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História
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Curso de Graduação a Distância História da África 2 créditos 40 horas Autor Marcelo Piccolli Universidade Católica Dom Bosco Virtual wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 2 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Missão Salesiana de Mato Grosso Universidade Católica Dom Bosco Instituição Salesiana de Educação Superior Chanceler Pe Ricardo Carlos Reitor Pe José Marinoni PróReitora de Graduação e Extensão Profª Rúbia Renata Marques Diretor da UCDB Virtual Prof Jeferson Pistori Coordenadora Pedagógica Profª Blanca Martín Salvago Direitos desta edição reservados à Editora UCDB Diretoria de Educação a Distância 67 33123335 wwwvirtualucdbbr UCDB Universidade Católica Dom Bosco Av Tamandaré 6000 Jardim Seminário Fone 67 33123800 Fax 67 33123302 CEP 79117900 Campo Grande MS PICCOLLI Marcelo História da África Marcelo Piccolli Campo Grande UCDB 2017 112 p Palavraschave 1 História da África 2 Primeiras Civilizações 3 Período Précolonial e colonial 4 Escravização 5 Independência 6 Influências africanas 0220 3 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO Este material foi elaborado pelo professor conteudista sob a orientação da equipe multidisciplinar da UCDB Virtual com o objetivo de lhe fornecer um subsídio didático que norteie os conteúdos trabalhados nesta disciplina e que compõe o Projeto Pedagógico do seu curso Elementos que integram o material Critérios de avaliação são as informações referentes aos critérios adotados para a avaliação formativa e somativa e composição da média da disciplina Quadro de Controle de Atividades tratase de um quadro para você organizar a realização e envio das atividades virtuais Você pode fazer seu ritmo de estudo sem ul trapassar o prazo máximo indicado pelo professor Conteúdo Desenvolvido é o conteúdo da disciplina com a explanação do pro fessor sobre os diferentes temas objeto de estudo Indicações de Leituras de Aprofundamento são sugestões para que você possa aprofundar no conteúdo A maioria das leituras sugeridas são links da Internet para facilitar seu acesso aos materiais Atividades Virtuais atividades propostas que marcarão um ritmo no seu estudo As datas de envio encontramse no calendário do Ambiente Virtual de Aprendizagem Como tirar o máximo de proveito Este material didático é mais um subsídio para seus estudos Consulte outros conteúdos e interaja com os outros participantes Portanto não se esqueça de Interagir com frequência com os colegas e com o professor usando as ferramentas de comunicação e informação do Ambiente Virtual de Aprendizagem AVA Usar além do material em mãos os outros recursos disponíveis no AVA aulas audiovisuais vídeoaulas fórum de discussão fórum permanente de cada unidade etc Recorrer à equipe de tutoria sempre que precisar orientação sobre dúvidas quanto a calendário atividades ferramentas do AVA e outros Ter uma rotina que lhe permita estabelecer o ritmo de estudo adequado a suas necessidades como estudante organize o seu tempo Ter consciência de que você deve ser sujeito ativo no processo de sua aprendiza gem contando com a ajuda e colaboração de todos 4 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Objetivo Geral Compreender identificar e analisar o processo histórico de formação dos povos africanos bem como as dinâmicas sociais culturais e políticas deste continente Discutir sua singularidade e seu lugar na História desde o processo de formação da préhistória africana até os movimentos de independência no século XX Analisar de maneira crítica as influências africanas na formação cultural de diversas nações a partir do século XVI SUMÁRIO UNIDADE 1 PRÉHISTÓRIA AFRICANA 12 11 Contextualização da África Berço da humanidade e da civilização 12 12 Préhistória africana Grupamentos de caçadores coletores 16 13 Préhistória africana As culturas agrícolas 20 UNIDADE 2 AS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES AFRICANAS 24 21 A África Nilótica Egito Núbia Kush e Axum 24 22 O Norte da África Dos Berberes aos Árabes 35 23 O Império Cartaginês 37 UNIDADE 3 A ÁFRICA NEGRA PRÉCOLONIAL E A ESCRAVIDÃO 46 31 A África Subsaariana 46 32 Escravidão na África précolonial 60 UNIDADE 4 NEOCOLONIALISMO E MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA DA ÁFRICA SÉCULOS XIX E XX 75 41 O Neocolonialismo e o fim do tráfico de escravos africanos 75 42 Os Movimentos de Independência na África 79 43 Os desafios africanos após os processos de independência 89 REFERÊNCIAS 99 EXERCÍCIOS E ATIVIDADES 104 5 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Avaliação A UCDB Virtual acredita que avaliar é sinônimo de melhorar isto é a finalidade da avaliação é propiciar oportunidades de açãoreflexão que façam com que você possa aprofundar refletir criticamente relacionar ideias etc A UCDB Virtual adota um sistema de avaliação continuada além das provas no final de cada módulo avaliação somativa será considerado também o desempenho do aluno ao longo de cada disciplina avaliação formativa mediante a realização das atividades Todo o processo será avaliado pois a aprendizagem é processual Para que se possa atingir o objetivo da avaliação formativa é necessário que as atividades sejam realizadas criteriosamente atendendo ao que se pede e tentando sempre exemplificar e argumentar procurando relacionar a teoria estudada com a prática As atividades devem ser enviadas dentro do prazo estabelecido no calendário de cada disciplina Critérios para composição da Média Semestral Para compor a Média Semestral da disciplina levase em conta o desempenho atingido na avaliação formativa e na avaliação somativa isto é as notas alcançadas nas diferentes atividades virtuais e nas provas da seguinte forma Somatória das notas recebidas nas atividades virtuais somada à nota da prova dividido por 2 Caso a disciplina possua mais de uma prova será considerada a média entre as provas Média Semestral Somatória Atividades Virtuais Média Provas 2 Assim se um aluno tirar 7 nas atividades e 5 na prova MS 7 5 2 6 Antes do lançamento desta nota final será divulgada a média de cada aluno dando a oportunidade de que os alunos que não tenham atingido média igual ou superior a 70 possam fazer a Recuperação das Atividades Virtuais Se a Média Semestral for igual ou superior a 40 e inferior a 70 o aluno ainda poderá fazer o Exame Final A média entre a nota do Exame Final e a Média Semestral deverá ser igual ou superior a 50 para considerar o aluno aprovado na disciplina Assim se um aluno tirar 6 na Média Semestral e tiver 5 no Exame Final MF 6 5 2 55 Aprovado 6 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 FAÇA O ACOMPANHAMENTO DE SUAS ATIVIDADES O quadro abaixo visa ajudálo a se organizar na realização das atividades Faça seu cronograma e tenha um controle de suas atividades Coloque na segunda coluna o prazo em que deve ser enviada a atividade consulte o calendário disponível no ambiente virtual de aprendizagem Coloque na terceira coluna o dia em que você enviou a atividade AVALIAÇÃO PRAZO DATA DE ENVIO Atividade 11 Ferramenta Tarefa Atividade 21 Ferramenta Tarefa Atividade 31 Ferramenta Tarefa Atividade 41 Ferramenta Tarefa 7 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 BOAS VINDAS Olá seja muito bemvindo a às discussões e estudos da disciplina de História da África Neste módulo vamos discutir sobre a formação histórica das sociedades do Continente Africano de sua formação préhistórica até os processos políticos e econômicos do século XX analisar seus elementos constituintes discutindo de maneira aprofundada a África em suas diferentes fases Também faz parte do objetivo da disciplina compreender a relação entre as culturas africanas europeias e brasileira analisando de forma crítica as transformações econômicas políticas e sociais resultantes destas integrações Espero que esta disciplina possa ajudálo a a compreender inúmeras discussões e desdobramentos sociopolíticos da África no passado e na atualidade e assim juntos possamos caminhar pela história da mãe África que por muito tempo foi renegada Bom estudo Prof Marcelo 8 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Préteste A finalidade deste préteste é fazer um diagnóstico quanto aos conhecimentos prévios que você já tem sobre os assuntos que serão desenvolvidos nesta disciplina Não fique preocupado com a nota pois não será pontuado 1 Assinale a alternativa correta sobre a história das diferentes sociedades africanas até o século XVI a O império Songhai situado às margens do rio Níger teve em sua capital Gao um importante polo mercantil que reunia mercadores oriundos da Líbia do Egito e do Magreb b As sociedades da África equatorial em função das condições geográficas e climáticas pouco propícias eram formadas predominantemente por pastores de animais de pequeno porte sendo praticamente inexistente na região o cultivo de produtos agrícolas c As sociedades de origem Bantu localizadas na região da África meridional entre os séculos XII e XV eram predominantemente nômades e coletoras não organizadas em aldeias e com escasso desenvolvimento tecnológico d A África marcada pela intensa difusão do cristianismo durante as Cruzadas contou entre os séculos XI e XV com reduzida presença de elementos islâmicos na definição das variadas culturas existentes no continente e O estabelecimento da colônia portuguesa em Moçambique no século XVI definiu o início das rotas comerciais ligando a região oriental do continente africano entre Madagascar e o Chifre da África com a Europa e a Ásia 2 Após ser repartida e colonizada por países europeus especialmente a partir da Conferência de Berlim na década de 1880 a África passou no século XX por diferentes processos de independência que deram origem aos territórios da maior parte dos países do continente Esses processos no contexto da Descolonização da África têm como características comuns e principais a O desenvolvimento de teorias raciais de superioridade do homem negro e a criação da Unidade Africana que reuniu as principais lideranças rebeldes do continente e declarou guerra aos Estados Unidos b O apoio da União Soviética que no contexto da polarização política pósSegunda Guerra Mundial incentivou a industrialização e a rápida arrancada de desenvolvimento verificadas nas excolônias europeias na África c A atuação de missionários cristãos e agentes da Organização das Nações Unidas que aliados a agências internacionais de notícias promoveram campanhas de conscientização da opinião pública internacional pelo fim do colonialismo d A crise econômica decorrente do aumento abrupto do valor dos escravos no mercado internacional associada à queda do preço do barril de petróleo principal commodity da pauta de exportações africanas o que levou os europeus a abandonar as colônias e O enfraquecimento econômico e político dos países europeus no pósSegunda Guerra Mundial e o surgimento de movimentos de libertação em diferentes partes do continente africano levando à gradativa perda do controle europeu sobre as colônias na África 9 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 3 Leia as afirmações abaixo sobre a história da África contemporânea I Um milhão de tutsis aproximadamente foram assassinados pelo governo representante da maioria hutu no que foi considerado um dos piores genocídios étnicos do século XX em Ruanda no ano de 1994 II Uma guerra civil devastou Serra Leoa antiga colônia inglesa e um dos principais exportadores de diamantes deslocando mais de dois milhões de refugiados para outros países entre 1991 e 2002 III O recémindependente país do Sudão do Sul perdeu sua autonomia ao ser reincorporado ao Sudão após uma guerra civil em 2015 a Apenas o enunciado I está correto b Apenas o enunciado II está correto c Apenas o enunciado III está correto d Apenas os enunciados I e II estão corretos e Todos os enunciados estão corretos 4 A partir do século XV com o périplo africano a exploração do litoral da África permitiu que os portugueses estabelecessem feitorias e intensificassem suas atividades mercantis Assinale a afirmação correta em relação às atividades comerciais que se desenvolviam no continente africano a partir do século XV a As rotas internas da África só se articularam ao circuito mercantil do Mediterrâneo com a expansão marítima e com a transposição do Cabo das Tormentas b As rotas saarianas haviam sido intensificadas com a expansão islâmica e articularamse ao processo de expansão comercial que envolveu também as rotas asiáticas de especiarias c As rotas africanas do Saara foram interrompidas com o périplo português que ampliou e acelerou o escoamento dos produtos do interior do continente d O comércio interno do continente africano baseavase no tráfico de escravos e no escravismo sistema de exploração e venda de seres humanos criado na África e As atividades mercantis africanas dependiam do trânsito de mercadorias de luxo vindas da Ásia dado que o continente africano não produzia esse tipo de mercadoria 5 Entre os séculos XV e XVI Portugal procurou no continente Africano diferentes produtos para comercializar inicialmente o ouro depois o ser humano pois entendeu o valor dos escravos como mercadoria de alto valor Analise os enunciados a seguir I A tradição de exportar escravos para países árabes era comum em várias partes da África II Aprisionar pessoas para escravidão foi uma prática inexistente na África até a chegada dos europeus III Os portugueses acreditavam que ser escravo era uma possibilidade de salvação porque os negros não eram cristãos IV Para muitos europeus os negros eram descendentes de Ham o que os tornava amaldiçoados à escravidão eterna a Apenas os enunciados I e II estão corretos 10 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 b Apenas os enunciados I III e IV estão corretos c Apenas os enunciados II e III estão corretos d Apenas o enunciado IV está correto 6 A exploração da mão de obra escrava o tráfico negreiro e o imperialismo criaram conflitivas e duradouras relações de aproximação entre os continentes africano e europeu Muitos países da África mesmo depois de terem se tornado independentes continuaram usando a língua dos colonizadores O português por exemplo é língua oficial de a Camarões Angola e África do Sul b Serra Leoa Nigéria e África do Sul c Angola Moçambique e Cabo Verde d Cabo Verde Serra Leoa e Sudão e Camarões Congo e Zimbábue Submeta o préteste por meio da ferramenta Questionário 11 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 INTRODUÇÃO No módulo de História da África será apresentado um panorama das movimentações revoluções e transformações ao longo do processo de formação cultural das diversas sociedades africanas e suas relações com a Europa e América do período pré histórico até os processos de independência do século XIX e XX apresentando de forma crítica os principais eventos e transformações de ordem econômica política e social Neste contexto serão discutidas as seguintes propostas Na Unidade 1 a África como berço da humanidade os fatores fundamentais de formação da civilização africana compreendendo a relação dinâmica entre os aspectos geográficos e históricos a préhistória africana e as primeiras sociedades agrícolas Na Unidade 2 os aspectos relevantes das primeiras civilizações a África Nilótica Egito Núbia Kush e Axum bem como o desenvolvimento dos Berberes Cartagineses e Árabes no norte da África identificando as singularidades e contribuições de cada civilização para a História da humanidade Na Unidade 3 compreender a África Negra précolonial abordando questões referentes à África subsaariana analisando os elementos das diversas culturas dos povos bantus sudaneses iorubas entre outras etnias e sua contribuição para a formação dos reinos e impérios como Ghana Mali Songai Kongo e Monomotapa Analisar os aspectos da relação entre portugueses e africanos bem como o processo de ocupação dos portugueses na África Central entre os séculos XV e XVII e os principais mecanismos utilizados para iniciar o comércio de escravos Na Unidade 4 identificar as características do neocolonialismo na África no final do século XIX e início do século XX compreendendo os métodos de ocupação das potências industriais europeias no continente africano e a dinâmica dos processos de independência na África bem como discutir questões referentes ao racismo no sul do continente e os conflitos étnicos 12 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 UNIDADE 1 PRÉHISTÓRIA AFRICANA OBJETIVO DA UNIDADE Compreender de forma crítica a dinâmica da formação dos primeiros grupamentos no Continente Africano bem como analisar e discutir a singularidade da África enquanto berço da humanidade e seu lugar na História 11 Contextualização da África Berço da Humanidade e da Civilização A História do Continente africano por muito tempo ficou renegada pois ao estudar a África ou se falava apenas do Egito ou da escravidão entretanto é necessário entender o significado da África para a História da Humanidade Há uma divisão clássica entre a pré história e a história da humanidade propriamente dita Nesse sentido atribuímos comumente à invenção da escrita o papel de marco divisor entre os dois períodos Esse entendimento produziu uma série de problemas pois as sociedades sem escrita eram caracterizadas como sociedades sem história Nessa perspectiva todo o universo simbólico as outras formas de linguagem que não a escrita a oralidade por exemplo era desprezado em relação à escrita Fonte httpmigremewHZDe Em vários discursos e obras a África foi taxada como sendo um continente sem história pois não tinha escrita Nessa linha de raciocínio a África estaria mais próxima da natureza do que da cultura Essa visão justificava uma ideologia e uma política de dominação sobre os povos e as riquezas do continente africano principalmente de cunho eurocêntrico No contexto imperialista do século XIX a concepção cientificista europeia relegava a África aos patamares mais baixos dos povos civilizados entre as culturas menos desenvolvidas Fonte httpmigremewHZEv 13 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Num primeiro contato com a África e mesmo a partir da leitura de numerosas obras etnológicas temse a impressão de que os africanos estavam imersos e como que afogados no tempo mítico vasto oceano sem margens nem marcos enquanto os outros povos percorriam a avenida da história imenso eixo balizado pelas etapas do progresso BOUBOU KI ZERBO 2010 p 24 O desenvolvimento da História como disciplina e o diálogo com outros ramos do saber como a Antropologia a Linguística a Arqueologia e outras ciências possibilitou alargar a compreensão da história da África Hoje temos a consciência da riqueza da história e da cultura africanas de seus rituais de sua religiosidade da oralidade da sua arte Para os historiadores da atualidade a inexistência de registros escritos não é empecilho para a constituição de uma história da África A Arqueologia relativizou a importância das fontes escritas e mostrou o valor de todo e qualquer indício material para a História A Antropologia e a Linguística tornaram evidentes a importância da oralidade e de outras formas de linguagem diferentes da escrita A História do século XX também passou por transformações profundas A História deixou de ser a narrativa dos grandes acontecimentos a história dos reis dos governantes e passou a valorizar a experiência e o cotidiano das pessoas comuns seus modos de vida as formas de sociabilidade os detalhes aparentemente sem importância Para nós brasileiros a África tem um significado especial A nossa identidade nacional é impensável sem levarmos em conta a nossa primordial e tripla constituição índios europeus e africanos É inegável que os africanos marcaram a história a cultura e a identidade brasileira ressaltando em nossa constituição étnica e biológica por meio da mestiçagem a pele morena a linguagem as formas de crer de dançar entre outras influências A compreensão da história africana deve levar em conta a discussão de sua constituição geográfica A composição geográfica do continente criou duas Áfricas uma África mediterrânica e outra África negra ou subsaariana sendo o deserto do Saara o elemento divisor do continente A África mediterrânica é caracterizada por territórios que há muitos séculos mantiveram um intercâmbio cultural com os povos mediterrânicos A África mediterrânica é composta pelas regiões do atual Egito Líbia Tunísia Argélia Marrocos A África negra ou subsaariana separada do norte pelo Saara é caracterizada pela diversidade étnica linguística e religiosa Ao sul do Saara entre o Oceano Atlântico e o Índico habitam centenas de tribos sendo que as línguas chegam a ser mais de duas mil e seus panteões de deuses muito diversificados De acordo com Silva 1992 p 7 o que realmente faz da África duas Áfricas é o enorme deserto a estenderse do Atlântico ao Mar Vermelho Segundo Braudel 2004 para a compreensão do mundo 14 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 negro a geografia prevalece sobre a história Os contextos geográficos embora não sejam os únicos a contar são os mais significativos Em suma a África Negra se abriu mal e tardiamente para o mundo exterior Não obstante seria um erro imaginar que suas portas e janelas seriam aferrolhadas ao longo dos séculos A natureza que aqui comanda de maneira imperativa não é entretanto a única a ditar suas ordens a história teve frequentemente a sua palavra a dizer BRAUDEL 2004 p74 É necessário considerar a África como um todo mesmo sabendo que a geografia tende a produzir diferenças culturais MBow apud KIN ZERBO 2010 assinala o fato de durante muito tempo o continente africano quase nunca ser tratado como uma entidade histórica Em contrário enfatizavase tudo o que pudesse reforçar a ideia de uma cisão que teria existido desde sempre entre uma África branca e uma África negra que se ignoravam reciprocamente Apresentavase frequentemente o Saara como um espaço impenetrável que tornaria impossíveis misturas entre etnias e povos bem como trocas de bens crenças hábitos e ideias entre as sociedades constituídas de um lado e de outro do deserto Traçavamse fronteiras intransponíveis entre as civilizações do antigo Egito e da Núbia e aquelas dos povos subsaarianos Certamente a história da África ao norte do Saara esteve antes ligada àquela da bacia mediterrânea muito mais que a história da África subsaariana mas nos dias atuais é amplamente reconhecido que as civilizações do continente africano pela sua variedade linguística e cultural formam em graus variados as vertentes históricas de um conjunto de povos e sociedades unidos por laços seculares Fonte httpmigremewHZPw De acordo com Conceição 2006 durante muito tempo o continente africano era conhecido simplesmente como Líbia Segundo a tradição o nome teria sido atribuído por Heródoto historiador grego do período clássico quando usou o nome de heroínas míticas para designar os três continentes então conhecidos Europa Ásia e Líbia Esse último nome predominou até o século XVI quando foi adotado o de Afriquyia antiga designação árabe que mais tarde foi latinizada para África A hipótese mais provável para o surgimento do nome África é a derivação da palavra Afrig uma tribo berbere do antigo império cartaginês 15 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 O continente africano é um imenso maciço com mais de trinta mil Km² sendo o terceiro maior continente só perdendo em extensão para a Ásia e a América Seus contornos são simples e seu litoral tem poucas ilhas sendo Madagascar São Tomé Príncipe Cabo Verde as Canárias e o arquipélago da Madeira algumas delas O formato triangular do continente africano colocou como limites o Mediterrâneo ao norte Oceano Índico a leste o Atlântico a oeste Atualmente a África é conhecida mundialmente por suas belezas naturais a riqueza da vida selvagem a diversidade de animais de paisagens e singularidades culturais Segundo Conceição 2006 a África é o continente mais quente do mundo com uma temperatura média que ultrapassa os 20C pois quatro quintos da sua área fica entre os trópicos o que corresponde a ocupar 43 de todo o território tropical do planeta A África é também o continente mais árido com 30 dos desertos do planeta Os maiores desertos da África são respectivamente o Saara com uma área que totaliza oito milhões de km² o Namibe e o Kalahari ao sudoeste do continente mais voltado para o Atlântico Segundo Silva 1992 p15 um terço da África pertence aos desertos e aos semidesertos Todavia não se pode afirmar que não há vida nesses desertos em muitos lugares há oasis tamareiras aloés acácias sisal O continente africano também é permeado de norte a sul por algumas falhas tectônicas que podem chegar a 80 km de largura e centenas de metros de profundidade É justamente nessas falhas que se encontram os grandes lagos Vitória com 6911 km² Tanganika com 328 km² e o Malawi com 289 km² Nessas falhas geológicas do continente também está localizada uma grande cadeia montanhosa que vai desde a África do Sul até a Etiópia no leste do continente sendo que os maiores picos são o Kilimanjaro com 5895m de altitude o Kênia com 5211m e o Ruwenzori com 5119m Nessas terras altas há geleiras Entre a parte central e ocidental do continente voltadas para o Atlântico ficam as grandes bacias hidrográficas dos rios Níger Chade CongoZaire Na parte nordeste do continente fica o segundo rio mais longo da terra o Nilo com 6670km de extensão Ao lado do Nilo os maiores rios são o Congo com 4374km o Níger com 4180km e o Zambeze com 2650km Mas de acordo com Silva 1992 não é o Nilo com seus 6670km de extensão o eixo do maior sistema fluvial da África e sim o Zaire ou Congo A bacia do Zaire com 3700000km² só é inferior às do Amazonas e do ParanáParaguai Estendese desde as montanhas e lagos da região das grandes falhas ocidentais até o Atlântico do Bahrel Ghazal no nordeste ao planalto de Angola no sul 16 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Ainda de acordo com Silva 1992 a vegetação do continente segue os diferentes climas São três os tipos de vegetações mais comuns as florestas equatoriais as savanas e os desertos As florestas equatoriais ocupam as regiões de baixa latitude principalmente na parte centroocidental do continente Nesses espaços o clima é úmido e quente e as árvores podem chegar a uma estatura de até 60 metros Já as savanas são características do clima tropical nelas há pequenas árvores e uma abundante vegetação rasteira As savanas são a morada dos grandes mamíferos africanos o búfalo os vários tipos de antílopes o elefante o rinoceronte o hipopótamo a zebra a girafa o leão o leopardo o guepardo a hiena os numerosos símios São também diversificadas as espécies de aves ressaltandose o avestruz a cegonha o flamingo o pelicano a águia pesqueira Em nenhum outro continente há tantas espécies de grandes animais e em tão considerável número Os desertos não são totalmente desprovidos de vida a vegetação não é permanente mas depois das chuvas há o surgimento de alguma vegetação rasteira O clima é de altas temperaturas durante o dia e muito baixas à noite O Saara foi a grande barreira entre a África negra e o Mediterrâneo Por outro lado o Rio Nilo que poderia servir de elo com o interior do continente não conseguiu minimizar o isolamento da África negra pois suas grandes cataratas dificultam a navegação Fonte httpmigremewHZUs 12 PréHistória Africana Grupamentos de Caçadores Coletores Ao estudar a préhistória africana é necessário compreender que a divisão clássica da História tomando como elemento caracterizador a escrita não pode ser considerado plenamente no contexto africano se assim fosse alguns territórios africanos ainda estariam na préhistória e outros há pouquíssimo tempo teriam saído dessa condição Em muitas sociedades africanas não há testemunhos escritos e muitos grupos ainda preferem viver como coletores e caçadores mesmo convivendo ao lado de grupos agrícolas e sedentários 17 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 não podendo ser classificados como préhistóricos Os estudos sobre a África são muito recentes a maioria das explorações arqueológicas no continente só se iniciou a partir do século XIX e ganharam mais relevância no século XX Segundo Silva 1992 o Australopithecus viveu há cerca de 3 ou 4 milhões de anos na África Oriental era caçador e coletor bípede não media mais que 120 m de altura e pesava cerca de 30 quilos É bem provável que fossem vegetarianos e que não fabricassem instrumentos de pedra mas que utilizassem apenas as que já se encontravam na natureza Antes de ser extinto deu origem ao gênero homo Fonte httpmigremewHZWJ O Homo Habilis é o primeiro do gênero homo Surgiu há cerca de 2 milhões de anos e tinha a habilidade de fabricar instrumentos a carne já fazia parte de sua alimentação por isso precisava de instrumentos para caçar e rasgar a pele dos animais O Homo Habilis já fabricava fragmentos de pedras para a utilização na caça cultura da pedra lascada O Homo Erectus viveu há cerca de 13 milhão de anos por sua postura ereta e estrutura esquelética é o que mais se aproxima do homem atual Vivia em grupos e tinha o domínio do fogo É possível que tenha sido contemporâneo do Australopithecus e que esse tenha sido extinto devido aos sucessivos combates e perseguições do Homo Erectus Foi hábil caçador e colhedor viveu na África central e oriental fabricava utensílios de pedra lascada sendo os mais conhecidos os bifaces ou machados de mão O Homo Erectus foi responsável pelo uso de fragmentos de pedra polidos Fonte httpmigremewJ9la O Homo Sapienssapiens é último do gênero homo do qual descendemos Esse hominídeo surgiu há cerca de 200 mil anos desenvolveu capacidades artísticas dominou a escrita e tornouse sedentário Ao que tudo indica o homem moderno expandiuse a partir das áreas próximas ao lago Turcana e ao lago Vitória para o resto do continente O Homo sapiens é responsável pelo refinamento da fabricação de ferramentas de pedra na 18 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 África A fim de poder ocupar os terrenos fortemente arborizados o homem armouse de instrumentos especiais de pedra Certamente os acidentes e as depressões geológicas foram fatores importantes para a conservação de fósseis em determinados locais A região da África Oriental é a parte do continente que mais conserva fósseis inclusive registros do período do Mioceno vinte e cinco milhões de anos Foi nesse ponto que o primeiro Australopithecus foi encontrado É como se há 6 ou 7 milhões de anos nascesse no quadrante sudeste do continente africano um grupo de hominídeos denominados australopitecíneos e emergisse desse grupo polimorfo um ser ainda Australopithecus ou já Homem capaz de trabalhar a pedra e o osso construir cabanas e viver em pequenos grupos representando através de todas as suas manifestações a origem propriamente dita da humanidade criadora do Homo Faber O último milhão de anos viu nascer o Homo Sapiens e assistiu durante os últimos séculos à sua alarmante proliferação GIORDANI 1985 p 61 Ao que tudo indica a África Oriental é o berço da humanidade Foi nessa região que há cerca de três milhões de anos surgiu um animal de postura ereta e que fabricava utensílios Segundo Sutton 2010 foi essa associação de capacidades físicas e mentais que causou a superação da condição biológica do Homem propiciando o desenvolvimento das características culturais que distinguem o homem dos outros animais e definem a humanidade De acordo com Sutton 2010 os primeiros fósseis humanos da África Oriental e os mais antigos da humanidade foram encontrados em Olduvai norte da Tanzânia e nas regiões do lago Turkana norte do Quênia e sul da Etiópia É bem provável que os primeiros instrumentos fabricados pelos africanos orientais fossem de pedras mas não se descarta a fabricação de utensílios de couro madeira ossos dos quais não temos vestígios Os instrumentos mais antigos datados de 2 ou 3 milhões de anos eram lascas de quartzo e foram encontrados junto ao Rift Valley no norte da Tanzânia no Quênia e na Etiópia Junto às lascas de quartzo havia também os fragmentos de pedras provavelmente utilizados para confeccionar instrumentos para cortar a pele de animais ou mesmo triturar sementes e vegetais mais sólidos As populações da África Oriental eram basicamente bandos de caçadores e coletores que se deslocavam por diferentes regiões procurando alimentos mas se concentravam na maioria das vezes em margens de rios ou lagos por causa da abundância de animais e recursos para a subsistência É nesse período que foram encontrados os primeiros vestígios da utilização do fogo O domínio do fogo segundo Sutton 2010 teria ocorrido há pelo menos 50 mil anos e o Homo erectus teria sido um dos primeiros usuários em sua tarefa de cozimento de alimentos 19 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Nesse mesmo período ocorre um crescimento demográfico significativo a ocupação de novos territórios e o desenvolvimento das técnicas de caça de animais de grande porte Esta fase é marcada pela sofisticação da fabricação lítica Havia uma gama variada de instrumentos de caça com a utilização do sílex obsidiana e quartzo Foi nesse período também que provavelmente iniciouse a utilização do arco e da flecha nas atividades de caça Nesse contexto também é possível perceber uma regularidade nas habitações geralmente debaixo de rochas onde houvesse proteção da chuva e do vento Nesses locais é possível encontrar vestígios de fogo restos de alimentos e pinturas rupestres Segundo Giordani 1985 os mais antigos conjuntos sulafricanos de utensílios foram encontrados em duas jazidas perto de Vereeniging bifaces pontiagudos machadinhas poliedros seixos lascados e vários outros utensílios Tais instrumentos talvez tenham sido produzidos por populações de homo erectus mas ainda não se pode afirmar com segurança pois não foram encontrados fósseis de tal hominídeo na região Fonte httpmigremewJ9mg Nos diversos sítios arqueológicos também foram encontrados vestígios de utilização do fogo Assim como os africanos orientais os do sul também preferiam habitar regiões próximas aos rios e lagos onde havia abundância de caça A fartura de caça na região sul da África também possibilitou uma estabilidade nas habitações de cavernas e certo crescimento demográfico Prova disso são as inúmeras inscrições rupestres Nas regiões muito favoráveis do sul da África os caçadores coletores ocuparam algumas das áreas mais ricas do mundo em recursos alimentares vegetais e animais Fonte httpmigremewJ9mJ Esses povos coletores e caçadores de acordo com Noten 2010 foram sucedidos por populações de agricultores e que dominavam a metalurgia São escassas as informações que possuímos sobre a préhistória da África Central As pesquisas arqueológicas na bacia do Rio CongoZaire só recentemente começaram a ser efetuadas A imensa floresta levou os 20 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 pesquisadores a acreditar que não havia povoamento préhistórico na região Todavia em toda a bacia do CongoZaire é possível encontrar vestígios da produção préhistórica Ao que tudo indica houve uma elaborada fabricação de machados de lasca que teria sido transmitida da África para a Europa Inclusive entre os arqueólogos convencionouse chamar o complexo cultural préhistórico dessa região de Musteriense que vai desde o norte da África até a Península Ibérica França e Itália 13 PréHistória Africana As culturas agrícolas Entre cem e setenta mil anos o homem começa a abandonar as margens dos rios e lagos e passa a habitar cavernas Há indícios de que tenha aprendido a transportar e armazenar água utilizar o fogo para cozer alimentos e talvez alguns grupos tenham passado a utilizar o sal Nesse período há evidências de que muitos grupos migravam sazonalmente no inverno ficavam no litoral e no verão nas montanhas Mas a mudança cultural mais relevante da préhistória é a chamada Revolução Neolítica ou seja a descoberta da agricultura e a domesticação de animais Esse processo iniciouse há cerca de 10000 aC na Mesopotâmia e foi fundamental para a sedentarização do homem É essencial todavia compreender as implicações das invenções agrícolas e pastoris assim como do cultivo de plantas e domesticação de animais O homem passou da apropriação de alimentos coleta caça à produção cultivo criação Desse modo progressiva e parcialmente o homem se liberou das imposições dos ecossistemas a que pertencia PORTÈRES BARRAU 2010 p 783 O domínio da agricultura e a domesticação de animais de acordo com Shaw 2010 promoveu a estabilidade social das populações de caçadores e coletores Nesse período o excedente de alimentos tornou possível um aumento demográfico e o afastamento definitivo da ameaça de extinção das comunidades Acreditase que a Revolução Neolítica não ocorreu em apenas uma região do mundo e depois se espalhou mas em vários pontos distintos por exemplo na Europa em parte da Ásia e na África mediterrânica o foco mais importante do desenvolvimento da agricultura se encontra na região montanhosa da Anatólia que se estende do Irã ao norte do Iraque Nessa região se desenvolveram a cultura do trigo e da cevada e a domesticação da ovelha da cabra e dos bovinos Segundo Portères e Barrau 2010 p 782 durante muito tempo as ideias sobre as origens da agricultura foram fortemente influenciadas pelo etnocentrismo A tendência era e ainda é por vezes a de considerar o berço agrícola e pastoril do Oriente Próximo sede da revolução neolítica Mas as pesquisas arqueológicas das últimas décadas vêm alterando 21 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 esse entendimento há um reconhecimento da importância de outras regiões como a América e a África para a história das práticas agrícolas Na África a domesticação de animais e a introdução da agricultura não substituíram a caça e a pesca É bem provável que tais atividades continuassem a ser praticadas paralelamente A passagem para uma economia de produção teria sido gradativa Não se pode datar com precisão o momento inicial da agricultura na África mas é bem provável que tenha ocorrido entre 9000 a 5000 anos aC Outro ponto a considerar é que embora a produção de alimentos e a domesticação de animais estejam associadas à formação de núcleos urbanos na África isso na maioria das vezes não ocorreu O primeiro local onde foram introduzidas as práticas agrícolas foram os vales dos rios Tigre Eufrates e Nilo No Rio Nilo havia uma sofisticada técnica de drenagem e irrigação É provável que a agricultura só tenha chegado ao delta do Nilo por volta de 5000 aC A partir do quinto milênio ovinos e bovinos foram domesticados no Egito onde também se cultivaram cereais Atualmente temos provas de que o gado domesticado já existia anteriormente nas terras altas saarianas e temos indicações embora insuficientes do cultivo de cereais SHAW 2010 p 707 Embora no fim do quinto milênio aC predominasse a caça a pesca e a coleta nas regiões do Egito aos poucos começam a ser cultivados a cevada o trigo e o linho No quarto milênio temos indícios de produção de alimentos no sul da Núbia e de pastoreio de bovinos com cabras e ovelhas em Kadero à margem direita do Nilo O trigo a cevada e o linho demoraram para ser introduzidos no interior do continente pois não se adaptavam às condições climáticas da região tropical Na região da Etiópia já predominava um outro tipo de cultura baseada no cultivo do tef da ensete e do níger Fonte httpmigremewJ9nj O tef é um cereal de grãos pequeninos mas muito nutritivos Com eles preparase um pão o enjera de bom sabor A ensete quase uma monocultura em certas regiões do sul da Etiópia parece a bananeira mas dela não se comem os frutos de escassa polpa e sementes grandes e sim o falso caule e os brotos novos Estes são cozidos como legumes aquele após ser enterrado para fermentar seco e pilado transformase numa papa ou é assado qual um pão Já o niger ou noog produz óleo comestível É planta corriqueira nas terras abissínias cultivada em pequena escala em outros países africanos e na Índia SILVA 1992 p 65 22 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Conforme Portères e Barrau 2010 foram três os grandes núcleos de desenvolvimento da agricultura na África O primeiro compreendia a região mediterrânica com áreas que iam do Egito ao Marrocos e que receberam influência direta da cultura agrícola e pastoril do Oriente Próximo O segundo abrangia as regiões das savanas e estepes nas margens das grandes florestas tropicais Nesses locais desenvolveramse as culturas dos cereais destacandose o sorgo e o milhete Finalmente o terceiro núcleo agrícola estava localizado no interior da floresta e em suas margens caracterizado por uma horticultura associada à coleta O fato de que a coleta e a caça permaneceram por muito tempo em algumas regiões da África como fontes de subsistência não significa um atraso mas é resultado da abundância e diversidade dos recursos naturais que permitiram ao homem viver sem muito esforço nos diversos ecossistemas sem ter necessariamente de transformálos Segundo Silva 1992 um dos primeiros produtos agrícolas cultivados na África foi o inhame É bem possível que esse tubérculo seja datado de mais ou menos 5000 anos Os milhetes também teriam sido domesticados em múltiplos centros de cultivo na região subsaariana entre 3000 e 2000 aC o sorgo também é outro produto tipicamente africano não há dúvidas de que se originou no interior do continente teria sido domesticado na faixa que vai da Nigéria à Etiópia Ocidental Fonte httpmigremewJ9oz Portères e Barrau 2010 p797 afirmam que a África ainda originou outros cereais importantes dentre eles o arroz Por muito tempo acreditouse que a rizicultura na África tivesse por origem o arroz asiático mas as pesquisas arqueológicas provam que nas regiões do Níger surgiu um arroz especificamente africano Ainda nas regiões abaixo do Saara muitas plantas foram domesticadas como a melancia a batatahauçá a ervilhade vaca o dendê o inhame o quiabo entre outros Na região das savanas e nas grandes florestas os africanos aprenderam a praticar a coivara e o plantio Com o passar do tempo aprenderam a técnica da semeadura e as estações apropriadas para empregála É importante salientar que a história da agricultura e do pastoreio na África guarda uma relação muito próxima e recíproca com as culturas asiáticas e do Oriente Próximo Sabese 23 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 que a África recebeu do Oriente Próximo variedades de trigo e cevada o boi o carneiro a cabra o cão e o porco À Ásia forneceu vegetais como o sorgo inhame arroz e desse continente recebeu bananeiras e canadeaçúcar Segundo Silva 1992 vários animais foram domesticados na África No Egito houve a domesticação do jumento de onde esse animal era nativo na África subsaariana a galinhadangola Há indícios de que o elefante também tenha sido domesticado em algum tempo em Méroe Todavia as práticas agrícolas se disseminaram muito lentamente pelo continente Houve bastante resistência por parte dos caçadores e dos pescadores pois em todas as regiões havia abundância de animais e peixes Não havia motivos para trocar os hábitos da pesca e da caça pela agricultura que sempre enfrentava a instabilidade do clima e as diversas pragas que atacavam as colheitas Talvez por isso ainda nos dias atuais existam grupos de caçadores que resistem às mudanças mesmo convivendo ao lado de grupos de agricultores Antes de continuar seu estudo realize o Exercício 1 e a Atividade 11 Dicas de aprofundamento KIZERBO Joseph Metodologia e PréHistória da África Disponível em httpportaldoprofessormecgovbrstoragemateriais0000015104pdf Acesso em 01 jun 2019 Assista ao documentário Os Reinos perdidos da África Disponível em httpswwwyoutubecomwatchvMtdQ1CGEQ84 Acesso em 01 jun 2019 24 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 UNIDADE 2 AS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES AFRICANAS OBJETIVO DA UNIDADE Compreender a civilização egípcia como parte da história africana Analisar a formação dos reinos na região da Núbia Kush e Axum bem como a constituição e importância histórica da região do Magrebe e a ocupação territorial dos diversos povos constituintes das civilizações africanas e suas trocas culturais 21 A África Nilótica Egito Núbia Kush e Axum Fonte httpmigremewJ9EJ 211 O Egito Antigo Conforme Pinsky 2006 a civilização egípcia é uma das mais importantes do mundo antigo A capacidade criativa administrativa e de organização social são fatores que impressionam ao estudar o Egito antigo Por muito tempo a história do Egito antigo esteve associada à história do Oriente Próximo das civilizações do chamado Crescente Fértil mas atualmente passouse a reconhecer o profundo intercâmbio cultural e econômico entre o 25 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Egito e o restante do continente africano Ao observar o mapa do Egito podese identificar duas grandes regiões o delta e o vale O vale acompanha o rio por cerca de 1000 km e por uma estreita faixa de cerca de 10 km de terras cultiváveis O delta é uma espécie de triângulo de 200 km de cada lado possui uma rica vegetação água em abundância e é densamente povoado Tradicionalmente a história do Egito Antigo é dividida em sete grandes períodos o Dinástico primitivo Reino antigo Primeiro Período intermediário Reino Médio Segundo Período intermediário Reino Novo e Terceiro período intermediário Os períodos intermediários que dividem os grandes impérios são caracterizados por momentos de instabilidade política contextos em que os faraós tiveram que dividir poder com mandatários estrangeiros ou mesmo ver a unidade do reino enfraquecida e consequentemente fragmentada através de diversas lideranças políticas Já os reinos antigo médio e novo são períodos de estabilidade e unidade política Esses períodos são marcados pela sucessão de diversas dinastias num total que chegou a trinta e uma no período que vai de aproximadamente 3000 até 332 aC Fonte httpmigremewJ9Gi A noção de dinastia de acordo com Aldred 1965 é algo muito particular da história egípcia De modo geral dinastias são longos períodos históricos em que o poder político esteve concentrado em pessoas de uma mesma linhagem familiar Dessa forma o processo de sucessão política ocorria quando o pai passava o poder a um herdeiro legítimo que não era necessariamente o primogênito fazendo com que houvesse um continuísmo político O Estado faraônico mantevese por quase 3000 anos desde 3100 a C até o ano de 332 a C quando foi derrotado pelos macedônios Durante esses 3000 anos de prosperidade econômica e crescimento demográfico do Egito o restante da África ainda vivia em pequenas comunidades muitas delas vivendo da pesca e da coleta Nessa época o Egito teria cerca da metade da população do continente africano A história do Egito é geralmente apresentada a partir da unificação do Estado faraônico por volta de 3200 a C que antes estava dividido em Alto e Baixo Egito Embora houvesse muitas diferenças entre o Alto e Baixo Egito ambas as regiões partilhavam uma língua comum e a mesma cultura material e espiritual 26 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 As várias aldeias do Alto e do Baixo Egito que existiam nas margens do Rio Nilo teriam sido unificadas por Menés o primeiro faraó No Egito antigo havia uma enorme preocupação com a unidade do reino pois qualquer divisão prejudicava a exploração da natureza as colheitas e também a construção obras hidráulicas monumentos templos e pirâmides No Egito antigo a pessoa do faraó era vista com distinção O faraó não era apenas um herdeiro dos deuses era a expressão do próprio deus o símbolo vivo da divindade caracterizando assim uma teocracia Menés teria sido primeiro faraó do Egito através dele teria se formado primeira dinastia e graças a ele o Egito teria conhecido a agricultura o artesanato e a escrita Segundo Aldred 1965 a importância simbólica do faraó era tão relevante que a própria capacidade produtiva do Egito era atribuída a ele Era graças ao faraó que havia boas colheitas e o Reino continuava triunfante em meio ao deserto que o rodeava O Egito ostentava unidade nacional sob a chefia de uma divindade Porque o faraó é o exemplo clássico de um deus encarnado num rei ALDRED 1965 p 49 No Egito o período histórico entre quarto e o terceiro milênio antes de Cristo é marcado por uma série de mudanças É nesse contexto que surgem o calendário a escrita hieroglífica a engenharia hidráulica Esta última particularmente revolucionou a agricultura do período pois permitiu aos egípcios observar os períodos de transbordamento do Nilo e utilizar esse conhecimento para implantar técnicas de irrigação do solo A agricultura é um dos primeiros pontos divergentes da história egípcia Segundo a historiografia tradicional a agricultura foi introduzida no Egito a partir de povos vindos do Oriente das civilizações do Crescente Fértil principalmente as mesopotâmicas onde já eram conhecidas as técnicas de irrigação a metalurgia a escrita como no caso na escrita cuneiforme suméria Por outro lado há especialistas que afirmam a especificidade africana da agricultura egípcia ou seja o desenvolvimento da agricultura teria ocorrido de forma autônoma no continente africano A cada ciclo de tempo a partir de meados de julho uma enchente acontecia Durante umas doze luas de julho a setembro ficava tudo inundado Dava tempo para que os nutrientes orgânicos que vinham junto com as águas se fixassem no solo Depois disso o rio voltava ao seu leito normal e não chovia mais O grão era semeado onde ficava mais úmido na beira de pequenas poças que se formavam nas reentrâncias naturais do terreno DOBERSTEIN 2010 p 27 O Rio Nilo não era apenas a principal via de transporte era a espinha dorsal do Reino egípcio aquilo que tornou possível a chamada Revolução Agrícola Segundo Oliver 1994 todos os anos a região entre as cataratas e o delta cerca de 31000 Km² era submersa pelas águas do Nilo Dessa forma o Egito se tornou uma das primeiras civilizações africanas a estocar alimentos e a criar toda uma estrutura administrativa e 27 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 estatal É bem possível que a revolução agrícola do Egito seja um dos principais fatores da centralização política e da própria formação do estado O Rio Nilo segundo o historiador grego Heródoto o Egito é uma dádiva do Nilo Entretanto embora o Nilo fosse fundamental para a vida do Egito não se pode atribuir à natureza ou ao meio ambiente o papel determinante na história cultural de um determinado povo A importância do Rio Nilo é inegável mas não se deve esquecer a capacidade criativa e de organização dos egípcios De acordo com Brissaud 1978 foi graças ao desenvolvimento de importantes técnicas de irrigação e do conhecimento dos ciclos das inundações que os egípcios conseguiram dominar o rio e garantir a produção de alimentos Os camponeses do Vale do Nilo do Delta à Alta Núbia tinham constantemente necessidade de água assim construíam e mantinham diques e canais de irrigação Fonte httpmigremewI1hy Era necessário dominar a inundação drenar os canais construir diques proteger habitações o que explica por que as tribos nômades do neolítico egípcio e núbio se tornaram sedentários Os homens tiveram que se agrupar muito cedo em aldeias e aí fazer funcionar uma organização adaptada às suas necessidades Conforme Cardoso 1992 o desenvolvimento tecnológico da cultura material do Reino Antigo atingiu seu apogeu entre os anos 2600 e 2500 aC durante a IV Dinastia O símbolo desse período de prosperidade foi a construção das três grandes pirâmides de Gizé Queóps Quéfren e Miquerinos As pirâmides eram o símbolo da capacidade criadora do homem da capacidade de dominar a natureza O Egito rodeado por desertos mostrou através da construção das pirâmides a capacidade de congregar todos os súditos em objetivos do estado trabalhando em um modelo de servidão coletiva Fonte httpmigremewJ9Lp 28 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 O Antigo Reino entrou em decadência a partir dos anos 2180 aC quando surgiram várias dinastias paralelas Este é o chamado 1º Período intermediário que dura cerca de 180 anos indo até o ano 1990 aC Depois desse período de instabilidade política o Egito é reunificado e iniciase o Reino Médio No período anterior a Núbia havia se fortalecido e bloqueado a passagem para o sul da África No Reino Médio o Egito volta a dominar o corredor núbio e suas riquezas minerais Não interessava mais ao Egito somente explorar o comércio de marfim e peles de leopardo do sul da Núbia O interesse maior nesse período eram as minas de ouro existentes na Núbia O Reino Médio terminou por volta de 1750 aC com a invasão dos hicsos tribos asiáticas vindas do norte Esse é o Segundo Período Intermediário também chamado de a grande humilhação pois os hicsos impuseram um domínio sobre todo o Delta do Nilo inclusive instalando um novo faraó no sul em Tebas O poder militar dos hicsos era bastante superior introduziram os carros de guerra guerreiros com armaduras e o cavalo nos combates O início do Novo Reino principia com a expulsão definitiva dos hicsos Esse é o período de maior prosperidade da história do Egito antigo o qual foi de acordo com Cardoso 1992 p60 auge da riqueza e do refinamento da civilização faraônica No Egito antigo de acordo com Cardoso 1992 os camponeses eram chamados de félas Eram eles que dominavam as técnicas agrícolas às margens do rio Todavia esses camponeses não tinham domínio sobre a sua produção sobre o resultado de seu trabalho Os félas eram absorvidos pela estrutura de poder do Reino egípcio temiam as lanças dos soldados as maldições dos sacerdotes e os impostos arrecadados pelos escribas Em suma eram eles que mantinham a enorme estrutura do Egito faraônico 212 Os reinos da Núbia e Kush De acordo com Silva 1992 a história da Núbia é profundamente marcada pela história do Egito A região situase na parte sul do Rio Nilo entre o atual Egito e o Sudão na região que vai desde a primeira catarata próxima à cidade de Assuã até as proximidades da cidade de Cartum entre os rios Nilo Branco e Nilo Azul Historicamente a Núbia foi com espaço intermediário entre a África mediterrânica e África negra Fonte httpmigremewImoK 29 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 As primeiras evidências do desenvolvimento cultural da Núbia datam do fim do IV milênio antes de Cristo sendo a cultura Núbia contemporânea da I Dinastia egípcia Nesse período há vestígios de uma indústria de metais bastante elaborada principalmente de instrumentos de ouro e cobre Inclusive o próprio nome Núbia na escrita hieroglífica nub quer dizer terra do ouro Os costumes funerários eram bem singulares Nas sepulturas o corpo era envolvido em couro animal deitado do lado direito e em posição contraída e ao seu lado haviam numerosos objetos cerâmica egípcia tecidos de linho amuletos penas de avestruz machados utensílios de cobre colares de concha braceletes de ossos imagens femininas em argila e bumerangues em madeira O intercâmbio entre a Núbia e o Egito num primeiro momento parece facilitado pela localização geográfica mas ao analisar com cuidado a principal via de acesso entre as regiões o rio Nilo é possível perceber que as cataratas dificultavam muito a navegação Todavia muitas cerâmicas e artefatos de cobre egípcios foram encontrados na região da Núbia e muitos artefatos produzidos com marfim e obsidiana da Núbia foram encontrados no Egito Segundo evidências arqueológicas entre 7000 e 3000 a C a cultura material cerâmicas práticas funerárias instrumentos de pedra e bronze parece ter sido comum entre o Egito e a Núbia No Egito conforme Silva 1992 a escrita surgiu por volta de 3200 a C a partir de um processo de descentralização política e econômica Enquanto que na Núbia as comunidades permaneciam fragmentadas e predominava a tradição oral Com o passar dos anos as duas sociedades seriam complementares uma à outra É nesse período que o Egito da I Dinastia invade a Baixa Núbia Norte e ocupa o território núbio até a Segunda Catarata Segundo Sherif 2010 desde os primeiros tempos os antigos egípcios eram fascinados pela Núbia devido a suas riquezas em ouro incenso marfim ébano óleos pedras semipreciosas e outras mercadorias de luxo Por isso eles sempre procuraram obter o controle do comércio e dos recursos econômicos desse país Assim a história da Núbia é quase inseparável da do Egito Entre 3100 e 2500 a C os egípcios empreenderam pelo menos cinco campanhas militares na Núbia Mas a verdadeira conquista da Núbia pelos egípcios ocorreu no reinado do faraó Snefru fundador da IV dinastia Nessa ocasião a campanha militar teria feito 7 mil prisioneiros e 200000 cabeças de gado Desse período em diante a Núbia se rendeu e aceitou a dominação egípcia O Egito reconheceu a enorme potencialidade da Núbia para seu próprio progresso econômico e enquanto rota comercial com o sul da África Dessa forma após a conquista seguiuse um período de relativa paz A Núbia foi dividida em várias regiões e governada por monarcas independentes 30 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Em conformidade com Silva 1992 nesse período são construídos cerca de 17 fortes na região da segunda catarata do Nilo Os fortes tinham vários objetivos era necessário manter a dominação sobre a população garantir as rotas comerciais com o sul da África e o mais importante garantir a segurança do Reino egípcio dos ataques de um poderoso reino que surgia no sul o Reino de Kush Após o colapso do Reino Médio egípcio com a invasão dos hicsos a população nativa da Núbia invade saqueia e queima os fortes egípcios A Núbia recuperava novamente sua autonomia De acordo com Oliver 1994 com a recuperação da autonomia na Núbia houve a reorganização política da região Nesse momento começa a se fortalecer o Reino Kush a palavra kush apareceu pela primeira vez num texto egípcio há cerca de 2000 aC esse era um reino abaixo da cidade de Semna A cidade de Kerma era a mais importante do reino kushita ficava a cerca de 16 km ao sul da Terceira Catarata e entre 2000 e 1500 a C pode ter sido a maior cidade da Núbia é uma região isolada do Nilo e altamente fértil e foi um dos lugares ideais para um povoamento autônomo e para a formação de um Estado A riqueza do solo não só permitiu o desenvolvimento agrícola mas também a criação de gado em larga escala Kerma também era um ponto estratégico seu domínio permitia o controle de todas as transações econômicas entre o Egito e o restante da África através do Nilo Kerma era a capital do Reino Kush Esse reino foi um tradicional inimigo do Egito no período do Reino Médio Durante o século em que os hicsos dominaram o Egito ocupando toda a região do Delta do Nilo e formando a 15ª e 16ª dinastias os kushitas estabeleceram relações comerciais e diplomáticas com os soberanos hicsos e o faraó de Tebas O maior desenvolvimento da cidade de Kerma é registrado durante a época do Segundo Período Intermediário 1730 e 1580 a C da história egípcia Nesse período por volta de 1750 a C Kerma dominou as fortalezas construídas pelo Egito ao sul do Nilo O Egito estava dividido ao norte havia um faraó hicso em Ávaris e ao sul um faraó egípcio em Tebas O reinado do faraó de Tebas que ainda sobrevivia enfraquecido estabeleceu um intercâmbio comercial bastante lucrativo com o Reino de Kush Muitos artesãos egípcios foram recrutados para trabalhar em Kerma e ensinar as técnicas egípcias aos kushitas Nesse período Kerma também adotou a escrita hieroglífica egípcia o que ajudou a centralizar a administração unificar a legislação e consolidar seu domínio sobre um território ainda maior Com o passar dos anos o faraó tebano Camósis começou a reestruturar seu reino que estava espremido entre o faraó hicso e o rei de Kush Tebas avançou sobre os hicsos e voltou a dominar o Delta Os hicsos ainda tentaram pedir auxílio a Kush para deter o faraó tebano oferecendo a divisão do território que seria conquistado mas não obteve sucesso 31 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Os egípcios expulsaram os hicsos O reino de Kush que abrangia toda a Núbia ao sul de Assuã foi retomado durante a XVIII dinastia egípcia depois da expulsão dos hicsos Toda a Núbia foi reorganizada segundo padrões puramente egípcios e montouse um sistema administrativo totalmente egípcio que requeria a presença de um número considerável de escribas sacerdotes soldados e artesãos Como já se mencionou a política oficial era a de assegurar a lealdade e o apoio dos chefes nativos Seus filhos eram educados na corte real do Egito onde escutavam a fala dos egípcios do séquito do rei o que os fazia esquecer sua própria língua Desse modo eles eram fortemente egipcianizados e isso naturalmente ajudou a garantir a lealdade dos príncipes núbios para com o Egito e a cultura egípcia SHERIF 2010 p 269 Segundo Costa e Silva 1994 somente em três anos do reinado do faraó Tutemósis III o Egito teria recebido mais de 700 quilos de ouro de toda a Núbia Essa cifra ainda é acrescida de tantos outros produtos como marfim ovos e plumas de avestruz peles de animais gado diversos tipos de minerais granito turquesas e ametistas Toda a Núbia e principalmente Kerma havia se tornado uma importante colônia egípcia a ponto de o faraó estabelecer o vicerei de Kush na alta Núbia 213 Napata e Méroe A partir do século XI aC de acordo com Costa e Silva 1994 o poder do Egito começa a enfraquecer novamente é o início do Terceiro Período Intermediário Ao sul de Kerma próximo à Quarta Catarata durante a XVIII dinastia egípcia começa a surgir um importante centro político é a cidade de Napata hoje atual Merowe A partir de Napata foi possível estabelecer um importante reino independente no sul da Núbia Fonte httpmigremewJ9Rh O reino cresceu a ponto de conquistar todo o sul do Egito até a cidade de Tebas um importante centro religioso onde se cultuava o deus Amon Além de ser um importante centro administrativo e econômico era um ponto de encontro de várias caravanas de comerciantes A cidade de Napata através do prestigiado templo de 32 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Amon construído sob a montanha sagrada de Jebel Barcal foi ainda mais importante como centro religioso Um dos primeiros reis de que se tem notícia em Napata é Cachita que conquistou a cidade de Tebas mas não quis adotar o título de faraó Quando Tebas viuse novamente ameaçada por um príncipe líbio que tentava reunificar o Egito chamou o filho de Cachita Peíe para protegêla Peíe não apenas afastou a ameaça de Tebas como também conquistou todas as cidades importantes do Egito até o Delta mas não quis ficar estabelecido em Tebas Voltou para Napata como faráo do Egito O mesmo não aconteceu como seu irmão Xabaca Ele reclamou para si o direito de ser faraó de todo o Egito dessa forma tornouse senhor de todo o vale do Nilo até o Delta Era a famosa 25ª dinastia do Egito ou a dinastia etíope O último rei de Napata a governar o Egito foi Tenutamon em seu governo segundo Silva 1994 os assírios invadiram o Egito e conquistaram todo o território fazendoo retornar para Napata no ano de 653 a C Ao sul de Napata há cerca de 300 anos a C a cidade de Meroé surgia como uma terceira capital do Reino Kush se considerarmos Kerma a primeira e Napata a segunda Méroe também foi chamada de ilha de Méroe pois ficava na confluência de três rios o Nilo Azul o Nilo Branco e o Rio Atbara Tudo indica que a transferência da capital para Méroe se deu por questões climáticas Méroe estava numa região extremamente fértil e Napata em uma região rodeada por desertos Mas há outra explicação bastante plausível para o fato Como a cidade de Napata estava localizada numa grande curva do Rio Nilo aos poucos acabou se isolando das rotas comerciais Com a intensificação do comércio entre o Vale do Nilo e a região da sexta catarata surgiu a chamada Rota de Korosco que ligava a cidade de Korosco entre a primeira e segunda catarata e a cidade de Abu Hamed entre a quarta e a quinta catarata A cidade de Napata ficaria apenas como um importante centro religioso No século VIII a C Méroe já era uma cidade habitada Mas foi no período posterior ao reinado de Peíe em Napata que Méroe de uma simples aldeia viria a se tornar a maior cidade de toda a Núbia Méroe estava num ponto extremamente estratégico por ela passavam todas as caravanas de comerciantes com destino ao Delta do Nilo como também aqueles que se destinavam ao Mar Vermelho e também aqueles com rotas para Darfur ou Cordofã em direção ao sul da África Por esta razão Méroe recebeu influência de várias regiões do mundo então conhecido o que marcou a cultura meroítica Tudo indica que a cidade de Napata ainda permanecia como um centro importante mas tinha apenas uma função religiosa Podemos dizer que Napata era o centro espiritual do Reino o local do grande templo do deus Amon Nela os reis eram consagrados e 33 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 sepultados mas seus reinados eram exercidos a partir da cidade de Méroe A partir de um ano 300 a C os reis passaram a ser enterrados em Méroe O Reino kushita de Méroe conheceu seu período áureo a partir do século VIII a C Nesse período também teriam surgido a tradição das rainhasmães ou candaces Em várias sociedades africanas há tradições matrilineares mas Méroe parece ter sido um dos mais importantes centros dessa tradição As candaces ocupavam um papel importante na vida social e política do Reino kushita Essas mulheres ocupavam cargos de liderança no reino Algumas eram sacerdotisas de Amon o que significava aderir ao celibato e ser eternizada através de uma esfinge real depois da morte Ser uma candace em Méroe significava estar entre o poder político e o religioso E as tradições matrilineares que nunca se haviam apagado como o demonstra o prestígio das rainhasmães ou candaces tornaramse mais fortes Várias mulheres ascenderiam ao poder e se fariam retratar de ancas largas gordas e energéticas com uma túnica franjada tão pouco egípcia a cair do ombro direito cheias de colares e enfeites verdadeiros marimachos a combater à frente dos exércitos a presidir o culto a espairecer na caça SILVA 1994 p127 214 O Reino de Axum O reino de Axum segundo Giordani 1985 nasceu nas regiões montanhosas da Etiópia Talvez a geografia também explique o sucesso e a duração tão longa do reino A região é formada por abismos profundos que podem chegar a 4600 metros Portanto uma região de difícil acesso e dominação para qualquer inimigo Nos documentos históricos egípcios Axum é apresentada como uma fonte de mirra Fonte httpmigremewImu1 34 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Existe uma tradição lendária sobre o surgimento do Reino de Axum Segundo a lenda o encontro entre a rainha de Sabá e o rei Salomão narrado no livro bíblico de I Reis capítulo 10 teria gerado um filho cujo nome seria Menelik primeiro rei de Axum e fundador da dinastia salomônica A cidade de Axum situavase próximo a um afluente do rio Atbara No período préaxumita a região da Etiópia sofreu forte influência sularábica Prova disso são os instrumentos e inscrições semelhantes encontrados tanto na Etiópia quanto no Rio Tigre Da região sul da Arábia vieram vários imigrantes que introduziram novas técnicas agrícolas como o uso do arado na agricultura da Etiópia Fonte httpmigremewJ9U5 Entre o século II e o século IV da era cristã o Reino de Axum submeteu as regiões do planalto do Tigre e o vale do Nilo ao seu domínio Entre os anos de 183 e 213 aC o rei axumita Gadara e seu filho foram considerados os soberanos mais poderosos da Arábia meridional No século III o Reino de Axum foi considerado um dos maiores do mundo e no século IV o Reino de Méroe foi conquistado pelos axumitas Os reis de Axum adotaram o cristianismo durante o século IV A história da introdução do cristianismo no Reino de Axum de acordo com Giordani 1985 é curiosa um homem chamado Merópio da cidade de Tiro teria feito uma viagem para a Índia e levado consigo dois jovens Frumêncio e Edésio Ao voltar da viagem seu barco foi atacado próximo de um porto no Mar Vermelho Merópio morreu mas os dois jovens foram levados diante do rei de Axum Um dos jovens Frumêncio graças ao seu conhecimento da cultura grega teria se tornado o tesoureiro da casa real conselheiro do rei e preceptor de seus filhos Acreditase que Ezana o filho do rei tenha sido educado na religião cristã por Frumêncio e que depois da morte do pai tenha assumido o trono e cristianizado o reino A expansão do Reino de Axum chegou ao fim quando os persas invadiram a Arábia A partir desse período século VIII os árabes muçulmanos também passaram a dominar o Mar Vermelho e dessa forma estrangularam as vias comerciais axumitas 35 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 22 O Norte da África Dos Berberes aos Árabes A presença humana no norte da África é atestada há pelo menos 13000 aC e desde 9000 aC é comprovado o intercâmbio cultural entre as populações do norte da África e da península ibérica através do estreito de Gibraltar Segundo Desanges 2010 a primeira civilização a habitar o território do norte da África ficou conhecida como ibero maurusiense A partir de 7000 a C surgiu um novo grupo na região que ficou conhecido como capsienses Assim é possível interpretar o surgimento dos primeiros berberes que ocorreu da fusão dos dois grupos a partir do período Neolítico No entanto é a partir de 3000 aC que a relação do norte da África com a Península Ibérica a Sicília a Sardenha Malta todo o sul da Itália é mais evidente As evidências deste intercâmbio são produtos originários do norte da África como marfim e ovos de avestruz encontrados na Espanha E da mesma forma vasos de cerâmica e pontas de flecha de cobre e bronze da Península Ibérica encontrados nas regiões de Ceuta no norte da África Dessa forma podemos afirmar que o norte da África esteve inserido no mundo Mediterrâneo antes mesmo da fundação da cidade de Cartago A história do norte da África é marcada pelo processo de desertificação do Saara que influenciou diretamente o desenvolvimento da navegação através do Mediterrâneo O deserto do Saara produziu um afastamento do norte da África com a África meridional entretanto não houve um isolamento total pois através do corredor de Trípoli houve uma profunda influência das civilizações subsaarianas Toda a região do norte da África ficou conhecida durante a antiguidade como Berbéria daí a designação de berberes para os povos autóctones que habitavam a região Segundo Kormikiari 2001 o uso do termo berbere é bastante tardio ele surge no século VIII dC quando os árabes ocuparam a região a palavra berbere pode ter sido originada a partir da palavra latina barbari que designava os povos bárbaros que invadiram o Império Romano A região da Berbéria ganhou várias designações ao longo dos séculos durante o Império Romano era chamada de África Menor E durante a ocupação árabe ficou conhecida como Magrebe O Magrebe abrangia a atual Mauritânia Saara Ocidental Marrocos Argélia Tunísia e Líbia Segundo Kormikiari 2001 Magrebe é uma palavra de origem árabe e quer dizer o tempo e o lugar do pôr do sol o oeste essa região era uma espécie ilha do oeste para os conquistadores árabes pois estava entre o Saara e o Mar Mediterrâneo 36 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 A história dos povos berberes antes da chegada dos fenícios é praticamente desconhecida As fontes da história egípcia dão conta da ocupação dos berberes líbios na região do noroeste do delta do Nilo durante o período da unificação do Egito no terceiro milênio antes de Cristo Os líbios são representados na Paleta de Narmer um dos mais antigos documentos da unificação do Egito Segundo outras fontes por diversas vezes os líbios atacaram e tentaram dominar o Egito mas sempre foram derrotados Os berberes também aparecem descritos nos numerosos trabalhos dos escritores gregos e romanos Fonte httpmigremewJ9Va De acordo com Kormikiari 2001 nas narrativas dos autores gregos e romanos os grupos indígenas berberes que ganham maior destaque são os númidas os getulos e os mouros Os númidas habitavam uma região conhecida como Numídia entre os anos de 200 a 50 a C O termo Numídia foi usado pelo grego Políbio para designar a região a oeste de Cartago entre a Argélia a Tunísia e o Marrocos Os númidas estabeleceram relações comerciais com Cartago mas não chegaram a ser dominados por esta Todavia a Numídia por diversas vezes forneceu guerreiros para lutar nas fileiras dos cartagineses Os cavaleiros númidas eram famosos por suas habilidades em combate Durante a Segunda Guerra Púnica lutaram como mercenários ao lado dos cartagineses mas em seguida passaram a combater por Roma Os getulos inicialmente eram apenas uma tribo berbere mas com o passar do tempo tornouse uma congregação de vários grupos A denominação getulos passa a ser utilizada a partir do século II aC Os getulos eram povos brancos desenvolviam atividades pastoris eram seminômades e habitavam as franjas do deserto Saara com abrangência de seu domínio desde os territórios habitados pelos etíopes até o sul da área onde habitavam os mouros Já os mouros eram grupos berberes que habitavam o território ao ocidente onde hoje está situada a Mauritânia Um dos primeiros escritores a designar esse grupo berbere foi o romano Plínio o velho A origem do termo mouro é remetida ao termo semítico mahaurim que quer dizer os ocidentais e que em latim era conhecido como mauri 37 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Os mouros eram um dos grupos berberes mais importantes Durante a expansão islâmica no norte da África no século VII os mouros foram convertidos à nova religião e adotaram o árabe como segunda língua A partir do século VIII árabes e mouros islamizados conquistaram a Península Ibérica e formaram várias dinastias e califados Da Península Ibérica os mouros somente foram expulsos no século XIII mas deixaram inúmeras influências culturais na arquitetura nas artes na linguagem e em outros domínios 23 O Império Cartaginês Segundo Warmington 2010 o Magrebe aparece na história escrita quando marinheiros e colonos fenícios desembarcam na costa norte da África A maioria das informações que temos desse período são narrativas escritas por gregos e romanos Dessa forma são informações que devem ser relativizadas pois os fenícios eram tradicionais inimigos de gregos e romanos Por outro lado as informações arqueológicas são bastante imprecisas pois todas as cidades fenícias estão encobertas materialmente por cidades romanas Quando os fenícios chegaram ao norte da África eles encontraram os três grandes grupos a oeste os mouros entre a Mauritânia e o limite ocidental com o Egito estavam os númidas e na região setentrional entre os mouros os númidas e o deserto do Saara estavam os getulos Fonte httpmigremewJ9VZ Os colonos e navegadores fenícios vieram da cidade de Tiro um dos centros comerciais mais dinâmicos do Egeu e do Oriente Próximo A busca por metais como ouro prata cobre e estanho levou os fenícios a fundar colônias no ocidente do Mar Mediterrâneo A colônia mais antiga de que temos notícia foi fundada em 1110 aC na Península Ibérica e estava localizada onde hoje é a cidade de Cádiz na Espanha O intenso comércio com a Península Ibérica levou os fenícios a empreender expedições ao norte da África Mas a fundação das primeiras colônias fenícias na costa do Magrebe se compararmos com Cádiz são bastante tardias É somente em 814 aC que é fundada a cidade de Cartago As colônias fenícias se organizavam em pequenos povoados que não tinham mais que algumas centenas de colonos No século VI antes da era cristã a cidade Cartago se 38 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 torna autônoma e estabelece uma hegemonia em todo o norte da África Esse fato ocorreu pois a cidade de Tiro a capital e metrópole dos fenícios havia sido dominada pela Babilônia A partir do século VII aC iniciaramse os primeiros conflitos entre gregos e fenícios No ano de 580 aC as regiões da Sicília Sardenha e Córsega se tornaram alvos de disputas entre gregos e fenícios Os fenícios contaram com a ajuda dos etruscos para derrotar e impedir o domínio grego Cartago fundou várias colônias desde o Estreito de Gibraltar até as regiões da atual Líbia e no Mediterrâneo continuou seu domínio sobre algumas colônias na Península Ibérica Todas essas colônias tinham que pagar tributos sobre importações e exportações entregar entre 10 até 50 da produção agrícola e ainda fornecer soldados em tempos de guerra Os registros deixados pelos escritores gregos e romanos atestam que entre os séculos IV e III a C a cidade de Cartago era a mais próspera do Mediterrâneo e isso se devia à sua atividade comercial Cartago comercializava com os povos vizinhos produtos manufaturados têxteis agrícolas e escravos em troca de metais ouro prata e estanho Os cartagineses também nos falam de uma região da África e de seus habitantes além do estreito de Gibraltar Assim que eles chegam a este país descarregam suas mercadorias e as colocam na praia depois retornam a seus navios e enviam um sinal de fumaça Quando os nativos veem a fumaça descem até a praia depositam ali uma certa quantidade de ouro para ser trocado pelas mercadorias e depois se retiram Os cartagineses desembarcam novamente e examinam o ouro que foi deixado Se julgam que seu valor corresponde ao dos produtos ofertados eles o recolhem e seguem viagem se não voltam aos navios e esperam até que os nativos tenham levado ouro suficiente para satisfazêlos Nenhuma das partes engana a outra os cartagineses nunca tocam o ouro até que seu valor corresponda ao que trouxeram para vender e os nativos não tocam as mercadorias até que o ouro tenha sido levado HERÓDOTO apud WARMINGTON 2010 p 482 De acordo com Warmington 2010 Cartago mantinha o monopólio das trocas comerciais em toda a extensão de seu império Esse monopólio era conseguido através do ataque a qualquer embarcação que ousasse comercializar em águas cartaginesas e através de alianças comerciais com os concorrentes diretos Roma e as cidades etruscas A oeste de Cartago nenhuma embarcação poderia praticar o comércio quaisquer produtos estrangeiros eram baldeados para os navios cartagineses para poderem ser comercializados O coração de todo esse império marítimocomercial era a cidade de Cartago Segundo Warmington 2010 Cartago possuía um porto artificial duplo A parte externa servia para a ancoragem de navios comerciais e a parte interna destinavase a embarcações de guerra Não se sabe ao certo a capacidade do porto externo mas o interno possuía espaço para 220 navios de guerra Outro aspecto que mostra a capacidade bélica da cidade 39 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 são suas muralhas A cidade de Cartago era cercada de muralhas que chegavam a 40 km de extensão sendo 12 metros de altura e 9 de espessura A cidade de Cartago em número de habitantes pode ser comparada à cidade de Atenas do século V com uma população de 400000 pessoas O sistema político em Cartago era bastante singular O rei não ocupava o cargo de forma hereditária mas era eleito pelos cidadãos e por um Conselho de Estado próximo ao que foi o senado romano que era formado por 100 membros das famílias mais ricas e aristocráticas de Cartago O rei além dos poderes políticos possuía poderes sagrados judiciários e militares A partir do século III surgiu o termo sufete para designar uma espécie de juiz ou governador também eleito anualmente e que ajudava na administração do vasto império Os reis mais famosos de Cartago foram Amílcar e seu filho Aníbal Ambos foram poderosos chefes militares Amílcar nasceu em 270 aC e faleceu 228 aC foi o comandante dos exércitos cartagineses na Primeira Guerra Púnica Amílcar também foi o principal responsável pela conquista cartaginesa da península Ibérica Aníbal era o filho mais velho de Amílcar e seu sucessor nasceu em 248 aC e faleceu em 183 aC O nome Aníbal quer dizer Baal é bondoso Aníbal lutou na Primeira e na Segunda Guerra Púnica A religião dos cartagineses é um dos aspectos mais criticados nas narrativas dos autores gregos e romanos O principal deus dos cartagineses era Baal e foi trazido pelos fenícios quando colonizaram o Magrebe Todavia aos poucos o culto a Baal foi substituído pelo culto a Tanit uma deusa que ao que tudo indica surgiu a partir do norte da África com traços ligados aos aspectos da fertilidade A principal crítica de gregos e romanos à religião dos cartagineses se devia ao fato dos inúmeros sacrifícios humanos oferecidos anualmente a Baal e Tanit principalmente crianças do sexo masculino Fonte httpmigremewJ9Wr A disputa pela Sicília esteve na origem da Primeira Guerra Púnica 264 242 aC Conforme Warmington 2010 por muito tempo Roma foi apenas uma entre tantas comunidades agrícolas da Itália que tinham tratados comerciais com Cartago Cartago era o centro de um poderoso império marítimo comercial a cidade mais rica e poderosa de todo o Mediterrâneo Estava localizada numa posição estratégica entre as nações mediterrânicas e 40 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 o interior da África Era melhor para Roma têla como aliada do que como inimiga Mas desde aproximadamente o ano 500 aC Roma tornouse poderosa e dominou toda a Península Itálica O próximo desafio era a conquista da Sicília espaço dividido entre colônias gregas e cartaginesas A disputa se originou pela posse da cidade de Messana no norte da Ilha da Sicília fazendo fronteira com a Península Itálica O domínio dessa cidade significava a manutenção do estratégico entreposto comercial que era a Sicília para os cartagineses e a contenção do avanço romano E para os romanos significava a continuidade da expansão pelo Mediterrâneo consolidando seu comércio Segundo Grant 1987 nos primeiros tempos de guerra Cartago obteve vantagem pois era um império experiente em batalhas navais sua marinha era uma das mais poderosas do Mediterrâneo Mas os romanos logo compensaram esta deficiência contratando mercenários gregos para a construção de suas frotas de guerra Os romanos venceram várias batalhas na costa siciliana mas quando tentaram tomar a cidade de Cartago foram derrotados pelas tropas cartaginesas e pelo enorme contingente de mercenários contratados no interior da África e na Grécia Nessa ocasião os cartagineses utilizaram elefantes em combate contra os romanos certamente uma das primeiras experiências do tipo de que temos notícia Fonte httpmigremewJ9WY O conflito de acordo com Grant 1987 que ficou conhecido como a Primeira Guerra Púnica durou 23 anos e deixou enormes perdas para ambos os lados As duas partes estavam com forças e recursos exauridos O general cartaginês Amílcar assinou um tratado de rendição em 242 aC Nesse tratado Cartago perdeu definitivamente o domínio sobre a Sicília e teve que pagar para Roma uma pesada indenização para cobrir os custos de guerra No território cartaginês seguiramse três anos de rebelião das tropas mercenárias que não tiveram seus pagamentos efetuados Amílcar sufocou os focos de rebelião na Líbia e Numídia e buscou ampliar seu domínio na Península Ibérica para reestruturar economicamente o império Após o conflito com Cartago Roma se tornou um dos maiores impérios do Mediterrâneo As conquistas subsequentes foram as terras da Sardenha Córsega e Malta 41 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 A Segunda Guerra Púnica 218 202 a C segundo Warmington 2010 marcou a Ascensão de Aníbal Com o término da primeira guerra púnica Amílcar o comandante cartaginês teve que enfrentar a rebelião de mercenários que queriam seus pagamentos atrasados por lutar ao lado de Cartago No Mediterrâneo Roma aproveitando a fragilidade cartaginesa se apoderou da Sardenha Dessa forma restou a Amilcar voltar sua atenção para a conquista da Espanha Amílcar dominou todo o restante da Espanha pois as cidades costeiras já estavam controladas Em vinte anos Amílcar conseguiu explorar as minas de prata da Espanha reestruturar economicamente o império cartaginês e constituir um poderoso exército de aproximadamente 50000 homens para enfrentar novamente os romanos Amílcar colocou seu próprio filho Aníbal no comando do exército cartaginês Fonte httpmigremewJ9XG Na Península Ibérica havia algumas cidades que estavam sob a influência romana principalmente Sagunto e Ampurias O avanço de Aníbal e seus exércitos sobre essas cidades foi o estopim para o reinício dos conflitos entre romanos e cartagineses Era o início da Segunda Guerra Púnica que duraria 16 anos Cartago foi novamente derrotada e Roma ampliou ainda mais seu império ampliando seus domínios até a Península Ibérica Após o fim da Segunda Guerra Púnica Roma estabeleceu alianças com todos os reinos no norte da África A Numídia e a Mauritânia tornaramse reinos clientes ou vassalos de Roma Quanto a Cartago houve aproximadamente 50 anos de paz após a guerra reconstrução e prosperidade entretanto no ano de 149 aC reiniciaramse os conflitos A Terceira Guerra Púnica 149 146 aC marcou a completa destruição das instituições cartaginesas e a ascensão romana sobre todo o mediterrâneo Os cartagineses reagiram às agressões e saques dos reinos vizinhos e clientes de Roma principalmente a Numídia e dessa forma atraíram a atenção de Roma Ao chegar em território africano as tropas romanas como pena pelo rompimento do acordo de não fazer guerra sem o consentimento romano propuseram que os cartagineses abandonassem a cidade de Cartago e se instalassem a cerca de 15 km ao sul Diante da negativa cartaginesa os romanos invadiram a cidade e a destruíram totalmente A população foi dizimada e aqueles que sobreviveram foram escravizados Calculase que mais de 85 mil combatentes cartagineses foram mortos 42 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Segundo Mahjoubi 2010 logo após a destruição de Cartago em 146 a C todo o território cartaginês foi reduzido à condição de uma simples província romana Ao lado de Cartago havia também os reinos clientes de Roma que mantiveram sua relativa independência com o apoio aos romanos durante a Segunda Guerra Púnica e a destruição de Cartago A partir do ano 40 d C todo norte da África foi submetido ao domínio romano até o momento da conquista vândala Durante o período do domínio romano a África era administrada por governos nomeados diretamente pelo Senado romano A escolha do governante de Cartago era feita a partir dos mais antigos excônsules o escolhido recebia o título de procônsul e governava por um ano Justamente por isso nesse período toda a área dominada pelo Império Romano no norte da África ficou conhecida como África Pró consular A civilização romana era marcada pelo urbanismo conforme Mahjoubi 2010 a vida urbana nas províncias africanas era muito desenvolvida Em toda a África Proconsular foram registradas ao menos quinhentas cidades Ao lado do urbanismo a colonização romana no norte da África era marcada pela extrema exploração da agricultura Portanto o primeiro século de ocupação romana foi para a África um período de retrocesso caracterizado principalmente pela exploração ostensiva da terra fértil A partir do segundo século de ocupação houve um grande avanço Durante o governo do Imperador Marco Aurélio muitos veteranos de guerra imigraram para a África e fundaram cerca de 35 colônias nas províncias africanas Segundo Mahjoubi 2010 p522 é conhecida a preponderância da agricultura na economia antiga na África durante o período romano a terra era a principal fonte e a mais valorizada de riqueza e prestígio social Também é comum dizer que a África era o celeiro de Roma A expansão do Cristianismo também chegou às terras africanas Dentre as províncias ocidentais do Império Romano as províncias africanas foram as primeiras a ver a introdução e o desenvolvimento do Cristianismo De acordo com Tertuliano que viveu no final do século II e início do III naquela época havia na África um número muito grande de cristãos em todas as classes e profissões Por volta de 220 foi possível reunir em Cartago um sínodo de 71 bispos outro realizado em cerca de 240 reuniu noventa bispos MAHJOUBI 2010 p 540 Todo esse crescimento do Cristianismo no solo africano era motivo de preocupação para as autoridades imperiais Os cristãos eram considerados um organismo estranho no corpo do império pois não aceitavam a ideologia oficial não prestavam culto ao imperador e se colocavam habitualmente na oposição ao regime romano Em regiões dominadas através de guerras pelo Império Romano o Cristianismo era particularmente perigoso pois 43 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 poderia inspirar rebeliões contra o poder central Nas diversas cidades das províncias africanas e principalmente em Cartago muitos cristãos foram mortos pelas autoridades romanas por representarem uma suposta ameaça à unidade do Império Conforme Mahjoubi 2010 p541 o ano de 203 foi marcado pelo martírio das santas Perpétua e Felicidade e de seus companheiros que foram atirados aos animais na arena do anfiteatro de Cartago O Império Romano teve um crescimento sem precedentes a partir da Segunda Guerra Púnica A dificuldade administrativa por causa da grandiosidade do império as disputas políticas internas e o constante assédio dos povos inimigos produziram uma profunda crise no Império Romano e sua consequente decadência Povos de origem germânica a partir do século V invadiram as fronteiras romanas As províncias africanas foram conquistadas pelos vândalos a partir do Estreito de Gibraltar Terminava um período de cinco séculos de dominação romana na África Conforme Salama 2010 os vândalos conquistaram inicialmente a Península Ibérica e de 429 e até 430 conquistaram todo o restante do norte da África O Império Romano do Oriente ainda permanecia intacto com sua capital em Bizâncio A partir do ano de 474 Bizâncio e o Reino Vândalo fizeram tratados comerciais e de paz Para Bizâncio era estrategicamente favorável ter os vândalos como aliados Fonte httpmigremewJ9ZP Todas as disputas políticas e a crise que se abatia sobre o Estado Vândalo levaram Bizâncio a promover uma espécie de reconquista dos territórios africanos Reconquista em dois aspectos em primeiro lugar esses territórios antes pertenciam ao Império Romano e Bizâncio era a única herdeira legítima com forças militares capazes de reconquistar o norte da África em segundo lugar a perversão do Cristianismo através da heresia ariana era um bom motivo para a expulsão dos vândalos A conquista ocorreu sob o governo de Justiniano no ano de 533 dC O domínio bizantino no Magrebe durou menos de 200 44 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 anos Já era o contexto da afirmação do Islã e os conquistadores árabes se tornaram os novos senhores no norte da África Após a morte do profeta Maomé o Islamismo que era apenas até então mais uma religião inexpressiva do interior da Arábia tornouse em poucas décadas uma das maiores expressões religiosas do mundo antigo entre os séculos VII e XI Nascido sob o sol ardente da península arábica o islã soubera aclimatarse a diferentes latitudes e junto a povos tão distintos quanto os camponeses da Pérsia do Egito e da Espanha os nômades berberes somalis e turcos os montanheses afegãos e curdos os párias da Índia os comerciantes soninquês e os dirigentes do Kānem HRBEK 2010 p 2 O Império Muçulmano de acordo com Hrbek 2010 surgiu como um fenômeno essencialmente árabe no princípio mas com o passar dos anos e com a rápida expansão ficou claro que a única identidade possível para civilização muçulmana era a dos laços religiosos e não a dos laços étnicos e sanguíneos Dessa forma ao falarmos de civilização islâmica nos referimos ao conjunto de fiéis que professam a fé islâmica e não apenas a pessoas originárias da Arábia A conquista do norte da África pela civilização islâmica foi avassaladora Num primeiro momento oito anos após a morte de Maomé em 632 dC a conquista foi iniciada pelas regiões do Rio Nilo O Egito depois a Núbia e posteriormente o Sudão foram as primeiras regiões afetadas pela expansão islâmica na África A conquista islâmica do Egito foi o ponto de partida para a expansão para o Magrebe mas essa região não foi facilmente conquistada quase um século foi necessário para que os muçulmanos submetessem o norte da África aos seus domínios Fonte httpmigremewJa1q No Magreb os conquistadores árabes enfrentaram a tenaz resistência dos berberes e somente ao final do século VII lograram submeter as principais regiões A maioria dos berberes converteuse então ao Islã e malgrado o ressentimento que lhes inspirava a dominação política árabe eles tornaram se ardentes partidários da nova fé contribuindo para propagála do outro lado do estreito de Gibraltar e além do Saara HRBEK 2010 p 8 45 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 O Magrebe era uma região estratégica para a expansão islâmica e sua conquista permitiu a penetração da fé islâmica na Península Ibérica e no sul do Saara Os muçulmanos árabes e mouros islamizados cruzaram o Estreito de Gibraltar no ano de 711 dC e conquistaram a Península Ibérica que era território visigodo Muitas famílias islâmicas constituíram governos na Península Ibérica através de emirados e califados sendo que o mais famoso foi o Califado de Córdoba Os últimos mouros foram expulsos da Península Ibérica somente em 1492 Antes de continuar seu estudo realize o Exercício 2 e a Atividade 21 Dicas de aprofundamento EL FASI Mohammed História Geral da África III África do século VII ao XI Disponível em httpunesdocunescoorgimages0019001902190251PORpdf Acesso em 01 jun 2019 Assista ao documentário Construindo um Império Cartago Disponível em httpswwwyoutubecomwatchv44n7RDlaqig Acesso em 26 mar 2020 46 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 31 A África Subsaariana 311 Reino de Ghana Conforme Medeiros 2010 o desenvolvimento dos vários reinos sudaneses foi facilitado pela introdução de novos instrumentos e técnicas O domínio do ferro e a utilização do cavalo e do camelo proporcionaram a superioridade necessária para impor a dominação sobre as comunidades de pastores e agricultores do Sahel O ferro por exemplo possibilitou a construção do poderio militar a formação de exércitos e prática da caça e da pesca Dessa forma os reinos sudaneses num primeiro momento mantiveram contato com as populações berberes do Sahel de origem branca mas com o passar dos séculos os atritos com tais populações provocaram o recuo dos agricultores negros contudo esse recuo foi estratégico para organizar melhor a resistência Foi na faixa de savana entre o Sahel e a floresta equatorial que os reinos sudaneses se prepararam para enfrentar as intimidações provenientes do deserto Essas pequenas comunidades do Sudão através da organização da cidade de Ghana cobravam tributos pela travessia de mercadores em suas terras O domínio das rotas comerciais e os tributos delas advindos proporcionaram lucro e desenvolvimento para o Reino de Ghana Fonte httpmigremewJaiG O reino de Ghana era habitado pelos grupos étnicos soninquês e saracolês do grupo linguístico mandinga A capital do reino era Kumbi Saleh possuía cerca de 20000 moradores e era um dos maiores entrepostos comerciais da África ocidental As primeiras informações desse reino surgiram no século VIII através dos textos árabes a partir das UNIDADE 3 A ÁFRICA NEGRA PRÉCOLONIAL E A ESCRAVIDÃO OBJETIVO DA UNIDADE Compreender a formação dos povos africanos subsaarianos e a constituição dos reinos de Ghana Mali Songhai Monomotapa Kongo Analisar os impactos dos contatos da África negra com os europeus 47 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 diversas incursões que os berberes islamizados habitantes da região do Magrebe fizeram ao sul do Saara As informações sobre esse reino são escassas mas tudo leva a crer que as condições ambientais e técnicas favoreceram a ocupação dessa região a produção agrícola das primeiras comunidades e a formação dos reinos Além das condições favoráveis à atividade agrícola e pastoris havia também uma grande concentração de minas de ouro por isso esse reino ficou conhecido como o país do ouro O tráfico de ouro através do Saara era bastante antigo Em torno de 681 de nossa era a expansão muçulmana chegou às costas atlânticas do Marrocos Sabedores da existência do comércio com o ouro os mercadores arabizados começaram a enviar expedições mercantis para o sul Elas levavam o sal e produtos mediterrâneos para serem trocados pelo precioso metal MAESTRI 1988 p17 O nome Ghana quer dizer senhor da guerra e era o título utilizado pelo governante do reino Sua força e prestígio iniciais seriam devidos ao fato de que ele desempenhava também o papel de mestre do ouro MAESTRI 1988 p19 A sua função era dividir as áreas de mineração para os clãs e receber deles o tributo em ouro Toda a formação social do antigo Reino de Ghana era baseada na família clânica e patriarcal que abrigava o patriarca os filhos casados e solteiros e também os escravos Segundo Maestri 1988 essas formações aldeãofamiliares eram presididas por chefiarias que também recebiam a designação de sobas ou seja eram zonas de influência de um chefe uma determinada circunscrição política e geográfica que estava sob o domínio de um patriarca As famílias se ocupavam da agricultura do artesanato da caça pesca e extração mineral A posse da terra era coletiva Nesse modelo familiar o patriarca recebia tributos dos filhos e dos demais membros do clã administrava os bens e distribuía as esposas e dotes familiares e muitas vezes estava livre dos afazeres produtivos Fonte httpmigremewJajj As práticas religiosas tradicionais animistas indicam o relativo alcance do Islã nos reinos sudaneses Outro aspecto ainda mais importante era a formação social e econômica do reino e a centralização da tributação É importante notar que passava pela realeza o controle do comércio aurífero O rei de Ghana concentrava toda a produção de pepitas de ouro para também controlar as cotações desse produto O soberano mantinha o 48 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 monopólio do produto e organizava a economia através da troca com produtos inexistentes em seus domínios sal e tecidos por exemplo O comércio e a tributação estavam na base da prosperidade do Reino de Ghana A capital do reino estava na rota de tribos comerciantes berberes e dos comerciantes muçulmanos que aos poucos dominavam a região do norte da África De acordo com Silva 1992 o sucesso do reino de Ghana estava no controle do comércio do ouro e do sal O ouro tão necessário à economia monetária da Europa e do Oriente Próximo O sal indispensável às populações sudanesas e silvícolas No ouro e no sal assentarseia a força de Ghana SILVA 1992 p 244 Nesse contexto os soberanos de Ghana contavam com os preciosos serviços dos muçulmanos que eram letrados e serviam de intérpretes ministros e tesoureiros do reino Diante da competência e habilidade dos muçulmanos o soberano de Ghana lhes concede o direito de praticar livremente sua religiosidade nos domínios do reino Fonte httpmigremewJajK Gana assim como Gao possui ao lado da cidade do rei uma cidade onde habitam os muçulmanos com doze mesquitas cada qual com o seu imame o seu muezim o seu leitor Consultores jurídicos e eruditos vivem igualmente nesta cidade Enfim os muçulmanos não são forçados aos costumes incompatíveis com as suas convicções religiosas MEDEIROS 2010 p 164 O Reino de Ghana atingiu seu apogeu no século XI Nesse período o exército possuía cerca de 200000 soldados dos quais 40000 eram arqueiros Estimase que produção de ouro do Sudão fosse a principal fonte de abastecimento do Mediterrâneo chegando a cifras de nove toneladas por ano O reino de Ghana entrou em crise quando o Islã começou sua expansão nas regiões do Sudão No entanto Ghana ofereceu uma forte resistência até a rendição que segundo Lopes 2004 ocorreu por volta de 1076 quando Ghana caiu sob o domínio dos árabes almorávidas sendo a cidade de Kumbi Saleh invadida e saqueada O domínio almorávida estava estabelecido desde as regiões dos atuais Portugal e Espanha até a capital de Ghana Kumbi Saleh Aos poucos Ghana foi caindo no isolamento a maioria dos comerciantes de ouro e sal desviava de suas rotas para as cidades de Tombuktu Gao e Djenne As populações de Ghana passaram por um processo de islamização embora nunca completo Muitos adeptos do Islã ainda continuavam com suas práticas religiosas tradicionais construindo uma religiosidade ricamente sincrética 49 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 312 O Império do Mali O Império do Mali surgiu no contexto do declínio de Ghana Segundo Maestri 1988 o senhor de uma chefiaria negra chamado Baramendana na atual república de Guiné se converteu ao islamismo devido a uma promessa que havia feito a um muçulmano Isso ocorreu por volta do século XII O chefe africano por meio de uma religiosidade profundamente marcada por aspectos ligados aos elementos da natureza não conseguia chamar as chuvas necessárias para regar a agricultura de seu clã então recebeu ajuda de um clérigo islâmico Assim que as águas caíram sobre as terras de sua tribo o chefe africano converteuse ao Islã assim como havia prometido Dessa forma o Islamismo adentrou aos domínios do Mali e fez vários adeptos mas sempre convivendo com as religiões tradicionais muitas vezes sofrendo influência delas Fonte httpmigremewJakN Sundiata conforme Maestri 1988 foi a figura mais marcante da história do Império do Mali e do Sudão ocidental como um todo ainda hoje os povos mandingas oferecem cultos em sua memória Segundo a tradição oral quando seu pai morreu e seu irmão Touman assumiu o trono Sundiata tinha apenas sete anos e ainda possuía uma deficiência nas duas pernas que o impediam de caminhar Mas a partir dessa idade ele curiosamente começou a se recuperar fisicamente e a tornarse um prestigiado caçador As disputas entre os chefes tribais que surgiram após Sundiata ganhar a admiração popular o levaram a fugir com sua mãe irmã e o irmão mais jovem para um local distante pois temia por sua vida Sundiata encontrou asilo junto à corte de um rei de uma tribo tounkara e tornouse seu chefe militar Enquanto isso no Mali as tribos mandingas se rebelavam contra o domínio dos sossos e chamavam Sundiata para combater junto a eles e a retomar o trono As primeiras batalhas que os mandingas travaram foram duras derrotas Mas finalmente no ano de 1235 na cidade de Kerina Sundiata com seus exércitos derrotou a Sumanguru Kante Sundiata Keita tornouse soberano sobre todos os sossos e convidou todos os governantes dos clãs mandingas também conhecidos como mansas para estarem sob sua liderança tornandose o grande Mansa Dessa forma Sundiata tornouse o 50 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 senhor absoluto da região Após esse grande evento militar Sundiata reuniu uma assembleia geral para lançar as bases do novo império Dividiu as províncias e elegeu governadores Nesse período Sundiata teria se convertido ao islamismo enquanto a maioria da população ainda continuava as crenças tradicionais Sundiata estabeleceu a capital do império em Niani sul da antiga capital de Ghana O deslocamento do centro do império para as regiões meridionais foi para que os keitas se prevenissem dos ataques de nômades do deserto Sundiata morreu por volta de 1255 Mas após seu reinado vários soberanos ainda continuaram usando o título de mansa Após a morte de Sundiata seu filho Mansa Ulé governou de 1255 até 1270 Depois de Mansa Ulé ainda reinaram Abubakar I Sakura Abubakar II e o famoso Mansa Kanku Mussa que teria feito notório o Mali em toda a África e Oriente Próximo através de sua peregrinação a Meca em 1324 Toda a riqueza comercial do Mali ficou comprometida a partir da viagem do mansa Kanku Mussa à Meca entre 1307 e 1332 Acreditase que ele levou consigo cerca de 14000 servos e de 10 a 12 toneladas de ouro Por onde passava mansa Mussa era recebido com honras e comprava casas e terrenos a fim de abrigar os peregrinos negros Ao retornar para seus territórios trouxe consigo um grande número de sábios comerciantes clérigos muçulmanos É nesse momento que Tombuktu tornou se um importante centro cultural Fonte httpmigremewJal7 O império do Mali usou as mesmas bases econômicas de Ghana A estrutura social no Mali era fundamentada na organização familiar As comunidades africanas e os comerciantes de ouro sal e escravos tinham que pagar tributos ao soberano de Mali A extensão geográfica e as fronteiras étnicas e culturais de Mali também eram superiores às de Ghana Conforme Maestri 1988 Ghana comercializava com o sul do Marrocos e Mali continuou esse comércio porém estabeleceu também relações com a Líbia e o Egito Esse comércio gerou duas novas cidades mercantis Djenne e Tombuktu Tombuktu tornouse um dos principais centros comerciais do Sudão ocidental tinha cerca de 25000 habitantes 26 alfaiatarias com até 200 aprendizes cada e 150 escolas A partir de 1400 Mali entrou em decadência seus territórios foram invadidos e saqueados Nesse contexto Mali sofreu forte 51 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 pressão do reino de Songai ou Gao Ao final do século XVII não restava quase nada do poder de Mali Segundo Maestri 1988 a partir das fontes orais africanas e escritas muçulmanas e portuguesas podese ter uma ideia de como era a organização social do império do Mali Assim como em Ghana o império do Mali baseou sua organização através do pagamento de tributos A classe dominante era unida por laços clânicos e sanguíneos e aumentava ainda mais o seu poder através da extração do excedente produtivo sobre a forma de tributo Os agricultores tinham que pagar o dízimo de toda a sua produtividade O tributo era recolhido quando eles levavam seus produtos para vender nos mercados E dali era levado para as redes administrativas Os senhores de Mali tributavam suas comunidades para a formação do império Os artesãos os camponeses e trabalhadores domésticos sofriam uma servidão pessoal pois deviam tributos ao império Cada um dava daquilo que produzia a família de um ferreiro por exemplo contribuía com 100 flechas todos os anos os pescadores tributavam em forma de peixe seco e os camponeses através dos produtos de suas terras O principal produto comercial do Mali era o ouro mas o sal também tinha um importante lugar na economia mandinga O papel do Islã no império do Mali foi muito relevante Embora a religião tradicional persistisse entre as comunidades aldeãs a maioria dos funcionários do império era convertida e por isso letrada O que sem dúvida facilitava o controle do comércio e dos assuntos administrativos 313 O Império de Songai Conforme Maestri 1988 o Império de Songai foi o último grande reino a existir nas áreas que antes se constituíram os reinos de Ghana e do Mali Com Songai se interrompeu um processo de ascensão das civilizações negras na África ocidental A estrutura do reino de Songai era muito parecida com os reinos anteriores baseavase no comércio e na tributação Fonte httpmigremewJam6 As origens do Império Songai são desconhecidas As poucas informações dão conta de populações songais que viviam às margens do rio Níger e eram divididas em dois grupos os sorkos que eram caçadores e os gous que eram pescadores Segundo a tradição mítica 52 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 songai o império teria surgido a partir do nascimento de um feiticeiro chamado Faran Makan Bote Ele teria nascido a partir da união de um caçador sorko e de uma mãefada ligada aos espíritos das águas Makan Bote conseguiu unificar os caçadores e os pescadores e ainda cumpria a função de sacerdote frente aos camponeses O Kanta como era conhecido o sacerdote era prestigiado por possuir poderes mágicos Segundo o mito por volta do ano 500 teriam chegado às terras do Kúkya afluente do Níger povos berberes que lutaram contra um terrível peixefeiticeiro que era descendente de Makan Bote e o príncipe berbere Za Aliamen o teria vencido e libertado os pescadores e camponeses do terror imposto pelo monstro A partir desse momento iniciouse uma dinastia dia que duraria até 1335 No século XIII Songai foi dominado pelo soberano de Mali Os príncipes de Songai se tornaram vassalos de Mali tendo que lutar como soldados e oficiais nas fileiras dos exércitos mandingas Todavia um dos príncipes de Songai conseguiu escapar e voltou para libertar seu povo Aos poucos esse soberano foi reconquistando os territórios e fundou uma nova dinastia que ficou conhecida como Dinastia Soni Durante o século XV o império do Mali entrou em decadência e Ali o Grande da dinastia Soni conquistou parte dos territórios mandingas inclusive a cidade de Djenne e formou o maior império da faixa sudanesa Ali o Grande estabeleceu governadores em diversas partes do imenso território construiu importantes obras públicas como canais de irrigação e até uma frota no Níger O Soni Ali morreu no ano de 1492 Em seu lugar reinou seu filho mas seu reinado foi efêmero um ano após a morte de Ali um antigo chefe militar chamado Mohammed conquistou o trono de Songai Mohammed deu origem à Dinastia Áskia aliouse aos muçulmanos e escolheu seus ministros e secretários entre sábios de Tombuctu No ano de 1496 viajou a Meca e tornouse o califa do Sudão Ocidental Durante o seu governo Songai chegou ao apogeu de seu poderio Mohammed foi um grande conquistador e estadista Dividiu o império gao em quatro vicereinos organizou um sistema regular de arrecadação de impostos unificou os pesos e as medidas explorou as salinas de Teghazza fortaleceu a flotilha do Níger e pela primeira vez no Sudão Ocidental formou um exército regular constituído de escravos e prisioneiros O império de Songai não foi um mero sucessor das duas formações negro africanas anteriores Ele superou qualitativamente o reino de Ghana e o império de Mali O primeiro restringiuse no geral aos territórios do povo sarakolê Mali e Songai foram ao contrário impérios que abarcaram etnias e populações muito mais amplas do que respectivamente os povos mandinga e songai MAESTRI 1988 p36 O império de Songai atingiu um nível políticoadministrativo que pouco lembrava os reinos anteriores pois estava estruturado para além das solidariedades sanguíneas e clânicas dos reinos anteriores O império de Songai estava centralizado na figura do 53 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 imperador Por outro lado a profissionalização do exército a burocratização do recolhimento de impostos e outras medidas administrativas diferenciavam bastante Songai dos outros reinos A formação do exército dividido por sua vez em vários corpos reestruturou a sociedade isento de ir à guerra o povo trabalhava na terra na produção artesanal e no comércio A burocracia era muito estratificada citemos apenas alguns cargos os altos funcionários os koy os fari ministros e governadores das montanhas tondifari feiticeiras que tinham a permissão de dirigiremse ao imperador pelo nome o governador da província gurmafari que era o celeiro agrícola do império o ministro da navegação fluvial hihoy o chefe dos cobradores de impostos fari mondyo o sacerdote do culto aos antepassados horéfarima o inspetor das florestas saofarima o chefe dos pescadores hokoy e ministro encarregado dos homens brancos residentes no império koreyfarima Todos eram nomeados e demitidos pelo imperador a seu belprazer COSTA 2012 p85 Segundo Costa 2012 no Reino de Songai havia um sistema formal e bem estruturado de educação A cidade de Tumbuctu era um grande centro de estudos e abrigava uma universidade desde o século XII com aproximadamente 25000 estudantes num universo de 100000 habitantes O império de Songai começou a entrar em declínio no final do século XVI Mohammed aos seus 86 anos de idade foi destituído do trono por seu filho e nesse contexto o reino começou a entrar em decadência e finalmente foi desagregado em 1591 Nesse período os portugueses já haviam chegado à costa atlântica e aos poucos buscavam adentrar aos territórios do interior Fonte httpmigremewJamR 314 Os Reinos Iorubas A história dos reinos Iorubas de acordo com Maestri 1988 é narrada por meio da tradição oral na ausência de documentos escritos a história dos mais velhos que passa de geração para geração juntamente com os vestígios materiais são as únicas formas de conhecer a trajetória desses reinos que habitavam perto do rio Volta e do Baixo Níger Algumas ruas calçadas e pedaços de muros nos dão uma ideia de como eram essas civilizações Nelas viviam agricultores artesãos e grupos de famílias Todos eram submetidos aos conselhos de um chefe Os vestígios arqueológicos mais importantes da 54 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 região datados do ano 500 d C foram encontrados em Ilê Ifé a principal cidade dos iorubas Os iorubas ocupavam as regiões da Costa do Marfim Golfo da Guiné e Nigéria Essa civilização atingiu um alto nível de urbanização muito raro nos outros reinos africanos O apogeu da civilização ioruba ocorreu no início do século XIII através da fundação da cidade de Oio a capital política do reino Ao lado Oio Ilê Ifé era uma das cidades mais importantes pois era o local onde ocorria a sagração dos reis As cidades dos iorubas eram cercadas por muralhas nelas habitavam camponeses e uma aristocracia dominante As cidades também eram independentes do poder central os reis eram escolhidos através de uma assembleia e o seu governo era reconhecido pelo Oni de Ilê Ifé rei e sacerdote Fonte httpmigremewJanY Conforme Maestri 1988 com base na tradição oral Ilê Ifé é lugar da fundação do mundo nela as divindades Oduduwa e Obatalá criaram o mundo que é dirigido por Olodumare a divindade suprema Obatalá teria criado os primeiros humanos a partir do barro e Oduduwa teria se tornado o primeiro rei iorubá Acreditase que os sucessivos Obas chefes reis são descendentes diretos de Oduduwa o primeiro rei ioruba Dessa forma em Ilê Ifé foi criada uma monarquia divina onde quem governava era o Oni representante da divindade O reino ioruba de Ilê Ifé possuía aldeias com vários chefes que prestavam obediência ao Oni oba de Ilê Ifé Todo esse sistema políticoreligioso de Ilê Ifé foi adotado pelos povos iorubas que habitavam ao redor do rio Volta e Níger Fonte httpmigremewJaoD 55 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Segundo Souza 2006 todos os obás dos reinos iorubas diziam que seus antepassados saíram de Ilê Ifé e que por isso faziam parte de uma família real e divina Ilê Ifé tinha ascendência espiritual sobre quase todos os reinos iorubas e era quem distribuía os símbolos reais Os adés uma espécie de coroa feita de contas de coral com fios cobrindo o rosto de oba foi um dos principais símbolos do poder junto com o sistema de monarquia divina Em Ilê Ifé o oba administrava o reino de sua capital afastado do litoral sua moradia era uma construção com muros fortes ruas largas e retas O oba tinha centenas de mulheres e filhos assim como os outros obas dos outros reinos No século XVI os reinos iorubas ascenderam exceto Ilê Ifé que entrou em declínio Isso porque houve a presença de novos comerciantes na costa atlântica que traziam novas mercadorias em seus navios e que eram desejados pelos chefes africanos Mesmo em declínio Ilê Ifé manteve a importância religiosa Todos os chefes das cidades que teriam sido fundadas por ascendentes de Oduduwa iam até Ilê Ifé para terem seus poderes confirmados por Oni o oba mais importante política e religiosamente Os iorubas constituem uma mistura de vários grupos O povo se formou inicialmente em torno da cidade de Ilê Ifé Mas com o passar dos anos formaramse vários reinos cada um com seu soberano e sua capital A partir Ilê Ifé foram planejadas as demais cidades que eram divididas em bairros Em cada reino havia locais sagrados palácio real praças de mercado lugares de reunião Geralmente cada cidade se aperfeiçoava em um ofício algumas na tecelagem e tintura de algodão outras metalurgias ensino de sacerdotes e esculturas em madeira Certamente as cidades de Oio e Ilê Ifé eram as mais importantes para os iorubas Mas com o declínio delas vários outros reinos emergiram ao seu redor como foram os casos do Reino do Benin o Reino do Adomei ou Daomé e a Confederação de reinos Ashanti De todos esses reinos o Brasil recebeu escravos muitos foram identificados no Brasil como Nagôs mas na verdade eram iorubas provenientes do Benin 315 Os Povos Bantus Conforme Souza 2006 os povos que habitavam abaixo da linha do Equador são majoritariamente os grupos da família linguística bantu Esses povos eram hábeis metalurgistas principalmente na mineração de ferro O ferro era muito importante na África Central pois permitia a fabricação de ferramentas utilizadas no trabalho agrícola Esses primeiros metalurgistas ocuparam a África Central nos primeiros anos da era cristã Nessas sociedades o ouro ainda não tinha o valor que teria mais tarde com a chegada dos colonizadores A metalurgia do ferro era muito mais relevante pois a economia era fundamentalmente agrícola É interessante notar que os grandes mestres da metalurgia 56 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 brasileira serão justamente os negros que vieram como escravos dessa região da África para o Brasil O Reino de Kongo ocupava toda a vasta área em que hoje se localiza os países Congo antigo Zaire e Angola O reino foi fundado numa região extremamente favorável o solo era fértil rico em minérios de ferro e cobre e o território era rodeado por rios ao sul estava o rio Cuanza ao norte o rio Oguwé e ao leste o rio Congo Segundo Souza 2006 o reino do Kongo surgiu a partir da chegada de povos conhecidos como muchicongos que habitavam a outra margem do rio Ao chegarem na região os muchicongos se misturaram aos outros povos bantus que já habitavam a região Essa fusão de povos bantus das duas margens do rio Congo teria sido feita por Nimi Lukeni chefe dos muchicongos a partir do século XIII SOUZA 2006 p 38 No início do século XV essas comunidades de língua bantu cresceram em riqueza e formaram uma federação de estados centralizados em um reino cujo líder era conhecido como Mani kongo muito parecido com os obas iorubas A capital do reino foi estabelecida em Mbanza Kongo que com o domínio português a partir do século XVI se tornaria São Salvador Fonte httpmigremewJapE A principal atividade econômica dos congoleses envolvia a prática de um desenvolvido comércio predominando a compra e venda de sal metais tecidos e produtos de origem animal A prática comercial poderia ser feita através do escambo ou com a adoção do nzimbu uma espécie de concha somente encontrada na região de Luanda Nas aldeias foram mantidas as chefias existentes antes da chegada do muchicongos O chefe dava conselhos referentes aos assuntos da comunidade Um conjunto dessas comunidades estava submetido a um chefe regional que fazia a ligação dessas aldeias com a capital O Reino do Kongo se formou através de casamentos de uma elite tradicional com uma elite nova que eram os descendentes dos estrangeiros que vieram do outro lado do rio Conforme Souza 2006 quando os portugueses chegaram por volta de 1484 encontraram uma civilização hierarquizada onde os chefes viviam em construções grandiosas cercados de mulheres filhos conselheiros e escravos Ali também moravam agricultores que sempre que convocados militarmente seguiam contra os inimigos do Mani 57 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 kongo As aldeias e cidades pagavam tributos ao Mani kongo Esses tributos eram pagos com aquilo que o povo produzia alimentos tecidos sal e cobre Assim que os portugueses chegaram ao Kongo perceberam que esse reino seria um bom parceiro comercial O Mani Kongo junto com os chefes viu que poderia lucrar com a presença dos portugueses Esse relacionamento comercial e político durou três séculos até que os portugueses acabaram por controlar a região que hoje corresponde ao norte da Angola Dessa região vieram inúmeros escravos para o Brasil Um dos povos mais importantes de acordo com Souza 2006 que foram feitos cativos e vieram para o Brasil foram os moçambiques Os moçambiques eram embarcados nos portos da Ilha de Moçambique e em Sofala mas eram originários de diversos pontos da África CentroOriental e Meridional Nessa região entre os atuais Moçambique e Zimbábue havia Estados organizados que aos poucos foram se desestruturando com a chegada dos portugueses e a organização do tráfico negreiro O mais importante dentre eles foi o Império do Monomotapa Durante o fim do primeiro milênio da era cristã chegaram à África oriental os primeiros comerciantes árabes Nesse mesmo contexto os povos xonas atravessaram o rio Zambeze e se estabeleceram junto às populações nativas que já habitavam a região Desses dois fatos nasceu o grande Império Monomotapa e as famosas muralhas zimbábues O Império do Monomotapa foi um grande Estado estruturado entre o século IX e XVI Antes da chegada europeia abrangia as regiões do atual Zimbábue até Moçambique onde se localizava o importante porto de Sofala O centro do império estava localizado num grande planalto entre os rios Zambeze e Lipombo e o Oceano Índico A principal atividade econômica era a exploração de ferro cobre e de ouro Foi o ouro do Monomotapa durante século XII que atraiu os comerciantes árabes oriundos do Golfo Pérsico e posteriormente os portugueses para a região As riquezas minerais fizeram do Império do Monomotapa um dos mais poderosos da África oriental e um dos locais mais procurados por comerciantes da Europa e da Ásia Fonte httpmigremewJaql 58 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 O Império do Monomotapa recebeu esse nome porque assim era conhecido o chefe local Monomotapa era um título de governo Mas a ocupação do trono do Monomotapa não era feita de modo hereditário a escolha do soberano era realizada pelos chefes das tribos e também através da consulta dos espíritos dos ancestrais As primeiras informações sobre o império do Monomotapa são advindas dos primeiros comerciantes árabes e dos primeiros portugueses que aportaram no litoral oriental da África principalmente a partir de Vasco da Gama Apesar das escassas informações que temos sobre Monomotapa as ruínas de pedra no interior dão a dimensão do grandioso império e da engenhosidade de seus habitantes No interior do reino ainda hoje podem ser vistas as enormes muralhas de pedras que chegam a 5m de altura por 2m de largura Essas enormes muralhas foram construídas sobre terras férteis por um povo que vivia da agricultura e da criação de gado Elas são unidas somente pela sobreposição de pedras sem nenhum tipo de argamassa são os chamados zimbábues Dentro das muralhas existiam casas cobertas com palha Segundo Maestri 1988 p 105 na língua dos povos xonas a palavra zimbaoé quer dizer residência real ou ainda lugar onde habita o mambo Os xonas cultuavam uma divindade conhecida como Mauari e tinham o mambo como chefe religioso e político O mambo habitava o zimbábue grande monumento de pedra datado do século XI Fonte httpmigremewJaqV Os xonas eram comunidades pastoris que ocupavam as regiões mineradoras mais abundantes e controlavam as rotas que ligavam o interior e a costa litorânea A partir do século XV ocorreu uma forte centralização do poder nas mãos dos mambos e um grande desenvolvimento comercial do litoral e do interior Esse é momento de maior esplendor da civilização xona Conforme Souza 2006 próximo às muralhas chamadas zimbábues foram encontradas porcelanas da China e da Índia o que comprova a relevante atividade mercantil desse povo Segundo Maestri 1988 a história do Monomotapa pode ser dividida em duas etapas A primeira começaria em 1075 e terminaria em 1440 com o nascimento do Império Rozui Esta última data marcaria também o início do período de auge da civilização xona que teve seu fim quando da invasão do planalto pelos Ngoni em 1830 59 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 No Monomotapa havia constantes conflitos entre as chefias que eram formadas por meio de laços de parentesco casamentos e de entidades religiosas Quando o chefe Mutope morreu começaram os conflitos pela sucessão Um dos filhos chamado Niune assumiu o trono mas não foi reconhecido por seu irmão Changa que administrava outras regiões do império e não aceitou a autoridade de seu meioirmão Changa guerreou contra Niune e o derrotou assumindo assim o reino de forma absoluta Aos poucos o reino foi se esfacelando e os territórios foram divididos em diversos reinos menores Nesse contexto de fragmentação ocorreu a chegada dos portugueses A presença dos árabes e dos portugueses ambiciosos por apoderaremse do ouro só aumentava ainda mais os conflitos No Monomotapa havia ouro o que fez com que o local se tornasse uma importante rota comercial O ouro era extraído de maneira sazonal durante o intervalo entre o cultivo da terra e a criação de gado Além do ouro era comercializado também sal cobre e gado Quando os portugueses começaram a frequentar a costa oriental da África de acordo com Souza 2006 tomaram conhecimento dos zimbábues e da existência de um grande reino A vontade de dominar o Reino do Monomotapa era muito grande nos portugueses pois segundo algumas descrições prévias o reino seria rico em jazidas de ouro Mas era bem menos rico do que portugueses imaginavam Os portugueses receberam relatos de que havia no interior da África um reino rico em ouro e que não era governado por muçulmanos Dessa forma os primeiros contatos entre os portugueses e o Reino do Monomotapa visavam a estabelecer relações comerciais e construir um entreposto entre a Europa e Ásia Os portugueses se instalaram e aos poucos foram se casando com as filhas dos africanos para que pudessem ocupar um lugar privilegiado na atividade comercial Ao perceber que a terra não era tão rica como imaginava Portugal parou de investir na região e os filhos nascidos nas terras moçambicanas tornaramse cada vez mais africanizados Segundo Alencastro 2000 o empreendimento colonial português em Moçambique encontrou muita resistência Os portugueses tiveram que reconhecer a autoridade do Monomotapa e não dominaram de imediato a região sorvidos paulatinamente pela sociedade nativa os colonos se africanizaram ALENCASTRO 2000 p 17 60 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 32 Escravidão na África Précolonial Conforme Souza 2006 na costa da África que vai do Senegal até Moçambique lugar onde os portugueses negociavam escravos tudo era manipulado através de curandeiros adivinhos médiuns sacerdotes que foram chamados pelos portugueses de curandeiros As práticas mágicoreligiosas eram chamadas de feitiços Fonte httpmigremewJasJ As orientações de como agir em determinadas situações vinham dos antepassados dos ancestrais heróis fundadores deuses e espíritos Acreditavase que os infortúnios ocorridos eram falta de harmonia entre o mundo real e sobrenatural Isso ocorria quando alguém deixava de fazer alguma oferenda ou quando usava as forças sobrenaturais de forma malintencionada Quando alguém adoecia a plantação arruinava ou uma mulher não engravidava os oráculos eram consultados para que mostrassem qual o melhor procedimento para a solução dos males e doenças A liderança do povo também passava pelos sacerdotes para que os espíritos confirmassem a sua posição Os líderes também eram considerados os mais respeitados representantes do além entre os vivos Fonte httpmigremewJatK Podese dizer que a religião era a base central das sociedades africanas A religião estava presente no poder na harmonia da sociedade nas formas de convivência A religião na África précolonial era inseparável da vida cotidiana e política Mesmo quando os 61 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 muçulmanos adentraram a África pelo norte e pela costa do Índico não conseguiram islamizar totalmente o continente Nas mais variadas regiões se produziram ricos sincretismos do Islã com as religiões tradicionais Essa riqueza cultural das religiões africanas veio com os escravos nos quase 350 anos de tráfico atlântico Nas regiões de Salvador Pernambuco Maranhão entre outras regiões brasileiras ainda permanecem vivos os cultos africanos dos Voduns dos Orixás e do Tambor de Mina Ao lado da religiosidade outro tema que chama a atenção de todos que se voltam para o estudo da África é a escravidão Nesse aspecto é importante discutir algumas questões Principalmente para nós brasileiros a escravidão tem um peso considerável na formação de nossa sociedade afinal a cifra chega a aproximadamente quatro milhões de negros introduzidos compulsoriamente através do tráfico no Brasil em quase três séculos e meio O tráfico negreiro não foi uma invenção diabólica da Europa Foi o Islã desde muito cedo em contato com a África Negra através dos países situados entre Níger e Darfur e de seus centros mercantis da África Oriental o primeiro a praticar em grande escala o tráfico negreiro BRAUDEL 1989 p 138 Segundo Alencastro 2000 há que se fazer uma diferença entre escravidão e escravismo A escravidão era praticada no interior da África précolonial por meio da captura de prisioneiros por ocasião de guerras tribais e mesmo na Europa e nas ilhas portuguesas principalmente a da Madeira A escravidão era reconhecida como legal e permitida junto ao aparato jurídico Já o escravismo deve ser pensado como a escravidão ganhando dimensões gigantes quando se integra à economia do sistemamundo ALENCASTRO 2000 p 32 É importante notar que a escravidão em larga escala se insere nos quadros do sistema capitalista mercantil e no contexto da expansão marítima europeia Esse é um contexto de profunda crise econômica numa Europa que estava abandonando as estruturas feudais É desse ponto de vista que devemos discutir a introdução dos africanos na cultura brasileira entre os séculos XVI e XVII aproximadamente 12 mil viagens foram feitas dos portos africanos ao Brasil para vender ao longo de três séculos cerca de quatro milhões de escravos aqui chegados vivos ALENCASTRO 2000 p 85 Ao contrário das outras monarquias europeias o Estado moderno português definiu se bem mais rápido Em 1249 seu território localizado mais ao sul o Algarve fora tomado de volta dos muçulmanos que haviam ocupado a península desde o século anterior a partir daí as fronteiras portuguesas estavam praticamente definidas Mesmo não fazendo parte de um processo social planejado contínuo e uniforme Portugal contou com governantes interessados na prática de navegação e na exploração de novos destinos 62 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 O Infante Henrique de Sagres filho do rei D João I de Portugal conhecido também como Henrique o navegador membro da dinastia de Avis nascido em 1396 de acordo com Boxer 2002 estimulou a conquista de Ceuta em 1415 e alguns anos depois passou a ser o administrador da cidade Em 1427 juntamente com seus navegadores descobriram a Ilha dos Açores que depois veio a ser ocupada por portugueses O infante também conseguiu licença de Roma para converter os pagãos africanos em 1485 por meio da bula Romanus Pontifex Essa bula endossou a prática de escravização de homens e mulheres da Guiné que depois eram levados para Lisboa como escravos Fonte httpmigremewJawj Até sua morte em 1460 o infante dom Henrique foi o concessionário de todo o comércio ao longo da costa ocidental africana porém isso não significa que ele próprio se encarregasse de todos os negócios Ao contrário ele podia e muitas vezes assim procedeu autorizar comerciantes privados e aventureiros a fazer viagens contanto que lhe pagassem um quinto de lucros ou outra porcentagem combinada BOXER 2002 p 45 Portanto todo o comércio marítimo esteve dominado pelo Infante e consequentemente atrelado aos interesses da monarquia De acordo com Alencastro 2002 após a morte de D Henrique a Coroa resolveu terceirizar os negócios ultramarinos a partir daí um rico mercador de Lisboa chamado Fernão Gomes passou a cuidar destes assuntos Em 1475 a monarquia retomou novamente o controle O infante e herdeiro do trono D João começou a exercer as atividades dos negócios marítimos Com a morte de seu pai ele herdou o trono adotando o nome de D João II Obcecado por aumentar o comércio principalmente com a África durante seu governo houve avanços importantes na política ultramarina Com o objetivo de garantir o monopólio português ele criou um posto em terras africanas o Castelo de São Jorge da Mina Fonte httpmigremewJawV Esses dois primeiros governos realizaram o processo de conquista dos territórios ultramarinos lusitanos A partir deles ou seja a partir do final do século XV os 63 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 sucessores tiveram que administrar e sobretudo negociar os territórios sob jurisdição de Portugal Vários países ameaçavam os domínios ultramarinos dos lusitanos tais como França Holanda Inglaterra e Espanha Essa última unificou o reino de Portugal por mais de meio século período denominado União Ibérica 15801640 Portugal conseguiu dominar vários povos principalmente pelas armas e pela tecnologia que desenvolveu Os barcos portugueses eram os mais poderosos capazes de cruzar o Atlântico sem maiores dificuldades guardar diversos mantimentos e travar combate no litoral das regiões a serem ocupadas Os navios utilizados pelos portugueses eram as caravelas e as naus As caravelas eram navios pequenos e de fácil navegação já as naus eram embarcações maiores com grande poderio militar e capacidade de transporte de passageiros sejam militares ou escravos O navegador Pedro Álvares Cabral ao chegar ao território da América portuguesa estava pilotando uma delas e Bartolomeu Dias primeiro navegador que contornou o Cabo da Boa Esperança na costa sul africana também estava pilotando uma caravela Fonte httpmigremewInur Segundo Boxer 2002 outro grande aliado do reino português em sua conquista pelo ultramar era seu poder militar Desde o fim das Guerras de Reconquista o governo lusitano contava com forças regulares em seu quadro ou seja oficiais pagos vivendo do trabalho militar Foram estes homens que entraram em confronto com indígenas africanos e muçulmanos Aliada a essa força composta por soldados pagos havia outra não paga formada por membros não remunerados da sociedade civil chamada de milícias O terço deveria ser formado por 2500 soldados repartidos em dez companhias compostas cada uma de 250 homens todos subordinados ao capitãomor ou mestre de campo Estas companhias sob o comando de um capitão por sua vez deviam se dividir em dez esquadras de 25 homens O capitão de companhia tinha a seu serviço um alferes um sargento um meirinho um escrivão dez cabos de esquadra e um tambor O capitãomor possuía ele mesmo uma das companhias que era servida também por um sargentomor seu substituto natural e por quatro ajudantes No caso das ordenanças os senhores ou os donos das terras de 64 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 um termo deveriam a princípio ser automaticamente providos no comando das tropas como capitães PUNTONI 1999 p 190 Segundo Monteiro 1994 as tropas portuguesas atuavam com uma estratégia bem diferente nas colônias readaptandose à realidade local Se na Europa os prisioneiros recebiam lugar para descanso e recuperação com uma guerra pautada no movimento das tropas e ataques pelos flancos na colônia era diferente a guerra era marcada por confrontos violentos e a aniquilação total do inimigo Na África Índia ou em sociedades africanas organizadas no Novo Mundo como o Quilombo de Palmares por exemplo as técnicas foram estas confrontos violentos uso da população local e utilização de armas de fogo e fortalezas Sem dúvida a estratégia militar dos portugueses favoreceu a conquista em suas colônias Fonte httpmigremewJayW Desde os primeiros contatos conforme Silva 2002 vários fatores determinaram o sucesso das incursões portuguesas e a religião acabou sendo o primeiro e mais importante deles O cristianismo representava uma importante arma para o domínio português no ultramar e na África Central não era diferente Claro que essa relação era mais dialógica do que pensamos pois havia também no reino do Congo uma religiosidade própria da cultura daquele povo Uma das hipóteses que fez com que os súditos do rei do congo aceitassem os portugueses caminhava exatamente ao encontro desses pressupostos existentes Dizem também que os homens que baixaram das embarcações tinham a pele desbotada falavam uma língua que não se entendia e foram tidos como espíritos Talvez tenha sido assim E talvez os congos da foz do rio Zaire também tenham tomado os recémvindos por seus antigos mortos ou por entes sobrenaturais das águas ou da terra Haviam surgido do oceano o oceano que bem podia ser o calunga ou as grandes águas que ninguém jamais atravessara em vida e que separavam o mundo dos vivos do mundo dos mortos SILVA 2002 p 359 Em conformidade com Silva 2002 para os congoleses a chegada daqueles homens brancos vindos do mar significava algo metafísico daí a relativa facilidade de aceitação que conseguiram no reino do manicongo Quando um dos navegadores portugueses chamado 65 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Diogo Cão voltou de sua incursão trouxe consigo dois africanos e deixou dois portugueses como mostra de confiança mútua Após dois anos quando retornou ele trouxe de volta os dois africanos agora vestidos à moda europeia e falando o idioma português Neste momento os contatos entre os dois reinos estreitaramse ainda mais O manicongo ouviu atentamente os relatos dos dois homens e a aristocracia congolesa ficou encantada com a riqueza e o poder do soberano português Animado por tais relatos segundo Silva 2002 o rei do Congo enviou uma comitiva ao rei português D João II A comitiva levou muitos presentes ao soberano lusitano como dentes de elefante objetos de marfim e panos de ráfia Entre os pedidos do manicongo estava a instrução de dois rapazes enviados para estudar e o envio de padres católicos para instruílos na religião O rei português acolheu todos os pedidos era a oportunidade que o monarca queria para começar um estreito diálogo com o manicongo Quando os portugueses atracaram no reino do Congo ele era composto pela capital Banza Congo e algumas províncias Soyo Sundi Pemba Bata Pambo Cada província possuía um governador que possuía o título de Ngola ou Mani Todos os governadores pagavam tributo ao rei e também lhe deviam obediência o rei era chamado de manicongo e morava na capital Havia rivalidades entre os chefes locais e o manicongo todos os representantes das elites tencionavam conseguir em algum momento o poder e para isso segundo Silva 2002 era importante aliarse ao poderoso homem branco vindo do mar De acordo com Glasgow 1982 em 1575 Paulo Dias de Novais neto de Bartolomeu Dias estabeleceuse em Luanda como governador Num primeiro momento a tentativa dos portugueses era de estabelecer na região uma colonização parecida com a do Brasil por meio de concessão de territórios e a fundação de algumas fortalezas no interior Massanango Cassange Ambaca Muxima Novais assumiu o compromisso para com a Coroa de colonizar e explorar aquela terra Os povos que habitavam a região eram principalmente os Imbangalas Jagas e Andongos O nome Angola foi dado em primeiro lugar pelos europeus que habitavam a região pois os reis eram chamados de Ngola No começo de sua estadia Novais estabeleceu uma relação amistosa com o mais importante governante local responsável pela Ilha de Luanda este identificou o perigo de ter um estrangeiro em suas fronteiras apenas em 1580 quando entrou em confronto armado com os portugueses A guerra entre Novais e o Ngola durou nove anos recheada de vitórias e derrotas para ambos os lados com uma vantagem inquestionável para os lusitanos Tal vantagem decorria principalmente das armas dos portugueses Além da capacidade de recrutar degredados de outras colônias os portugueses valiamse do uso de armas de fogo e utilizavam em suas campanhas cavalos importados do Brasil Esses 66 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 animais além de concederem vantagens no campo de batalha causavam medo na maioria dos africanos Na visão das autoridades a principal vantagem do uso de cavalos viria do suposto terror que estes animais produziam nos africanos Tal visão é atestada por numerosos relatos do século XVI e XVII Segundo o governador Fernão de Souza o terror dos africanos em relação aos cavalos era tamanho que tornaria desnecessário o uso de arcabuzes pelas tropas governamentais Mais tarde o exgovernador Francisco Vasconcellos da Cunha afirmou que os africanos têm mais medo de 20 cavaleiros do que de duas companhias da infantaria FERREIRA 2000 p 12 Essa visão africana sobre os cavalos evidentemente não durou todo o processo de colonização mas acabou sendo substancial para as vitórias lusitanas Se durante o período de guerra com o primeiro governador não podemos proclamar um vencedor ao menos se pode dizer que as ocupações e a iniciativa da guerra era toda dos europeus Enquanto o rei estava defendendo seu povo e seus privilégios de comércio de acordo com Glasgow 1982 os portugueses acreditavam que Angola era um novo Peru e que tinha vários campos de prata e demais metais preciosos Em 1591 o rei Felipe II da Espanha e Portugal rescindiu as capitanias hereditárias e nomeou um governadorgeral para Angola Essa mudança institucional fez com que os andongos sitiassem os portugueses que ficaram restritos em seus fortes Em 1602 houve uma reviravolta e o Ngola foi derrotado Finalmente os portugueses chegaram às suas cobiçadas minas que no final compunhamse apenas de chumbo A coroa espanhola controlava então o reino sempre claro tendo que encarar revoltas de alguns Ngolas do interior Fonte httpmigremewJazY Em 1617 segundo Glasgow 1982 chegou a Luanda o novo governadorgeral Luís Mendes de Vasconcelos com grandes propósitos manter a paz no território conter o comércio ilegal de escravos estancar a corrupção e desvencilharse dos Imbangalas No mesmo ano de sua chegada depois de sangrentas disputas sucessórias subiu ao trono Ngola Mbandi marcado por sua crueldade A força militar e a luta armada estiveram presentes na ocupação portuguesa em Angola Ao contrário do reino do Congo onde houve uma negociação e uma tentativa de assimilação por meio da religião na vizinha Angola a metodologia era diferente 67 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 O que os portugueses não contavam no caso angolano era com o contexto atlântico europeu A Holanda criou uma companhia para rivalizar com os portugueses e conquistar territórios no ultramar Em 1630 os holandeses invadiram Pernambuco permanecendo por lá 14 anos não satisfeitos avançaram também sobre as possessões africanas dos lusitanos Os holandeses estavam presentes na região desde ao menos 1622 quando comerciavam com o Nsoyo Nesse período uma rainha guerreira de Matamba havia entrado em guerra com seu irmão pela disputa do poder O irmão Ngola Aire apoiado por portugueses impôs em vários momentos derrota para sua irmã inimiga dos portugueses Como inimiga dos lusitanos de acordo com Glasgow 1982 Nzinga se viu em uma posição difícil pois não possuía armas à altura e não tinha o poder de recrutar gente de outras regiões como ocorria com os portugueses Uma importante estratégia da rainha foi negociar com os inimigos de Portugal Assim a rainha teceu alianças com a comunidade dos Ambundos e com os holandeses Conforme Glasgow 1982 p128 somente em 1647 que se firmou uma tríplice aliança entre holandeses congoleses e ambundos com o compromisso de empreender uma investida conjunta para exterminar os exércitos lusos A rainha conseguiu em determinado momento juntar forças para combater seus inimigos Conhecida por sua alta educação e capacidade de diálogo a rainha conhecia bem o idioma português e os costumes cristãos Fonte httpmigremewInD8 Nzinga esteve em batalha por dez anos utilizando os mais variados recursos talvez tenha pensado também em utilizarse da religião como os membros da dinastia congolesa no ano de 1657 missionários capuchinhos conseguiram fazer com que a rainha aceitasse novamente a fé cristã Os capuchinhos eram rivais dos portugueses ou ao menos encarados como tal no reino de Angola e Luanda A rainha combateu de forma heroica os portugueses enfrentando todos seus recursos bélicos utilizando todos os artifícios que havia ao seu alcance A rainha Nzinga simbolizou o primeiro movimento de resistência sistemático africano à dominação portuguesa Tendo um compromisso total e absoluto para com a libertação e o nacionalismo angolanos ela foi de 1620 até sua morte em 1663 a personalidade mais importante de Angola Nzinga fracassou na missão de expulsar os portugueses e de se tornar rainha da Etiópia Oriental incluindo Matamba e o Dongo Entretanto sua 68 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 importância histórica transcende esse fracasso pois despertou e encorajou o primeiro movimento nacionalista de que se tem conhecimento na África Central organizando uma aliança nacional e internacional em sua oposição total à dominação europeia GLASGOW 1982 p177 Nzinga faleceu em 1663 mas seu legado continuou Hoje ainda temos grupos de capoeira maracatu com o nome da soberana Dentre os nomes africanos que batizam várias crianças brasileiras esse é o mais recorrente O seu nome abrasileirado tornouse sinônimo da dança utilizada por capoeiras a Jinga Talvez esse legado tenha atravessado séculos por conta dos guerreiros dessa soberana Depois de sua morte cerca de 7000 deles foram escravizados e enviados para o Brasil Tal escravização aconteceu depois de uma importante batalha que mudou a história da África Central a batalha de Ambuíla De acordo com Cadornega 1972 o governadorgeral André de Vidal Negreiros depois de fazer uma aliança com os Imbangalas derrotar os Jagas e as forças da rainha Nzinga estava convencido de que era chegada a hora de derrotar o reino do Congo que havia aproveitado sua religiosidade para segurar as invasões portuguesas O ataque estava sendo organizado há alguns meses Negreiros conseguiu autorização de Lisboa para ocupar as minas do Congo Reuniu várias tropas ao todo foram reunidos cerca de seis a sete mil soldados sob o comando de Luís Lopes de Sequeira marcharam para Ambuíla em 1665 O soberano congolês D Antônio I convocou qualquer pessoa capaz de manusear uma arma para defender seu reino e a vida de seus súditos havia ainda nas tropas africanas o reforço de 190 mestiços e 29 portugueses que moravam na capital Banza Congo Ao todo as fontes relatam que suas tropas somavam aproximadamente cem mil homens Fonte httpmigremewJaBQ A batalha de Ambuíla em 1665 causou grande impacto na relação entre os africanos e portugueses No imaginário português a guerra seria a vitória do verdadeiro cristão sobre os infiéis africanos e em última análise ela representou a unificação dos reinos da África central e passou a impulsionar a atuação dos europeus na África Central principalmente no que se refere ao tráfico de escravos O tráfico de seres humanos escravizados de acordo com Soares 2004 existiu em várias sociedades ao longo da História Essa prática era comum em várias culturas europeias incluindo eslavos e nórdicos 69 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 passando por orientais como chineses e japoneses Todas elas em algum momento tiveram a organização do trabalho de maneira compulsória chamada de escravidão e também de corveia na Idade Média europeia Para que tal forma de trabalho obtivesse resultado era necessário reduzir a pessoa à escravidão Quando tal redução atingia o status de negócio era preciso montar uma estrutura mais ampla envolvendo diversas redes de negociantes e fornecedores Os cálculos e o detalhamento dos custos de cada ação deveriam ser feitos minuciosamente para cada ação deveria existir uma pessoa habilitada para sua execução e várias eram as atribuições específicas do comércio de seres humanos No continente africano esta formação de um mercado específico para tal fim começou a partir de 1650 mas o tráfico já existia desde a chegada dos portugueses no século XV na África Central mas tomou proporções alarmantes em fins do século XVIII até meados do século XIX Em conformidade com Soares 2004 o destino da quase totalidade dos africanos escravizados era a América e dentre os países da América o que mais recebia escravos era o Brasil No continente africano os lugares que frequentemente forneciam homens e mulheres para a travessia atlântica era a África central representada por vários Estados denominados genericamente de região de Angola e região do Congo o Golfo do Benim e a Costa do Ouro Na África Central os portugueses detinham um controle privilegiado e desta parte saíram a maioria dos escravos desembarcados nas Américas As etnias dos africanos eram múltiplas e o fato de Angola ter fornecido o maior número de pessoas não quer dizer que os escravos fossem em sua maioria angolanos Até porque a mobilidade de homens e mulheres escravizados era enorme principalmente depois de 1650 até o terceiro quarto do século XIX Além disso no Brasil a reprodução dos escravos por meio de casamentos criou uma segunda geração de cativos denominados pelos contemporâneos de crioulos O número de cativos diminuiu também com o fim do tráfico de escravos para o Brasil a partir da Lei Eusébio de Queiroz aprovada pelo congresso em 1850 a lei proibia o tráfico negreiro da África para o Brasil mas não proibia a comercialização e utilização da mão de obra escrava já presente em solo nacional O comércio entre o Rio de Janeiro e Luanda estava estabelecido desde o começo do século XVIII e se enraizou no século seguinte Tal comércio transformou a cidade brasileira na primeira metade do século XIX numa espécie de pequena África devido ao grande número de escravizados que fizeram com que o índice de africanos entre a população fosse altíssimo Essa maciça presença de africanos não passou despercebida por pintores que representaram a cidade por meio de seus pincéis como os europeus Debret e Rugendas 70 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Como transparece nas gravuras de Debret os africanos do Rio de Janeiro joanino gostavam de se apresentar vistosamente misturando estilos africanos e enfeites europeus As formas de identificação étnica variavam Tudo indica que o barrete vermelho e as fitas eram símbolos exclusivos de algumas etnias enquanto outros africanos como os da África Ocidental partilhavam diferentes formas de identificação SOARES 2004 p 81 Outra rota secular que envolvia o tráfico de escravos no Brasil era Salvador e o Golfo do Benim A capital baiana possui um dos índices mais altos de pessoas declaradamente negros e negras atualmente Segundo o recenseamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE 824 da população da cidade é formada por negros ou pardos A maioria dos escravos importados para o norte do Império desembarcava na Baía de todos os Santos Os falantes de língua ioruba e os Haussás muçulmanos entraram maciçamente na região ocupando além de Salvador o Recôncavo baiano que contava com várias cidades como Cachoeira Amargosa Santo Amaro da Purificação entre outras Fonte httpmigremewJaDr Conforme Silva 2002 os traficantes baianos mantinham relações de amizade com grandes traficantes africanos e até mesmo com soberanos locais Era comum o envio de filhos de reis africanos para estudar na Bahia e alguns deles viajavam para a África duas ou três vezes por ano para administrar seus negócios naquele continente e conhecer a região que os tornava ricos e poderosos Francisco Félix de Souza conhecido como Xaxá foi um dos mais conhecidos destes comerciantes Nascido na cidade de Salvador em 1754 ele morreu no ano de 1849 em Uidá no Benim Em sua trajetória africana ele desafiou alguns soberanos locais se tornou conselheiro de outros sempre vivendo na sua dupla fronteira cultural Terminou seus dias no reino de Daomé não desfrutando da riqueza de antes mas com prestígio perante a monarquia FontehttpmigremewJaGh 71 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Segundo Silva 2002 essa proximidade teve como facilitadora a qualidade de um produto que era trocado por escravos no Golfo do Benim e também na Costa do Ouro o tabaco baiano muito apreciado pelos africanos Os comerciantes levaram o navio carregado deste material e retornavam cheio de pessoas Os brasileiros contavam com uma vantagem o tabaco Mercadoria indispensável ao comércio na região os próprios holandeses e ingleses procuravam adquirilo dos barcos baianos a fim de compor os conjuntos de produtos que ofereciam pelos escravos Nessas relações era raro faltar o tabaco Não qualquer tabaco o tabaco em rolo da Bahia Nem tampouco qualquer tabaco em rolo da Bahia mas aquele feito com folhas partidas e banhado em melaço que na Europa se tinha como de qualidade inferior Na África era porém apreciadíssimo os mais exigentes consumidores não dispensavam o seu sabor adocicado SILVA 2002 p 542 Essas relações comerciais e interpessoais tornaram a Bahia uma referência para os falantes da língua ioruba Deriva desse momento a formação dos cultos de candomblé de Nação Ketu conhecidos mundialmente É possível vislumbrar a partir da África Central principalmente Congo e Angola como a escravidão passou por uma transformação e o tráfico esteve ancorado em dois pontos O primeiro econômico com o aumento significativo do preço dos cativos O segundo político tendo em vista o fortalecimento do Estado sem a necessidade antes premente de promover guerras desgastantes Tudo indica que a escravidão passou a crescer sob os efeitos do tráfico e assumir formas cada vez mais comerciais diferente da escravidão doméstica e tradicional que havia antes Mesmo assim a diferença na região da África Central apesar de ter sido grande não teve as mesmas proporções que na parte ocidental do continente Na África Ocidental o tráfico esteve mais influenciado pelos novos compradores da Europa do norte Os Estados dessa região comercializavam principalmente com o Império Britânico mas também com franceses ingleses e até dinamarqueses Interessante notar que o comércio não estava completamente ligado às monarquias mas concentrado nas mãos de capitalistas e intermediários preocupados em enviar o maior número possível de escravos para as plantações de algodão nas treze colônias da América e as plantações de açúcar e café da América Central e Caribe Os Estados africanos porém também não controlavam o tráfico de forma plena Apesar do esforço de membros da nobreza não era sempre que o monopólio de venda de escravos era exercido A da região do CongoAngola provia os mercados de mão de obra 72 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 escrava as regiões responsáveis por distribuir escravos eram a Costa do Ouro o Golfo de Benim e a Baía de Biafra Os escravos aumentavam seu valor na medida em que eram levados para territórios mais distantes de sua terra natal Isso acontecia pelo fato de uma vez distantes de seu lugar de origem a possibilidade de fuga tornavase menor O mais comum era vender um escravo para longe e na compra para a revenda também comprar algum de origem longínqua Fonte httpmigremewJaHt A quantidade de reinos independentes na África Ocidental era grande e diversos deles estavam organizados politicamente para atender as demandas do tráfico O controle do tráfico envolvia membros do Estado e comerciantes locais para a efetiva conquista do negócio do tráfico era vital a dominação dos principais portos que oscilou muito devido às guerras Os Estados africanos ganhavam muito com a prática desse comércio em seu território pois além da venda direta controlada ou não por eles havia várias taxas e embargos que poderiam ser aplicados Os governos costeiros regulavam a venda de escravos para os europeus sempre que podiam Com isso eles tiravam proveito do desejo dos capitães dos navios de levantar âncora o mais rapidamente possível Fatores costeiros determinavam os preços e os sortimentos negociados de mercadorias a serem trocadas por escravos Pelo fato de o comércio ao longo da costa ser altamente dependente do crédito muitas vezes estendido na forma de mercadorias que eram levadas para o interior do continente a fim de adquirir escravos numerosos pagamentos que iam de direitos alfandegários a taxas de ancoragem serviços de transporte e subornos inequívocos eram requeridos e tinham que ser adicionados ao preço de venda dos escravos nos cálculos dos comerciantes europeus LOVEJOY 2004 p158173 A economia e a política de acordo com Lovejoy 2004 conectavamse de forma intrínseca isso fazia com que as fronteiras fossem extremamente mutáveis As guerras entre os vários reinos eram constantes e ao longo dos séculos eles trocavam seus respectivos nomes fazendo com que a representação geográfica não fosse condizente com os povos que os habitavam A Costa do Ouro durante o período do tráfico oscilou muito em importância Tal oscilação aconteceu principalmente pelos constantes conflitos entre os diversos Estados A luta pelo controle do território fazia por vezes o tráfico concentrarse 73 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 nas mãos de comerciantes de outras localidades Os principais invasores da Costa do Ouro foram os povos Haussás que disputavam o domínio do interior principal fonte de abastecimento de escravos para o litoral Na região central da localidade quem mais conseguiu o poder foi Axante que permaneceu por longos anos na Costa e tentou estatizar o comércio de escravos no século XVIII A Baía de Biafra expandiu sua participação nos negócios do tráfico no século XVIII contudo o volume de pessoas transportadas jamais alcançou os volumes praticados pela África Central ou o Golfo de Benim O seu comércio era praticado principalmente por atacadistas não havia controle específico do Estado os maiores traficantes que comercializavam naquela região eram de origem inglesa O Golfo do Benim ao lado da África Central forneceu o maior número de escravos para as Américas As ligações dessa região com a província da Bahia desde o século XVIII até 1850 os traficantes brasileiros radicados ou naturais da Bahia trouxeram várias pessoas desta localidade de forma violenta para viver em terras brasileiras Os principais grupos capturados e envolvidos nessa tarefa eram os jejes haussás bornus tapas nagôs entre vários outros Os portos originários eram os de Aiudá Popó Onim e Apá Três novos fatores foram responsáveis pela expansão astronômica nas exportações na área Em primeiro lugar a perspectiva de lucro comercial parece ter sido um forte motivo na luta pelo poder ao longo das lagunas que ficavam atrás do golfo do Benim Vários portos da laguna tentaram dominar o mercado desde Popo Grande e Pequeno no oeste até Uidá Offra Jakin Epe Apa Porto Novo Badary e Lagos a Leste Aladá situada no continente impôs com sucesso algum domínio sobre as lagunas Seus portos em Offra e Jakine e posteriormente seu controle sobre Uidá asseguravam o domínio do comércio exportador no final do século XVII quando as exportações tornaramse importantes Em segundo lugar o reino ioruba de Oió iniciou uma série de guerras no interior que resultou na escravização de muitas pessoas Oió era um estado da savana a sua capital estava localizada apenas 50 km do rio Níger e a 300km da Costa Sua força estava na cavalaria baseada em cavalos importados do norte distante que permitia ao estado dominar o comércio até a costa Em terceiro lugar Daomé situado a 100 km do litoral intervinha na política costeira e atacava os seus vizinhos do norte desde a década de 1720 aumentando assim o volume da exportação Daomé utilizava Uidá como seu principal porto e por ele saíram quase um milhão de escravos do final do século XVII até o início do século XIX LOVEJOY 2004 p102 A travessia atlântica era um dos momentos mais difíceis do processo de escravização Pessoas que estavam acostumadas com o convívio em seus Estados e aldeias que contavam com o apoio de vizinhos e familiares que possuíam animais domésticos pelos quais eram afeiçoados de uma hora para outra eram reduzidos à escravidão e quando se davam conta estavam num navio cruzando um grande oceano 74 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Pode ser interessante para aqueles pouco familiarizados com o embarque de escravos saber alguma coisa sobre a maneira como isto é feito Quando um embarque de escravos está prestes a acontecer os escravos são trazidos para fora como na sua saída costumeira para tomar ar talvez de dez a vinte numa corrente que é presa ao pescoço de cada indivíduo a uma distância de cerca de uma jarda um do outro Desta maneira eles são postos em marcha numa fila única em direção à praia sem fazer ideia do seu destino sobre o qual eles de resto parecem um tanto indiferentes mesmo quando vêm a sabêlo Todas as canoas são requisitadas A pequena peça de tecido de algodão atada às ilhargas do escravo é retirada e o grupo em cada corrente é conduzido um após o outro até uma fogueira previamente acesa na praia Aqui ferros de marcar são aquecidos e quando um ferro está suficientemente quente ele é mergulhado rapidamente em azeite de dendê para impedir que fique grudado sic à carne Ele então é aplicado às costelas ou às ancas e às vezes até mesmo ao peito Cada traficante de escravos usa a sua própria marca de modo que quando o navio chega ao seu destino podese facilmente verificar a quem pertenciam aqueles que morreram Eles então são empurrados para dentro de uma canoa e obrigados a sentarse no fundo onde são arrumados da forma mais compacta possível até que a canoa chegue ao navio Então eles são levados a bordo e novamente postos na corrente até alcançarem seu destino onde são entregues aos seus futuros senhores ou aos agentes destes Biografia de Mahommah G Babaqua apresentação de Silvia Lara In Revista Brasileira de História nº 16 1988 p269284 apud LOVEJOY 2002 p184 Antes de continuar seu estudo realize o Exercício 3 e a Atividade 31 Dicas de aprofundamento OGOT Bethwell Allan História Geral da África V África do século XVI ao XVIII Disponível em httpunesdocunescoorgimages0019001902190251PORpdf Acesso em 01 jun 2019 Assista ao documentário 12 Anos de Escravidão Disponível em httpswwwyoutubecomwatchvzZQ9i6RoWYo Acesso em 26 mar 2020 75 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 UNIDADE 4 NEOCOLONIALISMO E MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA DA ÁFRICA SÉCULOS XIX E XX OBJETIVO DA UNIDADE Compreender a dinâmica do fim do tráfico de africanos e seu impacto para a África bem como as estratégias de ação do neocolonialismo no continente identificando suas diferenças entre as potências industriais europeias no século XIX Analisar os processos de emancipação do Continente ao longo do século XX 41 O Neocolonialismo e o fim do tráfico de escravos africanos Segundo Harvey 2004 antes o que levava os europeus para a África era o tráfico de escravos Mas com as mudanças políticas e econômicas que vinham acontecendo na Europa as motivações principalmente capitalistas industriais levaram ao desenvolvimento de um novo tipo de colonialismo o chamado neocolonialismo em que a formação de mercados consumidores e a necessidade de ampla mão de obra barata não tiravam vantagens da escravidão instituíram uma nova forma de dominação esta nova ordem econômica denominada de Imperialismo tomou força e conseguiu seus objetivos a partir da segunda metade do século XIX Fonte httpmigremewJaN9 A ideologia neocolonialista do século XIX estruturava suas bases e suas manifestações em uma filosofia moral iluminista e industrial Depois de meio século as bandeiras das forças contra o tráfico e a escravidão forças da civilização da África serviram de pretexto oficial para as pressões ocidentais contra o tráfico dentro do continente africano Tais forças eram cada vez mais poderosas no litoral e no Oeste do continente africano Por volta de 1860 o Ocidente europeu instalou em definitivo uma presença que até então era pontual subordinada aos soberanos africanos Essa presença estava determinada pela Inglaterra que visava proibir com o seu poderio naval toda e 76 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 qualquer mobilização de navios em portos africanos Do Norte ao Leste da África os navios ingleses entraram para sair apenas um século depois O perfil abolicionista dos ingleses não pode ser associado apenas ao comércio e à vontade de conquistar novos territórios Desde o século XVIII a definição do que seria um direito universal ao bemestar e à liberdade passou por discussões com diversos campos de conhecimento antropólogos filósofos e teólogos voltaramse para o exemplo africano do escravo da escravidão e sua posição num mundo livre Os ideais que nortearam a Revolução Francesa também foram os mesmos que fizeram com que o tráfico fosse extinto Fonte httpmigremewInPO Esse tipo de movimento de acordo com Harvey 2004 fez com que as noções admitidas sobre o que era o negro africano e o escravo americano não fossem mais confundidas A transmutação era evidente se antes o africano era um animal de carga para a maioria dos europeus agora era um ser moral e social Essas análises humanitárias passaram a exigir o fim do tráfico A legitimidade moral da escravidão estava na berlinda e a exigência abolicionista aumentou muito com o passar das décadas As associações internacionais ao pensarem no tráfico afirmavam que sua prática era extremamente brutal Depois de décadas os europeus passaram a perceber que não apenas a escravidão mas também o tráfico era uma prática cruel ao contrário dos séculos anteriores Para eles a prática deste infame comércio encorajava a morte de outros brancos e retirava a capacidade produtiva do continente africano Nesse sentido alguma coisa deveria ser feita ou seja eles deveriam promover o desenvolvimento no continente Ao denunciar o flagelo os abolicionistas não pretendiam converter imediatamente traficantes negros ou escravagistas brancos Propôsse um programa de regeneração da África através da cristianização da civilização do comércio natural que fixou etapas racionais para sua execução reverter a opinião pública do mundo cristão levar os governos civilizados a tomar posições oficiais abolir legalmente o tráfico no Atlântico Na França por exemplo país onde a difusão de valores burgueses e iluministas foi grande existe um 77 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 exemplo claro desse tipo de mentalidade contra o tráfico e a escravidão Um importante livro que é estudado como sendo parte da obra de alguns filósofos iluministas denominada Enciclopédia produzida por Denis Diderot difundiu entre os revolucionários a aversão à escravidão Houve a criação de uma sociedade de amigos dos Negros formada por intelectuais do país e que teria supostamente recebido ajuda financeira da Inglaterra O tráfico terminou em 1824 no Senegal e continuavam esporadicamente nos rios Pongo e Nunes até 1866 Na Costa do Marfim e do Ouro o tráfico interno acabou subsistindo e alguns raros que se destinavam aos navios da Costa seu destino era contudo o mercado regional A leste na região de Uidá e Lagos a situação era difícil de explicar devido à sua complexidade pois definir o que era tráfico de escravos e o que era tráfico de homens livres era extremamente difícil Entretanto a pressão diplomática e as artimanhas políticas da França e da Inglaterra levaram a uma forte contenção do tráfico de escravos Do Benim até o Gabão o que prevalecia era uma política de tratados e de ocupação do solo cuja consequência era minar o lugar onde os escravos eram levados Por meio de pressões e tratados o tráfico na África foi diminuindo e os europeus atingiram seu objetivo por volta de 1870 De acordo com Harvey 2004 um primeiro ponto deve ser esclarecido sobre o neocolonialismo europeu na África e referese à forma como os invasores foram recebidos Em sua maioria eles foram recebidos de forma hostil E esta hostilidade pode ser percebida pela reação dos dirigentes africanos do período Os reis de Ghana em 1891 foram completamente contra a investida britânica No ano de 1895 um soberano da República do Alto da Volta declarou que jamais iria entregar seu território ao soberano francês No Senegal e na Namíbia no ano de 1893 os dirigentes dessas sociedades tiveram também a mesma atitude diante dos colonizadores E as tentativas de manutenção do território não foram apenas pela via dos protestos e sim também atuaram pela via diplomática europeia Conforme Apiah 1997 em 1883 o soberano de uma região que atualmente faz parte do Senegal chamada à época de Cayor ao lado de um dos soberanos do que hoje constitui a Namíbia entraram em contato com a mais poderosa rainha na época a rainha inglesa Victória O objetivo desses homens era fazer com que seus países não fossem divididos pelos europeus Tal atitude demonstra o quanto as autoridades estiveram atentas a tudo o que acontecia em seus respectivos reinos Fonte httpmigremewJaQS 78 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Ainda segundo Appiah 1997 aos olhos dos soberanos africanos algumas melhorias trazidas pelos europeus eram evidentes E essas melhorias num primeiro momento não vinham junto com a perda de soberania No ano de 1826 em Serra Leoa alguns missionários fundaram uma Escola chamada Fourah Bay College assim como escolas de ensino primário e secundário na Nigéria alguns anos depois em 1870 Alguns intelectuais negros não africanos do período chegaram a lançar manifestos com o objetivo de sensibilizar as nações europeias para investir na criação de uma Universidade na África Portanto diante dessas benesses antes das partilhas os dirigentes africanos estavam em uma situação de conforto pois acreditavam poder barrar uma possível investida O problema é que um fato passou despercebido pelos africanos Depois de 1880 com o advento da primeira e segunda revolução industrial alguns itens tecnológicos foram inventados e eles tiveram papel fundamental na partilha do continente africano entre eles vale a pena destacar navio a vapor metralhadoras estradas de ferro telégrafos Tudo isso variando em importância fizeram muita diferença E os europeus segundo Harvey 2004 que eles enfrentaram possuíam além de novas tecnologias novas metodologias e demandas contra esses africanos Os tempos eram outros e os europeus estavam interessados não apenas no comércio Os europeus não queriam apenas trocar bens mas sim exercer o controle político sobre a África Além disso os dirigentes africanos não sabiam que o armamento que eles utilizavam era obsoleto se comparados com os europeus No campo militar alguns soberanos acreditavam realmente poder enfrentar os europeus em caso de uma guerra cabe lembrar que no século XVII a África Central não capitulou diante dos portugueses De acordo com Miller 1988 a guerra sempre foi uma constante entre os Estados africanos assim como entre os europeus e sulamericanos No entanto na África ela tomou um significado diferente A continuidade de conflitos envolvendo os diversos Estados é apontada como um dos motivos que fez com que os africanos não pudessem organizar disciplinar e até mesmo manter um exército permanente e capaz de combater mesmo que apenas com um número superior os conquistadores europeus Afinal entre anexações e resistências cada região passava por várias identidades sociais diferentes ao longo da história e para manter um exército permanente é preciso ao menos uma tradição nacionalista Segundo MBokolo 2007 é difícil calcular o impacto dessas guerras sobre o potencial de resistência das sociedades africanas face ao avanço colonial mas é possível apresentar algumas hipóteses possíveis Alguns Estados realmente ficaram esgotados com elas e incapazes de rechaçar a investida dos colonizadores britânicos Entre 1886 e 1893 os ingleses instalados em Lagos impuseram a paz entre os Estados iorubas Em outros casos o 79 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 prolongamento dos confrontos fazia com que os europeus se fortalecessem à medida que os dois estados em guerra enfraqueciam A forma de organização dos exércitos africanos não era padronizada Existiam várias formas dentro de um continente tão vasto De maneira sistemática é possível grosso modo dividilas em três tipos exército de mercenários exército de súditos e exército de cidadãos Conforme Miller 1988 o mais temido sem dúvida era o exército de mercenários pois eram conhecidos e temidos pela violência Na África Oriental os Askari grupo formado por povos guerreiros cobravam caro para isso Além de serem bem pagos para entrar na guerra tinham também a promessa de um saque valioso no espólio do inimigo vencido O exército dos cidadãos funcionava de uma forma simples O objetivo era mobilizar todos os homens do país para pegar em armas e assim engrossar as fileiras do Exército contra os inimigos A vantagem nesse tipo de exército era o baixo custo com remuneração já que ao contrário dos mercenários esses homens não recebiam para atuar em prol de seu próprio reino O que eventualmente esses guerreiros recebiam eram benefícios materiais e simbólicos isso em caso de uma vitória O exército de súditos tipo de exército intermediário e hierarquizado Todos os homens abastados eram reunidos nele e quanto mais prestígio do cidadão maior sua patente Em geral esse tipo de mobilização era utilizado quando havia necessidade de aumentar o contingente de soldados 42 Os Movimentos de Independência na África Quando eclodiu na Europa a primeira guerra em proporções mundiais o continente africano já estava praticamente retalhado pelas potências que entraram em conflito e também emergido em conflitos civis e étnicos Para a África isso marcou uma virada nas questões nacionalistas e serviu para o processo de independência que viria mais tarde Compreender as independências africanas é uma tarefa difícil sem analisar o papel que a Primeira Guerra Mundial teve no continente Fonte httpmigremewJaSV 80 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 A imediata consequência da guerra foi a invasão do território africano pertencente à Alemanha pela Tríplice Entente Inglaterra França e Rússia Nesse período os governos africanos que ainda possuíam em seus quadros políticos pessoas naturais do país aproveitaramse da situação para tentar costurar uma possível aliança Nesse sentido o governador do Togo propôs ao responsável pela tutela da Costa do Ouro que ambos os países ficassem neutros apenas apreciando a guerra dos brancos A Inglaterra que combatia ao lado da Entente e possuía um forte controle dos mares bloqueou os portos africanos das colônias pertencentes à Alemanha O objetivo era isolar eventuais soldados que porventura fossem ajudar os germânicos em solo europeu ou até mesmo no Oriente Médio A Guerra na África de acordo com Hesseling 1998 divide se em dois momentos que guardam certa distinção entre si No primeiro deles os países da Entente procuraram destruir a capacidade ofensiva da Alemanha e neutralizar seus portos coloniais Dessa forma o território que hoje corresponde a Camarões e o sudoeste africano foram ocupados rapidamente ainda em 1914 poucos meses depois do início da guerra Na parte oriental africana onde também existia número significativo de colônias alemãs os ingleses em 1914 bombardearam duas regiões hoje inexistentes Dar es Salaam e Tanga Com isso os navios de guerra alemães não puderam mais ocupar seus respectivos portos No Egito após a entrada da Turquia na Guerra ao lado dos alemães os ingleses com sua frota reforçaram a defesa do Canal de Suez e conseguiram vencer com grande dificuldade os turcos em fevereiro de 1915 Após conseguir controlar essa área o Egito colônia da Inglaterra transformouse na principal base para as operações beligerantes contra a Turquia e os países orientais que atuavam na base inimiga A segunda fase do confronto segundo Crowder 2010 contou com a saída da Rússia e a entrada dos Estados Unidos no conflito Tratavase agora de confirmar aquilo que já havia sido feito A Entente manteve seus postos e foram intensificados os ataques com vistas a dominar a África pertencente aos alemães o que acabaram conseguindo até a vitória final em 1918 Esses momentos de guerra em solo africano significaram de certo modo um abrandamento para a população do jugo colonizador branco europeu conforme Hochschild 1999 como nas colônias os cargos de administradores presidentes de banco inspetores de alfândega enfim todo o aparato governamental e institucional principalmente aqueles de mais alto escalão eram exercidos por europeus com a guerra houve significativas mudanças Os funcionários e autoridades foram mobilizados para a guerra no continente Vários membros foram convocados para servir em outras partes da África ou até mesmo retornar com urgência para a Europa com o objetivo de servir em seu continente de origem 81 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Em meio à batalha o êxodo europeu tornouse constante De acordo com Crowder 2010 p323 Na Nigéria do norte numerosos funcionários políticos dispensados do exército foram de novo convocados enquanto outros se apresentavam como voluntários de tal forma que a região viuse privada de administradores Apenas no Egito que ocupava um lugarchave para os conflitos no Oriente Médio o exército de homens brancos se reforçou Outros países também sofreram com a falta de brancos em suas terras Na Rodésia o alistamento de europeus atingiu cerca de 40 dos homens adultos Havia vários africanos membros da elite que estavam sendo instruídos pelos europeus Nesse momento bélico eles ocuparam vários trabalhos essenciais Esse tipo de treinamento e a ocupação de cargoschave num momento em que os colonizadores apelaram para tais pessoas evidencia em certo ponto a lealdade de algumas dinastias da África aos europeus Esse tipo de atitude aconteceu por exemplo entre os senegaleses Isso era motivado pela ótica africana Para os membros dessa elite era interessante estar ao lado dos europeus nesse momento para manterse no poder De acordo com Crowder 2010 provavelmente não foram as armas tampouco o deslocamento e os conflitos entre si que assustaram os africanos durante a Primeira Guerra Mundial O que até então nunca havia sido pensado por nenhum colono africano negro em Angola ou Alhures que seria a cena de brancos lutando entre si e negros instados a agredir Com a eclosão da Guerra esta prática passou a acontecer coisa que anteriormente era reprimida com muita brutalidade pelas autoridades Os africanos desempenharam um papel decisivo na guerra atuando em diversos segmentos na linha de frente ou na guarnição das tropas estacionadas nas diversas partes do continente Soldados mobilizados pelos aliados tiveram um papel importante nas lutas no Oriente Médio já que entravam via Egito na Ásia A participação desses homens criou um sentimento que iria configurar a primeira fase de independência o nacionalismo Os africanos foram obrigados a fornecer conforme MBokolo 2007 para a participação na Guerra cerca de 1 da população do continente Cabe ressaltar que essa atuação não esteve necessariamente ligada aos conflitos diretos afinal os carregadores mercadores prostitutas enfim várias atividades relacionavamse indiretamente ao confronto As formas de recrutamento de africanos para a Guerra foram diversificadas e podem ser divididas em três modalidades Na primeira o recrutamento era voluntário Alguns homens percebendo a miséria e as dificuldades em viver em um território controlado por estrangeiros alistaramse em busca de melhor sorte no Exército alguns inclusive chegavam a desertar durante as marchas para os campos de batalha Outra forma de recrutamento era a conscrição que obrigava o alistamento dos homens com idade para o serviço militar a conscrição fazia com que os africanos fossem 82 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 lutar numa guerra que não era sua defendendo uma pátria que não lhes pertencia naquele momento A França por exemplo alistou por meio de decreto em 1912 soldados negros em suas colônias subsaarianas com o objetivo de formar batalhões de soldados negros para lutar na Argélia Essa demanda por homens causou uma verdadeira caçada humana no continente africano e isso causou várias rebeliões Desde o período de partilha e de conquista dos europeus no continente africano de acordo com Hernandez 1999 havia rebeldes e pessoas lutando de forma veemente contra os europeus e o colonialismo A manutenção de soldados administradores e pessoas brancas ocupando altos postos na administração destas localidades significava evidentemente uma maneira de solapar qualquer tentativa de emancipação Contudo grupos rebeldes não se davam por vencidos E especificamente nesse contexto de enfraquecimento da autoridade colonial a hora de atuar nunca havia parecido tão apropriada Na Costa do Marfim Líbia Uganda e Caramoja eclodiram vários conflitos significativos além de outros rapidamente sufocados A região do SenegalNíger que fazia parte da África francesa permaneceu fora do controle das autoridades metropolitanas por aproximadamente um ano Depois que a derrota alemã estava anunciada autoridades francesas retornaram e reprimiram os rebeldes brutalmente Em Moçambique e em Angola territórios que pertenciam a Portugal diversos conflitos ocorreram A Entente temia ainda uma revolta pautada pela religião muçulmana depois da entrada da Turquia na guerra Em países notadamente muçulmanos os aliados perderam importantes batalhas para os rebeldes como no caso da Tunísia e na Líbia em 1915 Fonte httpmigremewJaTP Outras questões motivaram os processos de independência das colônias africanas além da compulsória participação na guerra dos europeus as alterações no campo econômico e também no campo social e político após o término da Primeira Guerra Mundial provocaram a formação de um forte pensamento emancipacionista Com o início do conflito na Europa em 1914 os preços dos produtos importados subiram muito na África Em lugares onde os administradores buscavam manter uma vida europeia a quantidade de produtos vindos pelo mar não era pequena A inflação por causa dos riscos inerentes ao 83 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 transporte marítimo chegou a atingir 50 No período algumas potências como a Inglaterra eram adeptas do livrecambismo uma política econômica que fazia com que as empresas que tivessem o produto de menor preço saíssem vitoriosas Com o Estado de guerra isso mudou e o Estado interviu fortemente na economia taxando empresas de outras nacionalidades protegendo assim seus empresários No entanto conforme Hoschild 1999 em contraponto com a crise de mercado houve situações benéficas no campo econômico social e político durante a Primeira Guerra Mundial que favoreceram o desenvolvimento de várias regiões africanas Estradas de rodagem foram construídas no período Essas estradas foram usufruídas pelos africanos somente depois da independência uma vez que somente os brancos em países subsaarianos utilizavam automóvel e estas construções naquele momento foram feitas para agilizar a comunicação e a mobilidade das tropas aliadas Em algumas regiões da África Oriental essas estradas diminuíram o tempo de travessia de uma província para outra de uma semana para três dias A necessidade de produtos manufaturados para a guerra criou indústrias substitutivas Nessas indústrias alguns produtos importados passaram a ser produzidos em território africano O Congo belga ao final do confronto era quase autossustentável e não dependia mais de produtos importados Portanto a guerra não foi de todo ruim para a economia africana Ao final da guerra a política africana definitivamente não era mais a mesma Com a ocupação de postoschave de membros da elite africana até então fiéis aos colonizadores com o término do conflito seria difícil retirar estes membros da administração colonial de suas colocações Os argelinos por exemplo ao adotarem uma postura de ajuda aos franceses foram beneficiados com várias melhorias para a população impulsionando desta forma os movimentos de independência Embora essencialmente europeia a Primeira Guerra Mundial teve profundas repercussões na África Assinalou ao mesmo tempo o fim da partilha do continente e das tentativas africanas para reconquistar uma independência fundada na situação política anterior a essa partilha Foi causa de profundas transformações econômicas e sociais para numerosos países africanos mas inaugurou um período de vinte anos de calma para as administrações europeias CROWDER 2010 p 351 Com o fim da Primeira Guerra Mundial de acordo com Crowder 2010 o continente africano começou a viver uma nova fase em relação aos colonizadores europeus Tal momento esteve ligado principalmente ao surgimento do nacionalismo africano Ao final da Primeira Guerra as elites coloniais passaram a protestar pedindo papéis mais relevantes na administração colonial Essa demanda aliada à luta contra os regimes totalitários como o nazismo e o fascismo fez surgir em várias partes o nacionalismo africano Após estes dois 84 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 momentos belicosos a África entrou em uma sangrenta luta pela independência que em alguns casos demorou bastante para chegar à vitória Este ressurgimento do nacionalismo teve diversas fases e alcançou os diversos segmentos da sociedade religioso econômico militar e social No entre guerras surgiram diversas associações que buscavam reafirmar a africanidade da população sob o jugo do colonialismo Os africanos buscavam mostrar e edificar elementos que os faziam africanos que os diferenciavam dos europeus Associações neste sentido foram criadas por classe ou etnia Os trabalhadores sempre explorados em qualquer sociedade não ficaram imunes a essa onda de nacionalismo e organizaramse em sindicatos para representar seus pedidos junto aos empregadores brancoeuropeus Em maio de 1935 por exemplo greves e motins de mineiros africanos eclodiram na Copper Belt da Rodésia do Norte Na Nigéria diversos grupos de interesse começaram a se organizar somente na cidade de Lagos esta febre de organização levou à criação das seguintes associações Sindicato dos Leiloeiros de Lagos em 1932 Associação dos Pescadores de Lagos em 1937 Associação dos Motoristas de Taxi em 1938 Sindicato dos Abatedores de Lagos em 1938 Sindicato dos Jangadeiros de Lagos em 1939 Sindicato das Mercadoras de Farinhas em 1940 Associação dos Mercadores de Vinho de Palma em 1942 Sindicato dos Fosseiros de Lagos em 1942 MARZURI 2010 p 127 A ideia de independência entusiasmava milhares de africanos desde o Marrocos até a África do Sul Do rio Nilo ao deserto Saara a população começava a clamar por liberdade e ansiosa aguardava governar o país que lhes pertencia No campo internacional houve uma aliança entre negros africanos e negros de outros países Nesse período formouse um movimento conhecido como Panafricano Formado principalmente na França com negros originários das colônias tal movimento produziu poetas literatos e importantes estudiosos que lutaram pela África na Europa Fonte httpmigremewJaWY Os panafricanistas demonstraram em seus textos que os negros em países colonialistas nutriam um sentimento de não pertencimento e deveriam procurar suas raízes africanas Entre os nomes de destaque desse movimento Aime Césaire e Leopold Senghnor na França e de WB Dubois nos Estados Unidos Nesse primeiro momento os protestos contra o colonialismo eram essencialmente não violentos Quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial em 1939 os africanos tiveram 85 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 que escolher de que lado iriam ficar Apoiar os alemães seria enfrentar seus colonizadores conseguir armas e manter uma guerra sem precedentes Do lado dos aliados por sua vez seria referendar o poder já estabelecido Nenhuma das alternativas era boa mas era necessário escolher e eles optaram pelo lado do colonialismo contra a opressão alemã Diferente do que aconteceu na Primeira Guerra todo o continente participou da Segunda Guerra A maioria dos países ficou do lado dos aliados mas isso não significa que estavam imbuídos do mesmo ideal A entrada dos africanos na guerra significava uma busca e uma luta por dignidade e independência Com o término e a vitória dos aliados novas diretrizes internacionais indicavam que a África havia adquirido um novo status A criação da ONU em 1945 sinalizou muito bem essa mudança Com a formação dos ideais da nova ordem mundial no pósguerra dominar os povos africanos era incompatível com os rumos definidos em concordância com as novas políticas humanitárias principalmente com base nas ações da recémcriada ONU afinal a luta contra o nazismo aconteceu por alegação da liberdade do povo europeu No final da década de 1940 os africanos de todos os cantos do vasto continente se rebelaram contra a dominação colonial Os tipos de manifestações em prol da libertação seguiram lógicas diferentes de acordo com a região e o contexto A emancipação política da África que se concentrou num curto espaço de tempo foi tão espetacular como o fora a sua conquista pelos colonizadores em fins do século XIX Por isso o acontecimento cuidadosamente orquestrado pelos intervenientes políticos militares e testemunhas concentrou a atenção dos investigadores que estudavam as sociedades e o movimento social assim como a dos observadores nomeadamente dos jornalistas MOKOLO 2011 p 499 Os movimentos de independência africana podem ser divididos em quatro grandes blocos a lutas de acordo com lógicas tradicionais b lutas religiosas c lutas não violentas d lutas armadas A primeira delas de acordo com MOkolo 2011 a luta de acordo com a lógica tradicional baseavase num resgate das tradições de antigos guerreiros numa crença exacerbada na religiosidade africana e tradicional Nesse momento alguns membros de grupos armados acreditavam que a terra africana iria ser reconquistada por meio do conhecimento do território e acreditavam em certo messianismo para obter a vitória Tal luta baseavase na crença da África como reino único e os africanos levavam essa questão às últimas consequências 86 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 As religiões seculares como o islamismo e o cristianismo ocuparam um papel decisivo no ato de resistência dos africanos No caso da muçulmana o momento da independência significou um momento de luta contra os invasores que nesse contexto adquiriram o caráter de inimigos da fé Para as pessoas que professavam essa religião havia a necessidade de lançar uma jihad contra os europeus brancos invasores Jihad significa luta pela via de Deus De acordo com Hernandéz 1999 p144 a religião em graus diferenciados cristalizou a tomada de consciência organizou o protesto e se converteu em instrumento de oposição A violência sofrida por um lado e a impotência material de outro favoreceram o recurso ao sagrado como afirmação cultural Na África do norte a religião nesse caso a muçulmana criou um sentimento de nacionalismo entre a população Temendo futuros levantes e buscando conter os protestos atuais nessa região criouse a partir de 1942 uma separação entre os colonos islâmicos e os europeus Essa atitude fez com que até mesmo os colonos não muçulmanos residentes no país simpatizassem com a independência A Argélia ancorada na religião muçulmana e no apoio de fortes segmentos da intelectualidade francesa começou assim seu processo revolucionário por meio da jihad islâmica A repressão exercida pelo exército e pela polícia francesa provocou cerca de 10000 mortos na população argelina Um martírio de tamanha envergadura somente poderia reacender a chama da tradição da jihad em 1954 a Frente de Libertação Nacional reencontrou se com o glorioso combate travado no século XIX pelo herói argelino Abd alKadiralJazairi Era o começo da revolução argelina HERNANDÉZ 1999 p137 A Inglaterra também sentiu o peso da força dos muçulmanos na sua principal colônia africana O líder egípcio Gamal Abdel Nasser conduziu uma luta contra a monarquia egípcia que por sua vez era favorável aos britânicos Depois de várias batalhas o rei acabou deposto De acordo com Nasser os pilares da vitória dos rebeldes baseavamse em três fatores muçulmano africano e nacionalismo árabe Ainda dentro do campo religioso o cristianismo também exerceu influência no processo de independência africana A igreja cristã serviu de base para a entrada dos países colonialistas no continente No entanto no decorrer dos anos de dominação cada vez mais africanos converteramse ao cristianismo e adaptaram essa religiosidade às suas demandas de independência Geralmente os cristãos eram imbuídos da tarefa de educar e formar os africanos e por incrível e contraditório que pareça importantes líderes do movimento de independência estudaram em escolas cristãs De acordo com Hernandéz 1999 a entrada do cristianismo na África provocou um hibridismo religioso e a africanização desses cultos A principal pergunta que africanos 87 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 católicos se faziam era a seguinte Deus manda uma mensagem para todos os africanos mas por que o mensageiro era branco Esta pergunta simples provocou uma verdadeira revolução para os adeptos do cristianismo na África Igrejas independentes foram fundadas e amplamente aceitas pela população Autoridades religiosas assumiram a luta pela defesa da liberdade e dos direitos humanos como Desmond Tutu mais conhecido por sua atuação contra o Apartheid na África do Sul e prêmio Nobel da Paz em 1998 A Igreja de Kimbangu chegou a reunir 4 milhões de súditos africanos e no ano de 1980 recebeu uma importante aceitação por parte do clero anglicano ao ser inclusa no conselho ecumênico das igrejas Fonte httpmigremewJaZ2 Segundo Jonge 1991 tanto a religião muçulmana quanto a religião cristã constituíramse focos de resistência e de luta diante do colonialismo e da crença em um futuro livre Quando pensamos em mobilização política uma das figuras a se lembrar é de Mahatma Gandhi em seus protestos ele chamou a atenção do mundo para a situação da Índia então ocupada pelos ingleses O que é pouco contado pela historiografia e não é registrado na memória que se construiu sobre o indiano é que ele começou sua prática de manifestações pacifistas na África do Sul Essa luta estava focada assim como na Índia na libertação do país Fonte httpmigremewJaZr Entre 1906 e 1908 uma campanha bastante ativa de mobilização pacífica começou a irromper na África do Sul o interessante nesse ponto é que a liderança de tais movimentos era de Gandhi Infelizmente esses movimentos não tiveram um sucesso imediato mas abalaram as estruturas no país seria mais efetiva apenas com a utilização de armas Essa prática de movimentos pacifistas seduziu algumas pessoas na parte meridional do continente e acabou servindo de precursora de outras revoltas Infelizmente a via pacífica não surtiu muito efeito e a luta armada não poderia mais ser evitada 88 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Segundo Ferkiss 1967 o contexto internacional pósSegunda Guerra Mundial também era muito favorável Com a Guerra Fria o mundo estava polarizado entre capitalistas e socialistas e esse segundo modelo de governo prosperava Logo a influência socialista da URSS estendeuse à África Como os países da Europa ocidental enfraquecidos depois das duas guerras mundiais controlavam o continente africano e alinhavamse à política liberal estadunidense automaticamente estavam contra os socialistas do leste Para enfraquecer seus adversários os socialistas financiaram parte dos rebeldes que mantinham lutas de independência no continente africano Tal apoio davase na forma de distribuição de armas Países como o Zimbábue e Angola nas décadas de 19601970 receberam armamentos da União Soviética e da socialista ilha de Cuba respectivamente Sem a intervenção da União Soviética e dos seus aliados nas lutas da África Austral a libertação desta região seria provavelmente ainda mais retardada em ao menos uma geração As armas aperfeiçoadas utilizadas pelos africanos na África Austral especialmente os mísseis solar empregados nas guerras do Zimbábue provieram em geral de países socialistas Quanto à intervenção das tropas cubanas na luta em defesa da soberania de Angola tratouse aqui do maior apoio externo já prestado em uma guerra de libertação africana FERKISS 1967 p 143 Com esse exemplo é possível observar segundo Benot 1981 o grau de internacionalização do continente africano As disputas que se delineavam em nível mundial polarizando EUA e URSS influenciaram nas lutas de independência na África Com a criação da OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte quando algumas colônias de Portugal estiveram prestes a tornaremse independentes essa instituição forneceu armamentos para os lusitanos A ajuda prestada por este órgão manteve os países sob o domínio português até meados da década de 1970 Já os grupos apoiados no socialismo foram conquistando suas respectivas independências fortalecendo os partidos comunistas em várias regiões da África levando muitas nações à independência Fonte httpmigremewJb0g Depois da independência dessa forma um novo mundo africano estava por se formar e este por sua vez intimamente ligado aos líderes da revolução que conduziram a liberdade no continente Em 1975 depois de várias lutas envolvendo religiosidade formas tradicionais de resistência manifestações pacíficas e muitas lutas armadas e de guerrilhas 89 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 praticamente todo o continente estava livre Os brancos europeus haviam saído Uma nova identidade deveria formarse agora totalmente africana principalmente entre as elites que aprendiam na escola a história europeia e não de seus vizinhos continentais 43 Os desafios africanos após os processos de independência Após a independência de acordo com Ferkiss 1967 e Benot 1981 um clima de esperança e excitação tomou conta do continente africano Os mais nacionalistas aspiravam imitar os estados modernos europeus Os governos baseavamse num forte exército claramente um resquício das lutas pela independência Em sua maioria os países africanos haviam passado por um desenvolvimento econômico na década de 1950 quando os elevados ganhos com matériaprima permitiram que algumas regiões dominadas por rebeldes levassem a cabo seus planos de desenvolvimento Na Costa do Ouro quando Kwame Nkurumah alcançou o poder em 1951 adotou um plano de desenvolvimento econômico baseado nas rendas da venda de Cacau Tal medida ia ao encontro das matériasprimas africanas daquele momento Em geral a dívida dos estados era pequena mas não existia uma grande industrialização No período de 19651980 o Produto Interno Bruto PIB da África subsaariana cresceu 15 índice maior do que o brasileiro e indiano por exemplo Havia no continente uma boa oferta de mão de obra Em algumas regiões como Serra Leoa por exemplo o comércio baseavase na importação de diamantes Fonte httpmigremewJb12 Contudo esses ganhos econômicos acabaram culminando em uma crise ao final da década de 1970 As razões dessa crise são difíceis de descrever A mais importante foi o aumento acelerado da população Atrelado a esse aumento houve uma crise em escala internacional na década de 1980 que causou o aumento do preço de petróleo na África e como não havia ainda muitas ferrovias esse aumento acabou travando o desenvolvimento da indústria por um longo período Segundo Benot 1981 contribuía também para essa crise o boicote silencioso que os antigos colonizadores faziam Sempre que possível tais países negavamse a comprar produtos de suas antigas colônias onde eles haviam promovido um verdadeiro 90 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 saque durante séculos de ocupação O estado adotou uma política de incentivo tais como os socialistas Contudo agora sem o apoio financeiro significativo da URSS esse projeto não se concretizou Vários países então adotaram estratégias de livremercado mas também entraram em crise durante a década de 1980 como o Quênia por exemplo Depois da independência é necessário admitir que a maioria dos governos africanos não estava preparada ainda para utilizar de modo eficaz a capacidade produtiva do país Somente essa questão explica de alguma forma a inserção do continente inclusive em manuais didáticos como símbolo de subdesenvolvimento O modelo político guardava de forma geral resquícios dos modelos europeus enquanto a força militar era ampla e não condizia com a capacidade de produção do país Como a compra de armas era imensa não se investiu em indústrias e tudo era importado exceto no Egito cujo índice de desenvolvimento industrial foi notável A raiz do subdesenvolvimento do continente africano esteve associada a infeliz união entre o aspecto militar e civil no pósindependência A militarização sem industrialização desestabilizou simultaneamente os sistemas econômico e político A aproximação do campo político ao campo militar estabeleceu um problema O déficit de competências técnicas era enorme em todos os domínios onde reinava o subdesenvolvimento político econômico e técnico Esta situação representa particular prejuízo aos direitos humanos A falência conforme Benot 1981 na quase totalidade do continente africano das instituições liberais importadas do Ocidente explicase não somente pela origem estrangeira destas últimas mas igualmente em razão da insuficiente incapacidade dos africanos em organizarem partidos políticos disciplinados empresas produtivas ou sindicatos eficazes Por fim outro aspecto que merece destaque nesse cenário pósindependência nos remete à divisão étnica nos territórios africanos Com o objetivo de melhor fatiar o continente os colonizadores europeus não obedeceram à divisão secular as nações africanas e isso causou grandes massacres pois grupos rivais jamais aceitariam viver em territórios junto aos seus inimigos dando início a uma série de disputas que culminaram em massacres também a de se levar em conta que a presença europeia no continente não foi extinta e continuou a causar conflitos étnicos Como exemplo destes desdobramentos é possível citar o Genocídio em Ruanda no ano de 1994 e o Apartheid na África do Sul Entenda o genocídio de Ruanda de 1994 800 mil mortes em cem dias Artigo publicado em 07 de abril de 2014 BBC Brasil Em apenas cem dias em 1994 cerca de 800 mil pessoas foram massacradas em Ruanda por extremistas étnicos hutus Eles vitimaram membros da comunidade minoritária tutsi assim como seus adversários políticos independentemente da sua origem étnica 91 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Por que as milícias hutus quiseram matar os tutsis Cerca de 85 dos ruandeses são hutus mas a minoria tutsi dominou por muito tempo o país Em 1959 os hutus derrubaram a monarquia tutsi e dezenas de milhares de tutsis fugiram para países vizinhos incluindo a Uganda Um grupo de exilados tutsis formou um grupo rebelde a Frente Patriótica Ruandesa RPF que invadiu Ruanda em 1990 e lutou continuamente até que um acordo de paz foi estabelecido em 1993 Na noite de 6 de abril de 1994 um avião que transportava os então presidentes de Ruanda Juvenal Habyarimana e do Burundi Cyprien Ntaryamira ambos hutus foi derrubado Extremistas hutus culparam a RPF e imediatamente começaram uma campanha bemorganizada de assassinato A RPF disse que o avião tinha sido abatido por Hutus para fornecer uma desculpa para o genocídio Como o genocídio foi realizado Com organização meticulosa As listas de opositores do governo foram entregues às milícias juntamente com os nomes de todos os seus familiares Vizinhos mataram vizinhos e alguns maridos até mataram suas mulheres tutsis dizendo que seriam mortos caso se recusassem Na ocasião carteiras de identidade apresentavam o grupo étnico das pessoas então milícias montaram bloqueios nas estradas onde abateram os Tutsis muitas vezes com facões que a maioria dos ruandeses têm em casa Milhares de mulheres tutsi foram levadas e mantidas como escravas sexuais As forças francesas foram acusadas de não fazer o suficiente para parar a matança Alguém tentou parálo ONU e Bélgica tinham forças de segurança em Ruanda mas não foi dado à missão da ONU um mandato para parar a matança Um ano depois que soldados norteamericanos foram mortos na Somália os Estados Unidos estavam determinados a não se envolver em outro conflito africano Os belgas e a maioria da força de paz da ONU se retiraram depois que 10 soldados belgas foram mortos Os franceses que eram aliados do governo hutu enviaram militares para criar uma zona supostamente segura mas foram acusados de não fazer o suficiente para parar a chacina nessa área O atual governo de Ruanda acusa a França de ligações diretas com o massacre uma acusação negada por Paris Por que era tão cruel Ruanda é uma sociedade rigidamente controlada e organizada O então partido governante MRND tinha uma ala jovem chamada Interahamwe que foi transformada em uma milícia para realizar o genocídio Armas e listas de alvos foram entregues a grupos locais que sabiam exatamente onde encontrar suas vítimas Os extremistas hutus tinham estações de rádio e jornais que transmitiam propaganda de ódio exortando as pessoas a eliminar as baratas o que significava matar os tutsis Os nomes das pessoas a serem mortas foram lidos na rádio Até mesmo padres e freiras foram condenados por matar pessoas incluindo alguns que buscaram abrigo em igrejas Facões domésticos viraram armas de eliminação em massa durante o genocídio Como terminou A bem organizada RPF apoiada pelo exército de Uganda gradualmente conquistou mais território até 4 de julho quando as suas forças marcharam para a capital Kigali Cerca de dois milhões de hutus civis e alguns dos envolvidos no genocídio fugiram em seguida pela fronteira com a República Democrática do Congo na época chamado Zaire temendo ataques de vingança Grupos de direitos humanos dizem que a RPF matou milhares de civis hutus quando eles tomaram o poder e mais depois que eles entraram na República Democrática do Congo para perseguir a Interahamwe A RPF nega Na República Democrática do Congo milhares de pessoas morreram de cólera enquanto grupos de ajuda humanitária foram acusados de deixar muito da sua estrutura de assistência cair nas mãos das milícias hutus Cerca de dois milhões fugiram para a República Democrática do Congo então Zaire O que aconteceu na República Democrática do Congo O genocídio em Ruanda teve implicações diretas em duas décadas de conflito na República Democrática do Congo que custaram a vida de cerca de cinco milhões de pessoas O governo de Ruanda agora gerido pela RPF por duas vezes invadiu a República Democrática do Congo 92 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 acusando o seu maior vizinho de deixar as milícias hutus operarem no seu território Ruanda também armou forças tutsis no país vizinho Em resposta alguns moradores formaram grupos de autodefesa e os civis do leste da República Democrática do Congo pagaram o preço Como é a Ruanda agora O líder da RPF e presidente de Ruanda Paul Kagame foi saudado pelo rápido crescimento econômico do pequeno país Ele também tentou transformar Ruanda em um centro tecnológico e é muito ativo no Twitter Mas seus críticos dizem que ele não tolera dissidência e que vários adversários foram encontrados inexplicavelmente mortos Quase dois milhões de pessoas foram julgados em tribunais locais por seu papel no genocídio e os líderes do massacre em um tribunal da ONU na vizinha Tanzânia Agora é ilegal falar sobre etnia em Ruanda o governo diz que isso evita mais derramamento de sangue mas alguns dizem que impede uma verdadeira reconciliação e apenas coloca uma tampa sobre as tensões que vão acabar fervendo de novo no futuro Fonte httpwwwbbccomportuguesenoticias201404140407ruandagenocidioms Muito embora o genocídio de Ruanda tenha acontecido em 1994 as disputas políticas e territoriais tem seu embrião na opressão infligida pelos Estados europeus desde o século XVI com o início da expansão ultramarina e consolidação do mercantilismo e neocolonialismo e em um segundo momento estas mesmas potências agora industrializadas infringem às nações africanas a opressão neocolonialista imperialista enfraquecendo o estado de união e fortalecendo as disputas entre as etnias e ideologias africanas Fonte httpmigremewJb27 Outro importante exemplo desta dinâmica segundo Cornevin 1979 e Teixeira 2004 foi o regime segregacionista do Apartheid na África do Sul entre os anos de 1948 e 1994 Fonte httpmigremewJb2R A institucionalização da doutrina apartheid que dirigiu a política racial do governo na África do Sul se iniciou em 1948 e ultrapassou a discriminação racial pois em sua constituição o racismo foi legitimado e amparado por dispositivos totalitários de poder europeu e passou a manipular todos os aspectos do cotidiano desde o lazer até a vida econômica e familiar Na África do Sul em meio aos acontecimentos da Primeira Guerra 93 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Mundial foi fundado o chamado Partido Nacional PN o principal partido nacionalista afrikaans em 1914 pelo General JB Hertzog de origem alemã O partido definiase como Nacionalista Cristão procurando desenvolver uma vida sulafricana nacional de acordo com a religião cristã sua política baseavase no domínio da população europeia sobre os povos primitivos negros de acordo com o espírito cristão e consequentemente a necessidade extrema de evitar o cruzamento entre as raças Este programa estava de acordo com a política missionária da NGK Argumentos teológicos e científicos foram construídos para estabelecer a ideia de um povo escolhido colocado por Deus na África do Sul para cumprir a missão divina de ajudar os povos primitivos A Igreja Reformada Holandesa NGK Nederduitse Gereformeerd Kerk que sempre defendeu o apartheid baseavase na Sagrada Escritura da Bíblia CORNEVIN 1979 p 38 Daniel François Malan estudou teologia em Stellenbosch na África do Sul foi nomeado pastor da NGK em 1905 deixou o ministério em 1915 e passou a ser editor do Die Burger o jornal do Partido Nacional Em 1948 sob a liderança de Malan o Partido Nacional venceu as eleições gerais com a principal promessa da campanha a de aprofundar a legislação de segregação racial regime esse que era controlado por uma minoria branca da população e teve como objetivo dividir a política da República da África do Sul em onze estados diferentes dez Black States Estados Pretos chamados de Bantustões ou Homeland cada um correspondendo a uma subdivisão étnica englobaria 72 da população Estes dez estados foram convidados a formar uma confederação econômica controlada pelo décimo primeiro estado o White State Estado Branco que abrangeu a maioria branca 165 que depois da Lei de Terras se tornaram donos de 87 das terras cultiváveis da África do Sul As duas minorias os mestiços 10 e indianos 29 eram consideradas cidadãos de segunda classe e não tinham o direito de votos nas eleições oficiais De acordo com Corvenin 1979 a hegemonia do sistema se manteria mediante três leis básicas 1 A Lei do Registro Populacional 1950 Visava à hegemonia dos grupos brancos classificando a população em quatro grupos raciais branco mestiço asiático e negro africano introduzindo um cartão de identidade para todas as pessoas com idade superior a dezoito anos especificando a qual grupo racial cada uma delas pertencia Esse documento chamado de passe continha todo histórico de vida do indivíduo antecedentes criminais licenças de trabalho de viagem de entrada em uma área branca e etc Caso fosse surpreendido sem o passe o indivíduo era culpado de delito e punido com multa ou até 94 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 mesmo a prisão Essa lei também separava os maridos das mulheres conduzindo a desintegração familiar 2 A Lei das Áreas de Grupos de 1951 Estabelecia a fixação geográfica das categorias raciais obrigava a fixação residências em áreas destinadas aos respectivos grupos étnicos lei que mais tarde foi usada como base para remoções forçadas Essa lei foi usada em 1966 para remover 60000 pessoas do bairro étnico Distrito Seis que possuía uma comunidade mista de escravos libertos comerciantes artesãos operários e imigrantes na Cidade do Cabo Designado pelo governo como espaço branco foi o palco de remoções forçadas destruição e miséria 3 Lei da Conservação de Diversões Separadas de 1953 Demarcava espacialmente as categorias raciais em transportes praias banheiros públicos escolas faculdades etc Almejava o desenvolvimento separado onde cada cidadão passaria a ter sua ligação étnica espacial econômica linguística educacional e familiar definida conforme sua raça Além dessas três leis mencionadas o governo do Partido Nacional aplicou muitas outras leis proibindo matrimônios e uniões mistas leis para controlar a força de trabalho negra como as leis de passe leis para excluir a mão de obra negra leis regulando sindicatos e greves censura à imprensa e segurança A legitimação da lógica da segregação poderia ser observada no número de pessoas que cada ano solicitava uma reclassificação racial na esperança de passar para uma categoria mais branca No entanto apenas os funcionários do governo de minoria branca estavam capacitados para o diagnóstico uma das técnicas era enrolar fios de cabelo do indivíduo em uma caneta se o cabelo se mantivesse encaracolado após a retirada da caneta a pessoa em questão era classificada como mestiça definindo assim os rumos possíveis de sua vida TEIXEIRA 2004 p39 Segundo Teixeira 2004 apesar das grandes diferenças entre o inglês e o africânder os brancos foram apresentados oficialmente como constituindo uma só nação branca definida portanto apenas pela cor da pele Em contrapartida as diferenças muito menores entre o idioma falado pelos negros africanos constituíam um critério mais válido para definição de nove grupos étnicos distintos cada um com a sua própria linguagem sistema legal estilo de vida valores e identidade sociopolítica Visto que não existem nove grupos linguísticos mas sim quatro grupos subdivididos Neguni SothoTswana Venda e ShagaanTsonga O grupo linguístico Neguni que está subdividido em quatro idiomas Zulu Xhosa Swazi e Ndebele têm em comum 70 do seu vocabulário e é falado por 93 da população 95 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 negra SulAfricana portanto as diferenças linguísticas de modo geral são mínimas e não constroem barreiras para a compreensão mútua Em vez de promover a inclinação natural dos sulafricanos para falarem o mesmo idioma africano comum o governo trabalhou com o propósito de recriar nove grupos linguísticos e consequentemente subdividilos em áreas segregadas fora dos bairros e terras brancas As áreas residenciais destinadas para habitação dos grupos étnicos negros mestiços e asiáticos eram chamados de Bantustões Os Bantustões eram constituídos por pequenas e dezenas de milhares de casinholas sem eletricidade feitas de prancha e tapume Eram dominadas pelos postos policiais e aglomeravam comerciantes professores ladrões e estudantes que durante o dia enfrentavam a rotina diária de trabalho nas cidades dos brancos De acordo com Cornevin 1979 em 1912 foi fundado o Congresso Nacional SulAfricano Nativo ANC Foi a primeira ocasião em todo o continente em que os negros abriram mão da lealdade tribal para aceitar uma nação comum O congresso não era nacionalista no sentido de antagonizar os brancos de ser militante ou revolucionário era muitíssimo influenciado pela doutrina cristã de modo algum pelo socialismo Mas marcava o surgimento do nacionalismo africano no sentido de prestar lealdade igualitária tanto para nação quanto para tribo Fonte httpmigremewJb41 O ANC lutava pela inclusão política e privilégios universais para todos independentemente de raça Sob a constatação vital que a educação era necessária centenas de africanos migravam para cidades essa intensa urbanização representou a formação de uma nova geração de políticos negros militantes inclusive Nelson Mandela e Oliver Tambo Os dois vinham de um passado rural Mandela era de família real enquanto Tambo era filho de camponês Ambos eram membros fundadores da Liga da Juventude que se estabeleceu dentro do partido político CNA Congresso Nacional Africano em 1944 os membros se consideravam nacionalistas negros e reivindicavam boicotes organização das massas e educação em massa Fonte httpmigremewJb4S 96 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 As primeiras manifestações contra o apartheid foram feitas pelo ANC com o intuito de reverter as condições da classe negra do país foram organizadas marchas de protesto e campanhas não violentas Mas as manifestações nem sempre ocorriam pacificamente Em 1960 o ANC e o Congresso PanAfricano PAC organizaram uma manifestação não violenta contra a Lei do Passe que obrigava os negros a utilizarem um passaporte determinando onde eles poderiam ir Durante o protesto policiais abriram fogo contra os manifestantes matando 67 pessoas A repressão da oposição negra acabou descambando em tragédia e o dia 21 de março foi marcado pelo massacre em Sharpevill juntamente com a proibição das duas organizações no país SAMPSON 1987 p 87 A política até então pacífica do ANC passa por adotar a luta armada buscando apoio internacional contra o apartheid e Mandela passa a liderar o partido de forma clandestina Convencido de que táticas violentas poderiam influir na opinião dos brancos recrutas foram enviados ao exterior para submeterse ao treinamento de guerrilha Em 1961 a luta armada foi confiada a uma ala militar denominada Umkhoto we Sizwe que em Zulu significa a Lança da Nação tendo Mandela como seu comandante chefe Em dois dias de ação Umkhoto realizou uma sucessão de explosões atingindo edifícios públicos e instalações em Durban Johanesburgo e Port Elizabeth Mandela foi transportado clandestinamente para fora da África do Sul a fim de visitar outros Estados africanos e angariar auxílio de líderes dos partidos internacionais Em Agosto de 1962 Mandela foi apanhado e julgado sob a acusação de incitamento à greve e sentenciado a cinco anos de prisão três meses mais tarde os conspiradores inclusive Mandela foram acusados de sabotagem e de procurar subverter o governo mediante a revolução violenta Diante disso Nelson Mandela e mais sete homens foram sentenciados à prisão perpétua e enviados para a Robben Iland prisão de segurança máxima situada na costa de Cidade do Cabo Em seu longo discurso final cuidadosamente preparado com a colaboração de seus colegas prisioneiros e advogados Mandela narrou sua evolução política e como se voltara para a sabotagem e para as guerrilhas mas acalentava o ideal de uma sociedade democrática livre É um ideal pelo qual se for preciso estou disposto a morrer SAMPSON 1987 p 95 Com o aumento da oposição internacional e as sucessivas pressões da ONU com a intensificação das sanções econômicas à África do Sul e boicotes políticos internacionais o governo de minoria branca foi forçado a iniciar um programa de reformas na África do Sul Em 1990 FW de Klerk 1936 líder do PN anuncia a legalização do PAC assim como a libertação de Mandela Em 1994 foi promovida a primeira eleição geral democrática antirracista e o fim do regime do Apartheid elegendo Nelson Mandela Presidente e Tambo 97 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Mbeki seu sucessor Após as eleições foi formado um Comitê Constitucional com o propósito de estabelecer uma nova Constituição que representaria todos os SulAfricanos Mandela mudou economia da África do Sul mas desigualdade avança Artigo publicado em 09 de dezembro de 2013 BBC Brasil Quando Nelson Mandela foi empossado em Pretória há 19 anos como o primeiro presidente democraticamente eleito da África do Sul ele encarnava as esperanças de uma nação O regime segregacionista do apartheid saiu de cena dando lugar à nação do arcoíris e a um momento de grande otimismo no país Uma das razões desse otimismo era a esperança de uma economia ascendente afinal o fim do apartheid significava o fim das duras sanções impostas ao país A África do Sul já tinha a esta altura uma das infraestruturas mais desenvolvidas do continente mas os anos de isolamento deixaram a economia perto da falência Na superfície pelo menos as coisas pareciam bem no início A inflação que estava em 14 antes de 1994 caiu para 5 em 10 anos O deficit orçamentário da África do Sul que era de 8 em 1997 caiu para 15 em 2004 Já as taxas de juros caíram de 16 para menos de 9 na primeira década do governo do Congresso Nacional Africano partido de Mandela Logo com o fim das sanções as exportações sulafricanas começaram a florescer Antes de Mandela fazer o juramento de posse apenas 10 dos bens do país eram destinados à exportação Na virada do século quase um quarto eram comercializados ao exterior Nos 14 anos após 1996 a proporção de sulafricanos que vivem com US 2 por dia caiu de 12 para 5 Annabel Bishop economista do grupo Investec diz que a economia da África do Sul praticamente dobrou em termos reais desde a queda do apartheid crescendo a uma média de 32 ao ano desde 1994 ao contrário de apenas 16 ao ano durante os 18 anos anteriores sob o regime de minoria branca Ela ressalta também que as receitas fiscais reais efetivamente dobraram desde 1994 o que permitiu ao governo ampliar o bemestar social A provisão estatal de serviços básicos foi extensiva diz ela Um dos problemas é a enorme discrepância entre ricos e pobres que na África do Sul é uma das mais altas do mundo Na verdade por algumas medições é maior do que era no tempo do apartheid De acordo com o coeficiente de Gini comumente usado para medir a desigualdade a África do Sul marcou 063 em 2009 De acordo com o coeficiente 0 é o mais igual e 1 é o menos igual No entanto em 1993 o coeficiente do país era de 059 o que tem levado muitos à conclusão de que o fosso entre ricos e pobres está realmente ficando maior Relatórios da ONU costumam colocar cidades da África do Sul entre as mais desiguais do mundo Um caso emblemático da desigualdade é o setor de mineração da África do Sul O ano de 2012 foi o mais turbulento para o país desde o fim do apartheid com greves violentas em toda a indústria e 34 mineiros mortos a tiros em Marikana mina de platina da Lonmin em Rustenburg No entanto outros analistas não acham as atuais imagens pintadas da economia da África do Sul tão sombrias Sim existem grandes problemas eles dizem mas isso não significa que os sul africanos sejam incapazes de encontrar respostas à altura A economia da África do Sul continua sendo a maior do continente mesmo com a Nigéria se aproximando rapidamente Juntamente com o Brasil Rússia Índia e China é um membro do grupo Brics de países emergentes com todo o potencial que isso traz Apesar de a indústria de mineração aparente estar passando por tempos turbulentos os serviços financeiros são altamente desenvolvidos e prósperos O economista Dawie Roodt diz Nós ainda temos tempo para corrigir tendências negativas mas é preciso uma liderança forte O legado econômico de Mandela decorre das liberdades políticas pelas quais lutou É um quadro em que pelo menos em teoria todos os sulafricanos têm o direito de perseguir seus sonhos econômicos Diante do agitado tráfego de pedestres na hora do almoço no centro de Joanesburgo Nkasa Chris que trabalha em uma empresa de computação reflete sobre o legado econômico de Mandela Ele fez muito disse Agora cabe a nós levar o legado adiante Fonte httpwwwbbccomportuguesenoticias201312131209mandelaeconomiarp 98 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 A História da África está repleta de elementos extremamente significativos não só para as nações e etnias africanas mas para todo o planeta a formação multicultural e suas diversas assimilações constituíram ao longo do tempo não apenas para a África mas para muitas outras nações como a exemplo do Brasil raízes culturais importantíssimas entretanto muitas vezes renegadas a um segundo plano ou diminuída pelos diversos preconceitos infringidos aos africanos e seus descendentes a independência das nações africanas trouxe grandes desafios ao povo africano difíceis de superar mas que estão sendo enfrentados de forma honrada pelos governantes e habitantes desse continente com uma história espetacular é necessário também compreender esta superação e luta por direitos em todas as regiões e países que possuem em sua formação cultural a magnífica contribuição das nações africanas Para finalizar seu estudo realize os Exercícios 4 e 5 e a Atividade 41 Dicas de aprofundamento MAZRUI Ali A WONDJI Christophe História Geral da África VIII África desde 1935 Disponível em httpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextoue000325pdf Acesso em 01 jun 2019 Assista ao documentário Apartheid Disponível em httpswwwyoutubecomwatchvWAtrVnoNk Acesso em 26 mar 2020 99 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 REFERÊNCIAS ADAM Shehata A importância da Núbia um elo entre a África central e o Mediterrâneo In MOKHTAR Gamal Ed História Geral da África II África Antiga 2 ed rev Brasília Unesco 2010 ALDRED Cyril O Egito Antigo LisboaPortugal Editorial Verbo 1965 ALENCASTRO Luís Felipe de O trato dos viventes a 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textual e epigráfica Revista de História São Paulo v 145 2001 LECLANT J O Império de Kush Napata e Méroe In MOKHTAR Gamal Ed História Geral da África II África Antiga 2 ed rev Brasília Unesco 2010 LINEBAUGH Peter REIDKER Marcus A hidra de muitas cabeças marinheiros escravos e plebeus e a história oculta do atlântico revolucionário São Paulo Companhia das Letras 2008 LOPES Nei Enciclopédia brasileira da diáspora africana São Paulo Selo Negro 2004 LOVEJOY Paul A escravidão na África uma história de suas transformações Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2002 MBOKOLO Elikia África negra história e civilizações tomo I SalvadorSão Paulo EdufbaCasa das Áfricas 2009 África negra história e civilizações tomo II do século XIX aos nossos dias SalvadorSão Paulo EdufbaCasa das Áfricas 2011 MBOKOLO Elikia MBOW M Amadou Mahtar Prefácio In KIZERBO Joseph Ed História Geral da África I Metodologia e préhistória da África 2 ed rev Brasília Unesco 2010 MAESTRI Mário História da África negra précolonial Porto Alegre Mercado Aberto 1988 MAHJOUBI A O período romano e pósromano na África do Norte Parte I O período romano In MOKHTAR Gamal Ed História Geral da África II África Antiga 2 ed rev Brasília Unesco 2010 MARZURI Ali Procurai primeiramente o reino político In História Geral da África VIII Brasília Unesco 2010 MEDEIROS François de Os povos do Sudão movimentos populacionais In FASI Mohammed El Ed História Geral da África III África do século VII ao XI Brasília Unesco 2010 MENEZES Sezinando O jesuíta e o sapateiro de regno de cristhi in terris consumato Revista Brasileira de História das Religiões São Paulo v 11 2011 MINTZ Sidney PRICE Richard O nascimento da cultura afroamericana Rio de Janeiro Editora da Universidade Cândido Mendes 2002 MILLER Joseph Way of death Merchant capitalism and the Angola slave trade Madison Wisconsin Press 1988 In Revista de História da USP São Paulo vol 01 número 164 2011 NOTEN F van A PréHistória da África Central Parte II In KIZERBO Joseph Ed História Geral da África I Metodologia e préhistória da África 2 ed rev Brasília Unesco 2010 102 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 OLIVER Roland A experiência africana da préhistória aos dias atuais Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed 1994 PINSKY Jaime As primeiras civilizações 26 ed São Paulo Contexto 2006 PORTÈRES R BARRAU J Origens desenvolvimento e expansão das técnicas agrícolas In KIZERBO Joseph Ed História Geral da África I Metodologia e préhistória da África 2 ed rev Brasília Unesco 2010 PRADO JR Caio Formação do Brasil Contemporâneo São Paulo Brasiliense 1994 PUNTONI Pedro A Arte da Guerra no Brasil Tecnologia e estratégia militar na expansão da fronteira da América portuguesa 15501700 Novos Estudos CEBRAP São Paulo v 52 1999 REDKER Marcus O Navio negreiro uma história humana São Paulo Companhia das Letras 2011 REGINALDO Lucilene O rosário dos angolas irmandades de africanos e crioulos na Bahia setecentista São Paulo Alameda 2011 SALAMA P Parte De Roma ao Islã In MOKHTAR Gamal Ed História Geral da África II África Antiga 2 ed rev Brasília Unesco 2010 SAMPSON Anthony O negro e o Ouro Magnatas Revolucionários e o Apartheid São Paulo Companhia das letras 1987 SHAW T PréHistória da África Ocidental In KIZERBO Joseph Ed História Geral da África I Metodologia e préhistória da África 2 ed rev Brasília Unesco 2010 SHERIF NagmElDin Mohamed A Núbia antes de Napata 3100 a 750 antes da Era Cristã In MOKHTAR Gamal Ed História Geral da África II África Antiga 2 ed rev Brasília Unesco 2010 SILVA Alberto da Costa e A enxada e a lança a África antes dos portugueses Rio de Janeiro São Paulo Nova Fronteira Edusp 1992 A Manilha e o Libambo a África e a escravidão de 1500 a 1700 Rio de Janeiro Nova Fronteira 2002 SILVA Alberto da Costa SOUZA de Francisco Félix Mercador de escravos Rio de Janeiro Nova Fronteira 2004 SOARES Carlos Eugênio Líbano A capoeira escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro 18081850 Campinas Editora da Unicamp 2004 SOUZA Marina de Mello e Reis negros no Brasil escravista Belo Horizonte Editora da UFMG 2002 África e Brasil africano São Paulo Ática 2006 SUTTON J E G A PréHistória da África Oriental In KIZERBO Joseph Ed História Geral da África I Metodologia e préhistória da África 2 ed rev Brasília Unesco 2010 103 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 TEIXEIRA da Silva Francisco Carlos Coord Enciclopédia de Guerras e Revoluções do século XX Rio de Janeiro Editora Campus 2004 THOMAS Omar Ribeiro Ecos do atlântico sul representações sobre o terceiro império português Rio de Janeiro Editora da UFRJFAPESP 2002 THORNTON John K África e os africanos na formação do mundo atlântico Rio de Janeiro CampusElsevier 2004 WARMINGTON B H O período cartaginês In MOKHTAR Gamal Ed História Geral da África II África Antiga 2 ed rev Brasília Unesco 2010 WESSELING H L Dividir para dominar a partilha da África negra Rio de Janeiro Editora RevanEditora da UFRJ 1998 104 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 EXERCÍCIOS E ATIVIDADES EXERCÍCIO 1 1 Todo sistema cultural tem a sua própria lógica e não passa de um ato primário de etnocentrismo tentar transferir a lógica de um sistema para outro LARAIA 1993 Analise os enunciados considerando o conceito de cultura como sendo ação transformadora que o Homem provoca na natureza e em si mesmo desta forma adaptando o meio em que vive I As sociedades selvagens são capazes de produzir cultura mas estão mal adaptadas ao meio ambiente e por isso algumas nem sequer possuem o Estado II As sociedades tribais são tão eficientes para produzir cultura quanto qualquer outra mesmo quando não possuem certos recursos culturais presentes em outras culturas III As sociedades nômades africanas são dotadas de recursos materiais e simbólicos eficientes para produzir cultura como qualquer outra faltandolhes apenas urna linguagem própria que só foi desenvolvida com base no intercâmbio com os europeus IV As chamadas sociedades primitivas conseguiram produzir cultura plenamente ao longo do processo evolutivo quando instituíram o Estado democrático e as instituições escolares a Apenas os enunciados I e III estão corretos b Apenas os enunciados II e III estão corretos c Apenas o enunciado II está correto d Apenas os enunciados II e IV estão corretos 2 Na PréHistória encontramos fases do desenvolvimento humano Qual a alternativa que apresenta características das atividades do homem na fase neolítica a Os homens praticavam uma economia coletora de alimentos b Os homens fabricavam seus instrumentos para obtenção de alimentos e abrigo c Os homens aprenderam a controlar o fogo d Os homens conheciam uma economia comercial e já praticavam os juros e Os homens cultivavam plantas e domesticavam animais tornandose produtores de alimentos 3 Em relação ao momento em que homens e mulheres se colocaram como seres históricos no mundo é correto afirmar que a A invenção da escrita da roda do fogo é o que caracteriza os povos considerados com história que se estabeleceram às margens do rio Nilo há milhões de anos b A história da humanidade teve início na região conhecida na Antiguidade por Mesopotâmia quando se inventou a escrita c As pesquisas arqueológicas vêm apontando que a história humana teve início há um 105 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 milhão de anos em várias regiões do globo terrestre simultaneamente d Entre 4 e 6 milhões de anos atrás surgiram na África os primeiros antepassados do ser humano com os quais teve início a história da humanidade e O elemento preponderante no reconhecimento dos homens e mulheres como seres históricos é a invenção da linguagem há 2 milhões de anos no continente europeu Verifique seu aprendizado realizando o Exercício no Ambiente Virtual de Aprendizagem ATIVIDADE 11 Leia o texto abaixo Após a expedição de Napoleão Bonaparte ao Egito em 1798 o norte da África tornouse novamente um campo de estudos que os historiadores não podiam negligenciar Com a expansão do poder colonial europeu nessa parte da África após a conquista de Argel pelos franceses em 1830 e a ocupação do Egito pelos britânicos em 1882 um ponto de vista europeu colonialista passou a dominar os trabalhos sobre a história da porção norte da África No entanto a partir de 1930 o movimento modernizador no Islã o desenvolvimento da instrução de estilo europeu nas colônias da África do Norte e o nascimento dos movimentos nacionalistas norteafricanos começaram a combinarse para dar origem a escolas autóctones de história que produziam obras não apenas em árabe mas também em francês e inglês restabelecendo assim o equilíbrio nos estudos históricos dessa região do continente FAGE J D A evolução da historiografia da África São Paulo Editora 70 2013 O texto apresenta uma crítica à historiografia africana que segundo o autor foi dominada pelos europeus até a primeira metade do século XX Com base na questão da escrita da história redija um texto de no máximo 10 linhas explicando este domínio Submeta a atividade por meio da ferramenta Tarefa EXERCÍCIO 2 1 Assinale a alternativa correta em relação à história dos grupos sociais da Antiguidade a Os povos etruscos habitavam uma zona fluvial de inundações periódicas no vale entre os rios Tigre e Eufrates e tinham economia baseada em produtos agrícolas que dependiam dos períodos de cheias dos rios b A difusão da escrita cuneiforme pelos gregos no século VIII aC permitiu o registro dos fatos memoráveis do passado criando as condições propícias para o desenvolvimento da tragédia grega que teve em Homero seu principal precursor c A ausência de uma codificação jurídica que permitisse a unificação das diversas regiões da Mesopotâmia sob o domínio dos reis babilônicos está entre as principais causas da queda do Império da Babilônia 106 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 d A civilização hebraica caracterizouse por uma estrutura matriarcal de sociedade pelo politeísmo como crença religiosa e pela recusa do uso do trabalho escravo e O reino de Kush com forte influência egípcia serviu como elo entre a África central e o mundo mediterrâneo além de estabelecer rotas comerciais entre o baixo e o alto vale do Nilo 2 Na África durante a Antiguidade entre 3000 aC e 332 aC desenvolveuse o primeiro Império unificado historicamente conhecido cuja longevidade e continuidade ainda despertam a atenção de arqueólogos e historiadores Esse Império a Legou à humanidade códigos e compilações de leis b Desenvolveu a escrita alfabética dominada por amplos setores da sociedade c Retinha parcela insignificante do excedente econômico disponível d Sustentou a crença de que o caráter divino dos reis se transmitia exclusivamente pela via paterna e Dependia das cheias do rio Nilo para a prática da agricultura 3 Durante séculos o Mar Mediterrâneo foi o centro comercial do mundo conhecido Dominálo significava também exercer plena hegemonia política e militar São exemplos da busca pelo controle do Mediterrâneo e de sua importância a As Guerras Púnicas nos séculos III e II aC entre Roma e Cartago que determinaram a plena expansão dos romanos e asseguraramlhes o domínio do norte da África b As atividades mercantis na Alta Idade Média de cidades italianas como Veneza ou Gênova que se empenharam no estabelecimento de novas rotas oceânicas para o Oriente c As colonizações desenvolvidas em território americano a partir do século XV por Portugal e Espanha cujo objetivo era ligar o Atlântico ao Pacífico d As guerras napoleônicas na Península Ibérica no princípio do século XIX que ampliaram o comando francês sobre o norte e o centro do território africano e As Guerras do Peloponeso nos séculos V e IV aC que envolveram as cidades gregas de Atenas e Esparta na busca pelo controle total da Península Balcânica Verifique seu aprendizado realizando o Exercício no Ambiente Virtual de Aprendizagem ATIVIDADE 21 Dentro das condições mais suaves do Egito com céus sem nuvens e uma enchente anual previsível e uniforme uma regularidade moderada contrasta com o ambiente tempestuoso e turbulento os relâmpagos as catastróficas torrentes e inundações das regiões mais orientais Tão logo os novos cereais e a cultura do arado foram introduzidos no Egito houve semelhante superabundância de alimentos e por causa dela sem dúvida uma superabundância de bebês Mas todos os feitos de domesticação do Egito foram realizados sob um céu sem nuvens de tempestade intocado por sombrias incertezas não amargurado 107 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 nem atormentado por repetidas derrotas A vida era boa Adaptado de MUMFORD Lewis A cidade na história suas origens transformações e perspectivas São Paulo Martins Fontes 1991 Após a leitura do texto redija um texto de no máximo 15 linhas explicando a afirmação de que a vida era boa no Antigo Egito Submeta a atividade por meio da ferramenta Tarefa EXERCÍCIO 3 1 Desde o início do século XIV no reino do Congo moravam povos agricultores que quando convocados pelo mani Congo partiam em sua defesa contra inimigos de fora ou para controlar rebeliões de aldeias que queriam se desligar do reino Aldeias lubatas e cidades banzas pagavam tributos ao mani Congo geralmente com o que produziam alimentos tecidos de ráfia vindos do nordeste sal vindo da costa cobre vindo do sudeste e zimbos pequenos búzios afunilados colhidos na região de Luanda que serviam de moeda o mani Congo cercado de seus conselheiros controlava o comércio o trânsito de pessoas recebia os impostos exercia a justiça buscava garantir a harmonia da vida do reino e das pessoas que viviam nele Os limites do reino eram traçados pelo conjunto de aldeias que pagavam tributos ao poder central devendo fidelidade a ele e recebendo proteção tanto para os assuntos deste mundo como para os assuntos do além pois o mani Congo também era responsável pelas boas relações com os espíritos e os ancestrais O mani Congo vivia em construções que se destacavam das outras pelo tamanho pelos muros que a cercavam pelo labirinto de passagens que levavam de um edifício a outro e pelos aposentos reais que ficavam no centro desse conjunto e eram decorados de tapetes e tecidos de ráfia Ali o mani vivia com suas mulheres filhos parentes conselheiros escravos e só recebia os que tivessem nobreza suficiente para gozar desse privilégio SOUZA Marina de Mello e África e Brasil africano São Paulo Ática 2006 A partir da descrição do reino do Congo é correto afirmar que nesse reino a Toda a organização administrativa estava voltada para a acumulação de riquezas nas mãos do soberano que as redistribuía entre as aldeias mais leais e com maior potencialidade econômica b O político e o sobrenatural estavam intimamente relacionados além das semelhanças entre uma corte europeia e uma de um reino na África porque ambas eram caracterizadas por hierarquias rígidas c A ordem política derivava de uma economia voltada para a produção baseada no uso da mão de obra compulsória por isso o soberano era o maior beneficiado com a captura de homens para serem escravizados d A fragmentação do poder entre os chefes das aldeias e os conselheiros do soberano permitiu a consolidação de uma prática política pouco usual na África na qual as decisões eram tomadas pelos moradores do reino e A prevalência da condição tribal favoreceu sua dominação por outros povos africanos mas especialmente pelos comerciantes europeus interessados na exploração de metais amoedáveis 108 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 2 Angola Congo Benguela Monjolo Cabinda Mina Quiloa Rebolo Jorge Ben ÁfricaBrasilZumbi O texto referese àsaos a Colônias holandesas de exploração na África do século XVI ao século XVIII b Grupos africanos escravizados e trazidos para o Brasil durante a colonização c Reinos africanos que se rebelaram contra a colonização portuguesa na época da independência do Brasil d Comunidades livres formadas por escravos fugitivos e Países africanos atuais que mantêm estreitos vínculos com a cultura brasileira 3 quais mecanismos levaram à escravidão nas sociedades africanas do século VII ao século XV Genericamente a escravidão esteve presente na África como um todo fazendose necessário observar as especificidades históricas próprias de complexos sociais e políticos e das formas de poder das diversas sociedades africanas Mas é fundamental acrescentar que a dinâmica e a intensidade da escravidão no continente africano têm a ver com a maior ou menor demanda do tráfico atlântico gerada pelo expansionismo europeu na América Isso acarreta mudanças sociais na África como a expansão e a subsequente transformação da poligenia o desenvolvimento de diferentes tipos de escravidão no continente além do empobrecimento de uma classe de mercadores africanos HERNANDEZ Leila Leite A África na sala de aula visita à história contemporânea São Paulo Selo Negro 2008 p 378 A partir do fragmento é correto afirmar que a A maior mudança ocorrida na África após a imposição do colonialismo ibérico esteve relacionada com a passagem da mercantilização do trabalho compulsório para formas mais brandas de exploração da escravidão com o avanço de direitos para os africanos convertidos ao cristianismo b A chegada do colonialismo europeu na África subsaariana foi fundamental para o desenvolvimento do continente em razão da organização do tráfico intercontinental de escravos permitindo que a maior parte das rendas advindas dessa atividade ficasse no próprio continente c A existência da escravidão na África negra era desconhecida até a chegada dos primeiros exploradores coloniais caso dos portugueses que impuseram essa forma de organização do trabalho condição necessária para a posterior acumulação de capitais entre as elites regionais africanas d As práticas de utilização do trabalho compulsório em todo o território africano até a chegada dos exploradores europeus estavam articuladas com a essência da religiosidade do continente caracterizada pela concepção de que os sacrifícios materiais levavam os homens à graça divina e A escravidão existente no continente africano antes da expansão marítima tinha uma multiplicidade de características sendo inclusive doméstica e o tráfico de escravos para atender aos interesses mercantilistas europeus trouxe decisivas transformações para as inúmeras regiões da África Verifique seu aprendizado realizando o Exercício no Ambiente Virtual de Aprendizagem 109 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 ATIVIDADE 31 É na segunda metade do século XV que a África negra descobre os portugueses Ela se compõe de um mosaico de povos Estados e impérios animistas ou islamizados que nem a coroa nem os marinheiros de Lisboa jamais conseguirão dominar O fim do século é marcado entre outras coisas pela expansão do Império de Gao e pela ascensão da dinastia Askia no Sudão ocidental Mas é preciso lembrar as inúmeras redes comerciais que não haviam esperado os europeus para promover a circulação de escravos Adaptado de GRUZINSKI Serge A passagem do século 14801520 As origens da globalização São Paulo Companhia das Letras 1999 p 5657 Responda 1 Que elementos do texto acima indicam que o continente africano tinha naquele período formas de organização complexas 2 Como os agentes portugueses organizaram a economia do tráfico na Era Moderna Submeta a atividade por meio da ferramenta Tarefa EXERCÍCIO 4 1 Após ser repartida e colonizada por países europeus especialmente a partir da Conferência de Berlim na década de 1880 a África passou no século XX por diferentes processos de independência que deram origem aos territórios da maior parte dos países do continente Esses processos no contexto da Descolonização da África têm como características comuns e principais a O desenvolvimento de teorias raciais de superioridade do homem negro e a criação da Unidade Africana que reuniu as principais lideranças rebeldes do continente e declarou guerra aos Estados Unidos b O apoio da União Soviética que no contexto da polarização política pósSegunda Guerra Mundial incentivou a industrialização e a rápida arrancada de desenvolvimento verificadas nas excolônias europeias na África c A atuação de missionários cristãos e agentes da Organização das Nações Unidas que aliados a agências internacionais de notícias promoveram campanhas de conscientização da opinião pública internacional pelo fim do colonialismo d A crise econômica decorrente do aumento abrupto do valor dos escravos no mercado internacional associada à queda do preço do barril de petróleo principal commodity da pauta de exportações africanas o que levou os europeus a abandonar as colônias e O enfraquecimento econômico e político dos países europeus no pósSegunda Guerra Mundial e o surgimento de movimentos de libertação em diferentes partes do continente africano levando à gradativa perda do controle europeu sobre as colônias na África 2 No pósSegunda Guerra Mundial em decorrência da crise por que passavam as antigas potências coloniais europeias verificouse o início do processo de descolonização afroasiático Assinale a alternativa correta sobre a 110 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 descolonização da África e da Ásia I A Guerra Fria foi utilizada até a década de 1980 como elemento ideológico para manter a dominação dos países ricos sobre os pobres Nesses termos a pressão sobre a questão do alinhamento a um dos blocos tornouse instrumento de troca valioso para os países do Terceiro Mundo incluindo as excolônias II A descolonização na Ásia deuse pela guerra de libertação ou pela concessão pacífica da independência pelas metrópoles Dois casos típicos foram o da Índia e do Japão que rapidamente se tornaram países desenvolvidos III A libertação nacional na África inscrevese em um processo longo e contraditório em que o exemplo mais expressivo foi a África do Sul onde a maioria negra somente conseguiu chegar ao poder em 1994 com Nelson Mandela a Apenas os enunciados I e II estão corretos b Apenas os enunciados I e III estão corretos c Apenas os enunciados II e III estão corretos d Todos os enunciados estão corretos 3 No primeiro quartel do século XX o intercâmbio entre africanos e negros da diáspora ocorreu de diversas formas De um lado por meio do retorno de afrodescendentes principalmente da América do Norte para a Libéria mas também das Antilhas e Brasil para diversas regiões da África De outro através da saída de jovens pertencentes à elite africana para ingressar nas universidades dos Estados Unidos e da Europa CLARO Regina Olhar a África Fontes visuais para a sala de aula São Paulo Hedra 2012 p 151 O impacto do fenômeno apresentado no texto manifestouse entre outros fatores no a Fim do preconceito racial nos Estados Unidos e na Europa ocidental com a decorrente ampliação em diversos países dos direitos civis das populações afrodescendentes b Surgimento do Panafricanismo e do movimento da Negritude que rejeitavam as doutrinas sobre a inferioridade dos negros e defendiam o reconhecimento da cultura africana c Esforço pelos governos da maioria dos países africanos de revalorização das religiosidades locais e de combate à influência cultural europeia e norteamericana d Reconhecimento e na afirmação pela Organização das Nações Unidas da igualdade étnica e do direito de todos os povos de viverem de forma livre e autônoma Verifique seu aprendizado realizando o Exercício no Ambiente Virtual de Aprendizagem ATIVIDADE 41 Com somente poucas exceções as nações da África atual foram sucessoras das colônias africanas que as precederam Suas fronteiras eram as fronteiras coloniais definidas nas décadas de 1880 e 1890 Suas capitais eram as capitais coloniais a partir das quais foram irradiadas as infraestruturas de estradas e ferrovias correios e telecomunicações Todas conservaram em maior ou menor grau as línguas dos colonizadores como línguas de 111 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 comunicação mais ampla Todas seguiram basicamente os sistemas ocidentais de educação Sua administração seguiu as trilhas deixadas pela administração colonial O primeiro grande teste para a África independente centrouse na questão da estabilidade das fronteiras e o aspecto que rapidamente ficou claro a esse respeito foi que não havia futuro para uma concepção panafricana de Estados Unidos da África ou para as federações ou quase federações criadas pelas potências colonizadoras OLIVIER Roland A experiência africana Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1994 p 254 No trecho acima o historiador Roland Olivier aponta alguns dos problemas com os quais as novas nações africanas independentes se defrontaram Refita e responda 1 A definição das fronteiras nacionais africanas foi estabelecida a partir das especificidades étnicolinguísticas existentes antes da penetração europeia Justifique 2 O texto referese à existência de uma concepção panafricana de Estados Unidos da África Aponte o pressuposto básico do panafricanismo Submeta a atividade por meio da ferramenta Tarefa EXERCÍCIO 5 1 Tudo muda De novo começar podes com o último alento O que acontece porém fica acontecido E a água que pões no vinho não podes mais separar Porém tudo muda com o último alento podes de novo recomeçar Bertold Brecht É a esse processo histórico que levou à liquidação dos impérios coloniais europeus e ao surgimento ou ressurgimento de povos que se constituíram em Nações e Estados que se costuma dar o nome de descolonização Letícia Bicalho Canêdo A descolonização da Ásia e da África São Paulo Atual 1985 p54 A partir dos textos é correto afirmar que a A colonização europeia foi inseparável da descolonização da Ásia e da África do século XX pois o nacionalismo um valor ocidental foi usado pela classe dirigente que identificada com o Estado Nacional não respeitou as tradições locais isto é a descolonização não destruiu a colonização água e vinho estão misturados b A descolonização da Ásia e da África no século XX fez surgir novos povos identificados com suas tradições e com valores antigos essenciais para a estabilidade dos Estados e das nações geridos pela classe dirigente distante do velho colonialismo a descolonização rompeu com a colonização isto é separou a água do vinho c A descolonização da Ásia e da África no século XIX como continuidade ao colonialismo 112 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 europeu identificouse com a classe dirigente internacional preservou as principais tradições e criou o Estado Nacional a partir do nacionalismo valor tribal que garantiu estabilidade para aquelas regiões portanto a água não se separou do vinho d A descolonização da Ásia e da África no século XX foi um processo separado da colonização pois os valores da tradição foram rompidos e surgiu o Estado Nacional como criação da classe dirigente local cujos interesses estavam alinhados com o capitalismo internacional o que significou desenvolvimento para a maioria água e vinho estão separados e O processo de descolonização do século XX na Ásia e na África é revolucionário na medida em que destruiu o velho colonialismo e colocou no poder a classe dirigente local identificada com o capitalismo internacional que organizou o Estado Nacional segundo os interesses de estabilidade e de desenvolvimento para todos água e vinho estão separados 2 A conquista da Ásia e da África durante a segunda metade do século XIX pelas principais potências imperialistas objetivava a A implantação de regimes políticos favoráveis à independência das colônias africanas e asiáticas b O impedimento da evasão em massa dos excedentes demográficos europeus para aqueles continentes c A implantação da política econômica mercantilista favorável à acumulação de capitais nas respectivas Metrópoles d A necessidade de interação de novas culturas a compensação da pobreza e a cooperação dos nativos e A busca de matériasprimas a aplicação de capitais excedentes e a procura de novos mercados para os manufaturados Verifique seu aprendizado realizando o Exercício no Ambiente Virtual de Aprendizagem
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Curso de Graduação a Distância História da África 2 créditos 40 horas Autor Marcelo Piccolli Universidade Católica Dom Bosco Virtual wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 2 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Missão Salesiana de Mato Grosso Universidade Católica Dom Bosco Instituição Salesiana de Educação Superior Chanceler Pe Ricardo Carlos Reitor Pe José Marinoni PróReitora de Graduação e Extensão Profª Rúbia Renata Marques Diretor da UCDB Virtual Prof Jeferson Pistori Coordenadora Pedagógica Profª Blanca Martín Salvago Direitos desta edição reservados à Editora UCDB Diretoria de Educação a Distância 67 33123335 wwwvirtualucdbbr UCDB Universidade Católica Dom Bosco Av Tamandaré 6000 Jardim Seminário Fone 67 33123800 Fax 67 33123302 CEP 79117900 Campo Grande MS PICCOLLI Marcelo História da África Marcelo Piccolli Campo Grande UCDB 2017 112 p Palavraschave 1 História da África 2 Primeiras Civilizações 3 Período Précolonial e colonial 4 Escravização 5 Independência 6 Influências africanas 0220 3 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO Este material foi elaborado pelo professor conteudista sob a orientação da equipe multidisciplinar da UCDB Virtual com o objetivo de lhe fornecer um subsídio didático que norteie os conteúdos trabalhados nesta disciplina e que compõe o Projeto Pedagógico do seu curso Elementos que integram o material Critérios de avaliação são as informações referentes aos critérios adotados para a avaliação formativa e somativa e composição da média da disciplina Quadro de Controle de Atividades tratase de um quadro para você organizar a realização e envio das atividades virtuais Você pode fazer seu ritmo de estudo sem ul trapassar o prazo máximo indicado pelo professor Conteúdo Desenvolvido é o conteúdo da disciplina com a explanação do pro fessor sobre os diferentes temas objeto de estudo Indicações de Leituras de Aprofundamento são sugestões para que você possa aprofundar no conteúdo A maioria das leituras sugeridas são links da Internet para facilitar seu acesso aos materiais Atividades Virtuais atividades propostas que marcarão um ritmo no seu estudo As datas de envio encontramse no calendário do Ambiente Virtual de Aprendizagem Como tirar o máximo de proveito Este material didático é mais um subsídio para seus estudos Consulte outros conteúdos e interaja com os outros participantes Portanto não se esqueça de Interagir com frequência com os colegas e com o professor usando as ferramentas de comunicação e informação do Ambiente Virtual de Aprendizagem AVA Usar além do material em mãos os outros recursos disponíveis no AVA aulas audiovisuais vídeoaulas fórum de discussão fórum permanente de cada unidade etc Recorrer à equipe de tutoria sempre que precisar orientação sobre dúvidas quanto a calendário atividades ferramentas do AVA e outros Ter uma rotina que lhe permita estabelecer o ritmo de estudo adequado a suas necessidades como estudante organize o seu tempo Ter consciência de que você deve ser sujeito ativo no processo de sua aprendiza gem contando com a ajuda e colaboração de todos 4 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Objetivo Geral Compreender identificar e analisar o processo histórico de formação dos povos africanos bem como as dinâmicas sociais culturais e políticas deste continente Discutir sua singularidade e seu lugar na História desde o processo de formação da préhistória africana até os movimentos de independência no século XX Analisar de maneira crítica as influências africanas na formação cultural de diversas nações a partir do século XVI SUMÁRIO UNIDADE 1 PRÉHISTÓRIA AFRICANA 12 11 Contextualização da África Berço da humanidade e da civilização 12 12 Préhistória africana Grupamentos de caçadores coletores 16 13 Préhistória africana As culturas agrícolas 20 UNIDADE 2 AS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES AFRICANAS 24 21 A África Nilótica Egito Núbia Kush e Axum 24 22 O Norte da África Dos Berberes aos Árabes 35 23 O Império Cartaginês 37 UNIDADE 3 A ÁFRICA NEGRA PRÉCOLONIAL E A ESCRAVIDÃO 46 31 A África Subsaariana 46 32 Escravidão na África précolonial 60 UNIDADE 4 NEOCOLONIALISMO E MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA DA ÁFRICA SÉCULOS XIX E XX 75 41 O Neocolonialismo e o fim do tráfico de escravos africanos 75 42 Os Movimentos de Independência na África 79 43 Os desafios africanos após os processos de independência 89 REFERÊNCIAS 99 EXERCÍCIOS E ATIVIDADES 104 5 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Avaliação A UCDB Virtual acredita que avaliar é sinônimo de melhorar isto é a finalidade da avaliação é propiciar oportunidades de açãoreflexão que façam com que você possa aprofundar refletir criticamente relacionar ideias etc A UCDB Virtual adota um sistema de avaliação continuada além das provas no final de cada módulo avaliação somativa será considerado também o desempenho do aluno ao longo de cada disciplina avaliação formativa mediante a realização das atividades Todo o processo será avaliado pois a aprendizagem é processual Para que se possa atingir o objetivo da avaliação formativa é necessário que as atividades sejam realizadas criteriosamente atendendo ao que se pede e tentando sempre exemplificar e argumentar procurando relacionar a teoria estudada com a prática As atividades devem ser enviadas dentro do prazo estabelecido no calendário de cada disciplina Critérios para composição da Média Semestral Para compor a Média Semestral da disciplina levase em conta o desempenho atingido na avaliação formativa e na avaliação somativa isto é as notas alcançadas nas diferentes atividades virtuais e nas provas da seguinte forma Somatória das notas recebidas nas atividades virtuais somada à nota da prova dividido por 2 Caso a disciplina possua mais de uma prova será considerada a média entre as provas Média Semestral Somatória Atividades Virtuais Média Provas 2 Assim se um aluno tirar 7 nas atividades e 5 na prova MS 7 5 2 6 Antes do lançamento desta nota final será divulgada a média de cada aluno dando a oportunidade de que os alunos que não tenham atingido média igual ou superior a 70 possam fazer a Recuperação das Atividades Virtuais Se a Média Semestral for igual ou superior a 40 e inferior a 70 o aluno ainda poderá fazer o Exame Final A média entre a nota do Exame Final e a Média Semestral deverá ser igual ou superior a 50 para considerar o aluno aprovado na disciplina Assim se um aluno tirar 6 na Média Semestral e tiver 5 no Exame Final MF 6 5 2 55 Aprovado 6 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 FAÇA O ACOMPANHAMENTO DE SUAS ATIVIDADES O quadro abaixo visa ajudálo a se organizar na realização das atividades Faça seu cronograma e tenha um controle de suas atividades Coloque na segunda coluna o prazo em que deve ser enviada a atividade consulte o calendário disponível no ambiente virtual de aprendizagem Coloque na terceira coluna o dia em que você enviou a atividade AVALIAÇÃO PRAZO DATA DE ENVIO Atividade 11 Ferramenta Tarefa Atividade 21 Ferramenta Tarefa Atividade 31 Ferramenta Tarefa Atividade 41 Ferramenta Tarefa 7 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 BOAS VINDAS Olá seja muito bemvindo a às discussões e estudos da disciplina de História da África Neste módulo vamos discutir sobre a formação histórica das sociedades do Continente Africano de sua formação préhistórica até os processos políticos e econômicos do século XX analisar seus elementos constituintes discutindo de maneira aprofundada a África em suas diferentes fases Também faz parte do objetivo da disciplina compreender a relação entre as culturas africanas europeias e brasileira analisando de forma crítica as transformações econômicas políticas e sociais resultantes destas integrações Espero que esta disciplina possa ajudálo a a compreender inúmeras discussões e desdobramentos sociopolíticos da África no passado e na atualidade e assim juntos possamos caminhar pela história da mãe África que por muito tempo foi renegada Bom estudo Prof Marcelo 8 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Préteste A finalidade deste préteste é fazer um diagnóstico quanto aos conhecimentos prévios que você já tem sobre os assuntos que serão desenvolvidos nesta disciplina Não fique preocupado com a nota pois não será pontuado 1 Assinale a alternativa correta sobre a história das diferentes sociedades africanas até o século XVI a O império Songhai situado às margens do rio Níger teve em sua capital Gao um importante polo mercantil que reunia mercadores oriundos da Líbia do Egito e do Magreb b As sociedades da África equatorial em função das condições geográficas e climáticas pouco propícias eram formadas predominantemente por pastores de animais de pequeno porte sendo praticamente inexistente na região o cultivo de produtos agrícolas c As sociedades de origem Bantu localizadas na região da África meridional entre os séculos XII e XV eram predominantemente nômades e coletoras não organizadas em aldeias e com escasso desenvolvimento tecnológico d A África marcada pela intensa difusão do cristianismo durante as Cruzadas contou entre os séculos XI e XV com reduzida presença de elementos islâmicos na definição das variadas culturas existentes no continente e O estabelecimento da colônia portuguesa em Moçambique no século XVI definiu o início das rotas comerciais ligando a região oriental do continente africano entre Madagascar e o Chifre da África com a Europa e a Ásia 2 Após ser repartida e colonizada por países europeus especialmente a partir da Conferência de Berlim na década de 1880 a África passou no século XX por diferentes processos de independência que deram origem aos territórios da maior parte dos países do continente Esses processos no contexto da Descolonização da África têm como características comuns e principais a O desenvolvimento de teorias raciais de superioridade do homem negro e a criação da Unidade Africana que reuniu as principais lideranças rebeldes do continente e declarou guerra aos Estados Unidos b O apoio da União Soviética que no contexto da polarização política pósSegunda Guerra Mundial incentivou a industrialização e a rápida arrancada de desenvolvimento verificadas nas excolônias europeias na África c A atuação de missionários cristãos e agentes da Organização das Nações Unidas que aliados a agências internacionais de notícias promoveram campanhas de conscientização da opinião pública internacional pelo fim do colonialismo d A crise econômica decorrente do aumento abrupto do valor dos escravos no mercado internacional associada à queda do preço do barril de petróleo principal commodity da pauta de exportações africanas o que levou os europeus a abandonar as colônias e O enfraquecimento econômico e político dos países europeus no pósSegunda Guerra Mundial e o surgimento de movimentos de libertação em diferentes partes do continente africano levando à gradativa perda do controle europeu sobre as colônias na África 9 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 3 Leia as afirmações abaixo sobre a história da África contemporânea I Um milhão de tutsis aproximadamente foram assassinados pelo governo representante da maioria hutu no que foi considerado um dos piores genocídios étnicos do século XX em Ruanda no ano de 1994 II Uma guerra civil devastou Serra Leoa antiga colônia inglesa e um dos principais exportadores de diamantes deslocando mais de dois milhões de refugiados para outros países entre 1991 e 2002 III O recémindependente país do Sudão do Sul perdeu sua autonomia ao ser reincorporado ao Sudão após uma guerra civil em 2015 a Apenas o enunciado I está correto b Apenas o enunciado II está correto c Apenas o enunciado III está correto d Apenas os enunciados I e II estão corretos e Todos os enunciados estão corretos 4 A partir do século XV com o périplo africano a exploração do litoral da África permitiu que os portugueses estabelecessem feitorias e intensificassem suas atividades mercantis Assinale a afirmação correta em relação às atividades comerciais que se desenvolviam no continente africano a partir do século XV a As rotas internas da África só se articularam ao circuito mercantil do Mediterrâneo com a expansão marítima e com a transposição do Cabo das Tormentas b As rotas saarianas haviam sido intensificadas com a expansão islâmica e articularamse ao processo de expansão comercial que envolveu também as rotas asiáticas de especiarias c As rotas africanas do Saara foram interrompidas com o périplo português que ampliou e acelerou o escoamento dos produtos do interior do continente d O comércio interno do continente africano baseavase no tráfico de escravos e no escravismo sistema de exploração e venda de seres humanos criado na África e As atividades mercantis africanas dependiam do trânsito de mercadorias de luxo vindas da Ásia dado que o continente africano não produzia esse tipo de mercadoria 5 Entre os séculos XV e XVI Portugal procurou no continente Africano diferentes produtos para comercializar inicialmente o ouro depois o ser humano pois entendeu o valor dos escravos como mercadoria de alto valor Analise os enunciados a seguir I A tradição de exportar escravos para países árabes era comum em várias partes da África II Aprisionar pessoas para escravidão foi uma prática inexistente na África até a chegada dos europeus III Os portugueses acreditavam que ser escravo era uma possibilidade de salvação porque os negros não eram cristãos IV Para muitos europeus os negros eram descendentes de Ham o que os tornava amaldiçoados à escravidão eterna a Apenas os enunciados I e II estão corretos 10 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 b Apenas os enunciados I III e IV estão corretos c Apenas os enunciados II e III estão corretos d Apenas o enunciado IV está correto 6 A exploração da mão de obra escrava o tráfico negreiro e o imperialismo criaram conflitivas e duradouras relações de aproximação entre os continentes africano e europeu Muitos países da África mesmo depois de terem se tornado independentes continuaram usando a língua dos colonizadores O português por exemplo é língua oficial de a Camarões Angola e África do Sul b Serra Leoa Nigéria e África do Sul c Angola Moçambique e Cabo Verde d Cabo Verde Serra Leoa e Sudão e Camarões Congo e Zimbábue Submeta o préteste por meio da ferramenta Questionário 11 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 INTRODUÇÃO No módulo de História da África será apresentado um panorama das movimentações revoluções e transformações ao longo do processo de formação cultural das diversas sociedades africanas e suas relações com a Europa e América do período pré histórico até os processos de independência do século XIX e XX apresentando de forma crítica os principais eventos e transformações de ordem econômica política e social Neste contexto serão discutidas as seguintes propostas Na Unidade 1 a África como berço da humanidade os fatores fundamentais de formação da civilização africana compreendendo a relação dinâmica entre os aspectos geográficos e históricos a préhistória africana e as primeiras sociedades agrícolas Na Unidade 2 os aspectos relevantes das primeiras civilizações a África Nilótica Egito Núbia Kush e Axum bem como o desenvolvimento dos Berberes Cartagineses e Árabes no norte da África identificando as singularidades e contribuições de cada civilização para a História da humanidade Na Unidade 3 compreender a África Negra précolonial abordando questões referentes à África subsaariana analisando os elementos das diversas culturas dos povos bantus sudaneses iorubas entre outras etnias e sua contribuição para a formação dos reinos e impérios como Ghana Mali Songai Kongo e Monomotapa Analisar os aspectos da relação entre portugueses e africanos bem como o processo de ocupação dos portugueses na África Central entre os séculos XV e XVII e os principais mecanismos utilizados para iniciar o comércio de escravos Na Unidade 4 identificar as características do neocolonialismo na África no final do século XIX e início do século XX compreendendo os métodos de ocupação das potências industriais europeias no continente africano e a dinâmica dos processos de independência na África bem como discutir questões referentes ao racismo no sul do continente e os conflitos étnicos 12 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 UNIDADE 1 PRÉHISTÓRIA AFRICANA OBJETIVO DA UNIDADE Compreender de forma crítica a dinâmica da formação dos primeiros grupamentos no Continente Africano bem como analisar e discutir a singularidade da África enquanto berço da humanidade e seu lugar na História 11 Contextualização da África Berço da Humanidade e da Civilização A História do Continente africano por muito tempo ficou renegada pois ao estudar a África ou se falava apenas do Egito ou da escravidão entretanto é necessário entender o significado da África para a História da Humanidade Há uma divisão clássica entre a pré história e a história da humanidade propriamente dita Nesse sentido atribuímos comumente à invenção da escrita o papel de marco divisor entre os dois períodos Esse entendimento produziu uma série de problemas pois as sociedades sem escrita eram caracterizadas como sociedades sem história Nessa perspectiva todo o universo simbólico as outras formas de linguagem que não a escrita a oralidade por exemplo era desprezado em relação à escrita Fonte httpmigremewHZDe Em vários discursos e obras a África foi taxada como sendo um continente sem história pois não tinha escrita Nessa linha de raciocínio a África estaria mais próxima da natureza do que da cultura Essa visão justificava uma ideologia e uma política de dominação sobre os povos e as riquezas do continente africano principalmente de cunho eurocêntrico No contexto imperialista do século XIX a concepção cientificista europeia relegava a África aos patamares mais baixos dos povos civilizados entre as culturas menos desenvolvidas Fonte httpmigremewHZEv 13 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Num primeiro contato com a África e mesmo a partir da leitura de numerosas obras etnológicas temse a impressão de que os africanos estavam imersos e como que afogados no tempo mítico vasto oceano sem margens nem marcos enquanto os outros povos percorriam a avenida da história imenso eixo balizado pelas etapas do progresso BOUBOU KI ZERBO 2010 p 24 O desenvolvimento da História como disciplina e o diálogo com outros ramos do saber como a Antropologia a Linguística a Arqueologia e outras ciências possibilitou alargar a compreensão da história da África Hoje temos a consciência da riqueza da história e da cultura africanas de seus rituais de sua religiosidade da oralidade da sua arte Para os historiadores da atualidade a inexistência de registros escritos não é empecilho para a constituição de uma história da África A Arqueologia relativizou a importância das fontes escritas e mostrou o valor de todo e qualquer indício material para a História A Antropologia e a Linguística tornaram evidentes a importância da oralidade e de outras formas de linguagem diferentes da escrita A História do século XX também passou por transformações profundas A História deixou de ser a narrativa dos grandes acontecimentos a história dos reis dos governantes e passou a valorizar a experiência e o cotidiano das pessoas comuns seus modos de vida as formas de sociabilidade os detalhes aparentemente sem importância Para nós brasileiros a África tem um significado especial A nossa identidade nacional é impensável sem levarmos em conta a nossa primordial e tripla constituição índios europeus e africanos É inegável que os africanos marcaram a história a cultura e a identidade brasileira ressaltando em nossa constituição étnica e biológica por meio da mestiçagem a pele morena a linguagem as formas de crer de dançar entre outras influências A compreensão da história africana deve levar em conta a discussão de sua constituição geográfica A composição geográfica do continente criou duas Áfricas uma África mediterrânica e outra África negra ou subsaariana sendo o deserto do Saara o elemento divisor do continente A África mediterrânica é caracterizada por territórios que há muitos séculos mantiveram um intercâmbio cultural com os povos mediterrânicos A África mediterrânica é composta pelas regiões do atual Egito Líbia Tunísia Argélia Marrocos A África negra ou subsaariana separada do norte pelo Saara é caracterizada pela diversidade étnica linguística e religiosa Ao sul do Saara entre o Oceano Atlântico e o Índico habitam centenas de tribos sendo que as línguas chegam a ser mais de duas mil e seus panteões de deuses muito diversificados De acordo com Silva 1992 p 7 o que realmente faz da África duas Áfricas é o enorme deserto a estenderse do Atlântico ao Mar Vermelho Segundo Braudel 2004 para a compreensão do mundo 14 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 negro a geografia prevalece sobre a história Os contextos geográficos embora não sejam os únicos a contar são os mais significativos Em suma a África Negra se abriu mal e tardiamente para o mundo exterior Não obstante seria um erro imaginar que suas portas e janelas seriam aferrolhadas ao longo dos séculos A natureza que aqui comanda de maneira imperativa não é entretanto a única a ditar suas ordens a história teve frequentemente a sua palavra a dizer BRAUDEL 2004 p74 É necessário considerar a África como um todo mesmo sabendo que a geografia tende a produzir diferenças culturais MBow apud KIN ZERBO 2010 assinala o fato de durante muito tempo o continente africano quase nunca ser tratado como uma entidade histórica Em contrário enfatizavase tudo o que pudesse reforçar a ideia de uma cisão que teria existido desde sempre entre uma África branca e uma África negra que se ignoravam reciprocamente Apresentavase frequentemente o Saara como um espaço impenetrável que tornaria impossíveis misturas entre etnias e povos bem como trocas de bens crenças hábitos e ideias entre as sociedades constituídas de um lado e de outro do deserto Traçavamse fronteiras intransponíveis entre as civilizações do antigo Egito e da Núbia e aquelas dos povos subsaarianos Certamente a história da África ao norte do Saara esteve antes ligada àquela da bacia mediterrânea muito mais que a história da África subsaariana mas nos dias atuais é amplamente reconhecido que as civilizações do continente africano pela sua variedade linguística e cultural formam em graus variados as vertentes históricas de um conjunto de povos e sociedades unidos por laços seculares Fonte httpmigremewHZPw De acordo com Conceição 2006 durante muito tempo o continente africano era conhecido simplesmente como Líbia Segundo a tradição o nome teria sido atribuído por Heródoto historiador grego do período clássico quando usou o nome de heroínas míticas para designar os três continentes então conhecidos Europa Ásia e Líbia Esse último nome predominou até o século XVI quando foi adotado o de Afriquyia antiga designação árabe que mais tarde foi latinizada para África A hipótese mais provável para o surgimento do nome África é a derivação da palavra Afrig uma tribo berbere do antigo império cartaginês 15 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 O continente africano é um imenso maciço com mais de trinta mil Km² sendo o terceiro maior continente só perdendo em extensão para a Ásia e a América Seus contornos são simples e seu litoral tem poucas ilhas sendo Madagascar São Tomé Príncipe Cabo Verde as Canárias e o arquipélago da Madeira algumas delas O formato triangular do continente africano colocou como limites o Mediterrâneo ao norte Oceano Índico a leste o Atlântico a oeste Atualmente a África é conhecida mundialmente por suas belezas naturais a riqueza da vida selvagem a diversidade de animais de paisagens e singularidades culturais Segundo Conceição 2006 a África é o continente mais quente do mundo com uma temperatura média que ultrapassa os 20C pois quatro quintos da sua área fica entre os trópicos o que corresponde a ocupar 43 de todo o território tropical do planeta A África é também o continente mais árido com 30 dos desertos do planeta Os maiores desertos da África são respectivamente o Saara com uma área que totaliza oito milhões de km² o Namibe e o Kalahari ao sudoeste do continente mais voltado para o Atlântico Segundo Silva 1992 p15 um terço da África pertence aos desertos e aos semidesertos Todavia não se pode afirmar que não há vida nesses desertos em muitos lugares há oasis tamareiras aloés acácias sisal O continente africano também é permeado de norte a sul por algumas falhas tectônicas que podem chegar a 80 km de largura e centenas de metros de profundidade É justamente nessas falhas que se encontram os grandes lagos Vitória com 6911 km² Tanganika com 328 km² e o Malawi com 289 km² Nessas falhas geológicas do continente também está localizada uma grande cadeia montanhosa que vai desde a África do Sul até a Etiópia no leste do continente sendo que os maiores picos são o Kilimanjaro com 5895m de altitude o Kênia com 5211m e o Ruwenzori com 5119m Nessas terras altas há geleiras Entre a parte central e ocidental do continente voltadas para o Atlântico ficam as grandes bacias hidrográficas dos rios Níger Chade CongoZaire Na parte nordeste do continente fica o segundo rio mais longo da terra o Nilo com 6670km de extensão Ao lado do Nilo os maiores rios são o Congo com 4374km o Níger com 4180km e o Zambeze com 2650km Mas de acordo com Silva 1992 não é o Nilo com seus 6670km de extensão o eixo do maior sistema fluvial da África e sim o Zaire ou Congo A bacia do Zaire com 3700000km² só é inferior às do Amazonas e do ParanáParaguai Estendese desde as montanhas e lagos da região das grandes falhas ocidentais até o Atlântico do Bahrel Ghazal no nordeste ao planalto de Angola no sul 16 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Ainda de acordo com Silva 1992 a vegetação do continente segue os diferentes climas São três os tipos de vegetações mais comuns as florestas equatoriais as savanas e os desertos As florestas equatoriais ocupam as regiões de baixa latitude principalmente na parte centroocidental do continente Nesses espaços o clima é úmido e quente e as árvores podem chegar a uma estatura de até 60 metros Já as savanas são características do clima tropical nelas há pequenas árvores e uma abundante vegetação rasteira As savanas são a morada dos grandes mamíferos africanos o búfalo os vários tipos de antílopes o elefante o rinoceronte o hipopótamo a zebra a girafa o leão o leopardo o guepardo a hiena os numerosos símios São também diversificadas as espécies de aves ressaltandose o avestruz a cegonha o flamingo o pelicano a águia pesqueira Em nenhum outro continente há tantas espécies de grandes animais e em tão considerável número Os desertos não são totalmente desprovidos de vida a vegetação não é permanente mas depois das chuvas há o surgimento de alguma vegetação rasteira O clima é de altas temperaturas durante o dia e muito baixas à noite O Saara foi a grande barreira entre a África negra e o Mediterrâneo Por outro lado o Rio Nilo que poderia servir de elo com o interior do continente não conseguiu minimizar o isolamento da África negra pois suas grandes cataratas dificultam a navegação Fonte httpmigremewHZUs 12 PréHistória Africana Grupamentos de Caçadores Coletores Ao estudar a préhistória africana é necessário compreender que a divisão clássica da História tomando como elemento caracterizador a escrita não pode ser considerado plenamente no contexto africano se assim fosse alguns territórios africanos ainda estariam na préhistória e outros há pouquíssimo tempo teriam saído dessa condição Em muitas sociedades africanas não há testemunhos escritos e muitos grupos ainda preferem viver como coletores e caçadores mesmo convivendo ao lado de grupos agrícolas e sedentários 17 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 não podendo ser classificados como préhistóricos Os estudos sobre a África são muito recentes a maioria das explorações arqueológicas no continente só se iniciou a partir do século XIX e ganharam mais relevância no século XX Segundo Silva 1992 o Australopithecus viveu há cerca de 3 ou 4 milhões de anos na África Oriental era caçador e coletor bípede não media mais que 120 m de altura e pesava cerca de 30 quilos É bem provável que fossem vegetarianos e que não fabricassem instrumentos de pedra mas que utilizassem apenas as que já se encontravam na natureza Antes de ser extinto deu origem ao gênero homo Fonte httpmigremewHZWJ O Homo Habilis é o primeiro do gênero homo Surgiu há cerca de 2 milhões de anos e tinha a habilidade de fabricar instrumentos a carne já fazia parte de sua alimentação por isso precisava de instrumentos para caçar e rasgar a pele dos animais O Homo Habilis já fabricava fragmentos de pedras para a utilização na caça cultura da pedra lascada O Homo Erectus viveu há cerca de 13 milhão de anos por sua postura ereta e estrutura esquelética é o que mais se aproxima do homem atual Vivia em grupos e tinha o domínio do fogo É possível que tenha sido contemporâneo do Australopithecus e que esse tenha sido extinto devido aos sucessivos combates e perseguições do Homo Erectus Foi hábil caçador e colhedor viveu na África central e oriental fabricava utensílios de pedra lascada sendo os mais conhecidos os bifaces ou machados de mão O Homo Erectus foi responsável pelo uso de fragmentos de pedra polidos Fonte httpmigremewJ9la O Homo Sapienssapiens é último do gênero homo do qual descendemos Esse hominídeo surgiu há cerca de 200 mil anos desenvolveu capacidades artísticas dominou a escrita e tornouse sedentário Ao que tudo indica o homem moderno expandiuse a partir das áreas próximas ao lago Turcana e ao lago Vitória para o resto do continente O Homo sapiens é responsável pelo refinamento da fabricação de ferramentas de pedra na 18 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 África A fim de poder ocupar os terrenos fortemente arborizados o homem armouse de instrumentos especiais de pedra Certamente os acidentes e as depressões geológicas foram fatores importantes para a conservação de fósseis em determinados locais A região da África Oriental é a parte do continente que mais conserva fósseis inclusive registros do período do Mioceno vinte e cinco milhões de anos Foi nesse ponto que o primeiro Australopithecus foi encontrado É como se há 6 ou 7 milhões de anos nascesse no quadrante sudeste do continente africano um grupo de hominídeos denominados australopitecíneos e emergisse desse grupo polimorfo um ser ainda Australopithecus ou já Homem capaz de trabalhar a pedra e o osso construir cabanas e viver em pequenos grupos representando através de todas as suas manifestações a origem propriamente dita da humanidade criadora do Homo Faber O último milhão de anos viu nascer o Homo Sapiens e assistiu durante os últimos séculos à sua alarmante proliferação GIORDANI 1985 p 61 Ao que tudo indica a África Oriental é o berço da humanidade Foi nessa região que há cerca de três milhões de anos surgiu um animal de postura ereta e que fabricava utensílios Segundo Sutton 2010 foi essa associação de capacidades físicas e mentais que causou a superação da condição biológica do Homem propiciando o desenvolvimento das características culturais que distinguem o homem dos outros animais e definem a humanidade De acordo com Sutton 2010 os primeiros fósseis humanos da África Oriental e os mais antigos da humanidade foram encontrados em Olduvai norte da Tanzânia e nas regiões do lago Turkana norte do Quênia e sul da Etiópia É bem provável que os primeiros instrumentos fabricados pelos africanos orientais fossem de pedras mas não se descarta a fabricação de utensílios de couro madeira ossos dos quais não temos vestígios Os instrumentos mais antigos datados de 2 ou 3 milhões de anos eram lascas de quartzo e foram encontrados junto ao Rift Valley no norte da Tanzânia no Quênia e na Etiópia Junto às lascas de quartzo havia também os fragmentos de pedras provavelmente utilizados para confeccionar instrumentos para cortar a pele de animais ou mesmo triturar sementes e vegetais mais sólidos As populações da África Oriental eram basicamente bandos de caçadores e coletores que se deslocavam por diferentes regiões procurando alimentos mas se concentravam na maioria das vezes em margens de rios ou lagos por causa da abundância de animais e recursos para a subsistência É nesse período que foram encontrados os primeiros vestígios da utilização do fogo O domínio do fogo segundo Sutton 2010 teria ocorrido há pelo menos 50 mil anos e o Homo erectus teria sido um dos primeiros usuários em sua tarefa de cozimento de alimentos 19 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Nesse mesmo período ocorre um crescimento demográfico significativo a ocupação de novos territórios e o desenvolvimento das técnicas de caça de animais de grande porte Esta fase é marcada pela sofisticação da fabricação lítica Havia uma gama variada de instrumentos de caça com a utilização do sílex obsidiana e quartzo Foi nesse período também que provavelmente iniciouse a utilização do arco e da flecha nas atividades de caça Nesse contexto também é possível perceber uma regularidade nas habitações geralmente debaixo de rochas onde houvesse proteção da chuva e do vento Nesses locais é possível encontrar vestígios de fogo restos de alimentos e pinturas rupestres Segundo Giordani 1985 os mais antigos conjuntos sulafricanos de utensílios foram encontrados em duas jazidas perto de Vereeniging bifaces pontiagudos machadinhas poliedros seixos lascados e vários outros utensílios Tais instrumentos talvez tenham sido produzidos por populações de homo erectus mas ainda não se pode afirmar com segurança pois não foram encontrados fósseis de tal hominídeo na região Fonte httpmigremewJ9mg Nos diversos sítios arqueológicos também foram encontrados vestígios de utilização do fogo Assim como os africanos orientais os do sul também preferiam habitar regiões próximas aos rios e lagos onde havia abundância de caça A fartura de caça na região sul da África também possibilitou uma estabilidade nas habitações de cavernas e certo crescimento demográfico Prova disso são as inúmeras inscrições rupestres Nas regiões muito favoráveis do sul da África os caçadores coletores ocuparam algumas das áreas mais ricas do mundo em recursos alimentares vegetais e animais Fonte httpmigremewJ9mJ Esses povos coletores e caçadores de acordo com Noten 2010 foram sucedidos por populações de agricultores e que dominavam a metalurgia São escassas as informações que possuímos sobre a préhistória da África Central As pesquisas arqueológicas na bacia do Rio CongoZaire só recentemente começaram a ser efetuadas A imensa floresta levou os 20 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 pesquisadores a acreditar que não havia povoamento préhistórico na região Todavia em toda a bacia do CongoZaire é possível encontrar vestígios da produção préhistórica Ao que tudo indica houve uma elaborada fabricação de machados de lasca que teria sido transmitida da África para a Europa Inclusive entre os arqueólogos convencionouse chamar o complexo cultural préhistórico dessa região de Musteriense que vai desde o norte da África até a Península Ibérica França e Itália 13 PréHistória Africana As culturas agrícolas Entre cem e setenta mil anos o homem começa a abandonar as margens dos rios e lagos e passa a habitar cavernas Há indícios de que tenha aprendido a transportar e armazenar água utilizar o fogo para cozer alimentos e talvez alguns grupos tenham passado a utilizar o sal Nesse período há evidências de que muitos grupos migravam sazonalmente no inverno ficavam no litoral e no verão nas montanhas Mas a mudança cultural mais relevante da préhistória é a chamada Revolução Neolítica ou seja a descoberta da agricultura e a domesticação de animais Esse processo iniciouse há cerca de 10000 aC na Mesopotâmia e foi fundamental para a sedentarização do homem É essencial todavia compreender as implicações das invenções agrícolas e pastoris assim como do cultivo de plantas e domesticação de animais O homem passou da apropriação de alimentos coleta caça à produção cultivo criação Desse modo progressiva e parcialmente o homem se liberou das imposições dos ecossistemas a que pertencia PORTÈRES BARRAU 2010 p 783 O domínio da agricultura e a domesticação de animais de acordo com Shaw 2010 promoveu a estabilidade social das populações de caçadores e coletores Nesse período o excedente de alimentos tornou possível um aumento demográfico e o afastamento definitivo da ameaça de extinção das comunidades Acreditase que a Revolução Neolítica não ocorreu em apenas uma região do mundo e depois se espalhou mas em vários pontos distintos por exemplo na Europa em parte da Ásia e na África mediterrânica o foco mais importante do desenvolvimento da agricultura se encontra na região montanhosa da Anatólia que se estende do Irã ao norte do Iraque Nessa região se desenvolveram a cultura do trigo e da cevada e a domesticação da ovelha da cabra e dos bovinos Segundo Portères e Barrau 2010 p 782 durante muito tempo as ideias sobre as origens da agricultura foram fortemente influenciadas pelo etnocentrismo A tendência era e ainda é por vezes a de considerar o berço agrícola e pastoril do Oriente Próximo sede da revolução neolítica Mas as pesquisas arqueológicas das últimas décadas vêm alterando 21 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 esse entendimento há um reconhecimento da importância de outras regiões como a América e a África para a história das práticas agrícolas Na África a domesticação de animais e a introdução da agricultura não substituíram a caça e a pesca É bem provável que tais atividades continuassem a ser praticadas paralelamente A passagem para uma economia de produção teria sido gradativa Não se pode datar com precisão o momento inicial da agricultura na África mas é bem provável que tenha ocorrido entre 9000 a 5000 anos aC Outro ponto a considerar é que embora a produção de alimentos e a domesticação de animais estejam associadas à formação de núcleos urbanos na África isso na maioria das vezes não ocorreu O primeiro local onde foram introduzidas as práticas agrícolas foram os vales dos rios Tigre Eufrates e Nilo No Rio Nilo havia uma sofisticada técnica de drenagem e irrigação É provável que a agricultura só tenha chegado ao delta do Nilo por volta de 5000 aC A partir do quinto milênio ovinos e bovinos foram domesticados no Egito onde também se cultivaram cereais Atualmente temos provas de que o gado domesticado já existia anteriormente nas terras altas saarianas e temos indicações embora insuficientes do cultivo de cereais SHAW 2010 p 707 Embora no fim do quinto milênio aC predominasse a caça a pesca e a coleta nas regiões do Egito aos poucos começam a ser cultivados a cevada o trigo e o linho No quarto milênio temos indícios de produção de alimentos no sul da Núbia e de pastoreio de bovinos com cabras e ovelhas em Kadero à margem direita do Nilo O trigo a cevada e o linho demoraram para ser introduzidos no interior do continente pois não se adaptavam às condições climáticas da região tropical Na região da Etiópia já predominava um outro tipo de cultura baseada no cultivo do tef da ensete e do níger Fonte httpmigremewJ9nj O tef é um cereal de grãos pequeninos mas muito nutritivos Com eles preparase um pão o enjera de bom sabor A ensete quase uma monocultura em certas regiões do sul da Etiópia parece a bananeira mas dela não se comem os frutos de escassa polpa e sementes grandes e sim o falso caule e os brotos novos Estes são cozidos como legumes aquele após ser enterrado para fermentar seco e pilado transformase numa papa ou é assado qual um pão Já o niger ou noog produz óleo comestível É planta corriqueira nas terras abissínias cultivada em pequena escala em outros países africanos e na Índia SILVA 1992 p 65 22 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Conforme Portères e Barrau 2010 foram três os grandes núcleos de desenvolvimento da agricultura na África O primeiro compreendia a região mediterrânica com áreas que iam do Egito ao Marrocos e que receberam influência direta da cultura agrícola e pastoril do Oriente Próximo O segundo abrangia as regiões das savanas e estepes nas margens das grandes florestas tropicais Nesses locais desenvolveramse as culturas dos cereais destacandose o sorgo e o milhete Finalmente o terceiro núcleo agrícola estava localizado no interior da floresta e em suas margens caracterizado por uma horticultura associada à coleta O fato de que a coleta e a caça permaneceram por muito tempo em algumas regiões da África como fontes de subsistência não significa um atraso mas é resultado da abundância e diversidade dos recursos naturais que permitiram ao homem viver sem muito esforço nos diversos ecossistemas sem ter necessariamente de transformálos Segundo Silva 1992 um dos primeiros produtos agrícolas cultivados na África foi o inhame É bem possível que esse tubérculo seja datado de mais ou menos 5000 anos Os milhetes também teriam sido domesticados em múltiplos centros de cultivo na região subsaariana entre 3000 e 2000 aC o sorgo também é outro produto tipicamente africano não há dúvidas de que se originou no interior do continente teria sido domesticado na faixa que vai da Nigéria à Etiópia Ocidental Fonte httpmigremewJ9oz Portères e Barrau 2010 p797 afirmam que a África ainda originou outros cereais importantes dentre eles o arroz Por muito tempo acreditouse que a rizicultura na África tivesse por origem o arroz asiático mas as pesquisas arqueológicas provam que nas regiões do Níger surgiu um arroz especificamente africano Ainda nas regiões abaixo do Saara muitas plantas foram domesticadas como a melancia a batatahauçá a ervilhade vaca o dendê o inhame o quiabo entre outros Na região das savanas e nas grandes florestas os africanos aprenderam a praticar a coivara e o plantio Com o passar do tempo aprenderam a técnica da semeadura e as estações apropriadas para empregála É importante salientar que a história da agricultura e do pastoreio na África guarda uma relação muito próxima e recíproca com as culturas asiáticas e do Oriente Próximo Sabese 23 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 que a África recebeu do Oriente Próximo variedades de trigo e cevada o boi o carneiro a cabra o cão e o porco À Ásia forneceu vegetais como o sorgo inhame arroz e desse continente recebeu bananeiras e canadeaçúcar Segundo Silva 1992 vários animais foram domesticados na África No Egito houve a domesticação do jumento de onde esse animal era nativo na África subsaariana a galinhadangola Há indícios de que o elefante também tenha sido domesticado em algum tempo em Méroe Todavia as práticas agrícolas se disseminaram muito lentamente pelo continente Houve bastante resistência por parte dos caçadores e dos pescadores pois em todas as regiões havia abundância de animais e peixes Não havia motivos para trocar os hábitos da pesca e da caça pela agricultura que sempre enfrentava a instabilidade do clima e as diversas pragas que atacavam as colheitas Talvez por isso ainda nos dias atuais existam grupos de caçadores que resistem às mudanças mesmo convivendo ao lado de grupos de agricultores Antes de continuar seu estudo realize o Exercício 1 e a Atividade 11 Dicas de aprofundamento KIZERBO Joseph Metodologia e PréHistória da África Disponível em httpportaldoprofessormecgovbrstoragemateriais0000015104pdf Acesso em 01 jun 2019 Assista ao documentário Os Reinos perdidos da África Disponível em httpswwwyoutubecomwatchvMtdQ1CGEQ84 Acesso em 01 jun 2019 24 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 UNIDADE 2 AS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES AFRICANAS OBJETIVO DA UNIDADE Compreender a civilização egípcia como parte da história africana Analisar a formação dos reinos na região da Núbia Kush e Axum bem como a constituição e importância histórica da região do Magrebe e a ocupação territorial dos diversos povos constituintes das civilizações africanas e suas trocas culturais 21 A África Nilótica Egito Núbia Kush e Axum Fonte httpmigremewJ9EJ 211 O Egito Antigo Conforme Pinsky 2006 a civilização egípcia é uma das mais importantes do mundo antigo A capacidade criativa administrativa e de organização social são fatores que impressionam ao estudar o Egito antigo Por muito tempo a história do Egito antigo esteve associada à história do Oriente Próximo das civilizações do chamado Crescente Fértil mas atualmente passouse a reconhecer o profundo intercâmbio cultural e econômico entre o 25 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Egito e o restante do continente africano Ao observar o mapa do Egito podese identificar duas grandes regiões o delta e o vale O vale acompanha o rio por cerca de 1000 km e por uma estreita faixa de cerca de 10 km de terras cultiváveis O delta é uma espécie de triângulo de 200 km de cada lado possui uma rica vegetação água em abundância e é densamente povoado Tradicionalmente a história do Egito Antigo é dividida em sete grandes períodos o Dinástico primitivo Reino antigo Primeiro Período intermediário Reino Médio Segundo Período intermediário Reino Novo e Terceiro período intermediário Os períodos intermediários que dividem os grandes impérios são caracterizados por momentos de instabilidade política contextos em que os faraós tiveram que dividir poder com mandatários estrangeiros ou mesmo ver a unidade do reino enfraquecida e consequentemente fragmentada através de diversas lideranças políticas Já os reinos antigo médio e novo são períodos de estabilidade e unidade política Esses períodos são marcados pela sucessão de diversas dinastias num total que chegou a trinta e uma no período que vai de aproximadamente 3000 até 332 aC Fonte httpmigremewJ9Gi A noção de dinastia de acordo com Aldred 1965 é algo muito particular da história egípcia De modo geral dinastias são longos períodos históricos em que o poder político esteve concentrado em pessoas de uma mesma linhagem familiar Dessa forma o processo de sucessão política ocorria quando o pai passava o poder a um herdeiro legítimo que não era necessariamente o primogênito fazendo com que houvesse um continuísmo político O Estado faraônico mantevese por quase 3000 anos desde 3100 a C até o ano de 332 a C quando foi derrotado pelos macedônios Durante esses 3000 anos de prosperidade econômica e crescimento demográfico do Egito o restante da África ainda vivia em pequenas comunidades muitas delas vivendo da pesca e da coleta Nessa época o Egito teria cerca da metade da população do continente africano A história do Egito é geralmente apresentada a partir da unificação do Estado faraônico por volta de 3200 a C que antes estava dividido em Alto e Baixo Egito Embora houvesse muitas diferenças entre o Alto e Baixo Egito ambas as regiões partilhavam uma língua comum e a mesma cultura material e espiritual 26 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 As várias aldeias do Alto e do Baixo Egito que existiam nas margens do Rio Nilo teriam sido unificadas por Menés o primeiro faraó No Egito antigo havia uma enorme preocupação com a unidade do reino pois qualquer divisão prejudicava a exploração da natureza as colheitas e também a construção obras hidráulicas monumentos templos e pirâmides No Egito antigo a pessoa do faraó era vista com distinção O faraó não era apenas um herdeiro dos deuses era a expressão do próprio deus o símbolo vivo da divindade caracterizando assim uma teocracia Menés teria sido primeiro faraó do Egito através dele teria se formado primeira dinastia e graças a ele o Egito teria conhecido a agricultura o artesanato e a escrita Segundo Aldred 1965 a importância simbólica do faraó era tão relevante que a própria capacidade produtiva do Egito era atribuída a ele Era graças ao faraó que havia boas colheitas e o Reino continuava triunfante em meio ao deserto que o rodeava O Egito ostentava unidade nacional sob a chefia de uma divindade Porque o faraó é o exemplo clássico de um deus encarnado num rei ALDRED 1965 p 49 No Egito o período histórico entre quarto e o terceiro milênio antes de Cristo é marcado por uma série de mudanças É nesse contexto que surgem o calendário a escrita hieroglífica a engenharia hidráulica Esta última particularmente revolucionou a agricultura do período pois permitiu aos egípcios observar os períodos de transbordamento do Nilo e utilizar esse conhecimento para implantar técnicas de irrigação do solo A agricultura é um dos primeiros pontos divergentes da história egípcia Segundo a historiografia tradicional a agricultura foi introduzida no Egito a partir de povos vindos do Oriente das civilizações do Crescente Fértil principalmente as mesopotâmicas onde já eram conhecidas as técnicas de irrigação a metalurgia a escrita como no caso na escrita cuneiforme suméria Por outro lado há especialistas que afirmam a especificidade africana da agricultura egípcia ou seja o desenvolvimento da agricultura teria ocorrido de forma autônoma no continente africano A cada ciclo de tempo a partir de meados de julho uma enchente acontecia Durante umas doze luas de julho a setembro ficava tudo inundado Dava tempo para que os nutrientes orgânicos que vinham junto com as águas se fixassem no solo Depois disso o rio voltava ao seu leito normal e não chovia mais O grão era semeado onde ficava mais úmido na beira de pequenas poças que se formavam nas reentrâncias naturais do terreno DOBERSTEIN 2010 p 27 O Rio Nilo não era apenas a principal via de transporte era a espinha dorsal do Reino egípcio aquilo que tornou possível a chamada Revolução Agrícola Segundo Oliver 1994 todos os anos a região entre as cataratas e o delta cerca de 31000 Km² era submersa pelas águas do Nilo Dessa forma o Egito se tornou uma das primeiras civilizações africanas a estocar alimentos e a criar toda uma estrutura administrativa e 27 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 estatal É bem possível que a revolução agrícola do Egito seja um dos principais fatores da centralização política e da própria formação do estado O Rio Nilo segundo o historiador grego Heródoto o Egito é uma dádiva do Nilo Entretanto embora o Nilo fosse fundamental para a vida do Egito não se pode atribuir à natureza ou ao meio ambiente o papel determinante na história cultural de um determinado povo A importância do Rio Nilo é inegável mas não se deve esquecer a capacidade criativa e de organização dos egípcios De acordo com Brissaud 1978 foi graças ao desenvolvimento de importantes técnicas de irrigação e do conhecimento dos ciclos das inundações que os egípcios conseguiram dominar o rio e garantir a produção de alimentos Os camponeses do Vale do Nilo do Delta à Alta Núbia tinham constantemente necessidade de água assim construíam e mantinham diques e canais de irrigação Fonte httpmigremewI1hy Era necessário dominar a inundação drenar os canais construir diques proteger habitações o que explica por que as tribos nômades do neolítico egípcio e núbio se tornaram sedentários Os homens tiveram que se agrupar muito cedo em aldeias e aí fazer funcionar uma organização adaptada às suas necessidades Conforme Cardoso 1992 o desenvolvimento tecnológico da cultura material do Reino Antigo atingiu seu apogeu entre os anos 2600 e 2500 aC durante a IV Dinastia O símbolo desse período de prosperidade foi a construção das três grandes pirâmides de Gizé Queóps Quéfren e Miquerinos As pirâmides eram o símbolo da capacidade criadora do homem da capacidade de dominar a natureza O Egito rodeado por desertos mostrou através da construção das pirâmides a capacidade de congregar todos os súditos em objetivos do estado trabalhando em um modelo de servidão coletiva Fonte httpmigremewJ9Lp 28 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 O Antigo Reino entrou em decadência a partir dos anos 2180 aC quando surgiram várias dinastias paralelas Este é o chamado 1º Período intermediário que dura cerca de 180 anos indo até o ano 1990 aC Depois desse período de instabilidade política o Egito é reunificado e iniciase o Reino Médio No período anterior a Núbia havia se fortalecido e bloqueado a passagem para o sul da África No Reino Médio o Egito volta a dominar o corredor núbio e suas riquezas minerais Não interessava mais ao Egito somente explorar o comércio de marfim e peles de leopardo do sul da Núbia O interesse maior nesse período eram as minas de ouro existentes na Núbia O Reino Médio terminou por volta de 1750 aC com a invasão dos hicsos tribos asiáticas vindas do norte Esse é o Segundo Período Intermediário também chamado de a grande humilhação pois os hicsos impuseram um domínio sobre todo o Delta do Nilo inclusive instalando um novo faraó no sul em Tebas O poder militar dos hicsos era bastante superior introduziram os carros de guerra guerreiros com armaduras e o cavalo nos combates O início do Novo Reino principia com a expulsão definitiva dos hicsos Esse é o período de maior prosperidade da história do Egito antigo o qual foi de acordo com Cardoso 1992 p60 auge da riqueza e do refinamento da civilização faraônica No Egito antigo de acordo com Cardoso 1992 os camponeses eram chamados de félas Eram eles que dominavam as técnicas agrícolas às margens do rio Todavia esses camponeses não tinham domínio sobre a sua produção sobre o resultado de seu trabalho Os félas eram absorvidos pela estrutura de poder do Reino egípcio temiam as lanças dos soldados as maldições dos sacerdotes e os impostos arrecadados pelos escribas Em suma eram eles que mantinham a enorme estrutura do Egito faraônico 212 Os reinos da Núbia e Kush De acordo com Silva 1992 a história da Núbia é profundamente marcada pela história do Egito A região situase na parte sul do Rio Nilo entre o atual Egito e o Sudão na região que vai desde a primeira catarata próxima à cidade de Assuã até as proximidades da cidade de Cartum entre os rios Nilo Branco e Nilo Azul Historicamente a Núbia foi com espaço intermediário entre a África mediterrânica e África negra Fonte httpmigremewImoK 29 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 As primeiras evidências do desenvolvimento cultural da Núbia datam do fim do IV milênio antes de Cristo sendo a cultura Núbia contemporânea da I Dinastia egípcia Nesse período há vestígios de uma indústria de metais bastante elaborada principalmente de instrumentos de ouro e cobre Inclusive o próprio nome Núbia na escrita hieroglífica nub quer dizer terra do ouro Os costumes funerários eram bem singulares Nas sepulturas o corpo era envolvido em couro animal deitado do lado direito e em posição contraída e ao seu lado haviam numerosos objetos cerâmica egípcia tecidos de linho amuletos penas de avestruz machados utensílios de cobre colares de concha braceletes de ossos imagens femininas em argila e bumerangues em madeira O intercâmbio entre a Núbia e o Egito num primeiro momento parece facilitado pela localização geográfica mas ao analisar com cuidado a principal via de acesso entre as regiões o rio Nilo é possível perceber que as cataratas dificultavam muito a navegação Todavia muitas cerâmicas e artefatos de cobre egípcios foram encontrados na região da Núbia e muitos artefatos produzidos com marfim e obsidiana da Núbia foram encontrados no Egito Segundo evidências arqueológicas entre 7000 e 3000 a C a cultura material cerâmicas práticas funerárias instrumentos de pedra e bronze parece ter sido comum entre o Egito e a Núbia No Egito conforme Silva 1992 a escrita surgiu por volta de 3200 a C a partir de um processo de descentralização política e econômica Enquanto que na Núbia as comunidades permaneciam fragmentadas e predominava a tradição oral Com o passar dos anos as duas sociedades seriam complementares uma à outra É nesse período que o Egito da I Dinastia invade a Baixa Núbia Norte e ocupa o território núbio até a Segunda Catarata Segundo Sherif 2010 desde os primeiros tempos os antigos egípcios eram fascinados pela Núbia devido a suas riquezas em ouro incenso marfim ébano óleos pedras semipreciosas e outras mercadorias de luxo Por isso eles sempre procuraram obter o controle do comércio e dos recursos econômicos desse país Assim a história da Núbia é quase inseparável da do Egito Entre 3100 e 2500 a C os egípcios empreenderam pelo menos cinco campanhas militares na Núbia Mas a verdadeira conquista da Núbia pelos egípcios ocorreu no reinado do faraó Snefru fundador da IV dinastia Nessa ocasião a campanha militar teria feito 7 mil prisioneiros e 200000 cabeças de gado Desse período em diante a Núbia se rendeu e aceitou a dominação egípcia O Egito reconheceu a enorme potencialidade da Núbia para seu próprio progresso econômico e enquanto rota comercial com o sul da África Dessa forma após a conquista seguiuse um período de relativa paz A Núbia foi dividida em várias regiões e governada por monarcas independentes 30 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Em conformidade com Silva 1992 nesse período são construídos cerca de 17 fortes na região da segunda catarata do Nilo Os fortes tinham vários objetivos era necessário manter a dominação sobre a população garantir as rotas comerciais com o sul da África e o mais importante garantir a segurança do Reino egípcio dos ataques de um poderoso reino que surgia no sul o Reino de Kush Após o colapso do Reino Médio egípcio com a invasão dos hicsos a população nativa da Núbia invade saqueia e queima os fortes egípcios A Núbia recuperava novamente sua autonomia De acordo com Oliver 1994 com a recuperação da autonomia na Núbia houve a reorganização política da região Nesse momento começa a se fortalecer o Reino Kush a palavra kush apareceu pela primeira vez num texto egípcio há cerca de 2000 aC esse era um reino abaixo da cidade de Semna A cidade de Kerma era a mais importante do reino kushita ficava a cerca de 16 km ao sul da Terceira Catarata e entre 2000 e 1500 a C pode ter sido a maior cidade da Núbia é uma região isolada do Nilo e altamente fértil e foi um dos lugares ideais para um povoamento autônomo e para a formação de um Estado A riqueza do solo não só permitiu o desenvolvimento agrícola mas também a criação de gado em larga escala Kerma também era um ponto estratégico seu domínio permitia o controle de todas as transações econômicas entre o Egito e o restante da África através do Nilo Kerma era a capital do Reino Kush Esse reino foi um tradicional inimigo do Egito no período do Reino Médio Durante o século em que os hicsos dominaram o Egito ocupando toda a região do Delta do Nilo e formando a 15ª e 16ª dinastias os kushitas estabeleceram relações comerciais e diplomáticas com os soberanos hicsos e o faraó de Tebas O maior desenvolvimento da cidade de Kerma é registrado durante a época do Segundo Período Intermediário 1730 e 1580 a C da história egípcia Nesse período por volta de 1750 a C Kerma dominou as fortalezas construídas pelo Egito ao sul do Nilo O Egito estava dividido ao norte havia um faraó hicso em Ávaris e ao sul um faraó egípcio em Tebas O reinado do faraó de Tebas que ainda sobrevivia enfraquecido estabeleceu um intercâmbio comercial bastante lucrativo com o Reino de Kush Muitos artesãos egípcios foram recrutados para trabalhar em Kerma e ensinar as técnicas egípcias aos kushitas Nesse período Kerma também adotou a escrita hieroglífica egípcia o que ajudou a centralizar a administração unificar a legislação e consolidar seu domínio sobre um território ainda maior Com o passar dos anos o faraó tebano Camósis começou a reestruturar seu reino que estava espremido entre o faraó hicso e o rei de Kush Tebas avançou sobre os hicsos e voltou a dominar o Delta Os hicsos ainda tentaram pedir auxílio a Kush para deter o faraó tebano oferecendo a divisão do território que seria conquistado mas não obteve sucesso 31 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Os egípcios expulsaram os hicsos O reino de Kush que abrangia toda a Núbia ao sul de Assuã foi retomado durante a XVIII dinastia egípcia depois da expulsão dos hicsos Toda a Núbia foi reorganizada segundo padrões puramente egípcios e montouse um sistema administrativo totalmente egípcio que requeria a presença de um número considerável de escribas sacerdotes soldados e artesãos Como já se mencionou a política oficial era a de assegurar a lealdade e o apoio dos chefes nativos Seus filhos eram educados na corte real do Egito onde escutavam a fala dos egípcios do séquito do rei o que os fazia esquecer sua própria língua Desse modo eles eram fortemente egipcianizados e isso naturalmente ajudou a garantir a lealdade dos príncipes núbios para com o Egito e a cultura egípcia SHERIF 2010 p 269 Segundo Costa e Silva 1994 somente em três anos do reinado do faraó Tutemósis III o Egito teria recebido mais de 700 quilos de ouro de toda a Núbia Essa cifra ainda é acrescida de tantos outros produtos como marfim ovos e plumas de avestruz peles de animais gado diversos tipos de minerais granito turquesas e ametistas Toda a Núbia e principalmente Kerma havia se tornado uma importante colônia egípcia a ponto de o faraó estabelecer o vicerei de Kush na alta Núbia 213 Napata e Méroe A partir do século XI aC de acordo com Costa e Silva 1994 o poder do Egito começa a enfraquecer novamente é o início do Terceiro Período Intermediário Ao sul de Kerma próximo à Quarta Catarata durante a XVIII dinastia egípcia começa a surgir um importante centro político é a cidade de Napata hoje atual Merowe A partir de Napata foi possível estabelecer um importante reino independente no sul da Núbia Fonte httpmigremewJ9Rh O reino cresceu a ponto de conquistar todo o sul do Egito até a cidade de Tebas um importante centro religioso onde se cultuava o deus Amon Além de ser um importante centro administrativo e econômico era um ponto de encontro de várias caravanas de comerciantes A cidade de Napata através do prestigiado templo de 32 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Amon construído sob a montanha sagrada de Jebel Barcal foi ainda mais importante como centro religioso Um dos primeiros reis de que se tem notícia em Napata é Cachita que conquistou a cidade de Tebas mas não quis adotar o título de faraó Quando Tebas viuse novamente ameaçada por um príncipe líbio que tentava reunificar o Egito chamou o filho de Cachita Peíe para protegêla Peíe não apenas afastou a ameaça de Tebas como também conquistou todas as cidades importantes do Egito até o Delta mas não quis ficar estabelecido em Tebas Voltou para Napata como faráo do Egito O mesmo não aconteceu como seu irmão Xabaca Ele reclamou para si o direito de ser faraó de todo o Egito dessa forma tornouse senhor de todo o vale do Nilo até o Delta Era a famosa 25ª dinastia do Egito ou a dinastia etíope O último rei de Napata a governar o Egito foi Tenutamon em seu governo segundo Silva 1994 os assírios invadiram o Egito e conquistaram todo o território fazendoo retornar para Napata no ano de 653 a C Ao sul de Napata há cerca de 300 anos a C a cidade de Meroé surgia como uma terceira capital do Reino Kush se considerarmos Kerma a primeira e Napata a segunda Méroe também foi chamada de ilha de Méroe pois ficava na confluência de três rios o Nilo Azul o Nilo Branco e o Rio Atbara Tudo indica que a transferência da capital para Méroe se deu por questões climáticas Méroe estava numa região extremamente fértil e Napata em uma região rodeada por desertos Mas há outra explicação bastante plausível para o fato Como a cidade de Napata estava localizada numa grande curva do Rio Nilo aos poucos acabou se isolando das rotas comerciais Com a intensificação do comércio entre o Vale do Nilo e a região da sexta catarata surgiu a chamada Rota de Korosco que ligava a cidade de Korosco entre a primeira e segunda catarata e a cidade de Abu Hamed entre a quarta e a quinta catarata A cidade de Napata ficaria apenas como um importante centro religioso No século VIII a C Méroe já era uma cidade habitada Mas foi no período posterior ao reinado de Peíe em Napata que Méroe de uma simples aldeia viria a se tornar a maior cidade de toda a Núbia Méroe estava num ponto extremamente estratégico por ela passavam todas as caravanas de comerciantes com destino ao Delta do Nilo como também aqueles que se destinavam ao Mar Vermelho e também aqueles com rotas para Darfur ou Cordofã em direção ao sul da África Por esta razão Méroe recebeu influência de várias regiões do mundo então conhecido o que marcou a cultura meroítica Tudo indica que a cidade de Napata ainda permanecia como um centro importante mas tinha apenas uma função religiosa Podemos dizer que Napata era o centro espiritual do Reino o local do grande templo do deus Amon Nela os reis eram consagrados e 33 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 sepultados mas seus reinados eram exercidos a partir da cidade de Méroe A partir de um ano 300 a C os reis passaram a ser enterrados em Méroe O Reino kushita de Méroe conheceu seu período áureo a partir do século VIII a C Nesse período também teriam surgido a tradição das rainhasmães ou candaces Em várias sociedades africanas há tradições matrilineares mas Méroe parece ter sido um dos mais importantes centros dessa tradição As candaces ocupavam um papel importante na vida social e política do Reino kushita Essas mulheres ocupavam cargos de liderança no reino Algumas eram sacerdotisas de Amon o que significava aderir ao celibato e ser eternizada através de uma esfinge real depois da morte Ser uma candace em Méroe significava estar entre o poder político e o religioso E as tradições matrilineares que nunca se haviam apagado como o demonstra o prestígio das rainhasmães ou candaces tornaramse mais fortes Várias mulheres ascenderiam ao poder e se fariam retratar de ancas largas gordas e energéticas com uma túnica franjada tão pouco egípcia a cair do ombro direito cheias de colares e enfeites verdadeiros marimachos a combater à frente dos exércitos a presidir o culto a espairecer na caça SILVA 1994 p127 214 O Reino de Axum O reino de Axum segundo Giordani 1985 nasceu nas regiões montanhosas da Etiópia Talvez a geografia também explique o sucesso e a duração tão longa do reino A região é formada por abismos profundos que podem chegar a 4600 metros Portanto uma região de difícil acesso e dominação para qualquer inimigo Nos documentos históricos egípcios Axum é apresentada como uma fonte de mirra Fonte httpmigremewImu1 34 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Existe uma tradição lendária sobre o surgimento do Reino de Axum Segundo a lenda o encontro entre a rainha de Sabá e o rei Salomão narrado no livro bíblico de I Reis capítulo 10 teria gerado um filho cujo nome seria Menelik primeiro rei de Axum e fundador da dinastia salomônica A cidade de Axum situavase próximo a um afluente do rio Atbara No período préaxumita a região da Etiópia sofreu forte influência sularábica Prova disso são os instrumentos e inscrições semelhantes encontrados tanto na Etiópia quanto no Rio Tigre Da região sul da Arábia vieram vários imigrantes que introduziram novas técnicas agrícolas como o uso do arado na agricultura da Etiópia Fonte httpmigremewJ9U5 Entre o século II e o século IV da era cristã o Reino de Axum submeteu as regiões do planalto do Tigre e o vale do Nilo ao seu domínio Entre os anos de 183 e 213 aC o rei axumita Gadara e seu filho foram considerados os soberanos mais poderosos da Arábia meridional No século III o Reino de Axum foi considerado um dos maiores do mundo e no século IV o Reino de Méroe foi conquistado pelos axumitas Os reis de Axum adotaram o cristianismo durante o século IV A história da introdução do cristianismo no Reino de Axum de acordo com Giordani 1985 é curiosa um homem chamado Merópio da cidade de Tiro teria feito uma viagem para a Índia e levado consigo dois jovens Frumêncio e Edésio Ao voltar da viagem seu barco foi atacado próximo de um porto no Mar Vermelho Merópio morreu mas os dois jovens foram levados diante do rei de Axum Um dos jovens Frumêncio graças ao seu conhecimento da cultura grega teria se tornado o tesoureiro da casa real conselheiro do rei e preceptor de seus filhos Acreditase que Ezana o filho do rei tenha sido educado na religião cristã por Frumêncio e que depois da morte do pai tenha assumido o trono e cristianizado o reino A expansão do Reino de Axum chegou ao fim quando os persas invadiram a Arábia A partir desse período século VIII os árabes muçulmanos também passaram a dominar o Mar Vermelho e dessa forma estrangularam as vias comerciais axumitas 35 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 22 O Norte da África Dos Berberes aos Árabes A presença humana no norte da África é atestada há pelo menos 13000 aC e desde 9000 aC é comprovado o intercâmbio cultural entre as populações do norte da África e da península ibérica através do estreito de Gibraltar Segundo Desanges 2010 a primeira civilização a habitar o território do norte da África ficou conhecida como ibero maurusiense A partir de 7000 a C surgiu um novo grupo na região que ficou conhecido como capsienses Assim é possível interpretar o surgimento dos primeiros berberes que ocorreu da fusão dos dois grupos a partir do período Neolítico No entanto é a partir de 3000 aC que a relação do norte da África com a Península Ibérica a Sicília a Sardenha Malta todo o sul da Itália é mais evidente As evidências deste intercâmbio são produtos originários do norte da África como marfim e ovos de avestruz encontrados na Espanha E da mesma forma vasos de cerâmica e pontas de flecha de cobre e bronze da Península Ibérica encontrados nas regiões de Ceuta no norte da África Dessa forma podemos afirmar que o norte da África esteve inserido no mundo Mediterrâneo antes mesmo da fundação da cidade de Cartago A história do norte da África é marcada pelo processo de desertificação do Saara que influenciou diretamente o desenvolvimento da navegação através do Mediterrâneo O deserto do Saara produziu um afastamento do norte da África com a África meridional entretanto não houve um isolamento total pois através do corredor de Trípoli houve uma profunda influência das civilizações subsaarianas Toda a região do norte da África ficou conhecida durante a antiguidade como Berbéria daí a designação de berberes para os povos autóctones que habitavam a região Segundo Kormikiari 2001 o uso do termo berbere é bastante tardio ele surge no século VIII dC quando os árabes ocuparam a região a palavra berbere pode ter sido originada a partir da palavra latina barbari que designava os povos bárbaros que invadiram o Império Romano A região da Berbéria ganhou várias designações ao longo dos séculos durante o Império Romano era chamada de África Menor E durante a ocupação árabe ficou conhecida como Magrebe O Magrebe abrangia a atual Mauritânia Saara Ocidental Marrocos Argélia Tunísia e Líbia Segundo Kormikiari 2001 Magrebe é uma palavra de origem árabe e quer dizer o tempo e o lugar do pôr do sol o oeste essa região era uma espécie ilha do oeste para os conquistadores árabes pois estava entre o Saara e o Mar Mediterrâneo 36 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 A história dos povos berberes antes da chegada dos fenícios é praticamente desconhecida As fontes da história egípcia dão conta da ocupação dos berberes líbios na região do noroeste do delta do Nilo durante o período da unificação do Egito no terceiro milênio antes de Cristo Os líbios são representados na Paleta de Narmer um dos mais antigos documentos da unificação do Egito Segundo outras fontes por diversas vezes os líbios atacaram e tentaram dominar o Egito mas sempre foram derrotados Os berberes também aparecem descritos nos numerosos trabalhos dos escritores gregos e romanos Fonte httpmigremewJ9Va De acordo com Kormikiari 2001 nas narrativas dos autores gregos e romanos os grupos indígenas berberes que ganham maior destaque são os númidas os getulos e os mouros Os númidas habitavam uma região conhecida como Numídia entre os anos de 200 a 50 a C O termo Numídia foi usado pelo grego Políbio para designar a região a oeste de Cartago entre a Argélia a Tunísia e o Marrocos Os númidas estabeleceram relações comerciais com Cartago mas não chegaram a ser dominados por esta Todavia a Numídia por diversas vezes forneceu guerreiros para lutar nas fileiras dos cartagineses Os cavaleiros númidas eram famosos por suas habilidades em combate Durante a Segunda Guerra Púnica lutaram como mercenários ao lado dos cartagineses mas em seguida passaram a combater por Roma Os getulos inicialmente eram apenas uma tribo berbere mas com o passar do tempo tornouse uma congregação de vários grupos A denominação getulos passa a ser utilizada a partir do século II aC Os getulos eram povos brancos desenvolviam atividades pastoris eram seminômades e habitavam as franjas do deserto Saara com abrangência de seu domínio desde os territórios habitados pelos etíopes até o sul da área onde habitavam os mouros Já os mouros eram grupos berberes que habitavam o território ao ocidente onde hoje está situada a Mauritânia Um dos primeiros escritores a designar esse grupo berbere foi o romano Plínio o velho A origem do termo mouro é remetida ao termo semítico mahaurim que quer dizer os ocidentais e que em latim era conhecido como mauri 37 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Os mouros eram um dos grupos berberes mais importantes Durante a expansão islâmica no norte da África no século VII os mouros foram convertidos à nova religião e adotaram o árabe como segunda língua A partir do século VIII árabes e mouros islamizados conquistaram a Península Ibérica e formaram várias dinastias e califados Da Península Ibérica os mouros somente foram expulsos no século XIII mas deixaram inúmeras influências culturais na arquitetura nas artes na linguagem e em outros domínios 23 O Império Cartaginês Segundo Warmington 2010 o Magrebe aparece na história escrita quando marinheiros e colonos fenícios desembarcam na costa norte da África A maioria das informações que temos desse período são narrativas escritas por gregos e romanos Dessa forma são informações que devem ser relativizadas pois os fenícios eram tradicionais inimigos de gregos e romanos Por outro lado as informações arqueológicas são bastante imprecisas pois todas as cidades fenícias estão encobertas materialmente por cidades romanas Quando os fenícios chegaram ao norte da África eles encontraram os três grandes grupos a oeste os mouros entre a Mauritânia e o limite ocidental com o Egito estavam os númidas e na região setentrional entre os mouros os númidas e o deserto do Saara estavam os getulos Fonte httpmigremewJ9VZ Os colonos e navegadores fenícios vieram da cidade de Tiro um dos centros comerciais mais dinâmicos do Egeu e do Oriente Próximo A busca por metais como ouro prata cobre e estanho levou os fenícios a fundar colônias no ocidente do Mar Mediterrâneo A colônia mais antiga de que temos notícia foi fundada em 1110 aC na Península Ibérica e estava localizada onde hoje é a cidade de Cádiz na Espanha O intenso comércio com a Península Ibérica levou os fenícios a empreender expedições ao norte da África Mas a fundação das primeiras colônias fenícias na costa do Magrebe se compararmos com Cádiz são bastante tardias É somente em 814 aC que é fundada a cidade de Cartago As colônias fenícias se organizavam em pequenos povoados que não tinham mais que algumas centenas de colonos No século VI antes da era cristã a cidade Cartago se 38 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 torna autônoma e estabelece uma hegemonia em todo o norte da África Esse fato ocorreu pois a cidade de Tiro a capital e metrópole dos fenícios havia sido dominada pela Babilônia A partir do século VII aC iniciaramse os primeiros conflitos entre gregos e fenícios No ano de 580 aC as regiões da Sicília Sardenha e Córsega se tornaram alvos de disputas entre gregos e fenícios Os fenícios contaram com a ajuda dos etruscos para derrotar e impedir o domínio grego Cartago fundou várias colônias desde o Estreito de Gibraltar até as regiões da atual Líbia e no Mediterrâneo continuou seu domínio sobre algumas colônias na Península Ibérica Todas essas colônias tinham que pagar tributos sobre importações e exportações entregar entre 10 até 50 da produção agrícola e ainda fornecer soldados em tempos de guerra Os registros deixados pelos escritores gregos e romanos atestam que entre os séculos IV e III a C a cidade de Cartago era a mais próspera do Mediterrâneo e isso se devia à sua atividade comercial Cartago comercializava com os povos vizinhos produtos manufaturados têxteis agrícolas e escravos em troca de metais ouro prata e estanho Os cartagineses também nos falam de uma região da África e de seus habitantes além do estreito de Gibraltar Assim que eles chegam a este país descarregam suas mercadorias e as colocam na praia depois retornam a seus navios e enviam um sinal de fumaça Quando os nativos veem a fumaça descem até a praia depositam ali uma certa quantidade de ouro para ser trocado pelas mercadorias e depois se retiram Os cartagineses desembarcam novamente e examinam o ouro que foi deixado Se julgam que seu valor corresponde ao dos produtos ofertados eles o recolhem e seguem viagem se não voltam aos navios e esperam até que os nativos tenham levado ouro suficiente para satisfazêlos Nenhuma das partes engana a outra os cartagineses nunca tocam o ouro até que seu valor corresponda ao que trouxeram para vender e os nativos não tocam as mercadorias até que o ouro tenha sido levado HERÓDOTO apud WARMINGTON 2010 p 482 De acordo com Warmington 2010 Cartago mantinha o monopólio das trocas comerciais em toda a extensão de seu império Esse monopólio era conseguido através do ataque a qualquer embarcação que ousasse comercializar em águas cartaginesas e através de alianças comerciais com os concorrentes diretos Roma e as cidades etruscas A oeste de Cartago nenhuma embarcação poderia praticar o comércio quaisquer produtos estrangeiros eram baldeados para os navios cartagineses para poderem ser comercializados O coração de todo esse império marítimocomercial era a cidade de Cartago Segundo Warmington 2010 Cartago possuía um porto artificial duplo A parte externa servia para a ancoragem de navios comerciais e a parte interna destinavase a embarcações de guerra Não se sabe ao certo a capacidade do porto externo mas o interno possuía espaço para 220 navios de guerra Outro aspecto que mostra a capacidade bélica da cidade 39 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 são suas muralhas A cidade de Cartago era cercada de muralhas que chegavam a 40 km de extensão sendo 12 metros de altura e 9 de espessura A cidade de Cartago em número de habitantes pode ser comparada à cidade de Atenas do século V com uma população de 400000 pessoas O sistema político em Cartago era bastante singular O rei não ocupava o cargo de forma hereditária mas era eleito pelos cidadãos e por um Conselho de Estado próximo ao que foi o senado romano que era formado por 100 membros das famílias mais ricas e aristocráticas de Cartago O rei além dos poderes políticos possuía poderes sagrados judiciários e militares A partir do século III surgiu o termo sufete para designar uma espécie de juiz ou governador também eleito anualmente e que ajudava na administração do vasto império Os reis mais famosos de Cartago foram Amílcar e seu filho Aníbal Ambos foram poderosos chefes militares Amílcar nasceu em 270 aC e faleceu 228 aC foi o comandante dos exércitos cartagineses na Primeira Guerra Púnica Amílcar também foi o principal responsável pela conquista cartaginesa da península Ibérica Aníbal era o filho mais velho de Amílcar e seu sucessor nasceu em 248 aC e faleceu em 183 aC O nome Aníbal quer dizer Baal é bondoso Aníbal lutou na Primeira e na Segunda Guerra Púnica A religião dos cartagineses é um dos aspectos mais criticados nas narrativas dos autores gregos e romanos O principal deus dos cartagineses era Baal e foi trazido pelos fenícios quando colonizaram o Magrebe Todavia aos poucos o culto a Baal foi substituído pelo culto a Tanit uma deusa que ao que tudo indica surgiu a partir do norte da África com traços ligados aos aspectos da fertilidade A principal crítica de gregos e romanos à religião dos cartagineses se devia ao fato dos inúmeros sacrifícios humanos oferecidos anualmente a Baal e Tanit principalmente crianças do sexo masculino Fonte httpmigremewJ9Wr A disputa pela Sicília esteve na origem da Primeira Guerra Púnica 264 242 aC Conforme Warmington 2010 por muito tempo Roma foi apenas uma entre tantas comunidades agrícolas da Itália que tinham tratados comerciais com Cartago Cartago era o centro de um poderoso império marítimo comercial a cidade mais rica e poderosa de todo o Mediterrâneo Estava localizada numa posição estratégica entre as nações mediterrânicas e 40 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 o interior da África Era melhor para Roma têla como aliada do que como inimiga Mas desde aproximadamente o ano 500 aC Roma tornouse poderosa e dominou toda a Península Itálica O próximo desafio era a conquista da Sicília espaço dividido entre colônias gregas e cartaginesas A disputa se originou pela posse da cidade de Messana no norte da Ilha da Sicília fazendo fronteira com a Península Itálica O domínio dessa cidade significava a manutenção do estratégico entreposto comercial que era a Sicília para os cartagineses e a contenção do avanço romano E para os romanos significava a continuidade da expansão pelo Mediterrâneo consolidando seu comércio Segundo Grant 1987 nos primeiros tempos de guerra Cartago obteve vantagem pois era um império experiente em batalhas navais sua marinha era uma das mais poderosas do Mediterrâneo Mas os romanos logo compensaram esta deficiência contratando mercenários gregos para a construção de suas frotas de guerra Os romanos venceram várias batalhas na costa siciliana mas quando tentaram tomar a cidade de Cartago foram derrotados pelas tropas cartaginesas e pelo enorme contingente de mercenários contratados no interior da África e na Grécia Nessa ocasião os cartagineses utilizaram elefantes em combate contra os romanos certamente uma das primeiras experiências do tipo de que temos notícia Fonte httpmigremewJ9WY O conflito de acordo com Grant 1987 que ficou conhecido como a Primeira Guerra Púnica durou 23 anos e deixou enormes perdas para ambos os lados As duas partes estavam com forças e recursos exauridos O general cartaginês Amílcar assinou um tratado de rendição em 242 aC Nesse tratado Cartago perdeu definitivamente o domínio sobre a Sicília e teve que pagar para Roma uma pesada indenização para cobrir os custos de guerra No território cartaginês seguiramse três anos de rebelião das tropas mercenárias que não tiveram seus pagamentos efetuados Amílcar sufocou os focos de rebelião na Líbia e Numídia e buscou ampliar seu domínio na Península Ibérica para reestruturar economicamente o império Após o conflito com Cartago Roma se tornou um dos maiores impérios do Mediterrâneo As conquistas subsequentes foram as terras da Sardenha Córsega e Malta 41 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 A Segunda Guerra Púnica 218 202 a C segundo Warmington 2010 marcou a Ascensão de Aníbal Com o término da primeira guerra púnica Amílcar o comandante cartaginês teve que enfrentar a rebelião de mercenários que queriam seus pagamentos atrasados por lutar ao lado de Cartago No Mediterrâneo Roma aproveitando a fragilidade cartaginesa se apoderou da Sardenha Dessa forma restou a Amilcar voltar sua atenção para a conquista da Espanha Amílcar dominou todo o restante da Espanha pois as cidades costeiras já estavam controladas Em vinte anos Amílcar conseguiu explorar as minas de prata da Espanha reestruturar economicamente o império cartaginês e constituir um poderoso exército de aproximadamente 50000 homens para enfrentar novamente os romanos Amílcar colocou seu próprio filho Aníbal no comando do exército cartaginês Fonte httpmigremewJ9XG Na Península Ibérica havia algumas cidades que estavam sob a influência romana principalmente Sagunto e Ampurias O avanço de Aníbal e seus exércitos sobre essas cidades foi o estopim para o reinício dos conflitos entre romanos e cartagineses Era o início da Segunda Guerra Púnica que duraria 16 anos Cartago foi novamente derrotada e Roma ampliou ainda mais seu império ampliando seus domínios até a Península Ibérica Após o fim da Segunda Guerra Púnica Roma estabeleceu alianças com todos os reinos no norte da África A Numídia e a Mauritânia tornaramse reinos clientes ou vassalos de Roma Quanto a Cartago houve aproximadamente 50 anos de paz após a guerra reconstrução e prosperidade entretanto no ano de 149 aC reiniciaramse os conflitos A Terceira Guerra Púnica 149 146 aC marcou a completa destruição das instituições cartaginesas e a ascensão romana sobre todo o mediterrâneo Os cartagineses reagiram às agressões e saques dos reinos vizinhos e clientes de Roma principalmente a Numídia e dessa forma atraíram a atenção de Roma Ao chegar em território africano as tropas romanas como pena pelo rompimento do acordo de não fazer guerra sem o consentimento romano propuseram que os cartagineses abandonassem a cidade de Cartago e se instalassem a cerca de 15 km ao sul Diante da negativa cartaginesa os romanos invadiram a cidade e a destruíram totalmente A população foi dizimada e aqueles que sobreviveram foram escravizados Calculase que mais de 85 mil combatentes cartagineses foram mortos 42 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Segundo Mahjoubi 2010 logo após a destruição de Cartago em 146 a C todo o território cartaginês foi reduzido à condição de uma simples província romana Ao lado de Cartago havia também os reinos clientes de Roma que mantiveram sua relativa independência com o apoio aos romanos durante a Segunda Guerra Púnica e a destruição de Cartago A partir do ano 40 d C todo norte da África foi submetido ao domínio romano até o momento da conquista vândala Durante o período do domínio romano a África era administrada por governos nomeados diretamente pelo Senado romano A escolha do governante de Cartago era feita a partir dos mais antigos excônsules o escolhido recebia o título de procônsul e governava por um ano Justamente por isso nesse período toda a área dominada pelo Império Romano no norte da África ficou conhecida como África Pró consular A civilização romana era marcada pelo urbanismo conforme Mahjoubi 2010 a vida urbana nas províncias africanas era muito desenvolvida Em toda a África Proconsular foram registradas ao menos quinhentas cidades Ao lado do urbanismo a colonização romana no norte da África era marcada pela extrema exploração da agricultura Portanto o primeiro século de ocupação romana foi para a África um período de retrocesso caracterizado principalmente pela exploração ostensiva da terra fértil A partir do segundo século de ocupação houve um grande avanço Durante o governo do Imperador Marco Aurélio muitos veteranos de guerra imigraram para a África e fundaram cerca de 35 colônias nas províncias africanas Segundo Mahjoubi 2010 p522 é conhecida a preponderância da agricultura na economia antiga na África durante o período romano a terra era a principal fonte e a mais valorizada de riqueza e prestígio social Também é comum dizer que a África era o celeiro de Roma A expansão do Cristianismo também chegou às terras africanas Dentre as províncias ocidentais do Império Romano as províncias africanas foram as primeiras a ver a introdução e o desenvolvimento do Cristianismo De acordo com Tertuliano que viveu no final do século II e início do III naquela época havia na África um número muito grande de cristãos em todas as classes e profissões Por volta de 220 foi possível reunir em Cartago um sínodo de 71 bispos outro realizado em cerca de 240 reuniu noventa bispos MAHJOUBI 2010 p 540 Todo esse crescimento do Cristianismo no solo africano era motivo de preocupação para as autoridades imperiais Os cristãos eram considerados um organismo estranho no corpo do império pois não aceitavam a ideologia oficial não prestavam culto ao imperador e se colocavam habitualmente na oposição ao regime romano Em regiões dominadas através de guerras pelo Império Romano o Cristianismo era particularmente perigoso pois 43 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 poderia inspirar rebeliões contra o poder central Nas diversas cidades das províncias africanas e principalmente em Cartago muitos cristãos foram mortos pelas autoridades romanas por representarem uma suposta ameaça à unidade do Império Conforme Mahjoubi 2010 p541 o ano de 203 foi marcado pelo martírio das santas Perpétua e Felicidade e de seus companheiros que foram atirados aos animais na arena do anfiteatro de Cartago O Império Romano teve um crescimento sem precedentes a partir da Segunda Guerra Púnica A dificuldade administrativa por causa da grandiosidade do império as disputas políticas internas e o constante assédio dos povos inimigos produziram uma profunda crise no Império Romano e sua consequente decadência Povos de origem germânica a partir do século V invadiram as fronteiras romanas As províncias africanas foram conquistadas pelos vândalos a partir do Estreito de Gibraltar Terminava um período de cinco séculos de dominação romana na África Conforme Salama 2010 os vândalos conquistaram inicialmente a Península Ibérica e de 429 e até 430 conquistaram todo o restante do norte da África O Império Romano do Oriente ainda permanecia intacto com sua capital em Bizâncio A partir do ano de 474 Bizâncio e o Reino Vândalo fizeram tratados comerciais e de paz Para Bizâncio era estrategicamente favorável ter os vândalos como aliados Fonte httpmigremewJ9ZP Todas as disputas políticas e a crise que se abatia sobre o Estado Vândalo levaram Bizâncio a promover uma espécie de reconquista dos territórios africanos Reconquista em dois aspectos em primeiro lugar esses territórios antes pertenciam ao Império Romano e Bizâncio era a única herdeira legítima com forças militares capazes de reconquistar o norte da África em segundo lugar a perversão do Cristianismo através da heresia ariana era um bom motivo para a expulsão dos vândalos A conquista ocorreu sob o governo de Justiniano no ano de 533 dC O domínio bizantino no Magrebe durou menos de 200 44 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 anos Já era o contexto da afirmação do Islã e os conquistadores árabes se tornaram os novos senhores no norte da África Após a morte do profeta Maomé o Islamismo que era apenas até então mais uma religião inexpressiva do interior da Arábia tornouse em poucas décadas uma das maiores expressões religiosas do mundo antigo entre os séculos VII e XI Nascido sob o sol ardente da península arábica o islã soubera aclimatarse a diferentes latitudes e junto a povos tão distintos quanto os camponeses da Pérsia do Egito e da Espanha os nômades berberes somalis e turcos os montanheses afegãos e curdos os párias da Índia os comerciantes soninquês e os dirigentes do Kānem HRBEK 2010 p 2 O Império Muçulmano de acordo com Hrbek 2010 surgiu como um fenômeno essencialmente árabe no princípio mas com o passar dos anos e com a rápida expansão ficou claro que a única identidade possível para civilização muçulmana era a dos laços religiosos e não a dos laços étnicos e sanguíneos Dessa forma ao falarmos de civilização islâmica nos referimos ao conjunto de fiéis que professam a fé islâmica e não apenas a pessoas originárias da Arábia A conquista do norte da África pela civilização islâmica foi avassaladora Num primeiro momento oito anos após a morte de Maomé em 632 dC a conquista foi iniciada pelas regiões do Rio Nilo O Egito depois a Núbia e posteriormente o Sudão foram as primeiras regiões afetadas pela expansão islâmica na África A conquista islâmica do Egito foi o ponto de partida para a expansão para o Magrebe mas essa região não foi facilmente conquistada quase um século foi necessário para que os muçulmanos submetessem o norte da África aos seus domínios Fonte httpmigremewJa1q No Magreb os conquistadores árabes enfrentaram a tenaz resistência dos berberes e somente ao final do século VII lograram submeter as principais regiões A maioria dos berberes converteuse então ao Islã e malgrado o ressentimento que lhes inspirava a dominação política árabe eles tornaram se ardentes partidários da nova fé contribuindo para propagála do outro lado do estreito de Gibraltar e além do Saara HRBEK 2010 p 8 45 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 O Magrebe era uma região estratégica para a expansão islâmica e sua conquista permitiu a penetração da fé islâmica na Península Ibérica e no sul do Saara Os muçulmanos árabes e mouros islamizados cruzaram o Estreito de Gibraltar no ano de 711 dC e conquistaram a Península Ibérica que era território visigodo Muitas famílias islâmicas constituíram governos na Península Ibérica através de emirados e califados sendo que o mais famoso foi o Califado de Córdoba Os últimos mouros foram expulsos da Península Ibérica somente em 1492 Antes de continuar seu estudo realize o Exercício 2 e a Atividade 21 Dicas de aprofundamento EL FASI Mohammed História Geral da África III África do século VII ao XI Disponível em httpunesdocunescoorgimages0019001902190251PORpdf Acesso em 01 jun 2019 Assista ao documentário Construindo um Império Cartago Disponível em httpswwwyoutubecomwatchv44n7RDlaqig Acesso em 26 mar 2020 46 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 31 A África Subsaariana 311 Reino de Ghana Conforme Medeiros 2010 o desenvolvimento dos vários reinos sudaneses foi facilitado pela introdução de novos instrumentos e técnicas O domínio do ferro e a utilização do cavalo e do camelo proporcionaram a superioridade necessária para impor a dominação sobre as comunidades de pastores e agricultores do Sahel O ferro por exemplo possibilitou a construção do poderio militar a formação de exércitos e prática da caça e da pesca Dessa forma os reinos sudaneses num primeiro momento mantiveram contato com as populações berberes do Sahel de origem branca mas com o passar dos séculos os atritos com tais populações provocaram o recuo dos agricultores negros contudo esse recuo foi estratégico para organizar melhor a resistência Foi na faixa de savana entre o Sahel e a floresta equatorial que os reinos sudaneses se prepararam para enfrentar as intimidações provenientes do deserto Essas pequenas comunidades do Sudão através da organização da cidade de Ghana cobravam tributos pela travessia de mercadores em suas terras O domínio das rotas comerciais e os tributos delas advindos proporcionaram lucro e desenvolvimento para o Reino de Ghana Fonte httpmigremewJaiG O reino de Ghana era habitado pelos grupos étnicos soninquês e saracolês do grupo linguístico mandinga A capital do reino era Kumbi Saleh possuía cerca de 20000 moradores e era um dos maiores entrepostos comerciais da África ocidental As primeiras informações desse reino surgiram no século VIII através dos textos árabes a partir das UNIDADE 3 A ÁFRICA NEGRA PRÉCOLONIAL E A ESCRAVIDÃO OBJETIVO DA UNIDADE Compreender a formação dos povos africanos subsaarianos e a constituição dos reinos de Ghana Mali Songhai Monomotapa Kongo Analisar os impactos dos contatos da África negra com os europeus 47 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 diversas incursões que os berberes islamizados habitantes da região do Magrebe fizeram ao sul do Saara As informações sobre esse reino são escassas mas tudo leva a crer que as condições ambientais e técnicas favoreceram a ocupação dessa região a produção agrícola das primeiras comunidades e a formação dos reinos Além das condições favoráveis à atividade agrícola e pastoris havia também uma grande concentração de minas de ouro por isso esse reino ficou conhecido como o país do ouro O tráfico de ouro através do Saara era bastante antigo Em torno de 681 de nossa era a expansão muçulmana chegou às costas atlânticas do Marrocos Sabedores da existência do comércio com o ouro os mercadores arabizados começaram a enviar expedições mercantis para o sul Elas levavam o sal e produtos mediterrâneos para serem trocados pelo precioso metal MAESTRI 1988 p17 O nome Ghana quer dizer senhor da guerra e era o título utilizado pelo governante do reino Sua força e prestígio iniciais seriam devidos ao fato de que ele desempenhava também o papel de mestre do ouro MAESTRI 1988 p19 A sua função era dividir as áreas de mineração para os clãs e receber deles o tributo em ouro Toda a formação social do antigo Reino de Ghana era baseada na família clânica e patriarcal que abrigava o patriarca os filhos casados e solteiros e também os escravos Segundo Maestri 1988 essas formações aldeãofamiliares eram presididas por chefiarias que também recebiam a designação de sobas ou seja eram zonas de influência de um chefe uma determinada circunscrição política e geográfica que estava sob o domínio de um patriarca As famílias se ocupavam da agricultura do artesanato da caça pesca e extração mineral A posse da terra era coletiva Nesse modelo familiar o patriarca recebia tributos dos filhos e dos demais membros do clã administrava os bens e distribuía as esposas e dotes familiares e muitas vezes estava livre dos afazeres produtivos Fonte httpmigremewJajj As práticas religiosas tradicionais animistas indicam o relativo alcance do Islã nos reinos sudaneses Outro aspecto ainda mais importante era a formação social e econômica do reino e a centralização da tributação É importante notar que passava pela realeza o controle do comércio aurífero O rei de Ghana concentrava toda a produção de pepitas de ouro para também controlar as cotações desse produto O soberano mantinha o 48 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 monopólio do produto e organizava a economia através da troca com produtos inexistentes em seus domínios sal e tecidos por exemplo O comércio e a tributação estavam na base da prosperidade do Reino de Ghana A capital do reino estava na rota de tribos comerciantes berberes e dos comerciantes muçulmanos que aos poucos dominavam a região do norte da África De acordo com Silva 1992 o sucesso do reino de Ghana estava no controle do comércio do ouro e do sal O ouro tão necessário à economia monetária da Europa e do Oriente Próximo O sal indispensável às populações sudanesas e silvícolas No ouro e no sal assentarseia a força de Ghana SILVA 1992 p 244 Nesse contexto os soberanos de Ghana contavam com os preciosos serviços dos muçulmanos que eram letrados e serviam de intérpretes ministros e tesoureiros do reino Diante da competência e habilidade dos muçulmanos o soberano de Ghana lhes concede o direito de praticar livremente sua religiosidade nos domínios do reino Fonte httpmigremewJajK Gana assim como Gao possui ao lado da cidade do rei uma cidade onde habitam os muçulmanos com doze mesquitas cada qual com o seu imame o seu muezim o seu leitor Consultores jurídicos e eruditos vivem igualmente nesta cidade Enfim os muçulmanos não são forçados aos costumes incompatíveis com as suas convicções religiosas MEDEIROS 2010 p 164 O Reino de Ghana atingiu seu apogeu no século XI Nesse período o exército possuía cerca de 200000 soldados dos quais 40000 eram arqueiros Estimase que produção de ouro do Sudão fosse a principal fonte de abastecimento do Mediterrâneo chegando a cifras de nove toneladas por ano O reino de Ghana entrou em crise quando o Islã começou sua expansão nas regiões do Sudão No entanto Ghana ofereceu uma forte resistência até a rendição que segundo Lopes 2004 ocorreu por volta de 1076 quando Ghana caiu sob o domínio dos árabes almorávidas sendo a cidade de Kumbi Saleh invadida e saqueada O domínio almorávida estava estabelecido desde as regiões dos atuais Portugal e Espanha até a capital de Ghana Kumbi Saleh Aos poucos Ghana foi caindo no isolamento a maioria dos comerciantes de ouro e sal desviava de suas rotas para as cidades de Tombuktu Gao e Djenne As populações de Ghana passaram por um processo de islamização embora nunca completo Muitos adeptos do Islã ainda continuavam com suas práticas religiosas tradicionais construindo uma religiosidade ricamente sincrética 49 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 312 O Império do Mali O Império do Mali surgiu no contexto do declínio de Ghana Segundo Maestri 1988 o senhor de uma chefiaria negra chamado Baramendana na atual república de Guiné se converteu ao islamismo devido a uma promessa que havia feito a um muçulmano Isso ocorreu por volta do século XII O chefe africano por meio de uma religiosidade profundamente marcada por aspectos ligados aos elementos da natureza não conseguia chamar as chuvas necessárias para regar a agricultura de seu clã então recebeu ajuda de um clérigo islâmico Assim que as águas caíram sobre as terras de sua tribo o chefe africano converteuse ao Islã assim como havia prometido Dessa forma o Islamismo adentrou aos domínios do Mali e fez vários adeptos mas sempre convivendo com as religiões tradicionais muitas vezes sofrendo influência delas Fonte httpmigremewJakN Sundiata conforme Maestri 1988 foi a figura mais marcante da história do Império do Mali e do Sudão ocidental como um todo ainda hoje os povos mandingas oferecem cultos em sua memória Segundo a tradição oral quando seu pai morreu e seu irmão Touman assumiu o trono Sundiata tinha apenas sete anos e ainda possuía uma deficiência nas duas pernas que o impediam de caminhar Mas a partir dessa idade ele curiosamente começou a se recuperar fisicamente e a tornarse um prestigiado caçador As disputas entre os chefes tribais que surgiram após Sundiata ganhar a admiração popular o levaram a fugir com sua mãe irmã e o irmão mais jovem para um local distante pois temia por sua vida Sundiata encontrou asilo junto à corte de um rei de uma tribo tounkara e tornouse seu chefe militar Enquanto isso no Mali as tribos mandingas se rebelavam contra o domínio dos sossos e chamavam Sundiata para combater junto a eles e a retomar o trono As primeiras batalhas que os mandingas travaram foram duras derrotas Mas finalmente no ano de 1235 na cidade de Kerina Sundiata com seus exércitos derrotou a Sumanguru Kante Sundiata Keita tornouse soberano sobre todos os sossos e convidou todos os governantes dos clãs mandingas também conhecidos como mansas para estarem sob sua liderança tornandose o grande Mansa Dessa forma Sundiata tornouse o 50 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 senhor absoluto da região Após esse grande evento militar Sundiata reuniu uma assembleia geral para lançar as bases do novo império Dividiu as províncias e elegeu governadores Nesse período Sundiata teria se convertido ao islamismo enquanto a maioria da população ainda continuava as crenças tradicionais Sundiata estabeleceu a capital do império em Niani sul da antiga capital de Ghana O deslocamento do centro do império para as regiões meridionais foi para que os keitas se prevenissem dos ataques de nômades do deserto Sundiata morreu por volta de 1255 Mas após seu reinado vários soberanos ainda continuaram usando o título de mansa Após a morte de Sundiata seu filho Mansa Ulé governou de 1255 até 1270 Depois de Mansa Ulé ainda reinaram Abubakar I Sakura Abubakar II e o famoso Mansa Kanku Mussa que teria feito notório o Mali em toda a África e Oriente Próximo através de sua peregrinação a Meca em 1324 Toda a riqueza comercial do Mali ficou comprometida a partir da viagem do mansa Kanku Mussa à Meca entre 1307 e 1332 Acreditase que ele levou consigo cerca de 14000 servos e de 10 a 12 toneladas de ouro Por onde passava mansa Mussa era recebido com honras e comprava casas e terrenos a fim de abrigar os peregrinos negros Ao retornar para seus territórios trouxe consigo um grande número de sábios comerciantes clérigos muçulmanos É nesse momento que Tombuktu tornou se um importante centro cultural Fonte httpmigremewJal7 O império do Mali usou as mesmas bases econômicas de Ghana A estrutura social no Mali era fundamentada na organização familiar As comunidades africanas e os comerciantes de ouro sal e escravos tinham que pagar tributos ao soberano de Mali A extensão geográfica e as fronteiras étnicas e culturais de Mali também eram superiores às de Ghana Conforme Maestri 1988 Ghana comercializava com o sul do Marrocos e Mali continuou esse comércio porém estabeleceu também relações com a Líbia e o Egito Esse comércio gerou duas novas cidades mercantis Djenne e Tombuktu Tombuktu tornouse um dos principais centros comerciais do Sudão ocidental tinha cerca de 25000 habitantes 26 alfaiatarias com até 200 aprendizes cada e 150 escolas A partir de 1400 Mali entrou em decadência seus territórios foram invadidos e saqueados Nesse contexto Mali sofreu forte 51 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 pressão do reino de Songai ou Gao Ao final do século XVII não restava quase nada do poder de Mali Segundo Maestri 1988 a partir das fontes orais africanas e escritas muçulmanas e portuguesas podese ter uma ideia de como era a organização social do império do Mali Assim como em Ghana o império do Mali baseou sua organização através do pagamento de tributos A classe dominante era unida por laços clânicos e sanguíneos e aumentava ainda mais o seu poder através da extração do excedente produtivo sobre a forma de tributo Os agricultores tinham que pagar o dízimo de toda a sua produtividade O tributo era recolhido quando eles levavam seus produtos para vender nos mercados E dali era levado para as redes administrativas Os senhores de Mali tributavam suas comunidades para a formação do império Os artesãos os camponeses e trabalhadores domésticos sofriam uma servidão pessoal pois deviam tributos ao império Cada um dava daquilo que produzia a família de um ferreiro por exemplo contribuía com 100 flechas todos os anos os pescadores tributavam em forma de peixe seco e os camponeses através dos produtos de suas terras O principal produto comercial do Mali era o ouro mas o sal também tinha um importante lugar na economia mandinga O papel do Islã no império do Mali foi muito relevante Embora a religião tradicional persistisse entre as comunidades aldeãs a maioria dos funcionários do império era convertida e por isso letrada O que sem dúvida facilitava o controle do comércio e dos assuntos administrativos 313 O Império de Songai Conforme Maestri 1988 o Império de Songai foi o último grande reino a existir nas áreas que antes se constituíram os reinos de Ghana e do Mali Com Songai se interrompeu um processo de ascensão das civilizações negras na África ocidental A estrutura do reino de Songai era muito parecida com os reinos anteriores baseavase no comércio e na tributação Fonte httpmigremewJam6 As origens do Império Songai são desconhecidas As poucas informações dão conta de populações songais que viviam às margens do rio Níger e eram divididas em dois grupos os sorkos que eram caçadores e os gous que eram pescadores Segundo a tradição mítica 52 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 songai o império teria surgido a partir do nascimento de um feiticeiro chamado Faran Makan Bote Ele teria nascido a partir da união de um caçador sorko e de uma mãefada ligada aos espíritos das águas Makan Bote conseguiu unificar os caçadores e os pescadores e ainda cumpria a função de sacerdote frente aos camponeses O Kanta como era conhecido o sacerdote era prestigiado por possuir poderes mágicos Segundo o mito por volta do ano 500 teriam chegado às terras do Kúkya afluente do Níger povos berberes que lutaram contra um terrível peixefeiticeiro que era descendente de Makan Bote e o príncipe berbere Za Aliamen o teria vencido e libertado os pescadores e camponeses do terror imposto pelo monstro A partir desse momento iniciouse uma dinastia dia que duraria até 1335 No século XIII Songai foi dominado pelo soberano de Mali Os príncipes de Songai se tornaram vassalos de Mali tendo que lutar como soldados e oficiais nas fileiras dos exércitos mandingas Todavia um dos príncipes de Songai conseguiu escapar e voltou para libertar seu povo Aos poucos esse soberano foi reconquistando os territórios e fundou uma nova dinastia que ficou conhecida como Dinastia Soni Durante o século XV o império do Mali entrou em decadência e Ali o Grande da dinastia Soni conquistou parte dos territórios mandingas inclusive a cidade de Djenne e formou o maior império da faixa sudanesa Ali o Grande estabeleceu governadores em diversas partes do imenso território construiu importantes obras públicas como canais de irrigação e até uma frota no Níger O Soni Ali morreu no ano de 1492 Em seu lugar reinou seu filho mas seu reinado foi efêmero um ano após a morte de Ali um antigo chefe militar chamado Mohammed conquistou o trono de Songai Mohammed deu origem à Dinastia Áskia aliouse aos muçulmanos e escolheu seus ministros e secretários entre sábios de Tombuctu No ano de 1496 viajou a Meca e tornouse o califa do Sudão Ocidental Durante o seu governo Songai chegou ao apogeu de seu poderio Mohammed foi um grande conquistador e estadista Dividiu o império gao em quatro vicereinos organizou um sistema regular de arrecadação de impostos unificou os pesos e as medidas explorou as salinas de Teghazza fortaleceu a flotilha do Níger e pela primeira vez no Sudão Ocidental formou um exército regular constituído de escravos e prisioneiros O império de Songai não foi um mero sucessor das duas formações negro africanas anteriores Ele superou qualitativamente o reino de Ghana e o império de Mali O primeiro restringiuse no geral aos territórios do povo sarakolê Mali e Songai foram ao contrário impérios que abarcaram etnias e populações muito mais amplas do que respectivamente os povos mandinga e songai MAESTRI 1988 p36 O império de Songai atingiu um nível políticoadministrativo que pouco lembrava os reinos anteriores pois estava estruturado para além das solidariedades sanguíneas e clânicas dos reinos anteriores O império de Songai estava centralizado na figura do 53 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 imperador Por outro lado a profissionalização do exército a burocratização do recolhimento de impostos e outras medidas administrativas diferenciavam bastante Songai dos outros reinos A formação do exército dividido por sua vez em vários corpos reestruturou a sociedade isento de ir à guerra o povo trabalhava na terra na produção artesanal e no comércio A burocracia era muito estratificada citemos apenas alguns cargos os altos funcionários os koy os fari ministros e governadores das montanhas tondifari feiticeiras que tinham a permissão de dirigiremse ao imperador pelo nome o governador da província gurmafari que era o celeiro agrícola do império o ministro da navegação fluvial hihoy o chefe dos cobradores de impostos fari mondyo o sacerdote do culto aos antepassados horéfarima o inspetor das florestas saofarima o chefe dos pescadores hokoy e ministro encarregado dos homens brancos residentes no império koreyfarima Todos eram nomeados e demitidos pelo imperador a seu belprazer COSTA 2012 p85 Segundo Costa 2012 no Reino de Songai havia um sistema formal e bem estruturado de educação A cidade de Tumbuctu era um grande centro de estudos e abrigava uma universidade desde o século XII com aproximadamente 25000 estudantes num universo de 100000 habitantes O império de Songai começou a entrar em declínio no final do século XVI Mohammed aos seus 86 anos de idade foi destituído do trono por seu filho e nesse contexto o reino começou a entrar em decadência e finalmente foi desagregado em 1591 Nesse período os portugueses já haviam chegado à costa atlântica e aos poucos buscavam adentrar aos territórios do interior Fonte httpmigremewJamR 314 Os Reinos Iorubas A história dos reinos Iorubas de acordo com Maestri 1988 é narrada por meio da tradição oral na ausência de documentos escritos a história dos mais velhos que passa de geração para geração juntamente com os vestígios materiais são as únicas formas de conhecer a trajetória desses reinos que habitavam perto do rio Volta e do Baixo Níger Algumas ruas calçadas e pedaços de muros nos dão uma ideia de como eram essas civilizações Nelas viviam agricultores artesãos e grupos de famílias Todos eram submetidos aos conselhos de um chefe Os vestígios arqueológicos mais importantes da 54 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 região datados do ano 500 d C foram encontrados em Ilê Ifé a principal cidade dos iorubas Os iorubas ocupavam as regiões da Costa do Marfim Golfo da Guiné e Nigéria Essa civilização atingiu um alto nível de urbanização muito raro nos outros reinos africanos O apogeu da civilização ioruba ocorreu no início do século XIII através da fundação da cidade de Oio a capital política do reino Ao lado Oio Ilê Ifé era uma das cidades mais importantes pois era o local onde ocorria a sagração dos reis As cidades dos iorubas eram cercadas por muralhas nelas habitavam camponeses e uma aristocracia dominante As cidades também eram independentes do poder central os reis eram escolhidos através de uma assembleia e o seu governo era reconhecido pelo Oni de Ilê Ifé rei e sacerdote Fonte httpmigremewJanY Conforme Maestri 1988 com base na tradição oral Ilê Ifé é lugar da fundação do mundo nela as divindades Oduduwa e Obatalá criaram o mundo que é dirigido por Olodumare a divindade suprema Obatalá teria criado os primeiros humanos a partir do barro e Oduduwa teria se tornado o primeiro rei iorubá Acreditase que os sucessivos Obas chefes reis são descendentes diretos de Oduduwa o primeiro rei ioruba Dessa forma em Ilê Ifé foi criada uma monarquia divina onde quem governava era o Oni representante da divindade O reino ioruba de Ilê Ifé possuía aldeias com vários chefes que prestavam obediência ao Oni oba de Ilê Ifé Todo esse sistema políticoreligioso de Ilê Ifé foi adotado pelos povos iorubas que habitavam ao redor do rio Volta e Níger Fonte httpmigremewJaoD 55 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Segundo Souza 2006 todos os obás dos reinos iorubas diziam que seus antepassados saíram de Ilê Ifé e que por isso faziam parte de uma família real e divina Ilê Ifé tinha ascendência espiritual sobre quase todos os reinos iorubas e era quem distribuía os símbolos reais Os adés uma espécie de coroa feita de contas de coral com fios cobrindo o rosto de oba foi um dos principais símbolos do poder junto com o sistema de monarquia divina Em Ilê Ifé o oba administrava o reino de sua capital afastado do litoral sua moradia era uma construção com muros fortes ruas largas e retas O oba tinha centenas de mulheres e filhos assim como os outros obas dos outros reinos No século XVI os reinos iorubas ascenderam exceto Ilê Ifé que entrou em declínio Isso porque houve a presença de novos comerciantes na costa atlântica que traziam novas mercadorias em seus navios e que eram desejados pelos chefes africanos Mesmo em declínio Ilê Ifé manteve a importância religiosa Todos os chefes das cidades que teriam sido fundadas por ascendentes de Oduduwa iam até Ilê Ifé para terem seus poderes confirmados por Oni o oba mais importante política e religiosamente Os iorubas constituem uma mistura de vários grupos O povo se formou inicialmente em torno da cidade de Ilê Ifé Mas com o passar dos anos formaramse vários reinos cada um com seu soberano e sua capital A partir Ilê Ifé foram planejadas as demais cidades que eram divididas em bairros Em cada reino havia locais sagrados palácio real praças de mercado lugares de reunião Geralmente cada cidade se aperfeiçoava em um ofício algumas na tecelagem e tintura de algodão outras metalurgias ensino de sacerdotes e esculturas em madeira Certamente as cidades de Oio e Ilê Ifé eram as mais importantes para os iorubas Mas com o declínio delas vários outros reinos emergiram ao seu redor como foram os casos do Reino do Benin o Reino do Adomei ou Daomé e a Confederação de reinos Ashanti De todos esses reinos o Brasil recebeu escravos muitos foram identificados no Brasil como Nagôs mas na verdade eram iorubas provenientes do Benin 315 Os Povos Bantus Conforme Souza 2006 os povos que habitavam abaixo da linha do Equador são majoritariamente os grupos da família linguística bantu Esses povos eram hábeis metalurgistas principalmente na mineração de ferro O ferro era muito importante na África Central pois permitia a fabricação de ferramentas utilizadas no trabalho agrícola Esses primeiros metalurgistas ocuparam a África Central nos primeiros anos da era cristã Nessas sociedades o ouro ainda não tinha o valor que teria mais tarde com a chegada dos colonizadores A metalurgia do ferro era muito mais relevante pois a economia era fundamentalmente agrícola É interessante notar que os grandes mestres da metalurgia 56 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 brasileira serão justamente os negros que vieram como escravos dessa região da África para o Brasil O Reino de Kongo ocupava toda a vasta área em que hoje se localiza os países Congo antigo Zaire e Angola O reino foi fundado numa região extremamente favorável o solo era fértil rico em minérios de ferro e cobre e o território era rodeado por rios ao sul estava o rio Cuanza ao norte o rio Oguwé e ao leste o rio Congo Segundo Souza 2006 o reino do Kongo surgiu a partir da chegada de povos conhecidos como muchicongos que habitavam a outra margem do rio Ao chegarem na região os muchicongos se misturaram aos outros povos bantus que já habitavam a região Essa fusão de povos bantus das duas margens do rio Congo teria sido feita por Nimi Lukeni chefe dos muchicongos a partir do século XIII SOUZA 2006 p 38 No início do século XV essas comunidades de língua bantu cresceram em riqueza e formaram uma federação de estados centralizados em um reino cujo líder era conhecido como Mani kongo muito parecido com os obas iorubas A capital do reino foi estabelecida em Mbanza Kongo que com o domínio português a partir do século XVI se tornaria São Salvador Fonte httpmigremewJapE A principal atividade econômica dos congoleses envolvia a prática de um desenvolvido comércio predominando a compra e venda de sal metais tecidos e produtos de origem animal A prática comercial poderia ser feita através do escambo ou com a adoção do nzimbu uma espécie de concha somente encontrada na região de Luanda Nas aldeias foram mantidas as chefias existentes antes da chegada do muchicongos O chefe dava conselhos referentes aos assuntos da comunidade Um conjunto dessas comunidades estava submetido a um chefe regional que fazia a ligação dessas aldeias com a capital O Reino do Kongo se formou através de casamentos de uma elite tradicional com uma elite nova que eram os descendentes dos estrangeiros que vieram do outro lado do rio Conforme Souza 2006 quando os portugueses chegaram por volta de 1484 encontraram uma civilização hierarquizada onde os chefes viviam em construções grandiosas cercados de mulheres filhos conselheiros e escravos Ali também moravam agricultores que sempre que convocados militarmente seguiam contra os inimigos do Mani 57 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 kongo As aldeias e cidades pagavam tributos ao Mani kongo Esses tributos eram pagos com aquilo que o povo produzia alimentos tecidos sal e cobre Assim que os portugueses chegaram ao Kongo perceberam que esse reino seria um bom parceiro comercial O Mani Kongo junto com os chefes viu que poderia lucrar com a presença dos portugueses Esse relacionamento comercial e político durou três séculos até que os portugueses acabaram por controlar a região que hoje corresponde ao norte da Angola Dessa região vieram inúmeros escravos para o Brasil Um dos povos mais importantes de acordo com Souza 2006 que foram feitos cativos e vieram para o Brasil foram os moçambiques Os moçambiques eram embarcados nos portos da Ilha de Moçambique e em Sofala mas eram originários de diversos pontos da África CentroOriental e Meridional Nessa região entre os atuais Moçambique e Zimbábue havia Estados organizados que aos poucos foram se desestruturando com a chegada dos portugueses e a organização do tráfico negreiro O mais importante dentre eles foi o Império do Monomotapa Durante o fim do primeiro milênio da era cristã chegaram à África oriental os primeiros comerciantes árabes Nesse mesmo contexto os povos xonas atravessaram o rio Zambeze e se estabeleceram junto às populações nativas que já habitavam a região Desses dois fatos nasceu o grande Império Monomotapa e as famosas muralhas zimbábues O Império do Monomotapa foi um grande Estado estruturado entre o século IX e XVI Antes da chegada europeia abrangia as regiões do atual Zimbábue até Moçambique onde se localizava o importante porto de Sofala O centro do império estava localizado num grande planalto entre os rios Zambeze e Lipombo e o Oceano Índico A principal atividade econômica era a exploração de ferro cobre e de ouro Foi o ouro do Monomotapa durante século XII que atraiu os comerciantes árabes oriundos do Golfo Pérsico e posteriormente os portugueses para a região As riquezas minerais fizeram do Império do Monomotapa um dos mais poderosos da África oriental e um dos locais mais procurados por comerciantes da Europa e da Ásia Fonte httpmigremewJaql 58 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 O Império do Monomotapa recebeu esse nome porque assim era conhecido o chefe local Monomotapa era um título de governo Mas a ocupação do trono do Monomotapa não era feita de modo hereditário a escolha do soberano era realizada pelos chefes das tribos e também através da consulta dos espíritos dos ancestrais As primeiras informações sobre o império do Monomotapa são advindas dos primeiros comerciantes árabes e dos primeiros portugueses que aportaram no litoral oriental da África principalmente a partir de Vasco da Gama Apesar das escassas informações que temos sobre Monomotapa as ruínas de pedra no interior dão a dimensão do grandioso império e da engenhosidade de seus habitantes No interior do reino ainda hoje podem ser vistas as enormes muralhas de pedras que chegam a 5m de altura por 2m de largura Essas enormes muralhas foram construídas sobre terras férteis por um povo que vivia da agricultura e da criação de gado Elas são unidas somente pela sobreposição de pedras sem nenhum tipo de argamassa são os chamados zimbábues Dentro das muralhas existiam casas cobertas com palha Segundo Maestri 1988 p 105 na língua dos povos xonas a palavra zimbaoé quer dizer residência real ou ainda lugar onde habita o mambo Os xonas cultuavam uma divindade conhecida como Mauari e tinham o mambo como chefe religioso e político O mambo habitava o zimbábue grande monumento de pedra datado do século XI Fonte httpmigremewJaqV Os xonas eram comunidades pastoris que ocupavam as regiões mineradoras mais abundantes e controlavam as rotas que ligavam o interior e a costa litorânea A partir do século XV ocorreu uma forte centralização do poder nas mãos dos mambos e um grande desenvolvimento comercial do litoral e do interior Esse é momento de maior esplendor da civilização xona Conforme Souza 2006 próximo às muralhas chamadas zimbábues foram encontradas porcelanas da China e da Índia o que comprova a relevante atividade mercantil desse povo Segundo Maestri 1988 a história do Monomotapa pode ser dividida em duas etapas A primeira começaria em 1075 e terminaria em 1440 com o nascimento do Império Rozui Esta última data marcaria também o início do período de auge da civilização xona que teve seu fim quando da invasão do planalto pelos Ngoni em 1830 59 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 No Monomotapa havia constantes conflitos entre as chefias que eram formadas por meio de laços de parentesco casamentos e de entidades religiosas Quando o chefe Mutope morreu começaram os conflitos pela sucessão Um dos filhos chamado Niune assumiu o trono mas não foi reconhecido por seu irmão Changa que administrava outras regiões do império e não aceitou a autoridade de seu meioirmão Changa guerreou contra Niune e o derrotou assumindo assim o reino de forma absoluta Aos poucos o reino foi se esfacelando e os territórios foram divididos em diversos reinos menores Nesse contexto de fragmentação ocorreu a chegada dos portugueses A presença dos árabes e dos portugueses ambiciosos por apoderaremse do ouro só aumentava ainda mais os conflitos No Monomotapa havia ouro o que fez com que o local se tornasse uma importante rota comercial O ouro era extraído de maneira sazonal durante o intervalo entre o cultivo da terra e a criação de gado Além do ouro era comercializado também sal cobre e gado Quando os portugueses começaram a frequentar a costa oriental da África de acordo com Souza 2006 tomaram conhecimento dos zimbábues e da existência de um grande reino A vontade de dominar o Reino do Monomotapa era muito grande nos portugueses pois segundo algumas descrições prévias o reino seria rico em jazidas de ouro Mas era bem menos rico do que portugueses imaginavam Os portugueses receberam relatos de que havia no interior da África um reino rico em ouro e que não era governado por muçulmanos Dessa forma os primeiros contatos entre os portugueses e o Reino do Monomotapa visavam a estabelecer relações comerciais e construir um entreposto entre a Europa e Ásia Os portugueses se instalaram e aos poucos foram se casando com as filhas dos africanos para que pudessem ocupar um lugar privilegiado na atividade comercial Ao perceber que a terra não era tão rica como imaginava Portugal parou de investir na região e os filhos nascidos nas terras moçambicanas tornaramse cada vez mais africanizados Segundo Alencastro 2000 o empreendimento colonial português em Moçambique encontrou muita resistência Os portugueses tiveram que reconhecer a autoridade do Monomotapa e não dominaram de imediato a região sorvidos paulatinamente pela sociedade nativa os colonos se africanizaram ALENCASTRO 2000 p 17 60 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 32 Escravidão na África Précolonial Conforme Souza 2006 na costa da África que vai do Senegal até Moçambique lugar onde os portugueses negociavam escravos tudo era manipulado através de curandeiros adivinhos médiuns sacerdotes que foram chamados pelos portugueses de curandeiros As práticas mágicoreligiosas eram chamadas de feitiços Fonte httpmigremewJasJ As orientações de como agir em determinadas situações vinham dos antepassados dos ancestrais heróis fundadores deuses e espíritos Acreditavase que os infortúnios ocorridos eram falta de harmonia entre o mundo real e sobrenatural Isso ocorria quando alguém deixava de fazer alguma oferenda ou quando usava as forças sobrenaturais de forma malintencionada Quando alguém adoecia a plantação arruinava ou uma mulher não engravidava os oráculos eram consultados para que mostrassem qual o melhor procedimento para a solução dos males e doenças A liderança do povo também passava pelos sacerdotes para que os espíritos confirmassem a sua posição Os líderes também eram considerados os mais respeitados representantes do além entre os vivos Fonte httpmigremewJatK Podese dizer que a religião era a base central das sociedades africanas A religião estava presente no poder na harmonia da sociedade nas formas de convivência A religião na África précolonial era inseparável da vida cotidiana e política Mesmo quando os 61 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 muçulmanos adentraram a África pelo norte e pela costa do Índico não conseguiram islamizar totalmente o continente Nas mais variadas regiões se produziram ricos sincretismos do Islã com as religiões tradicionais Essa riqueza cultural das religiões africanas veio com os escravos nos quase 350 anos de tráfico atlântico Nas regiões de Salvador Pernambuco Maranhão entre outras regiões brasileiras ainda permanecem vivos os cultos africanos dos Voduns dos Orixás e do Tambor de Mina Ao lado da religiosidade outro tema que chama a atenção de todos que se voltam para o estudo da África é a escravidão Nesse aspecto é importante discutir algumas questões Principalmente para nós brasileiros a escravidão tem um peso considerável na formação de nossa sociedade afinal a cifra chega a aproximadamente quatro milhões de negros introduzidos compulsoriamente através do tráfico no Brasil em quase três séculos e meio O tráfico negreiro não foi uma invenção diabólica da Europa Foi o Islã desde muito cedo em contato com a África Negra através dos países situados entre Níger e Darfur e de seus centros mercantis da África Oriental o primeiro a praticar em grande escala o tráfico negreiro BRAUDEL 1989 p 138 Segundo Alencastro 2000 há que se fazer uma diferença entre escravidão e escravismo A escravidão era praticada no interior da África précolonial por meio da captura de prisioneiros por ocasião de guerras tribais e mesmo na Europa e nas ilhas portuguesas principalmente a da Madeira A escravidão era reconhecida como legal e permitida junto ao aparato jurídico Já o escravismo deve ser pensado como a escravidão ganhando dimensões gigantes quando se integra à economia do sistemamundo ALENCASTRO 2000 p 32 É importante notar que a escravidão em larga escala se insere nos quadros do sistema capitalista mercantil e no contexto da expansão marítima europeia Esse é um contexto de profunda crise econômica numa Europa que estava abandonando as estruturas feudais É desse ponto de vista que devemos discutir a introdução dos africanos na cultura brasileira entre os séculos XVI e XVII aproximadamente 12 mil viagens foram feitas dos portos africanos ao Brasil para vender ao longo de três séculos cerca de quatro milhões de escravos aqui chegados vivos ALENCASTRO 2000 p 85 Ao contrário das outras monarquias europeias o Estado moderno português definiu se bem mais rápido Em 1249 seu território localizado mais ao sul o Algarve fora tomado de volta dos muçulmanos que haviam ocupado a península desde o século anterior a partir daí as fronteiras portuguesas estavam praticamente definidas Mesmo não fazendo parte de um processo social planejado contínuo e uniforme Portugal contou com governantes interessados na prática de navegação e na exploração de novos destinos 62 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 O Infante Henrique de Sagres filho do rei D João I de Portugal conhecido também como Henrique o navegador membro da dinastia de Avis nascido em 1396 de acordo com Boxer 2002 estimulou a conquista de Ceuta em 1415 e alguns anos depois passou a ser o administrador da cidade Em 1427 juntamente com seus navegadores descobriram a Ilha dos Açores que depois veio a ser ocupada por portugueses O infante também conseguiu licença de Roma para converter os pagãos africanos em 1485 por meio da bula Romanus Pontifex Essa bula endossou a prática de escravização de homens e mulheres da Guiné que depois eram levados para Lisboa como escravos Fonte httpmigremewJawj Até sua morte em 1460 o infante dom Henrique foi o concessionário de todo o comércio ao longo da costa ocidental africana porém isso não significa que ele próprio se encarregasse de todos os negócios Ao contrário ele podia e muitas vezes assim procedeu autorizar comerciantes privados e aventureiros a fazer viagens contanto que lhe pagassem um quinto de lucros ou outra porcentagem combinada BOXER 2002 p 45 Portanto todo o comércio marítimo esteve dominado pelo Infante e consequentemente atrelado aos interesses da monarquia De acordo com Alencastro 2002 após a morte de D Henrique a Coroa resolveu terceirizar os negócios ultramarinos a partir daí um rico mercador de Lisboa chamado Fernão Gomes passou a cuidar destes assuntos Em 1475 a monarquia retomou novamente o controle O infante e herdeiro do trono D João começou a exercer as atividades dos negócios marítimos Com a morte de seu pai ele herdou o trono adotando o nome de D João II Obcecado por aumentar o comércio principalmente com a África durante seu governo houve avanços importantes na política ultramarina Com o objetivo de garantir o monopólio português ele criou um posto em terras africanas o Castelo de São Jorge da Mina Fonte httpmigremewJawV Esses dois primeiros governos realizaram o processo de conquista dos territórios ultramarinos lusitanos A partir deles ou seja a partir do final do século XV os 63 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 sucessores tiveram que administrar e sobretudo negociar os territórios sob jurisdição de Portugal Vários países ameaçavam os domínios ultramarinos dos lusitanos tais como França Holanda Inglaterra e Espanha Essa última unificou o reino de Portugal por mais de meio século período denominado União Ibérica 15801640 Portugal conseguiu dominar vários povos principalmente pelas armas e pela tecnologia que desenvolveu Os barcos portugueses eram os mais poderosos capazes de cruzar o Atlântico sem maiores dificuldades guardar diversos mantimentos e travar combate no litoral das regiões a serem ocupadas Os navios utilizados pelos portugueses eram as caravelas e as naus As caravelas eram navios pequenos e de fácil navegação já as naus eram embarcações maiores com grande poderio militar e capacidade de transporte de passageiros sejam militares ou escravos O navegador Pedro Álvares Cabral ao chegar ao território da América portuguesa estava pilotando uma delas e Bartolomeu Dias primeiro navegador que contornou o Cabo da Boa Esperança na costa sul africana também estava pilotando uma caravela Fonte httpmigremewInur Segundo Boxer 2002 outro grande aliado do reino português em sua conquista pelo ultramar era seu poder militar Desde o fim das Guerras de Reconquista o governo lusitano contava com forças regulares em seu quadro ou seja oficiais pagos vivendo do trabalho militar Foram estes homens que entraram em confronto com indígenas africanos e muçulmanos Aliada a essa força composta por soldados pagos havia outra não paga formada por membros não remunerados da sociedade civil chamada de milícias O terço deveria ser formado por 2500 soldados repartidos em dez companhias compostas cada uma de 250 homens todos subordinados ao capitãomor ou mestre de campo Estas companhias sob o comando de um capitão por sua vez deviam se dividir em dez esquadras de 25 homens O capitão de companhia tinha a seu serviço um alferes um sargento um meirinho um escrivão dez cabos de esquadra e um tambor O capitãomor possuía ele mesmo uma das companhias que era servida também por um sargentomor seu substituto natural e por quatro ajudantes No caso das ordenanças os senhores ou os donos das terras de 64 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 um termo deveriam a princípio ser automaticamente providos no comando das tropas como capitães PUNTONI 1999 p 190 Segundo Monteiro 1994 as tropas portuguesas atuavam com uma estratégia bem diferente nas colônias readaptandose à realidade local Se na Europa os prisioneiros recebiam lugar para descanso e recuperação com uma guerra pautada no movimento das tropas e ataques pelos flancos na colônia era diferente a guerra era marcada por confrontos violentos e a aniquilação total do inimigo Na África Índia ou em sociedades africanas organizadas no Novo Mundo como o Quilombo de Palmares por exemplo as técnicas foram estas confrontos violentos uso da população local e utilização de armas de fogo e fortalezas Sem dúvida a estratégia militar dos portugueses favoreceu a conquista em suas colônias Fonte httpmigremewJayW Desde os primeiros contatos conforme Silva 2002 vários fatores determinaram o sucesso das incursões portuguesas e a religião acabou sendo o primeiro e mais importante deles O cristianismo representava uma importante arma para o domínio português no ultramar e na África Central não era diferente Claro que essa relação era mais dialógica do que pensamos pois havia também no reino do Congo uma religiosidade própria da cultura daquele povo Uma das hipóteses que fez com que os súditos do rei do congo aceitassem os portugueses caminhava exatamente ao encontro desses pressupostos existentes Dizem também que os homens que baixaram das embarcações tinham a pele desbotada falavam uma língua que não se entendia e foram tidos como espíritos Talvez tenha sido assim E talvez os congos da foz do rio Zaire também tenham tomado os recémvindos por seus antigos mortos ou por entes sobrenaturais das águas ou da terra Haviam surgido do oceano o oceano que bem podia ser o calunga ou as grandes águas que ninguém jamais atravessara em vida e que separavam o mundo dos vivos do mundo dos mortos SILVA 2002 p 359 Em conformidade com Silva 2002 para os congoleses a chegada daqueles homens brancos vindos do mar significava algo metafísico daí a relativa facilidade de aceitação que conseguiram no reino do manicongo Quando um dos navegadores portugueses chamado 65 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Diogo Cão voltou de sua incursão trouxe consigo dois africanos e deixou dois portugueses como mostra de confiança mútua Após dois anos quando retornou ele trouxe de volta os dois africanos agora vestidos à moda europeia e falando o idioma português Neste momento os contatos entre os dois reinos estreitaramse ainda mais O manicongo ouviu atentamente os relatos dos dois homens e a aristocracia congolesa ficou encantada com a riqueza e o poder do soberano português Animado por tais relatos segundo Silva 2002 o rei do Congo enviou uma comitiva ao rei português D João II A comitiva levou muitos presentes ao soberano lusitano como dentes de elefante objetos de marfim e panos de ráfia Entre os pedidos do manicongo estava a instrução de dois rapazes enviados para estudar e o envio de padres católicos para instruílos na religião O rei português acolheu todos os pedidos era a oportunidade que o monarca queria para começar um estreito diálogo com o manicongo Quando os portugueses atracaram no reino do Congo ele era composto pela capital Banza Congo e algumas províncias Soyo Sundi Pemba Bata Pambo Cada província possuía um governador que possuía o título de Ngola ou Mani Todos os governadores pagavam tributo ao rei e também lhe deviam obediência o rei era chamado de manicongo e morava na capital Havia rivalidades entre os chefes locais e o manicongo todos os representantes das elites tencionavam conseguir em algum momento o poder e para isso segundo Silva 2002 era importante aliarse ao poderoso homem branco vindo do mar De acordo com Glasgow 1982 em 1575 Paulo Dias de Novais neto de Bartolomeu Dias estabeleceuse em Luanda como governador Num primeiro momento a tentativa dos portugueses era de estabelecer na região uma colonização parecida com a do Brasil por meio de concessão de territórios e a fundação de algumas fortalezas no interior Massanango Cassange Ambaca Muxima Novais assumiu o compromisso para com a Coroa de colonizar e explorar aquela terra Os povos que habitavam a região eram principalmente os Imbangalas Jagas e Andongos O nome Angola foi dado em primeiro lugar pelos europeus que habitavam a região pois os reis eram chamados de Ngola No começo de sua estadia Novais estabeleceu uma relação amistosa com o mais importante governante local responsável pela Ilha de Luanda este identificou o perigo de ter um estrangeiro em suas fronteiras apenas em 1580 quando entrou em confronto armado com os portugueses A guerra entre Novais e o Ngola durou nove anos recheada de vitórias e derrotas para ambos os lados com uma vantagem inquestionável para os lusitanos Tal vantagem decorria principalmente das armas dos portugueses Além da capacidade de recrutar degredados de outras colônias os portugueses valiamse do uso de armas de fogo e utilizavam em suas campanhas cavalos importados do Brasil Esses 66 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 animais além de concederem vantagens no campo de batalha causavam medo na maioria dos africanos Na visão das autoridades a principal vantagem do uso de cavalos viria do suposto terror que estes animais produziam nos africanos Tal visão é atestada por numerosos relatos do século XVI e XVII Segundo o governador Fernão de Souza o terror dos africanos em relação aos cavalos era tamanho que tornaria desnecessário o uso de arcabuzes pelas tropas governamentais Mais tarde o exgovernador Francisco Vasconcellos da Cunha afirmou que os africanos têm mais medo de 20 cavaleiros do que de duas companhias da infantaria FERREIRA 2000 p 12 Essa visão africana sobre os cavalos evidentemente não durou todo o processo de colonização mas acabou sendo substancial para as vitórias lusitanas Se durante o período de guerra com o primeiro governador não podemos proclamar um vencedor ao menos se pode dizer que as ocupações e a iniciativa da guerra era toda dos europeus Enquanto o rei estava defendendo seu povo e seus privilégios de comércio de acordo com Glasgow 1982 os portugueses acreditavam que Angola era um novo Peru e que tinha vários campos de prata e demais metais preciosos Em 1591 o rei Felipe II da Espanha e Portugal rescindiu as capitanias hereditárias e nomeou um governadorgeral para Angola Essa mudança institucional fez com que os andongos sitiassem os portugueses que ficaram restritos em seus fortes Em 1602 houve uma reviravolta e o Ngola foi derrotado Finalmente os portugueses chegaram às suas cobiçadas minas que no final compunhamse apenas de chumbo A coroa espanhola controlava então o reino sempre claro tendo que encarar revoltas de alguns Ngolas do interior Fonte httpmigremewJazY Em 1617 segundo Glasgow 1982 chegou a Luanda o novo governadorgeral Luís Mendes de Vasconcelos com grandes propósitos manter a paz no território conter o comércio ilegal de escravos estancar a corrupção e desvencilharse dos Imbangalas No mesmo ano de sua chegada depois de sangrentas disputas sucessórias subiu ao trono Ngola Mbandi marcado por sua crueldade A força militar e a luta armada estiveram presentes na ocupação portuguesa em Angola Ao contrário do reino do Congo onde houve uma negociação e uma tentativa de assimilação por meio da religião na vizinha Angola a metodologia era diferente 67 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 O que os portugueses não contavam no caso angolano era com o contexto atlântico europeu A Holanda criou uma companhia para rivalizar com os portugueses e conquistar territórios no ultramar Em 1630 os holandeses invadiram Pernambuco permanecendo por lá 14 anos não satisfeitos avançaram também sobre as possessões africanas dos lusitanos Os holandeses estavam presentes na região desde ao menos 1622 quando comerciavam com o Nsoyo Nesse período uma rainha guerreira de Matamba havia entrado em guerra com seu irmão pela disputa do poder O irmão Ngola Aire apoiado por portugueses impôs em vários momentos derrota para sua irmã inimiga dos portugueses Como inimiga dos lusitanos de acordo com Glasgow 1982 Nzinga se viu em uma posição difícil pois não possuía armas à altura e não tinha o poder de recrutar gente de outras regiões como ocorria com os portugueses Uma importante estratégia da rainha foi negociar com os inimigos de Portugal Assim a rainha teceu alianças com a comunidade dos Ambundos e com os holandeses Conforme Glasgow 1982 p128 somente em 1647 que se firmou uma tríplice aliança entre holandeses congoleses e ambundos com o compromisso de empreender uma investida conjunta para exterminar os exércitos lusos A rainha conseguiu em determinado momento juntar forças para combater seus inimigos Conhecida por sua alta educação e capacidade de diálogo a rainha conhecia bem o idioma português e os costumes cristãos Fonte httpmigremewInD8 Nzinga esteve em batalha por dez anos utilizando os mais variados recursos talvez tenha pensado também em utilizarse da religião como os membros da dinastia congolesa no ano de 1657 missionários capuchinhos conseguiram fazer com que a rainha aceitasse novamente a fé cristã Os capuchinhos eram rivais dos portugueses ou ao menos encarados como tal no reino de Angola e Luanda A rainha combateu de forma heroica os portugueses enfrentando todos seus recursos bélicos utilizando todos os artifícios que havia ao seu alcance A rainha Nzinga simbolizou o primeiro movimento de resistência sistemático africano à dominação portuguesa Tendo um compromisso total e absoluto para com a libertação e o nacionalismo angolanos ela foi de 1620 até sua morte em 1663 a personalidade mais importante de Angola Nzinga fracassou na missão de expulsar os portugueses e de se tornar rainha da Etiópia Oriental incluindo Matamba e o Dongo Entretanto sua 68 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 importância histórica transcende esse fracasso pois despertou e encorajou o primeiro movimento nacionalista de que se tem conhecimento na África Central organizando uma aliança nacional e internacional em sua oposição total à dominação europeia GLASGOW 1982 p177 Nzinga faleceu em 1663 mas seu legado continuou Hoje ainda temos grupos de capoeira maracatu com o nome da soberana Dentre os nomes africanos que batizam várias crianças brasileiras esse é o mais recorrente O seu nome abrasileirado tornouse sinônimo da dança utilizada por capoeiras a Jinga Talvez esse legado tenha atravessado séculos por conta dos guerreiros dessa soberana Depois de sua morte cerca de 7000 deles foram escravizados e enviados para o Brasil Tal escravização aconteceu depois de uma importante batalha que mudou a história da África Central a batalha de Ambuíla De acordo com Cadornega 1972 o governadorgeral André de Vidal Negreiros depois de fazer uma aliança com os Imbangalas derrotar os Jagas e as forças da rainha Nzinga estava convencido de que era chegada a hora de derrotar o reino do Congo que havia aproveitado sua religiosidade para segurar as invasões portuguesas O ataque estava sendo organizado há alguns meses Negreiros conseguiu autorização de Lisboa para ocupar as minas do Congo Reuniu várias tropas ao todo foram reunidos cerca de seis a sete mil soldados sob o comando de Luís Lopes de Sequeira marcharam para Ambuíla em 1665 O soberano congolês D Antônio I convocou qualquer pessoa capaz de manusear uma arma para defender seu reino e a vida de seus súditos havia ainda nas tropas africanas o reforço de 190 mestiços e 29 portugueses que moravam na capital Banza Congo Ao todo as fontes relatam que suas tropas somavam aproximadamente cem mil homens Fonte httpmigremewJaBQ A batalha de Ambuíla em 1665 causou grande impacto na relação entre os africanos e portugueses No imaginário português a guerra seria a vitória do verdadeiro cristão sobre os infiéis africanos e em última análise ela representou a unificação dos reinos da África central e passou a impulsionar a atuação dos europeus na África Central principalmente no que se refere ao tráfico de escravos O tráfico de seres humanos escravizados de acordo com Soares 2004 existiu em várias sociedades ao longo da História Essa prática era comum em várias culturas europeias incluindo eslavos e nórdicos 69 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 passando por orientais como chineses e japoneses Todas elas em algum momento tiveram a organização do trabalho de maneira compulsória chamada de escravidão e também de corveia na Idade Média europeia Para que tal forma de trabalho obtivesse resultado era necessário reduzir a pessoa à escravidão Quando tal redução atingia o status de negócio era preciso montar uma estrutura mais ampla envolvendo diversas redes de negociantes e fornecedores Os cálculos e o detalhamento dos custos de cada ação deveriam ser feitos minuciosamente para cada ação deveria existir uma pessoa habilitada para sua execução e várias eram as atribuições específicas do comércio de seres humanos No continente africano esta formação de um mercado específico para tal fim começou a partir de 1650 mas o tráfico já existia desde a chegada dos portugueses no século XV na África Central mas tomou proporções alarmantes em fins do século XVIII até meados do século XIX Em conformidade com Soares 2004 o destino da quase totalidade dos africanos escravizados era a América e dentre os países da América o que mais recebia escravos era o Brasil No continente africano os lugares que frequentemente forneciam homens e mulheres para a travessia atlântica era a África central representada por vários Estados denominados genericamente de região de Angola e região do Congo o Golfo do Benim e a Costa do Ouro Na África Central os portugueses detinham um controle privilegiado e desta parte saíram a maioria dos escravos desembarcados nas Américas As etnias dos africanos eram múltiplas e o fato de Angola ter fornecido o maior número de pessoas não quer dizer que os escravos fossem em sua maioria angolanos Até porque a mobilidade de homens e mulheres escravizados era enorme principalmente depois de 1650 até o terceiro quarto do século XIX Além disso no Brasil a reprodução dos escravos por meio de casamentos criou uma segunda geração de cativos denominados pelos contemporâneos de crioulos O número de cativos diminuiu também com o fim do tráfico de escravos para o Brasil a partir da Lei Eusébio de Queiroz aprovada pelo congresso em 1850 a lei proibia o tráfico negreiro da África para o Brasil mas não proibia a comercialização e utilização da mão de obra escrava já presente em solo nacional O comércio entre o Rio de Janeiro e Luanda estava estabelecido desde o começo do século XVIII e se enraizou no século seguinte Tal comércio transformou a cidade brasileira na primeira metade do século XIX numa espécie de pequena África devido ao grande número de escravizados que fizeram com que o índice de africanos entre a população fosse altíssimo Essa maciça presença de africanos não passou despercebida por pintores que representaram a cidade por meio de seus pincéis como os europeus Debret e Rugendas 70 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Como transparece nas gravuras de Debret os africanos do Rio de Janeiro joanino gostavam de se apresentar vistosamente misturando estilos africanos e enfeites europeus As formas de identificação étnica variavam Tudo indica que o barrete vermelho e as fitas eram símbolos exclusivos de algumas etnias enquanto outros africanos como os da África Ocidental partilhavam diferentes formas de identificação SOARES 2004 p 81 Outra rota secular que envolvia o tráfico de escravos no Brasil era Salvador e o Golfo do Benim A capital baiana possui um dos índices mais altos de pessoas declaradamente negros e negras atualmente Segundo o recenseamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE 824 da população da cidade é formada por negros ou pardos A maioria dos escravos importados para o norte do Império desembarcava na Baía de todos os Santos Os falantes de língua ioruba e os Haussás muçulmanos entraram maciçamente na região ocupando além de Salvador o Recôncavo baiano que contava com várias cidades como Cachoeira Amargosa Santo Amaro da Purificação entre outras Fonte httpmigremewJaDr Conforme Silva 2002 os traficantes baianos mantinham relações de amizade com grandes traficantes africanos e até mesmo com soberanos locais Era comum o envio de filhos de reis africanos para estudar na Bahia e alguns deles viajavam para a África duas ou três vezes por ano para administrar seus negócios naquele continente e conhecer a região que os tornava ricos e poderosos Francisco Félix de Souza conhecido como Xaxá foi um dos mais conhecidos destes comerciantes Nascido na cidade de Salvador em 1754 ele morreu no ano de 1849 em Uidá no Benim Em sua trajetória africana ele desafiou alguns soberanos locais se tornou conselheiro de outros sempre vivendo na sua dupla fronteira cultural Terminou seus dias no reino de Daomé não desfrutando da riqueza de antes mas com prestígio perante a monarquia FontehttpmigremewJaGh 71 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Segundo Silva 2002 essa proximidade teve como facilitadora a qualidade de um produto que era trocado por escravos no Golfo do Benim e também na Costa do Ouro o tabaco baiano muito apreciado pelos africanos Os comerciantes levaram o navio carregado deste material e retornavam cheio de pessoas Os brasileiros contavam com uma vantagem o tabaco Mercadoria indispensável ao comércio na região os próprios holandeses e ingleses procuravam adquirilo dos barcos baianos a fim de compor os conjuntos de produtos que ofereciam pelos escravos Nessas relações era raro faltar o tabaco Não qualquer tabaco o tabaco em rolo da Bahia Nem tampouco qualquer tabaco em rolo da Bahia mas aquele feito com folhas partidas e banhado em melaço que na Europa se tinha como de qualidade inferior Na África era porém apreciadíssimo os mais exigentes consumidores não dispensavam o seu sabor adocicado SILVA 2002 p 542 Essas relações comerciais e interpessoais tornaram a Bahia uma referência para os falantes da língua ioruba Deriva desse momento a formação dos cultos de candomblé de Nação Ketu conhecidos mundialmente É possível vislumbrar a partir da África Central principalmente Congo e Angola como a escravidão passou por uma transformação e o tráfico esteve ancorado em dois pontos O primeiro econômico com o aumento significativo do preço dos cativos O segundo político tendo em vista o fortalecimento do Estado sem a necessidade antes premente de promover guerras desgastantes Tudo indica que a escravidão passou a crescer sob os efeitos do tráfico e assumir formas cada vez mais comerciais diferente da escravidão doméstica e tradicional que havia antes Mesmo assim a diferença na região da África Central apesar de ter sido grande não teve as mesmas proporções que na parte ocidental do continente Na África Ocidental o tráfico esteve mais influenciado pelos novos compradores da Europa do norte Os Estados dessa região comercializavam principalmente com o Império Britânico mas também com franceses ingleses e até dinamarqueses Interessante notar que o comércio não estava completamente ligado às monarquias mas concentrado nas mãos de capitalistas e intermediários preocupados em enviar o maior número possível de escravos para as plantações de algodão nas treze colônias da América e as plantações de açúcar e café da América Central e Caribe Os Estados africanos porém também não controlavam o tráfico de forma plena Apesar do esforço de membros da nobreza não era sempre que o monopólio de venda de escravos era exercido A da região do CongoAngola provia os mercados de mão de obra 72 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 escrava as regiões responsáveis por distribuir escravos eram a Costa do Ouro o Golfo de Benim e a Baía de Biafra Os escravos aumentavam seu valor na medida em que eram levados para territórios mais distantes de sua terra natal Isso acontecia pelo fato de uma vez distantes de seu lugar de origem a possibilidade de fuga tornavase menor O mais comum era vender um escravo para longe e na compra para a revenda também comprar algum de origem longínqua Fonte httpmigremewJaHt A quantidade de reinos independentes na África Ocidental era grande e diversos deles estavam organizados politicamente para atender as demandas do tráfico O controle do tráfico envolvia membros do Estado e comerciantes locais para a efetiva conquista do negócio do tráfico era vital a dominação dos principais portos que oscilou muito devido às guerras Os Estados africanos ganhavam muito com a prática desse comércio em seu território pois além da venda direta controlada ou não por eles havia várias taxas e embargos que poderiam ser aplicados Os governos costeiros regulavam a venda de escravos para os europeus sempre que podiam Com isso eles tiravam proveito do desejo dos capitães dos navios de levantar âncora o mais rapidamente possível Fatores costeiros determinavam os preços e os sortimentos negociados de mercadorias a serem trocadas por escravos Pelo fato de o comércio ao longo da costa ser altamente dependente do crédito muitas vezes estendido na forma de mercadorias que eram levadas para o interior do continente a fim de adquirir escravos numerosos pagamentos que iam de direitos alfandegários a taxas de ancoragem serviços de transporte e subornos inequívocos eram requeridos e tinham que ser adicionados ao preço de venda dos escravos nos cálculos dos comerciantes europeus LOVEJOY 2004 p158173 A economia e a política de acordo com Lovejoy 2004 conectavamse de forma intrínseca isso fazia com que as fronteiras fossem extremamente mutáveis As guerras entre os vários reinos eram constantes e ao longo dos séculos eles trocavam seus respectivos nomes fazendo com que a representação geográfica não fosse condizente com os povos que os habitavam A Costa do Ouro durante o período do tráfico oscilou muito em importância Tal oscilação aconteceu principalmente pelos constantes conflitos entre os diversos Estados A luta pelo controle do território fazia por vezes o tráfico concentrarse 73 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 nas mãos de comerciantes de outras localidades Os principais invasores da Costa do Ouro foram os povos Haussás que disputavam o domínio do interior principal fonte de abastecimento de escravos para o litoral Na região central da localidade quem mais conseguiu o poder foi Axante que permaneceu por longos anos na Costa e tentou estatizar o comércio de escravos no século XVIII A Baía de Biafra expandiu sua participação nos negócios do tráfico no século XVIII contudo o volume de pessoas transportadas jamais alcançou os volumes praticados pela África Central ou o Golfo de Benim O seu comércio era praticado principalmente por atacadistas não havia controle específico do Estado os maiores traficantes que comercializavam naquela região eram de origem inglesa O Golfo do Benim ao lado da África Central forneceu o maior número de escravos para as Américas As ligações dessa região com a província da Bahia desde o século XVIII até 1850 os traficantes brasileiros radicados ou naturais da Bahia trouxeram várias pessoas desta localidade de forma violenta para viver em terras brasileiras Os principais grupos capturados e envolvidos nessa tarefa eram os jejes haussás bornus tapas nagôs entre vários outros Os portos originários eram os de Aiudá Popó Onim e Apá Três novos fatores foram responsáveis pela expansão astronômica nas exportações na área Em primeiro lugar a perspectiva de lucro comercial parece ter sido um forte motivo na luta pelo poder ao longo das lagunas que ficavam atrás do golfo do Benim Vários portos da laguna tentaram dominar o mercado desde Popo Grande e Pequeno no oeste até Uidá Offra Jakin Epe Apa Porto Novo Badary e Lagos a Leste Aladá situada no continente impôs com sucesso algum domínio sobre as lagunas Seus portos em Offra e Jakine e posteriormente seu controle sobre Uidá asseguravam o domínio do comércio exportador no final do século XVII quando as exportações tornaramse importantes Em segundo lugar o reino ioruba de Oió iniciou uma série de guerras no interior que resultou na escravização de muitas pessoas Oió era um estado da savana a sua capital estava localizada apenas 50 km do rio Níger e a 300km da Costa Sua força estava na cavalaria baseada em cavalos importados do norte distante que permitia ao estado dominar o comércio até a costa Em terceiro lugar Daomé situado a 100 km do litoral intervinha na política costeira e atacava os seus vizinhos do norte desde a década de 1720 aumentando assim o volume da exportação Daomé utilizava Uidá como seu principal porto e por ele saíram quase um milhão de escravos do final do século XVII até o início do século XIX LOVEJOY 2004 p102 A travessia atlântica era um dos momentos mais difíceis do processo de escravização Pessoas que estavam acostumadas com o convívio em seus Estados e aldeias que contavam com o apoio de vizinhos e familiares que possuíam animais domésticos pelos quais eram afeiçoados de uma hora para outra eram reduzidos à escravidão e quando se davam conta estavam num navio cruzando um grande oceano 74 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Pode ser interessante para aqueles pouco familiarizados com o embarque de escravos saber alguma coisa sobre a maneira como isto é feito Quando um embarque de escravos está prestes a acontecer os escravos são trazidos para fora como na sua saída costumeira para tomar ar talvez de dez a vinte numa corrente que é presa ao pescoço de cada indivíduo a uma distância de cerca de uma jarda um do outro Desta maneira eles são postos em marcha numa fila única em direção à praia sem fazer ideia do seu destino sobre o qual eles de resto parecem um tanto indiferentes mesmo quando vêm a sabêlo Todas as canoas são requisitadas A pequena peça de tecido de algodão atada às ilhargas do escravo é retirada e o grupo em cada corrente é conduzido um após o outro até uma fogueira previamente acesa na praia Aqui ferros de marcar são aquecidos e quando um ferro está suficientemente quente ele é mergulhado rapidamente em azeite de dendê para impedir que fique grudado sic à carne Ele então é aplicado às costelas ou às ancas e às vezes até mesmo ao peito Cada traficante de escravos usa a sua própria marca de modo que quando o navio chega ao seu destino podese facilmente verificar a quem pertenciam aqueles que morreram Eles então são empurrados para dentro de uma canoa e obrigados a sentarse no fundo onde são arrumados da forma mais compacta possível até que a canoa chegue ao navio Então eles são levados a bordo e novamente postos na corrente até alcançarem seu destino onde são entregues aos seus futuros senhores ou aos agentes destes Biografia de Mahommah G Babaqua apresentação de Silvia Lara In Revista Brasileira de História nº 16 1988 p269284 apud LOVEJOY 2002 p184 Antes de continuar seu estudo realize o Exercício 3 e a Atividade 31 Dicas de aprofundamento OGOT Bethwell Allan História Geral da África V África do século XVI ao XVIII Disponível em httpunesdocunescoorgimages0019001902190251PORpdf Acesso em 01 jun 2019 Assista ao documentário 12 Anos de Escravidão Disponível em httpswwwyoutubecomwatchvzZQ9i6RoWYo Acesso em 26 mar 2020 75 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 UNIDADE 4 NEOCOLONIALISMO E MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA DA ÁFRICA SÉCULOS XIX E XX OBJETIVO DA UNIDADE Compreender a dinâmica do fim do tráfico de africanos e seu impacto para a África bem como as estratégias de ação do neocolonialismo no continente identificando suas diferenças entre as potências industriais europeias no século XIX Analisar os processos de emancipação do Continente ao longo do século XX 41 O Neocolonialismo e o fim do tráfico de escravos africanos Segundo Harvey 2004 antes o que levava os europeus para a África era o tráfico de escravos Mas com as mudanças políticas e econômicas que vinham acontecendo na Europa as motivações principalmente capitalistas industriais levaram ao desenvolvimento de um novo tipo de colonialismo o chamado neocolonialismo em que a formação de mercados consumidores e a necessidade de ampla mão de obra barata não tiravam vantagens da escravidão instituíram uma nova forma de dominação esta nova ordem econômica denominada de Imperialismo tomou força e conseguiu seus objetivos a partir da segunda metade do século XIX Fonte httpmigremewJaN9 A ideologia neocolonialista do século XIX estruturava suas bases e suas manifestações em uma filosofia moral iluminista e industrial Depois de meio século as bandeiras das forças contra o tráfico e a escravidão forças da civilização da África serviram de pretexto oficial para as pressões ocidentais contra o tráfico dentro do continente africano Tais forças eram cada vez mais poderosas no litoral e no Oeste do continente africano Por volta de 1860 o Ocidente europeu instalou em definitivo uma presença que até então era pontual subordinada aos soberanos africanos Essa presença estava determinada pela Inglaterra que visava proibir com o seu poderio naval toda e 76 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 qualquer mobilização de navios em portos africanos Do Norte ao Leste da África os navios ingleses entraram para sair apenas um século depois O perfil abolicionista dos ingleses não pode ser associado apenas ao comércio e à vontade de conquistar novos territórios Desde o século XVIII a definição do que seria um direito universal ao bemestar e à liberdade passou por discussões com diversos campos de conhecimento antropólogos filósofos e teólogos voltaramse para o exemplo africano do escravo da escravidão e sua posição num mundo livre Os ideais que nortearam a Revolução Francesa também foram os mesmos que fizeram com que o tráfico fosse extinto Fonte httpmigremewInPO Esse tipo de movimento de acordo com Harvey 2004 fez com que as noções admitidas sobre o que era o negro africano e o escravo americano não fossem mais confundidas A transmutação era evidente se antes o africano era um animal de carga para a maioria dos europeus agora era um ser moral e social Essas análises humanitárias passaram a exigir o fim do tráfico A legitimidade moral da escravidão estava na berlinda e a exigência abolicionista aumentou muito com o passar das décadas As associações internacionais ao pensarem no tráfico afirmavam que sua prática era extremamente brutal Depois de décadas os europeus passaram a perceber que não apenas a escravidão mas também o tráfico era uma prática cruel ao contrário dos séculos anteriores Para eles a prática deste infame comércio encorajava a morte de outros brancos e retirava a capacidade produtiva do continente africano Nesse sentido alguma coisa deveria ser feita ou seja eles deveriam promover o desenvolvimento no continente Ao denunciar o flagelo os abolicionistas não pretendiam converter imediatamente traficantes negros ou escravagistas brancos Propôsse um programa de regeneração da África através da cristianização da civilização do comércio natural que fixou etapas racionais para sua execução reverter a opinião pública do mundo cristão levar os governos civilizados a tomar posições oficiais abolir legalmente o tráfico no Atlântico Na França por exemplo país onde a difusão de valores burgueses e iluministas foi grande existe um 77 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 exemplo claro desse tipo de mentalidade contra o tráfico e a escravidão Um importante livro que é estudado como sendo parte da obra de alguns filósofos iluministas denominada Enciclopédia produzida por Denis Diderot difundiu entre os revolucionários a aversão à escravidão Houve a criação de uma sociedade de amigos dos Negros formada por intelectuais do país e que teria supostamente recebido ajuda financeira da Inglaterra O tráfico terminou em 1824 no Senegal e continuavam esporadicamente nos rios Pongo e Nunes até 1866 Na Costa do Marfim e do Ouro o tráfico interno acabou subsistindo e alguns raros que se destinavam aos navios da Costa seu destino era contudo o mercado regional A leste na região de Uidá e Lagos a situação era difícil de explicar devido à sua complexidade pois definir o que era tráfico de escravos e o que era tráfico de homens livres era extremamente difícil Entretanto a pressão diplomática e as artimanhas políticas da França e da Inglaterra levaram a uma forte contenção do tráfico de escravos Do Benim até o Gabão o que prevalecia era uma política de tratados e de ocupação do solo cuja consequência era minar o lugar onde os escravos eram levados Por meio de pressões e tratados o tráfico na África foi diminuindo e os europeus atingiram seu objetivo por volta de 1870 De acordo com Harvey 2004 um primeiro ponto deve ser esclarecido sobre o neocolonialismo europeu na África e referese à forma como os invasores foram recebidos Em sua maioria eles foram recebidos de forma hostil E esta hostilidade pode ser percebida pela reação dos dirigentes africanos do período Os reis de Ghana em 1891 foram completamente contra a investida britânica No ano de 1895 um soberano da República do Alto da Volta declarou que jamais iria entregar seu território ao soberano francês No Senegal e na Namíbia no ano de 1893 os dirigentes dessas sociedades tiveram também a mesma atitude diante dos colonizadores E as tentativas de manutenção do território não foram apenas pela via dos protestos e sim também atuaram pela via diplomática europeia Conforme Apiah 1997 em 1883 o soberano de uma região que atualmente faz parte do Senegal chamada à época de Cayor ao lado de um dos soberanos do que hoje constitui a Namíbia entraram em contato com a mais poderosa rainha na época a rainha inglesa Victória O objetivo desses homens era fazer com que seus países não fossem divididos pelos europeus Tal atitude demonstra o quanto as autoridades estiveram atentas a tudo o que acontecia em seus respectivos reinos Fonte httpmigremewJaQS 78 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Ainda segundo Appiah 1997 aos olhos dos soberanos africanos algumas melhorias trazidas pelos europeus eram evidentes E essas melhorias num primeiro momento não vinham junto com a perda de soberania No ano de 1826 em Serra Leoa alguns missionários fundaram uma Escola chamada Fourah Bay College assim como escolas de ensino primário e secundário na Nigéria alguns anos depois em 1870 Alguns intelectuais negros não africanos do período chegaram a lançar manifestos com o objetivo de sensibilizar as nações europeias para investir na criação de uma Universidade na África Portanto diante dessas benesses antes das partilhas os dirigentes africanos estavam em uma situação de conforto pois acreditavam poder barrar uma possível investida O problema é que um fato passou despercebido pelos africanos Depois de 1880 com o advento da primeira e segunda revolução industrial alguns itens tecnológicos foram inventados e eles tiveram papel fundamental na partilha do continente africano entre eles vale a pena destacar navio a vapor metralhadoras estradas de ferro telégrafos Tudo isso variando em importância fizeram muita diferença E os europeus segundo Harvey 2004 que eles enfrentaram possuíam além de novas tecnologias novas metodologias e demandas contra esses africanos Os tempos eram outros e os europeus estavam interessados não apenas no comércio Os europeus não queriam apenas trocar bens mas sim exercer o controle político sobre a África Além disso os dirigentes africanos não sabiam que o armamento que eles utilizavam era obsoleto se comparados com os europeus No campo militar alguns soberanos acreditavam realmente poder enfrentar os europeus em caso de uma guerra cabe lembrar que no século XVII a África Central não capitulou diante dos portugueses De acordo com Miller 1988 a guerra sempre foi uma constante entre os Estados africanos assim como entre os europeus e sulamericanos No entanto na África ela tomou um significado diferente A continuidade de conflitos envolvendo os diversos Estados é apontada como um dos motivos que fez com que os africanos não pudessem organizar disciplinar e até mesmo manter um exército permanente e capaz de combater mesmo que apenas com um número superior os conquistadores europeus Afinal entre anexações e resistências cada região passava por várias identidades sociais diferentes ao longo da história e para manter um exército permanente é preciso ao menos uma tradição nacionalista Segundo MBokolo 2007 é difícil calcular o impacto dessas guerras sobre o potencial de resistência das sociedades africanas face ao avanço colonial mas é possível apresentar algumas hipóteses possíveis Alguns Estados realmente ficaram esgotados com elas e incapazes de rechaçar a investida dos colonizadores britânicos Entre 1886 e 1893 os ingleses instalados em Lagos impuseram a paz entre os Estados iorubas Em outros casos o 79 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 prolongamento dos confrontos fazia com que os europeus se fortalecessem à medida que os dois estados em guerra enfraqueciam A forma de organização dos exércitos africanos não era padronizada Existiam várias formas dentro de um continente tão vasto De maneira sistemática é possível grosso modo dividilas em três tipos exército de mercenários exército de súditos e exército de cidadãos Conforme Miller 1988 o mais temido sem dúvida era o exército de mercenários pois eram conhecidos e temidos pela violência Na África Oriental os Askari grupo formado por povos guerreiros cobravam caro para isso Além de serem bem pagos para entrar na guerra tinham também a promessa de um saque valioso no espólio do inimigo vencido O exército dos cidadãos funcionava de uma forma simples O objetivo era mobilizar todos os homens do país para pegar em armas e assim engrossar as fileiras do Exército contra os inimigos A vantagem nesse tipo de exército era o baixo custo com remuneração já que ao contrário dos mercenários esses homens não recebiam para atuar em prol de seu próprio reino O que eventualmente esses guerreiros recebiam eram benefícios materiais e simbólicos isso em caso de uma vitória O exército de súditos tipo de exército intermediário e hierarquizado Todos os homens abastados eram reunidos nele e quanto mais prestígio do cidadão maior sua patente Em geral esse tipo de mobilização era utilizado quando havia necessidade de aumentar o contingente de soldados 42 Os Movimentos de Independência na África Quando eclodiu na Europa a primeira guerra em proporções mundiais o continente africano já estava praticamente retalhado pelas potências que entraram em conflito e também emergido em conflitos civis e étnicos Para a África isso marcou uma virada nas questões nacionalistas e serviu para o processo de independência que viria mais tarde Compreender as independências africanas é uma tarefa difícil sem analisar o papel que a Primeira Guerra Mundial teve no continente Fonte httpmigremewJaSV 80 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 A imediata consequência da guerra foi a invasão do território africano pertencente à Alemanha pela Tríplice Entente Inglaterra França e Rússia Nesse período os governos africanos que ainda possuíam em seus quadros políticos pessoas naturais do país aproveitaramse da situação para tentar costurar uma possível aliança Nesse sentido o governador do Togo propôs ao responsável pela tutela da Costa do Ouro que ambos os países ficassem neutros apenas apreciando a guerra dos brancos A Inglaterra que combatia ao lado da Entente e possuía um forte controle dos mares bloqueou os portos africanos das colônias pertencentes à Alemanha O objetivo era isolar eventuais soldados que porventura fossem ajudar os germânicos em solo europeu ou até mesmo no Oriente Médio A Guerra na África de acordo com Hesseling 1998 divide se em dois momentos que guardam certa distinção entre si No primeiro deles os países da Entente procuraram destruir a capacidade ofensiva da Alemanha e neutralizar seus portos coloniais Dessa forma o território que hoje corresponde a Camarões e o sudoeste africano foram ocupados rapidamente ainda em 1914 poucos meses depois do início da guerra Na parte oriental africana onde também existia número significativo de colônias alemãs os ingleses em 1914 bombardearam duas regiões hoje inexistentes Dar es Salaam e Tanga Com isso os navios de guerra alemães não puderam mais ocupar seus respectivos portos No Egito após a entrada da Turquia na Guerra ao lado dos alemães os ingleses com sua frota reforçaram a defesa do Canal de Suez e conseguiram vencer com grande dificuldade os turcos em fevereiro de 1915 Após conseguir controlar essa área o Egito colônia da Inglaterra transformouse na principal base para as operações beligerantes contra a Turquia e os países orientais que atuavam na base inimiga A segunda fase do confronto segundo Crowder 2010 contou com a saída da Rússia e a entrada dos Estados Unidos no conflito Tratavase agora de confirmar aquilo que já havia sido feito A Entente manteve seus postos e foram intensificados os ataques com vistas a dominar a África pertencente aos alemães o que acabaram conseguindo até a vitória final em 1918 Esses momentos de guerra em solo africano significaram de certo modo um abrandamento para a população do jugo colonizador branco europeu conforme Hochschild 1999 como nas colônias os cargos de administradores presidentes de banco inspetores de alfândega enfim todo o aparato governamental e institucional principalmente aqueles de mais alto escalão eram exercidos por europeus com a guerra houve significativas mudanças Os funcionários e autoridades foram mobilizados para a guerra no continente Vários membros foram convocados para servir em outras partes da África ou até mesmo retornar com urgência para a Europa com o objetivo de servir em seu continente de origem 81 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Em meio à batalha o êxodo europeu tornouse constante De acordo com Crowder 2010 p323 Na Nigéria do norte numerosos funcionários políticos dispensados do exército foram de novo convocados enquanto outros se apresentavam como voluntários de tal forma que a região viuse privada de administradores Apenas no Egito que ocupava um lugarchave para os conflitos no Oriente Médio o exército de homens brancos se reforçou Outros países também sofreram com a falta de brancos em suas terras Na Rodésia o alistamento de europeus atingiu cerca de 40 dos homens adultos Havia vários africanos membros da elite que estavam sendo instruídos pelos europeus Nesse momento bélico eles ocuparam vários trabalhos essenciais Esse tipo de treinamento e a ocupação de cargoschave num momento em que os colonizadores apelaram para tais pessoas evidencia em certo ponto a lealdade de algumas dinastias da África aos europeus Esse tipo de atitude aconteceu por exemplo entre os senegaleses Isso era motivado pela ótica africana Para os membros dessa elite era interessante estar ao lado dos europeus nesse momento para manterse no poder De acordo com Crowder 2010 provavelmente não foram as armas tampouco o deslocamento e os conflitos entre si que assustaram os africanos durante a Primeira Guerra Mundial O que até então nunca havia sido pensado por nenhum colono africano negro em Angola ou Alhures que seria a cena de brancos lutando entre si e negros instados a agredir Com a eclosão da Guerra esta prática passou a acontecer coisa que anteriormente era reprimida com muita brutalidade pelas autoridades Os africanos desempenharam um papel decisivo na guerra atuando em diversos segmentos na linha de frente ou na guarnição das tropas estacionadas nas diversas partes do continente Soldados mobilizados pelos aliados tiveram um papel importante nas lutas no Oriente Médio já que entravam via Egito na Ásia A participação desses homens criou um sentimento que iria configurar a primeira fase de independência o nacionalismo Os africanos foram obrigados a fornecer conforme MBokolo 2007 para a participação na Guerra cerca de 1 da população do continente Cabe ressaltar que essa atuação não esteve necessariamente ligada aos conflitos diretos afinal os carregadores mercadores prostitutas enfim várias atividades relacionavamse indiretamente ao confronto As formas de recrutamento de africanos para a Guerra foram diversificadas e podem ser divididas em três modalidades Na primeira o recrutamento era voluntário Alguns homens percebendo a miséria e as dificuldades em viver em um território controlado por estrangeiros alistaramse em busca de melhor sorte no Exército alguns inclusive chegavam a desertar durante as marchas para os campos de batalha Outra forma de recrutamento era a conscrição que obrigava o alistamento dos homens com idade para o serviço militar a conscrição fazia com que os africanos fossem 82 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 lutar numa guerra que não era sua defendendo uma pátria que não lhes pertencia naquele momento A França por exemplo alistou por meio de decreto em 1912 soldados negros em suas colônias subsaarianas com o objetivo de formar batalhões de soldados negros para lutar na Argélia Essa demanda por homens causou uma verdadeira caçada humana no continente africano e isso causou várias rebeliões Desde o período de partilha e de conquista dos europeus no continente africano de acordo com Hernandez 1999 havia rebeldes e pessoas lutando de forma veemente contra os europeus e o colonialismo A manutenção de soldados administradores e pessoas brancas ocupando altos postos na administração destas localidades significava evidentemente uma maneira de solapar qualquer tentativa de emancipação Contudo grupos rebeldes não se davam por vencidos E especificamente nesse contexto de enfraquecimento da autoridade colonial a hora de atuar nunca havia parecido tão apropriada Na Costa do Marfim Líbia Uganda e Caramoja eclodiram vários conflitos significativos além de outros rapidamente sufocados A região do SenegalNíger que fazia parte da África francesa permaneceu fora do controle das autoridades metropolitanas por aproximadamente um ano Depois que a derrota alemã estava anunciada autoridades francesas retornaram e reprimiram os rebeldes brutalmente Em Moçambique e em Angola territórios que pertenciam a Portugal diversos conflitos ocorreram A Entente temia ainda uma revolta pautada pela religião muçulmana depois da entrada da Turquia na guerra Em países notadamente muçulmanos os aliados perderam importantes batalhas para os rebeldes como no caso da Tunísia e na Líbia em 1915 Fonte httpmigremewJaTP Outras questões motivaram os processos de independência das colônias africanas além da compulsória participação na guerra dos europeus as alterações no campo econômico e também no campo social e político após o término da Primeira Guerra Mundial provocaram a formação de um forte pensamento emancipacionista Com o início do conflito na Europa em 1914 os preços dos produtos importados subiram muito na África Em lugares onde os administradores buscavam manter uma vida europeia a quantidade de produtos vindos pelo mar não era pequena A inflação por causa dos riscos inerentes ao 83 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 transporte marítimo chegou a atingir 50 No período algumas potências como a Inglaterra eram adeptas do livrecambismo uma política econômica que fazia com que as empresas que tivessem o produto de menor preço saíssem vitoriosas Com o Estado de guerra isso mudou e o Estado interviu fortemente na economia taxando empresas de outras nacionalidades protegendo assim seus empresários No entanto conforme Hoschild 1999 em contraponto com a crise de mercado houve situações benéficas no campo econômico social e político durante a Primeira Guerra Mundial que favoreceram o desenvolvimento de várias regiões africanas Estradas de rodagem foram construídas no período Essas estradas foram usufruídas pelos africanos somente depois da independência uma vez que somente os brancos em países subsaarianos utilizavam automóvel e estas construções naquele momento foram feitas para agilizar a comunicação e a mobilidade das tropas aliadas Em algumas regiões da África Oriental essas estradas diminuíram o tempo de travessia de uma província para outra de uma semana para três dias A necessidade de produtos manufaturados para a guerra criou indústrias substitutivas Nessas indústrias alguns produtos importados passaram a ser produzidos em território africano O Congo belga ao final do confronto era quase autossustentável e não dependia mais de produtos importados Portanto a guerra não foi de todo ruim para a economia africana Ao final da guerra a política africana definitivamente não era mais a mesma Com a ocupação de postoschave de membros da elite africana até então fiéis aos colonizadores com o término do conflito seria difícil retirar estes membros da administração colonial de suas colocações Os argelinos por exemplo ao adotarem uma postura de ajuda aos franceses foram beneficiados com várias melhorias para a população impulsionando desta forma os movimentos de independência Embora essencialmente europeia a Primeira Guerra Mundial teve profundas repercussões na África Assinalou ao mesmo tempo o fim da partilha do continente e das tentativas africanas para reconquistar uma independência fundada na situação política anterior a essa partilha Foi causa de profundas transformações econômicas e sociais para numerosos países africanos mas inaugurou um período de vinte anos de calma para as administrações europeias CROWDER 2010 p 351 Com o fim da Primeira Guerra Mundial de acordo com Crowder 2010 o continente africano começou a viver uma nova fase em relação aos colonizadores europeus Tal momento esteve ligado principalmente ao surgimento do nacionalismo africano Ao final da Primeira Guerra as elites coloniais passaram a protestar pedindo papéis mais relevantes na administração colonial Essa demanda aliada à luta contra os regimes totalitários como o nazismo e o fascismo fez surgir em várias partes o nacionalismo africano Após estes dois 84 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 momentos belicosos a África entrou em uma sangrenta luta pela independência que em alguns casos demorou bastante para chegar à vitória Este ressurgimento do nacionalismo teve diversas fases e alcançou os diversos segmentos da sociedade religioso econômico militar e social No entre guerras surgiram diversas associações que buscavam reafirmar a africanidade da população sob o jugo do colonialismo Os africanos buscavam mostrar e edificar elementos que os faziam africanos que os diferenciavam dos europeus Associações neste sentido foram criadas por classe ou etnia Os trabalhadores sempre explorados em qualquer sociedade não ficaram imunes a essa onda de nacionalismo e organizaramse em sindicatos para representar seus pedidos junto aos empregadores brancoeuropeus Em maio de 1935 por exemplo greves e motins de mineiros africanos eclodiram na Copper Belt da Rodésia do Norte Na Nigéria diversos grupos de interesse começaram a se organizar somente na cidade de Lagos esta febre de organização levou à criação das seguintes associações Sindicato dos Leiloeiros de Lagos em 1932 Associação dos Pescadores de Lagos em 1937 Associação dos Motoristas de Taxi em 1938 Sindicato dos Abatedores de Lagos em 1938 Sindicato dos Jangadeiros de Lagos em 1939 Sindicato das Mercadoras de Farinhas em 1940 Associação dos Mercadores de Vinho de Palma em 1942 Sindicato dos Fosseiros de Lagos em 1942 MARZURI 2010 p 127 A ideia de independência entusiasmava milhares de africanos desde o Marrocos até a África do Sul Do rio Nilo ao deserto Saara a população começava a clamar por liberdade e ansiosa aguardava governar o país que lhes pertencia No campo internacional houve uma aliança entre negros africanos e negros de outros países Nesse período formouse um movimento conhecido como Panafricano Formado principalmente na França com negros originários das colônias tal movimento produziu poetas literatos e importantes estudiosos que lutaram pela África na Europa Fonte httpmigremewJaWY Os panafricanistas demonstraram em seus textos que os negros em países colonialistas nutriam um sentimento de não pertencimento e deveriam procurar suas raízes africanas Entre os nomes de destaque desse movimento Aime Césaire e Leopold Senghnor na França e de WB Dubois nos Estados Unidos Nesse primeiro momento os protestos contra o colonialismo eram essencialmente não violentos Quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial em 1939 os africanos tiveram 85 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 que escolher de que lado iriam ficar Apoiar os alemães seria enfrentar seus colonizadores conseguir armas e manter uma guerra sem precedentes Do lado dos aliados por sua vez seria referendar o poder já estabelecido Nenhuma das alternativas era boa mas era necessário escolher e eles optaram pelo lado do colonialismo contra a opressão alemã Diferente do que aconteceu na Primeira Guerra todo o continente participou da Segunda Guerra A maioria dos países ficou do lado dos aliados mas isso não significa que estavam imbuídos do mesmo ideal A entrada dos africanos na guerra significava uma busca e uma luta por dignidade e independência Com o término e a vitória dos aliados novas diretrizes internacionais indicavam que a África havia adquirido um novo status A criação da ONU em 1945 sinalizou muito bem essa mudança Com a formação dos ideais da nova ordem mundial no pósguerra dominar os povos africanos era incompatível com os rumos definidos em concordância com as novas políticas humanitárias principalmente com base nas ações da recémcriada ONU afinal a luta contra o nazismo aconteceu por alegação da liberdade do povo europeu No final da década de 1940 os africanos de todos os cantos do vasto continente se rebelaram contra a dominação colonial Os tipos de manifestações em prol da libertação seguiram lógicas diferentes de acordo com a região e o contexto A emancipação política da África que se concentrou num curto espaço de tempo foi tão espetacular como o fora a sua conquista pelos colonizadores em fins do século XIX Por isso o acontecimento cuidadosamente orquestrado pelos intervenientes políticos militares e testemunhas concentrou a atenção dos investigadores que estudavam as sociedades e o movimento social assim como a dos observadores nomeadamente dos jornalistas MOKOLO 2011 p 499 Os movimentos de independência africana podem ser divididos em quatro grandes blocos a lutas de acordo com lógicas tradicionais b lutas religiosas c lutas não violentas d lutas armadas A primeira delas de acordo com MOkolo 2011 a luta de acordo com a lógica tradicional baseavase num resgate das tradições de antigos guerreiros numa crença exacerbada na religiosidade africana e tradicional Nesse momento alguns membros de grupos armados acreditavam que a terra africana iria ser reconquistada por meio do conhecimento do território e acreditavam em certo messianismo para obter a vitória Tal luta baseavase na crença da África como reino único e os africanos levavam essa questão às últimas consequências 86 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 As religiões seculares como o islamismo e o cristianismo ocuparam um papel decisivo no ato de resistência dos africanos No caso da muçulmana o momento da independência significou um momento de luta contra os invasores que nesse contexto adquiriram o caráter de inimigos da fé Para as pessoas que professavam essa religião havia a necessidade de lançar uma jihad contra os europeus brancos invasores Jihad significa luta pela via de Deus De acordo com Hernandéz 1999 p144 a religião em graus diferenciados cristalizou a tomada de consciência organizou o protesto e se converteu em instrumento de oposição A violência sofrida por um lado e a impotência material de outro favoreceram o recurso ao sagrado como afirmação cultural Na África do norte a religião nesse caso a muçulmana criou um sentimento de nacionalismo entre a população Temendo futuros levantes e buscando conter os protestos atuais nessa região criouse a partir de 1942 uma separação entre os colonos islâmicos e os europeus Essa atitude fez com que até mesmo os colonos não muçulmanos residentes no país simpatizassem com a independência A Argélia ancorada na religião muçulmana e no apoio de fortes segmentos da intelectualidade francesa começou assim seu processo revolucionário por meio da jihad islâmica A repressão exercida pelo exército e pela polícia francesa provocou cerca de 10000 mortos na população argelina Um martírio de tamanha envergadura somente poderia reacender a chama da tradição da jihad em 1954 a Frente de Libertação Nacional reencontrou se com o glorioso combate travado no século XIX pelo herói argelino Abd alKadiralJazairi Era o começo da revolução argelina HERNANDÉZ 1999 p137 A Inglaterra também sentiu o peso da força dos muçulmanos na sua principal colônia africana O líder egípcio Gamal Abdel Nasser conduziu uma luta contra a monarquia egípcia que por sua vez era favorável aos britânicos Depois de várias batalhas o rei acabou deposto De acordo com Nasser os pilares da vitória dos rebeldes baseavamse em três fatores muçulmano africano e nacionalismo árabe Ainda dentro do campo religioso o cristianismo também exerceu influência no processo de independência africana A igreja cristã serviu de base para a entrada dos países colonialistas no continente No entanto no decorrer dos anos de dominação cada vez mais africanos converteramse ao cristianismo e adaptaram essa religiosidade às suas demandas de independência Geralmente os cristãos eram imbuídos da tarefa de educar e formar os africanos e por incrível e contraditório que pareça importantes líderes do movimento de independência estudaram em escolas cristãs De acordo com Hernandéz 1999 a entrada do cristianismo na África provocou um hibridismo religioso e a africanização desses cultos A principal pergunta que africanos 87 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 católicos se faziam era a seguinte Deus manda uma mensagem para todos os africanos mas por que o mensageiro era branco Esta pergunta simples provocou uma verdadeira revolução para os adeptos do cristianismo na África Igrejas independentes foram fundadas e amplamente aceitas pela população Autoridades religiosas assumiram a luta pela defesa da liberdade e dos direitos humanos como Desmond Tutu mais conhecido por sua atuação contra o Apartheid na África do Sul e prêmio Nobel da Paz em 1998 A Igreja de Kimbangu chegou a reunir 4 milhões de súditos africanos e no ano de 1980 recebeu uma importante aceitação por parte do clero anglicano ao ser inclusa no conselho ecumênico das igrejas Fonte httpmigremewJaZ2 Segundo Jonge 1991 tanto a religião muçulmana quanto a religião cristã constituíramse focos de resistência e de luta diante do colonialismo e da crença em um futuro livre Quando pensamos em mobilização política uma das figuras a se lembrar é de Mahatma Gandhi em seus protestos ele chamou a atenção do mundo para a situação da Índia então ocupada pelos ingleses O que é pouco contado pela historiografia e não é registrado na memória que se construiu sobre o indiano é que ele começou sua prática de manifestações pacifistas na África do Sul Essa luta estava focada assim como na Índia na libertação do país Fonte httpmigremewJaZr Entre 1906 e 1908 uma campanha bastante ativa de mobilização pacífica começou a irromper na África do Sul o interessante nesse ponto é que a liderança de tais movimentos era de Gandhi Infelizmente esses movimentos não tiveram um sucesso imediato mas abalaram as estruturas no país seria mais efetiva apenas com a utilização de armas Essa prática de movimentos pacifistas seduziu algumas pessoas na parte meridional do continente e acabou servindo de precursora de outras revoltas Infelizmente a via pacífica não surtiu muito efeito e a luta armada não poderia mais ser evitada 88 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Segundo Ferkiss 1967 o contexto internacional pósSegunda Guerra Mundial também era muito favorável Com a Guerra Fria o mundo estava polarizado entre capitalistas e socialistas e esse segundo modelo de governo prosperava Logo a influência socialista da URSS estendeuse à África Como os países da Europa ocidental enfraquecidos depois das duas guerras mundiais controlavam o continente africano e alinhavamse à política liberal estadunidense automaticamente estavam contra os socialistas do leste Para enfraquecer seus adversários os socialistas financiaram parte dos rebeldes que mantinham lutas de independência no continente africano Tal apoio davase na forma de distribuição de armas Países como o Zimbábue e Angola nas décadas de 19601970 receberam armamentos da União Soviética e da socialista ilha de Cuba respectivamente Sem a intervenção da União Soviética e dos seus aliados nas lutas da África Austral a libertação desta região seria provavelmente ainda mais retardada em ao menos uma geração As armas aperfeiçoadas utilizadas pelos africanos na África Austral especialmente os mísseis solar empregados nas guerras do Zimbábue provieram em geral de países socialistas Quanto à intervenção das tropas cubanas na luta em defesa da soberania de Angola tratouse aqui do maior apoio externo já prestado em uma guerra de libertação africana FERKISS 1967 p 143 Com esse exemplo é possível observar segundo Benot 1981 o grau de internacionalização do continente africano As disputas que se delineavam em nível mundial polarizando EUA e URSS influenciaram nas lutas de independência na África Com a criação da OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte quando algumas colônias de Portugal estiveram prestes a tornaremse independentes essa instituição forneceu armamentos para os lusitanos A ajuda prestada por este órgão manteve os países sob o domínio português até meados da década de 1970 Já os grupos apoiados no socialismo foram conquistando suas respectivas independências fortalecendo os partidos comunistas em várias regiões da África levando muitas nações à independência Fonte httpmigremewJb0g Depois da independência dessa forma um novo mundo africano estava por se formar e este por sua vez intimamente ligado aos líderes da revolução que conduziram a liberdade no continente Em 1975 depois de várias lutas envolvendo religiosidade formas tradicionais de resistência manifestações pacíficas e muitas lutas armadas e de guerrilhas 89 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 praticamente todo o continente estava livre Os brancos europeus haviam saído Uma nova identidade deveria formarse agora totalmente africana principalmente entre as elites que aprendiam na escola a história europeia e não de seus vizinhos continentais 43 Os desafios africanos após os processos de independência Após a independência de acordo com Ferkiss 1967 e Benot 1981 um clima de esperança e excitação tomou conta do continente africano Os mais nacionalistas aspiravam imitar os estados modernos europeus Os governos baseavamse num forte exército claramente um resquício das lutas pela independência Em sua maioria os países africanos haviam passado por um desenvolvimento econômico na década de 1950 quando os elevados ganhos com matériaprima permitiram que algumas regiões dominadas por rebeldes levassem a cabo seus planos de desenvolvimento Na Costa do Ouro quando Kwame Nkurumah alcançou o poder em 1951 adotou um plano de desenvolvimento econômico baseado nas rendas da venda de Cacau Tal medida ia ao encontro das matériasprimas africanas daquele momento Em geral a dívida dos estados era pequena mas não existia uma grande industrialização No período de 19651980 o Produto Interno Bruto PIB da África subsaariana cresceu 15 índice maior do que o brasileiro e indiano por exemplo Havia no continente uma boa oferta de mão de obra Em algumas regiões como Serra Leoa por exemplo o comércio baseavase na importação de diamantes Fonte httpmigremewJb12 Contudo esses ganhos econômicos acabaram culminando em uma crise ao final da década de 1970 As razões dessa crise são difíceis de descrever A mais importante foi o aumento acelerado da população Atrelado a esse aumento houve uma crise em escala internacional na década de 1980 que causou o aumento do preço de petróleo na África e como não havia ainda muitas ferrovias esse aumento acabou travando o desenvolvimento da indústria por um longo período Segundo Benot 1981 contribuía também para essa crise o boicote silencioso que os antigos colonizadores faziam Sempre que possível tais países negavamse a comprar produtos de suas antigas colônias onde eles haviam promovido um verdadeiro 90 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 saque durante séculos de ocupação O estado adotou uma política de incentivo tais como os socialistas Contudo agora sem o apoio financeiro significativo da URSS esse projeto não se concretizou Vários países então adotaram estratégias de livremercado mas também entraram em crise durante a década de 1980 como o Quênia por exemplo Depois da independência é necessário admitir que a maioria dos governos africanos não estava preparada ainda para utilizar de modo eficaz a capacidade produtiva do país Somente essa questão explica de alguma forma a inserção do continente inclusive em manuais didáticos como símbolo de subdesenvolvimento O modelo político guardava de forma geral resquícios dos modelos europeus enquanto a força militar era ampla e não condizia com a capacidade de produção do país Como a compra de armas era imensa não se investiu em indústrias e tudo era importado exceto no Egito cujo índice de desenvolvimento industrial foi notável A raiz do subdesenvolvimento do continente africano esteve associada a infeliz união entre o aspecto militar e civil no pósindependência A militarização sem industrialização desestabilizou simultaneamente os sistemas econômico e político A aproximação do campo político ao campo militar estabeleceu um problema O déficit de competências técnicas era enorme em todos os domínios onde reinava o subdesenvolvimento político econômico e técnico Esta situação representa particular prejuízo aos direitos humanos A falência conforme Benot 1981 na quase totalidade do continente africano das instituições liberais importadas do Ocidente explicase não somente pela origem estrangeira destas últimas mas igualmente em razão da insuficiente incapacidade dos africanos em organizarem partidos políticos disciplinados empresas produtivas ou sindicatos eficazes Por fim outro aspecto que merece destaque nesse cenário pósindependência nos remete à divisão étnica nos territórios africanos Com o objetivo de melhor fatiar o continente os colonizadores europeus não obedeceram à divisão secular as nações africanas e isso causou grandes massacres pois grupos rivais jamais aceitariam viver em territórios junto aos seus inimigos dando início a uma série de disputas que culminaram em massacres também a de se levar em conta que a presença europeia no continente não foi extinta e continuou a causar conflitos étnicos Como exemplo destes desdobramentos é possível citar o Genocídio em Ruanda no ano de 1994 e o Apartheid na África do Sul Entenda o genocídio de Ruanda de 1994 800 mil mortes em cem dias Artigo publicado em 07 de abril de 2014 BBC Brasil Em apenas cem dias em 1994 cerca de 800 mil pessoas foram massacradas em Ruanda por extremistas étnicos hutus Eles vitimaram membros da comunidade minoritária tutsi assim como seus adversários políticos independentemente da sua origem étnica 91 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Por que as milícias hutus quiseram matar os tutsis Cerca de 85 dos ruandeses são hutus mas a minoria tutsi dominou por muito tempo o país Em 1959 os hutus derrubaram a monarquia tutsi e dezenas de milhares de tutsis fugiram para países vizinhos incluindo a Uganda Um grupo de exilados tutsis formou um grupo rebelde a Frente Patriótica Ruandesa RPF que invadiu Ruanda em 1990 e lutou continuamente até que um acordo de paz foi estabelecido em 1993 Na noite de 6 de abril de 1994 um avião que transportava os então presidentes de Ruanda Juvenal Habyarimana e do Burundi Cyprien Ntaryamira ambos hutus foi derrubado Extremistas hutus culparam a RPF e imediatamente começaram uma campanha bemorganizada de assassinato A RPF disse que o avião tinha sido abatido por Hutus para fornecer uma desculpa para o genocídio Como o genocídio foi realizado Com organização meticulosa As listas de opositores do governo foram entregues às milícias juntamente com os nomes de todos os seus familiares Vizinhos mataram vizinhos e alguns maridos até mataram suas mulheres tutsis dizendo que seriam mortos caso se recusassem Na ocasião carteiras de identidade apresentavam o grupo étnico das pessoas então milícias montaram bloqueios nas estradas onde abateram os Tutsis muitas vezes com facões que a maioria dos ruandeses têm em casa Milhares de mulheres tutsi foram levadas e mantidas como escravas sexuais As forças francesas foram acusadas de não fazer o suficiente para parar a matança Alguém tentou parálo ONU e Bélgica tinham forças de segurança em Ruanda mas não foi dado à missão da ONU um mandato para parar a matança Um ano depois que soldados norteamericanos foram mortos na Somália os Estados Unidos estavam determinados a não se envolver em outro conflito africano Os belgas e a maioria da força de paz da ONU se retiraram depois que 10 soldados belgas foram mortos Os franceses que eram aliados do governo hutu enviaram militares para criar uma zona supostamente segura mas foram acusados de não fazer o suficiente para parar a chacina nessa área O atual governo de Ruanda acusa a França de ligações diretas com o massacre uma acusação negada por Paris Por que era tão cruel Ruanda é uma sociedade rigidamente controlada e organizada O então partido governante MRND tinha uma ala jovem chamada Interahamwe que foi transformada em uma milícia para realizar o genocídio Armas e listas de alvos foram entregues a grupos locais que sabiam exatamente onde encontrar suas vítimas Os extremistas hutus tinham estações de rádio e jornais que transmitiam propaganda de ódio exortando as pessoas a eliminar as baratas o que significava matar os tutsis Os nomes das pessoas a serem mortas foram lidos na rádio Até mesmo padres e freiras foram condenados por matar pessoas incluindo alguns que buscaram abrigo em igrejas Facões domésticos viraram armas de eliminação em massa durante o genocídio Como terminou A bem organizada RPF apoiada pelo exército de Uganda gradualmente conquistou mais território até 4 de julho quando as suas forças marcharam para a capital Kigali Cerca de dois milhões de hutus civis e alguns dos envolvidos no genocídio fugiram em seguida pela fronteira com a República Democrática do Congo na época chamado Zaire temendo ataques de vingança Grupos de direitos humanos dizem que a RPF matou milhares de civis hutus quando eles tomaram o poder e mais depois que eles entraram na República Democrática do Congo para perseguir a Interahamwe A RPF nega Na República Democrática do Congo milhares de pessoas morreram de cólera enquanto grupos de ajuda humanitária foram acusados de deixar muito da sua estrutura de assistência cair nas mãos das milícias hutus Cerca de dois milhões fugiram para a República Democrática do Congo então Zaire O que aconteceu na República Democrática do Congo O genocídio em Ruanda teve implicações diretas em duas décadas de conflito na República Democrática do Congo que custaram a vida de cerca de cinco milhões de pessoas O governo de Ruanda agora gerido pela RPF por duas vezes invadiu a República Democrática do Congo 92 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 acusando o seu maior vizinho de deixar as milícias hutus operarem no seu território Ruanda também armou forças tutsis no país vizinho Em resposta alguns moradores formaram grupos de autodefesa e os civis do leste da República Democrática do Congo pagaram o preço Como é a Ruanda agora O líder da RPF e presidente de Ruanda Paul Kagame foi saudado pelo rápido crescimento econômico do pequeno país Ele também tentou transformar Ruanda em um centro tecnológico e é muito ativo no Twitter Mas seus críticos dizem que ele não tolera dissidência e que vários adversários foram encontrados inexplicavelmente mortos Quase dois milhões de pessoas foram julgados em tribunais locais por seu papel no genocídio e os líderes do massacre em um tribunal da ONU na vizinha Tanzânia Agora é ilegal falar sobre etnia em Ruanda o governo diz que isso evita mais derramamento de sangue mas alguns dizem que impede uma verdadeira reconciliação e apenas coloca uma tampa sobre as tensões que vão acabar fervendo de novo no futuro Fonte httpwwwbbccomportuguesenoticias201404140407ruandagenocidioms Muito embora o genocídio de Ruanda tenha acontecido em 1994 as disputas políticas e territoriais tem seu embrião na opressão infligida pelos Estados europeus desde o século XVI com o início da expansão ultramarina e consolidação do mercantilismo e neocolonialismo e em um segundo momento estas mesmas potências agora industrializadas infringem às nações africanas a opressão neocolonialista imperialista enfraquecendo o estado de união e fortalecendo as disputas entre as etnias e ideologias africanas Fonte httpmigremewJb27 Outro importante exemplo desta dinâmica segundo Cornevin 1979 e Teixeira 2004 foi o regime segregacionista do Apartheid na África do Sul entre os anos de 1948 e 1994 Fonte httpmigremewJb2R A institucionalização da doutrina apartheid que dirigiu a política racial do governo na África do Sul se iniciou em 1948 e ultrapassou a discriminação racial pois em sua constituição o racismo foi legitimado e amparado por dispositivos totalitários de poder europeu e passou a manipular todos os aspectos do cotidiano desde o lazer até a vida econômica e familiar Na África do Sul em meio aos acontecimentos da Primeira Guerra 93 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Mundial foi fundado o chamado Partido Nacional PN o principal partido nacionalista afrikaans em 1914 pelo General JB Hertzog de origem alemã O partido definiase como Nacionalista Cristão procurando desenvolver uma vida sulafricana nacional de acordo com a religião cristã sua política baseavase no domínio da população europeia sobre os povos primitivos negros de acordo com o espírito cristão e consequentemente a necessidade extrema de evitar o cruzamento entre as raças Este programa estava de acordo com a política missionária da NGK Argumentos teológicos e científicos foram construídos para estabelecer a ideia de um povo escolhido colocado por Deus na África do Sul para cumprir a missão divina de ajudar os povos primitivos A Igreja Reformada Holandesa NGK Nederduitse Gereformeerd Kerk que sempre defendeu o apartheid baseavase na Sagrada Escritura da Bíblia CORNEVIN 1979 p 38 Daniel François Malan estudou teologia em Stellenbosch na África do Sul foi nomeado pastor da NGK em 1905 deixou o ministério em 1915 e passou a ser editor do Die Burger o jornal do Partido Nacional Em 1948 sob a liderança de Malan o Partido Nacional venceu as eleições gerais com a principal promessa da campanha a de aprofundar a legislação de segregação racial regime esse que era controlado por uma minoria branca da população e teve como objetivo dividir a política da República da África do Sul em onze estados diferentes dez Black States Estados Pretos chamados de Bantustões ou Homeland cada um correspondendo a uma subdivisão étnica englobaria 72 da população Estes dez estados foram convidados a formar uma confederação econômica controlada pelo décimo primeiro estado o White State Estado Branco que abrangeu a maioria branca 165 que depois da Lei de Terras se tornaram donos de 87 das terras cultiváveis da África do Sul As duas minorias os mestiços 10 e indianos 29 eram consideradas cidadãos de segunda classe e não tinham o direito de votos nas eleições oficiais De acordo com Corvenin 1979 a hegemonia do sistema se manteria mediante três leis básicas 1 A Lei do Registro Populacional 1950 Visava à hegemonia dos grupos brancos classificando a população em quatro grupos raciais branco mestiço asiático e negro africano introduzindo um cartão de identidade para todas as pessoas com idade superior a dezoito anos especificando a qual grupo racial cada uma delas pertencia Esse documento chamado de passe continha todo histórico de vida do indivíduo antecedentes criminais licenças de trabalho de viagem de entrada em uma área branca e etc Caso fosse surpreendido sem o passe o indivíduo era culpado de delito e punido com multa ou até 94 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 mesmo a prisão Essa lei também separava os maridos das mulheres conduzindo a desintegração familiar 2 A Lei das Áreas de Grupos de 1951 Estabelecia a fixação geográfica das categorias raciais obrigava a fixação residências em áreas destinadas aos respectivos grupos étnicos lei que mais tarde foi usada como base para remoções forçadas Essa lei foi usada em 1966 para remover 60000 pessoas do bairro étnico Distrito Seis que possuía uma comunidade mista de escravos libertos comerciantes artesãos operários e imigrantes na Cidade do Cabo Designado pelo governo como espaço branco foi o palco de remoções forçadas destruição e miséria 3 Lei da Conservação de Diversões Separadas de 1953 Demarcava espacialmente as categorias raciais em transportes praias banheiros públicos escolas faculdades etc Almejava o desenvolvimento separado onde cada cidadão passaria a ter sua ligação étnica espacial econômica linguística educacional e familiar definida conforme sua raça Além dessas três leis mencionadas o governo do Partido Nacional aplicou muitas outras leis proibindo matrimônios e uniões mistas leis para controlar a força de trabalho negra como as leis de passe leis para excluir a mão de obra negra leis regulando sindicatos e greves censura à imprensa e segurança A legitimação da lógica da segregação poderia ser observada no número de pessoas que cada ano solicitava uma reclassificação racial na esperança de passar para uma categoria mais branca No entanto apenas os funcionários do governo de minoria branca estavam capacitados para o diagnóstico uma das técnicas era enrolar fios de cabelo do indivíduo em uma caneta se o cabelo se mantivesse encaracolado após a retirada da caneta a pessoa em questão era classificada como mestiça definindo assim os rumos possíveis de sua vida TEIXEIRA 2004 p39 Segundo Teixeira 2004 apesar das grandes diferenças entre o inglês e o africânder os brancos foram apresentados oficialmente como constituindo uma só nação branca definida portanto apenas pela cor da pele Em contrapartida as diferenças muito menores entre o idioma falado pelos negros africanos constituíam um critério mais válido para definição de nove grupos étnicos distintos cada um com a sua própria linguagem sistema legal estilo de vida valores e identidade sociopolítica Visto que não existem nove grupos linguísticos mas sim quatro grupos subdivididos Neguni SothoTswana Venda e ShagaanTsonga O grupo linguístico Neguni que está subdividido em quatro idiomas Zulu Xhosa Swazi e Ndebele têm em comum 70 do seu vocabulário e é falado por 93 da população 95 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 negra SulAfricana portanto as diferenças linguísticas de modo geral são mínimas e não constroem barreiras para a compreensão mútua Em vez de promover a inclinação natural dos sulafricanos para falarem o mesmo idioma africano comum o governo trabalhou com o propósito de recriar nove grupos linguísticos e consequentemente subdividilos em áreas segregadas fora dos bairros e terras brancas As áreas residenciais destinadas para habitação dos grupos étnicos negros mestiços e asiáticos eram chamados de Bantustões Os Bantustões eram constituídos por pequenas e dezenas de milhares de casinholas sem eletricidade feitas de prancha e tapume Eram dominadas pelos postos policiais e aglomeravam comerciantes professores ladrões e estudantes que durante o dia enfrentavam a rotina diária de trabalho nas cidades dos brancos De acordo com Cornevin 1979 em 1912 foi fundado o Congresso Nacional SulAfricano Nativo ANC Foi a primeira ocasião em todo o continente em que os negros abriram mão da lealdade tribal para aceitar uma nação comum O congresso não era nacionalista no sentido de antagonizar os brancos de ser militante ou revolucionário era muitíssimo influenciado pela doutrina cristã de modo algum pelo socialismo Mas marcava o surgimento do nacionalismo africano no sentido de prestar lealdade igualitária tanto para nação quanto para tribo Fonte httpmigremewJb41 O ANC lutava pela inclusão política e privilégios universais para todos independentemente de raça Sob a constatação vital que a educação era necessária centenas de africanos migravam para cidades essa intensa urbanização representou a formação de uma nova geração de políticos negros militantes inclusive Nelson Mandela e Oliver Tambo Os dois vinham de um passado rural Mandela era de família real enquanto Tambo era filho de camponês Ambos eram membros fundadores da Liga da Juventude que se estabeleceu dentro do partido político CNA Congresso Nacional Africano em 1944 os membros se consideravam nacionalistas negros e reivindicavam boicotes organização das massas e educação em massa Fonte httpmigremewJb4S 96 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 As primeiras manifestações contra o apartheid foram feitas pelo ANC com o intuito de reverter as condições da classe negra do país foram organizadas marchas de protesto e campanhas não violentas Mas as manifestações nem sempre ocorriam pacificamente Em 1960 o ANC e o Congresso PanAfricano PAC organizaram uma manifestação não violenta contra a Lei do Passe que obrigava os negros a utilizarem um passaporte determinando onde eles poderiam ir Durante o protesto policiais abriram fogo contra os manifestantes matando 67 pessoas A repressão da oposição negra acabou descambando em tragédia e o dia 21 de março foi marcado pelo massacre em Sharpevill juntamente com a proibição das duas organizações no país SAMPSON 1987 p 87 A política até então pacífica do ANC passa por adotar a luta armada buscando apoio internacional contra o apartheid e Mandela passa a liderar o partido de forma clandestina Convencido de que táticas violentas poderiam influir na opinião dos brancos recrutas foram enviados ao exterior para submeterse ao treinamento de guerrilha Em 1961 a luta armada foi confiada a uma ala militar denominada Umkhoto we Sizwe que em Zulu significa a Lança da Nação tendo Mandela como seu comandante chefe Em dois dias de ação Umkhoto realizou uma sucessão de explosões atingindo edifícios públicos e instalações em Durban Johanesburgo e Port Elizabeth Mandela foi transportado clandestinamente para fora da África do Sul a fim de visitar outros Estados africanos e angariar auxílio de líderes dos partidos internacionais Em Agosto de 1962 Mandela foi apanhado e julgado sob a acusação de incitamento à greve e sentenciado a cinco anos de prisão três meses mais tarde os conspiradores inclusive Mandela foram acusados de sabotagem e de procurar subverter o governo mediante a revolução violenta Diante disso Nelson Mandela e mais sete homens foram sentenciados à prisão perpétua e enviados para a Robben Iland prisão de segurança máxima situada na costa de Cidade do Cabo Em seu longo discurso final cuidadosamente preparado com a colaboração de seus colegas prisioneiros e advogados Mandela narrou sua evolução política e como se voltara para a sabotagem e para as guerrilhas mas acalentava o ideal de uma sociedade democrática livre É um ideal pelo qual se for preciso estou disposto a morrer SAMPSON 1987 p 95 Com o aumento da oposição internacional e as sucessivas pressões da ONU com a intensificação das sanções econômicas à África do Sul e boicotes políticos internacionais o governo de minoria branca foi forçado a iniciar um programa de reformas na África do Sul Em 1990 FW de Klerk 1936 líder do PN anuncia a legalização do PAC assim como a libertação de Mandela Em 1994 foi promovida a primeira eleição geral democrática antirracista e o fim do regime do Apartheid elegendo Nelson Mandela Presidente e Tambo 97 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 Mbeki seu sucessor Após as eleições foi formado um Comitê Constitucional com o propósito de estabelecer uma nova Constituição que representaria todos os SulAfricanos Mandela mudou economia da África do Sul mas desigualdade avança Artigo publicado em 09 de dezembro de 2013 BBC Brasil Quando Nelson Mandela foi empossado em Pretória há 19 anos como o primeiro presidente democraticamente eleito da África do Sul ele encarnava as esperanças de uma nação O regime segregacionista do apartheid saiu de cena dando lugar à nação do arcoíris e a um momento de grande otimismo no país Uma das razões desse otimismo era a esperança de uma economia ascendente afinal o fim do apartheid significava o fim das duras sanções impostas ao país A África do Sul já tinha a esta altura uma das infraestruturas mais desenvolvidas do continente mas os anos de isolamento deixaram a economia perto da falência Na superfície pelo menos as coisas pareciam bem no início A inflação que estava em 14 antes de 1994 caiu para 5 em 10 anos O deficit orçamentário da África do Sul que era de 8 em 1997 caiu para 15 em 2004 Já as taxas de juros caíram de 16 para menos de 9 na primeira década do governo do Congresso Nacional Africano partido de Mandela Logo com o fim das sanções as exportações sulafricanas começaram a florescer Antes de Mandela fazer o juramento de posse apenas 10 dos bens do país eram destinados à exportação Na virada do século quase um quarto eram comercializados ao exterior Nos 14 anos após 1996 a proporção de sulafricanos que vivem com US 2 por dia caiu de 12 para 5 Annabel Bishop economista do grupo Investec diz que a economia da África do Sul praticamente dobrou em termos reais desde a queda do apartheid crescendo a uma média de 32 ao ano desde 1994 ao contrário de apenas 16 ao ano durante os 18 anos anteriores sob o regime de minoria branca Ela ressalta também que as receitas fiscais reais efetivamente dobraram desde 1994 o que permitiu ao governo ampliar o bemestar social A provisão estatal de serviços básicos foi extensiva diz ela Um dos problemas é a enorme discrepância entre ricos e pobres que na África do Sul é uma das mais altas do mundo Na verdade por algumas medições é maior do que era no tempo do apartheid De acordo com o coeficiente de Gini comumente usado para medir a desigualdade a África do Sul marcou 063 em 2009 De acordo com o coeficiente 0 é o mais igual e 1 é o menos igual No entanto em 1993 o coeficiente do país era de 059 o que tem levado muitos à conclusão de que o fosso entre ricos e pobres está realmente ficando maior Relatórios da ONU costumam colocar cidades da África do Sul entre as mais desiguais do mundo Um caso emblemático da desigualdade é o setor de mineração da África do Sul O ano de 2012 foi o mais turbulento para o país desde o fim do apartheid com greves violentas em toda a indústria e 34 mineiros mortos a tiros em Marikana mina de platina da Lonmin em Rustenburg No entanto outros analistas não acham as atuais imagens pintadas da economia da África do Sul tão sombrias Sim existem grandes problemas eles dizem mas isso não significa que os sul africanos sejam incapazes de encontrar respostas à altura A economia da África do Sul continua sendo a maior do continente mesmo com a Nigéria se aproximando rapidamente Juntamente com o Brasil Rússia Índia e China é um membro do grupo Brics de países emergentes com todo o potencial que isso traz Apesar de a indústria de mineração aparente estar passando por tempos turbulentos os serviços financeiros são altamente desenvolvidos e prósperos O economista Dawie Roodt diz Nós ainda temos tempo para corrigir tendências negativas mas é preciso uma liderança forte O legado econômico de Mandela decorre das liberdades políticas pelas quais lutou É um quadro em que pelo menos em teoria todos os sulafricanos têm o direito de perseguir seus sonhos econômicos Diante do agitado tráfego de pedestres na hora do almoço no centro de Joanesburgo Nkasa Chris que trabalha em uma empresa de computação reflete sobre o legado econômico de Mandela Ele fez muito disse Agora cabe a nós levar o legado adiante Fonte httpwwwbbccomportuguesenoticias201312131209mandelaeconomiarp 98 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 A História da África está repleta de elementos extremamente significativos não só para as nações e etnias africanas mas para todo o planeta a formação multicultural e suas diversas assimilações constituíram ao longo do tempo não apenas para a África mas para muitas outras nações como a exemplo do Brasil raízes culturais importantíssimas entretanto muitas vezes renegadas a um segundo plano ou diminuída pelos diversos preconceitos infringidos aos africanos e seus descendentes a independência das nações africanas trouxe grandes desafios ao povo africano difíceis de superar mas que estão sendo enfrentados de forma honrada pelos governantes e habitantes desse continente com uma história espetacular é necessário também compreender esta superação e luta por direitos em todas as regiões e países que possuem em sua formação cultural a magnífica contribuição das nações africanas Para finalizar seu estudo realize os Exercícios 4 e 5 e a Atividade 41 Dicas de aprofundamento MAZRUI Ali A WONDJI Christophe História Geral da África VIII África desde 1935 Disponível em httpwwwdominiopublicogovbrdownloadtextoue000325pdf Acesso em 01 jun 2019 Assista ao documentário Apartheid Disponível em httpswwwyoutubecomwatchvWAtrVnoNk Acesso em 26 mar 2020 99 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 REFERÊNCIAS ADAM Shehata A importância da Núbia um elo entre a África central e o Mediterrâneo In MOKHTAR Gamal Ed História Geral da África II África Antiga 2 ed rev Brasília Unesco 2010 ALDRED Cyril O Egito Antigo LisboaPortugal Editorial Verbo 1965 ALENCASTRO Luís Felipe de O trato dos viventes a 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Geral da África I Metodologia e préhistória da África 2 ed rev Brasília Unesco 2010 102 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 OLIVER Roland A experiência africana da préhistória aos dias atuais Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed 1994 PINSKY Jaime As primeiras civilizações 26 ed São Paulo Contexto 2006 PORTÈRES R BARRAU J Origens desenvolvimento e expansão das técnicas agrícolas In KIZERBO Joseph Ed História Geral da África I Metodologia e préhistória da África 2 ed rev Brasília Unesco 2010 PRADO JR Caio Formação do Brasil Contemporâneo São Paulo Brasiliense 1994 PUNTONI Pedro A Arte da Guerra no Brasil Tecnologia e estratégia militar na expansão da fronteira da América portuguesa 15501700 Novos Estudos CEBRAP São Paulo v 52 1999 REDKER Marcus O Navio negreiro uma história humana São Paulo Companhia das Letras 2011 REGINALDO Lucilene O rosário dos angolas irmandades de africanos e crioulos na Bahia setecentista São Paulo Alameda 2011 SALAMA P Parte De Roma ao Islã In MOKHTAR Gamal Ed História Geral da África II África Antiga 2 ed rev Brasília Unesco 2010 SAMPSON Anthony O negro e o Ouro Magnatas Revolucionários e o Apartheid São Paulo Companhia das letras 1987 SHAW T PréHistória da África Ocidental In KIZERBO Joseph Ed História Geral da África I Metodologia e préhistória da África 2 ed rev Brasília Unesco 2010 SHERIF NagmElDin Mohamed A Núbia antes de Napata 3100 a 750 antes da Era Cristã In MOKHTAR Gamal Ed História Geral da África II África Antiga 2 ed rev Brasília Unesco 2010 SILVA Alberto da Costa e A enxada e a lança a África antes dos portugueses Rio de Janeiro São Paulo Nova Fronteira Edusp 1992 A Manilha e o Libambo a África e a escravidão de 1500 a 1700 Rio de Janeiro Nova Fronteira 2002 SILVA Alberto da Costa SOUZA de Francisco Félix Mercador de escravos Rio de Janeiro Nova Fronteira 2004 SOARES Carlos Eugênio Líbano A capoeira escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro 18081850 Campinas Editora da Unicamp 2004 SOUZA Marina de Mello e Reis negros no Brasil escravista Belo Horizonte Editora da UFMG 2002 África e Brasil africano São Paulo Ática 2006 SUTTON J E G A PréHistória da África Oriental In KIZERBO Joseph Ed História Geral da África I Metodologia e préhistória da África 2 ed rev Brasília Unesco 2010 103 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 TEIXEIRA da Silva Francisco Carlos Coord Enciclopédia de Guerras e Revoluções do século XX Rio de Janeiro Editora Campus 2004 THOMAS Omar Ribeiro Ecos do atlântico sul representações sobre o terceiro império português Rio de Janeiro Editora da UFRJFAPESP 2002 THORNTON John K África e os africanos na formação do mundo atlântico Rio de Janeiro CampusElsevier 2004 WARMINGTON B H O período cartaginês In MOKHTAR Gamal Ed História Geral da África II África Antiga 2 ed rev Brasília Unesco 2010 WESSELING H L Dividir para dominar a partilha da África negra Rio de Janeiro Editora RevanEditora da UFRJ 1998 104 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 EXERCÍCIOS E ATIVIDADES EXERCÍCIO 1 1 Todo sistema cultural tem a sua própria lógica e não passa de um ato primário de etnocentrismo tentar transferir a lógica de um sistema para outro LARAIA 1993 Analise os enunciados considerando o conceito de cultura como sendo ação transformadora que o Homem provoca na natureza e em si mesmo desta forma adaptando o meio em que vive I As sociedades selvagens são capazes de produzir cultura mas estão mal adaptadas ao meio ambiente e por isso algumas nem sequer possuem o Estado II As sociedades tribais são tão eficientes para produzir cultura quanto qualquer outra mesmo quando não possuem certos recursos culturais presentes em outras culturas III As sociedades nômades africanas são dotadas de recursos materiais e simbólicos eficientes para produzir cultura como qualquer outra faltandolhes apenas urna linguagem própria que só foi desenvolvida com base no intercâmbio com os europeus IV As chamadas sociedades primitivas conseguiram produzir cultura plenamente ao longo do processo evolutivo quando instituíram o Estado democrático e as instituições escolares a Apenas os enunciados I e III estão corretos b Apenas os enunciados II e III estão corretos c Apenas o enunciado II está correto d Apenas os enunciados II e IV estão corretos 2 Na PréHistória encontramos fases do desenvolvimento humano Qual a alternativa que apresenta características das atividades do homem na fase neolítica a Os homens praticavam uma economia coletora de alimentos b Os homens fabricavam seus instrumentos para obtenção de alimentos e abrigo c Os homens aprenderam a controlar o fogo d Os homens conheciam uma economia comercial e já praticavam os juros e Os homens cultivavam plantas e domesticavam animais tornandose produtores de alimentos 3 Em relação ao momento em que homens e mulheres se colocaram como seres históricos no mundo é correto afirmar que a A invenção da escrita da roda do fogo é o que caracteriza os povos considerados com história que se estabeleceram às margens do rio Nilo há milhões de anos b A história da humanidade teve início na região conhecida na Antiguidade por Mesopotâmia quando se inventou a escrita c As pesquisas arqueológicas vêm apontando que a história humana teve início há um 105 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 milhão de anos em várias regiões do globo terrestre simultaneamente d Entre 4 e 6 milhões de anos atrás surgiram na África os primeiros antepassados do ser humano com os quais teve início a história da humanidade e O elemento preponderante no reconhecimento dos homens e mulheres como seres históricos é a invenção da linguagem há 2 milhões de anos no continente europeu Verifique seu aprendizado realizando o Exercício no Ambiente Virtual de Aprendizagem ATIVIDADE 11 Leia o texto abaixo Após a expedição de Napoleão Bonaparte ao Egito em 1798 o norte da África tornouse novamente um campo de estudos que os historiadores não podiam negligenciar Com a expansão do poder colonial europeu nessa parte da África após a conquista de Argel pelos franceses em 1830 e a ocupação do Egito pelos britânicos em 1882 um ponto de vista europeu colonialista passou a dominar os trabalhos sobre a história da porção norte da África No entanto a partir de 1930 o movimento modernizador no Islã o desenvolvimento da instrução de estilo europeu nas colônias da África do Norte e o nascimento dos movimentos nacionalistas norteafricanos começaram a combinarse para dar origem a escolas autóctones de história que produziam obras não apenas em árabe mas também em francês e inglês restabelecendo assim o equilíbrio nos estudos históricos dessa região do continente FAGE J D A evolução da historiografia da África São Paulo Editora 70 2013 O texto apresenta uma crítica à historiografia africana que segundo o autor foi dominada pelos europeus até a primeira metade do século XX Com base na questão da escrita da história redija um texto de no máximo 10 linhas explicando este domínio Submeta a atividade por meio da ferramenta Tarefa EXERCÍCIO 2 1 Assinale a alternativa correta em relação à história dos grupos sociais da Antiguidade a Os povos etruscos habitavam uma zona fluvial de inundações periódicas no vale entre os rios Tigre e Eufrates e tinham economia baseada em produtos agrícolas que dependiam dos períodos de cheias dos rios b A difusão da escrita cuneiforme pelos gregos no século VIII aC permitiu o registro dos fatos memoráveis do passado criando as condições propícias para o desenvolvimento da tragédia grega que teve em Homero seu principal precursor c A ausência de uma codificação jurídica que permitisse a unificação das diversas regiões da Mesopotâmia sob o domínio dos reis babilônicos está entre as principais causas da queda do Império da Babilônia 106 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 d A civilização hebraica caracterizouse por uma estrutura matriarcal de sociedade pelo politeísmo como crença religiosa e pela recusa do uso do trabalho escravo e O reino de Kush com forte influência egípcia serviu como elo entre a África central e o mundo mediterrâneo além de estabelecer rotas comerciais entre o baixo e o alto vale do Nilo 2 Na África durante a Antiguidade entre 3000 aC e 332 aC desenvolveuse o primeiro Império unificado historicamente conhecido cuja longevidade e continuidade ainda despertam a atenção de arqueólogos e historiadores Esse Império a Legou à humanidade códigos e compilações de leis b Desenvolveu a escrita alfabética dominada por amplos setores da sociedade c Retinha parcela insignificante do excedente econômico disponível d Sustentou a crença de que o caráter divino dos reis se transmitia exclusivamente pela via paterna e Dependia das cheias do rio Nilo para a prática da agricultura 3 Durante séculos o Mar Mediterrâneo foi o centro comercial do mundo conhecido Dominálo significava também exercer plena hegemonia política e militar São exemplos da busca pelo controle do Mediterrâneo e de sua importância a As Guerras Púnicas nos séculos III e II aC entre Roma e Cartago que determinaram a plena expansão dos romanos e asseguraramlhes o domínio do norte da África b As atividades mercantis na Alta Idade Média de cidades italianas como Veneza ou Gênova que se empenharam no estabelecimento de novas rotas oceânicas para o Oriente c As colonizações desenvolvidas em território americano a partir do século XV por Portugal e Espanha cujo objetivo era ligar o Atlântico ao Pacífico d As guerras napoleônicas na Península Ibérica no princípio do século XIX que ampliaram o comando francês sobre o norte e o centro do território africano e As Guerras do Peloponeso nos séculos V e IV aC que envolveram as cidades gregas de Atenas e Esparta na busca pelo controle total da Península Balcânica Verifique seu aprendizado realizando o Exercício no Ambiente Virtual de Aprendizagem ATIVIDADE 21 Dentro das condições mais suaves do Egito com céus sem nuvens e uma enchente anual previsível e uniforme uma regularidade moderada contrasta com o ambiente tempestuoso e turbulento os relâmpagos as catastróficas torrentes e inundações das regiões mais orientais Tão logo os novos cereais e a cultura do arado foram introduzidos no Egito houve semelhante superabundância de alimentos e por causa dela sem dúvida uma superabundância de bebês Mas todos os feitos de domesticação do Egito foram realizados sob um céu sem nuvens de tempestade intocado por sombrias incertezas não amargurado 107 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 nem atormentado por repetidas derrotas A vida era boa Adaptado de MUMFORD Lewis A cidade na história suas origens transformações e perspectivas São Paulo Martins Fontes 1991 Após a leitura do texto redija um texto de no máximo 15 linhas explicando a afirmação de que a vida era boa no Antigo Egito Submeta a atividade por meio da ferramenta Tarefa EXERCÍCIO 3 1 Desde o início do século XIV no reino do Congo moravam povos agricultores que quando convocados pelo mani Congo partiam em sua defesa contra inimigos de fora ou para controlar rebeliões de aldeias que queriam se desligar do reino Aldeias lubatas e cidades banzas pagavam tributos ao mani Congo geralmente com o que produziam alimentos tecidos de ráfia vindos do nordeste sal vindo da costa cobre vindo do sudeste e zimbos pequenos búzios afunilados colhidos na região de Luanda que serviam de moeda o mani Congo cercado de seus conselheiros controlava o comércio o trânsito de pessoas recebia os impostos exercia a justiça buscava garantir a harmonia da vida do reino e das pessoas que viviam nele Os limites do reino eram traçados pelo conjunto de aldeias que pagavam tributos ao poder central devendo fidelidade a ele e recebendo proteção tanto para os assuntos deste mundo como para os assuntos do além pois o mani Congo também era responsável pelas boas relações com os espíritos e os ancestrais O mani Congo vivia em construções que se destacavam das outras pelo tamanho pelos muros que a cercavam pelo labirinto de passagens que levavam de um edifício a outro e pelos aposentos reais que ficavam no centro desse conjunto e eram decorados de tapetes e tecidos de ráfia Ali o mani vivia com suas mulheres filhos parentes conselheiros escravos e só recebia os que tivessem nobreza suficiente para gozar desse privilégio SOUZA Marina de Mello e África e Brasil africano São Paulo Ática 2006 A partir da descrição do reino do Congo é correto afirmar que nesse reino a Toda a organização administrativa estava voltada para a acumulação de riquezas nas mãos do soberano que as redistribuía entre as aldeias mais leais e com maior potencialidade econômica b O político e o sobrenatural estavam intimamente relacionados além das semelhanças entre uma corte europeia e uma de um reino na África porque ambas eram caracterizadas por hierarquias rígidas c A ordem política derivava de uma economia voltada para a produção baseada no uso da mão de obra compulsória por isso o soberano era o maior beneficiado com a captura de homens para serem escravizados d A fragmentação do poder entre os chefes das aldeias e os conselheiros do soberano permitiu a consolidação de uma prática política pouco usual na África na qual as decisões eram tomadas pelos moradores do reino e A prevalência da condição tribal favoreceu sua dominação por outros povos africanos mas especialmente pelos comerciantes europeus interessados na exploração de metais amoedáveis 108 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 2 Angola Congo Benguela Monjolo Cabinda Mina Quiloa Rebolo Jorge Ben ÁfricaBrasilZumbi O texto referese àsaos a Colônias holandesas de exploração na África do século XVI ao século XVIII b Grupos africanos escravizados e trazidos para o Brasil durante a colonização c Reinos africanos que se rebelaram contra a colonização portuguesa na época da independência do Brasil d Comunidades livres formadas por escravos fugitivos e Países africanos atuais que mantêm estreitos vínculos com a cultura brasileira 3 quais mecanismos levaram à escravidão nas sociedades africanas do século VII ao século XV Genericamente a escravidão esteve presente na África como um todo fazendose necessário observar as especificidades históricas próprias de complexos sociais e políticos e das formas de poder das diversas sociedades africanas Mas é fundamental acrescentar que a dinâmica e a intensidade da escravidão no continente africano têm a ver com a maior ou menor demanda do tráfico atlântico gerada pelo expansionismo europeu na América Isso acarreta mudanças sociais na África como a expansão e a subsequente transformação da poligenia o desenvolvimento de diferentes tipos de escravidão no continente além do empobrecimento de uma classe de mercadores africanos HERNANDEZ Leila Leite A África na sala de aula visita à história contemporânea São Paulo Selo Negro 2008 p 378 A partir do fragmento é correto afirmar que a A maior mudança ocorrida na África após a imposição do colonialismo ibérico esteve relacionada com a passagem da mercantilização do trabalho compulsório para formas mais brandas de exploração da escravidão com o avanço de direitos para os africanos convertidos ao cristianismo b A chegada do colonialismo europeu na África subsaariana foi fundamental para o desenvolvimento do continente em razão da organização do tráfico intercontinental de escravos permitindo que a maior parte das rendas advindas dessa atividade ficasse no próprio continente c A existência da escravidão na África negra era desconhecida até a chegada dos primeiros exploradores coloniais caso dos portugueses que impuseram essa forma de organização do trabalho condição necessária para a posterior acumulação de capitais entre as elites regionais africanas d As práticas de utilização do trabalho compulsório em todo o território africano até a chegada dos exploradores europeus estavam articuladas com a essência da religiosidade do continente caracterizada pela concepção de que os sacrifícios materiais levavam os homens à graça divina e A escravidão existente no continente africano antes da expansão marítima tinha uma multiplicidade de características sendo inclusive doméstica e o tráfico de escravos para atender aos interesses mercantilistas europeus trouxe decisivas transformações para as inúmeras regiões da África Verifique seu aprendizado realizando o Exercício no Ambiente Virtual de Aprendizagem 109 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 ATIVIDADE 31 É na segunda metade do século XV que a África negra descobre os portugueses Ela se compõe de um mosaico de povos Estados e impérios animistas ou islamizados que nem a coroa nem os marinheiros de Lisboa jamais conseguirão dominar O fim do século é marcado entre outras coisas pela expansão do Império de Gao e pela ascensão da dinastia Askia no Sudão ocidental Mas é preciso lembrar as inúmeras redes comerciais que não haviam esperado os europeus para promover a circulação de escravos Adaptado de GRUZINSKI Serge A passagem do século 14801520 As origens da globalização São Paulo Companhia das Letras 1999 p 5657 Responda 1 Que elementos do texto acima indicam que o continente africano tinha naquele período formas de organização complexas 2 Como os agentes portugueses organizaram a economia do tráfico na Era Moderna Submeta a atividade por meio da ferramenta Tarefa EXERCÍCIO 4 1 Após ser repartida e colonizada por países europeus especialmente a partir da Conferência de Berlim na década de 1880 a África passou no século XX por diferentes processos de independência que deram origem aos territórios da maior parte dos países do continente Esses processos no contexto da Descolonização da África têm como características comuns e principais a O desenvolvimento de teorias raciais de superioridade do homem negro e a criação da Unidade Africana que reuniu as principais lideranças rebeldes do continente e declarou guerra aos Estados Unidos b O apoio da União Soviética que no contexto da polarização política pósSegunda Guerra Mundial incentivou a industrialização e a rápida arrancada de desenvolvimento verificadas nas excolônias europeias na África c A atuação de missionários cristãos e agentes da Organização das Nações Unidas que aliados a agências internacionais de notícias promoveram campanhas de conscientização da opinião pública internacional pelo fim do colonialismo d A crise econômica decorrente do aumento abrupto do valor dos escravos no mercado internacional associada à queda do preço do barril de petróleo principal commodity da pauta de exportações africanas o que levou os europeus a abandonar as colônias e O enfraquecimento econômico e político dos países europeus no pósSegunda Guerra Mundial e o surgimento de movimentos de libertação em diferentes partes do continente africano levando à gradativa perda do controle europeu sobre as colônias na África 2 No pósSegunda Guerra Mundial em decorrência da crise por que passavam as antigas potências coloniais europeias verificouse o início do processo de descolonização afroasiático Assinale a alternativa correta sobre a 110 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 descolonização da África e da Ásia I A Guerra Fria foi utilizada até a década de 1980 como elemento ideológico para manter a dominação dos países ricos sobre os pobres Nesses termos a pressão sobre a questão do alinhamento a um dos blocos tornouse instrumento de troca valioso para os países do Terceiro Mundo incluindo as excolônias II A descolonização na Ásia deuse pela guerra de libertação ou pela concessão pacífica da independência pelas metrópoles Dois casos típicos foram o da Índia e do Japão que rapidamente se tornaram países desenvolvidos III A libertação nacional na África inscrevese em um processo longo e contraditório em que o exemplo mais expressivo foi a África do Sul onde a maioria negra somente conseguiu chegar ao poder em 1994 com Nelson Mandela a Apenas os enunciados I e II estão corretos b Apenas os enunciados I e III estão corretos c Apenas os enunciados II e III estão corretos d Todos os enunciados estão corretos 3 No primeiro quartel do século XX o intercâmbio entre africanos e negros da diáspora ocorreu de diversas formas De um lado por meio do retorno de afrodescendentes principalmente da América do Norte para a Libéria mas também das Antilhas e Brasil para diversas regiões da África De outro através da saída de jovens pertencentes à elite africana para ingressar nas universidades dos Estados Unidos e da Europa CLARO Regina Olhar a África Fontes visuais para a sala de aula São Paulo Hedra 2012 p 151 O impacto do fenômeno apresentado no texto manifestouse entre outros fatores no a Fim do preconceito racial nos Estados Unidos e na Europa ocidental com a decorrente ampliação em diversos países dos direitos civis das populações afrodescendentes b Surgimento do Panafricanismo e do movimento da Negritude que rejeitavam as doutrinas sobre a inferioridade dos negros e defendiam o reconhecimento da cultura africana c Esforço pelos governos da maioria dos países africanos de revalorização das religiosidades locais e de combate à influência cultural europeia e norteamericana d Reconhecimento e na afirmação pela Organização das Nações Unidas da igualdade étnica e do direito de todos os povos de viverem de forma livre e autônoma Verifique seu aprendizado realizando o Exercício no Ambiente Virtual de Aprendizagem ATIVIDADE 41 Com somente poucas exceções as nações da África atual foram sucessoras das colônias africanas que as precederam Suas fronteiras eram as fronteiras coloniais definidas nas décadas de 1880 e 1890 Suas capitais eram as capitais coloniais a partir das quais foram irradiadas as infraestruturas de estradas e ferrovias correios e telecomunicações Todas conservaram em maior ou menor grau as línguas dos colonizadores como línguas de 111 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 comunicação mais ampla Todas seguiram basicamente os sistemas ocidentais de educação Sua administração seguiu as trilhas deixadas pela administração colonial O primeiro grande teste para a África independente centrouse na questão da estabilidade das fronteiras e o aspecto que rapidamente ficou claro a esse respeito foi que não havia futuro para uma concepção panafricana de Estados Unidos da África ou para as federações ou quase federações criadas pelas potências colonizadoras OLIVIER Roland A experiência africana Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1994 p 254 No trecho acima o historiador Roland Olivier aponta alguns dos problemas com os quais as novas nações africanas independentes se defrontaram Refita e responda 1 A definição das fronteiras nacionais africanas foi estabelecida a partir das especificidades étnicolinguísticas existentes antes da penetração europeia Justifique 2 O texto referese à existência de uma concepção panafricana de Estados Unidos da África Aponte o pressuposto básico do panafricanismo Submeta a atividade por meio da ferramenta Tarefa EXERCÍCIO 5 1 Tudo muda De novo começar podes com o último alento O que acontece porém fica acontecido E a água que pões no vinho não podes mais separar Porém tudo muda com o último alento podes de novo recomeçar Bertold Brecht É a esse processo histórico que levou à liquidação dos impérios coloniais europeus e ao surgimento ou ressurgimento de povos que se constituíram em Nações e Estados que se costuma dar o nome de descolonização Letícia Bicalho Canêdo A descolonização da Ásia e da África São Paulo Atual 1985 p54 A partir dos textos é correto afirmar que a A colonização europeia foi inseparável da descolonização da Ásia e da África do século XX pois o nacionalismo um valor ocidental foi usado pela classe dirigente que identificada com o Estado Nacional não respeitou as tradições locais isto é a descolonização não destruiu a colonização água e vinho estão misturados b A descolonização da Ásia e da África no século XX fez surgir novos povos identificados com suas tradições e com valores antigos essenciais para a estabilidade dos Estados e das nações geridos pela classe dirigente distante do velho colonialismo a descolonização rompeu com a colonização isto é separou a água do vinho c A descolonização da Ásia e da África no século XIX como continuidade ao colonialismo 112 wwwvirtualucdbbr 0800 647 3335 europeu identificouse com a classe dirigente internacional preservou as principais tradições e criou o Estado Nacional a partir do nacionalismo valor tribal que garantiu estabilidade para aquelas regiões portanto a água não se separou do vinho d A descolonização da Ásia e da África no século XX foi um processo separado da colonização pois os valores da tradição foram rompidos e surgiu o Estado Nacional como criação da classe dirigente local cujos interesses estavam alinhados com o capitalismo internacional o que significou desenvolvimento para a maioria água e vinho estão separados e O processo de descolonização do século XX na Ásia e na África é revolucionário na medida em que destruiu o velho colonialismo e colocou no poder a classe dirigente local identificada com o capitalismo internacional que organizou o Estado Nacional segundo os interesses de estabilidade e de desenvolvimento para todos água e vinho estão separados 2 A conquista da Ásia e da África durante a segunda metade do século XIX pelas principais potências imperialistas objetivava a A implantação de regimes políticos favoráveis à independência das colônias africanas e asiáticas b O impedimento da evasão em massa dos excedentes demográficos europeus para aqueles continentes c A implantação da política econômica mercantilista favorável à acumulação de capitais nas respectivas Metrópoles d A necessidade de interação de novas culturas a compensação da pobreza e a cooperação dos nativos e A busca de matériasprimas a aplicação de capitais excedentes e a procura de novos mercados para os manufaturados Verifique seu aprendizado realizando o Exercício no Ambiente Virtual de Aprendizagem