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Texto de pré-visualização

CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI ATIVIDADES ACADÊMICAS COMPLEMENTARES Cursos de 2ª Licenciatura e Formação de Docente EAD REGULAMENTO DAS ATIVIDADES ACÂDEMICAS COMPLEMENTARES Atenção Os discentes que estão cursando cursos de 2ª Licenciatura e Formação de Docente deverão cumprir 200 horas de Atividades Complementares O envio das Atividades Acadêmicas Complementares deverá ser realizado 60 dias antes da finalização de seu curso Observação Todos os itens fichas relatórios declarações e certificados deverão ser enviados em anexo único pelo campo de envio disponível dentro da disciplina 1 CAPITULO I DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art 1º O presente regulamento tem por finalidade normatizar as atividades complementares previstas nos projetos dos cursos de 2ª Licenciatura e Formação de Docente do Centro Universitário Faveni e estabelecer meios operacionais para o seu acompanhamento e registro Art 2º As atividades complementares dos cursos de 2ª Licenciatura e Formação de Docente da Unifaveni têm por objetivos a Enriquecer o processo de ensinoaprendizagem b Complementar o currículo pedagógico c Ampliar os horizontes de conhecimento d Favorecer o relacionamento entre grupos e a convivência com as diferenças sociais e Estimular as iniciativas dos alunos f Propiciar a Inter e a transdisciplinaridade do currículo g Fortalecer a conduta ética e a prática da cidadania e h Envolver a comunidade situada nos arredores da Instituição através de eventos que propiciem uma adequada integração junto a faculdade R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 Parágrafo 1º As atividades acadêmicas complementares são obrigatórias e deverão ser cumpridas pelos alunos a partir de seu ingresso no curso obedecendo à carga horária exigida de cada currículo de acordo com sua diretriz curricular Parágrafo 2º O cumprimento total da carga horária das atividades acadêmicas complementares é requisito indispensável à colação de grau Parágrafo 3º As atividades desenvolvidas e realizadas no âmbito do Estágio Supervisionado não poderão ser computadas cumulativamente como atividades acadêmicas complementares Parágrafo 4º A declaração utilizada para comprovação de função em área correlata à formação não poderá ser utilizada para duas finalidades atividades complementares e Estágio O aluno poderá escolher apenas uma das atividades para utilizar a declaração Parágrafo 5º Não serão aceitos trabalhos assistenciais religiosos voluntários que forem realizadas de forma regular em razão de cargo emprego ou função Não será aceito curso de capacitação que seja um prérequisito obrigatório para exercício de uma atividade remunerada em razão de cargo emprego ou função CAPÍTULO II DAS ATIVIDADES ACADÊMICAS COMPLEMENTARES Art 3º As Atividades Complementares poderão ser realizadas de acordo com as seguintes modalidades Modalidade Acadêmica Essas atividades devem ser adequadas à respectiva formação acadêmica podendo ser apresentada da seguinte forma I Eventos variados da área de formação Palestras e aulas magnas seminários exposições simpósios congressos conferências e sessões de vídeo entre outros na Unifaveni ou em outra instituição sendo esta credenciada pelo MEC R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 II Curso de Extensão realizadas pela Unifaveni em órgãos da classe em entidades públicas ou privadas desde que previamente aprovadas pela UNIFAVENI III Monitoria em disciplinas teóricas e práticas IV Publicação de resumos e artigos em congressos participação em encontros acadêmicos bem como publicação em jornais e revistas cientificas V Participação em Programas de Iniciação Cientifica VI Validação de disciplinas não aproveitadas na análise curricular desde que tenham aderência com o respectivo curso de graduação VII Assistir comprovadamente defesas de monografias dissertações de teses ou de trabalhos de conclusão de cursos afim ao curso de formação Modalidade Profissional Estas atividades devem ser adequadas à respectiva formação profissional podendo se apresentar das seguintes formas I Oficinas visitas técnicas cursos técnicos Cursos de formação em serviços realizados na Unifaveni em órgãos da classe em entidades públicas ou privadas desde que reconhecidas pela UNIFAVENI II Monitorias de disciplinas pertencentes aos cursos de 2ª Licenciatura e Formação de Docente de acordo com a regulamentação da instituição III Apresentação de trabalho científico apresentado ou não à comunidade acadêmica IV Realização de cursos livres idiomas informática V Participação em projetos de extensão comunitária Modalidade Cultural Estas atividades devem ser adequadas à respectiva formação cultural podendo se apresentar das seguintes formas Visitas monitoradas a museus centros culturais exposições galerias de arte concertos espetáculos de dança teatro e cinema desde que sejam apresentados relatórios e certificação R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 Parágrafo 1º Considerando a relevância das atividades complementares para o maior aperfeiçoamento crítico teórico instrumental flexibilização do currículo maior integração entre o corpo discente e docente e ainda o aprofundamento do grau de interdisciplinaridade na formação acadêmica o aluno deverá cumprir no mínimo duas dentre as atividades discriminadas no Artigo 3º para perfazer o total de horas de atividades exigidas em cada currículo de acordo com as diretrizes curriculares Parágrafo 2º O aluno poderá ultrapassar o limite do total de horas de atividades estabelecido levandose em conta seu interesse e disponibilidade o que sem dúvida enriquecerá ainda mais seu currículo Parágrafo 3º Quaisquer outras atividades que o discente considere relevante para sua formação poderão ser apresentadas ao coordenador do curso decidindo a validade ou não como atividade complementar bem como atribuição das horas de atividade que julgar conveniente Tal solicitação deverá ser feita em requerimento escrito instruído com os elementos probatórios que o discente entenda pertinentes à homologação da atividade desenvolvida CAPÍTULO III DA COORDENAÇÃO DAS ATIVIDADES ACADÊMICAS COMPLEMENTARES Art 4º A coordenação das atividades acadêmicas complementares será exercida pelo coordenador de curso especialmente designado pela direção acadêmica da IES para o exercício desta função Art 5º Compete ao coordenador do curso I Aprovar o plano de atividades de cada aluno II Exigir a comprovação documental pertinente III Coordenar a divulgação das atividades acadêmicas complementares para os alunos IV Remeter à secretaria da UNIFAVENI a respectiva carga horária computada para fins de registro no Histórico Escolar após o cumprimento das horas mínimas exigidas por curso R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 Parágrafo Único Os documentos comprobatórios das atividades acadêmicas complementares devem ser apresentados na forma original e cópia simples devendo ser arquivado em pastas individuais sendo descartados após o término do curso e registro das horas Art 6º É de exclusiva competência da coordenação de cursos a atribuição de horas de atividades de cada aluno dentro dos tipos e limites fixados neste regulamento Parágrafo 1º Não serão atribuídas horas para quaisquer trabalhos ou demais atividades que demonstrem características de simples reprodução de plágio seja parcial ou totalmente Os trabalhos nestas características serão devolvidos e necessariamente refeitos Na reincidência do procedimento plágio o trabalho será desqualificado Parágrafo 2º Dirimir quaisquer dúvidas referentes ao presente regulamento em primeira instância Art 7º Objetivando maior qualidade e atendendo ao Art 2º deste regulamento a tabela das atividades acadêmicas complementares poderá ser alterada a qualquer tempo pela coordenação de cursos CAPÍTULO IV DO ALUNO Art 8º Ao aluno compete I cumprir efetivamente as atividades complementares nos termos deste regulamento cuja integralização e controle da carga horária são de sua inteira responsabilidade e condição indispensável à colação de grau II providenciar a documentação que comprove a sua participação em atividades complementares contendo principalmente Tipo Modalidade Data Local e Carga horária R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 III protocolar na coordenação de curso em formulário próprio a documentação com os devidos comprovantes de atividades realizadas em cada período letivo do curso CAPÍTULO V DA REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES ACADÊMICAS COMPLEMENTARES Art 9º As atividades acadêmicas complementares a serem desenvolvidas e suas respectivas cargas horárias encontramse anexas a este regulamento Parágrafo 1º É indispensável para as atividades que assim o exigirem a apresentação de relatórios corretos e complexos das atividades acadêmicas complementares bem como o fiel cumprimento dos prazos e datas fixadas devendo o coordenador do curso determinar que sejam refeitos relatórios que não estejam dentro das normas técnicas e gramaticais sob a pena de não serem computadas as horas de atividades realizadas pelo aluno Parágrafo 2º No caso de atividades externas para que a carga horária seja validada o acadêmico deverá apresentar à coordenação de curso o comprovante de sua participação assinado pelo responsável pelo evento juntamente com o Relatório Art 10 Este Regulamento entrará em vigor na data de sua publicação Anexo I TABELA DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES GRUPO ATIVIDADE CH MÁXIMA DOCUMENTAÇÃO DE COMPROVAÇÃO I Visitas Técnicas Patrimônios culturais Patrimônios tombados Cidades históricas 50h totais Até 10h por evento O aluno deverá encaminhar Comprovante de visitas Tipos de comprovantes fotos que comprovem a R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 Monumentos Museus de arte Memoriais Empresas correlatas a área de curso presença do aluno no local e durante a visitação ingressos ou declarações Relatório O aluno deverá especificar a quantidade de horas do evento em seu relatório II Participação e apresentação de Congressos Seminários Palestras Trabalho de Conclusão de Curso Olimpíadas Participação em eventos palestras Workshops Congressos webinar conferência e seminários De natureza acadêmica ou profissional relacionada com os objetivos do curso na modalidade online 120h totais Até 40h por evento O aluno deverá encaminhar Certificado ou Declaração de participaçãoconclusão Relatório O aluno deverá especificar a quantidade de horas do evento em seu relatório III Artigos publicados em Jornais ou revistas Anais Capítulo de livros Livros 120h totais 40h por evento O aluno deverá encaminhar Cópia do artigo Resenha Capa do livro ou revista ou jornal R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 IV Convalidação de Disciplinas Disciplinas cursadas fora da matriz curricular e que estejam dentro do período de realização do curso 100h totais 20h por semestre O aluno deverá encaminhar Histórico assinado e carimbado constando a aprovação da disciplina e período de curso Planos de ensino V Atividades Assistenciais Atividades Voluntárias Participação em ações sociais e comunitárias Como Doação de Alimentos não perecíveis materiais e produtos de limpeza Doação de Agasalhos Doação de Sangue Realização de trabalho voluntário na comunidade em atividades devidamente comprovadas 100h totais 20h por evento O aluno deverá encaminhar Declaração da Instituição Doação se sangue Comprovante emitido pelo serviço de saúde banco de sangue Outras doações Declaração do gestor do local instituiçãoassociação beneficente que recebeu a doação do estudante Trabalho voluntário Declaração do gestor do local instituiçãoassociação beneficente Relatório das atividades desenvolvidas Observação A declaração deverá conter os dados da instituição assinatura e carimbo R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 VI Atividades Culturais Filmes Teatros Shows Feiras Exposições 50h totais 05h por evento O aluno deverá encaminhar Comprovante ingresso ou declaração Resenha ou relatório VII Cursos Online 100h totais Número de horas do certificado Respeitando o limite máximo Obs Serão aceitos somente certificados com carga horária mínima de 05 horas O aluno deverá encaminhar Certificado ou declaração da Instituição Relatório VIII Cursos Presenciais 50h totais Número de horas do certificado Respeitando o limite máximo Obs Serão aceitos somente certificados com carga horária mínima de 05 horas O aluno deverá encaminhar Certificado ou declaração da Instituição Relatório R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 IX Atividade do Exercício Profissional Atividade profissional em área correlata ao seu curso de formação Cumprimento de estágio remunerado extracurricular na área correlata à formação Não é permitido estágio curricular obrigatório 100h totais 10 Horas a cada mês trabalhado O aluno deverá encaminhar a comprovação do vínculo empregatício Declaração da escola A Declaração deverá possuir nome completo doa alunoa CPF data do registro período de trabalho nome e descrição do cargo CNPJ número da portaria da escola ou número do INEP da escola nome completo doa diretora carimbo e assinatura X Cursos extracurriculares Pósgraduação Capacitação Formação continuada 100h totais Número de horas específicas no certificado Respeitando o limite máximo O aluno deverá encaminhar Certificado frente e verso ou Declaração de conclusão de curso constando o período de realização do curso O nome Capacitação Formação continuada ou Pósgraduação dos cursos devem estar na descrição do certificado Relatório R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 XI Leitura Leitura de matérias referentes ao tema do curso publicadas em Jornais Revistas Livros Periódicos 50h totais 10h totais por semestre O aluno deverá encaminhar Cópia do material artigo resumo do artigo ou capa legível Resenha XII Monitoria 100h totais 20h por semestre O aluno deverá encaminhar Declaração da Instituição Relatórios R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 FICHA REQUERIMENTO DE ATIVIDADES ACADEMICAS COMPLEMENTARES ALUNO PERÍODO TURMA DATA Venho por meio dessa requerer o registro de horas de cumprimento da atividade complementar pelas atividades abaixo indicadas Atividade Regulamentar Descrição da atividade realizada Horas solicitadas Visitas Técnicas e Atividades Culturais Itens I e VI Cursos online e presencias Itens VII e VIII Atividades de ensino pesquisa e prática Itens II III IV IX X XI e XII Atividades Assistenciais e Sociais Item V Pelas horas solicitadas está sendo anexado o s seguinte s documento s R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 MODELO PARA REALIZAÇÃO DE RELATÓRIOS DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES ALUNO PERÍODO TURMA DATA Preencher um relatório para cada atividade Aluno Turma Tipo de Atividade Assunto Relatório sobre a atividade desenvolvida abrangendo Conteúdo abordado R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 CríticasSugestões GÉSSICA MIRANDA DOS SANTOS GÉSSICA MIRANDA DOS SANTOS Código de verificação q4ZVJQdcy85M q4ZVJQdcy85M Emitido em 06022024 06022024 Para validar acesse httpseventoscongressemecertificadosvalidarcertificado httpseventoscongressemecertificadosvalidarcertificado ALTA PERFORMANCE E PRODUTIVIDADE ALTA PERFORMANCE E PRODUTIVIDADE PROGRAMAÇÃO PROGRAMAÇÃO 070522 1200 3 pilares essenciais para realizar todas as suas atividades profissionais e pessoais 070522 1200 6 Dicas de como se tornar um especialista em qualquer área de atuação 070522 1200 Aprenda na prática a como organizar e executar seus planos e metas 070522 1200 A Sua Mudança Aprenda a como vencer a falta de tempo e executar todas as suas atividades diárias ter momentos com sua família seu hobby e lazer 070522 1200 Como aumentar a sua produtividade 2 Técnicas para usar ainda hoje 070522 1200 Como criar métodos eficientes para ter mais tempo e resultado 070522 1200 Como ganhar 2 horas todos os dias sem planejar cada detalhe da sua rotina tomar banho gelado ou acordar 5h 070522 1200 Como organizar seus dispositivos para ser mais eficiente e ter mais tempo 070522 1200 O passo a passo prático para escolher a área de atuação certa para você 070522 1200 Os 7 inimigos da produtividade O real motivo da falta de tempo 070522 1200 Passo a passo prático utilizando a ferramenta Notion para planejar e executar atividades diárias 070522 1200 Soft Skills As habilidades comportamentais que vão alavancar o seu crescimento profissional Certificamos que Géssica Miranda Dos Santos concluiu o Curso Oratória e Apresentação em Público em Fevereiro2024 com a carga horária total de 10 horas realizado no site wwwCursosOnlineEDUCAcombr Curso Livre amparado conforme Lei nº 939496 Decreto Presidencial nº 51542004 e Resolução CNECEB nº 0499 Empresas e Instituições poderão consultar a veracidade desse certificado através da página wwwcursosonlineeducacombrautenticaphp Código do certificadoEDUCAGR29824239 Cursos Online EDUCA CNPJ 21295901000128 Desde 2014 Certificamos que Géssica Miranda Dos Santos concluiu o Curso Etiqueta Empresarial em Fevereiro2024 com a carga horária total de 10 horas realizado no site wwwCursosOnlineEDUCAcombr Curso Livre amparado conforme Lei nº 939496 Decreto Presidencial nº 51542004 e Resolução CNECEB nº 0499 Empresas e Instituições poderão consultar a veracidade desse certificado através da página wwwcursosonlineeducacombrautenticaphp Código do certificadoEDUCAGR29819474 Cursos Online EDUCA CNPJ 21295901000128 Desde 2014 Certificado V4 C E R T I F I C A D O D E C O N C L U S Ã O Certificamos que GÉSSICA MIRANDA DOS SANTOS concluiu o curso de MICROSOFT EXCEL 2016 BÁSICO com carga horária de 15 horas no período de 07022024 a 07022024 Osasco 07 de fevereiro de 2024 Simone Claudino de Carvalho Flores Escola Virtual Géssica Miranda Dos Santos Aluno a Código de Autenticidade 91014C99336F4B82B41DBE457D254CBC ou utilize o QR Code no portal da EV Fundação Bradesco Cidade de Deus snº Vila Yara Osasco SP CEP 06029900 CNPJ 60701521000106 wwwevorgbr Escola Virtual Fundação Bradesco httpslmsevorgbrmplsWebLmsStudentPrintCertificateDialogasp 1 of 1 07022024 1233 Certificado V4 C E R T I F I C A D O D E C O N C L U S Ã O Certificamos que GÉSSICA MIRANDA DOS SANTOS concluiu o curso de MICROSOFT EXCEL 2016 INTERMEDIÁRIO com carga horária de 20 horas no período de 07022024 a 07022024 Osasco 07 de fevereiro de 2024 Simone Claudino de Carvalho Flores Escola Virtual Géssica Miranda Dos Santos Aluno a Código de Autenticidade DA0DDEBCFD6540EFB3DEB1168B8C851F ou utilize o QR Code no portal da EV Fundação Bradesco Cidade de Deus snº Vila Yara Osasco SP CEP 06029900 CNPJ 60701521000106 wwwevorgbr Escola Virtual Fundação Bradesco httpslmsevorgbrmplsWebLmsStudentPrintCertificateDialogasp 1 of 1 07022024 1502 Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE HENNING Leoni Maria Padilha MAURANO Laura Maria dos Santos Filosofia da edu cação brasileira origem e importância Revista SulAmericana de Filosofia e Educação Número 21 nov2013abr2014 p 4771 Resumo Este artigo é fruto de uma pesquisa bibliográfica pautada no pensamento reflexivo deweyano que teve como objetivo encontrar subsí dios teóricos para analisar a origem e a importância da Filosofia à Educa ção brasileira enquanto atividade problematizadora voltada à mudança devendo estar sempre vinculada à prática Verificouse que a Educação só passou a ser um problema para a Filosofia a partir da formação de pro fessores com a implantação das esco las normais Palavraschave Filosofia Educação Formação de professores Resumen Este artículo es el resultado de una investigación bibliografíca basada en el pensamiento reflexivo de Dewey que tenía como objetivo encontrar bases teóricas para analizar el origene y la importancia de la Filo sofía a la Educación de Brasil porque Professora orientadora atuante no Depar tamento de Educação da UEL e coordenado ra do Grupo de Pesquisa Positivismo e prag matismo e suas relações com a Educação Email leonihenningyahoocom Aluna Especial do Curso de Mestrado em Educação pela UEL e integrante do Grupo de Pesquisa Positivismo e pragmatismo e suas relações com a Educação LondrinaPR Especialista em Propaganda Marketing e Publicidade pela UniFil LondrinaPR Espe cialista em Gestão de Pessoas pela UniFil LondrinaPR Graduada em Administração pela UniFil LondrinaPR Graduanda em Pedagogia na UniFil LondrinaPR Email lauramauranohotmailcom és una actividad problematizadora que apunta cambios así siempre de be estar vinculada a la práctica Se encontró que la educación sólo em pesó a ser uno problema para la filo sofía a partir de la formación de maestros con la implementación de las escuelas normales Palabras clave Filosofía Educación Formación del profesorado Introdução Pesquisar sobre a presença dos filósofos no cenário da intelectualida de brasileira que pensa a Educação sob uma abordagem reflexiva é im portante para entendermos a origem e a importância da Filosofia à Educa ção brasileira enquanto aquela ativi dade que problematiza as questões gestadas no âmbito educacional e enfrentadas pelos profissionais inte ressados pelo fenômeno em situação própria da nossa realidade Dewey3 esclarece que uma vez que a educação é o processo por intermédio do qual se podem operar as transfor mações necessárias consegui mos justificar a afirmação de que a FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA ORIGEM E IMPORTÂNCIA Leoni Maria Padilha Henning Laura Maria dos Santos Maurano Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 48 filosofia é a teoria da educação e esta a sua prática deliberadamente empre endida DEWEY 1979b p 365 Nesse sentido entendemos que para construirmos uma visão lúcida do fenômeno educativo brasileiro exige se igualmente a compreensão da Filo sofia da Educação enquanto um sa ber elaborado neste contexto Para a realização deste trabalho procuramos operar por meio da análise reflexiva própria do campo filosófico educacional pautada em alguns tex tos de autores pontuais encontrados na trajetória da Filosofia e da Filosofia da Educação realizada no Brasil cujo tratamento nos permite traçarmos algumas pistas do problema desde as suas origens Percebemos entretanto que inicialmente muito raramente os filósofos no Brasil tomaram a Educa ção como seu problema central nem mesmo os problemas próprios da nossa realidade enquanto povo para as suas reflexões primeiras Essa con quista foi acontecendo muito gradati vamente Tendo dito isso esclarecemos que partimos de algumas premissas para o desenvolvimento do estudo a saber 1 O pensamento brasileiro tem origens ocidentais tendo importante contribuição inicial vinda da escolásti ca no que diz respeito ao tomismo elemento trazido principalmente pelos portugueses ao que mais tarde se somaram outras influências como o empirismo mitigado o ecletismo e o positivismo francês dentre outras ao longo do processo 2 o Positivis mo influenciou fortemente a socieda de brasileira da inaugurada Repúbli ca se constituindo num marco causa dor de importante reação por parte da instalada hegemonia católica ten do engendrado motivos doutrinais incisivamente laicos e anti metafísicos dentre outros 3 a Edu cação brasileira começa efetiva mente a ser problema para a Filosofia somente a partir da necessidade de formação dos professores acho que assim neste caso ficaria melhor Quanto a esse último ponto questio nase se de fato a origem da disci plina Filosofia da Educação brasileira estaria mesmo atrelada à preocupa ção com a formação de professores O objetivo estabelecido aqui é encontrar subsídios teóricos que nos permitam aferir acerca da origem e importância da Filosofia enquanto um Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 49 saber voltado à Educação brasileira Porém a análise dos múltiplos aspec tos que envolvem este tema seria de masiado extensa para um artigo por isso é necessário o recorte do objeto Portanto buscando encontrar infor mações satisfatórias para responder à questão proposta serão analisados os aspectos históricofilosóficos que permeiam o tema Para confirmar a importância dessa perspectiva Nóvoa reforça o entendimento dizendo que as ciências humanas são históri cas por natureza tanto pelos seus objetivos como pelos seus modos de conhecimento NÓVOA 2007 p 17 Fundamentos metodológicos Diante da necessidade de eluci dar o questionamento desta pesquisa foi realizada uma análise bibliográfica pautada no pensamento reflexivo ou pensamento correto de tradição de weyana o qual é entendido como atividade humana inteligente questi onadora investigativa encadeada coerente conexa racional sujeita à prova aspirante à conclusão em oposição ao pensamento irreflexivo incorreto acrítico solto irrelevante Dewey diz que Assim um pensa mento ou ideia é a representação mental de algo não presente e pensar consiste na sucessão de tais represen tações DEWEY 1979a p 15 Ao buscar encontrar os nexos das ideias explicativas encontradas na bibliogra fia seguimos compondo a nossa compreensão sobre o problema Mesmo tendo consciência das limitações de tempo espaço objeto selecionado e adequado às coorde nadas aqui estabelecidas buscamos refletir sobre as ideias mais relevantes ao desenvolvimento do tema pois procurar se pautar neste pensamento e não praticar o exercício reflexivo ao longo desta pesquisa não seria pro priamente operar por meio da refle xão crítica mas somente reproduzir mos o que nos dizem os textos A título ilustrativo cumpre ob servar que o pensamento proposto por Dewey partiu inicialmente da teo ria naturalista darwiniana sendo por tanto entendido como resultado da evolução biológica Dewey se apro ximou desta teoria para fundamentar o caráter ativo inteligente interativo e natural da atividade humana a par tir da adaptação dos organismos vi Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 50 vos ao ambiente Para o autor pensar é pôr em ordem um assunto com o fim de descobrir o que significa ou indica E o pensamento não existe sem essa coordenação DE WEY 1979a p 244 Esta afirmação se fundamenta na ideia de inteligên cia necessária para haver a organiza ção Ao operar com a superação dos dualismos o autor não concebe a inteligência dissociada da ação pois sempre procurou a superação dos dualismos impostos pela Filosofia Tradicional que os provocara segun do o seu entendimento Nesse senti do pensar os problemas práticos da Educação assim categorizados não seria algo incompatível ao traba lho genuinamente filosófico Enquanto ato contínuo perce bemos que a afirmação de Dewey referente ao pensar nos remete a alguns questionamentos fundamentais para entendêlo Quem pensa ser O que pensa conteúdo Por que pensa causalidade Como pensa méto do Para que pensa finalidade Logo vem à mente que quem pensa é um organismo vivo um ser biológico diferente mas não inde pendente do ser inanimado Então o que pensa este ser relacionase a ou tra questão subsequente isto é pensa sobre a sua existência seus proble mas suas relações suas possibilida des suas limitações desafiadas pelas suas crenças estremecidas Pensa porque tem necessidade de manter sua existência e conservar a vida uma vez que a mudança contínua desafia as crenças estabelecidas Nes ta manutenção é necessário dispen der esforços para transformar as ener gias Logo como pensa diz respeito à maneira como utiliza os esforços para transformar essas energias em ele mentos favoráveis à sua conservação e assim fazendo promove empenho inteligente para se beneficiar das energias presentes no ambiente Pen sa para se desenvolver crescer se conservar se comunicar se satisfazer Partindo do pressuposto de que sua constituição é física química e psíqui ca se ele pensa é porque há inicial mente movimento de energias Se há este movimento há também interação entre os seres num processo de ação e reação Nesse sentido diante de uma necessidade o organismo se desequilibra precisando reagir e promover esforço para retomar o seu Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 51 estado anterior Assim diante da sa tisfação recupera o equilíbrio Por pensamento reflexivo de weyano DEWEY 1979a p 24 e 25 entendese o método que parte de uma dúvida de uma perplexidade ou de um problema Esta dúvida estimu la a investigação a pesquisa e a bus ca de material que esclareça e resolva o problema e resulte em conhecimen to Portanto Dewey entende que Pensar é o método de se aprender inteligentemente de aprender aquilo que utiliza e recompensa o espírito DEWEY 1979b p 167 grifos do autor É por meio da atividade física e psíquica que conhecemos encon tramos problemas e soluções trans formamos o mundo Assim falarmos em investigar a Educação brasileira devemos considerar em que medida que os problemas efetivamente bra sileiros conquistaram os interesses dos nossos filósofos Seguindo a perspectiva de weyana de análise pontuamos ainda que o autor acredita que a Educação não é um processo de preparação para a vida mas constituise a própria vida na qual a atividade o mundo da ação e da prática manifestam o que é característico do homem um ser de experiências DEWEY 1979b p 1 Quais seriam pois as experiências do homem brasileiro dentre as quais nos interessam as educativas que foram problematizadas pela Filosofia Brasi leira Vale registrar que o ser humano não é somente biológico pois históri co cultural e social Nesse panorama destacamos a dimensão social do homem para dizer que Dewey defen de a continuidade da vida social por meio da Educação portanto defende a sua função social ou seja A edu cação é para a vida social aquilo que a nutrição e a reprodução são para a vida fisiológica DEWEY 1979b p 10 Anísio Teixeira o filósofo da Educação brasileira conhecido como um grande portavoz das ideias de weyanas em nosso país acrescenta sobre a importância da experiência pois para ele não existem soluções prontas para serem aplicadas absolu tamente em qualquer situação Afir ma Crescer e desenvolverse é para o homem aumentar em força de compreensão força de reali zação e força de expansão Ne nhuma dessas forças se efetiva porém sem que ele experimen Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 52 te antes dirigir coordenar e co mandar as próprias forças de seu desejo do seu pensamento e do seu corpo TEIXEIRA 2007 p 32 Se o individuo é social que tipo de sociedade Dewey preconizava Uma democracia é mais do que uma forma de governo é essencialmente uma forma de vida associada de ex periência conjunta e mutuamente comunicada DEWEY 1979b p 93 Daí a importância de investirmos nos processos educativos pois como disse Teixeira a educação e a sociedade são dois processos funda mentais da vida que mutuamente se influenciam TEIXEIRA 2007 p 87 grifos do autor Podemos dizer que a sociedade democraticamente preconi zada é aquela em que há indivíduos capazes intelectualmente de contribuir para as transformações necessárias visando ao bem comum e isso só pode acontecer por meio do pensa mento reflexivo Ou seja por meio da inteligência que constrói debates or ganizados evitando a luta armada mas preconizando uma luta por meio da inteligência como força social Esta reflexão sobre os funda mentos metodológicos propostos nes ta pesquisa não esgota a teoria do pensamento reflexivo mas acredita mos que contribui para esse exercício para a justificativa do próprio tema e problema do nosso interesse visando suscitar no leitor o desejo de também investigar Neste momento o estudo se apoia na teoria como um meio para buscar compreender as relações de causa e efeito versadas no proble ma ou seja uma oportunidade de utilizar o conteúdo como instrumento de aprendizagem compreendendo contudo que ele não deve significar um fim em si mesmo como era pró prio da escola tradicional doutrinária conteudista memorística autoritária e que tinha como resultado a manu tenção do status quo oposta à escola vinculada às ideias deweyanas Entendemos que a análise refle xiva é o caminho apropriado para apreendermos criticamente o pensa mento filosófico pois Severino argu menta que não é sempre que o pensar filosófico se expressa explici tamente muitas vezes ele se encontra implícito Subjacente a outras formas de expressão cultural SEVERINO 2007 p 55 Assim as manifestações Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 53 filosóficas podem estar explícitas im plícitas ou pressupostas Procurando entender se de fa to a origem da Filosofia da Educação brasileira estaria mesmo atrelada à preocupação com a formação de pro fessores a partir deste ponto a tarefa é desvelar a história da constituição da disciplina em apreço procurando respostas que satisfaçam à proposição deste artigo ao menos neste momen to O pensamento filosófico ocidental Em Severino é possível entender que a cultura ocidental se desenvol veu a partir de três culturas mediter râneas quais sejam judaísmo cristi anismo helenismo Este período se refere à preponderância da Grécia ou cultura grega a partir do domínio de Alexandre o Grande que juntamente com sua expansão militar promove a fusão das origens da Grécia ocidental Atenas e as da Grécia Oriental Im pério Bizantino Portanto a visão de homem e de mundo e ainda a per cepção da realidade são aspectos re sultantes das interrelações dessas culturas pois esse autor acredita que essas concepções básicas dão conta das orientações que os homens buscaram imprimir em suas ações e em sua história justificando ideologi camente o mais das vezes as suas ações políticas SEVERINO 2007 p 45 Assim no encontro dos roma nos judeus e gregos é que temos en tão localizado as raízes da cultura oci dental conforme esclarecemos a se guir O judaísmo era uma religião uma doutrina mística e teológica e uma cultura mediterrânea Sua histó ria está registrada no Velho Testa mento Acreditavam num só Deus na continuidade histórica na valorização do corpo na coletividade e no por vir Era uma visão transcendente e essencialista Já os gregos não acredi tavam que estavam ligados a um Deus pessoal Achavam que o univer so só podia ser explicado por princí pios racionais O homem era o único responsável pelo seu destino e devia se adequar às exigências do universo Porém com a expansão do Império Romano as duas culturas se encon tram e inicialmente se confrontaram mas na sequência com o cristianis mo há a síntese cultural a partir de um movimento social e religioso en Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 54 quanto dissidência do judaísmo Foi justamente por meio do cristianismo que esses princípios foram legados ao Ocidente Severino explica que a impregnação dos princípios filosófi cos gregos no cristianismo foi profun da e radical o Ocidente é filho do racionalismo grego SEVERINO 2007 p 50 Posteriormente após o fim do Império Romano a Igreja Católica começou a desenvolver métodos pe dagógicos para civilizar os novos bárbaros oriundos do norte da Euro pa A base desses métodos era o pen samento grego Severino faz referên cia a dois pensadores cristãos que participaram dessa reelaboração Agostinho e Tomás de Aquino sendo que o primeiro compatibilizando a teologia e a ética cristã com a filoso fia platônica o segundo fazendo o mesmo com a filosofia aristotélica SEVERINO 2007 p 51 Eis a de tecção de um importante lastro para a cultura brasileira uma vez que os je suítas nossos primeiros educadores trazem tal filosofia principalmente o tomismo como base de suas ações educativas no Brasil As raízes portuguesas e francesas Mesmo que o homem possa de finir períodos históricos tais como antiguidade idade média renascen ça era da revolução modernidade contemporaneidade para descrever seu desenvolvimento político eco nômico cultural e social e ainda esclarecer como os territórios foram conquistados e as noções foram cons tituídas os diversos acontecimentos não se dão de forma linear em todos os países Se a temporalidade não é linear o espaço é demarcado por meio de atividades comuns lutas e acordos Portanto podemos dizer que na história humana a conquista territorial e a constituição das nações sempre foram marcadas por conflitos guerras e pactos A Filosofia busca compreender as relações de poder e o avanço do homem nesse panorama social em termos de seu crescimento desenvolvimento e participação ativa no contexto das nações O papel da educação com o seu projeto formati vo foi sempre buscado contribuir nesse contexto No estabelecimento da nação portuguesa e na demarcação do seu território não foi diferente Sua luta girava em torno das culturas hebrai Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 55 ca judaísmo portuguesa muçulma na islamismo e cristãocidental e suas vitórias eram atribuídas à autori dade divina assim como expressa Paim ao relatar que Na luta contra os mouros com vistas à sua expulsão da península acreditavase que os portugueses eram ajudados pela in tervenção direta da divindade PAIM 2007 p 4 Destacamos que a dominação árabe sobre a península ibérica após a invasão moura liga Portugal à África moura E por mou ro entendese o nome que os espa nhóis e portugueses costumavam usar para se referir aos árabes Natural mente essas influências acabariam chegando ao Brasil Entre os séculos XII e XIV para Paim chegava a termo a expul são dos árabes e a independência de Castela criandose as bases para a conquista de outros territórios PAIM 2007 p 4 e 5 A Coroa Por tuguesa tentou manter os judeus co mo seus servos porém como eles não se sujeitavam no final do século XV foram expulsos Porém foi proposta uma possibilidade aos que quisessem ficar no território qual seja o batismo forçado Desse modo surge em Por tugal os chamados cristãonovos ou quais foram discriminados pratica mente até a segunda metade do sécu lo XVIII quando Pombal intervem revogando a lei que amparava tal disparate São justamente aqueles pertencentes à categoria de cristãos novos que vieram para a Colônia Paim diz que O processo histórico antes resumido refletese na filosofia registrandose três grandes tradições hebraicoportuguesa muçulmana e cristãocidental PAIM 2007 p 5 O período medieval anterior àquele no qual fomos descobertos mas cuja cultura influenciou até mais tarde a cultura portuguesa trouxe uma Filosofia baseada na autoridade divina manifesta em algumas obras e pensadores e esta era o critério para se conhecer a verdade Assim seu incipiente pensamento filosófico gira em torno dos temas teológicocristãos sem permitir evocar qualquer tema de cunho nacional necessário ao desen volvimento de um estado liberal No alvorecer da modernidade o pensamento filosófico português tenta romper com o tradicionalismo porém mais do que um rompimento radical era uma tentativa de se adequar ao Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 56 racionalismo cartesiano concepção filosófica moderna que reconhece a razão como fonte exclusiva de conhe cimento a qual entra em debate com o empirismo No afã de superar a dominação religiosa surge não só a busca de liberdade como também a busca por um Estado laico impulsio nado pelo estabelecimento do protes tantismo em 1683 John Locke 16321704 refugiase na Ho landa onde amadurece em seu espírito a doutrina do sistema representativo garantia do êxito da Revolução Gloriosa de 1688 e marco decisivo do pensamen to liberal E assim a moder nidade viu nascer o espiritualis mo que encontrará o seu lugar entre a senda aberta pelo empi rismo que acabará circunscre vendose a uma inquirição so bre a ciência e o transcenden talismo kantiano Os três vetores iriam transformarse no que de efetivamente novo viria a ser criado pela Filosofia Moderna PAIM 2007 p 6 e 7 grifos do autor Além das influências portugue sas o pensamento brasileiro também foi influenciado pelo ecletismo fran cês conforme pontua Paim A filosofia brasileira embora visceralmente ligada à portugue sa seguiu uma linha autônoma onde sobressaia a influência do ecletismo francês que ao invés de contribuir para fixar tradição espiritualista e talvez por essa via reaproximandonos da pro blemática a que daria preferên cia a filosofia portuguesa levou ao contato com as correntes ne okantianas E este contato aca baria consolidando aquela di versidade original sic de inte resses PAIM 2007 p 7 As bases desta diversidade tam bém podem ser encontradas na he rança místicoreligiosa por ocasião da Independência do Brasil Esta heran ça está relacionada diretamente com o legado iluminista do período pom balino Paim argumenta que a tradi ção religiosa era exclusivamente católica e tivera de se defrontar com cul turas pouco articuladas africana e aborigine De sorte que a expulsão dos jesuítas em mea dos do século XVIII deixaria a própria Igreja à mercê do ideá rio iluminista concebendose mesmo uma instituição religiosa de ensino o Seminário de Olin da à imagem e semelhança da Universidade reformada por Pombal A herança místico religiosa deixou assim de cons tituir ponto de referência da in tenção racionalizadora PAIM 2007 p 8 Uma análise mais minunciosa proposta para outros estudos do se gundo período da escolástica portu guesa e das marcas traçadas pelo empirismo mitigado iriam relevar as Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 57 direções da filosofia brasileira porém para completar o entendimento geral destacamos A expulsão dos jesuítas em 1759 cindiu de modo vio lento e abrupto o pensamento nacional Daí em diante e até a Independência o interesse mai or estará voltado de um lado para a formação meramente ci entífica e de outro ao que se supõe em proporções deveras limitadas pela frustração do empenho modernizador capita neado por Pombal para as idéias políticas trazidas à baila pelas Revoluções Americana e Francesa PAIM p 10 grifos nossos Quais são os reflexos desta situ ação no pensamento filosófico Foi necessário superar o desenvolvimento colonial imperial e finalmente o re publicano pois à época dos jesuítas lançaramse os alicerces da Educa ção porém não foi o suficiente para emergir um pensamento filosófico propriamente brasileiro em relação à Educação Havia muitas carências como a possibilidade de editar livros a existência de uma Universidade um Estado laico portanto o interesse filosófico era muito reduzido na Co lônia Até os começos da segunda me tade do século XVIII a produ ção de autores brasileiros equi vale acerca de duzentos títulos As obras literárias de cunho his tórico ou descritivas bem como as de índole didática técnica ou filosófica oscilam em torno de trinta Toda a parcela restante poderia ser agrupada como apologética do denominado sa ber de salvação em sua maioria na forma de sermões PAIM 2007 p 18 e 19 Com a expulsão dos jesuítas a Igreja Católica foi deixada à mercê do ideário iluminista O espiritualismo eclético despontou como uma con cepção filosófica durante o Segundo reinado A oposição tradicionalista impõe o debate acerca da fundamen tação eclética da moralidade O ecletismo permitia ainda manter vivo o debate em torno das questões mais palpitantes da filosofia evitando assim to do risco de dogmatismo de que seria vítima o espiritualismo católico O ecletismo servira ainda para projetar a intelectua lidade brasileira no cenário eu ropeu como elemento dotado de autonomia e independência em relação à filosofia portugue sa A oposição ao ec1etismo provinha de dois segmentos o cientificismo e o tradicionalismo Justamente esta é que iria arrastar os ecléticos brasileiros para a movediça problemática moral Assim instados pelos tradicionalistas que os acusa vam de minar as bases morais da sociedade ao menosprezar o papel da Igreja Católica os eclé ticos brasileiros são levados a Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 58 empreender esta discussão co mo fundar a moral a partir do empirismo de Biran PAIM 2007 p 106 grifos nossos Eis o despontar de um novo de senho ao pensamento filosófico no Brasil marcado por visões anti metafísicas e religiosas e crescente tendência ao cientificismo Nesse sen tido o período contemporâneo da Filosofia viu nascer esforços na procu ra da subjetividade como superação ao cientificismo aquele que levou à termo a metafísica Para Paim Estru turase a contemporânea epistemolo gia Surge um patamar de contestação ao cientificismo Pro cesso análogo tem lugar no Brasil com a reação ao positivismo na Esco la Politécnica do Rio de Janeiro Formase no país uma corrente neo positivista PAIM 2007 p 265 Anísio Teixeira TEIXEIRA 2007 p 140 é categórico ao questi onar o que resta à Filosofia e nos im põe a inquietação do exercício refle xivo ao longo da vida e da atuação profissional na docência O que acaba por servir de argumento à nossa luta em defesa impreterível e irrevogável da Filosofia da Educação para a for mação de professores Não uma Filo sofia descritiva dos fatos históricos desconexos e sem significados traba lhada em uma ou outra disciplina mas uma verdadeira busca pelo pen samento reflexivo para analisar as possibilidades de desenvolvimento humano e profissional do educador alheio aos vieses ideológicos e para sucitar debates éticos estéticos políti cos culturais e sociais neste âmbito por uma Filosofia da Educação en quanto teoria geral da educação co mo preconizava Dewey o grande mestre de Anísio DEWEY 1979 p 365 Primórdios da educação brasileira Conforme exposto o pensa mento moderno procedeu da visão de mundo grega e impregnou todo o ocidente chegando ao Brasil por meio dos padres jesuítas quando as expedições portuguesas aportam na Terra de Vera Cruz animadas pela conquista de novos continentes Na Educação essa influência foi marcada por esses educadores da Companhia de Jesus cuja expedição tinha a mis são primeira de converter os nativos à fé católica acreditandose que a alfa betização era o melhor meio para Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 59 catequizálos visando à mudança dos seus costumes e hábitos Paim mostra os elementos filosóficoeducacionais presentes em nossas origens A Ratio Studiorum fixa as nor mas tanto para os chamados es tudos inferiores como para os de nível universitário Os primei ros visavam proporcionar ao es tudante conhecimentos sólidos das gramáticas latina e grega habilitálo a escrever e a falar de modo erudito Consistia o curso superior em três anos de filosofia Aristóteles e quatro de Teologia S Tomás A idéia básica defendida pela pedago gia da Companhia de Jesus era a da subordinação da filosofia à teologia PAIM p13 e 14 Tinha início formalmente a Educação brasileira sendo que sua ação pedagógica foi marcada então pela escolástica a qual expressava especialmente a matriz filosófica eu ropeia oriunda das escolas monásticas cristãs influenciadas por Tomás de Aquino cujo pressuposto de sua obra da qual se destaca a Summa Theologica é a tentativa de conciliar o pensamento aristotélico com o cris tão gerando a filosofia do ser Cumpre lembrar que a Filosofia Cristã estava anteriormente já bem consoli dada nos períodos iniciados com a fase apostólica patrística e monástica encontrando agora na escolástica um dos problemas que urgia o enfrenta mento o problema da conciliação da razão e fé Desse modo em se tratando da Educação brasileira nos primórdios do período colonial compreendido entre 1500 e 1821 e no período im perial de 1822 até 1881 observamos que tendo sido majoritariamente de senvolvida pelos jesuítas se desen volveu em grande parte sustentada pelos pressupostos teológicos contidos na Ratio Studiorum aos quais se so maram gradativamente outras in fluências cristãs provindas de outras congregações religiosas que se junta ram para realizarem o grande objetivo da formação do bom cristão Assim a visão filosófica desses períodos era essencialista quer dizer buscavase compreender as Verdades Absolutas no que diz respeito ao entendimento do homem espiritual e criatura de Deus aos valores perenes estabeleci dos pela fé e razão católica e os de mais preceitos dogmaticamente pos tos Para além dos acidentes e contin gências restava o que é necessário essencial substancial Desse modo implícita e profundamente impregna Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 60 da pelo pensamento escolástico to mista o pensamento brasileiro do período constituíase na verdade mais como uma ideologia do que Filosofia pela impossibilidade da busca do novo da instalação da dú vida frente aos dogmas Severino des taca que a formação dos educa dores bem como de seus educandos confundiase com sua formação reli giosa SEVERINO 2000 p 273 grifos nossos Tomandose outros elementos aglutinadores para um perfil de de pendência cultural podemos indicar que toda essa tradição que se estende muito longamente em nossa história como veremos adiante mesmo que de forma ainda parcial gerou segundo muitos estudiosos um processo de Educação acrítica como é por exem plo apontada por Paulo Freire 1978 como Educação bancária própria de um sistema de dominação Nessa modalidade de Educação não se sus tenta a perspectiva antropológica do homemsujeito do ser transformador que tem por característica o Ser Mais ou daquele que se volta para a con quista de patamares avançados de conscientização sobre sua realidade Desvio de rota no percurso do pen samento filosóficoeducacional em formação Além da vertente religiosa que influenciou a Educação brasileira também houve a influência do Positi vismo merecedor de destaque O francês Augusto Comte é considerado o criador de um Sistema que surgiu como desenvolvimento do Iluminis mo das crises social e moral do fim da Idade Média e do nascimento da sociedade industrial processos esses que foram marcados pela Revolução Francesa Considerado como Sistema de ideias Positivas que compreende o mundo a partir do conhecimento ra cional e empírico o Positivismo esta belece que os saberes acumulados pela sociedade ocidental sob pers pectiva teológica e metafísica não respondiam aos questionamentos do homem sobre o mundo sendo so mente a ciência por meio da razão aquela que podia ser apropriada para fazer isto Desse modo a ciência pas sa a ser entendida como a forma mais adequada para adquirir conhecimen to seguro e confiável Para Comte o Positivo era o último e mais perfeito estado da humanidade pois os dois Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 61 anteriores o teológico e o metafísico constituíamse em estágios de conhe cimento humano a serem superados se quisermos atingir etapas de Pro gressos para a Humanidade Por Po sitivo se entende aquilo que é real tangível fato apreendido pela experi ência e assim por diante Nesse sentido com Severino podemos compreender que os positi vistas brasileiros inspirados nos ensi namentos de Comte queriam ade quar o país à modernidade uma vez que o filósofo francês queria reformar a sociedade realizando uma reforma da inteligência Para ele a desordem social decorria da ignorân cia SEVERINO 2007 p 128 Ele acreditava também que o Estado devia manter a ordem visando à soci edade industrial preconizando junto à ordem o progresso componentes do dístico da nossa bandeira nacio nal O Positivismo influenciou não só a política mas também a cultura bra sileira como um todo destacandose a Educação e muitas ideias que en gendraram proposições da Constitui ção Federal e simbologia nacional por exemplo O Positivismo se estabe lece como uma Filosofia referência para a República exercendo desse modo muita influência no Brasil pois se constituiu num alicerce doutrinário para a tomada filosófica de um novo tempo ocupando este espaço pro pondo mudanças e acreditando num Estado laico Logo após a I Guerra Mundial a comunidade internacional não me diu esforços para se recuperar da de vastação da guerra porém o Brasil somente a partir de 1930 entra em um processo de modernização eco nômica política cultural e científica É a fase conhecida como Revolução Industrial acompanhada pelo proces so de urbanização Neste período a Filosofia da Educação manifestase mais com uma postura implícita pre sente nos sistemas filosóficos se con trapondo à da ideologia religiosa do catolicismo Juntase a essa vertente outras Filosofias antimetafísicas mo dernizadoras e progressistas Severino salienta que não é outro o sentido da in tervenção teórica dos Pioneiros da Educação que já se pro nunciavam com os seus discur sos tematizadores buscando praticar uma reflexão de cu nho filosófico sobre a educa ção posicionandose mediante categorizações teóricas sobre o Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 62 sentido da educação tam bém pretendem construir uma ciência da educação livrandoa do monopólio explicativo até então mantido pela metafísica neotomista e cristã SEVERINO 2000 p 281 e 282 Portanto neste momento come çam as elaborações de concepções filosóficas sobre a Educação em busca de sentido e agora entendendo a Filosofia da Educação como um pro cesso Tratase de uma fase mais ex plícita da Filosofia da Educação na qual começa uma amplificação temá tica e uma legitimação como exercí cio pertinente e válido do conheci mento humano relacionado com a Educação uma busca de identidade Daí em diante há um aumento signi ficativo de produção científica abrin do cada vez mais caminhos para as discussões da área Uma nova visão humanista se coloca destituída da perspectiva metafísica essencialista defendendo antes a existência ao in vés de uma essência definidora do ser humano Atualmente a visão essen cialista marcante dos períodos colo nial e imperial no Brasil parece estar superada como hegemonia mas ain da presente no pensamento de alguns dos seus adeptos O pensamento filo sófico vem tomando nos dias de hoje um caráter imanente em relação à realidade humana numa perspectiva mais antropológica Como explica Severino agora a construção da história é responsabilidade exclusiva dos homens não se trata mais de construir a Cidade de Deus mas a polis a cidade dos homens SEVE RINO 2000 p 285 grifos do autor Assim as abordagens filosóficas da Educação assumem a condição histó rica e social da existência humana A formação de professores como pro blema filosófico Considerando a disciplina Filo sofia da Educação entendemos que esta deveria ser o âmbito do pensa mento livre Mas observamos pelo já exposto que não foi isso o que ocor reu no Brasil em suas origens Che gou cheia de impregnações ideológi cas Assim o seu surgimento não ocorreu sob o pensamento crítico questionador exigente mas sim sob um pensamento que só perpetuava a situação vigente o poder da Igreja e do Estado A disciplina era desenvol vida simplesmente como elemento de ensino de conhecimentos dogmáticos Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 63 não promovendo questionamentos sobre si mesma e sobre os fins da Educação brasileira O enfrentamento dos problemas próprios da educação em nossa cultu ra careceu de pesquisa e de estudos sérios de base científica e filosófica e assim a reflexão sobre os problemas educacionais brasileiros como base do ensino constituiuse em situação de atraso para o avanço da situação educacional Em referência às origens da nossa cultura diz Severino que A situação é até compreensiva pois a incorporação da cultura filosófica no país é feita de maneira dogmática autoritária e ideologizada sob forma to escolasticizado SEVERINO 2000 p 275 Até a instalação da nossa Repú blica em 1889 a preocupação com a formação profissional dos educadores acompanhada por uma reflexão con sistente sobre a Educação era insigni ficante Ou seja até o início do século XX não se pode falar em Filosofia da Educação propriamente dita pois havia mais referências aos pressupos tos ideológicos e às posturas filosófi cas implícitas nas práticas do que uma construção teórica debruçada às questões educacionais no território brasileiro A alusão propriamente dita referente à Filosofia da Educação enquanto disciplina só vai aparecer efetivamente no Brasil a partir do iní cio das Escolas Normais Mas isso ainda de modo tímido considerando os enormes problemas da educação brasileira como por exemplo seu frágil sistema para o atendimento da população com índices de analfa betismo assustador mesmo já na Re pública como também a alta quanti dade de professores leigos para a rea lização de um trabalho com déficit profissional A criação da primeira Escola data de 1835 em Niterói no Rio de Janeiro com o objetivo de formar professores para o magistério perpassando todo o período republi cano É nos currículos das Escolas Normais que surge o compo nente curricular designado co mo Filosofia da Educação e é nesse espaço institucional da formação do magistério que a Filosofia da Educação adentra o ensino e a cultura pedagógica nacional SEVERINO 2000 p 273 grifos nossos Posteriormente a disciplina Fi losofia da Educação aparece pela primeira vez no ensino superior atre Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 64 lada à criação das seções de Pedagogia das Faculdades de Filoso fia e mais tarde das próprias Facul dades de Educação como afir mou o autor SEVERINO 2000 p 274 Embora as perspectivas filosófi coeducacionais mudem ao longo do tempo a Filosofia foi ganhando espa ço e demarcando sua importante con tribuição à educação tanto que a formação de professores já teve seu locus principal nas próprias faculda des de Filosofia conforme preconiza va a Lei 4024 que fixou as Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1961 nos seguintes artigos Art 59 A formação de profes sores para o ensino médio será feita nas faculdades de filosofia ciências e letras Art 116 Enquanto não houver número suficiente de professores primá rios formados pelas escolas normais ou pelos institutos de educação e sempre que se regis tre esta falta a habilitação ao exercício do magistério a título precário e até que cesse a falta será feita por meio de exame de suficiência realizado em escola normal ou instituto de educação oficiais para tanto credenciados pelo Conselho Estadual de Edu cação BRASIL PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Lei 4024 de 20 de dezembro de 1961 grifos nossos Porém o alvorecer de uma pos tura mais questionadora para a Filo sofia da Educação é fenômeno bem recente creditado aos Programas de PósGraduação stricto sensu que tem a pesquisa como instrumento funda mental e obrigatório para seu desen volvimento Neste contexto é impres cindível mencionar o Programa de Filosofia da Educação da PUCSP pois Este Programa surgiu por inicia tiva do professor Joel Martins a partir da década de 1970 preocupado com a abertura de uma frente em Filosofia da Educação sob outras aspirações que não fossem aquelas da es colástica tomista que ainda pre valecia no Departamento de Fi losofia da Universidade SEVERINO p 2000 276 Outro impulso importante foi a criação de um Grupo de Trabalho em Filosofia da Educação no quadro ins titucional da Associação Nacional de Pesquisa e Pósgraduação em Educa ção a ANPED Isso impulsionou sig nificativamente a área pois a ANPED é uma associação voltada à produção científica e avaliação de pesquisas educacionais no país sendo mesmo referência internacional sobre os as Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 65 suntos gestados no âmbito dos estu dos sobre Educação Nessa discussão entretanto vale considerar igualmente os entra ves e dificuldades que a própria Edu cação ofereceu ao longo de sua his tória ao aprimoramento dos estudos filosóficos mesmo que entendamos as várias limitações que apresentava muitas das quais fora de seu próprio controle Cumpre assim lembrar quando no âmbito educacional fo ram coibidas iniciativas impulsionado ras da cultura filosófica que podiam vicejar nessa esfera como é o caso da tardia fundação das universidades em terras brasileiras e da pesquisa que tem neste âmbito o lugar par execellence para a promoção da curi osidade investigativa da difícil aceita ção e boa acolhida da disciplina nas escolas resultando disso a formação de bons profissionais no campo da Filosofia quiçá interessados no pro blema da Educação brasileira Superando mesmo que em par te uma tradição dificultosa para o florescimento de um genuíno espírito filosófico entre nós devemos reco nhecer que uma análise da legislação educacional por exemplo pode indi car que atualmente os fundamentos filosóficos são pressupostos legais pa ra o exercício da docência no nível básico pois o artigo 62 da Lei de Di retrizes e Bases da Educação Nacio nal de 1996 dispõe que a forma ção de docentes para atuar na educa ção básica farseá em nível superior em curso de licenciatura e o artigo 11 da Resolução do Conselho Nacional de Educação que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educa ção Básica diz que Os critérios de organização da matriz curricular se expres sam em eixos em torno dos quais se articulam dimensões a serem contempladas na forma a seguir indicada V eixo arti culador dos conhecimentos a serem ensinados e dos conhe cimentos filosóficos educacio nais e pedagógicos que funda mentam a ação educativa BRASIL RESOLUÇÃO CNECP 1 de 18 de fevereiro de 2002 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Bási ca em nível superior curso de licenciatura de graduação ple na grifos nossos O mesmo já não acontece na docência de nível superior pois o artigo 66 da mesma Lei só diz que a preparação para o exercício do Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 66 magistério superior farseá em nível de pósgraduação prioritariamente em programas de mestrado e douto rado BRASIL PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Lei 9394 de 20 de dezembro de 1996 porém mesmo que as DCNs de alguns curso de gra duação preconizem a importância dos fundamentos filosóficos isso não é consenso geral A análise dos dispositivos legais não nos satisfaz todavia porque en tendemos que a disciplina Filosofia da Educação se caracteriza como pen samento reflexivo vinculado à prática como atividade humana inteligente indispensável à investigação Por isso a importância do aprender a apren der enquanto um hábito correto ati vo indagativo e operante o aprender a partir e pela experiência como as pectos associados à formação de pro fessores fazer uma associação re trospectiva e prospectiva entre aquilo que fazemos às coisas e aquilo que em conseqüência es sas coisas nos fazem gozar ou sofrer Em tais condições a ação tornase uma tentativa experi mentase o mundo para se sa ber como ele é o que sofrer em conseqüência tornase instrução isto é a descoberta das rela ções entre as coisas O pensa mento ou a reflexão é o discernimento da relação entre aquilo que tentamos fazer e o que sucede em conseqüência Por outras palavras pensar é o esforço intencional para desco brir as relações específicas entre uma coisa que fazemos e a con seqüência que resulta de modo a haver continuidade entre am bas Dewey 1979b p 152 a 164 grifos do autor e nossos O estágio inicial do ato de pen sar é experiência Esta observa ção pode figurarse sovado lu garcomum Deveria ser mas infelizmente não é Pelo contrá rio o ato de pensar é com fre qüência considerado na teoria filosófica e na prática educativa como alguma coisa independen te da experiência e capaz de ser cultivado isoladamente DE WEY 1979b p 168 grifos nos sos Mesmo que os dispositivos le gais supracitados preconizem a im portância dos fundamentos filosóficos ao exercício docente no nível básico caberia investigarmos como isso tem ocorrido na prática Neste sentido estando alheios a uma Filosofia da Educação propriamente dita como poderiam os professores tomar cons ciência da realidade brasileira pro blematizála instaurar transformações substanciais nas ações pedagógicas embasados num espírito mais reflexi vo se formados a partir muitas vezes dos fundamentos de uma Educação Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 67 Tradicional doutrinária passiva con teudista memorística autoritária eli tista que visa à manutenção do status quo oposta a uma proposta mais inovadora de uma educação mais crítica ativa transformadora social democrática que busque a autono mia do educando orientando a sua formação provendo as condições para que estes possam refletir sobre a sua realidade antever problemas e propor soluções Assim dando sequência à aná lise percebemos que uma vez sendo uma das funções da pesquisa o im pulsionar mudanças nas condições atuais buscando subsídios para inter venções empreendemos esforços para que a princípio entendamos a realidade que está posta para que possamos deixar a nossa contribui ção Considerando o que até aqui expusemos e dando continuidade às nossas inquietações ao pesquisar se esta disciplina está atrelada às linhas que tratam sobre a formação de pro fessores nos Programas de Pós Graduação stricto sensu em Educação da região sul no período compreen dido entre 07 e 30 de junho de 2013 em meio virtual a partir do site e dos critérios da Coordenação de Aperfei çoamento de Pessoal de Nível Supe rior Capes encontramos uma reali dade bem diferente pois descobrimos que de fato a disciplina não está alocada juntamente com as linhas que tratam sobre a formação docente E quando aparece está na linha da História da Educação Sendo que nos nove Programas do Paraná a disci plina Filosofia e Educação faz parte de somente um dos Programas pes quisados e está alocada em linha separada da linha que trata especifi camente sobre a formação de profes sores Nos outros Programas a disci plina não aparece embora a reflexão filosófica possa se dar em disciplinas como ética epistemologia e outras Já nos treze Programas do Rio Grande do Sul a disciplina aparece somente em um Programa nos outros não consta porém um deles tem uma li nha intitulada como Filosofia e Histó ria da Educação onde as reflexões filosóficoeducacionais são estudadas E ainda aparecem disciplinas como Teorias da Educação com o objetivo de estudar as epistemologias que fun damentam a prática docente e a Filo Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 68 sofia aparece também na linha Teori as e Culturas em Educação em um dos Programas Nos onze Programas de Santa Catarina a disciplina Filoso fia e Educação não consta porém em um deles consta uma linha de pesqui sa intitulada Filosofia da Educação Finalizando retomanos o expos to na sessão sobre princípios metodo lógicos conforme Dewey para dizer que esta pesquisa sinalizou a comple xidade da problemática envolta neste tema e por isso nos deparamos com outras indagações que nos instigam a continuar pesquisando pois a origem do pensamento é al guma perplexidade confusão ou dúvida Para pensar verda deiramente bem cumprenos estar dispostos a manter e pro longar êsse estado de dúvida que é o estímulo para uma in vestigação perfeita na qual ne nhuma idéia se aceite nenhuma crença se afirme positivamente sem que se lhes tenham desco berto as razões justificativas DEWEY 1979a p 24 e 25 Portanto a pesquisa continuará em momento oportuno para enten dermos porque uma disciplina que adentrou o ensino por meio dos currí culos das Escolas Normais visando contribuir com a formação para o exercício do magistério se encontra atualmente separada das linhas que tratam sobre a formação de professo res nos Programas PósGraduação stricto sensu em Educação brasileiros Este fato caracteriza um dualismo entre entre teoria e prática neste âm bito Esta separação teria suas ori gens mais remotas de nossa cultura no pensamento grego como apontam alguns autores nas filosofias que se paravam a experiência do conheci mento que não primavam pela edu cação como um fim em si mesma e que tinham como consequência a separação de classes de um lado a elite intelectual e de outro os técnicos desconexos com a sua realidade soci al Portanto quais seriam as implica ções do não reconhecimento da liga ção estreita entre Filosofia da Educa ção e formação de professores Considerações finais Operando com uma proposta de análise reflexiva a partir da abor dagem históricofilosófica da Educa ção no Brasil encontramos em nossa pesquisa bibliográfica que a cultura brasileira porque ocidental se desen volveu a partir da fusão de elementos vindos do judaísmo do helenismo e Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 69 do cristianismo SEVERINO 2007 p 45 a 51 Com a colonização sabe mos que o pensamento filosófico cristão se instala no Brasil por meio das ações educativas dos padres je suítas Este foi o início formal da Edu cação brasileira marcado por uma concepção filosófica claramente esco lástica É importante lembrar que a escolástica sendo de origem euro peia oriunda das escolas monásticas cristãs e sendo fortemente influencia da por Tomás de Aquino nos oferece subsídios para afirmarmos a origem da Educação brasileira como tendo sido formada nesta tradição Nesse sentido entendemos que a primeira premissa possa ser considerada ver dadeira Posteriormente no período da industrialização não só a sociedade brasileira mas também a cultura e a Educação foram influenciadas pelo Positivismo que se junta às ideias otimistas próprias do alvorecer da República brasileira com promessas de mudanças e crença num Estado laico industrial e moderno em oposi ção à hegemonia católica Depreen dese ainda que o Pragmatismo con tribui nessa perspectiva modernizado ra subordinando a verdade à utilida de da açãopensamento eficaz solu cionadora de problemas cujo proce dimento possa instigar o crescimento e o desenvolvimento reconhecendo com isso a importância do fazer da prática defendendo uma modalidade de Educação conhecida como pro gressiva A utilidade passou a ser um valor emblemático que estabeleceu que aquilo que importa é o que é útil e eficaz no sentido do que é necessá rio que melhor organiza a vida vi sando construir uma sociedade me lhor Percebemos ainda à luz da pró pria história que a terceira premissa também pode ser considerada verda deira pois a Educação só passou a ser um problema para a Filosofia bra sileira a partir da formação de pro fessores com a implantação das es colas normais ainda no século XIX Foi nessa ocasião que o problema da Educação gerou séria preocupação instituindo o início efetivo da discipli na Filosofia da Educação em nosso país Portanto procurando responder à preocupação central deste trabalho constatamos que a origem da Filoso fia da Educação brasileira está sim Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 70 atrelada à preocupação com a forma ção de professores fato que gerou outras dificuldades tema para ser desenvolvido em outra oportunidade Até os dias atuais este aspecto tem sido um dos mais investigados pela Filosofia da Educação por se tratar de campo fértil para pesquisa Pois a reflexão filosófica é exercida sobre algum aspecto da realidade concreta que desperta o interessa da disciplina a Filosofia neste caso no que diz respeito à formação de pro fessores Tratase de um campo im prescindível porque antevê ou seja avalia as possíveis consequências das ideias na prática docente fornece ao educador subsídios para pensar sua prática com rigor dando sentido à sua realidade de acordo com uma determinada visão de mundo inten cionalizando questionando concep ções contribuindo para a resolução de problemas e transformando a rea lidade Por meio da análise dos Pro gramas de PósGraduação stricto sen su em Educação foi possível verificar que os fundamentos de cunho filosó fico presente nestes Programas estão restritos vinculados às Teorias Educa cionais à Epistemologia e à Ética denotando a carência de fundamen tos filosóficos efetivos às pesquisas em educação As linhas de pesquisas des tes Programas versam principalmen te em torno da História e Historiogra fia Ensino e Aprendizagem Forma ção e Trabalho ou Ação Docente Políticas e Inclusão escolar Nesse sentido esperamos instigar estudos que versem sobre aspectos dessa im portante disciplina para a formação docente a Filosofia da Educação REFERÊNCIAS Brasília Capes Cursos Recomendados Disponível em httpwwwcapesgovbrcursosrecomendados Acesso em 07 a 30 de jun2013 Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 71 Brasília Ministério da Educação e Cultura Legislação Educacional Disponível em httpportalmecgovbr Acesso em 15 de jul2013 DEWEY John Como pensamos como se relaciona o pensamento reflexivo com o processo educativo uma reexposição Trad Haydée Camargo Campos 4a ed São Paulo Companhia Editora Nacional 1979a Atualidades Pedagógicas Vol 2 Democracia e Educação introdução à filosofia da educação Trad Godo fredo Rangel e Anísio Teixeira 4a ed São Paulo Companhia Editora Nacional 1979b Atualidades Pedagógicas Vol 21 FREIRE Paulo Reglus Neves Pedagogia do Oprimido 5a ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 NÓVOA Antonio Por que história da educação IN STEPHANOU Maria BAS TOS Maria Helena Camara Orgs Histórias e memórias da educação no brasil Vol III Século XX PAIM Antônio Histórias das ideias filosóficas no Brasil 6a ed Vol II Salvador Humanidades 2007 SEVERINO Antonio Joaquim Filosofia 2a ed São Paulo Cortez 2007 A Filosofia da Educação no Brasil esboço de uma trajetória In GHIRAL DELLI Paulo Junior O que é filosofia da educação 2a ed Rio de Janeiro DPA 2000 TEIXEIRA Anísio Pequena introdução à filosofia da educação A escola progressis ta ou a transformação da escola Rio de Janeiro Editora UFRJ 2007 Recebido em 06082013 Aprovado em 18122013 Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 1 Ana Paula Teodoro dos Santos Fernanda Lays da Silva Santos Walter Matias Lima O ENSINO DE FILOSOFIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA THE TEACHING OF PHILOSOPHY IN UNDERGRADUATE PEDAGOGY COURSES A SYSTEMATIC REVIEW OF THE LITERATURE LA ENSEÑANZA DE LA FILOSOFÍA EN LOS CURSOS DE PEDAGOGÍA DE GRADO UNA REVISIÓN SISTEMÁTICA DE LA LITERATURA Ana Paula Teodoro dos Santos1 Fernanda Lays da Silva Santos 2 Walter Matias Lima 3 DOI 1054751revistafocov16n2079 Recebido em 09 de Janeiro de 2023 Aceito em 06 de Fevereiro de 2023 RESUMO Pesquisas mais recentes apontam que o pedagogo atua em diversas áreas e modalidades profissionais Dessa maneira o currículo do curso de Pedagogia ganha um caráter mais técnico buscando atender essas novas especificidades o que algumas vezes diminui o valor à filosofia nesse contexto provocando uma fragmentação de componentes curriculares o que dificulta a real qualidade na formação do pedagogo impossibilitandoo de analisar as discussões educacionais e a problematização política das práticas educativas Nesse sentido este trabalho tem como objetivo principal identificar os estudos científicos sobre o ensino de filosofia enquanto componente curricular nos cursos de Licenciatura em Pedagogia nas universidades Assim foi realizada uma revisão sistemática da literatura optando pelas bases Scopus da Elsevier Scielo Springer Link e ACM Digital Library Os Strings inseridos nas buscas foram philosophy AND pedagogy AND philosophy of education com o auxílio metodológico da ferramenta online Start State of the Art through Systematica Reviews para facilitar a apreciação de conteúdo dos artigos encontrados Na primeira busca de dados se encontrou 30011 trabalhos Após feito refinos de busca restaram apenas três artigos que apresentam as particularidades do ensino de filosofia nas matrizes curriculares dos cursos de Pedagogia de países como Chile Espanha e Turquia 1 Doutoranda do Programa de PósGraduação em Educação da Universidade Federal de Alagoas UFAL Avenida Lourival Melo Mota SN Tabuleiro do Martins Maceió AL CEP 57072970 Email anateodoroichcaufalbr 2 Doutoranda do Programa de PósGraduação em Educação da Universidade Federal de Alagoas UFAL Avenida Lourival Melo Mota SN Tabuleiro do Martins Maceió AL CEP 57072970 Email fernandalaysceduufalbr 3 Doutor em Educação Universidade Federal de Alagoas UFAL Avenida Lourival Melo Mota SN Tabuleiro do Martins Maceió AL CEP 57072970 Email waltermatiasgmailcom Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 2 O ENSINO DE FILOSOFIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA Portanto os resultados mostram uma carência de investigações sobre o lugar que ocupa a filosofia na formação de pedagogos e pedagogas e também apontam a inexistência de artigos que contemplem a questão a nível de Brasil evidenciando a necessidade de se realizar mais análises neste campo de investigação Palavraschave Filosofia pedagogia reorganização curricular ABSTRACT More recent researches indicate that the pedagogue acts in several professional areas and modalities In this way the curriculum of the Pedagogy course gains a more technical character trying to meet these new specificities which sometimes diminishes the value of philosophy in this context provoking a fragmentation of curricular components which hinders the real quality in the formation of the pedagogue making it impossible to analyze the educational discussions and the political problematization of the educative practices In this sense the main purpose of this work is to identify the scientific studies about the teaching of philosophy as a curricular component in undergraduate courses in Pedagogy in universities Thus a systematic literature review was carried out choosing the databases Scopus from Elsevier Scielo Springer Link and ACM Digital Library The strings entered in the searches were philosophy AND pedagogy AND philosophy of education with the methodological help of the online tool Start State of the Art through Systematica Reviews to facilitate the content appreciation of the articles found In the first data search 30011 papers were found After refining the search only three articles remained that presented the particularities of philosophy teaching in the curriculums of Pedagogy courses in countries such as Chile Spain and Turkey Therefore the results show a lack of investigations about the place philosophy occupies in the formation of pedagogues and also point out the inexistence of articles that contemplate the question in Brazil evidencing the need to carry out more analyses in this field of investigation Keywords Philosophy pedagogy curricular reorganization RESUMEN Investigaciones más recientes señalan que el pedagogo actúa en varios ámbitos y modalidades profesionales De esta forma el currículo del curso de Pedagogía gana un carácter más técnico intentando atender a estas nuevas especificidades lo que a veces disminuye el valor de la filosofía en este contexto provocando una fragmentación de los componentes curriculares lo que dificulta la real calidad en la formación del pedagogo imposibilitando el análisis de las discusiones educativas y la problematización política de las prácticas educativas En este sentido este trabajo tiene como objetivo principal identificar los estudios científicos sobre la enseñanza de la filosofía como componente curricular en los cursos de graduación de Pedagogía en las universidades Así se realizó una revisión sistemática de la literatura eligiendo las bases de datos Scopus de Elsevier Scielo Springer Link y ACM Digital Library Las cadenas insertadas en las búsquedas fueron filosofía AND pedagogía AND filosofía de la educación con la ayuda metodológica de la herramienta online Start State of the Art through Systematica Reviews para facilitar la apreciación del contenido de los artículos encontrados En la primera búsqueda de datos se encontraron 30011 obras Después de afinar la búsqueda sólo quedaron tres artículos que presentan las particularidades de la enseñanza de la filosofía en las matrices curriculares de los cursos de Pedagogía en países como Chile España y Turquía Por lo tanto los resultados muestran una falta de investigaciones sobre el lugar que ocupa la filosofía en la formación de pedagogos y también señalan la inexistencia de artículos que contemplen la cuestión a nivel brasileño evidenciando la necesidad de realizar más análisis en este campo de Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 3 Ana Paula Teodoro dos Santos Fernanda Lays da Silva Santos Walter Matias Lima investigación Palabras clave Filosofía pedagogía reorganización curricular 1 Introdução O curso de Pedagogia qualifica o indivíduo para o exercício da docência na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental nos cursos de Ensino Médio de modalidade Normal e em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos BRASIL 2005 Segundo dados apresentados pelo Sistema eMEC 20224 atualmente existem no Brasil 5274 cursos de graduação superior em Pedagogia sendo 4770 ofertados de forma presencial fazendo deste um dos cursos superiores mais ofertados pelas universidades e faculdades brasileiras Mühl e Mainardi 2017 explicam que a presença da filosofia no currículo do curso da Pedagogia no Brasil nunca foi muito representativa Porém em razão da importância que a filosofia teve no desenvolvimento do pensamento ocidental ela sempre foi incluída no rol das disciplinas dos fundamentos como base da formação dos pedagogos No entanto no texto Dialética da Colonização ao se explicar como a educação brasileira foi sendo usada pelo mercado e pelo estado Bosi 1992 afirma que na década de 1960 uma das medidas oficiais do governo foi a retirada da disciplina de filosofia do currículo dos cursos médios e seu quase desaparecimento do nível superior inibindo a reflexão teórica e crítica por excelência crucial para formação do ser humano Nesse viés a Lei de Diretrizes e Bases da Educação LDB de 1996 também trouxe mudanças na organização curricular dos cursos de nível superior no país retomando a presença das ciências humanas e sociais para a formação de profissionais em Pedagogia Atualmente o pedagogo atua em diversas áreas e modalidades profissionais com destaque para a pedagogia hospitalar e empresarial Assim 4 CADASTRO NACIONAL DE CURSOS E INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO SUPERIOR e MEC Informações sobre as instituições que ofertam o Curso de Pedagogia no país eMEC 2022 Disponível em Acesso em 15 jan 2022 Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 4 O ENSINO DE FILOSOFIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA o currículo do Curso de Pedagogia ganhou um caráter mais técnico buscando atender novas especificidades diminuindo o valor à filosofia nesse contexto OLIVEIRA 2016 Albuquerque 1996 destaca que o currículo deixou de ser visto como apenas uma questão relativa a uma listagem neutra de conteúdos passando a ser entendido como um conjunto de conhecimentos que é histórica e socialmente construído além do que implicado em relações de poder Assim a problematização dessa pesquisa baseiase em análises desenvolvidas por autores como Oliveira 2016 e Albuquerque 1998 os quais apontam uma reorganização curricular brasileira nos últimos anos cuja tendência generalizante secundariza as disciplinas de fundamentos como Filosofia da Educação em favor de disciplinas técnicopedagógicas Nesse sentido a preocupação não é com os fins da educação mas sim com a seleção de disciplinas consideradas significativas para formar tecnicamente o professor para atuar nas diversas áreas profissionais da Pedagogia como indica por exemplo OLIVEIRA 2016 Essa fragmentação curricular dificulta a real qualidade na formação do pedagogo impossibilitandoo de analisar as discussões educacionais e a problematização política das práticas educativas Nesse sentido esse trabalho tem como objetivo principal identificar os estudos científicos sobre o ensino de filosofia enquanto componente curricular nos cursos de Licenciatura em Pedagogia nas universidades Com o intuito de contemplar a investigação buscaremos responder aos seguintes questionamentos P1 Quais são as características do ensino de filosofia enquanto componente curricular nos cursos de Pedagogia nas universidades como conteúdo cargahorária e referencias bibliográficos P2 Quais são as disciplinas de filosofia existentes nas matrizes curriculares dos cursos de Pedagogia nas universidades P3 Que tipos de estudos mais investigam o ensino de filosofia na formação do pedagogo Nesse viés utilizaremos a Revisão Sistemática de Literatura RSL por meio do software de pesquisa Start na qual buscaremos em várias bases de dados estudos sobre as possíveis relações entre filosofia pedagogia e educação na tentativa de traçar o cenário mundial sobre as pesquisas em torno Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 5 Ana Paula Teodoro dos Santos Fernanda Lays da Silva Santos Walter Matias Lima dessas temáticas 2 Metodologia e Fundamentação Teórica A pesquisa será descritiva e explicativa já que os estudos descritivos servem para analisar como se manifesta um fenômeno e seus componentes e os explicativos querem encontrar as razões ou as causas que provocam certos fenômenos SAMPIERI COLLADO LUCIO 2013 elementos característicos à análise do ensino de filosofia nos cursos de Pedagogia Dessa maneira considerando o objetivo proposto de início fezse necessário a seleção de um banco de dados relevante para viabilizar a pesquisa bibliográfica e a análise correspondente No presente artigo optamos pelas bases Scopus da Elsevier Scielo Springer Link e ACM Digital Library O levantamento nas bases de dados foi realizado em 01092020 e os Strings inseridos nas buscas foram philosophy AND pedagogy AND philosophy of education Como recurso metodológico utilizamos a ferramenta online Start State of the Art through Systematica Reviews para facilitar a análise de conteúdo dos artigos encontrados Para a seleção dos artigos foram priorizados critérios de inclusão e exclusão Os Critérios de Inclusão definidos foram pesquisas sobre disciplinas de filosofia nos cursos de Pedagogia universidades ou faculdades pesquisas que dialoguem sobre filosofia da educação nos cursos de Pedagogia investigações sobre a relação filosofia e Pedagogia no nível superior trabalhos disponíveis na internet e de acesso livre artigos avaliados por pares Já os Critérios de Exclusão foram pesquisas repetidas pesquisas que apresentem somente o protocolo pesquisas que não apresentem características das disciplinas de filosofia nos cursos de Pedagogia Os artigos encontrados foram exportados nas bases de dados pesquisadas por meio de arquivos BibTex e posteriormente importados ao programa Start Vale destacar que os trabalhos da base SpringerLink tem funcionalidade somente para exportação para o formato csv Dessa forma os arquivos foram convertidos para bib através de um projeto em python chamado Springercsv2bib16 Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 6 O ENSINO DE FILOSOFIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA Para selecionar os estudos adotouse os seguintes procedimentos metodológicos conforme o Figura 1 Figura 1 Etapas e estratégias de seleção de estudos Fonte Autores 2020 Conforme demonstrado no Figura 1 na primeira busca de dados encontramos 30011 trabalhos sendo 436 na Scopus da Elsevier 27 na Scielo 29536 na Springer Link e 12 na ACM Digital Library Diante do alto número de obras encontradas nas bases Scopus e Springer Link viuse a necessidade de refinos de busca Na base Scopus como estratégia de refino de busca foram aplicados filtros quanto ao tipo de trabalho científico priorizando somente artigos de acesso livre e publicados a partir do ano 2000 sendo encontrados 37 obras Já na base Springer Link foram aplicados os seguintes procedimentos de filtros selecionado apenas trabalhos pertencentes a disciplina Educação e as subdisciplinas Filosofia Educacional e Filosofia da Educação somente artigos e publicação a partir do ano 2000 sendo encontrados 496 trabalhos científicos De tal modo após os refinos ao todo foram encontrados 572 obras sendo Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 7 Ana Paula Teodoro dos Santos Fernanda Lays da Silva Santos Walter Matias Lima 37 na Scopus 27 na Scielo 496 na Springer Link e 12 na ACM Digital Library Como é possível perceber no gráfico 1 87 dos documentos encontrados foram na base de dados Sringer Link seguido pela Scopus com 6 pela Scielo com 5 e pela ACM com apenas 2 O próximo passo foi a exclusão de pesquisas duplicadas onde foram encontradas 17 obras Na fase seguinte foi feita a revisão dos títulos e palavraschave excluindo os estudos que não atenderam os critérios de inclusão Aqueles que não existiam dados suficientes foram deixados para a próxima etapa Em tal fase 394 artigos foram excluídos indo 161 para a etapa subsequente O próximo passo foi a revisão e análise dos abstracts e exclusão daqueles que não atenderam os critérios de inclusão Aqueles que não existiam dados suficientes foram deixados para a próxima etapa Nessa fase foram excluídos 116 artigos restando 45 Passouse para a revisão e análise dos textos e exclusão daqueles que não atenderam os critérios de inclusão fase em que ao todo foram descartados 42 artigos restando apenas 3 Leitura de 45 artigos completos nos quais passamos a considerar os critérios de avaliação de qualidade atribuindoos relevância como Sim Parcialmente ou Não buscando artigos científicos que respondessem a seguinte questão O estudo traz características sobre ensino de filosofia enquanto disciplina curricular no contexto do curso de Pedagogia Nessa perspectiva se excluiu os estudos com resposta de critério Não e Parcialmente sendo um total de 42 títulos restando apenas 3 aceitos os quais apresentaram características acerca do ensino de filosofia enquanto disciplina curricular nos cursos de Licenciatura em Pedagogia 3 Resultados e Discussões A Tabela 1 apresenta os dados gerais dos 3 artigos encontrados na Revisão Sistemática de Literatura com Títulos dos Trabalhos e Tradução para o português Identificação dos Autores Ano e País de Publicação Tabela 1 Dados gerais dos artigos Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 8 O ENSINO DE FILOSOFIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA ARTIGO 1 Título Filosofía de la Educación y pedagogía de la enseñanza en la formación del profesorado Estudio de caso percepción del estudiantado Tradução Filosofia da Educação e pedagogia do ensino na formação de professores Estudo de caso percepção do aluno Autores Luis Rodrigo Camacho Verdugo Hernán Morales Paredes Ano publicado 2020 País Chile ARTIGO 2 Título Philosophy of Education as an Academic Discipline in Turkey The Past and the Present Tradução Filosofia da educação como disciplina acadêmica na Turquia o passado e o presente Autores Hasan Ünder Ano publicado 2007 País Turquia ARTIGO 3 Título Philosophy of Education in Spain at the Threshold of the 21st Century Origins Political Contexts and Prospects Tradução Filosofia da educação na Espanha no limiar do século 21 origens contextos políticos e perspectivas Autores Gonzalo Jover Ano publicado 2001 País Espanha Fonte Autores 2020 Os autores Verdugo e Paredes 2020 apresentam os resultados de uma pesquisa oriunda da Universidade Católica de Santísima Concepción Chile publicada pela Revista Educación da Universidad de Costa Rica Teve como objetivo conhecer a percepção dos alunos de Pedagogia sobre a disciplina de Filosofia da Educação Foram realizadas entrevistas com 18 estudantes cujos resultados mais relevantes indicam um problema motivacional dos alunos para o estudo da filosofia em geral No entanto também mostram uma percepção positiva quanto à necessária permanência filosófica no projeto curricular de formação apontando a necessidade de aprimorar os recursos didáticos utilizados pelos professores bem como estratégias de ensino que auxiliem especificamente os alunos de Pedagogia a desenvolver habilidades reflexivas reconhecendo a relevância de propor um ensino específico de filosofia Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 9 Ana Paula Teodoro dos Santos Fernanda Lays da Silva Santos Walter Matias Lima Os autores destacam a importância da aprendizagem em filosofia entre os graduandos por esta permitir que os mesmos desenvolvam aspectos atitudinais como ser pessoas melhores citando Kohan 2010 p30 ao afirmar que A filosofia como ciência propõe um instrumento teórico para ser crítico e próativo tenta superar as aparências de realidade incluindo a dos dados verificáveis a Deus à história ao psiquismo ao bem etc O que a Filosofia pretende nos ensinar Em primeiro lugar que somos humanos e portanto como podemos ser melhores pessoas também nos oferece a possibilidade de elaborar um projeto de vida de acordo com a nossa vocação e com uma direcionalidade para melhorar a história ensinanos a viver não como dados ou figuras mas como um ser de valores que pode dar mais de si abre nossos olhos para superar as aparências e questionar o dogmatismo rígido Nessa perspectiva Boavida 2006 Fullat 2000 explicam que o ensino da Filosofia permite a aprendizagem e a articulação de conhecimentos que a partir da pesquisa possibilitam o avanço de certos aspectos intelectuais próprios e a aquisição de outros para compreender os objetos de estudo De tal modo o que se ensina como se ensina e como os alunos aprendem tornase de suma importância no trabalho do professor devendo instigar nos alunos o sendo de responsabilidade sobre sua própria aprendizagem Assim Cortés 2015 Cerletti 2008 salientam a necessidade de uma didática da Filosofia pertinente ao cenário social atual uma vez que a Filosofia pode contribuir no nível educacional da formação profissional para encontrar o caminho adequado para responder às mudanças que ocorrem no mundo atual Verdugo e Paredes 2020 citam Moreno 2013 para trazer informações sobre fatores que podem influenciar a aprendizagem do aluno demonstrando que a filosofia tem sido com frequência censurada por ser um luxo um hobby ou um conhecimento que não é bom para nada Destacam que talvez haja nessas falas o estigma que advém dos maus professores da aula de Filosofia da pouca formação na disciplina ou da falta de compreensão da Filosofia como conhecimento e reflexão fundamentais sobre o homem Já Ünder 2007 explica o estado passado e presente da filosofia da educação como disciplina acadêmica nos cursos de graduação de Pedagogia Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 10 O ENSINO DE FILOSOFIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA História da Pedagogia e Filosofia da Educação na Turquia O autor apresenta dois períodos paralelos às relações internacionais turcas antes e depois da Segunda Guerra Mundial destacando informações sobre a posição e as formas da filosofia da educação nos currículos a prevalência relativa das abordagens os problemas e as perspectivas futuras visto que o ensino está em processo de discussão quanto à sua relevância diante da existência de opiniões sobre a retirada da disciplina do currículo Dessa maneira conforme Buyukduvenci 1991 na Turquia se evidencia uma tradição da filosofia analítica da educação O autor critica as abordagens cientificistas pragmáticas e positivistas da educação e evidencia uma confusão nos usos dos conceitos educacionais nos livros didáticos pois segundo ele existe falta de pensamento filosófico Buyukduvenci 1991 adota a filosofia como uma atividade crítica Ünder 2007 declara que os impactos dos estudos e discussões acerca da filosofia e de filósofos na educação tem sido muito limitado na Turquia pois não foram eficazes no pensamento educacional e na determinação das políticas educacionais nos últimos tempos Para Ünder 2007 os livros de filosofia da educação não são citados por pesquisadores educacionais da mesma forma que os filósofos da educação não tiveram influência sobre órgãos como o Conselho de Instrução e Educação do Ministério da Educação Nacional e o Conselho de Educação Superior que tomam a maior parte das decisões sobre questões educacionais Nesse viés Erturk 1997 afirma que a formulação das políticas educacionais no país passou a depender quase exclusivamente das convicções subjetivas de funcionários que receberam autoridade ou daqueles acadêmicos com quem eles têm relações pessoais ou ideológicas Nesse sentido as alterações feitas são inspiradas ou exigidas por sistemas educacionais de outros países considerados bemsucedidos e por organizações internacionais como o Banco Mundial ou são exigidas por acordos assinados com a Organização das Ações Unidas ONU ou a União Europeia o que tem permitido efeitos positivos entre os alunos ÜNDER 2007 O autor destaca ainda que em 2006 a filosofia da educação por exemplo Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 11 Ana Paula Teodoro dos Santos Fernanda Lays da Silva Santos Walter Matias Lima ganha uma revida pois os currículos dos programas de formação de professores foram revisados pela primeira vez desde 1998 dando lugar no currículo para filosofia da educação e para outras disciplinas fundamentais como história da educação e sociologia educacional Por sua vez Jover 2001 centrase na evolução e situação da Filosofia da Educação como disciplina acadêmica vinculada aos estudos universitários do curso de Pedagogia na Espanha delineando alguns pontos que podem revelar o rumo e o significado que a Filosofia da Educação assumiu no contexto mais amplo da evolução social e política do país Jover 2001 explica que Fullat 2000 afirma que a Filosofia da Educação consiste em um questionamento sobre o que se diz e se faz nas esferas da educação e da pedagogia Por sua vez o que caracteriza a pedagogia é o caráter normativo de seus enunciados que ela desenvolve conforme os dados colhidos pela ciência e peneirados pelo juízo acertado sobre o que é bom para o ser humano Assim A filosofia não se preocupa em como ensinar nem com o quê nem em qual meio nem para qual sujeito psicobiológico em questão é por exemplo quem é a pessoa que está sendo educada em termos metaempíricos o que é a educação e para que serve Do ponto de vista tecnológico e científico essas são perguntas inúteis e impertinentes No entanto sua relevância é inegável a menos que a tarefa do educador por mais científica e tecnológica que seja também seja tola e absurda FULLAT 2000 p 13 Dessa maneira contextualizando os 3 artigos encontrados averiguamos que em relação a P1 que se refere a seguinte pergunta Quais são as características do ensino de filosofia enquanto disciplina curricular nos cursos de Pedagogia nas universidades como conteúdo cargahorária e referenciais bibliográficos foi identificado que os três estudos respondem a esse questionamento uma vez que trazem discussões sobre os conteúdos curriculares do ensino de filosofia levando em consideração as particulares de cada um dos países em que as pesquisas foram realizadas No artigoFilosofía de la Educación y pedagogía de la enseñanza en la formación del professorado Estudio de caso percepción del estudiantado por exemplo os autores citam Ferrer 2018 explicando que o ensino de Filosofia Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 12 O ENSINO DE FILOSOFIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA está em processo de discussão e análise no Chile quanto à sua importância visto que foram apresentadas opiniões sobre a eliminação da disciplina de filosofia do currículo escolar De tal modo a pesquisa empírica realizada com graduandos de Pedagogia mostrou a necessidade de mudar os moldes de se ensinar a disciplina manifestando a urgência de uma didática que permita compreender de forma mais profunda os textos tanto as correntes filosóficas quanto os postulados que se ensinam como parte dos requisitos básicos do assunto No artigo Philosophy of Education as an Academic Discipline in Turkey The Past and the Present Ünder 2007 destaca que a referida disciplina começa a aparecer nos currículos de formação de professores somente após a introdução da divisão americana de estudos educacionais na Turquia em 1953 e que em 1998 foi excluída dos currículos das escolas de preparação de professores e a revisão do currículo de 2006 inseriu a mesma novamente nas matrizes curriculares Estudiosos defendem que a disciplina pode aprofundar e estender a concepção democrática da educação na Turquia e também existem concepções que mostram o surgimento de problemas causados pela modernização no país como otomanismo islamismo turquismo ocidentalismo e kemalismo O autor ainda afirma que os estudos de filosofia e de filósofos na educação tem sido muito limitado no país e que livros de filosofia da educação não são citados por pesquisadores educacionais Já no artigo Philosophy of Education in Spain at the Threshold of the 21st Century Origins Political Contexts and Prospects Jover 2001 deixa claro que a Filosofia da Educação na Espanha estar começando a experimentar novas linguagens que podem ser inseridas na revisão do movimento de identidade onde as novas abordagens recaem no denominador comum das tendências narrativas chave para a qual é a ideia de um eu contextual histórico e biográfico O autor destaca que as tendências vão em direções diferentes mas inter relacionadas a construção narrativa da identidade e o repensar do significado educacional da experiência de leitura a recuperação da memória histórica pela educação e o sentido de alteridade e o uso pedagógico de histórias de vida e modos de se ver e ver o outro Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 13 Ana Paula Teodoro dos Santos Fernanda Lays da Silva Santos Walter Matias Lima Ao se referir a P2 definida como Quais são as disciplinas de filosofia existentes nas matrizes curriculares dos cursos de Pedagogia nas universidades constatamos que nos três artigos encontrados há a presença da disciplina Filosofia da Educação nas matrizes curriculares dos cursos de Pedagogia No entanto o currículo do curso vem passando por reorganizações No caso da Turquia por exemplo Ünder 2007 explica que em 1998 a referida disciplina foi excluída do currículo mas em 2006 foi incluída novamente Em relação à P3 denominada Que tipos de estudos mais investigam o ensino de filosofia na formação do pedagogo constatamos a presença de apenas 3 artigos que investigam o tema na formação do pedagogo revelando a carência de trabalhos científicos que contemplem a questão Um deles foi classificado como do tipo estudo de caso qualitativo exploratório e os outros dois como do tipo pesquisa qualitativa descritiva 4 Considerações Finais Esta RSL buscou fazer o levantamento das investigações já realizadas sobre a relação Pedagogia e Filosofia tendo se optado por análises no repositório de bases de dados como Scopus Scielo Springer Link e ACM Digital Library Os Strings inseridos nas buscas foram philosophy AND pedagogy AND philosophy of education com o auxílio metodológico da ferramenta online Start State of the Art through Systematica Reviews para facilitar a apreciação de conteúdo dos artigos encontrados A elaboração da RSL nos permitiu ter uma visão global das pesquisas na área tendo encontrado apenas três artigos que atendessem os critérios estabelecidos e assim o objetivo da pesquisa foi alcançado Portanto os trabalhos encontrados demostram as particularidades do ensino de filosofia enquanto disciplina nas matrizes curriculares dos cursos de Pedagogia de países como Chile Espanha e Turquia Diante disso os resultados da pesquisa também apontam a inexistência de artigos que contemplem a questão no nível de Brasil evidenciando a grande necessidade de se realizar mais análises neste campo de investigação Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 14 O ENSINO DE FILOSOFIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE Maria Betânia Barbosa Filosofia da educação uma disciplina entre a dispersão de conteúdos e a busca de uma identidade 1996 Dissertação Mestrado em Educação Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG BOAVIDA J De una didáctica de la filosofía a una filosofía de la educación Revista Española de Pedagogía 64234 205226 2006 BRASIL Ministério da Educação e Cultura Conselho Nacional de Educação Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia Licenciatura Parecer CNECP n5 13 dez 2005 Conteúdo online disponível em httpportalmecgovbrcnearquivospdfpcp0505pdf Acesso em 02 fev 2016 CADASTRO NACIONAL DE CURSOS E INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO SUPERIOR eMEC Informações sobre as instituições que ofertam o Curso de Pedagogia no país eMEC 2022 Disponível em httpsemecmecgovbr Acesso em 15 jan 2022 CERLETTI A La enseñanza de la filosofía como problema pedagógico Buenos Aires Editorial Zorzal 2008 BOSI Alfredo Dialética da Colonização São Paulo Companhia das Letras 1992 BUYUKDUVENCI S Eg itim felsefesine giris Introduction to philosophy of education Ankara Savas Yayınları 1991 CORTÉS G Sobre la necesidad de la enseñanza de la Filosofía Actas 31 193216 2015 ERTU RK S The question of philosophy of education in Turkey In G Yıldıran J Durnin Eds Recent perspespectives on Turkish education An inside view pp 9398 Bloomington Ind Indiana University Turkish Studies Publications 1997 FULLAT O Filosofía de la Educación Síntesis Madrid 2000 JOVER GONZALO Philosophy of Education in Spain at the Threshold of the 21st Century Origins Political Contexts and Prospects Studies in Philosophy and Education 20 361385 httpsdoiorg101023A1011855312033 2001 LIBÂNEO José Carlos Pedagogia e pedagogos para quê 12 Edição São Paulo Cortez 2010 Kohan W Filosofía la paradoja de aprender y enseñar Buenos Aires Zorzal 2010 Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 15 Ana Paula Teodoro dos Santos Fernanda Lays da Silva Santos Walter Matias Lima KUNDERA M O lugar da filosofia da educação In PAVIANI Jayme Problemas de Filosofia da Educação 6ª Edição Editora Vozes PetrópolisRJ 1999 MORENO A Percepciones de los estudiantes hacia la clase de Filosofía general en el campus central de la Universidad Nacional Autónoma de Honduras Revista Ciencia y Tecnología 121 2742 2013 MÜHL Eldon Henrique MAINARDI Elisa A Filosofia da Educação nos cursos de Pedagogia do Brasil da obrigatoriedade à dispensa progressiva Filosofia e Educação RFE Volume 9 Número 2 Campinas SP Junho Setembro de 2017 ISSN 19849605 p 722 OLIVEIRA Ivanilde Apoluceno de O ensino da filosofia da educação no curso de pedagogia Revista Margens Interdisciplinar Sl v 2 n 3 p 5563 maio 2016 ISSN 19825374 PIMENTEL Edna Furukawa Filosofia da Educação nos cursos de Pedagogia um estudo sobre seus aspectos teóricometodológicos Tese Doutorado em Educação Universidade do Estado da Bahia Salvador BA 2014 QUILLICI NETO Armindo O ensino de filosofia da educação no Brasil uma análise dos programas de ensino de filosofia da educação dos cursos de pedagogia do Estado de São Paulo 2001 Tese Doutorado em Educação Universidade de Campinas Campinas SP 2001 SAMPIERI RH COLLADO CF LUCIO PB Metodologia de pesquisa 5 ed Porto Alegre Penso 2013 SANTOS ADÉLCIO MACHADOS DOS BONIN JOEL CEZAR FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO IMPLICAÇÕES E IMPACTOS NA PEDAGOGIA REVISTA EDUCERE ET EDUCARE VOL 23 N 27 JANABR 2018 DOI HTTPSDOIORG1017648EDUCAREV13I2716850 SANTOS Marcio Dolizete Mugnol A disciplina Filosofia da Educação no curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná UFPR nos anos de 1970 e 1990 Dissertação Mestrado em Educação Universidade Tuiuti do Paraná Curitiba PR 2003 ÜNDER Hasan Philosophy of Education as an Academic Discipline in Turkey The Past and the Present Stud Philos Educ 2008 27405431 DOI 101007s112170079049z Springer Science Business Media BV 2007 VERDUGO Luis Rodrigo Camacho PAREDES Hernán Morales Filosofía de la Educación y pedagogía de la enseñanza en la formación del profesorado Estudio de caso percepción del estudiantado Revista Educación Costa Rica vol 44 núm 1 2020 Disponível em httpwwwredalycorgarticulooaid44060092006 DOI httpsdoiorg1015517reveduv44i134179 Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 16 O ENSINO DE FILOSOFIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA VIEIRA M de M Filosofia da Educação na formação do pedagogo discurso de autonomia e fabricação da heteronomia 2010 221 f Tese Doutorado Faculdade de Educação Universidade de São Paulo São Paulo 2010 YIN Robert K Pesquisa qualitativa do início ao fim Porto Alegre Penso 2016 DOI httpsdoiorg1026512rfmcv9i343009 Pedagogia da Catástrofe Catastrophe Pedagogy Carolina de Roig Catini Resumo O artigo tem por objetivo colocar em discussão as relações entre trabalho educação e política analisando como relações materiais do cotidiano se projetam enquanto formas de viver o tempo presente e as expectativas em relação ao futuro Partido das expectativas seletivas diante da possibilidade de descarte num mercado de trabalho eliminatório investigase as práticas voltadas para o empreendedorismo e seletividade tanto no âmbito do trabalho quanto no da educação formal e nãoformal salientando os vínculos entre rentabilidade e punição no cruzamento entre políticas sociais privatizadas e militarização Palavraschave Educação Empreendedorismo Seleção Expectativas Abstract The article aims to discuss the relationships between work education and politics analyzing how everyday material relationships are projected as ways of living the present time and expectations regarding the future Based on selective expectations given the possibility of discarding in an eliminatory labor market practices aimed at entrepreneurship and selectivity are investigated both in the context of work and in formal and nonformal education highlighting the links between profitability and punishment at the crossroads between privatized social policies and militarization Keywords Education Entrepreneurship Selection Expectations Professora do Departamento de Ciências Sociais da Educação DECISE da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas FEUNICAMP Doutora em Estado Educação e Sociedade pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo USP Email ccatiniunicampbr ORCID httpsorcidorg0000000155689974 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 99 CAROLINA DE ROIG CATINI Que as coisas continuem como estão eis a catástrofe W Benjamin 1 Antecâmara a celebração da sen tença Em outubro de 2020 em pleno pri meiro ano pandêmico estampava nos sas telas uma notícia emblemática um grupo de jovens funcionários e fun cionárias de uma empresa de estética tatuou no corpo a meta dos patrões 300 foi impresso por agulhas e tin tas nos pulsos antebraços e calcanha res dos corpos que celebravam o pro jeto de expansão de lucros da empresa que previa aumentar de 100 para 300 o número de lojas da franquia Um dos jovens festeja a cultura positiva da empresa depois de passar por muitas privações nos dois anos anteriores de desemprego Em reação o CEO anun cia que a empresa tem cultura de vi tória onde o fracassado não tem es paço Esclarece que as tatuagens não suprimem a chance de demissões na mesma oração que demonstra profunda satisfação pelo gesto de amor à marca de seus funcionários e funcionárias Já o tatuador teria dito que nunca havia visto algo parecido que as pessoas por tavam um termo de responsabilidade e que não podia dizer quem pagou a conta pelo seu serviço cf CASEMIRO 2020 Na Colônia Penal de Kafka a tatua gem é a própria punição Onde havia insubmissão e resistência ao trabalho e aos patrões havia condenação Sem julgamento a sentença era inscrita por agulhas que perfuram cada vez mais profundamente os corpos de prisionei ros numa tortura prolongada por horas contadas no relógio até o fim Honre seus superiores foi a sentença para o trabalhador considerado culpado por que respondeu com rebeldia a um su perior que o chicoteou no rosto ao encontrálo dormindo em seu posto de trabalho de vigia Largue seu chicote ou te devoro revidou ao capataz Na prisão o ritual de sacrifício seria rea lizado por uma máquina operada por um oficial que queria demonstrar a su perioridade de um sistema automático que prescinde da reflexão para o pro cesso de tomada de decisões e deixa de lado a morosidade e a falta de eficácia do pensamento na definição de quem deve ser punido e executado Não obs tante como a colônia se situa na peri feria do sistema faltam condições obje tivas para o pleno desenvolvimento das forças produtivas de modo que o enga jamento na execução dos serviços exige verdadeiros suplícios A engenhoca não funciona bem com suas peças antigas e mal azeitadas e por isso o próprio ofi cial da colônia penal oferece seu corpo 100 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE à engrenagem e se submete à operação inaceitável o fracasso da máquina Di ante de um condenado e de um soldado mas também de um observador da me trópole o oficial deixa a maquinaria executar sua performance enquanto é devorado por seu meio de trabalho 2 Expectativas seletivas Nos campos onde se dizia que o traba lho liberta o número tatuado nos an tebraços dos prisioneiros escravizados não apenas substituía seus nomes mas também era a senha para obter pão e sopa conta Primo Levi 1988 Um dos elementos da organização da vida e que simbolizava a destituição da história de cada um e cada uma também portava a possibilidade de sobrevivência caso houvesse a sorte de não eliminação pe las seleções Os campos de concentração são a ex pressão mais acabada do totalitarismo e buscam não tanto explorar o trabalho de uma população cativa quanto for necer a mais vívida demonstração de sua dispensabilidade diz Christopher Lasch LASH 1986 p 95 É preciso reconhecer no entanto a radicalidade do fato de que a mobilidade de nosso mundo obedece a desejo semelhante o enxugamento VIANA 2012 p 64 uma vez que as demonstrações de nossa descartabilidade nos são também ofe recidas cotidianamente pelos campos de trabalho não forçados embora flo readas com muita autoajuda lições de resiliência e empatia com os vencedo res Tratase de uma espécie de gestão do trabalho pela alegria de que fala Chapoutot 2020 e que também nos é familiar numa época em que compro misso motivação e envolvimento são pressupostos do prazer de trabalhar e da benevolência da estrutura CHA POUTOT 2020 p 131 Retomando a tese de Giorgio Agam ben que enxergou o campo de concen tração como lugar paradigmático para o exame de nossa organização social contemporânea mediante análise da permanência de elementos fundamen tais daquela forma de vida extrema em nosso tempo Chapoutot analisa pro cessos de modernização da gestão do trabalho por parte do Estado nazista que ocorriam em paralelo do lado de fora dos campos Em tais anos de do minação ocorreu uma proliferação de órgãos instituições agências ad hoc de modo que as decisões e ações de admi nistração se tornassem indecifráveis CHAPOUTOT 2020 p 27 A po licracia se revestia do espírito concor rencial no qual a vida é uma luta o mundo é o lugar da guerra entre as raças entre serviços gestão central e agências CHAPOUTOT 2020 p 31 Frente a essa configuração distanciada de uma organização rígida e burocrá 1Todas as citações de textos em língua estrangeira são nossa tradução Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 101 CAROLINA DE ROIG CATINI tica e neste sentido na mesma toada da descrição do caráter semovente do poder totalitário do estado alemão que faz Hannah Arendt 1999 o autor pes quisou a gênese de uma forma de ge renciar o trabalho para sua mobiliza ção total Em seu estudo da trajetória de jo vens profissionais bem formados com suas ideias inovadoras que passam a associarse a juristas e altos funcioná rios estatais e empresariais Chapoutot viu emergir um sistema de gestão que nasceu no nazismo mas que floresceu no pósSegunda Guerra movimento in duzido inclusive pela difusão de cur sos e de manuais de gestão empresarial formulados por tais figuras Parado xalmente diz o autor eles desenvol veram uma concepção de trabalho não autoritário onde o empregado e tra balhador consentia com seu destino e aprovava sua atividade em um espaço de liberdade e autonomia numa forma de trabalho pela alegria CHAPOU TOT 2020 p 14 Os princípios dessa forma de organi zação se desenrolavam na prática pelos mecanismos de incutir nos trabalhado res e trabalhadoras a assunção perfor mática de sua adesão ao sistema orien tada pela noção de que o importante é agir agir sempre e sem entraves objeti vos ou subjetivos Sintetizada pela fór mula livres para obedecer obrigados a obter sucesso2 a gestão combinava a flexibilidade dos processos e contratos de trabalho com a rigorosidade dos ob jetivos estipulados por meio dos quais se mensurava o desempenho pela de senvoltura nas missões no bojo de uma gestão organizada por metas As segurada a autonomia dos meios sem poder participar da definição e esta belecimento das metas a culpa re caía sobre quem se responsabilizava por atingilas em caso de falha na missão CHAPOUTOT 2020 p 14 Em nosso caso não seria exato di zer que a responsabilização individual pelo fracasso da produtividade no tra balho se orienta pela mesma raciona lidade subjacente ao movimento feito por trabalhadores e trabalhadoras que estabelecem como seus os objetivos dos patrões Na cena inicial não há deli mitação da meta por objetivos parciais mas a demonstração de que se assume como objetivo primordial de cada indi víduo o movimento de autovalorização do próprio capital por parte de quem é destituído de capitais Como a perfor mance é a própria ação cabe questionar se a expressão empresários de si não seria limitada para descrever tal pro cesso de interiorização do movimento do capital como necessidade indivi dual Parece tratarse da subjetivação do próprio capital na qual cada indi víduo atua segundo o automatismo de seu movimento constante na busca in cessante para reproduzirse a si mesmo 2Libres dobeir obliger de reussir no original 102 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE Com a diminuição de práticas coletivas de negação e enfrentamento ao traba lho que marcam nosso tempo os por tadores da força viva de trabalho ten dem a se identificar totalmente com seu oposto e simulam personificar seu pró prio antagonista o capital De qualquer forma a incorporação dos desígnios de expansão da capaci dade de exploração do empresário não teria efeito sem dar forma a tal inte riorização pela performance pela de monstração inovadora e emocionante de adesão às metas empresariais O ferrete marca o couro para deixar à vista quem é o proprietário do gado enquanto a tatuagem marca os corpos desejosos de manter por mais tempo quanto seja possível o direito de quem comprou a força de trabalho usufruir dela como sua propriedade No en tanto ela não garante nada O que se te atraliza na performance portanto não é o desempenho no cumprimento das metas mas o desempenho na própria punição previsível pelo descarte As sim antecipase a possibilidade de bai xar sobre si o decreto de inutilidade de sua força de trabalho com demonstra ções de empenho e engajamento Ou ainda deixa em evidência a disposi ção para se redimir da possível inade quação às demandas constantes de ino vação numa antecipação do desastre Mas não há redenção possível em tal sistema Na Colônia Penal de Kafka a puni ção não é autoengendrada mas também não dá chance de reparação dos atos considerados culpáveis assim como em nosso caso tão real quanto absurdo no qual a adoração ao capital se ex pressa num culto não expiatório mas culpabilizador como diz Benjamin uma vez que se lança mão do culto não para expiar essa culpa mas para tornála universal para martelála na consciência e por fim e acima de tudo envolver o próprio Deus nessa culpa para que ele se interesse pela expiação BENJAMIN 2013 p 22 Envolver o DeusCapital numa possível expiação seria como reivindicar a ele ou a sua forma política o Estado medidas re paratórias contra a lei geral de acumu lação que implica a desnecessidade de milhares de existências empurradas ao fundo da sociedade como elementos usados inúteis dos quais o capital não pode retirar mais nenhuma seiva lixo humano que é varrido com vassoura de ferro LUXEMBURGO 2006 p 68 A lógica da eliminação que nos ronda faz de cada gesto não uma libertação da culpa mas um investimento contra a ameaça do descarte E o que os deuses oferecem são as zonas de espera dos aparatos puni tivos e assistenciais em seus espaços temporários de permanência em peni tenciárias campos de refugiados cam pos de concentração e tantas outras formas de confinamento massivo de que trata Paulo Arantes 2021a Tais zonas de espera se expandem e vão além dos espaços de tempo mortos e Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 103 CAROLINA DE ROIG CATINI improdutivos mas se espraiam tam bém para os espaços produtivos por que praticamente todos os trabalha dores convertemse em membros in termitenteslatentes pela permanente desqualificação e pela informalização OLIVEIRA 2000 p 18 Ocorre que ao que tudo indica essa lógica também passa a orientar a razão dos espaços de reprodução social sobretudo dos ainda assim chamados direitos sociais os quais até há pouco tempo se positivava como forma de manutenção e formação das capacidades produtivas e que nem sempre deixam à mostra a aparência re pressiva amortizada por suas medidas compensatórias e pelos dispositivos de negação do sofrimento pela gestão das emoções Desenvolvemse formas em que se espera alguma forma de seleção mas ao contrário de uma espera sem ati vidade cada vez mais se espera tra balhando e se trabalha para o capital ou para a contenção social como parte da produção de valor ou como contra partida pelos custos que quem não é produtivo ou rentável representa num sistema de custobenefício dos inves timentos sociais A expectativa não é anulada mas negativada dado que o que se apresenta com maior probabi lidade em qualquer uma das esferas é a chance da eliminação que por si mesma já tem a força de gestão pela mobilização constante para impedila O absurdo de pressupor a benevolên cia da estrutura e a ausência de crítica ao trabalho não estavam presentes em Kafka como estão colocadas em grande medida em nosso tempo mas ali o ab surdo se representava por um sistema quase automático de exclusão e puni ção perpetrado pela tecnologia o que se apresenta hoje em sua forma mais desenvolvida pelos panópticos algo rítmicos cf WOODCOOCK 2020 de gestão de trabalho por aplicativos na qual o meio de trabalho liquida o trabalhador MARX 2017 p 504 Essa gestão algorítmica torna possível não apenas os desligamentos e cance lamentos automatizados mas também a inclusão pelo cadastro numa zona espera para prestação de serviços cujo tempo é estabelecido pela gestão auto mática das máquinas No picadeiro kafkiano a violência perpetrada está no condicional o que aconteceria se de acordo com Silvia Viana enquanto no laboratório de cru eldade atuante na indústria cultural mas também na própria forma de or ganização do trabalho atual possibi lita a um só tempo sua manutenção e presentificação o que acontece se VI ANA 2012 p 40 Assim e para cami nhar pensando junto com Silvia Viana o espetáculo da realidade efetua uma síntese pavorosa que exige tornar in teligível a colaboração ativa nesses ri tuais de sofrimento VIANA 2012 p 40 O que parece acontecer é uma espé cie de mistura entre um empenho ex tremo do adorador no bojo dessa ce 104 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE lebração sem trégua nem piedade do capitalismo como religião de que fala Benjamin BENJAMIN 2012 p 2122 com o sobrevivencialismo de Lash que se manifesta por um mínimo eu de um indivíduo esfacelado pelas exi gências do meio que em sua aparên cia de autonomia apenas absorve as de mandas colocadas externamente ado tando comportamentos empreendedo res esperados e cultivados pelas formas hegemônicas de relações sociais den tre as quais as relações educativas cf LASH 1986 As expectativas seletivas se organi zam pelas afinidades eletivas e simulta neidade entre os processos de moderni zação do trabalho e aparatos punitivos tenham eles ou não a aparência imedi ata de zonas de espera para o cumpri mento de penalidades 3 Aulas de seleção na escolaparedão3 Em julho de 2021 houve uma exposi ção do Movimento Inova que apesar do nome é uma organização liderada pelo Instituto Ayrton Senna para con duzir o trabalho de empresas institu tos sociais empresariais e conselhos es tatais na execução da reforma do ensino médio paulista Por meio do Centro de Mídias de São Paulo a plataforma di gital criada para a educação emergen cial remota da pandemia e também composta por um outro conglomerado empresarial veiculouse uma série de atividades formativas dentre as quais uma aula de tecnologia4 Para esse processo pedagógico que tinha como públicoalvo a juventude do ensino mé dio a equipe de economistas designers CEOs e analistas do grande conglo merado empresarialestatal selecionou como mentores para os estudantes um exentregador do Ifood Vitor Eleotério e um exBBB João Pedrosa Este último professor da rede estadual de Minas Gerais ciceroneou Vitor que se apre sentou como um foodlover isto é um amante da empresa para qual vende sua força de trabalho O conteúdo da aula consistiu num relato do processo pelo qual esse amor se teceu pelas pernas cansadas sobre pedais pelo trabalho não pago e pelas malhas algorítmicas do engajamento nas redes sociais No cenário do vídeo ao fundo está gra fada a marca Ifood ao lado dos dizeres revolucionar o universo Enquanto Vitor trabalhava duro como biker do Ifood foi um dos es colhidos para participar de uma dinâ mica de seleção para concorrer a uma vaga emprego na área de tecnologia de 3Os relatos contidos neste trecho do artigo têm como fonte entrevistas realizadas para pesquisa O público e o privado mu danças na forma social da educação sob minha coordenação aprovada pelo comitê de ética em pesquisa da Unicamp CAAE 30180720100008142 A investigação se deu em escolas de periferia da cidade de São Paulo e de Campinas e todos os nomes são fictícios exceto os que constam em documentos públicos A pesquisa conta ainda com análise documental de produção de Fundações e Institutos Empresariais e Secretaria de Educação do Estado de SP 4Vídeo disponível em httpswwwyoutubecomwatchvbTZRv4yWQ acessado em 12122021 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 105 CAROLINA DE ROIG CATINI outra empresa cujo processo se dese nhou por um desafio no qual cada can didato deveria desenvolver um aplica tivo num prazo de tempo determinado trabalhando com seus próprios recur sos Vitor desenvolveu o melhor pro duto demonstrando um aplicativo com a melhor interface e com mais funcio nalidades do que haviam sido deman dadas Foi selecionado mas não con seguiu a vaga A empresa alegou que o candidato não cumpria os requisitos porque não detinha os meios de traba lho tendo utilizado máquinas ultrapas sadas e de terceiros Ao postar a história nas redes sociais Vitor viu seu destino virar recebendo muitas mensagens de apoio vouchers para certificações digi tais créditos de internet bolsas de es tudos em plataformas digitais tutorias mentorias e ofertas de empregos No final pôde escolher entre três grandes empresas e se tornou desenvolvedor do próprio Ifood O amor manifesto pela empresa essa que diante de uma disputa algorít mica se engaja para vincular sua ima gem à filantropia solidária frente aos desafios impostos pelo mercado de tra balho cada vez mais seletivo também foi declarado à tecnologia e ao traba lho como desenvolvedor e programador pelo exentregador Exceto pelo afeto a palavra tecnologia não apareceu mais no relato e a formação se deu sem que nenhum conhecimento mobilizado no trabalho de engenharia de softwares se tornasse parte do conteúdo transmitido à juventude da escola básica A aula de tecnologia transmitiu li ções de superação que envolve o mé rito do trabalhador mas sobretudo a arbitrariedade da seleção dado que ela se deu em função das mensurações do impacto da postagem nas redes soci ais as quais não se desenrolaram sem disputa entre críticas à vitimização do candidato negro e pobre e as mensagens de apoio e ofertas de recursos e vagas de emprego Enfim a opinião pública poderia ter pendido mais para o outro lado Mas a superação de um é com pensada pelo fracasso do outro isto é pela presença do professor da rede e exBBB cuja aparição é ao mesmo tempo uma ausência VIANA 2012 p 46 a ausência da vitória no caso mas que de fato representa a maioria já que os vencedores e vencedoras do pro grama não podem aparecer como mo delo mas precisamente como aquilo que são uma exceção à regra e a regra é o paredão o descarte a aniquilação VIANA 2012 p 48 Repondo a ló gica do mercado de trabalho e da em presa a seleção é negativa nos realitys shows já que apenas uma única pes soa vence e o resto é descartado Talvez alguns dos perdedores ganhe a chance de virar uma subcelebridade e parti cipar de programas de baixa audiên cia ou qualquer outra vaga temporária de emprego como recompensa por ter aparecido e demonstrado aderência às regras do jogo Assim o exBBB subs titui o desenvolvimentista mito Silvio 106 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE Santos VIANA 2012 p 48 e mar tela nas horas vagas de entretenimento a verdade da lógica da seleção na qual poucos e poucas vencerão a competição próprias do neoliberalismo concorren cial A aula também fornece uma imagem emblemática das linhas gerais de como tem se desenvolvido o ensino voltado à formação de trabalhadores e trabalha doras seja pela presença da empresa educadora pela centralidade que ga nha o ensino de condutas e de ges tão das emoções ou ainda pela educa ção executada por profissionais que de tém o que se chama de notório saber mas não necessariamente tem forma ção docente e que estão substituindo aulas por mentorias e outras formas que tornam obsoleto o trabalho docente com formação profissional o que se dá em conjunto com a intensificação da introdução de tecnologia no processo de trabalho Não se poderia deixar de mencionar que o caso é exemplar ainda por envolver uma grande quan tidade de gestores da educação orga nizados em diversas instâncias estatais empresariais de poder e hierarquia que concorrem entre si e intermediam a re lação entre Estado e usuários dos servi ços disputando recursos investimen tos e públicosalvo Pedagogicamente essa forma de edu car a juventude adentra as escolas so bretudo pela implementação dos eixos estruturantes da reforma do ensino mé dio a saber introdução de tecnolo gia de competências socioemocionais de projetos de vida e empreendedo rismo como componentes curriculares e flexibilização dos itinerários formati vos de acordo com as personalidades Depois de ser largamente testada nos laboratórios de experimentação desen volvidas no período anterior nas prá ticas socioeducativas em espécies de zonas francas de educação nas fron teiras que são as periferias das grandes cidades por meio de inúmeros progra mas de modificação comportamental5 essa tecnologia social de governança é literalmente aplicada à formação da ju ventude na escola Em nome da forma ção de protagonistas ou lideranças juvenis substituise a formação para a cidadania pela formação empreende dora deslocando a quimera da produ ção de igualdade por meio da participa ção política para a ideologia da igual dade de capacidade produtiva pelo tra balho sem direitos naturalizando o ca ráter seletivo e eliminatório do mercado de acionistas que não investe em quem não se engaja de maneira inovadora e criativa na própria exploração Elas se desenvolveram no Brasil sobretudo a partir dos anos 1990 no bojo da re forma gerencial do Estado e transferên cia da gestão e execução dos direitos 5Paulo Arantes faz uso das expressões citando JeanFrançois Bayart Le gouvernement du monde Une critique politique de la globali sation Paris Fayard 2004 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 107 CAROLINA DE ROIG CATINI dos excluídos e em situação de vul nerabilidade social para organizações sociais privadas Voltemos então a cenas dos capí tulos anteriores dessa história Quase uma década antes do Ifood entrar na es cola em 2012 Felipe cursava o segundo ano do ensino médio numa escola da periferia de Campinas SP e decidiu se inscrever nas oficinas oferecidas pela Fundação Educar ligada a uma indús tria de peças automotivas a Dpaschoal que realiza trabalhos sociais educativos desde o início dos anos 1990 Era o ter ceiro ano que tinha acesso à divulgação da proposta de educação não formal de senvolvida em parceria com a escola no contraturno Como havia muitos mais estudantes inscritos do que vagas para as oficinas foi realizada uma seleção para escolher 5 participantes de cada escola para compor um grupo de uma centena de jovens A seleção consistiu em uma dinâmica Eles separavam a gente em grupos e davam um texto pra gente Esse texto era como se fosse um apocalipse um fim do mundo e tinha algumas pessoas que o texto apresen tava e você tinha que escolher quais pessoas seriam mais cor retas de serem salvas Era esse tipo de dinâmica que havia em quase todo encontro Então aí você apresentava o consenso do grupo e tal e com isso eles se lecionavam as pessoas para par ticiparem Felipe jovem entre vistado em 2020 A escolha dos participantes em nada se referia ao conteúdo da proposta ao debate de quem salvar dentre um usuário de drogas um traficante um assaltante uma mulher que se prosti tuía uma criança portadora de defici ência ou um idoso Ao jovem famili arizado há muitos anos com tais dinâ micas era bastante evidente que o de safio não se encontrava na responsabi lidade da escolha de um dos persona gens e que o conteúdo da resposta era absolutamente irrelevante indepen dentemente de quem você salvasse em suas palavras o foco era a atuação que você tinha ali com o seu grupo no mo mento de liderança de comunicação e esse tipo de coisa Aí eles nos selecio navam através desse comportamento Para quem logrou ser selecionado pela atividade que tematizava a redenção ao apocalipse como Felipe passou a fre quentar o processo formativo da fun dação duas vezes por semana durante um ano realizando atividades que ele descreve como uma sequência de di nâmicas semelhantes às de seleções de emprego até chegar ao jogo mais inte grativo no qual todos se envolvem para arrecadar recursos materiais com em presas privadas e reformar o ambiente degradado de alguma escola pública ou espaço coletivo do bairro A cada dia de atividade os jovens eram avaliados 108 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE de acordo com suas performances se gundo suas competências e habili dades tais quais apareciam dentro de situaçõeslimite criadas para as ofici nas No primeiro ano como educando Felipe recebeu um pequeno auxílio fi nanceiro da Fundação Educar e como contrapartida precisava replicar as ofi cinas da educação não formal na es cola mantendose engajado no período do turno e do contraturno Como ele se interessou por manterse ligado aos trabalhos da fundação depois disso candidatouse para supevisionar as ofi cinas de outra centena de estudantes no ano seguinte Depois de mais uma sele ção ele se tornou monitor trabalhando para o programa por um ano em troca de um curso de linguas pago pela Fun dação Depois dessas experiência e de formado no ensino médio foi selecio nado a atuar temporariamente como jo vem aprendiz numa loja de autopeças da fábrica da mesma empresa traba lhando oito horas por dia em troca de meio salário mínimo durante mais um ano De acordo com outra estudante que fez as oficinas em 2015 alguns pou cos estudantes são selecionados estudar com bolsas no exterior dar palestras criar iniciativas empreededoras traba lhar em outros projetos ou em vagas na própria empresa mas a maioria não é selecionada para nada Uma professora da mesma escola crítica ao projeto de formação empre sarial considerava que a fundação fazia desses meninos mão de obra criando novas hierarquias e despolitizando as formas de participação juvenil Os mais protagonistas são le vados para dar as palestras são levados pra trabalhar pra dar as aulas para os outros né En tão criamse espécies de pirâ mides de hierarquia entre eles um pouco estagnadas nos per fis que criaram na fundação E posturas políticas eu vi galera extremamente politi zada crítica que de repente se apagaram sabe A sensa ção que eu tenho é que se mis tura o projeto de se dar bem na vida individual com a busca de emprego que a própria funda ção pode oferecer Eles trans ferem a energia que colocavam na escola para a fundação em presarial Rosa professora da rede estadual de SP na cidade de Campinas entrevistada em 2020 No momento da entrevista oito anos depois do começo de seu envolvimento com a empresa e sua fundação social Felipe continuava engajado como vo luntário dos trabalhos sociais da em presa ao mesmo tempo em que cur sava uma faculdade particular e traba lhava Ele identifica sua participação em projetos voltados para jovens de es colas públicas como um ativismo den Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 109 CAROLINA DE ROIG CATINI tro do que ele considera um super mo vimento social uma vez que a empresa desenvolve um trabalho super social atuando nas escolas e nos bairros peri féricos a partir do agenciamento de em preendedorismo social para resolução de necessidades impostas pelas condi ções econômicas As palavraschave que rondavam o processo formativo eram protagonismo juvenil e empreendedorismo além da empatia e da resiliência que segundo Felipe é muito usada nas oficinas no sentido bem literal mesmo de você ser impactado com algo e saber contornar a situação saber voltar ao seu estado na tural Então as lições são provocações para sair da zona de conforto volta das para o imperativo de inovar o que no caso reduziase a escrever um pro jeto e ver se alguém compra a ideia Além da parceria com a empresa sua escola também tinha parceria com a Po lícia Militar que desenvolvia trabalhos sociais de formação da juventude no ho rário escolar das quais Felipe partici pou Outra professora que coordena as parcerias e adere ao projeto conta que se formou em meados dos anos 1990 na mesma escola em que hoje trabalha e também foi formada pela Fundação Educar Dpaschoal e pela Polícia Mili tar Essa professora considera positivo o fato de policiais militares darem au las dentro das escolas públicas fardados e armados para quebrar tabus e criar proximidade com os meninos da pe riferia Ela comenta que as principais mudanças que ocorreram de lá para cá é que a PM passou a fazer mais projetos para ensino fundamental do que para o ensino médio e a Fundação que antes desenvolvia um trabalho voltado para as mudanças sociais territoriais hoje se volta mais para o empreendedorismo produtivo Depois das ocupações de es colas em 2015 e 2016 a PM adotou a Teoria de Aprendizagem Socioemocio nal para ensinar habilidades básicas e fundamentais como autoconhecimento e autogerenciamento seguindo as mes mas subteorias de gestão empresarial que o trabalho social das fundações e institutos sociais Este grupo por sua vez munido de táticas largamente tes tadas nos campos periféricos passou a defender a transformação das lideran ças de ocupações em lideranças em preendedoras 4 O alvo da educação rentabilidade e punição Cause empatia no inimigo Roberto McNamara Os projetos socioeducativos com tal configuração são parte das políticas fo calizadas elaboradas no Banco Mun dial por McNamara nos anos 1970 e de senvolvidas no bojo das medidas para o combate à pobreza nas décadas pos teriores Quando os privilegiados são poucos e os desesperadamente pobres são muitos e quando a brecha entre 110 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE ambos os grupos se aprofunda em vez de diminuir diz McNamara é ape nas uma questão de tempo até que seja preciso escolher entre os custos políti cos de uma reforma e os riscos políticos de uma rebelião 1972 Na América Latina essas políticas ganharam força durante os governos progressitas nos anos 2000 pautadas pela necessidade de aumentar a renda e capacidade de consumo dos mais pobres como medida para conter conflitos sociais Entre idas e vindas nas metodologias e graus de investimentos com o passar dos anos o Banco Mundial amplia sua atuação no sentido induzir as políticas sociais direta ou indiretamente por empréstimos e contrapartidas ou pela constituição de modelos baseados na recondução dos investimentos estatais não mais em políticas universais mas naquelas voltadas a públicosalvo e cujas principais medidas envolvem a redistribuição de renda para ampliar a capacidade produtiva dessa parcela da população cf PEREIRA 2010 O financiamento de pesquisa e para for mação de técnicos desenhou a produ ção de uma ciência da gestão política da pobreza que ficou conhecida como pobretologia com a qual se logrou despolitizar a pobreza convertendo a num problema técnico relacionado com a aplicação eficiente e eficaz de so luções ZIBECHI 2010 p 50 As sim se desenharam modos de inclu são pelo crédito fundamentados na ideia de que a gestão da pobreza se daria pela transferência de renda vol tada para o aumento da produtividade dos pobres que tinha como premissa a ideia de que vivia em tais condições apenas quem não estivesse inserido em atividades consideradas produtivas e rentáveis PEREIRA 2010 p 47 Já nos anos 1990 as recomendações de ajustes estruturais para países perifé ricos sobretudo da América Latina se voltam para a criação de fundos so ciais multissetoriais que deveriam ser geridos por organizações sociais priva das6 depois de disputarem pelos recur sos de tais fundos no bojo das estraté gias neoliberais para envolver a soci edade civil ativamente na gestão das populações7 ampliando a capilaridade 6Por isso orientamse pela focalização dos recursos em gruposalvo selecionados de acordo com a sua vulnerabilidade aos impac tos do ajustamento estrutural A identificação e execução de projetos e programas ficam a cargo de ONGs grupos de base prefeituras e até empresas privadas ou de consórcios envolvendo todos esses atores Em geral as agências criadas para gerir tais fundos operam com ampla autonomia em relação à área social do governo mesmo que estejam ligadas ou formalmente subordinadas a ministé rios específicos Utilizados como vitrines costumam alcançar alta visibilidade pública e normalmente contam com um forte apoio político vinculandose diretamente a altas instâncias do Estado ou a áreas centrais do governo Além dos recursos do orçamento nacional em geral podem contar com fontes extraordinárias de financiamento ligadas a agências bilaterais de ajuda externa e bancos multilaterais PEREIRA 2010 p 273 7A concepção dos programas sociais deveria corresponder à demanda da população beneficiária e deveria incorporar uma partici pação genuína dos beneficiários Em geral isso significa que o serviço deve ser prestado até aquele limite para o qual há disposição de pagar Programas envolvendo dinheiro e vales são preferíveis à prestação de serviços em espécie a menos que estes últimos possam ser justificados em termos de melhor focalização ou de externalidades Em alguns casos a substituição de serviços em espécie pelo fi nanciamento de vales pode ser uma forma efetiva de aumentar a transparência a liberdade de escolha do consumidor a concorrência e a eficiência interna BANCO MUNDIAL 2001 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 111 CAROLINA DE ROIG CATINI e enraizamento das práticas de inserção pelo consumo ou ampliação da renta bilidade dos pobres que se deu pelo fomento de formas precárias de empre endedorismo Além da focalização como medida preventiva de conflitos sociais com a qual se alteram a organização dos di reitos sociais e as formas de investi mentos sociais estatais o Banco Mun dial também influenciou transforma ções nas políticas macroeconômicas dos países periféricos impondo linhas de atuação equivalentes mas com meto dologias distintas Raul Zibechi 2010 faz um longo inventário de como se deu esse processo de mobilização total dos pobres para o engajamento em tais programas de transferência de renda e de como isso transformou as práti cas de movimentos sociais de base ter ritorial em países como Brasil Argen tina Uruguay e Equador Com a defesa de autonomia das organizações soci ais para acessar recursos e empreender incorporouse práticas de economia so cial antes autônomas isto é antiesta tais e antiempresariais convertendoas em formas de domesticação das lutas sociais por distintas formas de assalari amento afinal não existe melhor forma de causar empatia nos inimigos do que oferecer recursos para práticas de so brevivência préexistentes Deste modo Zibechi 2010 apre senta as políticas sociais de combate à pobreza como táticas de eliminação do conflito pela conversão da militân cia em sujeitos estatais ou empresa riais interditando as possibilidades de confronto entre interesses antagô nicos ao evitar que a desigualdade de classe se desenvolva e ganhe forma po lítica Assim muitas organizações que trabalhavam com políticas sociais fo ram cindidas do conflito social tranfor madas em técnicas assépticas estere lizadas de todo vínculo políticosocial convertendose em ferramentas de do minação e governabilidade ZIBECHI 2010 p 51 Os impactos sociais para usar os termos empresariais das políti cas sociais de transferência de renda foram portanto alcançados com su cesso na conversão das práticas de auto organização em torno da geração de renda de movimentos sociais e coleti vos em grupos precariamente assalaria dos que concorrem entre si por fundos estatais ou empresariais Com efeito a difusão do empreendedorismo como prática de buscar investimentos para realizar a prestação de serviços ou seja para trabalhar se difundiu nos terri tórios pela prática de distribuição de renda complementar que em conjunto com a propaganda massiva dessa forma de trabalho como um estilo de vida mais moderno e adequado aos novos tempos pelas mídias logrou naturalizar a con corrência de grupos pelos investimen tos assim como a busca por explora ção sem direitos trabalhistas denomi nadas de autogerenciamento Ainda mais porque elas se apresentam posi 112 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE tivamente como chance de realizações dos projetos de vida e de empode ramento tendose tornado prática de formação das juventudes com as quais se engendra a reprodução contínua de tal sistema Com foco no alvo a ser atingido as políticas se estruturam de acordo com a necessidade de tornar go vernáveis parcelas da população subdi vididas em agrupamentos de geração de renda com ênfase na assistência social mas em suas interfaces com educação saúde cultura e segurança8 No caso dos projetos educativos se jam ligados a programas governamen tais geridos por organizações sociais ou projetos empresariais realizados por seus braços sociais fundações e ins titutos o desenho também envolve na maioria das vezes transferência de renda condicionada a contrapartidas relacionadas à obrigatoriedade da pre sença na escola além das atividades dos próprios projetos mas também ao em preendedorismo social A profunda de sigualdade de recursos que marca a pre cariedade de boa parte das atividades formativas se coaduna com o fomento diferenciado das práticas de empreen dedorismo social com graus distintos de financiamento muitas vezes limita das à atuação na resolução dos proble mas de infraestrutura e falta de alterna tivas de lazer e cultura nas periferias Há diversos indícios de que além do modelo pedagógico também essa es trutura organizada no tripé transfe rência de renda educação e trabalho subremunerado será transportada para as escolas de ensino médio Se guindo as orientações do economista chefe do Instituto Unibanco Ricardo Henriques9 o governo do estado de São Paulo criou a bolsa do povo10 para fazer a busca ativa de jovens que eva diram da escola pública durante a pan demia Voltadas para 500 mil benefi ciários que faz parte do públicoalvo em situação de vulnerabilidade e po breza extrema que evadiu da escola há diversas modalidades de bolsas tempo rárias ofertadas para jovens e também para seus familiares trabalharem na es cola11 Concomitante à implementação de tal proposta temporária e emergen cial o Instituto Unibanco tem produ 8As políticas focais que associam a vulnerabilidade a outros elementos que ampliam as desigualdades como as questões relacio nadas à raça gênero etnia e faixa etária atendem às recomendações do Banco Mundial para o enfrentamento à pobreza e atenuação das possibilidades de conflito aberto pela canalização de suas energias como diz o Banco Mundial Os grupos que enfrentam discriminação ativa podem ser ajudados por políticas seletivas de ação afirmativa Para reduzir a fragmentação social podese reunir grupos em foros formais e informais e canalizar suas energias para processos políticos em vez de conflito aberto BANCO MUNDIAL 2001 p 10 9Cf FRAGA 2020 10Lei nº 17372 de 26 de maio de 2021 Grande parte das bolsas destinadas a estudantes é de 100 reais com condicionantes rela cionados à presença obrigatória e participação nas avaliações para produção de índices educacionais O auxílio para mães e pais é de 500 reais em troca de 20 horas de trabalho semanais nas escolas públicas Todas as informações estão disponíveis no site do governo Disponível em httpswwwbolsadopovospgovbr acessado em 12122021 11Evidentemente que essa tática foi utilizada como meio de coibir a greve e movimentos docentes contrários ao retorno presen cial mas o que interessa aqui é a montagem de um novo sistema educativo para o qual o direito passa a ser condicionado por contrapartidas Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 113 CAROLINA DE ROIG CATINI zido muito conteúdo pautando o debate educacional o que foi acrescido de mui tos webnários realizados durante a pandemia Num desses seminários vir tuais12 divulgouse estudos pesquisas e projetos de lei já em tramitação de programas que chamam de incentivos estudantis de transferência de renda mensal ou por meio de criação de pou panças e ganho de renda extra em caso de inscrição do Enem por exemplo que podem ser sacados ao final do ensino médio como incentivo a práticas em preendedoras dos recémformados no ensino médio Não é por acaso que o Todos Pela Educação TPE uma das principais think tanks educativas que está con duzindo mudanças políticas e práticas da educação e é composta por diver sas fundações e institutos empresariais dentre as quais a Fundação Educar e o Instituto Unibanco desde seu início declara que a centralidade do investi mento na educação tem a ver com seu caráter estratégico enquanto política social que vai muito além dos aspec tos pedagógicos ideológicos e compor tamentais da formação de jovens Ao lançar suas bases éticas jurídicas pe dagógicas gerenciais políticosociais e culturais o TPE anuncia que a edu cação é estratégica em função de sua capacidade enquanto política de redis tribuição de renda como mecanismo de gestão como política de contenção dos conflitos sociais Uma boa política social deve ter duas qualidades fundamentais ser redistri butiva promover a capilarização de re cursos e oportunidades e autopromo tora levar à emancipação pessoal so cial e produtiva de seus destinatários Nenhuma política pública é mais redis tributiva e autopromotora que a educa ção Por isso mais do que uma política setorial a educação deve ser conside rada uma política estratégica para o de senvolvimento econômico social polí tico e cultural de uma nação TODOS PELA EDUCAÇÃO 2006 p 24 Associada à transferência de renda estaria a transformação da escola em local de trabalho para suposta mo tivação dos jovens permanecerem es tudando não contraditoriamente num espaço com cada vez menos estudos Essa sugestão13 feita por outro econo mista Ricardo Paes de Barros formu lador do programa Bolsa Família e que trabalha para outra think tank educa tiva o Instituto Ayrton Senna começa a ser colocada em prática em progra mas e projetos desenvolvidos por meio de parcerias de escolas com empresas mediadas por fundações em empresari ais Verdadeiros experimentos de trans formar parte do tempo de escolarização integral em tempo de trabalho da ju ventude estão sendo colocados em vi 12Cf httpswwwyoutubecomwatchvIQENYpXoEQlistPLggyRMb5eNeIu1s0OaPHS3BXouVCYW5zjindex11 acessado em 12122021 13Cf PINHEIRO 2018 114 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE gor em diversos estados do país com modelos de investimentos estatais ou privados para o pagamento de bolsas que tem como contrapartida prestações de serviços ou o trabalho direto em em presas algumas vezes ainda associado à condução de trabalhos pedagógicos na própria escola como a orientação para projetos de vida de estudantes mais no vos replicando formas de ajustamento dos desejos juvenis a formas possíveis de inserção produtiva Vários exemplos de tais experimentos estão documenta dos em livro da organização Itaú Edu cação e Cultura que coordena projetos e programas em parcerias com outras ONGs pelo Brasil expondo modelos em busca de investimentos14 Antes mesmo de se adentrar na si multaneidade de tal processo de moder nização empresarial da educação com os aspectos que poderiam ser tidos como sinais retrógados do processo de mili tarização da educação e da vida social já dá para ver que o punitivismo não é exclusivo dos aparatos repressivos Um direito social que paga um auxí lio para seus beneficiários em troca de contrapartida funciona como um in vestimento ou um empréstimo ligado a um sistema de endividamento que se paga com trabalho Um sistema de crédito como esse nem poderia ser con siderado política social de acordo com Lena Lavinas pois a transferência de renda funciona como mecanismo de expropriação financeira da classe tra balhadora LAVINAS 2021 sp Mas é preciso ressaltar ainda que a prática também se atrela ao confi namento territorial com a tutela por tempo integral da juventude pobre com formas de trabalho voluntário mas compulsórios seja pela obrigatori edade de contrapartidas seja pelo ne cessário engajamento para ampliação das chances de reprodução de tal sis tema por meio das seleções o que já configura uma forma de punição da ju ventude periférica CATINI 2020 Não é por acaso a política social do Banco Mundial foi deixada nas mãos de Robert McNamara um estrategista de guerra Ele é mais do que apenas um nome e uma data para evocar as origens militares da abordagem econômica da pobreza e viceversa nas palavras de Paulo Arantes 2021b p 17 pois em sua atuação se encontra o fio pelo qual se desenrola a construção de um novo tipo de militarismo propriamente ci vil ARANTES 2021b p 19 que sub verte as bases de um welfare e o subs titui por um workfare que associa pu nição com filantropia política para po breza com a maximização da função utilidade dos capitais humanos colo cados para trabalhar em campos de tra balho produtivos e improdutivos Tam bém não é fortuito que o termo work 14No relatório do Itaú para formação profissional e tecnológica emancipadora há um inventário de tais práticas com diversos modelos em experimentação cf ITAÚ EDUCAÇÃO E TRABALHO 2020 para uma leitura crítica cf CATINI 2021 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 115 CAROLINA DE ROIG CATINI fare tenha se originado nos anos 1980 nos Estados Unidos e designe políticas sociais que exigem empregarse como preço a pagar para receber subsídios es tatais o que implica uma dupla obri gação por um lado do Estado de co locar em empregos aquelas pessoas que estão à margem da sociedade e do mer cado laboral por outro lado a obriga ção das pessoas de aceitálo GOUGH 2003 p 237 Diante do caráter predatório do mer cado de trabalho que contrata preca riamente explora e subremunera sim plesmente porque pode fazer isso num quadro de desemprego que nos mos tra que o descarte é massivo e de fácil substituição das peças da engrenagem dificilmente as pessoas não aceitariam trabalhar Num contexto em que a a geração de empregos converteuse em uma espécie de favor do capital como se ele não precisasse mais de pessoas e de suas forças de trabalho e que a contratação aparece como responsabi lidade social um gesto magnânimo VIANA 2012 p 52 do empresariado até mesmo o trabalho compulsório apa rece como chance e oportunidade O workfare na educação atual guarda algo das antigas workhouses locais de assistência social das crianças e jovens que confinados eram utilizados como mão de obra barata e disciplinados para os novos hábitos de trabalho EN GUITA 1989 p 10915 Mas na era de emergência em que vivemos o en trecruzamento entre civil e o militar aparece como oportunidade de vida ou morte às populações geridas por um estado ampliado ao nomeálos al vos desencadeiase algo como uma res posta rápida e focada naquela chance única ARANTES 2021b p 35 Con siderando a natureza social do alvo a juventude negra e periférica o tiro não pode ser curto como diz Paulo Aran tes 2019 p 17 e quem não é atingido pelo direito social antipopular cujo fim é tornar cada pessoa rentável é atin gido pelo aparato repressivo e punitivo A criminalização da pobreza e dos movimentos sociais pela cadeia de mas sacres desde o Carandiru em 1992 até a chacina de Paraisópolis em 2019 pas sando por Eldorado dos Carajás Can delária Vigário Geral ou ainda os cri mes de maio de 2006 em São Paulo e na Baixada Santista com a incrível cifra de 493 pessoas mortas ou desapareci das pela Polícia Militar em oito dias e todos os crimes não espetaculares tão miúdos quanto cotidianos deixam claro que não se tratam de desvios mas um projeto de gerenciamento da miséria por meio da violência padrão 15No capítulo 8 do Capital Marx apresenta a proposta de Eckart de construir um instrumento de eficácia comprovada tranca fiar esses trabalhadores que dependem da beneficência pública numa palavra os paupers numa casa ideal de trabalho an ideal workhouse 12 horas de trabalho diário numa workhouse ideal na Casa do terror de 1770 Sessenta e três anos mais tarde em 1833 quando o Parlamento inglês reduziu em quatro ramos da indústria a jornada de trabalho de crianças de 13 a 18 anos para 12 horas completas de trabalho foi como se a hora do Juízo Final tivesse soada para a indústria inglesa MARX 2017 p 348349 116 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE geral de abordagem ancorado numa série de mecanismos herdados da es cravidão e aperfeiçoados durante a di tadura OLIVEIRA 2018 p 20 A ocupação das favelas do Rio de Janeiro pelas Unidades de Pacificação Policial UPPs em 2008 faz trabalho social ar mado e policiamento ostensivo num ce nário de guerra provocando conflitos constantes pelo controle territorial ar mado nos quais se estendem as ban deiras da paz conforme análise de Ma rielle Franco 2014 p 46 As marcas nefastas da associação en tre a modernização do Estado gerencia lista com o Estado Penal realizada pelo neoliberalismo desde o início da re democratização estão nos alvos das políticas sociais Cabe lembrar que a profusão de programas sociais e educa tivos para essa população foi acompa nhando do encarceramento em massa de 1990 a 2016 o número de deten tos no sistema carcerário nacional au mentou em 707 ano em que o Bra sil se tornou o terceiro país no mundo com maior número de presos Dentre encarcerados naquele momento estava uma maioria de homens negros mais de metade jovens dentre os quais 80 não havia completado o ensino médio e 51 nem o ensino fundamental In fopen 2016 Com efeito o neolibera lismo inclusivo cf PEREIRA 2016 também constituiu um Estado Penal por meio de um complexo comercial carcerárioassistencial WACQUANT 2003 p 49 que leva a juventude para o centro das atenções criminoló gicas de acordo com Vera Malagutti Batista coadunado com a crise do tra balho pois o fim das ilusões do pleno emprego keynnesiano a descartabili dade da mão de obra e a supremacia da ideologia do mercado reconfiguraram a visão da juventude como problema BATISTA 2010 sp Segundo a Anis tia Internacional a violência da Polícia Militar brasileira bate recorde no ran king mundial Em 2019 foi eleita a que mais mata no mundo por mais um ano consecutivo O alvo do geno cídio e da violência policial é a mesma juventude pobre e periférica público alvo a quem se focaliza os projetos educativos laboratórios da nova forma escolar para esse segmento populacio nal A reengenharia dos serviços sociais básicos neocorporativos e aqui se trata das corporações empresariais e milita res se configura por uma verdadeira cadeia segmentada de públicosalvo mais ou menos perigosos dispostos em territórios mais ou menos vulneráveis para os quais se aplicam alguns mode los de abordagem e de agentes educa tivos A tendência a uma convergência entre os projetos de militarização e pri vatização se reforça por exemplo pelo posicionamento de um excomandante do Estado Maior como Etchegoyen que junto com Freitas defende uma go vernança corporativa em que o mer cado de serviços oferecidos pelas orga nizações sociais privadas apresenta por Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 117 CAROLINA DE ROIG CATINI meio da interface entre as empresas in dividualmente consideradas e o poder público consideram que as entida des de autorregulação associações pri vadas com finalidade não econômicas podem ser estruturadas como uma op ção viável e sobretudo eficiente como modelo de gestão cf ETCHEGOYEN FREITAS 2019 O fato é que além dos inimigos da guerra de classe personificados pelo empresariado também a polícia geno cida se tornou educadora da juventude em diversos programas sociais aplica dos à educação formal e não formal nas periferias antes mesmo dos projetos de militarização da gestão das escolas Lu ana Motta por exemplo mostra que apesar de não estarem previstos for malmente os projetos estavam presen tes em todas as UPP MOTTA 2021 p 51 de modo que propostas soci oeducativas de policiais professores não contam com desenho institucional nem com formação específica e nem mesmo com qualquer normativa exis tindo apenas em função da iniciativa de policiais que desenvolviam proje tos e submetem à avaliação do coman dante local Sem falar aqui dos mais novos programas de convivência16 es colar que contam com cursos de aco lhimento emocional e saúde mental mas cujo principal instrumento é uma plataforma de denúncia e registro das ocorrências agressões danos etc de jovens e servidores públicos17 certa mente a legitimação da polícia genocida como educadora passa por projetos de atuação já bem consolidados de atuação nas escolas O mais emblemático é um projeto de prevenção e combate às dro gas o PROERDI que se apresenta como formação ampla voltada para exercício da cidadania e promoção da empatia como valor emocional de estudantes de ensino fundamental Policiais milita res fardados e armados dão aulas de cidadania durante o horário letivo das escolas básicas de ensino fundamental desde 1995 Ao fim do ano de 2013 uma grande comemoração celebrou os índices do estado de São Paulo que chegava a 7 milhões de estudantes formados pela PM enquanto que segundo dados de produtividade do trabalho da Polícia Militar em 2018 o programa já havia formado 10 milhões de estudantes do estado de São Paulo cf POLÍCIA MI LITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO 2018 As UPPs do Rio de Janeiro tam bém foram celebradas em dezembro de 2013 e embora completasse já 8 anos de ocupação militar nas favelas do Rio a razão de sua existência só se revelou nas Jornadas de Junho É que os tempos es tavam trocados bem como a ordem de 16Cf documentos do programa ConvivaSP que implementa o Método de Melhoria de Convivência nas escolas estatais Disponível em httpsefapeeducacaospgovbrconvivasp acessado em 12122021 17Cf httpsefapeeducacaospgovbrconvivaspwpcontentuploads202006ManualPLACONpdf acessado em 12122021 118 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE chegada dos personagens em cena diz Paulo Arantes ARANTES 2014b p 30 porque como fica evidente a po lítica de combate à pobreza era tam bém uma das táticas da estratégia da doutrina da pacificação que na sua guerra ao contrário de ocupação ar mada para paz articulou longo arsenal de tecnologias sociais preventivas que desarmam antes mesmo de qualquer combate a parte da população que não teria nada a perder até acessar um be nefício social que lhe garante a sobre vivência Como é claro combate à pobreza e pacificação se traduzem em com bate aos pobres e imposição armada da paz mas também no fomento de uma espécie de empreendedorismo por subtra ção onde o empresário é o verdadeiro protagonista do território pacificado só que ainda não sabia disso pois todo aquele que se vira pra viver é empre sário ARANTES 2021a p 41 En fim uma política de contrainsurgência onde não havia insurgência voltada para empreendedorismo dos pobres operada pelo trabalho social de corpo rações militares e empresariais Assim De UPP em UPP a contra insurgência sem insurgência vai assim gerando o objeto do acordo tácito entre Estados Empresas Terceiro Setor Co munidade o simulacro de uma como se diz no jargão piedoso sociedade civil ativa e pro positiva o sonho de consumo no qual convergem as supraci tadas entidades regidas todas por uma mesma e nova racio nalidade política contra a qual ainda estamos aprendendo a lu tar Pois a pacificação assim entendida não é mais baluarte a ser tomado de assalto e sim um processo de autoempresari amento sem fim pouco impor tando o grau de ficção e padeci mento do processo bem como a predação concorrencial que ele necessariamente comporta ARANTES 2021a p 40 Workfare e Warfare são formas de ges tão pela mobilização total que coloca todo mundo para trabalhar e concorrer por recursos sob a mira das armas da guerra social ampla e irrestritamente bem aceita por quem está em qualquer degrau superior da hierarquia de quem foi selecionado para acessar benefí cios sociais ou suas extensões puniti vas Afinal a regulação vem da concor rência e quem está um pouco acima se espelha em quem foi selecionado para investimentos mais seguros sem olhar para baixo temendo o próprio futuro 5 Empreendedorismo da catástrofe Num momento em que o horizonte se apresenta aberto para cada vez mais aceleração e mobilidade fechado para Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 119 CAROLINA DE ROIG CATINI uma sobrevivência diária e um presente estagnante nas palavras de Hartog a radicalidade da atual segregação se dá entre quem consegue projetar e se en gajar nalgum futuro e aquela imensa parcela para quem o tempo do projeto não está aberto HARTOG 2021 p 15 Essa cisão no entanto é acompa nhada de uma dimensão de nosso pre sente que afeta a todos e todas por esse modo de vida permanentemente instá vel que gera expectativas negativas que se referem ao futuro percebido não mais como promessa mas como ame aça sob a forma de catástrofes de um tempo de catástrofes que nós mesmos provocamos HARTOG 2021 15 De modo semelhante embora o auto empresariamento tenha um caráter fic cional diante da precariedade de quem continua a viver na viração de qual quer trabalho que gere alguma renda ele convence por seu caráter expan sivo e açambarcador que nos engloba também a todos e todas pelo engendra mento de um mundo do trabalho pau tado num amplo conceito de empreen dedorismo A mudança na forma de exploração do trabalho em nosso coti diano altera nossa relação com o tempo presente e com a projeção de futuro matéria da política com a qual guarda profundas e complexas relações As sim como somos obrigados a anteci par as condições de nossa sobrevivên cia criando nossos próprios empre gos em meio a uma verdadeira guerra econômica a esfera política antecipa o horror da alarmante crise dando caldo para um sentimento de catástrofe so cial com alguma semelhança com o que Adorno aponta diante dos êxitos da extrema direita na Alemanha cf ADORNO 2020 p 51 Não obstante a ameaça ser proveni ente do próprio capitalismo e de sua vo racidade por maisvalor o movimento fetichista que ele engendra faz com que o capital apareça como chance e opor tunidade sobretudo com a vitória ne oliberal em fazer desaparecer qualquer horizonte de superação desse modo de vida e cuja ideologia se sustenta por um presente desgarrado de qualquer relação com o passado de lutas revolu cionárias e anticapitalistas Diante do acúmulo de vitórias do capital se apro funda também uma lógica subjacente tão simples como brutal no fundo só tem direito à existência quem ou o que é rentável KURZ 2003 sp Para o autor a radicalidade da eliminação se relaciona com uma transformação que se deu depois que o progresso do pro cesso de valorização estancou e esgo tou a sangria da riqueza para áreas ti das como secundárias da reprodução social de modo que o capital pronun cia como sentença que os falsos custos faux frais de produção e tudo o que se afigure como peso morto para o ca pital seja eliminado o que inclui pes soas e direitos sociais Tanto os não rentáveis têm de experimentar a res pectiva desvalorização da vida abso luta ou relativa quanto silenciosa 120 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE mente está a colocarse um traço sobre toda a reprodução social id O traço que riscaria do horizonte os direitos so ciais no entanto estão sendo borrados pela possibilidade de tornar rentável a própria esfera da reprodução pela mer cantilização e financeirização da pró pria rede de serviços sociais Sobretudo por meio de sofisticados instrumentos financeiros e da captura de recursos estatais grandes redes empresariais fi zeram de seus investimentos sociais distribuídos entre favelas escolas pos tos de saúde serviços de cultura lazer moradia etc nichos de mercados alta mente rentáveis Ao mesmo tempo os direitos sociais de educação também se tornam formas de investimentos nos trabalhadores e trabalhadoras numa especulação com base nas forças de trabalho que podem se tornar rentáveis Para o públicoalvo das classes perigosas como vimos o direito à educação convertese em zona de espera para seleção onde se espera trabalhando evitando contratempos com estudos e preparação intelectual se ajustando à aceleração do tempo sem reflexão nos quais nos mantemos em atividade constante seja ela efetiva mente produtiva ou mero simulacro Em parte o que nos impele a ade rir às práticas empreendedoras é o fu turo ameaçador contra o qual não te mos chance de sobreviver sem nos en gajarmos mas também o empenho de quem comanda os processos de traba lho alheio de difundir teórica ideo lógica e praticamente seus preceitos impondo adesão por vezes de modo oculto mas não menos mobilizador in clusive pela educação cada vez mais completamente devotada ao culto ca pitalista O presentismo de que trata Hartog 2021 se expressa na virada de expectativa em relação à educação no século XX era comum pensar que a escola era necessária embora seus métodos tradicionais não agradassem ao público era plausível rifar o pre sente para garantir o futuro Hoje quando não há como garantir um fu turo desejase ganhar o presente com qualquer atividade rentável que torne possível a sobrevivência e o futuro se houver tende a aparecer como mera projeção do presente no tempo vin douro A seleção que sempre esteve no cen tro das relações educativas dos siste mas escolares vai se deslocando da me ritocracia relacionada às avaliações de conteúdos apropriados num determi nado tempo aferindo comportamentos e condutas e se torna também um pro cesso seletivo de quem pode ser rentá vel e acessar investimentos seleção que é feita pelo Estado e pelo próprio em presariado atuante nas redes estatais Tratase aqui de uma meritocracia sem mérito para usar expressão de Silvia Viana 2012 uma vez que se avaliam performances como nos jogos ou di nâmicas de seleção de emprego o que mistura demonstração de engajamento com subserviência ao sistema Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 121 CAROLINA DE ROIG CATINI Para quem trabalha na educação os processos de subsunção corporativa as sociada aos processos de avaliação per manente indicam que cada vez mais nos aproximamos das orientações for muladas pelo Banco Mundial em 2014 para melhoria da educação por meio da seleção de professores excelentes Por meio da avaliação permanente que geraria evidências do perfil dos docen tes essa instituição indica como mé todo a seleção negativa pesquisas su gerem que o direcionamento sistemá tico anual dos 5 dos professores com desempenho mais baixo para dispensa pode gerar grandes ganhos na aprendi zagem dos alunos ao longo do tempo BRUNS LUQUE 2014 p 36 Essa cota de eliminação previamente esti pulada guarda relação sombria com a lógica de funcionamento dos campos de concentração nos quais como cons tata Primo Levi o essencial para a ad ministração não é que sejam elimina dos justamente os mais inúteis e sim que surjam logo vagas numa porcenta gem prefixada LEVI 1988 p 190 A seleção de quem trabalha na edu cação escolar estatal também tem ga nhado atravessadores tão empresari ais quanto ilegais mas em pleno vigor e em conluio com o Estado A Fun dação Lemann por exemplo tem ga nhado status de agencia selecionadora depois de demitir e selecionar novos dirigentes regionais no estado de São Paulo passou a selecionar professores e professoras com notório saber para atuar nas redes estatais de todo Bra sil com contratos temporários de dois anos e salários pagos por estados e mu nicípios18 De todo modo a seleção é o que garante o movimento constante da instabilidade que nos implica ao enga jamento com o sistema Cabe observar que o verdadeiro ema ranhado de tais novas organizações atu antes na educação dentre empresas think tanks fundações e institutos em presariais guarda semelhanças com a policracia de Chapoutot 2020 ou a organização estatal semovente de Arendt 1999 Tais instâncias compõe um Estado amplo cuja força emana de seu papel de garantidor e fiador dos direitos privados mobilizados em cada esfera das disputas concorrenci ais Ainda mais porque a atuação contí nua delas induz à criação de outras or ganizações empreendedoras de caráter social ou mercantil multiplicando esfe ras de gestão do trabalho em diferentes escalas hierárquicas não fixas e rígidas mas que se movimentam de acordo com fluxo móvel compatível com a grandeza da captação de investimentos e de pro dução de evidências mensuráveis de seus impactos sociais traduzidos em índices números de alvos atingidos e sua capacidade de reprodução da tec nologia social empreendedora Cabe dizer que apesar do sacrifício exigido 18Cf aqui httpswwwensinabrasilorgbr acessado em 12122021 122 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE pelo trabalho tais organizações tam bém fomentam a alegria da atividade produtiva e empreendedora que exige envolvimento total englobando posi ções pessoais e políticas nos requisitos de seleção de investidores e investido ras No bojo de um processo avançado de subsunção corporativa e financeirizada do trabalho social e da educação está se alterando radicalmente a forma e fun ção social da escola com uma progres siva dissociação entre a formação es colar e a formação intelectual Neste ponto a formação empresarial liberal é tão negacionista quanto as propos tas conservadoras uma vez que sub traem tempo de formação intelectual em favor do amoldamento de condutas e emoções para formação empreende dora A gestão das emoções se refere à fabricação do sujeito neoliberal de que falam Dardot e Laval 2016 que vai se dando cada vez mais por um trabalho de design psicológico como o denomina Vladimir Safatle orientada pela generalização de princípios em presariais de performance de investi mento de rentabilidade de posiciona mento para todos os meandros da vida SAFATLE 2021 p 30 A interven ção neoliberal se dá no nível social e psíquico patologizando os desajustes e até mesmo a crítica O neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico id desvincula o sofrimento da reali dade objetiva colocando a necessidade de adaptação subjetiva para cada in divíduo ampliando as dimensões da produção do conformismo A satura ção de conteúdos e práticas de educa ção como produção de competências e habilidades emocionais que invade as escolas universidades e todo âmbito de formação de professores e professo ras acaba por circunscrever a difusão do antiintelectualismo entre os intelec tuais que Adorno identifica como um componente relevante para o fortaleci mento dos aspectos de um radicalismo da direita ADORNO 2020 p 62 gri fos meus Ademais o excesso de li ções de empatia resiliência comuni cação não violenta autoconhecimento etc nos desviam a atenção e o tempo para observar as mudanças radicais das relações concretas na educação Já o empreendedorismo despolitiza a desigualdade de classe escamoteada pela suposta equivalência de capaci dade produtiva de todos e todas Essa estranha guerra econômica desativa a luta de classes nos conduzindo a uma luta de posições cuja originalidade e eficácia estão justamente em emba ralhar as cartas e impedir toda identi ficação clara dos antagonismos em vi gor DARDOT et al 2021 p 229 Constituise portanto como meio de tornar governável uma sociedade desa gregada e violenta como método de ge renciamento voltado a interditar o con flito de classe impedir formas de re lação solidárias e nos dispor enquanto inimigos instrumentalizando o outro que apenas é considerado como ponto Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 123 CAROLINA DE ROIG CATINI de comparação e de diferenciação no qual é apenas o padrão de medida à se melhança dos mecanismos em ação na competição esportiva EHRENBERG 2010 p 74 num radicalismo da sub jetividade exigida pela performance empreendedora cuja ação está funda mentada na concorrência como relação primordial Há muitos elementos que concorrem portanto para um efeito de adesão aos mecanismos de dominação capita lista sobretudo quando a propaganda se volta para mostrar experiências exi tosas que atraem as pessoas por meio do fingimento de que são portanto os garantidores de futuro ADORNO 2020 p 53 De todo modo a situação obriga os indivíduos a se adaptarem a um ambiente instável no qual um deve prevalecer sobre o outro e se subme ter assim a uma espécie de devir guer reiro DARDOT et al 2021 p 236 Com isso a subjetivação do capital só pode ser a internalização de seu caráter destrutivo depois de mim o dilúvio MARX 2017 p 342 deixa de ser lema exclusivo dos capitalistas e passa a ser também o lema de quem trabalha para viver mas que se comporta com a ar rogância concorrencial de seu oponente para sobreviver As reverberações políticas são graves quando a impiedosa retórica da sobre vivência invade a vida cotidiana ela in tensifica e libera simultaneamente o terror do desastre LASCH 1986 p 53 sobretudo porque há uma violên cia objetiva existente por trás desse po tencial sobrevivente ADORNO 2020 p 48 revigorada pela pandemia e pela gestão da crise a partir de 2020 A existência de relações que repõe ele mentos do fascismo não se dá apenas por disposições subjetivas de acordo com Adorno cf ADORNO 1995 p 43 pois a organização econômica con tinua nos obrigando a uma adaptação à brutalidade uma vez que se as pes soas querem viver nada lhes resta se não sujeitarse à situação existente se conformar precisam abrir mão daquela subjetividade autônoma Seguindo ainda o argumento do crítico a lógica da sobrevivência se desenrola na me dida em que se abdica da autonomia do eu em nome da adaptação às for mas sociais dominantes e se passa a exi gir uma organização política adequada à realidade social e econômica É justa mente a necessidade de uma tal adapta ção da identificação com o existente com o dado com o poder enquanto tal que gera o potencial totalitário ADORNO 1995 p 43 grifos meus Passase portanto a exigir uma forma política imediatamente bárbara seletiva e desagregadora sem rodeios ou disfarces que se projeta contra toda forma de gestão anterior que gerou a si tuação atual 124 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE 6 Um tiro final Em nossa cena inicial a insubmissão e a resistência presentes na Colônia Penal de Kafka dão lugar ao suplício volun tário envolto em uma aura de celebra ção A imbricação entre trabalho e sa crifício não desemboca em revolta mas em identificação compulsiva e festiva com os mecanismos de opressão e ex ploração Se outrora constatouse que o chicote do feitor de escravos fora subs tituído pelo manual de penalidades do supervisor nas últimas décadas este é substituído pelo livro de autoajuda e pela cantilena do empreendedorismo complementado por rituais de autofla gelação A hiperidentificação da força de tra balho com seu antagonista o Capital engendra um movimento contraditório e automático de destruição e autodes truição Mas o processo brutal de reifi cação que naturaliza a autoaniquilação é ao mesmo tempo também uma re volta contra o sistema que gerou sofri mento e ressentimento contra o qual se quer acelerar uma solução final Votar no Bolsonaro foi um tiro fi nal foi a sentença de um comerciante e morador de periferia do Grajaú ex tremo sul de São Paulo no dia seguinte das eleições de 2018 CATINI OLI VEIRA 2018 Não obstante é evidente que essa sentença final não se erige desde baixo mas emana de uma sobe rania de quem governa selecionando alvos ARANTES 2021b p 38 numa governança ampla realizada por inú meros agentes que disputam a gestão de populações por meio de mecanis mos cada vez mais violentos de sele ção exploração e também de elimina ção de quem não pode ser rentável No entanto ao abraçar o bolsonarismo a população pauperizada dissimula sua condição de massa tendencialmente eli minável e simula uma posição de po der numa performance protagonista No início do governo em jantar com Olavo de Carvalho e outras figuras de extremadireita nos Estados Unidos o então presidente Jair Bolsonaro se colo cou a serviço da produção desse novo tempo certamente ainda mais brutal e violento mas que não nega a proje ção de futuro como matéria da política como fazem aqueles e aquelas que re duziram a política à gestão da barbárie sem enfrentamento e confronto contra o que está dado Ao contrário afirma a destruição como caminho para a cons trução de um tempo distinto do pre sente O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo Nós temos é que des construir muita coisa Desfazer muita coisa Para depois nós co meçarmos a fazer Que eu sirva para que pelo menos eu possa ser um ponto de inflexão já es Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 125 CAROLINA DE ROIG CATINI tou muito feliz19 Não há dúvidas de que vivemos um tempo de inflexão E diante do acha tamento do horizonte de expectativas e da perspectiva de um futuro que é mera projeção de um presente deses perador para a maioria e que é ainda ameaçado por catástrofes inomináveis ambientais econômicas bélicas etc ganham força as visões apocalípti cas de mundo que alimentam os pro jetos políticos de extremadireita O sentimento de catástrofe e o desejo de fim próprias a tais visões aparecem como uma reação fantasiosa ao nosso tempo do fim pois projetam no ho rizonte imediato a inauguração de um novo tempo do mundo reconciliado en tre selecionados para sobreviver A so lução final aparece assim não exata mente como o fim do mundo mas como um espetacular e brutal processo de se leção final Referências ADORNO T W O que significa elaborar o passado In Educação e emancipação Tradução de Wolgang Leo Maar Rio de Janeiro Paz e Terra 1995 ADORNO T W Aspectos do novo radicalismo de direita Tradução de Felipe Catalani São Paulo Editora UNESP 2020 ARANTES P Zonas de Espera In ARANTES P O novo tempo do mundo e outros ensaios sobre a era de emergência São Paulo Boitempo 2014 ARANTES P E Depois de junho a paz será total 2014 Paulo Eduardo Arantes São Paulo sn original de 2014 2021a Coleção Sentimento da Dialética Coord Pedro Fiori Arantes Disponível em httpssentimentodadialeticaorg dialeticacatalogbook93 acessado em 12122021 ARANTES P E O mundo como alvo uma genealogia da militarização contemporânea Paulo Eduardo Arantes São Paulo sn original de 2019 2021b Coleção Sentimento da Dialética Coord Pedro Fiori Arantes Disponível em httpssentimentodadialeticaorgdialeticacatalogbook110 acessado em 12122021 ARENDT H Eichmann em Jerusalém um relato sobre a banalidade do mal São Paulo Companhia das Letras 1999 BANCO MUNDIAL O Combate à Pobreza no Brasil Relatório sobre Pobreza com ênfase nas políticas voltadas para a Redução da Pobreza vol I Departamento do Brasil Setor de Redução da Pobreza e Manejo Econômico Região da América Latina e do Caribe Washington DC 2001 BATISTA V M A governamentalização da juventude policizando o social In Revista Epos vol 1 n 1 Rio de Janeiro jan 2010 BENJAMIN W LÖWY M Org Comp O capitalismo como religião Tradução de Nélio Schneider São Paulo Boitempo 2013 BRUNS B LUQUE J Great Teachers How to Raise Teacher Quality and Student Learning in Latin America and the Carib bean Overview booklet Washington DC Banco Mundial Licença Creative Commons Attribution 2014 CASEMIRO P Funcionários de rede de franquias tatuam meta de novas lojas no interior de SP In G1 Vale do Paraíba e região 22102020 Disponível em httpsg1globocomspvaledoparaibaregiaonoticia20201022funcio nariosderededefranquiastatuammetadenovaslojasnointeriordespghtml acessado 12122021 CATINI C Empreendedorismo privatização e o trabalho sujo da educação In Revista USP 127 pp 5368 2020 CATINI C A educação bancária com um Itaú de vantagens In Germinal Marxismo e educação em debate 13 1 pp 90118 2021 CATINI C OLIVEIRA R Depois do Fim In Passa Palavra 2018 Disponível em httpspassapalavrainfo201811 123386 acessado em 12122021 CHAPOUTOT J Libres dobéir Le management du nazisme à aujourdhui Paris Gallimard 2020 NRF Essais 19Cf Valor Econômico 2019 126 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE DARDOT et al A escolha da guerra civil uma outra história do neoliberalismo Tradução de Márcia Pererira Cunha São Paulo Elefante 2021 DARDOT P LAVAL C A nova razão do mundo ensaio sobre a sociedade neoliberal São Paulo Boitempo 2016 EHRENBERG A O culto da performance da aventura empreendedora à depressão nervosa Aparecida SP Ideias e Letras 2010 Coleção Management ETCHEGOYEN S W FREITAS R F S Infraestrutura e Autoregulação In Folha de S Paulo 942019 ENGUITA M F A Face Oculta da escola educação e trabalho no capitalismo Tradução de Thomaz Tadeu da Silva Porto Alegre Artes Médicas 1989 FRANCO M UPP A redução da favela a três letras uma análise da política de segurança pública do estado do Rio de Janeiro Dissertação de Mestrado em Administração Niterói RJ Universidade Federal Fluminense 2014 Disponível em httpsappuffbrriuffbitstream121661Marielle20Francopdf acessado em 12122021 FRAGA E Juventude vive crise voraz com inserção precária no mercado de trabalho diz Ricardo Henriques In Fo lha de S Paulo 31102020 Disponível em httpswww1folhauolcombrmercado202010juventudevive crisevorazcominsercaoprecarianomercadodetrabalhodizricardohenriquesshtml acessado em 121220 21 HARTOG F Regimes de Historicidade presentismo e experiências do tempo Belo Horizonte Autêntica 2021 Coleção História e Historiografia GOUGH I Capital Global necessidades básicas e políticas sociais Buenos Aires Miño y Dávila Editores 2003 ITAÚ EDUCAÇÃO E TRABALHO Educação profissional e tecnológica emancipatória juventudes e trabalho São Paulo Fundação Itaú para a Educação e Cultura 2020 KURZ R Nãorentáveis do Mundo Univos Tradução de Nikola Grabski 02052003 Disponível em 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Sobrevivendo no Inferno Racionais MCs prefácio São Paulo Companhia das Letras 2018 OLIVEIRA F de Passagem na neblina In OLIVEIRA F de D STÉDILE J P GENOINO J Classes Sociais em mudança e a luta pelo socialismo São Paulo Fundação Perseu Abramo 2000 Coleção Socialismo em discussão PEREIRA J M M Assaltando a pobreza política e doutrina econômica na história do Banco Mundial 19442014 In Revista de história São Paulo n 174 pp 235265 janjun 2016 PEREIRA J M M O Banco Mundial e a construção políticointelectual do combate à pobreza In Topoi Online Revista de história vol 11 pp 260282 2010 PINHEIRO M Brasil encara a batalha para prosperar no ensino médio In El País São Paulo 2322018 Disponível em httpsbrasilelpaiscombrasil20180222politica1519256346754753html acessado em 12122021 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO Produtividade PROERD 2018 2018 Disponível em httpwww4poli ciamilitarspgovbrunidadesdpcdhindexphpdadosproerd acessado em 29072021 SAFATLE V A economia é a continuação da psicologia por outros meios sofrimento psíquico e neoliberalismo voo eco nomia moral In SAFATLE V SILVA JUNIOR N DUNKER C Orgs Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico Belo Horizonte Autêntica 2021 TODOS PELA EDUCAÇÃO Compromisso todos pela educação bases éticas jurídicas pedagógicas gerenciais políticosociais e culturais São Paulo Todos Pela Educação 2006 WACQUANT L Punir os pobres a nova gestão da miséria nos Estados Unidos Rio de Janeiro Revan 2003 WOODCOOK J O panóptico algorítmico da Deliveroo In ANTUNES R Org Uberização Trabalho Digital e Indús tria 40 São Paulo Boitempo 2020 Mundo do Trabalho VALOR ECONÔMICO Nós temos é que desconstruir muita coisa diz Bolsonaro durante jantar Valor Econômico 1703 2019 Disponível em httpsvalorglobocombrasilnoticia20190318nostemosequedesconstruirmuita coisadizbolsonarodurantejantarghtml acessado em 12122021 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 127 CAROLINA DE ROIG CATINI VIANA S Rituais de sofrimento São Paulo Boitempo 2012 ZIBECHI R ProgreSismo la domesticación de los conflictos sociales Santiago de Chile Editorial Quimantú 2010 Recibido 03112021 Aprobado 13122021 Publicado 31122021 128 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 105 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba doiorg10293272194248427 O ENSINO DE FILOSOFIA E A PEDAGOGIA DO CONCEITO ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO CRÍTICO FILOSÓFICO NO ENSINO MÉDIO Tayane Cristine Ferreira Clemente da Silva1 orcidorg0000000270602280 RESUMO O presente trabalho busca realizar uma análise sobre a Pedagogia do Conceito aplicada ao Ensino de Filosofia no Ensino Médio para compreender como tal pedagogia pode favorecer na construção do pensamento críticofilosófico dos estudantes Serão analisados os componentes da Pedagogia do Conceito tendo como foco investigar as noções de conceito e plano de imanência presentes na primeira parte da obra O que é a filosofia de Deleuze e Guattari Para analisar a Pedagogia do Conceito voltada ao Ensino de Filosofia também serão adotadas as perspectivas de alguns autores que se apropriaram de tal pedagogia e que aplicaram na ao Ensino de Filosofia no Ensino Médio visando entender algumas contribuições teóricas já realizadas sobre o tema no Brasil Como resultado o trabalho aponta que a partir do movimento problemaconceito constatase que uma aula de filosofia deve fornecer as condições para que os estudantes possam exercer seu pensamento crítico e sua criatividade através do movimento que recoloca os conceitos da história da filosofia pensandoos a partir da realidade vivida pelos estudantes PALAVRASCHAVE Problemaconceito Ensino criativo Experiência filosófica THE TEACHING OF PHILOSOPHY AND THE PEDAGOGY OF THE CONCEPT S OME CONTRIBUTIONS TO THE DEVELOPMENT OF CRITICAL PHILOSOPHICAL THINKING IN HIGH SCHOOL ABSTRACT The present work seeks to perform an analysis on the Pedagogy of the Concept applied to the Teaching of Philosophy in high school to understand how pedagogy can favor the construction of students criticalphilosophical thinking The components of the Concept Pedagogy will be analyzed focusing on investigating the concept and immanence plan that appears in the first part of the work What is philosophy by Deleuze and Guattari To analyze the Pedagogy of the Concept aimed at teaching philosophy It will also be accepted the perspectives of some authors who have adopted such pedagogy and who applied it to the teaching of philosophy in high subject in Brazil As a result the work points out that from the 1 Mestra em Filosofia pela Universidade Federal da Paraíba UFPB graduada em Filosofia pela Universidade Federal de Campina Grande UFCG É membro da equipe editorial da PROBLEMATA Revista Internacional de Filosofia Tem interesse nas áreas de Ensino de Filosofia Psicanálise Ética e Filosofia Política O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 106 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba problemconcept movement it is observed that a philosophy class should provide therefore the conditions for students to exercise their critical thinking and creativity through the movement that puts the concepts of the history of philosophy thinking them from the reality experienced by students KEYWORDS ProblemConcept Creative Teaching Philosophical Experience INTRODUÇÃO Na introdução de O que é a filosofia Deleuze e Guattari 2010 problematizam o fato de que a questão sobre o que é a filosofia foi ao longo da tradição filosófica pouco aprofundada O interesse maior esteve em construir uma filosofia e não tratar a questão minunciosamente sobre o que ela seria Os filósofos supracitados visam nessa obra construir uma compreensão sobre o que é propriamente a filosofia Segundo eles a filosofia é criação de conceitos e estes necessitam de personagens conceituais que auxiliam nas suas criações Um dos personagens conceituais é o amigo os autores apontam os gregos como aqueles que recusam o sábio aquele que detém a sabedoria e trazem o filósofo aquele que busca o saber construindo compreensões É importante ressaltar que esse personagem conceitual o amigo segundo a compreensão de Deleuze e Guattari não é algo que esteja fora do pensamento faz parte da própria constituição do pensar pois através do personagem conceitual o pensamento é apresentado Os gregos sujeitaram o amigo à noção de essência a uma imagem do pensamento que busca o universal a verdade Logo essa amizade que os gregos apontam é uma contemplação do saber estabelecendo pois uma relação de objetividade com a filosofia Dito isso Deleuze e Guattari fazem uma crítica à filosofia grega que acaba tratando o saber como algo contemplativo Segundo os autores amigo numa compreensão diferente da grega não se refere mais a um personagem que é extrínseco ao pensamento ele é parte constitutiva do pensar De acordo com essa concepção o filósofo é amigo do conceito e a filosofia consiste antes de mais nada na criação de conceitos novos Os conceitos por sua vez remetem aos filósofos que deixam suas marcas suas singularidades nessa criação Desse modo os conceitos não são formas prontas e acabadas que possamos contemplar ou refletir sobre eles são pura criação novidade respostas aos problemas O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 107 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba Podemos compreender que a filosofia não é contemplação pois a atividade filosófica não consiste em contemplar as coisas no mundo e sim em elaborar respostas aos problemas filosóficos não é reflexão pois a filosofia não é necessária para que possamos refletir e a reflexão não é específica da filosofia e não é comunicação pois a filosofia não está interessada em criar consenso entre as compreensões A filosofia é criação de conceitos e toda criação é singular e original Dito isto Deleuze e Guattari apresentam a noção de construtivismo apontando a necessidade no movimento de criação do conceito de um plano que é préfilosófico para dar sustentação aos conceitos nele criados e personagens ali presentes o plano de imanência uma delimitação na imanência absoluta uma espécie de recorte no caos o qual fornece as condições para que o filósofo transite onde o pensamento se desdobra Assim neste trabalho será defendida uma abordagem que revisite a história da filosofia sustentando que tal abordagem se mostra pertinente para que os estudantes do Ensino Médio compreendam o movimento que os filósofos fizeram para criar conceitos para responder aos problemas ao longo da história da filosofia para que possam então recolocálos 1 METODOLOGIA A metodologia da pesquisa parte do estudo analítico dos textos O que é a filosofia de Deleuze e Guattari Ensinar filosofia um livro para professores de Silvio Gallo e Renata Aspis e Metodologia do ensino de filosofia uma didática para o ensino médio de Silvio Gallo Nesse sentido serão abordados conceitos importantes que favorecem a compreensão de um Ensino de Filosofia que trabalhe segundo o movimento problemaconceito a partir do qual serão oferecidas as condições para que aos estudantes possam exercer seu olhar crítico sobre os conceitos postos na história da filosofia Em O que é a Filosofia 1992 Gilles Deleuze e Félix Guattari sustentam a partir da Pedagogia do Conceito que a atividade filosófica consiste na criação de conceitos que estes são singulares na medida em que são acontecimentos que possuem a assinatura daqueles que os criaram que são múltiplos na medida em que remetem a outros conceitos e que a eles se podem agregar novos elementos Segundo os filósofos o conceito resulta de uma inquietação O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 108 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba perante a realidade Esta inquietação se manifesta em um problema Eles sustentam que para que algo nos inquiete é necessário sentir na pele vivenciar tomar o problema para si apropriar se Dada essa compreensão a metodologia do trabalho parte num primeiro momento da explicitação das partes que compõem a Pedagogia do Conceito em especial as noções de conceito e plano de imanência para compreender mais adiante como elas influenciam na construção do pensamento críticofilosófico que queremos defender no Ensino de Filosofia no Ensino Médio a saber um ensino que forneça as condições para que os estudantes se inquietem perante a realidade problematizem e se apropriem dos conceitos da história da filosofia segundo uma Pedagogia do Conceito No segundo momento será analisada a Pedagogia do Conceito voltada para o Ensino de Filosofia As compreensões que sustentarão os argumentos aqui apresentados serão embasadas além de Deleuze e Guattari 1992 em alguns outros autores que se apropriam de tal pedagogia aplicandoa ao ensino de filosofia no ensino médio como Renata Aspis e Sílvio Gallo 1992 Segundo Gallo 2012 é imprescindível um olhar sobre a história da filosofia como também o é uma apropriação filosófica Por apropriação podemos compreender como tornar seu criar com a sua marca própria visto que o conceito é singular e aberto para que sejam agregados a ele novos elementos se fazendo necessário apresentar inquietudes e buscar respostas às questões do tempo vivido por aquele que faz o movimento do pensar para que se faça sujeito de sua época Para tanto é necessário construir uma identidade sobre o que entendemos por filosofia e filosofar Desse modo acreditamos que uma abordagem que revisite a história da filosofia se mostra pertinente para que os estudantes compreendam o movimento que os filósofos fizeram para criar conceitos para responder aos problemas ao longo da história da filosofia recolocandoos 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 21 O que é o conceito O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 109 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba Deleuze e Guattari 1992 sustentam que o conceito não é algo simples uno ou essencial Um conceito é singular na medida em que é um acontecimento que possui a marca daquele pensador que o cria Também é múltiplo ao passo em que remete a outros conceitos sendo acrescentados novos elementos tendo em vista que o conceito não é algo pronto e acabado É importante ressaltar que só se cria conceitos em função dos problemas mal colocados e com respostas inconsistentes recolocandoos para construir novas compreensões visando agregar novos elementos que é o que os autores chamam de pedagogia do conceito Desse modo a filosofia não é tida mais como descobridora de conceitos mas como criadora Posto que a ação do conceito é ressignificar o mundo ou seja lançar um novo olhar é importante ressaltar algumas das características do conceito apontadas pelos referidos filósofos franceses Um conceito possui a assinatura do filósofo que o cria pois ele deixa sua marca o seu modo de construir o conceito sua imanência Portanto o conceito possui uma história de como foi criado por quem foi criado a qual plano de imanência ele pertence Diante disso não há como pensar Platão com o mesmo olhar de Platão pois ele viveu numa determinada época tinha preferências filosóficas e estava inserido num certo contexto O conceito também é multiplicidade pois ele não é fechado em si mesmo Em sua história é possível acrescentar compreensões o conceito é uma heterogênese pois é uma significação única construída através de vários elementos que convergem entre si remetendo a uma possibilidade dentre muitas outras o conceito é um incorporal no sentido de que não alcança a essencialidade possuindo ordenadas intensivas Ele é um acontecimento possível Por isso é também absoluto e relativo relativo no sentido em que remete aos demais elementos e outros arcabouços conceituais dado que possui um devir modificandose constantemente e absoluto com relação ao seu campo de compreensões ao seu próprio plano Seus componentes possuem traços intensivos que são singularidades na medida em que são possibilidades Segundo Deleuze e Guattari 1992 ao se criticar um filósofo é necessário partir de problemas advindos do plano de quem critica para transformar seus componentes perante esse novo solo Entretanto o exercício da crítica deve ser acompanhado do movimento de criação pois é necessário à atividade filosófica dar força ao conceito que enfraquece e não apenas insistir na constatação de seu esvaecimento O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 110 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba Posto isso podemos introduzir a análise sobre a segunda noção desenvolvida por Deleuze e Guattari 1992 o plano de imanência e sua dinâmica 22 O plano de imanência No capítulo O plano de imanência Deleuze e Guattari 1992 sustentam que o conceito e o plano de imanência embora estejam correlacionados não devem ser confundidos pois não são a mesma coisa Se fossem a mesma coisa os conceitos poderiam ser unificados e não teriam mais sua característica de singularidade De acordo com os filósofos franceses a filosofia é construída por dois aspectos que são criar conceitos e traçar o plano ou seja A filosofia é ao mesmo tempo criação de conceito e instauração do plano O conceito é o começo da filosofia mas o plano é a sua instauração O plano não consiste evidentemente num programa num projeto num fim ou num meio é um plano de imanência que constitui o solo absoluto da filosofia sua Terra ou sua desterritorialização sua fundação sobre os quais ela cria seus conceitos Ambos são necessários criar conceitos e instaurar o plano como duas asas ou duas nadadeiras DELEUZE GUATTARI 2010 p 52 Os conceitos são acontecimentos que remetem à imanência daquele que busca dar resposta à um problema Os acontecimentos são consequência de uma série de fatos e o plano de imanência é o horizonte absoluto dos acontecimentos Ele possibilita que um pensamento se desdobre que uma filosofia seja criada Desse modo o plano de imanência é um território ocupado pelos conceitos que lhes dão sustentação Podemos compreender que o plano de imanência é a resposta à pergunta O que significa pensar Daí o filósofo através do plano recortará o caos para que a partir dessa delimitação sejam fornecidas as condições que possibilitem o transitar do pensamento Deleuze e Guattari 1992 afirmam que se orientar no pensamento não é um método pois este diz respeito aos conceitos não remete à um estado de conhecimento sobre o cérebro dado que não é um estado de coisas determinado a imagem do pensamento também não é opinião sobre o pensamento A respeito dessa questão da opinião os filósofos franceses afirmam que contemplar refletir e comunicar são opiniões sobre o pensamento pois buscam dizer o que ele é O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 111 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba Os autores sustentam ainda que o pensamento ao mergulhar no movimento infinito delimita o que deseja para constituir a imagem do pensamento Dessa forma é imprescindível que não se confunda o plano de imanência e os conceitos que o povoam Mesmo que certos elementos apareçam no plano e no conceito duas vezes não aparecem sobre as mesmas nuances pois cada um é singular e irrepetível De acordo com esta compreensão a filosofia tem seu início com a criação de conceitos desse modo o plano de imanência é préfilosófico é anterior à produção conceitual sendo pois condição para que essa produção seja possível Por préfilosófico se designa o que não existe fora da filosofia O plano de imanência é a instauração da filosofia entendida como criação de conceitos pois fornece as condições para que o pensamento se desdobre É este o solo em que o filósofo lança as problematizações e constrói os conceitos Posto isso podemos questionar qual o papel do plano de imanência a saber das compreensões que os filósofos possuem para a atividade filosófica entendida como criação de conceitos Entendemos que o papel do plano de imanência é dar consistência à própria filosofia em meio ao caos das múltiplas possibilidades pois é o recorte é a delimitação de um campo epistêmico sem no entanto negar a infinitude das possibilidades Tal delimitação parte da própria experiência do filósofo com a filosofia o qual estabelece compreensões a partir da vivência de como entende o que é pensar para criar conceitos construindo assim sua singularidade Platão por exemplo estabelece sua imagem do pensamento a partir de compreensões como identidade e essência para buscar verdades universais e necessárias Desse modo filosofar para Ele é investigar o que há de idêntico e essencial nas coisas Podemos compreender então que a importância do plano de imanência para a atividade filosófica consiste em situar o plano de compreensão no qual uma filosofia se desenvolverá O plano de imanência recorta o caos de possibilidades tomando dele determinações e segundo os filósofos franceses existem diversos planos de imanência ao longo da história da filosofia cada um remetendo à maneira de cada filósofo de fazer a imanência Cada plano seleciona aquilo que cabe ao pensamento e essa seleção varia de plano para plano Nesse sentido o filósofo parte da imanência de uma imagem do pensamento Em um mesmo filósofo podem existir várias filosofias pois ele pode mudar de plano traçar um novo horizonte para a criação conceitual Desse modo não existe o plano ideal existem diversos planos O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 112 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba Dito isso podemos questionar é possível problematizar fora do plano de imanência Entendendo o plano de imanência como delimitação em meio ao caos como plano de compreensões que os filósofos possuem e que é anterior à criação filosófica préfilosófico não é possível problematizar a partir da realidade caótica é necessário estabelecer um recorte para que a partir dele seja criada a problematização partindo de um campo epistêmico de compreensões imanentes resultantes da vivência de cada filósofo com a filosofia isto é da época em que vivem seus interesses literários etc Assim para que o filosofar seja possível é imprescindível a instauração de um plano de imanência 23 A apropriação conceitual Deleuze e Guattari 1992 sustentam que a filosofia vem de uma imposição de ordem ao pensamento Para eles a realidade é caótica e muitas vezes buscamos fugir desse caos através da opinião pois esta aparenta oferecer segurança quando na realidade é uma espécie de não pensamento dado que não assume a existência da multiplicidade na medida em que traz um desejo de verdade consigo e desse modo não abre espaço para a criação de novas compreensões De acordo com os referidos filósofos franceses existem três potências do pensamento quais sejam a arte a ciência e a filosofia Estas encaram a realidade caótica a fim de criar seus produtos cada uma a seu modo A arte traça planos de composição para criar afectos e perceptos a ciência traça planos de referência e cria funções e a filosofia por sua vez traça planos de imanência e cria conceitos As três potências do pensamento combatem desse modo a opinião que não cria e nem admite o caos A tarefa da filosofia enquanto potência do pensamento é lidar com o caos sem cair no não pensamento e criar a partir desse caos Para um processo criativo é imprescindível uma delimitação disciplinando o pensamento estabelecendo regras para o pensar sendo a filosofia um dos modos de organizar e ordenar o pensamento De acordo com Deleuze e Guattari 1992 a especificidade da filosofia é a criação de conceitos e dar respostas aos problemas filosóficos Dessa forma lançam críticas aos três modos corriqueiros de entender o que é a filosofia que são contemplação reflexão e comunicação O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 113 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba No entender dos referidos filósofos a filosofia não é contemplação pois a atividade filosófica não consiste em contemplar as coisas no mundo e sim em elaborar respostas aos problemas filosóficos não é reflexão pois a filosofia não é necessária para que possamos refletir e a reflexão não é específica da filosofia e não é comunicação pois a filosofia não está interessada em criar consenso entre as compreensões A filosofia é criação de conceitos e toda criação é singular e original através dos movimentos de desterritorialização e reterritorialização para instaurar um novo pensamento Portanto nenhuma dessas atitudes é específica da filosofia mas os conceitos criados podem ser contemplados refletidos e comunicados Além dessas atitudes Deleuze e Guattari também criticam a afirmação de que a filosofia vem a ser uma discussão pois esta pode até indicar elementos para a criação conceitual mas não é específica da filosofia enquanto atividade criadora Aspis e Gallo 2009 a partir da compreensão de filosofia como criadora de conceitos apontam na obra Ensinar filosofia um livro para professores 2009 alguns aspectos presentes na obra de Deleuze e Guattari e desenvolvem algumas compreensões sobre o ensino de filosofia como um exercício que lida com conceitos ou até mesmo os cria O primeiro aspecto direciona à uma crítica com relação à maneira que se ministra aulas de filosofias corriqueiramente orientadas pela noção de maiêutica socrática sustentando que a aula de filosofia é uma espécie de diálogo A aula seria então o momento no qual cada um expõe sua opinião para depois buscar o conceito ou ficar na discussão sobre elas Como vimos a discussão não é específica da filosofia logo numa aula onde todos dizem o que acham não há atividade filosófica Não se constrói conhecimento filosófico aos olhos da compreensão de filosofia elaborada por Deleuze e Guattari dado que não há espaço para criação Outra maneira problemática de ministrar aulas de filosofia é considerálas como atividades contemplativas pois em que medida uma aula que visa apenas contemplar conceitos e problemas criados pelos filósofos é criativa Se a intenção é apenas entender e admirar os conceitos criados por outros não se cria apenas de transmite arcabouços filosóficos seja por meio de temas ou da história da filosofia e em maior medida tece algumas considerações sobre mas nada além Por último ao considerarmos a aula de filosofia como reflexão tendo em vista o que já fora apontado não há criação pois apenas se reflete sobre o que já foi criado O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 114 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba Dito isso Aspis e Gallo 2009 buscam explicitar o que é o conceito dado que trabalham segundo a proposta de Deleuze e Guattari filosofia enquanto criação A atividade filosófica consiste na criação de conceitos e estes são singulares na medida em que são acontecimentos possuindo a assinatura daqueles que os criaram e múltiplos na medida em que remetem a outros conceitos e que a eles se podem agregar novos elementos Como veremos a seguir tal apropriação é possível partindo de um campo epistêmico um plano de compreensões da realidade que é próprio de um filósofo 24 A apropriação a partir de um campo epistêmico Segundo Deleuze e Guattari o conceito resulta de uma inquietação profunda diante da realidade vivida e esta por sua vez manifestase em um problema É preciso vivenciar tomar o problema para si uma aspiração ao saber daquele que vivencia o problema uma espécie de necessidade subjetiva que busca dar respostas às inquietações Essa aspiração ao saber é intrínseca à noção de imanência De acordo com Deleuze e Guattari o plano de imanência é uma espécie de delimitação da imanência absoluta um recorte no caos o qual fornece as condições para que o filósofo transite onde o pensamento se desdobra É nele que o filósofo lança problematizações Aspis e Gallo 2009 apontam que a apropriação consiste em tomar o conceito de um filósofo para si recolocandoo em outro plano o seu plano Desse modo há uma atividade criativa nesse roubo pois ressignifica o conceito assinandoo na imanência Visto a importância do plano de imanência para a atividade filosófica como posta anteriormente podese questionar como o plano de imanência pode contribuir para o ensino de filosofia no ensino médio A problematização só é possível a partir de um campo de compreensões pois só consegue problematizar a partir de algo Para tanto é necessário que estabeleçamos uma ligação entre a vida dos estudantes e a maneira como os filósofos problematizaram suas próprias vidas De que modo podemos estabelecer essa ligação Lançando nosso olhar sobre a história da filosofia não em busca de informações mas no intuito de refazer o caminho que os filósofos fizeram para levar os estudantes a compreenderem o solo epistêmico no qual foi produzida uma filosofia O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 115 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba Como sustentam Aspis e Gallo Na aula de filosofia é mais do que necessário romper com a visão tradicional da aula já tão criticada mas dificilmente abandonada de um espaço de transmissão de conhecimentos Ela deve ser um espaço no qual os alunos não sejam meros espectadores mas sim ativos produtores criadores Mas não se produz conceito do nada muitas vezes é a própria filosofia a matéria da produção de novos conceitos Assim é necessário que os estudantes tenham contato de forma ativa e criativa com a diversidade das filosofias ao longo da história pois ela será matériaprima para qualquer produção possível ASPIS GALLO 2009 p 41 O pensamento se desdobra em meio ao caos das múltiplas possibilidades e a problematização só se torna possível no plano de imanência pois este permite pensar e atacar o próprio pensamento problematizar para criar conceitos Considerando o ensino de filosofia enquanto campo do saber podemos enxergálo nesse movimento de desdobramento do pensar no plano de imanência Este permite a problematização e a compreensão dos conceitos criados sendo possível chegar a outros questionamentos que dizem respeito ao ensino de filosofia Entendemos que um dos principais pontos para desenvolver a problematização é partir da vivência dos alunos para construir um conjunto de compreensões A filosofia enquanto criação de conceitos não busca a verdade absoluta pois cada filósofo possui um arcabouço conceitual e que usaremos segundo o nosso interesse a partir dos nossos problemas aprendendo a conviver com as diversas construções filosóficas Deleuze Guattari 1992 3 RESULTADOS DA PESQUISA 31 A aula de filosofia uma oficina de conceitos Dados os apontamentos anteriores Aspis e Gallo 2009 entendem a aula de filosofia como atividade na qual o aluno não deve ser tratado como ser passivo que apenas decora conceitos A aula deve ser experimentada ser uma vivência tanto para os jovens quanto para o professor Tendo em vista essa meta a aula pode ser entendida como uma oficina de conceitos a qual deve estabelecer um contato dos jovens com os conceitos Isso significa dizer que devemos propiciar um ambiente que possibilite a experiência do pensamento para que O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 116 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba filosofem mesmo que seja apenas nos momentos de aula é importante desenvolver um olhar críticofilosófico Desse modo é importante que o ensino não seja uma mera transmissão de conteúdos2 mas que o aluno possa ser ativo participativo e criador Para tanto é necessário entender a filosofia como matéria em movimento sem a qual não se pode criar Assim é imprescindível que os jovens tenham contato com a história da filosofia para que conheçam a variedade de filosofias e produções Esse contato pode ser estabelecido através de problemas filosóficos Tais problemas devem ser levados pelos professores para os jovens considerando aspectos existenciais que os sensibilizem e os toquem pois só incorporamos os problemas sentidos na pele A oficina filosófica consiste pois em ressignificar os conceitos pensando os a partir de sua realidade para até mesmo dar respostas aos problemas recolocando conceitos Apesar do risco de cair no enciclopedismo o ensino da história da filosofia não se resume a uma perspectiva acrítica Os autores trazem Deleuze novamente à argumentação nesse ponto sustentando que a história da filosofia é a arte do retrato de revisitar problemas postos pelos filósofos retomando de maneira crítica tais problemas e partindo disso para exercer a atividade de criação conceitual Para Aspis e Gallo 2009 é preciso um ponto de partida visto que não se pode filosofar a partir do nada Os filósofos propõem que é preciso partir de temas problematizandoos buscando na história da filosofia pensadores que criaram conceitos a partir de tais problemas Os conceitos criados servem para nos orientar no pensamento servindo de matéria para experiência filosófica Para que o ensino criativo seja possível é importante ter em mente que de acordo com Aspis e Gallo 2009 a leitura filosófica difere da leitura que visa acúmulo de saber pois é uma leitura que é produtiva criativa e a filosofia não é uma matéria pronta e acabada ela é movimento O professor tem pois como tarefa criar as condições necessárias para que o aluno 2 Essa concepção de ensino pautado numa transmissão de conteúdos é criticada por Paulo Freire em Pedagogia da autonomia saberes necessários à prática educativa 1996 O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 117 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba entre no texto filosófico Isto significa que o aluno deve ler reler e criar compreensões em vistas de tais textos Desse modo é necessário criar um hábito de solicitar leituras aos alunos para que eles entendam a importância de se estudar esse tipo de texto dialogando com ele decifrandoo uma tarefa que exige paciência Será necessário pois a criação de táticas por parte do professor para dar incentivo aos alunos nesse processo de leitura e releitura em vistas da compreensão do texto filosófico Após o exercício de leitura de esmiuçar os conceitos e reconhecer o problema filosófico entendendo os seus aspectos históricos os alunos poderão se arriscar na escrita filosófica Os estudantes poderão nesse momento elaborar respostas ao problema tratado fazendo isso de acordo com os estudos realizados remetendo aos conceitos trabalhados Para que essa recolocação se dê de forma coerente os alunos deverão compreender os conceitos de forma correta para não ocasionar erros de compreensão que comprometam seu entendimento e a futura contribuição no momento da escrita CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho buscou esmiuçar as noções de conceito e plano de imanência presentes na primeira parte da obra O que é filosofia para deixar explícito de onde parte a noção de pedagogia do conceito visando aplicála nos estudos sobre ensino de filosofia no ensino médio e entender seus desdobramentos O intuito com a apropriação da pedagogia do conceito foi voltar a atenção para o ensino de filosofia e buscar alternativas ao ensino pautado unicamente na transmissão dos conteúdos já tão criticado Percebese que é crucial no âmbito da pedagogia do conceito inquietarse perante a realidade vivida para problematizar e buscar respostas para criar e recolocar assim o conceito sendo tal movimento de acordo com Deleuze e Guattari próprio da filosofia ao longo de sua história Portanto a sala de aula adotando uma perspectiva de um ensino de filosofia criativo deve ser um ambiente que forneça as condições para que os estudantes possam exercer seu pensamento crítico através do movimento que recoloca conceitos pensandoos a partir das suas próprias experiências Desse modo argumentase a favor de um ensino que fuja da lógica que O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 118 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba trata o aluno como passivo no processo de ensinoaprendizagem que apenas colhe os conteúdos ministrados REFERÊNCIAS ASPIS Renata Lima GALLO Silvio Parte 1 o que ensinar In Ensinar filosofia um livro para professores São Paulo Atta Mídia e Educação 2009 p 2572 DELEUZE G GUATTARI F O que é a filosofia Tradução de Bento Prado Jr e Alberto Alonso Munõz São Paulo Editora 34 2010 3ª edição FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia Saberes necessários à prática educativa 25 ed São Paulo Paz e Terra 1996 GALLO S Metodologia do ensino de filosofia uma didática para o ensino médio Campinas SP Papirus 2012 Certificamos que Géssica Miranda Dos Santos concluiu o Curso Relacionamento Interpessoal em Fevereiro2024 com a carga horária total de 10 horas realizado no site wwwCursosOnlineEDUCAcombr Curso Livre amparado conforme Lei nº 939496 Decreto Presidencial nº 51542004 e Resolução CNECEB nº 0499 Empresas e Instituições poderão consultar a veracidade desse certificado através da página wwwcursosonlineeducacombrautenticaphp Código do certificadoEDUCAGR29824389 Cursos Online EDUCA CNPJ 21295901000128 Desde 2014 Certificamos que Géssica Miranda Dos Santos concluiu o Curso Recolocação Profissional em Fevereiro2024 com a carga horária total de 10 horas realizado no site wwwCursosOnlineEDUCAcombr Curso Livre amparado conforme Lei nº 939496 Decreto Presidencial nº 51542004 e Resolução CNECEB nº 0499 Empresas e Instituições poderão consultar a veracidade desse certificado através da página wwwcursosonlineeducacombrautenticaphp Código do certificadoEDUCAGR29824369 Cursos Online EDUCA CNPJ 21295901000128 Desde 2014 GÉSSICA MIRANDA DOS SANTOS GÉSSICA MIRANDA DOS SANTOS Participou na qualidade de congressista do Congresso Online Brasileiro Multidisciplinar de Engenharias Participou na qualidade de congressista do Congresso Online Brasileiro Multidisciplinar de Engenharias Administração e Negócios COBEAN com carga horária de 20 horas Administração e Negócios COBEAN com carga horária de 20 horas Código de verificação 2N0yOB9h8QMI 2N0yOB9h8QMI Emitido em 06022024 06022024 Para validar acesse httpseventoscongressemecertificadosvalidarcertificado httpseventoscongressemecertificadosvalidarcertificado CONGRESSO ONLINE BRASILEIRO MULTIDISCIPLINAR DE ENGENHARIAS ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS CONGRESSO ONLINE BRASILEIRO MULTIDISCIPLINAR DE ENGENHARIAS ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS PROGRAMAÇÃO PROGRAMAÇÃO 300123 1900 Design Thinking aplicado a Relacionamento com Clientes 300123 1730 Empreendedorismo e carreira para profissionais da Construção Civil 300123 1700 Desafios da Implementação BIM nas empresas de AEC Arquitetura Engenharia e Construção 300123 2200 Posicionamento de mercado para Arquitetos Designers e Engenheiros 300123 1700 Gestão de obras 300123 1930 Cuide de quem consome a sua marca 300123 1830 Gestão estratégica de marketing 300123 2030 Minicurso Estrutura de plano de ação como implantar melhoria contínua em processo na prática 300123 2130 Minicurso Produtividade Como realizar as suas atividades acadêmicas profissionais e pessoais em menos tempo e com mais qualidade 300123 2000 Startup e Empreendedorismo A importância de validar sua idéia 310123 2000 Gestão Ambiental 40 310123 2030 Economia Circular no varejo o caso Carrefour 310123 2100 Como mensurar o retorno de investimento em Sustentabilidade Corporativa 310123 1730 Tecnoprev A Previdência Complementar dos Profissionais do Sistema CONFEACREA 310123 1930 Como empreender a partir da Universidade Online 310123 1800 CONSULTORIA ENXUTA UM NEGÓCIO ENXUTO LUCRATIVO E ESCALÁVEL 310123 1830 Metodologia Scrum 310123 1900 Novos padrões da inovação e competitividade GÉSSICA MIRANDA DOS SANTOS GÉSSICA MIRANDA DOS SANTOS Participou na qualidade de congressista do Congresso Online Brasileiro Multidisciplinar de Educação Participou na qualidade de congressista do Congresso Online Brasileiro Multidisciplinar de Educação COBEDU com carga horária de 20 horas COBEDU com carga horária de 20 horas Código de verificação FecTmNSP9UDz FecTmNSP9UDz Emitido em 06022024 06022024 Para validar acesse httpseventoscongressemecertificadosvalidarcertificado httpseventoscongressemecertificadosvalidarcertificado COBEDU CONGRESSO ONLINE BRASILEIRO MULTIDISCIPLINAR DE EDUCAÇÃO COBEDU CONGRESSO ONLINE BRASILEIRO MULTIDISCIPLINAR DE EDUCAÇÃO PROGRAMAÇÃO PROGRAMAÇÃO 130223 1930 A sistematização da oralidade no ensino de Língua Materna uma proposta didáticopedagógica a partir dos gêneros orais 130223 2030 O papel da educação no combate as fake news 130223 1700 A digitalização do professor e da sala de aula 130223 1730 A Educação CTS como possibilidade de abordagem para a disciplina Tecnologia e Inovação no Novo Ensino Médio Paulista 130223 1800 Coletividade e adaptabilidade viva a experiência do Caravana da Ciência com a alfabetização Científica 130223 1900 Recomposição das Aprendizagens e o Pós Pandemia 130223 1830 Recuperação do Protagonismo Juvenil Ações positivas para potencializar o protagonismo através do Clube Juvenil 130223 2000 Relações Interinstitucionais e Desenvolvimento da Educação Básica 140223 2000 Os Estudantes de Administração Pública da UENF e suas Relações com os Saberes Socioacadêmicos 140223 1800 Estratégias e manejo comportamental em sala de aula possibilidades de afeto e aprendizagem 140223 1730 Letramento científico uma reflexão sobre o desenvolvimento de nossa sociedade 140223 1900 Envolvimento e Metodologias Ativas Por uma leitura positiva na ação própermanência na Educação Básica 140223 1930 Redes sociais e divulgação científica 140223 1830 Mapas mentais como processo de ensino e aprendizagem 140223 2100 A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NA DISCIPLINA DE ENSINO RELIGIOSO NAS ESCOLAS PUBLICAS 140223 2045 A MODERNIDADE LÍQUIDA DE BAUMAN E O MULTILETRAMENTO PERSPECTIVAS EDUCACIONAIS 140223 2100 A UTILIZAÇÃO DE PROGRAMAS COMPUTACIONAIS E APLICATIVOS DE SMARTPHONE APLICADOS AO ENSINO DE GEOGRAFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL PÚBLICO DO MUNICÍPIO DE BREJO DO PIAUÍ PI 140223 1700 Educação sem punição é possível 140223 2030 Uma análise comparativa das representações sociais de dois grupos distintos de estudantes do ensino médio no litoral paulista sobre dois recursos didáticos pedagógicos em apoio ao ensino de física

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI ATIVIDADES ACADÊMICAS COMPLEMENTARES Cursos de 2ª Licenciatura e Formação de Docente EAD REGULAMENTO DAS ATIVIDADES ACÂDEMICAS COMPLEMENTARES Atenção Os discentes que estão cursando cursos de 2ª Licenciatura e Formação de Docente deverão cumprir 200 horas de Atividades Complementares O envio das Atividades Acadêmicas Complementares deverá ser realizado 60 dias antes da finalização de seu curso Observação Todos os itens fichas relatórios declarações e certificados deverão ser enviados em anexo único pelo campo de envio disponível dentro da disciplina 1 CAPITULO I DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art 1º O presente regulamento tem por finalidade normatizar as atividades complementares previstas nos projetos dos cursos de 2ª Licenciatura e Formação de Docente do Centro Universitário Faveni e estabelecer meios operacionais para o seu acompanhamento e registro Art 2º As atividades complementares dos cursos de 2ª Licenciatura e Formação de Docente da Unifaveni têm por objetivos a Enriquecer o processo de ensinoaprendizagem b Complementar o currículo pedagógico c Ampliar os horizontes de conhecimento d Favorecer o relacionamento entre grupos e a convivência com as diferenças sociais e Estimular as iniciativas dos alunos f Propiciar a Inter e a transdisciplinaridade do currículo g Fortalecer a conduta ética e a prática da cidadania e h Envolver a comunidade situada nos arredores da Instituição através de eventos que propiciem uma adequada integração junto a faculdade R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 Parágrafo 1º As atividades acadêmicas complementares são obrigatórias e deverão ser cumpridas pelos alunos a partir de seu ingresso no curso obedecendo à carga horária exigida de cada currículo de acordo com sua diretriz curricular Parágrafo 2º O cumprimento total da carga horária das atividades acadêmicas complementares é requisito indispensável à colação de grau Parágrafo 3º As atividades desenvolvidas e realizadas no âmbito do Estágio Supervisionado não poderão ser computadas cumulativamente como atividades acadêmicas complementares Parágrafo 4º A declaração utilizada para comprovação de função em área correlata à formação não poderá ser utilizada para duas finalidades atividades complementares e Estágio O aluno poderá escolher apenas uma das atividades para utilizar a declaração Parágrafo 5º Não serão aceitos trabalhos assistenciais religiosos voluntários que forem realizadas de forma regular em razão de cargo emprego ou função Não será aceito curso de capacitação que seja um prérequisito obrigatório para exercício de uma atividade remunerada em razão de cargo emprego ou função CAPÍTULO II DAS ATIVIDADES ACADÊMICAS COMPLEMENTARES Art 3º As Atividades Complementares poderão ser realizadas de acordo com as seguintes modalidades Modalidade Acadêmica Essas atividades devem ser adequadas à respectiva formação acadêmica podendo ser apresentada da seguinte forma I Eventos variados da área de formação Palestras e aulas magnas seminários exposições simpósios congressos conferências e sessões de vídeo entre outros na Unifaveni ou em outra instituição sendo esta credenciada pelo MEC R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 II Curso de Extensão realizadas pela Unifaveni em órgãos da classe em entidades públicas ou privadas desde que previamente aprovadas pela UNIFAVENI III Monitoria em disciplinas teóricas e práticas IV Publicação de resumos e artigos em congressos participação em encontros acadêmicos bem como publicação em jornais e revistas cientificas V Participação em Programas de Iniciação Cientifica VI Validação de disciplinas não aproveitadas na análise curricular desde que tenham aderência com o respectivo curso de graduação VII Assistir comprovadamente defesas de monografias dissertações de teses ou de trabalhos de conclusão de cursos afim ao curso de formação Modalidade Profissional Estas atividades devem ser adequadas à respectiva formação profissional podendo se apresentar das seguintes formas I Oficinas visitas técnicas cursos técnicos Cursos de formação em serviços realizados na Unifaveni em órgãos da classe em entidades públicas ou privadas desde que reconhecidas pela UNIFAVENI II Monitorias de disciplinas pertencentes aos cursos de 2ª Licenciatura e Formação de Docente de acordo com a regulamentação da instituição III Apresentação de trabalho científico apresentado ou não à comunidade acadêmica IV Realização de cursos livres idiomas informática V Participação em projetos de extensão comunitária Modalidade Cultural Estas atividades devem ser adequadas à respectiva formação cultural podendo se apresentar das seguintes formas Visitas monitoradas a museus centros culturais exposições galerias de arte concertos espetáculos de dança teatro e cinema desde que sejam apresentados relatórios e certificação R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 Parágrafo 1º Considerando a relevância das atividades complementares para o maior aperfeiçoamento crítico teórico instrumental flexibilização do currículo maior integração entre o corpo discente e docente e ainda o aprofundamento do grau de interdisciplinaridade na formação acadêmica o aluno deverá cumprir no mínimo duas dentre as atividades discriminadas no Artigo 3º para perfazer o total de horas de atividades exigidas em cada currículo de acordo com as diretrizes curriculares Parágrafo 2º O aluno poderá ultrapassar o limite do total de horas de atividades estabelecido levandose em conta seu interesse e disponibilidade o que sem dúvida enriquecerá ainda mais seu currículo Parágrafo 3º Quaisquer outras atividades que o discente considere relevante para sua formação poderão ser apresentadas ao coordenador do curso decidindo a validade ou não como atividade complementar bem como atribuição das horas de atividade que julgar conveniente Tal solicitação deverá ser feita em requerimento escrito instruído com os elementos probatórios que o discente entenda pertinentes à homologação da atividade desenvolvida CAPÍTULO III DA COORDENAÇÃO DAS ATIVIDADES ACADÊMICAS COMPLEMENTARES Art 4º A coordenação das atividades acadêmicas complementares será exercida pelo coordenador de curso especialmente designado pela direção acadêmica da IES para o exercício desta função Art 5º Compete ao coordenador do curso I Aprovar o plano de atividades de cada aluno II Exigir a comprovação documental pertinente III Coordenar a divulgação das atividades acadêmicas complementares para os alunos IV Remeter à secretaria da UNIFAVENI a respectiva carga horária computada para fins de registro no Histórico Escolar após o cumprimento das horas mínimas exigidas por curso R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 Parágrafo Único Os documentos comprobatórios das atividades acadêmicas complementares devem ser apresentados na forma original e cópia simples devendo ser arquivado em pastas individuais sendo descartados após o término do curso e registro das horas Art 6º É de exclusiva competência da coordenação de cursos a atribuição de horas de atividades de cada aluno dentro dos tipos e limites fixados neste regulamento Parágrafo 1º Não serão atribuídas horas para quaisquer trabalhos ou demais atividades que demonstrem características de simples reprodução de plágio seja parcial ou totalmente Os trabalhos nestas características serão devolvidos e necessariamente refeitos Na reincidência do procedimento plágio o trabalho será desqualificado Parágrafo 2º Dirimir quaisquer dúvidas referentes ao presente regulamento em primeira instância Art 7º Objetivando maior qualidade e atendendo ao Art 2º deste regulamento a tabela das atividades acadêmicas complementares poderá ser alterada a qualquer tempo pela coordenação de cursos CAPÍTULO IV DO ALUNO Art 8º Ao aluno compete I cumprir efetivamente as atividades complementares nos termos deste regulamento cuja integralização e controle da carga horária são de sua inteira responsabilidade e condição indispensável à colação de grau II providenciar a documentação que comprove a sua participação em atividades complementares contendo principalmente Tipo Modalidade Data Local e Carga horária R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 III protocolar na coordenação de curso em formulário próprio a documentação com os devidos comprovantes de atividades realizadas em cada período letivo do curso CAPÍTULO V DA REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES ACADÊMICAS COMPLEMENTARES Art 9º As atividades acadêmicas complementares a serem desenvolvidas e suas respectivas cargas horárias encontramse anexas a este regulamento Parágrafo 1º É indispensável para as atividades que assim o exigirem a apresentação de relatórios corretos e complexos das atividades acadêmicas complementares bem como o fiel cumprimento dos prazos e datas fixadas devendo o coordenador do curso determinar que sejam refeitos relatórios que não estejam dentro das normas técnicas e gramaticais sob a pena de não serem computadas as horas de atividades realizadas pelo aluno Parágrafo 2º No caso de atividades externas para que a carga horária seja validada o acadêmico deverá apresentar à coordenação de curso o comprovante de sua participação assinado pelo responsável pelo evento juntamente com o Relatório Art 10 Este Regulamento entrará em vigor na data de sua publicação Anexo I TABELA DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES GRUPO ATIVIDADE CH MÁXIMA DOCUMENTAÇÃO DE COMPROVAÇÃO I Visitas Técnicas Patrimônios culturais Patrimônios tombados Cidades históricas 50h totais Até 10h por evento O aluno deverá encaminhar Comprovante de visitas Tipos de comprovantes fotos que comprovem a R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 Monumentos Museus de arte Memoriais Empresas correlatas a área de curso presença do aluno no local e durante a visitação ingressos ou declarações Relatório O aluno deverá especificar a quantidade de horas do evento em seu relatório II Participação e apresentação de Congressos Seminários Palestras Trabalho de Conclusão de Curso Olimpíadas Participação em eventos palestras Workshops Congressos webinar conferência e seminários De natureza acadêmica ou profissional relacionada com os objetivos do curso na modalidade online 120h totais Até 40h por evento O aluno deverá encaminhar Certificado ou Declaração de participaçãoconclusão Relatório O aluno deverá especificar a quantidade de horas do evento em seu relatório III Artigos publicados em Jornais ou revistas Anais Capítulo de livros Livros 120h totais 40h por evento O aluno deverá encaminhar Cópia do artigo Resenha Capa do livro ou revista ou jornal R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 IV Convalidação de Disciplinas Disciplinas cursadas fora da matriz curricular e que estejam dentro do período de realização do curso 100h totais 20h por semestre O aluno deverá encaminhar Histórico assinado e carimbado constando a aprovação da disciplina e período de curso Planos de ensino V Atividades Assistenciais Atividades Voluntárias Participação em ações sociais e comunitárias Como Doação de Alimentos não perecíveis materiais e produtos de limpeza Doação de Agasalhos Doação de Sangue Realização de trabalho voluntário na comunidade em atividades devidamente comprovadas 100h totais 20h por evento O aluno deverá encaminhar Declaração da Instituição Doação se sangue Comprovante emitido pelo serviço de saúde banco de sangue Outras doações Declaração do gestor do local instituiçãoassociação beneficente que recebeu a doação do estudante Trabalho voluntário Declaração do gestor do local instituiçãoassociação beneficente Relatório das atividades desenvolvidas Observação A declaração deverá conter os dados da instituição assinatura e carimbo R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 VI Atividades Culturais Filmes Teatros Shows Feiras Exposições 50h totais 05h por evento O aluno deverá encaminhar Comprovante ingresso ou declaração Resenha ou relatório VII Cursos Online 100h totais Número de horas do certificado Respeitando o limite máximo Obs Serão aceitos somente certificados com carga horária mínima de 05 horas O aluno deverá encaminhar Certificado ou declaração da Instituição Relatório VIII Cursos Presenciais 50h totais Número de horas do certificado Respeitando o limite máximo Obs Serão aceitos somente certificados com carga horária mínima de 05 horas O aluno deverá encaminhar Certificado ou declaração da Instituição Relatório R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 IX Atividade do Exercício Profissional Atividade profissional em área correlata ao seu curso de formação Cumprimento de estágio remunerado extracurricular na área correlata à formação Não é permitido estágio curricular obrigatório 100h totais 10 Horas a cada mês trabalhado O aluno deverá encaminhar a comprovação do vínculo empregatício Declaração da escola A Declaração deverá possuir nome completo doa alunoa CPF data do registro período de trabalho nome e descrição do cargo CNPJ número da portaria da escola ou número do INEP da escola nome completo doa diretora carimbo e assinatura X Cursos extracurriculares Pósgraduação Capacitação Formação continuada 100h totais Número de horas específicas no certificado Respeitando o limite máximo O aluno deverá encaminhar Certificado frente e verso ou Declaração de conclusão de curso constando o período de realização do curso O nome Capacitação Formação continuada ou Pósgraduação dos cursos devem estar na descrição do certificado Relatório R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 XI Leitura Leitura de matérias referentes ao tema do curso publicadas em Jornais Revistas Livros Periódicos 50h totais 10h totais por semestre O aluno deverá encaminhar Cópia do material artigo resumo do artigo ou capa legível Resenha XII Monitoria 100h totais 20h por semestre O aluno deverá encaminhar Declaração da Instituição Relatórios R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 FICHA REQUERIMENTO DE ATIVIDADES ACADEMICAS COMPLEMENTARES ALUNO PERÍODO TURMA DATA Venho por meio dessa requerer o registro de horas de cumprimento da atividade complementar pelas atividades abaixo indicadas Atividade Regulamentar Descrição da atividade realizada Horas solicitadas Visitas Técnicas e Atividades Culturais Itens I e VI Cursos online e presencias Itens VII e VIII Atividades de ensino pesquisa e prática Itens II III IV IX X XI e XII Atividades Assistenciais e Sociais Item V Pelas horas solicitadas está sendo anexado o s seguinte s documento s R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 MODELO PARA REALIZAÇÃO DE RELATÓRIOS DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES ALUNO PERÍODO TURMA DATA Preencher um relatório para cada atividade Aluno Turma Tipo de Atividade Assunto Relatório sobre a atividade desenvolvida abrangendo Conteúdo abordado R Força Pública Centro Nº89 Guarulhos SP CEP 07012030 CríticasSugestões GÉSSICA MIRANDA DOS SANTOS GÉSSICA MIRANDA DOS SANTOS Código de verificação q4ZVJQdcy85M q4ZVJQdcy85M Emitido em 06022024 06022024 Para validar acesse httpseventoscongressemecertificadosvalidarcertificado httpseventoscongressemecertificadosvalidarcertificado ALTA PERFORMANCE E PRODUTIVIDADE ALTA PERFORMANCE E PRODUTIVIDADE PROGRAMAÇÃO PROGRAMAÇÃO 070522 1200 3 pilares essenciais para realizar todas as suas atividades profissionais e pessoais 070522 1200 6 Dicas de como se tornar um especialista em qualquer área de atuação 070522 1200 Aprenda na prática a como organizar e executar seus planos e metas 070522 1200 A Sua Mudança Aprenda a como vencer a falta de tempo e executar todas as suas atividades diárias ter momentos com sua família seu hobby e lazer 070522 1200 Como aumentar a sua produtividade 2 Técnicas para usar ainda hoje 070522 1200 Como criar métodos eficientes para ter mais tempo e resultado 070522 1200 Como ganhar 2 horas todos os dias sem planejar cada detalhe da sua rotina tomar banho gelado ou acordar 5h 070522 1200 Como organizar seus dispositivos para ser mais eficiente e ter mais tempo 070522 1200 O passo a passo prático para escolher a área de atuação certa para você 070522 1200 Os 7 inimigos da produtividade O real motivo da falta de tempo 070522 1200 Passo a passo prático utilizando a ferramenta Notion para planejar e executar atividades diárias 070522 1200 Soft Skills As habilidades comportamentais que vão alavancar o seu crescimento profissional Certificamos que Géssica Miranda Dos Santos concluiu o Curso Oratória e Apresentação em Público em Fevereiro2024 com a carga horária total de 10 horas realizado no site wwwCursosOnlineEDUCAcombr Curso Livre amparado conforme Lei nº 939496 Decreto Presidencial nº 51542004 e Resolução CNECEB nº 0499 Empresas e Instituições poderão consultar a veracidade desse certificado através da página wwwcursosonlineeducacombrautenticaphp Código do certificadoEDUCAGR29824239 Cursos Online EDUCA CNPJ 21295901000128 Desde 2014 Certificamos que Géssica Miranda Dos Santos concluiu o Curso Etiqueta Empresarial em Fevereiro2024 com a carga horária total de 10 horas realizado no site wwwCursosOnlineEDUCAcombr Curso Livre amparado conforme Lei nº 939496 Decreto Presidencial nº 51542004 e Resolução CNECEB nº 0499 Empresas e Instituições poderão consultar a veracidade desse certificado através da página wwwcursosonlineeducacombrautenticaphp Código do certificadoEDUCAGR29819474 Cursos Online EDUCA CNPJ 21295901000128 Desde 2014 Certificado V4 C E R T I F I C A D O D E C O N C L U S Ã O Certificamos que GÉSSICA MIRANDA DOS SANTOS concluiu o curso de MICROSOFT EXCEL 2016 BÁSICO com carga horária de 15 horas no período de 07022024 a 07022024 Osasco 07 de fevereiro de 2024 Simone Claudino de Carvalho Flores Escola Virtual Géssica Miranda Dos Santos Aluno a Código de Autenticidade 91014C99336F4B82B41DBE457D254CBC ou utilize o QR Code no portal da EV Fundação Bradesco Cidade de Deus snº Vila Yara Osasco SP CEP 06029900 CNPJ 60701521000106 wwwevorgbr Escola Virtual Fundação Bradesco httpslmsevorgbrmplsWebLmsStudentPrintCertificateDialogasp 1 of 1 07022024 1233 Certificado V4 C E R T I F I C A D O D E C O N C L U S Ã O Certificamos que GÉSSICA MIRANDA DOS SANTOS concluiu o curso de MICROSOFT EXCEL 2016 INTERMEDIÁRIO com carga horária de 20 horas no período de 07022024 a 07022024 Osasco 07 de fevereiro de 2024 Simone Claudino de Carvalho Flores Escola Virtual Géssica Miranda Dos Santos Aluno a Código de Autenticidade DA0DDEBCFD6540EFB3DEB1168B8C851F ou utilize o QR Code no portal da EV Fundação Bradesco Cidade de Deus snº Vila Yara Osasco SP CEP 06029900 CNPJ 60701521000106 wwwevorgbr Escola Virtual Fundação Bradesco httpslmsevorgbrmplsWebLmsStudentPrintCertificateDialogasp 1 of 1 07022024 1502 Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE HENNING Leoni Maria Padilha MAURANO Laura Maria dos Santos Filosofia da edu cação brasileira origem e importância Revista SulAmericana de Filosofia e Educação Número 21 nov2013abr2014 p 4771 Resumo Este artigo é fruto de uma pesquisa bibliográfica pautada no pensamento reflexivo deweyano que teve como objetivo encontrar subsí dios teóricos para analisar a origem e a importância da Filosofia à Educa ção brasileira enquanto atividade problematizadora voltada à mudança devendo estar sempre vinculada à prática Verificouse que a Educação só passou a ser um problema para a Filosofia a partir da formação de pro fessores com a implantação das esco las normais Palavraschave Filosofia Educação Formação de professores Resumen Este artículo es el resultado de una investigación bibliografíca basada en el pensamiento reflexivo de Dewey que tenía como objetivo encontrar bases teóricas para analizar el origene y la importancia de la Filo sofía a la Educación de Brasil porque Professora orientadora atuante no Depar tamento de Educação da UEL e coordenado ra do Grupo de Pesquisa Positivismo e prag matismo e suas relações com a Educação Email leonihenningyahoocom Aluna Especial do Curso de Mestrado em Educação pela UEL e integrante do Grupo de Pesquisa Positivismo e pragmatismo e suas relações com a Educação LondrinaPR Especialista em Propaganda Marketing e Publicidade pela UniFil LondrinaPR Espe cialista em Gestão de Pessoas pela UniFil LondrinaPR Graduada em Administração pela UniFil LondrinaPR Graduanda em Pedagogia na UniFil LondrinaPR Email lauramauranohotmailcom és una actividad problematizadora que apunta cambios así siempre de be estar vinculada a la práctica Se encontró que la educación sólo em pesó a ser uno problema para la filo sofía a partir de la formación de maestros con la implementación de las escuelas normales Palabras clave Filosofía Educación Formación del profesorado Introdução Pesquisar sobre a presença dos filósofos no cenário da intelectualida de brasileira que pensa a Educação sob uma abordagem reflexiva é im portante para entendermos a origem e a importância da Filosofia à Educa ção brasileira enquanto aquela ativi dade que problematiza as questões gestadas no âmbito educacional e enfrentadas pelos profissionais inte ressados pelo fenômeno em situação própria da nossa realidade Dewey3 esclarece que uma vez que a educação é o processo por intermédio do qual se podem operar as transfor mações necessárias consegui mos justificar a afirmação de que a FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA ORIGEM E IMPORTÂNCIA Leoni Maria Padilha Henning Laura Maria dos Santos Maurano Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 48 filosofia é a teoria da educação e esta a sua prática deliberadamente empre endida DEWEY 1979b p 365 Nesse sentido entendemos que para construirmos uma visão lúcida do fenômeno educativo brasileiro exige se igualmente a compreensão da Filo sofia da Educação enquanto um sa ber elaborado neste contexto Para a realização deste trabalho procuramos operar por meio da análise reflexiva própria do campo filosófico educacional pautada em alguns tex tos de autores pontuais encontrados na trajetória da Filosofia e da Filosofia da Educação realizada no Brasil cujo tratamento nos permite traçarmos algumas pistas do problema desde as suas origens Percebemos entretanto que inicialmente muito raramente os filósofos no Brasil tomaram a Educa ção como seu problema central nem mesmo os problemas próprios da nossa realidade enquanto povo para as suas reflexões primeiras Essa con quista foi acontecendo muito gradati vamente Tendo dito isso esclarecemos que partimos de algumas premissas para o desenvolvimento do estudo a saber 1 O pensamento brasileiro tem origens ocidentais tendo importante contribuição inicial vinda da escolásti ca no que diz respeito ao tomismo elemento trazido principalmente pelos portugueses ao que mais tarde se somaram outras influências como o empirismo mitigado o ecletismo e o positivismo francês dentre outras ao longo do processo 2 o Positivis mo influenciou fortemente a socieda de brasileira da inaugurada Repúbli ca se constituindo num marco causa dor de importante reação por parte da instalada hegemonia católica ten do engendrado motivos doutrinais incisivamente laicos e anti metafísicos dentre outros 3 a Edu cação brasileira começa efetiva mente a ser problema para a Filosofia somente a partir da necessidade de formação dos professores acho que assim neste caso ficaria melhor Quanto a esse último ponto questio nase se de fato a origem da disci plina Filosofia da Educação brasileira estaria mesmo atrelada à preocupa ção com a formação de professores O objetivo estabelecido aqui é encontrar subsídios teóricos que nos permitam aferir acerca da origem e importância da Filosofia enquanto um Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 49 saber voltado à Educação brasileira Porém a análise dos múltiplos aspec tos que envolvem este tema seria de masiado extensa para um artigo por isso é necessário o recorte do objeto Portanto buscando encontrar infor mações satisfatórias para responder à questão proposta serão analisados os aspectos históricofilosóficos que permeiam o tema Para confirmar a importância dessa perspectiva Nóvoa reforça o entendimento dizendo que as ciências humanas são históri cas por natureza tanto pelos seus objetivos como pelos seus modos de conhecimento NÓVOA 2007 p 17 Fundamentos metodológicos Diante da necessidade de eluci dar o questionamento desta pesquisa foi realizada uma análise bibliográfica pautada no pensamento reflexivo ou pensamento correto de tradição de weyana o qual é entendido como atividade humana inteligente questi onadora investigativa encadeada coerente conexa racional sujeita à prova aspirante à conclusão em oposição ao pensamento irreflexivo incorreto acrítico solto irrelevante Dewey diz que Assim um pensa mento ou ideia é a representação mental de algo não presente e pensar consiste na sucessão de tais represen tações DEWEY 1979a p 15 Ao buscar encontrar os nexos das ideias explicativas encontradas na bibliogra fia seguimos compondo a nossa compreensão sobre o problema Mesmo tendo consciência das limitações de tempo espaço objeto selecionado e adequado às coorde nadas aqui estabelecidas buscamos refletir sobre as ideias mais relevantes ao desenvolvimento do tema pois procurar se pautar neste pensamento e não praticar o exercício reflexivo ao longo desta pesquisa não seria pro priamente operar por meio da refle xão crítica mas somente reproduzir mos o que nos dizem os textos A título ilustrativo cumpre ob servar que o pensamento proposto por Dewey partiu inicialmente da teo ria naturalista darwiniana sendo por tanto entendido como resultado da evolução biológica Dewey se apro ximou desta teoria para fundamentar o caráter ativo inteligente interativo e natural da atividade humana a par tir da adaptação dos organismos vi Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 50 vos ao ambiente Para o autor pensar é pôr em ordem um assunto com o fim de descobrir o que significa ou indica E o pensamento não existe sem essa coordenação DE WEY 1979a p 244 Esta afirmação se fundamenta na ideia de inteligên cia necessária para haver a organiza ção Ao operar com a superação dos dualismos o autor não concebe a inteligência dissociada da ação pois sempre procurou a superação dos dualismos impostos pela Filosofia Tradicional que os provocara segun do o seu entendimento Nesse senti do pensar os problemas práticos da Educação assim categorizados não seria algo incompatível ao traba lho genuinamente filosófico Enquanto ato contínuo perce bemos que a afirmação de Dewey referente ao pensar nos remete a alguns questionamentos fundamentais para entendêlo Quem pensa ser O que pensa conteúdo Por que pensa causalidade Como pensa méto do Para que pensa finalidade Logo vem à mente que quem pensa é um organismo vivo um ser biológico diferente mas não inde pendente do ser inanimado Então o que pensa este ser relacionase a ou tra questão subsequente isto é pensa sobre a sua existência seus proble mas suas relações suas possibilida des suas limitações desafiadas pelas suas crenças estremecidas Pensa porque tem necessidade de manter sua existência e conservar a vida uma vez que a mudança contínua desafia as crenças estabelecidas Nes ta manutenção é necessário dispen der esforços para transformar as ener gias Logo como pensa diz respeito à maneira como utiliza os esforços para transformar essas energias em ele mentos favoráveis à sua conservação e assim fazendo promove empenho inteligente para se beneficiar das energias presentes no ambiente Pen sa para se desenvolver crescer se conservar se comunicar se satisfazer Partindo do pressuposto de que sua constituição é física química e psíqui ca se ele pensa é porque há inicial mente movimento de energias Se há este movimento há também interação entre os seres num processo de ação e reação Nesse sentido diante de uma necessidade o organismo se desequilibra precisando reagir e promover esforço para retomar o seu Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 51 estado anterior Assim diante da sa tisfação recupera o equilíbrio Por pensamento reflexivo de weyano DEWEY 1979a p 24 e 25 entendese o método que parte de uma dúvida de uma perplexidade ou de um problema Esta dúvida estimu la a investigação a pesquisa e a bus ca de material que esclareça e resolva o problema e resulte em conhecimen to Portanto Dewey entende que Pensar é o método de se aprender inteligentemente de aprender aquilo que utiliza e recompensa o espírito DEWEY 1979b p 167 grifos do autor É por meio da atividade física e psíquica que conhecemos encon tramos problemas e soluções trans formamos o mundo Assim falarmos em investigar a Educação brasileira devemos considerar em que medida que os problemas efetivamente bra sileiros conquistaram os interesses dos nossos filósofos Seguindo a perspectiva de weyana de análise pontuamos ainda que o autor acredita que a Educação não é um processo de preparação para a vida mas constituise a própria vida na qual a atividade o mundo da ação e da prática manifestam o que é característico do homem um ser de experiências DEWEY 1979b p 1 Quais seriam pois as experiências do homem brasileiro dentre as quais nos interessam as educativas que foram problematizadas pela Filosofia Brasi leira Vale registrar que o ser humano não é somente biológico pois históri co cultural e social Nesse panorama destacamos a dimensão social do homem para dizer que Dewey defen de a continuidade da vida social por meio da Educação portanto defende a sua função social ou seja A edu cação é para a vida social aquilo que a nutrição e a reprodução são para a vida fisiológica DEWEY 1979b p 10 Anísio Teixeira o filósofo da Educação brasileira conhecido como um grande portavoz das ideias de weyanas em nosso país acrescenta sobre a importância da experiência pois para ele não existem soluções prontas para serem aplicadas absolu tamente em qualquer situação Afir ma Crescer e desenvolverse é para o homem aumentar em força de compreensão força de reali zação e força de expansão Ne nhuma dessas forças se efetiva porém sem que ele experimen Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 52 te antes dirigir coordenar e co mandar as próprias forças de seu desejo do seu pensamento e do seu corpo TEIXEIRA 2007 p 32 Se o individuo é social que tipo de sociedade Dewey preconizava Uma democracia é mais do que uma forma de governo é essencialmente uma forma de vida associada de ex periência conjunta e mutuamente comunicada DEWEY 1979b p 93 Daí a importância de investirmos nos processos educativos pois como disse Teixeira a educação e a sociedade são dois processos funda mentais da vida que mutuamente se influenciam TEIXEIRA 2007 p 87 grifos do autor Podemos dizer que a sociedade democraticamente preconi zada é aquela em que há indivíduos capazes intelectualmente de contribuir para as transformações necessárias visando ao bem comum e isso só pode acontecer por meio do pensa mento reflexivo Ou seja por meio da inteligência que constrói debates or ganizados evitando a luta armada mas preconizando uma luta por meio da inteligência como força social Esta reflexão sobre os funda mentos metodológicos propostos nes ta pesquisa não esgota a teoria do pensamento reflexivo mas acredita mos que contribui para esse exercício para a justificativa do próprio tema e problema do nosso interesse visando suscitar no leitor o desejo de também investigar Neste momento o estudo se apoia na teoria como um meio para buscar compreender as relações de causa e efeito versadas no proble ma ou seja uma oportunidade de utilizar o conteúdo como instrumento de aprendizagem compreendendo contudo que ele não deve significar um fim em si mesmo como era pró prio da escola tradicional doutrinária conteudista memorística autoritária e que tinha como resultado a manu tenção do status quo oposta à escola vinculada às ideias deweyanas Entendemos que a análise refle xiva é o caminho apropriado para apreendermos criticamente o pensa mento filosófico pois Severino argu menta que não é sempre que o pensar filosófico se expressa explici tamente muitas vezes ele se encontra implícito Subjacente a outras formas de expressão cultural SEVERINO 2007 p 55 Assim as manifestações Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 53 filosóficas podem estar explícitas im plícitas ou pressupostas Procurando entender se de fa to a origem da Filosofia da Educação brasileira estaria mesmo atrelada à preocupação com a formação de pro fessores a partir deste ponto a tarefa é desvelar a história da constituição da disciplina em apreço procurando respostas que satisfaçam à proposição deste artigo ao menos neste momen to O pensamento filosófico ocidental Em Severino é possível entender que a cultura ocidental se desenvol veu a partir de três culturas mediter râneas quais sejam judaísmo cristi anismo helenismo Este período se refere à preponderância da Grécia ou cultura grega a partir do domínio de Alexandre o Grande que juntamente com sua expansão militar promove a fusão das origens da Grécia ocidental Atenas e as da Grécia Oriental Im pério Bizantino Portanto a visão de homem e de mundo e ainda a per cepção da realidade são aspectos re sultantes das interrelações dessas culturas pois esse autor acredita que essas concepções básicas dão conta das orientações que os homens buscaram imprimir em suas ações e em sua história justificando ideologi camente o mais das vezes as suas ações políticas SEVERINO 2007 p 45 Assim no encontro dos roma nos judeus e gregos é que temos en tão localizado as raízes da cultura oci dental conforme esclarecemos a se guir O judaísmo era uma religião uma doutrina mística e teológica e uma cultura mediterrânea Sua histó ria está registrada no Velho Testa mento Acreditavam num só Deus na continuidade histórica na valorização do corpo na coletividade e no por vir Era uma visão transcendente e essencialista Já os gregos não acredi tavam que estavam ligados a um Deus pessoal Achavam que o univer so só podia ser explicado por princí pios racionais O homem era o único responsável pelo seu destino e devia se adequar às exigências do universo Porém com a expansão do Império Romano as duas culturas se encon tram e inicialmente se confrontaram mas na sequência com o cristianis mo há a síntese cultural a partir de um movimento social e religioso en Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 54 quanto dissidência do judaísmo Foi justamente por meio do cristianismo que esses princípios foram legados ao Ocidente Severino explica que a impregnação dos princípios filosófi cos gregos no cristianismo foi profun da e radical o Ocidente é filho do racionalismo grego SEVERINO 2007 p 50 Posteriormente após o fim do Império Romano a Igreja Católica começou a desenvolver métodos pe dagógicos para civilizar os novos bárbaros oriundos do norte da Euro pa A base desses métodos era o pen samento grego Severino faz referên cia a dois pensadores cristãos que participaram dessa reelaboração Agostinho e Tomás de Aquino sendo que o primeiro compatibilizando a teologia e a ética cristã com a filoso fia platônica o segundo fazendo o mesmo com a filosofia aristotélica SEVERINO 2007 p 51 Eis a de tecção de um importante lastro para a cultura brasileira uma vez que os je suítas nossos primeiros educadores trazem tal filosofia principalmente o tomismo como base de suas ações educativas no Brasil As raízes portuguesas e francesas Mesmo que o homem possa de finir períodos históricos tais como antiguidade idade média renascen ça era da revolução modernidade contemporaneidade para descrever seu desenvolvimento político eco nômico cultural e social e ainda esclarecer como os territórios foram conquistados e as noções foram cons tituídas os diversos acontecimentos não se dão de forma linear em todos os países Se a temporalidade não é linear o espaço é demarcado por meio de atividades comuns lutas e acordos Portanto podemos dizer que na história humana a conquista territorial e a constituição das nações sempre foram marcadas por conflitos guerras e pactos A Filosofia busca compreender as relações de poder e o avanço do homem nesse panorama social em termos de seu crescimento desenvolvimento e participação ativa no contexto das nações O papel da educação com o seu projeto formati vo foi sempre buscado contribuir nesse contexto No estabelecimento da nação portuguesa e na demarcação do seu território não foi diferente Sua luta girava em torno das culturas hebrai Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 55 ca judaísmo portuguesa muçulma na islamismo e cristãocidental e suas vitórias eram atribuídas à autori dade divina assim como expressa Paim ao relatar que Na luta contra os mouros com vistas à sua expulsão da península acreditavase que os portugueses eram ajudados pela in tervenção direta da divindade PAIM 2007 p 4 Destacamos que a dominação árabe sobre a península ibérica após a invasão moura liga Portugal à África moura E por mou ro entendese o nome que os espa nhóis e portugueses costumavam usar para se referir aos árabes Natural mente essas influências acabariam chegando ao Brasil Entre os séculos XII e XIV para Paim chegava a termo a expul são dos árabes e a independência de Castela criandose as bases para a conquista de outros territórios PAIM 2007 p 4 e 5 A Coroa Por tuguesa tentou manter os judeus co mo seus servos porém como eles não se sujeitavam no final do século XV foram expulsos Porém foi proposta uma possibilidade aos que quisessem ficar no território qual seja o batismo forçado Desse modo surge em Por tugal os chamados cristãonovos ou quais foram discriminados pratica mente até a segunda metade do sécu lo XVIII quando Pombal intervem revogando a lei que amparava tal disparate São justamente aqueles pertencentes à categoria de cristãos novos que vieram para a Colônia Paim diz que O processo histórico antes resumido refletese na filosofia registrandose três grandes tradições hebraicoportuguesa muçulmana e cristãocidental PAIM 2007 p 5 O período medieval anterior àquele no qual fomos descobertos mas cuja cultura influenciou até mais tarde a cultura portuguesa trouxe uma Filosofia baseada na autoridade divina manifesta em algumas obras e pensadores e esta era o critério para se conhecer a verdade Assim seu incipiente pensamento filosófico gira em torno dos temas teológicocristãos sem permitir evocar qualquer tema de cunho nacional necessário ao desen volvimento de um estado liberal No alvorecer da modernidade o pensamento filosófico português tenta romper com o tradicionalismo porém mais do que um rompimento radical era uma tentativa de se adequar ao Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 56 racionalismo cartesiano concepção filosófica moderna que reconhece a razão como fonte exclusiva de conhe cimento a qual entra em debate com o empirismo No afã de superar a dominação religiosa surge não só a busca de liberdade como também a busca por um Estado laico impulsio nado pelo estabelecimento do protes tantismo em 1683 John Locke 16321704 refugiase na Ho landa onde amadurece em seu espírito a doutrina do sistema representativo garantia do êxito da Revolução Gloriosa de 1688 e marco decisivo do pensamen to liberal E assim a moder nidade viu nascer o espiritualis mo que encontrará o seu lugar entre a senda aberta pelo empi rismo que acabará circunscre vendose a uma inquirição so bre a ciência e o transcenden talismo kantiano Os três vetores iriam transformarse no que de efetivamente novo viria a ser criado pela Filosofia Moderna PAIM 2007 p 6 e 7 grifos do autor Além das influências portugue sas o pensamento brasileiro também foi influenciado pelo ecletismo fran cês conforme pontua Paim A filosofia brasileira embora visceralmente ligada à portugue sa seguiu uma linha autônoma onde sobressaia a influência do ecletismo francês que ao invés de contribuir para fixar tradição espiritualista e talvez por essa via reaproximandonos da pro blemática a que daria preferên cia a filosofia portuguesa levou ao contato com as correntes ne okantianas E este contato aca baria consolidando aquela di versidade original sic de inte resses PAIM 2007 p 7 As bases desta diversidade tam bém podem ser encontradas na he rança místicoreligiosa por ocasião da Independência do Brasil Esta heran ça está relacionada diretamente com o legado iluminista do período pom balino Paim argumenta que a tradi ção religiosa era exclusivamente católica e tivera de se defrontar com cul turas pouco articuladas africana e aborigine De sorte que a expulsão dos jesuítas em mea dos do século XVIII deixaria a própria Igreja à mercê do ideá rio iluminista concebendose mesmo uma instituição religiosa de ensino o Seminário de Olin da à imagem e semelhança da Universidade reformada por Pombal A herança místico religiosa deixou assim de cons tituir ponto de referência da in tenção racionalizadora PAIM 2007 p 8 Uma análise mais minunciosa proposta para outros estudos do se gundo período da escolástica portu guesa e das marcas traçadas pelo empirismo mitigado iriam relevar as Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 57 direções da filosofia brasileira porém para completar o entendimento geral destacamos A expulsão dos jesuítas em 1759 cindiu de modo vio lento e abrupto o pensamento nacional Daí em diante e até a Independência o interesse mai or estará voltado de um lado para a formação meramente ci entífica e de outro ao que se supõe em proporções deveras limitadas pela frustração do empenho modernizador capita neado por Pombal para as idéias políticas trazidas à baila pelas Revoluções Americana e Francesa PAIM p 10 grifos nossos Quais são os reflexos desta situ ação no pensamento filosófico Foi necessário superar o desenvolvimento colonial imperial e finalmente o re publicano pois à época dos jesuítas lançaramse os alicerces da Educa ção porém não foi o suficiente para emergir um pensamento filosófico propriamente brasileiro em relação à Educação Havia muitas carências como a possibilidade de editar livros a existência de uma Universidade um Estado laico portanto o interesse filosófico era muito reduzido na Co lônia Até os começos da segunda me tade do século XVIII a produ ção de autores brasileiros equi vale acerca de duzentos títulos As obras literárias de cunho his tórico ou descritivas bem como as de índole didática técnica ou filosófica oscilam em torno de trinta Toda a parcela restante poderia ser agrupada como apologética do denominado sa ber de salvação em sua maioria na forma de sermões PAIM 2007 p 18 e 19 Com a expulsão dos jesuítas a Igreja Católica foi deixada à mercê do ideário iluminista O espiritualismo eclético despontou como uma con cepção filosófica durante o Segundo reinado A oposição tradicionalista impõe o debate acerca da fundamen tação eclética da moralidade O ecletismo permitia ainda manter vivo o debate em torno das questões mais palpitantes da filosofia evitando assim to do risco de dogmatismo de que seria vítima o espiritualismo católico O ecletismo servira ainda para projetar a intelectua lidade brasileira no cenário eu ropeu como elemento dotado de autonomia e independência em relação à filosofia portugue sa A oposição ao ec1etismo provinha de dois segmentos o cientificismo e o tradicionalismo Justamente esta é que iria arrastar os ecléticos brasileiros para a movediça problemática moral Assim instados pelos tradicionalistas que os acusa vam de minar as bases morais da sociedade ao menosprezar o papel da Igreja Católica os eclé ticos brasileiros são levados a Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 58 empreender esta discussão co mo fundar a moral a partir do empirismo de Biran PAIM 2007 p 106 grifos nossos Eis o despontar de um novo de senho ao pensamento filosófico no Brasil marcado por visões anti metafísicas e religiosas e crescente tendência ao cientificismo Nesse sen tido o período contemporâneo da Filosofia viu nascer esforços na procu ra da subjetividade como superação ao cientificismo aquele que levou à termo a metafísica Para Paim Estru turase a contemporânea epistemolo gia Surge um patamar de contestação ao cientificismo Pro cesso análogo tem lugar no Brasil com a reação ao positivismo na Esco la Politécnica do Rio de Janeiro Formase no país uma corrente neo positivista PAIM 2007 p 265 Anísio Teixeira TEIXEIRA 2007 p 140 é categórico ao questi onar o que resta à Filosofia e nos im põe a inquietação do exercício refle xivo ao longo da vida e da atuação profissional na docência O que acaba por servir de argumento à nossa luta em defesa impreterível e irrevogável da Filosofia da Educação para a for mação de professores Não uma Filo sofia descritiva dos fatos históricos desconexos e sem significados traba lhada em uma ou outra disciplina mas uma verdadeira busca pelo pen samento reflexivo para analisar as possibilidades de desenvolvimento humano e profissional do educador alheio aos vieses ideológicos e para sucitar debates éticos estéticos políti cos culturais e sociais neste âmbito por uma Filosofia da Educação en quanto teoria geral da educação co mo preconizava Dewey o grande mestre de Anísio DEWEY 1979 p 365 Primórdios da educação brasileira Conforme exposto o pensa mento moderno procedeu da visão de mundo grega e impregnou todo o ocidente chegando ao Brasil por meio dos padres jesuítas quando as expedições portuguesas aportam na Terra de Vera Cruz animadas pela conquista de novos continentes Na Educação essa influência foi marcada por esses educadores da Companhia de Jesus cuja expedição tinha a mis são primeira de converter os nativos à fé católica acreditandose que a alfa betização era o melhor meio para Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 59 catequizálos visando à mudança dos seus costumes e hábitos Paim mostra os elementos filosóficoeducacionais presentes em nossas origens A Ratio Studiorum fixa as nor mas tanto para os chamados es tudos inferiores como para os de nível universitário Os primei ros visavam proporcionar ao es tudante conhecimentos sólidos das gramáticas latina e grega habilitálo a escrever e a falar de modo erudito Consistia o curso superior em três anos de filosofia Aristóteles e quatro de Teologia S Tomás A idéia básica defendida pela pedago gia da Companhia de Jesus era a da subordinação da filosofia à teologia PAIM p13 e 14 Tinha início formalmente a Educação brasileira sendo que sua ação pedagógica foi marcada então pela escolástica a qual expressava especialmente a matriz filosófica eu ropeia oriunda das escolas monásticas cristãs influenciadas por Tomás de Aquino cujo pressuposto de sua obra da qual se destaca a Summa Theologica é a tentativa de conciliar o pensamento aristotélico com o cris tão gerando a filosofia do ser Cumpre lembrar que a Filosofia Cristã estava anteriormente já bem consoli dada nos períodos iniciados com a fase apostólica patrística e monástica encontrando agora na escolástica um dos problemas que urgia o enfrenta mento o problema da conciliação da razão e fé Desse modo em se tratando da Educação brasileira nos primórdios do período colonial compreendido entre 1500 e 1821 e no período im perial de 1822 até 1881 observamos que tendo sido majoritariamente de senvolvida pelos jesuítas se desen volveu em grande parte sustentada pelos pressupostos teológicos contidos na Ratio Studiorum aos quais se so maram gradativamente outras in fluências cristãs provindas de outras congregações religiosas que se junta ram para realizarem o grande objetivo da formação do bom cristão Assim a visão filosófica desses períodos era essencialista quer dizer buscavase compreender as Verdades Absolutas no que diz respeito ao entendimento do homem espiritual e criatura de Deus aos valores perenes estabeleci dos pela fé e razão católica e os de mais preceitos dogmaticamente pos tos Para além dos acidentes e contin gências restava o que é necessário essencial substancial Desse modo implícita e profundamente impregna Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 60 da pelo pensamento escolástico to mista o pensamento brasileiro do período constituíase na verdade mais como uma ideologia do que Filosofia pela impossibilidade da busca do novo da instalação da dú vida frente aos dogmas Severino des taca que a formação dos educa dores bem como de seus educandos confundiase com sua formação reli giosa SEVERINO 2000 p 273 grifos nossos Tomandose outros elementos aglutinadores para um perfil de de pendência cultural podemos indicar que toda essa tradição que se estende muito longamente em nossa história como veremos adiante mesmo que de forma ainda parcial gerou segundo muitos estudiosos um processo de Educação acrítica como é por exem plo apontada por Paulo Freire 1978 como Educação bancária própria de um sistema de dominação Nessa modalidade de Educação não se sus tenta a perspectiva antropológica do homemsujeito do ser transformador que tem por característica o Ser Mais ou daquele que se volta para a con quista de patamares avançados de conscientização sobre sua realidade Desvio de rota no percurso do pen samento filosóficoeducacional em formação Além da vertente religiosa que influenciou a Educação brasileira também houve a influência do Positi vismo merecedor de destaque O francês Augusto Comte é considerado o criador de um Sistema que surgiu como desenvolvimento do Iluminis mo das crises social e moral do fim da Idade Média e do nascimento da sociedade industrial processos esses que foram marcados pela Revolução Francesa Considerado como Sistema de ideias Positivas que compreende o mundo a partir do conhecimento ra cional e empírico o Positivismo esta belece que os saberes acumulados pela sociedade ocidental sob pers pectiva teológica e metafísica não respondiam aos questionamentos do homem sobre o mundo sendo so mente a ciência por meio da razão aquela que podia ser apropriada para fazer isto Desse modo a ciência pas sa a ser entendida como a forma mais adequada para adquirir conhecimen to seguro e confiável Para Comte o Positivo era o último e mais perfeito estado da humanidade pois os dois Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 61 anteriores o teológico e o metafísico constituíamse em estágios de conhe cimento humano a serem superados se quisermos atingir etapas de Pro gressos para a Humanidade Por Po sitivo se entende aquilo que é real tangível fato apreendido pela experi ência e assim por diante Nesse sentido com Severino podemos compreender que os positi vistas brasileiros inspirados nos ensi namentos de Comte queriam ade quar o país à modernidade uma vez que o filósofo francês queria reformar a sociedade realizando uma reforma da inteligência Para ele a desordem social decorria da ignorân cia SEVERINO 2007 p 128 Ele acreditava também que o Estado devia manter a ordem visando à soci edade industrial preconizando junto à ordem o progresso componentes do dístico da nossa bandeira nacio nal O Positivismo influenciou não só a política mas também a cultura bra sileira como um todo destacandose a Educação e muitas ideias que en gendraram proposições da Constitui ção Federal e simbologia nacional por exemplo O Positivismo se estabe lece como uma Filosofia referência para a República exercendo desse modo muita influência no Brasil pois se constituiu num alicerce doutrinário para a tomada filosófica de um novo tempo ocupando este espaço pro pondo mudanças e acreditando num Estado laico Logo após a I Guerra Mundial a comunidade internacional não me diu esforços para se recuperar da de vastação da guerra porém o Brasil somente a partir de 1930 entra em um processo de modernização eco nômica política cultural e científica É a fase conhecida como Revolução Industrial acompanhada pelo proces so de urbanização Neste período a Filosofia da Educação manifestase mais com uma postura implícita pre sente nos sistemas filosóficos se con trapondo à da ideologia religiosa do catolicismo Juntase a essa vertente outras Filosofias antimetafísicas mo dernizadoras e progressistas Severino salienta que não é outro o sentido da in tervenção teórica dos Pioneiros da Educação que já se pro nunciavam com os seus discur sos tematizadores buscando praticar uma reflexão de cu nho filosófico sobre a educa ção posicionandose mediante categorizações teóricas sobre o Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 62 sentido da educação tam bém pretendem construir uma ciência da educação livrandoa do monopólio explicativo até então mantido pela metafísica neotomista e cristã SEVERINO 2000 p 281 e 282 Portanto neste momento come çam as elaborações de concepções filosóficas sobre a Educação em busca de sentido e agora entendendo a Filosofia da Educação como um pro cesso Tratase de uma fase mais ex plícita da Filosofia da Educação na qual começa uma amplificação temá tica e uma legitimação como exercí cio pertinente e válido do conheci mento humano relacionado com a Educação uma busca de identidade Daí em diante há um aumento signi ficativo de produção científica abrin do cada vez mais caminhos para as discussões da área Uma nova visão humanista se coloca destituída da perspectiva metafísica essencialista defendendo antes a existência ao in vés de uma essência definidora do ser humano Atualmente a visão essen cialista marcante dos períodos colo nial e imperial no Brasil parece estar superada como hegemonia mas ain da presente no pensamento de alguns dos seus adeptos O pensamento filo sófico vem tomando nos dias de hoje um caráter imanente em relação à realidade humana numa perspectiva mais antropológica Como explica Severino agora a construção da história é responsabilidade exclusiva dos homens não se trata mais de construir a Cidade de Deus mas a polis a cidade dos homens SEVE RINO 2000 p 285 grifos do autor Assim as abordagens filosóficas da Educação assumem a condição histó rica e social da existência humana A formação de professores como pro blema filosófico Considerando a disciplina Filo sofia da Educação entendemos que esta deveria ser o âmbito do pensa mento livre Mas observamos pelo já exposto que não foi isso o que ocor reu no Brasil em suas origens Che gou cheia de impregnações ideológi cas Assim o seu surgimento não ocorreu sob o pensamento crítico questionador exigente mas sim sob um pensamento que só perpetuava a situação vigente o poder da Igreja e do Estado A disciplina era desenvol vida simplesmente como elemento de ensino de conhecimentos dogmáticos Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 63 não promovendo questionamentos sobre si mesma e sobre os fins da Educação brasileira O enfrentamento dos problemas próprios da educação em nossa cultu ra careceu de pesquisa e de estudos sérios de base científica e filosófica e assim a reflexão sobre os problemas educacionais brasileiros como base do ensino constituiuse em situação de atraso para o avanço da situação educacional Em referência às origens da nossa cultura diz Severino que A situação é até compreensiva pois a incorporação da cultura filosófica no país é feita de maneira dogmática autoritária e ideologizada sob forma to escolasticizado SEVERINO 2000 p 275 Até a instalação da nossa Repú blica em 1889 a preocupação com a formação profissional dos educadores acompanhada por uma reflexão con sistente sobre a Educação era insigni ficante Ou seja até o início do século XX não se pode falar em Filosofia da Educação propriamente dita pois havia mais referências aos pressupos tos ideológicos e às posturas filosófi cas implícitas nas práticas do que uma construção teórica debruçada às questões educacionais no território brasileiro A alusão propriamente dita referente à Filosofia da Educação enquanto disciplina só vai aparecer efetivamente no Brasil a partir do iní cio das Escolas Normais Mas isso ainda de modo tímido considerando os enormes problemas da educação brasileira como por exemplo seu frágil sistema para o atendimento da população com índices de analfa betismo assustador mesmo já na Re pública como também a alta quanti dade de professores leigos para a rea lização de um trabalho com déficit profissional A criação da primeira Escola data de 1835 em Niterói no Rio de Janeiro com o objetivo de formar professores para o magistério perpassando todo o período republi cano É nos currículos das Escolas Normais que surge o compo nente curricular designado co mo Filosofia da Educação e é nesse espaço institucional da formação do magistério que a Filosofia da Educação adentra o ensino e a cultura pedagógica nacional SEVERINO 2000 p 273 grifos nossos Posteriormente a disciplina Fi losofia da Educação aparece pela primeira vez no ensino superior atre Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 64 lada à criação das seções de Pedagogia das Faculdades de Filoso fia e mais tarde das próprias Facul dades de Educação como afir mou o autor SEVERINO 2000 p 274 Embora as perspectivas filosófi coeducacionais mudem ao longo do tempo a Filosofia foi ganhando espa ço e demarcando sua importante con tribuição à educação tanto que a formação de professores já teve seu locus principal nas próprias faculda des de Filosofia conforme preconiza va a Lei 4024 que fixou as Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1961 nos seguintes artigos Art 59 A formação de profes sores para o ensino médio será feita nas faculdades de filosofia ciências e letras Art 116 Enquanto não houver número suficiente de professores primá rios formados pelas escolas normais ou pelos institutos de educação e sempre que se regis tre esta falta a habilitação ao exercício do magistério a título precário e até que cesse a falta será feita por meio de exame de suficiência realizado em escola normal ou instituto de educação oficiais para tanto credenciados pelo Conselho Estadual de Edu cação BRASIL PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Lei 4024 de 20 de dezembro de 1961 grifos nossos Porém o alvorecer de uma pos tura mais questionadora para a Filo sofia da Educação é fenômeno bem recente creditado aos Programas de PósGraduação stricto sensu que tem a pesquisa como instrumento funda mental e obrigatório para seu desen volvimento Neste contexto é impres cindível mencionar o Programa de Filosofia da Educação da PUCSP pois Este Programa surgiu por inicia tiva do professor Joel Martins a partir da década de 1970 preocupado com a abertura de uma frente em Filosofia da Educação sob outras aspirações que não fossem aquelas da es colástica tomista que ainda pre valecia no Departamento de Fi losofia da Universidade SEVERINO p 2000 276 Outro impulso importante foi a criação de um Grupo de Trabalho em Filosofia da Educação no quadro ins titucional da Associação Nacional de Pesquisa e Pósgraduação em Educa ção a ANPED Isso impulsionou sig nificativamente a área pois a ANPED é uma associação voltada à produção científica e avaliação de pesquisas educacionais no país sendo mesmo referência internacional sobre os as Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 65 suntos gestados no âmbito dos estu dos sobre Educação Nessa discussão entretanto vale considerar igualmente os entra ves e dificuldades que a própria Edu cação ofereceu ao longo de sua his tória ao aprimoramento dos estudos filosóficos mesmo que entendamos as várias limitações que apresentava muitas das quais fora de seu próprio controle Cumpre assim lembrar quando no âmbito educacional fo ram coibidas iniciativas impulsionado ras da cultura filosófica que podiam vicejar nessa esfera como é o caso da tardia fundação das universidades em terras brasileiras e da pesquisa que tem neste âmbito o lugar par execellence para a promoção da curi osidade investigativa da difícil aceita ção e boa acolhida da disciplina nas escolas resultando disso a formação de bons profissionais no campo da Filosofia quiçá interessados no pro blema da Educação brasileira Superando mesmo que em par te uma tradição dificultosa para o florescimento de um genuíno espírito filosófico entre nós devemos reco nhecer que uma análise da legislação educacional por exemplo pode indi car que atualmente os fundamentos filosóficos são pressupostos legais pa ra o exercício da docência no nível básico pois o artigo 62 da Lei de Di retrizes e Bases da Educação Nacio nal de 1996 dispõe que a forma ção de docentes para atuar na educa ção básica farseá em nível superior em curso de licenciatura e o artigo 11 da Resolução do Conselho Nacional de Educação que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educa ção Básica diz que Os critérios de organização da matriz curricular se expres sam em eixos em torno dos quais se articulam dimensões a serem contempladas na forma a seguir indicada V eixo arti culador dos conhecimentos a serem ensinados e dos conhe cimentos filosóficos educacio nais e pedagógicos que funda mentam a ação educativa BRASIL RESOLUÇÃO CNECP 1 de 18 de fevereiro de 2002 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Bási ca em nível superior curso de licenciatura de graduação ple na grifos nossos O mesmo já não acontece na docência de nível superior pois o artigo 66 da mesma Lei só diz que a preparação para o exercício do Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 66 magistério superior farseá em nível de pósgraduação prioritariamente em programas de mestrado e douto rado BRASIL PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Lei 9394 de 20 de dezembro de 1996 porém mesmo que as DCNs de alguns curso de gra duação preconizem a importância dos fundamentos filosóficos isso não é consenso geral A análise dos dispositivos legais não nos satisfaz todavia porque en tendemos que a disciplina Filosofia da Educação se caracteriza como pen samento reflexivo vinculado à prática como atividade humana inteligente indispensável à investigação Por isso a importância do aprender a apren der enquanto um hábito correto ati vo indagativo e operante o aprender a partir e pela experiência como as pectos associados à formação de pro fessores fazer uma associação re trospectiva e prospectiva entre aquilo que fazemos às coisas e aquilo que em conseqüência es sas coisas nos fazem gozar ou sofrer Em tais condições a ação tornase uma tentativa experi mentase o mundo para se sa ber como ele é o que sofrer em conseqüência tornase instrução isto é a descoberta das rela ções entre as coisas O pensa mento ou a reflexão é o discernimento da relação entre aquilo que tentamos fazer e o que sucede em conseqüência Por outras palavras pensar é o esforço intencional para desco brir as relações específicas entre uma coisa que fazemos e a con seqüência que resulta de modo a haver continuidade entre am bas Dewey 1979b p 152 a 164 grifos do autor e nossos O estágio inicial do ato de pen sar é experiência Esta observa ção pode figurarse sovado lu garcomum Deveria ser mas infelizmente não é Pelo contrá rio o ato de pensar é com fre qüência considerado na teoria filosófica e na prática educativa como alguma coisa independen te da experiência e capaz de ser cultivado isoladamente DE WEY 1979b p 168 grifos nos sos Mesmo que os dispositivos le gais supracitados preconizem a im portância dos fundamentos filosóficos ao exercício docente no nível básico caberia investigarmos como isso tem ocorrido na prática Neste sentido estando alheios a uma Filosofia da Educação propriamente dita como poderiam os professores tomar cons ciência da realidade brasileira pro blematizála instaurar transformações substanciais nas ações pedagógicas embasados num espírito mais reflexi vo se formados a partir muitas vezes dos fundamentos de uma Educação Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 67 Tradicional doutrinária passiva con teudista memorística autoritária eli tista que visa à manutenção do status quo oposta a uma proposta mais inovadora de uma educação mais crítica ativa transformadora social democrática que busque a autono mia do educando orientando a sua formação provendo as condições para que estes possam refletir sobre a sua realidade antever problemas e propor soluções Assim dando sequência à aná lise percebemos que uma vez sendo uma das funções da pesquisa o im pulsionar mudanças nas condições atuais buscando subsídios para inter venções empreendemos esforços para que a princípio entendamos a realidade que está posta para que possamos deixar a nossa contribui ção Considerando o que até aqui expusemos e dando continuidade às nossas inquietações ao pesquisar se esta disciplina está atrelada às linhas que tratam sobre a formação de pro fessores nos Programas de Pós Graduação stricto sensu em Educação da região sul no período compreen dido entre 07 e 30 de junho de 2013 em meio virtual a partir do site e dos critérios da Coordenação de Aperfei çoamento de Pessoal de Nível Supe rior Capes encontramos uma reali dade bem diferente pois descobrimos que de fato a disciplina não está alocada juntamente com as linhas que tratam sobre a formação docente E quando aparece está na linha da História da Educação Sendo que nos nove Programas do Paraná a disci plina Filosofia e Educação faz parte de somente um dos Programas pes quisados e está alocada em linha separada da linha que trata especifi camente sobre a formação de profes sores Nos outros Programas a disci plina não aparece embora a reflexão filosófica possa se dar em disciplinas como ética epistemologia e outras Já nos treze Programas do Rio Grande do Sul a disciplina aparece somente em um Programa nos outros não consta porém um deles tem uma li nha intitulada como Filosofia e Histó ria da Educação onde as reflexões filosóficoeducacionais são estudadas E ainda aparecem disciplinas como Teorias da Educação com o objetivo de estudar as epistemologias que fun damentam a prática docente e a Filo Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 68 sofia aparece também na linha Teori as e Culturas em Educação em um dos Programas Nos onze Programas de Santa Catarina a disciplina Filoso fia e Educação não consta porém em um deles consta uma linha de pesqui sa intitulada Filosofia da Educação Finalizando retomanos o expos to na sessão sobre princípios metodo lógicos conforme Dewey para dizer que esta pesquisa sinalizou a comple xidade da problemática envolta neste tema e por isso nos deparamos com outras indagações que nos instigam a continuar pesquisando pois a origem do pensamento é al guma perplexidade confusão ou dúvida Para pensar verda deiramente bem cumprenos estar dispostos a manter e pro longar êsse estado de dúvida que é o estímulo para uma in vestigação perfeita na qual ne nhuma idéia se aceite nenhuma crença se afirme positivamente sem que se lhes tenham desco berto as razões justificativas DEWEY 1979a p 24 e 25 Portanto a pesquisa continuará em momento oportuno para enten dermos porque uma disciplina que adentrou o ensino por meio dos currí culos das Escolas Normais visando contribuir com a formação para o exercício do magistério se encontra atualmente separada das linhas que tratam sobre a formação de professo res nos Programas PósGraduação stricto sensu em Educação brasileiros Este fato caracteriza um dualismo entre entre teoria e prática neste âm bito Esta separação teria suas ori gens mais remotas de nossa cultura no pensamento grego como apontam alguns autores nas filosofias que se paravam a experiência do conheci mento que não primavam pela edu cação como um fim em si mesma e que tinham como consequência a separação de classes de um lado a elite intelectual e de outro os técnicos desconexos com a sua realidade soci al Portanto quais seriam as implica ções do não reconhecimento da liga ção estreita entre Filosofia da Educa ção e formação de professores Considerações finais Operando com uma proposta de análise reflexiva a partir da abor dagem históricofilosófica da Educa ção no Brasil encontramos em nossa pesquisa bibliográfica que a cultura brasileira porque ocidental se desen volveu a partir da fusão de elementos vindos do judaísmo do helenismo e Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 69 do cristianismo SEVERINO 2007 p 45 a 51 Com a colonização sabe mos que o pensamento filosófico cristão se instala no Brasil por meio das ações educativas dos padres je suítas Este foi o início formal da Edu cação brasileira marcado por uma concepção filosófica claramente esco lástica É importante lembrar que a escolástica sendo de origem euro peia oriunda das escolas monásticas cristãs e sendo fortemente influencia da por Tomás de Aquino nos oferece subsídios para afirmarmos a origem da Educação brasileira como tendo sido formada nesta tradição Nesse sentido entendemos que a primeira premissa possa ser considerada ver dadeira Posteriormente no período da industrialização não só a sociedade brasileira mas também a cultura e a Educação foram influenciadas pelo Positivismo que se junta às ideias otimistas próprias do alvorecer da República brasileira com promessas de mudanças e crença num Estado laico industrial e moderno em oposi ção à hegemonia católica Depreen dese ainda que o Pragmatismo con tribui nessa perspectiva modernizado ra subordinando a verdade à utilida de da açãopensamento eficaz solu cionadora de problemas cujo proce dimento possa instigar o crescimento e o desenvolvimento reconhecendo com isso a importância do fazer da prática defendendo uma modalidade de Educação conhecida como pro gressiva A utilidade passou a ser um valor emblemático que estabeleceu que aquilo que importa é o que é útil e eficaz no sentido do que é necessá rio que melhor organiza a vida vi sando construir uma sociedade me lhor Percebemos ainda à luz da pró pria história que a terceira premissa também pode ser considerada verda deira pois a Educação só passou a ser um problema para a Filosofia bra sileira a partir da formação de pro fessores com a implantação das es colas normais ainda no século XIX Foi nessa ocasião que o problema da Educação gerou séria preocupação instituindo o início efetivo da discipli na Filosofia da Educação em nosso país Portanto procurando responder à preocupação central deste trabalho constatamos que a origem da Filoso fia da Educação brasileira está sim Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 70 atrelada à preocupação com a forma ção de professores fato que gerou outras dificuldades tema para ser desenvolvido em outra oportunidade Até os dias atuais este aspecto tem sido um dos mais investigados pela Filosofia da Educação por se tratar de campo fértil para pesquisa Pois a reflexão filosófica é exercida sobre algum aspecto da realidade concreta que desperta o interessa da disciplina a Filosofia neste caso no que diz respeito à formação de pro fessores Tratase de um campo im prescindível porque antevê ou seja avalia as possíveis consequências das ideias na prática docente fornece ao educador subsídios para pensar sua prática com rigor dando sentido à sua realidade de acordo com uma determinada visão de mundo inten cionalizando questionando concep ções contribuindo para a resolução de problemas e transformando a rea lidade Por meio da análise dos Pro gramas de PósGraduação stricto sen su em Educação foi possível verificar que os fundamentos de cunho filosó fico presente nestes Programas estão restritos vinculados às Teorias Educa cionais à Epistemologia e à Ética denotando a carência de fundamen tos filosóficos efetivos às pesquisas em educação As linhas de pesquisas des tes Programas versam principalmen te em torno da História e Historiogra fia Ensino e Aprendizagem Forma ção e Trabalho ou Ação Docente Políticas e Inclusão escolar Nesse sentido esperamos instigar estudos que versem sobre aspectos dessa im portante disciplina para a formação docente a Filosofia da Educação REFERÊNCIAS Brasília Capes Cursos Recomendados Disponível em httpwwwcapesgovbrcursosrecomendados Acesso em 07 a 30 de jun2013 Revista SulAmericana de Filosofia e Educação RESAFE Número 21 novembro2013abril2014 71 Brasília Ministério da Educação e Cultura Legislação Educacional Disponível em httpportalmecgovbr Acesso em 15 de jul2013 DEWEY John Como pensamos como se relaciona o pensamento reflexivo com o processo educativo uma reexposição Trad Haydée Camargo Campos 4a ed São Paulo Companhia Editora Nacional 1979a Atualidades Pedagógicas Vol 2 Democracia e Educação introdução à filosofia da educação Trad Godo fredo Rangel e Anísio Teixeira 4a ed São Paulo Companhia Editora Nacional 1979b Atualidades Pedagógicas Vol 21 FREIRE Paulo Reglus Neves Pedagogia do Oprimido 5a ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 NÓVOA Antonio Por que história da educação IN STEPHANOU Maria BAS TOS Maria Helena Camara Orgs Histórias e memórias da educação no brasil Vol III Século XX PAIM Antônio Histórias das ideias filosóficas no Brasil 6a ed Vol II Salvador Humanidades 2007 SEVERINO Antonio Joaquim Filosofia 2a ed São Paulo Cortez 2007 A Filosofia da Educação no Brasil esboço de uma trajetória In GHIRAL DELLI Paulo Junior O que é filosofia da educação 2a ed Rio de Janeiro DPA 2000 TEIXEIRA Anísio Pequena introdução à filosofia da educação A escola progressis ta ou a transformação da escola Rio de Janeiro Editora UFRJ 2007 Recebido em 06082013 Aprovado em 18122013 Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 1 Ana Paula Teodoro dos Santos Fernanda Lays da Silva Santos Walter Matias Lima O ENSINO DE FILOSOFIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA THE TEACHING OF PHILOSOPHY IN UNDERGRADUATE PEDAGOGY COURSES A SYSTEMATIC REVIEW OF THE LITERATURE LA ENSEÑANZA DE LA FILOSOFÍA EN LOS CURSOS DE PEDAGOGÍA DE GRADO UNA REVISIÓN SISTEMÁTICA DE LA LITERATURA Ana Paula Teodoro dos Santos1 Fernanda Lays da Silva Santos 2 Walter Matias Lima 3 DOI 1054751revistafocov16n2079 Recebido em 09 de Janeiro de 2023 Aceito em 06 de Fevereiro de 2023 RESUMO Pesquisas mais recentes apontam que o pedagogo atua em diversas áreas e modalidades profissionais Dessa maneira o currículo do curso de Pedagogia ganha um caráter mais técnico buscando atender essas novas especificidades o que algumas vezes diminui o valor à filosofia nesse contexto provocando uma fragmentação de componentes curriculares o que dificulta a real qualidade na formação do pedagogo impossibilitandoo de analisar as discussões educacionais e a problematização política das práticas educativas Nesse sentido este trabalho tem como objetivo principal identificar os estudos científicos sobre o ensino de filosofia enquanto componente curricular nos cursos de Licenciatura em Pedagogia nas universidades Assim foi realizada uma revisão sistemática da literatura optando pelas bases Scopus da Elsevier Scielo Springer Link e ACM Digital Library Os Strings inseridos nas buscas foram philosophy AND pedagogy AND philosophy of education com o auxílio metodológico da ferramenta online Start State of the Art through Systematica Reviews para facilitar a apreciação de conteúdo dos artigos encontrados Na primeira busca de dados se encontrou 30011 trabalhos Após feito refinos de busca restaram apenas três artigos que apresentam as particularidades do ensino de filosofia nas matrizes curriculares dos cursos de Pedagogia de países como Chile Espanha e Turquia 1 Doutoranda do Programa de PósGraduação em Educação da Universidade Federal de Alagoas UFAL Avenida Lourival Melo Mota SN Tabuleiro do Martins Maceió AL CEP 57072970 Email anateodoroichcaufalbr 2 Doutoranda do Programa de PósGraduação em Educação da Universidade Federal de Alagoas UFAL Avenida Lourival Melo Mota SN Tabuleiro do Martins Maceió AL CEP 57072970 Email fernandalaysceduufalbr 3 Doutor em Educação Universidade Federal de Alagoas UFAL Avenida Lourival Melo Mota SN Tabuleiro do Martins Maceió AL CEP 57072970 Email waltermatiasgmailcom Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 2 O ENSINO DE FILOSOFIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA Portanto os resultados mostram uma carência de investigações sobre o lugar que ocupa a filosofia na formação de pedagogos e pedagogas e também apontam a inexistência de artigos que contemplem a questão a nível de Brasil evidenciando a necessidade de se realizar mais análises neste campo de investigação Palavraschave Filosofia pedagogia reorganização curricular ABSTRACT More recent researches indicate that the pedagogue acts in several professional areas and modalities In this way the curriculum of the Pedagogy course gains a more technical character trying to meet these new specificities which sometimes diminishes the value of philosophy in this context provoking a fragmentation of curricular components which hinders the real quality in the formation of the pedagogue making it impossible to analyze the educational discussions and the political problematization of the educative practices In this sense the main purpose of this work is to identify the scientific studies about the teaching of philosophy as a curricular component in undergraduate courses in Pedagogy in universities Thus a systematic literature review was carried out choosing the databases Scopus from Elsevier Scielo Springer Link and ACM Digital Library The strings entered in the searches were philosophy AND pedagogy AND philosophy of education with the methodological help of the online tool Start State of the Art through Systematica Reviews to facilitate the content appreciation of the articles found In the first data search 30011 papers were found After refining the search only three articles remained that presented the particularities of philosophy teaching in the curriculums of Pedagogy courses in countries such as Chile Spain and Turkey Therefore the results show a lack of investigations about the place philosophy occupies in the formation of pedagogues and also point out the inexistence of articles that contemplate the question in Brazil evidencing the need to carry out more analyses in this field of investigation Keywords Philosophy pedagogy curricular reorganization RESUMEN Investigaciones más recientes señalan que el pedagogo actúa en varios ámbitos y modalidades profesionales De esta forma el currículo del curso de Pedagogía gana un carácter más técnico intentando atender a estas nuevas especificidades lo que a veces disminuye el valor de la filosofía en este contexto provocando una fragmentación de los componentes curriculares lo que dificulta la real calidad en la formación del pedagogo imposibilitando el análisis de las discusiones educativas y la problematización política de las prácticas educativas En este sentido este trabajo tiene como objetivo principal identificar los estudios científicos sobre la enseñanza de la filosofía como componente curricular en los cursos de graduación de Pedagogía en las universidades Así se realizó una revisión sistemática de la literatura eligiendo las bases de datos Scopus de Elsevier Scielo Springer Link y ACM Digital Library Las cadenas insertadas en las búsquedas fueron filosofía AND pedagogía AND filosofía de la educación con la ayuda metodológica de la herramienta online Start State of the Art through Systematica Reviews para facilitar la apreciación del contenido de los artículos encontrados En la primera búsqueda de datos se encontraron 30011 obras Después de afinar la búsqueda sólo quedaron tres artículos que presentan las particularidades de la enseñanza de la filosofía en las matrices curriculares de los cursos de Pedagogía en países como Chile España y Turquía Por lo tanto los resultados muestran una falta de investigaciones sobre el lugar que ocupa la filosofía en la formación de pedagogos y también señalan la inexistencia de artículos que contemplen la cuestión a nivel brasileño evidenciando la necesidad de realizar más análisis en este campo de Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 3 Ana Paula Teodoro dos Santos Fernanda Lays da Silva Santos Walter Matias Lima investigación Palabras clave Filosofía pedagogía reorganización curricular 1 Introdução O curso de Pedagogia qualifica o indivíduo para o exercício da docência na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental nos cursos de Ensino Médio de modalidade Normal e em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos BRASIL 2005 Segundo dados apresentados pelo Sistema eMEC 20224 atualmente existem no Brasil 5274 cursos de graduação superior em Pedagogia sendo 4770 ofertados de forma presencial fazendo deste um dos cursos superiores mais ofertados pelas universidades e faculdades brasileiras Mühl e Mainardi 2017 explicam que a presença da filosofia no currículo do curso da Pedagogia no Brasil nunca foi muito representativa Porém em razão da importância que a filosofia teve no desenvolvimento do pensamento ocidental ela sempre foi incluída no rol das disciplinas dos fundamentos como base da formação dos pedagogos No entanto no texto Dialética da Colonização ao se explicar como a educação brasileira foi sendo usada pelo mercado e pelo estado Bosi 1992 afirma que na década de 1960 uma das medidas oficiais do governo foi a retirada da disciplina de filosofia do currículo dos cursos médios e seu quase desaparecimento do nível superior inibindo a reflexão teórica e crítica por excelência crucial para formação do ser humano Nesse viés a Lei de Diretrizes e Bases da Educação LDB de 1996 também trouxe mudanças na organização curricular dos cursos de nível superior no país retomando a presença das ciências humanas e sociais para a formação de profissionais em Pedagogia Atualmente o pedagogo atua em diversas áreas e modalidades profissionais com destaque para a pedagogia hospitalar e empresarial Assim 4 CADASTRO NACIONAL DE CURSOS E INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO SUPERIOR e MEC Informações sobre as instituições que ofertam o Curso de Pedagogia no país eMEC 2022 Disponível em Acesso em 15 jan 2022 Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 4 O ENSINO DE FILOSOFIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA o currículo do Curso de Pedagogia ganhou um caráter mais técnico buscando atender novas especificidades diminuindo o valor à filosofia nesse contexto OLIVEIRA 2016 Albuquerque 1996 destaca que o currículo deixou de ser visto como apenas uma questão relativa a uma listagem neutra de conteúdos passando a ser entendido como um conjunto de conhecimentos que é histórica e socialmente construído além do que implicado em relações de poder Assim a problematização dessa pesquisa baseiase em análises desenvolvidas por autores como Oliveira 2016 e Albuquerque 1998 os quais apontam uma reorganização curricular brasileira nos últimos anos cuja tendência generalizante secundariza as disciplinas de fundamentos como Filosofia da Educação em favor de disciplinas técnicopedagógicas Nesse sentido a preocupação não é com os fins da educação mas sim com a seleção de disciplinas consideradas significativas para formar tecnicamente o professor para atuar nas diversas áreas profissionais da Pedagogia como indica por exemplo OLIVEIRA 2016 Essa fragmentação curricular dificulta a real qualidade na formação do pedagogo impossibilitandoo de analisar as discussões educacionais e a problematização política das práticas educativas Nesse sentido esse trabalho tem como objetivo principal identificar os estudos científicos sobre o ensino de filosofia enquanto componente curricular nos cursos de Licenciatura em Pedagogia nas universidades Com o intuito de contemplar a investigação buscaremos responder aos seguintes questionamentos P1 Quais são as características do ensino de filosofia enquanto componente curricular nos cursos de Pedagogia nas universidades como conteúdo cargahorária e referencias bibliográficos P2 Quais são as disciplinas de filosofia existentes nas matrizes curriculares dos cursos de Pedagogia nas universidades P3 Que tipos de estudos mais investigam o ensino de filosofia na formação do pedagogo Nesse viés utilizaremos a Revisão Sistemática de Literatura RSL por meio do software de pesquisa Start na qual buscaremos em várias bases de dados estudos sobre as possíveis relações entre filosofia pedagogia e educação na tentativa de traçar o cenário mundial sobre as pesquisas em torno Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 5 Ana Paula Teodoro dos Santos Fernanda Lays da Silva Santos Walter Matias Lima dessas temáticas 2 Metodologia e Fundamentação Teórica A pesquisa será descritiva e explicativa já que os estudos descritivos servem para analisar como se manifesta um fenômeno e seus componentes e os explicativos querem encontrar as razões ou as causas que provocam certos fenômenos SAMPIERI COLLADO LUCIO 2013 elementos característicos à análise do ensino de filosofia nos cursos de Pedagogia Dessa maneira considerando o objetivo proposto de início fezse necessário a seleção de um banco de dados relevante para viabilizar a pesquisa bibliográfica e a análise correspondente No presente artigo optamos pelas bases Scopus da Elsevier Scielo Springer Link e ACM Digital Library O levantamento nas bases de dados foi realizado em 01092020 e os Strings inseridos nas buscas foram philosophy AND pedagogy AND philosophy of education Como recurso metodológico utilizamos a ferramenta online Start State of the Art through Systematica Reviews para facilitar a análise de conteúdo dos artigos encontrados Para a seleção dos artigos foram priorizados critérios de inclusão e exclusão Os Critérios de Inclusão definidos foram pesquisas sobre disciplinas de filosofia nos cursos de Pedagogia universidades ou faculdades pesquisas que dialoguem sobre filosofia da educação nos cursos de Pedagogia investigações sobre a relação filosofia e Pedagogia no nível superior trabalhos disponíveis na internet e de acesso livre artigos avaliados por pares Já os Critérios de Exclusão foram pesquisas repetidas pesquisas que apresentem somente o protocolo pesquisas que não apresentem características das disciplinas de filosofia nos cursos de Pedagogia Os artigos encontrados foram exportados nas bases de dados pesquisadas por meio de arquivos BibTex e posteriormente importados ao programa Start Vale destacar que os trabalhos da base SpringerLink tem funcionalidade somente para exportação para o formato csv Dessa forma os arquivos foram convertidos para bib através de um projeto em python chamado Springercsv2bib16 Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 6 O ENSINO DE FILOSOFIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA Para selecionar os estudos adotouse os seguintes procedimentos metodológicos conforme o Figura 1 Figura 1 Etapas e estratégias de seleção de estudos Fonte Autores 2020 Conforme demonstrado no Figura 1 na primeira busca de dados encontramos 30011 trabalhos sendo 436 na Scopus da Elsevier 27 na Scielo 29536 na Springer Link e 12 na ACM Digital Library Diante do alto número de obras encontradas nas bases Scopus e Springer Link viuse a necessidade de refinos de busca Na base Scopus como estratégia de refino de busca foram aplicados filtros quanto ao tipo de trabalho científico priorizando somente artigos de acesso livre e publicados a partir do ano 2000 sendo encontrados 37 obras Já na base Springer Link foram aplicados os seguintes procedimentos de filtros selecionado apenas trabalhos pertencentes a disciplina Educação e as subdisciplinas Filosofia Educacional e Filosofia da Educação somente artigos e publicação a partir do ano 2000 sendo encontrados 496 trabalhos científicos De tal modo após os refinos ao todo foram encontrados 572 obras sendo Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 7 Ana Paula Teodoro dos Santos Fernanda Lays da Silva Santos Walter Matias Lima 37 na Scopus 27 na Scielo 496 na Springer Link e 12 na ACM Digital Library Como é possível perceber no gráfico 1 87 dos documentos encontrados foram na base de dados Sringer Link seguido pela Scopus com 6 pela Scielo com 5 e pela ACM com apenas 2 O próximo passo foi a exclusão de pesquisas duplicadas onde foram encontradas 17 obras Na fase seguinte foi feita a revisão dos títulos e palavraschave excluindo os estudos que não atenderam os critérios de inclusão Aqueles que não existiam dados suficientes foram deixados para a próxima etapa Em tal fase 394 artigos foram excluídos indo 161 para a etapa subsequente O próximo passo foi a revisão e análise dos abstracts e exclusão daqueles que não atenderam os critérios de inclusão Aqueles que não existiam dados suficientes foram deixados para a próxima etapa Nessa fase foram excluídos 116 artigos restando 45 Passouse para a revisão e análise dos textos e exclusão daqueles que não atenderam os critérios de inclusão fase em que ao todo foram descartados 42 artigos restando apenas 3 Leitura de 45 artigos completos nos quais passamos a considerar os critérios de avaliação de qualidade atribuindoos relevância como Sim Parcialmente ou Não buscando artigos científicos que respondessem a seguinte questão O estudo traz características sobre ensino de filosofia enquanto disciplina curricular no contexto do curso de Pedagogia Nessa perspectiva se excluiu os estudos com resposta de critério Não e Parcialmente sendo um total de 42 títulos restando apenas 3 aceitos os quais apresentaram características acerca do ensino de filosofia enquanto disciplina curricular nos cursos de Licenciatura em Pedagogia 3 Resultados e Discussões A Tabela 1 apresenta os dados gerais dos 3 artigos encontrados na Revisão Sistemática de Literatura com Títulos dos Trabalhos e Tradução para o português Identificação dos Autores Ano e País de Publicação Tabela 1 Dados gerais dos artigos Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 8 O ENSINO DE FILOSOFIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA ARTIGO 1 Título Filosofía de la Educación y pedagogía de la enseñanza en la formación del profesorado Estudio de caso percepción del estudiantado Tradução Filosofia da Educação e pedagogia do ensino na formação de professores Estudo de caso percepção do aluno Autores Luis Rodrigo Camacho Verdugo Hernán Morales Paredes Ano publicado 2020 País Chile ARTIGO 2 Título Philosophy of Education as an Academic Discipline in Turkey The Past and the Present Tradução Filosofia da educação como disciplina acadêmica na Turquia o passado e o presente Autores Hasan Ünder Ano publicado 2007 País Turquia ARTIGO 3 Título Philosophy of Education in Spain at the Threshold of the 21st Century Origins Political Contexts and Prospects Tradução Filosofia da educação na Espanha no limiar do século 21 origens contextos políticos e perspectivas Autores Gonzalo Jover Ano publicado 2001 País Espanha Fonte Autores 2020 Os autores Verdugo e Paredes 2020 apresentam os resultados de uma pesquisa oriunda da Universidade Católica de Santísima Concepción Chile publicada pela Revista Educación da Universidad de Costa Rica Teve como objetivo conhecer a percepção dos alunos de Pedagogia sobre a disciplina de Filosofia da Educação Foram realizadas entrevistas com 18 estudantes cujos resultados mais relevantes indicam um problema motivacional dos alunos para o estudo da filosofia em geral No entanto também mostram uma percepção positiva quanto à necessária permanência filosófica no projeto curricular de formação apontando a necessidade de aprimorar os recursos didáticos utilizados pelos professores bem como estratégias de ensino que auxiliem especificamente os alunos de Pedagogia a desenvolver habilidades reflexivas reconhecendo a relevância de propor um ensino específico de filosofia Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 9 Ana Paula Teodoro dos Santos Fernanda Lays da Silva Santos Walter Matias Lima Os autores destacam a importância da aprendizagem em filosofia entre os graduandos por esta permitir que os mesmos desenvolvam aspectos atitudinais como ser pessoas melhores citando Kohan 2010 p30 ao afirmar que A filosofia como ciência propõe um instrumento teórico para ser crítico e próativo tenta superar as aparências de realidade incluindo a dos dados verificáveis a Deus à história ao psiquismo ao bem etc O que a Filosofia pretende nos ensinar Em primeiro lugar que somos humanos e portanto como podemos ser melhores pessoas também nos oferece a possibilidade de elaborar um projeto de vida de acordo com a nossa vocação e com uma direcionalidade para melhorar a história ensinanos a viver não como dados ou figuras mas como um ser de valores que pode dar mais de si abre nossos olhos para superar as aparências e questionar o dogmatismo rígido Nessa perspectiva Boavida 2006 Fullat 2000 explicam que o ensino da Filosofia permite a aprendizagem e a articulação de conhecimentos que a partir da pesquisa possibilitam o avanço de certos aspectos intelectuais próprios e a aquisição de outros para compreender os objetos de estudo De tal modo o que se ensina como se ensina e como os alunos aprendem tornase de suma importância no trabalho do professor devendo instigar nos alunos o sendo de responsabilidade sobre sua própria aprendizagem Assim Cortés 2015 Cerletti 2008 salientam a necessidade de uma didática da Filosofia pertinente ao cenário social atual uma vez que a Filosofia pode contribuir no nível educacional da formação profissional para encontrar o caminho adequado para responder às mudanças que ocorrem no mundo atual Verdugo e Paredes 2020 citam Moreno 2013 para trazer informações sobre fatores que podem influenciar a aprendizagem do aluno demonstrando que a filosofia tem sido com frequência censurada por ser um luxo um hobby ou um conhecimento que não é bom para nada Destacam que talvez haja nessas falas o estigma que advém dos maus professores da aula de Filosofia da pouca formação na disciplina ou da falta de compreensão da Filosofia como conhecimento e reflexão fundamentais sobre o homem Já Ünder 2007 explica o estado passado e presente da filosofia da educação como disciplina acadêmica nos cursos de graduação de Pedagogia Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 10 O ENSINO DE FILOSOFIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA História da Pedagogia e Filosofia da Educação na Turquia O autor apresenta dois períodos paralelos às relações internacionais turcas antes e depois da Segunda Guerra Mundial destacando informações sobre a posição e as formas da filosofia da educação nos currículos a prevalência relativa das abordagens os problemas e as perspectivas futuras visto que o ensino está em processo de discussão quanto à sua relevância diante da existência de opiniões sobre a retirada da disciplina do currículo Dessa maneira conforme Buyukduvenci 1991 na Turquia se evidencia uma tradição da filosofia analítica da educação O autor critica as abordagens cientificistas pragmáticas e positivistas da educação e evidencia uma confusão nos usos dos conceitos educacionais nos livros didáticos pois segundo ele existe falta de pensamento filosófico Buyukduvenci 1991 adota a filosofia como uma atividade crítica Ünder 2007 declara que os impactos dos estudos e discussões acerca da filosofia e de filósofos na educação tem sido muito limitado na Turquia pois não foram eficazes no pensamento educacional e na determinação das políticas educacionais nos últimos tempos Para Ünder 2007 os livros de filosofia da educação não são citados por pesquisadores educacionais da mesma forma que os filósofos da educação não tiveram influência sobre órgãos como o Conselho de Instrução e Educação do Ministério da Educação Nacional e o Conselho de Educação Superior que tomam a maior parte das decisões sobre questões educacionais Nesse viés Erturk 1997 afirma que a formulação das políticas educacionais no país passou a depender quase exclusivamente das convicções subjetivas de funcionários que receberam autoridade ou daqueles acadêmicos com quem eles têm relações pessoais ou ideológicas Nesse sentido as alterações feitas são inspiradas ou exigidas por sistemas educacionais de outros países considerados bemsucedidos e por organizações internacionais como o Banco Mundial ou são exigidas por acordos assinados com a Organização das Ações Unidas ONU ou a União Europeia o que tem permitido efeitos positivos entre os alunos ÜNDER 2007 O autor destaca ainda que em 2006 a filosofia da educação por exemplo Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 11 Ana Paula Teodoro dos Santos Fernanda Lays da Silva Santos Walter Matias Lima ganha uma revida pois os currículos dos programas de formação de professores foram revisados pela primeira vez desde 1998 dando lugar no currículo para filosofia da educação e para outras disciplinas fundamentais como história da educação e sociologia educacional Por sua vez Jover 2001 centrase na evolução e situação da Filosofia da Educação como disciplina acadêmica vinculada aos estudos universitários do curso de Pedagogia na Espanha delineando alguns pontos que podem revelar o rumo e o significado que a Filosofia da Educação assumiu no contexto mais amplo da evolução social e política do país Jover 2001 explica que Fullat 2000 afirma que a Filosofia da Educação consiste em um questionamento sobre o que se diz e se faz nas esferas da educação e da pedagogia Por sua vez o que caracteriza a pedagogia é o caráter normativo de seus enunciados que ela desenvolve conforme os dados colhidos pela ciência e peneirados pelo juízo acertado sobre o que é bom para o ser humano Assim A filosofia não se preocupa em como ensinar nem com o quê nem em qual meio nem para qual sujeito psicobiológico em questão é por exemplo quem é a pessoa que está sendo educada em termos metaempíricos o que é a educação e para que serve Do ponto de vista tecnológico e científico essas são perguntas inúteis e impertinentes No entanto sua relevância é inegável a menos que a tarefa do educador por mais científica e tecnológica que seja também seja tola e absurda FULLAT 2000 p 13 Dessa maneira contextualizando os 3 artigos encontrados averiguamos que em relação a P1 que se refere a seguinte pergunta Quais são as características do ensino de filosofia enquanto disciplina curricular nos cursos de Pedagogia nas universidades como conteúdo cargahorária e referenciais bibliográficos foi identificado que os três estudos respondem a esse questionamento uma vez que trazem discussões sobre os conteúdos curriculares do ensino de filosofia levando em consideração as particulares de cada um dos países em que as pesquisas foram realizadas No artigoFilosofía de la Educación y pedagogía de la enseñanza en la formación del professorado Estudio de caso percepción del estudiantado por exemplo os autores citam Ferrer 2018 explicando que o ensino de Filosofia Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 12 O ENSINO DE FILOSOFIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA está em processo de discussão e análise no Chile quanto à sua importância visto que foram apresentadas opiniões sobre a eliminação da disciplina de filosofia do currículo escolar De tal modo a pesquisa empírica realizada com graduandos de Pedagogia mostrou a necessidade de mudar os moldes de se ensinar a disciplina manifestando a urgência de uma didática que permita compreender de forma mais profunda os textos tanto as correntes filosóficas quanto os postulados que se ensinam como parte dos requisitos básicos do assunto No artigo Philosophy of Education as an Academic Discipline in Turkey The Past and the Present Ünder 2007 destaca que a referida disciplina começa a aparecer nos currículos de formação de professores somente após a introdução da divisão americana de estudos educacionais na Turquia em 1953 e que em 1998 foi excluída dos currículos das escolas de preparação de professores e a revisão do currículo de 2006 inseriu a mesma novamente nas matrizes curriculares Estudiosos defendem que a disciplina pode aprofundar e estender a concepção democrática da educação na Turquia e também existem concepções que mostram o surgimento de problemas causados pela modernização no país como otomanismo islamismo turquismo ocidentalismo e kemalismo O autor ainda afirma que os estudos de filosofia e de filósofos na educação tem sido muito limitado no país e que livros de filosofia da educação não são citados por pesquisadores educacionais Já no artigo Philosophy of Education in Spain at the Threshold of the 21st Century Origins Political Contexts and Prospects Jover 2001 deixa claro que a Filosofia da Educação na Espanha estar começando a experimentar novas linguagens que podem ser inseridas na revisão do movimento de identidade onde as novas abordagens recaem no denominador comum das tendências narrativas chave para a qual é a ideia de um eu contextual histórico e biográfico O autor destaca que as tendências vão em direções diferentes mas inter relacionadas a construção narrativa da identidade e o repensar do significado educacional da experiência de leitura a recuperação da memória histórica pela educação e o sentido de alteridade e o uso pedagógico de histórias de vida e modos de se ver e ver o outro Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 13 Ana Paula Teodoro dos Santos Fernanda Lays da Silva Santos Walter Matias Lima Ao se referir a P2 definida como Quais são as disciplinas de filosofia existentes nas matrizes curriculares dos cursos de Pedagogia nas universidades constatamos que nos três artigos encontrados há a presença da disciplina Filosofia da Educação nas matrizes curriculares dos cursos de Pedagogia No entanto o currículo do curso vem passando por reorganizações No caso da Turquia por exemplo Ünder 2007 explica que em 1998 a referida disciplina foi excluída do currículo mas em 2006 foi incluída novamente Em relação à P3 denominada Que tipos de estudos mais investigam o ensino de filosofia na formação do pedagogo constatamos a presença de apenas 3 artigos que investigam o tema na formação do pedagogo revelando a carência de trabalhos científicos que contemplem a questão Um deles foi classificado como do tipo estudo de caso qualitativo exploratório e os outros dois como do tipo pesquisa qualitativa descritiva 4 Considerações Finais Esta RSL buscou fazer o levantamento das investigações já realizadas sobre a relação Pedagogia e Filosofia tendo se optado por análises no repositório de bases de dados como Scopus Scielo Springer Link e ACM Digital Library Os Strings inseridos nas buscas foram philosophy AND pedagogy AND philosophy of education com o auxílio metodológico da ferramenta online Start State of the Art through Systematica Reviews para facilitar a apreciação de conteúdo dos artigos encontrados A elaboração da RSL nos permitiu ter uma visão global das pesquisas na área tendo encontrado apenas três artigos que atendessem os critérios estabelecidos e assim o objetivo da pesquisa foi alcançado Portanto os trabalhos encontrados demostram as particularidades do ensino de filosofia enquanto disciplina nas matrizes curriculares dos cursos de Pedagogia de países como Chile Espanha e Turquia Diante disso os resultados da pesquisa também apontam a inexistência de artigos que contemplem a questão no nível de Brasil evidenciando a grande necessidade de se realizar mais análises neste campo de investigação Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 14 O ENSINO DE FILOSOFIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE Maria Betânia Barbosa Filosofia da educação uma disciplina entre a dispersão de conteúdos e a busca de uma identidade 1996 Dissertação Mestrado em Educação Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG BOAVIDA J De una didáctica de la filosofía a una filosofía de la educación Revista Española de Pedagogía 64234 205226 2006 BRASIL Ministério da Educação e Cultura Conselho Nacional de Educação Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia Licenciatura Parecer CNECP n5 13 dez 2005 Conteúdo online disponível em httpportalmecgovbrcnearquivospdfpcp0505pdf Acesso em 02 fev 2016 CADASTRO NACIONAL DE CURSOS E INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO SUPERIOR eMEC Informações sobre as instituições que ofertam o Curso de Pedagogia no país eMEC 2022 Disponível em httpsemecmecgovbr Acesso em 15 jan 2022 CERLETTI A La enseñanza de la filosofía como problema pedagógico Buenos Aires Editorial Zorzal 2008 BOSI Alfredo Dialética da Colonização São Paulo Companhia das Letras 1992 BUYUKDUVENCI S Eg itim felsefesine giris Introduction to philosophy of education Ankara Savas Yayınları 1991 CORTÉS G Sobre la necesidad de la enseñanza de la Filosofía Actas 31 193216 2015 ERTU RK S The question of philosophy of education in Turkey In G Yıldıran J Durnin Eds Recent perspespectives on Turkish education An inside view pp 9398 Bloomington Ind Indiana University Turkish Studies Publications 1997 FULLAT O Filosofía de la Educación Síntesis Madrid 2000 JOVER GONZALO Philosophy of Education in Spain at the Threshold of the 21st Century Origins Political Contexts and Prospects Studies in Philosophy and Education 20 361385 httpsdoiorg101023A1011855312033 2001 LIBÂNEO José Carlos Pedagogia e pedagogos para quê 12 Edição São Paulo Cortez 2010 Kohan W Filosofía la paradoja de aprender y enseñar Buenos Aires Zorzal 2010 Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 15 Ana Paula Teodoro dos Santos Fernanda Lays da Silva Santos Walter Matias Lima KUNDERA M O lugar da filosofia da educação In PAVIANI Jayme Problemas de Filosofia da Educação 6ª Edição Editora Vozes PetrópolisRJ 1999 MORENO A Percepciones de los estudiantes hacia la clase de Filosofía general en el campus central de la Universidad Nacional Autónoma de Honduras Revista Ciencia y Tecnología 121 2742 2013 MÜHL Eldon Henrique MAINARDI Elisa A Filosofia da Educação nos cursos de Pedagogia do Brasil da obrigatoriedade à dispensa progressiva Filosofia e Educação RFE Volume 9 Número 2 Campinas SP Junho Setembro de 2017 ISSN 19849605 p 722 OLIVEIRA Ivanilde Apoluceno de O ensino da filosofia da educação no curso de pedagogia Revista Margens Interdisciplinar Sl v 2 n 3 p 5563 maio 2016 ISSN 19825374 PIMENTEL Edna Furukawa Filosofia da Educação nos cursos de Pedagogia um estudo sobre seus aspectos teóricometodológicos Tese Doutorado em Educação Universidade do Estado da Bahia Salvador BA 2014 QUILLICI NETO Armindo O ensino de filosofia da educação no Brasil uma análise dos programas de ensino de filosofia da educação dos cursos de pedagogia do Estado de São Paulo 2001 Tese Doutorado em Educação Universidade de Campinas Campinas SP 2001 SAMPIERI RH COLLADO CF LUCIO PB Metodologia de pesquisa 5 ed Porto Alegre Penso 2013 SANTOS ADÉLCIO MACHADOS DOS BONIN JOEL CEZAR FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO IMPLICAÇÕES E IMPACTOS NA PEDAGOGIA REVISTA EDUCERE ET EDUCARE VOL 23 N 27 JANABR 2018 DOI HTTPSDOIORG1017648EDUCAREV13I2716850 SANTOS Marcio Dolizete Mugnol A disciplina Filosofia da Educação no curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná UFPR nos anos de 1970 e 1990 Dissertação Mestrado em Educação Universidade Tuiuti do Paraná Curitiba PR 2003 ÜNDER Hasan Philosophy of Education as an Academic Discipline in Turkey The Past and the Present Stud Philos Educ 2008 27405431 DOI 101007s112170079049z Springer Science Business Media BV 2007 VERDUGO Luis Rodrigo Camacho PAREDES Hernán Morales Filosofía de la Educación y pedagogía de la enseñanza en la formación del profesorado Estudio de caso percepción del estudiantado Revista Educación Costa Rica vol 44 núm 1 2020 Disponível em httpwwwredalycorgarticulooaid44060092006 DOI httpsdoiorg1015517reveduv44i134179 Revista Foco Curitiba PR v16n2e943 p0116 2023 16 O ENSINO DE FILOSOFIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA VIEIRA M de M Filosofia da Educação na formação do pedagogo discurso de autonomia e fabricação da heteronomia 2010 221 f Tese Doutorado Faculdade de Educação Universidade de São Paulo São Paulo 2010 YIN Robert K Pesquisa qualitativa do início ao fim Porto Alegre Penso 2016 DOI httpsdoiorg1026512rfmcv9i343009 Pedagogia da Catástrofe Catastrophe Pedagogy Carolina de Roig Catini Resumo O artigo tem por objetivo colocar em discussão as relações entre trabalho educação e política analisando como relações materiais do cotidiano se projetam enquanto formas de viver o tempo presente e as expectativas em relação ao futuro Partido das expectativas seletivas diante da possibilidade de descarte num mercado de trabalho eliminatório investigase as práticas voltadas para o empreendedorismo e seletividade tanto no âmbito do trabalho quanto no da educação formal e nãoformal salientando os vínculos entre rentabilidade e punição no cruzamento entre políticas sociais privatizadas e militarização Palavraschave Educação Empreendedorismo Seleção Expectativas Abstract The article aims to discuss the relationships between work education and politics analyzing how everyday material relationships are projected as ways of living the present time and expectations regarding the future Based on selective expectations given the possibility of discarding in an eliminatory labor market practices aimed at entrepreneurship and selectivity are investigated both in the context of work and in formal and nonformal education highlighting the links between profitability and punishment at the crossroads between privatized social policies and militarization Keywords Education Entrepreneurship Selection Expectations Professora do Departamento de Ciências Sociais da Educação DECISE da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas FEUNICAMP Doutora em Estado Educação e Sociedade pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo USP Email ccatiniunicampbr ORCID httpsorcidorg0000000155689974 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 99 CAROLINA DE ROIG CATINI Que as coisas continuem como estão eis a catástrofe W Benjamin 1 Antecâmara a celebração da sen tença Em outubro de 2020 em pleno pri meiro ano pandêmico estampava nos sas telas uma notícia emblemática um grupo de jovens funcionários e fun cionárias de uma empresa de estética tatuou no corpo a meta dos patrões 300 foi impresso por agulhas e tin tas nos pulsos antebraços e calcanha res dos corpos que celebravam o pro jeto de expansão de lucros da empresa que previa aumentar de 100 para 300 o número de lojas da franquia Um dos jovens festeja a cultura positiva da empresa depois de passar por muitas privações nos dois anos anteriores de desemprego Em reação o CEO anun cia que a empresa tem cultura de vi tória onde o fracassado não tem es paço Esclarece que as tatuagens não suprimem a chance de demissões na mesma oração que demonstra profunda satisfação pelo gesto de amor à marca de seus funcionários e funcionárias Já o tatuador teria dito que nunca havia visto algo parecido que as pessoas por tavam um termo de responsabilidade e que não podia dizer quem pagou a conta pelo seu serviço cf CASEMIRO 2020 Na Colônia Penal de Kafka a tatua gem é a própria punição Onde havia insubmissão e resistência ao trabalho e aos patrões havia condenação Sem julgamento a sentença era inscrita por agulhas que perfuram cada vez mais profundamente os corpos de prisionei ros numa tortura prolongada por horas contadas no relógio até o fim Honre seus superiores foi a sentença para o trabalhador considerado culpado por que respondeu com rebeldia a um su perior que o chicoteou no rosto ao encontrálo dormindo em seu posto de trabalho de vigia Largue seu chicote ou te devoro revidou ao capataz Na prisão o ritual de sacrifício seria rea lizado por uma máquina operada por um oficial que queria demonstrar a su perioridade de um sistema automático que prescinde da reflexão para o pro cesso de tomada de decisões e deixa de lado a morosidade e a falta de eficácia do pensamento na definição de quem deve ser punido e executado Não obs tante como a colônia se situa na peri feria do sistema faltam condições obje tivas para o pleno desenvolvimento das forças produtivas de modo que o enga jamento na execução dos serviços exige verdadeiros suplícios A engenhoca não funciona bem com suas peças antigas e mal azeitadas e por isso o próprio ofi cial da colônia penal oferece seu corpo 100 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE à engrenagem e se submete à operação inaceitável o fracasso da máquina Di ante de um condenado e de um soldado mas também de um observador da me trópole o oficial deixa a maquinaria executar sua performance enquanto é devorado por seu meio de trabalho 2 Expectativas seletivas Nos campos onde se dizia que o traba lho liberta o número tatuado nos an tebraços dos prisioneiros escravizados não apenas substituía seus nomes mas também era a senha para obter pão e sopa conta Primo Levi 1988 Um dos elementos da organização da vida e que simbolizava a destituição da história de cada um e cada uma também portava a possibilidade de sobrevivência caso houvesse a sorte de não eliminação pe las seleções Os campos de concentração são a ex pressão mais acabada do totalitarismo e buscam não tanto explorar o trabalho de uma população cativa quanto for necer a mais vívida demonstração de sua dispensabilidade diz Christopher Lasch LASH 1986 p 95 É preciso reconhecer no entanto a radicalidade do fato de que a mobilidade de nosso mundo obedece a desejo semelhante o enxugamento VIANA 2012 p 64 uma vez que as demonstrações de nossa descartabilidade nos são também ofe recidas cotidianamente pelos campos de trabalho não forçados embora flo readas com muita autoajuda lições de resiliência e empatia com os vencedo res Tratase de uma espécie de gestão do trabalho pela alegria de que fala Chapoutot 2020 e que também nos é familiar numa época em que compro misso motivação e envolvimento são pressupostos do prazer de trabalhar e da benevolência da estrutura CHA POUTOT 2020 p 131 Retomando a tese de Giorgio Agam ben que enxergou o campo de concen tração como lugar paradigmático para o exame de nossa organização social contemporânea mediante análise da permanência de elementos fundamen tais daquela forma de vida extrema em nosso tempo Chapoutot analisa pro cessos de modernização da gestão do trabalho por parte do Estado nazista que ocorriam em paralelo do lado de fora dos campos Em tais anos de do minação ocorreu uma proliferação de órgãos instituições agências ad hoc de modo que as decisões e ações de admi nistração se tornassem indecifráveis CHAPOUTOT 2020 p 27 A po licracia se revestia do espírito concor rencial no qual a vida é uma luta o mundo é o lugar da guerra entre as raças entre serviços gestão central e agências CHAPOUTOT 2020 p 31 Frente a essa configuração distanciada de uma organização rígida e burocrá 1Todas as citações de textos em língua estrangeira são nossa tradução Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 101 CAROLINA DE ROIG CATINI tica e neste sentido na mesma toada da descrição do caráter semovente do poder totalitário do estado alemão que faz Hannah Arendt 1999 o autor pes quisou a gênese de uma forma de ge renciar o trabalho para sua mobiliza ção total Em seu estudo da trajetória de jo vens profissionais bem formados com suas ideias inovadoras que passam a associarse a juristas e altos funcioná rios estatais e empresariais Chapoutot viu emergir um sistema de gestão que nasceu no nazismo mas que floresceu no pósSegunda Guerra movimento in duzido inclusive pela difusão de cur sos e de manuais de gestão empresarial formulados por tais figuras Parado xalmente diz o autor eles desenvol veram uma concepção de trabalho não autoritário onde o empregado e tra balhador consentia com seu destino e aprovava sua atividade em um espaço de liberdade e autonomia numa forma de trabalho pela alegria CHAPOU TOT 2020 p 14 Os princípios dessa forma de organi zação se desenrolavam na prática pelos mecanismos de incutir nos trabalhado res e trabalhadoras a assunção perfor mática de sua adesão ao sistema orien tada pela noção de que o importante é agir agir sempre e sem entraves objeti vos ou subjetivos Sintetizada pela fór mula livres para obedecer obrigados a obter sucesso2 a gestão combinava a flexibilidade dos processos e contratos de trabalho com a rigorosidade dos ob jetivos estipulados por meio dos quais se mensurava o desempenho pela de senvoltura nas missões no bojo de uma gestão organizada por metas As segurada a autonomia dos meios sem poder participar da definição e esta belecimento das metas a culpa re caía sobre quem se responsabilizava por atingilas em caso de falha na missão CHAPOUTOT 2020 p 14 Em nosso caso não seria exato di zer que a responsabilização individual pelo fracasso da produtividade no tra balho se orienta pela mesma raciona lidade subjacente ao movimento feito por trabalhadores e trabalhadoras que estabelecem como seus os objetivos dos patrões Na cena inicial não há deli mitação da meta por objetivos parciais mas a demonstração de que se assume como objetivo primordial de cada indi víduo o movimento de autovalorização do próprio capital por parte de quem é destituído de capitais Como a perfor mance é a própria ação cabe questionar se a expressão empresários de si não seria limitada para descrever tal pro cesso de interiorização do movimento do capital como necessidade indivi dual Parece tratarse da subjetivação do próprio capital na qual cada indi víduo atua segundo o automatismo de seu movimento constante na busca in cessante para reproduzirse a si mesmo 2Libres dobeir obliger de reussir no original 102 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE Com a diminuição de práticas coletivas de negação e enfrentamento ao traba lho que marcam nosso tempo os por tadores da força viva de trabalho ten dem a se identificar totalmente com seu oposto e simulam personificar seu pró prio antagonista o capital De qualquer forma a incorporação dos desígnios de expansão da capaci dade de exploração do empresário não teria efeito sem dar forma a tal inte riorização pela performance pela de monstração inovadora e emocionante de adesão às metas empresariais O ferrete marca o couro para deixar à vista quem é o proprietário do gado enquanto a tatuagem marca os corpos desejosos de manter por mais tempo quanto seja possível o direito de quem comprou a força de trabalho usufruir dela como sua propriedade No en tanto ela não garante nada O que se te atraliza na performance portanto não é o desempenho no cumprimento das metas mas o desempenho na própria punição previsível pelo descarte As sim antecipase a possibilidade de bai xar sobre si o decreto de inutilidade de sua força de trabalho com demonstra ções de empenho e engajamento Ou ainda deixa em evidência a disposi ção para se redimir da possível inade quação às demandas constantes de ino vação numa antecipação do desastre Mas não há redenção possível em tal sistema Na Colônia Penal de Kafka a puni ção não é autoengendrada mas também não dá chance de reparação dos atos considerados culpáveis assim como em nosso caso tão real quanto absurdo no qual a adoração ao capital se ex pressa num culto não expiatório mas culpabilizador como diz Benjamin uma vez que se lança mão do culto não para expiar essa culpa mas para tornála universal para martelála na consciência e por fim e acima de tudo envolver o próprio Deus nessa culpa para que ele se interesse pela expiação BENJAMIN 2013 p 22 Envolver o DeusCapital numa possível expiação seria como reivindicar a ele ou a sua forma política o Estado medidas re paratórias contra a lei geral de acumu lação que implica a desnecessidade de milhares de existências empurradas ao fundo da sociedade como elementos usados inúteis dos quais o capital não pode retirar mais nenhuma seiva lixo humano que é varrido com vassoura de ferro LUXEMBURGO 2006 p 68 A lógica da eliminação que nos ronda faz de cada gesto não uma libertação da culpa mas um investimento contra a ameaça do descarte E o que os deuses oferecem são as zonas de espera dos aparatos puni tivos e assistenciais em seus espaços temporários de permanência em peni tenciárias campos de refugiados cam pos de concentração e tantas outras formas de confinamento massivo de que trata Paulo Arantes 2021a Tais zonas de espera se expandem e vão além dos espaços de tempo mortos e Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 103 CAROLINA DE ROIG CATINI improdutivos mas se espraiam tam bém para os espaços produtivos por que praticamente todos os trabalha dores convertemse em membros in termitenteslatentes pela permanente desqualificação e pela informalização OLIVEIRA 2000 p 18 Ocorre que ao que tudo indica essa lógica também passa a orientar a razão dos espaços de reprodução social sobretudo dos ainda assim chamados direitos sociais os quais até há pouco tempo se positivava como forma de manutenção e formação das capacidades produtivas e que nem sempre deixam à mostra a aparência re pressiva amortizada por suas medidas compensatórias e pelos dispositivos de negação do sofrimento pela gestão das emoções Desenvolvemse formas em que se espera alguma forma de seleção mas ao contrário de uma espera sem ati vidade cada vez mais se espera tra balhando e se trabalha para o capital ou para a contenção social como parte da produção de valor ou como contra partida pelos custos que quem não é produtivo ou rentável representa num sistema de custobenefício dos inves timentos sociais A expectativa não é anulada mas negativada dado que o que se apresenta com maior probabi lidade em qualquer uma das esferas é a chance da eliminação que por si mesma já tem a força de gestão pela mobilização constante para impedila O absurdo de pressupor a benevolên cia da estrutura e a ausência de crítica ao trabalho não estavam presentes em Kafka como estão colocadas em grande medida em nosso tempo mas ali o ab surdo se representava por um sistema quase automático de exclusão e puni ção perpetrado pela tecnologia o que se apresenta hoje em sua forma mais desenvolvida pelos panópticos algo rítmicos cf WOODCOOCK 2020 de gestão de trabalho por aplicativos na qual o meio de trabalho liquida o trabalhador MARX 2017 p 504 Essa gestão algorítmica torna possível não apenas os desligamentos e cance lamentos automatizados mas também a inclusão pelo cadastro numa zona espera para prestação de serviços cujo tempo é estabelecido pela gestão auto mática das máquinas No picadeiro kafkiano a violência perpetrada está no condicional o que aconteceria se de acordo com Silvia Viana enquanto no laboratório de cru eldade atuante na indústria cultural mas também na própria forma de or ganização do trabalho atual possibi lita a um só tempo sua manutenção e presentificação o que acontece se VI ANA 2012 p 40 Assim e para cami nhar pensando junto com Silvia Viana o espetáculo da realidade efetua uma síntese pavorosa que exige tornar in teligível a colaboração ativa nesses ri tuais de sofrimento VIANA 2012 p 40 O que parece acontecer é uma espé cie de mistura entre um empenho ex tremo do adorador no bojo dessa ce 104 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE lebração sem trégua nem piedade do capitalismo como religião de que fala Benjamin BENJAMIN 2012 p 2122 com o sobrevivencialismo de Lash que se manifesta por um mínimo eu de um indivíduo esfacelado pelas exi gências do meio que em sua aparên cia de autonomia apenas absorve as de mandas colocadas externamente ado tando comportamentos empreendedo res esperados e cultivados pelas formas hegemônicas de relações sociais den tre as quais as relações educativas cf LASH 1986 As expectativas seletivas se organi zam pelas afinidades eletivas e simulta neidade entre os processos de moderni zação do trabalho e aparatos punitivos tenham eles ou não a aparência imedi ata de zonas de espera para o cumpri mento de penalidades 3 Aulas de seleção na escolaparedão3 Em julho de 2021 houve uma exposi ção do Movimento Inova que apesar do nome é uma organização liderada pelo Instituto Ayrton Senna para con duzir o trabalho de empresas institu tos sociais empresariais e conselhos es tatais na execução da reforma do ensino médio paulista Por meio do Centro de Mídias de São Paulo a plataforma di gital criada para a educação emergen cial remota da pandemia e também composta por um outro conglomerado empresarial veiculouse uma série de atividades formativas dentre as quais uma aula de tecnologia4 Para esse processo pedagógico que tinha como públicoalvo a juventude do ensino mé dio a equipe de economistas designers CEOs e analistas do grande conglo merado empresarialestatal selecionou como mentores para os estudantes um exentregador do Ifood Vitor Eleotério e um exBBB João Pedrosa Este último professor da rede estadual de Minas Gerais ciceroneou Vitor que se apre sentou como um foodlover isto é um amante da empresa para qual vende sua força de trabalho O conteúdo da aula consistiu num relato do processo pelo qual esse amor se teceu pelas pernas cansadas sobre pedais pelo trabalho não pago e pelas malhas algorítmicas do engajamento nas redes sociais No cenário do vídeo ao fundo está gra fada a marca Ifood ao lado dos dizeres revolucionar o universo Enquanto Vitor trabalhava duro como biker do Ifood foi um dos es colhidos para participar de uma dinâ mica de seleção para concorrer a uma vaga emprego na área de tecnologia de 3Os relatos contidos neste trecho do artigo têm como fonte entrevistas realizadas para pesquisa O público e o privado mu danças na forma social da educação sob minha coordenação aprovada pelo comitê de ética em pesquisa da Unicamp CAAE 30180720100008142 A investigação se deu em escolas de periferia da cidade de São Paulo e de Campinas e todos os nomes são fictícios exceto os que constam em documentos públicos A pesquisa conta ainda com análise documental de produção de Fundações e Institutos Empresariais e Secretaria de Educação do Estado de SP 4Vídeo disponível em httpswwwyoutubecomwatchvbTZRv4yWQ acessado em 12122021 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 105 CAROLINA DE ROIG CATINI outra empresa cujo processo se dese nhou por um desafio no qual cada can didato deveria desenvolver um aplica tivo num prazo de tempo determinado trabalhando com seus próprios recur sos Vitor desenvolveu o melhor pro duto demonstrando um aplicativo com a melhor interface e com mais funcio nalidades do que haviam sido deman dadas Foi selecionado mas não con seguiu a vaga A empresa alegou que o candidato não cumpria os requisitos porque não detinha os meios de traba lho tendo utilizado máquinas ultrapas sadas e de terceiros Ao postar a história nas redes sociais Vitor viu seu destino virar recebendo muitas mensagens de apoio vouchers para certificações digi tais créditos de internet bolsas de es tudos em plataformas digitais tutorias mentorias e ofertas de empregos No final pôde escolher entre três grandes empresas e se tornou desenvolvedor do próprio Ifood O amor manifesto pela empresa essa que diante de uma disputa algorít mica se engaja para vincular sua ima gem à filantropia solidária frente aos desafios impostos pelo mercado de tra balho cada vez mais seletivo também foi declarado à tecnologia e ao traba lho como desenvolvedor e programador pelo exentregador Exceto pelo afeto a palavra tecnologia não apareceu mais no relato e a formação se deu sem que nenhum conhecimento mobilizado no trabalho de engenharia de softwares se tornasse parte do conteúdo transmitido à juventude da escola básica A aula de tecnologia transmitiu li ções de superação que envolve o mé rito do trabalhador mas sobretudo a arbitrariedade da seleção dado que ela se deu em função das mensurações do impacto da postagem nas redes soci ais as quais não se desenrolaram sem disputa entre críticas à vitimização do candidato negro e pobre e as mensagens de apoio e ofertas de recursos e vagas de emprego Enfim a opinião pública poderia ter pendido mais para o outro lado Mas a superação de um é com pensada pelo fracasso do outro isto é pela presença do professor da rede e exBBB cuja aparição é ao mesmo tempo uma ausência VIANA 2012 p 46 a ausência da vitória no caso mas que de fato representa a maioria já que os vencedores e vencedoras do pro grama não podem aparecer como mo delo mas precisamente como aquilo que são uma exceção à regra e a regra é o paredão o descarte a aniquilação VIANA 2012 p 48 Repondo a ló gica do mercado de trabalho e da em presa a seleção é negativa nos realitys shows já que apenas uma única pes soa vence e o resto é descartado Talvez alguns dos perdedores ganhe a chance de virar uma subcelebridade e parti cipar de programas de baixa audiên cia ou qualquer outra vaga temporária de emprego como recompensa por ter aparecido e demonstrado aderência às regras do jogo Assim o exBBB subs titui o desenvolvimentista mito Silvio 106 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE Santos VIANA 2012 p 48 e mar tela nas horas vagas de entretenimento a verdade da lógica da seleção na qual poucos e poucas vencerão a competição próprias do neoliberalismo concorren cial A aula também fornece uma imagem emblemática das linhas gerais de como tem se desenvolvido o ensino voltado à formação de trabalhadores e trabalha doras seja pela presença da empresa educadora pela centralidade que ga nha o ensino de condutas e de ges tão das emoções ou ainda pela educa ção executada por profissionais que de tém o que se chama de notório saber mas não necessariamente tem forma ção docente e que estão substituindo aulas por mentorias e outras formas que tornam obsoleto o trabalho docente com formação profissional o que se dá em conjunto com a intensificação da introdução de tecnologia no processo de trabalho Não se poderia deixar de mencionar que o caso é exemplar ainda por envolver uma grande quan tidade de gestores da educação orga nizados em diversas instâncias estatais empresariais de poder e hierarquia que concorrem entre si e intermediam a re lação entre Estado e usuários dos servi ços disputando recursos investimen tos e públicosalvo Pedagogicamente essa forma de edu car a juventude adentra as escolas so bretudo pela implementação dos eixos estruturantes da reforma do ensino mé dio a saber introdução de tecnolo gia de competências socioemocionais de projetos de vida e empreendedo rismo como componentes curriculares e flexibilização dos itinerários formati vos de acordo com as personalidades Depois de ser largamente testada nos laboratórios de experimentação desen volvidas no período anterior nas prá ticas socioeducativas em espécies de zonas francas de educação nas fron teiras que são as periferias das grandes cidades por meio de inúmeros progra mas de modificação comportamental5 essa tecnologia social de governança é literalmente aplicada à formação da ju ventude na escola Em nome da forma ção de protagonistas ou lideranças juvenis substituise a formação para a cidadania pela formação empreende dora deslocando a quimera da produ ção de igualdade por meio da participa ção política para a ideologia da igual dade de capacidade produtiva pelo tra balho sem direitos naturalizando o ca ráter seletivo e eliminatório do mercado de acionistas que não investe em quem não se engaja de maneira inovadora e criativa na própria exploração Elas se desenvolveram no Brasil sobretudo a partir dos anos 1990 no bojo da re forma gerencial do Estado e transferên cia da gestão e execução dos direitos 5Paulo Arantes faz uso das expressões citando JeanFrançois Bayart Le gouvernement du monde Une critique politique de la globali sation Paris Fayard 2004 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 107 CAROLINA DE ROIG CATINI dos excluídos e em situação de vul nerabilidade social para organizações sociais privadas Voltemos então a cenas dos capí tulos anteriores dessa história Quase uma década antes do Ifood entrar na es cola em 2012 Felipe cursava o segundo ano do ensino médio numa escola da periferia de Campinas SP e decidiu se inscrever nas oficinas oferecidas pela Fundação Educar ligada a uma indús tria de peças automotivas a Dpaschoal que realiza trabalhos sociais educativos desde o início dos anos 1990 Era o ter ceiro ano que tinha acesso à divulgação da proposta de educação não formal de senvolvida em parceria com a escola no contraturno Como havia muitos mais estudantes inscritos do que vagas para as oficinas foi realizada uma seleção para escolher 5 participantes de cada escola para compor um grupo de uma centena de jovens A seleção consistiu em uma dinâmica Eles separavam a gente em grupos e davam um texto pra gente Esse texto era como se fosse um apocalipse um fim do mundo e tinha algumas pessoas que o texto apresen tava e você tinha que escolher quais pessoas seriam mais cor retas de serem salvas Era esse tipo de dinâmica que havia em quase todo encontro Então aí você apresentava o consenso do grupo e tal e com isso eles se lecionavam as pessoas para par ticiparem Felipe jovem entre vistado em 2020 A escolha dos participantes em nada se referia ao conteúdo da proposta ao debate de quem salvar dentre um usuário de drogas um traficante um assaltante uma mulher que se prosti tuía uma criança portadora de defici ência ou um idoso Ao jovem famili arizado há muitos anos com tais dinâ micas era bastante evidente que o de safio não se encontrava na responsabi lidade da escolha de um dos persona gens e que o conteúdo da resposta era absolutamente irrelevante indepen dentemente de quem você salvasse em suas palavras o foco era a atuação que você tinha ali com o seu grupo no mo mento de liderança de comunicação e esse tipo de coisa Aí eles nos selecio navam através desse comportamento Para quem logrou ser selecionado pela atividade que tematizava a redenção ao apocalipse como Felipe passou a fre quentar o processo formativo da fun dação duas vezes por semana durante um ano realizando atividades que ele descreve como uma sequência de di nâmicas semelhantes às de seleções de emprego até chegar ao jogo mais inte grativo no qual todos se envolvem para arrecadar recursos materiais com em presas privadas e reformar o ambiente degradado de alguma escola pública ou espaço coletivo do bairro A cada dia de atividade os jovens eram avaliados 108 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE de acordo com suas performances se gundo suas competências e habili dades tais quais apareciam dentro de situaçõeslimite criadas para as ofici nas No primeiro ano como educando Felipe recebeu um pequeno auxílio fi nanceiro da Fundação Educar e como contrapartida precisava replicar as ofi cinas da educação não formal na es cola mantendose engajado no período do turno e do contraturno Como ele se interessou por manterse ligado aos trabalhos da fundação depois disso candidatouse para supevisionar as ofi cinas de outra centena de estudantes no ano seguinte Depois de mais uma sele ção ele se tornou monitor trabalhando para o programa por um ano em troca de um curso de linguas pago pela Fun dação Depois dessas experiência e de formado no ensino médio foi selecio nado a atuar temporariamente como jo vem aprendiz numa loja de autopeças da fábrica da mesma empresa traba lhando oito horas por dia em troca de meio salário mínimo durante mais um ano De acordo com outra estudante que fez as oficinas em 2015 alguns pou cos estudantes são selecionados estudar com bolsas no exterior dar palestras criar iniciativas empreededoras traba lhar em outros projetos ou em vagas na própria empresa mas a maioria não é selecionada para nada Uma professora da mesma escola crítica ao projeto de formação empre sarial considerava que a fundação fazia desses meninos mão de obra criando novas hierarquias e despolitizando as formas de participação juvenil Os mais protagonistas são le vados para dar as palestras são levados pra trabalhar pra dar as aulas para os outros né En tão criamse espécies de pirâ mides de hierarquia entre eles um pouco estagnadas nos per fis que criaram na fundação E posturas políticas eu vi galera extremamente politi zada crítica que de repente se apagaram sabe A sensa ção que eu tenho é que se mis tura o projeto de se dar bem na vida individual com a busca de emprego que a própria funda ção pode oferecer Eles trans ferem a energia que colocavam na escola para a fundação em presarial Rosa professora da rede estadual de SP na cidade de Campinas entrevistada em 2020 No momento da entrevista oito anos depois do começo de seu envolvimento com a empresa e sua fundação social Felipe continuava engajado como vo luntário dos trabalhos sociais da em presa ao mesmo tempo em que cur sava uma faculdade particular e traba lhava Ele identifica sua participação em projetos voltados para jovens de es colas públicas como um ativismo den Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 109 CAROLINA DE ROIG CATINI tro do que ele considera um super mo vimento social uma vez que a empresa desenvolve um trabalho super social atuando nas escolas e nos bairros peri féricos a partir do agenciamento de em preendedorismo social para resolução de necessidades impostas pelas condi ções econômicas As palavraschave que rondavam o processo formativo eram protagonismo juvenil e empreendedorismo além da empatia e da resiliência que segundo Felipe é muito usada nas oficinas no sentido bem literal mesmo de você ser impactado com algo e saber contornar a situação saber voltar ao seu estado na tural Então as lições são provocações para sair da zona de conforto volta das para o imperativo de inovar o que no caso reduziase a escrever um pro jeto e ver se alguém compra a ideia Além da parceria com a empresa sua escola também tinha parceria com a Po lícia Militar que desenvolvia trabalhos sociais de formação da juventude no ho rário escolar das quais Felipe partici pou Outra professora que coordena as parcerias e adere ao projeto conta que se formou em meados dos anos 1990 na mesma escola em que hoje trabalha e também foi formada pela Fundação Educar Dpaschoal e pela Polícia Mili tar Essa professora considera positivo o fato de policiais militares darem au las dentro das escolas públicas fardados e armados para quebrar tabus e criar proximidade com os meninos da pe riferia Ela comenta que as principais mudanças que ocorreram de lá para cá é que a PM passou a fazer mais projetos para ensino fundamental do que para o ensino médio e a Fundação que antes desenvolvia um trabalho voltado para as mudanças sociais territoriais hoje se volta mais para o empreendedorismo produtivo Depois das ocupações de es colas em 2015 e 2016 a PM adotou a Teoria de Aprendizagem Socioemocio nal para ensinar habilidades básicas e fundamentais como autoconhecimento e autogerenciamento seguindo as mes mas subteorias de gestão empresarial que o trabalho social das fundações e institutos sociais Este grupo por sua vez munido de táticas largamente tes tadas nos campos periféricos passou a defender a transformação das lideran ças de ocupações em lideranças em preendedoras 4 O alvo da educação rentabilidade e punição Cause empatia no inimigo Roberto McNamara Os projetos socioeducativos com tal configuração são parte das políticas fo calizadas elaboradas no Banco Mun dial por McNamara nos anos 1970 e de senvolvidas no bojo das medidas para o combate à pobreza nas décadas pos teriores Quando os privilegiados são poucos e os desesperadamente pobres são muitos e quando a brecha entre 110 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE ambos os grupos se aprofunda em vez de diminuir diz McNamara é ape nas uma questão de tempo até que seja preciso escolher entre os custos políti cos de uma reforma e os riscos políticos de uma rebelião 1972 Na América Latina essas políticas ganharam força durante os governos progressitas nos anos 2000 pautadas pela necessidade de aumentar a renda e capacidade de consumo dos mais pobres como medida para conter conflitos sociais Entre idas e vindas nas metodologias e graus de investimentos com o passar dos anos o Banco Mundial amplia sua atuação no sentido induzir as políticas sociais direta ou indiretamente por empréstimos e contrapartidas ou pela constituição de modelos baseados na recondução dos investimentos estatais não mais em políticas universais mas naquelas voltadas a públicosalvo e cujas principais medidas envolvem a redistribuição de renda para ampliar a capacidade produtiva dessa parcela da população cf PEREIRA 2010 O financiamento de pesquisa e para for mação de técnicos desenhou a produ ção de uma ciência da gestão política da pobreza que ficou conhecida como pobretologia com a qual se logrou despolitizar a pobreza convertendo a num problema técnico relacionado com a aplicação eficiente e eficaz de so luções ZIBECHI 2010 p 50 As sim se desenharam modos de inclu são pelo crédito fundamentados na ideia de que a gestão da pobreza se daria pela transferência de renda vol tada para o aumento da produtividade dos pobres que tinha como premissa a ideia de que vivia em tais condições apenas quem não estivesse inserido em atividades consideradas produtivas e rentáveis PEREIRA 2010 p 47 Já nos anos 1990 as recomendações de ajustes estruturais para países perifé ricos sobretudo da América Latina se voltam para a criação de fundos so ciais multissetoriais que deveriam ser geridos por organizações sociais priva das6 depois de disputarem pelos recur sos de tais fundos no bojo das estraté gias neoliberais para envolver a soci edade civil ativamente na gestão das populações7 ampliando a capilaridade 6Por isso orientamse pela focalização dos recursos em gruposalvo selecionados de acordo com a sua vulnerabilidade aos impac tos do ajustamento estrutural A identificação e execução de projetos e programas ficam a cargo de ONGs grupos de base prefeituras e até empresas privadas ou de consórcios envolvendo todos esses atores Em geral as agências criadas para gerir tais fundos operam com ampla autonomia em relação à área social do governo mesmo que estejam ligadas ou formalmente subordinadas a ministé rios específicos Utilizados como vitrines costumam alcançar alta visibilidade pública e normalmente contam com um forte apoio político vinculandose diretamente a altas instâncias do Estado ou a áreas centrais do governo Além dos recursos do orçamento nacional em geral podem contar com fontes extraordinárias de financiamento ligadas a agências bilaterais de ajuda externa e bancos multilaterais PEREIRA 2010 p 273 7A concepção dos programas sociais deveria corresponder à demanda da população beneficiária e deveria incorporar uma partici pação genuína dos beneficiários Em geral isso significa que o serviço deve ser prestado até aquele limite para o qual há disposição de pagar Programas envolvendo dinheiro e vales são preferíveis à prestação de serviços em espécie a menos que estes últimos possam ser justificados em termos de melhor focalização ou de externalidades Em alguns casos a substituição de serviços em espécie pelo fi nanciamento de vales pode ser uma forma efetiva de aumentar a transparência a liberdade de escolha do consumidor a concorrência e a eficiência interna BANCO MUNDIAL 2001 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 111 CAROLINA DE ROIG CATINI e enraizamento das práticas de inserção pelo consumo ou ampliação da renta bilidade dos pobres que se deu pelo fomento de formas precárias de empre endedorismo Além da focalização como medida preventiva de conflitos sociais com a qual se alteram a organização dos di reitos sociais e as formas de investi mentos sociais estatais o Banco Mun dial também influenciou transforma ções nas políticas macroeconômicas dos países periféricos impondo linhas de atuação equivalentes mas com meto dologias distintas Raul Zibechi 2010 faz um longo inventário de como se deu esse processo de mobilização total dos pobres para o engajamento em tais programas de transferência de renda e de como isso transformou as práti cas de movimentos sociais de base ter ritorial em países como Brasil Argen tina Uruguay e Equador Com a defesa de autonomia das organizações soci ais para acessar recursos e empreender incorporouse práticas de economia so cial antes autônomas isto é antiesta tais e antiempresariais convertendoas em formas de domesticação das lutas sociais por distintas formas de assalari amento afinal não existe melhor forma de causar empatia nos inimigos do que oferecer recursos para práticas de so brevivência préexistentes Deste modo Zibechi 2010 apre senta as políticas sociais de combate à pobreza como táticas de eliminação do conflito pela conversão da militân cia em sujeitos estatais ou empresa riais interditando as possibilidades de confronto entre interesses antagô nicos ao evitar que a desigualdade de classe se desenvolva e ganhe forma po lítica Assim muitas organizações que trabalhavam com políticas sociais fo ram cindidas do conflito social tranfor madas em técnicas assépticas estere lizadas de todo vínculo políticosocial convertendose em ferramentas de do minação e governabilidade ZIBECHI 2010 p 51 Os impactos sociais para usar os termos empresariais das políti cas sociais de transferência de renda foram portanto alcançados com su cesso na conversão das práticas de auto organização em torno da geração de renda de movimentos sociais e coleti vos em grupos precariamente assalaria dos que concorrem entre si por fundos estatais ou empresariais Com efeito a difusão do empreendedorismo como prática de buscar investimentos para realizar a prestação de serviços ou seja para trabalhar se difundiu nos terri tórios pela prática de distribuição de renda complementar que em conjunto com a propaganda massiva dessa forma de trabalho como um estilo de vida mais moderno e adequado aos novos tempos pelas mídias logrou naturalizar a con corrência de grupos pelos investimen tos assim como a busca por explora ção sem direitos trabalhistas denomi nadas de autogerenciamento Ainda mais porque elas se apresentam posi 112 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE tivamente como chance de realizações dos projetos de vida e de empode ramento tendose tornado prática de formação das juventudes com as quais se engendra a reprodução contínua de tal sistema Com foco no alvo a ser atingido as políticas se estruturam de acordo com a necessidade de tornar go vernáveis parcelas da população subdi vididas em agrupamentos de geração de renda com ênfase na assistência social mas em suas interfaces com educação saúde cultura e segurança8 No caso dos projetos educativos se jam ligados a programas governamen tais geridos por organizações sociais ou projetos empresariais realizados por seus braços sociais fundações e ins titutos o desenho também envolve na maioria das vezes transferência de renda condicionada a contrapartidas relacionadas à obrigatoriedade da pre sença na escola além das atividades dos próprios projetos mas também ao em preendedorismo social A profunda de sigualdade de recursos que marca a pre cariedade de boa parte das atividades formativas se coaduna com o fomento diferenciado das práticas de empreen dedorismo social com graus distintos de financiamento muitas vezes limita das à atuação na resolução dos proble mas de infraestrutura e falta de alterna tivas de lazer e cultura nas periferias Há diversos indícios de que além do modelo pedagógico também essa es trutura organizada no tripé transfe rência de renda educação e trabalho subremunerado será transportada para as escolas de ensino médio Se guindo as orientações do economista chefe do Instituto Unibanco Ricardo Henriques9 o governo do estado de São Paulo criou a bolsa do povo10 para fazer a busca ativa de jovens que eva diram da escola pública durante a pan demia Voltadas para 500 mil benefi ciários que faz parte do públicoalvo em situação de vulnerabilidade e po breza extrema que evadiu da escola há diversas modalidades de bolsas tempo rárias ofertadas para jovens e também para seus familiares trabalharem na es cola11 Concomitante à implementação de tal proposta temporária e emergen cial o Instituto Unibanco tem produ 8As políticas focais que associam a vulnerabilidade a outros elementos que ampliam as desigualdades como as questões relacio nadas à raça gênero etnia e faixa etária atendem às recomendações do Banco Mundial para o enfrentamento à pobreza e atenuação das possibilidades de conflito aberto pela canalização de suas energias como diz o Banco Mundial Os grupos que enfrentam discriminação ativa podem ser ajudados por políticas seletivas de ação afirmativa Para reduzir a fragmentação social podese reunir grupos em foros formais e informais e canalizar suas energias para processos políticos em vez de conflito aberto BANCO MUNDIAL 2001 p 10 9Cf FRAGA 2020 10Lei nº 17372 de 26 de maio de 2021 Grande parte das bolsas destinadas a estudantes é de 100 reais com condicionantes rela cionados à presença obrigatória e participação nas avaliações para produção de índices educacionais O auxílio para mães e pais é de 500 reais em troca de 20 horas de trabalho semanais nas escolas públicas Todas as informações estão disponíveis no site do governo Disponível em httpswwwbolsadopovospgovbr acessado em 12122021 11Evidentemente que essa tática foi utilizada como meio de coibir a greve e movimentos docentes contrários ao retorno presen cial mas o que interessa aqui é a montagem de um novo sistema educativo para o qual o direito passa a ser condicionado por contrapartidas Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 113 CAROLINA DE ROIG CATINI zido muito conteúdo pautando o debate educacional o que foi acrescido de mui tos webnários realizados durante a pandemia Num desses seminários vir tuais12 divulgouse estudos pesquisas e projetos de lei já em tramitação de programas que chamam de incentivos estudantis de transferência de renda mensal ou por meio de criação de pou panças e ganho de renda extra em caso de inscrição do Enem por exemplo que podem ser sacados ao final do ensino médio como incentivo a práticas em preendedoras dos recémformados no ensino médio Não é por acaso que o Todos Pela Educação TPE uma das principais think tanks educativas que está con duzindo mudanças políticas e práticas da educação e é composta por diver sas fundações e institutos empresariais dentre as quais a Fundação Educar e o Instituto Unibanco desde seu início declara que a centralidade do investi mento na educação tem a ver com seu caráter estratégico enquanto política social que vai muito além dos aspec tos pedagógicos ideológicos e compor tamentais da formação de jovens Ao lançar suas bases éticas jurídicas pe dagógicas gerenciais políticosociais e culturais o TPE anuncia que a edu cação é estratégica em função de sua capacidade enquanto política de redis tribuição de renda como mecanismo de gestão como política de contenção dos conflitos sociais Uma boa política social deve ter duas qualidades fundamentais ser redistri butiva promover a capilarização de re cursos e oportunidades e autopromo tora levar à emancipação pessoal so cial e produtiva de seus destinatários Nenhuma política pública é mais redis tributiva e autopromotora que a educa ção Por isso mais do que uma política setorial a educação deve ser conside rada uma política estratégica para o de senvolvimento econômico social polí tico e cultural de uma nação TODOS PELA EDUCAÇÃO 2006 p 24 Associada à transferência de renda estaria a transformação da escola em local de trabalho para suposta mo tivação dos jovens permanecerem es tudando não contraditoriamente num espaço com cada vez menos estudos Essa sugestão13 feita por outro econo mista Ricardo Paes de Barros formu lador do programa Bolsa Família e que trabalha para outra think tank educa tiva o Instituto Ayrton Senna começa a ser colocada em prática em progra mas e projetos desenvolvidos por meio de parcerias de escolas com empresas mediadas por fundações em empresari ais Verdadeiros experimentos de trans formar parte do tempo de escolarização integral em tempo de trabalho da ju ventude estão sendo colocados em vi 12Cf httpswwwyoutubecomwatchvIQENYpXoEQlistPLggyRMb5eNeIu1s0OaPHS3BXouVCYW5zjindex11 acessado em 12122021 13Cf PINHEIRO 2018 114 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE gor em diversos estados do país com modelos de investimentos estatais ou privados para o pagamento de bolsas que tem como contrapartida prestações de serviços ou o trabalho direto em em presas algumas vezes ainda associado à condução de trabalhos pedagógicos na própria escola como a orientação para projetos de vida de estudantes mais no vos replicando formas de ajustamento dos desejos juvenis a formas possíveis de inserção produtiva Vários exemplos de tais experimentos estão documenta dos em livro da organização Itaú Edu cação e Cultura que coordena projetos e programas em parcerias com outras ONGs pelo Brasil expondo modelos em busca de investimentos14 Antes mesmo de se adentrar na si multaneidade de tal processo de moder nização empresarial da educação com os aspectos que poderiam ser tidos como sinais retrógados do processo de mili tarização da educação e da vida social já dá para ver que o punitivismo não é exclusivo dos aparatos repressivos Um direito social que paga um auxí lio para seus beneficiários em troca de contrapartida funciona como um in vestimento ou um empréstimo ligado a um sistema de endividamento que se paga com trabalho Um sistema de crédito como esse nem poderia ser con siderado política social de acordo com Lena Lavinas pois a transferência de renda funciona como mecanismo de expropriação financeira da classe tra balhadora LAVINAS 2021 sp Mas é preciso ressaltar ainda que a prática também se atrela ao confi namento territorial com a tutela por tempo integral da juventude pobre com formas de trabalho voluntário mas compulsórios seja pela obrigatori edade de contrapartidas seja pelo ne cessário engajamento para ampliação das chances de reprodução de tal sis tema por meio das seleções o que já configura uma forma de punição da ju ventude periférica CATINI 2020 Não é por acaso a política social do Banco Mundial foi deixada nas mãos de Robert McNamara um estrategista de guerra Ele é mais do que apenas um nome e uma data para evocar as origens militares da abordagem econômica da pobreza e viceversa nas palavras de Paulo Arantes 2021b p 17 pois em sua atuação se encontra o fio pelo qual se desenrola a construção de um novo tipo de militarismo propriamente ci vil ARANTES 2021b p 19 que sub verte as bases de um welfare e o subs titui por um workfare que associa pu nição com filantropia política para po breza com a maximização da função utilidade dos capitais humanos colo cados para trabalhar em campos de tra balho produtivos e improdutivos Tam bém não é fortuito que o termo work 14No relatório do Itaú para formação profissional e tecnológica emancipadora há um inventário de tais práticas com diversos modelos em experimentação cf ITAÚ EDUCAÇÃO E TRABALHO 2020 para uma leitura crítica cf CATINI 2021 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 115 CAROLINA DE ROIG CATINI fare tenha se originado nos anos 1980 nos Estados Unidos e designe políticas sociais que exigem empregarse como preço a pagar para receber subsídios es tatais o que implica uma dupla obri gação por um lado do Estado de co locar em empregos aquelas pessoas que estão à margem da sociedade e do mer cado laboral por outro lado a obriga ção das pessoas de aceitálo GOUGH 2003 p 237 Diante do caráter predatório do mer cado de trabalho que contrata preca riamente explora e subremunera sim plesmente porque pode fazer isso num quadro de desemprego que nos mos tra que o descarte é massivo e de fácil substituição das peças da engrenagem dificilmente as pessoas não aceitariam trabalhar Num contexto em que a a geração de empregos converteuse em uma espécie de favor do capital como se ele não precisasse mais de pessoas e de suas forças de trabalho e que a contratação aparece como responsabi lidade social um gesto magnânimo VIANA 2012 p 52 do empresariado até mesmo o trabalho compulsório apa rece como chance e oportunidade O workfare na educação atual guarda algo das antigas workhouses locais de assistência social das crianças e jovens que confinados eram utilizados como mão de obra barata e disciplinados para os novos hábitos de trabalho EN GUITA 1989 p 10915 Mas na era de emergência em que vivemos o en trecruzamento entre civil e o militar aparece como oportunidade de vida ou morte às populações geridas por um estado ampliado ao nomeálos al vos desencadeiase algo como uma res posta rápida e focada naquela chance única ARANTES 2021b p 35 Con siderando a natureza social do alvo a juventude negra e periférica o tiro não pode ser curto como diz Paulo Aran tes 2019 p 17 e quem não é atingido pelo direito social antipopular cujo fim é tornar cada pessoa rentável é atin gido pelo aparato repressivo e punitivo A criminalização da pobreza e dos movimentos sociais pela cadeia de mas sacres desde o Carandiru em 1992 até a chacina de Paraisópolis em 2019 pas sando por Eldorado dos Carajás Can delária Vigário Geral ou ainda os cri mes de maio de 2006 em São Paulo e na Baixada Santista com a incrível cifra de 493 pessoas mortas ou desapareci das pela Polícia Militar em oito dias e todos os crimes não espetaculares tão miúdos quanto cotidianos deixam claro que não se tratam de desvios mas um projeto de gerenciamento da miséria por meio da violência padrão 15No capítulo 8 do Capital Marx apresenta a proposta de Eckart de construir um instrumento de eficácia comprovada tranca fiar esses trabalhadores que dependem da beneficência pública numa palavra os paupers numa casa ideal de trabalho an ideal workhouse 12 horas de trabalho diário numa workhouse ideal na Casa do terror de 1770 Sessenta e três anos mais tarde em 1833 quando o Parlamento inglês reduziu em quatro ramos da indústria a jornada de trabalho de crianças de 13 a 18 anos para 12 horas completas de trabalho foi como se a hora do Juízo Final tivesse soada para a indústria inglesa MARX 2017 p 348349 116 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE geral de abordagem ancorado numa série de mecanismos herdados da es cravidão e aperfeiçoados durante a di tadura OLIVEIRA 2018 p 20 A ocupação das favelas do Rio de Janeiro pelas Unidades de Pacificação Policial UPPs em 2008 faz trabalho social ar mado e policiamento ostensivo num ce nário de guerra provocando conflitos constantes pelo controle territorial ar mado nos quais se estendem as ban deiras da paz conforme análise de Ma rielle Franco 2014 p 46 As marcas nefastas da associação en tre a modernização do Estado gerencia lista com o Estado Penal realizada pelo neoliberalismo desde o início da re democratização estão nos alvos das políticas sociais Cabe lembrar que a profusão de programas sociais e educa tivos para essa população foi acompa nhando do encarceramento em massa de 1990 a 2016 o número de deten tos no sistema carcerário nacional au mentou em 707 ano em que o Bra sil se tornou o terceiro país no mundo com maior número de presos Dentre encarcerados naquele momento estava uma maioria de homens negros mais de metade jovens dentre os quais 80 não havia completado o ensino médio e 51 nem o ensino fundamental In fopen 2016 Com efeito o neolibera lismo inclusivo cf PEREIRA 2016 também constituiu um Estado Penal por meio de um complexo comercial carcerárioassistencial WACQUANT 2003 p 49 que leva a juventude para o centro das atenções criminoló gicas de acordo com Vera Malagutti Batista coadunado com a crise do tra balho pois o fim das ilusões do pleno emprego keynnesiano a descartabili dade da mão de obra e a supremacia da ideologia do mercado reconfiguraram a visão da juventude como problema BATISTA 2010 sp Segundo a Anis tia Internacional a violência da Polícia Militar brasileira bate recorde no ran king mundial Em 2019 foi eleita a que mais mata no mundo por mais um ano consecutivo O alvo do geno cídio e da violência policial é a mesma juventude pobre e periférica público alvo a quem se focaliza os projetos educativos laboratórios da nova forma escolar para esse segmento populacio nal A reengenharia dos serviços sociais básicos neocorporativos e aqui se trata das corporações empresariais e milita res se configura por uma verdadeira cadeia segmentada de públicosalvo mais ou menos perigosos dispostos em territórios mais ou menos vulneráveis para os quais se aplicam alguns mode los de abordagem e de agentes educa tivos A tendência a uma convergência entre os projetos de militarização e pri vatização se reforça por exemplo pelo posicionamento de um excomandante do Estado Maior como Etchegoyen que junto com Freitas defende uma go vernança corporativa em que o mer cado de serviços oferecidos pelas orga nizações sociais privadas apresenta por Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 117 CAROLINA DE ROIG CATINI meio da interface entre as empresas in dividualmente consideradas e o poder público consideram que as entida des de autorregulação associações pri vadas com finalidade não econômicas podem ser estruturadas como uma op ção viável e sobretudo eficiente como modelo de gestão cf ETCHEGOYEN FREITAS 2019 O fato é que além dos inimigos da guerra de classe personificados pelo empresariado também a polícia geno cida se tornou educadora da juventude em diversos programas sociais aplica dos à educação formal e não formal nas periferias antes mesmo dos projetos de militarização da gestão das escolas Lu ana Motta por exemplo mostra que apesar de não estarem previstos for malmente os projetos estavam presen tes em todas as UPP MOTTA 2021 p 51 de modo que propostas soci oeducativas de policiais professores não contam com desenho institucional nem com formação específica e nem mesmo com qualquer normativa exis tindo apenas em função da iniciativa de policiais que desenvolviam proje tos e submetem à avaliação do coman dante local Sem falar aqui dos mais novos programas de convivência16 es colar que contam com cursos de aco lhimento emocional e saúde mental mas cujo principal instrumento é uma plataforma de denúncia e registro das ocorrências agressões danos etc de jovens e servidores públicos17 certa mente a legitimação da polícia genocida como educadora passa por projetos de atuação já bem consolidados de atuação nas escolas O mais emblemático é um projeto de prevenção e combate às dro gas o PROERDI que se apresenta como formação ampla voltada para exercício da cidadania e promoção da empatia como valor emocional de estudantes de ensino fundamental Policiais milita res fardados e armados dão aulas de cidadania durante o horário letivo das escolas básicas de ensino fundamental desde 1995 Ao fim do ano de 2013 uma grande comemoração celebrou os índices do estado de São Paulo que chegava a 7 milhões de estudantes formados pela PM enquanto que segundo dados de produtividade do trabalho da Polícia Militar em 2018 o programa já havia formado 10 milhões de estudantes do estado de São Paulo cf POLÍCIA MI LITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO 2018 As UPPs do Rio de Janeiro tam bém foram celebradas em dezembro de 2013 e embora completasse já 8 anos de ocupação militar nas favelas do Rio a razão de sua existência só se revelou nas Jornadas de Junho É que os tempos es tavam trocados bem como a ordem de 16Cf documentos do programa ConvivaSP que implementa o Método de Melhoria de Convivência nas escolas estatais Disponível em httpsefapeeducacaospgovbrconvivasp acessado em 12122021 17Cf httpsefapeeducacaospgovbrconvivaspwpcontentuploads202006ManualPLACONpdf acessado em 12122021 118 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE chegada dos personagens em cena diz Paulo Arantes ARANTES 2014b p 30 porque como fica evidente a po lítica de combate à pobreza era tam bém uma das táticas da estratégia da doutrina da pacificação que na sua guerra ao contrário de ocupação ar mada para paz articulou longo arsenal de tecnologias sociais preventivas que desarmam antes mesmo de qualquer combate a parte da população que não teria nada a perder até acessar um be nefício social que lhe garante a sobre vivência Como é claro combate à pobreza e pacificação se traduzem em com bate aos pobres e imposição armada da paz mas também no fomento de uma espécie de empreendedorismo por subtra ção onde o empresário é o verdadeiro protagonista do território pacificado só que ainda não sabia disso pois todo aquele que se vira pra viver é empre sário ARANTES 2021a p 41 En fim uma política de contrainsurgência onde não havia insurgência voltada para empreendedorismo dos pobres operada pelo trabalho social de corpo rações militares e empresariais Assim De UPP em UPP a contra insurgência sem insurgência vai assim gerando o objeto do acordo tácito entre Estados Empresas Terceiro Setor Co munidade o simulacro de uma como se diz no jargão piedoso sociedade civil ativa e pro positiva o sonho de consumo no qual convergem as supraci tadas entidades regidas todas por uma mesma e nova racio nalidade política contra a qual ainda estamos aprendendo a lu tar Pois a pacificação assim entendida não é mais baluarte a ser tomado de assalto e sim um processo de autoempresari amento sem fim pouco impor tando o grau de ficção e padeci mento do processo bem como a predação concorrencial que ele necessariamente comporta ARANTES 2021a p 40 Workfare e Warfare são formas de ges tão pela mobilização total que coloca todo mundo para trabalhar e concorrer por recursos sob a mira das armas da guerra social ampla e irrestritamente bem aceita por quem está em qualquer degrau superior da hierarquia de quem foi selecionado para acessar benefí cios sociais ou suas extensões puniti vas Afinal a regulação vem da concor rência e quem está um pouco acima se espelha em quem foi selecionado para investimentos mais seguros sem olhar para baixo temendo o próprio futuro 5 Empreendedorismo da catástrofe Num momento em que o horizonte se apresenta aberto para cada vez mais aceleração e mobilidade fechado para Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 119 CAROLINA DE ROIG CATINI uma sobrevivência diária e um presente estagnante nas palavras de Hartog a radicalidade da atual segregação se dá entre quem consegue projetar e se en gajar nalgum futuro e aquela imensa parcela para quem o tempo do projeto não está aberto HARTOG 2021 p 15 Essa cisão no entanto é acompa nhada de uma dimensão de nosso pre sente que afeta a todos e todas por esse modo de vida permanentemente instá vel que gera expectativas negativas que se referem ao futuro percebido não mais como promessa mas como ame aça sob a forma de catástrofes de um tempo de catástrofes que nós mesmos provocamos HARTOG 2021 15 De modo semelhante embora o auto empresariamento tenha um caráter fic cional diante da precariedade de quem continua a viver na viração de qual quer trabalho que gere alguma renda ele convence por seu caráter expan sivo e açambarcador que nos engloba também a todos e todas pelo engendra mento de um mundo do trabalho pau tado num amplo conceito de empreen dedorismo A mudança na forma de exploração do trabalho em nosso coti diano altera nossa relação com o tempo presente e com a projeção de futuro matéria da política com a qual guarda profundas e complexas relações As sim como somos obrigados a anteci par as condições de nossa sobrevivên cia criando nossos próprios empre gos em meio a uma verdadeira guerra econômica a esfera política antecipa o horror da alarmante crise dando caldo para um sentimento de catástrofe so cial com alguma semelhança com o que Adorno aponta diante dos êxitos da extrema direita na Alemanha cf ADORNO 2020 p 51 Não obstante a ameaça ser proveni ente do próprio capitalismo e de sua vo racidade por maisvalor o movimento fetichista que ele engendra faz com que o capital apareça como chance e opor tunidade sobretudo com a vitória ne oliberal em fazer desaparecer qualquer horizonte de superação desse modo de vida e cuja ideologia se sustenta por um presente desgarrado de qualquer relação com o passado de lutas revolu cionárias e anticapitalistas Diante do acúmulo de vitórias do capital se apro funda também uma lógica subjacente tão simples como brutal no fundo só tem direito à existência quem ou o que é rentável KURZ 2003 sp Para o autor a radicalidade da eliminação se relaciona com uma transformação que se deu depois que o progresso do pro cesso de valorização estancou e esgo tou a sangria da riqueza para áreas ti das como secundárias da reprodução social de modo que o capital pronun cia como sentença que os falsos custos faux frais de produção e tudo o que se afigure como peso morto para o ca pital seja eliminado o que inclui pes soas e direitos sociais Tanto os não rentáveis têm de experimentar a res pectiva desvalorização da vida abso luta ou relativa quanto silenciosa 120 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE mente está a colocarse um traço sobre toda a reprodução social id O traço que riscaria do horizonte os direitos so ciais no entanto estão sendo borrados pela possibilidade de tornar rentável a própria esfera da reprodução pela mer cantilização e financeirização da pró pria rede de serviços sociais Sobretudo por meio de sofisticados instrumentos financeiros e da captura de recursos estatais grandes redes empresariais fi zeram de seus investimentos sociais distribuídos entre favelas escolas pos tos de saúde serviços de cultura lazer moradia etc nichos de mercados alta mente rentáveis Ao mesmo tempo os direitos sociais de educação também se tornam formas de investimentos nos trabalhadores e trabalhadoras numa especulação com base nas forças de trabalho que podem se tornar rentáveis Para o públicoalvo das classes perigosas como vimos o direito à educação convertese em zona de espera para seleção onde se espera trabalhando evitando contratempos com estudos e preparação intelectual se ajustando à aceleração do tempo sem reflexão nos quais nos mantemos em atividade constante seja ela efetiva mente produtiva ou mero simulacro Em parte o que nos impele a ade rir às práticas empreendedoras é o fu turo ameaçador contra o qual não te mos chance de sobreviver sem nos en gajarmos mas também o empenho de quem comanda os processos de traba lho alheio de difundir teórica ideo lógica e praticamente seus preceitos impondo adesão por vezes de modo oculto mas não menos mobilizador in clusive pela educação cada vez mais completamente devotada ao culto ca pitalista O presentismo de que trata Hartog 2021 se expressa na virada de expectativa em relação à educação no século XX era comum pensar que a escola era necessária embora seus métodos tradicionais não agradassem ao público era plausível rifar o pre sente para garantir o futuro Hoje quando não há como garantir um fu turo desejase ganhar o presente com qualquer atividade rentável que torne possível a sobrevivência e o futuro se houver tende a aparecer como mera projeção do presente no tempo vin douro A seleção que sempre esteve no cen tro das relações educativas dos siste mas escolares vai se deslocando da me ritocracia relacionada às avaliações de conteúdos apropriados num determi nado tempo aferindo comportamentos e condutas e se torna também um pro cesso seletivo de quem pode ser rentá vel e acessar investimentos seleção que é feita pelo Estado e pelo próprio em presariado atuante nas redes estatais Tratase aqui de uma meritocracia sem mérito para usar expressão de Silvia Viana 2012 uma vez que se avaliam performances como nos jogos ou di nâmicas de seleção de emprego o que mistura demonstração de engajamento com subserviência ao sistema Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 121 CAROLINA DE ROIG CATINI Para quem trabalha na educação os processos de subsunção corporativa as sociada aos processos de avaliação per manente indicam que cada vez mais nos aproximamos das orientações for muladas pelo Banco Mundial em 2014 para melhoria da educação por meio da seleção de professores excelentes Por meio da avaliação permanente que geraria evidências do perfil dos docen tes essa instituição indica como mé todo a seleção negativa pesquisas su gerem que o direcionamento sistemá tico anual dos 5 dos professores com desempenho mais baixo para dispensa pode gerar grandes ganhos na aprendi zagem dos alunos ao longo do tempo BRUNS LUQUE 2014 p 36 Essa cota de eliminação previamente esti pulada guarda relação sombria com a lógica de funcionamento dos campos de concentração nos quais como cons tata Primo Levi o essencial para a ad ministração não é que sejam elimina dos justamente os mais inúteis e sim que surjam logo vagas numa porcenta gem prefixada LEVI 1988 p 190 A seleção de quem trabalha na edu cação escolar estatal também tem ga nhado atravessadores tão empresari ais quanto ilegais mas em pleno vigor e em conluio com o Estado A Fun dação Lemann por exemplo tem ga nhado status de agencia selecionadora depois de demitir e selecionar novos dirigentes regionais no estado de São Paulo passou a selecionar professores e professoras com notório saber para atuar nas redes estatais de todo Bra sil com contratos temporários de dois anos e salários pagos por estados e mu nicípios18 De todo modo a seleção é o que garante o movimento constante da instabilidade que nos implica ao enga jamento com o sistema Cabe observar que o verdadeiro ema ranhado de tais novas organizações atu antes na educação dentre empresas think tanks fundações e institutos em presariais guarda semelhanças com a policracia de Chapoutot 2020 ou a organização estatal semovente de Arendt 1999 Tais instâncias compõe um Estado amplo cuja força emana de seu papel de garantidor e fiador dos direitos privados mobilizados em cada esfera das disputas concorrenci ais Ainda mais porque a atuação contí nua delas induz à criação de outras or ganizações empreendedoras de caráter social ou mercantil multiplicando esfe ras de gestão do trabalho em diferentes escalas hierárquicas não fixas e rígidas mas que se movimentam de acordo com fluxo móvel compatível com a grandeza da captação de investimentos e de pro dução de evidências mensuráveis de seus impactos sociais traduzidos em índices números de alvos atingidos e sua capacidade de reprodução da tec nologia social empreendedora Cabe dizer que apesar do sacrifício exigido 18Cf aqui httpswwwensinabrasilorgbr acessado em 12122021 122 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE pelo trabalho tais organizações tam bém fomentam a alegria da atividade produtiva e empreendedora que exige envolvimento total englobando posi ções pessoais e políticas nos requisitos de seleção de investidores e investido ras No bojo de um processo avançado de subsunção corporativa e financeirizada do trabalho social e da educação está se alterando radicalmente a forma e fun ção social da escola com uma progres siva dissociação entre a formação es colar e a formação intelectual Neste ponto a formação empresarial liberal é tão negacionista quanto as propos tas conservadoras uma vez que sub traem tempo de formação intelectual em favor do amoldamento de condutas e emoções para formação empreende dora A gestão das emoções se refere à fabricação do sujeito neoliberal de que falam Dardot e Laval 2016 que vai se dando cada vez mais por um trabalho de design psicológico como o denomina Vladimir Safatle orientada pela generalização de princípios em presariais de performance de investi mento de rentabilidade de posiciona mento para todos os meandros da vida SAFATLE 2021 p 30 A interven ção neoliberal se dá no nível social e psíquico patologizando os desajustes e até mesmo a crítica O neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico id desvincula o sofrimento da reali dade objetiva colocando a necessidade de adaptação subjetiva para cada in divíduo ampliando as dimensões da produção do conformismo A satura ção de conteúdos e práticas de educa ção como produção de competências e habilidades emocionais que invade as escolas universidades e todo âmbito de formação de professores e professo ras acaba por circunscrever a difusão do antiintelectualismo entre os intelec tuais que Adorno identifica como um componente relevante para o fortaleci mento dos aspectos de um radicalismo da direita ADORNO 2020 p 62 gri fos meus Ademais o excesso de li ções de empatia resiliência comuni cação não violenta autoconhecimento etc nos desviam a atenção e o tempo para observar as mudanças radicais das relações concretas na educação Já o empreendedorismo despolitiza a desigualdade de classe escamoteada pela suposta equivalência de capaci dade produtiva de todos e todas Essa estranha guerra econômica desativa a luta de classes nos conduzindo a uma luta de posições cuja originalidade e eficácia estão justamente em emba ralhar as cartas e impedir toda identi ficação clara dos antagonismos em vi gor DARDOT et al 2021 p 229 Constituise portanto como meio de tornar governável uma sociedade desa gregada e violenta como método de ge renciamento voltado a interditar o con flito de classe impedir formas de re lação solidárias e nos dispor enquanto inimigos instrumentalizando o outro que apenas é considerado como ponto Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 123 CAROLINA DE ROIG CATINI de comparação e de diferenciação no qual é apenas o padrão de medida à se melhança dos mecanismos em ação na competição esportiva EHRENBERG 2010 p 74 num radicalismo da sub jetividade exigida pela performance empreendedora cuja ação está funda mentada na concorrência como relação primordial Há muitos elementos que concorrem portanto para um efeito de adesão aos mecanismos de dominação capita lista sobretudo quando a propaganda se volta para mostrar experiências exi tosas que atraem as pessoas por meio do fingimento de que são portanto os garantidores de futuro ADORNO 2020 p 53 De todo modo a situação obriga os indivíduos a se adaptarem a um ambiente instável no qual um deve prevalecer sobre o outro e se subme ter assim a uma espécie de devir guer reiro DARDOT et al 2021 p 236 Com isso a subjetivação do capital só pode ser a internalização de seu caráter destrutivo depois de mim o dilúvio MARX 2017 p 342 deixa de ser lema exclusivo dos capitalistas e passa a ser também o lema de quem trabalha para viver mas que se comporta com a ar rogância concorrencial de seu oponente para sobreviver As reverberações políticas são graves quando a impiedosa retórica da sobre vivência invade a vida cotidiana ela in tensifica e libera simultaneamente o terror do desastre LASCH 1986 p 53 sobretudo porque há uma violên cia objetiva existente por trás desse po tencial sobrevivente ADORNO 2020 p 48 revigorada pela pandemia e pela gestão da crise a partir de 2020 A existência de relações que repõe ele mentos do fascismo não se dá apenas por disposições subjetivas de acordo com Adorno cf ADORNO 1995 p 43 pois a organização econômica con tinua nos obrigando a uma adaptação à brutalidade uma vez que se as pes soas querem viver nada lhes resta se não sujeitarse à situação existente se conformar precisam abrir mão daquela subjetividade autônoma Seguindo ainda o argumento do crítico a lógica da sobrevivência se desenrola na me dida em que se abdica da autonomia do eu em nome da adaptação às for mas sociais dominantes e se passa a exi gir uma organização política adequada à realidade social e econômica É justa mente a necessidade de uma tal adapta ção da identificação com o existente com o dado com o poder enquanto tal que gera o potencial totalitário ADORNO 1995 p 43 grifos meus Passase portanto a exigir uma forma política imediatamente bárbara seletiva e desagregadora sem rodeios ou disfarces que se projeta contra toda forma de gestão anterior que gerou a si tuação atual 124 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE 6 Um tiro final Em nossa cena inicial a insubmissão e a resistência presentes na Colônia Penal de Kafka dão lugar ao suplício volun tário envolto em uma aura de celebra ção A imbricação entre trabalho e sa crifício não desemboca em revolta mas em identificação compulsiva e festiva com os mecanismos de opressão e ex ploração Se outrora constatouse que o chicote do feitor de escravos fora subs tituído pelo manual de penalidades do supervisor nas últimas décadas este é substituído pelo livro de autoajuda e pela cantilena do empreendedorismo complementado por rituais de autofla gelação A hiperidentificação da força de tra balho com seu antagonista o Capital engendra um movimento contraditório e automático de destruição e autodes truição Mas o processo brutal de reifi cação que naturaliza a autoaniquilação é ao mesmo tempo também uma re volta contra o sistema que gerou sofri mento e ressentimento contra o qual se quer acelerar uma solução final Votar no Bolsonaro foi um tiro fi nal foi a sentença de um comerciante e morador de periferia do Grajaú ex tremo sul de São Paulo no dia seguinte das eleições de 2018 CATINI OLI VEIRA 2018 Não obstante é evidente que essa sentença final não se erige desde baixo mas emana de uma sobe rania de quem governa selecionando alvos ARANTES 2021b p 38 numa governança ampla realizada por inú meros agentes que disputam a gestão de populações por meio de mecanis mos cada vez mais violentos de sele ção exploração e também de elimina ção de quem não pode ser rentável No entanto ao abraçar o bolsonarismo a população pauperizada dissimula sua condição de massa tendencialmente eli minável e simula uma posição de po der numa performance protagonista No início do governo em jantar com Olavo de Carvalho e outras figuras de extremadireita nos Estados Unidos o então presidente Jair Bolsonaro se colo cou a serviço da produção desse novo tempo certamente ainda mais brutal e violento mas que não nega a proje ção de futuro como matéria da política como fazem aqueles e aquelas que re duziram a política à gestão da barbárie sem enfrentamento e confronto contra o que está dado Ao contrário afirma a destruição como caminho para a cons trução de um tempo distinto do pre sente O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo Nós temos é que des construir muita coisa Desfazer muita coisa Para depois nós co meçarmos a fazer Que eu sirva para que pelo menos eu possa ser um ponto de inflexão já es Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 125 CAROLINA DE ROIG CATINI tou muito feliz19 Não há dúvidas de que vivemos um tempo de inflexão E diante do acha tamento do horizonte de expectativas e da perspectiva de um futuro que é mera projeção de um presente deses perador para a maioria e que é ainda ameaçado por catástrofes inomináveis ambientais econômicas bélicas etc ganham força as visões apocalípti cas de mundo que alimentam os pro jetos políticos de extremadireita O sentimento de catástrofe e o desejo de fim próprias a tais visões aparecem como uma reação fantasiosa ao nosso tempo do fim pois projetam no ho rizonte imediato a inauguração de um novo tempo do mundo reconciliado en tre selecionados para sobreviver A so lução final aparece assim não exata mente como o fim do mundo mas como um espetacular e brutal processo de se leção final Referências ADORNO T W O que significa elaborar o passado In Educação e emancipação Tradução de Wolgang Leo Maar Rio de Janeiro Paz e Terra 1995 ADORNO T W Aspectos do novo radicalismo de direita Tradução de Felipe Catalani São Paulo Editora UNESP 2020 ARANTES P Zonas de Espera In ARANTES P O novo tempo do mundo e outros ensaios sobre a era de emergência São Paulo Boitempo 2014 ARANTES P E Depois de junho a paz será total 2014 Paulo Eduardo Arantes São Paulo sn original de 2014 2021a Coleção Sentimento da Dialética Coord Pedro Fiori Arantes Disponível em httpssentimentodadialeticaorg dialeticacatalogbook93 acessado em 12122021 ARANTES P E O mundo como alvo uma genealogia da militarização contemporânea Paulo Eduardo Arantes São Paulo sn original de 2019 2021b Coleção Sentimento da Dialética Coord Pedro Fiori Arantes Disponível em httpssentimentodadialeticaorgdialeticacatalogbook110 acessado em 12122021 ARENDT H Eichmann em Jerusalém um relato sobre a banalidade do mal São Paulo Companhia das Letras 1999 BANCO MUNDIAL O Combate à Pobreza no Brasil Relatório sobre Pobreza com ênfase nas políticas voltadas para a Redução da Pobreza vol I Departamento do Brasil Setor de Redução da Pobreza e Manejo Econômico Região da América Latina e do Caribe Washington DC 2001 BATISTA V M A governamentalização da juventude policizando o social In Revista Epos vol 1 n 1 Rio de Janeiro jan 2010 BENJAMIN W LÖWY M Org Comp O capitalismo como religião Tradução de Nélio Schneider São Paulo Boitempo 2013 BRUNS B LUQUE J Great Teachers How to Raise Teacher Quality and Student Learning in Latin America and the Carib bean Overview booklet Washington DC Banco Mundial Licença Creative Commons Attribution 2014 CASEMIRO P Funcionários de rede de franquias tatuam meta de novas lojas no interior de SP In G1 Vale do Paraíba e região 22102020 Disponível em httpsg1globocomspvaledoparaibaregiaonoticia20201022funcio nariosderededefranquiastatuammetadenovaslojasnointeriordespghtml acessado 12122021 CATINI C Empreendedorismo privatização e o trabalho sujo da educação In Revista USP 127 pp 5368 2020 CATINI C A educação bancária com um Itaú de vantagens In Germinal Marxismo e educação em debate 13 1 pp 90118 2021 CATINI C OLIVEIRA R Depois do Fim In Passa Palavra 2018 Disponível em httpspassapalavrainfo201811 123386 acessado em 12122021 CHAPOUTOT J Libres dobéir Le management du nazisme à aujourdhui Paris Gallimard 2020 NRF Essais 19Cf Valor Econômico 2019 126 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 PEDAGOGIA DA CATÁSTROFE DARDOT et al A escolha da guerra civil uma outra história do neoliberalismo Tradução de Márcia Pererira Cunha São Paulo Elefante 2021 DARDOT P LAVAL C A nova razão do mundo ensaio sobre a sociedade neoliberal São Paulo Boitempo 2016 EHRENBERG A O culto da performance da aventura empreendedora à depressão nervosa Aparecida SP Ideias e Letras 2010 Coleção Management ETCHEGOYEN S W FREITAS R F S Infraestrutura e Autoregulação In Folha de S Paulo 942019 ENGUITA M F A Face Oculta da escola educação e trabalho no capitalismo Tradução de Thomaz Tadeu da Silva Porto Alegre Artes Médicas 1989 FRANCO M UPP A redução da favela a três letras uma análise da política 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Sobrevivendo no Inferno Racionais MCs prefácio São Paulo Companhia das Letras 2018 OLIVEIRA F de Passagem na neblina In OLIVEIRA F de D STÉDILE J P GENOINO J Classes Sociais em mudança e a luta pelo socialismo São Paulo Fundação Perseu Abramo 2000 Coleção Socialismo em discussão PEREIRA J M M Assaltando a pobreza política e doutrina econômica na história do Banco Mundial 19442014 In Revista de história São Paulo n 174 pp 235265 janjun 2016 PEREIRA J M M O Banco Mundial e a construção políticointelectual do combate à pobreza In Topoi Online Revista de história vol 11 pp 260282 2010 PINHEIRO M Brasil encara a batalha para prosperar no ensino médio In El País São Paulo 2322018 Disponível em httpsbrasilelpaiscombrasil20180222politica1519256346754753html acessado em 12122021 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO Produtividade PROERD 2018 2018 Disponível em httpwww4poli ciamilitarspgovbrunidadesdpcdhindexphpdadosproerd acessado em 29072021 SAFATLE V A economia é a continuação da psicologia por outros meios sofrimento psíquico e neoliberalismo voo eco nomia moral In SAFATLE V SILVA JUNIOR N DUNKER C Orgs Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico Belo Horizonte Autêntica 2021 TODOS PELA EDUCAÇÃO Compromisso todos pela educação bases éticas jurídicas pedagógicas gerenciais políticosociais e culturais São Paulo Todos Pela Educação 2006 WACQUANT L Punir os pobres a nova gestão da miséria nos Estados Unidos Rio de Janeiro Revan 2003 WOODCOOK J O panóptico algorítmico da Deliveroo In ANTUNES R Org Uberização Trabalho Digital e Indús tria 40 São Paulo Boitempo 2020 Mundo do Trabalho VALOR ECONÔMICO Nós temos é que desconstruir muita coisa diz Bolsonaro durante jantar Valor Econômico 1703 2019 Disponível em httpsvalorglobocombrasilnoticia20190318nostemosequedesconstruirmuita coisadizbolsonarodurantejantarghtml acessado em 12122021 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 127 CAROLINA DE ROIG CATINI VIANA S Rituais de sofrimento São Paulo Boitempo 2012 ZIBECHI R ProgreSismo la domesticación de los conflictos sociales Santiago de Chile Editorial Quimantú 2010 Recibido 03112021 Aprobado 13122021 Publicado 31122021 128 Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea Brasília v9 n3 dez 2021 p 99128 ISSN 23179570 O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 105 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba doiorg10293272194248427 O ENSINO DE FILOSOFIA E A PEDAGOGIA DO CONCEITO ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO CRÍTICO FILOSÓFICO NO ENSINO MÉDIO Tayane Cristine Ferreira Clemente da Silva1 orcidorg0000000270602280 RESUMO O presente trabalho busca realizar uma análise sobre a Pedagogia do Conceito aplicada ao Ensino de Filosofia no Ensino Médio para compreender como tal pedagogia pode favorecer na construção do pensamento críticofilosófico dos estudantes Serão analisados os componentes da Pedagogia do Conceito tendo como foco investigar as noções de conceito e plano de imanência presentes na primeira parte da obra O que é a filosofia de Deleuze e Guattari Para analisar a Pedagogia do Conceito voltada ao Ensino de Filosofia também serão adotadas as perspectivas de alguns autores que se apropriaram de tal pedagogia e que aplicaram na ao Ensino de Filosofia no Ensino Médio visando entender algumas contribuições teóricas já realizadas sobre o tema no Brasil Como resultado o trabalho aponta que a partir do movimento problemaconceito constatase que uma aula de filosofia deve fornecer as condições para que os estudantes possam exercer seu pensamento crítico e sua criatividade através do movimento que recoloca os conceitos da história da filosofia pensandoos a partir da realidade vivida pelos estudantes PALAVRASCHAVE Problemaconceito Ensino criativo Experiência filosófica THE TEACHING OF PHILOSOPHY AND THE PEDAGOGY OF THE CONCEPT S OME CONTRIBUTIONS TO THE DEVELOPMENT OF CRITICAL PHILOSOPHICAL THINKING IN HIGH SCHOOL ABSTRACT The present work seeks to perform an analysis on the Pedagogy of the Concept applied to the Teaching of Philosophy in high school to understand how pedagogy can favor the construction of students criticalphilosophical thinking The components of the Concept Pedagogy will be analyzed focusing on investigating the concept and immanence plan that appears in the first part of the work What is philosophy by Deleuze and Guattari To analyze the Pedagogy of the Concept aimed at teaching philosophy It will also be accepted the perspectives of some authors who have adopted such pedagogy and who applied it to the teaching of philosophy in high subject in Brazil As a result the work points out that from the 1 Mestra em Filosofia pela Universidade Federal da Paraíba UFPB graduada em Filosofia pela Universidade Federal de Campina Grande UFCG É membro da equipe editorial da PROBLEMATA Revista Internacional de Filosofia Tem interesse nas áreas de Ensino de Filosofia Psicanálise Ética e Filosofia Política O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 106 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba problemconcept movement it is observed that a philosophy class should provide therefore the conditions for students to exercise their critical thinking and creativity through the movement that puts the concepts of the history of philosophy thinking them from the reality experienced by students KEYWORDS ProblemConcept Creative Teaching Philosophical Experience INTRODUÇÃO Na introdução de O que é a filosofia Deleuze e Guattari 2010 problematizam o fato de que a questão sobre o que é a filosofia foi ao longo da tradição filosófica pouco aprofundada O interesse maior esteve em construir uma filosofia e não tratar a questão minunciosamente sobre o que ela seria Os filósofos supracitados visam nessa obra construir uma compreensão sobre o que é propriamente a filosofia Segundo eles a filosofia é criação de conceitos e estes necessitam de personagens conceituais que auxiliam nas suas criações Um dos personagens conceituais é o amigo os autores apontam os gregos como aqueles que recusam o sábio aquele que detém a sabedoria e trazem o filósofo aquele que busca o saber construindo compreensões É importante ressaltar que esse personagem conceitual o amigo segundo a compreensão de Deleuze e Guattari não é algo que esteja fora do pensamento faz parte da própria constituição do pensar pois através do personagem conceitual o pensamento é apresentado Os gregos sujeitaram o amigo à noção de essência a uma imagem do pensamento que busca o universal a verdade Logo essa amizade que os gregos apontam é uma contemplação do saber estabelecendo pois uma relação de objetividade com a filosofia Dito isso Deleuze e Guattari fazem uma crítica à filosofia grega que acaba tratando o saber como algo contemplativo Segundo os autores amigo numa compreensão diferente da grega não se refere mais a um personagem que é extrínseco ao pensamento ele é parte constitutiva do pensar De acordo com essa concepção o filósofo é amigo do conceito e a filosofia consiste antes de mais nada na criação de conceitos novos Os conceitos por sua vez remetem aos filósofos que deixam suas marcas suas singularidades nessa criação Desse modo os conceitos não são formas prontas e acabadas que possamos contemplar ou refletir sobre eles são pura criação novidade respostas aos problemas O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 107 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba Podemos compreender que a filosofia não é contemplação pois a atividade filosófica não consiste em contemplar as coisas no mundo e sim em elaborar respostas aos problemas filosóficos não é reflexão pois a filosofia não é necessária para que possamos refletir e a reflexão não é específica da filosofia e não é comunicação pois a filosofia não está interessada em criar consenso entre as compreensões A filosofia é criação de conceitos e toda criação é singular e original Dito isto Deleuze e Guattari apresentam a noção de construtivismo apontando a necessidade no movimento de criação do conceito de um plano que é préfilosófico para dar sustentação aos conceitos nele criados e personagens ali presentes o plano de imanência uma delimitação na imanência absoluta uma espécie de recorte no caos o qual fornece as condições para que o filósofo transite onde o pensamento se desdobra Assim neste trabalho será defendida uma abordagem que revisite a história da filosofia sustentando que tal abordagem se mostra pertinente para que os estudantes do Ensino Médio compreendam o movimento que os filósofos fizeram para criar conceitos para responder aos problemas ao longo da história da filosofia para que possam então recolocálos 1 METODOLOGIA A metodologia da pesquisa parte do estudo analítico dos textos O que é a filosofia de Deleuze e Guattari Ensinar filosofia um livro para professores de Silvio Gallo e Renata Aspis e Metodologia do ensino de filosofia uma didática para o ensino médio de Silvio Gallo Nesse sentido serão abordados conceitos importantes que favorecem a compreensão de um Ensino de Filosofia que trabalhe segundo o movimento problemaconceito a partir do qual serão oferecidas as condições para que aos estudantes possam exercer seu olhar crítico sobre os conceitos postos na história da filosofia Em O que é a Filosofia 1992 Gilles Deleuze e Félix Guattari sustentam a partir da Pedagogia do Conceito que a atividade filosófica consiste na criação de conceitos que estes são singulares na medida em que são acontecimentos que possuem a assinatura daqueles que os criaram que são múltiplos na medida em que remetem a outros conceitos e que a eles se podem agregar novos elementos Segundo os filósofos o conceito resulta de uma inquietação O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 108 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba perante a realidade Esta inquietação se manifesta em um problema Eles sustentam que para que algo nos inquiete é necessário sentir na pele vivenciar tomar o problema para si apropriar se Dada essa compreensão a metodologia do trabalho parte num primeiro momento da explicitação das partes que compõem a Pedagogia do Conceito em especial as noções de conceito e plano de imanência para compreender mais adiante como elas influenciam na construção do pensamento críticofilosófico que queremos defender no Ensino de Filosofia no Ensino Médio a saber um ensino que forneça as condições para que os estudantes se inquietem perante a realidade problematizem e se apropriem dos conceitos da história da filosofia segundo uma Pedagogia do Conceito No segundo momento será analisada a Pedagogia do Conceito voltada para o Ensino de Filosofia As compreensões que sustentarão os argumentos aqui apresentados serão embasadas além de Deleuze e Guattari 1992 em alguns outros autores que se apropriam de tal pedagogia aplicandoa ao ensino de filosofia no ensino médio como Renata Aspis e Sílvio Gallo 1992 Segundo Gallo 2012 é imprescindível um olhar sobre a história da filosofia como também o é uma apropriação filosófica Por apropriação podemos compreender como tornar seu criar com a sua marca própria visto que o conceito é singular e aberto para que sejam agregados a ele novos elementos se fazendo necessário apresentar inquietudes e buscar respostas às questões do tempo vivido por aquele que faz o movimento do pensar para que se faça sujeito de sua época Para tanto é necessário construir uma identidade sobre o que entendemos por filosofia e filosofar Desse modo acreditamos que uma abordagem que revisite a história da filosofia se mostra pertinente para que os estudantes compreendam o movimento que os filósofos fizeram para criar conceitos para responder aos problemas ao longo da história da filosofia recolocandoos 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 21 O que é o conceito O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 109 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba Deleuze e Guattari 1992 sustentam que o conceito não é algo simples uno ou essencial Um conceito é singular na medida em que é um acontecimento que possui a marca daquele pensador que o cria Também é múltiplo ao passo em que remete a outros conceitos sendo acrescentados novos elementos tendo em vista que o conceito não é algo pronto e acabado É importante ressaltar que só se cria conceitos em função dos problemas mal colocados e com respostas inconsistentes recolocandoos para construir novas compreensões visando agregar novos elementos que é o que os autores chamam de pedagogia do conceito Desse modo a filosofia não é tida mais como descobridora de conceitos mas como criadora Posto que a ação do conceito é ressignificar o mundo ou seja lançar um novo olhar é importante ressaltar algumas das características do conceito apontadas pelos referidos filósofos franceses Um conceito possui a assinatura do filósofo que o cria pois ele deixa sua marca o seu modo de construir o conceito sua imanência Portanto o conceito possui uma história de como foi criado por quem foi criado a qual plano de imanência ele pertence Diante disso não há como pensar Platão com o mesmo olhar de Platão pois ele viveu numa determinada época tinha preferências filosóficas e estava inserido num certo contexto O conceito também é multiplicidade pois ele não é fechado em si mesmo Em sua história é possível acrescentar compreensões o conceito é uma heterogênese pois é uma significação única construída através de vários elementos que convergem entre si remetendo a uma possibilidade dentre muitas outras o conceito é um incorporal no sentido de que não alcança a essencialidade possuindo ordenadas intensivas Ele é um acontecimento possível Por isso é também absoluto e relativo relativo no sentido em que remete aos demais elementos e outros arcabouços conceituais dado que possui um devir modificandose constantemente e absoluto com relação ao seu campo de compreensões ao seu próprio plano Seus componentes possuem traços intensivos que são singularidades na medida em que são possibilidades Segundo Deleuze e Guattari 1992 ao se criticar um filósofo é necessário partir de problemas advindos do plano de quem critica para transformar seus componentes perante esse novo solo Entretanto o exercício da crítica deve ser acompanhado do movimento de criação pois é necessário à atividade filosófica dar força ao conceito que enfraquece e não apenas insistir na constatação de seu esvaecimento O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 110 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba Posto isso podemos introduzir a análise sobre a segunda noção desenvolvida por Deleuze e Guattari 1992 o plano de imanência e sua dinâmica 22 O plano de imanência No capítulo O plano de imanência Deleuze e Guattari 1992 sustentam que o conceito e o plano de imanência embora estejam correlacionados não devem ser confundidos pois não são a mesma coisa Se fossem a mesma coisa os conceitos poderiam ser unificados e não teriam mais sua característica de singularidade De acordo com os filósofos franceses a filosofia é construída por dois aspectos que são criar conceitos e traçar o plano ou seja A filosofia é ao mesmo tempo criação de conceito e instauração do plano O conceito é o começo da filosofia mas o plano é a sua instauração O plano não consiste evidentemente num programa num projeto num fim ou num meio é um plano de imanência que constitui o solo absoluto da filosofia sua Terra ou sua desterritorialização sua fundação sobre os quais ela cria seus conceitos Ambos são necessários criar conceitos e instaurar o plano como duas asas ou duas nadadeiras DELEUZE GUATTARI 2010 p 52 Os conceitos são acontecimentos que remetem à imanência daquele que busca dar resposta à um problema Os acontecimentos são consequência de uma série de fatos e o plano de imanência é o horizonte absoluto dos acontecimentos Ele possibilita que um pensamento se desdobre que uma filosofia seja criada Desse modo o plano de imanência é um território ocupado pelos conceitos que lhes dão sustentação Podemos compreender que o plano de imanência é a resposta à pergunta O que significa pensar Daí o filósofo através do plano recortará o caos para que a partir dessa delimitação sejam fornecidas as condições que possibilitem o transitar do pensamento Deleuze e Guattari 1992 afirmam que se orientar no pensamento não é um método pois este diz respeito aos conceitos não remete à um estado de conhecimento sobre o cérebro dado que não é um estado de coisas determinado a imagem do pensamento também não é opinião sobre o pensamento A respeito dessa questão da opinião os filósofos franceses afirmam que contemplar refletir e comunicar são opiniões sobre o pensamento pois buscam dizer o que ele é O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 111 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba Os autores sustentam ainda que o pensamento ao mergulhar no movimento infinito delimita o que deseja para constituir a imagem do pensamento Dessa forma é imprescindível que não se confunda o plano de imanência e os conceitos que o povoam Mesmo que certos elementos apareçam no plano e no conceito duas vezes não aparecem sobre as mesmas nuances pois cada um é singular e irrepetível De acordo com esta compreensão a filosofia tem seu início com a criação de conceitos desse modo o plano de imanência é préfilosófico é anterior à produção conceitual sendo pois condição para que essa produção seja possível Por préfilosófico se designa o que não existe fora da filosofia O plano de imanência é a instauração da filosofia entendida como criação de conceitos pois fornece as condições para que o pensamento se desdobre É este o solo em que o filósofo lança as problematizações e constrói os conceitos Posto isso podemos questionar qual o papel do plano de imanência a saber das compreensões que os filósofos possuem para a atividade filosófica entendida como criação de conceitos Entendemos que o papel do plano de imanência é dar consistência à própria filosofia em meio ao caos das múltiplas possibilidades pois é o recorte é a delimitação de um campo epistêmico sem no entanto negar a infinitude das possibilidades Tal delimitação parte da própria experiência do filósofo com a filosofia o qual estabelece compreensões a partir da vivência de como entende o que é pensar para criar conceitos construindo assim sua singularidade Platão por exemplo estabelece sua imagem do pensamento a partir de compreensões como identidade e essência para buscar verdades universais e necessárias Desse modo filosofar para Ele é investigar o que há de idêntico e essencial nas coisas Podemos compreender então que a importância do plano de imanência para a atividade filosófica consiste em situar o plano de compreensão no qual uma filosofia se desenvolverá O plano de imanência recorta o caos de possibilidades tomando dele determinações e segundo os filósofos franceses existem diversos planos de imanência ao longo da história da filosofia cada um remetendo à maneira de cada filósofo de fazer a imanência Cada plano seleciona aquilo que cabe ao pensamento e essa seleção varia de plano para plano Nesse sentido o filósofo parte da imanência de uma imagem do pensamento Em um mesmo filósofo podem existir várias filosofias pois ele pode mudar de plano traçar um novo horizonte para a criação conceitual Desse modo não existe o plano ideal existem diversos planos O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 112 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba Dito isso podemos questionar é possível problematizar fora do plano de imanência Entendendo o plano de imanência como delimitação em meio ao caos como plano de compreensões que os filósofos possuem e que é anterior à criação filosófica préfilosófico não é possível problematizar a partir da realidade caótica é necessário estabelecer um recorte para que a partir dele seja criada a problematização partindo de um campo epistêmico de compreensões imanentes resultantes da vivência de cada filósofo com a filosofia isto é da época em que vivem seus interesses literários etc Assim para que o filosofar seja possível é imprescindível a instauração de um plano de imanência 23 A apropriação conceitual Deleuze e Guattari 1992 sustentam que a filosofia vem de uma imposição de ordem ao pensamento Para eles a realidade é caótica e muitas vezes buscamos fugir desse caos através da opinião pois esta aparenta oferecer segurança quando na realidade é uma espécie de não pensamento dado que não assume a existência da multiplicidade na medida em que traz um desejo de verdade consigo e desse modo não abre espaço para a criação de novas compreensões De acordo com os referidos filósofos franceses existem três potências do pensamento quais sejam a arte a ciência e a filosofia Estas encaram a realidade caótica a fim de criar seus produtos cada uma a seu modo A arte traça planos de composição para criar afectos e perceptos a ciência traça planos de referência e cria funções e a filosofia por sua vez traça planos de imanência e cria conceitos As três potências do pensamento combatem desse modo a opinião que não cria e nem admite o caos A tarefa da filosofia enquanto potência do pensamento é lidar com o caos sem cair no não pensamento e criar a partir desse caos Para um processo criativo é imprescindível uma delimitação disciplinando o pensamento estabelecendo regras para o pensar sendo a filosofia um dos modos de organizar e ordenar o pensamento De acordo com Deleuze e Guattari 1992 a especificidade da filosofia é a criação de conceitos e dar respostas aos problemas filosóficos Dessa forma lançam críticas aos três modos corriqueiros de entender o que é a filosofia que são contemplação reflexão e comunicação O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 113 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba No entender dos referidos filósofos a filosofia não é contemplação pois a atividade filosófica não consiste em contemplar as coisas no mundo e sim em elaborar respostas aos problemas filosóficos não é reflexão pois a filosofia não é necessária para que possamos refletir e a reflexão não é específica da filosofia e não é comunicação pois a filosofia não está interessada em criar consenso entre as compreensões A filosofia é criação de conceitos e toda criação é singular e original através dos movimentos de desterritorialização e reterritorialização para instaurar um novo pensamento Portanto nenhuma dessas atitudes é específica da filosofia mas os conceitos criados podem ser contemplados refletidos e comunicados Além dessas atitudes Deleuze e Guattari também criticam a afirmação de que a filosofia vem a ser uma discussão pois esta pode até indicar elementos para a criação conceitual mas não é específica da filosofia enquanto atividade criadora Aspis e Gallo 2009 a partir da compreensão de filosofia como criadora de conceitos apontam na obra Ensinar filosofia um livro para professores 2009 alguns aspectos presentes na obra de Deleuze e Guattari e desenvolvem algumas compreensões sobre o ensino de filosofia como um exercício que lida com conceitos ou até mesmo os cria O primeiro aspecto direciona à uma crítica com relação à maneira que se ministra aulas de filosofias corriqueiramente orientadas pela noção de maiêutica socrática sustentando que a aula de filosofia é uma espécie de diálogo A aula seria então o momento no qual cada um expõe sua opinião para depois buscar o conceito ou ficar na discussão sobre elas Como vimos a discussão não é específica da filosofia logo numa aula onde todos dizem o que acham não há atividade filosófica Não se constrói conhecimento filosófico aos olhos da compreensão de filosofia elaborada por Deleuze e Guattari dado que não há espaço para criação Outra maneira problemática de ministrar aulas de filosofia é considerálas como atividades contemplativas pois em que medida uma aula que visa apenas contemplar conceitos e problemas criados pelos filósofos é criativa Se a intenção é apenas entender e admirar os conceitos criados por outros não se cria apenas de transmite arcabouços filosóficos seja por meio de temas ou da história da filosofia e em maior medida tece algumas considerações sobre mas nada além Por último ao considerarmos a aula de filosofia como reflexão tendo em vista o que já fora apontado não há criação pois apenas se reflete sobre o que já foi criado O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 114 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba Dito isso Aspis e Gallo 2009 buscam explicitar o que é o conceito dado que trabalham segundo a proposta de Deleuze e Guattari filosofia enquanto criação A atividade filosófica consiste na criação de conceitos e estes são singulares na medida em que são acontecimentos possuindo a assinatura daqueles que os criaram e múltiplos na medida em que remetem a outros conceitos e que a eles se podem agregar novos elementos Como veremos a seguir tal apropriação é possível partindo de um campo epistêmico um plano de compreensões da realidade que é próprio de um filósofo 24 A apropriação a partir de um campo epistêmico Segundo Deleuze e Guattari o conceito resulta de uma inquietação profunda diante da realidade vivida e esta por sua vez manifestase em um problema É preciso vivenciar tomar o problema para si uma aspiração ao saber daquele que vivencia o problema uma espécie de necessidade subjetiva que busca dar respostas às inquietações Essa aspiração ao saber é intrínseca à noção de imanência De acordo com Deleuze e Guattari o plano de imanência é uma espécie de delimitação da imanência absoluta um recorte no caos o qual fornece as condições para que o filósofo transite onde o pensamento se desdobra É nele que o filósofo lança problematizações Aspis e Gallo 2009 apontam que a apropriação consiste em tomar o conceito de um filósofo para si recolocandoo em outro plano o seu plano Desse modo há uma atividade criativa nesse roubo pois ressignifica o conceito assinandoo na imanência Visto a importância do plano de imanência para a atividade filosófica como posta anteriormente podese questionar como o plano de imanência pode contribuir para o ensino de filosofia no ensino médio A problematização só é possível a partir de um campo de compreensões pois só consegue problematizar a partir de algo Para tanto é necessário que estabeleçamos uma ligação entre a vida dos estudantes e a maneira como os filósofos problematizaram suas próprias vidas De que modo podemos estabelecer essa ligação Lançando nosso olhar sobre a história da filosofia não em busca de informações mas no intuito de refazer o caminho que os filósofos fizeram para levar os estudantes a compreenderem o solo epistêmico no qual foi produzida uma filosofia O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 115 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba Como sustentam Aspis e Gallo Na aula de filosofia é mais do que necessário romper com a visão tradicional da aula já tão criticada mas dificilmente abandonada de um espaço de transmissão de conhecimentos Ela deve ser um espaço no qual os alunos não sejam meros espectadores mas sim ativos produtores criadores Mas não se produz conceito do nada muitas vezes é a própria filosofia a matéria da produção de novos conceitos Assim é necessário que os estudantes tenham contato de forma ativa e criativa com a diversidade das filosofias ao longo da história pois ela será matériaprima para qualquer produção possível ASPIS GALLO 2009 p 41 O pensamento se desdobra em meio ao caos das múltiplas possibilidades e a problematização só se torna possível no plano de imanência pois este permite pensar e atacar o próprio pensamento problematizar para criar conceitos Considerando o ensino de filosofia enquanto campo do saber podemos enxergálo nesse movimento de desdobramento do pensar no plano de imanência Este permite a problematização e a compreensão dos conceitos criados sendo possível chegar a outros questionamentos que dizem respeito ao ensino de filosofia Entendemos que um dos principais pontos para desenvolver a problematização é partir da vivência dos alunos para construir um conjunto de compreensões A filosofia enquanto criação de conceitos não busca a verdade absoluta pois cada filósofo possui um arcabouço conceitual e que usaremos segundo o nosso interesse a partir dos nossos problemas aprendendo a conviver com as diversas construções filosóficas Deleuze Guattari 1992 3 RESULTADOS DA PESQUISA 31 A aula de filosofia uma oficina de conceitos Dados os apontamentos anteriores Aspis e Gallo 2009 entendem a aula de filosofia como atividade na qual o aluno não deve ser tratado como ser passivo que apenas decora conceitos A aula deve ser experimentada ser uma vivência tanto para os jovens quanto para o professor Tendo em vista essa meta a aula pode ser entendida como uma oficina de conceitos a qual deve estabelecer um contato dos jovens com os conceitos Isso significa dizer que devemos propiciar um ambiente que possibilite a experiência do pensamento para que O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 116 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba filosofem mesmo que seja apenas nos momentos de aula é importante desenvolver um olhar críticofilosófico Desse modo é importante que o ensino não seja uma mera transmissão de conteúdos2 mas que o aluno possa ser ativo participativo e criador Para tanto é necessário entender a filosofia como matéria em movimento sem a qual não se pode criar Assim é imprescindível que os jovens tenham contato com a história da filosofia para que conheçam a variedade de filosofias e produções Esse contato pode ser estabelecido através de problemas filosóficos Tais problemas devem ser levados pelos professores para os jovens considerando aspectos existenciais que os sensibilizem e os toquem pois só incorporamos os problemas sentidos na pele A oficina filosófica consiste pois em ressignificar os conceitos pensando os a partir de sua realidade para até mesmo dar respostas aos problemas recolocando conceitos Apesar do risco de cair no enciclopedismo o ensino da história da filosofia não se resume a uma perspectiva acrítica Os autores trazem Deleuze novamente à argumentação nesse ponto sustentando que a história da filosofia é a arte do retrato de revisitar problemas postos pelos filósofos retomando de maneira crítica tais problemas e partindo disso para exercer a atividade de criação conceitual Para Aspis e Gallo 2009 é preciso um ponto de partida visto que não se pode filosofar a partir do nada Os filósofos propõem que é preciso partir de temas problematizandoos buscando na história da filosofia pensadores que criaram conceitos a partir de tais problemas Os conceitos criados servem para nos orientar no pensamento servindo de matéria para experiência filosófica Para que o ensino criativo seja possível é importante ter em mente que de acordo com Aspis e Gallo 2009 a leitura filosófica difere da leitura que visa acúmulo de saber pois é uma leitura que é produtiva criativa e a filosofia não é uma matéria pronta e acabada ela é movimento O professor tem pois como tarefa criar as condições necessárias para que o aluno 2 Essa concepção de ensino pautado numa transmissão de conteúdos é criticada por Paulo Freire em Pedagogia da autonomia saberes necessários à prática educativa 1996 O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 117 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba entre no texto filosófico Isto significa que o aluno deve ler reler e criar compreensões em vistas de tais textos Desse modo é necessário criar um hábito de solicitar leituras aos alunos para que eles entendam a importância de se estudar esse tipo de texto dialogando com ele decifrandoo uma tarefa que exige paciência Será necessário pois a criação de táticas por parte do professor para dar incentivo aos alunos nesse processo de leitura e releitura em vistas da compreensão do texto filosófico Após o exercício de leitura de esmiuçar os conceitos e reconhecer o problema filosófico entendendo os seus aspectos históricos os alunos poderão se arriscar na escrita filosófica Os estudantes poderão nesse momento elaborar respostas ao problema tratado fazendo isso de acordo com os estudos realizados remetendo aos conceitos trabalhados Para que essa recolocação se dê de forma coerente os alunos deverão compreender os conceitos de forma correta para não ocasionar erros de compreensão que comprometam seu entendimento e a futura contribuição no momento da escrita CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho buscou esmiuçar as noções de conceito e plano de imanência presentes na primeira parte da obra O que é filosofia para deixar explícito de onde parte a noção de pedagogia do conceito visando aplicála nos estudos sobre ensino de filosofia no ensino médio e entender seus desdobramentos O intuito com a apropriação da pedagogia do conceito foi voltar a atenção para o ensino de filosofia e buscar alternativas ao ensino pautado unicamente na transmissão dos conteúdos já tão criticado Percebese que é crucial no âmbito da pedagogia do conceito inquietarse perante a realidade vivida para problematizar e buscar respostas para criar e recolocar assim o conceito sendo tal movimento de acordo com Deleuze e Guattari próprio da filosofia ao longo de sua história Portanto a sala de aula adotando uma perspectiva de um ensino de filosofia criativo deve ser um ambiente que forneça as condições para que os estudantes possam exercer seu pensamento crítico através do movimento que recoloca conceitos pensandoos a partir das suas próprias experiências Desse modo argumentase a favor de um ensino que fuja da lógica que O Ensino de Filosofia e a Pedagogia do Conceito Algumas contribuições para o desenvolvimento do pensamento críticofilosófico no Ensino Médio SILVA T C F C 118 Revista Instante v 4 n 2 p 105 118 JulDez 2022 ISSN ISSN 26748819 Departamento de Filosofia Universidade Estadual da Paraíba trata o aluno como passivo no processo de ensinoaprendizagem que apenas colhe os conteúdos ministrados REFERÊNCIAS ASPIS Renata Lima GALLO Silvio Parte 1 o que ensinar In Ensinar filosofia um livro para professores São Paulo Atta Mídia e Educação 2009 p 2572 DELEUZE G GUATTARI F O que é a filosofia Tradução de Bento Prado Jr e Alberto Alonso Munõz São Paulo Editora 34 2010 3ª edição FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia Saberes necessários à prática educativa 25 ed São Paulo Paz e Terra 1996 GALLO S Metodologia do ensino de filosofia uma didática para o ensino médio Campinas SP Papirus 2012 Certificamos que Géssica Miranda Dos Santos concluiu o Curso Relacionamento Interpessoal em Fevereiro2024 com a carga horária total de 10 horas realizado no site wwwCursosOnlineEDUCAcombr Curso Livre amparado conforme Lei nº 939496 Decreto Presidencial nº 51542004 e Resolução CNECEB nº 0499 Empresas e Instituições poderão consultar a veracidade desse certificado através da página wwwcursosonlineeducacombrautenticaphp Código do certificadoEDUCAGR29824389 Cursos Online EDUCA CNPJ 21295901000128 Desde 2014 Certificamos que Géssica Miranda Dos Santos concluiu o Curso Recolocação Profissional em Fevereiro2024 com a carga horária total de 10 horas realizado no site wwwCursosOnlineEDUCAcombr Curso Livre amparado conforme Lei nº 939496 Decreto Presidencial nº 51542004 e Resolução CNECEB nº 0499 Empresas e Instituições poderão consultar a veracidade desse certificado através da página wwwcursosonlineeducacombrautenticaphp Código do certificadoEDUCAGR29824369 Cursos Online EDUCA CNPJ 21295901000128 Desde 2014 GÉSSICA MIRANDA DOS SANTOS GÉSSICA MIRANDA DOS SANTOS Participou na qualidade de congressista do Congresso Online Brasileiro Multidisciplinar de Engenharias Participou na qualidade de congressista do Congresso Online Brasileiro Multidisciplinar de Engenharias Administração e Negócios COBEAN com carga horária de 20 horas Administração e Negócios COBEAN com carga horária de 20 horas Código de verificação 2N0yOB9h8QMI 2N0yOB9h8QMI Emitido em 06022024 06022024 Para validar acesse httpseventoscongressemecertificadosvalidarcertificado httpseventoscongressemecertificadosvalidarcertificado CONGRESSO ONLINE BRASILEIRO MULTIDISCIPLINAR DE ENGENHARIAS ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS CONGRESSO ONLINE BRASILEIRO MULTIDISCIPLINAR DE ENGENHARIAS ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS PROGRAMAÇÃO PROGRAMAÇÃO 300123 1900 Design Thinking aplicado a Relacionamento com Clientes 300123 1730 Empreendedorismo e carreira para profissionais da Construção Civil 300123 1700 Desafios da Implementação BIM nas empresas de AEC Arquitetura Engenharia e Construção 300123 2200 Posicionamento de mercado para Arquitetos Designers e Engenheiros 300123 1700 Gestão de obras 300123 1930 Cuide de quem consome a sua marca 300123 1830 Gestão estratégica de marketing 300123 2030 Minicurso Estrutura de plano de ação como implantar melhoria contínua em processo na prática 300123 2130 Minicurso Produtividade Como realizar as suas atividades acadêmicas profissionais e pessoais em menos tempo e com mais qualidade 300123 2000 Startup e Empreendedorismo A importância de validar sua idéia 310123 2000 Gestão Ambiental 40 310123 2030 Economia Circular no varejo o caso Carrefour 310123 2100 Como mensurar o retorno de investimento em Sustentabilidade Corporativa 310123 1730 Tecnoprev A Previdência Complementar dos Profissionais do Sistema CONFEACREA 310123 1930 Como empreender a partir da Universidade Online 310123 1800 CONSULTORIA ENXUTA UM NEGÓCIO ENXUTO LUCRATIVO E ESCALÁVEL 310123 1830 Metodologia Scrum 310123 1900 Novos padrões da inovação e competitividade GÉSSICA MIRANDA DOS SANTOS GÉSSICA MIRANDA DOS SANTOS Participou na qualidade de congressista do Congresso Online Brasileiro Multidisciplinar de Educação Participou na qualidade de congressista do Congresso Online Brasileiro Multidisciplinar de Educação COBEDU com carga horária de 20 horas COBEDU com carga horária de 20 horas Código de verificação FecTmNSP9UDz FecTmNSP9UDz Emitido em 06022024 06022024 Para validar acesse httpseventoscongressemecertificadosvalidarcertificado httpseventoscongressemecertificadosvalidarcertificado COBEDU CONGRESSO ONLINE BRASILEIRO MULTIDISCIPLINAR DE EDUCAÇÃO COBEDU CONGRESSO ONLINE BRASILEIRO MULTIDISCIPLINAR DE EDUCAÇÃO PROGRAMAÇÃO PROGRAMAÇÃO 130223 1930 A sistematização da oralidade no ensino de Língua Materna uma proposta didáticopedagógica a partir dos gêneros orais 130223 2030 O papel da educação no combate as fake news 130223 1700 A digitalização do professor e da sala de aula 130223 1730 A Educação CTS como possibilidade de abordagem para a disciplina Tecnologia e Inovação no Novo Ensino Médio Paulista 130223 1800 Coletividade e adaptabilidade viva a experiência do Caravana da Ciência com a alfabetização Científica 130223 1900 Recomposição das Aprendizagens e o Pós Pandemia 130223 1830 Recuperação do Protagonismo Juvenil Ações positivas para potencializar o protagonismo através do Clube Juvenil 130223 2000 Relações Interinstitucionais e Desenvolvimento da Educação Básica 140223 2000 Os Estudantes de Administração Pública da UENF e suas Relações com os Saberes Socioacadêmicos 140223 1800 Estratégias e manejo comportamental em sala de aula possibilidades de afeto e aprendizagem 140223 1730 Letramento científico uma reflexão sobre o desenvolvimento de nossa sociedade 140223 1900 Envolvimento e Metodologias Ativas Por uma leitura positiva na ação própermanência na Educação Básica 140223 1930 Redes sociais e divulgação científica 140223 1830 Mapas mentais como processo de ensino e aprendizagem 140223 2100 A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NA DISCIPLINA DE ENSINO RELIGIOSO NAS ESCOLAS PUBLICAS 140223 2045 A MODERNIDADE LÍQUIDA DE BAUMAN E O MULTILETRAMENTO PERSPECTIVAS EDUCACIONAIS 140223 2100 A UTILIZAÇÃO DE PROGRAMAS COMPUTACIONAIS E APLICATIVOS DE SMARTPHONE APLICADOS AO ENSINO DE GEOGRAFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL PÚBLICO DO MUNICÍPIO DE BREJO DO PIAUÍ PI 140223 1700 Educação sem punição é possível 140223 2030 Uma análise comparativa das representações sociais de dois grupos distintos de estudantes do ensino médio no litoral paulista sobre dois recursos didáticos pedagógicos em apoio ao ensino de física

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