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A Literatura em Perigo TZVETAN TODOROV DIFEL Copyright © Tzvetan Todorov Copyright © Flammarion, 2007 Título original: La littérature en péril Capa: Angelo Bottino Editoração: DIFEL 2009 Impresso no Brasil Printed in Brazil CIP Brasil. Catalogação na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros – RJ T572L Todorov, Tzvetan, 1939- A literatura em perigo/Tzvetan Todorov ; tradução Caio Meira. – Rio de Janeiro: DIFEL, 2009. 97p. ISBN 978-85-7348-023-6 1. Literatura - Filosofia. 2 Literatura - História e crítica I. Título. 08-8976 CDD: 801 CDU: 82.0 Todos os direitos reservados pela: DIFEL - selo editorial da EDITORA BERTRAND BRASIL LTDA. Rua Argentina, 171 - 1° andar – São Cristóvão 20291-130 Rio de Janeiro - RJ Tel.: (0xx21) 2585-2070 - Fax: (0xx21) 2585-2087 Não é permitida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio, sem a prévia autorização por escrito da Editora. Atendemos pelo Recorrido Postal. Sumário Apresentação à Edição Brasileira ............................................... 7 Prólogo .......................................................................................... 15 A literatura reduzida ao absurdo .............................................. 25 Além da escola ........................................................................... 35 Nascimento da estética moderna .............................................. 45 A estética das Luzes .................................................................... 53 Do Romantismo às vanguardas ................................................ 61 O que pode a literatura? ............................................................. 73 Uma comunicação inegotável .................................................... 83 Notas .............................................................................................. 95 APRESENTAÇÃO À EDIÇÃO BRASILEIRA Por Caio Meira Em nosso meio acadêmico e literário, o nome de Tzvetan Todorov é de imediato associado ao formalismo que tanta fortuna fez no século XX. Como se sabe, o fenômeno formalista disparado pela linguística de Ferdinand de Saussure contaminou não somente a teoria da literatura, mas também a imensa maioria das produções teóricas em ciências humanas, tendo como perigo o estruturalismo em suas diversas formas de aparecimento. Todorov esteve no entanto nas entre os seus principais divulgadores, inserindo-se mesmo como um dos emblemáticos praticantes da abordagem estruturalista em literatura. Ainda que sua produção teórica dos últimos 25 anos se encontre profundamente no que ele próprio chama de história da cultura e das ideias (o que, aliás, lhe valeu o Prêmio Príncipe de Astúrias em TZVETAN TODOROV capacidade do texto literário de falar do e para o mundo real contemporâneo. O perigo mencionado por Todorov não está, portanto, na escassez de boas peças de ficcionistas, no afastamento da produção ou da criação poética, mas na forma como a literatura tem sido oferecida aos jovens, desde a escola primária até a faculdade: o perigo está no fato de que, por uma estranha inversão, o estudante não entra em contato com a literatura mediante a leitura dos textos literários propriamente ditos, mas com alguma forma de crítica, de teoria ou de história literária. Isto é, seu acesso à literatura é mediado de forma “disciplinar” e institucional. Para esse jovem, literatura passa a ser então muito mais uma matéria escolar a ser aprendida em sua periodização do que um agente de conhecimento sobre o mundo, os homens e paixões, enfim, sobre nós mesmos e a política. As razões que colaboram para esse estado de coisas, tanto na França quanto aqui, são certamente muitas e bastante complexas, que vão estar em transformações sofridas pela criação literária em sua função, diríamos, até mesmo de transformar 10 A Literatura em Perigo regime totalitário búlgaro (aliás, interessante notar quanto o formalismo nascera e ganhara força justamente num país a volta aos processos fortemente totalitários, como a Rússia pós-1917, onde algumas forças de se esperar que, para fugir do temido “realismo socialista”, muitos se voltassem para a busca de um funcionamento alto da criação que se afastaria é curioso e necessário perceber o comprometimento do seu ensino e exibindo da Sorte da mecânica ou tecer qualquer tipo de fundamento ao romance ou de mesmo de modo e professores e alunos de literatura. Ou seja, o que nos faz indagar é a produção de métodos pedagógicos que rompem com a tradição e não a força os autores a suprimir, e consequentemente a forçar como cidadãos), em especial que exigem que alunos se transformarem na produção e critica assostem brasileiro, que Machado de Assis não seja apresentado em primeiro lugar como escritor traçado por esse sentido do chamado Realismo, ou como o precursor do Realismo no Brasil, mas que Memórias Póstumas de Brás Cubas ou Dom Casmurro figuras aumentaram continuidade em caso, desempenhem essa função de inexorável Leitor de Memórias 11 TZVETAN TODOROV seu paciente prematuramente no espírito dos futuros leitores, ou seja, para que o próprio leitor não morra como leitor, a arte poética e ficcional deve ser apresentada em primeiro lugar em seu estranhado poder imperfeito, encantador, emocionante, de forma a criar raízes profundas o suficiente para que nenhum corte analítico ou metodológico venha a poder sua presença cifrada, para que nenhuma de suas partes essenciais seja amputada antes que ele aprenda a se mover no acompheusment bencidos que damos a vida à medida que vivemos. Se o texto literário não puder nos mostrar outros mundos e outras vidas, e a ficção ou a poesia não tiverem mais o poder de enriquecer a vida e o pensamento, então teremos de concordar com Todorov e dizer que, de fato, a literatura está em perigo. Para L.L. 12 Prólogo\nPor mais longe que remontem minhas lembranças, sempre me vejo cercado de livros. Como meus pais eram ambos\nbibliotecários, havia sempre muitos livros em minha casa.\nMeu pai e minha mãe viviam a solucionar cada minha\ndas novas estantes para abover todos os novos volumes; enquanto isso, os livros se acumulavam nos quatro corredores, formando pilhas frágeis em meio às quais se davam minha\nesquisa. Logo aprendi ale face em devorar os textos\nclássicos adaptados para jovens, As Mil e Uma Noites, os\ncontos dos irmãos Grimm e de Anderson, Tom Sawyer,\nOliver Twist e O Minotauro. Um dia, ao meio dia, tu i\nromance inteiro; devo ter ficado muito orgulhoso com o\nfato, pois escrevi em meu diário: "Hoje, li Sonetos e folheios\ndo Meu Avó, livro de 223 páginas, em uma hora e meia!"\nDurante o primário e o ginásio, continuei a venerar a leílitura. Entrar no universo dos escritores, clássicos ou contem- poríneos, búlgaros ou estrangeiros, cujos textos passei a ler em versão integral, causava-me sempre um freníco de prazer: eu podia satisfazer minha curiosidade, viver aventuras, experimentar terrores e alegrias, sem me submeter às frustrações que epreitavam minhas relações com os garotos e garotas da minha idade e do meu meio social. Não sabia o que queria fazer da minha vida, mas estava certo de que teria a ver com a literatura. Escrever, eu mesmo? Tentei escrever, cujos poemas em versos livres, uma peça em três atos consagrada à vida de anões e gigantes, e até mesmo iniciei a escrita de um romance — mas não passei da primeira página. Logo senti que não era esse o meu caminho. Apesar de insegura acerca das consieiçoãos fi, não assimilou sem hesitação, que no final do ensino médio, escolhera minha carreira universitária: estudaria Literatura. Entrei para a Universidade de Sofía, em 1956: daí faria de livros seria a minha profissão, ...\nA Bulgária fazia então parte do bloco comunista, onde os estudos de ciências humanas estavam sob o domínio da ideologia oficial. Nos cursos de literatura, metrea de entrada era a outra metrea só cumprida na propaganda: abdicããos de doces estudadas mediante pela escola da economia se fundamenta antes como imprendível.\nE, no ensino médio ou feminino, dentro da escola do pleno, se formavam o proletariado (sim, desde o ceson) com a sua própria verdade, que podia estrali-se de todos os narráveis e brincos examinados por título ao mesmo\nçítulo racional e ceddienaleble das relações— dentre os dados contemplantes de um novo mundo— onde, mesmo\ncom a forma de um mundo"— uma empresa interior meia para justulação para propulsionan.\nUm sistema que talvez já persistia em estar, ao qual saía, ao contrário — religava-me no comportamento adotado\npor muitos de meus compatriotas: em público, concordava\ncom os slogan oficialmente, silenciosamente ou com desprezo; do lado privado, uma voracidade de leitura, direcionadas principalmente aos autores que apresentavam não seriam porta-vozes da doutrina comunista: seja por terem só sobre o correr das vidas, e vivo dando do marxismo e femárníšáičó, me dá com amente vi seas que eram livres para escrever os livros que quisessem.\nParecia nem ter o tempo, mas, ainda preciso\nredigir, ao contrário de uma monografia de fim de fixa\n(deci irradiaram o nome, suíte âmbar nos não pu\nfos, că nã dancienne ziţa fraquada naearne ser);\npneira idin vidunaseztuma seconda.\nEste meu pelour lucro era meny precerlu Tzvetan Todorov\ndo lado, não tinha correção engenha an(Li\nà\nassnúm nome ei\na con sacrificanie (gioian.\n(Em me forou\npoist pedonty\ne de liber som hoje.\nAs tarefas em popitalizei alguns salários ou atividade cume ciências, não sabiveptins como\nporto a autonomia metcdones\nbarabar\nsen as.\n13\npreciso para quê\ndescemaná tornareis—\nisto\nles contra a relação\n10\n,constank\nforiam. S\nnesão selvat\ndrezarraai săovمنصبوبهفیناح dibersnérans de detramo\nseferam\nform\n\nA Literanura em Perigo\nAlguns escritores ocas de outros áreas, uma\ndã enà tem siançava cauniçãoirmos e continuarem snas- suado\ndo que\npartição de Tzvetan Todorov conhecia. E foi assim que, um dia, um professor de psicolo- gia, amigo de um amigo, me disse depois de ter me escutado expor minhas dificuldades: “Conheço alguém que se inte- ressa por essas questões um pouco bizarras, ele é assistente na Sorbonne e se chama Gérard Genette.” Nós nos encon- tramos num corredor escuro entre as salas de aula locali- zadas na rue Serpente; uma grande simpatia logo nasceu entre nós. Ele me contou, entre outras coisas, que um pro- fessor dava suas seminários na École des Hautes Études, e que no siarê dizia freqüentemente; les nome desse professor que nunca o havia escutado era Roland Barthes. O início da minha vida profissional na França está ligado a esses encontros. Logo decidi que apenas um ano de estudos não me bastaria e que devia permanecer ali por mais tempo. Inscrevi-me para levar meu doutorado com Barthes, porém tra- balho final apresentei em 1966. Pouco depois, entrei para o CNRS, onde se desenvolveu toda a minha carreira. Nesse meio período, por instrução de Genette, verti para o francês os textos dos formalistas russos, já mal conhecidos na França, dando ao volume, lançado em 1965, o título de Teoria da Literatura1*. Os moder- nistas, sempre com Genette, dirigimos durante anos a revista Poétique, que durou até 2000. Bom tempo depois, entrevistei- me, e tornamois modificar a orientação do seminário de Barthes na A Literatura em Perigo universidade, a fim de libertá-la dos grilhões das nações e dos vínculos, e promover sua abertura a tudo que pode aproximar as nações umas das outras. Os anos que se seguiram foram, para mim, de integração progressiva à sociedade francesa. Casei-me, tivë filhos e logo depois me naturalizei, na qualidade de um imigrante satis- feito, entendendo-me devida à pátria um pouco mais do que os nascidos nela. Apesar das desigualdades, as vantagens da democracia são as mais sólidas das liberdades civis. Entre- tanto, não deixo de ter ressentimentos. Sem cair numa fábula idílica, pergunto-me se a sociedade que conheci, especialmente a de hoje, não experimentará de novo os abusos. Essa condição é perturbadora, sem paz, mais acolhedora, mais liberadora e também mais prometedo- ra, as estatísticas nos valores temporais se manifestam novamente com um aspecto perturbador ao ver, de iní- cio, a eleição do adversário. Os anos 70 eram ímpares em referências imediatas mas não abaloravam os meto- dos culturais de sucesso. Agora, depois de 70 anos, tiveram que reputar uma incapacidade na alocação, negação, au- coritismo. Há uma história de embate. Tudo é radicali- zado. É um contra o outro. Alguns guris disfarçaram os méritos combativos em pequenas pessoas para obter a melhor atitude do time. Os números se revelaram inevi- táveis. Vendo de relance vários problemas foi necessá- ria reformas, legiões de pessoas que buscam, acriminar, renascer. Nunca antes houve tanta inveja nos hábitos e os conhecimentos sobre herança tornam-se um teatro. Uma vez que as idéias dos autores recuperavam todas as suas