·

Cursos Gerais ·

Filosofia

Envie sua pergunta para a IA e receba a resposta na hora

Fazer Pergunta

Texto de pré-visualização

1 HCR 1 As Tradições do Oriente Os quatro caminhos do Hinduísmo Budismo Confucionismo e Taoísmo Prof Dr LEHinrichsen CONTEXTO Volveremos nossa atenção para quatro Caminhos encontrados no Extremo Oriente Hinduísmo Budismo Confucionismo e Taoísmo As Tradições Orientais cultivadas há mais de 3000 anos podem fascinar e empolgar notadamente em tempos nos quais os símbolos religiosos são inúmeras vezes consumidos sem o devido aprofundamento e consequente respeito Notadamente Hinduísmo e Budismo recebidos no Ocidente nos séculos XVIII e XIX como alternativas exóticas nomeados como doutrinas pessimistas e nos XX e XXI entendidos como terapias capazes de curar ansiedades e inseguranças precisam ser acolhidos sem preconceitos ou rótulos na riqueza de suas histórias e contribuições à vida espiritual que é vida prática expressa por mudança de atitude cultivo da compaixão e abertura ao Outro Hinduísmo e Budismo podem e muito nos ajudar como pessoas e sociedade são Tradições que supõem disciplina estudo empenho e postura ética praticadas comunitariamente Frente a fluidez das relações convidam à preocupação com o outro com a edificação e um mundo habitável O Hinduísmo indaga o que realmente desejamos para nossas vidas O Budismo supõe atenção conversão à realidade superação do egoísmo e cultivo práxico da compaixão O Confucionismo preocupase com a educação base à solidariedade social O Taoísmo convida a seguirmos o Curso da não ação que é ação no tempo oportuno desapego e retorno à vida simples superação de vaidades As Tradições Orientais insistem na relação entre a Paz Individual e a Paz Social interligadas o que supõe o cultivo da atenção e das virtudes que nos afastem da autocentração e nos despertem à beleza e totalidade da vida Hinduísmo e Budismo afirmam todos aspiramos sermos felizes e há remédios para tal Confucionismo e Taoísmo nas suas diferenças nos convocam à reflexão e escolhas que nos tornem altruístas Vamos com simplicidade mas profundo interesse e cuidado apresentar brevemente os Quatro Caminhos do Oriente que são vigorosos e capazes de ajudar a sermos pessoas melhores 1 Hinduísmo O hinduísmo ou Lei Eterna desenvolveuse gradativamente nutrido pela prática ritual e pelo registro em textos milenares das práticas e correntes que o formam É caminho de ritos orações e práticas meditativas pelas quais redescobrindo a divindade que há em cada ser humano podemos recuperar a unidade com o divino a autêntica natureza encoberta pelo eu ilusório que cultivamos No presente estudo não aprofundaremos as diferenças entre as diversas Escolas ou Darsanas do pensamento indiano mas intencionamos sinalizar ensinamentos que podem nos tornar melhores 11 Consolidação da Tradição e Fontes inspiracionais A Índia é o berço do Hinduísmo e do Budismo Hinduísmo é termo Ocidental para os que vivem a Sanatana Darma a Lei Eterna A religião Védica que se tornou o Bramanismo surgiu no Planalto de Decã A partir da Bacia e Planícies do Rio Ganges É difícil precisar a data do seu nascimento mas os textos Sagrados mais antigos datam de 1500 aC redigidos em sânscrito língua complexa e rica O Mais antigo é o RigVeda escrito entre 1500 1000 aC Destacamos os Bramanes e os Upanixades os primeiros constituem interpretações filosóficas sobre Brahman os Upanixades são ricas reflexões em prosa e verso de caráter místico e filosófico Acrescentamos dentre os inúmeros textos o Ramaiana que narra a bela história de amor entre Rama e a bela princesa Cita É preciso mencionar o MahaBarata epopeia que narra a guerra entre os filhos de Bharata O BhagavaGita ou Cântico dos bemaventurados é belo poema incluído no MahaBarata no qual Krishna dialoga com o guerreiro Arjuna sobre o dever as adversidades da vida e o caminho ao divino Cf SAMUEL Albert As Religiões Hoje São Paulo Paulus 1997 p 6876 2 HCR 2 12 O que as pessoas querem Todos os seres humanos aspiram realização identificada com riqueza fama e poder Tanto mais possuo bens materiais tanto mais preciso os conserva e ampliar O desejo encontrase na raiz da procura No Ocidente e no mundo ocidentalizado competimos devotamos tempo e energias procurando essas coisas Riqueza fama e poder entretanto são transitórios e precários e conduzem à competição São bens exclusivos aos quais devotamos tempo excessivo e que nos consomem Os bens espirituais ao contrário somente os temos quando os compartilhamos como por exemplo o amor e a verdade O impulso para o sucesso é insaciável pois nunca conseguimos dinheiro fama e poder suficientes para satisfazer nossas ambições A pobreza podemos afirmar não coincide com a diminuição das posses mas paradoxalmente na ganância que nos consome e perturba mesmo que não nos demos conta Nem fortuna nem posição conseguem entretanto obscurecer a transitoriedade da vida a precariedade desses bens Aprendemos que do mundo nada levamos pois os bens materiais são efêmeros e não respondem às necessidades de realização Para os hindus o prazer e o sucesso estão no caminho do desejo Podemos os procurar na medida em que são parte da vida mas com moderação equidade e prudência pois sabemos que são efêmeros ou transitórios cf SMITH Huston As Religiões do Mundo São Paulo Cultrix 1997 p3033 Segundo SMITH 1997 p 33 O princípio orientador não é afastarse do desejo até que o desejo se afaste de você porque o hinduísmo vê os objetos do Caminho do Desejo como se fossem brinquedos Qual é entretanto o princípio orientador que pode libertar da exteriorização e insaciável procura de bens para satisfazer o desejo vinculado ao eu ilusório É o caminho da renúncia que conduz à vida simples e livre A renúncia pode provir da desilusão e do desespero sentimentos perturbadores ligados à insatisfatória procura de bens transitórios e que nos levam assumir papeis social que nos distanciam do que realmente somos A renúncia entretanto via controle dos desejos positivamente nos proporciona reencontro com a autêntica natureza oculta pelas camadas de pó do eu superficial Se os prêmios do mundo nos atraem facilmente entretanto alimentam a vaidade e obstruem o conhecimento de si mesmo A renúncia nos aproxima dos outro nos liberta da competição abusiva nos insere na comunidade permite reconhecer o outro e servir A renúncia como mencionado permite prestar atenção no que é realmente importante perene não transitório cultivar o divino que há em cada ser humano A renúncia exige disciplina mas amplia e conduz à realização que nos liberta da ansiedade e dos temores 13 O que as pessoas realmente querem As pessoas usualmente encontram satisfação nas ofertas do mundo procurando desfrutar do prazer e do sucesso do poder e até do serviço Há crise quando tais coisas já não mais satisfazem O Hinduísmo oferece uma resposta a vida apresenta outras possibilidades As possibilidades do mundo são apenas mediações que conduzem ao que realmente queremos O que realmente queremos diria um sábio hindu são coisas que estão em nível mais profundo Queremos existir e permanecer na existência pois claro preferimos existir a nãoser Desejamos também conhecer seja estudando Filosofia exercendo a ciência ou procurando respostas à indagação por que estou nesse mundo Procuramos evidentemente a alegria e o contentamento A alegria é um estado emocional oposto da perturbação da frustração do sentimento de perda Alegria é serenidade Procuramos algo permanente Mas onde encontrálo O que as pessoas realmente querem aspiram ou desejam é um bem que não pode ser subtraído que se encontre para além da caducidade da existência Se queremos segundo o hinduísmo serenidade alegria e contentamento infinitos onde os encontrar Prazer sucesso cumprimento do dever de modo responsável cumprem sua função mas não bastam O que é o ser humano É um corpo mas não apenas Constrói ao largo da existência uma representação denominada eu Mas a essência do humano somente é encontrada para além da dimensão somática e psíquica Há em nós um reservatório de existência que nunca morre SMITH 1997 p 3638 O centro infinito de cada ser humano centro infinito de vida que nunca se esgota a dimensão oculta da vida é o Atman Atman é a presença de Brahman Por isso podemos afirmar Atman é Brahman o centro divino em cada pessoa cf SMITH 1997 p37 em decorrência o ser humano somente pode ser compreendido se observarmos é 3 HCR 3 constituído de corpo personalidade e AtmanBrahman Ora se Atman sustenta a vida se existimos corporalmente se a personalidade é manifesta no mundo o que permanece para além dos ciclos de renascimento é Atman manifestação de Brahman Se somos infinitos então por que tal condição não é evidente Ora as distrações da vida o dia a dia e exigências as ocupações que nos distraem impedem a compreensão do Eterno que há em cada um de nós É preciso portando depurar os empecilhos retirar os entulhos que impedem conectar com o eterno presente em cada pessoa Se assim procedermos encontraremos luz inextinguível que iluminará a existência Somos falhos nossas metas nem sempre são alcançadas sofremos com as injustiças padecemos de doenças envelhecemos e morremos Poderíamos acrescentar outros sinais da precariedade da vida à lista Se experimentamos a dor somática há a dor psicológica que surge de desejos não realizados de situações difíceis pelas quais passamos Dukka traduzida por sofrimento pode ser entendida como engano ou desvio Avidya ou ignorância é a principal causa de Dukka Podemos alcançar a Moksa ou libertação através de vários caminhos mas tal supõe a reflexão a meditação a superação de Maya ou ilusão Para tanto Dharma a lei moral pode orientar pensamentos e ações cf COOPER David As Filosofias do Mundo Uma Introdução Histórica São Paulo Loyola 2002 p 2831 Desapegarse do eu finito superar as frustrações oriundas de desejos não realizados compreender a dinâmica da existência que comporta contentamento e tristezas assumir a vida com realidade superar a ilusão permite remover a poeira que impede o contacto com o além interior com Atman A trajetória de descoberta da dimensão divina supõe assumir cada etapa da vida com clareza ampliando a consciência do que realmente somos cf SMITH 1997 p39 14 Os quatro caminhos que conduzem à meta a união de AtmanBrahman Habitamos as margens do oceano infinito do poder criador da vida Nós o carregamos dentro de nós Esse poder nunca é impedido ou será destruído mas está oculto nas profundezas e é isso que faz da vida um problema cf SMITH 1997 p 4142 Artha posses materiais Kama prazer e amor e darma deveres religiosos ou morais constituem o a o trio grupo de três denominado Trivarga São atividades mundanas e cada qual implica em orientação e sentido de vida Contudo Moksa ou libertação é a meta final aspirada ainda que a consciência possa estar obscurecida As ocupações em consequência constituem em mediação à libertação cf ZIMMER Heinnrich Filosofias da Índia São Paulo 1998 p3842 a O Caminho por meio do Conhecimento A jnana Yoga é o caminho que supõe empenho reflexão discernimento estudo A meta é o discernimento Se o yogue for diligente estudar com devoção obterá um senso vivo do Eu infinito ou Atman O estudo e a meditação conduzirão à ciência de que Atman é Brahman possibilitando a superação da ilusão e vida serena Pensar em si mesmo na terceira pessoa pondo em questão as ilusões vinculadas ao Eu exterior abre caminho à descoberta do centro divino que existe em cada um de nós cf SMITH 1997 p4446 b O Caminho a Deus por meio do amor A Bhakti Yoga rejeita apegos e posse confundidos com amor A tudo e a todos e até a nós mesmo devemos amar segundo o amor dedicado a Deus Brahman Deus alteridade deve ser amado com todo coração e por si mesmo O que o praticante da Bhakti Yoga precisa fazer Amar a Deus de todo o coração O praticante repetindo o nome de Deus em constante meditação com abertura e esforço alcançará união e modificará a vida agora dedicada ao Eterno Há muitos caminhos que levam ao amor incondicional a Deus mas cada praticante necessita ser fiel a meta a união entre Atman e Brahman Cf SMITH 1997 p4751 c O Caminho para Deus por meio do Trabalho O terceiro caminho a Deus é reservado às pessoas ativas denominado Karma Yoga Se observarmos as pessoas são diferentes há indivíduos reflexivos há os que dedicam a vida à compreensão e amor a Deus há os que através do trabalho servem e entram em contato com o divino através do trabalho realizando tarefas na consideração da comunidade Quem realiza as tarefas sem apego orientado por inclinações altruístas serve aos demais e aproximase de Deus O trabalho realizado altruistamente com desapego e em espírito de serviço é caminho que conduz ao divino ao encontro consigo mesmo rompe com o isolamento e reconecta a 4 HCR 4 pessoa com o Eu eterno O trabalho realizado sem reflexão que pretende apenas conquistas materiais é pernicioso desconecta a pessoa do centro divino O trabalho realizado com dedicação que não visa sucesso ou recompensas fúteis ao contrário conduz ao centro divino e é causa de realização Somente o trabalho altruísta é capaz de conectar o eu finito como Eu Infinito conduzindo a união AtmanBrahman Cf SMITH 1997 p 5155 d O caminho a Deus por meio de exercícios psicofísicos Inquieta é a mente Fortemente perturbada No domínio dos sentidos Realmente eu penso Nem o vento é mais veloz Bhagavad Gita VI 34 A Raj Yoga é conhecida na Índia como o caminho real raj da Integração A Raj Yoga não deve ser confundida apenas como exercícios que disciplinam o corpo e serenam a mente Visa a consciência do que realmente somos superação das ilusões conhecimento de si e conexão com Atman O caminho da integração ou caminho ao si mesmo supõe meditação e reta intenção de superar os entraves físicos e mentais que impedem o cultivo da natureza divina que há em cada pessoa O primeiro passo supõe cinco abstenções maldade mentira roubo sensualidade e cobiça É tarefa ética de libertação A Raja Yoga trabalha com a mente por meio do corpo É preciso atenção profunda para superar as distrações inibidoras à integração Saúde somática e mental estão interligadas É necessário impedir que o corpo traia a mente pelo domínio das sensações mente e corpo concentrados conduzem ao domínio da existência O yogue por exemplo pode sentarse em posição de lotos meditar impedir as flutuações mentais controlar via exercícios respiratórios mente e corpo A mente tende a distrairse a meditação e as posturas corporais aliadas à respiração controlada gradativamente conduzem o praticante ao domínio sobre si mesmo É um longo e disciplinado caminho que conduz ao clímax o encontro com o centro divino cf SMITH 1997 p 5563 Alguns realizam o Atman por meio da contemplação outros através do amor há o caminho do trabalho e dos exercícios psicofísicos Todos os caminhos são válidos e conduzem à união AtmanBrahman desde que percorridos com intencionalidade e retidão 15 O estágios da vida na perspectiva hinduísta No decorrer da existência devemos procurar diferentes objetivos em diferentes estágios Os estágios da vida denominamse Ashrana ou lugares de repouso cf STEVENSON Jay O mais completo manual da Filosofia Oriental São Paulo ARX 2002 p 7980 Em cada estágio cumprese um darma um dever a O estágio de estudante O primeiro grande estágio é o de estudante O discípulo orientado por seu mestre estuda o Vedas Permanece na casa do Mestre e cuida das tarefas cotidianas O estudante bemsucedido não é o que acumula informações ou questiona o Mestre mas isto sim aquele que estuda vive e medita as Escrituras O caráter é cultivado no escutar ler meditar e atender às necessidades da casa Liberalmente formado sairá da casa do Mestre para cultivar uma vida boa e feliz cf SMITH 1997 p 63 b O estágio dos compromissos familiares O segundo estágio inicia com o casamento o estudante agora é provedor do lar Cuidara da esposa e dos filhos e cumprindo deveres realizará o Darma Deverá atender necessidades da família e comunidade e cultivar a vocação A realização nessa fase da vida é bela e incentivada pelo hinduísmo até que o passar da idade solicite novo caminho com o refluir da energias cf SMITH 1997 p64 c Viver na Floresta Cessados os deveres familiares o hindu recolhese na floresta em meditação Não é obrigatório para todos apenas para os que sentemse chamados à vida ascética A esposa se desejar poderá acompanhálo Eremita procurará o centro da existência Já cumpriu os deveres familiares e comunitários poderá dedicarse 5 HCR 5 à contemplação sem posses e liberto do domínio dos desejos bem como das obrigações do Darma cf SMITH 1997 p64 d Monge Peregrino a caminho da iluminação Finalmente no último estágio poderá renunciar o mundo e prepararse à iluminação Nessa etapa da vida não mais se apegará a sentimentos e livre das pressões do desejo vagará como monge errante e livre de preocupações dedicarseá à iluminação que romperá com o ciclo de renascimento ou prepararseá para um renascimento propício Como no estágio anterior é opção tornarse um monge peregrino ou sadhu Salientemos que apenas os vocacionados seguem os estágios de eremita na Floresta ou de sadhu monge mendicante Os que poderão atingir a iluminação contudo são os que percorrem os dois últimos estágios cf SMITH p 6465 Os diferentes estágios correspondem às diversas etapas da existência e devem ser percorridos com liberalidade mas realizando o Dharma de cada período O objetivo dos estágios consiste em vida equilibrada serena e produtiva e para os eremitas ascetas e sadhus a iluminação No Ocidente distantes da vida espiritual dos hindus encontramos dificuldades à compreensão do caminho devotos mas é importante recordar a vida monástica ou eremítica na história do Cristianismo apresenta similaridades como por exemplo os testemunhos dos monges do deserto a vida monástica e a vida mendicante dos filhos de São Francisco de Assis 6 Samsara Carma Avidya e Iluminação A ilusão maia é empecilho à integração entre Brahman e Atman Para atingir a realização vencendo as barreiras que impedem plena consciência e decorrente iluminação renasceremos segundo o hinduísmo tantas vezes forem necessárias para alcançarmos a meta a reunificação de Atman a essência do nosso ser com Brahman cf Stvenson 2002 p69 O ciclo de renascimentos é denominado pela palavra Samsara Na medida em que estamos presos à existência terrena pelos apegos e desejos e sujeitos ao prazer e a dor que os acompanham os renascimentos são oportunidade de libertação de maia e samsara A cadeia de ações passadas e presentes é denominada carma O carma adquirido nas vidas passadas influencia a vida presente carma prarabdha Poderá igualmente afetar as vidas futuras carma sanchita O carma que se forma no presente carma agami afetará vidas futuras Como devemos compreender entretanto a lei do carma Descartando o fatalismo e o determinismo Somos capazes de escolhas e portanto podemos alterar a condição presente e futura O carma acumulado na sequência de renascimentos mais do recompensa ou punição é oportunidade de crescimento cf Stvenson 2002 p7071 Os Upanixades nessa direção ensinam que devemos resolver nossos problemas com os outros rompendo o isolamento abrindo nos à vida que é amor serviço e procura de esclarecimento Superar a avidya ignorância permite ultrapassar o eu ilusório e contatar com a essência que nos constitui religandonos com o divino Atman é Brahman A iluminação progressiva é resultado de esforço gradativo e contínuo à meta a união do centro divino que há em cada pessoa com o Deus Precisamos portanto rever a noção de carma difundida no Ocidente desvinculandoa de determinismos e outros equívocos 17 Brahman O hinduísmo com templos dedicados à múltiplos deuses multicultural com festividades regionais devoções e práticas rituais apresentase como politeísta Os diversos deuses contudo são expressão do Poder Absoluto Brahman Segundo Heinrich Zimmer 1998 p 63 o sábio é adorado e temido devido à miraculosa força anímica que irradia no mundo é um homem que estuda e que se transformou pela sabedoria O sábio é a pessoa que contatou por esforço o Poder Supremo Brahman poder cósmico é a essência de tudo o que sabemos e somos ZIMMER 1998 p63 Brahman poder supremo último transcendente habitando em nós e presente em todas as coisas a tudo transcende Ibidem Brahman imanente e transcendente causa de todas as coisas é usualmente invocado pelo hindu devoto como Deus Brahman cf BOWKER John Para entender As Religiões São Paulo Ática 2000 e SMITH 1997 p 71 74 manifestase nos processos cósmicos como criador Brahma conservador Vishnu e destruidor Shiva A Trimurti criação conservação e destruição é manifestação do Poder Sagrado ou Brahman 6 HCR 6 Há no hinduísmo a percepção de que todas as coisas nosso ser os processos cósmicos estão penetrado pelo Poder Sagrado presente no mundo mas transcendendoo O panteão de deuses venerados pelos hindus destaca e visibiliza dimensões do divino que é imanente e transcende Ganesh removedor de obstáculos e avatar de Vishnu venerado e invocado com piedade e devoção envia ao Poder Supremo Brahman Assim como Mahadevi a deusa mãe ou Kali consorte de Shiva Segundo SMITH 1997 p7174 antes de cada rito o sacerdote hindu pede escusas a Brahman poder absoluto pelo acesso humano através mediações ou deidades invocadas que são expressão visível do Sagrado A relação com Deus varia conforme o simbolismo que adotamos Deus é além das lutas e adversidades da vida finita Na condição humana precisamos entretanto de conceitos palavras e símbolos pelos quais poderemos contatar com Deus Precisamos no Ocidente compreender a Índia e o Hinduísmo para além da recepção do exótico e superando emocionalismo Para o hindu devoto o caminho dos deuses é percurso a Deus através de símbolos que na Índia são inúmeros Frente a Deus Brahman contudo todas as palavras recuam e solicitam devoto silêncio Os ritos cultos orações aos deuses do panteão hindu que visibilizam o divino em realidade dirigem se a Deus que habita sem confundirse todas as dimensões do universo e cuja expressão no ser humano é Atman a identidade divina profunda que nos mantém no ser 18 Castas e o Código de Manu uma questão a ser pensada Poucos hindus contemporaneamente defendem o sistema de Castas A constituição de 1950 proibiu que os dalits fossem considerados impuros ou intocáveis Permanece contudo a herança do sistema de Castas na Índia moderna Sistema que gradativamente pelo acesso dos que exercem trabalhos servis e pelos dalits à cargos públicos funções executivas e legislativas é desconstruído Como o sistema de Castas divide a Índia há milênios obviamente a superação da herança de Castas exigirá esforço esclarecimento resistência pacífica e ativa pois na essência para o hinduísmo todos somos seres humanos portadores de um núcleo divino Atman A desigualdade entre as Castas visava a harmonia social reunindo em cada uma das castas pessoas que exercem tarefas diversas e essenciais ao bemestar social cf SMITH 1997 p 6869 Segundo o conservador Código de Manu haveria quatro Castas principais ou varnas São os brâmanes casta sacerdotal os xátrias casta dos guerreiro os vaixás casta mercantil e a dos sudras casta servil Além das castas nominadas há centenas de outras reconhecidas em diferentes regiões e épocas no subcontinente indiano Segundo o Código de Manu cf STEVENSON 2002 p8083 cada uma das Castas responderia às necessidades específicas da sociedade O nascimento em cada uma das castas obedeceria à lei do carma Para atingir a iluminação a pessoa deveria progredir até renascer na casta sacerdotal O Código de Manu foi escrito provavelmente como reação conservadora à mobilidade social às ideias progressistas que ameaçavam o sistema de Castas A divisão em castas em sociedades modernas nas quais as atividades laborais são múltiplas podemos afirmar é equivocada e anacrônica Ainda que na Índia contemporânea há populações vivendo tradicionalmente em regiões rurais distantes dos grandes conglomerados urbanos Os teólogos hindus contemporaneamente gradativamente reagiram ao sistema de Castas rompendo com a estratificação social rígida que impedia o reconhecimento da dignidade das pessoas Não pertencer à uma das castas ou exercer trabalhos servis conservava a estratificação social na Índia impedia acesso aos direitos sociais básicos ferindo a dignidade de considerável parcela da população indiana Teólogos gurus autoridades civis desde os processos de Independência colonial procuram superar a separação ou estratificação social que divide a sociedade indiana Nem o direito laico e tampouco a leitura atenta dos textos sagrados justificam a estratificação em Castas apresentada no anacrônico código de Manu Ressaltemos que outros países ainda que sem justificação filosófica ou religiosa precisam como a Índia superar a separação social que divide pessoas que habitam o mesmo território e que deveriam ser protegidas pelo Estado e sobretudo pela consciência de que somos portadores de igual dignidade e merecedores do acesso aos direitos civis e sociais Nosso país o Brasil precisa novamente repensar as causas da estratificação social que segrega tantos compatriotas negandolhes direitos básicos A conquista dos direitos civis e sociais tanto na Índia como no Brasil Estados Unidos e noutros países implicará em crescimento como humanidade em progresso social e moral Os líderes e pensadores das diversas Tradições religiosas são responsáveis e precisam contribuir através de reflexão e práxis à superação do desigual acesso aos direitos básicos assegurando o direito ao viver sem o qual o direito à vida permanece uma abstração 7 HCR 7 19 Mahatma Gandhi a nãoviolência ativa e a paz A personalidade mais admirada e reconhecida e que impulsionou o movimento nacionalista de independência da Índia é Mohandas Mahatma Gandhi 1869 1948 Gandhi com seus compatriotas inaugurou a resistência não violenta contra o domínio britânico aspirando uma Índia plural que reunisse hindus islâmicos jainistas e sikhs A nãoviolênciaativa é resistência civil pacífica mas eficaz adotada por Martin Luther King nos Estados Unidos e por Nelson Mandela na África do Sul Gandhi não logrou ver a Índia unificada pois após a independência há a separação entre Índia e Paquistão formado por maioria islâmica Gandhi estudou na Inglaterra STEVENSON 2002 p 123 125 formouse em Direito pertencente à classe sacerdotal após cumprir formação acadêmica na viveu na África do Sul onde presenciou o apartheid Retornando à Índia em 1915 adota vida austera assume a condição dos sem casta adota a Ahimsa ou não violência como prática de vida Gandhi um dos mais importante líderes da resistência indiana ao colonialismo nutriase da filosofia de Satyagraha que solicita respeitar a verdade Todas as pessoas seriam capazes de acessar à verdade se assim desejarem e superarem as ilusões do mundo Gandhi fez duas recomendações a as pessoas deveriam purificarse para superar as motivações más b deveriam evitar agredir os outros Fiel ao conceito dinâmico de verdade acreditava em relações pacíficas supunha que hindus e muçulmanos poderiam viver em paz compartilhando o mesmo território As posições de Gandhi despertaram reações violentas e conservadoras Mahatma Gandhi grande alma devotou a existência ao cultivo da paz supunha que as pessoas poderiam desde diversas formações culturais e religiosas viver pacificamente Sua vida coerente com a crença na verdade na simplicidade na nãoviolênciaativa e no convívio em sociedades multiculturais encontrou termo coerente O assassinato por um hindu fanático ainda que soubesse das ameaças encerou a vida terrena de pessoa inigualável A luz que irradiou entretanto continua a iluminar no século XXI frente a desafios em diferente áreas da existência Gandhi contribuiu à renovação do hinduísmo e à construção da Índia póscolonial e através da Filosofia Satyagraha vivida e testemunhada influenciou o mundo estimulando processos de emancipação de pessoas e sociedades através da nãoviolênciaativa segundo a perspectiva da Paz CONCLUSÃO E APLICAÇÃO O subcontinente indiano banhado pelo Ganges que nasce e alimentase das geleiras do Himalaia é plural e multicultural cf SMITH 1997 p 118120 e STEVENSON 2002 p8889 Subsequentes povoamentos e invasões no decurso de milênios formaram a multifacetada Índia local de nascimento do Hinduísmo Budismo Jainismo e Sikhismo e que alberga desde as invasões mongóis o Islamismo O Hinduísmo é religião e Filosofia predominante ancestral e presente no cotidiano das pessoas O Hinduísmo entretanto é plural nas manifestações e nos ritos festivais e templos existentes nos povoados e grandes cidades de território de imensos contrates geográficos e culturais O hindu nasce hindu não é possível tornarse hindu contudo é possível abraçar o hinduísmo religioso ou o hinduísmo filosófico O Jainismo religião e Filosofia ascética fundada pelo Mestre Maavira cerca de 600 aC minoritária na Índia mas presença importante é prática baseada nos ensinamentos dos Thirthankaras mestres lendários propugna a Ahimsa ou nãoviolência e em consequência adota dieta vegetariana em respeito à vida O Sikhismo religião dos gurus nascida no Punjab fundada pelo Guru Nanak piedoso e reflexivo surgiu em torno do século XVI reunindo elementos do Hinduísmo e do Islamismo pois professa fé na existência de um só Deus considera os gurus como guias à libertação do ciclo de renascimentos Os Sikhs opõemse à adoração a ídolos veneram o Guru Granth Sahib livro que contém os ensinamentos dos 10 gurus fonte de sabedoria para o Sikh devoto O Império Mongol parte do Império Islâmico chegou à Índia estabeleceuse com mesquitas e práticas devocionais A Índia em breve resumo é multicultural e aprendeu a conviver com o pluralismo religioso não obstante conflitos transcorridos nos últimos séculos e que após a independência do domínio colonial britânico transcorrida a separação entre Índia e Paquistão convive contemporaneamente com as diferenças religiosas via respeito e aproximação Os habitantes da Índia mais do que tolerância cremos cultivam o respeito ao outro que representam distintas Tradições Conviver com o distinto supõe superação de conflitos e sobretudo reconhecer o valor do outro Se o hinduísmo é a religião majoritária todavia no decurso da história está a aprender a respeitar e conviver com as plurais expressões religiosas presentes no subcontinente indiano O Hinduísmo multimilenar religião e filosofia de libertação com múltiplas escolas e expressões religiosas convive com a laicidade do Estado e contribui à identidade e unidade de um país que desde suas contradições é potência emergente por sua economia população e investimentos em educação Na Índia há 8 HCR 8 também comunidades cristãs estabelecidas desde o contato com o Ocidente através de São Francisco Xavier e companheiros no século XVI Constituem minoria mas que vive com intensidade e comunitariamente a fé Na Índia descobrimos com o Hinduísmo todas as religiões levam a Deus e por isso devemos respeitar os praticantes das múltiplas Tradições A Sabedoria fruto da meditação vence a ignorância supera os apegos egoístas ligados aos bens materiais às ilusões da existência à ambição e posse Caminho de libertação permite religar o centro divino que há em cada pessoa à Brahman Na reverência Namastê o hindu saúda desde a divindade que há em si a divindade que há no outro A meta sem desprezar a vida e necessidades decorrentes é a união Atman Brahman APLICAÇÃO a A Yoga filosófica cf STEVENSON 2002 p112 surgiu em torno de 300 aC Pantajali que posteriormente desenvolveu a Yoga descreve oito passos ou ramos que conduzem à percepção suprema da consciência Ibidem Os passos cf STEVENSON 2002 p112 113 são oito e a seguir os descreveremos CONTENÇÃO Abstinência da Violência roubo falsidade sensualismo descontrolado e aceitar presentes OBSERVAÇÃO Comprometimento com pureza contentamento austeridade estudo e devoção BOA POSTURA Estabilidade equilíbrio e fácil relaxamento CONTROLE DA RESPIRAÇÃO Respirar rítmica e lentamente RETIRADA Eliminar da mente as flutuações causadas pelos sentidos e objetos dos sentidos repousar mentalmente CONCETRAÇÃO DA MENTE Concentração em um único objeto um som um mantra uma palavra ou algo visível MEDITAÇÃO Não estamos descrevendo apenas a concentração como no passo anterior mas a meta consiste em atingir o estado mais elevado de consciência SUPERCONSCIÊNCIA Estado além da condição humana alcançável apenas pelos praticante da YOGA As técnicas YOGUE propostas por Pantajali e praticadas na Índia supõem compromissos consigo e com os outros disciplina corporal mental e ética intencionam finalmente a união do centro divino com Deus É processo gradativo de ascensão ao divino supõe esforço e empenho não confundese com bemestar momentâneo mas em transformação da existência na direção da redescoberta de Atman religado a Brahman A Yoga filosófica é uma das Yogas mas como todas as práticas supõe empenho conversão ética mudança de vida Desejarias experimentar a prática YOGA Sabes como A prática YOGA é o hinduísmo em exercício 2 BUDISMO ITINERÁRIO AO DESPERTAR O Budismo é religião e filosofia que nasceu e expandiuse no extremo Oriente oferece ensinamentos que ajudam as pessoas a viverem melhor Presentemente difundido no Ocidente através da presença de monges mestres e praticantes de diferentes correntes e escolas precisa ser estudado e conhecido em profundida 21 Nascimento e expansão O Budismo cf STEVENSON 2002 p143145 nasceu na Índia em período de intensa efervescência filosófica e religiosa Apresentou ideias sobre a natureza da realidade sobre a impermanência e indicou o 9 HCR 9 percurso à iluminação Contemporaneamente é minoritário na Índia mas alcançou o mundo Revelouse alternativa ao asceticismo rígido dos monges hindus optou pela via média não aceitou o sistema de Castas e tampouco o ritualismo e legalismo existentes à época Compreender o Budismo conceitos e correntes é tarefa exigente que supõe atenção Os ensinamentos de Buda espalhamse pelo extremo Oriente e através de processos de inculturação o Budismo recebeu diferentes nuances e cores Expandiuse da Índia para o Siri Lanka Tailândia Camboja chegou ao Tibete através da China e desenvolveuse posteriormente no Japão Contemporaneamente devido a conflitos como a Guerra do Vietnã e a invasão do Tibete pela China é presente na Europa e nas Américas no âmbito dos países Ocidentais Não é possível discorrer sobre o Budismo sem mencionarmos Sidarta Gautama Buda o desperto Denominado Sakyamuni o sábio dos Sakyas nasceu na região hoje denominada Nepal na metade do século VI aC em torno de 563 aC falecendo no ano de 483 aC com 80 anos Cf SMITH 1997 p 96 O acesso a Sidarta Gautama o Buda histórico dáse através da Tradição Os textos com as palavras de Buda foram transmitidas oralmente e posteriormente reunidas no Cânone Pali denominado Tripitacaka organizados em Sutras 22 Sidarta Gautama o homem que despertou Sidarta Gautama filho do rei Suddhodana e da rainha Mahamaya exerceu influências decisivas sobre Oriente e presentemente sobre o Ocidente Buda e Jesus personagens extraordinários são recordados com reverência seus ensinamentos são valioso legado à humanidade e em consequência são lembrados com devoção Perguntaram a Sidarta Gautama quem era Um santo Um Deus Respondeu não O que és então Sidarta o Buda respondeu Eu sou o desperto Sidarta era o primeiro nome Gautama o sobrenome Sakya a denominação do clã Nasceu como príncipe rodeado de riquezas vestindo roupas de seda e usufruindo de privilégios A Tradição relata nascimento extraordinário Aos 16 anos casouse com a princesa Yasodhara que deulhe um filho chamado Rahula cf SMITH 1997 p 92 Sidarta desfrutava de conforto esposa exemplar mas vivia entre os muros do Palácio do pai Quando Sidarta nasceu o pai convocou adivinhos que sabiam que era um menino incomum e extraordinário e que abriria caminho da libertação para os seres humanos Não obstante a resistência do pai a proteção e conforto de que usufruía em torno dos 20 anos vivenciou profundo descontentamento experimentou inquietação decisiva A fonte do descontentamento foi registrada na lenda das quatro visões passantes Realizou com o cocheiro Chandaka incursões secretas para ver o que estava acontecendo no mundo cf STEVENSON 2002 p144145 superando as portas protetoras do Palácio e a vigilância paterna que aparentemente o protegiam deparouse com as fragilidades da existência Na primeira viagem para além dos muros encontra um ancião solitário sozinho enfraquecido que mal conseguia locomoverse Em outra ocasião deparouse com um homem que padecia de uma doença Em terceira incursão defrontouse com a morte Contatou portanto com a velhice a doença e a morte Em uma incursão decisiva deparouse com um asceta de túnica ocre e tigela de mendicante Após darse conta da impermanência ou seja ao confrontarse com a condição humana que carrega a inevitabilidade da velhice a doença e a morte ao perceber que todas as coisas nascem e fenecem deuse conta das constantes inevitáveis da vida e que não podem ser contornadas Indagou haverá maneira de superar a fragilidade dor e caducidade da existência Certa noite aos 29 anos corta os laços com o passado abandona o conforto e honrarias do Palácio cavalga à Floresta veste roupas de servo envia o cavalo ao Palácio corta os cabelos e inicia a trajetória que o levará à iluminação No percurso de perguntas encontrou inúmeros sábios mestres na habilidade mental e física e no ascetismo cf STEVENSON 2002 p145146 Exercitouse ao extremo quase morrendo de fome Expos a si mesmo aos extremos do calor e do frio Trilhou o caminho de ascetismo extremo por seis anos atraindo cinco seguidores Sidarta contudo descobre que a autonegação somática não conduz necessariamente à iluminação Os ascetas ainda que aprendessem a dominar os desejos pelas coisas do mundo sofriam pela ambição às coisas celestiais o que os conduzia ao sofrimento e ao desapontamento Surpreendentemente desistiu do ascetismo aceitou alimento oferecido pela jovem Sujata decepcionando os seguidores Sidarta optou pela via média Se esticarmos em demasia a corda de um 10 HCR 10 instrumento ou a deixarmos excessivamente branda escutaremos uma nota fora de tom A via média que reivindica disciplina mental e corporal entretanto solicita o cuidado do corpo e disciplina mas nunca autoflagelação Sidarta prosseguiu o percurso por mais 49 dias sob a figueira árvore de boddhi Sentado sob a posição de lótus encontrou a resposta que procurava experimentou a iluminação superou desejos e apegos venceu a tentação das ilusões despertou Vivenciou estado de paz indescritível no qual os desejo ligados ao eu construção irreal estinguemse Sidarta cf SMITH 1997 p9599 venceu Mara a ilusão superou a si mesmo realizou extinção dos apegos despertou Tornouse o Buda Sidarta o Buda do clã dos Sakyas desvendou caminho à salvação dos seres humanos dos deuses e de todos os seres sensientes Mas quem poderia comprender a mensagem oriunda do despertar Uma comunidade monástica prontamente estabeleceuse pessoas o procuravam atravessando o país ou vindos terras distantes para ouvilo Desafiou a insensibilidade de uma sociedade dividida em castas Sidarta o Buda vivenciou a compaixão e a todos as acolhia Denominado o sábio silencioso fornecia respostas que convidavam a pensar Não vendia receitas fáceis mas convidava a refletir sobre a condição humana Buda o desperto continua a convidar cada ser humano a investigar a natureza e profundas aspirações que nos movem através do desenvolvimento da herança conservada pelas Tradições e ampliada através dos séculos 23 As quatro nobres verdades Buda após despertar enunciada a impermanência esclarece que dukkha traduzida comumente por sofrimento existe Constatar que dukkha é parte da vida é darse conta das transformações que continuamente experimentamos pois oscilamos entre alegria e tristeza entre saúde e doença Buda não era pessimista mas realista pois é preciso assumir a vida como se apresenta Há também injustiças opressão violência Cf SMITH 1997 p105109 Nascimento traz consigo o ciclo da impermanência pois todas as coisas mudam inclusive sentimentos e estados mentais Há separações perdas e decepções Buda sabia que a vida é um dom que vivemos contentamentos e aspiramos a felicidade entretanto tudo é provisório e instável Mas qual é a causa de Dukka Nós humanos acreditamos portadores de um eu que demanda atendimento de desejos que nos põe no centro das atenções Ora o eu é ilusório O apego às exigências crescente do eu construto que impede o conhecimento de si mesmo causa insatisfação é responsável pelo ciclo de renascimentos Samsara O ciclo de renascimentos é impelido pela ignorância Avidyaque alimenta desejos implicando em nascimento sofrimento e morte Podemos sinteticamente afirmar que o eu não existe que todo apego é sofrimento que é preciso superar as ilusões que impedem o despertar que Buda médico realizou o diagnóstico e propôs caminho à superação de Dukka A ignorância e o sofrimento contudo podem ser superados Buda é o médico que realiza o diagnóstico e oferece o remédio à cura Buda conhecido pela compaixão nos auxilia a pôr em perspectiva a vida em totalidade e oferece caminho ético à superação da ignorância e do sofrimento A Nobre Senda Óctupla 24 A Nobre Senda Óctupla A Nobre Senda Óctupla centrada na compaixão é o Caminho Ético do Budismo auxilia a maximizarmos o potencial da iluminação supõe atenção e propõe o modo correto pensar e agir A seguir brevemente apresentaremos A Nobre Senda Óctupla Cf Stvenson 2002 p 149 e SMITH 1997 p117 1 Compreensão Correta ou Visão Correta implica em visão precisa esclarecimento da natureza do problema que encontra raízes na ignorância e nas paixões apegos que vinculam as pessoas ao sofrimento Se Dukka é vida deslocada a compreensão correta permite reencontrar o caminho que conduz à plenitude 2 Pensamento ou intenção correta é necessário decidir e enfrentar o problema da ignorância e do sofrimento O segundo passo da Nobre senda Óctupla supõe que o coração decida sobre o que realmente queremos É preciso amadurecer e direcionar a mente à realização querer superar as ilusões lidar com a impermanência 3 Palavra ou Linguagem Correta Pronunciar palavras com atenção que evitem apegos prejudiciais Enunciar palavras que edifiquem semeiem a compaixão que não destruam mas beneficiem todos os seres Nos 11 HCR 11 enviarmos pela palavra e acolhermos o outro que também se envia através da palavra Pronunciar passo a passo palavras que revelem a verdade e a compaixão Acolher e ser acolhido através das palavras 4 Ação correta Comportarse de tal modo a libertarse dos apegos prejudiciais que alimentem o eu ilusório Implica em refletir antes de agir Não matar Não roubar Não mentir Não ser incasto na situação de vida escolhida Não consumir bebidas alcoólicas São preceitos éticos importantes Somos interdependentes e respeitando os outros respeitamos a nós mesmos promovemos a vida e o bemestar de todos os seres sensientes 5 Ocupação Correta o esforço cotidiano no exercício das profissões e tarefas consequente envolve grande parte da vida Na vida monacal é preciso unirse com sinceridade e empenho à vida monástica Os leigos devem procurar ocupações que promovam a vida e não a diminuam Um budista que procura a iluminação nunca poderia por exemplo trabalhar na indústria de armas Ao contrário todos os pensamentos e ações devem voltarse ao conhecimento de si através do cultivo da compaixão 6 Esforço Correto alcançar a meta exige um grande esforço da vontade para que não se desvie do caminho da iluminação Vencer a impaciência concentrarse no que é essencial não apegarse aos contratempos da vida voltarse para o crescimento implica grande empenho no caminho ao despertar 7 Atenção Correta se tudo o que somos é resultado do que pensamos é preciso superar as flutuações mentais ser presente no que somos e fazemos Superando gradualmente a ignorância seremos capazes de ser e estar presentes no aqui e no agora assumindo a existência como dom a ser cultivado Através da prática continua podemos superar as percepções enganosas e nos concentrarmos no exercício da compaixão vivendo com intensidade as oportunidade que a vida nos oferece 8 Concentração Correta é preciso ajustar o foco de nosso olhar e ver com abrangência O despertar revela se através de tênues manifestações Perceberse interligado a todos as e a tudo permite pôr em contexto cada pensamento ação e momento da vida Superar a ilusão os apegos os desejos concentrarse na meta é tarefa cotidiana Algo aconteceu com Buda sob a Árvore de Bodhi E Buda nos legou os passos à iluminação Nessa direção se ajustarmos a câmera poderemos também trilhar o caminho do despertar pois com a extirpação da ilusão da ansiedade e da hostilidade os três venenos vemos que as coisas não são como supúnhamos Na verdade todas as suposições desapareceram sendo substituídas por uma percepção direta A mente repousa em sua verdadeira condição cf SMITH 1997 p117 A Nobre Senda Óctupla renovadamente praticada conduznos ao conhecimento de si do outro das coisas que nos cercam ao sentido da existência e à vivência concreta da compaixão através de pensamentos e ações 25 Conceitos budistas básicos O Budismo desenvolveuse historicamente baseandose nas palavras de Buda Procuraremos brevemente tocar em noções importantes entretanto sem a ambição de definilas ou enquadrálas em trama conceitual fechada Se a impermanência é presente no fluxo da vida sucessão mudanças continuas nos ciclos da vida entretanto recordemos todos os fenômenos estão interligados o que podemos nominar por interser Quando no café da manhã comemos o pão nesse gesto cotidiano percebemos que todos os elementos a força da semente o trabalho dos agricultores beneficiadores e panificadores unidos à luz e água providas do Sol e do Céu lá estão presentes O interser expressa a interdependência que une os seres sensientes a todas as coisas Para perceber a interligação é preciso atenção ser presente no que somos e fazemos percebendo o dom da existência exercendo a gratidão e cultivando a compaixão Aquele que dáse conta do interser vive no caminho da libertação Para o Budismo cf SMITH 1997 p 117123 não existe uma alma substancial tal qual Atman para o hinduísmo Quando a mente unese ao corpo as impressões sensoriais e as representações mentais constroem a ilusão de que há um eu fonte de apego e desejos Para o Budismo Samsara ou ciclo de renascimentos liga 12 HCR 12 as diversas existências Como explicar o entrelaçamentos entre as diversas vidas Tal como uma vela quando a chama apagase a mesma chama pode reacender As diversas impressões das existências estão presentes na mente manifestação da consciência que subsiste via ciclos cármicos através dos renascimentos As diversas existências estão interligadas por pensamentos e ações passadas presentes e futuras A interconexão causal é expressa pela palavra Carma É preciso contudo depurar a noção de Carma de determinismos ou fatalismos Somos livres e capazes de configurar novo sentido à vida Dar sentido à existência brevemente depende de cada um de nós acolhendo o carma passado assumindo com responsabilidade a vida presente e via compaixão conferindo sentido à vida futura A natureza essencial da mente segundo Dalai Lama Transformando a Mente São Paulo Martins Fontes 2000 p35 é pura e luminosa Falsas percepções assim como emoções e pensamentos negativos não são inerentes à natureza essencial da mente Já que as aflições estão enraizadas em falsas percepções existe um antídoto que as pode erradicar é o vazio de todas as coisas ou a verdadeira natureza da realidade Todos portamos a natureza búdica a capacidade para despertar Vencer a ignorância privação de conhecimento as ilusões desejos e sentimentos negativos supõe darse conta de que todos os conceitos que atribuímos aos fenômenos carecem de realidade A vacuidade Sunyata é o estado mental que para além das representações e flutuações mentais permite acolher as coisas como são A vacuidade mais do que não pensar implica em vencer a ambição de possuir através de conceitos e esquemas as coisas impedindo que manifestemse como são A montanha se apresentará como montanha por exemplo quando renunciarmos à ambição de nomeála definila enquadrála em esquemas Acolher supõe a vacuidade estado mental de abertura pela qual a vida se manifesta como é Nessa direção os esforços no budismo pelos quais vencemos os apegos intencionam o estado mental de liberdade que permite vencer as ilusões conferindo sentido à existência que salientamos é dom a ser cultivado O despertar supõe gradativa libertação dos apegos superação das flutuações mentais atenção e concentração implica na extinção das ilusões vinculadas ao eu O desperto como Buda em consequência perceberá as coisa como são abrangentemente realizando plenamente a natureza da mente Poderá ingressar no Nirvana Mas o que é o Nirvana Pergunta complexa e difícil de responder O Nirvana é permanente estável imperecível não tem idade não morre é bemaventurança Se o Nirvana não é Deus será o divino No budismo Tibetano conforme Lama Jigme o desperto ingressa no Absoluto denominado pela palavra Dharmakaya Corpo da Verdade comparado ao Azul Infinito do céu O Monge e o Lama Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2002 p75 A vacuidade sunyata é preciso salientar é estado da mente e de ser que permite acolher as coisas como são e portanto realização e libertação no caminho do despertar Talvez precariamente possamos afirmar com cuidado que o Nirvana é o divino A mente desperta ingressa no Absoluto encerrando o ciclo de renascimentos experimentando a extinção e consequente inserção em plenitude que não conseguimos apropriadamente entender e expressar em conceitos É possível apenar via descrições provisórias tenuamente tocar precariamente através da linguagem a plenitude que aspiramos e que denominamos Nirvana Absoluto Dharmakaya Tich Nath Hanh pergunta é possível alcançar o Nirvana Responde O fato é que vocês são o Nirvana O Nirvana está à disposição de vocês 24 horas por dia É como a onda e a água Vocês não precisam procurar o Nirvana em outro lugar ou no futuro Por que já são ele O Nirvana é o princípio do seu ser Jesus e Buda Irmãos Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2005 p19 Resposta simples e complexa da qual surge outra indagação como cultivar o Nirvana que já há em nós Através da compaixão 26 Os três tesouros do Budismo Confio em Buda Confio no Dharma e Confio na Sangha O Budismo é religião comunitária que supõe confiar em Buda nos ensinamentos e no estudo e práticas acontecidos na Sangha Buda não é externo a mim O Dharma os ensinamentos de Buda são em mim A Sangha é a comunidade somos a Comunidade Confiar implica em viver entregarse com sinceridade a Buda praticar o Dharma na Comunidade cf THICH NATH HANH 2005 p 4364 A meditação e práticas nos reenviam à nós mesmos Estou em casa quando há harmonia entre mente e corpo Na comunidade nos ajudamos procurando viver o Dharma A compreensão atitude e atenção mental permite aceitar o que sou viver em conexão com a realidade acolher o outro Confiar em Buda viver os ensinamentos na Comunidade aprender com os Mestres 13 HCR 13 é vivenciar a compaixão A confiança em Buda sincera entrega vivencia dos ensinamentos na Comunidade levam à compreensão Antes de julgar o outro é preciso compreender e acolher Aprender no silêncio a perceber o sofrimento do outro e ajudálo na medida do possível altruistamente Compartilhar as esperanças e alegrias Assumir com a Comunidade a tarefa de cultivar um mundo melhor As três joias ou tesouros não são realidades externas mas que nos constituem responsabilizam conduzem à compreensão e realização da natureza do despertar Segundo Thich Nath Hanh 2005 p39 Nos ensinamentos budistas isso está bem claro O Budismo ensina que a compreensão é a base do amor Quando se tem consciência compreendese que a outra pessoa está sofrendo Conseguese ver aquele sofrimento e repentinamente não se quer que o outro sofra Quando vocês começam a ver o sofrimento na outra pessoa nasce a compaixão e vocês não mais a consideram um inimigo Vocês podem amar o seu inimigo No momento em que compreendem que o assim considerado inimigo sofre e desejam que ele pare de sofrer ele deixa de ser inimigo Compreensão amor compaixão Amar sem restrições Aprendemos juntos Nessa perspectiva viver os ensinamentos de Buda implica cultivar a compaixão A Sangha em consequência passa a ser toda a casa planetária e nos importaremos com todos os seres sensientes 27 THERAVADA E MAHAYANA o desenvolvimento do Budismo Dois caminhos dividem o Budismo Theravada Escola dos Antigos e Mahayana Grande Veículo Se a vida é travessia entre margens de um rio Theravada é o pequeno barco Mahayana é o grande barco cf STEVENSON 2002 p157 O que entretanto diferencia os dois ramos do Budismo Theravada ou Caminho dos anciãos conservadoramente procurou seguir os ensinamentos originais de Buda registrados Abhidharma primeiros registros das palavras de Buda resistindo às inovações O Mahayana flexível compreende que as palavras de Buda continuam a derramar novos significados ao longo da história O Mahayana apresenta maior flexibilidade capacidade de adaptação cultural e atualização da doutrina As distinções foram causadas por diferenças interpretativas ocorridas ao longo da história não são qualificativos ou avalições valorativas Os dois caminhos situados em contextos distintos procuram viver o Dharma Os países do Sul da Ásia Sri Lanka Mianmar Tailândia e Camboja nos quais o Budismo desenvolveu se ligado às antigas Monarquias das quais restou a Tailândia seguem o Theravada O Interesse da China pelo Budismo país confucionista permitiu o desenvolvimento sem vinculação com o Estado O Mahayana com maior interesse psicológico e metafísico desenvolveuse na China Tibete Coreia e Japão As diferenças entre os dois veículos após o contato com o Ocidente e notadamente após a segunda guerra mundial persistem mas há continuo diálogo e intercâmbio entre as Tradições cf SMITH 1997 p126129 Segundo o Theravada os seres humanos emancipamse sem interferência externa sem ajuda de divindades através do cultivo da sabedoria A conquista requer compromisso constante destinandose basicamente a monges e monjas O ideal é tornarse um arhat ser de elevada estrutura espiritual que permanece no Nirvana após a morte Buda é tãosomente mestre supremo inspirador Minimizam a metafísica e centram a prática na meditação Segundo o Mahayana as aspirações humanas são apoiadas pelos poderes divinos e pela graça dispensada A virtude é a compaixão A prática religiosa é relevante à vida do mundo e em consequência para os leigos O ideal é tornarse boddhisattva Buda é o desperto que indica o caminho e pode ser nomeado como salvador Valoriza a lógica e filosofia Os rituais são importantes incluindo preces peticionárias O quadro apresentado é breve e esquemático cf SMITH 1997 p 129 intenciona indicar algumas diferenças entre os veículos salientando que o objetivo de ambos é o despertar 271 Mahayana Zen e o Veículo do Diamante O Budismo introduzido na China no século I dC gradualmente adaptouse à cultura chinesa e a cultura chinesa igualmente gradativamente adaptouse ao Budismo tornandose uma das três grandes religiões da China com o Confucionismo e Taoísmo cf STEVENSON 2002 p179 Na China surge o Chan Zen em japonês influenciado pelo Taoísmo O Budismo desde a China alcança o Tibete teto do Mundo No Tibete incorporando elementos da Religião autóctone Bön relendo o tantrismo segundo o qual a concentração das energias mentais e corporais conduz à iluminação transformase no raio diamantino O 14º Dalai Lama Tenzin Gyatso 14 HCR 14 exilado na Índia após a invasão Chinesa no Tibete pelo anuncio da paz e participação em causas humanitárias contemporaneamente contribui à divulgação tanto do Budismo Tibetano quanto da cultura e identidade daquele país Nagarjurna século 2º ou 3º dC mestre e difusor do Mahayana e fundador da Escola Madhyamika em O Manual da Escola do Caminho do Meio ensina que O ensinamento de Buda se refere a dois tipos de verdade a verdade relativa e condicional e a verdade transcendente absoluta ZIMMER 2005 p369 Se a experiência suprema é inefável contudo a progressiva compreensão das palavras de Buda é tarefa que desdobrase na história O Budismo do Grande Veículo entende que a tarefa de compreensão da herança de Buda prossegue na história Migrando ao Japão no século XII o Budismo assume vestes nipônicas cf SMITH 1997 p131 O Zen especialmente caracterizase pelo silêncio atitude que conduz à vacuidade convida à meditação recomenda cuidado para com o uso das palavras No Japão dentre inúmeras escolas destacamse a Rinzai para a qual a iluminação pode acontecer a qualquer momento Satori e a Soto segundo a qual a iluminação supõe constante estudo e meditação cf STEVENSON 2002 p194195 No Vietnã o Zen Budismo desenvolvese admiravelmente convivendo com o Cristianismo dos colonizadores europeus e superando os impasses da Guerra do Vietnã Tich Nath Hanh é contemporaneamente referência para o Budismo e igualmente como Dalai Lama presença fundamental no diálogo interreligioso No Brasil devido ao intercâmbio com o Japão propiciado pela imigração japonesa encontramos várias Escolas do Zen Budismo Há igualmente significativa presença de Escolas do Budismo Tibetano como por exemplo centros e Templos em Viamão e Três Coroas O Mahayana notadamente devido à capacidade de inculturação desenvolveuse e adaptouse aos contextos de diversas culturas estabelecendo contacto e ricas trocas com o Ocidente Thomas Merton 1915 1968 monge trapista por exemplo estudou profundamente o pensamento Oriental e participou de encontros entre o monaquismo Ocidental e Oriental Contemporaneamente pensamos a presença do Budismo nos países sob a influência Ocidental enriquece às duas matrizes culturais contribuindo à edificação de um mundo habitável e à convivencialidade propiciando superação da liquidez nas relações Bauman e contribuindo ao discernimento de valores essenciais à vida 272 Os bodhisattva e a Compaixão Na Tradição Mahayana Bodhisattva designa os seres compassivos que atingindo à iluminação renunciam realizar o Nirvana para continuarem a missão de auxiliar os demais seres sensientes no caminho do despertar Sidarta Gautama antes do despertar sob a árvore de Bodhi foi um boddhisattva Os bodhisattvas como Avalokiteshvara o Buda da Compaixão ao sentirem as dores do mundo renunciam ao Nirvana São mediadores que nos auxiliam no desapego na vivência da compaixão e no caminho à iluminação A compaixão noção central do Budismo Mahayana supõe compreensão acolhida do outro capacidade de compreender os frágeis e promover a vida em todas as manifestações No processo ao despertar podemos segundo o Mahayana na travessia à margem do esclarecimento contar com a mediação salvadora e amorosa dos bodhisattvas cf ZIMMER 2002 p337 CONCLUSÃO E APLICAÇÃO O Budismo nos convida à compressão A compreensão é desenvolvimento da escuta profunda conformação aos sofrimentos dos outros itinerário de conhecimento de si mesmo prática do silêncio O retorno a si mesmo o entendimento das qualidades e fragilidades o trabalho amoroso dos sofrimentos e sentimentos que estão presentes já é antevisão do despertar A mente perturbada transita de pensamento em pensamento incapaz de libertarse das flutuações persiste no sofrimento Quando no silêncio acolhemos o que somos descobrimos que portamos nossos sofrimentos e também de nossos pais e mães dos antepassados superando via reconciliação os fatores que nos perturbam aceitando o que somos perdoando vivendo a dinâmica da paz atingindo a vacuidade em consequência acolheremos o outro os seres sensientes e o mundo viveremos a compaixão A compaixão acolhe supera medos ultrapassa sofrimentos ressignifica a existência A compaixão é amor em exercício Se Jesus nos fala da misericórdia coração que acolhe a Tradição de Buda nos convida à 15 HCR 15 compreensão à vacuidade e a consequente compaixão Compaixão é amor Mas que tido de amor Amor gratuito que nada exige que diferenciase da posse que pode ser qualificado como altruísta Amor que é presença atenção cuidado edificação de um mundo habitável Em tempos de exaltação de individualismo exaltação do eu construção artificial retroalimentada pelo desejo e consumo falar em compaixão é importante No centro da vida budista encontramos a compaixão que nos liberta e confere sentido à vida O interser a interdependência nos une a todos os seres sensientes que em meio a impermanência aspiram a felicidade A felicidade já é aqui no presente se desenvolvermos a atenção a escuta profunda vivermos na dimensão do cuidado se acolhermos e nos deixarmos acolher A felicidade é tarefa que supõe ressignificar valores e conferir em cada pensamento e ato via atenção a compaixão APLICAÇÃO Vivemos tempos de fluidez e inconstância tememos a frustração e encontramos dificuldades para desenvolvermos a resiliência Thich Nath Hanh oferece algumas sementes ao interpretar a inconstância da vida e nos conviva a meditarmos atentamente o Discurso sobre a felicidade Buda falou da doença e do sofrimento como remédios efetivos Tempos de dificuldades e adversidades são tempos de liberdade e compreensão Os obstáculos podem ser uma forma de libertação As dificuldades são necessárias para o sucesso O ato de fazer um favor a alguém pode ser tão bom quanto para fora seu velhos sapatos O abandono de possessões materiais pode significar riqueza ser acusado por agir mal pode ser uma fonte que trabalha em prol da justiça cf Tich Nhat Hanh Dois tesouros budistas sobre a verdadeira felicidade Petrópolis Vozes 2008 p33 O Discurso sobre a Felicidade Muitos deuses e homens estão desesperados para saber as verdadeiras benção que propiciam uma vida feliz e pacífica Por favor Tathagata você nolas ensinará cf Tich Nhat Hanh Dois tesouros budistas sobre a verdadeira felicidade Petrópolis Vozes 2008 p3537 Esta foi a resposta de Buda Não se associar aos todos Viver em companhia de pessoas sábias Honrar aqueles que são dignos de honra Está é a verdadeira felicidade Viver em um bom ambiente Plantar boas sementes E compreender que você trilha um bom caminho Eis a verdadeira felicidade Ter uma chance de aprender e crescer Ter habilidade em sua profissão ou ofício Praticar os preceitos e os discursos efetuados Esta é a verdadeira felicidade Ser capaz de servir e ajudar seus pais Cuidar de sua própria família Ter uma vocação que lhe traga felicidade Esta é a verdadeira felicidade Viver com honestidade doar generosamente Oferecer apoio aos parentes e amigos Viver a vida sem se envergonhar de sua conduta Esta é a verdadeira felicidade Evitar ações que não sejam integras Não ser presa de alcoolismo e drogas E ser diligente fazer o bem Esta é a verdadeira felicidade Ser humilde e ter comportamento educado 16 HCR 16 Ser grato e feliz com uma vida simples Não perder ocasião de aprender o Dharma Esta é a verdadeira felicidade Viver diligentemente e com atenção Perceber as Verdades Nobres E compreender o Nirvana Esta é a verdadeira felicidade Viver no mundo Sem deixar o coração ser perturbado pelo mundo Sem tristeza viver em Paz Esta é a verdadeira felicidade Aquele que consegue alcançar isto Será invencível onde quer que vá Estará salvo e será feliz A felicidade viverá dentro dele Perguntas para as meditar o que o Discurso sobre a felicidade desperta em nós Quando meditamos as palavras de Buda sobre a felicidade o que ressoa em nós O que aprendemos TAREFA Ver e escutar atentamente o vídeo de Tich Nath Hahn O que é o amor verdadeiro Os elementos do amor genuíno Thich Nhat Hanh on True Love httpswwwyoutubecomwatchv8ubhF4YTMWE 3 CONFUCIONISMO E TAOÍSMO A milenar China desenvolveu várias Tradições religiosas e filosóficas dentre as quais Confucionismo e Taoísmo exerceram decisiva influência que perdurou através dos séculos e presentemente são vivas e atuantes As Tradições surgiram em meio à conflitos políticos guerras sofrimento que assolava diversas regiões da China Os filósofos denominados Tzu mestre procuraram entender os problemas e encontrar soluções Dentre os mais conhecidos destacamos Kung Fu Tzu latinizado por Confúcio Lao Tzu latinizado por LaoTse Chuang Tzu Men Tzu conhecido por Mêncio Dentre as Escolas inspiradas pelos mestres destacamos a Escola do Letrados ou Eruditos ou Confuncionismo e o Taoísmo cf STEVENSON 2002 p208 210 31 CONFUCIONISMO Confúcio Kung FuTse ou mestre Kung nasceu em torno de 551 aC no principado de Lu vivendo de condição humilde entretanto devotouse aos estudos A carreira de Confúcio funcionário público e mestre não foi exitosa Paradoxalmente atraiu discípulos e exerceu notável influência sobre China por 25 século estendendose à Coreia Viveu em período de conflitos políticos e guerras entre os Estados da China Faleceu em 479 com 72 anos cf SMITH 1997 p156158 17 HCR 17 311 Recomendações de Confúcio Verdadeiro filósofo não será aquele que mesmo sendo reconhecido jamais guarda ressentimento Não faças aos outros o que não queres que te façam Não esperes resultados rápidos nem procures pequenas vantagens Se buscares resultados rápidos não alcançarás a meta final Se deixares desviar por pequenas vantagens nunca realizarás grandes feitos Riqueza e posição eis o que as pessoas desejam mas se não as conseguires de maneira correta nunca as possuirão Se bondoso com todos mas íntimos apenas dos virtuosos Confúcio apud SMITH 1995 p 159160 cf ANALETOS VII 33 À época da vida do Mestre Kung guerras continuas destruíam a vida das pessoas nas diversas regiões da China como em Lu terra Natal A corrupção métodos escusos e cruéis dominavam a vida política Confúcio acreditava que a formação de seres humanos virtuosos aptos em renovar a Tradição era a chave para o bem estar político da China Assumiu como Sócrates em Atenas a tarefa de educar as novas gerações 312 A Tradição deliberada Segundo Confúcio a Tradição deliberada diferenciase da Tradição espontânea pois supõe estudo atenção Acreditava que era necessário dar atenção ao conteúdo da educação Mas quais são as principais respostas de Confúcio Qual é o caráter da vida social que a educação deveria gerar A resposta de Confúcio pode ser reunida sob cinco termoschave cf SMITH 1997 p71 3121 JEN ou a Virtude do Coração Jen etimologicamente deriva da combinação em caracteres chineses de ser humano e dois designando o relacionamento que deve existir entre pessoas Jen virtude das virtudes sensibilidade do coração humano Jen envolve simultaneamente sentimento de compaixão pelo outros e respeito a si mesmo Palavra que deve ser proferida com cuidado e atenção De Jen derivam as demais virtudes como magnanimidade boafé caridade É a virtude do ser humano que atingiu dimensão superior na existência A largueza de coração do Jen não conhece fronteiras geográficas unindo todos os seres humanos pois somos irmãos e irmãs cf SMITH 1997 p171 3122 Chun tzu Chun tzu costuma ser traduzido pela expressão homem superior contudo aponta para os seres humanos que realizaram a humanidade vivendo segundo o Jen Chun tzu é pessoa amadurecida É o oposto de pessoa de mente estreita Segundo Mestre Kung somente pessoas inteiramente reais poderiam estabelecer os alicerces de uma sociedade civilizada Conforme Confúcio se houver beleza no coração haverá beleza no caráter Se houver beleza no caráter haverá harmonia no lar Se houver harmonia no lar haverá ordem no país Se houver ordem no país haverá paz no mundo Confúcio apud SMITH 1997 p172 cf ANALECTOS 3123 Li terceiro conceito que comporta dois significados Li indica modo de ser e comportase direção orientação maneira pela qual as coisas devem ser realizadas Há que considerar em cada situação idade família e relações para imprimir caráter adequado às decisões e consequentes ações adequado comportamento Há uma teias de relações que comportam atenção relação entre pais e filhos jovens e velhos subordinados e superiores entre amigos O respeito a generosidade a reverência expressa por educação elegância e regras de comportamento confere significado e equilíbrio à vida Li evoca Tradição antepassados modo correto de executar os ritos Os ritos devem ser cumpridos interiormente e em consequência expressos exteriormente com moderação Os velhos devem ser respeitados os filhos quando os pais tornamse idosos devem cuidálos Li deve ser compreendido desde a Tradição deliberada consentida que une gerações e gera o consenso familiar e social 18 HCR 18 3124 Te ou poder Te indica o poder pelo qual os seres humanos devem ser governados não por coerção ou força mas por convencimento e com benevolência Quem governa deve governar por meio da virtude e não pela força dos exércitos pela utilização da violência que oprime pois aquele que governa por meio da virtude Te pode ser comparado com a Estrela Polar que se mantém no lugar enquanto todas as estrelas se voltam para ela Confúcio apud SMITH 1997 p 176 cf ANALETOS Governar é a arte de congregar através de leis justas e conforme o bem comum na direção da solidariedade entre os cidadãos e entres esses e os governantes 3125 Wen ou Arte da Paz Wen referese às artes da paz que Confúcio diferenciava das artes da guerra Às arte da paz correspondem música poesia a soma da cultura estética e espiritual cf SMITH 1997 p177 Segundo Confúcio pela poesia a mente é despertada pela música recebe o acabamento As artes em suma estimulam a espiritualidade levam ao autoconhecimento auxiliam a evitar ressentimentos conduzem à compreensão de servir ao país e aos governantes Ibidem Há portanto dimensão pedagógica política e ética na noção de Wen que pensamos é atual 313 O projeto de Confúcio Através do cultivo de si mesmo cidadãos e governantes poderiam congregados construir a tecitura da vida social segundo a justiça o bem comum e a paz Confúcio acreditava na educação como fator de transformação individual e social A educação nutrirseia da Tradição dos ensinamentos herdados dos ancestrais e presentes na vida cotidiana Tradição consentida e desenvolvida através do estudo e da Filosofia O projeto confunciano com o passar dos séculos ganhou novas matizes inclusive legalistas e conservadoras Mas originalmente baseavase na liberdade no consentimento no aprimoramento ético das pessoas Há ritos e expressões religiosas no Confucionismo mas que sobretudo orientam o comportamento do dia a dia e são a base da convivência familiar e social 314 Antepassados Terra e Céu O que é o céu para os chineses É a morada dos ancestrais é o divino é Deus Vivemos na Terra precisamos cultivála aprender a conviver gerar a habitabilidade Para os chineses e coreanos por exemplo os memoriais aos antepassados são muito importantes pois conectam gerações Céu é expressão teísta mas ampla do confucionismo Se o confucionismo é presente na alma dos chineses e coreanos por exemplo expresso na devoção aos anciãos na meditação dos livros da tradição confuciana não obstante a revolução cultural de Mao na China nunca foi erradicado coração dos chineses e presentemente o vemos reabilitado e estudado nas universidades daquele país CONCLUSÃO A Tradição deliberação o cultivo do Jen a preocupação com o governo consentido são algumas das heranças que brevemente analisamos na apresentação do Confucionismo Mas o que significa tornarse virtuoso cultivar o Jen viver em sociedades prósperas e pacíficas APLICAÇÃO Ver e registrar os ensinamentos de Confúcio conforme o vídeo que segue 7 Lições ou Máximas de Confúcio para uma vida plena Poucos Aprendem isso Filosofia Oriental httpswwwyoutubecomwatchvQGrnjptIwA4 19 HCR 19 32 TAOÍSMO Segundo a Tradição o Taoísmo originouse de um homem chamado LaoTsé supostamente nascido em 604 aC LaoTsé é personagem enigmático sequer sabemos o nome pois Lao Tse traduzse por velho mestre velho amigo Lao Tse não pregava não organizava reuniões era discreto pobre e humilde vivendo segundo o Curso da Natureza A LaoTsé é atribuído o Tao te King O Taoísmo retorno à espontaneidade da vida de caráter naturalista consolidouse como resposta ao crescente intelectualismo do Confucionismo no desenvolvimento posterior à existência do Mestre Kung 321 O que é o Tao Se respondermos já não é o Tao Mas podemos caracterizar o Tao como Caminho ou Curso à realidade última O Tao é imanente e transcendente é o caminho ou norma do Universo Tao finalmente é o caminho da vida humana Se os seres humanos vivem na Terra se o Céu é a morada dos deuses e dos ancestrais o Tao é o curso que une Terra e Céu O Tao envolve as oposições YinYang governando harmonicamente os processos cósmicos O Tao pode ser designado como Absoluto Cremos que sim O Tao é a doutrina do Curso O que nos diz o Tao Te King O poema sobre o Tao nos convida a pensar O Tao que pode ser chamado de Tao Não é o verdadeiro Tao O Nome que pode ser nomeado não é o eterno nome Sem nome é o princípio do céu e da terra E com nome é a mãe de todas as coisas Tao Te Ching Lao Tsé Cf Laozi Dai De Jing Tao Te King Trad Mário Bruno Sproviero São Paulo Hedra I 16 3211 O Homem e o Tao Em A Via de Chuang Tzu MERTON Thomas A Via de Chuang Tzu 2012 Petrópolis Vozes exemplificando Thomas Merton narra e interpreta sem esgotar história tecida de símbolos e que merece apreciação O Homem nasce no Tao Os peixes nascem da água O homem nasce do Tao Se os peixes nascidos na água Procuram a sombra frondosa De um lago ou piscina Todos seus anseios são satisfeitos Se o homem nascido no Tao Mergulha na sombra frondosa Da Inação Para esquecer a combatividade e a preocupação Não necessita de Nada Sua vida está segura Conforme Thomas Merton interpretando a doutrina do Curso tudo que o peixe necessita é de perder se na água Tudo o que o homem necessita é de perderse no Tao Para o Taoísmo em consequência o homem nasce do Tao a Tal qual os peixes descansam nos lugares de sombra do lago o homem precisa mergulhar na inação wu wei para perdendose encontrarse b Tudo o que o homem precisa é perderse no Tao O poema proclama a renúncia ao ativismo e ao intelectualismo convida retorno às origens mergulho receptivo no Tao princípio e fim caminho sentido Thomas Merton em resumo indica significado sem esgotálo e convida à reflexão 322 O Taoísmo Filosófico Há o Taoísmo religioso com vida monástica sacerdotes e rituais contudo há o Taoísmo filosófico motivo da presente reflexão O Taoísmo filosófico é associado a LaoTsé e Chuang Tzu e ao livro Tao Te King Digno de mencionar é a mística taoísta e que não será abordada no presente estudo O Taoísmo filosófico 20 HCR 20 destaca a atenção a necessidade de concentrar as energias realizando esforços assertivos e direcionados evitando a dispersão A ação segundo o Wu Wei deve evitar fricções desgastes desnecessário o que vale para os relacionamentos interpessoais comportamentos e tarefas A atenção plena solicita treinamento aplicação concentração mental e corporal A palavra chi embora signifique literalmente respiração em verdade indica a energia vital Chi é energia vital que deve ser adequadamente aplicada e não deve ser desperdiçada Para maximização da força vital os adeptos do Taoísmo filosófico procuraram ligar matéria movimento e mente cf SMITH 1997 p196197 Quanto à matéria acreditavam que a força de Chi poderia ser ampliada pela alimentação adequada O tai chi chuan Caminho do Livro e seu Poder reunindo dança meditação equilíbrio entre yinyang movimentos de artes marciais maximizaria a energia vital e removeria bloqueios que impediriam o fluxo interior Os contemplativos através da meditação incluindo eremitas isolavam a mente de distrações procurando o esvaziamento permitindo que o poder do Tao fluísse diretamente ao centro da vital âmago da pessoa 322 Yin e Yang O Taoísmo é ligado ao tradicional símbolo Yinyang Segundo SMITH 1997 p210 a polaridade yinyang resume as posições básicas da vida feminino e masculino bem e mal ativo e passivo claro e escuro verão e inverno etc As metades no símbolo embora estejam em tensão não são totalmente opostas complementamse e equilibram uma e outra No contexto da totalidade percebemos profunda harmonia pois um transformase constantemente no outro O símbolo meditado oferece compreensão da tensão harmoniosa na qual é inserida a vida humana e todas as coisas Yin e Yang são em resumo cf STVENSON 2002 p223 os princípios passivo e ativo do universo a interação entre os dois princípios perpétuo fluxo dá forma ao mundo em constante mutação 324 O WU WEY OU QUIETUDE CRIATIVA Wu Wei STEVENSON 2005 p229 é o princípio taoísta da ausência de esforços ou inércia Ao adotar o Wu Wey o sábio taoísta realiza coisas sem encontrar resistência SMITH 1997 p203205 ampliando o significado traduz por Quietude Criativa A quietude criativa combina na pessoa dois pares aparentemente opostos atividade suprema e supremo relaxamento As aparentes incompatibilidades navegam no ilimitado oceano do Tao A mente atenta observando o curso tal qual a corrente incessante de um rio respeita o fluxo das coisas Wu Wei não é inação como tal mas ação oportuna e espontânea que respeita o ritmo da vida incluída na totalidade cósmica No Ocidente e nos países sob influência ocidental comumente confundimos atividade com ativismo Realizamos tarefas após tarefas empenhamos energias nos desgastamos O sábio taoísta vencendo o eu superficial contatando o âmago da vida realiza esforços no momento oportuno presente mente e corpo nas ações Wu Wei SMITH 1997 p204 é ação suprema a preciosa maleabilidade simplicidade e liberdade que flui de nós ou melhor por nosso intermédio quando nosso ego e nossos esforços cedem lugar a um poder que não lhes pertence Ação oportuna respeita o fluxo aguarda o tempo propício e consequentemente é eficaz atinge propósitos benéficos à vida Ação que não é conquista mas amizade Por que escalar por exemplo o Monte Everest Para conquistálo Para o Taoísmo escalar o Monte Everest implica em respeitálo conhecêlo aprender a ser Nem é necessário chegar ao cume basta adquirir intimidade Eis lição importante em tempos de modernidade liquida e de tecnoburocracia a paciência em ser demorarse habitar o mundo e conferir sentido à existência é importante legado do Taoísmo 21 HCR 21 325 A Alegria dos Peixes e o Curso da Vida para meditarmos unindo mente e sentimentos O que o diálogopoema de Chuang Tzu com Hui Tzu nos oferece à compreensão do Curso da Vida segundo o ritmo do Tao e da Quietude criativa Sentir é Meditar A Alegria dos Peixes Chuang Tzu e Hui Tzu Atravessam o Rio Hao Pelo açude Disse Chuang Veja como os peixes Pulam e correm tão livremente Isto é a sua felicidade Responde Hui Desde que você não é um peixe Como sabe o que torna os peixes felizes Chuang respondeu Desde que você não é eu Como é possível que saiba Que eu não sei O que torna os peixes felizes Hui argumentou Se eu não sendo você Não posso saber o que você sabe Daí conclui que você Não sendo peixe Não pode saber o que eles sabem Disse Chuang Um momento Vamos retornar à pergunta primitiva O que você me perguntou foi Como você sabe O que faz os peixes felizes Dos termos da pergunta Você sabe evidentemente que eu sei O que torna os peixes felizes Conheço a alegria dos peixes No rio Através de minha própria alegria à medida Que vou caminhando à beira do mesmo rio MERTON Thomas A Via de Chuang Tzu Petrópolis Vozes 2021 p109110 xvii 13 Conclusão O milenar Taoísmo nos alcança em atualidade e nos desafia O ativismos cotidiano a pressa em responder demandas de sociedades comandadas por interesses mercantis disputas uso inescrupuloso de métodos para atingir objetivos questionáveis e até escusos nos torna ansiosos incapazes de lidar com sentimentos que perturbadores conduzindonos a malestar somático e à distúrbios mentais A fluidez das relações interpessoais a incapacidade de hierarquizar valores a inconstância dos objetivos de vida a ditadura das tecnoburocracias a aceleração virtual encontra no Taoísmo e nas Tradições do Oriente respostas antídoto propositivo Quem leu os módulos das Tradições Orientais com atenção refletindo sobre as perguntas e tentativas de respostas pensamos percebeu que a vida é dom compreendeu que a vida merece ser cultivada e compartilhada Seguir o curso meditar cuidar de si e dos outros vencer as aparentes e falaciosas oposições estabelecer relações profundas e vínculos verdadeiros com as outras pessoas educarse disciplinarse 22 HCR 22 acolher o outro exercer a quietude criativa do Wu Wei lições preciosas aptas a nos ajudar em tempos que apresentam inúmeros e complexos desafios APLICAÇÃO Ver e registrar os ensinamentos do Taoísmo conforme o vídeo que segue Taoísmo A Filosofia do Fluxo Link httpswwwyoutubecomwatchvJtGtqmC5wU4listPLd4BOnABZXtSsIiQNlohSStIf4BaQdsKindex1 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BHAGAVADGÎTÂ A Mensagem do Mestre São Paulo Editora Pensamento 2006 BOWKER Jhon Para entender as Religiões São Paulo Ática 2000 COOPER David As Filosofia do Mundo Uma Introdução Histórica São Paulo Loyola 2002 CONFÚCIO Os Analectos São Paulo UNESP 2012 DALAI LAMA Transformando a Mente São Paulo Martins Fontes 2000 O Sentido da Vida São Paulo Martins Fontes 2007 ELIADE Mircea YOGA Imortalidade e Liberdade São Paulo Palas Athena 2021 GRANET Marcel O Pensamento Chinês Rio de Janeiro Contraponto 2004 I CHING O Livro das Mutações Trad Richard Wilhelm Pref Carl Gustav Jung São Paulo Pensamento 2006 JUNG Carl Gustav Psicologia e Religião Oriental Petrópolis Vozes 1991 LE GALL Dom Robert e Lama Jigme Rinpoche O Monge e o Lama Diálogo entre o Budismo e o Cristianismo Bertrand Brasil 2003 LAOZI Dao De JING Tao Te King São Paulo Hedra 2007 MERTON Thomas A Via de Chuang Tzu Petrópolis Vozes 2016 A Experiência Interior São Paulo Martins Fontes 2007 Místicos e Mestres Zen São Paulo Martins Fontes 2006 SAMUEL Albert As Religiões Hoje São Paulo Paulus 1997 SEUNG SAHN Mestre Zen A Bússola do Zen Porto Alegre Bodigaya 2002 SMITH Huston As religiões do Mundo Nossas Grandes Tradições de Sabedoria São Paulo Cultrix 1997 STEVENSON Jay O mais completo Guia da Filosofia Oriental São Paulo ARX 2005 THICH NHAT HAHH Corpo e Mente em Harmonia Petrópolis Vozes 2009 Dois Tesouros Ensinamentos Budistas sobre a verdadeira Felicidade Petrópolis Vozes 2008 Jesus e Buda Irmãos Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2005 A Energia da Oração Petrópolis Vozes 2006 Os cinco treinamentos da Mente Alerta Petrópolis Vozes 2005 Caminhos para a Paz Interior Petrópolis Vozes 2005 Corpo e Mente em Harmonia Petrópolis Vozes 2009 ZIMMER Heinrich Filosofias da Índia São Paulo Pallas Athena 2005