvida na América Latina se mostra como uma das possíveis referências para embasar tal atuação justamente por entender que há uma afinidade entre os princípios da Psicologia Social Crítica e as propostas do SUS para a Atenção Básica Com base nesse pressuposto o obje tivo da pesquisa apresentada aqui foi o de conhecer práticas de alguns psicólogos inseridos na Atenção Básica buscando identificar as bases que as funda mentam e se estão em consonância com a Psicolo gia Social Crítica Entendese que essa compreensão possa ser importante para a discussão de uma for mação oferecida nos cursos de Psicologia de modo a dar mais subsídios para que os futuros profissionais atuem em consonância com os preceitos do SUS Introdução A saúde pública e a inserção de psicólogos É necessário esclarecer que o que se entende por saúde reflete a conjuntura social econômica polí tica e cultural Scliar 2007 p 30 Dessa forma cada pessoa tem uma representação sobre o que é saúde pois depende da época do lugar da classe social de valores individuais de concepções científicas religiosas filosóficas Scliar 2007 p 30 E isso com certeza é um determinante para a organização de um sistema de saúde em um local e época No Brasil a partir da Constituição de 1988 a saúde passa a ser um direito para todos e dever do Estado Em 1990 o SUS é regulamentado instituindo se a Lei no 80801990 Paim 2009 que visa a pro moção a proteção e a recuperação em saúde através de princípios como a universalidade a gratuidade a integralidade e a descentralização Importante desta car que esse sistema nasceu da luta de movimentos sociais Ele está dividido em três níveis de atenção apresentados aqui da maior para a menor complexi dade o nível terciário que envolve procedimentos de alta complexidade tecnologia e custo o nível secun dário que visam atender agravos à saúde que deman dem profissionais especialistas ou recursos mais avançados que o nível primário e o nível primário lócus da pesquisa aqui apresentada em que são rea lizados os procedimentos que necessitam de menos tecnologia e equipamentos capazes de dar resoluti vidade à maioria dos problemas comuns à população Também chamada de Atenção Básica é a porta de entrada do usuário no sistema de saúde onde acon tece a referência e contrarreferência para demais ser viços especializados Brasil 2007 Na Atenção Básica há cerca de uma década começou a ser implementada a Estratégia de Saúde da 886 Psicologia Ciência e Profissão OutDez 2017 v 37 n4 883896 Família ESF promovida pelo Ministério da Saúde Os profissionais que defendem sua implementa ção como Gomes Cotta Araújo Cherchiglia e Mar tins 2011 acreditam que ela transformou o modelo médico individualista em um modelo de saúde cole tiva Porém nem todos concordam com isso Scar celli e Junqueira 2011 por exemplo afirmam que a estratégia apresenta um retrocesso tendo em vista que centraliza o cuidado nos aspectos biológicos já que a equipe da ESF é composta por médicos enfer meiros e agentes comunitários de saúde e os demais profissionais como é o caso do psicólogo ficariam como apoiadores a eles no Núcleo de Apoio à Saúde da Família NASF Nesse contexto cabe indagar como se dá sua atu ação do psicólogo na Atenção Básica Como afirmado por Campos e Guarido 2007 mesmo com um grande repertório de ações que podem ser desenvolvidas como atividades em grupo visitas domiciliares e ofi cinas por exemplo a maioria dos psicólogos ainda se volta para os atendimentos clínicos individuais nos moldes dos consultórios particulares Isso pode ser explicado pela história da inserção do psicólogo na saúde pública como afirma Dimenstein 1998 Para a autora por conta da crise instaurada nos anos 1970 e 1980 e o crescente número de psicólogos se formando nas faculdades do Brasil afora a saúde pública se mostrou como uma nova possibilidade para os pro fissionais sem contudo ser acompanhado do devido preparo na sua formação Mas também é importante destacar que a busca por um outro modelo de atuação foi um dos motivos pelos quais outros psicólogos que teciam críticas ao modelo de saúde dessa época esco lheram esse campo de trabalho Segundo Ronzani e Rodrigues 2006 a postura individualista para tratar dos usuários vai na contra mão do que seria uma atuação comprometida com a comunidade além de também se contrapor ao con ceito de saúde que norteia o SUS que inclui os aspec tos sociais nos cuidados Com isso podese afirmar que um trabalho contextualizado do psicólogo nesse nível de atenção deve se dar no sentido de empode rar indivíduos e coletividades possibilitando que eles promovam mudanças em suas vidas Para que isso aconteça Amaral Gonçalves e Serpa 2012 acreditam que o psicólogo deve se inserir de fato na comuni dade ou seja no cotidiano dos moradores compre endendo suas dinâmicas de maneira profunda e com comprometimento Todas essas questões esbarram na formação dos psicólogos Muitos chegam à saúde pública sem o devido preparo para assumir esse contexto de traba lho Dimenstein 1998 e também há um desconheci mento de outras possibilidades de atuação Boing Crepaldi 2010 Mas não é só isso Há questões como a inexistência de local adequado que não permite outras práticas falta de credibilidade das práticas psicológicas diferentes das tradicionalmente estabe lecidas e ausência de preparo para atender deman das sociais Oliveira et al 2004 p 82 que também devem ser levadas em conta quando se fala da atua ção do psicólogo nesse espaço Assim Nascimento Manzini e Bocco 2006 afir mam que é preciso reinventar as práticas psicológi cas criando um constante estranhamento dos paradigmas e reali dades que se apresentam como prontos autorizan donos a inventar no cotidiano estratégias que não obedeçam às fórmulas prescritas mas que pelo contrário possibilite o exercício de autonomia em nossas análises e gestões do dia a dia p 19 Essas não precisam ser práticas mirabolantes mas podem ser pequenos atos que muitas vezes não são tidos como o quefazer do psicólogo As mes mas autoras e Dimenstein PSI 2009 trazem essa temática para discussão Ações como acompanhar um jovem em sua matrícula na escola podem surtir efeito e repercutem na saúde das pessoas É preciso então se libertar das amarras que prendem a atuação do psicólogo a uma única ação e dar liberdade para que ela se transforme em atividades necessárias para aquele momento Mas como propiciar uma formação que ajude os profissionais a seguirem esse caminho sem achar que estão deixando de ser psicólogos por isso Aqui entendemos que a Psicologia Social Crítica desenvolvida na América Latina pode ser uma dessas bases como expomos a seguir Sobre a Psicologia Social Crítica É preciso ressaltar que existem várias denomina ções para falar de perspectivas psicológicas críticas desenvolvidas no contexto latinoamericano como Psicologia Crítica Psicologia da Libertação Psicolo gia Social Comunitária e até mesmo Psicologia Social Latino Americana mas neste artigo optouse por 887 Cintra M S Bernardo M H 2017 Título Curto agrupar esses enfoques em uma denominação gené rica de Psicologia Social Crítica Entendemos que todas essas propostas têm em comum o fato de ques tionarem as opressões violências e desigualdades econômicas eou sociais vividas pelos povos latinoa mericanos Montero 2011 e buscarem o empodera mento das comunidades para o enfrentamento dessas situações Observase assim que elas não se configu ram como áreas ou campos de atuação dentro da Psi cologia mas como um posicionamento éticopolítico Partese do princípio de que a Psicologia é cha mada a tomar uma posição sobre os adventos da vida cotidiana não sendo assim neutra Ao assumir uma postura cada psicólogo mostra sua posição ética e política em relação à sua prática MartinBaró 2015 Patto 1997 Cabe ainda uma caracterização da Psicologia Social Crítica aqui importada do texto de Nepomu ceno Ximenes Cidade Mendonça e Soares 2008 que a configura pela ênfase no caráter histórico da Psicologia por ter a realidade social como orientadora fundamen tal dos estudos psicológicos combate ao objeti vismo reconhecimento do caráter ativo dos seres humanos como produtores da história neces sidade de incluir no estudo psicológico o ponto de vista dos oprimidos compreendidos como sujeitos epistêmicos consideração de que o con flito é parte da ação humana reconhecimento da importância da ideologia como fenômeno psi cológico incorporação de uma concepção dinâ mica e dialética dos seres humanos fomento à autonomia e emancipação social inclusão de estudos sobre a relação entre indivíduos e vida cotidiana e a construção diária dos sentidos dados ao mundo e à vida p 457 De acordo com Domingues e Franco 2014 ela foi construída A partir de uma vertente alinhada aos movimen tos latinoamericanos de tradição marxista os quais denunciaram a colonização políticocientí fica que ocorreu por meio da aplicação direta de modelos europeus e norteamericanos em seus territórios e buscam construir uma Psicologia Social que contribuísse para a transformação das condições de vida p 16 Com isso podese citar diversos autores na América Latina que escreveram sobre uma Psicolo gia Social Crítica como Silvia Lane no Brasil Igná cio MartinBaró em El Salvador Maritza Montero na Venezuela Ignacio Dobles na Costa Rica Fernando González Rey entre Cuba e Brasil e outros tantos Conselho Regional de Psicologia 2016 A historicidade dos processos sociais é um aspecto destacado por esses autores Eles acreditam que o homem é produto e produtor da sociedade em que está inserido Outro tema que merece destaque é o das relações de poder MartinBaró 2014 afirma que o poder está presente em todos os aspectos da vida É imprescindível que uma atuação transforma dora como a Psicologia Social Crítica propõe mude também as estruturas de poder Dessa forma cons cientização e empoderamento se tornam aspectos fundamentais para uma atuação contextualizada Para MartinBaró 1996 a conscientização dos povos deve ser um dos objetivos do trabalho do psicólogo para que todos possam ter um saber crítico sobre sua realidade Assim o psicólogo deve dar condições para que a conscientização aconteça para que os indiví duos e grupos possam pensar criticamente ou seja reverter a alienação A conscientização também se faz necessária para que haja o empoderamento pois só se empoderam indivíduos conscientes de sua realidade Com isso podem ser desmascaradas as ideolo gias que justificam a exploração a pobreza a desi gualdade e a opressão como uma providência divina gerando o que se chama de fatalismo que impedem que a democracia a igualdade e o desenvolvimento pleno do ser humano avancem MartinBaró 1985 E esse trabalho deve ser realizado no cotidiano A partir dessa breve exposição é possível obser var que existe uma convergência entre os preceitos da Psicologia Social Crítica e os princípios que regem o SUS como a historicidade dos processos sociais a ideia de transformação social e também do trabalho realizado com as coletividades Mas quais fundamen tos e princípios embasam as ações dos psicólogos inseridos na Atenção Básica em Campinas A Psicolo gia Social Crítica pode ser um deles Método A pesquisa que deu origem a este artigo teve caráter qualitativo se enquadrando no que Lane 19942006 chama de pesquisa participante pois acompanha durante um certo tempo o processo de 888 Psicologia Ciência e Profissão OutDez 2017 v 37 n4 883896 vida social de um grupo e dentro dele entendese as atividades e consciências individuais que se desenvol vem num contexto histórico mais amplo p 76 Já na análise dos resultados obtidos foi utilizada a herme nêuticadialética proposta por Minayo 2014 base ada nos escritos de Habermas 1987 Do ponto de vista metodológico a hermenêutica busca compreender os sentidos atribuídos pelos indivíduos aos contextos em que estão inseridos Já a dialética busca as contradi ções apresentadas na linguagem que não necessa riamente é apenas verbal para realizar uma crítica Enquanto uma destaca a mediação a unicidade a outra enfatiza a diferença o contraste Porém ambas partem do pressuposto de que não há um observador imparcial e se pautam na historicidade para a compre ensão do sujeitomundo Minayo 2014 A pesquisa foi realizada na cidade de Campinas no interior de São Paulo no ano de 2016 Atualmente de acordo com o site da Prefeitura de Campinas1 o município conta com 61 Unidades Básicas de Saúde divididas em macrorregiões denominadas Distritos de Saúde Todas contam com equipe multiprofissional composta por médicos enfermeiros agentes comu nitários de saúde e outros profissionais Mas só um terço deles apresenta trabalhadores de Saúde Mental como psicólogos psiquiatras terapeutas ocupacio nais entre outros Três psicólogos participaram da pesquisa por entender que a compreensão aprofundada do objeto de estudo é mais interessante do que a representatividade numérica Eles trabalham em diferentes Centros de Saúde de uma das regiões mais carentes do município Estabeleceuse como critério de inclusão a for mação em Psicologia e que eles necessariamente atuassem no cargo de psicólogo de um Centro de Saúde da cidade de Campinas O contato com os par ticipantes se deu através da rede de contatos Ham mersley Atkinson 2001 das autoras Eles foram escolhidos justamente por serem conhecidos na rede de saúde como profissionais que adotam uma postura crítica em relação à sua atuação Todos foram indaga dos quanto ao interesse em colaborar com a pesquisa e após a resposta afirmativa foi requerida sua auto rização mediante assinatura do termo de consenti mento para sua participação na pesquisa A fim de manter o sigilo dos participantes em relação a suas identidades aqui são retratados com nomes fictícios São eles Renato Ana Paula e Felipe Todos têm por volta de 30 anos Apenas Ana Paula é formada por uma universidade particular já Renato e Felipe realizaram aprimoramento e mestrado em Saúde Coletiva em uma universidade pública Renato afirma que desde sua graduação tem contato com práticas voltadas para comunidades por meio de está gios Diz ser envolvido há tempos com o movimento estudantil e também com a militância em diferentes movimentos sociais Ana Paula relata interesse na área da Psicologia Hospitalar desde a graduação Já trabalhou como psicóloga em outros municípios do Estado de São Paulo e também na Assistência Social antes de mudar para a Saúde Por fim Felipe relata interesse por temas como Reforma Psiquiátrica e Luta Antimanicomial desde a graduação Para a realização da pesquisa foi acompanhada a rotina laboral desses três psicólogos para que se pudesse observar e participar de suas práticas coti dianas no ambiente de trabalho O período estipulado para isso foi de dois meses junto a cada um deles com uma frequência média de duas vezes na semana Após cada visita foram realizadas anotações em um diário de campo contendo todas as informações vivências e sentimentos da pesquisadora em relação àquele dia de trabalho É importante salientar que a pesquisadora acompanhou cada psicólogo de forma individual não indo a mais de um Centro de Saúde por vez Após o período de observações foram reali zadas entrevistas abertas com cada um dos psicólogos também de forma individual para que não houvesse influências de outros participantes nas respostas dadas O objetivo dessa fase da pesquisa foi esclare cer aspectos observados na primeira fase e também propiciar um momento mais reflexivo aos participan tes no qual eles pudessem falar sobre suas vivências ações e opiniões sem no entanto se sentirem presos a uma sequência de perguntas e respostas Resultados e discussão A leitura minuciosa dos diários de campo e das entrevistas propiciou que se chegasse a três cate gorias de análise mas para a discussão proposta neste artigo optouse por apresentar duas delas A primeira aborda as práticas realizadas por esses pro fissionais dando ênfase naquelas que os próprios 1 Disponível em httpwwwcampinasspgovbrgovernosaudeunidadescentrosdesaude Acessado em 03 de junho de 2016 889 Cintra M S Bernardo M H 2017 Título Curto participantes afirmam como no território ou seja que vão para além dos muros dos Centros de Saúde Por fim a última categoria discute a formação e o posicionamento éticopolítico dos psicólogos como sendo cruciais para uma atuação mais contextuali zada nesse espaço A atuação do psicólogo e a valorização das atividades para além dos muros dos Centros de Saúde Essa categoria aborda um tema muito impor tante para principalmente a Psicologia Social Crítica voltada para a ação em comunidades que é a terri torialidade Trabalhar no território é uma forma muito particular que os participantes assumem ao falar sobre ações que são realizadas fora da delimita ção física do Centro de Saúde que também se confi guram como uma atuação profunda e comprometida de acordo com as características e necessidades da comunidade Foi possível observar que os três psicólogos esta vam na maior parte do tempo transitando pelo Cen tro de Saúde e também pelo território fazendo com que os usuários tivessem liberdade para interagir com eles mesmo que fosse apenas para cumprimentálos Todos eram muito receptivos em relação a essas abor dagens Ainda sobre a territorialidade Renato afirma que essa é uma estratégia que utiliza para acessar os usu ários e que em um caso em específico bastante com plexo2 essa inserção no território foi fundamental para que ele tivesse uma melhor compreensão sobre a vida de uma usuária Em suas palavras Se eu marco consulta ela a usuária vai Ela não deixa de comparecer aos atendimentos Então o lance de você pensar na perspectiva de conhecer o ambiente em que o sujeito vive e as relações que ele estabelece é uma outra forma de lidar com o sujeito porque se eu não fosse visitála não ia ter dimensão objetivamente de tudo que tá rolando na vida dela Esse é um exemplo importante para mostrar como essa inserção amplia o olhar do psicólogo para outras questões e favorece a busca por um cuidado em saúde contextualizado com a realidade que o usuário vive mesmo que seja no âmbito da clínica Mas essa não é a única forma de se trabalhar no território Há também a possibilidade de utilizar outros espaços dentro da comunidade para se pro mover ações em saúde Novamente os três psicó logos realizam atividades em outros locais como o Centro de Convivência CECO o Centro de Integra ção da Cidadania CIC e até espaços que não esta vam sendo ocupados e que foram apropriados pelo Centro de Saúde para a realização de grupos Felipe afirma que é preciso conhecer o território em que se atua para fazer diversos tipos de ofertas em saúde para os usuários Para ele Trabalhar no território por exemplo não implica só cumprir agendinha e só ficar fazendo aquilo que tá agendado ali e pronto Se você não vai conhecer o território não vai conseguir ofertar outras coisas que tem no território que as pessoas que você tá atendendo podem precisar que você pode indicar Se a gente fica psicologizando as coisas a gente come um monte de bola no atendimento Ainda é possível identificar nessa fala a preocu pação de Felipe em não tratar de problemas sociais como se fossem psicológicos além da valorização de espaços e atividades que a própria comunidade já oferta para os que ali vivem Ana Paula também comenta as atividades reali zadas em outros espaços e percebe que quando os grupos do seu Centro de Saúde acontecem fora de seus muros a postura dos usuários é diferente Em suas palavras os usuários preferem fazer lá acho que lá é melhor é um outro ambiente Acho que fica mais acolhedor eles gostam mais Eu acho que despato logiza também Então você tira daqui do Centro de Saúde e vai fazer em um outro espaço Aí acho que dá pra pensar em outras coisas e o usuário não se sente num atendimento com o psicólogo porque eu tô louco da cabeça 2 Renato relata o caso de uma usuária que sempre se apresenta no Centro de Saúde de forma muito agitada com muita pressa o que dificultava inclusive que ele entendesse sua fala Então quando ele se propôs a ir à casa dela percebeu que ela acumulava potes de comida roupas e outros objetos mas que por outro lado estava sossegada Dessa forma ele pode compreender que aquela desorgani zação toda da casa dela de alguma maneira dava uma continência no processo de sofrimento que atravessa 890 Psicologia Ciência e Profissão OutDez 2017 v 37 n4 883896 Nessas duas falas notase que para esses psicó logos as ações concretas realizadas em espaços fora dos Centros de Saúde despatologizam a relação dos usuários com os profissionais de saúde pois este deixa de estar em sua casa para se tornar uma visita no território que pertence ao outro Essa postura reduz o caráter hierárquico estabelecido tradicionalmente entre profissionais da saúde e seus pacientes Além disso também demonstra que esses psicólogos acre ditam na relevância de uma atuação para além dos muros do Centro de Saúde Sobre essa relação assimétrica entre os profissio nais e os usuários Renato apresenta uma fala muito interessante em que diz que As pessoas me chamam de doutor me colocam nesse lugar social Mas quando você tá dentro de um outro espaço de uma outra natureza você consegue estabelecer um vínculo com o sujeito que é muito mais interessante do ponto de vista da horizontalidade da relação Você não tem que estar marcado pela assimetria do fato de você ser o cuidador profissional contratado que tem o conhecimento psicólogo ou médico enfermeiro Você tá ali dividindo com o sujeito o espaço do protagonismo pra discussões n questões que vão desde cidadania participação social mais ampla até ajudar em questões relacionadas à auto estima estilo de vida de tudo né Porém isso não significa que o psicólogo tenha que abrir mão de seu saber profissional mas delimi tar seu papel sem que isso seja feito de forma hierar quizada como já propunham Oddone et al 1986 na década de 1960 com relação à saúde do trabalhador O que se deve é somar o saber profissional ao saber do usuário sobre sua própria saúde promovendo sua autonomia em relação ao cuidado em saúde O tema da territorialidade ainda remete à discus são do social como parte fundamental para se pensar no cuidado em saúde e essa reflexão sobre o social tam bém se faz presente quando se fala na Psicologia Social Crítica Todos os psicólogos dessa pesquisa afirmam levar em consideração essas questões Durante a entre vista Ana Paula é elucidativa ao afirmar que as ques tões sociais com o tempo podem gerar adoecimento as pessoas trazem situações de violência que elas viveram Violência intrafamiliar ou sofreu uma violência urbana então o social atravessa o tempo todo A história de vida da pessoa de privação Essa é uma região de classe média baixa tem áreas de grande risco aqui Então é uma população que você olha e fala teve mui tos direitos negados ali pra essa pessoa não teve acesso a muita coisa E o tempo todo isso vai apa recendo como adoecimento Felipe também fala sobre isso Para ele muitos dilemas sociais chegam fantasiados de sofrimento psíquico e é por isso que é fundamental ter a dimen são do social no cuidado em saúde Mas apesar disso é preciso esclarecer que não desconsideram o sofrimento psíquico dos indivíduos pois as pessoas sofrem por mazelas que são produzidas socialmente Esses dois relatos apresentam uma clara relação com a Psicologia Social Crítica e suas premissas éti copolíticas pois considera a historicidade dos indi víduos como já apontado por Lane 19942006 Mar tinBaró 2015 e Freitas 2014 Como esses autores afirmam o sujeito é produto e produtor de seu meio sendo influenciado pelas questões sociais que atra vessam a sua vida E essa concepção pode propiciar ao psicólogo uma atuação contextualizada Todavia o que foi observado algumas vezes nas falas e nas atuações dos participantes da pesquisa foi um olhar para o social como se este fosse sinônimo de falta de acesso a recursos materiais e não envolvesse fenôme nos diversos e complexos Porém os psicólogos ainda realizam atividades dentro de seus Centros de Saúde como é o caso dos atendimentos individuais Apesar de muitas vezes criticados por transportarem o modelo privatista de atuação para um local onde a realidade é outra não se pode descartar que para alguns casos esse tipo de atendimento é importante e necessário Figueiredo e OnockoCampos 2009 quando não reproduz a lógica individualizante Felipe faz uma afirmação nesse sentido Para ele é lógico que o atendimento individual é muito importante e para alguns casos é o que tem que fazer mas é para alguns casos Não para tudo que a gente pega Renato também avalia que em alguns momen tos esse modelo é importante como para casos em que há queixa de abusos agressões e outras caracte rísticas que considera serem complicadas de serem discutidas em grupos ou em outros espaços Mas ao mesmo tempo em que faz essa afirmação relata a difi 891 Cintra M S Bernardo M H 2017 Título Curto culdade que sente em relação a essa prática com pes soas que têm outra dinâmica de vida Eu estou cansado cansado no sentido de careca de ver que em vários momentos os agendamen tos individuais que eu faço são totalmente vazios porque de alguma maneira eu não consigo inte ragir com o sujeito no momento em que a neces sidade se apresenta pra ele em uma dimensão social do sofrimento e eu marco um horário pra ele vir falar do sofrimento dele Mas a dinâmica da organização da vida das pessoas é totalmente diferente Então eu tomo um monte de cano os usuários não vêm Sobre os atendimentos individuais que realiza ele também afirma que não utiliza o enfoque tradi cional por achar que esse modelo não dá conta de abarcar as complexidades da vida das pessoas Ele considera que cada indivíduo tem uma família uma história e seu lugar no mundo e que isso tudo faz com que ele possa compreender a dinâmica da vida dos usuários Por isso acha mais interessante trabalhar com grupos e com a própria comunidade Ele ainda faz um desabafo em relação ao seu cotidiano dizendo que muitas vezes gostaria de fazer mais em seu tra balho mas que não há como chegar tentando mudar todas as regras e fazer tudo do seu jeito Para ele existe o possível de se fazer Renato ainda afirma que é preciso manejo e con fiança além do tempo para realizar atividades significa tivas no espaço de trabalho pois ainda há uma pressão tanto dos profissionais como dos próprios usuários para que o psicólogo assuma uma posição tradicional que é o atendimento clínico individual Ele também afirma que por conta de seu pensamento contra hege mônico foi desrespeitado em alguns momentos de sua vida profissional mas mantém o que acredita eu estou fundamentado numa outra lógica que para mim faz sentido Então não é porque alguém vai me xingar que eu vou deixar de fazer ou dei xar de acreditar naquilo que eu tenho pensado do ponto de vista da minha atuação profissional É interessante destacar que mesmo que essa postura seja identificada nos três psicólogos parti cipantes da pesquisa foi possível perceber que eles ainda dedicam grande parte de seu tempo para ações voltadas para recuperaçãotratamento em saúde Ao ser questionado sobre isso na entrevista Felipe afirma que se sente preso em realizar ações de recuperação em saúde por conta da enorme demanda por atendi mentos psicológicos e que isso não pode ser ignorado Por isso precisa ser persistente para realizar ativida des de promoção e prevenção em saúde Eu sinto que consigo fazer práticas de promoção porque também meto o pé pra fazer sabe Por que vai muito disso porque se você deixa a demanda grita na sua cara Se você se deixa levar pela demanda apenas pela demanda manifesta que aparece ali pra você você não consegue fazer promoção de saúde por exemplo Notase que essa fala juntamente com a de Renato destacada acima mostram as contradições que permeiam o atendimento clínico no Centro de Saúde pois ao mesmo tempo em que são pressio nados pela demanda por atendimento individual a adesão a esse tipo de atividade é pequena Finalizase então essa categoria com a fala de Ana Paula que é a que mais se aproxima dos conceitos e vertentes da Psicologia Social Crítica Ela afirma que o trabalho do psicólogo deve se dar no sentido de pro mover qualidade de vida e ainda complementa no primeiro momento o trabalho do psicólogo é o acolhimento a continência o estar ali ver que tem alguém ali o que a gente pode ofertar E acho que mais amplamente ajudando até socialmente no acesso na formação de grupos na problema tização com a população dessas questões sociais e acho que principalmente no produzir conhe cimento No ajudar a pensar como que a pessoa pode reagir a uma situação Primeiro ela precisa ter o básico E acho que a gente entra aí também porque se a gente identifica uma situação a gente pode acionar outros parceiros também como a Assistência Social a Justiça Então eu acho que o trabalho do psicólogo é tanto com a pessoa de ajudar nesse progresso dela das necessidades desde a básica até a mais complexa até a articu lação também com a rede com o CAPS Centro de Atenção Psicossocial CRAS Centro de Referên cia de Assistência Social Creas Centro de Refe rência Especializado de Assistência Social na garantia de direitos 892 Psicologia Ciência e Profissão OutDez 2017 v 37 n4 883896 Dessa forma o trabalho do psicólogo deve con siderar o contexto social e promover a autonomia e o empoderamento dos usuários tanto no nível indi vidual como no coletivo além de trabalhar de forma intersetorial com outros serviços públicos Sobre a formação e o posicionamento éticopolítico dos psicólogos Na introdução deste artigo foi possível observar que uma formação voltada para políticas públicas seria um importante instrumento para que o psicó logo já saísse da graduação com um olhar para essas questões e assim poderia ser mais fácil de realizar práticas condizentes com os preceitos do SUS por exemplo Nesse sentido Renato e Felipe destacaram o quanto suas formações em Saúde Coletiva estão presentes em ações cotidianas Ambos buscaram por iniciativa própria essa formação após vivências na saúde pública Já Ana Paula não relata nenhuma formação na Saúde Coletiva mas mais importante do que isso a ser destacado aqui é que essa profissional se mostrou muito aberta para discutir seu trabalho e aprender com os colegas Devese levar em conside ração o fato de ela se aproximar de Renato por conta do NASF o que com certeza a tem influenciado Renato e Felipe também relatam que em algum momento de suas formações tiveram contato com a Psicologia Social e que isso os influenciou Felipe inclusive cita autores das Ciências Sociais durante a entrevista Já Renato durante uma conversa infor mal assume que tem baseado suas ações em teorias sociais Ao comentar isso podese perceber seu claro alinhamento de suas ideias com a Psicologia Social Crítica quando destaca a importância de valorizar o que a comunidade já tem e trabalhar no território Para ele a Psicologia Social tem um alinhamento com as diretrizes de trabalho da Atenção Básica a partir do que o SUS preconiza Já Ana Paula que sempre teve interesse na área da Psicologia Hospitalar afirma que isso não a impe diu de buscar desempenhar um trabalho condizente com os preceitos do SUS no nível primário Ela se mostrou muito interessada em reuniões capacitações e discussões para aprimorar sua prática não ficando presa a modelos préestabelecidos Isso demonstra que para além da formação aca dêmica o posicionamento éticopolítico também é de extrema importância quando se pensa em prá ticas contextualizadas Os psicólogos apresentavam uma postura crítica e não naturalizante em relação ao seu trabalho levando em consideração os contextos macro e microssociais em que estão inseridos além da constante reflexão sobre suas ações Ficou claro que os três têm consciência das relações de poder e possibilidades entre os grupos sociais e das contradi ções presentes em na sociedade ainda que em alguns momentos eles mesmos apresentem algumas contra dições em suas práticas e suas falas Uma autora que discute a importância do emba samento político por detrás das ações dos profissio nais é Freitas 1998 Segundo ela os aspectos instru mentais dependem das concepções adotadas pelo psicólogo para orientar sua prática E isso se torna crucial quando se fala de uma atuação contra hege mônica Renato afirma que desde a graduação está envolvido com a militância de movimentos estudan tis sociais e da luta antimanicomial e isso com cer teza influenciou e ainda influencia suas ações no Cen tro de Saúde Para ele a participação em movimentos sociais é uma dimensão de seu trabalho e também um posicionamento éticopolítico Em suas palavras a prática profissional nunca deve estar apartada das outras dimensões da vida pessoal social da participação cidadã Que nem hoje a gente está fazendo a entrevista depois do ato da luta antima nicomial que de alguma maneira na minha con cepção é uma dimensão do meu trabalho Estar em espaços como esse reivindicando a melhora de políticas públicas denunciando situações em que a gente percebe que as condições mínimas pra trabalhar estão sendo agredidas faz com que a gente perceba que precisa de mais investimentos estar em outros espaços de formação e debate A visão de mundo também aparece nas ações cotidianas dos participantes da pesquisa como foi possível perceber durante um grupo liderado por Felipe Muitos estigmas em relação à vida dos usu ários foram aparecendo durante as conversas do grupo e por ter uma crítica em relação a essas afir mações preconceituosas Felipe as problematizou Isso demonstra o quanto o posicionamento éticopo lítico do psicólogo aparece no dia a dia e que se tais estigmas não forem questionados e debatidos não serão superados Nesse sentido o movimento da luta antimanicomial se coloca tanto Renato como Felipe 893 Cintra M S Bernardo M H 2017 Título Curto como uma forma de garantir os direitos dos usuários de saúde mental A partir das experiências aqui relatadas podese estabelecer a diferença entre prática e práxis Botto more 1997 explica a diferença entre essas duas pala vras que constantemente são tidas como sinônimos Para o autor a práxis é uma açãoatividade em que o homem cria e transforma a si mesmo e a sua história Assim necessariamente está atrelada a uma reflexão sobre essa açãoatividade Já a prática é uma ação sem reflexões e questionamentos em que há reprodução de ações Aqui notase que as atividades do cotidiano dos psicólogos da Atenção Básica de Campinas são atendimentos individuais atividades no território grupos de diversos caráteres e reuniões por exemplo Mas então o que muda de uma prática para uma práxis Nesta pesquisa parece ser o posicionamento éticopolítico que embasa a atuação dos participan tes e não teorias específicas Não se pode esquecer que não existe ação humana que não seja ideológica como bem afirmam MartinBaró 2015 e Patto 1997 Assim a atuação do psicólogo também o é Renato por exemplo afirma que se embasa nas teorias sociais enquanto que Felipe diz ter estudado Lacan auto res da Psicologia Social e também da Saúde Coletiva Apesar de Ana Paula apresentar um percurso acadê mico diferente dos outros dois psicólogos é ela quem afirma que o olhar voltado para o SUS deve começar logo na graduação Eu não me lembro em ter tido muita ênfase em políticas públicas eu fui aprender isso na prática estudando para concurso porque daí pede Aí que eu fui conhecer mais essa parte de políticas públi cas Então eu acho que isso já tem que começar na graduação A gente tem que ter uma gradua ção que amplie os olhares para as diferentes pos sibilidades da Psicologia Tem que começar na base porque daí a gente já vai aprendendo mesmo as diferentes formas de atuar porque senão fica muito difícil A gente vai apanhando e é meio na marra que você vai descobrindo Essa coisa do set ting do consultório imagina né Aqui eu atendo cada dia em um consultório na casa em con junto atende no corredor então é muito diferente Essa sua fala mostra um aspecto muito impor tante defendido neste artigo Uma formação com embasamento nos princípios da Psicologia Social Crí tica poderia ser interessante para apresentar ao aluno que a Psicologia vai muito além do que o consultório privado Dessa forma ao oferecer espaços críticos na graduação os estudantes poderiam voltar seus olhares para questões sociais gerando inclusive maior interesse em atuar em políticas públicas seja no campo da saúde ou em outros Aqui os psicólo gos seguiram suas formações por caminhos diversos mas com certeza a ênfase crítica na graduação pode ria ser um facilitador para que se encontrassem muito mais Renatos Felipes e Anas Paulas atuando em ser viços públicos de saúde assistência e tantos outros onde uma atuação contextualizada é imprescindível Considerações finais A pesquisa aqui apresentada permitiu afirmar que os psicólogos participantes não limitam suas ações a atendimentos clínicos tradicionais realizando mui tas outras atividades como grupos dos mais variados tipos reuniões com escolas e entre profissionais e visi tas domiciliares para citar alguns exemplos Também podese observar o quanto as atividades realizadas fora do espaço dos Centros de Saúde são importantes quando se pensa em uma atuação contextualizada A aqui chamada de atuação no território se mostra imprescindível para esse tipo de ação comprometida Com isso destacase a importância de que a atuação do psicólogo nesse local não se limite a uma prática curativa e individualizante mas que abranja ações que promovam autonomia conscientização e empoderamento visando a transformação social da comunidade A horizontalidade das relações também é um aspecto a ser considerado pois permite um olhar entre iguais para uma atuação contextualizada Não se pode esquecer das lutas por melhores condições de trabalho e pela defesa de direitos como foi visto em atividades realizadas no dia de luta antimanicomial como importantes momentos de militância em que o posicionamento éticopolítico dos psicólogos ficou muito evidente Foi possível concluir que mais importante do que a atividade em si é o posicionamento éticopolítico por detrás dela Mesmo sabendo da dificuldade de práticas inovadoras elas são importantes para um cuidado em saúde que busca superar o modelo clínico tradicional A reflexão sobre novos fazeres que aflorem o lado cria tivo que Dimenstein PSI 2009 tanto fala em seu texto permite que os psicólogos saiam de lugares préestabe lecidos rumo a uma prática comprometida socialmente 894 Psicologia Ciência e Profissão OutDez 2017 v 37 n4 883896 Este artigo busca deixar claro que não apenas uma teoria pode propiciar essa atuação contextua lizada mas que um posicionamento éticopolítico crítico sobre a realidade e sobre a saúde impacta positivamente na maneira de atuar Dessa forma defendese que uma formação crítica com perspec tivas como as da Psicologia Social Crítica pode favo recer a uma maior reflexão para os alunos e profissio nais da saúde Entendese as limitações deste artigo especial mente no que diz respeito à impossibilidade de fazer comparações com outros profissionais que não pos suem as características apresentadas pelos partici pantes escolhidos Todavia acreditase que a contri buição deste trabalho tenha sido a de evidenciar que apesar do cenário desfavorável para as políticas públi cas é possível e cada vez mais necessário desenvol ver uma atuação crítica Referências Amaral M S Gonçalves C H Serpa M G 2012 Psicologia Comunitária e a Saúde Pública relato de expe riência da prática Psi em uma Unidade de Saúde da Família Psicologia Ciência e Profissão 322 484495 httpsdoiorg101590S141498932012000200015 Böing E Crepaldi M A 2010 O psicólogo na atenção básica uma incursão pelas políticas públicas de saúde brasileiras Psicologia Ciência e Profissão 303 634649 httpsdoiorg101590S141498932010000300014 Bottomore T 1997 Dicionário do pensamento marxista Rio de Janeiro RJ Zahar Brasil 2007 Conselho Nacional de Secretários de Saúde Atenção Primária e Promoção da Saúde Brasília DF o autor Campos F C B Guarido E L 2007 O psicólogo no SUS suas práticas e as necessidades de quem o procura In M J P Spink A psicologia em diálogo com o SUS prática profissional e produção acadêmica pp 81103 São Paulo SP Casa do Psicólogo Conselho Regional de Psicologia SP CRPSP 2016 11 de abril Edgar Barrero Precisamos de uma psicologia latinoamericana transformadora Jornal PSI 186 Recuperado de httpwwwcrpsporgsitefiquedeolho internaphpnoticia1187tituloEdgar20Barrero2093Precisamos20de20uma20psicologia20lati noamericana20transformadora94 Dimenstein M D B 1998 O psicólogo nas Unidades Básicas de Saúde desafios para a formação e atuação de profissionais Estudos de Psicologia Natal 31 5381 Domingues A R Franco E M 2014 Reflexões teóricas sobre sujeitos coletivos e experiências comunitárias In C Stella Org Psicologia comunitária contribuições teóricas encontros e experiências pp 1544 Petrópolis RJ Vozes Figueiredo M D OnockoCampos R 2009 Saúde Mental na atenção básica à saúde em Campinas SP uma rede ou um emaranhado Ciência Saúde Coletiva 141 129138 httpsdoiorg101590S141381232009000100018 Freitas M F Q 1998 Inserção na comunidade e análise de necessidades reflexões sobre a prática do psicólogo Psicologia Reflexão e Crítica 111 175189 httpsdoiorg101590S010279721998000100011 Freitas M F Q 2014 Psicologia Social Comunitária como politização da vida cotidiana desafios à prática em comunidade In C Stella Org Psicologia Comunitária contribuições teóricas encontros e experiências pp 6585 Petrópolis RJ Vozes Gomes K O Cotta R M M Araújo R M A Cherchiglia M L Martins T C P 2011 Atenção Primária à Saúde a menina dos olhos do SUS sobre as representações sociais dos protagonistas do Sistema Único de Saúde Ciências Saúde Coletiva 16Supl1 881892 httpsdoiorg101590S141381232011000700020 Habermas J 1987 Dialética e hermenêutica Porto Alegre LPM Hammersley M Atkinson P 2001 Etnografía métodos de investigación Barcelona Paidós Lane S T M 19942006 Avanços da psicologia social na América Latina In S T M Lane B B Sawaia Orgs Novas veredas da psicologia social pp 6781 São Paulo SP Brasiliense Macedo J P Dimenstein M 2011 Expansão e interiorização da Psicologia reorganização dos saberes e poderes na atualidade Psicologia Ciência e Profissão 312 296313 httpsdoiorg101590S141498932011000200008 895 Cintra M S Bernardo M H 2017 Título Curto MartinBaró I 2015 Acción e ideología psicología social desde centroamérica 17a ed San Salvador UCA Editores MartinBaró I 1985 La desideologización como aporte de la Psicología Social al desarrollo de la democracia en Latinoamérica Boletín de la AVEPSO 113 39 Recuperado de httpwwwucaedusvcolecciondigitalIMB wpcontentuploads2015111985Ladesideologizacioncomoaportedelapsicologiasocialaldesarrollo AVEPSO19858339pdf MartínBaró I 1996 O papel do psicólogo Estudos de Psicologia Natal 21 727 httpsdoiorg101590S1413294X1997000100002 MartinBaró I 2014 Processos psíquicos e poder Revista Psicologia Política 1431 591608 Recuperado de httppepsicbvsaludorgscielophpscriptsciarttextpidS1519549X2014000300011 Minayo M C S 2014 O desafio do conhecimento pesquisa qualitativa em saúde 14a ed São Paulo SP Hucitec Montero M 2011 Ser fazer e parecer crítica e libertação na América Latina In R S L Guzzo F Lacerda Junior 2011 Psicologia social para a América Latina o resgate da psicologia da libertação 2a ed pp 87100 Campi nas SP Alínea Nascimento M L Manzini J M Bocco F 2006 Reinventando as práticas Psi Psicologia Sociedade 181 1520 httpdxdoiorg101590S010271822006000100003 Nepomuceno L B Ximenes V M Cidade E C Mendonça F W O Soares C A 2008 Por uma psicologia comunitária como práxis de libertação Psico 394 456464 Recuperado de httprevistaseletronicaspucrsbr ojsindexphprevistapsicoarticleview35323836 Oddone I Marri G Gloria S Briante G Chiattella M Re A 1986 Ambiente do trabalho a luta dos traba lhadores pela saúde São Paulo SP Hucitec Oliveira I F Dantas C M B Costa A L F Silva F L Alverga A R Carvalho D B et al 2004 O psicólogo nas unidades básicas de saúde formação acadêmica e prática profissional Interações 917 7189 Recuperado de httppepsicbvsaludorgscielophpscriptsciarttextpidS141329072004000100005 Patto M H S 1997 Para uma Crítica da Razão Psicométrica Psicologia USP 81 4762 httpsdoiorg101590S010365641997000100004 Paim J S 2009 Uma análise sobre o processo da Reforma Sanitária brasileira Saúde em Debate 3381 2737 Recuperado de httpwwwnescufprbrprocessoseletivo2015politicasPAIM20Jairnilson2020Uma20 anC3A1lise20sobre20o20processo20da20Reforma20SanitC3A1ria20brasileirapdf PSI 2009 Conversando com um psicólogo Magda Dimenstein sem medo de pensar Psi Jornal de Psicologia 161 Recuperado de httpwwwcrpsporgbrportalcomunicacaojornalcrp161framesfrconversando psicologoaspx Ronzani T M Rodrigues M C 2006 O psicólogo na atenção primária à saúde contribuições desafios e redire cionamentos Psicologia Ciência e Profissão 261 132143 httpsdoiorg101590S141498932006000100012 Scarcelli I R Junqueira V 2011 O SUS como desafio para a formação em Psicologia Psicologia Ciência e Pro fissão 312 340357 httpsdoiorg101590S141498932011000200011 Scliar M 2007 História do conceito de saúde Physis Revista de Saúde Coletiva 171 2941 httpsdoiorg101590S010373312007000100003 Marcela Spinardi Cintra Pontifícia Universidade Católica de Campinas Email marcelaspinardigmailcom Marcia Hespanhol Bernardo Pontifícia Universidade Católica de Campinas Email marciahespanholhotmailcom 896 Psicologia Ciência e Profissão OutDez 2017 v 37 n4 883896 Endereço para envio de correspondência Marcela Spinardi Cintra Endereço Alameda Colombina 704 Condomínio Terras de São José ItuSP Recebido 14032017 Aprovado 17102017 Received 03142017 Approved 10172017 Recibido 14032017 Aceptado 17102017 Como citar Cintra M S Bernardo M H 2017 Atuação do Psicólogo na Atenção Básica do SUS e a Psicologia social Psicologia Ciência e Profissão 374 883896 httpsdoiorg10159019823703000832017 How to cite Cintra M S Bernardo M H 2017 Psychologists performance in the Primary Health Care of SUS and social Psychology Psicologia Ciência e Profissão 374 883896 httpsdoiorg10159019823703000832017 Cómo citar Cintra M S Bernardo M H 2017 Actuación del Psicólogo en la Atención Básica del SUS y la Psicología social Psicologia Ciência e Profissão 374 883896 httpsdoiorg10159019823703000832017
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Psicologia Ciência e Profissão OutDez 2017 v 37 n4 883896 httpsdoiorg10159019823703000832017 Disponível em wwwscielobrpcp Atuação do Psicólogo na Atenção Básica do SUS e a Psicologia Social Marcela Spinardi Cintra Pontifícia Universidade Católica de Campinas SP Brasil Marcia Hespanhol Bernardo Pontifícia Universidade Católica de Campinas SP Brasil Resumo A visão de que o fazer dos psicólogos é clínico pautado no modelo biomédico se apresenta ainda muito enraizada no discurso de muitos profissionais Parecem compreender que essa atuação é a principal senão a única forma de a Psicologia contribuir com os usuários do sistema de saúde e com a comunidade Porém alguns profissionais procuram atuar de acordo com os princípios do SUS baseandose em abordagens críticas da Psicologia Eles se aproximam das comunidades e apresentam uma prática diferenciada com relação à tradicional Assim o objetivo desta pesquisa é conhecer práticas de alguns psicólogos inseridos na Atenção Básica buscando identificar as bases que as fundamentam e se estão em consonância com a Psicologia Social Crítica A pesquisa teve caráter qualitativo usando a pesquisa participante como estratégia metodológica juntamente com a realização de entrevistas abertas Os participantes são três psicólogos que atuam em Unidades Básicas de Saúde de Campinas Os resultados da pesquisa indicam que o posicionamento éticopolítico do profissional e uma formação voltada para a atuação no SUS são fundamentais para uma atuação crítica e contextualizada Mostra se que o trabalho realizado para além dos muros dos Centros de Saúde tem grande relevância e é nele que as relações estabelecidas com os conceitos da Psicologia Social Crítica ficam mais evidentes Considerase a importância da reflexão dos psicólogos sobre suas próprias ações além da busca por práticas inovadoras que possam ser incluídas nas políticas públicas de saúde e entendese que os princípios da Psicologia Social Crítica fornecem subsídios para tal Palavraschave Psicologia Social Crítica SUS Atenção básica Pesquisa participante 884 Psicologia Ciência e Profissão OutDez 2017 v 37 n4 883896 Psychologists Performance in the Primary Health Care of SUS and Social Psychology Abstract The idea that what psychologists do is clinical based on the biomedical model is still very much rooted in their own and other professionals discourse They seem to understand that this action is the main if not the only way for psychology to contribute to the users of the health system SUS and to the community However there are professionals who seek to act according to the principles of SUS relying on critical approaches to psychology These professionals approach the communities and present a differentiated practice in relation to the traditional one Therefore the objective of this research is to know the practices of some psychologists inserted in Primary Health Care seeking to identify the bases that underlie them and if they are in consonance with Critical Social Psychology This research has a qualitative character using participatory research as a method together with the conduction of openended questions interviews Three psychologists who work in Health Centers of Campinas participated in the study In the research results it can be observed that the professionals ethical and political views as well as the fact of their training being shaped to perform at SUS are fundamental to have a critical and contextualized performance There are also considerations about the practices of these professionals such as the work performed beyond the walls of the Health Centers and it also brings the relations established with the concepts of Critical Social Psychology Thus it is considered the importance of the reflection by psychologists on their own practices as well as the search for innovative practices that can be included in public health policies Keywords Critical Social Psychology SUS Primary Health Care Participatory research Actuación del Psicólogo en la Atención Básica del SUS y la Psicología Social Resumen La visión de que la actuación del psicólogo es clínica pautada en el modelo biomédico se encuentra bastante arraigada en el discurso de muchos profesionales Así parecen entender que dicha actuación es la principal o quizás la única forma en que la psicología contribuye con los usuarios del sistema de salud y con la comunidad Sin embargo existen profesionales que buscan ejercer de acuerdo con los principios del SUS apoyándose en posturas críticas de la psicología Estos profesionales se acercan a las comunidades y presentan una práctica diferente comparada con la tradicional De esta forma el objetivo de esta investigación es conocer las prácticas de algunos psicólogos que hacen parte de la Atención Básica buscando identificar las bases que las fundamentan y si están en consonancia con la Psicología Social Crítica Esta investigación es de carácter cualitativa utilizando el método de la investigación participante junto con la realización de entrevistas abiertas En la investigación participaron tres psicólogos que ejercen en Unidades Básicas de Salud de Campinas En los resultados se puede observar que la posición ética y política del profesional es fundamental para tener una actuación crítica y contextualizada así como una formación volcada hacia el ejercicio profesional en el SUS También se muestran consideraciones sobre las prácticas de estos profesionales como el trabajo realizado fuera de los muros de los Centros de Salud y también se exponen las relaciones establecidas con los conceptos de la Psicología Social Crítica Se considera por lo tanto la importancia de la reflexión de los psicólogos sobre sus propias prácticas y la búsqueda de prácticas innovadoras que se pueden incluir en las políticas de salud pública y se entiende que los principios de la Psicología Social Crítica proporcionan subsidios para tal Palabras claves Psicología Social Crítica SUS Atención básica Investigación participante 885 Cintra M S Bernardo M H 2017 Título Curto Apresentação Este artigo nasceu a partir de uma pesquisa de Mestrado Acadêmico concluída em 2016 A opção pelo tema surge de uma experiência anterior na área da Psicologia vivenciada por uma das autoras em uma Unidade Básica de Saúde do Sistema Único de Saúde SUS da cidade de Campinas SP A partir dessa experiência pôdese perceber que ainda exis tem muitas dificuldades no campo da Saúde Pública principalmente quando se aborda a Saúde Mental e a atuação de psicólogos Ainda hoje a visão de que o fazer desse profissional é majoritariamente clínico pautado no modelo biomédico se apresenta muito enraizada em discursos de psicólogos e demais traba lhadores Assim muitos parecem compreender que essa é a principal senão a única forma de atender aos preceitos da profissão Porém é importante des tacar que alguns psicólogos buscam maneiras mais condizentes de atuar valendose de práticas que se embasam em conceitos e princípios do SUS se apro ximando da comunidade e também apresentando um saber crítico em relação à sua própria atuação Considerando as dificuldades enfrentadas no campo da Saúde Pública e o fato de o número de psi cólogos contratados ter mais que dobrado de 2005 até 2011 como apontam Macedo e Dimenstein 2011 sentiuse a necessidade de explorar outras possibili dades de ação do psicólogo na Atenção Básica que vão além do atendimento clínico individual embasado na lógica privatista e liberal Mas o que se define neste artigo como uma atu ação contextualizada Para explicar essa denomina ção adotada utilizase o texto de Dimenstein 1998 em que a autora explica que atuar dessa forma é pro piciar uma prática transformadora e reflexiva sempre condizente com a realidade da comunidade em que se está inserido buscando novas formas de deixar emergir o novo Acrescentase aqui também que uma atuação contextualizada deve promover conscientiza ção e empoderamento Dessa forma a pergunta que guiou essa investi gação foi quais são as bases que fundamentam uma atuação mais contextualizada do psicólogo na aten ção básica do SUS Partiuse do pressuposto de que a aqui chamada Psicologia Social Crítica desenvolvida na América Latina se mostra como uma das possíveis referências para embasar tal atuação justamente por entender que há uma afinidade entre os princípios da Psicologia Social Crítica e as propostas do SUS para a Atenção Básica Com base nesse pressuposto o obje tivo da pesquisa apresentada aqui foi o de conhecer práticas de alguns psicólogos inseridos na Atenção Básica buscando identificar as bases que as funda mentam e se estão em consonância com a Psicolo gia Social Crítica Entendese que essa compreensão possa ser importante para a discussão de uma for mação oferecida nos cursos de Psicologia de modo a dar mais subsídios para que os futuros profissionais atuem em consonância com os preceitos do SUS Introdução A saúde pública e a inserção de psicólogos É necessário esclarecer que o que se entende por saúde reflete a conjuntura social econômica polí tica e cultural Scliar 2007 p 30 Dessa forma cada pessoa tem uma representação sobre o que é saúde pois depende da época do lugar da classe social de valores individuais de concepções científicas religiosas filosóficas Scliar 2007 p 30 E isso com certeza é um determinante para a organização de um sistema de saúde em um local e época No Brasil a partir da Constituição de 1988 a saúde passa a ser um direito para todos e dever do Estado Em 1990 o SUS é regulamentado instituindo se a Lei no 80801990 Paim 2009 que visa a pro moção a proteção e a recuperação em saúde através de princípios como a universalidade a gratuidade a integralidade e a descentralização Importante desta car que esse sistema nasceu da luta de movimentos sociais Ele está dividido em três níveis de atenção apresentados aqui da maior para a menor complexi dade o nível terciário que envolve procedimentos de alta complexidade tecnologia e custo o nível secun dário que visam atender agravos à saúde que deman dem profissionais especialistas ou recursos mais avançados que o nível primário e o nível primário lócus da pesquisa aqui apresentada em que são rea lizados os procedimentos que necessitam de menos tecnologia e equipamentos capazes de dar resoluti vidade à maioria dos problemas comuns à população Também chamada de Atenção Básica é a porta de entrada do usuário no sistema de saúde onde acon tece a referência e contrarreferência para demais ser viços especializados Brasil 2007 Na Atenção Básica há cerca de uma década começou a ser implementada a Estratégia de Saúde da 886 Psicologia Ciência e Profissão OutDez 2017 v 37 n4 883896 Família ESF promovida pelo Ministério da Saúde Os profissionais que defendem sua implementa ção como Gomes Cotta Araújo Cherchiglia e Mar tins 2011 acreditam que ela transformou o modelo médico individualista em um modelo de saúde cole tiva Porém nem todos concordam com isso Scar celli e Junqueira 2011 por exemplo afirmam que a estratégia apresenta um retrocesso tendo em vista que centraliza o cuidado nos aspectos biológicos já que a equipe da ESF é composta por médicos enfer meiros e agentes comunitários de saúde e os demais profissionais como é o caso do psicólogo ficariam como apoiadores a eles no Núcleo de Apoio à Saúde da Família NASF Nesse contexto cabe indagar como se dá sua atu ação do psicólogo na Atenção Básica Como afirmado por Campos e Guarido 2007 mesmo com um grande repertório de ações que podem ser desenvolvidas como atividades em grupo visitas domiciliares e ofi cinas por exemplo a maioria dos psicólogos ainda se volta para os atendimentos clínicos individuais nos moldes dos consultórios particulares Isso pode ser explicado pela história da inserção do psicólogo na saúde pública como afirma Dimenstein 1998 Para a autora por conta da crise instaurada nos anos 1970 e 1980 e o crescente número de psicólogos se formando nas faculdades do Brasil afora a saúde pública se mostrou como uma nova possibilidade para os pro fissionais sem contudo ser acompanhado do devido preparo na sua formação Mas também é importante destacar que a busca por um outro modelo de atuação foi um dos motivos pelos quais outros psicólogos que teciam críticas ao modelo de saúde dessa época esco lheram esse campo de trabalho Segundo Ronzani e Rodrigues 2006 a postura individualista para tratar dos usuários vai na contra mão do que seria uma atuação comprometida com a comunidade além de também se contrapor ao con ceito de saúde que norteia o SUS que inclui os aspec tos sociais nos cuidados Com isso podese afirmar que um trabalho contextualizado do psicólogo nesse nível de atenção deve se dar no sentido de empode rar indivíduos e coletividades possibilitando que eles promovam mudanças em suas vidas Para que isso aconteça Amaral Gonçalves e Serpa 2012 acreditam que o psicólogo deve se inserir de fato na comuni dade ou seja no cotidiano dos moradores compre endendo suas dinâmicas de maneira profunda e com comprometimento Todas essas questões esbarram na formação dos psicólogos Muitos chegam à saúde pública sem o devido preparo para assumir esse contexto de traba lho Dimenstein 1998 e também há um desconheci mento de outras possibilidades de atuação Boing Crepaldi 2010 Mas não é só isso Há questões como a inexistência de local adequado que não permite outras práticas falta de credibilidade das práticas psicológicas diferentes das tradicionalmente estabe lecidas e ausência de preparo para atender deman das sociais Oliveira et al 2004 p 82 que também devem ser levadas em conta quando se fala da atua ção do psicólogo nesse espaço Assim Nascimento Manzini e Bocco 2006 afir mam que é preciso reinventar as práticas psicológi cas criando um constante estranhamento dos paradigmas e reali dades que se apresentam como prontos autorizan donos a inventar no cotidiano estratégias que não obedeçam às fórmulas prescritas mas que pelo contrário possibilite o exercício de autonomia em nossas análises e gestões do dia a dia p 19 Essas não precisam ser práticas mirabolantes mas podem ser pequenos atos que muitas vezes não são tidos como o quefazer do psicólogo As mes mas autoras e Dimenstein PSI 2009 trazem essa temática para discussão Ações como acompanhar um jovem em sua matrícula na escola podem surtir efeito e repercutem na saúde das pessoas É preciso então se libertar das amarras que prendem a atuação do psicólogo a uma única ação e dar liberdade para que ela se transforme em atividades necessárias para aquele momento Mas como propiciar uma formação que ajude os profissionais a seguirem esse caminho sem achar que estão deixando de ser psicólogos por isso Aqui entendemos que a Psicologia Social Crítica desenvolvida na América Latina pode ser uma dessas bases como expomos a seguir Sobre a Psicologia Social Crítica É preciso ressaltar que existem várias denomina ções para falar de perspectivas psicológicas críticas desenvolvidas no contexto latinoamericano como Psicologia Crítica Psicologia da Libertação Psicolo gia Social Comunitária e até mesmo Psicologia Social Latino Americana mas neste artigo optouse por 887 Cintra M S Bernardo M H 2017 Título Curto agrupar esses enfoques em uma denominação gené rica de Psicologia Social Crítica Entendemos que todas essas propostas têm em comum o fato de ques tionarem as opressões violências e desigualdades econômicas eou sociais vividas pelos povos latinoa mericanos Montero 2011 e buscarem o empodera mento das comunidades para o enfrentamento dessas situações Observase assim que elas não se configu ram como áreas ou campos de atuação dentro da Psi cologia mas como um posicionamento éticopolítico Partese do princípio de que a Psicologia é cha mada a tomar uma posição sobre os adventos da vida cotidiana não sendo assim neutra Ao assumir uma postura cada psicólogo mostra sua posição ética e política em relação à sua prática MartinBaró 2015 Patto 1997 Cabe ainda uma caracterização da Psicologia Social Crítica aqui importada do texto de Nepomu ceno Ximenes Cidade Mendonça e Soares 2008 que a configura pela ênfase no caráter histórico da Psicologia por ter a realidade social como orientadora fundamen tal dos estudos psicológicos combate ao objeti vismo reconhecimento do caráter ativo dos seres humanos como produtores da história neces sidade de incluir no estudo psicológico o ponto de vista dos oprimidos compreendidos como sujeitos epistêmicos consideração de que o con flito é parte da ação humana reconhecimento da importância da ideologia como fenômeno psi cológico incorporação de uma concepção dinâ mica e dialética dos seres humanos fomento à autonomia e emancipação social inclusão de estudos sobre a relação entre indivíduos e vida cotidiana e a construção diária dos sentidos dados ao mundo e à vida p 457 De acordo com Domingues e Franco 2014 ela foi construída A partir de uma vertente alinhada aos movimen tos latinoamericanos de tradição marxista os quais denunciaram a colonização políticocientí fica que ocorreu por meio da aplicação direta de modelos europeus e norteamericanos em seus territórios e buscam construir uma Psicologia Social que contribuísse para a transformação das condições de vida p 16 Com isso podese citar diversos autores na América Latina que escreveram sobre uma Psicolo gia Social Crítica como Silvia Lane no Brasil Igná cio MartinBaró em El Salvador Maritza Montero na Venezuela Ignacio Dobles na Costa Rica Fernando González Rey entre Cuba e Brasil e outros tantos Conselho Regional de Psicologia 2016 A historicidade dos processos sociais é um aspecto destacado por esses autores Eles acreditam que o homem é produto e produtor da sociedade em que está inserido Outro tema que merece destaque é o das relações de poder MartinBaró 2014 afirma que o poder está presente em todos os aspectos da vida É imprescindível que uma atuação transforma dora como a Psicologia Social Crítica propõe mude também as estruturas de poder Dessa forma cons cientização e empoderamento se tornam aspectos fundamentais para uma atuação contextualizada Para MartinBaró 1996 a conscientização dos povos deve ser um dos objetivos do trabalho do psicólogo para que todos possam ter um saber crítico sobre sua realidade Assim o psicólogo deve dar condições para que a conscientização aconteça para que os indiví duos e grupos possam pensar criticamente ou seja reverter a alienação A conscientização também se faz necessária para que haja o empoderamento pois só se empoderam indivíduos conscientes de sua realidade Com isso podem ser desmascaradas as ideolo gias que justificam a exploração a pobreza a desi gualdade e a opressão como uma providência divina gerando o que se chama de fatalismo que impedem que a democracia a igualdade e o desenvolvimento pleno do ser humano avancem MartinBaró 1985 E esse trabalho deve ser realizado no cotidiano A partir dessa breve exposição é possível obser var que existe uma convergência entre os preceitos da Psicologia Social Crítica e os princípios que regem o SUS como a historicidade dos processos sociais a ideia de transformação social e também do trabalho realizado com as coletividades Mas quais fundamen tos e princípios embasam as ações dos psicólogos inseridos na Atenção Básica em Campinas A Psicolo gia Social Crítica pode ser um deles Método A pesquisa que deu origem a este artigo teve caráter qualitativo se enquadrando no que Lane 19942006 chama de pesquisa participante pois acompanha durante um certo tempo o processo de 888 Psicologia Ciência e Profissão OutDez 2017 v 37 n4 883896 vida social de um grupo e dentro dele entendese as atividades e consciências individuais que se desenvol vem num contexto histórico mais amplo p 76 Já na análise dos resultados obtidos foi utilizada a herme nêuticadialética proposta por Minayo 2014 base ada nos escritos de Habermas 1987 Do ponto de vista metodológico a hermenêutica busca compreender os sentidos atribuídos pelos indivíduos aos contextos em que estão inseridos Já a dialética busca as contradi ções apresentadas na linguagem que não necessa riamente é apenas verbal para realizar uma crítica Enquanto uma destaca a mediação a unicidade a outra enfatiza a diferença o contraste Porém ambas partem do pressuposto de que não há um observador imparcial e se pautam na historicidade para a compre ensão do sujeitomundo Minayo 2014 A pesquisa foi realizada na cidade de Campinas no interior de São Paulo no ano de 2016 Atualmente de acordo com o site da Prefeitura de Campinas1 o município conta com 61 Unidades Básicas de Saúde divididas em macrorregiões denominadas Distritos de Saúde Todas contam com equipe multiprofissional composta por médicos enfermeiros agentes comu nitários de saúde e outros profissionais Mas só um terço deles apresenta trabalhadores de Saúde Mental como psicólogos psiquiatras terapeutas ocupacio nais entre outros Três psicólogos participaram da pesquisa por entender que a compreensão aprofundada do objeto de estudo é mais interessante do que a representatividade numérica Eles trabalham em diferentes Centros de Saúde de uma das regiões mais carentes do município Estabeleceuse como critério de inclusão a for mação em Psicologia e que eles necessariamente atuassem no cargo de psicólogo de um Centro de Saúde da cidade de Campinas O contato com os par ticipantes se deu através da rede de contatos Ham mersley Atkinson 2001 das autoras Eles foram escolhidos justamente por serem conhecidos na rede de saúde como profissionais que adotam uma postura crítica em relação à sua atuação Todos foram indaga dos quanto ao interesse em colaborar com a pesquisa e após a resposta afirmativa foi requerida sua auto rização mediante assinatura do termo de consenti mento para sua participação na pesquisa A fim de manter o sigilo dos participantes em relação a suas identidades aqui são retratados com nomes fictícios São eles Renato Ana Paula e Felipe Todos têm por volta de 30 anos Apenas Ana Paula é formada por uma universidade particular já Renato e Felipe realizaram aprimoramento e mestrado em Saúde Coletiva em uma universidade pública Renato afirma que desde sua graduação tem contato com práticas voltadas para comunidades por meio de está gios Diz ser envolvido há tempos com o movimento estudantil e também com a militância em diferentes movimentos sociais Ana Paula relata interesse na área da Psicologia Hospitalar desde a graduação Já trabalhou como psicóloga em outros municípios do Estado de São Paulo e também na Assistência Social antes de mudar para a Saúde Por fim Felipe relata interesse por temas como Reforma Psiquiátrica e Luta Antimanicomial desde a graduação Para a realização da pesquisa foi acompanhada a rotina laboral desses três psicólogos para que se pudesse observar e participar de suas práticas coti dianas no ambiente de trabalho O período estipulado para isso foi de dois meses junto a cada um deles com uma frequência média de duas vezes na semana Após cada visita foram realizadas anotações em um diário de campo contendo todas as informações vivências e sentimentos da pesquisadora em relação àquele dia de trabalho É importante salientar que a pesquisadora acompanhou cada psicólogo de forma individual não indo a mais de um Centro de Saúde por vez Após o período de observações foram reali zadas entrevistas abertas com cada um dos psicólogos também de forma individual para que não houvesse influências de outros participantes nas respostas dadas O objetivo dessa fase da pesquisa foi esclare cer aspectos observados na primeira fase e também propiciar um momento mais reflexivo aos participan tes no qual eles pudessem falar sobre suas vivências ações e opiniões sem no entanto se sentirem presos a uma sequência de perguntas e respostas Resultados e discussão A leitura minuciosa dos diários de campo e das entrevistas propiciou que se chegasse a três cate gorias de análise mas para a discussão proposta neste artigo optouse por apresentar duas delas A primeira aborda as práticas realizadas por esses pro fissionais dando ênfase naquelas que os próprios 1 Disponível em httpwwwcampinasspgovbrgovernosaudeunidadescentrosdesaude Acessado em 03 de junho de 2016 889 Cintra M S Bernardo M H 2017 Título Curto participantes afirmam como no território ou seja que vão para além dos muros dos Centros de Saúde Por fim a última categoria discute a formação e o posicionamento éticopolítico dos psicólogos como sendo cruciais para uma atuação mais contextuali zada nesse espaço A atuação do psicólogo e a valorização das atividades para além dos muros dos Centros de Saúde Essa categoria aborda um tema muito impor tante para principalmente a Psicologia Social Crítica voltada para a ação em comunidades que é a terri torialidade Trabalhar no território é uma forma muito particular que os participantes assumem ao falar sobre ações que são realizadas fora da delimita ção física do Centro de Saúde que também se confi guram como uma atuação profunda e comprometida de acordo com as características e necessidades da comunidade Foi possível observar que os três psicólogos esta vam na maior parte do tempo transitando pelo Cen tro de Saúde e também pelo território fazendo com que os usuários tivessem liberdade para interagir com eles mesmo que fosse apenas para cumprimentálos Todos eram muito receptivos em relação a essas abor dagens Ainda sobre a territorialidade Renato afirma que essa é uma estratégia que utiliza para acessar os usu ários e que em um caso em específico bastante com plexo2 essa inserção no território foi fundamental para que ele tivesse uma melhor compreensão sobre a vida de uma usuária Em suas palavras Se eu marco consulta ela a usuária vai Ela não deixa de comparecer aos atendimentos Então o lance de você pensar na perspectiva de conhecer o ambiente em que o sujeito vive e as relações que ele estabelece é uma outra forma de lidar com o sujeito porque se eu não fosse visitála não ia ter dimensão objetivamente de tudo que tá rolando na vida dela Esse é um exemplo importante para mostrar como essa inserção amplia o olhar do psicólogo para outras questões e favorece a busca por um cuidado em saúde contextualizado com a realidade que o usuário vive mesmo que seja no âmbito da clínica Mas essa não é a única forma de se trabalhar no território Há também a possibilidade de utilizar outros espaços dentro da comunidade para se pro mover ações em saúde Novamente os três psicó logos realizam atividades em outros locais como o Centro de Convivência CECO o Centro de Integra ção da Cidadania CIC e até espaços que não esta vam sendo ocupados e que foram apropriados pelo Centro de Saúde para a realização de grupos Felipe afirma que é preciso conhecer o território em que se atua para fazer diversos tipos de ofertas em saúde para os usuários Para ele Trabalhar no território por exemplo não implica só cumprir agendinha e só ficar fazendo aquilo que tá agendado ali e pronto Se você não vai conhecer o território não vai conseguir ofertar outras coisas que tem no território que as pessoas que você tá atendendo podem precisar que você pode indicar Se a gente fica psicologizando as coisas a gente come um monte de bola no atendimento Ainda é possível identificar nessa fala a preocu pação de Felipe em não tratar de problemas sociais como se fossem psicológicos além da valorização de espaços e atividades que a própria comunidade já oferta para os que ali vivem Ana Paula também comenta as atividades reali zadas em outros espaços e percebe que quando os grupos do seu Centro de Saúde acontecem fora de seus muros a postura dos usuários é diferente Em suas palavras os usuários preferem fazer lá acho que lá é melhor é um outro ambiente Acho que fica mais acolhedor eles gostam mais Eu acho que despato logiza também Então você tira daqui do Centro de Saúde e vai fazer em um outro espaço Aí acho que dá pra pensar em outras coisas e o usuário não se sente num atendimento com o psicólogo porque eu tô louco da cabeça 2 Renato relata o caso de uma usuária que sempre se apresenta no Centro de Saúde de forma muito agitada com muita pressa o que dificultava inclusive que ele entendesse sua fala Então quando ele se propôs a ir à casa dela percebeu que ela acumulava potes de comida roupas e outros objetos mas que por outro lado estava sossegada Dessa forma ele pode compreender que aquela desorgani zação toda da casa dela de alguma maneira dava uma continência no processo de sofrimento que atravessa 890 Psicologia Ciência e Profissão OutDez 2017 v 37 n4 883896 Nessas duas falas notase que para esses psicó logos as ações concretas realizadas em espaços fora dos Centros de Saúde despatologizam a relação dos usuários com os profissionais de saúde pois este deixa de estar em sua casa para se tornar uma visita no território que pertence ao outro Essa postura reduz o caráter hierárquico estabelecido tradicionalmente entre profissionais da saúde e seus pacientes Além disso também demonstra que esses psicólogos acre ditam na relevância de uma atuação para além dos muros do Centro de Saúde Sobre essa relação assimétrica entre os profissio nais e os usuários Renato apresenta uma fala muito interessante em que diz que As pessoas me chamam de doutor me colocam nesse lugar social Mas quando você tá dentro de um outro espaço de uma outra natureza você consegue estabelecer um vínculo com o sujeito que é muito mais interessante do ponto de vista da horizontalidade da relação Você não tem que estar marcado pela assimetria do fato de você ser o cuidador profissional contratado que tem o conhecimento psicólogo ou médico enfermeiro Você tá ali dividindo com o sujeito o espaço do protagonismo pra discussões n questões que vão desde cidadania participação social mais ampla até ajudar em questões relacionadas à auto estima estilo de vida de tudo né Porém isso não significa que o psicólogo tenha que abrir mão de seu saber profissional mas delimi tar seu papel sem que isso seja feito de forma hierar quizada como já propunham Oddone et al 1986 na década de 1960 com relação à saúde do trabalhador O que se deve é somar o saber profissional ao saber do usuário sobre sua própria saúde promovendo sua autonomia em relação ao cuidado em saúde O tema da territorialidade ainda remete à discus são do social como parte fundamental para se pensar no cuidado em saúde e essa reflexão sobre o social tam bém se faz presente quando se fala na Psicologia Social Crítica Todos os psicólogos dessa pesquisa afirmam levar em consideração essas questões Durante a entre vista Ana Paula é elucidativa ao afirmar que as ques tões sociais com o tempo podem gerar adoecimento as pessoas trazem situações de violência que elas viveram Violência intrafamiliar ou sofreu uma violência urbana então o social atravessa o tempo todo A história de vida da pessoa de privação Essa é uma região de classe média baixa tem áreas de grande risco aqui Então é uma população que você olha e fala teve mui tos direitos negados ali pra essa pessoa não teve acesso a muita coisa E o tempo todo isso vai apa recendo como adoecimento Felipe também fala sobre isso Para ele muitos dilemas sociais chegam fantasiados de sofrimento psíquico e é por isso que é fundamental ter a dimen são do social no cuidado em saúde Mas apesar disso é preciso esclarecer que não desconsideram o sofrimento psíquico dos indivíduos pois as pessoas sofrem por mazelas que são produzidas socialmente Esses dois relatos apresentam uma clara relação com a Psicologia Social Crítica e suas premissas éti copolíticas pois considera a historicidade dos indi víduos como já apontado por Lane 19942006 Mar tinBaró 2015 e Freitas 2014 Como esses autores afirmam o sujeito é produto e produtor de seu meio sendo influenciado pelas questões sociais que atra vessam a sua vida E essa concepção pode propiciar ao psicólogo uma atuação contextualizada Todavia o que foi observado algumas vezes nas falas e nas atuações dos participantes da pesquisa foi um olhar para o social como se este fosse sinônimo de falta de acesso a recursos materiais e não envolvesse fenôme nos diversos e complexos Porém os psicólogos ainda realizam atividades dentro de seus Centros de Saúde como é o caso dos atendimentos individuais Apesar de muitas vezes criticados por transportarem o modelo privatista de atuação para um local onde a realidade é outra não se pode descartar que para alguns casos esse tipo de atendimento é importante e necessário Figueiredo e OnockoCampos 2009 quando não reproduz a lógica individualizante Felipe faz uma afirmação nesse sentido Para ele é lógico que o atendimento individual é muito importante e para alguns casos é o que tem que fazer mas é para alguns casos Não para tudo que a gente pega Renato também avalia que em alguns momen tos esse modelo é importante como para casos em que há queixa de abusos agressões e outras caracte rísticas que considera serem complicadas de serem discutidas em grupos ou em outros espaços Mas ao mesmo tempo em que faz essa afirmação relata a difi 891 Cintra M S Bernardo M H 2017 Título Curto culdade que sente em relação a essa prática com pes soas que têm outra dinâmica de vida Eu estou cansado cansado no sentido de careca de ver que em vários momentos os agendamen tos individuais que eu faço são totalmente vazios porque de alguma maneira eu não consigo inte ragir com o sujeito no momento em que a neces sidade se apresenta pra ele em uma dimensão social do sofrimento e eu marco um horário pra ele vir falar do sofrimento dele Mas a dinâmica da organização da vida das pessoas é totalmente diferente Então eu tomo um monte de cano os usuários não vêm Sobre os atendimentos individuais que realiza ele também afirma que não utiliza o enfoque tradi cional por achar que esse modelo não dá conta de abarcar as complexidades da vida das pessoas Ele considera que cada indivíduo tem uma família uma história e seu lugar no mundo e que isso tudo faz com que ele possa compreender a dinâmica da vida dos usuários Por isso acha mais interessante trabalhar com grupos e com a própria comunidade Ele ainda faz um desabafo em relação ao seu cotidiano dizendo que muitas vezes gostaria de fazer mais em seu tra balho mas que não há como chegar tentando mudar todas as regras e fazer tudo do seu jeito Para ele existe o possível de se fazer Renato ainda afirma que é preciso manejo e con fiança além do tempo para realizar atividades significa tivas no espaço de trabalho pois ainda há uma pressão tanto dos profissionais como dos próprios usuários para que o psicólogo assuma uma posição tradicional que é o atendimento clínico individual Ele também afirma que por conta de seu pensamento contra hege mônico foi desrespeitado em alguns momentos de sua vida profissional mas mantém o que acredita eu estou fundamentado numa outra lógica que para mim faz sentido Então não é porque alguém vai me xingar que eu vou deixar de fazer ou dei xar de acreditar naquilo que eu tenho pensado do ponto de vista da minha atuação profissional É interessante destacar que mesmo que essa postura seja identificada nos três psicólogos parti cipantes da pesquisa foi possível perceber que eles ainda dedicam grande parte de seu tempo para ações voltadas para recuperaçãotratamento em saúde Ao ser questionado sobre isso na entrevista Felipe afirma que se sente preso em realizar ações de recuperação em saúde por conta da enorme demanda por atendi mentos psicológicos e que isso não pode ser ignorado Por isso precisa ser persistente para realizar ativida des de promoção e prevenção em saúde Eu sinto que consigo fazer práticas de promoção porque também meto o pé pra fazer sabe Por que vai muito disso porque se você deixa a demanda grita na sua cara Se você se deixa levar pela demanda apenas pela demanda manifesta que aparece ali pra você você não consegue fazer promoção de saúde por exemplo Notase que essa fala juntamente com a de Renato destacada acima mostram as contradições que permeiam o atendimento clínico no Centro de Saúde pois ao mesmo tempo em que são pressio nados pela demanda por atendimento individual a adesão a esse tipo de atividade é pequena Finalizase então essa categoria com a fala de Ana Paula que é a que mais se aproxima dos conceitos e vertentes da Psicologia Social Crítica Ela afirma que o trabalho do psicólogo deve se dar no sentido de pro mover qualidade de vida e ainda complementa no primeiro momento o trabalho do psicólogo é o acolhimento a continência o estar ali ver que tem alguém ali o que a gente pode ofertar E acho que mais amplamente ajudando até socialmente no acesso na formação de grupos na problema tização com a população dessas questões sociais e acho que principalmente no produzir conhe cimento No ajudar a pensar como que a pessoa pode reagir a uma situação Primeiro ela precisa ter o básico E acho que a gente entra aí também porque se a gente identifica uma situação a gente pode acionar outros parceiros também como a Assistência Social a Justiça Então eu acho que o trabalho do psicólogo é tanto com a pessoa de ajudar nesse progresso dela das necessidades desde a básica até a mais complexa até a articu lação também com a rede com o CAPS Centro de Atenção Psicossocial CRAS Centro de Referên cia de Assistência Social Creas Centro de Refe rência Especializado de Assistência Social na garantia de direitos 892 Psicologia Ciência e Profissão OutDez 2017 v 37 n4 883896 Dessa forma o trabalho do psicólogo deve con siderar o contexto social e promover a autonomia e o empoderamento dos usuários tanto no nível indi vidual como no coletivo além de trabalhar de forma intersetorial com outros serviços públicos Sobre a formação e o posicionamento éticopolítico dos psicólogos Na introdução deste artigo foi possível observar que uma formação voltada para políticas públicas seria um importante instrumento para que o psicó logo já saísse da graduação com um olhar para essas questões e assim poderia ser mais fácil de realizar práticas condizentes com os preceitos do SUS por exemplo Nesse sentido Renato e Felipe destacaram o quanto suas formações em Saúde Coletiva estão presentes em ações cotidianas Ambos buscaram por iniciativa própria essa formação após vivências na saúde pública Já Ana Paula não relata nenhuma formação na Saúde Coletiva mas mais importante do que isso a ser destacado aqui é que essa profissional se mostrou muito aberta para discutir seu trabalho e aprender com os colegas Devese levar em conside ração o fato de ela se aproximar de Renato por conta do NASF o que com certeza a tem influenciado Renato e Felipe também relatam que em algum momento de suas formações tiveram contato com a Psicologia Social e que isso os influenciou Felipe inclusive cita autores das Ciências Sociais durante a entrevista Já Renato durante uma conversa infor mal assume que tem baseado suas ações em teorias sociais Ao comentar isso podese perceber seu claro alinhamento de suas ideias com a Psicologia Social Crítica quando destaca a importância de valorizar o que a comunidade já tem e trabalhar no território Para ele a Psicologia Social tem um alinhamento com as diretrizes de trabalho da Atenção Básica a partir do que o SUS preconiza Já Ana Paula que sempre teve interesse na área da Psicologia Hospitalar afirma que isso não a impe diu de buscar desempenhar um trabalho condizente com os preceitos do SUS no nível primário Ela se mostrou muito interessada em reuniões capacitações e discussões para aprimorar sua prática não ficando presa a modelos préestabelecidos Isso demonstra que para além da formação aca dêmica o posicionamento éticopolítico também é de extrema importância quando se pensa em prá ticas contextualizadas Os psicólogos apresentavam uma postura crítica e não naturalizante em relação ao seu trabalho levando em consideração os contextos macro e microssociais em que estão inseridos além da constante reflexão sobre suas ações Ficou claro que os três têm consciência das relações de poder e possibilidades entre os grupos sociais e das contradi ções presentes em na sociedade ainda que em alguns momentos eles mesmos apresentem algumas contra dições em suas práticas e suas falas Uma autora que discute a importância do emba samento político por detrás das ações dos profissio nais é Freitas 1998 Segundo ela os aspectos instru mentais dependem das concepções adotadas pelo psicólogo para orientar sua prática E isso se torna crucial quando se fala de uma atuação contra hege mônica Renato afirma que desde a graduação está envolvido com a militância de movimentos estudan tis sociais e da luta antimanicomial e isso com cer teza influenciou e ainda influencia suas ações no Cen tro de Saúde Para ele a participação em movimentos sociais é uma dimensão de seu trabalho e também um posicionamento éticopolítico Em suas palavras a prática profissional nunca deve estar apartada das outras dimensões da vida pessoal social da participação cidadã Que nem hoje a gente está fazendo a entrevista depois do ato da luta antima nicomial que de alguma maneira na minha con cepção é uma dimensão do meu trabalho Estar em espaços como esse reivindicando a melhora de políticas públicas denunciando situações em que a gente percebe que as condições mínimas pra trabalhar estão sendo agredidas faz com que a gente perceba que precisa de mais investimentos estar em outros espaços de formação e debate A visão de mundo também aparece nas ações cotidianas dos participantes da pesquisa como foi possível perceber durante um grupo liderado por Felipe Muitos estigmas em relação à vida dos usu ários foram aparecendo durante as conversas do grupo e por ter uma crítica em relação a essas afir mações preconceituosas Felipe as problematizou Isso demonstra o quanto o posicionamento éticopo lítico do psicólogo aparece no dia a dia e que se tais estigmas não forem questionados e debatidos não serão superados Nesse sentido o movimento da luta antimanicomial se coloca tanto Renato como Felipe 893 Cintra M S Bernardo M H 2017 Título Curto como uma forma de garantir os direitos dos usuários de saúde mental A partir das experiências aqui relatadas podese estabelecer a diferença entre prática e práxis Botto more 1997 explica a diferença entre essas duas pala vras que constantemente são tidas como sinônimos Para o autor a práxis é uma açãoatividade em que o homem cria e transforma a si mesmo e a sua história Assim necessariamente está atrelada a uma reflexão sobre essa açãoatividade Já a prática é uma ação sem reflexões e questionamentos em que há reprodução de ações Aqui notase que as atividades do cotidiano dos psicólogos da Atenção Básica de Campinas são atendimentos individuais atividades no território grupos de diversos caráteres e reuniões por exemplo Mas então o que muda de uma prática para uma práxis Nesta pesquisa parece ser o posicionamento éticopolítico que embasa a atuação dos participan tes e não teorias específicas Não se pode esquecer que não existe ação humana que não seja ideológica como bem afirmam MartinBaró 2015 e Patto 1997 Assim a atuação do psicólogo também o é Renato por exemplo afirma que se embasa nas teorias sociais enquanto que Felipe diz ter estudado Lacan auto res da Psicologia Social e também da Saúde Coletiva Apesar de Ana Paula apresentar um percurso acadê mico diferente dos outros dois psicólogos é ela quem afirma que o olhar voltado para o SUS deve começar logo na graduação Eu não me lembro em ter tido muita ênfase em políticas públicas eu fui aprender isso na prática estudando para concurso porque daí pede Aí que eu fui conhecer mais essa parte de políticas públi cas Então eu acho que isso já tem que começar na graduação A gente tem que ter uma gradua ção que amplie os olhares para as diferentes pos sibilidades da Psicologia Tem que começar na base porque daí a gente já vai aprendendo mesmo as diferentes formas de atuar porque senão fica muito difícil A gente vai apanhando e é meio na marra que você vai descobrindo Essa coisa do set ting do consultório imagina né Aqui eu atendo cada dia em um consultório na casa em con junto atende no corredor então é muito diferente Essa sua fala mostra um aspecto muito impor tante defendido neste artigo Uma formação com embasamento nos princípios da Psicologia Social Crí tica poderia ser interessante para apresentar ao aluno que a Psicologia vai muito além do que o consultório privado Dessa forma ao oferecer espaços críticos na graduação os estudantes poderiam voltar seus olhares para questões sociais gerando inclusive maior interesse em atuar em políticas públicas seja no campo da saúde ou em outros Aqui os psicólo gos seguiram suas formações por caminhos diversos mas com certeza a ênfase crítica na graduação pode ria ser um facilitador para que se encontrassem muito mais Renatos Felipes e Anas Paulas atuando em ser viços públicos de saúde assistência e tantos outros onde uma atuação contextualizada é imprescindível Considerações finais A pesquisa aqui apresentada permitiu afirmar que os psicólogos participantes não limitam suas ações a atendimentos clínicos tradicionais realizando mui tas outras atividades como grupos dos mais variados tipos reuniões com escolas e entre profissionais e visi tas domiciliares para citar alguns exemplos Também podese observar o quanto as atividades realizadas fora do espaço dos Centros de Saúde são importantes quando se pensa em uma atuação contextualizada A aqui chamada de atuação no território se mostra imprescindível para esse tipo de ação comprometida Com isso destacase a importância de que a atuação do psicólogo nesse local não se limite a uma prática curativa e individualizante mas que abranja ações que promovam autonomia conscientização e empoderamento visando a transformação social da comunidade A horizontalidade das relações também é um aspecto a ser considerado pois permite um olhar entre iguais para uma atuação contextualizada Não se pode esquecer das lutas por melhores condições de trabalho e pela defesa de direitos como foi visto em atividades realizadas no dia de luta antimanicomial como importantes momentos de militância em que o posicionamento éticopolítico dos psicólogos ficou muito evidente Foi possível concluir que mais importante do que a atividade em si é o posicionamento éticopolítico por detrás dela Mesmo sabendo da dificuldade de práticas inovadoras elas são importantes para um cuidado em saúde que busca superar o modelo clínico tradicional A reflexão sobre novos fazeres que aflorem o lado cria tivo que Dimenstein PSI 2009 tanto fala em seu texto permite que os psicólogos saiam de lugares préestabe lecidos rumo a uma prática comprometida socialmente 894 Psicologia Ciência e Profissão OutDez 2017 v 37 n4 883896 Este artigo busca deixar claro que não apenas uma teoria pode propiciar essa atuação contextua lizada mas que um posicionamento éticopolítico crítico sobre a realidade e sobre a saúde impacta positivamente na maneira de atuar Dessa forma defendese que uma formação crítica com perspec tivas como as da Psicologia Social Crítica pode favo recer a uma maior reflexão para os alunos e profissio nais da saúde Entendese as limitações deste artigo especial mente no que diz respeito à impossibilidade de fazer comparações com outros profissionais que não pos suem as características apresentadas pelos partici pantes escolhidos Todavia acreditase que a contri buição deste trabalho tenha sido a de evidenciar que apesar do cenário desfavorável para as políticas públi cas é possível e cada vez mais necessário desenvol ver uma atuação crítica Referências Amaral M S Gonçalves C H Serpa M G 2012 Psicologia Comunitária e a Saúde Pública relato de expe riência da prática Psi em uma Unidade de Saúde da Família Psicologia Ciência e Profissão 322 484495 httpsdoiorg101590S141498932012000200015 Böing E Crepaldi M A 2010 O psicólogo na atenção básica uma incursão pelas políticas públicas de saúde brasileiras Psicologia Ciência e Profissão 303 634649 httpsdoiorg101590S141498932010000300014 Bottomore T 1997 Dicionário do pensamento marxista Rio de Janeiro RJ Zahar Brasil 2007 Conselho Nacional de Secretários de Saúde Atenção Primária e Promoção da Saúde Brasília DF o autor Campos F C B Guarido E L 2007 O psicólogo no SUS suas práticas e as necessidades de quem o procura In M J P Spink A psicologia em diálogo com o SUS prática profissional e produção acadêmica pp 81103 São Paulo SP Casa do Psicólogo Conselho Regional de Psicologia SP CRPSP 2016 11 de abril Edgar Barrero Precisamos de uma psicologia latinoamericana transformadora Jornal PSI 186 Recuperado de httpwwwcrpsporgsitefiquedeolho internaphpnoticia1187tituloEdgar20Barrero2093Precisamos20de20uma20psicologia20lati noamericana20transformadora94 Dimenstein M D B 1998 O psicólogo nas Unidades Básicas de Saúde desafios para a formação e atuação de profissionais Estudos de Psicologia Natal 31 5381 Domingues A R Franco E M 2014 Reflexões teóricas sobre sujeitos coletivos e experiências comunitárias In C Stella Org Psicologia comunitária contribuições teóricas encontros e experiências pp 1544 Petrópolis RJ Vozes Figueiredo M D OnockoCampos R 2009 Saúde Mental na atenção básica à saúde em Campinas SP uma rede ou um emaranhado Ciência Saúde Coletiva 141 129138 httpsdoiorg101590S141381232009000100018 Freitas M F Q 1998 Inserção na comunidade e análise de necessidades reflexões sobre a prática do psicólogo Psicologia Reflexão e Crítica 111 175189 httpsdoiorg101590S010279721998000100011 Freitas M F Q 2014 Psicologia Social Comunitária como politização da vida cotidiana desafios à prática em comunidade In C Stella Org Psicologia Comunitária contribuições teóricas encontros e experiências pp 6585 Petrópolis RJ Vozes Gomes K O Cotta R M M Araújo R M A Cherchiglia M L Martins T C P 2011 Atenção Primária à Saúde a menina dos olhos do SUS sobre as representações sociais dos protagonistas do Sistema Único de Saúde Ciências Saúde Coletiva 16Supl1 881892 httpsdoiorg101590S141381232011000700020 Habermas J 1987 Dialética e hermenêutica Porto Alegre LPM Hammersley M Atkinson P 2001 Etnografía métodos de investigación Barcelona Paidós Lane S T M 19942006 Avanços da psicologia social na América Latina In S T M Lane B B Sawaia Orgs Novas veredas da psicologia social pp 6781 São Paulo SP Brasiliense Macedo J P Dimenstein M 2011 Expansão e interiorização da Psicologia reorganização dos saberes e poderes na atualidade Psicologia Ciência e Profissão 312 296313 httpsdoiorg101590S141498932011000200008 895 Cintra M S Bernardo M H 2017 Título Curto MartinBaró I 2015 Acción e ideología psicología social desde centroamérica 17a ed San Salvador UCA Editores MartinBaró I 1985 La desideologización como aporte de la Psicología Social al desarrollo de la democracia en Latinoamérica Boletín de la AVEPSO 113 39 Recuperado de httpwwwucaedusvcolecciondigitalIMB wpcontentuploads2015111985Ladesideologizacioncomoaportedelapsicologiasocialaldesarrollo AVEPSO19858339pdf MartínBaró I 1996 O papel do psicólogo Estudos de Psicologia Natal 21 727 httpsdoiorg101590S1413294X1997000100002 MartinBaró I 2014 Processos psíquicos e poder Revista Psicologia Política 1431 591608 Recuperado de httppepsicbvsaludorgscielophpscriptsciarttextpidS1519549X2014000300011 Minayo M C S 2014 O desafio do conhecimento pesquisa qualitativa em saúde 14a ed São Paulo SP Hucitec Montero M 2011 Ser fazer e parecer crítica e libertação na América Latina In R S L Guzzo F Lacerda Junior 2011 Psicologia social para a América Latina o resgate da psicologia da libertação 2a ed pp 87100 Campi nas SP Alínea Nascimento M L Manzini J M Bocco F 2006 Reinventando as práticas Psi Psicologia Sociedade 181 1520 httpdxdoiorg101590S010271822006000100003 Nepomuceno L B Ximenes V M Cidade E C Mendonça F W O Soares C A 2008 Por uma psicologia comunitária como práxis de libertação Psico 394 456464 Recuperado de httprevistaseletronicaspucrsbr ojsindexphprevistapsicoarticleview35323836 Oddone I Marri G Gloria S Briante G Chiattella M Re A 1986 Ambiente do trabalho a luta dos traba lhadores pela saúde São Paulo SP Hucitec Oliveira I F Dantas C M B Costa A L F Silva F L Alverga A R Carvalho D B et al 2004 O psicólogo nas unidades básicas de saúde formação acadêmica e prática profissional Interações 917 7189 Recuperado de httppepsicbvsaludorgscielophpscriptsciarttextpidS141329072004000100005 Patto M H S 1997 Para uma Crítica da Razão Psicométrica Psicologia USP 81 4762 httpsdoiorg101590S010365641997000100004 Paim J S 2009 Uma análise sobre o processo da Reforma Sanitária brasileira Saúde em Debate 3381 2737 Recuperado de httpwwwnescufprbrprocessoseletivo2015politicasPAIM20Jairnilson2020Uma20 anC3A1lise20sobre20o20processo20da20Reforma20SanitC3A1ria20brasileirapdf PSI 2009 Conversando com um psicólogo Magda Dimenstein sem medo de pensar Psi Jornal de Psicologia 161 Recuperado de httpwwwcrpsporgbrportalcomunicacaojornalcrp161framesfrconversando psicologoaspx Ronzani T M Rodrigues M C 2006 O psicólogo na atenção primária à saúde contribuições desafios e redire cionamentos Psicologia Ciência e Profissão 261 132143 httpsdoiorg101590S141498932006000100012 Scarcelli I R Junqueira V 2011 O SUS como desafio para a formação em Psicologia Psicologia Ciência e Pro fissão 312 340357 httpsdoiorg101590S141498932011000200011 Scliar M 2007 História do conceito de saúde Physis Revista de Saúde Coletiva 171 2941 httpsdoiorg101590S010373312007000100003 Marcela Spinardi Cintra Pontifícia Universidade Católica de Campinas Email marcelaspinardigmailcom Marcia Hespanhol Bernardo Pontifícia Universidade Católica de Campinas Email marciahespanholhotmailcom 896 Psicologia Ciência e Profissão OutDez 2017 v 37 n4 883896 Endereço para envio de correspondência Marcela Spinardi Cintra Endereço Alameda Colombina 704 Condomínio Terras de São José ItuSP Recebido 14032017 Aprovado 17102017 Received 03142017 Approved 10172017 Recibido 14032017 Aceptado 17102017 Como citar Cintra M S Bernardo M H 2017 Atuação do Psicólogo na Atenção Básica do SUS e a Psicologia social Psicologia Ciência e Profissão 374 883896 httpsdoiorg10159019823703000832017 How to cite Cintra M S Bernardo M H 2017 Psychologists performance in the Primary Health Care of SUS and social Psychology Psicologia Ciência e Profissão 374 883896 httpsdoiorg10159019823703000832017 Cómo citar Cintra M S Bernardo M H 2017 Actuación del Psicólogo en la Atención Básica del SUS y la Psicología social Psicologia Ciência e Profissão 374 883896 httpsdoiorg10159019823703000832017