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Revista Iluminart v17 2019 Revista Iluminart httprevistailuminarttisrtifspedubrindexphpiluminart Revista Iluminart ISSN 19848625 IFSP Ano XI nº 17 Dezembro2019 38 A Legitimação e a Interdição da Política Literária em Carolina Maria de Jesus Pode Uma Mulher Negra Ser Autor Michel L C R Leandro1 Soraya M R Pacífico1 1 Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto USP RESUMO A partir dos fundamentos da Análise do Discurso francesa construída por Michel Pêcheux este artigo pretende analisar o funcionamento da política literária que legitima eou interdita a escrita de certas autoras de literatura nesse caso destacase a escrita de Carolina Maria de Jesus que deve ser reconhecida como resistência de mulher negra pobre favelada semialfabetizada que a partir de suas obras discursiviza sobre a infância de menina atrevida que questionava os adultos na vida adulta a mulher exibida que escreve Deste modo o objetivo desse trabalho é investigar o modo como a política literária funciona legitimando eou interditando a escrita dessa escritora em especial em relação a sua primeira obra Quarto de Despejo Diário de uma Favelada publicado em 1960 em relação a aceitação ou não dos críticos suscitando os seguintes questionamentos quem tem o direito a ser autor de literatura A literatura de autoria de mulheres negras é discutida e reconhecida na escola Se o discurso é poder logo a escrita de Carolina é um ato político FREIRE 2018 já que rompe com uma formação imaginária de autor branco classe média com alto grau de letramento intelectual e gramaticalizado portanto a escola tem o papel de levar para dentro da sala de aula a discussão sobre a legitimação e a interdição da política literária que funciona impedindo ou não a circulação das literaturas nesse caso a de autoria de mulheres negras visto que a autorização do dizer por sua vez da escrita e da posição sujeitoautor implicam questões sócio históricoideológicas em que político afeta o campo da literatura Palavras chave Escrita Autoria Literatura ABSTRACT From the foundations of the French Discourse Analysis this article intends to analyze the functioning of the literary policy that legitimates and or prohibits the writing of certain authors of literature in this case the writing of Carolina Maria de Jesus that must be recognized as resistance of woman black poor slum dwellers semiliterate who from her works she puts on discourse her childhood of daring girl that questioned the adults in adult life the woman exhibited who writes In this way the objective of this work is to investigate the way in which the literary policy works legitimating and or interdicting the writing of this writer especially in relation to its first work Quarto de Despejo Diário de uma Favelada published in 1960 regarding the acceptance or not of the critics raising the following questions who has the right to be author of literature Is the literature of black women discussed and recognized in school If discourse is power then Carolinas writing is a political act FREIRE 2018 since it breaks with an imaginary formation of author white middle class with high degree of literacy intellectual and grammaticalized therefore the school has the role of bringing into the classroom the discussion about the legitimation and the interdiction of literary politics that works by impeding or not the circulation of literatures in this case that of black women since the authorization to say in turn of writing and the subjectauthor position imply sociohistorical ideological issues in which political affects the field of literature Keywords Writing Authorship Literature Michel Luís da Cruz Ramos Leandro Soraya Maria Romano Pacífico Legitimação e a Interdição da Política Literária em Carolina Maria de Jesus Pode Uma Mulher Negra Ser Autor Revista Iluminart ISSN 19848625 IFSP Ano XI nº 17 Dezembro2019 39 1 Introdução É imprescindível que se leia autoras negras respeitando suas produções de conhecimento e se permitindo pensar o mundo por outras lentes e geografias da razão É um convite para um mundo no qual diferenças não signifiquem desigualdades RIBEIRO 2018 p27 O território literário está presente no jogo político social em que a escola participa e contribui para a manutenção do estigma literário sustentado por discursos que se repetem na escola principalmente em relação a qual obra literária por sua vez autora eou autor são de qualidade isto é os que merecem estar presentes no currículo da escola e serem reconhecidos como clássicos da literatura A legitimação eou interdição de uma obra literária e sua autoraautor funciona por causa da política literária que legitima o que é literatura e o que não pode ser considerado literatura aquilo que torna um escritor a e sua obra um clássico ditado muitas vezes pelos críticos ou por aqueles que também estão legitimados a dizer São as obras que irão ganhar prêmios e participarão das feiras literárias que serão discutidas nas academias de Letras difundidas nas escolas e em seus currículos encontradas nas livrarias ementas universitárias editais de vestibulares Não se trata da qualidade do trabalho com essa literatura legitimada mas da sua difusão isto é sua circulação autorizada na sociedade por sua vez no espaço escolar É uma política social histórica e ideológica que contribui para o desconhecimento eou negação de certas autoras e autores por exemplo em relação às mulheres negras Isso é fácil de ser constatado diante da ausência de autoras negras na escola nas livrarias populares nas ementas universitárias nas atrações das grandes feiras literárias A fim de investigar o funcionamento da política literária acerca da questão sobre a legitimação eou interdição das obras literárias escolhemos trabalhar com a obra de Carolina Maria de Jesus Quarto de Despejo Diário de uma Favelada 1960 por compreender que a literatura dessa autora joga o jogo da legitimação e da interdição ao mesmo tempo por se autorizar a ocupar a posição de sujeitoautor entendendose autoria segundo a teoria discursiva que fundamenta este artigo Deste modo tendo como fundamentação teórica a Análise de Discurso pecheuxtiana o objetivo desse artigo é investigar o modo como a política literária funciona legitimando e interditando as obras dessa escritora porque entendemos que a literatura de Carolina Maria de Jesus rompe com a ideia de que para ser autor basta dominar a gramática normativa mas coloca em cerne uma discussão fundamental quem tem o direito à escrita literária O que significa ocupar o lugar de sujeitoautor de literatura Como a política literária funciona legitimando e interditando certas escritoras e obras A escola garante o direito à literatura aos sujeitosalunos A literatura de autoria de mulheres negras é discutida e reconhecida na escola Se o discurso é poder logo a escrita de Carolina é um ato político FREIRE 2014 porque contribui para uma pedagogia das emergências e ausências GOMES 2018 em que a escola não pode mais desconhecer eou negar É a partir destas reflexões sobre o que significa ser uma mulher negra que ocupa a posição de sujeitoautor que acreditamos que as obras de Carolina Maria de Jesus contribuem para pensarmos nas formações imaginárias PÊCHEUX 2014 a respeito do que é ser autor rompendo com um imaginário que autoriza e cristaliza apenas um ideal de escritor branco alfabetizado alto grau de letramento intelectualizado classe média que não se sustenta o tempo todo Michel Luís da Cruz Ramos Leandro Soraya Maria Romano Pacífico A Legitimação e a Interdição da Política Literária em Carolina Maria de Jesus Pode Uma Mulher Negra Ser Autor Revista Iluminart ISSN 19848625 IFSP Ano XI nº 17 Dezembro2019 40 2 Literatura Ensino e Resistência Sabese que a ideologia captura o sujeito PÊCHEUX 2016 neste caso o sujeito professor que tem um papel fundamental como porta voz da literatura na escola visto que é uma voz de autoridade deste modo é preciso estar atento ao plano de trabalho docente em que o sujeitoprofessor precisa ocupar o lugar de autoria isto é sentirse responsável pelo seu dizer suas escolhas políticas pedagógicas e de postura docente não deixando que o livro didático a gestão políticas neoliberais entre outros ocupem esse lugar por si pois se não tiver sujeitosprofessores que duvidam dos sentidos circulantes nessas vozes e materiais didáticos talvez a literatura afrobrasileira nunca chegue a ser valorizada na escola no caso deste trabalho a literatura de Carolina Maria de Jesus A literatura de autoria de mulheres negras é marcada pela resistência perante uma sociedade racista que insiste em deslegitimar e interditar suas escritas deste modo é nessa direção de enfrentamento contra o racismo que a escola pode ser o espaço de promoção de um projeto educativo emancipatório pautado na pedagogia das ausências e emergências GOMES 2017 e também da tolerância como virtude da convivência humana da qualidade básica a ser forjada por nós e aprendida pela assunção de sua significação ética qualidade de conviver com o diferente Com o diferente não com o inferior FREIRE 2018 p 24 Nesta perspectiva da pedagogia da tolerância a escola como agência de letramento tem a função de levar para dentro de seus espaços uma literatura plural isto é desde a canônica até as que ainda não caíram ao gosto dos críticos visto que ao viabilizar a leitura é pensar sua multiplicidade de discursos e vozes é instaurar a polissemia por meio do discurso polêmico isto é o da disputa ORLANDI 2012 E quando falamos de literatura de autoria negra é importante salientar que a literatura produzida por mulheres negras é uma das mais negadas perpassando as questões que não podem ser discutidas apenas na esfera de classe mas também de raça gênero e sexualidade portanto fazse uma discussão urgente por ser tantas vezes ausente GOMES 2017 e silenciada ORLANDI 1997 Reconhecer o estatuto importante da literatura no currículo da escola é compreender como um Direito Humano isto é partilhar de um pressuposto segundo o qual aquilo que consideremos indispensável para nós é também indispensável para o próximo CANDIDO 1988 p 172 compreendendo que a literatura é um fazer humano de poder poder de convencimento de alimentar o imaginário fonte inspiradora do pensamento e da ação CUTI 2010 p10 Defender o direito às literaturas não equivale a dizer que qualquer texto possa ser considerado literatura já que com a teoria discursiva pecheuxtiana sabese que os sentidos não podem ser quaisquer um pois são determinados socialmente historicamente e ideologicamente Por exemplo não é por acaso que a obra Quarto de Despejo Diário de uma Favelada 1960 de Carolina Maria de Jesus tenha sido escolhida na lista de obras obrigatórias do vestibular da UNICAMP 2019 e 2020 isto é há sentidos que são suscitados quando uma obra literária é selecionada na lista desses vestibulares nesse caso o da legitimação a obra de Carolina ao ser selecionada para a lista de vestibular ganha visibilidade e certo reconhecimento As obras de Carolina Maria de Jesus ao serem trabalhadas na escola deslocam o lugar marginal com que é concebida a literatura de autoria de mulheres negras e passa a ser reconhecida como um conteúdo importante fazendo com que os sujeitosalunos possam acessar e construir um arquivo isto é um campo de documentos pertinentes sobre um determinado assunto PÊCHEUX 2010 neste caso sobre a literatura de autoria de mulheres negras autorizando inclusive a existência das literaturas na escola pois só assim a ideia Michel Luís da Cruz Ramos Leandro Soraya Maria Romano Pacífico A Legitimação e a Interdição da Política Literária em Carolina Maria de Jesus Pode Uma Mulher Negra Ser Autor Revista Iluminart ISSN 19848625 IFSP Ano XI nº 17 Dezembro2019 41 cristalizada e canonizada do discurso sobre as obras ditas clássicas poderão ruir a fixidez que impede a democracia do acesso às literaturas Isso porque o sujeitoaluno na escola está encarregado de cumprir uma série de disciplinas Língua Portuguesa Matemática História Geografia Ciências etc a partir de uma grade curricular da qual sobrevive quem consegue jogar o jogo da escola Este jogo é permeado por relações sóciohistoricamente construídas em que sujeitoaluno e sujeito professor são incumbidos de cumprir o conteúdo escolar sob um sinal igual o apito da fábrica que dirige o tempo da aula temos uma representação da escola discursivizada como fábrica Nestas condições de produção da escola como fábrica isto é a situação de enunciação que inclui o aqui e o agora e também o contexto sóciohistórico mais amplo a ideologia dominante práticas sociais a luta de classes ORLANDI 2001 discursos como ainda não liberamos os alunos para saírem para o intervalo façam fila por ordem de tamanho esperem o sinal bater para saírem da sala de aula quem disse que você podia sair sem a minha autorização leia mas sem fazer barulho quem não fizer a lição irá para a diretoria remetem ao mesmo produzido dentro das prisões deste modo o ambiente educacional é como uma prisão e o tempo da escola tornase o tempo da disciplina e da grade curricular É este engessamento da escola que não permite o tempo da literatura em seu espaço a não ser pela resistência Neste cenário apresentado sobre a escola o trabalho com a literatura dentro desse espaço fica atrelado ao tempo apito em que interpretar significa decodificar e reproduzir sentidos na ilusão de que isso servirá para passar no vestibular No entanto para a Análise do Discurso pecheuxtiana interpretar significa a possibilidade de o sujeito entender que o sentido pode ser sempre outro o que também não indica que possa ser qualquer um pois existe uma superfície que tenta controlar os pontos de fuga os sentidos que não devem aparecer PACÍFICO 2012 p 30 em que interpretar não é repetir o que está dito mas saber estabelecer uma relação entre o dito e a memória do dizer portanto compreender que a ideologia faz parecer natural alguns sentidos e não outros assim é estranhar investigar refletir sobre tudo isso idem 2012 p30 em que a linguagem não é uma coisa só e nem é completa ORLANDI 2012 p29 portanto não é algo preciso e claro Conforme estamos mostrando os sentidos autorizados de circularem na escola são mantidos por formações sociais que os materializam em dadas formações discursivas e não em outras sustentadas pelas formações imaginárias É a ideologia e o inconsciente que fazem com que o sujeito imagine que está livre para dizer o que quer quando na verdade é capturado pela ideologia o que lhe acarreta não ter consciência de que não é dono do seu dizer levandoo a reproduzir discursos sem questionar os efeitos de sentido produzidos Ao observar o trabalho que a escola realiza com a literatura a tendência é um trabalho pautado na transparência da linguagem ditado muitas vezes pelo livro didático fazendo com que a prática tradicional de ensino aquela em que o sujeitoprofessor ensina e o sujeitoaluno recebe o que o professor ensinou para reproduzir depois FREIRE 2005 não leva o sujeitoaluno a interessar e ter gosto pela literatura visto que a leitura padronizada moldada autoritária não permite que o sujeitoaluno assume a funçãoleitor isto é aquele que busca compreender os processos de construção dos sentidos investigando o motivo de determinando enunciado ter sido produzido de uma forma e não outra duvidando da transparência da linguagem procurando o ponto em que os sentidos transbordam PACÍFICO 2012 p 38 O sujeitoaluno que não consegue ocupar a funçãoleitor tende a não indagar o motivo de certas autoras e autores e suas obras serem selecionadas para leitura escolar e não outras Michel Luís da Cruz Ramos Leandro Soraya Maria Romano Pacífico A Legitimação e a Interdição da Política Literária em Carolina Maria de Jesus Pode Uma Mulher Negra Ser Autor Revista Iluminart ISSN 19848625 IFSP Ano XI nº 17 Dezembro2019 42 não questiona o fato de a escola desconhecer eou negar as escritoras negras e suas obras como as de Carolina Maria de Jesus que estão eou são silenciadas na maioria das instituições escolares não estranha o modo de organização do currículo escolar que seleciona um conteúdo para negar outros Essas inquietações constituem pontos importantes para observarmos o funcionamento da política literária A política literária tende a não ser uma questão debatida na escola e isso cria sentidos de um campo de saber atrelado a um corpo textual estranho portanto a literatura não se torna um corpofamiliar ao sujeitoaluno LEANDRO 2016 já que as obras legitimadas por estarem cristalizadas em escolas literárias e trabalhadas a partir de uma prática pedagógica tradicional e fragmentária não despertam muitas vezes o gosto no sujeitoaluno pelo desafio da leitura literária Se a literatura na escola está atrelada a um corpoestranho textual com o qual os sujeitosalunos muitas vezes não se identificam muito menos esses mesmos sujeitos questionarão o que faz a escola trabalhar com certas autoras e autores e não outros Ainda mais o que faz um vestibular renomado nacionalmente como o da UNICAMP escolher uma autora Carolina Maria de Jesus e sua obra para a lista do seu edital Uma autora que quebra a formação imaginária isto é aquilo que designa o lugar que A e B se atribuem cada um a si e ao outro a imagem que eles fazem de seu próprio lugar e do lugar do outro PÊCHEUX 2014 p 82 neste caso a formação imaginária acerca do que é um autor consagrado portanto legitimado e autorizado no currículo escolar Isso porque a política literária ao legitimar eou interditar certas autoras e autores e suas obras perpassa por três pontos nodais 1 O que é literatura 2 O que é um clássico 3 A validação do mercado editorial Neste sentido entendese que Carolina Maria de Jesus mulher negra pobre favelada semialfabetizada a partir da sua autorização ao dizer da sua resistência isto é a ocupar a posição de sujeitoautor provoca o incômodo abre feridas surpreende remexe as questões da política literária visto que há uma formação imaginária sobre o que é ser autor que deslegitima a escrita de um sujeito inserido em condições de produção como as já citadas mulher negra periférica Afinal pode o sujeitonegro ser autor de literatura a partir de determinas condições de produção Para responder a essa questão é preciso observar o funcionamento da política literária em especial no tocante ao ponto nodal 3 o mercado editorial 3 A legitimação e a interdição em Quarto de Despejo Diário de uma Favelada de Carolina Maria de Jesus A política literária ao legitimar eou interditar certas autoras e autores e suas obras atrelase ao conceito de língua e linguagem que por sua vez recai no conceito de literatura e do que seja uma obra clássica pertencente a um determinado cânone porém há um terceiro fator em que essa política também atua o mercado editorial foco de discussão nesse artigo Em relação ao mercado editorial novos modos de consumir o livro são criados seja por meio das livrarias físicas seja por meio das livrarias virtuais que trabalham a partir do discurso do marketing em modos de capturar o sujeito para a compra de seus produtos No entanto quando a discussão é a produção literária de autoria de mulheres negras percebese que tanto as livrarias físicas quanto as virtuais ainda não garantem o acesso pelo mercado a essas escritoras o que é um modo de interdição característico do funcionamento da política literária por conta disso modos de resistência são gerados como a produção e a propagação Michel Luís da Cruz Ramos Leandro Soraya Maria Romano Pacífico A Legitimação e a Interdição da Política Literária em Carolina Maria de Jesus Pode Uma Mulher Negra Ser Autor Revista Iluminart ISSN 19848625 IFSP Ano XI nº 17 Dezembro2019 43 cada vez mais crescente de editoras independentes Por editora independente entendese modos de produção do livro que foge das grandes e renomadas editoras do país Essa interdição das obras de autoria de mulheres negras nas livrarias produz efeitos de sentidos como 1 Não existem mulheres negras autoras de literatura 2 As obras literárias dessas mulheres não vendem 3 Não tem qualidade a produção dessas mulheres negras como podemos notar o efeito de negação é o tempo todo materializado no discurso silenciando a produção de autoria negra por meio de um processo de negação eou desconhecimento funcionamento que se dá por conta de todo um processo históricosocialideológico em que não cabiacabe o direito à fala muito menos à escrita aos negros raízes do racismo institucional ainda presentes na contemporaneidade Foucault 2001 discute sobre os problemas que se colocam pelo uso do nome de autor em que o nome do autor é primeiramente um nome próprio ou seja um significante que designa um indivíduo histórico específico e discreto nesse sentido um nome de autor vai muito além de um nome próprio A partir dessas considerações sobre o que é um autor em Foucault 2011 observase que Carolina Maria de Jesus na década de 60 do século XX é o nome do autor que confere uma certa legitimidade frágil em relação as obras dessa autora pois podese dizer que a partir do seu lugar de fala essa autora inaugurou digamos assim um modo de fazer valer a autoria dos subalternos em especial os favelados Na publicação da primeira obra de Carolina Maria de Jesus Quarto de Despejo Diário de uma Favelada 1960 ao mesmo tempo em que a venda foi um sucesso tendo em um único livro mais de um milhão de cópias vendidas traduzidas para 13 idiomas e distribuída em cerca de quarenta países FARIAS 2017 nesse sentido houve a legitimação da sua obra pelo mercado no entanto houve uma contracorrente de críticos jornalistas escritores professores entre outros que interditavam a sua obra questionando a qualidade inclusive duvidando da autoria pois essa vendagem causou uma ruptura no semanticamente estabilizado PÊCHEUX 1995 visto que uma mulher negra pobre favelada ter sucesso de vendas em detrimento por exemplo de obras de autores consagrados da mesma época como Jorge Amado e Jean Paul Sartre entre outros era uma afronta Em uma semana de lançamento da primeira obra de Carolina Maria de Jesus já tinham sido vendidos 10 mil exemplares esgotando a primeira edição algo inédito em uma época em que a venda de um lançamento atrelado ao nome de um autor já consagrado girava em torno de 200 cópias na primeira edição tendo Jorge Amado superado esses números ao vender 500 cópias na primeira edição de Gabriela Cravo e Canela no entanto Carolina o livro da autora favelada vendeu 2000 exemplares por dia FARIAS 2017 p229 Deste modo Não era por menos a implicância da crítica dos literatos com o sucesso de Carolina A escritora mineira não era só a mais vendida do país ou o bestseller incontestável mas também a mais paparicada e requisitada das autoras brasileiras pela imprensa e as rodas sociais Isso incomodava e muito Os articulistas de plantão com isso só tratavam Carolina de escritora favelada ou de autora favelada e erravam seu nome muitas vezes propositalmente chamandoa de Maria Carolina ou simplesmente Maria de Jesus FARIAS 2017 p230 Podese notar que o nome de autor de Carolina valia não como Carolina Maria de Jesus mas antes valia por meio da nomeação escritoraautora favelada ou seja a nomeação adjetivada favelada precisava funcionar nos discursos sobre a autora desde os críticos que a boicotavam até o discurso da imprensa atrelado ao mercado isto é Carolina a partir da posição de sujeitoautor só era legitimada se a adjetivação favelada viesse antes do seu nome como se esse termo fosse o seu nome de autor Isso indica o quanto a legitimação Michel Luís da Cruz Ramos Leandro Soraya Maria Romano Pacífico A Legitimação e a Interdição da Política Literária em Carolina Maria de Jesus Pode Uma Mulher Negra Ser Autor Revista Iluminart ISSN 19848625 IFSP Ano XI nº 17 Dezembro2019 44 nesse caso concedida pelo mercado no funcionamento da política literária evidencia as suas rasuras e opacidades não garantido uma efetividade em relação a essa legitimação Farias 2017 ao tratar sobre a crítica nacional da primeira publicação literária de Carolina mostra que se de um lado Carolina era recebida com elogios e aplausos por muitos críticos sensíveis que reconheciam a força de sua palavra e da sua posição de sujeitoautor por outro houve uma avalanche de críticas negativas impiedosas e de certo modo apoiadas no racismo estrutural do país Carolina incomodava porque era lida ainda mais porque vendia nesse sentido tratavase de uma condição de produção em que ao mesmo tempo que a legitimação e a visibilidade era posta por outro a força do silenciamento vinha com tudo na tentativa de impedir se não a circulação da obra de Carolina o seu descrédito como sujeito autor As críticas positivas FARIAS 2017 p 238 pautavamse em geral a respeito do potente discurso de uma voz subalterna em ocupar a posição de sujeitoautor e produzir sentidos sobre um lugar que ninguém queria ver a favela Em relação às críticas preconceituosas que eram dadas à obra de Carolina Graciliano Ramos autor legitimado da Literatura Brasileira irá dizer que Carolina Maria de Jesus escreve com sangue com lágrimas os seculares materiais da advertência por sua vez Manuel Bandeira é questionado e pressionado pelos seus pares a respeito da sua admiração pela obra de Carolina de meia instrução primária e dirá que se trata de um livro autêntico Após a declaração de Bandeira ou concomitante ao parecer dele outros como Ferreira Gullar Edgard Braga Adonias Filho Eneida Ricardo Ramos Lúcia Benedetti Carlos Pinto Alves e muitos outros escrevem sobre a relevância da narratividade enfeixada por Carolina editada pela Livraria Francisco Alves em que a ideia da miséria era dada pela mão da miserável que impactava a sociedade FARIAS 2017 p 241 Há uma questão que chama a atenção em relação à escrita de Carolina que até hoje começo do século XXI continua a incomodar apesar dos avanços nos estudos sobre preconceito linguístico BAGNO 2006 letramento TFOUNI 2012 e autoria ORLANDI 2012 PACÍFICO 2002 entre outros em que a questão da linguagem é colocada em cena Ainda há um modo de interdição funcionando por meio desse discurso do não sabe escrever corretamente de acordo com a gramática normativa portanto não sabe pensar e se expressar argumento que Bagno idem em seus estudos contesta e desmistifica Se o mercado editorial concebe Carolina Maria de Jesus como um produto de consumo de sucesso junto com a mídia televisiva jornais revistas etc criase um sujeitoautor a partir das formações imaginárias que provoca e incomoda uma grande parcela da sociedade afinal quem é ela favelada para se constituir como autor Os discursos de escamoteação da primeira publicação de Carolina Maria de Jesus foram diversos em que muitos críticos ferinos tentavam despistar o sucesso da autora ou confundi la diante da opinião pública Um crítico que assinava por Casmurro de Assis pseudônimo de quem não consegue se responsabilizar pelo seu dizer classifica a obra de Carolina como panfleto murmurando em voz mansa e cordial voz humilde de criatura em que O perigo é que Carolina Maria de Jesus queria se tornar escritora Herculano Pires irado e irônico disse que Audalio Dantas era um mensageiro de Deus e chega a dizer que o livro da favelada este diário da miséria e marca da vergonha deveria ser incluído na Bíblia Sério Porto famoso ao usar o pseudônimo Stanislaw Ponte Preta troca o nome de Carolina por escritora favelada mais favelada do que escritora outro articulista assinou por Christina aconselha Carolina dizendo Só desejo que essa mudança tão súbita e brusca não lhe roube a espontaneidade a autenticidade não a faça levar longe demais as suas ambições literárias e segue dizendo que a obra era apenas um livro de relatos e não uma obra literária em que Se por ventura Michel Luís da Cruz Ramos Leandro Soraya Maria Romano Pacífico A Legitimação e a Interdição da Política Literária em Carolina Maria de Jesus Pode Uma Mulher Negra Ser Autor Revista Iluminart ISSN 19848625 IFSP Ano XI nº 17 Dezembro2019 45 Carolina conseguir pelo estudo e pelo esforço o domínio desse meio de expressão então poderá considerarse uma escritora no sentido exato da palavra FARIAS 2017 p 229232 Todos os discursos citados no parágrafo anterior mostram o funcionamento da interdição da política literária em relação a um autor que rompe com o imaginário esperado sobre o que faz um indivíduo se constituir como um sujeitoautor São formações discursivas e ideológicas que propagam um modo de reconhecer a escritura de Carolina na posição de sujeito autor deslegitimandoa É interessante notar que muitos desses discursos são materializados por sujeitospseudônimos não no sentido de outros modos do dizer como em Fernando Pessoa e seus heterônimos ou em Clarice Lispector que utiliza o pseudônimo de Helen Palmer no Correio da Manhã ou como Teresa Quadros no Entre mulheres por não se identificar com a função dada a ela nessas colunas mas são sujeitos que não querem ter a responsabilidade pelo seu dizer que ressoa sentidos de preconceito de classe gênero e raça Nas críticas apresentadas Carolina Maria de Jesus na posição de sujeitoautor é discursivizada como criatura mansa A Favelada que produz não uma obra literária mas um panfleto diário de relatos que merecem fazer parte da Bíblia ironicamente isto é escrita sagrada do sujeito miserável que suplica piedade portanto sentidos que colocam esse sujeitoautor na subalternidade como literatura menor que precisa ainda provar que merece a medalha de autor pelo estudo como se a escola fosse a garantia de saber escrever bem e esforço discurso da meritocracia tão presente na nossa contemporaneidade Outras críticas continuam em relação a Carolina e sua primeira publicação uma delas não se identifica no jornal A Tribuna na seção Livros novos e diz que se trata de Mulher de cor semianalfabeta narra ou registra miúdos incidentes da favela em que vive completando que O texto sem gramática de forma desordenada somente se ocupa de coisas imediatas abandonadas pelos poderes públicos e religiosos do país por fim a crítica diz que O livro que está obtendo o mais êxito publicitário e dando dinheiro a ganhar à morfina escritora FARIAS 2017 p 232233 Mais uma vez a questão gramatical da escrita de Carolina é coloca em cena em que a obra dessa escritora é discursivizada como registros incidentais de uma mulher de cor e sua vida na favela É importante notar que o sujeito marca a palavra favela entre aspas isto é indicia que o sujeito tem dúvidas se a escritora viveu ou não na favela ou de um sujeito que de tão afastado da realidade das favelas não reconhece esse lugar em relação às suas misérias questão que segundo a crítica é de ordem do poder público e das instituições religiosas isto é também nos indicia que há um discurso atrelado à região de sentidos da religião como se por esse meio os miseráveis tivessem acesso à assistência social no sentindo mais rudimentar a da doação não ao próximo mas daqueles que pela hipocrisia salvam ajudam os necessitados que merecem ser consolados Por fim o sujeito enfatiza a venda das obras e do poder publicitário em relação à morfina escritora novamente outra palavra entre aspas escritora modos se sinalizar a deslegitimação da autoria de Carolina e sua obra O sucesso do sujeitoautor no plano econômico é fator fundamental em uma sociedade de disputas de poder deste modo se um autor não publica sua obra não consegue ganhar visibilidade por outro lado se o autor consegue a publicação e sucesso nas vendas passa a ser aviltado exceto se esse autor já tiver seu nome de autor legitimado na sociedade e atingir a formação imaginária dominante do que seja um sujeitoautor de literatura Orlandi 1996 p69 desloca a noção de autor em Foucault 1983 um quadro restrito e privilegiado de produtores originais de linguagem em relação a uma obra e concebe que o autor é aquele que responde pelo que diz ou escreve pois é suposto estar em sua origem isto é sempre que um sujeito se coloca como origem do dizer uma ilusão necessária Michel Luís da Cruz Ramos Leandro Soraya Maria Romano Pacífico A Legitimação e a Interdição da Política Literária em Carolina Maria de Jesus Pode Uma Mulher Negra Ser Autor Revista Iluminart ISSN 19848625 IFSP Ano XI nº 17 Dezembro2019 46 PÊCHEUX 1997 que se responsabiliza pelo que diz e produz um texto com unidade coerência etc esse sujeito está desempenhando a funçãoautor portanto para ser autor é preciso que o que ele produza seja interpretável concepção de autoria que é defendido nesse trabalho Para Pacífico 2002 que concorda com a concepção de autor apresentada anteriormente a autoria está relacionada ao arquivo em que abrir espaços para a interpretação significa possibilitar acesso aos arquivos A autora nos aponta também que é preciso abrir espaços para que o sujeito se sinta autorizado a dizer portanto a posicionarse como autor Portanto a legitimação dos sentidos e do dizer assim como a interdição desse dizer e dos sentidos efeito da política literária está atrelada a autorização do dizer E é essa autorização do dizer que Carolina Maria de Jesus a partir da posição de sujeitoautor tem suas obras legitimadas e interditadas ao mesmo tempo 4 Considerações finais Na contemporaneidade em que o conceito de literatura por sua vez de clássico e cânone estão em constante disputa e conceituação Carolina Maria de Jesus ao ser selecionada na lista de livros para o vestibular da UNICAMP volta a ganhar um espaço no mercado editorial principalmente direcionado a escola funcionando como um modo de legitimação da sua obra literária todavia a obra selecionada Quarto de Despejo Diário de uma Favelada 1960 não avança na seleção de outras obras da escritora que possibilitam um olhar mais ampliado a respeito da sua literatura mas mesmo nessas condições de produção já temos um modo de romper com o silenciamento da autoria de mulheres negras e suas literaturas na atualidade Refletir e discutir sobre a questão do mercado editorial na contemporaneidade contribui para que se observe o funcionamento da política literária que ora legitima ora interdita ou legitima e interdita ao mesmo tempo como é o caso da escritora Carolina Maria de Jesus que na posição de sujeitoautor tem suas obras no movimento desse pêndulo que não estagna nem de um e nem de outro lado pois os sentidos estão em disputa tendo a questão de classe gênero e raça em efervescência Podese dizer que Carolina Maria de Jesus ao ocupar a posição de sujeitoautor resiste em meio às condições de produção de sua escrita evidenciando que para ser autor é preciso responsabilizarse pelo seu dizer produzindo discursos nos quais a subjetividade se inscreve de modo muito particular autorizandose a dizer reconhecendo que escrever é poder construindo e desconstruindo modos de fazer literatura Sendo assim cabe à escola trabalhar não só com autoras e autores legitimados isto é os mesmos mas também levar para dentro do seu espaço outras escritoras como Carolina que tem muito a dizer por meio de suas obras literárias Carolina Maria de Jesus rompe com um conceito fechado de literatura que considera o escrever difícil de grandes desafios estilísticos ou vocabulários de certa língua eruditizada neologismo que serve para essa discussão como legitimação de um clássico literário Deste modo o mercado editorial que tende a visar exclusivamente ao lucro salvo exceções joga esse jogo e ora defende a literatura com L cânones ora a literatura com l não canonizadas contribuindo para que essa disputa literária da legitimação fique ainda mais repleta de rachaduras furos pelo efeito da opacidade da linguagem visto que nunca se conseguirá fechar os sentidos de uma discussão que se pretende sempre atualizável e aberta neste caso envolta de uma ferida histórica brasileira a do racismo Michel Luís da Cruz Ramos Leandro Soraya Maria Romano Pacífico A Legitimação e a Interdição da Política Literária em Carolina Maria de Jesus Pode Uma Mulher Negra Ser Autor Revista Iluminart ISSN 19848625 IFSP Ano XI nº 17 Dezembro2019 47 Referências BAGNO M Preconceito Linguístico o que é Como se faz 49ªed São Paulo Loyola 2007 CANDIDO A O direito à Literatura In Vários escritos São Paulo Duas Cidades 1988 COMPAGNON A O demônio da teoria literatura e senso comum Tradução de Cleonice Paes Barreto Mourão Consuelo Fontes Santiago 2ªed Belo Horizonte Editora UFMG 2010 CUTI L S Literatura negrobrasileira São Paulo Selo Negro 2010 Coleção Consciência em debate coordenada por Vera Lúcia Benedito DAVIS A Mulheres raça e classe Tradução de Heci Regina Candiani São Paulo Boitempo 2016 FOUCAULT M A arqueologia do saber Rio de Janeiro Forense Universitária 1997 A ordem do discurso São Paulo Loyola 1996 O que é um autor In Ditos e escritos III Estética literatura e pintura música e cinema Tradução de Inês Barbosa Rio de Janeiro Forense 2011 FREIRE P Educação como prática da liberdade 23ª ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1999 Pedagogia da Tolerância 6ª ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2018 Pedagogia do oprimido Rio de Janeiro Paz e Terra 2005 GERALDI J W O texto na sala de aula org São Paulo Anglo 2012 GNERRE M Linguagem escrita e poder 3 ed São Paulo Martins Fontes 2009 GOMES N L O movimento negro educador saberes construídos nas lutas por emancipação Petrópolis RJ Vozes 2017 JESUS C M Diário de Bitita São Paulo Editora Sesi 2016 C M Quarto de despejo diário de uma favelada São Paulo Ática 1960 LEANDRO M L da C R O corpo estranho da poesia e a produção de sentidos na escola Trabalho de Conclusão de Curso FFCLRPUSP Ribeirão Preto SP 2017 MOSÉ V A escola e os desafios contemporâneos Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2013 ORLANDI E P À flor da pele indivíduo e sociedade In MARIANI B Org A escrita e os escritos reflexões em análise do discurso e psicanálise São Carlos Claraluz 2006 A linguagem e seu funcionamento as formas do discurso 4 ed Campinas SP Pontes 1996a As formas do silêncio nos movimentos dos sentidos Campinas SP Editora Unicamp 1997 Análise de discurso princípios e procedimentos 6 ed Campinas SP Pontes 2001 Discurso e leitura 9 ed São Paulo Cortez Campinas SP Editora da Unicamp 2012 Interpretação autoria leitura e efeitos do trabalho simbólico Petrópolis RJ Vozes 1996b PACÍFICO S M R Argumentação e autoria o silenciamento do dizer Tese de Doutorado em Ciências FFCLRPUSP Ribeirão Preto SP 2002 S M R Argumentação e autoria nas redações de universitários Discurso e silêncio Curitiba Appris 2012 Leitura escrita e autoria nas séries iniciais do Ensino Fundamental FAPESP No 2010157826 Professor e autoria interpretação sobre o Ler e o Escrever São Carlos Pedro João Editores 2013 Michel Luís da Cruz Ramos Leandro Soraya Maria Romano Pacífico A Legitimação e a Interdição da Política Literária em Carolina Maria de Jesus Pode Uma Mulher Negra Ser Autor Revista Iluminart ISSN 19848625 IFSP Ano XI nº 17 Dezembro2019 48 PÊCHEUX M 1969 Análise Automática do Discurso In GADET F HAK T Orgs Por uma análise automática do discurso uma introdução à obra de Michel Pêcheux TradBras de Eni Orlandi et al Campinas SP Ed da Unicamp 1990 5ª ed de 2014 Ler o arquivo hoje In ORLANDI E P Org et al Gestos de leitura da História no Discurso CampinasSP Editora da UNICAMP 2010 O discurso estrutura ou acontecimento Trad Bras de Eni P Orlandi Campinas SP Pontes 1990 6ª ed de 2012 Semântica e Discurso uma crítica à afirmação do óbvio Trad Bras de Eni P Orlandi et al Campinas Ed da Unicamp 1988 4ª ed de 2009 PROENÇA FILHO D A trajetória do negro na literatura brasileira In PEREIRA E de A Org Um tigre na floresta dos signos Estudos sobre poesia e demandas sociais no Brasil Belo Horizonte Mazza Edições 2010 Coleção Setefalas REYS A Vozes dos porões A literatura periferiamarginal do Brasil Rio de Janeiro Aeroplano 2013 RIBEIRO D Quem tem medo do feminismo negro São Paulo Companhia das Letras 2018 ROMÃO L M S PACÍFICO S M R Leitura e escrita no caminho das linguagens Ribeirão Preto SP Alphabeto 2007 TFOUNI L V Letramento e Alfabetização 9 ed São Paulo Cortez 1995 Coleção questões da nossa época v15 Múltiplas faces da autoria Ijuí Ed Unijuí 2008 Coleção Linguagens