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9 TÚNEL MORFOLÓGICO I: AS PERDAS Mais perdas? Fizemos até agora duas entradas no túnel do tempo da língua portu- guesa. Estamos iniciando nesse momento a terceira: uma viagem pela mor- fologia do latim e do português. Presenciamos, durante as duas viagens ante- riores, uma série de características fonológicas do latim clássico que foram perdidas no latim falado e que, posteriormente, não mais seriam recupera- das nas várias línguas românicas. Concluímos, ainda, diante daquelas perdas que, ao mesmo tempo que traços do latim clássico desapareciam, novos tra- ços surgiam no latim falado e eram mantidos no português. Assim, procurare- mos estabelecer, dentro do túnel (e de nossa perspectiva teórica), um elo sig- nificativo entre perdas e ganhos. De um lado, as perdas eram, de certa ma- neira, compensadas pela conquista de novos traços; de outro, as perdas ou desencadeavam novas perdas e ganhos, ou já aconteciam devidamente encaie- xadas no sistema dinâmico em evolução. Mas o que seriam perdas morfológicas? O que significa para um siste- ma perder um traço morfológico? Bem, a perda de um aspecto morfológico do sistema significa, no nosso caso especificamente, redução de gênero, nú- mero e caso dos substantivos; redução dos tempos verbais, etc. Obviamente, essas reduções ou perdas necessariamente aparecerão, durante a nossa via- gem ao túnel morfológico, contrapostas às novas conquistas que o sistema vinha realizando nessa mesma parte da gramática. No presente capítulo, nessa primeira entrada no túnel morfológico do latim ao português, observaremos somente as perdas; os ganhos e as conquistas morfológicas serão oportuna- mente observados, no capítulo imediatamente seguinte, quando empreender- mos nossa quarta entrada no túnel. Antes, porém, de começarmos a observar as perdas morfológicas, me- rece destaque uma distinção fundamental entre tipos de perda. Vimos, por 8. A regularização de alguns infinitivos irregulares: potere ao invés de posse; *essere por esse, *volere por velle. 9. A simplificação na marcação do tempo e do aspecto verbal: o mais-que-perfeito do subjuntivo clássico (amassem, legissent, audissent) aparece substituindo o imperfeito do mesmo modo verbal: amarem, legerem, audirem. Nesta mesma tendência, caem em desuso o supino, o futuro do imperativo e o perfeito do infinitivo. 10. Os verbos deponentes do latim clássico deixam de constituir uma conjugação à parte e passam a se encaixar no sistema da língua falada como verbos ativos: mentio ao invés de mentior, traco por tracor. Isto posto, fica, pois, evidenciado que o latim falado apresentava um inventário morfológico empobrecido em relação ao do latim clássico escrito. Não trataremos agora das compensações que surgiram no latim falado e nas línguas românicas em geral, com vistas a reorganizar o sistema morfológico do latim clássico. Vejamos agora como ficou o sistema morfológico do português, considerando-se que grande parte dos traços pertinentes ao latim clássico já não aparecem herdados pela modalidade falada do latim. Certa- mente, dada a origem do português a partir do latim falado, tais traços já simplificados no latim vulgar não voltaram a reaparecer no sistema português. A herança não-herdada: O inventário (morfológico) do latim ao português Coutinho (1969) apresenta algumas características gerais para o siste- ma morfológico do português arcaico: "Na língua arcaica, os nomes terminados em -nu, -re e -r erarn uniformes: nomem, padre, senhor, linages portugall; alguns que atualmente não se modi- cam no plural flexionavam-se antigamente: arvore/a, arveres; madre/s; mui- tos outros eram diferentes: fruy, mar; planta, coma; etc., eram outrora femininos e, agora, são homens; coraron, limgagens, eram masculinos; a segunda pessoa do plural dos verbos terminava em -des, ainda hoje conservado nos espanhol: amades, credes; o particípio passado dos verbos da segunda conjuga- ção terminava em -udo; perdido, corriguido, escorrido, terminação que ainda se conserva em malacido, contenidos, ixido, fizendo; havia particípios presen- tes em -nte, os quais depois se forama adjetivos, substantivos ou preposições: remenUi, duranti, a terminação da terceira pessoa do pretérito era -onji, como já vimos ocurrem, amancom; encontravam-se formas de verbais, que por ana- logia ou por outro motivo qualquer foram substituídas por outrass: argo (ardo), sempo (sinto), fago (fazo), meroso (merogro) saJe (esteia), franger (troxer); puqui (rpus), quipi (quis), querita (ria], qucríria (quereria), fassere (fizeste", som soho), prouge (prouve), etc.". Há, nessa passagem de Coutinho, acima, várias observações sobre os nomes e os verbos no português arcaico que exemplificam a herança não- 122 sentava empobrecido em relação ao latim clássico: redução no número de declinações e de casos foram duas das características morfológicas apontadas para o latim vulgar. Assim, de cinco declinações o latim vulgar conhecia so- mente três: a primeira (que também recebia palavras da quinta), a segunda (incorporando as palavras da quarta), e a terceira (também, como a primeira, recebendo palavras da quinta). Segundo Coutinho (1969, p. 225), tal confu- são entre as declinações já "reinava no próprio latim clássico, onde alguns substantivos da quinta podiam também ser declinados pela primeira: avari- ties, ou avarileri, luxuries, el, ou luxuriés, sum mariesclés ou materier, er". O mesmo, segundo ele, já ocorreria também no latim clássico, com algumas palavras que eram declináveis tanto pela quarta quanto pela segunda decli- nação: domus, us e domusts, J fructus, us e fructis, i. "Se isto ocorria na língua escrita, que dirá na falada, onde a necessi- dade de clareza era maior e mais urgente?", pergunta-se Coutinho (1969, p. 225). De fato, apesar dessas pequenas confusões do latim escrito, já existe- ria uma extremenente rica em flexões. Multipliguelm-se 6 casos e 5 declina- ções e teremos 30 diferentes combinações (ou um princípio, ao menos, dife- rentes nas funções que tais formas desempenhavam), o que garantia a enten- da latim clássica uma total liberdade na ordem em que os constituintes. Assim, enquanto vi o nome "hominem poderia aparecer em qualquer ordem: puella vidit hominem, hominem puella vidit, puella hominem vidit, etc., etc. Muitas dessas trinta (suponstamente diferentes) combinações, ainda apresentavam diferentes terminações para diferentes casos de umas mesmas decli- nação, ou ainda, para outros casos, em outras declinações. Com a tendência do latim de falado a obscurecer, ou às poucos, encarar o final (ou se- gunda) formas das palavras, natural foi, portanto, que tanto o número de decli- nações quanto o número de casos fossem drasticamente reduzidos. Assim, “co- meço da fase românica, as três declinações apresentavam-se (...) constituídas: Primeira declinação Singular Plural Nominativo luna lune Acusativo luni lunas Segunda declinação Singular Plural Nominativo annus anni Acusativo | annu, annos Terceira declinação Singular Plural Nominativo canes canes Acusativo | cane canes'"4 Mas as línguas românicas foram ainda mais além em seu processo de perdas. Informaram-nos os compêndios que algumas fizeram o nominativo sobreviver 121 herdada do latim clássico, mas que confirmam a manutenção do inventário morfológico a partir do latim falado. Sobre os nomes, Coutinho observa que o português arcaico era caracterizado por uma profunda redução no gênero. Assim, alguns substantivos eram uniformes, enquanto outros nomes eram marcados com gênero diferente de que sobreviveu no sistema moderno. Al- guns nomes, como ouvirez, que não são mais marcados formalmente no plu- ral moderno, aparecem flexionados no português arcaico. O verbo era mar- cado por -des na segunda pessoa do plural, mantendo, via evolução fonológi- ca, a forma -tis da conjugação clássica. Os participios presentes em -mil, vi- am usando no sistema de então, seriam posteriormente reanalisados em outras partes da gramática. Há, pois, um testemuno de perda nessa passagem, do latim ao português arcaico. Vejamos a exemplificação dessas características do português arcaico em uma cantiga, cuja data provável de composição fi- gura o ano de 1189: "No mundo nem mei parelha, mente me for' como me vay, ce ja moir for vos — e ay! mia senhor branca e vermelha, queredes que vos erremya quando vus eu en syai! Mia senhor muit'alva e lega que vus enon non vi, feai! E, mia senhor, des que! d'irayal que dij' con samal merce, e ros, filha de Dom Paay Moniz, e ben vuz semelha d'aver eu por vos guaraya, pois eu, mia senhor', d'alraya susca de vos ouve nen ei valia 'da onrera'. O saldo efetivo das perdas morfológicas no português moderno A tradição gramatical estabelece, em geral, dez classes de palavras: o subs- tantivo, o adjetivo, os numerais, o artigo, o pronome, o verbo, o advérbio, a preposição, a conjunção e a interjeição. Também segundo a tradição, costuma- se agrupar essas classes em função de serem variáveis (isto é: podem sofrer flexões para indicar vários tipos de relações) ou invariáveis: as seis primeiras classes na listagem acima constituem classes variáveis, as quatro últimas, in- variáveis. Obviamente, não poderemos el observar, nem uma só viagem ao túnel morfológico, as dez classes de palavras. Vamos restringir-nos, pois, à classo dos substantivos, pois neles transparece, com grande nitidez, a interseção entre a fonologia e a morfologia, na passagem do latim ao português. Havíamos visto anteriormente que, em virtude de uma série de mu- danças fonológicas presentes no latim falado, o sistema morfológico se apre- (o romeno, o italiano, o provençal e o francês antigos) enquanto outras, como o espanhol e o português, deram vida somente ao acusativo. Duas explicações poderiam ser aqui colocadas para a sobrevivência do acusativo no espanhol e no português. Em primeiríssimo lugar, observe-se o acusativo plural em /s/ presente nos dois sistemas modernos: evidência cabal de que foi o acusativo, e não o nominativo, que sobreviveu nesses dois sistemas. No caso do singular, podemos dizer que a neutralização entre o nominativo e o acusativo começou com o obscurecimento do /m/ final, indicador do acusativo singular no latim clássico. Assim, com a neutralização entre os dois casos no singular, a predominância do acusativo plural em /s/ nas três declinações extraordinárias pois o acusativo no caso lexicológico nos dois sistemas. Assim, Coutinho (1969, p. 228) afirma ser do acusativo "que procedem as palavras de nossa língua. Comprovam as inscrições o emprego do acusativo como sujeito, em lugar do nominativo: filï s matri jacent, quiscuam religiosos. Um ligeiro corte de formas latinas com as correspondentes logo vos convencerá disso. Primera declinação acusativo singular menza > mesa, vita > vida, rosa > rosa acusativo plural menzas > mesas, villas > vidas, rosas > rosas Segunda declinação acusativo singular lupe > lobo, horum > horto, librum > livro acusativo plural lupos > lobos, horos > hortos, libros > livros Terceira declinação acusativo singular valle > vale, ponte > ponte, labore > lavor acusativo plural valles > vales, pontes > pontes, labores > labores" Essa primeira explicação para a sobrevivência do acusativo em português, nas três declinações e, portanto, um caráter fótico que se intercela com o inventário morfológico do sistema em evolução: a mudança fonológica, com reorganização morfológica no sistema, perdurando tão-somente um caso (dos seis originais no latim clássico) e três declinações (das cinco existentes no latim escrito) em português. É, entretanto, o próprio Coutinho quem dá uma segunda explicação para a sobrevivência do acusativo em português, esta de natureza sintática: “A redução dos dois casos a um justifica-se mais como um fenômeno sintático do que fonético. Se o fato fonético da queda do -m do acusativo singular podia favorecer a identificação do acusativo com o nominativo na primeira declinação (Cf hora e hora(h)), o mesmo já não aconteceu com a segunda e a terceira declinação, em que os dois casos permaneceram diferentes (Cf hortus e hortum(h), avis e avea(h)). As palavras se dispunham na frase, em latim vulgar, segundo a ordem natural da elaboração do pensamento, ou seja, sujeito + verbo + objeto ou predicativo, em contraposição ao uso da língua clássica. Aconteceu que a ordem seguida, quase invariavelmente, acabou por fixar a função das palavras na frase. Assim não se justificava mais a manutenção dos dois casos”. A explicação dada por Coutinho pode, dentro da perspectiva teórica que assumimos neste manual, ser respondida de várias maneiras. Vejamos: em primeiro lugar, nada nos impede de conjecturarmos que a mudança aconteceu como um processo fonológico, afetando somente e exclusivamente, a princípio, as palavras da primeira declinação, mudança essa que seria, posteriormente, estendida às duas outras declinações. Além disso, a evidência apontada por Coutinho em relação à segunda e à terceira declinações não deveria ser levada em consideração, uma vez que o /s/ garantia, dentro de um sistema já morfologicamente empobrecido, a presença do acusativo plural. E um terceiro ponto que deveríamos mencionar é a evidência sintática em si: nós poderíamos virar a explicação de Coutinho pelo avesso e dizer, muito opostamente, conforme argumentaremos no capítulo dedicado à nossa viagem ao mundo sintático, que essa ordem instraurada no latim falado e no português (sujeito/verbo e predicativo) é consequência e (não causa) das mudanças fonológicas pelas quais os sistemas em questão passaram. Assim, pode-se afirmar que a alteração no orden dos constituentos básicos da sentença é, na realidade, um reflexo (ou mesmo) de uma mudança (ou em um processo) fônico-morfológico que já tinha falado e as línguas românicas, em geral, influenciarem em seus sistemas %. Tendo maneira possível de se decidir entre uma explicação fônica e outra sintática para a sobrevivência do acusativo no português e no espanhol é-nos dada pela perspectiva que assumimos neste manual: ou seja, o princípio da uniformidade da mudança linguística e a possibilidade de utilizar dados do presente para se explicar oc passado. Vejamos. A perda do /s/ no português e no espanhol contemporâneos Na verdade, ao tratamos de questões como estas - a neutralização entre o acusativo e o nominativo, e a explicações foneticamente, fica sempre a grande pergunta em linguística: a neutralização entre o acusativo e o nominativo na forma correspondente, em mesmo peso e medida, a eliminação da distinção funcional que, originariamente, era garantida pela diferenciação de marcas formais? Isto é: o espanhol e o português, ao terem perdido a distinção formal entre acusativo e nominativo, também perderam a diferenciação funcional? É óbvio que não: o sistema deve ter sido rearranjado de forma a preservar a distinção funcional. Estamos tratando, pois, da relação entre forma e função. Poplack (1979) ao examinar os principais fatores que condicionam a manutenção e/ou o cancelamento do /s/ plural no espanhol porto-riquenho moderno, elencou três hipóteses que poderiam explicar a evolução de marcas formais e de suas respectivas funções. São elas: “1. Processos de redução fonológica podem ser aplicados independentemente do estatuto gramatical do segmento em questão, desconfirmando-se assim a hipótese funcionalista. 2. Segmentos morfológicos podem resistir a processos de enfraquecimento fonológico e permanecer intactos, confirmando-se a hipótese funcionalista. 3. A função morfológica pode interagir sistematicamente com os processos fonológicos de tal forma que os últimos são mais frequentemente aplicados quando não há nenhuma possibilidade de se disambiguar a primeira. Esse resultado, que permite tanto o apagamento como a preservação da marca, confirmaria uma versão fraca da hipótese funcionalista”. A primeira situação rejeita a hipótese funcionalista, isto é: no caso da perda do /s/ final de palavras em português e espanhol, todas as palavras seriam igualmente afetadas, tanto aquelas em que o /s/ não marca pluralidade (como nas vogais em que o /s/ é morfema de plural (casas). No caso específico da neutralização entre o acusativo e o nominativo, seguindo-se essa primeira situação, teríamos que forçosamente admitir que, “independentemente do estatuto gramatical do segmento em questão”, o processo de neutralização fonológica seria ocorrido. A segunda situação apresenta um ponto de vista radicalmente oposto ao da primeira: a confirmação total e absoluta da hipótese funcionalista. Ou seja: como o obscurecimento das consoantes finais em latim, essa situação do /s/ final variaria o seu queda, dada a ordem das palavras na sentença, o processo fonológico da queda do /m/ final ficaria assim bloqueado, a fim de garantir a distinção entre o singular e o nominativo e acusativo. A terceira e última situação ameniza os dois pontos de vista opostos, expressos nas duas primeiras situações. Aqui, assume-se uma intersecção entre os processos fonológicos em marcha dentro de um sistema e a função gramatical (morfológica) dos segmentos envolvidos. Assim, o /s/ plural também é perdido foneticamente, mas a pluralidade é mantida através de outros recursos que o sistema organiza. É exatamente essa a situação no espanhol e no português contemporâneos. O espanhol preserva um sistema de determinantes, distinguindo gênero e número: Singular Plural Masculino el los un unos Feminino la tlas una unas Observe-se que a perda do /s/ plural no determinante feminino coincide com a forma singular; a perda do /s/ em los e unos, entretanto, ainda retém a pluralidade, dada a diferença fônica com as formas singulares correspondentes: el e un. 126 Dado o quadro acima, uma hipótese, em conformidade com a terceira situação exposta por Poplack, poderia ser levantada: há uma interseção que envolve a morfologia do espanhol na medida em que se confirme que o processo fonológico de enfraquecimento e cancelamento do /s/ se encontra mais avançado no masculino do que no feminino, tanto para os substantivos quanto para os determinantes. Com essa hipótese em mente e dentro da perspectiva teórica que temos avançado neste manual, Flores, Miyhil e Tarallo (1983) empreenderam uma análise da perda do /s/ plural no espanhol portoriquenho, tendo chegado a resultados que confirmam a interseção de fatores fonológicos e morfológicos na mudança linguística. A tabela 3¹ a seguir apresenta os resultados para o cancelamento de /s/ em determinantes; a tabela 4¹¹, os resultados para os substantivos. Tabela 3: Frequência de apagamento de /s/ em determinantes Masculino Feminino Total Presença de /s/ 216 167 383 Ausência de /s/ 53 24 77 Total 269 191 460 % de ausência 19,7% 12,5% 16,7% Tabela 4: Frequência de apagamento de /s/ em substantivos Masculino Feminino Total Presença de /s/ 149 169 318 Ausência de /s/ 452 217 669 Total 601 386 987 % de ausência 75,2% 56,2% 67,9% As tabelas 3 e 4 ainda demonstram, pois, que a porcentagem de apagamento de /s/ marcador de plural é mais alta para os determinantes e substantivos masculinos: 19,7% contra 12,5% nos determinantes, e 75,2% contra 56,2% nos substantivos. Esses resultados evidenciam que o sistema, tomado de um processo fonológico violento que lhe comprometa, entre outras coisas, a marcação da pluralidade, permite o avanço da mudança, com maior velocidade, precisamente nos casos de menor neutralização entre o singular e o plural. No sistema moderno do português, entretanto, tal não é, a divisão entre determinantes masculinos e femininos. Nesse sistema a perda do /s/ marcador de plural igualmente compromete a função (pluralidade) no masculino e no feminino. Além da distinção entre os determinantes no espanhol, os estudos já realizados haviam demonstrado que a primeira posição dentro do sintagma nominal começava a ser eleita como a posição solitária e única para
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9 TÚNEL MORFOLÓGICO I: AS PERDAS Mais perdas? Fizemos até agora duas entradas no túnel do tempo da língua portu- guesa. Estamos iniciando nesse momento a terceira: uma viagem pela mor- fologia do latim e do português. Presenciamos, durante as duas viagens ante- riores, uma série de características fonológicas do latim clássico que foram perdidas no latim falado e que, posteriormente, não mais seriam recupera- das nas várias línguas românicas. Concluímos, ainda, diante daquelas perdas que, ao mesmo tempo que traços do latim clássico desapareciam, novos tra- ços surgiam no latim falado e eram mantidos no português. Assim, procurare- mos estabelecer, dentro do túnel (e de nossa perspectiva teórica), um elo sig- nificativo entre perdas e ganhos. De um lado, as perdas eram, de certa ma- neira, compensadas pela conquista de novos traços; de outro, as perdas ou desencadeavam novas perdas e ganhos, ou já aconteciam devidamente encaie- xadas no sistema dinâmico em evolução. Mas o que seriam perdas morfológicas? O que significa para um siste- ma perder um traço morfológico? Bem, a perda de um aspecto morfológico do sistema significa, no nosso caso especificamente, redução de gênero, nú- mero e caso dos substantivos; redução dos tempos verbais, etc. Obviamente, essas reduções ou perdas necessariamente aparecerão, durante a nossa via- gem ao túnel morfológico, contrapostas às novas conquistas que o sistema vinha realizando nessa mesma parte da gramática. No presente capítulo, nessa primeira entrada no túnel morfológico do latim ao português, observaremos somente as perdas; os ganhos e as conquistas morfológicas serão oportuna- mente observados, no capítulo imediatamente seguinte, quando empreender- mos nossa quarta entrada no túnel. Antes, porém, de começarmos a observar as perdas morfológicas, me- rece destaque uma distinção fundamental entre tipos de perda. Vimos, por 8. A regularização de alguns infinitivos irregulares: potere ao invés de posse; *essere por esse, *volere por velle. 9. A simplificação na marcação do tempo e do aspecto verbal: o mais-que-perfeito do subjuntivo clássico (amassem, legissent, audissent) aparece substituindo o imperfeito do mesmo modo verbal: amarem, legerem, audirem. Nesta mesma tendência, caem em desuso o supino, o futuro do imperativo e o perfeito do infinitivo. 10. Os verbos deponentes do latim clássico deixam de constituir uma conjugação à parte e passam a se encaixar no sistema da língua falada como verbos ativos: mentio ao invés de mentior, traco por tracor. Isto posto, fica, pois, evidenciado que o latim falado apresentava um inventário morfológico empobrecido em relação ao do latim clássico escrito. Não trataremos agora das compensações que surgiram no latim falado e nas línguas românicas em geral, com vistas a reorganizar o sistema morfológico do latim clássico. Vejamos agora como ficou o sistema morfológico do português, considerando-se que grande parte dos traços pertinentes ao latim clássico já não aparecem herdados pela modalidade falada do latim. Certa- mente, dada a origem do português a partir do latim falado, tais traços já simplificados no latim vulgar não voltaram a reaparecer no sistema português. A herança não-herdada: O inventário (morfológico) do latim ao português Coutinho (1969) apresenta algumas características gerais para o siste- ma morfológico do português arcaico: "Na língua arcaica, os nomes terminados em -nu, -re e -r erarn uniformes: nomem, padre, senhor, linages portugall; alguns que atualmente não se modi- cam no plural flexionavam-se antigamente: arvore/a, arveres; madre/s; mui- tos outros eram diferentes: fruy, mar; planta, coma; etc., eram outrora femininos e, agora, são homens; coraron, limgagens, eram masculinos; a segunda pessoa do plural dos verbos terminava em -des, ainda hoje conservado nos espanhol: amades, credes; o particípio passado dos verbos da segunda conjuga- ção terminava em -udo; perdido, corriguido, escorrido, terminação que ainda se conserva em malacido, contenidos, ixido, fizendo; havia particípios presen- tes em -nte, os quais depois se forama adjetivos, substantivos ou preposições: remenUi, duranti, a terminação da terceira pessoa do pretérito era -onji, como já vimos ocurrem, amancom; encontravam-se formas de verbais, que por ana- logia ou por outro motivo qualquer foram substituídas por outrass: argo (ardo), sempo (sinto), fago (fazo), meroso (merogro) saJe (esteia), franger (troxer); puqui (rpus), quipi (quis), querita (ria], qucríria (quereria), fassere (fizeste", som soho), prouge (prouve), etc.". Há, nessa passagem de Coutinho, acima, várias observações sobre os nomes e os verbos no português arcaico que exemplificam a herança não- 122 sentava empobrecido em relação ao latim clássico: redução no número de declinações e de casos foram duas das características morfológicas apontadas para o latim vulgar. Assim, de cinco declinações o latim vulgar conhecia so- mente três: a primeira (que também recebia palavras da quinta), a segunda (incorporando as palavras da quarta), e a terceira (também, como a primeira, recebendo palavras da quinta). Segundo Coutinho (1969, p. 225), tal confu- são entre as declinações já "reinava no próprio latim clássico, onde alguns substantivos da quinta podiam também ser declinados pela primeira: avari- ties, ou avarileri, luxuries, el, ou luxuriés, sum mariesclés ou materier, er". O mesmo, segundo ele, já ocorreria também no latim clássico, com algumas palavras que eram declináveis tanto pela quarta quanto pela segunda decli- nação: domus, us e domusts, J fructus, us e fructis, i. "Se isto ocorria na língua escrita, que dirá na falada, onde a necessi- dade de clareza era maior e mais urgente?", pergunta-se Coutinho (1969, p. 225). De fato, apesar dessas pequenas confusões do latim escrito, já existe- ria uma extremenente rica em flexões. Multipliguelm-se 6 casos e 5 declina- ções e teremos 30 diferentes combinações (ou um princípio, ao menos, dife- rentes nas funções que tais formas desempenhavam), o que garantia a enten- da latim clássica uma total liberdade na ordem em que os constituintes. Assim, enquanto vi o nome "hominem poderia aparecer em qualquer ordem: puella vidit hominem, hominem puella vidit, puella hominem vidit, etc., etc. Muitas dessas trinta (suponstamente diferentes) combinações, ainda apresentavam diferentes terminações para diferentes casos de umas mesmas decli- nação, ou ainda, para outros casos, em outras declinações. Com a tendência do latim de falado a obscurecer, ou às poucos, encarar o final (ou se- gunda) formas das palavras, natural foi, portanto, que tanto o número de decli- nações quanto o número de casos fossem drasticamente reduzidos. Assim, “co- meço da fase românica, as três declinações apresentavam-se (...) constituídas: Primeira declinação Singular Plural Nominativo luna lune Acusativo luni lunas Segunda declinação Singular Plural Nominativo annus anni Acusativo | annu, annos Terceira declinação Singular Plural Nominativo canes canes Acusativo | cane canes'"4 Mas as línguas românicas foram ainda mais além em seu processo de perdas. Informaram-nos os compêndios que algumas fizeram o nominativo sobreviver 121 herdada do latim clássico, mas que confirmam a manutenção do inventário morfológico a partir do latim falado. Sobre os nomes, Coutinho observa que o português arcaico era caracterizado por uma profunda redução no gênero. Assim, alguns substantivos eram uniformes, enquanto outros nomes eram marcados com gênero diferente de que sobreviveu no sistema moderno. Al- guns nomes, como ouvirez, que não são mais marcados formalmente no plu- ral moderno, aparecem flexionados no português arcaico. O verbo era mar- cado por -des na segunda pessoa do plural, mantendo, via evolução fonológi- ca, a forma -tis da conjugação clássica. Os participios presentes em -mil, vi- am usando no sistema de então, seriam posteriormente reanalisados em outras partes da gramática. Há, pois, um testemuno de perda nessa passagem, do latim ao português arcaico. Vejamos a exemplificação dessas características do português arcaico em uma cantiga, cuja data provável de composição fi- gura o ano de 1189: "No mundo nem mei parelha, mente me for' como me vay, ce ja moir for vos — e ay! mia senhor branca e vermelha, queredes que vos erremya quando vus eu en syai! Mia senhor muit'alva e lega que vus enon non vi, feai! E, mia senhor, des que! d'irayal que dij' con samal merce, e ros, filha de Dom Paay Moniz, e ben vuz semelha d'aver eu por vos guaraya, pois eu, mia senhor', d'alraya susca de vos ouve nen ei valia 'da onrera'. O saldo efetivo das perdas morfológicas no português moderno A tradição gramatical estabelece, em geral, dez classes de palavras: o subs- tantivo, o adjetivo, os numerais, o artigo, o pronome, o verbo, o advérbio, a preposição, a conjunção e a interjeição. Também segundo a tradição, costuma- se agrupar essas classes em função de serem variáveis (isto é: podem sofrer flexões para indicar vários tipos de relações) ou invariáveis: as seis primeiras classes na listagem acima constituem classes variáveis, as quatro últimas, in- variáveis. Obviamente, não poderemos el observar, nem uma só viagem ao túnel morfológico, as dez classes de palavras. Vamos restringir-nos, pois, à classo dos substantivos, pois neles transparece, com grande nitidez, a interseção entre a fonologia e a morfologia, na passagem do latim ao português. Havíamos visto anteriormente que, em virtude de uma série de mu- danças fonológicas presentes no latim falado, o sistema morfológico se apre- (o romeno, o italiano, o provençal e o francês antigos) enquanto outras, como o espanhol e o português, deram vida somente ao acusativo. Duas explicações poderiam ser aqui colocadas para a sobrevivência do acusativo no espanhol e no português. Em primeiríssimo lugar, observe-se o acusativo plural em /s/ presente nos dois sistemas modernos: evidência cabal de que foi o acusativo, e não o nominativo, que sobreviveu nesses dois sistemas. No caso do singular, podemos dizer que a neutralização entre o nominativo e o acusativo começou com o obscurecimento do /m/ final, indicador do acusativo singular no latim clássico. Assim, com a neutralização entre os dois casos no singular, a predominância do acusativo plural em /s/ nas três declinações extraordinárias pois o acusativo no caso lexicológico nos dois sistemas. Assim, Coutinho (1969, p. 228) afirma ser do acusativo "que procedem as palavras de nossa língua. Comprovam as inscrições o emprego do acusativo como sujeito, em lugar do nominativo: filï s matri jacent, quiscuam religiosos. Um ligeiro corte de formas latinas com as correspondentes logo vos convencerá disso. Primera declinação acusativo singular menza > mesa, vita > vida, rosa > rosa acusativo plural menzas > mesas, villas > vidas, rosas > rosas Segunda declinação acusativo singular lupe > lobo, horum > horto, librum > livro acusativo plural lupos > lobos, horos > hortos, libros > livros Terceira declinação acusativo singular valle > vale, ponte > ponte, labore > lavor acusativo plural valles > vales, pontes > pontes, labores > labores" Essa primeira explicação para a sobrevivência do acusativo em português, nas três declinações e, portanto, um caráter fótico que se intercela com o inventário morfológico do sistema em evolução: a mudança fonológica, com reorganização morfológica no sistema, perdurando tão-somente um caso (dos seis originais no latim clássico) e três declinações (das cinco existentes no latim escrito) em português. É, entretanto, o próprio Coutinho quem dá uma segunda explicação para a sobrevivência do acusativo em português, esta de natureza sintática: “A redução dos dois casos a um justifica-se mais como um fenômeno sintático do que fonético. Se o fato fonético da queda do -m do acusativo singular podia favorecer a identificação do acusativo com o nominativo na primeira declinação (Cf hora e hora(h)), o mesmo já não aconteceu com a segunda e a terceira declinação, em que os dois casos permaneceram diferentes (Cf hortus e hortum(h), avis e avea(h)). As palavras se dispunham na frase, em latim vulgar, segundo a ordem natural da elaboração do pensamento, ou seja, sujeito + verbo + objeto ou predicativo, em contraposição ao uso da língua clássica. Aconteceu que a ordem seguida, quase invariavelmente, acabou por fixar a função das palavras na frase. Assim não se justificava mais a manutenção dos dois casos”. A explicação dada por Coutinho pode, dentro da perspectiva teórica que assumimos neste manual, ser respondida de várias maneiras. Vejamos: em primeiro lugar, nada nos impede de conjecturarmos que a mudança aconteceu como um processo fonológico, afetando somente e exclusivamente, a princípio, as palavras da primeira declinação, mudança essa que seria, posteriormente, estendida às duas outras declinações. Além disso, a evidência apontada por Coutinho em relação à segunda e à terceira declinações não deveria ser levada em consideração, uma vez que o /s/ garantia, dentro de um sistema já morfologicamente empobrecido, a presença do acusativo plural. E um terceiro ponto que deveríamos mencionar é a evidência sintática em si: nós poderíamos virar a explicação de Coutinho pelo avesso e dizer, muito opostamente, conforme argumentaremos no capítulo dedicado à nossa viagem ao mundo sintático, que essa ordem instraurada no latim falado e no português (sujeito/verbo e predicativo) é consequência e (não causa) das mudanças fonológicas pelas quais os sistemas em questão passaram. Assim, pode-se afirmar que a alteração no orden dos constituentos básicos da sentença é, na realidade, um reflexo (ou mesmo) de uma mudança (ou em um processo) fônico-morfológico que já tinha falado e as línguas românicas, em geral, influenciarem em seus sistemas %. Tendo maneira possível de se decidir entre uma explicação fônica e outra sintática para a sobrevivência do acusativo no português e no espanhol é-nos dada pela perspectiva que assumimos neste manual: ou seja, o princípio da uniformidade da mudança linguística e a possibilidade de utilizar dados do presente para se explicar oc passado. Vejamos. A perda do /s/ no português e no espanhol contemporâneos Na verdade, ao tratamos de questões como estas - a neutralização entre o acusativo e o nominativo, e a explicações foneticamente, fica sempre a grande pergunta em linguística: a neutralização entre o acusativo e o nominativo na forma correspondente, em mesmo peso e medida, a eliminação da distinção funcional que, originariamente, era garantida pela diferenciação de marcas formais? Isto é: o espanhol e o português, ao terem perdido a distinção formal entre acusativo e nominativo, também perderam a diferenciação funcional? É óbvio que não: o sistema deve ter sido rearranjado de forma a preservar a distinção funcional. Estamos tratando, pois, da relação entre forma e função. Poplack (1979) ao examinar os principais fatores que condicionam a manutenção e/ou o cancelamento do /s/ plural no espanhol porto-riquenho moderno, elencou três hipóteses que poderiam explicar a evolução de marcas formais e de suas respectivas funções. São elas: “1. Processos de redução fonológica podem ser aplicados independentemente do estatuto gramatical do segmento em questão, desconfirmando-se assim a hipótese funcionalista. 2. Segmentos morfológicos podem resistir a processos de enfraquecimento fonológico e permanecer intactos, confirmando-se a hipótese funcionalista. 3. A função morfológica pode interagir sistematicamente com os processos fonológicos de tal forma que os últimos são mais frequentemente aplicados quando não há nenhuma possibilidade de se disambiguar a primeira. Esse resultado, que permite tanto o apagamento como a preservação da marca, confirmaria uma versão fraca da hipótese funcionalista”. A primeira situação rejeita a hipótese funcionalista, isto é: no caso da perda do /s/ final de palavras em português e espanhol, todas as palavras seriam igualmente afetadas, tanto aquelas em que o /s/ não marca pluralidade (como nas vogais em que o /s/ é morfema de plural (casas). No caso específico da neutralização entre o acusativo e o nominativo, seguindo-se essa primeira situação, teríamos que forçosamente admitir que, “independentemente do estatuto gramatical do segmento em questão”, o processo de neutralização fonológica seria ocorrido. A segunda situação apresenta um ponto de vista radicalmente oposto ao da primeira: a confirmação total e absoluta da hipótese funcionalista. Ou seja: como o obscurecimento das consoantes finais em latim, essa situação do /s/ final variaria o seu queda, dada a ordem das palavras na sentença, o processo fonológico da queda do /m/ final ficaria assim bloqueado, a fim de garantir a distinção entre o singular e o nominativo e acusativo. A terceira e última situação ameniza os dois pontos de vista opostos, expressos nas duas primeiras situações. Aqui, assume-se uma intersecção entre os processos fonológicos em marcha dentro de um sistema e a função gramatical (morfológica) dos segmentos envolvidos. Assim, o /s/ plural também é perdido foneticamente, mas a pluralidade é mantida através de outros recursos que o sistema organiza. É exatamente essa a situação no espanhol e no português contemporâneos. O espanhol preserva um sistema de determinantes, distinguindo gênero e número: Singular Plural Masculino el los un unos Feminino la tlas una unas Observe-se que a perda do /s/ plural no determinante feminino coincide com a forma singular; a perda do /s/ em los e unos, entretanto, ainda retém a pluralidade, dada a diferença fônica com as formas singulares correspondentes: el e un. 126 Dado o quadro acima, uma hipótese, em conformidade com a terceira situação exposta por Poplack, poderia ser levantada: há uma interseção que envolve a morfologia do espanhol na medida em que se confirme que o processo fonológico de enfraquecimento e cancelamento do /s/ se encontra mais avançado no masculino do que no feminino, tanto para os substantivos quanto para os determinantes. Com essa hipótese em mente e dentro da perspectiva teórica que temos avançado neste manual, Flores, Miyhil e Tarallo (1983) empreenderam uma análise da perda do /s/ plural no espanhol portoriquenho, tendo chegado a resultados que confirmam a interseção de fatores fonológicos e morfológicos na mudança linguística. A tabela 3¹ a seguir apresenta os resultados para o cancelamento de /s/ em determinantes; a tabela 4¹¹, os resultados para os substantivos. Tabela 3: Frequência de apagamento de /s/ em determinantes Masculino Feminino Total Presença de /s/ 216 167 383 Ausência de /s/ 53 24 77 Total 269 191 460 % de ausência 19,7% 12,5% 16,7% Tabela 4: Frequência de apagamento de /s/ em substantivos Masculino Feminino Total Presença de /s/ 149 169 318 Ausência de /s/ 452 217 669 Total 601 386 987 % de ausência 75,2% 56,2% 67,9% As tabelas 3 e 4 ainda demonstram, pois, que a porcentagem de apagamento de /s/ marcador de plural é mais alta para os determinantes e substantivos masculinos: 19,7% contra 12,5% nos determinantes, e 75,2% contra 56,2% nos substantivos. Esses resultados evidenciam que o sistema, tomado de um processo fonológico violento que lhe comprometa, entre outras coisas, a marcação da pluralidade, permite o avanço da mudança, com maior velocidade, precisamente nos casos de menor neutralização entre o singular e o plural. No sistema moderno do português, entretanto, tal não é, a divisão entre determinantes masculinos e femininos. Nesse sistema a perda do /s/ marcador de plural igualmente compromete a função (pluralidade) no masculino e no feminino. Além da distinção entre os determinantes no espanhol, os estudos já realizados haviam demonstrado que a primeira posição dentro do sintagma nominal começava a ser eleita como a posição solitária e única para