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Este livro parte da constatação que não é novidade para nenhum de nós de que as sociedades humanas estão hoje imersas em impasses de todas as ordens ecológicos tecnocientíficos macrogeomicropolíticos comunicacionais e sociopsíquicos Na busca de caminhos para possíveis compreensões o ponto de partida foi o do recuo recuar para melhor saltar nos emaranhamentos do presente Por isso a longuíssima travessia do Sapiens no espaço e no tempo foi eleita como meio e método para o diagnóstico das complexas condições em que hoje nos encontramos como espécie Na biosfera a única espécie que fala Somos seres falantes e dessa condição comunicacional e cognitiva foi extraído o fio condutor para a jornada argumentativa empreendida ao longo dos capítulos A hipótese norteadora parece simples mas exige empenho para ser comprovada a cognição humana aqui marcada por sete grandes picos sequenciais prossegue em uma expansão contínua cada vez mais ambivalente contraditória e mesmo paradoxal de complexidade Como isso se dá Eis a pergunta com que este livro convida o leitor a uma conversação que o conduzirá até o encontro com esse personagem emergente a que foi dado o nome de neohumano e que aí está para nos ensinar sobre nós mesmos NEOHUMANO A sétima revolução cognitiva do Sapiens Lucia Santaella PAULUS COMUNICAÇÃO ISBN 9786555626735 PAULUSCOMBR Lucia Santaella NEOHUMANO Antes de tudo devo esclarecer que não estou sozinha na constatação do neohumano ou seja de uma radical transformação na própria ontologia do humano que de minha parte tomo como fruto de um processo evolutivo das formas comunicacionais e cognitivas sustentadas pelas linguagens que o ser humano não cessa de inventar e que crescem na medida mesma em que crescem os meios de produção registro armazenamento memória e transmissão dessas linguagens NEOHUMANO p21 p43 p105 121 Coleção COMUNICAÇÃO Coordenação Antonio Iraildo Alves de Brito Mídia e poder simbólico um ensaio sobre comunicação e campo religioso Luís Mauro Sá Martino A produção social da loucura Ciro Marcondes Filho eBook Culturas e artes do póshumano da cultura das mídias à cibercultura Lucia Santaella Corpo e comunicação sintoma da cultura Lucia Santaella O escavador de silêncios formas de construir e de desconstruir sentidos na comunicação Ciro Marcondes Filho eBook Navegar no ciberespaço o perfil cognitivo do leitor imersivo Lucia Santaella A realidade dos meios de comunicação Niklas Luhmann É preciso salvar a comunicação Dominique Wolton Teoria do jornalismo identidades brasileiras José Marques de Melo Linguagens líquidas na era da mobilidade Lucia Santaella Comunicação e democracia problemas perspectivas Wilson Gomes Rousiley Celi Moreira Maia Ser jornalista a língua como barbárie e a notícia como mercadoria Ciro Marcondes Filho eBook O futuro da internet em direção a uma ciberdemocracia André Lemos Pierre Lévy A ecologia pluralista da comunicação conectividade mobilidade e ubiquidade Lucia Santaella Redes sociais digitais a cognição conectiva do Twitter Lucia Santaella Renata Lemos O princípio da razão durante comunicação para os antigos a fenomenologia e o bergsonismo Tomo I Nova teoria da comunicação III Ciro Marcondes Filho eBook Comunicação e identidade quem você pensa que é Luís Mauro Sá Martino O princípio da razão durante o conceito de comunicação e a epistemologia metafórica Tomo V Nova teoria da comunicação III Ciro Marcondes Filho eBook O princípio da razão durante da Escola de Frankfurt à crítica alemã contemporânea Tomo II Nova teoria da comunicação III Ciro Marcondes Filho eBook O princípio da razão durante o círculo cibernético o observador e a subjetividade Tomo III Nova teoria da comunicação III Ciro Marcondes Filho eBook O princípio da razão durante diálogo poder e interfaces sociais da comunicação Tomo IV Nova teoria da comunicação III Ciro Marcondes Filho eBook Comunicação ubiqua repercussões na cultura e na educação Lucia Santaella O rosto e a máquina o fenômeno da comunicação visto dos ângulos humano medial e tecnológico Nova teoria da comunicação vol I Ciro Marcondes Filho eBook Teoria e metodologia da comunicação tendências para o século XXI José Marques de Melo eBook Comunicação mediações interações Lucrécia DAlessio Ferrara eBook Revolucionários mártires e terroristas a utopia e suas consequências Jacques A Wainberg eBook Temas e dilemas do pósdigital a voz da política Lucia Santaella Mídia religião e sociedade das palavras às redes digitais Luís Mauro Sá Martino Cultura comunicação e espetáculo Cláudio Novaes Pinto Coelho Valdir José de Castro eBook Netativismo Da ação social para o ato conectivo Massimo Di Felice Redes e ecologias comunicativas indígenas Massimo Di Felice Eliete S Pereira orgs A comunicação que não vemos Lucrécia DAlessio Ferrara Comunicação ou mediologia A função de um campo científico da comunicação Ciro Marcondes Filho A carta o abismo o beijo Os ambientes de imagens entre o artístico e o midiático Norval Baitello Junior Mídia e lutas por reconhecimento Rousiley C M Maia Cidade entre mediações e interações Lucrécia DAlessio Ferrara Teorias da comunicação hoje Ciro Marcondes Filho eBook Transformações da política na era da comunicação de massa Wilson Gomes eBook Uma foto vale mais que mil palavras Alexandre Huady Torres Guimarães Fred Izumi Utsunomiya Ronaldo de Oliveira Batista eBook Humanos hìperhibridos linguagens e cultura na segunda era da internet Lucia Santaella Um brinde à incomunicação reflexões a partir da Europa Dominique Volton Neohumano a sétima revolução cognitiva do Sapiens Lucia Santaella NEOHUMANO A sétima revolução cognitiva do Sapiens Lucia Santaella PAULUS Todos os direitos reservados pela Paulus Editora Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida seja por meios mecânicos eletrônicos seja via cópia xerográfica sem a autorização prévia da Editora Direção editorial Sílvio Ribas Coordenação editorial Antonio Iraildo Alves de Brito Gerente de design Danilo Alves Lima Coordenação de revisão Tiago José Risi Leme Preparação do original André Tadashi Odashima Diagramação e capa Karine Pereira dos Santos Impressão e acabamento Paulus Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP Angélica Ilacqua CRB87057 Santaella Lucia Neohumano a sétima revolução cognitiva do Sapiens Lucia Santaella São Paulo Paulus 2022 Coleção Comunicação ISBN 9786555626735 1 Cultura e tecnologia 2 Humanismo 3 Sociedade Evolução 4 Comunicação e cultura I Título II Série 223106 CDD 30642 Índice para catálogo sistemático 1 Cultura e tecnologia Seja um leitor preferencial PAULUS Cadastrese e receba informações sobre nossos lançamentos e nossas promoções pauluscombrcadastro Televendas 11 37894000 0800 016 40 11 1ª edição 2022 PAULUS 2022 Rua Francisco Cruz 229 04117091 São Paulo Brasil Tel 11 50873700 pauluscombr editorialpauluscombr ISBN 9786555626735 que floresça o mais que humano em nós Caetano Veloso Este livro é parte do projeto de Produtividade em Pesquisa que me é concedido pelo CNPq projeto 30438820202025 Meus agradecimentos ao CNPq NEOHUMANO 20 os perigos que nos rondam e de se engajar no pensamento de estratégias como o faz Bostrom 2016 p 67 em sua obra Esse é o novo limiar em que nossa humanidade está penetrando um limiar cuja extrema complexidade e cujos desafios ontológicos e especialmente éticos segundo Tegmark 2017 deveriam nos instigar para uma conversação em que todos de uma forma ou de outra poderiam se engajar É nesse diálogo que este livro se engajou com a modéstia que me cabe mas com o rigor necessário e na continuidade de ideias que foram brotando e amadurecendo ao longo do tempo e que me fizeram chegar às condições atuais do meu pensamento com a constatação de que estamos no limiar do neohumano uma constatação que foi sendo passo a passo construída nos capítulos que se seguem O leitor impaciente pode parar por aqui Mas aqueles que se dispuserem a realizar a longa e paciente travessia descobrirão no seu final as explicações necessárias para o encontro com esse neopersonagem cujas determinações passadas este livro tratou de deslindar mas cujas consequências do presente para o futuro inserem nossos pensamentos e afetos no vórtice de cruéis incertezas Capítulo 1 DAS REVOLUÇÕES ÀS DISRUPÇÕES O século 20 trouxe dominantemente à tona o tema da revolução Embora não tenham sido uma exclusividade de do século passado além de mais frequentes discussões sobre esse tema foram se tornando também mais intensas num ritmo e numa profundidade provavelmente inauditos Isso não foi casual Por volta de meados do século 20 não era possível encontrar uma só área das atividades humanas da religião às artes das comunicações à economia da literatura às navegações da medicina à manufatura etc que não tivesse passado por transformações tão tremendas quase ao ponto de atingir uma mudança de identidade Dentre todas as diferentes áreas as mais profundamente atingidas foram sem dúvida a ciência e a tecnologia daí a marca revolucionária impressa em todos os campos e nos próprios fundamentos das ciências A obra que provocou uma verdadeira ebulição nas discussões do tema foi sem dúvida A estrutura das revoluções científicas de Thomas Kuhn 1962 Dessa data até meados dos anos 1990 por trinta anos poucos termos e conceitos foram tão intensamente citados repetidos criticados e distorcidos dentro e fora da história e filosofia da ciência quanto aqueles elaborados por Kuhn nesse NEOHUMANO 22 livro germinal Como explicar a intensidade do apelo que essa obra teve o poder de exercer sobre os mais diversos campos da ciência e fora dela Ensinando uma resposta a enorme repercussão do livro foi provavelmente devida ao impacto que uma teoria historiográfica surpreendente pode produzir numa cultura para a qual a ciência é importante De todo modo tentando um outro ensaio de resposta podese dizer que o livro produziu tanto impacto porque ele mesmo age como um exemplar da tese que é nele defendida quer dizer quando se deu seu aparecimento A estrutura das revoluções científicas teve um caráter revolucionário funcionando como um verdadeiro giro gestaltico ou mudança paradigmática nas ideias que até então dominavam o cenário da história e filosofia da ciência Deslocando abruptamente para um plano secundário as preocupações até então vigentes dos filósofos da ciência com as hipóteses e suas falsificações paradigma passou a ser a palavrachave capaz de abrir passagem a qualquer discussão sobre processos de transformação de qualquer ordem que seja desde a ordem mais sóbria e soberana dos conceitos científicos até a disseminação muitas vezes leviana pelos mais diversos meandros da cultura Conforme foi discutido em Machado et al 1984 p 6465 antes de Kuhn baseada na concepção tradicional da ciência como reunião de fatos teorias e métodos cujo desenvolvimento se dá de forma gradativa através de contribuições isoladas que vão se adicionando cumulativamente ao estoque de conhecimento e técnicas existentes a história da ciência se preocupava com os obstáculos e avanços no desenvolvimento cientıfico registrando autoria e cronologia de descobertas e denunciando os erros superstições e mitos que impediam uma acumulação mais rápida do conhecimento Foi justamente contra essa visão linear e progressiva que a obra de Kuhn se insurgiu produzindo uma verdadeira revolução na historiografia da ciência A tese kuhniana em síntese é a de que o avanço científico ocorre por saltos ou seja por episódios de desenvolvimento de tipo não cumulativo nos quais as realizações científicas universalmente reconhecidas entram em crise sendo substituídas total ou parcialmente por outras que se mostram incompatíveis com o que antes era aceito como inquestionável Ora essa tese segundo Kuhn encontrava respaldo nas novas questões que estavam começando a ser levantadas pelos historiadores da ciência Para se traduzir os termos kuhnianos de maneira sintética as realizações científicas universalmente reconhecidas podem ser compreendidas sob o nome de paradigmas e os episódios de desenvolvimento não cumulativo que colocam esse reconhecimento em crise como mudanças de paradigma Mas na realidade as ideias relativas ao termo paradigma não são tão simples nem foram recebidas assim tão singela e inequivocamente pelos leitores e críticos de A estrutura das revoluções científicas Ao contrário não há palavra que tenha sido mais usada e abusada do que a palavra paradigma Não são poucas as razões para explicar a extensa margem de indeterminação do conceito de paradigma Num artigo publicado em 1970 escrito por ocasião do famoso Colóquio Internacional em Filosofia da Ciência realizado em Londres em 1965 em que Kuhn enfrentou as críticas provocações e antagonismos dos popperianos Margaret Masterman encontrou nada menos do que vinte e um significados diferentes da palavra paradigma em A estrutura das revoluções científicas Não obstante existe uma tendência para a cristalização e popularização do significado de paradigma em três tipos de tradução conceitual todos eles igualmente equivocados a como uma ou várias metodologias que podem ser escolhidas ou descartadas à vontade e ao prazer do pesquisador b como uma teoria básica c como um ponto de vista metafísico em geral Apesar das vicissitudes uma definição mais explícita de paradigma pode ser encontrada em A estrutura das revoluções científicas p 239 No seu uso estabelecido paradigma é um modelo ou padrão aceito e esse aspecto do seu significado me possibilitou na falta de uma palavra melhor a apropriação de paradigma aqui Mas ficará claro que o sentido de modelo ou padrão que permite essa apropriação não é o mais usual quando se define paradigma Na gramática por exemplo amo amas amat é um paradigma porque exibe o padrão a ser usado na conjugação de um grande número de verbos latinos por exemplo para se produzir laudo laudas laudat Nesta aplicação padrão o paradigma funciona ao permitir a replicação de exemplos qualquer um dos quais poderia em princípio servir para substituílo Na ciência por outro lado um paradigma raramente é objeto de replicação Em vez disso tal como uma decisão judicial aceita na lei comum ele é um objeto para posterior articulação e especificação sob condições novas ou mais rigorosas O sentido básico de modelo deve ser provavelmente aquele que Kuhn tinha em mente quando optou pela palavra paradigma conforme a passagem a seguir nos leva a constatar Os cientistas trabalham a partir de modelos adquiridos através da educação e através da exposição subsequente à literatura sem saber muito bem nem precisando saber quais características deram a esses modelos o estatuto de paradigmas comunitários KUHN p 136 De todo modo contrariamente a quaisquer conclusões apres sadas o conceito kuhniano de paradigma tem algo de original e extremamente fértil Segundo Masterman 1970 p 61 tratase de uma ideia fundamental e nova na filosofia da ciência da qual depende a visão geral completa que foi esposada por Kuhn sobre a natureza das revoluções científicas Daí a extrema labilidade do conceito que sem sombra de dúvida percorre todos os estágios do fazer da ciência desde seus estágios embrionários e os protocientí ficos passando pelas práticas da ciência normal até os momentos de crise instauradores de um salto revolucionário Enquanto no seu aspecto sociológico o paradigma corresponde a um conjunto de hábitos científicos compartilhados por uma comunidade de investigadores no seu aspecto mais concreto ele tem o sentido de um artefato que pode ser usado como um recurso para a resolução de quebracabeças pois é esta para Kuhn a atividade central caracterizadora da vida de um cientista De acordo com Laszlo 1991 p xix foram muitos os debates sobre a natureza dos paradigmas científicos desde a publicação seminal de Kuhn e esses debates foram se tornando cada vez mais estéreis A despeito da falta de precisão com a qual o conceito é frequentemente usado no entanto ele denota uma ideia com a qual a maioria das pessoas tem uma familiaridade adequada ou pelo menos com a qual elas se sentem confortáveis De fato dada a enorme repercussão que o termo produziu em meios científicos e extracientíficos seus sentidos extrapolaram em muito a moldura kuhniana tanto é que a palavra foi também empregada de maneira mais imprecisa e metafórica para caracterizar quaisquer realizações científicas ou não científicas reconhecidas que definindo os pro blemas e métodos que uma dada comunidade considera legítimos fornecem subsídios para a prática científica acadêmica ou institu cional dessa comunidade Uma visão retrospectiva nos permite hoje perceber que o livro de Kuhn e o conceito de paradigma por ele delineado alcançaram tanta disseminação devido às grandes transformações pelas quais estavam passando as mais diversas áreas de produção científica em particular e do saber em geral plenamente visíveis em meados do século 20 Para dar conta dessas transformações a palavra paradigma se prestava com justeza visto que os sentidos que de modo mais espontâneo se colavam a ela aparentavamse ao conceito de mudança ou mais particularmente ao conceito de revolução científica similar de revolução ou rotação de uma figura plana em torno de um eixo foi preservado no uso que a matemática faz do termo Na Idade Média revolução foi amplamente utilizada no contexto astronômico vindo a adquirir associativamente um significado astrológico de onde emigrou para as razões de estado e mesmo para as questões relativas ao destino humano ambos tidos como regidos pelas revoluções das estrelas e planetas nas suas esferas Joseph W Dauben 1984 p 83 também nos informa que com bastante ambiguidade e confusão quanto ao seu sentido o conceito de revolução tendo como referência eventos científicos e políticos apareceu pela primeira vez no século 18 Em geral a palavra era empregada para indicar uma ruptura na continuidade uma mudança de grande magnitude muito embora seu antigo significado como um fenômeno cíclico no contexto da astronomia ainda continuasse a ser empregado Logo após a Revolução Francesa no entanto o novo significado adquiriu força pressupondo uma transgressão em relação a modos de pensamento tradicionais e aceitáveis As revoluções portanto podem ser vistas como uma série de descontinuidades de tal magnitude a ponto de se constituírem em claras rupturas com o passado Vários autores apontam para as complementaridades e oposições entre revolução e evolução na ciência A partir de um estudo cuidadoso dos conceitos de evolução e revolução Puligandla 1971 p 4169 por exemplo os aplicou nos campos das ciências e das humanidades Como significativas para a compreensão de evolução de um lado tomou as obras de Comte e Spencer e a obra de Kuhn de outro lado para a compreensão da revolução Também trabalhando sobre as interações desses conceitos sob o ponto de vista da teoria geral dos sistemas Taylor 1971 p 99139 concluiu que a evolução representa crescimento dentro dos parâmetros de um sistema existente de modo a atualizar idealmente as capacidades do sistema enquanto a revolução representa uma transformação tão fundamental a ponto de romper com a moldura do sistema elevandoo para um novo nível de equili bração Em ambas as expressões de mudança função e forma se emparelham em outras palavras encontramos a presença de fronteiras Estas estão ligadas a dois tipos de equilibração feedback positivo e negativo No seu livro sobre Revolução na ciência 1985 p 387 Cohen também discutiu a distinção estabelecida por Garland Allen entre evolução e revolução Para este toda mudança revolucionária depende de uma mudança evolutiva anterior ao mesmo tempo que esta conduz a uma revolução Isso significa que mudanças quantitativas pequenas e evolutivas conduzem a mudanças qualitativas grandes significativamente diferentes enfim revolucionárias Enquanto a primeira é lenta a segunda é rápida abrupta Provavelmente influenciado por Allen no seu artigo de 1987 Cohen retomou a distinção entre mudança evolutiva e revolucionária acrescentando que a diferença entre ambas é extrema A primeira é gradual consistindo de uma sucessão de pequenos passos ocasionalmente pontuada por um grande passo A segunda conota uma mudança repentina de um tipo radical uma fragmentação violenta de um sistema de conceitos e teorias que é seguida pela introdução de algo inteiramente novo A rede de efeitos de ambas pode ser igualmente profunda não obstante a grande diferença na escala temporal entre uma e outra Além desses dois modos de mudança Cohen encontrou um terceiro modo chamado de emergência Este diz respeito ao desenvolvimento de um novo campo podendo ser exemplificado pelas origens da probabilidade ver também BOWLER 1984 SONIGO e STENGERS 2003 O pressuposto fundamental que igualmente foi tomado como ponto de partida da história da ciência formulada por Kuhn é o de que o desenvolvimento da ciência é evolutivo Suas declarações sobre isso foram sempre cristalinas além de enfaticamente repetitivas O desenvolvimento científico é como o biológico um pro cesso unidirecional e irreversível Teorias científicas posteriores são melhores do que as anteriores para resolver quebra cabeças nos locais sempre bem diferentes aos quais elas são por intenção defender suas ideias Estas aliás foram criticadas e devidamente respondidas no campo da epistemologia e história da ciência Recorro a Kuhn porque nele encontrase como foi aqui entendida uma concepção de revolução e evolução no campo das ciências que pode ser expandida para o que interessa neste livro ou seja os modos como esses conceitos com as devidas adaptações também se aplicam ao campo das linguagens e culturas humanas Kuhn 1987 p 722 levantou inclusive um conjunto de características comuns às mudanças revolucionárias que nos ajudam a compreender as relações entre evolução como continuidade a qual implica a revolução como ruptura Vejamos a Os avanços revolucionários nas ciências são de algum modo holísticos Eles não ocorrem passo a passo contrastando com as mudanças normais ou cumulativas Enquanto nestas uma única generalização é revista ou adicionada nas revoluções ou se vive com a incoerência ou se revisa conjuntamente todo um grupo de generalizações Por isso as revoluções envolvem uma transformação relativamente abrupta e desestruturada na qual uma parte do fluxo da experiência se separa do resto de modo diferente exibindo padrões que não eram visíveis antes b Há transformação no modo como as palavras e frases se ligam à natureza no modo como seus referentes são determinados Também a ciência normal pode alterar a maneira como os termos se ligam à natureza Nas revoluções no entanto as mudanças são de um tipo mais específico Elas alteram não apenas os critérios pelos quais os termos se ligam à natureza mas também massivamente o conjunto de objetos ou situações a que esses termos se ligam Muitas das categorias taxonômicas que servem de prérequisito para as descrições e generalizações científicas se modificam Tratase de um ajustamento não só dos critérios relevantes à categorização mas também do modo como objetos e situações dados são distribuídos entre categorias préexistentes Uma vez que uma tal redistribuição sempre envolve mais do que uma categoria e uma vez que as categorias são interdefinidas essa alteração também é necessariamente holística c Há uma mudança central de modelo metáfora ou analogia mudança no sentido que se tem do que é semelhante a quê e do que é diferente de quê Em alguns casos a semelhança é interna ao objeto sob exame em outros casos a similaridade é externa Velhos padrões de semelhança portanto têm de ser descartados e substituídos antes ou durante o processo de mudança Kuhn 1970a p 208 declarou ter tomado seu modelo de empréstimo de outras áreas Historiadores da literatura da música das artes do desenvolvimento político e de muitas outras áreas da atividade humana inclusive da cultura de fato têm encontrado na periodização em termos de rupturas no estilo gosto e estruturas institucionais sua ferramenta padrão Se houve alguma originalidade na sua posição Kuhn completou ela só poderia estar no fato de ele ter estendido o emprego dessa ferramenta para as ciências área cujo desenvolvimento havia sido amplamente pensado de modo diferente A grande originalidade de Kuhn podese concluir encontrase portanto no seu interesse pelas artes música e literatura também como formas de conhecimento A EFERVESCÊNCIA CULTURAL SOB O NOME DE PÓSMODERNIDADE No campo das humanidades particularmente das diversas artes inclusive da arquitetura da literatura da teoria social da política e da filosofia foi contemporâneo à discussão do tema das revoluções na ciência o debate bastante controverso e efervescente batizado de pósmodernidade a que darei algumas pinceladas neste capítulo reservando o desenvolvimento mais detalhado para o capítulo 9 A maioria dos autores é relativamente unânime em localizar suas raízes nos anos 1960 Os movimentos contraculturais as revoltas estudantis as ebulições do pop a crise dos valores e das promessas do modernismo nas artes e na arquitetura e entre muitas outras coisas a euforia tecnocientífica que culminou na chegada do homem à Lua produziram uma ruptura cultural de natureza e proporções inéditas de cujos efeitos e desdobramentos os teóricos e críticos da sociedade buscavam dar conta Ora os sinais de alerta para o surgimento de novos paradigmas na ciência cuja data também se aproxima dos anos 1960 deve ser a contraparte no universo científico da consciência da pósmodernidade no universo da cultura Os intercâmbios interferências complementaridades semelhanças e oposições entre esses dois universos só não foram mais debatidos porque falta escoamento para um diálogo mais efetivo entre aqueles que se localizam no universo da ciência de um lado e os que se localizam no universo da cultura e das humanidades de outro De todo modo são muitas as semelhanças que podem ser observadas mesmo a um primeiro olhar superficial nos fatores de mudança e nas novas perspectivas que foram colocados tanto pelos cientistas e filósofos da ciência quanto pelos artistas e teóricos e críticos da arte e da cultura já no século passado Embora suas raízes tenham emergido nos anos 1960 o prefixo pós ganhou enorme repercussão nos anos 1980 logo depois da publicação de A condição pósmoderna de François Lyotard 1979 obra que provocou na época um grande frisson nos meios intelectuais em nível internacional A peculiaridade de Lyotard no entendimento do pósmodernismo localizouse na extensão da análise dessa expressão para alcançar o estatuto da ciência da tecnologia das artes a significação da tecnocracia e o modo como os fluxos de informação e de conhecimento são controlados no mundo ocidental Pouco tempo depois da publicação da obra de Lyotard Habermas no discurso com o título de A modernidade um projeto inacabado proferido por ocasião do recebimento do prêmio Adorno 1980 entrou na discussão assumindo posições distintas daquelas defendidas por Lyotard HABERMAS 1983 Daí para a frente as revistas coletâneas e livros dedicados ao assunto começaram a proliferar Outros pensadores de renome como Richard Rorty Fredric Jameson entraram no debate e muitos autores notabilizaramse como especialistas na questão Foi tal o crescimento de publicações eventos e cursos sobre o tema em nível internacional mais especialmente na Inglaterra e Estados Unidos que se pode dizer que a pósmodernidade foi o grande tema da década de 1980 até os inícios da década seguinte com algumas extensões também no Brasil Nessa mesma época o pósmoderno já havia se notabilizado como um novo estilo nas artes a partir do estopim lançado pela arquitetura pósmoderna a qual já havia se insurgido contra os princípios do modernismo desde os anos 1970 O pósmoderno como estilo nas artes é hoje visto como um movimento datado No campo das artes a obra de Danto 1997 2006 marcou época na sua caracterização do fim da arte a partir das transformações que emergiram nas artes visuais com a pop art para eclodir com mais força nos anos 1980 Para ele a expressão depois do fim da arte equivale justamente ao período que teve seu início sob o batismo do pósmoderno A pósmodernidade entretanto como debate crítico da cultura permanece viva até hoje mesmo que com nomes diversos Nova modernidade segunda modernidade supermodernidade modernidade reflexiva e modernidade líquida são expressões que vêm sendo usadas por variados autores em substituição ou complemento ao termo pósmodernidade O que une todas essas designações é a busca de caracterização das mudanças que desde a segunda metade do século 20 estão ocorrendo nas sociedades pósindustriais ou sociedades do capitalismo tardio do turbocapitalismo que hoje vem sendo discutido sob as novas roupagens do capitalismo de dados ou infocapitalismo conforme será discutido mais à frente neste trabalho As raízes das sociedades modernas ocidentais encontramse no Iluminismo que coincidiu com o advento da industrialização e trouxe à tona um amplo espectro de dimensões entre elas as estruturas e valores sociais incrementados pelos poderes econômicos e políticos a explosão demográfica o crescimento urbano e a mobilidade Um dos traços marcantes dos estudos sobre pósmodernidade encontrase nas suas controvertidas versões que variam da mais profunda aversão à traição cometida pelos tempos atuais aos ideais do Iluminismo até a crítica mais devastadora a esses ideais O único ponto para onde a franja diversificada de interpretações converge encontrase na constatação de que algo novo e bastante distinto brotou do seio da modernidade ver SANTAELLA 1996a p 69134 Para sintetizar a complexidade da questão tenho emprestado de Kellerman 2006 p 53 um quadro resumido das principais oposições entre modernidade e segunda modernidade que é de grande auxílio para a compreensão rápida da questão lendose a coluna da esquerda como modernidade e a da direita como pósmodernidade temos a crítica da ambiguidade purificação vs aceitação da ambiguidade pluralismo b estrutura regras e firmeza vs redes pontos de fuga e fluxos c segurança certeza vs risco incerteza d durabilidade vs fluidez e previsão vs imprevisão f estabilidade crescente vs liquidificação crescente g continuidade e evolução vs descontinuidade e mudança h orientação para um alvo vs orientação processual i ordem nacional vs contingência cosmopolita j conexões estáveis vs conectividade como programa e projeto k estruturas nacionais de longo alcance vs estruturação transnacional para o tempo l fronteiras sólidas e manutenção das fronteiras vs fronteiras flexíveis e administração das fronteiras De meados dos anos 1990 para cá o debate foi sendo substituído por outros que lhe sucederam nas modas intelectuais que emergem no cenário cultural de tempos em tempos Isso não quer dizer que a questão da pósmodernidade tenha perdido sua importância conceitual Ela apenas deixou de frequentar com tanta assiduidade as mídias e os temas escolhidos para congressos e simpósios Por já ter sido absorvida na memória dos estudiosos ela cedeu a camada mais visível da cultura para outros temas a que deu prosseguimento tais como globalização póscolonialismo e mais recentemente os temas sempre candentes relativos à cultura digital Todavia o ponto de vista que tenho defendido SANTAELLA 2010a p 106 é que sem a memória dos debates sobre a pósmodernidade a compreensão desses temas subseqüentes fica truncada e comprometida pois estes pressupõem o estudo de obras sobre pósmodernidade que hoje podem ser consideradas clássicas como Jameson 1983 1984 1996 Featherstone 1995 1997 Bauman 1995 1998 2001 e muitos outros ACELERAÇÃO E DISRUPÇÃO Os anos 1990 emergiram com um novo ímpeto transformador cujas conseqüências têm em aceleração crescente inquietado e desafiado as sociedades humanas em todas as suas facetas Tratase para sermos fiéis à questão de conseqüências omnidimensionais Tomasello 1999 p 49 nos lembra de que qualquer narrativa evolucionária que se desenvolve no tempo apresenta diferentes processos trabalhando de modos diferentes em pontos distintos ao longo do caminho Entretanto mesmo que não seja um fator exclusivo o computador e a cultura por ele instaurada vêm ocupando posição central no cenário além de que não se pode negar que têm funcionado como impulso para aquilo que pode ser chamado de grande aceleração cujo destino promete intensificação ainda maior com a anunciada chegada da computação quântica A questão da aceleração foi colocada em relevo sobretudo no âmbito da geologia das mudanças climáticas e da crise ecológica do planeta em discussões sobre o Antropoceno o novo período geológico da Terra Nas últimas décadas foi se criando um consenso entre os cientistas de que a biosfera deixou de se comportar dentro dos padrões do Holoceno a atmosfera o clima os oceanos e o ecossistema estão todos operando fora das normas holocênicas A antroposfera a camada humana que cresceu dentro da biosfera e suas pegadas sobre a Terra tornaramse sobremaneira pesadas o que está decididamente dando passagem a um novo período geológico que está sendo chamado de Antropoceno do grego anthropos ser humano kainos recente novo SANTAELLA 2015a p 48 Não existe um acordo acabado sobre o ponto na história em que a aceleração que os especialistas consideram como um dos fatores determinantes do Antropoceno tenha começado a dar sinais inequívocos Alguns vão bastante longe na passagem dos caçadorescoletores para a instauração da agricultura Outros localizam os sinais na Revolução Industrial e suas máquinas já marcando o início da concentração global crescente do dióxido de carbono e metano acompanhada pela explosão demográfica e seus efeitos no meio ambiente Perto de um consenso contudo como trampolim para a grande aceleração encontramse a Segunda Guerra Mundial e toda a parafernália tecnológica a que ela foi dando escoamento graças ao financiamento potente à ciência cujos resultados são avidamente absorvidos para a garantia de permanência do capitalismo não obstante suas crises Garantia que se dá sobretudo pela negligência e mesmo ocultamento do fato de que a Terra tenha se tornado agente político e a política se tornado agente geológico OLIVEIRA 2015 A discussão mais demorada do Antropoceno certamente terá lugar oportuno neste livro capítulo 12 Sua menção aqui começa porque o tema da aceleração é central para os autores que tratam dessa questão Entretanto a aceleração e a disrupção que ela acarreta estão hoje presentes em quaisquer campos do pensamento e práticas humanas Uma vez que o alvo deste livro se dirige para as mutações tecnocomunicacionais e culturais cumpre encontrar nesse âmbito os fatores de aceleração que aí também operam para que se possam analisar as consequências que eles trazem para o humano nas suas dimensões sociais políticas culturais e psíquicas até o ponto de hoje podermos usar a nomenclatura de neohumano para essas consequências Do meu ponto de vista o grande personagem ou agente acelerador cognitivo encontrase no computador concebido como máquina semiótica inteligente instaurador de uma nova era cultural chamada de cibercultura ou cultura digital cujos efeitos e impactos este livro tratará de deslindar Por enquanto para evidenciar o poder acelerador dessa máquina inédita grandemente responsável pela emergência da palavra disrupção como uma das palavraschave no contemporâneo buscarei explicitar esse poder apenas no que diz respeito às suas mutações em seu estatuto de máquina midiática deixando a exploração das consequentes transmutações culturais para ser desenvolvida em capítulos subsequentes A história do computador costuma ser contada do ponto de vista da célere evolução dos equipamentos ou seja dos sistemas e das ferramentas Assim são elencadas e descritas quatro gerações que vão do alvorecer dos anos 1950 até os nossos dias A primeira geração que vai de 1951 a 1959 corresponde ao tempo dos circuitos e válvulas eletrônicas que ocupavam caixas imensas e consumiam muita energia De 1959 a 1965 veio a era dos transistores com funcionamento um pouco mais rápido mas o equipamento ainda ocupava grandes caixas Isso viu despontar o uso comercial dos computadores A terceira geração foi de 1965 a 1975 e trouxe consigo os circuitos integrados com menores dimensões e capacidade maior de processamento Nessa época foram criados os chips e surgiram os computadores pessoais e os ambientes domésticos começaram a receber seus novos habitantes Daí para a frente aquela que é tida como quarta geração que vem até nossos dias está repleta de subgerações Desenvolveuse a tecnologia da informação junto com o tamanho mais humanizado das máquinas A velocidade e a capacidade de processamento dos dados aumentaram cada vez mais entraram em cena os microprocessadores explodiu a internet a partir dos anos 1990 e sob o seu influxo cresceu sobremaneira o número de computadores pessoais Os softwares foram se integrando crescentemente e a partir da abertura do novo milênio outra grande revolução se anunciou a dos computadores móveis smartphones tablets com navegação na web de qualquer ponto para qualquer outro ponto no espaço Alguns chegam a considerar uma quinta geração a dos supercomputadores utilizados por grandes corporações por exemplo a NASA quando se deu também a sofisticação da tecnologia multimídia da robótica e da internet DIANA sd Do ponto de vista econômico a evolução dos computadores não é menos impressionante Na década de 1960 o armazenamento de 1 gigabyte exigia o investimento de 36 milhões de dólares Em 2015 esse mesmo 1 gigabyte custa menos de 3 centavos de dólar e cabe junto com outros milhares de gigabytes na palma de nossas mãos Hoje compramos sem sair de casa um computador pessoal de bolso que realiza incontáveis tarefas numa velocidade com a qual o nosso cérebro está longe de poder competir A distância entre os transistores dos chips foi reduzida de 001 milímetro 10 µm em 1971 para 000001 milímetro 14 nm o equivalente a menos de 15 átomos de hidrogênio lado a lado Isso permite que se possa colocar 6 bilhões de transistores num microprocessador do tamanho da palma da mão Assim nos últimos vinte anos o poder de processamento do computador pessoal aumentou cerca de duas mil vezes FULALAS 2016 Tudo isso vem comprovar que a tecnologia se retroalimenta o que gera um avanço exponencial e não linear Para ilustrar essa afirmação basta o exemplo de um prognóstico realizado em 2017 Para entender os volumes de dados dos quais ele Berners Lee estava falando e que estão em constante crescimento considere estas estatísticas fonte CISCO VNI Forecast and Methodology 20152020 O tráfego IP global aumentará quase três vezes nos próximos 5 anos o tráfego IP global anual chegará a 23 ZB por ano até 2020 o tráfego de smartphones excederá o tráfego de PCs até 2020 e o número de dispositivos conectados às redes IP será mais de três vezes a população global até 2020 É inegável que os volumes de dados estejam crescendo mais rápido do que nunca e continuaremos a criar novos conteúdos a cada segundo também no futuro FIVE MAIN FEATURES OF WEB 30 Embora a evolução dos equipamentos e seus usos aí brevemente delineada e já com cinco anos de intervalo funcione como um suporte imprescindível isso não basta pois o mais fundamental a se considerar no que diz respeito ao incremento da cognição humana é o desenvolvimento da inteligência computacional que está embutida no processamento das máquinas Portanto tornouse necessário antes de tudo abandonar a concepção minimizadora do computador como mera ferramenta pois as tecnologias computacionais são acima de tudo tecnologias da inteligência Tendo isso em vista a história do computador passa a adquirir novas nuances que dizem respeito às interfaces e simbioses da inteligência humana com a das máquinas Para começarmos a compreender tais interfaces é preciso considerar o grande salto que se deu quando o computador passou a ir bem além do significado contido no seu próprio nome calcular transformandose em uma mídia de comunicação interativa Isso deu início às conhecidas fases sequenciais da web web 10 20 30 e hoje web 40 Há inclusive quem já fale na web 50 tal é a dificuldade de seguir passos que ultrapassam nossa apreensão conforme será amplamente discutido nos capítulos 10 e 11 Descrições e comentários sobre as fases da web são sobejamente conhecidos dado o grande número de textos que versam sobre o assunto publicados nas redes e em meios mais tradicionais Visando prover informação àqueles que não estão seguros sobre elas não custa voltar ao tema aqui de modo breve pois os desdobramentos variados da temática retornarão nos capítulos subsequentes Neste momento tomarei como referência aqui sintetizada uma das ocasiões em que tratei da questão SANTAELLA 2013a p 3954 14 O marco extraordinário da emergência de interfaces amigáveis humanocomputador deuse com a inauguração da WWW no início dos anos 1990 Desde então passamos a habitar ecologias saturadas de tecnologias especialmente depois que as mídias móveis computadorizadas passaram a nos acompanhar dia e noite em qualquer ponto do espaço Tudo começou com a web ainda presa ao desktop de 1980 a 1990 com seus sistemas de arquivo email servidores bancos de dados Então de 1990 a 2000 a web 10 expandiuse em seus suplementos http HTML trabalhos em equipe intranets Java portais A nomenclatura da web 10 20 etc começou a ser empregada depois que a expressão web 20 foi apresentada por Tim OReilly para se referir a uma segunda geração de aplicativos comunidades e serviços de que a web seria a grande plataforma Portanto a web 10 veio a ser assim nomeada retrospectivamente quando na primeira década do milênio a web 20 levou à explosão das redes sociais dos blogs e das wikis Ao cunhar o termo Tim OReilly queria se referir ao modo como o valor das novas redes não dependia do hardware nem mesmo do conteúdo veiculado mas sim do modo como elas atraíam e continuam a atrair a participação de comunidades sociais em larga escala coletando e anotando dados para os outros usuários Depois de 2010 o termo web 30 começou a entrar em uso Existe um significado estrito e um significado mais abrangente para essa web No sentido estrito e aqui bastante simplificado a web semântica trabalha com a atribuição de significados aos termos utilizados nos motores de busca de modo a satisfazer a intenção de cada usuário quando busca uma informação e espera receber uma resposta que seja tão precisa quanto possível Para os idealizadores os espaços desse tipo de web deveriam ser uma coleção de recursos de diferentes sites organizandose em tempo real de acordo com a visão do usuário Segundo Lafuente 2011 p 114 Os formatos semânticos permitem vincular todo tipo de elementos dados metadados mapas conceituais ou ontologias componentes serviços dispositivos aplicativos e descrevêlos conceitual e contextualmente para consulta posterior por sistemas inteligentes capazes de relacionar essas entidades de maneiras como nunca tinham sido vinculadas e descobrir assim novas conexões entre os dados No início da segunda década do novo milênio era grande o entusiasmo com o advento da web semântica no seu sentido estrito Embora ela continue a ser vista como um aperfeiçoamento das tecnologias da web a fim de gerar compartilhar e conectar conteúdos por meio de busca e análise com base na habilidade de compreensão do significado das palavras a web 30 foi se misturando com outros recursos que dilataram o seu perfil tais como gráficos 3D muito usados em guias de museus games ecomércio contextos geoespaciais etc o incremento da conectividade graças aos metadados semânticos a ubiquidade que permite a conexão de quaisquer recursos à web de modo que os mais variados serviços podem ser utilizados em todos os lugares A mais importante dentre essas misturas é aquela que se dá entre a web semântica e a inteligência artificial quando por meio do processamento da linguagem natural os computadores seriam capazes de compreender a informação à maneira dos humanos FIVE MAIN FEATURES OF WEB 30 De fato as novas nomenclaturas de web 40 e mesmo de web 50 estão entrelaçadas com as novas condições das redes atualmente monitoradas por algoritmos tema que tem ocupado a preocupação dos críticos da cultura sobre as novas formas do capitalismo discussão reservada para os capítulos 10 e 11 Há críticos que consideram a numeração da web um artifício utilizado como estratégia meramente comercial Sem negar esse fator é também preciso considerar que as numerações encontram correspondência em fases evolutivas que de fato dizem respeito a expansões objetivas nos recursos que a web oferece É tamanha a variedade atual desses recursos que podem ser justificadas as nomenclatura da web 40 e web 50 pois surgiram para abrigar os grandes temas do momento a saber computação na nuvem internet das coisas ou comunicação máquinamáquina big data cidades inteligentes impressão 3D e a grande personagem reinando sobre tudo isso a inteligência artificial IA O tema hoje infesta as redes sociais os sites as notícias jornalísticas as revistas para o grande público Não se pode negar portanto que já penetrou nos tecidos mais capilares da sociedade humana Este livro não poderia minimizar a relevância dessa questão pois é justo a IA e seus efeitos humanos que dão legitimidade à nomenclatura de neohumano aqui adotada Neste momento as sequências acima esboçadas sobre os avanços acelerados da cultura do computador comparecem para se compreender por que disrupção também no que toca à comunicação e à cognição se tornou palavra de ordem em tempos atuais O termo disruptivo saiu do uso puramente dicionarizado e adquiriu relevo quando em 1995 Clayton M Christensen e Joseph Bower o introduziram no artigo sob o título de Disruptive technologies Catching the wave Devidamente ligado às transformações tecnológicas o termo emergiu primeiramente no ambiente corporativo para logo mais espraiarse por uma pletora de contextos Diante disso parece viável para compreender tal exacerbação no seu uso que se deu a partir de 1995 a hipótese de que isso tem a ver com o salto mais do que quantitativo qualitativo e sobretudo de escala que a revolução digital vem provocando em todos os campos de produção de atividades de criação e de reflexões humanas Quando uma palavra entra em voga isso também pode funcionar como sinal de que ela é capaz de expressar algo do espírito do tempo Zeitgeist Disruptivo tanto pode ser compreendido como indisciplinado rebelde agitado perturbador turbulento incontrolável quanto também pode ser atribuído a tudo aquilo que é inovador inventivo engenhoso não usual experimental não convencional e sem precedentes Muito mais ambíguo do que a palavra revolução o termo disrupção no momento que atravessamos é capaz de abrigar todos os sentidos acima Não por acaso serão tomados como lema para guiar a interpretação que o leitor aqui encontrará para a postulação do neohumano Nunca tanto quanto agora e com tanta força e clareza vieram à tona e ficaram postas a nu as contradições paradoxos e ambivalências que sempre foram constitutivas do humano As sábias palavras de Wilson sobre isso são valiosas Nós nos convertemos em mente do planeta O problema que trava tudo até o momento é o fato de o Homo sapiens ser uma espécie inatamente defeituosa Ficamos obstruídos pela Maldição Paleolítica adaptações genéticas que deram muito certo durante milhões de anos de existência de caçadorescoletores mas que cada vez mais constituem um obstáculo à sociedade global urbana e tecnocientífica Parece que somos incapazes de estabelecer políticas econômicas ou qualquer forma de governo mais avançadas que aquelas que praticávamos quando na aldeia Além disso a grande maioria das pessoas do mundo ainda se submete a religiões tribalistas comandadas por quem afirma ter poder sobrenatural para competir pela obediência e pelos recursos dos fiéis Somos viciados no conflito tribal que é inofensivo e divertido se sublimado em esportes mas mortal se expresso em conflitos étnicos religiosos e ideológicos Existem outras predisposições hereditárias Paralisados em nosso ensimesmamento para proteger o restante da vida continuamos a devastar o meio ambiente natural a herança insubstituível e mais preciosa de nossa espécie E ainda é tabu propor políticas populacionais baseadas na otimização da densidade demográfica na distribuição geográfica e na distribuição etária É uma ideia que soa fascista WILSON 2018 p 139140 Provavelmente este livro trará algumas evidências de que nossa espécie como pensa Wilson 2018 p 61 é mesmo bizarra
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Este livro parte da constatação que não é novidade para nenhum de nós de que as sociedades humanas estão hoje imersas em impasses de todas as ordens ecológicos tecnocientíficos macrogeomicropolíticos comunicacionais e sociopsíquicos Na busca de caminhos para possíveis compreensões o ponto de partida foi o do recuo recuar para melhor saltar nos emaranhamentos do presente Por isso a longuíssima travessia do Sapiens no espaço e no tempo foi eleita como meio e método para o diagnóstico das complexas condições em que hoje nos encontramos como espécie Na biosfera a única espécie que fala Somos seres falantes e dessa condição comunicacional e cognitiva foi extraído o fio condutor para a jornada argumentativa empreendida ao longo dos capítulos A hipótese norteadora parece simples mas exige empenho para ser comprovada a cognição humana aqui marcada por sete grandes picos sequenciais prossegue em uma expansão contínua cada vez mais ambivalente contraditória e mesmo paradoxal de complexidade Como isso se dá Eis a pergunta com que este livro convida o leitor a uma conversação que o conduzirá até o encontro com esse personagem emergente a que foi dado o nome de neohumano e que aí está para nos ensinar sobre nós mesmos NEOHUMANO A sétima revolução cognitiva do Sapiens Lucia Santaella PAULUS COMUNICAÇÃO ISBN 9786555626735 PAULUSCOMBR Lucia Santaella NEOHUMANO Antes de tudo devo esclarecer que não estou sozinha na constatação do neohumano ou seja de uma radical transformação na própria ontologia do humano que de minha parte tomo como fruto de um processo evolutivo das formas comunicacionais e cognitivas sustentadas pelas linguagens que o ser humano não cessa de inventar e que crescem na medida mesma em que crescem os meios de produção registro armazenamento memória e transmissão dessas linguagens NEOHUMANO p21 p43 p105 121 Coleção COMUNICAÇÃO Coordenação Antonio Iraildo Alves de Brito Mídia e poder simbólico um ensaio sobre comunicação e campo religioso Luís Mauro Sá Martino A produção social da loucura Ciro Marcondes Filho eBook Culturas e artes do póshumano da cultura das mídias à cibercultura Lucia Santaella Corpo e comunicação sintoma da cultura Lucia Santaella O escavador de silêncios formas de construir e de desconstruir sentidos na comunicação Ciro Marcondes Filho eBook Navegar no ciberespaço o perfil cognitivo do leitor imersivo Lucia Santaella A realidade dos meios de comunicação Niklas Luhmann É preciso salvar a comunicação Dominique Wolton Teoria do jornalismo identidades brasileiras José Marques de Melo Linguagens líquidas na era da mobilidade Lucia Santaella Comunicação e democracia problemas perspectivas Wilson Gomes Rousiley Celi Moreira Maia Ser jornalista a língua como barbárie e a notícia como mercadoria Ciro Marcondes Filho eBook O futuro da internet em direção a uma ciberdemocracia André Lemos Pierre Lévy A ecologia pluralista da comunicação conectividade mobilidade e ubiquidade Lucia Santaella Redes sociais digitais a cognição conectiva do Twitter Lucia Santaella Renata Lemos O princípio da razão durante comunicação para os antigos a fenomenologia e o bergsonismo Tomo I Nova teoria da comunicação III Ciro Marcondes Filho eBook Comunicação e identidade quem você pensa que é Luís Mauro Sá Martino O princípio da razão durante o conceito de comunicação e a epistemologia metafórica Tomo V Nova teoria da comunicação III Ciro Marcondes Filho eBook O princípio da razão durante da Escola de Frankfurt à crítica alemã contemporânea Tomo II Nova teoria da comunicação III Ciro Marcondes Filho eBook O princípio da razão durante o círculo cibernético o observador e a subjetividade Tomo III Nova teoria da comunicação III Ciro Marcondes Filho eBook O princípio da razão durante diálogo poder e interfaces sociais da comunicação Tomo IV Nova teoria da comunicação III Ciro Marcondes Filho eBook Comunicação ubiqua repercussões na cultura e na educação Lucia Santaella O rosto e a máquina o fenômeno da comunicação visto dos ângulos humano medial e tecnológico Nova teoria da comunicação vol I Ciro Marcondes Filho eBook Teoria e metodologia da comunicação tendências para o século XXI José Marques de Melo eBook Comunicação mediações interações Lucrécia DAlessio Ferrara eBook Revolucionários mártires e terroristas a utopia e suas consequências Jacques A Wainberg eBook Temas e dilemas do pósdigital a voz da política Lucia Santaella Mídia religião e sociedade das palavras às redes digitais Luís Mauro Sá Martino Cultura comunicação e espetáculo Cláudio Novaes Pinto Coelho Valdir José de Castro eBook Netativismo Da ação social para o ato conectivo Massimo Di Felice Redes e ecologias comunicativas indígenas Massimo Di Felice Eliete S Pereira orgs A comunicação que não vemos Lucrécia DAlessio Ferrara Comunicação ou mediologia A função de um campo científico da comunicação Ciro Marcondes Filho A carta o abismo o beijo Os ambientes de imagens entre o artístico e o midiático Norval Baitello Junior Mídia e lutas por reconhecimento Rousiley C M Maia Cidade entre mediações e interações Lucrécia DAlessio Ferrara Teorias da comunicação hoje Ciro Marcondes Filho eBook Transformações da política na era da comunicação de massa Wilson Gomes eBook Uma foto vale mais que mil palavras Alexandre Huady Torres Guimarães Fred Izumi Utsunomiya Ronaldo de Oliveira Batista eBook Humanos hìperhibridos linguagens e cultura na segunda era da internet Lucia Santaella Um brinde à incomunicação reflexões a partir da Europa Dominique Volton Neohumano a sétima revolução cognitiva do Sapiens Lucia Santaella NEOHUMANO A sétima revolução cognitiva do Sapiens Lucia Santaella PAULUS Todos os direitos reservados pela Paulus Editora Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida seja por meios mecânicos eletrônicos seja via cópia xerográfica sem a autorização prévia da Editora Direção editorial Sílvio Ribas Coordenação editorial Antonio Iraildo Alves de Brito Gerente de design Danilo Alves Lima Coordenação de revisão Tiago José Risi Leme Preparação do original André Tadashi Odashima Diagramação e capa Karine Pereira dos Santos Impressão e acabamento Paulus Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP Angélica Ilacqua CRB87057 Santaella Lucia Neohumano a sétima revolução cognitiva do Sapiens Lucia Santaella São Paulo Paulus 2022 Coleção Comunicação ISBN 9786555626735 1 Cultura e tecnologia 2 Humanismo 3 Sociedade Evolução 4 Comunicação e cultura I Título II Série 223106 CDD 30642 Índice para catálogo sistemático 1 Cultura e tecnologia Seja um leitor preferencial PAULUS Cadastrese e receba informações sobre nossos lançamentos e nossas promoções pauluscombrcadastro Televendas 11 37894000 0800 016 40 11 1ª edição 2022 PAULUS 2022 Rua Francisco Cruz 229 04117091 São Paulo Brasil Tel 11 50873700 pauluscombr editorialpauluscombr ISBN 9786555626735 que floresça o mais que humano em nós Caetano Veloso Este livro é parte do projeto de Produtividade em Pesquisa que me é concedido pelo CNPq projeto 30438820202025 Meus agradecimentos ao CNPq NEOHUMANO 20 os perigos que nos rondam e de se engajar no pensamento de estratégias como o faz Bostrom 2016 p 67 em sua obra Esse é o novo limiar em que nossa humanidade está penetrando um limiar cuja extrema complexidade e cujos desafios ontológicos e especialmente éticos segundo Tegmark 2017 deveriam nos instigar para uma conversação em que todos de uma forma ou de outra poderiam se engajar É nesse diálogo que este livro se engajou com a modéstia que me cabe mas com o rigor necessário e na continuidade de ideias que foram brotando e amadurecendo ao longo do tempo e que me fizeram chegar às condições atuais do meu pensamento com a constatação de que estamos no limiar do neohumano uma constatação que foi sendo passo a passo construída nos capítulos que se seguem O leitor impaciente pode parar por aqui Mas aqueles que se dispuserem a realizar a longa e paciente travessia descobrirão no seu final as explicações necessárias para o encontro com esse neopersonagem cujas determinações passadas este livro tratou de deslindar mas cujas consequências do presente para o futuro inserem nossos pensamentos e afetos no vórtice de cruéis incertezas Capítulo 1 DAS REVOLUÇÕES ÀS DISRUPÇÕES O século 20 trouxe dominantemente à tona o tema da revolução Embora não tenham sido uma exclusividade de do século passado além de mais frequentes discussões sobre esse tema foram se tornando também mais intensas num ritmo e numa profundidade provavelmente inauditos Isso não foi casual Por volta de meados do século 20 não era possível encontrar uma só área das atividades humanas da religião às artes das comunicações à economia da literatura às navegações da medicina à manufatura etc que não tivesse passado por transformações tão tremendas quase ao ponto de atingir uma mudança de identidade Dentre todas as diferentes áreas as mais profundamente atingidas foram sem dúvida a ciência e a tecnologia daí a marca revolucionária impressa em todos os campos e nos próprios fundamentos das ciências A obra que provocou uma verdadeira ebulição nas discussões do tema foi sem dúvida A estrutura das revoluções científicas de Thomas Kuhn 1962 Dessa data até meados dos anos 1990 por trinta anos poucos termos e conceitos foram tão intensamente citados repetidos criticados e distorcidos dentro e fora da história e filosofia da ciência quanto aqueles elaborados por Kuhn nesse NEOHUMANO 22 livro germinal Como explicar a intensidade do apelo que essa obra teve o poder de exercer sobre os mais diversos campos da ciência e fora dela Ensinando uma resposta a enorme repercussão do livro foi provavelmente devida ao impacto que uma teoria historiográfica surpreendente pode produzir numa cultura para a qual a ciência é importante De todo modo tentando um outro ensaio de resposta podese dizer que o livro produziu tanto impacto porque ele mesmo age como um exemplar da tese que é nele defendida quer dizer quando se deu seu aparecimento A estrutura das revoluções científicas teve um caráter revolucionário funcionando como um verdadeiro giro gestaltico ou mudança paradigmática nas ideias que até então dominavam o cenário da história e filosofia da ciência Deslocando abruptamente para um plano secundário as preocupações até então vigentes dos filósofos da ciência com as hipóteses e suas falsificações paradigma passou a ser a palavrachave capaz de abrir passagem a qualquer discussão sobre processos de transformação de qualquer ordem que seja desde a ordem mais sóbria e soberana dos conceitos científicos até a disseminação muitas vezes leviana pelos mais diversos meandros da cultura Conforme foi discutido em Machado et al 1984 p 6465 antes de Kuhn baseada na concepção tradicional da ciência como reunião de fatos teorias e métodos cujo desenvolvimento se dá de forma gradativa através de contribuições isoladas que vão se adicionando cumulativamente ao estoque de conhecimento e técnicas existentes a história da ciência se preocupava com os obstáculos e avanços no desenvolvimento cientıfico registrando autoria e cronologia de descobertas e denunciando os erros superstições e mitos que impediam uma acumulação mais rápida do conhecimento Foi justamente contra essa visão linear e progressiva que a obra de Kuhn se insurgiu produzindo uma verdadeira revolução na historiografia da ciência A tese kuhniana em síntese é a de que o avanço científico ocorre por saltos ou seja por episódios de desenvolvimento de tipo não cumulativo nos quais as realizações científicas universalmente reconhecidas entram em crise sendo substituídas total ou parcialmente por outras que se mostram incompatíveis com o que antes era aceito como inquestionável Ora essa tese segundo Kuhn encontrava respaldo nas novas questões que estavam começando a ser levantadas pelos historiadores da ciência Para se traduzir os termos kuhnianos de maneira sintética as realizações científicas universalmente reconhecidas podem ser compreendidas sob o nome de paradigmas e os episódios de desenvolvimento não cumulativo que colocam esse reconhecimento em crise como mudanças de paradigma Mas na realidade as ideias relativas ao termo paradigma não são tão simples nem foram recebidas assim tão singela e inequivocamente pelos leitores e críticos de A estrutura das revoluções científicas Ao contrário não há palavra que tenha sido mais usada e abusada do que a palavra paradigma Não são poucas as razões para explicar a extensa margem de indeterminação do conceito de paradigma Num artigo publicado em 1970 escrito por ocasião do famoso Colóquio Internacional em Filosofia da Ciência realizado em Londres em 1965 em que Kuhn enfrentou as críticas provocações e antagonismos dos popperianos Margaret Masterman encontrou nada menos do que vinte e um significados diferentes da palavra paradigma em A estrutura das revoluções científicas Não obstante existe uma tendência para a cristalização e popularização do significado de paradigma em três tipos de tradução conceitual todos eles igualmente equivocados a como uma ou várias metodologias que podem ser escolhidas ou descartadas à vontade e ao prazer do pesquisador b como uma teoria básica c como um ponto de vista metafísico em geral Apesar das vicissitudes uma definição mais explícita de paradigma pode ser encontrada em A estrutura das revoluções científicas p 239 No seu uso estabelecido paradigma é um modelo ou padrão aceito e esse aspecto do seu significado me possibilitou na falta de uma palavra melhor a apropriação de paradigma aqui Mas ficará claro que o sentido de modelo ou padrão que permite essa apropriação não é o mais usual quando se define paradigma Na gramática por exemplo amo amas amat é um paradigma porque exibe o padrão a ser usado na conjugação de um grande número de verbos latinos por exemplo para se produzir laudo laudas laudat Nesta aplicação padrão o paradigma funciona ao permitir a replicação de exemplos qualquer um dos quais poderia em princípio servir para substituílo Na ciência por outro lado um paradigma raramente é objeto de replicação Em vez disso tal como uma decisão judicial aceita na lei comum ele é um objeto para posterior articulação e especificação sob condições novas ou mais rigorosas O sentido básico de modelo deve ser provavelmente aquele que Kuhn tinha em mente quando optou pela palavra paradigma conforme a passagem a seguir nos leva a constatar Os cientistas trabalham a partir de modelos adquiridos através da educação e através da exposição subsequente à literatura sem saber muito bem nem precisando saber quais características deram a esses modelos o estatuto de paradigmas comunitários KUHN p 136 De todo modo contrariamente a quaisquer conclusões apres sadas o conceito kuhniano de paradigma tem algo de original e extremamente fértil Segundo Masterman 1970 p 61 tratase de uma ideia fundamental e nova na filosofia da ciência da qual depende a visão geral completa que foi esposada por Kuhn sobre a natureza das revoluções científicas Daí a extrema labilidade do conceito que sem sombra de dúvida percorre todos os estágios do fazer da ciência desde seus estágios embrionários e os protocientí ficos passando pelas práticas da ciência normal até os momentos de crise instauradores de um salto revolucionário Enquanto no seu aspecto sociológico o paradigma corresponde a um conjunto de hábitos científicos compartilhados por uma comunidade de investigadores no seu aspecto mais concreto ele tem o sentido de um artefato que pode ser usado como um recurso para a resolução de quebracabeças pois é esta para Kuhn a atividade central caracterizadora da vida de um cientista De acordo com Laszlo 1991 p xix foram muitos os debates sobre a natureza dos paradigmas científicos desde a publicação seminal de Kuhn e esses debates foram se tornando cada vez mais estéreis A despeito da falta de precisão com a qual o conceito é frequentemente usado no entanto ele denota uma ideia com a qual a maioria das pessoas tem uma familiaridade adequada ou pelo menos com a qual elas se sentem confortáveis De fato dada a enorme repercussão que o termo produziu em meios científicos e extracientíficos seus sentidos extrapolaram em muito a moldura kuhniana tanto é que a palavra foi também empregada de maneira mais imprecisa e metafórica para caracterizar quaisquer realizações científicas ou não científicas reconhecidas que definindo os pro blemas e métodos que uma dada comunidade considera legítimos fornecem subsídios para a prática científica acadêmica ou institu cional dessa comunidade Uma visão retrospectiva nos permite hoje perceber que o livro de Kuhn e o conceito de paradigma por ele delineado alcançaram tanta disseminação devido às grandes transformações pelas quais estavam passando as mais diversas áreas de produção científica em particular e do saber em geral plenamente visíveis em meados do século 20 Para dar conta dessas transformações a palavra paradigma se prestava com justeza visto que os sentidos que de modo mais espontâneo se colavam a ela aparentavamse ao conceito de mudança ou mais particularmente ao conceito de revolução científica similar de revolução ou rotação de uma figura plana em torno de um eixo foi preservado no uso que a matemática faz do termo Na Idade Média revolução foi amplamente utilizada no contexto astronômico vindo a adquirir associativamente um significado astrológico de onde emigrou para as razões de estado e mesmo para as questões relativas ao destino humano ambos tidos como regidos pelas revoluções das estrelas e planetas nas suas esferas Joseph W Dauben 1984 p 83 também nos informa que com bastante ambiguidade e confusão quanto ao seu sentido o conceito de revolução tendo como referência eventos científicos e políticos apareceu pela primeira vez no século 18 Em geral a palavra era empregada para indicar uma ruptura na continuidade uma mudança de grande magnitude muito embora seu antigo significado como um fenômeno cíclico no contexto da astronomia ainda continuasse a ser empregado Logo após a Revolução Francesa no entanto o novo significado adquiriu força pressupondo uma transgressão em relação a modos de pensamento tradicionais e aceitáveis As revoluções portanto podem ser vistas como uma série de descontinuidades de tal magnitude a ponto de se constituírem em claras rupturas com o passado Vários autores apontam para as complementaridades e oposições entre revolução e evolução na ciência A partir de um estudo cuidadoso dos conceitos de evolução e revolução Puligandla 1971 p 4169 por exemplo os aplicou nos campos das ciências e das humanidades Como significativas para a compreensão de evolução de um lado tomou as obras de Comte e Spencer e a obra de Kuhn de outro lado para a compreensão da revolução Também trabalhando sobre as interações desses conceitos sob o ponto de vista da teoria geral dos sistemas Taylor 1971 p 99139 concluiu que a evolução representa crescimento dentro dos parâmetros de um sistema existente de modo a atualizar idealmente as capacidades do sistema enquanto a revolução representa uma transformação tão fundamental a ponto de romper com a moldura do sistema elevandoo para um novo nível de equili bração Em ambas as expressões de mudança função e forma se emparelham em outras palavras encontramos a presença de fronteiras Estas estão ligadas a dois tipos de equilibração feedback positivo e negativo No seu livro sobre Revolução na ciência 1985 p 387 Cohen também discutiu a distinção estabelecida por Garland Allen entre evolução e revolução Para este toda mudança revolucionária depende de uma mudança evolutiva anterior ao mesmo tempo que esta conduz a uma revolução Isso significa que mudanças quantitativas pequenas e evolutivas conduzem a mudanças qualitativas grandes significativamente diferentes enfim revolucionárias Enquanto a primeira é lenta a segunda é rápida abrupta Provavelmente influenciado por Allen no seu artigo de 1987 Cohen retomou a distinção entre mudança evolutiva e revolucionária acrescentando que a diferença entre ambas é extrema A primeira é gradual consistindo de uma sucessão de pequenos passos ocasionalmente pontuada por um grande passo A segunda conota uma mudança repentina de um tipo radical uma fragmentação violenta de um sistema de conceitos e teorias que é seguida pela introdução de algo inteiramente novo A rede de efeitos de ambas pode ser igualmente profunda não obstante a grande diferença na escala temporal entre uma e outra Além desses dois modos de mudança Cohen encontrou um terceiro modo chamado de emergência Este diz respeito ao desenvolvimento de um novo campo podendo ser exemplificado pelas origens da probabilidade ver também BOWLER 1984 SONIGO e STENGERS 2003 O pressuposto fundamental que igualmente foi tomado como ponto de partida da história da ciência formulada por Kuhn é o de que o desenvolvimento da ciência é evolutivo Suas declarações sobre isso foram sempre cristalinas além de enfaticamente repetitivas O desenvolvimento científico é como o biológico um pro cesso unidirecional e irreversível Teorias científicas posteriores são melhores do que as anteriores para resolver quebra cabeças nos locais sempre bem diferentes aos quais elas são por intenção defender suas ideias Estas aliás foram criticadas e devidamente respondidas no campo da epistemologia e história da ciência Recorro a Kuhn porque nele encontrase como foi aqui entendida uma concepção de revolução e evolução no campo das ciências que pode ser expandida para o que interessa neste livro ou seja os modos como esses conceitos com as devidas adaptações também se aplicam ao campo das linguagens e culturas humanas Kuhn 1987 p 722 levantou inclusive um conjunto de características comuns às mudanças revolucionárias que nos ajudam a compreender as relações entre evolução como continuidade a qual implica a revolução como ruptura Vejamos a Os avanços revolucionários nas ciências são de algum modo holísticos Eles não ocorrem passo a passo contrastando com as mudanças normais ou cumulativas Enquanto nestas uma única generalização é revista ou adicionada nas revoluções ou se vive com a incoerência ou se revisa conjuntamente todo um grupo de generalizações Por isso as revoluções envolvem uma transformação relativamente abrupta e desestruturada na qual uma parte do fluxo da experiência se separa do resto de modo diferente exibindo padrões que não eram visíveis antes b Há transformação no modo como as palavras e frases se ligam à natureza no modo como seus referentes são determinados Também a ciência normal pode alterar a maneira como os termos se ligam à natureza Nas revoluções no entanto as mudanças são de um tipo mais específico Elas alteram não apenas os critérios pelos quais os termos se ligam à natureza mas também massivamente o conjunto de objetos ou situações a que esses termos se ligam Muitas das categorias taxonômicas que servem de prérequisito para as descrições e generalizações científicas se modificam Tratase de um ajustamento não só dos critérios relevantes à categorização mas também do modo como objetos e situações dados são distribuídos entre categorias préexistentes Uma vez que uma tal redistribuição sempre envolve mais do que uma categoria e uma vez que as categorias são interdefinidas essa alteração também é necessariamente holística c Há uma mudança central de modelo metáfora ou analogia mudança no sentido que se tem do que é semelhante a quê e do que é diferente de quê Em alguns casos a semelhança é interna ao objeto sob exame em outros casos a similaridade é externa Velhos padrões de semelhança portanto têm de ser descartados e substituídos antes ou durante o processo de mudança Kuhn 1970a p 208 declarou ter tomado seu modelo de empréstimo de outras áreas Historiadores da literatura da música das artes do desenvolvimento político e de muitas outras áreas da atividade humana inclusive da cultura de fato têm encontrado na periodização em termos de rupturas no estilo gosto e estruturas institucionais sua ferramenta padrão Se houve alguma originalidade na sua posição Kuhn completou ela só poderia estar no fato de ele ter estendido o emprego dessa ferramenta para as ciências área cujo desenvolvimento havia sido amplamente pensado de modo diferente A grande originalidade de Kuhn podese concluir encontrase portanto no seu interesse pelas artes música e literatura também como formas de conhecimento A EFERVESCÊNCIA CULTURAL SOB O NOME DE PÓSMODERNIDADE No campo das humanidades particularmente das diversas artes inclusive da arquitetura da literatura da teoria social da política e da filosofia foi contemporâneo à discussão do tema das revoluções na ciência o debate bastante controverso e efervescente batizado de pósmodernidade a que darei algumas pinceladas neste capítulo reservando o desenvolvimento mais detalhado para o capítulo 9 A maioria dos autores é relativamente unânime em localizar suas raízes nos anos 1960 Os movimentos contraculturais as revoltas estudantis as ebulições do pop a crise dos valores e das promessas do modernismo nas artes e na arquitetura e entre muitas outras coisas a euforia tecnocientífica que culminou na chegada do homem à Lua produziram uma ruptura cultural de natureza e proporções inéditas de cujos efeitos e desdobramentos os teóricos e críticos da sociedade buscavam dar conta Ora os sinais de alerta para o surgimento de novos paradigmas na ciência cuja data também se aproxima dos anos 1960 deve ser a contraparte no universo científico da consciência da pósmodernidade no universo da cultura Os intercâmbios interferências complementaridades semelhanças e oposições entre esses dois universos só não foram mais debatidos porque falta escoamento para um diálogo mais efetivo entre aqueles que se localizam no universo da ciência de um lado e os que se localizam no universo da cultura e das humanidades de outro De todo modo são muitas as semelhanças que podem ser observadas mesmo a um primeiro olhar superficial nos fatores de mudança e nas novas perspectivas que foram colocados tanto pelos cientistas e filósofos da ciência quanto pelos artistas e teóricos e críticos da arte e da cultura já no século passado Embora suas raízes tenham emergido nos anos 1960 o prefixo pós ganhou enorme repercussão nos anos 1980 logo depois da publicação de A condição pósmoderna de François Lyotard 1979 obra que provocou na época um grande frisson nos meios intelectuais em nível internacional A peculiaridade de Lyotard no entendimento do pósmodernismo localizouse na extensão da análise dessa expressão para alcançar o estatuto da ciência da tecnologia das artes a significação da tecnocracia e o modo como os fluxos de informação e de conhecimento são controlados no mundo ocidental Pouco tempo depois da publicação da obra de Lyotard Habermas no discurso com o título de A modernidade um projeto inacabado proferido por ocasião do recebimento do prêmio Adorno 1980 entrou na discussão assumindo posições distintas daquelas defendidas por Lyotard HABERMAS 1983 Daí para a frente as revistas coletâneas e livros dedicados ao assunto começaram a proliferar Outros pensadores de renome como Richard Rorty Fredric Jameson entraram no debate e muitos autores notabilizaramse como especialistas na questão Foi tal o crescimento de publicações eventos e cursos sobre o tema em nível internacional mais especialmente na Inglaterra e Estados Unidos que se pode dizer que a pósmodernidade foi o grande tema da década de 1980 até os inícios da década seguinte com algumas extensões também no Brasil Nessa mesma época o pósmoderno já havia se notabilizado como um novo estilo nas artes a partir do estopim lançado pela arquitetura pósmoderna a qual já havia se insurgido contra os princípios do modernismo desde os anos 1970 O pósmoderno como estilo nas artes é hoje visto como um movimento datado No campo das artes a obra de Danto 1997 2006 marcou época na sua caracterização do fim da arte a partir das transformações que emergiram nas artes visuais com a pop art para eclodir com mais força nos anos 1980 Para ele a expressão depois do fim da arte equivale justamente ao período que teve seu início sob o batismo do pósmoderno A pósmodernidade entretanto como debate crítico da cultura permanece viva até hoje mesmo que com nomes diversos Nova modernidade segunda modernidade supermodernidade modernidade reflexiva e modernidade líquida são expressões que vêm sendo usadas por variados autores em substituição ou complemento ao termo pósmodernidade O que une todas essas designações é a busca de caracterização das mudanças que desde a segunda metade do século 20 estão ocorrendo nas sociedades pósindustriais ou sociedades do capitalismo tardio do turbocapitalismo que hoje vem sendo discutido sob as novas roupagens do capitalismo de dados ou infocapitalismo conforme será discutido mais à frente neste trabalho As raízes das sociedades modernas ocidentais encontramse no Iluminismo que coincidiu com o advento da industrialização e trouxe à tona um amplo espectro de dimensões entre elas as estruturas e valores sociais incrementados pelos poderes econômicos e políticos a explosão demográfica o crescimento urbano e a mobilidade Um dos traços marcantes dos estudos sobre pósmodernidade encontrase nas suas controvertidas versões que variam da mais profunda aversão à traição cometida pelos tempos atuais aos ideais do Iluminismo até a crítica mais devastadora a esses ideais O único ponto para onde a franja diversificada de interpretações converge encontrase na constatação de que algo novo e bastante distinto brotou do seio da modernidade ver SANTAELLA 1996a p 69134 Para sintetizar a complexidade da questão tenho emprestado de Kellerman 2006 p 53 um quadro resumido das principais oposições entre modernidade e segunda modernidade que é de grande auxílio para a compreensão rápida da questão lendose a coluna da esquerda como modernidade e a da direita como pósmodernidade temos a crítica da ambiguidade purificação vs aceitação da ambiguidade pluralismo b estrutura regras e firmeza vs redes pontos de fuga e fluxos c segurança certeza vs risco incerteza d durabilidade vs fluidez e previsão vs imprevisão f estabilidade crescente vs liquidificação crescente g continuidade e evolução vs descontinuidade e mudança h orientação para um alvo vs orientação processual i ordem nacional vs contingência cosmopolita j conexões estáveis vs conectividade como programa e projeto k estruturas nacionais de longo alcance vs estruturação transnacional para o tempo l fronteiras sólidas e manutenção das fronteiras vs fronteiras flexíveis e administração das fronteiras De meados dos anos 1990 para cá o debate foi sendo substituído por outros que lhe sucederam nas modas intelectuais que emergem no cenário cultural de tempos em tempos Isso não quer dizer que a questão da pósmodernidade tenha perdido sua importância conceitual Ela apenas deixou de frequentar com tanta assiduidade as mídias e os temas escolhidos para congressos e simpósios Por já ter sido absorvida na memória dos estudiosos ela cedeu a camada mais visível da cultura para outros temas a que deu prosseguimento tais como globalização póscolonialismo e mais recentemente os temas sempre candentes relativos à cultura digital Todavia o ponto de vista que tenho defendido SANTAELLA 2010a p 106 é que sem a memória dos debates sobre a pósmodernidade a compreensão desses temas subseqüentes fica truncada e comprometida pois estes pressupõem o estudo de obras sobre pósmodernidade que hoje podem ser consideradas clássicas como Jameson 1983 1984 1996 Featherstone 1995 1997 Bauman 1995 1998 2001 e muitos outros ACELERAÇÃO E DISRUPÇÃO Os anos 1990 emergiram com um novo ímpeto transformador cujas conseqüências têm em aceleração crescente inquietado e desafiado as sociedades humanas em todas as suas facetas Tratase para sermos fiéis à questão de conseqüências omnidimensionais Tomasello 1999 p 49 nos lembra de que qualquer narrativa evolucionária que se desenvolve no tempo apresenta diferentes processos trabalhando de modos diferentes em pontos distintos ao longo do caminho Entretanto mesmo que não seja um fator exclusivo o computador e a cultura por ele instaurada vêm ocupando posição central no cenário além de que não se pode negar que têm funcionado como impulso para aquilo que pode ser chamado de grande aceleração cujo destino promete intensificação ainda maior com a anunciada chegada da computação quântica A questão da aceleração foi colocada em relevo sobretudo no âmbito da geologia das mudanças climáticas e da crise ecológica do planeta em discussões sobre o Antropoceno o novo período geológico da Terra Nas últimas décadas foi se criando um consenso entre os cientistas de que a biosfera deixou de se comportar dentro dos padrões do Holoceno a atmosfera o clima os oceanos e o ecossistema estão todos operando fora das normas holocênicas A antroposfera a camada humana que cresceu dentro da biosfera e suas pegadas sobre a Terra tornaramse sobremaneira pesadas o que está decididamente dando passagem a um novo período geológico que está sendo chamado de Antropoceno do grego anthropos ser humano kainos recente novo SANTAELLA 2015a p 48 Não existe um acordo acabado sobre o ponto na história em que a aceleração que os especialistas consideram como um dos fatores determinantes do Antropoceno tenha começado a dar sinais inequívocos Alguns vão bastante longe na passagem dos caçadorescoletores para a instauração da agricultura Outros localizam os sinais na Revolução Industrial e suas máquinas já marcando o início da concentração global crescente do dióxido de carbono e metano acompanhada pela explosão demográfica e seus efeitos no meio ambiente Perto de um consenso contudo como trampolim para a grande aceleração encontramse a Segunda Guerra Mundial e toda a parafernália tecnológica a que ela foi dando escoamento graças ao financiamento potente à ciência cujos resultados são avidamente absorvidos para a garantia de permanência do capitalismo não obstante suas crises Garantia que se dá sobretudo pela negligência e mesmo ocultamento do fato de que a Terra tenha se tornado agente político e a política se tornado agente geológico OLIVEIRA 2015 A discussão mais demorada do Antropoceno certamente terá lugar oportuno neste livro capítulo 12 Sua menção aqui começa porque o tema da aceleração é central para os autores que tratam dessa questão Entretanto a aceleração e a disrupção que ela acarreta estão hoje presentes em quaisquer campos do pensamento e práticas humanas Uma vez que o alvo deste livro se dirige para as mutações tecnocomunicacionais e culturais cumpre encontrar nesse âmbito os fatores de aceleração que aí também operam para que se possam analisar as consequências que eles trazem para o humano nas suas dimensões sociais políticas culturais e psíquicas até o ponto de hoje podermos usar a nomenclatura de neohumano para essas consequências Do meu ponto de vista o grande personagem ou agente acelerador cognitivo encontrase no computador concebido como máquina semiótica inteligente instaurador de uma nova era cultural chamada de cibercultura ou cultura digital cujos efeitos e impactos este livro tratará de deslindar Por enquanto para evidenciar o poder acelerador dessa máquina inédita grandemente responsável pela emergência da palavra disrupção como uma das palavraschave no contemporâneo buscarei explicitar esse poder apenas no que diz respeito às suas mutações em seu estatuto de máquina midiática deixando a exploração das consequentes transmutações culturais para ser desenvolvida em capítulos subsequentes A história do computador costuma ser contada do ponto de vista da célere evolução dos equipamentos ou seja dos sistemas e das ferramentas Assim são elencadas e descritas quatro gerações que vão do alvorecer dos anos 1950 até os nossos dias A primeira geração que vai de 1951 a 1959 corresponde ao tempo dos circuitos e válvulas eletrônicas que ocupavam caixas imensas e consumiam muita energia De 1959 a 1965 veio a era dos transistores com funcionamento um pouco mais rápido mas o equipamento ainda ocupava grandes caixas Isso viu despontar o uso comercial dos computadores A terceira geração foi de 1965 a 1975 e trouxe consigo os circuitos integrados com menores dimensões e capacidade maior de processamento Nessa época foram criados os chips e surgiram os computadores pessoais e os ambientes domésticos começaram a receber seus novos habitantes Daí para a frente aquela que é tida como quarta geração que vem até nossos dias está repleta de subgerações Desenvolveuse a tecnologia da informação junto com o tamanho mais humanizado das máquinas A velocidade e a capacidade de processamento dos dados aumentaram cada vez mais entraram em cena os microprocessadores explodiu a internet a partir dos anos 1990 e sob o seu influxo cresceu sobremaneira o número de computadores pessoais Os softwares foram se integrando crescentemente e a partir da abertura do novo milênio outra grande revolução se anunciou a dos computadores móveis smartphones tablets com navegação na web de qualquer ponto para qualquer outro ponto no espaço Alguns chegam a considerar uma quinta geração a dos supercomputadores utilizados por grandes corporações por exemplo a NASA quando se deu também a sofisticação da tecnologia multimídia da robótica e da internet DIANA sd Do ponto de vista econômico a evolução dos computadores não é menos impressionante Na década de 1960 o armazenamento de 1 gigabyte exigia o investimento de 36 milhões de dólares Em 2015 esse mesmo 1 gigabyte custa menos de 3 centavos de dólar e cabe junto com outros milhares de gigabytes na palma de nossas mãos Hoje compramos sem sair de casa um computador pessoal de bolso que realiza incontáveis tarefas numa velocidade com a qual o nosso cérebro está longe de poder competir A distância entre os transistores dos chips foi reduzida de 001 milímetro 10 µm em 1971 para 000001 milímetro 14 nm o equivalente a menos de 15 átomos de hidrogênio lado a lado Isso permite que se possa colocar 6 bilhões de transistores num microprocessador do tamanho da palma da mão Assim nos últimos vinte anos o poder de processamento do computador pessoal aumentou cerca de duas mil vezes FULALAS 2016 Tudo isso vem comprovar que a tecnologia se retroalimenta o que gera um avanço exponencial e não linear Para ilustrar essa afirmação basta o exemplo de um prognóstico realizado em 2017 Para entender os volumes de dados dos quais ele Berners Lee estava falando e que estão em constante crescimento considere estas estatísticas fonte CISCO VNI Forecast and Methodology 20152020 O tráfego IP global aumentará quase três vezes nos próximos 5 anos o tráfego IP global anual chegará a 23 ZB por ano até 2020 o tráfego de smartphones excederá o tráfego de PCs até 2020 e o número de dispositivos conectados às redes IP será mais de três vezes a população global até 2020 É inegável que os volumes de dados estejam crescendo mais rápido do que nunca e continuaremos a criar novos conteúdos a cada segundo também no futuro FIVE MAIN FEATURES OF WEB 30 Embora a evolução dos equipamentos e seus usos aí brevemente delineada e já com cinco anos de intervalo funcione como um suporte imprescindível isso não basta pois o mais fundamental a se considerar no que diz respeito ao incremento da cognição humana é o desenvolvimento da inteligência computacional que está embutida no processamento das máquinas Portanto tornouse necessário antes de tudo abandonar a concepção minimizadora do computador como mera ferramenta pois as tecnologias computacionais são acima de tudo tecnologias da inteligência Tendo isso em vista a história do computador passa a adquirir novas nuances que dizem respeito às interfaces e simbioses da inteligência humana com a das máquinas Para começarmos a compreender tais interfaces é preciso considerar o grande salto que se deu quando o computador passou a ir bem além do significado contido no seu próprio nome calcular transformandose em uma mídia de comunicação interativa Isso deu início às conhecidas fases sequenciais da web web 10 20 30 e hoje web 40 Há inclusive quem já fale na web 50 tal é a dificuldade de seguir passos que ultrapassam nossa apreensão conforme será amplamente discutido nos capítulos 10 e 11 Descrições e comentários sobre as fases da web são sobejamente conhecidos dado o grande número de textos que versam sobre o assunto publicados nas redes e em meios mais tradicionais Visando prover informação àqueles que não estão seguros sobre elas não custa voltar ao tema aqui de modo breve pois os desdobramentos variados da temática retornarão nos capítulos subsequentes Neste momento tomarei como referência aqui sintetizada uma das ocasiões em que tratei da questão SANTAELLA 2013a p 3954 14 O marco extraordinário da emergência de interfaces amigáveis humanocomputador deuse com a inauguração da WWW no início dos anos 1990 Desde então passamos a habitar ecologias saturadas de tecnologias especialmente depois que as mídias móveis computadorizadas passaram a nos acompanhar dia e noite em qualquer ponto do espaço Tudo começou com a web ainda presa ao desktop de 1980 a 1990 com seus sistemas de arquivo email servidores bancos de dados Então de 1990 a 2000 a web 10 expandiuse em seus suplementos http HTML trabalhos em equipe intranets Java portais A nomenclatura da web 10 20 etc começou a ser empregada depois que a expressão web 20 foi apresentada por Tim OReilly para se referir a uma segunda geração de aplicativos comunidades e serviços de que a web seria a grande plataforma Portanto a web 10 veio a ser assim nomeada retrospectivamente quando na primeira década do milênio a web 20 levou à explosão das redes sociais dos blogs e das wikis Ao cunhar o termo Tim OReilly queria se referir ao modo como o valor das novas redes não dependia do hardware nem mesmo do conteúdo veiculado mas sim do modo como elas atraíam e continuam a atrair a participação de comunidades sociais em larga escala coletando e anotando dados para os outros usuários Depois de 2010 o termo web 30 começou a entrar em uso Existe um significado estrito e um significado mais abrangente para essa web No sentido estrito e aqui bastante simplificado a web semântica trabalha com a atribuição de significados aos termos utilizados nos motores de busca de modo a satisfazer a intenção de cada usuário quando busca uma informação e espera receber uma resposta que seja tão precisa quanto possível Para os idealizadores os espaços desse tipo de web deveriam ser uma coleção de recursos de diferentes sites organizandose em tempo real de acordo com a visão do usuário Segundo Lafuente 2011 p 114 Os formatos semânticos permitem vincular todo tipo de elementos dados metadados mapas conceituais ou ontologias componentes serviços dispositivos aplicativos e descrevêlos conceitual e contextualmente para consulta posterior por sistemas inteligentes capazes de relacionar essas entidades de maneiras como nunca tinham sido vinculadas e descobrir assim novas conexões entre os dados No início da segunda década do novo milênio era grande o entusiasmo com o advento da web semântica no seu sentido estrito Embora ela continue a ser vista como um aperfeiçoamento das tecnologias da web a fim de gerar compartilhar e conectar conteúdos por meio de busca e análise com base na habilidade de compreensão do significado das palavras a web 30 foi se misturando com outros recursos que dilataram o seu perfil tais como gráficos 3D muito usados em guias de museus games ecomércio contextos geoespaciais etc o incremento da conectividade graças aos metadados semânticos a ubiquidade que permite a conexão de quaisquer recursos à web de modo que os mais variados serviços podem ser utilizados em todos os lugares A mais importante dentre essas misturas é aquela que se dá entre a web semântica e a inteligência artificial quando por meio do processamento da linguagem natural os computadores seriam capazes de compreender a informação à maneira dos humanos FIVE MAIN FEATURES OF WEB 30 De fato as novas nomenclaturas de web 40 e mesmo de web 50 estão entrelaçadas com as novas condições das redes atualmente monitoradas por algoritmos tema que tem ocupado a preocupação dos críticos da cultura sobre as novas formas do capitalismo discussão reservada para os capítulos 10 e 11 Há críticos que consideram a numeração da web um artifício utilizado como estratégia meramente comercial Sem negar esse fator é também preciso considerar que as numerações encontram correspondência em fases evolutivas que de fato dizem respeito a expansões objetivas nos recursos que a web oferece É tamanha a variedade atual desses recursos que podem ser justificadas as nomenclatura da web 40 e web 50 pois surgiram para abrigar os grandes temas do momento a saber computação na nuvem internet das coisas ou comunicação máquinamáquina big data cidades inteligentes impressão 3D e a grande personagem reinando sobre tudo isso a inteligência artificial IA O tema hoje infesta as redes sociais os sites as notícias jornalísticas as revistas para o grande público Não se pode negar portanto que já penetrou nos tecidos mais capilares da sociedade humana Este livro não poderia minimizar a relevância dessa questão pois é justo a IA e seus efeitos humanos que dão legitimidade à nomenclatura de neohumano aqui adotada Neste momento as sequências acima esboçadas sobre os avanços acelerados da cultura do computador comparecem para se compreender por que disrupção também no que toca à comunicação e à cognição se tornou palavra de ordem em tempos atuais O termo disruptivo saiu do uso puramente dicionarizado e adquiriu relevo quando em 1995 Clayton M Christensen e Joseph Bower o introduziram no artigo sob o título de Disruptive technologies Catching the wave Devidamente ligado às transformações tecnológicas o termo emergiu primeiramente no ambiente corporativo para logo mais espraiarse por uma pletora de contextos Diante disso parece viável para compreender tal exacerbação no seu uso que se deu a partir de 1995 a hipótese de que isso tem a ver com o salto mais do que quantitativo qualitativo e sobretudo de escala que a revolução digital vem provocando em todos os campos de produção de atividades de criação e de reflexões humanas Quando uma palavra entra em voga isso também pode funcionar como sinal de que ela é capaz de expressar algo do espírito do tempo Zeitgeist Disruptivo tanto pode ser compreendido como indisciplinado rebelde agitado perturbador turbulento incontrolável quanto também pode ser atribuído a tudo aquilo que é inovador inventivo engenhoso não usual experimental não convencional e sem precedentes Muito mais ambíguo do que a palavra revolução o termo disrupção no momento que atravessamos é capaz de abrigar todos os sentidos acima Não por acaso serão tomados como lema para guiar a interpretação que o leitor aqui encontrará para a postulação do neohumano Nunca tanto quanto agora e com tanta força e clareza vieram à tona e ficaram postas a nu as contradições paradoxos e ambivalências que sempre foram constitutivas do humano As sábias palavras de Wilson sobre isso são valiosas Nós nos convertemos em mente do planeta O problema que trava tudo até o momento é o fato de o Homo sapiens ser uma espécie inatamente defeituosa Ficamos obstruídos pela Maldição Paleolítica adaptações genéticas que deram muito certo durante milhões de anos de existência de caçadorescoletores mas que cada vez mais constituem um obstáculo à sociedade global urbana e tecnocientífica Parece que somos incapazes de estabelecer políticas econômicas ou qualquer forma de governo mais avançadas que aquelas que praticávamos quando na aldeia Além disso a grande maioria das pessoas do mundo ainda se submete a religiões tribalistas comandadas por quem afirma ter poder sobrenatural para competir pela obediência e pelos recursos dos fiéis Somos viciados no conflito tribal que é inofensivo e divertido se sublimado em esportes mas mortal se expresso em conflitos étnicos religiosos e ideológicos Existem outras predisposições hereditárias Paralisados em nosso ensimesmamento para proteger o restante da vida continuamos a devastar o meio ambiente natural a herança insubstituível e mais preciosa de nossa espécie E ainda é tabu propor políticas populacionais baseadas na otimização da densidade demográfica na distribuição geográfica e na distribuição etária É uma ideia que soa fascista WILSON 2018 p 139140 Provavelmente este livro trará algumas evidências de que nossa espécie como pensa Wilson 2018 p 61 é mesmo bizarra