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Psicologia Social

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Pensando Famílias 182 dez 2014 316 As Origens do Pensamento Sistêmico Das Partes para o Todo Lauren Beltrão Gomes1 Simone Dill Azeredo Bolze2 Rovana Kinas Bueno3 Maria Aparecida Crepaldi4 Resumo O Pensamento Sistêmico foi reformulado ao longo dos anos tendo sua base epistemológica modificada O presente artigo objetiva apresentar os aspectos históricos e epistemológicos que constituem o Pensamento Sistêmico entendendose que esta compreensão teórica é fundamental para a prática dos terapeutas sistêmicos nos mais diversos contextos Reforçamse as ideias de que pensar sistemicamente implica reconhecer o sujeito em seu contexto de que os fatos não são previsíveis e de que o terapeutapesquisador faz parte do sistema no qual intervémestuda Assim ao fazer uso do Pensamento Sistêmico o profissional amplia seu olhar sobre a situação questiona a problemática apresentada e trabalha com as pessoas envolvidas alternativas de modos mais funcionais de relacionamento Palavras chave pensamento sistêmico teoria sistêmica epistemologia The Origins of the Systemic Thinking From the parts to the whole Abstract The Systemic Thinking has been reformulated over the years and its epistemological basis has been modified This theoretical paper aims to present the historical and epistemological aspects of the Systems Thinking as well as this theoretical understanding is important for the practice of systemic therapists in various contexts The paper reinforces the idea that thinking systemically involves recognizing the person in a context that the facts are not predictable and that the therapistresearcher is part of the system in which heshe intervenes or studies Thus to make use of systems thinking the professional expands the vision of the situation questions the problematic presented and works more functional modes of relationship with other people involved Keywords systems thinking systems theory epistemology 1 Psicóloga Especialista em Saúde da Família Mestre em Psicologia Doutoranda em Psicologia Universidade Federal de Santa Catarina UFSC 2 Psicóloga Especialista em Terapia Individual Relacional Sistêmica Mestre em Psicologia Doutoranda em Psicologia Universidade Federal de Santa Catarina UFSC 3 Psicóloga Especialista em Terapia Individual Familiar e de Casal Mestre em Psicologia Doutoranda em Psicologia Universidade Federal de Santa Catarina UFSC 4 Psicóloga Mestre em Psicologia Clínica Doutora em Saúde Mental Docente do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC As Origens do Pensamento Sistêmica L Gomes S Bolze R Bueno M Crepaldi 4 Pensando Famílias 182 dez 2014 316 Introdução O Pensamento Sistêmico hoje disseminado nas diversas áreas do conhecimento ganhou um arcabouço teórico e reconhecimento na primeira metade do século XX Embora suas bases tenham sido formuladas entre as décadas de 30 e 40 o processo de mudança do paradigma mecanicista para o ecológico tem ocorrido de forma não linear há muitos séculos com retrocessos e avanços nos vários campos da ciência Quando se fala em Teoria ou Pensamento Sistêmico geralmente se conhece apenas seus principais conceitos e aplicabilidades de forma que seus fundamentos históricos e epistemológicos dificilmente são aprofundados nos artigos científicos Há quem não compreenda como as contribuições da Teoria da Comunicação Humana ou da Cibernética estão relacionadas com a Teoria Sistêmica Sendo assim este artigo objetiva apresentar os aspectos históricos e epistemológicos do Pensamento Sistêmico a fim ofertar subsídios que auxiliem a compreensão daqueles que têm interesse por estudar essa perspectiva bem como revisar os aspectos teóricos de quem trabalha com tal Teoria Para tanto será realizada inicialmente uma retomada histórica de acontecimentos que serviram como embriões para o desenvolvimento do Pensamento Sistêmico Nesse sentido a Teoria Geral dos Sistemas a Cibernética e a Teoria da Comunicação são apresentadas como limites paradigmáticos para a Teoria Sistêmica Em seguida serão apresentados os critérios fundamentais do Pensamento Sistêmico e por fim será evidenciada sua aplicabilidade na área da Psicologia Para essa retomada histórica e epistemológica serão utilizadas algumas das obras clássicas da área que descrevem as origens do pensamento sistêmico costumeiramente estudadas em cursos de formação de terapeutas sistêmicos quais sejam as publicações de Capra 2006 e Vasconcellos 2010 Precursores históricos do Pensamento Sistêmico A fim de tratar dos antecessores históricos da Teoria Sistêmica5 a presente sessão estará baseada na obra de Capra 2006 a qual remonta os momentos ao longo da história que influenciaram a formulação de movimentos que serviram como pilares de sustentação para o desenvolvimento do Pensamento Sistêmico O autor inicia sua jornada na Idade Antiga resgatando as ideias do filósofo grego Aristóteles o qual acreditava que a matéria continha a natureza essencial de todas as coisas de forma que a essência somente poderia se tornar real através da forma A visão de mundo como espiritual orgânico característica da filosofia aristotélica dominou o pensamento ocidental durante toda a Idade Média Foi apenas nos séculos XVI e XVII devido à revolução científica proporcionada pelas descobertas da Física Astronomia e Matemática que a visão medieval cedeu lugar ao entendimento de que o mundo seria como uma máquina regido por leis matemáticas exatas Este momento 5 Compreendese o Pensamento Sistêmico e a Teoria Sistêmica como distintos conforme será explicitado no decorrer do presente artigo Contudo para facilitar a compreensão a Teoria Sistêmica será considerada como sinônimo de Pensamento Sistêmico uma vez que foi a partir dela que o mesmo desenvolveuse As Origens do Pensamento Sistêmica L Gomes S Bolze R Bueno M Crepaldi 5 Pensando Famílias 182 dez 2014 316 chamado de Mecanicismo Cartesiano teve como seus representantes mais notáveis Galileu Galilei Copérnico René Descartes Francis Bacon e Isaac Newton O método analítico um dos símbolos dessa revolução foi criado por Descartes e consistia no pressuposto de que quebrando os fenômenos complexos em partes se poderia compreender o comportamento do todo a partir das propriedades das partes O Modelo Mecanicista teve sucesso em alguns experimentos tais como o de William Harvey por meio do qual foi possível explicar o fenômeno da circulação sanguínea Outros fisiologistas buscaram sem sucesso aplicar o mesmo modelo para compreender funções somáticas como a digestão e o metabolismo pois tais fenômenos envolviam processos químicos desconhecidos na época Somente no século XVIII Antoine Lavoisier precursor da Química Moderna confirma a importância dos processos químicos para o funcionamento dos organismos vivos por meio da descoberta de que a respiração é uma forma especial de oxidação A partir de então modelos mecanicistas simplistas foram sendo abandonados embora a essência da ideia cartesiana perdurasse Opondose ao mecanicismo cartesiano surge o Movimento Romântico que se estende desde o final do século XVIII até o término do XIX O retorno às ideais aristotélicas ocorreu em função das produções de poetas e filósofos românticos alemães como Immanuel Kant que voltaram a se concentrar na natureza da forma orgânica A figura central desse movimento foi Johann Wolfgang Von Goethe um dos primeiros a usar o termo morfologia para explicar o estudo da forma biológica a partir de um ponto de vista dinâmico A natureza teria uma forma móvel e seguiria um padrão de relações dentro de um grande todo organizado e harmonioso A preocupação básica dos biólogos tornouse o problema da forma biológica de modo que as questões referentes às composições materiais tornaramse secundárias Na segunda metade do século XIX o aperfeiçoamento do microscópio possibilita importantes avanços na Biologia resgatando o Pensamento Mecanicista Com a Teoria das Células o foco dos biólogos foi deslocado do organismo em direção às células Neste contexto Louis Pasteur lança sua Teoria Microbiana de acordo com a qual as bactérias seriam a única causa das doenças Embora a biologia celular tivesse avançado muito na compreensão das estruturas e das funções de muitas das subunidades ainda não era possível explicar as atividades coordenadoras que integram essas operações no funcionamento da célula como um todo Tal compreensão se tornou possível apenas no século XX no qual surge a Biologia Organísmica ou Organicismo como um movimento de oposição ao Mecanicismo e que se delineia como forte influência na construção do Pensamento Sistêmico As ideias de Aristóteles Goethe Kant e Cuvier são aprimoradas e causam grande impacto negando pensamentos estruturais do Mecanicismo Cartesiano tais como o método analítico Segundo a concepção Organísmica as propriedades essenciais de um organismo pertencem ao todo de maneira que nenhuma das partes as possuem pois tais propriedades surgem justamente das interações entre as partes Portanto as propriedades das partes podem ser entendidas apenas a partir da organização do todo O Organicismo coloca o foco no entendimento das relações organizadoras sendo que a concepção de organização foi aperfeiçoada posteriormente com o conceito de autoorganização As Origens do Pensamento Sistêmica L Gomes S Bolze R Bueno M Crepaldi 6 Pensando Famílias 182 dez 2014 316 A Ecologia uma das vertentes do Pensamento Sistêmico emerge da Escola Organísmica da Biologia quando biólogos começaram a estudar comunidades de organismos O foco estava colocado no estudo das relações que interligam os organismos A concepção de ecossistema moldou todo o pensamento ecológico a partir de então e promoveu uma abordagem sistêmica da ecologia A compreensão dos sistemas vivos como redes oferece uma nova perspectiva acerca das chamadas hierarquias da natureza Neste sentido de acordo com Capra 2006 não existe hierarquia na natureza e sim redes que se formam dentro de outras redes Paralelamente ao nascimento da Ecologia surge a Física Quântica formulada Werner Heisenberg na década de 1920 que contraria o pensamento newtoniano predominante até então segundo o qual todos os fenômenos físicos poderiam ser reduzidos às propriedades de partículas materiais rígidas e sólidas Tal teoria demonstra que os objetos materiais sólidos da física clássica se dissolvem no nível subatômico em padrões de probabilidades semelhantes a ondas Tais padrões não representam probabilidade de coisas e sim probabilidades de interconexões As partículas subatômicas não são coisas são interconexões entre coisas que por sua vez são interconexões entre outras coisas Portanto não se pode decompor o mundo em unidades elementares que existem de forma independente estas só podem ser entendidas nas interrelações Sendo assim é o todo que determina o comportamento das partes Ainda na década de 1920 durante a República de Weimar na Alemanha quando a tendência intelectual era negar a fragmentação e o mecanicismo buscando a totalidade surge a Psicologia da Gestalt Psicólogos liderados por Max Wertheimer e Wolfgang Köhler reconhecem a existência de totalidades irredutíveis como aspecto chave da percepção afirmando que totalidades exibem qualidades que estão ausentes em suas partes O filósofo Christian Von Ehrenfels afirma que o todo é maior do que a soma das partes princípio este que se tornou central na Teoria Sistêmica Uma década mais tarde o biólogo austríaco Ludwig Von Bertalanffy apresenta a Teoria Geral dos Sistemas e em 1940 e o matemático norteamericano Norbert Wiener inicia a elaboração da Cibernética Ambas as teorias tiveram desenvolvimento paralelo no século XX e configuram os limites paradigmáticos para a Teoria Sistêmica em conjunto com a influência da Teoria da Comunicação Humana criada por Gregory Bateson e Paul Watzlawick A seguir tratarseá de cada uma das teorias supracitadas A Teoria Geral dos Sistemas considerações históricas e conceituais Desde a década de 1920 quando inicia sua carreira como biólogo em Viena Ludwig Von Bertalanffy critica a predominância do enfoque mecanicista tanto na teoria quanto na pesquisa científica Em 1925 ele publica suas ideias em alemão e em 1930 lança alguns artigos na Inglaterra Na década seguinte o autor apresenta sua teoria do organismo considerado como sistema aberto Em meio ao contexto da Segunda Guerra Mundial as ideias de Bertalanffy não foram bem aceitas em um primeiro momento O biólogo conhece então a Teoria da Cibernética que florescia nos Estados Unidos e passa a ser influenciado por ela Em 1960 Bertalanffy começa a ministrar conferências nos Estados Unidos e em 1967 e 1968 publica a Teoria Geral dos Sistemas por meio de uma editora As Origens do Pensamento Sistêmica L Gomes S Bolze R Bueno M Crepaldi 7 Pensando Famílias 182 dez 2014 316 canadense e em função da maior propagação de suas ideias que passam a estar disponíveis em língua inglesa a Teoria ganha visibilidade Vasconcellos 2010 A Teoria Geral dos Sistemas também é conhecida por Teoria Sistêmica Contudo elas são diferentes visto que a Teoria Geral dos Sistemas é mais ampla e abarca todas as áreas do conhecimento Física Química entre outras Já a Teoria Sistêmica está mais voltada para a área da Psicologia Para fins práticos elas serão utilizadas como sinônimos o que não se mostra errôneo mas fazse essa ressalva para fins didáticos e de esclarecimento Costa 2010 Assinalase que em 1912 o pesquisador médico filósofo e economista russo Alexander Bogdanov também desenvolveu uma teoria que se assemelha à Teoria Geral dos Sistemas a qual deu o nome de Tectologia O principal objetivo era esclarecer e generalizar os princípios de organização de todas as estruturas vivas e não vivas e formular uma ciência universal da organização Mesmo que tal teoria seja anterior a Teoria Geral dos Sistemas e que em 1928 tenha sido publicada uma segunda edição elaborada em alemão Bertalanffy não faz referências a Bogdanov em seus livros Capra 2006 Bertalanffy confere importância ao Pensamento Sistêmico como um movimento científico por meio de suas concepções de sistema aberto e de sua Teoria Geral dos Sistemas De acordo com o autor organismos vivos são sistemas abertos que não podem ser descritos pela termodinâmica clássica que trata de sistemas fechados em estado de equilíbrio térmico ou próximo dele Os sistemas abertos podem se alimentar de um contínuo fluxo de matéria e de energia extraídas e devolvidas ao meio ambiente Mantêmse portanto afastados do equilíbrio em um estado quase estacionário ou em equilíbrio dinâmico Capra 2006 O objetivo da Teoria Geral dos Sistemas se constituía em estudar os princípios universais aplicáveis aos sistemas em geral sejam eles de natureza física biológica ou sociológica Bertalanffy conceitua sistema como um complexo de elementos em estado de interação A interação ou a relação entre os componentes torna os elementos mutuamente interdependentes e caracteriza o sistema diferenciandoo do aglomerado de partes independentes Vasconcellos 2010 A Teoria Geral dos Sistemas combina conceitos do Pensamento Sistêmico e da Biologia Costa 2010 incidindo na generalização do Modelo Organicista ou seja na noção de que o universo pode ser pensado como um grande organismo vivo Pinheiro Crepaldi Cruz 2012 Assim pressupõemse que os fenômenos não podem ser considerados isoladamente e sim como parte de um todo Sendo assim o todo emerge além da existência das partes e as relações são o que dá coesão ao sistema todo conferindolhe um caráter de totalidade ou globalidade uma das características definidoras do sistema Vasconcellos 2008 p199 Os conceitos básicos de sua teoria são globalidade nãosomatividade homeostase morfogênese circularidade e equifinalidade Vasconcellos 2010 Segue abaixo uma breve descrição de cada um desses conceitos De acordo com a globalidade todos os sistemas funcionam como um todo coeso e mudanças em uma das partes provocam mudanças no todo O conceito de nãosomatividade afirma que o sistema não é a soma das partes devendose considerar o todo em sua complexidade e organização assim embora o indivíduo faça parte da família ele mantém sua individualidade A homeostase é o processo de autorregulação que mantém a estabilidade do sistema preservando seu As Origens do Pensamento Sistêmica L Gomes S Bolze R Bueno M Crepaldi 8 Pensando Famílias 182 dez 2014 316 funcionamento A morfogênese é o processo oposto a homeostase ou seja é a característica dos sistemas abertos de absorver os aspectos externos do meio e mudar sua organização A circularidade também chamada de causalidade circular bilateralidade ou nãounilateralidade diz respeito à relação bilateral entre elementos sendo que esta relação é não linear e obedece a uma sequência circular O último conceito equifinalidade refere que em um sistema aberto o resultado de seu funcionamento independe do ponto de partida ou seja o equilíbrio é determinado pelos parâmetros do sistema diferentes condições iniciais geram igualdade de resultados e diferentes resultados podem ser gerados por diferentes condições iniciais Desta forma nos sistemas fechados o estado de equilíbrio é dado pelas condições iniciais Barcellos Moré 2007 Osorio 2002 Vasconcellos 2010 A Teoria Geral dos Sistemas também fez uso do conceito de retroalimentação ou feedback que emergiu na cibernética como será ressaltado adiante o qual garante a circulação de informações entre elementos do sistema A retroalimentação pode ser negativa o que acontece quando esse mantém a homeostase ou positiva ocorre quando o sistema responde pela mudança sistêmica morfogênese Vasconcellos 2010 Além desses conceitos Bertalanffy dedicouse a investigar os princípios básicos interdisciplinares que pudessem constituir uma teoria interdisciplinar Apontou para a necessidade de categorias mais amplas de pensamento científico de forma que a Sociologia e a Biologia também pudessem ser abarcadas por uma ciência mais rigorosa além da Física e da Química O autor não queria se afastar do referencial da ciência tradicional e por isso mantevese preso ao pressuposto de objetividade Ele acreditava em um mundo hierarquicamente organizado em uma realidade independente do observador Capra 2006 De acordo com Bertalanffy uma Teoria Geral dos Sistemas ofereceria um arcabouço conceitual abrangente capaz de unificar várias disciplinas científicas que naquele momento estavam isoladas e fragmentadas Propõe portanto uma ciência da totalidade da integridade ou de entidades totalitárias O autor busca uma síntese do conhecimento sem eliminar as diferenças por meio de um esquema claro e consistente de conceitos uma teoria unitária em torno de conceitos de sistema e organização O foco é deslocado da constituição das entidades para a organização dos sistemas e para o conceito de interação Grandesso 2000 A interação gera realimentações feedbacks que podem ser positivas ou negativas criando assim uma autorregulação regenerativa que por sua vez cria novas propriedades as quais podem ser benéficas ou maléficas para o todo independente das partes A interação dos elementos do sistema é chamada de sinergia Por outro lado a entropia é a desordem ou ausência de sinergia Um sistema pára de funcionar adequadamente quando ocorre entropia interna Os sistemas orgânicos em que as alterações benéficas são absorvidas e aproveitadas sobrevivem e os sistemas onde as qualidades maléficas ao todo resultam em dificuldade de sobrevivência tendem a desaparecer caso não haja outra alteração de contrabalanço que neutralize aquela primeira mutação Assim de acordo com Bertalanffy a mudança permanece ininterrupta enquanto os sistemas se autorregulam e se retroalimentam Vasconcellos 2010 Um sistema realimentado é necessariamente um sistema dinâmico já que deve haver uma As Origens do Pensamento Sistêmica L Gomes S Bolze R Bueno M Crepaldi 9 Pensando Famílias 182 dez 2014 316 causalidade implícita Em um ciclo de retroação uma saída é capaz de alterar a entrada que a gerou e consequentemente a si própria Se o sistema fosse instantâneo essa alteração implicaria uma desigualdade Portanto em uma malha de realimentação deve haver certo retardo na resposta dinâmica Esse retardo ocorre devido a uma tendência do sistema de manter o estado atual mesmo com variações bruscas na entrada isto é ele deve possuir uma tendência de resistência a mudanças Assim uma organização realimentada e autogerenciada gera um sistema cujo funcionamento é independente da substância concreta dos elementos que a formam Dessa forma elementos podem ser substituídos sem dano ao todo o que caracteriza o processo de autorregulação no qual o todo assume as tarefas da parte que falhou Vasconcellos 2010 Na década de 1940 aportes teóricos se articularam à Teoria Geral dos Sistemas quais sejam a Cibernética e a Teoria da Comunicação Embora Osório 2002 afirme que a Teoria dos Jogos também influenciou a Teoria Geral dos Sistemas optouse aqui por tratar exclusivamente da Cibernética e da Teoria da Comunicação visto apenas estas são referenciadas nas obras como fundantes da Teoria Geral dos Sistemas A Cibernética A Teoria da Cibernética foi desenvolvida pelo matemático americano e professor do Massachussets Institute of Technology MIT Norbert Wiener 18941964 No início da década de 1940 Wiener participava de reuniões vinculadas à escola de Medicina de Harvard nas quais se discutia o método científico Estas reuniões tinham uma proposta interdisciplinar pois participavam professores e pesquisadores de diversas áreas que se interessavam pelo tema Assim Wiener conheceu Walter Cannon e Arturo Rosenblueth fisiologistas com os quais iniciou discussões que deram início ao pensamento que originou a Cibernética Vasconcellos 2010 Naquela época o mundo vivia a Segunda Guerra Mundial e os Estados Unidos começou a financiar pesquisas que pudessem contribuir para a melhoria das máquinas de guerra Com isso Wiener em parceria com Rosenblueth e com o engenheiro eletrônico Julian Bigelow criou um projeto que aprimorou a artilharia antiaérea Wierner desenvolveu programas e máquinas computadoras que tinham conexão com o sistema nervoso humano A ideia de Wierner e dos pesquisadores com quem trabalhava era de projetar máquinas que tivessem performance de funções humanas Nas pesquisas realizadas para a execução do projeto Wiener e Bigelow criaram o conceito de feedback também chamado de realimentação ou retroação como já mencionado anteriormente o qual foi desenvolvido para explicar de que forma podese corrigir desvios a máquinas computadorizadas os quais eram essenciais para a guerra e se fazia analogia entre o funcionamento do sistema nervoso e o funcionamento das máquinas de computação Vasconcellos 2010 Em 1944 houve um encontro em Princenton para discutir Cibernética do qual participaram engenheiros projetistas de máquinas computadorizadas fisiologistas neurocientistas e matemáticos Em 1946 acontece a 1a Conferência Macy em Nova Iorque a qual teve como tema Feedback e que contou com a presença dos pesquisadores acima citados e de psicólogos antropólogos economistas e especialistas na Teoria dos Jogos O encontro pretendia reunir cientistas que pudessem ajudar na As Origens do Pensamento Sistêmica L Gomes S Bolze R Bueno M Crepaldi 10 Pensando Famílias 182 dez 2014 316 compreensão do sistema nervoso comunidades sociais e meios de comunicação Nos anos subsequentes houve várias conferências Macy e podese afirmar que o arcabouço teórico da Cibernética foi construído nestes encontros A partir dessas reuniões a área foi reconhecida por inúmeras realizações tecnológicas tais como aparelho que permite aos cegos a leitura auditiva de um texto impresso computadores ultrarrápidos próteses para membros perdidos máquinas artificiais com performances altamente elaboradas pulmão artificial máquina de jogar xadrez aparelho auditivo para deficientes auditivos máquinas para atuarem em situações em que o trabalho implica risco para o homem dentre outras invenções Vasconcellos 2010 Desta forma no final de década de 1940 Wierner escreveu sobre a Teoria da Cibernética também chamada de Ciência da Correção O termo Cibernética originase da palavra grega kybernetes que significa piloto condutor Desta forma tal teoria apresenta uma tendência mecanicista por sua associação com máquinas ou sistemas artificiais A preocupação do autor era com a construção de sistemas que reproduzissem os mecanismos de funcionamento de sistemas vivos isto é ele propôs a construção dos chamados autômatos simuladores de vida ou máquinas Cibernéticas Vasconcellos 2010 Para Wiener o propósito da Cibernética era o de desenvolver uma linguagem e técnicas que permitissem abordar o problema da comunicação e do controle em geral Portanto considerava que a mensagem era o elemento central tanto na comunicação quanto no controle ou seja quando nos comunicamos enviamos uma mensagem e da mesma forma quando comandamos A mensagem pode ser transmitida por meios elétricos mecânicos ou nervosos e é considerada uma sequência de eventos mensuráveis distribuídos no tempo Vasconcellos 2010 Por esta razão o antropólogo Gregory Bateson que também participava das conferências Macy desenvolve a Teoria da Comunicação que contribui de forma significativa para a melhoria das máquinas Cibernéticas A Teoria da Cibernética dividese em Cibernética de 1a ordem e de 2a ordem A Cibernética de 1a ordem se subdivide em 1a e 2a Cibernética A 1a Cibernética trata dos processos morfoestáticos manutenção da mesma forma resultantes da retroalimentação negativa ou retroação autorreguladora a qual conduz o sistema de volta a seu estado de equilíbrio homeostático otimizando a obtenção da meta Assim trata da capacidade de autoestabilização ou de automanutenção do sistema Vasconcellos 2010 Apresenta conceitos de input e output enfatiza a presença do observador fora do sistema e como expert objetividade e a compreensão dos fenômenos ainda está arraigada à causalidade linear estabilidade Assim nesta 1ª Cibernética emerge o pressuposto da complexidade que reconhece que a simplificação obscurece as interrelações e portanto buscase contextualizar os fenômenos e explorar os sistemas dos sistemas entendendo que não há uma causalidade linear e sim circular Vasconcellos 2010 Já a 2a Cibernética trata dos processos morfogenéticos gênese de novas formas resultantes de retroalimentação positiva ou retroação amplificadora de desvios amplificação que pode caso não produza a destruição do sistema e se a estrutura do mesmo permitir promover sua transformação levandoo a um novo regime de funcionamento Trata da capacidade de automudança do sistema Vasconcellos 2010 Os conceitos de input e output persistem mas aparece o conceito de feedback criado por Wiener e Bigelow como já mencionado anteriormente e de causalidade circular retroativa As Origens do Pensamento Sistêmica L Gomes S Bolze R Bueno M Crepaldi 11 Pensando Famílias 182 dez 2014 316 e recursiva Assim aqui tem origem o pressuposto da instabilidade o qual baseiase na noção do mundo como em um processo de constante transformação no qual há a indeterminação e por isso alguns fenômenos são imprevisíveis e irreversíveis e portanto incontroláveis Vasconcellos 2010 A Cibernética de 2ª ordem também é chamada de SiCibernética porque Edgar Morin propôs um movimento que ultrapassasse a Cibernética a SiCibernética O prefixo si é o elemento da preposição grega sun que significa estar junto o que marca a obrigação recíproca entre as partes O físico Heinz Von Foster é considerado uma figura central para o desenvolvimento da Si Cibernética Ele é responsável pela noção de sistemas observantes de acordo com o qual o observador incluindose no sistema que observa se observa observando Vasconcellos 2010 A partir da noção de sistemas observantes a Cibernética tomou a si mesma como objeto de estudo e surgiu então a Cibernética de 2ª ordem também chamada de construtivismo ou visão construtivista pois pressupõe o observador como parte do sistema observado Osorio 2002 Vasconcellos 2010 Então a Cibernética de 2a ordem também chamada de Cibernética da Cibernética ou Cibernética novoparadigmática apresenta os três pressupostos da ciência novoparadigmática quais sejam complexidade instabilidade e intersubjetividade A noção de complexidade está ligada a sistemas ecossistemas causalidade circular recursividade contradições e pensamento complexo A ideia de instabilidade está relacionada à desordem evolução imprevisibilidade saltos qualitativos autoorganização e incontrolabilidade O pressuposto da intersubjetividade envolve a inclusão do observador autorreferência significação da experiência na conversação e coconstrução Vasconcellos 2010 A articulação dos desenvolvimentos da Cibernética que fazem emergir a SiCibernética mudou os pressupostos epistemológicos da ciência tradicional simplicidade instabilidade e objetividade exigindo uma reorganização dos conceitos anteriormente elaborados Barcellos Moré 2007 Fala se então em Pensamento Sistêmico o qual também é chamado de epistemologia sistêmica de novo paradigma da ciência ou paradigma da ciência contemporânea ou ainda de epistemologia da ciência novoparadigmática Vasconcellos 2010 Todavia nem tudo o que é sistêmico e nem tudo o que se apresenta como Teoria Sistêmica ou Pensamento Sistêmico pode ser reconhecido como sendo da epistemologia da ciência novoparadigmática para que seja novoparadigmático é necessário que tenha os três pressupostos mencionados acima quais sejam complexidade instabilidade e intersubjetividade A Teoria da Comunicação Gregory Bateson 19041980 antropólogo inglês se utilizou das teorias acima citadas para desenvolver a Teoria da Comunicação O autor junto com seus colaboradores de Palo Alto Califórnia descreveu a comunicação patogênica na família do esquizofrênico e apresentou a hipótese do duplo vínculo ou seja uma forma de comunicação paradoxal que tem profundas implicações nas relações interpessoais Bateson fazia uso de analogias metáforas e histórias por acreditar que esses recursos eram um caminho para o estudo das relações Osório 2002 O processo de comunicação humana abrange uma complexidade de fatores tais como As Origens do Pensamento Sistêmica L Gomes S Bolze R Bueno M Crepaldi 12 Pensando Famílias 182 dez 2014 316 conteúdo forma e linguagem os quais estão sempre presentes nos processos interrelacionais A Teoria da Comunicação humana na sua origem engloba três dimensões a sintaxe a semântica e a pragmática A sintaxe se refere à transmissão da informação a semântica está relacionada ao significado dos símbolos e a pragmática diz respeito aos aspectos comportamentais da comunicação A teoria também apresenta o conceito da metacomunicação comunicação sobre a comunicação e o uso de mensagens congruentes ou incongruentes Watzlawick Beavin Jackson 1973 Segundo Watzlawick et al 1973 invariavelmente as pessoas enviam e recebem uma diversidade de mensagens sejam elas pelos canais verbais ou não verbais e as mesmas necessariamente modificam ou afetam umas às outras Quando duas pessoas interagem constantemente reforçam e estimulam o que está sendo dito ou feito de tal forma que o padrão de comunicação entre os participantes de uma interação define o relacionamento entre eles Percebese assim que a importância das mensagens não está vinculada somente à questão de comunicar algo mas também e especialmente à influência que ela exerce no comportamento e nas atitudes das pessoas em interação Nieweglowski More 2008 A Teoria da Pragmática da Comunicação Humana afirma que a comunicação afeta o comportamento ocasionando implicações nas relações interpessoais De acordo com Watzlawick et al 1973 atividade ou inatividade palavras ou silêncio tudo possui valor de mensagem influencia os outros e estes outros que por sua vez não podem não responder a essas comunicações estão portanto comunicando também p 45 Além disso Bateson e Watzlawick preconizaram que a teoria também abarca os cinco axiomas que são 1 É impossível não comunicar 2 Toda comunicação tem aspecto de relato conteúdo e de ordem relação 3 A natureza de uma relação está na contingência da pontuação das sequências comunicacionais entre os comunicantes cada comportamento é causa e efeito do outro 4 Os seres humanos se comunicam de maneira digital comunicação verbal e analógica comunicação não verbal e 5 Todas as permutas comunicacionais ou são simétricas ou complementares e estão baseadas na igualdade ou na diferença Watzlawick et al 1973 Bateson concebeu um conceito novo e radical de mente capaz de superar a visão cartesiana Mente é um fenômeno sistêmico característico dos seres vivos uma característica relacional A mente não está no cérebro e sim nas relações Também nega a objetividade da realidade quando afirma que o observador traz a marca de quem observa Não existe portanto uma realidade objetiva independente do observador Vasconcellos 2010 conforme já explicitado no pressuposto da intersubjetividade A compreensão dos padrões comunicacionais que possibilitam ou dificultam as relações são de suma importância para aqueles que trabalham dentro do paradigma sistêmico A seguir serão destacados os principais requisitos para a formulação do Pensamento Sistêmico Critérios fundamentais do Pensamento Sistêmico A palavra sistema deriva do grego synhistanai que significa colocar junto O entendimento sistêmico requer uma compreensão dentro de um contexto de forma a estabelecer a natureza das As Origens do Pensamento Sistêmica L Gomes S Bolze R Bueno M Crepaldi 13 Pensando Famílias 182 dez 2014 316 relações A principal característica da organização dos organismos vivos é a natureza hierárquica ou seja a tendência para formar estruturas multiniveladas de sistemas dentro de sistemas Cada um dos sistemas forma um todo com relação as suas partes e também é parte de um todo A existência de diferentes níveis de complexidade com diferentes tipos de leis operando em cada nível forma a concepção de complexidade organizada Vasconcellos 2010 O primeiro dos critérios fundamentais do Pensamento Sistêmico se refere à mudança das partes para o todo a partir do entendimento de que as propriedades essenciais são do todo de forma que nenhuma das partes as possui pois estas surgem justamente das relações de organização entre as partes para formar o todo Outro critério diz respeito à capacidade de deslocar a atenção de um lado para o outro entre níveis sistêmicos Vasconcellos 2010 O pensamento é contextual pois a análise das propriedades das partes não explica o todo É ambientalista porque considera o contexto A ênfase está nas relações e não nos objetos ou seja os próprios objetos são redes de relações embutidas em redes maiores O mundo vivo é entendido como uma rede de relações O conhecimento científico é tido como uma rede de concepções e de modelos sem fundamentos firmes e sem que um deles seja mais importante do que outros O mundo material é visto como uma teia dinâmica de eventos interrelacionados Vasconcellos 2010 Por fim o último critério se refere à mudança da ciência objetiva para a epistêmica o método de questionamento tornase parte integral das teorias científicas A compreensão do processo de conhecimento precisa ser explicitamente incluída na descrição dos fenômenos naturais de forma que tais descrições não são objetivas Capra 2006 Grandesso 2000 Vasconcellos 2010 A prática sistêmica no campo da Psicologia Fundamentada na Teoria Geral dos Sistemas proposta por Bertalanffy na Cibernética de Wiener e na Teoria da Comunicação formulada por Bateson e Watzlawick surge a prática sistêmica Capra destaca que com o forte apoio subsequente vindo da Cibernética as concepções de Pensamento Sistêmico e de Teoria Sistêmica tornaramse partes integrais da linguagem científica estabelecida e levaram a numerosas metodologias e aplicações novas 1996 p 53 Atualmente as áreas de aplicação do Pensamento Sistêmico são planejamento e avaliação educação negócios e administração saúde pública sociologia ciências da terra desenvolvimento humano ciências cognitivas dentre outras Cabrera Colosi Lobdell 2008 No campo da Psicologia Clínica até a década de 1940 a prática terapêutica era orientada pela Psicanálise e a ideia hegemônica era a de que o comportamento humano era regido por forças intrapsíquicas Como consequência da Segunda Guerra Mundial houve um movimento de união das famílias e tornaramse mais fortes as críticas à Psicanálise por não dar a ênfase necessária aos contextos ambientais A Teoria Sistêmica passa a ganhar força trazendo a proposta de mudança no foco das teorias clínicas do indivíduo para os sistemas humanos ou seja do intrapsíquico para o interrelacional Dessa forma nas décadas de 50 e 60 ocorre um movimento de combinação entre abordagens já consolidadas tais como a psicanalítica e novos conceitos baseados na Teoria dos Sistemas na Cibernética e na Teoria da Comunicação Desta combinação nasce uma nova As Origens do Pensamento Sistêmica L Gomes S Bolze R Bueno M Crepaldi 14 Pensando Famílias 182 dez 2014 316 perspectiva sobre a complexidade e reciprocidade do comportamento humano e seu desenvolvimento dentro da rede de relações e da cultura da comunicação dentro da família Kreppner 2003 p 202 De acordo com a Perspectiva Sistêmica os sistemas devem ser vistos como estruturas organizadas hierarquicamente que precisam ser analisadas em sua totalidade desde os aspectos macro como a ordem social passando por níveis intermediários como as culturas das comunidades locais até atingir um nível mais proximal ou de microanálise como as escolas e a família Sifuentes Dessen Oliveira 2007 Conforme Grandesso 2000 a mudança de foco do intrapsíquico para o interrelacional representou uma transformação paradigmática à medida que passou a configurar outro sistema de pressupostos para informar a concepção dos problemas humanos e das práticas da Psicologia A ênfase passa a ser dada aos contextos e formulase a postulação de uma causalidade circular retroativa e recursiva para os fenômenos o que favoreceu a abertura do campo da psicoterapia para a interdisciplinaridade e ampliou as fronteiras para a compreensão da pessoa humana para além do psicológico O Pensamento Sistêmico passa a ser o substrato de propostas de intervenção para a clínica de família Dessen 2010 ressalta a relevante contribuição da Teoria Sistêmica da família a partir da segunda metade do século XX visto que trouxe um novo olhar para o contexto familiar A adoção da Perspectiva Sistêmica implica em entender a família como um sistema complexo composto por vários subsistemas que se influenciam mutuamente tais como o conjugal e o parental Kreppner 2000 O estudo de Costa 2010 destaca brevemente os momentos cruciais da construção teórico metodológica que caracterizaram o início da Terapia de Família e marcaram seu desenvolvimento A autora também apresenta as diferentes Escolas de Terapia Familiar desde aquelas fortemente influenciadas pela Cibernética até aquelas que assimilaram as contribuições do Construtivismo e do Construcionismo Social Böing Crepaldi e Moré 2009 abordam os benefícios da adoção da epistemologia sistêmica pelos profissionais de saúde pois a compreensão da complexidade do processo saúdedoença leva os a reconhecer a necessidade da atuação interdisciplinar para a construção efetiva de atenção integral à saúde em conformidade com os princípios fundamentais do Sistema Único de Saúde De acordo com as autoras o Pensamento Sistêmico pode funcionar como uma base para o profissional refletir flexibilizar e contextualizar suas práticas possibilitando que as mesmas respondam de forma eficiente às demandas da atenção básica Nesse sentido pensar sistemicamente transcende a atuação profissional enriquece e amplia a visão e a atuação como cidadãos o que possibilita a reflexão e o diálogo em torno dos problemas sociais e comunitários de modo mais abrangente e contextualizado Moré Macedo 2006 Böing et al 2009 ressaltam que na área da saúde a escuta psicológica de acordo com a Perspectiva Sistêmica é considerada uma estratégia para considerar seres humanos em contextos de forma que as ações sempre partam do contexto e sejam dirigidas para o contexto O profissional de Psicologia nesse cenário desempenha um papel de mediador e catalisador das potencialidades e dos recursos tanto das pessoas em si como da comunidade na satisfação das necessidades e na melhora da qualidade de vida O psicólogo juntamente aos demais profissionais da equipe de saúde coordena ações que levem à ampliação da situação apresentada criem contextos de autonomia e As Origens do Pensamento Sistêmica L Gomes S Bolze R Bueno M Crepaldi 15 Pensando Famílias 182 dez 2014 316 favoreçam a mudança Moré Macedo 2006 Vasconcellos 2008 O Pensamento Sistêmico pode ser utilizado em qualquer contexto como em situações de mediação familiar em ambiente jurídico Bueno Leal Souza 2012 Nesse contexto o embasamento sistêmico se mostra útil para pensar as famílias e os casais cujo processo de separação conjugal litigioso foi o motivo do encaminhamento Ao compreender essas famílias como sistemas ampliase o olhar sobre as mesmas corresponsabilizase os membros da família pelo modo de relacionamento estabelecido e questionase a problemática apresentada explorando o que está por trás do conflito Realizar intervenções de modo a modificar os padrões de interação disfuncionais tem se mostrado benéfico pois ao desenvolver formas de relacionamento mais funcionais o sistema se mostra mais saudável Considerações finais A Teoria Sistêmica recebeu influência da Cibernética e da Teoria da Comunicação Humana em termos gerais da primeira tomou os conceitos de feedback homeostase e causalidade circular retroativa e recursiva e da segunda utilizou os axiomas da comunicação A compreensão histórica e conceitual acerca do processo de construção do Pensamento Sistêmico bem como de suas bases estruturantes é imprescindível pois toda prática está ou deveria estar articulada à compreensão teórica do fenômeno de estudo ou intervenção Desse modo ao fazer uso do Pensamento Sistêmico entendese que a ciência não pode fornecer uma compreensão completa e definitiva pois sempre se lida com descrições limitadas e aproximadas da realidade Tal forma de compreender o mundo e as relações pode ser usada em diversos contextos e em várias áreas do saber Dentro da Psicologia o Pensamento Sistêmico pode ser utilizado tanto para o embasamento teórico de pesquisas quanto na intervenção clínica com indivíduos famílias e grupos sociais Pensar sistemicamente embasandose na ciência novo paradigmática implica reconhecer o sujeito no seu contexto o terapeuta ou pesquisador se inclui no sistema no qual intervém ou que estuda entendendo que a realidade não é estática e nem presumível Assim pensar sistemicamente não significa negar os fenômenos intrapsíquicos e sim buscar compreender e trabalhar os fenômenos psíquicos de uma complexa rede de relações interpessoais Referências Barcellos W B E Moré C L O O 2007 Profissionais trabalhando com famílias em situação de violência intrafamiliar Como a abordagem sistêmica pode ajudar Resumo expandido Ciência Cuidado e Saúde 61 Böing E Crepaldi M A Moré C L O O 2009 A epistemologia sistêmica como substrato à atuação do psicólogo na atenção básica Psicologia Ciência e Profissão 294 828845 Bueno R K Leal C F R Souza S A de 2012 Mediação na Defensoria Pública Um relato de experiência Revista Pensando Famílias 161 249258 Cabrera D Colosi L Lobdell C 2008 Systems thinking Evaluation and Program Planning As Origens do Pensamento Sistêmica L Gomes S Bolze R Bueno M Crepaldi 16 Pensando Famílias 182 dez 2014 316 313 299310 doi httpdxdoiorg101016jevalprogplan200712001 Capra F 2006 A teia da vida Uma nova compreensão científica dos sistemas vivos São Paulo Cultrix Costa L F 2010 A perspectiva sistêmica para a clínica da família Psicologia Teoria e Pesquisa 26 95104 Dessen M A 2010 Estudando a família em desenvolvimento Desafios conceituais e teóricos Psicologia Ciência e Profissão 30núm esp 202219 Grandesso M A 2000 Sobre a reconstrução do significado Uma análise epistemológica e hermenêutica da prática clínica São Paulo Casa do Psicólogo Kreppner K 2000 The child and the family Interdependence in developmental pathways Psicologia Teoria e Pesquisa16 1122 Kreppner K 2003 Social relations and affective development in the first two years in family contexts In J Valsiner K J Connolly Eds Handbook of developmental psychology pp 194 214 Londres Sage Moré C L O O Macedo R M S 2006 A psicologia na comunidade Uma proposta de intervenção São Paulo Casa do Psicólogo Nieweglowski V H Moré C L O O 2008 Comunicação equipefamília em unidade de terapia intensiva pediátrica Impacto no processo de hospitalização Estudos de Psicologia Campinas 251 111122 Osorio L C 2002 Teoria sistêmica e da comunicação humana In L C Osorio M E do Valle Eds Terapia de famílias Novas tendências Porto Alegre Artmed Pinheiro I R Crepaldi M A Cruz R M 2012 Entendeu ou quer que eu desenhe Transições familiares através da visão sistêmica Fractal Revista de Psicologia 241 175192 Sifuentes T R Dessen M A Oliveira M C S L 2007 Desenvolvimento humano Desafios para a compreensão das trajetórias probabilísticas Psicologia Teoria e Pesquisa 234 379386 Vasconcellos M J E de 2010 Pensamento sistêmico O novo paradigma da ciência 9ª ed Campinas Papirus Watzlawick P Beavin J H Jackson D 1973 Pragmática da comunicação humana Um estudo dos padrões patologias e paradoxos da interação 9ª ed São Paulo Cultrix Endereço para correspondência Email Lauren Beltrão Gomes laurenbeltraoyahoocombr Email Simone Dill Azeredo Bolze simoneazeredoyahoocombr Email Rovana Kinas Bueno rovanakgmailcom Email Maria Aparecida Crepaldi mariacrepaldigmailcom Enviado em 19092014 Aceito em 20112014 Resenha Abordagem Sistêmica Título As origens do pensamento sistêmico das partes para o todo Autores Lauren Beltrão Gomes Simone Dill Azeredo Bolze Rovana Kinas Bueno Maria Aparecida Crepaldi Publicado em Pensando Famílias 182 dez 2014 O artigo As origens do pensamento sistêmico das partes para o todo apresenta uma análise detalhada do desenvolvimento histórico e epistemológico do Pensamento Sistêmico Os autores discutem a evolução do paradigma mecanicista para o ecológico e destacam a importância de entender o contexto e a interdependência dos sistemas para a prática dos terapeutas sistêmicos Os autores fazem um excelente trabalho ao traçar a evolução do Pensamento Sistêmico desde as ideias de Aristóteles até as teorias contemporâneas Eles explicam como o Pensamento Sistêmico se afastou do mecanicismo cartesiano e se desenvolveu através da Biologia Organísmica da Ecologia e da Física Quântica A Teoria Geral dos Sistemas desenvolvida por Ludwig von Bertalanffy é apresentada como um marco importante juntamente com a Cibernética de Norbert Wiener e a Teoria da Comunicação de Gregory Bateson A clareza na apresentação dos conceitos e a contextualização histórica enriquecem a compreensão do leitor sobre o tema Apesar da riqueza histórica e teórica o artigo poderia se beneficiar de exemplos mais práticos e aplicados para ilustrar melhor como o Pensamento Sistêmico pode ser usado na prática clínica Além disso a densidade teórica pode tornar a leitura desafiadora para aqueles que não estão familiarizados com os conceitos iniciais de sistemas A inclusão de estudos de caso ou exemplos concretos de aplicação clínica teria sido uma adição valiosa O artigo destaca a superioridade do Pensamento Sistêmico em relação ao paradigma psicanalítico tradicional que foca nas forças intrapsíquicas Enquanto a Psicanálise tende a concentrarse nos aspectos internos do indivíduo o Pensamento Sistêmico oferece uma visão mais holística e contextual considerando as relações e interações dentro de um sistema mais amplo Essa abordagem é especialmente útil em contextos familiares e organizacionais onde as dinâmicas de interação são complexas e interdependentes O Pensamento Sistêmico conforme apresentado pelos autores é uma ferramenta poderosa para profissionais de psicologia e outras áreas afins Sua capacidade de ampliar a visão sobre as problemáticas apresentadas e de trabalhar com alternativas de modos mais funcionais de relacionamento é um diferencial significativo Pessoalmente acredito que a abordagem sistêmica tem um grande potencial para transformar a prática clínica e para melhorar a compreensão dos fenômenos sociais e organizacionais No entanto a implementação prática requer um entendimento profundo dos conceitos teóricos o que pode ser um desafio para muitos profissionais Aplicação nas diferentes dinâmicas dos sistemas Familiar Permite entender e intervir nas complexas interações e dinâmicas dentro de uma família promovendo relações mais saudáveis Educacional Ajuda a analisar e melhorar o ambiente escolar considerando a interação entre estudantes professores e a comunidade Organizacional Facilita a compreensão das interações dentro de empresas promovendo um ambiente de trabalho mais coeso e funcional Saúde Proporciona uma abordagem integral no cuidado ao paciente considerando todos os aspectos que afetam a saúde e bemestar Política e Religião Oferece uma visão ampla das interações sociais e dos sistemas de crenças promovendo um entendimento mais profundo das dinâmicas políticas e religiosas Concomitantemente o artigo As origens do pensamento sistêmico das partes para o todo é uma contribuição valiosa para o entendimento do Pensamento Sistêmico Sua abordagem histórica e epistemológica proporciona uma base sólida para os profissionais que desejam aplicar essa perspectiva em sua prática Embora denso o artigo é uma leitura essencial para aqueles que buscam uma compreensão profunda e contextualizada do Pensamento Sistêmico A riqueza dos detalhes históricos e a clareza na apresentação dos conceitos tornam este artigo uma referência indispensável para estudiosos e profissionais que buscam ampliar sua visão sobre as interações e dinâmicas dos sistemas em diferentes contextos A implementação prática do Pensamento Sistêmico como demonstrado pelos autores oferece um potencial significativo para transformar a prática clínica e melhorar a compreensão dos fenômenos sociais e organizacionais promovendo um olhar mais holístico e funcional sobre as relações humanas Resenha Abordagem Sistêmica Título As origens do pensamento sistêmico das partes para o todo Autores Lauren Beltrão Gomes Simone Dill Azeredo Bolze Rovana Kinas Bueno Maria Aparecida Crepaldi Publicado em Pensando Famílias 182 dez 2014 O artigo As origens do pensamento sistêmico das partes para o todo apresenta uma análise detalhada do desenvolvimento histórico e epistemológico do Pensamento Sistêmico Os autores discutem a evolução do paradigma mecanicista para o ecológico e destacam a importância de entender o contexto e a interdependência dos sistemas para a prática dos terapeutas sistêmicos Os autores fazem um excelente trabalho ao traçar a evolução do Pensamento Sistêmico desde as ideias de Aristóteles até as teorias contemporâneas Eles explicam como o Pensamento Sistêmico se afastou do mecanicismo cartesiano e se desenvolveu através da Biologia Organísmica da Ecologia e da Física Quântica A Teoria Geral dos Sistemas desenvolvida por Ludwig von Bertalanffy é apresentada como um marco importante juntamente com a Cibernética de Norbert Wiener e a Teoria da Comunicação de Gregory Bateson A clareza na apresentação dos conceitos e a contextualização histórica enriquecem a compreensão do leitor sobre o tema Apesar da riqueza histórica e teórica o artigo poderia se beneficiar de exemplos mais práticos e aplicados para ilustrar melhor como o Pensamento Sistêmico pode ser usado na prática clínica Além disso a densidade teórica pode tornar a leitura desafiadora para aqueles que não estão familiarizados com os conceitos iniciais de sistemas A inclusão de estudos de caso ou exemplos concretos de aplicação clínica teria sido uma adição valiosa O artigo destaca a superioridade do Pensamento Sistêmico em relação ao paradigma psicanalítico tradicional que foca nas forças intrapsíquicas Enquanto a Psicanálise tende a concentrarse nos aspectos internos do indivíduo o Pensamento Sistêmico oferece uma visão mais holística e contextual considerando as relações e interações dentro de um sistema mais amplo Essa abordagem é especialmente útil em contextos familiares e organizacionais onde as dinâmicas de interação são complexas e interdependentes O Pensamento Sistêmico conforme apresentado pelos autores é uma ferramenta poderosa para profissionais de psicologia e outras áreas afins Sua capacidade de ampliar a visão sobre as problemáticas apresentadas e de trabalhar com alternativas de modos mais funcionais de relacionamento é um diferencial significativo Pessoalmente acredito que a abordagem sistêmica tem um grande potencial para transformar a prática clínica e para melhorar a compreensão dos fenômenos sociais e organizacionais No entanto a implementação prática requer um entendimento profundo dos conceitos teóricos o que pode ser um desafio para muitos profissionais Aplicação nas diferentes dinâmicas dos sistemas Familiar Permite entender e intervir nas complexas interações e dinâmicas dentro de uma família promovendo relações mais saudáveis Educacional Ajuda a analisar e melhorar o ambiente escolar considerando a interação entre estudantes professores e a comunidade Organizacional Facilita a compreensão das interações dentro de empresas promovendo um ambiente de trabalho mais coeso e funcional Saúde Proporciona uma abordagem integral no cuidado ao paciente considerando todos os aspectos que afetam a saúde e bemestar Política e Religião Oferece uma visão ampla das interações sociais e dos sistemas de crenças promovendo um entendimento mais profundo das dinâmicas políticas e religiosas Concomitantemente o artigo As origens do pensamento sistêmico das partes para o todo é uma contribuição valiosa para o entendimento do Pensamento Sistêmico Sua abordagem histórica e epistemológica proporciona uma base sólida para os profissionais que desejam aplicar essa perspectiva em sua prática Embora denso o artigo é uma leitura essencial para aqueles que buscam uma compreensão profunda e contextualizada do Pensamento Sistêmico A riqueza dos detalhes históricos e a clareza na apresentação dos conceitos tornam este artigo uma referência indispensável para estudiosos e profissionais que buscam ampliar sua visão sobre as interações e dinâmicas dos sistemas em diferentes contextos A implementação prática do Pensamento Sistêmico como demonstrado pelos autores oferece um potencial significativo para transformar a prática clínica e melhorar a compreensão dos fenômenos sociais e organizacionais promovendo um olhar mais holístico e funcional sobre as relações humanas