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Caderno de anotações para As formas do silêncio no movimento dos sentidos Portuguese Edition Orlandi Eni Puccinelli Citation APA Orlandi E P 2007 As formas do silêncio no movimento dos sentidos Portuguese Edition Kindle Android version Retrieved from Amazoncom Introdução Destaque azul Página 8 1 há um modo de estar em silêncio que corresponde a um modo de estar no sentido e de certa maneira as próprias palavras transpiram silêncio Há silêncio nas palavras Destaque amarelo Página 9 O silêncio é assim a respiração o fôlego da significação um lugar de recuo necessário para que se possa significar para que o sentido faça sentido Destaque amarelo Página 9 Silêncio que atravessa as palavras que existe entre elas ou que indica que o sentido pode sempre ser outro ou ainda que aquilo que é mais importante nunca se diz todos esses modos de existir dos sentidos e do silêncio nos levam a colocar que o silêncio é fundante Destaque amarelo Página 10 O não um os muitos sentidos o efeito do um o sentido literal e o in definir se na relação das muitas formações discursivas têm no silêncio o seu ponto de sustentação Destaque amarelo Página 12 O funcionamento do silêncio atesta o movimento do discurso que se faz na contradição entre o um e o múltiplo o mesmo e o diferente entre paráfrase e polissemia Esse movimento por sua vez mostra o movimento contraditório tanto do sujeito quanto do sentido fazendo se no entremeio entre a ilusão de um sentido só efeito da relação com o interdiscurso e o equívoco de todos os sentidos efeito da relação com a lalangue Destaque amarelo Página 14 Compreender o que é efeito de sentidos é compreender que o sentido não está alocado em lugar nenhum mas se produz nas relações dos sujeitos dos sentidos e isso só é possível já que sujeito e sentido se constituem mutuamente pela sua inscrição no jogo das múltiplas formações discursivas que constituem as distintas regiões do dizível para os sujeitos Destaque amarelo Página 14 Quando se concebe a língua como os linguistas enquanto sistema de formas abstratas e não material tem se a transparência e o efeito de literalidade Porém se a concebemos na perspectiva discursiva como materialidade essa materialidade linguística é o lugar da manifestação das relações de forças e de sentidos que refletem os confrontos ideológicos Destaque amarelo Página 14 Compreender o que é efeito de sentidos em suma é compreender a necessidade da ideologia na constituição dos sentidos e dos sujeitos É da relação regulada historicamente entre as muitas formações discursivas com seus muitos sentidos possíveis que se limitam reciprocamente que se constituem os diferentes efeitos de sentidos entre locutores Sem esquecer que os próprios locutores posições do sujeito não são anteriores à constituição desses efeitos mas se produzem com eles Destaque amarelo Página 14 a formação discursiva é heterogênea em relação a ela mesma pois já evoca por si o outro sentido que ela não significa Ora a relação com as múltiplas formações discursivas nos mostra que não há coincidência entre a ordem do discurso e a ordem das coisas Uma mesma coisa pode ter diferentes sentidos para os sujeitos Destaque amarelo Página 15 Falar em efeitos de sentido é pois aceitar que se está sempre no jogo na relação das diferentes formações discursivas na relação entre diferentes sentidos Daí a presença do equívoco do sem sentido do sentido outro e consequentemente do investimento em um sentido Aí se situa o trabalho do silêncio Destaque azul Página 15 Daí que discurso não é a fala isto é uma forma individual concreta de habitar a abstração da língua Ele não tem esse caráter antropológico Os discursos estão duplamente determinados de um lado pelas formações ideológicas que os relacionam a formações discursivas definidas e de outro pela autonomia relativa da língua Destaque amarelo Página 15 o discurso materializa o contato entre o ideológico e o linguístico pois ele representa no interior da língua os efeitos das contradições ideológicas e manifesta a existência da materialidade linguística no interior da ideologia Destaque amarelo Página 16 todo discurso sempre se remete a outro discurso que lhe dá realidade significativa Destaque amarelo Página 16 Por isso distinguimos entre a o silêncio fundador aquele que existe nas palavras que significa o não dito e que dá espaço de recuo significante produzindo as condições para significar e b a política do silêncio que se subdivide em b 1 silêncio constitutivo o que nos indica que para dizer é preciso não dizer uma palavra apaga necessariamente as outras palavras e b 2 o silêncio local que se refere à censura propriamente àquilo que é proibido dizer em uma certa conjuntura Isso tudo nos faz compreender que estar no sentido com palavras e estar no sentido em silêncio são modos absolutamente diferentes entre si E isso faz parte da nossa forma de significar de nos relacionarmos com o mundo com as coisas e com as pessoas Silêncio e sentido Destaque amarelo Página 19 no discurso religioso em seu silêncio o homem faz falar a voz de Deus Destaque amarelo Página 19 outra característica desse mesmo tema a política do silêncio Isto é o silenciamento Destaque amarelo Página 19 o silêncio é fundante Quer dizer o silêncio é a matéria significante por excelência um continuum significante O real da significação é o silêncio E como o nosso objeto de reflexão é o discurso chegamos a uma outra afirmação que sucede a essa o silêncio é o real do discurso Destaque amarelo Página 20 O homem está condenado a significar Com ou sem palavras diante do mundo há uma injunção à interpretação tudo tem de fazer sentido qualquer que ele seja O homem está irremediavelmente constituído pela sua relação com o simbólico Destaque amarelo Página 25 O silêncio mediando as relações entre linguagem mundo e pensamento resiste à pressão de controle exercida pela urgência da linguagem e significa de outras e muitas maneiras Destaque amarelo Página 25 refletindo o que todo mundo sabe permite calar o que cada um entende sem confessar 1982 Os limites do método e da observação Destaque amarelo Página 35 a o silêncio fundante e b a política do silêncio o silenciamento A primeira nos indica que todo processo de significação traz uma relação necessária ao silêncio a segunda diz que como o sentido é sempre produzido de um lugar a partir de uma posição do sujeito ao dizer ele estará necessariamente não dizendo outros sentidos Isso produz um recorte necessário no sentido Dizer e silenciar andam juntos Silêncio sujeito história significando nas margens Destaque amarelo Página 43 Segundo Ducrot idem há modos de expressão implícita que permitem deixar entender sem incorrer na responsabilidade de ter dito Ora tem se frequentemente necessidade de dizer certas coisas e ao mesmo tempo de poder fazer como se não as tivéssemos dito de dizê las mas de modo tal que se possa recusar a sua responsabilidade Para o implícito assim definido o recorte que se faz entre o dito e o não dito é o que se faz entre significação atestada e significação manifesta Ducrot idem o não dito remete ao dito Destaque amarelo Página 46 O silêncio não são as palavras silenciadas que se guardam no segredo sem dizer O silêncio guarda um outro segredo que o movimento das palavras não atinge Destaque amarelo Página 48 Por aí se apagam os sentidos que se quer evitar sentidos que poderiam instalar o trabalho significativo de uma outra formação discursiva uma outra região de sentidos O silêncio trabalha assim os limites das formações discursivas determinando consequentemente os limites do dizer Destaque amarelo Página 50 a censura pode ser compreendida como a interdição da inscrição do sujeito em formações discursivas determinadas Destaque amarelo Página 51 Assim como o texto não se esgota em um espaço fechado o sujeito e o sentido também são caracterizados pela sua incompletude Destaque amarelo Página 51 ao falar o sujeito se divide as suas palavras são também as palavras dos outros Destaque amarelo Página 52 Se o sentimento de unidade permite ao sujeito identificar se por outro lado sem a incompletude e o consequente movimento haveria asfixia do sujeito e do sentido pois o sujeito não poderia atravessar os diferentes discursos e não seria atravessado por eles já que não poderia percorrer os deslocamentos os limites das diferentes formações discursivas Destaque amarelo Página 52 No autoritarismo não há reversibilidade possível no discurso isto é o sujeito não pode ocupar diferentes posições ele só pode ocupar o lugar que lhe é destinado para produzir os sentidos que não lhe são proibidos A censura afeta de imediato a identidade do sujeito Destaque amarelo Página 56 A censura desautomatiza a relação com o silêncio e com o implícito e assim explicita a relação do sujeito com o dizível É entretanto porque o silêncio significa em si que se pode explicar a política do sentido Com efeito é a hipótese do silêncio fundador que faz com que não dizer tenha um sentido Destaque amarelo Página 57 Em suma é o silêncio fundador que produz um estado significativo para que o sujeito se inscreva no processo de significação mesmo na censura fazendo significar por outros jogos de linguagem o y que lhe foi proibido Destaque amarelo Página 58 Além disso é preciso lembrar sempre Courtine 1982 que o sujeito não tem no interdiscurso nenhum lugar para si já que no domínio da memória ressoa uma voz sem nome isto é anônima O interdiscurso o dizível não é o sentido por exemplo de colonização para x ou para y é o sentido de colonização Daí seu efeito referencial sua objetividade No entanto é preciso entender essa relação do enunciável com o sujeito em sua duplicidade O que despossui o sujeito é o que ao mesmo tempo torna seu dizer possível é recorrendo ao já dito que o sujeito ressignifica E se significa Destaque amarelo Página 59 Com nossa reflexão estamos propondo distinguir o ilusório silêncio do já dito do outro silêncio o fundador que permite os múltiplos sentidos que tornam possível uma certa distância do sujeito em relação ao dizível E isso em duas direções em relação ao outro dizer o da outra formação discursiva e em relação ao discurso social o consenso Silêncios e resistência um estudo da censura Destaque amarelo Página 63 Para a análise de discurso não há discurso sem sujeito nem sujeito sem ideologia No entanto o modo como as ciências sociais e humanas concebem a ideologia é ancilar à perfídia interpretativa Ou seja as ciências sociais e humanas considerando que a linguagem é transparente visam os conteúdos ideológicos concebendo a ideologia como ocultação Assim elas deixam pensar que pela busca dos conteúdos o que é que ele quis dizer podem se descobrir os verdadeiros sentidos do discurso que estariam escondidos Ora se não nos prendemos aos conteúdos podemos procurar entender o modo como os textos produzem sentidos e a ideologia será então percebida como o processo de produção de um imaginário isto é produção de uma interpretação particular que apareceria no entanto como a interpretação necessária e que atribui sentidos fixos às palavras em um contexto histórico dado Destaque azul Página 64 Desse modo resulta que se considera como natural o que é fabricado pela história Esta por sua vez no processo ideológico através do conteudismo apresenta se como a sucessão de fatos com sentidos já dados dispostos em sequência cronológica quando na verdade ela se constitui de fatos que reclamam sentidos P Henry cuja materialidade não é passível de ser apreendida em si mas só no discurso Destaque azul Página 65 Na língua de espuma os sentidos se calam Eles são absorvidos e não produzem repercussões Se de um lado não se comprometem com nenhuma realidade de outro impedem que vários sentidos se coloquem para essa mesma realidade Destaque azul Página 65 A língua de espuma trabalha o poder de silenciar Destaque azul Página 66 é assim que a linguagem funciona ela tira proveito da matéria mesma da redução dos sentidos para produzir sua expansão Destaque azul Página 67 O silêncio não é ausência de palavras Impor o silêncio não é calar o interlocutor mas impedi lo de sustentar outro discurso Destaque amarelo Página 69 a censura não é um fato da consciência individual do sujeito mas um fato discursivo que se passa nos limites das diferentes formações discursivas que estão em relação Destaque amarelo Página 69 quando falamos em censura silêncio local não se trata do dizível sócio historicamente determinado o interdiscurso a memória do dizer mas do dizível produzido pela intervenção de relações de força nas circunstâncias de enunciação não se pode dizer aquilo que se poderia dizer mas foi proibido Destaque amarelo Página 70 Isto é há sentidos que não nos são proibidos por uma autoridade de palavra mas que por processos complexos de nossa relação ao dizível e que tocam diretamente ao como se significa a história nós não chegamos a formular e nem mesmo a reconhecer processo ideológico do nível do esquecimento no 1 de Pêcheux Aqui Destaque amarelo Página 71 Vale aí ressaltar um aspecto fundamental da censura Submetido a ela o sujeito não pode dizer o que sabe ou o que se supõe que ele saiba Assim não é porque o sujeito não tem informações ou porque ele não sabe das coisas que ele não diz O silêncio da censura não significa ausência de informação mas interdição Nesse caso não há coincidência entre não dizer e não saber Destaque amarelo Página 75 Eram os dias em que a tortura e a morte ameaçavam qualquer signo que deixasse supor uma discordância com o regime militar Por medo já havíamos introjetado a censura isto é cada um experimentava na sua própria intimidade os limites do dizer No entanto os sentidos proibidos transpiravam por qualquer signo inocente Formas de responder à censura faziam sua aparição Destaque amarelo Página 86 No deslocamento para o não dito parece pela censura que o não dito é só um a ditadura Ela cobre todo o espaço do não dito Isso tira um pouco do movimento possível do não um do silêncio Eu diria que sobra menos não dito menos silêncio O gesto da censura lesa o movimento da identidade do sujeito na sua relação com os sentidos Ele lesa de algum modo a história Mas como o dizer e o não dizer têm limites complexos e a noção de silêncio é corrosiva fluida o movimento dos sentidos se reinstala assim como os efeitos contraditórios do silêncio que reafirmam a condição bi partida da produção dos sentidos entre o um e o não um E aí de novo joga forte a relação entre o indizível da história isto é o não significado e o da censura o não dito Destaque amarelo Página 87 Daí podemos concluir que na reprodução já há não reprodução na censura já há resistência na interdição de sentidos já estão os sentidos outros naquilo que não foi dito está o trabalho do sentido que virá a ser Em suas várias formas e modos que só a história pode assentar Assim não há censura completamente eficaz os sentidos escapam e pegam a gente a seu modo Silêncio cópia e reflexão Destaque amarelo Página 91 Nisso que me tem ocupado como silêncio constitutivo de todo dizer essa seria uma das suas formas o apagamento de outras vozes específicas que adquire caráter de evento histórico institucionalizando o sentido ilusão referencial a da literalidade e mais do que isso estabelecendo o campo do dizível Aí se forma a necessária ilusão de que o que digo eu digo a partir de mim mesma Mecanismo imaginário que coloca na boca do sujeito as suas próprias palavras e que lhe dá o sabor de elas serem dele mesmo e não de outrem Condição de unidade e de subjetivação sem a qual o sujeito não é sujeito de linguagem na plena contradição do que é sê lo ser o agente de e assujeitar se Esse é um silenciamento necessário inconsciente constitutivo para que o sujeito estabeleça sua posição o lugar de seu dizer possível Dessa ilusão resulta o movimento da identidade o movimento dos sentidos eles não retornam apenas eles se transformam eles deslocam seu lugar na rede de filiações históricas eles se projetam em novos sentidos Destaque amarelo Página 92 a censura é função da posição do sujeito ou seja do seu lugar de produção de sentidos no conjunto do dizível Pela censura o sujeito é impedido de ocupar posições consideradas proibidas porque produzem sentidos proibidos O sujeito é proibido de circular pelas formações discursivas Destaque amarelo Página 94 O autor originário não sofre um impulso ao contrário arrisca ficar parado no mesmo Essa é uma forma de domesticação do novo Forma de revisionismo É assim um modo de interlocução que desestimula a conversa o debate o confronto de ideias Destaque amarelo Página 97 Na realidade movimentar se no discurso científico é saber delimitar diferentes formulações é saber demarcar umas e outras para poder estabelecer sua posição e na discussão com outras vozes estabelecer o âmbito da sua compreensão do fato que é objeto da reflexão Destaque amarelo Página 98 O conjunto dessas observações nos mostra que a censura não é necessariamente exercida de cima para baixo Ela pode se dar entre iguais Nem por isso deixa de ter sua eficácia Por outro lado deixa nos ver também que não comentar a fala do outro não declarar filiações no discurso científico é um modo de estancar trajetos significativos não historicizar a produção científica e iludir se finalmente com a existência da ideia absoluta3 Conclusão Destaque amarelo Página 101 Se ao falar sempre afastamos sentidos não desejados para compreender um discurso devemos perguntar sistematicamente o que ele cala Destaque amarelo Página 102 O silêncio é contínuo e esse seu caráter essa sua continuidade é que permitem ao sujeito se mover nas significações percorrer sentidos Destaque azul Página 110 Esse silêncio o que não se pode aí dizer é o indício das bordas do discurso e é em torno dessas bordas é tomando apoio em seu efeito que se vai executar a fantástica sinfonia do um e do infinito do singular e do disperso Destaque azul Página 114 compreender os processos de significação o modo de funcionamento de qualquer exemplar de linguagem para significar Com efeito a relação que a análise de discurso estabelece com o texto não é para dele extrair um sentido mas sim para problematizar essa relação Destaque azul Página 114 é no texto4 produzido na relação de dominância do todo sobre as partes que se constrói o sentimento de unidade do discurso Assim a análise de discurso na compreensão de um fato de linguagem qualquer não funciona como uma metalinguagem mas antes como um discurso relatado pelo político na sua dimensão simbólica isto é a que indica que o sentido é dividido em diferentes direções que a história determina Destaque azul Página 115 a proposta que bem define a análise de discurso é a que a pensa como um programa de leitura particular a que vê em todo texto a presença de um outro texto necessariamente excluído mas que o constitui Destaque azul Página 116 Isto é a análise de discurso é um exercício permanente das bordas da interpretação5 Por isso se propõe não a interpretar mas a compreender os processos de significação que sustentam a interpretação e que mostram seus contornos instáveis Destaque azul Página 117 A análise de discurso é enfim uma relação com a linguagem relação em que não se mantém a distinção forma conteúdo mas antes se pensa a questão da sua materialidade que é linguística e histórica e na qual se pode pensar o silêncio em sua importância fundamental E se assim é vamos deixar nesse ponto que os sentidos da reflexão que ela nos propõe façam seu percurso acolham o tempo de sua proveniência e se devolvam a seu silêncio Porque é nele que estão os outros sentidos
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sentido literal e o in definir se na relação das muitas formações discursivas têm no silêncio o seu ponto de sustentação Destaque amarelo Página 12 O funcionamento do silêncio atesta o movimento do discurso que se faz na contradição entre o um e o múltiplo o mesmo e o diferente entre paráfrase e polissemia Esse movimento por sua vez mostra o movimento contraditório tanto do sujeito quanto do sentido fazendo se no entremeio entre a ilusão de um sentido só efeito da relação com o interdiscurso e o equívoco de todos os sentidos efeito da relação com a lalangue Destaque amarelo Página 14 Compreender o que é efeito de sentidos é compreender que o sentido não está alocado em lugar nenhum mas se produz nas relações dos sujeitos dos sentidos e isso só é possível já que sujeito e sentido se constituem mutuamente pela sua inscrição no jogo das múltiplas formações discursivas que constituem as distintas regiões do dizível para os sujeitos Destaque amarelo Página 14 Quando se concebe a língua como os linguistas enquanto sistema de formas abstratas e não material tem se a transparência e o efeito de literalidade Porém se a concebemos na perspectiva discursiva como materialidade essa materialidade linguística é o lugar da manifestação das relações de forças e de sentidos que refletem os confrontos ideológicos Destaque amarelo Página 14 Compreender o que é efeito de sentidos em suma é compreender a necessidade da ideologia na constituição dos sentidos e dos sujeitos É da relação regulada historicamente entre as muitas formações discursivas com seus muitos sentidos possíveis que se limitam reciprocamente que se constituem os diferentes efeitos de sentidos entre locutores Sem esquecer que os próprios locutores posições do sujeito não são anteriores à constituição desses efeitos mas se produzem com eles Destaque amarelo Página 14 a formação discursiva é heterogênea em relação a ela mesma pois já evoca por si o outro sentido que ela não significa Ora a relação com as múltiplas formações discursivas nos mostra que não há coincidência entre a ordem do discurso e a ordem das coisas Uma mesma coisa pode ter diferentes sentidos para os sujeitos Destaque amarelo Página 15 Falar em efeitos de sentido é pois aceitar que se está sempre no jogo na relação das diferentes formações discursivas na relação entre diferentes sentidos Daí a presença do equívoco do sem sentido do sentido outro e consequentemente do investimento em um sentido Aí se situa o trabalho do silêncio Destaque azul Página 15 Daí que discurso não é a fala isto é uma forma individual concreta de habitar a abstração da língua Ele não tem esse caráter antropológico Os discursos estão duplamente determinados de um lado pelas formações ideológicas que os relacionam a formações discursivas definidas e de outro pela autonomia relativa da língua Destaque amarelo Página 15 o discurso materializa o contato entre o ideológico e o linguístico pois ele representa no interior da língua os efeitos das contradições ideológicas e manifesta a existência da materialidade linguística no interior da ideologia Destaque amarelo Página 16 todo discurso sempre se remete a outro discurso que lhe dá realidade significativa Destaque amarelo Página 16 Por isso distinguimos entre a o silêncio fundador aquele que existe nas palavras que significa o não dito e que dá espaço de recuo significante produzindo as condições para significar e b a política do silêncio que se subdivide em b 1 silêncio constitutivo o que nos indica que para dizer é preciso não dizer uma palavra apaga necessariamente as outras palavras e b 2 o silêncio local que se refere à censura propriamente àquilo que é proibido dizer em uma certa conjuntura Isso tudo nos faz compreender que estar no sentido com palavras e estar no sentido em silêncio são modos absolutamente diferentes entre si E isso faz parte da nossa forma de significar de nos relacionarmos com o mundo com as coisas e com as pessoas Silêncio e sentido Destaque amarelo Página 19 no discurso religioso em seu silêncio o homem faz falar a voz de Deus Destaque amarelo Página 19 outra característica desse mesmo tema a política do silêncio Isto é o silenciamento Destaque amarelo Página 19 o silêncio é fundante Quer dizer o silêncio é a matéria significante por excelência um continuum significante O real da significação é o silêncio E como o nosso objeto de reflexão é o discurso chegamos a uma outra afirmação que sucede a essa o silêncio é o real do discurso Destaque amarelo Página 20 O homem está condenado a significar Com ou sem palavras diante do mundo há uma injunção à interpretação tudo tem de fazer sentido qualquer que ele seja O homem está irremediavelmente constituído pela sua relação com o simbólico Destaque amarelo Página 25 O silêncio mediando as relações entre linguagem mundo e pensamento resiste à pressão de controle exercida pela urgência da linguagem e significa de outras e muitas maneiras Destaque amarelo Página 25 refletindo o que todo mundo sabe permite calar o que cada um entende sem confessar 1982 Os limites do método e da observação Destaque amarelo Página 35 a o silêncio fundante e b a política do silêncio o silenciamento A primeira nos indica que todo processo de significação traz uma relação necessária ao silêncio a segunda diz que como o sentido é sempre produzido de um lugar a partir de uma posição do sujeito ao dizer ele estará necessariamente não dizendo outros sentidos Isso produz um recorte necessário no sentido Dizer e silenciar andam juntos Silêncio sujeito história significando nas margens Destaque amarelo Página 43 Segundo Ducrot idem há modos de expressão implícita que permitem deixar entender sem incorrer na responsabilidade de ter dito Ora tem se frequentemente necessidade de dizer certas coisas e ao mesmo tempo de poder fazer como se não as tivéssemos dito de dizê las mas de modo tal que se possa recusar a sua responsabilidade Para o implícito assim definido o recorte que se faz entre o dito e o não dito é o que se faz entre significação atestada e significação manifesta Ducrot idem o não dito remete ao dito Destaque amarelo Página 46 O silêncio não são as palavras silenciadas que se guardam no segredo sem dizer O silêncio guarda um outro segredo que o movimento das palavras não atinge Destaque amarelo Página 48 Por aí se apagam os sentidos que se quer evitar sentidos que poderiam instalar o trabalho significativo de uma outra formação discursiva uma outra região de sentidos O silêncio trabalha assim os limites das formações discursivas determinando consequentemente os limites do dizer Destaque amarelo Página 50 a censura pode ser compreendida como a interdição da inscrição do sujeito em formações discursivas determinadas Destaque amarelo Página 51 Assim como o texto não se esgota em um espaço fechado o sujeito e o sentido também são caracterizados pela sua incompletude Destaque amarelo Página 51 ao falar o sujeito se divide as suas palavras são também as palavras dos outros Destaque amarelo Página 52 Se o sentimento de unidade permite ao sujeito identificar se por outro lado sem a incompletude e o consequente movimento haveria asfixia do sujeito e do sentido pois o sujeito não poderia atravessar os diferentes discursos e não seria atravessado por eles já que não poderia percorrer os deslocamentos os limites das diferentes formações discursivas Destaque amarelo Página 52 No autoritarismo não há reversibilidade possível no discurso isto é o sujeito não pode ocupar diferentes posições ele só pode ocupar o lugar que lhe é destinado para produzir os sentidos que não lhe são proibidos A censura afeta de imediato a identidade do sujeito Destaque amarelo Página 56 A censura desautomatiza a relação com o silêncio e com o implícito e assim explicita a relação do sujeito com o dizível É entretanto porque o silêncio significa em si que se pode explicar a política do sentido Com efeito é a hipótese do silêncio fundador que faz com que não dizer tenha um sentido Destaque amarelo Página 57 Em suma é o silêncio fundador que produz um estado significativo para que o sujeito se inscreva no processo de significação mesmo na censura fazendo significar por outros jogos de linguagem o y que lhe foi proibido Destaque amarelo Página 58 Além disso é preciso lembrar sempre Courtine 1982 que o sujeito não tem no interdiscurso nenhum lugar para si já que no domínio da memória ressoa uma voz sem nome isto é anônima O interdiscurso o dizível não é o sentido por exemplo de colonização para x ou para y é o sentido de colonização Daí seu efeito referencial sua objetividade No entanto é preciso entender essa relação do enunciável com o sujeito em sua duplicidade O que despossui o sujeito é o que ao mesmo tempo torna seu dizer possível é recorrendo ao já dito que o sujeito ressignifica E se significa Destaque amarelo Página 59 Com nossa reflexão estamos propondo distinguir o ilusório silêncio do já dito do outro silêncio o fundador que permite os múltiplos sentidos que tornam possível uma certa distância do sujeito em relação ao dizível E isso em duas direções em relação ao outro dizer o da outra formação discursiva e em relação ao discurso social o consenso Silêncios e resistência um estudo da censura Destaque amarelo Página 63 Para a análise de discurso não há discurso sem sujeito nem sujeito sem ideologia No entanto o modo como as ciências sociais e humanas concebem a ideologia é ancilar à perfídia interpretativa Ou seja as ciências sociais e humanas considerando que a linguagem é transparente visam os conteúdos ideológicos concebendo a ideologia como ocultação Assim elas deixam pensar que pela busca dos conteúdos o que é que ele quis dizer podem se descobrir os verdadeiros sentidos do discurso que estariam escondidos Ora se não nos prendemos aos conteúdos podemos procurar entender o modo como os textos produzem sentidos e a ideologia será então percebida como o processo de produção de um imaginário isto é produção de uma interpretação particular 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expansão Destaque azul Página 67 O silêncio não é ausência de palavras Impor o silêncio não é calar o interlocutor mas impedi lo de sustentar outro discurso Destaque amarelo Página 69 a censura não é um fato da consciência individual do sujeito mas um fato discursivo que se passa nos limites das diferentes formações discursivas que estão em relação Destaque amarelo Página 69 quando falamos em censura silêncio local não se trata do dizível sócio historicamente determinado o interdiscurso a memória do dizer mas do dizível produzido pela intervenção de relações de força nas circunstâncias de enunciação não se pode dizer aquilo que se poderia dizer mas foi proibido Destaque amarelo Página 70 Isto é há sentidos que não nos são proibidos por uma autoridade de palavra mas que por processos complexos de nossa relação ao dizível e que tocam diretamente ao como se significa a história nós não chegamos a formular e nem mesmo a reconhecer processo ideológico do nível do esquecimento no 1 de Pêcheux Aqui Destaque amarelo Página 71 Vale aí ressaltar um aspecto fundamental da censura Submetido a ela o sujeito não pode dizer o que sabe ou o que se supõe que ele saiba Assim não é porque o sujeito não tem informações ou porque ele não sabe das coisas que ele não diz O silêncio da censura não significa ausência de informação mas interdição Nesse caso não há coincidência entre não dizer e não saber Destaque amarelo Página 75 Eram os dias em que a tortura e a morte ameaçavam qualquer signo que deixasse supor uma discordância com o regime militar Por medo já havíamos introjetado a censura isto é cada um experimentava na sua própria intimidade os limites do dizer No entanto os sentidos proibidos transpiravam por qualquer signo inocente Formas de responder à censura faziam sua aparição Destaque amarelo Página 86 No deslocamento para o não dito parece pela censura que o não dito é só um a ditadura Ela cobre todo o espaço do não dito Isso tira um pouco do movimento possível do não um do silêncio Eu diria que sobra menos não dito menos silêncio O gesto da censura lesa o movimento da identidade do sujeito na sua relação com os sentidos Ele lesa de algum modo a história Mas como o dizer e o não dizer têm limites complexos e a noção de silêncio é corrosiva fluida o movimento dos sentidos se reinstala assim como os efeitos contraditórios do silêncio que reafirmam a condição bi partida da produção dos sentidos entre o um e o não um E aí de novo joga forte a relação entre o indizível da história isto é o não significado e o da censura o não dito Destaque amarelo Página 87 Daí podemos concluir que na reprodução já há não reprodução na censura já há resistência na interdição de sentidos já estão os sentidos outros naquilo que não foi dito está o trabalho do sentido que virá a ser Em suas várias formas e modos que só a história pode assentar Assim não há censura completamente eficaz os sentidos escapam e pegam a gente a seu modo Silêncio cópia e reflexão Destaque amarelo Página 91 Nisso que me tem ocupado como silêncio constitutivo de todo dizer essa seria uma das suas formas o apagamento de outras vozes específicas que adquire caráter de evento histórico institucionalizando o sentido ilusão referencial a da literalidade e mais do que isso estabelecendo o campo do dizível Aí se forma a necessária ilusão de que o que digo eu digo a partir de mim mesma Mecanismo imaginário que coloca na boca do sujeito as suas próprias palavras e que lhe dá o sabor de elas serem dele mesmo e não de outrem Condição de unidade e de subjetivação sem a qual o sujeito não é sujeito de linguagem na plena contradição do que é sê lo ser o agente de e assujeitar se Esse é um silenciamento necessário inconsciente constitutivo para que o sujeito estabeleça sua posição o lugar de seu dizer possível Dessa ilusão resulta o movimento da identidade o movimento dos sentidos eles não retornam apenas eles se transformam eles deslocam seu lugar na rede de filiações históricas eles se projetam em novos sentidos Destaque amarelo Página 92 a censura é função da posição do sujeito ou seja do seu lugar de produção de sentidos no conjunto do dizível Pela censura o sujeito é impedido de ocupar posições consideradas proibidas porque produzem sentidos proibidos O sujeito é proibido de circular pelas formações discursivas Destaque amarelo Página 94 O autor originário não sofre um impulso ao contrário arrisca ficar parado no mesmo Essa é uma forma de domesticação do novo Forma de revisionismo É assim um modo de interlocução que desestimula a conversa o debate o confronto de ideias Destaque amarelo Página 97 Na realidade movimentar se no discurso científico é saber delimitar diferentes formulações é saber demarcar umas e outras para poder estabelecer sua posição e na discussão com outras vozes estabelecer o âmbito da sua compreensão do fato que é objeto da reflexão Destaque amarelo Página 98 O conjunto dessas observações nos mostra que a censura não é necessariamente exercida de cima para baixo Ela pode se dar entre iguais Nem por isso deixa de ter sua eficácia Por outro lado deixa nos ver também que não comentar a fala do outro não declarar filiações no discurso científico é um modo de estancar trajetos significativos não historicizar a produção científica e iludir se finalmente com a existência da ideia absoluta3 Conclusão Destaque amarelo Página 101 Se ao falar sempre afastamos sentidos não desejados para compreender um discurso devemos perguntar sistematicamente o que ele cala Destaque amarelo Página 102 O silêncio é contínuo e esse seu caráter essa sua continuidade é que permitem ao sujeito se mover nas significações percorrer sentidos Destaque azul Página 110 Esse silêncio o que não se pode aí dizer é o indício das bordas do discurso e é em torno dessas bordas é tomando apoio em seu efeito que se vai executar a fantástica sinfonia do um e do infinito do singular e do disperso Destaque azul Página 114 compreender os processos de significação o modo de funcionamento de qualquer exemplar de linguagem para significar Com efeito a relação que a análise de discurso estabelece com o texto não é para dele extrair um sentido mas sim para problematizar essa relação Destaque azul Página 114 é no texto4 produzido na relação de dominância do todo sobre as partes que se constrói o sentimento de unidade do discurso Assim a análise de discurso na compreensão de um fato de linguagem qualquer não funciona como uma metalinguagem mas antes como um discurso relatado pelo político na sua dimensão simbólica isto é a que indica que o sentido é dividido em diferentes direções que a história determina Destaque azul Página 115 a proposta que bem define a análise de discurso é a que a pensa como um programa de leitura particular a que vê em todo texto a presença de um outro texto necessariamente excluído mas que o constitui Destaque azul Página 116 Isto é a análise de discurso é um exercício permanente das bordas da interpretação5 Por isso se propõe não a interpretar mas a compreender os processos de significação que sustentam a interpretação e que mostram seus contornos instáveis Destaque azul Página 117 A análise de discurso é enfim uma relação com a linguagem relação em que não se mantém a distinção forma conteúdo mas antes se pensa a questão da sua materialidade que é linguística e histórica e na qual se pode pensar o silêncio em sua importância fundamental E se assim é vamos deixar nesse ponto que os sentidos da reflexão que ela nos propõe façam seu percurso acolham o tempo de sua proveniência e se devolvam a seu silêncio Porque é nele que estão os outros sentidos