• Home
  • Chat IA
  • Guru IA
  • Tutores
  • Central de ajuda
Home
Chat IA
Guru IA
Tutores

·

Cursos Gerais ·

Português

Envie sua pergunta para a IA e receba a resposta na hora

Recomendado para você

Port 7 Aula 8 Tarallo Morfologia 1

11

Port 7 Aula 8 Tarallo Morfologia 1

Português

CEDERJ

Port 7 Aula 8 Tarallo Morfologia 1

11

Port 7 Aula 8 Tarallo Morfologia 1

Português

CEDERJ

Port 7 Aula 8 Tarallo Morfologia 1

11

Port 7 Aula 8 Tarallo Morfologia 1

Português

CEDERJ

Exploração dos Gêneros Textuais e Seus Tipos

10

Exploração dos Gêneros Textuais e Seus Tipos

Português

CEDERJ

Resenha Critica do Artigo Experiencias com o Texto Literario de Sonia Travassos

4

Resenha Critica do Artigo Experiencias com o Texto Literario de Sonia Travassos

Português

CEDERJ

AD1-Língua-Portuguesa-na-Educação-2-Analise-Textual-e-Atividades-5o-Ano

4

AD1-Língua-Portuguesa-na-Educação-2-Analise-Textual-e-Atividades-5o-Ano

Português

CEDERJ

Depoimento sobre o Contato com os Brancos: A Perspectiva dos Yanomami

6

Depoimento sobre o Contato com os Brancos: A Perspectiva dos Yanomami

Português

CEDERJ

Texto de pré-visualização

9 TÚNEL MORFOLÓGICO I: AS PERDAS Mais perdas? Fizemos até agora duas entradas no túnel do tempo da língua portu- guesa. Estamos iniciando nesse momento a terceira: uma viagem pela mor- fologia do latim e do português. Presenciamos, durante as duas viagens ante- riores, uma série de características fonológicas do latim clássico que foram perdidas no latim falado e que, posteriormente, não mais seriam recupera- das nas várias línguas românicas. Concluímos, ainda, diante daquelas perdas que, ao mesmo tempo que traços do latim clássico desapareciam, novos tra- ços surgiam no latim falado e eram mantidos no português. Assim, procurare- mos estabelecer, dentro do túnel (e de nossa perspectiva teórica), um elo sig- nificativo entre perdas e ganhos. De um lado, as perdas eram, de certa ma- neira, compensadas pela conquista de novos traços; de outro, as perdas ou desencadeavam novas perdas e ganhos, ou já aconteciam devidamente encaie- xadas no sistema dinâmico em evolução. Mas o que seriam perdas morfológicas? O que significa para um siste- ma perder um traço morfológico? Bem, a perda de um aspecto morfológico do sistema significa, no nosso caso especificamente, redução de gênero, nú- mero e caso dos substantivos; redução dos tempos verbais, etc. Obviamente, essas reduções ou perdas necessariamente aparecerão, durante a nossa via- gem ao túnel morfológico, contrapostas às novas conquistas que o sistema vinha realizando nessa mesma parte da gramática. No presente capítulo, nessa primeira entrada no túnel morfológico do latim ao português, observaremos somente as perdas; os ganhos e as conquistas morfológicas serão oportuna- mente observados, no capítulo imediatamente seguinte, quando empreender- mos nossa quarta entrada no túnel. Antes, porém, de começarmos a observar as perdas morfológicas, me- rece destaque uma distinção fundamental entre tipos de perda. Vimos, por 8. A regularização de alguns infinitivos irregulares: potere ao invés de posse; *essere por esse, *volere por velle. 9. A simplificação na marcação do tempo e do aspecto verbal: o mais-que-perfeito do subjuntivo clássico (amassem, legissent, audissent) aparece substituindo o imperfeito do mesmo modo verbal: amarem, legerem, audirem. Nesta mesma tendência, caem em desuso o supino, o futuro do imperativo e o perfeito do infinitivo. 10. Os verbos deponentes do latim clássico deixam de constituir uma conjugação à parte e passam a se encaixar no sistema da língua falada como verbos ativos: mentio ao invés de mentior, traco por tracor. Isto posto, fica, pois, evidenciado que o latim falado apresentava um inventário morfológico empobrecido em relação ao do latim clássico escrito. Não trataremos agora das compensações que surgiram no latim falado e nas línguas românicas em geral, com vistas a reorganizar o sistema morfológico do latim clássico. Vejamos agora como ficou o sistema morfológico do português, considerando-se que grande parte dos traços pertinentes ao latim clássico já não aparecem herdados pela modalidade falada do latim. Certa- mente, dada a origem do português a partir do latim falado, tais traços já simplificados no latim vulgar não voltaram a reaparecer no sistema português. A herança não-herdada: O inventário (morfológico) do latim ao português Coutinho (1969) apresenta algumas características gerais para o siste- ma morfológico do português arcaico: "Na língua arcaica, os nomes terminados em -nu, -re e -r erarn uniformes: nomem, padre, senhor, linages portugall; alguns que atualmente não se modi- cam no plural flexionavam-se antigamente: arvore/a, arveres; madre/s; mui- tos outros eram diferentes: fruy, mar; planta, coma; etc., eram outrora femininos e, agora, são homens; coraron, limgagens, eram masculinos; a segunda pessoa do plural dos verbos terminava em -des, ainda hoje conservado nos espanhol: amades, credes; o particípio passado dos verbos da segunda conjuga- ção terminava em -udo; perdido, corriguido, escorrido, terminação que ainda se conserva em malacido, contenidos, ixido, fizendo; havia particípios presen- tes em -nte, os quais depois se forama adjetivos, substantivos ou preposições: remenUi, duranti, a terminação da terceira pessoa do pretérito era -onji, como já vimos ocurrem, amancom; encontravam-se formas de verbais, que por ana- logia ou por outro motivo qualquer foram substituídas por outrass: argo (ardo), sempo (sinto), fago (fazo), meroso (merogro) saJe (esteia), franger (troxer); puqui (rpus), quipi (quis), querita (ria], qucríria (quereria), fassere (fizeste", som soho), prouge (prouve), etc.". Há, nessa passagem de Coutinho, acima, várias observações sobre os nomes e os verbos no português arcaico que exemplificam a herança não- 122 sentava empobrecido em relação ao latim clássico: redução no número de declinações e de casos foram duas das características morfológicas apontadas para o latim vulgar. Assim, de cinco declinações o latim vulgar conhecia so- mente três: a primeira (que também recebia palavras da quinta), a segunda (incorporando as palavras da quarta), e a terceira (também, como a primeira, recebendo palavras da quinta). Segundo Coutinho (1969, p. 225), tal confu- são entre as declinações já "reinava no próprio latim clássico, onde alguns substantivos da quinta podiam também ser declinados pela primeira: avari- ties, ou avarileri, luxuries, el, ou luxuriés, sum mariesclés ou materier, er". O mesmo, segundo ele, já ocorreria também no latim clássico, com algumas palavras que eram declináveis tanto pela quarta quanto pela segunda decli- nação: domus, us e domusts, J fructus, us e fructis, i. "Se isto ocorria na língua escrita, que dirá na falada, onde a necessi- dade de clareza era maior e mais urgente?", pergunta-se Coutinho (1969, p. 225). De fato, apesar dessas pequenas confusões do latim escrito, já existe- ria uma extremenente rica em flexões. Multipliguelm-se 6 casos e 5 declina- ções e teremos 30 diferentes combinações (ou um princípio, ao menos, dife- rentes nas funções que tais formas desempenhavam), o que garantia a enten- da latim clássica uma total liberdade na ordem em que os constituintes. Assim, enquanto vi o nome "hominem poderia aparecer em qualquer ordem: puella vidit hominem, hominem puella vidit, puella hominem vidit, etc., etc. Muitas dessas trinta (suponstamente diferentes) combinações, ainda apresentavam diferentes terminações para diferentes casos de umas mesmas decli- nação, ou ainda, para outros casos, em outras declinações. Com a tendência do latim de falado a obscurecer, ou às poucos, encarar o final (ou se- gunda) formas das palavras, natural foi, portanto, que tanto o número de decli- nações quanto o número de casos fossem drasticamente reduzidos. Assim, “co- meço da fase românica, as três declinações apresentavam-se (...) constituídas: Primeira declinação Singular Plural Nominativo luna lune Acusativo luni lunas Segunda declinação Singular Plural Nominativo annus anni Acusativo | annu, annos Terceira declinação Singular Plural Nominativo canes canes Acusativo | cane canes'"4 Mas as línguas românicas foram ainda mais além em seu processo de perdas. Informaram-nos os compêndios que algumas fizeram o nominativo sobreviver 121 herdada do latim clássico, mas que confirmam a manutenção do inventário morfológico a partir do latim falado. Sobre os nomes, Coutinho observa que o português arcaico era caracterizado por uma profunda redução no gênero. Assim, alguns substantivos eram uniformes, enquanto outros nomes eram marcados com gênero diferente de que sobreviveu no sistema moderno. Al- guns nomes, como ouvirez, que não são mais marcados formalmente no plu- ral moderno, aparecem flexionados no português arcaico. O verbo era mar- cado por -des na segunda pessoa do plural, mantendo, via evolução fonológi- ca, a forma -tis da conjugação clássica. Os participios presentes em -mil, vi- am usando no sistema de então, seriam posteriormente reanalisados em outras partes da gramática. Há, pois, um testemuno de perda nessa passagem, do latim ao português arcaico. Vejamos a exemplificação dessas características do português arcaico em uma cantiga, cuja data provável de composição fi- gura o ano de 1189: "No mundo nem mei parelha, mente me for' como me vay, ce ja moir for vos — e ay! mia senhor branca e vermelha, queredes que vos erremya quando vus eu en syai! Mia senhor muit'alva e lega que vus enon non vi, feai! E, mia senhor, des que! d'irayal que dij' con samal merce, e ros, filha de Dom Paay Moniz, e ben vuz semelha d'aver eu por vos guaraya, pois eu, mia senhor', d'alraya susca de vos ouve nen ei valia 'da onrera'. O saldo efetivo das perdas morfológicas no português moderno A tradição gramatical estabelece, em geral, dez classes de palavras: o subs- tantivo, o adjetivo, os numerais, o artigo, o pronome, o verbo, o advérbio, a preposição, a conjunção e a interjeição. Também segundo a tradição, costuma- se agrupar essas classes em função de serem variáveis (isto é: podem sofrer flexões para indicar vários tipos de relações) ou invariáveis: as seis primeiras classes na listagem acima constituem classes variáveis, as quatro últimas, in- variáveis. Obviamente, não poderemos el observar, nem uma só viagem ao túnel morfológico, as dez classes de palavras. Vamos restringir-nos, pois, à classo dos substantivos, pois neles transparece, com grande nitidez, a interseção entre a fonologia e a morfologia, na passagem do latim ao português. Havíamos visto anteriormente que, em virtude de uma série de mu- danças fonológicas presentes no latim falado, o sistema morfológico se apre- (o romeno, o italiano, o provençal e o francês antigos) enquanto outras, como o espanhol e o português, deram vida somente ao acusativo. Duas explicações poderiam ser aqui colocadas para a sobrevivência do acusativo no espanhol e no português. Em primeiríssimo lugar, observe-se o acusativo plural em /s/ presente nos dois sistemas modernos: evidência cabal de que foi o acusativo, e não o nominativo, que sobreviveu nesses dois sistemas. No caso do singular, podemos dizer que a neutralização entre o nominativo e o acusativo começou com o obscurecimento do /m/ final, indicador do acusativo singular no latim clássico. Assim, com a neutralização entre os dois casos no singular, a predominância do acusativo plural em /s/ nas três declinações extraordinárias pois o acusativo no caso lexicológico nos dois sistemas. Assim, Coutinho (1969, p. 228) afirma ser do acusativo "que procedem as palavras de nossa língua. Comprovam as inscrições o emprego do acusativo como sujeito, em lugar do nominativo: filï s matri jacent, quiscuam religiosos. Um ligeiro corte de formas latinas com as correspondentes logo vos convencerá disso. Primera declinação acusativo singular menza > mesa, vita > vida, rosa > rosa acusativo plural menzas > mesas, villas > vidas, rosas > rosas Segunda declinação acusativo singular lupe > lobo, horum > horto, librum > livro acusativo plural lupos > lobos, horos > hortos, libros > livros Terceira declinação acusativo singular valle > vale, ponte > ponte, labore > lavor acusativo plural valles > vales, pontes > pontes, labores > labores" Essa primeira explicação para a sobrevivência do acusativo em português, nas três declinações e, portanto, um caráter fótico que se intercela com o inventário morfológico do sistema em evolução: a mudança fonológica, com reorganização morfológica no sistema, perdurando tão-somente um caso (dos seis originais no latim clássico) e três declinações (das cinco existentes no latim escrito) em português. É, entretanto, o próprio Coutinho quem dá uma segunda explicação para a sobrevivência do acusativo em português, esta de natureza sintática: “A redução dos dois casos a um justifica-se mais como um fenômeno sintático do que fonético. Se o fato fonético da queda do -m do acusativo singular podia favorecer a identificação do acusativo com o nominativo na primeira declinação (Cf hora e hora(h)), o mesmo já não aconteceu com a segunda e a terceira declinação, em que os dois casos permaneceram diferentes (Cf hortus e hortum(h), avis e avea(h)). As palavras se dispunham na frase, em latim vulgar, segundo a ordem natural da elaboração do pensamento, ou seja, sujeito + verbo + objeto ou predicativo, em contraposição ao uso da língua clássica. Aconteceu que a ordem seguida, quase invariavelmente, acabou por fixar a função das palavras na frase. Assim não se justificava mais a manutenção dos dois casos”. A explicação dada por Coutinho pode, dentro da perspectiva teórica que assumimos neste manual, ser respondida de várias maneiras. Vejamos: em primeiro lugar, nada nos impede de conjecturarmos que a mudança aconteceu como um processo fonológico, afetando somente e exclusivamente, a princípio, as palavras da primeira declinação, mudança essa que seria, posteriormente, estendida às duas outras declinações. Além disso, a evidência apontada por Coutinho em relação à segunda e à terceira declinações não deveria ser levada em consideração, uma vez que o /s/ garantia, dentro de um sistema já morfologicamente empobrecido, a presença do acusativo plural. E um terceiro ponto que deveríamos mencionar é a evidência sintática em si: nós poderíamos virar a explicação de Coutinho pelo avesso e dizer, muito opostamente, conforme argumentaremos no capítulo dedicado à nossa viagem ao mundo sintático, que essa ordem instraurada no latim falado e no português (sujeito/verbo e predicativo) é consequência e (não causa) das mudanças fonológicas pelas quais os sistemas em questão passaram. Assim, pode-se afirmar que a alteração no orden dos constituentos básicos da sentença é, na realidade, um reflexo (ou mesmo) de uma mudança (ou em um processo) fônico-morfológico que já tinha falado e as línguas românicas, em geral, influenciarem em seus sistemas %. Tendo maneira possível de se decidir entre uma explicação fônica e outra sintática para a sobrevivência do acusativo no português e no espanhol é-nos dada pela perspectiva que assumimos neste manual: ou seja, o princípio da uniformidade da mudança linguística e a possibilidade de utilizar dados do presente para se explicar oc passado. Vejamos. A perda do /s/ no português e no espanhol contemporâneos Na verdade, ao tratamos de questões como estas - a neutralização entre o acusativo e o nominativo, e a explicações foneticamente, fica sempre a grande pergunta em linguística: a neutralização entre o acusativo e o nominativo na forma correspondente, em mesmo peso e medida, a eliminação da distinção funcional que, originariamente, era garantida pela diferenciação de marcas formais? Isto é: o espanhol e o português, ao terem perdido a distinção formal entre acusativo e nominativo, também perderam a diferenciação funcional? É óbvio que não: o sistema deve ter sido rearranjado de forma a preservar a distinção funcional. Estamos tratando, pois, da relação entre forma e função. Poplack (1979) ao examinar os principais fatores que condicionam a manutenção e/ou o cancelamento do /s/ plural no espanhol porto-riquenho moderno, elencou três hipóteses que poderiam explicar a evolução de marcas formais e de suas respectivas funções. São elas: “1. Processos de redução fonológica podem ser aplicados independentemente do estatuto gramatical do segmento em questão, desconfirmando-se assim a hipótese funcionalista. 2. Segmentos morfológicos podem resistir a processos de enfraquecimento fonológico e permanecer intactos, confirmando-se a hipótese funcionalista. 3. A função morfológica pode interagir sistematicamente com os processos fonológicos de tal forma que os últimos são mais frequentemente aplicados quando não há nenhuma possibilidade de se disambiguar a primeira. Esse resultado, que permite tanto o apagamento como a preservação da marca, confirmaria uma versão fraca da hipótese funcionalista”. A primeira situação rejeita a hipótese funcionalista, isto é: no caso da perda do /s/ final de palavras em português e espanhol, todas as palavras seriam igualmente afetadas, tanto aquelas em que o /s/ não marca pluralidade (como nas vogais em que o /s/ é morfema de plural (casas). No caso específico da neutralização entre o acusativo e o nominativo, seguindo-se essa primeira situação, teríamos que forçosamente admitir que, “independentemente do estatuto gramatical do segmento em questão”, o processo de neutralização fonológica seria ocorrido. A segunda situação apresenta um ponto de vista radicalmente oposto ao da primeira: a confirmação total e absoluta da hipótese funcionalista. Ou seja: como o obscurecimento das consoantes finais em latim, essa situação do /s/ final variaria o seu queda, dada a ordem das palavras na sentença, o processo fonológico da queda do /m/ final ficaria assim bloqueado, a fim de garantir a distinção entre o singular e o nominativo e acusativo. A terceira e última situação ameniza os dois pontos de vista opostos, expressos nas duas primeiras situações. Aqui, assume-se uma intersecção entre os processos fonológicos em marcha dentro de um sistema e a função gramatical (morfológica) dos segmentos envolvidos. Assim, o /s/ plural também é perdido foneticamente, mas a pluralidade é mantida através de outros recursos que o sistema organiza. É exatamente essa a situação no espanhol e no português contemporâneos. O espanhol preserva um sistema de determinantes, distinguindo gênero e número: Singular Plural Masculino el los un unos Feminino la tlas una unas Observe-se que a perda do /s/ plural no determinante feminino coincide com a forma singular; a perda do /s/ em los e unos, entretanto, ainda retém a pluralidade, dada a diferença fônica com as formas singulares correspondentes: el e un. 126 Dado o quadro acima, uma hipótese, em conformidade com a terceira situação exposta por Poplack, poderia ser levantada: há uma interseção que envolve a morfologia do espanhol na medida em que se confirme que o processo fonológico de enfraquecimento e cancelamento do /s/ se encontra mais avançado no masculino do que no feminino, tanto para os substantivos quanto para os determinantes. Com essa hipótese em mente e dentro da perspectiva teórica que temos avançado neste manual, Flores, Miyhil e Tarallo (1983) empreenderam uma análise da perda do /s/ plural no espanhol portoriquenho, tendo chegado a resultados que confirmam a interseção de fatores fonológicos e morfológicos na mudança linguística. A tabela 3¹ a seguir apresenta os resultados para o cancelamento de /s/ em determinantes; a tabela 4¹¹, os resultados para os substantivos. Tabela 3: Frequência de apagamento de /s/ em determinantes Masculino Feminino Total Presença de /s/ 216 167 383 Ausência de /s/ 53 24 77 Total 269 191 460 % de ausência 19,7% 12,5% 16,7% Tabela 4: Frequência de apagamento de /s/ em substantivos Masculino Feminino Total Presença de /s/ 149 169 318 Ausência de /s/ 452 217 669 Total 601 386 987 % de ausência 75,2% 56,2% 67,9% As tabelas 3 e 4 ainda demonstram, pois, que a porcentagem de apagamento de /s/ marcador de plural é mais alta para os determinantes e substantivos masculinos: 19,7% contra 12,5% nos determinantes, e 75,2% contra 56,2% nos substantivos. Esses resultados evidenciam que o sistema, tomado de um processo fonológico violento que lhe comprometa, entre outras coisas, a marcação da pluralidade, permite o avanço da mudança, com maior velocidade, precisamente nos casos de menor neutralização entre o singular e o plural. No sistema moderno do português, entretanto, tal não é, a divisão entre determinantes masculinos e femininos. Nesse sistema a perda do /s/ marcador de plural igualmente compromete a função (pluralidade) no masculino e no feminino. Além da distinção entre os determinantes no espanhol, os estudos já realizados haviam demonstrado que a primeira posição dentro do sintagma nominal começava a ser eleita como a posição solitária e única para

Envie sua pergunta para a IA e receba a resposta na hora

Recomendado para você

Port 7 Aula 8 Tarallo Morfologia 1

11

Port 7 Aula 8 Tarallo Morfologia 1

Português

CEDERJ

Port 7 Aula 8 Tarallo Morfologia 1

11

Port 7 Aula 8 Tarallo Morfologia 1

Português

CEDERJ

Port 7 Aula 8 Tarallo Morfologia 1

11

Port 7 Aula 8 Tarallo Morfologia 1

Português

CEDERJ

Exploração dos Gêneros Textuais e Seus Tipos

10

Exploração dos Gêneros Textuais e Seus Tipos

Português

CEDERJ

Resenha Critica do Artigo Experiencias com o Texto Literario de Sonia Travassos

4

Resenha Critica do Artigo Experiencias com o Texto Literario de Sonia Travassos

Português

CEDERJ

AD1-Língua-Portuguesa-na-Educação-2-Analise-Textual-e-Atividades-5o-Ano

4

AD1-Língua-Portuguesa-na-Educação-2-Analise-Textual-e-Atividades-5o-Ano

Português

CEDERJ

Depoimento sobre o Contato com os Brancos: A Perspectiva dos Yanomami

6

Depoimento sobre o Contato com os Brancos: A Perspectiva dos Yanomami

Português

CEDERJ

Texto de pré-visualização

9 TÚNEL MORFOLÓGICO I: AS PERDAS Mais perdas? Fizemos até agora duas entradas no túnel do tempo da língua portu- guesa. Estamos iniciando nesse momento a terceira: uma viagem pela mor- fologia do latim e do português. Presenciamos, durante as duas viagens ante- riores, uma série de características fonológicas do latim clássico que foram perdidas no latim falado e que, posteriormente, não mais seriam recupera- das nas várias línguas românicas. Concluímos, ainda, diante daquelas perdas que, ao mesmo tempo que traços do latim clássico desapareciam, novos tra- ços surgiam no latim falado e eram mantidos no português. Assim, procurare- mos estabelecer, dentro do túnel (e de nossa perspectiva teórica), um elo sig- nificativo entre perdas e ganhos. De um lado, as perdas eram, de certa ma- neira, compensadas pela conquista de novos traços; de outro, as perdas ou desencadeavam novas perdas e ganhos, ou já aconteciam devidamente encaie- xadas no sistema dinâmico em evolução. Mas o que seriam perdas morfológicas? O que significa para um siste- ma perder um traço morfológico? Bem, a perda de um aspecto morfológico do sistema significa, no nosso caso especificamente, redução de gênero, nú- mero e caso dos substantivos; redução dos tempos verbais, etc. Obviamente, essas reduções ou perdas necessariamente aparecerão, durante a nossa via- gem ao túnel morfológico, contrapostas às novas conquistas que o sistema vinha realizando nessa mesma parte da gramática. No presente capítulo, nessa primeira entrada no túnel morfológico do latim ao português, observaremos somente as perdas; os ganhos e as conquistas morfológicas serão oportuna- mente observados, no capítulo imediatamente seguinte, quando empreender- mos nossa quarta entrada no túnel. Antes, porém, de começarmos a observar as perdas morfológicas, me- rece destaque uma distinção fundamental entre tipos de perda. Vimos, por 8. A regularização de alguns infinitivos irregulares: potere ao invés de posse; *essere por esse, *volere por velle. 9. A simplificação na marcação do tempo e do aspecto verbal: o mais-que-perfeito do subjuntivo clássico (amassem, legissent, audissent) aparece substituindo o imperfeito do mesmo modo verbal: amarem, legerem, audirem. Nesta mesma tendência, caem em desuso o supino, o futuro do imperativo e o perfeito do infinitivo. 10. Os verbos deponentes do latim clássico deixam de constituir uma conjugação à parte e passam a se encaixar no sistema da língua falada como verbos ativos: mentio ao invés de mentior, traco por tracor. Isto posto, fica, pois, evidenciado que o latim falado apresentava um inventário morfológico empobrecido em relação ao do latim clássico escrito. Não trataremos agora das compensações que surgiram no latim falado e nas línguas românicas em geral, com vistas a reorganizar o sistema morfológico do latim clássico. Vejamos agora como ficou o sistema morfológico do português, considerando-se que grande parte dos traços pertinentes ao latim clássico já não aparecem herdados pela modalidade falada do latim. Certa- mente, dada a origem do português a partir do latim falado, tais traços já simplificados no latim vulgar não voltaram a reaparecer no sistema português. A herança não-herdada: O inventário (morfológico) do latim ao português Coutinho (1969) apresenta algumas características gerais para o siste- ma morfológico do português arcaico: "Na língua arcaica, os nomes terminados em -nu, -re e -r erarn uniformes: nomem, padre, senhor, linages portugall; alguns que atualmente não se modi- cam no plural flexionavam-se antigamente: arvore/a, arveres; madre/s; mui- tos outros eram diferentes: fruy, mar; planta, coma; etc., eram outrora femininos e, agora, são homens; coraron, limgagens, eram masculinos; a segunda pessoa do plural dos verbos terminava em -des, ainda hoje conservado nos espanhol: amades, credes; o particípio passado dos verbos da segunda conjuga- ção terminava em -udo; perdido, corriguido, escorrido, terminação que ainda se conserva em malacido, contenidos, ixido, fizendo; havia particípios presen- tes em -nte, os quais depois se forama adjetivos, substantivos ou preposições: remenUi, duranti, a terminação da terceira pessoa do pretérito era -onji, como já vimos ocurrem, amancom; encontravam-se formas de verbais, que por ana- logia ou por outro motivo qualquer foram substituídas por outrass: argo (ardo), sempo (sinto), fago (fazo), meroso (merogro) saJe (esteia), franger (troxer); puqui (rpus), quipi (quis), querita (ria], qucríria (quereria), fassere (fizeste", som soho), prouge (prouve), etc.". Há, nessa passagem de Coutinho, acima, várias observações sobre os nomes e os verbos no português arcaico que exemplificam a herança não- 122 sentava empobrecido em relação ao latim clássico: redução no número de declinações e de casos foram duas das características morfológicas apontadas para o latim vulgar. Assim, de cinco declinações o latim vulgar conhecia so- mente três: a primeira (que também recebia palavras da quinta), a segunda (incorporando as palavras da quarta), e a terceira (também, como a primeira, recebendo palavras da quinta). Segundo Coutinho (1969, p. 225), tal confu- são entre as declinações já "reinava no próprio latim clássico, onde alguns substantivos da quinta podiam também ser declinados pela primeira: avari- ties, ou avarileri, luxuries, el, ou luxuriés, sum mariesclés ou materier, er". O mesmo, segundo ele, já ocorreria também no latim clássico, com algumas palavras que eram declináveis tanto pela quarta quanto pela segunda decli- nação: domus, us e domusts, J fructus, us e fructis, i. "Se isto ocorria na língua escrita, que dirá na falada, onde a necessi- dade de clareza era maior e mais urgente?", pergunta-se Coutinho (1969, p. 225). De fato, apesar dessas pequenas confusões do latim escrito, já existe- ria uma extremenente rica em flexões. Multipliguelm-se 6 casos e 5 declina- ções e teremos 30 diferentes combinações (ou um princípio, ao menos, dife- rentes nas funções que tais formas desempenhavam), o que garantia a enten- da latim clássica uma total liberdade na ordem em que os constituintes. Assim, enquanto vi o nome "hominem poderia aparecer em qualquer ordem: puella vidit hominem, hominem puella vidit, puella hominem vidit, etc., etc. Muitas dessas trinta (suponstamente diferentes) combinações, ainda apresentavam diferentes terminações para diferentes casos de umas mesmas decli- nação, ou ainda, para outros casos, em outras declinações. Com a tendência do latim de falado a obscurecer, ou às poucos, encarar o final (ou se- gunda) formas das palavras, natural foi, portanto, que tanto o número de decli- nações quanto o número de casos fossem drasticamente reduzidos. Assim, “co- meço da fase românica, as três declinações apresentavam-se (...) constituídas: Primeira declinação Singular Plural Nominativo luna lune Acusativo luni lunas Segunda declinação Singular Plural Nominativo annus anni Acusativo | annu, annos Terceira declinação Singular Plural Nominativo canes canes Acusativo | cane canes'"4 Mas as línguas românicas foram ainda mais além em seu processo de perdas. Informaram-nos os compêndios que algumas fizeram o nominativo sobreviver 121 herdada do latim clássico, mas que confirmam a manutenção do inventário morfológico a partir do latim falado. Sobre os nomes, Coutinho observa que o português arcaico era caracterizado por uma profunda redução no gênero. Assim, alguns substantivos eram uniformes, enquanto outros nomes eram marcados com gênero diferente de que sobreviveu no sistema moderno. Al- guns nomes, como ouvirez, que não são mais marcados formalmente no plu- ral moderno, aparecem flexionados no português arcaico. O verbo era mar- cado por -des na segunda pessoa do plural, mantendo, via evolução fonológi- ca, a forma -tis da conjugação clássica. Os participios presentes em -mil, vi- am usando no sistema de então, seriam posteriormente reanalisados em outras partes da gramática. Há, pois, um testemuno de perda nessa passagem, do latim ao português arcaico. Vejamos a exemplificação dessas características do português arcaico em uma cantiga, cuja data provável de composição fi- gura o ano de 1189: "No mundo nem mei parelha, mente me for' como me vay, ce ja moir for vos — e ay! mia senhor branca e vermelha, queredes que vos erremya quando vus eu en syai! Mia senhor muit'alva e lega que vus enon non vi, feai! E, mia senhor, des que! d'irayal que dij' con samal merce, e ros, filha de Dom Paay Moniz, e ben vuz semelha d'aver eu por vos guaraya, pois eu, mia senhor', d'alraya susca de vos ouve nen ei valia 'da onrera'. O saldo efetivo das perdas morfológicas no português moderno A tradição gramatical estabelece, em geral, dez classes de palavras: o subs- tantivo, o adjetivo, os numerais, o artigo, o pronome, o verbo, o advérbio, a preposição, a conjunção e a interjeição. Também segundo a tradição, costuma- se agrupar essas classes em função de serem variáveis (isto é: podem sofrer flexões para indicar vários tipos de relações) ou invariáveis: as seis primeiras classes na listagem acima constituem classes variáveis, as quatro últimas, in- variáveis. Obviamente, não poderemos el observar, nem uma só viagem ao túnel morfológico, as dez classes de palavras. Vamos restringir-nos, pois, à classo dos substantivos, pois neles transparece, com grande nitidez, a interseção entre a fonologia e a morfologia, na passagem do latim ao português. Havíamos visto anteriormente que, em virtude de uma série de mu- danças fonológicas presentes no latim falado, o sistema morfológico se apre- (o romeno, o italiano, o provençal e o francês antigos) enquanto outras, como o espanhol e o português, deram vida somente ao acusativo. Duas explicações poderiam ser aqui colocadas para a sobrevivência do acusativo no espanhol e no português. Em primeiríssimo lugar, observe-se o acusativo plural em /s/ presente nos dois sistemas modernos: evidência cabal de que foi o acusativo, e não o nominativo, que sobreviveu nesses dois sistemas. No caso do singular, podemos dizer que a neutralização entre o nominativo e o acusativo começou com o obscurecimento do /m/ final, indicador do acusativo singular no latim clássico. Assim, com a neutralização entre os dois casos no singular, a predominância do acusativo plural em /s/ nas três declinações extraordinárias pois o acusativo no caso lexicológico nos dois sistemas. Assim, Coutinho (1969, p. 228) afirma ser do acusativo "que procedem as palavras de nossa língua. Comprovam as inscrições o emprego do acusativo como sujeito, em lugar do nominativo: filï s matri jacent, quiscuam religiosos. Um ligeiro corte de formas latinas com as correspondentes logo vos convencerá disso. Primera declinação acusativo singular menza > mesa, vita > vida, rosa > rosa acusativo plural menzas > mesas, villas > vidas, rosas > rosas Segunda declinação acusativo singular lupe > lobo, horum > horto, librum > livro acusativo plural lupos > lobos, horos > hortos, libros > livros Terceira declinação acusativo singular valle > vale, ponte > ponte, labore > lavor acusativo plural valles > vales, pontes > pontes, labores > labores" Essa primeira explicação para a sobrevivência do acusativo em português, nas três declinações e, portanto, um caráter fótico que se intercela com o inventário morfológico do sistema em evolução: a mudança fonológica, com reorganização morfológica no sistema, perdurando tão-somente um caso (dos seis originais no latim clássico) e três declinações (das cinco existentes no latim escrito) em português. É, entretanto, o próprio Coutinho quem dá uma segunda explicação para a sobrevivência do acusativo em português, esta de natureza sintática: “A redução dos dois casos a um justifica-se mais como um fenômeno sintático do que fonético. Se o fato fonético da queda do -m do acusativo singular podia favorecer a identificação do acusativo com o nominativo na primeira declinação (Cf hora e hora(h)), o mesmo já não aconteceu com a segunda e a terceira declinação, em que os dois casos permaneceram diferentes (Cf hortus e hortum(h), avis e avea(h)). As palavras se dispunham na frase, em latim vulgar, segundo a ordem natural da elaboração do pensamento, ou seja, sujeito + verbo + objeto ou predicativo, em contraposição ao uso da língua clássica. Aconteceu que a ordem seguida, quase invariavelmente, acabou por fixar a função das palavras na frase. Assim não se justificava mais a manutenção dos dois casos”. A explicação dada por Coutinho pode, dentro da perspectiva teórica que assumimos neste manual, ser respondida de várias maneiras. Vejamos: em primeiro lugar, nada nos impede de conjecturarmos que a mudança aconteceu como um processo fonológico, afetando somente e exclusivamente, a princípio, as palavras da primeira declinação, mudança essa que seria, posteriormente, estendida às duas outras declinações. Além disso, a evidência apontada por Coutinho em relação à segunda e à terceira declinações não deveria ser levada em consideração, uma vez que o /s/ garantia, dentro de um sistema já morfologicamente empobrecido, a presença do acusativo plural. E um terceiro ponto que deveríamos mencionar é a evidência sintática em si: nós poderíamos virar a explicação de Coutinho pelo avesso e dizer, muito opostamente, conforme argumentaremos no capítulo dedicado à nossa viagem ao mundo sintático, que essa ordem instraurada no latim falado e no português (sujeito/verbo e predicativo) é consequência e (não causa) das mudanças fonológicas pelas quais os sistemas em questão passaram. Assim, pode-se afirmar que a alteração no orden dos constituentos básicos da sentença é, na realidade, um reflexo (ou mesmo) de uma mudança (ou em um processo) fônico-morfológico que já tinha falado e as línguas românicas, em geral, influenciarem em seus sistemas %. Tendo maneira possível de se decidir entre uma explicação fônica e outra sintática para a sobrevivência do acusativo no português e no espanhol é-nos dada pela perspectiva que assumimos neste manual: ou seja, o princípio da uniformidade da mudança linguística e a possibilidade de utilizar dados do presente para se explicar oc passado. Vejamos. A perda do /s/ no português e no espanhol contemporâneos Na verdade, ao tratamos de questões como estas - a neutralização entre o acusativo e o nominativo, e a explicações foneticamente, fica sempre a grande pergunta em linguística: a neutralização entre o acusativo e o nominativo na forma correspondente, em mesmo peso e medida, a eliminação da distinção funcional que, originariamente, era garantida pela diferenciação de marcas formais? Isto é: o espanhol e o português, ao terem perdido a distinção formal entre acusativo e nominativo, também perderam a diferenciação funcional? É óbvio que não: o sistema deve ter sido rearranjado de forma a preservar a distinção funcional. Estamos tratando, pois, da relação entre forma e função. Poplack (1979) ao examinar os principais fatores que condicionam a manutenção e/ou o cancelamento do /s/ plural no espanhol porto-riquenho moderno, elencou três hipóteses que poderiam explicar a evolução de marcas formais e de suas respectivas funções. São elas: “1. Processos de redução fonológica podem ser aplicados independentemente do estatuto gramatical do segmento em questão, desconfirmando-se assim a hipótese funcionalista. 2. Segmentos morfológicos podem resistir a processos de enfraquecimento fonológico e permanecer intactos, confirmando-se a hipótese funcionalista. 3. A função morfológica pode interagir sistematicamente com os processos fonológicos de tal forma que os últimos são mais frequentemente aplicados quando não há nenhuma possibilidade de se disambiguar a primeira. Esse resultado, que permite tanto o apagamento como a preservação da marca, confirmaria uma versão fraca da hipótese funcionalista”. A primeira situação rejeita a hipótese funcionalista, isto é: no caso da perda do /s/ final de palavras em português e espanhol, todas as palavras seriam igualmente afetadas, tanto aquelas em que o /s/ não marca pluralidade (como nas vogais em que o /s/ é morfema de plural (casas). No caso específico da neutralização entre o acusativo e o nominativo, seguindo-se essa primeira situação, teríamos que forçosamente admitir que, “independentemente do estatuto gramatical do segmento em questão”, o processo de neutralização fonológica seria ocorrido. A segunda situação apresenta um ponto de vista radicalmente oposto ao da primeira: a confirmação total e absoluta da hipótese funcionalista. Ou seja: como o obscurecimento das consoantes finais em latim, essa situação do /s/ final variaria o seu queda, dada a ordem das palavras na sentença, o processo fonológico da queda do /m/ final ficaria assim bloqueado, a fim de garantir a distinção entre o singular e o nominativo e acusativo. A terceira e última situação ameniza os dois pontos de vista opostos, expressos nas duas primeiras situações. Aqui, assume-se uma intersecção entre os processos fonológicos em marcha dentro de um sistema e a função gramatical (morfológica) dos segmentos envolvidos. Assim, o /s/ plural também é perdido foneticamente, mas a pluralidade é mantida através de outros recursos que o sistema organiza. É exatamente essa a situação no espanhol e no português contemporâneos. O espanhol preserva um sistema de determinantes, distinguindo gênero e número: Singular Plural Masculino el los un unos Feminino la tlas una unas Observe-se que a perda do /s/ plural no determinante feminino coincide com a forma singular; a perda do /s/ em los e unos, entretanto, ainda retém a pluralidade, dada a diferença fônica com as formas singulares correspondentes: el e un. 126 Dado o quadro acima, uma hipótese, em conformidade com a terceira situação exposta por Poplack, poderia ser levantada: há uma interseção que envolve a morfologia do espanhol na medida em que se confirme que o processo fonológico de enfraquecimento e cancelamento do /s/ se encontra mais avançado no masculino do que no feminino, tanto para os substantivos quanto para os determinantes. Com essa hipótese em mente e dentro da perspectiva teórica que temos avançado neste manual, Flores, Miyhil e Tarallo (1983) empreenderam uma análise da perda do /s/ plural no espanhol portoriquenho, tendo chegado a resultados que confirmam a interseção de fatores fonológicos e morfológicos na mudança linguística. A tabela 3¹ a seguir apresenta os resultados para o cancelamento de /s/ em determinantes; a tabela 4¹¹, os resultados para os substantivos. Tabela 3: Frequência de apagamento de /s/ em determinantes Masculino Feminino Total Presença de /s/ 216 167 383 Ausência de /s/ 53 24 77 Total 269 191 460 % de ausência 19,7% 12,5% 16,7% Tabela 4: Frequência de apagamento de /s/ em substantivos Masculino Feminino Total Presença de /s/ 149 169 318 Ausência de /s/ 452 217 669 Total 601 386 987 % de ausência 75,2% 56,2% 67,9% As tabelas 3 e 4 ainda demonstram, pois, que a porcentagem de apagamento de /s/ marcador de plural é mais alta para os determinantes e substantivos masculinos: 19,7% contra 12,5% nos determinantes, e 75,2% contra 56,2% nos substantivos. Esses resultados evidenciam que o sistema, tomado de um processo fonológico violento que lhe comprometa, entre outras coisas, a marcação da pluralidade, permite o avanço da mudança, com maior velocidade, precisamente nos casos de menor neutralização entre o singular e o plural. No sistema moderno do português, entretanto, tal não é, a divisão entre determinantes masculinos e femininos. Nesse sistema a perda do /s/ marcador de plural igualmente compromete a função (pluralidade) no masculino e no feminino. Além da distinção entre os determinantes no espanhol, os estudos já realizados haviam demonstrado que a primeira posição dentro do sintagma nominal começava a ser eleita como a posição solitária e única para

Sua Nova Sala de Aula

Sua Nova Sala de Aula

Empresa

Central de ajuda Contato Blog

Legal

Termos de uso Política de privacidade Política de cookies Código de honra

Baixe o app

4,8
(35.000 avaliações)
© 2025 Meu Guru®