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TEORIAS DA COMUNICAÇÃO Ilana Polistchuk Aluizio Ramos Trinta O pensamento e a prática da Comunicação Social Livro não autorizado para reprodução ASBDR ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DIREITOS REPROGRÁFICOS RESERVADO O DIREITO AUTORAL ELSEVIER Ilana Polistchuk Aluizio Ramos Trinta TEORIAS DA COMUNICAÇÃO O pensamento e a prática da Comunicação Social TEORIAS DA COMUNICAÇÃO Polistchuk Trinta ELSEVIER CAMPUS CAMPUS ISBN 9788535209938 TEORIAS DA COMUNICAÇÃO Ilana Polistchuk Aluizio Ramos Trinta O pensamento e a prática da Comunicação Social Consultora Editorial Joëlle Rouchou Jornalista e Pesquisadora da Casa de Rui Barbosa 16ª tiragem PARADIGMAS TEORIAS E MODELOS Embora algo controvertida uma das noções centrais de toda reflexão que tome a Comunicação por objeto é a de paradigma Com esse termo a filosofia grega antiga designava o ato e o fato de fazerse aparecer ou representarse de maneira exemplar a alguma coisa no intuito de exibindoos lado a lado dar destaque a seus princípios constitutivos Paradigma supõe ordenação série organizada de apontamentos ou conjunto de formulações genéricas Em plano filosófico um paradigma serve à afirmação de uma identidade a qual sem renegar diferenças possíveis opõese e contrasta por ser unitária e uniforme a toda dispersão pela multiplicidade É essa sua função positiva Ao operar porém a redução efetiva de uma complexidade manifesta deixandose então traduzir como conjunto de normas que pela interposição ativa de teorias ensejam a elaboração de modelos o paradigma terá dado conta de sua função negativa Em ambos os casos princípio ordenador que é ao aplicarse à estruturação de modos de percepção ver as coisas e tornar possível a experiência um paradigma tanto fornece uma visão lógica quanto prescreve um viés ideológico mítico talvez que logo o caracterizam Adotar um paradigma significará firmar um ponto de vista não somente porque assim se vê de perto mas também porque indiscretamente se determina o modo pelo qual se vai exercer um olhar Definidos como quadros de referência sobretudo de ordem filosófica dados como aptos a compor conjuntos de teorias com seus métodos seus conceitos operacionais etc e sugerir a edificação de modelos delimitando áreas de pesquisa os paradigmas em domínios que são os da ciência orientam hipóteses teóricas à vista de sua confirmação ou sua invalidação empíricas Contando sempre com um grau maior ou menor de consciência a aceitação voluntária de um paradigma fornece ao cientista uma paisagem mental por meio da qual ele poderá prefigurar fatos do mundo aqueles em cuja elucidação esteja interessado Se a identidade acima referida torna legítimo um paradigma e conversivamente o paradigma assegura à identidade um lastro filosófico então um paradigma diz respeito ao modo pelo qual uma comunidade científica encontra no conjunto de caracteres que a distingue como tal a escolha de suas linhas de pesquisa a orientação teórica que preconiza os métodos de análise de que faz uso e os critérios de avaliação que elege Paradigma põese em paralelo à visão dominante em dada comunidade científica em dada época histórica e em determinado estágio de desenvolvimento de uma ciência Prevalece então um dado tipo de explicação desvelamento perfilhado e posto em prática por cientistas à condição de a seu critério atender a condições de ordem lógica e configurar um modo de dizer empiricamente satisfatório¹ Paradigma dirá também ideários científicos expressamente representados por teorias desenvolvidas e modelos propostos que envolvem certo número de problemas e as soluções a eles apresentadas Todo paradigma serve à introdução de um feixe de certezas e convicções mais ou menos apriorísticas que autoriza a formulação de perguntas legítimas e oportunas acompanhadas dos protocolos científicos que encaminham suas respostas Em alguns contextos de expressão paradigma pode ser considerado termo sinônimo a cânone sistema e estrutura Revoluções científicas portanto terão lugar todas as vezes que crenças e convicções até então aceitas de modo inconteste sofram abalos e venham a desmoronar A monta das contradições que nelas estão implícitas terá tornado insustentável a vigência de um paradigma Consolidado seu triunfo tais revoluções contribuem para o fortalecimento de um ou mais paradigmas justamente aqueles cuja entrada em vigência as tornou possíveis Em resumo um paradigma consiste em uma mistura de pressupostos filosóficos de modelos teóricos de conceitoschave e de prestigiosos resultados de pesquisa isso tudo passando a constituir um universo de pensamento familiar a pesquisadores em dado instante do desenvolvimento de uma disciplina científica² Entre os exemplos clássicos de paradigmas científicos figura o sistema do astrônomo Cláudio Ptolomeu 100170 dC Suas teorias e explicações astronômicas que afirmam a imobilidade da Terra e sua posição no centro do universo dominaram o pensamento científico até o século XVI Outro sistema a nova astronomia de Nicolau Copérnico 14731543 as revogou demonstrando que o Sol ocupava o centro do universo a Terra em movimento de rotação girava em torno dele Distante de seu significado original de visão deslumbrada ou contemplação admitese em nosso tempo ser a teoria uma construção intelectual o modo de apresentação de um saber Servem as teorias a uma explicação da realidade por exemplo em sentido filosófico ou a uma exposição explicativa de algo latente em fatos naturais ou culturais Uma teoria tem por fundamento um sistema de caráter dedutivo que por paradigmático desfruta de sólido prestígio científico pelo qual se vinculam de maneira consistente uma ou mais hipóteses suposições informadas a observação regrada e um inventário das consequências verificadas Uma teoria se deixa entender ainda como uma construção capaz de introduzir modificações no que é observado ou submetido à teorização Essa qualidade é especialmente valorizada no âmbito das ciências humanas e portanto na Comunicação uma vez que a teorização efetuada sobre a realidade física não pretende modificála senão incluíla no rol do que se pode observar cientificamente Concepção racional posta de pé para fins especulativos uma teoria remete a um campo de investigação científica estabelecendo uma perspectiva representação de objetos sobre um plano estabelecido e dispondo seus enunciados de acordo com uma estratégia expositiva Uma teoria assinala uma redução de manejo de um paradigma em relação ao qual certamente esta apresentará maior grau de concretude Contrastada à realidade dos fatos e fenômenos a cujo estudo se aplique pelo recurso à observação e à experimentação uma teoria proporciona a elaboração criteriosa de um modelo pequeno molde ou risco de bordado instrumento organizador que simula tal realidade Delineiase aqui a forma ideal preexistente ou o simulacro elaboradamente construído com o auxílio do qual é possível se observar e classificar os fatos observados de acordo com certo sistema de referências É por obra e graça de modelos que se adiantam hipóteses elas dão vida a uma teoria Descrição e explicação de fatos e fenômenos previstos por um paradigma e selecionados por uma teoria o modelo atendendo a finalidades eminentemente práticas retém apenas aspectos e relações tidos na conta de mais importantes para a referida teoria em acato às disposições do paradigma que a abriga Maneira de se fazer todo modelo acarreta uma simplificação de resto necessária à imagem daqueles fatos e fenômenos teoricamente existentes e observáveis Da máxima idealização operada pelo paradigma e da concretude mínima representada pelo modelo passandose pela concepção concreta e abstrata da teoria percorrese a distância que medeia entre o possível e o provável em assuntos de interesse para a ciência Para fins de análise e de compreensão científicas a Comunicação pode ser observada como uma jurisdição teórica no interior da qual se alinham temas e teses comportando definições e conceitos operatórios Podese falar a esse respeito de um viés fio de prumo modo próprio de pelo qual se estabelecem a competência para se fazer ciência a autonomia disciplinar e o prestígio social que dela provêm Seus pontos de demarcação são compostos por um campo uma área e uma linha dita exploratória Em todos os domínios em que se verifique o comportamento humano visto sob o prisma privilegiado da interação social tal como ocorre com a Comunicação será assimilado à condição de parte de um todo que se deixa estruturar como um campo no interior do qual se estabelecem correlações e se estruturam relações objetivas incluindose aí relações de poder Nesse sentido um campo enfeixa o fluxo e o refluxo de toda espécie de ações que são de índole subjetiva e finalidade objetiva Uma vez instituído um campo enseja a relação vinculadora de modos de produção social que são de ordem simbólica Um campo estrutura relações objetivamente estabelecidas constitutivas de uma totalidade Como tal todo campo se deixa perceber por uma racionalidade própria Em campos distintos economia arte indústria da cultura academia mundo do espetáculo empreendese uma iniciativa comum de produção de sentidos obedientes a lógicas próprias a cada um A recompensa por se integrar um campo e nele atuar é dada por parcelas de poder simbólico que se passa então a deter Por área entendese o recorte operado no campo escolhido de maneira conforme a dada estratégia investigativa Enfim chamase linha exploratória ao conjunto de temas teses e hipóteses que em última análise dá forma à investigação a ser empreendida Pesquisa ou investigação tem por significado indagação minuciosa e realizada com critério ou busca cuidadosamente preparada É portanto empreitada de cunho científico que se destina ao estabelecimento de dados confiáveis os quais submetidos a triagem e registro preordenado servirão a propósitos de análise à proposição de teses à formulação de teorias ou ao exercício da crítica A pesquisa é um modo de se buscar Para sua necessária dinamização concorrem duas formas A primeira compreende um programa ou conjunto de atividades que realizadas de modo concomitante ou sucessivo caracteriza o desenvolvimento de uma linha de pesquisa Seguese um projeto que consta da proposição de uma atividade específica com início e fim preestabelecidos Para que se chegue a algum lugar em matéria de prática científica é necessário traçar rumos estabelecer rotas encontrar atalhos Por metodologia entendese o conjunto de procedimentos mediante os quais se intenta dar uma estrutura a um conhecimento científico Vale lembrar que questões de método exigem tratamento cuidadoso por exemplo sempre que se pretenda aplicar conceitos e ideias constitutivos de um campo a um outro que se esteja instituindo As implicações de eventuais descuidos vão dos riscos da ingenuidade e da simplificação redutora às impropriedades expositivas e aos impasses metodológicos Ao adotarse uma metodologia estáse indagando acerca de uma problemática formulandose a seu respeito uma ou mais hipóteses Podese proceder de modo descritivo avaliandose algo já estabelecido ou de modo explicativo tentandose verificar uma hipótese Firmase um ponto de partida pelo qual se formula uma questão obediente a regras semânticas significados atribuídos aos termos de que faz uso A estas últimas compete oferecer uma referência precisa e conferir um sentido bem ordenado aos conceitos criados e postos em circulação A linguagem está para a teoria assim como a embalagem está para o presente É dizer que em última análise um paradigma se deixa perceber pelos conceitos que faz seus os quais logo se dispõe sob a forma de uma constelação remetendo uns aos outros e operando pelo princípio da recursividade Todo paradigma será portanto declarado unitário por fazer valer uma desejável unidade e unificador porque a tudo reúne num só corpo e faz convergir para um mesmo fim Uma vez adotado um paradigma dominante induz à aceitação irrestrita de certa padronização perceptiva Tratase por outras palavras de um modo de observação um olhar que prevê táticas para uma leitura doação de sentido e orienta estratégias de interpretação compreensão mediada e medida pela interposição de um método preconizado confere legitimidade científica a um objeto e aponta rumos teóricos ao estudo de dado campo investido pela ciência Um paradigma corresponde a um código abrindo um leque de possibilidades uma teoria ao processo de codificação oferecendo disposições e o modelo à mensagem pelo jogo interessante das probabilidades Há quem ofereça os termos abordagem e enfoque como sinônimos aceitáveis de paradigma Isso significa que da proposição abstrata inicial à realização concreta final vaise do máximo de possibilidades ao mínimo de probabilidades COMUNICAÇÃO E TEORIA Comunicação compõe processo básico para a prática das relações humanas assim como para o desenvolvimento da personalidade individual e do perfil coletivo Pela comunicação o indivíduo se faz pessoa indo do ser singular à relação plural Em sua prática corrente a comunicação envolve um ethos que diz respeito à atitude de quem opina ou argumenta um logos que se refere à racionalidade inerente à opinião ou ao argumento apresentado e um pathos que tem a ver com a arte de tornar apaixonante o fato mesmo de opinar ou de argumentar Objeto de estudos acadêmicos e científicos a comunicação sintetiza características definidoras da sociedade e traços distintivos da cultura A comunicação demonstra que a universalização do contato múltiplo é antídoto eficaz ao totalitarismo do sentido único Cotidiana dialógica jamais concluída e em permanente recomeço a comunicação se faz e refaz pelos incontáveis dizeres de que todos somos capazes em nossa condição e de acordo com nossa situação em distintos tempos e variados lugares A comunicação é humana Busca encontrar sentidos para as coisas interpretar os acontecimentos entender os fatos do mundo Também para isso servem os provérbios as frases feitas e sempre de efeito as histórias bem ou mal contadas Mais os menos estabelecidos esses sentidos constituem um pôr em comum de hábitos costumes e tradições que lança raízes em todos os sistemas de organização social Uma mensagem e a comunicação tem seus alicerces na troca de mensagens porta significados todavia são seus destinatários os que a ela emprestam um ou mais sentidos Provido de sentido todo ato comunicativo providencia ainda mais sentido Comunicar é estar em condições de atribuir um sentido um quase nada que é tudo desfazendose para logo se reconstituir O sentido se afigura infinitamente negociável porque é essa sua razão mesma de ser Chamase senso comum àquela reunião de sentidos que a maioria adota e por força desse modo consensual de se ver e considerar a comunicação já se tornou corriqueiro confundila com a simples desenvolvimento da expressão pessoal Comunicar passa a equivale a dar bem o seu recado É falou e disse no modo bem popular de se designar a expressão hábil e categórica A boa comunicação so mente pode ser obtida pelo contato bemsucedido pela capacidade de persuadir ou enrolar em virtude de um raciocínio ágil e de uma diligente argumentação também pela aptidão em seduzir graças a um carisma graça ao magnetismo ao charme ao fascínio que se inspira É algo como a posse e o uso ostensivo de uma verve oratória talvez de uma irresistível lábia ou com intenções nem sempre de imediato confessáveis da habilidade de passar uma cantada O senso comum confunde comunicação e comunicabilidade preferindo a retórica o encanto do discurso à dialética a pertinência da ideia Em seu exercício diário acercandose daquilo que pode apreender o senso comum opera uma seleção continuada de coisas ideias e objetos Em tudo o que retém procura serventias porque o uso ou o desfrute que deles possa ser feito ou que deles se venha a ter faz as vezes de critério para lhes atribuir valor e lhes dar sentido São portanto a oportunidade ou a praticidade convocadas para servir de referentes ao que se tem na conta de desejável ou ao que parece ser útil Filosoficamente falando o senso comum é finalista Do mesmo modo representativo de um certo modo de ser e estar o senso comum enseja mil peças de um teatro cujas regras de encenação aqui e em toda parte pouco ou nada variam Poético que seja o senso comum simplifica o que bem entende terminando não raro por ocultar elementos básicos para a compreensão de dada realidade Mesmo as coisas simples existem em algum grau de profundidade que cumpre conhecer sem quaisquer veleidades a uma purificadora inocência teórica Curiosamente é aquele o conhecimento de que se necessita para prover de articulação crítica e de consciência de fato a uma determinada visão de mundo Podese assim admitir que as teorias científicas venham a provocar estranhezas ante as quais espantado o velho e bom senso comum teria dificuldades em proceder a um reconhecimento e providenciar uma autenticação A seu modo próprio o senso comum é literalmente paradigmático teorias eventuais que dele se reclamem proporcionam modelos na acepção forte desse termo moldes ou molduras que permitam enquadrar alguma coisa facilitando o seu entendimento Um paradigma está para a investigação científica como um plano de voo está para a condução de uma aeronave A um paradigma corresponderá um arquétipo uma ideia geral cada uma das teorias que venha a autorizar constituirá um protótipo uma formulação específica e os modelos que tais teorias permitam criar e propor serão assimiláveis a um estereótipo uma norma coercitiva Ao completar o ciclo de sua elaboração a uma teoria poderá restar o encargo de construir um modelo medida a ser respeitada passível de correção e de modificação É por tal adoção e pela criteriosa aplicação do modelo que a teoria se declara em medida de influenciar os resultados apurados quando da realização de uma pesquisa Sendo objeto de imitação todo modelo tanto significa a forma idealizada que dá sustento a uma efetuação quanto quer dizer o simulacro simulação bemfeita cuja esmerada construção permite representar dado conjunto de fenômenos Enfim se essa representação exemplar der destaque à operacionalidade imediata o modelo será declarado analítico e se puser em vantagem a estrutura teórica que o sustém será chamado de conceitual De qualquer modo é por sua eficácia operatória em análise ou em síntese que se pode aferir o valor de um modelo O paradigm reina a teoria legisla o modelo governa E a pesquisa vota O campo é um reino um domínio uma circunscrição Mantida a analogia uma zona eleitoral Delineiamno teorias orientadas por referências paradigmáticas Discutese com inteira razão acerca de a Comunicação constituir uma disciplina científica autônoma ou de apenas balizar precariamente um campo situado na interseção das ciências humanas Por envolver a essência do humano os atos as ações e as atividades de comunicação sempre foram motivo de interesse para as ciências humanas A Comunicação tem sido objeto de reflexões teóricas análises empíricas e críticas filosóficas por parte de domínios científícos como a sociologia a linguística a história a psicologia a pedagogia a antropologia a ciência política e a psicanálise Apesar disso mais do que uma interciência o campo de estudos da Comunicação se oferece como território de busca multidisciplinar isto é um terreno para o fértil intercâmbio teóricometodológico que longe de o descaracterizar reproduz por sua existência e sua assiduidade a movência própria à Comunicação Quanto mais o campo da Comunicação se institucionalizar e for reconhecido como próprio a uma disciplina tanto mais estará em medida de autorizar a produção de textos que a ele remetam Expressamente consentidos em sua grata variedade esses textos dão contornos ao campo da Comunicação e fortalecem sua tradição Bem mais importante do que se estabelecer a natureza da Comunicação é refletir sobre ela de maneira regrada e sistemática Se não for de todo impróprio será no mínimo injusto confundirse o mecanismo de transmissão de informações de sentimentos e de ideias que tem um receptor como condição necessária ao processo de enriquecimento mútuo que se verifica em toda relação verdadeiramente dialógica Comunicação é ação de reciprocidade é trama e transação Antes mesmo de recorrer à dialética do discurso articulado o ser humano comunicava pelas sensações elementares Seus sentimentos emoções impregnadas por alguma reflexão nasceram de seu contato continuado com sons formas e cores Seu pensamento se ordenava pela graça de uma linguagem gráfica que ilustrava o espaço em que se dispunha antes de vir a se ordenar em uma linguagem verbal distribuída no curso do tempo Tal como se pode depreender a Comunicação em seu sentido pleno constitui prerrogativa humana básica regendo a vida de todo ser humano seja em sua formação individual seja em sua imersão em meio social O acesso que tem e mantém a outros indivíduos empenha cada indivíduo em uma comunicação interindividual por extensão é ela grupal e comunitária Esta última aliás ganha corpo a cada dia sendo composta por subjetividades emergentes identificadas a novas formas de vida social em que de modo orgânico interagem informação nova e antigos costumes A Comunicação se deixa então ver como um bios gênero de existência virtual Achase também dispersa em redes informatizadas é planetária Pelo fato de abranger distintos procedimentos de troca intersubjetiva a comunicação se verifica tanto em um nível microssocial como em plano dito organizacional envolvendo empresas e corporações Comunicação Social quer então dizer atividade constante e infinda pela qual se compõem mantêm e transformam espaços socioculturais É também interação generalizada promovida pela organização da sociedade e permanentemente atualizada pelas relações que em todos os níveis nela têm lugar A comunicação é fator básico de convivência e elemento determinante das formas que a sociabilidade humana adquire Uma mesa posta na qual as pessoas se servem ou são servidas de acordo com os seus interesses eis o ângulo pelo qual o filósofo francês Gilles Deleuze 1905 1995 que concebia o ser humano como uma máquina desejante veio a considerála O conhecimento teórico da Comunicação favorece a compreensão crítica das relações que entre si os indivíduos mantêm bem como o quadro formado por sua cultura sua inserção em um meio social e mesmo a relevância do papel que em tudo isso os meios de comunicação e a sociedade da informação desempenham Somente de maneira conforme a uma visão tecnicista poderia a comunicação reduzirse a um instrumento para pouco mais servindo neste caso do que para a operação eficiente de mediações tecnológicas Coube à UNESCO Organização das Nações Unidas para Educação Ciência e Cultura a iniciativa de fomentar os estudos de Comunicação no continente latinoamericano Imaginavam seus 3 É essa a tese que defende Muniz Sodré em seu livro Antropológica do Espelho uma teoria da comunicação linear em rede Petrópolis Vozes 2002 dirigentes que a melhoria e a ampliação dos sistemas de comunicação existentes viessem a favorecer a educação escolar formal dandose decisivo passo para acabar com o analfabetismo e pelo mesmo movimento a prover populações culturalmente desassistidas de uma expressiva gama de produtos simbólicos O CIESPAL Centro Internacional de Estudos Superiores em Comunicação para a América Latina fundado em 1969 pela UNESCO tinha por fim precípuo remodelar o ensino universitário da Comunicação formando comunicadores sociais aptos a suprir a tais necessidades Entre os modelos de pesquisa propostos estava o do estudo científico de padrões de comportamento do público em relação às mensagens a ele destinadas pelos meios de comunicação Análises de índole estatística e quantitativa levadas a termo sobre fenômenos de audiência eram já naquela época muito comuns nos Estados Unidos Impunhase encontrar saídas teóricas e metodológicas que conviessem à situação da América Latina vasto continente que naqueles anos conheceu ditaduras patrocinadas e exercidas por militares Sob os auspícios do saber acadêmico e a égide da ciência também no Brasil se buscava forjar os meios necessários para o deslinde da intricada relação de aspectos econômicos políticos e culturais responsável pelo domínio hegemônico dos sistemas de comunicação existentes Em suas primeiras formulações teóricas e em todas as análises que ofereceram estudiosos das ciências humanas tenderam a reduzir a Comunicação aos limites de suas respectivas disciplinas aparentemente não reconhecendo qualquer autonomia a esse campo Não o investiam de fato e de direito talvez nem mesmo o reconhecessem como tal No mais ao atrelaram a Comunicação às disciplinas que professavam subordinandoa às suas metodologias permaneciam em posição externa a ele O momento histórico em que no Brasil surgem as faculdades e escolas de Comunicação caracterizase por toda espécie de arbitrariedades cometidas em meio à vigência de um regime político e administrativo discricionário Os estudos de Comunicação por lidarem com matéria social cultural e política deveriam formar um baluarte de resistência à doutrina oficial imposta por aquele regime A militância acadêmica deveria favorecer na cátedra e na pesquisa o desvelamento ideológico do regime promovendo sua candente denúncia Os estudos de Comunicação se assemelhavam a uma trinchera teórica na qual se fincara a bandeira da restauração da normalidade democrática no Brasil Em linha com um pensamento expresso do dramaturgo alemão Bertolt Brecht pelo qual a ciência se não pudesse servir ao homem para nada mais serviria ganhou foros de verdade indisputável a crença de que a pesquisa científica não teria finalidade maior que a de servir politicamente à transformação da vida social Estudos e pesquisas confundiam a investigação filosófica e a práxis política Essa é a razão pela qual teorias ora de extração sociológica ora de cunho psicológico ora ainda políticoeconômico situadas à direita ou sobretudo à esquerda do espectro político tivessem vindo ocupar de modo vistoso o proscênio Foise com muita sede teórica ao pote da Comunicação o que levou a que teorias de todos os matizes dessem motivo à consecução de finalidades imediatistas quebrando o cântaro dos debates teóricos e rachando a caneca da pesquisa básica nesse domínio Inspiradas por um estreito sentimento nacionalista ouviramse queixas à importação dos modelos sem que houvesse consideração mais atenta de que tais modelos uma vez deglutidos metabolizados e assimilados produziriam bons frutos e fariam avançar o conhecimento do campo comunicacional Não há fronteiras nacionais para a ciência Diziase também que no tocante à desejável unidade do conhecimento da Comunicação carências porventura existentes poderiam 4 Filósofo e humorista Millôr Fernandes escreveu certa vez Ora existia ali um senhor corpulento soturno e atrabiliário Tramava todos os dias Por nada e por tudo pura vontade de tramar Esse homem concordantemente tinha por nome Vício Mas todo mundo o chamava carinhosamente de Critério ser atribuídas à habitual importação de modelos conceituais metodológicos profissionalizantes e modernamente de mercado modelos estes originários de distintos contextos socioeconômicos culturais e políticos Nesse terreno fértil adubado pela desconfiança e o sentimento de opressão vicejaram o negativismo teórico e a crítica política radical dando o tom do ensino e da pesquisa em Comunicação Em um ímpeto didáticopedagógico destinado a prover de consciência crítica comunicadores sociais formados habilitandoos ao combate aos ideais das classes dominantes a eles se infundia não raro má consciência em relação a produtos culturais legítimos Quem detém um saber está apto a exercer um contrapoder Não obstante tal como ocorreu em outros domínios os estudos de Comunicação acolheram no Brasil teorias e modelos que provinham inicialmente dos Estados Unidos funcionalismo sociológico ou da França semiologia linguística No primeiro caso procuravase conhecer a estrutura de funcionamento e corrigir eventuais disfunções dos meios de comunicação no outro eram objeto de análises rigorosas as chamadas linguagens de conotação a valorização crítica de modos de dizer Quanto à elucidação críticofilosófica e a competente denúncia a ser feita das tramas ideológicas urdidas pelos meios de comunicação a televisão em primeiro lugar da aviltante banalização da arte e da mercantilização de artefatos culturais promovidas pela indústria da cultura a Kulturindustrie na concepção original de Theodor Wiesengrund Adorno 19031969 e Max Horkheimer 18951973 ficaria por conta da teoria crítica da cultura da Escola de Frankfurt Alemanha 5 Era esse o projeto intelectual a ser levado a termo pela revista francesa Communications publicada sob os auspícios da Escola de Estudos Superiores em Ciências Sociais Centro de Estudos Transdisciplinares Sociologia Antropologia Semiologia em Paris pela editora Seuil A publicação continua 6 Denominação genérica com a qual podem ser designadas as organizações produtoras e distribuidoras de bens simbólicos como empresas jornalísticas emissoras de rádio e televisão editoras de livros gravadoras produtoras de cinema ou vídeo e agências de publicidade No Brasil daqueles anos viriam a oporse estudiosos da Comunicação que se alinhavam a uma ou à outra das facções tendo ambas em comum a intransigência na defesa de seus pontos de vista e portanto a perfeita inconciliabilidade de suas teorias de base Foi o ensaísta italiano Umberto Eco um nome famoso na época quem os chamou de apocalípticos ou integrados dependendo do jaez de suas posições ante a irresistível ascensão dos meios de comunicação Acreditavase então que aqueles meios fossem onipotentes e destinados a contagiar as massas submetendoas aos seus desígnios Emissor e canal detinham todo poder e encarnavam toda potência Céticos ou francamente pessimistas os apocalípticos não viam qualquer luz no fim do túnel a não ser talvez o farol de uma locomotiva vindo em sentido contrário representado pelas indústrias da cultura com sua produção em série e em escala industrial de artefatos culturais promovidos com alarde pela indústria do entretenimento Os meios de comunicação seriam portadores da bárbarie cultural ao suscitarem o afloramento de emoções e sentimentos sem motivar qualquer processo de reflexão Quanto aos integrados alguns dos quais pareciam afeitos a uma concepção tecnicista da Comunicação voltada no mais alto grau para a prática davam como certo que os meios de comunicação possuíssam potencialidades suficientes para se bem exploradas pôr fim a todos os privilégios da educação e do monopólio cultural da inteligência burguesa Por constituição própria esses meios seriam em princípio socializantes democráticos e imensamente populares Havia portanto dois paradigmas em presença a um podemos chamar de paradigma matemáticoinformacional adiante reaproveitado como paradigma funcionalistapragmático cujas formulações teóricas e os modelos de análise e compreensão se apoiavam em métodos quantitativos e tabulações estatísticas anotando por exemplo índices de audiência e verificando efeitos produzidos Uma visão racionalistainstrumental positivista tomando a ciência como síntese orgânica da cultura e pragmática ênfase posta nos resultados úteis de toda ação era sua característica Seus modelos teóricos como adiante veremos explicavam o fenômeno da comunicação pelo recurso à psicologia do comportamento a relação entre um estímulo dirigido e uma resposta obtida sendo um e outro previsíveis pelos métodos da sociologia funcionalista todo fato seja qual for o nível de seus desdobramentos pode ser explicado por sua função isto é pelo que representa para um sistema e pelo modo como se interrelaciona com outros fatos e pelos quadros do pragmatismo a verdade se define pelo êxito sendo dado que a função do pensamento é produzir hábitos de ação em seus matizes originais na filosofia americana do século XIX O escopo da teoria da Comunicação em suas formas próprias e em suas funções não tardou a se tornar objeto de alguma controvérsia O estilhaçamento virtual da ideia de Comunicação em uma miríade de saberes os quais bem resumidos integram um amplo espectro de disciplinas e compõem currículos universitários se fez desafio a quem quer que teoricamente procurasse demarcar com algum rigor seu campo de estudos Isso significa que se mantém em discussão as premissas metodológicas e as concepções propriamente científicas relativas aos objetos e aos objetivos dos estudos e das pesquisas em Comunicação 7 Sociedades que congregam pesquisadores em Comunicação como a Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação fundada pelo Professor José Marques de Melo no ano de 1984 a Compós Associação Nacional dos Programas de Pósgraduação em Comunicação e em plano latinoamericano a Alaic Associação Latinoamericana de Pesquisadores em Comunicação constituem preciosos espaços interinstitucionais nos quais se fomenta a pesquisa e se nutre a discussão teórica em nosso campo e do interesse que a ela se atribui no século que se inicia De modo geral assim também se pode encontrar uma competente explicação e uma justificativa para a pluralidade de paradigmas sob os quais tantos e tão variados modelos teóricos vêmse abrigar Entre os paradigmas a que nos estamos referindo destacamse os seguintes paradigma funcionalistapragmático paradigma matemáticoinformacional paradigma conceitual ou críticoradical paradigma conflitualdialético paradigma culturológico paradigma midiológico paradigma tecnológicointerativista Na impossibilidade de dar aqui minuciosa conta de todos parece ser acertado tratar com distinção aqueles que pela proficiência dos modelos teóricos apresentados e a competência filosófica ou científica dos seus mentores efetivamente balizaram o itinerário do conhecimento adquirido da Comunicação Outro fato a ser consignado é o de que os meios de comunicação a mídia ou os media há muito vêm influenciando o processo de comunicação e em consequência sua investigação teórica Se o na pósModernidade bafejados pelo desenvolvimento exponencial das novas tecnologias Antes de apresentar em modo analítico os modelos teóricos que retivemos será necessário um excursso pelo fascinante parque de diversões da mídia moderna e da multimídia ou hipermídia pósmoderna O paradigma midiológico poderá ser caracterizado como transitivo ou bifronte Sua própria denominação sugere a importância que os meios de comunicação tiveram na Modernidade E como pensar a pósModernidade sem considerálos